Você está na página 1de 20

Amina Saide Passul

Maria da Conceição Mucavel


Nelson João Miambo
Rute Sebastião Macucule Jalane
Tomás Eugénio Tembe

O LÉXICO E A SUA ORGANIZAÇÃO


Licenciatura em Ensino de Inglês com Habilitações a Português, IV Ano

Universidade Save
Chongoene
2022
Amina Saide Passul
Maria da Conceição Mucavel
Nelson João Miambo
Rute Sebastião Macucule Jalane
Tomás Eugénio Tembe

O LÉXICO E A SUA ORGANIZAÇÃO

Trabalho a ser apresentado no Departamento


de Ciências de Linguagem, Comunicação e
Artes, preparado no âmbito de avaliação na
disciplina de Morfossintaxe e Lexicologia do
Português, sob orientação do docente Ângelo
Mauai.

Universidade Save
Chongoene
2022
Índice
Introdução..................................................................................................................................4

Metodologia............................................................................................................................4

Objectivos...............................................................................................................................5

Geral....................................................................................................................................5

Específicos..........................................................................................................................5

Revisão Bibliográfica.................................................................................................................6

Precursores da literatura são tomense.....................................................................................6

Primeiro momento da literatura..........................................................................................6

Segundo momento da literatura..........................................................................................8

Análise do texto “a negra" de Caetano de Costa Alegre..........................................................14

Análise da obra “Aurora" de Caetano de Costa Alegre...........................................................15

Conclusão.................................................................................................................................17

Bibliografia..............................................................................................................................18
6

Introdução

O aparecimento das literaturas de língua portuguesa na África resultou, por um lado,


de um longo processo histórico de quase quinhentos anos de assimilação de parte a parte e,
por outro, de um processo de conscientização que se iniciou nos anos 40 e 50 do século XIX,
relacionado com o grau de desenvolvimento cultural nas ex-colônias e com o surgimento de
um jornalismo por vezes ativo e polêmico que, destoando do cenário geral, se pautava numa
crítica severa à máquina colonial. Em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e
São Tomé e Príncipe, o escritor africano vivia, até a data da independência, no meio de duas
realidades às quais não podia ficar alheio: a sociedade colonial e a sociedade africana. A
escrita literária expressava a tensão existente entre esses dois mundos e revelava que o
escritor, porque iria sempre utilizar ma língua europeia, era um “homem-de-dois-mundos”, e
a sua escrita, de forma mais intensa ou não, registrava a tensão nascida da utilização da língua
portuguesa em realidades bastante complexas.
O entendimento da literatura africana passa pela compreensão da perspectiva
dinâmica que orienta a produção literária, que faz com que esses momentos não sejam rígidos
nem inflexíveis e permite que um escritor, muitas vezes, atravesse dois ou três deles: no
espaço ontológico e de criatividade poética do escritor movem-se valores do colonizador que
são dados adquiridos, funcionam valores culturais de origem e há sempre a consciência de
valores que se perderam e que é necessário ressuscitar.

Este trabalho tem como objectivo geral conhecer os percursores da literatura São
toménse, sem sair do contexto: o ciclo da cor da pele e negrismo e alteridade. Como
objectivos específicos, temos: identificar os percursores da literatura são toménse, apresentar
as obras destacadas quando se trada de ciclo da cor da pele, negrismo e alteridade.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa bibliografica, com vista em trazer um maior entendimento
sobre os percursores da Literatura São Toménse, com revisão bibliográfica como
procedimento para colecta de dados.
7

Objectivos
Geral
Discutir os precursores da Literatura São tomense

Específicos
 Descreve os precursores da Literatura Sao tomense;
 Discutir o papel dos mesmos na formação da literatura São tomense;
 Apresentar algums feitos (obras) dos precursores.
8

Revisão Bibliográfica

Precursores da literatura são tomense


A produção literária da Literatura são tomense tal como nos outros espaços africanos
passa por alguns momentos, o primeiro momento em que o escritor está em estado absoluto
de alienação. Os seus textos poderiam ter sido produzidos em qualquer outra parte do mundo:
é o momento da alienação cultural. O segundo momento corresponde a fase em que o escritor
manifesta a percepção da realidade. O seu discurso revela a influência do meio, bem como os
primeiros sinais de sentimento nacional: a dor de ser negro, o negrismo e o indigenismo
(FERREIRA, 1977).

