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Fronteiras

físicas e culturais

e Sociais Aplicadas
Ciências Humanas
Leandro Gomes / Natália Salan Marpica
Priscila Manfrinati / Sabina Maura Silva

Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas

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MANUAL DO

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Fronteiras físicas e culturais

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Leandro Gomes / Natália Salan Marpica
Priscila Manfrinati / Sabina Maura Silva

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ISBN 978-85-10-08383-6

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MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Fronteiras físicas
e culturais
Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas

Leandro Gomes
Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professor e coordenador em cursinhos populares e assessor pedagógico
especialista.

Natália Salan Marpica


Doutora em Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Mestra em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Professora de Sociologia no Instituto Federal de São Paulo (IFSP).

Priscila Manfrinati
Mestra em Ciências, área de concentração Humanidades, Direitos e Outras
Legitimidades pela Universidade de São Paulo (USP).
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professora de História em cursos pré-vestibulares.
DA EDITORA DO BRASIL
Sabina Maura Silva
Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Mestra e licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Docente do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação
em Educação Tecnológica do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais (Cefet-MG).

1a edição
São Paulo, 2020
© Editora do Brasil S.A., 2020 Concepção, desenvolvimento e produção:
Todos os direitos reservados Triolet Editorial & Publicações
Direção executiva: Angélica Pizzutto Pozzani
Direção geral: Vicente Tortamano Avanso Coordenação editorial: Denise Pizzutto
Edição de texto: Guilherme Gaspar, Thais Ogassawara,
Direção editorial: Felipe Ramos Poletti Frank de Oliveira, Olívia Pavani Naveira
Gerência editorial: Erika Caldin Elaboração de conteúdo: Adriano Rogério Mastroléa, Ana Maria
Supervisão de arte: Andrea Melo Macarini, Ângelo Costa dos Santos, André Castilho Pinto, Bianca
Supervisão de editoração: Abdonildo José de Lima Santos Briguglio, Bianca Zucchi, Charles Ireno dos Santos, Fabiana Machado
Supervisão de revisão: Dora Helena Feres Leal, Júlia Bittencourt, Larissa Soares de Araujo, Marcelo Vasconcelos,
Supervisão de iconografia: Léo Burgos Paulo Victor de Figueredo Nogueira, Renata Cristina Pereira, Simone
Affonso da Silva, Tatiana Martins Venancio, Thaís Fucilli Chassot
Supervisão de digital: Ethel Shuña Queiroz
Preparação e revisão de texto: Alexander Barutti, Ana Paula
Supervisão de controle de processos editoriais: Roseli Said
Chabaribery, Arali Gomes, Brenda Moraes, Daniela Pita, Erika Finati,
Supervisão de direitos autorais: Marilisa Bertolone Mendes Glória Cunha, Helaine Albuquerque, Janaína Mello, Lara Milani,
Licenciamentos de textos: Cinthya Utiyama, Jennifer Xavier, Paula Malvina Tomaz, Márcia Leme, Miriam Santos, Patrícia Cordeiro,
Tozaki e Renata Garbellini Renata Tavares, Simone Soares
Controle de processos editoriais: Bruna Alves, Carlos Nunes, Assistência editorial: Carmen Lucia Ferrari, Gabriela Wilde, Janaína Felix
Rita Poliane, Terezinha de Fátima Oliveira e Valéria Alves Coordenação de arte e produção: Daniela Fogaça Salvador
Edição de arte: Ana Onofri, Christof Gunkel, Julia Nakano, Suzana Massini
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Assistente de arte: Lucas Boniceli
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Projeto gráfico (miolo e capa): Caronte Design
Ilustrações: All Maps, Daniel das Neves, Julio Dian
Conexão mundo : ciências humanas e sociais Iconografia: Daniela Baraúna, Pamela Rosa, Tempo Composto
aplicadas : fonteiras físicas e culturais / Imagem de capa: David McNew/Getty Images
Leandro Gomes... [et al.]. -- 1. ed. --
São Paulo : Editora do Brasil, 2020. --
(Conexão mundo)

Outros autores: Natália Salan Marpica, Priscila


Manfrinati, Sabina Maura Silva
ISBN 978-85-10-08382-9 (aluno)
ISBN 978-85-10-08383-6 (professor)

1. Ciências humanas (Ensino médio) 2. Ciências


sociais (Ensino médio) I. Gomes, Leandro.
II. Marpica, Natália Salan. III. Manfrinati,
Priscila. IV. Silva, Sabina Maura. V. Série.

20-42096 CDD-373.19
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Índice para catálogo sistemático:
DA EDITORA DO BRASIL
1. Ensino integrado : Livro-texto : Ensino médio
373.19
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427

© Editora do Brasil S.A., 2020


Todos os direitos reservados

1a edição / 2020

Rua Conselheiro Nébias, 887


São Paulo, SP – CEP 01203-001
Fone: +55 11 3226-0211
www.editoradobrasil.com.br
Apresentação

Olá, estudante!

Quando observamos a sociedade ao nosso redor, podemos perceber que


ela é formada por uma multiplicidade de identidades, pensamentos e
vivências. O respeito a essa diversidade é essencial para a construção de uma
sociedade mais justa e democrática, que valoriza e abriga diferentes projetos
de vida. Neste momento em que você está finalizando seus estudos na
Educação Básica, pode estar se questionando, cada vez mais sobre seu papel
nesta sociedade e sobre seus planos para o futuro. Pensando nisso, esta obra
convida você e seus colegas a refletirem, por meio das contribuições das
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, sobre os aspectos filosóficos, históricos,
sociológicos e geográficos do mundo ao seu redor, para que se sinta confiante
para agir e tomar decisões nele.
Durante esta jornada, vocês vão se deparar com questões complexas e debater
temas contemporâneos transversais, que irão contribuir para ampliar seus
conhecimentos e seu senso crítico. Por meio desse debate, não buscamos
fornecer fórmulas prontas, mas sim meios para que você construa autonomia no
pensamento e responsabilidade na ação social.
Nosso objetivo é auxiliá-lo a compreender seu lugar no mundo e a perceber
como sua biografia está articulada com a sociedade de forma mais ampla. O
diálogo multidisciplinar será nosso guia, fornecendo diferentes ferramentas
conceituais e metodológicas para a apreensão do mundo social em suas diferentes
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dimensões, numa leitura ativa em que você será o protagonista.
DA EDITORA DO BRASIL
Ao completar a etapa do Ensino Médio, esperamos que você se sinta preparado
para os desafios da vida em sociedade, do mundo do trabalho, do exercício da
cidadania e, mais que isso, adquira confiança para empreender as mudanças
necessárias. Isso tudo, é claro, não se faz sozinho. Reconhecendo-nos como
parte de uma coletividade, vamos muito mais longe.
Bons estudos!
Conheça seu livro
Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Mapa do Competência específica 2 – Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e


espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel

aprendizado
geopolítico dos Estados-nações.

Um conjunto abrangente de conteúdos multimodais, imagens, atividades,


EM13CHS203 EM13CHS204 EM13CHS206

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


• Educação ambiental (Meio ambiente)

UNIDADE 2 começar o percurso de aprendizagem com este livro, leia quais são os objetivos

boxes e seções especiais mobiliza habilidades e competências,


Para
OBJETIVOS de cada uma das unidades do volume, assim como suas respectivas justificativas. Conheça
também as competências, as habilidades e os Temas Contemporâneos Transversais que
O objetivo desta
serão unidade é ampliar
mobilizados o estudo
ao longo da relação entre os Estados nacionais iniciado na unidade anterior,
do percurso.
por meio da apresentação das ideias de Kant e Hegel, importantes filósofos políticos dos séculos XVIII e XIX. Em
seguida, o UNIDADE
imperialismo e as 1 diferentes manifestações de nacionalismo são discutidos no contexto das guerras
mundiais. Esse escopo logo é ampliado para a reflexão sobre o imperialismo no capitalismo. Por fim, é realizada

desenvolvendo aprendizagens relacionadas a diferentes categorias da área


uma análise OBJETIVOS
das dinâmicas populacionais, o que possibilita um amplo debate sobre temas contemporâneos, como
transição demográfica,
O objetivoDivisão
desta Internacional do Trabalho
unidade é possibilitar (DIT) e refugiados
a compreensão ambientais.
de como se dá o processo de
formação dos Estados e fronteiras por meio da análise de alguns exemplos em diferentes
JUSTIFICATIVA
momentos históricos. Com base nesse estudo, você poderá analisar criticamente o papel
O trabalho
queproposto nesta
as principais unidade
nações é fundamental
exercem no cenáriopara que vocêTambém
geopolítico. seja capaz
terádeumanalisar e caracterizar os
entendimento
os fatores amplo
que têmde grande
como seimportância na vida
deu a formação dos grupos
do Estado humanos,
brasileiro como condições
e sua configuração socioeconômicas
territorial atual. e

de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, integrada pelos componentes


políticas públicas, as quais podem levar pessoas a se deslocarem de um país para outro, por exemplo. Com
JUSTIFICATIVA
essa capacidade de compreensão e posicionamento crítico em relação a esses aspectos, você tomará decisões
alinhadas com seu projeto
Território de vida são
e fronteira de maneira assertiva.
dois conceitos amplamente utilizados na área de Ciências
Humanas, pois são fundamentais para a compreensão da organização espacial, social e
A BASE política
NACIONAL de um COMUM CURRICULAR
lugar. Os temas NESTA UNIDADE
da unidade possibilitam o entendimento desses conceitos

curriculares Filosofia, História, Sociologia e Geografia.


por meio
Competências gerais de atividades que incluem diversas linguagens, como texto, fotografias, gráficos
e obras de arte, e ampliam sua capacidade de se colocar criticamente no mundo, permi-
1. Valorizar e utilizar
tindo-lhe os conhecimentos
a identificação historicamente
de diferentes construídos
fatores que sobre
influenciam o mundo
o seu dia a diafísico, social, cultural e
e impactam
digital diretamente
para entender e explicar
a vida a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
das pessoas.
sociedade justa, democrática e inclusiva.
A aBASE
2. Exercitar NACIONAL
curiosidade intelectualCOMUM
e recorrerCURRICULAR
à abordagem própriaNESTA UNIDADE
das ciências, incluindo a investigação,
a reflexão, a análise crítica,
Competências a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipó-
gerais
teses, formular e resolver
1. Valorizar problemas
e utilizar e criar soluções
os conhecimentos (inclusive tecnológicas)
historicamente com base
construídos sobre nos conhecimentos
o mundo físico,
das diferentes áreas.
social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e
4. Utilizar diferentes
colaborar linguagens – verbal de
para a construção (oral
umaousociedade
visual-motora,
justa,como Libras, e inclusiva.
democrática escrita), corporal, visual,
sonora2.e digital
Exercitar–, bem como conhecimentos
a curiosidade das linguagens
intelectual e recorrer à abordagem artística,
própriamatemática
das ciências,e incluindo
científica, para se
expressar ae investigação,
partilhar informações,
a reflexão,experiências, ideias
a análise crítica, e sentimentos
a imaginação em diferentes
e a criatividade, paracontextos,
investigar além de
produzir sentidos
causas, que levem
elaborar ao entendimento
e testar mútuo.e resolver problemas e criar soluções (inclu-
hipóteses, formular
sive tecnológicas)
6. Valorizar a diversidade com base
de saberes nos conhecimentos
e vivências das diferentes
culturais e apropriar-se áreas.
de conhecimentos e experiências que
3. Valorizar
lhe possibilitem e fruir as
entender as relações
diversas próprias
manifestações
do mundoartísticas e culturais,
do trabalho e fazerdas locais às
escolhas mundiais,
alinhadas ao exercício
e também
da cidadania e ao seu participar
projeto de de práticas
vida, diversificadas
com liberdade, da produção
autonomia, consciênciaartístico-cultural.
crítica e responsabilidade
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita),
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens
pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência

Linguagem gráfica atraente, com seleção de textos e


artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, expe-
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético
riências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que
em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
levem ao entendimento mútuo.
9. Exercitar
5. aCompreender,
empatia, o diálogo, a resolução
utilizar de conflitos
e criar tecnologias e a cooperação,
digitais de informação fazendo-se respeitar
e comunicação e promovendo
de forma
o respeito crítica,
ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade
significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) de indivíduos

imagens em diálogo com a realidade das culturas


e de gruposparasociais, seus saberes,
se comunicar, acessar suas identidades,
e disseminar suas culturas
informações, e suas
produzir potencialidades,
conhecimentos, sem precon-
resolver
ceitos de qualquer
problemas natureza.
e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar
10. Agir pessoal a diversidade
e coletivamente com deautonomia,
saberes e vivências culturais eflexibilidade,
responsabilidade, apropriar-se de conhecimentos
resiliência e determinação,
e experiências
tomando decisões com base queem lhe possibilitem
princípios entender
éticos, as relações
democráticos, próprias
inclusivos, do mundo
sustentáveis do
e solidários.

juvenis. Baseada em Sticker Art, modalidade de arte


trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida,
Competências específicas e habilidades das Ciências
com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. Humanas e Sociais Aplicadas
Competência7. Argumentar
específica 2 com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, nego-
ciar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam
EM13CHS201osEM13CHS203
direitos humanos, EM13CHS206
a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito

urbana que utiliza etiquetas adesivas.


local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo,
Temas Contemporâneos Transversais trabalhados
dos outros e do planeta.
• Saúde 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar
e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização
da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas
culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 9
Não escreva no livro. Não escreva no livro.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resi-
liência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democrá-
ticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

8 Não escreva no livro. Não escreva no livro.

MAPA DO APRENDIZADO
É apresentado um panorama do
que se pretende atingir com o
INTRODUÇÃO
estudo de cada unidade: o
Momento de valorização de INTRODUÇÃO objetivo que se quer alcançar e
conhecimentos prévios. as justificativas para o trabalho
Promove a participação coletiva Embora o termo fronteira tenha diversos usos e significados, cos- proposto, além das
da turma, visando à ampliação
tumamos utilizá-lo com maior frequência para tratar da delimitação

competências gerais e
política entre territórios nacionais. No caso de fronteiras nacionais,
elas não são homogêneas, por isso se comportam de diferentes

de seu repertório de
maneiras. Nas fronteiras entre os países da União Europeia, por

específicas, das habilidades e


exemplo, o trânsito é livre. Já a que limita os territórios dos Estados
JR/Agence VU

Unidos e do México é controlada, sobretudo por parte dos estadu-


nidenses, que têm intensificado a vigilância e os obstáculos para

experiências e o trabalho com conter a imigração.


A desigualdade econômica e de poder entre as nações levou a um dos Temas Contemporâneos
uma manifestação artística que
processo migratório intenso nas últimas décadas. Em 1991, os Estados

Transversais (TCTs) abordados.


Unidos construíram um muro para limitar a passagem de latino-ame-
ricanos para seu território. Com a crise econômica de 2008, maiores

se relaciona ao tema debatido.


restrições para o trânsito de pessoas foram desenvolvidas.
Em 2017, após algumas medidas do presidente Donald Trump
(1946-), consideradas xenofóbicas, como o aprisionamento de crian-
ças filhas de imigrantes ilegais, Jean Réné (1983-), fotógrafo e artista
francês, mais conhecido como JR, criou uma instalação de mais de
20 metros de altura, na cidade de Tecate, no México, que interagia
com a cerca que fica na fronteira desse país com os Estados Unidos.
A instalação mostrava Kikito, uma criança latina, observando os Esta-
dos Unidos por cima da cerca. Dessa forma, embora esteja localizada
no lado mexicano, a obra era mais bem vista do lado estadunidense.
Antes de a instalação ser retirada do local, o artista promoveu um
piquenique com pessoas do lado mexicano e do lado estadunidense
da cerca, que conversaram e compartilharam comida e música.

Começo de conversa favorece o


Essas discussões sobre fronteiras serão aprofundadas ao longo
deste livro. Ao final, você e os colegas poderão aplicar seus conheci-
mentos em um projeto de pesquisa.

diálogo aberto e coletivo,


Mas, para iniciar o processo de investigação, discutam em sala
de aula os questionamentos a seguir.

A imagem inicial traz uma


trabalhando a oralidade e a Começo de conversa
manifestação artística que se
participação ativa no debate ao 1. Que mensagem o artista quis transmitir ao 3. Reflita sobre as fronteiras que existem no
instalar a obra e realizar um piquenique na espaço e no cotidiano escolar. Quais são elas?
relaciona ao tema principal,
relacionar o tema do livro com
fronteira entre os Estados Unidos e o México? 4. Além dos limites físicos, a escola pode con-

estabelecendo novas
2. Que relações podem ser estabelecidas en- ter territorialidades definidas pelas rela-
tre a arte urbana e as fronteiras? Converse ções sociais. Você saberia mencionar algu-

vivências cotidianas. com os colegas sobre isso. ma delas? Instalação Giant Kikito, em
Tecate, México, 2017, criada por

relações para apoiar o debate


JR, sendo observada por guardas
de fronteira estadunidense.

e a reflexão.

UNIDADES
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Apresenta conceitos e definições
DA EDITORA
Textos, imagens, boxes, atividades DO que
e seções especiais BRASIL
mobilizam habilidades e
importantes para o entendimento
competências para que sejam desenvolvidas aprendizagens relacionadas a diferentes
de contextos de aplicação do
conteúdos da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
conhecimento.

4
UNIDADE Cabe destacar que os povos e as comunidades tradicionais são essenciais
DIFERENTES TERRITORIALIDADES NO
Outros modelos para o desenvolvimento sustentável, que pressupõe o uso consciente dos
recursos naturais visando uma melhoria da qualidade de vida da geração
Quem são os povos
MUNDO CONTEMPORÂNEO
Os Estados plurinacionais: os casos da Bolívia e do Equador de terreiro?
de território A constituição dos Estados Nacionais na formação da modernidade não se deu sem conflitos internos, pois a nação
atual e das futuras. Entre os povos e as comunidades tradicionais, estão os Os povos de terreiro são Atualmente, são reconhecidos diversos tipos de território: aquele delimitado
indígenas, os quilombolas, as comunidades pescadoras, as comunidades populações ligadas às
é uma identidade complexa, que nem sempre corresponde a todos os grupos sociais que existem em determinado comunidades religiosas de pelas fronteiras do Estado, aquele ocupado por povos e comunidades tradicio-
território. caiçaras, as comunidades tradicionais pantaneiras, os povos de terreiro, os
matrizes africanas. Tratam-se nais, aquele apropriado por grandes agentes econômicos, entre outros. A seguir,
ciganos, entre tantos outros. de populações de origem
Nos países localizados nas Cordilheiras dos Andes, a população indígena resistiu aos anos de colonização e de exclu- analisaremos a questão dos territórios tradicionais no Brasil e dos territórios
afro-brasileira em sua
são, mantendo suas formas tradicionais de vida e conservando-se politicamente organizada, tendo fortes enfrentamen- coorporativos, assim como a problemática da segregação socioespacial.
tos com os governos centrais.
Territórios associados a identidades étnico-raciais maioria. Uma de suas
OS ESPAÇOS SOCIAIS: TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS Qual é a relação entre território e identidade étnico-racial? Alguns povos
manifestações religiosas mais
importantes é conhecida Territórios tradicionais no Brasil: um olhar sobre
Em 2008 e 2009, a Bolívia e o Equador inovaram na formulação do conceito de Estado Nacional ao aprovar novas
Quando se fala em territórios, quase sempre nos vem Constituições, as Constituições plurinacionais, nas quais há o reconhecimento de que o Estado é formado por dife- e comunidades desenvolvem sua cultura e identidade de acordo com o como “Bembé do Mercado”. a diversidade
Alasdair Pal/Reuters/Fotoarena

A festa, celebrada desde


à mente a ideia de um espaço geográfico demarcado rentes nações. local onde vivem, e suas atividades econômicas e sociais dependem da 1889, comemora o fim da O que diferencia um povo ou uma comunidade tradicional do restante da
em termos físicos por fronteiras que costumam ser Essas Constituições foram elaboradas por assembleias constituintes e aprovadas em plebiscitos nacionais no posse e do uso do território e dos recursos naturais que ele oferece. escravidão e é considerada
patrimônio cultural do Brasil.
sociedade? De acordo com o Decreto no 6 040, de 7 de fevereiro de 2007,
determinadas com base em referenciais identificáveis Equador e na Bolívia com uma margem de 63% e 61%, respectivamente, de votos favoráveis aos conjuntos de leis.
Territórios indígenas povos e comunidades tradicionais são “grupos culturalmente diferenciados
de forma objetiva. As linhas delimitadoras de certo O modelo dessas Constituições ficou conhecido como “constitucionalismo plurinacional latino-americano”, que busca
e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organiza-
espaço carregam sentidos e, por isso, não são pura contemplar as especificidades históricas, sociais, culturais e políticas desses países, em que grande parte da popu- Os povos indígenas são bastante heterogêneos. Estima-se que havia no
lação é indígena e falante de línguas nativas – e não do espanhol –, e manter suas visões de mundo, de religião e de
ção social, que ocupam territórios e usam seus recursos naturais como con-
arbitrariedade. Ao contrário, expressam traços reais de Brasil, antes da chegada dos portugueses em 1500, entre 3 milhões e 5 milhões
organização política. dição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
uma população que vive e produz sua vida, transfor- de indígenas (a maioria situada ao longo do litoral), que, em contato com os utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela
mando dado ambiente. Ao se criar esse espaço, com Em termos legais, além do reconhecimento das populações indígenas como nação, ou seja, como identidade pró- europeus, principalmente portugueses, foram dizimados em razão da coloni-
pria e diferente do modelo hegemônico, essas Constituições incorporam a equivalência da justiça indígena à justiça
tradição”. Por sua vez, ainda segundo o Decreto no 6 040, os territórios tra-
base no qual certas linhas são esboçadas de forma a zação. De acordo com o Censo de 2010, há no país mais de 800 mil indígenas
comum; garantem a participação indígena no Parlamento; ampliam a autonomia regional; estabelecem autonomia dicionais são definidos como “os espaços necessários a reprodução cultural,
desenhar fronteiras de um “dentro” e de um “fora”, autodeclarados, 63,8% vivendo na área rural e 36,2% na área urbana. Dentro
Os territórios enquadram modos de vida, algumas vezes de política e administrativa dos territórios indígenas, e formalizam o modelo de propriedade indígena – que seria comu- social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, permanente ou
chega-se ao conceito contemporâneo de territorialidade. das terras indígenas, são 95% os que vivem em áreas rurais e 5% que habitam
maneira convencional e outras vezes a fim de expressar nal, e não individual. temporária”. Um aspecto muito relevante que caracteriza um povo ou uma
tensões históricas. Nesse sentido, as marcas dos processos Territorialidade se refere a um conjunto de elemen- áreas urbanas. comunidade tradicional é o sentimento de pertencimento a essa coletividade
históricos que fizeram surgir fronteiras, como as ruínas das
tos e relações espaciais que demarcam espaços social- Wiphala, a bandeira das nações Os povos indígenas são compostos de mais de 300 etnias espalhadas e ao território que ocupam.
Gil C/Shutterstock.com

batalhas, dizem mais que as demarcações institucionais dos andinas. As sete cores dessa
mente ocupados que servem, ainda, de parâmetros por todos os estados do Brasil, sendo o Amazonas o estado com maior
limites. Posto de fronteira em Torkham, Paquistão, 2019. bandeira representam os valores Segundo o decreto, cabe ao poder público promover o reconhecimento
reconhecidos para que determinadas conexões inter- número absoluto de habitantes indígenas. Desse grupo, aproximadamente
e a visão de mundo desses e a valorização da diversidade socioambiental e cultural dos povos e das
subjetivas e comunitárias possam se dar de maneira minimamente ordenada. Assim, a países. A simetria dos quadrados 70 tribos indígenas se encontram isoladas, sem nenhum contato com outros comunidades tradicionais, assim como o respeito a eles. Para isso, deve-se
territorialidade indica como essas demarcações se ligam às relações sociais, fornecendo simboliza a igualdade no sistema grupos sociais.
comunitário da região dos Andes. levar em conta “os recortes etnia, raça, gênero, idade, religiosidade, ances-
os contornos nos quais se dá o reconhecimento recíproco dos sujeitos que ocupam dado Os povos indígenas se reconhecem como descendentes dos habitantes ori- Subsumir: incluir, colocar (alguma tralidade, orientação sexual e atividades laborais, entre outros, além de
território. Trata-se, portanto, das relações sociais delimitadas espacialmente. coisa) em algo maior, mais amplo,
ginários do Brasil, mantêm uma relação próxima e intensa com seus territórios do qual aquela coisa é parte ou suas relações com cada comunidade ou povo, de modo a não desrespeitar,
Territorialidade é um conceito originado de estudos do comportamento de pássaros, na década e compartilham a luta pela manutenção de seus modos de vida, que envolve componente. subsumir ou negligenciar as diferenças dos mesmos grupos, comunidades
Homem toca durante a
de 1920, que foi incorporado pela Geografia e por outras áreas das Ciências Humanas, a partir celebração do quarto conflitos seculares pelo seu direito de existência. ou povos, ou, ainda, instaurar ou reforçar qualquer relação de desigual-
dos anos 1980, graças às suas possibilidades de utilização no contexto das relações sociais. Quem aniversário de Embora a Constituição de 1988 reconheça a ocupação tradicional e ori- dade”. O decreto ainda estabelece que cabe ao poder público, por meio de
já não ouviu dizer: “eu como pai” ou “eu como professora” ou ainda “eu como funqueiro”? fundação do Estado
ginária dos indígenas sobre a terra, é necessário que haja a demarcação física políticas específicas, “garantir aos povos e às comunidades tradicionais
plurinacional. La Paz,
Descontadas as tentativas de não se comprometer por inteiro com uma opinião ou de se Bolívia, 2014. dos limites dos territórios por eles ocupados para que esse reconhecimento seus territórios, e o acesso aos recur-
desculpar por outra, essas expressões revelam, na verdade, um aspecto real da vida humana: se efetive. sos naturais que tradicionalmente
LeoMercon/iStockphoto.com

sua particularidade, ou seja, os diferentes níveis e dimensões particulares que cada indivíduo utilizam para sua reprodução física,
Luciola Zvarick/Pulsar Imagens

pode e tem de ocupar por ser social. cultural e econômica”.


Com o decreto, espera-se, por-
Os territórios são geralmente demarcados por limites que separam ambientes e locais de relação. Porém, fronteiras, como tanto, que seja observada “a plurali-
pontes, sempre existem em relação aos lados que, simultaneamente, as têm como separação e se relacionam por meio
delas. Ponte em Da Nang, Vietnã, 2019. dade socioambiental, econômica e
cultural das comunidades e dos povos
Prawat Thananithaporn/Shutterstock.com

tradicionais que interagem nos dife-


rentes biomas e ecossistemas, em
áreas rurais ou urbanas”.
Gaston Brito/Reuters/Fotoarena

Indígenas dançam o ritual do Quarup, Pimenta cultivada pela comunidade


na Aldeia Piyulaga, na Terra Indígena do quilombola Presidente Kennedy,
Xingu, Gaúcha do Norte, MT, 2019. localizada no Espírito Santo. Foto de 2019.

122 36 143 142 Não escreva no livro.


Não escreva no livro. Não escreva no livro. Não escreva no livro.

Esclarece o significado de
Esse boxe traz informações
palavras e expressões.
complementares ao conteúdo do texto
principal. Também apresenta textos de
estudiosos e pesquisadores da área,
problematizando a construção do
conhecimento filosófico, histórico,
sociológico e geográfico.
Atividades

CONEXÕES
3. A globalização, nas suas mais diversas escalas, vem redefinido uma série de processos e

PENSAMENTO COMPUTACIONAL
1. Pesquiseentre
configurações no mundo atual ao criar certa integração na internet o significado
os espaços. do nome
Muitas vezes, Condições Algoritmos
Leviatã e das
a globalização costuma ser vinculada a uma eliminação responda: Por qual
fronteiras, razão Hobbes
possibilitando a de- • Comércio 3. Construir escolas.
nomina o Estado de “o grande Leviatã”? • Saúde 4. Comprar navios,
abertura dos espaços à livre circulação. A globalização tem apontado na direção de uma
2. Como você avalia a proposta política de Locke? • Educação aviões e ônibus.

Integra o conhecimento específico das Ciências Humanas


relativização das fronteiras nacionais? Comente em seu caderno. • Transporte 5. Construir cinemas

Propõe a solução de um problema a


3. Qual é a importância do pensamento de • Cultura e teatros.
4. Leia o trecho a seguir sobre o conceito de território:
Montesquieu acerca do “espírito das leis” para
a compreensão de modos diferentes deator
organi- E se dividirmos o problema destacado em

e Sociais Aplicadas a outras áreas de conhecimento,


O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um
partes ainda menores?

partir da estratégia do pensamento


zação política
sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer entre
nível. Ao as culturas?
se apropriar de um espa-
ço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela4.representação), o ator territorializa
Qual é sua avaliação da proposta o espaço.
política de Problema Algoritmos
Rousseau? Decompor o problema em 1. Determinar o número

sobretudo Ciências da Natureza e suas Tecnologias,


RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França.
partes menores, reconhe- de estabelecimentos.

computacional, como a criação de


5. Que elementos São
dosPaulo: Ática, 1993.
pensamentos dosp. 143.
autores
cendo e generalizando 2. Construir shoppings.
estudados até aqui podem ser encontrados na
a) Discuta com seus colegas o significado e a importância do território para o Estado e padrões. 3. Construir restaurantes.
organização política dos Estados na atualidade? 4. Construir hotéis.

relacionando-as a um Tema Contemporâneo Transversal


a sociedade. Condições

algoritmos, a decomposição de
• Construir centros comer-
b) Com base no trecho, comente, em seu caderno, sobre a relação
Pensamento que o autor faz entre
computacional ciais.
espaço e território, citando exemplos dessa relação.

(TCT). Apresentações, pesquisas, elaboração de relatórios


Já pensou se de repente você descobrisse um No exemplo acima, os algoritmos apresenta-

problemas e o reconhecimento de
5. Em grupos, leiam o texto a seguir e debatam o pedaço de terra
papel das para chamarsupranacionais
organizações de seu e autopro- dos ainda não correspondem à solução do
clamasse a independência desse lugar? Como problema, sendo preciso decompô-lo em par-
no âmbito dos conflitos geopolíticos. Em seguida, produzam uma lista com as principais
seria? Quem você convidaria para viver ali? Que

são algumas das propostas de atividades.


discussões feitas pelo grupo e apresentem para a turma. tes ainda menores. Para isso, ampliaremos o
tipos de estabelecimento você gostaria que fi-

padrões.
desafio adicionando dados ao problema:
Conselho de Segurança da ONU encerrou hoje azessem missãoparte dele?
de paz Qual seria a delimitação
internacional na Eritreia edo • Uma escola para cada 2 mil habitantes.
Etiópia (Unmee) perante a falta de vontade dos dois território
paísestotal
em encontrado? Como seria
superar a disputa a políti-
fronteiriça • Um hospital e centros de saúde para cada
ca local e o papel de cada um dos envolvidos?
que, há dez anos, levou as duas nações à guerra. [...] 5 300 habitantes.
A Eritreia conseguiu sua independência da EtiópiaEssas
em e1993,
outras perguntas
mas são problemas
as contínuas que
disputas so- • Um centro comercial para cada 16 mil ha-
bre a demarcação exata da fronteira comum de cerca podemos
de mil resolver utilizando
quilômetros a lógica
levaram dospaí-
os dois algo- bitantes.
ses a uma guerra entre 1998 e 2000 que custou a vidaritmos,
de decompondo cada problema em partes
100 mil pessoas. • Um centro cultural para cada 6 mil habi-
cada vez menores. tantes.
ONU encerra missão de paz na Eritreia e Etiópia. EFE, 30 jul. 2008. Disponível em:
Então, vamos entender a lógica territorial que
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL706127-5602,00-ONU+ENCERRA+ • Um transporte público para cada 100 ha-
você vai adotar paraAcesso
MISSAO+DE+PAZ+NA+ERITREIA+E+ETIOPIA.html. gerir suaem:terra. Para
21 maio isso,
2020. bitantes.
você precisa de dados. Veja estes exemplos:
6. Assim como no Brasil, acordos e tratados internacionais para resolver questões frontei- Mais uma vez, analise o país, o estado ou a
cidade onde você mora e encontre padrões
Conexões
riças são realidade em diversos locais do mundo. População 300 000por
Na América Latina, hab.exemplo, há
para cada detalhe a seu redor. Utilize essas
diferentes casos e situações de conflito pela definição datotal
Área localização exata
163,6 km² de fronteiras.
informações para, enfim, fundar seu novo ter-
A própria construção de Itaipu resolveu um impasse Clima
pela domínio de uma porção terri-
Tropical atlântico. ritório. Em uma folha de papel, desenhe linhas
torial que era requerida por Brasil e Paraguai. e colunas iguais às do exemplo a seguir e de-
Transportes Aquaviário, aéreo e terrestre.
a) Em grupos, pesquisem um conflito (atual ou passado e já resolvido), envolvendo senvolva algoritmos para cada condição.
GRANDES PANDEMIAS DA HISTÓRIA

Ilustrações: DAE
definição de fronteiras entre Estados. A ideia é criar algoritmos com as informações Problema Algoritmos
GRÁFICO 1: ESCALA LINEAR GRÁFICO 2: ESCALA LOGARÍTMICA
desse quadro e as situações-problema descri- Fundar um novo território, ge-
b) Elaborem um breve histórico sobre o conflito.
tas a seguir, decompor cada um dos problemas rindo-o com base nas condições E SEU IMPACTO NAS POPULAÇÕES Óbitos acumulados (Quantidade) Óbitos acumulados (Quantidade)
c) Apresentem as discussões feitas e possíveisem
acordos
partes ou tratados
e, depois, relacionados,
repetir o processo.bem mencionadas a seguir.
25 mil 100 mil

como a existência de enfrentamentos violentos e suas consequências. Condições De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que caracteriza uma pandemia é sua abran-
Problema
d) Identifiquem se instituições supranacionais, como a ONU, atuaram naAlgoritmos
questão e sua • Comércio • Transporte gência global, ou seja, a existência de surtos da doença espalhados por vários países ao mesmo tempo, 20 mil 10 mil
Fundar um novo território, ge- 1. Construir cen- • Saúde • Cultura independentemente de sua letalidade.
relevância ou não para uma eventual resolução.
rindo-o com base nas condi- tros comerciais. • Educação
e) Caso estejam pesquisando um conflito atual,
ções estabeleçam, com base
mencionadas a seguir. na pesquisa,
2. Construir postos Você pode repetir o processo até o ponto que con- Conforme podemos observar no infográfico exibido a seguir, diversas doenças infecciosas se espalha- 1 mil
15 mil
algumas perspectivas e possíveis desdobramentos. de saúde.
siderar ideal. ram ao redor do mundo ao longo da história, resultando na morte de milhares de pessoas.
f) Ao final, montem um relatório sobre o impasse reunindo as informações pesquisadas 100

Óbitos

Óbitos
Daniel das Neves
e o compartilhem com os colegas. UM HISTÓRICO DAS PANDEMIAS | As grandes epidemias e suas consequências
10 mil

Não escreva no livro. 19


Taxa de mortalidade 10
•0
Peste Antonina | 165 - 180 | 5 M • 200 À medida que os seres 5 mil
• 400
Praga de Justiniano | 541 - 542 | 30 - 50 M • 500 humanos se espalharam pelo
Não escreva no livro. 49 • 600
• 700
planeta, as doenças 1
Epidemia de Varíola Japonesa | 735 - 737 | 1 M infecciosas têm sido uma
• 800
constante. E esses surtos 0
• 900
persistem na era moderna. 0,1

dia 1
dia 5

dia 13

dia 21
dia 25

dia 37

dia 57
dia 61

dia 85
89
dia 17

dia 33

dia 41
dia 45
dia 49
dia 53

dia 65
dia 69

dia 77
dia 9

dia 73

dia 81
• 1000

dia 9
dia

2
• 1100
Aqui, algumas das doenças

dia 1
dia 5

dia 13

dia 37

dia 85
dia 21
dia 25

dia 57
dia 61
dia 17

dia 33

dia 41
dia 45
dia 49
dia 53

dia 65
dia 9

dia 77
dia 9

dia 73

dia 81

89
• 1200

dia 9
dia

6
2
• 1300 Dias desde o início da pandemia
Peste Negra | 1347-1351 | 200 M • 1400 que fizeram mais vítimas na
Dias desde o início da pandemia
• 1450 história.

ATIVIDADES
• 1500
Varíola | 1520 | 56 M • 1550
• 1600
• 1625
A Grande Praga de Londres
Século XVII | 1665 | 3 M • 1650 GRÁFICO 3: REGRESSÃO
• 1675
A Grande Praga de Londres • 1700 Previsão de óbitos
Século XVIII | 1700 | 600 K • 1725 40 000 óbitos

Individuais ou coletivas, trabalham diferentes


• 1750
• 1775 35 000 óbitos

Mídia
Sexta Pandemia de Cólera
| 1817 - 1923 | 1 M • 1800
30 000 óbitos
• 1825

processos cognitivos; resolução de problemas;


25 000 óbitos
Terceira Pandemia • 1850
de Peste Negra Gripe Russa
| 1855 | 12 M • 1875 20 000 óbitos
| 1889 - 1890 |
1M
Febre Amarela • 1900 15 000 óbitos

análise, compreensão e produção de diferentes


| Final dos anos 1800 | Gripe Espanhola
100 - 150 M Gripe de • 1925 | 1918 - 1919 | 10 000 óbitos Óbitos
Gripe Asiática Hong Kong 40 - 50 M
| 1957 - 1958 | | 1968 - 1970 | • 1950 5 000 óbitos Previsto
Mers 1,1 M 1M
Gripe Suína

tipos de texto, verbais e imagéticos; pesquisas


| 2015 - Atual |
A partir do final dos anos 1990 e começo dos anos 232000, a6 estratégia 27comunicacional 25de 1
Dobra no n o
HIV/AIDS 0
MÍDIA E TERRORISMO
850 M ou K | 2009 - 2010 | • 1975
2 9 16 30 13 20 4 11 18 8
| 1981 - Atual | 200 K de óbitos
25 - 35 M
• 2000
vários grupos terroristas internacionais (como a Al-Qaeda) se tornou abr.
mar. mar. mar. mar. mar. abr. abr.
mais sofisticada e com-
abr. maio maio maio maio jun. jun.

Ebola Sars
Em um estudo realizado pelo George C. Marshall European Center
| 2014 - 2016 | for Security Studies
| 2002 - 2003 | Novo Coronavírus COVID -19 plexa: se antes contavam apenas com a dos
Fonte cobertura midiática
gráficos: FIOCRUZ. das grandes
MonitoraCovid-19. redes
Disponível em: de comuni-
https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/. Acesso em: 12 jun. 2020.

e debates.
770 | 2019 - Agosto 2020| 848 K
11,3 K
(Centro Europeu de Estudos de Segurança George C. Marshall), o doutor Carsten Bockstette cação, passaram então a produzir o próprio conteúdo, por meio de áudios e vídeos que eram
• 2025

define que “O objetivo do terrorismo é explorar a mídia, a fim de alcançar o máximo de pu- então distribuídos em canais mais descentralizados, pela internet. Essa descentralização co-
Fonte: LEPAN, Nicholas. Visualizando a história das pandemias. Disponível em: www.visualcapitalist.com/history-of-pandemics-deadliest/. Acesso em: 24 jun. 2020.
blicidade possível como multiplicador de força amplificadora, de maneira a influenciar o(s) municacional guarda semelhança com ATIVIDADES
a descentralização operacional que
público(s)-alvo(s) e de alcançarUma das mais
objetivos recentes
políticos depandemias
curto e médio a atingir o mundo
prazo foi causada pela Covid-19. A doença,se
e/ou objetivos diagnostica-
tornou a marca de vários desses grupos terroristas,
• Observe que podem
atentamente ser carac-
os gráficos acima e faça o que se pede:
da pela
finais desejados a longo prazo”. Ou seja,primeira
a mídiavez desempenha
no final do anoum de papel
2019, central
seis meses nas depois
táticas já havia atingido 181 dos 193 países como
terizados do uma “rede vagamente a) conectada”,
Identifiquena qualoscada
o que eixos célula ter-
representam nos gráficos. O que é uma
mundo.terroristas, pois é por meio dela – de seus noticiários e
e estratégias de ações e de grupos rorista é responsável pelo planejamento b) eOs execução
gráficos 1 das
e 2ações
exibem sem, no en- dados, mascélula
os mesmos
terrorista?
em escalas diferentes. Explique como a apresentação
O termo “célula terrorista”
análises – que a maioria das pessoas tomará conhecimento desses atos.
Mas como é possível lermos as informações de gráficos que exibem a disseminação da Covid-19? Quan- tanto, estar ligada diretamente a um comandodos dadoscentral.influencia em sua interpretaçãorefere-se e nas conclusões que podemos inferir de um gráfico.
a uma das estratégias
Os terroristas
do os números absolutos são elevados, uma opção é apresentar os dados numa escala logarítmica, em vez islâmicos, por exemplo,
c) valem-se
O gráfico 3do fatouma
exibe de que o mundo
regressão, ou seja, aque os grupos
previsão doterroristas
comportamento do fenômeno representado, de
usaram para lidar com o risco
de mostrar
NÚMERO DE MORTES na escala
POR CAUSA, linear,
MUNDO, 2017que é mais comum. A seguir, apresentamos um gráfico linear da comunicação
e um gráfico de massa passou a ser mediada em rede,
acordo com em que
os dados tecnolo- Comente a pertinência de se traçarem previsões acerca do com-
já disponíveis. de serem descobertos e
logarítmico com dados de óbitos decorrentes da Covid-19 em alguns estados do Brasil. gias diversas combinam dispositivos de mediação interpessoal
portamento com dispo-
de uma pandemia. desmantelados: subdividindo
Doenças cardiovasculares 17,79 milhões sitivos de comunicação de massa. Essas diferentes mídias são conectadas uma organização ou um
Gráfico: DAE

Câncer 9,56 milhões


movimento terrorista maior em
Doenças respiratórias 78 milhões
3,91 Nãopor meio
escreva de dispositivos interpessoais, como
no livro. Não telefones
Nãoescreva
escreva no livro. celulares, wi-fi, redes
nolivro. 79
muitas unidades pequenas
Infecções respiratórias inferiores
Demência
2,56 milhões
2,51 milhões
móveis de dados e a internet. A fusão da comunicação interpessoal com a semi-independentes ou até
Doenças digestivas 2,38 milhões comunicação de massa, conectando audiências – que também podem ser totalmente separadas, o grupo
Distúrbios neonatais 1,78 milhão editores ou emissores ao mesmo tempo por meio da internet –, aumenta limita o efeito que a descoberta
Doenças diarreicas 1,57 milhão ou interrupção de uma unidade
Diabetes 1,37 milhão muito seu acesso às pessoas.
Doenças hepáticas 1,32 milhão terá no grupo geral.
Mortes no trânsito 1,24 milhão Leia o trecho abaixo:
Doença renal 1,23 milhão
Tuberculose 1,18 milhão
HIV/aids 954 492 Depois de 1990 e do colapso dos Estados comunistas que proviam a figura do inimigo da Guer-
Suicídio 793 823
Malária 619 827 ra Fria, o poder de imaginação do Ocidente passou por uma década de confusão e ineficácia, pro-
Homicídio 405 346 curando “esquematizações” adequadas para a figura do Inimigo, passando pelos chefões dos
Mal de Parkinson 340 639
Afogamento 295 210
cartéis do narcotráfico até uma sucessão de senhores da guerra dos assim chamados “Estados
Meningite 288 021 renegados” (Saddam, Noriega, Aidid, Miloševič...) sem se estabilizar numa única imagem central;
Deficiências nutricionais 269 997
Desnutrição proteico-energética
só com o 11 de Setembro essa imaginação recuperou seu poder com a construção da imagem de
231 771
Distúrbios da maternidade 193 639 Osama Bin Laden, o fundamentalista islâmico par excellence, e a Al-Qaeda, sua rede “invisível”.
Transtornos por uso de álcool 184 934
Transtornos por uso de outras drogas 166 613 ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003. p. 135-136. (Coleção Estado de Sítio).
Conflitos 129 720
Hepatite 126 391 • Monte um grupo com três ou quatro colegas, pesquisem na internet e escolham um caso
Fogo 120 632
Envenenamento 72 371 de ataque terrorista retratado pela mídia nos últimos dez anos. Leiam a reportagem e
Temperatura (exposição a calor ou frio) 53 350 problematizem, com base no trecho acima, as seguintes características:
Terrorismo 26 445
Desastres naturais 9 603 a) A matéria jornalística descreve com detalhes o ataque específico? Traz o local, os
0 2 milhões 6 milhões 10 milhões 16 milhões métodos utilizados, a extensão dos danos (pessoais e estruturais) causados por esse
Fonte: IHME, Global Burden of Disease. Disponível em: https://ourworldindata.org/causes-of-death. Acesso em: 3 jun. 2020.
ataque?
b) Há contextualização dos ataques? Ou seja, a matéria explicita a historicidade dos agen-
tes envolvidos e suas possíveis intenções ou motivações?

Pesquisa Como se pode notar pelo gráfico, apenas uma ínfima parcela da população no mundo
apresenta morte relacionada ao terrorismo (aproximadamente 0,05%, ou uma em cada 10
c) Como os terroristas são retratados? Atentem principalmente para o uso de adjetivos
que qualificam os agentes.
mil mortes, de todas as pessoas que morreram em 2017), ou seja, a imensa maioria das pes- d) Façam um resumo da matéria dando conta das características acima e compartilhem
soas no mundo (99,95%) não sofreu, não sofre ou não sofrerá morte ou ferimentos decor- o resultado com a turma.
rentes de atos terroristas. No entanto, o “terror” causado por esses atos não pode deixar de
e) Por fim, após as apresentações, comparem as abordagens jornalísticas entre os
ser considerado. A discrepância entre os efeitos imediatos e os efeitos simbólicos dos atos
grupos e foquem a atenção nas semelhanças e diferenças encontradas.
terroristas é sobretudo consequência da atenção midiática que esses atos recebem.
A CONSTRUÇÃO E OS LIMITES DO BAIRRO: Justificativa

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
A observação
98 participante permite o estreitamento dos laços dos estudantes com seus 99
OCUPAÇÃO E MEMÓRIA bairros e comunidades, contribuindo para o desenvolvimento do sentimento de pertenci-
Não escreva no livro. Não escreva no livro.

Ao longo deste volume, discutimos diversas manifestações de limites mento, que, por sua vez, é importante para o exercício da cidadania.
de territórios, tanto físicas e políticas, como culturais e afetivas, entenden-
Materiais
do o território como um espaço de poder, de pertencimento.
• Computador com acesso à internet

MÍDIA
DA EDITORA DO BRASIL
O bairro pode ser compreendido como um es- • Impressora (opcional)
Willian Moreira/Futura Press

paço da cidade, mas qual é sua função e quais • Material para registro
são os critérios para tal divisão? Seria apenas
para fins de planejamento? Seus limites são per- Desenvolvimento

A partir de textos que circulam na mídia, a seção


manentes? Um pequeno povoado rural pode ser A pesquisa será realizada em grupos, que devem ser estabelecidos com base nos locais
considerado um bairro? de moradia de vocês, preferencialmente agrupando colegas que residam próximos uns dos
outros. Caso algum grupo precise ser formado por estudantes que morem distantes entre

trabalha a análise crítica e propositiva da


A verdade é que não há uma definição única si, a pesquisa pode ser realizada sobre um dos bairros de moradia ou, ainda, sobre o bair-
para o conceito de “bairro”. Independentemen- ro onde está localizada a escola.
te da delimitação oficial, utilizada pelos Correios,

produção, circulação e recepção desses textos,


por exemplo, a população costuma ter uma vi- 1. Em grupo, determinem que bairro será estudado.
são própria dos limites de seu bairro, visão esta a) Individualmente, busquem o bairro no Google Maps, disponível em: https://www.
muito mais ligada ao cotidiano, ao afeto e ao uso google.com.br/maps/preview (acesso em: 22 jul. 2020) e marquem alguns pontos que
dos espaços que a uma demarcação de limites
administrativos.
conhecem, como sua casa, comércios que frequentam (padaria, mercado, farmácia
etc.), e pontos de referência que utilizam (córrego, rodovia etc.).
b) Reúnam-se em grupo novamente para comparar os mapas e discutir onde vocês en-
com foco na leitura inferencial e multimodal,
destacando processos de análise e interpretação
Vamos pensar: você se refere ao seu bairro
tendem que estão os limites do bairro. Nessa conversa, determinem que atividades
pelo mesmo nome que vem anotado na corres-
são realizadas fora do bairro, onde e por quê. Registrem divergências, se houver.
pondência que chega para você? Toda correspon-

textual, tratamento da informação e identificação


dência dirigida a seu endereço indica o mesmo c) Elaborem um mapa com os limites do bairro estudado, as principais atividades realizadas
A definição de um bairro é
bairro? A identidade está muito relacionada ao bairro, e isso tem a ver com nele e a indicação de bairros vizinhos, assim como as atividades realizadas em cada um.
determinada por outros fatores
além dos limites físicos. Exemplo o sentimento de pertencimento, de localidade. Os bairros vizinhos não precisam ser delimitados, apenas sua direção geral e alguma

de fragilidades argumentativas.
disso são as festas populares, referência.
como a retratada acima, realizada A proposta deste trabalho é o estudo do bairro. Considerando seu cará- d) Determinem pontos no bairro estudado, buscando distribuir por toda a sua extensão.
no Bairro da Liberdade, ter popular e o vínculo dos estudantes com esses espaços e seus signifi-
São Paulo, SP, em 2018. e) Definam o número de entrevistados e elaborem perguntas, visando à compreensão da
cados, a pesquisa será feita por meio da observação participante.
visão dos entrevistados sobre os limites e funções do bairro. No caso, pode-se ou não
Observação participante é um método de pesquisa, muito utilizado na incluir a delimitação do bairro em mapas impressos, mas é preciso obter informações
Antropologia e nas Ciências Humanas e Sociais em geral, que considera a sobre onde são realizadas atividades de lazer, consumo, estudo etc. e o que eles en-
inserção do pesquisador no objeto de estudo e sua participação nas práti- tendem que é o bairro.
cas observadas. 2. Agora é hora de sair a campo. Visitem os pontos determinados e realizem as entrevistas
Dessa forma, você e seus colegas buscarão, por meio de conversas com com moradores/frequentadores nesses pontos.
3. Organizem os dados obtidos em sala, sob orientação do professor.
a comunidade, definir limites e significados para seu bairro e para bairros
vizinhos. 4. Elaborem um relatório com as informações obtidas. Esse relatório deve incluir um mapa Para continuar
Objetivos
com os limites traçados pelo grupo e com base nas entrevistas, além de pelo menos dois
gráficos referentes às atividades realizadas ou não no bairro e em bairros vizinhos.
aprendendo
• Refletir sobre limites e significados do bairro. Conclusão
• Definir estratégias e elaborar ferramentas para pesquisa participante. Vocês deverão incluir os elementos de imagem do produto final do grupo em uma apre-
• Elaborar mapas e gráficos para expressar os dados obtidos na pesquisa. sentação de slides em sala de aula, que será acompanhada de uma breve exposição da Em Berlim Oriental, uma mulher entra em coma e acorda tempos
UNIDADE 1 – FORMAÇÃO DOS ESTADOS
pesquisa sobre cada bairro e de um debate a respeito. depois da queda do Muro de Berlim. Seu filho, temendo pela saú­
E FRONTEIRAS de da mãe, que era fiel ao regime socialista, encena aspectos da
vida cotidiana como se eles ainda estivessem na República De­
154 155 Filme mocrática Alemã.
Não escreva no livro. Não escreva no livro.
Caramuru: a invenção do Brasil, direção de Guel Arraes.
Brasil, 2001 (88 min). Infância clandestina, direção de Benjamín Avila. Argentina/
Brasil/Espanha, 2012 (112 min).
Com humor, o filme apresenta a trajetória do jovem português Diogo,
que chega, em 1500, às terras que hoje compreendem o Brasil. A história do filme se passa na Argentina, em 1979, e conta a his­
tória do garoto Juan e sua família, que passam a viver na clandes­

PESQUISA
Livros tinidade enquanto os órgãos de repressão do regime perseguem
Globalização a olho nu, de Clóvis Brigagão e Gilberto M. A. os opositores.
Rodrigues. São Paulo: Moderna, 2015.
A obra apresenta um completo panorama sobre o fenômeno da Livros
globalização e seus efeitos na produção industrial, nas trocas co­ Globalização, democracia e terrorismo, de Eric J. Hobsbawm.
merciais e de serviços, na produção cultural e na difusão de ideias São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Proposta de investigação científica que mobiliza práticas de pesquisa


e valores entre povos e nações. A obra traz uma compilação de diversas palestras proferidas pe­
Os Lusíadas em quadrinhos, de Fido Nesti. São Paulo: lo autor entre 2000 e 2006, em que ele analisa o cenário inter­
Peirópolis, 2006. nacional contemporâneo, seus desafios e suas perspectivas.
Livro na forma de história em quadrinhos que apresenta a obra

como o estudo de caso, grupo focal, estado da arte, análise


Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945, de Tony
do escritor português Luiz Vaz de Camões, que narra a viagem de Judt. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Vasco da Gama.
A obra apresenta um panorama bastante completo da história da
Site Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, passando pelo

documental, uso e construção de questionários, amostragens e


BRASIL 500 anos – IBGE. Disponível em: https://brasil500 fim da União Soviética e pela expansão da União Europeia.
anos.ibge.gov.br. Acesso em: 19 ago. 2020.
O site traz uma linha do tempo com marcos da história do Brasil. UNIDADE 4 – OUTROS MODELOS
DE TERRITÓRIOS

relatórios, pesquisa-ação.
UNIDADE 2 – A RELAÇÃO ENTRE
OS ESTADOS NACIONAIS Filme
Eternamente Pagu, direção de Norma Bengell. Brasil, 1987
Livro
(100 min).
A Primeira Guerra Mundial, de Jayme Brener. São Paulo:
O filme apresenta a história da ativista política Patrícia Galvão,
Ática, 2000. (Coleção Retrospectiva do Século XX). importante participante do movimento Modernista no Brasil. Poe­
A obra apresenta os principais aspectos que deram início à Primei­ tisa e escritora, ela também se dedicou ao teatro de vanguarda.
ra Guerra Mundial, assim como o seu desenvolvimento e desfecho.
Site Livros
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: Mulheres negras na primeira pessoa, de Jurema Werneck,
https://declaracao1948.com.br/. Acesso em: 19 ago. 2020. Nilza Iraci e Simone Cruz (orgs.). Porto Alegre: Rede, 2012.
O site tem como objetivo divulgar informações sobre a Declaração O livro traz diversas entrevistas cedidas por mulheres negras no
Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e também traz refle­ Brasil. Nas entrevistas, elas relatam sua trajetória de vida e refle­
xões sobre problemas da geopolítica no cenário contemporâneo. tem sobre problemas do Brasil contemporâneo que afetam dire­
tamente seu cotidiano, como a falta de acesso à educação, o pre­
Filme conceito racial no mercado de trabalho, entre outros.
Cavalo de guerra, direção de Steven Spielberg. Estados
Racismo, preconceito e intolerância, de Edson Borges, Carlos
Unidos, 2012 (146 min).

PARA CONTINUAR APRENDENDO


Alberto Medeiros e Jacques Dadesky. São Paulo: Atual, 2009.
O filme se passa na Inglaterra, em meio à Primeira Guerra Mun­
dial, e narra a história do jovem camponês Albert e seu cavalo A obra apresenta importantes discussões e reflexões sobre ques­
Joey. Após o início dos conflitos, o animal é incorporado à cava­ tões fundamentais para compreendermos as desigualdades em
laria britânica e passa a ser utilizado nas batalhas. nossa sociedade.

Site
UNIDADE 3 – O ENFRAQUECIMENTO

Indicações de livros, filmes, documentários


Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.
DOS ESTADOS E DAS FRONTEIRAS Disponível em: https://nev.prp.usp.br/. Acesso em: 19 ago. 2020.
O Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV­USP) desenvolve
Filmes pesquisas sobre temas relacionados à violência, democracia, de­
Adeus, Lênin, direção de Wolfgang Becker. Alemanha, 2002

e sites, ampliam os conhecimentos sobre


sigualdades sociais e direitos humanos.
(118 min).

os assuntos abordados no livro.


156 Não escreva no livro. Não escreva no livro.
Sumário

UNIDADE 1 Formação dos Estados e UNIDADE 2 


A relação entre os Estados
fronteiras  14 nacionais  50
A filosofia política moderna e a delimitação
Os Estados nacionais: tratados e conflitos  50
dos territórios da vida social  14
• Kant e a paz perpétua  51
• Thomas Hobbes e a defesa do poder
• Hegel: entre a paz e a guerra  52
absoluto  15
• John Locke e o contratualismo liberal  16 Atividades  55
• Montesquieu e o espírito das leis  17 Imperialismo, nacionalismos e as guerras
• Rousseau e a política do contrato  18 mundiais  56
Atividades  19 • Os nacionalismos  58
Processos de centralização política e de • Primeira Guerra Mundial  59
formação territorial  20 • A ascensão dos regimes totalitários na
• Mudanças políticas na Europa  20 Europa  62
• Formação dos Estados absolutistas: • Segunda Guerra Mundial  64
França e Inglaterra  21
• Processo de interiorização da América Atividades  65
Portuguesa  25 Relações imperialistas no capitalismo
• Expansão e manutenção territorial na
moderno  66
América Portuguesa  27
• Internacionalismo: solidariedade entre
• O Brasil Império e a política de unidade
povos e nações  69
territorial  28
Atividades  29 Atividades  71

A formação do Estado-nação  30 Dinâmicas populacionais no mundo


• O Estado moderno: política e nação contemporâneo  72
MATERIAL
unificados  DE DIVULGAÇÃO 32 • Transição demográfica  72
DAabordagens
• Diferentes EDITORA DO BRASIL
sobre o Estado  32 • Estrutura etária e políticas públicas no
Atividades  37 Brasil  74
• Crescimento e distribuição populacional
Territórios, territorialidades e fronteiras  38 pelo mundo  75
• Fronteiras materiais e imateriais  39 • Fluxos migratórios mundiais  76
• Geopolítica e relações internacionais no
• As migrações e o trabalho  77
mundo contemporâneo  40
• Os Estados Nacionais e as fronteiras na Conexões: Grandes pandemias da história
globalização  43 e seu impacto nas populações  78
Conexões: As fronteiras na região amazônica • As migrações e as relações internacionais  80
e a biopirataria  44
Atividades  83
• Migrações e fronteiras  46
Atividades  48

6 Não escreva no livro.


UNIDADE 3 
O enfraquecimento dos estados UNIDADE 4 
Outros modelos de território 122
e das fronteiras  84 Os espaços sociais: territórios e fronteiras 122
O poder para além das fronteiras do Estado  84 Atividades 126
• Michel Foucault e as tecnologias do poder  84
As identidades no Brasil e os discursos
• Gilles Deleuze e a sociedade de controle  85 nacionais  127
Atividades  88 • Uma nova identidade para um
novo país  127
Da Guerra Fria à nova ordem mundial  89 • Rupturas e continuidades no Segundo
• A oposição entre Estados Unidos e União Império  127
Soviética  90 • O povo brasileiro na Primeira
• Conflitos e guerras por procuração  92 República  130
• A Guerra Fria e as ditaduras • A semana de 1922 e o Modernismo
latino-americanas  93 brasileiro  132
• Samba, futebol e o elogio ao trabalho  133
• O começo do fim da Guerra Fria  94
• O Tropicalismo  134
• O que é o terrorismo?  96
Atividades  135
Mídia: Mídia e terrorismo  98
Ascensão da juventude e identidade
Atividades  101 cultural  136
O que é globalização?  102 • O protagonismo juvenil no Pós-Guerra 136
• O mundo globalizado e suas • Movimentos culturais  138
contradições  103 • Movimentos sociais  139
• Neoliberalismo: bases e conceitos  105 Atividades  141
Conexões: O 5G e o conflito entre China e Diferentes territorialidades no mundo
Estados Unidos  106 contemporâneo  142
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
• As propostas do Consenso de Washington  108 • Territórios tradicionais no Brasil: um
DA EDITORA DO BRASIL olhar sobre a diversidade  142
Atividades  109 • Territórios associados a identidades
O espaço geográfico da ordem étnico-raciais  143
multipolar  110 • Territórios associados a atividades
• O mundo bipolar e o mundo multipolar 111 econômicas de base extrativista  145
• Territórios corporativos: a apropriação
• A globalização no mundo
privada do espaço  151
contemporâneo  112
• Conflitos de classe e segregação
• Blocos regionais, fronteiras nacionais e socioespacial: os territórios da exclusão152
globalização  113
Atividades  153
• Os fluxos internacionais e as redes  117 Pesquisa: A construção e os limites
• O mundo em rede: relações políticas e do bairro: ocupação e memória  154
socioeconômicas  117
Para continuar aprendendo  156
• Recessões do capitalismo e consequências
sobre o espaço mundial  118 Referências  157

Atividades  121

Não escreva no livro. 7


Mapa do
aprendizado

Para começar o percurso de aprendizagem com este livro, leia quais são os objetivos
de cada uma das unidades do volume, assim como suas respectivas justificativas. Conheça
também as competências, as habilidades e os Temas Contemporâneos Transversais que
serão mobilizados ao longo do percurso.

UNIDADE 1
OBJETIVOS
O objetivo desta unidade é possibilitar a compreensão de como se dá o processo de
formação dos Estados e fronteiras por meio da análise de alguns exemplos em diferentes
momentos históricos. Com base nesse estudo, você poderá analisar criticamente o papel
que as principais nações exercem no cenário geopolítico. Também terá um entendimento
amplo de como se deu a formação do Estado brasileiro e sua configuração territorial atual.

JUSTIFICATIVA
Território e fronteira são dois conceitos amplamente utilizados na área de Ciências
Humanas, pois são fundamentais para a compreensão da organização espacial, social e
política de um lugar. Os temas da unidade possibilitam o entendimento desses conceitos
por meio de atividades que incluem diversas linguagens, como texto, fotografias, gráficos
e obras de arte, e ampliam sua capacidade de se colocar criticamente no mundo, permi-
tindo-lhe a identificação de diferentes fatores que influenciam o seu dia a dia e impactam
diretamente a vida das pessoas.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESTA UNIDADE


Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico,
social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e
colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo
a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar
causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclu-
sive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita),
DA EDITORA DO BRASIL
corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens
artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, expe-
riências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que
levem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma
crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares)
para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver
problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos
e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida,
com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, nego-
ciar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam
os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito
local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo,
dos outros e do planeta.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar
e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização
da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas
culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resi-
liência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democrá-
ticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

8 Não escreva no livro.


Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
Competência específica 2 – Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e
espaços, mediante a compreensão das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel
geopolítico dos Estados-nações.
EM13CHS203 EM13CHS204 EM13CHS206

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


•• Educação ambiental (Meio ambiente)

UNIDADE 2
OBJETIVOS
O objetivo desta unidade é ampliar o estudo da relação entre os Estados nacionais iniciado na unidade anterior,
por meio da apresentação das ideias de Kant e Hegel, importantes filósofos políticos dos séculos XVIII e XIX. Em
seguida, o imperialismo e as diferentes manifestações de nacionalismo são discutidos no contexto das guerras
mundiais. Esse escopo logo é ampliado para a reflexão sobre o imperialismo no capitalismo. Por fim, é realizada
uma análise das dinâmicas populacionais, o que possibilita um amplo debate sobre temas contemporâneos, como
transição demográfica, Divisão Internacional do Trabalho (DIT) e refugiados ambientais.

JUSTIFICATIVA
O trabalho proposto nesta unidade é fundamental para que você seja capaz de analisar e caracterizar os
os fatores que têm grande importância na vida dos grupos humanos, como condições socioeconômicas e
políticas públicas, as quais podem levar pessoas a se deslocarem de um país para outro, por exemplo. Com
essa capacidade de compreensão e posicionamento crítico em relação a esses aspectos, você tomará decisões
alinhadas com seu projeto de vida de maneira assertiva.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESTA UNIDADE


Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e
digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação,
a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipó-
teses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos
das diferentes áreas.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se
expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, além de
DA EDITORA DO BRASIL
produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que
lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício
da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético
em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo
o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos
e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem precon-
ceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas


Competência específica 2
EM13CHS201 EM13CHS203 EM13CHS206

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


•• Saúde

Não escreva no livro. 9


UNIDADE 3
OBJETIVOS
Esta unidade aborda o período que vai da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje.
Esse percurso foi proposto com o objetivo de ampliar a discussão sobre o enfraquecimento
dos Estados e fronteiras. O mundo bipolar da Guerra Fria é analisado, com destaque para
os conflitos por procuração, nome dado aos confrontos bélicos indiretos que houve entre
Estados Unidos e União Soviética no período pós-Segunda Guerra Mundial. O surgimento
de um mundo multipolar pós-Guerra Fria é amplamente analisado, com todas as suas
idiossincrasias e contradições. É nesse mundo multipolarizado que vivemos hoje, marcado,
também, pelas possibilidades que a conexão em rede representa.

JUSTIFICATIVA
Esta unidade é importante para que você compreenda melhor as relações internacio-
nais no mundo contemporâneo, que revela uma realidade fragmentada e multipolarizada.
Nesse processo, você e seus colegas vão discutir temas fundamentais para entender os
diferentes papéis que os agentes globais desempenham na economia, na política e na
cultura. Ser capaz de analisar essa rede internacional de relações, possibilitada pela
globalização e pelos diversos avanços comunicacionais, os quais permitem essa interação
instantânea entre diferentes partes do globo, é extremamente importante, pois suas
consequências impactam diretamente o dia a dia de todos.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESSA UNIDADE

Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico,
social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e
colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e
criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
áreas.
3. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais, apropriar-se de conhecimentos
e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida,
com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita),
corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artís-
tica, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências,
ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao
entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares)
DA EDITORA DO BRASIL
para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver
problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos
e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida,
com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, nego-
ciar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam
os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito
local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo,
dos outros e do planeta.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar
e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização
da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas
culturas e suas potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resi-
liência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democrá-
ticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e


Sociais Aplicadas
Competência específica 2
EM13CHS202

10 Não escreva no livro.


Temas Contemporâneos Transversais trabalhados
•• Diversidade cultural (Multiculturalismo)
•• Ciências e tecnologia

UNIDADE 4
OBJETIVOS
Esta unidade propõe uma reflexão sobre alguns modelos de território, pensando além das marcações tradicio-
nais de fronteira e território. Aqui, são apresentadas, territorialidades ligadas à identidade e ao pertencimento,
uma vez que podem ser encaradas como formas de luta e resistência por diferentes grupos. É apresentado, tam-
bém, o processo de construção da identidade nacional no Brasil, discutindo as políticas governamentais conduzi-
das no Império e na República. Um dos fatores que ajudaram na construção da identidade brasileira, que recebe
o merecido destaque, são os diversos movimentos artísticos que ocorreram no Brasil, sobretudo no século XX.
Ainda sobre o Brasil, são discutidos os territórios tradicionais dos povos quilombolas, indígenas e outros, cujas
territorialidades são delineadas com base nos conhecimentos e nas práticas desses grupos.

JUSTIFICATIVA
A proposta desta unidade é possibilitar a identificação não somente de projetos diferentes ligados à construção
dos símbolos da pátria, como também das representações do povo brasileiro, sem deixar de refletir sobre os povos
tradicionais de nosso território e o papel do Estado em relação a eles. Por meio do estudo sobre as raízes e os laços
de identidade e pertencimento desses povos construídos ao longo do tempo, você será capaz de tomar decisões
embasadas em princípios inclusivos e solidários, respeitando os Direitos Humanos. Essa proposta de abordagem
também levará você a argumentar em favor de práticas que respeitem esses princípios.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESTA UNIDADE

Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e
digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação,
a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipó-
teses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos
das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar
de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual,
sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se
expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, além de
produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que
lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
DA EDITORA DO BRASIL
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético
em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo- se na diversidade
humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo
o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos
e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, suas culturas e suas potencialidades, sem precon-
ceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas


Competência específica 2
EM13CHS205 EM13CHS206

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


•• Vida familiar e social (Cidadania e civismo)

Para mais informações sobre as competências específicas de cada área, acesse em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em: 10 ago. 2020.

Não escreva no livro. 11


INTRODUÇÃO

Embora o termo fronteira tenha diversos usos e significados, cos-


tumamos utilizá-lo com maior frequência para tratar da delimitação
política entre territórios nacionais. No caso de fronteiras nacionais,
elas não são homogêneas, por isso se comportam de diferentes
maneiras. Nas fronteiras entre os países da União Europeia, por
exemplo, o trânsito é livre. Já a que limita os territórios dos Estados
Unidos e do México é controlada, sobretudo por parte dos estadu-
nidenses, que têm intensificado a vigilância e os obstáculos para
conter a imigração.
A desigualdade econômica e de poder entre as nações levou a um
processo migratório intenso nas últimas décadas. Em 1991, os Estados
Unidos construíram um muro para limitar a passagem de latino-ame-
ricanos para seu território. Com a crise econômica de 2008, maiores
restrições para o trânsito de pessoas foram desenvolvidas.
Em 2017, após algumas medidas do presidente Donald Trump
(1946-), consideradas xenofóbicas, como o aprisionamento de crian-
ças filhas de imigrantes ilegais, Jean Réné (1983-), fotógrafo e artista
francês, mais conhecido como JR, criou uma instalação de mais de
20 metros de altura, na cidade de Tecate, no México, que interagia
com a cerca que fica na fronteira desse país com os Estados Unidos.
A instalação mostrava Kikito, uma criança latina, observando os Esta-
dos Unidos por cima da cerca. Dessa forma, embora esteja localizada
no lado mexicano, a obra era mais bem vista do lado estadunidense.
Antes de a instalação ser retirada do local, o artista promoveu um
MATERIALpiquenique
DE DIVULGAÇÃO
com pessoas do lado mexicano e do lado estadunidense
da cerca, que conversaram e compartilharam comida e música.
DA EDITORA DO BRASIL
Essas discussões sobre fronteiras serão aprofundadas ao longo
deste livro. Ao final, você e os colegas poderão aplicar seus conheci-
mentos em um projeto de pesquisa.
Mas, para iniciar o processo de investigação, discutam em sala
de aula os questionamentos a seguir.

Começo de conversa

1. Que mensagem o artista quis transmitir ao 3. Reflita sobre as fronteiras que existem no
instalar a obra e realizar um piquenique na espaço e no cotidiano escolar. Quais são elas?
fronteira entre os Estados Unidos e o México? 4. Além dos limites físicos, a escola pode con-
2. Que relações podem ser estabelecidas en- ter territorialidades definidas pelas rela-
tre a arte urbana e as fronteiras? Converse ções sociais. Você saberia mencionar algu-
com os colegas sobre isso. ma delas?
JR/Agence VU

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Instalação Giant Kikito, em


Tecate, México, 2017, criada por
JR, sendo observada por guardas
de fronteira estadunidense.
1
UNIDADE
Formação dos Estados
e fronteiras

A FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA E A DELIMITAÇÃO


DOS TERRITÓRIOS DA VIDA SOCIAL
Como forma de conhecimento teórico, a Filosofia tem uma característica que requer muita
atenção para ser observada: é um tipo de reflexão que busca, antes de tudo, distinguir e
estabelecer demarcações e fronteiras, considerando os limites de determinado objeto e dife-
renciando-o em relação aos demais. Seja um fenômeno natural ou social, seja um compor-
tamento, seja um processo, entre outros, para o filosofar é essencial demarcar os contornos
e os aspectos que tornam o objeto investigado peculiar e particular.
A reflexão filosófica acerca da política não escapa dessa maneira de abordar os problemas.
Pensadores desse campo se ocupam com a explicitação conceitual dos territórios e frontei-
ras próprios das esferas política e não política da vida social. Por exemplo, qual é o território
das relações políticas? Qual é o território das relações privadas? Quais são as fronteiras entre
interesses privados e interesses públicos? Quais são os limites do Estado em relação aos
aspectos da vida privada dos indivíduos?
Na modernidade, etapa compreendida entre os séculos XV e XVIII, o pensamento filosó-
fico acerca da política expressou um conjunto de transformações históricas importantes.
No momento inicial, essas mudanças corresponderam à formação dos Estados nacionais
europeus, que ocorreu a partir da crise do mundo feudal. Foram dois os principais aspectos
que caracterizaram esse processo. Primeiro, a forma absolutista de organização do Estado
ao redor do rei, que passou a concentrar o poder antes distribuído pelos domínios dos senho-
res feudais. Segundo, a ascensão da burguesia, classe social que surgiu e se desenvolveu a
partir da retomada das atividades comerciais no espaço urbano.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO

Imaginechina/AP Photo/Glow Images


DA EDITORA DO BRASIL

 Equipamento de reconhecimento facial usado na província de Nanging, China, 2019.

14 Não escreva no livro.


Inicialmente, houve conciliação entre os interesses burgueses e os da nobreza, grupo
dominante na organização absolutista. Porém, os processos históricos de luta da burguesia
pela conquista do poder político, entre os séculos XVII e XVIII, foram marcados pela crise e
derrubada do absolutismo monárquico na Inglaterra e na França. Questões sobre a legitimi-
dade do poder e a defesa da liberdade e da propriedade dominaram os debates teóricos que
expressavam a luta política.
Os autores apresentados a seguir são bastante exemplares no que tange ao pensamento
da territorialidade e dos espaços de legitimidade da ação social. Eles teorizam tanto sobre o
espaço político pensado como território real, em que se exerce um poder soberano, quanto
acerca da política e do Estado, considerados campos de ação de indivíduos e grupos.

Thomas Hobbes e a defesa do poder absoluto


O inglês Thomas Hobbes (1588-1679) é considerado o filósofo que inau-
gura o pensamento político moderno. Nos pensamentos antigo e medieval,
a organização social era baseada em relações hierarquizadas, em que a

Biblioteca Herzog August, Volfembutel


Fotografia: Fine Art Images/Album/Fotoaren
forma de convivência social e a diferença entre os membros da socie-
dade eram consideradas naturais. Contra isso, Hobbes argumenta que
os seres humanos são, por natureza, iguais em corpo e espírito. Além
disso, afirma que eles não têm nenhum prazer em viver na companhia
uns dos outros, a não ser quando são forçados, por um poder superior,
a ter respeito mútuo. Livres da existência desse poder capaz de congre-
gar, os indivíduos vivem no que Hobbes denomina “estado de natureza”.
Naturalmente, não há impedimentos que proíbam os indivíduos de agir
como quiserem. Eles são livres para fazer tudo o que julgarem ser adequado
para preservar sua vida e seus bens. E, como todos têm direito a tudo, nenhum  Retrato de Thomas Hobbes.
indivíduo está seguro. Por isso, no estado de natureza, os indivíduos vivem Óleo sobre tela, 76 cm × 60,2 cm
na condição de guerra de todos contra todos. (autor desconhecido).

Assim, cabe aos indivíduos uma única alternativa: estabelecer


um pacto no qual cada um concorda em renunciar a seu direito

Biblioteca Britânica, Londres


a todas as coisas. Então, para garantirem sua segurança, eles
cedem o direito de governar a si próprios, transferindo-o para
um poder soberano, constituído de um único indivíduo ou de
MATERIAL
uma assembleia, vivendoDE DIVULGAÇÃO
seguros sob esse domínio. A união dos
DA EDITORA
indivíduos constitui DO BRASIL
uma única pessoa, o Estado. Fruto de um
pacto, o Estado é o homem artificial.
Com a instituição do poder soberano, a lei natural é substi-
tuída pela lei civil, com base na qual os indivíduos passam a viver
em um ordenamento de paz e justiça.
O poder do Estado está acima das leis. Não pode ser limi-
tado pelas leis da natureza, porque elas foram substituídas
pelas leis civis. Também não pode ser limitado por outro poder,
pois, se houvesse um poder limitador, o poder do Estado não
seria absoluto.
Hobbes afirma que a soberania do Estado reside em um indi-
víduo ou em uma assembleia, da qual todos ou apenas alguns
indivíduos participam. Desse modo, só pode haver três espécies
de governo: monarquia, democracia e aristocracia. A diferença
entre elas não se refere ao poder, mas à capacidade de garantir
a paz e a segurança do povo. Hobbes considera o Estado monár-
quico superior, porque segundo ele o interesse pessoal é o mesmo  Frontispício do livro Leviatã, a principal obra de
que o interesse público. Thomas Hobbes, publicado em 1651.

Não escreva no livro. 15


John Locke e o contratualismo liberal
O pensamento político de John Locke (1632-1704), filósofo inglês contemporâneo de Hobbes,
é a base do contratualismo liberal. Publicada em 1689, a obra Dois tratados sobre o governo civil,
de Locke, é vista como justificação teórica da Revolução Gloriosa, que em 1688 encerrou o domí-
nio da monarquia absoluta na Inglaterra, impondo ao rei o poder do Parlamento.
Locke considera que, no estado de natureza, os indivíduos vivem juntos conforme a razão,
não havendo nenhum deles que seja superior para exercer autoridade sobre os outros. Vivem,
assim, em perfeita liberdade e igualdade, como proprietários daquilo que Deus deu a todos
eles: a vida, a liberdade, a terra, os bens e a capacidade de acumular riquezas.
Por que, então, a sociedade se organiza politicamente? Segundo Locke, existem alguns
indivíduos que agem de forma irracional, atentando contra a lei natural, pois pretendem tomar
as propriedades alheias. Cria-se, então, um estado de guerra. Para escapar, os indivíduos
realizam um pacto instituindo a sociedade civil e a comunidade política na qual o governo,
atuando como juiz, protege o direito à vida, à liberdade e à propriedade. O poder político legí-
timo deriva desse contrato.
Os indivíduos, porém, não estão submetidos ao governo. Ao consentirem em formar uma
sociedade política, eles se obrigam a decidir pela maioria. O governo se limita a agir como
árbitro que permite a cada um buscar seus próprios interesses, intervindo apenas
quando há disputas.
Locke defende a separação entre os poderes Legislativo e Executivo para
impedir que as leis sejam feitas e executadas pelos mesmos agentes.
O Poder Legislativo decide sobre as políticas que determinam o uso da força
para a defesa da sociedade civil e de seus membros. O Poder Executivo se
Hermitage, São Petersburgo

subordina ao Legislativo e deve prestar contas a ele. Locke sustenta o direito


à insurreição sempre que um governo romper o contrato estabelecido. O
poder retorna, então, para a comunidade, que estabelecerá um novo Poder
Legislativo e um novo Poder Executivo.

Bridgeman images/Easypix Brasil


 Godfrey Kneller.
Retrato de John
Locke, 1697.
Óleo sobre tela,
76 cm × 64 cm. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Em 1688, Guilherme de Orange e suas tropas desembarcaram na Inglaterra para tomar o trono do rei James II.
O evento faz parte da Revolução Gloriosa. A ilustração foi publicada originalmente no volume IV da obra Curta
história do povo inglês, de J. R. Green, publicada em 1894.

16 Não escreva no livro.


Montesquieu e o espírito das leis
O filósofo iluminista francês Montesquieu (1689-1755), pseudônimo de Charles-Louis de
Secondat, em sua obra O espírito das leis, tem por objetivo teorizar sobre como tornar o Estado
e o poder adequados à livre expressão dos indivíduos que vivem socialmente.
Montesquieu buscou compreender a origem das leis socialmente estabelecidas, afirmando
que há uma correspondência entre o território que as comunidades ocupam, as atividades
às quais se dedicam e o conteúdo de suas leis, normas e regras de convivência. Assim, para
compreender a natureza das leis e dos Estados, é necessário o entendimento racional das
circunstâncias particulares que lhes dão forma. Desse modo, cada povo, seguindo o curso do
desenvolvimento de sua cultura, constrói um conjunto de regras de convivência que torna
todos os seus membros efetivamente livres.
Essa maneira de pensar o social e o político se baseia no reconhecimento da liberdade
humana como algo inegociável, limitado somente por aquilo que é racionalmente estabele-
cido pela lei. Assim, as leis que regem a vida comunitária desempenham papel central, sendo
o ponto de partida da liberdade civil. Para Montesquieu, ser socialmente livre
e seguir leis são coisas que não se excluem, pois as leis garantem a real pos-
sibilidade da liberdade.
Para o estabelecimento da verdadeira liberdade, as leis devem limitar o

Bridgeman images/Easypix Brasil


exercício absoluto e arbitrário do poder. Dessa maneira, o poder deve ser
dividido em três âmbitos – legislativo, executivo e judiciário –, de modo que
nenhum indivíduo ou grupo detenha integralmente as principais atribuições
da vida política: legislar, governar e julgar. Esses poderes são relativamente
independentes e se controlam de forma recíproca, evitando a tirania de uma
função sobre as outras e do Estado sobre o corpo social.
Conforme Montesquieu, há três espécies de governo: republicano, monár-
quico e despótico. O governo republicano é aquele no qual o povo, em sua
 Retrato de Charles Louis de
totalidade ou em parte, tem o poder soberano. O governo monárquico é Secondat, barão de la Brède e
aquele em que somente um indivíduo governa por meio de leis fixas e esta- Montesquieu. Gravura de autor
belecidas. No governo despótico, apenas um indivíduo, sem leis e sem regras, desconhecido.
impõe tudo o que quer por força de sua vontade.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL As leis e a Geografia
Na obra O espírito das leis, de 1748, Montesquieu curiosamente diz que a legislação deve ter relação não só com
as pessoas que habitam um lugar, mas também com o país em si, até mesmo dos pontos de vista geográfico, físico e
climático. É isso o que se pode depreender do texto a seguir.
Biblioteca Nacional da França, Paris

A lei, em geral, é a razão humana, enquanto governa todos os povos da terra; e as leis políticas
e civis de cada nação devem ser apenas casos particulares onde se aplica esta razão humana.
Devem ser tão próprias ao povo para o qual foram feitas que seria um acaso muito grande
se as leis de uma nação pudessem servir para outra.
Devem estar em relação com a natureza e com o princípio do governo que foi estabeleci-
do, ou que se pretende estabelecer [...].
Devem ser relativas ao físico do país; ao clima gélido, escaldante ou temperado; à quali-
dade do terreno, sua situação e grandeza; ao gênero de vida dos povos, lavradores, caçadores
ou pastores; devem estar em relação com o grau de liberdade que sua constituição pode su-
portar; com a religião de seus habitantes, com suas inclinações, com suas riquezas, com seu  Frontispício da
número, com seu comércio, com seus costumes, com seus modos. edição francesa da
obra O espírito das
[...] todas estas relações [...] formam juntas o que chamamos o ESPÍRITO DAS LEIS. leis, de Montesquieu,
MONTESQUIEU. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 16-17. publicada em 1748.

Não escreva no livro. 17


Rousseau e a política do contrato
O pensamento político de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), pensador que nasceu
em Genebra, na Suíça, e que foi intelectualmente atuante na cena filosófica do Iluminismo
francês, apresenta algumas características comuns com o dos autores que foram vistos até
aqui, bem como aspectos que o distinguem deles.
Antes de tudo, para Rousseau, o estado de natureza não se apresenta como uma guerra
de todos contra todos. Ao contrário, é definido como uma situação de autonomia e satisfação
das necessidades de cada um por meio da relação direta dos indivíduos com a natureza.
No entanto, causas imprevistas os retiraram dessa situação inicial, forçando-os a encontrar
na vida comunitária o que antes a natureza lhes fornecia. Na obra Discurso sobre a origem e
os fundamentos da desigualdade entre os homens, de 1755, Rousseau afirma que o primeiro
indivíduo que cercou um terreno e o determinou como sua propriedade fundou, com esse
ato, a sociedade civil.
Com a instituição da vida civil, as relações se tornaram cada vez mais complicadas, dando
origem ao conflito e à desordem. Diante dessa situação de guerra, segundo Rousseau, os
ricos propuseram um pacto com os pobres: a união em torno de um poder político comum,
que assegurasse a cada um as garantias da lei. Porém, esse poder político, por meio das leis,
fixou para sempre a propriedade e a desigualdade.
Na obra Do contrato social, publicada em 1757, Rousseau apresenta as condições para
um novo pacto político, justo e racional, tomando como ponto de partida os indivíduos como
são – conflituosos – e as leis da forma como podem ser.
O contrato social teorizado por Rousseau estabelece uma associação de indivíduos que
congregam suas forças em uma só força comum, que defende e protege a pessoa e os bens
dos associados. Cada um dos membros e todos os seus direitos particulares devem se subor-
dinar à comunidade, partilhando todos, portanto, da mesma condição. Desse modo, o indi-
víduo submete sua pessoa e todo seu poder à direção suprema de uma vontade geral, abrigada
em um corpo coletivo, um eu comum: o Estado.
O ato de associação estabelece um compromisso recíproco entre o Estado e seus membros.
Cada indivíduo, como cidadão e súdito das leis do Estado, deve se conformar à vontade geral.
Portanto, o contrato social institui normas e regras comuns a todos, tornando os indivíduos
iguais perante a lei, e não oferece privilégio para nenhuma pessoa por suas qualidades próprias.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Esse contrato reúne todos os indivíduos como cidadãos livres e iguais na comunidade política.
DA EDITORA DO BRASIL

Castelo de Malmaison, Rueil-Malmaison


Biblioteca de Genebra, Genebra. Fotografia:
G. Dagli Orti/De Agostini/Album/ Fotoarena

 Maurice Quentin de La
Tour. Retrato de Jean-
-Jacques Rousseau, século
XVIII. Óleo sobre papel,
46 cm × 37 cm.

 Anicet-Charles Lemonnie. O salão de Madame Geoffrin, 1812. Óleo sobre tela, 126 cm × 195 cm.

18 Não escreva no livro.


Atividades

1. Pesquise na internet o significado do nome


Condições Algoritmos
Leviatã e responda: Por qual razão Hobbes de- • Comércio 3. Construir escolas.
nomina o Estado de “o grande Leviatã”? • Saúde 4. Comprar navios,
2. Como você avalia a proposta política de Locke? • Educação aviões e ônibus.
• Transporte 5. Construir cinemas
3. Qual é a importância do pensamento de • Cultura e teatros.
Montesquieu acerca do “espírito das leis” para
a compreensão de modos diferentes de organi- E se dividirmos o problema destacado em
zação política entre as culturas? partes ainda menores?
4. Qual é sua avaliação da proposta política de Problema Algoritmos
Rousseau? Decompor o problema em 1. D eterminar o número
partes menores, reconhe- de estabelecimentos.
5. Que elementos dos pensamentos dos autores
cendo e generalizando 2. Construir shoppings.
estudados até aqui podem ser encontrados na padrões. 3. Construir restaurantes.
organização política dos Estados na atualidade? 4. Construir hotéis.
Condições
•C
 onstruir centros comer-
Pensamento computacional ciais.
Já pensou se de repente você descobrisse um No exemplo acima, os algoritmos apresenta-
pedaço de terra para chamar de seu e autopro- dos ainda não correspondem à solução do
clamasse a independência desse lugar? Como problema, sendo preciso decompô-lo em par-
seria? Quem você convidaria para viver ali? Que tes ainda menores. Para isso, ampliaremos o
tipos de estabelecimento você gostaria que fi- desafio adicionando dados ao problema:
zessem parte dele? Qual seria a delimitação do •• Uma escola para cada 2 mil habitantes.
território total encontrado? Como seria a políti- •• Um hospital e centros de saúde para cada
ca local e o papel de cada um dos envolvidos? 5 300 habitantes.
Essas e outras perguntas são problemas que •• Um centro comercial para cada 16 mil ha-
podemos resolver utilizando a lógica dos algo- bitantes.
ritmos, decompondo cada problema em partes •• Um centro cultural para cada 6 mil habi-
cada vez menores. tantes.
Então, vamos entender a lógica territorial que •• Um transporte público para cada 100 ha-
MATERIAL
você vai adotar para DE DIVULGAÇÃO
gerir sua terra. Para isso, bitantes.
DAdeEDITORA
você precisa DO BRASIL
dados. Veja estes exemplos:
 ais uma vez, analise o país, o estado ou a
M
População 300 000 hab. cidade onde você mora e encontre padrões
para cada detalhe a seu redor. Utilize essas
Área total 163,6 km²
informações para, enfim, fundar seu novo ter-
Clima Tropical atlântico. ritório. Em uma folha de papel, desenhe linhas
e colunas iguais às do exemplo a seguir e de-
Transportes Aquaviário, aéreo e terrestre.
senvolva algoritmos para cada condição.
A ideia é criar algoritmos com as informações Problema Algoritmos
desse quadro e as situações-problema descri- Fundar um novo território, ge-
tas a seguir, decompor cada um dos problemas rindo-o com base nas condições
em partes e, depois, repetir o processo. mencionadas a seguir.
Condições
Problema Algoritmos • Comércio • Transporte
Fundar um novo território, ge- 1. Construir cen- • Saúde • Cultura
rindo-o com base nas condi- tros comerciais. • Educação
ções mencionadas a seguir. 2. Construir postos  ocê pode repetir o processo até o ponto que con-
V
de saúde.
siderar ideal.

Não escreva no livro. 19


PROCESSOS DE CENTRALIZAÇÃO POLÍTICA
E DE FORMAÇÃO TERRITORIAL
Você já ouviu falar dos “coiotes” da fronteira do México com os Estados
Unidos? Por determinado preço, os “coiotes” guiam imigrantes em travessias
ilegais na fronteira entre os dois países da América do Norte.
Buscando conter o crescente fluxo migratório, governos norte-americanos,
europeus e de outros continentes fecharam ainda mais suas fronteiras nos
últimos anos. Muitos imigrantes e refugiados que estão fugindo de guerras, da
miséria, da fome, de epidemias e de desastres ambientais são barrados nes-
sas fronteiras. Mas elas sempre existiram? Para responder a essa e a outras
perguntas, precisamos entender que as fronteiras e os limites são parte cons-
tituinte dos Estados modernos e de sua forma contemporânea, o Estado-nação.

John Moore/Getty Images


Pessoas se reúnem na fronteira de
San Diego, nos Estados Unidos, com
Tijuana, no México, em 2018.

Na Europa Ocidental, o período da Baixa Idade Média (séculos XI-XV) foi


caracterizado, no âmbito político, pela fragmentação dos poderes entre diver-
sos senhores feudais. Os reis tinham relativamente pouca atuação, pois os
senhores feudais dispunham de autonomia para organizar e gerir seus domí-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nios em termos políticos e econômicos. Portanto, tratava-se de uma organi-
DA EDITORA DO zação
BRASILdescentralizada, na qual vários agentes dividiam o poder.

Mudanças políticas na Europa


Como vimos no início desta unidade, entre os séculos XII e XVIII uma
série de acontecimentos de ordem política, econômica e cultural impulsio-
nou um processo de centralização do poder nas mãos dos monarcas. Desse
processo originou-se o absolutismo monárquico, assim chamado pelo fato
de o poder dos reis ter se tornado praticamente absoluto. Ele ocorreu em
diferentes momentos e ritmos, em cada região da Europa, e coincidiu, em
grande medida, com outro processo: a formação dos Estados Nacionais.
Do ponto de vista populacional, as epidemias de peste bubônica, ocorridas
Peste bubônica: também
conhecida como “peste negra”, em principalmente entre 1347 e 1351, dizimaram cerca 30% da população, o que
razão da cor dos gânglios dos levou à grande diminuição da mão de obra ligada à agricultura. Como conse-
infectados, é uma grave doença quência, houve escassez de alimentos e aumento do preço desses itens.
bacteriana provocada pela picada
de pulgas de ratos e de outros As disputas territoriais conduziram à elevação dos impostos e das tarifas,
animais. pois as guerras eram financiadas, majoritariamente, pelos tributos cobrados
da população mais pobre. Essa situação gerou revoltas populares tanto no
campo quanto nas cidades.

20 Não escreva no livro.


A concentração de poder nas mãos dos monarcas interessava aos nobres que, além
de contar com o auxílio militar contra as revoltas camponesas, buscavam garantir privi-
légios participando das cortes reais em formação. Ao mesmo tempo, a burguesia apoiava
a centralização política, capaz de unificar impostos e taxas e facilitar o comércio, otimi-
zando os lucros.
Conforme as estruturas feudais ruíam, as monarquias nacionais se consolidaram em diver-
sas regiões da Europa, apresentando características em comum, como a consolidação de
exércitos nacionais e a configuração de instituições estatais e da sociedade civil. A formação
do exército foi importante para reprimir as revoltas populares, além de desempenhar papel
significativo nas guerras de conquista e na manutenção dos territórios.
Os monarcas absolutistas também criaram um arcabouço legal, que tornava seu poder
praticamente ilimitado no âmbito de seus Estados. Dessa forma, eles podiam intervir de forma
direta e autônoma em questões relativas, por exemplo, à criação de leis e impostos. Nenhuma
outra autoridade, nem mesmo o papa, equiparava-se ao monarca nos limites do Estado-
-nação, onde agia de forma soberana e absoluta.
Também havia a atuação da burguesia, classe social que se consolidou com o renascimento
comercial e urbano iniciado no século XI. Apesar de ter conquistado poder econômico e
apoiado a centralização monárquica, a burguesia não dispunha de poder político. Isso fazia
com que ela entrasse em conflito com a nobreza e a aristocracia. Ao longo do tempo, contudo,
em decorrência de processos pacíficos ou revolucionários, os burgueses obtiveram voz nas
decisões políticas.

Formação dos Estados absolutistas: França e Inglaterra


Como estudado anteriormente, a formação dos Estados modernos foi marcada por confli-
tos e disputas territoriais. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) é parte importante desse
processo de centralização do poder político. Essa guerra, que durou mais de um século, não
ocorreu de maneira ininterrupta. Os confrontos que se iniciaram sob a liderança da aristo-
cracia feudal, na Baixa Idade Média, e terminaram com batalhas entre os exércitos nacionais
da França e da Inglaterra, sendo entremeados por alguns momentos de trégua.
O conflito teve início em 1328,
com a disputa pelo trono francês,
Biblioteca Nacional da França, Paris

pois o rei Carlos IV (1294-1328)


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO morreu sem deixar herdeiros. Na
época, o rei inglês Eduardo III
DA EDITORA DO BRASIL (1312-1377), sobrinho de Carlos
IV, autoproclamou-se o legítimo
herdeiro do trono da França. Mas
outros reivindicavam esse lugar. O
conde Filipe acabou sendo escolhido
para a sucessão de Carlos IV, tor-
nando-se o rei Filipe VI (1293-
1350).

 Iluminura atribuída a Philippe de Mazerolles


produzida no século XV representando a
Batalha de Patay, na Guerra dos Cem Anos.
Esse combate mudou o rumo do conflito,
dando vantagem à França.

Não escreva no livro. 21


Apesar de perder a disputa pelo trono, Eduardo III havia herdado o direito
Museu do Louvre, Paris

de governar os territórios franceses da Gasconha, da Guiana e de Ponthieu,


o que gerou uma disputa entre os monarcas e deu início à Guerra dos Cem
Anos. O fim da primeira fase do confronto se deu em 1360, quando os ingle-
ses asseguraram seu domínio sobre esses territórios. Em seguida, conflitos
internos na França e na Inglaterra forçaram esses países a ter entre si um
período de paz não declarada, que foi rompida por volta de 1420, quando a
Inglaterra, governada por Henrique V, voltou a reivindicar o trono francês. A
França, comandada por Carlos VII (1403-1461), saiu vitoriosa e expulsou
os ingleses das terras da Normandia, da Guiana e da Gasconha.
A Guerra dos Cem Anos, que terminou em 1453, foi marcada por uma
disputa de territórios que levou à formação de exércitos nacionais e à cen-
tralização do poder do rei, principalmente no território francês.
 Jean Fouquet. Carlos VII da
França, c. 1445-1450. Óleo sobre Logo na sequência, a França sediou violentas guerras religiosas, com
tela, 85 cm × 70 cm. embates entre católicos e protestantes franceses (chamados de “hugueno-
tes”). A questão religiosa também foi um fator relevante para a centralização
política do Estado francês, pois uma das formas para a resolução desses
conflitos foi o fortalecimento do poder monárquico.
Com o término da Guerra dos Cem Anos e das guerras de religião, o rei
Carlos VII instaurou um exército unificado permanente, associou-se à bur-
guesia mercantil e criou novos impostos e estruturas que iriam configurar o
absolutismo. Era o início do Estado absolutista francês. A maior expressão
dessa forma de governo ocorreu na França entre os séculos XVII e XVIII.

A Guerra das Duas Rosas


Diferentemente da França, que saiu da Guerra dos Cem Anos com o
poder real fortalecido, na Inglaterra um conflito interno eclodiu entre as
famílias reais York e Lancaster, a chamada Guerra
das Duas Rosas.
A disputa entre essas dinastias, que reivindicavam
o trono inglês, estendeu-se de 1455 a 1485, ao
longo dos governos de Henrique VI, Eduardo IV e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Ricardo III. O nome Guerra das Duas Rosas faz refe-
DA EDITORA DO BRASIL rência ao símbolo de cada uma das famílias. Os
Lancaster utilizavam uma rosa vermelha e os York
usavam uma branca, estampadas no escudo de seus
exércitos.
Após muitas batalhas, Henrique Tudor (1457-
Biblioteca da Universidade de Ghent, Ghent. Fotografia: Bridgeman images/Easypix Brasil

-1509), da família Lancaster, conquistou o direito


ao trono impondo a derrota ao rei Ricardo III. Em
1485, foi coroado rei da Inglaterra sob o nome de
Henrique VII. A pacificação do Estado inglês e a
estabilidade da monarquia foram firmadas com o
casamento com Elizabeth de York, no ano seguinte.
Deu-se, então, o início da Dinastia Tudor, caracteri-
zada pelo fortalecimento do poder real e das ativi-
dades mercantis inglesas, sendo o principal nome
do Estado absolutista inglês.

 Iluminura da Batalha de Barnet, século XV.


Essa batalha, junto com a de Tewkesbury, garantiu a
vitória dos Lancaster na Guerra das Duas Rosas.

22 Não escreva no livro.


Estados Modernos na Península Ibérica
A partir do século VIII, durante a Idade Média, a Península Ibérica foi quase inteira-
mente ocupada por muçulmanos. Os Estados Nacionais que hoje conhecemos como Por-
tugal e Espanha formaram-se a partir das Guerras de Reconquista, conflitos cruzadistas
travados entre cristãos e muçulmanos.
A centralização de poder nas mãos dos monarcas também marcou o período da Reconquista.
No final do século XIV, o Reino de Portugal, localizado a oeste da península e de frente para o
mar, já tinha uma dinastia de monarcas bem relacionada com os comerciantes locais e os geno-
veses e venezianos, prósperos na Península Itálica. A Dinastia de Avis, que governou o reino
até 1580, resistiu à pressão dos reinos vizinhos e manteve a unidade territorial de Portugal,
garantindo o controle das fronteiras enquanto as expandia na luta contra os muçulmanos.

PENÍNSULA IBÉRICA EM MEADOS PENÍNSULA IBÉRICA EM MEADOS PENÍNSULA IBÉRICA EM MEADOS


DO SÉCULO VIII DO SÉCULO XII DO SÉCULO XV
0° 0° 0°

Allmaps
h

h
h

reenwic

reenwic
reenwic

OCEANO OCEANO OCEANO FRANÇA


REINO DE LEÃO

no de G
ATLÂNTICO

no de G
ATLÂNTICO
no de G

ATLÂNTICO
ASTÚRIAS NAVARRA NAVARRA
NAVARRA Porto

Meridia

Meridia
Meridia

40° 40° 40° N


N N
PORTUGAL CASTELA PORTUGAL
EMIRADO ARAGÃO CATALUNHA ARAGÃO
DE CÓRDOBA Madri N
N N
Lisboa Barcelona
CASTELA
REINO DOS
O L ALMORÁVIDAS O L O L

Córdoba Córdoba Córdoba


S S S
Mar Mediterrâneo Mar Mediterrâneo GRANADA Mar Mediterrâneo

0 115 230 km 0 115 230 km 0 115 230 km

1 : 11 500 000 1 : 11 500 000 1 : 11 500 000

Fonte: HILGEMANN, Werner; KINDER, Hermann. The Penguin Atlas of World History. Londres: Penguin, 2003. v. 1.

A maior parte da península, no entanto, demorou mais tempo para alcançar uma maior cen-
tralização. Até o século XV, os reinos de Castela, Leão, Navarra e Aragão disputavam a liderança
na luta contra os muçulmanos. Ao longo do tempo, esses reinos passaram por processos de
unificação (veja os mapas acima). Em 1469, os dois maiores reinos se uniram por meio do
casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, conhecidos como os “reis católicos”.
Foi durante o reinado de Fernando e Isabel, em 1492, que o último bastião muçulmano
na península,MATERIAL DEGranada,
a cidade de DIVULGAÇÃO
foi derrotado. A fronteira entre cristãos e muçulmanos,
que definiu asDA
relações
EDITORA DO BRASIL na Península Ibérica, estava dominada. O agora
durante séculos
chamado reino da Espanha preparava-se para expandir suas fronteiras para além do con-
tinente europeu.

 Francisco Pradilla Ortiz. A rendição


Palácio do Senado, Madri

de Granada, 1882. Óleo sobre tela,


3,30 m × 5,50 m. A expulsão dos
muçulmanos contribuiu para a
consolidação dos territórios de
Portugal e Espanha.

Não escreva no livro. 23


Expansão marítima e a divisão da América
Como visto, o século XV foi um período de muitas mudanças para os europeus, em especial
para portugueses e espanhóis. Em 1453, a cidade de Constantinopla (atual Istambul, na Tur-
quia), capital do Império Romano Oriental, uma fronteira da cristandade, foi dominada pelo
Império Otomano. Para os cristãos europeus, uma das consequências da queda de Constanti-
nopla foi a perda do acesso às rotas comerciais com o Oriente, ou seja, a um sistema de comér-
cio mais dinâmico e que envolvia as especiarias das Índias, valiosas mercadorias na Europa.
Os reinos de Portugal e da Espanha, pressionados por sua burguesia mercantil, então, plane-
jaram tirar vantagem de sua posição geográfica e passaram a buscar uma nova rota para “alcan-
çar as Índias”. O plano dos navegadores era contornar o continente africano pelo sul, extremo
então conhecido como Cabo das Tormentas. Após 80 anos de tentativas, Vasco da Gama (1469-
-1524) conseguiu chegar às Índias em 1498, expandindo as fronteiras comerciais portuguesas,
o que trouxe muita riqueza para a burguesia mercantil lusitana.
Nesse processo, uma série de feitorias, fortalezas e entrepostos comerciais foram erguidos
pelos portugueses na costa ocidental africana. Já na segunda metade do século XV, os portu-
gueses comercializavam cereais, cavalos e tecidos, entre outros produtos, e adquiriam em troca
escravizados e grande quantidades de ouro. Nos séculos seguintes, porém, as relações trariam
consequências trágicas para diversos povos daquele continente.
Com as feitorias na costa africana, a colonização das ilhas atlânticas da Madeira, dos Açores,
de Cabo Verde e de São Tomé, bem como os entrepostos comerciais nas Índias, o Reino de Por-
tugal começava a se tornar um império colonial e comercial ultramarino, expandindo suas fron-
teiras para além-mar.
Os espanhóis, que não desejavam ficar atrás dos reinos vizinhos, contrataram os serviços de
um navegador genovês, Cristóvão Colombo. Em 1492, Colombo liderou a expedição que aportou
em uma pequena ilha do que hoje conhecemos como as Antilhas, situadas no Mar do Caribe, na
América Central. Qual reino cristão tinha direto àquelas terras? Por que os direitos dos nativos
foram ignorados? No final do século XV se estabeleceu um importante debate sobre quais eram
os limites e as fronteiras entre os nascentes impérios português e espanhol.
Em 1494, portugueses e espanhóis se reuniram, no Reino de Castela, para tratar dessa ques-
tão. Foi assinado um novo tratado, definindo que uma linha imaginária passaria a 370 léguas
(aproximadamente 2 000 km) de Cabo Verde. As terras a oeste dessa linha pertenceriam aos
espanhóis e as terras localizadas a leste, seriam dos portugueses. Esse acordo ficou conhecido
como Tratado de Tordesilhas.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Biblioteca Estense, Módena

 Mapa-múndi desenhado por Alberto Cantino, 1502. Trata-se da primeira representação cartográfica que mostrou a localização da
linha imaginária delimitada no Tratado de Tordesilhas.

24 Não escreva no livro.


Processo de interiorização da América Portuguesa
A colonização da América Portuguesa teve início pela região litorânea,
onde foram estabelecidas atividades extrativistas, o plantio da cana -de-açú-
car e a produção do açúcar. Os portugueses e outros europeus que chegaram
às terras que hoje são o Brasil depararam com uma realidade geográfica Que povos europeus
(clima, fauna e flora) e uma diversidade cultural totalmente diferentes daque- exploraram o território do
Brasil?
las com que estavam acostumados na Europa. Adentrar os sertões, como
Além dos portugueses,
eram conhecidos os territórios no interior, era uma tarefa bastante árdua e franceses e holandeses se
cheia de perigos, difícil de ser realizada sem a ajuda dos povos nativos. instalaram em regiões do
Mas, movidos pelos princípios do mercantilismo, sistema econômico vigente litoral atlântico nos séculos XVI
e XVII. A França Antártica foi
no período, os portugueses almejavam encontrar e explorar metais preciosos fundada na região do Rio de
em sua colônia na América. Além de serem usados na cunhagem de moedas, Janeiro em 1555, enquanto a
o ouro e a prata tinham alto valor nas transações realizadas no Oriente. E, con- França Equinocial ocupou o
forme cresciam as atividades comerciais, a demanda por metais também Maranhão em 1594. Ambas
experiências duraram pouco,
aumentou, extrapolando a capacidade de abastecimento das minas europeias. sendo logo desmontadas pela
Apesar de inicialmente não terem localizado minérios na região litorânea, Coroa portuguesa. Mais
na segunda metade do século XVI, europeus, seus descendentes e outros sucesso teve o domínio
holandês na região de
grupos sociais começaram a organizar expedições destinadas a buscar metais
Pernambuco, que durou de
preciosos e aprisionar indígenas para serem escravizados. As primeiras expe- 1630 a 1644. As ameaças
dições, chamadas “entradas”, eram financiadas pela Coroa portuguesa e externas impulsionaram a
consideradas oficiais. Partiam de locais nas atuais regiões Nordeste e Sudeste criação de estruturas coloniais
e também buscavam mapear o território da colônia. Mais comuns que as que assegurassem a posse dos
territórios da América
entradas foram as bandeiras, financiadas por grupos de colonos interessa-
Portuguesa.
dos em acumular riquezas (ver as principais bandeiras no mapa abaixo). Nas
bandeiras, era muito frequente a presença de indígenas, que conheciam a
região e tinham diversos saberes necessários à sobrevivência na Mata Atlân-
tica e em outros biomas brasileiros.

AS ENTRADAS E BANDEIRAS E A EXPANSÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO


Allmaps

50° O
Percursos de bandeirantes
Manuel Preto (1606-1630)
Raposo Tavares (1628-1651)

Equador Pedro Teixeira (1637-1640)
Fernão Dias Pais (1638-1681)
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Pascoal Moreira Cabral Leme (1682-1719)
Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera
DA EDITORA DO BRASIL (1682-1725)
Ciclo de Bandeiras do Paraupava
(séculos XVI-XVII)
Tratado de Tordesilhas

Domingos Barbosa Calheiros (1646-1660)


Belchior Dias Moreia (1580-1599)

Bandeiras e entradas
Ocupação europeia no século XVII
Efetiva Tênue Formal
Portuguesa
Espanhola

OCEANO PORTUGAL ESPANHA


PACÍFICO OCEANO
ATLÂNTICO Século XVI
Século XVII
N
ricórnio
de Cap
Trópico Limites do Brasil pelos tratados de
O L
Utrecht (1715) Trecho por terra
Madri (1750) Missão jesuíta
S
Santo Ildefonso (1777) Cidade
0 225 450 km Badajoz (1801) Vila
Colônia do Sacramento (1680)
1 : 22 500 000

Fonte: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Atlas histórico do Brasil. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: https://atlas.fgv.br/marcos/bandeiras-e
-bandeirantes/mapas/bandeiras-e-entradas. Acesso em: 29 jun. 2020.

Não escreva no livro. 25


A atividade dos bandeirantes se inten-
Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo

sificou a partir do século XVII, quando se


concentrou na atual Região Sudeste, mais
especificamente na vila de São Paulo de
Piratininga, que tinha uma característica
geográfica importante: o Rio Tietê. Esse
rio, diferentemente dos demais que banham
a região, corre do litoral rumo ao interior.
Por isso, guiava e possibilitava o desbra-
vamento do território, que se dava ao longo
das margens no curso do rio.
No fim do século XVII, os bandeirantes
descobriram as reservas auríferas nas ter-
ras que hoje fazem parte do atual estado
de Minas Gerais. Além disso, a ação deles
 Oscar Pereira da Silva. Bandeirantes a caminho das minas, 1920-1921. consolidou o avanço sobre o interior da
Óleo sobre tela, 86 cm × 126 cm.
colônia e a gradual ocupação do território
que é hoje o Brasil. Os bandeirantes avançaram tanto em direção ao inte-
rior da colônia que acabaram ultrapassando a linha divisória definida pelo
Tratado de Tordesilhas e se abriram caminho para que colonos se estabe-
lecessem em regiões que pertenciam à Coroa espanhola. Vale lembrar que
esse tratado dividiu as terras a serem descobertas na América entre Espa-
nha e Portugal por meio de uma linha imaginária calculada a partir do
Arquipélago de Cabo Verde (a parte que cabia a Portugal corresponde
atualmente à região que vai de Belém do Pará até a cidade de Laguna, em
Santa Catarina).

As bandeiras e as missões
Um dos fatores que contribuíram para a interiorização da América Por-
tuguesa foram as missões jesuíticas, introduzidas no Brasil no final do
século XVI. Com o intuito de catequizar os indígenas e adequá-los ao modo
A pecuária abre caminhos
de vida cristão, os jesuítas formaram os aldeamentos, tipos de comunida-
A pecuária, que começou a ser
praticada na colônia entre os des religiosas autossuficientes. Inicialmente instalados na Bahia, esses
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
séculos XVI e XVII, também aldeamentos se estenderam até o sul do território, ocupando a fronteira
DA
contribuiu para alargar EDITORA
os
limites do território brasileiro.
DO BRASIL
com a América Espanhola na região denominada Sete Povos das Missões
Inicialmente, a atividade visava
(no atual estado do Rio Grande do Sul).
ao abastecimento do mercado Conforme os bandeirantes avançaram pelo interior do território, nas cha-
interno de couros e carnes e ao madas expedições de apresamento, as missões tornaram-se seus principais
uso da tração dos bovinos nos
transportes e nos engenhos de alvos. Eles saíam em busca de indígenas para a escravização nas lavouras
açúcar. Após a proibição da e, quanto mais cativos capturassem, mais lucros poderiam garantir com sua
criação extensiva de bovinos venda. Assim, diversas missões e aldeias indígenas foram destruídas pela
na faixa litorânea, decretada
pela Coroa portuguesa em ação dos bandeirantes, sobretudo até o final do século XVII, como as da
1710, o gado passou a ser região de Piratininga, onde se encontrava a Vila de São Paulo e a de Guairá,
conduzido para o sertão, no oeste do atual estado do Paraná.
adentrando o território pelas
margens do Rio São Francisco.
Assim, regiões onde hoje estão
A exploração do ouro e a sociedade das minas
o Ceará, a Paraíba, o Piauí, o
Além de terem expandido os limites territoriais da América Portuguesa,
Rio Grande do Norte e o
Maranhão receberam criações os bandeirantes deram início a uma “corrida do ouro” rumo ao interior da
de gado, e este, por sua vez, colônia. No fim do século XVIII, grande quantidade desse minério foi encon-
adquiriu importância na trada no que é hoje o estado de Minas Gerais e, em menor número, nos atuais
economia colonial em meados
do século XVIII. estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso. A mineração era vista na época
como uma das formas mais rápidas de obter riqueza.

26 Não escreva no livro.


Uma das regras estabelecidas pela Coroa portuguesa para

Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro


a mineração na América Portuguesa é que a pessoa que qui-
sesse exercer essa atividade deveria ter uma quantidade
mínima de escravizados africanos ou de descendentes deles.
Dessa forma, afluíram para o interior da colônia muitos bra-
sileiros, escravizados e estrangeiros. Os escravizados eram
os que de fato realizavam a prospecção e a retirada do ouro
e de outros minérios de rios e túneis subterrâneos.
Apesar de toda a riqueza produzida nas áreas de minera-
ção, não havia nenhum tipo de infraestrutura para as pessoas
que se mudavam para essas regiões, o que levou muitos a
padecerem de fome, doenças e falta de abrigos adequados.
A solução para isso foi organizar a agricultura de subsistên-
cia, fomentar a pecuária, melhorar os caminhos que levavam
suprimentos para o interior, construir cidades e estabelecer
administrações locais. Toda essa organização criada em torno
da atividade mineradora propiciou o povoamento e a urba-
nização desses locais, onde surgiu uma sociedade urbana
com características muito diferentes das dos demais núcleos
populacionais da colônia. A ocupação da região das minas,
que fornecia à Coroa portuguesa vultosos lucros também
garantiu a posse do interior do território.
Mais além, a exploração de ouro na região das Minas  Carlos Julião. Serro Frio, século XVIII. Aquarela.
A mineração usou intensivamente a mão de obra
Gerais levou a mudanças políticas. Com o objetivo de con- escravizada.
trolar a mineração e receber os impostos cobrados por
essa atividade, a Coroa portuguesa promoveu ações como a instituição de novos tributos, o
envio de autoridades que representavam o poder português à região mineradora e a trans-
ferência da capital da corte de Salvador para o Rio de Janeiro, com o intuito de aproximar a
burocracia do centro produtivo e controlar o escoamento de metais preciosos nos portos.

Expansão e manutenção territorial na América Portuguesa


Com o avanço português sobre terras que pertenciam à Espanha, resultado das expedições
sertanistas eMATERIAL DE DIVULGAÇÃO
da incapacidade dos espanhóis em proteger a totalidade de suas possessões na
DA EDITORA
América, o Tratado DO BRASIL
de Tordesilhas foi substituído pelo Tratado de Madri, em 1750. Como você
pode ver no mapa da página 25, esse tratado garantiu a posse de parte do interior da América
do Sul para a Coroa portuguesa, contribuindo para a atual configuração territorial do Brasil.
A expansão, a posse e a proteção do território que Portugal dominava na América eram alguns
dos grandes objetivos da Coroa portuguesa. No entanto, essa expansão territorial e sua manu-
tenção não ocorreram de forma pacífica. Devido à extensão territorial da América Portuguesa
e à sua diversidade geográfica, econômica, étnica e cultural, eram constantes os conflitos entre
colonos e o poder colonial, além das fugas de escravizados para quilombos e as guerras indí-
genas. Em alguns casos, formas de poder paralelo se estabeleceram, como no Quilombo dos
Palmares. Em outros, ameaçava-se a integridade territorial com tentativas de desmembrá-la.
Nessa época, aconteceram revoltas chamadas de nativistas. Esses movimentos questio-
navam aspectos pontuais da administração portuguesa, mas não colocavam em xeque a
posição da colônia em relação a Portugal. Um exemplo desses movimentos foi a Revolta de
Beckman, ocorrida no Maranhão, em 1648, que criticava o monopólio comercial e a proibição
da escravização indígena. As chamadas conjurações, por sua vez, eram revoltas que ques-
tionavam o pacto colonial e exigiam a emancipação política da colônia em relação à metró-
pole. As conjurações Mineira e Baiana, inspiradas por ideais iluministas e republicanos, foram
os principais movimentos do final do século XVIII.

