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Mundo Lusófono

Universidade Pedagógica
Moçambique
2015
Direitos de autor
Este módulo não pode ser reproduzido para fins comerciais. Caso haja necessidade de reprodução
deverá ser mantida a referência à Universidade Pedagógica e aos seus autores.

Universidade Pedagógica
Maxixe
Moçambique
Fax: (+258)293-30354/30359
E-mail: inf@unisaf.ac.mz
Website: www.unisaf.ac.mz
Agradecimentos
O presente módulo resulta de um longo e árduo processo de sistematização
pessoal, em meio a escassez de material bibliográfico que nos podesse facilitar a
consecução do mesmo.

Neste âmbito, agradeço aos meus estudantes dos cursos de Inglês e Português que,
através da interacção mútua, souberam emprestar subsídios teórico-científicos.
Ficha Técnica
Ficha técnica

Autor: Salomão Massingue

Título: Mundo Lusófono

Edição: UniSaF Editora – UP – Maxixe/UniSaF

Revisão : Ilídio Macaringue

Revisão EAD: Daniel Muando

N° de Registo:

Arranjo gráfico: UniSaF Editora – UP – Maxixe/UniSaF

Coordenação: CEAD – Maxixe/UniSaF

Ano: Janeiro de 2015


ÍNDICE

Visão geral 8

Bem-vindo ao Módulo “Mundo Lusófono” 8

Objectivos do Módulo ........................................................................................................... 8


Quem deveria estudar este módulo ..................................................................................... 9
Como está estruturado este módulo ............................ Error! Bookmark not defined.
Acerca dos ícones .................................................................................................... 10
Habilidades de estudo .............................................................................................. 10
Precisa de apoio? ..................................................................................................... 10
Tarefas e Auto-avaliação .......................................................................................... 11
Avaliação ..................................................................... Error! Bookmark not defined.

Introdução à Problemática da Lusofonia e do Mundo Lusófono 13

Introdução ................................................................................................................. 13

Lição n˚ 1 15

A origem do termo Luso (Lusitano) e seus compostos e derivados; definições e


conceitos 15

Introdução ................................................................................................................. 15

Terminologia Error! Bookmark not defined.

1.A origem do Termo Luso: seus compostos e derivados ........................................ 16


2. Surgimento & Evolução do Português .................................................................. 17
2.1. Surgimento......................................................................................................... 17
2.2. Evolução ............................................................................................................ 20
Sumário .................................................................................................................... 22
Exercícios .................................................................... Error! Bookmark not defined.
Bibliografia básica ..................................................................................................... 23

Lição n˚ 2 25

O português no Mundo 25

Introdução ................................................................................................................. 25
Objectivos 26

Terminologia 26

1.A posição da Língua Portuguesa em diferentes estágiosError! Bookmark not defined.


2.O estatuto da Língua Portuguesa nos diversos cantos do Mundo ......................... 26
Sumário .................................................................................................................... 29
Exercícios .................................................................... Error! Bookmark not defined.
Bibliografia básica ..................................................................................................... 30

UNIDADE II. Os Paises da Língua Oficial Portuguesa e a expansão da Língua


Portuguesa no Mundo 31

Introdução ................................................................................................................. 31

Lição n˚ 1 33

Introdução ................................................................................................................. 33
1. A influência das línguas de substracto .................................................................. 33
2. Influências das línguas de superstracto ................................................................ 35
3. Divergência do português e do galego ................................................................. 36
Sumário .................................................................................................................... 37
Exercícios .................................................................... Error! Bookmark not defined.
Bibliografia básica ..................................................................................................... 37

Lição n˚ 2 39

Introdução ................................................................................................................. 39
1.Os lusitanos e a romanização ................................................................................ 40
2.Cristianização do Império Romano ........................................................................ 42
Exercícios .................................................................... Error! Bookmark not defined.
Bibliografia básica ..................................................................................................... 45

Lição n˚ 3 47

Introdução ................................................................................................................. 47
1.O Panorama do Português em Moçambique ......................................................... 48
2. A Língua Portuguesa na Actualidade, em Moçambique ....................................... 49
3. O comportamento sintáctico de constituintes locativos e direccionais no PM,
Como exemplo de algumas mudanças Gramaticais que ocorrem no PM com
base na preposição EM 50

4. Comportamento Sintáctico de Constituintes Locativos e Direccionais nas


Línguas Bantu 51

5. Papel das LBs no Desencadeamento das Mudanças Gramaticais no PM 52

Sumário .................................................................................................................... 54
Exercícios .................................................................... Error! Bookmark not defined.
Bibliografia básica ..................................................................................................... 55

Unidade III 56

O Papel das Instituições da Lusofonia 56

Introdução ................................................................................................................. 56
Ao terminar esta unidade o estudante será capaz de: .............................................. 56

Lição n˚ 1, 2 57

1.Comunidade dos Paises de Língua Portuguesa (CPLP) e os seus Órgãos 57

1.1.Introdução ........................................................................................................... 57
1.3. Objectivos da CPLP ........................................................................................... 59
1.4. Declaração Constituitiva da CPLP ..................................................................... 59
1.5. Estados Membros .............................................................................................. 61
1.6.Órgãos da CPLP ................................................................................................. 62
1.7. Organização....................................................................................................... 62
2. Papel das Instituições da Lusofonia: CPLP e Instituto Camões ........................... 64
2.1. Papel Diplomático .............................................................................................. 64
2.2. Promoção e difusão da Língua Portuguesa ....................................................... 64
2.3. Papel Económico ............................................................................................... 66
3. Instituto Camões ................................................................................................... 67
3.1. Centros culturais portugueses ........................................................................... 67
3.2. Divulgação e Ensino da Língua Portuguesa ...................................................... 68
Sumário ....................................................................... Error! Bookmark not defined.
Exercícios ................................................................................................................. 70
Bibliografia básica ..................................................................................................... 71
4.A unidade e diversidade da Língua Portuguesa 72

Introdução ................................................................................................................. 72

Lição n˚ 1 e 2 73

Uidade IV. Variação: definição de conceitos, factores e tipos de variedades 73

Introdução ................................................................................................................. 73

Terminologia Error! Bookmark not defined.

1. Variação Linguística do Português 74

1.1. Definição de conceitos 74

1.2. Factores que influenciam a variação linguística................................................. 74


2. Tipos de Variedades Linguísticas ......................................................................... 75
2.1. Variedades geográficas do Português ............................................................... 75
2.2. Variedades Diacrónicas do Português ............................................................... 75
2.3. Variedades sociais ou diastráticas do Português............................................... 76
2.4. Variedades situacionais ou difásicas ................................................................. 76
2.5. Os Sociolectos ................................................................................................... 77
2.6. Variação social................................................................................................... 77
2.7. Variação estilística ou estilos ............................................................................. 78
2.8. Variação individual ou Idioletos.......................................................................... 78

3. Variação dialectal Vs Norma padrão do PE e a Norma padrão do PB 78

Sumário .................................................................................................................... 79
Exercícios ................................................................................................................. 79
Bibliografia básica ..................................................................................................... 80

Bibliografia geral 83

Bibliografia Activa ..................................................................................................... 83


Bibliografia Passiva................................................................................................... 86
8

Visão geral

Bem-vindo ao módulo “mundo lusófono”

O Módulo de Mundo Lusófono, inserido nos Cursos de Licenciatura em Ensino


de Português e de Inglês, respectivamente, vem dar aos estudantes
conhecimentos gerais sobre a Lusofonia e o mundo lusófono numa perspectiva
intercultural. A abordagem terá em conta os aspectos linguísticos, históricos,
económicos, políticos e culturais dos países de Língua Oficial Portuguesa, que
os tornam uma comunidade, focalizando Moçambique.

Este módulo é um material bibliográfico de consulta, na medida em que é a


síntese de conteúdos referentes a cadeira e os exercícios de apoio para o
fortalecimento das aprendizagens nele propostas.

Assim, procuramos organizar os apontamentos nele contidos mediante a


disposição sequenciada das unidades temáticas no plano curricular dos cursos
de Licenciatura em ensino de Inglês/Português.

Objectivos do módulo

Quando terminar o estudo do Módulo de Mundo Lusófono, deve:

 Adquirir uma visão global da lusofonia e do mundo lusófono


numa perspectiva intercultural;

Objectivos  Descrever a génese e formação da Língua Portuguesa;

 Conhecer a expansão da Língua Portuguesa no mundo,


nomeadamente na Europa (Portugal), América (Brasil), África
(Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé
e Príncipe) e na Ásia (Goa, Macau e Timor-Leste);

 Reconhecer alguns dos aspectos histórico-culturais, sócio-


9

económicos, políticos e linguísticos dos países de Língua


Oficial Portuguesa que os tornam uma comunidade, tendo
como foco o caso de Moçambique;

 Identificar algumas instituições que ligam os “países


lusófonos”, nomeadamente: a conferência dos Países de
Língua Portuguesa (C.P.L.P.) e o Instituto Camões.

 Ser capaz de reconhecer e identificar a Língua Portuguesa na


sua diversidade e unidade;

 Reconhecer diferentes situações sociolinguísticos da


Lusofonia, nos chamados “países lusófonos” e noutros países
do mundo (nas comunidades de falantes de Língua Portuguesa
na diáspora).

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para todos aqueles que estão


inscritos no Curso de Licenciatura em Ensino de
Inglês/Português à Distância, fornecido pela Universidade
Pedagógica - Maxixe.
10

Acerca dos Ícones

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica do texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

Os ícones usados neste manual são símbolos africanos,


conhecidos por adrinka. Estes símbolos têm origem no povo
Ashante de África Ocidental e os mesmos datam do século XVII
e ainda são usados hoje em dia.

Habilidades de estudo

Caro estudante!

Para tirar maior proveito deste módulo terá de buscar, através


de uma leitura cuidadosa das fontes de consulta, a maior parte
da informação ligada ao assunto abordado.

Uma pergunta bem compreendida representa meia resposta,


por isso, antes de resolver qualquer tarefa ou problema, deve
certificar-se de que compreendeu a questão colocada.

Deve, igualmente, fazer, sempre que possível, uma


sistematização geral das ideias apresentadas na lição corrente.

Precisa de apoio?

As dúvidas e os problemas são frequentes e comuns ao longo


de qualquer estudo. Ora, em caso de dúvida numa determinada
matéria consulte os manuais sugeridos no fim da lição e
disponíveis nos Centros de Educação à Distância (EaD) mais
próximos. Caso enfrente dificuldades na resolução de algum
exercício, procure estudar os exemplos semelhantes
11

apresentados no manual. Se a dúvida persistir, consulte a


orientação que aperece no fim dos exercícios.

Sempre que julgar pertinente, pode consultar o tutor que está à


sua disposição no centro de EaD mais próximo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

Ao longo do módulo irá encontrar várias tarefas que


acompanham o seu estudo. Tente sempre solucioná-las.
Consulte a resolução para confrontar o seu método à solução
apresentada.

Você deve desenvolver o hábito de pesquisa e a capacidade de


selecção de fontes de informação, sobretudo no que concerne
ao tratamento de fontes, quer de natureza primária quer
secundária. Para tal, consulte manuais disponíveis e
referenciados no fim de cada lição para obter mais informações
acerca do conteúdo e/ou matéria que esteja a estudar.
Você deve sistematizar e produzir documentos sobre as tarefas
realizadas em suportes diversos como, por exemplo, usando as
novas tecnologias e enviá-los ao respectivo Departamento.

Avaliação

O módulo de Mundo Lusófono será avaliado por dois testes e


um exame final que deverá ser feito no Centro de Recursos
mais próximo, ou em local a ser indicado pela administração do
curso. O calendário das avaliações será também apresentado
oportunamente.

A avaliação é uma actividade que visa não só informar-lhe sobre


o seu desempenho psico-pedagógico, como também o estimula
a rever alguns aspectos e a seguir em frente.
12

Durante o estudo deste módulo, será avaliado com base na


realização de actividades e tarefas de auto-avaliação previstas
em cada Unidade, dois testes escritos e um exame.
13

UNIDADE I

Introdução à problemática da lusofonia e do


mundo lusófono

Introdução
A língua é um sistema que tem como centro a interacção verbal,
que se faz através de textos ou discursos, falados ou escritos.
Isso significa que esse sistema depende da interlocução
(inter+locução = acção linguística entre sujeitos).

