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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

LEITURA INTRATEXTUAL DO ROMANCE – A TERRA SONÂMBULA DE MIA


COUTO

Felizarda Moisés Nhantumbo: 41210754


Maxixe, Agosto, 2022

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

LEITURA INTRATEXTUAL DO ROMANCE – A TERRA SONÂMBULA DE MIA


COUTO

Trabalho de Campo a ser submetido


na Coordenação do Curso de
Licenciatura em Ensino de Português do
ISCED.
Tutor: Florentino Maria
Felizarda Moisés Nhantumbo: 41210754

Maxixe, Agosto, 2022


Índice
Introdução....................................................................................................................................4
Objectivos:...................................................................................................................................4
Metodologias................................................................................................................................4
Trechos da Obra...........................................................................................................................5
Breve historial do romance – terra sonâmbula............................................................................6
Estrutura da obra.........................................................................................................................6
Personagens Principais.................................................................................................................7
Linguagem....................................................................................................................................8
Resumo/análise do romance........................................................................................................8
Conclusão...................................................................................................................................10
Referências bibliográficas...........................................................................................................11
Introdução

O presente trabalho traz consigo uma interpretação do romance – terra sonâmbula de


Mia Couto que surge de uma leitura leitura intratextual, tendo em conta os seguintes
elementos: Breve historial da obra; A (meta) linguagem; O tratamento das figuras de
pensamento e de linguagem; A temática predominante; A complexidade das
personagens.

O trabalho, apresenta, sinteticamente, elementos centrais do pensamento deste autor na


área de língua portuguesa quando escreve a sua obra intitulada terra sonâmbula e
articular tais ideias de modo a fazer uma interpretação de acordo com os Aspectos
acima descritas.

Inicialmente, para buscar os elementos centrais da obra ora indicada, resumiu-se a


compreensão do campo de conhecimento circunscrito pelas referidas áreas de
pensamento e, dentro delas, identificou-se os autores que mais bem expressam o seu
posicionamento acerca da temática.

Ao final, buscou-se produzir uma síntese das ideias dos teóricos em questão, cotejando-
a a uma análise, a partir da literatura mais recente.

Objectivos:
 Geral: apresentar uma leitura intratextual do romance – terra sonâmbula.
 Objetivos específicos:
 Fazer um breve historial do romance – terra sonâmbula;
 Descrever a estrutura do romance – terra sonâmbula, suas personagens, a
linguagem e a temática predominante;
 Fazer um resumo da análise do romance – terra sonâmbula.
Metodologias

Para abordar esta temática foi utilizada a pesquisa bibliográfica que é “desenvolvida
com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos” (GIL, 2002).

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Para Koche (1997), a finalidade da pesquisa bibliográfica é de ampliar o conhecimento
em uma determinada área, capacitando o investigador, a compreender ou delimitar
melhor um problema de pesquisa.

