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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CADEIRA DE TEORIA DEMOCRÁTICA E DEMOCRATIZAÇÃO

Primeiro Semestre do Ano Lectivo 2021 – 3º Ano de Licenciatura em Ciência Política

Laboral

Docente: José Jaime Macuane


Assistente: Líria Langa

Prova Escrita – 27 de Julho de 2021

1. Com base nos diferentes autores abordados ao longo do semestre, identifique e disserte
sobre as contradições da democracia liberal no que concerne à conciliação dos seus vários
elementos constitutivos, à participação, aos demos e à liberdade. Na sua dissertação
considere tanto a democracia dos “antigos” como dos “modernos” (10,0 valores).

2. Identifique e fale sobre as diferentes variações dos sistemas políticos que estão na “zona
cinzenta” entre o autoritarismo e a democracia, incluindo no que concerne às suas
diferentes dinâmicas de funcionamento (10,0 valores).

Bom trabalho!
Resolução da prova TDD, 2021- Gildo Chau, Laboral.

1. Com base nos diferentes autores abordados ao longo do semestre, irei identificar e dissertar
sobre as contradições da democracia liberal no que concerne à conciliação dos seus vários
elementos constitutivos, à participação, aos demos e à liberdade. Na minha dissertação
considero tanto a democracia dos “antigos” assim como dos “modernos”.

Bom, para responder à questão colocada, remete-me a sustentar o meu argumento com
base na literatura vista ao longo do semestre, discutida por autores como Lessa, Sartori, Bobbio,
Lipset, Dahl e Cunningham, quando falam sobre teoria de democracia, seus elementos, seu
surgimento e definição, bem como a democracia dos antigos e modernos. Portanto, com base
nesses autores, a primeira coisa que eu vou dizer é que a democracia é um debate fenomenológico
inacabado e em construção, fruto de contribuições ideais de que seria uma forma de governo
perfeito bem como de que seria na prática esse todo conjunto de ideais desde o seu surgimento
até os dias actuais. No entanto, esta democracia na sua operacionalização tende a mostrar
desigualdades embora todos são livres e iguais, na medida em que implica a ter mais para um
determinado grupo de actores em detrimento dos outros. Por outro lado, esta democracia de uma
certa forma exclui a sociedade, pois limita esta mesma sociedade a participar e intervir em certos
assuntos. E quanto as contradições da democracia liberal de facto, a democracia liberal,
ignorando-se o facto de que se pretende democracia, trouxe em relação aos outros modelos de
governo, avanços significativos espalhados pelas mais diversas áreas. Ela possui seu ponto
positivo quando comparadas as condições de liberdades políticas que ela permite com as de outras
formas de governo. Porém, simplesmente por trazer muitos benefícios não podemos ignorar os
malefícios que traz e a necessidade de se melhorar em muitos diversos aspectos da sociedade. E
também não se pode acreditar que democracia liberal signifique somente melhorias em relação
aos modelos anteriores e ignorar o facto de que há o obscurecimento de diversas áreas, além do
mascaramento de diversas realidades negativas que se encontram ou pioradas ou geradas pelo
liberalismo de cunho elitista. De tal modo que, essa forma de democracia possui uma
característica preocupante devido ao caráter de sua constituição teórica. Essa característica se dá
pelo facto de a democracia liberal estar associada ao sistema capitalista, que por sua vez, se
caracteriza pela divisão de duas arenas de ação, em uma lógica liberal que gera um aparato
desigual, destinado ao benefício de uma classe em detrimento da outra desde que esta outra tenha
aceitado este modelo como adequado pelo efeito da ideologia dominante e submetido.
