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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Centro de Ensino à Distância

Manual do Curso de Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa

Língua Portuguesa II

Código: (P0183)

Módulo Único
24 Unidades
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de
Ensino à Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a
duplicação ou reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer
formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou
outros), sem permissão expressa da entidade editora (Universidade Católica de
Moçambique-Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é
passivel a processos judiciais.

Elaborado Por: dr. Jane Mutsuque


Licenciados em ensino da Língua Portuguesa pela UP.
Colaborador do Curso de Licenciatura em ensino do Português, do Centro de Ensino
à Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM.

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância-CED
Rua Correia de Brito No 613-Ponta-Gêa

Moçambique-Beira
Telefone: 23 32 64 05
Cel: 82 50 18 44 0

Fax:23 32 64 06
E-mail: ced@ucm.ac.mz
Web site: www.ucm.ac.mz
Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância e os autores
do presente manual, dr. Jane Mutsuque, agradecem a colaboração dos seguintes
indivíduos e instituições na elaboração deste manual.

Pela disponibilidade de material: Ao Instituto Camões, pólo da Beira;

Pela coordenação e edição: dr. Armando Artur (Coordenador do


Curso na UCM- CED).
Centro de Ensino à Distância i

Índice

Visão Geral 5
Bem-vindo à Língua Portuguesa II ........................................................................... 5
Objectivos da cadeira ................................................................................................. 6
Quem deveria estudar este módulo?........................................................................ 6
Como está estruturado este módulo......................................................................... 7
Ícones de actividade................................................................................................... 8
Habilidades de estudo................................................................................................ 8
Precisa de apoio? ....................................................................................................... 9
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)........................................................................ 9
Avaliação ................................................................................................................... 10

Unidade 01: Texto Expositivo-Argumentativo 11


Introdução.................................................................................................................. 11
Sumário ..................................................................................................................... 14
Exercícios .................................................................................................................. 14

Unidade 02: Recursos Estilísticos 15


Introdução 15
Sumário ..................................................................................................................... 18
Exercícios .................................................................................................................. 19

Unidade 03: Morfologia (Substantivo ou Nome) 21


Introdução 21
Sumário ..................................................................................................................... 30
Exercícios .................................................................................................................. 31

Unidade 04: Morfologia (Determinante) 32


Introdução 32
Sumário ..................................................................................................................... 33
Exercícios .................................................................................................................. 33

Unidade 05: Morfologia (Adjectivos e Advérbios) 35


Introdução 35
Sumário ..................................................................................................................... 47
Exercícios .................................................................................................................. 47

Unidade 06: Morfologia (Verbo) 48


Introdução 48
Centro de Ensino à Distância ii

Sumário ..................................................................................................................... 59
Exercícios .................................................................................................................. 60

Unidade 07: Frase Complexa: Oração Subordinada Relativa e Integrante 61


Introdução 61
Sumário ..................................................................................................................... 63
Exercícios .................................................................................................................. 63

Unidade 08: Orações Adverbiais 64


Introdução 64
Sumário ..................................................................................................................... 68
Exercícios .................................................................................................................. 69

Unidade 09: Actos de Fala 70


Introdução 70
Sumário ..................................................................................................................... 78
Exercícios .................................................................................................................. 79

Unidade 10: Texto Publicitário 80


Introdução 80
Sumário ..................................................................................................................... 84
Exercícios .................................................................................................................. 84

Unidade 11: Relações Lexicais 85


Introdução 85
Sumário ..................................................................................................................... 86
Exercícios .................................................................................................................. 86

Unidade 12: Criação, Renovação Enriquecimento do Léxico e Formação de


Palavras 87
Introdução 87
Sumário ..................................................................................................................... 95
Exercícios .................................................................................................................. 96

Unidade 13: Crónica 97


Introdução 97
Sumário ................................................................................................................... 101
Exercícios ................................................................................................................ 102

Unidade 14: Estrutura Textual Difusa e Compacta 103


Introdução 103
Centro de Ensino à Distância iii

Sumário ................................................................................................................... 104


Exercícios ................................................................................................................ 104

Unidade 15: Análise Textual 105


Introdução 105
Sumário ................................................................................................................... 106
Exercícios ................................................................................................................ 106

Unidade 16: Coesão Textual 107


Introdução 107
Sumário ................................................................................................................... 112
Exercícios ................................................................................................................ 112

Unidade 17: Coerência Textual 113


Introdução 113
Sumário ................................................................................................................... 114
Exercício .................................................................................................................. 114

Unidade 18: Entrevista 115


Introdução 115
Sumário ................................................................................................................... 116
Exercícios ................................................................................................................ 117

Unidade 19: Inquérito 118


Introdução 118
Sumário ................................................................................................................... 122
Exercícios ................................................................................................................ 123

Unidade 20: Aviso e Circular 124


Introdução 124
Sumário ................................................................................................................... 125
Exercícios ................................................................................................................ 126

Unidade 21: Poesia Lírica 127


Introdução 127
Sumário ................................................................................................................... 131
Exercícios ................................................................................................................ 132

Unidade 21: A Métrica 133


Introdução 133
Centro de Ensino à Distância iv

Sumário ................................................................................................................... 137


Exercícios ................................................................................................................ 138

Unidade 23: Texto Épico 139


Introdução 139
Sumário ................................................................................................................... 141
Exercícios ................................................................................................................ 142

Unidade 24: Texto Dramático 143


Introdução 143
Sumário ................................................................................................................... 147
Exercícios ................................................................................................................ 147
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 148
Centro de Ensino à Distância 5

Visão Geral

Bem-vindo à Língua Portuguesa II

O programa de Língua Portuguesa II tem por objectivo


desenvolver a competência textual, na sequência do
trabalho que foi iniciado na cadeira de Língua Portuguesa I,
essencialmente no domínio do texto literário.

Desta forma, o programa será perspectivado em função da


análise literária, através da leitura e interpretação de textos
literários; identificação de traços formais, semânticos e
paradigmáticos dos textos literários; comparação de textos
de diferentes épocas. Serão também estabelecidas relações
entre os diferentes textos literários abordados e o contexto
histórico, social e cultural da sua produção.

Por se tratar de uma formação de docentes, será exercitada


a leitura expressiva e em voz alta de textos literários. Por
fim, indo de encontro às estratégias e métodos que
subjazeram à elaboração do programa de Língua
Portuguesa, como forma de culminação das unidades
didácticas, serão produzidos textos literários de diferentes
géneros, respeitando as suas características estruturais e
procurando um estilo próprio de expressão.

Pretendemos que este módulo seja um contributo para que


os aprendentes adquiram um domínio eficaz e eficiente de
algumas técnicas de uso da Língua Portuguesa.
Centro de Ensino à Distância 6

Objectivos da cadeira

Quando terminar o estudo da Língua Portuguesa II o


cursante/ estudante será capaz de:

1. Compreender discursos orais e escritos identificando as


suas finalidades às situações de produção em que se
produzem;
2. Expressar-se oralmente e por escrito com coerência e
correcção de acordo com as diferentes finalidades e
situações comunicativas, imprimindo-lhes um estilo
Objectivos
expressivo próprio;
3. Reflectir sobre a Língua nos diferentes planos:
fonológico, morfológico, sintáctico, semântico e
pragmático;
4. Utilizar os seus recursos expressivos, linguísticos e não
linguísticos nas interacções comunicativas próprias da
relação directa com outras pessoas;
5. Utilizar a Língua como instrumento para aquisição de
novas aprendizagens, para a compreensão e análise da
realidade;

6. Interpretar textos literários de natureza diversa.

Quem deveria estudar este módulo?

Este Módulo foi concebido para os estudantes do 2º ano do


curso de Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa.
Centro de Ensino à Distância 7

Como está estruturado este módulo

Todos os manuais das cadeiras dos cursos oferecidos pela


Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à
Distância (UCM-CED) encontram-se estruturados da
seguinte maneira:

Páginas introdutórias

Um índice completo.

Uma visão geral detalhada da cadeira, resumindo os


aspectos-chave que você precisa conhecer para
completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia
esta secção com atenção antes de começar o seu estudo.

Conteúdo da cadeira
A cadeira está estruturada em unidades de aprendizagem.
Cada unidade incluirá, o tema, uma introdução,
objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um sumário da unidade e
uma ou mais actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais,
apresentamos uma lista de recursos adicionais para você
explorar. Estes recursos podem incluir livros, artigos ou sites
na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para esta cadeira, encontram-se no
final de cada unidade. Sempre que necessário, dão-se
folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como
instruções para as completar. Estes elementos encontram-
se no final do manual.
Centro de Ensino à Distância 8

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer
comentários sobre a estrutura e o conteúdo da cadeira. Os
seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e
melhorar este manual.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones


nas margens das folhas. Estes ícones servem para
identificar diferentes partes do processo de aprendizagem.
Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova
actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

Caro estudante, procure reservar no mínimo 2 (duas) horas


de estudo por dia e use ao máximo o tempo disponível nos
finais de semana. Lembre-se que é necessário elaborar um
plano de estudo individual, que inclui, a data, o dia, a hora, o
que estudar, como estudar e com quem estudar (sozinho,
com colegas, outros).

Lembre-se que o teu sucesso depende da sua entrega, você


é o responsável pela sua própria aprendizagem e cabe a si
planificar, organizar, gerir, controlar e avaliar o seu próprio
progresso.

Evite plágio.
Centro de Ensino à Distância 9

Precisa de apoio?

Caro estudante:
Os tutores têm por obrigação monitorar a sua aprendizagem,
dai o estudante ter a oportunidade de interagir
objectivamente com o tutor, usando para o efeito os
mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção. Em


caso de problemas específicos, ele deve ser o primeiro a ser
contactado, numa fase posterior contacte o coordenador do
curso e se o problema for da natureza geral, contacte a
direcção do CED, pelo número 825018440.

Os contactos só se podem efectuar nos dias úteis e nas


horas normais de expediente.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios),


contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante
que sejam realizadas. Só deverão ser entregues os
exercícios que forem indicados pelo Tutor. Isto, antes do
período presencial.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de


pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente
referenciados, respeitando os direitos do autor.
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Avaliação

A avaliação da cadeira será controlada da seguinte maneira:

 Três (3) Trabalhos realizados pelos estudantes,


sendo divididos em três sessões presenciais de
acordo com a programação do Centro.
 Dois (2) Testes escritos em presença e um (1) exame
no fim do ano.
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Unidade 01: Texto Expositivo-Argumentativo

Introdução
Nesta que é a primeira unidade nos ocuparemos a falar da
argumentação. O discurso argumentativo é aquele que visa
intervir sobre as opiniões, atitudes ou comportamentos do
interlocutor ou de um auditório tornando credível ou aceitável
um enunciado. Este, tem, pois, a intenção de argumentar –
impor a força ilocutória - para alcançar o efeito de persuadir,
de modificar opiniões ou crenças do interlocutor.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir um texto argumentativo;


 Persuadir um interlocutor;
 Distinguir as estratégias expositivas-argumentativas;
 Identificar as teses e argumentos num discurso oral
Objectivos ou escrito;
 Produzir textos expositivo-argumentativos.

1.1. Texto Argumentativo


Argumentar é expressar uma convicção e uma explicação
para persuadir o interlocutor a modificar o seu
comportamento para tomar o nosso ponto de vista. Daí que
se pode afirmar que o objectivo primordial é interferir ou
transformar o ponto de vista do leitor/interlocutor
relativamente ao mundo que o rodeia.

O modo de organização argumentativa compreende várias


componentes: um tema (objecto do debate), um emissor -
argumentador e um receptor – destinatário, argumentos
e premissa.
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Na perspectiva de Aristóteles, a argumentação é sempre


composta, na sua organização, pelas seguintes partes:
 Exórdio - parte em que o argumentador torna dócil,
atento e benevolente com o tema a apresentar.
Predomina a função fáctica da linguagem.
 Narração/Confirmação – exposição clara, breve,
credível, objectiva dos factos, segundo a necessidade de
acusar ou defender. É aqui onde se produzem as provas
a favor da posição a defender, seguida da refutação dos
argumentos adversos. Coisa importante nesta fase é a
ordem dos argumentos começando pelos mais fracos e
terminar com os mais fortes, ou o invés?
 Digressão – narração ou descrição de factos passados
ou antecedentes com intenção de apoiar a posição
defendida.
 Peroração – conclusão do discurso que pode comportar:
uma amplificação para tornar mais relevante a matéria
em discussão indignando convincentemente o auditório.

1.2 Tipos de Discursos mais Comuns na Argumentação:


 Deliberativo, no qual se tenta aconselhar ou levar
alguém a decidir-se sobre um determinado
comportamento.

 Judiciário, ataca ou defende em algo ou alguém.

 Epidíctico, em que se louva ou reprova, se elogia ou


se censura.

Exemplo de texto Argumentativo:


Centro de Ensino à Distância 13

Texto
Odeio telefonemas e telefones
Gosto de atendedores

[…] Tal como o fax, são um suplemento de decência e de


civilização. […] O recado que se deixa ou o fax que se
manda é a versão moderna do bilhete ou da carta.

Ficam gravados. Podem ouvir-se e responder-se quando se


quiser. O telefonema, sem mediação dum atendedor, é uma
imposição, uma surpresa, uma interrupção incómoda,
provocada por uma parte sobre a outra. É malcriado
telefonar. É como aparecer em casa sem dizer nada. Odeio
as pessoas que, antes de aparecer em casa, telefonam
primeiro, como se telefonar não fosse já uma invasão e uma
falta de respeito. […] o que é inaceitável no telefonema é o
fascismo do “Trrim, trrim, trrim”, inculcado no destinatário o
terror primeiro do alarme e da sirene, obrigando-o a levantar
o auscultador e a falar com sabe-se lá quem, só para parar a
barulheira. […] para deixar um recado num atendedor ou
mandar um fax é preciso pensar um bocadinho primeiro. É
nesse pequeno sacrifício que sobrevive o resíduo social e
civilizado da comunicação. […]

Os atendedores e os faxes restituem aos contactos sociais,


sempre marcados por identificações concretas e barreiras
convenientes, uma possibilidade civilizada de distanciação e
de recato. […]

O telefonema arruinou a minha geração e as seguintes. Não


sei escrever um postal nem me apetece […].
A única forma de comunicação de que sou capaz é o fax. É
um milagre de silêncio e de timidez
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É honesto porque toda a gente (não só o destinatário) lê.


É bonito porque deixa um registo. Não faz barulho. Não
exige uma resposta imediata.

O fax é o regresso, no fim do séc. XX, ao séc. XIX. […]


Palavras, leva-as o ar. E o ar é sujo e não merece. Deixe um
recado, mande um fax ou um postal, marque um encontro,
sempre que puder. E, se não puder, ao menos faça um favor
a toda a gente e não chateie.
M.E. Cardoso, Independente, 4/3/94

Sumário
Argumentar é expressar uma convicção e uma explicação
para persuadir o interlocutor a modificar o seu
comportamento para tomar o nosso ponto de vista.

Os tipos de discursos mais comuns na argumentação são


deliberativos, judiciários e epidíctico.

Exercícios
1. Analise os elementos do texto “Odeio telefonemas…”, do
ponto de vista temático, das teses, argumentos e
organização retórica.
2. Utilizando os conhecimentos adquiridos, produza um
texto argumentativo com um tema sua escolha.
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Unidade 02: Recursos Estilísticos

Introdução
O uso, ou conhecimento dos recursos estilísticos é essencial
para a interpretação de enunciados literários em diferentes
aulas de ensino de Língua Portuguesa. Nesta unidade
didáctica vamos estudar alguns desses recursos de língua.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar enunciados com recursos estilísticos


 Analisar textos com vários recursos estilísticos

Objectivos  Interpretar enunciados literários;


 Produzir textos literários

2.1. Análises estilísticas do texto


Análise estilística de um texto é um percurso de
levantamento dos elementos estruturantes e constitutivos de
um dado texto ou intervenção linguística. Enquanto análise,
pressupõe um movimento mental regressivo, pois parte-se
de um todo, supostamente harmónico, para o conhecimento
das partes que o integram.

O objecto da análise estilística é o estudo do modo pelo qual


um falante acrescenta uma intenção, um desejo de
impressionar o destinatário, explorando o matiz qualitativo,
associado a dado vocabulário, determinada construção
frásica, certo enunciado e uma articulação ou entoação que
procuram proporcionar essa adesão.

O sentido figurado põe em jogo relações semânticas e


lexicais. As palavras ou frases são susceptíveis de duas
espécies de sentido:
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(i.) Sentido próprio e;


(ii.) Sentido figurado

A passagem do sentido próprio ao sentido figurado obtém-se


a partir de certos mecanismos que dão lugar a diferentes
tipos de figuras de estilo.

A figura de estilo consiste em manifestar um significado por


expressão que não tem esse significado como originário. A
noção de figura supõe um desvio do uso normal explicando
numerosas mudanças de sentido. Exemplo de alguns
recursos de valorização estilística mais comuns:

Metonímia – mantém uma relação de contiguidade entre os


objectos, indivíduos ou orações, próximos no espaço e
tempo. Ex: “Eles beberam um bom porto”. O termo porto
estabelece uma relação espacial entre cidade do Porto e o
nome dado ao vinho.

Metáfora – funda-se numa relação de equivalência ou


analogia entre dois termos de que um é intencionalmente o
escolhido para figurar no lugar do outro. Entende-se como
comparação abreviada sem uso das partículas
comparativas. Ex. “Ele tem um coração de Pedra”. “Amor é
fogo que arde sem se ver”.

Hipérbole – consiste em apresentar uma situação, uma


pessoa, uma personagem em proporções exageradas. Ex.
“Eles gastaram montes de dinheiro na festa do Natal”.

Personificação – consiste em atribuir propriedades


humanas a um ser que não é. Ex. Os ventos respiravam
brandamente.
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Pleonasmo – as manifestações de redundância quando


tomam a forma, ao nível semântico. Ex: “Descer para baixo”.

Ironia – define-se pela associação de um fenómeno retórico.


Diz-se o contrário que a realidade dita. Ex: “És um homem
lindo”. (Quando de facto é feio).

Eufemismo/Disfemismo – abranda a linguagem para


suavizar a mensagem – evita provocar delitos. Ao passo que
o disfemismo apresenta expressões que reforçam a dureza
da mensagem. Ex: “Partiu para junto de Deus”. (ele morreu);
“Ele esticou o pernil às cinco da manhã”. (morreu as 5.h)

Antítese – é a oposição e o contraste entre expressões


contíguas. (cf. Estrofe).
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer.
Luís de Camões

2.3. Texto Literário


Literatura é um conjunto de informações, que caracterizam a
maneira em que viviam as pessoas de uma determinada
época ou a actual sociedade. Distinguindo seus costumes,
crenças, arte, conflitos e novas ideias e revolução que
surgiram e que surgem. Os estudiosos dividem as épocas de
acordo com as escolas literárias que surgiram em cada
período.

Os textos literários exigem mais atenção e, necessariamente


várias leituras para o seu entendimento. Não é como o texto
científico que tem uma linguagem objectiva, clara, de fácil
Centro de Ensino à Distância 18

entendimento, a linguagem literária é conotativa, uma


palavra pode ter várias significação na frase o que dificulta
na hora de uma interpretação, o ideal é fazer uma análise
sintáctica e semântica para saber que significado o autor
queria dar à frase, o que levou ele a colocar à palavra em
determinado local no contexto. Ex: “Estava jogando bola”. A
palavra bola neste exemplo refere-se a bola de futebol a
qual o sujeito estava jogando.

“Ele tem a barriga igual a de uma bola”. Porém não é


homem ele é um animal de quatro pernas, mas não late e
faz...!!! Tudo isso só para dizer que o animal é gordo, isto é
um texto literário, ou seja é um texto conotativo que leva o
leitor muitas vezes a ter mais de um entendimento.
Aqui nesse exemplo a palavra bola está relacionado ao
formato da barriga do sujeito em forma de círculo ou
inchado. E são vários animais de quatro pernas que não
late: cão, elefante, onça, etc.

Sumário
Análise estilística de um texto é um percurso de
levantamento dos elementos estruturantes e constitutivos de
um dado texto ou intervenção linguística.

Enquanto análise, pressupõe um movimento mental


regressivo, pois parte-se de um todo, supostamente
harmónico, para o conhecimento das partes que o integram.

Exemplo de alguns recursos de valorização estilística mais


comuns, metonímia, metáfora, hipérbole, personificação,
pleonasmo, ironia, eufemismo/disfemismo, antítese.
Centro de Ensino à Distância 19

Literatura é um conjunto de informações, que caracterizam a


maneira em que viviam as pessoas de uma determinada
época ou a actual sociedade.

Exercícios
1. Liste e explique 10 recursos estilísticos que conhece.
2. Atente ao texto:
PAUSA
Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura
de coisas feitas ou na leitura de minhas próprias coisas
surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a
mesa.

Com algum insectos de grandes olhos e negras e longa pernas ou


antenas? Com algum ciclista tombado? Não, nada disso me
contente ainda.Com que se parecem mesmo?

E sinto que enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-


poema, a inquietação perdurará. E, enquanto o meu Sancho
Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom
Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas
uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a
mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? –
vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira...

E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação


das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em
poesia, para ser mais vivida.