Não escreva no livro. 27


O Brasil Império e a política de unidade territorial
A condição de colônia do Brasil teve uma reviravolta no início do século XIX, com a vinda
da família real portuguesa para o Brasil. Após não acatar o Bloqueio Continental decretado
por Napoleão Bonaparte, mantendo as relações diplomáticas e comerciais com a Inglaterra,
o rei D. João e sua comitiva fugiram das tropas napoleônicas, atravessaram o Atlântico e ins-
talaram a Corte no Rio de Janeiro.
Na sequência, uma série de medidas foram tomadas para evitar o desmantelamento do
Império Português e para criar condições para a vinda da Corte em um novo contexto. Em
1808, o exclusivo metropolitano imposto pelo pacto colonial, que proibia ao Brasil o comér-
cio com outros países além de Portugal, foi rompido com a Abertura dos Portos que permitiu
à colônia comercializar com outras nações. Com isso, buscava-se garantir o fornecimento de
produtos importados para os membros da Corte. Em 1815, o Brasil foi elevado a Reino Unido
de Portugal, Brasil e Algarves, assim superando definitivamente o status de colônia, movi-
mento que antecedeu a independência e a formação do país, em 1822.
Diferentemente do que ocorreu com o processo de independência da América Espanhola,
caracterizado pela criação de vários países, o Brasil se tornou independente e manteve sua
unidade. Coube a Dom Pedro I (1798-1834), que ficou no poder entre 1822 e 1831, contra-
por-se à maior tentativa de desmembramento territorial do Brasil naquele período: a Confe-
deração do Equador.
Iniciado em Pernambuco, esse movimento era contrário à Constituição de 1824 (que
garantia amplos poderes ao imperador), tinha o apoio de outras províncias do atual Nordeste
e pretendia criar uma república independente. A província de Pernambuco já havia esboçado
esse tipo de pretensão em 1817, durante a Revolução Pernambucana, mas não obteve êxito.
Apesar de a Confederação do Equador ter sido mais organizada que a revolta anterior, seus
participantes foram violentamente reprimidos por tropas inglesas contratadas por Dom Pedro I.
Muitos morreram em combate e outros foram condenados à forca. Assim, tornou-se conhe-
cida como o episódio mais violento do Primeiro Reinado e serviu como exemplo para inibir
novas tentativas separatistas.
Houve somente um movimento organizado que buscou se tornar independente do Brasil
durante o reinado de Dom Pedro II (1840-1889). Mais uma vez, a província de Pernambuco
organizou uma revolta separatista de cunho republicano, a Revolução Praieira (1848-1850).
Novamente,
MATERIAL as forças imperiais foram violentas na contenção do movimento, deixando cen-
DE DIVULGAÇÃO
tenas de mortos e encarcerados.
DA Em EDITORA DO BRASIL
contrapartida, Dom Pedro II se envolveu em quatro grandes conflitos internacionais para
garantir e aumentar o território do Brasil: a Guerra da Cisplatina (1825-1828), a Guerra do Prata
(1851-1852), a Guerra do Uruguai (1864-1865) e a Guerra do Paraguai (1864-1870). Todos
esses conflitos estiveram ligados a equilíbrios de poder, a disputas territoriais e ao domínio da
Bacia do Rio da Prata, região importante do ponto
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro

de vista geoeconômico por ser ligada à lucrativa


atividade pecuária e à navegação, que permitia
trocas comerciais dos países não banhados pelo
Oceano Atlântico.
Apesar de o Brasil ter saído vitorioso de todos
esses combates e, com isso, ter mantido seus
limites territoriais, os altos custos econômicos
e políticos das guerras, em especial da Guerra
do Paraguai, somados a outros fatores, levaram
ao desgaste da figura de Dom Pedro II. Tudo
isso contribuiu para a intensificação do movi-
 Oscar Pereira da Silva. Cópia do original de Vitor Meirelles: Batalha Naval
do Riachuelo, 1883. Óleo sobre tela, 2,00 m × 1,15 m. Esse combate foi mento republicano, que se consolidou em 1889,
um dos mais importantes da Guerra do Paraguai. levando à deposição do imperador.

28 Não escreva no livro.


Atividades

1. Caracterize os principais fatores que levaram à formação dos Estados Nacionais europeus
e relacione-os à consolidação de um dos países estudados.
2. Analise as afirmativas a seguir e, em seu caderno, classifique-as em correta, parcialmente
correta ou incorreta. Justifique as suas respostas.
a) Nos reinos ibéricos, as Grandes Navegações antecederam a formação dos Estados
modernos, possibilitando aos reis a ampliação das fronteiras marítimas antes mesmo
da consolidação dos territórios nacionais.
b) Entre os principais fatores que levaram à centralização do poder na Europa estão
os casamentos e as guerras. Um exemplo disso ocorreu na formação da Espanha
com o casamento entre os soberanos dos reinos de Aragão e Castela e a expulsão
das mouros da península ibérica nas Guerras de Reconquista.
c) As fronteiras que delimitaram os Estados modernos são naturais, ao passo que o
regime monárquico, predominante nessas formações, é resultado da ação humana.
Uma das principais funções do governo centralizado era proteger as fronteiras com
exércitos nacionais, que eram financiados pelo recolhimento de impostos.
3. A manutenção da unidade territorial brasileira foi constantemente ameaçada por revol-
tas separatistas ao longo dos períodos colonial e imperial. Em duplas, escolham um dos
movimentos separatistas ocorridos no passado e façam uma pesquisa sobre ele.
a) Identifiquem as principais informações do movimento: seus principais atores sociais,
seus motivos, aspectos de seu desenvolvimento e seu desfecho.
b) Registrem as fontes que utilizaram para a pesquisa.
c) Com base nos dados coletados, elabore uma resposta para a pergunta: “Como esse
movimento contribuiu para a produção do espaço brasileiro?”
4. O processo de configuração do território
MAPA COM A DIVISÃO POLÍTICA DO BRASIL EM 1889
brasileiro passou por diversas fases entre

Allmaps
o Segundo Reinado e a declaração da Re-
pública, em 1889. Observe o mapa ao lado
que representa o território brasileiro em Equador

1889. Em seguida, responda às questões.


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
a) Cite e explique três processos ocorridos
AMAZONAS

DAo EDITORA DO BRASIL


PARÁ MARANHÃO CEARÁ RIO GRANDE
durante período colonial que contri- DO NORTE
PARAÍBA
PIAUÍ
buíram para configuração territorial do PERNAMBUCO

Brasil em 1889. ALAGOAS


SERGIPE

b) Cite e explique um evento ocorrido du- BAHIA

rante o período imperial que contribuiu


GOIÁS
MATO
GROSSO
para a configuração territorial do Brasil OCEANO
ATLÂNTICO
em 1889. MINAS
GERAIS
ESPÍRITO
c) Acesse um mapa político do Brasil atual
OCEANO SANTO
PACÍFICO
N SÃO PAULO
na internet ou em um atlas recém-lan-
RIO DE JANEIRO
Trópico de Capricórnio DISTRITO FEDERAL

çado. Ao compará-lo com o mapa de O L PARANÁ

1889, é possível afirmar que o território S


SANTA
CATARINA

se manteve idêntico ou ocorreram mu- RIO GRANDE


DO SUL
0 475 950 km
danças? Justifique a sua resposta. Se
1 : 47 500 000
tiver havido mudanças, identifique-as e
Fonte: IBGE, 2018. Disponível em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/
aponte quando e como elas ocorreram. mapas_brasil/brasil_evolucao_da_divisao_politico_administrativa.pdf. Acesso em:
d) Com base em seus estudos, escreva 7 set. 2020.
um texto partindo da seguinte afirma-
ção: “As fronteiras do Brasil não são naturais, mas foram construídas historicamente”.

Não escreva no livro. 29


A FORMAÇÃO DO ESTADO-NAÇÃO
Quando estamos passando por alguma crise que afeta a sociedade, a quem atribuímos
a responsabilidade por essa situação? E quando, como sociedade, precisamos resolver
alguma situação social, esperamos de quem essa solução? Em geral, imputamos ao governo,
principalmente à figura do presidente da República, as causas e as soluções para as ques-
tões sociais de um país. Porém, o governo é apenas uma parte transitória do Estado, que,
por sua vez, é parte da composição da sociedade.
O ordenamento político de uma comunidade é, atualmente, chamado de Estado. Essa é a
forma de governo de determinado povo, nos limites de um território, com seu conjunto de
leis e instituições. O Estado que conhecemos hoje, Estado-nação, é a sobreposição de orga-
nização cultural, a unidade do povo de um país (a nação) e uma constituição política (o Estado).
O processo de consolidação do Estado moderno ocorreu ao mesmo tempo que se desen-
volvia o próprio capitalismo. Era necessário criar uma nova organização política que aten-
desse às novas demandas produtivas. A existência de um Estado centralizado e forte era
fundamental para o avanço da indústria e do comércio e para a organização da sociedade,
que ficava cada vez mais complexa. A burguesia, ao consolidar seu poder econômico, tam-
bém desenvolveu um sistema político próprio.
Para entender esse processo, vale recuar no tempo até a época da expansão das práticas
econômicas do século XV, que permitiram o surgimento do Estado absolutista, em que a
monarquia, financiada pela burguesia, tinha amplos poderes políticos. Na Inglaterra, em
1509, o Estado absolutista foi iniciado com Henrique VIII (1491-1547) e intensificado por
Isabel I (1533-1603), que assumiu o trono em 1558 e foi responsável pela consolidação
das bases desse Estado, que levariam à Revolução Industrial. Na França, o absolutismo do
reinado de Luís XIV (1638-1715) é expresso na frase do rei: “O Estado sou eu”.
A Revolução Gloriosa, ocorrida na Inglaterra
em 1688, a Constituição dos Estados Unidos,
promulgada em 1787, e mais especificamente
a Revolução Francesa, de 1789, marcaram o
fim do absolutismo e a consolidação do Estado
moderno.
A Revolução Francesa, também chamada
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO de revolução burguesa, retirou os privilégios
DA EDITORA DO BRASIL da nobreza e do clero e solidificou o Estado
nos moldes dos interesses da burguesia. Tam-
bém instituiu a separação e a independência
dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário,
e inaugurou uma nova relação entre o Estado e
as pessoas: a cidadania. O lema da Revolução
Francesa, “Liberdade, igualdade, fraternidade”,
representa os anseios da burguesia em relação
ao Estado: a liberdade do indivíduo e dos mer-
cados, a igualdade jurídica e a fraternidade
como sentimento que unifica a nação.
National Portrait Gallery, Londres

 Escola inglesa. Retrato da coroação, 1600. Óleo em


painel, 127,3 cm × 99,7 cm. Rainha Isabel I em sua
coroação, em 1559. Absolutista, ela usa uma roupa de ouro,
o cedro e o orbe (o globo com a cruz) como representação
de sua autoridade.

30 Não escreva no livro.


Nas colônias do continente americano, essas revoluções e a Constituição

Coleção particular.
dos Estados Unidos influenciaram os processos de independência e o
nascimento de novos Estados-nação, entre eles o Brasil. À emancipação
do Haiti (1804), feita pela população escravizada, sob a liderança do gene-
ral Toussaint Louverture (1743-1803), seguiu-se uma série de guerras e
conflitos pela independência na Argentina (em 1816), na Colômbia (que
se completou em 1819) e no México (1821). Cuba e Porto Rico foram as
últimas colônias do continente a se tornarem independentes, em 1898.
Esses movimentos, de cunho liberal e moderno, que em geral foram reali-
zados pela burguesia que se desenvolveu nos países colonizados, em
conjunto com a população, deram origem a novas repúblicas – com exce-
ção do Brasil, que se estabeleceu como império até 1889, e do México, que
de início se declarou uma monarquia independente e se tornou uma repú-
blica em 1823.

Retrato de Toussaint Louverture,


século XIX. Litografia colorida (autor desconhecido).

A guerra de independência do México


O mural A guerra de independência

Palácio Nacional, Cidade do México. Fotografia: J.Enrique Molina/Album/Fotoarena © Banco


de Mexico Diego Rivera & Frida Kahlo Museums Trust, Mexico, D.F./AUTVIS, Brasil, 2020
do México foi pintado pelo artista
mexicano Diego Rivera (1886-1957)
em 1935, na sede do Palácio Nacional,
na Cidade do México. A obra apresenta
símbolos que possibilitam compreen-
der o processo de construção de um
Estado-nação sem deixar de conside-
rar as especificidades culturais e his-
tóricas do México. A independência
mexicana foi conquistada por meio de
uma guerra de dez anos, e se consoli-
dou com aMATERIAL
organizaçãoDEdoDIVULGAÇÃO
Império
Mexicano, em 1821. Em 1823, a repú-
DA EDITORA
blica foi proclamada DO1910,
no país. Em BRASIL
teve início a Revolução Mexicana, con-
flito que também durou dez anos e
 Diego Rivera. A guerra da independência do México (1810), 1929-1935.
envolveu todo o território mexicano. Afresco, 9 × 21,5 m. A imagem mostra apenas um detalhe do mural.
Os revolucionários lutavam pelo fim
do governo de Porfirio Díaz e pela reforma agrária.

1. Observe a imagem acima, que representa três diferentes momentos da história mexicana: a colonização espanhola,
a guerra de independência do México e a Revolução Mexicana.
2. Agora, pesquise sobre esses três eventos e responda ao que se pede:
a) Quais elementos do mural A guerra de independência do México (1810) ajudam a identificar cada um desses momen-
tos históricos?
b) Ao retratar esses três períodos históricos, o que o autor quis comunicar sobre o processo de independência do México?
E sobre a construção da nação mexicana?
c) No centro da obra há uma águia comendo uma serpente. Trata-se do símbolo do México. Forme um grupo com quatro
colegas e pesquisem a história desse símbolo. Procurem descobrir por que ele assumiu um lugar central no mural de
Rivera. Ao final, elaborem um texto coletivo sobre essa história.

Não escreva no livro. 31


O Estado moderno: política e nação unificados
A junção entre Estado e nação é uma composição moderna e não ocorreu de forma simples.
O conceito de nação em si confunde-se com os de raça, língua, comunidade e etnia. Tem rela-
ção com a expansão da sociedade industrial e incorpora elementos políticos, geográficos, sociais,
culturais e econômicos.
Contudo, em poucos países há integração completa da população com o Estado-
-nação. Durante essa formação, foi preciso realizar um esforço que promovesse a integração
cultural, linguística e moral da população, pois a identidade nacional não se forma de maneira
natural. A escola é importante nesse processo, pois ensina a mesma língua, a mesma história
e os valores morais parecidos com os da população. O Estado, muitas vezes, incentiva a pro-
dução de literatura e de mitos nacionais, além de valorizar a cultura popular, para consolidar o
sentimento de nação nas pessoas.
Essa integração não ocorre sem conflitos. No mundo, existem inúmeros movimentos inde-
pendentistas decorrentes da falta de integração das pessoas com o Estado-nação. Isso ocorre,
por exemplo, na Espanha, onde a região da Catalunha busca se tornar independente do país.
Nação é um conceito complexo e que se mostrou frágil em vários momentos da história moderna.

Lluis Gebe/AFP
 Manifestação ligada ao movimento pela independência da Catalunha, região da Espanha que busca
se separar do poder central do país. Barcelona, Espanha, 2018.

Diferentes abordagens sobre o Estado


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Enquanto Maquiavel busca na história os caminhos para obter e manter o poder, os filóso-
DA
fosEDITORA DO BRASIL
alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) apostam no poder da
classe trabalhadora unida, e o pensador alemão Max Weber (1864-1920) trabalha com a
ideia de dominação, decorrente da desigualdade nas relações de poder.

Maquiavel e o estudo moderno do Estado


Desde a Grécia Antiga, o estudo sobre o Estado e a organização política desperta o interesse
de intelectuais, políticos e figuras públicas. Mas é Nicolau Maquiavel (1469-1527), na Florença
dos séculos XV e XVI, na Itália, que confere à ciência política contornos modernos, ao realizar
uma análise sobre o Estado buscando na história os elementos para definir como se faz para
conquistar e manter o poder. A obra O príncipe, escrita em 1513 e publicada em 1532 após
a morte do autor, é um marco dos estudos sobre o Estado, pois separa a política da moral e
da religião.
Para Maquiavel, a liberdade reside em não ser escravo de nenhum outro povo ou outro
Estado. Ele mostra que, na política, a legitimidade, a aparência e as artimanhas são mais
relevantes que a força em si, e que manter o poder é mais difícil que conquistá-lo. Esse pen-
sador traz para o debate político uma contraposição à doutrina moral e religiosa por meio da
ideia de que “os fins justificam os meios”. Essa afirmação circunda a política e reaparece de
tempos em tempos.

32 Não escreva no livro.


Marx, Engels e a natureza de classe do Estado
Karl Marx e Friedrich Engels compreendem o Estado com base em sua

Akg-Images/Album/Fotoarena
natureza de classe, isto é, em seu funcionamento amparado nas relações 1

econômicas e materiais. Para eles, ao longo da história, o Estado tem sido


um instrumento de controle de uma classe sobre a outra, ou seja, da bur-
guesia sobre o proletariado. O grupo economicamente mais forte o utiliza
para conservar sua condição exploradora e conquistar o domínio no aspecto
político. Isso significa que a política não é independente das questões
econômicas.
Com o avanço da indústria e do mercado mundial, a burguesia, ao con-
centrar os meios de produção, também concentrou o poder político no Estado
moderno, que visa garantir a propriedade privada e regular a luta de classes,
controlando a organização e o fortalecimento dos trabalhadores de forma a
propiciar a estabilidade social no capitalismo.
A análise marxista considera que a sociedade está estruturada nas classes

Universal History Archive/Getty Images


2
sociais e afirma que a nação é uma categoria que não representa os trabalha-
dores. Mais importante do que a nação são os trabalhadores como classe
social, independentemente do Estado a que pertencem. Para esses autores,
a base da sociedade são as relações econômicas, essa é a infraestrutura que
fornece suporte ao Estado e ao Direito, ao plano das ideias e à consciência
social – isto é, a uma série de instrumentos, como meios de comunicação,
escolas e religião, para consolidar e naturalizar a visão de mundo da burguesia
como o pensamento de toda a sociedade. Portanto, o Estado e a ideologia
derivam da base econômica da sociedade.
Segundo o marxismo, o Estado é o elemento central do processo de revo-
lução dos trabalhadores. Assim, a revolução implica que eles tomem o Estado
 Para Marx [1], em foto de 1880,
e estatizem os meios de produção, ou seja, que o Estado passe a ter o con- e Engels [2], em foto de 1879, o
trole das fábricas, máquinas e terras, as antigas formas de produção e as Estado é sempre o instrumento
condições de existência dos antagonismos de classe, consequentemente, o de controle de uma classe sobre
a outra.
processo de dominação. Como afirma Marx, o Estado proletário tenderia a
definhar para que passasse a existir uma nova sociedade, comandada pelos
trabalhadoresMATERIAL DE DIVULGAÇÃO
associados.
DA EDITORA DO BRASIL  Em 1917, no início da Revolução
Russa, uma coluna de soldados faz
uma manifestação sob uma faixa
onde está escrito “Comunismo”.
Moscou, Rússia, 1917.
Sovfoto/Universal Images Group/Getty Images

Não escreva no livro. 33


Max Weber: Estado, dominação e legitimidade
Max Weber, pensador liberal alemão, desenvolveu uma importante teoria do Estado.
Ao vivenciar o processo de unificação alemã, concluído em 1871, que ocorreu tardiamente
entre os países desenvolvidos, Weber dedicou-se a refletir sobre como a Alemanha poderia
se transformar em uma nação coesa. Para ele, as relações humanas são permeadas pela
dominação, pois, onde os recursos não são iguais, há relações de poder.
Para Weber, o Estado deve ser compreendido não por seus fins, mas por
Akg-Images/Album/Fotoarena

seu instrumento específico, ou seja, “o uso da coação física”. O Estado seria,


então, aquele que “pretende o monopólio do uso legítimo da violência”,
isto é, busca ter a prerrogativa de utilizar as armas e a violência nos limites
de um território. Um cidadão não pode formar um exército independente
sem o consentimento do Estado, por exemplo. Contudo, esse monopólio
se apoia em uma dominação legítima. Assim, para que um Estado exista,
é necessário que a sua população obedeça à autoridade dos detentores do
poder nesse Estado. E, para que os dominados obedeçam, é necessário
que os detentores do poder tenham uma autoridade reconhecida como
legítima.
Segundo esse pensador, existem diversas formas de exercer o poder. Entre
elas, a dominação se destaca pelo fato de nela a obediência pressupor con-
sentimento (a escravidão seria uma exceção, pois se caracteriza pela ausên-
 Max Weber, em foto de 1900.
Para esse pensador, a burocracia é cia de consentimento por parte dos dominados). A dominação é definida
como um suporte do Estado com base em três “tipos ideais”: carismática, tradicional e racional-legal, e
moderno. cada tipo de dominação tem meios próprios de administração.

MAPA DA UNIFICAÇÃO ALEMÃ (1871)

Allmaps
SUÉCIA
DINAMARCA
Mar
Báltico
Mar do SCHLESWIG
Tilsit
Norte Schleswig
Königsberg
Kiel
Gdansk
HOLSTEIN
BURGO

Lübeck Rostock
la
Rio Vístu

PAÍSES Hamburgo

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
OLDEM

BAIXOS MECKLEMBURGO Stettin


Bremen
er
Od

DA EDITORA DO BRASIL
Rio

H A N N O V E R
Rio Reno
P R Ú S S I A
lba

Hannover Berlim
E
Rio

Münster Posen RÚSSIA


Magdeburgo
P R Ú S S I A
Dortmund Göttingen
BÉLGICA L
Düsseldorf SE
AS
Colônia E -K Kassel
S S Leipzig
HE Erfurt Dresden
Breslau N
NASSAU TURÍNGIA SAXÔNIA
HESSE
Frankfurt
O L
LUXEMBURGO
HESSE
Darmstadt
BAVIERA S
50° N
Metz PALATINADO Nuremberg
Karlsruhe ÁUSTRIA-HUNGRIA 0 80 160 km
LORENA
Estrasburgo Stuttgart 1 : 8 000 000
o
Rio D a n ú b i
WÜRTTEMBERG Prússia em 1815 Anexação resultante da Paz
FRANÇA de Frankfurt (1871)
CIA

Ulm Anexação resultante da Guerra


dos Ducados da Prússia contra Confederação Germânica
ALSÁ

BADEN Munique a Dinamarca (1864) do Norte (1867-1871)


Territórios incorporados na Império Alemão
Guerra das Sete Semanas (1866) Segundo Reich (1871-1918)
Unificação resultante da adesão
SUÍÇA à guerra contra a França (1871)
10° L
Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 135.

 Império Alemão, formado em 1871 após a unificação de diferentes reinos. Esse processo inspirou Max Weber
a refletir sobre o Estado e a formação nacional.

34 Não escreva no livro.


Palácio de Versalhes, Versalhes. Fotografia: Fine Images/Album/Fotoarena

 czar Nicolau faz a revista das tropas. Óleo sobre tela. Nicolau foi imperador da Rússia entre 1825 e 1855.
O
Para Weber, o Estado tem a prerrogativa de utilizar as armas e a violência nos limites de um território.

A dominação carismática se exerce pela submissão diante de atributos pessoais do líder


no qual os dominados depositam sua fé. Esse líder exige obediência, e, em contrapartida,
são esperadas dele provas que demonstrem sua vocação. São exemplos de liderança caris-
mática os profetas, os heróis de guerra e alguns chefes políticos, vistos como demagogos por
Weber. O líder nomeia seu quadro administrativo com base nas qualidades carismáticas de
cada pessoa. A relação é de caráter emocional. Esse quadro não é constituído de funcionários
profissionais. Não há autoridades institucionais fixas, nem regulamentos ou normas jurídicas
universais. A dominação carismática opõe-se aos outros tipos de dominação por seu caráter
extracotidiano e desprovido de regras fixas, o que a torna muito instável.
Na dominação tradicional, o dominador é um senhor cujas relações são pessoais e funda-
das na legitimidade, na tradição inquestionável. A ação do senhor baseia-se na materialidade
vinculada à tradição. O quadro administrativo é recrutado com base em relações de confiança.
A fidelidade pessoal ao senhor é decisiva. O patriarcalismo, segundo Weber, tem a ver com
a dominação pela tradição dos valores e normas. Um exemplo é o domínio do pai sobre os
filhos, a esposa e os servos, cuja legitimidade se baseia na santidade da tradição, “na crença
na inviolabilidade daquilo que foi assim desde sempre”, e se expressa por meio da submissão
pessoal. A norma, com base na tradição, afirma que é o pai ou o senhor que exerce o poder.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
A dominação racional-legal com administração burocrática é o modelo do Estado moderno.
DAmantém
A autoridade se EDITORA DO BRASIL
segundo uma ordem impessoal e universalista, e os limites de seus
poderes são determinados pelas esferas de competência definidas pela própria ordem.
A burocracia rege-se pelo princípio das competências oficiais fixadas e ordenadas pelas
regras. A responsabilidade e a autoridade são dadas pela hierarquia, exceto nos cargos elei-
tos, que não constituem tipos burocráticos puros. A seleção do corpo administrativo é feita
de modo impessoal, com base na competência técnica, e os funcionários podem ascender
nessa hierarquia. A remuneração é feita com salários. São adotadas medidas para assegurar
o cumprimento regular dos deveres.
Weber destaca que é na administração burocrática que reside o poder do Estado moderno,
pois é por meio dela que as decisões sobre o dia a dia das pessoas são conduzidas. Com a
burocracia, alcança-se o máximo de precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiabilidade.
Essas características estão atreladas ao desenvolvimento do capitalismo e às necessidades
criadas por esse sistema. Weber considera a dominação burocrática a forma mais racional,
desenvolvida e estável de exercício da dominação, que avança sobre todas as esferas da vida.
Dessa forma, ele utiliza a expressão “jaula de ferro” para se referir ao Estado moderno.
Por isso, esse pensador aposta no Parlamento, ou seja, na política como esfera de controle
do poder burocrático, pois é ali que conflitos e negociações são possíveis e que múltiplos
interesses podem ser atendidos. A dominação racional legal precisa de um estrato não buro-
crático, ou seja, político, capaz de supervisioná-la.

Não escreva no livro. 35


Os Estados plurinacionais: os casos da Bolívia e do Equador
A constituição dos Estados Nacionais na formação da modernidade não se deu sem conflitos internos, pois a nação
é uma identidade complexa, que nem sempre corresponde a todos os grupos sociais que existem em determinado
território.
Nos países localizados nas Cordilheiras dos Andes, a população indígena resistiu aos anos de colonização e de exclu-
são, mantendo suas formas tradicionais de vida e conservando-se politicamente organizada, tendo fortes enfrentamen-
tos com os governos centrais.
Em 2008 e 2009, a Bolívia e o Equador inovaram na formulação do conceito de Estado Nacional ao aprovar novas
Constituições, as Constituições plurinacionais, nas quais há o reconhecimento de que o Estado é formado por dife-
rentes nações.
Essas Constituições foram elaboradas por assembleias constituintes e aprovadas em plebiscitos nacionais no
Equador e na Bolívia com uma margem de 63% e 61%, respectivamente, de votos favoráveis aos conjuntos de leis.
O modelo dessas Constituições ficou conhecido como “constitucionalismo plurinacional latino-americano”, que busca
contemplar as especificidades históricas, sociais, culturais e políticas desses países, em que grande parte da popu-
lação é indígena e falante de línguas nativas – e não do espanhol –, e manter suas visões de mundo, de religião e de
organização política.
Em termos legais, além do reconhecimento das populações indígenas como nação, ou seja, como identidade pró-
pria e diferente do modelo hegemônico, essas Constituições incorporam a equivalência da justiça indígena à justiça
comum; garantem a participação indígena no Parlamento; ampliam a autonomia regional; estabelecem autonomia
política e administrativa dos territórios indígenas, e formalizam o modelo de propriedade indígena – que seria comu-
nal, e não individual.

 Wiphala, a bandeira das nações


Gil C/Shutterstock.com

andinas. As sete cores dessa


bandeira representam os valores
e a visão de mundo desses
países. A simetria dos quadrados
simboliza a igualdade no sistema
comunitário da região dos Andes.

 Homem toca durante a


celebração do quarto
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO aniversário de
DA EDITORA DO BRASIL fundação do Estado
plurinacional. La Paz,
Bolívia, 2014.
Gaston Brito/Reuters/Fotoarena

36 Não escreva no livro.


Atividades

1. Sobre a Revolução Francesa, responda:


a) Essa revolução foi realizada por qual classe social?
b) Quais eram os objetivos dessa revolução?
c) Qual é a sua importância histórica?
2. O artigo 6 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, assinado durante a Revo-
lução Francesa, diz: “A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito
de concorrer, pessoalmente ou por meio de mandatários, para a sua formação. Ela deve
ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais
a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos,
segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos
seus talentos”. Explique o que significa esse artigo e quais ideais estão representados nele.

3. Sobre a contribuição de Nicolau Maquiavel para o estudo da política, responda:


a) Qual é a importância desse pensador para a ciência política?
b) Para Maquiavel, tão importante quanto conquistar o poder é mantê-lo e, para isso,
dois elementos são fundamentais: fortuna (sorte) e virtude (habilidade). Faça uma
pesquisa na internet sobre a importância desses elementos para a manutenção do
poder e anote a resposta no caderno.
c) Debata com os colegas sobre a contribuição que a obra de Maquiavel pode dar à
análise da atual conjuntura política brasileira. Utilize os conceitos de virtude e fortu-
na para apoiar seus argumentos.
4. Leia o texto a seguir.
Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comu-
nidade humana que, dentro dos limites de determinado território – a noção de território cor-
responde a um dos elementos essenciais do Estado – reivindica o monopólio do uso legítimo
da violência física.
WEBER, Max. Política como vocação. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 56.

Para Weber, a legitimidade do Estado moderno se constrói com base na dominação


do tipo racional-legal,
MATERIAL DE estruturada
DIVULGAÇÃOna hierarquia, na burocracia, na divisão de tarefas e
em regras fixas e preestabelecidas.
DA EDITORA DO BRASIL
a) Forme um grupo com até três colegas e busquem uma notícia, em jornais e revistas,
que seja mais bem compreendida com base nesse conceito weberiano de Estado. A
notícia não precisa ser atual.
b) Utilizem o conceito de Estado e de dominação racional-legal para explicar o fenôme-
no retratado na notícia.
c) Procurem fontes confiáveis (por exemplo, um veículo de comunicação em que os
jornalistas estão comprometidos em checar a veracidade das afirmações) para
ler a notícia (observem quem assina o texto etc.).
d) Busquem a notícia em mais de uma fonte como essa.
e) Compartilhem seu trabalho com os demais grupos.
5. Com base no que você leu sobre as Constituições plurinacionais da Bolívia e do Equador,
responda no caderno:
a) Qual é a diferença entre o conceito de Estado-nação e as formulações constitucionais
plurinacionais?
b) No Brasil, há diferentes grupos indígenas. Em sua opinião, há condições de se re-
digir uma Constituição plurinacional no país? Justifique.

Não escreva no livro. 37


TERRITÓRIOS, TERRITORIALIDADES E FRONTEIRAS
Existem diferentes concepções de território. Tradicionalmente, a palavra “território” significa
“uma porção da superfície terrestre que é delimitada por fronteiras e ocupada por um Estado-
-nação”. Dessa maneira, o território seria um espaço de exercício de poder político centralizado
no Estado, constituindo um recorte da superfície terrestre que abriga o patrimônio natural de um
país e suas estruturas de produção e de reprodução da sociedade.
Mas, no mundo contemporâneo, a defi-
nição de território é mais ampla do que
sua concepção tradicional. Nos anos 1990,
algumas mudanças no panorama da geo-
política trouxeram novos significados para
os usos políticos do território e novas for-
mas e conteúdos territoriais. Embora todo
território seja definido e delimitado com
base em relações de poder, diversas esca-
las espaciais e recortes temporais passa-
Olivier Rateau/iStockphoto.com

ram a ser utilizados como referência para


o reconhecimento da existência de múl-
tiplas territorialidades e para a delimitação
de vários territórios – que, portanto, não
 Pista de skate em Marselha, na França, 2018. O uso político de certas porções do dizem respeito apenas ao espaço contro-
espaço por um grupo social específico, como no caso da área de skate mostrada lado por um Estado-nação. Assim, partindo
na foto, caracteriza uma determinação de território.
do princípio de que não é necessário haver
uma institucionalização de viés político-jurídico-administrativo para caracterizar um territó-
rio, atualmente é possível reconhecer diferentes territorialidades que apresentam dinâmicas
próprias e se sobrepõem no espaço geográfico.
Há múltiplos territórios. Alguns são definidos pelo uso político de certas porções do espaço
por um grupo social específico que tem identidade própria, como esqueitistas ou a comuni-
dade LGBTQI+ (sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros e Transexuais, Queer
– pessoas que não se identificam com os padrões de heteronormatividade impostos pela
sociedade e transitam entre os gêneros – e Intersexuais; o sinal de mais [+] designa outras
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
possibilidades de orientação sexual e identificação de gênero). Há também territórios que
são conformados pela ocorrência de atividades ilegais, como o tráfico de drogas onde as
DA EDITORA DO BRASIL
regras de uso do espaço são criadas em decorrência dessas condições. Outros tipos de ter-
ritório, que vão muito além das tradicionais fronteiras entre os Estados Nacionais, são aque-
les vinculados ao ciberespaço (realidade virtual), como os jogos que simulam o uso e o
controle de um espaço real ou abstrato, dos quais o controle é feito por meios informacionais.
 Jogador No 1 (2018), filme dirigido por Steven Spielberg, se passa em um futuro em que os humanos passam a maior
parte da vida em um jogo de realidade virtual. Na imagem, os personagens assistem de dentro do jogo o momento em
que o próprio jogo foi criado.
Moviestore collection Ltd/Alamy/Fotoarena

38 Não escreva no livro.


Nesses exemplos, não há fronteiras formais rigidamente fixadas no espaço geográfico. Elas
são fluidas, e, embora seja possível identificar os limites aproximados desses territórios, eles
variam segundo a dinâmica de territorialização e desterritorialização dos grupos sociais que
os caracterizam.
Portanto, além dos territórios político-jurídico-administrativos definidos pelos tratados
internacionais, que dividem o mundo em grandes Estados Nacionais, há outros tipos de ter-
ritório, delimitados pelas práticas sociais. Eles abarcam desde um pequeno conjunto de ruas
em uma cidade, nas quais grupos sociais imprimem as marcas do uso cotidiano dos lugares
no espaço, até territórios virtuais e digitais amplos, que ultrapassam as fronteiras nacionais
e conectam pessoas de diferentes partes do mundo. Isso quer dizer que há múltiplas terri-
torialidades sobrepostas, ou seja, que um lugar pode fazer parte, simultaneamente, de
diversos territórios, formais ou informais.
Além disso, há porções do espaço geográfico que, ao longo da história, foram apropriadas
por grupos sociais, para sua subsistência e para a manutenção de suas práticas sociais. Nesse
caso, o território é um abrigo e um recurso, ou seja, um aspecto essencial para a continuidade
de grupos tradicionais, como as comunidades quilombolas, os povos indígenas, as populações
ribeirinhas, as comunidades caiçaras, seringueiros, quebradeiras de coco-babaçu, entre outros.

Marcos Amend/Pulsar Imagens


Sanga Park/Alamy/Fotoarena

1 2

 Tanto um vilarejo flutuante de pescadores no Vietnã [1], foto de 2018, quanto uma aldeia indígena em Juína, em Mato Grosso [2], foto de
2020, podem ser definidos como territórios que se caracterizam por ser abrigo e refúgio.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
FronteirasDA
materiais
EDITORA DOe BRASIL
imateriais
Para desenhar os territórios, buscam-se marcos que definam onde um deles termina e o
outro começa, ou seja, onde termina um regime jurídico e o outro se inicia. Assim, os limites
e as fronteiras são elementos técnicos da configuração territorial. No entanto, desde que o
mundo todo foi delimitado por fronteiras nacionais, entre o fim do século XIX e o início do
século XX, há uma tensão entre a fixidez desses contornos e a fluidez das informações. Dessa
maneira, essas linhas divisórias podem ser consideradas formas arbitrárias e, até determinado
ponto, incertas. Elas podem se alterar no decorrer da história, visto que são sempre limites
construídos socialmente, ainda que, muitas vezes, adotem-se elementos naturais como
marcos de sua delimitação. A emergência da globalização e suas contradições reacenderam,
por um lado, a questão das fronteiras fortificadas, inclusive a construção de muros e barrei-
ras destinados a conter populações consideradas intrusas, e, por outro, a questão da abertura
das fronteiras à livre circulação de capitais e mercadorias, conforme os interesses das gran-
des corporações e do mercado financeiro.
As fronteiras são materiais e políticas, como as linhas que separam os Estados Nacionais, mas
também podem ser imateriais e culturais, como os muros invisíveis da segregação socioespacial
que se interpõem entre as pessoas em uma mesma sociedade. Isso porque uma fronteira cria
um território que pretende ser homogêneo e deliberadamente diferenciado do exterior.

Não escreva no livro. 39


Manuela Durson/Shutterstock.com
 Muro na fronteira entre o México e os Estados Unidos construído para conter a entrada de imigrantes ilegais de
origem latino-americana neste último país. Nogales, Arizona, Estados Unidos, 2017.

Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress


 Imigrantes da comunidade boliviana ocupam a Praça do Memorial da América Latina para celebrar os 190 anos de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
independência de seu país. São Paulo, SP, 2017.
DA EDITORA DO BRASIL
Por isso, os discursos sobre nacionalidade muitas vezes são impostos às pessoas que vivem
próximo de fronteiras. Isso faz com que indivíduos sejam julgados ou excluídos apenas por
terem nascido do outro lado de uma fronteira. Os conflitos que surgem nas regiões fronteiri-
ças revelam, portanto, processos de exclusão e de construção de estigmas sociais que des-
qualificam o outro, o estrangeiro, o que não pertence à nação.

Geopolítica e relações internacionais no mundo contemporâneo


Em 1648, foi assinado o Tratado de Vestfália (ou Paz de Vestfália), que estabeleceu duas carac-
terísticas do Estado moderno: a soberania e a delimitação de um território ou um domínio fechado.
Tais características passaram a ser usadas para definir todos os Estados, estabelecendo, assim,
igualdade jurídica entre eles e, consequentemente, as bases do Direito internacional clássico e dos
estudos sobre as relações internacionais.
Desde as origens do moderno sistema interestatal, que surgiu durante o século XVI, o papel
do Estado como “recipiente de poder” territorial se expandiu em várias direções: na guerra e
na defesa militar; na contenção e no desenvolvimento da riqueza econômica nacional; na pro-
moção de identidades culturais políticas nacionalizadas; na institucionalização de formas
democráticas de legitimação política, e no fornecimento de várias formas de bem-estar social.

40 Não escreva no livro.


Ao longo do tempo, os Estados sempre empregaram grande variedade de estratégias
político-reguladoras para legitimar seus domínios territoriais, interna e externamente, e
conduzir a realização da administração territorial, em termos sociais, políticos e econômicos.
Se, por um lado, os temas clássicos da geopolítica incluíam o território, a soberania, a
nação e a nacionalidade, as fronteiras e as relações internacionais (guerras, expansionismo
e comércio), por outro, novos temas emergiram com a globalização, desde meados dos
anos 1970, como os blocos supranacionais, os fenômenos de descentralização política
e suas repercussões em nível regional e local.
Assim, além de mudanças nos temas abordados pela geopolítica, o período contempo-
râneo se destaca por redefinições conceituais. Antes, os conflitos importantes se davam
no contexto externo, ou seja, na guerra entre Estados; as fronteiras eram apreendidas como
delimitações naturais e artificiais; o desenvolvimento dos Estados ocorria pela expansão
territorial (imperialismo), e era feita uma analogia das relações entre a sociedade e o Estado
com organismos biológicos (segundo a leitura darwinista). Atualmente, os conflitos rele-
vantes são tanto externos como internos; as fronteiras são vistas sempre como um aspecto
político, independentemente do que representa sua demarcação; o desenvolvimento dos
Estados é compreendido como expansão territorial ou hegemonia econômica, e as relações
da sociedade com o Estado são entendidas como uma construção social. Em parte, esse
conjunto de ressignificações conceituais se relaciona com a valorização da multiescalaridade
e da multidimensionalidade do poder.
Nas últimas décadas, as negociações políticas e econômicas entre os países foram
ampliadas de forma significativa. Em decorrência disso, emergiram organizações suprana-
cionais que buscam definir marcos regulatórios cada vez mais extensos e amplos (como a
Organização das Nações Unidas e suas várias agências especializadas, a exemplo do Pro-
grama das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Pnuma), fazendo com que as normas
internacionais alcancem campos de intervenção econômica antes restritos à soberania
exclusiva dos Estados Nacionais.
Além disso, uma fração crescente do poder regulatório internacional deixou a esfera
puramente bilateral das relações entre Estados soberanos para concentrar-se no seio de
organizações intergovernamentais dotadas de equipes técnicas capacitadas para lidar com
os complexos problemas da agenda econômica internacional. É evidente que o poder de
MATERIAL
propor, negociar DE DIVULGAÇÃO
e implementar medidas efetivas de acesso a mercados ou normas disci-
plinadoras dasDArelações
EDITORAeconômicas
DO BRASILinternacionais permanece e permanecerá com os
Estados individuais, sobretudo com os mais poderosos. Mas não há dúvida de que a emer-
gência do multilateralismo econômico, representa um avanço sobre a era dos tratados
desiguais do século XIX.

Tratados e convenções internacionais


Um tratado internacional é a formalização de um pacto celebrado entre países que
estabelece um conjunto de normas às quais os signatários devem obedecer. Para entrar
em vigor, o tratado internacional deve ser aprovado pelo Parlamento de cada país, e a
partir disso seu conteúdo é incorporado às leis nacionais, em geral no nível mais elevado
das normas jurídicas. Quando um tratado envolve apenas dois países ele é classificado
como bilateral, e quando envolve vários países, é classificado como multilateral. As
convenções, por sua vez, são documentos assinados em conferências internacionais e
abordam assuntos específicos de interesse geral, como comércio internacional, regu-
lação das leis de trabalho, direitos humanos e meio ambiente. Diferentemente do que
ocorre nos tratados, o conteúdo das convenções serve de base para a elaboração
de leis nos países signatários, os quais podem adaptar as diretrizes do documento de
acordo com suas especificidades.

Não escreva no livro. 41


Conforme se pode verificar no site do Ministério das Relações Exteriores, também conhe-
cido como Itamaraty, de 1822 a 2020 o Brasil assinou 11 871 atos internacionais, incluindo
acordos, convenções e tratados. A seguir são destacados os atos que se relacionam à ques-
tão do território e das fronteiras nacionais.

ATOS INTERNACIONAIS ASSINADOS E RATIFICADOS PELO BRASIL (1851-1954)

Assinatura Ratificação Partes Documento

Tratado de limites entre o Império do Brasil e a


1851 1851 Uruguai
República Oriental do Uruguai.

Tratado de limites entre o Império do Brasil e a


1872 1872 Paraguai
República do Paraguai.

Tratado de limites entre os Estados Unidos do


1898 1900 Argentina
Brasil e a República Argentina.

Tratado de arbitramento para a fixação dos


1901 1902 Reino Unido limites entre os Estados Unidos do Brasil e a
Guiana Britânica.
Tratado de permuta de territórios e outras
compensações (Tratado de Petrópolis) entre a
1903 1904 Bolívia
República dos Estados Unidos do Brasil e a
República da Bolívia.
Tratado relativo aos limites entre o Brasil e a
Colônia de Suriname (Guiana Holandesa) entre os
1906 1908 Países Baixos
Estados Unidos do Brasil e o Reino dos Países
Baixos.
Tratado entre os Estados Unidos do Brasil e a
República Oriental do Uruguai, que modifica as
1909 1910 Uruguai fronteiras na Lagoa Mirim e no Rio Jaguarão e
estabelece princípios gerais para o comércio e a
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO navegação nessas paragens.
DA EDITORA DO BRASIL Tratado entre a República dos Estados Unidos do
Brasil e a República do Peru para completar a
1909 1910 Peru determinação das fronteiras entre os dois países
e estabelecer princípios gerais sobre o comércio
e navegação na Bacia do Amazonas.

Convenção complementar de limites entre os Estados


1927 1941 Argentina
Unidos do Brasil e a República Argentina.

Organização das
1951 1961 Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados.
Nações Unidas

Organização
1954 1965 dos Estados Convenção sobre Asilo Territorial.
Americanos

Organização das
1954 1995 Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas.
Nações Unidas

Tabela elaborada com base em dados disponíveis em: BRASIL. Ministério das Relações Exteriores.
Disponível em: https://concordia.itamaraty.gov.br/. Acesso em: 27 jul. 2020.

42 Não escreva no livro.


Os Estados Nacionais e as fronteiras na globalização
No fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, emergiu um debate sobre o enfraquecimento
do Estado e das fronteiras nacionais, em virtude de profundas transformações ocorridas nos
âmbitos político e econômico, em especial o final da Guerra Fria e os avanços da globalização.
Essas transformações teriam reduzido a importância do Estado, já que houve a formação de
um único mercado econômico de caráter capitalista após a desintegração da União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o que, somado à intensificação das trocas comerciais
entre os lugares, possibilitada pelas inovações tecnológicas nos setores de transportes e de
telecomunicações, teria reduzido seu protagonismo no comando das relações políticas,
econômicas e sociais. No entanto, esse enfraquecimento do Estado no contexto da globali-
zação é passível de amplo questionamento.
Ao possibilitar maior interconexão entre os lugares, a globalização teria contribuído com
a expansão do comércio internacional e dos blocos econômicos; o crescimento de empresas
multinacionais, que podem ser controladas de qualquer lugar do mundo; a interligação entre
as bolsas de valores, os bancos e as grandes corretoras financeiras, possibilitando não somente
a ampla circulação de capitais ao redor do mundo, como também a circulação de informações
e a comunicação em massa, pelas redes de rádio e TV e pela internet (serviços de streaming
e redes sociais, por exemplo).
Todavia, em vez do fim do Estado e de suas fronteiras, houve nas últimas décadas seu
fortalecimento, para atender aos interesses do capital hegemônico em escala nacional. Isso
porque os territórios nacionais são regidos por normas definidas pelos seus respectivos
Estados, ainda que sob forte influência de agentes políticos e econômicos externos, como as
instituições supranacionais e as empresas multinacionais.

A atuação das organizações supranacionais e das corporações no mundo atual


Entre as instituições supranacionais mais importantes

EQRoy/Shutterstock.com
da atualidade, destaca-se a Organização das Nações Unidas
(ONU), fundada em 24 de outubro de 1945, após o fim da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com o objetivo de
fomentar a paz e o desenvolvimento em âmbito global.
Atualmente, a ONU tem 193 países-membros e é formada
por dezenas de agências especializadas, fundos e progra-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
mas, conforme podemos verificar no website da organiza-
DA EDITORA
ção. Além disso, DO BRASIL
a ONU tem sido responsável pela
elaboração de diversos tratados, convenções e acordos
internacionais sobre os mais variados temas.
As questões relacionadas a conflitos e guerras, inclusive
aquelas associadas à delimitação de fronteiras internacio-  Sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em
nais, são de responsabilidade do Conselho de Segurança Genebra, Suíça, 2019.
da ONU, formado por 15 países-membros, sendo que cinco deles são permanentes e com
direito a veto – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China –, e dez não são perma-
nentes, ocupando uma das cadeiras por dois anos. O Conselho de Segurança é o único órgão
da entidade que tem poder decisório, o que significa que suas deliberações têm de ser aca-
tadas por todos os países-membros.
Por sua vez, a Organização Mundial do Comércio (OMC) desempenha papel essencial no
contexto da globalização. A OMC, criada em 1995, tem 164 países-membros e atua como
a principal instância para administrar o sistema multilateral de comércio. Seus objetivos
são: estabelecer regras em comum para regular as relações comerciais entre os países-
-membros; estabelecer um mecanismo de solução pacífica das controvérsias comerciais,
considerando os acordos que estão em vigor, e criar um ambiente que permita a negociação
de acordos comerciais entre os países-membros.

Não escreva no livro. 43


Conexões

AS FRONTEIRAS NA REGIÃO AMAZÔNICA


E A BIOPIRATARIA
A imensidão da Floresta Amazônica e a extensão de suas fronteiras entre
Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela são
um desafio para o Estado brasileiro no que se refere ao combate às ativi-
dades ilegais, como o tráfico de fauna e a biopirataria.
O tráfico de fauna ocorre quando alguém retira espécimes da fauna bra-
sileira e os leva para o exterior; já a biopirataria ocorre quando essas espé-
cies são usadas para a apropriação de seus recursos genéticos. Por exem-
plo, o tráfico de fauna leva os animais a serem utilizados em uma atividade
econômica ou destinados a coleções particulares, como ocorre com os
psitacídeos (aves como os papagaios, os periquitos e as araras). Na biopi-
rataria, a utilização dos animais é voltada à obtenção de informações e
recursos genéticos para o desenvolvimento de produtos e para uso em
pesquisas de inovação tecnológica – é o caso de venenos de répteis, que
têm ativos capazes de atuar como anestésicos, e toxinas de anfíbios, empre-
gadas nas indústrias farmacêuticas e cosméticas. A biopirataria não se
relaciona apenas à fauna, atingindo também a flora e os microrganismos
presentes no solo.
A extensão do bioma amazônico e a impossibilidade de vigiar in loco
toda a faixa de fronteira fazem com que o poder público tenha de atuar de
maneira mais inteligente e focada para preservar as riquezas naturais do
Brasil. Assim, por meio da vigilância das atividades de grupos estrangeiros
com as populações indígenas, do estabelecimento de cooperação com
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
outros órgãos presentes na Amazônia, como a Fundação Nacional do Índio
DA EDITORA DO (Funai)
BRASILe as secretarias estaduais de meio ambiente, e da criação de uma
rede de informação, espera-se monitorar a atuação de pessoas e empresas
que pretendem se aproveitar de produtos naturais da região amazônica de
maneira indevida.
Há instituições internacionais e grupos que se aproximam de comuni-
dades indígenas e tradicionais com o intuito de buscar informações para
o desenvolvimento de produtos, pois isso reduz o tempo de pesquisa de
Bioprospecção: realização de novos componentes químicos, gerando grande economia para as multi-
pesquisas e exploração da nacionais. A bioprospecção de componentes ativos a serem utilizados
biodiversidade de uma região, na fabricação de alimentos, por exemplo, demanda muito tempo, pois é
sobretudo de seus recursos
genéticos e bioquímicos de valor preciso coletar grande quantidade de amostras e identificar uma varie-
comercial. dade de produtos. Mas, quando uma empresa tem acesso ao conheci-
mento tradicional de um grupo local, ela pula algumas etapas da pesquisa,
porque os saberes tradicionais já indicam o que pode ser utilizado e o
que não pode. Há um problema decorrente da biopirataria que envolve o
conhecimento de comunidades tradicionais: a criação de patentes por
parte das empresas multinacionais, que proíbem o uso das espécies
por essas comunidades.

44 Não escreva no livro.


Para coibir o tráfico de animais e a biopirataria da fauna e da flora, é cru-
cial que o Brasil adote uma postura mais adequada no cenário internacional,
cobrando de outros países medidas de combate a essas atividades ilegais.
Os organismos supranacionais poderiam ser acionados para coibir e punir
os países que não respeitam as normas internacionais vigentes sobre o trá-
fico de animais e a biopirataria, como as decorrentes da Convenção sobre
Diversidade Biológica, celebrada no âmbito da Organização das Nações
Unidas em 1992.

1 2

Eduardo Zappia/Pulsar Imagens


Marcos Amend/Pulsar Imagens

 Primatas como o sauim-de-coleira [1] e mamíferos aquáticos como o boto-vermelho [2]


correm risco de extinção.

ATIVIDADES
1. Com base em seus conhecimentos nas áreas de Biologia e Geografia,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
discuta com os colegas e identifique as principais implicações do tráfico
DA EDITORA
internacional de animaisDO BRASIL no que diz respeito tanto às regiões
silvestres,
de onde eles são retirados como aos lugares a que se destinam.
2. Faça uma pesquisa sobre tratados, convenções e acordos internacio-
nais que buscam inibir o tráfico internacional de animais silvestres e a
biopirataria e, depois, justifique a importância deles.
3. Com base na concepção de território como abrigo e recurso, debata com os
colegas sobre como a biopirataria prejudica as comunidades tradicionais
detentoras de conhecimentos relativos ao uso de espécies da biodiversi-
dade local. Depois, explique como isso ocorre.
4. Conforme indica o texto, diversos grupos de animais são alvo do tráfico
de fauna e da biopirataria. No entanto, milhares de espécies animais
e vegetais endêmicas da Amazônia ainda não foram identificadas e
catalogadas pela ciência. Debata com os colegas sobre a importância
de o Brasil obter maior conhecimento científico acerca de sua própria
biodiversidade, levando em consideração a questão da biopirataria.
Depois, aponte por que isso é importante.

Não
Não escreva
escreva no
no livro.
livro. 45
Migrações e fronteiras
Deslocamentos humanos, das mais diversas naturezas, recorrentemente reacendem o
debate das fronteiras, no tocante à sua existência material, efetividade política e importância
para a proteção interna, seja econômica, social ou política. Em um mundo pautado pela
integração cada vez mais ampla de Estados e instituições, no seio de uma rede de relações,
conexões e interdependências, muito se fala sobre um pretenso fim das fronteiras, de modo
que se constituiria um mundo mais integrado e aberto aos fluxos de informações, capitais,
mercadorias e, inclusive, pessoas. Contudo, bem distante desse discurso, o que se tem visto
ao longo das últimas décadas, principalmente em relação aos fluxos populacionais, é uma
reafirmação das fronteiras e seu fortalecimento enquanto meio de inibir a entrada de pessoas
e fluxos populacionais em diferentes contextos. Essa situação é mais evidente em países
considerados desenvolvidos, que se configuram como polos atrativos a determinados grupos.

A máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças


que se alimentam mutuamente e põem em movimento os elementos essenciais à continui-
dade do sistema. Damos aqui alguns exemplos. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para
fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse
mito e do encurtamento das distâncias – para aqueles que realmente podem viajar – também
se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. É como se o mundo se houvesse tornado,
para todos, ao alcance da mão.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 15. ed.
Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 18.

Como pontua Santos no trecho acima, existe uma noção de que o tempo e o espaço se
contraíram, relacionada ao avanço dos meios de transporte e de comunicação. Essa sensação
transmite a ideia de que o mundo, mais objetivamente os territórios e os países, são alcan-
çáveis e acessíveis. Mas essa acessibilidade, diferentemente do que pode parecer, é parcial
e voltada a alguns segmentos populacionais. Vamos fazer uma breve reflexão: a possibilidade
de mobilidade internacional de um alto executivo de uma corporação transnacional, cuja sede
se localiza em um país considerado desenvolvido, com filiais espalhadas por diversos países,
é a mesma de um cidadão que busca refúgio diante de contextos de perseguição e conflito
em seu país de origem? Ainda em relação ao executivo, sua possibilidade de mobilidade é
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
igual ou semelhante à de um indivíduo pobre e sem qualificação que deseja sair de seu local
DA
de EDITORA
origem emDO BRASIL
busca de melhores condições de vida e trabalho em um país desenvolvido?

 Imigrantes tentam pular pelo muro na cidade de Melilla, na fronteira entre Marrocos e Espanha, 2014.
Laura T. Garrido/Zuma Press/Easypix Brasil

46 Não escreva no livro.


Cristian Calvo/Europa Press News/Getty Images

 Refugiados vindos do continente africano tentam chegar à Europa por mar. Melila, Espanha, 2019.

A receptividade desses diferentes indivíduos e a forma como acessam esse mundo global
não têm nenhuma semelhança, visto que o território e as fronteiras se apresentam a eles de
formas bastante desiguais e contraditórias. Portanto, a análise da migração no mundo atual
precisa ser considerada na perspectiva dessas duas categorias e na preponderância que os
Estados nacionais assumem na condução das políticas migratórias. Cabe retomar, nesse
contexto, a menção que se fez anteriormente a um possível enfraquecimento dos Estados,
de modo a evidenciar seu destaque e hegemonia, em que pesem as novas formas de relação
e interação surgidas com a ordem multipolar.
Muitas vezes, os países definem suas políticas migratórias em desacordo com as reco-
mendações de órgãos supranacionais, como a ONU, que inclusive desenvolve e alinha
propostas voltadas aos deslocamentos populacionais, principalmente aos de pessoas em
situação de vulnerabilidade. Nesse sentido, os refugiados são um dos exemplos de maior
gravidade no que se refere à relação entre território, fronteira e deslocamento populacional,
situação queMATERIAL
se agravouDEna DIVULGAÇÃO
segunda década de século XXI. A eclosão de conflitos de cunho
territorial, fronteiriço,
DA EDITORA DOétnico,
social, BRASILentre outros, em diferentes locais do mundo, com
destaque para os continentes africano e asiático, colocou a vida de milhares de pessoas
em risco, levando muitas delas a buscar refúgio em outros países.
Segundo a ONU, em 2018, havia mais de 25 milhões de refugiados em todo o mundo. A
organização tem tentado articular modelos e diretrizes para o acolhimento dessas pessoas
e a resolução desse problema, que se tornou uma crise global; contudo, muitos dos gover-
nos que teriam condições de receber essas pessoas têm se mostrado irredutíveis quanto
a oferecer refúgio, inibindo a entrada de imigrantes por meio da construção de barreiras
em regiões de fronteira e atuando para a deportação de indivíduos que conseguiram ingres-
sar no território. Situações dessa natureza são mais comuns em países do centro da eco-
nomia capitalista, onde o discurso e a prática de recusa ao recebimento de refugiados
encontra projeção nas instituições oficiais e entre parcelas da população.
O contexto dos deslocamentos populacionais, de forma geral, mostra que os territórios e,
principalmente, as fronteiras emergem como elementos que reforçam, por um lado, a iden-
tidade nacional, que pode ser reiterada por governos e discursos nacionalistas e, por outro,
as barreiras materiais e simbólicas que contradizem e mostram mais uma vez a impossibili-
dade de se pensar um mundo aberto, flexível e acessível a todos.

Não escreva no livro. 47


Atividades

1. Leia o trecho a seguir.

A territorialidade corresponde às ações humanas, ou seja, à tentativa de um indivíduo ou


grupo para controlar, influenciar ou afetar objetos, pessoas e relações numa área delimitada.
[...]
É nesse sentido que entendemos o território e a territorialidade como multidimensionais e
inerentes à vida na natureza e na sociedade. Na natureza, o homem vive relações. Na sociedade,
o homem vive relações. Em ambas, o homem vive relações construindo um mundo objetivo e
subjetivo, material e imaterial. O homem vive relações sociais, construção do território, inte-
rações e relações de poder; diferentes atividades cotidianas, que se revelam na construção de
malhas, nós e redes, constituindo o território.
A territorialidade efetiva-se em distintas escalas espaciais e varia no tempo através das
relações de poder, das redes de circulação e comunicação, da dominação, das identidades,
entre outras relações sociais realizadas entre sujeitos e entre estes com seu lugar de vida, tanto
econômica como política e culturalmente.
[...].
SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu Savério (org.). Territórios e territorialidades: teorias,
processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular: Unesp Programa de
Pós-Graduação em Geografia, 2008. p. 86.
O território pode ser entendido como um espaço que é apropriado e pode ter vincu-
lação direta com relações de poder que existam sobre ele, relações essas que não
significam necessariamente o poder estatal institucionalizado. Nesse espaço, dife-
rentes agentes podem exercer ação e influência, como pontuado no trecho acima,
expressando determinada territorialidade, que pode ser ampla, múltipla, complexa,
contraditória. Diante dessa consideração e dos estudos feitos nesta unidade, discuta
com seus colegas diferentes territorialidades tendo a realidade do local em que você
vive como referência. Em seu município, existem espaços apropriados por determi-
nados grupos (territórios culturais, territórios de comunidades tradicionais etc.)? No
caderno, mencione como esses grupos expressam sua territorialidade. Caso neces-
sário, pesquise o tema.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
2. Uma fronteira é, quase que necessariamente, uma expressão de poder materializada. Tal
DA EDITORA DO BRASIL
poder é exercido e reconhecido de diferentes formas. No que diz respeito aos Estados-
-nação, por exemplo, a fronteira delimita o espaço da ação e de uso da força institucional
para garantir a proteção e a soberania nacionais. As áreas de fronteiras costumam envolver
muitas questões e problemáticas, sobretudo ligadas a atividades ilegais. Contudo, essas
áreas também podem se constituir em espaços dinâmicos e de importante intercâmbio
cultural, formando zonas diversas e múltiplas, a exemplo do que ocorre em cidades-gê-
meas. Pesquise um exemplo de fronteira entre países onde exista grande concentração
de pessoas e, com base nesse caso, procure identificar:
•• as formas de relação estabelecidas entre as pessoas nessa área;
•• a existência de acordos entre os Estados fronteiriços para o desenvolvimento da região;
•• possibilidades e limites de circulação de pessoas e mercadorias nessa fronteira;
•• políticas ou medidas de desenvolvimento das cidades ou região;
•• ocorrência de situações de preconceito ou segregação entre os grupos dos países
fronteiriços.
De posse dos dados e das informações, elabore um relatório e apresente sua pesquisa
aos colegas.

48 Não escreva no livro.


3. A globalização, nas suas mais diversas escalas, vem redefinido uma série de processos e
configurações no mundo atual ao criar certa integração entre os espaços. Muitas vezes,
a globalização costuma ser vinculada a uma eliminação das fronteiras, possibilitando a
abertura dos espaços à livre circulação. A globalização tem apontado na direção de uma
relativização das fronteiras nacionais? Comente em seu caderno.
4. Leia o trecho a seguir sobre o conceito de território:
O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator
sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espa-
ço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator territorializa o espaço.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França.
São Paulo: Ática, 1993. p. 143.

a) Discuta com seus colegas o significado e a importância do território para o Estado e


a sociedade.
b) Com base no trecho, comente, em seu caderno, sobre a relação que o autor faz entre
espaço e território, citando exemplos dessa relação.

5. Em grupos, leiam o texto a seguir e debatam o papel das organizações supranacionais


no âmbito dos conflitos geopolíticos. Em seguida, produzam uma lista com as principais
discussões feitas pelo grupo e apresentem para a turma.
Conselho de Segurança da ONU encerrou hoje a missão de paz internacional na Eritreia e
Etiópia (Unmee) perante a falta de vontade dos dois países em superar a disputa fronteiriça
que, há dez anos, levou as duas nações à guerra. [...]
A Eritreia conseguiu sua independência da Etiópia em 1993, mas as contínuas disputas so-
bre a demarcação exata da fronteira comum de cerca de mil quilômetros levaram os dois paí-
ses a uma guerra entre 1998 e 2000 que custou a vida de 100 mil pessoas.
ONU encerra missão de paz na Eritreia e Etiópia. EFE, 30 jul. 2008. Disponível em:
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL706127-5602,00-ONU+ENCERRA+
MISSAO+DE+PAZ+NA+ERITREIA+E+ETIOPIA.html. Acesso em: 21 maio 2020.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
6. Assim como no Brasil, acordos e tratados internacionais para resolver questões frontei-
DA EDITORA
riças são realidade em DO BRASIL
diversos locais do mundo. Na América Latina, por exemplo, há
diferentes casos e situações de conflito pela definição da localização exata de fronteiras.
A própria construção de Itaipu resolveu um impasse pela domínio de uma porção terri-
torial que era requerida por Brasil e Paraguai.
a) Em grupos, pesquisem um conflito (atual ou passado e já resolvido), envolvendo
definição de fronteiras entre Estados.
b) Elaborem um breve histórico sobre o conflito.
c) Apresentem as discussões feitas e possíveis acordos ou tratados relacionados, bem
como a existência de enfrentamentos violentos e suas consequências.
d) Identifiquem se instituições supranacionais, como a ONU, atuaram na questão e sua
relevância ou não para uma eventual resolução.
e) Caso estejam pesquisando um conflito atual, estabeleçam, com base na pesquisa,
algumas perspectivas e possíveis desdobramentos.
f) Ao final, montem um relatório sobre o impasse reunindo as informações pesquisadas
e o compartilhem com os colegas.

Não escreva no livro. 49


2
UNIDADE
A relação entre os
Estados nacionais

OS ESTADOS NACIONAIS: TRATADOS E CONFLITOS


A realidade mundial que se observa hoje, composta de um conjunto de quase 200
nações organizadas politicamente de modo autônomo, com territórios, fronteiras, leis e
símbolos próprios, é resultado de um longo processo histórico que se desenvolveu do
século XIV ao XIX.
Nesse processo, ocorreram conflitos que, em sua grande maioria, desaguaram em confron-
tos e guerras sangrentas. Esses conflitos se davam entre as nações que estavam surgindo ou
então entre civis sobre um território no qual viviam diversas comunidades que compartilhavam
alguns aspectos comuns, como línguas e costumes, mas que apresentavam também diferen-
ças, como crenças religiosas e sistemas legais, por exemplo.
Os Estados, movidos por interesses econômicos e por razões de segurança, passaram a
disputar entre si espaços geográficos, não somente na Europa, mas também nos territórios
da África, da Ásia e da América colonizados pelos europeus.
No Brasil, por exemplo, durante o período colonial, ocorreram disputas territoriais rela-
tivas a terras ocupadas em vizinhança com a América espanhola. Tais disputas continua-
ram até o início da República, nas regiões sul, centro-oeste e norte do território.
Infelizmente, os conflitos não foram característicos apenas do momento de consolidação
dos Estados nacionais. Ao contrário, continuam até nossos dias, preenchendo os noticiários
nos diversos meios de comunicação.
Será possível supor um momento em que todas essas guerras cessem?

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
 Félix Henri Emmanuel Philippoteaux. Batalha de Fontenoy, 1745. Óleo sobre tela, 71,8 cm × 116,2 cm.
A sociedade de hoje é fruto de guerras e enfrentamentos.
DA EDITORA DO BRASIL

Victoria and Albert Museum, Londres

50 Não escreva no livro.


A seguir, serão expostas as tematizações de Immanuel Kant (1724-1804) e Georg Wilhelm
Friedrich Hegel (1770-1831), que refletiram sobre as relações internacionais no final do
século XVIII e nas primeiras décadas do século XIX. Apesar da distância temporal, as posi-
ções de ambos permanecem como importantes referências para pensar as questões envol-
vidas no tema.

Kant e a paz perpétua

North Wind Picture Archives/akg/Album/Fotoarena


Você sabia que, conforme dados da Organização das Nações
Unidas (ONU), em 2020 cerca de 2 bilhões de pessoas viviam
em países afetados por conflitos e que 90% dos mortos nes-
ses conflitos eram civis? Haveria meios de cessar todas as
guerras no mundo? E como isso poderia ser feito?
Foi exatamente em defesa da paz internacional que
Immanuel Kant publicou, em 1795, A paz perpétua – um
projeto filosófico, em que expõe as condições ideais para a
contínua convivência pacífica entre as nações. A obra veio
a público meses após a assinatura dos Tratados de Basi-
leia, entre a França e a Prússia, em abril de 1795, e entre
França e Espanha, em julho do mesmo ano. Esses tratados
puseram fim às hostilidades entre a coalizão de países euro-
peus e a França revolucionária.
O texto de Kant, que lançava bases para a paz entre as nações
por meio do direito internacional, permanece atual em virtude
dos inúmeros conflitos que contrapõem os países ainda hoje.
Como filósofo iluminista, Kant dialoga principalmente com
o pensamento do contratualismo britânico – o absolutismo
de Thomas Hobbes (1588-1679) – e francês – em particu-
 Retrato de Immanuel Kant. Xilogravura colorida à
lar, o republicanismo de Jean-Jacques Rousseau (1712- mão com base em uma ilustração do século XIX,
MATERIALdeDEHobbes,
-1778). À semelhança DIVULGAÇÃO
afirma em A paz perpétua 14,36 cm × 19,40 cm (autor desconhecido).
que “O estado DA EDITORA
de paz DOhomens
entre os BRASILque vivem juntos não
é um estado de natureza, o qual é antes um estado de guerra”. Assim, a paz deve ser ins-
taurada, o que é somente possível em um Estado pautado por leis.
A superação do estado de natureza se dá, conforme Kant, por meio de um contrato em que
as vontades particulares, agindo conforme a razão, se unificam em vontade geral. Dessa forma,
enquanto no estado de natureza vigora o direito privado, no estado civil vigora o direito público,
sistema de leis válido tanto para um povo quanto para uma multidão de povos, pois as nações
também estão separadas pelos interesses próprios de cada uma.
Da mesma maneira como os indivíduos criam uma constituição para organizar e apresen-
tar os princípios de suas leis, as nações deveriam instituir uma série de normatizações que
seguiriam em suas relações. Não se trata exatamente de criar um governo mundial, pois isso
poderia abrir caminho para a tirania de uma nação sobre outras, em que umas seriam sobe-
ranas e outras súditas. A solução é a constituição de uma federação de Estados na qual cada
um tem seu direito garantido.
Diferentemente de um pacto de paz, que pretende acabar com uma guerra específica,
essa federação, que Kant chama de “federação da paz”, busca pôr fim a todas as guerras
e para sempre. Como? Integrando pouco a pouco todos os Estados, conduzindo-os, assim,
à paz perpétua, isto é, duradoura.

Não escreva no livro. 51


Organizações atuais e os princípios de Kant
A Liga das Nações, criada em 1919, e sucedida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, e outros
órgãos de aplicação do direito internacional, da legitimação de um conjunto de direitos humanos pela comunidade
internacional e do reconhecimento das pessoas individuais como sujeitos do direito internacional, expressam a reali-
zação de alguns princípios propostos por Kant. Embora ainda não suficientes para eliminar as guerras da realidade
humana, tais organizações, por meio de tratados e convenções, têm contribuído para dirimir conflitos particulares e
fixar normas de relacionamento entre as nações.

McLain/ONU
 Em 26 de junho de 1945, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Pedro Leão Velloso (1887-
-1947), assina a Carta das Nações Unidas na Conferência de São Francisco, nos Estados Unidos.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Hegel: entre a paz e a guerra
Será possível considerar a guerra uma coisa racionalmente justificável?
Museus Estatais de Berlim, Berlim. Fotografia: Fine Art Images/Album/ Fotoarena

Há algo de positivo na guerra? De acordo com Hegel, sim. Porém, isso não
significa que o filósofo alemão seja um incentivador e defensor de conflitos.
O que ele busca demonstrar é que a guerra é consequência do próprio desen-
volvimento dos Estados nacionais.
Em Princípios da filosofia do direito, escrito em 1820, Hegel analisa,
entre outros assuntos, as questões relativas ao direito internacional. Dis-
cute sobre os motivos que levam os Estados à guerra e o seu significado
superior: “[...] tal como os ventos protegem o mar contra a estagnação em
que os mergulharia uma indefinida tranquilidade, assim uma paz eterna
faria estagnar os povos”.
Ainda que não seja esse o fator motivador, as guerras geram um efeito
benéfico para a vida interna das nações porque mobilizam as aspirações
 Jakob Schlesinger. Retrato de particulares em favor da unidade do Estado. Porém, a causa imediata delas
Georg Wilhelm Friedrich Hegel,
1831. Óleo sobre tela,
é, justamente, o confronto entre os Estados em razão de seus interesses
3,59 m × 4,66 m. particulares. Como Hegel explica isso?

52 Não escreva no livro.


A carta da ONU
A Carta da ONU, como o nome diz, é o tratado que estabeleceu a criação da Organização das Nações Unidas.

Em 1943, os marcos principais foram as conferências de Moscou e de Teerã. Neste ano, todas as principais na-
ções aliadas estavam comprometidas com a vitória e, posteriormente, com uma tentativa de criar um mundo fun-
damentado na paz e na segurança internacionais. Em 1944 e 1945, propostas foram elaboradas nos encontros de
Dumbarton Oaks e Ialta.
A Carta das Nações Unidas foi elaborada pelos representantes de 50 países presentes à Conferência sobre Orga-
nização Internacional, que se reuniu em São Francisco de 25 de abril a 26 de junho de 1945. No dia 26 de junho, úl-
timo dia da Conferência, foi assinada pelos 50 países a Carta, com a Polônia – também um membro original da ONU
– a assinando dois meses depois.
As Nações Unidas, entretanto, começaram a existir oficialmente em 24 de outubro de 1945, após a ratificação da
Carta por China, Estados Unidos, França, Reino Unido e a ex-União Soviética, bem como pela maioria dos signatários.
O 24 de outubro é comemorado em todo o mundo, por este motivo, como o Dia das Nações Unidas.
A Carta da ONU é o documento mais importante da Organização, como registra seu artigo 103: “No caso de confli-
to entre as obrigações dos membros das Nações Unidas, em virtude da presente Carta e as obrigações resultantes de
qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as obrigações assumidas em virtude da presente Carta”.

Carta da ONU. Disponível em: https://nacoesunidas.org/carta/. Acesso em: 17 ago. 2020.

National Archives at College Park, Maryland


Arquivo/ONU

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Carta da ONU de 1945.

 Bertha Lutz (1894-1976), membro


da delegação do Brasil na Conferência
de São Francisco, em 1945, lutou
para incluir menções sobre igualdade
de gênero no texto do documento.

Não escreva no livro. 53


Segundo Hegel, no interior de um Estado, os grupos que formam a sociedade civil são con-
trapostos em razão de seus interesses particulares. Apesar disso, são dependentes uns dos
outros. Por meio do poder legislativo, composto das diversas classes sociais, são definidas
as leis que regulam os conflitos de interesses. Essas leis têm validade universal tanto no que
se refere aos casos individuais quanto nos casos relativos às esferas particulares da socie-
dade civil. O poder governamental, composto do executivo e do judiciário, promove, então, a
integração das partes em um domínio único, submetendo os interesses particulares aos direi-
tos universais da comunidade.
Assim, conforme esse pensador, o Estado é um “eu”, uma unidade orgânica que congrega os
seus três diferentes poderes e a vontade particular dos indivíduos. Nisso, repousa sua soberania.
Em momentos de paz, as diversas partes e atividades sociais mantêm-se voltadas aos seus
objetivos particulares, com o Estado zelando pelos interesses gerais. Em momentos de confli-
tos, internos ou externos, o Estado exerce sua soberania, exigindo o sacrifício dos interesses
privados em favor dos interesses gerais do Estado. Por isso, as guerras fortalecem seu poder.
Cada Estado, configurado por suas leis próprias, se constitui como uma individualidade
soberana e autônoma perante os outros, e essa autonomia é, segundo Hegel, a mais alta
honra de um povo. Cada qual reconhecendo a soberania alheia, a relação entre os Estados
ocorre por meio de contratos e do respeito recíproco, porque não há nenhum poder univer-
sal superior que atue sobre os Estados.
Assim, os Estados se encontram uns perante os outros num estado de natureza, isto é,
sem nenhuma lei que discipline suas relações, o que gera sucessivas situações em que se
firmam e se abolem os tratados, pois, quando as vontades particulares de cada Estado não
chegam a um entendimento, os conflitos entre eles só podem ser resolvidos pela guerra.
Por isso, considera Hegel, a concepção kantiana de uma paz eterna, assegurada por uma
liga internacional que afastaria todos os conflitos e regularia todas as dificuldades, é frágil
por estar baseada nas boas vontades soberanas particulares, sempre sujeitas a mudanças.
Assim, o bem-estar está o tempo todo ameaçado.
Para Hegel, não há meios para impedir os conflitos internacionais. E nesses embates as
crianças são por vezes as mais prejudicadas: segundo a ONU, houve mais de 170 mil viola-
ções graves ocorridas contra crianças na década de 2010-2019.

Bakr Alkasem/AFP
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Crianças sírias brincam em um acampamento para pessoas que fugiram dos ataques pró-regime nas províncias de
Idlib e Alepo, em 18 de fevereiro de 2020, ao norte da cidade de Idlib, perto da fronteira com a Turquia.

54 Não escreva no livro.


Atividades

1. Elabore um texto argumentativo, demonstrando a atualidade das reflexões de Kant e


Hegel no que se refere às relações internacionais.
2. Leia o texto a seguir e responda às questões no caderno.

Carta das Nações Unidas


Preâmbulo*
NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS
a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa
vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais
do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das
mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a
justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito interna-
cional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida den-
tro de uma liberdade ampla.
E PARA TAIS FINS,
praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças
para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a institui-
ção dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um
mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos.
RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES OBJETIVOS.
Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes reunidos na ci-
dade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e
devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio
dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas.
CARTA das Nações Unidas. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/
uploads/2017/11/A-Carta-das-Na%C3%A7%C3%B5es-Unidas.pdf. Acesso em: 19 jun. 2020.

*P
 reâmbulo: relatório que antecede uma lei ou decreto; parte inicial em que se anuncia a promulgação de uma
lei ou decreto.

Osugi/Shutterstock.com
a) Você considera que os Estados têm
MATERIAL
cumprido DE DIVULGAÇÃO
os compromissos firmados
DA EDITORA
em 1945? DOsua
Justifique BRASIL
resposta.
b) Como você avalia a atuação da ONU em
relação aos conflitos internacionais
atualmente existentes?

3. Conforme Hegel, cada Estado anseia se afir-


mar como potência. Não havendo acordo
externo, a busca pela ampliação do poder
nacional faz com que os países guerreiem
por territórios, fontes de matérias-primas,
recursos energéticos, força de trabalho, mer-  Sede das Nações Unidas em Nova York, 2016.
cados consumidores e zonas de influência.
Como você avalia a possibilidade de paz entre as nações?
4. Ainda do ponto de vista de Hegel, não há meios para impedir os conflitos internacionais
porque, em respeito à soberania das nações, não há como instituir direitos universais
que disciplinem os interesses particulares dos Estados. Como você avalia essa posição?

Não escreva no livro. 55


IMPERIALISMO, NACIONALISMOS E
AS GUERRAS MUNDIAIS
O período entre os anos de 1875 e 1914 é denominado pelo historiador Eric Hobsbawm (1917-
-2012) de “Era dos Impérios”, pois foi um momento em que os países do Norte, especialmente
as potências europeias, passaram a intervir, em diversos territórios da África, da Ásia e da Ocea-
nia. Essa intervenção imperialista se dava em um contexto de expansão da Revolução Industrial.
Motivados por interesses econômicos, mas também intenções políticas e premissas ideo-
lógicas, países como Grã-Bretanha, França, Alemanha, Bélgica e Itália se lançaram em uma
nova forma de colonialismo, dividindo sua atuação em áreas de domínio (ver o mapa abaixo).
Essa “divisão” também criou um novo mapa geopolítico: os países centrais do capitalismo,
caracterizados pela industrialização e a urbanização, e os da periferia desse modelo.
Nesse processo, as nações mais ricas impuseram uma lógica imperialista a outros territórios,
ampliando sua territorialidade e soberania e, assim, definindo-se como centros de poder. Com
isso, objetivavam extrair matérias-primas das regiões dominadas, ampliar o mercado consumi-
dor de produtos industrializados e obter mão de obra barata. Também justificavam seu domínio
sobre outros territórios com o argumento do “fardo do homem branco”, isto é, um suposto dever
que tinham os europeus de levar a civilização e o progresso aos territórios “vazios culturalmente”,
habitados por “povos bárbaros” e “menos desenvolvidos”.
As duas Guerras do Ópio (1839 e 1856), são representativas da ação imperialista sobre a
Ásia. O objetivo dos britânicos e franceses era acabar com as barreiras comerciais que a China
impunha ao comércio exterior. Após duas derrotas consecutivas, a China teve de acatar uma
série de tratados que concederam aos estrangeiros vantagens comerciais, monopólios e pri-
vilégios. Ao fim do século XIX, o país estava dividido em áreas de influência de vários países
e havia perdido sua autonomia política e econômica.
Nos anos de 1884 e 1885, ocorreu a Conferência de Berlim, com a finalidade de oficializar a
partilha da África entre países que já haviam iniciado a exploração colonial e outros que preten-
diam fazê-lo. Dela resultou uma divisão geográfica que não levou em conta aspectos étnicos ou
históricos dos povos que viviam naquele continente. Sob a justificativa de levar o progresso e
difundir os benefícios da civilização, os europeus desprezaram tradições e costumes locais,
impondo crenças e valores europeus, e destruíram hierarquias políticas e sociais seculares.

PARTILHA COLONIAL DA ÁFRICA E DA ÁSIA (1870-1914)


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO

Allmaps
0° 90° L
IMPÉRIO TURQUISTÃO COREIA
(ao Japão,

DA EDITORA DO BRASIL OTOMANO CHINA 1910)


JAPÃO
TUNÍSIA PÉRSIA
MARROCOS AFEGANISTÃO
ARGÉLIA KUWAIT TIBETE
RIO DE LÍBIA
OURO EGITO BIRMÂNIA FORMOSA
(MIANMAR) (ao Japão, 1895)
ARÁBIA ÍNDIA
TONQUIM
ANCESA

OMÃ SIÃO ANNAM


ERITREIA (TAILÂNDIA) (VIETNÃ) FILIPINAS
SUDÃO SOMÁLIA FRANCESA INDOCHINA (aos Estados Unidos, 1898)
IAL FR

TOGO CAMBOJA
SERRA COSTA
LEOA DO OURO
NIGÉRIA SOMÁLIA BRITÂNICA
CEILÃO BRUNEI
OCEANO
ETIÓPIA
OCEANO
ATOR

LIBÉRIA MALÁSIA
CAMARÕES SOMÁLIA ITALIANA SARAWAK PACÍFICO
ÍNDICO
EQU

UGANDA Equador
0° SINGAPURA
CONGO QUÊNIA SUMATRA
CA

BORNÉU NOVA
ÁF BELGA
RI

HOLANDÊS GUINÉ PAPUA


TANGANICA Domínios coloniais
OCEANO JAVA
(à Austrália, 1906)

ATLÂNTICO Alemanha (até 1914) TIMOR


ANGOLA
RODÉSIA Bélgica
E
IQU

Espanha
MB

SUDOESTE MADAGASCAR
AFRICANOBOTSUANA
ÇA

França Trópico de Capricórnio


MO

N Grã-Bretanha COMUNIDADE
DA AUSTRÁLIA
ÁFRICA Holanda
DO SUL
Meridiano de Greenwich

O L Império Russo
Império Otomano
S Itália NOVA
ZELÂNDIA
Portugal TASMÂNIA
0 960 1 920 km
Estados principescos da Índia
1 : 96 000 000

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral & Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 136-137.

56 Não escreva no livro.


Alte Nationalgalerie, Berlim. Fotografia: Akg-Images/Album/ Fotoarena

 Anton von Werner. Congresso


de Berlim, 1881. Óleo sobre tela,
4,66 m × 2,80 m. Ao estabelecer
tratados nem sempre vantajosos
para todos os envolvidos, o
Congresso de Berlim é considerado
um dos antecedentes de conflitos
como a Primeira Guerra Mundial.

Os povos colonizados, porém, reagiram à dominação imperialista, tanto por vias diplomáti-
cas como pelo confronto armado. O resultado desses embates foi o massacre da população
civil em diferentes confrontos, como na Revolta dos Sipaios (Índia, 1857), na Guerra dos Ashanti
(atual Gana, 1869-1874), na Guerra do Império Malinque (África, 1882-1900), nas duas Guer-
ras de Matabele (Zimbábue, 1893 e 1896), na Guerra dos Boxers (China, 1900), no confronto
dos Maji Maji em Tanganika (Tanzânia, 1905-1907), no genocídio dos hereros e namaquas
(Namíbia, 1904-1907), entre outros.
O imperialismo neocolonialista estendeu-se até o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
A partir de então, tiveram início os movimentos de independência na Índia e nos países da África.
Nesse período, também ganhou força a rejeição às teorias racialistas, sobretudo após o conhe-
cimento do genocídio da população judaica promovido pelos nazistas.

A despersonalização do colonizado
O escritor Albert Memmi (1920-2020) nasceu em Tunes, na Tunísia, quando o território era um protetorado francês.
Sua experiência como um colonizador vivendo em meio aos colonizados inspirou a obra Retrato do colonizado prece-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dido de retrato do colonizador, publicada em 1957.
DA EDITORA DO BRASIL
[...] A melhor definição da colônia: nela ganha-se mais, nela gasta-se menos. [...] Se o seu nível de vida [do
colonizador] é elevado, é porque o do colonizado é baixo; se pode beneficiar-se de mão de obra, de criadagem
numerosa e pouco exigente, é porque o colonizado é explorável impunemente e não se acha protegido pelas
leis da colônia; se obtém tão facilmente postos administrativos, é porque esses postos lhe são reservados e por-
que o colonizado deles está excluído [...].
Assim se destroem, uma após outra, todas as qualidades que fazem do colonizado um homem. [...] Sinal des-
sa despersonalização do colonizado: o que se poderia chamar a marca do plural. O colonizado jamais é carac-
terizado de maneira diferencial: só tem direito ao afogamento no coletivo anônimo. [...] O colonizado não dispõe
de saída alguma para deixar seu estado de infelicidade: nem jurídica (a naturalização) nem mística (a conver-
são religiosa): o colonizado não é livre de escolher-se colonizado ou não colonizado.
MEMMI, Alberto. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. In: MARQUES, Adhemar Martins.
História Contemporânea através de textos. São Paulo: Contexto, 1997. p. 93-97.

•• Com base na leitura do texto, responda às questões no caderno:


a) De acordo com o texto, quais são as vantagens usufruídas pelo colonizador?
b) O que essas vantagens do colonizador significavam para o colonizado?
c) Reflita sobre o conceito de “marca do plural”, citado no texto, e sobre o que caracteriza a despersonalização do coloni-
zado. Na sua opinião, isso pode ocorrer em outros contextos sociais? Explique.

Não escreva no livro. 57


Os nacionalismos
Durante a Era Napoleônica (1799-1815) foi difundida na Europa a ideia inédita de “nação”,
isto é, de um grupo unido por características comuns, como o pertencimento cultural e ter-
ritorial. Dessa ideia formou-se o sentimento nacionalista, compartilhado entre grupos de
diversas regiões europeias, o qual impulsionou importantes movimentos políticos revolucio-
nários entre os anos de 1820 e 1848, com destaque para a chamada Primavera dos Povos.
Como afirma o francês Ernest Renan (1823-1892), em sua obra O que é uma nação?, de
1882, o nacionalismo tem como fundamento o passado, por meio de uma história e legado
partilhados, e o presente, por meio da vontade coletiva de dar continuidade à herança. Já Eric
Hobsbawm, em A invenção das tradições, de 1983, afirma que muitas vezes o nacionalismo
está relacionado a “tradições inventadas”, ou seja, projetos políticos que constroem represen-
tações idealizadas ligadas ao passado com o intuito de dar continuidade a elas no futuro.
Nos Estados que se formaram durante o século XIX – Itália e Alemanha –, o poder político
foi entendido como soberania do povo e não de um monarca. Essa perspectiva reverberava
as ideias nacionalistas e liberais em voga no período. Ainda hoje, com diferentes matizes,
ideias nacionalistas impulsionam movimentos políticos ao redor do mundo.

Unificação da Itália
Até meados do século XIX, o território atual da Itália era dividido em diversos reinos que
tinham autonomia política entre si: a Lombardia e o Reino do Piemonte (norte), o Reino das
Duas Sicílias (sul) e os Estados Pontifícios (região central). Outros países, como Áustria,
França e Espanha, ocuparam a região em diferentes momentos.
Com a derrota de Napoleão Bonaparte (1769-1821), o absolutismo foi restaurado em
uma porção da atual Itália pelo Congresso de Viena (1815). Mas, internamente, não havia
um posicionamento único sobre a unificação. Republicanos monarquistas e grupos favorá-
veis à unificação em torno dos Estados Pontifícios disputavam os rumos políticos dos rei-
nos italianos. Nesse contexto, duas tentativas de unificação ocorreram em 1830 e em 1848,
mas foram frustradas pela presença dos austríacos ao norte.
Graças a um acordo entre Napoleão III (1808-1873) e o Reino de Piemonte-Sardenha, que
saíra vitorioso da Segunda Guerra de Independência Italiana (1859), uma parte dos austríacos
foi expulsa do Norte da Itália e iniciou-se o processo de unificação. Em 1860, o grupo dos Cami-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sas Vermelhas, liderados pelo general Giuseppe Garibaldi (1807-1882), conseguiu integrar o
Reino das Duas Sicílias e entregar a região ao comando do Rei Vitório Emmanuel III.
DA EDITORA DO BRASIL
A região do Vêneto só foi anexada com o fim da Guerra da Prússia com a Áustria, que
permitiu a expulsão definitiva dos austríacos da região em 1866. Com a derrota dos fran-
ceses na Guerra Franco-Prussiana, os Estados Pontifícios, então protegidos por eles, foram
retomados, juntamente com a cidade de Roma, em 1870.

Unificação da Alemanha
Até meados do século XIX, o atual território da Alemanha estava separado em reinos poli-
ticamente independentes que falavam a mesma língua e eram regidos pela mesma cultura,
compartilhadas do antigo Sacro Império Romano-Germânico. A região tinha uma economia
agrícola, com exceção da Prússia, reino já em acelerado processo de industrialização.
Com a subida ao trono prussiano de Guilherme I (1797-1888), que, ao lado de seu primei-
ro-ministro Otto von Bismarck (1815-1898), era favorável à construção de uma monarquia
centralizadora, foram feitos investimentos na formação do exército e a exaltação do nacio-
nalismo entre a população. A ideia da unificação alemã passava a ganhar ação concreta.
Em sete anos, a Prússia venceu todas as guerras em que esteve envolvida. Na Guerra dos
Ducados (1864), retomou áreas que estavam em poder da Dinamarca; na Guerra Austro-
-Prus­siana (1866), reconquistou territórios ocupados pela Áustria; e, na Guerra Franco-Prus­
siana (1870-1871), afastou os franceses da região oeste.

58 Não escreva no livro.


Em 1871, foi formado o império alemão, chamado de Segundo Reich. Isso modificou a
relação de forças entre os países europeus, pois a Alemanha se tornou uma nação hegemô-
nica e com poder militar.

Primeira Guerra Mundial


O período entre o final da Guerra Franco-Prussiana e o início da Primeira Guerra Mundial
(1875 e 1914) ficou conhecido como “Paz Armada” pois, apesar de os conflitos terem ces-
sado na Europa, houve um desenvolvimento da indústria bélica das grandes potências e cres-
ceu a tensão nas relações internacionais.
Algumas questões territoriais mobilizavam focos de rivalidade e nacionalismo. Os france-
ses queriam retomar a região da Alsácia e Lorena perdida para os alemães; os alemães e os
italianos, por conta da tardia unificação, queriam ampliar seus domínios imperialistas; os
Bálcãs, habitados por diversas etnias, lutavam contra o domínio do Império Turco-Otomano,
enquanto a Bósnia-Herzegovina queria se emancipar do Império Austro-Húngaro.
Somando-se a outros conflitos regionais, esse cenário impulsionou alinhamentos entre
nações com interesses e rivais em comum. O objetivo dessas alianças era garantir proteção
em caso de ataque militar e fortalecer o próprio poder de fogo. Assim, de um lado, Alemanha,
Itália e Império Austro-Húngaro uniram-se na chamada Tríplice Aliança. De outro, Grã-Bre-
tanha, França e Império Russo formaram a Tríplice Entente. Configurava-se a oposição polí-
tica e militar da chamada Grande Guerra, o conflito de maiores proporções até então.
A guerra que se desenrolou de 1914 a 1918 tornou-se mundial ou “total” porque, além
de envolver a maioria das nações europeias, foram mobilizados exércitos, soldados e
recursos materiais de diversos países e territórios coloniais. O exército indiano configu-
rava importante parcela dos destacamentos do Império Britânico, por exemplo.
O estopim da guerra foi o assassinato do arquiduque e herdeiro do trono do Império Austro-
-Húngaro e de sua esposa, Sofia, alvejados por um estudante nacionalista bósnio na cidade de
Sarajevo. Esse fato, somado às tensões que já existiam na Europa, fez com que a Tríplice Aliança
declarasse guerra contra a Sérvia, acusada de incentivar o assassinato, o que levou, consequen-
temente, à mobilização da Tríplice Entente.
De início, a Tríplice Entente recebeu o reforço do Japão que tinha o objetivo de retomar
ilhas do Pacífico dominadas pelos alemães. Já os turco-otomanos se juntaram à Tríplice
Aliança em razão de sua rivalidade contra os russos. A Itália, que fazia parte da Tríplice Aliança,
assumiu uma atitude neutra no início do conflito e, depois, em 1915, uniu-se à Tríplice Entente.
O avanço MATERIAL
tecnológico,DE DIVULGAÇÃO
bélico e tático utilizado na Primeira Guerra Mundial tornou o con-
flito mais violento que as guerras
DA EDITORA europeias anteriores. Pela primeira vez, além de armas
DO BRASIL
como metralhadoras, canhões e granadas, foram usados submarinos, armas químicas,
aviões e lança-chamas.

 Aeronave usada
Dpa/Picture Alliance/Getty Images

na Primeira
Guerra Mundial,
a primeira
guerra com
ataques aéreos.
Foto de 1913.

Não escreva no livro. 59


Etapas do conflito
A Primeira Guerra Mundial foi dividida em três fases. No início, o conflito se organizou pela
movimentação das tropas de ambos os lados em campo aberto para conquistar territórios.
Os exércitos alemães se aproximaram de Paris, mas foram barrados na que ficou conhecida
como Primeira Batalha do Marne. Os ataques eram feitos de acordo com o modelo do avanço
da cavalaria seguida da infantaria. Porém, essa estratégia se mostrou infrutífera por causa
da morte de muitos combatentes.
A segunda fase (1915-1917) se caracterizou pelo uso de trincheiras, adotadas pelos
dois grupos oponentes. Trincheiras eram longas valas cavadas no chão, protegidas por
arame farpado, nas quais ficavam os soldados armados, que podiam se proteger das
ofensivas inimigas e atacar.
Era comum que os soldados passassem longas horas nas trincheiras para garantir os territó-
rios tomados. Mas, muitas vezes, elas alagavam e congelavam, agravando a situação geral de
fome, sede e doenças. Bastante extremas, as condições nas trincheiras aumentavam a mortali-
dade dos exércitos. Ainda que essas estruturas preservassem os soldados de agressões terres-
tres, eles ficavam suscetíveis aos ataques aéreos e a armas químicas, como o gás mostarda.
Na terceira fase (1917-1918), a Rússia passava por uma revolução interna e se retirou da
guerra. Em 1917, os Estados Unidos entraram no conflito ao lado da Tríplice Entente. A grande
quantidade de soldados estadunidenses permitiu a retomada da guerra em movimento e, dessa
forma, os exércitos da Aliança recuaram. Entre outubro e novembro de 1918, os governos tur-
co-otomano e austro-húngaro se renderam, sendo seguidos pela Alemanha, o que pôs fim ao
conflito. Ao final da guerra, havia cerca de 2 milhões de refugiados em razão do conflito,
8 milhões de mortos e 20 milhões de feridos em combate.

A EUROPA APÓS A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL


Cír

Allmaps
cu 0° 40° L
lo Po OCEANO GLACIAL ÁRTICO
lar Império Alemão em 1914
Árt
ico
Império Austro-Húngaro em 1914
h
nwic

ISLÂNDIA Império Otomano em 1914


Gree

Novos países após a Primeira Guerra


o de

(fronteiras em 1923)
idian

Países vencedores
Mer

Países sob mandato internacional


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO SUÉCIA FINLÂNDIA Território ocupado pela Grécia
NORUEGA
DA EDITORA DO BRASIL
Mar do ESTÔNIA
ltico

Norte
LETÔNIA

ESTADO DINAMARCA
ar

LIVRE DA M LITUÂNIA UNIÃO SOVIÉTICA


IRLANDA GRÃ- PRÚSSIA
-BRETANHA ORIENTAL
PAÍSES
BAIXOS
Renânia POLÔNIA
OCEANO BÉLGICA Alta Silésia
ALEMANHA
ATLÂNTICO LUXEMBURGO
Sarre TCHECOSLOVÁQUIA
Be

Alsácia Lorena
ssa

SUÍÇA ÁUSTRIA HUNGRIA nia Mar


lvâ
ráb

Cáspio
FRANÇA nsi
Tra
ia

40°
N Alto Adige IUGOSLÁVIA ROMÊNIA
PORTUGAL Mar Negro
ESPANHA
Córsega ITÁLIA BULGÁRIA

ALBÂNIA
Sardenha
TURQUIA
N
GRÉCIA
Sicília SÍRIA
O L (mandato
Chipre francês) IRAQUE
Fonte: VICENTINO, Creta (mandato britânico)
S LÍBANO
Cláudio. Atlas histórico: Mar Mediterrâneo (mandato francês)
geral e Brasil. 0 395 790 km PALESTINA TRANSJORDÂNIA
(mandato britânico) (mandato britânico)
São Paulo: Scipione,
1 : 39 500 000
2011. p. 141.

60 Não escreva no livro.


Em 1919, os 27 países vitoriosos se reuniram na Conferência de Paz, em Paris, onde esta-
beleceram acordos sobre o destino dos países vencidos. Esses tratados redefiniram as fron-
teiras e territórios da Europa, como você pôde ver na página anterior.
O Império Austro-Húngaro foi dividido em três países: Áustria, Hungria e Tchecoslováquia.
O Império Turco-Otomano perdeu territórios e deu origem à Turquia. Já a Alemanha foi obri-
gada a devolver as regiões da Alsácia e da Lorena para a França, perdeu possessões em outros
países, teve o tamanho de seu exército diminuído e a produção de armas limitada e foi obri-
gada a pagar uma alta indenização aos países vitoriosos.

A crise do capitalismo no entreguerras


Do final da Primeira Guerra ao fim da década de 1920, os Estados Unidos viveram uma fase
de grande prosperidade e expansão econômica. Isso se deu sobretudo por causa dos emprés-
timos e exportações feitos para os países europeus, os quais, por terem tido sua produção e
sua economia arrasadas durante o conflito, precisavam reconstruir suas estruturas produtivas.
O país passou por um grande crescimento da indústria de base (ferro, aço e petróleo) e da
indústria química e elétrica, assim como da produção de bens de consumo duráveis (auto-
móveis, eletrodomésticos etc.). Nesse período, a introdução de linhas de montagem nas fábri-
cas resultou em maior produtividade e lucros.
Essa onda de prosperidade levou a um grande aumento nos investimentos em ações de
empresas na Bolsa de Valores de Nova York, e as famílias passaram a fazer empréstimos para
manter seu novo estilo de vida, o que deu uma falsa impressão de crescimento do poder eco-
nômico. No entanto, a agricultura e a indústria dos países europeus foram, aos poucos, se recu-
perando. Como efeito direto, isso fez com que

Bridgeman images/Easypix Brasil


as exportações e os empréstimos para a Europa
diminuíssem, o que desacelerou a economia
estadunidense. Apesar dessa situação, a indús-
tria continuava muito ativa, o que resultou
numa crise de superprodução.
O valor das ações continuava subindo,
porém essa situação não era compatível com
o valor real das empresas, o que levou os
acionistas a venderem seus ativos. Todavia,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
como não existiam mais compradores inte-
DA EDITORA
ressados, a Bolsa de NovaDO BRASIL
York registrou
uma quebra sem precedentes em 1929, o
que deu início ao período conhecido como
Grande Depressão. Muitas empresas e ban-
cos faliram e o desemprego cresceu. Em
virtude da internacionalização do capitalismo
na época, a crise que se iniciou nos Estados
Unidos foi sentida em vários outros países.
A Grande Depressão se estendeu até o fim
da década de 1930, quando a economia do
país começou a reagir.

Arredores da Bolsa de Valores de


Londres na época da Crise de 1929.
Fotos publicadas no jornal húngaro
Pesti Naplo, em 1929.

Não escreva no livro. 61


A ascensão dos regimes totalitários na Europa
Após a Primeira Guerra Mundial, os Estados europeus enfrentavam uma grave crise econô-
mica e viviam um difícil processo de reconstrução de suas estruturas urbanas e produtivas.
Entre a população crescia o sentimento de desilusão diante da política liberal e dos traumas
relacionados às perdas da guerra. Nesse contexto, muitos passaram a se sentir atraídos por
propostas políticas autoritárias, baseadas na ideia de um Estado nacional forte e centralizador.
O modelo socialista vigente na União Soviética, comandado por Josef Stálin (1878-1953), pare-
cia oferecer uma possibilidade de maior igualdade social e prosperidade econômica, embora essas
benesses tivessem o revés do autoritarismo stalinista. No pós-guerra, multiplicaram-se na Europa
os grupos e partidos de tendência marxista, tanto favoráveis como críticos à experiência soviética.
Igualmente, ao longo das décadas de 1920 e 1930, houve o crescimento de partidos adep-
tos do autoritarismo, críticos tanto do liberalismo quanto do socialismo. Os governos ligados
a esses partidos, apesar de terem diferenças marcantes, possuíam atributos comuns, sendo
por isso classificados como totalitários. Eles se caracterizavam pelo extremo controle estatal
e pela repressão de qualquer tipo de ativismo coletivo ou individual, propaganda ideológica,
censura, exaltação do nacionalismo e outros fatores como xenofobia, militarização, política
expansionista, perseguição a pessoas contrárias ao governo, corte de direitos e violência. O
totalitarismo se configurou como um modelo político baseado no terror.

O fascismo italiano
Benito Mussolini (1883-1945), ex-combatente da Primeira Guerra, foi o principal responsá-
vel pela criação e consolidação do regime fascista na Itália. Em um contexto de grande cares-
tia e de insatisfação geral com a decisão do Tratado de Versalhes – pelo qual a Itália não rece-
beu a compensação territorial pretendida –, Mussolini atraiu pessoas de todas as classes sociais
com suas ideias nacionalistas e foi eleito deputado em 1921. Contribuiu para isso também uma
forte campanha das milícias fascistas contra movimentos de cunho operário, tidos como uma
ameaça à ordem e ao progresso da Itália.
Em 1922, Mussolini organizou a Marcha sobre Roma, quando, acompanhado por milha-
res de apoiadores, fez uma demonstração de força na capital italiana. Em resposta, o rei
Vítor Emanuel III (1869-1947), concedeu-lhe o cargo de primeiro-ministro. Desde então,
o fascismo, que tinha como princípios ideias anticomunistas, antiliberais e ultranacionalis-
MATERIAL DE aDIVULGAÇÃO
tas, passou ser a política de Estado da Itália. Em alguns anos, Mussolini tornou-se um
DA EDITORA
ditador DO BRASIL
e passou a ser chamado de Duce (guia).

Oronoz/Album/Fotoarena
Coleção particular. Fotografia:
Bridgeman images/Easypix Brasil

 O fascio, símbolo fascista de


origem romana esculpido em  Benito Mussolini, entre os generais Balbo Bono Vecchi e Bianchi, na Marcha sobre Roma, em
latão, possivelmente de 1930. 28 de outubro de 1922.

62 Não escreva no livro.


O nazismo alemão

Bettmann/Getty Images
Em 1920, foi criado o Partido
Nazista, sob a liderança de Adolf Hitler
(1889-1945), que tinha como base,
além das ideias fascistas, viés racista
e antissemita. Assim como ocorreu
na Itália, o nazismo ganhou popula-
ridade em um contexto de miséria e
de humilhação do povo alemão após
as sanções impostas pelo Tratado de
Versalhes. Colocando-se contra as
nações responsáveis pelas sanções
de guerra e prometendo reerguer a
Alemanha, o Partido Nazista conse-
guiu eleger muitos políticos de 1928
a 1932. Em 1933, Hitler foi nomeado
chanceler da Alemanha e, com a morte
 Adolf Hitler, acompanhado do
do presidente da República de Weimar, Paul von Hindenburg, ele o substi- marechal Hermann Goering,
tuiu no cargo e assumiu o título de Führer (guia, em alemão), o que marcou inspeciona tropas de honra em
o início do chamado Terceiro Reich. frente à Chancelaria em seu
retorno a Berlim, depois de ataque
Hitler impôs a censura e colocou fim aos direitos civis. Criou a Gestapo à Áustria. Berlim, Alemanha, 1938.
e a SS – respectivamente, uma polícia secreta e uma tropa de elite nazista
– para controlar, perseguir, torturar e matar judeus, ciganos, comunistas e República de Weimar:
outros grupos considerados “inferiores” ou “indesejáveis” pelo regime. Democracia liberal parlamentar
instalada após a queda do
Em 1934, o controle sobre os judeus e a violência contra eles se tor- Segundo Reich na Alemanha,
naram sistemáticos. Vistos pelos nazistas como integrantes de uma “raça que durou de 1919 e 1933.
deteriorada”, foram impedidos de ocupar cargos públicos e tiveram seus
bens confiscados. Os pogroms, ataques físicos e humilhações direciona-
dos aos judeus, passaram a ser praticados por civis amplamente nas cida-
des alemãs.
A propaganda nazista era difundida por meio das escolas, de obras de arte
MATERIAL
e de programas de rádio,DE DIVULGAÇÃO
com os objetivos de reverenciar a figura de Hitler,
DA EDITORA
rebaixar os judeus DO BRASIL
e promover os valores nazistas. A relativa recuperação
econômica do país sob o comando de Hitler fez com que sua popularidade
aumentasse e, com o tempo, o Führer passou a desobedecer às sanções do
Tratado de Versalhes, investindo no exército e na fabricação de armas.

Os guetos e os campos de concentração


Num primeiro momento, os judeus dos países invadidos foram segregados em guetos, espaços urbanos cercados
nos quais eram obrigados a viver em condições miseráveis. Na Polônia, por exemplo, onde a população era composta
de cerca de 10% de judeus, havia 13 guetos e outras 40 áreas de isolamento. Nesses locais, o trânsito e as atividades
cotidianas eram constantemente controlados pelos nazistas. De 1942 a 1945, quando foi colocada em prática a cha-
mada “solução final”, plano de extermínio dos judeus da Alemanha e dos territórios ocupados, os campos de concen-
tração nazistas se multiplicaram. Judeus e outros grupos detidos pelo regime de Hitler eram deportados para locais
como Auschwitz, Sobibor e Treblinka, onde eram imediatamente mortos em câmaras de gás ou obrigados ao trabalho
forçado.
Esses espaços de exclusão e de extermínio em massa de minorias são lembrados como símbolos de um dos maiores
genocídios que a humanidade já viu.

Não escreva no livro. 63


Partilhando de ideais expansionistas, Alemanha, Itália e Japão se uniram em 1937 no
Eixo Roma-Berlim-Tóquio. Hitler deu início então a uma política expansionista e, em 1938
e 1939, anexou os territórios da Áustria e da Tchecoslováquia. Em 1939, a invasão alemã
na Polônia foi o estopim da Segunda Guerra Mundial.
Com o objetivo de conter a expansão de Hitler, a União Soviética, a França, a Grã-Breta-
nha e os Estados Unidos formaram uma aliança militar: os Aliados.

Segunda Guerra Mundial


A Segunda Guerra Mundial pode ser dividida em três fases. O primeiro momento (1939-
-1941) se caracterizou pelo avanço dos países do Eixo, que utilizaram a técnica de “guer-
ra-relâmpago”, na qual a artilharia e a infantaria promoviam ataques contra o exército dos
Aliados, abrindo brechas e invadindo a região rapidamente com o uso de blindados. Essa
tática permitiu o avanço do Eixo na Dinamarca, Bélgica, Holanda, Noruega, Iugoslávia, Gré-
cia e França. Em 1940, os nazistas fizeram ofensivas à Grã-Bretanha que resistiu à invasão.
Em seguida, passaram a atacar a União Soviética. Apesar do cerco feito a Leningrado e a
outras cidades, a Alemanha foi derrotada nessa frente da guerra pela União Soviética em
1943, na Batalha de Stalingrado. No Pacífico, o Japão retomou regiões dominadas por euro-
peus e atacou, em 1941, a base militar estadunidense de Pearl Harbor, no Havaí.
Na segunda parte da guerra (1942-1943) houve um equilíbrio entre as forças do Eixo e
dos Aliados. Os Estados Unidos intensificaram sua presença no conflito e, dessa forma, con-
seguiram alterar a relação de forças entre os dois blocos. A invasão parcial da Itália pelos
Aliados acuou Mussolini na região norte do país.
O colapso das forças do Eixo marcou a terceira e última fase da guerra (1944-1945).
Em 6 de junho de 1944, as forças aliadas invadiram a região norte da França e libertaram
o país do domínio nazista. Ao mesmo tempo, o exército soviético invadiu a Alemanha e,
após violentos conflitos, conseguiu render as forças nazistas em Berlim.
Diante disso, Hitler se suicidou em 30 de abril, o que marcou o fim do Terceiro Reich. A guerra
continuou entre os Estados Unidos e o Japão. Ainda que a capitulação japonesa estivesse próxima,
o governo dos Estados Unidos lançou duas bombas atômicas sobre o país em agosto de 1945, as
quais atingiram as cidades de Hiroshima e Nagasaki, causando a morte de cerca de 250 mil civis.
Esses ataques levaram à rendição do Japão e ao consequente fim da Segunda Guerra Mundial.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
O diário de Anne Frank Akg-Images/Album/Fotoarena

Anne Frank foi uma jovem judia nascida na Alemanha em 1929. Em função da perse-
guição de Hitler, sua família mudou-se para Amsterdã. Em 1940 os nazistas invadiram a
Holanda (Países Baixos) e, de 1942 a 1944, ela e seus parentes tiveram de viver em um
esconderijo, junto com amigos. Nesse período, ela escreveu um diário que mostra a forma
como os judeus eram tratados pelos nazistas. O esconderijo foi descoberto, e Anne foi
levada a um campo de concentração, onde morreu um ano depois.

Nossa liberdade foi gravemente restringida com uma série de decretos antissemitas:
os judeus deveriam usar uma estrela amarela; os judeus eram proibidos de andar nos
bondes; os judeus eram proibidos de andar de carro, mesmo em seus próprios carros; [...]  Retrato de Anne Frank,
os judeus eram proibidos de sair às ruas entre oito da noite e seis da manhã; os judeus 1940.
eram proibidos de frequentar teatros, cinemas ou ter qualquer forma de diversão; os judeus eram proibidos de ir a
piscinas, quadras de tênis, [...] ou qualquer outro campo esportivo; [...]; os judeus eram proibidos de visitar casas de
cristãos; os judeus deveriam frequentar escolas judias, etc. Você não podia fazer isso nem aquilo, mas a vida conti-
nuava. Jacque sempre me dizia: “Eu não ouso fazer mais nada, porque tenho medo de ser algo proibido”.
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. p. 21.

64 Não escreva no livro.


Atividades

1. O imperialismo não ficou restrito à Europa, manifestando-se também nos Estados Uni-
dos no século XIX. Leia o trecho a seguir, que trata do expansionismo estadunidense, e
responda ao que se pede.
[...] foi nas colônias da Nova Inglaterra, fundadas por refugiados religiosos protestantes ra-
dicais, que a conexão entre expansão imperial e um senso de missão divina tornou-se mais
aparente. Os peregrinos e seus descendentes acreditavam que terras existentes fora do domí-
nio de um Estado propriamente organizado eram uma violação do mandamento de Deus “cres-
cei e multiplicai-vos”. Terras incultas chamavam os fiéis a ocupá-las e a desenvolvê-las em
nome da glória de Deus (PEARCE, 1988:20).
BLANCHETTE, Thaddeus Gregory. Entre acomodação e extermínio: raízes da “Questão indígena” nos Estados Unidos.
35o Encontro Anual da Anpocs. Disponível em: https://anpocs.com/index.php/papers-35-encontro/gt-29/gt12-23/968
-entre-acomodacao-e-exterminio-as-raizes-da-questao-indigena-nos-estados-unidos/file.
Acesso em: 25 jul. 2020.
a) Explique o trecho em destaque considerando as dinâmicas entre nativos e colonos.
b) Com base no texto, que semelhanças podem ser estabelecidas entre o imperialismo
europeu e o estadunidense?
2. Observe a charge e faça o que se pede.

Biblioteca Nacional da França, Paris


a) Faça uma descrição da charge, indican-
do quem são os personagens e o que
eles estão fazendo.
b) A qual conferênica histórica a charge está
relacionada? Justifique sua resposta.
c) Quais foram as principais consequên-
cias do evento representado? Utilize os
conceitos de trânsito, território e fron-
teira em sua análise.

Cartum sobre a conferência


de Berlim, 1885.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
3. O historiador Eric Hobsbawm afirma que as duas grandes guerras podem ser entendi-
DA EDITORA DO BRASIL
das como duas etapas de um mesmo conflito. Tendo isso em mente, estabeleça uma
comparação entre esses dois eventos e responda: Em sua opinião, quais poderiam ser
os argumentos para diferenciar uma guerra da outra, de forma a rebater a afirmação do
historiador? Ou, em contrapartida, que semelhanças existem entre os dois acontecimen-
tos que permitiriam dizer que eles constituem dois momentos de um mesmo conflito?
4. O mapa da página 60 permite observar as fronteiras e territórios na Europa no início
da Primeira Guerra Mundial e no fim do conflito. O que ocorreu a essa configuração
territorial após a Segunda Guerra Mundial? Será que o mapa de hoje é semelhante ou
diferente daquele vigente nos acordos de paz da década de 1940? Reúna-se em du-
pla e realizem uma pesquisa sobre esse assunto em livros e sites confiáveis. Depois,
respondam às questões:
a) As duas guerras mundiais estão relacionadas, entre outros fatores, a questões terri-
toriais. Que questões foram essas?
b) Que mudanças ocorreram nas fronteiras e territórios europeus desde o fim da
Segunda Guerra Mundial até hoje? Que eventos motivaram essas mudanças?

Não escreva no livro. 65


RELAÇÕES IMPERIALISTAS NO
CAPITALISMO MODERNO
Ainda no século XV, Nicolau Maquiavel (1469-1527), considerado o pai da ciência política,
mostrou que a relação entre os Estados não é, necessariamente, harmônica e listou formas
históricas de um estado dominar o outro. Esse autor afirma que há três maneiras principais
de se garantir o domínio sobre Estados conquistados:

[...] primeiro, – arruiná-los; segundo – ir habitá-los; terceiro – deixá-los viver com suas leis, arre-
cadando um tributo e criando um governo de poucos, que se mantenham amigos nesse governo,
tendo sido formado por aquele príncipe, sabe que não sobreviverá sem a sua amizade e poder, e, na-
turalmente, tudo fará para mantê-lo. Por intermédio de seus próprios cidadãos, com maior facilidade
se conservará o governo de uma cidade acostumada à liberdade, do que de outra qualquer forma.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 23. (Coleção Os Pensadores.)

Embora a soberania de um Estado-nação, ou seja, a autoridade legítima de um país e de


um povo sobre seu governo, tenha sido um valor fundamental da modernidade, Maquiavel
descreve processos de dominação que seguiriam acontecendo séculos depois, mesmo após
a Revolução Francesa, movimento que afirmou que um Estado não podia estar sob ordens
de outro. Ao longo da história, os princípios de soberania nacional e de autodeterminação
dos povos foram inúmeras vezes violados.
O imperialismo (neocolonialismo) europeu dos séculos XIX e XX é um exemplo de
ruptura com tais princípios. As potências europeias dominaram países da África e da Ásia,
transformando-os em protetorados e ditando os caminhos a serem seguidos. Na segunda
metade do século XX, a maioria dos países neocoloniais já havia se tornado politicamente
independente, porém, em meio à Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética contri-
buíram para os processos de independência. Mas seu objetivo era o de construir áreas
de influência pelo mundo, o que levaria a conflitos nessas novas nações. O caso da Indo-
china é um exemplo.
A Indochina era um país do Sudeste Asiático que no século XIX havia sido ocupado pela
França. Com a Segunda Guerra, o Japão dominou seu território até 1945, quando foi derrotado
e obrigado a devolver o país para a França. Esta não aceitou a independência da parte norte
MATERIAL
do Vietnã, DEoDIVULGAÇÃO
que deu origem a uma guerra, na qual a França foi vencida pelas tropas de
DA
Ho EDITORA DO BRASIL Com a derrota francesa, também conseguiram a independência
Chi Minh (1890-1969).
o Laos e o Camboja, que compunham a Indochina. Porém, já em 1955 começaram os con-
flitos entre o Vietnã do Norte e o Vietnã do Sul.
Vietanm News Agency/AFP

Ho Chi Minh visita


uma unidade
regional de forças
na província de Cao
Bang, em 1951,
durante a guerra da
Indochina.

66 Não escreva no livro.


Apoiado pela União Soviética e pela China, o Vietnã do Norte fez ofensivas para anexar o
Vietnã do Sul (que contava com a ajuda dos Estados Unidos), pois via a presença estaduni-
dense na região como uma continuação do colonialismo. O resultado foi uma guerra que
durou 20 anos, com a derrota estadunidense e a unificação do país.