Primeiro momento da literatura


No final do século XIX, graças ao advento jornalístico, a literatura são tomense
concebeu suas primeiras letras. Nas páginas dos periódicos O Africano, A voz d’África, O
Negro, A Verdade, Correio d’África, encontravam-se poemas dispersos.
As primeiras publicações surgiram na década de 1880. Em crioulo, apareceram
poemas como “Forro”, de Francisco Stockler, enquanto em obras como História etnográfica
da ilha de São Tomé, de Almada Negreiros, exaltava-se a beleza da flora e da fauna local.
O livro Equatoriais (1896), de Almada Negreiros, contém uma poesia que realça um
memorialismo vivido pelo artista, quando vivia em São Tomé. O ensaísta e estudioso Manuel
Ferreira aponta a obra poética Equatoriais como a mais antiga obra literária relacionada com
o arquipélago de São Tomé e Príncipe.
Foi com Caetano da Costa Alegre que o sistema literário de São Tomé e Príncipe se
iniciou. Apesar de valorizar a cor negra, Costa Alegre foi portador de uma voz exótica, típica
do negrismo literário, que abarcava o tema do negro sem, no entanto, dar-lhe voz. Em sua
temática, o mar também foi abordado, ainda que sob a perspectiva eurocêntrica. A língua e a
forma dos versos assemelhavam-se à moda lusitana.
Desta forma, temos para este momento da literatura os escritores que se seguem.

Francisco Stockler
Francisco Stockler, filho de Ignácio Garção Stockler (natural da Bahia) e de Lourença
Graça Costa, nasceu em 1834, na ilha de São Tomé e foi educado em Lisboa. Concluiu o
curso do Liceu Nacional e matriculou-se na Escola Politécnica. Foi nomeado professor
público e teve
9

de regressar à sua pátria para tomar posse desse cargo. Veio a falecer no dia 2 de
Janeiro de 1881 em São Tomé, com apenas 47 anos de idade (Pontes, 2008).
Stockler filia-se à escola ultrarromântica portuguesa dos finais do século XIX,
segundo alguns críticos. Em seus espólios, foram encontrados poemas dispersos, alguns
escritos em crioulo-forro – dialecto usado na ilha de São Tomé –, que foram publicados no
Novo Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro, nos anos 1880. Outros escritos foram
publicados ainda na História etnográfica da ilha de São Tomé, em 1895, de autoria de
Almada Negreiros.
Os poemas de Stockler exaltam a vegetação e a fauna da ilha de São Tomé, além de
mostrarem também a sensibilidade do poeta diante dos desconcertos da vida e do mundo.
Francisco Stockler também escreveu em prosa. Dessa modalidade escrita, destacam-se os
trabalhos: A chegada de S. Ex.º o governador da província; Pais de família; Os angolares; O
povo dos angolares.

Caetano da Costa Alegre


É com Caetano da Costa Alegre (1864-1890), cujos versos haviam sido publicados
dispersamente nos últimos anos do século XIX, no Almanach de Lembranças Luso-
Brasileiro, que as manifestações literárias de São Tomé e Príncipe começam a delinear-se
como sistema literário. Costa Alegre nasceu no seio de uma família crioula em São Tomé e,
em 1888, mudou-se para Lisboa, afim de frequentar a escola de Medicina.
O escritor é considerado o primeiro poeta importante do arquipélago, justamente por
ter incorporado em sua poesia o negrismo da literatura africana de língua portuguesa.
O negrismo na obra poética de Costa Alegre é a expressão de uma alienação do autor
diante da forte carga racista da sua época. Ele produz uma poesia influenciada pelo racismo
de que era vítima. Por ser negro e viver numa sociedade com elevado índice de racismo, o
poeta forja, na sua obra, temas sobre o racismo como argumentos de defesa.
Se o negrismo de Costa Alegre era a expressão de submissão do negro ao racismo, a
negritude surge no sentido oposto, ou seja, trata-se da valorização e exaltação dos valores e,
sobretudo, do homem negro.
Noventa e seis dos poemas de Costa Alegre foram publicados após a sua morte por
Artur da Cruz Magalhães, em 1916, com o título de Versos.
Segundo Laranjeira, Mata & Santos (1995, p. 336) Versos
10

é uma obra que já indicia uma incipiente percepção das diferenças rácicas, estruturada
em metáforas antitéticas, com uma dimensão auto-contemplativa e de pendor nativista
(pela valorização da cor negra).
Ferreira (1977) comenta, “Versos fica como a primeira obra em que o problema da cor
da pele actua como motivo – e de uma forma obsessivamente dramática”.
Como se pode observar, a obra poética de Costa Alegre marca o início de uma
produção literária tipicamente são tomense. Adiante constam alguns poemas do autor dos
quais o grupo faz a análise.

