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Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância

CENTRO DE RECURSO XAI - XAI

1º ano 2020
1. O Estudante:

Nome: Henrique Michaque Mathe

Curso: Administração Pública Código do Estudante: 31200347


Ano de Frequência: 1ͦ/ 2020

2. O trabalho
Trabalho de: Ciências Politicas Código da Disciplina:

Tutor: Nº de Páginas: 13
Data da Entrega:
Registo de
Recepçãopor:

3. A correcção:
Corrigidopor:
Cotação (0 – 20):

4. Feedback do Tutor:
TEMA:

ORGANIZAÇÃO DOS SISTEMAS ELEITORAIS E SEU IMPACTO NOS


PROCESSOS ELEITORAIS
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Índice
Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância.................................................................................1
1. Introdução................................................................................................................................................2
2. Objectivos................................................................................................................................................4
2.1. Objectivos gerais...................................................................................................................................4
2.2. Objectivos específicos...........................................................................................................................4
3. O Contexto Moçambicano........................................................................................................................4
3.1. Alicerces do Sistema Eleitoral em Moçambique...................................................................................6
3.1.1.Eleição da Assembleia da República...................................................................................................6
3.1.2.Eleição do Presidente da República.....................................................................................................6
4.Sistemas eleitorais, credibilidade e sustentabilidade.................................................................................7
4. O dilema do sistema eleitoral em Moçambique........................................................................................9
6.Os problemas da representação em Moçambique....................................................................................10
8.Conclusão................................................................................................................................................12
9.Referências bibliográficas.......................................................................................................................13

1. Introdução
Eleições constituem sim a base do conceito e prática das democracias liberais modernas. De
facto, eleições carregam um duplo significado: basicamente, servem como um instrumento para
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legitimar o regime político e oferecem o principal fórum tanto para a competição política como
para a participação política popular. Em ambos sentidos, eleições concorrem para assegurar
controlo popular sobre o governo – o que é visto como a principal característica principal do
sistema democrático representativo de governo (Beetham and Boyle, 1995).
Podemos notar que as democracias liberais modernas são basicamente sistemas políticos
representativos. Isto significa dizer que um governo democrático é legítimo na medida em que é
constituído através de alguma forma de escolha expressa pela maioria dos cidadãos. Nos variados
postulados teóricos, de Locke a Rousseau, de James Madison a Schumpeter, um governo
democrático é aquele que tem um mandato popular, obtido através de diversas e distintas formas
de aferir a vontade popular.
Como já foi mencionado, os sistemas eleitorais constituem os mecanismos através dos quais são
estabelecidos as normas e regras que determinam tanto como as preferências políticas são
exprimidas numa dada sociedade e como votos obtidos numa dada eleição são traduzidos em
assentos parlamentares ou posições governamentais. Em outras palavras, sistemas eleitorais tanto
influenciam o comportamento político do cidadão como os resultados eleitorais. Além disso,
sistemas eleitorais definem tanto o grau de representação política como o carácter do sistema de
partidos (IDEA, 1997).
Estas são razões suficientes porque é importante refletir como os modelos eleitorais e a práticas
eleitorais influenciam o desenvolvimento do sistema democrático. Mais importante ainda,
particularmente para casos como Moçambique, que não somente está nas fases iniciais da sua
democratização como está emergindo de uma guerra prolongada e devastadora. Na discussão que
segue, pretendo abordar a questão da escolha do modelo eleitoral mostrando como tem refletido
duas discussões dicotómicas e distintas, nomeadamente, por um lado, a escolha entre
representatividade e governabilidade e, por outro lado, o possível ou desejável equilíbrio entre
competição política e participação política popular.

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2. Objectivos

2.1. Objectivos gerais


 Saber como funciona o Sistema eleitoral de um país e o seu impacto nos processos
eleitorais, no caso de Moçambique.