Partindo dessa concepção, uma proposta de ensino de língua


deve valorizar o uso da língua em diferentes situações ou
contextos sociais, com a diversidade de funções e a sua
variedade de estilos e modos de falar, o que significa que o
trabalho na sala de aula deve, de entre outros procedimentos
pedagógico-didácticos, privilegiar a reflexão dos alunos sobre as
diferentes possibilidades de uso da língua.
Nesse âmbito, urge um ensino da língua que busque levar aluno
ao conhecimento da génese dessa língua, como condição
indispensável para a apreensão de aspectos mais complexos de
todo o sistema linguístico.
Desta feita, o conhecimento da Língua Portuguesa implica uma
breve, mas necessária incursão pela história da Lusofonia e do
Mundo Lusófono, os conceitos básicos e derivados, a cultura
dos seus povos, etc.
14

OBJECTIVOS:
Ao terminar esta unidade deverá ser capaz de:

 Aplicar conhecimentos gerais sobre a Lusofonia e o


Objectivos
Mundo Lusófono numa perspectiva intercultural;
 Descrever a génese e formação da Língua Portuguesa
e a sua expansão no mundo;
 Conhecer alguns aspectos históricos, sociais,
económicos, políticos, culturais e linguísticos dos paises
de Língua Oficial Portuguesa, que os tornam uma
comunidade, focalizando o caso de Moçambique.
15

Lição n˚ 1

A origem do termo luso (lusitano) e seus


compostos e derivados; definições e
conceitos

Introdução
Esta lição aborda aspectos inerentes a origem dos termos Luso
(lusitano); lusofonia, Mundo lusófono e outros termos considerados
derivados destes ou então correlatos.

Ao estudar esta lição, você será capaz de:

 Discutir a génese dos termos luso (lusitanos);

 Relacionar os principais termos inerentes a lusofonia.


16

1.A origem do termo luso: seus


compostos e derivados

O termo Lusofonia é composto de dois derivados: <-Luso-> que


significa português e <-fonia-> que quer dizer fala. Dicionário
Ilustrado de Língua Portuguesa (2001: 527).

A Lusofonia, ainda segundo a fonte acima citada, é o conjunto


de países falantes do Português.

Da mesma forma que existe o termo Lusofonia para designar um


conjunto de países falantes do Português, existem termos como
Anglofonia (que designa o conjunto de países falantes do Inglês;
Francofonia (conjunto de países falantes do Francês); Hispanofonia,
conjunto de países falantes do Hispano, etc.

Entretanto, é possível encontrar termos dicionarizados e correntes


na fala diária como: Lusitano/lusitânico, adjectivo relativo à
Lusitânia, isto é, natural ou habitante da Lusitânia (território de
Portugal). Ainda no mesmo contexto Léxico-semântico, Lusitanismo
referiria-se ao costume próprio do povo residente na Lusitânia ou
Portugal.

A definição de Lusofonia não se deve restringir a um grupo de


países que têm a Língua Portuguesa como oficial; trata-se de um
grupo de países que possuem um mesmo passado de colonização
portuguesa e que partilham características históricas, culturais e
linguísticas semelhantes.

Para FIORIN (2006:26), “a lusofonia não pode ser pensada


simplesmente como um espaço de usuários do português. Tendo a
língua uma função simbólica e um papel político, a lusofonia tem
que ser analisada como um espaço simbólico e político”.
17

Nas palavras de MARTINS (2006: 50):

[...] a lusofonia não pode deixar de nos remeter


para aquilo que podemos chamar o indicador
fundamental da realidade antropológica, ou seja,
para o indicador de humanização, que é o território
imaginário de paisagens, tradições e língua, que da
lusofonia se reclama, e que é enfim o território de
arquétipos culturais, um inconsciente colectivo
lusófono, um fundo mítico de que se alimentam os
sonhos MARTINS (2006: 50).

2. Surgimento & evolução do Português

2.1. Surgimento

O surgimento da Língua Portuguesa está profunda e


inseparavelmente ligado ao processo de constituição da Nação
Portuguesa. Até há algum tempo considerava-se que os textos
mais antigos escritos em Português datavam de cerca de 1214,
sendo estes o Testamento de Afonso II de 1214 (conhecem-se
dois testemunhos) e a Notícia de Torto com data proposta
aproximada.

Analisando estes documentos, muito em particular o primeiro, é


fácil constatar que, certamente, a prática da escrita em romance
português já se teria iniciado há algum tempo. Pela consistência
do tipo de escrita, o Testamento não poderia nunca ser um ensaio
de escrita romance, deixando transparecer um passado de
tentativas de escrever em Português. Note-se, no entanto, que
nestes documentos não há uma normalização da escrita, que só
se irá fixando ao longo dos séculos. «Mesmo que nenhuma nova
descoberta fosse feita, bastam os dados internos dos documentos
que possuímos para nos persuadirem de que eles não foram os
únicos, nem certamente os primeiros, a usar o português, em vez
do latim, como língua escrita» CASTRO (1991:183).
18

Numa outra perspectiva, Ana Maria Martins (MARTINS: 1999)


veio recolocar esta questão em discussão, apresentando vários
textos com datas anteriores, datando o mais antigo de 1175 -
«Notícia de fiadores» de Pelágio Romeu (Mosteiro de S. Cristovão
de Rio Tinto, maço 2, nº. 10, rosto). Todavia, atente-se que esta
posição não pode ainda ser tida como definitiva, uma vez que os
documentos apresentados são, de certo modo, linguisticamente
híbridos (observa-se alternâncias de formas e estruturas mais
aportuguesadas com outras mais alatinadas) e outros
especialistas virão em breve retomar a questão dos textos mais
antigos.

Em qualquer caso, como já se referiu, a escrita não acompanha


directamente a oralidade, sendo normalmente mais conservadora.
Observando os textos e não dispondo de fontes secundárias,
teremos de os fazer falar.

No que respeita a documentação notarial latino-portuguesa, há


que tentar perceber qual a língua neles representada, se se trata
de um latim deturpado, de uma língua romance ou ainda de uma
mistura de romance com Latim.

António Emiliano, ao investigar este tipo de língua, afirma que ela


tem uma tendência homeostática. Este é um conceito a que
recorrem Goody e Watt cf. EMILIANO (1997: 418) ao analisarem
as mudanças culturais em sociedades iletradas e pré-letradas,
constatando um abandono ou mudança dos aspectos que já não
seriam funcionais no presente. Emiliano afirma que «Não houve
da tradição latina para a tradição latino-romance uma mudança
radical ou selectiva mas sim cumulativa, pois foram criadas e
integradas formas e grafias novas sem rejeição das formas e
grafias tradicionais. O elemento tradicional permaneceu funcional
lado a lado com as inovações, num mesmo quadro de
comunicação complexa» EMILIANO (1997: 418).
19

Note-se que este tipo de investigação é fulcral para a clarificação


da história da língua portuguesa e também para o traçar de uma
pré-história desta língua. Refira-se que o texto notarial latino-
português mais antigo que se conhece data de 882 d. C. - Carta
de Fundação da Igreja de Lardosa. EMILIANO (Ibidem).

Num continuum linguístico é difícil estabelecer marcos de


períodos, mormente quando se trata de estabelecer marcos
iniciais. A data que se toma como a do nascimento do Português
é, tradicionalmente, a do documento linguístico mais antigo
redigido em Português.

É importante ter-se sempre em conta que não existe uma ruptura


entre o Latim e o Português. Pelo contrário, uma continuidade que
até aos dias de hoje constitui um património que enriquece a
Língua Portuguesa aos mais diversos níveis.

Apesar das descrepâncias que rodeiam as datas precisas do


surgimento da Língua Portuguesa, pelo menos é consensual que
o Português resulta da evolução orgânica do Latim vulgar imposto
por colonos romanos no século III a.C., um período marcado pela
expansão do Império Romano, do contacto com línguas locais
como Celtibero, língua falada pelos Celtas, no noroeste da
Península Ibérica.1

Com as várias invasões bárbaras no século V, e a queda do


Império Romano do Ocidente, surgiram vários destes dialectos e
numa evolução constituíram-se as línguas modernas conhecidas
como neolatinas.

Na Península Ibérica, várias línguas formaram-se, de entre elas o


Catalão, o Castelhano, o Galego-português e deste último
resultou a Língua Portuguesa.

1In: Discurso: Estudos de Língua e Cultura Portuguesa, Revista da Universidade


Aberta. 1992.
20

2.2. Evolução

Sabe-se que o Latim era uma língua corrente de Roma. Roma,


destinada pela sorte e pelos valores das suas bases conquista,
através dos seus soldados, regiões imensas. Com as conquistas,
o Latim foi, progressivamente, difundido nos rincões pelos
soldados romanos, pelos colonos e pelos homens de negócios. As
viagens favoreciam a difusão do Latim.

Primeiramente o Latim expande-se por toda a Itália, depois pela


Córsega e Sardenha, plenas províncias do Oeste do domínio
colonial, pela Gália, pela Espanha, pelo Norte e Nordeste da
Récia, pelo Leste da Dácia, surgindo daí as línguas românicas ou
neolatinas. CÂMARA Jr. (1977).

São línguas românicas porque tiveram a mesma origem: do latim


vulgar. Essas línguas são, na verdade, continuação do latim
vulgar. Essas línguas românicas são: Português, Espanhol,
Catalão, Provençal Francês, Italiano, Rético, Sardo e Romeno.
(Ibidem).

Numa outra perspectiva, para CARVALHO e NASCIMENTO


(1981), a evolução da Língua Portuguesa pode ser definida em
três fases:

 Primeira Fase: Fase Pré-histórica - esta fase inicia com as


origens da língua, estendendo-se ao século IX. Entre o século
V e o século IX, a língua que era falada era o romance
lusitânico, uma variante do Latim que constitui um estágio
intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas
modernas (Português, Castelhano, Francês e outras línguas).
Neste período, a maior parte da informação estava
documentada em latim vulgar.
 Segunda Fase: fase Proto-histórica - estende-se do século
IX ao século XII. Nesta fase encontram-se textos já escritos
em latim bárbaro (o Latim dos notários e tabeliães da Idade
Média); palavras e expressões originárias dos romances
locais, entre os quais aquele que dera origem ao Português,
21

donde se deduz que a língua já era falada, mas não escrita, o


que comprova a existência do dialecto galaico-português.
 Terceira Fase: Fase histórica - compreende o período do
português arcaico e moderno. Esta fase inicia no século XII,
onde os textos começam a ser escritos em Português. A
mesma fase sub-divide-se em período arcaico (do século XII a
século XVI) e período moderno (do século XVI até a
actualidade).

O período arcaico estende-se do século XII até ao século XVI


e compreende dois períodos distintos:

a) Do século XII ao século XIV, surgem textos em Galego-


português;

b) Do século XIV, ao século XVI houve a separação entre o


Galego e o Português onde se escreve o primeiro texto em
português: “A poesia cantiga de ribeirinha”.

Somente a partir do século XVI, que é a fase do período


moderno, a língua portuguesa uniformiza-se e adquire
características do Português actual, em parte devido ao
contributo da literatura renascentista portuguesa,
nomeadamente a produzida por Camões, que desempenhou
um papel fundamental nesse processo de uniformização,
razão pela qual as primeiras gramáticas e os primeiros
dicionários da Língua Portuguesa também datam do século
XVI.

Existe um período na evolução da língua portuguesa a que


também se denomina PERÍODO PSEUDO-ETIMOLÓGICO e
que se inicia no século XVI e se prolonga até 1911, ano em
que é decretada a reforma ortográfica, fundada nos preceitos
da gramática de Gonçalves Viana, publicada em 1904.
(Ibidem).
22

Conforme CARVALHO e NASCIMENTO (1981), por influência dos


humanistas do renascimento, o século XV ficou marcado por um
aperfeiçoamento e enriquecimento linguísticos.

Refira-se que existiam duas formas de expressar o Latim:

1° - O latim vulgar;

2° - O latim clássico.

O latim vulgar era somente falado. Era a língua do quotidiano,


usada pelo povo analfabeto da região central da actual Itália e
das províncias, nomeadamente soldados, marinheiros, artífices,
agricultores, barbeiros, escravos, etc. Era a língua viva, sujeita a
alterações frequentes e por isso apresentava diversas variações.

O latim clássico era a língua falada e escrita, apurada, artificial,


rígida, era o instrumento literário usado pelos grandes poetas,
prosadores, filósofos, retóricos.

INDO- EUROPEU

Itálico Germânico
Celta

+ Latim (vulgar)
Inglês

Escocês Alemão

Irlandês Holandês

Galês Italiano Dinamarquês

Bretão Esplanhol

Português
23

Sumário
 Origem dos termos Luso, Lusofonia e Mundo Lusófono;

 Definição de Mundo Lusófono, Anglofonia e Francofonia;


 Origem da Língua Portuguesa;
 Evolução da Língua Portuguesa.

Auto-avaliação

1. Desserte sobre a origem do termo lusofonia.


2. Explique a relação deste com os seguintes termos:
Auto-avaliação
francofonia, hispanofonia, anglofonia, lusitano, lusitanismo,
lusitânico.
3. Para FIORIN (2006:26), “a lusofonia não pode ser pensada
simplesmente como um espaço de usuários do português.
Tendo a língua uma função simbólica e um papel político, a
lusofonia tem que ser analisada como um espaço simbólico
e político”.
a) Comente a afirmação tendo em conta a origem da LP.
4. Descreva, de forma sucinta, as fases de transformação do
Latim até a formação do Português, na perspectiva de
Carvalho e Nascimento (1981).

Bibliografia básica

AVELAR, António. Lusofonia 1. ed. Lisboa: Libel s/d

Bacelar do Nascimento, M. F., L. A. S. Pereira e J. Saramago


"Portuguese Corpora at CLUL". BARBOSA (org). Língua
Portuguesa: reflexões lusófonas. São Paulo: EDUC, 2006. pp. 25
–47.
24

SILVA NETO, Serafim da. Introdução ao estudo da Língua


Portuguesa no Brasil. 5ª Ed., Rio de Janeiro, Presença, 1976.