Segundo momento da literatura


Num segundo momento do panorama literário de São Tomé, já na primeira metade do
século XX, aparece Marcelo da Veiga, poeta cujos versos percorreram várias fases dessa
literatura, revelando a temática da sua escrita uma mudança evolutiva no processo de
consciencialização do homem social em contexto colonial. A poesia de Marcelo da Veiga é
sobretudo a do discurso pátrio e da identidade cultural. A reivindicação sócio-política e
cultural e a assumida ideologia pan-negra marcam os seus primeiros poemas, denunciando
uma reivindicativa consciência nacional, já em 1917.
Seus primeiros poemas eram líricos, ultrarromânticos. Enfocavam a saudade, o amor,
a mulher, a natureza, o mar. Entre 1930-40, sua produção buscou a identidade cultural das
ilhas. Seu discurso foi patriota, defensor exímio da africanidade. Usou a palavra como
denúncia da exploração dos negros, da violação do solo insular, do colonialismo.
Será com Marcelo da Veiga que a hesitante nomeação da diferença (negrismo) vai
construindo um discurso de identidade pela exibição da cor, usos e costumes como
diferenciadores étnico-culturais, pela memória vivencial, pela citação das figuras históricas
que povoam o imaginário colectivo e pela colectivização da voz já contestatária na primeira
metade do século XX. Embora O canto do ossôbá. que reúne toda a sua poesia, só tenha sido
publicado em 1989, sob a direcção de Manuel Ferreira, os seus primeiros poemas datam da
primeira década deste século, alguns dos quais publicados em jornais da época,
nomeadamente n'O Correio d'Africa, na secção literária denominada «Torre de Ébano»
(Laranjeira, Mata, & Santos, 1995).
Cantando as vivências culturais das ilhas, assim como as paisagens e as linguagens
nativas, Marcelo da Veiga abriu caminho para outros poetas, tais como Francisco José
Tenreiro, Alda do Espírito Santo, Tomás Medeiros e Maria Manuela Margarido à partir da
Casa dos Estudantes do Império (CEI).
11

Esses poetas vincularam sua poesia a uma ideologia estética que intentava a
construção de uma identidade cultural a nível nacional. Para isso, sustentavam um discurso
de combate social, contrário ao colonialismo, denunciador da exploração desse sistema, da
precariedade socioeconómica devida à monocultura do cacau e do café, do regime do
contrato e do drama dos contratados. Constitui uma das obras do autor o poema Epicédio
(VEIGA apud FERREIRA, 1977).

Francisco José Tenreiro


Laranjeira, Mata & Santos (1995), caracterizam José Tenreiro como mulato natural da
ilha de São Tomé, onde nasceu no ano de 1921. foi professor no Instituto Superior de
Ciências Sociais e Política Ultramarina e na Faculdade de Letras de Lisboa, paralelamente à
sua actividade de pesquisa em diferentes centros de investigação em Lisboa. Grande
conhecedor da problemática africana e insular, particularmente, Francisco José Tenreiro
deixou, além de artigos sobre a literatura negra norte-americana. inúmeros estudos sobre a
História Social e Cultural e a Geografia Humana da ilha de São Tomé, de que se destaca A
ilha de São Tomé (estudo geográfico).
Francisco José Tenreiro foi uma das figuras proeminentes entre os jovens estudantes
africanos em Lisboa, todos eles exilados geográfica, psicológica ou culturalmente, que darão
um novo impulso à dinâmica cultural estudantil com o delinear de um plano de conferências
e discussões de vária ordem sobre questões africanas a realizar no Centro. «Coração em
África», poema que sintetiza o sentir que então se vivia entre os africanos da Casa dos
Estudantes do Império, fora, significativamente, o poema seleccionado para integrar o
caderno de Poesia negra de expressão portuguesa (1953), primeira manifestação assumida da
Negritude na literatura africana de língua portuguesa, organizado de parceria com Mário
Pinto de Andrade e publicado pela Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa (p. 338).
Após a sua morte, é reunida toda a sua poesia, alguma dispersa em revistas ligadas ao
movimento neo-realista, como Vértice e Seara Nova. É o livro Obra poética de Francisco
José Tenreiro, reeditado, em 1982, por Manuel Ferreira, sob a designação de Coração em
África, que inclui Ilha de nome santo e o livro que o autor deixara inédito, mas já organizado,
com o título «Coração era África»
Considerado o primeiro poeta da Negritude de língua portuguesa, Ilha de nome santo
é, porem, poesia eminentemente insular, não obstante os «3 poemas soltos- cuja estética está
em consonância com a dos poemas dos anos 50, revitalizadores de figuras, signos e símbolos
emblemáticos do mundo negro-africano e vinculados aos modelos tutelares da consciência
12

