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Política

e cidadania

e Sociais Aplicadas
Ciências Humanas
Leandro Gomes / Natália Salan Marpica
Priscila Manfrinati / Sabina Maura Silva

Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas

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Política e cidadania

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Leandro Gomes / Natália Salan Marpica

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Priscila Manfrinati / Sabina Maura Silva

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M

ISBN 978-85-10-08391-1

TCHT6_capa_LM_pnld_21_O2_divulgacao.indd 1 20/04/21 11:26


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Política e
cidadania
Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas

Leandro Gomes
Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professor e coordenador em cursinhos populares e assessor pedagógico
especialista.

Natália Salan Marpica


Doutora em Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Mestra em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Professora de Sociologia no Instituto Federal de São Paulo (IFSP).

Priscila Manfrinati
Mestra em Ciências, área de concentração Humanidades, Direitos e Outras
Legitimidades pela Universidade de São Paulo (USP).
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professora de História em cursos pré-vestibulares.
DA EDITORA DO BRASIL
Sabina Maura Silva
Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Mestra e licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Docente do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação
em Educação Tecnológica do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais (Cefet-MG).

1a edição
São Paulo, 2020
© Editora do Brasil S.A., 2020 Concepção, desenvolvimento e produção:
Todos os direitos reservados Triolet Editorial & Publicações
Direção executiva: Angélica Pizzutto Pozzani
Direção geral: Vicente Tortamano Avanso Coordenação editorial: Denise Pizzutto
Edição de texto: Guilherme Gaspar, Thais Ogassawara,
Direção editorial: Felipe Ramos Poletti Frank de Oliveira, Olívia Pavani Naveira
Gerência editorial: Erika Caldin Elaboração de conteúdo: Adriano Rogério Mastroléa, Ana Maria
Supervisão de arte: Andrea Melo Macarini, Ângelo Costa dos Santos, André Castilho Pinto, Bianca
Supervisão de editoração: Abdonildo José de Lima Santos Briguglio, Bianca Zucchi, Charles Ireno dos Santos, Fabiana Machado
Supervisão de revisão: Dora Helena Feres Leal, Júlia Bittencourt, Larissa Soares de Araujo, Marcelo Vasconcelos,
Supervisão de iconografia: Léo Burgos Paulo Victor de Figueredo Nogueira, Renata Cristina Pereira, Simone
Affonso da Silva, Tatiana Martins Venancio, Thaís Fucilli Chassot
Supervisão de digital: Ethel Shuña Queiroz
Preparação e revisão de texto: Alexander Barutti, Ana Paula
Supervisão de controle de processos editoriais: Roseli Said
Chabaribery, Arali Gomes, Brenda Moraes, Daniela Pita, Érika Finati,
Supervisão de direitos autorais: Marilisa Bertolone Mendes Glória Cunha, Helaine Albuquerque, Janaína Mello, Lara Milani,
Licenciamentos de textos: Cinthya Utiyama, Jennifer Xavier, Paula Malvina Tomaz, Marcia Leme, Miriam Santos, Patrícia Cordeiro,
Tozaki e Renata Garbellini Renata Tavares, Simone Soares
Controle de processos editoriais: Bruna Alves, Carlos Nunes, Assistência editorial: Carmen Lucia Ferrari, Gabriela Wilde, Janaína Felix
Rita Poliane, Terezinha de Fátima Oliveira e Valéria Alves Coordenação de arte e produção: Daniela Fogaça Salvador
Edição de arte: Ana Onofri, Christof Gunkel, Julia Nakano, Suzana Massini
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Assistente de arte: Lucas Boniceli
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Projeto gráfico (miolo e capa): Caronte Design
Ilustrações: All Maps, Daniel das Neves, Julio Dian
Conexão mundo : ciências humanas e sociais Iconografia: Daniela Baraúna, Pamela Rosa, Tempo Composto
aplicadas : política e cidadania / Leandro Imagem de capa: Lionel Bonaventure/AFP
Gomes... [et al.]. -- 1. ed. -- São Paulo :
Editora do Brasil, 2020. -- (Conexão mundo)

Outros autores: Natália Salan Marpica, Priscila


Manfrinati, Sabina Maura Silva
ISBN 978-85-10-08390-4 (aluno)
ISBN 978-85-10-08391-1 (professor)

1. Ciências humanas (Ensino médio) 2. Ciências


sociais (Ensino médio) I. Gomes, Leandro.
II. Marpica, Natália Salan. III. Manfrinati,
Priscila. IV. Silva, Sabina Maura. V. Série.

20-42105 CDD-373.19

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Índices para catálogo sistemático:
DA EDITORA DO BRASIL
1. Ensino integrado : Livro-texto : Ensino médio
373.19
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427

© Editora do Brasil S.A., 2020


Todos os direitos reservados

1a edição / 2020

Rua Conselheiro Nébias, 887


São Paulo, SP – CEP 01203-001
Fone: +55 11 3226-0211
www.editoradobrasil.com.br
Apresentação

Caro estudante,

Vivemos em uma sociedade múltipla. Uma sociedade formada pela


multiplicidade de identidades, pensamentos e vivências. Em diversos
aspectos, como nas formas de comunicação e no mundo do trabalho, essa
sociedade é transformada por tecnologias digitais que nos impõem novos
desafios todos os dias. Ao ingressar no Ensino Médio, rumo à fase final dos
seus estudos na Educação Básica, é natural que você se questione sobre seu
papel e seus planos para o futuro nessa sociedade em constante transformação.
Pensando nisso, elaboramos uma obra que auxilie você e seus colegas
não a decorar conceitos e acumular conteúdos, mas a desenvolver atitudes,
valores, habilidades e competências que os preparem para agir neste mundo
tão dinâmico e diverso. Nosso objetivo é estimulá-lo a aplicar seus
conhecimentos com confiança, autonomia e, também, responsabilidade. Ao
compreender que você é o protagonista da sua própria história, o sujeito que
pode e deve empregar as competências adquiridas para construir o seu próprio
projeto de vida, esperamos levá-lo a se reconhecer como agente de
transformação habilitado a fazer boas escolhas e tomar decisões capazes de
transformar sua realidade presente e futura.
Neste percurso, o diálogo multidisciplinar será nosso guia, fornecendo
diferentes ferramentas conceituais e metodológicas para a apreensão do
mundo social em suas diferentes dimensões. Você perceberá que diferentes
temas contemporâneos serão problematizados por meio de práticas de
pesquisa que têm o objetivo de debater, analisar e solucionar problemas e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
questões presentes no cotidiano, seja no âmbito individual, seja no coletivo.
DA EDITORA DO BRASIL
E como não poderia deixar de ser, você verá que a pluralidade de ideias é
um valor fundamental para esta coleção. Diferentes propostas de vivências
e atividades levarão você a se conectar com os múltiplos pensamentos e
conceitos que fazem parte de qualquer debate científico e também com
distintas realidade e culturas, valorizando diferentes formas de produzir
conhecimento.
Esperamos, assim, que você aproveite ao máximo este livro. Desejamos
que seu percurso com ele seja produtivo e que nossa proposta contribua para
que você se conecte com o mundo, tornando-se um cidadão consciente, ético,
respeitoso e participativo na construção de uma sociedade mais justa,
democrática e igualitária.
Bons estudos!
Conheça seu livro
Mapa do
aprendizado
Um conjunto abrangente de conteúdos multimodais, imagens, atividades,
UNIDADE 2
OBJETIVO
O objetivo da unidade é compreender o conceito de minoria social e aplicá-lo ao contexto brasileiro, anali-
sando as relações entre o Estado e as minorias sociais durante o período republicano. Estudar dados para

boxes e seções especiais mobiliza habilidades e competências,


Para começar
identificar as causas e efeitoso da
percurso de aprendizagem
desigualdade com este no
social e étnico-racial livro, leia de
Brasil, quais
modosãoaos objetivos as críti-
fundamentar
cas a essa de cada uma
situação. das aunidades
Avaliar do volume,
ação política assim sociais
de minorias como suas respectivas tradicionais,
e comunidades justificativas.considerando
Conheça suas
formas de também as competências,
organização, reivindicaçõesas habilidades
e demandas e os Temas
históricas, Contemporâneos
podendo Transversais
também reconhecer que políticos
avanços
conquistadosserão
pormobilizados
esses grupos.ao longo do percurso.

UNIDADE 1
JUSTIFICATIVA

desenvolvendo aprendizagens relacionadas a diferentes categorias da área


O reconhecimento das raízes históricas, sociais, ideológicas e econômicos da desigualdade no Brasil, assim como
OBJETIVO
o entendimento de como ela se manifesta no tempo e no espaço, é fundamental para a promoção de ações que
visem ao combateO objetivo da unidade
a esse problema e àéinclusão
apropriar-se de conceitos
de grupos políticos
historicamente pertinentes
excluídos da ordem à trajetória
social republicana.
histórica e à realidade política brasileira, podendo usá-los para qualificar a análise, a
A BASE interpretação
NACIONALeCOMUM a intervençãoCURRICULAR
na sociedade e NESTA UNIDADE
nas instâncias políticas. Para isso, é feito um
estudo das fases republicanas no Brasil, debatendo-se os conceitos de democracia,

de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, integrada pelos componentes


Competências gerais
autoritarismo, paternalismo, populismo e de partido político. Analisa-se também os impac-
1. Valorizartosede discursos
utilizar desenvolvimentistas
os conhecimentos em diferentes
historicamente momentos
construídos sobreda história físico,
o mundo do país.social, cultural e
digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
JUSTIFICATIVA
sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar aOcuriosidade
entendimento de conceitos
intelectual políticos
e recorrer e da trajetória
à abordagem da das
própria República no incluindo
ciências, Brasil visaa pre-
investigação,
a reflexão, a análise
pará-lo crítica, a imaginação
para participar e a criatividade,
do debate público, identificarpara investigarsociais
problemas causas,e elaborar e testar hipó-
propor ações

curriculares Filosofia, História, Sociologia e Geografia.


teses, formular
que promovame resolver problemas ee criar
a democracia soluções
os direitos (inclusive
humanos, tecnológicas)
assim com base
como caminhos nosa conhecimentos
para cons-
das diferentes
trução de áreas.
uma sociedade mais justa, inclusiva e próspera.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar
A BASE
de práticas NACIONAL
diversificadas COMUM
da produção CURRICULAR NESTA UNIDADE
artístico-cultural.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, signifi-
cativa,Competências
reflexiva e ética nas gerais
diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar
e disseminar informações,
1. Valorizar e utilizarproduzir conhecimentos,
os conhecimentos resolver problemas
historicamente construídos e exercer
sobre oprotagonismo
mundo físico, e autoria
na vida pessoal
social,ecultural
coletiva.e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e
colaborar para
6. Valorizar a diversidade a construção
de saberes de uma
e vivências sociedade
culturais justa, democrática
e apropriar-se e inclusiva.
de conhecimentos e experiências que
lhe possibilitem
2. Exercitar entender as relações
a curiosidade próprias
intelectual do mundo
e recorrer do trabalhoprópria
à abordagem e fazer das
escolhas alinhadas
ciências, ao exercício
incluindo
da cidadania e ao seu projeto
a investigação, de vida,
a reflexão, com liberdade,
a análise crítica, aautonomia,
imaginaçãoconsciência crítica
e a criatividade, e responsabilidade.
para investigar
7. Argumentar com base
causas, em fatos,
elaborar dados
e testar e informações
hipóteses, confiáveis,
formular paraproblemas
e resolver formular, negociar e defender ideias,
e criar soluções
pontos de(inclusive
vista e decisões comuns
tecnológicas) comquebaserespeitem e promovam
nos conhecimentos dasos direitos áreas.
diferentes humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos
em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
8. Conhecer-se, apreciar-se
trabalho e fazereescolhas
cuidar de sua saúde
alinhadas física e emocional,
ao exercício da cidadania compreendendo-se
e ao seu projeto dena diversidade
vida,
humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

Linguagem gráfica atraente, com seleção de textos e


com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, nego-
respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de
ciar seus
grupos sociais, e defender
saberes,ideias, pontos de
identidades, vista e
culturas decisões comuns
e potencialidades, semquepreconceitos
respeitem ede promovam
qualquer natureza.
os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo,

imagens em diálogo com a realidade das culturas


tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
dos outros e do planeta.
Competências específicas
9. Exercitar e ohabilidades
a empatia, das Ciências
diálogo, a resolução Humanas
de conflitos e Sociais
e a cooperação, Aplicadas
fazendo-se
respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento
Competência específica 6
e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identi-

juvenis. Baseada em Sticker Art, modalidade de arte


EM13CHS601dades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
EM13CHS605

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e


Temas Contemporâneos Transversais trabalhados
Sociais Aplicadas

urbana que utiliza etiquetas adesivas.


• Diversidade cultural
Competência
• Educação em direitos específica
humanos 6 – Participar do debate público de forma crítica, respeitando
diferentes
• Educação posiçõesdo
para valorização e fazendo escolhas nas
multiculturalismo alinhadas aohistóricas
matrizes exercícioeda cidadania
culturais e ao seu
brasileiras
projeto
• Vida familiar de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
e social
EM13CHS602 EM13CHS603 EM13CHS606
Não escreva no livro. Não escreva no livro. 9
Temas Contemporâneos Transversais trabalhados
• Educação ambiental • Vida familiar e social • Saúde

8 Não escreva no livro. Não escreva no livro.

MAPA DO APRENDIZADO
É apresentado um panorama do
que se pretende atingir com o
INTRODUÇÃO
estudo de cada unidade: o
Momento de valorização de INTRODUÇÃO objetivo que se quer alcançar e
conhecimentos prévios. as justificativas para o trabalho
Promove a participação coletiva proposto, além das
da turma, visando à ampliação O que é ser cidadão? Como podemos nos posicionar no
debate público em prol do bem comum e nos organizar na luta competências gerais e
de seu repertório de
por nossos direitos? Essas são algumas questões que estive-

específicas, das habilidades e


ram presentes ao longo da história, mas que são imperativas
no contexto contemporâneo em que crescem as demandas

experiências e o trabalho com


de diferentes grupos sociais pelo reconhecimento de seus

dos Temas Contemporâneos


direitos e de suas vivências singulares.
Para compreender quais são as principais características

uma manifestação artística que


da prática política e da cidadania em nosso contexto social, é
necessário entender o sentido da palavra governar e analisar
a construção da República no Brasil, seus principais agentes, Transversais (TCTs) abordados.
se relaciona ao tema debatido.
estratégias e ações de desenvolvimento, assim como quem
são os sujeitos marginalizados nesse processo, e de que forma
resistem e lutam contra essa conjuntura de marginalização.
Um exemplo de expressão da luta por representação polí-
tica e de contestação de regimes opressores e injustiças sociais,
é a prática do slam. Trata-se de uma poesia falada, geralmente
declamada em competições, que aborda assuntos como a
vida na periferia das grandes cidades, a desigualdade social
e opressões como o racismo e o machismo. Dessa maneira,
os slammers, ou seja aqueles que criam e declamam essas
poesias, conseguem expressar insatisfações sociais e desejos
de transformação política.

Começo de conversa favorece o


A discussão sobre a expressão e organização política de dife-
rentes sujeitos será aprofundada ao longo deste livro. E, ao final,
você e seus colegas poderão aplicar seus conhecimentos em um
projeto de pesquisa.

diálogo aberto e coletivo,


A imagem inicial traz uma
trabalhando a oralidade e a
Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

Começo de conversa
manifestação artística que se
participação ativa no debate ao 1. Se você fosse declamar um slam, sobre o 4. Você conhece alguma associação em seu
que ele seria? Qual insatisfação social ou bairro ou munícipio que se organiza para
relaciona ao tema principal,
relacionar o tema do livro com
desejo de transformação política expressaria? tratar de pautas políticas locais? Quais são
essas pautas? Como é o modo de ação des-

estabelecendo novas
2. O que você entende por cidadania?
sa organização?
3. Quais causas sociais você considera que

vivências cotidianas.
Slam das Minas, competição de
deveriam ser melhor representadas no poesia falada entre mulheres.

relações para apoiar o debate


debate público? Explique sua resposta. Rio de Janeiro, RJ, 2020.

12 Não escreva no livro. Não


Nãoescreva
escrevano
nolivro.
livro. 13

e a reflexão.

UNIDADES
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA
Textos, imagens, boxes, atividades DO que
e seções especiais BRASIL
mobilizam habilidades e
competências para que sejam desenvolvidas aprendizagens relacionadas a diferentes Esclarece o significado de
conteúdos da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. palavras e expressões.

2
UNIDADE OUTRO PONTO DE VISTA O conceito de república
Minorias sociais e O pensamento de Angela Davis Em uma república, o país é considerado patrimônio do povo. As repú-
Crítica à social-democracia
demandas históricas A filósofa estadunidense Angela Davis (1944-) blicas têm como base o caráter transitório do poder, conferido pela cole-
Digital First Media Group/Oakland Tribune/Getty Images

adicionou à tradição marxista a relação entre a Leia a seguir um pequeno trecho do texto “Sobre o conceito de história”, de Walter Benjamin (1892-1940). Nele, o tividade aos governantes, visando ao bem comum da sociedade. Para o
reprodução da sociedade capitalista e a constitui- autor faz uma crítica à social-democracia implementada na Europa, no século XX. Depois da leitura, responda às filósofo Renato Janine Ribeiro (1949-), república e democracia são pala-
ção das subjetividades, como a raça e o gênero. questões propostas.
vras comumente confundidas entre si, mas o autor as diferencia, já que a
Isto é, se o marxismo, em sua origem, pensava o democracia está do lado da sociedade e é popular; e a república, do lado
capitalismo por meio da revolução proletária e da A teoria e mais ainda, a prática da social-democracia foram determinadas por um conceito dogmático de pro-
gresso sem qualquer vínculo com a realidade. Segundo os social-democratas, o progresso era, em primeiro lugar,
do poder, das instituições.
luta de classes, Davis propõe que gênero e raça
O CONCEITO DE MINORIA também sejam categorias essenciais de análise. um progresso da humanidade em si, e não das suas capacidades e conhecimentos. Em segundo lugar, era um A palavra “república” vem do latim res publica e significa “coisa pública”
Frequentemente empregado no âmbito dos estudos políticos e sociais, o conceito de mi- A interseccionalidade entre essas três categorias processo sem limites, ideia correspondente à da perfectibilidade infinita do gênero humano. Em terceiro lugar, ou “bem público” e se traduz na participação do indivíduo em decisões polí-
seria fundamental, de acordo com a filósofa, para era um processo essencialmente automático, percorrendo, irresistível, uma trajetória em flecha ou em espiral. ticas de sua comunidade. Na Grécia Antiga, por exemplo, algumas cidades-
noria pode ser compreendido por meio de um entendimento quantitativo ou qualitativo. De Cada um desses atributos é controvertido e poderia ser criticado. Mas, para ser rigorosa, a crítica precisa ir além
desmantelar estruturas opressivas da sociedade. -estado, como Atenas, tinham um sistema que admitia o exercício do poder
acordo com a visão quantitativa, uma minoria é constituída de um grupo numericamente deles e concentrar-se no que lhes é comum. A ideia de um progresso da humanidade na história é inseparável
Uma categoria não poderia ser priorizada em rela- de seus cidadãos (homens, maiores de 21 anos, residentes na cidade e filhos
inferior em relação a outro. Por exemplo, em um regime democrático, os representantes ção a outras, pois todas estariam conectadas. da ideia de sua marcha no interior de um tempo vazio e homogêneo. A crítica da ideia do progresso tem como
políticos que recebem a minoria do número de votos em uma eleição não são eleitos. pressuposto a crítica da ideia dessa marcha. de cidadãos ateniense) por meio de assembleias.
Além de filósofa marxista, Angela Davis é ati-
Do ponto de vista qualitativo, as minorias são definidas como grupos humanos marginali- vista política e foi uma das principais vozes do BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. República Romana
zados social, econômica ou culturalmente por outro grupo dominante ou opressor. Dessa partido revolucionário dos Panteras Negras, que São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 229. (Obras escolhidas, v. 1).
forma, elas se tornam alvos de ações preconceituosas e discriminatórias. organizava diversos atos de resistência ao racismo O conceito de república surgiu na Roma Antiga, quando Marco Túlio Cícero
nos Estados Unidos, principalmente durante a (106 a.C - 43 a.C.), advogado e filósofo, definiu res publica como res populi,
Jolanta Wojcicka/Shutterstock.com

No sistema de representação democrática, em termos de direitos assegurados, garantidos


década de 1960. Atualmente, Angela realiza diver- ou seja, a coisa pública como a coisa do povo, unido em uma multidão cuja
e plenamente efetivados, um grupo considerado minoria pode ser numericamente grande.
sas palestras ao redor do mundo e já esteve inclu- associação é realizada por uma comunhão de interesses comuns.
Isso significa que alguns grupos minoritários podem até representar a maioria quantitativa sive no Brasil. Entre seus principais temas de
de uma sociedade, mas, em razão de entraves sociais, não conseguem superar estigmas e A primeira república autônoma de que se tem notícia é a República
pesquisa estão a questão dos direitos humanos e
alcançar a plenitude de seus direitos. Romana (509 a.C.-27 a.C.), que se contrapôs ao regime monárquico e
o combate ao racismo.
surgiu para atender interesses dos cidadãos da época. A base do poder era
Portanto, minorias podem ser classificadas como grupos que estão em uma posição de Leia a seguir um trecho de uma de suas obras.
Angelas Davis em palestra no estado da Califórnia, Estados Unidos, 1969. Patrícios: cidadãos que o Senado: uma assembleia formada por cerca de 300 senadores patrícios.
vulnerabilidade em consequência da opressão de um grupo dominante, detentor do poder
constituíam a aristocracia da O Poder Administrativo (gestão dos fundos e dos serviços públicos) era
econômico, político e social. Essa opressão pode estar relacionada ao preconceito de gênero, Roma Antiga, equivalendo a uma
Proporcionalmente, as mulheres negras sempre trabalharam mais fora de casa do que suas irmãs brancas. exercido pelos cargos executivos, como cônsules, censores e governadores.
de raça, de sexualidade, religioso, etário e contra pessoas com deficiência. O enorme espaço que o trabalho ocupa hoje na vida das mulheres negras reproduz um padrão estabelecido durante forma de nobreza hereditária.
Os Poderes Judiciário e Militar eram administrados por indivíduos aprova-
os primeiros anos da escravidão. Como escravas, essas mulheres tinham todos os outros aspectos de sua existência Plebeus: indivíduos que não
pertencem à nobreza. dos em diferentes assembleias, entre elas o Senado, a Assembleia Popu-
Edmar Barros/Futura Press

ofuscados pelo trabalho compulsório. Aparentemente, portanto, o ponto de partida de qualquer exploração da vida
das mulheres negras na escravidão seria uma avaliação de seu papel como trabalhadoras. O sistema escravista de-
lar – composta de patrícios e plebeus – e o Conselho da Plebe, composto
finia o povo negro como propriedade. Já que as mulheres eram vistas, não menos do que os homens, como unidades apenas de plebeus. Na República Romana, eram considerados cidadãos
de trabalho lucrativas, para os proprietários de escravos elas poderiam ser desprovidas de gênero. [...] A julgar pela os homens adultos e livres, estando excluídos da cidadania as mulheres,
crescente ideologia da feminilidade do século XIX, que enfatizava o papel das mulheres como mães protetoras, par- as crianças e os escravos.
ceiras e donas de casa amáveis para seus maridos, as mulheres negras eram praticamente anomalias.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. E-book. Repúblicas italianas
Entre os séculos X e XV, algumas cidades adotaram o regime republicano
Fabiano's_Photo/Shutterstock.com

• Com base na leitura do trecho, responda às questões no caderno.


de governo, como Gênova, Veneza e Pisa, todas na Itália.
a) Em que medida Angela Davis diferencia o exercício do trabalho realizado por mulheres negras e por mulheres A Suécia é um exemplo de país europeu em que a social-democracia foi implantada no século XX. Na foto, prédios históricos no
brancas ao longo da história?
Seus governantes eram eleitos por assembleias aristocráticas como na
centro de Malmo, Suécia, 2019.
Roma Antiga. De acordo com o filósofo Nicolau Maquiavel (1469-1527), esse
b) Davis afirma que, para os proprietários escravistas, as mulheres negras eram vistas como desprovidas de gênero.
1. Qual é a crítica apresentada por Benjamin à social-democracia? modelo de governo devia ser seguido, pois as repúblicas são mais prósperas
Comente essa afirmação com base nas noções de gênero expostas nesta unidade e no contexto histórico abor-
Manifestação contra a violência policial infligida à população negra. Manaus, AM, 2020. dado pela autora. e nelas os cidadãos se empenham mais em aumentar suas riquezas, o que
2. Em grupo, façam uma pesquisa em jornais, revistas ou sites disponíveis na internet sobre os seguintes conceitos: resultava na prosperidade pública.
c) Explique em que medida a noção de propriedade, exposta pela autora, se relaciona com a ideia de propriedade
Maioridade e minoridade racional • utopia;
do pensamento marxista. Além disso, para Maquiavel, os interesses comuns são mais res-
• socialismo dos utopistas; peitados nos governos de caráter republicano porque as vontades
A filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-) indica que o pensamento político liberal, de- d) A autora afirma que a ideologia da feminilidade do século XIX enfatizava o papel das mulheres como donas de
casa. Como você acha que essa situação é colocada nos dias de hoje? Justifique. • socialismo marxista; individuais estão submetidas à vontade de todos, por meio das leis.
senvolvido pelas ideias iluministas dos séculos XVII e XVIII, usou a maioridade racional da
forma como postulada pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), como critério e) Reúna-se com os colegas e façam uma pesquisa, em livros, revistas, jornais e/ou sites disponíveis na internet, • social-democracia.
para definir quem teria direito à cidadania. Para Kant, as qualificações de um cidadão eram: sobre a quantidade de mulheres que estão presentes atualmente no mercado de trabalho. Em seguida, procurem 3. Escolham um dos conceitos estudados e apresentem para os colegas. Em seguida, façam um debate a respeito
ser homem, adulto, ter uma propriedade e ser seu próprio senhor, isto é, não viver sob a tu- identificar se existem diferenças entre os trabalhos realizados por mulheres negras e por mulheres brancas. dos temas estudados.
tela de outra pessoa no que dizia respeito ao pleno uso de sua razão. O filósofo diferenciava 4. Após o debate, escolham de maneira consensual o conceito que melhor se adéqua ao modelo social atualmente. SPQR é a abreviação de Senatus Populusque Romanus, em
latim; em português: “O Senado e o Povo Romano”. A frase se
aqueles que alcançavam esse uso da razão daqueles que não o faziam por meio dos termos refere ao governo da antiga República Romana. Na foto, estátua
maioridade racional e minoridade racional. do conjunto histórico no Monte Capitolino em Roma, Itália.
Não escreva no livro. 51
128 Não escreva no livro.
46 Não escreva no livro. 18 Não escreva no livro.

Esse boxe traz informações OUTRO PONTO DE VISTA


complementares ao conteúdo do texto Apresenta diferentes perspectivas
principal. Também apresenta textos de sobre determinado tema, tratando
estudiosos e pesquisadores da área, do pluralismo de ideias necessário
problematizando a construção do ao debate científico.
conhecimento filosófico, histórico,
sociológico e geográfico.
Atividades

Atividades 1. Faça uma pesquisa e elabore um relatório sobre os representantes do Poder Legislativo
no seu estado e município. Quantos representantes compõem a Câmara dos Vereado-
res do seu município? Quantos deputados estaduais estão na Assembleia Legislativa? PENSAMENTO COMPUTACIONAL CONEXÕES
1. Leia o trecho de uma reportagem publicada em Existem mulheres
a) De acordo comocupando assentos
o autor, quais seriamnesses espaços? Quantas são? Quais partidos têm
os motivos

Integra o conhecimento específico das Ciências Humanas


2017 e, depois, responda à questão. representantes na Câmara
para os negros lutaremdos Vereadores
pelos e na Assembleia Legislativa?
seus direitos?
Atualmente, apenas 9,9% dos congressistas são
mulheres, proporção bem inferior à da já baixa mé-
2. O caminho
b) Indiquepara
com aoproposta
que uma
os tipos
de lei,serem
autor afirma
lei sejaminoritários
de lugares
passaocupados
aprovada e que
por debatepelas
colocada em andamento é longo. Começa
a aprimoramento
pes- nas comissões parlamentares, Propõe a solução de um problema a
e Sociais Aplicadas a outras áreas de conhecimento,
dia mundial (22,1%). Semelhante situação acontece depois é votada e enfim, sancionada ou vetada pela presidência da república. Em grupos,

partir da estratégia do pensamento


soas negras atualmente.
com negros, pardos e indígenas, que juntos somam escolha uma lei que vocês considerem relevante e a analisem, elaborando um relatório
c) Pesquise, em revistas, sites de jornais ou de or-
51% da população, mas preenchem somente 20% com as seguintes informações:
ganizações internacionais (como a ONU), sobre

sobretudo Ciências da Natureza e suas Tecnologias,


das vagas na Câmara dos Deputados. • Quem propôs?

computacional, como a criação de


a situação citada pelo autor referente ao caso
REED, Sarita; FONTANA, Vinícius. A democracia brasileira • Quais partidos votaram contra e quais votaram contra?
está em crise? DW Brasil, 15 set. 2017. Disponível em: da África do Sul e com o que foi visto nesta uni-
• Como votou a Câmara? E o Senado?
https://www.dw.com/pt-br/a-democracia dade. Para enriquecer sua pesquisa, busque a

relacionando-as a um Tema Contemporâneo Transversal


-brasileira-est%C3%A1-em-crise/a-40521729. • Como a presidência se posicionou?

algoritmos, a decomposição de
Acesso em: 24 jul. 2020. porcentagem
• Para de pessoas brancas
concluir, posicionam-se sobre e negras na
os benefícios ou malefícios desta lei para a
África do Sul hoje, o que foi a política de apar-
população.
• Segundo os dados do Censo de 2010, feito pelo
theid e quem foi Nelson Mandela.

(TCT). Apresentações, pesquisas, elaboração de relatórios


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

problemas e o reconhecimento de
(IBGE), o número de mulheres no Brasil era de 4. Leia o trecho abaixo, de uma reportagem, e res-
cerca de 97 milhões, enquanto o de homens ponda às perguntas.
Pensamento computacional

são algumas das propostas de atividades.


era de cerca de 93 milhões. De que maneira [...] o Partido Comunista da Alemanha (KPD) ado-
3. Em alguns bairros, criam-se organizações com o objetivo de prover melhorias para

padrões.
esses dados e aqueles apresentados na repor- tou a frase “ação antifascista” e o logotipo com duas
o local por meio da comunicação de suas necessidades para o poder público e/ou
tagem se relacionam ao conceito de minorias? bandeiras para a campanha eleitoral de 1932. Des-
por ações feitas pela própria comunidade.
de o início da década de 1920, eles pressionavam
2. Quais são os diferentes posicionamentos den-
Organizem-se
por em gruposAktion”
uma “antifaschistische e investiguem a existência desse tipo de organização no
(ação antifas-
tro do marxismo sobre as categorias de classe,
cista) interpartidária.
bairro onde vocês moram. Em seguida, façam um levantamento dos principais
gênero e raça?
problemas da comunidade
O KPD tentou e encaminhem
se retratar como soluções para alguns deles. Para isso,
o único partido
3. Leia um trecho da obra Crítica da razão negra, sigam o roteiro de
verdadeiramente etapas. na última eleição
“antifascista”
do filósofo camaronês Achille Mbembe (1957-), livre1:da República de Weimar, a qual o NSDAP de
Etapa Investigar
e responda às questões a seguir. Adolf Hitler não venceria completamente, mas,
• Entrevistem moradores locais e identifiquem a existência de focos representativos.
mesmo assim, levaria os nazistas ao poder.

Conexões
Dito isso, por quais direitos os negros devem con- • Reconheçam lideranças locais e realizem entrevistas para compreender o pro-
tinuar a lutar? Tudo depende do lugar em que se en- Acesso
incapacidade
de coletadode
KPD, dos social-democratas
demandas da comunidade e o protocolo de resoluções.
contram, do contexto histórico em que vivem e das e de outras forças democráticas de trabalharem em
condições objetivas que se lhes apresentam. Tudo Etapa 2: Criar
conjunto, soluções
apesar de garantirem mais votos combi-
depende também da natureza das formações raciais • Listem
nados do que asoproblemáticas locaisa tomar
NSDAP, ajudou Hitler e as organizem
o con- por meio de categorias: ques-
no seio das quais são chamados a existir, quer como troletões sociais, infraestrutura,
da Alemanha. meioos
Em pouco tempo, ambiente,
nazistas entre outros pontos que acharem
minorias históricas cuja presença não se contesta, relevantes. e ilegalizariam sistematicamente
desmantelariam
mas cuja pertença integral à nação se mantém am- os• dois
Reconhecer padrões
[...] partidos [...]. entre os problemas apresentados em forma de tabela.
bígua (caso dos Estados Unidos); quer como mino- • Muitas
Com base em padrões
das principais reconhecidos,
figuras desenvolvam soluções para um dos pro-
do KPD no período foram tratadas separadamente. Essas diferentes formas clínicas, entretanto, se referem à diversidade
rias que se decide não ver, nem reconhecer, nem blemas apresentados.
entreguerras iriam, mais tarde, governar a Alema- DESMATAMENTO E SAÚDE de protozoários de um mesmo gênero, Leishmania, associada às diferenças na capacidade imunitária
escutar enquanto tais (caso da França); ou então co- • Desenvolver
nha Oriental (RDA)um storyboard
durante paraFria.
a Guerra transpor
[...] a solução por meio da criação de um
mo maioria demográfica no exercício do poder O Brasil é formado por seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa de indivíduos infectados. [...] De maneira geral, pode-se afirmar que 1% de área desmatada leva a incre-
algoritmo, isto é, descrever o passo a passo da solução formulada. O storyboard
HALLAM, Mark. “Antifa” é centro de debate há um século
político, mas relativamente desprovida de poder eco- é
nauma técnica
Alemanha. DW,muito utilizado
3 jun. 2020. na indústria
Disponível cinematográfica como forma de pré-
em: https://
e Pantanal. Todos são fundamentais para o desenvolvimento e a manutenção da vida mentos entre 5% e 9% na incidência de doenças causadas pelos protozoários do gênero Leishmania.
nômico (caso da África do Sul). Mas, quaisquer que www.dw.com/pt-br/antifa-%C3%A9-centro-de-debate
-visualização de determinada cena. Para isso, são desenhados, em uma sequên- humana e englobam a biodiversidade do país, abrigando espécies endêmicas de plantas e JUNIOR, Nilo Luiz; MATION, Lucas Ferreira; SAKOWSKI, Patrícia Alessandra Morita; MATION, Lucas Ferreira.
sejam os lugares, as épocas e os contextos, o hori- -h%C3%A1-um-s%C3%A9culo-na
cia-alemanha/a-53671770.
de quadros, o que deve acontecer em cada momento da cena. Aqui, o grupo
Acesso em: 5 ago. 2020.
animais. Impacto do desmatamento sobre a incidência de doenças na Amazônia. Ipea, 2015. Disponível em: https://www.
zonte dessas lutas continua a ser o mesmo: como ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2142.pdf. Acesso em: 15 ago. 2020.
deve desenhar o que deve acontecer em cada etapa da solução.
pertencer de pleno direito a este mundo que nos é a) De acordo com o trecho, havia um movimen- No entanto, nos últimos séculos, nossos biomas têm sido destruídos intensa e incessantemente.
comum? Como passar do estatuto de “sem-parte”
to que se opunha ao fascismo. Qual era esse O desmatamento também é responsável pelo fato de um número maior de triatomíneos,
ao de “parte interessada”? Como tomar parte na
Durante os últimos cinco séculos, todos os biomas sofreram grandes devastações com
movimento? insetos vetores da doença de Chagas, passar a se alimentar do sangue dos animais domés-
constituição deste mundo e na sua partilha? diferentes propósitos, tais como construções rodoviárias e expansão da pecuária e agricultura.
ticos e dos humanos. Essa reação foi uma forma de adaptação dos triatomíneos, uma vez
b) Na sua opinião, por que, nos dias de hoje,
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo: No final dos anos 1950, Juscelino Kubitschek idealizou a construção de Brasília no meio que o desmatamento desencadeou o rareamento dos animais silvestres, suas fontes natu-
N-1 Edições, 2018. p. 304. ainda
Não escreva no livro.existem
grupos antifascistas? 111
do Cerrado, o segundo maior bioma do Brasil, ampliando significativamente o desmata- rais de alimentação. A seguir, o médico José Rodrigues Coura, especialista em doenças
mento. Hoje, o Cerrado tem apenas cerca de 50% de sua vegetação nativa. Na década infecciosas e parasitárias, alerta sobre esse problema.
52 Não escreva no livro.
seguinte, os governos da Ditadura Civil-Militar estimularam a ocupação da Amazônia, movi-
[...] No ciclo da mineração no Brasil, quando praticamente não se desmatava, não há evidências
dos por preocupações geopolíticas.
de adaptação de triatomíneos ao domicílio. Ela passou a ocorrer nos ciclos da agricultura e no da
O desmatamento causa considerável alteração na temperatura das regiões. Estima-se pecuária, períodos de desmatamento intenso. Somente encontramos triatomíneos adaptados ao
que o desmatamento de cerca de 25% de um hectare da área da Mata Atlântica, por exem- domicílio em áreas desmatadas e em cerrados. Não há adaptação em áreas de mata fechada, como
plo, leva a um aumento de 1 °C na temperatura local. Caso todo o remanescente deste na Amazônia, embora ali existam dezenas de espécies de triatomíneos. [...]

ATIVIDADES
hectare seja desmatado, esse aumento será de 4 °C. COURA, José Rodrigues. Tripanosomose, doença de Chagas. Ciência e Cultura, São Paulo,
v. 55, n. 1, jan./mar. 2003. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_
Além disso, o desmatamento é responsável por diversos desequilíbrios ambientais, como arttext&pid=S0009-67252003000100022. Acesso em: 24 jul. 2020.
perda da biodiversidade, agravamento do efeito estufa, aceleração da erosão dos solos, e,
ainda, pode afetar diretamente a saúde humana. ATIVIDADES

Individuais ou coletivas, trabalham diferentes A destruição das florestas aumenta o risco de seres humanos entrarem em contato com 1. Pesquise fotos antigas e atuais de seu bairro para compreender como se deu o desmatamento

Mídia animais hospedeiros de vírus e protozoários que podem causar doenças bastante conhe- na sua região ao longo do século XX. Busque fotos de diferentes décadas. Faça a exposição

processos cognitivos; resolução de problemas;


cidas, como malária, leishmaniose, doença de Chagas, e outras que eram desconhecidas para sua turma e discutam entre si as principais modificações dos bairros ao longo do tempo.
até serem contraídas pelos humanos. 2. Elabore um mapa conceitual explicando as relações de causa e consequência do des-
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) fez um estudo sobre o impacto do matamento dos biomas brasileiros ao longo do tempo.

análise, compreensão e produção de diferentes desmatamento no desenvolvimento de doenças na região amazônica, que verificou, por
exemplo que a cada 1% de Floresta Amazônica derrubada anualmente, houve um aumento
3. Leia o trecho a seguir e faça o que se pede.

Uma das causas do aumento do risco de transmissão é a redução da diversidade de espécies

tipos de texto, verbais e imagéticos; pesquisas


de 23% nos casos de malária.
em regiões desmatadas. “A transformação de ambientes florestais em pastos ou áreas agrícolas
ESTUDO DE CASO: ETNOMÍDIA E A RÁDIO
Veja mais detalhes do estudo YANDÊ
a seguir:
ANÁLISE
quase sempre diminui a variedade de espécies locais”, explica Prist. “Sem predadores naturais, al-
Para melhor compreender a formação,gumas as características e as àtáticas
espécies se adaptam de operação
nova paisagem de um de forma descontrolada.” O aumen-
e se reproduzem

e debates.
[...] o impacto do desmatamento sobre a malária é realmente marcante – podendo gerar incre-
CONTEXTO veículo vinculado à etnomídia, você e seustocolegas
mentos maiores que 23% nas taxas de incidência da doença para cada 1% de área desmatada. vão fazer
da população desses um estudo
animais, de caso
muitas sobre
vezes a Rádiode vírus, pode elevar o risco de conta-
reservatórios
Yandê. Reúnam-se em grupos e sigam astoetapas.
e transmissão de microrganismos antes restritos ao ambiente florestal para seres humanos. [...]
Alguns representantes de povos indígenas são Dessacríticos
forma,a fica
veículos da qualquer
claro que imprensa tradicional,
esforço de gerenciamento da malária deve necessariamen-
[...] Nas florestas, os vírus se encontram em equilíbrio com os seus hospedeiros — em geral,
pois consideram que, muitas vezes, reproduzem e reforçam
te levar em contaestereótipos dessas populações.
as taxas de desmatamento. Por outro lado, a magnitude do efeito encontrado,
quando associada à disseminação de malária em regiões tropicais – o número de casos Etapa da 1: Coleta de dados
última mamíferos —, infectando-os, na maioria das vezes, sem lhes causar mal. Morcegos e ratos são
os hospedeiros mais frequentes, por causa da ampla distribuição de espécies e por viverem
década, só na Amazônia, esteve na ordem dos milhões – evidencia a existência de um • custo
Busquem
socialinformações na internet sobre a formação da rádio: quem são os idealizadores;
A imagem do indígena na sociedade, bem como na mídia
elevado, ainda
que tem sidoépouco
carregada de olharnaetnocên-
considerado tomada de decisões sobre o uso do capital natural. De em comunidades com alta densidade de indivíduos. [...]
como criaram o projeto para a rádio; as razões de terem escolhido a internet como forma
trico. O indígena não é valorizado, e os meios defato,
comunicação
Garg (2014)têm uma tendência
defende a fortalecerem
que, na Indonésia, os benefícios sanitários locais do controle do desma- ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Da floresta para as cidades. Pesquisa Fapesp, 10 jun. 2020. Disponível em:
de veiculação dos programas; quanto tempo o projeto foi gestado antes do primeiro pro-
https://revistapesquisa.fapesp.br/da-floresta-para-as-cidades/. Acesso em: 21 ago. 2020.
preconceitos contra os povos nativos, [...] A mídia, por ter
tamento poder de
poderiam formar
exceder osopiniões,
benefíciostermina, na às mudanças climáticas.
relacionados
maioria das vezes, ajudando a desvalorizar essesAgrupos minoritários. grama ir ao ar; como a rádio é financiada/sustentada; quais são os objetivos da rádio, qual
outra doença que apresentou uma relação clara com o desmatamento foi a leishmaniose [...]. Suas • Explique como o desmatamento causa desequilíbrio ambiental e contribui para a dis-
diferentes manifestações – tegumentar
é o público-alvo etc. seminação de doenças infecciosas.
BATISTA, Daiane Nogueira; SILVA, Lucas Wilame Almeida da; SIMAS, Hellen Cristina Picanço.eOvisceral – são
outro lado dotratadas como duas doenças [...], e aqui também
índio: representações sociais na mídia. Revista Eletrônica Mutações, v. 6, n. 11, 2015. Disponível em: • Acessem ao
site da Rádio Yandê, disponível em: https://radioyande.com (acesso em:
https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/relem/article/view/1001/pdf. Acesso em: 9 ago. 2020.
9 ago. 2020) e recolham informações sobre a programação da rádio: quantos progra-
42 Não escreva no livro. Não escreva no livro. 43
mas são veiculados; quais são seus formatos; quais são as pautas abordadas com mais
Cassandra Cury/Pulsar Imagens

frequência.
• Escutem a um desses programas e anotem de que forma os locutores se comunicam, quais
são as notícias apresentadas e comentadas, quais são as fontes dessas notícias; etc.

Etapa 2: Organização dos dados


• Façam uma tabela com o resumo das principais informações recolhidas, tendo como
objetivo ter um panorama de quais são os objetivos concretos da rádio e de que ma-
neira ela se organiza para atingi-los. Veja um exemplo da tabela que pode ser cons-
Índio radialista da etnia terena truída aqui:
apresentando programa de
rádio na Aldeia Córrego do
Meio, em Sidrolândia. Mato Quantidade de Tipos de Fontes das
Pautas debatidas na
Grosso do Sul, MS, 2015. Objetivos Público-alvo programas na programas na informações
programação
grade grade apresentadas
Com o auxílio do uso da internet, de computadores e smartphones, os povos indígenas
começaram a criar formas alternativas de expressão midiática como uma maneira de vincu-
lar suas vozes, identidades, culturas e reflexões sobre o mundo de forma mais direta, sem a
mediação de outros grupos de interesse, em um fenômeno conhecido como etnomídia.
Um exemplo é a rádio on-line Yandê, idealizada em 2013 por indígenas dos povos Tupinambá
Etapa 3: Elaboração do relatório
e Baniwa:
• Façam um relatório descrevendo de que maneira a etnomídia é praticada na Rádio
A Rádio Yandê é educativa e cultural. Temos como objetivo a difusão da cultura indígena atra- Yandê, se ela parece atingir seus objetivos e público-alvo, e de que forma, e quais são
vés da ótica tradicional, mas agregando a velocidade e o alcance da tecnologia e da internet. Nos- os aprendizados que a organização dessa rádio pode deixar para outros projetos de

Pesquisa
sa necessidade de incentivar novos “correspondentes indígenas” no Brasil, faz com que possa- etnomídia.
mos construir uma comunicação colaborativa muito mais forte, isso comparada às mídias tradi-
cionais de Rádio e TV. CONCLUSÃO
Estamos certos, de que uma convergência de mídias é possível, mesmo nas mais remotas aldeias • Em sala de aula, discutam com os colegas como foi o processo de investigação dessa rá-
e comunidades indígenas, e que isso é uma importante forma de valorização e manutenção cultural. dio, se chegaram às mesmas conclusões em seus relatórios e se acreditam que a etnomí-
RÁDIO YANDÊ. Comunicação e etnomídia indígena. Disponível em: https://radioyande.com/a-radio.php. dia pode ser uma ferramente importante na divulgação de pautas e reivindicações de
ESTUDO DE CASO – PARTICIPAÇÃO POLÍTICA JUSTIFICATIVA
Além do estudo do tema proposto, o trabalho contribui para a familiarização com a lin-
Acesso em: 9 ago. 2020.
diversos grupos minoritários no Brasil.
DAS MULHERES guagem e a estrutura de trabalhos científicos. A etapa final promove o debate de ideias.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
74 Não escreva no livro. Não escreva no livro. 75
APRESENTAÇÃO DESENVOLVIMENTO
1. Seguindo as orientações do professor, formem os grupos e determinem o país a ser
A democracia representativa é o sistema político de democracia indireta, ou seja, com elei-
estudado.
ção de representantes da população para os cargos políticos com o objetivo de defender os
2. Realizem a pesquisa na internet e em biblioteca(s), utilizando fontes confiáveis. A pesquisa
interesses da população. Dessa forma, pode-se dizer que o poder do representante é legiti-

MÍDIA
DA EDITORA DO BRASIL
deverá ser composta das partes indicadas a seguir. É importante que todos os integrantes
mado pela soberania popular.
do grupo participem de todas as etapas, pois elas se relacionam.
Esse modelo ainda é o de maior aprovação mundialmente, entretanto sua legitimidade tem a) Um histórico da participação política das mulheres no país estudado, incluindo possí-
sido cada vez mais questionada. Somos mesmo representados nesse modelo de democracia? veis conflitos, principais desafios, papel de movimentos sociais, ações implementadas

A partir de textos que circulam na mídia, a seção


Essa reflexão vem à tona ao tratarmos de políticos que consultam a população apenas em para alcançar os índices atuais e descrição da conjuntura atual.
época de eleição, ou que agem de acordo com interesses privados, em detrimento dos inte- b) Posteriormente, discutiremos a relação entre a participação feminina na política e
resses populares, ou mesmo quando comparamos como a classe política e a população de outros indicadores de igualdade de gênero, como acesso aos estudos, disparidade

trabalha a análise crítica e propositiva da


um país são formadas. salarial ou violência doméstica, buscando perceber se há uma correspondência
Não há proporcionalidade de gênero, classe ou raça entre os ocupantes de cargos políticos entre os países que alcançam maiores índices de igualdade na política e em outros
e as populações correspondentes. A política tradicional ocidental é dominada por homens âmbitos. Para isso, apresentem índices variados, com apoio de tabelas e gráficos.
brancos. Se a política é representativa, não devia representar sua população, sendo formada
também, proporcionalmente, por mulheres, negros, indígenas e outros grupos?
c) Como o governo de lideranças femininas é representado pela mídia tradicional? A pes-
quisa deverá incluir dados referentes a essa temática e período, bem como uma análise
crítica, utilizando informações sobre o país estudado na argumentação.
produção, circulação e recepção desses textos,
com foco na leitura inferencial e multimodal,
Nesse modelo, nossa cidadania é exercida em grande parte por meio do voto. A Nova Ze-
lândia foi o primeiro país a garantir o sufrágio feminino, em 1893. O Reino Unido o estabele- Os resultados da pesquisa devem ser organizados em um texto contendo os seguintes itens:
ceu em 1918, após muita luta, já a Suíça apenas concedeu o direito ao voto às mulheres em a. Introdução

destacando processos de análise e interpretação


1971, e a Arábia Saudita, em 2011. No Brasil, as mulheres conquistaram o direito ao voto b. Objetivos
em 1932, e a sua obrigatoriedade, em 1946. c. Metodologia
Quanto à participação de mulheres em cargos políticos, em 2018, elas eram apenas dez d. Resultados
dos 153 chefes de Estado eleitos. Apenas um quarto dos cargos nos parlamentos mundiais
eram femininos.
i. Histórico – Texto descritivo, referente à etapa 2.a.
ii. Dados – Apresentação de indicadores sociais, referente à etapa 2.b.
textual, tratamento da informação e identificação
de fragilidades argumentativas.
Vimos, na Unidade 3, alguns mecanismos que têm sido utilizados no Brasil para diminuir a
iii. Mídia – Texto analítico, referente à etapa 2.c.
distância entre a quantidade de homens e mulheres na política institucional, entretanto o país
ainda está longe de alcançar a igualdade de gênero na participação política. Em 2019, o país e. Conclusão
ocupava a posição 134 de 193 países pesquisados pela ONU, quanto à representatividade f. Referências – Bibliografia consultada, seguindo as normas da ABNT.
feminina no Parlamento, com 15% de participação das mulheres.
CONCLUSÃO
Para esta atividade, vocês vão realizar estudos de caso sobre a participação das mulheres
Os trabalhos vão ser discutidos pelo professor em sala de aula, com base nas reflexões
na política em diferentes países, listados abaixo.
trazidas pelos grupos, sugeridas abaixo:
• Ruanda • Taiwan • África do Sul • Índia
• Os países com alta participação feminina na política tiveram trajetórias parecidas?
• Bolívia • Espanha • Suécia • México
• Que fatores vocês identificam como importantes para alcançar essa representatividade?

Para continuar
• Nova Zelândia • Cuba • EUA • Argentina
• Qual é o papel dos movimentos sociais nas conquistas políticas?
O estudo de caso é um tipo de pesquisa muito usado para explicar como ou por que deter- • Outros índices referentes à igualdade de gênero também são melhores em países com
minados fenômenos sociais ocorrem, que consiste na coleta dados, sobretudo qualitativos,
buscando explorar ou descrever um evento.
maior participação política feminina? Por quê?
• Quais são os principais desafios para o Brasil alcançar maior participação feminina
aprendendo
na política?
OBJETIVOS • Que estratégias vistas poderiam funcionar no Brasil?
• Elaborar um texto descritivo • Realizar uma análise • Como podemos explicar o posicionamento da mídia tradicional diante de governos lide-
• Apresentar dados • Participar de um debate qualificado sobre o tema rados por mulheres? UNIDADE 1 – MODOS DE GOVERNANÇA Site
REPUBLICANOS Geledés – Instituto da Mulher Negra. Disponível em: https://
www.geledes.org.br/. Acesso em: 30 ago. 2020.
Filmes Página da organização não governamental antirracista, que tra-
154 Não escreva no livro. Não escreva no livro. 155 balha pela promoção e valorização das mulheres negras e da
Batismo de sangue, direção de Helvécio Ratton. Brasil, 2006
comunidade negra em geral. Trata de diversos assuntos relacio-
(94 min).
nados a esses temas e outros correlatos.
Filme baseado no livro homônimo de Carlos Alberto Libânio
Christo, o Frei Betto (1946-), que conta a história real do apoio de
um grupo de frades dominicanos à luta contra a Ditadura Civil- UNIDADE 3 – EM BUSCA DA CIDADANIA

PESQUISA
-Militar, especificamente a Ação Libertadora Nacional, de Carlos
Marighella (1911-1969), no final da década de 1960. Filme
O dia que durou 21 anos, direção de Camilo Tavares. Brasil, Aconteceu bem aqui, direção de Camilo Tavares. Brasil, 2015
2012 (77 min). (durações variadas).
Documentário que mostra, por meio de registros audiovisuais Projeto que reúne cinco curta-metragens que tratam de lugares

Proposta de investigação científica que mobiliza práticas de pesquisa


originais e documentos da época, a participação do governo esta- da cidade de São Paulo que são simbólicos para a luta pelos Direi-
dunidense no Golpe Militar de 1964 no Brasil. tos Humanos e pela democracia, como a Praça e Catedral da Sé.

Livro Livro
1988: Segredos da constituinte, de Luiz Maklouf Carvalho.

como o estudo de caso, grupo focal, estado da arte, análise


Liberalismo – entre civilização e barbárie, de Domenico
Losurdo. São Paulo: Anita Garibaldi, 2006. Rio de Janeiro: Record, 2017.
O autor italiano marxista expõe na obra suas críticas ao liberalismo, A obra do jornalista investigativo traz diversas entrevistas para
analisando fatos históricos, compara o colonialismo europeu entender como foi elaborada a Constituição Cidadã, marco da
redemocratização brasileira e Carta Magna do país até hoje.

documental, uso e construção de questionários, amostragens e


ao hegemonismo estadunidense atual e aponta as desigual-
dades raciais e de gênero e a exploração dos trabalhadores.
Site
Consulta Pública – eCidadania – Senado Federal. Disponí-
UNIDADE 2 – MINORIAS SOCIAIS vel em: https://www12.senado.leg.br/ecidadania/principal

relatórios, pesquisa-ação.
E DEMANDAS HISTÓRICAS materia. Acesso em: 30 ago. 2020.
Página do site do Senado Federal em que são publicados todos
Filme os projetos de lei e demais proposições que tramitam no Senado
Branco sai preto fica, direção de Adirley Queirós. Brasil, 2015 para que a população possa opinar.
(95 min).
Filme que conta a história de dois homens negros vítimas de vio- UNIDADE 4 – CAMINHOS E DEBATES
lência policial que recebem o auxílio de um morador do futuro
para recolherem provas para processar o Estado. PARA PENSAR O FUTURO
Livro Filmes
Sejamos todos feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie. Eleições, direção de Alice Riff. Brasil, 2018 (100 min).
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. O filme conta a história de uma eleição para o grêmio estudantil
Neste livro, a escritora nigeriana apresenta de forma simples e de um escola, mostrando de que maneira esse tipo de organização
direta a importância da questão de gênero no mundo, apontando afeta o dia a dia dos estudantes, assim como os preparam para
os benefícios da igualdade pela qual luta o feminismo. agir em sociedade.
Tomorrowland - Um lugar onde nada é impossível, direção
Podcast
de Brad Bird. Estados Unidos, 2015 (130 min).
Humor reforçou políticas de branqueamento nos anos 1920.
Filme conta a história de uma garota que, por meio de um broche,

PARA CONTINUAR APRENDENDO


Disponível em: https://jornal.usp.br/podcast/humor-reforcou consegue se transportar para uma realidade paralela futurista que
-politicas-de-branqueamento-nos-anos-1920-no-rio-de possui diversas novas invenções que visam o bem da humanidade.
-janeiro/. Acesso em: 30 ago. 2020.
O podcast Novos Cientistas, divulgado pelo Jornal da USP, apre- Livro
senta uma entrevista realizada com a historiadora Maria Margarete O que é participação política?, de Dalmo de Abreu Dallari.
dos Santos Benedicto, cuja pesquisa de doutorado trata de como São Paulo: Brasiliense, 2004.

Indicações de livros, filmes, documentários


a ideologia do branqueamento influenciou as representações de O livro apresenta de forma simples a importância da partici-
afrodescendentes em materiais humorísticos do Rio de Janeiro pação política como instrumento de construção da sociedade
nos anos 1920. que queremos.

e sites, ampliam os conhecimentos sobre 156

os assuntos abordados no livro.


Não escreva no livro. Não escreva no livro.
Sumário

UNIDADE 1 Modos de governança UNIDADE 2 Minorias sociais e demandas


republicanos  14 históricas  46
Governo e formas de governar  14 O conceito de minoria  46
• Estado de exceção 15 • Maioridade e minoridade racional  46
• Formas de poder 15 • As minorias sob o jugo do facismo e do
nazismo  47
Atividades  19
• Stalinismo e as minorias nacionais  48
• A República brasileira no século XX  20
• Marxismo e minorias: classe e
• A Constituição de 1891  21
identidades  49
• Primeira República (1889-1930)  21
Atividades  52
• A Era Vargas  22
• O populismo na América Latina  25 Indígenas e afrodescendentes no Brasil
republicano  53
• A República de 1946  26
• Teorias raciais no pensamento social  53
• A Ditadura Civil-Militar  28
• A tutela indígena  55
Atividades  29 • O mito da democracia racial  56
Partidos políticos no Brasil  30 • Avanços na República de 1946  59
• A Ciência política: Estado e sociedade  30 • Minorias étnicas na Ditadura Civil-Militar  60
• Partidos políticos: conceito, funções e
Atividades  62
dilemas  32
Atividades  35 Modernidade brasileira e a questão racial  63
• Dados do racismo no Brasil  64
Política e economia no Brasil  36
• Multiplicidade de vozes  65
• Populismo e economia nos
governos Vargas  DE DIVULGAÇÃO
MATERIAL 36 Atividades  67
• Guerra, indústria e o apoio Minorias e seus espaços: indígenas e
DA EDITORA DO BRASIL
estadunidense  37 quilombolas  68
• Brasil: território e desenvolvimento  38 • Violência e o apagamento de minorias  69
• A República na segunda metade do século • Constituição Cidadã e seu significado
XX: motores do desenvolvimento  39 para os indígenas  71
• Mudanças sociais e territoriais  40 Mídia: Estudo de caso: etnomídia e a Rádio
• A ditadura e as contradições do período  41 Yandê  74
Conexões: Desmatamento e saúde  42 • Ocupar: as demandas históricas
de minorias pelo direito de viver  76
• O milagre econômico  44
• População quilombola na Constituição
Atividades  45 Cidadã  79
• Representatividade e participação
política  82

Atividades  83

6 Não escreva no livro.


UNIDADE 3 Em busca da cidadania  84 UNIDADE 4 Caminhos e debates para
Cidadania e direitos  84 pensar o futuro  122
• As concepções de cidadania  84 Utopias  122
• A cidadania nos tempos atuais  86
• Usos do termo “utopia”  123
• Direitos, um símbolo da democracia  86
• Direitos humanos, uma conquista • O socialismo dos utópicos  124
constante  87 • O socialismo em bases científicas  126
• Social-democracia como sistema
Conexões: Bioética  88
possível  127
• Direitos sociais, um caminho para
realizar a justiça  90 Atividades  130
• Direitos individuais: por uma Compreender a História para agir
existência digna  91 na realidade  131
• Os conceitos de justiça, igualdade • História e poder  131
e equidade  92 • Quem escreve a História?  133
Atividades  95 • Quem faz a História?  134
• Disputas pela História  135
Às vésperas da Nova República  96
• A História como devir político  137
• A reorganização partidária  98
• A crítica ao presenteísmo  138
• A Constituição Cidadã e os
• A História no pensamento brasileiro  139
direitos humanos  100
• Avanços e desafios na Nova República  103 Atividades  140
• Juventude e políticas públicas  104 Política popular além do voto  141
Atividades  105 • Participação popular na Constituinte  142
• A política como experiência  143
O exercício da democracia
MATERIAL  106
DE DIVULGAÇÃO • Conselhos gestores no Brasil  145
• Presidencialismo × parlamentarismo  106
DA EDITORA DO BRASIL Atividades  146
• Presidencialismo de coalizão  108
• Mulheres nos espaços de poder  110 Organismos internacionais e
organização do espaço mundial  147
Atividades  111 • A ONU na atualidade  147
Território e planejamento no Brasil  112 • A Organização Mundial do
Comércio (OMC)  149
• Planejamento, integração e regiões  112
• Blocos econômicos: uma nova forma
• Regiões e as superintendências de
de Estado?  150
desenvolvimento regional  113
• Uma agenda internacional?  152
• Diferentes propostas e realidades  114
Atividades  153
• Os “quatro Brasis”  117
• Divisão regional e desigualdade  118 Pesquisa: Estudo de caso – Participação
política das mulheres  154
• As concentrações das redes  119
• Desenvolvimento territorial como Para continuar aprendendo  156
política de Estado  120 Referências  157
Atividades  121

Não escreva no livro. 7


Mapa do
aprendizado

Para começar o percurso de aprendizagem com este livro, leia quais são os objetivos
de cada uma das unidades do volume, assim como suas respectivas justificativas. Conheça
também as competências, as habilidades e os Temas Contemporâneos Transversais que
serão mobilizados ao longo do percurso.

UNIDADE 1
OBJETIVO
O objetivo da unidade é apropriar-se de conceitos políticos pertinentes à trajetória
histórica e à realidade política brasileira, podendo usá-los para qualificar a análise, a
interpretação e a intervenção na sociedade e nas instâncias políticas. Para isso, é feito um
estudo das fases republicanas no Brasil, debatendo-se os conceitos de democracia,
autoritarismo, paternalismo, populismo e de partido político. Analisa-se também os impac-
tos de discursos desenvolvimentistas em diferentes momentos da história do país.

JUSTIFICATIVA
O entendimento de conceitos políticos e da trajetória da República no Brasil visa pre-
pará-lo para participar do debate público, identificar problemas sociais e propor ações
que promovam a democracia e os direitos humanos, assim como caminhos para a cons-
trução de uma sociedade mais justa, inclusiva e próspera.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESTA UNIDADE

Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico,
social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e
colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo
a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar
causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções
(inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
DA EDITORA DO BRASIL
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida,
com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, nego-
ciar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam
os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito
local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo,
dos outros e do planeta.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se
respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento
e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identi-
dades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e


Sociais Aplicadas
Competência específica 6 – Participar do debate público de forma crítica, respeitando
diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu
projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
EM13CHS602 EM13CHS603 EM13CHS606

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


•• Educação ambiental • Vida familiar e social • Saúde

8 Não escreva no livro.


UNIDADE 2
OBJETIVO
O objetivo da unidade é compreender o conceito de minoria social e aplicá-lo ao contexto brasileiro, anali-
sando as relações entre o Estado e as minorias sociais durante o período republicano. Estudar dados para
identificar as causas e efeitos da desigualdade social e étnico-racial no Brasil, de modo a fundamentar as críti-
cas a essa situação. Avaliar a ação política de minorias sociais e comunidades tradicionais, considerando suas
formas de organização, reivindicações e demandas históricas, podendo também reconhecer avanços políticos
conquistados por esses grupos.

JUSTIFICATIVA
O reconhecimento das raízes históricas, sociais, ideológicas e econômicos da desigualdade no Brasil, assim como
o entendimento de como ela se manifesta no tempo e no espaço, é fundamental para a promoção de ações que
visem ao combate a esse problema e à inclusão de grupos historicamente excluídos da ordem social republicana.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESTA UNIDADE

Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e
digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação,
a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipó-
teses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos
das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar
de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, signifi-
cativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar
e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria
na vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício
da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
DA EDITORA DO BRASIL
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético
em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade
humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o
respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de
grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas


Competência específica 6
EM13CHS601 EM13CHS605

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


•• Diversidade cultural
•• Educação em direitos humanos
•• Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras
•• Vida familiar e social

Não escreva no livro. 9


UNIDADE 3
OBJETIVO
O objetivo da unidade é conhecer e compreender os princípios de justiça, igualdade
e liberdade presentes na Declaração dos Direitos Humanos, bem como da Constituição
federal brasileira, refletindo sobre a aplicação dessas normativas na sociedade brasileira.
A unidade também promove uma análise e avaliação dos avanços e desafios da Nova
República, destacando a conquista de direitos sociais e os aprimoramentos necessários
para a garantia de uma vida digna a toda população brasileira.

JUSTIFICATIVA
Estudar a política, a democracia e a cidadania por meio de ferramentas metodoló-
gicas e conceituais fornece embasamento para ampliar o seu repertório crítico, pre-
parando-o para participar da vida pública de forma consciente e ativa, para assim atuar
em espaços de representatividade social e política em prol da garantia e da efetivação
de direitos.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESTA UNIDADE

Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico,
social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e
colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e
criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais,
e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos
e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do
trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida,
com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, nego-
ciar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam
os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito
local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo,
dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-
-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO autocrítica e capacidade para lidar com elas.
Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se
DA EDITORA DO 9.BRASIL
respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento
e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identi-
dades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e


Sociais Aplicadas
Competência específica 6
EM13CHS605 EM13CHS606

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


•• Direitos da criança e do adolescente
•• Diversidade cultural
•• Educação em direitos humanos
•• Vida familiar e social

10 Não escreva no livro.


UNIDADE 4
OBJETIVOS
A unidade é iniciada com um debate sobre o conceito de utopia e sua aplicação a diferentes formas de
organização social, incluindo o desenvolvimento da ideia de cidadania no Brasil. O intuito é expor alguns
debates pertinentes à construção de alternativas para o presente e o futuro, de modo que você se localize
neles e possa orientar melhor a sua ação social, política e cidadã. Para isso, propõe-se reflexão sobre a fun-
ção social da História e apropriação das ferramentas democráticas para além do processo eleitoral. Também
espera-se que o estudante faça uma análise das relações que se estabelecem entre organismos internacio-
nais e os Estados no contexto mundial, identificando limites e possibilidades de atuação desses organismos.

JUSTIFICATIVA
O debate sobre o conceito de cidadania e sobre as diferentes ferramentas democráticas contribui para
sua formação cidadã e protagonismo social, de modo que se aproprie das discussões do espaço público de
modo crítico. Além disso, a compreensão das disputas nos âmbitos políticos, sociais e epistemológicos e o
posicionamento em meio a elas garantem o protagonismo na construção de uma perspectiva de futuro mais
igualitária, justa e fraterna.

A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR NESTA UNIDADE

Competências gerais
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e
digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma
sociedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação,
a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipó-
teses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos
das diferentes áreas.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências
que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao
exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e respon-
sabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias,
pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético
em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade
humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo
o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos
e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer
natureza. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação,
DA EDITORA DO BRASIL
tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Competências específicas e habilidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas


Competência específica 1 – Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos
âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos
epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação
a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de
natureza científica.
EM13CHS101 EM13CHS104
Competência específica 6
EM13CHS604 EM13CHS605 EM13CHS606

Temas Contemporâneos Transversais trabalhados


•• Ciência e tecnologia
•• Diversidade cultural
•• Vida familiar e social

Não escreva no livro. 11


INTRODUÇÃO

O que é ser cidadão? Como podemos nos posicionar no


debate público em prol do bem comum e nos organizar na luta
por nossos direitos? Essas são algumas questões que estive-
ram presentes ao longo da história, mas que são imperativas
no contexto contemporâneo em que crescem as demandas
de diferentes grupos sociais pelo reconhecimento de seus
direitos e de suas vivências singulares.
Para compreender quais são as principais características
da prática política e da cidadania em nosso contexto social, é
necessário entender o sentido da palavra governar e analisar
a construção da República no Brasil, seus principais agentes,
estratégias e ações de desenvolvimento, assim como quem
são os sujeitos marginalizados nesse processo, e de que forma
resistem e lutam contra essa conjuntura de marginalização.
Um exemplo de expressão da luta por representação polí-
tica e de contestação de regimes opressores e injustiças sociais,
é a prática do slam. Trata-se de uma poesia falada, geralmente
declamada em competições, que aborda assuntos como a
vida na periferia das grandes cidades, a desigualdade social
e opressões como o racismo e o machismo. Dessa maneira,
os slammers, ou seja aqueles que criam e declamam essas
poesias, conseguem expressar insatisfações sociais e desejos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
de transformação política.
DA EDITORA DO BRASIL
A discussão sobre a expressão e organização política de dife-
rentes sujeitos será aprofundada ao longo deste livro. E, ao final,
você e seus colegas poderão aplicar seus conhecimentos em um
projeto de pesquisa.

Começo de conversa

1. Se você fosse declamar um slam, sobre o 4. Você conhece alguma associação em seu
que ele seria? Qual insatisfação social ou bairro ou munícipio que se organiza para
desejo de transformação política expressaria? tratar de pautas políticas locais? Quais são
2. O que você entende por cidadania? essas pautas? Como é o modo de ação des-
sa organização?
3. Quais causas sociais você considera que
deveriam ser melhor representadas no
debate público? Explique sua resposta.

12 Não escreva no livro.


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

Slam das Minas, competição de


poesia falada entre mulheres.
Rio de Janeiro, RJ, 2020.