Esse enigma, eu passo a ti, pobre leitor. E agora? Por enquanto,


ante a actual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível
dilema de stechetti: "Io sonno un poeta o sonno un imbecile?"
Centro de Ensino à Distância 20

Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia... A verdade é que


a minha atroz função não é resolver e sim propor enigma, fazer o
leitor pensar e não pensar por ele.

E dai?
– Mais o melhor -pondera-me, com a sua voz pausada, o meu
Sancho Pança –, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

Mário de Quintana (1906-1994)

a) O texto que acabaste de ler é literário? Justifique a sua


resposta.
b) Encontre o sentido estético presente no texto (figuras
de estilo).

3. Produza um texto literário (poético, narrativo ou


descritivo).
Centro de Ensino à Distância 21

Unidade 03: Morfologia (Substantivo ou Nome)

Introdução
Vamos agora, nesta unidade, mudar um pouco o assunto
que até então vínhamos tratando. Vamos falar de uma das
classes gramaticais – a morfologia. Dentro desta vamos
reflectir sobre algumas das suas subclasses, neste caso o
substantivo.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir morfologia;
 Classificar os vocábulos da língua portuguesa;
 Definir substantive;
Objectivos
 Classificar os substantivos;
 Fazer a flexão dos substantivos.

3.1. Conceito de Morfologia


Em linguística, Morfologia é o estudo da estrutura, da
formação e da classificação das palavras. A peculiaridade da
morfologia é estudar as palavras olhando para elas
isoladamente e não dentro da sua participação na frase ou
período. A morfologia está agrupada em dez classes,
denominadas classes de palavras ou classes gramaticais.
São elas: Substantivo, Artigo, Adjectivo, Numeral, Pronome,
Verbo, Advérbio, Preposição, Conjunção e Interjeição.

A palavra morfologia vem do grego e significa o estudo da


forma (em seu sentido literal) ou estudo da figura. Tem como
objectivo o estudo da estrutura e dos processos de flexão e
formação dos vocábulos, bem como a classificação dos
vocábulos.
Centro de Ensino à Distância 22

3.2 Classes e Funções das Palavras


A maior apreensão dos linguistas é tornar o estudo da
gramática mais racional e crítico, embaçado em teorias que
possibilitem um conhecimento da língua a partir de sua
estrutura funcional e semântica. Para CÂMARA Jr., o melhor
modo de analisar os vocábulos formais portugueses é o
critério morfossemántico, pois o sentido só pode ser
determinado com o auxílio da forma. Então se passa a ter
três tipos de vocábulos formais: nomes, verbos e pronomes,
sendo essas as classes dos vocábulos, não as funções.

Entende-se por classe que sua função morfológica é


determinada prescrita, dependendo dos seus constituintes
morfemáticos, como os nomes, verbos e pronomes; para
indicar o nome, por exemplo, em substantivo ou adjectivo,
depende de sua função dentro do contexto frásico (sintaxe).

Por isso o substantivo (função) pode ser representado por


um nome (classe) ou por um pronome (classe). Por exemplo:
O computador é meu (substantivo representado por nome).
Isso é meu (substantivo representado por pronome).

3.2.1 As Classes dos Vocábulos


O nome e o verbo são vocábulos que possuem semantema,
que se classifica como palavra. Se tiver o semantema am-,
pode ter o nome “o amo” (senhor) ou o verbo “eu amo”; o
que caracterizado principalmente o nome são as suas
desinências (de género e/ou de número), também, o verbo é
caracterizado por suas desinências (modo-temporal e/ou
número-pessoal).
Centro de Ensino à Distância 23

Entanto, “o amo” (senhor), há a probabilidade de oposição


em singular e plural (por exemplo, os amos). No verbo, já
existe a probabilidade de oposição em número e pessoa (por
exemplo, amais) ou em modo e tempo (por exemplo,
amava). Para quem estuda flexão verbal adoptaria
cearíamos como forma verbal de cear, pela incidência da
desinência modo-temporal -ria- e da desinência número-
pessoal -mos, além do conhecimento em vogal temática -a-.

Também reconheceria os nomes, quem já estudou flexão


nominal, meninas bonitas pela incidência das desinências
nominais de género -a- e de número -s. Numa perspectiva
semântica, os verbos actualizam representações dinâmicas,
enquanto os nomes traduzem visões estáticas.

Nos pronomes diferenciam-se aos nomes mais pelo sentido


(aspecto semântico) do que pelo aspecto mórfico. Se
induzirmos ao aluno a ausência de expressão de grau para
os pronomes e própria para os nomes, mas a real diferença
é que os pronomes possuem sentido deíctico, ou seja, "não
designam pessoas, coisas, conceitos ou qualidades em
geral (como fazem os nomes), mas, sem limitação a uma
dada categoria de ideias, denotam um indivíduo específico
ou indivíduos específicos de qualquer categoria" CÂMARA
Jr., (1977), ou seja, os pronomes indicam, enquanto os
nomes representam.

3.2.2 As Função do Vocábulo


Os papéis exercidos pelas classes dos vocábulos
necessitam de um critério sintáctico, das relações
sintagmáticas e paradigmáticas exercidas. No qual a relação
sintagmática, vista nesta definição: "A dependência que
existe entre dois elementos sequenciais de uma mesma
Centro de Ensino à Distância 24

cadeia chama-se relação (dependência, função)


sintagmática (de sintagma: conjugado de duas unidades
consecutivas onde o valor de cada um se define por relação
ao valor da outra)." LOPES (1995:88). E o paradigma,
fundamentado nos estudos de CÂMARA Jr., LOPES
(1995:90) descreve: "Um paradigma é uma classe de
elementos que podem ser colocados no mesmo ponto de
uma cadeia, ou seja, são substituíveis ou comutáveis".

Diante de uma relação sintagmática se analisa que o


substantivo é o elemento e, já o adjectivo é o elemento
determinante No exemplo, Homem rico; percebe-se que
"homem", dentro do sintagma nominal, é determinado por
"rico", que é determinante; portanto, "homem" é um
substantivo e "rico", um adjectivo.

Entende-se que qualquer vocábulo que trocar este, praticará


a função de adjectivo, o mesmo acontecendo com "rico".
Entretanto pode se esperar que os pronomes só possam
consistir em marcos determinante (adjectivos); numa
construção como: Em esta é minha; "esta" é determinado
por "minha", sendo este substantivo e "minha", adjectivo.

3.3. Conceito de Substantivo


Substantivo é a classe que designa os seres em geral.
Segundo SACONNI (1990:124)

O substantivo é o nome de todos os seres que existem ou


que imaginamos existir”. Podemos igualmente definir
substantivo como sendo “toda a palavra que é determinada
por um artigo, pronome ou numeral, ou modificada por um
adjectivo.
Centro de Ensino à Distância 25

De acordo com a gramática portuguesa, um substantivo dá


nome aos seres em geral e pode variar em género, número
e grau.

Para transformar uma palavra de outra classe gramatical em


um substantivo, basta precedê-lo de um artigo, pronome ou
numeral. Exemplo: "O não é uma palavra dura". Artigos
sempre precedem palavras substantivadas, mas
substantivos (que são substantivos em sua essência) não
precisam necessariamente ser precedidos por artigos.

3.3.1. Classificação dos Substantivos


 Quanto à Formação
Dá-se o nome de substantivo a todas as palavras que
nomeiam seres, lugares, objectos, sentimentos e outros.
Quanto à existência de radical, o substantivo pode ser
classificado em: primitivo, derivado, simples e composto:
 Primitivo: palavras que não derivam de outras. Ex.:
flor, pedra, leite, goiaba, ferro, cobre, uva, maçã,
metal...
 Derivado: vem de outra palavra existente na língua.
O substantivo que dá origem ao derivado (substantivo
primitivo) é denominado radical. Ex.: pedreiro,
jornalista, homúnculo.

Quanto ao número de radicais, pode ser classificado em:


 Simples: tem apenas um radical. Ex.: água, couve.
 Composto: tem dois ou mais radicais. Ex.: água-de-
cheiro, couve-flor, lança-perfume, pé-de-moleque,
cachorro-quente, guarda-chuva...
Centro de Ensino à Distância 26

 Quanto ao Tipo
Quando se referir a especificação dos seres, pode ser
classificado em:
 Concreto: designa seres que existem ou que podem
existir por si só. Ex.: casa, cadeira.

Também podem ser concretos os substantivos que nomeiam


divindades (Deus, anjos, almas) e seres fantásticos (fada,
duende), pois, existentes ou não, são sempre considerados
como seres com vida própria.
 Abstracto: designa ideias ou conceitos, cuja
existência está vinculada a alguém ou a alguma outra
coisa. Ex.: justiça, amor, trabalho, felicidade, etc.
 Comum: denomina um conjunto de seres de maneira
geral, ou seja, um ser sem diferenciar dos outros do
mesmo conjunto. Ex.: lobo, pizza, mesa.
 Próprio: denota um elemento individual que tenha um
nome próprio dentro de um conjunto, sendo grafado
sempre com letra maiúscula. Ex.: João, Maria, Beira,
Brasil, Machanga, Rio de Janeiro, Japão, Maputo.
 Colectivo: um substantivo colectivo designa um nome
singular dado a um conjunto de seres. No entanto,
vale ressaltar que não se trata necessariamente de
quaisquer seres daquela espécie. Exemplos:
o Uma biblioteca é um conjunto de livros, mas uma
pilha de livros desordenada não é uma biblioteca.
A biblioteca discrimina o género dos livros e os
acomoda em prateleiras.
o Uma orquestra ou banda é um conjunto de
instrumentistas, mas nem todo conjunto de
músicos ou instrumentistas pode ser classificado
como uma orquestra ou banda. Em uma orquestra
Centro de Ensino à Distância 27

ou banda, os instrumentistas estão executando a


mesma peça musical ao mesmo tempo.
o Uma "turma" é um conjunto de estudantes, mas se
juntarem num mesmo alojamento os estudantes
de várias carreiras e várias universidades numa
sala, não se tem uma turma. Na turma, os
estudantes assistem simultaneamente à mesma
aula. Eles possuem alguma acção ou
característica em comum em relação ao grupo.

3.4. Flexão dos Substantivos


 Quanto ao Género
Os substantivos flexionam-se nos géneros masculino e
feminino e quanto às formas, podem ser:
o Substantivos biformes: apresentam duas formas
originadas do mesmo radical. Exemplos: menino -
menina, traidor - traidora, aluno - aluna.
o Substantivos heterónimos: apresentam radicais
distintos e dispensam artigo ou flexão para indicar
género, ou seja, apresentam duas formas uma para o
feminino e outra para o masculino. Exemplos:
arlequim - colombina, arcebispo - arquiepiscopisa,
bispo - episcopisa, bode - cabra, ovelha - carneiro.
o Substantivos uniformes: apresentam a mesma
forma para os dois géneros, podendo ser
classificados em:
 Epicenos: referem-se a animais ou plantas, e são
invariáveis no artigo precedente, acrescentando as
palavras macho e fêmea, para distinção do sexo
do animal. Exemplos: a onça macho - a onça
fêmea; o jacaré macho - o jacaré fêmea; a foca
macho - a foca fêmea.
Centro de Ensino à Distância 28

 Comuns de dois géneros: o género é indicado


pelo artigo precedente. Exemplos: o dentista - a
dentista, um jovem - uma jovem, imigrante italiano
- imigrante italiana.
 Sobrecomuns: invariáveis no artigo precedente.
Exemplos: a criança, o indivíduo (não existem
formas como "o criança", "a indivíduo").

 Quanto ao Número
Os substantivos apresentam singular e plural.
Nos substantivos simples, para formar o plural,
acrescenta-se à terminação em n, vogal ou ditongo o s. Ex:
elétron/ elétrons, povo/ povos, caixa/ caixas, cárie/ cáries; a
terminação em ão, por ões, ães, ou ãos; as terminações em
s, r, e z, por es; terminações em x são invariáveis;
terminações em al, el, ol, ul, trocam o l por is, com as
seguintes exceções: "mal" (males), "cônsul" (cônsules),
"mol" (mols), "gol" (gols); terminação em il, é trocado o l por
is (quando oxítono) ou o il por eis (quando paroxítono).

Os substantivos compostos São aqueles que tem dois


radicais
 Se os elementos são ligados por preposição, só o
primeiro varia (mulas-sem-cabeça); também varia
apenas o primeiro elemento caso o segundo termo
indique finalidade ou semelhança deste (navios-
escola, canetas-tinteiro);
 Se os elementos são formados por palavras repetidas
ou por onomatopeia, só o segundo elemento varia
(tico-ticos, pingue-pongues);
 Nos demais casos, somente os elementos
originariamente substantivos, adjetivos e numerais
Centro de Ensino à Distância 29

variam (couves-flores, guardas-noturnos, amores-


perfeitos, bem-amados, ex-alunos).

Resumindo flexiona-se apenas o primeiro elemento:


 Quando as duas palavras são ligadas por
preposições;
 Quando o segundo nome limita o primeiro,
expressando uma idéia de fim (canetas-tinteiro, sofás-
cama).

Flexiona-se apenas o segundo elemento:


 Quanto há adjetivos + adjetivos (econõmico-
financeiros, kuso-brasileiros);
 Quando a primeira palavra é invariavel (guarda-
roupas);
 Quando há verbo + substantivo (arranha-céus);
 Quando são palavras repetidas (quero-queros);
 Quando se trata de nome de oracões (pai-nossos);
 Quando se trata de palavras anomatopaicas, que
imitam sons(toc-tocs).

Flexionam-se os dois elementos quando há:


 Substantivo + substantivo (cirurgiões-dentistas);
 Substantivo + adjetivo (guardas-noturnos);
 Adjectivo + substantivo (livres-pensadores);
 Numeral + substantivo (Quintas-feiras).

 Quanto ao Grau
Obs: Grau não é Flexão, é derivação. Os substantivos
possuem três graus, o aumentativo, o diminutivo e o
normal que são formados por dois processos:
 Analítico: o substantivo é modificado por adjectivos
Centro de Ensino à Distância 30

que indicam sua proporção (rato grande, gato


pequeno, casa grande) Neste caso grande e pequeno
são os adjectivos, dando uma ideia de tamanho nos
substantivos, esses adjectivos assim chamamos de
analítico;
 Sintético: modifica o substantivo através de sufixos
que podem representar além de aumento ou
diminuição, o desprezo ou um sentido pejorativo (no
aumentativo sintético: gentalha, beiçorra), o afecto ou
sentido pejorativo (no diminutivo sintético: filhinho,
livreco).

Exemplos de diminutivos e aumentativos sintéticos:


 Sapato/sapatinho/sapatão;
 Casa/casinha/casarão;
 Cão/cãozinho/caonzão;
 Homem/homenzinho/homenzarrão;
 Gato/gatinho/gatão;
 Bigode/bigodinho/bigodaço;
 Vidro/vidrinho/vidraça;
 Boca/boquinha/bocarra;
 Muro/mureta/muralha;
 Pedra/pedregulho/pedrona;
 Rocha/rochinha/rochedo;
 Papel/papelzinho/papelão.

Sumário

Morfologia é o estudo da estrutura, da formação e da


classificação das palavras. A peculiaridade da morfologia é
estudar as palavras olhando para elas isoladamente e não
dentro da sua participação na frase ou período.
Centro de Ensino à Distância 31

Segundo SACONNI (1990:124) "O substantivo é o nome de


todos os seres que existem ou que imaginamos existir”.
Podemos igualmente definir substantivo como sendo “toda a
palavra que é determinada por um artigo, pronome ou
numeral, ou modificada por um adjectivo”.

Os substantivos classificam-se quanto à formação e quanto


ao tipo. Os mesmos flexionam-se quanto ao género, número
e grau.

Exercícios

1. Qual é a importância do estudo da morfologia.


2. Apresente conceito de substantivo de acordo com o seu
entendimento.
3. Classifique as seguintes palavras quanto a formação e
ao tipo:
a. Jardim;
b. Gatarrão;
c. Girassol;
d. Máscara;
e. Cadeira.
4. Flexione os seguintes substantivos
quanto ao grau, número e género:
a. Lápis;
b. Sapo;
c. Livro;
d. Carro.
Centro de Ensino à Distância 32

Unidade 04: Morfologia (Determinante)

Introdução
Continuamos nesta unidade a fazer uma reflexão sobre a
morfologia. Desta vez vamos falar dos determinantes e sua
função nos sintagmas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir o determinante;
 Determinar a função de um determinante dentro de
uma frase;
Objectivos  Definir o artigo.

4.1. Conceito de Determinante


Os determinantes são palavras que geralmente precedem o
nome e ajudam à construção do seu valor referencial. Os
determinantes dão indicações sobre aquilo que o nome
expressa, limitando ou concretizando o seu significado.
Concordam, em género e número, com o substantivo.

4.2. Função dos Determinantes


Os pronomes demonstrativos o, a, os e as, quando estão
colocados antes dos substantivos e mostram que nos
referimos a determinada pessoa, determinada coisa ou
determinado animal, tomam o nome de artigos definidos:
O António e a Maria estão na sala.
A Maria leu todo o livro.
Os bois e as ovelhas andam a pastar.
As meninas estão com os meninos.
Centro de Ensino à Distância 33

Os pronomes indefinidos um, uma, uns e umas, quando


estão colocados antes de substantivos e mostram que nos
referimos a uma pessoa, a uma coisa ou a um animal
indeterminado, tomam o nome de artigos indefinidos.
Ex:
Um rapazinho;
Uma linda pedra preciosa;
Uns pequenitos que brincavam;
Uns bois que pastavam; e
Umas perdizes que levantaram voo.

Sumário

Determinantes são palavras que geralmente precedem o


nome e ajudam à construção do seu valor referencial.

Os determinantes dão indicações sobre aquilo que o nome


expressa (tendo em conta o género e o número) limitando ou
concretizando o seu significado.

Exercícios

1. Identifique os determinantes nas frases abaixo:


a. O locutor viu o homem através de binóculos
b. Esta senhora e o senhor que está do lado dela são
casados.
c. A minha mãe não tem carro.
d. Quem ira então ai ser enterrado?
e. Para que homem estas a abri-la?
f. Amanhã eu serei alguém.
g. Vamos começar a aula.
h. Asseguro-te que vou cumprir o que prometi.
i. Tenho a certeza de que a nossa equipa está em
forma
Centro de Ensino à Distância 34

j. O tempo está frio e chuvoso.


k. Ordeno-te que te cales!
l. Admito que saias da reunião por uns minutos.
m. Lamento imenso o meu comportamento.
n. Garanto-te que estarei contigo logo à noite.
o. Vai fazer a tua cama imediatamente!
p. Irrita-me imenso a vaidade de certas pessoas.
q. Eles estão uns contra os outros.
Centro de Ensino à Distância 35

Unidade 05: Morfologia (Adjectivos e Advérbios)

Introdução
Ainda nesta senda das classes morfológicas vamos nesta
unidade fazer referência a constituição dos adjectivos e dos
advérbios. Pretende-se neste dois elementos conhecer os
seus constituintes, suas flexões e suas relações com outros
constituintes frásicos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Apresentar o conceito de adjectivos e de advérbio;


 Flexionar os adjectivos;
 Classificar os advérbios.
Objectivos
5.1. Conceito de Adjectivo
As palavras cuja significação se junta à dos substantivos
para os qualificar ou para indicar os estados das pessoas,
das coisas ou dos animais significados por substantivos
chamam-se nomes adjectivos ou simplesmente
adjectivos:
Ex.: bonito, diligente, estreita, verde, diversa, branca,
azul, acinzentado, pequeno, novo, nova, manso,
pintado, choca, velho.

5.2. Flexão dos Adjectivos


A flexão dos adjectivos, assim como acontece com os
substantivos, é de três naturezas: género, número e grau.
De uma forma geral, os adjectivos são flexionados para
acompanhar e concordar com os substantivos que o
acompanham e também para intensificar ou comparar o seu
valor.
Centro de Ensino à Distância 36

5.2.1. Flexão de Género


O adjectivo deve assumir o género (feminino ou masculino)
do substantivo que o acompanha. Alguns exemplos
clássicos: o escritor brasileiro, a escritora brasileira; o carro
amarelo, a canoa amarela; o homem bonito, a mulher
bonita.

A classificação dos adjectivos quanto ao género


compreende dois grandes grupos:
 Adjectivos uniformes – são os adjectivos que
possuem apenas uma forma, sendo invariável em
relação ao género. Exemplos:
o Aluno inteligente.
o Aluna inteligente.

o Homens arrogantes
o Mulheres arrogantes

 Adjectivo biforme – é o adjectivo que possui duas


formas distintas; uma para o género masculino e
outra para o género feminino. Exemplo:
o Carro novo.
o Bicicleta nova.

5.2.2. Flexão de Número


A flexão para o plural dos adjectivos segue, evidentemente,
o plural do substantivo correspondente. No caso dos
adjectivos simples (são os são classificados pela sua
formação e estrutura, são formados por apenas um radical:
bonito, feio, branco, preto, grande, pequeno, fácil, difícil,
curto, comprido, esverdeado) a flexão para o plural segue as
mesmas regras básicas dos substantivos, veja alguns
exemplos: pessoa cordial, pessoas cordiais; criança feliz,
Centro de Ensino à Distância 37

crianças felizes; cachorro raivoso, cachorros raivosos.

