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Plataformas Digitais, Algoritmos e Democracia


Raquel Kritsch, Álvaro Okura de Almeida e Rafael Sanches

Resumo:
Boa parte das estudiosas das ciências humanas compartilham o diagnóstico de que a
democracia está hoje sob ataque ou mesmo em franco declínio (des-democratização),
seja nos países do norte ou do sul global. A ascensão pelo voto popular de governantes
defensores de valores e posições políticas associadas à (extrema-)direita conservadora
tem tornado urgente a reflexão sobre como e por que tais líderes políticos vêm obtendo
tanto sucesso e adesão. Quando analisamos tais vitórias eleitorais, notamos que quase
todos chegaram ao poder por meio de métodos similares: o recurso a redes e mídias
sociais em grande escala, uso e abuso de “fake news” e de “verdades alternativas” e
outras estratégias antidemocráticas. Problematizar a dimensão nefasta da digitalização e
datificação das sociedades sobre as práticas políticas e eleitorais bem como suas
consequências para as teorias democráticas que se sustentam em noções fortes de esfera
pública e de deliberação democráticas constitui o cerne deste trabalho.

Palavras-chave: teoria democrática; deliberação; esfera pública; política digital

Introdução e contextualização do problema


Talvez não constitua grande exagero afirmar, hoje, que a maior parte das
pesquisadoras e pesquisadores das ciências humanas compartilham, em grau maior ou
menor, de um diagnóstico de que a democracia se encontra hoje, senão em franco
declínio, ao menos sob forte ataque, seja nos países do norte ou do sul global.
Nomes conhecidos como Colin Crouch (2004) ou Jacques Rancière (1994)
flertam há décadas com a ideia de uma era “pós-democrática”; o alemão Ingolfur
Blühdorn (2013) chega a sustentar uma virada – um ‘post-democartic turn’. Intelectuais
menos radicais como Wendy Brown (2006, 2019) e Sheldon Wolin (2008); ou ainda,
entre nós, Celi Pinto (2017), Luciana Ballestrin (2018) e tantas outras vozes críticas que
procuram refletir sobre o momento que atravessamos, são unânimes em detectar que o
funcionamento das sociedades democráticas liberais, tais como constituídas e teorizadas
por pensadores e pensadoras clássicas, e também as chamadas instituições democráticas
estão, senão colapsando, então, conhecendo uma transformação qualitativa sem
precedentes na era moderna.
Por detrás das preocupações de boa parte das autoras e autores que têm se
ocupado da democracia e seus impasses nos dias atuais estão acontecimentos que vêm
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marcando a paisagem política mundial: a ascensão por meio do voto popular de


governantes assumidamente defensores de valores e posições políticas associadas à
direita conservadora, militarista, sexista, supremacista, nativista e outros tantos “istas”
que caracterizam as posições de dirigentes como D. Trump, J. Bolsonaro, V. Putin, T.
Erdogan, K. Orban, E. Macri, B. Johnson, Rodrigo Dutertd, J. Kaczynski, etc, para citar
apenas os mais conhecidos.
Tais eleições, que têm levado ao poder políticos carismáticos e/ou populistas
fortemente compromissados com valores conservadores e com políticas econômicas de
viés neoliberal, estão impondo à agenda das humanidades uma reflexão urgente sobre o
que, como e por que a ascensão de líderes políticos de direita, frequentemente com
perfis e discursos abertamente autoritários, e que ascenderam ao poder por meio de
métodos muito similares, como o recurso a redes e mídias sociais em grande escala, uso
e abuso de “fake news”, “verdades alternativas”, manipulação e controle de meios de
comunicação e tantas outras estratégias perversas e antidemocráticas, pouco dialógicas e
nada deliberativas, vem obtendo tanto sucesso e adesão.
Esses eventos, que já ganharam escala global, têm exigido também das teorias
democráticas de distintos matizes um esforço analítico ao mesmo tempo complexo e
desafiador. Afinal, o que estamos assistindo na cena política mundial, e de maneira
ainda mais impactante no Brasil, se não joga por terra, ao menos tende a pôr em xeque
boa parte dos pressupostos e fundamentações da chamada política deliberativa
(Habermas, 2004[1997]; Bohman e Regh, 1997; Cohen, 1997), uma posição teórica
normativa que assume, entre outros princípios de relevo, as ideias de que: (1º) o único
critério de justificação das respostas às questões práticas que se colocam para as
sociedades democráticas pluralistas reside no consentimento racional de indivíduos
autônomos, livres e iguais; e (2º) que as instituições sociais e políticas só estão
justificadas quando refletem os interesses, direitos e concepções de boa vida dos
indivíduos, razão pela qual as práticas de justificação moral e de legitimação política só
podem adotar como critério de norteador aquelas razões que puderem obter o
consentimento público e o apoio universal de todos os indivíduos; neste sentido, só
podem ser tornadas regras aquelas normas que resultam do exercício do uso público da
razão. (Werle, 2013; Kritsch e Silva, 2011).
Para boa parte das teóricas e teóricos contemporâneos da democracia, a política
de tipo deliberativa, que seria o procedimento característico de Estados democráticos de
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direito, constituiria o cerne da vida democrática e repousaria num modo particular de


