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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Ciencias Politicas e Relações Internacionais

Curso de Ciencias e Relações Internacionais

TEMA: Transições Democráticas e Consolidação Democrática

Discentes: Mónica Domingos Pondja

Rafael Da Conceição Inácio

Shadey Miraldo Ferreira

Sónia David Matsuane

Docente: Issufo Dias

Maputo, Junho 2022

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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Ciencias Politicas e Relações Internacionais

Curso de Ciencias e Relações Internacionais

TEMA: Transições Democráticas e Consolidação democrática em


Moçambique

Trabalho de caracter avaliativo da cadeira de Teoria de Estado e Direito, do


primeiro ano do curso de CPRI, lecionado pelo Dr. Issufo Dias.

Maputo, Junho 2022

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Índice

Introdução.............................................................................................................................................4
Objectivo geral:.....................................................................................................................................5
Objectivos específicos:..........................................................................................................................5
Metodologia..........................................................................................................................................5
Transições Democráticas.......................................................................................................................6
Transições Democráticas em Moçambique...........................................................................................8
Consolidação democrática em Moçambique.......................................................................................10
Conclusão............................................................................................................................................11
Referência bibliográfica.......................................................................................................................12

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Introdução
Nas últimas três décadas, a questão da transição para a democracia tem adquirido um
crescente interesse ao nível académico, tendo proliferado abordagens teóricas relativas a esta
temática.

Este crescente interesse pelas transições democráticas decorre da necessidade de


compreender o motivo pelo qual cerca de cinquenta países, nas diferentes regiões
geográficas, transitaram do autoritarismo para a democracia, desde os anos 70 até à
atualidade

A transição é uma espécie de etapa não permanente entre dois estados. Por exemplo, fala-se
de transição política para fazer referência às etapas sucessivas que se vivem num país durante
a mudança de um sistema por outro.

Pode-se fazer referência à transição para a democracia quando um regime militar chega ao
seu fim e começa a desenvolver-se a vida democrática. Neste tipo de transições, é hábito
conviverem, numa primeira etapa, elementos de ambos os regimes (pode haver eleições livres
embora se mantenham os juízes designados pela ditadura, entre outras situações semelhantes.

A consolidação não exige uma boa conjuntura econômica, outro fator destacado por muitos
consolidólogos que temem que uma forte degradação da situação econômica seja sancionada
pelos eleitores. Um tal medo provém sobretudo do fato de esses autores acreditarem,
infelizmente, na realidade do voto racional, na existência do eleitor-estrategista, e
imaginarem, então, que o estado da economia terá necessariamente uma tradução eleitoral
direta. Para eles, quanto mais a situação é rim, mais ela ameaça os dirigentes do novo regime

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e, através deles, a democracia (re)nascente. Denunciar a invalidez dessa concepção do
comportamento eleitoral ajuda a não prestar a esse fator uma importância exagerada.

Objectivo geral:
 Compreender o processo de transição e consolidação democrática em Moçambique.

Objectivos específicos:
 Descrever transição democrática segundo vários autores;
 Aprofundar os nossos conhecimentos a cerca do processo da transição e consolidação
democrática em Moçambique;

Metodologia
Esta parte do trabalho tem como objetivo descrever mecanismos pelos quais foram usados
para a elaboração do estudo. Neste sentido, para análise dos dados, fez-se uma combinação
das abordagens qualitativas que tem como propósito, através do material e informação
recolhida, analisar e interpretar as percepções que os partidos políticos têm sobre o papel e a
contribuição do OE no processo de consolidação democrática em Moçambique.

