Você está na página 1de 11

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

CENTRO DE ENSINO A DISTÂNCIA

A Diferença entre a Literatura São-tomense e a Guinense

Nome de Estudante:
Joaquim da Conceição Pereira
Código de Estudante: 708206519

Curso: Licenciatura em Ensino de Português


Disciplina: LALP.
Ano de Frequência: 3º Ano
Tutor: Dr. Loirinho José Engenheiro.

Quelimane, Julho de 2022


Índice
1.

Introdução.........................................................................................................................3
1.1. Objectivos...................................................................................................................3
1.1.1. Objectivo Geral.......................................................................................................3
1.1.2. Objectivos Específicos............................................................................................3
1.2. Metodologia................................................................................................................3
2. Literatura São-tomense..................................................................................................4
2.1. Período da literatura são-tomense..............................................................................5
2.1.1. Colonial (segunda metade do séc. XV)...................................................................5
2.1.2. Período pós-colonial................................................................................................7
2.2. Literatura Guinense e sua periodização......................................................................8
2.2.1. Periodização da Literatura Guinense.......................................................................8
Conclusão........................................................................................................................10
Referências Bibliográficas...............................................................................................11
3

1. Introdução
As literaturas africanas em língua portuguesa são literaturas que insistem na dependência da
questão da identidade e da cultura nacionais. Neste âmbito, não podemos separar a noção de
identidade da noção da língua. O uso da língua do colonizador, neste caso, do português,
aparece com uma dupla função - social e universalizante - onde o sujeito, o guineense, a
reinventa, tornando-a num veículo de estatuto e mudanças sociais.

De salientar que no interior do mesmo, descrevemos os surgimento das literaturas de São


Tomé e da Literatura Guinense. De seguida, fazemos menção dos períodos literários, isto é,
indicando as características de cada época.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
 Diferenciar literatura são-tomense da literatura guinense.

1.1.2. Objectivos Específicos


 Indicar os períodos literários da literatura são-tomense e literatura guinense;
 Apresentar as características de cada período literário.

1.2. Metodologia

Para a realização deste trabalho usou-se o método bibliográfico.


4

2. Literatura São-tomense
As primeiras obras literárias do arquipélago datam do início do século XIX e foram
produzidas por autores portugueses que moraram alguns anos no país, como António Lobo de
Almada Negreiros, que escreveu Equatoriaes (1896), o primeiro livro de poemas relacionado
a São Tomé e Príncipe.

Não havia nem infraestrutura nem incentivo para os autores santomenses desenvolverem seus
trabalhos. Os poucos que se aventuravam nessa arte eram aqueles que residiam em Portugal,
como Caetano da Costa Alegre, precursor da literatura santomense e o primeiro autor a tratar
da questão da negritude.

Os trabalhos literários dos autores santomenses não alcançaram prestígio no período colonial.
Segundo Mata (1993), muitas obras foram publicadas anos depois de terem sido escritas,
como é o caso do já citado Caetano da Costa Alegre, que teve seu único livro, Versus,
publicado postumamente em 1916, e Marcelo da Veiga, um dos autores cuja obra foi
escolhida para este estudo. Manuel Ferreira, ao organizar os cadernos de poesia deste autor,
encontrou entre os escritos do autor a seguinte anotação: “O poeta preto escreve para o
futuro / Que ainda hoje é cativo / E deve ser directo” (1989: 20).

Compreende-se que Veiga e provavelmente outros autores da literatura santomense,


que produziram no final do século XIX e quase a metade do século XX, ao desenvolverem
seus projectos, mantinham esse sentimento de impossibilidade de fazer ecoar as suas vozes
no momento em que os produziam.

Somente em 1942, com Ilha de Nome Santo, de Francisco José Tenreiro, a literatura
santomense começou ser de fato definida, mas, ainda assim, muitos autores não são
reconhecidos fora do país.

Nessa época (período colonial), a poesia era o género que, apesar das inúmeras dificuldades,
mais contribuiu para os registros literários do país. Essa poesia foi “construída apenas por
negros ou mestiços, este punhado de poetas balizou a área temática no centro do universo
da(s) sua(s) ilha(s) e organizou um signo cuja polissemia é de uma África violentada, inchada
de cólera, a esperança feita revolta” (Ferreira, 1977, p.81).