legitimação dos processos de formação da opinião e da vontade coletivas: aquele
fundado numa prática argumentativa voltada para o entendimento mútuo que incorpora
diferentes usos da razão prática, e que seria capaz de gerar a aceitabilidade racional das
escolhas oriundas dos debates informados que ocorrem no espaço público entre razões
deliberativas (Habermas, 1997; Pinzani, 2009; Werle, 2013). Nada mais estranho e
estrangeiro aos processos políticos e eleitorais que estamos experimentando e às
práticas e comportamento políticos que temos testemunhado em nossos dias!
Na tentativa de refletir particularmente sobre o que poderia estar causando o
incremento do autoritarismo e de ideologias conservadoras na política mundial,
constatações radicais como a do filósofo político italiano Roberto Esposito (2019) já se
tornaram frequentes em meio a um certo grupo de intelectuais. Segundo o autor,
“(…) o nosso horizonte [reflexivo] mudou de maneira profunda e
irreversível. (…) o que está em jogo [quando invocamos ideias como
´populismo´ ou ´pós-democracia’ para explicar a crise de nosso tempo]
não é mais uma simples reforma das instituições democráticas; e sim nós
nos deparamos [hoje] com uma transformação sociocultural que é muito
mais profunda do que todo o nosso léxico político.” (Esposito, 2019: 322)

Ou seja, para este pensador, o vocabulário político existente não seria mais
capaz de dar conta das mudanças que estão em curso nas democracias liberais, as quais,
na sua abordagem foucaultiana, estão ligadas aos efeitos da crise da subjetividade
política baseada na razão e na vontade; uma crise que substituiu o demos da democracia,
fundado na subjetividade abstrata da pessoa do direito, pela semântica biopolítica do
ghenos, que borra as fronteiras entre público e privado, tecnologia e natureza, lei e
teologia – um movimento que transforma em profundidade a cultura política
democrática herdada dos modernos (idem, ibid.).
Oriunda de uma outra chave analítica, mas oferecendo um diagnóstico
igualmente pessimista, a filósofa norte-americana Wendy Brown (2006) afirma, em um
texto seminal, no qual se confronta com a ascensão do (neo)conservadorismo nos EUA
quando da reeleição de G. W. Bush, que a aliança entre o que ela denomina a
racionalidade política neoliberal (isto é, uma razão política normativa que organiza a
esfera política, as práticas de governança e a cidadania a partir da ótica das relações de
mercado) e a racionalidade política neoconservadora (isto é, uma razão política
normativa que organiza a esfera política, as práticas de governança e a cidadania a partir
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de valores morais tradicionais [família, religião, patriotismo, etc] que reivindicam do


poder estatal que ele exerça sua autoridade na direção de re-entrelaçar o tecido moral
social esgarçado pelo excesso de ‘engenharia social’) estaria minando tanto a cultura
democrática quanto as instituições da democracia constitucional – um movimento que,
segundo ela, teria consequências des-democratizantes na medida em que forja o cidadão
não-democrático que temos visto atuar nas esferas públicas de inúmeras formações
políticas ao norte e ao sul.
Wendy Brown aponta quatro aspectos desta des-democratização produzida pelo
cruzamento destas duas racionalidades: (1) a desvalorização da autonomia política; (2) a
transformação de problemas políticos em questões individuais a serem solucionadas por
meio de soluções de mercado (com a consequente despolitização do social); (3) a
produção de um cidadão-consumidor adaptado a uma pesada presença de autoridade e
governança na vida cotidiana (ou seja, de um agente que não se incomoda com o
autoritarismo estatal); e (4) a legitimação do estatismo. (Brown, 2006: 703 e 705)
A aliança entre essas racionalidades, subsumidas por ela uma década depois sob
a denominação racionalidade neoliberal, teria dado origem, segundo Brown (2018), a
uma espécie de fusão entre valores do livre-mercado e do neoconservadorismo
patriótico, gerando a formação política de uma liberdade autoritária, que desloca os
antigos termos democráticos:
Quando a própria nação é economicizada e familizada dessa maneira, os princípios
democráticos de universalidade, igualdade e abertura são descartados (…).
Estatismo, policiamento e poder autoritário também se ramificam, uma vez que
bloqueio, policiamento e securitização de todo tipo são autorizados pela necessidade
de assegurar essa vasta extensão de liberdade pessoal e desregulada. (…) O
procedimento democrático e a legitimidade também são deslocados pelos valores da
família e do mercado: não a negociação, deliberação ou mesmo o estado de direito
constitui a base da autoridade doméstica, e sim Diktat; e a força é como [tal
autoridade] se defende legitimamente de invasores externos. Assegurar uma vasta
extensão da liberdade privada e da liberdade desregulamentada inaugura, assim,
novos espaços e valorizações do policiamento, da autoridade e da securitização (…)
Voilà, autoritarismo do século XXI em nome da liberdade! (Brown, 2018: 68)