CÂMARA Jr. Joaquim Mattoso. História e estrutura da língua


portuguesa. 2ª Ed. Rio de Janeiro, Padrão, 1977.

FIORIN, José Luiz. A lusofonia como espaço lingüístico. In:


BASTOS, Neusa Maria
Oliveira Macau: 1999.
25

LIÇÃO N˚ 2

O PORTUGUÊS NO MUNDO

Introdução

A forma como a Língua Portuguesa tem evoluído, actualmente,


tem merecido, igualmente, uma série de estudos de vária índole,
posto que, por algum tempo, a mesma língua parecia estar votada
a estaticidade, desde o fim da época dos descobrimentos
portugueses.
Esta realidade só foi revertida nos finais do séuculo XX,
concretamente nos anos 90, devido a alguns factores de ordem
político-económica que se desencadeavam dentro dos países
falantes do Português, mormente os países africanos.
Com efeito, e tendo sido criada a CPLP e outros organismos a ela
associada, como é o caso do Instituto Internacional de Cultura e
Língua Portuguesa, alguns governos dos Estados-Membros da
CPLP passaram a contemplar, dentro das suas políticas públicas,
estratégias de difusão da LP, não obstante o desafio da redução
da taxa de analfabetismo nos países africanos que passava,
necessariamente, pelo ensino da Língua Portuguesa, definida
língua oficial e de unidade nacional, em alguns desses paises,
caso vertente de Moçambique.
A evolução de uma língua é mensurada acima de tudo pelo
número de falantes (nativos) da mesma. Contudo, findas as
grandes navegações (de descobrimentos), há que salientar outros
factores e objectivos da evolução da LP e a posição da mesma no
seio de tantas outras.
26

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Analisar a posição da Língua Portuguesa no contexto das


demais línguas faladas no mundo;

 Identificar os locais por onde se difundiu a Língua Portuguesa


OBJECTIVOS no mundo e o conjunto de países nos quais se fala esta
mesma língua;

 Compreender o estatuto da Língua Portuguesa nesses


locais.

TERMINOLOGIA

2.O estatuto da língua portuguesa nos


diversos cantos do mundo
Sem as deslocações dos portugueses, na época dos
descrobrimentos, provavelmente não teríamos a Língua
Portuguesa em vários cantos onde é falada, o que significa que
para a difusão da Língua Portuguesa concorreram diversos
factores: históricos, económicos, etc.

Com efeito, os portugueses usaram vários meios para a


propagação da língua e cultura por todo mundo e a descoberta de
novas rotas marítimas foi um dos grandes, senão o principal
catalisador deste grande empreendimento histórico; destaca-se
também a envagelização, proclamada como uma missão divina,
entre outros meios conhecidos CRISTÓVÃO (2005: 87).

A Língua Portuguesa é actualmente língua oficial de nove (9)


países do Mundo, nomeadamente: Portugal, Brasil, Angola,
Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo-Verde, São Tomé e Príncipe,
Timor-Leste e Guiné – Equatorial. Estes países são chamados de
países lusófonos e mantêm a identidade da lusofonia, conjunto de
27

aspectos linguísticos e culturais compartilhados entre as


comunidades da Língua Portuguesa no mundo.

CRISTÓVÃO (2005: 87) refere que na área vasta e descontínua


em que é falado, o Português apresenta-se, como qualquer
língua viva, internamente diferenciado em variedades que
divergem de maneiras mais ou menos acentuadas quanto à
pronúncia, a gramática e ao vocabulário. Tal diferenciação,
entretanto, não compromete a unidade do idioma: apesar da
acidentada história da sua expansão na Europa e,
principalmente, fora dela, a Língua Portuguesa conseguiu manter
até hoje apreciável coesão entre as suas variedades.

O Português é, também, falado em pequenas comunidades,


reflexão de povoamentos portugueses datados do século XVI,
como são os casos de:

Zanzibar (na Tanzânia, costa oriental da África)

Macau (ex-possessão portuguesa encravada na China)

Índia (Goa, Diu, Damão)

Malásia (Malaca)

Devido aos descobrimentos e às aventuras marítimas dos


portugueses, a Língua Portuguesa faz-se presente em todos os
continentes e convive "naturalmente" com outras línguas locais,
destacando-se como uma das poucas línguas no mundo com
tamanha façanha, conforme a seguir observa-se:

1. AMÉRICA
O Brasil é o único país de Língua Portuguesa na América.
Durante o período colonial, o Português falado no Brasil foi
influenciado pelas línguas indígenas, africanas e de imigrantes
europeus, facto que explica as diferenças regionais na pronúncia
28

e no vocabulário verificadas, por exemplo, no Nordeste e no Sul


do país. Apesar disso, a língua conserva a uniformidade
gramatical em todo o território (Ibidem).

2. EUROPA
O Português é a língua oficial de Portugal. Em 1986, o país passa
a integrar a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a língua
portuguesa é adoptada como um dos idiomas oficiais da
organização (Ibidem).

Existem falantes concentrados na França, Alemanha, Bélgica,


em Luxemburgo e na Suécia, sendo a França o país com mais
falantes.

3. ÁSIA
Entre os séculos XVI e XVIII, o Português foi uma língua franca
nos portos da Índia e Sudeste da Ásia. Actualmente, a cidade de
Goa, na Índia, é o único lugar do continente onde o Português
sobrevive na sua forma original. Entretanto, o idioma está sendo
gradualmente substituído pelo Inglês. Em Damão e Diu (Índia),
Java (Indonésia), Macau (ex-território português), Sri Lanka e
Malaca (Malásia) fala-se o crioulo, língua que conserva o
vocabulário do Português, mas adopta formas gramaticais
diferentes (Ibidem).

4. OCEANIA
O Português é o idioma oficial em Timor Leste. No entanto, a
língua dominante no país é o Tétum. Devido à ocupação da
Indonésia, grande parte da população compreende o indonésio
Bahasa, apenas uma minoria compreende o Português (Ibidem).

5. ÁFRICA
29

O Português é a língua oficial de cinco países, sendo usado na


administração, no ensino, na imprensa e nas relações
internacionais. A língua convive com diversos dialectos crioulos.

5.1. Angola: 60% da população tem Português como


língua materna e os restantes 40% fala línguas locais,
dialectos crioulos como o Bacongo, o Quimbundo, o
Ovibundos e o Chacue (Ibidem).
5.2. Cabo Verde: quase todos os habitantes falam
Português e um dialecto crioulo, que mescla o português
arcaico a línguas africanas. Vale a pena ressaltarmos que
existem duas variedades desse dialecto: a de Barlavento
e a de Sotavento (Ibidem).
5.3. Guiné-Bissau: 90% da população fala o dialecto
crioulo ou línguas africanos, enquanto apenas 10% utiliza
o Português (Ibidem).
5.4. Moçambique: somente 0,18% da população fala o
português como língua materna, embora seja falado por
mais de 2 milhões de moçambicanos. A maioria dos
habitantes usa línguas locais, principalmente as do grupo
bantu (Ibidem).
5.5. São Tomé e Príncipe: apenas 2,5% dos habitantes
falam a Língua Portuguesa. A maioria utiliza línguas
locais, como o Forro e o Moncó (Ibidem).

Sumário
 Os países falantes a Língua Portuguesa no mundo;
 O estatuto da Língua Portuguesa pelo mundo.

Auto-Avaliação
1. Os portugueses usaram vários meios para propagação
da língua e cultura por todo mundo e a descoberta de
30

novas rotas marítimas foi um dos grandes, senão o


principal catalisador deste grande empreendimento
histórico. CRISTÓVÃO (2005: 87).

a) Comente o extracto acima. No seu comentário tenha


em conta os principais factores que impulsionaram a
difusão do Português.
Auto-avaliação 6. Identifique os países que têm o Português como
língua oficial.
7. Disserte sobre o estatuto da Língua Portuguesa
nos países africanos falantes da mesma.

Bibliografia Básica

BARBOSA (org). Língua Portuguesa: reflexões lusófonas. São


Paulo: EDUC, 2006. pp. 25 –47.

BATALHA, Graciete Nogueira. O português falado e escrito pelos


chineses em Macau. Instituto Cultural de Macau, 1995.

BROCARDO, M. Teresa, Sobre o português médio. in


GÄRTNER, E. et alii (eds.) Estudos de história da língua
portuguesa. Frankfurt, 1999, pp. 107-125.

CASTRO, Ivo, Curso de História da Língua Portuguesa. Lisboa:


Universidade Aberta, 1991.
31

UNIDADE II

Os paises da língua oficial portuguesa e a


expansão da língua portuguesa no mundo

Introdução
Quando se fala dos Paises de Língua Oficial Portuguesa olha-se
commumente e, a priori, para o aspecto linguístico que,
indubitavelmente, constitui o motivo primário de união.Porém, há
muitos outros elementos extra linguísticos que unem e tornam
estes paises uma comunidade, merecendo, por conseguinte,
espaço de reflexão ao nível das academias. De entre vários,
destacam-se factores: históricos, culturais, sociais, económicos e
políticos que os define como uma comunidade, conforme
referimo-nos, anteriormente. É justamente desses factores acima
elencados que nos propomos abordar na presente unidade
temática, tomando como referência Moçambique.

Segundo Joaquim Câmera, “a língua constitui um sistema vivo de


comunicação que privilegia a mútua compreensão e entendimento
de um determinado povo. Ao estudar uma língua, estudam-se os
factos do contexto histórico e os acontecimentos que
promoveram, directa ou indirectamente, a sua origem. No que diz
respeito à história da Língua Portuguesa, faz-se uma busca
histórico-geográfica da sua origem até a sua evolução” (CÂMERA,
1979).
Assim, a Língua Portuguesa, como se pôde notar nas fases da
sua evolução arroladas na unidade anterior, é também resultado
da contribuição de elementos de natureza morfológia, vocabular,
fonológica, fonética, etc., de outras línguas.
Deste modo, buscamos, ainda nesta unidade, explicitar a
contribuição de outras línguas, para além do Latim, na sua
constituição. Para o efeito, será imprescindível a análise de alguns
32

elementos históricos correspondentes àquelas regiões por onde


irrompeu a língua.

Ao completar esta unidade/lição, você será capaz de:

 Discutir alguns dos factores histórico-sociais, político e


culturais que levaram a adopção da LP em Moçambique;

Objectivos  Descrever a contribuição das outras línguas que coabitam


com o Português nos PALOP’S na constituição do Português
de Moçambique;
 Identificar a herança de substracto (peninsular) e superstrato
da Língua Portuguesa;
33

LIÇÃO n˚ 1

Herança romana, substratos e


superstratos
Introdução
Nesta lição faz-se uma abordagem das influências das
línguas que se desenvolveram dentro e fora do contexto
peninsular e que terão legados muitos elementos que
contribuíram para a constituição do Português.

Desta feita, o Português, língua que se desenvolveu no


espaço geográfico do Noroeste de Portugal, é
essencialmente uma continuação do Latim aí implantado,
mas na diferenciação e individualização do qual também
terá sido importante o contacto com outras línguas.

Com efeito, existem influências de línguas de substrato, i.e.,


de línguas que eram faladas no espaço peninsular antes da
formação do Português como língua autónoma e que terão
deixado marcas no romance português. Igualmente,
registam-se influências de línguas de superstrato, ou seja,
de línguas oriundas do espaço não peninsular que
contribuíram para a formação e individualização do romance
em questão.

1. A influência das línguas de substracto

A questão dos substratos que terão contribuído para a


formação do Português é de uma grande complexidade
devido à grande escassez de dados sobre as línguas que
terão existido na Península Ibérica antes da sua formação.
Lamentavelmente não dispomos de dados suficientes sobre
34

que línguas terão existido e, por consequência, quais as


suas características.

Por substrato linguístico entende-se a influência da língua


de um povo vencido sobre a qual se sobrepõe a língua do
vencedor. Enquanto superstrato é definida como sendo a
língua do povo vencedor, e a mesma deixa marcas na
língua do povo vencido, permanecendo esta última.

O outro conceito não menos importante para este âmbito é


adstrato, definido como toda a língua que vigora ao lado de
outra, num território dado e que nela interfere como
manancial permanente de empréstimo. CRISTINA DE
ASSIS (2000: 115).

Segundo Silva Neto (1988) existem dois substratos,


nomeadamente um pré-indo-europeu - proto-basco e um
indo-europeu - celta. Para além destes ainda se levanta a
hipótese de um substrato tartéssico (sob este nome agrupa-
se o conjunto de povos habitantes do Sudoeste peninsular
antes da romanização) e um substrato fenício.

De acordo com a proposta de Baldinger, o proto-basco


poderá ter tido alguma influência na formação do Português.
Este linguista atribui a síncope de -n- e -l- intervocálicos à
influência deste substrato. Note-se que esta é uma das
características que mais individualiza o romance português,
já que este romance é o único em que se constata o referido
fenómeno (Ibidem).