Hoang Dinh Nam/AFP


Trabalhadoras em uma fábrica cuja produção é voltada para a exportação, em Hanói, no Vietnã, em 2015. Após a
dominação colonial, atualmente os países ocidentais buscam outras formas de exploração de materiais e mão de obra.

Com o fim da União Soviética em 1991, ficou mais evidente o propósito do novo imperialismo
na chamada nova ordem mundial – conceito usado para determinar a substituição da ordem
bipolar pela ordem multipolar, pela qual o mundo deixava de ser regido pela Guerra Fria e
passava para uma nova etapa. O domínio dos países periféricos não mais seria feito por meio
do neocolonialismo, mas pelo poder econômico. A influência de governos das superpotências
começou a ser exercida por grandes conglomerados de empresas multinacionais, que, por sua
vez, passaram a dominar todo o processo produtivo das regiões em que se estabeleciam, prin-
cipalmente da indústria de base, usando mão de obra local, pagando baixos salários e enviando
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
os lucros para seus países de origem, além de explorarem os recursos naturais, como foi o caso
da extração doDA EDITORA
petróleo e daDO BRASIL Diferentes mecanismos começaram então a ser usa-
mineração.
dos por Estados nacionais poderosos para enfraquecer os países mais pobres e controlar seus
recursos e sua mão de obra, situação exemplificada na citação a seguir.

As grandes potências são aqueles Estados de toda parte da Terra que possuem elevada capa-
cidade militar perante os outros, perseguem interesses continentais ou globais e defendem estes
interesses por meio de uma ampla gama de instrumentos, entre os quais a força e ameaças de
força, sendo reconhecidos pelos Estados menos poderosos como atores principais que exercem
direitos formais excepcionais nas relações internacionais.
TILLY, Charle. Coerção, capital e estados. São Paulo: Edusp, 1996. p. 247.

Mas o que acontece quando governos de países periféricos resolvem tomar medidas de pre-
servação dos meios de produção nacionais? Os países mais poderosos desenvolveram, ainda no
começo dos anos 1990, um novo tipo de guerra: a guerra híbrida. Essa nova forma de abordagem
tem como objetivo enfraquecer um determinado governo e não se limita aos tradicionais conflitos
entre dois Estados. Os países agressores exploram diferentes modos de guerra simultaneamente,
empregando armas convencionais avançadas, táticas irregulares, tecnologias agressivas, terrorismo
e criminalidade, com o objetivo de desestabilizar a ordem vigente em um Estado nacional.

Não escreva no livro. 67


A Guerra do Iraque, a princípio, foi um exemplo de guerra híbrida. Com o
fim da Guerra do Golfo, em 1991, que havia sido motivada pela invasão
iraquiana ao Kuwait, os Estados Unidos, junto com sua aliada Arábia Saudita
e tropas da Organização das Nações Unidas (ONU), venceram o conflito, mas
não conquistaram o controle da produção de petróleo da região, que conti-
nuou sob o domínio de Saddam Hussein (1937-2006), governante do Iraque.
Com isso, em 2003, o então presidente dos Estados Unidos George W. Bush
(1946-) se utilizou de provas forjadas, afirmando que o Iraque possuía armas
de destruição em massa – nucleares, químicas e biológicas – e fez uso mas-
sivo da imprensa para atingir seu objetivo, desrespeitando resoluções da
ONU. Com isso, a guerra, que era híbrida, transformou-se em guerra tradi-
cional. Bush usou esses argumentos para invadir o Iraque, derrubar o pre-
sidente Saddam Hussein e dominar o processo produtivo do petróleo iraquiano.
As armas nucleares iraquianas, que justificaram a invasão, nunca foram
 Nas imagens, momentos da encontradas.
presença dos Estados Unidos no
Iraque. [1] Em 2003, soldado Outra forma de fazer guerra híbrida é utilizar sanções econômicas. Como
coloca uma bandeira estadunidense o dólar é usado em negociações internacionais, os Estados Unidos proíbem
no rosto da estátua de Saddam
Hussein, que seria derrubada logo
que países inimigos tenham acesso a sua moeda e dessa forma os impedem
depois. [2] Em 2020, apoiadores de fazer transações com outras nações. O exemplo clássico é Cuba, que,
do clérigo xiita Moqtada al-Sadr desde 1959, está sob sanções que dificultam seu crescimento tecnológico
protestam contra o que dizem ser
e social, com consequências na economia. Atualmente, as sanções se esten-
a presença dos Estados Unidos no
Iraque, durante uma manifestação. dem para Irã, Coreia do Norte, Venezuela, Rússia e China.
O lawfare também é um instrumento comum das guerras híbridas e sig-
nifica “guerra jurídica”. Trata-se do uso estratégico do direito para fins de
deslegitimar, prejudicar ou aniquilar um inimigo, ou seja, consiste no emprego
de medidas judiciais para derrotar adversários e não reconhecer a política
nacional de um país. Na guerra às drogas e no combate à corrupção, o direito
se internacionalizou, facilitando a intervenção estrangeira nos sistemas de
1 justiça nacionais.
Markus Matzel/Ullstein Bild/Getty Images

Nenhuma dessas estratégias é recente, mas seguem sendo utilizadas a


despeito dos valores liberais de autodeterminação dos povos, isto é, o reco-
nhecimento da soberania nacional de cada país, da vontade popular e das
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
decisões que cada lugar toma em seu território.

Thaier Al-Sudani/
Reuters/Fotoarema
DA EDITORA DO BRASIL
2

68 Não escreva no livro.


Internacionalismo: solidariedade entre povos e nações
A fraternidade, um princípio da Revolução Francesa, se manifesta como sentimento de
cooperação por parte dos indivíduos de um país, mas também como solidariedade entre
os Estados-nação soberanos. Contudo, na história do capitalismo, esse tipo de cooperação
se mostrou complexo e ambíguo, estando submetido aos imperativos de competições entre
países e empresas, de interesses financeiros e da desigualdade entre as nações. Desse
modo, diferentes movimentos ao longo da modernidade teorizaram e organizaram formas
de cooperação que ultrapassam as fronteiras nacionais. O internacionalismo é, portanto,
um conjunto de posições diversas, às vezes antagônicas, que, diferentemente do naciona-
lismo – ou até em oposição a ele –, defendem programas políticos e interesses sociais que
vão além dos limites do Estado-nação.
O internacionalismo liberal, com base na premissa de que a humanidade é uma só, se
desenvolveu como teoria no século XIX e como prática no século XX, com a criação da Liga
das Nações, em 1920, após a Primeira Guerra Mundial. Apoiado no princípio do livre-co-
mércio e contrário às barreiras alfandegárias, esse movimento acreditava que a interde-
pendência criada pelo comércio entre os países levaria à paz. Como o mundo, segundo
eles, está integrado pelo mercado, pela indústria e pelas finanças, uma guerra seria preju-
dicial a todos, e, assim, a internacionalização dos sistemas econômicos levaria a um processo
estável de paz. Após a Segunda Guerra Mundial, essa teoria se mostrou inadequada e
consolidou-se o argumento de que, por meio da intervenção direta, é possível promover o
avanço do modelo democrático liberal para diferentes países. Tal tipo de intervenção conta
com entidades multilaterais, como a ONU, para mediar esses processos, com a adoção de
técnicas de guerra, ajudas humanitárias e desestabilização de governos considerados não
democráticos. Diferentes exemplos desse modelo de intervenção liberal ocorreram ao longo
do século XX, sendo um dos mais simbólicos a operação da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan) na Guerra da Bósnia, ocorrida nos anos 1990, na região dos Bálcãs,
no Leste Europeu. A pedido da ONU, mais de 15 países se envolveram e lançaram bombas
por toda a cidade de Sarajevo, destruindo-a e colocando fim ao embate. Assim, o interna-
cionalismo liberal é polêmico, pois se mostra uma forma de imperialismo, já que suas ações
podem ser vistas como imposição de um país (ou de um conjunto de países) sobre outro,
ainda que este esteja em conflito.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Jill M. Dougherty/Getty Images

 A então primeira-dama estadunidense Hillary Clinton (1947-) e a filha Chelsea visitam soldados de seu país na Bósnia,
em 1996. O Partido Democrata, dos Estados Unidos, é famoso por promover guerras em nome da democracia.

Não escreva no livro. 69


No outro espectro político, o internacionalismo operário tomou vulto no século XIX com
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Para esses autores, a fraternidade
humana se desenvolve nas classes sociais, logo os trabalhadores de todos os países têm uma
identidade comum, em antagonismo com as burguesias nacionais e globais. Como, para o
marxismo, o Estado-nação constitui uma construção burguesa, que não atende aos interes-
ses dos trabalhadores, é na organização de classe destes para além das fronteiras que reside
sua força, sendo que a revolução e a libertação operária só poderiam ocorrer de forma orga-
nizada internacionalmente. Assim, ao longo dos séculos XIX e XX, os partidos comunistas
realizaram esforços para concretizar essa forma de solidariedade.
Em 1864, marxistas e anarquistas fundaram a Associação Internacional dos Trabalha-
dores (AIT), conhecida como Primeira Internacional, que teve importante atuação na Comuna
de Paris (considerada o primeiro governo operário da história, em 1871). O hino “A Inter-
nacional” foi composto nesse período pelo francês Eugène Pottier e viria a ser o hino da
União Soviética até 1941. Com a derrota da Comuna de Paris, a AIT foi encerrada, em 1876.
A Segunda Internacional, nomeada “Internacional dos Trabalhadores”, lançada em 1889,
teve importante papel legislativo e partidário, com influência em vários países europeus.
Mas se enfraqueceu com a Primeira Guerra Mundial, quando os nacionalismos se acirraram
e partidos operários apoiaram a guerra. Em 1919, foi lançada a Terceira Internacional, na
União Soviética. Chamada Internacional Comunista, ela ampliou sua área de atuação e
buscou ajudar os movimentos independentistas de países africanos e asiáticos em ascen-
são para promover a união do movimento internacional dos trabalhadores europeus com
1 os dos povos colonizados. Dessa forma, influenciou uma série de revolu-
ções pelo mundo que marcaram o século XX. Em consequência da Segunda
Guerra Mundial, encerrou-se em 1943.
No pós-guerra, a inspiração internacionalista do movimento operário no
contexto da Guerra Fria levou a União Soviética a apoiar inúmeros países em
processo de independência, os quais viriam a se declarar comunistas. No
Ocidente, outros movimentos tiveram inspiração internacional, baseados na
compreensão de que algumas temáticas atingem todas as nações de forma
geral – por exemplo, no movimento ambientalista, em que as decisões de um
Pictorial Press Ltd/Alamy /Fotoarena

país afetam o mundo todo.

Aleksei Sukhorukov/Zuma Press/Easypix Brasil


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
2
DA EDITORA DO BRASIL

 [1] Cartaz da Internacional


Comunista em 1919. [2]
Manifestação de membros
do Partido Comunista em
Tambov, Rússia, 2018. No
cartaz, lê-se a frase de Marx
“Trabalhadores do mundo,
uni-vos!”.

70 Não escreva no livro.


Atividades

1. País único até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando vivia sob domínio imperialista
do Japão, a Coreia dividiu-se durante a Guerra Fria em Coreia do Norte, sob influência
soviética, e Coreia do Sul, sob influência dos Estados Unidos. Esse processo culminou
na Guerra das Coreias, em 1950.
A história das Coreias nos ajuda a compreender as diferentes formas de imperialismo
que ocorrem ao longo do século XX e que deixam consequências até hoje. Com o intuito
de conhecer a situação geopolítica entre as duas Coreias, faça uma pesquisa que promo-
va a reflexão e a argumentação sobre as questões abaixo:
a) Pesquise na internet para elaborar uma linha do tempo na qual constem os principais
eventos relativos aos dois países durante o século XX, iniciando a partir de 1910,
quando o Japão anexa a Coreia e encerra a monarquia que vigorava ali até então.
b) Qual foi o papel da ONU diante do conflito?
2. Analise a tabela a seguir e pesquise dados adicionais sobre as duas Coreias, como ín-
dices populacionais, econômicos e sociais, expectativa de vida, dados educacionais,
PIB total e PIB per capita, índice de Gini, tipo de indústria e de produção econômica
e IDH. Comente então as diferenças mais marcantes entre os dois países.

COMPARATIVO ENTRE COREIA DO NORTE E COREIA DO SUL (DADOS DE 2018)

Coreia Coreia Coreia Coreia


Setor Período Setor Período
do Norte do Sul do Norte do Sul

Economia População

2014 17 396 1 484 318 2014 25 183 832 50 823 087

2015 16 283 1 465 773 População 2015 25 307 665 50 983 446
Total do
total
PIB (US$ x 2016 16 786 1 500 112 2016 25 429 816 51 096 408
(número de
1 000 000)
habitantes)
MATERIAL
2017 DE DIVULGAÇÃO
17 365 1 623 901 2017 25 549 606 51 171 700

DA EDITORA
2018 DO BRASIL
17 487 1 720 489 2018 25 666 158 51 225 321

Meio ambiente Saúde

2014 21,43% 17,56% 2014 2 090 3 323

Área 2015 21,43% 17,36% 2015 2 084 3 322


cultivada Consumo
(porcenta- 2016 21,43% 17,23% calórico 2016 2 072 3 332
gem da (kcal/dia)
área total) 2017 21,43% 16,86% 2017 2 055 3 326

2018 21,43% 16,62% 2018 2 019 3 312

Fonte: IBGE. Países. Disponível em: https://paises.ibge.gov.br/#/dados/republica-popular-democratica-da-coreia;


https://paises.ibge.gov.br/#/dados/republica-da-coreia.
Acesso em: 13 jun. 2020.

3. Faça uma dissertação argumentativa, buscando responder: Como a história das Coreias
ilustra diferentes formas de imperialismo na modernidade?

Não escreva no livro. 71


DINÂMICAS POPULACIONAIS NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
Você sabe a importância da demografia e como essa
Pedro Pardo/AFP

temática se relaciona à sua vida? Estudos demográfi-


cos utilizam como indicadores essenciais as taxas de
natalidade, de fecundidade e de mortalidade, além dos
saldos migratórios internos e externos, para caracte-
rizar as dinâmicas populacionais em determinado
território e período. Com base nesses dados, é possível
identificar o comportamento da população e verificar
se ela está crescendo, diminuindo ou se mantendo
estável ao longo do tempo.
Além disso, as projeções da população derivadas
dos estudos demográficos permitem aos governos
 Na fronteira entre Guatemala e México, caravana de migrantes
provenientes de Honduras marcha rumo aos Estados Unidos, em
elaborar e monitorar as políticas públicas, sobretudo
2018. A imagem remete à discussão de como os países podem
aquelas relacionadas com o acesso a bens e serviços
ser mais ou menos rígidos em relação à entrada de migrantes,
básicos. Assim, é possível fazer uma projeção da quan-
dependendo de seu perfil socioeconômico e país de origem.
tidade de escolas, de moradias, de hospitais e até
mesmo de especialidades médicas demandadas pela população de um território e tomar
decisões sobre a necessidade de investimentos em cada setor e tipo de serviço.

Transição demográfica
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando um regime com
altas taxas de mortalidade e de fecundidade/natalidade passa para um regime em que as
duas taxas se encontram em níveis mais baixos, diz-se que está havendo uma transição
demográfica. Esse processo resulta em uma mudança na estrutura etária de uma população.
Isso se dá porque essas mudanças diminuem o número de crianças e aumentam o número
de idosos em uma mesma população. Além desses efeitos, a transição demográfica também
altera as taxas de crescimento da população.

ESQUEMA TEÓRICO DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO

DAE
Porcentagem (%)

DA EDITORA DO BRASIL
5,00

4,500

4,00

3,500

3,00

2,500

2,00

1,500

1,00

0,500
Taxa bruta de natalidade
0,00 Taxa bruta de mortalidade

−0,500  Taxa de crescimento


demográfico
−1,00
Tempo (t)
Fonte: ERVATTI, Leila Regina; BORGES, Gabriel Mendes; JARDIM, Antonio de Ponte (orgs.).
Mudança demográfica no Brasil no início do século XXI: subsídios para as projeções da população. Rio de Janeiro: IBGE, 2015. p. 139.
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv93322.pdf. Acesso em: 24 jun. 2020.

72 Não escreva no livro.


Com a Revolução Industrial, os avanços científicos, a urbanização e o aumento da qua-
lidade de vida deram início a um processo de mudança demográfica. Na América Latina,
essa transição ocorreu principalmente a partir do século XX. No Brasil, seus efeitos foram
marcantes entre os anos 1950 e 1960, com mudanças importantes da estrutura etária da
população.
Mas como é possível notarmos de maneira rápida e sintética as mudanças no perfil
demográfico da população? As pirâmides etárias a seguir exibem o perfil da população de
um território num dado momento. Assim, ao compararmos as pirâmides de um mesmo
território em momentos distintos, podemos compreender como se comportam os indica-
dores demográficos da população ao longo do tempo. Também podemos comparar pirâ-
mides etárias de diferentes territórios, para perceber qual é o perfil de cada população.

POPULAÇÃO DA ALEMANHA EM 1955 POPULAÇÃO DA ALEMANHA EM 2020


Ilustrações: DAE

Homens Mulheres Homens Mulheres


100 100
90 90
80 80
70 70
60 60
Idade
Idade

50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3.5 4 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3.5 4
População (em milhões) População (em milhões)

Fonte dos gráficos: ONU. Perspectivas da população mundial, 2019.


Disponível em: https://population.un.org/wpp/Graphs/DemographicProfiles/Pyramid/276. Acesso em: 24 jun. 2020.

A transição demográfica costuma ser organizada em quatro fases distintas. Ao passo que
a primeira etapa é marcada por altas taxas de natalidade e mortalidade e baixa expectativa
MATERIAL
de vida, a quarta etapa DE DIVULGAÇÃOpor uma realidade oposta, taxas de natalidade e
é caracterizada
mortalidade baixas e equilibradas e expectativa de vida elevada, situação típica de socieda-
DA EDITORA DO BRASIL
des mais desenvolvidas.
Analise as pirâmides etárias da Alemanha. Que informações é possível obter dessa obser-
vação? Houve estreitamento ou alargamento de algum setor da pirâmide? Note que, ao passo
que o número de jovens decresceu, os segmentos de adultos e idosos tiveram acréscimos
importantes. Essa configuração, embora mais comum em países desenvolvidos, é uma ten-
dência que já se observa na realidade brasileira, cujas taxas de fecundidade e natalidade se
encontram em processo de redução.
No Brasil, observa-se uma redução no crescimento da população de jovens, faixa entre 15
e 29 anos, relacionada a uma queda da fecundidade em década anteriores. A faixa de pessoas
entre 30 e 59 anos é marcada por um crescimento importante, algo que é benéfico, pois é
gerado um bônus demográfico, conforme veremos a seguir.
Por sua vez, o segmento populacional composto por idosos apresenta crescimento cons-
tante. O envelhecimento da população apresenta grandes desafios para a sociedade e, con-
sequentemente, para seus governos, pois exige políticas públicas que ajudem a manter a
saúde e a qualidade de vida dos idosos.

Não escreva no livro. 73


Estrutura etária e políticas públicas no Brasil
Até a década de 1950, a pirâmide etária do Brasil apresentava base larga, com muitas crian-
ças e jovens, e topo estreito, com poucos idosos, em decorrência das taxas de fecundidade de
mais de seis filhos por mulher e das altas taxas de mortalidade. Nesse período, havia uma
necessidade de direcionamento das políticas sociais para a população jovem, por exemplo em
decisões relacionadas à educação e saúde infantil. Segundo o IBGE, hoje em dia, a taxa de
fecundidade se encontra abaixo de dois filhos por mulher e a longevidade segue em contínuo
aumento, o que exige políticas sociais direcionadas para os adultos e, sobretudo, para os idosos.

POPULAÇÃO DO BRASIL EM 1950 POPULAÇÃO DO BRASIL EM 2020

Ilustrações: DAE
100 Homens Mulheres 100 Homens Mulheres
90 90
80 80
70
70
Idade

60
60

Idade
50
50
40
40
30
30
20
20
10
10
0
10 5 0 5 10 0
10 5 0 5 10
População
(em milhões) População
(em milhões)

Fonte dos gráficos: ONU. Perspectivas da população mundial, 2019. Disponível em: https://population.un.org/wpp/Graphs/DemographicProfiles/Pyramid/76.
Acesso em: 24 jun. 2020.

Uma decorrência da transição demográfica durante a baixa da fecundidade e o aumento


da população adulta é o aumento da proporção de pessoas em idade economicamente
ativa, em comparação com os grupos etários dependentes (crianças, jovens e idosos). O
MATERIAL DE que
período em DIVULGAÇÃO
há tal quantidade é chamado de bônus demográfico. Em teoria, essa maior
quantidade de pessoas em idade ativa favoreceria o desenvolvimento econômico, pois
DA EDITORA DO BRASIL
existe predomínio de pessoas aptas a trabalhar e produzir riqueza. A capacidade de pro-
duzir dessas pessoas é, em tese, maior que a capacidade de consumir. Diferentemente da
população que se encontra fora desse segmento, que consome mais do que produz.
Alguns países com baixas taxas de natalidade e fertilidade incentivam as migrações inter-
nacionais de trabalhadores e, portanto, de pessoas que compõem a população economica-
mente ativa, visando propiciar ao mercado de trabalho a força produtiva necessária para
manter o dinamismo econômico.
No entanto, os benefícios que esse bônus poderia apresentar não dependem apenas de
condições demográficas. É preciso haver outras condições: educação de qualidade e políticas
adequadas de emprego que ajudem a população economicamente ativa a ser incorporada à
força de trabalho. Além de fazer parte do mercado de trabalho, essa população precisa ainda
criar excedente econômico. Portanto, é possível dizer que o bônus demográfico não é garantia
de desenvolvimento econômico ou que toda a população é absorvida pelo mercado de trabalho.
Um dado importante dos estudos demográficos é a análise de como cada grupo social é
impactado pelas transformações mais gerais da população. Você saberia identificar algum grupo
social no Brasil que apresente taxas de natalidade, de fecundidade e de mortalidade muito acima
ou abaixo da média nacional? Alguns grupos sociais com histórico de exclusão social, como negros
e indígenas, tendem a apresentar taxas preocupantes, como elevada taxa de mortalidade.

74 Não escreva no livro.


Crescimento e distribuição populacional pelo mundo
De acordo com um relatório da Divisão de População do Departamento de Assuntos Eco-
nômicos e Sociais da ONU, publicado em 2019, a população mundial deve aumentar em 2
bilhões de pessoas nos próximos 30 anos. O relatório também confirmou que a população
mundial está envelhecendo, em virtude do aumento da expectativa de vida e da queda dos
níveis de fecundidade e natalidade.
A população do planeta continua a aumentar, mas as taxas de crescimento variam muito
entre as regiões. As novas projeções indicam que nove países representarão mais da metade
do crescimento projetado da população global até 2050: Índia, Nigéria, Paquistão, República
Democrática do Congo, Etiópia, Tanzânia, Indonésia, Egito e Estados Unidos (em ordem
decrescente do aumento esperado). Por volta de 2027, a Índia deve ultrapassar a China como
país mais populoso do mundo.
Os mapas a seguir exibem a taxa anual de crescimento/decrescimento da população no
período de 1950-1955 e a projeção para o período de 2020-2025.

TAXA MÉDIA ANUAL DE VARIAÇÃO POPULACIONAL (%), 1950-1955


Mapas: Allmaps
Círculo Polar Ártico

Trópico de Câncer

OCEANO
OCEANO
PACÍFICO
PACÍFICO
Equador

OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO ÍNDICO
Trópico de Capricórnio
Taxa de mudança (%) N
Meridiano de Greenwich

5 a 10
4a5
O L
3a4
2a3
1a2 S
0a1 Círculo Polar Antártico
0 2 040 4 080 km
-1 a 0
1 : 204 000 000
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Sem informação

DA EDITORA
TAXA MÉDIA ANUAL DO BRASIL
DE VARIAÇÃO POPULACIONAL (%), 2020-2025 (PROJEÇÃO DE VARIANTE MÉDIA)

Círculo Polar Ártico

Trópico de Câncer

OCEANO
OCEANO
PACÍFICO
PACÍFICO
Equador

OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO ÍNDICO
Taxa de mudança (%)
Trópico de Capricórnio
5 a 10 N
Meridiano de Greenwich

4a5
3a4
O L
2a3 Fonte dos mapas: ONU.
1a2
S
Perspectivas para a
0a1
população mundial,
-1 a 0 Círculo Polar Antártico
0 2 040 4 080 km 2019. Disponível em:
Menos de -1
1 : 204 000 000 https://population.un.
Sem informação
org/wpp/. Acesso em:
13 jun. 2020.

Não escreva no livro. 75


Fluxos migratórios mundiais
Por que as pessoas migram? Essa é uma indagação relevante para compreendermos o
fenômeno da migração nos dias atuais, uma das variáveis mais complexas da dinâmica
populacional, conforme vimos brevemente na unidade anterior.
Ao contrário dos eventos únicos de nascimento e morte, que definem a vida de um indiví-
duo, a migração pode ser um evento múltiplo, ou seja, ao longo de sua existência uma pessoa
pode migrar diversas vezes, dependendo do contexto socioespacial em que está inserida. A
mobilidade é inerente a todas as populações, a menos que existam políticas ou outros fato-
res específicos que limitem ou controlem os deslocamentos em determinado território. No
entanto, alguns povos parecem se mover mais que outros e de maneiras diferentes, o que
pode estar intimamente ligado ao nível de desenvolvimento de um país, que, por sua vez,
está relacionado à distribuição da população nele.
De acordo com Relatório de Migração Mundial publicado pela Organização Internacional
para as Migrações (OIM), órgão pertencente à estrutura da Organização das Nações Unidas
(ONU), em 2020, é cada vez maior o número de migrantes em busca de melhores oportuni-
dades de vida em outros países. Segundo o documento, em 2019, havia cerca de 272 milhões
de migrantes internacionais no mundo. Isso equivale a 3,5% da população mundial.
Os fluxos migratórios internacionais podem ter diferentes motivações. As migrações volun-
tárias estão, geralmente, ligadas ao desejo do migrante de alçar melhores condições de vida,
empregos e salários. Muitas vezes, esse deslocamento é feito para ajudar as famílias que
permanecem nos países de origem. Segundo dados do Banco Mundial, em 2017, cerca de
US$ 600 bilhões foram enviados de imigrantes para familiares que permaneceram em sua
terra natal. Os Estados Unidos são um dos destinos mais procurados por imigrantes com essa
motivação. Em 2016, o montante enviado por imigrantes vivendo nesse país foi de US$ 60
bilhões.
Nesse contexto, a imigração por motivação econômica revela que sua abrangência e relevân-
cia vão além da necessidade individual, pois envolvem uma rede ampla de pessoas e até mesmo
de economias nacionais, que passam a depender das verbas decorrentes do trabalho desses
imigrantes. Essa dependência ficou explícita de uma forma dramática em 2020, quando a pan-
demia provocada pelo Sars-CoV2 levou a uma paralisação econômica mundial, a qual afetou
gravemente a fonte de renda de famílias que dependiam do dinheiro enviado por parentes que
haviam imigrado para outros países. Leia o trecho a seguir.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO–BRASIL
A pandemia e as medidas do governo para combatê-la – está acabando com essa forma de
sustento remoto em todo o mundo. Enquanto milhões de trabalhadores nos Estados Unidos e
em outros países veem uma redução nas jornadas e salários (quando conseguem manter o em-
prego), muitos deixaram de contribuir com o sustento de parentes e amigos em seus países de
origem, que dependem dessas remessas para sobreviver.
Imigrantes e outros trabalhadores enviaram para casa cerca de U$ 689 bilhões em remessas
globais em 2018, de acordo com o Banco Mundial, ajudando a reduzir a pobreza nos países em
desenvolvimento, aumentando os gastos dos lares com ensino e saúde, e ajudando a manter sob
controle o descontentamento político e social.
Mas os analistas preveem agora que as quarentenas anunciadas por governos e outras res-
postas à pandemia vão reduzir muito as remessas esse ano [2020] – uma desaceleração que já
começou. O Banco Mundial disse [...] que as remessas globais devem ter queda de aproximada-
mente 20% este ano, no “declínio mais acentuado da história recente”.
Uma queda substancial nas remessas pode ter impactos amplos em alguns países pobres e em
desenvolvimento, causando não apenas dificuldades econômicas mas também tensões políticas
e sociais, disse Roy Germano, professor de relações internacionais na Universidade de Nova York.
SEMPLE, Kirk. Paralisação econômica interrompe fonte de renda importante para famílias imigrantes.
O Estado de São Paulo, 26 abr. 2020. Disponível em: https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,paralisacao
-economica-interrompe-fonte-de-renda-importante-para-familias-imigrantes,70003283521. Acesso em: 2 ago. 2020.

76 Não escreva no livro.


As migrações e o trabalho
Dos 272 milhões de migrantes internacionais no ano de 2019, 74% estavam em idade
de trabalho, ou seja, tinham de 20 a 64 anos. A Índia foi o país com o maior número de
pessoas vivendo no exterior (17,5 milhões), seguida pelo México (11,8 milhões) e pela
China (10,7 milhões). O principal país de destino foram os Estados Unidos (50,7 milhões
de migrantes estrangeiros).

OS 20 DESTINOS (À ESQUERDA) E ORIGENS (À DIREITA) MAIS IMPORTANTES DOS


MIGRANTES INTERNACIONAIS EM 2019 (EM MILHÕES)

DAE
Migrantes residentes (em milhões) Migrantes no exterior (em milhões)
Estados Unidos Índia
Alemanha México
Arábia Saudita China
Federação Russa Federação Russa
Reino Unido Síria
Emirados Árabes Unidos Bangladesh
França Paquistão
Canadá Ucrânia
Austrália Filipinas
Itália Afeganistão
Espanha Indonésia
Turquia Polônia
Índia Reino Unido
Ucrânia Alemanha
África do Sul Casaquistão
Casaquistão Territórios Palestinos
Tailândia Mianmar
Malásia Romênia
Jordânia Egito
Paquistão Turquia
0 20 40 60 0 5 10 15 20

Fonte: ORGANIZAÇÃO Internacional para as Migrações (OMI). Relatório mundial sobre migração 2020.
Disponível em: https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf. Acesso em: 13 jun. 2020.

O relatório da OIM destacou que, entre os trabalhadores migrantes no mundo, o número


de homens é superior ao de mulheres. Em relação a esse recorte, observa-se que em países
MATERIAL
de baixa e média rendaDE
osDIVULGAÇÃO
homens são maioria. Nos países de alta renda, as divisões de
gênero são mais equilibradas.
DA EDITORA DO BRASIL
Ainda segundo o relatório, em termos geográficos, 99,6 milhões ou quase 61% de todos os
trabalhadores migrantes residiam em três sub-regiões: América do Norte; Estados e territórios
árabes – Bahrein, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Catar, Arábia Saudita, Síria, Emirados
Árabes Unidos, Iêmen e Territórios Palestinos; e Europa do norte, sul e ocidental. É notável o
desequilíbrio de gênero entre os trabalhadores migrantes em duas
Ymgerman/iStockphoto.com

regiões: sul da Ásia (6 milhões de homens em comparação com


1,3 milhão de mulheres) e Estados árabes (19,1 milhões de homens
em comparação com 3,6 milhões de mulheres).
A região que compreende os Estados e territórios árabes é um
destacado destino dos trabalhadores migrantes. Nos Estados do
Golfo, mais de 95% da força de trabalho absorvida pela cons-
trução civil e pelo trabalho doméstico é formada por mão de obra
migrante.
Embora na América do Norte e em partes da Europa haja
grande demanda por trabalhadores menos qualificados, nessas  Imagem de 2018 mostra a construção do
Museu do Futuro em Dubai, nos Emirados
regiões se destaca a migração de cérebros, ou seja, pessoas de Árabes Unidos, país que recebe muitos
alta qualificação profissional. trabalhadores de outros países.

Não escreva no livro. 77


Conexões

GRANDES PANDEMIAS DA HISTÓRIA


E SEU IMPACTO NAS POPULAÇÕES
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que caracteriza uma pandemia é sua abran-
gência global, ou seja, a existência de surtos da doença espalhados por vários países ao mesmo tempo,
independentemente de sua letalidade.
Conforme podemos observar no infográfico exibido a seguir, diversas doenças infecciosas se espalha-
ram ao redor do mundo ao longo da história, resultando na morte de milhares de pessoas.

Daniel das Neves


UM HISTÓRICO DAS PANDEMIAS | As grandes epidemias e suas consequências
Taxa de mortalidade
•0
Peste Antonina | 165 - 180 | 5 M • 200 À medida que os seres
• 400
Praga de Justiniano | 541 - 542 | 30 - 50 M • 500 humanos se espalharam pelo
• 600 planeta, as doenças
Epidemia de Varíola Japonesa | 735 - 737 | 1 M • 700
• 800 infecciosas têm sido uma
• 900 constante. E esses surtos
• 1000 persistem na era moderna.
• 1100
• 1200 Aqui, algumas das doenças
• 1300
Peste Negra | 1347-1351 | 200 M • 1400 que fizeram mais vítimas na
• 1450
• 1500
história.
Varíola | 1520 | 56 M • 1550
• 1600
• 1625
A Grande Praga de Londres
• 1650
Século XVII | 1665 | 3 M
• 1675
A Grande Praga de Londres • 1700
Século XVIII | 1700 | 600 K • 1725
• 1750
• 1775
Sexta Pandemia de Cólera
| 1817 - 1923 | 1 M • 1800

• 1825

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Terceira Pandemia
de Peste Negra
• 1850
Gripe Russa
DA EDITORA DO BRASIL
| 1855 | 12 M • 1875 | 1889 - 1890 |
1M
Febre Amarela • 1900
| Final dos anos 1800 | Gripe Espanhola
100 - 150 M Gripe de • 1925 | 1918 - 1919 |
Gripe Asiática Hong Kong 40 - 50 M
| 1957 - 1958 | | 1968 - 1970 | • 1950
Mers 1,1 M 1M
| 2015 - Atual | Gripe Suína
HIV/AIDS 850 M ou K | 2009 - 2010 | • 1975
| 1981 - Atual | 200 K
25 - 35 M
Sars • 2000
Ebola
| 2014 - 2016 | | 2002 - 2003 | Novo Coronavírus COVID -19
770 | 2019 - Agosto 2020| 848 K
11,3 K
• 2025

Fonte: LEPAN, Nicholas. Visualizando a história das pandemias. Disponível em: www.visualcapitalist.com/history-of-pandemics-deadliest/. Acesso em: 24 jun. 2020.

Uma das mais recentes pandemias a atingir o mundo foi causada pela Covid-19. A doença, diagnostica-
da pela primeira vez no final do ano de 2019, seis meses depois já havia atingido 181 dos 193 países do
mundo.
Mas como é possível lermos as informações de gráficos que exibem a disseminação da Covid-19? Quan-
do os números absolutos são elevados, uma opção é apresentar os dados numa escala logarítmica, em vez
de mostrar na escala linear, que é mais comum. A seguir, apresentamos um gráfico linear e um gráfico
logarítmico com dados de óbitos decorrentes da Covid-19 em alguns estados do Brasil.

78 Não escreva no livro.


Ilustrações: DAE
GRÁFICO 1: ESCALA LINEAR GRÁFICO 2: ESCALA LOGARÍTMICA

Óbitos acumulados (Quantidade) Óbitos acumulados (Quantidade)


25 mil 100 mil

20 mil 10 mil

1 mil
15 mil

100
Óbitos

Óbitos
10 mil

10

5 mil

0
0,1
di 1
di 5

di 13

di 21
di 25

di 37

di 57
di 61

di 85
89
di 17

di 33

di 41
di 45
di 49
di 53

di 65
di 69

di 77
di 9

di 73

di 81
di 9
a

2
a
a
di

a
a

a
a

a
a

a
a

a
a
a
a

a
a

a
a

di 1
di 5

di 85
di 13

di 37
di 21
di 25

di 57
di 61
di 17

di 33

di 41
di 45
di 49
di 53

di 65
di 9

di 77
di 9

di 73

di 81

89
di 9
a

6
2
a

Dias desde o início da pandemia


a
di

a
a
a
a

a
a
a

a
a
a
a

a
a

a
a

a
Dias desde o início da pandemia

GRÁFICO 3: REGRESSÃO
Previsão de óbitos
40 000 óbitos

35 000 óbitos

30 000 óbitos

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO 25 000 óbitos

DA EDITORA DO BRASIL 20 000 óbitos

15 000 óbitos

10 000 óbitos Óbitos

5 000 óbitos Previsto

0 Dobra no no
 
2 9 16 23 30 6 13 20 27 4 11 18 25 1 8 de óbitos
mar. mar. mar. mar. mar. abr. abr. abr. abr. maio maio maio maio jun. jun.

Fonte dos gráficos: FIOCRUZ. MonitoraCovid-19. Disponível em: https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/. Acesso em: 12 jun. 2020.

ATIVIDADES
•• Observe atentamente os gráficos acima e faça o que se pede:
a) Identifique o que os eixos representam nos gráficos.
b) Os gráficos 1 e 2 exibem os mesmos dados, mas em escalas diferentes. Explique como a apresentação
dos dados influencia em sua interpretação e nas conclusões que podemos inferir de um gráfico.
c) O gráfico 3 exibe uma regressão, ou seja, a previsão do comportamento do fenômeno representado, de
acordo com os dados já disponíveis. Comente a pertinência de se traçarem previsões acerca do com-
portamento de uma pandemia.

Não
Não escreva
escreva no
no livro.
livro. 79
As migrações e as relações internacionais
Nas últimas duas décadas, assistiu-se a um uso político dos debates sobre os fluxos
migratórios internacionais por parte de alguns líderes mundiais. Assim, certos aspectos
têm sido usados para mobilizar a opinião pública, sobretudo com o objetivo de promover
uma oposição ao recebimento de imigrantes, utilizando diferentes formas de legitimar esse
discurso, como o receio de um afluxo de massas de imigrantes de países em desenvolvi-
mento; o medo dos países da União Europeia de uma invasão por cidadãos de novos paí-
ses-membros a cada ampliação de seu quadro de participantes; as supostas consequências
negativas do afluxo de imigrantes para as economias e sociedades nacionais; a suscetibi-
lidade a ações terroristas e outros tipos de situações que podem colocar em risco a vida e
a segurança da população local etc.

Alexandru Nita/Shutterstock.com
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Um importante afluxo de imigrantes é o dos países do Leste Europeu que buscam a Europa ocidental. Plataforma de
metrô lotada em Berlim, Alemanha, 2019.

Todos esses exemplos ilustram, de um lado, os vínculos estreitos entre questões econô-
micas, políticas e sociais, e, de outro, a mobilidade. Mais que nunca, portanto, a migração é
um tema com conotações psicológicas e econômicas que influenciam fortemente as relações
internacionais.
Contudo, há exemplos de esforços internacionais que se posicionaram de forma favorável
e positiva no recebimento de fluxos migratórios nos últimos anos, sobretudo de pessoas
refugiadas, com vistas, inclusive, a fomentar e dinamizar o mercado de trabalho. Na Alemanha,
por exemplo, país que já sente os efeitos de um crescimento populacional perto de zero,
(dados do Banco Mundial), decorrente do estágio avançado na transição demográfica, a
entrada desses refugiados é vista por alguns setores como uma possibilidade de compensa-
ção desse decréscimo, visando contribuir para a dinamização da economia, que pode sofrer,
a longo prazo, os efeitos de uma força de trabalho que se encolhe a cada ano.

80 Não escreva no livro.


Uma projeção da Comissão Europeia, uma das instituições políticas da União Europeia,
projetou uma queda de mais de 11 milhões de pessoas entre 2013 e 2060, o que elevaria a
patamares preocupantes o índice de dependência do país (a proporção de idosos em relação
aos jovens). Em 2015, um dos anos mais críticos da crise de refugiados em direção à Europa,
o governo alemão chegou a se manifestar dizendo que o país teria condições de receber uma
quantidade expressiva de refugiados por ano, e chamou outros países do continente a acom-
panharem a decisão. Passados cinco anos, contudo, o contexto mudou um pouco e a Alema-
nha tem se mostrado reticente com relação ao recebimento de refugiados, assim como a
União Europeia de modo geral.
O quadro de quedas no crescimento populacional é uma realidade marcante em países
considerados desenvolvidos, atingindo diversos países da Europa e de outros locais do mundo.
Para se ter ideia da gravidade dessa situação, há países, como França e Finlândia, que ofe-
recem recursos financeiros ou subsídios às famílias como forma de incentivo à natalidade.
A entrada de refugiados, nesse contexto, poderia equacionar uma questão sensível para
diversas nações, no que diz respeito às questões econômicas, à reposição populacional e,
consequentemente, à reposição da força de trabalho, além, claro, de oferecer dignidade e
segurança aos refugiados. Contudo, práticas e discursos discriminatórios tem criado sérios
obstáculos a essa possível realidade, embora ela exista em alguns locais.
O que tem preocupado organizações e coletivos engajados com a defesa dos direitos
humanos nos últimos anos é que, em alguns casos, a xenofobia e a resistência aos fluxos
imigratórios e de refugiados não partem apenas da população. Alguns governos também
expressam direta ou indiretamente atitudes xenofóbicas, seja pela defesa da construção de
muros e outros dispositivos que visem limitar a entrada de imigrantes e refugiados, seja pela
aprovação de leis e medidas que possam constranger ou limitar a entrada ou permanência
dessas pessoas.

Família síria aguarda na fronteira após ter recebido asilo na Hungria. Fronteira de Kelebija, Subotica, Sérvia, 2017.

Omar Marques/Anadolu Agency/Getty Images

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

O asilo político no âmbito das relações diplomáticas


Cerca de 3,5 milhões de pessoas buscaram proteção internacional e esperavam a defi-
nição de seus pedidos de asilo político em 2019. Em 2018, em torno de 2,1 milhões de
pedidos dessa natureza foram formalizados junto ao Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados (Acnur). Os países que mais receberam essas notificações foram os Esta-
dos Unidos, o Peru e a Alemanha, respectivamente.

Não escreva no livro. 81


QUANTIDADE DE REFUGIADOS REINSTALADOS POR Parte dos refugiados que obtêm asilo político
PRINCIPAIS PAÍSES DE ACOLHIMENTO DE 2005 A 2018 consegue retornar a seu país de origem quando
(EM MILHARES)
os conflitos cessam ou são amenizados, mas
DAE

Estados Unidos
parte é reassentada nos países de acolhimento.
Canadá, Estados Unidos e Austrália são os países
Canadá
que mais reassentaram refugiados do mundo
Austrália nas últimas décadas. Em 2018, aproximadamente
92 400 refugiados foram admitidos para reas-
Reino Unido
sentamento em diversos países do mundo, sendo
Noruega os sírios, congoleses e eritreus os principais
Suécia beneficiários.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 Conforme exibe o gráfico, com quase 23 mil
milhares
refugiados reassentados em 2018, foi a primeira
2018 2015 2010 2005 vez que, desde 1980, os Estados Unidos não foram
o principal país de reassentamento. O declínio sig-
Fonte: ORGANIZAÇÃO Internacional para as Migrações (OMI). Relatório mundial nificativo no número de refugiados ali reassentados
sobre migração 2020. Disponível em: https://publications.iom.int/system/files/
pdf/wmr_2020.pdf. Acesso em: 13 jun. 2020. deveu-se a uma redução substancial no número
máximo de admissão de refugiados por ano e à
maior rigidez na triagem de segurança para refugiados de países considerados de “alto risco”.
Com isso, o Canadá se tornou o principal país de reassentamento em 2018, com pouco mais de
28 mil refugiados reassentados.

O impasse que envolve os apátridas


Na avaliação da OIM, os apátridas não são reconhecidos como cidadãos por nenhum Estado.
Por causa disso, eles enfrentam dificuldades para ter acesso a serviços básicos como educação
e assistência médica. Eles também encontram obstáculos ao procurar assistência básica, como
saúde e educação, reforçando situações de discriminação e marginalização social.
Embora os apátridas não sejam necessariamente migrantes, sua situação, que envolve
vulnerabilidade e falta de direitos, pode levá-los a migrar, internamente ou através das fron-
teiras, muitas vezes de maneira irregular, devido aos obstáculos significativos para obter
documentos de viagem e acessar rotas regulares de migração.
No ano de 2018, os dados do relatório da OIM apontavam a existência de 3,9 milhões de
MATERIAL DEcondição
pessoas na DIVULGAÇÃO
de apátridas. Bangladesh seria o país com maior número (cerca de 906
DA
milEDITORA
pessoas),DO BRASIL
seguido pela Costa do Marfim (692 mil pessoas) e Mianmar (620 mil pessoas).

PRINCIPAIS POPULAÇÕES DE APÁTRIDAS PELOS 10 MAIORES PAÍSES DECLARANTES ATÉ 2018


DAE

Bangladesh

Costa do Marfim

Mianmar

Tailândia

Letônia

Síria

Kuwait

Uzbequistão

Estônia
População total em milhares
Federação Russa
Proporção da população nacional (%)
15 10 5 0 5 10 15
milhares
Fonte: ORGANIZAÇÃO Internacional para as Migrações (OMI). Relatório mundial sobre migração 2020. Disponível em: https://publications.
iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf. Acesso em: 13 jun. 2020.

82 Não escreva no livro.


Atividades

1. Leia o trecho a seguir e explique as possíveis influências que o nível de desenvolvimento


socioeconômico exerce sobre a dinâmica das taxas de natalidade, de fecundidade e de
mortalidade nas diferentes regiões do Brasil.

Embora o fenômeno das mudanças populacionais [transição demográfica] seja generalizado no


país [Brasil], ele não acontece ao mesmo tempo em todas as regiões do país, fazendo-se necessá-
rios olhares diversos em meio a uma conjuntura de desigualdade social e territorial.
IBGE. Mudança demográfica no Brasil no início do século XXI: subsídios para as projeções da população.
Rio de Janeiro: IBGE, 2015.

2. Examine o gráfico a seguir, identifique os países com os maiores saldos positivos e


negativos de migração internacional. Qual é a relação entre o nível de desenvolvimento
econômico e as causas de atração ou repulsão de população por parte dos países.

SALDO MIGRATÓRIO INTERNACIONAL NO PERÍODO 2010-2020 E RENDA NACIONAL


BRUTA ANUAL PER CAPITA

DAE
Os países com maior saldo migratório são países de renda alta ou média-alta
10

Estados Unidos

Alemanha
Saldo migratório líquido internacional (em milhões)

Federação Turquia
Russa Reino Unido
Arábia
Canadá
África do Sul Saudita
Iraque Omã Itália Austrália
Líbano O tamanho da bolha é proporcional
Jordânia ao tamanho da população em 2019.
0 África Subsaariana
Mianmar
Nepal Norte da África e Ásia ocidental
Zimbábue Filipinas
Ásia central e setentrional
Paquistão
MATERIALBangladesh
DE DIVULGAÇÃO
China Leste e sudeste da Ásia
Venezuela
-5 DA EDITORAÍndiaDO BRASIL
América Latina e Caribe

Oceania*

Austrália/Nova Zelândia
Síria
Europa e América do Norte

Fontes de dados: Divisão de População do


Departamento de Assuntos Econômicos
-10 Renda Renda e Sociais da ONU (2019). Perspectivas da
Renda baixa média-baixa média-alta Renda alta População Mundial 2019. Os dados da renda
nacional bruta (RNB) são do Banco Mundial
$150 $400 $1 000 $3 000 $8 000 $20 000 $60 000 $160 000 (2018). Indicadores de Desenvolvimento
Mundial. RNB per capita, método Atlas.
Renda Nacional Bruta per capita (escala logarítmica) * excluindo Austrália e Nova Zelândia.

Fonte: ONU. Perspectivas da população mundial 2019: destaques. Disponível em: https://population.un.org/wpp/Publications/Files/
WPP2019_Highlights.pdf. Acesso em: 13 jun. 2020.

3. A transição demográfica é um processo que descreve como o crescimento de determinada


população se desenvolve. Escolha dois países (um desenvolvido e outro em desenvolvi-
mento) e faça uma pesquisa sobre o estágio do país na transição demográfica. Aponte
dados e tente estabelecer uma possível projeção para os próximos anos.

Não escreva no livro. 83


3
UNIDADE
O enfraquecimento dos
estados e das fronteiras

O PODER PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS DO ESTADO


A política diz respeito ao território das interações sociais delineadas pelas relações de
poder do Estado sobre os indivíduos. O que isso quer dizer? Que no terreno político há meios
que garantem a influência e o controle do Estado sobre o comportamento dos indivíduos que
compõem determinada sociedade. O conjunto desses meios de controle constitui o poder
estatal, formalizado em instituições, leis, normas e sanções.
Esses meios de controle estão restritos ao âmbito do Estado? O poder é somente poder
político? Ou outras formas de poder estão presentes nos demais territórios da vida social? A
seguir, serão apresentadas reflexões de dois filósofos contemporâneos que auxiliam no exame
dessas questões.

Michel Foucault e as tecnologias do poder


Michel Foucault (1926-1984) considera que o poder político exercido pelo Estado é
uma das formas de poder e de relações de poder. Ele destaca que o poder não é algo em
si, mas se constitui em um conjunto de mecanismos e procedimentos que têm como fun-
ção manter o próprio poder.
Assim, conforme aponta Foucault, existem múltiplas
Underwood Archives/Getty Images

relações de poder na vida social, as quais estão fora dos


limites do Estado e sequer se originam nele. Ao contrário,
os mecanismos de controle estão presentes e funcionam
nos níveis mais elementares da vida social, como a famí-
lia, e, em determinadas circunstâncias, se tornam política
ou economicamente vantajosos.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
As relações de poder se estabelecem por meio de ins-
DA EDITORA DO BRASIL tituições sociais, como a família, os locais de trabalho,
as escolas, as prisões e os manicômios. Manifestam-se
também nos discursos das Ciências, do Direito, nas prá-
 Penitenciária de Stateville. Partes dessa prisão foram ticas médicas e nas formas de controle sobre o corpo e
projetadas conforme o conceito de panóptico, idealizado sobre a sexualidade dos indivíduos.
pelo filósofo Jeremy Bentham (1748-1832). Crest Hill,
Estados Unidos, 1928.

O panóptico e a busca pelo controle


Panóptico é o modelo de instituição penal idealizado pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham, em 1785. Nes-
se modelo, o controle se dá com base em uma guarita erguida no alto do espaço central do edifício, com as celas ao
redor dela. Desse centro, segundo Foucault, se exerce uma vigilância perfeita, pois todas as celas são vistas e se de-
monstra, claramente, que há vigilância. Em razão dessa visibilidade total, o prisioneiro se sente vigiado, sendo, por
isso, controlado, disciplinado e domado.
Em seus escritos, Foucault chamou a atenção para a semelhança entre a arquitetura das prisões e as de muitas
escolas, fábricas e hospitais.

84 Não escreva no livro.


Funcionando e se exercendo em rede, o poder está em todas as partes da vida social não
porque englobe todas elas, mas porque provém de todas elas. A própria constituição da indi-
vidualidade, seu corpo, seus gestos, discursos e desejos são efeitos do poder. Os indivíduos,
que exercem e sofrem a ação do poder, são eles próprios seu centro de transmissão.
Foucault aponta que desde o final do século XVIII duas tecnologias de poder se articulam
na vida social. Uma, centrada no corpo, produz efeitos individualizantes ao controlar os cor-
pos para torná-los simultaneamente úteis e dóceis por meio da vigilância e do treinamento.
Outra, centrada na vida, visa controlar eventos que podem atingir contingentes populacio-
nais. Tem-se, portanto, uma tecnologia disciplinar própria às instituições e uma tecnologia
previdenciária que exerce a biorregulamentação por meio do Estado. Disciplina e regulação
integram o que Foucault denomina de biopolítica.
De acordo com o filósofo, dessa tecnologia do poder centrada na vida emerge uma socie-
dade normalizadora. As normas tanto podem ser aplicadas aos corpos que se pretende dis-
ciplinar quanto à população que se pretende regulamentar. Opera-se a regulação das
comunidades por meio do uso intensivo de estatísticas e modelos de previsão comportamen-
tal, da demografia e da medicina sanitária, que se expressam em normas que garantem a
longevidade da população, em formas de controle de natalidade, em sistemas de seguridade
social, nos cuidados dirigidos às crianças e na escolaridade da população.
Dessa forma, a biopolítica se dá pela administração da vida e dos modos de viver, por
meio de normas institucionais e informais que modelam os espaços das relações. Espa-
lhadas pela vida social, em seus vários contextos, funções e instrumentos, essas relações
possibilitam o exercício do controle total. Assim é realizado, de maneira administrada, o
ideal do panóptico, criando uma norma social geral de vigilância dos corpos e dos movi-
mentos individuais e populacionais.

Gilles Deleuze e a sociedade de controle


O filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) aprofunda a análise de Foucault e afirma que a
sociedade disciplinar, que vigorou do século XVIII até o início do século XX, vem sendo subs-
tituída pela sociedade de controle. As sociedades disciplinares organizam grandes meios de
confinamento, cada qual com suas leis: a família, a escola, o exército, a fábrica, o hospital, a
prisão. O projeto ideal desses meios de confinamento se mostra visível sobretudo na fábrica:
concentrar, distribuir no espaço, ordenar no tempo, constituir força produtiva.
Porém, apósMATERIAL
a Segunda DEGuerra
DIVULGAÇÃO
Mundial (1939-1945), as sociedades disciplinares entraram
DA EDITORA
em crise, cedendo DO BRASILde controle, que operam pelo controle contínuo e pela
lugar às sociedades
comunicação instantânea. Há, assim, outra organização societária, caracterizada pela reconfi-
guração das fronteiras que delimitavam as instituições e por remodelar o espaço e o tempo
com base em uma abertura que amplia os limites do poder.

 Câmeras de vigilância na Exposição Agropecuária de Londrina, PR, 2019. As câmeras de segurança podem ser
comparadas com o processo de transição entre a “sociedade do disciplinamento” de Foucault e a “sociedade de
controle” de Deleuze.
Sergio Ranalli/Pulsar Imagens

Não escreva no livro. 85


As instâncias de confinamento operavam, cada
Sergio Pedreira/Pulsar Imagens

qual, uma moldagem. A família, a escola, a fábrica,


a prisão e o hospital, por exemplo, formatavam os
indivíduos, cada qual conforme suas regras. Dessa
forma, o indivíduo estava sempre se reconfigurando,
pois transitava de um espaço fechado a outro. Nas
sociedades de controle, as instâncias são flexíveis e
se interpenetram. Assim, se nas sociedades discipli-
nares os indivíduos estavam sempre recomeçando
– da família para a escola, da escola para a fábrica,
por exemplo –, nas sociedades de controle eles nunca
terminam nada. No que se refere à escola, a forma-
 Para Deleuze, a aprendizagem nos moldes atuais não termina. ção permanente implica que a aprendizagem não
Trata-se de um processo continuado de formação. Na foto, alunos
em colégio estadual em Salvador, BA, 2018. tem nível terminal. Quanto à saúde, a prevenção
supõe o constante evitar da doença. Em relação ao
trabalho, os salários diferenciados em razão de prêmios ou méritos fazem com que a instabi-
lidade e a competição incessantes tornem-se fatores motivacionais que contrapõem os indiví-
duos uns aos outros.
As sociedades disciplinares têm dois polos: a assinatura, que indica o indivíduo, e o número
de matrícula, que denota sua posição em uma massa, em uma dada população. Desse modo,
o poder é ao mesmo tempo massificante e individualizante, pois molda a individualidade de
cada membro e conforma todos eles em um corpo único sobre o qual se exerce. Por exem-
plo, na escola, tem-se um sistema de marcações que assinalam as individualidades, como a
matrícula e o número de registro correspondente a ela. Por outro lado, o compartilhamento
dessas marcações entre colegas assinala o pertencimento do indivíduo a grupos idênticos
dentro da instituição, como as séries e as turmas.
Nas sociedades de controle, os indivíduos perdem sua identidade pessoal, pois o essen-
cial não é mais ter a assinatura e um número, mas uma senha. Eles se tornam divisíveis, pois
a linguagem digital lhes permite ou recusa o acesso a algo. Os contingentes populacionais se
tornam, por sua vez, amostras, dados.
Desse modo, a nova configuração social se estrutura com base no controle que se exerce com-
binando a individuação codificada com uma ordem de classificação totalizante. Os sistemas de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃOreduzem os indivíduos a um conjunto de dados abstratos que tradu-
controle progressivamente
zem
DA seu viverDO
EDITORA emBRASIL
informações comportamentais e em frequência e modos de atividade.
Assim, quando se compra algo em determinado site, ao funcionar como via de acesso e comu-
nicação com o fornecedor, esse local na internet serve simultaneamente de instância que gera
dados relativos a quem o acessou. Dessa maneira, ao sistema de controle interessa tanto o que
se buscou quanto o modo, ou seja, a regularidade temporal, con-
Leo Burgos/Pulsar Imagens

textual e comportamental que está relacionada à mercadoria ou à


informação buscada.
O conjunto de atos complexos de um indivíduo se reduz,
dessa maneira, a dados que podem ser cruzados com outros,
obtidos com base em seus comportamentos em situações
diferentes. Isso permite, na sociedade de controle, a compa-
ração estatística das regularidades verificadas no comporta-
mento dos outros indivíduos.
O meio de acesso à informação torna possível, na atualidade,
 Aparelho de GPS, 2019. O geoprocessamento é um a criação de um sistema de poder não pessoal, formal e sem
mecanismo de orientação dos indivíduos na rosto. Esse modo de controle é exercido por meio da própria
espacialidade em que eles habitam. No entanto,
rede integrada de relações e de mediações tecnológicas pelas
é ao mesmo tempo um sistema de controle e
gerenciamento social dos movimentos. quais os indivíduos interagem.

86 Não escreva no livro.


Assim, a interatividade tecnológica em rede, por exemplo, que medeia a
interação intersubjetiva nos diversos níveis e dimensões sociais da vida, cria
um ambiente em que o acesso à informação é em si mesmo um modo de
controle sobre esta. Esse ambiente é o novo panóptico.
Deleuze liga a sociedade de controle à nova configuração do sistema capita-
lista. Conforme ele afirma, somente o mercado é universal no capitalismo. Os
Estados são as sedes desse mercado universal. A forma atual do capitalismo
não é mais dirigida à produção, que ficou relegada aos países periféricos. Nos
países economicamente centrais, trata-se de um capitalismo de sobreprodu-
ção, em que não se compra mais matéria-prima para a produção e a venda de
produtos, e sim produtos acabados ou peças para montagem.
Andrew Kelly/Reuters/Fotoarena

 Painel da Bolsa de Valores de Nova


York, Estados Unidos, 2020. No
capitalismo atual, elementos como
família, escola, exército e fábrica se
convertem em cifras.

O objetivo do capitalismo de sobreprodução é vender serviços e comprar


ações. Assim, é um capitalismo voltado ao mercado, motivo pelo qual se tor-
nou essencialmente disperso pelo mundo. Os antigos espaços, como a famí-
lia, a escola, o exército e a fábrica, que convergiam para um proprietário, um
Estado ou uma potência privada, transformaram-se em cifras de uma mesma
empresa – o mercado – que só tem gerentes.
O marketing se transformou em um instrumento de controle social. Enquanto
o poder disciplinar tem longa duração, esse controle é de curto prazo e de O que é marketing?
rápida rotação, mas também contínuo e ilimitado. Estratégia empresarial de
A realização do indivíduo, de suas demandas mais simples aos desejos otimização de lucros por meio
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
mais complexos, passa necessariamente por esse sistema de controle. E
da adequação da produção e
da oferta de mercadorias ou
isso ocorre de DA EDITORA
tal forma queDO BRASIL
permite ao sistema de produção social da vida serviços às necessidades e
incidir sobre a própria atuação dos indivíduos. Uma vez que no momento preferências dos consumidores,
atual é possível acompanhar as relações coordenadas interligadas e interli- recorrendo a pesquisas de
mercado, design, campanhas
gáveis, torna-se real também conseguir a indução plena do comportamento, publicitárias, atendimentos
seja por meio de esquemas comunicativos manipulados, seja por meio do pós-venda etc.
marketing direcionado.
As movimentações dos indivíduos são acompanhadas e orientadas no
sentido reprodutivo do sistema econômico. Esse sistema não contém mais
uma significação de disciplinamento para lugares e funções, mas sim certa
fluidez que expressa o movimento dos capitais pelos mercados. O dinheiro
revela sua face dinâmica, não mais como algo a ser detido, mas sim a ser
movimentado, na circulação dos mercados, que se exprime, por exemplo,
pelos mecanismos dos sistemas de financiamento.
O controle sobre os indivíduos se realiza por meio da inserção deles em um
arranjo moldado com base na financeirização: na forma de capitais, quando
se trata de empresas, na forma de dívidas pessoais, quando se trata dos indi-
víduos tomados isoladamente. Trata-se de um controle de movimento e de
fluxos. Os indivíduos não estão mais confinados, mas endividados.

Não escreva no livro. 87


Atividades

1. Responda às questões no caderno: 3. Leia o texto a seguir:


a) Como você avalia a afirmação de Foucault Não há necessidade de ficção científica para se
de que as relações de poder estão presentes conceber um mecanismo de controle que dê, a cada
instante, a posição de um elemento em espaço aber-
em todas as formas de relações humanas?
to, animal numa reserva, homem numa empresa [...].
Justifique sua resposta.
Félix Guattari imaginou uma cidade onde cada um
b) Dê exemplos de situações da vida cotidiana
pudesse deixar seu apartamento, sua rua, seu bairro,
nas quais se pode identificar o que Foucault graças a um cartão eletrônico [...] que abriria as barrei-
denomina de biopolítica. ras; mas o cartão poderia também ser recusado em tal
2. Considerando os conceitos desenvolvidos pelos dia, ou entre tal e tal hora; o que conta não é a barreira,
autores Foucault e Deleuze acerca da estrutu- mas o computador que detecta a posição de cada um,
ração da sociedade contemporânea, formem lícita ou ilícita, e opera uma modulação universal.
grupos e façam uma discussão sobre os pontos [...]
comuns e diferentes de ambas as concepções: No regime das prisões: a busca de penas “substi-
•• Enumerem os principais pontos que caracte- tutivas”, ao menos para a pequena delinquência, e a
utilização de coleiras eletrônicas que obrigam o con-
rizam:
denado a ficar em casa em certas horas. No regime
a) a sociedade disciplinar, em Foucault; das escolas: as formas de controle contínuo, avaliação
b) a sociedade de controle, em Deleuze. contínua, e a ação da formação permanente sobre a
•• Enumerem aspectos da escola e da vida es- escola, o abandono correspondente de qualquer pes-
colar que têm relação com a disciplina e o quisa na Universidade, a introdução da “empresa” em
controle. todos os níveis de escolaridade. No regime dos hos-
•• A seguir, construam um quadro como o exem- pitais: a nova medicina “sem médico nem doente”,
plificado abaixo, classificando cada um dos que resgata doentes potenciais e sujeitos a risco, que
de modo algum demonstra um progresso em direção
aspectos enumerados no item anterior em
à individuação, como se diz, mas substitui o corpo
relação às teorias de Foucault e de Deleuze.
individual ou numérico pela cifra de uma matéria
“dividual” a ser controlada. No regime de empresa:
Aspectos
Disciplina Controle as novas maneiras de tratar o dinheiro, os produtos
da vida escolar
e os homens, que já não passam pela antiga forma-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Aspecto 1 x -fábrica. São exemplos frágeis, mas que permitiriam
compreender melhor o que se entende por crise das
DA EDITORA DO BRASIL
Aspecto 2 x instituições, isto é, a implantação progressiva e dis-
persa de um novo regime de dominação.
Aspecto 3 x DELEUZE, Gilles. Conversações 1972-1990.
São Paulo: Editora 34, 1992. p. 224-225.
Aspecto 4 x
Em grupos, analisem o texto do filósofo Gilles
Aspecto 5 x x Deleuze e respondam:
a) Até que ponto as realidades descritas no
Aspecto 6 x
texto ocorrem nos dias de hoje, tanto no Bra-
Aspecto 7 x sil como no mundo?
b) Na opinião de vocês, a presença dessas
•• Apresentem a tabela à turma. realidades em muitos países indica que já
•• Por fim, sob a coordenação do professor, está ocorrendo o que o autor chama de “im-
realizem um debate acerca da seguinte plantação progressiva e dispersa de um novo
questão: Da forma como está organizada regime de dominação”?
hoje, a escola é uma instituição de disciplina c) Após a discussão, apresentem as conclusões
ou de controle? do grupo à turma.

88 Não escreva no livro.


DA GUERRA FRIA À NOVA ORDEM MUNDIAL
As bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, lançadas pelo exército dos Estados Unidos
da América (EUA) em 1945, colocaram fim à Segunda Guerra Mundial e marcaram o início à
Guerra Fria. Ao lançá-las, um dos objetivos dos estadunidenses era demonstrar ao mundo
sua força bélica e econômica, a qual foi utilizada para defender e difundir o sistema capita-
lista em um mundo que se recuperava do maior conflito do século XX.
Sovfoto/Universal Images Group/Getty Images

 A missão do cosmonauta soviético Yuri Gagarin (1934-1968), primeiro ser humano a viajar pelo espaço, em abril de
1961, deu início à corrida espacial, em que URSS e EUA rivalizaram.

Mais uma vez, a Europa se via arrasada pela guerra: crises econômicas, estruturais e
sociais foram deflagradas mesmo nos países mais desenvolvidos do continente, como
Inglaterra, França e Alemanha. A configuração política mundial baseada nos grandes
impérios europeus entrava em colapso.
Por outro MATERIAL DE das
lado, a União DIVULGAÇÃO
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) despontou como
grande potênciaDAeconômica
EDITORA DO BRASIL
e militar, mas, diferentemente dos Estados Unidos, baseava-se
em um regime socialista e pretendia expandi-lo. Assim, após um primeiro momento de recu-
peração econômica, os investimentos soviéticos se direcionaram para a indústria bélica e
espacial, como forma de demonstrar seu potencial tecnológico diante de seu novo inimigo.
Nesse contexto, surgiram dois processos que caracterizam a Guerra Fria (1947-1991): a
corrida armamentista, na qual as duas potências investiram fortemente em novas tecnolo-
gias de guerra, sobretudo nas possibilidades destruidoras da energia atômica; e a bipolari-
dade, que, ao opor os regimes capitalista e socialista, levou ao alinhamento de grande parte
dos países do mundo a uma ou outra potência.

Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos


indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre 1945 e
1991. [...] A União Soviética começou os seus testes atômicos em 1949, mas não houve uma guer-
ra direta ou “quente” entre as duas potências. A corrida armamentista pela construção de um
grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante as primeiras décadas da Guer-
ra Fria, estabilizando-se nos anos de 1960 e 1970.
PARADA, Maurício. Formação do mundo contemporâneo: o século estilhaçado.
Rio de Janeiro: Vozes/Ed. da PUC-Rio, 2014. p. 142. (Série História Geral).

Não escreva no livro. 89


A oposição entre Estados Unidos e União Soviética
Com o fim da Segunda Guerra em 1945, foram realizadas as conferências
de Ialta, na Crimeia, e de Potsdam, na Alemanha, nas quais os países ex-
-Aliados – Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra – impuseram sanções
à Alemanha para impedir novos conflitos. Ficou acertado que o país deveria
Comecon: Órgão criado pela URSS fazer reparações financeiras às potências vencedoras e que ficaria submetido
em 1949 com o objetivo de ajudar
economicamente os países sob a um processo de desmilitarização, o fim do Partido Nazista e a um tribunal
sua esfera de influência e destinado a julgar crimes cometidos pelos nazistas durante a guerra.
centralizar a planificação
econômica em torno da produção
A Alemanha foi então dividida em quatro zonas: os países capitalistas ven-
soviética. cedores da guerra (Inglaterra, França e Estados Unidos) formaram a Repú-
blica Federativa Alemã (RFA), também chamada de Alemanha Ocidental,
com capital em Bonn. A região oriental ficou sob o comando da União Sovié-
tica e foi denominada de República Democrática Alemã (RDA) ou Alemanha
Bettmann/Getty Images

Oriental, cuja capital foi chamada de Berlim Oriental. Sob o domínio sovié-
tico, a RDA passou a receber auxílio econômico do Conselho para Assistên-
cia Econômica Mútua (Comecon).
Após as conferências, o primeiro-ministro inglês Winston Churchill (1874-
-1965) declarou, em uma viagem aos Estados Unidos, que havia uma “cor-
tina de ferro” representada pela União Soviética no Leste Europeu, o que
poderia levar a uma hegemonia socialista na região. A afirmação gerou rea-
ções do governo estadunidense.
Em 1947, o presidente Harry Truman (1884-1972) oficializou uma política
 Com a doutrina que leva seu para combater o comunismo e sua expansão, a chamada Doutrina Truman.
nome, Harry Truman colocou os Por meio dela, os Estados Unidos assumiam a liderança dos países capitalis-
Estados Unidos na linha de frente
do combate ao comunismo. tas ocidentais contra o avanço do comunismo. De forma complementar, foi
Washington DC, EUA, 1946. criado o Plano Marshall, que auxiliou economicamente os países europeus
destruídos pela guerra com o objetivo de consolidar o capitalismo na região.

Divisão da cidade de Berlim


Por sua importância estratégica, a cidade de Berlim também foi dividida em duas áreas de influência, uma capitalista,
Berlim Ocidental, e outra comunista,
MATERIAL Berlim Oriental, também chamada Berlim Leste. Para separar as duas áreas da ci-
DE DIVULGAÇÃO
dade, as autoridades de Berlim Oriental construíram, em 1961, o Muro de Berlim, que impedia a passagem de pessoas
de um lado paraDA EDITORA
o outro DO BRASIL
da cidade. Esse muro foi um dos maiores símbolos da Guerra Fria até sua queda, em 1989.

DIVISÃO DE BERLIM APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


AllMaps

13°
Berlim
ALEMANHA
ORIENTAL
N

O L
Berlim
Berlim Oriental S
Ocidental
0 5 10 km

1 : 500 000

52°
Território sob controle estadunidense
Território sob controle britânico
Território sob controle francês
Território sob controle soviético
ALEMANHA
Muro de Berlim, construído em 1961
OCIDENTAL

Fonte: VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral & Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 148.

90 Não escreva no livro.


Formação de alianças militares
Assim como nos períodos que antecederam a Primeira e a Segunda
Guerra, a Guerra Fria se caracterizou pela formação de alianças militares.
Como parte da Doutrina Truman, foi criada em 1949 a Organização do O que é “terceiro mundo”?
Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada por Estados Unidos, Canadá Criado pelo sociólogo e
e outros países capitalistas. Já a União Soviética, em 1955, organizou o economista francês Alfred
Sauvy (1898-1990) em 1952,
Pacto de Varsóvia, que incluía seus aliados comunistas: Polônia, Alema- o termo se referia àqueles
nha Oriental, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária. Dessa forma, países que não pertenciam ao
a Guerra Fria redesenhou o mapa geopolítico mundial em áreas de influên- primeiro mundo capitalista
nem ao segundo, de caráter
cia. O mundo ficou dividido entre os blocos capitalista e soviético e, nesse socialista. Atualmente, a ideia
contexto, surgiu o termo “terceiro mundo”. de “terceiro mundo” caiu em
desuso, sendo relacionada a
Conforme os blocos buscavam estender suas zonas de influência, os ecos
uma visão pejorativa dos
da Guerra Fria também foram sentidos nos países asiáticos. Sob a tutela da países em desenvolvimento.
União Soviética, a região mais ao norte da Coreia se tornou comunista em
1948. As forças estadunidenses reagiram ocupando o sul da Coreia para
impedir o avanço do bloco soviético. O conflito armado, entre 1950 e 1953,
terminou com a divisão da Coreia: a do Norte adotou o comunismo, enquanto
a do Sul se manteve capitalista.
A Indochina Francesa, terrório hoje dividido em Vietnã, Camboja e Laos,
também passou por um processo de disputa entre as potências capitalistas
e comunistas, como veremos a seguir.

Capitalismo e comunismo: o uso da propaganda


Atualmente, grande parte do mundo vive sob a égide do capitalismo, cujos
princípios são: pouca intervenção do Estado na economia, geração em larga
escala de produtos e serviços pelos aglomerados capitalistas com o objetivo
de obter lucros crescentes, direito à propriedade e o incentivo ao consu-
mismo.
Por outro lado, o comunismo defende que não deve haver

Coleção particular
propriedade privada e que todos os bens e meios de produ-
ção devem pertencer ao Estado e ser organizados e distribuí-
MATERIAL
dos exclusivamente por DE
ele.DIVULGAÇÃO
Assim, esse tipo de economia é
planificado pelo Estado, que decide
DA EDITORA DO BRASIL como são feitos os inves-
timentos, quais devem ser os valores dos salários etc.
Durante a Guerra Fria, tanto a União Soviética quanto os
Estados Unidos investiram fortemente em propaganda para
defender suas ideias e combater o sistema oponente. Na
época, os Estados Unidos criaram desenhos animados, his-
tórias em quadrinhos, filmes e cartazes que exaltavam o capi-
talismo e construíam uma imagem dos comunistas como
inimigos e contrários à liberdade. A União Soviética fez o
mesmo, criando campanhas de propaganda, direcionadas
sobretudo ao público jovem, que exaltavam os benefícios do
comunismo. Eram comuns exposições de obras de arte que
valorizavam a saúde, a beleza e a disposição da juventude,
associadas à prática de esportes.

“O Capitão América desafia as hordas


comunistas”. Um exemplo da propaganda
estadunidense durante a Guerra Fria. A revista
Captain America no 78 foi publicada em 1954.

Não escreva no livro. 91


Conflitos e guerras por procuração
Embora o termo “Guerra Fria” leve a acreditar que não houve conflitos
diretos durante o seu decorrer, alguns eventos elevaram a tensão entre as
potências e outros foram caracterizados por confrontos bélicos, como as
chamadas “guerras por procuração”.
Nesse contexto, foi marcante a chamada Crise dos Mísseis, que ocorreu
em Cuba, em 1962. Pouco antes dessa crise, o país era governado por
Fulgêncio Batista (1901-1944), presidente alinhado aos Estados Unidos,
O que são as “guerras por que foi deposto por um movimento revolucionário anticapitalista liderado
procuração”?
por Fidel Castro (1926-2016), contrário à influência estadunidense sobre
Esse termo designa os conflitos
armados conduzidos por o país. Os Estados Unidos intervieram para demover Fidel do poder duas
intermediários de potências vezes, mas fracassaram. Como tentativa de enfraquecer o país, eles impu-
em guerra. No caso da Guerra seram um embargo econômico a Cuba, de modo a impedir suas trocas com
Fria, países e grupos sob
influência dos EUA e da URSS
países capitalistas. Diante disso, Fidel Castro estreitou laços políticos, mili-
guerrearam entre si, sem que tares e econômicos com a União Soviética, aderindo ao comunismo.
as potências se enfrentassem Em 1962, a União Soviética instalou mísseis nucleares na ilha, tendo em
efetivamente. Um exemplo
disso foi a Guerra do vista a posição geográfica estratégica do país no caso de um possível ataque
Afeganistão, de 1979 a 1989, aos Estados Unidos. Esse fato fez aumentar a tensão entre as duas potên-
quando o governo afegão cias, o que fez com que a ilha fosse rodeada por navios militares estaduni-
recebeu o apoio soviético e os
soldados mujahideen da denses. Somente após longas negociações, com a mediação da Organização
oposição foram financiados das Nações Unidas (ONU), a crise teve fim: em troca da retirada de mísseis
pelos estadunidenses. estadunidenses da Turquia e do fim da ameaça a Cuba, o então líder da União
Soviética, Nikita Kruschev, retirou o arsenal daquele país.

A Guerra do Vietnã
A Guerra do Vietnã (1955-1975) foi a mais longa
e emblemática disputa armada ligada à Guerra Fria.
Em 1946, após o fim da Segunda Guerra, a colônia
Biblioteca Nacional da França, Paris. Fotografia: Bridgeman images/Easypix Brasil

da Indochina Francesa havia caído sob domínio japo-


nês, grande potência imperialista asiática. Diante da
ocupação, grupos comunistas liderados por Ho Chi
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Minh se organizaram em guerrilhas para expulsar
os japoneses. Logo, voltaram-se também contra os
DA EDITORA DO BRASIL franceses, que tentavam recuperar o controle colo-
nial da região.
Auxiliadas pela China, então sob o regime comu-
nista de Mao Tsé-Tung, as tropas Vietmihn, como era
chamada a resistência local, saíram vitoriosas da Pri-
meira Guerra da Indochina. Em 1954, o acordo de
paz resultou na divisão do país em Vietnã do Norte,
sob influência comunista, e Vietnã do Sul, sob domí-
nio capitalista.
Aproveitando-se da derrota francesa, as monar-
quias do Laos e do Camboja conseguiram sua inde-
pendência. Porém, as disputas pela reunificação do
país continuaram e, em 1955, formou-se um exér-
cito no Vietnã do Norte, que passou a atacar e inva-
dir o Vietnã do Sul. Os guerrilheiros vietcongues
avançavam com o apoio da União Soviética, enquanto
o Sul resistia com reforços das Filipinas, da Austrá-
 No pôster, um vietcongue derrota um soldado francês, 1946. lia e da Coreia do Sul.

92 Não escreva no livro.


Até 1963, a participação dos Estados Unidos no conflito limitou-se ao envio de armas e
conselheiros militares ao Vietnã do Sul, mas, com a subida ao poder do presidente Lyndon
Johnson (1908-1973) e o ataque feito pelos vietcongues a um navio estadunidense, o país
se envolveu diretamente na guerra. Além do envio de tropas, usou vários tipos de tecnologia
de guerra, entre elas as bombas incendiárias napalm e o agente laranja, que desfolhava as
árvores e dificultava o esconderijo e a defesa dos vietcongues.
A guerra durou um longo período, e milhares de soldados estadunidenses foram enviados
ao Vietnã. Os conflitos eram exibidos pelos canais de televisão aos lares de milhares de famí-
lias, o que fez o mundo todo ver os horrores da guerra. Em 1973, sofrendo desgastes diante da
opinião pública e de manifestações populares, além dos altos gastos com o conflito, o governo
dos Estados Unidos retirou suas tropas do Vietnã. O governo do Vietnã do Sul, por sua vez, não
teve forças para resistir aos vietcongues, o que resultou na reunificação do país sob o regime
comunista. Estima-se que essa guerra tenha deixado cerca de 3 milhões de mortos.

A Guerra Fria e as ditaduras latino-americanas


Durante a Guerra Fria, a América Latina estava entre as regiões disputadas como área de
influência tanto pela União Soviética como pelos Estados Unidos. Na década de 1950, os
estadunidenses desenvolveram uma série de mecanismos para garantir sua influência polí-
tico-econômica na região. Entre esses mecanismos, havia o estabelecimento da Doutrina de
Segurança Nacional, cujas diretrizes visavam barrar o chamado “perigo vermelho” dentro e
fora de suas fronteiras.
A vitória comunista no processo da Revolução Cubana, em 1959, impulsionou ainda mais
a interferência do governo estadunidense na América Latina. A denominada Aliança para o
Progresso, criada em 1961, foi um programa realizado entre o governo dos Estados Unidos
e diversas lideranças de países latino-americanos que buscava melhorar os índices econô-
micos na região e, assim, frear o crescimento das alternativas comunistas.
Nesse contexto, as Forças Armadas apareceram como protagonistas nos cenários políti-
cos da América Latina. Com o apoio de setores da sociedade civil, deram sucessivos golpes
de Estado, instaurando ditaduras civis-militares que tiveram como principal objetivo barrar
qualquer ameaça ao sistema capitalista e aos interesses das classes dominantes. Dessa
maneira, elas foram decisivas para manter a maioria dos países da América Latina sob influên-
cia dos Estados Unidos, interrompendo bruscamente processos de caráter popular que esta-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
vam em marcha.
DA EDITORA DO BRASIL

Daniel Garcia/AFP
Pablo Porciuncula/AFP

 A ditadura no Uruguai teve início em 1973 e


terminou em 1985, deixando muitos
desaparecidos políticos. Estes costumam ser
lembrados anualmente em uma marcha, que,  Na Argentina, a ditadura teve início em 1976, com a derrubada do governo
em 2020, foi substituída por uma cerimônia de Isabelita Perón. A violenta repressão policial era comum nas manifestações
fechada, por causa da pandemia do novo contra o regime, que perseguia e prendia opositores. Buenos Aires,
coronavírus. Montevidéu, Uruguai. Argentina, 1982.

Não escreva no livro. 93


Os governos militares
Entre os países que sofreram ditaduras na América Latina ao longo da segunda metade do
século XX estão Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai. Em cada um desses paí-
ses, a ditadura teve suas especificidades, mas perseguições políticas, torturas, censura às
liberdades individuais e de imprensa foram características comuns. Na década de 1970, a
repressão e a censura foram intensificadas com o funcionamento da Operação Condor, um
serviço internacional de informações, troca de prisioneiros e criminalização de pessoas con-
sideradas comunistas, antipatriotas e subversivas, independentemente de sua nacionalidade.

Joël Arpaillange/Gamma-Rapho/Getty Images


 Faixa com os dizeres “Romper com o pacto de silêncio”, afixada em um antigo centro de tortura e de detenção.
Santiago, Chile, 2016.

No plano interno, a popularidade desses governos estava vinculada a um relativo cresci-


mento econômico, fruto de empréstimos estadunidenses, entre outros fatores de ordem local.
Contudo, no fim dos anos 1970, a maioria dessas ditaduras apresentava sinais de fragi-
lidade e não mais podiam contar com o apoio internacional dos Estados Unidos, que, além
MATERIAL DEnaDIVULGAÇÃO
da derrota Guerra do Vietnã, sofriam crescente pressão para se posicionarem contra os
DA EDITORA DO BRASIL
governos autoritários na América Latina. O contexto apontava para o início do processo de
redemocratização no continente.

O começo do fim da Guerra Fria


A partir da década de 1970 e mais intensamente nos anos 1980, a Guerra Fria se caracteri-
zou pelo predomínio do alinhamento ao capitalismo em grande parte do mundo. Nesse período,
houve forte crescimento econômico, nos moldes capitalistas, tanto em países ricos quanto em
países em desenvolvimento, como o Brasil. Para além das tecnologias bélicas, as empresas pas-
saram a investir em novos setores, como telecomunicações, microeletrônica e biotecnologia.
Enquanto isso, a União Soviética mantinha os investimentos na indústria bélica, e a eco-
nomia planificada entrou em decadência. Do ponto de vista econômico, a corrida armamen-
tista e espacial exigia grandes investimentos estatais, sacrificando o orçamento público. Do
ponto de vista produtivo, as metas na indústria e na agropecuária não eram mais alcançadas
e a população passou a ter dificuldade de adquirir produtos básicos, como alimentos e rou-
pas. Ao mesmo tempo, os países capitalistas esforçavam-se para isolar os soviéticos, apli-
cando embargos ao comércio e sanções aos países que comercializassem com eles. Isso
tudo levou a uma crise de abastecimento e à formação de um mercado paralelo de venda de
produtos básicos contrabandeados.

94 Não escreva no livro.


Reformas e desintegração da URSS
Em 1985, Mikhail Gorbachev (1931-) chegou ao

Andre Durand/AFP
poder na União Soviética e colocou em ação diver-
sos planos para aplacar a crise vivida pelo país e
pelo Leste Europeu, em uma política que ficou
conhecida como perestroika (“reestruturação”). As
ações econômicas de Gorbachev se concentraram
sobretudo na descentralização econômica e polí-
tica, na desmilitarização, na privatização de algu-
mas empresas estatais e na gradual abertura para
empresas multinacionais. Também colocou em prá-
tica medidas de distensão política, como o fim da
censura, a liberdade de presos políticos e o pluri-
partidarismo – acabando com a exclusividade do
Partido Comunista. Essa política foi chamada de
glasnost (“transparência”). Países do Leste Euro-
peu, como a República Tcheca e a Eslováquia, pude-  Com o fim da União Soviética, a população passou por uma
ram se afastar da influência da União Soviética de carestia de alimentos. Na foto, pessoas se aglomeram em uma
modo pacífico. Já outros, como Romênia e Iugos- mercearia para comprar comida para comemorar o Ano-novo.
Moscou, Rússia, 1990.
lávia, passaram por conflitos internos para conse-
guir sua emancipação.
Apesar das mudanças, Gorbachev perdeu popularidade no início da década de 1990,
em boa parte em decorrência da crise econômica que assolava a União Soviética. Foi subs-
tituído por Boris Iéltsin (1931-2007), que colocou fim ao Partido Comunista. Na sequên-
cia, aos poucos, países que faziam parte da União Soviética, como Letônia, Estônia,
Lituânia, Ucrânia e Belarus, tornaram-se independentes, o que levou ao fim da União Sovié-
tica e à criação da Federação Russa.
O término da Guerra Fria foi marcado pela destruição, do muro que dividia Berlim, nos
dias 9 e 10 de novembro de 1989, pela população berlinense, logo após o anúncio da
livre circulação de pessoas entre as duas regiões. O evento conduziu à reunificação da Ale-
manha e simbolizou o fim do bloco comunista e, consequentemente, da Guerra Fria. Com
isso, a globalização também entrou em uma nova fase: a da hegemonia capitalista, que levou
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
o nome de Nova Ordem Mundial.
DA EDITORA DO BRASIL
Jacques Langevin/Sygma/Getty Images

Sovfoto/Universal Images Group/Getty Images

 Os Ministros das Relações Exteriores da


Tchecoslováquia e da Áustria representando
a abertura da fronteira tcheco-austríaca, em
 Jovem quebrando parte do Muro de Berlim, em 10 de novembro de 1989. 17 de dezembro de 1989.

Não escreva no livro. 95


A História terminou?
Após a desagregação do bloco socialista, teóricos vieram a público afirmar que o capitalismo havia vencido e que
a humanidade atingira o “fim da História”. Essa teoria foi publicada em uma revista pelo economista estadunidense
Francis Fukuyama (1952-) e tornou-se bastante popular. Contudo, os diversos conflitos e disputas do século XXI mos-
tram que os Estados Unidos não conseguiram se impor como força hegemônica política e economicamente, tampou-
co o socialismo sumiu por completo. O mundo complexo e descentralizado em que vivemos revela que há muitos pro-
cessos históricos ainda em curso e diversos atores envolvidos.

O que é o terrorismo?
O que é terrorismo Uma das maiores expressões da instabilidade política, das desigualdades
de Estado? econômicas e das disputas entre o global e o local na atualidade é o terro-
Atentados políticos como os rismo. No entanto, não há forma única de definir o que é terrorismo. Aque-
cometidos pelos militares na
instauração de ditaduras na les que buscam conceituá-lo são unânimes em afirmar que o terrorismo
América Latina podem ser envolve ações violentas de grupos organizados contra a população civil ou
considerados terrorismo de contra Estados para atingir algum fim revolucionário, nacionalista, criminoso
Estado. Esse conceito se refere
ao tipo de ameaça ao poder ou religioso. A Organização Mundial das Nações Unidas (ONU), em sua Decla-
constituído com o intuito de ração sobre Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional, define e cri-
gerar incerteza e, ao chegar às minaliza os terroristas da seguinte forma:
vias de fato, conquistar o
poder. Do mesmo modo, atos
violentos de grupos de Atos criminosos pretendidos ou calculados para provocar um estado de
resistência às ditaduras terror no público em geral, num grupo de pessoas ou em indivíduos para
também foram considerados fins políticos são injustificáveis em qualquer circunstância, independente-
terroristas por alguns setores.
Como se vê, o uso do conceito mente das considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial,
de terrorismo parte do ponto étnica, religiosa ou de qualquer outra natureza que possam ser invocadas
de vista do interlocutor, para justificá-los.
podendo ser manipulado de
Declaração sobre Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional (Resolução 49/60 da Assembleia
acordo com disputas de poder.
Geral, par. 3). Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/terrorismo/. Acesso em: 17 jun. 2020.

Mas o que motiva atos terroristas? Quem são os sujei-


David McNew/Getty Images

tos envolvidos nesses atos?


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Ao observar esse fenômeno na contemporaneidade,
DA EDITORA DO BRASIL vemos que há diversas razões que levam grupos ou indi-
víduos a praticar a violência e o estado de terror. O cho-
que de valores e costumes, por exemplo, é interpretado
como o cerne dos conflitos entre grupos extremistas islâ-
micos e o Ocidente. Por outro lado, a luta pela indepen-
dência levou alguns grupos separatistas a adotar
estratégias agressivas contra os países a que estão sub-
metidos, muitas vezes atingindo a população civil. É o
caso do grupo Pátria Basca e Liberdade (ETA) e do Exér-
cito Republicano Irlandês (IRA), que veremos a seguir.
Há ainda aqueles que usam do terror como forma de pro-
testo contra sistemas econômicos, regimes de poder e
grupos sociais específicos.

 Uma multidão se reuniu em homenagem às vítimas do


atentado terrorista na casa nortuna Pulse, em Orlando,
nos Estados Unidos, em 2016. Mais de cem pessoas
foram atingidas a tiros em um ato dirigido à comunidade
LGBTQIA+ que frequentava o local.

96 Não escreva no livro.


Pátria Basca e Liberdade (ETA)
O Euskadi Ta Askatasuna (ETA), que quer dizer “Pátria Basca e Liberdade”, na língua basca,
fundado em 1959, foi uma das organizações independentistas mais ativas durante as déca-
das de 1960 e 1970. O objetivo do grupo era tornar independente da Espanha a região do
País Basco, localizada entre o norte da Espanha e o sudoeste da França. A cultura comum à
região e as tradições locais levaram a um exacerbado sentimento nacionalista dos bascos,
que fez com que muitos seguissem a via da violência. O ETA surgiu como uma reação à dita-
dura totalitária espanhola de Francisco Franco (1936-1975), que proibiu manifestações de
culturas regionais e o uso de outros idiomas que não o espanhol.
O grupo agia por meio de assassinatos de políticos, comandantes e militares ligados
ao regime franquista. Com relação a ataques contra civis, o mais significativo ocorreu em
Barcelona, quando bombas foram explodidas em um supermercado, atingindo dezenas
de pessoas, em 1987.
Em 2011, membros do movimento colocaram fim às suas atividades e, em 2018, desar-
maram-se publicamente.

Keystone/Getty Images

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA em
 Cena de devastação EDITORA DOumBRASIL
Madri, após atentado feito pelo grupo que resultou no assassinato do primeiro-ministro
Luis Carrero Blanco, em dezembro de 1973.

Exército Republicano Irlandês (IRA)


O Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês), criado em 1919, colocava em
prática ações violentas para atingir seus objetivos: a defesa da religião católica e a reintegra-
ção da Irlanda do Norte, pertencente ao Reino Unido, à Irlanda do Sul. Eles entendiam que
a existência da religião católica na Irlanda do Norte seria uma justificativa para a reunificação
das duas Irlandas. Portanto, o movimento tinha objetivos políticos e religiosos, e parte de
suas ações teve como alvo grupos de protestantes.
O ataque mais conhecido contra o IRA ocorreu em 30 de janeiro de 1972, quando um
grupo de pessoas organizou uma manifestação que se dirigia à Câmara para protestar contra
a possibilidade de prisão de suspeitos de participar do grupo terrorista sem julgamento. O
Exército, por meio de uma barricada, impediu o grupo de se aproximar do prédio público e
atirou contra os manifestantes matando e ferindo dezenas de pessoas. A data ficou conhe-
cida como “Domingo Sangrento”.
O IRA se dissolveu em 2005 e desde então vem buscando formas políticas e diplomáticas
de atingir seu objetivo separatista.

Não escreva no livro. 97


Mídia

MÍDIA E TERRORISMO
Em um estudo realizado pelo George C. Marshall European Center for Security Studies
(Centro Europeu de Estudos de Segurança George C. Marshall), o doutor Carsten Bockstette
define que “O objetivo do terrorismo é explorar a mídia, a fim de alcançar o máximo de pu-
blicidade possível como multiplicador de força amplificadora, de maneira a influenciar o(s)
público(s)-alvo(s) e de alcançar objetivos políticos de curto e médio prazo e/ou objetivos
finais desejados a longo prazo”. Ou seja, a mídia desempenha um papel central nas táticas
e estratégias de ações e de grupos terroristas, pois é por meio dela – de seus noticiários e
análises – que a maioria das pessoas tomará conhecimento desses atos.

NÚMERO DE MORTES POR CAUSA, MUNDO, 2017

Doenças cardiovasculares 17,79 milhões

Gráfico: DAE
Câncer 9,56 milhões
Doenças respiratórias 3,91 milhões
Infecções respiratórias inferiores 2,56 milhões
Demência 2,51 milhões
Doenças digestivas 2,38 milhões
Distúrbios neonatais 1,78 milhão
Doenças diarreicas 1,57 milhão
Diabetes 1,37 milhão
Doenças hepáticas 1,32 milhão
Mortes no trânsito 1,24 milhão
Doença renal 1,23 milhão
Tuberculose 1,18 milhão
HIV/aids 954 492
Suicídio 793 823
Malária 619 827
Homicídio 405 346
Mal de Parkinson 340 639
Afogamento 295 210
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Meningite
Deficiências nutricionais
288 021
269 997
DA EDITORA DO BRASIL
Desnutrição proteico-energética
Distúrbios da maternidade
231 771
193 639
Transtornos por uso de álcool 184 934
Transtornos por uso de outras drogas 166 613
Conflitos 129 720
Hepatite 126 391
Fogo 120 632
Envenenamento 72 371
Temperatura (exposição a calor ou frio) 53 350
Terrorismo 26 445
Desastres naturais 9 603
0 2 milhões 6 milhões 10 milhões 16 milhões

Fonte: IHME, Global Burden of Disease. Disponível em: https://ourworldindata.org/causes-of-death. Acesso em: 3 jun. 2020.

Como se pode notar pelo gráfico, apenas uma ínfima parcela da população no mundo
apresenta morte relacionada ao terrorismo (aproximadamente 0,05%, ou uma em cada 10
mil mortes, de todas as pessoas que morreram em 2017), ou seja, a imensa maioria das pes-
soas no mundo (99,95%) não sofreu, não sofre ou não sofrerá morte ou ferimentos decor-
rentes de atos terroristas. No entanto, o “terror” causado por esses atos não pode deixar de
ser considerado. A discrepância entre os efeitos imediatos e os efeitos simbólicos dos atos
terroristas é sobretudo consequência da atenção midiática que esses atos recebem.

98 Não escreva no livro.


A partir do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, a estratégia comunicacional de
vários grupos terroristas internacionais (como a Al-Qaeda) se tornou mais sofisticada e com-
plexa: se antes contavam apenas com a cobertura midiática das grandes redes de comuni-
cação, passaram então a produzir o próprio conteúdo, por meio de áudios e vídeos que eram
então distribuídos em canais mais descentralizados, pela internet. Essa descentralização co-
municacional guarda semelhança com a descentralização operacional que
se tornou a marca de vários desses grupos terroristas, que podem ser carac-
terizados como uma “rede vagamente conectada”, na qual cada célula ter- O que é uma
célula terrorista?
rorista é responsável pelo planejamento e execução das ações sem, no en-
O termo “célula terrorista”
tanto, estar ligada diretamente a um comando central. refere-se a uma das estratégias
Os terroristas islâmicos, por exemplo, valem-se do fato de que o mundo que os grupos terroristas
da comunicação de massa passou a ser mediada em rede, em que tecnolo- usaram para lidar com o risco
de serem descobertos e
gias diversas combinam dispositivos de mediação interpessoal com dispo- desmantelados: subdividindo
sitivos de comunicação de massa. Essas diferentes mídias são conectadas uma organização ou um
por meio de dispositivos interpessoais, como telefones celulares, wi-fi, redes movimento terrorista maior em
muitas unidades pequenas
móveis de dados e a internet. A fusão da comunicação interpessoal com a semi-independentes ou até
comunicação de massa, conectando audiências – que também podem ser totalmente separadas, o grupo
editores ou emissores ao mesmo tempo por meio da internet –, aumenta limita o efeito que a descoberta
ou interrupção de uma unidade
muito seu acesso às pessoas.
terá no grupo geral.
Leia o trecho abaixo:

Depois de 1990 e do colapso dos Estados comunistas que proviam a figura do inimigo da Guer-
ra Fria, o poder de imaginação do Ocidente passou por uma década de confusão e ineficácia, pro-
curando “esquematizações” adequadas para a figura do Inimigo, passando pelos chefões dos
cartéis do narcotráfico até uma sucessão de senhores da guerra dos assim chamados “Estados
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renegados” (Saddam, Noriega, Aidid, Miloševič...) sem se estabilizar numa única imagem central;
só com o 11 de Setembro essa imaginação recuperou seu poder com a construção da imagem de
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Osama Bin Laden, o fundamentalista islâmico par excellence, e a Al-Qaeda, sua rede “invisível”.
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003. p. 135-136. (Coleção Estado de Sítio).

•• Monte um grupo com três ou quatro colegas, pesquisem na internet e escolham um caso
de ataque terrorista retratado pela mídia nos últimos dez anos. Leiam a reportagem e
problematizem, com base no trecho acima, as seguintes características:
a) A matéria jornalística descreve com detalhes o ataque específico? Traz o local, os
métodos utilizados, a extensão dos danos (pessoais e estruturais) causados por esse
ataque?
b) Há contextualização dos ataques? Ou seja, a matéria explicita a historicidade dos agen-
tes envolvidos e suas possíveis intenções ou motivações?
c) Como os terroristas são retratados? Atentem principalmente para o uso de adjetivos
que qualificam os agentes.
d) Façam um resumo da matéria dando conta das características acima e compartilhem
o resultado com a turma.
e) Por fim, após as apresentações, comparem as abordagens jornalísticas entre os
grupos e foquem a atenção nas semelhanças e diferenças encontradas.

Não escreva no livro. 99


Os ataques de 11 de setembro de 2001
No dia 11 de setembro de 2001, ocorreu nos Estados Unidos um ato terrorista que deixou
em alerta líderes e a população civil de muitos países e, por sua gravidade e seu impacto, aca-
baria por modificar profundamente boa parte das relações internacionais. O ataque foi come-
tido pelo grupo fundamentalista islâmico Al-Qaeda por meio de diversas ações suicidas,
cuidadosamente planejadas e que ocorreram quase simultaneamente. Os terroristas seques-
traram quatro aviões de passageiros e os fizeram colidir, propositalmente, contra três prédios
importantes e simbólicos do país: dois que compunham o World Trade Center, as chamadas
Torres Gêmeas, na cidade de Nova York, e o edifício do Pentágono, no estado da Virgínia, que
abriga a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Estima-se que mais de 3 mil
pessoas morreram nesse ataque terrorista, na maioria civis. Além disso, bombeiros e policiais
que ajudaram a resgatar as vítimas ficaram gravemente feridos ou adquiriram doenças ligadas
ao evento em razão da exposição a substâncias tóxicas durante os trabalhos de salvamento.
O ataque de 11 de setembro pode ser relacionado às disputas que tiveram lugar na
Guerra Fria. Um dos fundadores da Al-Qaeda, o saudita Osama bin Laden (1957-2011),
lutou no fim da década de 1980 contra a invasão da União Soviética no Afeganistão. Para
combater os comunistas na região, os Estados Unidos forneceram amplo apoio militar e
econômico ao grupo terrorista. No entanto, durante a Guerra do Golfo, que envolveu o Ira-
que e o Kuwait, a intervenção política e o apoio estadunidense a favor do Kuwait ofende-
ram parte importante dos islâmicos, entre outros motivos pela presença ianque na
Península Arábica, local onde os muçulmanos acreditam ter nascido o profeta Maomé.
Na qualidade de símbolo do terrorismo religioso, esse ataque contribuiu para que os islâ-
micos passassem a ser vistos como “inimigos terroristas”, postura estimulada pela mídia e
que acabou por ligar toda uma comunidade pacífica a grupos extremistas e terroristas, o que
não condiz com a realidade. Além disso, desencadeou uma série de atos realizados pelos Esta-
dos Unidos como forma de revidar o ataque, como a Segunda Guerra do Afeganistão, no mesmo
ano. Osama bin Laden acabou sendo morto por agentes estadunidenses em uma dessas ope-
rações, ocorrida no Paquistão.

Spencer Platt/Getty Images


Ammar Abdullah/Reuters/Fotoarena

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Membros da Al-Qaeda durante


uma ofensiva para assumir o
controle da cidade Ariha, na
Síria, em 28 de maio de 2015.

 O ataque às Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro de 2001, provocou uma forte
reação do governo estadunidense e fez recrudescer a luta contra o terrorismo.

100 Não escreva no livro.


Atividades

1. No livro Stasilândia, lançado em 2008, a jor- 2. Em 2 de março de 2020, o site do Museu da


nalista Anna Funder publicou alguns relatos de Memória e dos Direitos Humanos, do Chile,
pessoas que viveram em Berlim Oriental durante publicou a notícia “Plano Z: a primeira fake
a Guerra Fria. A seguir, leia o trecho do relato de news da ditadura”. Alguns dias após o golpe
Miriam, uma adolescente que tinha dezesseis que implementara a ditadura no país, ocorrido
anos no momento da narração. em 1973, a ditadura civil-militar informava à
Na ponte da Bornholmer Strasse, em teoria, a imprensa que havia descoberto o “Plano Z”,
fronteira passava entre os trilhos. Em outras par- segundo o qual a esquerda planejava um golpe
tes de Berlim, ela — e portanto o muro — abre uma de Estado para tomar o poder no país e impor a
estranha ferida que corta a cidade. O muro atra- “ditadura do proletariado”.
vessava casas, ruas, canais e fatiava linhas do
metrô. Ali, porém, em vez de cortar a linha do Observe que, na imagem da manchete de jornal
trem, os alemães orientais construíram a maior apresentada a seguir, também publicada na re-
parte das fortificações defronte à linha, do lado portagem do museu, aparecem em destaque
oriental, permitindo que os trens do leste avan- duas informações: a descoberta do plano Z e o
çassem até o muro mais distante, ao final da fai- rompimento da União Soviética com o Chile.
xa mortal de segurança.

Museu da Memória e dos Direitos Humanos, Santiago


[...]
Miriam pulou as cercas que separavam os jar-
dins, na tentativa de se aproximar do muro. “Es-
tava escuro e eu tive sorte. Mais tarde, fiquei sa-
bendo que eles normalmente patrulham os jar-
dins também.”
[...]
“Para além disso tudo, eu podia ver o muro que
tinha visto de dentro do trem, o muro que corre
ao longo da ferrovia. Supus que ali, atrás daque-
le muro, era o Ocidente, e estava certa. Podia ter
me enganado, mas estava certa.” Se possuía al-
gum futuro ele estava lá do outro lado, e ela pre-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
cisava alcançá-lo.
[...]
DA EDITORA DO BRASIL
De repente, ela diz: “Ainda tenho as cicatrizes
nas mãos, de subir pelo arame farpado, mas agora
já não dá para ver tão bem”. Miriam exibe as pal-  Manchete da edição de 22 de setembro de
mas das mãos. As partes mais macias apresentam 1973, do jornal La Tercera, sobre o “Plano Z”,
apontada como falsa pelo site do Museu da
um emaranhado de marcas brancas, bem definidas, Memória e dos Direitos Humanos, no Chile.
cada uma delas com cerca de um centímetro.
FUNDER, Anna. Stasilândia: como funcionava a) Comente a relação da fake news apresenta-
a polícia secreta alemã. São Paulo: Companhia
das Letras, 2008. p. 37-39. da na notícia com a Guerra Fria.
b) A manchete sobre a União Soviética indica
a) A qual muro se refere o texto? Por que ele o sucesso de um dos principais objetivos dos
foi criado? governos militares no Chile. Que objetivo era
b) O que a construção do muro significava para esse?
Miriam? c) Observe com atenção a capa do jornal. Qual
c) Você conhece, atualmente, locais semelhan- outra referência pode ser mencionada a res-
tes àquele citado no trecho acima? Como se peito da relação da ditadura com a Guerra
sente em relação a esses locais? Fria?

Não escreva no livro. 101


O QUE É GLOBALIZAÇÃO?
Observe os objetos do seu cotidiano: Onde é fabricada cada peça de seu telefone celular?
E dos automóveis? Cada peça de um automóvel vem de um lugar diferente do planeta, e os
carros são montados e depois enviados para outros locais. O desenvolvimento tecnológico
permitiu uma interconexão entre todos os países do mundo. A globalização é um processo
de repercussões econômicas, sociais, culturais e políticas que propicia uma conexão socioes-
pacial entre as nações.
A globalização traz a ideia de que o mundo seria uma aldeia global em que as distâncias
seriam reduzidas e em que as pessoas participariam de um único universo sem fronteiras, no
qual os integrantes experimentam as vantagens do desenvolvimento tecnológico, social e eco-
nômico, assim como de um crescimento cultural de forma integrada. Com um mercado global,
o mundo se tornaria homogêneo no modo de produzir e uma identidade universal seria criada.
A conexão entre as diferentes partes do planeta é ine-
MartinLueke/Shutterstock.com

rente ao desenvolvimento capitalista, que, desde as Gran-


des Navegações, já se expandia em busca de novas fontes
de matéria-prima, de mão de obra e de mercados consu-
midores. A globalização surgida no século XX é uma inten-
sificação desse processo, uma vez que as tecnologias para
essa integração avançaram e que mais países entraram
no sistema global de produção, como a China e os do Leste
Europeu, a partir dos anos 1970.
 Os navios porta-contêineres facilitaram o transporte de
cargas e ampliaram a conexão da produção e do consumo O sistema de informação é fundamental na globaliza-
entre os países, símbolo da globalização. Alemanha, ção, pois deixa as comunicações mais rápidas e permite
2019. a conexão imediata em diferentes partes do globo. Por
isso, a internet é a grande criação tecnológica desta era. Ela eliminou as distâncias e aumen-
tou fortemente o fluxo de informações ao permitir que as pessoas pudessem saber em deta-
lhe o que ocorria em outros lugares do planeta pelo computador e, mais recentemente, pelos
telefones celulares. O aparato tecnológico da época – microprocessadores, computadores,
microeletrônica –, junto aos avanços obtidos na transmissão de informações por meio de
fibras ópticas, mudou a forma de produzir as coisas e de as pessoas se comunicarem, se per-
ceberem e se relacionarem.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA Aeroporto
EDITORA de Pequim, China, em 2018, o maior terminal do mundo. Com a globalização, investimentos
DO BRASIL
massivos em infraestrutura aeroportuária foram fundamentais para garantir o fluxo internacional de pessoas e
de mercadorias.

Ispyfriend/iStockphoto.com

102 Não escreva no livro.


A ideia de um mundo sem fronteiras – pelo menos para aqueles que têm condições eco-
nômicas de se locomover – e sem barreiras comerciais, com livre fluxo de capitais, tornou-se
central. Isso conduziria a uma situação de mais acesso ao consumo, elevaria o PIB global e
permitiria que muitos países tivessem acesso ao desenvolvimento tecnológico. Desregula-
mentação do sistema financeiro, ausência de barreiras alfandegárias, logística, acesso a dados
e terceirização internacional dos processos produtivos permitiram essa forma de integração.
Nela, a empresa tem sua sede em um país, onde desenvolve seus projetos, sendo os produ-
tos fabricados em um longo e complexo processo, que se inicia com a exploração da maté-
ria-prima, em geral nos países mais pobres. Em termos econômicos, a globalização promoveu
um acúmulo de capitais mais intenso com a transferência de lucros de países periféricos para
os centros do capitalismo mundial.
Vlad Kochelaevskiy/Shutterstock.com

 Hoje em dia, é comum um produto


ser exportado em peças, que são
montadas em outro país, como forma
de economizar em custos de
transporte.

O mundo globalizado e suas contradições


A globalização atinge, de fato, todo o mundo de maneira igualitária? Seus benefícios são
usufruídos da mesma forma em todas as partes do planeta? O geógrafo brasileiro Milton San-
tos (1926-2001), em sua
MATERIAL DEobra Por uma outra globalização, procura desmistificar a ideia de
DIVULGAÇÃO
pensamento único. Segundo ele, a globalização, relacionada ao encurtamento ou à elimina-
DA EDITORA
ção de distâncias, DO BRASIL
atinge somente aqueles que têm condições financeiras de desfrutar de
seus avanços. Portanto, não é para todos. Demarca territórios de atuação, promove o consu-
mismo e não supera problemas como a fome, o desem-
prego, as guerras, as disputas étnicas, o que dificulta a
Lynne Sladky/AP Photo/Glow Images

difusão de uma ideologia global como processo de


aperfeiçoamento do mundo.
As fronteiras da identidade nacional se enfraquece-
ram e, como afirma o sociólogo brasileiro Renato Ortiz
(1947-), com a globalização da economia se globalizou
a cultura também. Artistas não são mais parte da cul-
tura nacional, mas da cultura global. Ouvimos música
do mundo inteiro pela internet, temos acesso a produ-
ções culturais diferentes e inovadoras, como o k-pop
coreano ou o reggaeton latino. Se, por um lado, isso
amplia nossos horizontes de conhecimento e informa-
ção, por outro, limita as culturas tradicionais, torna  A música “Despacito”, dos cantores porto-riquenhos Luis Fonsi
e Daddy Yankee, teve 5 bilhões de acessos na internet.
homogênea a sociedade, diminui a diversidade cultural A globalização da cultura acompanha a da economia. Flórida,
e cria novas formas de exclusão social. EUA, 2017.

Não escreva no livro. 103


Outra contradição característica da globalização se refere-se ao processo de desindustria-
lização e de terceirização, o que fez com que a produção migrasse para países com mão de
obra mais barata, gerando altas taxas de desemprego nos países industrializados. Para ter
uma ideia disso, basta pensar nas marcas mais famosas de tênis ou de celulares que você
conhece. Onde os aparelhos e calçados são projetados? E onde são produzidos? Houve uma
mudança territorial, cultural, histórica e social do trabalho no mundo. E também é forçoso
admitir que em boa parte dos países ocidentais houve mais possibilidades de emprego no
setor de serviços, voltado para a população escolarizada, enquanto os operários foram pau-
latinamente perdendo postos de trabalho para fábricas localizadas no outro lado do planeta.
Dessa maneira, desemprego e desindustrialização fragilizaram intensamente a capacidade
produtiva de muitos países.

Spencer Platt/Getty Images


 Antes sede de grandes fábricas automobilísticas, a cidade de Detroit, nos Estados Unidos, é hoje um símbolo da
desindustrialização. Foto de novembro de 2008.

MATERIAL
A criseDE DIVULGAÇÃO
mundial de 2020, em consequência do coronavírus, responsável pela covid-19,
de certa forma também se mostrou um tipo de produto da globalização. Pode-se imaginar
DA EDITORA DO BRASIL
que o vírus provavelmente não se disseminaria com tanta rapidez e de forma tão intensa
se não houvesse as atuais cadeias globais de produção e consumo, o que permitiu que ele
atingisse quase todos os países a uma velocidade espantosa, em poucos meses. Além
disso, com a desindustrialização de uma parte do
Katatonia82/Shutterstock.com

mundo, houve grandes dificuldades em produzir mate-


rial médico e hospitalar de forma emergencial, mesmo
em regiões muito desenvolvidas, pois as indústrias
migraram de seus locais de origem para a China e os
demais países asiáticos. Esse processo aprofundou
bastante a crise da globalização, que já estava em
andamento, com países voltando a defender barreiras
alfandegárias e o controle de fronteiras. Essa crise da
globalização se mostrou intensa com a saída do Reino
Unido da União Europeia, no processo chamado Brexit,
que foi votado pela maioria da população em um refe-
rendo no ano de 2016, mas ainda demorou muito tempo
 O primeiro-ministro Boris Johnson lutou pela efetivação do
chamado Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. para ser efetivado, dada a complexidade dos vínculos
Kiev, Ucrânia, 2017. entre as duas partes.

104 Não escreva no livro.


Neoliberalismo: bases e conceitos
No mundo atual, você tem certezas sobre seu futuro? Terá emprego e renda? Terá condi-
ções de comprar uma casa para viver com sua família? Ficará endividado? Conseguirá se
aposentar? Essas dúvidas permeiam a vida de todas as pessoas quando chegam à fase adulta
e são próprias do momento histórico marcado pelas políticas neoliberais ao redor do mundo,
que geram muita insegurança na população.
Coleção particular. Fotografia: Akg-Images/Album/Fotoarena
© The Estate of Jean-Michel Basquiat/ AUTVIS, Brasil, 2020

Lee Jaffe/Getty Images


1 2

 [1] Jean-Michel Basquiat (1960-1988), Filisteus, pastel de óleo sobre tela e acrílico, 1982, 183 cm × 312,5 cm.
As obras do artista, feitas durante os anos 1980, retratam as incertezas que se abatem sobre a juventude em
decorrência das políticas neoliberais. [2] Basquiat pintando em Saint Moritz, na Suíça, em 1983.

O neoliberalismo como modelo político-econômico se inicia como uma tentativa de miti-


gar a crise do petróleo e de acumulação de bens que tomou os países capitalistas nos anos
1970. Ele ocorre junto com uma reestruturação do modo de produção capitalista, que passa
a adotar o modelo toyotista de produção em lugar do fordismo, o que demanda menos tra-
balhadores e mais investimentos em máquinas e tecnologias de automação. As empresas
diminuem o número de funcionários, passam a produzir sob demanda (sem estoques), e a
subcontratar serviços de outras companhias ou de autônomos – a chamada terceirização. O
processo gera desemprego,
MATERIAL coloca profissionais na informalidade e rebaixa salários, dando
DE DIVULGAÇÃO
origem à precarização. Privatizações de empresas e dos serviços públicos, deslocados para
DA EDITORA
a iniciativa privada, mudam aDO BRASIL
função do Estado e diminuem sua participação, caracterizando
o chamado “Estado mínimo”. Esse processo leva também ao fortalecimento do capital finan-
ceiro e ao mesmo tempo ao endividamento das pessoas, das empresas e até mesmo dos
Estados, que ficam sob a tutela dos bancos e credores.
Outro ponto de vista sobre o neoliberalismo, defen-
Diana Walker/The LIFE Images Collection/Getty Images

dido pelo filósofo francês Pierre Dardot (1952-) e pelo


pesquisador também francês Christian Laval (1953-),
considera que, mais que uma política econômica, o
neoliberalismo, de fato, é um modelo de racionali-
dade que tem o poder de transformar todas as ações
humanas. Sua proposta seria deslocar a lógica empre-
sarial, apoiada na competição própria do mercado,
para todas as esferas da vida social e privada. Assim,
ele teria condições de impor uma norma social baseada
em uma competição generalizada, com salários rebai-
xados, precarização das condições de trabalho e
supressão de muitos direitos trabalhistas, o que acaba  Ronald Reagan e Margaret Thatcher, governantes adeptos do
por gerar desigualdades cada vez mais profundas. neoliberalismo, Washington, D.C., EUA, 1989.

Não escreva no livro. 105


Conexões

O 5G E O CONFLITO ENTRE CHINA E ESTADOS UNIDOS

1980-2020: 40 anos de gerações de celulares

Gráfico:DAE
~1980 ~1990 ~2000 ~2010 ~2020

1G 2G 3G 4G 5G
Voz Voz e texto Dados móveis Banda larga Qualquer coisa,
móvel qualquer lugar,
W-CDMA, qualquer hora,
NMT, AMPS, GSM, IS-95, UMTS LTE ilimitado
TACS D-AMPS CDMA1X
EV-DO IMT 2020

100 Mbps
2,4 Kbps 64 Kbps 384 Kbps 10 Gbps
1 Gbps
Gigabit Multigabits
LTE 5G

Fonte: Idate Dig/World, State of LTE & 5G Markets, jul. 2018.