Os outros elementos que tem sido alvos de críticas são a participação e liberdade. É que se esse
regime passou necessariamente a incluir uma gama de direitos individuais muito além daqueles
que os cidadãos detinham nas primeiras ordens democráticas e republicanas como a liberdade de
expressão e participação política, em que os cidadãos têm o direito de se expressar, sem o perigo
de punições severas, quanto aos assuntos políticos de uma forma geral, o que inclui a liberdade
de criticar os funcionários do governo, o governo em si, o regime, a ordem socioeconômica e a
ideologia dominante, porque é que no meio desta democracia liberal, há um paradoxo rotulado
por um conjunto de restrições. Ademais, é possível também que existam regimes políticos
democráticos liberais em que o direito de participação esteja disponível a uma ampla parcela da
população, ao mesmo tempo em que a contestação política é restrita, o que passa a deixar a ideia
de um pluralismo incipiente.
A última questão esta ligada a etimologia dessa democracia, desde os antigos até os
contemporâneos olhando para todas variáveis ou elementos democráticos. Em primeiro lugar, a
ideia de configuração histórica da democracia tal como a conhecemos hoje, é um evento recente
que encerra a decantação de três paradigmas (clássico, liberal e socialista) do ponto de vista da
sua etimologia e circunstâncias, assim sendo, o primeiro deles é o velho paradigma da democracia
clássica, este, traz a ideia de que o governo é o demos, de povo e para o povo sem qualquer
intermediação, em que os cidadãos abdicavam-se das suas vidas privadas e actvidades
económicas pela colectividade, em uma participação directa na esfera pública, opiniões sem
censura ou filtro. Porém, essa referência foi interpelada em uma das vertentes utópicas que
configuram a democracia moderna. Uma forma ideal, e desde a sua etimologia é problemática ao
encontrar dificuldades ou desafios na sua aplicação e que não pode ser desassociada de valores
de actores políticos que definem e moldam os fenômenos democrático, de tal forma que, na teoria
política moderna, a democracia foi definida como aquele arranjo institucional para chegar a
decisões políticas em que os indivíduos adquirem o poder de decidir por meio de uma luta
competitiva pelo voto. Ou seja, um regime político responsivo a todos os cidadãos. Nesta
democracia moderna, os cidadãos conciliam o capitalismo e a colectividade; esta democracia é
feita por uma representação, um elemento que traz consigo instituições que vão ditar as regras do
jogo desde a filtração das opiniões ditas. Portanto, há questionamento de que não se abre o espaço
para comparação na medida em que tanto a democracia directa assim como indirecta cada uma
tem suas virtudes. Ao certo é que a democracia moderna, surge no contexto de lutas,
transformações sociais, conjunto de ideais, em um processo histórico continuo até a noção da
democracia contemporânea.
Para terminar, um dos elementos que emerge na democracia moderna é a questão da representação
que inevitavelmente envolve o mandato e seu valor político, que surge para resolver problemas
da democracia. Porém, esta representação não fugiu da regra, a semelhança da democracia liberal,
é um debate histórico ideal e inacabado, rotulada de problemas e questionamentos no concerne
as matrizes normativas e empíricas no intuito de aproximar esses dois polos. Não obstante, um
dos problemas efectivamente é como defender os interesses dos representados (a maioria); o
segundo problema, é como evitar que o princípio da maioria, que caracteriza o regime
democrático leva a exclusão dos interesses das minorias; e por outro lado, como evitar que este
pequeno grupo que vai representar a maioria não leva a um regime não democrático.