negra nos Estados Unidos, Cuba ou Haiti e redimensionados pelo movimento da Negritude.
Assim, tal como os «3 poemas soltos», incluídos em Ilha de nome santo, a saber «Epopeia»,
«Exortação» e «Negro de todo o Mundo», os poemas negritudinistas de Coração em África
evocam, para estigmatizar, a desagregação e a dispersão absoluta do povo negro, a tristeza, a
melancolia e a martirizada submissão do negro da diáspora.
Na 2a parte de Coração em África, o poeta «regressa» à sua ilha: fizera um percurso
desde Ilha de nome santo, em que o desejo de conhecimento das realidades e de identificação
com a terra natal (que a dedicatória, primeiro, e. depois, o poema «A canção do mestiço»
sintetizam) o leva a perscrutar as especificidades sociais e culturais da ilha, numa escrita neo-
realista cujo funcionamento ideológico revela uma dimensão nacionalista pelas suas
intenções anti-coloniais.
Nomeara em Ilha de nome santo a exploração colonial e a precariedade social da
população nativa, em «Cancioneiro» e no «Ciclo do Álcool», a identidade mestiça do ilhéu
(por vezes uma dolorosa mestiçagem, como na poesia do «Romanceiro»), subvertendo o
código do exotismo literário ao textualizar «realidades miúdas da vida do homem» para. após
um mergulho no universalismo negritudinista. que começara em «3 poemas soltos» e
continuaria na primeira parte de Coração em África, regressar à pulsão da tellus insular. Os
poemas dessa segunda parte, intitulada «Regresso à ilha», maioritariamente escritos durante
uma estada em São Tomé. na Páscoa de 1962. relevam do evocacionismo da terra natal, das
suas potencialidades naturais e culturais, mas também espirituais. re\ alorizando-as através da
citação dos seus frutos, animais, paisagens, ritmos e sensações, num gesto de imersão na
tellus que o poeta realiza convocando os seus mais atávicos afectos: mas ainda assim, nunca
esquecendo as tensões sociais, em última instância coloniais.
A obra poética de Tenreiro foi, desde sempre, uma leitura obrigatória para todos que
participaram dos movimentos sociais, políticos e literários que geraram, em Lisboa,
sobretudo a partir da década de 1950, organizações como a Casa dos Estudantes do Império
(CEI) e o Centro de Estudos Africanos, de que Tenreiro foi um dos fundadores, em 1951.
(FONSECA & MOREIRA).
Nota-se uma distância solar, como se vê, entre a humilhação da Costa Alegre e a
glorificação dos valores culturais africanos por parte de Francisco Tenreiro que obviamente
corresponde à amplitude consciencializadora que vai do século XIX ao século XX. Apesar da
sua condição de mestiço, ou seja, com a possibilidade de se rever, ao mesmo tempo, do lado
africano e europeu, Tenreiro não esquecia a sua origem africana.
13

Dentro do chamado ciclo da roça ou ciclo da cor da pele, (HAMILTON, 1984),


destaca as seguintes obras: 
 Maiá Póçon, 1937, de Viana de Almeida, um “filho-da-terra”, mestiço; 
 Roça, 1960, de Fernando Reis, um português do Ribatejo, mas com longos
anos de residência em São Tomé; 
 A Estufa, 1964, de Luís Cajão, um romance sobre os contratados na segunda
ilha de Príncipe.