O diagnóstico de Wendy Brown, compartilhado por inúmeras teóricas e teóricos


da democracia, bem como a interpretação – a partir da análise do caso americano – para
o que poderia estar acontecendo em algumas formações políticas, encontram
ressonância também no Brasil de hoje. Também a ideia de que o vocabulário político
existente não seria mais capaz de dar conta das mudanças que estão em curso nas
democracias liberais (Esposito, 2019), e de que a cultura política democrática herdada
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dos modernos estaria conhecendo transformações profundas não nos parece estar em
questão. Tais argumentos, no entanto, não são suficientes para explicar como tais
políticos conservadores vêm obtendo tanto sucesso nas urnas e angariando, muitas
vezes, mais do que votos, mentes e corações.
Procuraremos mostrar por meio deste trabalho que parte relevante da explicação
para o sucesso destes ideólogos e políticos de direita reside no modo como eles têm se
apropriado e instrumentalizado para seus propósitos eleitorais e projetos de poder as
novas tecnologias digitais, hoje estruturadas e operadas por empresas de capital de risco
tecnológicas que utilizam algoritmos cada vez mais sofisticados e “inteligentes”;
procuraremos sustentar ainda que estas novas tecnologias têm desempenhado papel de
relevo também para a emergência do cidadão não-democrático, sujeito dos processos de
des-democratização em curso, contribuindo sobremaneira para a crise da democracia
aqui e alhures. A nosso ver, parte relevante dos problemas que se tem detectado no
funcionamento das democracias bem como em relação à ascensão de extremismos e
ideologias autoritárias encontra terreno fértil para sua difusão acelerada em ambientes
digitais algoritmicamente arquitetados, que fomentam fenômenos antidemocráticos
(câmaras de eco, filtros bolha, direcionamento de preferências, etc.), os quais têm
transformado as práticas políticas e eleitorais tradicionais.

Câmaras de eco, filtros bolhas, ação conectiva: a ‘ratio’ por detrás das máquinas
As inesperadas vitórias eleitorais de D. Trump e J. Bolsonaro, por exemplo, nos
permitem detectar com razoável grau de clareza a operação de mecanismos que atuam
de acordo com tal lógica de funcionamento que estamos chamando de algorítmica, que
tem sido viabilizada e impulsionada pelas novas técnicas automatizadas de produção de
saber e conhecimento (até pouco, chamadas de TICs). São muitas as linhas de
investigação das tecnologias digitais sobre o governo da sociedade; e é difícil estimar o
impacto da sua adoção sobre os mais diversos campos. Essas novas tecnologias nos
confrontam com problemas que vão desde a legalidade da captura e armazenamento de
dados dos usuários até o direito de não sermos submetidos a avaliações automatizadas
de nossas pessoas. (Becerra, 2015; Zuboff, 2015).
A discussão em torno da relevância – e mesmo do protagonismo – das redes
sociais e dos aplicativos de comunicação nas eleições presidenciais do Brasil e dos
Estados Unidos, tais como Facebook e Whatsapp retoma, de certa maneira, um tema
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clássico na reflexão política, o da relação entre regimes políticos e tecnologias de