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Transições Democráticas
Entre os princípios dos anos de 1974 e 1990, caracterizados pelo fenômeno da “terceira
onda de democratização”, a democracia liberal viveu um dos seus momentos de
maior expansão, com o processo de transição do autoritarismo para a democracia dos
países do Sul e Leste da Europa, da América Latina e África.
Os estudos recentes de autores como Huntington (1994), Linz e Stepan (1999) e Przewoski
(1994) demonstram a influência das instituições e das elites sobre o processo de transição nos
sistemas multipartidários.
Esses autores exacerbam várias das ideias correntes de “regras de jogo democrático”,
como a noção de democracia como um método, em que os cargos de governo são
preenchidos através de eleições competitivas e livres, sufrágio inclusivo e o “direito” de
qualquer um candidatar-se a cargos eletivos no governo. Nesse caso, as transições
para a democracia são, portanto, jogos políticos estendidos a todos os cidadãos
adultos na formação das instituições representativas através de eleições periódicas e
competitivas.
Huntington (1994) aponta três formas distintas de transição democrática:
transformação do regime através de controle da liberalização pelo antigo regime
autoritário; substituição do regime autoritário pelo regime democrático e
transinstitucionalização a partir de negociação entre o governo e a oposição.
Nas sociedades que viveram a “terceira onda”, a transinstitucionalização adquiriuh
significado importante no contexto de sua interpretação de democratização. Segundo
Huntington (1994), uma transição consensual oferece melhores condições para a

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consolidação do novo regime, não importando de quem tenha sido a iniciativa. “As
negociações e a relação entre as elites políticas estiveram no cerne dos processos de
democratização. Portanto, não importa que a iniciativa para a democratização tenha
partido do governo, da oposição ou de ambos” (HUNTINGTON, 1994, p. 166).
Outros fatores adicionais, como a experiência democrática anterior que possibilita maximizar
as chances da transição; o ambiente internacional favorável para a democracia; a
minimização de violência através do consenso; a manutenção de uma estrutura institucional
recetiva à democratização e responsabilização dos líderes políticos servem para medir a
(in)viabilidade da democratização. Segundo Huntington (1994, p. 306-307), o
desenvolvimento econômico foi a causa que viabilizou essas mudanças demo- cráticas. Nas
suas palavras, “os obstáculos ao desenvolvimento econômico são obstáculos para o sucesso
de transição e expansão democrática”.

Para O’Donnell, et.all (1988), a transição do regime autoritário não se limita a uma questão
de desenvolvimento econômico ou da complexidade “societal”, mas são moldadas segundo
suas características próprias. Nesse sentido, o processo de democratização em Cabo Verde e
Guiné-Bissau, por exemplo, não decorre- ria apenas de seus níveis de desenvolvimento
econômico, regras de jogo, liderança política, alianças interpartidárias e legislaturas, mas da
organização e de pressão política dos movimentos sociais, conscientes de seus objetivos
políticos e capazes de realizá-los através de ações coletivas e lutas, em todos os seus aspectos
e dinâmicas.

Linz e Stepan (1999), partindo da visão de transição como momento de controle civil sobre
os militares, oferecem uma definição não muito diferente daquelas colocadas por Huntington
e Przeworski. Em primeiro lugar, porque a transição vista no sentido de um acordo potencial
de líderes políticos é relevante para o estabelecimento da ordem democrática. Por um lado,
qualquer tipo de governo democrático deve ser produzido por eleições gerais. Por outro lado,
qualquer governo que chegue ao poder como resultado de eleição livre deve ter a capacidade
de gerar políticas. Daí o papel fundamental do Executivo, Legislativo e Judiciário para a
existência da ordem. Segundo Linz e Stepan (1999, p. 21, grifo dos autores). Para Linz e
Stepan (1999), portanto, a questão da consolidação só se torna problemática com a ingerência
dos militares na política do governo.

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Transições Democráticas em Moçambique
A sociedade moçambicana conheceu desde a década de 1990 uma transição política de uma
sociedade não democrática para uma sociedade democrática. A transição democrática
ocorreu, como um exemplo de democratização em África na década de 90 depois de um
conflito armado civil que devastou o país durante cerca de quinze anos (PEREIRA, 2002). As
negociações de paz intermediada pela igreja católica iniciaram-se em 1988.

Em 1989, o presidente Mugabe do Zimbábue e o do Quênia Moi, promoveram conversações


entre os lideres da Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) e da igreja católica em
Nairóbi, dai resultando as condições delineadas para a intensificação do diálogo, começando
assim o longo caminho para a transição democrática, com o fim da guerra civil.