Não
Não escreva
escreva no
no livro.
livro. 13
1
UNIDADE
Modos de governança
republicanos

GOVERNO E FORMAS DE GOVERNAR


Possivelmente, você já se deparou com o termo “governo” ou com o verbo
“governar” ou ainda ouviu alguém falar sobre política. Mas já parou para
pensar no que significa essa palavra? O que significa governar? Apenas paí-
ses, estados e cidades podem ser governados? E um indivíduo, será que é
possível governar o outro, ou, melhor ainda, governar a si mesmo?
Antes de compreender como as diferentes maneiras de governar se dão
no universo político, vamos resgatar aqui o que esse termo significa e em
quais contextos ele pode ser aplicado. O verbo “governar” vem do latim
governare e pode ter muitos significados, de acordo com o contexto no qual
está inserido, mas, de modo geral, o termo é compreendido como o “ato ou
efeito de dirigir ou reger alguém ou alguma coisa”; ou ainda “como ato de
conduzir ou dirigir uma administração”.
Segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), governar refere-se
a “técnicas e procedimentos destinados a dirigir a conduta dos homens”. Um
governo, para o autor, pode ser o governo das crianças, o governo de uma casa
ou o governo de si mesmo – o autogoverno. De acordo com o filósofo, um indi-
víduo governa a si mesmo à medida que age de maneira autônoma, com o
objetivo de atingir uma existência plena e satisfatória. Além disso, Foucault
também reconhece que o conceito de governo pode estar relacionado ao governo
de um Estado, que é o que veremos mais detalhadamente nesta unidade.
Ao longo da história, cada grupo social de diferentes lugares do mundo
adotou uma forma de se organizar politicamente, dando origem a diversas
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
formas de governo. Muitas delas são estudas e debatidas até hoje. O filósofo
DA EDITORA DO francês
BRASIL Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), em sua obra intitulada
Do contrato social, publicada em 1762, define governo como o exercício
legítimo do poder executivo, realizado por alguém ou por um corpo institu-
cional incumbido dessa administração. Na obra, Rousseau reconhece que
há diferenças nas maneiras de governar. Segundo ele, um governo pode ser
mais ou menos vigoroso, manter-se mais ou menos distante do objetivo de
sua instituição, de acordo com a maneira como é constituído.
Antes de estudar as formas de governo mais frequentes ao longo da his-
Etimologia: pesquisa e estudo da
origem, da formação e da
tória, é importante entender a etimologia de palavras que as definem. Há
evolução de uma palavra de dois termos gregos que aparecem na composição de tais palavras. O primeiro
determinada língua. é o termo arche, que significa “o que está à frente”, “o que tem o comando”;
o segundo é o termo kratos, que significa “o poder supremo”, “a autoridade
suprema”. Palavras que apresentam o sufixo -arquia (arche), como monar-
quia, referem-se a quantos estão no poder. Já palavras que apresentam o
sufixo -cracia (kratos), como democracia, referem-se a quem está no poder.
Desse modo, temos o seguinte: monarquia (governo de um só), oligarquia
(governo de alguns), poliarquia (governo de muitos) e anarquia (governo de
ninguém); autocracia (poder de uma pessoa reconhecida como único sobe-
rano), aristocracia (poder dos melhores) e democracia (poder do povo).

14 Não escreva no livro.


Estado de exceção
Outro conceito de relevância para o estudo das diferentes formas de governo é o de estado
de exceção, que designa a suspensão do Estado de direito. Em outras palavras, pode-se
considerar estado de exceção aqueles casos em que o governo determina que o indivíduo
não pode contar com a legislação para se defender. Segundo Giorgio Agamben (1942-), o
estado de exceção designa um ponto de desequilíbrio entre os âmbitos jurídico e político de
um governo, apresentando-se como a forma legal daquilo que não pode ter forma legal.
Historicamente, esse recurso é utilizado no caso de “ameaça à ordem pública”, “à nação”,
com o Direito sendo suspenso para que o Executivo possa agir com “presteza” ou “prontidão”.
Para o filósofo, até mesmo a pandemia de Covid-19, causada em 2020 por um novo corona-
vírus, poderia funcionar como pretexto para a redução da liberdade dos indivíduos por parte
dos governos. Um dos perigos do estado de exceção é que ele abre margem, por exemplo,
para a instauração de governos ditatoriais, como você verá a seguir.

Formas de poder
Em uma teocracia (do grego teo, “Deus”, e cracia, “poder”), as ações e leis do Estado são
orientadas e justificadas pela religião. Nesse tipo de governo, o chefe político é visto como o
representante de uma figura divina, como os faraós do Egito Antigo. Governos teocráticos
diferenciam-se de acordo com o contexto de sua época ou situação política, mas todos têm
em comum o fato de terem como base escrituras sagradas. Atualmente, os países que vivem
sob o regime teocrático podem ser divididos entre aqueles cujas leis são baseadas no Alco-
rão, como é o caso de países com população predominantemente muçulmana: a Arábia
Saudita, o Afeganistão, o Paquistão, a Mauritânia e o Irã – este último governado pelo aiatolá
Ali Khamenei; e aqueles cujas leis são fundamentadas na Bíblia, como é o caso do Vaticano,
governado pelo representante maior da Igreja Católica, o papa –
atualmente, papa Francisco.

Iranian Leader Press Off./Handout/Anadolu Agency/


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
LUIS ROBAYO/AFP

DA EDITORA DO BRASIL

Getty Images

 Aiatolá Ali Khamenei, atual


líder supremo do Irã desde
1989, quando sucedeu ao
aiatolá Khomeini. Teerã, Irã,
2020.

 Papa Francisco, 266o papa da


Igreja Católica e atual chefe
de Estado da cidade-Estado
do Vaticano, em visita à
cidade de Bogotá, Colômbia,
2017. Francisco sucedeu o
papa Bento XVI, que abdicou
em 28 de fevereiro de 2013.

Não escreva no livro. 15


Monarquia
Monarquia vem do grego monos, “um só”, e arche, “quem está à frente”, e designa o governo
no qual o poder é concentrado em uma única pessoa, o monarca. Segundo Rousseau,
para que um Estado monárquico seja bem governado é preciso que sua grandeza seja men-
surada conforme as faculdades de quem governa, pois trata-se de um único indivíduo que
representa a coletividade. Na monarquia,
TOBY MELVILLE/POOL/AFP

o poder é vitalício e hereditário. Na falta


de um herdeiro direto, assume o parente
mais próximo.
A monarquia pode ser absoluta ou cons-
titucional. Na absoluta, o monarca tem
poder ilimitado. Na constitucional, ele
tem poder restrito, reina, mas não governa,
cabendo ao Parlamento, na figura do pri-
meiro-ministro, a chefia de governo. Esse
é o caso do Reino Unido. Um exemplo de
monarquia absoluta ocorre no Catar, gover-
 No Reino Unido, a rainha Elizabeth II ocupa o cargo de nado pelo sheik Tamin bin Hamad bin
chefe de Estado. Londres, Inglaterra, 2019. Khalifa Al Thani.

Ditadura e autoritarismo
Uma ditadura é instaurada com um golpe de Estado, quando uma força política toma o
poder, e é frequentemente exercida por uma junta militar. Nessa forma de governo, o Legis-
lativo e o Judiciário são subordinados ao Executivo. Além disso, é comum a repressão a
qualquer forma de oposição política e ideológica. Durante as décadas de 1960 e 1980, alguns
países da América Latina, entre eles o Brasil, passaram por ditaduras que contaram com a
prisão e o desaparecimento de pessoas que eram contra o governo vigente.
Uma ditadura pode ser apresentada por meio do autoritarismo ou do totalitarismo. No livro
As origens do totalitarismo, a filósofa Hannah Arendt (1906-1975) delineia suas diferenças.
Segundo ela, o autoritarismo atua por meio do cerceamento da liberdade e da repressão,
forçando a despolitização e a obediência passiva do povo, abolindo sindicatos, partidos polí-
MATERIAL DEforma
ticos e toda DIVULGAÇÃO
de representatividade política civil, além de utilizar a força do Estado para
reprimir indivíduos, como nas ditaduras militares. Exemplos de regimes autoritários ocorre-
DA EDITORA DO BRASIL
ram no Brasil (1964-1985); na Argentina (1966-1973); no Uruguai (1973-1985); e no Chile
(1973-1990). Já o totalitarismo conta com o engajamento popular e com a implantação do
sistema de um partido único, instituindo-se mediante a ideologia oficial do Estado, comandado
por um chefe carismático a quem Claude
Lefort (1924-2010) denomina egocrata,
Kaoru/CPDoc JB/Folhapress

por ser a personificação do poder único.


Exemplos identificados por Arendt como
governos totalitários foram o fascismo
italiano, em 1922, liderado por Benito
Mussolini (1883-1945); o nazismo, com
Adolf Hitler (1889-1945) na Alemanha,
a partir de 1933; e o stalinismo, na União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas,
liderado por Joseph Stalin (1878-1953),
de 1925 a 1953.

 Passeata dos Cem mil, Rio de Janeiro, RJ, 1968.


O movimento se colocava contra a ditadura
militar no Brasil.

16 Não escreva no livro.


A democracia e a divisão de poderes
A democracia é a forma de governo à qual estamos mais habituados, pois é o atual formato
vigente no Brasil e na maioria dos países ocidentais. A palavra democracia vem do grego
demos (“povo”) e kratos (“poder”) e significa “poder do povo”. Para Platão (427 a.C.-347 a.C.),
no diálogo A República, em uma democracia o povo caracteriza-se como a classe mais nume-
rosa e mais poderosa quando está unida. Um aspecto de fundamental importância da demo-
cracia é a eleição de seu governante, pois, mais do que a mera alternância de poder, ela
simboliza que o poder, por si próprio, não pertence aos ocupantes do governo; ele é um lugar
vazio que os cidadãos, de tempos em tempos, preenchem com um representante, podendo
ainda revogar seu mandato caso ele não cumpra o que lhe foi delegado. No Brasil, as eleições
presidenciais, estaduais e municipais acontecem a cada quatro anos.
Assim como outras formas de governo, a democracia pode ser categorizada de duas formas:
ela pode ser representativa ou direta. Na democracia representativa, os cidadãos votam em
membros de partidos políticos que representam os grupos da sociedade em tomadas de
decisões referentes a propostas e projetos que são implementados nos âmbitos municipal,
estadual ou federal. Na democracia direta, as iniciativas políticas são votadas não por repre-
sentantes dos cidadãos, mas pelos próprios cidadãos de uma sociedade. Segundo o filósofo
Norberto Bobbio (1909-2004), a democracia direta é uma utopia, não tendo sustentação nas
sociedades de massa. O autor a considera uma proposta insensata e defende que há com-
patibilidade entre a democracia representativa e o poder popular.
Na democracia, as noções de conflitos e diferenças são legítimas. É no exercício pleno da
democracia que conseguimos perceber que a sociedade não é uma comunidade una e indi-
visa, mas antes uma comunidade internamente dividida, que deve garantir a todos o direito
de expressar-se publicamente. Comumente, o poder em uma democracia republicana é
dividido em três instâncias: Executivo (formado por prefeito/a, governador/a e presidente/a),
Legislativo (formado por vereadores/as, deputados/as estaduais, deputados/as distritais,
deputados/as federais e senadores/as) e Judiciário (formado por magistrados/as, juízes/as,
desembargadores/as, ministros/as). Essa separação dos poderes foi proposta primordialmente
pelo filósofo francês Montesquieu, pseudônimo de Charles-Louis de Secondat (1689-1755),
na obra O espírito das leis, de 1748, e é denominada teoria da separação dos poderes, pois
prevê a autonomia dos poderes como pressuposto de validade do Estado democrático.
De acordo com a filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-), uma sociedade é democrática na
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
medida em que institui direitos aos cidadãos, além de eleições, partidos políticos, divisão dos
DA EDITORA
três poderes, respeito DO BRASIL
à vontade das maiorias e minorias.
Antonio Molina/Fotoarena

 Mulheres em manifestação a favor da democracia, em defesa da mulher e contra o racismo. São Paulo, SP, 2020.

Não escreva no livro. 17


O conceito de república
Em uma república, o país é considerado patrimônio do povo. As repú-
blicas têm como base o caráter transitório do poder, conferido pela cole-
tividade aos governantes, visando ao bem comum da sociedade. Para o
filósofo Renato Janine Ribeiro (1949-), república e democracia são pala-
vras comumente confundidas entre si, mas o autor as diferencia, já que a
democracia está do lado da sociedade e é popular; e a república, do lado
do poder, das instituições.
A palavra “república” vem do latim res publica e significa “coisa pública”
ou “bem público” e se traduz na participação do indivíduo em decisões polí-
ticas de sua comunidade. Na Grécia Antiga, por exemplo, algumas cidades-
-estado, como Atenas, tinham um sistema que admitia o exercício do poder
de seus cidadãos (homens, maiores de 21 anos, residentes na cidade e filhos
de cidadãos ateniense) por meio de assembleias.

República Romana
O conceito de república surgiu na Roma Antiga, quando Marco Túlio Cícero
(106 a.C - 43 a.C.), advogado e filósofo, definiu res publica como res populi,
ou seja, a coisa pública como a coisa do povo, unido em uma multidão cuja
associação é realizada por uma comunhão de interesses comuns.
A primeira república autônoma de que se tem notícia é a República
Romana (509 a.C.-27 a.C.), que se contrapôs ao regime monárquico e
surgiu para atender interesses dos cidadãos da época. A base do poder era
Patrícios: cidadãos que o Senado: uma assembleia formada por cerca de 300 senadores patrícios.
constituíam a aristocracia da O Poder Administrativo (gestão dos fundos e dos serviços públicos) era
Roma Antiga, equivalendo a uma exercido pelos cargos executivos, como cônsules, censores e governadores.
forma de nobreza hereditária.
Os Poderes Judiciário e Militar eram administrados por indivíduos aprova-
Plebeus: indivíduos que não
pertencem à nobreza. dos em diferentes assembleias, entre elas o Senado, a Assembleia Popu-
lar – composta de patrícios e plebeus – e o Conselho da Plebe, composto
apenas de plebeus. Na República Romana, eram considerados cidadãos
os homens adultos e livres, estando excluídos da cidadania as mulheres,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
as crianças e os escravos.
DA EDITORA DO BRASIL
Repúblicas italianas
Entre os séculos X e XV, algumas cidades adotaram o regime republicano
Fabiano's_Photo/Shutterstock.com

de governo, como Gênova, Veneza e Pisa, todas na Itália.


Seus governantes eram eleitos por assembleias aristocráticas como na
Roma Antiga. De acordo com o filósofo Nicolau Maquiavel (1469-1527), esse
modelo de governo devia ser seguido, pois as repúblicas são mais prósperas
e nelas os cidadãos se empenham mais em aumentar suas riquezas, o que
resultava na prosperidade pública.
Além disso, para Maquiavel, os interesses comuns são mais res-
peitados nos governos de caráter republicano porque as vontades
individuais estão submetidas à vontade de todos, por meio das leis.

 SPQR é a abreviação de Senatus Populusque Romanus, em


latim; em português: “O Senado e o Povo Romano”. A frase se
refere ao governo da antiga República Romana. Na foto, estátua
do conjunto histórico no Monte Capitolino em Roma, Itália.

18 Não escreva no livro.


Atividades

1. Leia o texto abaixo para responder à questão. 4. Analise a charge a seguir e relacione-a com o
que foi visto nesta unidade a respeito do con-
Imagine dormir em um país livre e acordar na ceito de democracia.
República de Gilead, um regime totalitário e teocrá-
tico com uma doutrina baseada no Velho Testamen-
to, onde as mulheres — todas, em diferentes níveis
— são submetidas aos caprichos de um homem.
Trata-se de uma história de ficção, o mote da série
The handmaid’s tale, inspirada no livro O conto da aia,
de Margaret Atwood, publicado em 1986. Mas po-
deria ser o Irã, pós-Revolução Islâmica, a Nigéria,
atormentada por extremistas do Boko Haram, ou a
Arábia Saudita, sob o regime do poderoso príncipe

© Laerte
herdeiro Mohammed bin Salman.
GONÇALVES, Marina. A assustadora semelhança de  Charge da cartunista Laerte, publicada na Folha de S.Paulo
“The handmaid’s tale” com a realidade de mulheres no Irã, em 2017.
Nigéria e Arábia Saudita. Época, 3 jul. 2018. Disponível em:
https://epoca.globo.com/mundo/noticia/2018/07/ 5. Leia abaixo um trecho da obra Da República, de
assustadora-semelhanca-de-handmaids-tale-com-
realidade-de-mulheres-no-ira-nigeria-e- Marco Túlio Cícero.
arabia-saudita.html. Acesso em: 17 jul. 2020.
É pois, [...] a República coisa do povo, conside-
•• O trecho compara o regime de governo presen- rando tal, não todos os homens de qualquer modo
te na obra de Margaret Atwood com os gover- congregados, mas a reunião que tem seu funda-
nos do Irã, da Nigéria e da Arábia Saudita. mento no consentimento jurídico e na utilidade co-
Pesquise como se configuram tais governos mum. Pois bem: a primeira causa dessa agregação
atualmente, relacionando as informações en- de uns homens a outros é menos a sua debilidade
contradas na pesquisa com o que foi visto nes- do que um certo instinto de sociabilidade em todos
ta unidade. inato; a espécie humana não nasceu para o isola-
mento e para a vida errante, mas com uma dispo-
2. A partir da definição de governo expressa por sição que, mesmo na abundância de todos os bens,
Jean-Jacques Rousseau na página 14, explique a leva a procurar o apoio comum.
com suas palavras oDE
MATERIAL que significa governar.
DIVULGAÇÃO [...] Formadas assim naturalmente, essas asso-
ciações, como expus, estabeleceram domicílio, an-
DAum
3. Leia abaixo EDITORA
trecho DOdo BRASIL
texto “Democracia tes de mais nada, num lugar determinado; depois,
versus república”, do filósofo brasileiro Renato esse domicílio comum, conjunto de templos, praças
Janine Ribeiro. e vivendas, fortificado, já pela sua situação natural,
Evidentemente, sabemos que há repúblicas que já pelos homens, tomou o nome de cidade ou for-
não são democráticas – mas para elas não vale o taleza. Todo povo, isto é, toda sociedade fundada
nome de república! – e democracias que são mo- com as condições por mim expostas; toda cidade,
narquias constitucionais. [...] enquanto a democra- ou, o que é o mesmo, toda constituição particular
cia tem no seu cerne o anseio da massa por ter mais, de um povo, toda coisa pública [...] necessita, para
[...] a república tem no seu âmago uma disposição ser duradoura, ser regida por uma autoridade in-
ao sacrifício, proclamando a supremacia do bem teligente que sempre se apoie sobre o princípio que
comum sobre qualquer desejo particular. [...] presidiu à formação do Estado. [...]
CICERO, Marco Túlio. Da República. São Paulo:
RIBEIRO, Renato Janine. Democracia versus república. A
Edipro, 2011. p. 36.
questão do desejo nas lutas sociais. In: BIGNOTTO,
Newton (org.). Pensar a República. Belo Horizonte: Ed.
•• Com base no que foi exposto nesta unidade
UFMG, 2000. p. 17-18.
sobre o conceito de república, explique de que
•• Explique de que modo os conceitos de repú- modo esse conceito se relaciona com o atual
blica e de democracia se relacionam. regime político brasileiro.

Não escreva no livro. 19


A REPÚBLICA BRASILEIRA NO SÉCULO XX
As ideias republicanas começaram a circular no Brasil ainda no período
colonial. Evidências disso podem ser encontradas nas insurreições ocorri-
das no século XVIII. Na Guerra dos Mascates, em 1710, os revoltosos de
Olinda inauguraram o termo “autogoverno”, associando-o a formas e prá-
ticas republicanas. Anos depois, na década de 1780, intelectuais das Minas
Gerais apresentaram um projeto claramente republicano para a colônia.
Esse movimento foi chamado de Conjuração Mineira e propunha a organi-
zação de uma comunidade soberana, formada por estados independentes
e com protagonismo político do Legislativo. Já nos panfletos da Conjuração
Baiana de 1789, o “povo” figurava como única fonte da autoridade política
e da soberania da República.
Mas foi no século XIX que o ideal republicano ganhou forma propriamente
no Brasil. A Revolução Francesa, com seus ideais iluministas, e a guerra de
independência dos Estados Unidos influenciaram as lutas independentis-
tas e a consolidação de regimes republicanos na América Latina. No entanto,
o Brasil independente adotou uma forma política inédita no continente,
com a manutenção da monarquia sob o comando da família real portuguesa.
O que liberais e positivistas Com isso, grupos pró-república se organizaram de norte a sul do país, desde
defendiam durante o a Confederação do Equador (1824), em Pernambuco, à Revolução Farrou-
Segundo Reinado? pilha (1835), no Rio Grande do Sul, pautando distintas vertentes do repu-
Durante o Segundo Reinado, os
blicanismo e aglutinando de elites a libertos.
liberais eram contrários à
centralização do poder e A partir da década de 1860, os desgastes do Segundo Reinado aprofun-
defendiam uma maior daram-se, levando à fundação do Partido Republicano em 1870. A República
autonomia das províncias,
o fim da escravidão e eleições foi proclamada sem grandes sobressaltos em 1889, como resultado da
diretas. aliança entre as elites nacionais e os setores militares. Em oposição à monar-
Já os positivistas acreditavam quia e suas tradições conservadoras, republicanos liberais e positivistas
em uma modernização baseada associaram o novo regime político às ideias modernas de liberdade, demo-
na resolução dos conflitos
sociais e políticos por meio de
cracia, progresso econômico e social.
ideias científicas e da ação do A República trouxe consigo as promessas de inserir o Brasil no caminho
Estado. Essa corrente filosóficada modernidade, seguindo os passos das maiores nações ocidentais, e de
teve grande repercussão entre
os militares. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
incluir os anseios da população na ordem do dia.
DA EDITORA DO BRASIL
República renega fazendeiros,
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
charge publicada na Revista
Ilustrada em 9 de junho de
1888. O periódico foi um
importante divulgador das
ideias republicanas de 1876 a
1889. Nesta charge, a
alegoria da República diz aos
fazendeiros: “Não vos
aproximeis de mim! Vossas
mãos, ainda tintas do sangue
dos escravos, manchariam
minhas vestes! Retirai-vos, eu
não vos quero...”.

20 Não escreva no livro.


A Constituição de 1891
A Constituição de 1891, a primeira do período republicano, foi diretamente
inspirada no modelo estadunidense de república federativa liberal. Depois de Novo regime, antigas práticas
sancionada, o país passou a se chamar Estados Unidos do Brasil, e os estados, Como aponta a historiadora Lilia
até então chamados de províncias, adquiriram grau de autonomia em relação Schwarcz (1953 -), na obra
Dicionário da República, há
ao governo federal. Esse formato favorecia o poder das elites locais, uma vez uma certa originalidade na
que os estados podiam contar com forças militares próprias, organizar a pró- implementação do sistema
pria justiça e estabelecer impostos sobre a exportação de seus produtos. Nesse republicano no Brasil.
Ao mesmo tempo que se
caso, os estados exportadores saíram especialmente beneficiados.
confundia com a noção de
Com a Constituição, houve a separação entre Estado e Igreja, e o país dei- democracia, a República não foi
xou de ter uma religião oficial. Foi implementado também o sistema presiden- mobilizada como uma oposição
à tirania, mas à monarquia.
cialista de governo, baseado na autoridade política do presidente, que era Com isso, instituiu-se uma
escolhido por eleições diretas para um mandato de quatro anos. Com a extin- brecha para o descaso com a
ção do Poder Moderador, foi instituída a divisão tripartite dos Poderes do Estado coisa pública, o cerceamento da
liberdade dos cidadãos e ação
entre Executivo, Judiciário e Legislativo, sendo o último dividido entre Senado em desconformidade com as
e Câmara dos Deputados, tal como funcionava no Império. leis e os direitos.
O sufrágio universal foi instituído com base em princípios liberais e, assim,
todos os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos podiam votar, exceto os
analfabetos, as pessoas em situação de rua e as mulheres. Na prática, ape-
nas 2,5% da população estava apta a participar dos processos eleitorais e O que são patrimonialismo,
uma parcela ainda menor dominava as instâncias de poder. clientelismo e coronelismo?
Patrimonialismo é uma prática
Primeira República (1889-1930) política em que não há
distinção entre o público e o
Após um breve período de governos militares, conhecido como República privado, de modo que os
da Espada, a primeira eleição direta no Brasil tornou presidente Prudente recursos e interesses do
de Morais (1841-1913), membro da elite cafeicultora paulista, em 1894. Estado são explorados por
aqueles que detêm o poder.
Era o início do poder hegemônico das oligarquias, garantido mediante arran- O clientelismo é caracterizado
jos políticos pouco republicanos. pela oferta de bens e serviços
em troca de apoio político. Por
Na República Oligárquica, aqueles que detinham a máquina estatal a usa- fim, coronelismo é uma forma
vam em benefício próprio, apropriando-se de recursos e negociando vantagens de mandonismo operada nos
a aliados. Práticas de patrimonialismo e clientelismo caracterizavam o funcio- espaços rurais do Brasil pelos
MATERIAL
namento do Estado, e eraDEcomum
DIVULGAÇÃO
que as autoridades colocassem seus inte- coronéis, chefes locais que
praticavam o voto de cabresto,
DA EDITORA
resses particulares acima do DO BRASIL
interesse público. Junto a isso, a política nacional influenciando os rumos da
era monopolizada por um grupo diminuto, que se impunha com o auxílio do política nacional.
coronelismo, de ações repressivas e de fraudes eleitorais, limitando o espaço
da oposição e tornando nula a representatividade popular.
A Política dos Governadores, implementada por
Acervo da Sociedade do Cangaço, Aracaju

Campos Sales (1841-1913), consolidou a autonomia


dos estados e aumentou a influência local na política
nacional. Não havia partidos políticos nacionais. Os
estados tinham seus próprios partidos controlados
pelas oligarquias locais. As eleições presidenciais eram
arranjadas por acordos entre esses partidos, que indi-
cavam candidaturas únicas e assim se alternavam no
poder. Com esses mecanismos políticos, o funciona-
mento estatal ficava viciado e instituía-se uma demo-
cracia de fachada.
De acordo com alguns pesquisadores, o cangaço esteve
diretamente ligado à política coronelista predominante no sertão
brasileiro. Na foto, cangaceiros que se entregaram para as tropas
do Estado após a derrota de Lampião. Angico, SE, 1938.

Não escreva no livro. 21


A Era Vargas
A chamada Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas (1882-1954), representou um
momento de ruptura na história política brasileira, pois pôs fim ao regime de alternância no poder
entre as oligarquias estaduais que caracterizou a Primeira República. A revolução marcou também
o surgimento de um novo tipo de Estado, mais forte e centralizado, que rompeu com os jogos de
poder vigentes até então e buscou conciliar os interesses das elites e o apoio popular.
Logo no início do Governo Provisório (1930-1934), Vargas
Acervo Iconographia

demonstrou uma postura autoritária ao adotar medidas para


centralizar o poder político e econômico no governo federal,
limitando a ação dos estados e municípios. O argumento usado
pelo presidente e seus aliados para a adoção de tais medidas
era a necessidade de colocar os “interesses nacionais” acima
dos locais. O Congresso Nacional foi dissolvido, e os antigos
governadores foram demitidos e substituídos por tenentes-in-
terventores nomeados por Vargas. Assim, ainda que as oligarquias
não tenham desaparecido totalmente do cenário político, elas
perderam a autonomia e a expressão política que tinham antes.
Os primeiros anos da Era Vargas foram caracterizados também
pela aproximação do governo às classes mais pauperizadas,
principalmente dos trabalhadores urbanos. Buscando se dife-
renciar das oligarquias, que respondiam com violência aos
movimentos operários e desconsideravam suas demandas,
Vargas implementou avanços trabalhistas entre 1930 e 1937,
 Cerimônia de queima das bandeiras estaduais, período que abrange também o Governo Constitucional (1934-
reforçando a predominância do governo federal
sobre os demais, ocorrida durante o Estado Novo. -1937). Com isso, o presidente reconhecia a importância política
Rio de Janeiro, RJ, 1937. desse setor social e buscava atrair seu apoio.

O trabalhismo de Vargas
A política trabalhista tornou-se um dos pilares de toda a Era Vargas, estendendo-se também
ao longo do período do Estado Novo (1937-1945). Por meio do trabalhismo, Vargas concedia
benefícios aos trabalhadores ao mesmo tempo que os colocava sob controle estatal. A lei de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sindicalização de 1931, por exemplo, dava legitimidade apenas aos sindicatos vinculados ao
DA EDITORA DO BRASIL a atividade sindical e abrindo margem para a perseguição e repres-
Estado, regulamentando
são de outras organizações, em especial as anarquistas e comunistas. Desse modo, o apoio
ao governo se tornou condição para a ampliação dos diretos trabalhistas.
A partir da Constituição de 1937, a tutela do Estado sobre os trabalhadores e suas orga-
nizações se intensificou. Os partidos políticos foram fechados, as greves proibidas, e o sindi-
cato único por categoria se tornou regra. O Estado assumia então o papel de mediador das
tensões entre a força de trabalho e o capital, controlando os operários e representando os
interesses da burguesia industrial. Os conflitos entre patrões e empregados eram trazidos
para o interior do Estado e ali eram regulados.

O autoritarismo no Estado Novo


Diante da aproximação do fim de seu governo constitucional, previsto para acabar em
1938, sem possibilidade de prorrogação, Vargas articulou um golpe de Estado para per-
manecer no poder. Com o apoio dos integralistas e das Forças Armadas, o pretexto para o
golpe foi a divulgação do Plano Cohen, um falso documento que continha o plano para uma
grande insurreição comunista no Brasil. Para conter o suposto levante comunista, o
congresso aprovou a suspensão da Constituição por 90 dias, abrindo caminho para a
instalação da ditadura do Estado Novo.

22 Não escreva no livro.


Como mencionado anteriormente, as tendências autoritárias de Vargas já
haviam aparecido durante o período de 1930 a 1937. Ainda no regime
democrático constitucional foi promulgada a Lei de Segurança Nacional, que
criminalizava os “distúrbios à ordem social e política”, instituindo legalmente
a repressão a opositores. Outros fatores somavam-se a isso, como a valori-
zação da soberania do Estado acima da soberania popular, expressa no
controle estatal dos movimentos de trabalhadores.
Aos poucos, a ideia do Estado centralizador como única via para o progresso
se consolidou, culminando no Estado Novo. Governando como um ditador, o
presidente colocou-se como a própria personificação do Estado, mais do que
um representante da vontade popular. Ao mesmo tempo, impunha a censura
aos meios de comunicação “para o bem do país” e tinha na propaganda do
regime um importante mecanismo de alienação das massas.
Para entender essas tendências autoritárias do getulismo, é preciso situá-
-lo no contexto de radicalização política do período entreguerras (1919-1939).
Nesse momento, as ideologias totalitárias de origem europeia se espalharam,
ganhando adeptos em diversos países, incluindo o Brasil.
O que foi o integralismo?
Princípios do Partido Fascista, que havia tomado o poder na Itália em 1922
Agrupamento de caráter
sob a liderança de Mussolini, influenciavam nitidamente a visão política de autoritário e nacionalista radical
Vargas. O Estado totalitário representado na imagem do líder, a ideia de que organizado em torno da
o cidadão é uma parte do Estado, a crença em uma sociedade com valores Associação Integralista
Brasileira (AIB), sob liderança
morais superiores, o nacionalismo extremado e a supressão dos conflitos do escritor e jornalista Plínio
entre classes sociais pela mão forte do Estado foram alguns dos pontos de Salgado. Considerado por
aproximação do getulismo ao fascismo. alguns pesquisadores a
expressão do fascismo no Brasil,
Contudo, não é possível classificar o getulismo como um fenômeno polí- o integralismo opunha-se ao
tico propriamente fascista. Embora tenha praticado perseguições políticas liberalismo e ao comunismo,
a seus opositores e expressado os princípios mencionados, Getúlio Vargas e seus membros adotavam
símbolos e uniformes
não integrava a extrema direita nacional, representada pelo movimento semelhantes aos dos fascistas
integralista. Além disso, Vargas expressava simpatia às democracias liberais, italianos. Os integralistas
mantendo relações próximas aos Estados Unidos. Prova disso é que, na participaram colaborativamente
do governo Vargas até 1938,
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Brasil sob Vargas uniu-se aos Alia- quando organizaram o Levante
dos na luta contra o Eixo. Integralista, um movimento
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Sofrendo desgastes após o fim do conflito mundial e a pressão da oposi- armado contra o governo
federal, sendo por isso
DA EDITORA
ção, o Estado Novo chegou aoDO
fimBRASIL
em 1945. Os resquícios autoritários, porém, colocados na clandestinidade.
permaneceram ecoando na sociedade brasileira durante as décadas seguin-
tes, mesmo com a vigência do regime democrático da República de 1946.
Acervo Iconographia

 Desfile do Dia do Trabalhador, em


1o de maio de 1942, no Estádio de
São Januário, Rio de Janeiro, RJ.
Na foto, vê-se a imagem de Getúlio
Vargas exaltada como um ícone
nacional no desfile de trabalhadores.

Não escreva no livro. 23


Entre o paternalismo e o populismo
Além do autoritarismo, dois outros conceitos são tradicionalmente associados por estu-
diosos da política aos governos da Era Vargas: populismo e paternalismo.
Criado por estudiosos das décadas de 1950 e 1960, o conceito de populismo serve de
categoria de análise de um conjunto de experiências e práticas políticas caracterizadas pela
conjunção de líderes carismáticos, defesa de uma legislação social, apoio massivo das clas-
ses populares e, em alguns casos, o estímulo ao setor industrial. O estilo de governo de
Vargas seria, portanto, uma expressão do populismo no Brasil. Sua marca populista estaria
no “pacto social” de trabalhadores, burguesia nacional e Estado; na identificação do líder com
o Estado; no apelo popular da figura do líder; na política de massas e na condução da nação
rumo à industrialização.
De forma simplificada, o paternalismo pode ser visto como uma extensão do populismo. O
termo se refere ao movimento de assistência às classes mais baixas realizado por Vargas,
exercido de cima para baixo, por meio de concessões de benefícios, sem promover de fato a
participação popular. Com o sucesso da política trabalhista de concessão de benefícios, Vargas
construiu sua imagem como “pai dos

Fundação Getulio Vargas - CPDOC, Rio de Janeiro


pobres”, reforçando-a com o uso
massivo da propaganda. A população,
entretanto, ocupava um lugar passivo,
com limites à própria autonomia,
cabendo a ela somente ser auxiliada
por uma instância superior.

  Imagem da cartilha Getúlio Vargas para


crianças, publicada em 1942. Propaganda
de cunho ufanista e personalista publicada e
veiculada pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) durante o Estado Novo.

OUTRO PONTO DE VISTA

Uso do termo populismo


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Os limites entre o paternalismo e o populismo e até mesmo a definição desses conceitos e suas formas de aplica-
ção à realidadeDA EDITORA DOsãoBRASIL
sócio-histórica motivo de controvérsias acadêmicas. Quando surgiu, o termo “populista” era
associado a “popular”, mas, com o tempo, adquiriu sentido pejorativo e elitista. Assim, pesquisadores atualmente
questionam a validade do uso do termo. Veja o que diz o professor Antonio Luigi Negro.

Populismo (argumenta-se) é pecha que se joga no adversário, para denunciar sua farsante demagogia. Antes de
ser usado, necessita explicar-se em demasia. A partir de cima ou de forma exterior, é um conceito não só excessiva-
mente elástico como também característico de abordagens etnocêntricas ou distanciadas. Não é operacional para
vislumbrarmos as diferenças e os atritos entre as classes, ou dentro delas. Populismo nos induz, quase sempre, à te-
se do triunfo da manipulação, pois está baseado no preconceito de que “os outros” – sindicalistas, trabalhadores e os
pobres – são uma massa débil e maleável, ou cúmplices de um jogo cínico e excludente.
NEGRO, Antonio Luigi. Paternalismo, populismo e história social. Caderno AEL, v. 11, n. 20/21, 2004.
Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/24672/1/2004%20negro%20CADs%20AEL.PDF.
Acesso em: 24 jul. 2020.

• Ainda hoje não há consenso entre historiadores sobre como caracterizar a trajetória política de Getúlio Vargas. En-
quanto alguns buscam defini-lo como um líder autoritário que chegou ao poder por meio de um golpe, outros en-
fatizam a imagem do governante que modernizou o Estado brasileiro e promoveu mudanças na estrutura econô-
mica. Com base na discussão acima, qual seria o problema em classificarmos Getúlio Vargas como um líder po-
pulista? Na sua opinião, a utilização desse termo ajuda ou atrapalha o entendimento sobre o seu governo e o seu
legado para o país?

24 Não escreva no livro.


O populismo na América Latina
O surgimento dos regimes de caráter populista na América Latina está relacionado ao
processo de industrialização da região em meados do século XX. Com o advento da indústria
e a expansão da urbanização, a estrutura social de muitos países latino-americanos sofreu
importantes transformações, algo que pode ser observado no crescimento da migração do
campo para as cidades, na diversificação dos empregos e no surgimento da classe média
urbana. Essas transformações tiveram efeito na política dos países, seja pelo aumento da
participação popular na vida política, seja pelo aparecimento de novas ideologias.
Nesse contexto, o populismo ganha força a partir dos anos 1930 e entra em decadência
na década de 1960. Havia no período uma grande insatisfação dos trabalhadores urbanos
com os programas políticos tradicionais e com a incapacidade das classes dominantes em
promover o desenvolvimento econômico. Esse quadro abriu espaço para o aparecimento de
líderes cujo programa político era baseado na geração de empregos e ampliação das garan-
tias trabalhistas, que atraíram para si a atenção das massas.
Os chamados governos populistas da América Latina, apesar das diferenças, tinham em
comum o objetivo de desenvolver o país e modernizar a sociedade. Esse movimento ganhou
maior ímpeto após a Segunda Guerra Mundial, quando o crescimento da economia mundial
favoreceu a industrialização, vista como condição para a superação do subdesenvolvimento.
Outra característica em comum era o nacionalismo, que ajudava a fortalecer a ideia da impor-
tância da integração nacional e impulsionava a formação de coalizões a favor de políticas de
desenvolvimento. As velhas oligarquias nacionais, vistas como símbolos do atraso, também
viraram alvos de governantes populistas de diferentes nacionalidades.
Entre os principais representantes do chamado populismo lati- Keystone-France/Gamma-Rapho/Getty Images

no-americano estão Carlos Ibañez del Campo (1877-1960), no


Chile, Gustavo Rojas Pinilla (1900-1975), na Colômbia, Getúlio
Vargas, no Brasil, e Juan Domingo Perón (1895-1974), na Argentina.
Durante o auge de seus governos, esses líderes carismáticos tinham
grande potencial de mobilização das massas a seu favor por meio
de seus mecanismos de distribuição de renda e aproximação aos
trabalhadores.
A agitação social causada pelos regimes populistas em diferentes
países gerou conflitos entre grupos antagônicos, causando seu declí-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nio. No final dos anos 1950, o cenário de crise econômica combinado
DA EDITORA
ao aumento populacional DO BRASIL
produziu tensões que dividiram as socie-
dades. As classes médias passaram a se ver ameaçadas pelas polí-  Perón e sua esposa, Eva Duarte, em cortejo
ticas populistas e voltaram seu apoio ao autoritarismo, principalmente comemorativo após a reeleição, em 1952,
em Buenos Aires, Argentina. Conhecida como
em razão do temor causado pela Revolução Cubana de 1959. A Evita Perón, a primeira-dama tinha grande
implementação de ditaduras militares em quase todos países da popularidade entre o povo argentino, sendo
América Latina pôs fim à experiência populista no continente. considerada um símbolo nacional.

Peronismo na Argentina
Juan Domingo Perón, um dos mais importantes líderes populistas da história latino-americana, teve nos trabalha-
dores urbanos sua principal base de apoio. No início dos anos 1940, aproximou-se deles enquanto exercia a função
de secretário do Trabalho, aumentando o salário mínimo e atendendo grande parte das demandas dos sindicatos.
Graças a isso, conseguiu se eleger presidente em 1946 e se reeleger em 1952.
Em seu governo, Perón construiu uma complexa aliança entre empresários, trabalhadores e militares e despontou
como um líder nacional. No entanto, o fortalecimento das centrais sindicais era visto com maus olhos por empresários
e grupos militares, que acabaram por depô-lo em 1955 em uma violenta ação militar que bombardeou Buenos Aires,
deixando mais de trezentos mortos.

Não escreva no livro. 25


A República de 1946
Com o fim do Estado Novo houve um movimento de renovação partidária, que conduziu à
formação dos primeiros partidos nacionais do Brasil. O Partido Social Democrático (PSD) tinha
caráter elitizado, abrigando líderes regionais e funcionários do governo, enquanto o Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) reunia dirigentes e militantes sindicais. Ambos eram represen-
tantes do varguismo e tinham como oposição a União Democrática Nacional (UDN), de viés
liberal, que atraía principalmente setores da classe média urbana. O Partido Comunista
Brasileiro (PCB) também se reorganizou, mas logo foi posto novamente na ilegalidade durante
o governo Dutra (1946-1951).
PSD, PTB e UDN conduziram as disputas políticas da chamada Quarta República (1946-
-1964) sob uma Constituição democrática, liberal e presidencialista. Diferentemente do que
ocorrera na trajetória política brasileira até então, esse período republicano foi iniciado por
um processo verdadeiramente democrático: uma eleição direta para presidente, regulada
pela Justiça Eleitoral, na qual 7 milhões de brasileiros e brasileiras puderam votar.
Dutra, que havia sido ministro da Guerra de Getúlio Vargas, foi o
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

único militar a governar no período democrático da Quarta República.


Depois dele, o próprio Vargas foi eleito pelo PTB e assumiu a presi-
dência entre 1951 e 1954. Nesse intervalo, os princípios do traba-
lhismo foram recuperados, o Estado assumiu uma postura
intervencionista na economia e o sindicalismo estatal foi reforçado.
Mais uma vez, Vargas fazia dos sindicatos a base social de seu governo
e atuava para neutralizar os conflitos sociais com a negociação de
reformas sociais. Enquanto isso, buscava estabilizar a economia e
assim atender aos interesses do empresariado nacional.
Em agosto de 1954, sob fortes pressões da oposição, o presidente
Getúlio Vargas se suicidou. Diante de uma enorme comoção popular,
as Forças Armadas, que exigiam sua renúncia junto a setores da elite
política e econômica, não aplicaram o esperado golpe de Estado, e
inicia-se o governo provisório de Café Filho (1899-1970). Entretanto,
a ameaça dos militares ao regime democrático permaneceu: pouco
 Charge de capa da revista O malho, n. 72, de mais de um ano depois, setores do exército tentaram impedir, em vão,
janeiro de 1946. Na imagem, o ano de 1946
é apresentado como um “Ano de paz e da
a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek (1902-1976), tam-
democracia”. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO bém conhecido como JK.

DA EDITORA DO BRASIL

O problema do termo “populismo”


A República de 1946 é também conhecida como “República populista”, uma vez que, segundo estudiosos, os
governantes brasileiros do período compartilhavam características do populismo. Veja que, assim como foi aplicado
à Era Vargas, esse conceito serviu também na teorização do momento democrático posterior, sendo assim empregado
de forma bastante abrangente e flexível. A seguir, conheça uma crítica a essa generalização da alcunha de “populista”:
[…] pelo fato de querer “pôr tudo no mesmo saco” […] e por querer explicar tudo, acaba-se não explicando realmen-
te nada. […] “personagens com diferentes tradições políticas foram reduzidos a um denominador comum: líderes tra-
balhistas como Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e mesmo Miguel Arraes perfilaram-se ao lado de políticos
regionais paulistas, como Adhemar de Barros e Jânio Quadros; de um general anódino, como Eurico Dutra; de um
udenista golpista, como Carlos Lacerda; e de uma figura ainda mal estudada, como Juscelino Kubitschek. Após 1964,
o próprio general-presidente João Figueiredo igualmente entrou no rol, segundo algumas análises. [...] projetos polí-
ticos que fincaram tradições políticas, e que ainda hoje se manifestam na sociedade brasileira, como o trabalhismo
petebista e o liberalismo udenista, dissolvem-se e confundem-se em um mesmo rótulo: tratar-se-ia de ‘populismo’”.
BORGES, Vavy Pacheco. O populismo e sua história: debate e crítica. Revista Brasileira de História, São Paulo,
v. 22, n. 43, p. 235-240, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102
-01882002000100013&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 21 ago. 2020.

26 Não escreva no livro.


O governo João Goulart
Jânio Quadros (1917-1992) foi o sucessor democraticamente eleito de Kubitschek. No entanto,
Quadros renunciou ao cargo em 1961, após poucos meses de governo. João Goulart (1919-
-1976), o vice-presidente de Quadros, assumiu a presidência e enfrentou uma permanente
instabilidade política que culminou na instituição do regime militar em abril de 1964. Assim, sua
gestão marcou o término da curta e frágil experiência democrática da Quarta República.
Jango, como era conhecido, havia sido ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, com quem
também compartilhara o mesmo partido político, o PTB. Suas credenciais incomodavam seto-
res do empresariado nacional e os militares. Por isso, para evitar novas investidas golpistas e
garantir a legitimidade do voto popular, o Congresso resolveu pela implementação do regime
parlamentarista. Jango tornava-se um presidente com poderes reduzidos, e a chefia de governo
ficava com o deputado Tancredo Neves, primeiro-ministro até 1962.
No ano seguinte, após a ampla maioria da população decidir pela volta do sistema presi-
dencialista em um plebiscito, o governo de Jango teve início na prática. Herdeiro do nacio-
nal-desenvolvimentismo de viés popular de Getúlio Vargas, Jango buscou o apoio das classes
trabalhadoras do campo e da cidade para implementar as reformas de base, vistas como
necessárias à continuidade do processo de desenvolvimento econômico e social do país.
Arquivo/Estadão Conteúdo

 O presidente eleito


João Goulart, ao lado
de Tancredo Neves,
durante a solenidade
da entrega da faixa em
frente ao Palácio do
Planalto, em Brasília,
DF, em 8 de setembro
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO de 1961.

DAampliar
A proposta de EDITORA DO BRASIL dos trabalhadores urbanos e rurais
a participação
na política e conceder-lhes mais direitos sociais, no entanto, era malvista
por setores conservadores, sobretudo devido à aproximação do presidente
a lideranças rurais e sindicalistas. Assim, as antigas denúncias contra Vargas
passaram a ser endereçadas a Jango, associado ao comunismo e à corrup-
ção e acusado de querer implementar uma “república sindicalista” no Brasil.
Um cenário de crise se abriu: as questões sociais dificultavam a forma-
ção de uma base de apoio capaz de garantir a participação massiva nos
O que são reformas de base?
processos políticos nacionais; as reformas sofreram duras derrotas no
São reformas nas áreas agrária,
Congresso; e a alta da inflação e da dívida externa aumentou ainda mais a urbana, fiscal, bancária,
pressão sobre Jango. Isolado de suas bases de apoio parlamentar, Jango universitária e eleitoral, com o
ficou acuado pela articulação entre setores das Forças Armadas e do intuito de promover mudanças
estruturais na economia e na
empresariado nacional dispostos a tomar o poder pela força. sociedade, reduzir as
A realização de um comício na Central do Brasil, em março de 1964, desigualdades e superar o
subdesenvolvimento.
marcou os últimos dias do governo de Jango. Ao chegar ao poder, em 1o de
abril, os militares depuseram a presidência e colocaram fim a uma experiên-
cia singular na história da República brasileira: a tentativa de reformar o
Estado e de ampliar a participação popular na democracia.

Não escreva no livro. 27


A Ditadura Civil-Militar
Na segunda metade do século XX, durante a Guerra Fria (1947-1991),
ditaduras militares se espalharam por diversos países da América Latina,
como a Argentina, o Chile, o Uruguai e o Brasil. Influenciados pela doutrina
de segurança nacional estadunidense, os generais desses países alegavam
que a intervenção na política de Estado visava “afastar o perigo do comu-
nismo”, representado pelos governos populares, e “salvar a democracia”.
O combate aos “inimigos internos” foi usado
Arquivo/Estadão Conteúdo

como justificativa para a implementação de


medidas de exceção, como a suspensão de
direitos políticos e de liberdades democráti-
cas, que acabaram se tornando duradouras.
No Brasil, a Ditadura Civil-Militar, conduzida
por militares com o apoio decisivo de setores
civis, especialmente o empresariado, foi a
mais longa do continente, durando 21 anos.
Em 9 de abril de 1964, o alto comando das
Forças Armadas lançou o primeiro decreto,
anunciando a cassação de mandatos e a
suspensão de direitos políticos de parlamen-
tares, que ficou conhecido como Ato Institu-
cional 1 (AI-1). Em decorrência desse decreto,
 No Brasil, durante a Ditadura Civil-
-Militar a repressão política se muitos servidores públicos e políticos perderam o emprego, outros chega-
alastrou contra a população civil, ram a ser presos ou torturados logo no início do regime. O AI-2, que veio
incluindo os estudantes que se na sequência, aprofundou o autoritarismo, dissolvendo os partidos políticos,
manifestavam contra o regime.
São Paulo, SP, 1968. ampliando os poderes jurídicos e legislativos do governo militar e tornando
indiretas as eleições para o Executivo.
Até 1985, o Estado funcionou em um arranjo bipartidário, mas, na prática,
a oposição tinha pouca margem de ação política. Tudo era controlado pelos
militares, que, ao mesmo tempo que governavam com mão de ferro, busca-
vam dar uma aparência democrática ao regime. Ao todo, foram editados
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dezessete atos institucionais, decretos adicionais à Constituição, sendo o
DA EDITORA DO mais
BRASILemblemático deles o AI-5, editado em dezembro de 1968.
Esse ato representou um endurecimento ainda maior da ditadura. O Con-
O que é habeas corpus? gresso Nacional foi fechado por tempo indeterminado e foram suspensas as
É uma medida judicial que visa garantias constitucionais, como o habeas corpus. As reuniões políticas podiam
garantir o direito à liberdade de ser realizadas apenas com autorização policial, e o direito de ir e vir foi limi-
locomoção das pessoas. A tado. Tinham início assim os chamados “anos de chumbo”, quando a censura,
medida pode ser solicitada por
qualquer indivíduo que sinta
a perseguição e a tortura contra cidadãos brasileiros e estrangeiros eram
que sua liberdade está sendo práticas do Estado. Tudo isso não era sequer noticiado pela mídia, então sob
ameaçada de maneira injusta, forte censura estatal.
como por abuso de poder
do Estado. O AI-5 foi revogado em 1978, em meio ao processo de “abertura lenta,
gradual e segura” iniciado com Ernesto Geisel (1907-1979). A ditadura
passava a distender-se em direção a uma restauração democrática sem,
contudo, contar com a participação de civis.
Com o crescimento da pressão pela redemocratização, João Figueiredo
(1918-1999), o último general da ditadura, assumiu a missão de conduzir a
abertura do regime. Em 1979 houve uma reforma partidária, que permitiu o
surgimento de novos partidos no cenário político brasileiro. A primeira elei-
ção direta, porém, ocorreria apenas em 1989.

28 Não escreva no livro.


Atividades

1. Sobre a expressão do populismo em líderes da autoridade paterna se, como esta, tivesse por fim
atualidade, leia o trecho do texto escrito pelo preparar o homem para a idade viril, mas não
filósofo Roger Scruton (1944-2020) em 2017: procura senão prendê-lo irrevogavelmente à in-
Populistas são políticos que apelam direta- fância”, [...].
mente ao povo quando deveriam recorrer ao pro- BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
Gianfranco (org.). Dicionário de política. Tradução Carmen
cesso político [i.e., institucional] e que estão pre- C. Varriale et al. 11. ed. Brasília: Editora UnB, 1998. p. 909.
parados para deixar de lado procedimentos e cui-
a) Como Tocquevile interpreta a política pater-
dados legais quando a maré da opinião pública
nalista em um regime democrático?
está a seu favor. [...] eles podem usar o voto po-
pular para derrotar todas as expectativas e pre- b) Você concorda que o Estado não deve ado-
visões da classe política. Todos têm, contudo, tar uma postura “tutelar” ou “paternalista”?
uma coisa em comum, qual seja, a pronta dispo-
Por quê?
sição para dar voz às paixões que não são nem 3. De 1937 a 1945 e, depois, de 1964 a 1985, a
reconhecidas, nem mencionadas no curso da po- República brasileira passou por longos regimes
lítica normal. E, por essa razão, não são demo- ditatoriais. Você saberia apontar as semelhan-
cratas, mas demagogos — não são políticos que ças entre eles? E as diferenças? É possível
lideram e governam mediante o recurso a argu-
afirmar que ambos garantiram os princípios
republicanos? Em duplas, pesquisem sobre o
mentos, mas sim agitadores que excitam os sen-
assunto para responder a essas questões. Em
timentos irrefletidos da massa.
suas respostas, mobilizem os conceitos de auto-
SCRUTON, Roger. Representação e o povo – sobre a ritarismo, ditadura e democracia, aplicando-os
relação entre o governo e os governados. In: WOLF,
Eduardo. Populismo e demagogia na era da democracia de maneira correta e contextualizada a cada
digital. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 10 fev. 2019. período da história política brasileira.
Estado da Arte. Disponível em: https://estadodaarte.
estadao.com.br/populismo-e-demagogia-na-era-da- 4. Observe a charge e responda às questões abaixo.
democracia-digital. Acesso em: 19 jul. 2020.

Matt Davies © 2010 Matt Davies/Dist. by Andrews McMeel Syndication


a) Qual é o principal argumento do filósofo no
trecho?
b) Segundo o trecho, os populistas tendem a res-
peitar os processos políticos e institucionais
MATERIALrepresentativa?
da democracia DE DIVULGAÇÃO Comente.
c) CompareDA oEDITORA
ponto deDO BRASIL
vista do autor com o do
texto de Antonio Luigi Negro, na página 24.
Ambos convergem ou divergem? Explique.
2. Leia a seguir, um trecho do verbete “paternalis-
mo”, retirado do Dicionário de Política:  Charge de Matt Davies publciada em 2010.
[...] Com o advento da democracia parecia que o
perigo do Estado paternal tivesse sido eliminado; a) Qual é a crítica ao populismo e aos populis-
mas […] tal ameaça é mais grave e impendente [imi- tas expressa na charge?
nente] que nunca. b) Essa crítica se aplica a algum contexto polí-
[…] Sobre uma multidão incontável de homens tico brasileiro? Por quê?
semelhantes e iguais, que não se conhecem, é […] c) É comum a visão de que o populismo só per-
o pensamento de Tocqueville, “ergue-se um po- siste enquanto não há um real processo de
der imenso e tutelar que se encarrega, por si só, democratização, sendo fundamental para os
de lhes assegurar o desfrute dos bens e de vigiar populistas a dicotomia entre pobres e ricos.
sobre a sua sorte. É absoluto, minucioso, siste- Essa charge refuta ou reforça essa visão?
mático, previdente e brando. Assemelhar-se-ia à Você concorda com ela? Explique.

Não escreva no livro. 29


PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL
Você já tirou seu título de eleitor ou votou em alguma eleição? Gostaria de se candidatar
a algum cargo político? Essas questões fazem parte da vida dos cidadãos brasileiros e são a
expressão do sistema político que vivemos.
O sistema político organiza as relações entre a sociedade e o Estado

Cassandra Cury/Pulsar Imagens


e o direito de todos os cidadãos de votar e serem votados seguindo
determinadas regras previstas na legislação. Esse sistema passou por
diversas configurações ao longo do tempo. Entre golpes de Estado e
mudanças de regime, o Brasil teve diversas constituições desde a pro-
clamação da Independência. Cada uma delas marcou um período político
distinto e tem suas especificidades.
A atual Constituição brasileira, aprovada em 1988, é resguardada
pelo Supremo Tribunal Federal. Apesar da realização de algumas
alterações, sua estrutura básica segue organizando o sistema eleito-
ral e a forma como se estrutura a democracia no país. A aplicação
dessas leis é feita em diversas instâncias e por diferentes processos
permeados pelos interesses de grupos, agentes e classes sociais em
 Adolescente indígena da etnia
disputa. Os desdobramentos da política nacional estão relacionados
terena durante as eleições
municipais. Aldeia Marçal de não apenas às disputas eleitorais, mas à analise do movimento e da
Souza, Campo Grande, MS, 2016. dinâmica entre as forças sociais.

A Ciência Política: Estado e sociedade


A política move paixões, exatamente porque é a arte da negociação, envolve a luta e o
desejo por um mundo diferente do existente. As ações políticas, em diversos âmbitos, apre-
sentam uma série de elementos que podem impactar a vida dos cidadãos.
A Ciência Política se dedica a analisar o funcionamento das disputas políticas na relação
entre Estado e sociedade. Essa ciência é relativamente recente, desenvolvida principalmente
a partir do século XX, por meio de metodologias específicas que buscam compreender a
política tal como ela é.
Diferentemente da filosofia política, desenvolvida, por exemplo, por Aristóteles, Platão,
Hobbes e Rousseau, que tentavam elaborar um Estado ideal ou uma doutrina política que
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
organizasse as forças sociais, a Ciência Política se baseia em análise de dados empíricos, ou
DA EDITORA
seja, DO BRASIL
na experiência do que ocorreu ou ocorre na sociedade. Como metodologia, utiliza-se
cada vez mais dados quantitativos, a partir de pesquisas estatísticas, e dados qualitativos,
como entrevistas e levantamentos históricos, além da análise dos caminhos desenvolvidos
por partidos e eleitores e das forças em oposição na dinâmica do Estado.

 A negociação de diferentes interesses da sociedade é parte inerente ao processo democrático. Na foto, deputadas
de diferentes orientações políticas durante votação no plenário da Câmara dos Deputados. Brasília, DF, 2019.
Pedro Ladeira/Folhapress

30 Não escreva no livro.


Teóricos da Ciência Política
Considerado o precursor da Ciência Política, Maquiavel desenvolveu seu pensamento
durante o século XV, abandonando a visão ideal, religiosa ou moral na análise do Estado. Seu
trabalho foi inovador ao analisar o que um político precisava fazer para se manter no poder,
com base em experiências históricas e processos políticos.
Karl Marx e Max Weber também foram importantes teóricos que, ao estudar a sociedade
como um todo, buscaram explicar o papel do Estado e fundamentaram a Ciência Política
contemporânea.
Karl Marx, propôs o entendimento do Estado a partir da organização de classes sociais e
da dominação da burguesia. O socialismo de Marx previa o fim da propriedade privada dos
meios de produção, o que acabaria com a mais-valia e com a divisão da sociedade por clas-
ses. Sem a presença da burguesia, não haveria necessidade do Estado, pois sua função seria
o domínio de uma classe por outra. Na construção do comunismo, os trabalhadores produ-
ziriam em associação, de forma livre e igualitária.
Max Weber, por sua vez, estudou a burocracia como forma de dominação específica do
Estado moderno e a política e o parlamento alemão como instância para controlar a domi-
nação burocrática. No livro Política como vocação, o autor discute que na política existiria
uma ética própria que rege as tomadas de decisão e de negociação. Essa análise aponta para
uma ética da responsabilidade (fazer o que for necessário) e uma ética da convicção (fazer o
que acha certo). Segundo Weber, o político deve articular suas convicções com a responsa-
bilidade, para conseguir negociar pontos essenciais daquilo que representa.

Ciência Política no Brasil


Atualmente, no Brasil, pesquisas do campo da ciência política buscam compreender
principalmente a dinâmica dos partidos e dos eleitores. Analisa-se, por exemplo, como se
articulam os inúmeros partidos que compõem o Congresso Nacional, os avanços de deter-
minadas propostas e a organização da oposição ao governo, tendo em vista que a demo-
cracia pressupõe múltiplos valores que necessitam estar representados.
As pesquisas de intenções eleitorais e de aprovação do governo realizadas por empresas
privadas têm sido cada vez mais frequentes, devido a necessidade da sociedade acompanhar
os panoramas da política institucional. Entretanto, essas pesquisas, realizadas principalmente
pelos meios MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
de comunicação, não fazem parte da Ciência Política, que requer métodos de
validação específicos, como o reconhecimento
DA EDITORA DO BRASIL dos pares (outros cientistas da área), confronto
com as teorias científicas e síntese dos resultados.
Disponível em: <http://www.tse.jus.br/eleicoes/pesquisa-eleitorais/
consulta-as-pesquisas-registradas>. Acesso em: 7 set 2020

  No site do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE),
é possível consultar o
resultado de algumas
pesquisas eleitorais.

Não escreva no livro. 31


Partidos políticos: conceito, funções e dilemas
Qual é a função de um partido político? De uma forma geral, é possível dizer que um par-
tido político organiza os grupos sociais com interesses e projetos em comum. Embora esse
tipo de sistema de representação apresente desgastes, fenômeno que não se restringe ao
Brasil, os partidos políticos foram e são importantes para o desenvolvimento da democracia.
Os partidos políticos são formados a partir da organização da sociedade civil. Eles surgiram
principalmente a partir do final do século XIX, com a conquista da população de participar
do poder político e da gestão do Estado. Até então, pessoas se juntavam em grupos ou asso-
ciações com atuações voltadas a interesses comuns, mas sem uma forma de participação
oficial no governo.
Na metade do século XIX, na Europa e nos Estados Unidos, o partido dos notáveis foi o
primeiro a participar da gestão dos negócios públicos. Ele representava o interesse da bur-
guesia emergente, em contraposição à aristocracia e aos trabalhadores.
Com o desenvolvimento das lutas operárias, surgiram os primeiros partidos de trabalha-
dores. A princípio eles eram formados por pessoas que atuavam de forma clandestina, pela
repressão dos governos em relação às suas reivindicações. Eram chamados partidos de
quadros, com poucos militantes, atuando de forma muito organizada e disciplinada.
Conforme a população passou a lutar e conquistar uma maior participação política, os
partidos operários foram oficializados e se transformaram em organizações de massa. Por
exemplo, o Partido Operário Social Democrata Alemão, fundado em 1875, tinha como
objetivo sistematizar um programa político que atendesse às demandas dos trabalhadores.
Os partidos de organização de massa tinham como intenção ampliar e incentivar a edu-
cação política dos operários. Buscavam o desenvolvimento de uma estrutura política orga-
nizada e estável, capaz de enfrentar um processo contínuo de disputas na sociedade. O
financiamento desses partidos era escasso e depen-
dia de um sistema de contribuições periódicas de
Museu Histórico Alemão, Berlim

seus membros.
Com a introdução do sufrágio universal, os par-
tidos operários tiveram uma rápida expansão e
integração no sistema político e passaram a con-
correr com os partidos burgueses. Nesse processo,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
surgiram os partidos eleitorais de massa que não
DA EDITORA DO BRASIL se dirigiam aos interesses específicos de uma classe
social. Com um programa amplo de orientações,
buscavam a confiança dos eleitores com plataformas
flexíveis.
Atualmente, é possível identificar uma crise
entre os partidos ao redor do mundo, por sua
característica efêmera e do esvaziamento dos seus
programas, cada vez mais distantes da população
e dos interesses das classes sociais. De qualquer
forma, essas etapas de revisão política e de pro-
jetos fazem parte do processo de desenvolvimento
da democracia e dos partidos em suas diferentes
tendências e representações.

  Ferdinand Lassalle – O lutador contra o poder do


capital, 1870. Litografia colorida, 56,1 cm × 40,3 cm
(autor desconhecido). Lassalle foi um dos precursores
da social-democracia na Alemanha.

32 Não escreva no livro.


Breve história dos partidos políticos no Brasil
Atualmente, o Brasil tem um sistema eleitoral pluripar-

Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo


tidário, com liberdade para a formação de diferentes parti-
dos políticos. Formados a partir de associações voluntárias
de pessoas que partilham as mesmas ideologias, eles têm
como objetivo comum fazer parte do poder político do país.
O país tem mais de 30 partidos políticos legalizados, mas
nem sempre foi assim. Durante a colonização portuguesa, a
administração política era exercida por Portugal. Só podiam
participar da política local os chamados “homens-bons”: grupo
formado por homens brancos, latifundiários, escravocratas,
que não exerciam trabalho braçal e de família aristocrática.
Com a chegada de D. João VI e a família real portuguesa,
em 1808, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido  José Wasth Rodrigues. Paço municipal, 1628, 1920. Óleo
e passou a exercer uma maior influência na Corte. Os sobre tela, 75,5 cm × 100 cm. Além do Governo Geral, o
poder local era exercido pelas câmaras municipais.
primeiros partidos políticos oficiais a atuarem foram:
• Partido Português: formado por comerciantes portugueses insatisfeitos com a elevação
do Brasil a Reino Unido. Atuavam na tentativa de recolonizar o Brasil e voltar a ter o
monopólio comercial, perdido em 1808, com a Abertura dos Portos às Nações Amigas;
• Partido Brasileiro: formado em sua maioria por latifundiários favoráveis à liberdade comercial
e monarquistas;
• Partido Liberal Radical: composto de profissionais liberais, defendiam a independência
e a formação de uma República no Brasil.
Depois da independência política de Portugal, em 1822, D. Pedro I seguiu no poder até
1831, quando abdicou do trono, deixando seu filho de 6 anos como herdeiro. Durante o
período regencial (1831-1840), os partidos se configuraram da seguinte forma no Brasil:
• Liberais Moderados: defendiam a monarquia e a manutenção da escravidão;
• Restauradores: formado por portugueses que

Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro


desejavam o retorno de D. Pedro ao Brasil. Teve
seu fim em 1834 com a morte do rei português;
• LiberaisMATERIAL
Exaltados: DE DIVULGAÇÃO
defendiam a formação de
uma República e o trabalho
DA EDITORA livre. Foram os res-
DO BRASIL
ponsáveis pela Revolução Farroupilha no Rio
Grande do Sul.
A partir de 1840, quando D. Pedro II teve sua
maioridade antecipada para assumir o trono, dois
partidos passaram a disputar o poder no Brasil, o
Liberal e o Conservador.
• Liberal: defendia a descentralização do poder;
• Conservador: apoiava a centralização do poder
nas mãos do imperador.
Apesar dessa diferença, os partidos eram conhe-
cidos na época como “farinha do mesmo saco”,
pois, ambos defendiam a manutenção do poder
nas mãos da elite.

Henrique Fleiuss. D. Pedro II representado


como o Poder Moderador, entre dois
partidos: Liberal e Conservador. Gravura.

Não escreva no livro. 33


Os partidos na República
Durante o período conhecido como República Oligárquica (1889-1930), o Partido Repu-
blicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro exerceram o poder por meio de um reve-
zamento na presidência, chamado Política do Café com Leite.
Em meio as convulsões sociais ocorridas nas primeiras décadas da República, des-
taca-se o movimento Tenentista, protagonizado por jovens militares de baixa patente,
liderados por Luís Carlos Prestes.
Com a Revolução de 1930, Getúlio Vagas assumiu o poder e implementou uma perseguição
aos partidos de oposição, enquanto estimulava correntes fascistas como a Ação Integralista
Brasileira. Em 1937, com o início da Ditadura do Estado Novo, todos os partidos foram extintos.
No curto período democrático vivido no Brasil entre 1946 e 1964, os partidos políticos
que disputaram a eleição para presidente foram:
• UDN (União Democrática Nacional): formado pela burguesia urbana, antivarguista;
• PSD (Partido Social-Democrático): apoiadores de Vargas;
• PTB (Partido Trabalhista Brasileiro): partido de Getúlio;
• PCB (Partido Comunista Brasileiro): partido operário.
Em 1964, os militares derrubaram o presidente João Goulart, do PTB, e iniciaram uma dita-
dura no país. As liberdades individuais, de imprensa e partidárias foram retiradas. Em 1965, o
presidente Humberto Castello Branco decretou o Ato Institucional número 2 (AI-2), instituindo
o bipartidarismo formado pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido dos militares, e o
pelo Movimento Democrático Brasil (MDB), partido de oposição controlado pelo governo. Somente
com a revogação do AI-2 em 1979, novos partidos políticos foram formados.

Partidos após a redemocratização


Nas eleições para governadores, deputados e senadores de 1982, com o início da aber-
tura democrática no Brasil, o Partido Democrático Social (PDS), apoiador dos militares,
venceu em 12 estados. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), derivado
do MDB, venceu em outros 10 estados, e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) venceu
no Rio de Janeiro. Apesar da vitória do PDS em grande parte dos estados, o partido não
conseguiu a maioria na câmara e no senado.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Em 1988, ocorreram as primeiras eleições diretas para a presidência. O maior destaque
DAdaEDITORA DOaBRASIL
disputa foi ida para o segundo turno do Partido dos Trabalhadores (PT), com Luiz Iná-
cio Lula da Silva como candidato. Fundado em 1980, o PT era formado por operários, inte-
lectuais de esquerda e lideranças do movimento sindical do ABC Paulista do final da década
de 1970, entre outros.
Apesar de Fernando Collor, do Partido da Reconstrução
Vidal Cavalcante/Folhapress

Nacional (PRN), ter ganhado a disputa em 1989, os anos


de 1990 tiveram uma hegemonia do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), que havia nascido de uma
dissidência do PMDB. O partido ganhou as eleições para
a presidência em 1994 e em 1998, com Fernando Hen-
rique Cardoso, representando as políticas neoliberais. PT
e PSBD disputaram o cenário eleitoral até o impeachment
da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
Em 2018, a disputa pela presidência ficou entre Jair
Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), e Fernando
Haddad, do PT. O PSDB perdeu força e não foi para o
 Candidatos Fernando Collor de Mello (PRN-AL) (à esquerda) e
Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) durante debate no segundo segundo turno eleitoral pela primeira vez desde as
turno das eleições presidenciais de 1989, São Paulo, SP. eleições em 1994.