comunicação. Do rádio aos jornais e à TV, muito foi produzido a respeito dos impactos
do avanço tecnológico sobre os regimes políticos. No entanto, parece evidente a
ambivalência dos efeitos da nova arquitetura comunicacional para as democracias, bem
como seus impactos na esfera política (Gerbaudo, 2016) e, em especial, na formação do
público, da opinião pública e sua utilização para fins de propaganda e publicidade em
democracias eleitorais.
Embora haja inúmeras perspectivas a partir das quais se pode tratar as novas
técnicas automatizadas de produção de saber e conhecimento (como a arquitetônica
geral da web, sua origem militar nos EUA, sua infraestrutura material e técnica
altamente centralizada, etc), este trabalho pretende se debruçar sobre as lógicas de
operação de softwares, aplicativos e sítios que acabaram por dominar o “palco” da
navegação e interação para a vasta maioria dos usuários da internet (Google, Facebook,
Twitter, Instagram, Youtube, Whasapp), procurando mostrar os problemas, dilemas e
consequências que o uso em escala global de tais ferramentas potencializa e,
particularmente, como impacta sobre a democracia e sobre o cidadão democrático tal
como os concebíamos até pouco tempo.
Assim, diferentemente da filósofa do direito A. Rouvroy (2013), que cunhou
conceito de governamentalidade algorítmica para expressar a lógica específica dessa
arquitetônica, a qual, para ela, constitui uma racionalidade governamental, no sentido
foucaultiano, utilizaremos a noção de lógica de operação algorítmica1 para
problematizar as aplicações específicas de softwares, aplicativos e sítios, em geral
desenvolvidas, empregadas e oferecidas por empresas privadas de alta tecnologia
espalhadas pelo mundo e que têm sido instrumentalmente utilizadas e/ou contratadas
por estratégias eleitorais em tempos recentes.
Apesar da existência de alguns (poucos) aplicativos de código aberto, os
softwares comerciais, alvos aqui da nossa atenção, são de longe os mais utilizados pelos
usuários – e também os mais obscuros. Eles dirigem (ou enquadram) a navegação em
fórmulas opacas aos sujeitos, protegidos pelos direitos de propriedade intelectual e pelo

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Recusamos o termo governamentalidade algorítimica bem como seu correlato racionalidade
algorítimica, o qual fez fortuna entre especialistas, em virtude do fato de ambas as ideias –
governamentalidade e racionalidade – aprisionarem o argumento em um modo de raciocínio que tende a
operar sistemicamente, prescindindo dos e/ou autonomizando-se em relação aos agenciamentos concretos
dos sujeitos das ações. É importante ao nosso argumento aqui preservar as capacidades decisórias e os
agenciamentos tanto das pessoas que concebem quanto daquelas que fazem uso de tais ferramentas
tecnológicas.
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sigilo garantido a inovações tecnológico-industriais, como ocorre na indústria


farmacêutica, entre outros exemplos possíveis. Esses aplicativos constituem hoje
verdadeiras plataformas de intermediação da sociabilidade, cuja cartografia completa do
terreno é propriedade de poucas e grandes corporações privadas. É justamente aqui,
nesse lugar opaco e sigiloso, praticamente inacessível ao usuário-consumidor-cidadão
comum, que opera o que estamos chamando de lógica de operação algorítmica.
Usamos esta expressão para nomear as novas formas de coleta, agregação,
análise e correlações estatísticas que são levadas a cabo pelas empresas desenvolvedoras
desses aplicativos, a partir do enorme volume de dados existentes hoje no mundo
digitalizado (os chamados big data), por meio de técnicas automatizadas de produção de
saber e conhecimento, sobretudo, probabilístico e estatístico que são: 1º) muitíssimo
distintas das estatísticas tradicionais do homem-médio, forjadas no período do
desenvolvimento dos Estados modernos e que, como já mostrou M. Foucault (2008),
serviriam de instrumento tanto para a normalização de corpos, populações e coisas
quanto para as “artes de governar”; e 2º) essas técnicas automatizadas de produção de
saber probabilístico-estatístico engendram e permitem novas formas de organizar e de
apreender a “realidade social”.
Este ponto é de suma importância porque envolve uma transformação de peso:
distinta das formas tradicionais de produção de estatísticas sobre a população, a lógica
de operação destes instrumentos digitais permite o que autores como Rouvroy e Berns
(2015) chamam de processos de ‘imunização informacional’: o conjunto de dados
mobilizados para o estabelecimento da correlação ou da métrica não é passível de
reconstrução e de contestação aberta por parte do “público de cidadãos”, favorecendo a
privatização aguda desta forma de saber. Diferente dos métodos estatísticos tradicionais,
cuja validade pode ser questionada ou validada pela verificação dos “enquadramentos”
estatísticos por qualquer pessoa, que dados são capturados, como são medidos e
correlacionados e com que base os resultados são divulgados são informações não-
públicas, em geral, guardadas a sete chaves pelas empresas desenvolvedoras desses
aplicativos.
Para as teóricas e teóricos que estudam tecnologias algorítmicas e machine
learning, o diagnóstico mais geral é o de que, com a expansão acelerada destas técnicas
de produção e de circulação de saber, pessoas, instituições e populações terminam por
confiar àqueles que criam e gerem tais engenhocas algorítmicas as tarefas de produção
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de informação e de mediação do debate público, o que tem como efeito uma espécie de
colonização do “espaço público” por uma esfera (ou ratio) privada hipertrofiada – que
se faz passar por ou que termina por aparecer como esfera pública. Foi exatamente a
operação disto que estamos chamando aqui de lógica de operação algorítmica que nós
testemunhamos nas eleições de D. Trump e J. Bolsonaro, os dois escolhidos para
mostrar como funciona essa ratio fundada no algoritmo, que viabiliza a produção
daquilo que Brown entende como uma razão política normativa capaz de organizar a
esfera política, as práticas de governança e a cidadania na direção da des-
democratização.
No que diz respeito à eleição de D. Trump, gostaríamos de destacar alguns
pontos: primeiro, é de domínio público que elas foram marcadas pelo uso intensivo do
marketing político comportamental impulsionado pelas inovações em tecnologias
digitais. O caso, evidentemente, não é novidade: episódios anteriores, como os do
Wikileaks e de Snowden, e o mais recente, o escândalo da Cambridge Analytica, já
haviam trazido a público indícios de como esses instrumentos digitais vêm sendo
mobilizados na política, com efeitos nada desprezíveis para a dinâmica das instituições
democráticas.
Embora o marketing político segmentado por audiência não seja uma novidade,
o novo nas interações sociodigitais que impactam o mundo da política é o volume de
dados existentes hoje no mundo digitalizado (os big data) e o que se pode extrair de
vantagem estratégica (em processos políticos, econômicos, etc), a partir do acesso a
ferramentas analíticas como o machine learning (a máquina que organiza dados
entrecruzados e constrói algoritmos capazes de tomar decisões com o mínimo de
intervenção humana). A campanha eleitoral para concorrer à presidência dos EUA, em
2016, borrou definições de práticas políticas democráticas e rompeu diversas
diferenciações utilizadas por analistas para pensar campanhas até então. Nela, se
sobrepuseram e se confundiram os polos de dicotomias como insider vs. outsider, mídia
tradicional e novas mídias, notícias e entretenimento.
Ferramentas digitais como computadores, smartphones e outros dispositivos
conectados à internet, como se sabe, foram utilizadas à exaustão na campanha de Trump
e geraram as principais marcas da sua corrida eleitoral: fake news, “verdades
alternativas”, exércitos de bots – softwares robôs da web que simulam ações humanas
repetidas vezes de maneira padrão, usados em games, mas que podem ser ilegalmente
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utilizados para a disseminação de spams ou para o aumento de visualizações de um site,