O género narrativo, que era modesto na época colonial, ganhou impulso no período pós-
colonial. Jerónimo Salvaterra, autor que também foi escolhido para este trabalho, publicou,
5

em 1995, sua primeira obra, Tristezas não pagam dívidas, uma colectânea de contos e lendas
de São Tomé e Príncipe.

Em muitas dessas obras, seja do período colonial seja do pós-colonial, o tema é o lirismo, mas
o que se destaca em quase todas é a denúncia do caos social. Os problemas enfrentados pelos
santomenses são marcas de um passado e fazem parte da reconstrução histórica dessa
sociedade, com reflexos facilmente observados na actualidade. São essas marcas reveladas na
literatura que contribuem para o conhecimento da realidade de São Tomé e Príncipe. Essa é a
razão pela qual o corpus de análise deste trabalho foi seleccionado na literatura.

2.1. Período da literatura são-tomense


2.1.1. Colonial (segunda metade do séc. XV)
O período colonial é o mais extenso e importante tempo de formação de consciencialização
nativista santomense. É nesse período, que foram produzidas grandes obras literárias de
natureza santomense transmitindo os sentidos e opiniões dos autores dessa época. Como já foi
mencionado, o contexto cultural e a cultura nacional são os elementos sem os quais a
literatura não pode entender-se.

Não é possível conceber, portanto, uma literatura através só uma obra ou um período mas é
preciso também conceituar os elementos comuns de identidade. Como não existisse a
liberdade de expressão, durante o período colonial, a poesia santomense como a poesia
africana em geral, era considerada como uma poesia de combate.

Esta poesia ou a língua literária tivera por alvo transmitir as opiniões e pensamentos,
ajudando-se pelas metáforas ou outras figuras estilísticas, duma maneira não provocante,
permitida pelo regime colonial.

Paralelamente à poesia que, segundo Salvato Trigo, expressa « um grito, lógico, natural, um
grito de homem negro, insultado, que se reivindica como negro em face do branco no seu
orgulho (Trigo, 1977, p.15) também a ficção escrita foi criada. A partir da sua produção
global, divisam-se duas tendências ideológicas.

Na primeira tendência, as personalidades santomenses carecem de profundez humana e


histórica. Por um lado, os mitos e o misterioso provaram a presença das personagens (sempre
6

portuguesas), por outro lado, desenvolvem a narrativa para uma construção épica da empresa
da colonização (Mata, 1993, p.17).

Quer dizer que o espaço europeu no regionalismo literário português é preenchido com
motivos africanos. A composição narrativa é, pois, africana mas o imaginário mitológico e
civilizacional (Mata, 1993, p.17) é português metropolitano.

Ao invés, a segunda ideologia não se ocupa da celebração da terra mas vira-se para a
sociedade e a sua cultura no contexto colonial. Como exemplo podemos referir o conto de
Viana de Almeida Domingo na Roça (in Maiá Pòçon, 1973) que é estruturado
desmitificantamente.

A prosa de ficção no período colonial abrange os textos com uma subjacência expansionista
onde a celebração de paisagem e a natureza exuberante demonstram o esforço dos
portugueses de mostrar uma civilização diferente dos colonos os quais, com os seus dramas e
problemas, constituem as protagonistas nesse espaço.

De acordo com (Júnior, p.127) espaço da literatura é dominado pela presença de uma
paisagem africana de tipos humanos especiais, com os seus costumes e os seus conflitos, que
são do próprio meio, surgidos de homem que se fixou neste lugar, compelido ou
voluntariamente.

Na era colonial, as ilhas de São Tomé e Príncipe criaram o lugar espácio-temporal para os
textos literários marcados pela socioeconómica do engenho, pelo confronto do senhor e servo
e, mais tarde, senhor e serviçal e também pela roça e pelo tráfico dos escravos. Além disso, a
obra O Menino entre Gigantes de Mário Domingos aborda o tema de uma vida marcada pela
diferença de cor onde o filho de pai branco e de mãe negra da ilha do Príncipe é separado dos
seus pais e levado para uma família lisboeta burguesa. Aqui, a ilha natal tem a função de lugar
do refúgio, do solo mátrio do qual tem saudades.