34 Não escreva no livro.


Atividades

1. Existe algum partido político que represente os seus interesses? Faça uma pesquisa
sobre os partidos políticos no Brasil em jornais e sites na internet. Em seguida, escolha
um desses partidos, que melhor lhe representa e responda às questões abaixo.
a) Qual a origem desse partido?
b) Como é a sua composição? Ele tem militantes? Que classe social representa?
c) Qual é o seu programa de governo e sua atuação?
d) Você acha que o partido poderia ser melhor em algum aspecto?
2. Forme um grupo com os colegas e organizem um debate sobre o tema “eleições sem
partido”. Conversem sobre a importância ou não dos partidos no processo eleitoral
apresentando argumentos contrários e favoráveis à obrigatoriedade da candidatura estar
associada a um partido político.
3. Desde os anos 1950 há tentativas de impedir a proliferação de partidos nas disputas
eleitorais. As chamadas cláusulas de barreira, são ações que tentam controlar o cenário
eleitoral brasileiro garantindo a participação apenas de partidos grandes. Entretanto,
estas cláusulas limitam também a possibilidade de pequenos partidos crescerem e
participarem da atividade parlamentar. Sobre esse tema, faça o que se pede.
•• Em dupla, procurem notícias sobre as cláusulas de barreiras.
•• Levantem as legislações criadas com essa finalidade, seus impactos positivos e nega-
tivos para a democracia, e que setores sociais defendem essa medida.
•• Busquem posicionamentos divergentes sobre o assunto e, ao final, elaborem um re-
latório sobre o tema pesquisado.
4. Você conhece algum partido político de outro país? A história dos partidos nos ensina as
disputas sociais de cada lugar. Observe a imagem abaixo e faça a atividade a seguir. Em
grupo, escolha um partido de algum país que vocês gostariam de conhecer e pesquisem:
•• A trajetória do partido e o contexto da sua fundação;
•• A classe social e os intersses que representa;
•• O programa do partido e sua relevância no país em que atua;
•• Montem MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
uma apresentação para a turma.
DA EDITORA DO BRASIL
Pool New/Reuters/Fotoarena

 Ron DeSantis, do Partido Republicano e Andrew Gillum, do Partido Democrata em debate da disputa para o cargo de
governador da Flórida em 2018. Nos Estados Unidos as principais disputas partidárias estão entre os dois partidos.

Não escreva no livro. 35


POLÍTICA E ECONOMIA NO BRASIL
A história da República brasileira, iniciada em 1889,
Arquivo EM/D.A Press

passou por diferentes momentos, movimentos e proces-


sos. Foram períodos ora de maior autoritarismo, ora de
maior abertura democrática.
Ao lado das decisões e diretrizes políticas, estruturaram-
-se diferentes orientações econômicas a cada novo governo.
Propomos analisar algumas dessas orientações, de modo
a compreender a função delas para o desenvolvimento
econômico, o desenvolvimento das forças produtivas e a
construção do espaço nas mais diferentes regiões do país.
Getúlio Vargas assumiu o poder em um momento político
e econômico de crise. A orientação de seu governo foi
investir pesadamente na industrialização, a fim de de moder-
 Getúlio Vargas ao lado de Juscelino Kubitschek (na época nizar e desenvolver o país. Vargas começou uma industria-
governador de Minas Gerais) durante a inauguração das
instalações da Companhia Siderúrgica Mannesmann. Belo lização de base ou pesada, investindo em indústrias
Horizonte, MG, em 1954. siderúrgicas, usinas hidrelétricas e na exploração mineral.

Populismo e economia nos governos Vargas


Uma das principais características do governo de Getúlio Vargas foi a busca pela conciliação
entre diferentes interesses e setores, na tentativa de implantar um novo modelo econômico no
Brasil, atuando em favor das elites econômicas, sem deixar de lado pautas do campo social.
Além dessas características, cabe ressaltar a importância da orientação nacionalista e
desenvolvimentista do período, manifesta nas estratégias de integração do território e exal-
tação da nação em detrimento de particularidades regionais e locais, além dos investimentos
pesados feitos para alavancar o desenvolvimento nacional após a crise de 1929. A interven-
ção estatal na economia também foi uma das fortes marcas desse período da história brasi-
leira, característica que descontentava setores mais liberais.
Um dos exemplos mais claros da postura intervencionista foi a decisão de queimar milhões
de toneladas de café, em 1931, na tentativa de controlar a desvalorização do produto naquele
momento e amparar os interesses da elite cafeicultora.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA Queima
EDITORA DO deBRASIL
das sacas café em 1931, em Santos, São Paulo.

Coleção particular

36 Não escreva no livro.


Guerra, indústria e o apoio estadunidense
Quando teve início a Segunda Guerra Mundial, Getúlio estava à frente do governo no
Brasil, permanecendo até o fim do conflito. A entrada do Brasil na guerra ocorreu após
uma série de negociações e acordos com os Estados Unidos. Os países do Eixo também
enxergavam no Brasil um potencial aliado na América Latina, sobretudo pela caracterís-
tica autoritária do governo.
Os Estados Unidos, preocupados com o apoio de países na América Latina, passaram a se
aproximar do Brasil durante o período da guerra, ofertando, por exemplo, crédito, armamen-
tos e outros tipos de ajuda. A Companhia Siderúrgica Nacional, fundada em 1941, um dos
marcos da industrialização brasileira, contou com financiamento dos Estados
Unidos para sua construção, em troca da cessão de uso do porto de Natal

Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza


(RN), como base militar durante o conflito.
A parceria com o país norte-americano levou o Brasil a uma segunda onda
de exploração do látex na Amazônia, cujo período de extração mais relevante
ocorreu de forma concomitante ao auge da exploração cafeeira, durante a
primeira metade do século XX. O látex brasileiro se tornou urgente para os
Estados Unidos, pois o Japão, país do Eixo, ocupou a Malásia e cortou o
suprimento de borracha para os Aliados.

Exploração do látex
A exploração do látex e o fornecimento da borracha para os Estados Uni-
dos tiveram grande relevância. Enquanto o governo estadunidense financiava
a exploração dessa matéria-prima, o Brasil criava o Serviço Especial de
Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA) para reunir mão de
obra e encaminhá-la aos seringais. A exemplo de outros movimentos migra-
tórios internos, a principal população mobilizada foi a do Nordeste, atingida
 Cartaz Mais borracha para a
pela seca e pelo descaso político que se perpetua há anos na região. vitória, de 1943. Litogravura,
109,3 cm × 67,4 cm.
Arquivo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia - SEMTA

Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Cartaz Vida nova na Amazônia, de


1943. Litogravura, 99 cm × 66 cm.
O governo atuou intensamente
para suprir as necessidades
estadunidenses relacionadas ao
fornecimento de borracha. Nesse
 Migrantes saindo do porto do Mucuripe, em Fortaleza, CE, com destino à região Norte, em 1o contexto, o segundo impulso do
de fevereiro de 1943. Muitas dessas pessoas iriam trabalhar nos seringais, por conta da látex foi breve e cessou logo após
demanda de borracha dos Estados Unidos da América. o fim do conflito.

Não escreva no livro. 37


Brasil: território e desenvolvimento
O Brasil é um país de dimensões continentais. Para se ter uma ideia comparativa, a Espa-
nha, país europeu, tem extensão aproximada ao estado de Minas Gerais. Quais problemas e
questões essa característica pode acarretar para um país em termos de integração territorial?
Desde o período colonial, a vasta extensão do território foi uma preocupação para os
governos, pois ela pode dificultar, por exemplo, as ações de proteção e fiscalização de fron-
teiras e a integração física, social, política e econômica do território.
Diante da configuração do espaço econômico brasileiro até o início do século XX, existia
uma leitura de que as áreas do território estavam relativamente isoladas, física e economi-
camente. Segundo essa concepção, cada parte do território tinha certo dinamismo econômico,
sem que essas partes estivessem satisfatoriamente articuladas.
Nesse sentido, destacava-se, não necessariamente de forma concomitante, produção
pecuária no que é hoje a região Sul do Brasil; a mineração e o café no Sudeste; a exploração
da borracha no Norte; e a cana e o cacau no Nordeste. Contudo, algumas discussões mais
recentes se contrapõem a essa ideia, argumentando que as economias e as localidades do
território sempre tiveram algum tipo de integração, sendo incorreto dizer que o país estaria
fragmentado física ou economicamente.
Durante os governos Vargas, houve algumas tentativas de integrar o território, contudo, a
industrialização e o desenvolvimento econômico permaneceram concentrados no Sudeste.
Uma integração um pouco mais efetiva viria com o governo de Juscelino Kubitschek.

BRASIL: DINAMISMO E INTEGRAÇÃO TERRITORIAL


50º O 50º O
Anos 1890 Anos 1940

AllMaps
Equador Equador
0º 0º

N N

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Capital Federal
Trópico
Capricó
de
rnio O L
Trópico
Capricó
de
O L rnio

DA EDITORA DO BRASIL
Capital dos Estados
OCEANO S
S de influência dos OCEANO
Zona ATLÂNTICO 0 850 1 700 km ATLÂNTICO
0 principais
850 focos econômicos
1700 km
1 : 85 000 000
Centro
1 : 85 000 000de gravidade
econômico
50º O
Espaço realmente integrado Anos 1990
à economia nacional Capital Federal
Grande eixo rodoviário Capital dos Estados
Equador

Rota marítima ou fluvial Zona de influência dos
Principais correntes migratórias principais focos econômicos
Frentes pioneiras e eixos Centro de gravidade
de progressão econômico
Espaço realmente integrado
à economia nacional
Grande eixo rodoviário
Rota marítima ou fluvial
N
Principais correntes migratórias
Trópico
O L Capricó
de
rnio
Frentes pioneiras e eixos
de progressão

S OCEANO Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO-THÉRY, Neli Aparecida


0 850 1700 km ATLÂNTICO
de. Atlas do Brasil: disparidades e dinâmicas do território.
1 : 85 000 000 3. ed. São Paulo: Edusp, 2018. p. 61

38 Não escreva no livro.


A República na segunda metade do século XX:
motores do desenvolvimento
Vargas estruturou algumas das bases mais essenciais para a industrialização brasileira,
e os governos subsequentes deram continuidade ao processo, ainda que sob diferentes
estratégias. Enquanto os governos Vargas tinham um viés nacionalista na condução da
política econômica, os governos posteriores tiveram um caráter de maior abertura ao
capital internacional.
Um segundo momento de grande crescimento econômico pela via industrial foi durante
o governo de Juscelino Kubitscheck (1956-1961). Nesse período, foi desenvolvido um plano
de crescimento em diferentes áreas. Um grande destaque de seu governo foi a atração da
iniciativa estrangeira para a industrialização do país, destacando-se as indústrias de bens
de consumo, como as automobilísticas.
A integração do território também foi uma preocupação de seu governo, cuja solução
foi vislumbrada por meio do desenvolvimento de um plano rodoviário, ou seja, pela
ampliação das rodovias, modelo que se consolidou no Brasil. Veja a seguir os mapas que
comparam as malhas rodoviária e ferroviária do Brasil. Note as concentrações e as dis-
tribuições dessas malhas por todo o território.
O Brasil, diante de suas características físicas e fluviais teria condições de ter uma matriz
de transportes mais equilibrada, o que traria benefícios sociais e econômicos amplos, pois
o custo-benefício das operações fluvial e ferroviária tende a ser mais vantajoso a longo
prazo em relação às rodovias.

FERROVIAS DO BRASIL (2017) BRASIL: RODOVIAS (2017)

Mapas: AllMaps
50° O 50° O

RR
RR AP AP
Equador Equador
0° 0°

AM AM
PA CE PA
MA MA CE
RN RN
PI PB PI PB
AC PE AC PE
TO AL TO BA AL
RO RO

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
MT
BA SE
MT
SE

DF
DA EDITORA DO BRASIL
DF
OCEANO OCEANO
GO ATLÂNTICO MG
GO ATLÂNTICO
MG
MS ES MS
OCEANO ES
N OCEANO
PACÍFICO N
PACÍFICO RJ
rnio RJ rnio
de Capricó SP de Capricó
Trópico PR Trópico
O L SP
O L PR
SC SC
RS S S RS

0 375 750 km 0 375 750 km


Estradas pavimentadas
Rede ferroviária 1 : 37 500 000 1 : 37 500 000

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro, 2018. p. 140 e 150.

A partir de 1930, houve grandes transformações no espaço geográfico brasileiro,


acompanhadas, por exemplo, pela extinção de barreiras à circulação de mercadorias
entre os estados, como pontua Milton Santos e Maria Laura Silveira na obra Brasil: terri-
tório e sociedade no início do século XXI.
Além disso, o esforço pela integração física e econômica do território trouxe importan-
tes avanços, como a conexão de áreas produtoras a mercados consumidores internos e
externos, além do surgimento de centros urbanos em áreas mais interioranas.

Não escreva no livro. 39


Mudanças sociais e territoriais
O plano e as metas rodoviárias do governo JK alinhavam-se ao objetivo de integrar e dinami-
zar os polos econômicos e as regiões do território. A escolha pela matriz rodoviária, nos diferen-
tes governos brasileiros, não foi aleatória. A implantação do modelo é mais barata em
comparação às ferrovias ou hidrovias, embora seja mais oneroso a longo prazo, e sua implanta-
ção é relativamente rápida. Além desses fatores, a entrada massiva de indústrias automobilís-
ticas no Brasil durante o período tornava necessária a construção e expansão das vias rodoviárias
que pudessem absorver a oferta e a demanda crescente de veículos que se iniciaria.
Diferentes estratégias e políticas foram propostas para acelerar o desenvolvimento nacio-
nal. Cabe ressaltar, nesse sentido, a criação da Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene) na tentativa de equacionar problemas socioeconômicos, como a pobreza
extrema, a seca e a baixa participação da região na dinâmica industrial.
O período JK marcou um dos momentos de maior industrialização e urbanização do país. A
cada dia, um número maior de pessoas deixava o campo em direção aos centros urbanos, fosse
pela modernização das atividades agrícolas, fosse para tentar uma vida melhor nas cidades.
O processo de urbanização ganhou tanta velocidade que na década de 1970 a população
urbana já era superior à rural, conforme evidencia o gráfico a seguir.

BRASIL: POPULAÇÃO POR SITUAÇÃO DE DOMICÍLIO (1940-2010)

Gráfico: DAE
180
160
(milhões de habitantes)

140
120
100
80
60
40
20
0
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
urbana rural
Fonte: IBGE. Distribuição percentual da população por situação de domicílio. Disponível em: https://
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
brasilemsintese.ibge.gov.br/populacao/distribuicao-da-populacao-por-situacao-de-domicilio.html.
Acesso em: 30 jul. 2020.
DA EDITORA DO BRASIL
Era um sinal claro de uma mudança profunda na sociedade e na economia brasileiras que
vinha sendo operada desde os anos 1930. O crescimento urbano, no entanto, tinha uma marca
de desigualdade territorial, pois esse crescimento tinha maior expressão e concentração no
Sudeste. A desigualdade também se projetava sobre a forma como esse aumento ocorreu,
alimentado por uma grande massa de migrantes que deixavam áreas agrícolas onde o acesso
à terra e ao emprego se tornou inviável por diversos motivos. Esses problemas tinham maior
expressão no Nordeste, de onde os migrantes saíam para ir em busca de oportunidades e
condições de vida melhores em outros locais, com destaque para a Zona da Mata nordestina e
as cidades do Sudeste, que cresciam de forma descontrolada e sem um efetivo planejamento.
As cidades cresceram de forma desordenada, as pessoas que chegavam de diferentes
localidades para ocupar os centros urbanos e industriais do Sudeste, muitas vezes, estabe-
leciam-se de modo precário. Sem condições financeiras para habitar as regiões das cidades
com infraestrutura adequada e abastecida por serviços básicos, como saneamento e trans-
porte, foram buscar moradia em áreas afastadas dos centros, desprovidas de qualquer
estrutura mínima. Era o início da ocupação das periferias, principalmente em São Paulo. Outra
saída para essas pessoas foram os cortiços, mais bem localizados, porém apresentando, em
diversos casos, situações insalubres de habitação.

40 Não escreva no livro.


A ditadura e as contradições do período
A partir de 1964, os militares tomaram o poder e deram início ao período ditatorial de maior
duração na história da República. A Ditadura Civil-Militar (1964-1985) adotou uma política
econômica de abertura ao capital estrangeiro que contribuiu para as taxas expressivas de
crescimento econômico.
Claus Meyer/Tyba

Nair Benedicto/Olhar Imagem


1 2

 [1] Vista aérea mostrando a construção da rodovia Transamazônica, AM, 1971. [2] Doze anos depois, a rodovia ainda
estava em construção. Marabá, PA, 1983.

O regime deu prosseguimento à orientação rodoviarista e à forte preocupação de integrar


e legitimar a soberania sobre o território. Instituído oficialmente na década de 1970, o Pro-
grama de Integração Nacional (PIN) surgiu com um claro viés desenvolvimentista, voltado
aos transportes e a investimentos nas áreas agrícola e industrial, com pontos voltados, inclu-
sive, à colonização e à reforma agrária nas áreas ao longo da rodovias alvo do projeto: Trans-
amazônica e Cuiabá-Santarém.
A Amazônia ganhou destaque nesse momento, sendo entendida como um vazio demográfico
que precisava ser ocupado. Essa leitura é polêmica, pois alguns estudiosos argumentam que
ela desconsiderava os povos indígenas que habitavam a floresta. Os projetos de colonização
agrícola e de construção de rodovias, como a Transamazônica, visavam contornar essa questão.
É importante considerar que a Ditadura Civil-Militar, embora tenha dado continuidade e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
promovido certo crescimento econômico, caracterizou-se como um momento de sérios ataques
DAe políticos
a direitos sociais EDITORAdaDO BRASIL O crescimento econômico, que chegou a ser nomeado
população.
como “milagre econômico”, foi relativizado, pois, apesar das taxas registradas, a desigualdade
social cresceu expressivamente. Além disso, a dívida externa também atingiu patamares preo-
cupantes, o valor saltou de US$ 3,7 bilhões, em 1968, para US$ 12,5 bilhões, em 1973.
Os altos investimentos nas obras de infraestrutura
Acervo UH/Folhapress

feitas pelo governo militar foram financiados por


meio de grandes empréstimos oriundos do mercado
internacional, junto a países e organizações finan-
ceiras supranacionais. Nos anos 1960, o mercado
estava propício e era de interesse dos credores
exercer influência sobre as nações devedoras. Con-
tudo, a crise econômica que se abateria sobre o
mundo na década de 1970, após o choque do petró-
leo, criou um enorme problema para as contas
internas brasileiras.

Ferragens utilizadas na construção do Elevado


Presidente João Goulart, conhecido popularmente
como “Minhocão”, na cidade de São Paulo, SP, 1970.

Não escreva no livro. 41


Conexões

DESMATAMENTO E SAÚDE
O Brasil é formado por seis biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa
e Pantanal. Todos são fundamentais para o desenvolvimento e a manutenção da vida
humana e englobam a biodiversidade do país, abrigando espécies endêmicas de plantas e
animais.
No entanto, nos últimos séculos, nossos biomas têm sido destruídos intensa e incessantemente.
Durante os últimos cinco séculos, todos os biomas sofreram grandes devastações com
diferentes propósitos, tais como construções rodoviárias e expansão da pecuária e agricultura.
No final dos anos 1950, Juscelino Kubitschek idealizou a construção de Brasília no meio
do Cerrado, o segundo maior bioma do Brasil, ampliando significativamente o desmata-
mento. Hoje, o Cerrado tem apenas cerca de 50% de sua vegetação nativa. Na década
seguinte, os governos da Ditadura Civil-Militar estimularam a ocupação da Amazônia, movi-
dos por preocupações geopolíticas.
O desmatamento causa considerável alteração na temperatura das regiões. Estima-se
que o desmatamento de cerca de 25% de um hectare da área da Mata Atlântica, por exem-
plo, leva a um aumento de 1 °C na temperatura local. Caso todo o remanescente deste
hectare seja desmatado, esse aumento será de 4 °C.
Além disso, o desmatamento é responsável por diversos desequilíbrios ambientais, como
perda da biodiversidade, agravamento do efeito estufa, aceleração da erosão dos solos, e,
ainda, pode afetar diretamente a saúde humana.
A destruição das florestas aumenta o risco de seres humanos entrarem em contato com
animais hospedeiros de vírus e protozoários que podem causar doenças bastante conhe-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
cidas, como malária, leishmaniose, doença de Chagas, e outras que eram desconhecidas
atéEDITORA
DA serem contraídas
DO BRASIL pelos humanos.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) fez um estudo sobre o impacto do
desmatamento no desenvolvimento de doenças na região amazônica, que verificou, por
exemplo que a cada 1% de Floresta Amazônica derrubada anualmente, houve um aumento
de 23% nos casos de malária.
Veja mais detalhes do estudo a seguir:
[...] o impacto do desmatamento sobre a malária é realmente marcante – podendo gerar incre-
mentos maiores que 23% nas taxas de incidência da doença para cada 1% de área desmatada.
Dessa forma, fica claro que qualquer esforço de gerenciamento da malária deve necessariamen-
te levar em conta as taxas de desmatamento. Por outro lado, a magnitude do efeito encontrado,
quando associada à disseminação de malária em regiões tropicais – o número de casos da última
década, só na Amazônia, esteve na ordem dos milhões – evidencia a existência de um custo social
elevado, que tem sido pouco considerado na tomada de decisões sobre o uso do capital natural. De
fato, Garg (2014) defende que, na Indonésia, os benefícios sanitários locais do controle do desma-
tamento poderiam exceder os benefícios relacionados às mudanças climáticas.
A outra doença que apresentou uma relação clara com o desmatamento foi a leishmaniose [...]. Suas
diferentes manifestações – tegumentar e visceral – são tratadas como duas doenças [...], e aqui também

42 Não escreva no livro.


foram tratadas separadamente. Essas diferentes formas clínicas, entretanto, se referem à diversidade
de protozoários de um mesmo gênero, Leishmania, associada às diferenças na capacidade imunitária
de indivíduos infectados. [...] De maneira geral, pode-se afirmar que 1% de área desmatada leva a incre-
mentos entre 5% e 9% na incidência de doenças causadas pelos protozoários do gênero Leishmania.
JUNIOR, Nilo Luiz; MATION, Lucas Ferreira; SAKOWSKI, Patrícia Alessandra Morita; MATION, Lucas Ferreira.
Impacto do desmatamento sobre a incidência de doenças na Amazônia. Ipea, 2015. Disponível em: https://www.
ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2142.pdf. Acesso em: 15 ago. 2020.

O desmatamento também é responsável pelo fato de um número maior de triatomíneos,


insetos vetores da doença de Chagas, passar a se alimentar do sangue dos animais domés-
ticos e dos humanos. Essa reação foi uma forma de adaptação dos triatomíneos, uma vez
que o desmatamento desencadeou o rareamento dos animais silvestres, suas fontes natu-
rais de alimentação. A seguir, o médico José Rodrigues Coura, especialista em doenças
infecciosas e parasitárias, alerta sobre esse problema.
[...] No ciclo da mineração no Brasil, quando praticamente não se desmatava, não há evidências
de adaptação de triatomíneos ao domicílio. Ela passou a ocorrer nos ciclos da agricultura e no da
pecuária, períodos de desmatamento intenso. Somente encontramos triatomíneos adaptados ao
domicílio em áreas desmatadas e em cerrados. Não há adaptação em áreas de mata fechada, como
na Amazônia, embora ali existam dezenas de espécies de triatomíneos. [...]
COURA, José Rodrigues. Tripanosomose, doença de Chagas. Ciência e Cultura, São Paulo,
v. 55, n. 1, jan./mar. 2003. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0009-67252003000100022. Acesso em: 24 jul. 2020.

ATIVIDADES
1. Pesquise fotos antigas e atuais de seu bairro para compreender como se deu o desmatamento
na sua região ao longo do século XX. Busque fotos de diferentes décadas. Faça a exposição
para suaMATERIAL DE DIVULGAÇÃO
turma e discutam entre si as principais modificações dos bairros ao longo do tempo.
DAmapa
2. Elabore um EDITORA DO BRASIL
conceitual explicando as relações de causa e consequência do des-
matamento dos biomas brasileiros ao longo do tempo.
3. Leia o trecho a seguir e faça o que se pede.

Uma das causas do aumento do risco de transmissão é a redução da diversidade de espécies


em regiões desmatadas. “A transformação de ambientes florestais em pastos ou áreas agrícolas
quase sempre diminui a variedade de espécies locais”, explica Prist. “Sem predadores naturais, al-
gumas espécies se adaptam à nova paisagem e se reproduzem de forma descontrolada.” O aumen-
to da população desses animais, muitas vezes reservatórios de vírus, pode elevar o risco de conta-
to e transmissão de microrganismos antes restritos ao ambiente florestal para seres humanos. [...]
[...] Nas florestas, os vírus se encontram em equilíbrio com os seus hospedeiros — em geral,
mamíferos —, infectando-os, na maioria das vezes, sem lhes causar mal. Morcegos e ratos são
os hospedeiros mais frequentes, por causa da ampla distribuição de espécies e por viverem
em comunidades com alta densidade de indivíduos. [...]
ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Da floresta para as cidades. Pesquisa Fapesp, 10 jun. 2020. Disponível em:
https://revistapesquisa.fapesp.br/da-floresta-para-as-cidades/. Acesso em: 21 ago. 2020.

•• Explique como o desmatamento causa desequilíbrio ambiental e contribui para a dis-


seminação de doenças infecciosas.

Não escreva no livro. 43


O milagre econômico
O “milagre econômico” ocorreu no contexto de empréstimos obtidos pelo governo e de
estímulo e de aumento do consumo, sobretudo entre a classe média. Em 1973, o PIB chegou
a crescer 14% ao ano, taxa inédita e exclusiva na história do país. Para estabelecer uma
comparação, 10% foi a taxa média de cres-
BRASIL: CRESCIMENTO DO PIB – EM % (1964-1985) cimento anual da economia chinesa – a
segunda maior potência econômica da atua-
Gráfico: DAE

14
14
lidade – na primeira década do século XXI.
12
10
Conforme dito anteriormente, os emprés-
7,9 timos visavam financiar, principalmente, as
8
obras de infraestrutura, como a construção
6
4 3,4
da Usina Hidrelétrica de Itaipu, que preten-
2
dia atender a demanda energética do Sul e
0
do Sudeste, da ponte Rio-Niterói, das usinas
nucleares de Angra, de polos petroquímicos
–2
–4
e rodovias.
–2,8
–6
–3,1 Nesse período, foi criada também a Zona
1964 1965 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 Franca de Manaus, no Amazonas, que ofe-
Fonte: BARRUCHO, Luis. 50 anos do AI-5: Os números por trás do ‘milagre econômico’ rece redução de impostos e incentivos para
da ditadura no Brasil. BBC Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/
brasil-45960213. Acesso em: 24 jul. 2020.
favorecer o desenvolvimento industrial e a
ocupação da região Norte.
O crescimento acelerado entre os anos 1960 e 1970 foi contrastado pelo cenário de crise
que se abateu sobre a América Latina na década de 1980, que ficou conhecida como a “década
perdida”. O colapso econômico comprometeu seriamente as políticas de desenvolvimento
brasileiras que vinham sendo propostas e agravou problemas socioeconômicos, sobretudo
os relacionados ao aumento da desigualdade, que se acentuou no final da ditadura, conforme
evidencia o gráfico a seguir.

BRASIL: CONCENTRAÇÃO DE RENDA NO 1% MAIS RICO (1926-2015)

Gráfico: DAE
35
República Estado Democracia Ditadura Democracia
Parte da renda com o 1% mais rico (%)

Velha Novo Civil-Militar

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
30

DA EDITORA DO BRASIL 25

20

15

10

0
1925 1935 1945 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2015

Fonte: BARRUCHO, Luis. 50 anos do AI-5: Os números por trás do ‘milagre econômico’
da ditadura no Brasil. BBC Brasil, 13 dez. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/brasil-45960213. Acesso em: 21 ago. 2020.

A desigualdade social crescente, a inflação descontrolada e a falta de liberdade política e


de mobilização afetaram severamente os trabalhadores e os mais pobres. O salário mínimo,
por exemplo, perdeu valor em termos reais, cerca de 50%, no período que foi de 1964 a
1985. O cerceamento das liberdades de expressão e de manifestação impôs barreiras a
sindicatos e mobilizações trabalhistas. A crise instalada e a insatisfação crescente com o
regime levaram ao processo de redemocratização do país, que, em 1985, colocou fim à
Ditadura Civil-Militar.

44 Não escreva no livro.


Atividades

1. Leia o trecho a seguir e responda à questão.


A crise deflagrada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York em outubro de 1929 teve
reflexos imediatos em praticamente todo o mundo. Seus efeitos se espalharam principalmen-
te por duas vias: prejuízos no conectado sistema financeiro internacional e a redução do co-
mércio global, tanto pela escalada do protecionismo quando pela redução de compras do mer-
cado norte-americano, que era o maior do mundo. [...]
BELEDELI, Marcelo. Crise acaba com era de ouro do café no Brasil. Jornal do Comércio, Porto Alegre, 21. out.
2020. Disponível em: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/economia/2019/10/709138-crise-
acaba-com-era-de-ouro-do-cafe-no-brasil.html. Acesso em: 16 jul. 2020.
•• A quebra da Bolsa de Nova York em 1929 iniciou uma crise mundial sem precedentes
que comprometeu seriamente a economia brasileira, na qual o café exerceria prota-
gonismo indiscutível. Além dos enormes prejuízos, a crise trouxe algum benefício à
economia nacional? Comente.
2. Leia o texto e responda à questão.
[...] o governo tinha também uma alavanca estratégica imbatível – O Plano de Metas ou Pro-
grama de Metas. Graças a ela, Juscelino conseguiu articular, ainda em seu primeiro ano de
mandato, uma bem-sucedida aliança entre grupos sociais de interesses diversos que aceita-
ram se unir em torno de um grande projeto de planejamento econômico capaz de resumir as
principais linhas de sua administração. Exposto pela primeira vez numa reunião ministerial
realizada no segundo dia de governo, 1o de fevereiro de 1956, e publicado no dia seguinte no
Diário Oficial, o Plano de Metas foi o primeiro e o mais ambicioso programa de modernização
já apresentado ao país. Com ele, Juscelino dava concretude ao slogan que animou a campanha
presidencial – a promessa de que sob seu comando o Brasil cresceria “cinquenta anos em cin-
co” –, e se propôs a efetuar uma mudança estrutural na capacidade produtiva nacional. O Pla-
no de Metas fez do governo de JK um sucesso. Atribuiu ao Estado a tarefa de viabilizar uma
agenda de crescimento econômico acelerado, aprofundou o processo de industrialização e pri-
vilegiou o setor industrial de bens de consumo duráveis, alterando os hábitos e o cotidiano da
população [...].
O Plano de Metas definiu 31 objetivos com enfoque privilegiado em quatro pontos. Na pri-
meira prioridade, o governo previa alocar investimentos para o setor de transportes, em espe-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
cial o rodoviário, e incentivar a indústria automobilística – as outras três prioridades canaliza-
DA EDITORA DO BRASIL
vam recursos em energia, indústria pesada e alimentos. [...]
SCHWARCZ, Lilia M; STARLING; Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015. E-book.
De acordo com o texto, uma vez eleito, Juscelino estabeleceu um plano de metas para
fazer o país crescer 50 anos em 5. Quais foram as principais frentes desse plano e como
o rodoviarismo esteve inserido nele? Caso necessário, pesquise sobre o tema.
3 . Durante a Ditadura Civil-Militar houve um crescimento de ideias e discursos nacionalistas,
embora, economicamente, o país tenha permanecido aberto ao investimento internacio-
nal. Nesse contexto, surgiram alguns projetos que caracterizaram o discurso da ocupação
e de legitimação do domínio sobre a Amazônia, tratada como um vazio demográfico pelo
governo do período. Duas frases ganharam notoriedade: “Integrar para não entregar”; e
“Terras sem homens para homens sem terra”.
Forme grupos e pesquise sobre os projetos relacionados a essas frases, os impactos sobre
as populações envolvidas, as implicações socioambientais, as justificativas econômicas e
as concepções políticas que favoreceram esses processos. Em data combinada com o
professor, cada grupo deve organizar sua pesquisa em um relatório para apresentá-la e
debatê-la com os demais colegas.

Não escreva no livro. 45


2
UNIDADE
Minorias sociais e
demandas históricas

O CONCEITO DE MINORIA
Frequentemente empregado no âmbito dos estudos políticos e sociais, o conceito de mi-
noria pode ser compreendido por meio de um entendimento quantitativo ou qualitativo. De
acordo com a visão quantitativa, uma minoria é constituída de um grupo numericamente
inferior em relação a outro. Por exemplo, em um regime democrático, os representantes
políticos que recebem a minoria do número de votos em uma eleição não são eleitos.
Do ponto de vista qualitativo, as minorias são definidas como grupos humanos marginali-
zados social, econômica ou culturalmente por outro grupo dominante ou opressor. Dessa
forma, elas se tornam alvos de ações preconceituosas e discriminatórias.
No sistema de representação democrática, em termos de direitos assegurados, garantidos
e plenamente efetivados, um grupo considerado minoria pode ser numericamente grande.
Isso significa que alguns grupos minoritários podem até representar a maioria quantitativa
de uma sociedade, mas, em razão de entraves sociais, não conseguem superar estigmas e
alcançar a plenitude de seus direitos.
Portanto, minorias podem ser classificadas como grupos que estão em uma posição de
vulnerabilidade em consequência da opressão de um grupo dominante, detentor do poder
econômico, político e social. Essa opressão pode estar relacionada ao preconceito de gênero,
de raça, de sexualidade, religioso, etário e contra pessoas com deficiência.

Edmar Barros/Futura Press


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Manifestação contra a violência policial infligida à população negra. Manaus, AM, 2020.

Maioridade e minoridade racional


A filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-) indica que o pensamento político liberal, de-
senvolvido pelas ideias iluministas dos séculos XVII e XVIII, usou a maioridade racional da
forma como postulada pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), como critério
para definir quem teria direito à cidadania. Para Kant, as qualificações de um cidadão eram:
ser homem, adulto, ter uma propriedade e ser seu próprio senhor, isto é, não viver sob a tu-
tela de outra pessoa no que dizia respeito ao pleno uso de sua razão. O filósofo diferenciava
aqueles que alcançavam esse uso da razão daqueles que não o faziam por meio dos termos
maioridade racional e minoridade racional.

46 Não escreva no livro.


Tomando por base a visão de Kant, seriam dependentes e, portanto, dotados de minori-
dade racional as mulheres, as crianças, os jovens, os trabalhadores, as pessoas com defi-
ciência, os idosos e os povos africanos e indígenas. Naquela época, as mulheres, por
exemplo, eram vistas como indivíduos cujo papel social se limitava a cuidar das atividades
domésticas; as crianças e os jovens eram compreendidos como adultos de tamanho reduzi-
do, sem expressão particular de sua infância ou juventude; e povos africanos e indígenas
eram comumente escravizados por nações europeias.
Ao longo da história, foram racionalizadas diversas justificativas para a definição e, muitas
vezes, marginalização das minorias. Você vai conhecer e problematizar algumas delas nas
próximas páginas.

As minorias sob o jugo do fascismo e do nazismo


Entre 1922 e 1945, a Europa foi marcada pela ascensão de regimes políticos autoritários
fascistas e nazistas, que se opunham ao liberalismo dos países democráticos e ao comunis-
mo soviético. Além do expansionismo territorial e do culto à figura do líder, esses regimes
foram caracterizados por uma ideologia nacionalista e etnocêntrica, que culminou na perse-
guição e/ou marginalização de minorias sociais, como os judeus, os negros, os ciganos, as
pessoas com deficiência e os homossexuais.
O Estado fascista italiano, por exemplo, comandado por Benito Mussolini (1883-1945),
estabeleceu, em 1938, leis raciais que determinavam uma série de restrições aos judeus,
como a proibição de se casarem com pessoas de religião diferente, de fazerem parte
do exército, de terem cargos públicos, de dirigirem empresas com mais de 100 pessoas,
entre outras.
Essa política antissemita reforçou a aproximação entre a Itália fascista e o Estado nazista
alemão, governado por Adolf Hitler (1889-1945), que se apropriou de teorias do darwinismo
social, as quais classificavam e hierarquizavam a espécie humana em diferentes raças, para
conduzir uma política de segregação e extermínio de minorias, em nome da suposta supe-
rioridade da raça ariana.
De acordoMATERIAL DE DIVULGAÇÃO
com a filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975), não dispondo de governos
DA EDITORA
que as representassem e asDO BRASIL essas minorias eram forçadas a viver sob a con-
protegessem,
dição de ausência de lei, perdendo direitos políticos e sociais.
Segundo o filósofo alemão Theodor Adorno (1903-1969), o fascismo se caracteriza pela
formação de um grupo potencialmente produtor de estigmatização da diferença e da depre-
ciação do estrangeiro. Aqui, deve-se compreender
Akg-Images/Album/Fotoarena

o conceito de estrangeiro como aquele que é


estranho no sentido de ser diferente, sendo con-
siderados estrangeiros as minorias étnicas, raciais,
sexuais e os imigrantes em geral. Adorno aponta
o fato de que, para os fascistas, os judeus não
constituíam uma minoria, mas sim uma antirraça
cujo extermínio garantiria a felicidade do mundo.

Como parte de sua política de segregação e


extermínio, o Estado nazista identificava os judeus
por meio de estrelas de seis pontas amarelas. Na
foto, judeus com a estrela pregada na roupa, no
campo de concentração de Auschwitz, Polônia, 1944.

Não escreva no livro. 47


Stalinismo e as minorias nacionais
No início do século XX, entre 1905 e 1917, ocorreu na Rússia uma série de revoluções que
modificaram profundamente sua estrutura política, econômica e social, derrubando o czarismo,
o sistema político absolutista russo. O controle da revolução ocorrida em 1917 foi disputado,
em uma guerra civil, por dois grupos: os mencheviques (maioria) e os bolcheviques. Vitoriosos,
os bolcheviques criaram em 1922 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), com
Joseph Stalin (1878-1953) entre seus principais representantes.
Stalin inaugurou uma etapa de totalitarismo na URSS, conhecida como stalinismo. Sob a
direção do Estado a coletivização da economia foi implementada à força. O governo passou
a exercer um controle militar, policial e ideológico sobre toda a sociedade. Líderes do Partido
Comunista foram perseguidos, entre eles Leon Trótski (1879-1940), crítico das tendências
burocráticas do governo.
Instituiu-se o “culto à personalidade”, que exaltava as supostas virtudes do governante por
meio da propaganda política. Uma padronização do pensamento passou a ser imposta na psi-
cologia, na medicina, na literatura, na pintura, na música, no cinema, na filosofia e nas ciências.
Obras consideradas fora dessa linha de pensamento eram destruídas, e pessoas conside-
radas dissidentes ou desviantes foram presas, torturadas, assassinadas ou enviadas a cam-
pos de concentração. Na URSS stalinista, o termo dissidente fazia referência, de modo geral,
a “intelectuais que, aberta ou secretamente, eram contrários às práticas do governo”. Já o
termo desviante era utilizado para se referir “àqueles que apresentavam comportamento
divergente do que era imposto pelo governo”, como os judeus, os homossexuais e os ciganos.
O conceito de minorias também estava relacionado às minorias nacionais, ou seja, aos
grupos que se diferenciavam de parte da população por conta de sua língua, religião e cul-
tura. Aqui, o conceito de minorias pode ser compreendido pelo viés quantitativo e qualitativo,
na medida em que as minorias nacionais eram numericamente inferiores e tinham a garantia
de seus direitos negada.
Poloneses, húngaros, croatas, lituanos, curdos, albaneses, entre outros povos, eram vistos
pelo stalinismo como colaboracionistas do Estado nazista alemão, dado que alguns dos países
de origem desses povos eram governados por partidos de extrema direita, como o húngaro
Jobbik, o Partido da Grande Romênia e o búlgaro Atak.
Esses grupos foram proibidos de expressar sua identidade cultural, não podendo falar a
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
própria língua e praticar sua religião. Muitos foram enviados aos campos de trabalho forçado
DA
ou EDITORA DO aBRASIL
punidos com morte.

  Prisioneiros em Bridgeman images/Easypix Brasil


campo de
trabalho forçado
na União
Soviética, entre
1931-1933.

48 Não escreva no livro.


Marxismo e minorias: classe e identidades
O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) buscou, em seus estudos e obras, compreen-
der o funcionamento da sociedade. Por meio de análises de base materialista, o filósofo
examinou o funcionamento do sistema capitalista com a intenção de indicar possibilidades
de superá-lo.

A história de todas as sociedades que já existiram é a história de luta de classes.


Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, chefe de corporação e assalariado;
resumindo, opressor e oprimido estiveram em constante oposição um ao outro, mantiveram sem
interrupções uma luta por vezes aberta – uma luta que todas as vezes terminou com uma trans-
formação revolucionária ou com a ruína das classes em disputa.
Nos primeiros tempos da História, por quase toda parte, encontramos uma disposição com-
plexa da sociedade, em várias classes, uma gradação de níveis sociais. [...]
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os an-
tagonismos das classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas
de luta no lugar das antigas.
[...]
As armas com as quais a burguesia abateu o feudalismo voltaram-se contra a própria burgue-
sia. Mas ela não só forjou as armas que trazem a morte para si própria, como também criou os
homens que irão empunhar estas armas: a classe trabalhadora moderna, o proletariado.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. p. 9-10, 19.

De acordo com a análise de Marx, a classe trabalhadora teria acesso à menor parte da ri-
queza material produzida em benefício de outro grupo social, a burguesia. Seria por meio da
revolução e da tomada dos meios de produção pelo proletariado que essa minoria poderia
reverter esse cenário. O pensamento de Marx, portanto, seria focado na categoria classe.

Museu do Novecento, Milão


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Giuseppe Pellizza da Volpedo. O quarto estado, 1901. Óleo sobre tela, 293 cm × 545 cm. Nessa obra, Volpedo representa o proletariado
unido, deixando a sombra de seu passado de opressão para trás, rumo a uma sociedade mais igualitária.

Não escreva no livro. 49


O pensamento de Marx foi ressignificado e ampliado, ao longo do tempo, convertendo-se
em uma das chaves de interpretação para fenômenos sociais, conhecido como marxismo.
De acordo com o filósofo esloveno Slavoj Žižek (1949-), o pensamento de Marx estabelece
que o proletariado formaria uma maioria numérica (quantitativa) da sociedade. Porém, ao
produzir riquezas e, ao mesmo tempo, ter seu trabalho explorado pelos proprietários dos
meios de produção, o proletário configura-se como minoria (qualitativa).
O intelectual brasileiro José Paulo Netto (1947-) aponta que, a partir da década de 1960,
por causa das transformações sofridas pelo capitalismo, que não foram previstas por Marx,
a classe operária fortaleceu seu poder nas fábricas, o que levou a uma integração da clas-
se operária à ordem burguesa por meio do declínio da consciência de classe.
Alguns pensadores marxistas teorizaram que a vanguarda da revolução foi transferida
da classe operária para outros grupos, como as minorias raciais e os marginalizados pela
sociedade industrial. Exemplos desses grupos são os integrantes do movimento hippie,
as mulheres, os povos de países em desenvolvimento, os negros e integrantes da comu-
nidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queers e inter-
sexo (LGBTQI+).
Sectário: Uma parcela de intelectuais marxistas mantém certa resistência frente a esse pensa-
intolerante em mento, porque classificam os movimentos sociais protagonizados por minorias raciais,
relação a gênero, entre outros, como identitários, restritos à esfera da cultura e sectários.
pontos de vista
contrários a A italiana marxista Silvia Federici (1942-) discorda desse ponto de vista. Para a autora,
determinada a acumulação de capital é também uma acumulação de diferenças e divisões dentro da
doutrina.
própria classe trabalhadora, cujas hierarquias, construídas sobre o gênero, a raça e a idade,
se tornaram constitutivas da formação do proletariado moderno.

Martin Bernetti/AFP
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Manifestação de mulheres contra a violência de gênero. Santiago, Chile, 2019.

50 Não escreva no livro.


O pensamento de Angela Davis
A filósofa estadunidense Angela Davis (1944-)

Digital First Media Group/Oakland Tribune/Getty Images


adicionou à tradição marxista a relação entre a
reprodução da sociedade capitalista e a constitui-
ção das subjetividades, como a raça e o gênero.
Isto é, se o marxismo, em sua origem, pensava o
capitalismo por meio da revolução proletária e da
luta de classes, Davis propõe que gênero e raça
também sejam categorias essenciais de análise.
A interseccionalidade entre essas três categorias
seria fundamental, de acordo com a filósofa, para
desmantelar estruturas opressivas da sociedade.
Uma categoria não poderia ser priorizada em rela-
ção a outras, pois todas estariam conectadas.
Além de filósofa marxista, Angela Davis é ati-
vista política e foi uma das principais vozes do
partido revolucionário dos Panteras Negras, que
organizava diversos atos de resistência ao racismo
nos Estados Unidos, principalmente durante a
década de 1960. Atualmente, Angela realiza diver-
sas palestras ao redor do mundo e já esteve inclu-
sive no Brasil. Entre seus principais temas de
pesquisa estão a questão dos direitos humanos e
o combate ao racismo.
Leia a seguir um trecho de uma de suas obras.
Angelas Davis em palestra no estado da Califórnia, Estados Unidos, 1969.

Proporcionalmente, as mulheres negras sempre trabalharam mais fora de casa do que suas irmãs brancas.
O enorme espaço que o trabalho ocupa hoje na vida das mulheres negras reproduz um padrão estabelecido durante
os primeiros anos da escravidão. Como escravas, essas mulheres tinham todos os outros aspectos de sua existência
ofuscados pelo trabalho compulsório. Aparentemente, portanto, o ponto de partida de qualquer exploração da vida
das mulheres negras na escravidão seria uma avaliação de seu papel como trabalhadoras. O sistema escravista de-
finia o povo negro como propriedade. Já que as mulheres eram vistas, não menos do que os homens, como unidades
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
de trabalho lucrativas, para os proprietários de escravos elas poderiam ser desprovidas de gênero. [...] A julgar pela
crescente ideologia da feminilidade do século XIX, que enfatizava o papel das mulheres como mães protetoras, par-
DA EDITORA DO BRASIL
ceiras e donas de casa amáveis para seus maridos, as mulheres negras eram praticamente anomalias.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. E-book.

• Com base na leitura do trecho, responda às questões no caderno.


a) Em que medida Angela Davis diferencia o exercício do trabalho realizado por mulheres negras e por mulheres
brancas ao longo da história?
b) Davis afirma que, para os proprietários escravistas, as mulheres negras eram vistas como desprovidas de gênero.
Comente essa afirmação com base nas noções de gênero expostas nesta unidade e no contexto histórico abor-
dado pela autora.
c) Explique em que medida a noção de propriedade, exposta pela autora, se relaciona com a ideia de propriedade
do pensamento marxista.
d) A autora afirma que a ideologia da feminilidade do século XIX enfatizava o papel das mulheres como donas de
casa. Como você acha que essa situação é colocada nos dias de hoje? Justifique.
e) Reúna-se com os colegas e façam uma pesquisa, em livros, revistas, jornais e/ou sites disponíveis na internet,
sobre a quantidade de mulheres que estão presentes atualmente no mercado de trabalho. Em seguida, procurem
identificar se existem diferenças entre os trabalhos realizados por mulheres negras e por mulheres brancas.

Não escreva no livro. 51


Atividades

1. Leia o trecho de uma reportagem publicada em a) De acordo com o autor, quais seriam os motivos
2017 e, depois, responda à questão. para os negros lutarem pelos seus direitos?
Atualmente, apenas 9,9% dos congressistas são b) Indique os tipos de lugares minoritários que
mulheres, proporção bem inferior à da já baixa mé- o autor afirma serem ocupados pelas pes-
dia mundial (22,1%). Semelhante situação acontece soas negras atualmente.
com negros, pardos e indígenas, que juntos somam
c) Pesquise, em revistas, sites de jornais ou de or-
51% da população, mas preenchem somente 20%
das vagas na Câmara dos Deputados. ganizações internacionais (como a ONU), sobre
a situação citada pelo autor referente ao caso
REED, Sarita; FONTANA, Vinícius. A democracia brasileira
está em crise? DW Brasil, 15 set. 2017. Disponível em: da África do Sul e com o que foi visto nesta uni-
https://www.dw.com/pt-br/a-democracia dade. Para enriquecer sua pesquisa, busque a
-brasileira-est%C3%A1-em-crise/a-40521729.
Acesso em: 24 jul. 2020. porcentagem de pessoas brancas e negras na
África do Sul hoje, o que foi a política de apar-
•• Segundo os dados do Censo de 2010, feito pelo
theid e quem foi Nelson Mandela.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o número de mulheres no Brasil era de 4. Leia o trecho abaixo, de uma reportagem, e res­
cerca de 97 milhões, enquanto o de homens ponda às perguntas.
era de cerca de 93 milhões. De que maneira [...] o Partido Comunista da Alemanha (KPD) ado-
esses dados e aqueles apresentados na repor- tou a frase “ação antifascista” e o logotipo com duas
tagem se relacionam ao conceito de minorias? bandeiras para a campanha eleitoral de 1932. Des-
de o início da década de 1920, eles pressionavam
2. Quais são os diferentes posicionamentos den-
por uma “antifaschistische Aktion” (ação antifas-
tro do marxismo sobre as categorias de classe,
cista) interpartidária.
gênero e raça?
O KPD tentou se retratar como o único partido
3. Leia um trecho da obra Crítica da razão negra, verdadeiramente “antifascista” na última eleição
do filósofo camaronês Achille Mbembe (1957-), livre da República de Weimar, a qual o NSDAP de
e responda às questões a seguir. Adolf Hitler não venceria completamente, mas,
Dito isso, por quais direitos os negros devem con- mesmo assim, levaria os nazistas ao poder.
tinuar a lutar? Tudo depende do lugar em que se en- A incapacidade do KPD, dos social-democratas
contram, do contexto histórico em que vivem e das e de outras forças democráticas de trabalharem em
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
condições objetivas que se lhes apresentam. Tudo conjunto, apesar de garantirem mais votos combi-
DA EDITORA DO BRASIL
depende também da natureza das formações raciais nados do que o NSDAP, ajudou Hitler a tomar o con-
no seio das quais são chamados a existir, quer como trole da Alemanha. Em pouco tempo, os nazistas
minorias históricas cuja presença não se contesta, desmantelariam e ilegalizariam sistematicamente
mas cuja pertença integral à nação se mantém am- os dois [...] partidos [...].
bígua (caso dos Estados Unidos); quer como mino- Muitas das principais figuras do KPD no período
rias que se decide não ver, nem reconhecer, nem entreguerras iriam, mais tarde, governar a Alema-
escutar enquanto tais (caso da França); ou então co- nha Oriental (RDA) durante a Guerra Fria. [...]
mo maioria demográfica no exercício do poder
HALLAM, Mark. “Antifa” é centro de debate há um século
político, mas relativamente desprovida de poder eco- na Alemanha. DW, 3 jun. 2020. Disponível em: https://
nômico (caso da África do Sul). Mas, quaisquer que www.dw.com/pt-br/antifa-%C3%A9-centro-de-debate
sejam os lugares, as épocas e os contextos, o hori- -h%C3%A1-um-s%C3%A9culo-na
-alemanha/a-53671770. Acesso em: 5 ago. 2020.
zonte dessas lutas continua a ser o mesmo: como
pertencer de pleno direito a este mundo que nos é a) De acordo com o trecho, havia um movimen-
comum? Como passar do estatuto de “sem-parte”
to que se opunha ao fascismo. Qual era esse
ao de “parte interessada”? Como tomar parte na
movimento?
constituição deste mundo e na sua partilha?
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo:
b) Na sua opinião, por que, nos dias de hoje,
N-1 Edições, 2018. p. 304. ainda existem grupos antifascistas?

52 Não escreva no livro.


INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES NO
BRASIL REPUBLICANO
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
conduzida pelo IBGE em 2019, o total de pessoas autodeclaradas negras
era de 56,10% no Brasil. Diante desse dado, uma pergunta parece inevitável:
Por que a população negra é considerada uma minoria?
Isso ocorre porque o termo minoria não tem somente conotação quantita-
tiva, isto é, não se refere apenas às parcelas de menor proporção numérica na
sociedade, mas à situação de desvantagem social que um grupo enfrenta.
Dessa forma, mesmo que negros e negras configurem a maioria quantitativa
da população brasileira, eles compõem uma minoria, uma vez que, de modo
geral, são impossibilitados de participar plenamente das esferas política,
econômica, cultural e social. Segundo esse mesmo critério, também são mi-
norias sociais outros grupos que sofrem discriminação e exclusão, como O que são teorias raciais?
pessoas com deficiência, homossexuais, mulheres e indígenas. Em meados do século XIX, as
ideias evolucionistas do
Nas próximas páginas, trataremos sobretudo das parcelas afrodescenden- biólogo Charles Darwin (1809-
te e indígena da população brasileira. Durante os períodos colonial e imperial, -1882) foram usadas como
base para fazer interpretações
negros e negras foram marcados pela escravidão, fator que criou um estigma sobre a espécie humana. As
racial que os perseguia mesmo quando eram livres. Já os indígenas foram teorias raciais afirmavam a
sujeitos à escravização e ao genocídio, tanto pela contaminação por doenças existência de diferentes raças
de seres humanos, que
quanto pela ação violenta de colonos. Na República, por que esses grupos
obedeceriam a uma hierarquia
permanecem sendo minorias? É possível dizer que foram cumpridas as pro- evolutiva, sendo os indivíduos
messas republicanas de ampliação da cidadania e universalização dos direitos da raça branca os mais
civis, políticos e sociais? evoluídos da espécie. Esses
pressupostos fundamentaram
o darwinismo social, segundo o
Teorias raciais no pensamento social qual a raça mais evoluída
deveria prevalecer socialmente
Para compreender os mecanismos de inclusão e exclusão da República, sobre as demais. Hoje se sabe
é necessário refletir sobre alguns fatores marcantes de sua gestação. Entre que não há raças humanas em
os séculos XIX e XX, foram estabelecidas as primeiras fábricas e ferrovias termos biológicos, e o racismo
científico é repudiado entre
no Brasil, o capitalismo se desenvolvia e o ideal de modernização se colo-
intelectuais e pesquisadores.
cava no horizonte. Republicanismo e abolicionismo apontavam para o
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
caminho da liberdade e da superação de antigas estruturas de poder.
Nesse contexto,DA teorias
EDITORA DO BRASIL
raciais ganharam adeptos por todo o mundo e,
entre os pensadores brasileiros, foram

Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro


usadas na interpretação de um país
multiétnico e miscigenado. Nos círcu-
los intelectuais, defendia-se a tese da
inferioridade do negro e da degenera-
ção do mestiço, visto por alguns como
a mistura do que havia de pior em ca-
da uma das raças combinadas. Assim,
as pessoas de pele branca eram posi-
cionadas no topo da hierarquia social.

Anúncio, do começo do século XX, de um


produto de beleza que prometia
“embranquecer” a pele. Produtos e
propagandas desse tipo eram corriqueiros
nesse contexto de supervalorização da pele
branca na hierarquia social brasileira. Anúncio
publicado na Revista da Semanna, 1922.

Não escreva no livro. 53


Se, por um lado, a afirmação de hierarquias raciais entrava em contradição
com a ascensão de ideias liberais de igualdade, por outro, convinha à reco-
O que ocorreu com as
religiões afro-brasileiras na locação do lugar social do negro no momento de desmonte da sociedade
Primeira República? escravocrata. Segundo esse ideário eurocêntrico e modernizante, o nume-
Segundo o artigo 157 do Código roso contingente populacional de afrodescendentes, que até ali servira como
Penal Republicano de 1890, era principal força produtiva, era um entrave para o progresso do país e tinha
considerado crime “praticar o
espiritismo, a magia e seus nele pouco espaço de existência. Os brancos, em menor número, eram su-
sortilégios, usar de talismãs e postamente superiores e, por isso, deviam predominar sobre os demais.
cartomancias para despertar
sentimentos de ódio ou amor,
Para além dos debates intelectuais, essas ideias tiveram efeitos práticos.
inculcar cura de moléstias Na transição do trabalho escravizado para o assalariado livre, ganhou força
curáveis ou incuráveis para a valorização da mão de obra europeia em detrimento da mão de obra na-
fascinar e subjugar a
cional. Entre as razões para essa escolha estavam tanto o intuito de bran-
credulidade pública”. Com
base nesse artigo, ações de queamento populacional como a crença de que os negros livres e libertos
repressão policial foram não podiam se adaptar às relações assalariadas, pois seriam despreparados
dirigidas às casas de culto e para a nova ordem social e econômica fundada na concorrência.
terreiros das religiões afro-
-brasileiras, onde devotos eram Em meados do século XIX, empresas como a Vergueiro & Cia, fundada
intimidados e artefatos sacros pelo luso-brasileiro Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (1778-1859),
eram, apreendidos,
contrariando o que a própria
passaram a articular medidas com os governos provincial e central para a
República garantia em seus atração de imigrantes ao país.
pressupostos: a liberdade
Durante o Império e, posteriormente, na República, os governos locais
de culto.
foram importantes fiadores da política imigratória, chegando a subvencionar
cerca de 60% dos custos de políticas públicas de incentivo. Os resultados
da parceria público-privada pela imigração foram amplos: em algumas dé-
cadas, viu-se uma radical mudança demográfica nos centros urbanos e nas
zonas rurais das regiões Sul e Sudeste.
No entanto, o mesmo esforço governamental não foi realizado em prol da
 A inserção no Exército e na Marinha
integração da população negra a essa nova sociedade em formação. As polí-
era uma das melhores opções para
os homens negros, ainda que as ticas de branqueamento e as legislaturas contribuíram para o processo de
instituições militares mantivessem marginalização da população negra nas esferas política, econômica e social.
normas e práticas discriminatórias.
Nesta foto, produzida em 1910, Esses grupos passaram a ser o principal alvo da Lei das Contravenções
Penais, de 1941, e tiveram suas práticas culturais e religiosas classificadas
estão alguns dos participantes da
Revolta da Chibata, que se como “vadiagem” e sendo criminalizadas. Também tiveram sua circulação
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
insurgiram contra o uso de castigos
restrita nos meios sociais, foram excluídos da participação política e ocupa-
físicos por oficiais da Marinha.
DA EDITORA DO BRASIL ram as franjas do mercado de trabalho, em
atividades informais de baixa remuneração.
Coleção particular

Fruto da mentalidade do período, a discrimi-


nação racial estava impregnada, em diversos
aspectos do cotidiano, da antiga ordem es-
cravocrata.
Foi assim que, na alvorada do século XX, já
na Primeira República, negros e negras se
viram diante de um modelo modernizante,
porém excludente. Ainda que alguns traba-
lhassem ao lado de imigrantes e outros ga-
nhassem destaque na política, na literatura,
nas artes e nas demais posições de prestígio
social, como o engenheiro André Rebouças
(1838-1898) e o escritor Machado de Assis
(1839-1908), a vida da esma­gadora parcela
da população negra era marcada pela desi-
gualdade e pela opressão.

54 Não escreva no livro.


A tutela indígena
As transformações demográficas do século XIX afetaram diretamente os povos nativos.
A presença de colonos europeus em territórios povoados por indígenas, os chamados al-
deamentos, causou conflitos violentos, especialmente no Sul do país. Somadas às disputas
dos nativos com latifundiários, a destruição de aldeamentos e a redução drástica das terras
para sua subsistência causaram o empobrecimento das populações indígenas.
Assim como a população negra, a indígena era vista como “um entrave ao progresso”. Con-
tudo, se a postura das instituições republicanas em relação ao negro foi de abandono e repres-
são, com os indígenas predominou uma postura de tutela. Atravessando de forma brusca as
diferenças étnicas entre indígenas e não indígenas, bem como entre os próprios indígenas, a
política indigenista da Primeira República estava assentada no projeto de civilizar o índio, in-
corporá-lo às normas da sociedade brasileira e torná-lo um trabalhador nacional.
Foi nesses marcos que ocorreu a fundação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), em
1910, presidido no período pelo marechal Cândido Rondon (1865-1958). Com o órgão, o
governo republicano buscou romper a hegemonia da Igreja no trabalho de assistência aos
povos indígenas, impondo em seu lugar um poder estatal centralizado sobre as questões
referentes a essa parcela da população.
Além da catequização, praticada desde o período colonial, os povos indígenas foram su-
jeitados a projetos que tinham o objetivo de educá-los e integrá-los ao corpo nacional. Des-
sa maneira, a cidadania indígena seria conferida de forma controlada e suas atividades
econômicas seriam direcionadas com o estímulo a mudanças em suas formas de trabalho,
como a adoção de tecnologias agrícolas.
Como condição para sua implementação, a política indigenista precisava de uma definição
legal sobre quem era considerado indígena e como este era visto pelo Estado, o que veio com
o Código Civil de 1916. Essa normativa, que perdurou até os anos 2000, tratava os indígenas
como silvícolas, ou seja, pessoas originárias da “selva”, portanto com incapacidade civil re-
lativa, e baseava nisso a necessidade de serem tutelados pelo Poder Público. O termo silví-
cola era geralmente usado com conotação pejorativa, sugerindo que os indígenas seriam
“alheios à civilização”.
A imposição da tutela, porém, não era uma novidade no cenário brasileiro, mas uma perma-
nência histórica. Na Lei Imperial de 1831, os indígenas libertos do cativeiro eram colocados à
disposição deMATERIAL
juízes paraDE
queDIVULGAÇÃO
estes os recolocassem no mundo do trabalho, no qual se espe-
rava que pudessem aprender um ofício e, assim, vender a própria força de trabalho em troca
DA EDITORA DO BRASIL
de um salário. Com isso, eles eram afastados das próprias tradições e costumes e obrigados a
subsistir como os brancos pobres, como aponta a historiadora Ana Vera Lopes Macedo.
Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

 Mulheres indígenas
parintintins preparando
farinha de mandioca, em
1926, no rio Ipixuna,
Amazônia. Em muitos
casos a produção era
destinada ao mercado e
não exclusivamente ao
sustento dos habitantes
da aldeia.

Não escreva no livro. 55


O mito da democracia racial
Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930, o cenário político e
social brasileiro foi modificado. O governo passou a ser centralizado no poder
Quais são as críticas à ideia
de democracia racial? federal, as oligarquias regionais perderam poder e buscou-se criar noções
Atualmente, as contribuições de povo e de interesse nacionais. Assim, o esforço de pensar o Brasil e a
de Gilberto Freyre e de outros identidade dos brasileiros, que havia sido iniciado pelos intelectuais do Im-
teóricos da democracia racial pério e da Primeira República, voltou à tona com novos contornos.
têm recebido questionamentos
entre acadêmicos e membros Na Era Vargas (1930-1945), a valorização da raça branca e o objetivo de
de movimentos sociais. Esses “branqueamento” da população brasileira deram lugar ao discurso da de-
críticos apontam que essa
narrativa é associada à mocracia racial. Nessa nova nar-
rativa da nação, baseada no

Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo - Direito de reprodução


gentilmente cedido por João Candido Portinari
perpetuação das hierarquias
sociais, contribuindo para
chamado “mito das três raças”, o
silenciar as violências sofridas
pelas minorias étnicas ao longo mestiço foi colocado como o “tipo
da história do Brasil. ideal”, representante maior da “ra-
ça brasileira”. Nele convergiram
diferentes povos e culturas que
vieram para o país em diferentes
épocas. Assim, deixou-se de lado
o racismo científico para celebrar
a mestiçagem e a suposta integra-
ção das bases multiétnicas do
Brasil, como é esboçado pelo his-
toriador e sociólogo Gilberto Freyre
(1900-1987) na obra Casa grande
& senzala, de 1933.
Foi principalmente entre os in-
 Candido Portinari. O mestiço, 1934. Óleo sobre
telectuais do Estado Novo (1937- tela, 81 cm × 65 cm.
-1945) que a ideia de convivência
harmônica entre as três matrizes étnicas brasileiras – a indígena, a africana
e a europeia – se disseminou como esteio da nacionalidade e se tornou uma
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
forma de compromisso político. Naquele contexto histórico, fez-se necessá-
DA EDITORA DO rio “inserir o Brasil no mundo livre e democrático, por oposição ao racismo
BRASIL
e ao totalitarismo nazifascistas”, como aponta o sociólogo Antonio Sérgio
Alfredo Guimarães (1949-). Nesse contexto, o símbolo nacional escolhido
por Vargas não tinha rosto definido: era o trabalhador brasileiro.

Mais que uma ideologia, ela [a democracia racial] foi um modo tacita-
mente pactuado de integração dos negros à sociedade de classes do Brasil
pós-guerra [...] tanto em termos de simbologia nacional, como em termos
da sua política econômica e social. Mas esse foi um compromisso dupla-
mente limitado: por um lado, incluía apenas os trabalhadores das cidades,
deixando de fora não apenas outros segmentos populares urbanos, como
[...] os empregados domésticos, mas todos os trabalhadores do campo; por
outro lado, era um pacto de poder restringido pelo fato de não haver espa-
ço para o reconhecimento de formações étnico-raciais que pretendessem
participar do sistema político.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Depois da democracia racial. Tempo Social – Revista
de Sociologia da USP, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 270, nov. 2006. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/ts/v18n2/a14v18n2.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

56 Não escreva no livro.


Negros e indígenas no Estado Novo
A ideia de democracia racial foi utilizada como resposta discursiva à “questão negra” e à
“questão indígena” que perduravam no país. Mas, para além do discurso, qual era o real espa-
ço das minorias no Estado Novo? Será que a integração dos elementos afrodescendente e in-
dígena foi de fato equiparada ao elemento europeu?
Há alguns fatores importantes dos anos 1930 e 1940 para pensar a situação do negro no
Brasil. Com o fim do fluxo de imigração europeia na década de 1930 e as políticas de indus-
trialização, a população afrodescendente começou a ter maior entrada no mercado de tra-
balho formal. Uma minoria de negros e negras pôde ascender socialmente e compor uma
parcela das novas classes médias urbanas.
Apesar de ter ocorrido uma melhora relativa nas condições de vida dos afrodescendentes,
o Estado Novo não combateu as crescentes desigualdades sociais entre brancos e negros.
As tensões raciais permaneciam, ainda que não motivassem conflitos abertos e fossem pou-
co debatidas no período. Três fatores ajudam a compreender as razões desse silenciamento:
a eficácia do discurso da democracia racial incorporado à autoimagem da população brasi-
leira, a satisfação com as concessões trabalhistas e o autoritarismo de Vargas.
Durante o Estado Novo, os partidos políticos tornaram-se clandestinos e as organizações
sociais e sindicais foram controladas tanto pela política trabalhista como pelos órgãos repres-
sivos do governo. A Frente Negra Brasileira (FNB), agrupamento político que reunia negros e
negras na denúncia contra as discriminações no mercado de trabalho desde 1932, foi extinta
em 1937. Periódicos da imprensa negra, como o jornal A Voz da Raça, que divulgava pautas do
movimento negro desde 1933, foram sujeitos à censura e logo saíram de circulação.
Vargas exercia controle sobre a população negra e suas pautas de diferentes maneiras.
Políticas públicas discriminatórias foram adotadas, como o apagamento de imagens de pes-
soas negras nas cartilhas distribuídas nas escolas e nas propagandas governamentais, e
restrições à imigração de indivíduos que não fossem brancos e cristãos.
Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL  Primeira página do jornal
A Voz da Raça, editado pela
FNB em abril de 1937.

Associativismo e imprensa negra


As associações de negros multiplicaram-se durante a Primeira República em diversas partes do Brasil. Elas uniam
indivíduos por meio de assuntos e problemas em comum e tinham diferentes propósitos, indo desde a assistência
previdenciária e o auxílio mútuo até a promoção de atividades culturais, recreativas ou educacionais. Entre elas, a FNB
ganhou destaque pelo tempo de atuação e pela realização de atividades político-sociais. Com sede em São Paulo, a
FNB se espalhou por outros estados e conquistou importantes vitórias, como o fim das interdições impostas ao acesso
de negros a determinados locais públicos.
O jornal editado pela FNB, A Voz da Raça, fazia parte de um vasto conjunto de publicações conhecido como imprensa
negra. Neles, afrodescendentes divulgavam suas pautas, que abrangiam um arco bastante diverso de temas, como a
denúncia ao preconceito racial, a exaltação de personalidades negras e textos sobre expressões da cultura negra,
como a religiosidade, a música e a moda.

Não escreva no livro. 57


A colonização de terras indígenas
Para refletir sobre os efeitos da política de Getúlio Vargas sobre os indígenas, leia o texto
a seguir. Trata-se do trecho de um discurso proferido a milhares de trabalhadores em um
estádio no Rio de Janeiro, em 1941, durante a celebração do 1o de Maio.

Não é possível mantermos a anomalia tão perigosa como a de existirem camponeses sem
Gleba: terra gleba própria, num país onde os vales férteis como a Amazônia permanecem incultos e despo-
própria para voados de rebanhos, extensas pastagens, como as de Goiás e Mato Grosso. É necessário à rique-
o cultivo.
za pública que o nível de prosperidade da população rural aumente para absorver a crescente
produção industrial; é imprescindível elevar a capacidade aquisitiva de todos os brasileiros – o
que pode ser feito aumentando-se o rendimento do trabalho agrícola.
VARGAS, Getúlio. A nova política do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1941. In: CARDOSO, Adalberto. Uma
utopia brasileira: Vargas e a construção do Estado de bem-estar numa sociedade estruturalmente
desigual. Dados, Rio de Janeiro, v. 53, n. 4, p. 775-819, 2010. Disponível em: www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582010000400001&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 25 jul. 2020.

Com base no trecho, pode-se dizer que o plano desenvolvimentista e de integração nacio-
nal de Vargas visava à ocupação e ao desenvolvimento das regiões na Amazônia e no Cen-
tro-Oeste do Brasil. Para concretizá-los, em 1938 foi iniciada a chamada Marcha para o
Oeste, um movimento de exploração e colo-
nização de territórios que eram ocupados por
Acervo UH/FolhaPress

diversos povos indígenas.


Vargas sustentava um ideal civilizatório,
que previa a integração dos indígenas na
sociedade e no sistema produtivo por meio
do SPI. Em seu governo, esse órgão mantinha
a premissa de que o indígena era incapaz e
precisava ser educado e disciplinado para o
trabalho, e agia de maneira autoritária nesse
sentido.
As campanhas sertanistas, como ficaram
conhecidas, contribuíram, assim, para a re-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO configuração das fronteiras do território indí-
DA EDITORA DO BRASIL gena. Nesse contexto, focos de conflito
eclodiram entre as populações indígenas e os
novos habitantes das regiões colonizadas. A
introdução de atividades agrícolas e pecuárias
 Getúlio Vargas foi o primeiro presidente brasileiro a visitar uma em larga escala e a exploração mineral e ma-
área indígena, em 1940, durante o período do Estado Novo. Na deireira passaram a afetar permanentemente
foto, Vargas encontra comissão de indígenas em Brasília, DF, no
o modo de vida dos nativos.
ano de 1954.