O neoliberalismo e a globalização demandam agilidade na informação e necessidade de


transmissão rápida de grandes quantidades de dados. Contudo, esse compartilhamento de
informações a distância não é recente. O desenvolvimento das telecomunicações levou, a
MATERIAL
partir dosDE DIVULGAÇÃO
anos 1980, à tecnologia de dados móveis, por meio das redes celulares, em que o
DA EDITORA
último link daDO BRASIL
rede é sem fio. A rede é distribuída por áreas terrestres chamadas células, ca-
da uma servida por pelo menos um transceptor (dispositivo que consegue receber e trans-
mitir dados) de local fixo e locais de células ou estações-base de transceptores. Essas esta-
ções-base fornecem à célula a cobertura de rede que pode ser usada.
A primeira geração desse modelo de transmissão foi o 1G, de modelo analógico, lançado
no Japão em 1979. Em seguida, com o 2G passou-se para o modelo de transmissão digital,
com a possibilidade de enviar mensagens de texto, além de fazer chamadas. O 3G, por sua
vez, incorporou a rede de internet de alta velocidade aos telefones móveis. O 4G, lançado em
2008, é baseado em IP (rótulo numérico atribuído a cada dispositivo) e ampliou os serviços
de dados. Cada uma dessas gerações de transmissão de dados gerou transformações sociais
e econômicas. Por exemplo, o 4G permite o uso do streaming (forma de transmissão em que
os dados não ficam armazenados no computador que os recebe), assim como os aplicativos
de entrega e de transporte, mudando o campo dos empregos no mundo.
O 5G é o padrão de tecnologia de quinta geração para redes celulares que as empresas
de telefonia celular começaram a implantar em 2019. Como suas antecessoras, as redes
5G são redes celulares, nas quais a área de serviço é dividida em pequenas áreas geográ-
ficas – as células. Todos os dispositivos sem fio 5G em uma célula são conectados à inter-
net e à rede telefônica por ondas de rádio, graças a uma antena localizada na célula.

106 Não escreva no livro.


Daniel das Neves

INFRAESTRUTURA DA REDE 5G
Como o 5G sem fio alcança usuários

Microantenas agrupadas Microantena Torre macro


• Chamadas Mimo* • Colocada em • Gere chamadas e
• Velocidades mais rápidas,
edifícios, postes de luz dados em velocidades
distâncias mais curtas • Velocidades mais mais lentas e maiores
• Muitos usuários
rápidas, distâncias distâncias
mais curtas

Instalação central
• Abriga roteadores,
servidores e softwares
que controlam a rede

Beamforming
• Concentra a

onda de rádio para


maior confiabilidade

Fonte: Por que os Estados Unidos estão preocupados com a tecnologia 5G. Share America. Disponível em: https://share.america.
gov/pt-br/por-que-os-estados-unidos-estao -preocupados-com-a-tecnologia-5g/. Acesso em: 17 jun. 2020.

A principal vantagem das novas redes é que elas terão maior largura de banda, proporcio-
nando velocidades de download mais rápidas. Por causa do aumento da largura de banda,
espera-se que as novas redes não atendam apenas a telefones celulares, mas também se-
jam usadas como provedores gerais de serviços de internet. O aumento da velocidade é al-
cançado pelo uso de ondas de rádio de frequência mais alta que as das redes celulares atuais.
No entanto, as ondas de rádio de alta frequência têm um alcance menor que as das torres
de telefonia MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
celular anteriores, exigindo células menores. Portanto, para garantir um amplo
DA5G
serviço, as redes EDITORA
operamDOemBRASIL
até três bandas de frequência: baixa, média e alta.
Assim, o 5G amplia exponencialmente a velocidade de conexão e o trânsito de informações,
além de ser estável, o que promete um avanço dos processos produtivos em termos de inteligên-
cia artificial. Contudo, o domínio da infraestrutura do 5G, sobretudo das antenas, concentra-se
na empresa chinesa Huawei, na finlandesa Nokia e na sueca Erickson. O fato de a China ter maior
controle sobre esse processo acentuou o conflito tecnológico com os Estados Unidos, que, em
2020, já faziam pressão para que países aliados se recusassem a operar com a Huawei, alegan-
do que sua tecnologia era insegura em termos de proteção de dados, algo que a China negava.
Muitos países, embora aliados históricos dos Estados Unidos, negaram-se a romper com a em-
presa chinesa, pois consideravam inviável conter o avanço tecnológico trazido por ela.
1. Com alguns colegas, montem um painel com uma linha do tempo composta de fotos dos
aparelhos celulares de cada geração, apontando quais são suas características principais e
suas contribuições para mudanças na sociedade. Em seguida, façam uma exposição na escola.
2. Considerando que as mudanças tecnológicas geram impactos sociais, faça uma lista – com ao
menos cinco itens – com possíveis transformações advindas do avanço do 5G na sociedade,
no campo do emprego e das relações sociais. Um exemplo disso pode ser a possibilidade
de automóveis serem dirigidos por inteligência artificial usando a transmissão de dados do
5G, o que teria impacto em toda a cadeia de trabalhadores ligados ao transporte.

Não escreva no livro. 107


As propostas do Consenso de Washington
Como atinge de forma muito impactante os trabalhadores e a classe média, o neolibera-
lismo tende muitas vezes a produzir instabilidade política, que costuma se manifestar por
meio de grandes mobilizações e da polarização política crescente no interior da sociedade.
Dessa forma, ele muitas vezes pode vir associado a governos autoritários que optam por
reprimir as revoltas sociais, muitas vezes de maneira violenta. As primeiras experiências neo-
liberais ocorreram no Chile durante a ditadura (1973-1990) do general Augusto Pinochet
(1915-2006); no governo da primeira-ministra Margaret Thatcher (1925-2013) na Inglaterra
(1979-1990); e na presidência de Ronald Reagan (1911-2004) nos Estados Unidos (1981-
-1989). No evento que ficou conhecido como Consenso de Washington, uma reunião ocor-
rida na capital estadunidense no ano de 1989, Thatcher e Reagan propuseram medidas e
procedimentos neoliberais que pressionaram diferentes países a adotar tal doutrina.
Entre as propostas do Consenso de Washington, estava aquela segundo a qual todos os
investimentos em áreas sociais deveriam ser direcionados à iniciativa privada, ou seja, às
empresas particulares. No caso dos países periféricos do capitalismo mundial, as propostas
recomendavam a redução de gastos governamentais, a
diminuição dos impostos, a abertura econômica para impor-
tações, a flexibilização das leis trabalhistas, a liberação
para entrada do capital estrangeiro, a privatização e a des-
regulamentação da economia. Essas atitudes seriam fun-
damentais para movimentar a economia e assim garantir
o desenvolvimento.
Muitos países não tiveram condições financeiras de ado-
tar essas medidas, vendo-se obrigados a contrair emprés-
timos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e,
consequentemente, ficar submetidos às regras rígidas do
fundo em relação às políticas de austeridade, que prega-
vam o corte de gastos públicos em áreas como saúde e
Javier Torres/AFP

educação e fortaleciam o poder dos bancos. O setor finan-


ceiro, desregulamentado, entrou em nova crise, em 2008,
quando, pelo fato de terem concedido muitos créditos sem
 Manifestantes em Santiago, Chile, colocam fogo no edifício
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
da companhia elétrica privatizada, em 2019. garantias, os bancos acabaram produzindo bolhas no setor
O neoliberalismo leva a tensões sociais, dada a ampliação de imóveis. Entre altos e baixos, a crise se acentuou com
DA EDITORA DO BRASIL
da desigualdade social que provoca. o passar dos anos e, em 2020, ainda estava em vigor.

 Funcionário do Lehman
Brothers deixa a sede do
banco em Londres com seus
pertences. O banco foi
Ben Stansall/AFP

seriamente atingido pela crise


financeira. Londres, setembro
de 2008.

108 Não escreva no livro.


Atividades

1. O automóvel é um marco da produção industrial NOVO: Patentes por escritório de patente, 2014
do século XX. Hoje em dia, ele é um produto

Gráfico:DAE
29% 14% 10%
totalmente globalizado. Escolha um carro de EUA OMPI EPE

que você gosta e faça uma pesquisa na internet:


a) Qual é o país de origem da indústria proprie-
7% Coreia do Sul
tária do veículo?

3% Alemanha
28%
b) Em que país ele foi projetado? China
c) Onde foi montado?
9%
d) Para quais países é vendido? Japão

e) Onde foi produzido o motor do carro?


Fonte: DONNAN, Shaw; LEATHERBY, Lauren. Globalization isn’t
f) Os pneus são de qual marca? Qual é o país Dying, it’s just Evolving, 23 jul. 2019. Disponível em: https://www.
bloomberg.com/graphics/2019-globalization/.
de origem da marca? Onde foram produzi- Acesso em: 17 jun. 2020.
dos? Qual é a origem da borracha?
Analise cada um dos gráficos e responda em
Com base nesse levantamento, discuta com os
seu caderno às perguntas a seguir.
colegas: Ainda existem produtos totalmente •• Qual é o assunto tratado neles?
nacionais? •• Quais eram os principais países produtores de
patentes em 2000 e em 2014?
2. Observe os gráficos a seguir, nos quais são
•• Qual é a principal diferença entre os dois grá-
citados os países que mais produzem patentes ficos?
no mundo, em uma comparação do ano 2000 •• O que eles indicam acerca da produção e da
com o ano 2014. As patentes referem-se à inovação global?
propriedade intelectual de uma inovação, ou •• Qual é a importância da criação de patentes
seja, quem pode explorar comercialmente uma na economia global?
nova criação. Esse processo é fundamental no •• Quais são os riscos e problemas que essa cria-
capitalismo e mais ainda na globalização, quan- ção pode gerar em termos de igualdade eco-
do um país pode criar uma nova patente, mas nômica e social?
a produção do novo produto pode ser feita em 3. Agora, você vai inventar seu produto! De início,
outro local, com custos mais baratos, conectan- atente para o seguinte:
do assimMATERIAL DElugares.
esses vários DIVULGAÇÃO •• Pense em algo que considere relevante.
DA EDITORA DO BRASIL
ANTIGO: Patentes por escritório de patente, 2000 •• Veja se é algo que pode ser útil à comunidade
em que você vive ou ao país em geral.
•• Pesquise produtos parecidos, para não repe-
Gráfico:DAE

32% 15% 13%


EUA OMPI EPE tir uma ideia já existente.
•• Agora que você conhece as demandas do pú-
blico e os produtos concorrentes disponíveis,
chegou a hora de elaborar o produto. O rela-
tório descritivo de sua invenção deve apresen-
22% 8% 6% tar os itens a seguir:
Japão Alemanha Coreia do Sul
a) Descreva o invento, sua função e sua utili-
5% dade.
China
b) Relate aquilo que já se conhece sobre inven-
Notas: EPE é o Escritório de Patentes Europeu (EPO na sigla em
inglês); OMPI é a Organização Mundial de Propriedade Intelectual
tos parecidos com o seu.
(WIPO na sigla em inglês); os dados apresentam informações sobre o c) Apresente o diferencial da sua inovação, ou
Tratado de Cooperação Internacional sobre Patentes, que se aplica a
154 países, entre eles Estados Unidos e China; as cifras podem não
seja, qual problema técnico ela ajuda a so-
atingir 100% em razão de arrendondamentos. lucionar e como faz isso.
Fontes: Questel Orbit Intelligence and Fampat Database, março de d) Apresente, no relatório, os desenhos e mo-
2018, via Organização Mundial de Propriedade Intelectual.
delos, se necessário.

Não escreva no livro. 109


O ESPAÇO GEOGRÁFICO DA ORDEM MULTIPOLAR
As diferentes ordens mundiais foram precedidas por intensos conflitos, ou seja, resulta-
ram em mudanças nas relações de poder, entre os principais Estados, que caracterizavam o
período que estava sendo superado. Assim, novos atores hegemônicos no cenário interna-
cional ganharam espaço, enquanto outros perderam sua importância. Mas você sabe o que
é e como surge uma ordem mundial?
Uma ordem mundial corresponde à maneira como os Estados se relacionam e se posicio-
nam no cenário internacional, seguindo normas ou regras definidas por tratados, convenções
ou acordos – que compõem o direito internacional –, ou mesmo regras de conduta informais,
seguidas e respeitadas, até certo ponto, por eles. Assim, a noção de ordem mundial implica,
além da aceitação generalizada de normas, regras e princípios por parte dos Estados, a neces-
sidade da existência de mecanismos e instituições supranacionais que visam assegurar a con-
cretização dos objetivos em comum pactuados entre os países, o respeito às regras e a
manutenção do equilíbrio e da estabilidade mundial.
No entanto, nem sempre existe uma instituição internacional em condições de formular
uma legislação aceita por todos os Estados, nem um juiz internacional que efetivamente
faça respeitar essa legislação, nem polícia
internacional que sancione, de fato, os trans-
Documenta/Album/ Fotoarena

1
gressores. Portanto, cada ordem mundial tem
suas lacunas, que dão margem à existência
de conflitos, os quais, por sua vez, podem
alterar todo o equilíbrio de poder e, assim,
levar a uma reordenação e ao estabeleci-
mento de outras ordens.
 [1] A reunião dos líderes vencedores da Segunda Guerra
Mundial, Winston Churchill, Franklin D. Roosevelt e
Joseph Stalin (da esquerda para a direita), na cidade de
Ialta, na Crimeia, em 1945, prenunciou o início da Guerra
Fria. [2] O fim desse conflito foi marcado pela queda do
Muro de Berlim, em 1989.

Schnürer/Ullstein Bild/Getty Images


2
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

110 Não escreva no livro.


O mundo bipolar e o mundo multipolar
O início da Guerra Fria levou à formação da Ordem Mundial Bipolar, caracterizada pela
oposição entre as duas principais potências políticas, militares e econômicas que emergiram
após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945: Estados Unidos, liderando o bloco capi-
talista, e a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), líder do bloco socialista.
Mas qual seria a principal característica da Ordem Bipolar? Ela se baseava no poderio mili-
tar, portanto, havia uma ampla disputa bélica, que levou à divisão do mundo em dois polos:
um em torno da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderado pelos Estados
Unidos; e outro em torno do Pacto de Varsóvia, liderado pela União Soviética. Diversos con-
flitos regionais tiveram a influência das superpotências, que, apesar de não se envolverem
diretamente nos combates, apoiavam, entre os grupos em confronto, aqueles a que se ali-
nhavam política e economicamente. Um dos casos mais conhecidos é o da Guerra da Coreia,
em que os Estados Unidos apoiaram a porção sul do país, capitalista, e a União Soviética
apoiou a porção norte, socialista.
Nesse contexto, os Estados ao redor do mundo foram se alinhando ao bloco capitalista ou
ao bloco socialista. Houve, ainda, aqueles que não se alinharam a nenhuma das duas super-
potências.
Assim, embora as influências dos Estados Unidos e da União Soviética fossem intensas na
dinâmica das relações internacionais no período da Guerra Fria, cabia aos demais Estados
reafirmar sua autonomia e soberania, de acordo com seus interesses particulares e seu poder
no cenário geopolítico.
O fim da Guerra Fria, que teve como marco a queda do Muro de Berlim, em 1989, repre-
sentou a passagem da Ordem Bipolar para a Ordem Multipolar, caracterizada pelo protago-
nismo de diversos Estados no cenário econômico e geopolítico. Mas qual seria a principal
característica da Ordem Multipolar? Um diferencial em relação ao período anterior é que a
dimensão econômica ganhou destaque nas relações internacionais. Ainda que os Estados
Unidos tenham saído da Guerra Fria como a única potência militar com capacidade de inter-
ferir em qualquer lugar do mundo e que a Federação Russa, principal herdeira da estrutura
econômica e política da ex-URSS, mantenha certo poder geopolítico, outras potências emer-
giram nas últimas décadas, sobretudo na esfera econômica, o que tem causado o surgimento
de diferentes polos de poder no mundo, com uma relativa distribuição da influência exercida,
anteriormente, por apenas duas superpotências.
Entre os vários aspectos que caracterizam a Ordem Multipolar estão: a emergência de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
novas potências, principalmente econômicas, como a China e os chamados Tigres Asiáticos
(Cingapura, HongDA Kong,
EDITORA DOdoBRASIL
Coreia Sul e Taiwan); a contínua tentativa de reafirmação da hege-
monia estadunidense; a consolidação e a criação de blocos econômicos regionais, com des-
taque para a União Europeia; e o elevado número de conflitos, na maioria guerras civis, como
aqueles deflagrados na América do Sul (Colômbia), na África (Saara Ocidental, Sudão, Libé-
ria, Uganda, Guiné-Bissau) e na Ásia (Sri Lanka, Nepal, Caxemira).

 Vista panorâmica da cidade de Seul, Coreia do Sul, 2020.


Cherrydonut/Shutterstock.com

Não escreva no livro. 111


A Ordem Multipolar, também chamada de Nova Ordem Mundial, configura novas funções
e posições aos Estados, à medida que propicia maior conexão e interação política e econô-
mica entre os países, permeada pelo processo de globalização e pelos avanços tecnológicos
que caracterizam o meio técnico-científico informacional.

A globalização no mundo contemporâneo


Muito se fala sobre a globalização, mas quais seriam suas influências sobre a ordem mun-
dial? A globalização econômica ganhou novo sentido a partir dos anos 1960 e 1970, em con-
sequência dos avanços e das inovações nas áreas de telecomunicações e de transportes, que
impactaram diretamente a maneira, a qualidade e a quantidade nos fluxos de pessoas, mer-
cadorias e investimentos nos territórios.
A expansão dos sistemas de comunicação, por meio de antenas de rádio e TV por saté-
lite, de torres de telefonia móvel, de cabos de fibra óptica, de redes de computadores, de
satélites artificiais para transmissão de dados, e do sistema de posicionamento global (GPS,
na sigla em inglês), foi essencial para o aumento da capacidade de conexão entre os luga-
res. Por sua vez, os meios de transporte ganharam novas formas, funções e tecnologias,
transmitindo uma sensação de compressão do espaço, ou mesmo de que as distâncias se
encurtaram.
Como a globalização estaria relacionada com a conexão dos lugares? Primeiro, a globaliza-
ção propiciou que algumas técnicas fossem utilizadas em todas as partes do mundo, como a
produção e o uso de modernos equipamentos eletrônicos, ainda
 Antena de satélite no alto de um prédio, em 2016. O
progresso na transmissão de dados encurtou o tempo que algumas sociedades marcadas por grandes desigualdades
que as informações levam para percorrer as distâncias. sociais não permitam que todos os cidadãos tenham acesso aos
bens que as forças produtivas são capazes de gerar. Segundo,
Honglouwawa/iStockphoto.com

com os avanços nos meios de comunicação, hoje é possível


acompanhar os acontecimentos de maneira simultânea, como
a transmissão ao vivo de uma manifestação política nos veícu-
los de comunicação. Terceiro, as economias nacionais estão
conectadas por meio da atuação de grandes agentes econômi-
cos, como as empresas multinacionais e as organizações supra-
nacionais relacionadas aos mecanismos de funcionamento do
sistema financeiro internacional.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO

Metamorworks/iStockphoto.com
DA EDITORA DO BRASIL

 Com a globalização, alguns atores políticos e econômicos que atuam na escala global têm grande influência
sobre as decisões tomadas internacionalmente. Foto de 2020.

112 Não escreva no livro.


No entanto, existem alguns limites que precisam ser esclarecidos em relação à globaliza-
ção. O primeiro diz respeito à disseminação uniforme, por todo o planeta, de processos de
desenvolvimento e integração social e econômica. Na realidade, o mundo não se tornou mais
igualitário, ao contrário, as desigualdades entre os países e entre os grupos sociais perma-
necem sob as mais diferentes perspectivas. Em que pese a possibilidade de maior circulação
de informações e trocas socioculturais, por exemplo, observa-se uma ampla prevalência da
difusão de elementos e hábitos culturais de países centrais (desenvolvidos).
Um equívoco que aparece nos debates sobre a globalização está associado à ideia de que há
uma perda de poder e de controle dos Estados sobre seus territórios. Embora as organizações
supranacionais, as empresas multinacionais e os agentes do sistema financeiro internacional
exerçam cada vez mais influência sobre os Estados, buscando eliminar ou flexibilizar normas
que impedem uma exploração desenfreada dessas sociedades, o que pode ser entendido como
uma relativa flexibilização ou sobreposição das fronteiras nacionais, pertence, indiscutivelmente,
aos Estados a soberania sobre seus territórios e decisões e orientações políticas e econômicas,
ainda que elas possam estar articuladas às demandas globais. Mais recentemente, diversos
governos têm aderido a discursos antiglobalização, o que enfraquece, ainda mais, a ideia de um
processo que extenua e relativiza a importância dos Estados nacionais.
Alguns exemplos apontam para uma mudança no papel do Estado, que ganhou poder em
alguns aspectos e perdeu em outros, mas se mantém central na organização do mundo atual,
mediando conflitos entre os interesses nacionais e os estrangeiros.

Blocos regionais, fronteiras nacionais e globalização


Os blocos econômicos emergiram com o intuito de facilitar as trocas comerciais e propiciar
mecanismos de ajuda mútua entre os países-membros. A partir de meados da segunda metade
do século XX esses acordos intergovernamentais se consolidaram e se expandiram em decor-
rência dos avanços tecnológicos nas áreas de comunicações e de transportes, permitindo, prin-
cipalmente, a redução do tempo de deslocamento e uma interação mais efetiva entre as nações.
Kiev.Victor/Shutterstock.com

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Sede do Parlamento Europeu, órgão da União Europeia, em Estrasburgo, França, 2019.

Não escreva no livro. 113


Você sabe qual foi o acordo comercial mais importante ao longo da segunda metade do
século XX? Trata-se do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, na sigla em inglês), esta-
belecido em 1947, com o objetivo de reduzir barreiras comerciais e propiciar vantagens mútuas
aos países participantes. Os países que implementaram esse acordo foram África do Sul, Aus-
trália, Bélgica, Brasil, Canadá, Ceilão, Chile, China, Cuba, Tchecoslováquia, Estados Unidos,
França, Holanda, Índia, Líbano, Luxemburgo, Nova Zelândia, Noruega, Paquistão, Reino Unido,
Rodésia do Sul e Síria. Esse acordo se manteve até 14 de abril de 1994, quando foi substituído
pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que atualmente abriga 164 países-membros.
Nesse contexto, marcado pela globalização econômica, a formação de blocos regionais
tem a finalidade de promover relações comerciais entre os países-membros por meio de
medidas como a redução ou a isenção de impostos e de tarifas alfandegárias e a solução de
problemas comerciais em comum. Baseada no princípio de que o comércio incentivado den-
tro do bloco aumenta e gera crescimento econômico para os países participantes, os blocos
econômicos surgem no contexto de uma intensa integração econômica no espaço mundial
e visam reunir e equacionar interesses e demandas. Em seus estágios mais avançados, os
blocos econômicos podem apontar na direção de certa relativização de Estados e fronteiras
nacionais. Contudo, o que se vê na atualidade é que mesmo experiências consideravelmente
sólidas e coesas podem apresentar situações que colocam em dúvida a capacidade de inte-
gração e manutenção dos blocos, ainda que em estágios avançados de integração.
Veja no quadro a seguir alguns pontos favoráveis e desfavoráveis relacionados aos blocos
econômicos.

VANTAGENS DESVANTAGENS

• Menor custo dos produtos. • Concessões e acordos nem sempre


vantajosos para todos os membros,
• Maior volume de produção.
sobretudo os de economias mais frágeis.
• Maior eficiência na produção e comercialização. • Políticas de protecionismo econômico que
• Maior vantagem competitiva, com a elimina- podem ser prejudiciais para a
ção de tarifas sobre a importação. competitividade de países de fora do bloco.

AePatt Journey/Shutterstock.com
BLOCOS ECONÔMICOS E NÍVEIS DE INTEGRAÇÃO
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL Adoção de tarifas preferenciais (mais baixas em relação às
Zona de preferência tarifária praticadas com países de fora do bloco) sobre produtos
determinados entre os países-membros.

Isenção de taxas e impostos na comercialização de produtos e


Áreas de livre-comércio
serviços entre os países-membros.

Implementação de normas que regulam o comércio intrabloco e


União aduaneira
extrabloco.

Integração social e econômica; maior mobilidade de mercadorias


Mercado comum
e de pessoas entre os países participantes.

Criação de moeda única para os países-membros, além de


União econômica e monetária instituições financeiras reguladoras. Atualmente, apenas a União
Europeia tem essas características.

114 Não escreva no livro.


A lista abaixo, elaborada com base no trabalho dos professores Marlon Wander Machado e
Thiago Lopes Matsushita, contém informações sobre alguns blocos econômicos regionais pre-
sentes no cenário internacional.
• União Europeia – UE. Formada inicialmente por Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxem-
burgo e Holanda, com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, em 1951.
Hoje, o bloco congrega 27 países, constituindo-se em uma parceria econômica e polí-
tica, detentora de um sistema de instituições independentes que toma decisões com
base na negociação entre os países-membros, destacando-se a existência de um orde-
namento jurídico próprio.
• Mercado Comum do Sul – Mercosul. Esse

Diego Vara/Reuters/Fotoarena
bloco foi criado com o Tratado de Assunção,
em 1991. Seus membros fundadores são Uru-
guai, Paraguai, Brasil e Argentina. A Venezuela
passou a fazer parte do bloco em 2012. Além
da integração econômica entre os países-mem-
bros, destacam-se os seguintes objetivos do
Mercosul: a coordenação de políticas macroe-
conômicas, a instauração do livre-comércio, a
adoção de uma tarifa externa comum, a facili-
tação da circulação de pessoas e a livre circu-
lação de mão de obra e de capitais. Atualmente,
Chile, Colômbia, Bolívia, Peru e Equador tam-
bém são membros associados e México e Nova
Zelândia atuam como observadores. Em 2017,
 Encontro da Cúpula do Mercosul. Da esquerda para a direita,
a Venezuela foi suspensa devido à crise política os presidentes Mauricio Macri (Argentina), Jair Bolsonaro
do país nos últimos anos, que, segundo o enten- (Brasil), Mario Abdo Benitez (Paraguai) e a vice-presidente Lucia
dimento dos outros membros do bloco, põe em Topolansky (Uruguai). Bento Gonçalves, RS, 2019.
risco a democracia venezuelana.
• Cooperação Econômica Ásia-Pacífico – Apec, na sigla em inglês. Criada em 1993,
busca o livre-comércio em todo o Oceano Pacífico e o estabelecimento de novos
mercados para produtos agrícolas e matérias-primas. A Apec tem uma característica
que a diferencia da maioria dos blocos regionais: ela tem membros que não estão
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
geograficamente próximos. Todos eles estão localizados no Círculo do Pacífico, che-
gando a terDApaíses
EDITORA DO BRASILcontinentes. Seus membros são: Austrália, Brunei,
em diferentes
Canadá, Indonésia, Japão, Malásia, Nova Zelândia, Filipinas, Cingapura, Coreia do
Sul, Tailândia, Estados Unidos (1989); China, Hong Kong (China), Taiwan (Formosa)
(1991); México, Papua-Nova Guiné (1993); Chile (1994); Peru, Federação Russa,
Vietnã (1998). Seu objetivo principal é a redução de tarifas e de outras barreiras
comerciais, de forma a proporcionar a seus membros melhoramentos econômicos
com maior oferta de empregos e mais oportunidades para o comércio internacional
com níveis crescentes de investimento.
• Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio – Nafta, na sigla em inglês. Criado
em 1994, tratava-se de um acordo de livre-comércio entre os Estados Unidos, o Canadá
e o México, tendo o Chile como membro associado. Apresentava como objetivo o livre
acesso aos mercados com o estabelecimento do fim das barreiras alfandegárias entre
seus membros, diminuindo os custos comerciais e aumentando as exportações. Espe-
rava-se que isso elevasse a competitividade das economias nacionais e gerasse opor-
tunidades de investimentos. Em 2017, foi assinado um novo tratado, que substituiu o
Nafta, e expandiu algumas áreas contempladas pelo antigo acordo. O novo acordo
entrou em vigor em 1o de junho de 2020, sob a sigla Cusma (Canada-United States-
-Mexico Agreement, Acordo Estados Unidos-México-Canadá, em português).

Não escreva no livro. 115


Os mapas a seguir mostram a configuração dos blocos regionais na atualidade.

BLOCOS ECONÔMICOS REGIONAIS - 2018

AllMaps

Mercosul – Mercado SADC – Comunidade
Comum do Sul Círculo Polar Ártico
para o Desenvolvimento
Argentina da África Austral
Brasil África do Sul
Paraguai Angola
Uruguai Botsuana
Venezuela Lesoto
Madagascar
Malauí
Comunidade Andina
Trópico de Câncer Maurício
Bolívia Moçambique
Colômbia Namíbia
Equador Rep. Dem. do Congo
Seicheles
Peru 0° Equador
Suazilândia
Tanzânia
Zâmbia
UE – União Europeia Zimbábue
Trópico de Capricórnio
Alemanha Holanda
Áustria Hungria
Bélgica Irlanda ECO – Organização de
Bulgária Itália Cooperação Econômica
Chipre Letônia Afeganistão

Meridiano de Greenwich
Croácia Lituânia Azerbaijão
Dinamarca Luxemburgo Casaquistão
Eslováquia Malta Irã
Eslovênia Polônia Círculo Polar Antártico Paquistão
N
Espanha Portugal Quirguistão
Estônia República Tcheca Tadjiquistão
Finlândia Romênia Turquia
O L Turcomenistão
França Suécia
Grécia MCCA – Mercado Comum Nafta – Acordo de Livre- Uzbequistão
Centro-Americano -Comércio da América do Norte
Costa Rica Canadá S
El Salvador Estados Unidos da América
Guatemala México 0 3 155 6 310 km
Honduras
Nicarágua 1 : 315 500 000

Nota: Mapas elaborados pelo IBGE a partir de dados obtidos junto às organizações econômicas representadas, 2018.
Mercosul: a Venezuela está suspensa desde 12/2016 por descumprimento de seu Protocolo de Adesão e, desde agosto de 2017, por violação da Cláusula Democrática do Bloco; a Bolívia encontra-se em processo de adesão.
União Europeia: os cidadãos do Reino Unido votaram pela saída do país da União Europeia, em 23/6/2016.

BLOCOS ECONÔMICOS REGIONAIS - 2018

AllMaps

Círculo Polar Ártico OECD – Organização para


APEC – Cooperação
Econômica Ásia Pacífico Cooperação
Austrália e Desenvolvimento
Brunei Econômico
Canadá Alemanha

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Chile Austrália
China Áustria
Cingapura Bélgica

DA EDITORA DO BRASIL
Coreia do Sul Trópico de Câncer Canadá
Estados Unidos da América Chile
Filipinas Coreia do Sul
Indonésia Dinamarca
Japão 0° Equador Eslováquia
Malásia Eslovênia
México Espanha
Nova Zelândia Estados Unidos
Papua-Nova Guiné Estônia
Trópico de Capricórnio Finlândia
Peru
Rússia França
Tailândia Grécia
Vietnã Holanda
Hungria
Meridiano de Greenwich

Irlanda
Islândia
Israel
Círculo Polar Antártico Itália
Japão
Letônia
Luxemburgo
N
México
ECOWAS – Comunidade Econômica Pacto de Visegrád COMESA – Mercado Comum dos Noruega
dos Estados do Oeste da África Eslováquia Países do Leste e Sul da África Nova Zelândia
Benin Libéria Hungria Burundi Quênia O L Polônia
Burkina Faso Mali Polônia Comores Rep. Dem. do Congo Portugal
Cabo Verde Níger República Tcheca Djibuti Ruanda Reino Unido
Costa do Marfim Nigéria Egito Seicheles S República Checa
Gâmbia Senegal Eritreia Sudão Suécia
Gana Serra Leoa Etiópia Suazilândia Suíça
Guiné Togo Líbia
0 3 155 6 310 km
Uganda Turquia
Guiné-Bissau Madagascar Zâmbia 1 : 315 500 000
Malauí Zimbábue
Maurício

Fonte dos mapas: IBGE, 2018. Disponível em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_mundo/mundo_blocos_economicos.pdf.


Acesso em: 20 jul. 2020.

116 Não escreva no livro.


Os fluxos internacionais e as redes
Conforme vimos anteriormente, a Ordem Multipolar se caracteriza por uma crescente inte-
ração entre os países, sobretudo por meio da criação de blocos regionais econômicos ou
fóruns político-econômicos, facilitados pelos avanços nas comunicações e nos transportes,
que estão na base do processo de globalização.
No entanto, os fluxos de mercadorias, de pessoas e de investimentos não ocorrem de forma
homogênea pelo espaço mundial.
A configuração da rede mundial de comércio é bastante heterogênea. Os Estados Unidos,
a China e alguns países pertencentes à União Europeia, destacadamente a Alemanha, o Reino
Unido, a França e a Itália, são os principais polos do comércio internacional. A América Latina,
o continente africano e boa parte do continente asiático apresentam menor participação,
embora haja uma integração regional significativa nessas áreas.
Conforme examinamos anteriormente, o fluxo migratório de trabalhadores, que corres-
ponde à maior parte dos migrantes internacionais, dirige-se, sobretudo, aos países desen-
volvidos, nos quais o dinamismo da economia propicia melhores condições de vida e mais
oportunidades no mercado de trabalho. Parte dos refugiados de conflitos e guerras também
é acolhida nesses países. É importante ressaltar que os Estados Unidos e a Alemanha estão
entre os países que mais recebem imigrantes, principalmente em decorrência de seu dina-
mismo econômico. A China tem sido um país repulsor de população, sobretudo de mão de
obra qualificada, na chamada “fuga de cérebros”.

O mundo em rede: relações políticas e socioeconômicas


Como afirma o sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-) no livro A sociedade em rede, “a
revolução tecnológica com base na informação transformou nosso modo de pensar, de produzir,
de consumir, de negociar, de administrar, de comunicar, de viver, de morrer, de fazer guerra e de
fazer amor”. Essa revolução permitiu a emergência de uma economia global e de uma sociedade
da informação na virada do século XX para o século XXI pautadas na lógica das redes.
A revolução concentrada nas tecnologias de informação tem a capacidade de remodelar
a base material da sociedade em ritmos cada vez mais velozes. O próprio capitalismo tam-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
bém teria passado por um processo de profunda reestruturação, caracterizada por certa fle-
DA EDITORA DOdos
xibilidade de gerenciamento BRASIL
negócios, pela descentralização das empresas e por sua
organização em redes, além do aumento da concorrência econômica global em um contexto
de progressiva diferenciação dos cenários geográficos e culturais.
Adicionalmente, um novo sistema de comunicação pautado em uma linguagem digital uni-
versal teria promovido a integração global da produção e distribuição de palavras, sons e
imagens, personalizando-os, de acordo com as identidades e os interesses dos indivíduos.
Na visão de Castells, as redes interativas de computadores estariam crescendo exponencial-
mente, criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e, ao mesmo tempo,
sendo moldadas por ela.
Nesse contexto, a internet seria uma das principais inovações tecnológicas. O acesso
mundial a essa ferramenta produziu uma conexão até então inédita entre as pessoas,
ampliando sua interatividade, o que tem gerado reflexos nas mais variadas esferas da
vida cotidiana, desde a convivência em sociedade até a política e a economia local e mun-
dial. Contudo, é importante considerar que esse acesso também não é uniforme ao redor
do mundo, seja por motivos políticos, culturais ou econômicos. Há governos, por exem-
plo, que restringem o acesso à internet. Por outro lado, há regiões em que a pobreza
extrema impede que as pessoas sequer tenham acesso à água potável.

Não escreva no livro. 117


Recessões do capitalismo e consequências sobre
o espaço mundial
Quando observamos a história financeira mundial, notamos que as crises são recorrentes
no âmbito do capitalismo, tornando-se rotineiras e diferindo em grandeza, duração, frequên-
cia, origem (financeira, bancária ou real) e tipologia (acionária, imobiliária etc.). Ao longo do
desenvolvimento do capitalismo, diversas crises econômicas foram geradas, como as
de 1929 e 2008.
Embora essas crises tenham suas peculiaridades, existem alguns elementos em comum
entre elas: foram desencadeadas no setor financeiro e gestadas no centro do sistema capita-
lista, os Estados Unidos; além de terem sido acompanhadas de depressões econômicas, mar-
cadas por falências empresariais, elevação da inflação, forte aumento da taxa de desemprego,
redução do comércio exterior e instabilidade social e política.
No entanto, é importante destacar que diversos fatores políticos, institucionais, econômi-
cos e sociais devem ser considerados em conjunto para compreender a dinâmica de cada
crise sistêmica do capitalismo. Sabe-se que essas crises foram geradas por bolhas especu-
lativas, ou seja, pelo aumento excessivo do preço de determinados produtos associado a
especulação financeira (a compra de ações nas bolsas de valores para revenda, por exem-
plo). Portanto, as cíclicas expansões e contrações da economia capitalista são insuficientes
para explicar esses momentos de crise, resultantes de uma sucessão de eventos sobrepos-
tos que provocam seu agravamento.
A seguir, abordaremos as crises de 1929 e de 2008, ambas geradas pela especulação
financeira na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos.

A crise de 1929 e a Grande Depressão


Os antecedentes da crise de 1929 surgiram no início dos anos 1920, com a crise do padrão-
-ouro. A superação a ela se consolidaria apenas na década de 1940.
A crise econômica da década de 1930 foi um fenômeno longo e abrangente. A quebra da
Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, foi o principal marco dessa crise, causada pela bolha
no mercado de ações, ou seja, após um ciclo de valorização fictícia de ações que foram ampla-
mente vendidas e revendidas no mercado, essas ações se desvalorizaram de maneira abrupta,
causando perdas econômicas para milhares de investidores.
A quebra
MATERIAL da Bolsa de Nova York foi seguida da chamada Grande Depressão, período
DE DIVULGAÇÃO
caracterizado pela queda do preço das mercadorias, causada pela redução do nível de
DA EDITORA
atividade DO BRASIL
econômica. Além de afetar drasticamente a economia estadunidense, essa crise
teve impacto sobre diversos outros países do mundo. O gráfico a seguir mostra a oscila-
ção na produção industrial e no nível de emprego nos Estados Unidos nas décadas de
1920 e 1930.

PRODUÇÃO INDUSTRIAL E EMPREGO NOS ESTADOS UNIDOS (1920-1938)


DAE

Produção
Estados Unidos 1929
industrial
Em milhões
de desempregados
10 200
150
5 100 Produção industrial
50 Número de desempregados

0 0
1920 1925 1930 1935 1938
Anos
Adaptado de: HART-DAVIS, Adam. History: the Definitive Visual Guide. Londres: DK, 2007. p. 385.

118 Não escreva no livro.


Para amenizar os problemas econômicos e sociais causados pela Grande
Depressão, Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), presidente dos Estados
Unidos eleito em 1932, lançou o New Deal (Novo Acordo), um plano de recu-
peração pautado em ações para redução do desemprego e da pobreza,
recondução da economia a seu nível normal de produção e reforma do sis-
tema bancário e financeiro.
O New Deal resgatou o papel do Estado como regulador da economia,
embora não atendesse plenamente ao intervencionismo defendido pelo eco-
nomista britânico John Maynard Keynes (1883-1946), para quem os inves-
timentos públicos poderiam ser ainda maiores com o objetivo de conter a
depressão. Keynes ficou famoso ao defender que o Estado deveria intervir
fortemente na economia e regular os setores econômicos, já que o livre mer-
cado seria uma fonte inesgotável de crises.
Ainda assim, o New Deal pode ser considerado a aplicação em ampla
escala de políticas públicas na reconstrução de um país assolado por uma
grave crise financeira. Até seus maiores críticos admitem que, apesar das
falhas, os resultados alcançados foram de sucesso impressionante se com-
parados com a precária situação que vigorava em março de 1933.
Um forte legado do New Deal foi a expansão do papel do Estado por meio
da criação de instituições que conduziram à regulação de importantes setores
da economia e que promoveram políticas públicas federais que influenciaram
a dinâmica política, econômica e social estadunidense.

A crise de 2008: uma nova falência do livre mercado?


Após décadas de desenvolvimento, a economia dos Estados Unidos vol-
tou a sofrer crises com os choques do petróleo nos anos 1970, experimen-
tando a estagnação e a inflação dos preços das mercadorias.
Para enfrentar essa crise, alguns economistas propuseram a eliminação
ou diminuição dos controles públicos criados para o combate à Grande
Depressão, durante o New Deal. Tratava-se de reduzir o papel do Estado na
esfera econômica e dar espaço ao livre mercado. Assim, a economia foi des-
regulamentada e liberalizada, de acordo com preceitos neoliberais que
ganhavam força no período.
Com as crises cíclicas que atingiram as economias latino-americanas, russa
e asiática nasMATERIAL
décadas deDE1980
DIVULGAÇÃO
e 1990, ficava evidente que o caminho a ser
DA EDITORA
seguido consistia, DO medidas,
entre outras BRASIL em aumentar a poupança interna,
equilibrar os orçamentos e se voltar para a obtenção de superávits comer- Superávit: termo que,
ciais. Esse período foi marcado pelo fortalecimento de orientações neoliberais, genericamente, diz respeito a um
que propagam, entre outras ideias, a defesa da não intervenção do Estado na resultado positivo quando se
comparam receitas e despesas em
economia, a abertura comercial e a autorregulação dos mercados. Destaca-
relação às contas nacionais.
-se, nesse período, o Consenso de Washington, realizado em 1989, que gerou
uma série de recomendações neoliberais para os países em desenvolvimento,
sobretudo latinos, enfrentarem as crises e a situação de miséria estabelecida.
A liberalização econômica e a falta de dispositivos reguladores do mer-
cado, que se intensificou entre fins do século XX e início do XXI, culmina-
riam em uma das mais sérias crises econômicas contemporâneas, a crise
de 2008, que remonta à desregulamentação do setor bancário intensifi-
cada no final dos anos 1990. Somou-se a isso a formação de uma bolha
imobiliária nos Estados Unidos, cuja principal consequência foi uma expres-
siva valorização dos imóveis já construídos e uma explosão de novas cons-
truções. Como o preço dos imóveis cresceu muito além da renda familiar,
e os empréstimos bancários podiam ser feitos ou renovados com facilidade,
muitas pessoas se endividaram e, como não conseguiam pagar seus emprés-
timos, os setores bancário e financeiro entraram em colapso, o que causou
a falência de grandes instituições.

Não escreva no livro. 119


Os gráficos a seguir exibem a queda nos investimentos globais de 2005 a 2019. Conforme
se pode notar, a crise desencadeada em 2008 nos setores bancário e financeiro causou
impactos significativos na economia global, embora de maneira diferenciada em cada país e
em cada região do mundo.

INVESTIMENTO GLOBAL E NEGÓCIOS (MUDANÇA PERCENTUAL)

Ilustrações :DAE
Mercados emergentes e economias em
Economias avançadas desenvolvimento, exceto a China
15

10 15
Investimentos (%)

Investimentos (%)
5 10

0 5

-5 0

-10 -5

-15 -10

-20 -15
2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019
Anos Anos
China
25

20
Investimentos (%)

15 Investimento real

10 PIB real em taxas de câmbio de mercado

5 Importações reais

-5
2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019
Anos
Fonte: FMI. Relatório Perspectivas da economia mundial (outubro de 2019). Disponível em: https://www.elibrary.imf.org/view/IMF081/28248
-9781513508214/28248-9781513508214/28248-9781513508214.xml?redirect=true. Acesso em: 7 set. 2020.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA Embora
EDITORAasDO
teorias liberais e neoliberais sejam defendidas como proposta de regulação
BRASIL
econômica eficaz, em contextos de crise, empresas, organizações e sociedade recorrem aos
Estados para resolver problemas causados por crises sistêmicas do capitalismo, promovendo
políticas de assistência social, de geração de
empregos, de incentivo às atividades econômi-
cas e de socorro aos setores produtivos mais
afetados. No entanto, é necessário que haja uma
regulamentação nacional e internacional mais
efetiva da circulação de capitais pelo mundo,
sobretudo do capital especulativo, para coibir
práticas abusivas e danosas para as sociedades,
como as ocorridas nas crises de 1929 e 2008.
Passados mais de dez anos, as consequências
dessa última crise ainda são sentidas em dife-
rentes partes do mundo, especialmente entre
Justin Sullivan/Getty Images

as economias mais frágeis.

 Placa de venda indicando que a casa teve o preço


reduzido. Stockton, Estados Unidos, 2008.

120 Não escreva no livro.


Atividades

1. Considere as transformações na passagem da


Ordem Bipolar para a Ordem Multipolar. Discuta criação de um novo canal de vídeos na inter-
com seus colegas as principais transformações net capaz de atrair inscritos. Discutam entre
que essa transição trouxe para as relações po- si sobre a diferença entre os canais apresen-
líticas e econômicas mundiais. tados aqui e busquem entender por que um
canal atrai mais visualizações que o outro.
2. Leia o texto a seguir e faça o que se pede. Para isso, vocês vão definir o nome do objeto
Sucessora das Conferências Pan-Americanas e de busca, estabelecer critérios, analisar in-
da União Pan-Americana (1910), a Organização dos formações quantitativas e desenvolver algo-
Estados Americanos (OEA), fundada em 1948 e se- ritmos simples para solucionar o problema.
diada em Washington, Estados Unidos, é a mais
antiga organização regional em atividade. Tem por Etapa 1: Definir
finalidades construir uma ordem de paz e de justi-
ça no continente americano, promover a solidarie- a) Fazer uma lista dos critérios mais impor-
dade, o desenvolvimento e a cooperação entre os tantes para o processo de busca.
Estados da região, além de defender a democracia b) Com base no exercício de abstração, criar
e os direitos humanos. um título/modelo/objeto que ajude a de-
Fonte: Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: http:// senvolver o processo de pesquisa.
www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/integracao
-regional/14394-a-organizacao-dos-estados-americanos. c) Localizar um canal de vídeos da sua prefe-
Acesso em: 7 jun. 2020.
rência para iniciar o processo de busca.
Além dos blocos econômicos regionais, há
também fóruns multilaterais que tratam de Etapa 2: Analisar
assuntos que vão além das trocas comerciais, a) Identificar quais são os elementos que
como a Organização dos Estados Americanos mais se destacam nesses canais.
(OEA). Reflita sobre essa distinção e destaque b) Comparar tempo, pauta, número de visua-
a pertinência de ambos os tipos de organiza-
lizações e quantidade de inscritos entre os
ção internacional.
canais.
c) Elaborar uma lista com o registro pessoal
MATERIAL
Pensamento DE DIVULGAÇÃO
computacional do grupo sobre o que mais acharam rele-
vante nos canais pesquisados.
DA EDITORA
Nesta atividade, vamosDO BRASILcom canais
trabalhar
de vídeo na internet. Um dos nossos exem- d) Descrever uma série de itens que o grupo
plos é João das Neves, influenciador digital considere relevantes para a criação do pró-
com 200 mil inscritos em seu canal de entre- prio canal.
tenimento (Canal A), no qual ele trata de vá-
Etapa 3: Desenvolver
rios assuntos. Ele tem observado, no entanto,
que mesmo tendo muitos inscritos, isso não a) Organizar os itens que o grupo considera
se traduz em uma audiência massiva. Os dois relevantes para o canal em tópicos e, em
canais que competem com João são: seguida, listar subtópicos com o passo a
Canal B: comentários sobre músicas, cobertu- passo sobre o que vão precisar para resol-
ra de shows e entrevistas com celebridades. ver o tópico principal.
Canal C: vídeos descolados sobre esportes, b) Organizar a lista em linhas e colunas para
música, cinema, entrevistas e informações so- facilitar a visualização.
bre o que acontece no Brasil e no mundo. c) Apresentar as soluções para toda a turma
Diante desse cenário, reúna-se com os cole- e colher feedbacks para revisão da ativi-
gas de sala e imaginem possibilidades de dade.

Não escreva no livro. 121


4
UNIDADE
Outros modelos
de território

OS ESPAÇOS SOCIAIS: TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS


Quando se fala em territórios, quase sempre nos vem
Alasdair Pal/Reuters/Fotoarena

à mente a ideia de um espaço geográfico demarcado


em termos físicos por fronteiras que costumam ser
determinadas com base em referenciais identificáveis
de forma objetiva. As linhas delimitadoras de certo
espaço carregam sentidos e, por isso, não são pura
arbitrariedade. Ao contrário, expressam traços reais de
uma população que vive e produz sua vida, transfor-
mando dado ambiente. Ao se criar esse espaço, com
base no qual certas linhas são esboçadas de forma a
desenhar fronteiras de um “dentro” e de um “fora”,
 Os territórios enquadram modos de vida, algumas vezes de chega-se ao conceito contemporâneo de territorialidade.
maneira convencional e outras vezes a fim de expressar
tensões históricas. Nesse sentido, as marcas dos processosTerritorialidade se refere a um conjunto de elemen-
históricos que fizeram surgir fronteiras, como as ruínas das
tos e relações espaciais que demarcam espaços social-
batalhas, dizem mais que as demarcações institucionais dos
mente ocupados que servem, ainda, de parâmetros
limites. Posto de fronteira em Torkham, Paquistão, 2019.
reconhecidos para que determinadas conexões inter-
subjetivas e comunitárias possam se dar de maneira minimamente ordenada. Assim, a
territorialidade indica como essas demarcações se ligam às relações sociais, fornecendo
os contornos nos quais se dá o reconhecimento recíproco dos sujeitos que ocupam dado
território. Trata-se, portanto, das relações sociais delimitadas espacialmente.
Territorialidade é um conceito originado de estudos do comportamento de pássaros, na década
de 1920, que foi incorporado pela Geografia e por outras áreas das Ciências Humanas, a partir
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dos anos 1980, graças às suas possibilidades de utilização no contexto das relações sociais. Quem
DA EDITORA
já não DO BRASIL
ouviu dizer: “eu como pai” ou “eu como professora” ou ainda “eu como funqueiro”?
Descontadas as tentativas de não se comprometer por inteiro com uma opinião ou de se
desculpar por outra, essas expressões revelam, na verdade, um aspecto real da vida humana:
sua particularidade, ou seja, os diferentes níveis e dimensões particulares que cada indivíduo
pode e tem de ocupar por ser social.

 Os territórios são geralmente demarcados por limites que separam ambientes e locais de relação. Porém, fronteiras, como
pontes, sempre existem em relação aos lados que, simultaneamente, as têm como separação e se relacionam por meio
delas. Ponte em Da Nang, Vietnã, 2019.
Prawat Thananithaporn/Shutterstock.com

122 Não escreva no livro.


Do ponto de vista das relações intersubjetivas, as territorialidades demarcam diferenças
de posições, funções, comportamentos, rituais, expressões linguísticas e afetos. Desse
modo, a diversidade de lugares ocupados pelas pessoas expressa, igualmente, uma gama
variada de posições que elas assumem em relacionamentos que são diferentes em muitos
aspectos. Esses aspectos não se referem apenas ao que cada pessoa sente ou considera,
mas a demarcações de fronteira entre as diversas relações nas quais ela se engaja. Sentir-
-se ou ver-se diferente decorre, em certa medida, do fato de que em cada posicionamento
é demandado dos indivíduos uma série de comportamentos diversos.

Ian Allenden/Alamy/Fotoarena
 Ambientes como a escola servem de conexão entre pessoas, pois possibilitam a construção de laços de
compartilhamento e de confiança por meio das situações ali enfrentadas. Foto de 2017.

Diante disso, as relações sociais também podem ser entendidas e lidas com base nos ter-
ritórios que cada uma delas estabelece. Essas demarcações das relações nos põem sempre
em posições relativas, as quais se alteram conforme o trânsito realizado entre os territórios
socioculturais. Dessa forma, família, escola, grupo religioso, turma de amigos, relacionamen-
tos amorosos, trabalho, lazer, práticas esportivas são todos exemplos de territórios social-
mente configurados. Eles têm em comum o traço de serem conexões entre indivíduos.
Entretanto, carregam cada qual uma ou mais marcas que os distinguem uns dos outros.
Por exemplo, um jovem que faz manobras no skate num lugar público ao mesmo tempo
MATERIAL
que ocupa um DE DIVULGAÇÃO
espaço urbano socialmente configurado, com normas próprias, transita por
DA EDITORA
esse espaço segundo DO BRASIL
as regras de uma territorialidade que inclui movimentos e comporta-
mentos definidos por sua prática esportiva e pelos hábitos dos praticantes desse esporte.
Dessa maneira, o conceito de território, no contexto das relações sociais, apresenta uma
maleabilidade relativamente maior que aquela que apresentava naquele em que foi inicialmente
pensado. Diante disso, alguns geógrafos defendem, então, que seria possível pensar geografi-
camente os lugares sociais em sua especificidade, bem como as estratégias de movimentação
dentro deles e em relação a eles. Tais estratégias dizem respeito ao modo como se estabele-
cem, de forma às vezes espontânea e às vezes refletida, certas regras que fixam os limites.
Já foi mencionado que estabelecer uma territorialidade significa criar fronteiras. A delimi-
tação social de um vínculo a um grupo, como toda e qualquer demarcação, sinaliza espaços
particulares de movimento e comportamento. Desse modo, nem tudo é lícito, permitido ou
válido em qualquer lugar e relação. Estar vinculado a alguém por meio de uma conexão car-
rega o sentido específico definido pela natureza dessa relação.
Assim, o contexto de uma amizade é bastante diferente do contexto da paixão. Por mais que
ambas sejam expressões e vivências de afeto, cada uma delas pressupõe um ser que é afetado
pelo outro e um ser que afeta o outro, os quais dirigem as expectativas, as atitudes, as emoções
e os sentimentos de maneira diversa. Os limites que as pessoas precisam observar e reconhe-
cer, e em relação aos quais devem se posicionar, derivam do que se dá em cada relação.

Não escreva no livro. 123


A interação intersubjetiva exige posicionamentos diferentes em um caso e no outro. E
isso de maneira que noções partilhadas nesses territórios tenham significações com mati-
zes pouco ou muito diferentes – e até divergentes. Por exemplo, pense-se em intimidade
e sinceridade, dois componentes exigidos pelo afeto. Ser íntimo de um(a) namorado(a)
comporta condutas bem diversas de ser íntimo de um(a) amigo(a). Nas relações amorosas
e de amizade, a intimidade tem limites e fronteiras diferentes.

Jacob Lund/Alamy/Fotoarena
 Cada tipo de relacionamento estabelece limites específicos. Dessa forma, condutas que são permitidas
em uma situação de amizade não são possíveis em um compromisso amoroso, pois a cumplicidade
compartilhada entre amigos difere daquela que une os amantes. Foto de 2017.

Então, como definir a fronteira dos territórios se só é possível vê-los quando estamos
neles ou quando podemos nos posicionar em relação a eles? Essa questão põe em causa
vários aspectos da territorialidade social, desde os mais imediatos e cotidianos, que se
relacionam com as vivências, até aqueles que se referem a relações sociais mais amplas,
as quais podem se expressar em leis e regras bem definidas em códigos de conduta.
De certa maneira, discernir bem as fronteiras depende não somente dos graus de informa-
ção que as pessoas têm, mas da formação que elas alcançaram. Viver de forma adequada em
cada situação exige dos indivíduos um esforço de aprendizagem continuado. Espera-se das
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
pessoas a atenção e o reconhecimento crescente de elementos que se relacionam de maneira
DA EDITORA
muito DO e,BRASIL
complexa por vezes, igualmente, contraditória.
Essas relações que definem marcações de limitações e de proximidades apresentam em
geral características que remetem a várias dimensões da vida social dos indivíduos. Nesse sen-
tido, um mesmo espaço social
Pixelfit/iStockphoto.com

de relacionamentos é atra-
vessado por componentes
que são de caráter moral e
ético, que têm a ver com valo-
res compartilhados e escolhi-
dos, bem como de teor
estético, com a forma como
os indivíduos sentem o
mundo.

O uso da internet redefiniu


as barreiras e as definições
relativas ao público
e ao privado. Foto de 2020.

124 Não escreva no livro.


É importante refletir sobre como certos desenvolvimentos históricos trazidos pela inser-
ção de tecnologias de comunicação e de apresentação pública dos indivíduos fazem emer-
gir novas complexidades. Situações nas quais as fronteiras entre as dimensões
compartilhadas e as da esfera da privacidade se tornam mais difíceis de discernir, ainda
que elas continuem a existir. Um exemplo são as relações mediadas pelas redes sociais,
nas quais a exposição das pessoas é a norma da relação. Como conseguir enxergar os limi-
tes quando o compartilhamento de informações, de impressões e de valores se torna a
chave de acesso?
Uma dessas situações é a das relações entre as dimensões pública e privada da vida social.
Parte considerável dos conflitos e desencontros entre as pessoas provém exatamente do fato
de que nem sempre os indivíduos, no cotidiano, conseguem se movimentar bem em relação
às diferenças entre essas duas instâncias.
Seja na atuação real, seja no julgamento das próprias ações e das ações dos outros, os
indivíduos frequentemente se veem em dificuldades para se posicionar. Às vezes, usam cri-
térios que seriam relativos à dimensão privada para agir e opinar quando se trata do territó-
rio público e vice-versa. Esse embaraço, passível de provocar muitos problemas, que vão de
mal-entendidos a acusações ou aceitações precipitadas, decorre de dois fatores históricos,
um mais geral, outro mais contemporâneo.
De um lado, pelo fato de que realmente não existe um manual para se distinguir e
escolher o que fazer e como se posicionar, cabe ao sujeito identificar os limites à medida
que enfrenta os dilemas. De outro, observa-se uma tendência crescente ao autocentra-
mento dos indivíduos, à forma de a pessoa se ver isolada dos demais, algo incentivado
pela competitividade acirrada que se verifica em diversos ambientes. Esse aspecto da
vida cotidiana dificulta a identificação das dimensões públicas e compartilhadas da vida
social. Dessa maneira, muitas vezes o que é da alçada do público, que se refere a todos
em comunidade, vê-se negado ou transformado em um meio de se alcançar um interesse
puramente particular.
Quantas vezes não se observam, no cotidiano, comportamentos que expressam essa “colo-
nização” do comunitário pelo autointeresse sem nenhuma consideração para com as conse-
quências em relação aos demais? Se as fronteiras desses dois espaços não estiverem bem
delineadas e compreendidas, esses níveis sociais podem ser equivocadamente identificados.
Dessa maneira, valores que dizem respeito apenas à intimidade da pessoa, ou no
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
máximo da família, acabam sendo defendidos como se pudessem ser expandidos para
DA EDITORA
toda a sociedade. DO BRASIL
Nesse caso, politicamente, corre-se o risco de tornar regra legal, que
todos devem observar e obedecer, preceitos relativos a apenas uma perspectiva, sem
que haja condições de integrar o que há de comum entre as diversas classes e grupos
sociais em um sistema de leis.

 Nessa tirinha, o chargista Duke


critica a esfera pública. Ao
longo do desenvolvimento
histórico capitalista, a esfera
pública foi compartilhada
politicamente e se revela cada
vez mais um meio de obtenção
de interesses privados,
referentes apenas a grupos
© Duke

específicos.

Não escreva no livro. 125


Atividades

1. Tendo em mente os conhecimentos que você construiu ao longo do estudo das páginas
anteriores e também considerando seus conhecimentos e suas experiências de vida,
você possivelmente já sabe que as ações humanas, de maneira geral, ocorrem sempre
em espaços delimitados e com regras de funcionamento e de conduta. Essas regras de
funcionamento e de conduta são estabelecidas socialmente.
Que tal refletir sobre esse tema? Para isso, elabore no caderno uma lista com os espaços
em que você estabelece suas relações sociais. Na lista, você deve anotar o nome dos
espaços e também registrar os seguintes pontos:
a) as regras de funcionamento e de conduta existentes em cada um desses espaços;
b) os lugares que você ocupa neles.
2. Apresente a lista ao professor e aos colegas. Depois, organize, com o restante da turma,
uma discussão em sala de aula, seguindo as sugestões abaixo:
a) Formem uma roda para que as listas de todos os colegas sejam apresentadas aos
demais, coletivamente.
b) Em seguida, sob orientação do professor, converse e discuta com os colegas sobre
os espaços citados nas listas de todos.
c) Na discussão, considerem as seguintes questões:
•• A que resultados vocês chegaram?
•• Há espaços em comum, citados tanto por você como pelos colegas?
•• Vocês consideram que as regras de funcionamento e de conduta dos espaços lis-
tados em comum parecem ser semelhantes a todos?
•• Com base nas reflexões da turma nesta atividade e na atividade anterior, procurem
responder: O que se pode concluir acerca das relações sociais?
3. Leia o texto e faça o que se pede:
A superexposição nas redes sociais pode ser um hábito perigoso, de acordo com especia-
listas em segurança da informação. As redes sociais ocupam cada vez mais espaço na vida
dos brasileiros, mas é necessário usar com cautela essas ferramentas por questões de segu-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
rança e privacidade. Os apresentadores do programa Tarde Nacional conversaram com Ro-
drigo Nejm, diretor de Educação da Safernet Brasil, ONG que atua na promoção e defesa dos
DA EDITORA DO BRASIL
direitos humanos na Internet no Brasil. A instituição orienta crianças, adolescentes, pais e
educadores sobre uso responsável e seguro da Internet. Criou e coordena a Central Nacional
de Denúncias de Crimes Cibernéticos e o Helpline.br, canal de ajuda online que orienta víti-
mas de violações de direitos na rede. Mais informações no site http://www.safernet.org.br
(acesso em: 31 ago. 2020).
Rodrigo explicou sobre os riscos aos quais podemos estar submetidos ao expor informações
pessoais na internet. “Muitas pessoas se comportam nas redes sociais como se estivessem em
um bar em um pequeno grupo de amigos, mas, uma vez que isso vai para uma rede social, vo-
cê tira aquilo de um contexto íntimo e aquilo vai para um contexto público”, explica.
ESPECIALISTA alerta sobre cuidados com superexposição em redes sociais. Portal EBC. Disponível em:
https://radios.ebc.com.br/tarde-nacional/2019/07/especialista-alerta-sobre-cuidados-com
-superexposicao-em-redes-sociais. Acesso em: 31 ago. 2020.

•• Em grupos, pesquisem em jornais, revistas e sites casos em que a publicização da vida


privada gerou problemas para as pessoas. Façam um relatório, discutam com a turma
e, com a orientação do professor, produzam materiais como cartazes, vídeos e podcasts
que orientem as pessoas sobre os riscos e cuidados a serem observados quando da
exposição em redes sociais.

126 Não escreva no livro.


AS IDENTIDADES NO BRASIL E
OS DISCURSOS NACIONAIS
Até aqui, pudemos refletir sobre as fronteiras que delimitam o espaço entre o indivíduo e
a sociedade. Mas o que une os indivíduos à sociedade que os rodeia? E à nação de que fazem
parte? Como é construída a noção de identidade e de pertencimento entre pessoas geral-
mente desconhecidas entre si?
É possível que você já tenha parado para pensar sobre o que significa ser brasileiro. O que
pode ser uma novidade é que a noção de “brasilidade” vem de um longo processo de cons-
trução da identidade nacional.
Nas próximas páginas, vamos refletir sobre o processo de construção da identidade brasileira.
Com base no que você já sabe, como você definiria essa identidade? Há somente uma identi-
dade que nos define ou somos atravessados por identidades múltiplas? Por que a construção
de uma identidade nacional foi perseguida em diferentes momentos da história do Brasil?

Uma nova identidade para um novo país


Logo depois da Proclamação da Independência do Brasil, viu-se a necessidade de criar uma
unidade nacional, tecendo uma identidade comum entre aqueles que viviam em regiões dis-
tantes no território brasileiro. Naquele momento, o Brasil era marcado pela fragmentação, o
que ficou expresso nos diversos movimentos separatistas que eclodiram no século XIX.
Seguindo a tradição dos Estados europeus, que elegiam e mobilizavam símbolos e eventos
históricos na sustentação de uma ideia de “nação”, D. Pedro I (1798-1834) encomendou a
criação de uma bandeira para a nova pátria. Alguns historia-
Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

dores afirmam que o francês Jean-Baptiste Debret (1768-


-1848) foi o principal artista envolvido na elaboração desse
primeiro símbolo nacional.
Diferentemente do significado dado às cores da bandeira
nos dias de hoje, nessa versão o verde simbolizava a dinastia
de Bragança, origem do imperador, e o amarelo remetia à
dinastia de Habsburgo, da qual fazia parte D. Leopoldina (1797-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
-1826), sua esposa. É possível identificar na bandeira outros
símbolos, como a Cruz da Ordem de Cristo e dois ramos, um
DA EDITORA DO BRASIL
 Jean-Baptiste Debret (1768-1848). de café e outro de tabaco – duas plantas importantes para a
Bandeira imperial do Brasil,
1822-1889. Gravura publicada em economia da época. As 19 estrelas representavam as provín-
Viagem pitoresca e histórica ao cias do país naquele momento.
Brasil, 1834-1839.
D. Pedro I, ainda em 1822, compôs a melodia do Hino
da Independência, que passou a representar a nação – a letra é uma composição do poeta
Evaristo da Veiga (1799-1837). Em 1831, foi criado o Hino Nacional, o qual foi mantido mesmo
após a Proclamação da República.

Rupturas e continuidades no Segundo Império


D. Pedro II (1825-1891) tornou-se imperador do Brasil em 1840, quando tinha apenas
14 anos. Isso ocorreu porque seu pai, Pedro I, abdicou do trono em 1831. Nesse intervalo,
o país foi governado por regentes, o que contribuiu para a eclosão de inúmeras revoltas regio-
nais e tentativas de separação de províncias. Para estancar essas iniciativas, alguns políticos
da época optaram por antecipar a maioridade de D. Pedro II. De fato, a subida ao trono do
novo imperador rapidamente transformou-se em um símbolo nacional naquele momento,
na medida em que ela foi vista por muitos contemporâneos como um elemento central para
a manutenção da unidade nacional brasileira.

Não escreva no livro. 127


A (re)criação do passado brasileiro
Com o objetivo de assegurar a imagem de “imperador dos trópicos”, intelectual e defensor da
modernidade, D. Pedro II reinaugurou no Rio de Janeiro a Academia Imperial de Belas-Artes, em
1831, e, em 1838, criou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), que existe até hoje.
Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), brasileiro que estudou e construiu carreira
acadêmica em Lisboa, foi uma das figuras mais proeminentes do IHGB e teve como principal
função reunir a elite letrada para investigar o passado do Brasil e construir uma nova história
da gênese da pátria. O instituto era financiado pelo imperador, que também participava ati-
vamente das reuniões de seus membros.
Empenhado em criar “um sentimento de Brasil”, Varnhagen e outros intelectuais
construíram narrativas que buscavam representar o país como a única nação civi-
lizada da América. Para isso, utilizavam o passado e as características do Brasil
estabelecendo um contraste com a história dos demais países colonizados pela
Espanha, representados como instáveis do ponto de vista político, palco de várias
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Rio de Janeiro

guerras civis, sem contar a desagregação do território. Ocultava-se, dessa forma, a


violenta política territorial colocada em prática desde a Colônia e exaltava-se a
Monarquia como mantenedora da ordem, ao contrário do que ocorrera às repúbli-
cas no restante da América Latina.
Na leitura de Varnhagen, influenciada pelas ideologias raciais comuns à época,
a matriz portuguesa do povo brasileiro seria predominante sobre a indígena e a
africana. Posteriormente, em oposição a esse viés, Capistrano de Abreu (1953-
-1927), nomeado oficial da Biblioteca Nacional em 1879, apontou o mestiço e a
mestiçagem como aspectos fundamentais do povo brasileiro.
 Capa de revista do Instituto O IHGB pode ser considerado a instituição oficial imperial que mais agiu no
Histórico e Geográfico sentido de criar uma identidade para o país. Ao eleger heróis e grandes feitos
Brasileiro (IHGB), publicada nacionais, seus membros buscaram forjar uma identidade nacional por meio de
em 1889.
uma unificação cultural baseada nas prioridades do imperador.

Museus Castro Maya, Rio de Janeiro


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Jean-Baptiste Debret. Uma tarde na Praça do Palácio, 1826. Aquarela sobre papel, 15,5 cm × 21,4 cm. As obras
de Debret, artista que participou da Missão Francesa (1816-1826), são alguns dos mais importantes documentos
históricos sobre as paisagens rurais e urbanas, as gentes e os costumes no Brasil do século XIX.

128 Não escreva no livro.


Romantismo à brasileira
Junto à criação do IHGB, que reunia intelectuais comissionados pelo Império, D. Pedro II também apostou nas
artes como meio de construção de símbolos de pertencimento e de uma narrativa nacional. Naquele período, estava
em voga um movimento artístico europeu chamado Romantismo (c. 1830-1880), caracterizado pela subjetividade,
pelo sentimentalismo e pelo nacionalismo. Adotado como parte do projeto oficial de D. Pedro II, o Romantismo ins-
pirou um grupo de artistas e escritores, que elegeram os indígenas como representantes genuínos da jovem nação
brasileira. Em romances, poemas e pinturas do período, os indígenas eram geralmente retratados como personagens
heroicos relacionados à mitologia nacional.
Porém, não se tratava de indígenas quaisquer,

Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro


mas daqueles que se caracterizavam como “bons
selvagens”, representados a partir de ideias e valo-
res vindos da Europa, na forma de personagens
que uniam as características nacionais à pretensa
civilidade europeia.
Ao idealizar os indígenas, um dos objetivos dos
românticos era apagar a mácula da escravidão
negra e desvincular o país da imagem ruim que
tinha no exterior. Contudo, é importante lembrar
que os indígenas também foram explorados, assas-
sinados e escravizados durante o período colonial
e que aqueles considerados “selvagens” continua-
vam sendo combatidos no interior do país.
 José Maria de Medeiros. Iracema, 1881. Óleo sobre tela,
Romances como Iracema e O Guarani – tema da 168,3 cm × 2 550 cm. Na obra, a personagem de José de Alencar
ópera homônima composta por Carlos Gomes (1836- foi representada com ornamentos indígenas e traços europeus.
-1896) –, de José de Alencar (1829-1877), são
exemplos de obras literárias consideradas símbolos da primeira fase do romantismo brasileiro, caracterizada pelo indianismo
e pelo nacionalismo. Pintores como Félix Taunay (1795-1881), Johann Moritz Rugendas (1802-1858) e José Maria de
Medeiros (1849-1925) criaram pinturas que tinham como foco a paisagem tropical e os povos originários, caracterizadas
pela representação pacificada e idealizada, de forma a esconder toda a violência presente no cotidiano do Império.
A pintura também contribuiu para a exaltação dos grandes líderes e eternização dos principais acontecimentos
históricos da nação brasileira. Em obras monumentais como a Batalha dos Guararapes (1875-1879), de Victor
Meirelles, e Independência ou morte (1885), de Pedro Américo, contava-se uma história de bravura e heroísmo por
MATERIAL
trás dos grandes eventosDE DIVULGAÇÃO
nacionais – nesses casos, a expulsão dos holandeses de Pernambuco e a emancipação do
governo português, respectivamente.
DA EDITORA Essas cenas de glória nacional foram expostas nos principais museus e repro-
DO BRASIL
duzidas em diversos meios, ajudando a tecer um imaginário sobre o Brasil e a criar uma identidade entre os brasileiros.
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Victor Meirelles. Batalha dos Guararapes, 1875. Óleo sobre tela, 500 cm × 925 cm.

Não escreva no livro. 129


O fim do Império
Apesar de D. Pedro II ter sido um imperador popular, seu reinado começou a apresentar sinais
de decadência a partir da década de 1860. Um dos principais motivos foi a Guerra do Paraguai
(1864-1870) – que uniu Brasil, Uruguai e Argentina contra aquele país –, ocasionada pela política
expansionista brasileira e pelo interesse estratégico das
nações envolvidas com relação à Bacia do Prata. Acredita-
Instituto Moreira Salles

va-se que seria uma guerra fácil e curta, o que não aconteceu.
Apesar de o Brasil ter vencido o conflito, as despesas e a
grande violência empregadas no combate desgastaram a
imagem do imperador e da monarquia diante da opinião
pública interna e externa.
Após a guerra, setores militares ganharam projeção
nacional e seus interesses entraram em confronto com
medidas tomadas pelo imperador. Além disso, os confli-
tos com a Igreja e as questões envolvendo a abolição da
escravatura contribuíram para erodir a base de apoio de
D. Pedro II e da monarquia.
Enfraquecido, o Segundo Reinado não resistiu à investida
 Mulheres no mercado, fotografia de Marc Ferrez. militar que, em 1889, articulou um golpe junto às elites
Rio de Janeiro, RJ, c. 1875.
pela implementação da República no Brasil.

O povo brasileiro na Primeira República


A característica populacional da Primeira República (1889-1930) era extremamente hete-
rogênea: afrodescendentes, indígenas, imigrantes europeus e mestiços tinham línguas, carac-
terísticas físicas e culturais e costumes bastante diversos entre si. Apesar dos esforços
conduzidos pelo Império, a ideia de “ser brasileiro” ainda era abstrata no período, marcado
por grandes desigualdades sociais, regionais e étnico-raciais.
Coube à Primeira República implementar políticas que trouxessem algum tipo de identi-
dade homogênea capaz de representar a nação. O ensino primário passou a integrar uma
parcela maior da população, tornando-se responsabilidade dos governos estaduais. Por meio
dele, objetivava-se tornar a língua portuguesa a única utilizada no país e, assim, difundir uma
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
visão de história e de geografia baseada na exaltação dos heróis da pátria e da natureza bra-
DA EDITORA
sileira. Mas asDO BRASIL
escolas formavam também trabalhadores minimamente letrados e obedientes,
tendo em vista que o país passava por um processo de urbanização e industrialização.
Além disso, o período foi marcado por greves e revoltas, como a Guerra dos Canudos (1896-
-1897), a Revolta da Vacina (1906), a Revolta da Chibata (1910) e a Guerra do Contestado
(1912-1916). No campo da intelectualidade e da literatura, as obras do período buscaram
desvendar a “alma nacional” a partir de uma diversidade de “tipos nacionais”. Na obra Os
sertões (1902), resultado de quase dois meses de observação do conflito em Canudos, o jor-
nalista Euclides da Cunha descreve os aspectos do sertão nordestino e faz um relato sobre
o sertanejo, aquele indivíduo que, segundo sua visão influenciada pelo determinismo social,
era embrutecido pelo meio. Esse “tipo nacional” também foi representado em livros de Raquel
de Queiroz (1910-2003), Graciliano Ramos (1892-1953) e Guimarães Rosa (1908-1967)
nas décadas seguintes. Junto ao sertanejo, o caipira era a representação do avesso da moder-
nidade urbana. Inspirado nesse “tipo nacional”, Monteiro Lobato criou em 1914 o persona-
gem Jeca Tatu, caracterizado pela preguiça, pela pobreza, pela enfermidade e pela fome
associadas aos trabalhadores rurais.
Já Lima Barreto (1881-1922) representou os personagens urbanos e o ambiente do Rio de
Janeiro nos primeiros anos da República. A obsessão nacionalista, a busca pelo espírito popu-
lar brasileiro e as desigualdades são temas do clássico Triste fim de Policarpo Quaresma (1915).

130 Não escreva no livro.


Os “Brasis” de Darcy Ribeiro
Os “tipos nacionais” foram descritos pelo antropólogo Darcy Ribeiro em seu livro O povo brasileiro, lançado em
1995. O objetivo desta obra foi, segundo Darcy informa logo na introdução, “reconstituir e compreender o Brasil e os
brasileiros, sua gestação como povo”. Assim, ele retoma as matrizes étnico-raciais e as formações sociais brasileiras
desde a colônia, apontando os processos de negociações, violências e sínteses que levaram à unidade nacional e à
integração cultural no Brasil.
Ao mesmo tempo que reconhece que a unificação do “povo-nação” foi bem-sucedida, Darcy Ribeiro chama a aten-
ção para a formação e a existência de comunidades distintas entre si em meio ao território brasileiro. Essa divisão em
cinco “variantes principais da cultura brasileira tradicional” é, em suas palavras, fruto de adaptações e diferenciações
que ocorreram ao longo do tempo.
Elas são representadas pela cultura crioula, que se desenvolveu nas comunidades da faixa de terras frescas e fér-
teis do Nordeste, tendo como instituição coordenadora fundamental o engenho açucareiro. Pela cultura caipira, da
população das áreas de ocupação dos mamelucos paulistas, constituída, primeiro, através das atividades de preia de
índios para a venda, depois, da mineração de ouro e diamantes e, mais tarde, com as grandes fazendas de café e a in-
dustrialização. Pela cultura sertaneja, que se funde e difunde através dos currais de gado, desde o Nordeste árido até
os cerrados do Centro-Oeste. Pela cultura cabocla das populações da Amazônia, engajadas na coleta de drogas da ma-
ta, principalmente nos seringais. Pela cultura gaúcha do pastoreio nas campinas do Sul e suas duas variantes, a ma-
tuta-açoriana (muito parecida com a caipira) e a gringocaipira das áreas colonizadas por imigrantes, predominante-
mente alemães e italianos.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 270.

1. Com a ajuda de um mapa político do Brasil, identifique a localização geográfica de cada um dos “Brasis” apon-
tados por Darcy Ribeiro. Em qual deles está a região em que você vive?
2. Faça uma pesquisa sobre as principais características culturais de sua região de acordo com Darcy Ribeiro e
responda: Você reconhece essas características em seu local de vivência? Explique.
3. A análise das variantes da cultura brasileira foi elaborada por Darcy Ribeiro em 1995, como fruto de seus es-
tudos históricos, sociológicos e antropológicos sobre a formação do Brasil. Com base nos seus conhecimentos
sobre a cultura e a sociedade brasileira de hoje, que “variante” você adicionaria a essa lista? Por quê?
Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Apresentação de
dança típica
gaúcha em Santa
Maria, RS, 2018.
Sergio Ranalli/Pulsar Imagens

Cururueiros tocando viola em


Várzea Grande, MT, 2019.

Não escreva no livro. 131


A semana de 1922 e o Modernismo brasileiro
Na década de 1920, artistas buscaram, de diversas formas, repensar e experimentar con-
cepções e técnicas com o objetivo de investigar e criar uma nova identidade cultural e esté-
tica para o país. Para isso, julgaram necessário se desprender dos modelos artísticos europeus
e criar uma nova forma de arte autônoma e adequada às reais características do povo e da
paisagem do Brasil.
A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada em São Paulo, no Theatro Municipal, reuniu
poetas, músicos, artistas plásticos e intelectuais que apresentaram maneiras inovadoras de pen-
sar e de representar o país. Tratava-se da primeira manifestação coletiva e pública, por fora dos
meios oficiais e das escolas conservadoras, em prol da construção de uma noção de brasilidade.
Nas diversas performances realizadas em seis dias de evento, a liberdade de expressão e o rom-
pimento das regras preestabelecidas permearam as mensagens dirigidas ao público.
Entre os participantes da Semana de 1922, realizada em meio à celebração do centenário da
Independência do Brasil, estavam o músico e compositor Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que
apresentou espetáculos como o intitulado “Danças Africanas”; o literato Mário de Andrade (1893-
-1945), que defendeu as raízes da cultura popular brasileira; e a pintora Anita Malfatti (1889-1964),
que expôs as pinturas “Negra Baiana” e “Caboclinha”, entre outras. Inicialmente, as propostas foram
mal recebidas, sendo consideradas de mau gosto entre os críticos, porém, com o passar do tempo,
o Modernismo brasileiro se consolidou e, de fato, criou novas formas de entender a arte e o Brasil.
Os modernistas brasileiros dialogavam com movimentos artísticos modernos estrangeiros,
como o Futurismo, o Cubismo e o Expressionismo, mas que eram traduzidos de forma parti-
cular. As principais características que representavam o Modernismo no Brasil eram a busca
por uma linguagem brasileira, os relatos e as críticas sobre o cotidiano e o passado, o subje-
tivismo e a liberdade de criação.
Mais tarde, em seu “Manifesto Antropófago” ou “Manifesto Antropofágico”, de 1928, o
escritor Oswald de Andrade (1890-1954), uma das figuras mais proeminentes do Moder-
nismo, declarou que, em vez de copiar as formas artísticas vindas do exterior, deveríamos
“deglutir” essas referências para criar algo moderno e genuinamente brasileiro.
Seguindo essa proposta, passaram a figurar nas obras de arte os trabalhadores, os mes-
tiços, os diversos costumes do povo e a paisagem brasileira, todos retratados por meio de
variadas e novas técnicas artísticas. Dessa maneira, o povo e seus variados tipos foram incor-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
porados à arte, valorizando o que é nosso e propondo uma nova identidade nacional.
DA EDITORA DO BRASIL
Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo,
São Paulo/ Tarsila do Amaral Empreendimentos

 Tarsila do Amaral.
Operários, 1933.
Óleo sobre tela,
150 cm × 230 cm.
Esta é uma das obras
mais famosas da
artista, que passou a
integrar o
Modernismo após a
Semana de 1922.

132 Não escreva no livro.


Samba, futebol e o elogio ao trabalho
Após Getúlio Vargas chegar ao poder, em 1930, a cultura e a identidade nacionais entram
de forma prioritária na agenda governamental. Mesmo antes do recrudescimento do regime,
com o golpe que instaurou a ditadura do Estado Novo (1937-1945), o presidente deixava
claro em seus discursos públicos o objetivo de estruturação de uma cultura nacional e forta-
lecimento dos princípios da nacionalidade. Fortemente influenciado pelas ideias totalitárias
de origem na Europa, o regime varguista buscava a exaltação do Estado, na figura do líder, a
glorificação da nação brasileira e a educação dos cidadãos para o progresso.
Para implementar esse objetivo na prática, foram criados órgãos oficiais encarregados da admi-
nistração da cultura, da educação, da propaganda e das comunicações. Nessas instituições, cer-
tos conteúdos eram selecionados e amplamente divulgados mediante as prioridades do regime.
Assim, a escola, o rádio, o cinema e os esportes se tornaram veículos da ideologia oficial.
Enquanto certas tradições, práticas e comportamentos eram legitimados, sendo associa-
dos à brasilidade, outros foram combatidos ou censurados, por desviarem da ideia de país
que se buscava fomentar. Além da unidade nacional, a promoção da ideia de democracia
racial, por sua vez, suprimia o espaço e as demandas das minorias.
Um exemplo dessa manipulação da cultura popular foi a apropriação e a ressignificação
do samba, importante instrumento de construção da identidade nacional na Era Vargas. Se,
por um lado, o regime contribuiu para tornar o samba um grande símbolo brasileiro, por outro,
houve um esforço em tornar os sambistas aliados na difusão de valores e padrões de civili-
dade. Conforme promovia-se um “samba oficial”, temas como a malandragem, bastante
comuns nas primeiras décadas do século XX, deram lugar ao elogio ao trabalho. Seguindo o
discurso oficial do varguismo, o trabalhador, brasileiro ideal de acordo com o regime, passou
a figurar nas letras da canção popular. O samba-exaltação, voltado à divulgação das riquezas
do país, também se tornou um gênero em profusão.
Observando a popularidade do futebol sobre as massas, o regime de Vargas buscou ainda usar
o esporte como ferramenta política. Controlando a mídia, o governo passava a imagem de uma
prática harmônica, disciplinada, coletiva e sem conflitos, tal como se queria a sociedade brasileira.
Foi nesse período que germinou nos jornais, revistas e rádios a ideia de “país do futebol”. A Copa
do Mundo de Futebol de 1938 inaugurou uma seleção brasileira verdadeiramente nacional, com-
posta pela primeira vez por jogadores de outras regiões além do Rio de Janeiro.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Acervo Iconographia

 Festa de Carnaval com um


bonde enfeitado como carro
alegórico, década de 1930,
Rio de Janeiro.
Arquivo/Estadão Conteúdo

 Apresentação do 1o de maio durante governo


Vargas no estádio Pacaembu. São Paulo, em
1944.

Não escreva no livro. 133


O Tropicalismo
Durante a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985), quando vários artistas foram reprimi-
dos e censurados por não estarem de acordo com a política vigente, a música foi um importante
instrumento de contestação. Muitos artistas dessa geração, como Chico Buarque e Geraldo
Vandré, passaram a se dedicar às canções de protesto. Já o estilo musical chamado de Tropi-
cália, com o uso de instrumentos como guitarras elétricas e ritmos ligados ao rock –
que soava como uma espécie de contravenção na época – e à música regional brasileira, criou
uma nova estética que traduzia a forma pela qual determinado grupo de jovens entendia o
Brasil e sua arte.
O movimento teve seu marco inicial com o lançamento do álbum Tropicália ou Panis et
circenses, de 1968. Nele, Gilberto Gil (1942-), Caetano Veloso (1942-), Gal Costa (1945-),
Nara Leão (1942-1989), Tom Zé (1936-), Torquato Neto (1944-1972) e o grupo Os Mutan-
tes apresentaram músicas que, utilizando representações estereotipadas do Brasil como
paraíso tropical, criticavam a ditadura, os costumes, a desigualdade, a violência e a apatia
de parte do povo brasileiro. Esses artistas também propunham uma nova estética visual e
musical, que negava a maneira tradicional de fazer canções e de apresentá-las ao público.
Pouco depois do lançamento do álbum, seus participantes começaram a ser alvo da ditadura
militar e vários deles tiveram de se exilar. Registrando esse momento, Gilberto Gil compôs e
gravou a canção “Aquele abraço”, em 1969, como forma de despedida do país rumo ao exílio.

Philips Records
Claudemiro/Acervo UH/Folhapress

1 2

 Duas imagens marcantes do tropicalismo:


[1] apresentação de Gilberto Gil, acompanhado dos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Mutantes, no 3o Festival de Música Popular Brasileira,
promovido pela TV Record, e [2] capa do disco Tropicalia
DA EDITORA DO BRASIL ou Panis et Circencis, de 1968. São Paulo, SP, 1967.

O brasileiro no Cinema Novo


No campo audiovisual, o movimento do Cinema Novo vinha, desde o início dos anos 1960, propondo uma estética
nacional baseada na centralidade do povo brasileiro e dos dramas vividos no país. Filmes como Cabra Marcado para
Morrer (1962), do diretor Eduardo Coutinho, Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e Deus e o Diabo na
Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, narraram as temáticas sociais e colocaram marginalizados como protagonistas,
usando elenco de pessoas comuns e cenários reais do sertão em suas produções.
No manifesto Estética da Fome, de 1965, Glauber Rocha, o maior expoente do Cinema Novo, expôs o compromisso
de representar a realidade brasileira tal como ela era, demonstrando as mazelas da miséria e do subdesenvolvimento
e suas consequências no modo de ser do povo. Com isso, buscava oferecer aos brasileiros a sua verdadeira autoima-
gem, fruto de uma história marcada pelo colonialismo, pela desigualdade e pela dependência econômica. Esse viés
crítico e de engajamento social, proposto pelo Cinema Novo, ia de encontro aos filmes populares à época, que serviam
para a exportação da imagem de um país de belezas naturais e de um povo generoso e hospitaleiro. O brasileiro do
Cinema Novo não era aquele usualmente representado nas telas, mas aquele até então esquecido no interior dos
sertões e nas periferias das grandes cidades.

134 Não escreva no livro.


Atividades

1. A obra a seguir, intitulada A Pátria, faz parte se tornou diretor em 1935. Um de seus projetos
do acervo do Museu da República. Observe-a foi batizado de Missão de Pesquisas Folclóricas,
atentamente e responda ao que se pede. expedição de pesquisadores que explorou tra-
dições das regiões Norte e Nordeste do Brasil

Museu da República, Rio de Janeiro


em 1938. As pesquisas da Missão foram regis-
tradas em um catálogo disponível no endereço:
http://centrocultural.sp.gov.br/site/wp-content/
uploads/2016/10/CCSP-catalogo-missao
-pesquisas-folcloricas.pdf. Acesso em: 4 ago.
2020. Em duplas, explorem as imagens dis-
poníveis no catálogo e observem as tradições
culturais que elas representam.

 Pedro Bruno. A Pátria, 1919. Óleo sobre tela,


a) Como a Missão de Pesquisas Folclóricas se
2,78 m × 1,90 m. relaciona ao projeto modernista de cultura
nacional?
a) Descreva a imagem identificando os símbo-
los nela representados. b) O que as pesquisas revelam sobre as terri-
torialidades culturais no Brasil do final da
b) Como a imagem pode ser relacionada ao
década de 1930?
período de implementação da República bra-
sileira? Que significados buscou-se transmi- c) O projeto nacional do Estado Novo agia de
tir por meio dela? maneira a integrar essas territorialidades
c) Os símbolos nacionais e as pinturas históricas culturais? Expliquem.
contribuíram para construir um senso de 4. Os cineastas do Cinema Novo propunham uma
identidade brasileira. Pesquise e analise a nova estética e a representação da realidade
letra do Hino da Proclamação da República, brasileira. Com o lema “uma câmera na mão
um desses conteúdos de caráter nacional. e uma ideia na cabeça”, eles produziam filmes
Que visão de Brasil e dos brasileiros ele trans- geralmente com baixo orçamento, sem contar
mite? Escreva um texto crítico sobre isso. com equipamentos sofisticados nem grandes
2. Como você viu até aqui, diversas iniciativas fo- equipes de produção. Suas obras tinham o
MATERIAL
ram tomadas DE da
ao longo DIVULGAÇÃO
história brasileira em caráter de denúncia das mazelas sociais, dos
prol da construção de uma identidade e uma privilégios e das desigualdades. Com base nas
DA EDITORA DO BRASIL
cultura nacionais. Com base em seus estudos, ideias desse movimento, façam as atividades a
identifique em seu caderno: seguir em grupos.
a) Uma política estatal de fomento à identidade a) Pesquisem sobre esse movimento e, se pos-
nacional brasileira e quais foram as suas sível, assistam a alguns filmes para adquirir
principais características. repertório.
b) Um movimento social ou artístico que propôs b) Elaborem o roteiro de um curta-metragem
diretrizes para a cultura nacional e quais fo- de no máximo 10 minutos que tenha a te-
ram suas principais características. mática social como eixo. O filme deve conter
c) Reflita e responda: A configuração de uma uma crítica a algum aspecto político ou social
unidade nacional brasileira suprimiu a exis- da atualidade. Se necessário, consultem tu-
tência de comunidades com identidades toriais na internet sobre como escrever um
regionais? Explique. roteiro de vídeo.
3. O escritor modernista Mário de Andrade integrou c) Compartilhem e discutam o roteiro com a
projetos voltados à cultura e ao patrimônio bra- turma. Nessa etapa, as contribuições dos
sileiro à frente do Departamento Municipal de outros colegas podem ser incorporadas ao
Cultura de São Paulo, instituição que fundou e resultado final do roteiro.

Não escreva no livro. 135


ASCENSÃO DA JUVENTUDE E IDENTIDADE CULTURAL

Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri © Succession Pablo Picasso/
AUTVIS, Brasil, 2020
 Pablo Picasso (1881-1973). Guernica, 1937. Óleo sobre tela, 3,49 m × 7,77 m faz referência ao bombardeio da
cidade de mesmo nome pela força aérea nazista, que lutou a favor do regime franquista na Guerra Civil Espanhola
(1936-1939). Transitando da modernidade para a pós-modernidade, a obra ressalta a angústia e o sofrimento
daquele momento histórico.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo conheceu os horrores da moder-


nidade. E, de certa forma, seria possível dizer que o medo e a angústia desencadeados pela
guerra e principalmente pelas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre as
cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki levaram à contestação de valores modernos
como a racionalidade, o pensamento positivista e a convicção de que todos os seres huma-
nos têm direitos iguais e buscam uma sociedade mais civilizada. Era o fim de uma postura
que imperara no século XIX, quando a industrialização e o capitalismo estavam em seu auge
e o sentimento social era de euforia e de esperança. A obra Guernica, de Picasso, mostra o
sentimento que passa a vigorar nesse período.
Dessa forma, no pós-guerra, os valores da modernidade foram abalados, dando espaço a
novos movimentos. O indivíduo, com sua subjetividade, seus desejos, suas experiências pes-
soais, seus gostos e sua identidade única, tornou-se o centro dos valores do pós-guerra. Divór-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
cios, independência econômica e social das mulheres, poucos filhos e ampliação dos anos de
estudo para um maior número de pessoas configuraram esse cenário. Nas grandes cidades,
DA EDITORA DO BRASIL
passou-se a reforçar as diferenças: a individualidade foi destacada em detrimento da univer-
salidade. Isso fortaleceu os movimentos baseados nas identidades pessoais, e não nas classes
sociais, como ocorria anteriormente à guerra, dando origem a movimentos feministas, antirra-
cistas, pacifistas, entre outros. Esses movimentos deixavam em segundo plano a experiência
de classe para valorizar as experiências do sujeito.
Com isso, iniciou-se uma nova era nas artes, nos valores e na forma de ser, uma revolução
cultural, em que as certezas da vida passaram a ser contestadas. Alguns autores chamam
esse movimento de pós-Modernidade, embora não haja um consenso em relação a isso.

O protagonismo juvenil no Pós-Guerra


As mudanças ocorridas nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial tiveram como
protagonista um sujeito histórico que ganharia espaço na nova visão de mundo: a juventude,
que era permeada por um novo sentimento: a desilusão. Pela primeira vez na Modernidade,
esse grupo social seria considerado um agente consciente e independente na sociedade.
Mais que uma definição exata da idade, algo entre 14 e 24 anos, a juventude passou a ser
o estágio socialmente mais interessante da vida. Os jovens ganharam identidade própria e
passaram a lutar contra o controle dos mais velhos, o que gerou uma crise entre as gerações,
com a contestação da autoridade e dos antigos códigos morais.

136 Não escreva no livro.


A individualidade tornou-se o valor

Museu de Arte Dallas, Dallas. Fotografia: Bridgeman


images/Easypix Brasil © Robert Rauschenberg Foudation/AUTVIS, Brasil, 2020.
principal, com os jovens na dianteira,
enquanto a indústria se beneficiava desse
processo e o estimulava, promovendo a
criação de novos nichos de mercado que
envolviam produtos como cosméticos,
roupas e música, por exemplo.
Diferentes grupos sociais reafirmaram
então o direito de falar por si e de ter uma
voz aceita como legítima. Esse pluralismo
exaltou a coexistência de múltiplos
mundos e formou o suporte para novos
movimentos sociais. O ecletismo, a inde-
terminação e a ênfase em qualidades
transitórias passaram a substituir a ideia
de uma cultura comum: o “eu sou” dava
lugar ao “eu estou”. Essas foram as mar-
cas da segunda metade do século XX – e
que, de certa forma, continuam marcando
o século XXI –, marcas que realçaram a
imprecisão diante de um mundo caótico
e instável.
A partir desse movimento, partidos
políticos e sindicatos perderam força como
meio de organizar a população e deram
Robert Rauschenberg. Skyway, 1964. Óleo e silkscreen sobre tela,
espaço a movimentos culturais e sociais:
5,48 cm × 48,7 cm. A partir da Segunda Guerra Mundial, a arte passou a
tratava-se de ações coletivas de pessoas combinar diferentes técnicas e materiais com imagens disformes que
que partilhavam aspirações e desejos representam a imprecisão do mundo, o caos, a multiplicidade e a diversidade.
comuns, assim como causas políticas,
raciais e identitárias, ou que defendiam movimentos contraculturais. É o que
afirma o historiador Eric Hobsbawm, no texto a seguir.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
[...] Na maior parte do Terceiro Mundo, onde ainda não se dera a transição
DA EDITORA DO BRASIL
demográfica de altas para baixas taxas de natalidade, era provável que alguma
coisa entre dois quintos e metade dos habitantes, em algum momento da
segunda metade do século, tivessem menos de catorze anos. Por mais fortes
que fossem os laços de família, [...] não podia deixar de haver um vasto abismo
entre a compreensão da vida deles, suas experiências e expectativas, e as das
gerações mais velhas. [...]
A cultura jovem tornou-se a matriz da revolução cultural do sentido mais
amplo de uma revolução nos modos e costumes, nos meios de gozar o lazer e
nas artes comerciais, que formavam cada vez mais a atmosfera respirada por
homens e mulheres urbanos. Duas de suas características são portanto rele-
vantes. Foi ao mesmo tempo informal e antinômica, sobretudo em questões
Antinômico: em que há
de conduta pessoal. Todo mundo tinha de “estar na sua”, com o mínimo de antinomia; oposto, contraditório.
questão externa, embora na prática a pressão dos pares e a moda impusessem
tanta uniformidade quanto antes, pelo menos dentro dos grupos de pares e
subculturas.
HOBSBAWM, Eric. J. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995. p. 323.

Não escreva no livro. 137


Movimentos culturais
Os movimentos culturais (também chamados de tribos urbanas) surgiram como reflexo da
globalização das sociedades modernas capitalistas. Apesar de terem um país de origem –
o que faria deles movimentos nacionais –, compartilham elementos comuns que os tornam
globais, e seus membros se unem em nome de gostos e ideais comuns. A expressão “tribos
urbanas” foi cunhada em 1985 pelo sociólogo francês Michel Maffesoli (1944-) para se refe-
rir à criação de grupos que partilham princípios, ideais, gostos musicais e estéticas, por exem-
plo. Geralmente, essas tribos surgem do esforço de jovens para se diferenciarem da sociedade
vigente. Por vezes, podem assumir posturas políticas, o que as assemelha aos movimentos
sociais. Ou podem se apoiar apenas na identificação de gostos comuns.
Na obra O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa, Maffesoli
destaca algumas características das tribos urbanas. De acordo com ele, essas características
constituem uma cultura informal, diferentemente da cultura formal capitalista, em que o triba-
lismo como vivência comunitária volta a ser um valor importante.
Outra característica das tribos urbanas é a proxemia, ou seja, um sentimento de pertenci-
mento que favorece uma nova relação socioambiental. No entanto, a proxemia carrega em
si dois polos distintos: se de um lado a tribo urbana pode ser uma expressão de tolerância,
de outro pode gerar a exclusão do diferente, utilizar da violência e professar o racismo e a
intolerância.
Essas tribos são instáveis e abertas, seus membros podem evoluir dentro do movimento,
assim como podem migrar para uma tribo diferente. Independentemente disso, elas relacio-
nam-se com o momento histórico em que estão inseridas. E, paralelamente, articulam o gosto
musical com estilos de vida.

Dos hippies aos punks


Nos anos 1960, surgiu nos Estados Unidos, no contexto da Guerra do Vietnã, o movimento
hippie. O movimento de contracultura baseava-se no lema peace and love (paz e amor) e
defendia a vida comunitária e o fim das guerras e das desigualdades sociais. Os hippies eram
facilmente identificados pelos cabelos compridos, pela roupa casual e colorida, pelas calças
“boca de sino” (mais largas na parte inferior) e pelos sapatos com solas muito altas. O ápice
do movimento ocorreu no Festival de Woodstock, em 1969, que contou com artistas como
Janis Joplin
MATERIAL DE (1943-1970),
DIVULGAÇÃO Jimi Hendrix (1942-1970), entre outros.
DA Jimi
EDITORA DOnoBRASIL
Hendrix toca Festival de Woodstock, realizado em Bethel, Estados Unidos, 1969. O evento atraiu cerca de
400 mil pessoas durante três dias.

United Archives/Picture Alliance/Glow Images

138 Não escreva no livro.


Nos anos 1970, em contraposição ao movimento hippie e ao rock progressivo, que faziam
sucesso na época, surgiu em Nova York e, posteriormente, em Londres, o movimento punk. Filhos
de pessoas que compunham as classes trabalhadoras, esses jovens, com cabelos coloridos,
roupas rasgadas e coturnos, eram partidários do “do it yourself” (“faça você mesmo”) e influen-
ciados por ideias anarquistas e socialistas. Suas músicas tinham arranjos simples e contavam
com letras que variavam de temas do cotidiano a protestos políticos. O movimento estendeu-se
pelo mundo sendo representado por bandas como Ramones, Stooges, Sex Pistols e The Clash.
No Brasil, em plena Ditadura Militar, esteve presente nas periferias de São Paulo e de Brasília,
inspirando bandas que compunham suas músicas sob a influência de grupos estrangeiros.

Hip-hop : a voz da quebrada


Outro movimento que ganhou importância de tribo urbana foi o hip-hop. Nascido no con-
texto de bairros de população latina e negra de Nova York, o hip-hop surgiu como alento a
jovens expostos à violência, à falta de infraestrutura e ao racismo, que encontravam nas
ruas sua única forma de lazer. O movimento organizava festas no Bronx com música, break-
-dance, poesias e artes de rua, como o grafite. Considerado “pai” do hip-hop, o artista esta-
dunidense Africa Bambaataa cunhou o termo e forneceu as bases técnicas e artísticas para
seu desenvolvimento. Assim como o movimento punk, o hip-hop também adentrou na peri-
feria dos países subdesenvolvidos. No Brasil, ganhou espaço em São Paulo por meio de
grupos como Racionais MC’s, Thayde & DJ Hum, entre outros.

Van Campos/Fotoarena

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
 Racionais MC’s, grupo brasileiro que usa a música como forma de contestação social
direto da periferia. Foto de um show do grupo realizado em São Paulo, SP, 2019.

Movimentos sociais
Um movimento social é, sobretudo, um exercício de cidadania. Os membros de um movi-
mento organizado visam lutar por direitos que lhes são negados, buscando ocupar espaços
de onde são excluídos. Como explica o sociólogo Alain Touraine (1925-), são grupos mobili-
zados pelo controle das transformações sociais, como o fim da desigualdade social e a amplia-
ção do direito ao voto, assim como por pautas identitárias, como o fim do racismo e da
homofobia. De acordo com o autor, esses movimentos costumam assumir três características
conjuntas – atuam contra alguma opressão, em favor de algum grupo ou de alguma causa.
Os movimentos sociais transformam-se de acordo com os componentes culturais, sociais e
políticos de seu tempo. Por exemplo, na Revolução Industrial, no século XVIII, na Inglaterra, o
ludismo foi a primeira manifestação de operários contra a exploração do trabalho. Seus pro-
testos foram marcados pela quebra de máquinas, pois seus membros acreditavam que elas
eram as responsáveis pela degradação do trabalhador e pelos índices de desemprego.

Não escreva no livro. 139


Nos séculos XX e XXI, os movimentos ligados às classes sociais deram espaço a movimen-
tos identitários, como os movimentos pelos direitos dos negros, das minorias LGBTQI+, das
mulheres e dos animais, assim como os movimentos ambientalistas. Também surgiram movi-
mentos contra regimes autoritários, a desigualdade social, medidas e reformas governamen-
tais, sobretudo a partir dos anos 1970, quando o neoliberalismo e as crises econômicas
empobreceram a população em diversas regiões do mundo. No Brasil, ganharam força o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto (MTST), que se organizaram com base em pautas específicas, como a reforma agrá-
ria e a ampliação do acesso à moradia. Assim, o século XX expôs muitas formas de exclusão
da sociedade que se mostraram na diversidade de movimentos sociais. Como afirma o soció-
logo francês Robert Castel (1933-2013), não há ninguém fora da sociedade, mas as diferen-
tes posições sociais que as pessoas ocupam demonstram diferentes formas de vulnerabilidade
existentes na sociedade.
Protagonistas dos movimentos do século XX, em maio de 1968, jovens escolarizados de
países europeus, desiludidos, manifestaram-se por mais liberdade com o slogan “É proibido
proibir”. Nos Estados Unidos, Malcolm X, nome pelo qual ficou conhecido Al Hajj Malik
Al-Shabazz (1925-1965), e Martin Luther King Jr. (1929-1968) protagonizaram a campanha
pelos direitos civis para os negros. O Partido dos Panteras Negras, originalmente denominado
Partido Pantera Negra para Autodefesa, foi formado inicialmente por uma patrulha de cida-
dãos armados para monitorar o comportamento dos policiais que agiam de forma violenta
contra a população negra e ganhou destaque histórico como uma agremiação formada com
base em causas identitárias e de classe, conjuntamente.
As mulheres, que ganhavam independência econômica, principalmente nas classes médias,
seguindo a trilha de reivindicações feministas que começaram no século XIX, passaram a se
organizar por direitos próprios, contra a violência, por mais liberdade, por maior participação
na política, por direitos individuais e reprodutivos e por igualdade salarial, alterando também
as relações familiares.

 Martin Luther King Jr. em marcha pepelos


AP Photo/Glow Images

direitos civis da população negra. King é o


terceiro homem, da esquerda para a direita.
Montgomery, Estados Unidos, 1965.

 A ativista Angela Davis, uma das lideranças dos


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Panteras Negras, fala em uma manifestação em
DA EDITORA DO BRASIL Raleigh, nos Estados Unidos, em 1974.

Bettmann/Getty Images

140 Não escreva no livro.


Atividades

1. Qual é o seu estilo musical preferido? Ele também influencia sua identidade, sua forma
de se vestir e de se comportar? Junte-se a colegas que tenham o mesmo gosto que o
seu e, juntos, apresentem para a turma as características do estilo musical de que vocês
mais gostam e como ele influencia a identidade dos jovens que seguem esse estilo.
2. Faça uma pesquisa sobre um movimento social com o qual você se identifica e apresente
o resultado aos colegas. Procure responder às seguintes perguntas:
•• Quais são as reivindicações do movimento?
•• Quais são os grupos sociais envolvidos?
•• Quais são as estratégias adotadas por esse movimento para alcançar seus objetivos?
•• Esse movimento pode ser considerado identitário ou de classe social?
•• Como os meios de comunicação retratam esse movimento?
3. Muitos exemplares de artes plásticas produzidos no século XXI destacam questões de
identidade e raça, buscando ressignificar o olhar estereotipado sobre grupos historica-
mente excluídos. Observe as imagens da artista brasileira Rosana Paulino e responda
às questões no caderno.
Coleção particular. Fotografia: Rosana Paulino

Coleção particular. Fotografia: Rosana Paulino

 A artista brasileira Rosana Paulino mistura questões de raça e de gênero para denunciar
a opressão das mulheres negras.

MATERIAL
a) Analise as obras DE DIVULGAÇÃO
de Rosana Paulino. O que você acha que a artista quis expressar com
esses dois rostos de mulheres negras? Em sua opinião, qual significado a artista quis
DA EDITORA DO BRASIL
dar ao desfigurar as imagens das mulheres negras nas fotografias, vedando os olhos
de uma e a boca de outra com uma linha de costura? Justifique suas respostas.
b) Você conhece outro artista que retrate as questões raciais no Brasil? Faça uma pes-
quisa sobre ele e depois elabore um painel ou um cartaz apresentando sua trajetória
biográfica, suas principais obras e o impacto social de sua produção artística.
4. Com a ajuda do professor, organizem-se em grupos para a realização de um seminário.
Escolham uma manifestação cultural de interesse comum dos participantes e planejem
uma apresentação com base na seguinte questão: “O que essa manifestação cultural
diz sobre a sociedade na qual ela está inserida?”.
Pesquisem os seguintes aspectos relativos à manifestação cultural escolhida:
•• Contexto histórico de surgimento e de consolidação.
•• Características gerais.
•• Grupos sociais envolvidos (faixa etária, classe social, localização, gênero, raça etc.) –
Quem produz? Quem consome?
•• Legitimidade: como a sociedade, o Estado, o mercado e os meios de comunicação
reconhecem essa manifestação?

Não escreva no livro. 141


DIFERENTES TERRITORIALIDADES NO
MUNDO CONTEMPORÂNEO
Atualmente, são reconhecidos diversos tipos de território: aquele delimitado
pelas fronteiras do Estado, aquele ocupado por povos e comunidades tradicio-
nais, aquele apropriado por grandes agentes econômicos, entre outros. A seguir,
analisaremos a questão dos territórios tradicionais no Brasil e dos territórios
coorporativos, assim como a problemática da segregação socioespacial.

Territórios tradicionais no Brasil: um olhar sobre


a diversidade
O que diferencia um povo ou uma comunidade tradicional do restante da
sociedade? De acordo com o Decreto no 6 040, de 7 de fevereiro de 2007,
povos e comunidades tradicionais são “grupos culturalmente diferenciados
e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organiza-
ção social, que ocupam territórios e usam seus recursos naturais como con-
dição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica,
utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela
tradição”. Por sua vez, ainda segundo o Decreto no 6 040, os territórios tra-
dicionais são definidos como “os espaços necessários a reprodução cultural,
social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, permanente ou
temporária”. Um aspecto muito relevante que caracteriza um povo ou uma
comunidade tradicional é o sentimento de pertencimento a essa coletividade
e ao território que ocupam.
Segundo o decreto, cabe ao poder público promover o reconhecimento
e a valorização da diversidade socioambiental e cultural dos povos e das
comunidades tradicionais, assim como o respeito a eles. Para isso, deve-se
levar em conta “os recortes etnia, raça, gênero, idade, religiosidade, ances-
Subsumir: incluir, colocar (alguma tralidade, orientação sexual e atividades laborais, entre outros, além de
coisa) em algo maior, mais amplo,
do qual aquela coisa é parte ou suas relações com cada comunidade ou povo, de modo a não desrespeitar,
componente. subsumir ou negligenciar as diferenças dos mesmos grupos, comunidades
ou povos, ou, ainda, instaurar ou reforçar qualquer relação de desigual-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dade”. O decreto ainda estabelece que cabe ao poder público, por meio de
DA EDITORA DO políticas
BRASIL específicas, “garantir aos povos e às comunidades tradicionais
seus territórios, e o acesso aos recur-
sos naturais que tradicionalmente
LeoMercon/iStockphoto.com

utilizam para sua reprodução física,


cultural e econômica”.
Com o decreto, espera-se, por-
tanto, que seja observada “a plurali-
dade socioambiental, econômica e
cultural das comunidades e dos povos
tradicionais que interagem nos dife-
rentes biomas e ecossistemas, em
áreas rurais ou urbanas”.

 Pimenta cultivada pela comunidade


quilombola Presidente Kennedy,
localizada no Espírito Santo. Foto de 2019.

142 Não escreva no livro.


Cabe destacar que os povos e as comunidades tradicionais são essenciais
para o desenvolvimento sustentável, que pressupõe o uso consciente dos Quem são os povos
recursos naturais visando uma melhoria da qualidade de vida da geração de terreiro?
atual e das futuras. Entre os povos e as comunidades tradicionais, estão os Os povos de terreiro são
indígenas, os quilombolas, as comunidades pescadoras, as comunidades populações ligadas às
comunidades religiosas de
caiçaras, as comunidades tradicionais pantaneiras, os povos de terreiro, os
matrizes africanas. Tratam-se
ciganos, entre tantos outros. de populações de origem
afro-brasileira em sua
Territórios associados a identidades étnico-raciais maioria. Uma de suas
manifestações religiosas mais
Qual é a relação entre território e identidade étnico-racial? Alguns povos importantes é conhecida
e comunidades desenvolvem sua cultura e identidade de acordo com o como “Bembé do Mercado”.
A festa, celebrada desde
local onde vivem, e suas atividades econômicas e sociais dependem da 1889, comemora o fim da
posse e do uso do território e dos recursos naturais que ele oferece. escravidão e é considerada
patrimônio cultural do Brasil.
Territórios indígenas
Os povos indígenas são bastante heterogêneos. Estima-se que havia no
Brasil, antes da chegada dos portugueses em 1500, entre 3 milhões e 5 milhões
de indígenas (a maioria situada ao longo do litoral), que, em contato com os
europeus, principalmente portugueses, foram dizimados em razão da coloni-
zação. De acordo com o Censo de 2010, há no país mais de 800 mil indígenas
autodeclarados, 63,8% vivendo na área rural e 36,2% na área urbana. Dentro
das terras indígenas, são 95% os que vivem em áreas rurais e 5% que habitam
áreas urbanas.
Os povos indígenas são compostos de mais de 300 etnias espalhadas
por todos os estados do Brasil, sendo o Amazonas o estado com maior
número absoluto de habitantes indígenas. Desse grupo, aproximadamente
70 tribos indígenas se encontram isoladas, sem nenhum contato com outros
grupos sociais.
Os povos indígenas se reconhecem como descendentes dos habitantes ori-
ginários do Brasil, mantêm uma relação próxima e intensa com seus territórios
e compartilham a luta pela manutenção de seus modos de vida, que envolve
conflitos seculares pelo seu direito de existência.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Embora a Constituição de 1988 reconheça a ocupação tradicional e ori-
DA EDITORA
ginária dos indígenas sobre aDO BRASIL
terra, é necessário que haja a demarcação física
dos limites dos territórios por eles ocupados para que esse reconhecimento
se efetive.
Luciola Zvarick/Pulsar Imagens

 Indígenas dançam o ritual do Quarup,


na Aldeia Piyulaga, na Terra Indígena do
Xingu, Gaúcha do Norte, MT, 2019.

Não escreva no livro. 143


De acordo com dados do Instituto Socioambiental (ISA), há 487 territórios indígenas
homologados e reservados, ao passo que outros 237 se encontram em fases anteriores no
processo de demarcação. Conforme dados do mesmo instituto para o ano de 2020, grande
parte das terras indígenas no Brasil sofre invasões de garimpeiros, pescadores, caçadores,
madeireiras e posseiros (agricultores e pecuaristas). Outras são atravessadas por estradas,
ferrovias, linhas de transmissão de energia elétrica ou têm porções inundadas por reser-
vatórios de usinas hidrelétricas. Além disso, os indígenas sofrem com os impactos do que
acontece nas regiões que cercam suas terras, como a poluição de rios por agrotóxicos,
desmatamentos etc.

Territórios quilombolas
As populações quilombolas contemporâneas são comunidades remanescentes dos anti-
gos quilombos, formados ainda no período escravista. Os quilombos representaram uma
forma de resistência à escravidão, uma vez que eram locais para onde fugiam os escravizados
e os recém-libertos, ambos marginalizados pela sociedade. Também foram incorporados aos
quilombos outros grupos sociais com baixo poder aquisitivo, perseguidos e excluídos, que
buscavam novas formas de viver em liberdade sob uma gestão coletiva.
Dessa maneira, foram criadas inúmeras comunidades, geralmente distantes das cidades
e dos povoados, espalhadas por todo o território nacional. Era comum os quilombos serem
instalados em topos de morros e curvas de rios para facilitar a identificação da chegada de
invasores, quando em áreas distantes das cidades. No caso de quilombos em áreas urba-
nas, eles geralmente ficavam nos limites das cidades e próximo das principais estradas,
para facilitar a fuga no caso de invasões.
Os quilombolas construíam sociedades que remetiam ao modo de vida desenvolvido nas
áreas de origem, no continente africano, com posse da terra e produção comunitárias. Assim,
é possível afirmar que, as comunidades quilombolas herdaram tradições de cultivo e explo-
ração do solo, assim como técnicas de construção, artesanato e medicina, além da religião.
Atualmente, os quilombolas buscam conservar sua identidade e manter as comunidades
unidas.
Adriano Kirihara/Pulsar Imagens

TERRAS QUILOMBOLAS: TITULADAS E EM PROCESSO NO INCRA (2020)

Allmaps
50° O

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
399
RR 3 32
DA EDITORA DO BRASIL 0°
Equador AP

23
3 66 63 57 33 2

AM RN 29
PA CE
MA PB

AC
5 63 PE 2
94
PI
2 5
33 SE
AL 1
17
RO 75 TO BA 4

30
Terras MT DF
quilombolas 35 20

249 314
1

 Grupo de reisado do Inhanhum, da


em processo GO

1 767
comunidade quilombola de Inhanhum, 3
18 ES
MG
de Santa Maria da Boa Vista, PE, 2019. MS
50 20
6
Trópico de Capricórnio
RJ 3
N
Terras 38 1 SP 26
quilombolas
tituladas PR
O L
SC
181 1
19
4 103 S
OCEANO
RS 0 245 490 km
ATLÂNTICO
1 : 24 500 000

Fonte: Comissão Pró-Índio de São Paulo. Disponível em: http://cpisp.org.br/. Acesso em: 14 jul. 2020.

144 Não escreva no livro.


Territórios associados a atividades econômicas de base extrativista
Os povos e comunidades tradicionais extrativistas têm diversos valores e culturas, mas
compartilham uma importante característica: realizam extração e coleta de animais e vege-
tais como atividade econômica predominante. Além de praticar o extrativismo, esses povos
vêm se convertendo em pequenos produtores, com a adoção de modos de vida e de produ-
ção associados às características do ecossistema em que habitam. Por terem um conjunto
amplo de saberes adquiridos da relação direta com o meio ambiente, eles desenvolveram
técnicas agrícolas simples e em geral de baixo impacto, adaptadas ao seu contexto socioam-
biental. Para garantir a ocupação e o uso de seus territórios, os grupos tradicionais extrati-
vistas têm se organizado em torno de associações de produtores, com forte protagonismo
das mulheres.

Os caiçaras: território e cultura


Segundo a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais (CNPCT), as comunidades caiçaras foram formadas no litoral dos estados do Rio
de Janeiro, São Paulo e Paraná ao longo de todo o período de colonização, por meio do con-
tato entre indígenas, europeus e escravizados africanos. Eles ocupavam pequenos enclaves
de terra seca na estreita faixa territorial que separa a Serra do Mar do Oceano Atlântico,
vivendo em locais de difícil aproximação, acessíveis apenas por travessias marítimas ou cami-
nhadas na mata fechada, em relevos íngrimes.
Ainda hoje, há uma grande diversidade entre as comunidades caiçaras: no litoral, a pesca é
a principal atividade econômica, complementada pelo cultivo de mandioca e banana; nas comu-
nidades mais afastadas da costa, as atividades extrativistas são mais comuns; já nas regiões
banhadas por rio e afastadas do mar, os caiçaras se dedicam a agricultura de subsistência.
A cultura caiçara é marcada por diversidades de expressões, destacando-se as procissões
católicas, a Festa do Divino, as congadas, os reisados, alguns jogos e os pasquins, uma forma
de literatura de cordel. Outra importante forma de integração social nas comunidades caiça-
ras são as atividades coletivas, como as campanhas de pesca de tainha.

