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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

LETICIA CATARINO LIBÓRIO

2023086269

RESENHA: DISTINÇÕES ENTRE DEMOCRACIA ANTIGA E


CONTEMPORÂNEA COM MENÇÕES EM PLATÃO E ARISTÓTELES

Belo Horizonte

2023
A democracia é uma forma de organização política difundida nas diversas
lideranças ocidentais, entretanto, foram necessários diversos acontecimentos históricos e
debates entre pensadores – em suas respectivas épocas – para a construção das suas
características e estipulações das críticas em torno dessa ordenação. Para a apresentação
da democracia em si e suas desvantagens, é previamente fundamental delimitar sua
origem e funcionamento de suas instituições, requisitos e regras para participação de
uma vida política. Para tal, teremos como enfoque os textos de Aristóteles, Norberto
Bobbio, Robert Dahl e Platão.

Quando abrimos o tópico “democracia”, referimo-nos ao processo de


transformação do sistema em que um número considerável de homens adultos e livres
começa a ter o direito à vida política, como indivíduos de uma pólis, que
respectivamente mantém o seguinte significado geral, estipulado por Bobbio:

“Por pólis, se entende uma cidade autônoma e soberana, cujo quadro


institucional é caracterizado por uma ou várias magistraturas, um conselho e
uma assembléia de cidadãos (politai).” (Bobbio, 1998, p.249)

Embora o significado apresentado acima se interligar a noção de democracia, em sua


construção histórica, Bobbio em sua tese, afirma que podemos definir o início da polis
grega através do processo de transição da monarquia para a oligarquia e teria se
consolidado sem o obstáculo de intervenções externas, superando assim, as instituições
monárquicas com o domínio da nobreza militar, caracterizando a pólis inicial em um
modelo aristocrático.

Com o advento da expansão do comércio marítimo, formava-se uma classe


burguesa mais rica que, posteriormente, aumentaria suas posses de terras, que
gradativamente, estariam em maior quantidade no que concerne a atividade política,
resultando assim, em um governo timocrático, em que os acessos a cargos políticos são
dependentes da quantidade de posses de determinado indivíduo.

A mudança da oligarquia para a democracia tange-se em características


sublimes, os órgãos e instituições podem ser os mesmos, todavia a quantidade e a forma
de poder se diferem significativamente, por exemplo: se temos como foco a democracia,
o governo do povo, a instituição de maior peso e influência seria, teoricamente, a
assembléia dos cidadãos. Conclui-se que a democracia em seus primeiros momentos e
no caminho para a estabilidade implica o poder maior à assembléia e trazia novos
critérios para a escolha dos atuantes nos magistrados, fundamentando-se na prática do
sorteio. Apesar de a democracia entrar em declínio após a guerra contra os macedônios,
é vantajoso salientar os aspectos positivos, como o poder judiciário, que exercendo tais
funções desta área o cidadão consegue participar ativamente da soberania e da
organização da pólis. Por outro lado, por uma visão mais negativa, dessa vez debatida
por Dahl, a democracia grega era exclusiva e não inclusiva, levando em conta que a
cidadania plena era negada pela parcela majoritária da sociedade grega – mulheres,
estrangeiros e escravos – sendo a cidadania um “(...) privilégio hereditário baseado em
laços primordiais de família.” (Dahl, 2012, p.32). Logo, por ser uma sociedade
escravocrata, entre os gregos, em sua totalidade, não existia a democracia, por não ser
algo difundido geograficamente para outras polis; o próprio conceito da “liberdade” não
existia para pessoas fora da comunidade e de um raio de distância maior que as
delimitações do pólis.

Após diversas experiências históricas, a democracia moldou-se ao passar do


tempo, encaixando no contexto moderno ocidental do legado do governo popular. A
abordagem a seguir fundamenta-se na crítica à democracia, exposta por Robert Dahl,
pois através de tais críticas, nos possibilita a compreensão de tal organização política
moderna.

No que concerne o processo histórico de consolidação da democracia na


modernidade, Dahl introduzira o conceito de “amálgamia” – uma metáfora indicando a
mistura de variados elementos – com finalidade de externalizar seu perfil incoerente.
Contudo, é inegável que a democracia envolve a igualdade de algum modo ou as mais
“recomendáveis”, “isegoria, igualdade de todos os cidadãos falarem na assembléia e a
isonomia, igualdade perante a lei.” (Dahl, 2012, p.19).