Entre a adesão e a resistência


As políticas governamentais foram recebidas de maneiras distintas pelos povos indígenas. Enquanto uns as rejei-
taram totalmente, outros colaboraram com o Estado mediante negociações com os agentes estatais ou aderiram à
proposta indigenista assistencialista de Vargas. Este foi o caso dos xerentes e dos karajás, por exemplo, que, para
alguns pesquisadores, ajudaram a fortalecer o regime. Os xavantes, por sua vez, tornaram-se símbolo da resistência
às investidas do Estado Novo. Usando a estratégia de ataque-surpresa, eles conseguiam manter invasores longe do
vasto território que ocupavam no norte de Mato Grosso.

58 Não escreva no livro.


Avanços na República de 1946
Com o fim do Estado Novo, a República brasileira se reorganizou em novos marcos
democráticos e em bases populares. No campo político, setores historicamente excluídos
conquistaram o direito à voz e ao voto. No campo social, os ganhos das políticas de desen-
volvimento foram expressivos.
De 1946 a 1964, a população negra alcançou uma melhor inserção econômica e a desi-
gualdade social foi reduzida, com a menor concentração de renda já vista na história do país,
ainda que estivesse longe de atingir patamares de igualdade. No campo cultural, tradições
regionais afro-brasileiras, como a capoeira, o Carnaval, a arte barroca e as congadas, torna-
ram-se símbolos nacionais.
O retorno à democracia possibilitou também a reorganização do movimento negro, que
denunciava a permanência da discriminação racial no competitivo mercado de trabalho, as
condições precárias de subsistência e a marginalização nas favelas e periferias. Entre seus
principais nomes estavam Abdias do Nascimento (1914-2011) e Alberto Guerreiro Ramos
(1915-1982), intelectuais do Teatro Experimental do Negro, no Rio de Janeiro, comprometidos
com a implementação de um projeto nacional protagonizado por negros e negras. Essa mobi-
lização gerou frutos importantes, como a Lei Afonso Arinos, de 1952, a primeira a reconhecer
a existência de preconceito racial no Brasil e a prever a punição dos acusados de racismo.
Em relação aos indígenas, a Constituição de 1946 não expressou avanços substanciais,
mantendo o projeto integracionista vigente até então. Segundo o texto constitucional, o Es-
tado permanecia na tutela dos “silvícolas” e visava à incorporação deles à sociedade brasi-
leira como “cidadãos comuns”. Assim, insistia-se no projeto de inclusão das populações
indígenas baseado no apagamento de suas tradições, culturas e costumes próprios.
Nesse período, porém, houve uma importante conquista para as populações indígenas: a
criação do Parque Nacional do Xingu. A demarcação, sancionada em 1961, no governo de Jânio
Quadros (1917-1992), era resultado de anos de luta dos irmãos Orlando (1914-2002), Cláudio
(1916-1998) e Leonardo Villas-Boas (1918-1961), além de intelectuais, como o antropólogo
Darcy Ribeiro (1922-1997), e dos povos indígenas da bacia do Rio Xingu. Com base nessa de-
marcação, diferentes etnias passaram a usufruir do direito de uso exclusivo de cerca de 2,8 milhões
de hectares de terras, tendo seus territórios preservados da especulação, da exploração preda-
tória de recursos e da violência e das doenças trazidas pelos colonos.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
 Cláudio e Orlando Villas-Boas no posto avançado de Serra do Cachimbo da Expedição Roncador/Xingu, no
Rio das Mortes, em 23 de abril de 1951.

Antonio Pirozzelli/Folhapress

Não escreva no livro. 59


Minorias étnicas na Ditadura Civil-Militar
Com o golpe civil-militar, em 1964, a crescente ação do movimento negro ficou desarticu-
lada até 1979, quando foi fundado o Movimento Negro Unificado (MNU). Alinhado inicialmen-
te à esquerda revolucionária, o MNU denunciava o racismo no Estado brasileiro, desafiando
o discurso oficial da ditadura, e lutava pela reconquista da democracia.
Por essas razões, os militantes do MNU foram colocados na mira do regime militar, que
passou a infiltrar agentes nesse movimento, com o intuito de obter informações sobre as
células em funcionamento no país. O monitoramento constante das atividades dos militantes
levou muitos líderes negros à prisão, outros perderam o emprego e 41 foram mortos ou de-
sapareceram. Segundo dados do Arquivo Nacional, a perseguição durou até 1981, pouco
antes da redemocratização, que ocorreria em 1985.
A repressão também recaiu de forma mais ampla sobre a população negra e periférica. De
acordo com o relatório da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, publicado em 2015, a
presença policial aumentou consideravelmente nas favelas, comunidades e periferias duran-
te o regime militar.
A chamada “doutrina de segurança nacional” se voltava contra as “classes perigosas”,
parcelas da população estigmatizadas pelo racismo, que eram intimidadas com constantes
batidas policiais e levadas a interrogatórios nas delegacias, além de serem vítimas de vio-
lências. Com base na Lei das Contravenções Penais, em vigor desde o Estado Novo, jovens
negros sofriam acusações de “ameaçarem o bem comum” e, por isso, eram detidos. A
ociosidade dos pobres, popularmente chamada de “vadiagem”, era passível de prisão de
acordo com o artigo 59 da normativa.
As remoções forçadas também eram comuns durante a Ditadura Civil-Militar. Em cidades
como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a construção de moradias para as classes médias e
altas foi antecedida de despejos legais ou ilegais,
Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

que expulsavam moradores pobres das favelas


e comunidades para dar lugar às novas habita-
ções. Segundo dados levantados pela antropó-
loga Lícia Valladares, cerca de 140 mil pessoas
foram removidas de suas casas entre 1962 e
1971, período em que 80 favelas sofreram des-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO monte por meio da ação policial. Como resulta-
DA EDITORA DO BRASIL do, houve o crescimento da população em
situação de rua e o deslocamento de famílias
para locais afastados dos centros urbanos.

 Desapropriação na Comunidade do Caju, no Rio de Janeiro,


RJ, década de 1960. Pesquisadores alegam que houve
repressão a formas de organização e tortura de líderes
comunitários no período do regime militar.

O quilombismo de Abdias do Nascimento


Para Abdias do Nascimento, líder do MNU, organização de longa tradição nas lutas do movimento negro, o autori-
tarismo e a ausência de direitos não eram exclusivos do período ditatorial, mas aspectos permanentes na realidade
da população negra brasileira. Por meio do quilombismo, Abdias propunha uma ideologia de emancipação para os
negros e negras, de cunho anti-imperialista, classista e nacionalista, também conectada às lutas por direitos civis que
ocorriam nos Estados Unidos e nos países recém-emancipados da África. Ideias semelhantes são vistas no pensamento
da intelectual e líder do MNU Lélia González (1935-1994).

60 Não escreva no livro.


Massacre de povos indígenas
É usual pensar na atuação urbana dos meios de repressão da Ditadura
Civil-Militar, mas as populações indígenas e campesinas também foram O que foi o Estatuto do Índio?
atingidas pelo regime. Implementado em 1973, o
Parte do programa desenvolvimentista do regime militar, o Programa de In- Estatuto do Índio formalizou os
procedimentos a serem
tegração Nacional (PIN), implementado em 1970, buscava favorecer o agrone- adotados pela Funai em relação
gócio e os setores de transportes e energia por meio da construção de grandes às populações indígenas. Os
obras de infraestrutura no Norte e Nordeste do país. A Rodovia Transamazônica, indígenas foram classificados
em três categorias: isolados, em
que liga a Paraíba ao Amazonas, é um exemplo delas, assim como a usina hi-
via de integração e integrados.
drelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins, localizada no estado do Pará. Apesar dos avanços, como a
O PIN também impulsionou a colonização de regiões no interior do Brasil, participação dos indígenas nas
políticas destinadas às suas
criando um movimento migratório que, junto com as obras de infraestrutura do comunidades, o estatuto
período, teve grande impacto sobre os povos indígenas e os grupos campesinos. também manteve questões
Os colonos ocupavam terras ilegalmente, e tanto a abertura de estradas e ferrovias antigas, como a tutela, a
intervenção e o esforço de
como a exploração de recursos minerais provocaram a expulsão de comunidades integração por parte do Estado.
locais. Lugares sagrados para os indígenas foram destruídos nesse processo.
Em 1967, o antigo SPI foi substituído pela Fundação Nacional do Índio
(Funai), órgão estatal responsável até hoje pelas questões indígenas. Os
agentes da Funai, contudo, não agiram para proteger os indígenas

Keystone Features/Getty Images


e suas terras, mas se voltaram aos interesses de empresários e
políticos locais. De acordo com a Comissão Nacional da Verdade,
milhares de indígenas morreram em razão da inoculação de
doenças como sarna e gripe de maneira proposital pelos funcio-
nários do órgão.
Houve, ainda, a perseguição política a lideranças indígenas,
muitas das quais foram presas arbitrariamente. Segundo o Rela-
tório Figueiredo, resultado de uma extensa investigação sobre
crimes cometidos pelo Estado brasileiro e por latifundiários con-
tra os povos indígenas, o período ditatorial até 1968 foi repleto
de denúncias de assassinatos, desaparecimentos, abusos, tortu-
ras e exploração de trabalho análogo à escravidão.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DAMembros
  EDITORA DOKrain-a-Kores
da tribo BRASIL na estrada Cuiabá-Santarém,
MT, 1964. Os indígenas chegaram a ser levados para o Parque
Nacional do Xingu, no entanto, o processo foi traumático e
quase levou o grupo ao desaparecimento.

As grandes assembleias indígenas


Conheça um pouco sobre as articulações de povos indígenas durante o regime militar:
[…] nos anos de 1970, o movimento indígena estava no período das grandes assembleias indígenas, isto é, nas des-
cobertas mútuas e trocas de experiências e informações sobre os contextos interétnicos enfrentados por cada povo.
Era a época em que os grupos indígenas passavam a se conhecer politicamente melhor dentro do contexto sociocul-
tural brasileiro, porque sofriam, até então, com o isolamento social e político imposto pelo estado nacional.
[…] o processo de trocas de experiências resultou, num primeiro plano, na articulação do movimento e, num se-
gundo momento, na criação, em 1980, da União das Nações Indígenas (UNI), organização de defesa dos direitos dos
povos originários de expressão nacional.
ALMEIDA, Antonio Cavalcante. Aspectos das políticas indigenistas no Brasil. Interações, Campo Grande, v. 19,
n. 3, p. 611-626, jul.-set. 2018. Disponível em: https://www.interacoes.ucdb.br/interacoes/article/view/1721.
Acesso em: 25 jul. 2020.

Não escreva no livro. 61


Atividades

1. Em 1977, o líder do MNU, Abdias do Nascimento, apresentou uma tese no II Festival de


Artes e Culturas Negras e Africanas (Festac). Leia um trecho da tese, a seguir.

O Brasil, como nação, se proclama a única democracia racial do mundo, e grande parte do
mundo a vê e respeita como tal.
Mas um exame de seu desenvolvimento histórico revela a verdadeira natureza de sua es-
trutura social, cultural e política: é essencialmente racista e vitalmente ameaçadora para os
negros.
[…]
Neste pretensioso conceito de “democracia racial”, apenas um dos elementos raciais tem
qualquer direito ou poder: o branco.
NASCIMENTO, Abdias do. Democracia racial: mito ou realidade? Geledés, São Paulo, 20 abr. 2009.
Disponível em: https://geledes.org.br/democracia-racial-mito-ou-realidade/. Acesso em: 6 ago. 2020.

•• Você concorda com o que Abdias diz sobre a democracia racial? Por quê?

2. Com base no que você estudou sobre as políticas indigenistas entre a Primeira República
e a Ditadura Civil-Militar de 1964, responda:
a) É possível dizer que houve um esforço de inclusão dos indígenas na ordem social
brasileira? Elabore um comentário crítico sobre isso.
b) Que permanências desse período da história republicana marcam a questão indí-
gena hoje? Como elas se refletem nas atuais demandas dos povos indígenas? Se
necessário, pesquise notícias recentes sobre os povos indígenas brasileiros para
elaborar sua resposta.

3. Leia o texto a seguir para responder ao que se pede.

[...] As reformas educacionais do período militar visaram, sobretudo, a ampliar o sistema


educacional como um todo, universalizar o ensino primário e médio [...]. O ensino público uni-
versitário manteve-se gratuito, embora a ampliação do ensino superior passasse a depender,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
principalmente, da criação de universidades privadas e pagas. Já em meados dos anos de 1970,
DA EDITORA DO BRASIL
as consequências dessas escolhas faziam-se sentir: a proliferação de cursinhos particulares
pré-vestibulares, a ampliação da rede privada de ensino primário e médio, a transferência dos
filhos das classes médias para essas escolas. [...]. Boa parte da população universitária na rede
particular, aquela de menor desempenho, veio principalmente de escolas médias públicas, on-
de estudavam os de menor renda e os de cor.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Depois da democracia racial. Tempo Social –
Revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 18, n. 2, nov. 2006. p. 271-272.
Disponível em: www.scielo.br/pdf/ts/v18n2/a14v18n2.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.
a) Qual é o principal assunto tratado no texto?
b) O autor identifica a criação de uma forma de desigualdade relacionada à políticas do
regime militar brasileiro. Que desigualdade é essa?
c) Segundo o autor, as questões analisadas datam da década de 1970. Elas foram superadas?
Você se sente afetado por essas questões hoje? Comente.
d) Em sua opinião, qual o impacto, na sociedade brasileira, a curto e longo prazos, das
questões levantadas no texto? Discuta com os colegas.

62 Não escreva no livro.


MODERNIDADE BRASILEIRA E A QUESTÃO RACIAL
A ação de discriminar pode ser expressa e compreendida de diversas formas, mas está atre-
lada ao sentido de diferenciar, excluir e/ou restringir uma pessoa com base em sua raça, cor,
ascendência ou etnia. O preconceito e a discriminação servem de suporte para a exclusão de
determinados grupos em espaços e esferas de poder, aprofundando desigualdades sociais. A
sociedade é composta de estruturas hierárquicas socialmente construídas que valorizam alguns
grupos em detrimento de outros.
Muitas dessas estruturas sociais têm origens seculares e continuam se reproduzindo. Para
o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes (1920-1995), por exemplo, o racismo, que ainda
atinge a população negra na contemporaneidade, seria fruto de séculos de escravização e do
fato de não ter existido, como já estudamos, um projeto que integrasse os negros à sociedade
da Primeira República.

Em suma, a sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio destino, deitando sobre seus
ombros a responsabilidade de se reeducar e de se transformar para corresponder aos novos pa-
drões e ideais de ser humano, criados pelo advento do trabalho livre, do regime republicano e do
capitalismo.
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Globo, 2008. E-book.

Em sua obra A integração do negro na sociedade de classes, publicada em 1965, Florestan


Fernandes afirmou que o mito da democracia racial, instaurado pelo Estado Novo de Getúlio
Vargas, auxiliou no aprofundamento das desigualdades entre brancos e negros no Brasil. Esse
mito escondia o preconceito e a discriminação experienciados cotidianamente pelas minorias
e serviu de garantia à opressão sistêmica de negros e indígenas, mantendo-os em condição
subalterna.
Com a ideia de que o Brasil era um país receptivo às diferenças e pautado pela “democra-
cia racial”, a violência e os problemas socioeconômicos enfrentados pelas minorias foram
individualizados, e retirados do âmbito da discussão

Museu de Arte da Bahia, Salvador


estrutural e da responsabilidade do Estado e da socie-
dade. Dessa forma, buscava-se explicar a manutenção
das desigualdades raciais com base em uma aparente
incapacidadeMATERIAL DEe DIVULGAÇÃO
dos libertos de seus descendentes de
superar obstáculos para a ascensão
DA EDITORA DO BRASIL social, não levando
em conta a existência de processos sistemáticos de
discriminação em relação a essa população.
Para Florestan Fernandes, a questão racial denun-
cia a fragilidade do projeto moderno brasileiro. De
acordo com o sociólogo, os avanços sociais da indus-
trialização, do trabalho livre e assalariado e dos direi-
tos para o exercício da cidadania chegaram somente
a uma parcela da população, os brancos das zonas
urbanas. Isso demonstraria a permanência da estru-
tura arcaica de produção e organização política, que
subsiste desde o período colonial. Desse modo, o
Brasil não incorporou a população à moderna socie-
dade de classes com êxito.

Lucílio de Albuquerque. Mãe negra, 1912. Óleo sobre tela,


180 cm × 130 cm. A obra retrata uma ama de leite, prática
ainda usual no começo do século XX, alimentando uma
criança branca, enquanto seu filho aguarda ao lado.

Não escreva no livro. 63


Dados do racismo no Brasil
Uma das formas de verificar a existência do racismo é por meio da análise de dados esta-
tístícos e de pesquisa, como os apontados pelo relatório Desigualdades sociais por cor ou
raça no Brasil, publicado pelo IBGE, em 2019.

No IBGE, as informações sobre as condições de vida da população brasileira pelo enfoque de


cor ou raça são abordadas, continuamente, por meio dos resultados das pesquisas domiciliares
e, de forma transversal, em publicações mais abrangentes, em especial a Síntese de indicadores
sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira.
IBGE. Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil. In: IBGE. Série Estudos e Pesquisas. Informação
Demográfica e Socioeconômica. Rio de Janeiro, n. 41. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
livros/liv101681_informativo.pdf. Acesso em: 4 ago. 2020.

De acordo com o relatório, entre a população considerada desocupada, pretos e pardos


somavam 64,2% do total. Enquanto 34,6% dos brancos estavam trabalhando na informali-
dade, esse percentual era de 47,3% entre pretos e pardos.
O rendimento médio mensal das pessoas brancas ocupadas, em 2018, por exemplo, era de
R$ 2.796,00, 73,9% superior ao rendimento da população preta ou parda, que somava
R$ 1.608,00. Os brancos com Ensino Superior completo ganhavam por hora 45% a mais do
que os pretos ou pardos com o mesmo nível de instrução. Isso significa que, do ponto de vista
da igualdade no mercado de trabalho e do acesso a ele, há mais dificuldades e obstáculos para
os pretos e pardos em relação aos brancos.
Outro problema que está relacionado à população negra é a questão da violência. Em todos
os grupos etários, a taxa de homicídios dos pretos ou pardos superou a dos brancos: para
pretos ou pardos de 15 a 29 anos, chegou a 98,5% em 2017, contra 34% para brancos.
O assassinato de jovens negros é uma questão grave que ocorre cotidianamente no Brasil.
Alguns teóricos utilizam até mesmo o termo genocídio, que significa “extermínio deliberado,
parcial ou total de uma comunidade ou de um grupo étnico, racial ou religioso”, para se refe-
rir à violência sofrida pela juventude negra.
Esses problemas são também verificados na falta de representatividade de pretos e pardos
nas esferas de poder do Brasil. Em 2019, apenas 24,4% dos deputados federais, 28,9% dos
MATERIAL
deputadosDEestaduais
DIVULGAÇÃO
e 42,1% dos vereadores eleitos eram pretos ou pardos.
DA Apesar
EDITORAdisso,
DOem consequência das vitórias do movimento negro, alguns dados demonstram
BRASIL
um crescimento otimista. Por exemplo: pretos ou pardos passaram a ser 50,3% dos estu-
dantes do Ensino Superior público. Essa conquista é resultado de políticas de cotas e ações
afirmativas nas universidades e de outras ações que aumentaram a mobilidade social.

 Ato contra a violência policial e o racismo, Rio de Janeiro, RJ, 2020.


Ramon Vellasco/Futura Press

64 Não escreva no livro.


Multiplicidade de vozes
Questionar preconceitos e discriminações significa refletir sobre nosso papel e nossos
privilégios dentro de uma sociedade baseada no racismo, sobretudo em favor de uma socie-
dade mais democrática e justa.
A filósofa brasileira Djamila Ribeiro (1980-) é a autora do livro O que é lugar de fala?, publi-
cado em 2017. Nele, Djamila aborda a história do pensamento das mulheres negras e debate
de que forma alguns grupos sociais têm mais privilégios do que outros. Nesse sentido, ela
observa a importância de descolonizar o pensamento, ou seja, de observar como nossa forma
de pensar e as lógicas que regem as nossas reflexões partem de estruturas e ideias associa-
das à dominação colonialista.

O colonialismo, além de criar, deslegitima ou legitima certas identidades. [...] as desigualdades


são criadas pelo modo como o poder articula essas identidades; são resultantes de uma estrutu-
ra de opressão que privilegia certos grupos em detrimentos de outros.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? São Paulo: Pólen, 2019. E-Book.

Como uma estratégia de combate à mentalidade colonialista, Djamila discute o conceito


de lugar de fala que muitas vezes se confunde com a questão da representatividade. De
acordo com o cientista político Norberto Bobbio (1909-2004), a representatividade acontece
quando os interesses de um grupo estão expressos na figura de um representante. Quem
fala em nome de um coletivo ou grupo está comprometido com as demandas e necessidades
dos representados e age em defesa dos interesses do grupo, e não necessariamente de si.
O lugar de fala está relacionado à experiência pessoal do indivíduo. De acordo com esse
conceito, somente quem vivenciou o racismo, por exemplo, consegue entender a violência e o
impacto desse ato. Isso não significa que pessoas que não sofrem racismo não podem falar
sobre ele. Elas podem discutir o racismo e suas consequências, mas precisam estar conscien-
tes de seus pontos de partida, de como essa questão as toca, ou seja, precisam reconhecer
seu lugar de fala.
Para críticos do conceito de lugar de fala, porém, essa noção pode significar também um
tipo de censura, pois parte-se da liberdade de que todos podem falar o que pensam. O ser
humano, em sua especificidade, seria capaz de sentir solidariedade em relação aos grupos
historicamente oprimidos e de expressá-la, independentemente de sua origem.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL  Marcha da
Fernanda Piccolo/Fotoarena

Mulher Negra
Latino-americana
e Caribenha. Rio de
Janeiro, RJ, 2019.

Não escreva no livro. 65


Frantz Fanon e a descolonização das mentes
O filosófo, psiquiatra e teórico revolucionário Frantz Fanon (1925-1961)
STF/AFP

nasceu na ilha da Martinica, quando ainda era uma colônia francesa. O


modelo do colonialismo francês era o da assimilação, ou seja, seguia-se
a proposta de que os colonizados que integravam a metrópole deveriam
seguir os valores europeus, em detrimento das culturas nativas.
A contribuição de Fanon para a análise e o combate ao racismo reside
principalmente na percepção dos impactos do racismo e do colonia-
lismo na subjetividade de quem os sofre. Na obra Os condenados da
terra, publicada em 1961, Fanon observa a correspondência da fome
dos nativos com a saciedade dos colonos e como a colonização torna
os nativos estrangeiros em seu próprio território.
Em sua concepção, a superação do racismo está unida à descoloni-
zação, nesse caso, das mentes. Sua constatação de que o colonialismo
tem impactos subjetivos revela como os próprios colonizados introjetam
o racismo e enxergam a si mesmos como inferiores. Descolonizar as
mentes passa por resgatar a própria humanidade, recusando a subalter-
nidade e a inferioridade impostas pelo pensamento colonial, para além
 Retrato de Frantz Fanon, data desconhecida. das relações individuais.
A descolonização, que se propõe mudar a ordem do mundo, é [...] um programa de desordem absoluta. Mas não
pode ser o resultado de uma operação mágica, de um abalo natural ou de um acordo amigável. A descolonização,
sabemo-lo, é um processo histórico, isto é, não pode ser compreendida, não encontra a sua inteligibilidade, não se:
torna transparente para si mesma senão na exata medida em que se faz discernível o movimento historicizante que
lhe: dá forma e conteúdo. A descolonização é o encontro de duas forças congenitamente antagônicas que extraem sua
originalidade precisamente dessa espécie de substantificação que segrega e alimenta a situação colonial. Sua primeira
confrontação se desenrolou sob o signo da violência, e sua coabitação – ou melhor, a exploração do colonizado pelo
colono – foi levada a cabo com grande reforço de baionetas e canhões. O colono e o colonizado são velhos conhecidos.
E, de fato, o colono tem razão quando diz que “os” conhece. O colono que fez e continua a fazer o colonizado. O colono
tira a sua verdade, isto é, os seus bens, do sistema colonial.

A descolonização não passa nunca despercebida, dado que afeta o ser, modifica fundamentalmente o ser, transforma
os espectadores esmagados pela falta do essencial em atores privilegiados, amarrados de maneira quase grandiosa
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
pelo correr da História. Introduz no ser um ritmo próprio, provocado pelos novos homens, uma nova linguagem, uma
nova humanidade. A descolonização é realmente a criação de homens novos. Mas esta criação não recebe a sua legi-
DA EDITORA DO BRASIL
timidade de nenhuma força sobrenatural: a “coisa” colonizada converte-se, no homem, no próprio processo pelo qual
ele se liberta.
Na descolonização há, pois, a exigência de uma entrega completa da situação colonial. A sua definição pode
encontrar-se, se quer descrevê-la com precisão, na frase bem conhecida: “os últimos serão os primeiros”. A descolo-
nização é a prova exata dessa frase. Por isso, no plano da descrição, toda descolonização é um êxito.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p.26-27.

Segundo o autor, para acabar com a dominação colonial, o primeiro passo é que os nativos reconheçam que foram
assimilados pelo poder dos colonizadores. Em seguida, é necessário que os colonos retornem para a própria história
e valorizem sua cultura nativa. Finalmente, é preciso um esforço para despertar e inspirar o povo a realizar um movi-
mento cultural que embase uma luta mais ampla pela libertação e pela independência.
• Com base na leitura sobre as ideias de Frantz Fanon, responda às questões no caderno.
a) Por que, para Fanon, a consciência nacional e a valorização da cultura nativa são tão importantes?
b) Considerando a visão de Fanon a respeito da sociedade colonial cindida em o branco/europeu/colonizador e o
negro/indígena/nativo, há uma figura que medeia essa relação de forma violenta: o soldado. A violência é central
na análise desse pensador, pois é ela que garante o poder colonial. Explique, com suas palavras, por que as res-
postas ao colonialismo se traduzem em lutas e guerras.

66 Não escreva no livro.


Atividades

1. Leia, a seguir, o trecho de um texto de Florestan Fernandes. Depois, responda no caderno


às questões propostas.

[...] os ex-escravos tinham de optar, na quase totalidade, entre a reabsorção no sistema de


produção, em condições substancialmente análogas às anteriores, e a degradação de sua si-
tuação econômica [...]. Onde a produção atingia níveis altos, refletindo-se no padrão de cres-
cimento econômico e de organização do trabalho, existiam reais possibilidades de criar um
autêntico mercado de trabalho: aí, os ex-escravos tinham de concorrer com os chamados
“trabalhadores nacionais”, que constituíam um verdadeiro exército de reserva (mantido fo-
ra de atividades produtivas, em regiões prósperas, em virtude da degradação do trabalho
escravo) e, principalmente, com a mão de obra importada da Europa [...]
Perdendo sua importância privilegiada como mão de obra exclusiva, ele também perdeu
todo o interesse que possuíra para as camadas dominantes. A legislação, os poderes públi-
cos e os círculos politicamente ativos da sociedade se mantiveram indiferentes e inertes
diante de um drama material e moral que sempre fora claramente reconhecido e previsto,
largando-se o negro ao penoso destino que estava em condições de criar por ele e para ele
mesmo.
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Globo, 2008. E-book.

a) Pensando nas condições de vida no campo e na cidade no começo do século XX,


quais ações o Estado brasileiro poderia ter realizado para promover a integração de
homens e mulheres escravizados à sociedade e ao trabalho livre?
b) Qual é a relação, para Florestan Fernandes, do ex-escravo com a transformação do
Brasil em um país inserido na modernidade?
c) Com base em dados contemporâneos sobre emprego no Brasil (formal, informal,
desemprego, subemprego, trabalho análogo à escravidão), faça uma análise do pen-
samento de Florestan Fernandes sobre o negro no Brasil. De acordo com esses dados,
o Brasil é hoje um país plenamente moderno? O que a condição do negro no Brasil
permite apreender acerca do país em si?
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
2. O conceito de lugar de fala, da autora Djamila Ribeiro, tem gerado várias polêmicas nos
DA EDITORA DO BRASIL
últimos anos. Enquanto alguns defendem que somente quem experimentou o racismo
pode falar com propriedade sobre isso, outros defendem a liberdade de expressão como
valor fundamental. Articule os argumentos em torno desse debate, levantando os dois
pontos de vista, contrário e a favor ao conceito de lugar de fala. Se necessário, faça uma
pequena pesquisa na internet sobre o tema. Em seguida, sob orientação do professor,
debata o assunto com a turma. Depois, escreva uma redação apresentando sua posição
sobre o assunto.

3. Faça uma pesquisa sobre os vereadores de sua cidade e sobre os deputados estaduais
e federais do estado onde você mora, e observe quantos deles são negros. Pesquise na
internet ou nas câmaras legislativas quais são as plataformas de campanha e a atuação
desses vereadores e deputados. Eles incorporam a questão do racismo e da negritude
em sua ação política? Como ela aparece em seus discursos e em suas propostas? Depois,
apresente os resultados de sua pesquisa aos demais colegas e ao professor.

Não escreva no livro. 67


MINORIAS E SEUS ESPAÇOS: INDÍGENAS
E QUILOMBOLAS
A Constituição federal de 1988 trouxe ganhos sociais importantes para a sociedade, sobre-
tudo para populações historicamente marginalizadas. A Constituição prevê, por exemplo, a
demarcação de terras indígenas e o reconhecimento do direito originário sobre elas. Por que
a garantia de usufruto dessas terras pelos povos indígenas é uma conquista importante? Para
responder a essa pergunta, é necessário revisitar a história da colonização do território que
viria a se tornar o Brasil.

Museus Castro Maya, Rio de Janeiro


 Jean-Baptiste Debret. Soldados da província de Curitiba escoltando selvagens, 1834. Litografia
sobre papel, 21 cm × 32,5 cm.

No século XVI, os colonizadores portugueses, por meio de diferentes iniciativas e agentes,


dominaram um território que estava ocupado por cerca de 5 milhões de pessoas, os povos
originários, que, mais tarde, seriam chamados de indígenas. Nesse processo, os portugueses
dizimaram
MATERIAL DEosDIVULGAÇÃO
povos nativos e impuseram aos que restaram seu modo de vida e sua cultura.
Alguns povos resistiram ao avanço dos colonos sobre seus territórios. Porém, majoritaria-
DA EDITORA DO BRASIL
mente, esse processo violento de ataque e resistência resultou no apagamento social e
espacial de muitos povos indígenas, com o desaparecimento de etnias inteiras, junto com
sua língua, sua história e sua memória.
Além disso, a visão dos europeus sobre a natureza entrava em conflito com a dos indígenas.
De modo geral, a natureza não é vista pelos indígenas apenas como um repositório de recur-
sos naturais que viabilizam sua sobrevivência, mas é concebida também como ente sagrado,
por isso os processos de legitimação e demarcação dos territórios indígenas são tão impor-
tantes. Porém, deve-se considerar que os grupos indígenas são diversos, assim como a forma
que esses grupos concebem e se relacionam com o meio em que vivem.

[...]
As concepções indígenas de “natureza” variam bastante, pois cada povo tem um modo parti-
cular de conceber o meio ambiente e de compreender as relações que estabelece com ele. Po-
rém, se algo parece comum a todos eles, é a ideia de que o “mundo natural” é antes de tudo uma
ampla rede de inter-relações entre agentes, sejam eles humanos ou não humanos [...].
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Índios e o meio ambiente. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/
pt/%C3%8Dndios_e_o_meio_ambiente. Acesso em: 25 jul. 2020.

68 Não escreva no livro.


Violência e o apagamento de minorias
A colonização foi o início de um processo de subjugação dos indígenas que, ao longo do
tempo, reduziu seus espaços, confinando esses povos em áreas cada vez mais restritas
do território. Na atualidade, muitos povos ainda lutam por sua permanência na terra, por meio
de ações que buscam a demarcação e o reconhecimento do direito originário, conforme está
previsto na Constituição.
Essa luta tem se realizado em um contexto crescente de violência no meio rural. Em 2019,
o número de assassinatos de indígenas cresceu consideravelmente em relação ao ano anterior.
Os índices aumentaram, principalmente, por causa de conflitos entre indígenas e fazendeiros
pelo domínio e pela legitimidade sobre as terras, sobretudo diante do avanço do agronegócio.

ASSASSINATOS DE INDÍGENAS E LIDERANÇAS INDÍGENAS


EM RAZÃO DE CONFLITOS NO CAMPO (2009-2019)

DAE
10

8
2 morte de
12
indígenas
5 2
3
7 morte de
4
3 3 4 3 5 lideranças
3 indígenas
1 3
1 1 1 1 1
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fontes: COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Conflitos no campo Brasil 2019. Disponível em: https://www.cptnacional.org.br/
publicacoes-2/destaque/5167-conflitos-no-campo-brasil-2019. Acesso em: 25 ago. 2020.
FIGUEIREDO, Patrícia. Número de mortes de lideranças indígenas em 2019 é o maior em pelo menos 11 anos, diz Pastoral
da Terra. G1, 10 dez. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/12/10/mortes-de-liderancas
-indigenas-batem-recorde-em-2019-diz-pastoral-da-terra.ghtml. Acessos em: 8 ago. 2020.

Entre existir e resistir


Na América Portuguesa, a justificativa utilizada para a repressão indígena era de cunho
civilizatório,MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
visando suprimir os focos de resistência para estender o domínio português
de forma ampla DA pelo
EDITORA DO BRASIL
território. Desse modo, efetivaram-se a ocupação e a exploração
econômica colonial. Mais de 500 anos depois, os indígenas precisam continuar defen-
dendo a própria existência, diante de ações que desrespeitam e negam seus direitos
como cidadãos.
Após séculos de subjugação, muitos povos indígenas incorporaram características das
sociedades não indígenas ao seu modo de viver. Alguns exemplos são os casos de povos e
aldeias que estão inseridos em contextos urbanos e mesclam hábitos da vida na cidade com
seu modo de vida tradicional, mantendo, em um contexto possível, sua cultura e seus valores.
Muitas vezes, essa inserção nas cidades ocorre de forma bastante precária e em condições
de vulnerabilidade socioeconômica, pois se dão em contextos em que os grupos indígenas
não dispõem de condições materiais para, por exemplo, cultivar gêneros alimentícios, e
precisam recorrer a outras opções para se manterem.
A vida nas cidades pode apresentar muitas problemáticas e questões, pois esses grupos
são inseridos em outra lógica de vida, de tempo e de reprodução, diferentemente da que
ocorre em áreas rurais e afastadas dos centros urbanos. Em alguns casos, os grupos se
mantêm, ainda que em áreas urbanas, em territórios demarcados, como é o caso da Terra
Indígena Jaraguá, na cidade de São Paulo (SP). Contudo, há situações em que os grupos
estão inseridos nesses espaços sem o respaldo da terra demarcada.

Não escreva no livro. 69


A inserção nas cidades é, sem dúvida, um desafio para os grupos indígenas, por diferen-
tes motivos: falta de espaços adequados para cultivar; dificuldade no acesso a serviços
básicos, como saúde e educação; preconceitos de diferentes naturezas ligados ao desco-
nhecimento da cultura indígena; falta de oportunidades no mercado de trabalho; etc.
Um exemplo disso é o espaço ocupado pela Terra Indígena do Jaraguá, na cidade de São
Paulo. Ainda que seja uma terra demarcada, é um espaço relativamente restrito, entre
rodovias, o Parque Estadual do Jaraguá e outros elementos do território urbano, ou seja,
não há amplo espaço para o estabelecimento de cultivos agrícolas ou criação de animais.
As famílias, então, precisam encontrar outras formas para se manterem.

Rubens Chaves/Pulsar Imagens


 Terra Indígena Jaraguá, ocupada por povos da etnia Guarani, em São Paulo, SP, 2018.

A inserção de indígenas no espaço urbano está relacionada, sobretudo, a dois processos:


expansão das áreas urbanas, que podem abarcar territórios tradicionalmente ocupados
por grupos indígenas; ou expulsão dos povos indígenas de seus territórios e consequente
MATERIAL
migraçãoDE DIVULGAÇÃO
dessas pessoas para as cidades. Essa expulsão pode ocorrer por conflitos fun-
DA EDITORA
diários, pelo DO BRASIL
avanço agropecuário, pelo estabelecimento de grandes projetos de infraes-
trutura, como hidrelétricas, por condições precárias de vida, entre outros motivos.
Outro exemplo de fixação de grupos indígenas em espaços urbanos é o da comunidade
indígena da etnia Pankararu, que se estabeleceu na cidade de São Paulo a partir da década de
1940. Esse grupo vive na comunidade Real Parque, zona sul de São Paulo, e não ocupa uma
terra indígena demarcada.
Os pankararus são originários do estado de Pernambuco e começaram a migrar para São
Paulo por causa de conflitos fundiários e da seca que atinge a região, problema persistente em
algumas áreas do Nordeste, que é de cunho político e natural. No contexto de industrialização
e de desenvolvimento econômico que se consolidava no Sudeste, assim como outros milhões
de pessoas, os indivíduos dessa etnia foram buscar nessa região melhores condições de vida.
Atualmente, os indígenas instalados na comunidade Real Parque, apesar de viverem no
meio urbano, mantêm hábitos e costumes tradicionais. Uma questão importante a conside-
rar é que as políticas públicas de assistência a esses grupos se voltam, de modo geral, aos
territórios indígenas já demarcados. A falta de reconhecimento dos povos que vivem fora
desses territórios, como os inseridos em cidades, por exemplo, dificulta o acesso a esse tipo
de politica, pois, muitas vezes, as entidades responsáveis e a própria sociedade têm dificul-
dade em reconhecer essas pessoas como indígenas.

70 Não escreva no livro.


Constituição Cidadã e seu significado para os indígenas
A Constituição de 1988 apresentou de forma inédita na história brasileira um capítulo dedicado
aos indígenas, embora essas populações aparecessem nos textos constitucionais desde 1934,
indicando um possível caminho de reparação, de inclusão e de garantia de defesa à vida desses
povos e de seus espaços. Cabe mencionar, contudo, que a Carta de 1988 trouxe uma nova
perspectiva em relação ao indígena. Até aquele momento, o Estado dedicava a esses povos uma
política que visava à integração deles à sociedade brasileira, negando, em parte, sua existência
e particularidade social, cultural e territorial. Em 1988, a Constituição avançou, pois passou a
reconhecê-los em sua integralidade, sem uma perspectiva de integração reducionista.
A exemplo de outras minorias, os grupos indígenas se articularam pela luta e representati-
vidade no texto constitucional, acampando em Brasília, frequentando o Congresso durante a
Constituinte e pressionando deputados e sociedade. A organização de povos que conseguiram
se articular em torno dessa luta foi fundamental para as conquistas estabelecidas em 1988.
A Carta estabeleceu os direitos e as garantias das populações indígenas. No texto estão
definidos temas como os agentes competentes para realizar as ações de reconhecimento e
demarcação de terras; autorização para exploração e aproveitamento de recursos hídricos e
riquezas minerais em terras indígenas; disputa sobre direitos indígenas; defesa judicial dos
direitos e interesses das populações indígenas; entre outros.
Apesar da grande expectativa, passados mais de 30 anos, decresce, a cada ano, o número
de terras indígenas demarcadas. Essa queda se deve a diferentes fatores e circunstâncias,
muitas vezes, relacionados a mudanças de orientação política. Veja o gráfico a seguir, que
trata das terras indígenas declaradas e homologadas.

DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS (1990-2018)

DAE
140

120

100
Quantidade

80

60
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
40
DA EDITORA DO BRASIL
20

0
1990-1994 1995-1998 1999-2002 2003-2006 2007-2010 2011-2014 2015-2018

Terra Indígena declarada Terra Indígena homologada

Fonte: INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Terras indígenas no Brasil. Disponível em: https://terrasindigenas.org.br/.


Acesso em: 25 jul. 2020.

A demarcação das terras, prevista na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 231,
não se trata apenas de reconhecer o direito ou de reparar injustiças, mas de legitimar uma
ocupação e garantir proteção à vida dos povos indígenas. O artigo explicita, ainda, que é
vedada a remoção de grupos indígenas de suas terras, salvo exceções; que esses grupos têm
plena capacidade e autonomia para ingressar com ações em defesa de seus direitos; que as
terras indígenas são inalienáveis, indisponíveis e imprescritíveis.
A demarcação é a forma pela qual a ocupação é efetivada e reconhecida. Quando a demar-
cação não é estabelecida, a vulnerabilidade desses grupos se acentua, pois outros agentes
podem se sentir livres para invadir e explorar essas terras.

Não escreva no livro. 71


Como funciona o processo de demarcação
de terras indígenas no Brasil?
Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), em meados de 2020, existiam 724 terras indígenas no
Brasil, em diferentes etapas do processo de demarcação. Os processos podem se arrastar por
anos, sem que uma definição seja efetivada.

Situação das terras indígenas em 2020

120 EM
43
IDENTIFICADAS
74
DECLARADAS
487
HOMOLOGADAS
IDENTIFICAÇÃO E DECLARADAS

Fonte: INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Terras indígenas no Brasil. Disponível em: https://terrasindigenas.org.br/pt-br/.


Acesso em: 4 ago. 2020.

Etapa 5
Etapa 1
O Instituto Nacional de Colonização
A Fundação Nacional do Índio (Funai) organiza e Reforma Agrária (Incra) e a Funai
um estudo de identificação e delimitação, fazem o levantamento fundiário de
submetendo esse material ao presidente do avaliação de benfeitorias.
órgão, que tem um prazo para avaliar a
requisição e publicar, caso aprovado, no Diário
Oficial da União.

Etapa 3
O Ministério da Justiça e da Segurança
Pública declara os limites da área demarcada.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Etapa 4

Etapa 2 A Funai faz a demarcação física.


Municípios, estados e outros
interessados podem manifestar
Delfim Martins/Pulsar Imagens

argumentos contrários à demarcação,


e apresentar provas para sustentá-los.

Aldeia Pykararakre, Terra


Indígena Kayapó, São Felix do
Xingu, PA, 2016.

72 Não escreva no livro.


RESERVAS E TERRAS INDÍGENAS (2017)

Julio Dian
50º O

Boa
Vista
AMAPÁ
RORAIMA
Macapá
0° Equador

Belém São Luís


PARÁ
Manaus Fortaleza
AMAZONAS MARANHÃO
Teresina RIO GRANDE
CEARÁ DO NORTE
Natal
PIAUÍ PARAÍBA João Pessoa
PERNAMBUCO Recife
ACRE
Porto
Velho ALAGOAS
Rio SERGIPE Maceió
Branco Palmas
RONDÔNIA
TOCANTINS Aracaju
MATO
BAHIA
GROSSO
Salvador
DISTRITO
Cuiabá FEDERAL
Brasília
GOIÁS
Goiânia MINAS
GERAIS
MATO GROSSO
ESPÍRITO SANTO
DO SUL
OCEANO SÃO PAULO
Belo
Campo Grande Horizonte Vitória OCEANO
PACÍFICO
RIO DE JANEIRO ATLÂNTICO
Rio de Janeiro
PARANÁ São Paulo
apricórnio
Trópico de C
Curitiba
Descrição das fases Regiões SANTA CATARINA
da demarcação Região Norte Florianópolis
Declarada Região Nordeste RIO GRANDE
Homologada Região Centro-Oeste DO SUL Porto Alegre
Regularizada 0 230 460 km
Região Sudeste
Região Sul 1 : 23 000 000

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro, 2018. p. 107.

Etapa 6
Marcos Amend/Pulsar Imagens

A presidência da República faz a


homologação da área demarcada.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Etapa 7 DA EDITORA DO BRASIL
A Funai retira os ocupantes não
indígenas da área com o
pagamento de indenizações
quando for pertinente, e o Incra faz
o reassentamento dos ocupantes
não indígenas de acordo com
regras estabelecidas.
 Terra Indígena Enawenê-Nawê, Juína, MT, 2020.

Etapa 9
Etapa 8
A Funai, de forma simultânea ou não ao
A Funai realiza registro da Terra processo de demarcação, pode interditar
Indígena demarcada na Secretaria territórios indígenas, a fim de proteger
de Patrimônio da União. povos e grupos que vivam isolados.

Fonte: FUNAI. Entenda o processo de demarcação. Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/2014-02-07-13-24-53.


Acesso em: 8 ago. 2020.

Não escreva no livro. 73


Mídia

ESTUDO DE CASO: ETNOMÍDIA E A RÁDIO YANDÊ


CONTEXTO
Alguns representantes de povos indígenas são críticos a veículos da imprensa tradicional,
pois consideram que, muitas vezes, reproduzem e reforçam estereótipos dessas populações.

A imagem do indígena na sociedade, bem como na mídia ainda é carregada de olhar etnocên-
trico. O indígena não é valorizado, e os meios de comunicação têm uma tendência a fortalecerem
preconceitos contra os povos nativos, [...] A mídia, por ter poder de formar opiniões, termina, na
maioria das vezes, ajudando a desvalorizar esses grupos minoritários.
BATISTA, Daiane Nogueira; SILVA, Lucas Wilame Almeida da; SIMAS, Hellen Cristina Picanço. O outro lado do
índio: representações sociais na mídia. Revista Eletrônica Mutações, v. 6, n. 11, 2015. Disponível em:
https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/relem/article/view/1001/pdf. Acesso em: 9 ago. 2020.
Cassandra Cury/Pulsar Imagens

 Índio radialista da etnia terena


apresentando programa de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO rádio na Aldeia Córrego do
Meio, em Sidrolândia. Mato
DA EDITORA DO BRASIL Grosso do Sul, MS, 2015.

Com o auxílio do uso da internet, de computadores e smartphones, os povos indígenas


começaram a criar formas alternativas de expressão midiática como uma maneira de vincu-
lar suas vozes, identidades, culturas e reflexões sobre o mundo de forma mais direta, sem a
mediação de outros grupos de interesse, em um fenômeno conhecido como etnomídia.
Um exemplo é a rádio on-line Yandê, idealizada em 2013 por indígenas dos povos Tupinambá
e Baniwa:

A Rádio Yandê é educativa e cultural. Temos como objetivo a difusão da cultura indígena atra-
vés da ótica tradicional, mas agregando a velocidade e o alcance da tecnologia e da internet. Nos-
sa necessidade de incentivar novos “correspondentes indígenas” no Brasil, faz com que possa-
mos construir uma comunicação colaborativa muito mais forte, isso comparada às mídias tradi-
cionais de Rádio e TV.
Estamos certos, de que uma convergência de mídias é possível, mesmo nas mais remotas aldeias
e comunidades indígenas, e que isso é uma importante forma de valorização e manutenção cultural.
RÁDIO YANDÊ. Comunicação e etnomídia indígena. Disponível em: https://radioyande.com/a-radio.php.
Acesso em: 9 ago. 2020.

74 Não escreva no livro.


ANÁLISE
Para melhor compreender a formação, as características e as táticas de operação de um
veículo vinculado à etnomídia, você e seus colegas vão fazer um estudo de caso sobre a Rádio
Yandê. Reúnam-se em grupos e sigam as etapas.

Etapa 1: Coleta de dados


•• Busquem informações na internet sobre a formação da rádio: quem são os idealizadores;
como criaram o projeto para a rádio; as razões de terem escolhido a internet como forma
de veiculação dos programas; quanto tempo o projeto foi gestado antes do primeiro pro-
grama ir ao ar; como a rádio é financiada/sustentada; quais são os objetivos da rádio, qual
é o público-alvo etc.
•• Acessem ao site da Rádio Yandê, disponível em: https://radioyande.com (acesso em:
9 ago. 2020) e recolham informações sobre a programação da rádio: quantos progra-
mas são veiculados; quais são seus formatos; quais são as pautas abordadas com mais
frequência.
•• Escutem a um desses programas e anotem de que forma os locutores se comunicam, quais
são as notícias apresentadas e comentadas, quais são as fontes dessas notícias; etc.

Etapa 2: Organização dos dados


•• Façam uma tabela com o resumo das principais informações recolhidas, tendo como
objetivo ter um panorama de quais são os objetivos concretos da rádio e de que ma-
neira ela se organiza para atingi-los. Veja um exemplo da tabela que pode ser cons-
truída aqui:

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Quantidade de Tipos de Fontes das
Objetivos
DA EDITORA
Público-alvo
DO BRASIL
programas na programas na
Pautas debatidas na
informações
programação
grade grade apresentadas

Etapa 3: Elaboração do relatório


•• Façam um relatório descrevendo de que maneira a etnomídia é praticada na Rádio
Yandê, se ela parece atingir seus objetivos e público-alvo, e de que forma, e quais são
os aprendizados que a organização dessa rádio pode deixar para outros projetos de
etnomídia.

CONCLUSÃO
•• Em sala de aula, discutam com os colegas como foi o processo de investigação dessa rá-
dio, se chegaram às mesmas conclusões em seus relatórios e se acreditam que a etnomí-
dia pode ser uma ferramente importante na divulgação de pautas e reivindicações de
diversos grupos minoritários no Brasil.

Não escreva no livro. 75


Ocupar: as demandas históricas de minorias
pelo direito de viver
A formação do Brasil está fortemente atrelada à miscigenação dos diferentes povos que
imigraram ou que foram trazidos à força, assim como aqueles que habitavam estas terras
historicamente. A miscigenação, ao contrário do que o discurso da democracia racial apre-
senta, não foi um processo pacífico, que originou um povo aberto à diversidade. A colonização
e a fundação da sociedade brasileira ocorreram em meio à violência, ao extermínio e à sub-
jugação de povos e culturas, que, de algum modo, conseguiram resistir e sobreviver, ao longo
do tempo.
A principal força de trabalho do sistema colonial, o trabalho escravo de negros africanos,
embasou-se no deslocamento forçado de milhões de pessoas da África para a América Portuguesa.
A violência material e simbólica da escravização envolve diferentes âmbitos. É possível identifi-
car, em um primeiro momento, um componente ligado à desterritorialização social, cultural e
física, pois essas pessoas foram retiradas à força de seus locais de vivência para serem explo-
radas como mercadorias na América. Além disso, há o componente de apagamento, pelo olhar
do explorador, da cultura e da humanidade dessas pessoas, que eram tratadas pelos brancos,
principalmente os donos e os comerciantes de escravos, como seres inferiores.

Tráfico transatlântico
A escravidão no Brasil durou cerca de 300 anos e se findou a contragosto de uma elite escravocrata que defendia
que a libertação traria prejuízos econômicos irreversíveis. Veja na tabela a seguir alguns dados sobre o tráfico transa-
tlântico de pessoas escravizadas que foram transportadas à força do continente africano para as Américas.

AFRICANOS TRANSPORTADOS PELO TRÁFICO TRANSATLÂNTICO (SÉCULOS XVI AO XIX)

Africanos transportados (em milhares)


Origem do navio
Partiram da África Chegaram à América
Total 11 348,8 9 682,6

Inglaterra 3 536,2 3 009,4

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
América Inglesa/Estados Unidos 220,6 205,5

DACaribe
EDITORA
Inglês DO BRASIL 59,4 51,3

Portugal/Brasil 4 942,2 4 335,8

França 1 456,6 1 127,8

Holanda 533,5 449,5

Espanha 513,3 429,6

Dinamarca 82,0 69,7

Outros 5,0 4,0

IBGE. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 82.

• Com base na análise da tabela, responda às questões a seguir no caderno.


a) O número de escravizados transportados em navios brasileiros ou portugueses que chegaram à América é o maior
entre as nacionalidades apresentadas na tabela. Com base nesse dado, pesquise e comente a participação da
população negra africana e seus descendentes na formação da população brasileira, bem como a representati-
vidade desses povos na atualidade.
b) Os povos africanos que desembarcaram nas Américas eram originários de diferentes partes da África. Pesquise
quais eram esses diferentes grupos e quais as influências culturais trouxeram para as localidades em que desem-
barcaram e passaram a viver.

76 Não escreva no livro.


População negra: luta e memória
A subjugação da população negra, assim como a da indígena, não foi pacífica. Houve lutas
e resistências. Essa luta era operada por meio de diferentes ações, como fugas, sabotagem
a engenhos, furtos e organização em torno de quilombos. Um dos exemplos mais conhecidos
dessa resistência foi o quilombo dos Palmares.
Foram mais de 300 anos até que a abolição total da escravatura fosse assinada em 1888,
motivada por pressões internacionais e crises internas. Externamente, a Inglaterra, uma
das principais parceiras comerciais de Portugal, estava vivendo o auge da Revolução Indus-
trial e necessitava, de forma urgente, ampliar seu mercado consumidor para além dos
limites europeus. O contingente populacional brasileiro mantido escravizado e, portanto,
fora do mercado de consumo não atendia aos interesses expansionistas dos britânicos,
que pressionavam pela libertação e conversão dos escravizados em mão de obra assa-
lariada. Internamente, o aumento da imigração europeia tornava, a cada dia, mais lucra-
tiva a contratação dos imigrantes para atuar nas fazendas do que comprar e manter
pessoas escravizadas; o crescimento do movimento abolicionista e a pressão social gerada
também contribuíram para esse processo.
Apesar da abolição da escravatura, a população recém-libertada não foi integrada ao pro-
jeto modernizante da Primeira República. Nesse contexto, muitas pessoas, sem recursos
financeiros para adquirir terras e sem assistência política, migraram para áreas desprovidas
de infraestrutura, passando a ocupar, muitas vezes, locais impróprios para habitação. O sur-
gimento dos chamados aglomerados subnormais (popularmente conhecidos como favelas)
está relacionado a esse período. De acordo com o IBGE, um aglomerado subnormal é uma
forma de ocupação irregular em terrenos de propriedade alheia, sejam eles públicos ou pri-
vados, cuja finalidade é a habitação. Caracterizam-se, em geral, por apresentar padrão urba-
nístico irregular e carência de serviços públicos essenciais.

Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Jean-Baptiste Debret. Ganhadeiras no Rio de Janeiro em 1827, 1839. Litografia colorida. As escravizadas
ganhadeiras eram mulheres negras que prestavam serviços para seus senhores, circulando pela cidade de
forma um pouco mais livre. Muitas vezes, transmitiam recados de revoltas de escravizados, utilizando-se desse
“poder de mobilidade”.

Não escreva no livro. 77


A luta dos negros pela liberdade
Durante o período de escravidão, havia algumas formas de os escravizados serem liberta-
dos. Uma delas era a concessão da liberdade por seus donos, o que era algo bastante raro
de acontecer. Outra forma era a compra da alforria. Havia casos ainda de escravos que fugiam
para tentar uma vida livre do regime de exploração. Contudo, essas pessoas passavam a ser
fugitivas, podendo ser recapturadas e castigadas.
Aos que conseguiam fugir, uma das opções era buscar abrigo nos quilombos, locais de
refúgio para os africanos e seus descendentes escravizados.

As comunidades de fugitivos proliferaram no Brasil como em nenhum outro lugar, exatamen-


te por conta da capacidade deles de se articularem com as lógicas econômicas das regiões vizi-
nhas. Nunca isolados, [...] quilombos realizavam trocas econômicas tanto com escravos como
com a população livre: taberneiros, lavradores, faiscadores, garimpeiros, pescadores, roceiros,
camponeses, mascates, quitandeiras.
[...]
Mas os quilombos brasileiros foram sobretudo diversos, tanto espacial como temporalmente.
[...] Existiam quilombos que procuravam constituir comunidades independentes com atividades
camponesas integradas à economia local. Havia também os caracterizados pelo protesto reivin-
dicatório dos escravos, os quais se refugiavam nas terras da própria fazenda de seus senhores.
Havia ainda pequenos grupos de quilombolas que se dedicavam a assaltos às fazendas próximas.
Embora diferentes, os quilombos possuíam significados semelhantes tanto para os quilombolas
como para aqueles que permaneciam nas senzalas.
[...]
Normalmente, as comunidades quilombolas se situavam em terras de fronteiras econômicas
abertas. Eram protegidas pela geografia de uma dada região – entre rios, montanhas e florestas
– e igualmente por um sistema de defesa com paliçadas e estrepes.
GOMES, Flávio dos Santos. Quilombos/Remanescentes de quilombos. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES,
Flávio dos Santos. Dicionário da escravidão e liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. E-book.

Ao longo do tempo e, principalmente, após a abolição da escravidão, em 1888, os quilom-


bos se tornaram um lugar de memória da resistência da população negra. O estudo da his-
tória desses
MATERIAL locais também viabiliza o entendimento de como os negros conseguiram
DE DIVULGAÇÃO
preservar tradições originárias da África em seus modos de vida, mesmo diante da imposição
DA EDITORA
cultural DO BRASIL
europeia durante os anos de escravidão.

 Parque Memorial Quilombo dos Palmares, União dos Palmares, AL, 2019. O local preserva a memória do Quilombo
dos Palmares, que surgiu na Capitania de Pernambuco, na Serra da Barriga, e chegou a abrigar milhares de
escravizados que conseguiram fugir.
Marcelino Luis/Fotoarena

78 Não escreva no livro.


População quilombola na Constituição Cidadã
A resistência à repressão simbolizada pelos quilombos permanece nas lutas contempo-
râneas de parcelas da população negra, que permanecem engajadas pela reparação de
injustiças históricas. Pode-se mencionar, nesse contexto, algumas medidas de reparação
histórica, diante da manutenção de sistemas racistas, como a Lei de Cotas, sancionada em
2012. Embora esse tipo de política gere polêmicas entre defensores e pessoas contrárias,
certamente trouxe uma resposta às demandas de parte dessa população, que é historicamente
oprimida e excluída dos mais diversos espaços de participação e representação sociais.
Como visto anteriormente, a formação dos quilombos ocorreu de diferentes formas e em
diversos lugares. Em alguns casos, principalmente no contexto da escravidão, as terras que
abrigaram quilombos eram porções do território abandonadas, distantes e isoladas dos cen-
tros, justamente para dificultar o alcance e os ataques externos. Com o tempo, as comuni-
dades quilombolas foram se estabelecendo em outros espaços; alguns quilombos foram
formados até mesmo após a abolição da escravatura. A propriedade sobre as terras quilom-
bolas foi reconhecida pela Constituição, cujo processo de titulação ficou sob incumbência do
Estado.
É importante analisar as comunidades quilombolas como espaços de amplos significados,
pois também se constituíram como áreas de moradia e de resistência da população negra
para além do contexto da escravidão.
Ao longo do tempo, as comunidades de remanescentes de quilombolas vêm lutando pela
propriedade definitiva das terras ocupadas, principalmente diante da ameaça de invasão e
tomada de posse no contexto da expansão agropecuária, bem como da atividade de grileiros
e posseiros. Porém, a luta não é apenas pelo usufruto da terra, mas também pelo que ela
representa, enquanto memória e meio de sobrevivência.

Luciano Queiroz/Pulsar Imagens


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Comunidade Quilombola do Rio Novo em Mateiros. Tocantins, TO, 2019.

Não escreva no livro. 79


Incra

A apropriação da terra
O reconhecimento do direito à propriedade sobre as
terras tradicionalmente ocupadas pelas comunidades
quilombolas e a garantia de preservação da memória e
da cultura desses povos estão previstos na Constituição,
tendo sido conquistados, também, por meio de movi-
mentos populares dessas comunidades. A presença de
entidades do movimento negro na Constituinte, pressio-
nando por reconhecimento e participação, foi essencial
para que as demandas pudessem ser reconhecidas pelo
governo e pela sociedade, abrindo um caminho para que
a luta pela titulação das terras ocorresse com respaldo
legal. Porém, há diversas situações que ameaçam a per-
manência e a residência desses povos.
Embora muitas terras tenham efetivamente sido
reconhecidas como remanescentes de quilombos, a
parcela demarcada é de cerca de 7% apenas. São mais
de 1 500 processos tramitando no Incra; o extenso
processo pode colocar essas comunidades em situações
de vulnerabilidade diante das pressões exercidas no
campo brasileiro.
Algumas comunidades quilombolas da região ama-
zônica, por exemplo, estão em áreas que despertam
interesse por serem áreas de expansão agropecuária,
atraindo latifundiários e agricultores para a região.
Muitas vezes, os mecanismos de luta das comunidades
quilombolas são restritos, pois a demora na demarca-
ção do território e a falta de dispositivos que efetivem
a proteção dessas comunidades criam barreiras à sua
sobrevivência.
O reconhecimento da propriedade da terra das comu-
nidades quilombolas é uma garantia de que essas famí-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO lias e populações não serão forçadas a abandonar o local
DA EDITORA DO BRASIL por causa de pessoas que aleguem ser as proprietárias
desses espaços ou de iniciativas de construção de obras
de infraestrutura. Além disso, a titulação facilita o acesso
a serviços básicos, como saúde, educação, energia, abas-
tecimento de água etc.
O processo de titulação das terras quilombolas ocorre
segundo diversas etapas, a exemplo do que ocorre com
a demarcação de terras indígenas, esse processo pode
se prolongar por muito tempo, sobretudo quando ques-
tões econômicas e/ou políticas criam obstáculos ao
andamento da titulação. Veja no infográfico ao lado as
etapas da titulação de territórios quilombolas.
As contradições e os interesses divergentes que surgem
em cada uma das etapas do processo podem atrapalhar
e retardar por anos o encaminhamento da titulação.

Fonte: INCRA. Passo a passo da titulação de Território de


Quilombola (detalhe). Disponível em: http://www.incra.gov.br/
pt/passo_a_passo_quilombolas. Acesso em: 25 jul. 2020.

80 Não escreva no livro.


Resistência, Belo Monte e os povos indígenas do Xingu
As ameaças aos modos de vida tradicionais indígenas e quilombolas não emanam apenas de determinado agente.
Muitas vezes, há uma confluência de interesses, impulsionados pelas demandas do capital. É o caso da construção de
grandes obras de infraestrutura, como a hidrelétrica de Belo Monte, nas águas do Rio Xingu, iniciada em 2011, em
meio à Floresta Amazônica.

Lunae Parracho/Reuters/Fotoarena
Indígenas mundurucus protestam em frente ao Palácio do Planto em razão da construção da
hidrelétrica de Belo Monte. Brasília, DF, 2013.

Belo Monte pode deixar comunidades, animais e plantas


do Xingu sem água para sobreviver
[...]
Povos indígenas e ribeirinhos, peixes endêmicos e as mais diversas espécies de plantas podem sofrer impactos
irreversíveis por conta da falta de água na Volta Grande do Xingu (PA). Com o barramento definitivo do rio pela hidrelé-
trica de Belo Monte em 2015, o fluxo do Xingu passou a ser controlado pela empresa concessionária da usina [...] Com
isso, a quantidade, velocidade e nível da água diminuíram, alterando brutalmente o equilíbrio socioambiental na
região.
Indígenas, [...] e cientistas já comprovaram que essa medida, chamada de Hidrograma de Consenso, não é suficiente
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
para garantir a vida na região e pedem que seja revista.
Com apoio do ISA [Instituto Socioambiental] e dos indígenas, a Associação Interamericana para Defesa do Ambiente
DA EDITORA DO BRASIL
(AIDA) enviou [...] à Comissão Interamericana de Direitos Humanos um informe que detalha a situação de grave risco
socioambiental, e pede que o órgão solicite ao Estado brasileiro a suspensão imediata e a definição de uma medida
alternativa ao Hidrograma de Consenso.
[...]
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Belo Monte pode deixar comunidades, animais e plantas do Xingu sem água para sobreviver.
Disponível em: https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-xingu/belo-monte-pode-deixar-comunidades-animais-e
-plantas-do-xingu-sem-agua-para-sobreviver. Acesso em: 26 jul. 2020.

• Com base na leitura do texto, publicado em 2018, responda às questões no cadeno.


a) Pesquise na internet artigos de opinião que se posicionaram contra e a favor da construção dessa usina e elabo-
re um relatório reunindo argumentos favoráveis e contrários à obra.
b) Povos indígenas e quilombolas se encontram , muitas vezes, em situação de vulnerabilidade, pois estão inseridos
em contextos rurais de violência. Reúnam-se em grupos e pesquisem uma terra indígena ou comunidade quilom-
bola, buscando informações sobre sua localização, etapa da demarcação ou titulação da terra, e interesses favo-
ráveis e contrários ao reconhecimento desse local. Após concluírem a pesquisa, reúnam os dados e as informa-
ções e os apresentem para o restante da turma, dialogando sobre os modos de vida dessa comunidade e os even-
tuais conflitos que ameaçam sua existência.

Não escreva no livro. 81


Representatividade e participação política
Em um Estado democrático de direito como o Brasil, em que a representação popular nas
instâncias de decisão governamental é feita por meio de pessoas selecionadas diretamente
pelo povo, uma das formas de garantir direitos e a efetivação de dispositivos legais é pela
eleição de candidatos alinhados a essas demandas.
Por isso, a composição de um Congresso Nacional com mais representantes de minorias,
como de povos indígenas e quilombolas, é uma forma de fazer avançar pautas e temas liga-
dos a esses grupos da população, como a luta pela demarcação e posse de terras.

Segundo a professora da Escola de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio


de Janeiro (UNIRIO) Clarisse Gurgel, a força do poder econômico na política brasileira é um fator
determinante para a participação reduzida dos indígenas na vida institucional.
[...]
“Não é preciso ir aos rincões do Brasil para identificar a política do coronelismo. Mesmo em
uma metrópole como o Rio, isso é observado. Mas, em regiões que concentram reservas indíge-
nas, como o Norte, essa realidade é muito agravada. Num contexto em que os índios estão pau-
perizados e criminalizados, a penetração na política se faz refém dessas práticas de pirataria da
política”, diz.
A cientista política chama a atenção, ainda, para os efeitos da ausência de representantes in-
dígenas entre os tomadores de decisões. “Eles não participam do debate público e ficam sem
condições de enfrentar interesses prejudiciais a si próprios, [...]. Além disso, não conseguem dis-
putar recursos públicos para auxiliar em sua luta. [...].
Na política local, o cenário é similar, mesmo em cidades onde reside um número expressivo
de povos nativos. Nas eleições municipais de 2016, 28 indígenas se candidataram a prefeituras
e cinco conseguiram se eleger. Nas câmaras de vereadores, foram 167 eleitos em um universo
de 1.531 postulantes. O último censo demográfico realizado pelo IBGE, em 2010, apontava que
a população indígena no Brasil totalizava 896,9 mil pessoas.
TERRA. O que afasta os indígenas da política? Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/
brasil/o-que-afasta-os-indigenas-da-politica,97fb9231d216f66192e6ed8b27998dfehdq1fxz5.html.
Acesso em: 19 ago. 2020.

Segundo
MATERIAL DE oDIVULGAÇÃO
Tribunal Superior Eleitoral, em 2016 apenas 0,34% dos candidatos às elei-
ções municipais se declararam indígenas. Em relação aos que se declararam negros, essa
DA EDITORA DO BRASIL
parcela foi de 8,65%. O total de negros nesses meios contrasta com outro dado do IBGE,
o qual revela que mais da metade da população se declara preta ou parda. Trata-se,
portanto, de construir um processo democrático em que as instituições que o compõem
reflitam sua sociedade e suas demandas.
Portanto, o baixo número de candidaturas indí-
genas e negras se relaciona principalmente ao
João Alvarez/Fotoarena

processo de marginalização a que esses grupos


foram submetidos historicamente. Ainda hoje, as
taxas de analfabetismo, por exemplo, são maiores
entre a população preta ou parda. A luta dessas
pessoas para que sejam reconhecidas e tenham
acesso a espaços de educação, de representação,
de decisão etc., é a luta que se constituiu ao longo
do tempo pelo direito de existir.

 Em 2018, Joenia Wapichana (1974-) foi eleita deputada


federal pelo estado de Roraima, tornando-se a primeira
mulher indígena a ocupar esse posto no Congresso
Nacional. Brasília, DF, 2019.

82 Não escreva no livro.


Atividades

1. Na história recente, tramitaram diferentes dispositivos com o objetivo de alterar a forma


de demarcação das terras indígenas e titulação das terras quilombolas. São eles: a Pro-
posta de Emenda Constitucional n. 215, de 2000, e a Medida Provisória n. 886 de 2019.
Pesquise informações sobre esses dispositivos e registre, no caderno, os impactos que a
aprovação dessas alterações poderia significar para os povos indígenas e quilombolas.
2. Analise a charge e depois faça o que se pede.

© Gilmar
a) Qual é a situação retratada na charge?
O que a fala do personagem “Eles estão
chegando!” expressa?
b) Em grupo, discuta com os colegas a im-
portância da valorização e da manuten-
ção dos modos de vida indígenas em
seus espaços de ocupação, contrapon-
do as formas de relação com a natureza
das sociedades indígenas, em geral, às
não indígenas.

Charge de Gilmar publicada em 2019.

3. Leia o trecho a seguir, de uma entrevista com Edson Kayapó, doutor em História pela
Universidade de São Paulo, cedida ao Centro de Informação das Nações Unidas para o
Brasil (Unic Rio).
[...]
“Os livros de história são perniciosos porque eles ensinam que tudo começou em 1500, e os mi-
lhares de anos antes disso são apagados. Os portugueses e europeus admitem que havia pessoas
aqui e que eles tiveram dificuldade de reconhecê-las como humanos. Quando as reconheceram,
chamaram todos de índio. Esse nome, definitivamente, não representa a nossa diversidade”
[...]
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
ONU. “Índio, nome dado pelos europeus, não representa nossa diversidade”, diz historiador Edson Kayapó.
DA EDITORA DO BRASIL
Disponível em: https://nacoesunidas.org/indio-nome-dado-pelos-europeus-nao-representa-nossa
-diversidade-historiador-edson-kayapo/. Acesso em: 26 jul. 2020.

