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Estudo dirigido 2 - J. M.

Carvalho

Texto: CARVALHO, J. M. Cidadania: tipos percursos. Estudos Históricos, Rio de


Janeiro, n. 18, 1996.

Fonte complementar consultada: TEIXEIRA, Raniery Parra. Cidadania, Estado e


estratos marginalizados: a produção de status desiguais na sociedade brasileira do
século XIX ao XX. Universidade Estadual de Londrina. Disponível em:
http://www.uel.br/eventos/semanacsoc/pages/arquivos/GT%208/644-37092-6195-20
13-04-20-Trabalho%20Semana%20Sociais%20-%20Raniery.pdf

Aluno: Arthur Bernardes de Oliveira

1) Relação entre cidadania e cultura política (2)

A cidadania refere-se aos direitos e deveres dos cidadãos em uma


comunidade, incluindo sua participação nos processos políticos e sua relação com o
Estado. Por outro lado, a cultura política engloba as crenças, valores e
comportamentos que moldam a forma como os indivíduos e grupos interagem com o
sistema político. Ao longo da história, diferentes tradições de cidadania surgiram em
diversas partes do mundo, refletindo as características sociais, políticas e culturais
de cada contexto específico, estando relacionadas às culturas políticas locais. A
cultura política é um conceito complexo que envolve as atitudes, valores e
comportamentos dos indivíduos em relação ao sistema político de uma sociedade.
Em alguns países, a cidadania foi conquistada através de movimentos
populares de base, nos quais os cidadãos lutaram por direitos civis e políticos contra
um Estado autoritário. Esse tipo de cidadania construída de baixo para cima é
frequentemente associada a uma cultura política participativa, na qual os indivíduos
se veem como membros ativos da sociedade e participam ativamente nos processos
políticos. Por outro lado, existem tradições de cidadania que se desenvolveram de
cima para baixo, nas quais o Estado desempenhou um papel central na concessão
de direitos e na definição dos limites da cidadania. Nesses casos, a cultura política
pode variar, indo desde uma atitude de respeito e lealdade ao Estado até uma maior
alienação e passividade por parte dos cidadãos.
Em relação à tipologia de Turner, que se refere à cultura estado-cêntrica,
destaca-se a dificuldade de aplicá-la ao contexto brasileiro. Enquanto na França a
revolução possibilitou uma cidadania universal e independente do Estado-nação, no
Brasil, a centralidade do Estado não indica necessariamente um caráter público e
universalista. A expressão "estadania" é mencionada como algo que não tem um
sentido propriamente cívico. A análise feita pelo autor, em que compara a cultura
política brasileira com a alemã, sugere que o privatismo brasileiro no século XIX se
aproximava mais do paroquialismo, enquanto o privatismo alemão poderia
enquadrar-se em uma cultura súdita.
Em suma, a cidadania está ligada à cultura política uma vez que esta molda
as atitudes, valores e comportamentos das pessoas em relação ao sistema político.
A tipologia proposta por Almond e Verba distingue entre cultura paroquial, súdita e
participativa, oferecendo uma estrutura para entender essas dinâmicas. Uma cultura
política participativa favorece uma cidadania ativa, onde os indivíduos participam
ativamente nos processos políticos. Já uma cultura súdita ou paroquial pode resultar
em uma cidadania mais passiva e alienada. Compreender essas relações é
essencial para analisar o desenvolvimento da cidadania em diferentes contextos
históricos e culturais, destacando a importância de estudar não apenas os direitos
formais, mas também as práticas e atitudes que moldam a participação política e a
relação com o Estado.