ou ainda para alterar os indicadores quantitativos do debate público mediado, como as
hashtags e os trending topics do Twitter, e tantas outras estratégias maximizadoras do
cálculo custo / benefício. Todos esses instrumentos foram centrais para a campanha de
Trump em 2016, e também para a de Bolsonaro, cujos filhos procuraram, em 2018,
copiar e aperfeiçoar os métodos do ídolo da família.
Mais do que discutir se ou como a Cambridge Analytica violou políticas de uso
da plataforma Facebook, a questão em jogo aqui é a da possibilidade técnica e
estratégica de se interferir em processos políticos por meio da afetação da formação da
vontade política dos cidadãos a partir de “armas” construídas com base em dados
produzidos pela interação cotidiana de usuários e usuárias comuns com tecnologias
digitais. E como essas máquinas ou sistemas inteligentes automatizados baseados na
racionalidade probabilístico-estatística de tipo algorítmica fazem isso? Como eles
operam sobre o cidadão comum? De uma maneira muito sutil.
Quando se analisa mais detidamente a lógica de operação destes aplicativos (ou,
na terminologia desta área, os ambientes informacionais), quando se estuda como o
tráfego dessas informações opera bem como a sua reunião em gigantescos bancos de
dados, é possível detectar que essas técnicas de produção automatizada de informação
de tipo algorítmica são compostas por uma prática estatística que – sempre e a cada vez,
e de acordo exclusivamente com os objetivos particulares de quem organiza a extração
desses dados – evita e contorna os sujeitos sociais concretos, para criar uma espécie de
avatar (um duplo digital) dos sujeitos e do “real”, acumulando perfis, isto é,
acumulando um conjunto de comportamentos, preferências, gostos, enfim, de dados
anônimos de cada perfil, que serão correlacionados entre si por máquinas lógicas que
automatizam a mineração dos dados capturados (data mining) e as tomadas de decisão,
a partir da aplicação e programação para a qual foram criadas, gerando um volume
imenso de informações e insights pragmáticos sobre a realidade representada pelo
conjunto de dados em questão (Aradau; Blanke, 2017).
Lançar mão dessa “registrabilidade” e “datificação” permitidas pelas sociedades
digitalizadas foi exatamente o que fez a estratégia de marketing de Trump, como já se
sabe hoje dos dados e registros levantados por especialistas: o conhecimento produzido
sobre as características e as preferências dos eleitores estadunidenses, a partir de
diversas artimanhas de captura, filtragem e reunião de dados dos perfis foi o que
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possibilitou à Cambridge Analytica construir dezenas de arquétipos comportamentais