•• O termo “índio” foi utilizado pelos colonizadores europeus como forma de desginar
todos os povos que viviam nas terras das Américas. Levando em consideração a fala
de Edson Kayapó, o que esse termo revela sobre a visão do colonizador em relação aos
povos originários? Justique sua resposta.
4. Representação política nos espaços formais de poder pode ter um significado extrema-
mente relevante quando se trata da luta pela garantia de direitos e atendimento a deman-
das e necessidades de grupos da população. Nesse contexto, a presença de indivíduos
de grupos minoritários deveria ser uma constante em sociedades democráticas como a
brasileira, mas a realidade não costuma ser essa.
a) Em sua opinião, qual a importância da representatividade de populações como indí-
genas e afrodescendentes nos espaços de legislação política?
b) A representatividade se baseia apenas em questões étnicas ou sociais? Como garan-
tir equidade política em um contexto desigual como o brasileiro? Discuta com seus
colegas.

Não escreva no livro. 83


3
UNIDADE

Em busca da cidadania

CIDADANIA E DIREITOS
O significado do conceito de cidadania, como tantos outros do campo social, passou e
ainda passa por transformações, pois está condicionado à organização e ao funcionamento
das sociedades humanas. Cidadania, do latim civitas, significa “cidade” ou “conjunto de
direitos atribuídos a um cidadão”. O termo em grego equivalente à cidadania é pólis, sendo
cidadão aquele que pertence à cidade ou que é nela reconhecido. Na Grécia Antiga, durante
o período socrático, séculos V a.C.- IV a.C., a democracia grega em Atenas, passou por um
importante desenvolvimento com a figura política do cidadão como indivíduo livre, autônomo
e participante da vida pública. Aos cidadãos cabia o direito de debater os destinos da coleti-
vidade. Os filósofos Platão (428 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) escreveram
importantes obras que abordam essa questão.
Victoria and Albert Museum, Londres

 Rafael Sanzio. Paulo dando


um sermão em Atenas,
c. 1515 -1516. Têmpera
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO sobre tela, 390 cm × 440 cm.
DA EDITORA DO BRASIL A imagem retrata um episódio
da tradição cristã em que
Paulo se pronuncia no
areópago, tribunal de
justiça ateniense.

As concepções de cidadania
Na obra A república, Platão delineia um modelo de cidade ideal, em que os cidadãos estariam
unidos em torno do que consideram o bem comum. Eles deveriam ser capazes de alcançar um
alto grau de bondade e civilidade, dedicando-se ao funcionamento da vida coletiva, com base
em suas aptidões naturais e no uso público de sua razão, a fim de deliberar junto a seus pares
os destinos da cidade. Esse modelo de cidadão ideal era o objetivo da paideia, que designava
o processo educativo que proporcionava ao indivíduo grego a formação que o constituiria como
cidadão ideal por meio de um programa de estudos que incluía ginástica, música, escrita e
leitura de grandes poetas. O resultado da paideia era a formação de um cidadão capaz de
assumir a participação no espaço público.
Na obra de Aristóteles, a definição de cidadão é dada com mais precisão. Em A política, ele
define como cidadãos aqueles que nascem em determinada cidade. O fato de ter nascido de
pais cidadãos não era suficiente para alguém receber esse título. O que fazia um cidadão era o
direito de voto nas assembleias e de participação no exercício do poder público em sua pátria.

84 Não escreva no livro.


Multipedia/Shutterstock.com

 A ágora era um local público da pólis em que os cidadãos discutiam questões políticas e realizavam seus tribunais.
Na foto, ruínas da ágora da antiga cidade grega de Pérgamo, Turquia, 2019.

Para Aristóteles, estavam excluídos da categoria de cidadão os escravos, as crianças, os


idosos, as mulheres e os estrangeiros. Havia distinções entre o espaço público da pólis e o
espaço privado, tomando por ideal o universo público da cidade. O espaço privado era cons-
tituído pela família, que garantia a sobrevivência, o atendimento de necessidades humanas
particulares e era responsável pela formação ética individual do sujeito. O espaço público
caracterizava-se pela associação de cidadãos com o objetivo de promover o bem comum.
Foi no século XVIII, com o movimento cultural do Iluminismo, que surgiu a concepção con-
temporânea de cidadania, definida como o direito do livre exercício da vontade individual segundo
leis garantidas pelo Estado. Os filósofos que contribuíram para o estabelecimento das bases do
que seria cidadania e de quem seria cidadão foram o inglês John Locke (1632-1704) e o genebrino
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Locke defendia a existência de um estado de natureza,
Dotta

no qual o ser humano vivia antes da criação da sociedade


civil. Nesse estado, o indivíduo era submetido às leis da
natureza, não sendo ainda considerado cidadão. Com a
passagem do estado de natureza para a sociedade civil,
o poder político expressa-se
MATERIAL por meio de uma pessoa ou
DE DIVULGAÇÃO
grupo encarregado de administrar os interesses dos
DA EDITORA DO BRASIL
membros da sociedade. O conceito de cidadania estava
relacionado ao poder político e aos direitos dos indivíduos
na sociedade civil, que, por sua vez, eram ligados à
quantidade de bens materiais que o indivíduo possuía,
indicando um uso diferenciado da racionalidade. Quanto
 O Portal da Transparência é um site dedicado a tornar
mais propriedades, maior era o uso da racionalidade e públicas todas as despesas do governo federal. Nele é
do exercício de poder político, e mais intenso o exercício possível fiscalizar tais gastos, agindo como o cidadão ideal
da cidadania. de Rousseau. Foto de 2020.

Para Rousseau, que também defendia a existência do estado de natureza, os membros de


uma sociedade civil eram designados como cidadãos, uma vez que participavam da autoridade
soberana e davam seu consentimento às leis propostas pelo corpo político, além de fiscalizar
o governo e seus representantes, com o objetivo de que eles não se distanciassem da vontade
geral. Essa vontade geral era a de muitos, e não a vontade de todos. Rousseau afirmava que,
na sociedade civil, o cidadão, embora soberano por ocasião da elaboração das leis, não estava
acima delas, mas era delas um súdito. A existência do cidadão estava condicionada à liberdade
do indivíduo. A cidadania era, para Rousseau, decorrente da existência de um ser moral
caracterizado pela ligação moral com a cidade. Essa conexão acontecia por meio do ativismo
dos cidadãos, presente no processo de formação das leis.

Não escreva no livro. 85


A cidadania nos tempos atuais
No século XX, o filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (1929-) se debruçou sobre
o conceito de cidadania. Na década de 1990, em que o mundo assistia à intensificação do
processo de globalização, Habermas se preocupou em analisar a questão da cidadania em
relação à incorporação de grupos minoritários que demandam reconhecimento de sua iden-
tidade no seio das sociedades atuais. Se antes, para os gregos, cidadão era quem nascia na
cidade, como pensar assim em um contexto de globalização e de fortes processos migratórios?
O indivíduo forma sua opinião e exerce sua cidadania enquanto convive com estrangeiros e
mantém-se informado sobre os fatos de seu país e dos demais. O conceito de cidadania em
Habermas é compreendido como uma fonte de legitimação para a implementação dos méto-
dos democráticos inclusivos e tem função social integrativa, devendo ser entendido como
cidadania democrática, que prepara o caminho para o status de cidadão do mundo.
De acordo com a filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-), cidadão é o indivíduo situado
no tecido das relações sociais, portador de direitos e deveres, que interage com a esfera
pública do poder e das leis. Ele é também membro de uma classe social, definido por sua
situação e posição, portador e defensor de interesses específicos de seu grupo ou de sua
classe, que se relaciona com a esfera pública do poder. Segundo a autora, o fato de sermos
designados como cidadãos faz com que, teoricamente, todos tenhamos os mesmos direitos
sociais, econômicos, políticos e culturais assegurados pela Constituição. Porém, na prática,
a aplicação desses direitos e, consequentemente, da cidadania de determinados grupos não
acontece. Para a maioria da população, ser eleitor e pagar impostos e taxas são suficientes
para tornar alguém cidadão, sem que sejam levadas em consideração as condições concre-
tas que fazem alguns serem mais cidadãos que outros.

Direitos, um símbolo da democracia


Durante a democracia ateniense, três direitos fundamentais foram criados: igualdade,
liberdade e participação no poder. Igualdade significava que, perante as leis e os costumes
da pólis, todos os cidadãos são tratados da mesma maneira. Para Aristóteles, a primeira tarefa
da justiça era igualar os desiguais por meio da redistribuição de riquezas ou pela garantia de
participação política.
O filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) afirmava que a igualdade só se converteria em
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
direito concreto à medida que não existissem mais escravizados, servos e assalariados explo-
rados. De acordo com Marilena Chaui, a observação de Marx lança luz à ideia de que apenas
DA EDITORA DO BRASIL
a declaração do direito à igualdade não fazia desaparecer as desigualdades, mas abria campo
para que as sociedades a reivindicasse como direito real.
O direito à liberdade significava que todos os cidadãos podiam expor em público suas opi-
niões, vê-las aprovadas ou rejeitadas pela maioria. Na contemporaneidade, o conceito de
direito à liberdade se ampliou e passou a designar o direito à escolher uma profissão, o local
de moradia, o tipo de educação, a pes-
Nacho Doce/Reuters/Fotoarena

soa com quem se casar etc.


O direito de participação no poder
significa que todos os cidadãos estão
aptos a participar das discussões e
deliberações públicas.

 Mulheres indígenas de mãos dadas em


frente ao Congresso Nacional durante
protesto em defesa dos direitos culturais
e das terras indígenas. Brasília, DF, 2019.

86 Não escreva no livro.


Direitos humanos, uma conquista constante
Em 1948, três anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, na Assembleia Geral das
Nações Unidas (ONU), em Paris, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
que delineia quais são esses direitos. Entre eles, os direitos à liberdade, à dignidade, à vida, à
segurança pessoal, a não ser colocado em condição de escravidão e nem submetido à tortura.
O princípio de orientação para a criação dos direitos humanos era a não violência, dado que o
documento foi proclamado logo depois das atrocidades cometidas durante a guerra.
Direitos humanos são compreendidos como inerentes a todo e qualquer ser humano inde-
pendentemente de cor, sexo, nacionalidade, etnia, idioma ou qualquer outra condição. Eles
protegem indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na
dignidade humana. Pautados na ideia de respeito pela dignidade e valor de cada pessoa, os
direitos universais devem ser aplicados a todos de forma igual e sem discriminação. Além disso,
são inalienáveis, ninguém pode ser privado
Jonathan Nackstrand/AFP
deles; mas ainda assim podem ser limita-
dos em situações específicas: o direito à
liberdade pode ser restringido se uma pes-
soa for considerada culpada de um crime
diante de um tribunal por um processo
legal. Os direitos humanos são indivisíveis,
inter-relacionados e interdependentes, não
existe a possibilidade de alguns deles serem
respeitados e outros não.
Para o filósofo e historiador do pensa-
mento político italiano Norberto Bobbio
(1909-2004), os direitos humanos, ape-
sar de desejáveis, ainda não foram ple-
namente reconhecidos em sua totalidade.
Como direitos históricos, eles são mu-  Homem em manifestação relacionada à celebração do Dia do Trabalho segura
táveis e suscetíveis a transformações um cartaz com os dizeres: “Os direitos humanos são para todos os humanos”.
e ampliações. Estocolmo, Suécia, 2018.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DADEEDITORA
OUTRO PONTO VISTA DO BRASIL
Leia abaixo um trecho da obra As origens do totalitarismo, da filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975). Nele, a
autora expressa como foi a recepção da Declaração dos Direitos do Homem, de 1789.

Os Direitos do Homem, afinal, haviam sido definidos como “inalienáveis” porque se supunha serem independen-
tes de todos os governos; mas sucedia que, no momento em que seres humanos deixavam de ter um governo próprio,
não restava nenhuma autoridade para protegê-los e nenhuma instituição disposta a garanti-los. Ou, quando, como no
caso das minorias, uma entidade internacional se investia de autoridade não governamental, seu fracasso se eviden-
ciava antes mesmo que suas medidas fossem completamente tomadas; não apenas os governos se opunham mais ou
menos abertamente a essa usurpação de sua soberania, mas as próprias nacionalidades interessadas deixaram de
reconhecer uma garantia não nacional, desconfiando de qualquer ato que não apoiasse claramente os seus direitos
“nacionais” [...]
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 397.

1. Segundo a autora, qual teria sido razão do fracasso da Declaração dos Direitos do Homem e, consequentemen-
te, da Declaração Universal dos Direitos Humanos?
2. Junte-se a seus colegas e produzam um documento que estabeleça direitos e deveres daqueles que fazem
parte da comunidade escolar.

Não escreva no livro. 87


Conexões

BIOÉTICA
Atualmente, existem diversas discussões sobre a ética em pesquisas científicas, sobretu-
do quando se trata de experimentos envolvendo animais e seres humanos. Quais seriam os
limites desses experimentos? Extrapolá-los seria justificável diante da descoberta da cura
ou da vacina para uma doença altamente contagiosa?
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os alemães nazistas empreenderam
pesquisas científicas com prisioneiros de guerra, submetendo-os a torturas e levando mui-
tos à morte. Esses experimentos levaram a algumas descobertas sobre o funcionamento
do organismo humano, mas são considerados criminosos, antiéticos e desrespeitosos aos
direitos humanos.
Por causa de acontecimentos como esse, de pesquisas ligadas ao mapeamento do geno-
ma humano e dos testes em animais, conceitos como o de bioética se desenvolveram e
estimularam a reflexão acerca dos impactos das pesquisas empreendidas em prol do pro-
gresso científico. É necessário levar em conta seus métodos, de forma que se garanta o res-
peito aos direitos básicos dos pacientes e daqueles que se submetem aos testes.
Leia um trecho da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, texto referen-
dado por países-membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura (Unesco), em que alguns dos princípios da bioética são definidos.

Artigo 3 – Dignidade Humana e Direitos deve ser adequada, fornecida de uma forma com-
Humanos preensível e incluir os procedimentos para a re-
a) A dignidade humana, os direitos humanos tirada do consentimento. O consentimento pode
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
e as liberdades fundamentais devem ser respei- ser retirado pelo indivíduo envolvido a qualquer
tados em sua totalidade. hora e por qualquer razão, sem acarretar qual-
DA EDITORA DO BRASIL quer desvantagem ou preconceito. Exceções a
b) Os interesses e o bem-estar do indivíduo
este princípio somente devem ocorrer quando
devem ter prioridade sobre o interesse exclusi-
em conformidade com os padrões éticos e legais
vo da ciência ou da sociedade.
adotados pelos Estados, consistentes com as pro-
Artigo 4 – Benefício e Dano visões da presente Declaração, particularmente
Os benefícios diretos e indiretos a pacientes, com o Artigo 27 e com os direitos humanos.
sujeitos de pesquisa e outros indivíduos afeta- c) Em casos específicos de pesquisas de-
dos devem ser maximizados e qualquer dano senvolvidas em um grupo de indivíduos ou
possível a tais indivíduos deve ser minimizado, comunidade, um consentimento adicional dos
quando se trate da aplicação e do avanço do co- representantes legais do grupo ou comunida-
nhecimento científico, das práticas médicas e de envolvida pode ser buscado. Em nenhum
tecnologias associadas. caso, o consentimento coletivo da comunida-
[...] de ou o consentimento de um líder da comu-
Artigo 6 – Consentimento nidade ou outra autoridade deve substituir o
consentimento informado individual.
[...]
DECLARAÇÃO Universal sobre Bioética e Direitos
b) A pesquisa científica só deve ser realizada
Humanos. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.
com o prévio, livre, expresso e esclarecido con- br/bvs/publicacoes/declaracao_univ_bioetica_dir
sentimento do indivíduo envolvido. A informação _hum.pdf. Acesso em: 30 ago. 2020.

88 Não escreva no livro.


ATIVIDADES
1. Quais são as implicações da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, como
princípio regulador das atitudes humanas em pesquisas científicas e ações médicas?
2. Leia o texto abaixo que descreve o experimento de cientistas nazistas em prisioneiros de
guerra russos durante a Segunda Guerra Mundial.

“Camarada, por favor, peça ao oficial que acabe conosco com uma bala”, suplicou o sol-
dado russo. Depois de 3 horas dentro de um tanque de água gelada, ele já não suportava
mais a sensação de congelamento no corpo. [...]
Quando o cientista responsável pelo experimento descobriu o significado das palavras de
suas cobaias, retirou-se para o escritório. Voltou com um revólver na mão. Não para atender
ao pedido do soldado, mas para ameaçar seus assistentes na experiência. “Não se introme-
tam. Nem se aproximem deles!” Passaram-se mais duas horas de agonia antes que o alívio
da morte chegasse para os russos. Assim como eles, pelo menos outros 300 prisioneiros dos
nazistas foram usados em experimentos destinados a entender os efeitos do frio no organis-
mo – a hipotermia. A maioria não teve a sorte de um final rápido. Ao chegarem ao limite entre
a vida e a morte, eram reanimados e expostos novamente a temperaturas baixas.
[...]
As pesquisas sobre hipotermia, por exemplo, além de matar centenas de prisioneiros
do campo de Dachau, produziram dados que alguns cientistas gostariam de usar em pes-
quisas atuais. Robert Pozos, diretor do Laboratório de Hipotermia da Universidade de
Minnesota, nos EUA, é um deles. Ele estuda como o corpo responde ao frio para descobrir
a melhor maneira de reanimar pessoas que cheguem quase congeladas aos hospitais. Mas
seu trabalho enfrenta um problema: muitas de suas pesquisas não podem ser concluídas,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
pois os voluntários podem morrer quando sua temperatura cai abaixo de 36 ºC. A única
fonte conhecida de dados sobre pessoas nessas condições são os experimentos nazistas.
DA EDITORA DO BRASIL
É ético utilizá-los para salvar vidas? Pozos acha que sim. Mas o respeitado periódico mé-
dico New England Journal of Medicine se recusou a publicar a pesquisa.
Para enfrentar essa delicada questão, é necessário encarar o legado científico do na-
zismo, desconhecido até pouco tempo atrás. Estudos recentes, porém, lançaram nova luz
em direção ao que sabemos sobre a ciência no período. Afinal, houve experimentos de
qualidade no nazismo? O que acontece com a ciência sob um regime tão desumano?
[...]

REZENDE, Rodrigo. Doutores da agonia: por dentro da ciência nazista. Superinteressante, Ciência, 18 jan.
2019. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/doutores-da-agonia/. Acesso em: 28 jul. 2020.

a) Você acha que essas pesquisas são relevantes e válidas ainda que os resultados
sejam obtidos com métodos como os relatados? Justifique sua resposta.
b) Com base na leitura do texto e nos seus conhecimentos sobre a Declaração Uni-
versal sobre Bioética e Direitos Humanos, escreva um artigo de opinião sobre a
prática de pesquisas que não levam em conta o sofrimento das pessoas submetidas
a essas experiências.

Não escreva no livro. 89


Direitos sociais, um caminho para realizar a justiça
Os direitos sociais formam o complexo de princípios e normas que, por meio do Estado, tem
como objetivo o bem comum e a realização da justiça nas relações dos grupos sociais, assegu-
rando o atendimento às necessidades vitais ao indivíduo e àqueles que pertencem à sua famí-
lia. Trata-se de direitos substantivos ou materiais que fazem parte da rotina do indivíduo em
suas relações sociais, dado que o ser humano é compreendido em sua realidade concreta como
membro de diferentes grupos, como a família, a Igreja, o sindicato, a escola e a universidade.
A gênese da efetivação dos direitos sociais se deu entre os séculos XVIII e XIX, durante a
Revolução Industrial na Europa, período em que a classe operária reivindicava melhores
condições de trabalho. O descontentamento dessa classe fortaleceu a necessidade da criação
de direitos que protegessem os trabalhadores. A partir de então, diversos países adotaram
a prática de pensar leis que protegessem não apenas os operários, mas todos aqueles que
fazem parte do corpo político e social do Estado. O documento que assegura a legalidade dos
direitos sociais em um país é a Constituição.
No Brasil, os direitos sociais dos cidadãos estão atualmente assegurados pela Constituição
Federal, que estipula que são direitos sociais: “a educação, a saúde, a alimentação, o traba-
lho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à materni-
dade e à infância, a assistência aos desamparados”.
Para Bobbio, as exigências de direitos sociais passam a ser tão mais numerosas quanto
mais rápidas e profundas forem as transformações sociais. O autor exemplifica que, assim
como as exigências de proteção social nasceram com a Revolução Industrial, é provável que
o desenvolvimento técnico e econômico da sociedade contemporânea traga consigo novas
demandas por direitos sociais que, no momento, não somos capazes de prever.

DihandraPinheiro/Shutterstock.com
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

O acesso ao transporte público de qualidade é um direito social do cidadão brasileiro. Na foto, estação de trem em São Paulo, SP, 2019.

90 Não escreva no livro.


Bobbio também aponta a diferença entre os direitos sociais e aqueles propostos pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Estes preveem a noção de igualdade entre os
indivíduos para a efetiva garantia dos direitos; aqueles admitem diferenças entre grupos de
indivíduos e as consideram relevantes. Só de modo genérico se pode afirmar que todos são
iguais com relação aos três direitos sociais fundamentais (ao trabalho, à educação e à saúde).

[...] os direitos do homem constituem uma classe variável, como a história destes últimos sécu-
los demonstra suficientemente. O elenco dos direitos do homem se modificou, e continua a se mo-
dificar, com a mudança das condições históricas, ou seja, dos carecimentos e dos interesses, das
classes no poder, dos meios disponíveis para a realização dos mesmos, das transformações técni-
cas, etc. Direitos que foram declarados absolutos no final do século XVIII, como a propriedade sacre
et inviolable, foram submetidos a radicais limitações nas declarações contemporâneas; direitos que
as declarações do século XVIII nem sequer mencionavam, como os direitos sociais, são agora pro-
clamados com grande ostentação nas recentes declarações. Não é difícil prever que, no futuro, po-
derão emergir novas pretensões que no momento nem sequer podemos imaginar [...]
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 13.

Direitos individuais: por uma existência digna


Direitos individuais são aqueles que reconhecem a autonomia dos indivíduos no seio de
uma sociedade, garantindo-lhes a existência digna, o desenvolvimento de potenciais, a ini-
ciativa e a independência diante dos demais membros do corpo social e político. Eles têm
como fundamento os direitos expressos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,
pois foi a partir dela que tratados e planos de ações da ONU reconheceram novos sujeitos de
direito – como mulheres, crianças, idosos, negros e indígenas – e incluíram em suas pautas
novas questões, como racismo, saúde, meio ambiente e violência doméstica.
No Brasil, os direitos individuais estão previstos no artigo 5o da Constituição de 1988. São
eles: o direito à vida; o direito à intimidade; o direito de igualdade; o direito de liberdade; e o
direito de propriedade. Embora alguns direitos presentes nesse artigo apareçam como coletivos,
alguns deles, como a liberdade de reunião e de associação, são, na verdade, direitos individuais
de expressão coletiva.
Também são caracterizados como direitos individuais aqueles relacionados aos elementos
MATERIAL
imateriais que ganharamDE DIVULGAÇÃO
importância no texto da Constituição. São eles: direito à honra, ao
nome, à reputação e à imagem, que
DA EDITORA DO BRASIL integram a personalidade moral dos indivíduos; direito
à privacidade, que envolve a intimidade de cada um; direito às relações familiares e afetivas;
direito aos hábitos pessoais; direito ao domicílio, que não pode ser penetrado pelos demais
sem o consentimento do morador; direito à correspondência e a seu sigilo.

 Mutirões para a construção de casas populares são uma das formas encontradas para garantir o direito à moradia para
a população. Moradias populares do Conjunto Residencial Vale Verde, Guaxupé, MG, 2019.
João Prudente/Pulsar Imagens

Não escreva no livro. 91


Os conceitos de justiça, igualdade e equidade
Apesar de os direitos serem iguais para todos, nem sempre conseguem atender a todos
igualmente, em razão das particularidades de determinados indivíduos. Em função dessas
particularidades existem direitos específicos para corrigir desigualdades, com o objetivo de
atingir a justiça social.
O conceito de igualdade é um dos princípios fundamentais do liberalismo do século XVIII.
John Locke, representante do liberalismo clássico, defendia a ideia de que os homens eram
todos iguais em seu estado de natureza. Mas isso não significava toda e qualquer espécie de
igualdade. Na ideologia dos séculos XVIII e XIX, admitia-se a desigualdade social entre os
homens decorrente de méritos, dotes, nascimentos e outros.
Com a Revolução Francesa (1789-1799), o conceito de igualdade passou a expressar um
princípio fundamental para as sociedades, tornando-se uma ferramenta para a ampla parti-
cipação política dos cidadãos. A construção dos direitos humanos trouxe consigo a afirmação
de uma igualdade formal, sob o lema de que “todos são iguais perante a lei”. Essa aplicação
universalizada da lei pode resultar em injustiças sociais. Por isso, tornou-se insuficiente tra-
tar o indivíduo apenas pela igualdade formal, sendo necessário especificar quem é o sujeito
de direito e quais são suas particularidades. Em alguns casos, determinados indivíduos em
uma sociedade ou determinadas violações de direitos exigem uma resposta específica e
diferenciada para corrigir desigualdades, falta de oportunidades e discriminações. Ao fazer
esse exercício de análise da sociedade e dos indivíduos que a compõem, com o objetivo de
efetuar correções necessárias e adequadas às necessidades específicas de cada um, busca-
-se não apenas igualdade, mas também equidade.
Para Aristóteles, o conceito de equidade designa a qualidade que permite dizer que uma
pessoa está predisposta a fazer aquilo que é justo, e, quando se trata de repartir alguma coisa
entre ela mesma e outra pessoa, dispõe-se a não dar demais a si mesma e pouco à outra, e
sim dar a cada uma o que é proporcionalmente igual. Segundo o pensador, ter muito pouco
é ser tratado injustamente, e ter demais é agir injustamente. Dessa forma, equidade e justiça,
no pensamento aristotélico, representam ideias próximas. No entanto, a qualidade do equi-
tativo é ser o mais justo, não apenas de acordo com a lei, mas sim como correção da justiça
legal. Com base nisso, compreende-se que o princípio da equidade exige o reconhecimento
de desigualdades entre os indivíduos para a garantia de um tratamento mais atento aos
MATERIAL
desiguaisDEnaDIVULGAÇÃO
busca da igualdade.
DA EDITORA DO BRASIL

Ronaldo Almeida/Tyba

 A desigualdade pode ser percebida nas diferenças de moradia e de acesso a serviços entre pessoas com maior e
menor poder aquisitivo. Na foto, bairro de alto padrão vizinho a uma comunidade em Juiz de Fora, MG, 2017.

92 Não escreva no livro.


Os conceitos de equidade e de igualdade constituem valores fundamentais para a cons-
trução de políticas públicas voltadas para a promoção da justiça social. Igualdade e equidade
não se separam de fato e apresentam os devidos procedimentos e políticas de correção para
que a justiça social seja efetivamente realizada.
As discriminações de gênero, orientação sexual, etnia, entre outras, unidas à falta de
oportunidades, traduzem a complexa realidade de diversos países e compõem um ciclo de
exclusão social. É quando se faz necessário o surgimento das chamadas ações afirmativas:
medidas políticas que têm como objetivo findar a exclusão social, cultural e econômica de
indivíduos pertencentes a grupos que sofrem qualquer tipo de discriminação. Tais medidas
se fundamentam no conceito de igualdade e, de forma compensatória, asseguram, por meio
de diferentes auxílios, a equidade ao estimularem a inserção, a inclusão e a participação
política de indivíduos pertencentes a grupos vulneráveis em determinados espaços sociais.
As ações afirmativas objetivam a formalização da justiça social por meio dos princípios da
igualdade e da equidade, combatendo desigualdades sociais e garantindo o acesso de indi-
víduos que, de outro modo, ficariam excluídos de alguns direitos. A adoção de políticas afir-
mativas é, portanto, o caminho para minimizar a discriminação e a exclusão social, cultural
e econômica de determinados indivíduos e promover a justiça.

Luciano Claudino/Código19/Futura Press

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

Faixa em apoio à implementação das cotas étnico-raciais em Campinas, SP, 2017.

Para a filósofa estadunidense Nancy Fraser (1947-),


NICOLAS LAMBERT/BELGA PHOTO/AFP

o conceito de justiça social está aliado a outros dois:


reconhecimento e redistribuição. O conceito de redis-
tribuição deriva da tradição liberal, significando re-
distribuição material, e parte da compreensão de que
parcela significativa dos problemas sociais está na
resolução das desigualdades por meio de um sistema
que torne possível operar uma lógica mais equitativa
de distribuição de bens ou de recursos aos indivíduos.  A filósofa
Já o conceito de reconhecimento deriva da filosofia do contemporânea
alemão Georg W. F. Hegel (1770-1831) e designa uma Nancy Fraser na
Universidade de
relação recíproca ideal entre indivíduos, na qual cada Lieja, Bélgica,
um vê o outro como seu igual e seu diferente. 2015.

Não escreva no livro. 93


Igualdade, equidade e justiça
É possível compreender os conceitos de igualdade, equidade e justiça de diferentes formas. Leia o texto de Aristó-
teles sobre esse tema.

[...]
O assunto que se segue é a equidade e o equitativo [...] e respectivas relações com a justiça e o justo. Porquan-
to essas coisas não parecem ser absolutamente idênticas nem diferir genericamente entre si; e, embora louve-
mos por vezes o equitativo e o homem equitativo [...], em outras ocasiões, pensando bem, nos parece estranho
que o equitativo, embora não se identifique com o justo, seja digno de louvor; porque, se o justo e o equitativo
são diferentes, um deles não é bom; e, se são ambos bons, têm de ser a mesma coisa.
São estas, pois, aproximadamente, as considerações que dão origem ao problema em torno do equitativo.
Em certo sentido, todas elas são corretas e não se opõem umas às outras; porque o equitativo, embora superior
a uma espécie de justiça, é justo, e não é como coisa de classe diferente que é melhor do que o justo. A mesma
coisa, pois, é justa e equitativa, e, embora ambos sejam bons, o equitativo é superior.
O que faz surgir o problema é que o equitativo é justo, porém não o legalmente justo, e sim uma correção da
justiça legal. A razão disto é que toda lei é universal, mas a respeito de certas coisas não é possível fazer uma
afirmação universal que seja correta. Nos casos, pois, em que é necessário falar de modo universal, mas não é
possível fazê-lo corretamente, a lei considera o caso mais usual, se bem que não ignore a possibilidade de erro.
E nem por isso tal modo de proceder deixa de ser correto, pois o erro não está na lei, nem no legislador, mas na
natureza da própria coisa, já que os assuntos práticos são dessa espécie por natureza.
Portanto, quando a lei se expressa universalmente e surge um caso que não é abrangido pela declaração uni-
versal, é justo, uma vez que o legislador falhou e errou por excesso de simplicidade, corrigir a omissão – em
outras palavras, dizer o que o próprio legislador teria dito se estivesse presente e que teria incluído na lei se ti-
vesse conhecimento do caso.
Por isso o equitativo é justo, superior a uma espécie de justiça – não justiça absoluta, mas ao erro provenien-
te do caráter absoluto da disposição legal. E essa é a natureza do equitativo: uma correção da lei quando ela é
deficiente em razão da sua universalidade. E, mesmo, é esse o motivo por que nem todas as coisas são deter-
minadas pela lei: em torno de algumas é impossível legislar, de modo que se faz necessário um decreto. Com
efeito, quando a coisa é indefinida, a regra também é indefinida, [...] a régua adapta-se à forma da pedra e não
é rígida, exatamente como o decreto se adapta aos fatos.
Torna-se assim bem claro o que seja o equitativo, que ele é justo e é melhor do que uma espécie de justiça.
Evidencia-se também, pelo que dissemos, quem seja o homem equitativo: o homem que escolhe e pratica tais
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
atos, que não se aferra aos seus direitos em mau sentido, mas tende a tomar menos que seu quinhão embora
tenha a lei por si, é equitativo; e essa disposição de caráter é a equidade, que é uma espécie de justiça e não
DA EDITORA DO BRASIL
uma diferente disposição de caráter.
[...]
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 118.

• Com base na leitura do texto, responda às questões no caderno.

a) De que forma Aristóteles define os conceitos de igualdade, equidade e justiça?


b) Pesquise em sites oficiais dos governos federal, estadual e municipal e em sites de meios de comunicação as
políticas afirmativas que foram implementadas no Brasil nas últimas décadas. Na pesquisa, busque pelas seguin-
tes informações:
• Histórico de criação das políticas afirmativas (que grupos que lutaram por sua formulação, quais
foram os processos de discussão e desenvolvimento).
• Data do começo da aplicação dessas políticas e seu período de vigência.
• Grupos beneficiados e formas de aplicação dessas políticas.
• Dados sobre o alcance e os resultados dessas ações.
• As políticas afirmativas pesquisadas visam à equidade, à igualdade ou à justiça? Explique sua
resposta.

94 Não escreva no livro.


Atividades

1. O significado de cidadania passou por muitas transformações na História. Qual aspecto


da cidadania perpassa todas as eras e está presente também na contemporaneidade?
Explique sua resposta.
2. Conhecer seus direitos e deveres contribui para a efetivação da cidadania. Acesse o texto
da Constituição federal no site do Planalto, disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm (acesso em: 31 ago. 2020), e pesquise os direitos
e deveres de seu grupo social – adolescentes/jovens. Depois, discuta com os colegas os
resultados encontrados.
3. Leia a tirinha e responda à questão.

© Alexandre Beck
Tirinha de Alexandre Beck. Armandinho – Artigo I , publicada no livro Armandinho Quatro, 2015.

•• Os direitos humanos são considerados, em teoria, direitos universais, o que pode ser
verificado pela utilização da expressão “Todas as pessoas” na tirinha. Porém, isso não
ocorre na prática. O que faz com que os princípios dos direitos humanos não sejam
concretizados? Justifique sua resposta.
4. De acordo com o filósofo Norberto Bobbio, o desenvolvimento técnico e econômico pode
fazer surgir novas demandas por direitos sociais. Leia o trecho de uma reportagem sobre
uma paralisação dos entregadores de aplicativos.
[...] trabalhadores que atuam no setor de entregas por meio de aplicativos têm se organiza-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
do para reivindicar melhores condições de trabalho e pagamento. [...]

DA EDITORA
Esse movimento mais DO BRASILe organizado no Brasil tem sido visto como uma novidade
combativo
no setor informal de serviços mediados por tecnologia. Ele começou em São Paulo [...], mas
tem ganhado força e atingindo outros Estados, como Pernambuco e Minas Gerais.
Nesta quarta (1º) [de julho de 2020], os trabalhadores prometem uma paralisação da cate-
goria. Segundo eles, o objetivo é “parar” o serviço de entregas em boa parte do país, setor co-
mandado principalmente por três empresas [...]. Movimentos nas redes sociais pedem que,
para contribuir com a paralisação, consumidores não façam pedidos via aplicativos de entrega
de comida.
Entre as demandas, o grupo pede maior transparência sobre as formas de pagamento ado-
tadas pelas plataformas, aumento dos valores mínimos para cada entrega, mais segurança e
fim dos sistemas de pontuação, bloqueios e “exclusões indevidas”.

MACHADO, Leandro. Greve dos entregadores: o que querem os profissionais que fazem paralisação inédita.
BBC News Brasil, 22 jun. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53124543.
Acesso em: 5 jul. 2020.

•• De que modo o trecho da reportagem ilustra o que Norberto Bobbio afirma sobre as
demandas por direitos sociais?

Não escreva no livro. 95


ÀS VÉSPERAS DA NOVA REPÚBLICA
Você viu ao longo deste livro as principais características políticas e sociais
dos períodos republicanos até 1985, ano que assinala o fim de um longo
processo de abertura democrática, marcado pela condução “lenta, gradual
e segura” dos governos de Ernesto Geisel e de João Figueiredo rumo à
democracia. Mas como aconteceu a transição do regime político? Que pro-
jetos estavam em disputa na reconfiguração das bases da política brasileira?
Para compreender a chamada redemocratização, é importante observar
alguns acontecimentos ocorridos a partir de 1974. Em novembro desse
ano, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição ao
Aliança Renovadora Nacional (Arena) e que representava a situação, con-
quistou uma grande vitória nas eleições legislativas. Candidatos emede-
bistas conseguiram se eleger para 16 de 22 vagas no Senado, o que fez
com que a representação do partido saltasse de 87 cadeiras para 160 na
Guanabara: unidade federativa Câmara dos Deputados. Nos estados Acre, Amazonas, Guanabara, Rio de
localizado no atual município do
Rio de Janeiro de 1960 a 1975.
Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, o MDB configurou maioria nas
assembleias legislativas.
O resultado eleitoral foi recebido com surpresa, expressando o fortaleci-
mento do MDB e a ampliação de sua base eleitoral. Em resposta, o governo
Geisel lançou o Pacote de Abril, buscando reverter a situação política a favor
do Arena. Entre as medidas propostas, estavam a extensão do mandato
presidencial por seis anos, a restrição do acesso ao horário eleitoral gratuito,
Quem eram os o aumento da representação do partido no Nordeste e a criação dos “sena-
senadores biônicos?
dores biônicos”.
Parte das reformas chamadas
de “Pacote de Abril” durante o Contudo, embora o regime militar buscasse controlar as instituições polí-
governo Geisel, os senadores ticas, a saúde do regime já não era a mesma. Junto ao clima de afrouxamento
biônicos eram parlamentares
selecionados pelo governo do regime havia uma crescente mobilização popular em diversas regiões do
para compor um terço das país e em torno de diferentes pautas. A campanha pela anistia aos presos e
cadeiras do Senado. exilados políticos, iniciada em 1975, sensibilizou a sociedade brasileira e
gerou pressão sobre o governo. A Lei da Anistia foi aprovada em 1979, de
maneira “ampla, geral e irrestrita”, beneficiando tanto presos políticos e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
exilados como os militares e funcionários estatais envolvidos em crimes
DA EDITORA DO violentos
BRASIL contra opositores.

Jorge Araújo/Folhapress

Faixa em favor da “anistia ampla, geral e irrestrita” levantada por membros de torcida em jogo
de futebol. São Paulo, SP, 1979.

96 Não escreva no livro.


Nesse mesmo ano ocorreu a reorganização do movi-

Juca Martins/Olhar Imagem


mento negro sob o Movimento Negro Unificado (MNU).
O movimento indígena se organizava em assembleias
desde 1974, reunindo líderes de diferentes povos na
discussão sobre as relações com o Estado brasileiro e
na luta pela demarcação de terras. O movimento estu-
dantil, que havia enfrentado dura repressão até então,
também ressurgiu no meio universitário, sobretudo no
estado de São Paulo.
Por sua vez, os operários encampavam uma nova fase
do sindicalismo, protagonizando greves massivas entre
Assembleia de greve de
1978 e 1980 na região do ABCD paulista. As perdas salariais com a inflação,
metalúrgicos em São Bernardo do
a piora nas condições de vida e a luta pelo fim da ditadura eram os principais Campo, SP, 1979.
motivos da mobilização dos metalúrgicos, que acabaram por conquistar um
reajuste salarial de 63% junto às indústrias automobilísticas, um recorde
histórico nesse tipo de negociação. ABCD paulista: Região
Metropolitana de São Paulo que
Com isso, os sindicatos ganharam projeção como atores políticos nacionais, abrange as cidades de Santo
demonstrando grande poder de organização, independência e resistência André, São Bernardo do Campo,
São Caetano do Sul e Diadema.
contra a repressão e a intervenção governamentais.
As greves e mobilizações por direitos se espalharam do ABCD paulista
para outras regiões e categorias, fruto de um aumento na organização dos
trabalhadores por local de trabalho e em comissões de fábrica. Também os
trabalhadores rurais intensificaram o processo de sindicalização. O sindica-
lismo crescia e ganhava diferentes tendências políticas, desde as mais
radicais até as moderadas.
Chamados de “década perdida da economia”, por causa da crise provocada
pelo descontrole inflacionário, do endividamento público e da desaceleração
econômica, os anos 1980 também foram marcados pela retomada dos movi-
mentos sociais e pela participação popular no debate público. O Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um dos maiores e mais articulados
da América Latina, surgiu nesse período, tendo sido fundado em 1984 sob a
bandeira da reforma agrária. Também é dessa época a grande mobilização
pelas DiretasMATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Já, que chegou a reunir mais de 1 milhão de pessoas no Rio de
Janeiro e 1,5 milhão em São Paulo pelo direito ao voto direto nas eleições
DA EDITORA DO BRASIL
presidenciais de 1985. Esse movimento era uma reação ao processo conser-
vador da abertura democrática, que deixava a eleição do próximo presidente
a cargo dos parlamentares eleitos.
Durante os anos 1980, foram realizadas algumas das mais importantes
mobilizações de toda a história brasileira, processos que levaram à formação
e à consolidação de entidades e partidos de base popular que influenciaram
os rumos do país. A Constituição de 1988 é tributária desse importante
momento de florescimento da “cultura cívica” na vida nacional.  Comício pelas Diretas Já. Rio de
Janeiro, RJ, 1984.
Rogério Reis/Tyba

Não escreva no livro. 97


A reorganização partidária
O bipartidarismo teve fim com a Emenda Constitucional no 11 e a Lei no 6.767, ambas de
1979, que permitiram a criação de novas legendas partidárias. No início dos anos 1980, o Arena
deu origem ao Partido Democrático Social (PDS), enquanto o MDB tornou-se PMDB, Partido do
Movimento Democrático Brasileiro. O antigo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) voltou à cena
sob a liderança de Leonel Brizola (1922-2004), que retornara do exílio, e o Partido Comunista
do Brasil (PCB) voltou à legalidade. O Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu como uma legenda
completamente nova, resultado de alianças entre líderes sindicais, militantes católicos, inte-
lectuais e membros de antigos agrupamentos de esquerda que tinham combatido a ditadura.
Com a organização da primeira eleição direta desde 1961, novos partidos foram criados em
1988, como o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), o Partido Socialista Brasileiro (PSB)
e o Democratas (DEM).

O.LUIZ/ESTADÃO CONTEÚDO
MATERIAL DEPartido
 Comício do DIVULGAÇÃO
do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). São Paulo, SP, 1982.

DA EDITORA DO BRASIL
Projetos nacionais em disputa
Na eminência do retorno à ordem democrática, projetos nacionais distintos passaram a
disputar os rumos do país. De um lado, militares e apoiadores do regime esforçavam-se por
permanecer influentes e garantir seus interesses na nova Constituição. De outro, os movi-
mentos sociais ampliavam as demandas sociais na luta por direitos. Na mediação entre os
dois lados, políticos da ordem e representantes da burguesia nacional atuavam em prol da
continuidade dos privilégios das elites.
Em meio às turbulências do ano de 1985, o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes
(1920-1995) escreveu em sua coluna no jornal Folha de S.Paulo:

O que está em jogo é se teremos a “transição democrática”, prometida pela ditadura e


endossada pelos estratos dominantes da burguesia; ou se teremos a revolução democrática, que
provocará as transformações sociais, culturais e políticas que foram sufocadas na elaboração da
Independência, na implantação da República, na desagregação do escravismo e no desenvolvi-
mento do trabalho livre, [...] e nos ditos “governos populistas”.
FERNANDES, Florestan. Novas perspectivas. Folha de S.Paulo, 2 set. 1985. In: FERNANDES, Florestan. Que
tipo de República? 2. ed. São Paulo: Globo, 2007. E-book.

98 Não escreva no livro.


OUTRO PONTO DE VISTA

Estado mínimo ou Estado intervencionista?


Para além das diversas questões políticas, havia ainda importantes questões quanto ao programa econômico a ser
implementado na Nova República. Diante da falência do desenvolvimentismo estatal e da profunda crise econômica
em que o Brasil se encontrava, buscava-se determinar respostas para questões cruciais como: Que atribuições o Es-
tado teria diante da economia e da sociedade? Qual seria o papel dos investimentos públicos, privados e externos na
nova organização estatal e nas políticas públicas? Qual seria o caminho para restaurar a saúde financeira do país e
combater as desigualdades sociais?
De um lado, os defensores do Estado mínimo ar-

MILTON MICHIDA/ESTADÃO CONTEÚDO


gumentavam pela redução do papel do Estado bra-
sileiro na economia. Para os economistas brasileiros
Roberto Campos (1917-2001) e Mário Henrique Si-
monsen (1935-1997), que haviam ocupado cargos
de relevância durante a Ditadura Civil-Militar, era ne-
cessário desregulamentar o mercado e o trabalho,
integrar o Brasil ao mercado internacional e privatizar
as empresas estatais. Em crítica ao que acreditava
ser a visão econômica prevalecente na Assembleia
Constituinte de 1988, Roberto Campos afirmou que:
A cultura antiempresarial subestima a importân-
cia fundamental do empresário na criação de rique-
zas. Para os constituintes, o trabalhador é um mártir;
o empresário um ser antissocial, que tem de ser hu-  Protesto contra a privatização do sistema de hidrelétricas realizado
na Avenida Paulista, São Paulo, SP, 1999. A venda de estatais para a
manizado por imposição dos legisladores; o inves-
iniciativa privada está entre as principais proposições dos
tidor estrangeiro, um inimigo disfarçado. Nada mais defensores do Estado mínimo. A aplicação dessa medida foi alvo de
apropriado para distribuir a pobreza e desestimular contestação social em diferentes momentos.
a criação de riqueza. A Constituição promete solu-
ção indolor para a pobreza.
PRADO, Ney. A Constituição de 1988 na visão de Roberto Campos. Justiça e cidadania, 24 jan. 2018.
Disponível em: http://www.editorajc.com.br/constituicao-de-1988-na-visao-de-roberto-campos/. Acesso em: 30 jul. 2020.

De outro lado, havia os que reivindicavam uma intervenção estatal capaz de mediar as relações entre empresários e
trabalhadores, garantir o bem-estar da população por meio do oferecimento de serviços públicos e realizar reformas pe-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
la melhor distribuição da renda e da propriedade, por exemplo. Segundo artigo de 1986, de Plínio de Arruda Sampaio
(1930-2014),DA EDITORA
deputado DO BRASIL
constituinte:

Um conjunto articulado de reformas nos campos da tributação, dos salários, do sindicalismo, da previdência so-
cial, combinadas com transformações estruturais nos campos da educação, saúde, habitação e transportes, deflagra-
rão um processo acelerado de distribuição de renda, corrigindo, pelo menos parcialmente, a inaceitável distorção dos
dias atuais.
Modificações no direito de propriedade, a fim de compatibilizar razoavelmente a iniciativa privada com a justiça so-
cial, a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida constituem, hoje, exigências de amplos setores sociais [...]
SAMPAIO, Plínio de Arruda. Brasil na encruzilhada. Folha de S.Paulo, 6 nov. 1986. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/
bdsf/bitstream/handle/id/117593/1986_NOVEMBRO_017.pdf?sequence=3&isAllowed=y. Acesso em: 24 jul. 2020.

1. Qual é a diferença entre um Estado mínimo e um Estado intervencionista? Justifique sua resposta com base
no texto.
2. Na sua opinião, qual modelo melhor atenderia às necessidades sociais e econômicas do país? Por quê?
3. Em 2020, o debate sobre o papel do Estado voltou à tona nos jornais brasileiros em razão da crise provocada
pela pandemia de Covid-19. Em duplas, façam uma pesquisa em artigos de opinião e reportagens para levan-
tar os principais argumentos abordados. Depois, façam um resumo sobre os pontos de vista que encontraram
e elaborem a posição da dupla sobre o assunto.

Não escreva no livro. 99


A Constituição Cidadã e os direitos humanos
O regime exigia um novo molde constitucional. Assim, foi instalada em 1987 uma Assem-
bleia Constituinte com o intuito de elaborar uma Constituição democrática. Embora os par-
lamentares envolvidos tenham sido eleitos para o Congresso Nacional, que adquiriu poderes
constituintes sem a legitimação da população, a pressão dos movimentos sociais conseguiu
emplacar a aprovação de emendas populares ao texto constitucional, algo totalmente inédito
até então.
No total, a Constituinte contou com a participação de 559 parlamentares e outros milhões
de brasileiros. Para um total de 122 emendas populares protocoladas, 15 milhões de assi-
naturas foram colhidas por todo o país. Assim, pode-se dizer que a Constituição Cidadã, como
foi chamada a Carta de 1988, foi escrita a muitas mãos, refletindo os anseios, as demandas
e as disputas daquele contexto histórico. Além disso, como uma Constituição moderna de
um Estado democrático de direito, ela cumpriu o desafio de abranger um território amplo e
um povo bastante diverso, com respeito à pluralidade, aos direitos e às liberdades individuais,
além de proteger os cidadãos contra os arbítrios do Estado.
Tal como muitas outras democracias ocidentais, o modelo constitucional de 1988, vigente até
hoje, baseou-se em grande parte na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) aprovada
pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948. Sendo assim, ele
prevê um contrato social que legitima o poder dos governantes
perante a vontade da maioria dos cidadãos e se pauta pela
primazia dos direitos humanos, tomando a liberdade, a
igualdade e a justiça como princípios fundamentais.
Veja a seguir alguns dos principais pontos em
comum entre os dois documentos. Em azul estão
identificados os itens da DUDH e, em
vermelho, os da Constituição Cidadã:
IGUALDADE
I. Todos os homens nascem livres e iguais em digni-
Paula Simas/Olhar Imagem

dade e direitos. São dotados de razão e consciência


e devem agir em relação uns aos outros com espírito
de fraternidade.
Art. 5o – Todos são iguais perante a lei, sem distinção
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
DA EDITORA DO BRASIL do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade;
VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito,
sem qualquer distinção, a igual proteção da lei.
Todos têm direito a igual proteção contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e
contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Art. 5o, XLI – a lei punirá qualquer discriminação
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais:
Art. 5o, XLII – a prática do racismo constitui crime
inafiançável imprescritível, sujeito à pena de reclu-
são, nos termos da lei;
BRASIL. Constituição da República Federativa do
Brasil (1988). Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 21 jul. 2020; ONU. Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Disponível em: https://
Rob Zs/Shutterstock.com

nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/
DUDH.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020.

 Aprovação da Constituinte de 1988, em


Brasília, DF.

100 Não escreva no livro.


JUSTIÇA
X. Todo homem tem direito, em plena igualdade, a uma jus-
ta e pública audiência por parte de um tribunal independen-
te e imparcial [...].
Art. 5o, XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XI. Todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito
de ser presumido inocente, até que sua culpabilidade tenha LIBERDADE
LIBERDADE
sido provada de acordo com a lei, em julgamento público, no
XVIII. Todo homem tem direito à liberdade de pen-
qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias neces-
samento, consciência e religião. Este direito inclui
sárias à sua defesa [...]
a liberdade de mudar de religião ou crença e a li-
Art. 5o, LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito berdade de manifestar
LIBERDADEessa religião ou crença pelo
ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade [...]; ensino, pela prática, pelo culto e pela observância,
Art. 5o, LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada isolada ou coletivamente, em público ou em parti-
pela autoridade judiciária; cular.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil Art. 5o, VI – é inviolável a liberdade de consciência
(1988). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ e de crença, sendo assegurado o livre exercício de
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 jul. 2020;
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a pro-
ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível
em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/ teção nos locais de culto e as suas liturgias;
DUDH.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020. XIII. Todo homem tem direito à liberdade de loco-
moção e residência dentro das fronteiras de cada
Estado. Todo homem tem direito a sair de qualquer
país, inclusive do próprio, e a ele regressar.
Art. 5o, XV – é livre a locomoção no território nacio-
nal em tempo de paz, podendo qualquer pessoa,
nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dela
sair com seus bens;
Salomon Cytrynowicz/Pulsar Imagens

XIX. Todo homem tem direito à liberdade de opi-


nião e expressão. [...]
Art. 5o, IX – é livre a expressão da atividade inte-
lectual, artística, científica e de comunicação, inde-
pendentemente de censura ou licença;
BRASIL. Constituição da República Federativa do
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Brasil (1988). Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
DA EDITORA DO BRASIL Acesso em: 21 jul. 2020; ONU. Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Disponível em: https://
nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/
DUDH.pdf. Acesso em: 21 jul. 2020. Rob Zs/Shutterstock.com

 Indígenas de várias etnias promovem uma


vigília no Congresso Nacional para garantir
os seus direitos no texto final da
Constituição. Brasília, DF, 1988.

Não escreva no livro. 101


A garantia de direitos
De modo geral, a Constituição de 1988 coroou a questão social como uma questão de
Estado. Isso significa que a garantia de direitos sociais é responsabilidade das instituições e
autoridades estatais, sendo esses os dispositivos fundamentais para que todos os cidadãos
tenham uma vida digna.
A saúde passou a ser entendida como direito fundamental, adquirindo caráter universal,
integral e público. Isso representou uma ruptura em relação ao sistema anterior, já que o
direito à saúde era, até então, exclusivo daqueles que tinham carteira de trabalho assinada.
O Sistema Único de Saúde (SUS), gerido pelo Estado e financiado sobretudo com recursos
públicos, foi criado com o intuito de garantir esse direito, permitindo o acesso à saúde a
qualquer indivíduo em território nacional.
A educação também foi considerada um direito universal a ser garantido tanto pelo Estado
como pela família. Desse modo, cabe hoje aos governos municipais, estaduais e federal a
criação de instituições de ensino básico públicas e gratuitas, a manutenção delas em bom
estado e a gestão do sistema escolar. Todas as crianças e os jovens de 4 a 17 anos têm de
frequentar a escola, recebendo meios para isso.
O direito das pessoas analfabetas ao voto foi reiterado na Constituição de 1988, que reparou
uma longa injustiça em nosso país. Hoje podem participar nas eleições todos os homens e
mulheres com 16 anos ou mais, sendo o voto obrigatório para os que têm entre 18 e 70 anos.
Para se candidatarem a cargos eletivos, basta que cumpram certos requisitos.
Os organismos de participação política também foram aprimorados: os cidadãos podem
se organizar em agremiações, partidos e associações de bairro, realizar plebiscitos e referen-
dos e apresentar projetos de lei de iniciativa popular. Assim, garantem-se a democracia
representativa e também os meios para a defesa dos interesses de grupos e indivíduos.
A isso, soma-se o direito à informação, indispensável ao exercício da cidadania.
Outro ponto importante da Constituição é o reconhecimento das camadas vulneráveis da
população e o compromisso do Estado com sua proteção. Idosos, adolescentes e crianças
se enquadram nessas categorias, assim como as pessoas com deficiência, que passaram a
receber assistência estatal e o direito à renda, ao acesso a espaços públicos e meios de
transporte, às instituições de ensino e ao trabalho em instituições públicas e privadas.
Os povos indígenas, por sua vez, tiveram suas formas organizativas, suas tradições, suas
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
línguas, suas crenças e seus costumes reconhecidos pela Constituição. Rompendo com a noção
DA EDITORA
de tutela DO BRASIL
vigente até então, o Estado passou a se comprometer com o respeito e a proteção às
culturas e terras indígenas. Os indivíduos, por sua vez, têm direito tanto a buscar integração
junto à sociedade quanto a se manterem aldeados e isolados junto à própria etnia.
Sergio Pedreira/Pulsar Imagens

O Sistema Único de Saúde no Brasil


atende toda a população brasileira e é
responsável por importantes políticas
públicas de saúde, como as
campanhas de vacinação. Na foto,
agente comunitário de saúde afere
pressão arterial de morador de Porto
Santo, Itaparica, Bahia, 2019.

102 Não escreva no livro.


Avanços e desafios na Nova República
Passados mais de 30 anos desde a promulgação da Constituição de 1988, podemos fazer
um balanço do que tem sido de fato cumprido e do que ainda permanece distante da realidade
da maioria dos brasileiros.
De um lado, esse período apresentou avanços nos direitos sociais, com a criação do Esta-
tuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, que dispõe sobre a proteção da infância
e da juventude para a garantia plena de seu desenvolvimento. Em 2007, foi a vez do Estatuto
do Idoso, que prevê o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à cidadania e tantos outros
direitos às pessoas com 60 anos ou mais. Já a situação de migrantes, imigrantes e refugiados
passou a ser regulada pela Lei da Migração, de 2017, que revogou o Estatuto do Estrangeiro,
criado na ditadura. Assim, o Estado passou a tratá-los como sujeitos de direitos, conceden-
do-lhes acesso a políticas públicas e à participação política. Também estabeleceu o repúdio
à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação.
O acesso à educação também cresceu consideravelmente. Nos anos 2000, as taxas de
analfabetismo apresentaram tendência de queda, chegando a um total de 6,6% das pessoas
acima de 15 anos, em 2019. O acesso ao Ensino Superior também tem se democratizado:
além do crescimento da diplomação em geral, negros e pardos somavam pela primeira vez
maioria nas universidades públicas em 2019, dado que demonstra o conjunto de esforços
estatais, sociais e civis para escolarização de um grupo historicamente excluído.
Há, no entanto, muitos desafios por cumprir. Ainda na área da educação, vê-se atualmente
um grande déficit na conclusão do ensino básico: em 2018, mais da metade dos brasileiros
acima de 25 anos ainda não havia terminado a etapa do Ensino Médio. No mercado de tra-
balho, a taxa de informalidade tem crescido e, em 2019, chegou a 41,4% da população
ocupada, o maior índice da série histórica. O desemprego atingia 12,93% no segundo trimes-
tre do mesmo ano, altamente afetado pelos anos de crise econômica.
Apesar de uma trajetória na redução das desigualdades ao longo dos anos 2000, fruto de
políticas inclusivas e de transferência de renda, o período de 2015 a 2019 apresentou um
crescimento na extrema pobreza e na desigualdade social. A renda dos 5% mais pobres caiu
39% e a extrema pobreza aumentou 67%. Ao mesmo tempo, a parcela dos 10% mais ricos no
Brasil concentrava 42% da renda nacional em 2019. A desigualdade racial também se mantém
preocupante: em 2018, as pessoas negras recebiam em média a metade dos rendimentos das
MATERIAL
brancas. O acesso a bensDE DIVULGAÇÃO
e serviços, à moradia e a oportunidades no mercado de trabalho tem
sido igualmente desfavorável à população negra, segundo dados do IBGE de 2019.
DA EDITORA DO BRASIL
 A população de rua tem crescido nas grandes cidades brasileiras e, com o vácuo de ações públicas em benefício
dessa parcela populacional, multiplicam-se as ações civis de assistência social. Na foto, ação de entrega de
pacotes com produtos de higiene pessoal a moradores em situação de rua. São Paulo, SP, 2020.
Leo Orestes/FramePhoto/Folhapress

Não escreva no livro. 103


Juventude e políticas públicas
Algumas questões atuais afetam particularmente a população jovem brasileira. De acordo
com estatísticas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro
de Segurança Pública (FBSP), os jovens são hoje a principal vítima de violação de direitos e
de violência no país. Em 2018, a taxa de homicídios no Brasil era 30 vezes maior que a euro-
peia, envolvendo principalmente jovens negros do sexo masculino. O encarceramento era
também maior entre rapazes entre 18 e 24 anos.
Ao observar esses dados, bem como as questões
Beritheia/Fotoarena

relacionadas à inserção no mercado de trabalho, ao


acesso ao lazer e às práticas culturais da juventude,
nota-se uma lacuna no Estado brasileiro em relação
a essa parcela da população. Isso não ocorre pela
ausência de diretrizes ou garantias legislativas, pois,
além da Constituição de 1988, o Estatuto da Juven-
tude, sancionado em 2013, prevê a “promoção da
autonomia e emancipação dos jovens”, “a valoriza-
ção e a promoção da participação social e política”,
“o reconhecimento do jovem como sujeito de direi-
tos universais, geracionais e singulares”, o “direito
ao trabalho e à renda” e o “respeito à identidade e
 Final de campeonato brasileiro de poesia falada. Por meio do à diversidade individual e coletiva da juventude”.
slam, jovens discutem os problemas sociais de seus cotidiano. Faz-se necessário, portanto, garantir que todas essas
São Paulo, SP, 2019.
premissas saiam do papel.
A criação do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) foi um importante passo para a imple-
mentação de políticas públicas para a juventude, definindo esse órgão como responsável
pela compreensão desse grupo social e pelo direcionamento de medidas para suas neces-
sidades. Criado em 2005, ele reúne membros do poder público e uma maioria de represen-
tantes da sociedade civil, cuja ação é norteada pela oferta de oportunidades e pela garantia
de direitos, além do estabelecimento de canais de diálogo com os jovens.
No entanto, o enxugamento dos gastos públicos, o desmonte de programas sociais e a má
gestão dos órgãos e recursos têm inviabilizado a ação efetiva do Estado e de suas instituições
MATERIAL
junto aos DE DIVULGAÇÃO
jovens. As disputas em torno das prioridades em relação a esse grupo, que variam
DA EDITORA DO BRASILa direitos de cidadania, também colaboram para emperrar o anda-
da garantia de emprego
mento das políticas governamentais.
Manifestação de estudantes por maiores investimentos públicos na educação. Porto Alegre, RS, 2018.
Davi Magalhães/Futura Press

104 Não escreva no livro.


Atividades

1. O texto a seguir foi escrito pelo sociólogo e cientista político brasileiro Herbert José de
Souza, conhecido como Betinho (1935-1997), em 1987, quando a Nova República não
tinha sequer recebido sua Constituição. Leia e responda ao que se pede.
[...] Com o desenvolvimento industrial, o surgimento da classe operária fez emergir a questão
social, tratada como questão social em tempos de paz e como questão de polícia em tempos de
crise. Cuidar dos desequilíbrios produzidos por uma ordem que seria naturalmente vocacionada
à harmonia foi sempre o papel do Estado, pelo menos de Getúlio aos nossos dias. Nesse sentido,
também a política social foi sempre uma variante da ideologia e da política da ordem.
[...]
A Nova República assumiu o social em seu discurso, mas não o assumiu em sua prática, e
nisso continuou tão velha como antes. [...]
Na Nova República o social assume um lugar de destaque no discurso do Estado, vira pro-
grama de governo, mas sofre de uma paralisia peculiar: não consegue sair do discurso, a não
ser como farsa.
Creio que seria inútil demonstrar com números, fatos e histórias que a reforma agrária não
realizou sequer 10% de suas modestas metas; que as greves continuam a ser ilegais e tratadas
militarmente; que o desemprego só não existe para o IBGE; que a inflação passa dos 20% ao
mês; que o Nordeste, assim como as periferias das grandes cidades do Brasil, continuam po-
bres; que a concentração da riqueza e das terras não diminuiu; que a distribuição de alimentos
não mata a fome dos pobres; que as crianças abandonadas ou carentes continuam presas nos
internatos oficiais ou perambulando pelas ruas e que, enfim, a questão social continua a exis-
tir no discurso, mas não na prática da Nova República.
SOUZA, Herbert de. A Nova República e as políticas sociais. Rev. Adm. Públ.,
Rio de Janeiro, v. 21, n. 4, p. 24-30, out./dez. 1987.

a) Qual é a interpretação que o autor faz da nascente Nova República?


b) Na fase atual da Nova República, tais apontamentos são ainda pertinentes? Elabore
um texto de opinião sobre isso, considerando o que você aprendeu no capítulo, os
argumentos de Herbert de Souza e seus conhecimentos sobre atualidades.
2. Em razão das comemorações do Dia da Consciência Negra, a Agência Lupa publicou
em 2019 um estudo sobre as condições da população negra no Brasil contemporâneo.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/11/20/consciencia-negra-nu-
MATERIAL
meros-brasil/. DE em:
Acesso DIVULGAÇÃO
19 ago. 2020.
Em dupla,DA EDITORA
analisem os DO BRASIL
dados de cada uma das categorias, levantem informações e as
discutam entre si. Depois, respondam às seguintes questões:
a) Qual é a participação dos negros e negras no mercado de trabalho hoje?
b) Qual é a participação dos negros e negras no Ensino Superior?
c) Quais são as taxas de violência relativas à população negra brasileira?
d) É possível dizer que as questões políticas e sociais enfrentadas pela população negra
hoje são relacionadas aos processos históricos ocorridos no Brasil? Por quê?
e) É possível dizer que os direitos humanos e constitucionais são assegurados plena-
mente à população negra e à sociedade brasileira em geral? Confira os princípios da
Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH) e os artigos da Constituição
Federal no infográfico das páginas 100 e 101 para fundamentar sua resposta.
f) Que medidas são necessárias para a superação das desigualdades raciais no Bra-
sil e a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva? Em grupo de no máxi-
mo cinco integrantes, discutam e elaborem ao menos uma proposta de ação que,
na avaliação de vocês, poderia ser implementada como política de governo. As
proposições dos grupos poderão ser compartilhadas e discutidas em uma ativida-
de coletiva.

Não escreva no livro. 105


O EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA
O nome completo do Brasil é República Federativa do Brasil, e nosso
sistema de governo é a democracia presidencialista. Você sabe o que isso
significa?
Com o movimento das Diretas Já, em 1984, e a formação da Assembleia
Nacional Constituinte, em 1987, o Brasil começou a se reorganizar politica-
mente. Em 1988, depois de muitos anos (e de várias Constituições), finalmente
o país passou a ter uma Carta Magna construída por meio de um processo
que ouviu o povo brasileiro.
O maior desejo da população, após 21 anos de Ditadura Civil-Militar e de
supressão dos direitos políticos, era votar para presidente. As primeiras
eleições, entretanto, foram indiretas. Os recém-formados partidos que se
opunham à Ditadura Militar se articularam, em 1986, em torno da candida-
tura de Tancredo Neves (1910-1985), que foi eleito pelo Colégio Eleitoral,
mas faleceu antes de tomar posse. José Sarney (1930-) foi quem se tornou
presidente pelos quatro anos seguintes.

Presidencialismo x parlamentarismo
O presidencialismo é o regime em que o presidente desempenha ao mesmo
Qual é a função do chefe tempo as funções de chefe de Estado e chefe de governo eleito por voto
de Estado e a do chefe popular. Como chefe do Poder Executivo, ele é responsável por indicar os
de governo?
ministros que vão comandar as políticas públicas de cada área (Saúde, Edu-
Chefe de Estado é quem
representa o país cação, Economia etc.), para seguir o projeto do governo eleito. Ele deve
publicamente, recebe outros coordenar as políticas públicas a serem implantadas e tem poder de veto
chefes de Estado e mantém sobre projetos de lei vindos do Poder Legislativo.
diálogo com outras nações.
Em países onde há monarquia, No parlamentarismo, o sistema privilegia as decisões tomadas no Parla-
como a Inglaterra, o papel mento. O governo é organizado pelo gabinete formado pelo primeiro-minis-
de chefe de Estado é da
tro (em geral, alguém do partido majoritário, ou seja, do partido mais votado)
família real.
e os demais ministros (apontados pelo Parlamento). O primeiro-ministro é
Chefe de governo é quem
tem o papel preponderante o chefe de governo, mas não o chefe de Estado. Há um equilíbrio entre o
na tomada de decisões Executivo e o Legislativo, porque existem dispositivos legais que permitem
MATERIAL
e na elaboração de políticas DE DIVULGAÇÃO
que o Parlamento destitua os ministros, assim como que o primeiro-ministro
públicas, econômicas e sociais.
DA EDITORA
É quem representa o Poder DO BRASIL um voto de desconfiança e dissolva o Parlamento, convocando
apresente
Executivo e mantém novas eleições.
o equilíbrio dos poderes
Executivo e Legislativo. POOL New/Reuters/Fotoarena

Uma das principais e mais antigas


monarquias parlamentaristas do
mundo é o Reino Unido. A rainha
Elizabeth II (1926-) é a chefe de
Estado, mas o chefe de governo é
primeiro-ministro eleito a cada
quatro anos. Na foto, o então
primeiro-ministro, Boris Johnson
(1964-), cumprimenta a rainha.
Londres, Reino Unido, 2019.

106 Não escreva no livro.


O plebiscito de 1993

Tribunal Superior Eleitoral


Após a redemocratização do Brasil, uma
emenda constitucional previa a realização de um
plebiscito para consultar a população brasileira,
a fim de verificar se o país deveria ter uma forma
de governo republicana ou monarquista, e se o
sistema de governo deveria ser o presidencialismo
ou o parlamentarismo. Foram realizadas cam-
panhas nos meios de comunicação para cons-
cientizar todos os cidadãos sobre o que significava
essa decisão. A maioria dos eleitores votou a  A cédula de votação do plebiscito de 1993, em que os eleitores
favor do regime republicano e do sistema de deveriam escolher a forma e o sistema de governo.
governo presidencialista.