A flexão para o plural de adjectivos compostos (são aqueles


classificados pela sua formação e estrutura, são aqueles
formados por mais de um radical: azul-marinho, azul-celeste,
vermelho-sangue, amarelo-canário, socioeconómico,
sociocultural, médico-hospitalar) geralmente ocorre no último
radical, veja alguns exemplos: tropa austro-búlgara, tropas
austro-búlgaras; problema político-institucional, problemas
político-institucionais; ele é afrodescendente, eles são
afrodescendentes. Essa regra, entretanto, não se aplica a
todos os adjectivos compostos, alguns, principalmente os
que dizem respeito a nome de cores, são invariáveis quanto
ao número, outros poucos variam os dois radicais para o
plural ou o primeiro, segue alguns exemplos:
 Invariáveis: camisa azul-marinho, camisas azul-
marinho; papel vermelho-sangue, papéis vermelho-
sangue; ele é o topatudo, eles são os topatudo; entre
outros.
 Variáveis nos dois radicais e outras exceções: rapaz
surdo-mudo, rapazes surdos-mudos; ele é um
autêntico joão-ninguém, eles são autenticos joões-
ninguém; a moça é surda-cega; as moças são
surdas-cegas.

Observação:

Quando um dos elementos é substantivo, não há flexão


(camisas verde-abacate, cortinas amarelo-ouro, ternos
rosa-claro).

Os adjectivos azul-marinho e azul-celeste também são


invariáveis.
Centro de Ensino à Distância 38

5.2.3. Flexão de Grau


A variação de grau nos adjectivos ocorre quando se deseja
fazer uma diminuição, comparação ou intensificar o seu
valor. Segue os artigos dos graus dos adjectivos:
 Grau comparativo
 Grau superlativo

5.2.3.1. Grau Comparativo


Estabelece uma comparação entre dois seres de uma
mesma característica que ambos possuem. Há três tipos de
grau comparativo:

 Comparativo de Superioridade
Mais + ADJETIVO + que (do que ou entre)
João é mais alto do que a Joana.
João é mais estudioso do que Chissano.

 Comparativo de Igualdade
Tão + ADJETIVO + quanto (como). Exemplos:
1. Carlos é tão forte quanto Júnior.
2. O ferro é tão útil quanto o zinco.
3. A água é tão necessária quanto o ar.
4. Jean é tão alto quanto Nandinho.
5. Marlene é tão inteligente quanto Eliane
6. Danilo é tão bonito quanto Paulo.

 Comparativo de Inferioridade
Menos + ADJETIVO + que. Exemplos:
1. Rebeca é menos veloz que Pietro.
2. Roberto é menos esperto que Carla.
3. Hebe é menos bonita que Juliana Paes.
4. Lidia é menos elegante que Carla.
Centro de Ensino à Distância 39

5.2.3.2. Grau Superlativo


Usa-se o grau superlativo para intensificar uma
determinada característica. Subdivide-se em:

 Grau Superlativo Absoluto


a. Grau Superlativo Analítico: Anteposição de

advérbios de intensidade ao adjectivo. Ex."É uma


aluna bastante inteligente"
b. Grau Superlativo Sintético: Acrescenta-se sufixos

ao adjectivo, como: -íssimo, -imo, -rimo. Ex: "A Lara é


felicíssima"

 Grau Superlativo Relativo


a. Grau Superlativo Relativo de Igualdade. Ex: “Hoje

está tão frio quanto ontem.”


b. Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Ex:

“Isabel é a mais linda do mundo.”


c. Grau Superlativo Relativo de Inferioridade: Ex:

“Sandra é a menos alegre de todas.”

 Grau Comparativo
a. Grau Comparativo de Superioridade: Ex. "A cidade

de São Paulo é mais popular do que a cidade de


Manaus."
b. Grau Comparativo de Inferioridade: Ex. "O estado

do Acre é menos popular do que o estado do Rio de


Janeiro."
c. Grau Comparativo de Igualdade: Ex. "O João é tão

alto quanto (como) a Joana".


Centro de Ensino à Distância 40

5.3. Conceito de Advérbio


Advérbio é uma palavra invariável que modifica o sentido do
verbo, do adjectivo e do próprio advérbio. Para compreender
melhor, compare estes exemplos:
O chapa 100 chegou.
O chapa 100 chegou ontem.

A palavra ontem acrescentou ao verbo chegou uma


circunstância de tempo: ontem é um advérbio.
Marcos jogou bem.
Marcos jogou muito bem.

A palavra muito intensificou o sentido do advérbio bem:


muito, aqui, é um advérbio.
A criança é linda.
A criança é muito linda.

A palavra muito intensificou a qualidade contida no adjectivo


linda: muito, nessa frase, é um advérbio.

Às vezes, um advérbio pode se referir a uma oração inteira;


nessa situação, normalmente transmitem a avaliação de
quem fala ou escreve sobre o conteúdo da oração. Por
exemplo:
As providências tomadas foram infrutíferas,
lamentavelmente.
Centro de Ensino à Distância 41

Quando modifica um verbo, o advérbio pode acrescentar


várias ideias, tais como:
Tempo: Ela chegou tarde.
Lugar: Ele mora aqui.
Modo: Eles agiram mal.
Negação: Ela não saiu de casa.
Dúvida: Talvez ele volte.

Obs.:
- Os advérbios que se relacionam ao verbo são palavras que
expressam circunstâncias do processo verbal, podendo
assim, ser classificados como determinantes. Por exemplo:
Ninguém manda aqui!
Mandar: verbo
Aqui: advérbio de lugar = determinante do verbo

- Quando modifica um adjectivo, o advérbio acrescenta a


ideia de intensidade. Por exemplo:
O filme era muito bom.

- Na linguagem jornalística e publicitária actuais, têm sido


frequentes os advérbios associados a substantivos. Por
exemplo:
"Isso é simplesmente futebol" - disse o jogador.
"Orgulhosamente Moçambicano" é o que diz a nova
campanha publicitária da mCel.
Centro de Ensino à Distância 42

5.3.1. Classificação dos Advérbios


De acordo com a circunstância que exprime, o advérbio
pode ser de:
 Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá,
atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí,
abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, defronte,
nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures, aquém,
externamente, a distância, à distância de, de longe, de
perto, em cima, à direita, à esquerda, ao lado, em volta.

 Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,


amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve,
constantemente, entrementes, imediatamente,
primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às
vezes, à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em
quando, de quando em quando, a qualquer momento, de
tempos em tempos, em breve, hoje em dia.
 Modo: bem, mal, assim, melhor, pior, depressa, acinte,
debalde, devagar, às pressas, às claras, às cegas, à toa,
à vontade, às escondidas, aos poucos, desse jeito, desse
modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado a
lado, a pé, de cor, em vão e a maior parte dos que
terminam em "-mente": calmamente, tristemente,
propositadamente, pacientemente, amorosamente,
docemente, escandalosamente, bondosamente,
generosamente.
 Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto,
efectivamente, certo, decididamente, realmente,
indubitavelmente.
 Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de
forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
Centro de Ensino à Distância 43

 Dúvida: acaso, porventura, possivelmente,


provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo,
quem sabe.
 Intensidade: muito, demais, pouco, tão, menos, em
excesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto,
quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo, nada,
todo, quase, de todo, de muito, por completo,
extremamente, intensamente, grandemente, bem
(quando aplicado a propriedades graduáveis).
 Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão,
somente, simplesmente, só, unicamente.
Por exemplo: Brando, o vento apenas move a copa das
árvores.
 Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, também.
Por exemplo: O indivíduo também amadurece durante a
adolescência.
 Ordem: depois, primeiramente, ultimamente.
Por exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
aos meus amigos por comparecerem à festa.

Saiba que:
- Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se ao
advérbio o mais ou o menos. Por exemplo:
Ficarei o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o
menos tarde possível.

- Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente, em


geral sufixamos apenas o último. Por exemplo:
O aluno respondeu calma e respeitosamente.
Centro de Ensino à Distância 44

IMPORTANTE:
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido:
Há palavras como muito, bastante, etc., que podem
aparecer como advérbio e como pronome indefinido.

Advérbio: refere-se a um verbo, adjectivo, ou a outro


advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.

Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo e sofre


flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilómetros.

 Advérbios Interrogativos
São as palavras: onde? Aonde? Donde? Quando? Como?
Por que? Nas interrogações directas ou indirectas,
referentes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa.

Veja:
Interrogação Directa Interrogação Indirecta
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu.
Onde mora? Indaguei onde morava.
Por que choras? Não sei por que riem.
Aonde vai? Perguntei aonde ia.
Donde vens? Pergunto donde vens.
Quando voltas? Pergunto quando voltas.

5.3.2. Flexão dos Advérbios


Outra característica dos advérbios refere-se a sua
organização morfológica. Os advérbios são palavras
invariáveis, isto é, não apresentam variação em género e
número. Porém, alguns admitem a variação em grau.
Centro de Ensino à Distância 45

 Grau Comparativo
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo modo
que o comparativo do adjectivo:
a. de igualdade: tão + advérbio + quanto (como). Por
exemplo: Renato fala tão alto quanto João.
b. de inferioridade: menos + advérbio + que (do que).
Por exemplo: Renato fala menos alto do que João.
c. de superioridade:
 Analítico: mais + advérbio + que (do que). Por
exemplo: Renato fala mais alto do que João.
 Sintético: melhor ou pior que (do que). Por
exemplo: Renato fala melhor que João.

 Grau Superlativo
O superlativo pode ser analítico ou sintético:
a. Analítico: acompanhado de outro advérbio.
Por exemplo: Renato fala muito alto.
o Muito = advérbio de intensidade
o Alto = advérbio de modo
b. Sintético: formado com sufixos.
Por exemplo: Renato fala altíssimo.

Obs.: as formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são


comuns na língua popular. Observe:
A Maria mora pertinho daqui. (muito perto)
A criança levantou cedinho. (muito cedo)

5.3. Locuções Adverbias


Quando há duas ou mais palavras que exercem função de
advérbio, temos a locução adverbial, que pode expressar
as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordinariamente
por uma preposição.
Centro de Ensino à Distância 46

 Lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, para


dentro, por aqui, etc.
 Afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
 Modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, em
geral, frente a frente, etc.
 Tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde,
hoje em dia, nunca mais, etc.

Obs.: tanto a locução adverbial como o advérbio modificam


o verbo, o adjectivo e outro advérbio. Observe os exemplos:
Chegou muito cedo. (advérbio)
Joana é muito bela. (adjectivo)
De repente correram para a rua. (verbo)

Relação de Algumas Locuções Adverbiais


Às vezes Às claras Às cegas
À esquerda À direita À distância
Ao lado Ao fundo ao longo
A cavalo A pé Às pressas
Ao vivo A esmo À toa
De repente De súbito De vez em quando
Por fora Por dentro Por perto
Por trás Por ali Por ora
Com certeza Sem dúvida De propósito
Lado a lado Passo a passo O mais das vezes

Atenção:
Não confunda locução adverbial com a locução
prepositiva. Nesta última, a preposição vem sempre depois
do advérbio ou da locução adverbial.
Por exemplo:
Perto de, antes de, dentro de, etc.
Centro de Ensino à Distância 47

Sumário

Os adjectivos qualificam ou indicam os estados das pessoas


(substantivos). Eles flexionam em género, número e grau.

Advérbios são palavras invariáveis que modificam o sentido


do verbo, do adjectivo e do próprio advérbio. Existem
advérbios: de lugar, tempo, modo, afirmação, negação,
dúvida, intensidade, exclusão, inclusão e ordem. Os
advérbios variam em grau comparativo e superlativo.

Exercícios

1. Identifica adjectivos nas frases abaixo:


a. Contemplo a rapariga de calças verdes.
b. Procuro um lenço novo para mim.
c. O carro tem muita presença.
d. Gosto muito de ler romances ficcionados.
e. Uma menina passou por este passeio ontem.
f. Não existe nenhuma Marta elegante na sala de
aulas.
2. Construa quatro frases utilizando advérbios no grau
comparativo de superioridade no seu aspecto analítico e
sintético.
3. Construa frases utilizando locuções adverbiais lugar:,
afirmação, modo e tempo.
Centro de Ensino à Distância 48

Unidade 06: Morfologia (Verbo)

Introdução
Nesta unidade vamos debruçar acerca do verbo. Para além
do conceito, vamos estudar a estrutura do verbo, a
classificação, as formas de classificação, os modos verbal,
aspecto verbal e voz verbal.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir verbo
 Indicar a estrutura do verbo
 Classificar os verbos
Objectivos  Flexionar os verbos
 Definir aspecto verbal
 Distinguir verbos na voz activa e passiva

6.1. Conceito de Verbo


Verbo é a classe de palavras que se flexiona em pessoa,
número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros
processos:
 Acção (correr, andar, comer);
 Estado (ficar, estar, parar );
 Fenómeno (chover, trovejar, );
 Ocorrência (nascer, brotar, germinar);
 Desejo (querer, amar, planear).

O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os seus


possíveis significados. Observe que palavras como corrida,
chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de alguns
verbos mencionados acima; não apresentam, porém, todas as
possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
Centro de Ensino à Distância 49

6.2. Estrutura das Formas Verbais


Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
apresentar os seguintes elementos:

a) Radical: é a parte invariável, que expressa o significado


essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-ava; fal-am.
(radical fal-)

b) Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica a


conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r.
São três as conjugações:
1ª - Vogal Temática - A - (falar)
2ª - Vogal Temática - E - (vender)
3ª - Vogal Temática - I - (partir)

c) Desinência modo-temporal: é o elemento que designa o


tempo e o modo do verbo. Por exemplo:
falávamos (indica o pretérito imperfeito do indicativo.)
falasse (indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.)

d) Desinência número-pesssoal: é o elemento que designa


a pessoa do discurso (1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou
plural). Por exemplo:
falamos (indica a 1ª pessoa do plural.)
falavam (indica a 3ª pessoa do plural.)

Obs.:
O verbo pôr, assim como seus derivados (compor, repor,
depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois a forma arcaica
do verbo pôr era poer. A vogal "e", apesar de haver
desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas formas do
verbo: põe, pões, põem, etc.
Centro de Ensino à Distância 50

Formas Rizotónicas e Arrizotónicas


Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura dos
verbos com o conceito de acentuação tónica, percebemos
com facilidade que nas formas rizotónicas, o acento tónico
cai no radical do verbo: opino, aprendam, nutro, por exemplo.
Nas formas arrizotónicas, o acento tónico não cai no radical,
mas sim na terminação verbal: opinei, aprenderão,
nutriríamos.

6.3. Classificação dos Verbos


Os verbos classificam-se em:
i. Regulares: são aqueles que possuem as desinências
normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca
alterações no radical. Por exemplo:
canto cantei cantarei cantava cantasse

ii. Irregulares: são aqueles cuja flexão provoca alterações no


radical ou nas desinências. Por exemplo:
faço fiz farei fizesse

iii. Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação


completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais e
pessoais.

Os verbos impessoais são os que não têm sujeito.


Normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os
principais verbos impessoais são:
i. haver, quando sinónimo de existir, acontecer, realizar-se
ou fazer (em orações temporais). Por exemplo:
 Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão)
 Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz)
 Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam)
Centro de Ensino à Distância 51

 Houve duas guerras mundiais. (Houve =


Aconteceram)

ii. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo). Por


exemplo:
 Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil.
 Era primavera quando a conheci.
 Estava frio naquele dia.

iii. Todos os verbos que indicam fenómenos da natureza


são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar,
amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém, se constrói,
"Amanheci mal-humorado", usa-se o verbo
"amanhecer" em sentido figurado. Qualquer verbo
impessoal, empregado em sentido figurado, deixa de ser
impessoal para ser pessoal. Por exemplo:
 Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu)
 Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito:
candidatos)
 Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)

iv. São impessoais, ainda:


1. O verbo deu + para da língua popular, equivalente de
"ser possível". Ex: Não deu para chegar mais cedo.
Dá para me arrumar uns trocados?
2. Os verbos bastar e chegar, seguidos da preposição
de, indicando suficiência. Ex.: Basta de tolices. Chega
de blasfémias.
3. Os verbos estar e ficar em orações tais como Está
bem, Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal,
sem referência a sujeito expresso anteriormente.
Podemos, ainda, nesse caso, classificar o sujeito como
Centro de Ensino à Distância 52

hipotético, tornando-se, tais verbos, então, pessoais.


4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando
tempo. Ex.: Já passa das seis.

6.4. Aspecto Verbal


No que se refere ao estudo de valor e emprego dos tempos
verbais, é possível perceber diferenças entre o pretérito
perfeito e o pretérito imperfeito do indicativo. A diferença entre
esses tempos é uma diferença de aspecto, pois está ligada à
duração do processo verbal.

Observe:
- Quando o vi, cumprimentei-o. O aspecto é perfeito, pois o
processo está concluído.

- Quando o via cumprimentava-o. O aspecto é imperfeito,


pois o processo não tem limites claros, prolongando-se por
período impreciso de tempo.

O presente do indicativo e o presente do subjuntivo


apresentam aspecto imperfeito, pois não impõem precisos ao
processo verbal:
- Faço isso sempre.
- É provável que ele faça isso sempre.

Já o pretérito mais-que-perfeito, como o próprio nome indica,


apresenta aspecto perfeito em suas várias formas do
indicativo e do subjuntivo, pois traduz processos já concluídos:
- Quando atingimos o topo da montanha, encontramos a
bandeira que ele fincara (ou havia fincado) dois dias antes.
- Se tivéssemos chegado antes, teríamos conseguido fazer o
exame.
Centro de Ensino à Distância 53

Outra informação aspectual que a oposição entre o perfeito e


imperfeito pode fornecer diz respeito à localização do
processo no tempo. Os tempos perfeitos podem ser usados
para exprimir processos localizados nos ponto. Os tempos
perfeitos podem ser usados para exprimir processos
localizados num ponto preciso do tempo:
- No momento em que o vi, acenei-lhe.
- Tinha-o cumprimentado logo que o vira.

Já os tempos imperfeitos podem indicar processos


frequentes e repetidos:
- Sempre que saía, trancava todas as portas.

O aspecto permite a indicação de outros detalhes relacionados


com a duração do processo verbal. Veja:
- Tenho encontrado problemas em meu trabalho.

Esse tempo, conhecido como pretérito perfeito composto do


indicativo, indica um processo repetido ou frequente, que se
prolonga até o presente.
- Estou almoçando.

A forma composta pelo auxiliar estar seguido do gerúndio do


verbo principal indica um processo que se prolonga. É
largamente empregada na linguagem quotidiana, não só no
presente, mas também em outros tempos (estava almoçando,
estive almoçando, estarei almoçando, etc.).

Obs.: em Portugal, costuma-se utilizar o infinitivo precedido


da preposição a em lugar do gerúndio.
Por exemplo: Estou a almoçar.
Centro de Ensino à Distância 54

- Tudo estará resolvido quando ele chegar. Tudo estaria


resolvido quando ele chegasse.

As formas compostas: estará resolvido e estaria resolvido,


conhecidas como futuro do presente e futuro do pretérito
compostos do indicativo, exprimem processo concluído - é a
ideia do aspecto perfeito - ao qual se acrescenta a noção de
que os efeitos produzidos permanecem, uma vez realizada a
acção.
- Os animais nocturnos terminaram de se recolher mal
começou a raiar o dia.

Nas duas locuções destacadas, mais duas noções ligadas ao


aspecto verbal: a indicação do término e do início do processo
verbal.
- Eles vinham chegando à proporção que nós íamos
saindo.

As locuções formadas com os auxiliares vir e ir exprimem


processos que se prolongam.
- Ele voltou a trabalhar depois de deixar de sonhar projectos
irrealizáveis.

As locuções destacadas exprimem o início de um processo


interrompido e a interrupção de outro, respectivamente.

6.6. Modos Verbais


Modo verbal são as várias formas assumidas pelo verbo na
expressão de um fato. Em Português, existem três modos:
 Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por
exemplo: Eu sempre estudo.
Centro de Ensino à Distância 55

 Conjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por


exemplo: Talvez eu estude amanhã.
Imperativo - indica uma ordem, um pedido. Por
exemplo: Estuda agora, menino.

 Formas Nominais
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas que
podem exercer funções de nomes (substantivo, adjectivo,
advérbio), sendo por isso denominadas formas nominais.

Observe:
a) Infinitivo Impessoal: exprime a significação do verbo de
modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
substantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta)
É indispensável combater a corrupção. (= combate à)

O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente (forma


simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
É preciso ler este livro.
Era preciso ter lido este livro.

b) Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às três


pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não
apresenta desinências, assumindo a mesma forma do
impessoal; nas demais, flexiona-se da seguinte maneira:
2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres (tu)
1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.: termos (nós)
2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.: terdes (vós)
3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.: terem (eles)

Por exemplo: Foste elogiado por teres alcançado uma boa


Centro de Ensino à Distância 56

colocação.
c) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjectivo ou
advérbio. Por exemplo:
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de
advérbio)
Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função
adjectivo)

Na forma simples, o gerúndio expressa uma acção em curso;


na forma composta, uma acção concluída. Por exemplo:
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro.
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro.

d) Particípio: quando não é empregado na formação dos


tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado
de uma acção terminada, flexionando-se em género, número e
grau. Por exemplo:
Terminados os exames, os candidatos saíram.
Feita a comida, todos comeram felizes.

Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma


relação temporal, assume verdadeiramente a função de
adjectivo (adjectivo verbal). Por exemplo:
Ela foi a aluna escolhida para representar a escola.
Neste jogo eu sou o verdadeiro felizardo.

6.7. Vozes do Verbo


Dá-se o nome de voz à forma assumida pelo verbo para
indicar se o sujeito gramatical é agente ou paciente da acção.
São três as vozes verbais:
Centro de Ensino à Distância 57

a) Activa: quando o sujeito é agente, isto é, pratica a acção


expressa pelo verbo. Por exemplo:
Ele fez o trabalho.
sujeito agente acção objecto (paciente)

b) Passiva: quando o sujeito é paciente, recebendo a ação


expressa pelo verbo. Por exemplo:
O trabalho foi feito por ele.
sujeito paciente acção agente da passiva

c) Reflexiva: quando o sujeito é ao mesmo tempo agente e


paciente, isto é, pratica e recebe a acção. Por exemplo:
O menino feriu-se.

Obs.:
Não confundir o emprego reflexivo do verbo com a noção de
reciprocidade. Por exemplo:
Os lutadores feriram-se. (um ao outro)

 Formação da Voz Passiva


A voz passiva pode ser formada por dois processos: analítico
e sintético.

1. Voz Passiva Analítica

Constrói-se da seguinte maneira: Verbo SER + particípio do


verbo principal. Por exemplo:
A escola será pintada.
O trabalho é feito por ele.

Obs.:
O agente da passiva geralmente é acompanhado da
Centro de Ensino à Distância 58

preposição por, mas pode ocorrer a construção com a


preposição de. Por exemplo: A casa ficou cercada de
soldados.
- Pode acontecer ainda que o agente da passiva não esteja
explícito na frase. Por exemplo:
A exposição será aberta amanhã.

- A variação temporal é indicada pelo verbo auxiliar (SER),


pois o particípio é invariável. Observe a transformação das
frases seguintes:
a) Ele fez o trabalho. (pretérito perfeito do indicativo)
O trabalho foi feito por ele. (pretérito perfeito do indicativo)
b) Ele faz o trabalho. (presente do indicativo)
O trabalho é feito por ele. (presente do indicativo)
c) Ele fará o trabalho. (futuro do presente)
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente)

- Nas frases com locuções verbais, o verbo SER assume o


mesmo tempo e modo do verbo principal da voz activa.
Observe a transformação da frase seguinte:
O vento ia levando as folhas. (gerúndio)
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)

Obs.:
É menos frequente a construção da voz passiva analítica com
outros verbos que podem eventualmente funcionar como
auxiliares. Por exemplo:
A moça ficou marcada pela doença.

2- Voz Passiva Sintética


A voz passiva sintética ou pronominal constrói-se com o verbo
na 3ª pessoa, seguido do pronome apassivador SE. Por
Centro de Ensino à Distância 59

exemplo:
Abriram-se as inscrições para o concurso.
Destruiu-se o velho prédio da escola.

Obs.:
O agente não costuma vir expresso na voz passiva sintética.

Curiosidade:
A palavra passivo possui a mesma raiz latina de paixão (latim
passio, passionis) e ambas se relacionam com o significado
sofrimento, padecimento. Daí vem o significado de voz
passiva como sendo a voz que expressa a acção sofrida pelo
sujeito.

Na voz passiva temos dois elementos que nem sempre


aparecem: SUJEITO PACIENTE e AGENTE DA PASSIVA.

Sumário

Verbos são palavras que se flexiona em pessoa, número,


tempo, modo e voz. Podem indicar, entre outros processos:
acção, estado, fenómeno, ocorrência, desejo.

Quanto à estrutura das formas verbais, os verbos são


compostos por radical, tema, desinência (modo-temporal e
número-pesssoal).

Os verbos classificam-se em regulares, irregulares e


defectivos. No estudo dos verbos faz-se referência ao
aspecto e modo verbal. Quanto a vozes do verbo, faz-se
referência a voz activa, passiva e reflexiva.
Centro de Ensino à Distância 60

Exercícios

1. Flexione os verbos pôr e querer no modo indicativo no


tempo pretérito mais-que-perfeito na forma composta.
2. Construa seis (10) frases utilizando verbos: (5) na voz

passiva analítica e (5) na voz passiva sintética.


Centro de Ensino à Distância 61

Unidade 07: Frase Complexa: Oração Subordinada Relativa e Integrante

Introdução
A partir desta unidade vamos passar a falar da sintaxe, do
funcionamento das orações. Especificamente vamos falar da
relação de subordinação em frases relativas e integrantes.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir frase complexa;


 Diferenciar orações relativas e integrantes.
Objectivos

7.1. Conceito
Frase complexa é aquela que é constituída por duas ou mais
orações. Para passar da frase simples à frase complexa faz-
se por meio de dois processos: a coordenação e
subordinação.

 Coordenação – é a ligação de duas orações


independentes que se apresentam no mesmo nível e
sem que uma esteja dependente da outra. A ligação
destas orações é feita por meio de conjunções
coordenativas. As orações coordenadas, segundo a
conjunção ou locução conjuntiva que as une, podem
ser: copulativas (sindéticas e assindéticas),
disjuntivas, adversativas, conclusivas e explicativas.

 Subordinação – é a relação de uma oração não


autónoma com uma oração principal. A oração não
autónoma depende da oração principal. As orações
subordinadas são aquelas que se ligam por meio de
conjunções subordinadas.
Centro de Ensino à Distância 62

7.2. Diferenças entre Orações Relativas e Integrantes

7.2.1. Orações Relativas


As orações relativas são introduzidas por um pronome que
tem uma função sintáctica na oração introduzida por esse
pronome. Estas podem ser adjectivas (explicativas ou
restritivas) ou substantivas.
Ex: - A rapariga que tem os cabelos pintados de loiro é
minha prima.
- Dos dois rapazes foi o António quem primeiro
apareceu.

 Relativas explicativas - as que exprimem uma


qualidade acessória. São separadas por vírgulas e
podem suprimir-se sem que a frase perca sentido.
Ex: - O teu tio, que era futebolista, trouxe-lhe dois livros.

 Relativas restritivas - as que precisam ou limitam a


significação do antecedente.
Ex: - As crianças que estavam doentes perderam o
apetite.

7.2.2. Subordinadas Integrantes


As orações integrantes são introduzidas pela conjunção
integrante que.
Ex: - Sinto que a tempestade se aproxima.
- Quero que vás trabalhar.

7.3 Subordinadas Substantivas


Orações subordinadas substantivas são as que podem ter a
função de sujeito, complemento directo, aposto, predicativo
e determinativo.
Centro de Ensino à Distância 63

Ex: - Quem não estiver de acordo não vem. (sujeito)


- Então eras tu quem eu amava tanto! (predicativo)
- Comeu quanto quis. (complemento directo)
- Deixará os bens a quem cuidar dele. (complemento
determinativo)
- Esta peça foi feita por quem sabe. (agente da
passiva)

7.4 Subordinadas Infinitivas


Orações subordinadas infinitivas são aquelas que têm verbo
no infinitivo e que têm um sujeito próprio.

Sumário

Frase complexa é aquela que é constituída por duas ou mais


orações. Para passar da frase simples à frase complexa faz-
se por meio de dois processos: a coordenação e
subordinação.

As orações relativas são introduzidas por um pronome que


tem uma função sintáctica na oração introduzida por esse
pronome. Estas podem ser adjectivas (explicativas ou
restritivas) ou substantivas. As orações integrantes são
introduzidas pela conjunção integrante que.

Exercícios

1. Divide e classifique as orações da frase.


a. Os rapazes que vimos hoje são simpáticos.
b. Se me ajudares, sairei contigo.
c. Fechou o frasco para que não se evaporasse.
d. O aluno que estuda passa de classe.
e. Susana, que não se sentia bem, estava de cama.
f. Não, o meu coração não é maior que o mundo.
Centro de Ensino à Distância 64

Unidade 08: Orações Adverbiais

Introdução
Ainda sobre orações subordinadas, vamos nesta unidade
focar a nossa atenção para os advérbios.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Demonstrar o funcionamento das orações


subordinadas adverbiais: temporais, causais, de
Objectivos
modo, consecutivas, concessivas e subordinadas
finais.

8.1. Orações Subordinadas Adverbiais


As adverbiais são aquelas que equivalem a advérbios em
relação a outra oração. Os adjuntos adverbiais são termos
acessórios das orações; são determinantes. Os
determinantes adverbiais acrescentam "ao predicado o
esclarecimento de lugar, tempo, modo etc."
Almoçarei ao meio-dia.
Chegaram aqui as embarcações.
Ontem choveu.
Aquele homem caminha com dificuldade.
Tu te exprimes muito bem.

São, portanto, os adjuntos adverbiais expressões que


acrescentam circunstâncias aos fatos expressos.
Recorde-se também que as orações reduzidas às vezes
indicam circunstâncias que caracterizam e restringem o
sentido do verbo:
Terminado o jogo, voltei para casa. (subordinada
adverbial temporal reduzida de particípio)
Centro de Ensino à Distância 65

Não te emprestarei dinheiro para gastares com


bijutarias. (adverbial final reduzida de infinitivo)
Chegando ao teatro, comprei os ingressos.
(subordinada adverbial temporal reduzida de
gerúndio)

As orações subordinadas adverbiais são dos seguintes tipos:


causais, comparativas, consecutivas, concessivas,
condicionais, conformativas, finais, proporcionais e
temporais.

8.1.1. Causais
As orações causais são aquelas que modificam a oração
principal apresentando uma circunstância de causa, isto é,
respondem à pergunta "por quê?" feita à oração principal.
Exemplos:
Carlos saiu porque precisava.
Amadeu não saiu porque estava frio.
Nilo Lusa deixou o magistério porquanto sua saúde
era precária.

São conjunções causais: porque, que, porquanto, visto que,


por isso que, como, visto como, uma vez que, já que, pois
que.

8.1.2. Comparativas
São orações comparativas aquelas que correspondem ao
segundo termo de uma comparação. Exemplos:
Marisa é tão boa digitadora quanto Teresa
"A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro".
São conjunções comparativas: como, mais do que, assim
como, bem como, que nem (como), tanto quanto.
Centro de Ensino à Distância 66

8.1.2. Consecutivas
Orações consecutivas são aquelas que são introduzidas por
um termo intensivo que vem em seguida à oração principal,
acrescentando-lhe ideias e explicações, ou completando-a,
ou tirando uma conclusão. Exemplos:
O Plano de Estabilização Económica foi tão cercado
de flores de todos os lados que não percebemos suas
consequências menos interessantes.
Onde estás, Eliana, que não te vejo!
O Octávio bebia tanto que morreu afogado no seu
próprio vómito.
Faça seu trabalho de tal modo que não venha a
lastimar-se do resultado que dele possa advir.

São conjunções consecutivas: (tanto) que, (tão) que, (de tal


forma) que.

8.1.4. Concessivas
Orações concessivas são aquelas que se caracterizam pela
ideia de concessão que transmitem à oração principal.
Exemplos:
Ainda que faça frio, o jogo realizará.
Cristiano foi ao parque, embora estivesse chovendo.
Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a
língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

São conjunções concessivas: embora, posto que, se bem


que, ainda que, sempre que, desde que, conquanto, mesmo
que, por pouco que, por muito que.
Centro de Ensino à Distância 67

8.1.5. Condicionais
Orações condicionais são aquelas que se caracterizam por
transmitir ideias de condição à oração principal. Exemplos:
Se o filme for ruim, sairei do cinema.
Caso tivesse realizado as obras necessárias, não
teria perdido a eleição.

São conjunções condicionais: se, salvo se, senão, caso,


desde que, excepto se, contanto que, a menos que, sem
que, uma vez que, sempre que.

8.1.6. Conformativas
São orações conformativas aquelas que indicam o modo
como ocorreu a acção expressa na oração principal.
Exemplos:
Conforme as últimas notícias, o mundo corre risco de
uma guerra generalizada.
Realizei seus desejos como você me havia sugerido.
Escrevi carta burocrática, segundo o estilo oficial
estabelece.

São conjunções conformativas: de modo que, assim como,


bem como, de maneira que, de sorte que, de forma que, do
mesmo modo que, segundo conforme.

8.1.7. Finais
As orações finais são aquelas que indicam o fim ou
finalidade à oração principal. Exemplos:
É preciso que haja políticos de concepções liberais
extremadas para que os conservadores não reduzam
os homens a títeres.
Acenei-lhe para que silenciasse…
Centro de Ensino à Distância 68

António Carlos falou baixinho a fim de que não fosse


percebida sua revolta.

São conjunções subordinativas finais: para que, a fim de


que.

8.1.8. Proporcionais
As orações proporcionais são aquelas que transmitem ideia
de proporcionalidade à ideia principal. Exemplos:
À proporção que o tempo passa, a agonia recrudesce.
O barulho de algazarra aumenta à medida que se aproxima
das crianças.

São conjunções subordinativas proporcionais: à medida que,


à proporção que, ao passo que.

8.1.9. Temporais
São temporais aquelas orações que indicam relação de
tempo naquilo que se refere à acção expressa pela oração
principal. Exemplos:
Enquanto leio poesia, recupero o equilíbrio emocional.
Cada vez que eu penso, te sinto, te vejo...

São conjunções subordinadas temporais: quando, enquanto,


agora que, logo que, desde que, assim que, tanto que,
apenas, antes que, até que, sempre que, depois que, cada
vez que.

Sumário

As adverbiais são aquelas que equivalem a advérbios em


relação a outra oração. Os adjuntos adverbiais são termos
acessórios das orações; são determinantes.
Centro de Ensino à Distância 69

As orações subordinadas adverbiais são dos seguintes tipos:


causais, comparativas, consecutivas, concessivas,
condicionais, conformativas, finais, proporcionais e
temporais.

Exercícios

1. Construa duas frases complexas para cada um dos tipo


de advérbio:
a. Causais.
b. Comparativas.
c. Consecutivas.
d. Concessivas.
e. Condicionais.
f. Conformativas.
g. Finais.
h. Proporcionais.
i. Temporais.
Centro de Ensino à Distância 70

Unidade 09: Actos de Fala

Introdução
Nesta unidade vamos falar de um aspecto muito importante
para a comunicação interpessoal, são os actos de fala.
Vamos procurar compreender o funcionamento dos actos
ilocutório.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir acto de fala;


 Diferenciar actos de fala directos e actos de fala
indirectos.
Objectivos
9.1. Significado e Contexto
No quadro dos estudos da interacção verbal, ou do estudo
da actualização do sistema linguístico em situações de uso,
diversos são os factores que são considerados pertinentes na
produção e transmissão de significado, isto é, da
comunicação. Tais factores, alguns de índole linguística
outros de índole não linguística, envolvem, necessariamente,
o que é dito, o modo como é dito e a intenção com que é dito;
mas eles envolvem também aspectos relacionados com o
contexto e com os participantes da interacção verbal,
nomeadamente o seu posicionamento físico relativo, os
papéis sociais que estão a desempenhar, as suas
identidades, as suas atitudes, comportamentos e crenças,
assim como as relações que entre si estabelecem ou
reproduzem.

Por outras palavras, o significado é uma propriedade das


pessoas, coisas e eventos da situação discursiva relevantes
para, e respectivas a, essa situação.
Centro de Ensino à Distância 71

Enquanto factores constitutivos do contexto situacional,


todos estes aspectos são temporal e espacialmente
localizados num dado momento de produção linguística e
constituem-se como princípios reguladores da actividade
verbal, assim ajudando a constranger e a configurar a
produção dela resultante.

Da interacção desta multiplicidade de factores pode resultar,


e muitas vezes resulta, que o significado pragmático, isto é,
aquilo que o falante quer dizer, não coincida, sempre e
exactamente, com o significado da frase. Daí que neste
quadro de estudos seja fundamental a distinção entre forma
e função dos enunciados. Efectivamente, a forma de frase
interrogativa, por exemplo, pode nem sempre corresponder à
função de uma pergunta, como quando alguém diz “Não
acham que está muito calor aqui dentro?” querendo com isso
dizer “Seria bom que alguém abrisse uma janela”. Com efeito,
da mesma forma que à pergunta “Tem horas?” ninguém
espera uma resposta como “Sim, tenho”, sem que haja
qualquer tentativa de enunciação das horas, também à
pergunta “Não acham que está muito calor aqui dentro?”
ninguém espera apenas uma resposta de confirmação, sem
qualquer tentativa consequente de contrariar o calor que na
sala se faz sentir.

Daquilo que até agora foi enunciado facilmente se depreende


que a intencionalidade e a convenção são dois aspectos
relevantes na produção do significado: em primeiro lugar,
porque aquilo que “queremos dizer” (função ou significado
pragmático) nem sempre corresponde ao que “dizemos”
(forma ou significado literal); em segundo lugar, porque as
trocas conversacionais e a interacção verbal em geral são
fortemente determinadas por condições sociais e culturais
Centro de Ensino à Distância 72

que nada têm de linguístico e que convencionalmente se


manifestam no significado expresso.

9.2. Actos de Fala


Uma das áreas que mais se tem preocupado com o estudo
dos factores reguladores da actividade verbal tem sido a
pragmática e, dentro desta, uma teoria em particular: a
chamada teoria dos actos de fala. Por acto de fala entende-
se o uso de um enunciado, linguisticamente funcional, para
realizar uma acção, como, por exemplo, prometer, avisar,
informar, ordenar, etc., considerada apropriada às
circunstâncias de uma situação de comunicação particular.

Os actos de fala são, portanto, acções realizadas


linguisticamente e a sua descrição tipológica corresponde a
uma tentativa de categorização dessas acções. Para a
caracterização dos diferentes tipos de actos ilocutórios, e
considerando, como vimos, que a funcionalidade de uma
frase no discurso não está claramente associada a um tipo
particular de frase (declarativa, interrogativa, exclamativa e
imperativa), a partir de uma relação unívoca, a tradição
descritiva distingue entre forma e conteúdo de uma frase,
fazendo realçar nessa distinção que a intenção com que um
enunciado é produzido está intimamente ligada à função
assumida por esse mesmo enunciado no contexto da sua
enunciação. À intenção chamamos objectivo ilocutório do
enunciado ou acto, à função chamamos força ilocutória desse
mesmo enunciado ou acto. O objectivo ilocutório é parte
integrante da força ilocutória, mas é ele que a regula, o que
torna possível a existência de enunciados com o mesmo
objectivo ilocutório, mas com forças ilocutórias distintas.
Centro de Ensino à Distância 73

Nesta breve descrição dos actos de fala seguiremos a


tipologia proposta pelo filósofo norte-americano John R.
Searle, a mais importante e de maior divulgação, que divide
os actos de fala (ou actos ilocutórios) em seis categorias
diferentes: assertivos, directivos, compromissivos,
expressivos, declarativos (ou declarações) e declarativos
assertivos (ou declarações assertivas):

9.3. Tipologia de Actos Ilocutórios


Acto Objectivo Ilocutório Exemplo
Acto Ilocutorio O enunciado produzido está Luís de Camões
Assertivo relacionado com o valor de foi o autor de Os
verdade. A enunciação pode Lusíadas.
ser submetida ao teste do
verdadeiro ou falso. Penso que ele já
me contou essa
história.
Acto Ilocutorio O locutor pretende levar o Peço-te que me
Directivo interlocutor a realizar algo. ouças!
Expressão de uma vontade ou
de um desejo do locutor para Sugiro que
levar o interlocutor a realizar estudem mais!
uma acção. Utilização de
verbos como “condenar”, Aviso-te pela
“pedir”, “ordenar”, “avisar”. última vez: o
trabalho está por
fazer!
Acto Ilocutorio O locutor compromete-se a Garanto que
Compromissivo realizar algo. amanhã trago os
testes.
Utilização de verbos como
“prometer”, “garantir”, Prometo entregar
“assegurar”. o trabalho dentro
do prazo.
Acto Ilocutorio Expressa sentimentos ou Lamento muito!
Expressivo emoções.
Manifesta os sentimentos do Congratulo-me
Centro de Ensino à Distância 74

locutor. com a tua vitória.


Utilização de verbos como
“agradecer”, “dar os parabéns”,
“lamentar”.
Acto Ilocutorio Cria um estado de coisas Nomeio-te meu
Declarativos através da afirmação de que assessor.
existem.
Declaro-vos
Usado em rituais como casados.
casamentos ou baptizados.

Acto Ilocutorio Traz uma nova realidade à Declaro o réu


Declarativo existência; altera a realidade culpado das
Assertivo das coisas, por meio da acusações que
realização do acto, mas lhe são
relacionando o locutor com a impuatadas.
verdade daquilo que ele próprio
expressa no seu enunciado.