Por sua vez, o substrato celta teria influenciado na mudança


fonética dos grupos consonânticos iniciais latinos PL, CL,
FL.
35

Uma vez que dispomos de poucos dados sobre estas


línguas, podemos tecer a possibilidade de estas terem tido
uma influência relevante na formação do Português, uma
vez que o Latim terá chegado ao Noroeste da Península
tardiamente, o que teria eventualmente favorecido a
possibilidade dos substratos exercerem a sua influência
CASTRO (1991:145).

Quando ocorreu a queda do Império Romano, a Península Ibérica


estava totalmente latinizada (no século I d.C). Nesse quadro de
mistura étnica, o Latim apresentava feições particulares, mesclado
de elementos celtas e íberos, basicamente no vocabulário. Os
vestígios da língua ibérica no vocabulário do Português são
poucos: bezerro, esquerdo, sarna, cama, arroio, baía, além dos
sufixos –arra, -erro, -orro. A influência céltica é maior na fonética
do que no vocabulário: brio, bico, casa, légua, raio, touca e os
topónimos Bragança, Coimbra (Conimbriga), (Ibidem: 117).

2. Influências das línguas de superstracto

Quando observamos a formação e consolidação de uma


língua, temos de ter em conta a(s) língua(s) de superstracto.

No caso do romance português observamos duas


influências de superstrato - germânico e árabe. Entre os
séculos V e VIII ocorreu uma ocupação germânica na
Península. No Noroeste, esta ocupação foi levada a cabo
por dois povos: os suevos (supõe-se que entre 411 e 574) e
os visigodos (Ibidem).

De acordo com a tese de Baldinger Castro (1991:148), os


suevos tiveram sobretudo uma influência indirecta, ou seja,
este povo provocou um isolamento dos povos autóctones do
Noroeste da península, o que terá, provavelmente, permitido
o desenvolvimento de tendências pré-existentes (influências
36

de substrato). Eventualmente terão deixado algumas


marcas lexicais. Diz-se, sem muitas certezas, que certas
unidades lexicais têm possível origem sueva (broa, trigar,
laverca, britar). Em 585, os visigodos levaram a cabo a
unificação da Península Ibérica, pondo assim termo ao
isolamento favorecido pela presença dos suevos. Este povo
deixou marcas bem visíveis da sua presença na Península
sobretudo a nível lexical (com principal relevo no léxico
onomástico - Gonçalo, Fernando, Rodrigo, Rui, Elvira).

A partir de 711 a Península sofreu uma nova invasão, desta


vez por parte dos muçulmanos. Os muçulmanos falavam
diferentes línguas pertencentes ao grupo afro-asiático e
tinham como língua comum o árabe. Mais uma vez regista-
se uma influência lexical, nomeadamente os empréstimos
que entraram directamente através do árabe, ou através de
um romance medieval falado pela população cristã da
Espanha árabe - o moçárabe. Este romance, tal como a
língua que já era utilizada no noroeste da Península, revela
também marcas de grande conservantismo.

No século XI, com a reconquista do território, a língua então


falada no Noroeste peninsular vai-se expandir para o Sul ao
rítmo da reconquista (Ibidem).

3. Divergência do português e do galego

“Com a divisão política no reino de Portugal, o Galego-Português


perdeu a unidade como língua nativa, do noroeste peninsular. O
galego e o português seguiram então caminhos evolutivos
independentes, o português incorporou elementos árabes
durante a reconquista e no período que se seguiu, dá-se a
uniformização em -ão das terminações nasais, enquanto o
37

galego foi influenciado pelas línguas leonesa (actual província de


Leão na Espanha) ”. DE ASSIS (op. cit: 119).

Exemplo:

Galego-português Português Galego


Coraçom Coração corazón
Teede Tende tede
Mim Mim Min

Sumário
 A contribuição das línguas de substracto e de superstracto
na individualização da Língua Portuguesa;

 Os povos que habitaram a península: cultura e língua;

 Relação entre o Português e o Galego: aproximações e


divergências.

Auto-avaliação
1. Identifique e caracterize as línguas de substracto e
superstracto do Português.
2. Explique, exemplificando, de que forma as línguas de
substracto e as de superstracto influenciaram na
Auto-avaliação
individualização da Língua Portuguesa.
3. Dê exemplos da evolução do Português do Galego.

Bibliografia Básica

AAVV. Dicionário Houaiss. Verbetes: "mudança" (rubrica:


lingüística) e "variação" (rubrica: lingüística).
38

CRISTINA DE ASSIS, ANA. História de Língua Portuguesa. s/e,


Lisboa, 2000.

CUNHA, Celso. & CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português


Contemporâneo. Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Linguística. Editora


Pensamento-Cultrix, 2011, p.609- 610.

DAVEAU, S, Portugal Geográfico, Lisboa, 1995, p 223

Dicionário Aurélio electrónico 2010

FARIA, Isabel Hub. Et all. Introdução à Linguística Geral e


Portuguesa. Lisboa, 2ª Ed., Editorial Caminho, 1996.

MILLETT, M. The Romanization historical issues and


archaeological interpretation. University Press, 1990b.
39

LIÇÃO n˚ 2

Os povos que habitaram na península: os


lusitanos e a romanização, a cristianização
do império romano

Introdução
Segundo Cristina de Assis (2000), antes do estabelecimento do
domínio romano na região, os povos que habitavam a península
eram numerosos e apresentavam língua e cultura bastante
diversificadas. Havia duas camadas de população muito
diferenciadas: a mais antiga – Ibérica – e outra mais recente – os
Celtas, que tinham o seu centro de expansão nas Gálias. Muito
pouco conservou-se das línguas pré-romanas. Outros povos
haviam – se fixado na Península Ibérica: íberos, celtas, fenícios,
gregos e cartagineses.

Assim, a partir do século VIII a.C., os celtas começaram a invadir


a Península Ibérica. Os romanos invadiram o território no século
III a. C., com o objectivo de deter a expansão dos cartagineses.

Ora, com as guerras púnicas – luta entre romanos e


cartagineses -, a Península passou para o domínio de Roma. Os
celtiberos terminaram adoptando a língua e os costumes dos
romanos. Os romanos encontraram a Península muito desunida,
pois além da variedade étnica, a difícil estrutura geográfica
contribuía para a fragmentação. São de origem celtibérica:
Camisa, saia, cabana (cappana), cerveja (cerevesia), légua
(leuca), carro (carrus), manteiga (mântica), gato (cattus), etc. DE
ASSIS (op. cit: 115-116).

Nesta lição buscamos descorrer o processo de cristianização e


de romanização da Península Ibérica, posto que a compreensão
alargada da génese e evolução da Língua Portuguesa, bem
40

como das histórias do povo lusitano passa necessariamente pela


análise dos dois grandes processos históricos acima referidos.

1. Os lusitanos e a romanização

Os antepassados dos lusitanos são oriundos de diferentes tribos


que habitaram Portugal desde o Neolítico. Misturaram-se
parcialmente com os invasores celtas, dando origem aos
lusitanos. Não se sabe ao certo a origem destas tribos celtas,
mas é muito provável que fossem oriundas dos Alpes suíços que
teriam migrado devido ao clima mais quente na Península
Ibérica. NUNES (1956: 89).

O termo romanização foi criado pelo pesquisador Theodor


Mommsen no século XIX e indica a propagação da cultura romana
através da aculturação e assimilação cultural dos seus atributos,
ou por outra, a romanização é a descrição das acções de pensar,
colonizar, controlar terras distantes possuídas por outros povos
com o objectivo de expandir o Império Romano, dentro da
perspectiva civilizadora de Roma (Ibidem).

Desta feita, os romanos implantaram habilmente a sua civilização


na Península Ibérica, modificando o menos possível as unidades
territoriais que encontravam. Além disso, organizaram o comércio
e serviços de correio; implantaram o serviço militar e construíram
escolas. O Latim, imposto como idioma oficial nas transações
comerciais e nos actos oficiais, passou a servir de veículo de
cultura mais avançada. Dessa forma, a língua e os costumes
romanos foram progressivamente assimilados, de maneira que a
Península Ibérica chegou ao século V d.C. completamente
romanizada, ou seja, politicamente pertencendo ao Império
Romano e linguisticamente falando a língua de Roma – Latim. DE
ASSIS (2000: 116).
41

O Latim Vulgar, utilizado nas diversas regiões conquistadas pelos


romanos, fez desaparecer, na Península Ibérica, as línguas
nativas dos primitivos habitantes e passou a sofrer o influxo do
substracto céltico, ibérico e ligúrico (Ibidem).

1.1. Factores que condicionaram a


romanização
A romanização foi condicionada por factores diferentes, como o
prestígio de Roma e a dispersão das tribos. Esse período do
contacto entre hispânicos e romanos pode ser dividido em três
fases, que consistem em um momento inicial de expectativa, em
que as diferentes culturas se confrontam; uma fase intermediária
de marginalidade, em que há participação nas duas culturas, fase
de bilinguismo; por último, a vitória da cultura romana, em que
ocorre a romanização (Ibidem).

A implantação do Latim na Península Ibérica constituiu um factor


decisivo para a formação da Língua Portuguesa e ocorreu no
século II a.c., quando as legiões de Roma, depois de longas lutas,
conquistaram a Hispânia e impuseram a sua civilização. Com
excepção dos bascos, todos os povos da Península adoptaram o
Latim como sua língua e se cristianizaram. O território da
Península Ibérica (Século I a.C.) foi dividido, inicialmente, em
duas grandes províncias: Hispânia Citerior e Hispania Ulterior.
Esta última sofreu nova divisão em duas outras províncias, a
Bética e a Lusitânia, onde se estendia uma antinga província
romana, a Gallaecia (Ibidem).

Segundo Martin Millett, a romanização teria começado de cima


para baixo, com as classes superiores adoptando a cultura
romana em primeiro lugar e, de modo mais lento, essa
assimilação teria espalhado-se para as regiões mais internas e
periféricas entre os camponeses. A título de exemplificação dos
42

mecanismos desse processo de romanização, podemos destacar


a construção de cidades (MILLETT, 1990b).

A romanização da Península não se deu de maneira uniforme,


mas gradativamente e o Latim foi-se impondo, fazendo
praticamente desaparecer as línguas nativas, cujos vestígios
permaneceram apenas na área do vocabulário.

2. Cristianização do Império Romano

“Cristianização é o nome que se dá ao processo de conversão


de indivíduos ao cristianismo. O termo pode descrever um
fenómeno histórico, que provocou a conversão em massa de
povos inteiros, incluindo a prática de converter culturas, bem
como imagens religiosas, calendários, para os usos cristãos,
devido aos esforços dos fiéis desta religião”. Dicionário Ilustrado
da Língua Portuguesa (2001: 241).

A partir do ano 313 da nossa era, graças ao Edito de Milão


promulgado por Constantino Magno, o culto cristão passa a ser
permitido em todo o Império. No mesmo século IV d.C., no ano
384 em função do Edito da Tessalônica, de Teodósio Magno, o
cristianismo torna-se religião oficial do Império Romano. Tal
mudança social foi acompanhada e sustentada pelo pensamento
dos filósofos do cristianismo primitivo. NETO (2011: 1).

A firmeza com que o culto cristão supera o paganismo deveu-se


ao grande apoio que a Igreja recebeu dos imperadores, “cujos
poderes ela absorveu aos poucos, tendo um aumento rápido no
número de adeptos, na riqueza e no raio de influência.” DURANT
(2000: 116). Entretanto, “No final do século IV, as antigas
estruturas são definitivamente suplantadas. A cidade é cercada de
mosteiros e conventos muito povoados “ARIÉS ; DUBY (2000:
280).
43

É indubitável que a nova fé, a partir da conversão de


Constantino, encontrou no poder político um apoio precioso para
o aumento do número de fiéis. No Império, o favor
governamental pelo menos acelerou o seu triunfo. E se o
Cristianismo não esperara este ou aquele apoio para atravessar
as fronteiras, teve por vezes a oportunidade, mesmo no
estrangeiro, de conquistar até soberanos, o que facilitou o seu
êxito CROUZET, (1994: 48).

O processo de cristianização foi cumulativamente pacífico e


violento, dependendo das situações. Na Antiguidade Clássica, a
cristianização ocorreu apenas parcialmente através de leis
contra práticas religiosas indígenas, conversões oficiais de
templos em igrejas cristãs e com a construção de igrejas sobre
antigos sítios religiosos. Também foi posta em prática através da
demonização dos deuses pagãos indígenas, das suas práticas
tradicionais como bruxaria. Esta cristianização parcial evoluiu
para um banimento declarado dos ritos existentes, sob pena de
tortura e morte. STEAD (1999).

Embora a cruz seja, actualmente, o símbolo mais comum do


cristianismo, no século I ela não era particularmente associada a
religião. Durante o século II, até o século III a cruz seria tão
estreitamente associada ao cristianismo, com o seguinte
significado “crucis religiosi”, ou seja "devotos da Cruz”. De
acordo com a tradição cristã, a cruz é uma referência à crucifixão
de Jesus e o crucifixo é a sua referência mais imediata. STEAD
(1999).