2) O que compõe a cidadania política: tipos de participação (2)

No texto, a cidadania política é descrita como um conceito mais amplo do


que apenas o direito de votar e ser votado. É mencionado que a cidadania política
inclui a participação nos três poderes, o exercício da imprensa política, a formação
de organizações políticas, a direção de reclamações e petições ao governo, além do
direito de resistência à ação ilegal das autoridades. Também é destacado a
participação direta no poder judicial, como ser jurado e juiz de paz, como parte dos
direitos políticos.
Os tipos de participação no século XIX mencionados incluem:

1. Participação nos três poderes: A capacidade de participar ativamente no


exercício dos três poderes do Estado.
2. Exercício da imprensa política: O direito de expressar opiniões políticas
através da imprensa.
3. Formação de organizações políticas: A possibilidade de criar e participar de
organizações políticas.
4. Direção de reclamações e petições ao governo: O direito de dirigir demandas
e solicitações ao governo.
5. Direito de resistência à ação ilegal das autoridades: O direito de resistir a
ações ilegais por parte das autoridades.

Além disso, o texto destaca a participação através do serviço do júri como


uma forma de participação na esfera do poder judiciário. No entanto, a participação
no júri foi menos abrangente do que a participação eleitoral. Resumindo, os tipos de
participação política mencionados no texto incluem não apenas o ato de votar, mas
também uma variedade de atividades que permitem aos cidadãos influenciar o
governo e a sociedade, como participação nos três poderes, imprensa política,
formação de organizações políticas, direção de reclamações ao governo, resistência
a ações ilegais e participação no poder judiciário através do serviço do júri

3) Cidadãos em negativo: o que significa. (2)

O conceito de "cidadão em negativo", conforme delineado por Carvalho,


refere-se especificamente àquela parte significativa da sociedade que, apesar de
representar a maioria populacional, foi impedida de explorar plenamente suas
capacidades de participação. A privação do acesso à educação, por exemplo,
emerge como o principal obstáculo, resultando em um sério prejuízo para o
desenvolvimento da consciência cívica. Sofreram mais duramente as consequências
do sistema colonial na medida em que “havia um potencial de participação que não
encontrava canais de expressão dentro do arcabouço institucional e que, também,
não tinha condições de articular arcabouço alternativo” (Carvalho, 1996, p. 15 apud
Teixeira, 2013, p. 09).
Assim, Carvalho (1996) traz a temática do desprezo do Estado brasileiro por
suas populações. Foi nesse mesmo ritmo que cunhou o neologismo ‘estadania’,
para dizer que o Estado brasileiro é mais forte na defesa de si próprio do que no
respeito aos direitos de quem deveriam ser seus cidadãos, mas a quem ele trata
como subordinados que devem ser reprimidos. Portanto, o “cidadão em negativo” se
relaciona com a condição na qual os indivíduos são compelidos a interagir com o
Estado e cumprir deveres cívicos, porém sem experimentar os benefícios plenos da
cidadania ativa. Isso implica que, embora estejam sujeitos às obrigações e
regulamentações estatais, esses cidadãos não desenvolvem uma verdadeira
lealdade ou engajamento cívico.

4) Quem eram afinal os cidadãos no Brasil do século XIX? (2)

No Brasil do século XIX, podemos dizer que a definição de cidadania era


complexa e multifacetada, indo além das meras prerrogativas legais estabelecidas.
Embora do ponto de vista jurídico todos fossem considerados iguais em direitos civis
e políticos, claro que com grandes ressalvas em relação a situação de grupos
sociais como mulheres, escravizados e, em certa medida, analfabetos, na prática,
essa igualdade era distorcida pela realidade das relações de favoritismo e
clientelismo que permeavam a sociedade da época. O Estado detinha uma
centralidade notável, refletindo-se em diversos aspectos da vida dos cidadãos,
porém, a efetiva participação popular na esfera política era limitada e muitas vezes
manipulada. Portanto, os cidadãos no Brasil do século XIX eram uma mistura
complexa de igualdade formal perante a lei, mas desigualdade prática em termos de
influência e participação política. A cidadania, longe de ser uma simples relação
entre indivíduos e Estado, era moldada por uma rede intricada de relações sociais e
políticas, onde o funcionamento real da relação de favor frequentemente “anulava” a
“suposta” igualdade em prol daqueles que ocupavam, metaforicamente falando, os
lugares mais altos estrutura piramidal social da época, como senhores de terra,
juristas, ocupantes de cargos do governo, etc.

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