A apresentação desta tipologia permite-nos concluir que o


número de coisas básicas que podemos fazer com a língua é
limitado, se adoptarmos a noção de objectivo ilocutório como
critério classificador. Independentemente da multiplicidade de
actos ilocutórios que cada um de nós possa realizar no seu
quotidiano, tudo se resumirá, no fim, a dizermos aos nossos
interlocutores como é a realidade (actos ilocutórios
assertivos), tentar levá-los a realizar acções (actos ilocutórios
directivos), comprometermo-nos nós próprios com a
realização de uma acção (actos ilocutórios compromissivos),
expressarmos os nossos sentimentos e atitudes face ao
mundo (actos ilocutórios expressivos) e provocar nesse
mundo algumas alterações por meio dos nossos enunciados
(actos ilocutórios declarativos e actos ilocutórios declarativos
assertivos).
Centro de Ensino à Distância 75

9.4. Actos de Fala Indirectos


A realização destas acções, porém, nem sempre se faz de
uma forma directa e imediata, não ambígua. Por vezes
acontece que o falante realiza mais do que um acto ilocutório
de uma só vez. Na prática, o que faz é mascarar um acto sob
a capa de outro, como acontece no exemplo atrás referido,
“Não acham que está muito calor aqui dentro?”, em que sob a
aparência de um acto ilocutório directivo (levar o alocutário a
realizar a acção verbal de concordar ou discordar com o que
está expresso no enunciado), o locutor pode estar a realizar o
acto ilocutório assertivo equivalente a “Seria bom que alguém
abrisse uma janela” (relacionando-se com a verdade daquilo
que expressa no enunciado e constituindo-o como uma
representação da realidade), sem qualquer outra intenção, ou
um outro acto directivo, equivalente a “Por favor, alguém abra
uma janela” (levar o alocutário a realizar a acção física
expressa no enunciado: abrir a janela).

Não esqueçamos que o que conta para a caracterização e


avaliação dos actos ilocutórios é fundamentalmente o
objectivo ilocutório, isto é, a intenção última do locutor ao
enunciar determinado enunciado, pelo que também neste tipo
de actos agora descritos, os chamados actos de fala
indirectos ou actos ilocutórios indirectos, o que conta é o
objectivo ilocutório.

De facto, o que conta não é a máscara, mas o rosto, isto é, o


enunciado que o locutor quer realizar e não a capa sob a qual
mascara o que quer dizer. O querer dizer (o já referido
significado pragmático), por oposição ao significar (o já
referido significado literal) é, portanto, parte determinante na
realização dos actos de fala indirectos, sendo estes os
exemplos mais perfeitos da separação entre forma e função,
Centro de Ensino à Distância 76

quando se trata de caracterizar tipos de frases.

Actos Ilocutórios Directos e Indirectos (consoante se


demonstra categoricamente a intenção do locutor, ou se
procura atingir o mesmo objectivo de forma menos evidente):
Acto Ilocutório Directivo Acto Ilocutório Indirectivo

Quero o trabalho bem feito! Gostaria que o trabalho fosse


bem feito.

Vem comigo. Será que te importas de me


acompanhar?

9.5. Contexto e Relações Sociais


Como já foi referido, o significado é uma propriedade das
pessoas, coisas e eventos da situação discursiva, pelo que
nem sempre a forma linguística é suficiente para determinar
qual o valor de uso de uma dada frase, de um enunciado.
Frequentemente somos tentados a considerar o significado
como decorrente da forma de frase usada; por exemplo, a
forma de frase imperativa está fortemente associada à
expressão da ordem, de tal forma que a sua ocorrência nos
leva de imediato a pensar que uma ordem está a ser
realizada, quando pode não ser esse o caso. O inverso, aliás,
também é verdadeiro, isto é, muitas vezes achamos que a
única forma possível de realização de uma ordem é por meio
de uma frase imperativa e não temos o espírito crítico
suficiente para reconhecer que há muitas outras formas,
indirectas, para a sua realização.

Para a compreensão plena deste fenómeno temos que


considerar, primeiro, a diferença entre objectivo ilocutório e
força ilocutória e, segundo, o contexto situacional e as
relações sociais, de poder, mantidas pelos intervenientes da
Centro de Ensino à Distância 77

situação de comunicação. Exemplificando: quer Passa-me


essa caneta!, quer Podes passar-me essa caneta, por favor
têm o mesmo objectivo ilocutório – tentar que alguém faça
algo, que, no caso, é passar uma caneta ao locutor; todavia, o
primeiro acto tem a força ilocutória de uma ordem, o
segundo tem a força de um pedido. Como vimos, as ordens,
por exemplo, são normalmente expressas, embora não
necessariamente, pelo modo imperativo ou por mecanismos
seus substitutos; os pedidos podem ser expressos e são-no
normalmente, sob a forma interrogativa. Porém, esta
apreciação não é suficiente para uma correcta classificação
dos actos ilocutórios directivos que estão a ser realizados.

Para uma correcta apreciação do problema é necessário


convocar, como factor determinante do significado dos
enunciados o contexto situacional e as relações sociais entre
os participantes da situação comunicativa. É que o que
distingue uma ordem de um pedido não é a forma do
enunciado nem o grau da sua força ilocutória, já que não
existe uma gradação que vá do pedido à ordem. O traço que
permite a distinção entre os dois tipos de actos é a
coercibilidade e essa é dada pela relação de poder dos
participantes.

Efectivamente, uma ordem legítima carrega consigo a força


da coercibilidade de quem tem poder para fazer com que
outrem realize uma acção por si determinada, sob pena de
alguma sanção ocorrer, se a ordem não for cumprida. Quer
isto dizer que sempre que o alocutário possa, sem sanção,
satisfazer ou não a vontade do locutor, não estamos perante
uma ordem, mas perante um pedido.
Centro de Ensino à Distância 78

Nestes casos de relação entre ordem e pedido, a forma de


frase, não sendo determinante para a caracterização do acto,
é, porém, determinante para a construção discursiva das
relações entre os participantes, já que é a forma de frase que
veicula traços de uso identitário dos participantes. Repare-se,
a esse propósito, no modo como, na nossa sociedade, os
patrões que no exercício da sua autoridade realizam todas as
suas ordens de forma indirecta, isto é, como se fossem
pedidos (“Importa-se de me tirar estas fotocópias?/ Tire-me
estas fotocópias, por favor.”), são avaliados positivamente,
contrariamente aos patrões que usam as formas directas (“Vá
tirar estas fotocópias”/ Não deixe de tirar estas cópias”), os
quais são avaliados negativamente, como autoritários e
rudes.

Nas relações sociais, o poder não é algo estável e fixo; pelo


contrário, o poder manifesta-se e constrói-se de relação para
relação, de contexto para contexto, pelo que a sua
caracterização enquanto elemento configurador de tipo de
acto ilocutório directivo, se ordem, se pedido, está fortemente
dependente da dinâmica situacional e social em que a
comunicação acontece.

Sumário

Por acto de fala entende-se o uso de um enunciado,


linguisticamente funcional, para realizar uma acção, como,
por exemplo, prometer, avisar, informar, ordenar, etc.,
considerada apropriada às circunstâncias de uma situação
de comunicação particular.
Centro de Ensino à Distância 79

Existem actos de fala (ou actos ilocutórios) seis categorias


diferentes: assertivos, directivos, compromissivos,
expressivos, declarativos (ou declarações) e declarativos
assertivos (ou declarações assertivas).

Exercícios

1. Indique o acto de fala (ilocutório) presente na frase.


a) Amanha eu serei alguém.
b) Eu aceito você como minha esposa.
c) A sessão está aberta.
d) Acredito em si.
e) Admito que errei.
f) Chumbas, tão certo como 2 e 2 serem 4.
g) Juro que te perdoo.
h) Tenciono estudar muito para o teste.
i) Prometo ser fiel.
j) Até logo, à porta do cinema.
k) Exijo tudo que me pertence.
l) Imploro que me devolva o que me pertence.
m) Lembro.
n) Declaro-vos marido e mulher.
o) Adapto-me a tudo.
Centro de Ensino à Distância 80

Unidade 10: Texto Publicitário

Introdução
Nesta unidade vamos fazer uma reflexão sobre a
publicidade e sua influência na comunicação inter e multi
pessoal.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir texto publicitário


 Referenciar o papel da mulher na publicidade
 Indicar o papel do Slogan
Objectivos  Indicar o papel da linguagem persuasiva
 Explicar o esquema de Courdesse na publicidade
 Redigir um texto publicitário

10.1. Conceito e Linguagem Publicitária


O texto publicitário pretende seduzir, despertar a atenção e o
interesse que, consequentemente, o levarão a memorizar o
nome do produto e a sentir o desejo de o adquirir (acção).

Assim, um anúncio bem elaborado deve obedecer àquilo


que em gíria publicitária se designa por AIDMA (Atenção,
Interesse, Desejo, Memorização e Acção).

Graças ao desenvolvimento de várias áreas do campo


social, a publicidade estuda a psicologia do comprador e ela
aparece muitas vezes associada à psicologia do consumidor
e ao Marketing, à varias técnicas que associam um texto
icónico do texto linguístico.
Centro de Ensino à Distância 81

A publicidade tem dois efeitos (económico e sociológico). As


três funções da publicidade são seduzir, fazer escândalo e
argumentar.

10.2. A Mulher na Publicidade


A mulher é a figura mais representativa nas publicidades
pela sua beleza, utilidade e sensualidade.

Exemplo:

Texto

A supercaneta
- Senhoras, cavalheiros, estudantes, professores, jornalistas,
escritores, poetas, todos os que vivem da pena, para a pena, pela
pena, esta é a caneta ideal, a melhor caneta do mundo! E custa
apenas cem escudos!

Esta é uma caneta especial que escreve de baixo para cima, de


cima para baixo, de trás para diante e de diante para trás!
Observem: escreve em qualquer idioma, sem o menor erro de
gramática…esta caneta não congela com o frio nem ferve com o
calor; resiste à humidade e à pressão, pode ir à lua e ao fim do
mar, sendo a caneta preferida pelos cosmonautas e
escafandristas. Uma caneta para as grandes ocasiões: inalterável
ao salto, à carreira, ao mergulho e ao voo! A caneta dos craques.
Nas cores mais modernas e elegantes: verde, vermelha, roxa…
apreciem! Para combinar com o seu automóvel! Com a sua
gravata! Com os seus olhos!... por cem escudos!...

Cecília Meirelçes, Escolha o Seu Sonho.


Centro de Ensino à Distância 82

10.3. Redacção Publicitária


 Objecto que comunica algo para alguém
o Prevê um enunciador e um enunciatário;
o Espelha o sujeito/consumidor.
 Objecto que significa algo para alguém
o Elabora significados a partir de uma cultura;
o É uma construção intencional de significados.

 Deve ser:
o Conciso; Persuasivo; Informativo.
o E deve ser tudo isso ao mesmo tempo.

 Possui um texto:
o Verbal: título, slogan, marca, etc.
o Não-verbal: fotografia, cor, layout, etc.

 Estabelece uma relação entre:


o Alguém que quer vender (anunciante),
o Alguém que quer comprar (público-alvo) e
o Um objecto de desejo (produto).

 Precisam ser planificados:


o Deve haver cuidado com a organização textual;
o A planificação tem a função de organizar os
aspectos fundamentais de uma mensagem, para
que seu produtor alcance um texto inteligível para
o leitor.
Centro de Ensino à Distância 83

 O texto publicitário requer:


o Contextualização: encadeamento de informações
e de ideias que situam o público-alvo/leitor quanto
aos aspectos internos e externos do texto. Prepara
o leitor para um entendimento eficaz do texto;
o Referências: informações que o leitor necessita
para compreender as ideias que se apresentam no
texto: quem; quando; o quê; como; por quê;
o Estrutura: cada tipo de texto tem uma estrutura
adequada aos seus objectivos de comunicação.
Ela organiza as ideias no nível macro do texto;
o Aspectos estéticos: como o texto precisa falar por
si só, o papel, a revista, o tipo e a cor da letra, o
espaçamento... constituem aspectos estéticos que
chamam a atenção e ajudam no seu
entendimento.

10.4. O Papel do Slogan


Uma publicidade deve ter um slogan, que é um grito de
guerra lançado por uma marca durante numerosas
campanhas publicitárias. O Slogan deve ter efeitos de
atenção, de choque e de memorização é geralmente curto,
penetrante.

10.5. Linguagem Persuasiva


O discurso persuasivo nos textos publicitários desdobra-se
em três maneiras:
1. Formar – disseminação de novos hábitos, pontos de
vista ou atitudes ao consumidor.
2. Reformar – trata-se apenas de mudar a direcção
deles uma vez que já têm os tais hábitos.
3. Conformar – reiteira-se algo já existente.
Centro de Ensino à Distância 84

10.6. O Esquema de Courdesse


Uma publicidade usa em grande medida um discurso
autoritário para registar forte marca persuasiva e muitas
vezes procura adequar-se ao esquema de Courdesses. O
esquema de Courdesses pressupõe a existência de quatro
elementos fundamentais:
 Distância – o sujeito falante é exclusivo, marcado com
uma espécie de “desaparecimento” dos referntes;
 Modalização – por usar um discurso autoritário busca
mais o imperativo, e o carácter parafrástico;
 Tensão – relação que se estabelece entre o emissor e
o receptor. O primeiro procura impor-se à fala não
abrindo espaço para resposta;
 Transparência - os discursos autoritários procuram
demonstrar maior transparência para serem
compreendidos pelo receptor de forma rápida e
directa. A mensagem é clara.

Sumário

O texto publicitário pretende seduzir, despertar a atenção e o


interesse que, consequentemente, o levarão a memorizar o
nome do produto e a sentir o desejo de o adquirir (acção). O
discurso persuasivo nos textos publicitários desdobra-se em
três maneiras: formar, reformar e conformar.

Exercícios

1. Recorte algumas publicidades de Jornais para analisar,


discutir e comentar com os teus colegas.
2. Elabore um texto publicitário.
3. Imagine um político que se candidata pela segunda vez
ao cargo. Que discurso persuasivo usará mais.
Justifique.
Centro de Ensino à Distância 85

Unidade 11: Relações Lexicais

Introdução
Nesta unidade didáctica vamos falar sobre as relações
lexicais, mais propriamente das relações de hiperonímia,
hiponímia, homonímia e polissemia.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar as principais relações lexicais


 Distinguir hiperonímia e hiponímia
 Definir homonímia e polissemia
Objectivos

11.1. Hiperonímia/Hiponímia
Hiponímia - é a relação de sentido não simétrica existente
entre duas palavras e estabelecida segundo critérios de
inclusão.

Os hipónimos estão em relação com os hiperónimos e


designam a relação entre espécie e género.
Ex: rosa, dália, túlipa, cravo, lírio são hipónimos de Flor.
- Carapau, Curvina, sardina, garopa… são hipónimos de
peixe.

Hiperónímia – os hiperónimos estão em relação com os


hipónimos e designam a relação entre género e espécie. A
hiperonímia é a relação de inclusão na unidade mais geral
do significado veiculado por outra unidade (o hipónimo).
Ex: Flor, animais, cor são hiperónimos.
Centro de Ensino à Distância 86

11.2. Homonímia
Homonímia – é a relação entre unidades lexicais que têm
as mesmas formas gráficas e fonética, mas significados
diferentes.
Ex: O homem pôs termo à discussão.
Não me lembro do termo que ele empregou.

11.3. Polissemia
Polissemia – designa o facto de que um mesmo significante
recobre significados diferentes entre os quais existe uma
intersecção semântica. Tendo a mesma grafia e fonia, têm
vários significados relacionados de forma muito próxima.
Ex: Ele foi chicoteado com um flagelo.
Foi flagelo aquele naufrágio.

Sumário

Hiponímia é a relação de sentido não simétrica existente


entre duas palavras e estabelecida segundo critérios de
inclusão. Homonímia é a relação entre unidades lexicais que
têm as mesmas formas gráficas e fonética, mas significados
diferentes.

Exercícios

1. Agrupe, estabelecendo relações lexicais os seguintes


elementos: segunda-feira, Primavera, quarta-feira,
quinta-feira, Verão, sexta-feira, domingo, mês, dó,
sábado, ré, terça-feira, mi, inverno, fá, dia, Janeiro,
Fevereiro, Março, Abril, Dezembro, nota musical, Outono.
Centro de Ensino à Distância 87

Unidade 12: Criação, Renovação Enriquecimento do Léxico e Formação de


Palavras

Introdução
Existem vários processos de formação de palavras na
Língua Portuguesa. Esses processos foram usados ao longo
da história do idioma e podem ser usados actualmente para
a criação de neologismos, quando se quer criar uma palavra
para um conceito até então desconhecido.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar os principais processos de formação de


palavras
o Derivação
Objectivos o Composição
o Calão
o Gíria
o Neologismos

12.1. Derivação de Palavras (por afixação)


A derivação é um processo que consiste no acréscimo de
morfemas (afixo) a um radical já existente, a fim de
representar um conceito relacionado à palavra original.

A afixação é um processo de formação de palavras que


consiste em acrescentar um afixo (um constituinte
morfológico) a uma forma da base. Os afixos podem colocar-
se à esquerda da forma da base (prefixos) ou à direita da
forma da base (sufixos). Em português, há ainda os
interfixos (infixos) que ocorrem entre duas formas de base
como é o caso da vogal de ligação em certos compostos.
Centro de Ensino à Distância 88

Existem cinco processos de derivação, a saber:


 Prefixação: consiste em adicionar ao radical um prefixo.
Exemplos: forma - reforma, teatro - anfiteatro, operação -
cooperação etc.

 Sufixação: consiste em adicionar ao radical um sufixo.


Exemplos: pedra - pedreira, engenheiro - engenharia,
igual - igualdade etc.

 Parassíntese: consiste em adicionar ao radical, ao


mesmo tempo, um prefixo e um sufixo. Exemplos:
veneno - envenenamento, vermelho - avermelhado, frio -
esfriamento etc. Caso semelhante é o da Prefixação e
sufixação: Nota-se que não são consideradas
parassínteses palavras como "desordenamento",
"decodificação", etc., uma vez que existem as palavras
"ordenamento", "desordem", "codificação", sendo o
prefixo independente do sufixo. Nesse caso, diz-se que a
palavra sofreu tanto prefixação quanto sufixação.

 Regressão: geralmente são substantivos oriundos de


verbos, e consistem na supressão das desinências
verbais. Exemplos: buscar - busca, morrer - morte etc.

 Conversão: (ou Derivação Imprópria) esta derivação não


modifica a palavra, consiste apenas em mudar a classe
gramatical, geralmente transformando o verbo em
substantivo. Exemplos: o saber, o porquê etc. Consiste
também em usar adjectivos como se fossem advérbios,
por exemplo: "andar rápido", "jogar bonito" etc.
Centro de Ensino à Distância 89

12.2. Composição
A composição consiste em formar uma nova palavra pela
união de duas bases. Existem quatro processos de
composição, a saber:

Quando as bases são justapostas, cada uma conserva a


sua integridade silábica, a sua autonomia e o seu acento
próprio. Ex: beija-flor, mal-me-quer, água-de-colónia, arco-
íris, vaivém, malcheiroso, etc.

Quando as bases são aglutinadas, cada uma perde a sua


integridade silábica e com um só acento tónico. Ex:
aguardente (água+ardente = aguardente); Embora
(em+boa+hora).

União de radicais: processo semelhante ao de aglutinação,


consiste em juntar elementos radicais do latim ou do grego
para dar um novo significado. Exemplos: pedofilia (pedo,
"criança" + filia, "atracção"), agrícola (agro, "campo" + cola,
"aquele que habita" etc.)

Hibridismo: consiste em unir elementos sendo cada um


oriundo de um idioma. Exemplos: automóvel (latim e grego),
alcalóide (árabe e grego) etc.

12.3. Estrangeirismo

O estrangeirismo é o processo que consiste em introduzir


uma palavra de um idioma estrangeiro dentro do português.
Pode receber nomes diferentes de acordo com o idioma de
origem, como anglicismo (do inglês), galicismo (do francês),
germanismo (do alemão) etc.
Centro de Ensino à Distância 90

Não são consideradas estrangeirismos as palavras de


origem latina, bem como as palavras brasileiras de origem
tupi. O estrangeirismo pode ser de duas categorias:
 Com aportuguesamento: consiste em adaptar a
grafia do idioma estrangeiro para o português.
Exemplos: abajur (do francês "abat-jour"), algodão (do
árabe "al-qutun"), lanche (do inglês "lunch") etc.
 Sem aportuguesamento: consiste em conservar uma
forma original da palavra. Exemplos: networking,
mise-en-scène, pizza, etc.

12.4. Calão
Uma palavra de baixo calão, popularmente conhecida
como palavrão, é um vocábulo que pertence à categoria de
gíria e, dentro desta, apresenta chulo, impróprio, ofensivo,
rude, obsceno, agressivo ou imoral sob o ponto-de-vista de
algumas religiões ou estilos de vida. Palavras de baixo
calão, calão de baixo nível em Portugal ou simplesmente,
palavrões, são formas inadequadas na norma culta da língua
portuguesa e geralmente usados de forma popular e
coloquial, excepto por licença poética.

Os dicionários de maior prestígio divergem quanto à


classificação dessas palavras e de suas acepções entre
ofensivas ou populares (com rubricas como tabuísmo, chulo,
plebeísmo e popular).

12.5. Gíria
Gíria é um fenómeno de linguagem especial usada por
certos grupos sociais pertencentes à uma classe ou a uma
profissão em que se usa uma palavra não convencional para
designar outras palavras formais da língua com intuito de
fazer segredo, humor ou distinguir o grupo dos demais
Centro de Ensino à Distância 91

criando uma linguagem própria (jargão).

É empregada por jovens e adultos de diferentes classes


sociais, e observa-se que seu uso cresce entre os meios de
comunicação de massa. Trata-se de um fenómeno
sociolinguístico cujo estudo pode ser feito sob duas
perspectivas: gíria de grupo e gíria comum.