Alda do Espírito Santo


Alda do Espírito Santo (Alda Graça) também figura em todas as antologias de poesia
africana de língua portuguesa. Seus textos têm a diferença racial e a exploração colonial
como pano de fundo. O livro É nosso o solo sagrado da terra: poesia de protesto e luta
(1978) caracteriza-se por uma grande dose de combatividade e por grande profundidade
lírica, além de descrever, com traços sensíveis, a vida dos habitantes de São Tomé.
Alda do Espírito Santo é um importante nome da literatura santomense, não só pelo
legado literário, mas pela sua franca atuação na vida pública e política do país. Criou a União
dos Escritores e Artistas Santomenses, trabalhou na criação de novos valores para a cultura
literária do país, além de ter sido uma figura emblemática da luta pela independência. A
poetisa faleceu no ano de 2010, em Luanda, aos 83 anos, vítima de prolongada doença.

Tomás Medeiros
O médico e activista político António Alves Tomás Medeiros nasceu em São Tomé
em 1931, viveu em Angola, Gana, Argélia e finalmente instalou-se em Portugal, onde reside
até hoje. Tomás Medeiros se destacou politicamente e, quando jovem, foi dirigente da Casa
dos Estudantes do Império, em Lisboa, onde dirigiu a Revista Mensagem. Sua actuação
política levou-o a ser co-fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e
do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), lutando pela independência
dos países africanos colonizados por Portugal.
A poesia de Tomás Medeiros está publicada em várias antologias. Em prosa, ele
publicou, em 2003, O automóvel do engenheiro Dlakamba e A verdadeira morte de
Amílcar Cabral, que é, segundo a sua editora, Althum, uma obra bem documentada,
que dá a conhecer as diferentes facetas do fundador do PAIGC [Partido Africano para
a Independência da Guiné e Cabo Verde], “o político, o guerrilheiro, o escritor e,
sobretudo, o humanista”. (Machado, 2012).
14

A poesia de Tomás Medeiros é, tal como os outros de reivindicação do solo pátrio, da


denúncia da miséria e do orgulho civilizacional que, por vezes, assume uma veemência
agressiva, já no limiar de um ufanismo anti-europeu (por exemplo, os poemas «Meu canto
Europa» e «Na sexta-feira de Paixão»). A poesia de Tomás Medeiros caracteriza-se
raramente é contemplativa ou apenas acusatória, mas antes muito reflexiva e dialéctica, na
medida em que existe sempre uma proposta de transformação, configurada em esperança
reificante que prenuncia o fim da exploração e o advento de uma vida nova. O «canto de
acusação», o leitmotiv que alicerça a escrita de Tomás Medeiros, processa-se através da
subversão. A estratégia literária de Tomás Medeiros é a do contra-discurso, que expressa e
propõe novos conteúdos ideológicos e existenciais diferentes dos do discurso veicular. E é
nesse contexto que se ancora o protocolo estilístico da sua poesia: estruturas de interlocução
(com figuras reais e entidades simbólicas), a interrogação e a repetição. E o carácter
subversivo dessa estruturação sobressai do «efeito ético» (de leitura); isto é, no acto de
recepção, o leitor é levado a um momento de reflexão(Laranjeira, Mata, & Santos, 1995).

Maria Manuela Margarido


Segundo Inocência Mata, a poesia de Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido
(1925-2007) é
comprometida com o ideário de luta anticolonial e com a crítica social, embora revele,
simultaneamente, a dimensão particularizante da ínsula africana, através da evocação
da sua fauna, da flora, da infância e dos usos e costumes. Porém, essa vertente mais
lírica da sua poesia já se revelara em Alto como o silêncio, de 1957, seu primeiro e
único livro. É essa dialética entre a emoção e a razão e a sobreposição de uma visão
intimista da realidade que caracteriza a estética da autora, na qual a vertente
nacionalista também se faz sentir. (MATA, 2004, p. 242).
15