Em 321, Constantino reconheceu a capacidade jurídica da Igreja


para receber legados. CROUZET (1994: 50).

O Cristianismo deu ao mundo antigo uma noção nova, a da


devoção militante e coube à Igreja transformá-la em realidade,
44

numa sociedade em que tantas feridas sangravam. São João


Crisóstomo avaliava, afora os heréticos, os cristãos de
Constantinopla em 100.000, dos quais a metade era de pobres,
isto é socorridos pela Igreja. CROUZET ( op. cit: 50).

O Cristianismo, que foi perseguido até ao reinado de Diocleciano,


a partir de Constantino teve liberdade de culto e, em pouco tempo,
tornou-se religião dominante. No dizer de Neto, quando, no século
IV, a nova religião cresceu rapidamente e multiplicou com
velocidade o seu número de fiéis, já não era, de facto, uma
novidade, uma vez que já tinha quatro séculos de existência.

À medida que se ampliava o raio de sua difusão e pretendia


satisfazer as exigências dos espíritos cultivados, o Cristianismo
necessitava de especificar e organizar sua teologia, isto é, na
prática, fazê-la entrar nos quadros intelectuais já, há muito,
erigidos. CROUZET (Idem: 69).

Com os empréstimos da Filosofia, sobretudo do neoplatonismo, a


elite intelectual foi conquistada, o que tornou mais fácil dominar a
elite militar e política e, com o apoio destas, converter ainda mais
fiéis. Portanto, a sistematização lógica das crenças cristãs foi
decisiva e fez com que o Cristianismo triunfasse.

Comparado com outras religiões do seu tempo e lugar, o


Cristianismo teve muito mais sucesso na organização das suas
crenças num sistema coerente. Nesse processo, fez largos
empréstimos da Filosofia, e de modo especial do platonismo.
Todavia, conservou uma identidade rigidamente definida; o seu
compromisso com a Bíblia como livro sagrado era muito mais
inflexível que o respeito dos filósofos por Platão; valorizava a
experiência da comunidade e a tradição de um modo que chocava
os estudiosos acostumados a aceitar a orientação de
experimentados eruditos. Não obstante, a Filosofia ajudou a
modelar as suas crenças a respeito de Deus e do mundo e
45

ensinou-o a defendê-las no debate. O próprio Cristianismo podia


ser designado como filosofia; foi às vezes chamado “filosofia
bárbara”. STEAD (1999: 79).

Sumário
 Origem dos lusitanos;

 O processo de romanização da Península Ibérica;

 A cristianização do Império Romano.

Auto-avaliação
1. “Os lusitanos são considerados, por antropólogos e
historiadores, como um povo sem história por não terem
deixado registos nativos antes da conquista romana. As
informações sobre os lusitanos são transmitidas através
Auto-avaliação
dos relatos dos autores gregos e romanos.” SILVA
NETO (1988).

a) Comente a afirmação
2. Explique, de forma sucinta, como ocorreu o processo de
romanização no território da Península Ibérica.

“O processo de cristianização foi, por vezes, relativamente


pacífico, enquanto por outras foi muito violento, variando desde as
conversações políticas dos povos nativos.” Dicionário Aurélio
electrónico 2010.

a) Desserte sobre a citação acima, à luz do processo de


cristianização do Império Romano.

Bibliografia Básica
ARIÈS, Philippe et DUBY, Georges (Coord). História da Vida
Privada 1: Do Império Romano ao Ano Mil. Trad. Hildegard Feist.
15.ed. São Paulo: Companhia Das Letras, 2000. 637p.
46

CÂMARA Jr. Joaquim Mattoso. História e estrutura da língua


portuguesa. 2ª Ed. Rio de Janeiro, Padrão, 1977.

CROUZET, Maurice(org.)., AYMARD, André e AUBOYER,


Jeannine. História Geral das Civilizações. Trad. Pedro Moacyr
Campos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

Dicionário Aurélio electrónico 2010

GIBBON, Edward. Declínio e Queda do Império Romano. Trad.


José Paulo Paes. 5.ed. São Paulo: Companhia Das Letras, 1989.

NUNES, José Joaquim. Compêndio de gramática histórica


portuguesa. 6ª Ed., Lisboa, Clássica, 1959.

SILVA NETO, Serafim da. Introdução ao estudo da Língua


Portuguesa no Brasil. 5ª Ed., Rio de Janeiro, Presença, 1976.

STEAD, Christopher. A Filosofia na Antiguidade Cristã. Trad.


Odilon Soares Leme. São Paulo: Paulus, 1999.
47

LIÇÃO n˚ 3

A contribuição das outras línguas que coabitam


com o português nos plop para o
desenvolvimento do lp: o caso de Moçambique e
a inter-relação entre as línguas bantu e o
Português de Moçambique (PM)

Introdução
A Língua Portuguesa tem o estatuto de língua oficial em oito (8)
países do mundo, sendo que em alguns países (africanos de
Língua Portuguesa) coabita com outras línguas locais no processo
de comunição.

Apesar de ser uma língua oficial para tais países, o Português é


uma língua falada pela minoria, pois a maioria das populações
falam as línguas locais.

Desta feita, percebe – se, desde logo, o grão da problematicidade


e dinamicidade da própria língua, na medida em que com o
contacto permanente com as línguas locais (maioritariamente do
grupo bantu), o Português sofre transformações substanciais que
concorrem para a irrupção de uma língua com marcas
morfossintácticas, fonético-fonológicas, lexicais e sintácticas dos
falantes de cada pais, dando assim no que commumente
chamamos de Português Brasileiro, Português Moçambicano, por
exemplo.

Deste modo, queremos, nesta lição, discorrer em torno da


correlação do Português com as línguas bantu, faladas em
Moçambique e a contribuição destas na constituição do Português
Moçambicano.
48

1. O panorama do Português em
Moçambique
“Até hoje, trinta e cinco anos depois da independência, ainda se
discutem as várias formas de grafar as línguas locais. De um
seminário a outro, as elites vão debulhando ideias que ficam em
letra morta nos relatórios que ninguém lê. As universidades,
melhor, a universidade pública Eduardo Mondlane, vai ensaiando
cursos que legitimam educadores das línguas de base étnica. De
tempos a tempos, ouve-se falar de uma experiência em ensino
nas línguas locais. Pouco ou nada é publicitado. São iniciativas a
saca-rolha. E, no meu entender, estão a margem da dinâmica da
sociedade que se acultura acriticamente aos valores que a
globalização vai, sem freios, difundindo pelos cantos mais
remotos.” BA KA KHOSSA (2011: 3).

É importante referir de forma limiar que Moçambique situa-se na


zona linguística das chamadas línguas bantu (LB), pertencentes
ao grupo de línguas Níger-Congo, que são faladas em quase toda
a África austral e ocidental. Embora haja alguma polémica
relativamente ao número de LBs2 faladas neste país, estima-se
que existam cerca de vinte (20) (Sitoe & Ngunga: 2000). Quanto
ao Português, declarado língua oficial a partir da independência
em 1975, é falado actualmente por menos de metade da
população (39 %), constituindo a língua materna (L1) de uma
reduzida minoria (cerca de 6 %).

MUFWENE (1997: 49-50), Apud GONSALVES (2000: 01), refere,


de um modo geral, que como língua segunda (L2) o Português é
adquirido durante a infância por via instrucional, embora nas
cidades haja também condições para a sua utilização em meio
natural, através de conversas entre companheiros de bairro, dos
meios de comunicação social, etc.

2
Significa Línguas Bantu
49

Pode considerar-se que, devido ao facto de esta língua ser


tipicamente aprendida na escola, num ambiente em que os
aprendentes estão expostos a um input relativamente estruturado
e têm acesso a materiais escritos nesta língua está entre os
principais factores (externos) que impediram o desencadeamento
de um processo de crioulização do Português em Moçambique.
Desta forma, tal como aconteceu com outras línguas ex-colónias
em regiões colonizadas por potências europeias, o Português de
Moçambique (PM) emerge como uma variedade não-nativa
distinta do modelo de origem, o Português Europeu (PE).

2. A língua portuguesa na actualidade em


Moçambique

Segundo Gonçalves e Chimbutane3, no momento actual, as novas


propriedades do PM estão ainda em fase de variação, verificando-
se que a maior parte dos seus falantes ora produzem estruturas
convergentes com a norma europeia, ora usam estruturas
divergentes desse padrão.

A maior parte dos falantes parece assim operar com mais do que
uma gramática, revelando estar numa fase que poderia ser
designada de “diglossia interna” LIGHTFOOT (1999: 92).

A distribuição e frequência dos traços não-padrão no discurso dos


falantes não é idêntica para todos os membros desta comunidade.
Com efeito, à semelhança do que acontece com outras línguas
ex-coloniais, o PM apresenta um amplo espectro de variação que
inclui desde as sub-variedades “basilectais”, mais distantes do
padrão europeu, dos falantes com pouco contacto com a língua-
alvo, até às sub-variedades mais próximas deste padrão, dos
falantes mais instruídos.

3
Em: O papel das línguas bantu na génese do português de Moçambique: o
comportamento sintáctico de constituintes locativos e direccionais, 2000, pp. 2-3.
50

De acordo com diversos estudos sobre esta variedade do


Português mostraram já o papel das L1s dos falantes, as LBs, na
fixação de novas propriedades gramaticais, com o destaque para
as alterações que atingem constituintes com a função de objecto
directo e indirecto, as novas propriedades dos verbos agentivos e
inacusativos, assim como o novo formato do sintagma do
complementador. Em todas estas mudanças gramaticais ficou
demonstrado que o conhecimento da gramática das LBs por
aprendentes de Português como língua segunda (L2) interfere no
processamento do input, dando origem a uma nova gramática do
Português Cf. GONÇALVES (1990, 2002).

3. O comportamento sintáctico de constituintes


locativos e direccionais no pm, como exemplo de
algumas mudanças gramaticais que ocorrem no
PM com base na preposição “em”

O principal traço que distingue o PM na realização sintáctica de


argumentos locativos e direccionais é o uso da preposição em
com SNs referentes a lugar. Embora com menos frequência, este
tipo de argumentos também ocorre sintacticamente realizado
como SN.

No que se refere aos casos em que é usada a preposição em,


verifica-se, por um lado, que esta preposição aparece associada a
argumentos locativos com a função de ‘tema’, que desempenham
no PE a relação gramatical de sujeito ou objecto directo e são, por
conseguinte, SNs (exemplos (1) e (2)). Por outro lado, esta
mesma preposição rege, também, argumentos direccionais de
verbos de movimento com a função de ‘destino’ (exemplos (3)) ou
‘origem’ (exemplos (4)), que no PE são regidos respectivamente
pelas preposições a/para e de, conforme os seguintes exemplos4:

(1) a. em casa dele é aqui em frente (= a casa dele é...).

4
Refira-se que estamos ao nível da sintaxe
51

b. na nossa zona era fértil (= a nossa zona era...)

(2) a. conheci em casa dela (= ... a casa dela)

b. gostava de visitar aqui mesmo na cidade (= ... a cidade)

(3) a. voltou em casa (= para casa)

b. vinham carros lá na escola (= ... lá à escola)

c. levaram para lá na igreja (= ... (para) lá para a igreja)

d. voltou para no Maputo (= ... para Maputo)

(4) a. está a sair no estúdio (= ... do estúdio)

b. eu saiu lá no Xiquelene (= ... (de) lá do Xiquelene).

4. Comportamento sintáctico de
constituintes locativos e direccionais nas
línguas bantu

De acordo com a análise apresentada na secção anterior, e com


base na preposição em5, as alterações que no PM atingem o
comportamento de constituintes com a função de ‘lugar’ e
‘direcção’ dão evidência da ocorrência de, pelo menos, duas
mudanças gramaticais relativamente ao modelo europeu. Assim,
por um lado, os constituintes com a função de ‘lugar’ são
analisados como SNs, e, por essa razão, considera-se que a
preposição em que coocorre com SNs em posição de sujeito e
objecto directo (Cf. frases (1) e (2)) deve ser considerada um
marcador morfológico deste caso semântico, e não o núcleo de
um SP. Por outro lado, esta mudança co-ocorre com uma
segunda mudança gramatical, que consiste na reanálise dos
verbos de movimento que, no PM, passam a incorporar
informação sobre ‘direcção’, diferentemente do que acontece no

5
No estudo que temos vindo a apresentar de Gonçalves & Chimbutane.
52

PE, em que estes papéis semânticos são marcados


sintacticamente por diferentes preposições.

5. O papel das línguas bantu no


desencadeamento das mudanças
gramaticais no PM
No que se refere à mudança que atinge os constituintes locativos,
pode considerar-se que têm um papel determinante na reanálise
da preposição em a “polivalência” sintáctica destes constituintes
nas LBs, nomeadamente a ausência de restrições relativamente
às posições sintácticas que podem ocupar, embora nestas línguas
os constituintes locativos sejam considerados SNs – realizados
morfologicamente através de marcas específicas (cf. Exemplo:
Tin-tombhi ti-y-e kerek-eni / ka-Gaza / ka kokwani/ bazara.

