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FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CADEIRA DE TEORIA DEMOCRÁTICA E DEMOCRATIZAÇÃO

Primeiro Semestre do Ano Lectivo 2021 – 3º Ano de Licenciatura em Ciência Política

Laboral

Docente: José Jaime Macuane


Assistente: Líria Langa

Discente: Floriana Joana Jorge.

Prova Escrita – 27 de Julho de 2021 Commented [JJ1]: 16,0 valores

1. Com base nos diferentes autores abordados ao longo do semestre, identifique e disserte Commented [JJ2]: 8,0 valores

sobre as contradições da democracia liberal no que concerne à conciliação dos seus


vários elementos constitutivos, à participação, aos demos e à liberdade. Na sua
dissertação considere tanto a democracia dos “antigos” como dos “modernos” (10,0
valores).

R: A democracia como "governo do povo e pelo povo", segundo Lincoln, sofreu várias
modificações ao longo do tempo, tanto no seu ideal assim como na sua essência. Na
atualidade a democracia que se vive, segundo Cunningham, é uma democracia liberal,
representativa e com o indivíduo como o centro, mas nem sempre foi assim.

Segundo Sartori, as questões relativas ao demos, á participação e a liberdade política,


são antigas na democracia, mas não se igualam ao que hoje estes representam na
democracia liberal
Na Grécia antiga, onde surgiu a democracia, já havia um certo problema em definir
efectivamente quem é o demos, e este é essencial para entender a democracia uma vez
que esta seria o "governo do demos", entretanto, na antiguidade nem todas as pessoas
que vivam na polis podiam governar e participar da vida política. O demos na Grécia se
referia apenas a uma minoria das pessoas, excluindo as mulheres, crianças, idosos,
escravos, estrangeiros e condenados, assim sendo mais da metade das pessoas não
participavam da vida política, não tinham Direitos políticos. Assim sendo, nota-se que a
democracia não era desejável por esta questão.

Bem, ainda segundo Sartori,esta questão da definição do " demos" não foi um problema
apenas da antiguidade, ainda nos dias atuais se verifica e preocupa os estudiosos da
Teoria Democrática, uma vez que, houve uma grande ampliação dos direitos políticos,
onde a maioria das pessoas tem o direito de participar da vida política, mas ainda assim
nem todos, onde temos por exemplo as crianças que não participam, mas sendo essência
da democracia liberal a garantia de que as maiorias irão participar e que nenhum tipo de
critério de censura,segundo educação ou situação financeira, serão usados para excluir
as pessoas de participar na vida política.

Para Sartori, o mesmo acontece no que diz respeito à questão da participação na vida
política, há uma enorme diferença da participação na antiguidade e da participação nas
democracias liberais, na antiguidade a participação era direta, onde cada cidadão ia a
Assembleia popular defender os seus interesses e da polis, diferentemente acontece nas
democracias liberais, onde, pela sua essência é Representativa, onde os cuidados têm o
direito de eleger aqueles que serão os seus representantes e tomarão decisões em nome
de todos.
Para Sartori, a questão da liberdade não é diferente, na antiguidade a liberdade era um
conceito exclusivamente político, e indissociável da polis, assim sendo a liberdade dos
indivíduos se esgotava em ser cidadão ( ainda aliado a questão da participação na vida
política), e assim não se concebia o indivíduo isoladamente da polis, nas democracias
antigas mais do que um direito ( para alguns), participar na vida política era praticamente
uma obrigação, era um elemento para se ser bem visto, era associado á moral, e assim
os indivíduos eram essencialmente cidadãos e não Pessoas, a vida como pessoas estava
em segundo plano, nada se podia intrometer entre a polis e o indivíduo e este devia
cuidar e participar nesta em detrimento das outras funções da vida, e por esse motivo é
que Aristóteles dizia que " quanto mais perfeita a democracia, mais pobre o povo",
porque os indivíduos engajavam-se de tal forma na vida política que negligenciavam as
demais funções como as económicas, e isto tudo era fruto do facto da democracia ser
direta, a participação do indivíduo era direta, diferente é o quê acontece nas
democracias liberais, esta democracia protege e enaltece a liberdade do indivíduo
enquanto pessoa,do indivíduo enquanto o centro do estado, assim sendo, participar da
vida política na atualidade é um direito dos indivíduos, onde estes elegem os seus
representantes, e assim o indivíduo pode ter uma vida, focar em outras arenas da vida
como a econômica e mais.
O facto da democracia liberal ser o produto atual e da evolução da democracia antiga, não quer
dizer necessariamente que esta seja melhor ou que não apresente problemas, pois também
apresenta, segundo Cunningham seria esses problemas, a questão da tirania da maioria para as
minorias, a questão do governo ser mais ineficaz, uma vez que as pessoas cobram e esperam
demais dos governos democráticos e estes as vezes não conseguem atender as expectativas, a
questão de ser mais fácil enclodir conflitos, ou a democracia poder "temperar" conflitos,
principalmente em estados multiétnicos pela questão do consenso discordante que a
democracia representa, assim sendo, a democracia liberal a essência e o melhor da democracia
liberal é o facto de colocar o indivíduo no centro, de conceder e garantir direitos e liberdades, e
assim se torna o regime mais preferível, apesar de esta estar em crise na atualidade. Commented [JJ3]: Boa resposta, mas faltam alguns
pontos, dentre os quais a reflexão sobre a conciliação dos
elementos constitutivos: igualdade e liberdade, democracia
liberal e capitalismo.