Em O Vale das Ilusões de Sum Marky, o lugar é concebido em analepse descrevendo a
sociedade santomense na era colonial nas suas relações com a comunidade branca. Esta obra
diferencia-se dos outros pelo espaço em que o elemento humano cede a sua importância ao
exótico acompanhado da linguagem própria do nativismo colonial.
7

Por conseguinte, (Mata,1993, p.90) assume a problematização dos autores do período colonial
de São Tomé dividindo a produção literária santomense em dois espaços principais com um
espaço intervalar:
 A poesia: literatura autenticamente são-tomense, produzida por são-tomenses, do
país São Tomé e Príncipe-colónia, expressão contestatária das condições de existência
dos são-tomenses de cuja civilização participam e se encontram identificados no
processo de consciencialização nacional. 
 A ficção: literatura expressando as condições existenciais dos portugueses em São
Tomé e Príncipe – “província de Portugal nas suas relações com a natureza e com a
massa humana. Espiritualmente ligada à literatura portuguesa e ideologicamente
ao Portugal-metrópole, desse espaço vai emergindo, contudo, “o sentimento
nativista”, com subjacência ideologicamente colonial, que gradualmente vai
configurando um processo de diferenciação, ainda que inconsciente, com o sistema
literário português entre si. 
 Literatura de intervalaridade de realização narrativa.

Estes dois espaços considerados simultâneos, não continuados, mostram as tendências


ideológicas coexistentes na sociedade santomense.

2.1.2. Período pós-colonial


Existe ainda uma terceira perspectiva ideológica pós-independentista. Trata-se de textos
publicados após a independência de São Tomé que, porém, descrevendo o período colonial
contêm os elementos da época posterior e, assim, insinuam os acontecimentos futuros,
(Hamilton, 1991, p.181).

Típicas para o período pós-independentista são obras como Tonga Sofia ou Milongo de


Sacramento Neto, Rosa do Riboque e Outros Contos de Albertino Bragança ou Sam Gentí de
Mano Barreto que na sua maioria abordam o tema do trabalho duro nas roças (Tonga
Sofia ou Milongo), da vida quotidiana de marginalidade do povo nativo urbano de Rosa do
Riboque (Bragança, 1997) do mundo rural no conto Solidariedade (Bragança, 1997) em (Sam
Gentí) (Barreto, 1985) reconstroem a imagem complexa das relações sociais e dos hábitos
regionais de uma comunidade, Solidão (Bragança, 1997) às vezes nefastamente supersticiosa
(Sam Gentí).
8

Esta temática literária provém dos antecessores, contudo, a narrativa dessa nova geração
contém certo esforço de reescrever o modo da vida rural e urbana. Como afirma Inocência
Mata: Essa reescrita constitui o núcleo da diferenciação ideológica e cultural e, em certa
medida, estética e literária, (Mata, 1993, p.19) 

2.2. Literatura Guinense e sua periodização


Muitos dos pesquisadores que escreveram sobre a Guiné-Bissau, tem considerado de tardio a
literatura guineense, pois, só depois da independência que começou-se a ver algumas
publicações, muitas dessas primeiras obras publicadas após as independências foram escritas
no período da colonial.

Para Margarido (1990, p.37), a literatura tardia guineense foi devido a política dos fascistas
portugueses que consideravam a Guiné uma colónia de exploração e não de povoamento. Por
isso, implementaram tardiamente a política do ensino na Guiné-Bissau; só em 1958 que
construíram o primeiro estabelecimento de ensino secundário, enquanto, em Cabo Verde foi
em 1860.

Até 1961 99,7% da população em excluídas no sistema do ensino. A imprensa também


chegou muito tardiamente à colónia, em 1879, enquanto nas outras colónias ela foi instalada
entre 1842 e 1857. A primeira editora pública, a Editora Nimbo, só apareceu depois da
independência em 1987.