Os moçambicanos participaram maciçamente nessa eleição multipartidárias, 87% dos


eleitorados recenseados não havendo nenhum incidente. Ano pós anos, o processo de
transição democrática foi acompanhado por modernização e por desdobramentos econômico-
sociais, que apontavam para decisivas transformações como: superação da propriedade estatal
na formação de associações civis, formação do mercado de trabalho livre, industrialização e
urbanização, mudanças nas bases do poder político de que resultou a substituição do
monopartidarismo pela forma de governo democrática, a instauração de um novo pacto
constitucional que formalmente consagrava direitos civis e políticos e instituía um modelo
liberal-democrático de poder político. Inspiradas pelo processo democrático em curso em
algumas sociedades do mundo ocidental capitalista, essas transformações não foram
assimiladas pelas práticas políticas e sequer pela sociedade. As garantias constitucionais e os
direitos civis e políticos permaneceram, na prática tal como na forma de governo
monopartidário e na teoria escritos na constituição.

Será que em Moçambique a transição de uma sociedade não democrática para uma sociedade
democrática foi completa? Será que temos uma democracia consolidada?

Para responder a isso, que reputo uma questão difícil, é preciso dar uma vista d'olhos um dos
conceitos de Juan J. Linz e Alfred Stepan que definiram a transição democrática como um
grau suficiente de acordo alcançado quanto a procedimentos políticos visando obter um
governo político; quando o governo chega ao poder como resultado direito do voto popular

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livre; quando esse governo tem, de fato a autoridade de gerar novas políticas; e quando os
poderes Executivos, Legislativos e Judiciários, criados pela nova democracia, não têm que
jure dividir o poder com outros organismos (1999, p.21).
Os autores vão mais longe ao afirmarem que uma democracia é consolidada quando: grande
maioria de opinião pública mantém a crença nos procedimentos nas as instituições
democráticas; em termos constitucionais, um regime democrático está consolidado quando
tanto às forças governamentais quanto não-governamentais, sujeitam-se e habituam-se a
resolução de conflitos dentro de leis. Procedimentos e instituições específicas sancionadas
pelo novo processo democrático (LINZ; STEPAN, 1999, p.24).
Com essa definição operacional, vamos procurar responder as nossas indagações. Não
obstante esse avanço democrático não se logrou a efetiva instauração do Estado de Direito. A
pesquisa Nacional sobre governação e corrupção realizada em 2003, quase metade do número
total de 2.500 inquiridos concordou ou concordou fortemente (47%) com a afirmação de que
os tribunais são completamente dependentes do governo. Tantos os juízes como os
procuradores entrevistados afirmaram receber chamadas telefônicas dos executivos durante
os casos. Amplitude dos avanços registrados nestas matérias é algo questionável para a nossa
democracia. Que tipo de democracia queremos?

O poder emergente da transição democrática conquistou o monopólio do "uso legítimo da


violência física" (WEBER, 1970; ELIAS, 1987), fora dos limites da legalidade. Persistiram
graves violações de direitos humanos, violação das liberdades civis e políticas; o medo de
represálias das instituições políticas e governamentais; repressões violentas nas
manifestações. Estes acontecimentos são produto de uma violência endêmica, radicada nas
estruturas políticas, enraizada nos costumes da guerra civil e duma sociedade autoritária. O
Open society foundation (2005) refere-se a esses acontecimentos como uma experiência
política da continuidade autoritária. Essa continuidade manifesta quer no comportamento de
grupos da sociedade civil, quer no dos agentes incumbidos de preservar a ordem pública. O
controle legal da violência permaneceu aquém do desejado.
O problema é que instalar um governo eleito democraticamente não necessariamente
significa que as instituições do Estado irão operar democraticamente. Por exemplo, parece
que em Moçambique não existir uma liberalização das organizações da sociedade que possa
implicar uma combinação de mudanças sociais e de diretrizes políticas, como menos censura
por parte do governo; um espaço maior para a organização de atividades autônomas. O nosso
país é uma sociedade que se baseia numa democracia sem cidadania.

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Consolidação democrática em Moçambique
Segundo Linz e Stepan (1999, p33.) para que haja uma democracia consolidada deve ter
cinco campos em interação: sociedade civil - liberdade de associação e comunicação;
sociedade política - competição eleitoral livre e inclusiva; Estado de direito –
constitucionalismo; aparato estatal – normas burocráticas racionais e legais; sociedade
econômica – mercado institucionalizado. Para falar como Elísio Macamo (2006) que do jeito
que estamos e vamos à consolidação democrática será impossível. A nossa democracia é
ainda deficiente para além de sério problema do subdesenvolvimento, de graves violações de
direitos humanos que comprometem o mais elementar dos direitos, o direito à vida.