 Casa em comunidade caiçara na Ilha do Pinheirinho, no Parque Nacional de Superagui, em Guaraqueçaba, PR.
Foto de 2019.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Zig Koch/Tyba

DA EDITORA DO BRASIL

Não escreva no livro. 145


A base de Alcântara nas disputas pelos territórios quilombolas
A Coalizão Negra por Direitos, formada em 2019, reúne 150 membros entre organizações, entidades, grupos e co-
letivos do movimento negro brasileiro.
De acordo com sua carta-programa divulgada em janeiro de 2020, é imprescindível adotar ações articuladas pa-
ra o enfrentamento do racismo, do genocídio, das desigualdades, das injustiças e das violências, heranças da es-
cravidão imposta aos povos africanos que foram trazidos à força ao Brasil. Dessa maneira, a Coalizão busca reunir
esforços para influir na política, com base em valores como colaboração, ancestralidade, solidariedade, coletivismo,
memória, reconhecimento e respeito às diferenças e à horizontalidade. Em defesa da vida, do bem-viver e de direi-
tos arduamente conquistados, irrenunciáveis e inegociáveis, essa rede de instituições intenta unificar toda a popu-
lação de origem africana, por um futuro livre de racismo e de opressões, associando-se, também, a movimentos
negros internacionais.
Uma das campanhas realizadas pela Coalizão Negra por Direitos, denominada Alcântara é Quilombola, envolve
comunidades quilombolas que estão sob ameaça no estado do Maranhão. Em março de 2019, o governo brasileiro as-
sinou um acordo com os Estados Unidos para que o governo daquele país utilizasse o Centro de Lançamento de Alcân-
tara, localizado no Maranhão, no lançamento de foguetes. No entanto, seria necessário expandir a área atual da base
militar de 8 mil para 20 mil hectares. A expansão resultaria no deslocamento de aproximadamente 2 mil quilombolas,
organizados em 219 comunidades que vivem no território há mais de 200 anos.
Coalizão Negra por Direitos

Coalizão Negra por Direitos


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Imagens da campanha da Coalizão Negra por Direitos a favor dos direitos das comunidades quilombolas que vivem
em Alcântara, MA.

Governo prevê expulsar quilombolas de terra onde vivem há 200 anos no MA.
O visual tranquilo da praia de Mamuna, no município onde vive a maior população quilombola do país, tem
um vizinho incômodo. Do alto das dunas e de frente para o mar é possível ver, do lado direito, a cobiçada plata-
forma do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão.
[...]
ARAÚJO, Wilson. Governo prevê expulsar quilombolas de terra onde vivem há 200 anos no MA. UOL, 4 abr. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/
ultimas-noticias/2020/04/04/em-alcantara-ma-quilombolas-ameacados-de-expulsao-querem-ficar-em-casa.htm. Acesso em: 2 set. 2020.

146 Não escreva no livro.


As entidades representativas das comunidades quilombolas não foram consultadas sobre o acordo feito com os
Estados Unidos, o que viola diretamente o direito a uma consulta prévia, gratuita e informada, garantida por normas
internacionais e até mesmo pela legislação brasileira. O território quilombola de Alcântara já havia sido identificado e
demarcado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), bem como seus recursos naturais e seu
acesso ao mar. Essa demarcação, no entanto, ainda precisa ser aprovada pelo presidente da República.
Tanto a população quilombola deslocada como aquela não deslocada teriam acesso limitado às áreas costeiras de
Alcântara. Restringir o acesso a recursos naturais essenciais, como o mar, nascentes de água potável, árvores de fru-
to, babaçu e florestas de coco, entre outros, afetará a conexão e os fluxos econômicos entre as comunidades e provo-
cará o desaparecimento de fronteiras que identificam os territórios específicos atuais, historicamente constituídos
pelos quilombolas. A intensidade do impacto negativo nessas comunidades, no entanto, nunca foi objeto de estudo
técnico do governo brasileiro, o que também viola a legislação. Afinal, a mudança pode gerar até mesmo uma situação
de escassez alimentar sem precedentes em Alcântara.
Leia a seguir o trecho de uma matéria sobre a instalação da base de lançamentos de Alcântara.
O governo brasileiro acaba de dar o primeiro passo na direção de consolidar alguma relevância para o país
no efervescente mercado espacial. No último mês, foi assinado nos Estados Unidos um documento que viabi-
liza o uso comercial do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Chamado oficialmente de Acordo de Salva-
guardas Tecnológicas (AST), o texto cria as condições para que comecemos a atuar conjuntamente com os EUA
em Alcântara — e abre todo um leque de possibilidades para o Brasil.
Como esclarece a Agência Espacial Brasileira (AEB), o AST nada mais é do que um compromisso firmado
entre os dois países para proteger tecnologias e patentes de ambas as partes. Acontece que 80% dos satéli-
tes e objetos espaciais do mundo todo têm componentes norte-americanos. Sem o AST, o Brasil estava de
mãos atadas e impossibilitado de atuar em um mercado que movimenta US$ 5 bilhões anuais com o lança-
mento de satélites.
[...]
OLIVEIRA, AJ. 11 mitos e verdades sobre a base de Alcântara e o acordo com os EUA. Galileu, 8 abr. 2019. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/
Ciencia/Espaco/noticia/2019/04/11-mitos-e-verdades-sobre-base-de-alcantara-e-o-acordo-com-os-eua.html. Acesso em: 2 set. 2020.

1. Descreva as atuais condições de vida da população negra no Brasil, levando em consideração seu papel no
âmbito político, econômico e social. Em seguida, avalie a pertinência da criação da Coalizão Negra por Direitos,
tendo como referência seu contexto histórico.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
2. Consulte a página: https://coalizaonegrapordireitos.org.br/sobre/(acesso em: 21 jul. 2020) e observe a
DA EDITORA DO BRASIL
lista com as 150 organizações, entidades, grupos e coletivos que compõem a Coalizão. Escolha uma des-
sas instituições e registre o histórico de sua criação, seus objetivos e seus principais mecanismos de atua-
ção. Depois, coletivamente, comparem as informações apresentadas e discutam a importância do movi-
mento negro no Brasil atual.
3. Como demonstra a campanha “Alcântara é Quilombola”, há disputas pelo uso e pela apropriação do
território quilombola por distintos agentes, sendo que muitas vezes aqueles que expulsam os povos e
as comunidades tradicionais utilizam a justificativa da necessidade de modernizar essas regiões – afi-
nal, uma base de lançamento de foguetes espaciais é considerada um símbolo de modernidade e de
inovação tecnológica. Reflita e elabore um texto crítico sobre a relação entre o moderno e o tradicional,
comentando se esses aspectos são de fato contrapostos e irreconciliáveis. Dê exemplos que fundamen-
tem sua argumentação.
4. Ao longo do processo, alguns dos direitos das comunidades quilombolas, ainda que assegurados por lei,
não têm sido respeitados, como a consulta prévia. Em grupo, debata com os colegas e proponha estraté-
gias de intervenção política por parte dos movimentos sociais que poderiam reverter esse quadro. Em de-
bate organizado pelo professor, exponha as propostas elaboradas pelo grupo.

Não escreva no livro. 147


População ribeirinha: vida e sociedade à beira dos rios
As comunidades ribeirinhas habitam áreas fluviais, como margens de rios
e igarapés. Devido a essa proximidade com os rios, essas comunidades são
caracterizadas por integrar profundamente o seu estilo de vida ao ciclo de
cheias e secas dos cursos fluviais.
Além da pesca, as terras secas são fonte importante de recursos para os
ribeirinhos. Na região Norte, por exemplo, mandioca, palmito e açaí consti-
tuem itens comuns na alimentação desses povos, e sua produção, dividida
entre extrativismo na floresta e algum tipo de agricultura, acompanha o ciclo
das águas. O açaí é um importante item de comércio, principalmente para
as comunidades mais próximas de centros urbanos.

Andre Dib/Pulsar Imagens


Vista de casas flutuantes
em área de várzea, em
comunidade ribeirinha.
Iranduba, AM, 2020.

Outra característica marcante da maior parte das comunidades ribeirinhas


da Amazônia é o isolamento geográfico, pois a infraestrutura presente na
terra firme é precária ou até mesmo inexistente. Por causa disso, os rios
também são uma importante via de transporte, seja em embarcações movi-
das a remo, seja em barcos mais modernos com motores a combustão.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
No geral, é escasso o acesso a serviços públicos essenciais como eletri-
DA EDITORA DO cidade,
BRASILsaúde, educação e saneamento, reflexo e consequência do distan-
ciamento de centros dotados dessas infraestruturas. Esse problema costuma
ser minimizado nas comunidades localizadas próximas a centros urbanos.
Sincretismo: fusão de diferentes Em relação às práticas religiosas, destaca-se o sincretismo entre esses povos,
religiões, doutrinas e cultos, cujos que sofreram influências do catolicismo colonizador e da presença negra e nor-
elementos adquirem interpretações
próprias para o grupo. destina, sem perder aspectos de suas crenças originais, míticas e lendárias.

Seringueiros, seringais e o modo de vida na floresta


Os seringueiros vivem da extração de látex, um produto branco leitoso
usado como matéria-prima na produção da borracha. O látex é retirado das
seringueiras, árvore nativa da Floresta Amazônica. A primeira corrente migra-
tória para a extração de látex das seringueiras amazônicas ocorreu na década
de 1870, relacionada às inovações tecnológicas que ampliaram o uso da
borracha no setor industrial. Nessa ocasião, muitos saíram do Nordeste, para
fugir da pobreza que assolava a região, em direção aos seringais da Amazô-
nia. A segunda corrente migratória ocorreu na década de 1940, em conse-
quência da elevação da demanda internacional pela borracha no contexto
da Segunda Guerra Mundial.

148 Não escreva no livro.


Nas décadas de 1960 e 1970, durante a Ditadura Militar, teve início a mobilização de
seringueiros por melhores condições de trabalho e contra o avanço crescente do desmata-
mento. Chico Mendes (1944-1988), um dos seus grandes líderes, defendeu a estratégia de
resistência pacífica, por meio da qual os seringueiros se colocavam em frente às florestas
que seriam desmatadas e ali permaneciam mesmo diante de ameaças e, em alguns casos,
de atos de violência e de mortes impostas às famílias, impedindo, assim, o corte das árvores.
Atualmente, há descendentes de vários povos e comunidades entre os seringueiros. Essas
populações, muitas vezes, não têm acesso a saneamento básico, escolas e hospitais.
Como a principal atividade econômica dessa comunidade depende da floresta amazônica,
os seringueiros mantêm um modo de vida em equilíbrio com a natureza, dependendo dela
para subsistir. Sua alimentação tem por base a pesca, caça e cultivos agrícolas de alguns
gêneros alimentícios, como a mandioca. A floresta também provém a eles outros tipos de
extrativismo, com destaque para a castanha-do-pará. Alguns grupos criam pequenos animais,
como porcos, galinhas e patos.
Dessa maneira, os seringueiros valorizam e respeitam a floresta, tentando preservá-la e
se integrando a ela de forma equilibrada. Nas últimas décadas, os seringueiros alcançaram
uma importante vitória e passaram a ter reservas extrativistas garantidas pelo governo. Essas
reservas são importantes pelo fato de garantirem acesso ao território que essas populações
dependem para subsistir e assegurarem o uso de métodos sustentáveis de extração dos
recursos da floresta, respeitando as especificidades da região.
Andre Dib/Pulsar Imagens

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Seringueiro colhe o látex no Seringal Vitória Nova, em Tarauacá, AC, 2017.

Cipozeiros: extração, artesanato e os perigos do desmatamento


Os cipozeiros vivem da extração do cipó-imbé, planta trepadeira utilizada na fabricação
de utensílios domésticos, como cestos artesanais. Os cipozeiros, em geral, são descenden-
tes de colonizadores europeus que se instalaram no norte de Santa Catarina ao longo dos
séculos XIX e XX.
Até a década de 1960, o acesso às fazendas para extrativismo de cipó era livre e sua quan-
tidade se mostrava abundante. A produção local se voltava para a criação de cestos e outros
artigos com finalidade de uso doméstico pelas comunidades. A partir da década de 1970, a
procura pelos produtos alcançou outros estados do país. Apesar da demanda crescente do
mercado consumidor, a partir da década de 1980 os cipozeiros passaram a enfrentar o fecha-
mento de parte das fazendas de onde extraíam o cipó, além da diminuição dessas plantas na
natureza por conta do desmatamento.

Não escreva no livro. 149


Consequentemente, nessa época, a produção passou a se concentrar mais no artesanato
que na extração do cipó. Também tiveram início o comércio e o reaproveitamento dos resí-
duos do cipó para a produção de antifúngicos e de cola com o limo da planta, o uso das ras-
pas da casca para a confecção de guirlandas natalinas e a mistura de seus resíduos ao barro
para a produção de paredes internas de taipa em moradias.
Hoje, boa parte dos locais de onde se extrai o cipó estão em áreas particulares. Há pro-
prietários que permitem o acesso dos cipozeiros, outros simplesmente negam o acesso a
eles. Alguns proprietários exigem parte da produção em troca do acesso. Dessa maneira, uma
das lutas dos cipozeiros é ter seu acesso garantido às regiões onde possam trabalhar.
A cultura dos cipozeiros é caracterizada pela coleta e pelo artesanato do cipó, pela pesca,
pela roça e pela tecelagem em fibras naturais. Há centenas de anos, as técnicas usadas no
artesanato com cipó são passadas de geração em geração. A extração costuma ser feita pelos
homens, enquanto o artesanato é executado sobretudo pelas mulheres, com o auxílio dos
jovens.

Marcos Amend/Pulsar Imagens


 Condutor de visitantes da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada em Uarini, AM, mostra a
MATERIAL
estrutura DE DIVULGAÇÃO
de uma folha de cipó-imbé. Foto de 2015.

DA EDITORA DO BRASIL
Apanhadores de sempre-vivas: sustentabilidade e cultura
As flores sempre-vivas ocorrem na região sul da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, que
abrange diversas localidades do estado. É nessa região que os apanhadores dessas flores
vivem, formando dezenas de comunidades rurais. As flores têm esse
Luciano Queiroz/Pulsar Imagens

nome porque conservam sua coloração depois de serem coletadas e


secas. Cerca de noventa espécies de sempre-vivas são colhidas por
esses trabalhadores. Trata-se de sua principal fonte de renda.
Hoje, as comunidades lutam pelo direito de uso do território e pelo
reconhecimento de suas práticas como patrimônio cultural. Muitas
dessas práticas têm ligação com o passado dos quilombolas dos
quais os apanhadores descendem. A transmissão oral de conheci-
mento é uma característica comum de muitas comunidades tradi-
cionais e aqui também se faz presente. As pessoas envolvidas na
coleta de sempre-vivas aprendem desde cedo como realizar essa
 As flores sempre-vivas são apanhadas por
comunidades tradicionais. A imagem atividade extrativista, bem como a manter a capacidade dos campos
mostra exemplares do Parque Nacional da de se renovarem, garantindo assim a sustentabilidade dessa ativi-
Canastra, em São Roque de Minas, MG. dade econômica.
Foto de 2018.

150 Não escreva no livro.


Além da coleta de sempre-vivas, as comunidades complementam a renda e garantem
sua subsistência com outras atividades, como criação de gado, coleta de plantas medi-
cinais e de frutos nativos, cultivo de mandioca, feijão e milho, entre outros produtos ali-
mentícios.

Territórios corporativos: a apropriação privada do espaço


Com a internacionalização das empresas e a descentralização e a fragmentação do processo
produtivo intensificadas a partir da década de 1970, as grandes corporações ampliaram signi-
ficativamente seus territórios de atuação, passando a influenciar não apenas as dinâmicas
econômicas das localidades onde estão instaladas, como a interferir na vida política e social
das populações locais. Mas quais implicações esse fenômeno teria para os diferentes territórios
e territorialidades, desde os administrados pelo Estado-nação até aqueles apropriados por
povos e comunidades tradicionais?
Quanto maior o volume de recursos eco-

Ricardo Azoury/Pulsar Imagens


nômicos que uma corporação detém, maior
sua capacidade de definir os rumos do lugar
onde ela atua, influindo na organização social
e espacial, segundo seus interesses particu-
lares. Esse poder é traduzido na capacidade
que as corporações têm de definir o conteúdo
de leis e normas que regulam as atividades
produtivas de seu interesse, de impedir a
criação ou pressionar pela flexibilização de
leis ambientais e trabalhistas e de coibir a
instalação de empresas concorrentes ou de
outras atividades econômicas que diminuam
seu poder nas instâncias locais, regionais e
nacionais, entre outros fatores.
A exploração de minérios por multinacionais
na Amazônia causa poluição e prejudica as ati-  A exploração de minérios em grande escala por grandes corporações
vidades econômicas de subsistência de comu- inevitavelmente gera efeitos negativos para as comunidades tradicionais
que, porventura, residam nas proximidades. Exploração de bauxita em
nidades que vivem nas proximidades. Nesse Barcarena, PA. Foto de 2019.
panorama, temosMATERIAL DE DIVULGAÇÃO
a emergência dos chamados
territórios corporativos, aquelas
DA EDITORA DOporções
BRASILdo espaço apropriadas e controladas por grandes empre-
sas, que acabam por impor às comunidades locais seus interesses, não raramente contrários aos
dos agentes sociais que vivem nessas localidades.
Os povos e as comunidades tradicionais consideram o território um abrigo e um recurso
de onde extraem o essencial para sua sobrevivência e para a manutenção de seu modo de
vida, sua cultura e seus costumes. Para um povo indígena, por exemplo, o território é parte
de sua existência e identidade cultural e social, pois é onde ele pratica a caça, a pesca, o
extrativismo vegetal, cultiva seus rituais míticos, com base nos quais ele fundamenta sua
organização social.
Para a maioria das corporações, o território é meramente o local de onde se extraem rique-
zas naturais ou onde se explora a força de trabalho em processos produtivos, não havendo,
em geral, apreço pela sustentabilidade ambiental ou pela justiça e equidade social das popu-
lações abrangidas. Muitas vezes, agentes e empresas ligados ao agronegócio consideram
esses espaços fontes de lucro, desconsiderando a importância vital dessas terras para seus
ocupantes tradicionais, cujo valor, em muitos casos, vai além da subsistência. É importante
ressaltar que, algumas vezes, a legitimação de propriedade sobre terras ocupadas por povos
tradicionais, como os indígenas e quilombolas, pode ocorrer de maneira ilegal, por meio da
grilagem de terras, por exemplo, que expulsa esses povos de seus territórios.

Não escreva no livro. 151


Conflitos de classe e segregação socioespacial:
os territórios da exclusão
Outra maneira de verificar as diferentes territorialidades no espaço geográfico é analisando
sua apropriação desigual pelas classes sociais, processo que está no cerne da segregação
socioespacial, que contrasta territórios da riqueza e da pobreza.
De um lado, as classes sociais mais ricas apropriam-se das

Background Studio/Shutterstock.com
porções do espaço com melhor localização geográfica, que
propiciam adequadas condições para a construção de mora-
dias e têm boa infraestrutura de serviços sociais básicos –
como abastecimento de energia elétrica, saneamento básico,
asfaltamento, segurança pública, espaços de lazer etc.
De outro, as classes sociais mais pobres ocupam as áreas mais
afastadas dos centros econômicos, com mínimas ou quase ine-
xistentes condições para a construção de moradias – encostas
de morros, várzeas de rios, lixões abandonados etc. – e com inci-
piente infraestrutura rural ou urbana. Dessa maneira, essa parcela
da população está suscetível a sofrer perdas materiais e huma-
 Prédios de alto padrão na orla da praia de Iracema,
em Fortaleza, CE. Foto de 2018. nas decorrentes de deslizamentos de encostas, enchentes e
poluição do solo e da água pelo despejo inadequado de lixo
doméstico e de resíduos sanitários. Sofre também com a falta de escolas e hospitais, entre outros
serviços públicos essenciais a todos os cidadãos.
A segregação socioespacial é um mecanismo que mantém as históricas desigualdades
entre as classes sociais e entre grupos étnicos envolvidos em relações de dominação e subor-
dinação. Assim, os locais com piores condições de vida são justamente aqueles onde reside
a população pobre, formada majoritariamente por negros e pardos, conforme retratam os
mapas do município de São Paulo a seguir.
Mapas: Allmaps

CONCENTRAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA NA CIDADE RENDA MÉDIA DOS MUNICÍPIOS DA CIDADE


DE SÃO PAULO POR SUBPREFEITURA (2010) DE SÃO PAULO POR SUBPREFEITURA (2010)

Perus Perus
Pirituba MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Freguesia
Jaçanã
Ermelino
Matarazzo
São
Miguel Freguesia
Jaçanã
Ermelino
Matarazzo
São Miguel
Paulista
do Ó
DA EDITORA DO BRASIL
Casa
Verde
Santana
Vila Itaim
Pirituba do Ó
Casa
Verde
Santana
Vila Itaim
Maria Paulista Maria Paulista
Lapa Penha Lapa Penha
Guaianases N Guaianases
Sé Mooca Sé Mooca
Aricanduva Pinheiros Aricanduva Itaquera
Pinheiros
Butantã Itaquera Cidade Butantã Cidade
Vila Vila Tiradentes O L Vila Vila
Mariana Prudente São Mariana Prudente São Tiradentes
Ipiranga Mateus Ipiranga
Mateus
Santo S Santo
Campo Amaro Jabaquara Sapopemba Campo Amaro Jabaquara Sapopemba
Limpo 0 4,7 9,4 km Limpo
Renda média dos domicílios
Cidade Cidade
M’Boi Ademar 1 : 470 000 M’Boi por subprefeitura
Ademar
Mirim Mirim Acima de R$ 5.400
Parelheiros 57,1% Pirituba 37,7% R$ 3.400 a 5.400
M’Boi Mirim 56% Casa Verde 36,7% Capela do R$ 1.900 a 3.400
Capela do Cidade Tiradentes 55,4% Jabaquara 34,2% Socorro
Socorro Guaianazes 54,6% Vila Maria 33,1%
Itaim Paulista 54% Butantã 31,1%
Cidade Ademar 52 % Penha 31,1%
Capela do Socorro 51% Ipiranga 27,8% N
São Miguel Paulista 50,6% Vila Prudente 22,2%
Perus 49,9% Aricanduva 21,6%
Campo Limpo 49,1% Sé 20,6% O L
Parelheiros São Mateus 45,6% Santana 18,9% Parelheiros
Itaquera 44% Mooca 16,4%
Freguesia do Ó 43,6% Lapa 15,4% S
Sapopemba 42,1% Santo Amaro 14,7%
Ermelino Matarazzo 39% Vila Mariana 7,9% 0 4,7 9,4 km
Jaçanã 38,6% Pinheiros 7,3%
1 : 470 000

Fonte dos mapas: PREFEITURA de São Paulo. Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial. Igualdade Racial em São Paulo: avanços e desafios. Disponível em:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/igualdade_racial/arquivos/Relatorio_Final_Virtual.pdf. Acesso em: 7 set. 2020.

152 Não escreva no livro.


Atividades

1. Escolha um povo ou uma comunidade tradicional dos que foram citados ao longo das
últimas páginas e elabore uma lista com as principais ameaças que podem colocar em
risco sua existência e manutenção. Faça uma pesquisa sobre as principais atividades
econômicas que predominam atualmente na região onde se localiza o território desse
povo ou dessa comunidade tradicional, a fim de identificar os fatores de risco presentes
nesse território. Alguns tópicos podem balizar o trabalho de pesquisa:
•• Comunidade selecionada.
•• Locais ao redor dessa comunidade.
•• Forma de apropriação do território pela comunidade.
•• Dispositivos legais que garantem segurança a essas comunidades.
•• Interesses antagônicos presentes nas áreas de ocupação dessa comunidade.
•• Riscos sociais e econômicos que essa comunidade está sujeita.
•• Outros dados e informações pertinentes.
Após o levantamento das informações, elabore um relatório evidenciando as principais ca-
racterísticas pontuadas, dando destaque às possíveis ameaças. Conforme orientação do(a)
professor(a) leve o material para apresentar aos colegas e debater as questões levantadas.
2. Leia o trecho a seguir.
É possível agrupar, e apenas para fins de análise, a territorialidade em três vertentes: polí-
tica, cultural e econômica; entretanto, na realidade ou na dinâmica territorial, várias das suas
dimensões estão entrelaçadas.
CALVENTEL, Maria del Carmen Matilde Huertas. Comunidades tradicionais, identidade territorial e memória: a tessitura
do passado comum. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/view/24648/23063.
Acesso em: 5 set. 2020.

O território e a territorialidade das comunidades tradicionais estão muito além da apropria-


ção puramente econômica do espaço. A terra e tudo o que há nela para os indivíduos
dessas comunidades, em geral, são o meio de reprodução, mas é também um lugar de
memória e afetividade, de permanência e resistência. Desse modo, reflita de que forma é
MATERIAL
possível garantir DE DIVULGAÇÃO
a fixação desses povos em seus territórios de ocupação tradicional diante
dos interesses antagônicos
DA EDITORA DOque se colocam em algumas áreas, como aquelas com poten-
BRASIL
cial para exploração mineral. Discuta com os colegas e proponha ações nesse sentido.
3. Leia o texto a seguir e faça o que se pede.

[...] O dever de consulta prévia é a obrigação do Estado (tanto do Poder Executivo, como do
Poder Legislativo) de perguntar, adequada e respeitosamente, aos povos indígenas sua opi-
nião sobre decisões capazes de afetar suas vidas. [...] Trata-se de um mecanismo para garan-
tir que os povos indígenas tenham acesso a informações que lhes permitam influenciar nas
tomadas de decisões pelo Estado. Nos casos de decisões com impacto direto significativo
sobre as vidas e territórios dos povos indígenas a consulta visa obter o consentimento dos
povos indígenas afetados.
INSTITUTO Socioambiental. O dever de consulta prévia do Estado brasileiro aos povos indígenas. Disponível em:
https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/Dever_da_Consulta_Previa_aos_Povos_Indigenas.pdf.
Acesso em: 27 ago. 2020.

•• Nesse contexto, como é possível garantir a proteção e a não violação das terras e direitos
indígenas, ameaçados principalmente pelos interesses que se contrapõem a esses povos
no campo e na cidade? Reúna-se em grupo e juntos debatam a questão.

Não escreva no livro. 153


Pesquisa

A CONSTRUÇÃO E OS LIMITES DO BAIRRO:


OCUPAÇÃO E MEMÓRIA
Ao longo deste volume, discutimos diversas manifestações de limites
de territórios, tanto físicas e políticas, como culturais e afetivas, entenden-
do o território como um espaço de poder, de pertencimento.
O bairro pode ser compreendido como um es-

Willian Moreira/Futura Press


paço da cidade, mas qual é sua função e quais
são os critérios para tal divisão? Seria apenas
para fins de planejamento? Seus limites são per-
manentes? Um pequeno povoado rural pode ser
considerado um bairro?
A verdade é que não há uma definição única
para o conceito de “bairro”. Independentemen-
te da delimitação oficial, utilizada pelos Correios,
por exemplo, a população costuma ter uma vi-
são própria dos limites de seu bairro, visão esta
muito mais ligada ao cotidiano, ao afeto e ao uso
dos espaços que a uma demarcação de limites
administrativos.
Vamos pensar: você se refere ao seu bairro
pelo mesmo nome que vem anotado na corres-
pondência que chega para você? Toda correspon-
 A definição de um bairro é dência dirigida a seu endereço indica o mesmo
MATERIAL
determinada por outros fatoresDE DIVULGAÇÃO
bairro? A identidade está muito relacionada ao bairro, e isso tem a ver com
além dos limites físicos. Exemplo
DA EDITORA DO oBRASIL
disso são as festas populares,
sentimento de pertencimento, de localidade.
como a retratada acima, realizada A proposta deste trabalho é o estudo do bairro. Considerando seu cará-
no Bairro da Liberdade, ter popular e o vínculo dos estudantes com esses espaços e seus signifi-
São Paulo, SP, em 2018.
cados, a pesquisa será feita por meio da observação participante.
Observação participante é um método de pesquisa, muito utilizado na
Antropologia e nas Ciências Humanas e Sociais em geral, que considera a
inserção do pesquisador no objeto de estudo e sua participação nas práti-
cas observadas.
Dessa forma, você e seus colegas buscarão, por meio de conversas com
a comunidade, definir limites e significados para seu bairro e para bairros
vizinhos.

Objetivos
•• Refletir sobre limites e significados do bairro.
•• Definir estratégias e elaborar ferramentas para pesquisa participante.
•• Elaborar mapas e gráficos para expressar os dados obtidos na pesquisa.

154 Não escreva no livro.


Justificativa
A observação participante permite o estreitamento dos laços dos estudantes com seus
bairros e comunidades, contribuindo para o desenvolvimento do sentimento de pertenci-
mento, que, por sua vez, é importante para o exercício da cidadania.

Materiais
•• Computador com acesso à internet
•• Impressora (opcional)
•• Material para registro
Desenvolvimento
A pesquisa será realizada em grupos, que devem ser estabelecidos com base nos locais
de moradia de vocês, preferencialmente agrupando colegas que residam próximos uns dos
outros. Caso algum grupo precise ser formado por estudantes que morem distantes entre
si, a pesquisa pode ser realizada sobre um dos bairros de moradia ou, ainda, sobre o bair-
ro onde está localizada a escola.

1. Em grupo, determinem que bairro será estudado.


a) Individualmente, busquem o bairro no Google Maps, disponível em: https://www.
google.com.br/maps/preview (acesso em: 22 jul. 2020) e marquem alguns pontos que
conhecem, como sua casa, comércios que frequentam (padaria, mercado, farmácia
etc.), e pontos de referência que utilizam (córrego, rodovia etc.).
b) Reúnam-se em grupo novamente para comparar os mapas e discutir onde vocês en-
tendem que estão os limites do bairro. Nessa conversa, determinem que atividades
são realizadas fora do bairro, onde e por quê. Registrem divergências, se houver.
c) Elaborem um mapa com os limites do bairro estudado, as principais atividades realizadas
nele eMATERIAL
a indicação DE
de bairros vizinhos, assim como as atividades realizadas em cada um.
DIVULGAÇÃO
Os bairros vizinhos não precisam ser delimitados, apenas sua direção geral e alguma
DA EDITORA DO BRASIL
referência.
d) Determinem pontos no bairro estudado, buscando distribuir por toda a sua extensão.
e) Definam o número de entrevistados e elaborem perguntas, visando à compreensão da
visão dos entrevistados sobre os limites e funções do bairro. No caso, pode-se ou não
incluir a delimitação do bairro em mapas impressos, mas é preciso obter informações
sobre onde são realizadas atividades de lazer, consumo, estudo etc. e o que eles en-
tendem que é o bairro.
2. Agora é hora de sair a campo. Visitem os pontos determinados e realizem as entrevistas
com moradores/frequentadores nesses pontos.
3. Organizem os dados obtidos em sala, sob orientação do professor.
4. Elaborem um relatório com as informações obtidas. Esse relatório deve incluir um mapa
com os limites traçados pelo grupo e com base nas entrevistas, além de pelo menos dois
gráficos referentes às atividades realizadas ou não no bairro e em bairros vizinhos.

Conclusão
Vocês deverão incluir os elementos de imagem do produto final do grupo em uma apre-
sentação de slides em sala de aula, que será acompanhada de uma breve exposição da
pesquisa sobre cada bairro e de um debate a respeito.

Não escreva no livro. 155


Para continuar
aprendendo

Em Berlim Oriental, uma mulher entra em coma e acorda tempos


UNIDADE 1 – FORMAÇÃO DOS ESTADOS depois da queda do Muro de Berlim. Seu filho, temendo pela saú­
E FRONTEIRAS de da mãe, que era fiel ao regime socialista, encena aspectos da
vida cotidiana como se eles ainda estivessem na República De­
Filme mocrática Alemã.
Caramuru: a invenção do Brasil, direção de Guel Arraes.
Brasil, 2001 (88 min). Infância clandestina, direção de Benjamín Avila. Argentina/
Brasil/Espanha, 2012 (112 min).
Com humor, o filme apresenta a trajetória do jovem português Diogo,
que chega, em 1500, às terras que hoje compreendem o Brasil. A história do filme se passa na Argentina, em 1979, e conta a his­
tória do garoto Juan e sua família, que passam a viver na clandes­
Livros tinidade enquanto os órgãos de repressão do regime perseguem
Globalização a olho nu, de Clóvis Brigagão e Gilberto M. A. os opositores.
Rodrigues. São Paulo: Moderna, 2015.
A obra apresenta um completo panorama sobre o fenômeno da Livros
globalização e seus efeitos na produção industrial, nas trocas co­ Globalização, democracia e terrorismo, de Eric J. Hobsbawm.
merciais e de serviços, na produção cultural e na difusão de ideias São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
e valores entre povos e nações. A obra traz uma compilação de diversas palestras proferidas pe­
Os Lusíadas em quadrinhos, de Fido Nesti. São Paulo: lo autor entre 2000 e 2006, em que ele analisa o cenário inter­
Peirópolis, 2006. nacional contemporâneo, seus desafios e suas perspectivas.
Livro na forma de história em quadrinhos que apresenta a obra Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945, de Tony
do escritor português Luiz Vaz de Camões, que narra a viagem de Judt. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
Vasco da Gama.
A obra apresenta um panorama bastante completo da história da
Site Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, passando pelo
BRASIL 500 anos – IBGE. Disponível em: https://brasil500 fim da União Soviética e pela expansão da União Europeia.
anos.ibge.gov.br. Acesso em: 19 ago. 2020.
O site traz uma linha do tempo com marcos da história do Brasil. UNIDADE 4 – OUTROS MODELOS
DE TERRITÓRIOS
UNIDADE 2 – A RELAÇÃO ENTRE
OS ESTADOS NACIONAIS Filme
Eternamente Pagu, direção de Norma Bengell. Brasil, 1987
Livro
(100 min).
A Primeira Guerra Mundial, de Jayme Brener. São Paulo:
O filme apresenta a história da ativista política Patrícia Galvão,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Ática, 2000. (Coleção Retrospectiva do Século XX). importante participante do movimento Modernista no Brasil. Poe­
A obra apresenta os principais aspectos que deram início à Primei­ tisa e escritora, ela também se dedicou ao teatro de vanguarda.
DA EDITORA DO BRASIL
ra Guerra Mundial, assim como o seu desenvolvimento e desfecho.
Site Livros
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: Mulheres negras na primeira pessoa, de Jurema Werneck,
https://declaracao1948.com.br/. Acesso em: 19 ago. 2020. Nilza Iraci e Simone Cruz (orgs.). Porto Alegre: Rede, 2012.
O site tem como objetivo divulgar informações sobre a Declaração O livro traz diversas entrevistas cedidas por mulheres negras no
Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e também traz refle­ Brasil. Nas entrevistas, elas relatam sua trajetória de vida e refle­
xões sobre problemas da geopolítica no cenário contemporâneo. tem sobre problemas do Brasil contemporâneo que afetam dire­
tamente seu cotidiano, como a falta de acesso à educação, o pre­
Filme conceito racial no mercado de trabalho, entre outros.
Cavalo de guerra, direção de Steven Spielberg. Estados
Racismo, preconceito e intolerância, de Edson Borges, Carlos
Unidos, 2012 (146 min).
Alberto Medeiros e Jacques Dadesky. São Paulo: Atual, 2009.
O filme se passa na Inglaterra, em meio à Primeira Guerra Mun­
dial, e narra a história do jovem camponês Albert e seu cavalo A obra apresenta importantes discussões e reflexões sobre ques­
Joey. Após o início dos conflitos, o animal é incorporado à cava­ tões fundamentais para compreendermos as desigualdades em
laria britânica e passa a ser utilizado nas batalhas. nossa sociedade.

Site
UNIDADE 3 – O ENFRAQUECIMENTO Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.
DOS ESTADOS E DAS FRONTEIRAS Disponível em: https://nev.prp.usp.br/. Acesso em: 19 ago. 2020.
O Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) desenvolve
Filmes pesquisas sobre temas relacionados à violência, democracia, de­
Adeus, Lênin, direção de Wolfgang Becker. Alemanha, 2002 sigualdades sociais e direitos humanos.
(118 min).

156 Não escreva no livro.


Referências

ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018. (Coleção Feminismos
Plurais).
Obra que apresenta uma linguagem acessível e direta na discussão a respeito do racismo estrutural no Brasil.
BLANCHETTE, Thaddeus Gregory. Entre acomodação e extermínio: raízes da “Questão indígena” nos
Estados Unidos. 35o Encontro Anual da Anpocs. Disponível em: https://anpocs.com/index.php/papers
-35-encontro/gt-29/gt12-23/968-entre-acomodacao-e-exterminio-as-raizes-da-questao-indigena
-nos-estados-unidos/file. Acesso em: 25 jul. 2020.
Artigo analisa a questão do processo de colonização na América do Norte sob perspectivas políticas e culturais
e analisa o não desaparecimento dos povos indígenas enquanto raça apesar da derrota das unidades políticas
nativas no fim do século XIX.
CALVENTEL, Maria del Carmen Matilde Huertas. Comunidades tradicionais, identidade territorial e
memória: a tessitura do passado comum. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/
geouerj/article/view/24648/23063. Acesso em: 5 set. 2020.
O artigo apresenta uma reflexão sobre a memória coletiva para a compreensão do conceito de identidade territorial
por meio de um estudo de caso em Ilhabela, São Paulo.
DELEUZE, Gilles. Conversações 1972-1990. São Paulo: Editora 34, 1992.
O livro apresenta uma coletânea de entrevistas realizadas por Gilles Deleuze entre os anos de 1972-1990. Os
temas abordados vão desde questões sobre política até literatura e televisão.
ERVATTI, Leila Regina; BORGES, Gabriel Mendes; JARDIM, Antonio de Ponte (org.). Mudança demográ-
fica no Brasil no início do século XXI: subsídios para as projeções da população. Rio de Janeiro: IBGE,
2015. p. 139. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv93322.pdf. Acesso em:
24 jun. 2020.
A obra apresenta uma análise a respeito das mudanças demográficas da população brasileira que serviram de
base para a elaboração das Projeções da População do Brasil e das Unidades da Federação, de 2013.
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008.
A obra escrita por Anne Frank, durante a Segunda Guerra Mundial, narra o cotidiano da autora, na época, escon­
dida dos nazistas que perseguiam os judeus e os levavam para campos de concentração.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Atlas histórico do Brasil. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: https://
DA EDITORA DO BRASIL
atlas.fgv.br/marcos/bandeiras-e-bandeirantes/mapas/bandeiras-e-entradas. Acesso em: 29 jun. 2020.
Atlas histórico a respeito do Brasil, organizado de forma cronológica apresenta também textos e documentos
relacionados aos períodos indicados.
HART-DAVIS, Adam. History: the definitive visual guide. Londres: Dk, 2007.
Guia visual sobre a história da Humanidade, com ilustrações, textos, infográficos entre outros recursos.
HILGEMANN, Werner; KINDER, Hermann. The Penguin Atlas of World History. Londres: Penguin, 2003. v. 1.
Mapas detalhados e textos apresentando os principais eventos ocorridos desde o início da história da Humani­
dade até a Revolução Francesa.
HOBSBAWM, Eric. J. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Obra que apresenta uma análise a respeito dos eventos políticos, econômicos e sociais ocorridos durante o
século XX, entre o início da Primeira Guerra Mundial em 1914 até o fim da União Soviética, em 1991.
IBGE. Mudança demográfica no Brasil no início do século XXI: subsídios para as projeções da população.
Rio de Janeiro: IBGE, 2015.
O texto apresenta a divulgação da pesquisa a respeito das Mudanças Demográficas no Brasil, seguindo o Método
das Componentes Demográficas a partir de oito artigos elaborados por técnicos e pesquisadores do Instituto.
IBGE. Atlas Escolar IBGE, 2018. Disponível em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_
mundo/mundo_blocos_economicos.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020.
Atlas escolar com ilustrações e mapas a respeito do Brasil e do Mundo.

Não
Não escreva
escreva no
no livro.
livro. 157
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores).
Escrita em 1513 na forma de conselho aos soberanos a obra apresenta uma análise a respeito da questão da
liderança política e as melhores formas de exercer dominação.

MARQUES, Adhemar Martins. História Contemporânea através de textos. São Paulo: Contexto, 1997.
Obra que apresenta por meio de textos e documentos o período que aborda desde as revoluções burguesas até
a Segunda Guerra mundial, com destaque para temas como a Revolução Industrial, movimento operário, entre
outros.

MONTESQUIEU. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


Na obra, Montesquieu apresenta uma comparação a respeito dos diferentes tipos de governo existentes. Dessa
forma, o autor busca compreender nos seres humanos quais são as suas paixões, ações e preferências a respeito
de uma forma ou tipo de governo em relação aos outros.

NAÇÕES UNIDAS. Declaração sobre Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional (Resolução 49/60
da Assembleia Geral, par. 3). Disponível em: https://nacoesunidas.org/acao/terrorismo. Acesso em:
17 jun. 2020.
O texto apresenta uma reflexão a respeito da adoção pela ONU, em 1994, da Declaração de Medidas para Eli­
minar o Terrorismo Internacional. Destaca-se o esforço da instituição em advertir os países em relação à pos­
síveis ações tanto em âmbito nacional como internacional para eliminar ou evitar o terrorismo.

NAÇÕES UNIDAS. Carta das Nações Unidas. Disponível em: https://nacoesunidas.org/carta. Acesso em:
17 ago. 2020.
O texto disponível no site apresenta a Carta da ONU, o tratado que estabeleceu as Nações Unidas e um histórico
sobre o processo da sua elaboração.

ONU. Perspectivas da população mundial 2019: destaques. Disponível em: https://search.un.org/results.


php?tpl=dist_search&query=wpp2019&lang=en&tplfilter=documents. Acesso em: 13 jun. 2020.
Relatório a respeito das perspectivas em relação à população mundial com informações, sobre o saldo migra­
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tório internacional ocorrido entre o período de 2010-2020. O relatório pode ser lido em inglês, francês, espanhol,
árabe, russo e chinês.
DA EDITORA DO BRASIL
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES (OMI). Relatório mundial sobre migração 2020.
Disponível em: https://publications.iom.int/books/world-migration-report-2020. Acesso em: 13 jun.
2020.
Relatório realizado pela OMI a respeito das migrações em âmbito global. Publicação em inglês.

PARADA, Maurício. Formação do mundo contemporâneo: o século estilhaçado. Rio de Janeiro: Vozes/
Editora da PUC-Rio, 2014. (Série História Geral).
Obra que apresenta uma reflexão a respeito do século XX buscando a partir de fragmentos relacionados com a
política, arte e economia compreender a experiência vivida ao longo desse período. Considerado o “breve
século XX”, o livro analisa esse processo de longevidade que marca o período.

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática,
1993. p 143.
Na obra, o autor trata de conceitos espaciais, sobretudo posição, e também discorre sobre fronteiras, população,
circulação, centro e periferia, entre outros temas.

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
Considerado um dos mais importantes antropólogos brasileiros, Darcy Ribeiro apresenta nessa obra uma tenta­
tiva de compreender quem e o que são os brasileiros e a importância do país marcado pela desigualdade social.

158 Não escreva no livro.


SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 15. ed. Rio
de Janeiro: Record, 2008. p. 18.
No livro, Santos defende a necessidade de uma nova maneira de interpretar o mundo no contexto de um mundo
globalizado.

SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu Savério (org.). Territórios e territorialidades: teorias,
processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular: Unesp Programa de Pós-Graduação em Geo-
grafia, 2008. p. 86.
Coletânea de artigos de diversos autores sobre os conceitos de territórios e territorialidades.
TILLY, Charles. Coerção, capital e estados. São Paulo: Edusp, 1996.
Obra que apresenta uma análise a respeito das origens dos Estados modernos com base na reflexão sobre os
processos históricos dessa instituição e as relações com os Estados contemporâneos, com destaque para o
colonialismo e as influências pós-coloniais.

VICENTINO, Cláudio. Atlas histórico: geral e Brasil. São Paulo: Scipione, 2011.
Atlas que reúne representações cartográficas que auxiliam no entendimento de diferentes momentos da His­
tória brasileira e mundial.

WEBER, Max. Política como vocação. São Paulo: Cultrix, 1999.


Obra que apresenta uma conferência realizada pelo autor em 1919 para alunos da Universidade de Munique,
Alemanha. O conceito de Estado é analisado por Weber, tendo como referência a influência do pensamento
político ocidental.

ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003. (Coleção Estado
de Sítio).
Com cinco ensaios, a obra escrita por Zizek propõe uma reflexão a respeito dos acontecimentos de 11 de
setembro nos EUA e suas diversas consequências, refletindo sobre as questões políticas apresentadas no
mundo contemporâneo.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Links consultados:
ARAÚJO, Wilson. Governo prevê expulsar quilombolas de terra onde vivem há 200 anos no MA. UOL, 4
abr. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/04/04/em-alcantara-ma
-quilombolas-ameacados-de-expulsao-querem-ficar-em-casa.htm. Acesso em: 2 set. 2020.
Reportagem sobre ação do governo federal que resultaria na remoção de quilombolas de suas terras.
BARTABURU, Xavier; MENDES, Ana; MOTOKI, Carolina. Quebradeiras de coco-babaçu. Repórter Brasil, São
Paulo, 27 jan. 2018. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/comunidadestradicionais/quebradeiras
-de-coco-babacu. Acesso em: 21 maio 2020.
Reportagem que apresenta as comunidades tradicionais de quebradeiras de coco, com destaque para suas
tradições, fontes de renda e dificuldades na realização do trabalho.
BRASILINO, Carlos Estênio. Saiba tudo sobre a nova composição da Câmara e do Senado Federal.
Metrópolis, Brasília, 1o fev. 2019. Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/
saiba-tudo-sobre-a-nova-composicao-da-camara-e-do-senado-federal. Acesso em: 14 jul. 2010.
Reportagem sobre a composição da Câmara e do Senado Federal brasileiro em 2019.
DEPARTAMENTO DE ESTADO DOS EUA. Por que os Estados Unidos estão preocupados com a tecnologia
5G? Share America, 2 out. 2019. Disponível em: https://share.america.gov/pt-br/por-que-os-estados
-unidos-estao-preocupados-com-a-tecnologia-5g. Acesso em: 17 jun. 2020.
Reportagem sobre a infraestrutura da rede 5G, suas vantagens, usos e dificuldades.

Não
Não escreva
escreva no
no livro.
livro. 159
DONNAN, Shaw; LEATHERBY, Lauren. Globalization Isn’t Dying, It’s Just Evolving. Bloomberg, 23 jul.
2019. Disponível em: https://www.bloomberg.com/graphics/2019-globalization. Acesso em: 17 jun.
2020.
Reportagem a respeito da globalização e da evolução ao redor do mundo ao longo do tempo.

FIOCRUZ. Monitora Covid-19. Disponível em: https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/. Acesso em: 12


jun. 2020.
Dados a respeito dos monitoramentos dos óbitos decorrentes da Covid-19 ocorridos no Brasil, detalhado por
estados e acompanhado por linhas do tempo.

IBGE. Países. República da Coreia. Disponível em: https://paises.ibge.gov.br/#/dados/republica-da-co


reia. Acesso em: 27 ago. 2020.
Apresenta indicadores socioeconômicos da Coreia do Sul durante o período 2016-2019.

IBGE. Países. República Democrática da Coreia. Disponível em: https://paises.ibge.gov.br/#/dados/


republica-popular-democratica-da-coreia. Acesso em: 27 ago. 2020.
Apresenta indicadores socioeconômicos da Coreia do Norte durante o período 2016-2019.

IHME, Global Burden of Disease. Disponível em: https://ourworldindata.org/causes-of-death. Acesso


em: 3 jun. 2020.
Artigo sobre as causas e o número de mortes no mundo, em 2017.
INSTITUTO Socioambiental. O dever de consulta prévia do Estado brasileiro aos povos indígenas. Dis-
ponível em: https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/Dever_da_Consulta_Previa_aos_Povos_Indi
genas.pdf. Acesso em: 27 ago. 2020.
Texto explicativo sobre o dever de consulta do Estado brasileiro aos povos indígenas.

LEPAN, Nicholas. Visualizando a história das pandemias. Disponível em: www.visualcapitalist.com/


history-of-pandemics-deadliest. Acesso em: 24 jun. 2020.
Gráficos, infográficos, textos e análises a respeito das pandemias ao longo do tempo ao redor do mundo.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
MINISTÉRIO das Relações Exteriores. Disponível em: https://concordia.itamaraty.gov.br. Acesso em: 7
DA
jun.EDITORA
2020. DO BRASIL
Acervo com os principais atos internacionais assinados e ratificados pelo Brasil.

ONU encerra missão de paz na Eritreia e Etiópia. EFE, 30 jul. 2008. Disponível em: http://g1.globo.com/
N o t i c i a s / M u n d o / 0 , , M U L 7 0 6 1 2 7 - 5 6 0 2 , 0 0 - O N U + E N C E R R A + M I S S A O + D E + PA Z + N A
+ERITREIA+E+ETIOPIA.html. Acesso em: 21 maio 2020.
Reportagem a respeito do encerramento da missão de paz realizada pela ONU na região da Eritreia e Etiópia em
2008 após uma atuação de sete anos na fronteira entre os países.

ONU. Perspectivas da população mundial, 2019. Disponível em: https:// population.un.org/wpp/Graphs/


DemographicProfiles/Pyramid/900. Acesso em: 27 ago. 2020.
Gráficos que representam dados a respeito da população mundial, como a taxa média anual de variação popu­
lacional e a população brasileira em 1950 e em 2019.

SEMPLE, Kirk. Paralisação econômica interrompe fonte de renda importante para famílias imigrantes.
O Estado de S. Paulo, 26 abr. 2020. Disponível em: https://internacional.estadao.com.br/noticias/
geral,paralisacaoeconomica-interrompe-fonte-de-renda-importante-para-familias-imigrantes,
70003283521. Acesso em: 27 ago. 2020.
Reportagem realizada em abril de 2020 a respeito das dificuldades econômicas enfrentadas no período e a
consequente diminuição do dinheiro enviado por imigrantes mexicanos que trabalham nos EUA aos familiares
e parentes que residem no México.

160 Não escreva no livro.


Fronteiras
físicas e culturais MANUAL DO

Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas

Leandro Gomes
Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professor e coordenador em cursinhos populares e assessor pedagógico
especialista.

Natália Salan Marpica


Doutora em Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Mestra em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Professora de Sociologia no Instituto Federal de São Paulo (IFSP).

Priscila Manfrinati
Mestra em Ciências, área de concentração Humanidades, Direitos e Outras
Legitimidades pela Universidade de São Paulo (USP).
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professora de História em cursos pré-vestibulares.
DA EDITORA DO BRASIL
Sabina Maura Silva
Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Mestra e licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Docente do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação
em Educação Tecnológica do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais (Cefet-MG).

1a edição
São Paulo, 2020
Apresentação

Caro professor,

Durante muito tempo, em um modelo de ensino e aprendizagem tradicional, a tarefa do professor


era concebida como a de transmitir conteúdos a seus estudantes. Na atualidade, essa tarefa ganhou
novo significado e sentido, e o professor é requerido como mediador no processo, favorecendo desco-
bertas, aprendizagens e auxiliando o estudante na formação de seu projeto de vida, em que a escolha
de uma faculdade ou de uma carreira não é necessariamente o objetivo final. Ademais, o professor tenta
encontrar seu novo lugar: além de guia em meio aos conceitos de um componente curricular, deve
transitar pela área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
A intenção deste Manual do Professor é auxiliá-lo nessa tarefa, levando em conta o contexto de
transição que vivemos. As sugestões aqui apontadas auxiliam no trabalho com a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), além de indicar propostas e percursos que facilitam esse trabalho e o ajudam a
encontrar um novo caminho para sua prática.
Para isso, o conhecimento será o guia nessa trajetória, com a utilização de métodos próprios das
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas que permitem estabelecer reflexões, debates e privilegiam o
desenvolvimento de senso crítico. Estimulamos também a busca de alternativas, de diferentes saídas
e de soluções inovadoras. A docência, assim como a ciência, é um conhecimento coletivo, diariamente
aprimorado.
Este manual foi pensado para ser acessível. Desse modo, apresenta propostas simples de serem
realizadas em sala de aula, com a abordagem de tópicos relevantes para as vivências dos estudantes
e para construção de sua cidadania. Promove-se o trabalho em equipe e de propostas integradas com
outras áreas do conhecimento, sobretudo de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Além disso,
sugerimos fontes de consulta e pesquisa, caso sinta a necessidade de aprofundar algum conhecimento
ou proposta.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Esperamos que esta obra o auxilie em seu protagonismo docente, o inspire e oriente sua prática.
DA Desejamos
EDITORA aDOvocê
BRASIL
uma boa leitura!

II
Sumário

Introdução  IV Perfis estudantis: estratégias


de condução  XXV
As Ciências Humanas e Sociais Aplicadas • Sugestões de abordagem para diferentes
no Ensino Médio  IV estilos de aprendizagem  XXVI
Os componentes curriculares • Culturas juvenis e projeto de vida  XXVII
da área do conhecimento  V
• Pensamento computacional  XXVIII
A BNCC  VI
• Leitura inferencial e argumentação  XXIX
• Tecnologias digitais de informação e
Características gerais da obra  XI comunicação  XXX
Organização geral  XI
Planejamento: construindo
• Organização das unidades  XIV o registro docente  XXXII
Organização dos conteúdos e a BNCC  XVI Perfil indicado dos professores  XXXIII
• O trabalho com as competências e • O trabalho com professores de outras áreas
habilidades específicas da área de Ciências de conhecimento  XXXIV
Humanas e Sociais Aplicadas  XVI Unidades e sequências didáticas  XXXIV
• O trabalho com Temas Contemporâneos Cronograma  XXXV
Transversais  XVIII Construindo os processos
de avaliação  XXXV

Proposta teórico-metodológica da obra  XIX Indicações complementares  XXXVI

Professores e a BNCC  XX Referências bibliográficas  XXXVIII


Elementos de metodologias ativas
MATERIAL DE
no planejamento DIVULGAÇÃO
e na condução Orientações didáticas e comentários
DA
das aulas EDITORA DO BRASIL XX específicos  XLI

• O ensino por projetos  XXI Introdução  XLII


• A sala de aula invertida  XXII Mapa do ensino  XLIII
• Unidade 1: Formação dos Estados
Como estimular o trabalho em grupo?  XXII
e fronteiras  XLVIII
O trabalho com competências e habilidades
• Unidade 2: A relação entre
de diferentes áreas  XXXIII
os Estados nacionais  LIX
• Linguagens e suas Tecnologias  XXIV • Unidade 3: O enfraquecimento dos
• Matemática e suas Tecnologias  XXIV estados e das fronteiras  LXIX
• Unidade 4: Outros modelos
• Ciências da Natureza e
de territórios  LXXIX
suas Tecnologias  XXV
• Formação Técnica e Profissional  XXV Referências bibliográficas  LXXXIX

III
INTRODUÇÃO
O Novo Ensino Médio, cujas alterações à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foram
propostas pela Lei no 13.415/2017,1 prevê uma ampliação do tempo mínimo do estudante na escola e
uma reorganização curricular atrelada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O foco principal das
mudanças está na maior flexibilidade curricular, expressa pela possibilidade de construção de itinerá-
rios formativos baseados em áreas de conhecimento e pelo destaque à formação técnica e profissional
do estudante.
Um dos aspectos mais significativos no que se refere ao Novo Ensino Médio consiste nas grandes
frentes que essa proposta contempla: o desenvolvimento do protagonismo dos estudantes e de seu
projeto de vida, a valorização da aprendizagem e a garantia de direitos de aprendizagem comuns, com a
definição das competências indispensáveis que devem ser desenvolvidas e alcançadas por todos os jovens.
Essas competências são descritas em detalhes no documento da BNCC.2
É importante ressaltar que, desde a Constituição Federal de 1988, se tem dispensado bastante aten-
ção ao Ensino Médio. Assim, o direito ao acesso e à permanência na escola se alia a uma preocupação
com a promoção da formação humanística e para o trabalho.
A tarefa delegada ao Ensino Médio é ampla e complexa e precisa ser pensada em relação aos marcos
teóricos e procedimentos que possibilitem a consecução dos objetivos assumidos perante a sociedade.
Entendendo que a renovação estrutural era fundamental para a execução dessa tarefa, o Plano Nacional
de Educação,3 de 2014, propôs a flexibilização curricular e a abordagem interdisciplinar como bases desse
Novo Ensino Médio, que começou a se desenhar e se concretizou com a LDB de 2017 e as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio de 2018.4
Esta coleção foi concebida e construída para ajudá-lo a realizar, de forma consistente e segura, a pro-
posta do Novo Ensino Médio. Os livros são autocontidos. Isso significa que você pode usá-los da maneira
que preferir e de acordo com os interesses dos estudantes. A abordagem tem aspectos interdisciplinares,
o que agrega flexibilidade ao currículo e aos conteúdos, além de facilitar a construção dos conhecimentos
de modo mais significativo graças à integração dos componentes curriculares no contexto da área de
conhecimento de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Ao longo deste material, você encontra sugestões
e orientações para o desenvolvimento de seu trabalho junto aos estudantes, assim como discussões que
podem auxiliá-lo a refletir sobre suas práticas.
Este Manual do Professor está dividido em duas partes: uma de caráter geral, em que se sintetizam os
pressupostos metodológicos nos quais nosso material se baseia, e uma específica, na qual são oferecidas
orientações e sugestões de como abordar os temas propostos em todas as unidades, além de sugestões
de atividades complementares, a fim de proporcionar um aproveitamento mais efetivo do material didá-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tico e o enriquecimento de sua prática diária.
DA EDITORA DO BRASIL
AS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
NO ENSINO MÉDIO
A área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, composta da integração entre Filosofia, História,
Sociologia e Geografia, no Novo Ensino Médio segue a tônica das diretrizes gerais: flexibilidade curricular,
abordagem interdisciplinar e promoção do protagonismo juvenil.
A área pretende aprofundar e ampliar aprendizagens desenvolvidas no Ensino Fundamental e tem o
objetivo de capacitar os estudantes para que consigam estabelecer diálogos e relações entre saberes,
culturas, indivíduos e grupos sociais. Para isso, baseia-se nas maiores habilidades de observação e abs-
tração de estudantes desse segmento, assim como no mais amplo domínio de diferentes linguagens e de
processos de simbolização.

1 BRASIL. Presidência da República. Secretaria Geral. Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 16 ago. 2020.
2 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base.
Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. p. 9-10.
3 BRASIL. Plano Nacional de Educação. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543
-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Acesso em: 16 ago. 2020.
4 BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/resources/
downloads/pdf/dcnem.pdf. Acesso em: 16 ago. 2020.

IV
Os estudantes precisam ter acesso a uma base de conhecimentos contextualizados com o intuito de
se tornarem capazes de realizar reflexões e análises críticas, de se posicionar, de propor intervenções
responsáveis, que sejam alicerçadas na ética e observem o respeito aos direitos humanos, assumindo
uma postura criativa, engajada e protagonista. Além disso, é fundamental que desenvolvam as habilida-
des de elaborar argumentos e apresentar propostas alternativas sempre que necessário. Assim, poderão
propor soluções de problemas intrínsecos à realidade, apoiados em conhecimentos científicos, com a
utilização contextualizada, criteriosa e crítica das tecnologias.
Para assegurar a conquista da formação integral dos estudantes, o Novo Ensino Médio e a BNCC pro-
põem a problematização de algumas categorias da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: Tempo
e espaço; Territórios e Fronteiras; Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cultura e Ética; Política e Trabalho.
Essas categorias favorecem a compreensão de diferentes processos e conceitos associados à realidade
brasileira e mundial. A discussão dos processos, conceitos e conteúdos precisa considerar os compro-
missos éticos, sociais, econômicos e ambientais que a educação e a escola têm não apenas em relação
aos indivíduos, mas também à sociedade como um todo.
Nesse contexto, a presente coleção oferece possibilidades de ensino e aprendizagem em confor-
midade com esses pressupostos. Os livros e as unidades estão organizados com o propósito de
contemplar os grandes temas indicados pela BNCC por meio de uma perspectiva interdisciplinar e,
com base nas situações propostas, desencadear a pesquisa e a discussão de temas contemporâneos,
os quais incentivam e desafiam os estudantes a responder às situações de forma crítica e consistente.
As demandas pelo protagonismo juvenil são atendidas não apenas pelos conteúdos propostos, mas,
sobretudo, por atividades diversificadas, a fim de que todas as competências e habilidades almejadas
sejam desenvolvidas.

Os componentes curriculares da área do conhecimento


A BNCC propõe para a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, no Ensino Médio, um trabalho
voltado à análise e à reflexão de processos sociais, históricos, filosóficos e geográficos de maneira articu-
lada. Por isso, nesta obra, procurou-se trabalhar esses componentes de forma integrada, por meio de
contextualizações e temas comuns e necessários para o amplo entendimento dos estudantes.
Na perspectiva filosófica, opera-se o exame racional dos conteúdos da vida humana, propiciando a
compreensão racional e teórica do mundo, por meio da elaboração de um conhecimento fundamentado.
A Filosofia permite a reflexão sobre modos de organização social, formas de produção simbólicas, con-
ceitos e valores morais, legais, estéticos e ideológicos.
No que tange aos estudos históricos, a BNCC do Ensino Médio possibilita diversificar a abordagem
cronológica convencional, abrindo margem para o uso de metodologias próprias da história temática, se
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
esta for da preferência do professor. Em linhas gerais, aprofundam-se métodos e conceitos próprios à
produção do conhecimento histórico, de modo a tornar o estudante apto a aplicá-los no estudo de dife-
DA EDITORA DO BRASIL
rentes temas, contextos e processos e na problematização de aspectos da própria realidade. Ao desen-
volver as habilidades requisitadas, o estudante poderá produzir inteligibilidade sobre as experiências
sociais no tempo e no espaço, construindo repertório para assim compreender o momento histórico em
que está inserido e como agir nele.
No caso da abordagem sociológica, a BNCC dialoga com as Ciências Sociais de forma abrangente, pois
busca diferentes métodos, fontes e campos de conhecimento para a compreensão de distintos fenôme-
nos e seus impactos na sociedade. Assim, os estudantes desenvolvem ferramentas científicas que per-
mitem que compreendam a sociedade e seu lugar nela, por meio de uma multiplicidade de correntes de
pensamento e metodologias de análise, transformando o conhecimento científico em informações úteis
para que atue no mundo de forma consciente e autônoma.
Em relação à perspectiva geográfica, o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem se pauta
pelo estudo do processo de (re)produção do espaço e as mais diversas realidades, contradições e condi-
ções que o permeiam, permitindo ao estudante se enxergar nesse processo e analisar suas diferentes
escalas: locais, regionais, globais, utilizando, para isso, conceitos e métodos próprios das Ciências Huma-
nas e Sociais Aplicadas, como proposto pela BNCC.

V
A BNCC
A BNCC tem como marco fundamental a defesa dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento de
todos os estudantes brasileiros ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. De caráter nor-
mativo, ela propõe um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens consideradas essenciais para
que os objetivos que defende sejam atingidos. Orienta-se ainda por princípios éticos, políticos e estéticos
cuja finalidade é a formação integral do ser humano. Assim, busca promover a construção de uma socie-
dade justa, democrática e inclusiva.
Há um alinhamento entre as ações e políticas nos âmbitos federal, estadual e municipal, com o obje-
tivo de atingir a meta proposta pela BNCC, para superar a fragmentação das políticas educacionais e
melhorar a qualidade da educação em nosso país. Desse modo, o documento entende que deve haver
um patamar comum de aprendizagens a todos os estudantes e apresenta-se, assim, como um instrumento
fundamental para o alcance desse objetivo.
Em sua estrutura básica, a BNCC define que a Educação Básica, ao longo de seu percurso, deve asse-
gurar o desenvolvimento de dez competências gerais. Entende-se por competência a capacidade de
mobilizar conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para oferecer soluções a problemas da vida
cotidiana, exercer plenamente a cidadania e atuar no mundo do trabalho. Destaque-se aqui que o docu-
mento, ao pensar nas competências, se alinha à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU)5,
ao compreender a educação como meio e ferramenta para a afirmação de valores e atitudes capazes de
contribuir para a transformação da sociedade, de tal sorte que ela seja mais humana, justa e comprome-
tida com a sustentabilidade. As dez competências gerais, propostas pela BNCC, que a Educação Básica
deve desenvolver para formar cidadãos plenos são:

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital
para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade jus-
ta, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a refle-
xão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e
resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de
práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e
digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e parti-
lhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao
entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar
DA EDITORA DO BRASIL
informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e
coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe
possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da ci-
dadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pon-
tos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental
e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado
de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana
e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito
ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais,
seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, toman-
do decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base.
Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. p. 9-10.

5 ONU. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://nacoesunidas.
org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 16 ago. 2020.

VI
A BNCC também define competências específicas para as áreas de conhecimento, as quais são vincu-
ladas às competências gerais da Educação Básica, e habilidades que ampliam e sistematizam as apren-
dizagens a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. O objetivo aqui consiste em contemplar os
conteúdos conceituais de cada área, contextualizando-os social, cultural, ambiental e historicamente e
familiarizando os estudantes com os processos e as práticas de investigação e análise das Ciências
Humanas, assim como problematizar e tematizar categorias fundamentais da área (Tempo e Espaço;
Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cultura e Ética; Territórios e Fronteiras; e Política e Trabalho) para a for-
mação do estudante de Ensino Médio.6
Cada competência se relaciona a um conjunto de habilidades específicas. A competência mobiliza conhe-
cimentos e conceitos (o “saber”), e a habilidade indica as práticas (o “saber fazer”), sejam elas socioemocio-
nais ou cognitivas. Portanto, para atingir uma competência, é necessário que todas as suas habilidades
correlacionadas sejam desenvolvidas.
As competências específicas e as habilidades a serem desenvolvidas em Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas no Ensino Médio são explicitadas na sequência.

Competência específica 1
Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional,
nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos,
científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, con-
siderando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza
científica.

(EM13CHS101)
Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com
vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos,
econômicos, sociais, ambientais e culturais.

(EM13CHS102)
Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais,
ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, coo-
perativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as
a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

(EM13CHS103)
Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, eco-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e infor-
mações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos
DA EDITORA DO BRASIL
históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).

(EM13CHS104)
Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos, valores,
crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas
no tempo e no espaço.

(EM13CHS105)
Identificar, contextualizar e criticar tipologias evolutivas (populações nômades e sedentárias, entre
outras) e oposições dicotômicas (cidade/campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/emoção,
material/virtual etc.), explicitando suas ambiguidades.

(EM13CHS106)
Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros textuais e tecnologias
digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas
sociais, incluindo as escolares, para se comunicar, acessar e difundir informações, produzir conhecimen-
tos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p. 562.

VII
Competência específica 2
Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreen-
são das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações.

(EM13CHS201)
Analisar e caracterizar as dinâmicas das populações, das mercadorias e do capital nos diversos conti-
nentes, com destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de
eventos naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos e culturais, de modo a compreender e posicio-
nar-se criticamente em relação a esses processos e às possíveis relações entre eles.

(EM13CHS202)
Analisar e avaliar os impactos das tecnologias na estruturação e nas dinâmicas de grupos, povos e
sociedades contemporâneos (fluxos populacionais, financeiros, de mercadorias, de informações, de
valores éticos e culturais etc.), bem como suas interferências nas decisões políticas, sociais, ambientais,
econômicas e culturais.

(EM13CHS203)
Comparar os significados de território, fronteiras e vazio (espacial, temporal e cultural) em diferentes
sociedades, contextualizando e relativizando visões dualistas (civilização/barbárie, nomadismo/seden-
tarismo, esclarecimento/obscurantismo, cidade/campo, entre outras).

(EM13CHS204)
Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades
e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Esta-
dos Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos),
a diversidade étnico-cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas.

(EM13CHS205)
Analisar a produção de diferentes territorialidades em suas dimensões culturais, econômicas, ambien-
tais, políticas e sociais, no Brasil e no mundo contemporâneo, com destaque para as culturas juvenis.

(EM13CHS206)
Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de
localização, distribuição, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem
para o raciocínio geográfico.

Competência
MATERIAL específica 3
DE DIVULGAÇÃO
Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades com a natureza
DA EDITORA DO BRASIL
(produção, distribuição e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à propo-
sição de alternativas que respeitem e promovam a consciência, a ética socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional, nacional e global.

(EM13CHS301)
Problematizar hábitos e práticas individuais e coletivos de produção, reaproveitamento e descarte de
resíduos em metrópoles, áreas urbanas e rurais, e comunidades com diferentes características socioe-
conômicas, e elaborar e/ou selecionar propostas de ação que promovam a sustentabilidade socioambien-
tal, o combate à poluição sistêmica e o consumo responsável.

(EM13CHS302)
Analisar e avaliar criticamente os impactos econômicos e socioambientais de cadeias produtivas ligadas à
exploração de recursos naturais e às atividades agropecuárias em diferentes ambientes e escalas de análise,
considerando o modo de vida das populações locais – entre elas as indígenas, quilombolas e demais comu-
nidades tradicionais –, suas práticas agroextrativistas e o compromisso com a sustentabilidade.

(EM13CHS303)
Debater e avaliar o papel da indústria cultural e das culturas de massa no estímulo ao consumismo,
seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à percepção crítica das necessidades criadas
pelo consumo e à adoção de hábitos sustentáveis.

VIII
(EM13CHS304)
Analisar os impactos socioambientais decorrentes de práticas de instituições governamentais, de
empresas e de indivíduos, discutindo as origens dessas práticas, selecionando, incorporando e promo-
vendo aquelas que favoreçam a consciência e a ética socioambiental e o consumo responsável.

(EM13CHS305)
Analisar e discutir o papel e as competências legais dos organismos nacionais e internacionais de regula-
ção, controle e fiscalização ambiental e dos acordos internacionais para a promoção e a garantia de práticas
ambientais sustentáveis.

(EM13CHS306)
Contextualizar, comparar e avaliar os impactos de diferentes modelos socioeconômicos no uso dos
recursos naturais e na promoção da sustentabilidade econômica e socioambiental do planeta (como a
adoção dos sistemas da agrobiodiversidade e agroflorestal por diferentes comunidades, entre outros).

Competência específica 4
Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas,
discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades.

(EM13CHS401)
Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas
distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de tra-
balho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.

(EM13CHS402)
Analisar e comparar indicadores de emprego, trabalho e renda em diferentes espaços, escalas e
tempos, associando-os a processos de estratificação e desigualdade socioeconômica.

(EM13CHS403)
Caracterizar e analisar os impactos das transformações tecnológicas nas relações sociais e de trabalho
próprias da contemporaneidade, promovendo ações voltadas à superação das desigualdades sociais, da
opressão e da violação dos Direitos Humanos.

(EM13CHS404)
Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos his-
tóricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em considera-
ção, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais.

MATERIAL
Competência DE DIVULGAÇÃO
específica 5
DA EDITORA DO BRASIL
Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios
éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.

(EM13CHS501)
Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando processos
que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia,
o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.

(EM13CHS502)
Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e proble-
matizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que
promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.

(EM13CHS503)
Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas
causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e
avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.

(EM13CHS504)
Analisar e avaliar os impasses ético-políticos decorrentes das transformações culturais, sociais, histó-
ricas, científicas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdobramentos nas atitudes e nos
valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas.

IX
Competência específica 6
Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas
alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência
crítica e responsabilidade.

(EM13CHS601)
Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas
e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a
história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econô-
mica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.

(EM13CHS602)
Identificar e caracterizar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na política, na
sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, relacionan-
do-os com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade,
do diálogo e da promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos na sociedade atual.

(EM13CHS603)
Analisar a formação de diferentes países, povos e nações e de suas experiências políticas e de exercí-
cio da cidadania, aplicando conceitos políticos básicos (Estado, poder, formas, sistemas e regimes de
governo, soberania etc.).

(EM13CHS604)
Discutir o papel dos organismos internacionais no contexto mundial, com vistas à elaboração de uma
visão crítica sobre seus limites e suas formas de atuação nos países, considerando os aspectos positivos
e negativos dessa atuação para as populações locais.

(EM13CHS605)
Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça, igualdade
e fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas socieda-
des contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses direitos
em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo.

(EM13CHS606)
Analisar as características socioeconômicas da sociedade brasileira – com base na análise de docu-
mentos (dados, tabelas, mapas etc.) de diferentes fontes – e propor medidas para enfrentar os problemas
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
identificados e construir uma sociedade mais próspera, justa e inclusiva, que valorize o protagonismo de
seus cidadãos e promova o autoconhecimento, a autoestima, a autoconfiança e a empatia.
DA EDITORA DO BRASIL
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a
base. Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. p. 570-579.

O trabalho com o desenvolvimento das habilidades viabiliza uma abordagem multidisciplinar entre as
áreas do conhecimento, bem como relaciona eventos sociais, históricos, filosóficos e geográficos a situa-
ções cotidianas do estudante, conferindo aplicação prática e reflexiva dos aprendizados mobilizados.
Por isso, o desenvolvimento das competências específicas e das habilidades das Ciências Humanas e
Sociais não se faz apenas pela exemplificação, mas também pelo enfrentamento de situações-problema
para as quais os estudantes sejam desafiados a encontrar soluções. Nesse sentido, merece destaque o
caráter investigativo dessa área de conhecimento.
Abordamos, até o momento, os pressupostos básicos da BNCC. A seguir, apresentamos a estrutura de
nossa coleção, construída para auxiliá-lo a atingir os objetivos propostos pela BNCC com atividades,
textos e práticas que destacam as competências e as habilidades que seu trabalho junto aos estudantes
pode desenvolver.

X
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA OBRA
Tendo em vista as discussões, as metodologias e os conteúdos propostos pela reestruturação do
Ensino Médio e a homologação da Base Nacional Comum Curricular, esta obra de Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas tem o objetivo de assegurar a valorização de princípios éticos essenciais para o con-
vívio social republicano e a ação cidadã, mobilizando temas contemporâneos transversais que se
relacionem com o cotidiano e o projeto de vida do estudante, preparando-o para o mundo do trabalho
e para ser agente em uma sociedade tecnológica em constante transformação.
Para isso, a obra se organiza em seis livros. Cada um deles tem o objetivo de problematizar uma das
categorias das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas mencionadas pela BNCC e de trabalhar, sobretudo,
com uma das seis competências específicas da área e suas habilidades.
Prezando a autonomia dos professores e dos jovens em sala de aula, os livros não foram idealizados
em uma ordem de progressão específica, podendo ser trabalhados de forma independente e na ordem
que considerarem mais adequada à realidade escolar e aos interesses e às aspirações dos estudantes.

Organização geral
Cada livro da obra apresenta quatro unidades, tendo como fio condutor a problematização das cate-
gorias de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da BNCC. Desse modo, a coleção está assim organizada:

QUADRO DE CONTEÚDOS

Unidade 1: Liberdade Objetivo Competências gerais


individual Analisar o conceito de liberdade individual em diferentes 1, 3, 6, 7, 9 e 10
contextos históricos, territoriais, políticos, sociais, Competências específica e
econômicos e culturais. habilidades
Justificativa 1: EM13CHS101; EM13CHS103;
A proposta auxilia os estudantes a identificar, analisar e EM13CHS106
comparar diferentes narrativas e fontes para
compreender o desenvolvimento de distintos processos
históricos e geográficos, assim como debater ideias e
conceitos filosóficos e sociológicos.

Unidade 2: Liberdade e o Objetivo Competências gerais


outro Refletir sobre a noção do “outro” de acordo com 1, 6, 7, 8, 9 e 10
diferentes matrizes conceituais do pensamento Competência específica e
ocidental e problematizar concepções etnocêntricas, habilidades
evolucionistas e racistas. 1: EM13CHS102; EM13CHS104;
Justificativa EM13CHS105; EM13CHS106
A discussão dos contextos e das ideias que foram
favoráveis ao desenvolvimento de matrizes conceituais
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dicotômicas, como civilização/barbárie e nomadismo/
sedentarismo, são fundamentais para identificar o seu
DA EDITORA DO BRASIL
caráter redutor da realidade.

Unidade 3: Liberdade e Objetivo Competências gerais


participação política Compreender a relação entre participação política e 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9 e 10
liberdade, por meio do estudo de diferentes concepções Competência específica e
e contextos, sobretudo no ocidente a partir do século habilidades
XVII. 1: EM13CHS101; EM13CHS103;
Justificativa EM13CHS106
A compreensão de concepções e eventos que
transformaram e constituíram práticas políticas é
fundamental para embasar ações na sociedade que
visam ao bem-estar coletivo e individual, favorecendo
o pleno exercício da cidadania.

Unidade 4: Desigualdade Objetivo Competências gerais


como impeditivo para a Identificar como a desigualdade social e econômica, 1, 2, 4, 5, 7, 9 e 10
liberdade relacionada aos limites impostos às liberdades de Competência específica e
determinados grupos, se manifesta na vida social e no habilidades
processo de urbanização e ocupação do espaço das 1: EM13CHS101; EM13CHS102;
cidades. EM13CHS106
Justificativa
A proposta amplia a capacidade do estudante de buscar
soluções embasadas em princípios inclusivos, solidários,
éticos e democráticos para problemas da sociedade ao
seu redor, e também de argumentar com base em
informações confiáveis, em favor de práticas que
respeitem os direitos humanos.

XI
Unidade 1: Formação dos Objetivo Competências gerais
Estados e fronteiras Possibilitar a compreensão de como se dá o processo de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
formação dos Estados e fronteiras por meio da análise Competência específica e
de alguns exemplos em diferentes momentos históricos, habilidades
avaliando criticamente o papel que as principais nações 2: EM13CHS203; EM13CHS204;
exercem no cenário geopolítico. EM13CHS206
Justificativa
A proposta possibilita a compreensão de conceitos como
fronteiras e territórios por meio do trabalho com diversas
linguagens, como texto, fotografias, gráficos e obras de
arte, e amplia a capacidade do estudante de se colocar
criticamente no mundo.

Unidade 2: A relação entre Objetivo Competências gerais


os Estados nacionais Aprofundar o estudo da relação entre os Estados 1, 2, 4, 6, 7, 9 e 10
nacionais iniciado na Unidade 1, por meio do debate de Competência específica e
ideias de Kant e Hegel, da discussão sobre imperialismo habilidades
e manifestações de nacionalismo, da reflexão sobre o 2: EM13CHS201; EM13CHS203;
imperialismo no capitalismo e da análise de dinâmicas EM13CHS206
populacionais.
Justificativa
A proposta é fundamental para que o estudante seja
capaz de analisar e caracterizar fatores que têm grande
importância na vida dos grupos humanos, como
condições socioeconômicas e políticas públicas.

Unidade 3: O Objetivo Competências gerais


enfraquecimento dos Abordar o período que vai da Segunda Guerra Mundial 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
estados e das fronteiras até os dias de hoje para ampliar a discussão sobre o Competência específica e habilidade
enfraquecimento dos Estados e fronteiras nacionais, a 2: EM13CHS202
formação de blocos regionais e a globalização.
Justificativa
A proposta possibilita a compreensão das relações
internacionais no mundo contemporâneo, as quais
revelam uma realidade fragmentada e multipolarizada.
Unidade 4: Outros Objetivo Competências gerais
modelos de territórios Refletir sobre alguns modelos de território, analisando- 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
-se territorialidades ligadas à questão da identidade e ao Competência específica e
sentimento de pertencimento de diferentes grupos. habilidades
Justificativa 2: EM13CHS205; EM13CHS206
A proposta possibilita a identificação de projetos
diferentes ligados à construção dos símbolos da pátria.
Propõe-se, ainda, uma reflexão sobre os povos
tradicionais de nosso território e o papel do Estado em
relação a eles.

Unidade 1: Modos de vida Objetivo Competências gerais


e relação com a natureza Compreender o uso de recursos ambientais e da 1, 2 e 7
transformação da natureza como fatores inerentes à vida Competência específica e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO humana. habilidades
3: EM13CHS302; EM13CHS306
Justificativa
DA EDITORA DO BRASIL
A compreensão das diferentes dimensões e
características da relação entre o ser humano e a
natureza permite que o estudante desenvolva um
arcabouço de aprendizados e informações que o
auxiliarão no entendimento e na formulação dos
cuidados necessários com o planeta.
Unidade 2: Economia Objetivo Competências gerais
capitalista e impactos Problematizar práticas coletivas e individuais de 1, 2, 5, 6, 7 e 10
ambientais utilização e exploração de recursos naturais, na Competência específica e
produção, no consumo e no descarte, e analisar os habilidades
impactos socioambientais dessas práticas. 3: EM13CHS301; EM13CHS304
Justificativa
O entendimento dos impactos da ação do ser humano
na natureza incentiva a análise crítica e a reflexão sobre
problemas ambientais contemporâneos, promovendo o
consumo responsável e a consciência socioambiental.

Unidade 3: A indústria Objetivo Competências gerais


cultural e a sociedade de Discutir os impactos socioambientais e econômicos do 3, 6, 7 e 8
consumo consumismo e avaliar de que maneira a cultura de massa, Competência específica e habilidade
a indústria cultural e as novas tecnologias contribuem na 3: EM13CHS303
construção de uma sociedade consumista.
Justificativa
A proposta promove uma percepção crítica da realidade e
incentiva a aquisição de hábitos de consumo mais
alinhados ao cuidado com o planeta, de modo a auxiliar o
estudante na construção de uma sociedade sustentável.

XII
Unidade 4: Desafios e Objetivo Competências gerais
perspectivas para um Analisar o papel de diferentes atores sociais, como o 1, 2, 7, 9 e 10
futuro sustentável Estado, a sociedade civil e a iniciativa privada, na Competência específica e
preservação e conservação ambiental. habilidades
Justificativa 3: EM13CHS304; EM13CHS305
A proposta permite que o estudante desenvolva os
conhecimentos e os mecanismos para agir no
ambiente, tendo em vista a conservação e a
preservação dos recursos naturais para seu próprio
usufruto e o de gerações futuras.

Unidade 1: Trabalho e Objetivo Competências gerais


condição humana Debater os múltiplos aspectos e significados do trabalho. 1, 2, 3, 6, 7, 9 e 10
Justificativa Competência específica e habilidade
O domínio do conceito de trabalho e do entendimento de 4: EM13CHS404
suas relações com a economia, com a política, com a
cultura e com a vida cotidiana podem auxiliar o estudante
a entender de que forma se preparar para ser
um agente no mundo do trabalho contemporâneo.

Unidade 2: Mudanças Objetivo Competências gerais


tecnológicas e o trabalho Analisar o trabalho no contexto do capitalismo, 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
na atualidade discutindo transformações tecnológicas e suas Competência específica e habilidade
consequências para a organização social e econômica. 4: EM13CHS401
Justificativa
A proposta auxilia o estudante a entender com maior
clareza a rede complexa de relações que determina a
atividade produtiva no sistema capitalista.

Unidade 3: Relações de Objetivo Competências gerais


trabalho, emprego e Entender aspectos das desigualdades sociais e 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
desigualdade social econômicas no capitalismo por meio da análise de Competência específica e habilidade
indicadores de emprego, renda e trabalho. 4: EM13CHS402
Justificativa
A proposta, além de despertar a curiosidade intelectual
do estudante, também o prepara para utilizar os dados
analisados como formas de encontrar soluções para
problemas ao seu redor, incentivando sua ação
autônoma na sociedade.

Unidade 4: As formas de Objetivo Competências gerais


organização dos Fazer uma análise da cooperação por meio do trabalho, 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
trabalhadores apresentando processos de organização e mobilização de Competência específica e
trabalhadores no Brasil e no mundo. habilidades
Justificativa 4: EM13CHS403; EM13CHS404
A proposta permite que o estudante compreenda os
instrumentos de mediação entre capital e trabalho,
possibilitando o desenvolvimento dos conhecimentos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
pertinentes ao início da sua vida profissional e à sua
atuação como cidadão.
DASul:EDITORA
Unidade 1: África do ObjetivoDO BRASIL Competências gerais
diversidades e Compreender os conceitos e os fundamentos da ética 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
desigualdades por meio do estudo das raízes históricas da Competência específica e habilidade
desigualdade e da segregação na África do Sul. 5: EM13CHS501
Justificativa
A proposta estimula uma discussão sobre direitos
humanos entre os estudantes, promovendo o respeito à
diversidade linguística, cultural, religiosa e étnico-racial.

Unidade 2: Índia: conflitos Objetivo Competências gerais


no país do futuro Analisar as transformações econômicas e culturais 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10
ocorridas na Índia ao longo de sua história colonial e Competência específica e habilidade
pós-colonial. 5: EM13CHS504
Justificativa
A proposta fomenta uma discussão sobre os impasses
ético-políticos oriundos das transformações pelas quais
a Índia passou e tem passado, promovendo uma análise
de suas consequências sobre os modos de vida.

Unidade 3: Palestina: Objetivo Competências gerais


impasses políticos e Identificar diferentes formas de violência por meio do 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10
violências estudo do contexto histórico e da situação geopolítica do Competência específica e habilidade
território da Palestina. 5: EM13CHS503
Justificativa
A proposta promove uma reflexão sobre a necessidade
do desenvolvimento de mecanismos para combater
diferentes formas de violência.

XIII
Unidade 4: Brasil: Objetivo Competências gerais
contradições na promoção Analisar o conceito de justiça, sobretudo em relação à 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
da justiça realidade brasileira. Competência específica e habilidade
Justificativa 5: EM13CHS502
A proposta permite que situações do cotidiano sejam
analisadas de forma crítica, desnaturalizando
preconceitos e formas de desigualdade, valorizando-se a
diversidade de vivências na sociedade.
Unidade 1: Modos de Objetivo Competências gerais
governança republicanos Apropriar-se de conceitos políticos pertinentes à trajetória 1, 2, 6, 7 e 9
histórica e à realidade política brasileira, podendo usá-los Competência específica e
para qualificar a análise, a interpretação e a intervenção na habilidades
sociedade e nas instâncias políticas. 6: EM13CHS602; EM13CHS603;
Justificativa EM13CHS606
O entendimento de conceitos políticos e da trajetória da
República no Brasil visa preparar o estudante para
participar do debate público, identificar problemas
sociais e propor ações que promovam a democracia e os
direitos humanos
Unidade 2: Minorias Objetivo Competências gerais
sociais e demandas Avaliar a ação política de minorias sociais e 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10
históricas comunidades tradicionais, considerando suas lutas, Competência específica e
reivindicações e demandas históricas. habilidades
Justificativa 6: EM13CHS601; EM13CHS605
O reconhecimento das raízes históricas, sociais,
ideológicas e econômicas da desigualdade no Brasil,
assim como o entendimento de como ela se manifesta
no tempo e espaço, é fundamental para a promoção de
ações que visem ao combate a esse problema.
Unidade 3: Em busca da Objetivo Competências gerais
cidadania Conhecer e compreender os princípios de justiça, 1, 2, 3, 6, 7, 8 e 9
igualdade e liberdade presentes na Declaração dos Competência específica e
Direitos Humanos, bem como da Constituição federal habilidades
brasileira, refletindo sobre a aplicação dessas 6: EM13CHS605; EM13CHS606
normativas na sociedade brasileira.
Justificativa
A proposta contribui para o desenvolvimento da
capacidade do estudante de responsabilização em nível
individual, comunitário, nacional e internacional.
Unidade 4: Caminhos Objetivo Competências gerais
e debates para pensar Apresentar alguns debates pertinentes à construção de 1, 2, 6, 7, 8, 9 e 10
o futuro alternativas para o presente e o futuro, de modo que o Competências específicas e
estudante se localize neles e possa orientar melhor a habilidades
sua ação social, política e cidadã. 1: EM13CHS101; EM13CHS104
Justificativa 6: EM13CHS604; EM13CHS605;
O debate sobre o conceito de cidadania contribui para a EM13CHS606
formação cidadã do estudante e seu protagonismo social.

MATERIAL
OrganizaçãoDE DIVULGAÇÃO
das unidades
DA Cada
EDITORA
livro é DO BRASILem quatro unidades que apresentam, problematizam e debatem o tema por
organizado
meio de uma perspectiva multidisciplinar e um conjunto de habilidades diferentes. Essa divisão considera
o desenvolvimento das discussões em uma sequência lógica e facilita o planejamento dos docentes.
Cada uma dessas unidades apresenta conteúdos de Filosofia, História, Sociologia e Geografia, assim
ordenados, proporcionando uma linha de raciocínio interdisciplinar sobre determinados assuntos. Dessa
maneira, os estudantes, em uma unidade, observam o mesmo tema por diferentes óticas disciplinares,
construindo noções complexas de aprendizado e de expressões da própria realidade. Portanto, cada
unidade é iniciada pela discussão de um conceito pela perspectiva filosófica; em seguida esse conceito
é historicizado e analisado pelas teorias sociológicas, para, por fim, ter seus aspectos territoriais e
geográficos debatidos.
Veja, nas próximas páginas, de que maneira essas unidades se estruturam.
Texto principal
Exposição descritiva e analítica dos assuntos da unidade sob o viés filosófico, histórico, sociológico ou
geográfico, com o objetivo de introduzir ao estudante a construção de conhecimento sobre o mundo cultu-
ral, físico e social e propor abordagens reflexivas sobre temas contemporâneos. Com entrada eventual, os
textos citados ajudam a enriquecer a abordagem e apresentam o ponto de vista de um estudioso do assunto,
familiarizando os estudantes às suas ideias e às características da escrita acadêmica.
A linguagem utilizada possibilita ampliar o vocabulário do estudante, sem deixar de ser acessível ou
interessante para a faixa etária. A apresentação dos conteúdos é também facilitada pelo emprego de
ilustrações, imagens, gráficos e mapas, recursos que favorecem a aprendizagem por se tratar de lin-
guagens variadas.

XIV
Boxe principal
Traz informações complementares ao conteúdo do texto principal. Também apresenta textos de
estudiosos e pesquisadores da área, problematizando a construção do conhecimento filosófico, histó-
rico, sociológico e geográfico. Pode ser acompanhado de três ou quatros questões que instigam a
reflexão do estudante, chamando-o para protagonizar seu processo de aprendizado.

Outro ponto de vista


Boxe que apresenta diferentes perspectivas sobre determinado tema, tratando do pluralismo de ideias
necessário ao debate científico. O conteúdo permite ao estudante lidar com o contraditório e considerar a
complexidade dos debates na formulação de seus próprios posicionamentos.

Boxe lateral
Apresenta conceitos e definições importantes para o entendimento de contextos de aplicação do
conhecimento. Indicam informações que ajudam a tornar os livros autocontidos.

Glossário
Esclarece o significado de palavras e expressões. Contém a definição de termos e expressões impor-
tantes para uma compreensão mais efetiva do assunto.

Atividades
Apresenta propostas de atividades individuais ou coletivas e trabalha diferentes processos cognitivos;
resolução de problemas; análise, compreensão e produção de diferentes tipos de texto, verbais e ima-
géticos; pesquisas e debates.
São atividades que contemplam diversos contextos, como culturas juvenis, desenvolvimento científico,
sustentabilidade etc., além de enfatizar as tecnologias digitais, a comunicação e o trabalho em grupo.
Também auxiliam os estudantes na compreensão leitora, incentivando a proposição de hipóteses e os
desafiando a interpretar gráficos e tabelas e a elaborar argumentos e contra-argumentos.
A sequência didática sugerida para a unidade permite verificar não apenas a apreensão de conceitos
científicos como também atitudinais e procedimentais. Vale destacar o papel da investigação nas ati-
vidades propostas, visto que essa metodologia de ensino tem ganhado projeção no campo da didática
das ciências. Com a proposição de atividades de cunho investigativo, os estudantes são instados a
exercer protagonismo e autonomia e também entram em contato com procedimentos científicos e com
os aspectos relacionados à natureza das Ciências Humanas, tão relevante nos processos de ensino-
-aprendizagem contextualizadores e críticos.
Essa seção é o marcador da transição da abordagem de determinado componente para a outro,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
facilitando a localização dos professores de diferentes perfis do conteúdo a que lhe compete em cada
unidade. DA EDITORA DO BRASIL
Pensamento computacional
Atividade que propõe a solução de um problema por meio da estratégia do pensamento computa-
cional, como a criação de algoritmos, a decomposição de problemas e o reconhecimento de padrões.
Embora algumas dessas características também estejam presentes em outras atividades, elas são mais
destacadas aqui.

Conexões
Seção que integra o conhecimento específico das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas outras áreas
de conhecimento, principalmente Ciências da Natureza e suas Tecnologias, relacionando-as a um Tema
Contemporâneo Transversal. Os estudantes poderão recorrer a seus conhecimentos em áreas distintas
e aplicá-los na resolução de questões teóricas ou práticas, podendo desenvolver assim o raciocínio não
compartimentado e promover o pensamento complexo.

Mídia
Com base em textos que circulam na mídia, a seção trabalha a análise crítica e propositiva da
produção, circulação e recepção desses textos, com foco na leitura inferencial e multimodal, desta-
cando processos de análise e interpretação textual, tratamento da informação e identificação de
fragilidades argumentativas.

XV
A compreensão crítica da realidade que nos é transmitida pelos meios de comunicação e também
pelas redes sociais evita a disseminação de notícias falsas, que podem acarretar danos à sociedade
como um todo. Saber interpretar notícias, pesquisar informações em fontes confiáveis e conseguir
transpô-las e adequá-las à realidade, transformando-a, é um instrumento importantíssimo para o
exercício pleno da cidadania.

Pesquisa
Seção que propõe a investigação científica que mobiliza práticas de pesquisa como estudo de caso,
grupo focal, estado da arte, análise documental, uso e construção de questionários, amostragens e
relatórios, pesquisa-ação.
Nela é retomada parte da problematização inicial do livro, agora enriquecida pelo percurso recém-
-completado. Essa retomada é particularmente interessante porque auxilia os estudantes no estabe-
lecimento de relações consistentes. Neste momento, eles têm a oportunidade de mobilizar os
conhecimentos, prévios e novos, para responder a questões ou interpretar dados diversos, podendo
ressignificar seus conhecimentos com autonomia, responsabilidade e criatividade. Assim, busca-se
estimular o estudante a atuar como um produtor de conhecimento, tendo sua produção científica auxi-
liada pelo professor e valorizada pelos seus pares.

Para continuar aprendendo


Indicações de livros, filmes, documentários e sites que ampliam os conhecimentos sobre os assun-
tos abordados no livro.

Organização dos conteúdos e a BNCC


Cada livro desta coleção foi elaborado tendo como eixo uma das seis competências específicas de
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da BNCC. Nesse formato, o conteúdo dos livros expressa a tota-
lidade do trabalho com cada uma das competências e suas respectivas habilidades, facilitando aos
docentes e estudantes a orientação do percurso de ensino-aprendizagem, a localização no caminho já
percorrido na aquisição de cada competência e a autoavaliação após a conclusão dos estudos.
Em cada livro, as habilidades relativas à competência-eixo são distribuídas pelas unidades, assegu-
rando assim o trabalho didático-pedagógico em consonância às diretrizes curriculares do Novo Ensino
Médio. Em certos casos, as mesmas habilidades são desenvolvidas em dois ou mais livros, por meio de
diferentes assuntos ou áreas de conhecimento, o que possibilita reforçá-las sob perspectivas variadas.
Isso ocorre principalmente com as habilidades de caráter procedimental, como as que demandam a
utilização de diferentes tipos de linguagens na produção e compartilhamento de conhecimentos, e as
de caráter conceitual, que requerem o uso apropriado de conceitos e princípios básicos.
Como indicado no “Mapa do ensino”, disponível no início das orientações didáticas e comentários
MATERIAL DEdeste
específicos DIVULGAÇÃO
Manual do Professor, as unidades também mobilizam diferentes competências
gerais, desenvolvendo-se no arco da aquisição de conhecimentos, linguagens e repertórios e pro-
DA EDITORA DO BRASIL
piciando o trabalho com habilidades socioemocionais, projeto de vida e formação cidadã. Assim,
possibilita-se ampliar o trabalho com as competências gerais da BNCC desenvolvido nos Anos Finais
do Ensino Fundamental. A valorização da trajetória escolar do estudante até esta etapa do ensino
é uma constante na obra, que propõe um movimento de retomada de conhecimentos, competên-
cias e habilidades no estudo de temas mais complexos e desafiadores.

O trabalho com as competências e habilidades específicas da área


de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
A competência específica 1 de Ciências Humanas centra-se no desenvolvimento da capacidade
analítica sobre processos de diferentes naturezas, voltando-se ao domínio conceitual, a operacionalização
de termos e a apropriação de procedimentos científico-metodológicos próprios dessa área de conheci-
mento. Assim, essa competência desenvolve os fundamentos comuns às humanidades e permite ao
estudante compreender a sociedade em suas conformações éticas, estéticas, políticas, econômicas e
culturais como fruto de ações de grupos humanos no tempo e no espaço. É essencial que, de posse dos
conhecimentos específicos propiciados pelas seis habilidades dessa competência, os estudantes se
tornem capazes de estudar e avaliar, por si mesmos, elementos da vida cotidiana em suas origens e
implicações. Assim, essa competência atua na formação do pensamento crítico e da autonomia.
O livro da coleção cujo tema condutor é o conceito de liberdade em diferentes contextos políti-
cos, sociais, históricos, territoriais, econômicos e culturais mobiliza o trabalho com a categoria

XVI
tempo e espaço da BNCC e concentra o desenvolvimento da competência específica 1 e de suas
seis habilidades. Nele, propomos uma análise sobre as rupturas e as permanências da emergência
do mundo moderno, por exemplo, sobretudo no que diz respeito à ideia de indivíduo, mobilizando
as habilidades EM13CHS101 e EM13CHS103. O conceito de modernidade é colocado no centro
da discussão, que assume forma crítica na elucidação das suas margens de inclusão e de exclusão.
Ao longo do livro, as oposições dicotômicas de campo e cidade, civilização e barbárie, nomadismo
e sedentarismo, entre outras, são problematizadas e relacionadas à manifestação de expressões
divisórias como o etnocentrismo, o racismo e as desigualdades socioeconômicas, mobilizando as
habilidades EM13CHS102, EM13CHS104 e EM13CHS105. Nesse percurso são usados recursos
como documentos históricos, expressões artísticas e textos filosóficos, por meio dos quais os
estudantes devem elaborar análises e exercer protagonismo na construção e na disseminação de
conhecimentos, mobilizando a habilidade EM13CHS106.
A competência específica 2 apresenta outro eixo temático da BNCC, em que se destaca a comple-
xidade dos conceitos de fronteira e território. Esse tema implica, necessariamente, observar a dinâmica
das relações entre os seres humanos e a produção dos espaços, sejam eles físicos, geopolíticos ou
culturais, e as dinâmicas de mobilidade de pessoas e mercadorias. Nessa observação devem elucidar-
-se as formas de conflito, negociação e segregação implicadas na demarcação de limites entre grupos,
Estados e nações. Igualmente, deve-se reconhecer a legitimidade dos atores sociais na produção de
suas próprias territorialidades. Ao desenvolver essa competência, portanto, os estudantes estarão aptos
a compreender melhor o mundo em que vivem, podendo posicionar-se de forma ética e consciente
acerca dos desafios contemporâneos relacionados aos movimentos migratórios, às disputas por terri-
tórios e jurisdições e às identidades culturais, por exemplo.
A trajetória do livro cujo tema condutor é o conceito de fronteiras por meio da perspectiva de
diferentes contextos históricos, culturais e socioespaciais, correspondente à competência especí-
fica 2 e suas seis habilidades, parte da formação dos Estados modernos no âmbito político, jurídico
e territorial, introduzindo o trabalho com as habilidades EM13CHS204 e EM13CHS206. O objeto
inicial é o espaço físico e sua segmentação política na forma estatal, bem como as expressões de
nacionalismo, expansionismo e imperialismo dela decorrentes, o que possibilita ao estudante
começar o estudo de aspectos mais familiares do tratamento de fronteiras e territórios, mobilizando
as habilidades EM13CHS201 e EM13CHS203. Os conceitos de desterritorialização e globalização
também são introduzidos, sendo vinculados principalmente aos impactos das tecnologias nas
dinâmicas de trânsito global, eixo da habilidade EM13CHS202. Dessa maneira, espera-se que os
estudantes compreendam os processos de configuração de dissolução das fronteiras estatais,
avaliando as implicações políticas e sociais deles decorrentes, com sensibilidade para reconhecer
os grupos sociais diretamente afetados e suas demandas. Por fim, outras formas de territorialidade
entram em foco, possibilitando aos estudantes ir além na compreensão do assunto e identificar o
espaço de algumas culturas juvenis, mobilizando a habilidade EM13CHS205.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Nesta coleção, a discussão com a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias está em foco no livro
DA EDITORA DO BRASIL
cujo tema condutor é a construção da vida em sociedade pelos seres humanos e como, nesse processo,
eles se relacionam e transformam a natureza. Nele, são trabalhadas as categorias indivíduo, natureza,
sociedade, cultura e ética das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a competência específica 3 da área
e suas seis habilidades. O uso dos recursos naturais por diversas sociedades no tempo, os impactos
socioambientais desse uso e as medidas de regulação, controle e fiscalização são objetos de análise crítica
nesse livro, que, para além da aquisição de conhecimentos teóricos, busca estimular a ação propositiva
dos estudantes e promover atitudes conscientes e sustentáveis, mobilizando as habilidades EM13CHS301,
EM13CHS302, EM13CHS304, EM13CHS305 e EM13CHS306. Também é proposto um estudo aprofun-
dado sobre a formação e a expansão da cultura de massa, orientado pela habilidade EM13CHS303,
estimulando uma discussão sobre a relação entre padrão de consumo, qualidade de vida e meio ambiente.
Esses debates são relevantes para o desenvolvimento do espírito crítico e o posicionamento consciente e
bem fundamentado dos estudantes.
De modo geral, os conteúdos e atividades desse livro apontam a relação intrínseca que os seres
humanos estabelecem com o meio em que vivem e a necessidade que têm do consumo de recur-
sos naturais para produzir a própria sobrevivência. Essa perspectiva é importante para que os
estudantes não demonizem a exploração de recursos naturais por princípio, mas compreendam o
modo predatório como isso tem sido feito, sobretudo após a expansão do sistema capitalista no
último século, e possam identificar e elaborar alternativas sustentáveis. Este é o propósito da
competência específica 3: ela possibilita a construção de uma visão equilibrada sobre o assunto e
fornece ferramentas para que os estudantes questionem os próprios comportamentos de consumo
e os modelos produtivos vigentes.

XVII
A preparação para o mundo do trabalho perpassa o conjunto da obra, sendo potencializada sobre-
tudo no livro cujo tema condutor é a maneira como os grupos humanos produzem sua vida material
e como as mudanças no mundo do trabalho impactam a vida social. Nele, mobilizam-se a categoria
trabalho, assim como a competência específica 4 da área de Ciências Humanas e suas quatro habi-
lidades. Ao longo do desenvolvimento desta competência na obra, os estudantes irão tomar contato
com a complexidade das formas de trabalho desenvolvidas no tempo e avaliar as causas e as conse-
quências das transformações no modo de produção da vida material. Com isso, poderão compreen-
der com maior clareza o lugar do trabalho na contemporaneidade e identificar o papel dos jovens e
das gerações futuras diante das rápidas transformações em curso, mobilizando as habilidades
EM13CHS401, EM13CHS403 e EM13CHS404.
Inevitável pontuar que o mundo do trabalho da atualidade é profundamente marcado pelas mudanças
ocorridas com o advento e a popularização das tecnologias digitais. Por isso, orientar os estudantes na
avaliação dos impactos tecnológicos e no bom uso das tecnologias de informação e comunicação é uma
tarefa a ser cumprida pelo professor. Muitas atividades propostas nesse livro sobre trabalho se apresentam
nesse sentido, com o intuito de incentivar os estudantes à análise crítica e ao uso orientado das tecnologias.
A diferenciação dos conceitos de trabalho, emprego e renda, um critério para o desenvolvimento da
habilidade EM13CHS402, também é abordado no livro. Durante o desenvolvimento do assunto, tabe-
las e gráficos são utilizados como recursos didáticos, estimulando os estudantes à verificação de dados
e à elaboração de conclusões sobre a distribuição do mercado de trabalho, a concentração de renda e
a desigualdade étnico-racial, por exemplo.
Na competência específica 5 das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o foco é o reconhecimento
das formas de desigualdade e da violência com vistas à construção de um posicionamento ético e alinhado
aos direitos humanos. Tendo o conceito filosófico de ética como fio condutor, busca-se compreender
diferentes expressões socioculturais desenvolvidas no tempo e no espaço e, assim, desnaturalizar práticas
de opressão como o preconceito, o silenciamento e a segregação. Isso se dá, efetivamente, não pela dis-
cussão de situações hipotéticas, mas de casos reais em que a violência, o preconceito e a desigualdade se
expressam e marcam o cotidiano de grupos sociais específicos.
Nesse sentido, o livro cujos temas condutores são os conceitos de conflito, desigualdade, violência e
justiça foi elaborado em torno de quatro estudos de caso, que destacam situações reais vividas por povos
de diferentes partes do mundo: a África do Sul, a Índia, a Palestina e o Brasil. Por meio deles, convida-se
o estudante a refletir sobre violência, desigualdade, preconceito e justiça em contextos específicos da
atualidade, mobilizando a competência específica 5 e suas quatro habilidades: EM13CHS501,
EM13CHS502, EM13CHS503 e EM13CHS504. Espera-se que, ao longo do diálogo estabelecido pelo
texto e as imagens e na execução das atividades propostas, o estudante seja sensibilizado ao combate
às desigualdades e violências por meio, principalmente, da empatia.
O livro cujo tema condutor é o aprendizado sobre a política brasileira e o exercício da cidadania,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
valorizando-se a participação no espaço público de maneira crítica e responsável, desenvolve a
DA EDITORA DO
competência BRASIL6 de Ciências Humanas e suas seis habilidades. A familiarização com o
específica
vocabulário político é fundamental para a qualificação dos estudantes para o debate público e, con-
sequentemente, para que se sintam confiantes e aptos para defender e contribuir para o fortalecimento
das instituições democráticas.
Nesse livro, mobilizando as habilidades EM13CHS601, EM13CHS602, EM13CHS603, EM13CHS604,
EM13CHS605 e EM13CHS606, os estudantes poderão não apenas compreender os mecanismos polí-
ticos que estruturam o Estado brasileiro, mas compreender a si mesmos como atores políticos necessá-
rios e relevantes. Em um âmbito mais amplo, busca-se dirimir a falsa ideia de que a política está restrita
aos círculos privilegiados da sociedade, levando ao entendimento de que as condições coletivas só
melhoram os debates públicos.

O trabalho com Temas Contemporâneos Transversais


Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) envolvem a inserção de questões sociais como objeto
de aprendizagem e reflexão dos estudantes. A transversalidade se dá pela importância das diferentes áreas
do conhecimento para analisar e tomar ações sobre essas questões, que podem envolver a proposição de
soluções, a estimativa de riscos, a previsão de impactos etc.
Os TCTs buscam contextualizar os tópicos ensinados para ajudar o estudante a se apropriar do que
aprendeu e transpor esse aprendizado em sua vida, o que auxilia em seu desenvolvimento como cidadão
e em sua atuação na sociedade. Os temas são:

XVIII
MEIO AMBIENTE
Educação ambiental
Educação para o consumo

DAE
ECONOMIA
CIÊNCIA E TECNOLOGIA Trabalho
Ciência e tecnologia Educação financeira
Educação fiscal
TEMAS CONTEMPORÂNEOS
TRANSVERSAIS

MULTICULTURALISMO (BNCC)
SAÚDE
Diversidade cultural
Saúde
Educação para a valorização do
multiculturalismo nas matrizes Educação alimentar
históricas e culturais brasileiras e nutricional
CIDADANIA E CIVISMO
Vida familiar e social
Educação para o trânsito
Educação em direitos humanos
Direitos da criança e do adolescente
Processo de envelhecimento,
respeito e valorização do idoso

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas contemporâneos transversais na BNCC: propostas
de práticas de implementação. Brasília: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/
implementacao/guia_pratico_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 4 ago. 2020.

Trata-se, portanto, de temas bastante amplos, que podem ser divididos em tópicos e trabalhados em
diferentes momentos na obra. No “Mapa do ensino”, são apresentados alguns dos temas que foram abor-
dados pelas diferentes unidades. No entanto, todos podem ser relacionados com a área de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas. Vale ressaltar que eles também geram excelentes oportunidades para tra-
balhos interdisciplinares.

PROPOSTA TEÓRICO-METODOLÓGICA DA OBRA


Em razão do caráter próprio ao objeto das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, procede-se, nesta
coleção, uma abordagem qualitativa dos temas e conteúdos. Os fenômenos sociais, em razão de sua
complexidade e dinamicidade, precisam ser compreendidos em relação aos seus contextos particulares,
tendo em vista a apreensão dos significados que lhes são conferidos pelos sujeitos que neles estão envol-
vidos como atores diretos ou como intérpretes.
A abordagem qualitativa supõe, assim, pôr em evidência a maneira pela qual os indivíduos entendem
a realidade. Para tal, é necessário tomar os eventos como partes de uma totalidade, o que implica levar
em consideração as interações e influências recíprocas dos componentes de uma dada situação. Deve-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
-se, também, buscar entender como os indivíduos atribuem sentidos aos acontecimentos e às relações
DA EDITORA DO BRASIL
sociais do cotidiano, bem como explicitar quais são esses sentidos que compõem suas visões de mundo
e orientam suas vidas.
Assim, o conjunto de formulações, conceitos e problemas abordados pelos componentes de Filosofia,
Geografia, História e Sociologia, conforme foram elaboradas no transcorrer da tradição do pensamento
ocidental, se propõe a tratar os temas relacionando-os a questões contemporâneas. Isso poderá propor-
cionar ao estudante da etapa do Ensino Médio o desenvolvimento de competências cognitivas ligadas à
compreensão de pressupostos e implicações contidas nas diferentes estratégias práticas e discursivas.
Para tanto, esta obra se estrutura na forma de apresentações – textuais e estéticas – de conhecimentos
e desafios conceituais, a partir de temas que constituem eixos norteadores para a apresentação dos
conceitos das humanidades.
Deste modo, o caminho a ser trilhado passa, prioritariamente, pela tematização expositiva dos conceitos
relacionados a cada tema-motivador das discussões, abrangendo análise, compreensão e abordagem crítica.
Os temas são problematizados e debatidos, sobretudo, por meio de metodologias ativas, que levam
os estudantes a se apropriarem de seu processo de aprendizagem, a relacionarem teoria e prática e a
desenvolverem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que aplicarão na vida cotidiana. De acordo
com o educador brasileiro José Moran: “As metodologias ativas dão ênfase ao papel protagonista do
estudante, ao seu envolvimento direito, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, experi-
mentando, desenhando, criando, com orientação do professor.”7

7 MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.).
Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book.

XIX
Portanto, textos, boxes, seções e atividades foram construídos, nessa coleção, com o objetivo de
colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem. Nesse sentido, o papel do professor é de
mediador, facilitador e ativador dessa aprendizagem, motivando os estudantes para irem ainda além
daquilo que alcançaram de forma independente.8 Na obra, essas metodologias podem ser observadas,
sobretudo, nas seções “Mídia” e “Pesquisa” que desenvolvem propostas em que os estudantes con-
duzem práticas científicas de forma autônoma e para solucionar e/ou debater uma questão que afeta
o seu contexto histórico, social, econômico, geográfico e ambiental.
A coleção foi construída com o objetivo de incentivar o desenvolvimento integral dos jovens como
protagonistas de seus percursos de vida, por meio do reconhecimento de suas singularidades, e sua
formação para o exercício pleno da cidadania, com autonomia e responsabilidade em relação a si mes-
mos, ao outro e ao mundo. Além disso, há o aprofundamento dos conhecimentos científicos desenvol-
vidos no Ensino Fundamental.
Os pressupostos teórico-metodológicos que nortearam a produção da coleção são apresentados em
mais detalhes na sequência.

Professores e a BNCC
Esta obra apresenta uma diversidade de propostas que visam à formação plena e interdisciplinar
dos estudantes e de acordo com os princípios da BNCC.
A autonomia dos estudantes é estimulada tanto em exercícios circunscritos aos conteúdos propria-
mente ditos como naqueles mais abrangentes. Nestes, favorecem-se a reflexão crítica, a argumentação
e a comunicação das produções para uma comunidade ampliada.
A nova BNCC traz desafios importantes e requer a adoção de novas posturas e metodologias, além
de um processo de revisão e de melhoria de práticas consolidadas, e não a recusa delas. Trata-se de
um ponto importante, pois a capacidade de refletir sobre as próprias práticas e de promover mudanças,
quando necessárias, caracteriza o professor. Provavelmente, o maior desafio da nova BNCC está em
pensar o trabalho pedagógico por meio de áreas de conhecimento. Muitas atividades interdisciplinares
já são realizadas nas escolas com consistência, mas a formação dos professores ainda segue a pers-
pectiva disciplinar, o que acaba por dificultar a concretização dessa nova abordagem.
De acordo com Maurice Tardif,9 o saber docente é social e plural, advindo das experiências individuais,
da formação acadêmica, da formação continuada, dos programas escolares e da experiência em sala de
aula. Assim, é composto de saberes da formação profissional, saberes disciplinares, saberes curriculares
e saberes próprios da experiência de vida e outros obtidos ao longo da carreira profissional. Nessa nova
realidade, o professor aprenderá a articular sua experiência e seus saberes em torno de conteúdos temá-
ticos. Conhecê-los é importante para que possa atuar como mediador, sem necessariamente assumir a
visão de especialista, mas tentando provocar o interesse dos estudantes pela temática por meio da
contextualização. Com isso, é essencial apropriar-se de ferramentas que propiciem boa comunicação com
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
as juventudes com que lidará: o que funciona com uma turma não necessariamente funciona com outra,
o que exige do professor o emprego de diferentes estratégias para realizar essa mediação.
DA EDITORA DO BRASIL
De maneira geral, para iniciar a implementação da BNCC no Ensino Médio, será necessário que o
docente conheça as referências empregadas para a reelaboração curricular, adéque projetos pedagó-
gicos, bem como os processos de ensino e aprendizagem, encontre formas de utilizar os materiais
didáticos, introduza práticas de utilização de tecnologias digitais e adapte a avaliação e o acompanha-
mento de aprendizagem. Este Manual do Professor pode auxiliar em alguns desses tópicos.

Elementos de metodologias ativas no planejamento


e na condução das aulas
Para que a escola e a educação sejam capazes de responder aos desafios impostos pela contempo-
raneidade, a nova BNCC apresenta diretrizes e pressupostos para que as mudanças, que já vinham ocor-
rendo no ambiente escolar, se concretizem de maneira a contemplar todos os estudantes brasileiros.
No cenário educacional contemporâneo, são muitas as possibilidades para quem assume como missão
promover processos de ensino-aprendizagem mais compatíveis com a realidade que vivenciamos.
Tomando como base a ideia de sujeitos ativos, as metodologias ativas apresentam-se como um caminho
particularmente rico para que sejam atingidos os objetivos fundamentais da educação no século XXI.

8 Ibidem.
9 TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

XX
Tais metodologias variam em termos de pressupostos metodológicos e teóricos e também se apre-
sentam sob diferentes modelos e estratégias. Todas, porém, se alicerçam no protagonismo dos estu-
dantes no que se refere à construção de conhecimento. A nova BNCC prioriza a autonomia e a formação
de espírito crítico na prática pedagógica, para que o protagonismo desponte na sala de aula. Para
ajudar o professor na execução dessa importante tarefa, descrevemos algumas possibilidades de
metodologias ativas, que são trabalhadas na coleção.