capazes de guiar a campanha de maneira especializada, como que simulando uma
conversa pessoal na qual os agentes em interação, por conhecerem o seu interlocutor,
são capazes de falar daquilo que os interessa ou os perturba de uma maneira que faz
sentido ao interlocutor, isto é, jogando com as suas predisposições detectadas e
armazenadas em algum banco de dados por algoritmos “inteligentes”; mas também
provocando e/ou promovendo, a partir da posse desses dados de perfis, embates e
enfrentamentos bolados para gerar polêmicas, suscitar ódios e reações emocionais no/as
receptore/as, induzindo-o/as a replicarem tal conteúdo entre seus pares.
Desta forma, uma modulação bastante segmentada do discurso de campanha foi
entregue mão a mão por meio de mídias e redes sociais, por meio de canais opacos e
privados, como os chamados dark posts – um tipo de post anonimizado gerado pelo
Instagram e Facebook, cuja autoria não fica disponível de modo público na rede e que é
exibido apenas para os microgrupos selecionados na segmentação daquela campanha,
com curta duração temporal, uma vez que o post se apaga depois de um determinado
período, o que impede o usuário de distinguir se se trata de uma peça oficial da
campanha ou feita por terceiros. Entre nós, não só ela, mas sobretudo a campanha de
Bolsonaro fez uso de recursos semelhantes, com a diferença de que operou essas
“modulações” a partir de outra plataforma, o aplicativo Whatsapp.
Um dos efeitos – devastador para as práticas democráticas e para o debate
público de razões informadas – mais impactantes da lógica das redes são as chamadas
câmaras de eco (Garret, 2009), termo empregado na literatura da área para indicar
efeitos resultantes da tendência associativa entre pessoas de mundo mental parecido
(like-minded). Essa tendência ao que muitas autoras e autores denominam associação
simétrica leva ao represamento de posições divergentes, criando ambientes saturados
por posições e informações que reforçam vieses e crenças dos sujeitos nelas inseridas
(Quattrociochi et al., 2016).
A lógica like-minded das redes sociais, baseadas numa economia da atenção,
também favorece a disseminação de conteúdos polêmicos, que geram raiva, euforia e
medo (Wu, 2016); sentimentos que acabam por criar várias tendências à polarização das
opiniões, como se tem testemunhado à exaustão nas mensagens de ódio que abundam
nos meios eletrônicos e invadem a vida política com elementos que atentam contra a
sensatez e o uso público da razão, minando a democracia (O’Neal, 2016).
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Outro fenômeno característico da lógica das redes sociais que merece menção
são os filtros bolha (Parisier, 2011), que produzem o mesmo efeito de confirmação de
viés, mas advêm da ordenação algorítmica dos ambientes digitais. O feed de notícias do
Facebook, p. ex., se ordena de acordo com aquilo que seja o mais interessante ao perfil
de cada usuário, quais são os seus gostos, interesses etc., de modo que a ideia central é
customizar o fluxo de informações recebidas pelo usuário (Kramer et al., 2014). Um
efeito colateral nada irrelevante dessa otimização, no entanto, é a redução da exposição
ao diferente.
Ambos, câmaras de eco e filtros bolha, produzem efeitos nefastos à democracia
como a concebemos até o século XX, em virtude de formarem segmentos de públicos
diferenciados, que não são expostos aos mesmos conteúdos, dificultando a formação de
algo como uma opinião pública testada nos debates da esfera pública. Além dos filtros
bolha e das câmaras de eco, a esfera pública em sua versão automatizada demonstra
também grande fragilidade democrática, na medida em que a relevância dos conteúdos é
baseada em métricas quantitativas de popularidade (os likes), que não dizem respeito à
qualidade ou à diversidade de posições sobre um determinado assunto de importância
pública, e sim são medidos em termos de visualizações, curtidas e compartilhamentos
(Pasquale, 2017). O ponto importante a ser ressaltado aqui é que tais interações sociais,
voltadas à produção de índices quantitativos, não geram, necessariamente, debate
público ou solidariedade, mas apenas interconexões funcionais.
Ao invés vez de persuadir o interlocutor pela força dos melhores argumentos em
um ambiente público e plural, mecanismos desta natureza instigam a reação
egocentrada, pré-reflexiva e emocionalmente carregada. Preconceitos e confirmação de
viés são dois elementos centrais nesse modelo estratégico de ação política por meio do
marketing digital (Sanches, 2019). A capacidade preditiva dos algoritmos de machine
learning desempenha um papel fundamental na construção e modulação dessas
predisposições (Kosinski et al., 2013). Os autores procuram mostrar que as pegadas
digitais dos usuários do Facebook, e principalmente seus likes, associados a análises
psicométricas (como aquelas feitas pela Cambridge Analytica), são fontes muito úteis
para a predição automatizada e acurada de uma vasta gama de atributos pessoais, que
vão desde a orientação sexual, passando pela etnia, preferências políticas e religiosas,
até traços da personalidade, inteligência, nível de felicidade, uso de substâncias aditivas,
separação parental, idade e gênero, etc.
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A lógica de operação algorítmica em ação: as eleições de D. Trump e J. Bolsonaro