Segundo Severino Ngoenha (1993, p.9), a democracia implica antes de mais o lugar que o
povo tem de ocupar nas decisões dos problemas fundamentais que lhe dizem respeito e nos
mecanismos jurídicos para que tenha um controle real sobre a realidade política, econômica,
social e educativa. Esta afirmação esta associado a ideia da independência entre os três
poderes Legislativo, Executivo e Judicial, por exemplo tão bem estudado por Larry Diamond
(1997),de que uma democracia requer, para além da competição eleitoral regular, livre, justa
e de sufrágio universal, a ausência de dependência entre os três poderes. O cientista político
Samuel P. Huntington (1993), nos lembra que não existe consolidação democrática quando
não há uma mudança de uma democracia eleitoral para uma democracia liberal, uma
democracia que permitirá a alargar as estruturas do processo democrático.

Apesar de a Constituição multipartidária vigorar em Moçambique desde 1990, sem


interrupções desde a sua aprovação, prevalecem desafios que afetam a qualidade da
democracia e que estão relacionados com a violação dos Direitos Humanos, de liberdade de
imprensa, de expressão e de pensamento. O fim do monopartidarismo é visto em
Moçambique como o início do processo democrático. A Constituição de 1990 transformou o
estado numa democracia multipartidária. O partido FRELIMO permanece, desde então, no
poder, tendo ganho por seis vezes as eleições legislativas e presidenciais realizadas em 1994,
1999, 2004, 2009, 2014 e 2019. A RENAMO é o principal partido da oposição. O regime
político em Moçambique é presidencialista: o chefe de Estado é igualmente chefe do
Governo, embora exista também o cargo de primeiro-ministro que tem um papel coordenador
entre os vários ministérios. O parlamento tem a designação de Assembleia da República.

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Conclusão
Este trabalho encerra quatro conclusões fundamentais.

Em primeiro lugar, podemos afirmar que não existe uma teoria única que caracterize de modo
abrangente e satisfatório a transição democrática moçambicana, havendo apenas um conjunto
de variáveis que, por aplicáveis, permitem um melhor ordenamento do estudo do exemplo em
apreço.

Em segundo lugar, importa sublinhar que o caso moçambicano resulta de uma interligação
entre factores internos e externos, não sendo possível estabelecer uma prevalência de uns
sobre os outros. Em concreto, Moçambique é um exemplo simultâneo de transição por
consentimento e condicionalidade, ou seja: por um lado, da acção dos actores nacionais e da
procura por estes de um conjunto de ligações internacionais e, por outro, da dinâmica de
factores externos que procuram influenciar o resultado final do processo político, quer em
sintonia com as forças endógenas, quer pelo recurso a métodos de pressão bilaterais ou
multilaterais.

Em terceiro lugar, defendemos que existe um conjunto de cinco variáveis que nos pare- cem
as que melhor definem o processo português. Desde logo, a «base de liderança do anterior
regime não-democrático», em seguida, «quem inicia e controla a transição», ainda «o
ambiente de elaboração da Constituição», passando pelas founding elections e terminando
com a «dimensão internacional da transição». Esta caracterização assentou numa lógica de
sucessão dos acontecimentos que procurámos demonstrar através da sua aplicação empírica.

Em quarto lugar, sustentamos a perspectiva de que se podem considerar duas hipóteses,


ambas válidas consoante o enfoque escolhido, para o termo da transição portuguesa. A
primeira considera que o processo está terminado a 25 de Junho de 1975, altura em que
tomou posse o I Governo Constitucional e em que o regime democrático não parece
contestado por um poder maioritário; ao passo que a segunda aponta para 16 de Setembro de
2004.

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Referência bibliográfica
MALOA, J. Será que em Moçambique existiu uma transição democrática completa?
Disponível em: < https://www.pambazuka.org/pt/governance/> acesso em maio, 2011.

O’DNNELL, G.; SCHMITTER, F.; WHITEHEALD, L. (Orgs,). Transição do regime


autoritário: Sul da Europa. São Paulo: Vértice, 1988.

CHAUÍ, M. Cultura e democracia. São Paulo: Cortez, 1990.

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