 Gíria de grupo
A gíria de grupo é usada por grupos sociais fechados e
restritos, que têm comportamento diferenciado. Possui
carácter criptográfico, ou seja, é uma linguagem codificada
de tal forma que não seja entendida por quem não pertence
ao grupo. O uso de termos gírios dá aos falantes um
sentimento de superioridade, serve como signo de grupo,
contribuindo para o processo de auto-afirmação do
indivíduo. Expressa a oposição aos valores tradicionais da
sociedade e preserva a segurança do grupo, pois em
determinadas situações a comunicação é nula com aqueles
que não pertencem a ele. Quando o significado das gírias
sai do âmbito do grupo, novos termos são criados para que
se mantenha seu carácter criptográfico. Por isso trata-se de
algo efémero, em constante renovação.

Os termos são criados quase sempre a partir do vocabulário


comum, com alteração do significante, mudança de
categorias gramaticais e criação de metáforas e metonímias
que expressam a visão de mundo do grupo, reflectindo
ironia, agressividade ou humor. Seu processo de criação
baseia-se no espírito lúdico, tornando-se um jogo de
adivinhação para quem é estranho ao grupo. Embora seu
estudo interesse mais aos sociólogos e historiadores da
linguagem, que utilizam o fenómeno para pesquisas sobre
Centro de Ensino à Distância 92

grupos sociais, a gíria de grupo foi objecto de estudo de


alguns linguistas do século XX.

 Gíria comum
Quando o uso da gíria de grupo expande-se, passa a fazer
parte do léxico popular e torna-se uma gíria comum. É usada
para aproximar os interlocutores, passar uma imagem de
modernidade, quebrar a formalidade, possibilitar a
identificação com hábitos e falantes jovens e expressar
agressividade e injúria atenuada. Torna-se um importante
recurso da comunicação devido a sua expressividade.

A gíria comum é usada na linguagem falada por todas as


camadas sociais e faixas etárias, por isso deixa de estar
ligada à falta de escolaridade, à ignorância, à falta de leitura.
Na linguagem escrita é usada pela imprensa e por escritores
contemporâneos, e muitos termos são dicionarizados.

 Expansão do uso da gíria


Os movimentos político-sociais para democratização da
sociedade reflectiram-se também nos hábitos e na
linguagem; a isto se deve o aumento do uso da gíria. A
mudança da sociedade brasileira de predominantemente
rural para urbana ampliou o uso da linguagem e dos
costumes urbanos por todo o país. O mundo actual é
instável, em constante e rápida transformação, e a gíria
serve também para expressar revolta e frustração com
injustiças sociais, para romper com os valores tradicionais.
Neste panorama, cabe à escola não só preservar o ensino
tradicional, mas também ensinar as variações lingüísticas e
a adequação do uso de cada uma delas, dependendo do
papel social que o falante representa em cada situação.
Centro de Ensino à Distância 93

 A gíria nos meios de comunicação


Os meios de comunicação de massa têm influência cada vez
maior sobre os fenómenos da linguagem. Ao utilizarem as
gírias em seus programas e reportagens, contribuem para a
difusão destes termos por todas as camadas sociais.

A cultura de massa precisa uniformizar a produção, então


busca elaborar seus programas e textos de forma a atingir
um receptor padrão que pode ser culto ou inculto. Surge a
norma linguística da mídia, que mistura hábitos orais e
escritos numa linguagem compreensível por todos. Embora
seja encontrada também nos jornais de maior prestígio, a
gíria é amplamente usada pelo jornalismo popular. Estes
termos são usados pela imprensa para aproximar o texto da
linguagem oral, buscando a quebra da formalidade e a
aproximação com o leitor. Alguns termos têm seu uso tão
difundido que o leitor nem percebe que é uma gíria.

12.6. Neologismos
Neologismo é um fenómeno linguístico que consiste na
criação de uma palavra ou expressão nova, ou na atribuição
de um novo sentido a uma palavra já existente. Pode ser
fruto de um comportamento espontâneo, próprio do ser
humano e da linguagem, ou artificial, para fins pejorativos ou
não.

Pertence à família morfológica Neo (novo), cuja origem


deriva do latim novus, nova, novum e do grego νές; do
sânscrito návah. Pode também referir-se a uma nova
doutrina no campo da Teologia que procura esclarecer o
significado e significante das expressões presentes nas
traduções bíblicas.
Centro de Ensino à Distância 94

Exemplos:
A palavra espiritismo (fr. spiritisme) surgiu como um
neologismo criado pelo pedagogo francês Allan Kardec,
utilizado pela primeira vez na introdução de O Livro dos
Espíritos (1857), para nomear especificamente o corpo de
idéias por ele sistematizadas, diferenciando-o do movimento
espiritualista em geral.

Também há os casos em que o substantivo é transformado


em um adjectivo como por exemplo a palavra antena
(objecto que capta diversas informações) ser transformada
em antenado (pessoa que sabe muito sobre diversos
assuntos).

Chama-se de neologismo o processo de criação de novas


palavras na língua. Você já reparou que, de tempos em
tempos, novas palavras surgem - seja nos telejornais,
descrevendo uma nova tecnologia, por exemplo, seja nas
ruas, por meio de gírias. A vivacidade de uma língua está
ligada à capacidade de seus falantes de criar novas
palavras, ampliar o vocabulário, ou de emprestar dar às
palavras que já existem novos sentidos.

Os neologismos são palavras criadas ou adaptadas para


designar novas realidades. Entre os neologismos,
encontramos:

A abreviação – consiste na omissão de sons da palavra:


 Foto (fotografia)
 Metro (metropolitano)
 Moto ou mota (motocicleta)
 Pneu (pneumático)
Centro de Ensino à Distância 95

A sigla – letra inicial ou grupo de letras iniciais que resultam


da abreviatura de certas palavras, que podem ser,
inclusivamente, palavras estrangeiras:
 UA (União Africana)
 UE (União Europeia)
 TVM (Televisão de Moçambique)

Quando uma sigla é pronunciada de forma contínua, como


uma palavra normal, e não soletrada, chama-se acrónimo:
 PALOP (Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa)
 UNICEF (United Nations International Children
Emergency)
 FUND (Fundo Internacional de Emergência das
Nações Unidas para a Infância)
 SIDA (Síndroma da Imunodeficiência Adquirida)

Sumário

A derivação é um processo que consiste no acréscimo de


morfemas (afixo) a um radical já existente, a fim de
representar um conceito relacionado à palavra original.
Existem cinco processos de derivação: prefixação, sufixação
parassíntese, regressão e conversão.

Outros processos de formação de palavras são por


composição (aglutinação e justapostas), estrangeirismo,
neologismos, calão e gíria.
Centro de Ensino à Distância 96

Exercícios

1. Classifique as palavras quanto aos processos de


formação de palavras:
a. Impor
b. Afunilar
c. Engaiolar
d. Amanhecer
e. Espaçoso
f. Porto
g. Incompativelmente
h. Expatriado
i. Empalidecer
j. Orçamentação
k. Chapeirão
l. Simplacheirão
m. Casinha
Centro de Ensino à Distância 97

Unidade 13: Crónica

Introdução
Nesta décima terceira unidade vamos falar da crónica:
conceito, principais características, natureza e sua
linguagem.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir crónica
 Descrever as principais características da crónica
Objectivos
 Indicar natureza e linguagem
 Indicar tipos de crónicas
 Analisar um texto

13.1. Conceito
Uma crónica (português europeu) é uma narração, segundo
a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos
noticiários dos jornais, comentários literários ou científicos,
que preenchem periodicamente as páginas de um jornal.

A crónica é uma informação comentada. Nasce da notícia e


do acontecimento, tendo em muitos periódicos um dia certo
da semana para aparecer. Goza de uma grande liberdade
de extensão e de estilo, ao depender muito das marcas do
seu autor, nunca dispensando as qualidades informativas:
clareza, concisão e captação do leitor.

Crónica é um género literário produzido essencialmente para


ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista,
seja nas páginas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com
uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos
Centro de Ensino à Distância 98

leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma


localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das
semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o
lêem.

13.2. Características
A crónica é, primordialmente, um texto escrito para ser
publicado no jornal. Assim o fato de ser publicada no jornal
já lhe determina vida curta, pois à crónica de hoje seguem-
se muitas outras nas próximas edições.

Há semelhanças entre a crónica e o texto exclusivamente


informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos
acontecimentos diários, que constituem a base da crónica.
Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro.
Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista
dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos
como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto
essencialmente informativo não contém. Com base nisso,
pode-se dizer que a crónica situa-se entre o Jornalismo e a
Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos
acontecimentos do dia-a-dia.

A crónica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado


em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está
"dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crónica
apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado
assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao
seleccionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista
está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está,
na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender
os acontecimentos que o cercam. Geralmente, as crónicas
apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a
Centro de Ensino à Distância 99

linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que


o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando
o porta-voz daquele que lê.

Em resumo, podemos determinar cinco pontos:


 Narração histórica pela ordem do tempo em que se
deram os fatos.
 Secção ou artigo especial sobre literatura, assuntos
científicos, desportivo, etc., em jornal ou outro
periódico.
 Pequeno conto baseado em algo do quotidiano.
 Normalmente possui uma crítica indirecta.

13.3. Tipos de Crónica


Humorista, Poética, narrativo-descritivo Memorialista,
dissertativa descritiva, narrativa

 Crónica Descritiva
Ocorre quando uma crónica explora a caracterização de
seres animados e inanimados em um espaço, viva como
uma pintura, precisa como uma fotografia ou dinâmica como
um filme publicado.

 Crónica Narrativa
Tem por eixo uma história, o que a aproxima do conto. Pode
ser narrado tanto na 1ª quanto na 3ª pessoa do singular.
Texto lírico (poético, mesmo em prosa). Comprometido com
fatos quotidianos ("banais", comuns).

 Crónica Dissertativa
Opinião explícita, com argumentos mais "sentimentalistas"
do que "racionais" (em vez de "segundo o IBGE a
Centro de Ensino à Distância 100

mortalidade infantil aumenta no Brasil", seria "vejo mais uma


vez esses pequenos seres não alimentarem sequer o
corpo"). Exposto tanto na 1ª pessoa do singular quanto na
do plural.

 Crónica Narrativo-Descritiva - é quando uma crónica


explora a caracterização de seres, descrevendo-os. E,
ao mesmo tempo mostra fatos quotidianos ("banais",
comuns) no qual pode ser narrado em 1ª ou na 3ª
pessoa do singular.

 Crónica Humorística - apresenta uma visão irónica ou


cómica dos fatos apresentados.

 Crónica Lírica - linguagem poética e metafórica.


Expressa o estado do espírito, as emoções do cronista
diante de um fato de uma pessoa ou fenómeno. No geral
as emoções do escritor.

 Crónica Poética - apresenta versos poéticos em forma


de crónica.

 Crónica Jornalística - apresentação de aspectos


particulares de notícias ou fatos. Pode ser policial,
desportivo, etc.

 Crónica Histórica - baseada em fatos reais, ou fatos


históricos.
Centro de Ensino à Distância 101

13.4. Natureza e Linguagem


Quanto à sua natureza, ela participa de uma certa
ambivalência informativo-interpretativa, o que leva os
autores a dividirem-se na sua colocação entre os textos
informativos ou entre os interpretativos.

A crónica apresenta um estilo variado, atendendo ao estilo


do autor e ao tipo de crónica. Ela exige uma grande
disciplina mental, pondo-se de lado a improvisação e a
criação literária.
O indivíduo “um entendido” ou pessoa especializada que
procura na sua temática interessar ao público chama-se
cronista.

Sumário

Uma crónica (português europeu) é uma narração, segundo


a ordem temporal.

As principais características da crónica são: narração


histórica pela ordem do tempo em que se deram os fatos;
secção ou artigo especial sobre literatura, assuntos
científicos, desportivo, etc., em jornal ou outro periódico;
pequeno conto baseado em algo do quotidiano; e
normalmente possui uma crítica indirecta.

Os principais tipos de crónica são: humorista, poética,


narrativo-descritivo memorialista, dissertativa descritiva,
narrativa.
Centro de Ensino à Distância 102

Exercícios

1. Análise o texto quanto ao tipo, linguagem, estrutura e


característica do texto.

Texto
O futebol espanhol, nosso único vizinho, não pára de nos
fornecer bons exemplos de reflexão. Um deles é o desta
renovada equipa comandada por Xavier Clemente, o mais
categorizado treinador espanhol e que, por isso mesmo,
ascendeu ao cargo de seleccionador nacional. Em Espanha,
como em qualquer país com uma opinião pública
minimamente exigente, seria impensável colocar à frente da
selecção um técnico de terceira linha, baratinho, sem clube
que o queira, amigo da malta, com um irmão porreiro e que
é um alho nos negócios.
Nada disso.

Clemente é o número 1, competente, caríssimo (…).

João Marcelino, in Record, 94-7-4, p.23


Centro de Ensino à Distância 103

Unidade 14: Estrutura Textual Difusa e Compacta

Introdução
Vamos falar nesta unidade sobre a estrutura de texto:
estrutura difusa e estrutura compacta.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Diferenciar estrutura difusa da estrutura compacta


num texto.
Objectivos
14.1. Estrutura Difusa
Na estrutura compacta o esquema de compreensão textual
do leitor tenderá a reproduzir a estrutura original do texto.
Nas linhas desse tipo de estrutura, o texto oferece condições
de leitura mais facilitada, uma vez que se observa uma
sequência linear na ordenação dos elementos estruturais, ou
uma evolução estrutural predominantemente horizontal.

14.2. Estrutura Compacta


Os textos de estrutura difusa são de evolução estrutural
vertical. Os elementos estruturais apresentam-se num
quadro de deslocamentos e inversões – fora dos padrões
normais de organização da frase.

A leitura do texto organizado em estrutura difusa é de ordem


selectiva, isto é, em nível superficial ou inferencial. O leitor
selecciona e hierarquiza os constituintes que integram as
relações lógicas do texto ou da sua estrutura temática.

O esquema de compreensão textual fica condicionado a


tipos específicos de envolvimento entre o leitor e o texto.
Centro de Ensino à Distância 104

Sumário

A estrutura compacta é aquela que o esquema de


compreensão textual do leitor tenderá a reproduzir a
estrutura original do texto.

Os textos de estrutura difusa são de evolução estrutural


vertical.

Exercícios

1. Leia o texto “A Supercaneta” (Unidade 10). Indica a


estrutura compacta e difusa.
Centro de Ensino à Distância 105

Unidade 15: Análise Textual

Introdução
Nesta unidade vamos falar sobre os sistemas de análise
textual, a microestrutura, superestrutura, hiperestrutura,
macrostrutura e superstrutura.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir os conceitos de microestrutura, macroestrutura


e de superstrutura;
Objectivos
 Distinguir microestrutura da macroestrutura e da
superstrutura.

15.1. Superestrutruras
As superestrutruras ou hiperestruturas representam as
estruturas globais que caracterizam tipos diferentes de texto,
independentes do conteúdo, isto é, da macroestrutura. É
uma estrutura global que caracteriza a tipologia textual, isto
é, apresenta-se como uma espécie de esquema ao qual o
próprio texto se adapta. Do ponto de vista estrutural, refere-
se a todo o texto quando se diz narrativo, dissertativo ou
descritivo, etc.

15.2. Macroestrutura e Microestruturas


A macroestrutura identifica-se com o significado global do
objecto de estudo, ou seja, ao seu conteúdo. Abarca o plano
semântico global.

As microestruturas são as estruturas locais de orações,


frases e sequências ao longo do texto. Se concretiza em
relação a frases ou sequências isoladas de um texto.
Centro de Ensino à Distância 106

Sumário

As superestrutruras ou hiperestruturas representam as


estruturas globais que caracterizam tipos diferentes de texto,
independentes do conteúdo, isto é, da macroestrutura.

Exercícios

Indique a macroestrutura e microestrutura do texto “A


Supercaneta” (Unidade 10).
Centro de Ensino à Distância 107

Unidade 16: Coesão Textual

Introdução
Ainda sobre a análise do texto, vamos nesta unidade falar
sobre a coesão textual.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir coesão textual;


 Indicar os principais elementos da coesão textual
Objectivos
 Compor um texto coeso.

16.1. Conceito
Os conceitos de coesão (ligação das palavras entre si,
segundo as regras ou mecanismos da gramática da língua) e
de coerência (ligação lógica das ideias) estão intimamente
ligados.

A conectividade do texto assenta na interdependência dos


seus elementos lógicos e gramaticais.

Um texto apresenta coesão (e coerência) temporal quando


nele os acontecimentos ou o estado das coisas são referidos
de acordo com o que os destinatários sabem ser uma
sequência possível dos fenómenos do mundo “normal”.

As partes de sua redacção formam um todo?


Ao lado da coerência, a coesão é outro requisito para que sua
redacção seja clara, eficiente. A seguir, mostramos alguns
elementos que permitem que sua redacção seja coesa. Para
entender melhor a coesão textual, analise como algumas
palavras/frases estão ligadas entre si dentro de uma
sequência, numa conhecida fábula de Esopo.
Centro de Ensino à Distância 108

O cão e a lebre
Um cão de caça espantou uma lebre para fora de sua toca, mas
depois de longa perseguição, ele parou a caçada. Um pastor de
cabras vendo-o parar, ridicularizou-o dizendo:
“Aquele pequeno animal é melhor corredor que você”.

O cão de caça respondeu:


Você não vê a diferença entre nós: eu estava correndo apenas por
um jantar, mas ela por sua vida.”

Moral: O motivo pelo qual realizamos uma tarefa é que vai


determinar sua qualidade final.

Fábula Elementos de coesão

1 - No início da fábula, as personagens


Um cão de caça
são indicadas por artigos indefinidos
espantou uma lebre para
que marcam uma informação nova (ou
fora de sua toca, mas
não dita anteriormente): “Um cão de
depois de longa
caça” + “uma lebre” + “Um pastor de
perseguição, ele parou a
cabras”, o que também sinaliza uma
caçada. Um pastor de
situação genérica, como é típico nas
cabras, vendo-o parar,
fábulas.
ridicularizou-o dizendo:

2 - “Sua toca”: o pronome possessivo


“Aquele pequeno animal
refere-se à casa da lebre.
é melhor corredor que
você. “

3 - No lugar de repetir a palavra ”cão”,


O cão de caça
foi usado o pronome pessoal por três
respondeu:
vezes: “ele” = cão; “vendo-o” +
“Você não vê a diferença
“ridicularizou-o” = vendo o cão +
entre nós: eu estava
ridicularizou o cão.
correndo apenas por um
4 - Para retomar o substantivo “lebre”
jantar, mas ela por sua
foi usada uma expressão semelhante:
vida.”
“Aquele pequeno animal”.
Centro de Ensino à Distância 109

5 - No meio do texto, há o uso do artigo


definido “o cão de caça e não mais “um
cão” como no início. Aqui a referência
ao animal está sendo retomada: já se
sabe qual cão era.
6 - A conjunção ”mas” indica um
contraste: o cão corria por um jantar
enquanto a lebre corria para salvar sua
vida

Você percebeu que os sentidos do texto são "fios


entrelaçados" e não palavras soltas ou frases desconectas?
São os elementos coesivos que organizam o texto de forma a
constituir também sua coerência.

A coesão textual pode ser feita através de termos que:


 Retomam palavras, expressões ou frases já ditas
anteriormente ("anáfora") ou antecipam o que vai ser
dito ("catáfora"). Na fábula, são exemplos de anáforas
os itens 2, 3, 4 e 5 da coluna à direita da tabela;

 Encadeiam partes ou segmentos do texto: são palavras


ou expressões que criam as relações entre os
elementos do texto. Exemplo na fábula: item 6, a
conjunção "mas" que, além de ligar as duas partes do
texto (uma que se refere à atitude da lebre e a outra, ao
cão), estabelece uma determinada relação entre elas,
isto é, um contraste.

A coesão por retomada ou antecipação pode ser feita por:


pronomes, verbos, numerais, advérbios, substantivos,
adjectivos.
Centro de Ensino à Distância 110

A coesão por encadeamento pode ser feita por conexão ou por


justaposição.
1. A coesão por conexão traz elementos que:
a) Fazem uma gradação na direcção de uma conclusão:
"até", "mesmo", "inclusive" etc.;
b) Argumentam em direcção a conclusões opostas: "caso
contrário", "ou", "ou então", "quer... quer"; etc.;
c) Ligam argumentos em favor de uma mesma conclusão:
"e", "também", "ainda", "nem", "não só... mas também"
etc.;
d) Fazem comparação de superioridade, de inferioridade
ou igualdade: "mais... do que", "menos... do que",
"tanto... quanto", etc.;
e) Justificam ou explicam o que foi dito: "porque", "já que",
"que", "pois" etc.;
f) Introduzem uma conclusão: portanto, logo, por
conseguinte, pois, etc.;
g) Contrapõem argumentos: "mas", "porém", "todavia",
"contudo", "entretanto", "no entanto", "embora", "ainda
que" etc.;
h) Indicam uma generalização do que já foi dito: "de fato",
"aliás", "realmente", "também" etc.;
i) Introduzem argumento decisivo: "aliás", "além disso",
"ademais", "além de tudo" etc.;
j) Trazem uma correcção ou reforçam o conteúdo do já
dito: "ou melhor", "ao contrário", "de fato", "isto é", "quer
dizer", "ou seja", etc.;
k) Trazem uma confirmação ou explicitação: "assim",
"dessa maneira", "desse modo", etc.;
l) Especificam ou exemplificam o que foi dito: "por
exemplo", como, etc.
Centro de Ensino à Distância 111

2. Os elementos coesivos por justaposição estabelecem a


sequência do texto, ou seja:
a) Introduzem o tema ou indicam mudança de assunto: "a
propósito", "por falar nisso", "mas voltando ao assunto"
etc.;
b) Marcam a sequência temporal: "cinco anos depois", "um
pouco mais tarde", etc.;
c) Indicam a ordenação espacial: "à direita", "na frente",
"atrás", etc.;
d) Indicam a ordem dos assuntos do texto:
"primeiramente", "a seguir", "finalmente", etc.;

Para analisar o papel da coesão na construção dos sentidos


de um texto, faça a correlação entre os provérbios e os
elementos coesivos respectivos, preenchendo as lacunas, de
tal forma que haja coerência entre as duas partes que
constituem esse tipo de texto:

16.2. Elementos de Coesão Textual

Elementos de coesão por


Provérbios
conexão

Devagar ....... sempre se chega


mas
na frente.