2.2. Objectivos específicos


 Funções e implicações de um sistema eleitoral
 Conhecer o sistema eleitoral moçambicano
 Conhecer as implicações do sistema eleitoral

3. O Contexto Moçambicano
Moçambique é um país de cerca de 18 milhões de habitantes, de acordo com o Censo
Populacional de 1997. O Censo Eleitoral de 1999 registou um universo eleitoral de cerca de 8
milhões de eleitorais em todo o país. A divisão administrativa do país estabelece 10 províncias e
a Cidade (capital) de Maputo, que tem estatuto de província. Estas 11 províncias constituem os
círculos eleitorais nas eleições gerais.
Desde a independência a 25 de Junho de 1975, Moçambique conheceu várias alterações
constitucionais. No entanto, a mais profunda foi sem dúvida a Constituição de 1990 que
consagrou o princípio da liberdade de associação e organização política dos cidadãos no quadro
de um sistema multipartidário, o princípio da separação dos poderes legislativo, executivo e
judiciário, e a realização de eleições livres, que assegurou campo para a conclusão do Acordo
Geral de Paz de 1992. A assinatura do AGP em Roma a 4 de Outubro de 1992 pôs fim à guerra
devastadora que opôs o governo da Frelimo à Renamo durante cerca de 16 anos.
Portanto, a Constituição de 1990 torna possível a recomposição do campo político em
Moçambique. Mas embora a Constituição tenha introduzido o fundamento legal de um sistema
multipartidário em Moçambique em 1990, foi apenas praticamente dois anos depois, com a
assinatura do acordo de paz em Roma em Outubro de 1992, que as perspectivas se abriram para
uma efetiva transformação do sistema político moçambicano. “Na realidade, era impossível a

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construção de um verdadeiro sistema multipartidário enquanto a Renamo – a principal força de


oposição – se mantivesse fora do processo, continuando a actuar militarmente para derrubar o
partido no poder.
Em Outubro de 1994 realizaram-se as primeiras eleições gerais e multipartidárias da história do
país, que elegeram, pela primeira vez em sufrágio directo, o Presidente da República e a
Assembleia da República – um parlamento unicameral composto por 250 deputados. Estas
eleições constituíram uma etapa decisiva no processo de transição democrática iniciado com a
adopção da Constituição de 1990.
Segundas eleições gerais tiveram lugar no período regulamentar, portanto em finais de 1999,
iniciando uma consolidação dos processos eleitorais nacionais no país.
Entretanto, em Junho de 1998, tiveram lugar as primeiras eleições autárquicas que, seguindo a
legislação adoptada, circunscreveram-se a apenas 33 cidades e vilas.
Antes de me debruçar sobre estes processos eleitorais, importa ainda algumas outras
considerações, ainda que breves e bastantes genéricas, sobre o país de que tratamos. O contexto
em que se desenvolve o processo de implantação e consolidação da democracia multipartidária é
de profunda crise da sociedade moçambicana.

A eleição é “um dispositivo para preencher um cargo ou posto através de


escolhas feitas por um corpo designado de pessoas: o eleitorado” (Heywood 2002, 422). “No
fundo, as eleições são o mecanismo através do qual o povo soberano legitima o exercício do
poder legislativo, e – direta – ou indiretamente – do poder executivo para um tempo
determinado” (Universidade Católica de Angola, Faculdade de Direito 2002). Portanto, pode se
perceber nestas duas definições que as eleições constituem mecanismos de delegação do poder,
delegação essa, que é o ato pelo qual “uma pessoa dá poder, como se diz, a outra pessoa, a
transferência de poder pela qual um mandante autoriza um mandatário a assinar em seu lugar, a
agir em seu lugar, a falar em seu lugar, pela qual lhe dá uma procuração […]” (Bourdieu 1987,
185).

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3.1. Alicerces do Sistema Eleitoral em Moçambique


O sistema eleitoral moçambicano, tem como sustentáculo  o Acordo Geral de Paz de 1992. Este,
sobretudo o protocolo III, traça os princípios que norteiam o processo eleitoral. O protocolo
advogava que a lei eleitoral estabelecerá um sistema eleitoral que consagra os princípios de voto
direto, igual, secreto e pessoal; as eleições da Assembleia da República e do Presidente da
República serão realizados concomitantemente, onde as primeiras eleições teriam lugar em 1993.
Segundo Brito et al. (2010, 23), “as comissões mistas previstas naquele texto foram formadas
tardiamente, trabalharam com dificuldades, e as eleições previstas para o ano seguinte (1993) só
viriam a acontecer um ano depois, em Outubro de 1994”.

O direito a voto ficou reservado aos cidadãos moçambicanos maiores de 18 anos excepto os
incapacitados mentalmente ou dementes, bem como os detidos e condenados à prisão por crimes
dolosos. Este direito ficou condicionado à inscrição nas listas eleitorais.