O ensino por projetos


A pedagogia de projetos tem propósitos e objetos consistentes baseados na resolução de problemas.
Trata-se da proposta, idealizada originalmente pelo pedagogo estadunidense John Dewey, em que os
estudantes conduzem um processo investigativo estruturado, com os objetivos claramente demarcados,
direcionado para a criação de um produto final e a resolução de um problema.
É interessante observar que a literatura da área aponta para o desenvolvimento da competência de
aprender a aprender. Trata-se, pois, de uma pedagogia investigativa, apoiada em problemas, e mais
abrangente por ser eminentemente interdisciplinar, uma vez que propõe atividades múltiplas e, de
preferência, com a participação de diferentes componentes, pertencentes a áreas de conhecimento
distintas. Assim, uma das características mais marcantes do ensino por projetos é a interdisciplinaridade.
Para que os projetos sejam efetivos na construção de conhecimentos, tanto pelos professores como
pelos estudantes, é necessário que o docente tenha clareza sobre o problema que deseja formular para
instigar os educandos. De todo modo, é preciso amparar-se na realidade, tomá-la como ponto de par-
tida, em uma aproximação com a vida do estudante e da comunidade em que ele está inserido.
Assim, utilizando um tema ou problema, iniciam-se as pesquisas com a seleção de fontes confiáveis
de informação e a adoção de modos de organização que facilitem a interpretação dos dados encontra-
dos. Com esse processo, novas dúvidas surgem e propiciam o estabelecimento de muitas relações com
outros problemas. Ao final, é essencial avaliar o processo e verificar aquilo que foi aprendido, incenti-
vando a conexão com outros problemas relacionados.10
O ensino por projetos não exclui outras metodologias. Na verdade, ele soma-se a elas e as comple-
menta, como é o caso da metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), que potencia-
liza os processos de ensino-aprendizagem.
A metodologia por projetos fomenta a autonomia dos estudantes e confere ao professor a posição de
mediador, o que possibilita, também, a ressignificação de sua prática.
O esquema abaixo ilustra fases ou etapas que podem ser encontradas no desenvolvimento de um
projeto. O foco está sempre na aprendizagem e um fluxo contínuo ocorre entre todas as partes. Isso
significa que ajustes de percurso podem e devem ser feitos, uma vez que os processos de avaliação do
andamento do projeto são contínuos.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DAE

discussão e
contrato didático
DA EDITORA DO BRASIL
programa de aprendizagem com os estudantes
levantamento da problematização
do tema com os estudantes

avaliação coletiva e
levantamento de contextualização
sugestões

Fonte: BEHRENS, Maria A.


APRENDIZAGEM Metodologia de projetos:
aulas teóricas explanatórias aprender e ensinar para a
produção final produção do conhecimento
numa visão complexa.
Coleção Agrinho, 2014, p.
95-106. Disponível em:
pesquisa individual http://www.agrinho.com.br/
produção coletiva referente ao tema
site/wp-content/
uploads/2014/09/2_04_
Metodologia-de-projetos.
discussão crítica produção individual pdf. Acesso em:
30 maio 2020.

10 BEHRENS, Maria A. Metodologia de projetos: aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa visão complexa.
Coleção Agrinho, 2014, p. 95-106. Disponível em: https://www.agrinho.com.br/materialdoprofessor/metodologia-de-projetos-
aprender-e-ensinar-para-producao-conhecimento-numa-visao-complexa. Acesso em: 5 set. 2020.

XXI
A pedagogia de projetos também favorece, em função de seu caráter interdisciplinar, o desenvolvi-
mento de temas transversais. Discutir temas como ética, saúde, pluralidade cultural, meio ambiente,
ciência, tecnologia e sociedade por meio de projetos propicia abordagens ricas, com possibilidades
concretas de promover uma aprendizagem significativa para estudantes e professores.

A sala de aula invertida


A abordagem característica da aprendizagem baseada em projetos pode extrapolar para outras
metodologias ativas, como a sala de aula invertida. Essa abordagem propõe a inversão do método
tradicional de ensino, em que o professor expõe o conteúdo para estudantes ouvintes, em uma relação
unilateral. Aqui, os professores provocam os estudantes com perguntas acerca de um tema.
Na sala de aula invertida, a ideia central está no contato prévio dos estudantes, orientados pelo pro-
fessor, com o conteúdo que será trabalhado. Essa preparação pode, inclusive, ser resultado de pesquisas
e de reflexão sobre uma situação-problema a ser discutida posteriormente. A preparação dos estudantes
pode ser feita por meio de materiais digitais (como videoaulas e podcasts) e também pela leitura de livros,
jornais e revistas. Esse estudo individual, feito em casa, serve como base para a discussão e a formulação
de dúvidas. Assuntos complementares, projetos e atividades em grupo podem ser propostos, em
razão de sua importância em processos de ensino-aprendizagem colaborativos e ativos.
A metodologia da sala de aula invertida gera possibilidades de aprendizagens significativas e permite
que os estudantes explorem, em grupo, um conteúdo que viram previamente sozinhos em casa e o
aprofundem. Também promove a autonomia porque é o estudante quem seleciona os materiais que
vai consultar. Ao professor cabe a orientação na busca e na consulta desses materiais.

Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP)


A análise de situações-problema dá aos estudantes a oportunidade de mobilizar conteúdos concei-
tuais, procedimentais e atitudinais. Assim, a ABP consiste em uma metodologia ativa afinada com os
pressupostos da BNCC e se mostra capaz de promover o desenvolvimento das competências e habili-
dades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
A ABP fornece aos estudantes ferramentas para que construam os próprios processos de aprendizado,
que deve ser singular. Na verdade, são muitos os aprendizados possíveis, e todos eles constituem os
objetivos da ABP.
Para que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados, a metodologia da ABP propõe problemas
que devem ser resolvidos pelos estudantes. No entanto, é fundamental ter em mente que esses pro-
blemas não devem ser totalmente genéricos ou imaginários, mas ancorados em suas realidades e
vivências concretas. Assim, diante de problemas reais, e trabalhando em grupos, os estudantes socia-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
lizam suas ideias e propostas de resolução dos problemas apresentados, compartilham dúvidas e
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manifestam desconforto intelectual ou conflitos cognitivos que surjam das experiências vividas.
A ABP pode ser empregada em associação com outras metodologias ativas, como o ensino por projetos.

Como estimular o trabalho em grupo?


O trabalho em grupo pode ser extremamente enriquecedor, já que envolve comunicação, defesa de
pontos de vista, argumentação, negociação, empatia etc. e possibilita o desenvolvimento e o aprimo-
ramento de diversas competências e habilidades. É relevante destacar para a turma que, quando um
grupo de pessoas trabalha em conjunto, a prioridade é a busca de um objetivo comum, respeitando
sempre a opinião do outro. Assim, cada integrante pode desempenhar diferentes funções, ou o traba-
lho pode ser igualmente dividido, o que promove o senso de responsabilidade e de colaboração.
Como um mesmo problema pode ser abordado segundo várias perspectivas, é provável que se
chegue a diferentes soluções e, com isso, enriqueça a capacidade dos estudantes de resolver problemas.
Para tanto, é importante selecionar atividades em grupo que sejam desafiadoras e que possam apre-
sentar diferentes posicionamentos.
O papel do professor em um trabalho assim desenvolvido envolve a mediação de conflitos, motivo
pelo qual é necessário lembrar aos estudantes que divergências fazem parte do trabalho em grupo,
mas não necessariamente geram conflitos. Entretanto, se isso ocorrer, lembre-os de que é preciso
resolvê-los de forma definitiva para que o trabalho a ser realizado seja proveitoso. Ao final, durante a
avaliação do trabalho, pode-se fazer uma análise do que causou o conflito para evitar sua repetição.

XXII
A coleção apresenta diversas oportunidades de trabalho em grupo, porém, vale ressaltar, cabe
sempre ao professor, por meio da avaliação do contexto da sala de aula, decidir pela realização da
atividade em grupo ou individual. Assim, considere a orientação de trabalho das atividades apenas
como sugestões, que podem ser adaptadas de acordo com seu plano de aula.
Duas variáveis devem ser consideradas nessas propostas: o tamanho e a composição dos grupos.
Em relação ao tamanho, devem-se levar em conta I) o escopo e a duração da tarefa e II) o perfil da
turma. Há vantagens e desvantagens em se optar por grupos maiores ou menores, conforme descrevem
Cohen e Lothan:

[...] Grupos de quatro ou cinco membros parecem ser ideais para discussão produtiva e cola-
boração eficiente. Esse tamanho permite que os membros estejam em proximidade física para
ouvir as conversas e sejam capazes de estabelecer contato visual com qualquer outro colega. Se
o grupo for maior, há chances de que um ou mais alunos sejam quase que inteiramente deixados
de fora da interação.
Um dos principais argumentos a favor de grupos maiores é a necessidade de haver mais pes-
soas para a realização de um projeto de longo prazo; o grupo maior, então, divide-se em grupos
de trabalho para realizar submetas. Além disso, quando o equipamento é caro ou difícil de encon-
trar, pode ser mais prático ter menos grupos, mesmo que maiores. No entanto, o desafio nesse
projeto é o de que o grupo-como-um-todo desenvolva um consenso sobre quais serão as tarefas
parciais e quem vai trabalhar nos vários subgrupos. O professor pode ter de verificar o processo
de tomada de decisão para garantir que todos expressem sua opinião e sintam-se participantes
da decisão final. É bom lembrar ainda que, quando o grupo fica maior, organizar horários e locais
para reuniões e atividades torna-se mais e mais difícil. Grupos que são menores evidenciam di-
ficuldades próprias. Em um grupo de três alunos, muitas vezes dois formam uma coalizão, dei-
xando o terceiro isolado. Para certas tarefas, duplas são ideais. A limitação da dupla é que, se a
tarefa é um desafio que requer diferentes e múltiplos conhecimentos intelectuais e outras habili-
dades, algumas podem não ter os recursos adequados para concluí-la, tampouco ideias suficien-
tes nem insights criativos. [...]
COHEN, Elizabeth G.; LOTHAN, Rachel A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula
heterogêneas. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2017. p. 95-96.

Quanto à composição dos grupos, existem diversas formas de organizá-los. Algumas delas são: por
afinidade; por sorteio; por interesse no tema; por habilidades complementares. Todas são válidas, mas é
interessante mesclá-las para que se formem grupos diferentes ao longo do ano. Com isso, os estudantes
podem desenvolver diversas habilidades e competências, além de entrarem em contato com distintas
dinâmicas de trabalho e socializarem entre diferentes grupos, ampliando laços de amizade e de afeto.

O trabalho com competências e habilidades de diferentes áreas


A organização dos conteúdos no Ensino Médio obedece à lógica das áreas de conhecimento, o que
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
não exclui os componentes com suas especificidades e saberes próprios; antes, busca-se fortalecer e
DA EDITORA DO BRASIL
explicitar as relações entre elas. Assim, são quatro as áreas de conhecimento estabelecidas pela BNCC:
Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnolo-
gias; e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Entretanto, apesar dessa organização, a BNCC fomenta
um intenso e constante diálogo entre as áreas de conhecimento e não apenas entre as disciplinas que
formam cada uma delas. Isso significa que a interdisciplinaridade é, com efeito, um traço marcante da
proposta do Novo Ensino Médio.
A interdisciplinaridade requer que o foco dos processos de ensino e aprendizagem se volte para temas
e problemas extraídos da realidade concreta, em particular das realidades vivenciadas pelos jovens no
mundo atual. Por essa razão, a contextualização para apreensão e intervenção sobre a realidade solicita
um trabalho conjunto dos professores no planejamento e na execução de planos de ensino.11
O paradigma disciplinar não é mais suficiente para responder aos complexos problemas da contem-
poraneidade. Assim, novas formas de abordagem são necessárias para a análise e a intervenção na
realidade, que se mostra multidimensional. A perspectiva interdisciplinar nos processos de ensino-
-aprendizagem aponta para um amplo movimento de reflexão crítica sobre os avanços das ciências.12
Trata-se, portanto, de ampliar a compreensão dos objetos de estudo a partir do diálogo e da contribui-
ção de cada uma das disciplinas.

11 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p.32.
12 ALVARENGA, Augusta T. de et al. Histórico, fundamentos filosóficos e teórico-metodológicos da interdisciplinaridade. In:
PHILLIPPI JR., Arlindo.; NETO, Antônio. J. S. (ed.). Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e inovação. Barueri, São Paulo:
Manole, 2011. p.4.

XXIII
Abordagens interdisciplinares, tanto na produção dos conhecimentos científicos como nos processos
de ensino-aprendizagem, demandam propostas de um trabalho colaborativo, seja entre as disciplinas
de uma área de conhecimento, seja entre as diferentes áreas de conhecimento. É isso que conduz a
uma interação de fato, na qual existe reciprocidade nas trocas com enriquecimento mútuo.13 Tem-se,
então, o desafio da BNCC para que todos os estudantes do Brasil sejam capazes de ler o mundo de
forma crítica, consciente e, portanto, cidadã.
O diálogo entre as áreas do conhecimento oferece ao estudante as principais ferramentas teóricas
e metodológicas para pensar o mundo social em que vive, com seus desafios e potencialidades. Partindo
do concreto ao abstrato, permite transformar o conhecimento escolar em habilidades e competências
úteis ao cotidiano do estudante e de seu desenvolvimento integral. Cada área do conhecimento tem
suas contribuições específicas para analisar e agir no mundo, e juntas ampliam a capacidade crítica e
analítica da realidade.
Assim, para que a integração seja possível e consistente, é indispensável conhecer as competências
específicas e as habilidades que cada área intenta desenvolver, a fim de que a formação integral dos
estudantes se concretize.

Linguagens e suas Tecnologias


A área de Linguagens e suas Tecnologias, no Novo Ensino Médio, tem por foco a ampliação da auto-
nomia dos estudantes por meio do protagonismo e da autoria garantidos pela prática de diferentes
linguagens. Além disso, a área deve promover a identificação dos diferentes usos das linguagens e
fomentar tanto a apreciação quanto a crítica das diversas manifestações culturais e artísticas e a utili-
zação criativa das mídias, evidenciando a capacidade desses usos no estabelecimento de relações
sociais e culturais.
Sendo a área, por excelência, da comunicação e da expressão, sua integração é inerente com a área
de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A prática textual é a ferramenta para expressar os sentidos
do conhecimento produzido pelas Ciências Humanas, assim como a leitura é a habilidade principal para
sua apreensão. Porém, com uma linguagem própria, baseada em conceitos e categorias, as Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas contribuem também para a ampliação dos conhecimentos e habilidades
da área de Linguagens e suas Tecnologias por meio da leitura do mundo, de forma sistematizada e
fundamentada. As artes plásticas, a música e a literatura são produtos culturais que, muitas vezes,
antecedem as análises científicas acerca da vida social.
Esta obra promove, ao longo de todo o seu desenvolvimento, o uso de diferentes linguagens artísti-
cas, textuais e imagéticas com referências constantes às obras clássicas e contemporâneas da cultura
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
universal para garantir ao estudante os recursos necessários para conhecer e analisar os múltiplos
DA EDITORA DO BRASIL
aspectos da vida, tanto nos textos explicativos quanto nas atividades propostas.

Matemática e suas Tecnologias


Na área de Matemática e suas Tecnologias, a consolidação e a ampliação de conhecimentos oferece
aos estudantes a oportunidade de solucionar problemas complexos, que demandam alto grau de abs-
tração, bem como de aumentar a percepção da importância das competências e habilidades matemá-
ticas, aplicando-as à realidade.
Embora pareçam de universos distintos, as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas necessitam
da área de Matemática e suas Tecnologias para desenvolver as ferramentas de estudos para com-
preender, em termos quantitativos, o cenário social mundial. Estatísticas, porcentagem e frações
são as ferramentas usadas nas Ciências Humanas para conhecer melhor sua população, seus
índices sociais e as tendências em termos de maioria e minoria no que tange à organização social.
Gráficos, tabelas e fluxogramas permitem visualizar tais dados, por isso, são usados ao longo de
toda a coleção. É impossível pensar fenômenos sociais, como a desigualdade social, por exemplo,
sem o uso da linguagem matemática.

13 Ibidem, p. 37.

XXIV
No mesmo sentido, as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas contribuem para a área de Matemá-
tica e suas Tecnologias ao fornecerem o sentido desta linguagem na abordagem de temas concretos,
que fazem parte da realidade do estudante e do mundo ao seu redor. Nesta via de mão dupla, ambas
as áreas se enriquecem ao se apropriarem das contribuições uma da outra, em um movimento com-
plementar.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias


Esta obra conecta-se, particularmente, com a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, a
qual tem como objetivo interpretar os fenômenos naturais e processos tecnológicos, inserindo os estu-
dantes no campo do pensamento abstrato e da cultura científica. Essa área é para as Ciências Humanas
o fundamento para a compreensão dos processos sociais e para refletir sobre a própria humanidade e
sua cultura, que interage e molda os sentidos aos fenômenos biológicos, químicos e físicos. Os concei-
tos centrais dessa área, como matéria e energia, são fundamentais para que o estudante compreenda
as transformações sociais promovidas pela Revolução Industrial, por exemplo. Assim, além de com-
partilharem o processo de alfabetização científica, as duas áreas se integram para explicar o processo
histórico da humanidade, que é feito com base na organização social em seu desenvolvimento tecno-
lógico e em sua relação com os fenômenos naturais.

Formação Técnica e Profissional


A Formação Técnica e Profissional, também trabalhada na BNCC e no Novo Ensino Médio, indepen-
dentemente dos itinerários formativos escolhidos, requer flexibilidade, pensamento crítico, capacidade
de tomar decisões, com ideais voltados à sustentabilidade e a ações responsáveis e efetivas no mundo,
capacidade de propor ideias, conhecimento técnico e científico, além de aptidão para a colaboração e
a realização de trabalho em equipe valendo-se de uma perspectiva interdisciplinar. Nesse sentido, todas
as competências e habilidades, promovidas pelas áreas de conhecimento, convergem para a formação
integral do jovem a fim de melhor prepará-lo para o mundo do trabalho, em permanente transformação.

Perfis estudantis: estratégias de condução


A ideia de “juventudes” está intimamente relacionada à noção de diversidade, isto é, à existência de
variados tipos de sujeito jovem. Porém, a diversidade, em seu sentido mais restrito, pode camuflar
desigualdades sociais que acabam por determinar as condições materiais e subjetivas da relação dos
jovens com o saber e com o ambiente escolar.
Não há “o jovem”, “o estudante”, mas sim jovens estudantes com demandas, necessidades e inte-
resses distintos. À escola cabe reconhecê-los e trabalhar como mediadora nos processos de desenvol-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
vimento integral para promover a aquisição de competências e habilidades.
As propostasDA
de EDITORA DO curricular
flexibilização BRASIL configuram-se em larga medida como uma resposta a
essa demanda, pois oferecem possibilidades de escolha aos jovens com base em seus interesses.
Segundo a literatura especializada, a motivação é um fator fundamental para incentivar o aprendizado
e despertar o interesse pelos temas a serem estudados. Contudo, ainda assim, há dificuldades a
serem vencidas.
Os projetos de vida, transversais por natureza, implicam processos de planejamento, pelos quais os
jovens podem se conhecer melhor, identificar seus potenciais e interesses e estabelecer estratégias e
metas para alcançar os objetivos que eles mesmos determinaram. Os professores devem ser sujeitos
ativos na mediação desses processos, auxiliando os jovens em suas reflexões, instigando-os a descobrir
seus interesses e a elaborar estratégias com a flexibilidade inerente às inconstâncias características dessa
faixa etária. O jovem não é, para si mesmo, alguém definido, com perspectivas fixas; ao contrário, ele está
em formação e, portanto, em constante processo de mudança marcada por sua história de vida.
Para que as culturas jovens possam ser trabalhadas no ambiente escolar e para que os projetos de vida
sejam construídos, é necessário efetuar análises críticas, criativas e propositivas. O pensamento crítico pode
ser fomentado por meio da discussão de temas relevantes da realidade a que os jovens pertencem. Como
essa realidade também é múltipla, os temas devem ser diversificados e abrangentes, de modo a contemplar
as juventudes em seus aspectos mais amplos. Temas que respondem a essas características podem estar
relacionadas à ética, à pluralidade cultural, às questões relativas ao meio ambiente, à saúde e a temáticas
locais, que devem ser constantemente levantadas nas unidades escolares.

XXV
Os temas mencionados podem ser trabalhados por meio de textos, filmes, vídeos, saídas a
ambientes de educação não formal (museus, casas de cultura etc.), entrevistas, debates, pesquisas,
entre outras possibilidades. Como disparador, uma excelente opção é utilizar uma situação-problema
proposta pelos jovens em conjunto com o professor. Não se pode perder de vista que é pela reso-
lução de um problema que os jovens têm a possibilidade de desenvolver um pensamento que
podemos chamar de computacional.
Esse termo é aplicável quando a resolução segue o seguinte percurso: o estágio de formulação do
problema – o que requer abstração –, o estágio de expressão de uma solução – automação – e o estágio
de solução e avaliação – um processo de análise, portanto. O pensamento do tipo computacional também
promove a capacidade de inferir o que é fundamental no desenvolvimento de um pensamento racional e
consistente. Percebe-se, assim, que as atividades propostas aos estudantes, desde que pensadas e
intencionais, podem ajudá-los a desenvolver o pensamento crítico e a capacidade argumentativa engen-
drada de forma computacional e inferencial. É importante ressaltar, porém, que a abordagem interdisci-
plinar é condição indispensável para o êxito dessas propostas pedagógicas.
À medida que os jovens entram em contato com diferentes perspectivas sobre um mesmo tema, as
possibilidades de análise crítica se potencializam. Mas, acima de tudo, os jovens devem ter a oportunidade
de falar e de serem ouvidos, promovendo sua capacidade argumentativa, o autoconhecimento e a auto-
nomia, pré-requisitos para o protagonismo no ambiente escolar. Poder falar e ser ouvido, poder escrever
e ser lido, para os jovens, significa a consolidação da autoestima e o alargamento do horizonte de enga-
jamento na construção do conhecimento.
A literatura especializada identifica diferentes perfis de estudantes e de aprendizagens. Portanto, a
adoção de uma abordagem única em sala de aula pode prejudicar aqueles estudantes que apresentam
perfis diferentes. Por essa razão, é importante variar os estilos de abordagem para contemplar todos
os estudantes de uma turma. Uma das propostas para classificar os perfis foi elaborada pelos pesqui-
sadores Richard Felder e Linda Silverman,14 os quais também criaram um modelo de estilos de apren-
dizagem em que cada estudante pode ser classificado de acordo com um polo de cada uma das
seguintes dimensões:
• Percepção – o estudante é sensorial ou intuitivo;
• Entrada (ou input) – o estudante é visual ou verbal;
• Processamento – o estudante é ativo ou reflexivo;
• Entendimento – o estudante é sequencial ou global.
Cada estudante apresenta um polo de cada uma dessas características. O ideal é avaliar a turma
e considerar todos esses perfis no planejamento, com brechas para as ações dos estudantes. A
tarefa é complexa e trabalhosa, mas é facilitada por atividades que foram concebidas para dar
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
protagonismo aos educandos, já que eles podem encaminhar a resolução de cada atividade de
DA EDITORA DO BRASIL
acordo com o próprio perfil.
Além dessa proposta de perfis de estudante, existem diversas outras. Vale lembrar que, assim como
os estudantes têm perfis de aprendizagem distintos, professores têm perfis de ensino diferentes. Como
resultado, um estudante pode apresentar melhor desempenho nos componentes em que o perfil dele
e o do docente sejam semelhantes. Então, nossa sugestão é que o professor se mantenha atento ao
próprio perfil e faça ajustes em seu planejamento de aula, tendo como referencial a análise dos varia-
dos perfis apresentados pela turma.

Sugestões de abordagem para diferentes estilos de aprendizagem


As Ciências Humanas e Sociais Aplicadas apresentam uma peculiaridade em seu desenvolvimento:
a proximidade entre pesquisador e objeto investigado. Somos parte da sociedade, e o distanciamento
requerido ao processo científico entre quem pesquisa e a sociedade como um todo é um desafio, mas
é também sua potencialidade. Por meio do cotidiano do estudante pode-se avançar do conhecimento
mais concreto, do dia a dia de cada um de nós, ao conhecimento abstrato, da sociedade de forma mais
ampla, formulando hipóteses, teorias e categorias, bem como conhecendo o processo histórico, social,
econômico, epistemológico, geográfico e cultural do qual derivam nossa inserção social no mundo.

14 FELDER, Richard. M.; SILVERMAN, Linda. K. Learning and Teaching Styles in Engineering Education. Journal of Engineering
Education, Washington, v. 7, n. 78, p. 674-681, 1988.

XXVI
Com base nos estudos de Felder e Silverman,15 podemos propor algumas estratégias para trabalhar
com estudantes com diferentes estilos de aprendizagem.
• Relacione, sempre que possível, o conteúdo a ser apresentado ao que veio antes e ao que ainda es-
tá por vir, dando destaque a suas relações com outras áreas de conhecimento. Então, estimule os
estudantes a relacionar esse conteúdo às experiências pessoais deles.
• No caso das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o contexto é muito importante. Assim, nem sem-
pre uma teoria científica é universal, devendo ser analisada sob qual circunstância sua aplicação é
pertinente.
• Use figuras, esquemas, gráficos e esboços simples sempre que considerar oportuno e em conjunto
com a apresentação do conteúdo. Apresente filmes e vídeos relacionados, com discussões acerca
de seu conteúdo.
• Oriente e estimule o uso de recursos digitais na realização de pesquisas, na produção de conteúdo
e na obtenção e análise de dados.
• Não preencha todos os minutos das aulas dando palestras e escrevendo na lousa. Estabeleça inter-
valos, ainda que breves, para a turma pensar sobre o que foi dito ou proposto.
• Organize-se para alternar seu estilo de aula: se for mais expositivo, prepare algumas aulas interativas.
Se for mais interativo, planeje algumas aulas mais introspectivas.
• Forneça também atividades e problemas abertos, que exijam análise e síntese.
• Nas tarefas a serem realizadas em casa, proponha resoluções colaborativas, e não apenas indivi-
duais. Permita que os estudantes colaborem na proposição das estratégias de cooperação.

Culturas juvenis e projeto de vida


A BNCC adota o termo “juventudes” ao invés de “juventude”, pois implica o entendimento das dife-
rentes culturas juvenis em suas singularidades, assim como compreendê-las como integrantes de uma
sociedade que é igualmente diversa e complexa.16
É a fase da vida em que se experimenta a inserção social no mundo, de descoberta de si mesmo e
das possibilidades para a construção da própria vida. As distintas condições de classe social, de diver-
sidade religiosa, cultural, de valores familiares, de gênero, de região etc. fazem com que esta fase da
vida seja permeada por diferentes contextos históricos, socioculturais e econômicos, e que existam
diferentes formas de vivenciá-la. Como afirma o pesquisador Juarez Dayrell: “Além das marcas da
diversidade cultural e das desiguais condições de acesso aos bens econômicos, educacionais e cultu-
rais, a juventude é uma categoria dinâmica. Ela é transformada no contexto das mutações sociais que
vêm ocorrendo ao longo da história”.17
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Além da multiplicidade das juventudes, as incertezas sobre o futuro em um mundo tecnológico e em
DA EDITORA DO BRASIL
constante transformação também podem moldar a experiência de muitos jovens. Essas inseguranças
sobre o futuro podem, inclusive, estimular os estudantes a negligenciar seus projetos de vida, mas
também tornam cada vez mais urgente acompanhar os estudantes no planejamento de seu futuro.
Conhecer a realidade concreta é fundamental para que estudantes possam desenhar, com clareza, os
desafios as potencialidades ao longo da vida adulta.
Quando chegam à escola, os estudantes já possuem uma trajetória biográfica própria. Logo, os pro-
jetos de vida não podem ser desvinculados de cada uma dessas histórias nem vistos exclusivamente
como o que está por vir, o que está por ser constituído, pois o futuro depende das pequenas construções
que vão se somando e se remodelando na formação das subjetividades plurais que encontramos nos
jovens. Tais subjetividades não se formam no vácuo. Elas são tributárias das relações humanas que são
estabelecidas, ou seja, elas reportam ao “outro”. Por essa razão, a escola deve ser um espaço que
privilegia manifestações da diversidade cultural e da pluralidade de visões de mundo.
Para definir “projeto de vida”, podemos tomar emprestada a proposta de William Damon. Para esse
pesquisador, trata-se de “uma intenção estável e generalizada de alcançar algo que é ao mesmo tempo

15 Ibidem.
16 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p. 463.
17 DAYRELL, Juarez (org.). Por uma pedagogia das juventudes: experiências educativas do Observatório da Juventude da UFMG.
Belo Horizonte: Mazza Edições, 2016. p. 27.

XXVII
significativo para o eu e [que] gera consequências no mundo além do eu”.18 É relevante ressaltar que
essa definição identifica três dimensões indissociáveis: a intenção estável orientada para o futuro, o
engajamento significativo em atividades que conduzam à realização da intenção e um desejo de conec-
tar-se e contribuir para algo que está além da individualidade, ou seja, que antes se insere no campo
social. Para que possam ser viáveis, os projetos de vida devem apresentar estabilidade, incluir objetivos
concretos e de longo prazo e ser organizadores e motivadores da tomada de decisão e do engajamento
com as etapas necessárias para sua concretização.
Tendo em vista o que se aponta acima, podemos afirmar que cabe à escola, e também aos profes-
sores, auxiliar os jovens a organizar seus projetos de vida. Vale enfatizar que o professor orientador ou
mediador é aquele que, na interação com os estudantes, faculta a clareza na formulação e na concre-
tização dos projetos de vida das juventudes plurais que compõem a sala de aula. Para isso, ele deve
ser capaz de olhar para cada juventude singular.
A tarefa é bastante complexa, visto que projetos de vida são processos dinâmicos e carregados de
pessoalidade, mas que dependem, ao mesmo tempo, da construção da identidade e das interações e
experimentações sociais. Por ter como princípio o desenvolvimento, a escola e a educação estão capa-
citadas a propiciar aos jovens, por meio de práticas críticas e autônomas, não apenas a construção dos
projetos de vida, mas também os meios para que eles possam se concretizar. Esta coleção pretende
contribuir para isso.

Saúde mental e bullying


De acordo com a competência geral 8, os estudantes, ao longo de toda a Educação Básica, devem
“[...] cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo
suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas”.19 Portanto, é preciso
criar, dentro da comunidade escolar, espaços de fala e de escuta por meio dos quais os estudantes
possam manifestar suas inquietações e desconfortos – um espaço de troca afetiva, livre de estigmas e
tabus. Dessa maneira, os estudantes sentem-se protegidos e seguros para compartilhar suas emoções.
Essa competência deve ser, principalmente, cuidada e desenvolvida, pois, segundo apontam estudos
da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), estima-se que entre 10% a 20% das crianças e dos
adolescentes no mundo apresentam algum tipo de transtorno mental e comportamental.20 Muitos deles
são agravados em razão do bullying, prática individual e coletiva de intimidação, agressão e humilhação
de um estudante em espaços de convívio juvenil, podendo causar casos de violência autoprovocada,
como automutilação e suicídio.
Solucionar casos de bullying na escola é uma tarefa complexa que depende da participação e do
envolvimento de toda a comunidade escolar e, muitas vezes, requer o auxílio de profissionais especia-
listas – psicólogos e psiquiatras – para orientar acerca da melhor forma de administrar, intervir e resol-
ver o problema.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Um encaminhamento possível é o desenvolvimento de programas antibullying como parte do projeto
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político-pedagógico. Esses programas devem ser planejados e aplicados de forma sistêmica, seguindo
uma sequência de ações objetivas e claras que visem ao desenvolvimento das competências socioe-
mocionais dos estudantes e cuidem da manutenção da saúde mental de toda a comunidade escolar.

Pensamento computacional
Quando se fala em pensamento computacional, pensamos de início nas Ciências da Computação e
na Matemática, ou, ainda, em aparelhos tecnológicos e digitais, como computadores e celulares. De
fato, essa era a perspectiva dominante em sua origem, nos anos 1960 e, posteriormente, na década de
1980, época em que o termo foi cunhado, quando se desejava legitimar as nascentes Ciências da
Computação. Mas, à medida que as tecnologias da computação se desenvolviam e os equipamentos
digitais e computacionais passavam a fazer parte do nosso dia a dia, a noção de pensamento compu-
tacional ganhou novas dimensões e adentrou o universo escolar.

18 DAMON, William. O que o jovem quer da vida? Como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes. São Paulo:
Summus, 2009. p. 53.
19 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p. 10.
20 OPAS Brasil. Folha informativa - Saúde mental dos adolescentes. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.
php?option=com_content&view=article&id=5779:folha-informativa-saude-mental-dos-adolescentes&Itemid=839. Acesso
em: 10 ago. 2020.

XXVIII
O pensamento computacional é indicado pela BNCC como parte fundamental do processo de desen-
volvimento dos estudantes brasileiros. Não podemos nos esquecer de que a Base Nacional Comum
Curricular fundamenta todo o trabalho a ser desenvolvido na Educação Básica no que se refere a com-
petências e habilidades. Dentre elas, destaca-se a necessidade de o pensamento computacional estar
presente ao longo de toda a escolaridade.
Tomando como ponto de partida uma compreensão mais alargada do conceito de pensamento
computacional, pode-se sustentar que as competências e habilidades ligadas a ele, apesar de recaírem
sobre os processos de ensino-aprendizagem de Matemática, não se restringe a ele, pois é estratégia
de formulação e resolução de problemas. Dito de outra maneira, trata-se do processo de pensamento
envolvido na formulação de um problema e na expressão de suas soluções, de tal modo que possam
ser executadas, seja por uma pessoa, seja por uma máquina, seja por ambos.
Essa formulação mais abrangente foi proposta por Jeannette Wing, professora do Carnegie Mellon,
em Pittsburgh, nos Estados Unidos. Segundo Wing, no pensa­mento computacional, a conceitualização
é entendida como organização dos conceitos e não a programação deles. Trata-se de uma habilidade
não mecânica, em que se tem uma forma humana de pensar, diferente daquela dos computadores.
Além disso, é um pensamento complementar, que articula a Matemática à Engenharia e deve ser pro-
movido para todos e em todos os lugares.21
O pensamento computacional subdivide-se nos conceitos de decomposição, algoritmo, reconheci-
mento de padrões e abstração. A decomposição consiste em dividir um problema em partes menores,
ou seja, trata-se de um processo de análise. O conceito de algoritmo está relacionado à estipulação de
uma ordem ou sequência de passos para resolver o problema. Procede-se, assim, à análise. A identifi-
cação dos padrões que geram o problema também concerne à análise. Finalmente, os processos de
abstração podem ser entendidos como uma possibilidade de síntese, na medida em que a capacidade
de abstrair requer que sejam ignorados os detalhes de uma ou mais soluções e se parte para a cons-
trução de uma solução (ou soluções) válida e que possa ser extrapolada para atender a outros proble-
mas, assim como para o descarte de partes não essenciais.
O pensamento computacional não exige necessariamente o uso de um computador, tendo em vista
que as unidades escolares variam quanto à disponibilidade de dispositivos digitais. Contudo, ele pode
ser trabalhado de maneira transversal, encaixado nos componentes já existentes. Nesta coleção, como
dito, algumas propostas de atividade dão destaque a esse tipo de abordagem, ainda que seus pilares
possam ser observados em outras seções e propostas de atividades.

Leitura inferencial e argumentação


Ler é um processo por meio do qual o leitor, necessariamente, é remetido à produção de sentidos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
de acordo com sua subjetividade, ou seja, aquilo que conhece, suas experiências de vida, o contexto
em que está inserido, seus valores.
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Uma leitura pode ensejar uma compreensão literal e ainda ser eficiente quando se trata de um texto
técnico. Porém, cabe enfatizar, boa parte dos textos apresenta camadas de significação que, para serem
alcançadas, requerem prática e intimidade com a expressão escrita. Essa leitura, que envolve uma
compreensão para além da literalidade, é chamada de inferencial.
A leitura inferencial constrói sentidos que não são fornecidos de maneira óbvia, mas que requerem
uma atitude ativa do leitor. É na inferência que novos conhecimentos podem aflorar sustentados pelos
conhecimentos prévios, e é nesse tipo de leitura que aquilo que já se sabe é ativado a fim de permitir
que o novo desponte. O surgimento do novo é a condição para que a perspectiva do leitor perante o
mundo se transforme, se enriqueça. É o desenvolvimento do pensamento crítico que se está promovendo
ao ofertar para os estudantes textos escritos e multimodais em que a inferência se revele fundamental
para uma compreensão eficiente.
Parte da inserção no mundo pelos jovens se faz com base na confrontação de diversos pontos de
vista. A pluralidade de perspectivas é, assim, essencial para os estudantes nesse processo, pois eles
vivenciam ao mesmo tempo significados distintos atribuídos ao mundo por ele e pelos outros. Entretanto,
não podemos nos esquecer de que esse modo de inserção depende muito do contexto vivenciado por
eles. Daí a ideia de juventudes no plural.

21 WING, Jeannette M. Viewpoint. Computational Thinking. Communications of the ACM, v. 49, n. 3, mar. 2006. Disponível em:
https://www.cs.cmu.edu/~15110-s13/Wing06-ct.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

XXIX
Não são apenas os jovens que impregnam de significado suas leituras e ações. Também o autor do
texto está sujeito a forças, como pressões sociais e econômicas, e à própria subjetividade. Isso equivale
a dizer que uma leitura inferencial não pode prescindir de um olhar crítico cujo intuito seja descobrir a
conjuntura da produção de determinado um texto. Essa questão é central para que o estudante seja
capaz de realizar uma leitura inferencial competente, reconhecendo todas as camadas de significação.
Se é verdade que, de um lado, o leitor tem liberdade para construir os sentidos, de outro, ele está,
necessariamente, limitado pelos significados presentes no texto, pelas suas condições de uso e contexto
de produção da obra. Ter liberdade em uma leitura inferencial não significa apenas opinar; ela é, de
fato, uma construção de sentidos alicerçada na racionalidade, na utilização de argumentos e de ele-
mentos lógicos que recontextualizam o texto para o leitor, com base em sua história de vida.
A inferência é, por conseguinte, o resultado de um processo cognitivo que revela algo desconhecido
ao apoiar-se na observação e na interação do leitor e de sua subjetividade com o texto em seu contexto.
É o resultado, enfim, de um raciocínio fundado em indícios. Sua qualidade é tanto maior quanto mais
relações e mais camadas o leitor for capaz de alcançar.
As informações de um texto funcionam como pistas ou indícios que, aliados aos conhecimentos
prévios dos estudantes, ativam a construção de sentidos. Mas esse processo não é natural, tampouco
inato, não obstante tenhamos sempre o impulso de atribuir sentidos às coisas.
Para o desenvolvimento da leitura inferencial, a mediação do professor é de grande importância.
Lembremo-nos da técnica socrática, a maiêutica, em que o professor atua como um “parteiro” dos
conhecimentos de seus discípulos. Ao mediar o processo de construção de novos conhecimentos pelos
estudantes com base no que já sabem, ele promove o desenvolvimento da autonomia e do pensamento
crítico e fomenta a ação no mundo, transformando os jovens em cidadãos.
Daí a importância de aumentar a capacidade dos estudantes de desenvolver estratégias de seleção
daquilo que é mais relevante e daquilo que não está explícito no texto. Esse procedimento auxilia na
formulação de hipóteses, de antecipação e de inferência, as quais, contudo, precisam ser verificadas
– afinal, inferir não é um vale-tudo, não é a expressão de uma opinião. Logo, retomar o texto é neces-
sário para respaldar as hipóteses formuladas ou reelaborá-las por meio de um processo de verificação.
Propiciar o acesso a textos multimodais, introduzir a pluralidade de perspectivas sobre um mesmo
tema, trazer contribuições dos saberes de comunidades tradicionais, promover discussões em sala de
aula, possibilitar a prática de debates com defesa de pontos de vista, incentivar a argumentação e a
tomada de decisões – eis algumas estratégias para ajudar os estudantes no desenvolvimento da leitura
inferencial com o objetivo de formá-los integralmente e capacitá-los para uma ação consciente no mundo.
Portanto, a leitura inferencial está relacionada com o desenvolvimento da capacidade argumen-
tativa. Argumentar é uma habilidade que requer o domínio, por parte dos estudantes, das diferentes
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dimensões constitutivas dos temas estudados, por meio da análise dos diversos discursos e pontos
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de vista. Assim, implica no exame de noções, conceitos e ideias que se apresentam nos cenários
científico e social, pelos quais são apreendidos, compreendidos e “explicados” os diferentes elemen-
tos da prática social. Exige, também a apreensão crítica das múltiplas e diferentes alternativas dis-
cursivas que buscam expor questões sociais e históricas, permitindo ao estudante se posicionar
diante dos problemas a elas relacionados.
O desenvolvimento da capacidade argumentativa possibilita ao estudante uma reelaboração pes-
soal qualificada de referenciais de entendimento do mundo. Nesse sentido, ele deve ser capaz de
levantar possibilidades de explicação para os processos sociais, mobilizando o conjunto de elemen-
tos disponíveis.

Tecnologias digitais de informação e comunicação


Nas metodologias ativas da educação do e para o século XXI, as Tecnologias Digitais de Informação
e Comunicação (as TDICs) exercem um papel desafiador. A sigla TDICs refere-se à multiplicidade de
tecnologias proporcionadas por diferentes equipamentos e com diferentes funções, permitindo criar,
capturar, guardar, receber e transmitir informações. Estamos falando da internet, dos computadores
em rede, das redes sociais, do e-mail e das ferramentas de busca.
É desnecessário mencionar quanto as TDICs revolucionaram o mundo e quanto os desenvolvimentos
tecnológicos, sobretudo aqueles relativos ao mundo digital, mudaram as noções de tempo e espaço,
impactando o mundo do trabalho, o modo como as pessoas se relacionam e como conduzem a própria

XXX
vida. Tudo isso é vivenciado pelos professores, dentre os quais muitos não nasceram em um mundo assim
regido. No entanto, para os mais jovens, o mundo digital é uma realidade. Eles são os chamados nativos
digitais, e isso tem consequências na maneira como entendem as relações entre as pessoas, entre as
pessoas e o conhecimento, entre as pessoas e a velocidade, entre as pessoas e o tempo e o espaço. Os
jovens tendem a naturalizar as tecnologias digitais como se elas sempre tivessem existido. Esse é um dos
pontos sobre os quais é preciso refletir quando se pensa na presença das TDICs na educação.
O volume de informações disponibilizado pela internet em uma fração de tempo incrivelmente
diminuta é imenso, mas vale ressaltar que informação não é conhecimento, ainda que possa vir a
sê-lo. Assim, a escola enfrenta o desafio de auxiliar os estudantes a organizarem, selecionarem e
verificarem tantas informações, de modo a promover o salto qualitativo para que estas se transformem
em conhecimento sólido.
As TDICs criaram formas de distribuição da informação que permitem o trabalho com novas culturas
de aprendizagem. Porém, para que a informação se torne conhecimento, é necessário dialogar com
essas tecnologias. As competências cognitivas demandadas para isso se relacionam à construção de
um novo olhar, com uma capacidade crítica distinta, a fim de dar conta de um volume tão grande e
difuso de informações.22
Um dos grandes desafios das escolas, na atualidade, é o desenvolvimento de habilidades de aprendi-
zagem, para que os estudantes consigam assimilar as informações de forma crítica. Esse desafio talvez
seja ainda maior para os professores do que para os estudantes, em razão de os primeiros não serem
nativos digitais. Assim, pode ser necessário desenvolver novas formas de aprender e de ensinar.
Juan Pozo e Carlos de Aldama23 apontam três posturas possíveis em relação às TDICs na educação:
a otimista, a pessimista e a cética. O argumento otimista baseia-se na ideia de que as TDICs têm grande
apelo junto aos jovens, o qual pode se traduzir em um engajamento maior, o que é fundamental nos
processos de ensino-aprendizagem. Entre os pessimistas, há quem defenda que o uso das TDICs
empobrece as formas de ensinar e conhecer, em face do imediatismo e da superficialidade com que as
informações são recebidas e tratadas. O argumento cético, por sua vez, apoia-se na noção de que não
houve mudanças, de fato, nos processos de ensino-aprendizagem. Com as TDICs, segundo os autores,
as mudanças foram apenas de suporte (como o uso de computadores em sala de aula), mas os pro-
cessos se mantiveram. Esse tipo de discurso aponta um dado interessante: os estudantes têm dificul-
dade em converter as informações digitais em conhecimento. Para comprovar essa conclusão, os
céticos utilizam, por exemplo, o Informe PISA-ERA (Programa Internacional de Avaliação de Estudan-
tes) de 2009, cujos dados revelam que a leitura digital dos adolescentes em muitos países, incluindo
o Brasil, é deficiente, pior do que a leitura tradicional, em papel.
Cabe aos professores, então, refletir sobre como tornar o uso das TDICs mais produtivo em sala de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
aula. Se, por um lado, uma perspectiva positiva se impõe, por outro, o ceticismo não pode ser deixado
de lado. A inclusão digital é necessária para que os estudantes não sejam alijados dos processos de
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construção de conhecimento no mundo contemporâneo.
Falemos agora do reverso da inclusão: a exclusão digital. A definição desse termo não é tão simples
como pode parecer. A exclusão digital pode ser minimamente entendida como a falta de acesso a com-
putadores e aos conhecimentos básicos para poder utilizá-los. A essa definição mínima acrescenta-se a
falta de acesso à internet.24 Assim, a inclusão digital demanda o uso de programas, aplicativos e congê-
neres que passam a fazer parte da esfera educacional.
A maior dificuldade na implementação de aprendizagens ativas relacionadas às TDICs são as
condições técnicas e tecnológicas das escolas. Vamos tomar como exemplo os clickers: tais aparelhos
são semelhantes a um controle remoto, com teclado numérico e, em alguns casos, botões de controle,
por meio dos quais os estudantes podem responder rapidamente a questões propostas pelo profes-
sor. Um software compila essas respostas, as armazena e produz estatísticas de desempenho. Ainda
que as respostas possam ser dadas por meio de um formulário disponível em rede, a utilização dos

22 POZO, Juan I. A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informação em conhecimento. Revista Pátio, ano 8,
p. 34-36, ago./out. 2004. Disponível em: http://www.udemo.org.br/A%20sociedade.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.
23 POZO, Juan I.; ALDAMA, Carlos de. A mudança nas formas de ensinar e aprender na era digital. Revista Pátio, n. 19, dez. 2013.
Disponível em: https://www.academia.edu/33795030/A_MUDAN%C3%A7A_NAS_FORMAS_DE_ENSINAR_E_APRENDER_
NA_ERA_DIGITAL. Acesso em: 30 maio 2020.
24 SILVEIRA, Sérgio A. da. Inclusão digital, software livre e globalização contra-hegemônica. Parcerias Estratégicas, n. 20,
p. 421-446, jun. 2005.

XXXI
clickers é importante, pois, com eles, os estudantes têm acesso às escolhas dos colegas em tempo
real, o que oferece a possibilidade de mudar ou não as respostas depois das discussões.
Trata-se de um uso muito interessante das TDICs, mas, infelizmente, ainda de difícil viabilização. Isso
não quer dizer que soluções alternativas não possam ser encontradas. O importante é a ideia da partici-
pação ativa dos estudantes mediada por um recurso tecnológico capaz de alterar o andar do pensamento.
Talvez o professor possa fazer uma adaptação usando algum aplicativo de mensagens instantâneas. Ou
ainda poderia ser criado um grupo da sala, com as respostas sendo enviadas por meio do celular. A con-
tabilização ficaria um pouco mais complicada, porém, ainda assim, vale a pena considerar essas alterna-
tivas. As respostas também podem ser enviadas em tiras de papel e então contabilizadas, o que simplifica
os materiais necessários, mas aumenta o tempo usado para a aplicação da metodologia.
Há muitas outras possibilidades de utilização de metodologias ativas em sala de aula, usando o
pensamento computacional e as TDICs. Ao longo das unidades, este Manual do Professor apresenta
outros exemplos e sugestões para sua prática. A seleção de dados em páginas de internet confiáveis,
como de instituições públicas ou de centros de pesquisa, são requisitados de forma a estimular os
estudantes a trabalharem com informações quantitativas como subsídios para análises qualitativas.
Da mesma forma, levantamento de dados próprios é estimulado para que os estudantes consigam
elaborar questões e diferenciar o essencial do supérfluo no processo de analisar um determinado
cenário. Com a articulação entre o conhecimento acumulado dos docentes e a habilidade digital dos
estudantes, pode-se construir uma nova forma de colaboração entre professores e estudantes na
construção dos conhecimentos relevantes e úteis para o desenvolvimento de seus projetos de vida.

Museus, visitas de campo e uso de aplicativos


Algumas ferramentas podem ajudar os estudantes a compreender conteúdos e a desenvolver
habilidades e competências, relacionando-as com o cotidiano. No entanto, elas dependem de parti-
cularidades da comunidade na qual o colégio se encontra.
Esse tipo de atividade pode ser mais proveitoso se os estudantes elaborarem algum material para
comunicar resultados, impressões ou descobertas das atividades, o que pode ser feito com as TDICs.
Eles podem fazer isso com o uso de aplicativos utilizados regularmente para se comunicar com
conhecidos ou produzindo vídeos, posts, podcasts etc.
Visitas a museus são uma oportunidade de expor os estudantes a conhecimentos que não podem
ser satisfatoriamente demonstradas em um livro didático. Isso envolve verificar as possibilidades
locais, pedir autorizações aos responsáveis e organizar o evento, o que em alguns casos exige recursos
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que a escola não possui. Nesse caso, pode-se utilizar museus virtuais. Uma lista de alguns deles está
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disponível em: https://www.eravirtual.org (acesso em: 17 ago. 2020). Se possível, procure museus
próximos à escola e entre em contato, pois eles geralmente disponibilizam programas para estudantes.
Visitas de campo têm características similares à ida a museus, porém são mais simples, visto que
provavelmente há diversos lugares que podem ser visitados próximos à escola. Algumas sugestões
são: patrimônios culturais locais, universidades etc. É possível que alguns desses locais também
disponibilizem programas preestabelecidos para estudantes.

PLANEJAMENTO: CONSTRUINDO O REGISTRO DOCENTE


Todo o planejamento, bem como os resultados coletados no decorrer de uma sequência didática
em uma unidade, deve ser registrado com clareza e da forma mais completa possível, quase como
se fosse um diário de bordo.
O registro é particularmente valioso porque, ao recorrer a ele, o professor pode efetuar os ajustes
assertivamente tanto para a sequência didática em andamento como para elaborações futuras. Ele se
torna ainda mais valioso se o trabalho for interdisciplinar, visto que o cotejamento entre registros de
diferentes docentes pode resultar em um trabalho mais bem desenvolvido. Além disso, existe a possi-
bilidade de o registro ser transformado em material de pesquisa para o professor e originar trabalho a
ser apresentado em congressos e encontros de Educação. Ele também pode ser adaptado ao formato
de artigo, para que seja publicado em revistas especializadas. Da mesma maneira que você recorre a

XXXII
artigos e a trabalhos de terceiros para sua formação e inspiração, seu trabalho pode se transformar em
fonte para outros docentes.
Como a escola é um espaço em que se produz conhecimento, ao adaptar e transformar seus regis-
tros em apresentações ou artigos, por exemplo, para congressos da área educacional ou específicos
da área de Ciências Humanas, você contribuirá para a efetivação desse processo.
Para finalizar, lembramos que o conjunto de ideias aqui apresentado não tem a intenção de ser um
manual ou um protocolo de procedimentos lineares, com etapas consecutivas, fixas e rígidas; em vez
disso, consiste apenas em um lembrete de que o planejamento permite a articulação entre ideias e
objetivos, maximizando as chances de promover uma aprendizagem significativa para estudantes e
professores, segundo os processos de ensino-aprendizagem fundamentados na perspectiva das meto-
dologias ativas. Para que esse trabalho seja possível, é necessário que você, professor, reflita sobre sua
prática continuamente e esteja sempre aberto às mudanças.

Perfil indicado dos professores


Os processos de ensino-aprendizagem são de mão dupla, ou seja, uma pessoa não ensina sem
antes aprender e não aprende sem que seja ensinada. Há, aqui, uma dialética essencial. Entretanto,
o ato de aprender e ensinar é facilitado quando os aprendizes assumem a postura de sujeitos ativos
dos próprios processos de aprendizagem e quando o professor entende que seu papel não é mais o
de transmissor de saberes, e sim o de mediador, aquele que auxilia os estudantes para que consigam
vencer os desafios que enfrentam no presente e também os que tenham de confrontar no futuro.
É de extrema relevância o papel de mediação que os professores desempenham na perspectiva
educacional. Mediar, nesse contexto, significa guiar os estudantes na construção de seus conheci-
mentos. A mediação engloba todos os âmbitos da vida dos educandos, como resultado da integração
e da organização das práticas com intencionalidade. A noção de intenção deve ser a base da ação
pedagógica, uma vez que é ela que produz as significações concretas como meios de atingir objetivos
educacionais mais amplos. Portanto, o professor precisa conhecer a realidade dos estudantes, seus
anseios e interesses, e, com base nisso, trabalhar de forma verdadeiramente interativa e comparti-
lhada, estimulando o pensamento crítico e a participação ativa deles nos processos de ensino-apren-
dizagem. No mundo atual, essa mediação requer a utilização de recursos tecnológicos em sala de
aula, pois estes permitem estabelecer conexão com as formas mais recentes de comunicação e
expressão das novas gerações. Desse professor é requerido dinamismo, atualização constante, capa-
cidade de atender às singularidades dos estudantes e orientação no uso seguro das tecnologias e
seus desdobramentos.
No caso da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, esse desafio é apresentado para os pro-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
fessores de Filosofia, História, Sociologia e Geografia com uma característica adicional: propor uma
construção de conhecimentos de forma interdisciplinar. Isso equivale a dizer que cada um dos compo-
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nentes é convocado a complementar reciprocamente o conteúdo dos outros, de maneira que os edu-
candos tenham uma compreensão global e integral dos fenômenos naturais e das produções científicas.
Assim, cabe a cada professor estabelecer um diálogo constante com os colegas dos demais
componentes da área. Uma obra interdisciplinar será adotada por docentes com várias formações,
de áreas distintas, que vão trabalhar os mesmos conteúdos de maneira particular, iluminando os
diferentes aspectos de uma mesma questão.
É válido ressaltar que a BNCC também aponta para a elaboração de propostas curriculares com
base nas categorias centrais para a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, considerando a
organização proposta para o Ensino Médio, a pertinência aos eixos formativos e o equilíbrio entre
os conteúdos dos quatro componentes curriculares de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Os objetivos formativos gerais dessa área, no contexto do Ensino Médio, enfatizam o reconheci-
mento das ciências como um constructo humano atravessado por forças sociais e históricas; de que
seus princípios e conhecimentos são socialmente formulados; de que a leitura do mundo pode e deve
ser mediada pelos conhecimentos da Filosofia, História, Sociologia e Geografia; da importância da
discussão e da interpretação das relações entre as áreas do conhecimento, as tecnologias e a socie-
dade, convergindo para julgamentos e a proposição de soluções para os problemas encontrados no
mundo; da necessidade de reflexão crítica, levando em conta valores humanos, éticos e morais.
Ao refletir sobre os objetivos gerais das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, podemos pensar
em unidades curriculares e estabelecer as contribuições que se esperam do professor de cada

XXXIII
disciplina para a construção de um processo de ensino-aprendizagem que contribua para a forma-
ção de estudantes protagonistas, ativos e críticos.
Assim, a Filosofia, a História, a Sociologia e a Geografia estão representadas em todos os livros pela
contribuição própria de cada um desses componentes na análise e reflexão dos temas propostos em cada
unidade, mobilizando as competências específicas e as habilidades proposta para a área pela BNCC.
As aproximações temáticas entre os quatro componentes são, às vezes, muito claras, outras nem
tanto. No livro que trata do trabalho como tema condutor, os diferentes componentes trazem con-
tribuições que dialogam de forma direta e clara sobre o mundo do trabalho, suas contradições e as
formas de relações entre os indivíduos no contexto de uma sociedade pautada pelo sistema capi-
talista e sua busca incessante de lucros, debatendo temas e conceitos centrais para essa discussão.
O mesmo exemplo cabe ao livro que trata dos quatro estudos de caso (África do Sul, Índia, Palestina
e Brasil), no qual, a partir de contextos selecionados, cada componente lança luz para a reflexão
acerca de problemáticas contemporâneas, a fim de permitir a construção por professores e estu-
dantes de um debate amplo, diverso, interdisciplinar e efetivo.

O trabalho com professores de outras áreas de conhecimento


Para garantir um trabalho interdisciplinar eficiente e competente, é necessário não apenas a utiliza-
ção de conceitos e recursos de diferentes áreas do conhecimento, mas a orientação da prática peda-
gógica por objetivos e competências a serem adquiridas pelos estudantes. Isso implica que, ao eleger
temas para uma aula ou um projeto em comum com as Ciências da Natureza e suas Tecnologias, por
exemplo, deve-se privilegiar assuntos ou problemas que atravessem as diversas áreas em igual pro-
porção e estabeleçam pontos claros de intersecção, garantindo um diálogo bem costurado, coerente e
equilibrado. Outro aspecto importante a ser observado é a construção de um planejamento geral, que
indique os objetivos envolvidos nas áreas mobilizadas, em articulação com planejamentos específicos
de cada componente. Nessa seara, cabe aos professores estabelecer individualmente as expectativas
de aprendizagem e as propostas de atividades e de avaliação das áreas que lhes competem e, partindo
dessas diretrizes, contribuir para uma proposição conjunta a ser executada com os demais.

Unidades e sequências didáticas


Uma boa forma de iniciar o planejamento é considerar as competências específicas, enquanto arti-
culadoras dos livros. Os temas condutores explorados em cada livro da coleção, nesse sentido, podem
ser usados como ponto de partida.
A forma de organização dessa obra visa à superação das estruturas tradicionais de planejamento do
trabalho em sala de aula em relação aos objetivos que se deseja alcançar, aos conteúdos conceituais
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
que se pretende desenvolver e à avaliação do aprendizado dos estudantes. Esse aspecto alternativo
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está alicerçado na crença de que os currículos não são instâncias acabadas, fechadas; antes, eles
representam um processo construído nas relações intersubjetivas da comunidade escolar, as quais,
embora intrinsecamente políticas, são sempre intencionais. Apesar de cada proposta ao longo dos livros
possuir começo, meio e fim, sua estrutura, em que se agregam complexidade e questionamento, é
flexível, com uma construção dialógica.
O planejamento das aulas segundo as unidades não apenas potencializa o engajamento dos estu-
dantes, como promove a integração entre professores de componentes diferentes, gerando um traba-
lho interdisciplinar bastante significativo.
Para elaborar o trabalho interdisciplinar, permeado pelas unidades dos livros, é necessário ter em
mente a importância de uma temática no contexto da matriz conceitual dos componentes envolvidos
e no contexto dos estudantes. Ao exercer o papel de mediador, o professor auxilia os estudantes na
construção de seus conhecimentos sobre determinado assunto.
Sequências didáticas podem ser compreendidas como um conjunto de atividades ordenadas, estru-
turadas e articuladas com o propósito de alcançar determinados objetivos educacionais. Elas têm
princípio e fim conhecidos, tanto pelos professores como pelos estudantes.25 Além disso, caracterizam-
-se por abarcar quatro componentes básicos que devem ser considerados em sua construção: profes-
sor, estudantes, mundo real e conhecimento (científico). Esses componentes se dispõem em duas
dimensões: a epistêmica e a pedagógica.

25 ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

XXXIV
A dimensão epistêmica é composta dos processos de elaboração, assim como de métodos de vali-
dação do conhecimento científico, dando-lhe um significado em relação ao mundo real. A dimensão
pedagógica constitui-se dos papéis desempenhados pelo professor e pelos estudantes e das interações
recíprocas. Seguindo as proposições metodológicas desta coleção, parte-se da proposição de uma
situação-problema e, ao longo da sequência didática, executam-se atividades diversificadas e previa-
mente estabelecidas. Estas formam a dimensão pedagógica dessa sequência. A diversificação é impor-
tante porque oportuniza o desenvolvimento de diferentes habilidades e competências ao mesmo tempo
que privilegia as que os estudantes já possuem.
Assim, dependendo do tema escolhido para a unidade e dos conteúdos previstos para a sequência
didática, esta última pode ser composta de aulas práticas, saídas, registros escritos, produção de port-
fólios, apresentação de seminários, pesquisas, entre outras possibilidades, considerando o que é mais
adequado a cada turma.

Cronograma
A proposta do Novo Ensino Médio possibilita que as escolas distribuam a carga horária referente à
formação geral básica e aos itinerários formativos da maneira que melhor condiga com a realidade da
comunidade, desde que seja implementada uma carga anual mínima de 1 000 horas para todos os anos
do Ensino Médio até março de 2022.
Veja o exemplo a seguir.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Guia de implementação do Novo Ensino Médio. Disponível
em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/resources/downloads/pdf/Guia.pdf. Acesso em: 9 jul. 2020.
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Por isso, de acordo com a escola, as diretrizes curriculares do estado, a necessidade dos diferentes
jovens e as especificidades da comunidade, o trabalho com os seis livros pode ser rearranjando de
diferentes maneiras ao longo dos três anos que formam o Ensino Médio.
Nas orientações específicas deste Manual do Professor, como sugestão, estão propostos cronogra-
mas para o trabalho com cada um dos livros; consideramos que cada volume poderá ser trabalhado
em um semestre. Nessa sugestão, a formação básica se estende pelos três anos do Ensino Médio, com
a divisão da carga horária com os itinerários formativos desde o primeiro ano.

Construindo os processos de avaliação


A avaliação não pode ser confundida com uma prova final. No contexto das metodologias ativas, ela
deve ser encarada como um processo. Isso significa que a avaliação não é final, ou seja, é feita ao longo
do desenvolvimento da sequência didática dentro da unidade de aprendizagem elaborada. Por ser
processual, ela permite ajustes de percurso, a fim de assegurar êxito na produção de uma aprendizagem
significativa. Além disso, os processos de avaliação devem ser encarados como oportunidades de
aprendizado tanto para os estudantes como para os professores.
Antoni Zabala26 defende o uso de vários tipos de avaliação: uma inicial ou diagnóstica, uma regula-
dora, uma integradora e uma autoavaliação.

26 Ibidem.

XXXV
A avaliação inicial ou diagnóstica é interessante porque permite ao professor levantar os conheci-
mentos prévios dos estudantes. Como discutido anteriormente, trata-se de um procedimento funda-
mental não apenas porque valoriza aquilo que o educando traz como conhecimento, como também
porque possibilita um replanejamento, se isso se mostrar necessário, logo no início. Essa avaliação pode
ser feita por escrito ou por meio de uma aula dialogada. Em ambos os casos, o registro é importante
para que, ao final da sequência didática, seja possível verificar as mudanças conceituais dos estudan-
tes. A verificação final pode ser feita por evocação da sequência didática; é muito interessante perceber,
na evocação que lida com a memória, aquilo que realmente foi significativo para eles.
A avaliação reguladora tem a finalidade de criar uma percepção sobre o que cada estudante
aprende. Ela é processual e contínua e requer do professor sensibilidade e atenção para notar as
especificidades que cada um apresenta. Quando o planejamento é bem-feito, essa sensibilidade é
amplamente favorecida.
Por sua vez, a avaliação integradora também é processual e fornece uma dimensão global do apren-
dizado, uma vez que integra, ao final, todas as avaliações efetuadas ao longo da sequência didática.
Tanto as avaliações reguladoras como as integradoras pressupõem constante reflexão do professor
sobre os processos de ensino-aprendizagem. Realizadas ao longo do processo, seja em uma unidade
de aprendizagem, seja em uma sequência didática, a avaliação reguladora recai sobre cada atividade
desenvolvida, ao passo que a avaliação integradora, como o nome indica, integra as avaliações regula-
doras feitas no decorrer do processo.
Vale ressaltar o caráter intrinsecamente intencional dessas avaliações. O professor deve definir com
clareza seus objetivos e o modo de atingi-los por meio das atividades propostas e desenvolvidas em sala de
aula. Ele deve ainda efetuar a avaliação comparando o que se pretendia com o que foi efetivamente realizado.
A autoavaliação é particularmente valiosa em uma proposta pedagógica ativa porque traz para o cenário
um estudante que vai se tornando protagonista dos seus processos de aprendizagem. Nesse processo,
devem ser combinados critérios de avaliação entre o professor e os estudantes de modo que esse procedi-
mento gere uma reflexão e uma análise sobre sua aprendizagem. Trata-se de um processo metacognitivo
na medida em que a autoavaliação permite que os estudantes percebam a maneira como aprendem.
Qualquer avaliação deve ser compatível com os objetivos previamente estabelecidos e com os con-
teúdos efetivamente discutidos ao longo da sequência didática. Não faz sentido avaliar aquilo que não
foi trabalhado nem o que não foi explicitamente identificado como objetivo a ser atingido.

INDICAÇÕES COMPLEMENTARES
Documentários
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
• Human, volumes 1, 2 e 3, direção de Yann Arthus-Bertrand, França, 2015, 83 min (volume 1); 86
DA min
EDITORA
(volumeDO
2);BRASIL
93 min (volume 3).
O documentário dá voz a dezenas de pessoas de diferentes nacionalidades, religiões, gêneros, línguas,
profissões e classes sociais, as quais são convidadas a falar sobre temas como a existência humana, a
felicidade, a morte, a pobreza e o sentido da vida. As entrevistas mostram que a homogeneização cultu-
ral pode ser nociva para a preservação da diversidade de formas de ser e estar no mundo.
• Pro dia nascer feliz, direção de João Jardim. Brasil, 2005 (89 min).
O documentário acompanha o cotidiano escolar de estudantes de diferentes realidades, trazendo
depoimentos dos jovens sobre suas aspirações, medos, visões de mundo etc. Trata-se de uma obra que
retrata a multiplicidade das juventudes e de seus diferentes projetos de vida.
• Últimas conversas, direção de Eduardo Coutinho. Brasil, 2015, 85 min.
O documentário entrevista uma série de jovens para buscar compreender seus sonhos, desejos e
perspectivas de mundo.

Filmes
• Efeito Pigmaleão, direção de Grand Corps Malade e Mehdi Idir. França, 2019 (111 min).
Em uma escola de um bairro periférico de Paris, os estudantes, em sua maioria de minorias étnicas
empobrecidas, recebem uma nova coordenadora pedagógica, também ela de origem étnica mino-
ritária. Com base no conhecimento da realidade desses jovens, novas relações se estabelecem e
geram frutos mais positivos para toda a comunidade escolar.

XXXVI
• Entre os muros da escola, direção de Laurence Cantet. França, 2008 (131 min).
O filme se passa em uma escola na periferia de Paris que apresenta tensões étnicas de difícil trato.
São mostradas a aproximação da escola com o mundo da vida e as dificuldades que o professor de
francês enfrenta ao tentar despertar nos estudantes o interesse pelo conhecimento. Trata-se de uma
reflexão sobre o papel que a escola poderia ocupar na vida de estudantes.
• Escritores da liberdade, direção de Richard LaGravenese. Estados Unidos, 2007 (123 min).
O filme é baseado na história real de Erin Grunwell, uma jovem e idealista professora de Língua
Inglesa que vai lecionar em uma escola periférica marcada pela violência e pela desmotivação. Ela
propõe aos estudantes, em sua maioria pertencentes a minorias étnicas, que escrevam sobre a
própria vida ou sobre aquilo que desejarem. Grunwell acaba por criar a Freedom Writers Foundation,
cujo objetivo é difundir sua metodologia e dar a jovens carentes a oportunidade de estudar.
• O sorriso de Mona Lisa, direção de Mike Newell. Estados Unidos, 2003 (119 min).
Em uma instituição de alto padrão exclusiva para mulheres, que, em meados do século XX, ainda
eram educadas para o casamento, uma professora de História da Arte tenta alargar os horizontes
das estudantes, o que a leva a confrontar valores tradicionais arraigados do local. Fugindo de fórmu-
las simplistas, o filme mostra que as influências dos professores nem sempre são capazes de pro-
mover a emancipação.
• O substituto, direção de Tony Kaye. Estados Unidos, 2011 (100 min).
O professor de Ensino Médio Henry Barthes optou por trabalhar sempre como substituto, a fim de evitar
a criação de vínculos com os estudantes. No entanto, ao substituir um professor em uma escola pública
de uma comunidade carente e diante de colegas desmotivados, ele acaba se envolvendo e mostrando
que as relações professor-estudantes podem ser ricas e transformadoras.
• Sementes podres, direção de Kheiron. França, 2018 (105 min).
O filme trata de jovens considerados “estudantes-problema”. Expulsos de suas escolas e pertencentes
a minorias étnicas, eles frequentam uma espécie de ONG como forma de se “reintegrarem” à escola. Lá
eles entram em contato com um educador cuja família foi exterminada pelo Exército de Israel quando
criança. O contato que ele consegue estabelecer com os jovens é surpreendente.

Livros
• OLIVEIRA, Paulo de Salles (org.). Metodologia das Ciências Humanas. São Paulo: Editora Hucitec, 2001.
Coletânea de textos de diversos estudiosos da área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, como
a filósofa Marilena Chaui (1941-), o historiador Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) e o soció-
logo Florestan Fernandes (1920-1995), cujo objetivo é a construção de um material de consulta para
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
todos os professores e pesquisadores da área.

DA EDITORA DO BRASIL
• PURIFICAÇÃO, Marcelo M.; CATARINO, Elisângela M. (org.). Teoria, prática e metodologias das Ciên-
cias Humanas. Ponta Grossa: Atena Editora, 2019.
Obra que apresenta relatos e debates de diferentes práticas relacionadas às Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas feita por pesquisadores e educadores em distintos contextos.

Documentos digitais e sites


• Ação Educativa. Disponível em: http://acaoeducativa.org.br/. Acesso em: 16 jun. 2020.
A Ação Educativa é uma organização não governamental nascida na e da Educação Popular. Seu
objetivo é promover as juventudes por meio de ações que reafirmam a autonomia e a ação social
e política dos estudantes. No site dessa ONG, você encontra projetos, textos, espaços de formação
e uma série de subsídios para tornar sua prática mais sintonizada com as novas demandas do
mundo e dos jovens.
• Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de
história e cultura afro-brasileira e africana. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/informacao-da-
publicacao/-/asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/488171. Acesso em: 17 ago. 2020.
O documento do MEC sobre a educação para as relações étnico-raciais traz importantes contribuições
no que diz respeito à perspectiva da ética e da educação para a paz, além de orientações e ações a
serem empreendidas ao longo da Educação Básica. Trata-se de um documento relevante porque leva
para o ambiente escolar a grande diversidade cultural brasileira e os saberes das sociedades tradicionais.

XXXVII
• Juventudes na escola, sentidos e buscas: por que frequentam?. Disponível em: http://flacso.org.br/
files/2015/11/LIVROWEB_Juventudes-na-escola-sentidos-e-buscas.pdf. Acesso em: 17 ago. 2020.
Esse livro digital apresenta o panorama teórico e debates conceituais sobre juventude/juventudes;
cultura escolar; a importância da condição juvenil; educação; escola e o lugar do saber. Também busca
responder por que os jovens frequentam a escola. Além disso, mostra e discute os resultados obtidos
por uma ampla pesquisa de mapeamento das problemáticas juvenis. Trata-se de um livro fundamental
para compreender o jovem de hoje.
• Relatório Juventudes e Ensino Médio. Disponível em: https://fazsentido.org.br/wp-content/
uploads/2017/08/20190111_RelatorioEstudoJovem_Fazsentido.pdf. Acesso em: 17 ago. 2020.
O relatório digital Juventudes e Ensino Médio, derivado do Projeto Faz Sentido, é mais um exemplo de
material de qualidade que pode e deve ser consultado pelos professores. Nele são apresentadas
questões fundamentais que dizem respeito à vida dos jovens. Sexualidades, identidades, cidadania e
política, entretenimento e cultura, aprendizado, projeto de vida, entre outros temas, são abordados
com o objetivo de informar os educadores e fazê-los refletir sobre os jovens no Ensino Médio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVARENGA, Augusta T. de et al. Histórico, fundamentos filosóficos e teórico-metodológicos da interdiscipli-
naridade. In: PHILLIPPI JR., Arlindo; NETO, Antônio J. S. (ed.). Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e
inovação. Barueri: Manole, 2011.
Nesse livro são apresentadas numerosas pesquisas, levadas a cabo por professores universitários, sobre práticas in-
terdisciplinares e seus resultados. Trata-se de uma obra inspiradora porque aponta as potencialidades positivas do
desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares.

ANDRÉ, Marli E. D. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995.


O livro tem por objetivo discutir a contribuição que os estudos do tipo etnográfico, voltados ao cotidiano escolar, vêm
oferecendo para repensar e reconstruir o saber didático.

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Pedagogy, Symbolic Control and Identity: Theory, Research, Critique. ed. rev. atual.
Londres: Rowman & Littlefield, 2000.
O livro aborda aspectos do trabalho com a identidade juvenil, articulando premissas sociais que têm como base prá-
ticas pedagógicas

BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem
teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book.
Livro em que se discutem diferentes práticas de metodologias ativas que envolvem tecnologias digitais, tornando-se
MATERIAL
uma obraDE DIVULGAÇÃO
importante no desenvolvimento desse tipo de método em sala de aula.

DA EDITORA
BEHRENS, DOA. BRASIL
Maria Metodologia de projetos: aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa vi-
são complexa. Coleção Agrinho, 2014, p. 95-106. Disponível em: http://www.agrinho.com.br/site/wp-content/
uploads/2014/09/2_04_Metodologia-de-projetos.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.
Artigo em que se discutem a nova realidade da sociedade do conhecimento e o modo como ela tem desafiado os pro-
fessores a repensarem suas práticas pedagógicas. O aprender a aprender e a formação de estudantes autônomos e
criativos são centrais na metodologia de projetos, pois, como defende a autora do artigo, é por intermédio dela que os
estudantes podem entrar em contato com o pensamento complexo e com o trabalho colaborativo em grupo, cons-
truindo assim seu conhecimento de forma significativa e crítica.

BRASIL. Competências socioemocionais como fator de proteção à saúde mental e ao bullying. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/
195-competencias-socioemocionais-como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying. Acesso em:
31 ago. 2020.
Documento que trata do trabalho com as competências socioemocionais e como essa abordagem pode auxiliar no
combate ao bullying e no cuidado com a saúde mental dos estudantes.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.
gov.br/resources/downloads/pdf/dcnem.pdf. Acesso em: 16 ago. 2020.
Documento que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio de acordo com a BNCC.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é
a base. Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 5 maio 2020.

XXXVIII
No documento da Base Nacional Comum Curricular estão detalhados os fundamentos da proposta, seus marcos le-
gais e teóricos, bem como a explicitação das áreas de conhecimento com suas competências específicas e as habili-
dades a elas vinculadas. Trata-se de um documento rico, com muitos subsídios para pensar o desenvolvimento da
autonomia dos estudantes na perspectiva das juventudes plurais.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Guia da implementação do Novo Ensino Mé-
dio. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/resources/downloads/pdf/Guia.pdf. Acesso em: 9 jul.
2020.
Documento que busca orientar docentes e gestores na construção de caminhos para a implementação do novo Ensi-
no Médio.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas contemporâneos transversais na


BNCC: propostas de práticas de implementação. Brasília: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/images/implementacao/guia_pratico_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 4 ago. 2020.
Documento que explica o conceito de tema contemporâneo transversal e apresenta estratégias de práticas educativas
com eles.

BRASIL. O Novo Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2016. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/
pagina-inicial. Acesso em: 5 maio 2020.
A página do MEC traz todas as informações necessárias para que o professor conheça e entenda as propostas do No-
vo Ensino Médio – o que é, o que muda, o marco legal e as relações dessa proposta com a BNCC.

BRASIL. Plano Nacional de Educação. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-e-


ducacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Acesso em: 16 ago. 2020.
Apresenta as metas do Plano Nacional de Educação.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria Geral. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 16 ago. 2020.
Lei que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional

COHEN, Elizabeth G.; LOTHAN, Rachel. A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula he-
terogêneas. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2017.
O livro traz sugestões para aplicar com a aprendizagem cooperativa, indicando estratégias para lidar com grupos grandes
e pequenos, orientações sobre como proceder com turmas heterogêneas e formas de preparar o trabalho em grupo, pa-
ra que ele de fato contribua para o desenvolvimento e a participação ativa dos estudantes.

DAMON, William. O que o jovem quer da vida? Como pais e professores podem orientar e motivar os adoles-
centes. São Paulo: Summus, 2009.
Nesse livro, o pesquisador estadunidense William Damon, utilizando dados de uma extensa pesquisa de campo,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
busca entender a mente dos jovens entrevistados para descobrir as razões de sua desmotivação e ansiedade dian-
te da vida. Comparando esse quadro com o que pensam os jovens “bem encaminhados”, ele mostra que o papel da
DA EDITORA DO BRASIL
família, da escola e dos mentores é fundamental na constituição das subjetividades dos jovens motivados e dos
desmotivados. Damon destaca, como conclusão, a importância dos projetos de vida para o desenvolvimento posi-
tivo e pleno dos jovens.

DAYRELL, Juarez (org.). Por uma pedagogia das juventudes: experiências educativas do Observatório da Ju-
ventude da UFMG. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2016.
Obra que apresenta relatos e teses derivados de anos de pesquisa sobre culturas juvenis no Observatório da Juven-
tude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2011.


O professor e pesquisador Pedro Demo propõe uma reflexão profunda sobre a prática pedagógica. Partindo da
peculiaridade do ambiente escolar, Demo defende que as práticas nele desenvolvidas estejam sempre apoiadas
na pesquisa, porque, nessa perspectiva, a dinamicidade é mantida graças a um movimento de questionamento
reconstrutivo que nega a educação baseada apenas na reprodução. Ao contrário, educar pela pesquisa implica a
construção e a transformação tanto dos professores como dos estudantes. Para esse autor, a educação é, sobre-
tudo, um espaço de formação da autonomia crítica e criativa dos sujeitos envolvidos nos processos de ensino-
-aprendizagem.

FELDER, Richard M.; SILVERMAN, Linda K. Learning and Teaching Styles in Engineering Education. Journal of
Engineering Education, Washington, v. 7, n. 78, p. 674-681, 1988.
Artigo clássico sobre o trabalho com estudantes e professores de diferentes estilos. Apresenta as principais carac-
terísticas de cada perfil de ensino e aprendizagem propostos por eles e sugestões de como lidar com esses perfis.

XXXIX
FERRARINI, R., SAHEB, D.; TORRES, P. L. (2019). Metodologias ativas e tecnologias digitais: aproximações e
distinções. Revista Educação em Questão, v. 57, n. 52, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.21680/
1981-1802.2019v57n52ID15762. Acesso em: 31 ago. 2020.
Artigo que aborda as conexões entre as práticas de metodologias ativas e o uso de tecnologias digitais.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.


É apresentada nesse livro a concepção de educação como forma de emancipação humana. A educação, para Freire,
deve capacitar as pessoas a “ler o mundo”. Para isso, são necessários o engajamento dos professores e a participação
ativa dos estudantes na construção de seus conhecimentos. Freire mostra como as práticas educativas podem ser
“bancárias”, nas quais os estudantes são reduzidos a depositários de conhecimentos. Assim, partindo da realidade
dos estudantes, por meio dos temas geradores, a educação freiriana defende o desenvolvimento da autonomia e do
protagonismo tanto de quem ensina como de quem aprende.

ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em:
https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 16 ago.2020.
Plano de ação da ONU para garantir um futuro sustentável.

OPAS Brasil. Folha informativa - Saúde mental dos adolescentes. Disponível em: https://www.paho.org/bra/
index.php?option=com_content&view=article&id=5779:folha-informativa-saude-mental-dos-
adolescentes&Itemid=839. Acesso em: 10 ago. 2020.
Relatório com dados sobre a saúde mental dos jovens na contemporaneidade.

POZO, Juan I.; ALDAMA, Carlos de. A mudança nas formas de ensinar e aprender na era digital. Revista Pátio,
n. 19, dez. 2013. Disponível em: https://www.academia.edu/33795030/A_MUDAN%C3%A7A_NAS
_FORMAS_DE_ENSINAR_E_APRENDER_NA_ERA_DIGITAL. Acesso em: maio 2020.
Nesse trabalho, os pesquisadores defendem que as TICs são ferramentas com potencial extraordinário para a cons-
trução de competências e de uma nova cultura de aprendizagem. Considerando que os jovens de hoje são nativos di-
gitais, colocar-se no contexto digital é condição fundamental para que os estudantes se engajem e aprendam, de for-
ma significativa e crítica, os conteúdos científicos e suas relações com a sociedade em sentido mais amplo.

POZO, Juan I. A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informação em conhecimento. Revista


Pátio, ano 8, p. 34-36, ago./out. 2004. Disponível em: http://www.udemo.org.br/A%20sociedade.pdf. Acesso
em: 30 maio 2020.
O artigo discute o paradoxo da necessidade de se aprender cada vez mais e dos obstáculos que acabam levando a um
número maior de tentativas fracassadas de aprendizagem.

SILVEIRA, Sergio A. da. Inclusão digital, software livre e globalização contra-hegemônica. Parcerias Estraté-
gicas, n. 20, p. 421-446, jun. 2005.
O artigo defende a necessidade de uma política efetiva de inclusão digital e as possibilidades de existência do movi-
mento do software livre. Essa defesa está relacionada ao entendimento de que, no mundo contemporâneo, não ter
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
acesso às tecnologias e ao ambiente digital é uma forma de exclusão social e, portanto, de negação da cidadania ple-
na. Pela análise de dados relativos a diversos países, Silveira mostra quanto o Brasil ainda precisa se desenvolver pa-
DA EDITORA DO BRASIL
ra que a inclusão digital seja uma realidade.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
O livro apresenta discussões sobre os conhecimentos utilizados como base para o trabalho do professor em sala de
aula e a importância de uma sólida formação profissional.

WING, Jeannette M. Viewpoint. Computational Thinking. Communications of the ACM, v. 49, n. 3, mar. 2006.
Disponível em: https://www.cs.cmu.edu/~15110-s13/Wing06-ct.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.
Artigo que apresenta os quatro pilares do pensamento computacional de maneira simples, derrubando alguns mitos
a respeito desse tipo de raciocínio.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Zabala já se tornou referência no campo da Pedagogia. Nesse livro, o autor tece comentários importantíssimos so-
bre o ato de ensinar. Partindo do conceito de unidades de análise, Zabala afirma que o planejamento de sequências
didáticas é indispensável para a prática docente. Segundo ele, essas sequências devem apresentar atividades di-
versificadas, de modo a contemplar as diferentes inteligências e os variados interesses dos estudantes. O autor
enfatiza a importância de pensar a avaliação como um processo: por meio da observação e da coleta de dados, o
professor reflete sobre os resultados de seu trabalho e o modifica, se julgar pertinente. É uma obra de leitura fácil
e agradável, fundamental para ajudar os professores em seus planejamentos e suas práticas.

XL
Orientações didáticas e
comentários específicos
SUMÁRIO Dinâmicas populacionais no mundo
contemporâneo  LXVII
Introdução  XLII • Conexões: Grandes pandemias da história e
Mapa do ensino  XLIII seu impacto nas populações  LXVII
Cronograma  XLVII • Atividades  LXVIII
Indicações complementares  LXIX
INTRODUÇÃO DO LIVRO
DO ESTUDANTE  XLVIII UNIDADE 3: O ENFRAQUECIMENTO
DOS ESTADOS E DAS FRONTEIRAS  LXIX
Orientações didáticas  XLVIII
Visão geral  LXIX
UNIDADE 1: FORMAÇÃO DOS Orientações didáticas  LXX
ESTADOS E FRONTEIRAS  XLVIII O poder para além das fronteiras
Visão geral  XLVIII do Estado  LXX
• Atividades  LXXI
Orientações didáticas  XLVIII Da Guerra Fria à nova ordem mundial  LXXI
A filosofia política moderna • Mídia: Mídia e terrorismo  LXXIV
e a delimitação dos territórios • Atividades  LXXV
da vida social  XLVIII O que é globalização?  LXXV
• Atividades  XLIX • Conexões: O 5G e o conflito entre China
Processos de centralização política e Estados Unidos  LXXV
e de formação territorial  L • Atividades  LXXVI
• Atividades  LIII O espaço geográfico
da ordem multipolar  LXXVI
A formação do Estado-nação  LIV
• Atividades  LXXVIII
• Atividades  LV
Indicações complementares  LXXVIII
Territórios, territorialidades
e fronteiras  LVI UNIDADE 4: OUTROS MODELOS
MATERIAL
• Conexões: DE DIVULGAÇÃO
As fronteiras na região DE TERRITÓRIOS  LXXIX
amazônica DAeEDITORA DO BRASIL
a biopirataria  LVII Visão geral  LXXIX
• Atividades  LVIII Orientações didáticas  LXXX
Indicações complementares  LVIII Os espaços sociais: territórios
e fronteiras  LXXX
UNIDADE 2: A RELAÇÃO ENTRE • Atividades  LXXX
OS ESTADOS NACIONAIS  LIX As identidades no Brasil e os discursos
nacionais  LXXX
Visão geral  LIX
• Atividades  LXXXIV
Orientações didáticas  LX Ascensão da juventude
Os Estados Nacionais: e identidade cultural  LXXXIV
tratados e conflitos  LX • Atividades  LXXXV
• Atividades  LXI Diferentes territorialidades no mundo
Imperialismo, nacionalismos contemporâneo  LXXXVI
e as guerras mundiais  LXI • Atividades  LXXXVII
• Atividades  LXV • Pesquisa: A construção e os limites
do bairro: ocupação e memórias  LXXXVIII
Relações imperialistas no capitalismo
moderno  LXVI Indicações complementares  LXXXVIII
• Atividades  LXVI Referências bibliográficas  LXXXIX

XLI
INTRODUÇÃO

Neste volume são desenvolvidas discussões sobre os significados dos conceitos de território, fronteira
e espacialidade, destacando a polissemia desses termos, além de uma discussão em quatro contextos
diferentes: a formação do Estado nacional, a relação entre esses Estados, as relações de poder e as
territorialidades sociais.
A apresentação e discussão desses conceitos se articulam com a competência específica 2 da
BNCC e das habilidades EM13CHS201, EM13CHS202, EM13CHS203, EM13CHS204, EM13CHS205
e EM13CHS206.
A referida competência tem como centro organizador o objetivo de formar a subjetividade do estu-
dante, para que ele seja um agente social capaz de perceber, tematizar, discutir e se posicionar perante
os diversos desafios e situações, a partir da compreensão qualificada dos processos societários obje-
tivos que constituíram o espaço de relações das variadas e diferentes formações culturais e nacionais.
Nesse sentido, essa subjetividade tem de ser capacitada a entender e apreender o jogo das determi-
nantes históricas da ocupação espacial por dada comunidade, tanto naquilo que se apresenta como
traços comuns a outras, quanto, e principalmente, no que se refere a elementos e relações sociais que
constituem a peculiaridade da sociedade em questão.
A utilização de mediações e situações educativas objetiva o desenvolvimento de capacidades que
permitam ao estudante apreender as relações ampliadas pelo intercâmbio social, que tende a engen-
drar um contexto de relações nacionais e internacionais cada vez mais complexo. Visa também à
compreensão das principais implicações para a vida social, em geral resultantes do incremento dos
processos tecnológicos, bem como à apreensão crítica da dimensão territorial como algo além das
fronteiras geográfico-políticas. A territorialidade como um resultado processual que depende da arti-
culação das diversas condicionantes da vida social.
Nesse sentido, o conteúdo pretende estimular o estudante a compreender processos de configura-
ção político-social da territorialidade nacional moderna, impactos do desenvolvimento tecnológico
sobre as relações políticas e sociais, relações de poder em diferentes tempos e espaços e diferentes
sentidos sociais de territorialidade.
Diante dos objetivos acima enunciados, espera-se incentivar os estudantes a apreender o jogo das
determinantes históricas da ocupação espacial por dada comunidade. O sentido do conceito de ocu-
pação territorial abrange, aqui, tanto o que se apresenta como a construção das fronteiras nacionais
quanto, e principalmente, com referência a elementos que constituem a demarcação de limites e cir-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
cunscrição estabelecida pelas relações sociais, em seus diversos níveis.
DA Assim,
EDITORA DO BRASIL
por meio da abordagem histórica, busca-se levar o estudante a compreender o espaço como
um produto histórico, resultado de ações diversas dos grupos humanos no tempo. Fronteiras e territó-
rios são assim desnaturalizados, possibilitando um questionamento sobre os significados historicamente
atribuídos a eles, as relações de poder que eles expressam e os desdobramentos sociais que acarretam,
especialmente nas dinâmicas de pertencimento e marginalização. O reconhecimento dessa caracte-
rística do espaço como uma construção histórica é fundamental para o entendimento de si e dos outros
como agentes produtores do meio e, mais além, para a criação de uma consciência crítica sobre como
produzi-lo.
Aspectos da História Geral são abordados nesse volume de forma combinada à História do Brasil,
destacando eventos e processos de caráter global e local e suas intersecções. Demonstra-se, por
exemplo, desde as semelhanças na formação dos territórios e fronteiras dos Estados modernos até
a generalização dos impactos da globalização nos contextos macro e micro. A ocorrência de guerras
no século XX, que envolveram impérios, países e colônias, é abordada em meio a essas discussões,
promovendo o entendimento de fenômenos como o expansionismo, o nacionalismo e o imperialismo.

XLII
Para a compreensão da construção do espaço brasileiro, mais especificamente, destacam-se os
processos de formação do território nacional e as iniciativas voltadas ao estabelecimento de uma iden-
tidade brasileira. Desse modo, o conceito de território é analisado historicamente tanto por sua expres-
são mais clássica, isto é, político-espacial, como pela mais ampla, presente nas territorialidades
produzidas pelos grupos sociais em seu modo de vida cotidiano. O tema contemporâneo transversal
da pluralidade cultural emerge da abordagem dessas territorialidades e identidades múltiplas que
marcam o processo de construção da nação brasileira.
A análise de territórios e fronteiras segundo dinâmicas e categorias específicas, conforme expli-
cita a habilidade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, efetiva-se neste volume pela mobiliza-
ção das habilidades EM13CHS203, EM13CHS204 e EM13CHS206. Sob a perspectiva geográfica,
propõe-se a reflexão acerca do sentido e da dinâmica dos territórios no mundo contemporâneo,
permeado por processos de luta, ruptura e permanência, tendo por base, por exemplo, a impor-
tância de acordos e convenções internacionais para a definição de fronteiras, as várias dimensões
existentes no território e os movimentos e contradições que se relacionam aos territórios e às
fronteiras, como as dinâmicas migratórias. De modo a propiciar o trabalho com temas transversais
contemporâneos, como meio ambiente, quando se fala de biopirataria e tráfico de fauna e flora,
por exemplo, o volume colabora para importantes reflexões acerca de processos e dinâmicas em
curso no mundo atual.

Mapa do ensino
Veja a seguir de que modo se articulam os temas contemporâneos, as competências e as habili-
dades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), os objetivos e as justificativas de cada unidade
do livro, assim como qual é o perfil do professor indicado para tratar com cada um dos segmentos
da obra.

UNIDADE 1

OBJETIVOS
O objetivo da unidade é possibilitar a compreensão de como se dá o processo de formação dos
Estados e fronteiras por meio da análise de alguns exemplos em diferentes momentos históricos. Com
base nesse processo, o estudante poderá analisar criticamente o papel que as principais nações exer-
cem no cenário geopolítico. Ele também terá uma compreensão mais aprofundada de como ocorreu a
formação do Estado brasileiro e sua configuração territorial atual.

JUSTIFICATIVA
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Território e fronteira são dois conceitos amplamente utilizados na área de Ciências Humanas. Eles
DA EDITORA DO BRASIL
são fundamentais para a compreensão da organização espacial, social e política de um lugar. A proposta
da unidade possibilita a compreensão desses conceitos por meio do trabalho com diversas linguagens,
como textos, fotografias, gráficos e obras de arte, e amplia a capacidade do estudante de se colocar
criticamente no mundo, permitindo a identificação de diferentes fatores que influenciam o dia a dia e
impactam diretamente seu cotidiano.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS

Competência específica de
Competências gerais da Tema contemporâneo
Ciências Humanas e Sociais Habilidades
Educação Básica transversais
Aplicadas

•• EM13CHS203
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, •• Educação ambiental
2 •• EM13CHS204
9 e 10 (Meio ambiente)
•• EM13CHS206

XLIII
PERFIL DO PROFESSOR

Temas da unidade Perfil do professor indicado para trabalhar com o tema

A FILOSOFIA POLÍTICA MODERNA E A DELIMITAÇÃO DOS Sugere-se que o professor tenha formação em Filosofia, pois
TERRITÓRIOS DA VIDA SOCIAL nesse momento da unidade são apresentadas algumas
•• Thomas Hobbes e a defesa do poder absoluto ideias de Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau, filósofos
•• John Locke e o contratualismo liberal contratualistas fundamentais para a Filosofia Política
•• Montesquieu e o espírito das leis moderna.
•• Rousseau e a política do contrato
PROCESSOS DE CENTRALIZAÇÃO POLÍTICA E DE FORMAÇÃO Sugere-se que o professor tenha formação em História, pois
TERRITORIAL nesse momento a unidade apresenta alguns processos
•• Mudanças políticas na Europa históricos, como a formação de Estados absolutistas e o
•• Formação dos Estados absolutistas: França e Inglaterra processo de interiorização da América Portuguesa.
•• Processo de interiorização da América Portuguesa
•• Expansão e manutenção territorial na América Portuguesa
•• O Brasil Império e a política de unidade territorial

A FORMAÇÃO DO ESTADO-NAÇÃO Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências


•• O Estado moderno: política e nação unificados Sociais, pois aqui a unidade propõe uma reflexão sobre os
•• Diferentes abordagens sobre o Estado Estados-nação, com base em pensadores como Maquiavel,
Marx e Engels e Max Weber.
TERRITÓRIOS, TERRITORIALIDADES E FRONTEIRAS Sugere-se que o professor tenha formação em Geografia,
•• Fronteiras materiais e imateriais pois nesse momento a unidade propõe um debate sobre o
•• Geopolítica e relações internacionais no mundo contemporâneo fortalecimento ou enfraquecimento das fronteiras e
•• Os Estados Nacionais e as fronteiras na globalização territórios no contexto da globalização, apresentando
•• Migrações e fronteiras tratados e convenções internacionais e organizações
supranacionais. A unidade também discute a condição dos
imigrantes no mundo globalizado.

UNIDADE 2

OBJETIVOS
O objetivo da unidade é aprofundar o estudo da relação entre os Estados Nacionais iniciado na uni-
dade anterior. Esse aprofundamento é iniciado com a apresentação de ideias de Kant e Hegel, impor-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tantes filósofos políticos dos séculos XVIII e XIX. Em seguida, o imperialismo e diferentes manifestações
DA EDITORA DO BRASIL
de nacionalismo são discutidos no contexto das guerras mundiais. Esse escopo logo é ampliado e é
proposta uma reflexão sobre o imperialismo no capitalismo. Por fim, é realizada uma análise das dinâ-
micas populacionais. Esse trabalho possibilita um amplo debate sobre temas contemporâneos, como
transição demográfica, Divisão Internacional do Trabalho (DIT) e refugiados ambientais.

JUSTIFICATIVA
O trabalho proposto nessa unidade é fundamental para que o estudante seja capaz de analisar e
caracterizar fatores que têm grande importância na vida dos grupos humanos, como condições socioe-
conômicas e políticas públicas. São fatores como esses que podem levar pessoas a se deslocarem de
um país para outro, por exemplo. Com o desenvolvimento da capacidade de compreensão e posicio-
namento crítico em relação a esses processos, o estudante será capaz de tomar decisões alinhadas
com seu projeto de vida de maneira assertiva.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS


Competências gerais Competência específica de Ciências Tema contemporâneo
Habilidades
da Educação Básica Humanas e Sociais Aplicadas transversais
•• EM13CHS201
1, 2, 4, 6, 7, 9 e 10. 2 •• EM13CHS203 •• Saúde
•• EM13CHS206

XLIV
PERFIL DO PROFESSOR

Temas da unidade Perfil do professor indicado para trabalhar com o tema

OS ESTADOS NACIONAIS: TRATADOS E CONFLITOS Sugere-se que o professor tenha formação em Filosofia, pois
•• Kant e a paz perpétua a unidade é iniciada com a apresentação da Filosofia Política
•• Hegel: entre a paz e a guerra dos séculos XVIII e XIX, destacando ideias de Kant e Hegel.

IMPERIALISMO, NACIONALISMOS E AS GUERRAS MUNDIAIS Sugere-se que o professor tenha formação em História, pois
•• Os nacionalismos a unidade discute o imperialismo e diferentes manifestações
•• Primeira Guerra Mundial de nacionalismo, no período das grandes guerras.
•• A ascensão dos regimes totalitários na Europa
•• Segunda Guerra Mundial

RELAÇÕES IMPERIALISTAS NO CAPITALISMO MODERNO Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências
•• Internacionalismo: solidariedade entre povos e nações Sociais, pois nesse momento é proposta uma reflexão
acerca do imperialismo na sociedade capitalista.

DINÂMICAS POPULACIONAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Sugere-se que o professor tenha formação em Geografia,
•• Transição demográfica pois a unidade trabalha com a análise das dinâmicas
•• Estrutura etária e políticas públicas no Brasil populacionais e discute temas como transição demográfica,
•• Crescimento e distribuição populacional pelo mundo Divisão Internacional do Trabalho e refugiados ambientais.
•• Fluxos migratórios mundiais
•• As migrações e o trabalho
•• As migrações e as relações internacionais

UNIDADE 3

OBJETIVOS
A unidade aborda o período que vai da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje. Esse percurso
foi proposto com o objetivo de possibilitar um aprofundamento na discussão sobre o enfraquecimento
dos Estados e fronteiras. O mundo bipolar da Guerra Fria é analisado sob essa ótica, com destaque para
os conflitos e guerras por procuração, nome dado aos confrontos bélicos indiretos que houve entre
Estados Unidos e União Soviética nesse período. O surgimento de um mundo multipolar pós-guerra Fria
é analisado profundamente, com todas as suas idiossincrasias e contradições. A internet e seu papel
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nessa nova organização mundial também são analisados aqui.
DA EDITORA DO BRASIL
JUSTIFICATIVA
Essa unidade é importante para que o estudante compreenda melhor o mundo contemporâneo e as
relações que se dão entre as nações nessa realidade fragmentada e multipolarizada. Nesse processo,
são discutidos temas fundamentais para a compreensão dos diferentes papéis que agentes globais
desempenham na economia, na política e na cultura. É muito importante ser capaz de analisar a rede
internacional de relações possibilitada pela globalização e pelos diversos avanços comunicacionais que
permitem uma interação instantânea entre diferentes partes do globo cujas consequências impactam
diretamente o cotidiano de todos.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS


Competências gerais Competência específica de Ciências Temas contemporâneos
Habilidade
da Educação Básica Humanas e Sociais Aplicadas transversais

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, •• Diversidade cultural (Multiculturalismo)


2 •• EM13CHS202
9 e 10. •• Ciências e tecnologia

XLV
PERFIL DO PROFESSOR

Perfil do professor indicado para trabalhar


Temas da unidade
com o tema

O PODER PARA ALÉM DAS FRONTEIRAS DO ESTADO Sugere-se que o professor tenha formação em Filosofia,
•• Michel Foucault e as tecnologias do poder pois a unidade é iniciada com uma discussão sobre os
•• Gilles Deleuze e a sociedade de controle conceitos de biopolítica, de Michel Foucault, e sociedade
de controle, de Gilles Deleuze.
DA GUERRA FRIA À NOVA ORDEM MUNDIAL Sugere-se que o professor tenha formação em História,
•• A oposição entre Estados Unidos e União Soviética pois nesse momento a unidade apresenta um panorama
•• Conflitos e guerras por procuração histórico que vai da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial e
•• A Guerra Fria e as ditaduras latino-americanas ao mundo multipolar.
•• O começo do fim da Guerra Fria
•• O que é o terrorismo?

O QUE É GLOBALIZAÇÃO? Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências


•• O mundo globalizado e suas contradições Sociais, pois nesse momento a unidade propõe uma
•• Neoliberalismo: bases e conceitos reflexão sobre o que é a globalização e quais são seus
•• As propostas do Consenso de Washington impactos sobre as sociedades humanas como um todo.

O ESPAÇO GEOGRÁFICO DA ORDEM MULTIPOLAR Sugere-se que o professor tenha formação em


•• O mundo bipolar e o mundo multipolar Geografia, pois nesse momento são analisadas as
•• A globalização no mundo contemporâneo manifestações da nova organização mundial, como os
•• Blocos regionais, fronteiras nacionais e globalização blocos regionais e os novos fluxos, além do papel da
•• Os fluxos internacionais e as redes internet no mundo contemporâneo.
•• O mundo em rede: relações políticas socioeconômicas
•• Recessões do capitalismo e consequências sobre o espaço mundial

UNIDADE 4

OBJETIVOS
Essa unidade propõe uma reflexão sobre outros modelos de território, indo além das marcações tradi-
cionais de fronteira. Aqui são apresentadas, portanto, territorialidades ligadas a identidade e pertencimento
que podem ser encaradas como formas de luta e resistência por diferentes grupos. A unidade apresenta
também o processo de construção da identidade nacional no Brasil, discutindo os mitos das três raças e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
do homem cordial, além de políticas de branqueamento. Um dos fatores que ajudaram na construção da
identidade brasileira são os diversos movimentos artísticos que ocorreram no Brasil, especialmente no
DA EDITORA DO BRASIL
século XX. Ainda sobre o Brasil, são discutidos os territórios tradicionais, de povos quilombolas, indígenas
e outros, cujas territorialidades são delineadas com base nos conhecimentos e práticas desses grupos.

JUSTICATIVA
A proposta da unidade é possibilitar a identificação de projetos ligados à construção dos símbolos
da pátria e a busca por representações do povo brasileiro em geral, sem deixar de discutir e propor uma
reflexão sobre os povos tradicionais que vivem em nosso território e qual é o papel do Estado em rela-
ção a eles. Por meio de um conhecimento aprofundado sobre as próprias raízes e os laços de identidade
e pertencimento que foram construídos ao longo do tempo, o estudante será capaz de tomar decisões
de maneira cidadã, embasadas em princípios inclusivos e solidários, respeitando os Direitos Humanos.
Essa proposta de abordagem apresentada na unidade também possibilitará que ele argumente em
favor de práticas que respeitem esses princípios.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS


Competências gerais Competência específica de Ciências Tema contemporâneo
Habilidades
da Educação Básica Humanas e Sociais Aplicadas transversais
1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, •• EM13CHS205 •• Vida familiar e social
2
9 e 10. •• EM13CHS206 (Cidadania e civismo)

XLVI
PERFIL DO PROFESSOR

Temas da unidade Perfil do professor indicado para trabalhar com o tema

OS ESPAÇOS SOCIAIS: TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS Sugere-se que o professor tenha formação em


Filosofia, pois nesse momento são apresentados
outros modelos de territorialidades, ligados a
identidade e pertencimento de grupos humanos.
AS IDENTIDADES NO BRASIL E OS DISCURSOS NACIONAIS Sugere-se que o professor tenha formação em História,
•• Uma nova identidade para um novo país pois nesse momento a unidade traz a construção da
•• Rupturas e continuidades no Segundo Império identidade nacional no Brasil e destaca a importância
•• O povo brasileiro na Primeira República que algumas manifestações culturais tiveram nesse
•• A Semana de 1922 e o Modernismo brasileiro processo.
•• Samba, futebol e o elogio ao trabalho
•• O Tropicalismo
ASCENSÃO DA JUVENTUDE E IDENTIDADE CULTURAL Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências
•• O protagonismo juvenil no pós-guerra Sociais, pois nesse momento a unidade discute alguns
•• Movimentos culturais movimentos culturais e sociais que estão relacionados à
•• Movimentos sociais ascensão da juventude ao protagonismo que se deu no
pós-guerra.
DIFERENTES TERRITORIALIDADES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Sugere-se que o professor tenha formação em
•• Territórios tradicionais no Brasil: um olhar sobre a diversidade Geografia, pois nesse momento alguns territórios
•• Territórios associados a identidades étnico-raciais tradicionais são apresentados e propõe-se uma
•• Territórios associados a atividades econômicas de base extrativista reflexão sobre a segregação socioespacial e as
•• Territórios corporativos: a apropriação privada do espaço diferentes territorialidades observadas sob a ótica da
•• Conflitos de classe e segregação socioespacial: os territórios da exclusão diversidade.

Cronograma
Para trabalhar com os conteúdos indicados anteriormente, sugerimos que este livro seja desenvol-
vido ao longo de um semestre. Porém, trata-se apenas de uma sugestão de trabalho, adapte-a de acordo
com as determinações de carga horária de sua escola e currículo estadual, e da realidade e dos inte-
resses dos estudantes.

Semestre Parte do livro Parte da unidade Número de aulas


___
MATERIAL
AberturaDE
do DIVULGAÇÃO
volume 1

DA EDITORA DO BRASIL Desenvolvimento de conteúdos e boxes 20

Unidade 1 Desenvolvimento da seção “Conexões” 2

Desenvolvimento da seção “Atividades” 1

Desenvolvimento de conteúdos e boxes 21

Unidade 2 Desenvolvimento da seção “Conexões” 2

Desenvolvimento da seção “Atividades” 1


96 aulas
Desenvolvimento de conteúdos e boxes 19

Desenvolvimento da seção “Conexões” 2


Unidade 3
Desenvolvimento da seção “Mídia” 2

Desenvolvimento da seção “Atividades” 1

Desenvolvimento de conteúdo e boxes 20

Unidade 4 Desenvolvimento da seção “Atividades” 1

Desenvolvimento da seção “Pesquisa” 3

XLVII
JR, que poderiam ser usados para limites que eles não
INTRODUÇÃO DO LIVRO conseguiram justificar: por exemplo, se gostariam de
DO ESTUDANTE ter acesso ao pátio no intervalo e não têm.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS UNIDADE 1


FORMAÇÃO DOS ESTADOS E
P. 12-13
A introdução é o primeiro contato dos estudantes com o
FRONTEIRAS
tema do livro. Por isso, ela é uma oportunidade para diag-
nosticar quais são os conhecimentos prévios deles e buscar VISÃO GERAL
quais elementos da vivência de cada um têm mais resso-
nância com a questão da liberdade. A Unidade 1 foca na formação dos Estados e fronteiras
por meio de uma visão abrangente desse processo, convi-
Para fazer esse diagnóstico, é sugerida uma reflexão
dando o estudante a se apropriar de conceitos-chave. O per-
sobre uma instalação que JR, fotógrafo e artista francês, fez
curso é iniciado com uma apresentação de ideias de três
na fronteira entre Estados Unidos e México. A abordagem
filósofos contratualistas: Hobbes, Locke e Rousseau. Em
da imagem visa que estudantes, além de entrarem em con-
seguida, a unidade aborda o surgimento dos Estados Nacio-
tato com uma manifestação artística, conectem-se com o
nais, com destaque para a formação do Estado brasileiro e
tema do livro, relacionando-o com as ideias que eles têm
como o país alcançou sua configuração territorial atual.
de fronteiras, sejam elas físicas ou culturais, mobilizando a
competência geral 3 da Educação Básica. Também é proposta uma reflexão sobre os Estados-nação
A leitura da imagem é uma atividade subjetiva; portanto, brasileiros com base nas ideias de Maquiavel, Marx, Engels
o debate em sala de aula deve ser direcionado, mas os estu- e Max Weber.
dantes precisam se sentir livres para expressar suas ideias Por fim, a unidade possibilita o desenvolvimento de um
e sentimentos sobre a obra. trabalho sobre o fortalecimento ou enfraquecimento des-
sas categorias na globalização, com destaque para impor-
Começo de conversa tantes tratados e convenções internacionais, e a situação
1. O artista desejava estimular o público a desenvolver dos migrantes.
uma atitude crítica em relação à política migratória
adotada pelo presidente Donald Trump, com base nas ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
duas intervenções descritas. Com a imagem de um
bebê latino que não pode passar para o outro lado da
P. 14-15
cerca, ele questionou a função da barreira; com o
piquenique, proporcionou um momento de unidade A filosofia política moderna e a
entre os dois lados da fronteira, vivenciado pelos dois
delimitação dos territórios da vida social
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
grupos, com compartilhamento de comida e música.
Lembre-se de que a interpretação artística é subjetiva Nessa primeira unidade serão visitadas as formulações
DA EDITORA DO BRASIL
e os estudantes devem se expressar livremente. dos principais representantes da vertente contratualista da
Filosofia moderna. O objetivo de trabalhá-las é apresentar
2. Para auxiliar a turma, fale da arte urbana presente no
aos estudantes a complexidade da constituição das socie-
entorno da escola, provavelmente com destaque para
dades políticas na modernidade. Aliado a isso, a discussão
o grafite. Oriente a conversa de modo a abordar os
espaços que essa arte ocupa, indicando se ela está em dos autores mencionados (Thomas Hobbes, John Locke,
ambientes particulares ou públicos, e o tema da arte Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau) tem o sentido de
ilegal ou permitida, às vezes contratada. Com base explicitar a pluralidade dos entendimentos possíveis com
nessa discussão, traga a ideia de “poder” para relacio- base em um mesmo princípio teórico; a tese de que a socie-
nar com a categoria “fronteira”, que pode ser resumida dade política moderna se fundamenta num contrato.
como o que delimita um território de poder. Essa visão da pluralidade tem o potencial de estimular
3. É provável que os estudantes apontem fronteiras físi- o pensamento de quem estuda a perceber a complexidade
cas, como o espaço delimitado da escola, os muros e dos exercícios conceituais e da problematização reflexiva.
portões, bem como os espaços internos, como a sala A abordagem, por meio da apresentação dos autores e das
dos professores, o pátio e as salas de aula. atividades propostas, dirige-se assim à formação de com-
4. Peça aos estudantes que determinem em grupo que petências relativas ao cotejamento crítico e significativo de
utilidade têm os limites citados (proporcionar segurança situações, de referenciais teórico-práticos e de posiciona-
e identificação, possibilitar que a atividade-fim daquele mentos ideológicos. Desse modo, habilita-se o estudante a
espaço seja realizada etc.). Então, estimule-os a pensar situar-se de forma aberta e discernente perante o desen-
em questionamentos pacíficos, como a instalação de volvimento histórico de sua comunidade.

XLVIII
P. 15 P. 18

Thomas Hobbes e a defesa do poder Rousseau e a política do contrato


absoluto O pensamento do filósofo iluminista Jean-Jacques
Esse tópico apresenta sinteticamente os principais Rousseau finaliza a discussão acerca dos contratualistas.
aspectos do pensamento de Thomas Hobbes no que se Aqui se apresentam as concepções do filósofo quanto ao
refere à constituição do Estado civil. Os estudantes deverão estado de natureza, à instituição da sociedade civil e da
compreender o que Hobbes chama de “estado de natureza” desigualdade social dela derivada, ao contrato social e ao
e as concepções de ser humano e Estado. Eles devem ser Estado. É importante apontar que as concepções de
capazes de identificar a natureza do contrato preconizado Rousseau se diferenciam das de Hobbes e Locke. Deve-se
por Hobbes, que supõe a cessão do poder dos indivíduos salientar que o filósofo é o primeiro a defender que as leis
devem se orientar pela realização do bem comum, o qual
em favor do Estado, que detém e exerce o poder soberano
corresponde à vontade geral da sociedade, podendo tam-
de modo incontrastável e absoluto.
bém ser compreendido como interesse público.
P. 16
P. 19
John Locke e o contratualismo liberal
Atividades
Esse tópico trabalha os principais aspectos do pensa-
1. Leviatã é um peixe feroz citado na Tanakh, ou no Antigo
mento de John Locke quanto à constituição do Estado civil.
Testamento. É uma criatura que, em alguns casos, pode
Os estudantes deverão compreender o que Locke entende
ter interpretação mitológica, ou simbólica, a depender
por estado de natureza e sua concepção de Estado. Eles
do contexto em que a palavra é usada. Geralmente é
devem ser capazes de identificar a natureza do contrato
descrito como tendo grandes proporções. Hobbes assim
preconizado por Locke e de perceber a subordinação do
denomina o Estado em sua configuração moderna, ade-
Estado aos interesses dos indivíduos. Deve-se incentivar a quada à natureza humana inerentemente conflituosa,
comparação do pensamento de Locke com o de Hobbes, a em analogia ao tamanho e à força que esse supersujeito
fim de se demonstrarem as posições defendidas pelos dois criado pelo contrato dos indivíduos possui diante deles.
teóricos. Deve-se também enfatizar o liberalismo de Locke,
2. A atividade propõe uma reflexão, na qual o estudante
situando a tematização no contexto da Revolução Gloriosa. deverá se posicionar por meio da compreensão das
características do Estado político liberal segundo
P. 17
Locke. Diferentemente de Hobbes, esse autor tem uma
concepção limitadora do poder do dispositivo político
Montesquieu e o espírito das leis
em nome da realização das finalidades privadas de
Esse tópico enfoca o filósofo iluminista francês cada membro da sociedade.
Montesquieu, apresentando sua teoria sobre a forma de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO 3. Montesquieu, ainda que a tese de repartição do poder
Estado e exercício do poder adequados à livre expressão
DA EDITORA DO BRASIL
dos indivíduos que vivem socialmente. Enfatize que a liber-
seja considerada a mais racional e universalmente válida,
começa em sua obra uma análise que mostra a riqueza
dade natural dos indivíduos é o pressuposto de pensamento particular contida na relação entre o estabelecimento
do autor. Segundo Montesquieu, essa liberdade só pode ser das leis e o caráter próprio de dada população. Nesse
limitada por leis racionalmente estabelecidas. Tais leis sentido, a variedade de leis e os diversos modos de orga-
devem impedir o exercício absoluto e arbitrário do poder, nização política existentes entre as culturas correspon-
que deve ser dividido em três âmbitos que se controlam dem a uma variedade de “espíritos” comunitários que
reciprocamente: Legislativo, Executivo e Judiciário. particulariza as diferentes comunidades humanas. Essa
diversidade de culturas, por sua vez, corresponde à varie-
Boxe: As leis e a Geografia dade de ambientes ocupados pelas populações huma-
Nesse boxe, destaca-se como Montesquieu compreen- nas e pelo modo de ser historicamente forjado por cada
dia a relação entre as leis e as sociedades que as esta- uma delas em sua maneira de lidar com as condições
beleciam. Enfatize que, para o autor, as formas de Estado naturais que precisam ser apropriadas e modificadas.
e suas leis derivam das circunstâncias particulares das 4. Resposta pessoal. Para responder a essa questão é
comunidades. Sugira aos estudantes uma reflexão sobre importante que o estudante tenha se apropriado dos
formas de organização política e leis que sejam distintas principais elementos conceituais de O contrato social.
das que se apresentam na cultura ocidental, incentivan- A proposta de Rousseau é diametralmente oposta à
do-os a analisar as bases concretas que lhes dão origem. de Locke, uma vez que o contrato resulta, ou tem de
É importante, também, salientar a sensibilidade do autor resultar, para garantir a liberdade de todos, em dispo-
em relação à diversidade cultural. sitivos legais que tenham como norte a realização do

XLIX
bem comum, o qual corresponde à vontade geral da feudais, o que modificou as relações de forças políticas na
sociedade. É importante destacar que essa vontade Europa na passagem para a Idade Moderna.
não é o desejo de cada pessoa ou grupo tomado indi- É importante trabalhar com os estudantes os motivos
vidualmente, nem um somatório de diversas vontades para o enfraquecimento da nobreza, que havia sido a
particulares. O princípio teórico-ideológico que norteia principal envolvida nas Cruzadas e na Guerra dos Cem
o desenvolvimento conceitual de Rousseau é o que Anos e encontrara seus domínios abandonados pelos
podemos denominar hoje de “interesse do público”. camponeses ou imersos em convulsão social. Nas
5. São eles: soberania exercida e derivada do corpo social; jacqueries, que tomaram a França do século XIV ao XVII,
a lei tendo por fundamento a garantia dos direitos indi- os camponeses revoltosos agiam de maneira violenta
viduais: pessoalidade e cidadania; a repartição do poder contra os nobres, a exemplo do que ocorreu na revolta
político exercido entre diferentes instâncias autônomas dos Pitauts e na dos Croquants. De maneira geral, o cená-
e de igual peso; o monopólio legal da coerção perten- rio de fome e de altos impostos motivava formas de orga-
cente ao Estado; a representatividade na soberania. nização campesina que questionavam os fundamentos
da ordem estamental vigente no feudalismo. Tanto o
Pensamento computacional
pagamento de taxas aos nobres quanto o dízimo devido
Os estudantes terão a tarefa que identificar demandas
à Igreja eram alvo de contestação.
reais de um país, Estado ou cidade para compreender o
que a população espera do governo local e como essas Explique aos estudantes que, apesar de suas especifi-
demandas são solucionadas ou, ao menos, levadas em cidades temporais e regionais, historiadores como Perry
consideração pelas autoridades. A atividade fornece os Anderson identificaram processos que ocorreram em dife-
macroproblemas que os estudantes deverão decompor rentes países, como a formação dos exércitos, elemento
em problemas menores. fundamental para a manutenção do território e do poder
dos monarcas. Somente um corpo armado e profissionali-
P. 20 zado poderia assegurar a proteção contra ameaças internas
e externas ao território nacional em formação. E, para isso,
Processos de centralização política e de era preciso unificar e organizar a arrecadação de impostos
formação territorial por meio da estruturação de uma máquina estatal.
Ao introduzir a reflexão sobre os coiotes e a travessia do Sugere-se problematizar a relação da Igreja com os
México aos Estados Unidos, sugere-se chamar a atenção dos Estados modernos. Enquanto a nobreza e a burguesia
estudantes para a imagem e que situação da atualidade ela viam sobretudo vantagens na centralização do poder
representa. É possível que eles tenham tido contato com esse monárquico, a Igreja tinha seu poder ameaçado nesse
assunto por meio de noticiários recentes, que reproduzem um processo, uma vez que, até aquele momento, era a ins-
ponto de vista sobre a migração irregular. Utilize esse momento tituição política mais abrangente e poderosa da Europa.
para verificar os conhecimentos prévios da turma e propor um A saída encontrada para isso foi a aliança entre os
olhar crítico para a maneira como essa questão contemporâ- monarcas e a Igreja: enquanto as autoridades eclesiás-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nea é usualmente abordada pela mídia e pelas autoridades. ticas endossavam o poder dos reis, conferindo-lhes
DA EDITORA DO BRASIL
Na sequência, cabe questionar os motivos que levam indi-
legitimidade perante os súditos, permaneciam relevan-
tes no âmbito dos Estados Nacionais, mantendo seus
víduos e famílias a contratar os serviços dos coiotes e o que a
privilégios e sua influência sobre a população. Se con-
fronteira e o território dos Estados Unidos significam para eles.
siderar válido, retome com os estudantes as ideias dos
Nessa reflexão inicial se pretende sensibilizar os estudantes
teólogos franceses Jacques Bossuet e Jean Bodin na
aos conceitos centrais do estudo das próximas páginas. Orien-
justificação do poder divino dos reis, as quais deram
te-os a observar como a fronteira e o território são operados
sustentação às monarquias absolutistas.
na inclusão e na exclusão de pessoas e quem são as pessoas
geralmente sujeitas a cada um desses processos. No caso da Inglaterra, poderes religioso e político pas-
saram a ser reunidos em uma só autoridade após a insti-
P. 20-21 tuição da Igreja Anglicana. O rompimento com a Igreja
Católica, instituição que implicava limitações ao poder real,
Mudanças políticas na Europa levou à criação de uma igreja nacional protestante e a uma
Pode ser proveitoso retomar com os estudantes aspec- longa perseguição aos fiéis católicos.
tos ligados à Baixa Idade Média, principalmente o processo Cabe observar ainda que, naquele momento, não havia
de desestruturação do feudalismo, marcado pelo renasci- a noção de pertencimento ao território, mas a identidade de
mento comercial e urbano, pelas guerras internas e externas súdito de determinado governante. Assim, o que mobilizava
à Europa e pelas epidemias de peste negra. Esse contexto a união entre os indivíduos como povo não eram os elemen-
deve ser relacionado ao processo de concentração política tos em comum, o território incluso, mas a referência no
nas mãos dos monarcas em detrimento dos senhores monarca e na dinastia real. Posteriormente, no século XIX,

L
a eclosão de movimentos nacionalistas após a Revolução estudantes que ela durou de 1485 a 1603, quando foi suce-
Francesa viria a delinear a ideia contemporânea de nação. dida pela Casa Stuart. O auge do absolutismo inglês se deu
nesse período, especialmente no reinado de Elizabeth I,
P. 21-22 chamado de “A Era de Ouro da Inglaterra”.