Os três poderes
Em boa parte dos países do mundo, há a separação entre os três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O pre-
sidencialismo se baseia no equilíbrio entre esses poderes.
O Poder Executivo é o poder do presidente da República, eleito de quatro em quatro anos pelo voto direto de todos
os eleitores e eleitoras brasileiros. Nos estados, o Poder Executivo é exercido pelos governadores, e nas cidades, pe-
los prefeitos.
No Brasil, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, composto de duas câmaras: uma delas é o Se-
nado Federal, em que 81 senadores são eleitos para mandatos de oito anos. Cada estado (e o Distrito Federal) elege
três senadores (após um período de quatro anos, renova-se um terço do Senado e, quatro anos depois, dois terços).
Todos os estados têm a mesma quantidade de senadores como forma de promover equilíbrio entre eles. A outra é a
Câmara dos Deputados, composta dos deputados federais. Ao todo, são 513 representantes de todos os Estados, elei-
tos a cada quatro anos. A proporção de deputados corresponde ao tamanho da população de cada Estado.
O Poder Legislativo está presente nos três níveis da federação. Assim, existe a Assembleia Legislativa Estadual, que
elabora as leis e faz o controle de gastos nos Estados, e a Câmara dos Vereadores, que cria a legislação no âmbito dos
municípios.
O Poder Judiciário encarrega-se da correta interpretação das leis e de seu cumprimento, como garantia dos direi-
MATERIAL
tos dos cidadãos. Cabe aDE
eleDIVULGAÇÃO
defender a Constituição e promover a justiça.
DA EDITORA DO BRASIL
 Na Praça dos Três Poderes, na capital federal, Brasília, DF, forma-se um triângulo composto do prédio do Supremo Tribunal Federal
(STF), da sede do Poder Judiciário, do Palácio do Planalto e da sede do Poder Executivo; e do Congresso Nacional, sede do Poder
Legislativo. Foto de 2018. Diego Grandi/Shutterstock.com

Não escreva no livro. 107


Presidencialismo de coalizão
As ações dos poderes Executivo e Legislativo estão constantemente em
O que são emendas diálogo. Boa parte das leis propostas pelo Congresso precisa ser aprovada
parlamentares? pelo presidente da República, da mesma forma que os projetos de lei envia-
O orçamento refere-se ao dos pelo Executivo necessitam ser aprovados pela Câmara dos Deputados
destino do dinheiro público. e pelo Senado.
Ele é apresentado pelo
governo, discutido, votado e Assim, para governar de forma eficaz, o presidente necessita que a
aprovado no Congresso maioria dos congressistas vote a favor de seus projetos, ou seja, ele pre-
Nacional e, assim, torna-se lei
orçamentária anual. Entretanto,
cisa formar uma coalizão entre deputados e senadores de diversos par-
deputados e senadores podem tidos. Daí o termo presidencialismo de coalizão, criado pelo cientista
fazer emendas parlamentares, político brasileiro Sérgio Abranches (1949-).
que consistem em alterações
pontuais apresentadas em No presidencialismo, os eleitores escolhem separadamente o presidente os
projetos para estados e senadores e os deputados, e, além disso, o presidente precisa do apoio do
municípios. Porém, como as congresso para governar. Essa complexa negociação passa, por exemplo, pela
emendas precisam ser
analisadas e aprovadas, elas se concessão de cargos importantes e ministérios para garantir a influência e a
tornam uma negociação entre o base de apoio do governo.
Poder Executivo e o Legislativo.
No Brasil, existem duas razões principais pelas quais temos um presiden-
cialismo de coalizão. Uma delas é o regime multipartidarismo ou pluriparti-
darismo, ou seja, a existência de vários partidos políticos. A Constituição de
1988 outorgou a liberdade partidária, o que leva à ampliação da agremiação
política e cria a possibilidade de atuação distinta dos partidos. No entanto,
a existência de muitos partidos torna mais difícil apenas um ser majoritário
no Congresso Nacional.
O segundo fator é a existência de eleições distintas para o Executivo e
para o Legislativo: em que os candidatos não precisam ser do mesmo partido
para presidente e senadores e deputados.
Essas duas condições tornam o Congresso Nacional muito fragmentado,
com políticos de diversos partidos e diferentes filiações ideológicas. Para
além dos partidos mais fortes, que têm mais deputados eleitos, e aqueles
que seguem uma diretriz política mais clara – por exemplo, os que apoiaram
o presidente desde a campanha e, portanto, são base aliada, ou aqueles que
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
estiveram contra ele desde o início e, portanto, são oposição –, há um número
DA EDITORA DO considerável
BRASIL de políticos que transitam entre os dois posicionamentos. Por
não terem identidades ideológicas sólidas ou compromisso com determina-
das políticas, são chamados de fisiológicos (contrapondo-se aos ideológicos). Diego Grandi/Shutterstock.com

Câmara dos
Deputados,
Brasília, DF, 2018.
A governabilidade
do Poder Executivo
depende do apoio
dos congressistas.

108 Não escreva no livro.


Considerando os diversos níveis do governo e da política no Brasil, temos a presença dos
Poderes nos municípios, nos estados e na esfera federal. No município, os vereadores, na
qualidade de representantes do Poder Legislativo, têm como função defender os interesses
da população da cidade, criando, extinguindo e elaborando emendas de leis. Também cabe
aos vereadores fiscalizar a ação do prefeito e do poder municipal. Dentre suas funções, des-
tacam-se criar, mudar ou extinguir tributos municipais; aprovar os documentos orçamentários
do município; elaborar, deliberar e votar o plano diretor municipal; aprovar o plano municipal
de educação.
© Benett

 A charge do cartunista Benett ilustra a


necessidade de negociação entre o Poder
Legislativo (simbolizado pelo Congresso
Nacional) e o Executivo
(o Palácio do Planalto), que pode resultar por
vezes em troca de favores.

Quociente eleitoral
No Brasil, a câmara dos deputados representa a população dos estados. Dessa forma, há mais deputados de um es-
tado do que em outro de acordo com sua população e, aos contrário do que ocorria no passado, podemos votar somen-
te naqueles que representam nosso estado. São 513 deputados com mandatos de quatro anos, eleitos pelo sistema pro-
porcional, e não majoritário, de acordo com um quociente eleitoral (QE) que calcula os partidos e coligações que têm
direito a ocupar as vagas em disputa.
Esse quociente equivale ao número de votos válidos dividido pelo número de vagas por Estado. Assim, apenas os
partidos ouMATERIAL
as coligaçõesDE
deDIVULGAÇÃO
partidos que obtiverem quantidade de votos acima do QE vão preencher as vagas dispo-
DA EDITORA
níveis. É por isso DO BRASIL
que deputados que obtêm votações muito expressivas acabam “puxando” colegas de partido com
votações menores. A tabela a seguir mostra o número de deputados por estado brasileiro.

Número de deputados por estado (2019)

Acre 8 Alagoas 9 Amazonas 8

Amapá 8 Bahia 39 Ceará 22

Distrito Federal 8 Espírito Santo 10 Goiás 17

Maranhão 18 Minas Gerais 53 Mato Grosso 8

Mato Grosso do Sul 8 Pará 17 Paraíba 12

Pernambuco 25 Piauí 10 Paraná 30

Rio de Janeiro 46 Rio Grande do Norte 8 Rio Grande do Sul 31

Roraima 8 Rondônia 8 Santa Catarina 31

Sergipe 8 São Paulo 70 Tocantins 8

Fonte: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Papel e história da Câmara. Disponível em: https://www2.
camara.leg.br/a-camara/conheca/numero-de-deputados-por-estado. Acesso em: 3 ago. 2020.

Não escreva no livro. 109


Nos estados, o Poder Legislativo se faz presente nas Assembleias Legis-
lativas estaduais, que também têm a função de propor, emendar ou alterar
projetos de lei que representem os interesses da população. Os projetos de
lei precisam passar por duas instâncias: primeiro, são discutidos nas comis-
sões permanentes; depois, enviados para o Plenário, as chamadas sessões
abertas, onde são apresentados, debatidos e votados. Os projetos passam
por uma Comissão de Constituição e Justiça, que verifica se eles desrespei-
tam a legislação federal ou se entram em conflito com ela.
Cabe aos deputados estaduais, por exemplo, acompanhar e fiscalizar o
O que é a LOA? Poder Executivo estadual, elaborar a Lei Orçamentária Anual (LOA) de seu
Lei Orçamentária Anual (LOA) estado e dispor sobre o regimento interno da Assembleia Legislativa.
de seu estado é muito Os deputados federais têm as mesmas atribuições que os estaduais, mas,
importante, pois é ela que
decide quanto o governo no âmbito federal, eles também devem aprovar ou não as medidas propos-
estadual vai destinar a saúde, tas pelo Poder Executivo federal. Apenas o Congresso Nacional tem o poder
educação, saneamento de autorizar a instauração de processos de impeachment contra o presidente
básico, mobilidade urbana,
entre outros. ou o vice-presidente da República.
Os senadores integram comissões, que podem ser temporárias ou per-
manentes, nas quais se discutem problemas como economia, agricultura,
segurança, em um debate mais profundo em torno de projetos de lei, emen-
das constitucionais etc. Eles podem propor novas leis, normas e alterações
na Constituição, revisar, avaliar e rever as propostas votadas na Câmara dos
Deputados antes que o projeto de lei chegue à Presidência da República.

Mulheres nos espaços de poder


Em 1995, foi criada uma legislação específica que prevê cotas eleitorais. A
Lei no 9.100 estabeleceu normas para a realização das eleições municipais,
dispondo sobre a reserva do percentual mínimo de 20% das vagas para can-
didaturas de mulheres.
Em 1997, o Congresso Nacional aprovou a Lei no 9.504, que aumentou
em 10% o percentual que deveria ser preenchido por candidatas mulheres,
estabelecendo normas para as eleições e dispondo que cada partido ou
coligação devesse reservar o mínimo de 30% e o máximo de 70% para
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
candidaturas de cada sexo. A intenção do projeto de emenda era garantir
DA EDITORA DO 20%
BRASIL
das vagas no Legislativo para as mulheres.
As razões que explicam a sub-representação feminina no Parlamento e em
outros espaços de governo estão presentes na organização social, pautada em
estereótipos que resultam de séculos de discriminação.
Em 2020, as mulheres ocupavam apenas 12% dos 70 mil cargos eletivos
no Brasil.
Ato realizado por deputadas no
Pedro Ladeira/Folhapress

Congresso pedindo a aprovação


da proposta que fixa cotas para
a eleição de mulheres no
Legislativo. Brasília, DF, 2015.

110 Não escreva no livro.


Atividades

1. Faça uma pesquisa e elabore um relatório sobre os representantes do Poder Legislativo


no seu estado e município. Quantos representantes compõem a Câmara dos Vereado-
res do seu município? Quantos deputados estaduais estão na Assembleia Legislativa?
Existem mulheres ocupando assentos nesses espaços? Quantas são? Quais partidos têm
representantes na Câmara dos Vereadores e na Assembleia Legislativa?
2. O caminho para que uma lei seja aprovada e colocada em andamento é longo. Começa
com a proposta de lei, passa por debate a aprimoramento nas comissões parlamentares,
depois é votada e enfim, sancionada ou vetada pela presidência da república. Em grupos,
escolha uma lei que vocês considerem relevante e a analisem, elaborando um relatório
com as seguintes informações:
•• Quem propôs?
•• Quais partidos votaram contra e quais votaram contra?
•• Como votou a Câmara? E o Senado?
•• Como a presidência se posicionou?
•• Para concluir, posicionam-se sobre os benefícios ou malefícios desta lei para a
população.

Pensamento computacional
3. Em alguns bairros, criam-se organizações com o objetivo de prover melhorias para
o local por meio da comunicação de suas necessidades para o poder público e/ou
por ações feitas pela própria comunidade.
Organizem-se em grupos e investiguem a existência desse tipo de organização no
bairro onde vocês moram. Em seguida, façam um levantamento dos principais
problemas da comunidade e encaminhem soluções para alguns deles. Para isso,
sigam o roteiro de etapas.
Etapa 1: Investigar
MATERIAL
•• Entrevistem DE DIVULGAÇÃO
moradores locais e identifiquem a existência de focos representativos.
•• Reconheçam lideranças locais e realizem entrevistas para compreender o pro-
DA EDITORA DO BRASIL
cesso de coleta de demandas da comunidade e o protocolo de resoluções.
Etapa 2: Criar soluções
•• Listem as problemáticas locais e as organizem por meio de categorias: ques-
tões sociais, infraestrutura, meio ambiente, entre outros pontos que acharem
relevantes.
•• Reconhecer padrões entre os problemas apresentados em forma de tabela.
•• Com base em padrões reconhecidos, desenvolvam soluções para um dos pro-
blemas apresentados.
•• Desenvolver um storyboard para transpor a solução por meio da criação de um
algoritmo, isto é, descrever o passo a passo da solução formulada. O storyboard
é uma técnica muito utilizado na indústria cinematográfica como forma de pré-
-visualização de determinada cena. Para isso, são desenhados, em uma sequên-
cia de quadros, o que deve acontecer em cada momento da cena. Aqui, o grupo
deve desenhar o que deve acontecer em cada etapa da solução.

Não escreva no livro. 111


TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO NO BRASIL
Após a crise de 1929 e a ascensão de Vargas ao poder, uma nova orientação política e
econômica ganhou espaço no Brasil, impactando diretamente as formas de pensar e plane-
jar o território nacional.
O governo de Getúlio Vargas (1882-1954)
ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO

foi marcado por uma grande preocupação


em conhecer e integrar o território brasi-
leiro, por meio da produção de dados e
informações em termos naturais, sociais
e econômicos, para subsidiar planos
territoriais de desenvolvimento. Essa
preocupação levou à criação do Instituto
Nacional de Estatística (INE), em 1934, e
do Conselho Nacional de Geografia (CNG),
em 1937, os quais deram origem ao Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em 1938. O IBGE passou a ser o
responsável pela produção e divulgação
ampla de dados e informações sobre
o território, contribuindo para o planeja-
mento territorial.
O planejamento territorial foi central,
igualmente, em outros governos, como o de
Juscelino Kubitschek (1902-1976), respon-
sável pela construção de Brasília e pela
criação da Superintendência de Desenvol-
vimento do Nordeste (Sudene), conforme
estudaremos mais adiante. Durante a Dita-
Brasília fazia parte do planejamento territorial de Juscelino Kubitschek. dura Civil-Militar, a importância do plane-
Na foto, a construção do prédio do Senado Federal durante a criação de jamento permaneceu e ganhou contornos
Brasília, DF, em 1959.
autoritários, com projetos voltados à cons-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO trução de redes de transporte para conec-
DA
tar EDITORA DO BRASIL
as diferentes partes do país, à criação de outras superintendências de desenvolvimento
regional, ao estabelecimento de planos nacionais de desenvolvimento etc.

Planejamento, integração e regiões


Entre as diversas missões do IBGE, esteve a proposição de uma nova regionalização para
o Brasil, resgatando propostas anteriores, como a de 1913.
Regionalizar significa agrupar determinadas porções ou áreas do território em conjuntos
dotados de alguma unidade ou semelhança, que pode estar calcada em aspectos naturais,
sociais, econômicos e culturais, ou na combinação deles, para determinado fim. No contexto
do Estado Novo, em que havia a preocupação de integrar o território e desmantelar autono-
mias locais em prol de uma centralização do poder do Estado, a regionalização visava atender,
por exemplo, à demanda por coleta e divulgação de dados e estatísticas de forma organizada
e sistematizada, além da realização de estudos que poderiam orientar estratégias e políticas
de desenvolvimento e organização do território.
Embora a regionalização, muitas vezes, estivesse revestida de uma carga impessoal e fosse
concebida como a conjunção de unidades territoriais com alguma semelhança, é importante
destacar que ela é também um ato político que envolve escolhas e orientações.

112 Não escreva no livro.


Surgiu, nesse contexto, a primeira proposta de regionalização oficial do Brasil organizada
pelo IBGE, que seria institucionalizada em 1942 e revista em 1945. Veja os mapas a seguir
com a regionalização de 1945 e a atual.

BRASIL: REGIONALIZAÇÃO IBGE (1945) BRASIL: REGIONALIZAÇÃO ATUAL

Allmaps
50° O 50° O

RR
AP
Equador Equador
0° 0°

AM PA
MA CE
RN
PB
PI
PE
AC
AL
TO SE
RO
BA
MT
DF

GO
OCEANO
OCEANO ATLÂNTICO
ATLÂNTICO MG
OCEANO ES
PACÍFICO OCEANO MS
N PACÍFICO N
SP RJ
Centro-Oeste Trópico de Capricórnio Trópico de Capricórnio

Leste Meridional O L PR O L
Leste Setentrional Norte SC
Nordeste Ocidental S Nordeste S
RS
Nordeste Oriental Centro-Oeste
0 390 780 km 0 390 780 km
Norte Sudeste
1 : 39 000 000 1 : 39 000 000
Sul Sul

Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico do espaço mundial. 4. ed. Moderna: São Paulo, 2013. p. 152.

Nos anos seguintes, a regionalização foi revista algumas vezes, diante das mudanças polí-
ticas, territoriais e econômicas pelas quais o Brasil passou. Na década de 1970, a revisão da
proposta originou a regionalização mais próxima da que temos hoje.
Em 1990, no contexto da Nova República, a regionalização atual foi definida. A Cons-
tituição de 1988 transformou os antigos territórios federais de Roraima e Amapá em
estados, criou o estado de Tocantins e integrou Fernando de Noronha ao estado de Per-
nambuco. A regionalização oficial do IBGE levou em conta critérios sociais, econômicos
MATERIAL DE
e naturais, respeitando os DIVULGAÇÃO
limites político-administrativos dos estados.
DA EDITORA DO BRASIL
Regiões e as superintendências
de desenvolvimento regional
A regionalização do país se tornou estratégica para o Estado, pois, além da elaboração
e divulgação dos dados com base nos recortes regionais, ela possibilitou uma definição
mais clara das políticas territoriais, como as elaboradas no âmbito das superintendências
de desenvolvimento: Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene); Supe-
rintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam); Superintendência do Desenvol-
vimento do Centro-Oeste (Sudeco); Superintendência do Desenvolvimento da Região
Sul (Sudesul).
As superintendências foram criadas em momentos distintos, mas estavam relacionadas
às necessidades de cada região do Brasil, que puderam ser mais bem compreendidas com
base nos dados e nas informações divulgados. Embora algumas críticas sejam feitas à
regionalização oficial, por agrupar espaços e situações bastante díspares na mesma uni-
dade, ela serviu e ainda é útil para a análise de algumas situações mais genéricas e gerais
do território.

Não escreva no livro. 113


Sudene e sua área de atuação
A criação da Sudene, por exemplo, vinculava-se à percepção cada vez mais crítica de que
a região Nordeste se distanciava, em termos de desenvolvimento industrial e econômico, do
eixo Centro-Sul do país. A falta de políticas que respondessem ao problema da seca e a ausên-
cia de investimentos para gerar emprego, elevar a qualidade de vida e fixar as populações
levou milhares de pessoas e famílias a migrar para outras regiões, sobretudo a partir década
de 1940. A ideia era delegar à autarquia o planejamento e a aplicação de políticas pensadas
especificamente para a região.
A lei que instituiu a Sudene acrescentou à sua área de atuação uma parcela do território
de Minas Gerais (o norte do estado), compreendida no Semiárido brasileiro, pois se entendia
que, por suas características, essa área resguardava mais semelhanças com o Nordeste do
que com o Sudeste. A integração do norte de Minas Gerais ao Semiárido e à área da Sudene
visava, justamente, contemplar esse território nas políticas voltadas à superação das proble-
máticas regionais.

SEMIÁRIDO
40° O
Allmaps

MA CE
PA
RN

PB
PI
PE

AL 10° S
TO
SE
OCEANO
BA ATLÂNTICO
N
Fonte: ALAGOAS (Estado). Secretaria
de Estado do Planejamento, Gestão e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO O L
Patrimônio. Estudo sobre o canal do

DA EDITORA DO BRASIL S
Sertão. Maceió: SEPLAG, 2017.
Disponível em: http://dados.al.gov.br/
DF dataset/39e70e25-4d9c-4680-b9e8-
GO 0 200 400 km
d709de9f0f94/resource/b2ffd9f1
1 : 20 000 000 -6bc0-4923-b4cd-625eb4d8ad5f/
download/estudosobreocanal
MG Semiárido
Polígono das Secas dosertaoalagoano.pdf. p. 5. Acesso em:
ES
26 jul. 2020.

Diferentes propostas e realidades


Com base nas pesquisas realizadas pelo IBGE, desde o governo Vargas, ficou ainda mais
evidente a profunda desigualdade regional brasileira, realidade que se mantém, apesar de
algumas iniciativas terem sido empreendias para combater essas disparidades. Polos de
desenvolvimento econômico e de concentração populacional têm contrastado, ao longo do
tempo, com áreas de estagnação econômica e repulsão populacional. O Nordeste, por exem-
plo, é uma área historicamente repulsora, realidade que apresentou sinais de mudança neste
início de século XXI, quando se registrou um aumento das migrações de retorno de nordesti-
nos e de seus descendentes para seus locais de origem. Isso pode ser explicado, entre outros
fatores, por investimentos recentes na região visando combate às secas, geração de empregos
e desenvolvimento industrial. Contudo, a desigualdade e os contrastes ainda são críticos.

114 Não escreva no livro.


O Censo de 2010, por exemplo, registrou ampla desigualdade regional, em termos popu-
lacionais. Dados de 2017, relativos ao Produto Interno Bruto (PIB), deixa evidente a desi-
gualdade econômica.

BRASIL: PARTICIPAÇÃO DAS REGIÕES


NA POPULAÇÃO TOTAL E NO PIB (%)
Allmaps

50° O

RR
AP
Equador

População: 8,3
AM
PIB: 6 PA MA CE
RN
PI PB

AC
População: 27,8 PE

TO PIB: 14 AL
SE
RO
BA
MT
DF Fontes: Para os dados de população: CENSO
População: 7,4 GO OCEANO (2010). Apud AMPARO, Paulo Pitanga do.
PIB: 10 ATLÂNTICO
MG Os desafios a uma política nacional de
OCEANO ES desenvolvimento regional no Brasil. Interações,
MS População: 42,1
PACÍFICO Campo Grande, v. 15, n. 1, p. 175-192, jan./jun.
PIB: 53
Trópico de Capricórnio
SP
RJ N 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/
inter/v15n1/v15n1a16.pdf. Acesso em: 26 jul.
PR
Macrorregiões O L 2020. Para os dados do PIB: IBGE explica.
Norte SC Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/
Nordeste População: 14, 4 S pib.php. Acesso em: 3 ago. 2020.
Centro-Oeste PIB: 17
Sudeste RS
0 525 1 050 km
*Os dados de população se referem ao censo
Sul de 2010, enquanto os dados do PIB
1 : 52 500 000
são de 2017.

Ao longo do tempo, algumas reflexões sobre a heterogeneidade interna das regiões, bem
como sobre o processo de desenvolvimento econômico do país levaram alguns pensadores
a refletir sobre a organização territorial do país e a sugerir outras formas para regionalizar
o Brasil. Duas das propostas mais conhecidas para isso foram as elaboradas pelo geógrafo
brasileiro Pedro Pinchas Geiger (1923-), na década de 1960, que olhou, também, para
a formação histórica do país, e a dos geógrafos Milton Santos (1926-2001) e María
Laura Silveira, abordada no livro O Brasil: território e sociedade no início do século XXI,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
publicado em 2001.
DA EDITORA DO BRASIL
As regiões geoeconômicas
Pedro Geiger propôs, em 1967, as regiões geoeconômicas (complexos regionais ). São elas:
Amazônia, Nordeste e Centro-Sul. Essa proposta tinha uma preocupação relevante quanto à
formação histórica e econômica do país, que estava diretamente atrelada às dinâmicas
e características dos estados e à forma como eles se relacionam entre si.
As regiões geoeconômicas, nesse contexto, não seguem estritamente os limites dos esta-
dos, contrapondo-se à proposta oficial do IBGE. Além disso, o Norte de Minas Gerais foi
alocado na região Nordeste.
O caráter do complexo Amazônia é inegavelmente constituído pela floresta, intimamente
associada ao desenvolvimento histórico dos estados que fazem parte dessa região. A Ama-
zônia se se destaca não apenas pela extensão territorial, mas também como a região mais
sensível em termos de exploração predatória dos recursos naturais.
A região Centro-Sul é caracterizada por concentrar o desenvolvimento econômico do país
e um grande contingente demográfico. Ela é responsável pela produção da parte majoritária
do PIB nacional, abrigando áreas estratégicas no que diz respeito à produção industrial, à
agropecuária e ao setor de comércio e serviços.

Não escreva no livro. 115


BRASIL: REGIÕES GEOECONÔMICAS
A região Nordeste, a de mais antiga
ocupação, é também aquela com grande
Allmaps

50° O
número de problemas sociais e econô-
RR
AP micos, sobretudo aqueles relacionados
Equador

à ausência de políticas eficazes no com-
bate à pobreza e à miséria. Na educação,
AM PA por exemplo, a região, em 2019, tinha o
MA CE
RN maior índice de analfabetismo do país,
PB
PI
PE
segundo dados da Pesquisa Nacional por
AC TO
AL Amostra de Domicílio (Pnad). Os estados
RO SE
BA
da região apresentam, isoladamente,
MT índices preocupantes. Em 2018, a taxa
DF
OCEANO de analfabetismo em Alagoas e no Ceará
GO ATLÂNTICO
era, respectivamente, de 17,2% e de
MG
MS ES
16,6%. Em termos comparativos, em São
OCEANO
PACÍFICO
SP
Paulo, essa taxa era, no mesmo ano, de
Trópico de Capricórnio RJ
N
2,6%, e em Mato Grosso do Sul, de 5%.
PR
A seca, durante muito tempo, foi pro-
O L
SC
pagandeada como a causa de vários pro-
Amazônia
RS S blemas nessa região. Contudo, sabe-se
Nordeste 0 470 940 km que políticas e projetos adequados podem
Centro-Sul 1 : 47 000 000 fornecer condições objetivas para solu-
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. p. 150. cionar questões como essa. O projeto de
construção de cisternas, por exemplo,
iniciado em 2003, mostrou-se bastante
efetivo em algumas situações. O programa
de construção de cisternas é um projeto vinculado, atualmente, ao Ministério da Cidadania,
tendo sido responsável, até 2014, pela construção de mais de 1 milhão de cisternas no
Semiárido brasileiro. O projeto é um dos exemplos que evidenciam a importância de políticas
eficazes e estratégicas para garantir vida digna e desenvolvimento social às pessoas.

MATERIAL DEBRASIL: TAXA DE ANALFABETISMO ENTRE PESSOAS DE 15 ANOS OU MAIS (2019)


DIVULGAÇÃO

Gráfico: DAE
DA
20%EDITORA DO BRASIL
13,9%

15%

7,6%
10%
6,6%

4,9%

5% 3,3% 3,3%

0%
Brasil Sudeste Sul Centro-Oeste Norte Nordeste

Fonte: IBGE EDUCA JOVENS. Conheça o Brasil. População – Educação. Disponível em: https://educa.ibge.gov.br/jovens/
conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html. Acesso em: 3 ago. 2020.

116 Não escreva no livro.


Por outro lado, há áreas no Nordeste extrema-

Arthur De Souza/Fotoarena
mente dinâmicas, marcadas por urbanização intensa
e desenvolvimento expressivo, a exemplo da zona
portuária do Recife, em Pernambuco, que se tornou
um parque tecnológico de referência no Brasil.
A proposta de regionalização de Geiger também
foi alvo de críticas. Uma delas é justamente a opção
por não seguir os limites político-administrativos.
Isso poderia criar algumas barreiras, por exemplo,
à proposição e aplicação de políticas de desen-
volvimento, em razão da dificuldade para articular
investimentos e estratégias em estados que têm
porções em mais de uma região. Mesmo a leitura
de dados e informações se torna complicada nessa
regionalização, pois os dados nacionais, produzi-
dos por órgãos e institutos, como o IBGE, os minis-
térios e as secretarias de governos, costumam ser
divulgados segundo as unidades oficiais (país,
estado, município). Zona portuária do Recife, PE, 2018.

Os “quatro Brasis”
A proposta de regionalização elaborada pelos geógrafos Milton Santos e María Laura Silveira
ficou conhecida como os “quatro Brasis”. Eles propuseram uma forma diferente de regiona-
lização do território, fundamentada no desenvolvimento técnico surgido da inserção do país
nos circuitos do capital globalizado, com atenção específica ao grau de difusão (diferenciada)
do meio técnico-científico-informacional no país, ou seja, na forma como as diversas regiões,
por meio de suas cidades, redes de transporte e de informação, das trocas comerciais com
o restante do território e do exterior etc., são atingidas por dados da ciência, da técnica e da
informação. Segundo essa proposta, o país foi dividido em quatro regiões: Concentrada,
Centro-Oeste, Nordeste e Amazônia.
Na região Concentrada, que abriga as duas
REGIONALIZAÇÃO DO BRASIL – 4 BRASIS
principais metrópoles do país, São Paulo e Rio
MATERIAL DEimportantes
DIVULGAÇÃO

Allmaps
50° O
de Janeiro, está a sede de institui-
RR
ções financeiras,
DAbolsas de valores,
EDITORA a instalação
DO BRASIL Equador
AP

do que vem sendo denominado de setor qua-


ternário da economia, aeroportos internacionais


AM PA
com voos recorrentes para outros locais do MA CE
RN
mundo, a concentração de importantes univer- PI
PB
PE
AC
sidades, centros de pesquisa e parques tecno- TO AL
RO SE
lógicos etc. BA
MT
O Centro-Oeste, que nessa proposta, inclui DF

o Tocantins, expressa sua relação e inserção GO OCEANO


com o meio técnico-científico-informacional OCEANO MS
MG
ES
ATLÂNTICO

em decorrência das atividades agropecuárias PACÍFICO


SP RJ
N

avançadas, cuja produção é, sobretudo, voltada


Trópico de Capricórnio

PR O L
ao mercado externo.
SC
Região Amazônica
Os dois geógrafos citados mencionam que S
Região Nordeste RS
o meio técnico-científico-informacional no Região Centro-Oeste
0 390 780 km

Centro-Oeste se estabelece em um espaço Região Concentrada


1 : 39 000 000

que é basicamente natural, diferente da região


Fonte: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico do espaço mundial.
Concentrada. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2013. p. 152.

Não escreva no livro. 117


O Nordeste seria caracterizado por uma inconsistente inserção dos aparatos técnicos
modernos em seu interior. A integração aos circuitos globais de produção e circulação, bem
como a presença do meio técnico-científico-informacional são pontuais e de baixa expres-
são, concentrando-se na região litorânea, onde estão importantes cidades, que compõem
um circuito turístico que se projeta nacional e internacionalmente, além de polos tecnoló-
gicos e industriais, como o de Suape, em Pernambuco.
A Amazônia, por fim, seria uma região marcada pela baixa representatividade de um
aparato técnico moderno, que se concentra, sobretudo, em áreas de expansão agropecuá-
ria e também no polo industrial de Manaus.

Divisão regional e desigualdade


O território brasileiro foi permeado por relações de desigualdade desde o início de sua
formação. Isso se reflete, hoje, nas diferentes formas e relações entre as unidades fede-
rativas e regiões do país.
Desde o período colonial, algumas áreas ganharam destaque econômico, em detrimento
de outras, geralmente em decorrência da exploração de recursos naturais ou de atividades
agrícolas: pau-brasil, cana-de-açúcar, metais preciosos, café, borracha, entre outros. Em cada
um desses movimentos, não houve esforços significativos para que todo o território se inte-
grasse e se articulasse em torno da atividade preponderante, ou mesmo se desenvolvesse
com base em outras atividades.
O declínio de atividades econômicas que mobilizavam áreas específicas do território, como
a exploração do látex em estados da atual região Norte, deixou evidente as consequências
negativas da falta de articulação territorial. O desenvolvimento industrial da segunda metade
do século XX, por exemplo, pouco avançou para regiões além do Sudeste.
No que diz respeito à atividade industrial, a concentração espacial ainda é marcante. Con-
tudo, nos últimos anos, algumas iniciativas e políticas de investimento têm contribuído para
uma relativa desconcentração do capital e das plantas industriais. Veja no mapa a seguir a
distribuição das indústrias pelo Brasil em 2016.

BRASIL: INDÚSTRIA (2016)

Allmaps
50° O
VENEZUELA
SURINAME GUIANA FRANCESA

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
COLÔMBIA GUIANA
Boa Vista
AP
RR

DA EDITORA DO BRASIL
Equador Macapá

Belém São Luís


Manaus Fortaleza
PA
AM MA CE
Teresina RN Natal
João Pessoa
PI PB
Porto TO PE Recife Norte
AC Velho Palmas
Rio
Branco
Maceió
AL
Nordeste
RO Aracaju
Centro-Oeste
SE
BA
PERU Sudeste
MT Salvador
Cuiabá
DF Sul
OCEANO
GO MG
BOLÍVIA Goiânia ATLÂNTICO Número de empresas
Belo industriais extrativas
MS Horizonte
ES ou de transformação,
Campo
OCEANO Grande por município
PACÍFICO SP Vitória

RJ
menos de 1000
PARAGUAI Rio de Janeiro
Trópico de Capricórnio
N 1 000 a 5 000
São Paulo
PR
Curitiba 5 001 a 10 000
O L
SC 33 612
Florianópolis
ARGENTINA
RS S
Porto Alegre

0 530 1060 km
Fonte: IBGE. Atlas geográfico
URUGUAI
1 : 53 000 000 escolar. 8. ed. Rio de Janeiro:
IBGE, 2018. p. 34.

118 Não escreva no livro.


As concentrações das redes
Além da concentração proeminente na região Concentrada, observa-se um adensamento nas
regiões litorâneas que se relaciona ao processo de ocupação do território e à proximidade com
os mercados consumidores urbanos, sendo locais onde se encontra uma importante rede
de circulação, que permite uma conexão eficaz desses espaços a outras partes do território.
Outro dado a ser considerado na análise das desigualdades regionais do Brasil é a contra-
ção de renda:

[...] O Brasil é o país mais desigual do mundo se considerarmos a concentração do 1% mais


rico, que fica com quase 30% do total da renda. Quando são levados em conta os 10% mais ricos,
estes ficam com 55%, e passamos ao sétimo país mais desigual do mundo.
CAPOBIANO, Antônio Marcos. Mãe gentil? Folha S.Paulo, 24 ago. 2020. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/08/mae-gentil.shtml. Acesso em: 9 set. 2020.

Observe os mapas a seguir, que representam a distribuição das redes de transporte


(à esquerda) e a concentração de renda (à direita) no Brasil.

BRASIL: REDES DE TRANSPORTE BRASIL: RENDIMENTO (2015)


50° O
Allmaps

Allmaps
50° O

AP RR
RR
Equador AP
0° 0° Equador

AM
PA
CE AM PA
MA RN MA CE
RN
PB
PI PI PB
AC PE PE
TO AC
AL AL
SE SE
RO BA RO
TO BA
MT
MT
DF MG Quantidade de domicílios DF
GO
OCEANO com rendimento domiciliar OCEANO
OCEANO médio mensal maior que GO
ATLÂNTICO
MS ATLÂNTICO 10 salários mínimos* (%)
PACÍFICO ES
MG
ES N
N
2,18 a 4,00 MS
Trópico de Capricórnio SP
RJ 4,01 a 6,00 Trópico de
Capricórnio
RJ
O L
O L
PR SP 6,01 a 8,00 PR

SC Rodovias 8,01 a 10,00 SC S


S
Ferrovias 23,91
0 MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
390 780 km
RS
Gasodutos
*Valor do salário mínimo
RS
0 390 780 km
Fibras óticas
DA EDITORA DO BRASIL
1 : 39 000 000 considerado: R$ 788,00 1 : 39 000 000

Fonte: THÉRY, Hervé; MELLO-THÉRY, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. p. 121.
disparidades e dinâmicas do território. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2018. p. 261.

É possível notar que a região Concentrada reúne uma rede densa de transportes. Além
disso, nota-se uma quantidade expressiva de domicílios que, em 2015, tinham rendimento
mensal superior a 10 salários mínimos.

Nessa Região Concentrada do país, o meio-técnico-científico-informacional se implantou so-


bre um meio mecanizado, portador de um denso sistema de relações, devido, em parte, a uma
urbanização importante, ao padrão de consumo das empresas e das famílias, a uma vida comer-
cial mais intensa. Em consequência, a distribuição da população e do trabalho em numerosos
núcleos importantes é outro traço regional.
Atividades ligadas à globalização que produzem novíssimas formas específicas de terciário
superior, um quaternário e um quinquenário ligados à finança, à assistência técnica e política e
à informação em suas diferentes modalidades vêm superpor-se às formas anteriores do terciá-
rio e testemunham novas especializações do trabalho nessa região [...]
SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 9. ed.
Rio de Janeiro: Record, 2006. p. 268.

Não escreva no livro. 119


Desenvolvimento territorial como política de Estado
O Brasil é um país extenso e diverso. Essa consideração é de extrema relevância quando
analisamos os níveis de desigualdade e a disparidade socioeconômica entre as regiões,
pois ajuda a entender algumas das iniciativas e políticas determinadas pelo Estado e a
dificuldade dos sucessivos governos de ampliar a integração territorial e um desenvolvi-
mento mais equilibrado.
Embora algumas iniciativas para o desenvolvimento regional tenham sido propostas, nota-se
que a concentração, sobretudo a econômica, permanece, mesmo diante de momentos de
relativa desconcentração do capital, como ocorreu, por exemplo, no fim do século XX, momento
em que ganhou relevância um processo de dispersão da atividade industrial pelo território, que
se pautou pela desconcentração, mas essa atividade continuou concentrada em muitos casos.
Nesse contexto, cabe mencionar o que ficou conhecido como guerra fiscal, processo no qual
estados e municípios oferecem vantagens para atrair empresas e investimentos para seu ter-
ritório. Esse tipo de política revela a falta de efetividade das políticas federais como fator para
garantir um desenvolvimento equilibrado e uniforme, corrigindo possíveis contradições.
O propósito das superintendências, por exemplo, conforme mencionado, era articular,
propor e acompanhar medidas e estratégias voltadas a minimizar as desigualdades de desen-
volvimento de sua região em relação às outras, majoritariamente em relação ao Sudeste.
Mas, muitas das iniciativas não surtiram os resultados esperados. A Sudene, por exemplo,
chegou a ser alvo de muitas denúncias de corrupção e desvio de função, o que levou à sua
extinção no início dos anos 2000, tendo sido restabelecida em 2007.
Outra iniciativa de desenvolvimento regional foi a regulamentação dos Fundos Constitu-
cionais de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), do Nordeste (FNE) e do Norte (FNO), pre-
vistos na Constituição de 1988, de modo que se tornaram os principais recursos de
financiamento da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR). Mais recentemente,
foram criados os fundos de desenvolvimento regional da Amazônia (FDA), do Nordeste (FDNE)
e do Centro-Oeste (FDCO), que visam garantir e direcionar recursos para a realização de
investimentos no âmbito das superintendências regionais. Veja nos mapas a seguir as áreas
de abrangência dos fundos constitucionais e de desenvolvimento.

ÁREA DE ABRANGÊNCIA DOS FUNDOS FUNDOS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
CONSTITUCIONAIS DE FINANCIAMENTO

Allmaps
50° O
Allmaps

50° O

DA EDITORA DO BRASIL
RR Equador
RR
AP
AP 0°
Equador

AM
AM PA MA CE
CE RN
PA MA
RN PB
PB PI
PI AC PE
AC PE AL
AL RO SE
TO
RO SE
TO BA
BA MT
MT
DF
DF GO
GO OCEANO
OCEANO MG ES ATLÂNTICO
MG ES ATLÂNTICO OCEANO MS
OCEANO MS PACÍFICO N
PACÍFICO N SP RJ
SP Trópico de Capricórnio
RJ
Trópico de Capricórnio
PR O L
PR O L Sudam
SC
SC Sudene S
S Sudeco RS
FNO
RS 0 390 780 km
FCO 0 390 780 km
Área comum à Sudam/Sudene
FNE Área comum à Sudam/Sudeco 1 : 39 000 000
1 : 39 000 000

Fonte: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Fundos Constitucionais Fonte: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Fundos de
de Financiamento. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/ Desenvolvimento Regional. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/
fundos-regionais-e-incentivos-fiscais/fundos-constitucionais-de assuntos/fundos-regionais-e-incentivos-fiscais/fundos-de-desenvolvimento
-financiamento. Acesso em: 3 ago. 2020. -regional. Acesso em: 3 ago. 2020.

120 Não escreva no livro.


Atividades

1. Veja a charge a seguir.

© Nani
Nani. A seca no Nordeste. Charge publicada em 2013.

A seca no Nordeste aparece frequentemente como causa dos problemas socioeconômicos


da região. Com base na charge, pesquise sobre a “indústria da seca”. Em seguida, comen-
te os motivos que dificultam superar o baixo desenvolvimento e a pobreza na região,
e elabore propostas que poderiam levar à superação desses problemas.
2. Leia o excerto da fala do professor de administração pública Alexandre Abdal a seguir.
[...]
“Não há histórico, no século 20, de deslocamento do eixo estrutural de localização da indús-
tria brasileira, e a situação não mudou na última década. Grosso modo, podemos dizer que a
maior parte de nosso setor manufatureiro se encontra ainda no espaço conhecido como Polí-
gono Industrial, que abarca Sudeste e Sul, e ainda assim de uma forma desigual dentro dessas
regiões” [...]
Fonte: MARTINS, Leandra Rajczuk. AUN – Agência Universitária de Notícias da USP, 4 maio 2017. Disponível
em: https://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/05/04/desigualdade-regional-brasileira-pouco-mudou-na
-primeira-decada-do-seculo-21/. Acesso em: 27 jul. 2020.
•• O desenvolvimento regional brasileiro foi historicamente desigual. Embora as regiões,
como as conhecemos hoje, tenham começado a ser elaboradas oficialmente na
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
década de 1940, o território é marcado pela desigualdade. De que modo a concentra-
DA EDITORA
ção econômica DO BRASIL
no Sudeste e a falta de políticas e iniciativas eficazes de desenvolvi-
mento entre as regiões fomentaram uma situação de desequilíbrio entre as regiões
do país?
3. Retome o mapa da participação das regiões brasileiras no PIB e o mapa de distribuição
das indústrias no território, das páginas 115 e 118, respectivamente. Analisando os dados
contidos nessas representações, comente a importância das iniciativas de desenvolvi-
mento regional, como forma de superar desigualdades.
4. Em grupo de quatro integrantes, pesquisem em livros, artigos científicos ou em páginas
virtuais de institutos, órgãos e empresas que produzam dados confiáveis (IBGE, Emplasa,
Inpe, ministérios e secretarias de governo, universidades etc.), dados e informações
sociais, culturais, econômicos, históricos e naturais dos estados e localidades do Brasil,
e construam uma nova proposta de regionalização do país. Após reunirem os dados e
as informações e elaborarem a proposta, façam um relatório, explicando suas esco-
lhas e justificando a regionalização. Na data marcada, preparem-se para apresentar a
proposta e debatê-la com os colegas. Caso seja possível, esbocem um mapa com essa
regionalização.

Não escreva no livro. 121


4
UNIDADE
Caminhos e debates
para pensar o futuro

UTOPIAS
A palavra “utopia” pode assumir muitos significados, dependendo do
contexto em que é usada. Etimologicamente, utopia vem do grego ou, que
significa “não”, e topos, que significa “lugar”. Essa palavra designa, dessa
maneira, um não lugar, isto é, um lugar inexistente ou imaginário.
A expressão foi utilizada pela primeira vez em 1516,
Akg-Images/Album/ Fotoarena

quando foi publicado o livro Utopia, escrito pelo filósofo


inglês Thomas More (1478-1535). Nessa obra, a pala-
vra “utopia” é utilizada para designar uma ilha onde
existiria uma sociedade perfeita, porém imaginária, na
qual todos os cidadãos seriam iguais e viveriam em
harmonia.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira parte
do texto, o autor narra a viagem de Rafael Hitlodeu,
protagonista da história, a uma terra onde os campo-
neses são expulsos do campo para as cidades. Nesse
lugar existem bandos de ladrões, a justiça é cega,
porém cruel, a realeza é ávida de riquezas e está sem-
pre pronta para a guerra, e há perseguições religiosas.
Dessa forma, podemos afirmar que a história apresenta
uma crítica de More em relação às monarquias inglesa
e francesa da época.
A segunda parte do livro é narrada em contraponto
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO à primeira viagem. Rafael vai para Utopia, um lugar
DA EDITORA DO BRASIL onde os valores são diametralmente contrários aos
apresentados anteriormente. As terras são distribuídas
igualmente entre os utopianos, que dedicam apenas
seis horas do seu dia ao trabalho. Os habitantes da ilha
 Gravura presente na capa da primeira edição de Utopia, de dormem oito horas por noite, realizam atividades de
Thomas More, em 1516, representando o mapa da Ilha Utopia. interesse particular no tempo ocioso – em modo geral,
Nessa cidade imaginária existia uma sociedade perfeita.
atividades intelectuais – e o ouro é desprezado.
Por meio da imaginação utópica do não lugar, More valeu-se da história
do livro para criticar a sociedade de sua época, formulando um ideal político-
O que foi o humanismo -social inspirado nos princípios do humanismo renascentista. Segundo
renascentista? Marilena Chaui (1941-), a imaginação utópica pode ser descrita como aquela
Foi um movimento intelectual que cria uma outra realidade para mostrar os erros, as injustiças, as infâmias,
desenvolvido na Europa as opressões e as violências da realidade presente, e para despertar, na
durante o Renascimento, entre
os séculos XIV e XVI,
imaginação dos indivíduos, o desejo de mudança.
caracterizado por valores Dessa forma, a imaginação utópica inventa um mundo novo e diferente,
antropocêntricos, ou seja, graças ao conhecimento crítico do presente. Assim, a imaginação utópica se
valores que tinham o ser
humano no centro das ideias. opõe à imaginação reprodutora, que se caracteriza pela supressão do desejo
de transformação, operando com ilusões.

122 Não escreva no livro.


Pode-se afirmar que o livro de Thomas More apresenta certa relação com o pensamento
de Platão (428 a.C.-347 a.C.), uma vez que o filósofo grego, na obra A República, expõe, por
meio do diálogo entre Sócrates, Glauco, Adimanto, Nicerato, Polemarco, Lísias, Céfalo e
Trasímaco, um modelo de cidade ideal, que deveria ser governada por um rei filósofo e pre-
cisaria ser, acima de tudo, uma cidade justa. O que não significa, porém, que Platão fosse um
autor utópico, pois a sua república é deduzida da razão.

Usos do termo “utopia”

Walt Disney Studios Motion Pictures/courtesy Everett Collection/Fotoarena


Segundo Marilena Chaui, estamos acostu-
mados a relacionar as expressões “utopia” e
“utópico” a algo impossível, a aquilo que só
existe em nosso desejo e imaginação, e que
não encontrará em nenhum momento con-
dições objetivas para se realizar. Em sentido
mais amplo, utopia designa todo projeto de
uma sociedade idealizada e perfeita, podendo
assumir um significado pejorativo ao se con-
siderar esse projeto como irrealizável e, por-
tanto, fantasioso. O termo também pode
assumir um significado positivo quando se
defende que esse projeto carrega o núcleo
do progresso social e da transformação da
sociedade, estimulando o pensamento revo-
lucionário de uma época.
No século XIX, por exemplo, ainda de acordo
com Chaui, o otimismo trazido pelas ideias
 Imagem da cidade futurista e cientificamente avançada do filme
de progresso, o desenvolvimento técnico e Tomorrowland - um lugar onde nada é impossível (2015), dirigido por
científico, e a capacidade humana de construir Brad Bird.
uma vida justa e feliz fizeram com que a Filo-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sofia, naquele momento, estivesse voltada para as chamadas utopias revolucionárias
(o anarquismo,DA EDITORA DO
o socialismo e oBRASIL
comunismo), que criariam uma sociedade nova, justa e feliz
por intermédio da ação política consciente dos indivíduos explorados e oprimidos. Porém, no
século XX, com a ascensão de regimes totalitários (fascismo, nazismo, stalinismo), a Filoso-
fia passou a desconfiar do otimismo revolucionário e das utopias, indagando sobre a capaci-
dade do ser humano de criar e manter uma sociedade nova, justa e feliz.
O filósofo contemporâneo Herbert Marcuse (1898-1979) escreveu uma obra intitulada
O fim da utopia, na qual reflete sobre a utilização do conceito na contemporaneidade. Para
o autor, quando se fala em “fim da utopia”, não significa a negação de modelos utópicos
que reagem à sociedade, mas o fim da utopia como um projeto irrealizável. Segundo
Marcuse, hoje as sociedades já apresentam precondições técnicas e intelectuais suficien-
tes para que o projeto utópico de uma sociedade livre (aberta ao desenvolvimento pleno
das potencialidades humanas) se concretize. Para ele, a utopia não é completamente
utópica, no sentido de ser irrealizável – ao contrário, sua concretização tem origem na
negação consciente das condições histórico-sociais do presente. Dessa forma, a utopia se
efetiva em uma nova ordem de tempo, não apenas em um futuro e em um lugar inexistente,
mas antes no aqui e agora, quando o impossível passa a ser existente no horizonte político
e social, refutando o lugar de impossibilidade da utopia e tornando-a mais próxima dos
indivíduos contemporâneos.

Não escreva no livro. 123


O socialismo dos utópicos
A expressão “socialismo utópico” é utilizada para designar a primeira fase do pensamento
socialista, que se desenvolveu ao longo da primeira metade do século XIX, na Europa. Para
essa corrente socialista, a classe trabalhadora é compreendida como despossuída, oprimida
e geradora da riqueza social, sem que chegue a desfrutar dela.
Os teóricos do socialismo utópico foram uns dos primeiros pensadores a demonstrar que a
principal fonte dos males sociais estava na estrutura do sistema econômico baseado na proprie-
dade privada. Eles imaginaram uma nova sociedade em que a propriedade privada, a noção de
lucro dos capitalistas, a exploração do trabalho e a desigualdade econômica, social e política não
existiriam. Em contraponto, idealizaram novas cidades, organizadas em cooperativas geridas
pelos trabalhadores, com escola para todos, liberdade de pensamento e de expressão, igualdade
de direitos sociais (moradia, alimentação, transporte, saúde), abundância material e felicidade.
As cidades, dentro do modelo proposto pelo socialismo utópico, seriam constituídas por
pessoas livres e iguais que se autogovernam. Por serem cidades perfeitas, que não existem
em lugar algum, foram denominadas de cidades utópicas.
Segundo o filósofo Friedrich Engels (1820-1895), os socialistas utópicos atuavam em
defesa de toda a humanidade e, sem passar pela mediação da luta do proletariado, preten-
diam “instaurar o império da razão e da justiça eterna”. Essa razão imutável não seria resul-
tado do desenvolvimento histórico da humanidade, mas uma forma perfeita e intemporal que
bastaria ser revelada aos seres humanos para que alcançassem a liberdade.
Os principais socialistas utópicos foram os franceses Conde de Saint-Simon (1760-1825),
Charles Fourier (1772-1837) e Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) e o inglês Robert Owen
(1771-1858).

Biblioteca Britânica, Londres


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Gustave Doré. Representação de crianças pobres em uma rua de Londres, no Reino Unido, 1872. Gravura. A vida
das camadas mais pobres das grandes cidades industriais, no início do século XIX, era cercada de dificuldades
econômicas e sociais.

124 Não escreva no livro.


Conde de Saint-Simon: a utopia da técnica
Saint-Simon acreditava que a sociedade deveria ser regida por uma elite de técnicos, e o
poder, exercido por homens sábios, filósofos e conhecedores das ciências naturais. Para ele,
a sociedade de sua época era o oposto disso, pois era dirigida por homens corruptos, imorais
e improdutivos. Saint-Simon propunha a seguinte suposição: se um país como a França, naquele
momento histórico, perdesse por um desastre três mil de seus melhores homens – sábios e
técnicos das mais diversas áreas – e, em outro momento, perdesse 30 mil homens que fizes-
sem parte da família real, as consequências para o país como nação seriam muito maiores no
primeiro caso, uma vez que a nação se tornaria um corpo sem alma, inferiorizando-se diante
das outras nações.

Charles Fourier: o mundo direito


Fourier propôs a construção de um “Novo Mundo Industrial”, caracterizado como o está-
gio final da organização social, que substituiria a sociedade capitalista. O autor chamava o
estado civilizado de sua época de “mundo às avessas”, caracterizado pela mentira e pela
indústria “repugnante”.
O novo mundo, imaginado por Fourier, chamado “mundo direito”, seria um estado societá-
rio pautado na verdade e na indústria “atraente”. Nele, a verdade e a justiça seriam meios
de enriquecimento, e o refinamento gastronômico seria compreendido como demonstração
de sabedoria.
Fourier propôs ainda a formação de núcleos de associação, chamados “falanstérios”, que
comportariam cerca de 1 800 pessoas, reunidas em funções industriais, permitindo a eficiên-
cia plena do trabalho humano e extinguindo os vícios e a falsidade do comércio. Nessa socie-
dade, o trabalho seria atraente e haveria amplas opções de atividades, com base em um
sistema que não comprometeria os interesses de nenhuma classe.

Pierre-Joseph Proudhon: a eliminação da propriedade


Proudhon buscou estabelecer matematicamente a impossibilidade lógica da propriedade.
Em sua teoria, ele aponta para o fato de que a propriedade dá o poder de produzir sem tra-
balhar, o que seria configurado como roubo. A propriedade é compreendida como causa de
mortes, sendo contrária à razão e à natureza.
Por conta do seu caráter desumano, a propriedade faria com que a sociedade se devorasse,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dado que a relação entre capitalistas estava pautada na superação de um pelo outro, sem
DA EDITORA
qualquer compromisso DOtrabalhadores.
com os BRASIL Dessa maneira, a propriedade impossibilitaria a
igualdade de direitos eleitorais, permitindo a tirania imposta por um Estado controlado pelos
interesses de uma minoria. Somente a eliminação da propriedade seria eficaz na tentativa de
remediar os males causados por ela.

Robert Owen: a utopia cooperativista


Conhecido como o precursor do movimento cooperativista e como ativista dos movimen-
tos sociais na Inglaterra, no século XIX, Owen foi o primeiro teórico do socialismo utópico a
questionar a motivação pelo lucro.
O autor defendia que a caridade, a verdade absoluta de todas as relações humanas, a
estima e o amor incondicional ao próximo seriam fundamentais para a manutenção organizada
de uma sociedade “perfeita”. Atuou na elaboração de projetos de formação de pequenas
colônias comunistas na Irlanda e na América do Norte, denominadas “Aldeias Cooperativas”,
onde o resultado do trabalho seria compartilhado entre seus membros de forma equitativa,
de acordo com o tempo gasto na produção.
Para Owen, seria mais fácil produzir, distribuir riquezas, educar e governar a população
pela união dos homens, habituados a ajudar-se mutuamente em um único interesse definido
e bem compreendido, do que pela sua divisão e pela oposição de seus interesses.

Não escreva no livro. 125


O socialismo em bases científicas
O socialismo amparado no conhecimento científico foi desenvolvido com os estudos reali-
zados por Friedrich Engels e Karl Marx (1818-1883) sobre o funcionamento das sociedades
capitalistas. Na teoria elaborada pelos dois autores, há uma crítica tanto ao pensamento liberal
quanto ao socialismo dos utópicos. Marx e Engels elaboraram as bases para se pensar cienti-
ficamente a possibilidade do socialismo. As teorias de ambos se caracterizam pela análise
crítica e científica da estrutura e do funcionamento do capitalismo, o qual pretendem superar.
Engels reconheceu a natureza do socialismo como a solução das contradições econômicas
do capitalismo e desenvolveu uma compreensão científica a esse estudo. Para ele, as concep-
ções dos utopistas expressavam uma verdade absoluta, que deveria ser revelada para o
mundo. Como a verdade absoluta não está sujeita a condições de espaço e de tempo nem
ao desenvolvimento histórico da humanidade, só o acaso poderia decidir, segundo o autor,
quando e onde suas descobertas se revelariam. Engels aponta que as noções de verdade
absoluta, de razão e de justiça variam de acordo com cada pensador. Isso resultaria no que
ele chamou de socialismo eclético e medíocre.
Para Engels, era necessário dar ao socialismo uma base científica, situando-o no terreno
da realidade. O socialismo pensado cientificamente é denominado por ele como socialismo
moderno e é caracterizado por seu conteúdo, fruto do processo de reflexão sobre os antago-
nismos de classe presentes na sociedade daquela época.
Engels reconheceu a importância dos utopistas, afirmando que o socialismo elaborado
cientificamente era uma continuação crítica do socialismo dos utópicos. Este consistiria em
uma teoria mais bem desenvolvida. O socialismo marxista sustenta que a forma social cor-
responde ao modo como a produção da vida está organizada em cada época. No século XIX,
essa ordem era resultado do modo de produção próprio da burguesia: o capitalismo.

Biblioteca de Artes Decorativas, Paris. Fotografia: Bridgeman images/Easypix Brasil


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

T ecelagem industrial em Bagatelle, 1884. Gravura (autor desconhecido). O socialismo cientificamente elaborado entende que a
ordem social de cada época é determinada pelas suas classes dominantes. No capitalismo, essa ordem seria determinada pelos
donos dos meios de produção.

126 Não escreva no livro.


Para Engels, a burguesia lançou por terra o império da livre concorrência, da liberdade de
domicílio e da igualdade de direitos dos possuidores de mercadorias, desenvolvendo livremente
o modo capitalista de produção. O socialismo marxista tem por base a análise das contradições
reais entre as forças produtivas e as relações de produção. Esta contradição se expressa de
vários modos, inclusive na consciência dos indivíduos, segundo suas classes sociais.
Para Engels e Marx, a consciência é determinada pelas condições históricas em que os indi-
víduos vivem, sendo estes os sujeitos de sua própria história, nas condições objetivas existen-
tes em cada época. A práxis (ação transformadora da sociedade) seria realizada em condições
históricas postas pela divisão social do trabalho e pela organização social das classes. Segundo
Marx, o capitalismo produziu o trabalhador despojado dos meios de produção, das posses e
propriedades, restando-lhe a “liberdade” de vender sua força de trabalho.
A partir da perspectiva burguesa, baseada na aparência das relações sociais, o assalariado
submetido às normas da produção capitalista corresponde à imagem de um homem livre.
No capitalismo industrial, as condições de trabalho fazem com que os trabalhadores exerçam
suas tarefas convivendo no local de trabalho. Essa realidade permite que eles possam per-
ceber a existência de classes sociais, cujos interesses são outros e, no caso do operário e do
industrial, se configuram como contrários. Essa consciência poderia ser uma mediação para
a práxis revolucionária.
A teoria marxista se aproxima criticamente das teorias dos utopistas, pois busca responder
à situação de miséria, infelicidade e injustiça a que estão submetidos os trabalhadores. Porém,
a teoria marxista está fundamentada na análise científica da sociedade capitalista e nela encon-
tra a maneira pela qual os trabalhadores alcançam sua própria emancipação. Para Engels e
Marx, a emancipação dos trabalhadores seria uma obra histórica realizada por eles próprios. A
sociedade comunista estaria fundamentada na ausência de propriedade privada dos meios de
produção, de classes sociais e de exploração do trabalho, e, portanto, também do Estado, sendo
livre e igualitária, resultado da ação revolucionária da classe trabalhadora.

Social-democracia como sistema possível


O socialismo se caracteriza por ter no horizonte a transformação ampla da realidade social,
a qual ainda não se realizou. No entanto, as propostas de Marx e Engels ressoaram nas socie-
dades capitalistas por meio da social-democracia.
A social-democracia é caracterizada como uma variação do socialismo. Ela surgiu no
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
interior dos movimentos operários do fim do século XIX. Sua origem inclui o marxismo, o
DA EDITORA
socialismo utópico e a ideiaDO
deBRASIL
que a evolução da ação política e do aperfeiçoamento do
Estado, pautada no direito do voto, seria mais plausível no favorecimento das lutas da classe
trabalhadora do que por meios revolucionários.
De acordo com Tom Bottomore (1920-1992), os primeiros social-democratas assumiram
um compromisso com o proletariado, acreditando que ele alcançaria o poder econômico e
político pelo sufrágio universal e pela democracia parlamentar. Com a classe operária che-
gando ao poder, a nacionalização e o planejamento acabariam com o ciclo de alternância
de períodos de prosperidade e depressão econômica, e a guerra e o colonialismo acabariam.
Para Bottomore, a social-democracia favoreceu a existência de um forte Estado democrá-
tico, mas distanciou-se do socialismo revolucionário marxista, visto que este busca subs-
tituir o sistema econômico capitalista pelo sistema econômico socialista.
A social-democracia admite o sistema capitalista, mas busca minimizar seus efeitos, ser-
vindo-se de intervenções econômicas e sociais que promovem reformas parciais, visando
contornar suas contradições e não propriamente superá-lo. No campo político, defende as
liberdades civis, os direitos sociais e a democracia representativa. No campo econômico,
pauta-se nas teorias do economista John Maynard Keynes (1883-1946), que aliava os inte-
resses sociais à minimização de aspectos problemáticos do capitalismo, como crises perió-
dicas e altos índices de desemprego, dando origem ao Estado de bem-estar social.

Não escreva no livro. 127


OUTRO PONTO DE VISTA

Crítica à social-democracia
Leia a seguir um pequeno trecho do texto “Sobre o conceito de história”, de Walter Benjamin (1892-1940). Nele, o
autor faz uma crítica à social-democracia implementada na Europa, no século XX. Depois da leitura, responda às
questões propostas.

A teoria e mais ainda, a prática da social-democracia foram determinadas por um conceito dogmático de pro-
gresso sem qualquer vínculo com a realidade. Segundo os social-democratas, o progresso era, em primeiro lugar,
um progresso da humanidade em si, e não das suas capacidades e conhecimentos. Em segundo lugar, era um
processo sem limites, ideia correspondente à da perfectibilidade infinita do gênero humano. Em terceiro lugar,
era um processo essencialmente automático, percorrendo, irresistível, uma trajetória em flecha ou em espiral.
Cada um desses atributos é controvertido e poderia ser criticado. Mas, para ser rigorosa, a crítica precisa ir além
deles e concentrar-se no que lhes é comum. A ideia de um progresso da humanidade na história é inseparável
da ideia de sua marcha no interior de um tempo vazio e homogêneo. A crítica da ideia do progresso tem como
pressuposto a crítica da ideia dessa marcha.
BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet.
São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 229. (Obras escolhidas, v. 1).

Jolanta Wojcicka/Shutterstock.com
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 A Suécia é um exemplo de país europeu em que a social-democracia foi implantada no século XX. Na foto, prédios históricos no
centro de Malmo, Suécia, 2019.

1. Qual é a crítica apresentada por Benjamin à social-democracia?

2. Em grupo, façam uma pesquisa em jornais, revistas ou sites disponíveis na internet sobre os seguintes conceitos:
• utopia;
• socialismo dos utopistas;
• socialismo marxista;
• social-democracia.
3. Escolham um dos conceitos estudados e apresentem para os colegas. Em seguida, façam um debate a respeito
dos temas estudados.
4. Após o debate, escolham de maneira consensual o conceito que melhor se adéqua ao modelo social atualmente.

128 Não escreva no livro.


Estado de bem-estar social
O Estado de bem-estar social é uma perspectiva política e econômica na qual o Estado
tem papel fundamental na organização econômica e social de um país, com o objetivo de
promover seu progresso e criar redes de segurança aos cidadãos durante toda a vida.
De acordo com ela, o Estado assume a função de amenizar as flutuações na economia, em
que há a alternância de períodos de crescimento, estagnação e declínio, aumentando a
demanda interna e reaquecendo a economia em períodos de crise. Entende-se por demanda
interna o aumento da renda dos trabalhadores, a abertura de linhas de crédito subsidiadas
e o gasto público direto. Caso essas ações levem ao déficit público, isso se compensaria a
longo prazo, com um novo ciclo de expansão da economia.
Ao prezar pelo bem-estar social, o Estado busca a manutenção de um regime de pleno
emprego e o aumento da renda dos trabalhadores, resultando em elevação da demanda
interna, crescimento econômico e melhora das condições sociais. O Estado também é
responsável por regular o mercado de trabalho, criando proteções e leis, como o salário
mínimo, a normatização da jornada de trabalho, e as negociações coletivas entre sindicatos
e representantes de setores empresariais. Os sindicatos, aliás, formam uma das bases polí-
ticas mais importantes da social-democracia.
Para Jürgen Habermas (1929-), o Estado de bem-estar social proposto pela social-demo-
cracia representa a única alternativa bem-sucedida quanto à tentativa de conciliação entre
capitalismo e democracia. De acordo com Habermas, entre as conquistas políticas mais
importantes da social-democracia, pode-se elencar: a domesticação social da economia
capitalista por intermédio da intervenção política e da efetivação dos direitos sociais de cida-
dania e a centralidade do espaço político como meio pelo qual a sociedade conduziria, de
maneira democrática, a própria evolução.

Naumova Ekaterina/Shutterstock.com
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 A Noruega é, hoje, um dos países europeus que se destacam pela aplicação do Estado de bem-estar social. Na foto, moradores de Oslo,
na Noruega, refrescam-se nos canais da cidade, em 2019.

Não escreva no livro. 129


Atividades

1. Observe com atenção a tirinha abaixo e responda à questão.

© Alexandre Beck
Alexandre Beck. Armandinho, tirinha publicada em 2017.

•• Em sua opinião, qual é a função da utopia na contemporaneidade?

2. Leia a seguir um trecho da entrevista que o filósofo Zygmunt Bauman (1925-2017) con-
cedeu à revista Cult, especializada em conteúdo de teor filosófico, e responda à questão.
Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação (ainda que
difusa e inarticulada) de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus
fundamentos revistos para que se reajuste. A segunda condição é a existência de uma confian-
ça no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que “nós, seres
humanos, podemos fazê-lo”, crença esta articulada com a racionalidade capaz de perceber o
que está errado com o mundo, saber o que precisa ser modificado, quais são os pontos proble-
máticos, e ter força e coragem para extirpá-los. Em suma, potencializar a força do mundo para
o atendimento das necessidades humanas existentes ou que possam vir a existir.
OLIVEIRA, Dennis de. Bauman: Para que a utopia renasça é preciso confiar no potencial humano.
Cult, 9 jan. 2017. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-zygmunt-bauman/.
Acesso em: 5 jul. 2020.
•• Como a fala de Bauman se relaciona com o pensamento dos socialismos utópico e
científico, compreendidos como modelos sociais ideais? Justifique sua resposta.
3. Leia abaixo um trecho do texto escrito pelo filósofo Jürgen Habermas, defensor da social-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
-democracia, denominada por ele como Estado social. Em seguida, responda às perguntas.
DA EDITORA DO BRASIL
[...] As políticas do Estado social recebem sua legitimação das eleições gerais e encontram
suas bases sociais nos sindicatos autônomos e nos partidos de trabalhadores. Porém, o êxito do
projeto depende antes do poder e da capacidade de ação do aparelho estatal intervencionista.­
Ele deve intervir no sistema econômico com o objetivo de proteger o crescimento capitalista,
minorar as crises e proteger simultaneamente a capacidade de competição internacional das
empresas e a oferta de trabalho. O lado substancial do projeto nutre-se dos restos da utopia de
uma sociedade do trabalho: como o status do trabalhador é normatizado pelo direito civil
de participação política e pelo direito de parceria social, a massa da população tem a oportuni-
dade de viver em liberdade, justiça social e crescente prosperidade. Presume-se, com isso, que
uma coexistência pacífica entre democracia e capitalismo pode ser assegurada através da in-
tervenção estatal.
HABERMAS, Jürgen. A nova intransparência: a crise do Estado de bem-estar social e o esgotamento das
energias utópicas. Tradução de Carlos Alberto Marques Novais. Novos Estudos, n. 18, set. 1987. p. 107.

a) Qual seria, de acordo com o texto, o mecanismo de êxito da social-democracia?


b) Em que medida a social-democracia mantém resquícios dos valores utópicos apre-
sentados pelos socialistas do século XIX?

130 Não escreva no livro.


COMPREENDER A HISTÓRIA
PARA AGIR NA REALIDADE
Ao longo dos estudos deste livro didático traçamos a História da República
no Brasil e seus desdobramentos na atual situação do país. Todas as infor-
mações e reflexões expostas fazem parte de um conjunto de muitos anos
de trabalho realizado por pesquisadores, em especial de historiadores, que
se esforçaram para investigar o passado e elaborar interpretações históricas.
Neste momento, cabe perguntar: Mas, afinal, o que é a História? Para que
ela serve? Bem, essas questões são complexas e foram respondidas de
maneiras distintas ao longo do tempo, como você verá nas próximas páginas.
Para iniciar essa reflexão, vamos tomar emprestada a definição do historia-
dor francês Marc Bloch (1886-1944), que afirma: “A História é a ciência dos
homens e mulheres no tempo”. De acordo com o autor, todo olhar sobre o
passado, isto é, todo estudo histórico, é motivado por questões do presente.
No trecho a seguir, escrito pelo historiador catalão Josep Fontana (1931-
-2018), temos algumas pistas sobre isso:

Toda visão global da história constitui uma genealogia do presente. Sele- Genealogia: estudo das ligações
ciona e ordena os fatos do passado de forma que conduzam em sua sequência entre membros de uma família
através das gerações. Nas ciências
até dar conta da configuração do presente, quase sempre com o fim, conscien- humanas, o termo é utilizado para
te ou não, de justificá-la. Assim, o historiador nos mostra uma sucessão orde- designar o estudo da origem de
nada de acontecimentos que vão se encadeando até tornarem-se resultado fenômenos sociais.
“natural” da realidade social em que vive [...].
FONTANA, Josep. Historia: análisis del passado y el proyecto social. Barcelona:
Editorial Crítica, 1982. p. 9. Tradução nossa.

Segundo Fontana, a História é uma ferramenta imprescindível para

Coleção particular. Fotografia: Bridgeman images/Easypix Brasil


que possamos compreender o mundo em que estamos inseridos,
ajudar os outros a entendê-lo e agir a fim de transformá-lo. Dessa
forma, o conhecimento histórico oferece às pessoas um caminho para
um futuro possível, mais justo, fraterno e sustentável.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
História e poder
DA EDITORA DO BRASIL
Na tradição ocidental, o entendimento da História como ferramenta
para as sociedades compreenderem a si mesmas foi elaborado primeiro
pelos gregos, cerca de 500 anos antes de Cristo. Heródoto (485 a.C.-
-425 a.C.), considerado o “pai da História”, entendia que o estudo
histórico era uma forma de impedir o esquecimento das ações reali-
zadas pelos homens. Mais do que isso, a História tinha por objetivo
principal explicar como a sociedade grega havia sido constituída.
Os romanos, herdeiros da cultura grega, deram continuidade a
essa tradição, porém utilizaram a História para exaltar a origem e o
poder de Roma. Na perspectiva histórica elaborada pelos romanos,
o Império teria se expandido, pois o seu destino seria a inevitável
dominação do mundo.  eródoto lê sua obra História em
H
público, séc. XIX. Gravura (autor
Durante a Idade Média, com o crescente aumento da influência da Igreja desconhecido).
Católica na Europa, a percepção da História passou a ser fundamentada pelo
cristianismo, segundo o qual o destino dos homens já estaria determinado
pelos desígnios de Deus. Assim, o poder da Igreja era justificado como parte
da própria evolução da humanidade em busca de sua transcendência.