A NEGRA Que outrora foste neve e amaste um lírio,


Pálida flor do vale,
Negra gentil, carvão mimoso e lindo
Fugiu-te o lírio: um triste amor queimou-te
Donde o diamante sai,
O selo virginal;
Filha do sol, estrela requeimada,
Pelo calor do Pai,
Não chores mais, criança, a quem eu amo
Ó lindo querubim,
Encosta o rosto, cândido e formoso,
O amor é como rosa, porque vive
Aqui no peito meu,
No campo, ou no jardim.
Dorme, donzela, rola abandonada,
Porque te velo eu.
Tu tens o meu amor ardente, e basta
Para seres feliz;
Não chores mais, criança, enxuga o pranto,
Ama a violeta que adora-te
Sorri-te para mim,
Esquece a flor-de-lis.
Deixa-me ver as pérolas brilhantes,
Os dentes de marfim.
AURORA
Tu tens horror de mim, bem sei. Aurora,
No teu divino seio existe oculta
Tu és o dia, eu sou a noite espessa,
Mal sabes quanta luz,
Onde eu acabo é o teu ser começa.
Que absorve a tua escurecida pele,
Não amas!... flor que esta minha alma
Que tanto me seduz.
adora.

Eu gosto de te ver a negra e meiga


É a luz, eu a sombra pavorosa.
E acetinada cor,
Eu sou a tua antítese frisante,
Porque me lembro, ó Pomba, que és
Mas não estranhes que te aspire formosa,
queimada
Do carvão sai o brilho do diamante.
Pelas chamas do amor;

Olha que esta paixão cruel, ardente,


Eu gosto de te ver negra e meiga
Na resistência cresce, qual torrente;
E acetinada cor,
É a paixão fatal que vem da sorte,
Porque me lembro, ó Pomba, que és
queimada
É a paixão selvática da fera,
Pelas chamas do amor;
É a paixão do peito da pantera.
Que me obriga a dizer-te “amor ou morte
16

Análise do texto “a negra" de Caetano de Costa Alegre

1. Estilo formal

O texto é poético, composto por oito estrofes regulares, visto que cada estrofe contém o
mesmo número de versos e são classificadas como quadras. A composição métrica das
sílabas em cada verso de todas as estrofes é irregular, sendo que o número de sílabas métricas
oscila de seis para doze. Quanto à rima, a rima em todas as estrofes é simultaneamente
classificada como aguda, final/externa e alternada/cruzada. Porém, há excepção da rima na
sexta estrofe, pois esta é considerada como uma rima encadeada/interna; a última palavra
“lírio” no primeiro verso rima com a mesma, mas no meio do terceiro do terceiro verso.
Desta forma, há uma irregularidade na composição rimåtica do texto. Inerente a composição
de acentuação do verso em cada estrofe, são maioritariamente oxítonas, dado que as últimas
sílabas tónicas em cada verso coincidem com as últimas sílabas das palavras.

2. Estilo de linguagem

O texto em análise está repleto de subjectividade, ambiguidade e conotatividade. As


categorias patentes no texto são: negra, filha do sol, Pai, rola abandonada, criança, enxuga o
pranto, pérolas brilhantes, escurecida pele, não chores mais, querubim, ama a violeta que a
violeta adora-te e esquece a flor-de-lis. No uso da linguagem, recorre-se ao uso de nomes
(Negra…), adjectivos (gentil, requeimada,…) e outras classes gramaticais para veicular a
mensagem/sentimento. Tendo em conta os indicadores no texto, conclui-se que o autor
clama/protesta pela valorização da cor negra, pelo que o africano ou o destinatário da
mensagem é atribuído adjectivos como mimoso, lindo e mais. Ainda mais, são usados nomes
como carvão, diamante, estrela, marfim, querubim e outros, que representam os recursos
naturais característicos de África.

3. Temática

O sujeito poético glorifica as qualidades de uma negra e em simultâneo, clama pela


suavalorização.

4. Ideologia
17

É protonacionalismo, dado que o sujeito enaltecea uma negra e protesta pela valorização da
sua cor.

5. Género

É elegia porque o sujeito poético expressa seus sentimentos à uma negra/africana.

6. Modo

É lírico, pois o eu-lírico exprime suas emoções e é a única personagem do texto.

7. Periodização

Quarto período literário.

Análise da obra “Aurora" de Caetano de Costa Alegre

1. Estilo formal

É um texto poético, neste caso um soneto, tipo poético caracterizado por irregularidade
estrófica com duas quadras e dois tercetos, cujos versos apresentam uma irregularidade
métrica em que as sílabas variam de 10 a 12. Apresenta uma irregularidade rimática onde
temos na primeira estrofe rimas interpoladas, na segunda alternadas (cruzadas), na terceira e
na quarta temos emparelhadas (paralelas). As rimas quanto a acentuação são todas regulares
sendo elas graves (a sílaba tónica é a penúltima sílaba da palavra). O texto recebeu uma
influencia estética clássica, por este obedecer rigorosamente o modelo europeu como o caso
de vocabulário, os versos trazem no fim pontuação, iniciam com letras maiúsculas.