3.1.1.Eleição da Assembleia da República


No que concerne à eleição da Assembleia da República, o protocolo III do AGP, assiste que as
províncias do país constituirão os círculos eleitorais, cabendo à Comissão Nacional de Eleições
decidir o número de assentos de cada círculo com base na densidade populacional de cada
província; para a eleição da Assembleia, a lei eleitoral estabeleceu um sistema eleitoral
proporcional; são elegíveis a Assembleia os cidadãos maiores de 18 anos. As partes acordaram
que seria estabelecida uma percentagem (não inferior a 5% ou superior a 20%) mínima dos votos
expressos à escala nacional sem a qual os partidos concorrentes não poderiam ter assentos na
Assembleia. Brito sustenta que “a proposta de estabelecer a barreira ao nível de 20% foi da
Renamo, em total contradição com o espírito do sistema de representação proporcional, ele
próprio adotado em Roma sob proposta da Renamo” (Brito et al. 2010, 23), foi acordado também
que os representantes dos partidos em cada círculo eleitoral serão eleitos em conformidade com a
ordem da sua apresentação nas listas.    

3.1.2.Eleição do Presidente da República 


Segundo o protocolo III do AGP, o presidente da República é eleito por maioria absoluta dos
votos expressos, se nenhum candidato obtiver a maioria absoluta, proceder-se-á a um segundo
escrutínio entre os dois candidatos mais votados no prazo entre uma a duas semanas após a
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divulgação dos resultados; serão elegíveis a Presidente da República os cidadão eleitores, maiores
de 35 anos. As candidaturas para Presidente da República devem ser apoiadas por um mínimo de
10000 assinaturas de cidadãos moçambicanos maiores de 18 anos com capacidade eleitoral ativa.
De salientar que a Constituição de  1990 previa um apoio de 5000 eleitores.   

As diferentes apresentações focaram-se nas questões de sustentabilidade de outros elementos no


sistema político que estão relacionadas com o processo eleitoral, ou que poderia trazer
implicações diretas quanto à realização de eleições. Primeiro, existe o papel da opinião pública
como o «fórum do pensamento do público» e esta é um fator crucial no estabelecimento e
sucesso de uma democracia genuína. Isto está intimamente relacionado com o papel dos partidos
políticos como mecanismos de representação popular, através da sua articulação de interesses e
valores entre os diferentes setores da sociedade. Um terceiro elemento centra-se no papel e na
natureza do sistema eleitoral como um conjunto de regras de jogo, para a tradução de votos em
assentos e em posições de poder. Os principais componentes deste sistema são: a fórmula de
representação (regra da maioria, representação proporcional, ou mista), o tipo e a amplitude das
circunscrições eleitorais; limiares de representação, tipos de votação.

4.Sistemas eleitorais, credibilidade e sustentabilidade


As escolhas feitas no que diz respeito a alguns elementos básicos do sistema eleitoral poderão ser
cruciais para se alcançar e manter a sua credibilidade e, assim, a sua sustentabilidade a longo
prazo. Esses elementos incluem, entre outros, a fórmula eleitoral de representação, os critérios de
elegibilidade e o modelo de administração eleitoral.
Os componentes essenciais de um sistema eleitoral são, em primeiro lugar, definidos em termos
do tipo das suas instituições de representação — sistema parlamentar ou presidencialista de
governo, número de deputados e tamanho das Assembleias Legislativas, câmaras municipais, etc.
— bem como da fórmula de representação, que se refere a como os votos são traduzidos em
assentos e posições de poder em geral (por exemplo, a regra da maioria, a representação
proporcional ou um misto de ambas). Igualmente importantes são: o tipo de distrito (prefigurado
por limites administrativos ou decidido por comissões de delimitação de circunscrições); a
estrutura da votação (candidato individual, listas fechadas ou abertas); e o tamanho da

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circunscrição — pequena (menos de cinco assentos), média (a partir de cinco a dez assentos), ou
grande (mais de dez assentos).
Na medida em que os sistemas eleitorais respondem e influenciam a questão central da
representação, constituem um fator importante na obtenção e manutenção, ao longo do tempo, da
credibilidade das instituições e das práticas eleitorais. A escolha de um sistema eleitoral, que está
entre as mais importantes decisões para um sistema de governo, deverá ser vista não tanto como
uma decisão técnica, mas como uma decisão eminentemente política.
O impacto da escolha dos sistemas eleitorais na sustentabilidade de todo o sistema político é
enorme, uma vez que afeta a sustentabilidade política em geral e também a sustentabilidade
institucional, operacional e financeira do processo eleitoral. A escolha determina muitas vezes de
que modo os resultados são traduzidos em assentos e em posições de poder (quem é eleito) e de
que modo se consegue a representação (intimamente ligada às questões das circunscrições
eleitorais). O impacto é diferente em diferentes contextos e, assim sendo, existe uma necessidade
de especificar os objetivos que o sistema deverá alcançar. Garantir uma representação «justa» é
um princípio fundamental na conceção do sistema eleitoral mais adequado (e sustentável). No
entanto, nem sempre é fácil ou simples definir o que é «justo».