10-rapariga 10MS-ir-PS 9igreja-Loc/ Loc-Gaza/ Loc 1vovó /


5mercado

‘As raparigas foram à igreja / a Gaza/ à (casa da) vovó/ ao


mercado.’– ); eles podem ocupar posições sintácticas que,
noutras línguas, são tipicamente ocupadas por sintagmas
preposicionais ou adverbiais.

No PM, uma das evidências da interferência desta propriedade


das L1s dos falantes reside na atribuição da categoria nominal
aos constituintes locativos, que são assim realizados como SNs
propriamente ditos ou como sintagmas em-SN. Em qualquer dos
casos, estes constituintes exibem alta mobilidade sintáctica, uma
vez que podem ocupar posições de sujeito, objecto directo e
oblíquo.

Como se viu, a primeira opção é a mais fraca, uma vez que, tanto
quanto as evidências empíricas mostram, na gramática dos
adultos "sobrevivem" poucos casos em que estes constituintes
são realizados como SNs, sendo a opção em que estes
53

constituintes apresentam o formato em-SN aquela que tem


tendência a prevalecer (cf. frases (1) a.

No que diz respeito, especificamente, a este último formato foi


aqui referido que a preposição em não constitui o núcleo de um
sintagma preposicional, devendo antes ser interpretada como um
marcador “morfológico” de caso (semântico) locativo.

Face aos dados aqui apresentados sobre as propriedades dos


constituintes locativos nas LBs, pode considerar-se que esta
reanálise da preposição em resulta da interferência das L1s dos
falantes, nas quais estes constituintes são marcados através de
diferentes estratégias (prefixos, sufixos, morfemas livres, etc.).

Assim sendo, pode admitir-se que a perda dos traços sintácticos


da preposição em resulta de um fenómeno mais geral, de acordo
com o qual, sendo os locativos fixados como constituintes
nominais, a preposição em constitui a estratégia morfológica de
codificação locativa.

Dada esta reanálise, no PM os constituintes nominais locativos


em-SN podem ocupar posições típicas de SNs (de sujeito e
objecto directo), como acontece nas frases (1) e (2), sem que isso
represente uma violação dos princípios da gramática universal.

Desta feita, é provável que a escolha da preposição em como


marcador morfológico de caso locativo esteja relacionada com a
ambiguidade das evidências geradas pela gramática do PE para
aprendentes com L1s bantu. Com efeito, o input gerado pela
gramática do PE contém muitas estruturas em que os sintagmas
preposicionais regidos pela preposição em correspondem nas LBs
a SNs locativos. Estão neste caso os chamados complementos
circunstanciais de lugar, que co-ocorrem no PE com verbos como
estar, dormir, viver, etc, de acordo com os exemplos que se
seguem:
54

*PE: As raparigas rezam/dormem/vivem na igreja.

Changana: Tinthombi tikhongela/tiyetlela/tihanya kerekeni

Como se pode ver, o sintagma preposicional locativo do PE, na


igreja, corresponde nas LBs a um SN locativo, kerekeni. Face a
este tipo de evidências, pode admitir-se que, ao longo do
desenvolvimento linguístico dos aprendentes, tenha emergido
uma propriedade gramatical de acordo com a qual a preposição
em, que no PE rege os constituintes locativos, é fixada como
marcador morfológico deste tipo de constituintes com uma função
equiparável às diferentes estratégias usadas na codificação
destes constituintes nas LBs.

Sumário
 O estatuto da Língua Portuguesa em Moçambique;

 A contribuição das Línguas Bantu na constituição do


Português Moçambicano;

 Papel das LB no desencadeamento das Mudanças no


Português

 Exemplos gramaticais de mudanças no Português falado


em Moçambique.

Auto-avaliação
1. (…) Pode considerar-se que, devido ao facto de esta Língua (o
português) ser tipicamente aprendida na escola na escola,
num ambiente em que os aprendentes estão expostos a um
imput relativamente estruturado e têm acesso a materiais
escritos nesta língua está entre os principais factores
(externos) que impediram o desencadeamento de um
Auto-avaliação processo de crioulização do português em Moçambique.
MUFWENE (1997: 49-50).
55

a) Disserte sobre a aferição acima tendo em conta o estatuto


que a Língua Portuguesa "sempre teve" em Moçambique.
(5 linhas no máximo).
b) Fale da interferência (ou contribuição) das línguas
moçambicanas do grupo Bantu no Português
Moçambicano, dando exemplos dessa interferência, a partir
da sua L1 ou LM, ao nível morfológico, sintáctico,
semântico e/ou fonético. (6 linhas no máximo).

Bibliografia básica
GONÇALVES, Perpétua. A Gramática de Português em
Moçambique: Aspectos da Estrutura Argumental dos Verbos.
Lisboa, Universidade de Lisboa, Tese de doutoramento, 1990.

_______________ A Génese de Línguas Formadas em Contextos


Multilingues: uma Abordagem Paramétrica. Crioulos de Base
Portuguesa – Actas do Workshop sobre Crioulos de Base Lexical
Portuguesa, org. por E. d’Andrade, D. Pereira e M. A. Mota, 247-
257. Lisboa: Associação Portuguesa de Linguística, 1999.

LIGHTFOOT, D. How to Set Parameters: Arguments from


Language Change. Cambridge Massachussets: MIT Press. 1991.

________________________The Development of Language.


Acquisition, Change and Evolution. Cambridge Massachussets:
MIT Press, 1999.

MUFWENE, S. Jargons, pidgins, creoles, and koines: What are


they? The structure and status of pidgins and creoles, org. por A.
Spears and D. Winford, 35-69. Amsterdam: John Benjamins,1997.

Sitoe, B., e A. Ngunga, (orgs.) Relatório do II Seminário sobre a


Padronização da Ortografia de Línguas Moçambicanas. Maputo:
56

NELIMO – Centro de Estudos das Línguas Moçambicanas,


Universidade Eduardo Mondlane. 2000.

UNIDADE III

O papel das instituições da lusofonia

Introdução
A lusofonia, como conjunto de Países falantes do Português
constitui um bloco comum e, portanto, orientado por princípios e
políticas de cooperação mútuas, daí que existem instituições
criadas por esse conjunto de países de modo a coordenar as
actividades inerentes ao seu funcionamento.

A CPLP (Comunidade de Paises de Língua Portuguesa) é o


organismo-“mãe” que aglutina vários órgãos e instituições com
personalidade jurídica e orçamento para executar actividades que
constribuam para o crescimento dos países-membros, bem como
da Língua Portuguesa, no geral.

AO TERMINAR ESTA UNIDADE DEVERÁ SER


CAPAZ DE:

Objectivos  Identificar as instituições da Lusofonia;


 Descrever as principais actividades desenvolvidas por
cada uma delas;
 Compreender o papel e a importância das actividades
desenvolvidas pelas instituições da Lusofonia.
57

LIÇÃO N˚ 1, 2

1.Comunidade dos paises de língua


portuguesa (CPLP) e os seus órgãos

1.1. Introdução
Ao introduzirmos estas lições pretendemos apresentar, de forma
sucinta, as actividades e/ou incumbências atribuídas a CPLP e
também aos seus órgãos no quadro da cooperação
intercontinental dos países que fazem parte deste bloco, os
objectivos, a declaração constituitiva, os órgãos, entre outros
aspectos correlatos.

Toda a informação contida nestas duas lições foi extraída da


página oficial da CPLP, na internet. (http://www.cplp.org/id-
2752.aspx).

1.2. Motições históricas


A ideia de criação de uma comunidade de países e povos que
partilham a Língua Portuguesa – nações irmanadas por uma
herança histórica, pelo idioma comum e por uma visão
compartilhada do desenvolvimento e da democracia - foi sonhada
por muitos ao longo dos tempos. Em 1983, no decurso de uma
visita oficial a Cabo Verde, o então Ministro dos Negócios
Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, referiu que: “O processo
mais adequado para tornar consistente e descentralizar o diálogo
tricontinental dos sete países de Língua Portuguesa espalhados
por África, Europa e América seria baseado em cimeiras rotativas
bienais de Chefes de Estado ou Governo, promover encontros
anuais de Ministros de Negócios Estrangeiros, efectivar consultas
políticas frequentes entre directores políticos e encontros
regulares de representantes na ONU ou em outras organizações
58

internacionais, bem como avançar com a constituição de um


grupo de Língua Portuguesa no seio da União Interparlamentar.

O processo da constituição da CPLP ganhou impulso decisivo na


década de 90, merecendo destaque o empenho do então
Embaixador do Brasil em Lisboa, José Aparecido de Oliveira. O
primeiro passo concreto para a sua criação foi dado em São Luís
do Maranhão, em Novembro de 1989, por ocasião da realização
do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos
países de Língua Portuguesa - Angola,Brasil, Cabo Verde, Guiné-
Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, a convite
do Presidente brasileiro, José Sarney. Na reunião decidiu-se pela
criação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) que
se ocupa da promoção e difusão do idioma comum da
Comunidade.

Em Fevereiro de 1994, os sete ministros dos Negócios


Estrangeiros e das Relações Exteriores, reunidos pela segunda
vez, em Brasília, capital do Brasil, recomendar os respectivos
Governos a realizarem uma Cimeira de Chefes de Estado e de
Governo com vista à adopção do acto constitutivo da Comunidade
dos Países de Língua Portuguesa.

Os ministros acordaram, ainda, no quadro da preparação da


Cimeira, a constituição de um Grupo de Concertação Permanente,
sedeado em Lisboa e integrado por um Alto Representante do
Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal (o Director-Geral
de Política Externa) e pelos Embaixadores acreditados em Lisboa
(única capital onde existem Embaixadas de todos os países da
CPLP).
59

1.3. Objectivos da CPLP

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - CPLP é o


fórum multilateral privilegiado para o aprofundamento da
amizade mútua e da cooperação entre os seus membros. Criada
em 17 de Julho de 1996, e com sede em Lisboa, capital de
Portugal, a CPLP goza de personalidade jurídica e é doptada de
autonomia financeira. A Organização tem como objectivos
gerais:

 A concertação política - diplomática entre seus estados


membros, nomeadamente para o reforço da sua presença
no cenário internacional;
 A cooperação em todos os domínios, inclusive os da
educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura,
administração pública, comunicações, justiça, segurança
pública, cultura, desporto e comunicação social;
 A materialização de projectos de promoção e difusão da
língua portuguesa.

1.4. DECLARAÇÃO CONSTITUITIVA DA


CPLP

Os Chefes de Estado e de Governo de Angola, Brasil, Cabo


Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e
Príncipe, reunidos em Lisboa, no dia 17 de Julho de 1996,

Convencidos dos valores contínuos da Paz, da Democracia e do


Terminologia Estado de Direito, dos Direitos Humanos, do Desenvolvimento e
da Justiça Social.
60

Tendo em mente o respeito pela integridade territorial e a não-


ingerência nos assuntos internos de cada Estado, bem como o
direito de cada um estabelecer as formas do seu próprio
desenvolvimento político, económico e social. Adoptar
soberanamente as respectivas políticas e mecanismos nesses
domínios; Conscientes da oportunidade histórica que a presente
Conferência de Chefes de Estado e de Governo oferece para
responder às aspirações e aos apelos provenientes dos povos
dos sete países e tendo presente os resultados prometedores
das reuniões de Ministros dos Negócios Estrangeiros e das
Relações Exteriores dos Países de Língua Portuguesa,
realizadas em Brasília em 9 de Fevereiro de 1994, em Lisboa em
19 de Julho de 1995, e em Maputo em 18 de Abril de 19966.

Consideram imperativo:

 Consolidar a realidade cultural nacional e plurinacional


que confere identidade própria aos Países de Língua
Portuguesa, reflectindo o relacionamento especial
existente entre eles e a experiência acumulada em anos
de profícua concertação e cooperação;
 Encarecer a progressiva afirmação internacional do
conjunto dos Países de Língua Portuguesa que
constituem um espaço geograficamente descontínuo mas
identificado pelo idioma comum;
 Reiterar, nesta ocasião de tão alto significado para o
futuro colectivo dos seus Países, o compromisso de
reforçar os laços de solidariedade e de cooperação que os
unem, conjugando.

6
www. Cplp.com acesso no dia 25 de Março de 2013 pelas 16 horas e 15minutos
61

1.5. Estados-Membros

A CPLP é formada por oito Estados soberanos cuja língua oficial


ou uma delas é a Língua Portuguesa. Eles estão espalhados por
todos os cinco continentes habitados da Terra, uma vez que há
um na América, um na Europa, cinco na África e um
transcontinental entre a Ásia e a Oceânia. São eles: a República
de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de
Cabo Verde, a República da Guiné-Bissau, a República de
Moçambique, a República Portuguesa, a República Democrática
de São Tomé e Príncipe e a República Democrática de Timor-
Leste, esta última com duas línguas oficiais, nomeadamente o
Português e o Tétum.

Além dos membros plenos e efectivos, há três observadores


associados que são a República da Guiné Equatorial, a
República das Maurícias e a República do Senegal. Todos esses
países localizam-se no continente africano, mas apenas um tem
o português como língua oficial, a Guiné Equatorial que partilha
tal estatuto com o Francês.