2. Estilo de linguagem

O texto Aurora transmite um sentimento, um desejo de alcançar uma aurora, palavra que
descreve um despertar, um começo, um inicio da vida, um nascer do sol, o princípio, termo
este que aparentemente é alguém para qual o texto é direccionado. Neste caso, temos
ambiguidade.

O sujeito chama atenção de que a única saída que existe diante da humilhação em que estão
submetidos sendo comparados com noite, sombra pavorosa, antítese, é tomada uma atitude de
Aurora, o dia, a luz, um começo, etc., porem ele alerta que não será algo fácil, como pode
18

concluir o sujeito ao escrever “tu tens horror de mim…, eu sou a sombra pavorosa…, sou a
tua antítese”, ao perceber que a razão do seu ser, sua natureza, suas origens, constituem uma
rivalidade a posição da aurora.

Apesar das dificuldades, o sujeito acredita na capacidade de se chegar a essa posição seja
isso por bem ou por mal, por mais que não seja por eles afinal terão que dar a vida para que
isso aconteça (onde eu acabo é que o teu ser começa). Ele não vê a vida a não ser uma nova
diferente daquela em que está. Não consegue se desfazer da ideia, muito pelo contrário, a
vontade tende a crescer, como se pode notar através da última estrofe mesmo que isso lhe
custe a vida – que me obriga a dizer-te “amor ou morte”.

Portanto, para a descrição desse sentimento notamos para além da ambiguidade mas também
subjectividade e conotatividade.

3. Temática

Manifestação de um desejo de despertar do povo.

4. Ideologia ou visão do mundo

Protonacionalismo. O sentido do texto manifesta um alerta ao leitor para uma organização


nacionalista.

5. Modo e género

O modo do texto é lírico com o género Ode. É um canto exaltando aurora, o almejo por um
despertar.

6. Enquadramento no período literário

O texto enquadra-se no 4o período literário.


19

Conclusão

O estudo da produção poética dos escritores africanos pode ser feito mediante uma
abordagem diacrônica das literaturas a que pertencem, o qual observe: as dificuldades do
sujeito poético de se encontrar com seu universo africano; o fato de que grande parte da
produção literária reflete a busca da identidade cultural e a tomada progressiva de uma
consciência nacional; o fato de que é sempre possível detectar, nos autores, o momento
poético da luta, que se configura num discurso de resistência e de reivindicação por
mudanças; as mudanças que encaminham para um processo de releitura constante que liga o
presente e o passado na construção de uma África que se renova continuamente.
Após a execução deste trabalho, conclui-se que Costa Alegre marcou o início de uma
produção literária tipicamente são-tomense. Apesar do seu pouco tempo de vida, o seu legado
mantém-se estável na literatura de São Tomé. A construção dos poemas, as temáticas
diversificadas, mostra que este poeta foi um homem muito culto, consciente da sua cor, e das
suas qualidades. E por outro lado, é pacífica a ideia de que os fundamentos irrecusáveis da
literatura são-tomense começam a definir-se com precisão em 1942, com Ilha de nome santo,
de Francisco José Tenreiro.
20

Bibliografia

Ferreira, M. (1977). Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa - I (1ª ed., Vol. VII).
Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa.

Fonseca, M. N., & Moreira, T. T. Panorama Das Literaturas Africanas De Língua


Portuguesa. CNPq.

Hamilton, R. (1984). Lieratura Africana - Literatura Necessária II: Moçambique, Cabo


Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Principe. Lisboa, Portugal: Edições 70.

Laranjeira, P., Mata, I., & Santos, E. R. (1995). Literaturas Africanas de Expressão
Portuguesa. LIsboa: Universidade Aberta.

Machado, I. P. (2012). "A verdadeira morte de Amilcar Cabral" de Tomás Madreiros.

Pontes, J. X. (2008). Sum Fâchiku Stockler no contexto da poesia são-tomense no século XIX.
Centro dos Estudos Africanos da Universidade do Porto: Porto.

Você também pode gostar