Quando fazemos uma referência ao objetivo de longo prazo do sistema eleitoral, referimo-nos
normalmente à sustentabilidade política: como promover o desenvolvimento das instituições
políticas fortes e estáveis, capazes de responder às novas realidades. No entanto, os objetivos de
curto prazo de proveito político imediato também precisam de ser levados em conta. O acordo
sobre os objetivos a serem alcançados pelo sistema é fundamental, mas este pode variar segundo
as diferentes partes interessadas e ao longo do tempo.
A escolha de sistemas eleitorais não é feita num vácuo — daí a importância do processo de
escolha de um sistema eleitoral. Para que o sistema seja sustentável, a escolha necessita ser
amplamente negociada com todos os intervenientes políticos e deverá responder às preocupações
de todos os intervenientes. A sustentabilidade torna-se difícil, se todos esses problemas não forem
abordados, ou se as partes interessadas pensarem não ter sido devidamente consultadas.
A questão da inclusão é assim vital para a sustentabilidade de qualquer sistema, especialmente a
representação dos diferentes grupos da população (por exemplo, mulheres e minorias). O objetivo

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de garantir a representação substancial de vários grupos deverá ser uma parte explícita e
integrante do processo.
A escolha de um sistema eleitoral também tem repercussões administrativas e operacionais
importantes, no seu núcleo e componentes secundários, que podem ter um impacto no que
respeita à sustentabilidade do sistema. Questões essenciais, como a delimitação de circunscrições,
o recenseamento eleitoral, se existe votação no estrangeiro (VE), resolução de disputas eleitorais
e modalidades de votação e de contagem são, na sua totalidade, influenciadas pela escolha do
sistema eleitoral.
Cada uma dessas componentes ajuda a desenvolver a sustentabilidade institucional, operacional e
financeira do sistema.

4. O dilema do sistema eleitoral em Moçambique


Segundo Nuvunga, durante as negociações de Roma, a RENAMO, rejeitou a proposta da
FRELIMO dum sistema eleitoral maioritário para a eleição da Assembleia em favor do sistema
proporcional “aparentemente porque a estratégia do movimento rebelde nas negociações de
Roma era de rejeitar tudo o que fosse proposto pelo governo da Frelimo” Nuvunga (2007, 59).
Um dos defeitos deste tipo de sistema é a questão de não garantir a prestação de contas dos
deputados aos cidadãos dado que a eleição dos deputados não é feita nominalmente, mas, através
de listas partidárias fechadas. É nesta linha de ideia que Brito citou um cidadão de Ancuabe,
Cabo Delgado “Até hoje, não conhecemos esses que elegemos!” (Brito et al 2010).

Nas três primeiras eleições gerais (1992; 1999 e 2004) prevaleceu a barreira dos 5% para a
eleição de deputados na Assembleia da República que para Nuvunga (2007:59), “a utilização
deste tipo de barreira tem como objetivo evitar a entrada no parlamento de partidos com pequena
representatividade e facilitar a formação de maiorias parlamentares”. Uma das grandes críticas
ancora no método de d’Hond que é usado para a conversão de votos em assentos e que por si só é
excludente. Brito (2005) apud (Nuvunga 2007, 60) mostrou que usando o método do “Quociente
Tradicional e Maiores Restos” haveria mais dispersão do poder na Assembleia da República o
que significa que alguns assentos passariam para alguns partidos “pequenos”.

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Segundo Nuvunga et al  (2008, 40), uma das lacunas no sistema eleitoral moçambicano no
apuramento eleitoral, tem a ver com o facto de a lei eleitoral não prever a recontagem de votos
em caso de perda e/ou dúvidas sobre a originalidade dos editais;

A lei eleitoral moçambicana não assenta numa base estratégica, ficando vulnerável à alterações
circunstanciais na base de interesses dos dois “grandes partidos” e nas constatações de cada
eleição. Outro aspeto não menos importante relaciona-se com a composição da Comissão
Nacional de Eleições que tende cada vez mais a partidarizar-se comprometendo a
profissionalização da mesma. Um outro dilema relaciona-se com os círculos eleitorais que são
muito grandes as vezes com uma densidade populacional muito baixa. Exemplo de Niassa.

