Você está na página 1de 10

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

CENTRO DE ENSINO A DISTÂNCIA

Causas e Consequências da Corrupção nas Instituições Públicas Moçambicanas, Hoje

Nome de Estudante:
Emma Umali de Sousa.
Código de Estudante: 708204814

Curso: Licenciatura em Ensino de Português


Disciplina: Ética e Deontologia Profissional.
Ano de Frequência: 4º Ano
Tutor: Dr. Eduardo Mouzinho Suana.

Chimoio, Abril de 2023


Índice
1. Introdução ..................................................................................................................... 3
1.1. Objectivos .................................................................................................................. 3
1.1.1. Objectivo Geral....................................................................................................... 3
1.1.2. Objectivos Específicos ........................................................................................... 3
1.2. Metodologia ............................................................................................................... 3
2. Corrupção ..................................................................................................................... 4
2.1. A corrupção nas instituições públicas moçambicanas ............................................... 5
2.1.1. A corrupção no sector da educação ........................................................................ 6
2.1.2. Causas da Corrupção .............................................................................................. 6
2.1.3. Consequências da corrupção no Sector da Educação ............................................. 7
Conclusão ......................................................................................................................... 9
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 10
3

1. Introdução
Por ser corrupção um fenómeno complexo é útil para sua investigação verificar antes de
mais nada as vertentes de pensamento já desenvolvidas para o estudo do problema através de
uma análise mais detida das várias posições existentes. As abordagens para análise da questão
são diferenciadas no tocante às causas consequências e funções da corrupção no contexto das
instituições públicas moçambicanas assim como às propostas de solução para o problema.

O desenvolvimento do trabalho será abordado em duas partes. A primeira tratará das


explicações ou seja, o conceito do fenómeno da corrupção e seus efeitos. A segunda abordará
as causas e consequências desse problema que abrange quase todo mundo, acrescentando ao
final breves conclusões a respeito.

1.1.Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
 Discutir sobre a corrupção em Moçambique.

1.1.2. Objectivos Específicos


 Apresentar as causas da corrupção nas instituições públicas em Moçambique;
 Descrever as consequências da corrupção nas instituições públicas moçambicanas;
 Propor como prevenir a corrupção nas instituições públicas moçambicanas.

1.2. Metodologia
O método bibliográfico, para Fonseca (2002), é realizada:
[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por
meios escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer
trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador
conhecer o que já se estudou sobre o assunto (p.32).
4

2. Corrupção
Corrupção é definida usualmente como o abuso do poder público com o objectivo de
ganhos privados.

Tomás (2012) vê a corrupção como um resultado, isto é, a corrupção neste caso seria
uma resposta a quaisquer regras benéficas, prejudiciais ou então quando o monitoramento das
regras é incompleto. Por seu turno, Homerin (2005) olha para a corrupção como um sistema
tendo, com isso, desenvolvido uma fórmula para o seu melhor entendimento: C=M+D-A.
Onde: C = Corrupção; M =Monopólio; D =Discricionariedade; A = Accountability.

Na explicação de Klitgaard, podem-se encontrar práticas de corrupção quando uma


organização ou uma pessoa tem o monopólio de poder sobre um bem ou determinados
serviços, tem igualmente a discricionariedade de decidir sobre eles, mas não pesa sobre ela
nenhuma regra ou prática de accountability, ou seja, não tem a obrigação de prestar contas.
Esta situação abre espaço para a ocorrência de práticas de corrupção, facto que poderia ser
reduzido caso houvesse um controlo do monopólio, da discricionariedade e aumento da
transparência ou prestação de contas.

Alguns autores são da opinião que as actividades governamentais podem criar um


campo fértil para a corrupção. É nesta perspectiva que Rose-Ackerman (1999) refere que a
corrupção é sintoma de que alguma coisa está errada na administração do Estado, isto é, as
instituições desenhadas para governar as relações entre os cidadãos e o Estado estariam sendo
utilizadas para buscar o enriquecimento pessoal por meio dos benefícios do suborno. Na
mesma linha de pensamento Filgueiras (2006: p.9) enfatiza que a corrupção é um problema da
configuração institucional que vai favorecer a constituição de esquemas destinados a pilhar os
recursos públicos a favor de interesses privados.