2. Identifique e fale sobre as diferentes variações dos sistemas políticos que estão na “zona
cinzenta” entre o autoritarismo e a democracia, incluindo no que concerne às suas
diferentes dinâmicas de funcionamento (10,0 valores). Commented [JJ4]: 8,0 valores

R:A questão da Zona cinzenta foi uma designação usada por Thomas Carothers para identificar
regimes híbridos, que são países que entraram no processo de democratização mas não
chegaram a se democratizar efectivamente, estes países estagnaram em algum ponto e
adotaram características tanto de regimes democráticos como de regimes autoritários e tem se
mantido assim por muito tempo.
Vários autores estudaram e tentaram definir os tipos de regimes híbridos que se encontram na
zona cinzenta, são eles:
Schmitter que avança duas possibilidades de regimes híbridos: dictablanda, quando há
liberalização mas não há democratização, e democradura, que é o inverso, há democratização
mas não há liberalização, e normalmente são realizadas eleições mas servem apenas para
legitimar o partido no poder.

Bogaards também trouxe uma classificação dos regimes híbridos e traz duas categorias de
regimes: as “democracias imperfeitas” e, “regimes eleitorais autoritários”. Onde o autor
partindo dos valores e princípios da democracia liberal encontra as democracias imperfeitas,
que carecem de legitimidade vertical ou não há respeito pelas liberdades e direitos civis, e os
regimes eleitorais autoritários, que seriam regimes onde se realizam eleições mas estás não são
livres, justas e muito menos competitivas, serve para perpetuar o partido no poder.

Matthijs Bogaards, fala ainda de outros tipos de regimes: semiautoritarismo, autoritarismo


competitivo e autocracia liberalizada.

Doravante, Lauth, Merkel et al conceitualizam que os regimes que se encontram na zona


cinzenta são democracias defeituosas e podem ser: democracia exclusiva, democracia
delegativa, democracia iliberal e democracia com domínios reduzidos.
São várias as classificações existentes para categorizar os regimes que de encontram na zona
cinzenta, e segundo Thomas Carothers, muitos dos países que de encontram aqui tendem a
desenvolver duas principais características:
- O pluralismo débil ou incipiente, onde não há uma efetiva diferenciação da expressão
pluralista, ou seja, não existem efectivamente vários polos de poder dispersos pela sociedade,
e isto acontece porque há controle das instituições por elites, as instituições existentes são
graças ou controladas, e existem vários grupos e vários interesses mas não há efectivamente
uma participação de várias camadas no processo de tomada de decisão.
- e segundo, existe um sistema de poder dominante, onde, o estado se confunde com o partido
e foi capturado por este e nominalmente o país é multipartidário nas na prática atores
específicos e grupos restritos controlam o poder. Commented [JJ5]: Boa resposta. Faltou desenvolver um
pouco mais sobre as dinâmicas desses regimes na zona
Bom trabalho! cinzenta.

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