2. Identifique e fale sobre as diferentes variações dos sistemas políticos que estão na “zona
cinzenta” entre o autoritarismo e a democracia, incluindo no que concerne às suas diferentes
dinâmicas de funcionamento.
Bom obviamente, para debruçar em torno das diferentes variações dos sistemas políticos
que estão na “zona cinzenta” entre o autoritarismo e a democracia, incluindo no que concerne
às suas diferentes dinâmicas de funcionamento, irei fundamenar as minhas posições com base
na literatura vista a longo do semestre trazida aqui por autores nacionais e internacionais, ao
falar da terceira onda de democratização, a transição e consolidação da democracia, a
democratização na África e em Moçambique. Portanto, recorri inevitavelmente autores como
Macuane nas obras 2000 e 2009, Rosário, Guambe, Salema 2020, Lynch, Crawford 2011,
Huntington 1994, Linz e Stepan entre outros, autores que de forma exaustiva teceram vários
cometários a cerca da democratização em Moçambique, África e no Mundo. Dai que a
primeira coisa que eu vou dizer, é que os mecanismos que permitem o estabelecimento e
funcionamento eficiente de todas instituições e sistemas políticos democráticos têm sido uma
das maiores preocupações da ciência política. Nesse âmbito, o primeiro elemento a ser
avaliado é o sistema de político, muitos chamam de presidencialismo, mas prefiro chamar de
semipresidencialismo - a existência de um presidente eleito por voto directo e um primeiro-
ministro, por este nomeado, que exerce as funções de coordenação do governo, mas não é
explicitamente o chefe do mesmo, aos dizer de autor Macuane (2009), na medida em que é
nocivo para a estabilidade política por causa do seu caráter de soma zero (quem ganha leva
tudo), da possibilidade de o presidente governar sem o apoio da sua coalizão, chegando a
exercer um poder que não condiz com a limitada pluralidade que o elegeu. Porém, outro grupo
de autores vai dizer que por outro lado, o parlamentarismo, seria superior ao presidencialismo,
porque permite a representação de outros partidos e grupos que não são os vencedores, e os
perdedores podem fazer parte da coalizão vencedora, dependendo das alianças políticas pode-
se retirar o governo, caso tenha perdido o apoio da sua coalizão, sem que haja uma crise
institucional e o horizonte do chefe de governo é maior, desde que a sua coalizão vença as
eleições subsequentes.
O segundo elemento que este sistema pressupõe para estes regimes, é o da escolha de sistemas
eleitorais. A principal questão é que tipo de fórmula eleitoral, maioritária ou proporcional
promove uma melhor representação das diversas tendências existentes na sociedade e permite
a formação de governos estáveis, visto que por um lado, o sistema eleitoral maioritário tem
de facto a punir e fragilizar pequenos partidos e a favorecer o grande, restringindo o acesso
de pequenos partidos ao Legislativo o que acaba por provocar uma grande
desproporcionalidade na relação entre votos obtidos e assentos parlamentares alocados, o que
de uma certa forma e repentina permite a sustentabilidade das decisões do governo (apoio
total e falta de check and balance). A outra questão que apresento é o comprometimento de
actores políticos relevantes de ponto de vista de que a democracia terá poucas chances de
sucesso caso os representantes do regime autoritário continuem no poder. Pois, como temos
assistido há grandes chances de o processo da democratização ser apenas uma forma de
manutenção dos representantes do regime autoritário no poder “BIG MEN”, e este problema
é acompanhado de autoritarismo eleitoral que elimina de forma intensa a alternância política.
Nessa linha de ideia, olhando a reflexão sobre que condições determinam ou podem derrubar
o autoritarismo, dando o sucesso do processo de democratização e a consolidação da
democracia, diria que é uma outra vertente importante dentro da avaliação dos processos de
democratização, como afirma Huntington (1994), na sua obra: alguns aspectos podem influir
na consolidação das democracias da terceira onda, como as experiências longas e recentes
com a democracia, um certo grau de desenvolvimento económico, o domínio da influência de
causas internas - como os elementos históricos, socioeconômicos, políticos e institucionais
existentes. Ademais, a predominância de herança institucional que influencia a transição para
a democracia que vive – se até hoje, o neopatrimonialismo e suas instituições, com o
clientelismo, uso de recursos políticos para legitimação política, assim como várias teorias
indicam que os legados histórico e institucional são propícios à democracia. Por outro lado, a
existência de partidos políticos fracos; a existência de um campo político restrito
principalmente para questões inerentes a participação política, a contestação política e opinião
pública, perseguições aos membros das organizações da sociedade civil, cuja dominação
expressa mais o uso directo da violência do que a sua liderança moral, intelectual e material.
Portanto devo dizer e concordar com autores acima citados, que é todo um conjunto de
condições apontadas que fragilizam o sucesso da democratização, o leva certos regimes para
não dizer a maioria a uma zona de penumbra, longe de serem regimes democráticos, mas sim
regime híbrido e em uma zona cinzenta.
Para concluir, outros autores vão dizer que olha, para contornar ou mesmo sair da zona
cinzenta, esses países poderiam iniciar com o processo de modernização, embora não é a única
condição para democratização, pois há efectivamente a necessidade de levantar outros
requisitos sociais a democratização como: a abertura sob ponto de vista de distribuição de
poder para competição e grau de participação na esfera pública e no processo de tomada de
decisão bem como o direito de eleger e ser eleito (eleições livres); o outro requisito é o
pluralismo societal que vai fazer a dispersão de poder em diferentes actores políticos
relevantes; aceitação da oposição que potencialmente pode substituir o grupo dominante;
legitimidade política; o desenvolvimento econômico, entre outros requisitos. O outro
elemento seria o processo de liberalização – um processo de abertura que vai desde um
conjunto de normas constitucionais que devem ser respeitadas no relacionamento entre
actores na sociedade, bem como a combinação de todos requisitos acima apresentados. Porém,
pode haver um começo de liberalização e não se chegar a democratização, assim como é
primordial referir que nem todos os países em desenvolvimento vão seguir todos os passos
rumo a democratização. E o que na maioria das hipóteses vai acontecer é que estes países vão
conciliar elementos de regimes democráticos e autoritários o que vai nos levar de volta a
regimes híbridos, que apenas serão caracterizados por pluralismo nominal ou incipiente.
enfim, a democratização envolve todo um conjunto de factores condicionantes e incentivos
que não acontecem de forma linear.

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