A área do globo terrestre ocupada pelos oito Estados – Membros


da CPLP é muito vasta. São 10.742.000 Km2 de terras, 7,2% da
terra do planeta (148.939.063 km2), espalhadas por quatro
continentes: Europa, América, África e Ásia.

Situado maioritariamente no hemisfério Sul, este espaço


descontínuo abrange realidades tão diversas como a do Brasil,
quinto país do mundo pela superfície, como o minúsculo
arquipélago de São Tomé e Príncipe, o Estado mais pequeno,
em área, de África.

O clima, a fauna e a flora são variados, correspondentes à


diversidade das latitudes em que se situam os vários países
membros. Com excepção de Portugal, de clima temperado com
62

variantes oceânica e mediterrânea, a maior parte dos países da


CPLP situam-se na zona tropical sub – equatorial.

1.6.Órgãos da CPLP

No acto da criação da CPLP foram estabelecidos os seguintes


órgãos:

 A Conferência de Chefes de Estado e do Governo;


 O Conselho de Ministros;
 O Comité de Concertação Permanente;
 O Secretariado Executivo.
Aquando da revisão dos Estatutos, na IV Cimeira de Chefes de
Estado (Brasília, 2002), foram acrescentados:

 As Reuniões Ministeriais Sectoriais;


 A Reunião dos Pontos Focais de Cooperação.
 O Xº Conselho de Ministros, realizado em Luanda em
2005, integrou ainda:
 O Instituto Internacional de Língua Portuguesa.
Desde 2007, foi ainda estabelecida:

 A Assembleia Parlamentar.

1.7. Organização

A CPLP tem procurado estruturar-se ao longo dos seus 12 anos


de existência. Reflectindo a vontade política dos Estados-
membros, as aspirações e expectativas dos seus cidadãos, a
Organização tem progredido no sentido de uma adaptação
evolutiva das suas estruturas.
Apesar da exiguidade de recursos de que dispõe, a vitalidade da
CPLP reflecte-se na defesa da democracia e no elevado número
63

de medidas conjuntas que os Estados – Membros têm adoptado


para harmonizar políticas, activar procedimentos comuns e
cooperar em domínios tão importantes como a Justiça, a
Educação, as Forças Armadas, Ambiente e Migrações, entre
outros.

A adaptação da CPLP às novas exigências de crescimento,


derivadas de um maior dinamismo da Organização nos cenários
nacionais e internacional e nas políticas dos Estados – Membros,
tem sido acompanhada por sucessivas alterações dos Estatutos.

Este novo quadro legal permitiu, designadamente, o reforço da


acção dos pontos focais, com a conversão das suas reuniões em
órgão da CPLP, a criação dos Grupos da CPLP nas capitais e
nas sedes dos organismos internacionais, a regulamentação da
adesão dos Estados e organizações internacionais como
observadores associados, e das instituições da sociedade civil
como observadores consultivos e o XII Conselho de Ministros, de
Novembro de 2007, deu uma nova dimensão institucional à
organização com a criação da Assembleia para os Assuntos
Parlamentares.

O reforço e o aprofundamento de relações com as organizações


da sociedade civil dos países-membros são outros dos
componentes da acção que se revestem de maior importância,
visto que permite aproximar os países e os seus cidadãos.
Ademais, crescente solicitação de pedidos do estatuto de
Observador Consultivo permite à CPLP esperar que se criem
novos espaços de cooperação e caminhos para a uma acção
colectiva e multilateral nos mais variados sectores de actividade,
ainda que de forma algo tímida é cada vez mais natural a
colaboração entre entidades homólogas dos Estados, seja no
plano estatal seja no âmbito da sociedade civil.
64

2. O papel das instituições da lusofonia:


CPLP e o Instituto camões

2.1. Papel diplomático

A CPLP consagra, nos seus estatutos, a concertação político-


diplomática entre os seus membros como um dos objectivos
gerais da organização. Na realidade, toda a actividade da CPLP
é orientada pelos seus Estados-Membros que concertam
posições, pelo menos uma vez por mês, nas reuniões ordinárias
do Comité de Concentração Permanente.

Naturalmente, a concertação politico-diplomática assume-se


como um dos vectores de actuação da CPLP com maior
dinamismo, apesar de muitas das medidas e posições comuns
adoptadas não serem divulgadas por causa das suas
características de relações e negócios estrangeiros.

Pelo facto de o espaço da publicação ser exíguo, teremos de


enumerar apenas algumas das iniciativas e acções da CPLP em
matéria de concertação politico-diplomática – inequivocamente,
quase todas as iniciativas em matérias de cooperação em todos
os domínios e de promoção da Língua Portuguesa são
concertadas diplomaticamente. Sobre elas pode ler em
“Cooperação”. Entre as acções que vamos destacar, sublinha-se
a componente de observação eleitoral, que vem assumindo um
papel cada vez mais relevante ao nível internacional.

2.2. Promoção e difusão da língua


portuguesa
As Nações Unidas declararam o decénio 2005-2014 como a
Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável,
iniciativa ambiciosa e complexa, cujo objectivo global consiste em
65

integrar os valores inerentes ao desenvolvimento sustentável nas


diferentes formas de aprendizagem, com vista a fomentar as
transformações necessárias para uma sociedade mais justa e
sustentável para todos. A CPLP partilha deste desígnio baseado
na visão de que todos tenham a oportunidade de aceder a uma
educação e adquirir valores que fomentem práticas sociais,
económicas e políticas de sustentabilidade, na esperança de que
as gerações futuras saibam compatibilizar as necessidades
humanas com o uso sustentável dos recursos, superando assim
os efeitos perversos que vão desde a destruição ambiental até à
manutenção ou agravamento da pobreza.

No âmbito das comemorações do X Aniversário da CPLP, o


Secretariado Executivo convidou os Estados-Membros a
institucionalizarem o dia da CPLP nas escolas. Com esta
iniciativa pretendia-se, não apenas chamar a atenção das
crianças e jovens pela CPLP, os seus objectivos, as suas acções
e os seus desafios, mas, e sobretudo, criar neles a consciência
de que são parte integrante desta Comunidade. ABRIR
PARAGRAFO

Ainda no âmbito do 10º aniversário da CPLP, o Secretariado


Executivo lançou, através dos Ministérios de Educação dos
Estados-Membros, um projecto de geminação escolar,
almejando a troca regular de correspondência entre os alunos.
Apesar dos esforços e da sua validade, esta iniciativa ainda não
obteve a adesão de todos os países.

Em matéria de defesa e promoção da Língua Portuguesa, o


Secretariado Executivo tem canalizado insistentemente a ideia de
que é preciso dotar o IILP – Instituto Internacional da Língua
Portuguesa de uma dimensão adequada ao papel que esta
instituição da CPLP está vocacionada a desempenhar. A VI
Conferência de Chefes de Estado e de Governo, realizada em
66

Bissau, a 17 de Julho de 2006, elegeu uma nova Direcção


Executiva (Angola, Amélia Mingas) que começou a exercer
funções em Novembro de 2006. A Presidência do Conselho
Científico cabe ao Brasil e é exercida pelo Coordenador da
Comissão para a Defesa da Política de Ensino, Aprendizagem,
Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (COLIPE) que
passou a ser, também, a Comissão Nacional do Brasil para o IILP.

Actualmente, o iilp, e dirigido pela mocambicana marisa


mendonca, docente da UP.

2.3. Papel económico

A Lusofonia económica representa um projecto estruturante para


a internacionalização das empresas portuguesas e para a
dinamização da economia. O surgimento de novas centralidades
de desenvolvimento económico, a par da forte contracção das
economias desenvolvidas, confere uma nova relevância às
economias emergentes, entre elas, os países da CPLP que
passaram a assumir um papel relevante não só pelo seu
potencial intrínseco, mas também por se encontrarem inseridos
em zonas regionais de integração económica com elevado
potencial.

Com efeito, os países da CPLP encontram-se integrados em seis


espaços regionais económicos distribuídos por quatro
continentes e estima-se que se encontram no espaço lusófono
cerca de 245 milhões de pessoas que integram regiões
económicas com cerca de 1.800 milhões de pessoas.

Acresce que os países da CPLP se encontram inseridos em


regiões económicas que beneficiam dos acordos regionais de
comércio que favorecem as trocas económicas nessas regiões e
67

que constituem factores importantes de competitividade


económica para a inserção das empresas e que permitem,
igualmente, aceder a fundos internacionais e financeiros locais
para o investimento no desenvolvimento regional.

Este é um projecto que assenta na articulação entre o Estado


Português e entidades representativas do sector empresarial e
visa aumentar, substancialmente, a presença das empresas
portuguesas nos mercados emergentes por via dos países da
CPLP, a intensificação de parcerias entre empresários da CPLP
e divulgação externa do conceito de CPLP como espaço
económico distintivo, no qual Portugal assume relevante papel
de acesso ao mesmo, bem como de acesso das empresas da
CPLP ao espaço económico da União Europeia.

3. Instituto Camões

O Instituto Camões é uma organização cuja natureza jurídica é


uma instituição pública, com um estatuto próprio com a missão
de promover a língua e cultura portuguesas no estrangeiro e
dependente do Governo Português, particularmente do Ministério
dos Negócios Estrangeiros e tem como chefia a senhor Ana
Paula Laborinho.

O Instituto de Camões tem a sua sede em Lisboa, Portugal, e é


fruto do anterior Instituo de Cultura e Língua Portuguesa, criado
em 15 de Junho de 19927 e tem como objectivos assegurar a
orientação, coordenação e execução da política cultural externa
de Portugal.

3.1. Centros Culturais Portugueses

O Instituto em referência tem Centros Culturais Portugueses


espalhados em 16 países, nomeadamente Angola, Alemanha,
7
www.Ic.com acesso em 3 de Abril de 2013 pelas 16 horas
68

Brasil, Cabo Verde, China, França, Guiné-Bissau, Índia, Japão,


Luxemburgo, Macau, Marrocos, Moçambique, São Tomé e
Príncipe, Timor Leste e Tailândia.

3.2. Divulgação e ensino da Língua


Portuguesa

Se o Português já não goza do estatuto de língua universal que


manteve nos séculos XVI e XVII, ele é, contudo, hoje em dia,
objecto de uma particular atenção, pelo facto de por todo o lado
se verificar o despertar de um interesse crescente e cada vez
mais forte por tudo o que diz respeito à língua e culturas
portuguesas.

O Instituto Camões não esta alheio a esta causa e várias


actividades tem sido realizadas com o propósito de divulgar a
língua nos países que fazem parte da CPLP bem como no resto
do mundo. Dentre essas acções as que evidenciam-se são:

Curso de Literaturas de Língua Portuguesa

Esta iniciativa visa divulgar as literaturas produzidas nos países


da CPLP, com enfoque na Literatura Portuguesa e
Moçambicana, num formato de conferências diárias proferidas
por docentes universitários e escritores. Trata-se de uma
iniciativa anual organizada em parceria com a Faculdade de
Letras da Universidade Eduardo Mondlane.

Encontros com a História

Os Encontros com a História têm o formato de conferências,


participadas por investigadores portugueses e moçambicanos, e
visam, entre outros objectivos, contribuir para a divulgação
pública do conhecimento histórico num contexto extra-
universitário e aprofundar o conhecimento dos países da
69

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa- CPLP. Trata-se


de uma iniciativa anual organizada em parceria com a Faculdade
de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo
Mondlane.

Na perspectiva de não apenas divulgar a língua por via do


ensino da mesma, o Instituto Camões tem também organizado
concursos literários:

Prémio Revelação AEMO/ICA de Ficção

A Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), no


cumprimento dos objectivos programados nos seus Estatutos e o
Instituto Camões (IC) instituíram o Prémio Revelação AEMO/ICA
de Ficção, a ser anualmente atribuído aos melhores textos
submetidos ao Júri. O Prémio Revelação AEMO/ICA de Ficção
tem como objectivo promover a criação do texto literário em
Moçambique. O Prémio corresponderá à publicação e
lançamento dos trabalhos premiados, assumindo os outorgantes,
AEMO, ICA e o BCI a primeira edição com um mínimo de 300
(trezentos) exemplares.

Prémio Instituto Camões para a Banda Desenhada

O Prémio Instituto Camões para a Banda Desenhada é de


âmbito nacional e está aberto a estudantes de Escolas
Secundárias Gerais - 2º Ciclo, do Ensino Médio, Técnico e
Universitário. O objectivo desta iniciativa é incentivar a
expressão em Banda Desenhada, género que tem conhecido
uma adesão cada vez maior em Moçambique, principalmente no
seio da juventude.
70

O Prémio sugere, igualmente, que os candidatos produzam o


trabalho em co-autoria, concretamente com alguém que domine
bem a Língua Portuguesa, para que os candidatos não
subestimem o texto na apresentação do trabalho final.

Oficinas de Oralidade/Prémio Eloquência Instituto Camões

Para além da animação cultural das escolas envolvidas, o


objectivo deste Prémio é motivar os estudantes para a
importância da expressão oral em Língua Portuguesa e para a
consciencialização da sua aplicação no mercado de trabalho, em
áreas tão variadas como a comunicação social, a docência, as
relações públicas, a publicidade, o teatro, o cinema, entre outras.