Não escreva no livro. 131


Positivismo e historicismo
A relação entre História e poder ganhou novo direcionamento no século XVI,
com a expansão colonialista pelo mundo. Dotado de novos instrumentos e
O que são racionalismo, pautado em correntes filosóficas, como o racionalismo (explicação dos fenô-
empirismo e positivismo?
menos do mundo por meio da razão) e o empirismo (explicação dos fenômenos
Racionalismo e empirismo
do mundo por meio da experimentação), o estudo histórico passou a refletir a
são correntes filosóficas
modernas caracterizadas história da civilização europeia como uma espécie de síntese da história da
pela explicação dos fenômenos humanidade. Seguindo essas perspectivas, o processo histórico passou a ser
do mundo por meio da razão pensado como uma linha contínua que teria começado na Antiguidade, com
e da experimentação,
respectivamente. É comum destaque para as civilizações clássicas, passado pela Idade Média, até chegar
que sejam consideradas ao período moderno, quando a Europa teria atingido o seu esplendor.
como formas superiores de
pensamento e exemplos
No século XIX, influenciados pelo positivismo, historiadores buscaram
da excepcionalidade da analisar os fatos históricos de maneira científica e neutra, o que supostamente
civilização europeia. revelaria o passado da forma como ele ocorreu, isto é, sem distorções inter-
O positivismo, por sua vez, é pretativas. No entanto, a linha de análise do positivismo histórico serviu prin-
um movimento filosófico e
cipalmente ao interesse das classes dominantes europeias, pois priorizava a
político, fundado pelo francês
Auguste Comte (1798-1857), narrativa dos grandes feitos políticos que conduziram a Europa ao seu apogeu.
que teve uma grande Essa visão da História, que segue influente nos dias de hoje, contribuiu
repercussão no século XIX e no
início do século XX. Para os para difundir pelo mundo a interpretação de que a História conduz à gene-
positivistas, existe apenas uma ralização da cultura ocidental. Além disso, criou-se a noção de que os acon-
forma verdadeira de tecimentos históricos são apenas aqueles relacionados às transformações
conhecimento: o científico.
Assim, o método científico
políticas e os sujeitos históricos somente os “homens excepcionais”, isto é,
seria a única forma possível de os líderes políticos e militares por trás dessas transformações.
se comprovar uma teoria, o
Já o historiador Leopold von Ranke (1795-1886), principal expoente da
que tornaria todas as outras
formas de conhecimento história científica alemã, difundiu a ideia de que os fatos devem ser investi-
inválidas. De acordo com essa gados como eles realmente ocorreram. Para Ranke, representante do histo-
perspectiva, seria inútil ricismo, o estudo minucioso de documentos ajuda a escrever uma história
considerar questões subjetivas,
metafísicas ou teológicas em imparcial, sem nenhum juízo moral ou religioso. Essa proposta serviu, no
qualquer investigação. Para entanto, à construção da narrativa histórica de diversos países durante o
Comte, o positivismo seria a auge do nacionalismo europeu, no final do século XIX. Assim, as classes
forma mais avançada de
conhecimento alcançada pela
dominantes escreveram histórias nacionais supostamente neutras que des-
humanidade. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
creviam o glorioso passado que deu origem à nação, difundindo assim o
sentimento nacionalista.
DA EDITORA DO BRASIL
 Jacques-Louis David. Napoleão no
Museu Belvedere, Viena

passo de São Bernardo ou Napoleão


cruzando os Alpes, 1901. Óleo sobre
tela, 275 cm × 232 cm. O heroísmo,
relacionado aos líderes nacionais, era
uma forma de exaltação nacionalista
em diversos países. Um exemplo
desse tipo de representação histórica
pode ser observada na forma como
Napoleão era representado, na
França, de maneira heroica e gloriosa.
Pinturas como essa contribuíram para
formar um imaginário sobre a História
centrado em grandes feitos e líderes.

132 Não escreva no livro.


Quem escreve a História?
O que é epistemologia?
A consolidação da hegemonia política, econômica e cultural dos Esta-
Epistemologia é o campo da
dos Unidos no século XX fortaleceu a noção de que existiu um inevitável Filosofia dedicado ao estudo
triunfo da “superior tradição ocidental” de origem europeia. Com isso, o da natureza, das fontes e dos
processo histórico foi associado ao progresso, como se a História tivesse limites do conhecimento. A
dominação epistemológica diz
um sentido evolutivo. Porém, como vimos, essa narrativa histórica foi respeito à sobreposição de
construída e imposta pela Europa ao longo de séculos de dominação um sistema de conhecimento
colonial e epistemológica. Graças a ela, os europeus foram, assim, vistos a outro.
como aqueles que abriam caminhos a outros povos, enquanto as demais
culturas tiveram contribuições menores à humanidade.
Dito de outro modo, a história da

Ole Jensen/Getty Images


humanidade acabou sempre sendo
contada por aqueles que detinham o
poder. O mesmo pode ser percebido
quando refletimos sobre as histórias
nacionais. A formação dos países foi,
em geral, contada sob a perspectiva
das classes dominantes, como se seus
triunfos e conquistas fossem repre-
sentativos da construção da nação.
Com efeito, às classes populares, maio-
ria da população, conferiu-se um papel
passivo na História, como se seu des-
tino estivesse a reboque das forças do
“progresso”.
 Os museus representam um papel
Uma questão sobre os documentos muito importante na construção de
um ponto de vista de História,
Um dos principais fatores que levaram tanto à projeção dos “grandes ao selecionar, por exemplo, os
objetos do passado que devem
líderes” como à valorização da história europeia em relação à das demais ser preservados, estudados e
civilizações foi a noção positivista de documento histórico. Para os posi- conhecidos pelas pessoas.
tivistas, predominantes na historiografia até o início do século XX, as Na foto, visitantes observam
únicas fontesMATERIAL DE DIVULGAÇÃO
válidas para o estudo dos acontecimentos eram as fontes
objetos expostos durante abertura
de uma exposição no Museu de
escritas, comoDA EDITORA
cartas DO BRASIL
e registros oficiais. Assim, as sociedades ágrafas, História Natural da Dinamarca.
ou seja, que não desenvolveram a escrita, foram consideradas “sem his- Copenhague, Dinamarca, 2019.
tória”, pois não era possível investigar seu passado. Do mesmo modo,
grupos sociais ocidentais que não produziam documentos escritos, ou Historiografia: nome que se dá à
produção de estudos históricos e ao
que não tiveram seus registros preservados no tempo, sofreram apaga- conjunto de estudos já produzidos.
mento ou desvalidação histórica.
É interessante observar que os documentos históricos de que dispomos
para a escrita da História também refletem relações de poder. Além da elei-
ção dos documentos válidos ou não, há a questão de como eles são preser-
vados, por quem e por quê.
Por esse motivo, a roupa de uma mulher pobre da Idade Média, por exem-
plo, teve menos chance de ser preservada e chegar até os nossos dias que
a coroa ou as roupas de um rei do mesmo período. Isso ocorre em razão de
ela compor um grupo com menos recursos e pouco influente socialmente,
de modo que suas vestes não foram consideradas tão relevantes para a
História a ponto de serem conservadas. O mesmo se aplica, por exemplo,
aos pertences de uma pessoa escravizada em comparação a um rico colono
na América Portuguesa do século XVIII.

Não escreva no livro. 133


Quem faz a História?
Diante da expansão do capitalismo e da ampliação das desigualdades sociais decorrente
das crises e das guerras que tomaram a Europa e o restante do mundo entre os séculos XIX
e XX, alguns pensadores passaram a questionar o positivismo e propor alternativas a seus
métodos. A necessidade de empreender análises históricas mais profundas sobre a sociedade
e suas dinâmicas, para além das narrativas sobre os grandes personagens e acontecimentos,
levou à elaboração de correntes historiográficas como o materialismo histórico e a chamada
Escola dos Annales.
Materialismo histórico é um método de análise da História, elaborado pelos alemães Karl
Marx e Friedrich Engels, que considera a produção material, necessária à sobrevivência dos
homens, o principal fator do desenvolvimento histórico. Já a Escola dos Annales foi uma
escola francesa, surgida no começo do século XX, em reação à história narrativa e factual que
predominava até então, com o objetivo de ampliar o campo de análise e buscar entender a
evolução das estruturas sociais.
Essas correntes se desenvolveram e se desdobraram em outras, como a História Social
Inglesa e a Nova História, respectivamente. Embora existam muitas diferenças entre essas
formas de enxergar e produzir a História, elas apresentaram algo em comum: o reconheci-
mento de que todos os homens e mulheres são sujeitos históricos. Desse modo, o interesse
do estudo histórico estendeu-se aos diversos estratos e classes sociais, das elites aos “de
baixo”, uma vez que a ação individual e coletiva passou a ser um objeto preferencial da His-
tória. Isso não significou, porém, um equilíbrio ou até mesmo uma virada nas tendências de
representação histórica, posto que os grupos privilegiados e poderosos se mantiveram em
evidência ao longo do século XX.
Nessa época o conhecimento de diferentes áreas, como Economia, Sociologia e Geografia,
passou a ter importante colaboração para o estudo histórico. A partir de então, ampliou-se
também a noção sobre documento histórico, compreendido como aquilo que revela aspectos
da ação humana, sendo possível utilizá-lo para análise desde fotografias e obras de arte até
objetos de uso pessoal e cotidiano.
Outra ruptura com o positivismo foi em relação à noção evolutiva da História, presente
desde os iluministas do século XVIII. Ao observarem as diferentes temporalidades em
uma mesma época histórica, os estudiosos negaram a ideia de
Everett Collection/Shutterstock.com

progresso e passaram a teorizar sobre as mudanças, rupturas e


MATERIAL DE DIVULGAÇÃOcontinuidades como dinâmicas próprias da História. Para entender
DA EDITORA DO BRASIL o que isso significa, basta pensar que, naquele tempo, os horrores
das guerras foram acompanhados de avanços sociais, como a con-
quista do voto feminino, enquanto antigas tradições estavam lado
a lado a tecnologias extraordinárias, como a eletricidade.

 Filha de um mineiro de carvão desempregado em um acampamento durante a


Grande Depressão. Sacramento, Estados Unidos, 1936. A prosperidade dos anos
1920 foi seguida de uma grave crise econômica.

A História oral
Com o tempo, a oralidade foi incluída entre as fontes utilizadas pelos historiadores, ganhando métodos de coleta
e análise próprios. Aliada ao uso de outras fontes e documentos históricos, a História oral garante que importantes
evidências sobre grupos historicamente excluídos sejam preservadas. Assim, é possível que os pesquisadores ampliem
os conhecimentos a respeito da história de grupos de tradição oral, como os indígenas brasileiros e os diversos povos
africanos, reduzindo aos poucos as lacunas sobre parcela significativa da humanidade.

134 Não escreva no livro.


Disputas pela História
Marc Ferro (1924-), historiador francês da terceira geração da Escola dos Annales, propôs
a seguinte reflexão:

Terão os acontecimentos históricos a mesma significação para todos? Sua lição será a mesma
para todos? Assim, a batalha de Poitiers, apresentada como um acontecimento feliz na história
nacional francesa, não o é para a historiografia árabe.
FERRO, Marc. A história vigiada. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

Quais questões sobre a História podemos depreender dessa ponderação? Como vimos, a
narrativa da História está inserida no terreno das disputas políticas, sociais e culturais do
nosso tempo. Ao dominar essa narrativa, certos grupos impõem a sua versão sobre como os
fatos aconteceram a outros, em geral, menos poderosos ou privilegiados. Assim, a História é
usada como instrumento de manutenção de poder, pois é capaz de criar no imaginário das
pessoas uma noção do passado que corrobora com os interesses de grupos dominantes. As
relações de dominação do presente são projetadas para o passado de tal maneira a fazer
parecer que a História se desenvolveu de modo favorável e inevitável à situação de hoje.
Porém, a História não se resume às narrativas hegemônicas. Precisamos sempre tomar
cuidado com as “histórias únicas”, buscando observar nas entrelinhas e nos silêncios onde
estão os grupos menos favorecidos na disputa para a inserção na História, dando-lhes opor-
tunidade de ouvir o que eles têm a dizer. Tal como Marc Ferro fez ao considerar o lado dos
árabes na Batalha de Poitiers, conflito que envolveu muçulmanos e cristãos em 732, ano que
ficou conhecido como o momento em que a expansão do Islã foi contida na Europa medieval.

O espaço público como espaço de memórias


O espaço público é o lugar onde as disputas pela narrativa histó-

Ronaldo Bernardi/Agencia RBS/Folhapress


rica e pela memória coletiva ficam bastante evidentes. Basta obser-
var os monumentos, o nome das ruas e das praças, os museus, os
prédios públicos, as celebrações em datas comemorativas etc. A
quem eles homenageiam? Que grupos sociais estão em evidência
de acordo com essas fontes?
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Um exemplo de disputa da memória histórica no espaço público
foi revelado pelaDA EDITORA
Comissão DO BRASIL
Nacional da Verdade, comitê que investigou
os crimes cometidos pelo Estado no período de 1946 a 1988 no Brasil.
Segundo os relatórios da comissão, relativos aos anos entre 2011 e
 O coletivo Defesa Pública da Alegria fez
2014, havia cerca de 160 km de vias em todo o país nomeados em intervenções urbanas renomeando placas de
memória das vítimas da ditadura, enquanto mais de 2 000 km de vias ruas com os nomes de vítimas da violência
levavam nomes de autoridades militares. Essa discrepância exempli- estatal, como o de Vladimir Herzog, jornalista
assassinado no DOI-CODI, órgão de repressão
fica a memória privilegiada pela “história oficial” e o uso do espaço da Ditadura Civil-Militar brasileira, em 1975.
público para imprimir essa memória junto à sociedade brasileira. Porto Alegre, RS, 2013.

Memória individual e memória coletiva


Todos nós partilhamos ideias sobre eventos que aconteceram. Essas ideias fazem parte das memórias individuais e da
memória coletiva, isto é, a memória criada, compartilhada e reproduzida na sociedade da qual participamos. O que forma
a memória não são noções exatas sobre o passado, mas sim recortes e interpretações pautados em múltiplos fatores, desde
as questões políticas e culturais até aos afetos. Desse modo, é possível até mesmo a “fabricação do passado” pela memó-
ria, uma vez que ela está sujeita à passagem do tempo e à subjetividade de um indivíduo ou de um grupo. Outra questão
que se impõe é o esquecimento da superação de experiências coletivas e individuais traumáticas.

Não escreva no livro. 135


Os monumentos e o direito à memória
A morte do afro-americano George Floyd por um policial de Minneapolis, nos Estados Unidos, foi o estopim de uma
revolta popular que rapidamente se espalhou por diversas cidades do país, em maio de 2020. Os protestos tiveram
repercussão mundial e, em pouco tempo, manifestações antirracismo passaram a ocorrer em vários países sob a
legenda #BlackLivesMatter (“Vidas Negras Importam”, em português).
A onda global de protestos que se seguiu ao assassinato de George Floyd denunciou não apenas o racismo enraizado
nas sociedades, mas também a origem colonialista da opressão racial. Indo além, os movimentos colocaram em
questão a exaltação da memória de figuras identificadas com o colonialismo e que simbolizam o racismo. Países como
Reino Unido, França, Portugal e Espanha sediaram uma série de atos para a derrubada e destruição de estátuas de
pessoas envolvidas no tráfico de escravizados e no extermínio de indígenas.
Na visão dos manifestantes, as estátuas insultam a memória dos povos que foram vitimados por essas práticas e
ajudam a relativizar os crimes cometidos pelos homenageados, que permanecem em evidência em virtude de suas
supostas grandes realizações. As reações a esses manifestos variaram desde apoiadores incondicionais da causa
àqueles que condenaram os atos, interpretando-os como atos de vandalismo ao patrimônio público e ao passado
histórico.
Os protestos antirracistas trouxeram à tona o debate sobre o direito à memória dos grupos oprimidos e sobre qual
memória as sociedades querem preservar como parte de sua história. Também chamaram a atenção para a função
dos monumentos nos espaços públicos e os significados que eles colocam na paisagem cotidiana.
Em julho de 2020, em um evento realizado por moradores de bairros de baixa renda da cidade de Paris, com o
objetivo de chamar a atenção para monumentos e ruas que levam nomes de pessoas ligadas à escravidão e à coloni-
zação, o francês Franco Lollia, membro do grupo Brigada Antinegrofobia atestou:
“O racismo mais impositivo e dominante não é visível, barulhento e violento. A violência policial é a ponta
da cadeia... antes disso, há muito trabalho feito através da escola, televisão, nomes de rua e edifícios para per-
petuar visões racistas. É por isso que eu estou aqui”.
BENZEBAT, Boubkar; SCHPOLIANSKY, Christophe. French anti-Racism Groups Denounce Paris Street
Names and Statues Honoring Colonizers. AP News,, 5 jul. 2020. Disponível em: https://apnews.com/
a06f57d71265c912e06c733278e45394. Acesso em: 1 ago. 2020. Tradução nossa.

Giulia Spadafora/NurPhoto/Getty Images


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL

 Manifestantes celebram o momento em que a estátua do traficante de escravos Edward Colston é jogada ao mar, em
Bristol, na Inglaterra, em junho de 2020. A cidade foi um dos principais centros de tráfico de escravizados do planeta
no século XVIII.

136 Não escreva no livro.


A História como devir político
Para além dos métodos de pesquisa e dos diferentes usos dos documentos na busca de
informações sobre o passado, entre outras questões de ordem técnica, os estudiosos exa-
minaram a razão do estudo histórico e sua função social.
Em seu artigo “Teses sobre o conceito de história”, o filósofo e crítico literário Walter Benjamin,
tributário do materialismo histórico, fez uma crítica ao historicismo, associado aos interesses
conservadores das classes dominantes, e à social-democracia, que, em sua leitura, permitiu a
ascensão do fascismo no contexto do pós-Primeira Guerra europeu, momento em que ele escre-
veu seu texto.
Em sua concepção, a História era impulsionada pelo passado sem, porém, olhar para o
futuro. Assim, a ideia de progresso vigente até então trazia consigo um rastro de destruição
e violência deixado pelos mais poderosos. Elementos de cultura, como as grandes pirâmides
do Egito e os palácios das monarquias modernas, eram também elementos de barbárie, pois
envolviam a exploração e os sacrifícios daqueles que os construíram.
A função da História era, dessa maneira, a redenção das opressões e a reparação das
injustiças sofridas pelas camadas pauperizadas no passado. Para isso, todos os aconteci-
mentos e sujeitos históricos eram considerados na totalidade, sem distinção entre “grandes”
e “pequenos”, e sem deixar nenhum no esquecimento. Era necessário ainda dedicar a
empatia aos vencidos e não mais aos vencedores, subvertendo a tendência histórica por
trás da dominação.
A função das novas gerações era, assim, a superação do estado de conformismo e o
cumprimento de um compromisso com as gerações do passado. Desse modo, Benjamin
conclama os sujeitos da História à ação, tomando-os como capazes de modificar a realidade,
o que se configurava com a construção de um momento de ruptura revolucionária em dire-
ção à utopia social.

A redenção messiânica/revolucionária é uma tarefa que nos foi atribuída pelas gerações pas-
sadas. Não há um Messias enviado do céu: somos nós o Messias, cada geração possui uma par-
cela do poder messiânico e deve se esforçar para exercê-la.
LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de história”.
São Paulo: Boitempo, 2005. E-book.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
Alexis Orand/Gamma-Rapho/Getty Images

Roger Viollet/Getty Images

 A contestação dos jovens pelo direito à voz e à ação


social é demonstrada nesse cartaz, produzido em
 Comemoração da independência da Eritreia, país localizado no meio aos protestos de Maio de 1968 na França.
nordeste do continente africano, em 1993. No cartaz se lê, traduzido Nele se lê uma mensagem irônica: “Seja jovem e
do inglês: “Nós lutamos pela paz e nós vivemos em paz”. cale a boca”.

Não escreva no livro. 137


A crítica ao presenteísmo
Assim como o progresso, considerado uma “armadilha” do conceito posi-
tivista de História por diversos estudiosos, há outras armadilhas em torno
dela. Uma delas é a nostalgia por um passado idealizado, isto é, um passado
que nunca existiu e que é elaborado de forma anacrônica. É comum as
Anacrônico: que retrata pessoas dizerem: “a vida no passado é que era boa” ou “gostaria de ter vivido
equivocadamente o passado por nos anos 1950”. Contudo, o conhecimento sobre o passado está restrito ao
lhe atribuir características
objetivas e subjetivas que pouco que sabemos sobre ele, e isso é balizado pelos nossos valores e modos
pertencem ao presente, de modo de pensar de hoje.
a tornar o passado mais parecido
com o tempo em que este foi Outra questão que despertou o alerta dos historiadores é o presenteísmo,
narrado. isto é, a negação da história e da memória. Isso implica um rompimento com
Lúgubre: relativo à morte, algo as tradições e heranças que nos trouxeram até o presente, deixando um
com característica fúnebre. vácuo entre os elementos fundadores da sociedade atual e os grupos e
indivíduos que a compõem. Como efeito, o presenteísmo pode levar a crer
que tudo “sempre foi assim”. Dessa forma, os esforços de gerações pela
conquista de direitos, por exemplo, são desconsiderados ou minimizados.
Igualmente, a possibilidade de transformações no futuro fica limitada, uma
vez que não há noção de ruptura, mas somente de continuidades.
O presenteísmo, como aponta o historiador britânico Eric Hobsbawm
(1917-2012), é uma marca do final do século XX, mas se estende pelo século
XXI. Atualmente, a constante celebração e o consumo do que é “novo” ten-
dem a provocar a desvalorização do que é “velho”, considerado arcaico,
ultrapassado e desinteressante. Assim, ao intensificar o presente e seus
produtos atraentes, não sabemos de onde viemos nem podemos projetar
para onde vamos.

A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam


nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais
característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de ho-
je crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgâni-
ca com o passado público da época em que vivem. Por isto os historiadores,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO cujo ofício é lembrar o que outros esquecem, tornam-se mais importantes que
nunca no fim do segundo milênio. Por este mesmo motivo, porém, eles têm de
DA EDITORA DO BRASIL ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores [...].
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. Tradução de Marcos Santarrita. São
Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 13. Benoit Tessier/Reuters/Fotoarena

A cultura das novidades entre os


jovens do presente tem o poder de
desvalorizar o conhecimento a
respeito do passado? Na foto,
visitantes testam um novo game em
um evento direcionado ao setor
realizado em Paris, França, 2019.

138 Não escreva no livro.


A História no pensamento brasileiro
As primeiras formas de pensar o Brasil e sua História foram elaboradas após a indepen-
dência, com a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1838. Antes
disso, alguns cronistas escreveram a respeito de eventos e contextos específicos ocorridos
na colônia, quando a noção de país estava ainda bem longe de existir.
Os estudiosos do IHGB tinham a tarefa de criar uma narrativa para a nova nação em
construção, cujo território só veio a se consolidar no século seguinte e cujos indivíduos
viviam em regiões distantes umas das outras e não viam a si mesmos sob uma identidade
única e nacional. Baseando-se na tradição positivista, Francisco Adolfo de Varnhagen
(1816-1878) escreveu História geral do Brasil, livro publicado em 1857. Em sua obra,
Varnhagen exaltou a colonização portuguesa na origem do país e destacou os grandes heróis
europeus por trás das realizações principais da nação. Anos depois, na passagem para o
século XX, as obras de Capistrano de Abreu (1853-1927) destacaram o protagonismo do
povo brasileiro na construção da trajetória nacional.
Como vimos na Unidade 2, a ideia de democracia racial foi criada por Gilberto Freyre (1900-
-1987) durante o Estado Novo, em um momento em que as teorias raciais se difundiam pela
Europa e pelos Estados Unidos. Além de Freyre, o historiador Oliveira Vianna (1883-1951)
contribuiu com um olhar sobre a composição racial brasileira, destacando uma pretensa e equi-
vocada superioridade dos brancos sobre os negros. Seus escritos embasaram as políticas de
branqueamento conduzidas pelo poder público
e pelas elites entre o final do século XIX e as
Ismar Ingber/Pulsar Imagens © KOBRA, Eduardo/AUTVIS, Brasil, 2020

primeiras décadas do século XX. Já Sergio


Buarque de Holanda (1910-1989) adotou um
caminho distinto em sua obra Raízes do Brasil, de
1936, em que apontou a violência da colonização
e os resquícios duradouros de seus mecanismos
no modo de ser do brasileiro e de suas instituições.
Ao longo da segunda metade do século XX, o
modo de pensar e escrever a história se diversi-
ficou no Brasil, adquirindo influências da Escola
dos Annales, do materialismo histórico e da His-
tória Cultural,MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
mas sem perder totalmente o viés
positivista. Outros atores sociais passam a ser
DA EDITORA DO BRASIL
considerados, e, hoje, novas perspectivas sobre
as minorias têm se revelado, possibilitando um
olhar mais amplo e complexo sobre os processos
histórico-sociais do Brasil, como as origens e  Trecho do mural Todos somos um, do artista brasileiro Eduardo Kobra,
expressões das desigualdades, a luta por direitos instalado no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro, em 2016. O grafite
destaca grupos étnicos de todos os continentes, propondo um olhar
e a construção da cidadania. para a diversidade.

Por uma descolonização da teoria e da prática


Ao compreender o quanto o colonialismo e o eurocentrismo estavam impregnados na teoria social e histórica,
reconhecendo influência disso na manutenção de antigas estruturas de poder, estudiosos como o palestino Edward
Said (1935-2003), o franco-argelino Frantz Fanon (1925-1961) e os indianos Homi Bhabha (1949-) e Gayatri Spivak
(1942-) propuseram uma guinada “pós-colonial” na academia. Nos estudos pós-coloniais, eles reivindicam um resgate
da História sob a perspectiva dos “de baixo”, propondo novas interpretações e novos saberes alinhados a tradições
historicamente rejeitadas, como as indígenas e as africanas. Assim, buscam construir ferramentas de interpretação
de realidades atravessadas pelas opressões coloniais e fundamentar mudanças políticas e intelectuais necessárias.

Não escreva no livro. 139


Atividades

1. A escultura Monumento às bandeiras, do artista 2. Leia a afirmação abaixo.


Victor Brecheret, é considerada um ícone da O cronista que narra os acontecimentos sem dis-
cidade de São Paulo. A obra, de 1953, é repleta tinção entre os grandes e os pequenos leva em con-
de significados que expressam o espírito da ta a verdade de que nada que um dia aconteceu
formação e construção do Brasil. Ela está de pode ser considerado perdido para a História.
frente para a Avenida Brasil, simbolizando os BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito de história. In:
caminhos abertos pelas bandeiras que expan- BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política:
diram o território do país. À frente, dois homens ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de
a cavalo conduzem o grupo formado por ne- Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1987.
p. 223. (Obras escolhidas, v. 1).
gros, mamelucos e indígenas, representando
a contribuição das três raças à nação. Essa frase, do filósofo alemão Walter Benjamin,
O monumento evoca uma narrativa sobre a His- é um alerta sobre a importância de não deixar-
tória do Brasil, que faz parte do imaginário co- mos que alguns fatos do passado se sobrepo-
letivo, e traz um discurso sobre o caráter posi- nham ou até mesmo apaguem outros. Enquanto
tivo da colonização e do bandeirantismo. Além alguns acontecimentos históricos ganham des-
dele, outros monumentos, como o do bandei- taque e são frequentemente memorados, muitos
rante Borba Gato, também localizado na cidade são pouco lembrados ou totalmente esquecidos
de São Paulo, ajudam a reforçar essa narrativa. pela memória coletiva.
A História do Brasil, por exemplo, é repleta de
Mauro T/Futura Press

revoltas populares que são pouco conhecidas


e, assim, não fazem parte da memória coletiva
do país. Com base nisso, você e seus colegas
vão pesquisar sobre uma revolta ocorrida entre
os séculos XIX e XX, em sua região.

•• Em grupos de três pessoas, façam um levan-


tamento sobre as revoltas ocorridas em sua
 Intervenção na estátua região e escolham uma delas.
de Borba Gato em São
•• Em seguida, sistematize os principais aspec-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Paulo, SP, 2016.
tos da revolta: sua origem, quem eram os
a) Quais grupos sociais DO
DA EDITORA sãoBRASIL
exaltados no mo-
envolvidos, o que pretendiam e qual foi o
numento de Brecheret e qual é a importân-
desfecho.
cia deles na narrativa histórica nacional?
b) É possível relacionar os monumentos men- •• Apresentem e discutam os resultados com o
cionados ao conceito de Walter Benjamin, restante da turma.
de “documento de barbárie”? Por quê? Ao final, respondam:
c) Em 2013, o Monumento às bandeiras sofreu
a) O que vocês puderam aprender com essa
uma intervenção de ativistas, que o deixa-
pesquisa? Qual foi a importância das revol-
ram coberto de tinta. Em 2016, ocorreu algo
tas pesquisadas em sua formação como
semelhante à estátua de Borba Gato, como
se vê na foto. O que isso revela sobre as dis- cidadão?
putas acerca da História e da memória pú- b) Na opinião do grupo, esses episódios são
blica? Explique. muito ou pouco lembrados como parte da
d) Em sua opinião, ações como a representada história do Brasil? Por quê?
na foto são válidas? Busque informações c) Na sua avaliação, seria importante se esses
sobre as razões por trás do ocorrido para episódios fizessem parte do imaginário co-
elaborar sua resposta. letivo? Por quê?

140 Não escreva no livro.


POLÍTICA POPULAR ALÉM DO VOTO
Na democracia contemporânea, podemos dizer que o direito do cidadão ao voto é uma de
suas maiores expressões. No Brasil, no entanto, mesmo após a Proclamação da República,
o voto era sinônimo de barganha política, compra de votos (voto de cabresto) e voto censi-
tário, ou seja, somente ricos tinham esse direito.
Atualmente, o voto no Brasil é universal e secreto, e constitui um direito para todos os cida-
dãos brasileiros com mais de 16 anos, sendo obrigatório para quem tem mais de 18 e menos
de­70 anos. Essa condição, no entanto, foi alcançada depois de muita luta, consagrando-se de
forma universal somente em 1988, com a Constituição federal.
Democracia significa, literalmente, governo pelo povo. Segundo Tucídides, em História da
Guerra do Peloponeso, Péricles, um dos principais estadistas do século V a.C. afirmou que a
democracia era o modelo de governo em que “tudo depende não de poucos, mas da maioria”.
Por esse motivo, a eleição dos representantes para a condução do Estado era apenas uma
parte do processo democrático, e não sua totalidade. Assim, o exercício da cidadania não
está limitado ao voto, razão pela qual a população, de maneira geral, tem reivindicado dife-
rentes formas de participação nas tomadas de decisão ao longo da história.
Em termos institucionais, no Brasil, instrumentos como os Conselhos Municipais, Esta-
duais e Federais permitem a participação direta da população na condução, fiscalização
e deliberação de pontos específicos da gestão pública. Há também os instrumentos que
garantem que propostas de lei advindas da população sejam votadas e aprimoradas no
Congresso Nacional.
Organizações populares e comunitárias, bem como associações de bairro, de aluno e de tra-
balhadores, são alguns dos meios adotados nas tomadas de decisão em contextos próximos à
vida dos cidadãos. Porém, diante de necessidades que não estejam sendo atendidas pelo governo,
é comum a população se organizar politicamente

Salomon Cytrynowicz/Pulsar Imagens


e conduzir suas próprias decisões, confrontando o
poder do Estado ou assumindo suas funções.
Entre os sociólogos, a democracia é um con-
ceito e uma prática que, muitas vezes, pode ser
contestada, em razão de sua multiplicidade
de significados.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
De acordo DAcom Karl Marx,
EDITORA por exemplo, o
DO BRASIL
formato da democracia liberal pode ser criti-
cado, pois a desigualdade econômica é a rea-
lidade concreta no sistema capitalista. Para o
autor, é no trabalho, na organização política dos
trabalhadores e na busca pela superação do
capitalismo que a democracia real se faz pre-
sente. De acordo com seu pensamento, somente
a classe trabalhadora traz a libertação da socie-
dade como um todo, pois é a única classe que
não tem nada a perder num processo de trans-
formação social.

A Assembleia Nacional Constituinte,


em 1988, contou com contribuições
de diferentes grupos sociais em sua
elaboração. Na foto, votação do
capítulo dos Direitos Indígenas no
Plenário da Constituinte, Congresso
Nacional, Brasília, DF.

Não escreva no livro. 141


Max Weber (1864-1920), por outro lado, mudou sua visão sobre a par-
ticipação popular ao longo de sua vida. Por considerar as massas irracio-
nais, inicialmente julgou o parlamentarismo como o meio mais
democrático para frear a dominação da burocracia e selecionar os ver-
dadeiros líderes políticos. De acordo com ele, a eleição direta de presi-
dentes e chefes de governo é uma forma que tende à demagogia e ao
fracasso. Entretanto, com as mudanças do contexto alemão da Primeira
Guerra Mundial, Weber passou a defender o que ele chama de democracia
plebiscitária, na qual o líder é eleito pelo voto direto da população (e não
por representantes, como no parlamentarismo) e, justamente por sua
ampla legitimidade, tem o capital político necessário para tomar medidas
que garantam a coesão nacional.

Participação popular na Constituinte


Entre o fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, houve um ápice de
lutas pela democracia no Brasil. A população clamava pela redemocrati-
zação do país e passou a defender cada vez mais a participação popular
nas decisões do Estado. A pressão exercida pelos movimentos sociais pos-
sibilitou a inclusão de diversos mecanismos de participação na Constituição
federal de 1988, que ficou conhecida como Constituição Cidadã.
Em 1986, um ano antes da reunião da
Salomon Cytrynowicz/Pulsar Imagens

Assembleia Nacional Constituinte para a ela-


boração da Carta Magna, o Senado Federal
criou o projeto Constituição – a voz do cidadão,
que buscava mobilizar a sociedade por meio
de formulários disponibilizados em todas as
agências dos Correios do Brasil, nas quais as
pessoas poderiam enviar sugestões de pro-
jetos e leis para os deputados constituintes.
Foram recebidas mais de 70 mil cartas de
cidadãos e entidades.
No processo de elaboração da Constituição,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO alguns parlamentares deram um grande
DA EDITORA DO BRASIL destaque para as emendas populares, leis criadas
por entidades civis que poderiam ser votadas e
incluídas na nova Carta Magna. Essas emendas
resultaram na inclusão de 83 das 122 propostas
apresentadas aos constituintes, entre elas a lei
popular de democracia direta, que garante o
direito a plebiscitos e referendos.
 Diversos grupos populares exibem Diversos artigos da Constituição preveem diferentes formas de partici-
faixas com suas reivindicações
para a Constituição federal de pação popular na gestão pública, tais como:
1988. Brasília, DF, 1987. • cooperação das associações representativas civis nos planejamentos
municipais;
• descentralização política administrativa pública na área de assis-
Plebiscito: convocação da tência social;
população para a votação de
uma lei. • gestão democrática da educação.
Referendo: convocação da Existe também a possibilidade de criação de leis pela iniciativa popular, com
população para votação, a fim de a população enviando diretamente suas propostas para o Congresso, conforme
aprovar ou rejeitar uma norma ou
lei já elaborada. previsto na Lei no 9.709, de 18 de novembro de 1998:

142 Não escreva no livro.


Art. 13. A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputa-
dos, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
§ 1o O projeto de lei de iniciativa popular deverá circunscrever-se a um só assunto.
§ 2o O projeto de lei de iniciativa popular não poderá ser rejeitado por vício de forma, cabendo
à Câmara dos Deputados, por seu órgão competente, providenciar a correção de eventuais im-
propriedades de técnica legislativa ou de redação.
BRASIL. Lei no 9.709, de 18 de novembro de 1998.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9709.htm. Acesso em: 20 jul. 2020.

Outro mecanismo mais recente para participação popular são as consultas públicas nos
sites do poder público. No Senado Federal, por exemplo, os projetos que estão em trami-
tação na casa passam por votação popular na internet, orientando o posicionamento dos
senadores sobre os mais diversos assuntos postos em votação, embora ela seja somente
consultiva e não deliberativa (serve de orientação e não obriga os senadores a votar de
acordo com o levantamento do site).

A política como experiência


Um dos valores fundamentais para a democracia é a autonomia

J. Borges/Memorial J.Borges & Museu da Xilogravura


do sujeito, isto é, sua condição de ser livre para pensar e agir sem
estar submetido à vontade de ninguém para a tomada de decisões
coletivas. A autonomia pressupõe que cada indivíduo esteja apto a
falar e agir na esfera pública. Assim, se democracia significa o
governo do povo, é imprescindível o reconhecimento da autonomia
do povo para decidir sobre suas questões.
Apesar do princípio moderno de autonomia do sujeito, da liber-
dade de associação e organização e da igualdade dos cidadãos
nos termos da lei, é comum que se desqualifique a capacidade
popular de tomar decisões e de agir politicamente. Essas atitudes
são uma das maneiras de deslegitimar a condição política da
população, principalmente dos mais pobres, como vimos no pen-
samento de Max Weber anterior à guerra.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Desde a Antiguidade, diferentes teóricos defendem a incapacidade
DA EDITORA DO BRASIL
de a maioria governar, chamando essas práticas de tirania da maioria –
ou, como descreveu o historiador grego Heródoto, no ano V a.C., a
insolência da população desenfreada, sem conhecimentos, leva ao
caos e à decadência. Assim, há quem defenda a formação de um
governo plutocrático, ou seja, conduzido pelos mais ricos, e também  J. Borges. A guerra de canudos. Xilogravura.
Canudos foi uma experiência popular de um
aqueles que optam por um modelo aristocrático, conduzido por uma território independente no interior da Bahia,
pequena elite de notáveis. Aristocracia significa “governo dos melhores” entre 1890 e 1897, que resistiu duramente às
e exclui a condição de a maioria da população participar da vida pública. intervenções do exército.

Para o sociólogo Jacques Rancière (1940-), esse desprezo pela participação popular como
demonstração de “ódio à democracia” é tão antigo quanto a própria democracia.
Participar politicamente implica tomar parte, agir, em relação à distribuição de poder, o
que requer responsabilidade e aprendizado, pois as decisões atingem o conjunto da socie-
dade. Nesse sentido, a práxis é um termo importante para pensar a democracia. A palavra
deriva do grego e significa “ação”.
Como conceito filosófico, esse termo ganhou relevância nos séculos XVIII e XIX, e passou
a ser um princípio fundamental da formação política com os materialistas históricos. Para
eles, práxis é a articulação intrínseca entre teoria e prática.

Não escreva no livro. 143


Dessa forma, é possível compreender a práxis como uma ação livre, consciente e criativa
de participação no mundo, capaz de transformá-lo. É por meio dela que aprendemos e des-
cobrimos a verdade das coisas, pois é pela experiência que as teorias se mostram efetivas
ou não, já que, ao colocar uma teoria em prática, ela ganha concretude. A ação e seu emba-
samento teórico, organizativo e político caminham juntos.
Portanto, a práxis nos ajuda a entender que a população, ao participar politicamente,
aprende e se politiza cada vez mais. É por conhecer concretamente as dificuldades da desi-
gualdade social, em sua experiência diária, que a população apresenta as melhores condi-
ções para pensar a democracia do país de forma abrangente.
A ação política, para além de questões eleitorais, ajuda a formar a consciência republicana
nos cidadãos e estabelecer as prioridades sociais, fomentando o debate público e consoli-
dando a democracia como um processo permanente. Nesse sentido, a experiência é uma
parte importante da democracia.
Alexis de Tocqueville (1805-1859), ao estudar a democracia dos Estados Unidos no
século XIX, encantou-se ao ver como a democracia naquele país era possível, dada a grande
quantidade de atividades coletivas. Para o autor, o estabelecimento de vínculos democráticos
nas esferas mais próximas da vida cotidiana tornava possível a democracia de forma ampla.
É possível identificar, ao longo da história, diversos exemplos sobre a formação e a impor-
tância dos conselhos populares. Na Comuna de Paris, na França, em 1871, uma comissão
de 90 trabalhadores organizou a administração da cidade por meio do voto popular. Outro
exemplo ocorreu na Rússia, no início do século XX. Trabalhadores organizaram-se em
soviets, conselhos operários que administravam as cidades e cuidavam da segurança da
população por meio de milícias populares, que foi um dos pontos preponderantes na Revo-
lução Russa, em 1917.
Na América Latina, especialmente no México, diversos territórios são autogovernados,
como as comunidades zapatistas da região de Chiapas. Os governos indígenas próprios, com
suas próprias escolas, costumes e lideranças, são resultado de acordos com o governo mexi-
cano estabelecidos em 1996, após intensos confrontos políticos.
No Brasil, um exemplo de tentativa de autogoverno popular ocorreu logo no início da Repú-
blica. Trata-se da formação da comunidade de Canudos, na Bahia, entre 1896 e 1897. Lide-
rada por Antônio Conselheiro, Canudos reuniu pessoas de diferentes origens – em geral, em
grande situação
MATERIAL de miséria.
DE DIVULGAÇÃO
DA AEDITORA
preocupação dos governantes com o crescimento de Canudos e sua dimensão política
DO BRASIL
fez com que a comunidade fosse fortemente reprimida pela República recém-inaugurada.
Para encerrar aquela experiência popular, o exército fez quatro incursões militares a Canudos.
A última delas resultou em um dos
maiores massacres da história bra-
Carlos Tischler/NurPhoto/AFP

sileira, com cerca de 25 mil pes-


soas mortas.
De maneira geral, a formação de
poder popular em diferentes regiões
e períodos históricos mostra como
a experiência política vivida por uma
população reunida em torno dos
mesmos motivos é capaz de con-
frontar o poder de um Estado e de
um sistema econômico.

 Mural na comunidade zapatista de


Chiapas, México, 2018.

144 Não escreva no livro.


Conselhos gestores no Brasil
No Brasil, diferentes instituições resguardam a participação da população na esfera pública,
garantida pela constituição. São modelos que asseguram a legitimidade das decisões do
Estado e se baseiam no princípio de que essas decisões devem ser tomadas por aqueles que
estarão submetidos a elas, por meio do debate público.
Os conselhos gestores das políticas públicas representam um modelo de participação
direta da população nos diversos âmbitos do Poder Executivo, tanto na esfera municipal,
como na estadual e na federal.
Assim, os cidadãos e a sociedade civil organizada têm a garantia de participar do planeja-
mento e da fiscalização de ações estatais de maneira democrática. Permitem, também, que
o Estado entenda as demandas específicas dos diferentes grupos sociais e componha o pro-
cesso de universalização dos direitos sociais, de forma a alcançar a população com menos
acesso aos direitos e ao Estado.
Os conselhos de saúde, a assistência social e a defesa dos direitos da criança e do adoles-
cente no Brasil são exemplos de ações bastante consolidadas na ampliação democrática e
de proteção social no país. Dessa forma, criam lideranças comunitárias com experiências de
participação em instituições democráticas e de representação da sociedade civil com base
em interesses concretos e não somente no aspecto eleitoral.
A socióloga Lígia Helena Lüchmann, que estuda as instituições participativas no Brasil,
afirma no artigo Interfaces socioestatais e instituições participativas: dimensões analíticas
que, durante o período democrático brasileiro, após a Constituição de 1988, houve a ampliação
das possiblidades de participação política no país.
Entretanto, nos últimos anos, houve o fechamento de alguns conselhos em âmbito nacional;
por outro lado, algumas novas plataformas foram criadas em busca de aproximação com a
população. Ela chama o fenômeno que amplia as modalidades de interação entre Estado
e sociedade de interfaces socioestatais. Entre essas interfaces, estão ouvidorias, audiên-
cias, consultas públicas e até mesmo contatos pela internet, como consultas virtuais.

Essa proliferação de interfaces socioestatais coloca novos desafios no campo da teoria demo-
crática, na medida em que, diferente de se constituírem em sistemas integrados que articulam
participação, deliberação e representação, são criadas e funcionam, em boa medida, de forma de-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sarticulada e obedecendo a propósitos e objetivos de acordo com os interesses e estratégias polí-
tico-governamentais e de acordo com os diferentes contextos, áreas de políticas públicas, e dinâ-
DA EDITORA DO BRASIL
micas institucionais. Diante disso, é compreensível o diagnóstico formulado por [Felipe] Hevia e
[Ernesto] Isunza Vera (2010) ao apontarem para deficit de participação em contextos de ampliação e
de pluralização das ofertas de espaços de interface socioestatal. [Archon] Fung (2015) também elen-
ca alguns problemas e desafios diante da proliferação de mecanismos participativos, em especial, a
inconstância dada por origens de caráter oportunista, gerando iniciativas, na sua maioria, não siste-
máticas, além da sua trivialidade, ou seja, da expansão de canais de participação com baixo poder de
influência sobre a agenda e os resultados das políticas públicas.
LÜCHMANN, Lígia Helena Hahn. Interfaces socioestatais e instituições participativas: dimensões analíticas. Lua Nova
- Revista de Cultura e Política, São Paulo, n. 109, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-013049/109.
Acesso em: 11 set. 2020.

Lüchmann afirma que é necessário analisar com cautela o potencial democrático de algumas
ferramentas. A democracia implica que a participação articule a representação e a delibe-
ração (tomada de decisão), porém muitas das iniciativas, em especial quando feitas pela
internet, se dão de forma não sistematizada e com baixo poder de influência sobre a agenda
pública. Um exemplo são as consultas públicas no site do Senado, que não definem a votação
final da lei em tramitação. De qualquer forma, pode-se dizer que essas ferramentas trazem
um novo cenário para pensar as instâncias participativas da população brasileira nas deci-
sões e ações políticas e sociais do Estado.

Não escreva no livro. 145


Atividades

1. O voto no Brasil é obrigatório para quem tem mais de 18 anos e menos de 70 anos de
idade. Essa obrigatoriedade é objeto de grandes debates entre a população. Seus defen-
sores justificam que o voto obrigatório é uma forma de evitar que apenas algumas pessoas
votem em candidatos pré-selecionados e indicados por líderes políticos regionais, como
ocorria com o voto de cabresto. Por outro lado, os críticos do voto obrigatório argumentam
que não é democrático obrigar uma pessoa a votar e que o ato de votar deveria ser uma
escolha do cidadão.
Organizem um debate sobre esse tema. Vocês podem utilizar os seguintes passos:
•• Formem três grupos: o primeiro será a favor do voto obrigatório; o segundo, contra, e
o terceiro será o mediador, que analisará os argumentos e deliberará o vencedor.
•• Em seguida, elaborem uma lista dos argumentos que legitimem a defesa do ponto defen-
dido pelos grupos. Busquem verificar outros países que consideram o voto obrigatório
ou facultativo.
•• O grupo a favor do voto obrigatório e o grupo contra devem, em primeiro lugar, fazer uma
exposição inicial dos seus argumentos.
•• Depois, inicia-se a etapa de discussão, em que esses dois grupos vão questionar o posi-
cionamento um do outro, tentando impor seus argumentos.
•• Não se esqueçam de determinar um tempo limite para os argumentos e as respostas.
•• Por fim, cada grupo terá direito a uma conclusão.
•• Depois, cabe ao grupo moderador tomar sua decisão com base na discussão presenciada.
•• O grupo mediador deve levar em conta os argumentos de ambos os lados e indicar os
pontos que considerar mais relevantes. Cabe salientar que não é apenas a quantidade
de argumentos que define sua importância, mas também sua qualidade e sua funda-
mentação.
2. Crie uma lei de iniciativa popular com base em demandas sociais que você considera
importantes. Essa lei pode ser direcionada, por exemplo, à Câmara dos Deputados do
seu município. Para a elaboração dessa proposta, considere as questões a seguir.
a) Quais instituições você deve procurar para aumentar o número de apoiadores de sua
MATERIALleiDEdeDIVULGAÇÃO
iniciativa popular?
DA EDITORA DO BRASIL
b) Quais órgãos do Poder Executivo podem ser responsáveis pela implementação de
sua lei?
c) Elabore o final de sua proposta de lei.
Discuta com os colegas da sala as diferentes leis propostas. Elejam uma delas como a
mais relevante. Em seguida, façam um debate sobre sua pertinência e importância. Por
fim, proponham melhorias à lei sugeridas pela sala.
3. Em grupos, pesquisem sobre os conselhos municipais, por exemplo:
•• a estrutura dos conselhos gestores do município onde vivem;
•• os conselhos existentes;
•• como são eleitos seus representantes.
Em seguida, escolham um dos conselhos existentes para aprofundar a pesquisa e, se pos-
sível, entrevistem um dos conselheiros. Vocês podem analisar a composição do conselho,
suas atribuições, suas conquistas, se é ativo e se a população conhece e confia em sua
atuação. Por fim, elaborem um relatório com as informações levantadas e apontem a ne-
cessidade da criação de um novo conselho em alguma área que não tenha órgão institu-
cional de participação popular.

146 Não escreva no livro.


ORGANISMOS INTERNACIONAIS E ORGANIZAÇÃO
DO ESPAÇO MUNDIAL
O mundo atual é marcado pela integração, direta ou indireta, dos países e territórios
em uma dinâmica político-econômica global. A interdependência entre os Estados tornou
necessário que os interesses divergentes fossem equacionados sem acirramento de ten-
sões e/ou surgimento de conflitos violentos, como ocorreu em diferentes momentos da
história mundial.
Essa necessidade ganhou contornos mais efetivos

Alexandre Boero/Shutterstock.com
após a Segunda Guerra Mundial, quando potências e
outros países, buscando garantir o equilíbrio global, ali-
nharam-se em torno da criação de uma organização para
mediar interesses, arbitrar conflitos e reduzir tensões.
A Segunda Guerra Mundial deixou evidente o poten-
cial destrutivo da humanidade para consigo mesma e o
planeta, o que gerou preocupação e levou os países a
criar mecanismos e instituições responsáveis por evitar
que novos conflitos daquela dimensão ocorressem. Por
meio da mediação e do acompanhamento das relações
entre as nações, inaugurou-se uma nova etapa da glo-
balização com a criação de organismos supranacionais,  Sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Nova York,
como a Organização das Nações Unidas (ONU). Estados Unidos, 2019.

A ONU na atualidade
A ONU é um dos exemplos mais conhecidos e atuantes de instituição supranacional atual-
mente. Organizada com o propósito de mediar diferentes interesses políticos, sociais e eco-
nômicos e, principalmente, garantir equilíbrio entre as forças mundiais, ela atua nos limites
da soberania entre os países. Porém, vale a pena levantar algumas questões sobre sua função:
A instituição permanece a mesma desde sua fundação? Qual é a sua relevância no presente?
Essa relevância foi mantida desde 1945 ou mudou com o tempo? As decisões e ações da
ONU têm impacto sobre a realidade dos países?
MATERIAL
As respostas DE DIVULGAÇÃO
para essas reflexões não são simples. A princípio, a criação da ONU estava
DA EDITORA
diretamente vinculada DO BRASILmundial de evitar conflitos e violações aos direitos
à preocupação
humanos, como ocorrido nas Guerras Mundiais, e garantir a manutenção da paz. Apesar de
muitos conflitos não terem sido evitados pela ONU, a organização mantém uma atuação sig-
nificativa no mundo, zelando pela proteção dos direitos humanos.
Entre as atuações humanitárias da ONU, podemos destacar o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (Unicef, na sigla em inglês), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre
HIV/Aids (Unaids, na sigla em inglês); e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refu-
giados (Acnur).
A Unicef, presente em 190 países e territórios, incluindo o Brasil, atua em defesa e
pela garantia dos direitos de crianças e adolescentes, sobretudo aqueles que estão em
situação de vulnerabilidade, articulando projetos voltados à educação, à alimentação, à
saúde etc. A Unaids é o programa da Nações Unidas engajado no combate, prevenção e
tratamento do HIV em todo o mundo, com forte presença em países da periferia do capi-
talismo, onde o avanço da doença é preocupante. A Acnur tem sido cada vez mais pre-
sente em um mundo marcado pelos deslocamentos de refugiados. A agência atua junto
a países de origem e destino, buscando formas para que os refugiados tenham seus
direitos reconhecidos, além de dignidade e uma forma saudável de viver, distante de
ameaças que possam colocar sua vida em risco.

Não escreva no livro. 147


A interface ONU e as soberanias nacionais
A atuação da ONU ocorre por meio de diversas agências e conselhos. A Assembleia Geral e
o Conselho de Segurança, por exemplo, são duas das mais importantes instâncias da organi-
zação. O Conselho de Segurança é formado por 15 membros, e algumas de suas funções são:
• manter a paz e a segurança internacional;
• administrar missões de paz;
• determinar ameaças contra a paz;
• solicitar a aplicação de sanções econômicas.
Julia Dian

ESTADOS
UNIDOS
Membros permanentes
REINO
UNIDO
América Latina e Caribe

FRANÇA
Europa Ocidental e outros

África
RÚSSIA
Fonte: ONU BRASIL.
Conselho de Segurança. Ásia
Disponível em: https:// CHINA
nacoesunidas.org/ Leste Europeu
conheca/como-funciona/
conselho-de-seguranca/.
Acesso em: 8 ago. 2020.
 Estrutura do conselho de segurança da ONU.

Dos 15 assentos do conselho, cinco são ocupados por membros permanentes, que têm
direito a veto em relação às ações propostas. São eles: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido,
França e China. Esses países eram, ao fim da Segunda Guerra, importantes agentes na geopo-
lítica mundial e, por isso, fundamentais na manutenção da paz e do equilíbrio do poder mun-
dial. Os outros dez assentos são rotativos e divididos entre as regiões do mundo, conforme
mostra a ilustração. De acordo com informações do Ministérios das Relações Exteriores, o Brasil
esteve no Conselho de Segurança da ONU por dez vezes. O mandato dos membros não per-
manentes é de dois anos; a última vez que o país ocupou uma cadeira foi no biênio 2010-11.
Desde a fundação da ONU e do Conselho de Segurança, o Brasil requer uma cadeira perma-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nente no conselho, porém, embora a pauta tenha sido discutida em diferentes momentos, não
DA EDITORA
parece DO um
haver em BRASIL
futuro próximo alguma mudança desse porte na estrutura da organização.
Outras importantes insituições supranacionais são a Organização Mundial do Trabalho
(OIT), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), todas
vinculadas à ONU, além da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esses órgãos exercem
grande influência sobre os territórios em que atuam, atingindo a vida das populações de forma
direta ou indireta. No mundo global, essa influência pode chegar mesmo a países ou territó-
rios que não sejam membros efetivos da ONU.
O FMI, por exemplo, ao fornecer crédito a países em desenvolvimento, condiciona os
governos a cumprir determinadas medidas. A OMC, por sua vez, medeia negociações entre
países e regula determinadas características do comércio mundial, como questões relacio-
nadas a protecionismo e subsídios agrícolas.
A OMS foi fundada em 1948. Trata-se da agência da ONU que busca a cooperação inter-
nacional em questões ligadas à saúde. Assim como outras agências da ONU, a OMS tem como
função aconselhar, acompanhar e mediar relações e estratégias em saúde ao redor do mundo,
calcando essas orientações em dados científicos e extensamente validados, produzindo e
divulgando relatórios constantemente. A agência atua em parceria com os governos nacio-
nais, seus órgãos e outras instituições. No Brasil, historicamente, a organização conta com a
parceria da Fiocruz e do Ministério da Saúde.

148 Não escreva no livro.


Mais recentemente, no contexto da pandemia causada pelo vírus Sars-CoV-2, a OMS for-
neceu várias recomendações e estabeleceu diversos protocolos a serem seguidos no combate
ao vírus, como a efetividade ou não de determinados medicamentos e o uso de equipamentos
de proteção. Houve casos de países que não concordaram plenamente com as definições da
OMS, criando uma contradição na relação entre a organização e a soberania nacional.
Situações de contradição como essa não ocorrem apenas com

Ayhan Mehmet/Anadolu Agency/AFP


a OMS. Há diversos exemplos no mundo de incoerências entre
as medidas e orientações recomendadas pelas organizações
supranacionais e suas agências e as demandas de governos e
populações locais. A Grécia, por exemplo, enfrenta graves con-
sequências de uma crise econômica que se aprofundou com o
colapso econômico de 2008. A situação interna se tornou caó-
tica, o que fez o país recorrer ao Fundo Monetário Internacional
(FMI) e à própria União Europeia, bloco do qual o país é membro.
O FMI condicionou a ajuda financeira a um rigoroso controle de
gastos e cortes de despesas. Em 2015, por exemplo, o Parla-
mento grego havia aprovado medidas que envolviam o aumento
de impostos e mudanças nas leis de aposentadoria, o que causou
ampla insatisfação popular. A população do país se mobilizou em  Cidadãos gregos protestam em Atenas, Grécia,
diversos protestos contra as medidas impostas. contra medidas de austeridade. Foto de 2014.

A Organização Mundial do Comércio (OMC)


O comércio entre diferentes impérios, territórios, Estados e regiões do mundo não é recente,
remonta, na verdade, há séculos. A busca por rotas comerciais e pelo estabelecimento de par-
cerias entre os impérios europeus dos séculos XV e XVI e o movimentado mercado asiático é um
exemplo. Contudo, essas relações, durante um longo tempo, eram estabelecidas com base em
um campo de forças desiguais.
Com a ampliação da integração e da interdependência entre os mercados, em especial
desde a segunda metade do século XX, ficou evidente a necessidade de se criarem formas
de garantir alguma regulamentação e equilíbrio entre os diversos interesses, principalmente
em relação às desigualdades econômicas que caracterizam a sociedade capitalista atual.
Essas necessidades deram origem à OMC, fundada oficialmente em 1995, que substituía um
acordo anterior, firmadoDE
MATERIAL emDIVULGAÇÃO
1947.
A OMC se define como uma organização para a abertura do comércio e tem atuado em
DA EDITORA DO BRASIL
diferentes países. O comércio mundial é um campo de relações complexo, pois envolve países
com níveis de desenvolvimento extremamente diversos, mas que resguardam algum tipo de
interdependência.
Vamos pensar no Brasil, que se configura como importante potência agropecuária, com mer-
cados significativos na América do Norte, Europa e Ásia. Como garantir uma relação justa de
comércio entre o Brasil, país em desenvolvimento, e os países que compram seus produtos,
como os Estados Unidos, a Alemanha e outros países da União Europeia, considerados desen-
volvidos e com grande influência na geopolítica mundial? O Brasil tem posição e condição de
fazer ou impor exigências a esses países ou, diante de sua posição no contexto global –
com baixa influência política, econômica e militar –, tem de se submeter às exigências dos
outros, mesmo que os países mencionados sejam dependentes da produção brasileira?
A resposta não é simples, pois a questão envolve muitas variáveis e interesses. É justa-
mente para balizar e equacionar situações como essa que a OMC existe, de modo a garantir
a abertura e a integração econômica nesse comércio mundial. Contudo, os interesses e as
necessidades nacionais colocam em constante tensão essa possibilidade, especialmente nos
últimos anos, em que países e governos vêm questionando os reais benefícios que essa inte-
gração traz às economias e às populações locais, argumentando que, muitas vezes, a relação
pode ser muito negativa, como fez, em diferentes ocasiões, o governo dos Estados Unidos.

Não escreva no livro. 149


As rodadas da OMC
Os acordos e as negociações no âmbito da OMC ocorrem segundo diversas rodadas, que se
referem a temas específicos e buscam equacionar uma ou diversas questões que se colocam
como empecilhos à abertura econômica no comércio mundial, como as políticas protecionistas.
Políticas protecionistas são todas as ações que um governo pode tomar para proteger seu
mercado contra influências econômicas externas que possam prejudicar produtores e empre-
sários, por meio, por exemplo, de subsídios agrícolas. As nações em desenvolvimento exi-
giam, no contexto da Rodada Doha, uma maior abertura econômica e a diminuição dos
subsídios agrícolas, sobretudo nos países desenvolvidos, pois uma parcela significativa dos
países em desenvolvimento é grande exportadora agrícola – exemplos são numerosos na
América Latina e na África. As exportações agrícolas, em diversos casos, são o principal com-
ponente do Produto Interno Bruto (PIB) dessas nações. Nesse contexto, os altos subsídios
nos países desenvolvidos criam uma situação de desigualdade extremada e prejudicam a
competitividade dos países em desenvolvimento.
Desde o início da rodada, as negociações não avançaram significativamente no que diz
respeito ao tema agrícola. Se, de um lado, países em desenvolvimento pedem a diminuição
ou o fim dos subsídios nos países desenvolvidos, estes pedem maior abertura comercial
entre as nações em desenvolvimento, como contrapartida. As implicações econômicas e a
duração dessas negociações apenas deixam mais evidente o quanto o equilíbrio de forças
e a conjugação dos interesses múltiplos são objetivos de difícil alcance, pois, dados os dife-
rentes níveis de desenvolvimento e as características dos países, encontrar saídas e alter-
nativas que atendam satisfatoriamente a todos é uma tarefa desafiadora. Na prática, ainda
que exista uma organização voltada a resolver essas questões, verifica-se pouca efetividade
no equacionamento das problemáticas, revelando, ao mesmo tempo, sua potencialidade
e seus limites de atuação.

Blocos econômicos: uma nova forma de Estado?


Os blocos econômicos foram definidos com mais clareza na década de 1990, com o
fim da Guerra Fria. Eles foram uma resposta às mudanças que vinham ocorrendo na eco-
nomia global, quando muitos países passaram a se alinhar política e economicamente
para obter ganhos e melhor balanceamento de forças nessa economia global.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
De maneira geral, pode-se dizer que os blocos econômicos são organizações que agrupam
diferentes estados
DA EDITORA DO BRASILcom algumas características em comum, buscando, por meio dessa
união, usufruir de benefícios e de maior competitividade no mercado internacional. O bloco
econômico seria uma organização que sobrepõe os Estados Nacionais? As experiências
práticas não permitem responder afirmativamente a essa pergunta, pois, à exceção da
União Europeia (UE), os blocos econômicos pouco avançam para atingir uma integração
efetiva, dinâmica e sólida.
A UE tornou-se uma potência econômica de grande
Drop of Light/Shutterstock.com

relevância mundial, característica que alguns de seus


países, isoladamente, não teriam. Trata-se de uma
estratégia para que os mercados, de forma integrada,
tornem-se mais competitivos no mercado mundial.
Ao longo dos anos 1990 e 2000, a UE atingiu um
nível avançado de integração, com a formação de
um Parlamento, um banco e uma moeda comum,
adotada por 19 dos seus 27 membros.

 Plenário do Parlamento Europeu em Estrasburgo,


França, 2019.

150 Não escreva no livro.


Experiências contemporâneas: acordos e tensões
É difícil imaginar ou prever como seria um bloco eco-

David Cliff/NurPhoto/AFP
nômico atuando, efetivamente, como um Estado, sobre-
tudo pelas experiências recentes.
A UE, por exemplo, apesar de ser bem-sucedida em
alguns campos, apresenta uma série de contradições
internas que ameaçam a sua existência e unidade.
Recentemente, o Reino Unido solicitou sua saída do
bloco, no episódio conhecido como Brexit (uma abre-
viação para british exit, “saída britânica” na tradução
literal para o português).
Em outro contexto, na Grécia, uma das economias
mais frágeis da UE, parte da população demonstrou
desapontamento com algumas determinações do bloco,
como as condições impostas em troca do socorro finan-
ceiro prestado pelo bloco em decorrência da crise eco-  Apoiadores do Brexit comemoram a saída do Reino Unido
nômica enfrentada pelo país. da União Europeia. Londres, Reino Unido, 2020.

Existem diferentes estágios no que diz respeito às possibilidades de integração nos blocos
econômicos. Em cada um deles, certas barreiras são eliminadas e acordos são firmados.
O acordo entre Estados Unidos, México e Canadá, por exemplo, configura-se como uma área
de livre-comércio; o Mercosul, por sua vez, representa uma união aduaneira. Desde o início do
século XXI, os blocos econômicos surgiram, em paralelo ao aprofundamento do processo de
globalização, como uma nova forma de organização possível e privilegiada nesse contexto. A
união das economias é concebida como uma possibilidade de fortalecimento e aumento do
poder, da competitividade e da influência política, econômica e militar no contexto mundial.
Contudo, na atualidade, o que se observa é certo enfraquecimento da integração entre
esses blocos, por motivos políticos ou econômicos. Na América do Sul, por exemplo, diver-
gências políticas entre os governos têm afastado, a cada dia, as possibilidades de uma inte-
gração mais efetiva. Além disso, ganha força também um discurso antiglobalização e de
fortalecimento de certos nacionalismos. O governo Trump, nos Estados Unidos, com sua pla-
taforma de campanha com base no America First (“América primeiro”, em tradução livre),
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
ilustra essa orientação.
DA EDITORA DO BRASIL
Saul Loeb/AFP

 Líderes dos três países da América do Norte assinam acordo durante cúpula do G-20 em Buenos Aires,
Argentina, 2018. Da esquerda para a direita: Enrique Peña Nieto; do México; Donald Trump, dos Estados Unidos;
e Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá.

Não escreva no livro. 151


O Mercosul
Durante alguns anos, o Mercosul figurou como uma grande promessa de integração efetiva
na América do Sul. O bloco chegou a definir uma série de acordos em diferentes campos que
apontavam nessa direção, como livre circulação de pessoas e definições comerciais.
Entretanto, tensões recentes têm suscitado dúvidas sobre a capacidade de o bloco cons-
tituir uma potência regional, levantando contradições na relação entre os Estados-membros.
Em 2016, conflitos internos na Venezuela levaram à

Eitan Abramovicj/AFP
sua suspensão do bloco por motivos de “ruptura de
ordem democrática”, segundo o entendimento dos
membros atuais – Brasil, Argentina, Paraguai e Uru-
guai. Em 2017, os membros chegaram a aplicar a
cláusula democrática do Mercosul para a Venezuela,
que prevê sanções a países-membros que, de algum
modo, estejam passando por momentos de ameaça
à ordem democrática.
Em 2020, outro impasse envolveu a Argentina,
que havia sinalizado a não adoção das mesmas tarifas
 Da esquerda para a direita, chanceleres Eladio Loizaga
(Paraguai), Aloysio Nunes (Brasil), Susana Malcorra que os demais membros para as futuras transações
(Argentina) e Rodolfo Nin Novoa (Uruguai) reunidos para comerciais com os países de fora do bloco, visando
entrevista coletiva em Buenos Aires, Argentina, 2017. proteger o setor industrial e manter empregos.

Uma agenda internacional?


Apesar de alguns teóricos e analistas argumentarem a respeito de um possível retrocesso
em relação ao processo de globalização, atualmente existe uma agenda de questões e pro-
blemas que envolvem diversos países e precisam ser discutidos por representantes de várias
partes do mundo no âmbito de organizações supranacionais. A integração, principalmente eco-
nômica, que marca o mundo no presente parece não dialogar com uma realidade que não seja,
em alguma medida, articulada entre os países e territórios.
Essa realidade é ainda mais evidente quando analisamos alguns problemas que não
podem ser resolvidos localmente, pois são decorrentes de processos que se operam em
contexto mundial.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
As mudanças climáticas, por exemplo, estão relacionadas ao modelo econômico pautado
DA EDITORAeDO
no consumo naBRASIL
ampliação indefinida dos lucros de uma sociedade que calcou seu desenvol-
vimento na utilização de combustíveis fósseis. Embora os países de industrialização clássica
tenham uma parcela de contribuição bastante expressiva nessa questão, mais recentemente
outras economias também vêm contribuindo para o agravamento da questão ambiental.
Por conta de questões como essas, a ONU realiza, desde 1972, conferências e acordos
sobre o meio ambiente. O Protocolo de Kyoto, assinado em 2005, é o resultado de um desses
acordos. Ele tinha como principal meta a redução das emissões de gás carbônico na atmos-
fera, envolvendo países de diferentes estágios de desenvolvimento. Depois dele, em 2015,
foi firmado o Acordo de Paris, na 21a Conferência das Partes (COP 21), realizada na França.
Desde a assinatura do Protocolo de Kyoto, os Estados Unidos, um dos maiores emissores
de gases do efeito estufa, têm demonstrado resistência em aderir à iniciativa. Em 2019, o
país confirmou sua recusa de permanecer no Acordo de Paris, sob a justificativa de que ele
prejudica os Estados Unidos, ao passo que beneficia outras nações.
O que essas dinâmicas evidenciam é que a conjugação dos diversos interesses em um
mundo global é complexa e de difícil solução, pois, em que pesem a integração promo-
vida pela globalização e a necessidade de acordos para a resolução de determinadas
questões, há interesses particulares dos Estados que podem se chocar com a necessi-
dade de articulação ampla.

152 Não escreva no livro.


Atividades

1. As organizações supranacionais são uma das principais características do mundo global,


pois existem justamente para integrar e articular interesses diversos, embora muitas
vezes pareçam atuar de forma favorável a determinados interesses. O FMI, por exemplo,
condiciona empréstimos e socorros financeiros a uma série de medidas que colocam em
risco direitos e conquistas sociais.
Reúnam-se em grupos e pesquisem, em livros, jornais, revistas ou sites, a relação do
FMI com o Brasil entre os anos de 1950 e 2005. Vocês podem destacar, por exemplo,
os empréstimos e as condições impostas ao país, bem como as consequências sociais
desses empréstimos. Após coletar os dados e as informações, elaborem um relatório
apontando as descobertas, com introdução, desenvolvimento e conclusão. Em seguida,
façam um debate sobre a seguinte questão: Existem benefícios na relação entre o FMI
e os Estados nacionais, como o Brasil, ou há apenas prejuízos para esses Estados?
2. Leia a seguir o trecho de uma entrevista com o economista Paulo Nogueira Batista Jr.,
que foi diretor-executivo do FMI pelo Brasil.
“[...]
Em todo o caso, aceite-se ou não o termo “globalização” como uma descrição adequada do
quadro internacional, o papel do Estado Nacional continua crucial, nos países desenvolvidos
e nos países em desenvolvimento. Ninguém pode abrir mão do Estado Nacional. Não existem
instâncias supranacionais capazes de substituí-lo. E os mercados não funcionam sem Estado.
[...]”
Fonte: NAÇÃO, NACIONALISMO E GLOBALIZAÇÃO. Estudos Avançados, São Paulo, v. 22, n. 62, jan./abr.
2008. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142008000100019&script=sci_
arttext. Acesso em: 4 set. 2020.