Para Pasquino (2000) citado por Sacramento (2010) corrupção é fenómeno pelo qual
um funcionário público é levado a agir de modo discordante dos padrões normativos do
sistema, beneficiando interesses particulares em troca de recompensa. A corrupção é,
portanto, para este autor, o comportamento ilegal de quem desempenha um papel na estrutura
do Estado.
5

2.1. A corrupção nas instituições públicas moçambicanas


Nos últimos anos, e sobretudo desde a viragem para a democracia, Moçambique tem
aumentado a sua reputação por causa da corrupção que percorre todos os sectores da
sociedade e pelo facto de que, apesar de ser uma realidade dramática, os doadores não terem
ainda endurecido a sua linguagem visando uma maior pressão sobre governantes. A percepção
geral sobre os altos índices de corrupção em Moçambique foi já reportada em diversas
abordagens.

De acordo com Palha et al (2011) no anterior regime autoritário, a corrupção não era
tolerada e a liderança política era vigorosa na punição dos que abusavam do bem público,
possibilitando também altos níveis morais de condenação, mesmo apesar dos fracos salários
na função pública e uma carência generalizada de bens de consumo de primeira necessidade.
Mas a democratização e liberalização não foram acompanhadas de um redesenho institucional
efectivo de modo a se acautelar o desenvolvimento da corrupção.

É importante destacar que quando falamos em redesenho institucional, referimo-nos à


introdução e aplicação prática de instituições que poderiam contribuir para a implantação da
transparência num quadro político diferente, como sejam as instituições de accountability.

Alguns estudos recentes dão pistas sobre a incidência da corrupção em Moçambique.


Por exemplo, a corrupção foi identificada como o maior obstáculo ao desenvolvimento
económico
nas províncias de Inhambane, Zambézia, Nampula, Sofala e Maputo.

Em 2003, o relatório sobre competitividade em África do Fórum Económico Mundial


colocava Moçambique no 19º lugar em 21 países no que concerne a pagamentos irregulares
nas importações e importações, no 17º de 21 no favorecimento a altos funcionários
governamentais por causa das suas decisões e em 17º de 21 no que dizia respeito a falta de
independência do sector judiciário.

De acordo com (Scanteam, 2017), um estudo recente à gestão das finanças públicas em
Moçambique chegou, entre outras, à conclusão de que Moçambique permanece um país onde
um único partido domina as relações de clientela dentro do Estado e o accountability parece
ser mais forte dentro do partido que no sector público (Scanteam, Analysts and Advisers,
2016, Public Management Assessment: Mozambique Final Report Oslo, Setembro 2017.)
6

Este estudo refere que as regras de procurement, muitas delas não são cumpridas e,
quando cumpridas, sem nenhum controlo. “Há rumores de um abuso de larga escala no
procurement público. (…) Por outro lado, os relatórios de auditoria da Inspecção-geral de
Finanças não são tornados públicos, o que retira a sua força”. O estudo sugere ainda que a
recém-criada Unidade Contra a Corrupção afecta ao Gabinete do Procurador-geral da
República “não está equipada para lidar com a gama de incidentes reportados de corrupção e
crime económico”.

Uma outra avaliação mostra que um dos grandes problemas de Moçambique é a


conciliação de conflitos de interesses, incluindo no acesso à terra (Hamilton et al, 2002,
Assessment of Corruption and Red Tape as Barriers to Trade and Investment in
Moçambique). Alguns destes estudos colocam ênfase na pequena corrupção, designadamente
na corrupção de funcionários do sector público.

2.1.1. A corrupção no sector da educação


A corrupção no sector da educação em Moçambique manifesta-se pela venda de vagas
no início do ano lectivo devido a escassez de vagas que se tem verificado nas escolas num
contexto em que a demanda às escolas públicas tende a elevar-se de alguns anos para cá.

Também manifesta-se pelo suborno pago pelos pais e encarregados de educação e


alunos ao professor para obtenção de passagens, havendo também situações em que é o
próprio professor que cria situações para que o mesmo seja pago pelos alunos ou então
exigindo favores sexuais as alunas (extorsão sexual) em troca de passagens.