Por meio de tecnologias como as descritas na seção anterior, que, já se pode
afirmar sem grandes ressalvas, têm como efeito uma transformação qualitativa profunda
nas interações sociais entre pessoas e grupos, com impactos significativos sobra as
formas ‘tradicionais’ de sociabilidade, D. Trump venceu H. Clinton numa das mais
acirradas competições eleitorais dos últimos tempos; e o fez mobilizando e
manipulando, por meio de estratégias de marketing comportamental segmentado, ódios,
rancores, ressentimentos, enfim, valores caros a eleitores brancos, hétero,
supremacistas, religiosos, etc, de Estados menos populosos, mais conservadores,
descontentes com o governo democrata de B. Obama, mas que acabaram fazendo a
diferença no cômputo dos votos do colégio eleitoral (embora Hillary tenha obtido, no
total, mais votos do que Trump, como é sabido). Cálculo, muito cálculo eleitoral, aliado
a tecnologias de ponta!
Entre nós, até agora, não sabemos ainda qual foi a extensão do marketing
comportamental nem qual ou quais empresas estariam envolvidas na eleição de J.
Bolsonaro. Isso requer investigação independente, algo deveras improvável no Brasil
atual. Mas sabemos bem que imperaram, em nossa corrida eleitoral, as fake news, os
bots alterando as métricas do Twitter, estratégias de verdade alternativa (ou pós-
verdade), discursos de ódio, radicalização e polarizações. Também, o resultado das
eleições brasileiras de 2018 não permite que nos afastemos das novas tecnologias
digitais, se desejamos compreender o que aconteceu e tirar lições desta experiência.
Jair Bolsonaro obteve 46% dos votos válidos no primeiro turno. O seu
favoritismo foi confirmado no segundo turno, quando se elegeu com 55,1% dos votos
válidos (contra 44,8% do candidato do PT, Fernando Haddad). Podemos dizer que se
trata de uma verdadeira façanha, quando recordamos que no 1º turno Bolsonaro contou
com ínfimos 8 segundos de propaganda eleitoral na televisão, até então o método mais
tradicional de campanha no Brasil, enquanto o adversário petista contava com 2 minutos
e 23 segundos.
Quando se olha mais detidamente para os dados, vemos que Bolsonaro foi capaz
de contornar a ausência do recurso tradicional à mídia televisiva por meio de canais
alternativos, perenes e mais próximos à sua audiência (eleitores). Num país em que,
segundo dados do IBGE de 2017, ao menos 75% da população (126,3 milhões de
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pessoas acima de 10 anos) dispunha de conexão com a internet, e no qual o celular


dominava os acessos à rede, sendo o meio principal de acesso de 49% dos usuários; e
mais, em um país em que as pessoas passam, em média, 9 horas e 14 minutos
conectadas ao dia (3º lugar no ranking mundial), das quais são gastas em redes e mídias
sociais 3 horas e 39 minutos (2º lugar no ranking mundial), não pode restar muita
dúvida de que as mídias digitais e suas ferramentas de “customização” foram
fundamentais para a vitória do absolutamente improvável e inesperado (Sanches, 2019).
Pesquisa do Datafolha constatou à época que os eleitores de Bolsonaro eram os
mais conectados: 81% deles utilizavam alguma mídia digital (contra 59% dos de
Haddad), sendo o Whatsapp e o Facebook os mais populares entre elas. O Whatsapp,
com seus 120 milhões de usuários no país, desempenhou papel central na disseminação
rápida e ágil de notícias, informações e fake news, dado que era uma plataforma muito
eficaz para o impulsionamento do chamado efeito rede. Isto é, uma vez que uma rede se
inicia, a circulação de informação, mais especificamente, seu ritmo de crescimento, se
dá em progressão geométrica, exponencial, e não aritmética, já que cada nó da rede
(cada dispositivo, ou usuário humano) está apto a conectar um número infinito de outros
nós. Embora hoje limitado a 5 repasses em rede por usuário, o Whatsapp constituiu, em
2018, a plataforma perfeita para a viralização veloz de conteúdo, o que não escapou ao
clã dos Bolsonaro.
Apesar de ter contado de fato com grande engajamento voluntário de
“seguidores”, a campanha presidencial de Jair Bolsonaro, foi marcada pelo abuso
consciente da potência perniciosa das aplicações de mídias sociais. Com financiamento
ilegal, estimado em dezenas de milhões de reais, foi colocada em marcha uma
campanha escusa de marketing digital, que importava (ou comprava) técnicas
conhecidas do setor comercial, com o objetivo de influenciar a formação da preferência
política dos eleitores. Nesta estratégia de marketing eleitoral profissional, cada uma das
aplicações de mídias e redes sociais funcionou como plataforma de integração em uma
campanha multinível Os vídeos no Youtube cumpriram o papel da educação político-
ideológica e de produção de conteúdo; o Twitter e Facebook foram fundamentais na
disputa de narrativas e pautas, assim como para o aumento da rede. O Whatsapp, por
sua vez, funcionou na organização dos apoiadores e na distribuição efetiva das
mensagens, as quais eram, em sua maioria, notadamente falsas (Sanches, 2019).
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Além disso, a criptografia, associada à sua arquitetura privada de comunicação,