Trechos da Obra
Capítulo 1
“Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando
entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à
boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar
asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada
aprendizagem da morte.”
Capítulo 2
“Por cima da página, Muidinga espreita o velho. Ele está de olhos fechados, parece dormido. Fim ao
cabo, tenho estado a ler apenas para minhas orelhas, pensa Muidinga. Também há já três noites que vou
lendo, é natural o cansaço do velho, condescende Muidinga. Os cadernos de Kindzu se tinham tornado o
único acontecer naquele abrigo. Procurar lenha, cozinhar as reservas da mala, carretar água: em tudo o
rapaz se apressava.”
Capítulo 3
“Muidinga acorda com a primeira claridade. Durante a noite, seu sono se estremunhara. Os escritos de
Kindzu lhe começam a ocupar a fantasia. De madrugada até lhe parecera ouvir os tais cabritos
embriagados de Taímo. E sorri, ao se lembrar. O velho ainda ressona. O miúdo se espreguiça ao sair do
machimbombo. O cacimbo é tão cheio que mal se enxerga. A corda do cabrito permanece atada aos
ramos da árvore. Muidinga puxa por ela para trazer o bicho às vistas. Então, sente que a corda está solta.
O cabrito fugira? Mas, se assim tinha sido, qual a razão daquele vermelho tintando o laço?”
Capítulo 4
“Uma vez mais Tuhair decide explorar os matos vizinhos. A estrada não traz ninguém. Enquanto a
guerra não terminasse era mesmo melhor que nenhuma pessoa estradeasse por ali. O velho sempre
repetia:
- Alguma coisa, algum dia, há-de acontecer. Mas não aqui, emendava baixinho.”
Capítulo 5
“Muidinga pousou os cadernos, pensageiro. A morte do velho Siqueleto o seguia, em estado de dúvida.
Não era o puro falecimento do homem que lhe pesava. Não nos vamos habituando mesmo ao nosso
próprio desfecho? A gente vai chegando à morte como um rio desencorpa no mar: uma parte está
nascendo e, simultânea, a outra já se assombra no sem-fim. Contudo, no falecimento de Siqueleto havia
um espinho excrescente. Com ele todas as aldeias morriam. Os antepassados ficavam órfãos da terra, os
vivos deixavam de ter lugar para eternizar as tradições. Não era apenas um homem mas todo um mundo
que desaparecia.”
Capítulo 6
“À volta do machimbombo Muidinga quase já não reconhece nada. A paisagem prossegue suas
infatigáveis mudanças. Será que a terra, ela sozinha, deambula em errâncias? De uma coisa Muidinga
está certo: não é o arruinado autocarro que se desloca. Outra certeza ele tem: nem sempre a estrada se
movimenta. Apenas de cada vez que ele lê os cadernos de Kindzu. No dia seguinte à leitura, seus olhos
desembocam em outras visões.”
Capítulo 7
“A chuva timbilava (Timbilar: tocar marimba, de mbila (singular), tjmbila (plural)) no tecto do
machimbombo. Os dedos molhados do céu se entretinham naquele tintintilar. Tuahir está embrulhado
numa capulana. Olha o miúdo que está deitado, de olhos abertos, em sincero sonho.
- Charra, faz frio. Agora, nem se pode fazer uma fogueira, a lenha toda está molhada. Você me anda a
ouvir, miúdo?
Muidinga continuava absorto. Segundo a tradição, ele se devia alegrar: a chuva era um bom prenúncio,
sinal de bons tempos batendo à porta do destino.
- Te falta é uma mulher, disse o velho. Estiveste a ler sobre essa mulher, a tal Farida. Devia ser bonita, a
gaja.”
Capítulo 8
“- Lhe vou confessar miúdo. Eu sei que é verdade: não somos nós que estamos a andar. É a estrada.
- Isso eu disse desde há muito tempo.
- Você disse, não. Eu é que digo.

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E Tuahir revela: de todas as vezes que ele lhe guiara pelos caminhos era só fingimento. Porque nenhuma
das vezes que saíram pelos matos eles se tinham afastado por reais distâncias.
- Sempre estávamos aqui pertinho, a reduzidos metros.”
Capítulo 9
“Olhando as alturas, Muidinga repara nas várias raças das nuvens. Brancas, mulatas, negras. E a
variedade dos sexos também nelas se encontrava. A nuvem feminina, suave: a nua-vem, nua-vai. A
nuvem-macho, arrulhando com peito de pombo, em feliz ilusão de imortalidade.
E sorri: como se pode jogar com as mais longínquas coisas, trazer as nuvens para perto como pássaros
que vêm comer em nossa mão. Se recorda da tristeza que o manchara na noite anterior.”
Capítulo 10
“O jovem nem sabe explicar. Mas era como se o mar, com seus infinitos, lhe desse um alívio de sair
daquele mundo. Sem querer ele pensava em Farida, esperando naquele barco. E parecia entender a
mulher: ao menos, no navio, ainda havia espera. Por isso, ele enfrenta aquela marcha pelo pântano.
Chapinham numa imensidão: lodos, lamas e argilas fedorosas.”
Capítulo 11
“As ondas vão subindo a duna e rodeiam a canoa. A voz do miúdo quase não se escuta, abafada pelo
requebrar das vagas. Tuahir está deitado, olhando a água a chegar. Agora, já o barquinho balouça. Aos
poucos se vai tornando leve como mulher ao sabor de carícia e se solta do colo da terra, já livre,
navegável.
Começa então a viagem de Tuahir para um mar cheio de infinitas fantasias. Nas ondas estão escritas mil
estórias, dessas de embalar as crianças do inteiro mundo.”