2.1.2. Causas da Corrupção


A corrupção surge como explicação da decadência da confiança, lealdade e
consideração entre cidadãos de um Estado.

Em outras palavras pode se dizer que a maior parte dos actos corruptos requer escolha
moral do indivíduo e depende do nível de sua avareza e maldade. Entretanto, a corrupção do
Estado resulta das consequências da natureza humana individual interagindo com sistemáticas
e permanentes desigualdades em riqueza, poder e status.

Filgueiras (2006) faz sérias perguntas ao reflectir sobre as causas da corrupção


observando que enquanto alguns indivíduos dão o passo para o comportamento corrupto
7

outros parecem ter uma adequada resistência que previne tal passo. A principal questão
colocada é: que tipo de indivíduo em que circunstâncias realmente dá esse passo? A resposta
aponta para o indivíduo bem-sucedido financeiramente e o bom colega que gradualmente se
torna corrupto sob pressão de seu grupo. A relação com a chefia vai-se tornando fraca e com
os clientes. forte. A corrupção como forma de comportamento de grupo passa a ser mais
difícil de detectar que a individual.

Acontece com frequência, em países em desenvolvimento, a administração burocrática


enfatizar a soberania de políticos em vez da supremacia da administração. A presença da
corrupção política é largamente responsável pela corrupção administrativa, que é a utilização
de posições oficiais para ganhos privados (Ética Moçambique, 2001). As razões que levam a
corrupção a proliferar em países em desenvolvimento, para esse autor, são:
i. Ausência de uma ética do trabalho no serviço público, falta de comprometimento e
responsabilidade, ocorrendo desrespeito a regras e regulamentos;
ii. Pobreza e desigualdade, forçando indivíduos a tolerarem ou até a se envolverem com
acções corruptas;
iii. Liderança e disciplina ineficientes por parte dos políticos, pela fraca noção do que seja
o interesse nacional;
iv. Expansão do papel do Estado e da burocracia, com crescimento do poder
discricionário do funcionário, o que possibilita abusos;
v. Atitudes culturais e padrões de comportamento que privilegiam as orientações
tradicionais ao invés das modernas;
vi. A existência de uma opinião pública fraca e apática, que não funciona como uma
contra força.

2.1.3. Consequências da corrupção no Sector da Educação


As consequências da corrupção no Sector da Educação são múltiplas. Ela pode criar um
“mau entendimento” no seio de Pais, Encarregados de Educação e alunos principalmente
quando se tratam daquelas famílias que são pobres e muitas das vezes não estão em condições
de fazer face a constantes taxas subornos. O mau entendimento é no sentido de que estudar
“não é para quem quer, mas sim para quem pode1”. Este cenário tem levado a constante

1
Celeste Cuambe, mãe e encarregada de educação, entrevistada no dia 6 de Agosto de 2021.
8

desistência por parte dos alunos, até mesmo há situações em que estás desistências são
influenciadas maioritariamente pelos próprios pais e encarregados de educação.

O entendimento que se pode dar a está atitude de alguns Pais e Encarregados de


Educação é de que estes são, na maioria dos casos, de renda muito baixa, outros podem até ser
desempregados vivendo de pequenas actividades. Estes para além de encontrarem
dificuldades em custear os seus filhos na compra de material escolar, uniforme, sentem-se
ainda muito mais ofuscados quando vêem seus filhos na situação de reprovação, sendo que a
única forma de contornar a situação é mediante o pagamento que o professor exige.

Um outro problema ligado a corrupção no sector da educação é o “factor qualidade”.


Como bem sabemos se há alguns Pais, Encarregados de Educação e alunos que encontram
dificuldades em fazer face ao suborno, com os outros não acontece o mesmo provavelmente
porque estes se encontram numa situação de vantagem superior a dos outros (renda alta, etc.).
Ao que tudo indica é que quando há uma certeza por parte dos alunos de que os mesmos
podem obter aprovação mediante um pagamento, a ociosidade toma conta dos mesmos, pouco
e quase nada fazem para assimilar as matérias leccionadas pelo professor.