Sumário
 As instituições da lusofonia;

 O papel das Instituições da lusofonia;

Exercícios
1.Os países da Língua Oficial Portuguesa são Estados soberanos
cuja língua oficial ou uma delas é a língua portuguesa. Eles estão
espalhados por todos os cinco continentes habitados da Terra,
uma vez que há um na América, um na Europa, cinco na África e
um transcontinental entre a Ásia e a Oceânia, distantes, mas
unidos traços comuns. (www.cplp.org.pt).
a) Debruçe-se sobre os motivos históricos e interesses adjacentes
a união do chamado “Império português.” 8
b) Refira-se a situações que na actualidade constituem obstáculos
e desafios ao desenvolvimento integral e harmonioso do “Império
português”.
c) Sugira alternativas viáveis e sustentáveis de eliminação de
assimetrias e de potenciação económica dos países da CPLP.

8
O mesmo que Países de Língua Oficial Portuguesa
71

d) Na sua opinião, qual devia ser o papel específico das


instituições da lusofonia na expansão e afirmação da Língua
Portuguesa no mundo.

Bibliografia Básica
A única bibliografia básica para estas informações é o sítio da cplp
na internet, conforme avançamos no limiar desta unidade
temática, não descartando outras fontes que se julguem
necessárias. (http://www.cplp.org/).
72

UNIDADE IV

4.A unidade e diversidade da língua


portuguesa

Introdução
Nenhuma língua permanece a mesma em todo o seu
domínio e, ainda num só local, apresenta um sem-número
de diferenciações. [...]. Essas variedades podem ser de
ordem geográfica, social e até individual, pois cada um
procura utilizar o sistema idiomático da forma que melhor
lhe exprime o gosto e o pensamento; não prejudicando a
unidade superior da língua, nem a consciência que têm os
que a falam diversamente.

Iniciamos esta unidade temática falando da variação


linguística. Interessa-nos, porém, debruçarmo-nos sobre a
Língua Portuguesa como um sistema e a sua variação, com
vista a perceber-se a essência e a diferença existente entre
as variedades geográficas, dialectal, social e individual.

Ainda nesta unidade, iremos explicitar a distinção entre a


norma padrão da variedade europeia (PE); e a norma
padrão da variedade brasileira, as variedades africanas –
caso de Moçambique – que norma padrão?

Ao completer esta unidade, você será capaz de:

 Compreender a Língua Portuguesa como um sistema e a


sua variação;
 Identificar e descrever as varidades da Língua
Objectivos Portuguesa;
 Analisar a relação de forças do Português e outras
línguas.
73

LIÇÃO n˚ 1 e 2

Variação: definição de conceitos, factores e


tipos de variedades

Introdução
Na área vastíssima e descontínua em que é falado, o Português
apresenta-se como qualquer língua viva, internamente
diferenciado em variedades que divergem de maneira mais ou
menos acentuada quanto à pronúncia, à gramática e ao
vocabulário. Cunha e Cintra (1984: 9).

Nestas duas lições procuraremos discutir o conceito de variação e


indicarmos a área em que se estuda a variação e, mormente, os
tipos de variedades linguísticas.

Ao completer esta lição, você será capaz de:

Discutir o conceito de variação linguística;

 Compreender os factores que influenciam a variação


linguística;

 Distinguir as variedades geográficas da variedade


dialectal, social e individual;

 Comparar a norma padrão da variedade europeia


(PE) e a norma padrão da norma brasileira (PB) e,
finalmente, as variedades africanas.
74

1. Variação linguística do Português

1.1. Definição de conceitos


A variação é o modo pelo qual a língua se diferencia,
sistemática e coerentemente, de acordo com o contexto
histórico, geográfico e sócio-cultural no qual os falantes da
mesma se manifestam verbalmente. Também pode ser
entendida como o conjunto das diferenças de realização
linguística - falada ou escrita - pelos locutores de uma
mesma língua. Tais diferenças decorrem do facto de o
sistema linguístico não ser unitário, mas comportar vários
eixos de diferenciação: estilístico, regional, sociocultural,
ocupacional e etário.

A variação e a mudança podem ocorrer em algum ou em


vários dos sub-sistemas constitutivos de uma língua
(fonético, morfológico, fonológico, sintáctico, léxico e
semântico). O conjunto dessas mudanças constitui a
evolução dessa língua.

Portanto, devido a variação que decorre da prática corrente


de um dado grupo social, em dada época e em dado lugar,
uma língua nunca é idêntica ao que ela é em outra época e
outro lugar, na prática de outro grupo social.

1.2. Factores que influenciam a


variação linguística

Existem, pois, diversos factores de variação possíveis,


nomeadamente associados a aspectos geográficos e
sociolinguísticos, à evolução linguística e ao registo
linguístico. Referimo-nos claramente a factores sociais ou
culturais (escolaridade, profissão, sexo, idade, grupo social
75

etc.) e geográficos (tais como o português do Brasil, o


português de Portugal, os falares regionais etc.).

2. Tipos de variedades linguísticas

2.1. Variedades geográficas do Português


As variedades geográficas, também denominadas
variedades diatópicas resultam das distâncias geográficas
que separam os falantes. Assim, por exemplo, a mistura de
cimento, água e areia, chama-se betão em Portugal; no
Brasil, chama-se concreto.

As mudanças de tipo geográfico designam-se dialectos (ou


mais propriamente geoletos), cuja área de estudo na
Linguística é a dialectologia. Embora o termo 'dialecto' não
tenha nenhum sentido negativo, acontece que,
erroneamente, tem sido comum chamar dialecto a línguas
que supostamente são "simples" ou "primitivas".

2.2. Variedades diacrónicas do Português

Relacionadas com a mudança linguística, essas variedades


aparecem quando se comparam textos escritos na mesma
língua, porém pertencendo a diferentes épocas e verificam-
se diferenças sistemáticas na gramática, no léxico e às
vezes na ortografia (frequentemente como reflexo de
mudanças fonéticas). Tais diferenças serão maiores quanto
maior for o tempo que separa os textos. Cada um dos
estágios da língua, mais ou menos homogéneos e
circunscritos a uma certa época é chamado variedade
diacrónica. Por exemplo, na Língua Portuguesa pode-se
distinguir, claramente, o Português Moderno (que, por sua
vez, apresenta diversidades geográficas e sociais) do
Português Arcaico.
76

2.3. Variedades sociais ou diastráticas do


Português

As variedades sociais ou dastrácticas compreendem todas


as modificações da linguagem produzidas pelo ambiente em
que se desenvolve a falante.

Neste âmbito, interessa-nos, sobretudo, o estudo dos


sociolectos, os quais se devem a factores como classe
social, educação, profissão, idade, procedência étnica, etc.
Em certos países onde existe uma hierarquia social muito
clara, o sociolecto da pessoa define a qual classe social ela
pertence. Isso pode significar uma barreira para a inclusão
social.

Por exemplo, é comum um falante de idade avançada ou


que não tenha experimentado a escolaridade dizer: mbondia
minha filho. Comé bro – jovens de uma certa geração;
Cordiais saudações meu caro ilustríssimo reitor –
académicos, letrados, etc. amplexos reverendo – Bispos,
padres, pastores de igreja – toda comunidade eclesiástica.
Vai queimar as pestanas – escriturários/estudantes. Banhar
a madeira – carpinteiros.

2.4. Variedades situacionais ou


diafásicas???

As variedades situacionais ou diafásicas incluem as


modificações na linguagem decorrentes do grau de
formalidade da situação ou das circunstâncias em que se
encontra o falante. Esse grau de formalidade afecta o grau
de observância das regras, normas e costumes na
comunicação linguística.
77

Exemplo: - Sua Excelência Salomão António Massingue,


Presidente… - cortesia exacerbada.

- Nosso irmão dr. Salomão António; mas mana Ancha,


você está mesmo louca… proximidade

2.5. Os sociolectos

Os sociolectos são variedade que ocorrem dentro de


comunidades socialmente definidas, ou seja, grupos de
indivíduos que, tendo características sociais em comum
(profissão, faixa etária etc.), usam termos técnicos, gírias ou
fraseados que os distinguem dos demais falantes na sua
comunidade. É também chamado dialecto social ou variante
diastrática.

Exemplos: a pronúncia das palavras /d/ente, sociedade


Macua, Machanganas/Rongas, e da palavra /t/osse na
comunidade dos Macondes vs Chuabos e Tongas. São
dalguns exemplos de sociolectos do português em
Moçambique.

2.6. Variação social

Esta variedade agrupa alguns factores de diversidade: o


nível sócio-económico, o grau de educação, a idade e o
género do indivíduo. A variação social não compromete a
compreensão entre indivíduos, como poderia acontecer na
variação regional. O uso de certas variantes pode indicar
qual o nível sócio-económico de uma pessoa, e há a
possibilidade de que alguém, oriundo de um grupo menos
favorecido, venha a atingir o padrão de maior prestígio.
78

2.7. Variação estilística ou estilos

Refere-se às diferentes circunstâncias de comunicação em


que se coloca um mesmo indivíduo: o ambiente em que se
encontra (familiar ou profissional, por exemplo), o tipo de
assunto tratado e quem são os receptores. Sem levar em
conta as graduações intermediárias, é possível identificar
dois limites extremos de estilo: o informal, quando há um
mínimo de reflexão do indivíduo sobre as normas
linguísticas, utilizadas nas conversações imediatas do
quotidiano e o formal, em que o grau de reflexão é máximo,
utilizado em conversações que não são do dia-a-dia e cujo
conteúdo é mais elaborado e complexo. Não se deve
confundir o estilo formal e informal com língua escrita e
falada, pois os dois estilos ocorrem em ambas as formas de
comunicação.

2.8. Variação individual ou idiolectos

Trata-se de uma variedade peculiar a um único indivíduo ou


o conjunto de traços próprios ao seu modo de se expressar.

2.9. Registo (ou diátipos): o vocabulário especializado


e/ou a gramática de certas actividades ou profissões;

2.10. Etnoletos: variedade falada pelos membros de uma


etnia (termo pouco utilizado, já que geralmente ocorre em
uma área geograficamente definida, coincidindo, portanto,
com o conceito de dialecto.

3. Variação dialectal vs norma padrão do


PE e a norma padrão do PB

Na verdade, dialecto é uma forma particular, adoptada por


uma comunidade, na fala de uma língua. Nesse sentido,
79

pode-se falar de Português Brasileiro, Português Angolano,


Português Moçambicano, etc. É preciso também ter
presente que os dialectos não apresentam limites
geográficos precisos - ao contrário, são borrados e graduais
- daí se considerar que os dialectos que constituem uma
língua formam um continuum sem limites precisos. Embora
isto possa ser aproximadamente válido para o Português,
não parece valer para o Alemão, pois há dialectos desta
língua que são ininteligíveis entre si.

No que diz respeito ao Português, além de vários dialectos e


subdialectos, falares e subalares, há dois padrões
reconhecidos internacionalmente: o Português de Portugal e
o Português do Brasil, com sistemas próprios de falar.

Sumário

 Factores da variação linguística;

 Tipos de variedades linguísticas de Português;

 As normas do Português.

Exercícios

1. As diferentes modalidades de variação linguística não existem


isoladamente, havendo um inter-relacionamento entre elas: uma
variante geográfica pode ser vista como uma variante social,
considerando-se a migração entre regiões do país.
BETTENCOURT (2000: 37).

a) Tendo em conta o extracto acima, distinga os diátopos das


variantes diafásicas do Português, dando exemplos claros da
mesma língua. (2.0v).
b) Explique, exemplificando se possível, a relação existente entre
os estilos e a dimensão pragmática da língua.
80

I. Dadas às questões a seguir, assinale com (X) na alternativa que


considerar a mais correcta.

1. A variação de uma língua é definida como sendo:

a) A forma pela qual os gramáticos introduzem novos vocábulos


numa determinada língua natural.

b) O fenómeno de modificação linguística que ocorre em todas as


línguas naturais do mundo, especificamente no campo fonético,
semântico e sintáctico.

c) O modo pelo qual ela se diferencia, sistemática e


coerentemente, de acordo com o contexto histórico, geográfico e
sócio-cultural no qual os falantes dessa língua se manifestam
verbalmente.

d) Também pode ser entendida como o conjunto das diferenças


de realização linguística - falada ou escrita - pelos locutores de
uma mesma língua, decorrentes de factores sociais.

2. Para a ocorrência da variação concorrem vários factores


nomeadamente:

a) Sociais: sexo, idade, distanciamento linguístico, distanciamento


geográfico.

b) Culturais: grupo social, profissão, faixa etária, pobreza e


negligência.

c) Patológicos: problemas da faringe, nasalização, deficiências


respiratórias.

d) Nenhuma das alternativas.

Bibliografia Básica

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Bibliografia Geral
Bibliografia activa

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lingüística) e "variação" (rubrica: lingüística).

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Htpp//www.cplp.com//htm acesso em 31 de Março de


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