6.Os problemas da representação em Moçambique 


A representação é um assunto problemático, visto que os políticos têm variados interesses e
propósitos, assim como próprios valores o que faz com que em alguns casos eles tomem decisões
que os cidadãos não conseguem enxergar ou monitorar. O caso concreto de grandes
investimentos tais como a ponte Maputo – Catembe, onde a esmagadora população é apenas um
assistente passivo, alias as dívidas secretas para a consumação da EMATUM, Pro-Índicus e
MAM, constituem apenas alguns exemplos de empreendimentos que o mandante (povo) não tem
sequer informação, é nesta lógica que Bourdieu questiona “se é verdade que delegar é
encarregar alguém de uma função, de uma missão, transmitindo-lhe o próprio poder que se
tem, deve-se perguntar como é possível que o mandatário possa ter poder sobre quem lhe
dá poder (Bourdieu 1987, 185).

Outro elemento não menos importante é que o voto é dirigido ao partido e não ao deputado,
portanto, o sistema de listas fechadas para a escolha dos deputados, deixa o eleitor sem poderes
de exigir o deputado o que prometeu durante a campanha eleitoral. Uma vez o concorrente eleito
tenta no máximo satisfazer as exigências do partido para garantir uma melhor posição na lista nas
eleições vindouras. Portanto, cumpre-se mais ao partido do que ao eleitor, sendo este apenas
relembrado nas vésperas das novas eleições.

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8.Conclusão
As considerações feitas até aqui mostram claramente que não existe um sistema eleitoral ideal a
ser aplicado universalmente, em qualquer local e a qualquer momento. O sistema ideal deve ser
elaborado de acordo com as condições específicas de cada país, atendendo ao seu contexto
histórico, social e político.
Sendo assim, há que determinar as funções prioritárias para cada país. Tal como já foi afirmado
anteriormente, nenhum sistema eleitoral cumpre todas as funções simultâneamente.
Que funções devem ser destacadas? Quais podem ser neglenciadas? Nos casos onde houver
grupos politico-culturais diversos ou relações inter-étnicas conflituosas, será essencial haver uma
justa representação. Países com um passado de fraude eleitoral devem destacar a transparência.
Outros que passaram por problemas de instabilidade governamental devem promover a eficiência
e a concentração.
Porém, devemos ter sempre presente que o sistema eleitoral é apenas um dos vários fatores que
influenciam o sistema partidário e o processo político em geral. Vários exemplos mostrados na
minha apresentação apoiam esta opinião.
Tal como Robert A. Dahl (1989, 1996, 1998) observa, o que influência sobremaneira a política de
um dado país são os fatores e atores circunstanciais, tais como líderes políticos, as forças
armadas, grupos rebeldes armados, o estado das relações inter-étnicas bem como o nível e a
dinâmica do desenvolvimento socio-económico e por vezes, fatores externos.
Sendo assim, seria pura ilusão achar que um sistema eleitoral perfeito - mesmo se elaborado com
base nas condições específicas do país - pode garantir estabilidade política, governos capazes ou
a consolidação da democracia. Não quero com isto dizer que os sistemas eleitorais não servem
para nada. Mas os seus efeitos são limitados e dependem do contexto, sendo no entanto
necessário ter cuidado com os seus possíveis efeitos.

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9.Referências bibliográficas

BRITO, Luís de, et al. 2010. “O sistema eleitoral: uma dimensão crítica da representação política
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In Moçambique: 10 Anos de Paz, by Brazão Mazula, Miguel de Brito, Obede Baloi, and
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NGOENHA, Severino Elias. 2004. Os tempos da filosofia: filosofia e democracia moçambicana.


Maputo: Imprensa Universitária – UEM.

———. 2013. Intercultura, alternativa à governação biopolítica? Maputo: UDM.

———. 2015. Terceira questão: que leitura se pode fazer das recentes eleições presidenciais e
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República de Moçambique. 1990. Constituição  da República.

———. 1992. Lei No 13/92, de 14 de Outubro, Que Aprova O Acordo Geral de Paz.

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