Dentre as antigas colónias portuguesas, a Guiné-Bissau é o país onde a literatura mais


demorou a se desenvolver. Esse atraso aconteceu devido o fato de ser uma colónia de
exploração e não de povoamento, estando submetida ao governo-geral da colónia de Cabo
Verde por um bom tempo.

2.2.1. Periodização da Literatura Guinense


De acordo com Chabal (1996), a Guiné Bissau apresenta quatro diferentes fases de sua
literatura: uma primeira fase anterior a 1945, uma segunda entre 1945 e 1970, uma outra entre
1970 e o fim dos anos 1980 e finalmente a fase iniciada na década de 1990.
9

Para analisá-las é importante saber que a Guiné-Bissau é um país que foi colónia de Portugal
desde o século XV e se tornou independente em 1973, sendo a primeira colónia portuguesa a
conseguir independência.

 Fase anterior a 1945


Durante esse período Cónego Marcelino Marques de Barros teve destaque, o que ele escrevia
era caracterizado por uma abordagem paternalista e próxima do discurso colonial. Fase entre
1945 e 1970.

Na perspectiva de Ferreira (1977), nesse período surgem os primeiros poetas guineenses,


dentre os mais conhecidos estão Vasco Cabral e António Baticã Ferreira. A literatura desse
período é caracterizada pela poesia de combate, que criticava a miséria, o domínio e a péssima
qualidade de vida que ele gerava e a luta pela independência.

 Fase entre 1970 e fim dos anos 1980


Alguns dos poetas mais marcantes desse período foram Agnelo Regalla, António Soares
Lopes (Tony Tcheca), em suas obras eles apresentavam um carácter mais social. Margarido
(1980, p.133), salienta que com a independência em 1973, a literatura da época começou a
abordar temas como a construção de uma nação e a luta por um futuro melhor.

 A partir da década de 1990


Para o mesmo autor, alguns dos poetas mais marcantes desse período foram Agnelo Regala,
António Soares Lopes (Tony Tcheca), em suas obras eles apresentavam um carácter mais
social. Com a independência em 1973, a literatura da época começou a abordar temas como a
construção de uma nação e a luta por um futuro melhor.

Depois desses quatro períodos da poesia, em 1993 a prosa começou a ser desenvolvida por
Domingas Sami. A literatura actual da Guiné-Bissau aborda constantemente os mesmos
temas, ela retracta as desilusões, os medos e os desejos da população perante a situação
política, social e económica presente no país.
10

Conclusão

A literatura santomense como um sistema autónomo liga-se à obra poética de Marcelo Veiga,
na medida em que recupera a memória colectiva, e sobretudo à obra de Francisco José
Tenreiro, preocupado substancialmente pela questão da identidade pessoal (enquanto mestiço)
e colectiva.

Sobre a literatura guinense, percebemos que é considerada tardia, pois, só depois da


independência que começou-se a ver algumas publicações, muitas dessas primeiras obras
publicadas após as independências foram escritas no período da colonial.
11

Referências Bibliográficas
Chabal, P. (1996). A literatura pós-colonial da Africa lusófona. Londres, Inglaterra: Hurst &
Co.

Ferreira, M. (1977). Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I. Lisboa, Portugal:


Bertrand.

Hamilton, R. (1991). Literatura Africana, literatura necessária. Lisboa, Portugal.

Júnior, R. Para uma Cultura africana de expressão portuguesa.

Margarido, A. (1980). Estudos sobre literaturas das nações africanas de lingua portuguesa.
Lisboa, Portugal: A regra do jogo.

Mata, I. (1993). Emergência e Existência de uma Literatura: o caso santomense. LindaA-


Velha: ALAC – África, Literatura, Arte e Cultura, Lda.

Neves, C. (1989). S. Tomé e Príncipe na Segunda Metade do Séc. XVIII. Lisboa, Portugal:
Secretaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração, Funchal, e Instituto de História de
Além-Mar.

Ribeiro, M. & Jorge, R. (2011). Literaturas insulares: leituras e escritas de Cabo verde e São
Tome e Principe. Porto, Portugal: Afrontamento.

Trigo, S. (1977). Introdução à literatura Angolana de Expressão Portuguesa. Col. Literaturas


Africanas. Porto, Portugal: Brasília Editora,.

Você também pode gostar