Trate os outros ..... quer ser


mais... do que
tratado.

A aparência pode ser mudada,


e
..... a natureza não.

Ao carneiro ......peça lã. como

....vale paciência pequenina ...


somente
força de leão.
Centro de Ensino à Distância 112

Acreditamos que percebeu que, nos casos acima, a precisão


no uso dos elementos de coesão faz toda a diferença na
significação de cada provérbio.

Sumário

Para concluir, podemos afirmar que o texto é tanto produto


como processo. Ao escrever, o autor planeja seu texto, a
partir de sua finalidade, deixando pistas de sua
intencionalidade.

O leitor, por sua vez, vai perseguindo essas pistas, para


poder interpretar o texto. Nesse sentido, a coesão textual -
ou pistas linguísticas - tem uma importante função na
produção de todo e qualquer texto.

Exercícios

1. Faça uma composição escrita com pelo menos duzentas


palavras em que se faz sentir a coesão textual.
Centro de Ensino à Distância 113

Unidade 17: Coerência Textual

Introdução
Ainda sobre análise de texto, vamos nesta unidade falar
sobre a coerência textual.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir coerência textual;


 Diferenciar coerência da coesão textual.
Objectivos

17.1 Coerência Textual


A coerência textual também chamada coerência conceptual
é a rede de relações que organiza e cria o texto.
Corresponde àquilo que os destinatários aceitam como
organização do mundo “normal”, ou seja, a relação lógica ou
ligação ajustada das ideias na sua interdependência com os
elementos lógicos gramaticais; reflectimos sobre o conteúdo
– o que se diz, o como se diz. A coerência e a coesão são
duas vertentes simultâneas na construção de um texto. A
coerência pode ser externa ou interna.

Coerência externa – analisa a situação referencial (o mundo


extra-linguístico, concreto ou abstracto) e constitui as
condições de realização do acto de linguagem a cumprir
pelo sujeito de enunciação. Ex. Ontem fui ao cinema e
voltarei amanhã se o filme for o «Vale Abraão».

É a partir do triângulo enunciativo - eu / aqui / agora – que se


estabelece um antes (ontem) e um depois (amanhã), num
determinado lugar (o cinema) e em relação a um
determinado referente (o filme Vale Abarão).
Centro de Ensino à Distância 114

A coerência interna ou intra-textual analisa a situação co-


referencial. Esta comporta no seu desenvolvimento linear
elementos linguísticos recorrentes.

A co-referência ou identidade referencial está ao serviço da


coerência interna do texto.

Para que o texto seja coerente é preciso que, no seu


desenvolvimento, se relacione a informação já
conhecida do receptor / leitor e as informações novas
dadas ao longo do texto.

Sumário

A coerência textual também chamada coerência conceptual


é a rede de relações que organiza e cria o texto.

A coerência pode ser externa ou interna.

Exercício

1. Define a coerência textual.


2. Explique a interdependência existente entre coesão e
coerência textual.
3. Faça uma composição escrita.
a. Indique nela elementos que dão indicação para a
ocorrência da coesão e coerência textual.
Centro de Ensino à Distância 115

Unidade 18: Entrevista

Introdução
Nesta unidade vamos falar de um outro tipo de elaboração
textual, a entrevista. Vamos procurar entender o
funcionamento deste instrumento e sua importância para
uma investigação.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Apresentar o conceito de entrevista;


 Descrever a natureza e linguagem da entrevista;
Objectivos
 Indicar as principais regras de produção de uma
entrevista

18.1 Conceito de Entrevista


A entrevista é um texto jornalístico escrito a dois,
entrevistador e entrevistado, que tem como função
comunicar a um terceiro, o público, quem é, como é, o que
pensa ou o que faz, a pessoa a quem é feita a entrevista. É
importante distinguir a verdadeira entrevista da série de
perguntas-respostas, tão frequente no interior de instituições
e empresas, forma de os responsáveis propagarem ideias
sobre as mesmas.

A entrevista implica um certo suspense, aceitar participar


numa espécie de jogo, correr o risco: de responder a
perguntas, por vezes, imprevistas e embaraçosas e obter
respostas, inesperadas e, às vezes, de difícil controlo. Trata-
se, sempre, de um confronto leal e amigo, perante o
interesse do público.
Centro de Ensino à Distância 116

Quando não se verifica o equilíbrio entre os três pólos, a


entrevista fica mais pobre, aborrecida, sem graça. O
jornalista ou entrevistador representa os leitores, está como
mandatado pela sua curiosidade, oferece um amplificador ao
seu interlocutor, podendo este aproveitá-lo ou desbaratá-lo.

São dois os grandes tipos de entrevistas: a entrevista retrato


de personagem ou individualidade e a entrevista informativa
ou de notícia.

18.2. Regras de Produção


Uma entrevista requer uma preparação do tema. Convém
que o tema seja da actualidade, da pessoa, da originalidade
do ponto de vista. É necessário ter-se uma ideia do
entrevistado antes que para a entrevista: conhecer os seus
títulos, as suas funções, hábitos mais pertinentes, etc.

Durante a entrevista é necessário ganhar confiança e olhar


para a pessoa a interpelar. Na medida do possível, deve-se
evitar o uso do gravador, pois inibe e obriga a um trabalhão
para reescrever o texto.

Sumário

A entrevista é um texto jornalístico escrito a dois,


entrevistador e entrevistado, que tem como função
comunicar a um terceiro, o público, quem é, como é, o que
pensa ou o que faz, a pessoa a quem é feita a entrevista.

Existem dois grandes tipos de entrevistas: a entrevista


retrato de personagem ou individualidade e a entrevista
informativa ou de notícia.
Centro de Ensino à Distância 117

Exercícios

1. Realize uma entrevista a um professor, um aluno e um


funcionário da sua escola com o tema “O insucesso
escolar”,
Centro de Ensino à Distância 118

Unidade 19: Inquérito

Introdução
Ainda sobre instrumentos de investigação, vamos nesta
unidade falar do inquérito: linguagem, vantagens e
desvantagens e seus principais tipos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir inquérito;
 Indicar as principais marcas e linguagem do inquérito;
Objectivos
 Indicar as vantagens e desvantagens do inquérito;
 Indicar os diferentes tipos de inquéritos
 Diferenciar a entrevista do inquérito;

19.1. Conceito de Inquérito


Um inquérito é uma forma de “descobrir a verdade” ou de
fazer o ponto da situação sobre determinada problemática,
pessoa ou grupo de pessoas. Ao contrário da reportagem
que mostra, o inquérito demonstra. A intuição e o método
desempenham um papel fundamental para se conseguir
esse objectivo. Uma ideia-chave do inquérito é a de
confrontação presente nos passos a dar, tais como: reunir o
estado dos conhecimentos (documentação) sobre a questão,
encontrar a boa pergunta, levantar hipóteses, verificá-las,
como se tratasse de verdadeira experimentação.

Os principais objectivos de um inquérito são: estimar


grandezas absolutas; estimar grandezas relativas; descrever
uma população ou subpopulação; verificar hipóteses.
Num inquérito, o vocabulário deve ser simples, não
demasiadamente culto ou popular, evitar termos vagos,
Centro de Ensino à Distância 119

como “muitos”, “bastantes”, “frequentemente”, etc.


A construção do questionário e a formulação das questões
são uma fase determinante no desenvolvimento do inquérito,
devendo ser concebido de tal forma que não haja
necessidade de qualquer explicação. As questões podem
ser abertas ou fechadas.

19.2. Vantagens e Desvantagens do Inquérito


Vantagens dos inquéritos
As vantagens dos inquéritos estatísticos incluem:
 É uma forma eficiente de colectar informação de um
grande número de respondentes. Grandes amostras
são possíveis. Técnicas estatísticas podem ser
usadas para determinar a validade, a fiabilidade e a
significância estatística.
 Os inquéritos são flexíveis no sentido em que uma
grande variedade de informação pode ser recolhida.
Eles podem ser usados para estudar atitudes,
valores, crenças e comportamentos passados.
 Porque eles estão padronizados, eles estão
relativamente livres de vários tipos de erros.
 São relativamente fáceis de ministrar.
 Há uma economia da colecta dos dados devido à
focalização providenciada por questões padronizadas.
Apenas questões de interesse para o pesquisador
são colocadas, gravadas, codificadas e analisadas.
Tempo e dinheiro não são gastos em questões
tangenciais.
Centro de Ensino à Distância 120

Desvantagens dos Inquéritos


As desvantagens dos inquéritos incluem:
 Eles dependem da motivação dos sujeitos, sua
honestidade, memória e capacidade de resposta. Os
respondentes podem não estar conscientes das suas
razões para qualquer determinada acção. Eles podem
ter esquecidos as suas razões. Eles podem não estar
motivados para dar respostas correctas, na verdade,
eles podem estar motivados a fornecer respostas que
os apresentem numa luz favorável.
 Inquéritos não são apropriados para estudar
fenómenos sociais complexos. O indivíduo não é a
melhor unidade de análise nestes casos. Os
inquéritos não dão um completo senso dos processos
sociais e a análise parece superficial.
 Inquéritos estruturados, particularmente aqueles com
repostas fechadas, podem ter baixa validade quando
pesquisando variáveis afectivas.
 As amostras de inquéritos são normalmente auto-
escolhidas, e por isso amostras sem probabilidade
das quais as características da população não podem
ser inferidas.

19.3. Fases de Preparação e Realização do Inquérito


I. Planificação do inquérito: nesta fase procurar-se-á
delimitar, antes de mais, o âmbito de problemas a
estudar e, consequentemente, o tipo de informação a
obter; definidos tão claramente quanto possível os
objectivos do inquérito, impõe-se a formulação de
hipóteses teóricas que irão comandar os momentos
fundamentais da sua preparação e execução; [...]
proceder-se-á, ainda nesta fase e com recurso a certos
resultados das operações anteriormente referidas, à
Centro de Ensino à Distância 121

delimitação rigorosa do universo ou população do


inquérito, bem como à construção de uma sua amostra
representativa [...].
II. Preparação do instrumento de recolha de dados:
procede-se nesta fase à redacção do projecto de
questionário, tentando compatibilizar os objectivos de
conhecimento que o inquérito se propõe com um tipo de
linguagem acessível aos inquiridos; através de um pré-
teste ou inquérito-piloto, serão previamente ensaiados o
tipo, forma e ordem das perguntas que, a título
provisório, se tenham incluído num projecto de
questionário.
III. Trabalho no terreno: no caso de se optar pela
realização de um inquérito de administração indirecta,
exigir-se-á evidentemente uma selecção e formação de
entrevistadores; não já assim no caso de inquéritos que
se destinem a ser auto-administrados, onde entretanto
certos pormenores de execução material do questionário
deverão ser ponderados (aspecto gráfico, problemas
relacionados com o envio e devolução dos questionários,
etc.).
IV. Análise dos resultados: esta fase inclui, além de outras
operações, a codificação das respostas, o apuramento e
tratamento [...] da informação e a elaboração das
conclusões fundamentais a que o inquérito tenha
conduzido.
V. Apresentação dos resultados: concretiza-se
normalmente na redacção de um relatório de inquérito."
19.4. Diferenças entre Entrevista e Inquérito
A Entrevista permite aprofundamento da percepção do
sentido que as pessoas atribuem às suas acções. Torna-se
flexível porque o contacto directo permite explicitação das
perguntas e das respostas.
Centro de Ensino à Distância 122

Os seus limites são: menos útil para efectivar


generalizações. O que se ganha em profundidade perde-se
em extensividade.

A entrevista implica interacções directas. As respostas


podem ser condicionadas pela própria situação da
entrevista. Estes efeitos devem ser tidos em conta.

O Inquérito torna possível a recolha de informação sobre


grande número de indivíduos; permite comparações precisas
entre as respostas dos inquiridos; possibilita a generalização
dos resultados da amostra à totalidade da população.

O material recolhido pode ser superficial. A padronização


das perguntas não permite captar diferenças de opinião
significativas ou subtis entre os inquiridos e as respostas
podem dizer respeito mais ao que as pessoas dizem que
pensam do que ao que efectivamente pensam.

Sumário

Inquérito é uma forma de “descobrir a verdade” ou de fazer o


ponto da situação sobre determinada problemática, pessoa
ou grupo de pessoas. O inquérito pretende: estimar
grandezas absolutas e relativas; descrever uma população
ou subpopulação; verificar hipóteses.

As principais fases da realização do inquérito: planificação


do inquérito; preparação do instrumento de recolha de
dados; trabalho no terreno; análise dos resultados e
apresentação dos resultados.
Centro de Ensino à Distância 123

Exercícios

1. Qual é a importância do inquérito em estudos que se


pretende medir ou estimar grandezas?
2. Efectue um inquérito a 30 alunos onde pretende saber
sobre as praticas de leitura por parte dos alunos.
Centro de Ensino à Distância 124

Unidade 20: Aviso e Circular

Introdução
Nesta que é a vigésima vamos falar de dois documentos
administrativos: o aviso e a circular. Pretendemos para além
de conceituar, apresentar diferenças mais evidentes.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Apresentar o conceito de aviso e de circular


 Indicar as diferenças formais entre aviso e circular
Objectivos

20.1. Conceito de Aviso


O aviso é uma participação por escrito ou oral de um
determinado evento a ser realizado ou efectuado no futuro,
para um conhecimento prévio de todos os utentes directa ou
indirectamente a ele ligados.

O aviso tem a função de prevenir, informar, alertar, notificar,


ordenar, etc., ao destinatário sobre um assunto a ele ligado
e que é concebido como sendo de extrema importância.

Um aviso pode tomar várias formas dependendo da


identidade a que é destinado:
 Aviso sob forma de carta comercial ou institucional;
 Sob forma de anúncio; etc.

O aviso é usado na correspondência particular, oficial e


empresarial. Muitas vezes, aproxima-se do comunicado, do
edital ou do ofício. Geralmente não traz destinatário, fecho
ou expressões de cortesia.
Centro de Ensino à Distância 125

20.2. Conceito de Circular


Circular é o meio de correspondência pelo qual alguém se
dirige, ao mesmo tempo, a várias repartições ou pessoas. E,
portanto, correspondência multidireccional. Na circular, não
consta destinatário, pois ela não é unidireccional. O
endereço consta do envelope.

Se um memorando, um ofício ou uma carta forem dirigidos


multidirecionalmente, serão chamados de memorando-
circular, ofício-circular e carta-circular.

Diferenças Formais entre Aviso e Circular


O aviso informa ao destinatário sobre um assunto a ele
ligado directa ou indirectamente e que é concebido como
sendo de extrema importância.

A circular apesar de não ter um interlocutor específico


(identificado), ela dirige-se um grupo específico de
destinatário. A circular refere-se, normalmente ao
funcionamento de um departamento, instituição ou
repartição.

Sumário

O aviso é uma participação por escrito ou oral de um


determinado evento a ser realizado ou efectuado no futuro,
para um conhecimento prévio de todos os utentes directa ou
indirectamente a ele ligados.

Circular é o meio de correspondência pelo qual alguém se


dirige, ao mesmo tempo, a várias repartições ou pessoas. E,
portanto, correspondência multidireccional.
Centro de Ensino à Distância 126

Exercícios

1. Elabore um aviso para dando uma informação especial


aos pais e encarregados de educação dos alunos de
uma escola.
Centro de Ensino à Distância 127

Unidade 21: Poesia Lírica

Introdução
A partir desta unidade vamos mudar um pouco daquilo que
era a nossa temática. Vamos entrar para a literatura, mais
propriamente da poesia lírica.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conceituar o texto lírico;


 Caracterizar a poesia satírica;
Objectivos
 Descrever o contexto de surgimento e formação da
lírica camoniana.

21.1. Conceito de Texto Lírico


O texto lírico exprime o estado de alma do poeta, o seu
mundo interior. O mundo exterior, do qual fazem parte o
tempo e o espaço, quando existe no texto lírico é
transformado ou elaborado pelo poeta. V. M Aguiar Silva
refere que “O poema lírico, com efeito, não representa
dominantemente o mundo exterior e o objectivo, assim se
distinguindo fundamentalmente do texto narrativo e do texto
dramático.”

No texto lírico são frequentes as imagens e outros recursos


expressivos. As palavras podem adquirir vários significados
ao mesmo tempo (linguagem plurissignificativa) convidando-
nos a ir muito mais além – na nossa imaginação do que a
simples interpretação, à alerta, das palavras.
Centro de Ensino à Distância 128

A poesia pode ser:

a. De crítica e/ou satírica

b. De intervenção social e/ou política

c. Poesia sobre outras realidades e/ou acontecimentos.

21.2. Poesia Satírica


A sátira é uma técnica literária ou artística que ridiculariza
um determinado tema (indivíduos, organizações, estados),
geralmente como forma de intervenção política ou outra,
com o objectivo de provocar ou evitar uma mudança. O
adjectivo satírico refere-se ao autor da sátira.

A paródia pode estar relacionada com a sátira. A paródia


imita outra forma de arte, de uma forma exagerada, para
criar um efeito cómico, ridicularizando, geralmente, o tema e
estilo da obra parodiada. Ainda que por vezes as técnicas
próprias da sátira e da paródia se sobreponham, não são
sinónimas. A sátira nem sempre é humorística - por vezes
chega a ser trágica.

A paródia é, inevitavelmente de carácter cómico. A paródia é


imitativa por definição - a sátira não tem de o ser. O humor
satírico tenta, muitas vezes, obter um efeito cómico pela
justaposição da sátira com a realidade. O principal objectivo
da sátira é político, social ou moral - e não cómico... O
humor satírico tende, pois, para a subtileza, ironia e uso do
efeito cómico do deadpan (impassibilidade do humorista,
como se não percebesse o ridículo das situações que
apresenta).
Centro de Ensino à Distância 129

 Técnicas satíricas mais utilizadas


Diminuição - Reduz o tamanho ou grandeza de algo de
forma a tornar a sua aparência ridícula ou de forma a fazer
sobressair os defeitos criticados. Por exemplo, quando
alguém, num discurso político, decide chamar "bando de
garotos" aos membros de outro partido, usa a diminuição. A
primeira parte de As Viagens de Gulliver, passada na ilha
fictícia de Liliput, é também uma sátira diminutiva.

Inflação - Quando se exagera, aumentando, algum aspecto


da coisa satirizada. Tal como a diminuição, é uma forma de
hipérbole (negativa no primeiro caso, positiva, no segundo).
O exagero das dimensões de algo serve também para
acentuar os defeitos daquilo que se pretende satirizar. Como
exemplo desta técnica, podemos considerar a obra de
Alexander Pope, The Rape of the Lock.

21.3. Lírica Camoniana


O século de Camões - XVI - considera-se o século de ouro
da nossa Literatura, na qual se introduziram géneros novos
e os já existentes adquiriram nova forma de expressão. e,
entretanto, a língua portuguesa atingia uma fase de grandes
desenvolvimento e consolidação.

A vida de Camões decorre entre 1524 (possivelmente) e


1580...

Influência Tradicional
Corrente tradicionalista (Medida Velha)
Corrente renascentista (Medida Nova)
Centro de Ensino à Distância 130

Em Camões coexistiu a poesia com sabor tradicional, com


uma poesia cujos modelos formais e temáticos revelam a
cultura humanística e clássica do poeta. Assim, e por
influência tradicional escreveu vilancetes, cantigas,
esparsas, trovas,...

Fez uso da medida velha e cultivou o verso de cinco sílabas


métricas (redondilha menor) e de sete sílabas métricas
(redondilha maior). As temáticas tradicionais e populares
usadas por Camões são, o amor, a natureza, o ambiente
palaciano e a saudade.

Da influência clássica Renascentista, Camões cultivou a


medida nova fazendo uso do verso decassílabo, através da
composição poética, o soneto (composto por duas quadras e
dois tercetos) introduzido em Portugal por Sá de Miranda.

Nas temáticas de influência Renascentista cultivou o amor


platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a
mudança, o desconcerto do mundo, a mulher vista à luz do
Petrarquismo e do Destino.