torna o Whatsapp um canal propício para o compartilhamento de fake news e verdades
alternativas, potencializando as atuais estratégias de desinformação e deslegitimação
dos canais tradicionais de notícias, como a chamada grande imprensa. Nesse sentido, a
campanha bolsonarista foi sagaz ao criar uma complexa Rede de redes, mimetizando a
arquitetura da própria internet a partir de recursos e ferramentas relativamente modestas,
como disparos do Whastapp, e jogando de maneira eficaz com os fluxos e movimentos
da sociabilidade digitalizada.
Um exame mais detido do modelo sociopolítico e econômico que domina essa
arquitetônica comunicacional evidencia, como tentamos mostrar por meio desta breve
discussão, os efeitos devastadores para as democracias dessa infraestrutura sociotécnica
digital e datificada bem como seus impactos na esfera política, na formação do público
e da opinião pública e também sua utilização para fins de propaganda, propagação de
ódios e direcionamento de preferências em democracias eleitorais.
O quadro que tentamos desenhar aqui – e, particularmente, aquilo que temos
visto ocorrer recentemente no mundo das práticas políticas, e especialmente das práticas
eleitorais – nos leva a sustentar, com algum grau de confiança, que os dilemas e
problemas gerados por essa nova forma sociotécnica de organizar a vida e a
sociabilidade humanas, que chamamos aqui de lógica de operação algorítmica, e que
muito ilustram experiências que estão se multiplicando mundo afora, podem colocar
senão em xeque, ao menos diante de portentosas dificuldades as teorias democráticas
clássicas, sobretudo, aquelas que operam com base na ideia de que o consentimento
racional de indivíduos autônomos, livres e iguais constitui a base da legitimidade
democrática.
Mais do que isso: a literatura cada vez mais abrangente sobre o tema tem
procurado debater como essas novas formas de interação comunicacionais – mediadas
por câmaras de eco, filtros bolha e outros tantos dispositivos incrementadores de
associações simétricas que encapsulam em grupos e redes sociais formadas por pessoas
afins, com gostos e preferências similares – permitem a emergência de cidadãos pouco
afeitos e escassamente acostumados ao debate público e democrático e à disputa
dialógica no que outrora se denominou esfera pública, um espaço social a cada dia
menos disponível (Gerbaudo, 2016). Uma sociotécnica que tem ajudado a viabilizar não
apenas os processos de des-democratização que têm chocado as ciências humanas nas
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últimas décadas, mas que carrega ainda a potencialidade de gerar cidadãos de pendor
autoritário e conservador, despreparados para o cultivo do que outrora caracterizávamos
como vida democrática em sociedades plurais, como mostram pesquisas recentes sobre
a indiferença da chamada millennial generation em relação ao regime democrático
(Foa; Mounk, 2016) e outros tantos estudos sobre as sociedades digitais e datificadas.
Por tudo que já se discutiu até aqui, urge que as sociedades reflitam sobre o
universo digital da datificação, sobre sua natureza privatista, opaca e direcionadora de
comportamentos e preferências, e que decidam, politicamente, como regular, tornar
pública e mais transparente a lógica de operação algorítmica e todos os seus
componentes – machine learning, captura, controle e acumulação de big data,
programação dos aplicativos consumidos pelos usuários e tantas outras ferramentas que
sustentam a infraestrutura sociotécnica da rede. Uma tarefa que exige de cientistas
sociais e de todas e todos que refletem sobre a vida social e política um esforço de
imersão crítica no árido mundo das tecnologias digitais e seus modos de operação.

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