Formação dos Estados absolutistas: França Logo após ascender ao trono, a rainha promulgou dois
atos que contribuíram para fortalecer seu poder: o Ato de
e Inglaterra
Uniformidade e o Ato de Supremacia, e assim se tornou a
Nesse tópico são estabelecidas relações entre a Guerra autoridade maior da Igreja da Inglaterra. Nesse momento,
dos Cem Anos e o fortalecimento das monarquias e exér- a marinha naval britânica ocupava o lugar de mais poderosa
citos da França e da Inglaterra. Esclareça que o estopim do mundo, o comércio marítimo conferia grandes lucros à
dos conflitos se encontra nas disputas entre as dinastias burguesia e iniciou-se a colonização da América. Se con-
Plantageneta, da Inglaterra, e Valois, da França, pelo trono siderar válido, relembre com os estudantes o processo de
francês. Após a morte do rei Carlos IV, o rei inglês, Eduardo formação das Treze Colônias, que deram origem aos atuais
III, reivindicou o trono em razão de sua linhagem materna, Estados Unidos da América, apontando as diferenças na
mas foi preterido em favor de Felipe IV. Após cerca de dez ocupação dos territórios localizados ao Norte e ao Sul.
anos de Felipe IV no poder, com o consentimento de
Eduardo III, a interferência do rei francês na guerra entre P. 23
a Inglaterra e a Escócia despertou antigas rivalidades e
deu início à Guerra dos Cem Anos. Estados modernos na Península Ibérica
O entendimento dos Estados modernos envolve a Destaque com os estudantes o fato de os países da Penín-
Guerra dos Cem Anos por diversos fatores. Em primeiro sula Ibérica terem sido os primeiros a dar início ao processo
lugar, a monarquia e a nobreza da França e da Inglaterra de centralização monárquica, tendo em vista as especifici-
passaram por grandes transformações nesse período, dades da região e a união dos reinos de Castela, Leão,
delineando as dinâmicas de poder que marcaram a tran- Navarra e Aragão para expulsar os mouros. Comente que as
sição do modelo feudal para a formação estatal. O poder investidas cristãs contra a ocupação muçulmana estão inse-
real foi fortalecido e as relações entre governantes e ridas no contexto das Cruzadas, quando a Igreja Católica
súditos foi alterada. É pertinente esclarecer, no entanto, coordenou ações de reconquista de territórios dominados
que enquanto os reis franceses impunham seu poder pelo Império Muçulmano. É importante que observem que
absoluto e baseado na fé, na Inglaterra o rei era o repre- a Igreja Católica teve papel essencial na configuração dos
sentante da lei. No primeiro caso, foi estabelecida uma reinos ibéricos e se manteve forte e presente na região.
monarquia absolutista e, no segundo, uma monarquia Se considerar válido, esclareça aos estudantes que,
constitucional. durante a Alta Idade Média, a Europa Ocidental estava frag-
A guerra servia aos reis como forma de provar sua força mentada em feudos, em razão do desmantelamento do
e autoridade, além de estender seu poder para novos ter- Império Romano do Ocidente, enquanto a Europa Oriental
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
ritórios. Os nobres cavaleiros medievais, por outro lado, era dominada pelo Império Bizantino, e o Império Muçul-
DA EDITORA DO BRASIL
tiveram seu papel social ameaçado durante a Guerra dos mano tinha forte presença no Mediterrâneo. Ao observar a
Cem Anos – em razão das derrotas que sofriam nas bata- história medieval por uma ótica não eurocêntrica, pode-se
lhas, esse setor era culpado por não proteger o povo dos constatar que o período viu um esplendor dos povos orien-
ataques inimigos. Além disso, conforme a baixa nobreza e tais e que esses ocupavam amplos territórios com forte
o campesinato participavam das guerras lado a lado, e organização política. Essa perspectiva deve contribuir para
podiam provar seu valor no campo de batalha, as hierar- a compreensão das diferentes temporalidades dos grupos
quias sociais se enfraqueciam. humanos e da complexidade da relação entre sociedades,
territórios e poder político na Idade Média.
Outro fator a ser considerado é a formação de exércitos
permanentes leais aos reis durante a Guerra dos Cem Sugere-se também trabalhar a sequência de mapas da
Anos, que pode ser vista como elemento fundacional dos página, que revelam a configuração territorial da Península
exércitos modernos. Se considerar válido, converse com Ibérica na Alta Idade Média, durante as Campanhas de
os estudantes sobre a história de Joana d’Arc, combatente Reconquista, e após a união das coroas de Aragão e Cas-
que se tornou heroína e símbolo nacional da França. tela, que conseguiu a incorporação posterior do Reino de
Granada. É importante que observem como os conflitos
P. 22 entre muçulmanos e cristãos levaram a uma reconfigura-
ção dos territórios e fronteiras, marcada inicialmente pela
A Guerra das Duas Rosas fragmentação dos territórios em reinos e posteriormente
Ao tratar da Dinastia Tudor, que foi estabelecida no trono pela unificação deles, processo que tornou o traçado geo-
inglês após o fim da Guerra das Duas Rosas, esclareça aos político semelhante ao que conhecemos hoje.

LI
P. 24 tratados (Madri, Santo Ildefonso e Badajoz). Se considerar
pertinente, aprofunde o estudo sobre esses tratados, de
Expansão marítima e a divisão da América modo que os estudantes conheçam e questionem a impor-
Comente com os estudantes que o processo de unificação tância deles na formação territorial do Brasil hoje.
precoce de Espanha e Portugal foi um fator de grande rele- Explique como os interesses da Coroa portuguesa, em
vância para esses países dessem início às Grandes Navega- especial o de achar ouro e metais preciosos em sua maior
ções. Para estimular a reflexão em torno do assunto, colônia, teve papel fundamental no processo de interiori-
sugere-se questionar por que a centralização política era fun- zação do Brasil.
damental para a expansão marítima e quais os interesses da Destaque a importância dos bandeirantes nesse processo.
monarquia, da burguesia e da Igreja nesse empreendimento. Apesar de terem sido considerados heróis nacionais durante
Ao discutir o Tratado de Tordesilhas, é conveniente des- muitos anos, em razão da construção de uma imagem relativa
tacar dois fatores que ajudam a questionar antigas pre- aos interesses das elites paulistanas nos séculos XIX e XX,
missas da historiografia. O primeiro deles é que já se tinha hoje os bandeirantes são entendidos como personagens con-
conhecimento das terras americanas, que foram repartidas traditórios, que utilizavam conhecimentos indígenas para
antes mesmo da chegada de Pedro Alvares de Cabral em adentrar o sertão, ao mesmo tempo que massacravam e
1500 na costa do Atlântico sul. O outro é que, embora escravizavam grande número de indígenas em seus percursos.
acordado por Portugal e Espanha, o Tratado não era sufi- Chame a atenção dos estudantes para o fato de que
ciente para manter outros interessados distantes do ter- esse processo de interiorização não se deu de forma rápida
ritório sul-americano. A França, por exemplo, que postulava ou simples. Explorar o interior do Brasil, com sua diversi-
a ideia de uti possidetis, passou a promover incursões pela dade natural, geográfica e étnica, foi uma aventura para
ocupação e dominação de regiões na América do Sul, como todos os que participaram das entradas e bandeiras e,
as experiências da França Antártica e França Equinocial. posteriormente, para aqueles que se deslocaram para a
Posteriormente, até mesmo os colonos das terras portu- região onde foi encontrado ouro. Após o Período Colonial,
guesas transpuseram os limites definidos no tratado. quando ocorreu esse primeiro movimento de ocupação do
interior e o estabelecimento de redes de integração regio-
P. 25-26
nal, a exemplo do tropeirismo, outras iniciativas contribuí-
ram para a definição das fronteiras no Império e na
Processo de interiorização da América
República. As fronteiras com o Uruguai e o Paraguai foram
Portuguesa
motivo de contestação e guerras no Primeiro e no Segundo
Dá-se início ao estudo de como os limites territoriais do Reinados, quando os acordos de paz incluíram o estabe-
atual Brasil foram construídos e se consolidaram, ao longo lecimento de limites claros. No Período Republicano, a
do tempo, processo que teve início durante o período colo- reivindicação de territórios do Amapá, do Acre e de
nial. Para introduzir o tema, questione os estudantes sobre Roraima, por exemplo, ocupou a agenda das autoridades
o território brasileiro atual: Será que o Brasil sempre teve brasileiras em acordos diplomáticos internacionais.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
essa disposição geográfica? Como foram definidas as fron-
DA EDITORA DO BRASIL
teiras do país? Como se formou uma nação de tamanho P. 26-27
continental? Houve conflitos ou a configuração geográfica
do país ocorreu de forma pacífica? A exploração do ouro e a sociedade das
É relevante levantar conhecimentos prévios dos estudan- minas
tes como esses e mostrar a eles a mobilidade e a transito- Destaque que a descoberta de ouro no atual estado de
riedade de dados que, muitas vezes, entendemos como fixos Minas Gerais provocou importantes mudanças na colônia.
e imutáveis. Reforce que nem sempre o que hoje entendemos Além da interiorização, o eixo econômico, que até então era
como Brasil foi assim, tendo em vista que essa noção de país localizado na atual Região Nordeste, foi deslocado para a
foi construída com base em acontecimentos históricos que atual Região Sudeste. Em decorrência disso, a capital da
promoveram importantes transformações no passado. colônia passou a ser o Rio de Janeiro, em 1763.
Proponha uma análise do mapa “As entradas e bandeiras O ciclo da mineração foi marcado pela cobrança de altos
e a expansão do território brasileiro” e incentive os estudan- impostos sobre o ouro por parte da Coroa portuguesa e pela
tes a exercitar a leitura cartográfica e a identificação de movi- ocupação territorial no interior de uma maneira diferente da
mentos de interiorização na América Portuguesa. Chame a que ocorreu no litoral. Enquanto a sociedade do engenho
atenção deles para a localização da linha de Tordesilhas e tinha hierarquias sociais bem demarcadas, com grande pre-
questione como a instalação de missões jesuíticas e a orga- dominância do trabalho de pessoas escravizadas, nas Minas
nização de bandeiras se comportaram em relação a ela. É houve um processo de urbanização acompanhado pela
importante que reconheçam como a ocupação avança do diversificação dos setores sociais. Conviviam nas cidades
litoral para o interior e, junto com ela, são elaborados novos mineiras escravizados, senhores e homens e mulheres livres,

LII
com diferentes condições socioeconômicas e em atividades P. 28
variadas: aquelas voltadas à mineração e às relacionadas ao
abastecimento do mercado interno e aos serviços. O Brasil Império e a política de unidade
É imprescindível tratar da questão do escravismo na territorial
região das Minas. O trabalho de exploração de ouro era feito Retome com os estudantes as principais características
em grande parte por escravizados que enfrentavam condi- e fatos ligados à Independência do Brasil em 1822: seu
ções de extrema insalubridade na busca do ouro de aluvião caráter conservador; o fato de ter sido feita por um membro
(presente nos rios) e nas construções subterrâneas em da família real portuguesa; e a manutenção do escravismo,
busca de minérios. O trabalho escravizado também foi a do latifúndio agroexportador e da profunda desigualdade
base da construção das cidades da região mineradora. Algu- social. Mesmo com a Independência, as estratégias violen-
mas dessas cidades, como Ouro Preto, ainda preservam tas para a manutenção do território permaneceram, como
aspectos arquitetônicos e urbanísticos do Período Colonial. ocorreu com a Confederação do Equador, de 1824.

P. 27 Comente que não havia uma unidade de fato no Brasil.


Até principalmente o século XIX, as populações se identi-
Expansão e manutenção territorial na ficavam geográfica e culturalmente com a região que habi-
América Portuguesa tavam. Além disso, a Independência não ocorreu de forma
simultânea em todo o território que compunha a América
Destaque que durante o Período Colonial eclodiram
Portuguesa. A resistência de colonos portugueses na Bahia
diversas revoltas e conjurações, o que demonstra que o
e na província do Grão-Pará fez com que a emancipação
poder da Coroa portuguesa não era aceito de forma unâ-
nesses locais viesse apenas um ano depois, em 1823.
nime e pacífica pelos colonos. Em certos casos, os movi-
mentos tinham origem na insatisfação das elites com as Sobre o Segundo Reinado, incentive os estudantes a
restrições impostas pelo exclusivo metropolitano, a forma identificar processos de continuidade com relação às ten-
administrativa estabelecida e as altas taxações, que eram tativas bélicas de garantia e expansão territorial colocadas
vistas como impedimentos para a prosperidade econômica em prática por D. Pedro II. Esclareça que, além das vidas
na América Portuguesa. Em outros, como a Conjuração perdidas, essas guerras nas quais o Brasil se envolveu no
Baiana, a revolta aglutinou demandas populares passando período também tiveram desdobramentos econômicos e
até mesmo pelo questionamento do sistema escravista. sociais, como o aumento da cobrança de impostos e a
Espera-se que os estudantes, ao discutir as revoltas colo- piora nas condições de vida da população mais pobre. O
niais, compreendam as forças internas que buscavam inde- que chamamos de “Guerra do Paraguai”, os paraguaios
pendência administrativa e ameaçavam a unidade territorial, denominam “Grande Guerra”, tendo em vista as enormes
defendida especialmente após a Independência, momento perdas humanas no país e a grande instabilidade política
de esforços pela construção de um Estado nacional. e econômica resultante disso.

Ao abordar as conjurações Mineira e Baiana, trabalhe


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
com os estudantes as diferenças entre as revoltas nativistas
P. 29

DA EDITORA DO BRASIL
e as conjurações. Enquanto as primeiras visavam resolver Atividades
problemas locais, sem questionar o status de colônia, as
1. As principais características da formação dos Estados
conjurações foram movimentos que, além de reivindicações
absolutistas europeus foram a concentração de poder
sociais e econômicas locais, pretendiam se tornar indepen-
nas mãos dos monarcas, a formação e aumento dos
dentes de Portugal, tendo sido os primeiros movimentos
exércitos, a contenção de movimentos sociais e acor-
contestatórios nesse sentido. dos feitos entre a nobreza e a burguesia. A França, por
Explique que, durante muito tempo, a historiografia e, con- exemplo, se firmou como absolutista após participar
sequentemente, os livros didáticos usavam o termo “inconfi- da Guerra dos Cem Anos, na qual disputou contra a
dência” para se referir a esses eventos. No entanto, atualmente Inglaterra o trono francês, saindo vitoriosa graças ao
entende-se que “inconfidência”, sinônimo de traição, é um seu poderoso exército. O absolutismo francês se con-
termo relacionado à visão que os portugueses tinham desses solidou durante o século XVI com o fortalecimento do
movimentos separatistas. “Conjuração”, por sua vez, remete monarca, que, diante de disputas religiosas, tornou o
a uma associação de pessoas com uma finalidade comum, o exército permanente, e consolidou sua ligação com a
que revela um ponto de vista nacional sobre os fatos. Além burguesia e criou novos impostos.
disso, chame a atenção dos estudantes para duas questões: 2. a) Incorreto. Os países da Península Ibérica foram os
ambas as conjurações queriam autonomia regional, tendo em primeiros a consolidar Estados modernos, tendo em
vista que não havia a noção de Brasil como existe hoje; no vista o processo de expulsão, pelos soberanos cató-
entanto, havia grandes diferenças entre os segmentos sociais licos, dos muçulmanos que ocuparam a região. A
envolvidos em cada uma das conjurações e seus objetivos. expulsão dos muçulmanos fez com que Portugal e

LIII
Espanha centralizassem o poder nas mãos de seus P. 30-31
monarcas antes dos demais países da Europa, o que,
juntamente com seu posicionamento geográfico A formação do Estado-nação
estratégico, possibilitou os investimentos e a produ- O conceito de Estado-nação é apresentado como a orga-
ção de saberes que levaram à Expansão Marítima. nização política própria das sociedades modernas. A Socio-
Um empreendimento como esse só poderia ser rea- logia e a Ciência Política são mobilizadas para oferecer ao
lizado por um Estado centralizado, tanto em razão
estudante as teorias que fundamentam a natureza do
da necessidade de mobilização de recursos como
Estado moderno em suas múltiplas dimensões, política,
pelo estabelecimento de uma máquina estatal com
econômica e cultural, por meio da junção da política com a
funcionários para esse fim.
ideia de nação.
b) Correto. Ao estabelecerem alianças entre si, na forma
A Revolução Francesa, a Revolução Gloriosa e a Indepen-
de casamentos, os reis garantiam o fortalecimento
dência dos Estados Unidos são os três eventos históricos
do poder monárquico. Ao mesmo tempo, guerras
que consolidam o Estado tal como o conhecemos hoje, com
como a Guerra dos Cem Anos e as Guerras de Recon-
a burguesia sendo a classe social protagonista desse movi-
quista possibilitaram a conquista de territórios e o
mento. O Estado moderno em geral é analisado com base
fortalecimento dos reis em relação aos nobres.
em duas vertentes: a de continuidade, como uma comuni-
c) Parcialmente correto. Tanto as fronteiras como as
dade política que antecede as revoluções burguesas, sendo
estruturas dos Estados modernos são produzidas
o Estado moderno um novo formato de um mesmo modelo;
pela ação humana. Eventualmente, rios e montanhas
e a de descontinuidade, pela qual o Estado moderno é uma
são usados como parâmetros na delimitação de
organização nova na história das sociedades.
territórios, mas o traçado das divisões internas e
as margens externas aos Estados é resultado de Para iniciar a discussão, é importante levantar os conhe-
disputas e acordos políticos. cimentos prévios dos estudantes acerca das questões que
3. Resposta pessoal. Um dos objetivos da atividade é fazer perpassam o tema do Estado, em especial sua diferenciação
com que os estudantes compreendam que as fronteiras do conceito de governo. Entretanto, poder, política, partido
nacionais são construções históricas que se modificam e eleições são termos que fazem parte do universo do estu-
ao longo do tempo. Essa pode ser uma oportunidade de dante e, para avançar nesse debate, o conceito de Estado-
“desnaturalizar” o que, no senso comum, pode ser -nação é discutido ao longo da unidade, por meio de
entendido como algo imutável. Além disso, é importante diferentes abordagens.
que eles identifiquem o processo violento que deu ori- Há muitas charges produzidas nesse período, que
gem ao território do atual Brasil: a utilização e escravi-
podem ser apresentadas aos estudantes para ilustrar o
zação de indígenas pelos bandeirantes, o fato de a tota-
conflito das classes sociais e estamentos em disputa, que
lidade das revoltas e conjurações terem sido abafadas
daria origem à revolução. Um exemplo é a Pintura dos
por meio das forças oficiais, seja da Coroa ou do Impé-
franceses sobre a Inglaterra, de Jacques Louis David, 1794.
rio, e a grande quantidade de mortos, presos e degre-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dados que lutaram por mudanças.
A imagem é uma sátira da monarquia inglesa, que aparece

4. a)
DA EDITORA DO BRASIL
Espera-se que os estudantes indiquem processos
como um monstro que oprime o povo inglês. A obra pode
ser encontrada no site do museu britânico (disponível em:
relacionados à ocupação do litoral, como o estabele-
https://www.britishmuseum.org/collection/object/
cimento da economia açucareira, e outros relaciona-
P_1882-0812-471. Acesso em: 11 ago. 2020). David foi
dos à interiorização, como o movimento da pecuária e
um importante artista francês, entusiasta da revolução bur-
o das bandeiras. A expulsão dos holandeses do Nor-
guesa e pintor oficial de Napoleão.
deste e as negociações diplomáticas entre a Coroa
portuguesa e a espanhola também podem ser men- P. 31
cionadas.
Boxe: A guerra de independência do México
b) A repressão de movimentos separatistas pode ser
As transformações políticas e sociais derivadas das
mencionada, o que contribuiu para a manutenção
da unidade territorial do Brasil, bem como as guer- revoluções burguesas influenciaram os processos de
ras da Cisplatina e do Paraguai. independência na América como um todo, inspirando as
burguesias que nasceram nas antigas colônias a formar
c) Espera-se que os estudantes identifiquem que o
novas repúblicas.
território atual é resultado de transformações em
relação ao mapa da atividade. A incorporação do O objetivo aqui é apresentar aos estudantes um diálogo
Acre, a criação do Tocantins e a transferência da entre um processo de independência e de formação nacio-
capital do Brasil para a cidade de Brasília, construí- nal latino-americano e as artes plásticas da região. Aqui
da no Distrito Federal, em meio ao estado de Goiás, foi dado destaque ao México, com a análise da pintura de
são algumas das mudanças a serem identificadas. Diego Rivera. Os casos latino-americanos são importantes

LIV
para o conceito de Estado-nação, pois a formação de uma Nicolau Maquiavel cunhou o termo “Estado” para desig-
população que agregava diferentes povos de origens dis- nar a organização política em dado território. Ele é consi-
tintas, como os indígenas, os europeus colonizadores e os derado o fundador da Ciência Política moderna, ao pensar
africanos escravizados, joga luz sobre as dificuldades o Estado tal como ele é, e não como deveria ser, desvin-
envolvidas no ideal de nação como agrupamento cultural, culando a moral e a religião das características do governo
com línguas, origens e valores comuns. para conquistar o poder.

RESPOSTAS Marx e Engels são fundamentais para a compreensão do


século XX, ao formular o papel do Estado no processo revo-
1. Incentive os estudantes a observar a obra com atenção.
lucionário que fundamentou a Revolução Russa; e nas análi-
O estudo da obra e a história da independência do
ses do Estado produto dos interesses de classe da burguesia.
México permite a eles entender a formação da ideia de
nação moderna, constituída com anos de luta, de his- Weber analisa os tipos de dominação que caracterizam
tória comum e de valores construídos pela população. o Estado moderno, a partir de uma perspectiva liberal. A
burocracia e a racionalidade são compreendidas como o
2. a) Na parte inferior da obra, é representada a luta dos
que legitima o monopólio da violência pelo Estado. A aná-
astecas contra o domínio espanhol; no centro,
homens armados representam a luta pela indepen- lise weberiana é relevante não só como conceito, mas
dência; e, por fim, na parte superior estão campo- também para a formação cidadã dos estudantes, pois
neses com faixa “Terra e Liberdade”, represen- valoriza a política como a arte da negociação e da conci-
tando a luta pela reforma agrária. liação, em detrimento do caráter técnico e burocrático das
tomadas de decisão. Com o desgaste da imagem da polí-
b) Ao retratar esses três períodos históricos, o autor
tica, voltar aos seus fundamentos na formação do Estado
indica que a construção do Estado-nação mexica-
moderno e da democracia é parte importante para o pro-
no foi baseada em muita luta e, assim, não se deu
jeto de vida dos estudantes.
de forma pacífica.
c) A águia com a serpente representa uma das principais P. 36
lendas da cultura asteca. Segundo ela, os astecas,
nômades, perambulavam pelo sul da atual América Boxe: Os Estados plurinacionais: os casos da
do Norte em busca de um sinal dos deuses sobre Bolívia e do Equador
onde poderiam se estabelecer. Os astecas seguiram As novas constituições boliviana e equatoriana, aprova-
o desejo do deus Huitzilopochtli, que lhes havia or- das em 2008 e 2009, respectivamente, mostram as tenta-
denado a procura de uma águia, pousada em um tivas latino-americanas de superar desafios históricos à
cacto que estava dentro de um lago. Esta águia le- formação nacional, reconhecendo a pluranacionalidade do
vava no bico uma serpente. Duzentos anos de busca país, com subsídios jurídicos e políticos de autonomia às
levaram os astecas à beira do lago pantanoso de distintas nações que os compõe.
Texcoco, local onde fundaram a cidade de Tenochti- Para analisar os Estados Nacionais no contexto latino-
tlán. Este símbolo foi adotado depois da Revolução
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Mexicana, 1923, unindo as cores vermelha, branca
-americano, o texto ainda busca apresentar processos con-
temporâneos de superação de conflitos históricos em torno
DA EDITORA DO BRASIL
e verde, representando independência e união. da formação nacional. Os casos da Bolívia e do Equador inau-
guram uma nova forma de Constituição, que reconhece dife-
P. 32 rentes nações em um mesmo Estado, garantindo aspectos
jurídicos e formais de acordo com as tradições de cada nação
O Estado moderno: política e nação
integrante. Os conflitos contemporâneos nos dois países,
unificados com golpes de Estado e perseguição política aos presidentes
Os desafios decorrentes da formação dos Estados e partidos que organizaram a transformação constitucional,
modernos baseada na ideia de um mesmo povo sob um ajudam a entender a insuficiência desse processo no con-
mesmo Estado se adaptou a poucos países europeus, e que texto da luta de classes e pode ser explorado por meio de
até hoje é causa de diferentes conflitos, como os processos jornais e notícias mais recentes.
de independência de povos que não se reconhecem dentro
de um mesmo Estado-nação. P. 37

Atividades
P. 32-35
1. a) A Revolução Francesa foi levada adiante pela bur-
Diferentes abordagens sobre o Estado guesia.
Para analisar o sentido do Estado moderno na socie- b) Os objetivos dessa revolução eram dar fim à mo-
dade, são apresentados os principais pensadores da Ciên- narquia absolutista e fundar uma república basea-
cia Política. da nos ideais iluministas.

LV
c) Historicamente, a Revolução Francesa representou mada em plurinacional, tendo em vista que o Es-
o início de uma nova era, chamada “modernidade”. tado conduz as políticas de demarcação de terras
2. O trecho da declaração dos Direitos do Homem e do por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai).
Cidadão expressa a igualdade jurídica do pensamento
P. 38-39
iluminista. Proponha uma discussão sobre a ideia de
igualdade presente no ideário iluminista e como ele Territórios, territorialidades e fronteiras
está presente atualmente na maioria das constituições
É possível utilizar um exemplo local para destacar a sobre-
democráticas.
posição de territórios, como um bairro ou parte de um bairro
3. a) A origem da Ciência Política está em Maquiavel, prin- que é utilizado por distintos grupos sociais durante o dia e
cipalmente em O Príncipe (1513). Nessa obra, o autor durante a noite, ao longo dos dias da semana, ou mesmo
rompe com o pensamento vigente típico da Idade
onde coexistam grupos identitários diferentes. Aprofunde os
Média, de olhar o Estado como ele deveria ser num
debates sobre o território como abrigo e como recurso, res-
modelo ideal, para analisá-lo tal como ele é, separando
saltando as disputas que envolvem a manutenção das popu-
a visão religiosa da visão política.
lações tradicionais e o avanço de atividades econômicas que
b) Para Maquiavel, metade de nossas ações é gover- forçam a sua desterritorialização e, portanto, comprometem
nada pela fortuna, metade pela virtude (virtú). O sua existência. Caso julgue interessante, apresente casos
termo vem do latim, varão, e designa o agir pro- locais ou regionais.
priamente viril, varonil, ou seja, tudo que vem de
uma deliberação madura e atenta de como agir. É P. 39-40
a capacidade de leitura de mundo e de estabelecer
um plano de ação que seja capaz de mudar essa Fronteiras materiais e imateriais
realidade. Trata-se da capacidade do príncipe de Aqui, recomenda-se o aprofundamento da problemática
controlar as ocasiões e acontecimentos de seu das fronteiras invisíveis criadas pela segregação socioespacial.
governo, das questões do principado. É possível abordar casos de bairros que são largamente ocu-
A sorte individual diz respeito às circunstâncias, ao pados por imigrantes de baixa renda (a exemplo de bolivianos
tempo presente e suas necessidades. É, para o fi- no Brás, na cidade de São Paulo, e de romenos no Boulevard
lósofo, a ordem das coisas em todas as dimensões Ney, em Paris). Muitos desses imigrantes sofrem xenofobia por
da realidade que influenciam a política. Observa-se causa do nível de desenvolvimento de seu país de origem,
que a Fortuna não pode ser vista como um obstá- inferior àquele dos países onde residem, legal ou ilegalmente.
culo ao governante, mas um desafio político que Dessa maneira, os imigrantes estão sujeitos à exclusão social,
deve ser conquistado e atraído. que fere os princípios da igualdade e da dignidade humana.
c) Essa discussão pode tomar diferentes rumos. É
importante, portanto, que o estudante consiga ana- P. 40-41
lisar as questões do Estado a partir de como ele
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
funciona, na prática, e que consiga perceber quais Geopolítica e relações internacionais no
DA EDITORA DO BRASIL
são as condições dadas pelo contexto e momento mundo contemporâneo
histórico e quais são advindas da habilidade do O conteúdo sobre a formação dos Estados Nacionais
governante. pode ser retomado para uma comparação entre o papel do
4. Diferentes notícias podem ser consideradas para pen- Estado nos séculos anteriores com seu papel no mundo
sar no conceito weberiano de Estado. A violência poli- contemporâneo. É importante aprofundar as explicações
cial, por exemplo, pode ser analisada à luz do mono- sobre o funcionamento das relações internacionais no
pólio legítimo da violência pelo Estado, ou a burocracia mundo contemporâneo, que, além dos Estados soberanos,
como forma de controlar a vida dos cidadãos, como
conta com a atuação de organismos supranacionais, bas-
parte da decisão racional-legal. De forma geral, é
tante relevantes no que diz respeito às relações internacio-
importante que os estudantes consigam contrastar um
nais, inclusive na formulação de tratados e convenções.
evento contemporâneo com uma teoria sociológica,
de modo a fundamentar sua análise. P. 41-42
5. a) O Estado-nação não considera os direitos dos povos
nativos. Já no caso dos Estados plurinacionais, diver- Tratados e convenções internacionais
sas nações são reconhecidas em sua Constituição. Ao trabalhar esse tema, o conteúdo abordado anterior-
b) Espera-se que o estudante, por meio de sua pes- mente sobre o processo de interiorização da América Portu-
quisa, indique que, no caso do Brasil, pode-se guesa pode ser retomado, com o intuito de aprofundar o tema
considerar que a população indígena não tem for- da formação territorial do Brasil, já que parte dos tratados
ça política para que a Constituição seja transfor- mencionados nesse tópico faz parte desse processo.

LVI
P. 43 biodiversidade, podendo acarretar problemas tanto na origem
como no destino das espécies ilegalmente contrabandeadas.
Os Estados Nacionais e as fronteiras na RESPOSTAS
globalização
1. A captura de animais silvestres para a venda ilegal, seja
É possível retomar alguns conteúdos abordados anterior- dentro das fronteiras nacionais ou no mercado inter-
mente para contextualizar melhor as discussões sobre o nacional, bem como a biopirataria, podem causar a
mito do enfraquecimento dos Estados e das fronteiras na redução drástica de espécimes, aumentando o risco
passagem do mundo bipolar para o mundo multipolar, ou de extinção de plantas e animais onde eles são endê-
seja, na passagem dos anos 1980 para os anos 1990. É micos. Além disso, a inserção de espécies exóticas num
importante destacar que esse discurso sobre a perda de ecossistema pode causar desequilíbrio ambiental,
preponderância do Estado não ocorreu apenas devido às comprometendo a sobrevivência de espécies endêmi-
mudanças políticas do período. A emergência de um novo cas do local de destino das espécies de flora e fauna
modelo produtivo (toyotista) que propiciou a fragmentação ilegalmente adquiridas.
de cadeias produtivas pelo espaço geográfico, as inovações 2. Como o tráfico internacional de animais silvestres e a
tecnológicas que possibilitaram a gestão à distância das biopirataria ocorrem entre países diferentes, somente
filiais de empresas e o incremento do comércio internacional por meio de negociações bilaterais ou multilaterais,
também foram fundamentais no surgimento desse discurso. como a celebração de tratados, convenções e acordos
Ao discutir a atuação do Conselho de Segurança da ONU, internacionais, é possível definir normas para o combate
problematizar a concentração de poder e a falta de repre- dessas atividades ilegais, bem como punições aos cri-
sentatividade do órgão pode ser uma estratégia interessante minosos. Sozinho, um país não tem como enfrentar redes
para engajar os estudantes. Esse debate pode fazer parte criminosas que atuam também fora de seu território.
de uma discussão mais ampla sobre o papel de outras orga- 3. Quando as empresas patenteiam descobertas cientí-
nizações supranacionais nas relações interestatais, em ficas associadas à princípios ativos retirados de plantas
especial a atuação da Organização do Tratado do Atlântico e animais amplamente utilizados na vida cotidiana de
Norte (Otan), no que concerne às disputas fronteiriças. Caso comunidades tradicionais, estas ficam proibidas de
julgue interessante, proponha também um debate sobre a manter o uso e consumo das respectivas espécies, já
Organização Mundial do Comércio (OMC), dando enfoque que uma patente confere uso e exploração exclusivo
para a questão da porosidade e flexibilização das fronteiras ao seu detentor. Dessa maneira, os costumes e o modo
no contexto de intensificação do comércio internacional na de vida de uma comunidade tradicional podem ser
globalização. Como um contraponto, sugerimos que seja fortemente impactados, já que sua identidade cultural
aprofundada a discussão sobre a influência das corpora- e as atividades econômicas que desempenham estão
ções, mediante lobbies, sobre as decisões dos Estados diretamente associadas ao território e, consequente-
Nacionais e sobre a regulamentação feita pela OMC. mente, aos recursos naturais que este lhe oferece.
4. Embora a biopirataria envolva tanto espécies já conhe-
P. 44-45 MATERIAL DE DIVULGAÇÃO cidas como aquelas ainda não catalogadas pela ciên-
DAfronteiras
Conexões: As EDITORA DOnaBRASIL
região cia, à medida que abundam as espécies ainda não
identificadas nos biomas brasileiros, em especial na
amazônica e a biopirataria
Amazônia, cresce o interesse da biopirataria no país,
A seção “Conexões” traz uma proposta de aprofunda- já que essas espécies ainda desconhecidas represen-
mento e ampliação da discussão sobre os conceitos de tam um grande potencial para descobertas de princí-
território e fronteira sob a perspectiva da Floresta Ama- pios ativos que podem ter bons retornos comerciais.
zônica. Essa seção mobilizando o tema contemporâneo
transversal meio ambiente e articula a discussão com a P. 46-47
área de Ciências da Natureza, no que diz respeito à bio-
diversidade brasileira e sua importância, inclusive geo- Migrações e fronteiras
política, nacional e internacional. A proposta é viabilizar Esse é um bom momento para aprofundar as discussões
uma reflexão sobre a biopirataria e o tráfico de fauna e que distinguem as migrações voluntárias das migrações
flora, pensando nessas ações enquanto crimes ambien- forçadas, de forma que os estudantes compreendam os
tais, mas também como infração e desrespeito às ordens diversos motivos que causam os fluxos migratórios no
territoriais estabelecidas, pois tanto a biopirataria quanto mundo contemporâneo e identifiquem os principais polos
o tráfico operam na ilegalidade, não apenas violando a receptores e repulsores. Esse tema possibilita ao estudante
natureza, mas infringindo acordos e limites territoriais. aprimorar seu olhar crítico sobre aspectos políticos e eco-
É importante conduzir as discussões com os estudantes nômicos que estão no cerne das dinâmicas sociais atuais.
em sala de aula, a fim de destacar que o tráfico de animais Destaque a problemática das migrações forçadas, que
silvestres e a biopirataria colocam em risco a preservação da poderá ser debatida à luz dos direitos humanos.

LVII
P. 48-49 relevante para a pacificação de conflitos geopolíticos,
inclusive concernentes à delimitação de fronteiras, o
Atividades sucesso das negociações depende da cooperação das
partes envolvidas.
1. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos reconheçam
formas não institucionais de apropriação do território e 6. Espera-se que os estudantes organizados em grupos de
de conformação de territorialidades. Em espaços urba- 3 a 5 pessoas, pesquisem de forma autônoma um con-
nos, sobretudo de grandes cidades, por exemplo, é flito envolvendo questões fronteiriças: há diversos exem-
possível identificar diferentes territorialidades coexis- plos ao redor do mundo. A proposta é analisar conflitos
tindo, sejam ligadas a determinados grupos com algum envolvendo definição de fronteiras já estabelecidas e
elemento de identificação, como imigrantes que estando não os casos de povos e nações que buscam constituir
em um país estrangeiro passam a estabelecer laços de Estados Nacionais. Alguns exemplos: fronteira entre
identidade e vínculo com determinadas parcelas do Brasil e Bolívia; região da Caxemira na Ásia; fronteira
espaço, criando territorialidades. Também é possível entre Peru e Chile; entre outros.
pensar em termos de comunidades tradicionais que, se
apropriando do espaço, expressam um modo de vida e INDICAÇÕES COMPLEMENTARES
influenciam a organização desse espaço.
2. Resposta pessoal. As cidades-gêmeas podem ser o Filmes
objeto da pesquisa, pois são áreas de grande dinâmica
1798 – Revolta dos Búzios, direção de Antônio Olavo. Bra-
social, cultural e econômica. No Brasil, existem diversos
sil, 2018 (73 min).
exemplos que podem ser investigados. Espera-se que
os estudantes percebam como essas áreas envolvem Retrata a Conjuração baiana e a luta da população pela inde-
dinâmicas e relações próprias, pois tem uma forma de pendência e o fim da escravidão.
ocupação e apropriação bastante singular, que envolve
população, poder público, forças de segurança etc. A boa mentira, direção de Philippe Falardeau. EUA, 2014
(110 min).
3. Espera-se que os estudantes ponderem que, apesar
dos discursos que pregam o fim de fronteiras ou O filme mostra a trajetória de um grupo de jovens sudaneses que,
mesmo o enfraquecimento de Estados, tem se verifi- ao tentar escapar da Guerra Civil no Sudão (1983-2005), migran-
cado seu fortalecimento, sobretudo em relação à cir- do a pé para um campo de refugiados no Quênia, encontra a opor-
tunidade de embarcar num voo de ajuda humanitária e se refugiar
culação de pessoas. A globalização, enquanto processo
nos Estados Unidos da América. Ao chegar nesse país, os jovens
que vem reforçando desigualdades entre países,
são acolhidos por uma assistente social, que está disposta a aju-
regiões e pessoas, não parece apontar na direção da dá-los a ter uma vida melhor e a se adaptar a cultura do país. Es-
anulação das fronteiras, no sentido de uma abertura se é o início de uma grande amizade entre os personagens.
ampla aos fluxos, mesmo os econômicos.
4. a) Espera-se que os estudantes mencionem a relevân- Citizenfour, direção de Laura Poitras. Alemanha, Estados
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
cia que o território possui para os Estados, na Unidos e Inglaterra, 2014 (114 min).
medida em que é o território que garante a existên-
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cia do Estado e da nação. Ele é o suporte físico que
Documentário que aborda a política internacional e a comple-
xidade da luta pela hegemonia econômica e política, mostra
sustenta as relações sociais, políticas e econômicas o escândalo de espionagem pela NSA e como se deram os
e a reprodução da vida. encontros com Edward Snowden antes e depois de sua iden-
b) Com base no trecho, espera-se que os estudantes tidade ser revelada ao público.
comentem que a partir da apropriação do espaço,
Elizabeth – a Era de Ouro, direção de Shekhar Kapur. EUA,
os atores o territorializam. No que se refere aos
países, por exemplo, essa apropriação ocorre pelos 2007 (114 min).
agentes e instituições oficiais que legitimam o Narra as dificuldades encontradas pela rainha Elizabeth I em
território do Estado-nação. Em outras acepções, se manter no poder e as disputas religiosas do século XVI.
pode-se considerar a apropriação que grupos di-
versos fazem de determinadas parcelas do espaço, O capital, direção de Costa-Gavras. França, 2012 (113 min).
em um país, cidade ou bairro, criando territoriali- Aborda a especulação financeira e os negócios escusos pra-
dades e identidades específicas. ticados pelos bancos.
5. No âmbito dos conflitos geopolíticos, organizações
supranacionais, como a ONU – por meio de seu Con- Xica da Silva, direção de Carlos Diegues. Brasil, 1976
selho de Segurança –, buscam mediar as negociações (114 min).
entre as partes envolvidas e pactuar uma solução. Narra, de forma artística, a história da famosa afrodescenden-
Conforme destacado no exemplo descrito no texto, te que era escravizada e se tornou parte da elite de Diamantina
embora a atuação de organizações supranacionais seja no contexto do ciclo do ouro e do diamante no Brasil colônia.

LVIII
Livros a reflexão sobre as relações entre os Estados Nacionais,
tanto na modernidade como nos dias de hoje.
AYERBE, L. F. Estados Unidos e América Latina: a constru-
Nesse processo, as habilidades visadas pela aborda-
ção da hegemonia. São Paulo: Editora Unesp, 2002.
gem e exercício da reflexão filosófica podem ser objeto
O livro é composto de oito capítulos que trazem uma minu-
de estímulo e vivência. É importante que os estudantes
ciosa análise com perspectiva histórica e fontes bibliográficas
apreendam a diversidade de sentidos contida na existên-
de arquivos consultados na Agência Central de Inteligência
(CIA) e no Departamento de Estado dos EUA. cia plural dos Estados Nacionais, que expressam, por sua
vez, a multiplicidade de formas políticas de organização
BECKER, Bertha. Amazônia, geopolítica na virada do II da vida social de cada população e ao processo histórico
milênio. São Paulo: Garamond, 2006. que a constituiu.
O livro aborda a dinâmica regional amazônica, utilizando co- Além disso, são fornecidos elementos simbólicos e
mo base o conceito de fronteira, numa acepção ampla, e des- conceituais que habilitam ao estudante superar a estrei-
tacando os conflitos territoriais, presentes em variadas teza de uma visão baseada apenas em referenciais de sua
escalas geográficas e pautados na atuação de diversos atores própria cultura nacional. Capturar e apreender intelectual-
econômicos, políticos e sociais. mente a diversidade humana incentiva o estudante a rela-
tivizar noções etnocêntricas fixadas pela dinâmica social
Site na qual ele está inserido.
Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Esse exercício de crítica e autocrítica de noções abre
Refugiados (ACNUR). Disponível em: https://www.acnur. ao estudante, ademais, a possibilidade de uma compreen-
org/portugues. Acesso em: 26 ago. 2020. são mais qualificada de situações conflituosas do presente,
No site do ACNUR, é possível obter dados e informações de- possibilitando colocar em pauta uma discussão sobre
talhados e atualizados sobre refugiados, apátridas e pedidos diferentes estratégias para resolução de conflitos e ten-
de asilo político ao redor do mundo. Também é possível acom- sões. Nesse sentido, o conteúdo apresentado desenvolve,
panhar as ações da ONU para mitigar o problema das migra- também, as competências gerais 1 e 10.
ções forçadas.
As habilidades EM13CHS203, EM13CHS204 e
EM13CHS206 são trabalhadas por meio da discussão de
UNIDADE 2 processos históricos de colonização e de disputas territo-
A RELAÇÃO ENTRE OS ESTADOS riais ocorridos entre os séculos XIX e XX, os quais tiveram
NACIONAIS grande importância na atual configuração dos territórios
e fronteiras e das relações entre o Norte e o Sul global. Ao
conhecerem as justificativas ideológicas para o imperia-
VISÃO GERAL lismo, espera-se que os estudantes compreendam como
visões dualistas de civilização e barbárie, território e vazio
Essa unidade tem por referência as habilidades
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
EM13CHS201, EM13CHS203 e EM13CHS206. Exploram- cultural foram manipuladas em prol da dominação de uns
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-se as principais questões e alguns temas mais centrais povos sobre outros. A ocupação dos espaços e a formação
das relações internacionais, problematizando-as em refe- e dissolução de impérios são discutidas por meio das duas
rência aos elementos mais característicos da política e do Grandes Guerras, eventos que provocaram grandes reor-
Estado modernos. Em termos gerais, busca-se delinear ao ganizações no espaço geográfico e das hegemonias polí-
estudante, por meio da explicitação de conceitos deter- ticas globais.
minantes, como, a partir da modernidade, o modo de orde- Com a globalização, o mundo está cada vez mais con-
namento dos Estados Nacionais e as intricadas, complexas tectado e os processos sociais vão além dos limites nacio-
e conflituosas conexões entre eles se determinam reci- nais, aprofundando as relações entre diferentes povos do
procamente. Assim, a dimensão externa da política apa- planeta – relações que nem sempre são respeitosas ou
recerá tematizada, nas apresentações e atividades, em igualitárias. Nessa unidade, mobiliza-se também a Socio-
referência à maneira com que o Estado aparece como logia e a Ciência Politica para que os estudantes consigam
síntese dos antagonismos sociais entre classes e grupos acompanhar os diferentes processos que envolvem as
da sociedade burguesa. fronteiras que orientam e definem nossa vida em socie-
A unidade se inicia com a apresentação de teorias de dade. Busca-se mostrar como as relações entre Estados
Kant e Hegel, importantes pensadores da tradição filosófica. Nacionais estão submetidos a demandas econômicas sob
A apresentação desses filósofos tem a função de explicitar o capitalismo, e que os valores modernos e democráticos
ao estudante a conexão entre as relações sociais que fazem são enfraquecidos diante de conflitos geopolíticos.
do Estado uma necessidade e de como elas se expressam No entanto, os territórios e as fronteiras não são vazios
nas interações internacionais, fornecendo elementos para de significado e sentido, pelo contrário, eles existem

LIX
enquanto a materialização que sustenta, em seu sentido P. 51
mais estrito, um Estado, um território e um povo. Nesse
aspecto, é relevante observar as dinâmicas populacionais Boxe: Organizações atuais e os princípios de
que se desdobram sobre os territórios, analisando como os Kant
movimentos demográficos impactam relações entre Esta- Esse boxe tem por objetivo trabalhar as proximidades
dos, modificam os espaços e criam contextos culturais existentes entre a constituição dos mecanismos e espaços
diversos. De modo a favorecer uma análise geográfica das multilaterais de política internacional e a tematização das
dinâmicas populacionais recentes, olhando, por exemplo, relações entre Estados Nacionais desenvolvida por Kant.
para os fluxos migratórios, propõem-se o desenvolvimento Incentive os estudantes a refletirem sobre as relações
das habilidades EM13CHS201 e EM13CHS206 da BNCC, entre o desenvolvimento real das dinâmicas internacionais
além de favorecer a mobilização de temas transversais con- e as formulações conceituais.
temporâneos, sobretudo economia e multiculturalismo. Comente o contexto de criação da Organização das
Nações Unidas, sucedendo a Liga das Nações. É impor-
tante refletir sobre a estrutura da ONU, no que tange à
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
composição de seu Conselho de Segurança. Deve-se dis-
cutir sobre sua composição, atribuições e poderes.
P. 50-51
Por fim, pode-se promover uma discussão com os estu-
Os Estados Nacionais: tratados e dantes, na forma de seminário, tendo por base a questão:
conflitos Até que ponto as atuais organizações internacionais
Nessa unidade, os elementos da reflexão filosófica elabo- podem se encaminhar, ou não, em direção a algo parecido
rada na modernidade são abordados principalmente a partir com o vislumbrado na teoria kantiana?
da análise dos trabalhos desenvolvidos pelos filósofos ale-
P. 52-54
mães Kant e Hegel em relação aos Estados Nacionais. Os
filósofos desenvolvem de maneira peculiar os antagonismos
Hegel: entre a paz e a guerra
e conflitos do Estado moderno. Dessa forma, o estudante tem
Hegel, em contraste direto e explícito com a posição
a possibilidade de compreender a complexidade do desen­
kantiana, sustenta que as nações entram em conflito para
vol­vimento histórico e como o desenrolar da política moderna
fazer valer os seus interesses particulares. Deve-se enfati-
pode resultar na busca do entendimento ou em conflitos.
zar que para ele não há como se estabelecer leis e tratados
P. 51 que regulem as relações internacionais, uma vez que não
há um interesse comum que congregue os diversos inte-
Kant e a paz perpétua resses nacionais. Assim, a paz ou a guerra são momentos
Os principais aspectos do pensamento kantiano acerca da coexistência dos Estados Nacionais. Incentive o estu-
do tema das relações internacionais, são explorados des- dante a perceber o “realismo político” hegeliano. Para tal,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tacando o caráter iluminista racionalista de sua concepção. proponha que pesquisem na mídia sobre as razões que
DA EDITORA DO BRASIL
A base da posição kantiana está na crença filosófica da motivam os conflitos internacionais atualmente existentes.
força da racionalidade como mediação para o estabeleci- Seria interessante promover um seminário em que os
mento de um mundo caracterizado pela liberdade e pela estudantes relacionassem a argumentação de Hegel e o
maioridade dos seres humanos. Daí, sua proposta de cons- contexto em que se dão ou se deram conflitos internacio-
tituição de uma liga de Estados Nacionais que resolveriam nais, fundamentando suas posições a respeito.
suas pendências e demandas tendo por parâmetro a lei
da razão. Nesse momento, vale retomar as tematizações P. 54
de Thomas Hobbes, sobre a guerra de todos contra to- Boxe: A carta da ONU
dos com que ele caracteriza o estado de natureza, e de Esse boxe tem por objetivo levar os estudantes a dis-
Rousseau, a respeito do que ele preconiza como a supre- cutirem o quanto as relações internacionais, apesar de,
macia da vontade geral a partir do contrato social. por um lado, serem um conjunto de relações tensas entre
Desde o término da Primeira Guerra, em 1918, a comu- formações soberanas, podem, por outro lado, também
nidade internacional, de forma semelhante à proposta por constituir um fórum de expressão para suas demandas
Kant, estabeleceu coligações entre os Estados a fim de e oposições recíprocas. Nesse sentido, a Organização das
buscar soluções de paz por meio de tratados e compromis- Nações Unidas não se constitui como um Estado acima
sos. Os estudantes poderão pesquisar a respeito da forma- de todos, mas trata-se de uma federação de Estados
ção da Liga das Nações, as nações partícipes, os princípios voltada à busca de soluções negociadas para as tensões
e os compro­missos assumidos pelos seus membros e as e divergências. As soluções de conflitos acabaram por se
razões de seu malogro. constituir em uma base para a normatização acordada

LX
que orienta os casos futuros. Pode-se propor aos estu- baseou-se principalmente na estruturação de dinâmicas
dantes a seguinte questão: Afinal, a ONU está mais perto comerciais transatlânticas, com destaque para o tráfico
de Kant ou de Hegel? de escravizados e o comércio de mercadorias orientais;
na busca por metais preciosos, considerados a base da
P. 55 riqueza nacional segundo o princípio metalista; e na explo-
ração da produção agroexportadora por meio do exclusivo
Atividades metropolitano.
1. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante demonstre A expressão do colonialismo europeu nos séculos XIX
os conceitos relativos a Kant e Hegel para expressar ade- e XX teve características distintas. Naquele momento, o
quadamente as diferenças existentes entre as elabora- mercantilismo havia sido superado e a Europa passava por
ções kantiana e hegeliana. Eles devem mostrar como a transformações sociais e econômicas em decorrência da
coexistência e os conflitos internacionais dos Estados
Revolução Industrial. Chamada pelo historiador Marc Ferro
Nacionais é pensada por cada um dos autores. Em Kant,
de “colonialismo de segundo tipo”, essa expressão estava
essa reflexão é feita a partir da perspectiva de constitui-
diretamente relacionada aos ímpetos imperialistas das
ção de uma federação mundial de Estados autônomos,
nações industrializadas e às demandas do capitalismo.
que deverão resolver acordadamente suas pendências,
Impondo-se sobre os territórios africanos e asiáticos, con-
evitando ao máximo pegar em armas ou iniciar conflitos
siderados “vazios culturais” sob a ótica eurocêntrica, as
que possam ser contornados diplomaticamente.
potências conseguiam obter mão de obra mais barata,
Já de acordo com Hegel, a convivência e coexistência aumento do mercado consumidor de industrializados e
de diferentes Estados Nacionais, com suas próprias matérias-primas a custos muito baixos. Também exerciam
pretensões e demandas históricas podem normalmen- poder político sobre os territórios coloniais, configurando
te levar à guerra. O conflito é entendido como uma pos- poderosos impérios intercontinentais.
sibilidade inerente ao próprio processo de constituição
da internacionalidade moderna. Quando acordos entre De posse dessas informações, estimule os estudantes
as nações não são possíveis, o confronto é inevitável. a analisar o mapa “Partilha colonial da África e da Ásia
(1870-1914)” e identificar elementos como: os territórios
2. a) e b) Resposta pessoal. Ambas as questões aqui apre-
que foram dominados pelas potências imperialistas, quais
sentadas têm o intuito de estimular o estudante a
eram as principais forças imperialistas e suas áreas de atua-
se posicionar acerca do funcionamento das insti-
ção e os novos limites geográficos impostos pelo imperia-
tuições internacionais encarregadas, após o fim da
lismo. A observação do mapa auxilia no desenvolvimento
Segunda Guerra Mundial, de intermediar as rela-
da habilidade EM13CHS204 da BNCC. As discussões sobre
ções entre Estados Nacionais.
o imperialismo, suas justificativas culturais e seus efeitos
3. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante seja sobre as populações nativas da África e da Ásia possibilitam
capaz de expressar sua posição a partir dos conheci- o trabalho com a habilidade EM13CHS203.
mentos adquiridos sobre as causas que desencadeiam
É pertinente explicar aos estudantes que o processo de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
os conflitos e sobre a atuação dos organismos que se
colonização associado ao imperialismo europeu é geral-
ocupam das relações internacionais.
DA EDITORA DO BRASIL mente chamado de “neocolonialismo”, termo que adotamos
4. Resposta pessoal. Espera-se que o estudante seja
na obra para fins didáticos. O historiador Marc Ferro, na obra
capaz de expressar sua posição a partir do entendi-
História das colonizações, sugere o uso do termo “neoco-
mento dos argumentos de Hegel e dos conhecimentos
lonialismo” na abordagem das permanências de formas de
adquiridos sobre a atuação dos organismos que se
domínio colonial após a independência de países africanos
ocupam das relações internacionais.
e asiáticos. Para Ferro, após a superação do colonialismo
P. 56-57 de segundo tipo, as potências europeias continuaram exer-
cendo influência política e econômica sobre os territórios
Imperialismo, nacionalismos e as emancipados, ação que qualifica como “neocolonial”. Ainda
guerras mundiais nessa obra, destaca-se o conceito de “imperialismo multi-
Sugere-se retomar com os estudantes o conceito de nacional”, com o qual o autor direciona a análise sobre os
colonialismo com o objetivo de caracterizá-lo no contexto processos oriundos da globalização.
do imperialismo europeu dos séculos XIX e XX. Espera-se
P. 57
que observem que o colonialismo europeu teve início no
século XV, a partir da expansão marítima, e se caracterizou Boxe: A despersonalização do colonizado
naquele momento por uma intervenção política, econô- Com base na leitura do texto, auxilie o estudante na
mica e social direta das metrópoles sobre as colônias ins- compreensão do significado de colonizado, que aparece
taladas sobretudo no continente americano. Impulsionado aqui como aquele que não tem direito à sua humanidade,
pelos princípios mercantilistas, o colonialismo moderno mas é que exilado dela pelas dinâmicas da colonização.

LXI
RESPOSTAS Itália manteve-se ao longo da era Moderna como uma
região composta de diversos reinos e repúblicas indepen-
a) De acordo com o texto, o colonizador usufrui de
dentes e com grande diversidade étnica e cultural.
todas as vantagens a partir do momento em que
se beneficia de todos os direitos negados ao colo- Para aprofundar este tópico, cabe mencionar a onda
nizado. Exemplo: “[..] se pode beneficiar-se de mão nacionalista que se manifestara a partir de 1820 em dife-
de obra, de criadagem numerosa e pouco exigente, rentes regiões da Europa, reflexo dos ideais liberais da
é porque o colonizado é explorável impunemente Revolução Francesa. Nos reinos da Itália, a dominação aus-
e não se acha protegido pelas leis da colônia; se tríaca ao Norte e a dominação francesa ao Sul, especial-
obtém tão facilmente postos administrativos, é mente na região napolitana, foram alvo de forte contestação
porque esses postos lhe são reservados e porque popular. Igualmente, as tentativas frustradas de unificação
o colonizado deles está excluído [...].” em 1830 e 1848, ano da chamada Primavera dos Povos,
b) As vantagens do colonizador para o colonizado estavam conectadas a um movimento mais amplo de levan-
significam a sua desumanização e a usurpação de tes nacionalistas e revolucionários. Guiados por uma ideia
todos os seus direitos e espaços. Quanto maior o absolutamente nova, a do Estado nacional, os rebeldes
ganho do colonizador, maior a exploração sofrida propunham a superação da fragmentação territorial e a
pelo colonizado. unificação política das monarquias e repúblicas italianas.
c) Aqui, o estudante deverá refletir sobre a condição
P. 58-59
de despersonalização e inviabilização à qual está
sujeito esse colonizado – a marca plural, onde o
Unificação da Alemanha
um se torna um coletivo homogêneo anônimo e
indissociável. Espera-se que o estudante consiga Chame a atenção dos estudantes para o fato de a unifi-
enxergar esse processo em outros contextos sociais cação territorial alemã ter ocorrido sob a égide da industria-
que não só da colonização. Um exemplo que pode lização e da guerra, conduzida por um exército forte. Esses
ser utilizado é a permanência desse olhar de “co- dados são importantes para que os estudantes compreen-
letivo anônimo” aos povos africanos, quando se dam o viés expansionista do Estado alemão e o papel pos-
perpetua a ideia de que o continente africano é terior que a Alemanha exerceu nas duas guerras mundiais.
homogêneo, não considerando as especificidades
P. 59
das diversas nações e etnias que compõem o seu
território, reflexo do olhar colonizado. Uma reflexão
Primeira Guerra Mundial
mais profunda pode ser proposta, ao comparar esse
olhar ao olhar contemporâneo às classes sociais Solicite que os estudantes leiam atentamente os três
mais baixas que costumam ser vistas como um primeiros parágrafos do texto identificando os anteceden-
coletivo indissociável, sem individualidades, o que tes da Primeira Guerra Mundial. Em seguida, comente
determina a construção de estereótipos acerca das sobre as regiões disputadas pelas potências no início do
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
mesmas: “todo periférico é bandido” ou “todo século XX, frisando que as unificações tardias da Itália e,
pobre é mal educado”, e assim por diante. em especial, da Alemanha foram fatores determinantes
DA EDITORA DO BRASIL para o investimento na indústria bélica europeia e a for-
P. 58 mação de alianças que, nesse caso, podem ser vistas como
o prenúncio da Primeira Guerra Mundial.
Os nacionalismos
Uma possibilidade didática com relação ao tema é
Você pode começar a trabalhar o tema com um levan-
construir na lousa, em conjunto com os estudantes, um
tamento dos conhecimentos prévios dos estudantes. Per-
esquema identificando os países que compõem cada
gunte o que eles entendem pelo termo “nacionalismo”. Ao
aliança militar e seus interesses. Também é importante
fim da rodada de respostas, explicite que, assim como
diferenciar a Primeira Guerra Mundial das demais guer-
outros conceitos, nacionalismo não é um termo neutro,
ras estudadas anteriormente. Destaque a tecnologia
único e entendido da mesma forma pelos indivíduos e
bélica utilizada, a quantidade de nações e pessoas
pelos países. Além disso, tanto o conceito quanto o senti-
envolvidas e como o conflito modificou, em maior ou
mento de nacionalismo foram e ainda são muito relevan-
menor grau, a economia e política de boa parte dos
tes em diversas questões políticas e econômicas.
países do mundo.
Exemplifique isso usando as duas definições diferentes
apresentadas no segundo parágrafo. P. 60-62

Unificação da Itália Etapas do conflito


Explique aos estudantes que, ao contrário do que ocor- A Primeira Guerra Mundial está didaticamente apre-
reu com nações como a França e a Inglaterra, a atual sentada em três momentos: a guerra de movimentação,

LXII
a guerra de trincheiras e a retomada da guerra de movi- Sobre a quebra da bolsa de Nova York e a depressão
mento com o reforço das tropas estadunidenses. Chame que se seguiu na década de 1930, saliente que houve um
a atenção para os impactos da saída da Rússia do conflito desequilíbrio entre a superprodução de bens e as expor-
e a entrada dos Estados Unidos que estava, naquele tações e empréstimos feitos para os países em reconstru-
momento, numa posição privilegiada, pois a guerra não ção no pós-guerra, o que levou à crise financeira logo após
atingiu seu território. um período de prosperidade. Conforme a economia global
Peça aos estudantes que observem o mapa da Europa tornava-se cada vez mais integrada, os impactos foram
após a Primeira Guerra e proponha uma comparação com sentidos rapidamente em outras localidades do mundo.
o do início do conflito, estimulando-os a elaborar uma aná- Com base nisso, sugere-se chamar a atenção dos estu-
lise sobre as mudanças territoriais acarretadas no período. dantes para a superação das fronteiras físicas pelas dinâ-
micas financeiras e, consequentemente, pelas crises
Explicite que uma série de tratados foi firmada ao fim
econômicas.
da guerra, sendo o Tratado de Versalhes o mais conhecido
deles. Com o Tratado de Versalhes, as potências vence- P. 62
doras pretendiam impedir o crescimento do poder bélico
e a expansão territorial da Alemanha. Os seus termos A ascensão dos regimes totalitários na
foram considerados humilhantes pelos alemães e podem Europa
ser interpretados como catalisadores dos processos polí-
Uma das principais consequências da Primeira Guerra
ticos e econômicos do país no período entre guerras. Se
Mundial foi o surgimento de propostas políticas baseadas
considerar válido, mencione e explique também os trata-
na centralização excessiva do poder político. Essas pro-
dos de Saint-Germain-en-Laye (1919), de Neully (1919),
postas ganharam a simpatia de parcelas significativas da
Trianon (1920), Sèvres (1920) e Lausanne (1923).
população, que se encontrava desiludida com a demo-
P. 61 cracia liberal e buscava soluções para o desemprego, a
inflação exorbitante e outros efeitos da crise econômica
A crise do capitalismo no entreguerras que se instalara no pós-guerra. Com isso, líderes totali-
Relacione a participação dos Estados Unidos da Amé- tários chegaram ao poder e passaram a intervir nas mais
rica na Primeira Guerra Mundial ao aquecimento da eco- diversas áreas: economia, política, cultura, modo de vida,
nomia nesse país. Enquanto os Estados Unidos etc. Apesar de todas as características negativas ligadas
despontavam como uma potência industrial, os demais aos regimes totalitários, baseados no exercício do con-
países concorrentes encontravam-se destruídos pela trole e da violência, a população de vários países via nessa
guerra e precisando de ajudas financeiras para se reerguer. nova perspectiva uma forma de melhorar suas vidas.
Cabe apontar, ainda, a relação entre a ascensão de regi-
Comente que o american way of life teve impactos para
mes totalitários e a ameaça que os comunistas represen-
além do campo econômico, modificando também a cultura
tavam para a burguesia e os setores conservadores,
e o modo de vida da população estadunidense, que passou
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
a valorizar, cada vez mais, o consumo de diferentes tipos
especialmente os ligados à Igreja Católica.
DA EDITORA DO BRASIL
de produtos em quantidades excessivas. Este modelo foi Para o aprofundamento no tema, sugere-se a leitura do
exportado para outros países por meio de veículos da artigo “Hannah Arendt e o totalitarismo como forma de
indústria cultural sendo adotado inclusive no Brasil. governo apoiada na ralé e nas massas”, do filósofo Felipe
Augusto Mariano Pires, publicado no periódico Investigação
Uma possibilidade para aprofundar o tema com os estu-
Filosófica. Disponível em: https://periodicos.unifap.br/
dantes é tratar da dimensão política desses hábitos cul-
index.php/investigacaofilosofica. Acesso em: 3 jul. 2020.
turais por meio de uma discussão sobre o conceito de soft
power. Criado pelo cientista político estadunidense Joseph
Nye, em 1990, soft power se refere ao uso da música, do O fascismo italiano
esporte, do cinema e de outras expressões culturais como Retome com os estudantes as dificuldades e crises pelas
ferramentas de atração por um país. Ao exportar seus pro- quais a Itália passou em seu ainda recente processo de uni-
dutos culturais, que contêm seus próprios valores e cos- ficação juntamente aos prejuízos acumulados ao final da
tumes, o país busca criar relações de empatia e Primeira Guerra. É pertinente comentar que, apesar das pro-
identificação com os demais, facilitando as relações diplo- messas firmadas no Tratado de Londres, em 1915, que acer-
máticas e a conquista de seus objetivos políticos e econô- tavam a colaboração italiana junto aos Aliados, a Itália não
micos. Os Estados Unidos são um grande exemplo de uso foi agraciada com os almejados territórios nas regiões dos
do softpower que, aliado ao hardpower, isto é, à imposição Bálcãs e da Dalmácia. A criação da Iugoslávia ao final do
pela força, contribuiu para tornar o país uma das principais conflito era vista com frustração pelos italianos, que tiveram
potências mundiais de meados do século XX ao atual a maioria de suas reinvindicações territoriais ignoradas, tendo
momento do século XXI. conseguido a anexação somente de Trentino e do Tirol.

LXIII
Benito Mussolini foi o primeiro líder de ultradireita a regiões das cidades. Milhares de famílias foram obrigadas
ser eleito na Europa e manejou as demandas da popula- a ocupar imóveis que haviam pertencido a indivíduos
ção por melhores condições de vida para ascender rapi- expulsos pelo regime, aglomerando-se em muitas pessoas
damente à liderança do país e colocar em prática suas dentro de um mesmo aposento. A concentração popula-
ideias baseadas na violência do Estado. O nacionalismo cional nos distritos judaicos era muito alta, chegando a
exacerbado e a noção de uma comunidade nacional abrigar cinco vezes mais pessoas que no período anterior
baseada na integração dos indivíduos, sem margem para à guerra.
a diversidade, eram algumas das características princi- Destaque a violência e os horrores ocorridos antes e
pais do fascismo. durante a Segunda Guerra Mundial contra vários grupos.
Os campos de concentração nazistas criados durante o
P. 63-64 conflito tinham condições desumanas. Muitos prisioneiros
morreram de fome, frio e doenças que poderiam ter sido
O nazismo alemão
tratadas, muitos foram obrigados a participar de experiên-
Você pode retomar a questão do Tratado de Versalhes cias voltadas ao estudo da eugenia e parte dos prisioneiros
e suas consequências para a Alemanha ao iniciar a dis- era utilizada como mão de obra escravizada para empresas
cussão com os estudantes. Em comparação ao regime que existem até hoje antes de serem exterminados. Ao
fascista italiano, o nazismo agregou o antissemitismo às observar fotos dos campos, vê-se uma disposição espacial
políticas autoritárias, com Hitler apontando o povo judeu bastante elucidativa do que ali ocorria: havia os trilhos de
como um dos responsáveis pela crise pela qual passava o trem ou as estradas por onde chegavam os prisioneiros do
país. Dizia-se que os judeus viviam bem e tinham posses, nazismo; os barracões onde eles dormiam; os blocos admi-
enquanto os demais amargavam duras condições de vida. nistrativos; as enfermarias e ambulatórios; as câmaras de
Contudo, a realidade era bem diferente, uma vez que ape- gás e os fornos de incineração. No caso de campos de
nas uma pequena parcela de famílias judias era rica. trabalho como o de Birkenau, na Polônia, havia também
Para saber mais sobre o assunto, sugere-se consultar os prédios onde os prisioneiros passavam a maior parte
a Enciclopédia do Holocausto, disponível em: https:// do dia em trabalhos forçados. No site oficial do Museu
encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/jewish-life memorial de Auschwitz-Birkenau é possível baixar um
-in-europe-before-the-holocaust. Acesso em: 26 ago. 2020. texto informativo em português e ver fotos antigas e atuais
Vítimas das consequências da guerra assim como de um dos maiores campos de concentração nazista. Dis-
outros grupos étnicos, os judeus passaram a ser dura- ponível em: http://auschwitz.org/en/more/portugese/.
mente perseguidos na Alemanha. A propaganda nazista Acesso em: 3 jul. 2020.
afirmava, sem base científica confiável alguma, a inferio-
P. 64
ridade de judeus e de outros povos (como ciganos, por
exemplo) ao mesmo tempo que exaltava as qualidades do A Segunda Guerra Mundial
grupo que denominava de arianos. Outra questão a ser
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tratada é a perseguição sistemática aqueles que não con-
Faça um esquema juntamente com os estudantes para
que eles possam identificar as características e as relações
DA EDITORA DO BRASIL
cordavam com o regime nazista, simbolizado pela criação
de força entre Aliados e o Eixo nos três momentos do con-
da Gestapo e da SS. Explique aos estudantes que, assim
flito. Explicite que a Segunda Guerra Mundial tinha também
como ocorreu pouco antes da Primeira Guerra Mundial,
uma frente no Oceano Pacífico, ligada principalmente aos
a formação da aliança militar chamada de Eixo Roma-
interesses expansionistas dos japoneses. Foi justamente
-Berlim-Tóquio, somadas à retomada da indústria bélica
essa frente de batalha que provocou a entrada dos Estados
alemã, foi um prenúncio da Segunda Guerra Mundial.
Unidos no conflito, após o ataque de Pearl Harbor.
P. 63 A participação estadunidense foi um dos fatores decisivos
que levaram à vitória dos Aliados. Com relação a isso é pos-
Boxe: Os guetos e campos de concentração
sível também tratar da questão das bombas atômicas esta-
Por meio desse boxe, os estudantes poderão refletir
dunidenses, que não cumpriram papel no encerramento do
sobre os campos de concentração e os guetos como espa-
conflito, mas serviram de alerta para o mundo sobre o pode-
ços criados com o intuito de segregar e excluir judeus e
rio destrutivo das armas em posse dos Estados Unidos,
outras minorias consideradas indesejáveis pelo regime especialmente à União Soviética. Para aprofundar esse tema
nazista. Sugere-se exibir imagens desses locais, facil- e estabelecer uma relação com o Brasil, leia a tese “A Asso-
mente encontradas na internet, para discutir como a orga- ciação Hibakusha Brasil pela Paz e os sobreviventes de
nização espacial e a arquitetura desses locais refletia o Hiroshima e Nagasaki no Brasil”, de André Lopes Loula, sobre
esforço de sujeição e opressão desses setores. os japoneses que sobreviveram às bombas atômicas e vie-
Nos guetos, cercas de arame farpado e torres de con- ram para o Brasil. Disponível em: https://tede2.pucsp.br/
trole impediam o deslocamento dos judeus para outras handle/handle/19970. Acesso em: 4 jul. 2020.

LXIV
Boxe: O diário de Anne Frank rialista, ainda que a presença europeia já fosse
Faça uma leitura do trecho com os estudantes e ques- sentida em algumas regiões africanas e asiáticas.
tione-os sobre como eles imaginam que era a vida das c) O continente africano e demais países vítimas do
crianças e jovens durante a guerra. Com base no relato de imperialismo foram transformados em áreas do-
Anne Frank, espera-se que eles observem que as crianças minadas por outros países do ponto de vista eco-
judias eram sujeitas a um cotidiano de restrições à liber- nômico e político, sendo obrigados a seguir diretri-
dade, uma vez que uma série de imposições e proibições zes relacionadas aos interesses políticos dos países
recaía sobre elas e suas famílias. É possível também fazer europeus e do capitalismo. Esses países tiveram
um trabalho interdisciplinar com a área de Literatura e suas fronteiras artificialmente criadas o que levou
aprofundar o estudo da obra. a grandes conflitos étnicos, perderam reservas de
matérias-primas, sofreram com a violência dos
P. 65 imperialistas e perderam sua autonomia política e
econômica.
Atividades 3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes iden-
1. a) No trecho, o autor destaca a visão dos colonos da tifiquem semelhanças e diferenças entre esses dois
Nova Inglaterra sobre os territórios até então deso- eventos buscando posicionar-se criticamente. Ques-
cupados por eles, tidos como “terras incultas” que tões como o expansionismo territorial da Alemanha e
deveriam ser desenvolvidas. Assim, vê-se que os de outras nações, a violência, o uso de tecnologias
colonos desconsideravam a presença dos povos bélicas cada vez mais sofisticadas, a formação de alian-
nativos naquelas regiões, consideradas “vazios” a ças, as mudanças no mapa europeu, dentre outras, são
serem preenchidos e civilizados. O avanço sobre os elementos comuns aos dois conflitos. Por outro lado,
territórios indígenas na Marcha para o Oeste foi a a Segunda Guerra se diferencia da Primeira pela pre-
concretização desse ideal missionário e etnocêntrico. sença dos regimes totalitários; a perseguição e morte
em massa de judeus, comunistas, ciganos, homosse-
b) Vê-se a noção de “missão civilizatória” presente tanto
xuais etc.; a existência de campos de concentração e
no imperialismo estadunidense como no europeu. Ao
uma política de extermínio; o uso da energia nuclear
investir-se dessa tarefa, os agentes imperialistas im-
são características que diferenciam as guerras. Esti-
punham a sua concepção de religião e de desenvolvi-
mule-os a justificar seu posicionamento com relação
mento sobre os demais povos americanos, asiáticos
à afirmação do historiador Eric Hobsbawm.
e africanos. Ao trabalhar essa atividade, sugere-se
mencionar o processo de expansão colonial para a 4. Auxilie os estudantes a fazer suas pesquisas em fontes
costa oeste do atual Estados Unidos, bem como os confiáveis: jornais e revistas conhecidos, artigos cien-
processos de conquista e compra de territórios como tíficos, teses e dissertações, revistas acadêmicas,
o Texas e a Louisiana, que contribuíram para a confi- revistas de História ou Ciências Sociais etc.
guração dos limites e fronteiras do país tal como ele é a) Sobre a Primeira Guerra podem ser citadas as
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
hoje. Outro assunto a ser pontuado é a relação dos disputas pelo território da Alsácia Lorena, os mo-
Estados Unidos com os países latino-americanos nos vimentos nacionalistas por independência nos
DA EDITORA DO BRASIL
séculos XIX e XX, marcada pela Doutrina Monroe, o Bálcãs e o conflito por territórios entre o Império
imperialismo de Roosevelt e a continuidade de inter- Russo e o Império Turco Otomano, entre outros
venções no continente durante a Guerra Fria, como exemplos. Já a Segunda Guerra pode ser associa-
será tratado na próxima unidade. Destaque que em da às investidas expansionistas do Eixo e à forma-
eventos como a independência de Cuba, os Estados ção de uma aliança de contenção pelos Aliados.
Unidos participaram buscando os seus próprios inte- Nos antecedentes do conflito estava a invasão de
resses políticos e econômicos. territórios da Tchecoslováquia, da Áustria e da
2. a) A charge representa sete homens brancos bem ves- Polônia pelos exércitos nazistas.
tidos. Seis deles estão sentados em volta de uma b) Podem ser apontados processos como o fim da
mesa onde há um tipo de bolo redondo onde se pode União Soviética, ao final da década de 1980, que
ler “África”, o sétimo homem, que parece maior e levou ao desmembramento em países como a
mais poderoso, está com uma faca na mão repar- Rússia, Letônia, Estônia, Lituânia, Ucrânia, Bielor-
tindo o bolo (que representa a África) em partes. rússia e Moldávia; a dissolução da Tchecoslováquia
b) A charge faz alusão à Conferência de Berlim que em 1933, resultando na divisão em República
ocorreu em 1885 na qual os países industrializados Tcheca e Eslováquia; a dissolução da Iugoslávia em
dividiram o continente africano (como representa a Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina,
charge) e outras partes do mundo entre si, determi- Sérvia, Montenegro e Macedônia; os processos de
nando as zonas de exploração de cada um. O even- independência e reconhecimento internacional
to é considerado um marco no colonialismo impe- do Kosovo. Podem ser mencionados, ainda,

LXV
processos recentes que envolvem a disputa de Além do controle econômico, estratégias politicas são
territórios na Europa Oriental, como as tensões usadas para desestabilizar governos que exercem controle
entre Rússia e Ucrânia pelo estreito de Kerch. sobre seus recursos naturais. O conceito de guerra híbrida,
com ferramentas de diferentes naturezas, é cada vez mais
P. 66-68
atual. Lawfare (uso do Judiciário para perseguição de opo-
Relações imperialistas no capitalismo sitores), financiamento de manifestações antigoverno, e
moderno sanções econômicas são algumas das ferramentas usadas
no contexto atual.
Nessa unidade, o tema das relações internacionais é
abordado para além do Estado nacional. Embora a sobe- P. 69-70
rania nacional seja um dos pressupostos do Estado
moderno, diferentes experiências históricas mostram que Internacionalismo: solidariedade entre
o poder de um Estado sobre si mesmo pode ser contestado povos e nações
e colocado sob domínio político ou econômico de outro.
A busca histórica por relações harmônicas e solidárias
Os diversos entendimentos do conceito de soberania entre os diferentes povos do mundo é chamada de inter-
nacional podem ser discutidos com os estudantes. De nacionalismo e parte do pressuposto de que problemas
acordo com um dos princípios da Revolução Francesa, a comuns atingem diferentes nações. O internacionalismo
soberania de um Estado reside no povo e em sua vontade. liberal e o internacionalismo operário são exemplos estu-
Para Hegel, a soberania é discutida na condição da unidade dados na unidade.
do Estado, para além dos indivíduos. Rousseau desenvolve
Destaque as diferenças entre os conceitos de imperia-
a concepção de que a soberania reside no contrato social.
lismo, internacionalismo e globalização, que podem ser
Na modernidade, refere-se ao poder mais elevado do
Estado. Diferenciar essa caracterização do poder absoluto confundidos pelos estudantes. É possível demonstrar as
ou autoritário pode levar os estudantes a compreender as relações de poder existente nos três processos e as dife-
diferentes configurações de poder. rentes formas de cooperação e relação. Alguns temas
ligados a diplomacia internacional, como o método de soft
Outro tema trabalhado é a desigualdade entre os países,
power, a formação dos diplomatas no Brasil, a criação e o
que se manifesta no poder dos Estados Nacionais cuja bur-
papel das embaixadas, os organismos e encontros inter-
guesia e o desenvolvimento industrial são mais poderosos,
nacionais, como os promovidos pela ONU, propiciam aos
em detrimento dos países fora do centro do capitalismo, que
muitas vezes ficam submetidos às demandas econômicas estudantes compreender como os Estados Nacionais
daqueles com maior potencial bélico e industrial. desenvolvem suas estratégias de soberania.

Maquiavel, no século XV, cita que os Estados constante- P. 71


mente tentam dominar outros, seja para ampliar seu con-
trole e poder econômico, seja para se proteger. E, para tanto, Atividades
diferentes métodos favorecem esse processo, sendo um
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
deles, a desestabilização e ruína do pais a ser dominado.
1. a) O link a seguir apresenta uma cronologia do conflito
DA EDITORA DO BRASIL
Séculos depois, tal relação desigual entre os Estados ainda e suas consequências que pode servir como refe-
se faz presente, sendo uma das expressões dos conflitos rência para o trabalho realizado com os estudantes:
internacionais contemporâneos. Compreender tais relações https://oglobo.globo.com/mundo/cronologia
auxilia o estudante a conectar seu cotidiano com os movi- -coreia-do-norte-vive-trajetoria-de-desconfianca
mentos mais complexos das relações internacionais. -tensao-3137072. Acesso em: 26 ago. 2020.
O neocolonialismo no século XIX e a influência exercida b) A ONU representava os interesses norte-america-
sobre os países que ficaram independentes durante a Guerra nos no conflito. Em 1947, a ONU cria um grupo
Fria são exemplos modernos de que a relação solidária entre não autorizado pela União Soviética, para impor
diferentes Estados Nacionais não é um consenso, com o uso eleições gerais no país, o que acirra os conflitos.
militar e bélico para domínio de outras nações. Com a queda Em 1950, após alegar invasão da Coreia do Sul
do bloco soviético e o avanço da perspectiva de um mundo
pela Coreia do Norte, a ONU manda tropas coman-
multipolar alteram as formas de um Estado exercer controle
dadas pelo exército americano para expulsar os
sobre outro e passou a ser exercida por grandes conglome-
soviéticos de Seul.
rados de empresas multinacionais, que, por sua vez, passa-
2. Pela análise dos dados, a Coreia do Sul tem índice maior
ram a monopolizar o processo produtivo das regiões em que
se estabeleciam, principalmente da indústria de base, em todas as categorias, exceto em áreas cultivadas.
usando mão de obra local, pagando baixos salários e 3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes apre-
enviando os lucros para seus países de origem, além de sentem em seus textos como a interferência interna-
explorarem os recursos naturais, como foi o caso da extração cional realizada pelos Estados Unidos e União Soviética
do petróleo e da mineração. influenciou na divisão do país.

LXVI
P. 72 P. 77
Dinâmicas populacionais no mundo As migrações e o Trabalho
contemporâneo Aborde as relações de dependência entre os países em
Realize uma apresentação dos aspectos demográficos desenvolvimento/periféricos e os países desenvolvidos/
que serão utilizados no estudo dos tópicos seguintes, como centrais. Grande parte dos migrantes, sejam eles consi-
o cálculo das taxas de natalidade, de fecundidade e de derados como mão de obra qualificada ou não qualificada,
mortalidade, além da questão das migrações interna e tende a ser absorvida nos países de média e alta renda,
externa no saldo da população. Sugerimos um debate abastecendo o seu mercado de trabalho com profissionais
sobre a importância dos estudos demográficos no âmbito com salários reduzidos, em comparação aos salários dos
do planejamento governamental. profissionais não migrantes. Fluxos migratórios muito
intensos podem comprometer o desenvolvimento econô-
P. 72-73 mico dos países que são polos repulsores, já que a perda
de mão de obra fragiliza o mercado de trabalho local,
Transição demográfica
sobretudo quando envolve a fuga de cérebros.
É possível realizar considerações mais aprofundadas
com os estudantes sobre as implicações do processo de P. 78-79
transição demográfica nas sociedades, no geral, e sobre as
políticas públicas voltadas a cada estrato da população, em Conexões: grandes pandemias da história
específico. Apresente como exemplo dados pertinentes ao e seu impacto nas populações
Brasil e a outros países do mundo, caso seja possível. A seção tem como objetivo apresentar algumas infor-
Destaque como o conhecimento sobre os aspectos mações e dados sobre as grandes pandemias que ocorre-
demográficos é crucial para o conhecimento da população ram ao longo da história, destacando suas implicações
e para o levantamento de dados e informações que auxi- demográficas e problematizando a questão das represen-
liem no atendimento de suas demandas. tações gráficas utilizadas para exibição de dados. De modo
Comente que, apesar de haver uma redução da taxa de a mobilizar o tema transversal contemporâneo saúde, ao
crescimento populacional nas últimas décadas, há um signi- abordar as consequências de grandes pandemias na his-
ficativo aumento absoluto da população mundial, tendência tória mundial, a seção favorece um trabalho interdiscipli-
que se manterá no restante deste século, de acordo com nar com matemática ao propor a análise da evolução das
estudos da ONU (2019a, 2019b). No entanto, a dinâmica pandemias por meio das escalas linear e logarítmica, além
demográfica varia bastante entre as diversas regiões do de um gráfico de regressão.
mundo. É recomendável que essa diversidade seja abordada
RESPOSTAS
tendo em vista os distintos níveis de desenvolvimento de cada
região e país, inclusive o papel que eles desempenham a) Em todos os gráficos, o eixo vertical representa o
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
enquanto polos de atração ou de repulsão de migrantes no número de pessoas infectadas com a Covid-19 e o eixo
horizontal representa diferentes momentos nos quais
DA EDITORA DO BRASIL
cenário internacional. Este último aspecto será aprofundado
os dados foram coletados.
nos itens seguintes, mas é interessante já indicar sua impor-
tância dentro desse debate mais específico, sobre o cresci- b) No Gráfico 1, a curva formada pela ligação dos pontos
mento e a distribuição da população pelo mundo. é conhecida como interpolação linear, ela serve para
termos uma noção do comportamento do número de
P. 76 casos entre cada medida realizada e dar uma ideia do
comportamento geral dos dados, porém não ajuda a
Fluxos migratórios mundiais prever como a curva se comportará sobre casos futu-
Comente com os estudantes não apenas o crescimento ros. Trata-se de um gráfico com escala linear, ou seja,
do número de migrantes nos últimos anos, mas, sobretudo, os valores indicados nos eixos horizontal e vertical
o que leva as pessoas a migrar de um país para outro. crescem a uma taxa constante/proporcional.
Grande parte dos fluxos migratórios é motivado pela busca No Gráfico 2, cada trecho do eixo vertical teve o valor
por melhores condições de vida por parte de pessoas que multiplicado por 10. Essa é a principal característica
vivem em situações muito precárias, que inclusive sob que distingue um gráfico “linear” (com escala propor-
risco de morte. Migrar, nesse contexto, é uma decisão pau- cional) de um gráfico em escala logarítmica. Neste tipo
tada na busca pela sobrevivência. Portanto, é pertinente de gráfico, distâncias iguais no eixo vertical não repre-
desmistificar as migrações internacionais sob o olhar do sentam o mesmo acréscimo nos valores totais repre-
senso comum, que, por vezes, relaciona os fluxos migra- sentados. Considerando que somente o eixo vertical
tórios com decisões voluntárias, sendo que, em grande está em escala logarítmica e que o eixo horizontal foi
parte dos casos, as migrações são forçadas. mantido na escala linear, pode-se dizer que é uma es-

LXVII
cala “semilogarítmica” (ou semilog). Neste tipo de Destaque que a condição de apátrida é decorrente de
gráfico, quanto mais próximo de uma reta os dados se embates políticos no cenário global que resultam no não
apresentam, mais eles se aproximam de um compor- reconhecimento da soberania de determinados territórios
tamento exponencial, ou seja, velocidades de cresci- e respectivos grupos que compartilham uma identidade
mento distintas ao longo do tempo. Dessa maneira, nacional. Geralmente esses embates estão associados a
podemos ver que nos primeiros dias o número de ca- processos inconclusos de independência ou desmembra-
sos se multiplicou por dez numa velocidade mais ace- mento de países.
lerada, já nas últimas semanas temos uma diminuição
na velocidade de aumento dos casos. P. 83
c) O Gráfico 3, além de mostrar os pontos com dados
reais, exibe uma curva chamada regressão (ou proje-
Atividades
ção), que ajuda a ter uma ideia do comportamento 1. Quanto maior o nível de desenvolvimento socioeconô-
geral dos dados no futuro. A previsão apresentada foi mico de uma região ou território (seja um município,
calculada a partir do último período de duplicação de estado ou país), menores as taxas de natalidade, de
casos/óbitos observados. Se o país demorou cinco dias fecundidade e de mortalidade. Isso ocorre porque, por
para duplicar os casos, o modelo assume um compor- um lado, as mulheres tendem a participar mais efetiva-
tamento linear e projeta um novo intervalo de tempo mente do mercado de trabalho e têm maior acesso a
para a duplicação em cinco dias, distribuindo os casos métodos contraceptivos e ao planejamento familiar,
igualmente para esse período. O modelo é dinâmico e aspectos que culminam na maternidade mais tardia e
à medida que novas informações são adicionadas, os numa menor quantidade de filhos por mulher, fatores
cálculos são refeitos. que levam à menores taxas de natalidade e de fecun-
didade. Por outro lado, as menores taxas de mortalidade
P. 80-81 estão diretamente associadas a um maior acesso aos
serviços de saúde (públicos ou privados), à menores
As migrações e as relações internacionais índices de violência e à padrões de consumo mais ele-
Ressalte a dimensão política dos fluxos migratórios, vados, que, por sua vez, influenciam no acesso à alimen-
seja o uso das migrações como ferramenta política para tação e à moradia adequadas. Esse conjunto de fatores
mobilizar a opinião pública (geralmente com discursos propicia melhor qualidade de vida e bem-estar para a
xenofóbicos), seja o envolvimento da diplomacia na con- população, o que tende a aumentar sua expectativa de
formação de atos internacionais (tratados, convenções, vida. Dessa maneira, nas regiões com indicadores
acordos etc.) que dizem respeito à problemática das socioeconômicos mais elevados, como o Sul e Sudeste
migrações. No cerne das discussões há embates políticos do Brasil, a tendência é que a dinâmica demográfica
entre aqueles que defendem o respeito aos direitos huma- apresente menores taxas de natalidade, de fecundidade
nos (a exemplo de políticas favoráveis ao acolhimento e de mortalidade, ainda que algumas localidades fujam
digno de refugiados, asilados políticos e apátridas) e aque- um pouco à esse quadro geral, devido às suas especi-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
les que defendem uma postura conservadora que restringe ficidades; nas regiões com indicadores socioeconômicos
mais baixos, a tendência é inversa.
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o acolhimento dos mais vulneráveis e impõe a segregação
socioespacial aos migrantes. 2. Espera-se que os estudantes pontuem que, no
período entre 2010 e 2020, grande número de paí-
P. 81-82 ses teve saldo migratório positivo, ou seja, a dife-
rença entre saídas e entradas em determinado ter-
O asilo político no âmbito das relações ritório, ao passo que há importantes registros de
diplomáticas saldo negativo. Ao analisar os saldos positivos, veri-
Aprofunde o debate sobre os acordos bilaterais e mul- fica-se que Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido,
tilaterais a respeito do asilo político, uma vez que, as nor- Canadá, Austrália, entre outros, têm destaque, o que
mas internacionais regulam em quais casos um país pode se se explica, também, pelo alto desenvolvimento
acolher refugiados, quais são as garantias de proteção dos econômico desses países e as oportunidades que os
asilados nos países acolhedores, bem como as regras de imigrantes vislumbram nesses locais. Por outro lado,
repatriação. países com saldos negativos, relacionam-se à loca-
lidades em que os indivíduos enfrentam dificuldades
P. 82 econômicas ou mesmo correm risco de vida, devido
a conflitos e instabilidades políticas, como na Vene-
O impasse que envolve os apátridas zuela e em Mianmar.
Comente com o estudante o significado dostatus polí- 3. Resposta pessoal. Os estudantes podem buscar dados
tico e as limitações que os apátridas enfrentam por não e informações em sites de instituições oficiais como a
serem considerados cidadãos de nenhum país soberano. ONU e Banco Mundial. É conveniente sugerir a busca

LXVIII
pelas pirâmides etárias dos países, as quais auxiliam contexto de uma violenta guerra civil. Acompanhando os pro-
a entender e localizar a posição do país na transição tagonistas, o leitor é levado aos mais diversos cenários geo-
demográfica. gráficos e humanos, numa surpreendente jornada. O livro
está entre os dez melhores do ano de 2017, segundo o jornal
The New York Times e a revista Time.
INDICAÇÕES
COMPLEMENTARES MOLEN, Janny van Der. O mundo de Anne Frank: lá fora, a
guerra. São Paulo: Rocco, 2015.
Filmes O livro é fruto de uma pesquisa científica sobre Anne Frank, sua
família e os elementos tratados pela jovem judia em seu diário.
A lista de Schindler, direção de Steven Spielberg. Estados
Unidos, 1993 (195 min).
RODRIGUES, Luiz Cesar B. A Primeira Guerra Mundial. São
Esse é um dos mais conhecidos filmes sobre a Segunda Guerra Paulo: Atual, 1994.
que conta a história de um empresário alemão que conseguiu
As principais causas, consequências e características da Pri-
salvar vários judeus dos campos de concentração da Polônia.
meira Guerra Mundial em linguagem acessível aos estudantes.
Feliz Natal, direção de Christian Carion. Alemanha, França
Série
e Reino Unido, 2005 (116 min).
O filme é baseado em fatos verídicos quando, durante a Pri- A guerra do Vietnã, de Ken Burns e Lynn Novick. Direção de
meira Guerra, soldados franceses que celebraram a noite de Ken Burns e Lynn Novick. Estados Unidos, 2017.
Natal com seus inimigos num momento de trégua. Série documental de 10 episódios com imagens, entrevistas
e analises sobre a Guerra do Vietnã.
Filho de Saul, direção de László Nemes. Hungria, 2016
(107 min). Site
Na trama, o prisioneiro do campo de concentração de Ausch-
MigraMundo. Disponível em: https://www.migramundo.
witz, Saul, é obrigado a trabalhar na limpeza das câmaras de
com. Acesso em: 26 ago. 2020.
gás para os nazistas. Propondo um olhar inovador sobre a Se-
gunda Guerra Mundial e seus horrores, já bastante tratados Contém notícias e relatos sobre problemas vividos por migran-
na cinematografia, o filme foca a sensibilidade e a subjetivi- tes dentro e fora do país como avanços e reconhecimentos
dade das vítimas do nazismo. obtidos na questão migratória.

Fogo no mar, direção de Gianfranco Rosi. Itália e França, UNIDADE 3


2016 (114 min).
O ENFRAQUECIMENTO DOS
O documentário aborda a crise migratória atual, destacando
o drama de imigrantes da África e do Oriente Médio que arris-
ESTADOS E DAS FRONTEIRAS
cam a vida atravessando o Mar Mediterrâneo para chegar à
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Europa. Para tanto, o documentário foca a passagem dos imi- VISÃO GERAL
grantes na ilha de Lampedusa, na costa sul da Itália, local que
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se tornou o principal ponto de desembarque de milhares de Esta unidade foi desenvolvida com base na habilidade
imigrantes ilegais que buscam refúgio no continente europeu. EM13CHS202 da BNCC. Inicialmente, foram analisados e
avaliados os impactos das tecnologias na estruturação e
Livros nas dinâmicas das sociedades contemporâneas com base
BRUIT, Hector H. O imperialismo. São Paulo: Atual, 2013. nos estudos dos filósofos Michel Foucault e Gilles Deleuze
sobre as tecnologias do poder e da sociedade de controle.
De forma didática o autor trata dos principais eventos que
A competência geral 1 da BNCC também é abordada, além
marcaram o imperialismo, analisando conceitos e processos
históricos. de o tema contemporâneo transversal cidadania e civismo
ser desenvolvido em alguns momentos do tópico.
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. Rio de Janeiro: Re- Em um segundo momento da unidade, destaca-se
cord, 1995. que, para alguns autores contemporâneos, o que carac-
O famoso diário da jovem judia que ficou escondida por longo teriza o ordenamento político e social do pós-Segunda
período durante a Segunda Guerra Mundial e acabou morta Guerra Mundial é a migração do controle sobre o exer-
em um campo de concentração nazista. cício do poder dos espaços que antes correspondiam à
autoridade estatal nacional para aqueles relativos aos
HAMID, Mohsin. Passagem para o Ocidente. São Paulo: direcionamentos dos capitais pelos mercados financeiros.
Companhia das Letras, 2018. Por esse motivo, os Estados Nacionais entendidos como
Os jovens Saeed e Nadia iniciam um romance em meio à gra- instâncias soberanas que se delimitavam mais ou menos
ves conflitos religiosos que segregam a sociedade e no claramente por suas fronteiras, as quais demarcavam

LXIX
a vigência de suas normas particulares, foram progres- Essa moldagem não é mediada somente pelos disposi-
sivamente deslocados dos centros decisórios. Esse movi- tivos e coerções diretamente legais. Ao contrário, nos
mento estabeleceu mecanismos internacionais de pensamentos de Foucault e de Deleuze, ela aparece como
controle e fixação de normas econômicas e sociais que conteúdo formal de toda e qualquer relação social pela
resultaram no estabelecimento de formas de descentra- qual se fixam assimetrias, hierarquias e direcionamentos.
lização estatal, ao mesmo tempo que submeteu as par- Nesse sentido, a abordagem conceitual, a discussão
ticularidades das diversas nações a modos homogêneos dos autores e as atividades propostas visam estimular o
de tratar um conjunto importante de questões. estudante a compreender criticamente a complexidade
A abordagem histórica desta unidade é centrada na do desenvolvimento histórico capitalista. Tal compreen-
Guerra Fria e seus desdobramentos em diferentes partes são possibilita o entendimento qualificado e crítico da
do mundo, desde a Guerra do Vietnã às ditaduras na Amé- realidade, da superação potencial das aparências das
rica Latina, possibilitando um aprofundamento das habi- relações e do conjunto de pressupostos e implicações da
lidades EM13CHS204 e EM13CHS206. A reconfiguração vida em sociedade.
política do mundo com a queda da União Soviética também
é abordada, incentivando o estudante a refletir sobre a P. 84-85
passagem da ordem bipolar para a chamada Nova Ordem
Michel Foucault e as tecnologias do poder
Mundial e, então, para a ordem multipolar que vivemos
hoje, e apropriar-se de processos históricos fundamentais Para Michel Foucault, o poder não tem um lugar privi-
para a compreensão do mundo contemporâneo. legiado. Ele se irradia do Estado e estabelece diversas
formas de controle social. Assim, todas as interações pelas
As transformações sociais e tecnológicas que marcam a
quais se realizam os contatos e se constroem as conexões
sociedade nos anos 1970, com o aprofundamento da globa-
sociais se constituem como espaços de exercício de poder.
lização e a adoção do neoliberalismo como política econô-
mica, são analisadas a partir de seus avanços e contradições. Deve-se chamar a atenção para a consideração funda-
A Sociologia oferece os principais conceitos desse processo, mental do filósofo francês, segundo a qual todos os indiví-
auxiliando no desenvolvimento das habilidades que permi- duos são resultados das ações que os diversos poderes,
tem ao estudante compreender o mundo contemporâneo presentes nas esferas de suas vidas, exercem sobre eles.
global e seus desdobramentos na vida cotidiana. Estimule os estudantes a refletir sobre a educação que rece-
bem em suas famílias, relacionando os seus princípios ao
A abordagem geográfica da unidade mobiliza a habili-
modo como se comportam em relação à sua postura, como
dade EM13CHS202, pois favorece reflexões e debates
se relacionam com o próximo e como acatam ou resistem às
acerca das configurações relacionadas aos fluxos de capi-
autoridades e às suas concepções sobre o mundo e a vida.
tais, pessoas e informações no mundo contemporâneo,
Sugira que eles analisem a escola, reparando em sua
focando, particularmente, na estruturação de um mundo
arquitetura e refletindo sobre como os espaços escolares
multipolar e na ressignificação das relações internacionais
influenciam no comportamento dos estudantes e profes-
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no pós-guerra Fria, considerando avanços tecnológicos,
sores. Solicite que avaliem o sentido da formação que
formação de blocos econômicos, fluxos diversos e algumas
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das crises cíclicas do sistema capitalista.
recebem: “Vocês são educados para quê?”.
Leve-os a discutir sobre os avanços científicos, as polí-
ticas sociais nas áreas da saúde e do saneamento básico,
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS os direitos trabalhistas, incentivando-os a avaliar e se posi-
cionar quanto ao entendimento de Foucault de que se trata
P. 84
de dispositivos de poder sobre a vida, ou seja, da biopolítica.
O poder para além das fronteiras
Boxe: O panóptico e a busca pelo controle
do Estado
Neste boxe, destacam-se aspectos referentes ao sistema
Esta unidade tem como tema o exercício do poder, de ordenação dos espaços e das relações que têm a cons-
que é aqui considerado em uma acepção genérica e trução do disciplinamento e o controle sobre os indivíduos
ampla, conforme algumas elaborações da filosofia do como função. Comente que o modelo adotado pelo sistema
século XX. Concebido como a força que estabelece os prisional pode ser interpretado como um verdadeiro para-
parâmetros de delimitação social, as fronteiras entre o digma do disciplinamento social efetivo. Na medida em que
adequado e o inadequado, entre o lícito e o ilícito, o poder os indivíduos são vigiados por uma instância posicionada
extrapola o âmbito do Estado. de modo a ver os prisioneiros, mas não é vista por eles, o
O poder passou a ser entendido como algo não apenas controle disciplinar se exerce não somente como um movi-
político, centrado no Estado, mas também como o exer- mento de coação externa, mas também e, principalmente,
cício de um comportamento que modela vidas e relações. de forma internalizada pelos indivíduos vigiados. Uma vez

LXX
que as pessoas não sabem se estão ou não sendo vistas, o b) Resposta pessoal. Os estudantes devem ser ca-
controle disciplinar se exerce pela mediação da opacidade pazes de enxergar e observar em sua realidade
da situação. É importante que os estudantes percebam que traços do que caracteriza o biopoder, desde a
as formas de controle são exercidas de maneira não expli- constituição de sistemas de identificação de indi-
citamente coativa, pois podem ser realizadas de modo efe- víduos e grupos até os esquemas de controle da
tivo. Discuta a analogia que Foucault faz com os espaços população, passando pelos sistemas de atendi-
escolar e de trabalho. O sistema de panóptico continua em mento e seguridade social.
vigência? De que forma? 2. Esta atividade pressupõe a compreensão e a compa-
ração dos dois conceitos estudados na unidade.
P. 85-87 Tendo isso por base, estimula-se o desenvolvimento
da habilidade de relacionar a realidade vivida com
Gilles Deleuze e a sociedade de controle o que foi estudado na teoria. Aqui, a escola como
De certa maneira, esse tópico dialoga com a temática do espaço de vivência e convivência diário se torna um
disciplinamento posta em discussão por Foucault, mas objeto de observação reflexiva, tendo por matriz as
Deleuze chama a atenção para a transformação essencial definições distintas de disciplinamento e controle.
das relações de poder. Segundo ele, essas relações não 3. Esta atividade pressupõe a mobilização de diversas
mais se vinculam a certas instâncias nas quais elas explici- habilidades. Os estudantes devem ter a compreensão
tamente se realizam, mas passam a se distribuir de maneira dos conceitos e elementos contidos no texto de
dissipada por todas as mediações, mesmo aquelas que Deleuze. A partir disso, devem ser capazes de iden-
parecem ser neutras, como as tecnologias de informação, tificá-los tanto na realidade brasileira quanto na de
comunicação e levantamento de dados, por exemplo. outros países, a fim de que se posicionem e opinem
Deve-se ressaltar que, para Deleuze, não é mais o caso em relação a eles. Por se tratar de atividade em grupo,
de disciplinamento, mas sim de controle das formas da os estudantes devem ser capazes de, individual-
interação e das mediações que as possibilitam. mente, argumentar a respeito de suas posições e
defender seus pontos de vista. Devem, igualmente,
Os estudantes devem refletir, com base nas colocações
ser sensíveis ao pensamento divergente e estar dis-
do filósofo, sobre suas atividades na internet, a captura de
postos a rever suas posições em virtude de argumen-
seus dados e o direcionamento de informações conforme
tações mais bem fundamentadas.
suas concepções e estilo de vida, hábitos de consumo e
outros. Solicite que eles pesquisem na mídia informações P. 89
sobre apropriações indevidas de dados e sobre manipula-
ção da opinião pública a partir disso. Da Guerra Fria à nova ordem mundial
Comente sobre a relação atribuída por Deleuze entre a Caso considere oportuno, liste, com os estudantes, as
sociedade de controle e a nova configuração do sistema capi- principais características do comunismo e do capitalismo.
talista. Solicite que os estudantes reflitam sobre a indução Essa diferenciação é importante para que eles entendam
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
de seus comportamentos por meio do marketing direcionado. o que estava em jogo na época em questão e qual foi a
DA EDITORA DO BRASIL
Leve-os a avaliar suas condutas pessoais diante do novo importância das conquistas de áreas de influência pelas
panóptico produzido pela interatividade tecnológica em rede. duas potências: Estados Unidos e Rússia. Duas obras da
Coleção Primeiros Passos, publicada pela Editora Brasi-
P. 88 liense, podem ser recomendadas aos estudantes que qui-
serem se aprofundar no tema: O que é comunismo?, de
Atividades Arnaldo Spindel, e O que é capitalismo?, de Afrânio Mendes
1. a) Para realizar a atividade, o estudante deve, ini- Catani, ambas de 1980.
cialmente, compreender a argumentação de Proponha uma leitura e análise conjuntas da definição
Foucault que separa o poder da figura do Estado de Guerra Fria no trecho citado do historiador Maurício
e o remete à sociedade como um todo e a cada
Parada. Espera-se que eles notem que o conflito foi mar-
um de seus nichos relacionais particulares.
cado principalmente por uma competição de poderio
Depois, posicionar-se diante de tal argumentação,
bélico e de capacidade tecnológica. Contudo, como será
ou seja, demonstrar competência para ponderar
tratado mais adiante, estadunidenses e soviéticos enfren-
e ajuizar acerca do pensamento do autor. Afinal,
taram-se indiretamente em diversas guerras.
o poder pode ser mesmo entendido de forma tão
dispersa, ou, ao contrário, haveria uma instância Sugere-se aproveitar o momento para tratar mais
real de exercício que fosse a sua esfera por exce- detidamente sobre a chamada “conquista do espaço”.
lência? Para tanto, é necessário desenvolver a Comente que a Rússia saiu na frente na corrida espa-
competência de comparar uma elaboração con- cial ao lançar o satélite artificial na órbita terrestre, em
ceitual com a realidade vivida. outubro de 1957. A façanha chocou o mundo ocidental,

LXXI
tendo sido o primeiro passo na conquista do espaço. prevista na Carta do Atlântico, documento aprovado em
Em 1969, foi a vez dos Estados Unidos de fazer algo 1941 pelos mesmos líderes, antecessor da Organização das
jamais visto: o sucesso da missão Apollo 11, que levou Nações Unidas (ONU), órgão principal da diplomacia mun-
uma missão tripulada a pisar no solo lunar e provou dial criado ao final da guerra.
que era possível a exploração da Lua e de planetas Com a divisão da Alemanha em República Democrática
próximos ao Sistema Solar. da Alemanha (RDA) e República Federal da Alemanha
Destaque que, com o tempo, os conhecimentos sobre (RFA), a região metropolitana de Berlim foi apartada pelas
o espaço se avolumaram e as tecnologias espaciais se duas zonas de influência, separadas por um muro de 43
tornaram mais sofisticadas. De 1998 a 2011, russos e quilômetros de extensão. Tratava-se de uma verdadeira
estadunidenses colaboraram para a construção da Estação fronteira física estabelecida pelos soviéticos em meio ao
Espacial Internacional, um laboratório que conta com a espaço urbano, que impedia o trânsito livre dos moradores
presença humana permanente no espaço. Atualmente, o e alterava drasticamente o modo de vida na cidade. Após
uso de robôs e sondas têm permitido a coleta de amostras fazer a leitura do boxe, peça que os estudantes analisem
e o estudo do solo de Marte e da Lua. o mapa da cidade de Berlim e chame a atenção para o
Pode ser interessante discutir com a turma sobre a ideia traçado do Muro de Berlim, estimulando a análise dessa
de tornar a humanidade multiplanetária, que vem mobili- construção como uma divisão física e simbólica entre a
zando investimentos de algumas empresas na atualidade. Alemanha Oriental e a Ocidental. Questione também as
razões que levaram os soviéticos a erguer o muro, fazendo
Essas empresas ambicionam iniciar o turismo espacial em
com que os estudantes elaborem reflexões e análises
um futuro não muito distante. Vislumbra-se até mesmo a
sobre o assunto.
colonização da Lua e de Marte, o que levaria a alcançar
fronteiras ilimitadas: o espaço sideral. Sugere-se demonstrar para eles onde Berlim se localiza
na Alemanha e destacar que a cidade não ficava na divisa
P. 90 entre Alemanha Ocidental e Oriental, o que é comumente
assumido por alguns. Comente que, pela posição geográ-
A oposição entre Estados Unidos fica, a cidade ficaria sob controle soviético. No entanto,
e União Soviética por ser a capital da Alemanha, ela também foi dividida
Ressalte a importância da Doutrina Truman e do Plano entre as potências vencedoras da Segunda Guerra.
Marshall como estratégias fundamentais dos Estados Uni-
dos durante a Guerra Fria no combate à expansão do comu- P. 91
nismo. Naquele período em que muitos países haviam sido
Formação de alianças militares
destruídos ou empobrecidos pela guerra, os Estados Uni-
dos entendiam a necessidade de fornecer ajuda financeira É pertinente comentar com os estudantes que a Orga-
para que não tivesse motivos para se aproximar da União nização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), criada no
das Repúblicas Socialistas Sov­­­­­­­­­­­­­­­iéticas (URSS). Como res- contexto da Guerra Fria como um braço armado dos países
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
posta, o Council for Mutual Economic Assistance, ou Con- capitalistas para conter a expansão soviética, existe até
DA EDITORA DO BRASIL
selho para Assistência Econômica Mútua (Comecon), hoje. Sugira a realização de uma pesquisa sobre os paí-
previa acordos comerciais e o fornecimento de suprimen- ses-membros da Otan atualmente, quais são suas funções
tos, permitindo a planificação da economia dos países e em que eventos recentes a organização esteve envolvida.
envolvidos e a centralização na produção soviética. Em seguida, proponha uma discussão sobre as formas de
atuação e seus limites. Essa atividade possibilita desen-
Boxe: Divisão da cidade de Berlim volver a habilidade EM13CHS603 da BNCC.
Explique aos estudantes que a proximidade do fim da
Segunda Guerra levou os líderes das principais potências Capitalismo e comunismo:
aliadas a se reunirem em fevereiro de 1945 na cidade da o uso da propaganda
Crimeia, então parte da União Soviética. Na Conferência A proposta desse item é apresentar a situação atual
de Yalta, o presidente dos Estados Unidos Franklin Delano do capitalismo global e dos países que se mantêm
Roosevelt, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill comunistas, compreender suas diferenças e mostrar de
e o secretário-geral do Partido Comunista soviético Josef que forma a propaganda foi utilizada pelas duas potên-
Stalin, discutiram caminhos possíveis para o fim do conflito cias como forma de levar a população a apoiar o regime
e o restabelecimento da paz mundial. político estabelecido. Proponha uma análise conjunta
Como decisão das potências, o território alemão foi divi- da capa do gibi do Capitão América, estimulando os
dido em quatro zonas. Houve também a preocupação em estudantes a identificar os personagens que represen-
recompor as democracias nos países ocupados pelo Eixo e tam os soviéticos e os estadunidenses e a forma como
promover a autodeterminação política e governamental, eles foram caracterizados.

LXXII
Sugere-se também conversar com os estudantes sobre
A Guerra Fria e as ditaduras
outras produções da Guerra Fria e como elas representam
latino-americanas
os conflitos do período, valorizando suas contribuições e
estimulando o protagonismo no processo de aprendizagem Relacione a vitória da Revolução Cubana, alinhada à URSS,
ao recrudescimento da política estadunidense de intervenção
coletivo. Aproveite para ressaltar o conceito de softpower
no demais países da América, sobretudo, da América Latina,
tratado anteriormente e problematizar o uso de ferramentas
para garantir a continuidade do alinhamento desses países
culturais na disseminação de ideologias políticas. É impor-
ao capitalismo. Alguns filmes podem ser usados para intro-
tante que eles observem como os filmes produzidos por
duzir as discussões sobre a influência dos Estados Unidos
Hollywood serviam para transmitir a ideia de que os heróis
nos contextos locais, junto às Forças Armadas dos países,
estadunidenses se dedicavam a lutar contra o mal encar-
que se investiam da tarefa de afastar “o perigo comunista”.
nado em personagens estereotipados como soviéticos.
O documentário O dia que durou 21 anos, de direção de
Camilo Galli Tavares, lançado em 2012, expõe a preparação
P. 92
para o golpe de 1964 por meio de imagens de arquivo e
Conflitos e guerras por procuração entrevistas com políticos e militantes da época. Na ficção
Missing – O Desaparecido, de Costa Gavras, lançado em
Com relação à crise dos mísseis em Cuba, explique aos
1982, o Chile é representado em meio aos acontecimentos
estudantes que esse momento foi um dos mais perigosos
do golpe perpetrado por Augusto Pinochet, sem deixar de
da Guerra Fria, quando pessoas do mundo todo, de fato,
destacar o apoio dos Estados Unidos ao regime ditatorial.
se sentiram ameaçadas por um conflito nuclear. Comente
que Cuba segue sendo um país socialista até os dias de P. 94
hoje, apesar das aberturas que vem fazendo para o turismo
e comércio internacional. Os governos militares
Nesse momento, é possível construir uma linha do
Boxe: O que são “guerras por procuração”? tempo das ditaduras latino-americanas explicitando suas
O boxe tem o intuito de familiarizar o estudante ao termo particularidades. Esse trabalho pode ser feito com base
da ciência política. Além da Guerra do Afeganistão, a Guerra em uma pesquisa feita pelos alunos a respeito do assunto.
da Coreia e a Guerra do Vietnã estão nessa categoria, assim O importante é que os estudantes compreendam as carac-
como disputas recentes na Síria, onde Rússia e Estados Uni- terísticas dos regimes e relacionem os governos ditatoriais
dos influenciam grupos e lideranças locais. com as estratégias estadunidenses para manter a influên-
cia na América Latina. No entanto, elementos políticos
P. 92-93 internos de cada país fez com que cada um desses regimes
tivesse características diferentes e algumas semelhanças.
A Guerra do Vietnã Estabeleça uma relação entre a derrota dos Estados Uni-
É possível destacar como a juventude mundial lidou dos na Guerra do Vietnã com os processos de abertura
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
com o conflito. A música Era um garoto que como eu amava política na América Latina. Essa abordagem possibilita o
DA EDITORA DO BRASIL
os Beatles e os Rolling Stones pode ser considerada um desenvolvimento da habilidade EM13CHS603.
questionamento sobre a falta de sentido da guerra para
os jovens soldados que foram alistados para ir ao Vietnã. P. 95
A música é uma versão em português de uma canção ori-
Reformas e desintegração da URSS
ginal italiana gravada em 1966 por Gianni Morandi. Há
duas gravações famosas em português: uma de 1967, A potência comunista seguiu investindo na indústria
bélica. Apesar da abertura e das distensões políticas e
gravada pela banda Os incríveis, e uma de 1990, gravada
econômicas dos governos de Gorbachev e Iéltsin, a URSS
pela banda Engenheiros do Hawaii.
perdeu sua força e deixou de ser uma potência mundial
É possível ouvir uma ou duas versões da música com os diante das crises internas e do aumento do poder e da
estudantes e levá-los a refletir sobre os impactos desse e influência dos Estados Unidos. Já a queda do Muro de
de outros conflitos sobre a juventude que, de modo geral, é Berlim, numa das cidades que mais sofreu no período
obrigada a participar de guerras que não estão vinculadas pós-Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, é
aos seus objetivos e anseios. Chame a atenção para o refrão considerado um marco simbólico do fim da Guerra Fria
composto de uma onomatopeia do som de armas de fogo. e foi protagonizado tanto por jovens da Berlim Oriental
Explique que, nas décadas de 1960 e 1970, nos Estados quanto da Berlim Ocidental. Hoje é possível saber por
Unidos e em diversos outros países do mundo, a cultura onde passava o muro graças há uma demarcação no solo
juvenil construiu várias formas de resistência à Guerra Fria da cidade, assim como partes do muro que foram pre-
e ao modo de vida dos países capitalistas, por exemplo, o servadas como forma de manter na memória coletiva
movimento hippie, os movimentos negros e feministas. um passado recente.