Breve historial do romance – terra sonâmbula

Terra Sonâmbula é um romance de Mia Couto, que foi publicado em 1992. É


considerada uma das melhores obras africanas do século XX.

Escrito em prosa poética, o foco central do escritor é fazer um panorama de


Moçambique após anos de guerra civil no país. O título da obra faz referência à
instabilidade do país e, portanto, à falta de descanso da terra que permanece
“sonâmbula”. Essa guerra sangrenta, que durou cerca de 16 anos (1976 a 1992), deixou
1 milhão de mortos.

Estrutura da obra
Terra Sonâmbula está dividida em 11 capítulos:

1º: A Estrada Morta (que inclui o “Primeiro caderno de Kindzu”: O Tempo em que o
Mundo tinha a nossa idade);
2º: As Letras do Sonho (que inclui o “Segundo caderno de Kindzu”: Uma Cova no
Tecto do Mundo”)
3º: O Amargo Gosto da Maquela (que inclui o “Terceiro caderno de Kindzu”: Matimati,
A Terra da Água)
4º: A Lição de Siqueleto (que inclui o “Quarto caderno de Kindzu”: A Filha do Céu)

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5º: O Fazedor de Rios (que inclui o “Quinto caderno de Kindzu”: Juras, Promessas,
Enganos)
6º: As Idosas Profanadoras (que inclui o “Sexto caderno de Kindzu”: O Regresso a
Matimati)
7º: Moços Sonhando Mulheres (que inclui o “Sétimo caderno de Kindzu”: Um Guia
Embriagado)
8º: O Suspiro dos Comboios (que inclui o “Oitavo caderno de Kindzu”: Lembranças de
Quintino)
9º: Miragens da Solidão (que inclui o “Nono caderno de Kindzu”: Apresentação de
Virgínia)
10º: A Doença do Pântano (que inclui o “Décimo caderno de Kindzu”: No Campo da
Morte)
11º: Ondas Escrevendo Estórias (que inclui o “Último caderno de Kindzu”: As Páginas
da Terra)

Personagens Principais
Muidinga: protagonista da história que perdeu a memória.
Tuahir: velho sábio que guia Muidinga depois da guerra.
Siqueleto: velho alto e último sobrevivente de uma aldeia.
Kindzu: menino morto que escreveu seu diário.
Taímo: pai de Kindzu.
Junhito: irmão de Kindzu.
Farida: mulher com quem Kindzu tem uma relação.
Tia Euzinha: tia de Farida.
Dona Virgínia: portuguesa e mãe de consideração de Farida.
Romão Pinto: português e pai de consideração de Farida.
Gaspar: filho desaparecido de Farida e que foi feito pelo abuso de seu pai adotivo:
Romão.
Estêvão Jonas: administrador e marido de Carolinda.
Carolinda: mulher do administrador e que dorme com Kindzu.
Assane: antigo secretário administrador da região de Matimati.
Quintino: guia de Kindzu.
Grande parte da obra, o escritor narra os acontecimentos e as aventuras de Muidinga e
Tuahir. Isso tudo paralelo à história de Kindzu.

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Linguagem

Mia Couto acrescenta um toque de fantasia e surrealismo no romance, mesclando assim


a realidade com o realismo mágico.

O foco narrativo da obra é narrado em terceira pessoa, ora em primeira.

Alguns termos locais são utilizados na linguagem da obra, marcando a oralidade.

Além das descrições, o discurso indireto é muito utilizado, com inclusão da fala dos
personagens.

O enredo não é linear, ou seja, momentos da história dos personagens são intercalados
com outros.

O autor não se propõe, contudo, a uma obra pessimista. O desafio é justamente operar a
recriação de todo esse mundo devastado. É ressuscitar a estrada. Metáfora que percorre
toda a narrativa, a estrada é o caminho que precisa ser pensado. “Para onde a estrada
aponta, ninguém sabe, até porque é preciso rever todo o caminho feito, é preciso tomar
novamente o ponto do fim como um ponto de partida”,

Resumo/análise do romance

O romance começa com apresentação de dois personagens, Tuahir e


Muidinga. Muidinga é um jovem menino que após perder a memória quer encontrar
seus pais e Tuahir é um velho sábio, guia do menino.