Principais Temáticas Camonianas (medida velha e


nova): -saudade -a mulher idealizada e a mulher de
influência africana e asiática -natureza -mudança -
desconcerto pessoal -desconcerto do mundo -o amor
platónico e o amor baixo e rude.

Recursos Estilísticos
 Anáfora: Repetição intensional de uma palavra ou
palavras no início de frases ou versos seguintes, para
destacar o que se repete.
Centro de Ensino à Distância 131

 Antítese: Consiste no contraste entre dois elementos ou


ideias.
 Comparação: Consiste em estabelecer uma relação de
semelhança através de uma palavra, ou expressão
comparativa, ou de verbos a ela equivalentes.
 Enumeração: Consiste na apresentação sucessiva de
vários elementos (frequentemente da mesma classe
gramatical).
 Eufemismo: Consiste em transmitir de forma atenuada
uma ideia ou realidade que é desagradável.
 Hipérbole: Consiste no emprego de uma expressão que
exagera o pensamento para dar mais ênfase ao discurso.
 Ironia: Consiste em atribuir às palavras um significado
diferente daquele que na realidade têm.
 Metáfora: Consiste em designar um objecto ou uma ideia
por uma palavra (ou palavras) de outro campo
semântico, associando-as por analogia. Se, no contexto,
essa analogia é por vezes fácil de identificar, outras
vezes permite interpretações diversificadas...
 Paradoxo: Expressa uma contradição, através da
simultaneidade de elementos contrários.
 Perífrase: Consiste em dizer por várias palavras o que
poderia ser dito por algumas ou apenas uma.
 Personificação: Consiste na atribuição de propriedades
humanas a animais irracionais ou a seres inanimados.

Sumário

O texto lírico exprime o estado de alma do poeta, o seu


mundo interior. No texto lírico são frequentes as imagens e
outros recursos expressivos.
Centro de Ensino à Distância 132

A sátira é uma técnica literária ou artística que ridiculariza


um determinado tema (indivíduos, organizações, estados),
geralmente como forma de intervenção política ou outra,
com o objectivo de provocar ou evitar uma mudança.

Exercícios

1. Faça três transcrições de um poema de Luís Camões.


a. Analisa-os quanto aos recursos estilísticos e
formas.
b. Diga se são poemas líricos ou não. Justifique a
opção que tomaste.
Centro de Ensino à Distância 133

Unidade 21: A Métrica

Introdução
Ainda sobre os aspectos literários e sobre os textos poéticos
vamos nesta unidade falar sobre a métrica e seu
funcionamento na classificação dos textos poéticos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conceituar a métrica
 Indicar a estrutura da métrica
Objectivos
 Efectuar a escansão métrica
 Distinguir a métrica clássica da métrica medieval.

21.1. Metro (conceito)


Metro é a medida do verso. O estudo do metro chama-se
metrificação e escansão é a contagem dos sons dos versos.
As sílabas métricas, ou poéticas, diferem das sílabas
gramaticais em alguns aspectos. Lembraremos alguns
preceitos a esse respeito: contam-se as sílabas ou sons até
a tónica da última palavra de um verso.

Exemplo de escanção métrica:


A-mo-te,ó-cruz,no-vér-ti-ce-fir-ma/da = 10 sílabas
De es-plên-di-das-i-gre/jas = 6 sílabas
Mi-nha-mu-lher-ex-pi-rou = 7 sílabas
E as-bre/ves = 2 sílabas
Vir-gem-das-do/res = 4 sílabas
Centro de Ensino à Distância 134

22.2. Estrutura Métrica


Como dissemos, o metro é a unidade do verso. Como se
medem os versos? Fazendo a contagem das suas sílabas
métricas. A contagem das sílabas métricas de um verso
chama-se escansão métrica.

As sílabas gramaticais não devem ser confundidas com as


sílabas métricas. O número de sílabas gramaticais é quase
sempre superior ao de sílabas métricas porque para «medir»
um verso não se contam do mesmo modo as sílabas
métricas e as sílabas das palavras que constituem o verso.

22.3. Escansão Métrica


Os principais processos usados pelos poetas para reduzir ou
ampliar os versos são: a crase, aférese, síncope, apócope,
elisão e a sinalefa.

Versos
“Um pouco mais de sol eu era brasa.
Quando eu passo no Saara amortalhada.”

Divisão Silábica
Um - pou - co - mais - de - sol - eu - e - ra - bra - sa.
Quan - do - eu - pas - so - no - Saa - ra - a - mor - ta - lha-
da.

Escansão Métrica
Um 1/ pou 2/ co 3/ mais 4/ de 5/ sol 6/ eu 7/ e 8/ ra 9/ bra 10/ sa.
3 10
Quan 1/ doeu 2/ pa / sso 4/ no 5/ Sa 6/ a 7/ raamor 8/ ta 9/ lha / da.

O 1º verso é composto por 11 sílabas gramaticais e 10


métricas e o 2º verso tem 13 sílabas gramaticais e 10
sílabas métricas.
Centro de Ensino à Distância 135

Tipos de Verso
A um número de sílabas métricas em determinado verso
podem ser atribuídos nomes:
 Dodecassílabo: 12 sílabas
Ins | pi | ra | do^a | pen | sar | em | teu | per | fil | di | vi | (no)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
 Alexandrino - Dodecassílabo com tónica na sexta e
na décima segunda sílaba, formando dois
hemistíquios.
 Decassílabo: 10 sílabas (muito comum em sonetos e
presente em Os Lusíadas de Luís de Camões)
Não | tens | que | ças | da | que | lea | mor | ar | den | (te)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
 Heróico - Decassílabo com sílabas tônicas nas
posições 6 e 10.
 Sáfico - Decassílabo com sílabas tônicas nas
posições 4, 8 e 10.
 Martelo - Decassílabo Heróico com tônicas nas
posições 3, 6 e 10.
 Gaita Galega ou Moinheira - Decassílabo com
tônicas nas posições 4, 7 e 10.
 Eneassílabo: 9 sílabas.
Nos | sos | pais | con | du | zis | te^à | vi | tó | (ria)
1 2 3 4 5 6 7 8 9
 Redondilha maior ou heptassílabo: 7 sílabas
Se | nho | ra, | par | tem | tão | tris | (tes)
1 2 3 4 5 6 7
 Redondilha menor: 5 sílabas
Tan | tos | gri | tos | rou | (cos)
1 2 3 4 5
Centro de Ensino à Distância 136

A lista geral de designações é a seguinte:


1. Monossílabo : 1 sílaba
2. Dissílabo : 2 sílabas
3. Trissílabo : 3 sílabas
4. Tetrassílabo: 4 sílabas
5. Pentassílabo ou Redondilha Menor: 5 sílabas
6. Hexassílabo ou Heróico Quebrado: 6 sílabas
7. Heptassílabo ou Redondilha Maior: 7 sílabas
8. Octossílabo: 8 sílabas
9. Eneassílabo: 9 sílabas
10. Decassílabo: 10 sílabas
11. Hendecassílabo: 11 sílabas
12. Dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas.
13. Bárbaro: 13 ou mais sílabas poéticas.

21.4. Métrica Clássica


Na poesia grega e latina, a métrica conta-se em função da
quantidade das sílabas, consoante sejam breves ou longas.
Ao conjunto de sílabas chama-se pé. Entre os mais
divulgados contam-se o iambo, com uma sílaba breve
seguida de uma longa (U—); o espondeu, com duas sílabas
longas (— —); o dáctilo com uma sílaba longa e duas breves
(—UU).

Dos diversos tipos de verso usados, destacam-se o


hexâmetro, com seis pés, e o pentámetro, com cinco pés. O
hexâmetro classifica-se segundo o tipo do penúltimo pé:
hexâmetro dactílico com o quinto pé dáctilo, e hexâmetro
espondaico com o quinto pé espondeu. Um par formado por
um hexâmetro e um pentámetro designa-se dístico elegíaco.
Centro de Ensino à Distância 137

21.5. Métrica Medieval


Na Idade Média continuou a usar-se o pé como unidade
métrica. Mas nessa época a noção de quantidade já não era
aplicável às sílabas na generalidade das línguas. Assim, o
pé passou a contar-se em função das sílabas tónicas.
Tipos de pé:
 Troqueu - Uma sílaba tónica e uma átona;
 Iambo - Uma sílaba átona e uma tónica;
 Dátilo - Uma sílaba tónica e duas átonas;
 Anapesto - Duas sílabas átonas e uma tónica.

Na prosa também se contava a métrica, com base


igualmente nas sílabas tónicas, contadas a partir do final do
verso.
1. O "cursus planus" era acentuado na 2.ª e na 5.ª (a
contar do fim);
2. O "cursus dispondaicus" tinha acentos na 2.ª e 6.ª;
3. O "cursus velox" contava as tónicas na 2.ª e 7.ª;
4. O "cursus tardus" era acentuado na 3.ª e na 6.ª
sílabas.

Esta técnica, embora já fosse de uso corrente, foi explicitada


no século XII por Alberto Morra, que viria a ser o Papa
Gregório VIII, numa obra intitulada "Forma dictandi quam
Rome notarios instituit magister Albertus qui et Gregorius
VIII, papa".

Sumário

Metro é a medida do verso. O estudo do metro chama-se


metrificação e escansão é a contagem dos sons dos versos.
A contagem das sílabas métricas de um verso chama-se
escansão métrica.
Centro de Ensino à Distância 138

Os principais processos usados pelos poetas para reduzir ou


ampliar os versos são: a crase, aférese, síncope, apócope,
elisão e a sinalefa.

Exercícios

1. Apresente a escansão métrica dos seguintes versos:

 /ʼStamos em pleno mar… do firmamento/;

 /Espʼranças altas…ei-las já rasas/

 /As armas e os barões assinalados/

 /Aquela triste e leda madrugada/

 /E triste e fatigada eu vinha/

 /Fatigado eu corri/

 /E nessa traição determinava/.


Centro de Ensino à Distância 139

Unidade 23: Texto Épico

Introdução
Continuamos a falar do papel de Camões na literatura
portuguesa. Nesta unidade vamos falar sobre o texto épico
na literatura.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir texto épico


 Contextualiza a epopeia n’Os Lusíadas
Objectivos
 Descrever a estrutura interna e externa d’Os Lusíadas

23.1. A Epopeia
A epopeia é um género narrativo de fundo histórico que
recorre à linguagem ritmada, para narrar poeticamente os
feitos, tradições e ideias de um povo e as aventuras dos
heróis. Assim, acontecimentos reais e imaginários são
transmitidos oralmente dando origem a uma grande
variedade de versões.

A fim de manter o interesse e a atenção dos ouvintes,


dramatizam-se os factos, usam-se imagens sugestivas e
cria-se uma métrica própria.

A epopeia é considerada como a forma natural da literatura.


As epopeias da antiguidade greco-romano são a Ilíada, a
Odisseia e a Eneida. As duas primeiras são atribuídas a
Homero e relatam a célebre guerra de Tróia, e a última ao
autor latino, Virgílio, narrando a peregrinação de Eneias,
forçado a exilar-se após a queda de Tróia.
Centro de Ensino à Distância 140

A epopeia como género narrativo, possui uma estrutura


própria: uma Proposição, onde se apresenta a matéria do
poema; uma Invocação, na qual se pede auxílio às Musas;
por vezes uma Dedicatória e, finalmente, a Narração «in
media res»: o narrador começa por apresentar a acção, não
no seu início mas já em fase mais avançada, voltando mais
tarde aos acontecimentos iniciais.

23.2. A Epopeia em Camões: Os Lusíadas


Luís de Camões recria, no séc. XVI, a epopeia clássica
inspirando-se em Homero e em Virgílio. No seu poema
épico «Os Lusíadas» atribui uma missão quase divina ao
seu herói, o povo lusitano. O poema é estruturado pela
narração da viagem marítima de Vasco da gama à Índia a
propósito da qual se evoca a História de Portugal, os feitos
grandíloquos e as obras valorosas do povo português e a
fama das vitórias que tiveram.

O poema é também uma fonte de informações sobre a vida


marítima, os fenómenos naturais, as relações com outros
povos. No poema, segundo as regras do género épico,
verifica-se a intervenção do maravilhoso partindo
relativamente à acção dos homens. A intriga entre os
Deuses pontua a viagem gerando dificuldades que os
portugueses superam.

23.3. Estrutura Interna d’Os Lusíadas


Organização do Texto
 Proposição (I, 1-3);
 Invocação (I, 4-5);
 Dedicatória (I, 6-18);
 Narração (iniciada «in media res»).
Centro de Ensino à Distância 141

Acção: acção central é a viagem de Vasco da Gama à Índia


e as acções dos Deuses – História de Portugal e narrações
maravilhosas.

O narrador principal é o próprio poeta, havendo, ainda,


outros dois narradores. Existem personagens humanas que
se inter-relacionam com personagens mitológicas.

23.4. Estrutura Externa d’Os Lusíadas


O poema é constituído por dez cantos e um total de 1102
estrofes, cada estrofe tem oito versos (oitava), cada verso é
composto por dez sílabas métricas e, na maior parte dos
casos, com acento rítmico na 6ª e 10ª sílabas e a rima é
cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois
últimos (ABABABCC).

Camões usa um jogo de linguagem algumas vezes para


obter efeitos expressivos, nalgumas vezes pelo simples
prazer de a revitalizar. Como recursos estilísticos usados
predominam: a metáfora, a hipérbole, a metonímia, a
perífrase, o eufemismo, etc.

Sumário

A epopeia é um género narrativo de fundo histórico que


recorre à linguagem ritmada, para narrar poeticamente os
feitos, tradições e ideias de um povo e as aventuras dos
heróis.

A epopeia como género narrativo, possui uma estrutura


própria: uma Proposição, onde se apresenta a matéria do
poema; uma Invocação, na qual se pede auxílio às Musas;
por vezes uma Dedicatória e, finalmente, a Narração «in
media res»: o narrador começa por apresentar a acção, não
Centro de Ensino à Distância 142

no seu início mas já em fase mais avançada, voltando mais


tarde aos acontecimentos iniciais.

A estrutura externa d’Os Lusíadas está constituída por


dez cantos e um total de 1102 estrofes, cada estrofe tem oito
versos (oitava), cada verso é composto por dez sílabas
métricas e, na maior parte dos casos, com acento rítmico na
6ª e 10ª sílabas e a rima é cruzada nos seis primeiros versos
e emparelhada nos dois últimos (ABABABCC).

Exercícios

1. Leia a obra Os Lusíadas.


2. Identifique os recursos estilísticos constantes na obra Os
Lusíadas.
Centro de Ensino à Distância 143

Unidade 24: Texto Dramático

Introdução
Nesta que é a última unidade vamos falar de uma outra
tipologia de elaboração textual: o drama. Vamos procurar
compreender algumas das suas características e o papel do
seu precursor Gil Vicente.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir texto dramático;


 Indicar os principais elementos da acção
Objectivos
dramática;
 Indicar a estrutura interna e externa da acção
dramática;
 Contextualizar o papel de Gil Vicente na história
da dramatologia portuguesa.

24.1. Conceito de Texto Dramático


O texto dramático é entendido como aquele que se integra
na forma literária do drama e implica uma comunicação
directa das personagens entre si e com os receptores do
enunciado. O drama privilegia a dinâmica do conflito,
tentando representar as acções e reacções humanas,
através da presença das personagens.

Serve, com frequência, o teatro, que tem como objectivo


específico a representação e o espectáculo. Por isso, o texto
teatral obriga à concentração dos elementos essenciais do
texto dramático em, linhas de força que garantam um ritmo
vivo e uma progressão capaz de prender a atenção do
espectador. O teatro permite uma comunicação específica
Centro de Ensino à Distância 144

entre autor, actor e público; entre as personagens da obra;


entre o palco e a plateia. O conflito ou o drama oferece-se à
contemplação do espectador.

O enredo ou acção é dado ao espectador através do conflito


(oposição) presente em todo o diálogo e da comunicação
visual que comporta um conjunto de informações
complementares.

O drama era, na antiguidade, considerado o género mais


perfeito, na medida em que tinha herdado o espírito épico na
exposição das acções humanas e possuía a profundidade
de sentimentos como na lírica. O filósofo Aristóteles defendia
que a contemplação das paixões humanas (como acontece
na tragédia), artisticamente idealizadas e representadas
mediante actores através da arte, permita a purificação
(catarse) dos sentimentos.

24.2. Elementos da Acção Dramática


Na acção dramática, podemos destacar os seguintes
elementos: as personagens, o tempo e o espaço. Assim, as
personagens, que dialogam entre si, expõem ao espectador
os conflitos que surgem entre elas e que vão evoluindo até
encontrarem uma solução. Esses conflitos duram num certo
tempo, desde o seu surgimento até à sua resolução, e a
acção dramática decorre num espaço cénico que procura
reproduzir com verosimilhança ou sugerir, com recurso a
elementos simbólicos, um espaço físico real (ou aceite pelo
público como tal), onde teria sido provável ocorrerem
aqueles factos.
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No texto dramático, os actos e as falas das personagens,


bem como a sua evolução psicológica, são o elemento
fundamental; é a isso que se denomina acção. Esta
constitui-se como um conjunto de acontecimentos que deriva
dos conflitos que se geram entre as personagens a partir de
situações de crise ou das posições antagónicas que elas
assumem.

A acção procura seduzir o espectador para o que se passa


em cena. É marcada pelo desenrolar dos acontecimentos
vividos pela actuação das personagens. Para Fernando
Pessoa, enredo é o processo simbólico em que o drama é a
sombra, passo a passo de uma ideia, isto é, a revelação das
almas através das palavras trocadas e a criação de
situações.

Os momentos determinantes da acção são a exposição,


conflito e desenlace.

24.3. Estrutura Interna e Externa da Acção Dramática


Na estrutura externa de uma peça, o acto corresponde a
uma parte significativa da evolução da acção dramática. É a
parte mais extensa.

O quadro é uma estrutura autónoma que existe por si só.


Assume uma ruptura com uma acção cuja estrutura se
pretendia unitária, valendo o seu significado apenas por
aquilo que representa, sem relação com as restantes cenas.
A cena é uma subdivisão dos actos ou dos quadros e surge
sempre que existe uma mudança de personagens, uma
entrada ou uma saída de personagens do espaço cénico. A
progressão da estrutura interna manifesta-se em três fases:
exposição, clímax e desenlace.
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O discurso dramático compreende o monólogo e o aparte,


o diálogo e a didascália.

Os principais géneros do texto dramático são a tragédia, a


comédia e o drama.

24.4. O Drama em Gil Vicente


Estudar a obra de Gil Vicente, hoje, implica cortar pela raiz
com uma tradição iniciada há mais de século e meio, — uma
tradição iniciada com o romantismo — uma tradição que se
desenvolveu estratificando-se sob as ideias românticas.
Consequência de uma subordinação, quase primária, às
ideias expostas pelos académicos da época em que as
obras de Gil Vicente começaram a ser estudadas. O
romantismo preferiu o medievalismo como modelo e, como
tal, assim leu as obras de Gil Vicente. E, em consequência
de cadeias de citações de citações, num diz-se a lembrar a
velha escolástica medieval, — e mais ainda com a
vassalagem sempre devida aos eminentes académicos —
assim se reproduziram e mantiveram os estudos vicentistas,
assim se divulgaram centenas de doutoramentos expondo
os saberes sobre Gil Vicente e o seu teatro.

Em Julho de 2008, com os 500 anos do Auto da Alma,


Noémio Ramos veio dizer, e comprovar, que tudo o que até
então se tinha escrito sobre Gil Vicente devia ser deitado ao
lixo, — forma de expressão — estabelecendo que um corte
epistemológico era fundamental para se estudar a obra do
grande dramaturgo. Veio dizer que Gil Vicente foi um
excelente conhecedor da Poética de Aristóteles, tanto como
das obras de Platão, e que as suas preferências filosóficas e
valores humanos se encontram mais na obra de Platão que
em qualquer outro lado.
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Assim, Gil Vicente soube ler, compreender e fazer uso da


retórica (retórica poética — drama — como então era
entendida, seguindo Platão) como, por exemplo, podemos
ler no Fedro, onde Platão apresenta as suas ideias sobre o
discurso retórico

Sumário
Texto dramático é entendido como aquele que se integra na
forma literária do drama e implica uma comunicação directa
das personagens entre si e com os receptores do enunciado.

Os elementos da acção dramática são: personagens, tempo,


espaço cénico, espaço físico e acção.

Exercícios

1. Explique porque o drama era, na Antiguidade,


considerado o género mais perfeito.
2. Descreve, detalhadamente, os elementos do texto
dramático.
3. Descreve a estrutura externa e interna dos textos
dramáticos.
4. Analise estes elementos dramáticos na no texto Auto da
Barca do Inferno, de Gil Vicente.
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Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da


Língua Portuguesa. São Paulo. Saraiva. 32ª ed.
1983.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. São
Paulo. Editora Lucerna. 37ª ed. 2001.
CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso (1996). Dicionário de
Linguística e gramática. Petrópolis. Vozes. 17ª ed.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do
Português Contemporâneo. São Paulo. Editora
Nova Fronteira. 2ª ed. 2009.
MONTEIRO, José Lemos. Morfologia Portuguesa.
Campinas. São Paulo, Pontes. 3ª ed. 1991.
ROSENTHAL, Marcelo. Gramática para Concursos. São
Paulo. Editora Campus; 3ª ed.

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