LXXIII
Sugere-se trabalhar com os estudantes o significado dos eventos representados nas imagens também permi-
das ações representadas nas imagens da página, promo- tem desenvolver o assunto nesse sentido.
vendo uma análise documental ee sensibilizada sobre o O tema do terrorismo pode ser polêmico entre os estu-
momento histórico retratado em cada uma delas. Espera- dantes e, por isso, é necessário um cuidado a mais na
-se que eles observem os semblantes e os gestos de mediação das manifestações da turma, possibilitando que
comemoração no momento de demolição de limites físicos todos contribuam e pratiquem a escuta. Como base para
que haviam sido impostos durante a Guerra Fria. Eles as discussões, sugere-se utilizar o comentário do embaixa-
podem reconhecer como esses limites impunham sacrifí- dor Rubens Barbosa sobre o que é o terrorismo e como
cios e sofrimentos e como o fim deles teve importância preveni-lo. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/
subjetiva e objetiva na vida das pessoas. Pode ser interes- terrorismo-como-prevenir. Acesso em: 26 ago. 2020.
sante questionar se as emoções, como as expressas nas Após a reprodução do áudio em sala de aula, solicite aos
imagens, são objetos de interesse aos estudiosos do estudantes que identifiquem o que o embaixador qualifica
colapso da URSS e do Muro de Berlim, estimulando uma como terrorismo e as principais ideias que ele defende
troca de ideias entre a turma. sobre o assunto.

P. 96-97
P. 98-99
Boxe: A História terminou?
Mídia: Mídia e terrorismo
O boxe possibilita uma discussão sobre o conceito de
História e sobre o que faria a História acabar, como suge- RESPOSTA
riu Francis Fukuyama. Após a leitura, sugere-se estimu- Esta proposta de atividade tem o objetivo de mobilizar
lar uma conversa perguntando aos estudantes se eles práticas de pesquisas relacionadas à análise de mídias
concordam ou discordam da pergunta feita no título. impressas e sociais digitais e desenvolver as competências
Espera-se que notem que as ações dos seres humanos gerais 4 e 5. Para isso, propõe-se uma discussão sobre os
são aquilo que move a História e que elas não param de modos como os diversos meios sociais de comunicação
acontecer. Ao mesmo tempo, não se pode dizer que o apreendem, abordam, expressam e traduzem elementos
capitalismo se estabeleceu como doutrina triunfante e relacionados ao terrorismo.
sem questionamentos, tampouco que os Estados Unidos
Na seção, é apresentado um gráfico que relaciona as
tenham continuado como força hegemônica. A comple-
principais causas de morte no mundo em 2017. Enfatize
xidade das disposições políticas e econômicas do pre-
o baixo número de mortes causadas por ataques terro-
sente, com o protagonismo da China, por exemplo,
ristas. A partir dessa provocação, proponha um debate
sugere uma ordem multipolar.
que aguce o olhar dos estudantes antes de eles come-
çarem a atividade de pesquisa. Veja a seguir algumas
O que é terrorismo? indagações que podem ser debatidas: “O que os estu-
Explique aos estudantes que a ONU foi criada em 1945,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
mesmo ano do fim da Segunda Guerra Mundial, com o
dantes sabem sobre terrorismo? De quais ataques os
estudantes se lembram? Quais foram as motivações
DA EDITORA DO BRASIL
objetivo principal de fortalecer a Liga das Nações e evitar políticas por trás desses ataques?”.
a ocorrência de novas guerras. A ONU atua até hoje em
Após o debate, repasse com eles como será a atividade
conflitos regionais e busca firmar princípios de um conví-
de pesquisa. Por fim, organize a apresentação dos resul-
vio pacífico e humanitário entre as nações. Daí o posicio-
tados da pesquisa de cada grupo e organize um novo
namento da entidade diante do terrorismo.
debate. Dessa vez o foco pode ser a abordagem da mídia
Há muitas diferenças entre os ataques terroristas do sobre ataques. O objetivo da atividade é estimular os estu-
fim da segunda metade do século XX e as primeiras déca- dantes a desenvolver um olhar crítico sobre a maneira com
das do século XXI, mas, em comum, podemos apontar a que eles compreendem as notícias.
violência contra políticos, militares e civis e a negação de
saídas democráticas ou pacíficas para impasses preesta- P. 100
belecidos. Chame a atenção dos estudantes para o fato
de que existem vários tipos de terrorismo e que eles ocor- Os ataques do 11 de setembro de 2001
rem em diferentes continentes e por razões múltiplas: há É possível exibir trechos de documentários e filmes para
grupos e ações ligados à religião, contra políticas de tratar a forma como os estadunidenses entendem e repre-
Estado, que visam à independência de uma região, entre sentam os ataques terroristas de 2001. Também é possí-
outros. Essa abordagem permite problematizar os este- vel relacionar esse evento como uma das consequências
reótipos que vinculam o terrorismo ao fundamentalismo da Guerra Fria e do posicionamento e das intervenções
religioso, principalmente de caráter muçulmano, alta- políticas dos Estados Unidos para além de suas fronteiras,
mente reforçados pela mídia. A observação e a discussão o que ocorre até os dias de hoje.

LXXIV
P. 101 e as atividades partem do cotidiano dos estudantes para
pensar essa relação de forma ampla.
Atividades São destacadas também as tecnologias que permi-
1. a) O texto se refere ao Muro de Berlim. Ele foi criado em tiram a integração econômica entre os diferentes países,
1961 com o objetivo de dividir fisicamente a cidade bem como os impactos políticos, econômicos e culturais
de Berlim entre áreas de influência capitalista (Berlim desse processo. Os aspectos positivos e negativos são
Ocidental) e comunista (Berlim Oriental) no contexto analisados, destacando a volta do nacionalismo em paí-
da Guerra Fria. ses desenvolvidos. Desindustrialização, cadeias globais
de produção e consumo e migração são alguns dos
b) Para ela, o Muro se assemelhava a uma “estranha
importantes fenômenos tratados, tendo em vista a con-
ferida” que cortava a cidade de Berlim e impedia
juntura contemporânea.
a livre circulação de pessoas de um lado a outro
da cidade. Converse com os estudantes sobre os objetos usados
no cotidiano e as principais tecnologias que marcam os
c) Resposta pessoal. É possível que alguns deles co-
nheçam locais semelhantes ao citado no trecho (con- séculos XX e XXI, como o automóvel e o telefone celular.
siderando as diferentes épocas e os diferentes con-
P. 103-104
textos históricos e sociais): locais em que barreiras,
muros ou outros tipos de construção impedem, de O mundo globalizado e suas contradições
forma proposital e com intuitos planejados, o trânsi-
Os efeitos da globalização são complexos e carrega-
to de pessoas de uma parte a outra.
dos de decisões políticas. Assim como nos grandes
2. a) Resposta pessoal. Apesar de o termo fake news ter
avanços tecnológicos, a globalização beneficia apenas
se popularizado nas primeiras décadas do século
uma parte da sociedade enquanto prejudica certos gru-
XXI, notícias falsas ou com informações incorretas
pos. Compreender os custos e benefícios desse pro-
existem desde o início do jornalismo. É importante
cesso permite que o estudante se posicione criticamente
que os estudantes apontem que a fake news apre-
como cidadão.
sentada na atividade se relaciona com a Guerra
Fria, uma vez que evidencia a disputa política entre P. 106-107
esquerda e direita com base em notícias e fatos
que nem sempre condizem com a realidade. Conexões: O 5G e o conflito entre China e
b) Sim, a manchete sobre o rompimento com a União Estados Unidos
Soviética pode indicar que alguns objetivos do go- Esta seção propõe uma reflexão sobre a tecnologia 5G.
verno ditatorial estavam sendo cumpridos, como a Questiona-se como os processos de integração entre
continuidade da influência dos Estados Unidos no máquinas pode levar a uma profunda crise geopolítica entre
país e o distanciamento de ideias socialistas, nesse Estados Unidos e China. O objetivo da seção é apresentar
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
caso, representado pelo rompimento com a URSS. um debate contemporâneo em torno da relação entre tec-
c) Os estudantes podem indicar que tornar partidos
DA EDITORA DO BRASIL nologia e sociedade, de maneira interdisciplinar. Proponha
marxistas ilegais – como apresenta a notícia “Fue- aos estudantes uma análise dos países que aderiram à
ra de la ley los Partidos Marxistas” – era parte da orientação estadunidense de não abrir relações comerciais
disputa posta entre comunistas e capitalistas du- com a Huawei, empresa chinesa que fornece tecnologia 5G.
rante o período da Guerra Fria.
RESPOSTAS
P. 102-103
1. Para auxiliar os estudantes durante a pesquisa, é pos-
O que é globalização? sível indicar, por exemplo, uma reportagem feita pela
Revista Veja São Paulo sobre a evolução dos celulares.
Comente com os estudantes que a globalização pode ser
Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/blog/pop/
comprendida a partir da crescente interdependência das
infografico-do-dia-a-evolucao-dos-telefones-celulares.
economias, culturas e populações do mundo, provocada Acesso em: 27 jul. 2020.
pelo comércio transfronteiriço de bens e serviços, tecnologia
2. Os estudantes podem citar, por exemplo, o setor de
e fluxos de investimento, pessoas e informações. A partir do
serviços de entrega. Atualmente, o número de entre-
tema, eles podem desenvolver elementos que ampliem a
gadores por aplicativos é crescente. Em alguns países,
compreensão do mundo contemporâneo e as imbricações
já estão sendo testados entregas por drones, uma
entre tecnologia, economia e sociedade, que se desdobram
tendência para o setor. Esse modelo de entrega, que
em manifestações concretas na vida das pessoas. utiliza tecnologia 5G, amplia o trabalho remoto, com
As imagens apresentadas mostram a relação entre téc- máquinas operadas a distância. Acredita-se que uma
nica e sociedade nesse período marcado pela globalização, das consequências da tecnologia 5G será a extinção

LXXV
de muitos postos de trabalho, incluindo trabalhos P. 111-112
precarizados como os de entregadores que prestam
serviço por meio de aplicativos de entrega. O mundo bipolar e o mundo multipolar
P. 108 Sugerimos que as discussões se concentrem nas dis-
tinções do papel do Estado e nas fronteiras entre os dois
As propostas do Consenso de Washington períodos da história – mundo bipolar e mundo multipolar.
Comente com os estudantes que o consenso de Comente que a globalização não destitui o Estado e as
Washington é considerado um marco histórico de conso- fronteiras, mas os ressignificam. Destaque que cada ordem
lidação do neoliberalismo. Para além da política econô- mundial tem características próprias, o que significa que
mica, o neoliberalismo também é analisado como a análise das relações internacionais, bem como das dinâ-
ferramenta ideológica e modelo de racionalidade, que micas e dos movimentos de fronteiras, deve ser realizada
transforma a lógica social em decorrência do pensamento levando em conta o contexto da ordem mundial estabe-
gerencial e empresarial. O empreendorismo, por exemplo, lecida e o conjunto dos aspectos que a definem.
é apresentado como forma de conexão entre as políticas
A globalização no mundo contemporâneo
econômicas globais e o indivíduo.
É possível abordar de maneira detalhada o papel das ino-
P. 109 vações tecnológicas na configuração da Ordem Mundial Mul-
tipolar, sobretudo no que se refere ao aumento da capacidade
Atividades organizacional dos grandes agentes políticos e econômicos
1. Respostas pessoais. O objetivo desta atividade é que que atuam na escala global. Ademais, recomendamos que
os estudantes constatem que os veículos são fabrica- os debates sobre o mito do enfraquecimento do Estado e das
dos em diversas partes do mundo e montado em um fronteiras seja realizado com base num panorama mais
único lugar. amplo, capaz de identificar o que sustenta esse mito e os
2. O infográfico trata de patentes por escritórios no elementos que propiciam sua desmitificação. Alguns exem-
mundo comparando 2000 com 2014. Em 2000, os plos de como os Estados e as fronteiras se mantêm prepon-
Estados Unidos lideravam o número de patentes, derantes atualmente no âmbito das relações internacionais
seguidos pela agência de notícias EFE. Já em 2014, a auxiliam nessa tarefa, como a questão das migrações inter-
China se destaca com 28% das patentes. Isso mostra nacionais abordada na unidade anterior.
o crescimento econômico chinês, que investe muito
em tecnologia. O número de patentes por país mostra P. 113-116
a desigualdade entre países ricos e pobres.
Blocos regionais, fronteiras nacionais
3. Resposta pessoal. Esta atividade tem como objetivo
auxiliar o aluno a propor ideias e consolidá-las em for- e globalização
mato de projeto elaborado e coeso para ajudá-lo em Destaque as distinções entre as áreas de livre comércio,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
seus projetos de vida. Com isso, a atividade deve ser uniões aduaneiras, mercados comuns e uniões políticas e
DA EDITORA DO BRASIL
elaborada para que o aluno seja capaz de criar o passo monetárias, explicando que se tratam de níveis de integra-
a passo de uma ideia própria. ção diferentes, definidos no âmbito dos propósitos de cada
bloco regional. Dessa maneira, não se refere a fases às
P. 110 quais todos os blocos tendem a passar, indo da menor à
maior integração. Os exemplos abordados no quadro
O espaço geográfico da ordem multipolar
podem servir de exemplo para isso. Caso considere perti-
A passagem da ordem bipolar para a multipolar pode ser
nente, organize os estudantes em grupos e, com base nos
pontuada a partir das suas características sociais, espaciais,
mapas, peça que selecionem um dos blocos e façam uma
econômicas, políticas e tecnológicas. Trata-se de fornecer
pesquisa identificando: estágio de integração, relações
elementos para que os estudantes compreendam algumas
estabelecidas, contradições internas, dados e informações
configurações e dinâmicas do espaço mundial, bem como
relativos à produção econômica, à circulação de pessoas
as relações entre países e alguns tipos de organização, como etc. Em data combinada, os grupos podem expor suas pes-
os blocos econômicos. Existem diferentes formas para abor- quisas e debater sobre os diferentes blocos. Estratégias de
dar e desenvolver o processo de ensino-aprendizagem. sala de aula invertida podem ser adotadas nesta atividade.
Procure motivar debates, reflexões e momentos de trabalho
em grupo, para que os conceitos e processos expostos sejam P. 117
construídos de forma coletiva e dialógica.
Proponha um debate sobre o conceito de ordem mun- Os fluxos internacionais e as redes
dial, destacando como é possível identificar, em cada Proponha um debate sobre o papel que os avanços tec-
período histórico, as ordens mundiais vigentes. nológicos têm trazido à vida cotidiana. A integração dos

LXXVI
mercados internacionais e a descentralização da produção falências. O debate sobre o papel desempenhado pelo Estado
industrial propiciaram maior disseminação da tecnologia no âmbito das crises do capitalismo é muito importante na
dos processos produtivos e dos bens e serviços comercia- compreensão da complexidade do tema.
lizados ao redor do mundo, nas diversas escalas espaciais.
Sugestão de atividade complementar
O mundo em rede: relações políticas e A CPLP foi criada em 1996, reunindo Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São
socioeconômicas
Tomé e Príncipe. Seis anos mais tarde, em 2002, com a
Amplie a discussão a partir da análise do papel das conquista de sua independência, Timor-Leste tornou-se
tecnologias na vida cotidiana. É interessante mostrar aos o oitavo país membro da Comunidade. Depois de um minu-
estudantes o avanço da internet e sua incorporação em cioso processo de adesão, em 2014, a Guiné Equatorial
distintas atividades econômicas e sociais. Atuamente, em se tornou o nono membro de pleno direito.
alguns países, a internet é considerada um serviço essen-
A CPLP tem três objetivos centrais: a concertação polí-
cial à população.
tico-diplomática, a ampla cooperação entre seus membros
P. 118 e a promoção e difusão da língua portuguesa. A Comuni-
dade reúne países de quatro continentes, com população
Recessões do capitalismo e consequências de cerca de 275 milhões de pessoas, e desperta cada vez
sobre o espaço mundial mais interesse entre países não lusófonos – é crescente
o número de observadores associados.
Sugere-se ressaltar que é inerente ao capitalismo pro-
duzir crises, sejam aquelas sistêmicas, que têm alcance e Como o nome sugere, a CPLP tem por objetivo primário
durabilidade elevados, sejam aquelas mais localizadas geo- a promoção da língua portuguesa. Mas, além da promoção
graficamente e de curta duração. As crises são intrínsecas da língua, a Comunidade é espaço privilegiado de diálogo
ao capitalismo, pois ele produz e reproduz intensas desi- e cooperação, com vistas ao bem-estar das respectivas
gualdades, que, num dado momento, se tornam insusten- populações. Acordos de cooperação foram feitos em áreas
táveis e geram períodos de graves instabilidades políticas, tão distintas como saúde, educação, segurança nutricional,
econômicas e sociais. Pode ser interessante pontuar que agricultura familiar, igualdade de gênero, meio ambiente,
essas crises estão associadas à própria natureza do capi- energia, inovação, governo eletrônico, defesa.
talismo, que se baseia na busca incessante do lucro e, na A CPLP abarca centenas de milhões de pessoas a pensar,
atualidade, está bastante atrelado aos mercados financeiros a imaginar e a falar utilizando um mesmo código: a língua
e ao potencial especulativo que o capital assumiu. portuguesa – patrimônio comum que, nem por isso, deixa
de guardar a marca da diversidade. É a enorme riqueza de
A crise de 1929 e a Grande Depressão variantes que dá corpo a nossa língua, que demonstra sua
Recomenda-se o desenvolvimento de discussões acerca plasticidade, que revela seu infinito potencial.
do liberalismo versus intervencionismo estatal e as vanta-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
gens e desvantagens de cada uma dessas doutrinas políti- Proposta
DA EDITORA DO BRASIL
co-econômicas. É possível destacar suas diferentes 1. Reúna os estudantes em grupos e organize um debate
perspectivas, tendo como contexto as conse­quências gera- na sala de aula, dividido em três partes. Cada um dos
das pela crise de 1929. grupos deve discutir os tópicos indicados a seguir:
a) Qual é a importância da língua na construção das
P. 119-120 identidades sociais?
b) Você acredita que a aproximação entre os países
A crise de 2008: uma nova falência de língua portuguesa promovida pela CPLP pode
do livre mercado? trazer algum benefício para os seus membros?
Destaque as tensões entre os defensores do neolibera- Exemplifique.
lismo e os defensores da intervenção estatal. Comente que c) Você conhece alguma medida implementada no
no contexto da globalização, o debate sobre o papel do Estado Brasil decorrente da participação do país na CPLP?
envolve múltiplos elementos. Se, por um lado há uma poro- Qual? Houve implicações na vida cotidiana das pessoas
sidade das fronteiras nacionais, até mesmo em relação aos que vivem nos países-membros dessa Comunidade?
capitais voláteis (aqueles capitais especulativos que rapida- Cada grupo deve expor para o restante da classe
mente entram e saem dos países), por outro, em momentos os principais aspectos levantados. Sugerimos que
de crise, a sociedade recorre ao Estado Nacional, seja a popu- o professor anote na lousa os aspectos menciona-
lação cobrando algum tipo de garantia mínima para sua sobre- dos pelos estudantes, de maneira que os aponta-
vivência, sejam as empresas privadas exigindo o auxílio do mentos de cada grupo contribuam para uma ava-
governo para evitar queda nas taxas de lucro ou mesmo liação coletiva do assunto tratado.

LXXVII
2. Solicite aos estudantes que pesquisem um mapa com fóruns multilaterais são importantes em diferentes
os países-membros da CPLP e pergunte a eles: qual é contextos, como na definição de políticas para a redu-
a importância geopolítica dos países que a compõem? ção da desigualdade.
Você pode conduzir uma análise crítica a partir da sín- Pensamento computacional
tese das contribuições feitas pelos estudantes, desta- Os estudantes deverão criar um canal de vídeo na inter-
cando os pontos em comum levantados pelos grupos e net com base nas pesquisas que desenvolveram ao longo
também as diferenças de perspectiva que cada grupo da atividade. A sistematização dessas informações, por
trouxe para a discussão. Também cabe ao professor meio de uma tabela, ajudará a fornecer uma melhor visão
corrigir possíveis equívocos, sanar dúvidas e explicar sobre o processo. A atividade de abstração neste exercício
aspectos que demandam uma análise mais aprofunda-
será importante para isolar aspectos que sejam menos
da, auxiliando na construção coletiva do conhecimento.
relevantes no processo de busca. Um canal de vídeos
P. 121 sobre rock, por exemplo, não corresponderá à pesquisa
sobre outro gênero musical.
Atividades
1. O Estado e as fronteiras nacionais continuam sendo a
base da organização no sistema mundial. Embora a glo-
INDICAÇÕES
balização tenha promovido maior interação entre os COMPLEMENTARES
países, de certa maneira tornando as fronteiras mais
porosas, ainda cabe ao Estado exercer sua soberania e Filmes
definir as regras de funcionamento da sociedade em 13 dias que abalaram o mundo, direção de Roger
seu território, bem como as maneiras de se relacionar Donaldson. Estados Unidos, 2000. (145 min).
com outros Estados. Uma distinção relevante sobre o
O filme narra, do ponto de vista estadunidense, o período da
Estado no contexto atual é a emergência do reconheci-
Guerra dos Mísseis, quando um ataque nuclear quase ocorreu
mento de múltiplas nacionalidades. Assim, alguns esta-
levando a população ao pânico.
dos estão se declarando plurinacionais, no intuito de
reduzir os conflitos internos e reconhecer a existência As torres gêmeas, direção de Oliver Stone. Estados Unidos,
e os direitos de distintos grupos étnicos e raciais. Quanto 2006. (129 min).
às fronteiras nacionais, embora elas estejam mais poro- Os ataques de 11 de setembro vistos pelo ponto de vista das
sas em razão da intensificação dos fluxos de mercado- equipes de resgate que atuaram após a ação dos terroristas.
rias, pessoas e investimentos, conforme destacado
anteriormente, a Ordem Multipolar não reduziu sua Cobaias, direção de Joseph Sargent. Estados Unidos,
importância, fato evidenciado pelos conflitos fronteiriços 1997. (118 min).
que surgiram e permaneceram no período. Este filme aborda um caso real: um experimento a que um
2. Os blocos econômicos regionais focam sua atuação grupo de homens negros foi submetido, sem o devido escla-
recimento. Apresenta-se um conjunto de questões e proble-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
na dinamização do comércio entre seus países-mem-
mas relacionados à bioética.
bros, sobretudo por meio da criação de: áreas de livre
DA EDITORA DO BRASIL
comércio (pautadas na redução ou eliminação de Grande demais para quebrar, direção de Curtis Hanson.
barreiras alfandegárias), uniões aduaneiras (que fun- Estados Unidos, 2011. (98 min).
cionam segundo normas que regulam o comércio
O filme é baseado no livro de mesmo nome do jornalista estadu-
intrabloco e extrabloco), mercados comuns (que pro- nidense Andrew Ross Sorkin, o qual aborda as negociações po-
movem a integração social e econômica, o que pos- líticas realizadas para evitar a quebra do banco privado Lehman
sibilita maior mobilidade de mercadorias e de pessoas Brothers, que foi o marco inicial da crise financeira de 2008.
entre os países) e uniões políticas e monetárias (com
base na criação de moeda única para os países do Livros
bloco e políticas setoriais em comum), do menor ao CATANI, Afrânio Mendes. O que é capitalismo. São Paulo:
maior nível de integração. Por esse motivo, os blocos Brasiliense, 2011. (Coleção Primeiros Passos).
econômicos regionais são importantes no atual con-
Partindo das teorias de Karl Marx e Max Weber, o autor anali-
texto da globalização, uma vez que propiciam a seus
sa o capitalismo, suas teorias, suas crises cíclicas e suas ca-
países-membros melhores condições de negociação racterísticas no Brasil.
no comércio internacional. Os fóruns multilaterais
têm um caráter político, podendo ou não adotar ações HARVEY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo.
que fomentam o comércio internacional. Por tratarem São Paulo: Boitempo, 2016.
de temas do interesse geral das sociedades que abar- Nesta obra, David Harvey, um dos mais prestigiados geógrafos
cam, como os serviços sociais básicos (saúde, edu- da atualidade, destaca as contradições inerentes ao modo de
cação, moradia, segurança pública etc.), os direitos produção capitalista e as crises sistêmicas que estão em seu
humanos, a sustentabilidade ambiental etc., tais cerne, lançando propostas práticas para a sua superação.

LXXVIII
LAVAL, Christian; DARDOT, Pierre. A nova razão do mundo. pelas quais o senso comum o percebe e o pensa. Antes
São Paulo: Boitempo, 2016. de tudo, o estudante será apresentado ao aspecto mais
Os autores analisam o neoliberalismo como ferramenta não complexo da territorialidade no mundo contemporâneo:
só econômica, mas também ideológica e que modifica a ra- a polissemia. Essa multiplicidade de sentidos, que evi-
cionalidade e a subjetividade modernas para se impor na vida dentemente abrange o que está relacionado à espacia-
das pessoas. lidade física, mas a supera, apresenta-se como uma
coordenada social. Isso significa que as próprias relações
ORTIZ, Renato. Universalismo e diversidade. São Paulo:
sociais, em sua diversidade inerente, se constituem de
Boitempo, 2016.
demarcações de diversidade de experiências, de deman-
O sociólogo brasileiro Renato Ortiz faz uma análise contem- das e formas de comportamento diferentes das requeri-
porânea sobre a globalização e a mundialização da cultura e
das de indivíduos e grupos.
as especificidades desse período, marcado pela pluralidade
em detrimento do conceito de humano universal. Em seguida, a unidade dá continuidade ao estudo das
territorialidades como resultado dos vínculos criados
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, entre grupos e do estabelecimento de limites de perten-
razão e emoção. 4. ed. São Paulo: Editora da Universidade cimento por meio de uma abordagem histórica que pro-
de São Paulo, 2012. põe um olhar sobre a nação brasileira e a definição da
Neste livro o autor apresenta sua teoria sobre o espaço geo- identidade de seu povo. Um panorama de como a iden-
gráfico e estabelece importantes relações dela com os seus tidade brasileira foi pensada desde a independência do
estudos sobre a globalização e o papel dos avanços científicos país às últimas décadas possibilita aos estudantes com-
e tecnológicos na configuração espacial e nas relações entre preender as diferentes concepções e negociações que
os lugares.
incidem sobre essa questão.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamen- Pretende-se que eles identifiquem neste estudo a
to único à consciência universal. 13. ed. Rio de Janeiro: contribuição de diferentes atores sociais, uma vez que
Record, 2006. a identidade nacional foi mobilizada tanto pelo discurso
Neste livro o autor apresenta as principais características da oficial do Estado brasileiro como por intelectuais e movi-
globalização e suas influências políticas, econômicas e sociais, mentos sociais e culturais em busca da autenticidade
sobretudo a geração de desigualdades nas diversas escalas do brasileiro. Também é estimulado um olhar crítico
espaciais. O autor também discute alternativas ao processo sobre os mecanismos de inclusão e exclusão de grupos
de globalização vigente, no sentido de propiciar maior equi- sociais operacionalizados em torno da identidade nacio-
dade social e espacial.
nal brasileira.
SPINDEL, Arnaldo. O que é comunismo. São Paulo: Brasi- A juventude é abordada nesse contexto e entendida
liense, 2017. (Coleção Primeiros Passos). como uma construção social moderna. A unidade dá des-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
O autor trata da gênese e das características do comunismo, taque ainda para esclarecer como a produção cultural se
estabelecendo relações entre o passado e o presente. transformou, ao longo dos séculos XX e XXI, em uma forma
DA EDITORA DO BRASIL de delimitar territórios e identidades. A sociologia desna-
Site turaliza a juventude como uma fase cronológica e bioló-
Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty. Disponível gica, para analisar os fatores sociais e históricos que
em: http://www.itamaraty.gov.br. Acesso em: 26 ago. 2020. favoreceram sua ascensão como sujeito histórico e pro-
dutor de identidades.
No site do Itamaraty, estão disponíveis informações sobre os
blocos regionais ou fóruns internacionais de que o Brasil faz A perspectiva geográfica desta unidade, por sua vez,
parte ou com os quais mantém acordos. favorece a mobilização das habilidades EM13CHS205 e
EM13CHS206 por meio da análise de diferentes territo-
UNIDADE 4 rialidades no espaço brasileiro, ou seja, as territorialida-
OUTROS MODELOS DE TERRITÓRIOS des de comunidades tradicionais e descendentes dos
povos originários. Assumindo outras concepções possí-
veis para o conceito de território, para além daquela mais
VISÃO GERAL tradicionalmente usual, parte-se para compreender e
Esta unidade tem por objetivo fundamental a explicita- analisar algumas formas de sociabilidade que se estabe-
ção, a análise e o entendimento dos diversos sentidos da lecem no âmbito da vida cotidiana de povos e grupos
territorialidade e das relações que nela se inscrevem. O diversos, contemplando os temas transversais contem-
território se delimita como uma instância que será explici- porâneos ligados ao multiculturalismo, ao meio ambiente,
tada em uma significação que ultrapassa as demarcações à cidadania e ao civismo.

LXXIX
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS P. 126

Atividades
P. 122-125
1. Resposta pessoal. A atividade tem como objetivo esti-
Os espaços sociais: mular o estudante a observar diversas situações e
territórios e fronteiras lugares sociais, tendo como perspectiva os elementos
conceituais apresentados e explorados na exposição.
As exposições e análises a respeito da noção de terri-
torialidade aparecem com acepção diferente. Até o 2. Resposta pessoal. A atividade propõe a realização de uma
momento, as análises sobre territórios e fronteiras refe- interação entre estudantes, por meio do exercício feito
riam-se aos conteúdos quanto ao espaço entendido como anteriormente, que apresenta natureza individual. É inte-
ressante organizar uma roda de discussão em sala de aula
lugares fisicamente ou institucionalmente definidos. A
para que a turma converse sobre os espaços citados nas
abordagem estava focada nas relações espacialmente
listas de todos. Caso diversos estudantes tenham citado
delimitadas ou politicamente organizadas pelo Estado e
os mesmos espaços, é importante comparar como cada
suas instituições.
estudante chegou a eles para que a turma reflita sobre
Aqui, os conceitos de territórios e fronteiras passam a suas percepções a respeito das regras de funcionamento
ser compreendidos em suas delimitações sociais de cará- e de conduta nos espaços e sobre as relações sociais de
ter simbólico e estabelecem limites comportamentais no maneira geral.
contexto de relações intersubjetivas. Assim, as fronteiras 3. Ao desenvolver a atividade, incentive os estudantes a
são dependentes do escopo circunscrito pelas funções, conversarem sobre o tema e, se possível, peça para
demandas e condições sociais, de natureza dinâmica. eles compartilharem suas experiências nas redes
Analisam-se as dimensões não materiais das relações sociais. Pode ser interessante entrar no site SaferNet
sociais, as quais, entretanto, circunscrevendo compor- Brasil, no qual estão disponíveis informações sobre
tamentos válidos ou não, podem ter resultados na esfera como denunciar crimes cometidos em redes sociais.
material da vida. O estudante, por meio das exposições Ao orientar a realização do relatório, solicite aos estu-
e das atividades, pode desenvolver a competência de dantes que indiquem os conteúdos que mais chama-
lidar com as diversas possibilidades dos significantes e, ram a atenção deles, as fontes que foram consultadas
e suas principais conclusões sobre a questão. Após a
ao mesmo tempo, se posicionar pertinentemente nas
produção dos materiais sobre o tema, organize a turma
diferentes situações e atuações sociais nas quais se
para que eles possam divulgar para a comunidade
envolve e realiza.
escolar os resultados da pesquisa.
O objetivo é proporcionar um desafio cognitivo e refle-
xivo pelo qual os estudantes são incitados a organizar a P. 127-128
compreensão das diferentes territorialidades humanas em
As identidades no Brasil e os discursos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
relação ao que experimentam na vida cotidiana.
nacionais
Os estudantesDA
devem ser estimulados
EDITORA DO BRASILa refletir sobre
É possível iniciar o trabalho sobre identidade nacional
os diversos territórios que delimitam suas vidas, reconhe-
com base nos questionamentos dispostos nos primeiros
cendo os contornos próprios a cada um por meio dos luga-
parágrafos da página. Incentive os estudantes a refletir e
res que ocupam e dos papéis que exercem neles.
compartilhar suas percepções sobre o tema. Destaque com
Assim, eles são levados a relacionar adequadamente a turma que as competições esportivas (como as Copas do
os conceitos apresentados com as situações nas quais Mundo de futebol ou os Jogos Olímpicos) são alguns exem-
vivenciam como membros de uma família, estudantes de plos dos momentos nos quais a ideia de identidade nacio-
determinada escola, jovens pertencentes a uma dada nal é reforçada entre os cidadãos de um país. Recentemente,
classe social, cidadãos de certa cidade, entre outras. Eles em razão da pandemia de coronavírus, a sensação de per-
podem compor uma dramatização em que apresentem tencimento à nação foi reforçada em alguns países onde os
essas várias territorialidades. cidadãos buscaram unir-se uns aos outros e demonstrar
É importante, também, estimular os estudantes a pen- solidariedade. Na Itália, por exemplo, bandeiras nacionais
sar sobre as fronteiras entre as esferas privada e pública. foram hasteadas nas varandas junto a mensagens de apoio,
Discuta com eles a exposição de aspectos da vida íntima como demonstração de esperança por dias melhores.
das pessoas em redes sociais. Promova também um debate Reforce com os estudantes que o Brasil é fruto de uma
sobre a subordinação dos interesses comunitários aos inte- grande mistura de povos e culturas, tanto em razão do nosso
resses particulares dos grupos que ocupam posições de passado como da continuidade de encontros no presente,
poder. Estimule-os a buscar informações em redes sociais, tendo em vista que o país ainda é o destino de muitos imi-
jornais, revistas e sites da internet. grantes atualmente. Essa pode ser uma boa oportunidade

LXXX
de valorizar o multiculturalismo e explicitar que não existem 1877, está disponível para a consulta no site da Biblioteca
etnias ou culturas superiores umas às outras, mas sim dife- Brasiliana Mindlin, em: https://digital.bbm.usp.br/handle/
rentes formas de ver e agir sobre cada realidade. bbm/4825 (acesso em: 28 ago. 2020). Graças a ela, Var-
Outro aspecto a ser reforçado nesse momento é a ideia nhagen despertou críticas em relação ao tratamento dis-
de “construção da brasilidade”. Questione os estudantes pensado aos indígenas e aos jesuítas, mas obteve grande
sobre o que eles entendem em relação a esse termo e reconhecimento entre estudiosos do período, entre eles
promova uma discussão introdutória sobre o tema a ser Capistrano de Abreu e Von Martius.
desenvolvido adiante. Sugere-se partir do tópico para propor uma reflexão
sobre a parcialidade do historiador no exercício de
Uma nova identidade para um novo país escrita da História. Ainda que o conhecimento histórico
Ao iniciar a abordagem do tópico, sugere-se chamar a seja produzido por meio de métodos e fontes documen-
atenção da turma para a bandeira do Brasil Imperial e pro- tais, a instrumentalização e a interpretação deles parte
por uma reflexão sobre esse símbolo nacional. Questione-os, de um indivíduo com valores, mentalidades e prioridades
por exemplo, sobre a função e o significado de uma bandeira próprias. Dessa maneira, não é possível perseguir “a
e outros símbolos nacionais que são associados ao Brasil. verdade histórica”, mas compor uma série de pontos de
Busca-se com isso a observação de insígnias comuns, reco- vista sobre determinado fato ou processo histórico para
nhecidas por uma vasta população dispersa em um amplo se ter uma noção sobre a complexidade que ele abrange.
território, que tem nelas uma forma de pertencimento e de Essa discussão possibilita também aprofundar a análise
união em torno de uma ideia nacional. É possível, ainda, que no título escolhido para o tópico. Questione os estudan-
os estudantes verifiquem a semelhança entre a bandeira tes sobre o que seria a (re)criação do passado brasileiro
imperial e a bandeira brasileira atual, fator que pode ser e que efeitos essa operação tem na formação da nação
problematizado se você considerar pertinente. e da identidade nacional.

Explique que a busca pela identidade brasileira teve início P. 129


no Primeiro Império, quando o Brasil se tornou uma nação
independente. Destaque que, com a construção dos símbo- Boxe: Romantismo à brasileira
los da jovem nação, também se produziu um tipo de identi- Explicite junto aos estudantes que, embora tenham
dade única, com base no que havia sido realizado nos sido usados como símbolos idealizados da nação, os indí-
Estados europeus, o que é inverossímil num país de popula- genas não tinham voz durante o Segundo Império nem
ção tão diversa como o Brasil. Cabe pontuar também os tampouco recebiam apoio dos poderes centrais para
esforços empenhados pelo Segundo Reinado pela manuten- manter suas terras e costumes. Ao contrário: vigorava
ção da unidade territorial do Brasil, evitando uma fragmen- uma política de tutela por parte do Estado, e as violências
tação como a que ocorrera nas repúblicas da América Latina. contra os povos indígenas não deixaram de ocorrer.
Assim, enquanto os indígenas povoavam o imaginário
P. 128 sobre o Brasil, dando autenticidade para a nova nação,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
na realidade, não houve melhoria na condição deles.
A (re)criaçãoDA
doEDITORA
passadoDObrasileiro
BRASIL É possível propor uma atividade interdisciplinar com
O tópico trata da criação do Instituto Histórico e Geo-
a área de Literatura fazendo uma leitura conjunta dos
gráfico Brasileiro (IHGB) e dos primeiros estudos sobre a
trechos de livros de José de Alencar citados no texto,
história do Brasil produzidos a partir de então.
com o objetivo de identificar a forma pacífica, idealizada
Chame atenção para o fato de o IHGB ter sido uma e europeizada que os indígenas foram representados
instituição criada e frequentada pelo próprio imperador nas obras. Outra possibilidade é realizar um diálogo com
D. Pedro II, que foi um incentivador da produção de uma Artes na análise de algumas das principais pinturas his-
nova historiografia para o país.
tóricas do período, com destaque para as características
Explique aos estudantes que Varnhagen havia estudado e os temas preferenciais dessas representações. Nesse
na Europa e teve acesso aos arquivos da Torre do Tombo, caso, sugere-se destrinchar com os estudantes a inten-
importante instituição localizada em Lisboa, onde realizou ção que havia por trás das pinturas e como elas ajuda-
uma pesquisa documental inédita, analisando artigos ofi- ram a construir os grandes feitos e os heróis da nação.
ciais intocados até então e revelando fatos elucidativos
sobre eventos no Brasil colônia. Defensor de D. Pedro I e P. 130
reconhecido com altos méritos por D. Pedro II, fez a leitura
da história brasileira de forma favorável à contribuição por- O fim do Império
tuguesa, a quem atribuiu papel principal entre as três Comente com os estudantes que é possível estabelecer
matrizes culturais que conviviam desde o período colonial. relações entre a Guerra do Paraguai e o movimento abo-
Sua maior obra, História geral e do Brasil, publicada em licionista no Brasil. Destaque que, dado que o alistamento

LXXXI
militar era compulsório, muitos membros da elite do país, de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa
em vez de participar da guerra, mandaram seus escravi- e Euclides da Cunha, por exemplo, eles vão identificar que
zados para o conflito. identidades e territorialidades foram representadas pelos
Assim, a presença de afrodescendentes junto ao Exér- literatos, bem como a maneira como eles constroem os
cito brasileiro durante a guerra fez com que parte signifi- arquétipos brasileiros. O olhar crítico sobre a profundidade
cativa dos soldados aderisse ao movimento abolicionista, ou a superficialidade das representações deve ser incenti-
cobrando a promessa de alforria de si e de seus familiares vado, de modo que os estudantes tirem conclusões sobre
escravizados. Explique também que a postura do Impe- se os personagens “tipos nacionais” são elaborados de
rador ao tentar manter o apoio de latifundiários e das forma caricata e superficial ou se correspondem total ou
camadas mais progressistas da sociedade por meio da parcialmente à realidade. Essa atividade possibilita uma
promulgação de leis que previam um lento e controlado autonomia na construção do conhecimento e o protago-
fim da escravidão acabou por desgastar a sua figura que, nismo na própria aprendizagem, favorecendo também as
a cada dia, perdia mais apoiadores. competências gerais 2 e 3 e o tema contemporâneo trans-
versal do multiculturalismo.
Somando-se às insatisfações populares, surgiu naquela
época um movimento com propostas republicanas que obje- P. 131
tivava o fim do império e maior participação da população,
sobretudo das elites, nas decisões políticas. Não é por acaso Boxe: Os “Brasis” de Darcy Ribeiro
que, no ano seguinte à abolição da escravatura, que pode ser Dando continuidade à abordagem sobre as representa-
entendida como uma tentativa de acalmar os ânimos de seus ções do Brasil e dos brasileiros pela intelectualidade, a
opositores, foi dado o golpe que iniciou a Primeira República. seção apresenta a teoria de Darcy Ribeiro sobre a identidade
étnica dos brasileiros, apontada por ele como “vigorosa e
O povo brasileiro na Primeira República flexível”. Se considerar válido, inicie a abordagem por uma
breve biografia do autor, ressaltando a importância de sua
Ao iniciar o assunto com a turma, sugere-se reforçar que,
obra para as Ciências Humanas e Sociais no Brasil, bem
mesmo com o fim da escravidão e o início da República, o
domínio político e econômico do país continuou nas mãos como a sua atuação na esfera política.
das elites oligárquicas, tendo em vista os mecanismos de Explique aos estudantes que, segundo Ribeiro, a fusão de
manutenção do poder político e a diminuta parcela da popu- matrizes díspares deu origem à formação étnico-social ori-
lação que podia participar das eleições. Ou seja, apesar das ginal ao povo brasileiro, mas a mesma herança colonial tam-
grandes mudanças políticas, não houve transformações na bém se vê na dependência econômica do país e nas
estrutura econômica e social do país. desigualdades. Na sequência, auxilie na leitura e interpreta-
Comente que as escolas de ensino primário, existentes ção do texto e na realização das atividades, destacando as
em pouquíssima quantidade até então, foram criadas em cinco variantes culturais apontadas por Darcy Ribeiro.
todos os estados como tentativa de “civilizar” a população RESPOSTAS
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
brasileira caracterizada pela grande heterogeneidade e incu-
1. Resposta variável. A atividade permite o desenvolvi-
DA EDITORA DO BRASIL
tir valores de amor à pátria por meio da exaltação de suas
mento da alfabetização cartográfica, uma vez que os
características naturais e da criação de heróis nacionais.
estudantes são estimulados a verificar a representação
Explique que, durante a Primeira República, várias capi- gráfica de referências mencionadas no texto. É possí-
tais passaram por reformas urbanas com o intuito de vel que não haja variantes identificadas com a região
“esconder” dos olhares das elites a população pobre que em que você e os estudantes vivem. Nesse caso, pro-
ocupava os centros urbanos, política que deixou suas mar- blematize a razão disso e levante contribuições rele-
cas em diversas cidades com a criação de favelas e bairros vantes para a resposta da atividade 3.
periféricos. Assim, nas cidades, os grupos excluídos da 2. Resposta variável. É esperado que o estudante identifique
modernidade e da urbanização protagonizaram revoltas mudanças e permanências em relação às práticas e tra-
marcantes na história do Brasil. Enquanto isso, confrontos dições culturais identificadas por Darcy Ribeiro em 1995.
no campo revelavam a permanência de antigas estruturas Cabe ressaltar que, ainda que algumas características
de poder e a concentração de terras. Em ambos os espa- tenham se mantido, as transformações ocorrem em ritmo
ços foram constituídas múltiplas territorialidades sociais, acelerado, principalmente em razão dos processos de
culturais e políticas, as quais eventualmente eram vistas globalização. Por esse motivo, as particularidades regio-
como obstáculo aos interesses das elites dominantes. nais tendem a ficar cada vez mais irreconhecíveis.
Com relação à criação dos “tipos nacionais”, sugere-se 3. Resposta variável. Espera-se que o estudante faça
propor uma atividade conjunta com a área de Linguagens um exercício de análise social e cultural acerca da
para uma análise de trechos de obras dos autores citados sociedade brasileira atualmente e identifique algu-
e/ou outros de sua preferência. Ao observar os personagens mas territorialidades que podem compor as variantes

LXXXII
principais da cultura brasileira contemporânea. Con- etnias, era um elemento unificador da identidade brasi-
vém citar algumas culturas urbanas, que não cons- leira, historicamente fragmentada pela divisão étnico-ra-
tam no modelo de Darcy Ribeiro, por exemplo. Esse cial estabelecida na colônia e continuada na república.
exercício não é fácil, visto que antropólogos e soció- É pertinente esclarecer que manifestações afro-bra-
logos têm se debruçado longamente sobre essa
sileiras ganharam reconhecimento na Era Vargas e se
questão. Contudo, o intuito é gerar discussões pro-
tornaram até mesmo “modelo-exportação”. É o caso do
dutivas entre os estudantes, sem buscar respostas
samba, que, ainda no período varguista, foi trilha sonora
estritamente corretas, valorizar seus conhecimentos
de filmes hollywoodianos com orientação pela “política
prévios, suas visões de mundo e seus espaços de
da boa vizinhança”. Assim, o governo utilizava-se de um
vivência, bem como a cultura juvenil.
elemento cultural genuinamente brasileiro e popular,
P. 132 nascido em meio ao trabalho escravo nos portos do Rio
de Janeiro, para veicular os valores morais da nação
A semana de 1922 brasileira e torná-lo um dos cartões de visitas do Brasil
e o Modernismo brasileiro para o exterior.
O tema pode ser abordado de forma interdisciplinar As imagens da página podem ser utilizadas como
com o professor de Arte. Explique aos estudantes o sig- recursos didáticos pertinentes ao estudo proposto sobre
nificado que o termo “antropofagia” tinha para o país até a mobilização das identidades na Era Vargas, uma vez
aquele período. Algumas nações indígenas praticavam o que demonstram a adesão de trabalhadores ao discurso
ritual de deglutir pequenas partes do corpo de seus ini- trabalhista e a intervenção de Vargas em uma mani-
migos capturados, principalmente os considerados mais festação cultural genuína, o Carnaval. Outra possibilidade
fortes e poderosos, como uma forma simbólica de inge- é reproduzir alguns sambas do período varguista e soli-
rir seus poderes. Isso não se tratava de uma necessidade citar aos estudantes que identifiquem as noções de “bra-
alimentar nem ocorria com frequência, mas fazia parte silidade” na ideologia varguista. A canção O Bonde de São
de um ritual simbólico. Os europeus utilizaram esse fato Januário, de autoria de Wilson Batista, de 1940, é uma
para considerar os indígenas como selvagens que deve- das principais e mais representativas do período.
riam ser combatidos ou “civilizados”. Sugere-se, ainda, comentar com os estudantes sobre
Destaque que os modernistas se apropriaram da ideia o “mito da democracia racial”, que ganhou notoriedade
de antropofagia, mas de uma forma diferente e também durante o período varguista, ressaltando as tentativas liga-
simbólica, pois a proposta dos artistas era se desvincular das às Ciências Sociais de forjar uma identidade para o
dos modelos artísticos europeus que passaram a ser povo brasileiro. Se considerar válido, apresente o termo
“deglutidos”. Nesse processo, os artistas passaram a uti- para os estudantes e destaque a tendência da área de
lizar alguns dos elementos da arte europeia, mas de forma diminuir os conflitos e a violência presentes no processo
livre e criativa, sem amarras, com o intuito de mostrar de miscigenação. Chame a atenção para as críticas que
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
uma arte nova e essencialmente brasileira. A Semana de foram e continuam sendo feitas a esse tipo de interpreta-
Arte de 1922 trouxe essa proposta e não se limitou às ção que, ao fazer uma gênese do povo brasileiro, escamo-
DA EDITORA DO BRASIL
artes plásticas, abrangendo também a literatura, a música, teou processos e especificidades. Atualmente, teorias
a poesia, a escultura e a arquitetura. Com o passar do como as de (des)colonização e a atuação de pesquisado-
tempo, a perspectiva antropofágica se consolidou e as res indígenas, afrodescendentes e ligados a variadas matri-
obras modernistas são, até hoje, consideradas símbolos zes étnicas vêm produzindo novas interpretações sobre o
da identidade do povo brasileiro. passado e o presente do povo brasileiro, mostrando novas
perspectivas e formas verossimilhantes de pensar o povo
P. 133 brasileiro não mais em sua totalidade, mas propondo pes-
quisas centradas em grupos étnicos. Demonstre aos estu-
Samba, futebol e o elogio ao trabalho dantes que, no entanto, a teoria das três raças (europeia,
Neste tópico, os estudantes vão conhecer como alguns africana e indígena) teve papel importante na “naturaliza-
dos principais símbolos nacionais brasileiros vieram à ção” de uma construção histórica desigual.
tona. Para iniciar o estudo, contextualize e caracterize a
ação de Vargas pela criação da nação brasileira. Espera-se P. 134
que, ao estabelecer o que era “brasileiro”, o governo
excluía aquilo “que não era nacional”, agindo para cons- O Tropicalismo
truir o tipo identitário ideal segundo os próprios parâme- Converse com os estudantes sobre como esse movimento
tros. O trabalhador adquiriu centralidade nesse contexto foi uma das formas por meio da qual os jovens se expressa-
e virou um símbolo de um país promissor, moderno e em ram. Durante o período da ditadura militar, os tropicalistas
desenvolvimento. Essa figura, que atravessa diferentes buscaram uma nova identidade para a arte brasileira. Eles

LXXXIII
modificaram a forma de fazer música ao misturar elementos Além disso, buscava-se firmar o ideal de igualdade,
de diversos estilos musicais e fazer críticas diretas à passivi- embora ele estivesse longe da realidade da maioria
dade de grande parte da sociedade daquela época, além de dos brasileiros.
questionar estereótipos que ligavam o Brasil a um país tro- 2. a) Resposta variável. O estudante poderá citar a criação
pical paradisíaco e pacífico. É importante frisar que vários do IHGB durante o Segundo Império ou as políticas
tropicalistas foram ameaçados e tiveram que deixar o país de Vargas de estímulo ao samba, ao Carnaval e ao
por causa da censura e violência da ditadura militar no Brasil. futebol, entre outras possibilidades.
Se considerar oportuno, escute com os estudantes a b) Resposta variável. O estudante poderá citar o Mo-
música Tropicália, de Caetano Veloso, e solicite que eles dernismo ou o Tropicalismo.
identifiquem elementos de críticas na letra e no ritmo
c) Resposta pessoal. Com base nas próprias experiências
da canção.
e nos estudos do capítulo, sobretudo nas ideias de
Boxe: O brasileiro no Cinema Novo Darcy Ribeiro, espera-se que o estudante identifique
que a identidade nacional brasileira abarca diversas
Explique aos estudantes sobre o contexto do surgi-
identidades regionais, que conectam indivíduos pela
mento do Cinema Novo, quando a cinematografia brasileira
culinária, pela cultura, pelo modo de falar etc.
se afastava muito da realidade da população, represen-
tando personagens e cenários estereotipados e voltando- 3. a) Os modernistas defendiam a absorção de tudo o
-se ao mero entretenimento. Para os cineastas, essa forma que era produzido culturalmente no Brasil para a
conformação de uma verdadeira cultura brasileira.
de narrar o país contribuía para a alienação do povo, que
Ao registrar os patrimônios materiais e imateriais
deveria ver suas questões reproduzidas nas telas para que
brasileiros, a Missão possibilitou o conhecimento
pudesse refletir sobre elas. Se considerar válido e for do
e a sistematização dessas práticas e costumes,
interesse dos estudantes, promova uma sessão de filmes
configurando um material de primeira importância
desse movimento, atentando-se para a classificação etá-
para o projeto modernista.
ria. Assim eles vão entrar em contato com o movimento e
elaborar as próprias conclusões sobre o conteúdo e a esté- b) Espera-se que os estudantes verifiquem as múlti-
tica que propunha. plas territorialidades reveladas pela Missão, que
demonstraram a riqueza cultural e patrimonial das
P. 135 regiões Norte e Nordeste do Brasil.
c) Não, pois Vargas pretendia a criação de uma iden-
Atividades
tidade única e homogênea, com base no trabalho
1. a) As personagens representadas na obra são mulhe- urbano, de modo que todas as demais territoriali-
res e elas estão costurando uma bandeira do Brasil. dades e suas contribuições não tiveram espaço no
Há uma menina que segura uma parte da bandeira Estado Novo.
e um bebê deitado sob ela. 4. a) e b) Incentive a pesquisa sobre o Movimento do
b) A pinturaMATERIAL DEmomento
foi criada num DIVULGAÇÃO
em que o poder Cinema Novo. A elaboração de um roteiro de curta-me-
DA EDITORA
central promovia DO BRASIL
novos símbolos nacionais ligados tragem é uma ótima oportunidade para que os estudan-
à recém-instaurada República. Assim, ela transmite tes exercitem outras linguagens, trabalhando em grupo
que esse modelo político era democrático, pois e realizando discussões e debates, exercendo a empa-
permitia que o país fosse tecido a muitas mãos. Além tia e o diálogo. Sugestão de site sobre escrita de roteiros:
disso, a representação das crianças remete à ideia https://aicinema.com.br/roteiros-de-curtas/credito_
do Brasil como um país jovem. dani-botelho_rock. Acesso em: 3 set. 2020.
c) Diga aos estudantes que a letra é de Medeiros e c) Em data previamente combinada com a turma, é
Albuquerque, a música, de Leopoldo Augusto Miguez, possível promover, em sala de aula, uma exposi-
e que o hino foi publicado no Diário Oficial em 1890. ção dos roteiros e uma discussão sobre o proces-
Espera-se que os estudantes citem que, assim como so de escrita, os conteúdos abordados em cada
todos os hinos, o Hino da República é uma exaltação um deles etc.
à nação e ao povo brasileiro, ressaltando o ideal de
liberdade e de esperança no progresso. Destaca-se, P. 136-137
porém, o trecho “nós não cremos que escravos
Ascensão da juventude
outrora/tivessem havido em tão nobre país/hoje o
rubro lampejo da aurora/ acha irmãos, não tiranos e identidade cultural
hostis/ somos todos iguais!”. A abolição havia ocor- Nesta última unidade do livro acerca da relação entre tec-
rido poucos anos antes, mas o esforço de apaga- nologia, sociedade e fronteira, a sociologia apresenta alguns
mento desse passado, que ainda era vivo no dia a dos principais desdobramentos culturais e políticos ocorridos
dia da população liberta, já constava na letra do hino. no mundo ocidental após a Segunda Guerra Mundial.

LXXXIV
Converse com a turma sobre a obra Guernica, de classe média, o movimento tinha uma atuação literária
Picasso, convidando-os a perceber, a partir da estética contraventora, sem pretensões intelectualizadas ou revo-
artística, como as mudanças sociais transformaram a lucionárias. Preocupados no “existir”, esse tipo de produ-
forma de ver o mundo. Destaque que, naquele período ção, visceral e intensa, consistia em obras autobiográficas,
a esperança e a euforia de outros tempos deram lugar ao em que descreviam experiências pessoais.
desalento, à angústia e à desilusão, tanto para os artistas
Outro tema que pode aproximar os estudantes de movi-
quanto para grande parte da população.
mentos culturais contemporâneos é o K-pop. Produto da
globalização, ele apresenta algumas diferenças com os movi-
O protagonismo juvenil no Pós-Guerra mentos culturais históricos. Iniciado nos anos 1990, na
No cenário de mudanças econômicas e sociais do pós- Coreia do Sul, ganhou notoriedade mundial na década de
-guerra, que mesclava entre o medo surgido com a guerra, 2010, principalmente com as redes sociais. Muitos adoles-
o estado de bem-estar social implementado e o fortaleci- centes de diferentes partes do mundo passaram a aderir a
mento da indústria cultural, a juventude passou a ser pro- esse estilo musical e a se vestir como seus ídolos, formando
tagonista dos movimentos que viriam a ganhar notoriedade uma verdadeira tribo urbana global. O K-pop se difere de
no período, com seus valores e estilos. Para aproximar os outros movimentos por ter sido estimulado principalmente
estudantes da questão, esse tema apresenta uma tentativa pela indústria cultural coreana e pelo Estado coreano.
de desnaturalizar os fenômenos sociais, como a idade
cronológica, que a princípio é dado como natural, e a cons- P. 139-140
trução social da juventude, como elemento permeado pela
cultura, pela economia e pela política. Dessa forma, ser Movimentos sociais
jovem é ter determinada idade, mas também fazer parte Os movimentos sociais podem ser compreendidos
da construção social. como expressão da cidadania, pois conquistaram um
espaço importante diante do enfraquecimento do movi-
P. 138-139
mento operário e sindical. Buscam por novos direitos no
interior do próprio sistema capitalista, de forma a atender
Movimentos culturais
grupos específicos, como o movimento feminista, o movi-
Com a globalização, os movimentos culturais passaram
mento ambientalista e o movimento negro. No Brasil, o
a incorporar os valores econômicos que foram se conso-
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
lidando com o neoliberalismo, como a flexibilidade, a incer-
por exemplo, é reconhecido no mundo todo por sua luta
teza, o eclético e o indeterminado, cujo centro está nas
pacífica pela reforma agrária.
características subjetivas de cada pessoa, suas dores e
angústias, seus gostos e desejos. Nesse sentido, o indiví- P. 141
duo universal da modernidade perde lugar para as espe-
cificidades de cada sujeito. Atividades
Assim, os movimentos culturais que se desenvolvem
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
no período do pós-guerra reivindicam a multiplicidade de
1. Resposta pessoal. Espera-se que o aluno relacione o
processo de construção de sua identidade com os movi-
DA EDITORA DO BRASIL
vozes e demonstram as diversas formas de vulnerabilidade mentos culturais com os quais ele se identifica. É impor-
existentes na sociedade. tante que eles aproveitem essa oportunidade para se
conhecer melhor e identificar gostos mútuos, o que lhes
Dos hippies aos punks propicia a ampliação do círculo de amizades na escola.
Entre os anos 1960 e 1970, os movimentos culturais 2. Esta atividade é importante para o aluno desnatura-
ganharam relevância como forma de contestação da lizar os processos sociais de reivindicação e conhe-
ordem social vigente. Dessa forma, é possível desenvolver cê-lo por meio de um processo analítico e de fontes
com os estudantes o conceito de tribos urbanas para com- de informações confiáveis. Por exemplo, se o estu-
preender esses fenômenos. Entre os exemplos a serem dante quiser ter informações sobre o MST em artigos
abordados, destacam-se os movimentos hippie e punk. acadêmicos e entrevistas de suas lideranças ou até
Também é possível apresentar para a turma outras mesmo visitar algum assentamento, é importante
perspectivas, como a dos beatniks. Movimento de contes- oferecer a ele a condição de analisar os processos
tação à cultura vigente, o beatnik, ou simplesmente beat, históricos da organização do movimento, com seus
se expressava contra o conservadorismo e a Guerra Fria, avanços, dificuldades e retrocessos.
entre os anos 1940 e 1950. 3. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes
O livro mais emblemático dos beatniks foi Pé na estrada, reconheçam que a linha de costura representa a
escrito por Jack Kerouac. Ele inspirou o estilo “mochileiro”, opressão sofrida pelas mulheres negras, que, mui-
compreendendo as viagens como forma de vivenciar o tas vezes, precisam se fazer de cegas ou mudas em
mundo e conhecer a diversidade. Formado por jovens de relação à tal opressão.

LXXXV
b) Para auxiliar os estudantes na pesquisa, indique de um grupo de seu território pode significar a destruição
o site do Itaú cultural, disponível em: https://www. da sua identidade individual e coletiva, já que isso invia-
itaucultural.org.br/cinco-selecoes-para-debater biliza ou dificulta muito a manutenção da organização
-questoes-raciais. Acesso em: 30 jul. 2020. social, de hábitos e costumes, das práticas míticas e reli-
4. Ao desenvolver o seminário com a turma, incentive giosas, do modo de produção e consumo, por exemplo.
os estudantes a refletir como ocorre o processo sis- Se possível, realize um amplo debate sobre a luta dos
temático do conhecimento acerca do mundo que os povos indígenas e quilombolas para incluir na legislação
cerca e sobre o que eles se interessam. Para tanto, o direito a seus territórios ancestrais. Comente que as
destaque a necessidade de organização dos estilos conquistas desses povos foram feitas com base em muita
musicais com que os estudantes se identificam e luta e resistência, mas que ainda não há o respeito inte-
como é possível avançar do senso comum para uma gral a seus direitos.
compreensão fundamentada da organização social
e de seus desdobramentos na cultura. Territórios indígenas
P. 142 Os territórios indígenas são amparados na Constituição,
bem como o reconhecimento da organização e existência
Diferentes territorialidades desses povos. Caso seja possível, selecione alguns exem-
no mundo contemporâneo plos de territórios indígenas demarcados em estudo para
Destaque com a turma a existência de diversas expres- apresentar aos estudantes. É importante fazer uma con-
sões de territorialidade no panorama atual e, consequen- textualização, uma vez que os indígenas não são um grupo
temente, a coexistência de vários territórios que se homogêneo, constituindo-se de diferentes etnias, as quais
sobrepõem no espaço geográfico, mas, nem sempre, de resguardam profundas diferenças entre si em termos
forma harmônica. Uma das formas de ampliar a questão sociais, linguísticos, históricos etc. Convém mencionar que
dos territórios formais/normativos pode ser a pesquisa colocar todos os grupos indígenas sob um rótulo é uma
sobre as divisões políticas que delimitam os Estados Nacio- forma de etnocentrismo, que anula e apaga identidades e
nais e suas subunidades. Também é possível comentar a existência desses grupos.
sobre os territórios apropriados por grupos étnico-raciais e
que são reconhecidos por legislação específica no Brasil, Territórios quilombolas
como as Terras Indígenas e os Territórios Quilombolas. Os territórios remanescentes de quilombolas remontam
ao período escravocrata, relacionados a espaços de luta e
Territórios tradicionais no Brasil: resistência. Os territórios quilombolas carregam a memória
um olhar sobre a diversidade dos escravizados e de seus descendentes que requerem
A proposta desta parte da unidade é debater e refletir permanecer nesses territórios, exigindo reconhecimento e
sobre as diferentes formas de territórios e territorialida- titulação. O mapa da página favorece a visualização dos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
des, localizando no espaço percursos de luta e resistên- territórios quilombolas titulados e em processo.
cia pela manutenção dos modos de vida e da própria
DA EDITORA DO BRASIL
reprodução da vida. Nas próximas páginas, serão abor- P. 145
dadas com certo destaque algumas das comunidades
Territórios associados a atividades
tradicionais brasileiras, com o objetivo de estabelecer
diálogos que favoreçam a compreensão calcada no mul-
econômicas de base extrativista
ticulturalismo, visando não apenas compreender o Comente com a turma que esses territórios não neces-
aspecto da diversidade, mas também, conhecer como os sariamente são demarcados por legislação que garante o
grupos tradicionais se relacionam com a natureza, reve- uso exclusivo por parte dos grupos sociais que se apro-
lando formas de relação que podem parecer estranhas priaram dele. Embora os grupos extrativistas dependam
às sociedades externas a essas realidades, bem como à do uso do território, eles podem compartilhá-lo com outros
lógica de produção e reprodução ampla do capital, mobi- agentes econômicos e sociais, muitas vezes de maneira
lizando o tema transversal meio ambiente. conflituosa, quando essa coexistência impõe limitações
ao uso dos recursos naturais para os povos e comunidades
P. 143-144 tradicionais. Como consequência, eles lutam para manter
o acesso aos territórios e a seus respectivos recursos, por
Territórios associados meio de legislação específica que garanta os seus direitos
a identidades étnico-raciais como povos e comunidades tradicionais. É importante
Ressalte que a identidade étnico-racial e cultural de pontuar os exemplos ilustrados nas próximas páginas,
alguns povos está diretamente associada ao território destacando algumas de suas características principais e
onde eles habitam. Destaque que o processo de retirada formas de organização.

LXXXVI
P. 146-147 P. 151
Boxe: A base de Alcântara nas disputas pelos Territórios corporativos:
territórios quilombolas a apropriação privada do espaço
A seção tem como objetivo propiciar um amplo debate
Ao abordar este tópico, é possível fazer um contraponto
sobre o Movimento Negro no Brasil contemporâneo. Para
em relação aos territórios tradicionais. Se por um lado eles
tanto, apresenta-se como exemplo a criação da Coalizão
estão relacionados à sobrevivência de povos e comunidades
Negra por Direitos, que abarca 150 organizações, entidades,
que dependem do uso e da apropriação do território para
grupos e coletivos que têm atuado a favor dos direitos da
garantir sua identidade étnico-racial e cultural, por outro,
população negra no Brasil, em suas diversas vertentes. Para
aqueles que não têm nenhuma relação direta com o território
dar mais concretude ao tema, o texto explora a campanha
como base identitária visam apenas às vantagens que podem
Alcântara é Quilombola, organizada pela Coalizão Negra por
ser obtidas pela exploração privada de recursos naturais ou
Direitos. Com base nessa leitura, sugira uma discussão
pela exploração de mão de obra barata, a fim de lograr altas
sobre a importância da organização da sociedade civil, já
taxas de lucro em seus processos produtivos. Dessa maneira,
que, não raro, os direitos civis básicos e os direitos de povos
explique aos estudantes que, à medida que determinado ter-
e comunidades tradicionais, ainda que assegurados pela
ritório não mais satisfaz a busca pela obtenção de taxas ele-
legislação, não se concretizam em sua plenitude.
vadas de lucro para as corporações, elas não hesitam em
RESPOSTAS abandoná-lo para explorar outros que ofereçam melhores
1. Espera-se que os estudantes apresentem informações condições para seu enriquecimento. Portanto, o debate sobre
e dados sobre o perfil socioeconômico da população o papel do Estado, no mundo contemporâneo, é essencial
negra no âmbito da sociedade brasileira, destacando para ampliar as reflexões sobre as tensões existentes entre
fatos como: os menores indicadores de renda, empre- o público e o privado, entre a sociedade e o mercado, que
gabilidade, nível de instrução e precariedade no mer- devem ser mediadas pelo Estado. Comente que, em alguns
cado de trabalho, ou seja, as piores condições de casos, o Estado pode ser guiado por interesses corporativos,
acesso a bens e serviços básicos por parte dessa par- mas as lutas e resistências dos grupos sociais mais vulnerá-
cela da população. Com base nesse panorama, espe- veis estão sempre presentes, ainda que de forma bastante
ra-se que os estudantes pontuem que a Coalizão desproporcional, devido ao baixo poder político. Incentive os
Negra por Direitos cumpre um papel relevante na estudantes a ponderar se uma melhor compreensão sobre
busca por justiça e equidade social, uma vez que reúne esses embates pela sociedade, no geral, pode alterar esse
esforços de diversas instituições, o que facilita a orga- quadro de vulnerabilidade.
nização a dar maior efetividade ao Movimento Negro
no país. Esses dados podem ser pesquisados e obtidos P. 152
em instituições oficiais, como o Instituo Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Conflitos de classe e segregação
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO socioespacial: os territórios da exclusão
2. Espera-se que, ao comparar diversos agentes do Movi-
mento NegroDA EDITORA
Brasileiro, DO BRASIL
os estudantes percebam a diver- Comente com a turma sobre a apropriação desigual do
sidade de demandas e a existência de distintas formas espaço geográfico pelas classes sociais, ressaltando as
de organização. É importante destacar para a turma a desigualdades étnico-raciais que as permeiam. Um tópico
importância dos movimentos sociais na busca pela relevante a ser abordado é a questão fundiária, tanto no
garantia de direitos e pela redução das desigualdades. campo como nas cidades. É possível destacar que a
3. Resposta pessoal. Caso julgue interessante, faça uma extrema concentração de terras no Brasil ocorre pela des-
discussão com os estudantes sobre a tensão entre mesurada apropriação de imóveis rurais e urbanos pelas
tradição e modernidade. É possível pontuar que algu- classes sociais mais abastadas.
mas sociedades ainda mantêm certa harmonia entre
esses aspectos; outras estão em desequilíbrio ou P. 153
incentivam demasiadamente o processo de moder-
Atividades
nização em detrimento do que é tradicional.
4. Resposta pessoal. Durante as proposições realizadas 1. Incentive os estudantes a se organizarem para realizar
pelos estudantes, é possível fazer algumas observa- a pesquisa. Convém destacar que:
ções, como identificar e debater algumas violações • Povos indígenas são ameaçados pelo desmatamen-
aos direitos humanos e às normas gerais que regem to por causa do avanço do agronegócio e da mine-
nossa sociedade. Explique que os embates políticos ração; pela construção de grandes obras de infraes-
precisam ocorrer dentro de determinados limites, trutura, como estradas que atravessam suas terras;
prezando pela resolução pacífica dos conflitos. e pelo desrespeito à sua cultura e forma de vida.

LXXXVII
• Comunidades quilombolas enfrentam questões P. 154-155
ligadas ao histórico de invisibilidade das popu-
lações negras no Brasil; dificuldades no acesso Pesquisa: A construção e os limites do
a serviços públicos, infraestrutura, direitos bási- bairro: ocupação e memórias
cos e distanciamento geográfico. Ademais, as
A mobilização social do bairro é uma forma de assimilar
comunidades remanescentes dos quilombos e
diversos conceitos abordados na unidade, uma vez que se
os povos quilombolas lutam para reconhecimen-
aproxima da realidade dos estudantes, permitindo que ele-
to, demarcação e titulação de suas terras, que
mentos e relações sejam observados de forma concreta, o
sofrem constantes ameaças de grilagem, des-
que possibilita maior apropriação do conteúdo.
matamento e especulação imobiliária.
O método de pesquisa proposto traz reflexões sobre a
• Comunidades caiçaras precisam lidar com o
relação entre o pesquisador e o objeto, o que suscita a
turismo predatório, especulação imobiliária, so-
discussão sobre a neutralidade científica e contribui para
brepesca, entre outros.
a valorização do método científico e para o desenvolvi-
• Comunidades ribeirinhas estão sujeitas à des- mento da consciência crítica.
truição e à poluição, sobretudo, do bioma ama-
Oriente os estudantes na construção do questionário e
zônico em razão da construção de grandes obras
de infraestrutura nos rios, principalmente as na determinação de pontos da entrevista e números de
hidrelétricas, além da caça e pesca predatórias, entrevistados, pensando na extensão da área estudada.
da exploração de madeira e da extração mineral. Auxilie os grupos na elaboração de mapas e gráficos,
• Seringueiros: muitas reservas extrativistas não com destaque para os dados mais interessantes e signifi-
têm condições de infraestrutura mínimas, o que cativos coletados em cada pesquisa, que leva a sugestões
traz poucos benefícios para as comunidades ins- de temas a serem representados ou não.
taladas, além da biopirataria e dos conflitos por Os mapas podem ser elaborados no computador, com
posse de terras. recortes do Google e ferramentas de edição de imagens,
• Cipozeiros lidam com a destruição da mata atlân- em softwares de SIG ou mesmo à mão, considerando a
tica nativa e dos cipós e com as restrições no disponibilidade de materiais e a familiaridade dos estudan-
acesso aos territórios tradicionalmente utilizados tes com tais tecnologias. O mesmo vale para os gráficos.
por eles. Essa seção privilegia o desenvolvimento da habilidade
• Apanhadores de sempre-vivas: uma das principais EM13CHS205, mas também aperfeiçoa as habilidades
ameaças a seu modo de vida refere-se à criação EM13CHS204 e EM13CHS206. O Tema Contemporâneo
de áreas de preservação integral sobrepostas Transversal trabalhado é Vida Familiar e Social, que faz
aos campos de coleta tradicionais, além da ex- parte da macroárea Cidadania e Civismo.
ploração do trabalho pelos proprietários das
terras particulares e da grilagem de terras.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO INDICAÇÕES
2. Espera-se que os estudantes mencionem que as for-
DA EDITORA DO BRASIL
mas dessas comunidades garantirem seu direito à
COMPLEMENTARES
terra podem ser diversas. A Constituição e outros dis-
Filmes
positivos legais garantem às comunidades tradicio-
nais, como indígenas e quilombolas, respaldo à A casa de areia, direção de Andrucha Waddington. Brasil.
ocupação e reconhecimento, portanto, cobrança e 2005, (115 min).
denúncias junto ao poder público são um caminho. Trio parte em busca do sonho de viver em terras prósperas,
Outras formas de organização podem ser por meio de o qual se transforma em pesadelo quando eles descobrem
manifestações que demonstrem os riscos a que estão que as terras estão em um lugar totalmente inóspito, rodea-
submetidas. Essas reflexões devem ser concluídas do de areia por todos os lados e sem nenhum indício de civi-
lização por perto.
com a elaboração de propostas pelos alunos para o
problema exposto, levando em consideração posturas Na Estrada, direção de Walter Salles. Brasil/França/Canadá,
éticas e que respeitem os direitos humanos. 2012. (140 min).
3. Resposta pessoal. É importante pontuar que a legis- Adaptação cinematográfica de Pé na estrada, de Jack Kerouac.
lação brasileira apresenta dispositivos que garantem O filme se passa em Nova York, no final dos anos 1940. O per-
proteção e não violação aos direitos indígenas. Mui- sonagem Sal Paradise conhece Dean Moriarty e sua esposa,
tas vezes, faltam fiscalização e cumprimento das Marylou. Ao sonhar com um outro mundo, eles constroem uma
amizade que os levará a viajar.
legislações vigentes. Por esse motivo, é importante
haver compromisso por parte dos governos e de seus Tropicália, direção de Marcelo Machado. Brasil, 2017.
órgãos competentes para fazer cumprir a lei. (87 min).

LXXXVIII
Nesse documentário, o cenário cultural do Brasil da década http://www.verinotio.org/sistema/index.php/verinotio/
de 1960 bem como a repressão do regime militar são anali- article/view/16/6. Acesso em: 8 set. 2020.
sados, com a finalidade de lançar luz e mostrar diferentes
O propósito do artigo é delimitar as principais características
pontos de vista sobre o Tropicalismo.
da paixão, entendida como movimento das potências huma-
no-sociais do sentir.
Livros
CARVALHO, Marta M. Chagas de. A escola e a República. AMARAL, F. B.; MACHADO, M. I. Territorializações e sujei-
São Paulo: Brasilense, 2001. (Coleção Tudo é História). tos: das utopias às possibilidades. Curitiba: Editora Inter-
saberes, 2019.
Nessa obra, a autora relaciona a escola aos princípios mo-
dernizantes e homogeneizadores do Brasil durante a Primei- Reflete sobre de que forma o fazer e o saber modernos interfe-
ra República. riram nas concepções de natureza e de sociedade e sobre as
consequências que a modernidade radical trouxe para o mundo.
DORATIOTO, Francisco. A guerra do Paraguai. São Paulo:
Brasiliense, 2010. (Coleção Tudo é História). ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado Absolutista. São
Paulo: Unesp, 2016.
O historiador Francisco Doratioto é um dos principais espe-
cialistas na Guerra do Paraguai e, nessa obra, faz um relato Esta obra traça o desenvolvimento dos Estados absolutistas
amplo do conflito: causas e desdobramentos. fundamentado nas raízes do feudalismo europeu, no início
do período moderno, e avalia suas diversas trajetórias. Ao
GARCIA, Antônia dos Santos. Desigualdades raciais e se- abarcar uma variada gama de exemplos e cenários, Perry
gregação urbana em antigas capitais: Salvador, Cidade Anderson coloca o desenvolvimento dos Estados europeus
D’Oxum, e Rio de Janeiro, Cidade de Ogum. Rio de Janei- no cerne das discussões sobre uma história universal, dando
ro: Editora Garamond, 2009. novo fôlego ao estudo das monarquias absolutistas e do mo-
do de produção que gestou o sistema capitalista.
O livro analisa a relação entre a segregação urbana em
Salvador e no Rio de Janeiro e a discriminação racial. A aná-
AQUINO, Maria Aparecida de. Censura, imprensa e estado
lise de indicadores de ocupação, educação, renda, bens ur-
banos e serviços de consumo coletivos evidencia como a autoritário (1968-1978): o exercício cotidiano da domina-
metrópole moderna recria a hierarquia racial, que se mantém ção e da resistência. O Estado de São Paulo e Movimento.
como um pilar da sociedade brasileira contemporânea. Bauru: Edusc, 1999. p. 17.
Na obra, a autora analisa o contexto mundial em que a Dita-
JÚNIOR, Catelli. Brasil: do café à indústria. São Paulo: Bra- dura Civil-Militar no Brasil estava inserida e se debruça sobre
siliense, 2004. (Coleção Tudo é História). a organização da censura pelo Estado autoritário.
O historiador narra de forma didática as transformações políticas,
econômicas e sociais, fruto da produção e exportação do café. ARRUDA, Jobson de Andrade. A Revolução Inglesa. São
Paulo: Ed. Brasiliense, 1984.
TRAVASSOS, Elizabeth. Modernismo e música brasileira.
O autor analisa a Revolução Inglesa de 1640 e mostra como,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. (Coleção Descobrindo pela primeira vez na história, a burguesia transformou a es-
o Brasil).
DA EDITORA DO BRASIL trutura política, social e econômica da Inglaterra.
Nessa obra, o modernismo é analisado por meio de seus prin-
cipais músicos e obras como Heitor Villa-Lobos. BHABHA, Homi. O local da cultura. 2. ed. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2013.
Uma das mais importantes obras da teoria pós-colonial, o li-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS vro apresenta análises inovadoras sobre a dominação colonial
ALMEIDA, Paulo Roberto de. A economia internacional e a subjetividade dos colonizados, tratando principalmente
no século XX: um ensaio de síntese. Rev. bras. polít. int., das negociações culturais estabelecidas nessa relação.
Brasília, v. 44, n. 1, 2001, p. 112-136.
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências hu-
O artigo apresenta o histórico da economia internacional na se- manas. São Paulo: Zahar, 1999.
gunda metade do século XX, ressaltando a criação de organis-
mos supranacionais, os principais embates no comércio Obra importante sobre a globalização e seus impactos para a
internacional que marcaram o período e sua influência na geo- vida cotidiana nas relações econômicas e sociais, que passam
política. A globalização capitalista e as desigualdades estrutu- a ser cada vez mais efêmeras.
rais entre países e sociedades também é um tema de destaque
no artigo, que foi abordado ao longo desta obra. BECKER, Bertha. Síntese das contribuições da oficina da Po-
lítica Nacional de Ordenamento Territorial. In: Oficina sobre
ALVES, A. J. L. Os descaminhos da paixão: o problema da a Política Nacional de Ordenamento Territorial, 2003, Brasí-
afetividade alienada do mundo capitalista. In: Verinotio – lia. Para pensar uma política nacional de ordenamento terri-
Revista de Filosofia e Ciências Humanas, n. 5 (2006): torial. Anais... Brasília: BRASIL/MI/SDR, 2005. p. 71-78.

LXXXIX
Neste artigo, a autora faz uma revisão sobre o conceito de organização dos Estados e na configuração do sistema inter-
território nos estudos geográficos e no âmbito do planeja- nacional. As fronteiras, como qualquer outro fenômeno de
mento governamental brasileiro. De forma bastante didática, ordem social, se transformam em cada período histórico, ga-
diversas nuances do conceito são apresentadas, evidencian- nhando novas formas e funções, conforme o autor evidencia
do como diferentes correntes teóricas têm utilizado o con- no atual contexto da globalização.
ceito para analisar fenômenos socioespaciais no mundo
contemporâneo. CASALEGNO, F. Sherry Turkle: fronteiras do real e do vir-
tual – entrevista com Sherry Turkle. In: Revista Famecos,
BRENNER, Neil et al. State/Space. A Reader. Oxford: Porto Alegre, n. 1, dez. 1999, semestral, p. 117-123.
Blackwell Publishers, 2003.
Nesta entrevista, Sherry Turkle revela a sua visão do universo
O capítulo deste livro resgata a origem dos Estados Nacionais das novas tecnologias da comunicação e mostra as vantagens
e apresenta uma ampla revisão bibliográfica sobre o conceito que cada usuário pode obter ao mergulhar no mundo virtual.
de Estado, destacando a contribuição de autores de diversas
áreas de conhecimento, como Filosofia, História, Geografia, CASTEL, Robert; WANDERLEY, Luiz Eduardo W.; PAUGAM,
Sociologia e Direito Internacional. Serge; WANDERLEY, Mariangela Belfiore. Desigualdade e
a questão social. São Paulo: Educ, 2013.
BORON, A.(org.) A filosofía política moderna. De Hobbes
a Marx. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciên- Neste livro, diferentes autores, entre eles o sociólogo francês
cias Sociales – CLACSO; San Pablo: Departamento de Ciên- Robert Castel, analisam a exclusão social que se amplia com
cia Política – FFLCH – Universidade de São Paulo, 2006. a crise dos serviços públicos de proteção social.

Esta obra reúne artigos de diversos estudiosos, como Renato


CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 4. ed. São Paulo:
Janine Ribeiro e Marilena Chaui, sobre conceitos e questões
do pensamento filosófico moderno. Paz e Terra, 2000.
Neste livro, o autor discute as características das sociedades
BRASIL. Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Ins- contemporâneas, destacando a passagem do século XX para
titui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável o século XXI. Nesse período, as sociedades seriam marcadas
dos Povos e Comunidades Tradicionais. Disponível em: por grande integração e interação no panorama mundial, pro-
http://www.planalto.gov.br/ccivil _03/_ato2007 piciada pela conformação de redes materiais e imateriais que
-2010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em: 8 set. 2020. tornam o mundo cada vez mais globalizado.
O Decreto Federal busca promover o desenvolvimento sus-
tentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, com ênfase CASTELLS, Manuel. Fim de milêno: a era da informação. São
no reconhecimento, no fortalecimento e na garantia dos seus Paulo: Paz e Terra, 2020.
direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e cultu-
Neste livro, o autor aborda o papel da informação na dinâ-
rais, com respeito e valorização de sua identidade, suas for-
mica política, econômica e social que caracteriza a huma-
mas de organização e suas instituições.
nidade no início de século XXI. No panorama da
BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão globalização e dos avanços científicos e tecnológicos, a in-
formação tornou-se um fator crucial na organização social
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
da política antidemocrática no Ocidente. São Paulo: Edi-
das sociedades contemporâneas.
tora Politeia, 2019.
DA EDITORA DO BRASIL
Crítica ao neoliberalismo, a obra analisa como essa política CASTRO, Iná Elias de. Geografia e política: território, esca-
econômica está associada a regimes autoritários, que supri- las de ação e instituições. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
mem as liberdades individuais para se consolidar.
Brasil, 2013.
CATAIA, Márcio. Território nacional e fronteiras internas – O livro traz tópicos essenciais à Geografia Política, a exem-
a fragmentação do território brasileiro. 2001. Tese (Dou- plo da questão das fronteiras, do uso do território nacional,
torado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, das identidades nacionais e das relações internacionais.
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, Assim, destacam-se na obra temas como as relações entre
São Paulo, 2001. território e conflitos, a organização territorial do Estado
moderno, o espaço e a representação política, os regiona-
O autor apresenta um profundo debate teórico e conceitual
lismos e a cultura política, além do sistema internacional
sobre território e fronteiras, além de um estudo empírico so-
bre a formação das fronteiras internas no Brasil e suas impli- contemporâneo.
cações no âmbito das relações políticas e sociais que marcam
a sociedade brasileira. CINCO epidemias que ajudaram a mudar o rumo da histó-
ria. BBC. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/
CATAIA, Márcio. Quem tem medo das fronteiras no período geral-51961141. Acesso em: 26 ago. 2020.
da globalização? In: Revista Terra Livre, São Paulo, ano 29, A reportagem traz informações sobre cinco epidemias que in-
v. 1, n. 40, p. 65-80, jan./jun. 2013. fluenciaram a dinâmica populacional, política e econômica na
Neste artigo, o autor debate a questão das fronteiras internas escala regional ou mundial, evidenciando o papel das epide-
e externas no mundo atual, reforçando sua relevância na mias nas dinâmicas demográficas ao longo da história.

XC
COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes vir- DELEUZE, G. A ilha deserta e outros textos: textos e entrevis-
tudes. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. tas (1953-1974). São Paulo: Editora Iluminuras, 2004. v. 1.
Dirigido ao grande público, discute sobre algumas virtudes, Este primeiro volume reagrupa a quase totalidade dos textos de
definindo-as e mostrando porque são necessárias. Gilles Deleuze publicados na França e fora dela entre 1953 e 1974.

COSTA, Gustavo Villela Lima da. O muro invisível: a nacio- DIAS, L. C.; FERRARI, M. (org.) Territorialidades humanas
nalidade como discurso reificado na fronteira Brasil-Bolívia. e redes sociais. Florianópolis: Insular, 2013.
In: Tempo Social, Revista de Sociologia da USP, v. 25, n. 2, Este livro leva à reflexão mais ampla sobre os territórios e as
p. 141-156, 2013. territorialidades humanas.
Neste artigo, o autor debate como as fronteiras apresentam tam-
bém uma dimensão imaterial, ou seja, como elas criam barreiras DOSSE, F. A história do estruturalismo. São Paulo: Editora
sociais que separam grupos com distintas identidades nacionais. Ensaio, 1996. v. I-II.
Há também uma importante discussão sobre segregação social
Reflexão sobre a história intelectual contemporânea, tendo
decorrente dessas fronteiras invisíveis, que separam aqueles que
por objetivo destacar o Estruturalismo.
pertencem e aqueles que não pertencem ao território nacional.
FERNANDES, Gide José. Tratados internacionais: o que
COSTA, Wanderley Messias da. Geografia política e geo-
são, tipos e como funcionam. In: Blog da Fundação Insti-
política. São Paulo: Edusp, 1992.
tuto de Administração – FIA, 7 fev. 2019. Disponível em:
Neste livro, o autor traça as principais características das cor- https://fia.com.br/blog/tratados-internacionais. Acesso
rentes teóricas da Geografia Política Clássica, da Geopolítica do
em: 8 set. 2020.
período entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial e da Geo-
grafia Política Contemporânea. Como principais tópicos da Geo- Neste texto, o autor explica o significado dos principais termos
grafia Política Contemporânea, destaca-se a abordagem da que caracterizam as relações exteriores no mundo atual, a
questão do Estado, das fronteiras e das identidades nacionais. exemplo dos conceitos de tratados e convenções, do signifi-
cado de “ratificação” de tratados internacionais, entre outros
CURVO, Raul Murilo Chaves. Comparação entre as grandes aspectos. Esse vocabulário é essencial na compreensão dos
crises sistêmicas do sistema capitalista (1873, 1929 e debates que envolvem a Geografia Política e a Geopolítica.
2008). Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Instituto de Economia, 2011. FERRO, Marc. História das colonizações: das conquistas às
independências. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Nesta pesquisa, o autor descreve e explica os fundamentos e
as implicações das principais crises sistêmicas do sistema Neste livro, um dos mais abrangentes sobre o tema das coloni-
capitalista, como a crise de 1873, a crise de 1929 e a crise de zações do século XIII ao XX, o autor trata das particularidades
2008, mostrando os aspectos em comum e as peculiaridades do colonialismo europeu e das semelhanças e diferenças dele
de cada um desses processos históricos. com outras formas de colonialismo ocorridas na História. Assim,
constrói uma visão consistente sobre as causas e os efeitos do
DANNER, F. O sentido da biopolítica em Michel Foucault. In: colonialismo no atual estágio político e econômico mundial.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Revista Estudos Filosóficos, n. 4 /2010 – versão eletrônica
DA EDITORA DO BRASIL
– ISSN 2177-2967 DFIME – UFSJ - São João del-Rei (MG), FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica: curso dado no
p. 143-157. Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fon-
tes, 2008.
O texto defende a ideia de que tanto a anátomo-política do
corpo como a biopolítica da espécie foram os dois procedi- Curso ministrado por Michel Foucault no Collège de France,
mentos de poder postos em prática pelo Estado moderno e de janeiro a abril de 1979, em que o autor analisa as formas
que têm como tarefa principal a formatação e o controle do de governabilidade liberal.
indivíduo e da própria sociedade.
FOUCAULT, M. Segurança, território, população. São Paulo:
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classes. São Paulo: Boi- Martins Fontes, 2008.
tempo, 2016. Curso ministrado por Michel Foucault no Collège de France,
A filósofa Angela Davis, ativista e professora, explica como a de janeiro a abril de 1978, em que o autor analisa a implan-
questão de classe, raça e gênero atinge as mulheres negras tação do biopoder.
nos países que passaram pela colonização e pela escravidão.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petró-
DELEUZE, G. Conversações: 1972-1990. São Paulo: Edi- polis: Vozes, 1987.
tora 34, 1992. Examina um dos mecanismos sociais e teóricos que motiva-
Coletânea de entrevistas concedidas por Gilles Deleuze ao ram as grandes mudanças que se produziram nos sistemas
longo de 20 anos, além de cartas e ensaios sobre política, li- penais ocidentais durante a Era Moderna. Analisa a vigilância
teratura e televisão, possibilitando a introdução ao pensamen- e a punição presentes em várias entidades estatais (hospitais,
to do filósofo francês. prisões e escolas).

XCI
GOMES, Geórgia; LOPES, Joana. A crise migratória no sécu- Neste livro, o autor discute como as escalas local, regional,
lo XXI. Porto Alegre: UFRGS, 2017. Disponível em: nacional e global estão interligadas, cada uma contribuindo
https://www.ufrgs.br/ripe/wp-content/uploads/2017/05/ para a manutenção de certos fenômenos e processos eco-
nômicos, sociais e políticos. Um tópico de destaque é o pa-
migra%C3%A7%C3%B5es.pdf. Acesso em: 26 ago. 2020.
pel que grandes corporações assumem na atualidade,
Trata-se de um encarte bastante didático e informativo sobre sobretudo no que diz respeito à apropriação privada de ter-
as migrações ocorridas no início de século XXI, voltado ao pú- ritórios e seus recursos.
blico geral. Ele traz conceitos importantes, como o de refugia-
dos, deslocados internos e apátridas, além de dados oficiais HEGEL, G. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. São Paulo:
sobre o tema, seguindo parâmetros estabelecidos pela Orga- Martins Fontes, 1997.
nização das Nações Unidas. Texto clássico do pensamento filosófico, expõe a filosofia do
direito hegeliana.
GOMES, Gonçalo Santa Clara. O papel dos Estados Unidos
na Nova Ordem Internacional. In: Revista de Relações In- HEGEL, G. W. F. Enciclopédia das ciências filosóficas: em
ternacionais, n. 3, set. 2004. Disponível em: http://www. epítome. Lisboa: Edições 70 (s/d). v. III.
ipri.pt/images/publicacoes/revista_ri/pdf/r3/RI3_GSCG.
Texto clássico do pensamento filosófico, definido pelo autor
pdf. Acesso em: 26 ago. 2020. como um panorama geral do conjunto abrangido pela filosofia.
Neste artigo, o autor define o conceito de ordem mundial, ca-
racteriza as ordens bipolar e multipolar e discute o papel das HOBBES, T. O Leviatã ou matéria, forma e poder de um es-
potências econômicas e militares nas relações de poder que tado eclesiástico e civil. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
sustentam um dado sistema internacional. O texto traz noções (Coleção Os Pensadores).
básicas para a discussão do tema.
Obra clássica da filosofia política em que se teoriza a matéria,
GOMES, Henrique Manuel Candeias Rosa. A nova ordem a forma e o poder do Estado eclesiástico e civil. O Estado civil
mundial: do fim do mundo bipolar à emergência de novos é caracterizado como o homem artificial, constituído pela
actores internacionais. Dissertação de Mestrado em Estu- união de todos os indivíduos.
dos Euro-Asiáticos apresentada à Universidade Aberta,
Lisboa, 2009. HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios: 1875-1914. São
Paulo: Paz e Terra, 2015.
Nesta pesquisa o autor descreve e analisa as principais carac-
terísticas das ordens mundiais bipolar e multipolar, dando ên- Parte da série clássica do autor britânico, o livro discute a for-
fase ao contexto histórico e às disputas geopolíticas que mação dos impérios coloniais e os antecedentes da Primeira
conformaram o sistema internacional em cada período. Gran- Guerra Mundial.
de atenção foi dada aos atores políticos que sustentam as or-
dens mundiais, sobretudo aos países que atuam como HOBSBAWN, Eric. J. A era dos extremos: o breve século XX.
potências econômicas e militares no cenário internacional e São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
as organizações supranacionais.
Obra do historiador Eric Hobsbawn sobre o século XX e seus
HAESBAERT, Rogério. Desterritorialização, Multiterritoria- principais eventos políticos e econômicos.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
lidade e Regionalização. In: Oficina sobre a Política Nacio-
IBGE lança estudo metodológico sobre mudança demo-
nal de Ordenamento Territorial, 2003, Brasília. Para pensar
DA EDITORA DO BRASIL
uma política nacional de ordenamento territorial. Brasília: gráfica e projeções de população. IBGE. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de
BRASIL/MI/SDR, 2005, p. 15-30.
-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/9831
O artigo aborda distintas conceituações de território nos es- -ibge-lanca-estudo-metodologico-sobre-mudanca
tudos geográficos, chamando a atenção para os processos de -demografica-e-projecoes-de-populacao. Acesso em: 26
territorialização de diferentes atores sociais, políticos e eco-
ago. 2020.
nômicos e para a coexistência de múltiplos territórios no es-
paço geográfico, aspectos destacados nesta obra. A reportagem traz uma breve síntese do documento com in-
formações sobre a dinâmica da população no Brasil, tendo
HAESBAERT, Rogério; LIMONAD, Ester. O território em como base os dados levantados pelo Censo Demográfico de
tempos de globalização. In: Etc... espaço, tempo e crítica. 2010, a exemplo de projeções da população no curto, médio
n. 2 (4), v. 1, 15 ago. 2007. Disponível em: https://www. e longo prazos, pautadas em indicadores de natalidade, mor-
e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/ talidade, fecundidade e taxas de migração.
view/49049. Acesso em: 26 ago. 2020.
INTERNATIONAL MONETARY FUND – IMF. World economic
Neste artigo, os autores debatem a questão do território no con- outlook. Washington, DC: IMF, 2019. Disponível em: https://
texto da globalização, sua ressignificação diante das teorizações www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2019/10/01/
e conceituações mais tradicionais da Geografia Política, e as no- world-economic-outlook-october-2019. Acesso em: 26 ago.
vas perspectivas para compreensão do território nos dias atuais. 2020.
HAESBAERT, Rogério. Regional-Global: dilemas da região Trata-se de um relatório anual do Fundo Monetário Inter-
e da regionalização na Geografia contemporânea. Rio de nacional, com dados de 2018 referentes à economia inter-
Janeiro: Bertrand Brasil, 2010. nacional, sobretudo à dinâmica de crescimento/retração

XCII
econômica e às disparidades entre países ricos e emergen- A página vinculada ao site do Ministério das Relações Interna-
tes e entre as diversas regiões do mundo. cionais do Brasil apresenta informações básicas sobre a criação
e o funcionamento da Organização Mundial do Comércio (OMC).
INTERNATIONAL Organization for Migration – IOM. World
Migration Report 2020. Switzerland: IOM, 2020. Disponí- KANT, I. A Paz Perpétua. Um projecto filosófico. Portugal:
vel em: https://publications.iom.int/books/world-migration Universidade da Beira Interior, 2008.
-report-2020. Acesso em: 26 ago. 2020.
Obra em que Kant argumenta sobre a paz perpétua entre as
Trata-se de um relatório anual da Organização Internacional pa- nações, que se constrói porque a razão tem mais força do que
ra Migrações, que faz parte da Organização das Nações Unidas. o poder.
O documento apresenta dados e informações sobre as migra-
ções, tendo como referência o ano de 2019, sobretudo no que
KLEIN JUNIOR, P.; OLSSON, G. O sistema TRIPS como ins-
diz respeito aos refugiados, deslocados internos e apátridas.
trumento de poder das corporações transnacionais na socie-
dade globalizada. In: Rev. Direito Econ. Socioambiental, Curi-
INTERNATIONAL Organization for Migration – IOM. World
tiba, v. 9, n. 1, p. 164-186, jan./abr. 2018. Disponível em:
Migration Report 2003. Switzerland: IOM, 2003. Disponí-
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6511233.
vel em: https://www.iom.int/world-migration-report-2003.
Acesso em: 26 ago. 2020.
Acesso em: 26 ago. 2020.
O texto aborda o papel das grandes corporações nas relações
Trata-se de um relatório anual da Organização Internacional
internacionais e na apropriação e uso do território, destacan-
para Migrações, que faz parte da Organização das Nações
Unidas. O documento apresenta dados e informações sobre do as tensões políticas, econômicas e sociais que emergem
as migrações tendo como referência o ano de 2002, sobre- da atuação dessas corporações em relação aos interesses ge-
tudo o que diz respeito aos refugiados, deslocados internos rais de cada sociedade.
e apátridas.
LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Mar-
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. tins Fontes, 1998.
Mudança demográfica no Brasil no início do século XXI. Obra clássica da filosofia política em que se teoriza que o fun-
Subsídios para as projeções da população. Rio de Janeiro: cionamento da sociedade é pautado no direito natural e no
IBGE, 2015. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
estabelecimento de um contrato social.
index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id
=293322. Acesso em: 26 ago. 2020.
MACHADO, M. W.; MATSUSHITA, T. L. Globalização e blo-
O documento traz informações sobre a dinâmica da população no cos econômicos. In: Revista de Direito Internacional e Glo-
Brasil, tendo como base os dados levantados pelo Censo balização Econômica, v. 1, n. 1, 2019. Disponível em:
Demográfico de 2010. Também são apresentadas projeções da http://200.144.145.24/DIGE/article/view/42353/28124.
população no curto, médio e longo prazos, pautadas em indicado- Acesso em: 26 ago. 2020.
res de natalidade, mortalidade, fecundidade e taxas de migração.
Neste artigo, o autor identifica e caracteriza os principais blocos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
INSTITUTO Socioambiental. Povos Indígenas no Brasil. econômicos regionais da atualidade, descrevendo sintetica-
Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Página_ mente seu processo de criação e suas modalidades. Também
DA EDITORA DO BRASIL
principal. Acesso em: 26 ago. 2020. se discute a relação entre a globalização e a disseminação de
A página apresenta informações e dados sobre a população in- blocos econômicos regionais nas últimas décadas.
dígena no Brasil, a exemplo da identificação e caracterização
dos povos indígenas que vivem no país, da legislação de prote- MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individua-
ção a esses povos e da situação legal das terras indígenas. lismo nas sociedades de massa. São Paulo: Forense Uni-
versitária, 2014.
ITAMARATY. Concórdia. Acervo de atos internacionais do Análise sociológica sobre as tribos urbanas, defendida como
Brasil. Disponível em: https://concordia.itamaraty.gov.br. uma forma contemporânea de criação de vínculos sociais.
Acesso em: 26 ago. 2020.
O site apresenta uma lista dos atos internacionais do Brasil, MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Edipro, 2018.
contemplando tratados, convenções e acordos firmados com Nesta obra, que é um clássico sobre o pensamento político, o
outros países, sendo possível consultar os detalhes de cada grande escritor Maquiavel mostra como funciona a ciência políti-
ato internacional listado. ca. Discorre sobre os diferentes tipos de Estado e ensina como
um príncipe pode conquistar e manter o domínio sobre um Esta-
ITAMARATY. Organização Mundial do Comércio. Disponível do. Trata daquilo que é o seu objetivo principal: as virtudes que o
em: http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/ governante deve adquirir e os vícios que deve evitar para manter-
diplomacia- economica- comercial- e -financeira / -se no poder. Maquiavel mostra em O Príncipe que a moralidade
132-organizacao-mundial-do-comercio-omc. Acesso em: e a ciência política são separadas. Ele aponta a contradição entre
26 ago. 2020. governar um Estado e, ao mesmo tempo, levar uma vida moral.

XCIII
MARTINS, C. Z.; MARTINS, V.; VALIM, R. Lawfare: uma intro- MORAES, A. C. R. Ordenamento territorial: uma conceitua-
dução. São Paulo: Contracorrente, 2019. ção para o planejamento estratégico. In: Oficina sobre a
Obra recente sobre o uso cada vez mais recorrente do sistema Política Nacional de Ordenamento Territorial, 2003, Brasí-
judiciário para perseguição política de opositores. lia. Para pensar uma política nacional de ordenamento ter-
ritorial. Anais. Brasília: BRASIL/MI/SDR, 2005, p. 43-47.
MARX, K. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Neste texto, o autor faz uma revisão teórica e conceitual sobre
Boitempo, 2011. o território, destacando o papel do planejamento governamen-
Nesse livro fundamental, o filósofo desenvolve o estudo do tal na configuração e no uso do território nacional. Temas cor-
relatos ao ordenamento territorial são abordados, numa
papel da luta de classes como força motriz da história e
perspectiva bastante atual.
aprofunda a teoria do Estado, sobretudo demonstrando que
todas as revoluções burguesas apenas aperfeiçoaram a má-
MUÑOZ, E. E. A cooperação sul-sul do Brasil com a África.
quina estatal para oprimir as classes. Embasado por essa
Caderno CRH, v. 29, n. 76, p. 9-12, 2016.
observação, Marx propõe, pela primeira vez, a tese de que
o proletariado não deve assumir o aparato existente, mas Artigo sobre as formas contemporâneas de cooperação entre
desmanchá-lo. países do sul global, como superação do domínio estrangeiro
sobre tais regiões.
MINISTÉRIO do Meio Ambiente – MMA. Povos e comunida-
des tradicionais. Disponível em: https://www.mma.gov.br/ ÓRGÃOS apostam na inteligência para combater tráfico e
desenvolvimento-rural/terras-ind%C3%ADgenas, biopirataria na Amazônia. Renctas. Disponível em: http://
-povos-e-comunidades-tradicionais.html. Acesso em: 26 www.renctas.org.br/orgaos-apostam-na-inteligencia
ago. 2020. -para-combater-trafico-e-biopirataria-na-amazonia. Aces-
so em: 26 ago. 2020.
Nesta página do site do Ministério do Meio Ambiente, há in-
formações sobre a legislação que reconhece a existência e os A reportagem traz informações básicas sobre o tráfico de ani-
direitos dos povos e comunidades tradicionais que vivem no mais e a biopirataria, com a definição desses crimes e exem-
plos comuns no território brasileiro, sobretudo no que se
Brasil, como a Política Nacional de Desenvolvimento Susten-
refere à Floresta Amazônica. Também se debate a importân-
tável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT), insti-
cia do combate a crimes contra a biodiversidade e estratégias
tuída em 2007 por meio do Decreto n. 6.040.
que poderiam ser adotadas pelo Brasil.

MINISTÉRIO das Relações Exteriores – Itamaraty. Meca-


PETRUCCIANI, S. Modelos de filosofia política [livro ele-
nismos inter-regionais. Disponível em: http://www.
trônico]. São Paulo: Paulus, 2014.
itamaraty.gov.br/pt-BR/mecanismos-inter-regionais. Aces-
so em: 26 ago. 2020. O volume constitui uma introdução à filosofia política, apre-
sentada por meio de seus conceitos, de seus problemas e das
Nesta página do site do Ministério das Relações Exteriores, é principais teorias.
possível acessar informações sobre os fóruns políticos e eco-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nômicos multilaterais dos quais o Brasil faz parte ou com os PORTAL Ypadê. Disponível em: http://portalypade.mma.
quais mantém relações, a exemplo do BRICS e da Comunida-
DA EDITORA DO BRASIL
de dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
gov.br/. Acesso em: 8 set. 2020.
Neste site, há informações diversificadas sobre os diferentes
povos e comunidades tradicionais que vivem no Brasil, como
MONITORA Covid-19. Fiocruz. Disponível em: https://
a localização de seus territórios, seu histórico de formação,
bigdata-covid19.icict.fiocruz.br. Acesso em: 26 ago. 2020.
seus costumes e sua cultura, as atividades econômicas que
O site apresenta dados atualizados sobre a pandemia da Covid-19 desempenham etc.
no Brasil, como número de pessoas contaminadas e número de
óbitos, em diversas unidades políticas administrativas do país. PRADO, L. C. D. A Grande Depressão e a Grande Recessão:
Uma comparação das crises de 1929 e 2008 nos Estados
MONTESQUIEU, M. O espírito das leis. São Paulo: Martins Unidos. In: Revista Econômica, Niterói, v. 13, n. 2, dez. 2011.
Fontes, 2000. Disponível em: https://periodicos.uff.br/revistaeconomica/
Obra clássica da filosofia política em que se apresenta a divisão article/view/34830. Acesso em: 26 ago. 2020.
dos poderes do Estado em legislativo, executivo e judiciário. Neste artigo, o autor compara as crises sistêmicas do capi-
talismo que foram desencadeadas em 1929 e em 2008, en-
MOURA, C. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo: fatizando suas características principais. Embora elas
Editora Brasiliense, 2009. (Coleção Tudo é História). tenham ocorrido em contextos históricos distintos e apre-
O autor trata da questão da formação dos quilombos no Bra- sentem algumas especificidades, destacam-se importantes
sil colonial e imperial, suas estruturas, seus objetivos e suas semelhanças entre as duas crises, que poderão até mesmo
características, além de outras insurreições dos escravizados ser verificadas em crises futuras caso os mecanismos eco-
até a abolição da escravatura. nômicos vigentes se mantenham.

XCIV
PRADO, M. L. C. América Latina no Século XIX. São Paulo: O artigo apresenta noções básicas para a leitura de gráficos
Edusp, 2014. matemáticos e estatísticos, como o papel da escala matemá-
tica usada na apresentação dos dados, os tipos de gráficos e
A história da América Latina sob o ponto de vista da cultura e
as interpretações a que eles conduzem.
das ideias políticas é o enfoque adotado pela autora nestes
ensaios, que tratam de aspectos marcantes da independência
SATO, E. A. Crescimento exponencial: Como ficar rico ou
e da identidade nacional de diversos países do continente.
contaminar multidões rapidamente. Blog Unicamp. Dis-
ponível em: https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/
QUÃO integrados estão os países da América Latina e
crescimento-exponencial-como-ficar-rico-ou-contaminar
Caribe no comércio internacional? Institutos de Estudos
-multidoes-rapidamente. Acesso em: 26 ago. 2020.
para o Desenvolvimento Industrial – IEDI. Disponível em:
https://iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_2017_ O texto apresenta noções básicas para a leitura de gráficos
comercio_exterior.html. Acesso em: 26 ago. 2020. matemáticos e estatísticos que utilizam a escala exponencial,
destacando como a escala matemática usada na apresentação
Neste artigo, os autores debatem a integração regional na Amé- dos dados interfere nas interpretações que podemos fazer dos
rica Latina, destacando o papel e a atuação dos blocos econô- gráficos.
micos regionais e dos fóruns políticos multilaterais que buscam
fortalecer as relações econômicas e políticas na região. SECURITY Council – UN. Disponível em: https://www.
un.org/securitycouncil. Acesso em: 26 ago. 2020.
ROCHA, M. M. A narrativa e o contexto na produção dos
A página traz informações sobre o Conselho de Segurança da
mosaicos territoriais, In: Revista Percurso – NEMO Marin-
Organização das Nações Unidas, como o seu histórico de cria-
gá, v. 10, n. 2, 2018, p. 177-195. ção, seus membros, seus mecanismos de funcionamento e
Primeiro, de uma série de três artigos, resultado do estudo também as ações tomadas pela instituição.
teórico sobre a relação narrativa e território, do projeto “A es-
pacialidade das formas narrativas: entre ficção e realidade”. SOUZA, M. J. L. de. O território: sobre espaço e poder, au-
tonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, I. E. de; GOMES,
ROUSSEAU, J. J. Do contrato social. São Paulo: Abril Cul- P. da Costa; CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas.
tural, 1983. (Coleção Os Pensadores). 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. p. 77-116.
Obra clássica do pensamento político em que Rousseau ex- Nesse capítulo de livro, o autor apresenta uma discussão so-
plana seu conceito de contrato social, que se baseia na noção bre o conceito de território, destacando perspectivas menos
de que a sociedade é responsável pelo corrompimento moral tradicionais ao enfatizar a ideia de multiterritorialidade, ou
do ser humano. seja, a coexistência de múltiplos territórios no espaço geográ-
fico, alguns formais e outros informais.
RÜCKERT, A. A. O processo de reforma do Estado e a Polí-
SCHWARCZ, L.; SPACCA. As barbas do imperador: D. Pe-
tica Nacional de Ordenamento Territorial. In: Oficina sobre
dro II, a história de um monarca em quadrinhos. São Pau-
a Política Nacional de Ordenamento Territorial, 2003, Bra-
lo: Companhia das Letras, 2013.
sília. Para pensar uma política nacional de ordenamento
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
territorial. Anais. Brasília: BRASIL/MI/SDR, 2005, p. 31-39. A história de D. Pedro II e questões do Segundo Reinado co-
mo o processo abolicionista e republicano são contadas em
DA EDITORA
Neste texto o autor DO BRASIL
discute a relação entre a estrutura e os forma de história em quadrinhos.
mecanismos de funcionamento do Estado brasileiro e o orde-
namento territorial, ou seja, a maneira como o Estado se apro- SILVEIRA, M. L. Los territorios corporativos de la globali-
pria do território nacional e conduz o seu uso, influenciando a
zación. In: Geograficando, v. 3, n. 3, 2016. Disponível em:
atuação de agentes públicos e privados.
https://www.geograficando.fahce.unlp.edu.ar/article/view/
GEOv03n03a01. Acesso em: 26 ago. 2020.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensa-
mento único à consciência universal. 13. ed. Rio de Janei- Neste artigo, a autora debate como a globalização e a inter-
nacionalização do capital produtivo proporcionaram às gran-
ro: Record, 2006.
des corporações a apropriação e o uso privado de territórios
Neste livro, o autor apresenta as principais características da ao redor do mundo. O papel desempenhado pelas grandes
globalização e suas influências políticas, econômicas e sociais, corporações teria grandes influências nas desigualdades so-
sobretudo a geração de desigualdades nas diversas escalas ciais e espaciais que marcam as sociedades atuais.
espaciais. O autor também discute alternativas ao processo
de globalização vigente, no sentido de propiciar maior equi- TEIXEIRA, A. N.; RIBEIRO, M. B. P. A urbanização brasilei-
dade social e espacial. ra: reflexões acerca da segregação socioespacial. In: Anais
do XVIII ENG, São Luís, 2016. Disponível em: http://www.
SATO, Eduardo Akio. Lendo gráficos sobre a COVID-19. eng2016.agb.org.br/resources/anais/7/1468292073
Blog Unicamp. Disponível em: https://www.blogs.unicamp. _ARQUIVO_Artigo-ENG_TEIXEIRA_RIBEIRO_Final.pdf.
br/covid-19/lendo-graficos-sobre-a-covid-19. Acesso em: Acesso em: 26 ago. 2020.
26 ago. 2020.

XCV
Neste artigo, os autores discutem a questão da segregação UNITED Nations – UN. Department of Economic and Social
socioespacial, sobretudo os seus efeitos na periferização da Affairs, Population Division. World Population Prospects
população pobre das cidades. Explica-se que a segregação 2019. Press Release. New York: UN, 2019a. Disponível em:
socioespacial é fruto das relações sociais, pautadas na divisão https://population.un.org/wpp/Publications/Files/
de classes e na subordinação de umas a outras.
WPP2019_PressRelease_EN.pdf . Acesso em: 8 set. 2019.

TEIXEIRA, T.; SABO, I. C. Democracia ou Autocracia Infor- O documento traz informações sobre a dinâmica atual da po-
macional? O Papel da Internet na Sociedade Global do pulação no mundo, tendo como referência o ano de 2018.
Também são apresentadas projeções da população no curto,
Século XXI. In: Revista de direito, governança e novas tec-
médio e longo prazos, pautadas em indicadores de natalida-
nologias, v. 2, n. 1, 2016. Disponível em: https://www.
de, mortalidade, fecundidade e taxas de migração.
indexlaw.org/index.php/revistadgnt/article/view/795/790.
Acesso em: 26 ago. 2020.
UNITED Nations – UN. Department of Economic and Social
Neste artigo, os autores debatem o papel da internet nas so- Affairs – Population Dynamics. Disponível em: https://
ciedades contemporâneas, sobretudo a questão da democra- population.un.org/wpp. Acesso em: 26 ago. 2020.
cia e das desigualdades. Dessa maneira, são discutidos temas
como o comércio eletrônico mundial fomentado pela internet, O site traz informações sobre a dinâmica da população no
a emergência de movimentos políticos e ideológicos nas re- mundo, disponibilizando diversos documentos, relatórios e
des sociais e a soberania dos Estados na regulamentação do estudos sobre demografia na escala global.
uso da internet.
VASCONCELOS, A. M. N.; GOMES, M. M. F. Transição de-
TILLY, Charles. Coerção, capital e estados. São Paulo: mográfica: a experiência brasileira. Epidemiol. Serv. Saú-
Edusp, 1996. de, Brasília, v. 21, n. 4, p. 539-548, dez. 2012. Disponível
em http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttex
Um dos livros mais adotados na ciência política, pois contempla
uma análise histórica do Estado moderno e as formas de domi- t&pid=S1679-49742012000400003&lng=pt&nrm=iso.
nação estabelecidas pelo imperialismo europeu, que se desdo- Acesso em: 26 ago. 2020.
bram nas relações com os países do chamado “terceiro mundo”. Nesse estudo, os autores descrevem o processo de transição
demográfica no Brasil e em suas grandes regiões com base
TRINDADE JR., Saint-Clair Cordeiro da; NASCIMENTO, D. M. nos Censos Demográficos de 1950 a 2010.
(org.). Pensando a noção de fronteira: um olhar a partir da
ciência geográfica. In: Amazônia e defesa: dos fortes as no- WEBER, M. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
vas conflituosidades. Belém: NAEA, UFPA, 2010, p. 101-124. Dentro de uma perspectiva pragmática, Weber discute con-
Nesse artigo, o autor faz uma revisão teórica e conceitual do ceitos básicos para a compreensão das dinâmicas sociais e
conceito de fronteira, explicitando tanto as noções mais tra- políticas, como as estruturas de poder, classe, ordem social,
dicionais, ligadas à delimitação de territórios nacionais e sua burocracia, disciplina, religião e capitalismo. Sua obra influen-
divisão interna, quanto as noções mais recentes, como aque- ciou a literatura acadêmica do século XX em diversas esferas,
las associadas à imaterialidade das distinções culturais, como sociologia, ciência política, história, filosofia, economia,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sociais e epistêmicas. arte, religião e educação.

DA EDITORA DO BRASIL

XCVI
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
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DA EDITORA DO BRASIL

ISBN 978-85-10-08383-6

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