Os requisitos para uma democracia ideal, para Dahl, seguem seis estipulações:

1) Os cidadãos devem ser suficientemente harmoniosos, em seus


interesses, de modo a compartilhar um sentido forte de bem geral. 2) Os
cidadãos devem ser homogêneos no que tange às características, quede
outra forma tenderiam a criar conflitos políticos e profundas
divergências. 3) O corpo de cidadãos deve ser pequeno [...], bem como
evitar a inclusão de pessoas de línguas, religiões e histórias diferentes
[...] e o tamanho reduzido era essencial para os cidadãos se reunissem em
assembléia de modo a servir de soberanos de sua cidade. 4) Cidadãos
devem ser capazes de se reunir e decidir, de forma direta, sobre leis e
cursos de ação política. 5) Participação dos cidadãos não se limitava às
reuniões da assembléia. Ela também incluía uma participação ativa na
administração da sociedade. 6) A cidade-estado deve permanecer, ao
menos idealmente, autônoma. (Dahl, 2012, p.38)
Apesar do apresentado no supracitado delimitar o que seriam as melhores
circunstâncias para a democracia, na contemporaneidade, certos aspectos são
impraticáveis devido a novas dimensões das associações humanas, tanto
geograficamente quanto no contato entre culturas e religiões. As extensões territoriais
não abrangem o tamanho das cidades-estado, mas de um país/Estado nacional, diferindo
dos padrões gregos; em razão da maior gama de indivíduos, a noção de homogeneidade
não se mostra presente pelas diversas culturas, religiões, histórias de vida, etnia, raça e
situação econômica. Nesses parâmetros, Dahl debate que a marca característica da
democracia moderna baseia-se em diversos conflitos políticos e como a quantidade de
cidadãos são maiores, reunir-se em assembléia é ineficaz, resultando em uma
democracia indireta – eleição de representantes – em vez da democracia direta, que os
cidadãos participam ativamente na escolha de decisões e, por fim, as unidades políticos
– partidos ou “facções” – não agem de formas autônomas e sim dependentes e
subordinadas a um sistema maior.

Ainda que a democracia seja bem vista atualmente, essa ideia não era bem
difundida e aceita no contexto antigo. Platão, em meio a seus estudos, via todas as
formas de governo um declínio/regresso; todos os Estados existentes são corrompidos
de algum modo. Em sua visão, considerou quatro formas de governo degeneradas:
timocracia > oligarquia > democracia > tirania; tendo como governo ideal, de forma
aproximada, a monarquia e aristocracia, desde que seja gerida por sábios. A forma de
governo “perfeito”, apesar de não explícito em documentos sobre política antiga, tem a
função de modelo, como apresentado por Bobbio em “A Teoria das Formas de
Governo”: +) ------ (+. (Bobbio, 10ªed, p.37)

A democracia, para Platão, nas palavras de Bobbio:

A democracia está no fim da série “boa” e no princípio da série “má”. Além


do mais, essa disposição pode servir para explicar por que a democracia tem
um só nome: sendo a pior forma entre as boas, e a melhor entre as más, não
apresenta, nas duas versões a diferença do governo de um só, que na versão
boa é a melhor e na versão má é o pior. (Bobbio, 10ªed, p.45)

Dessa forma, a mesma é vista como uma das formas de política degeneradas por
estar inserida em uma das modalidades de discórdia que podem levar uma cidade à
ruína por fundamentar-se em um conflito entre a classe dirigente e a classe dirigida,
desclassificando-a como uma boa forma de governo devido a tal violência e conflito de
poder. Logo, nessa conjuntura, na democracia, a coesão social ameaçada, disputas
faccionais, conflito de interesses e instabilidade.

Ao contrário de Platão, Aristóteles acredita que a história é uma continuação de


formas boas e más, como em tal exemplo: +-+-+- (Bobbio, 10ªed, p.37). Seu sexto livro
tem como foco as várias formas de democracia e oligarquia; resumindo, “Mas a
democracia é o desvio menos ruim: com efeito, pouco se afasta da forma de governo
correspondente.” (Bobbio, 10ªed, p.49). Mas, para Aristóteles, como definiríamos
conceitos de delimitação e caracterização das formas de política? Antagonizando Platão,
o critério empregado não se delimita em consenso, força, legalidade ou ilegalidade, mas
sim o interesse comum ou pessoal. E as formas boas seriam aquelas em que o
governante possui uma mentalidade de bem comum e as más são aquelas em que o
governante é movido à base de interesses pessoais. Em síntese, apesar de não ser a
melhor forma de governo, a democracia na visão aristotélica seria degenerada caso se
transformasse em uma demagogia – hegemonia política das facções populares – porém,
caso não houvesse a degeneração, seria uma forma política boa dependendo dos
interesses envolvidos.

Concluindo, as perspectivas acerca da democracia irão depender do período


histórico inserido, da organização do Estado nacional/ país, organização social e
interesses político, sendo estes de bem comum ou de interesses pessoais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ARISTOTELES. A Política. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.


 BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e Pasquino, Gianfranco. Dicionário
de Política. São Paulo: Editora UNB – Imprensa Oficial: 2004.
 DAHL, Robert A. A Democracia e seus Críticos. São Paulo: Martins Fontes,
2012.
 PLATÃO. A República. 7. Ed. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.

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