Eles estão fugindo dos conflitos da guerra e no caminho encontram um


“machimbombo” (ônibus) queimado com corpos carbonizados dentro. Tuahir e
Muidinga decidem enterrar os corpos e fazer moradia no ônibus.

Enquanto estavam retirando os corpos, Muidinga encontra um diário “primeiro


caderno de Kindzu”. Então, inicia em "Terra Sonâmbula" uma história paralela ao de
Muidinga, em que ele mesmo vai lendo e contando os detalhas da vida de Kindzu
escrito no diário.

Kindzu é filho de Taímo, um pescador contador de estórias que sofria


de sonambulismo e alcoolismo. Tem um irmão chamando Junhito, cujo nome é devido
a data marcante de seu nascimento: 25 de Junho de 1975, dia da Independência
Moçambicana.

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No diário, após a perda de todos os filhos, a mãe de Kindzu manda ele embora, pois era
o que menos gostava. Então, Kindzu encontra um navio naufragado onde mora Farida, a
mulher com quem ele passa a ter um relacionamento afetivo.

Em uma narrativa de presente e passado, “Terra Sonâmbula” relata duas histórias em


paralelo. A de Tuahir e Muidinga, que fizeram morada no ônibus por um tempo, e de
Kindzu.

 Tuahir e Muidinga decidem deixar o ônibus e seguir caminho. Mas eles caem em uma
armadilha e são feitos prisioneiros por Siqueleto.

E após Muidinga contar sua história e convencer Siqueleto de que há esperança no


horizonte, ele decide libertar Muidinga e Tuahir. E então, se mata em seguida.

Muidinga descobre que Tuahir foi sequestrado por um feiticeiro com o intuito de apagar
sua memória e evitar que ele passasse por sofrimento. Então, o velho Tuahir decide
construir um barco e seguem a jornada em busca do mar.

Nos últimos capítulos, os dois se encontram em um pântano e Tuahir começa a sentir


febre e a adoecer. Mas ainda conseguem construir uma jangada e seguem sua viagem à
procura do mar.

No finalzinho de seus dias, Tuahir pede a Muidinga que o deite em uma canoa e o
empurre para a água, no intuito de morrer em alto mar e sem ver a terra. E por
coincidência, a canoa é a mesma das aventuras do pai de Kindzu, e leva seu nome
Taímo.

E, por último, Kindzu em seu diário conta o momento em que encontrou o ônibus
queimado. E diz que chegou a ver um menino, o filho de Farida, Gaspar.

Gaspar também sofreu amnésia, e por fim fica a incógnita. Será que Muidinga não é
Gaspar, o filho de Farida desaparecido e por quem Kindzu tanto procurou?

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Conclusão

Ao longo da exposição teórica, no que refere a pesquisa feita sobre o romance - terra
sonâmbula verificou-se que, o mesmo é da autoria de Mia Couto.

O romance “Terra Sonâmbula” retrata o período que foi marcado por sucessivos


conflitos armados contra o domínio português e pela Independência do país. Em uma
disputa entre os partidos Renamo e Frelimo, em 1975, dá-se início aos conflitos que
devastaram o país.

Terra Sonâmbula retrata o último período desses conflitos civil, sendo publicado


exatamente no ano em que foi assinado o Acordo Geral de Paz entre os dois partidos,
que até então disputam de forma pacífica as eleições.

Mais especificamente, algumas constatações importantes a que foi possível chegar,


indicam que graças a uma linguagem extremamente poética que o autor faz do horror da
guerra civil algum encantamento. Mia Couto lança mão de recursos da poesia lírica –
notadamente o alargamento do sentido das palavras, de sua semântica – para instigar o
leitor a possibilidades imprevistas de leitura.

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Referências bibliográficas

 GIL, António Carlos (2002). Como elaborar projectos de pesquisa (4 ed.). São
Paulo: ATLAS;
 KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria (1997). Ler e compreender os
sentidos do texto. (2ª ed). São Paulo: Contexto
 Terra Sonâmbula; Guia Estudo. Disponível em < https: // www . guiaestudo .
Com.br/terra-sonambula >. Acesso em 12 de Agosto de 2022 às 11:15.

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