Um outro ponto associado ao factor qualidade é obra do próprio professor. Este


querendo tirar proveito dos alunos não lecciona da melhor forma possível e opta por elaborar
testes difíceis2 para que no fim do semestre ou do ano os alunos se vejam obrigados a procurá-
lo de modo a não reprovarem de classe.

Os pontos acima retro mencionados tem consequências negativas em termos de


qualidade, o que é de facto importante para o sector da educação. Há alunos que passam
maior parte do ensino médio a obter passagens automáticas de classe mediante pagamentos,
estes, por sua vez, quando ingressam no ensino superior apresentam sérias dificuldades e
alguns dos quais acabam desistindo. Para os que mesmo com dificuldades persistem até o
final do curso, ainda que já sejam formados não costumam ser profissionais de qualidade o
que tem implicações negativas em termos de desempenho e de contribuição no sector onde
estiverem empregues.

2
Como forma de dificultar os alunos os professores podem incluir na avaliação matérias nunca antes leccionadas
pelo mesmo. Ver (Mosse & Cortez , 2006).
9

Conclusão
Concluindo, podemos dizer que a transparência, integridade, regras de conflito de
interesse, etc., são instituições carentes em Moçambique. Clientelismo, nepotismo,
favorecimentos, tráficos de influência são instituições enraizadas. A corrupção tem muito
espaço para desenvolver-se. Por exemplo, no caso das declarações dos bens, o indicador de
transparência não é o simples depósito das declarações num dado tribunal e o acesso
restringido a um pequeno grupo de pessoas: é o acesso da opinião pública. No caso da gestão
dos fundos públicos (ex. relatórios orçamentais, balanços financeiros anuais, créditos do
tesouro) um indicador de transparência é o acesso do público a essa informação. A
transparência vai depender de se a informação é publicada no devido tempo, se ela pode ser
acessível ao público. Numa economia de mercado, o acesso a crédito do tesouro implicaria
um concurso público.

Entretanto, um dos grandes problemas de Moçambique no que concerne à luta contra a


corrupção não é necessariamente a ausência de leis. Como já notamos, existem leis. E, nos
últimos tempos, o Governo deu, com o apoio dos doadores, passos firmes estabelecendo uma
Unidade Anti- Corrupção junto da Procuradoria-geral da República, melhorando o sistema de
gestão das finanças públicas com a aprovação do SISTAFI. A Assembleia da República (AR)
aprovou uma Lei Anti-Corrupção e está em curso a revisão da lei que regula o procurement
público.
10

Referências Bibliográficas
Filgueiras, F (2006). A Corrupção na Política: Perspectivas teóricas e metodológicas. Juiz de
Fora, Maio.

Fonseca, J. (2002). Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza, Brasil: UEC.

Hamilton, et al (2002). Assessment of Corruption and Red Tape as Barriers to Trade and
Investment in Mozambique. USAID.

Homerin, J. (2005). Organizações da Sociedade Civil em Moçambique: Actores em


Movimento. Maputo, Moçambique: Ambassade de France au Mozambique, Service de
Cooperation et d’action Culturelle.

Mosse, M,. & Cortez, E. (2006). A Pequena Corrupção no Sector da Educação em


Moçambique. Maputo, Moçambique: Centro de Integridade Pública.

Palha et al, (2004). The Shallow Water Srimp at Sofala Bank in Mozambique. Instituto
Nacional de Investigação Pesqueira. Maputo, Moçambique.

Rose-Ackerman, S. (1978). Corruption: A study in political economy. New York: Academic


Press.

Sacramento, A. (2010). Organizações da Sociedade Civil que Actuam no Combate à


Corrupção no Brasil: uma possível caracterização. São Paulo, Brasil: ANPAD.

Scanteam (2017). Estudo de Apoio à Unidade Anti-Corrupção, Procuradoria-geral da


República de Moçambique. Oslo.

Tomás, F. (2012). A Estratégia Anti-Corrupção e o Combate à Corrupção no Aparelho do


Estado em Moçambique: o caso do distrito municipal de Kampfumo (2006-2010).
Maputo, Moçambique: Instituto Superior de Administração Pública. Mestrado
profissional em Administração Pública.

Você também pode gostar