Faça uma pesquisa em livros, revistas ou na internet sobre a relação entre as insti-
tuições supranacionais e os governos nacionais. Procure identificar os limites e as
possibilidades de ação dessas instituições em relação aos Estados. Em seguida,
escolha uma instituição ou um organismo vinculado, para estudá-lo de modo mais
específico. De posse das informações, elabore um texto sobre os limites de ação da
MATERIAL
instituição escolhidaDE
emDIVULGAÇÃO
relação aos Estados que são membros ou que a acompanham.
Em data marcada, apresente seu texto e debata com os colegas as descobertas e as
DA EDITORA DO BRASIL
problemáticas envolvidas na relação pesquisada por você.
3. Aprovado pela população em 2016,
Robert Ariail © 2017 Robert Ariail/Dist. by Andrews
McMeel Syndication for UFS

o processo do “Brexit” foi concluído


em 2020, entre impasses e sérias
divergências políticas e sociais. Com
base na observação da charge e em
pesquisas sobre o tema, responda às
questões a seguir.

Robert Ariail. Brexit. Charge


publicada em 2017.

a) Quais são as principais justificativas e consequências (efetivas ou potenciais) do Brexit


para o Reino Unido e para a União Europeia?
b) Um bloco econômico do porte da União Europeia pode se sobrepor aos Estados nacio-
nais e relativizar sua soberania? Responda no caderno e discuta com seus colegas.

Não escreva no livro. 153


Pesquisa

ESTUDO DE CASO – PARTICIPAÇÃO POLÍTICA


DAS MULHERES
APRESENTAÇÃO
A democracia representativa é o sistema político de democracia indireta, ou seja, com elei-
ção de representantes da população para os cargos políticos com o objetivo de defender os
interesses da população. Dessa forma, pode-se dizer que o poder do representante é legiti-
mado pela soberania popular.
Esse modelo ainda é o de maior aprovação mundialmente, entretanto sua legitimidade tem
sido cada vez mais questionada. Somos mesmo representados nesse modelo de democracia?
Essa reflexão vem à tona ao tratarmos de políticos que consultam a população apenas em
época de eleição, ou que agem de acordo com interesses privados, em detrimento dos inte-
resses populares, ou mesmo quando comparamos como a classe política e a população de
um país são formadas.
Não há proporcionalidade de gênero, classe ou raça entre os ocupantes de cargos políticos
e as populações correspondentes. A política tradicional ocidental é dominada por homens
brancos. Se a política é representativa, não devia representar sua população, sendo formada
também, proporcionalmente, por mulheres, negros, indígenas e outros grupos?
Nesse modelo, nossa cidadania é exercida em grande parte por meio do voto. A Nova Ze-
lândia foi o primeiro país a garantir o sufrágio feminino, em 1893. O Reino Unido o estabele-
ceu em 1918, após muita luta, já a Suíça apenas concedeu o direito ao voto às mulheres em
1971, e a Arábia Saudita, em 2011. No Brasil, as mulheres conquistaram o direito ao voto
em 1932, e a sua obrigatoriedade, em 1946.
Quanto à participação de mulheres em cargos políticos, em 2018, elas eram apenas dez
dos 153 chefes de Estado eleitos. Apenas um quarto dos cargos nos parlamentos mundiais
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
eram femininos.
DA Vimos,
EDITORA DO BRASIL
na Unidade 3, alguns mecanismos que têm sido utilizados no Brasil para diminuir a
distância entre a quantidade de homens e mulheres na política institucional, entretanto o país
ainda está longe de alcançar a igualdade de gênero na participação política. Em 2019, o país
ocupava a posição 134 de 193 países pesquisados pela ONU, quanto à representatividade
feminina no Parlamento, com 15% de participação das mulheres.
Para esta atividade, vocês vão realizar estudos de caso sobre a participação das mulheres
na política em diferentes países, listados abaixo.
•• Ruanda •• Taiwan •• África do Sul •• Índia
•• Bolívia •• Espanha •• Suécia •• México
•• Nova Zelândia •• Cuba •• EUA •• Argentina
O estudo de caso é um tipo de pesquisa muito usado para explicar como ou por que deter-
minados fenômenos sociais ocorrem, que consiste na coleta dados, sobretudo qualitativos,
buscando explorar ou descrever um evento.

OBJETIVOS
•• Elaborar um texto descritivo •• Realizar uma análise
•• Apresentar dados •• Participar de um debate qualificado sobre o tema

154 Não escreva no livro.


JUSTIFICATIVA
Além do estudo do tema proposto, o trabalho contribui para a familiarização com a lin-
guagem e a estrutura de trabalhos científicos. A etapa final promove o debate de ideias.

DESENVOLVIMENTO
1. Seguindo as orientações do professor, formem os grupos e determinem o país a ser
estudado.
2. Realizem a pesquisa na internet e em biblioteca(s), utilizando fontes confiáveis. A pesquisa
deverá ser composta das partes indicadas a seguir. É importante que todos os integrantes
do grupo participem de todas as etapas, pois elas se relacionam.
a) Um histórico da participação política das mulheres no país estudado, incluindo possí-
veis conflitos, principais desafios, papel de movimentos sociais, ações implementadas
para alcançar os índices atuais e descrição da conjuntura atual.
b) Posteriormente, discutiremos a relação entre a participação feminina na política e
outros indicadores de igualdade de gênero, como acesso aos estudos, disparidade
salarial ou violência doméstica, buscando perceber se há uma correspondência
entre os países que alcançam maiores índices de igualdade na política e em outros
âmbitos. Para isso, apresentem índices variados, com apoio de tabelas e gráficos.
c) Como o governo de lideranças femininas é representado pela mídia tradicional? A pes-
quisa deverá incluir dados referentes a essa temática e período, bem como uma análise
crítica, utilizando informações sobre o país estudado na argumentação.
Os resultados da pesquisa devem ser organizados em um texto contendo os seguintes itens:
a. Introdução
b. Objetivos
c. Metodologia
d. Resultados
i. Histórico – Texto
MATERIAL DEdescritivo,
DIVULGAÇÃO referente à etapa 2.a.
ii. Dados – Apresentação de indicadores sociais, referente à etapa 2.b.
DA EDITORA DO BRASIL
iii. Mídia – Texto analítico, referente à etapa 2.c.
e. Conclusão
f. Referências – Bibliografia consultada, seguindo as normas da ABNT.

CONCLUSÃO
Os trabalhos vão ser discutidos pelo professor em sala de aula, com base nas reflexões
trazidas pelos grupos, sugeridas abaixo:
•• Os países com alta participação feminina na política tiveram trajetórias parecidas?
•• Que fatores vocês identificam como importantes para alcançar essa representatividade?
•• Qual é o papel dos movimentos sociais nas conquistas políticas?
•• Outros índices referentes à igualdade de gênero também são melhores em países com
maior participação política feminina? Por quê?
•• Quais são os principais desafios para o Brasil alcançar maior participação feminina
na política?
•• Que estratégias vistas poderiam funcionar no Brasil?
•• Como podemos explicar o posicionamento da mídia tradicional diante de governos lide-
rados por mulheres?

Não escreva no livro. 155


Para continuar
aprendendo

UNIDADE 1 – MODOS DE GOVERNANÇA Site


REPUBLICANOS Geledés – Instituto da Mulher Negra. Disponível em: https://
www.geledes.org.br/. Acesso em: 30 ago. 2020.
Filmes Página da organização não governamental antirracista, que tra-
Batismo de sangue, direção de Helvécio Ratton. Brasil, 2006 balha pela promoção e valorização das mulheres negras e da
comunidade negra em geral. Trata de diversos assuntos relacio-
(94 min).
nados a esses temas e outros correlatos.
Filme baseado no livro homônimo de Carlos Alberto Libânio
Christo, o Frei Betto (1946-), que conta a história real do apoio de
um grupo de frades dominicanos à luta contra a Ditadura Civil- UNIDADE 3 – EM BUSCA DA CIDADANIA
-Militar, especificamente a Ação Libertadora Nacional, de Carlos
Marighella (1911-1969), no final da década de 1960. Filme
O dia que durou 21 anos, direção de Camilo Tavares. Brasil, Aconteceu bem aqui, direção de Camilo Tavares. Brasil, 2015
2012 (77 min). (durações variadas).
Documentário que mostra, por meio de registros audiovisuais Projeto que reúne cinco curta-metragens que tratam de lugares
originais e documentos da época, a participação do governo esta- da cidade de São Paulo que são simbólicos para a luta pelos Direi-
dunidense no Golpe Militar de 1964 no Brasil. tos Humanos e pela democracia, como a Praça e Catedral da Sé.

Livro Livro
Liberalismo – entre civilização e barbárie, de Domenico 1988: Segredos da constituinte, de Luiz Maklouf Carvalho.
Losurdo. São Paulo: Anita Garibaldi, 2006. Rio de Janeiro: Record, 2017.
O autor italiano marxista expõe na obra suas críticas ao liberalismo, A obra do jornalista investigativo traz diversas entrevistas para
analisando fatos históricos, compara o colonialismo europeu entender como foi elaborada a Constituição Cidadã, marco da
ao hegemonismo estadunidense atual e aponta as desigual- redemocratização brasileira e Carta Magna do país até hoje.
dades raciais e de gênero e a exploração dos trabalhadores.
Site
Consulta Pública – eCidadania – Senado Federal. Disponí-
UNIDADE 2 – MINORIAS SOCIAIS vel em: https://www12.senado.leg.br/ecidadania/principal
E DEMANDAS HISTÓRICAS materia. Acesso em: 30 ago. 2020.
Página do site do Senado Federal em que são publicados todos
Filme os projetos de lei e demais proposições que tramitam no Senado
Branco sai preto fica, direção de Adirley Queirós. Brasil, 2015 para que a população possa opinar.
(95 min).
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Filme que conta a história de dois homens negros vítimas de vio- UNIDADE 4 – CAMINHOS E DEBATES
lência policial que recebem o auxílio de um morador do futuro
DA EDITORA DO BRASIL
para recolherem provas para processar o Estado. PARA PENSAR O FUTURO
Livro Filmes
Sejamos todos feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie. Eleições, direção de Alice Riff. Brasil, 2018 (100 min).
São Paulo: Companhia das Letras, 2015. O filme conta a história de uma eleição para o grêmio estudantil
Neste livro, a escritora nigeriana apresenta de forma simples e de um escola, mostrando de que maneira esse tipo de organização
direta a importância da questão de gênero no mundo, apontando afeta o dia a dia dos estudantes, assim como os preparam para
os benefícios da igualdade pela qual luta o feminismo. agir em sociedade.
Tomorrowland - Um lugar onde nada é impossível, direção
Podcast
de Brad Bird. Estados Unidos, 2015 (130 min).
Humor reforçou políticas de branqueamento nos anos 1920.
Filme conta a história de uma garota que, por meio de um broche,
Disponível em: https://jornal.usp.br/podcast/humor-reforcou consegue se transportar para uma realidade paralela futurista que
-politicas-de-branqueamento-nos-anos-1920-no-rio-de possui diversas novas invenções que visam o bem da humanidade.
-janeiro/. Acesso em: 30 ago. 2020.
O podcast Novos Cientistas, divulgado pelo Jornal da USP, apre- Livro
senta uma entrevista realizada com a historiadora Maria Margarete O que é participação política?, de Dalmo de Abreu Dallari.
dos Santos Benedicto, cuja pesquisa de doutorado trata de como São Paulo: Brasiliense, 2004.
a ideologia do branqueamento influenciou as representações de O livro apresenta de forma simples a importância da partici-
afrodescendentes em materiais humorísticos do Rio de Janeiro pação política como instrumento de construção da sociedade
nos anos 1920. que queremos.

156 Não escreva no livro.


Referências

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Obra de teoria política em que são contextualizadas as origens dos modos problema da (in)tolerância: uma relação linguístico-discursiva e ideo-
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ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Lafonte, 2017. -rieb-64-0201.pdf. Acesso em: 23 jun. 2020.
Obra clássica em que o filósofo grego Aristóteles reflete sobre formas de O trabalho discute os conceitos de minoria no Brasil.
organização política.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo. Ática, 2000.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
Neste livro, a filósofa comenta os principais movimentos filosóficos ocidentais.
Na obra, o importante filósofo discorre sobre virtude, hábito e prudência.
CHAVES, Luiz Gonzaga de Mendes. Minorias e seu estudo no Brasil. Dis-
BATISTA, Daiane Nogueira; SILVA, Lucas Wilame Almeida da; SIMAS, ponível em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/4487/1/1971_
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BIGAZZI, Anna Rosa. “In difesa de la razza” – Os judeus italianos refu- O livro apresenta uma defesa dos direitos sociais básicos enquanto direitos
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O estudo analisa a imigração italiana e as influências de políticas fascistas teóricas do socialismo e do comunismo.
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BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. sileira, 1968.
Obra com os principais artigos do autor relacionados à temática dos direitos No livro, o autor faz uma análise das violências que instauraram o mundo
humanos no contexto da democracia e da paz. colonial.
BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco (org.). FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes.
Dicionário de política. Brasília: Editora UnB, 1998. São Paulo: Globo, 2008.
O livro faz uma interpretação sintética e abrangente dos principais conceitos No livro, Fernandes analisa o papel ocupado pelos negros no mercado de
políticos. trabalho e na sociedade brasileira após a abolição e durante o processo
BORGES, Vavy Pacheco. O populismo e sua história: debate e crítica. de industrialização.
Revista Brasileira de História, v. 22, n. 43, São Paulo, 2002. FERNANDES, Florestan. Que tipo de República? São Paulo: Globo, 2007.
Coletânea com artigos que questionam os conceitos e as interpretações do Coletânea de artigos publicados em jornal pelo autor.
populismo.
FERRI, Gil Karlos. Os impactos ecológicos da construção de Brasília.
BOTTOMORE, Tom; OUTHWAITE, William. Dicionário do pensamento Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/impactos-ecologicos
social do século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 2018. -brasilia/. Acesso em: 15 jun. 2020.
Com cerca de quinhentos verbetes, o dicionário examina temas fundamen- Artigo que discute os impactos ecológicos proporcionados pela construção
tais do pensamento social. de Brasília.
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cional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. O autor analisa a dificuldade que os historiadores têm para escapar à pres-
Documento de referência obrigatória para a formulação de propostas são dos preconceitos, das ideologias ou das vaidades nacionais.

Não
Não escreva
escreva no
no livro.
livro. 157
FILHO, H. S. A Era Vargas: desenvolvimentismo, economia e sociedade. LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes,
Economia e Sociedade, v. 22, n. 3 (49), Campinas, 2013. 1998.
O livro reúne ensaios que retratam o contexto e o significado histórico do Obra clássica da Filosofia política em que se teoriza que o funcionamento
projeto varguista. da sociedade é baseado no direito natural e no estabelecimento de um
contrato social.
FONTANA, Josep. Historia: análisis del passado y el proyecto social.
Barcelona: Editorial Crítica, 1982. LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio. São Paulo: Boitem-
No livro, o autor faz uma denúncia em relação à historiografia descompro- po, 2005.
metida com as lutas sociais. Análise de texto de Walter Benjamin e suas teses sobre o conceito de história.
FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da jus- LUCHMANN, Lígia Helena Hahn. Interfaces socioestatais e instituições
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O artigo analisa os efeitos da teoria marxista nos movimentos sociais Obra fundamental para compreender a história da política.
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Traz uma análise crítica do que aconteceu com as correntes liberais e de
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lo, 2000. políticas.
Esse trabalho analisa as construções culturais no período do Estado Novo
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50 textos que trazem pesquisas recentes sobre o sistema escravocrata criação de mundos. Revista UFMG, v. 24, n. 1 e 2, Belo Horizonte, 2017.
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GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Depois da democracia racial. contemporâneo.
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O trabalho faz uma discussão sobre a ideia de democracia racial e seus A obra trata da evolução do pensamento racial na Europa, denunciando
possíveis desdobramentos. modelos de submissão, depredação e exploração.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. MONTESQUIEU, Charles. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. Obra em que o autor elabora conceitos sobre formas de governo que, até
Neste livro, o autor faz uma aproximação das reflexões sobre o Direito e o hoje, são utilizados na Ciência Política.
Estado Democrático.
MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
HABERMAS, Jürgen. A nova transparência: a crise do Estado de bem- Obra necessária para a compreensão do pensamento político ocidental.
-estar social e o esgotamento das energias utópicas. Novos Estudos,
n. 18, set. 1987. NEGRO, Antonio Luigi. Paternalismo, populismo e história social. Cader-
no AEL, v. 11, n. 20/21, 2004.
O autor faz uma aproximação temática dos movimentos sociais com a
psicanálise. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Uma reflexão sobre as consequências de políticas populistas e paternalistas
para a história social do Brasil.
HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos.
DA EDITORA DO BRASIL
Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 2007. NETTO, José Paulo. O que é marxismo. São Paulo: Brasiliense, 2006.
O livro apresenta os principais conceitos do pensamento marxista.
O autor faz um estudo filosófico sobre os pensamentos naturalistas e
religiosos. NETTO, José Paulo. O que é stalinismo. São Paulo: Brasiliense, 1981.
HOBBES, Thomas. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 2002. Neste livro, o autor apresenta os principais conceitos do stalinismo.
Nessa obra, Hobbes elabora uma filosofia moral e política cujo propósito ORWELL, George. O que é fascismo? E outros ensaios. São Paulo: Com-
principal é evitar a guerra. panhia das Letras, 2017.
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Com- Livro que traz discussões sobre fascismo, socialismo e Guerra Fria.
panhia das Letras, 2005. PLATÃO. A República. São Paulo: Perspectiva, 2010.
Obra que debate os principais acontecimentos políticos, econômicos, sociais Aborda diversos temas como: política, educação, imortalidade da alma e
e culturais do século XX. justiça.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia RAMOS, Flamarion Caldeira; MELO, Rúrion; FRATESCHI, Yara (coord.).
das Letras, 1996. Manual de Filosofia Política: para os cursos de teoria do estado e Ciên-
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Dicionário que apresenta termos técnicos da Filosofia de maneira sucinta e ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. São Paulo: L&PM, 2017.
acessível. Nesta obra, Rousseau expõe a sua noção de contrato social.
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Claude Lefort comenta a democracia entre o Antigo Regime e o Estado lise histórico-institucionalista das principais abordagens estratégicas.
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158 Não escreva no livro.


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Dados sobre o Fundo de Desenvolvimento Regional. Dados sobre as desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil.

Não
Não escreva
escreva no
no livro.
livro. 159
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O historiador Edson Kayapó comenta sobre o trabalho de alguns indígenas THÉRY, Hervé; MELLO-THÉRY, Neli Aparecida de. Atlas do Brasil: dispa-
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160 Não escreva no livro.


Política e
cidadania MANUAL DO

Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas

Leandro Gomes
Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professor e coordenador em cursinhos populares e assessor pedagógico
especialista.

Natália Salan Marpica


Doutora em Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Mestra em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Professora de Sociologia no Instituto Federal de São Paulo (IFSP).

Priscila Manfrinati
Mestra em Ciências, área de concentração Humanidades, Direitos e Outras
Legitimidades, pela Universidade de São Paulo (USP).
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP).
Foi professora de História em cursos pré-vestibulares.
DA EDITORA DO BRASIL
Sabina Maura Silva
Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Mestra e licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Docente do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação
em Educação Tecnológica do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Minas Gerais (Cefet-MG).

1a edição
São Paulo, 2020
Apresentação

Caro professor,

Durante muito tempo, em um modelo de ensino e aprendizagem tradicional, a tarefa do professor


era concebida como a de transmitir conteúdos a seus estudantes. Na atualidade, essa tarefa ganhou
novo significado e sentido, e o professor é requerido como mediador no processo, favorecendo desco-
bertas, aprendizagens e auxiliando o estudante na formação de seu projeto de vida, em que a escolha
de uma faculdade ou de uma carreira não é necessariamente o objetivo final. Ademais, o professor tenta
encontrar seu novo lugar: além de guia em meio aos conceitos de um componente curricular, deve
transitar pela área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
A intenção deste Manual do Professor é auxiliá-lo nessa tarefa, levando em conta o contexto de
transição que vivemos. As sugestões aqui apontadas auxiliam no trabalho com a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), além de indicar propostas e percursos que facilitam esse trabalho e o ajudam a
encontrar um novo caminho para sua prática.
Para isso, o conhecimento será o guia nessa trajetória, com a utilização de métodos próprios das
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas que permitem estabelecer reflexões e debates que privilegiam
o desenvolvimento de senso crítico. Estimulamos também a busca de alternativas, de diferentes saídas
e de soluções inovadoras. A docência, assim como a ciência, é um conhecimento coletivo, diariamente
aprimorado.
Este manual foi pensado para ser acessível. Desse modo, apresenta propostas simples de serem
realizadas em sala de aula, com a abordagem de tópicos relevantes para as vivências dos estudantes
e para a construção de sua cidadania. Promove-se o trabalho em equipe e de propostas integradas com
outras áreas do conhecimento, sobretudo de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Além disso,
sugerimos fontes de consulta e pesquisa, caso sinta a necessidade de aprofundar algum conhecimento
ou proposta.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Esperamos que esta obra o inspire e oriente sua prática.
DA Desejamos
EDITORA aDOvocê
BRASIL
uma boa leitura!

II
Sumário

Introdução  IV Perfis estudantis: estratégias


de condução  XXV
As Ciências Humanas e Sociais Aplicadas • Sugestões de abordagem para diferentes
no Ensino Médio  IV estilos de aprendizagem  XXVI
Os componentes curriculares da área do
conhecimento  V • Culturas juvenis e projeto de vida  XXVII

A BNCC  VI • Pensamento computacional  XXVIII


• Competência específica 1  VII • Leitura inferencial e argumentação  XXIX
• Competência específica 2  VIII • Tecnologias digitais de informação e
• Competência específica 3  VIII comunicação  XXX
• Competência específica 4  IX • Museus, visitas de campo e uso de
• Competência específica 5  IX aplicativos  XXXII
• Competência específica 6  X
Planejamento: construindo
Características gerais da obra  XI o registro docente  XXXII
Organização geral  XI Perfil indicado dos professores  XXXIII
• Organização das unidades  XIV • O trabalho com professores de outras áreas
Organização dos conteúdos e a BNCC  XVI de conhecimento  XXXIV
• O trabalho com as competências e Unidades e sequências didáticas  XXXIV
habilidades específicas da área de Ciências Cronograma  XXXV
Humanas e Sociais Aplicadas  XVI
Construindo os processos
• O trabalho com Temas Contemporâneos
de avaliação  XXXV
Transversais  XVIII
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Indicações complementares  XXXVI
Proposta teórico-metodológica da obra  XIX
DA EDITORA
Professores e a BNCC  DO BRASIL XX Referências bibliográficas  XXXVIII
Elementos de metodologias ativas
no planejamento e na condução Orientações didáticas e comentários
das aulas  XX específicos  XLI
• O ensino por projetos  XXI Introdução  XLII
• A sala de aula invertida  XXII Mapa do ensino  XLIII
• Aprendizagem Baseada em • Unidade 1: Modos de governança
Problemas (ABP)  XXII republicanos  XLVIII
Como estimular o trabalho em grupo?  XXII • Unidade 2: Minorias sociais e demandas
O trabalho com competências e habilidades históricas  LX
de diferentes áreas  XXIII • Unidade 3: Em busca da cidadania  LXXII
• Linguagens e suas Tecnologias  XXIV • Unidade 4: Caminhos e debates
• Matemática e suas Tecnologias  XXIV para pensar o futuro  LXXXII
• Ciências da Natureza e
suas Tecnologias  XXV Referências bibliográficas  XCIV

• Formação Técnica e Profissional  XXV

III
INTRODUÇÃO
O Novo Ensino Médio, cujas alterações à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foram
propostas pela Lei no 13.415/2017,1 prevê uma ampliação do tempo mínimo do estudante na escola e
uma reorganização curricular atrelada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O foco principal das
mudanças está na maior flexibilidade curricular, expressa pela possibilidade de construção de itinerá-
rios formativos baseados em áreas de conhecimento e pelo destaque à formação técnica e profissional
do estudante.
Um dos aspectos mais significativos no que se refere ao Novo Ensino Médio consiste nas grandes
frentes que essa proposta contempla: o desenvolvimento do protagonismo dos estudantes e de seu
projeto de vida, a valorização da aprendizagem e a garantia de direitos de aprendizagem comuns, com a
definição das competências indispensáveis que devem ser desenvolvidas e alcançadas por todos os jovens.
Essas competências são descritas em detalhes no documento da BNCC.2
É importante ressaltar que, desde a Constituição Federal de 1988, se tem dispensado bastante aten-
ção ao Ensino Médio. Assim, o direito ao acesso e à permanência na escola se alia a uma preocupação
com a promoção da formação humanística e para o trabalho.
A tarefa delegada ao Ensino Médio é ampla e complexa e precisa ser pensada em relação aos marcos
teóricos e procedimentos que possibilitem a consecução dos objetivos assumidos perante a sociedade.
Entendendo que a renovação estrutural era fundamental para a execução dessa tarefa, o Plano Nacional
de Educação,3 de 2014, propôs a flexibilização curricular e a abordagem interdisciplinar como bases desse
Novo Ensino Médio, que começou a se desenhar e se concretizou com a LDB de 2017 e as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio de 2018.4
Esta coleção foi concebida e construída para ajudá-lo a realizar, de forma consistente e segura, a pro-
posta do Novo Ensino Médio. Os livros são autocontidos. Isso significa que você pode usá-los da maneira
que preferir e de acordo com os interesses dos estudantes. A abordagem tem aspectos interdisciplinares,
o que agrega flexibilidade ao currículo e aos conteúdos, além de facilitar a construção dos conhecimentos
de modo mais significativo graças à integração dos componentes curriculares no contexto da área de
conhecimento de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Ao longo deste material, você encontra sugestões
e orientações para o desenvolvimento de seu trabalho junto aos estudantes, assim como discussões que
podem auxiliá-lo a refletir sobre suas práticas.
Este Manual do Professor está dividido em duas partes: uma de caráter geral, em que se sintetizam os
pressupostos metodológicos nos quais nosso material se baseia, e uma específica, na qual são oferecidas
orientações e sugestões de como abordar os temas propostos em todas as unidades, além de sugestões
de atividades complementares, a fim de proporcionar um aproveitamento mais efetivo do material didá-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tico e o enriquecimento de sua prática diária.
DA EDITORA DO BRASIL
AS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
NO ENSINO MÉDIO
A área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, composta da integração entre Filosofia, História,
Sociologia e Geografia, no Novo Ensino Médio segue a tônica das diretrizes gerais: flexibilidade curricular,
abordagem interdisciplinar e promoção do protagonismo juvenil.
A área pretende aprofundar e ampliar aprendizagens desenvolvidas no Ensino Fundamental e tem o
objetivo de capacitar os estudantes para que consigam estabelecer diálogos e relações entre saberes,
culturas, indivíduos e grupos sociais. Para isso, baseia-se nas maiores habilidades de observação e abs-
tração de estudantes desse segmento, assim como no mais amplo domínio de diferentes linguagens e de
processos de simbolização.

1 BRASIL. Presidência da República. Secretaria Geral. Lei no 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 16 ago. 2020.
2 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base.
Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. p. 9-10.
3 BRASIL. Plano Nacional de Educação. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-educacao/543
-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Acesso em: 16 ago. 2020.
4 BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/resources/
downloads/pdf/dcnem.pdf. Acesso em: 16 ago. 2020.

IV
Os estudantes precisam ter acesso a uma base de conhecimentos contextualizados com o intuito de
se tornarem capazes de realizar reflexões e análises críticas, de se posicionar, de propor intervenções
responsáveis, que sejam alicerçadas na ética e observem o respeito aos direitos humanos, assumindo
uma postura criativa, engajada e protagonista. Além disso, é fundamental que desenvolvam as habilida-
des de elaborar argumentos e apresentar propostas alternativas sempre que necessário. Assim, poderão
propor soluções de problemas intrínsecos à realidade, apoiados em conhecimentos científicos, com a
utilização contextualizada, criteriosa e crítica das tecnologias.
Para assegurar a conquista da formação integral dos estudantes, o Novo Ensino Médio e a BNCC pro-
põem a problematização de algumas categorias da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas: Tempo
e espaço; Territórios e Fronteiras; Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cultura e Ética; Política e Trabalho.
Essas categorias favorecem a compreensão de diferentes processos e conceitos associados à realidade
brasileira e mundial. A discussão dos processos, conceitos e conteúdos precisa considerar os compro-
missos éticos, sociais, econômicos e ambientais que a educação e a escola têm não apenas em relação
aos indivíduos, mas também à sociedade como um todo.
Nesse contexto, a presente coleção oferece possibilidades de ensino e aprendizagem em confor-
midade com esses pressupostos. Os livros e as unidades estão organizados com o propósito de
contemplar os grandes temas indicados pela BNCC por meio de uma perspectiva interdisciplinar e,
com base nas situações propostas, desencadear a pesquisa e a discussão de temas contemporâneos,
os quais incentivam e desafiam os estudantes a responder às situações de forma crítica e consistente.
As demandas pelo protagonismo juvenil são atendidas não apenas pelos conteúdos propostos, mas,
sobretudo, por atividades diversificadas, a fim de que todas as competências e habilidades almejadas
sejam desenvolvidas.

Os componentes curriculares da área do conhecimento


A BNCC propõe para a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, no Ensino Médio, um trabalho
voltado à análise e à reflexão de processos sociais, históricos, filosóficos e geográficos de maneira articu-
lada. Por isso, nesta obra, procurou-se trabalhar esses componentes de forma integrada, por meio de
contextualizações e temas comuns e necessários para o amplo entendimento dos estudantes.
Na perspectiva filosófica, opera-se o exame racional dos conteúdos da vida humana, propiciando a
compreensão racional e teórica do mundo, por meio da elaboração de um conhecimento fundamentado.
A Filosofia permite a reflexão sobre modos de organização social, formas de produção simbólicas, con-
ceitos e valores morais, legais, estéticos e ideológicos.
No que tange aos estudos históricos, a BNCC do Ensino Médio possibilita diversificar a abordagem
cronológica convencional, abrindo margem para o uso de metodologias próprias da história temática, se
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
esta for da preferência do professor. Em linhas gerais, aprofundam-se métodos e conceitos próprios à
produção do conhecimento histórico, de modo a tornar o estudante apto a aplicá-los no estudo de dife-
DA EDITORA DO BRASIL
rentes temas, contextos e processos e na problematização de aspectos da própria realidade. Ao desen-
volver as habilidades requisitadas, o estudante poderá produzir inteligibilidade sobre as experiências
sociais no tempo e no espaço, construindo repertório para assim compreender o momento histórico em
que está inserido e como agir nele.
No caso da abordagem sociológica, a BNCC dialoga com as Ciências Sociais de forma abrangente, pois
busca diferentes métodos, fontes e campos de conhecimento para a compreensão de distintos fenôme-
nos e seus impactos na sociedade. Assim, os estudantes desenvolvem ferramentas científicas que per-
mitem que compreendam a sociedade e seu lugar nela, por meio de uma multiplicidade de correntes de
pensamento e metodologias de análise, transformando o conhecimento científico em informações úteis
para que atue no mundo de forma consciente e autônoma.
Em relação à perspectiva geográfica, o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem se pauta
pelo estudo do processo de (re)produção do espaço e as mais diversas realidades, contradições e condi-
ções que o permeiam, permitindo ao estudante se enxergar nesse processo e analisar suas diferentes
escalas: locais, regionais, globais, utilizando, para isso, conceitos e métodos próprios das Ciências Huma-
nas e Sociais Aplicadas, como proposto pela BNCC.

V
A BNCC
A BNCC tem como marco fundamental a defesa dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento de
todos os estudantes brasileiros ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. De caráter nor-
mativo, ela propõe um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens consideradas essenciais para
que os objetivos que defende sejam atingidos. Orienta-se ainda por princípios éticos, políticos e estéticos
cuja finalidade é a formação integral do ser humano. Assim, busca promover a construção de uma socie-
dade justa, democrática e inclusiva.
Há um alinhamento entre as ações e políticas nos âmbitos federal, estadual e municipal, com o obje-
tivo de atingir a meta proposta pela BNCC, para superar a fragmentação das políticas educacionais e
melhorar a qualidade da educação em nosso país. Desse modo, o documento entende que deve haver
um patamar comum de aprendizagens a todos os estudantes e apresenta-se, assim, como um instrumento
fundamental para o alcance desse objetivo.
Em sua estrutura básica, a BNCC define que a Educação Básica, ao longo de seu percurso, deve asse-
gurar o desenvolvimento de dez competências gerais. Entende-se por competência a capacidade de
mobilizar conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para oferecer soluções a problemas da vida
cotidiana, exercer plenamente a cidadania e atuar no mundo do trabalho. Destaque-se aqui que o docu-
mento, ao pensar nas competências, se alinha à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU)5,
ao compreender a educação como meio e ferramenta para a afirmação de valores e atitudes capazes de
contribuir para a transformação da sociedade, de tal sorte que ela seja mais humana, justa e comprome-
tida com a sustentabilidade. As dez competências gerais, propostas pela BNCC, que a Educação Básica
deve desenvolver para formar cidadãos plenos são:

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital
para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade jus-
ta, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a refle-
xão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e
resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de
práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e
digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e parti-
lhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao
entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar
DA EDITORA DO BRASIL
informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e
coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe
possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da ci-
dadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pon-
tos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental
e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado
de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana
e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito
ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais,
seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, toman-
do decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base.
Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. p. 9-10.

5 ONU. Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://nacoesunidas.
org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 16 ago. 2020.

VI
A BNCC também define competências específicas para as áreas de conhecimento, as quais são vincu-
ladas às competências gerais da Educação Básica, e habilidades que ampliam e sistematizam as apren-
dizagens a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Médio. O objetivo aqui consiste em contemplar os
conteúdos conceituais de cada área, contextualizando-os social, cultural, ambiental e historicamente e
familiarizando os estudantes com os processos e as práticas de investigação e análise das Ciências
Humanas, assim como problematizar e tematizar categorias fundamentais da área (Tempo e Espaço;
Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cultura e Ética; Territórios e Fronteiras; e Política e Trabalho) para a for-
mação do estudante de Ensino Médio.6
Cada competência se relaciona a um conjunto de habilidades específicas. A competência mobiliza conhe-
cimentos e conceitos (o “saber”), e a habilidade indica as práticas (o “saber fazer”), sejam elas socioemocio-
nais ou cognitivas. Portanto, para atingir uma competência, é necessário que todas as suas habilidades
correlacionadas sejam desenvolvidas.
As competências específicas e as habilidades a serem desenvolvidas em Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas no Ensino Médio são explicitadas na sequência.

Competência específica 1
Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional,
nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos,
científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, con-
siderando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza
científica.

(EM13CHS101)
Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com
vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos,
econômicos, sociais, ambientais e culturais.

(EM13CHS102)
Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas, sociais,
ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade, coo-
perativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as
a narrativas que contemplem outros agentes e discursos.

(EM13CHS103)
Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos, eco-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e infor-
mações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos
DA EDITORA DO BRASIL
históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).

(EM13CHS104)
Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos, valores,
crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades inseridas
no tempo e no espaço.

(EM13CHS105)
Identificar, contextualizar e criticar tipologias evolutivas (populações nômades e sedentárias, entre
outras) e oposições dicotômicas (cidade/campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/emoção,
material/virtual etc.), explicitando suas ambiguidades.

(EM13CHS106)
Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros textuais e tecnologias
digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas
sociais, incluindo as escolares, para se comunicar, acessar e difundir informações, produzir conhecimen-
tos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p. 562.

VII
Competência específica 2
Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferentes tempos e espaços, mediante a compreen-
são das relações de poder que determinam as territorialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações.

(EM13CHS201)
Analisar e caracterizar as dinâmicas das populações, das mercadorias e do capital nos diversos conti-
nentes, com destaque para a mobilidade e a fixação de pessoas, grupos humanos e povos, em função de
eventos naturais, políticos, econômicos, sociais, religiosos e culturais, de modo a compreender e posicio-
nar-se criticamente em relação a esses processos e às possíveis relações entre eles.

(EM13CHS202)
Analisar e avaliar os impactos das tecnologias na estruturação e nas dinâmicas de grupos, povos e
sociedades contemporâneos (fluxos populacionais, financeiros, de mercadorias, de informações, de
valores éticos e culturais etc.), bem como suas interferências nas decisões políticas, sociais, ambientais,
econômicas e culturais.

(EM13CHS203)
Comparar os significados de território, fronteiras e vazio (espacial, temporal e cultural) em diferentes
sociedades, contextualizando e relativizando visões dualistas (civilização/barbárie, nomadismo/seden-
tarismo, esclarecimento/obscurantismo, cidade/campo, entre outras).

(EM13CHS204)
Comparar e avaliar os processos de ocupação do espaço e a formação de territórios, territorialidades
e fronteiras, identificando o papel de diferentes agentes (como grupos sociais e culturais, impérios, Esta-
dos Nacionais e organismos internacionais) e considerando os conflitos populacionais (internos e externos),
a diversidade étnico-cultural e as características socioeconômicas, políticas e tecnológicas.

(EM13CHS205)
Analisar a produção de diferentes territorialidades em suas dimensões culturais, econômicas, ambien-
tais, políticas e sociais, no Brasil e no mundo contemporâneo, com destaque para as culturas juvenis.

(EM13CHS206)
Analisar a ocupação humana e a produção do espaço em diferentes tempos, aplicando os princípios de
localização, distribuição, ordem, extensão, conexão, arranjos, casualidade, entre outros que contribuem
para o raciocínio geográfico.

Competência
MATERIAL específica 3
DE DIVULGAÇÃO
Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos, povos e sociedades com a natureza
DA EDITORA DO BRASIL
(produção, distribuição e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à propo-
sição de alternativas que respeitem e promovam a consciência, a ética socioambiental e o consumo
responsável em âmbito local, regional, nacional e global.

(EM13CHS301)
Problematizar hábitos e práticas individuais e coletivos de produção, reaproveitamento e descarte de
resíduos em metrópoles, áreas urbanas e rurais, e comunidades com diferentes características socioe-
conômicas, e elaborar e/ou selecionar propostas de ação que promovam a sustentabilidade socioambien-
tal, o combate à poluição sistêmica e o consumo responsável.

(EM13CHS302)
Analisar e avaliar criticamente os impactos econômicos e socioambientais de cadeias produtivas ligadas à
exploração de recursos naturais e às atividades agropecuárias em diferentes ambientes e escalas de análise,
considerando o modo de vida das populações locais – entre elas as indígenas, quilombolas e demais comu-
nidades tradicionais –, suas práticas agroextrativistas e o compromisso com a sustentabilidade.

(EM13CHS303)
Debater e avaliar o papel da indústria cultural e das culturas de massa no estímulo ao consumismo,
seus impactos econômicos e socioambientais, com vistas à percepção crítica das necessidades criadas
pelo consumo e à adoção de hábitos sustentáveis.

VIII
(EM13CHS304)
Analisar os impactos socioambientais decorrentes de práticas de instituições governamentais, de
empresas e de indivíduos, discutindo as origens dessas práticas, selecionando, incorporando e promo-
vendo aquelas que favoreçam a consciência e a ética socioambiental e o consumo responsável.

(EM13CHS305)
Analisar e discutir o papel e as competências legais dos organismos nacionais e internacionais de regula-
ção, controle e fiscalização ambiental e dos acordos internacionais para a promoção e a garantia de práticas
ambientais sustentáveis.

(EM13CHS306)
Contextualizar, comparar e avaliar os impactos de diferentes modelos socioeconômicos no uso dos
recursos naturais e na promoção da sustentabilidade econômica e socioambiental do planeta (como a
adoção dos sistemas da agrobiodiversidade e agroflorestal por diferentes comunidades, entre outros).

Competência específica 4
Analisar as relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas,
discutindo o papel dessas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades.

(EM13CHS401)
Identificar e analisar as relações entre sujeitos, grupos, classes sociais e sociedades com culturas
distintas diante das transformações técnicas, tecnológicas e informacionais e das novas formas de tra-
balho ao longo do tempo, em diferentes espaços (urbanos e rurais) e contextos.

(EM13CHS402)
Analisar e comparar indicadores de emprego, trabalho e renda em diferentes espaços, escalas e
tempos, associando-os a processos de estratificação e desigualdade socioeconômica.

(EM13CHS403)
Caracterizar e analisar os impactos das transformações tecnológicas nas relações sociais e de trabalho
próprias da contemporaneidade, promovendo ações voltadas à superação das desigualdades sociais, da
opressão e da violação dos Direitos Humanos.

(EM13CHS404)
Identificar e discutir os múltiplos aspectos do trabalho em diferentes circunstâncias e contextos his-
tóricos e/ou geográficos e seus efeitos sobre as gerações, em especial, os jovens, levando em considera-
ção, na atualidade, as transformações técnicas, tecnológicas e informacionais.

MATERIAL
Competência DE DIVULGAÇÃO
específica 5
DA EDITORA DO BRASIL
Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios
éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.

(EM13CHS501)
Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando processos
que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia,
o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.

(EM13CHS502)
Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e proble-
matizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que
promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.

(EM13CHS503)
Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas
causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e
avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.

(EM13CHS504)
Analisar e avaliar os impasses ético-políticos decorrentes das transformações culturais, sociais, histó-
ricas, científicas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdobramentos nas atitudes e nos
valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas.

IX
Competência específica 6
Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas
alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência
crítica e responsabilidade.

(EM13CHS601)
Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos indígenas
e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo considerando a
história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem social e econô-
mica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.

(EM13CHS602)
Identificar e caracterizar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na política, na
sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos, relacionan-
do-os com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da liberdade,
do diálogo e da promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos na sociedade atual.

(EM13CHS603)
Analisar a formação de diferentes países, povos e nações e de suas experiências políticas e de exercí-
cio da cidadania, aplicando conceitos políticos básicos (Estado, poder, formas, sistemas e regimes de
governo, soberania etc.).

(EM13CHS604)
Discutir o papel dos organismos internacionais no contexto mundial, com vistas à elaboração de uma
visão crítica sobre seus limites e suas formas de atuação nos países, considerando os aspectos positivos
e negativos dessa atuação para as populações locais.

(EM13CHS605)
Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça, igualdade
e fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas socieda-
des contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses direitos
em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo.

(EM13CHS606)
Analisar as características socioeconômicas da sociedade brasileira – com base na análise de docu-
mentos (dados, tabelas, mapas etc.) de diferentes fontes – e propor medidas para enfrentar os problemas
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
identificados e construir uma sociedade mais próspera, justa e inclusiva, que valorize o protagonismo de
seus cidadãos e promova o autoconhecimento, a autoestima, a autoconfiança e a empatia.
DA EDITORA DO BRASIL
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a
base. Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. p. 570-579.

O trabalho com o desenvolvimento das habilidades viabiliza uma abordagem multidisciplinar entre as
áreas do conhecimento, bem como relaciona eventos sociais, históricos, filosóficos e geográficos a situa-
ções cotidianas do estudante, conferindo aplicação prática e reflexiva dos aprendizados mobilizados.
Por isso, o desenvolvimento das competências específicas e das habilidades das Ciências Humanas e
Sociais não se faz apenas pela exemplificação, mas também pelo enfrentamento de situações-problema
para as quais os estudantes sejam desafiados a encontrar soluções. Nesse sentido, merece destaque o
caráter investigativo dessa área de conhecimento.
Abordamos, até o momento, os pressupostos básicos da BNCC. A seguir, apresentamos a estrutura de
nossa coleção, construída para auxiliá-lo a atingir os objetivos propostos pela BNCC com atividades,
textos e práticas que destacam as competências e as habilidades que seu trabalho junto aos estudantes
pode desenvolver.

X
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA OBRA
Tendo em vista as discussões, as metodologias e os conteúdos propostos pela reestruturação do
Ensino Médio e a homologação da Base Nacional Comum Curricular, esta obra de Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas tem o objetivo de assegurar a valorização de princípios éticos essenciais para o con-
vívio social republicano e a ação cidadã, mobilizando temas contemporâneos transversais que se
relacionem com o cotidiano e o projeto de vida do estudante, preparando-o para o mundo do trabalho
e para ser agente em uma sociedade tecnológica em constante transformação.
Para isso, a obra se organiza em seis livros. Cada um deles tem o objetivo de problematizar uma das
categorias das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas mencionadas pela BNCC e de trabalhar, sobretudo,
com uma das seis competências específicas da área e suas habilidades.
Prezando a autonomia dos professores e dos jovens em sala de aula, os livros não foram idealizados
em uma ordem de progressão específica, podendo ser trabalhados de forma independente e na ordem
que considerarem mais adequada à realidade escolar e aos interesses e às aspirações dos estudantes.

Organização geral
Cada livro da obra apresenta quatro unidades, tendo como fio condutor a problematização das cate-
gorias de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da BNCC. Desse modo, a coleção está assim organizada:

QUADRO DE CONTEÚDOS

Unidade 1: Liberdade Objetivo Competências gerais


individual Analisar o conceito de liberdade individual em diferentes 1, 3, 6, 7, 9 e 10
contextos históricos, territoriais, políticos, sociais, Competências específica e
econômicos e culturais. habilidades
Justificativa 1: EM13CHS101; EM13CHS103;
A proposta auxilia os estudantes a identificar, analisar e EM13CHS106
comparar diferentes narrativas e fontes para
compreender o desenvolvimento de distintos processos
históricos e geográficos, assim como debater ideias e
conceitos filosóficos e sociológicos.

Unidade 2: Liberdade e o Objetivo Competências gerais


outro Refletir sobre a noção do “outro” de acordo com 1, 6, 7, 8, 9 e 10
diferentes matrizes conceituais do pensamento Competência específica e
ocidental e problematizar concepções etnocêntricas, habilidades
evolucionistas e racistas. 1: EM13CHS102; EM13CHS104;
Justificativa EM13CHS105; EM13CHS106
A discussão dos contextos e das ideias que foram
favoráveis ao desenvolvimento de matrizes conceituais
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
dicotômicas, como civilização/barbárie e nomadismo/
sedentarismo, são fundamentais para identificar o seu
DA EDITORA DO BRASIL
caráter redutor da realidade.

Unidade 3: Liberdade e Objetivo Competências gerais


participação política Compreender a relação entre participação política e 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9 e 10
liberdade, por meio do estudo de diferentes concepções Competência específica e
e contextos, sobretudo no ocidente a partir do século habilidades
XVII. 1: EM13CHS101; EM13CHS103;
Justificativa EM13CHS106
A compreensão de concepções e eventos que
transformaram e constituíram práticas políticas é
fundamental para embasar ações na sociedade que
visam ao bem-estar coletivo e individual, favorecendo
o pleno exercício da cidadania.

Unidade 4: Desigualdade Objetivo Competências gerais


como impeditivo para a Identificar como a desigualdade social e econômica, 1, 2, 4, 5, 7, 9 e 10
liberdade relacionada aos limites impostos às liberdades de Competência específica e
determinados grupos, se manifesta na vida social e no habilidades
processo de urbanização e ocupação do espaço das 1: EM13CHS101; EM13CHS102;
cidades. EM13CHS106
Justificativa
A proposta amplia a capacidade do estudante de buscar
soluções embasadas em princípios inclusivos, solidários,
éticos e democráticos para problemas da sociedade ao
seu redor, e também de argumentar com base em
informações confiáveis, em favor de práticas que
respeitem os direitos humanos.

XI
Unidade 1: Formação dos Objetivo Competências gerais
Estados e fronteiras Possibilitar a compreensão de como se dá o processo de 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
formação dos Estados e fronteiras por meio da análise Competência específica e
de alguns exemplos em diferentes momentos históricos, habilidades
avaliando criticamente o papel que as principais nações 2: EM13CHS203; EM13CHS204;
exercem no cenário geopolítico. EM13CHS206
Justificativa
A proposta possibilita a compreensão de conceitos como
fronteiras e territórios por meio do trabalho com diversas
linguagens, como texto, fotografias, gráficos e obras de
arte, e amplia a capacidade do estudante de se colocar
criticamente no mundo.

Unidade 2: A relação entre Objetivo Competências gerais


os Estados nacionais Aprofundar o estudo da relação entre os Estados 1, 2, 4, 6, 7, 9 e 10
nacionais iniciado na Unidade 1, por meio do debate de Competência específica e
ideias de Kant e Hegel, da discussão sobre imperialismo habilidades
e manifestações de nacionalismo, da reflexão sobre o 2: EM13CHS201; EM13CHS203;
imperialismo no capitalismo e da análise de dinâmicas EM13CHS206
populacionais.
Justificativa
A proposta é fundamental para que o estudante seja
capaz de analisar e caracterizar fatores que têm grande
importância na vida dos grupos humanos, como
condições socioeconômicas e políticas públicas.

Unidade 3: O Objetivo Competências gerais


enfraquecimento dos Abordar o período que vai da Segunda Guerra Mundial 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
estados e das fronteiras até os dias de hoje para ampliar a discussão sobre o Competência específica e habilidade
enfraquecimento dos Estados e fronteiras nacionais, a 2: EM13CHS202
formação de blocos regionais e a globalização.
Justificativa
A proposta possibilita a compreensão das relações
internacionais no mundo contemporâneo, as quais
revelam uma realidade fragmentada e multipolarizada.
Unidade 4: Outros Objetivo Competências gerais
modelos de territórios Refletir sobre alguns modelos de território, analisando- 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
-se territorialidades ligadas à questão da identidade e ao Competência específica e
sentimento de pertencimento de diferentes grupos. habilidades
Justificativa 2: EM13CHS205; EM13CHS206
A proposta possibilita a identificação de projetos
diferentes ligados à construção dos símbolos da pátria.
Propõe-se, ainda, uma reflexão sobre os povos
tradicionais de nosso território e o papel do Estado em
relação a eles.

Unidade 1: Modos de vida Objetivo Competências gerais


e relação com a natureza Compreender o uso de recursos ambientais e da 1, 2 e 7
transformação da natureza como fatores inerentes à vida Competência específica e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO humana. habilidades
3: EM13CHS302; EM13CHS306
Justificativa
DA EDITORA DO BRASIL
A compreensão das diferentes dimensões e
características da relação entre o ser humano e a
natureza permite que o estudante desenvolva um
arcabouço de aprendizados e informações que o
auxiliarão no entendimento e na formulação dos
cuidados necessários com o planeta.
Unidade 2: Economia Objetivo Competências gerais
capitalista e impactos Problematizar práticas coletivas e individuais de 1, 2, 5, 6, 7 e 10
ambientais utilização e exploração de recursos naturais, na Competência específica e
produção, no consumo e no descarte, e analisar os habilidades
impactos socioambientais dessas práticas. 3: EM13CHS301; EM13CHS304
Justificativa
O entendimento dos impactos da ação do ser humano
na natureza incentiva a análise crítica e a reflexão sobre
problemas ambientais contemporâneos, promovendo o
consumo responsável e a consciência socioambiental.

Unidade 3: A indústria Objetivo Competências gerais


cultural e a sociedade de Discutir os impactos socioambientais e econômicos do 3, 6, 7 e 8
consumo consumismo e avaliar de que maneira a cultura de massa, Competência específica e habilidade
a indústria cultural e as novas tecnologias contribuem na 3: EM13CHS303
construção de uma sociedade consumista.
Justificativa
A proposta promove uma percepção crítica da realidade e
incentiva a aquisição de hábitos de consumo mais
alinhados ao cuidado com o planeta, de modo a auxiliar o
estudante na construção de uma sociedade sustentável.

XII
Unidade 4: Desafios e Objetivo Competências gerais
perspectivas para um Analisar o papel de diferentes atores sociais, como o 1, 2, 7, 9 e 10
futuro sustentável Estado, a sociedade civil e a iniciativa privada, na Competência específica e
preservação e conservação ambiental. habilidades
Justificativa 3: EM13CHS304; EM13CHS305
A proposta permite que o estudante desenvolva os
conhecimentos e os mecanismos para agir no
ambiente, tendo em vista a conservação e a
preservação dos recursos naturais para seu próprio
usufruto e o de gerações futuras.

Unidade 1: Trabalho e Objetivo Competências gerais


condição humana Debater os múltiplos aspectos e significados do trabalho. 1, 2, 3, 6, 7, 9 e 10
Justificativa Competência específica e habilidade
O domínio do conceito de trabalho e do entendimento de 4: EM13CHS404
suas relações com a economia, com a política, com a
cultura e com a vida cotidiana podem auxiliar o estudante
a entender de que forma se preparar para ser
um agente no mundo do trabalho contemporâneo.

Unidade 2: Mudanças Objetivo Competências gerais


tecnológicas e o trabalho Analisar o trabalho no contexto do capitalismo, 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
na atualidade discutindo transformações tecnológicas e suas Competência específica e habilidade
consequências para a organização social e econômica. 4: EM13CHS401
Justificativa
A proposta auxilia o estudante a entender com maior
clareza a rede complexa de relações que determina a
atividade produtiva no sistema capitalista.

Unidade 3: Relações de Objetivo Competências gerais


trabalho, emprego e Entender aspectos das desigualdades sociais e 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
desigualdade social econômicas no capitalismo por meio da análise de Competência específica e habilidade
indicadores de emprego, renda e trabalho. 4: EM13CHS402
Justificativa
A proposta, além de despertar a curiosidade intelectual
do estudante, também o prepara para utilizar os dados
analisados como formas de encontrar soluções para
problemas ao seu redor, incentivando sua ação
autônoma na sociedade.

Unidade 4: As formas de Objetivo Competências gerais


organização dos Fazer uma análise da cooperação por meio do trabalho, 1, 2, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
trabalhadores apresentando processos de organização e mobilização de Competência específica e
trabalhadores no Brasil e no mundo. habilidades
Justificativa 4: EM13CHS403; EM13CHS404
A proposta permite que o estudante compreenda os
instrumentos de mediação entre capital e trabalho,
possibilitando o desenvolvimento dos conhecimentos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
pertinentes ao início da sua vida profissional e à sua
atuação como cidadão.
DASul:EDITORA
Unidade 1: África do ObjetivoDO BRASIL Competências gerais
diversidades e Compreender os conceitos e os fundamentos da ética 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
desigualdades por meio do estudo das raízes históricas da Competência específica e habilidade
desigualdade e da segregação na África do Sul. 5: EM13CHS501
Justificativa
A proposta estimula uma discussão sobre direitos
humanos entre os estudantes, promovendo o respeito à
diversidade linguística, cultural, religiosa e étnico-racial.

Unidade 2: Índia: conflitos Objetivo Competências gerais


no país do futuro Analisar as transformações econômicas e culturais 1, 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10
ocorridas na Índia ao longo de sua história colonial e Competência específica e habilidade
pós-colonial. 5: EM13CHS504
Justificativa
A proposta fomenta uma discussão sobre os impasses
ético-políticos oriundos das transformações pelas quais
a Índia passou e tem passado, promovendo uma análise
de suas consequências sobre os modos de vida.

Unidade 3: Palestina: Objetivo Competências gerais


impasses políticos e Identificar diferentes formas de violência por meio do 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10
violências estudo do contexto histórico e da situação geopolítica do Competência específica e habilidade
território da Palestina. 5: EM13CHS503
Justificativa
A proposta promove uma reflexão sobre a necessidade
do desenvolvimento de mecanismos para combater
diferentes formas de violência.

XIII
Unidade 4: Brasil: Objetivo Competências gerais
contradições na promoção Analisar o conceito de justiça, sobretudo em relação à 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9 e 10
da justiça realidade brasileira. Competência específica e habilidade
Justificativa 5: EM13CHS502
A proposta permite que situações do cotidiano sejam
analisadas de forma crítica, desnaturalizando
preconceitos e formas de desigualdade, valorizando-se a
diversidade de vivências na sociedade.
Unidade 1: Modos de Objetivo Competências gerais
governança republicanos Apropriar-se de conceitos políticos pertinentes à trajetória 1, 2, 6, 7 e 9
histórica e à realidade política brasileira, podendo usá-los Competência específica e
para qualificar a análise, a interpretação e a intervenção na habilidades
sociedade e nas instâncias políticas. 6: EM13CHS602; EM13CHS603;
Justificativa EM13CHS606
O entendimento de conceitos políticos e da trajetória da
República no Brasil visa preparar o estudante para
participar do debate público, identificar problemas
sociais e propor ações que promovam a democracia e os
direitos humanos
Unidade 2: Minorias Objetivo Competências gerais
sociais e demandas Avaliar a ação política de minorias sociais e 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10
históricas comunidades tradicionais, considerando suas lutas, Competência específica e
reivindicações e demandas históricas. habilidades
Justificativa 6: EM13CHS601; EM13CHS605
O reconhecimento das raízes históricas, sociais,
ideológicas e econômicas da desigualdade no Brasil,
assim como o entendimento de como ela se manifesta
no tempo e espaço, é fundamental para a promoção de
ações que visem ao combate a esse problema.
Unidade 3: Em busca da Objetivo Competências gerais
cidadania Conhecer e compreender os princípios de justiça, 1, 2, 3, 6, 7, 8 e 9
igualdade e liberdade presentes na Declaração dos Competência específica e
Direitos Humanos, bem como da Constituição federal habilidades
brasileira, refletindo sobre a aplicação dessas 6: EM13CHS605; EM13CHS606
normativas na sociedade brasileira.
Justificativa
A proposta contribui para o desenvolvimento da
capacidade do estudante de responsabilização em nível
individual, comunitário, nacional e internacional.
Unidade 4: Caminhos Objetivo Competências gerais
e debates para pensar Apresentar alguns debates pertinentes à construção de 1, 2, 6, 7, 8, 9 e 10
o futuro alternativas para o presente e o futuro, de modo que o Competências específicas e
estudante se localize neles e possa orientar melhor a habilidades
sua ação social, política e cidadã. 1: EM13CHS101; EM13CHS104
Justificativa 6: EM13CHS604; EM13CHS605;
O debate sobre o conceito de cidadania contribui para a EM13CHS606
formação cidadã do estudante e seu protagonismo social.

MATERIAL
OrganizaçãoDE DIVULGAÇÃO
das unidades
DA Cada
EDITORA
livro é DO BRASILem quatro unidades que apresentam, problematizam e debatem o tema por
organizado
meio de uma perspectiva multidisciplinar e um conjunto de habilidades diferentes. Essa divisão considera
o desenvolvimento das discussões em uma sequência lógica e facilita o planejamento dos docentes.
Cada uma dessas unidades apresenta conteúdos de Filosofia, História, Sociologia e Geografia, assim
ordenados, proporcionando uma linha de raciocínio interdisciplinar sobre determinados assuntos. Dessa
maneira, os estudantes, em uma unidade, observam o mesmo tema por diferentes óticas disciplinares,
construindo noções complexas de aprendizado e de expressões da própria realidade. Portanto, cada
unidade é iniciada pela discussão de um conceito pela perspectiva filosófica; em seguida esse conceito
é historicizado e analisado pelas teorias sociológicas, para, por fim, ter seus aspectos territoriais e
geográficos debatidos.
Veja, nas próximas páginas, de que maneira essas unidades se estruturam.
Texto principal
Exposição descritiva e analítica dos assuntos da unidade sob o viés filosófico, histórico, sociológico ou
geográfico, com o objetivo de introduzir ao estudante a construção de conhecimento sobre o mundo cultu-
ral, físico e social e propor abordagens reflexivas sobre temas contemporâneos. Com entrada eventual, os
textos citados ajudam a enriquecer a abordagem e apresentam o ponto de vista de um estudioso do assunto,
familiarizando os estudantes às suas ideias e às características da escrita acadêmica.
A linguagem utilizada possibilita ampliar o vocabulário do estudante, sem deixar de ser acessível ou
interessante para a faixa etária. A apresentação dos conteúdos é também facilitada pelo emprego de
ilustrações, imagens, gráficos e mapas, recursos que favorecem a aprendizagem por se tratar de lin-
guagens variadas.

XIV
Boxe principal
Traz informações complementares ao conteúdo do texto principal. Também apresenta textos de
estudiosos e pesquisadores da área, problematizando a construção do conhecimento filosófico, histó-
rico, sociológico e geográfico. Pode ser acompanhado de três ou quatros questões que instigam a
reflexão do estudante, chamando-o para protagonizar seu processo de aprendizado.

Outro ponto de vista


Boxe que apresenta diferentes perspectivas sobre determinado tema, tratando do pluralismo de ideias
necessário ao debate científico. O conteúdo permite ao estudante lidar com o contraditório e considerar a
complexidade dos debates na formulação de seus próprios posicionamentos.

Boxe lateral
Apresenta conceitos e definições importantes para o entendimento de contextos de aplicação do
conhecimento. Indicam informações que ajudam a tornar os livros autocontidos.

Glossário
Esclarece o significado de palavras e expressões. Contém a definição de termos e expressões impor-
tantes para uma compreensão mais efetiva do assunto.

Atividades
Apresenta propostas de atividades individuais ou coletivas e trabalha diferentes processos cognitivos;
resolução de problemas; análise, compreensão e produção de diferentes tipos de texto, verbais e ima-
géticos; pesquisas e debates.
São atividades que contemplam diversos contextos, como culturas juvenis, desenvolvimento científico,
sustentabilidade etc., além de enfatizar as tecnologias digitais, a comunicação e o trabalho em grupo.
Também auxiliam os estudantes na compreensão leitora, incentivando a proposição de hipóteses e os
desafiando a interpretar gráficos e tabelas e a elaborar argumentos e contra-argumentos.
A sequência didática sugerida para a unidade permite verificar não apenas a apreensão de conceitos
científicos como também atitudinais e procedimentais. Vale destacar o papel da investigação nas ati-
vidades propostas, visto que essa metodologia de ensino tem ganhado projeção no campo da didática
das ciências. Com a proposição de atividades de cunho investigativo, os estudantes são instados a
exercer protagonismo e autonomia e também entram em contato com procedimentos científicos e com
os aspectos relacionados à natureza das Ciências Humanas, tão relevante nos processos de ensino-
-aprendizagem contextualizadores e críticos.
Essa seção é o marcador da transição da abordagem de determinado componente para a outro,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
facilitando a localização dos professores de diferentes perfis do conteúdo a que lhe compete em cada
unidade. DA EDITORA DO BRASIL
Pensamento computacional
Atividade que propõe a solução de um problema por meio da estratégia do pensamento computa-
cional, como a criação de algoritmos, a decomposição de problemas e o reconhecimento de padrões.
Embora algumas dessas características também estejam presentes em outras atividades, elas são mais
destacadas aqui.

Conexões
Seção que integra o conhecimento específico das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas outras áreas
de conhecimento, principalmente Ciências da Natureza e suas Tecnologias, relacionando-as a um Tema
Contemporâneo Transversal. Os estudantes poderão recorrer a seus conhecimentos em áreas distintas
e aplicá-los na resolução de questões teóricas ou práticas, podendo desenvolver assim o raciocínio não
compartimentado e promover o pensamento complexo.

Mídia
Com base em textos que circulam na mídia, a seção trabalha a análise crítica e propositiva da
produção, circulação e recepção desses textos, com foco na leitura inferencial e multimodal, desta-
cando processos de análise e interpretação textual, tratamento da informação e identificação de
fragilidades argumentativas.

XV
A compreensão crítica da realidade que nos é transmitida pelos meios de comunicação e também
pelas redes sociais evita a disseminação de notícias falsas, que podem acarretar danos à sociedade
como um todo. Saber interpretar notícias, pesquisar informações em fontes confiáveis e conseguir
transpô-las e adequá-las à realidade, transformando-a, é um instrumento importantíssimo para o
exercício pleno da cidadania.

Pesquisa
Seção que propõe a investigação científica que mobiliza práticas de pesquisa como estudo de caso,
grupo focal, estado da arte, análise documental, uso e construção de questionários, amostragens e
relatórios, pesquisa-ação.
Nela é retomada parte da problematização inicial do livro, agora enriquecida pelo percurso recém-
-completado. Essa retomada é particularmente interessante porque auxilia os estudantes no estabe-
lecimento de relações consistentes. Neste momento, eles têm a oportunidade de mobilizar os
conhecimentos, prévios e novos, para responder a questões ou interpretar dados diversos, podendo
ressignificar seus conhecimentos com autonomia, responsabilidade e criatividade. Assim, busca-se
estimular o estudante a atuar como um produtor de conhecimento, tendo sua produção científica auxi-
liada pelo professor e valorizada pelos seus pares.

Para continuar aprendendo


Indicações de livros, filmes, documentários e sites que ampliam os conhecimentos sobre os assun-
tos abordados no livro.

Organização dos conteúdos e a BNCC


Cada livro desta coleção foi elaborado tendo como eixo uma das seis competências específicas de
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da BNCC. Nesse formato, o conteúdo dos livros expressa a tota-
lidade do trabalho com cada uma das competências e suas respectivas habilidades, facilitando aos
docentes e estudantes a orientação do percurso de ensino-aprendizagem, a localização no caminho já
percorrido na aquisição de cada competência e a autoavaliação após a conclusão dos estudos.
Em cada livro, as habilidades relativas à competência-eixo são distribuídas pelas unidades, assegu-
rando assim o trabalho didático-pedagógico em consonância às diretrizes curriculares do Novo Ensino
Médio. Em certos casos, as mesmas habilidades são desenvolvidas em dois ou mais livros, por meio de
diferentes assuntos ou áreas de conhecimento, o que possibilita reforçá-las sob perspectivas variadas.
Isso ocorre principalmente com as habilidades de caráter procedimental, como as que demandam a
utilização de diferentes tipos de linguagens na produção e compartilhamento de conhecimentos, e as
de caráter conceitual, que requerem o uso apropriado de conceitos e princípios básicos.
Como indicado no “Mapa do ensino”, disponível no início das orientações didáticas e comentários
MATERIAL DEdeste
específicos DIVULGAÇÃO
Manual do Professor, as unidades também mobilizam diferentes competências
gerais, desenvolvendo-se no arco da aquisição de conhecimentos, linguagens e repertórios e pro-
DA EDITORA DO BRASIL
piciando o trabalho com habilidades socioemocionais, projeto de vida e formação cidadã. Assim,
possibilita-se ampliar o trabalho com as competências gerais da BNCC desenvolvido nos Anos Finais
do Ensino Fundamental. A valorização da trajetória escolar do estudante até esta etapa do ensino
é uma constante na obra, que propõe um movimento de retomada de conhecimentos, competên-
cias e habilidades no estudo de temas mais complexos e desafiadores.

O trabalho com as competências e habilidades específicas da área


de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
A competência específica 1 de Ciências Humanas centra-se no desenvolvimento da capacidade
analítica sobre processos de diferentes naturezas, voltando-se ao domínio conceitual, a operacionalização
de termos e a apropriação de procedimentos científico-metodológicos próprios dessa área de conheci-
mento. Assim, essa competência desenvolve os fundamentos comuns às humanidades e permite ao
estudante compreender a sociedade em suas conformações éticas, estéticas, políticas, econômicas e
culturais como fruto de ações de grupos humanos no tempo e no espaço. É essencial que, de posse dos
conhecimentos específicos propiciados pelas seis habilidades dessa competência, os estudantes se
tornem capazes de estudar e avaliar, por si mesmos, elementos da vida cotidiana em suas origens e
implicações. Assim, essa competência atua na formação do pensamento crítico e da autonomia.
O livro da coleção cujo tema condutor é o conceito de liberdade em diferentes contextos políti-
cos, sociais, históricos, territoriais, econômicos e culturais mobiliza o trabalho com a categoria

XVI
tempo e espaço da BNCC e concentra o desenvolvimento da competência específica 1 e de suas
seis habilidades. Nele, propomos uma análise sobre as rupturas e as permanências da emergência
do mundo moderno, por exemplo, sobretudo no que diz respeito à ideia de indivíduo, mobilizando
as habilidades EM13CHS101 e EM13CHS103. O conceito de modernidade é colocado no centro
da discussão, que assume forma crítica na elucidação das suas margens de inclusão e de exclusão.
Ao longo do livro, as oposições dicotômicas de campo e cidade, civilização e barbárie, nomadismo
e sedentarismo, entre outras, são problematizadas e relacionadas à manifestação de expressões
divisórias como o etnocentrismo, o racismo e as desigualdades socioeconômicas, mobilizando as
habilidades EM13CHS102, EM13CHS104 e EM13CHS105. Nesse percurso são usados recursos
como documentos históricos, expressões artísticas e textos filosóficos, por meio dos quais os
estudantes devem elaborar análises e exercer protagonismo na construção e na disseminação de
conhecimentos, mobilizando a habilidade EM13CHS106.
A competência específica 2 apresenta outro eixo temático da BNCC, em que se destaca a comple-
xidade dos conceitos de fronteira e território. Esse tema implica, necessariamente, observar a dinâmica
das relações entre os seres humanos e a produção dos espaços, sejam eles físicos, geopolíticos ou
culturais, e as dinâmicas de mobilidade de pessoas e mercadorias. Nessa observação devem elucidar-
-se as formas de conflito, negociação e segregação implicadas na demarcação de limites entre grupos,
Estados e nações. Igualmente, deve-se reconhecer a legitimidade dos atores sociais na produção de
suas próprias territorialidades. Ao desenvolver essa competência, portanto, os estudantes estarão aptos
a compreender melhor o mundo em que vivem, podendo posicionar-se de forma ética e consciente
acerca dos desafios contemporâneos relacionados aos movimentos migratórios, às disputas por terri-
tórios e jurisdições e às identidades culturais, por exemplo.
A trajetória do livro cujo tema condutor é o conceito de fronteiras por meio da perspectiva de
diferentes contextos históricos, culturais e socioespaciais, correspondente à competência especí-
fica 2 e suas seis habilidades, parte da formação dos Estados modernos no âmbito político, jurídico
e territorial, introduzindo o trabalho com as habilidades EM13CHS204 e EM13CHS206. O objeto
inicial é o espaço físico e sua segmentação política na forma estatal, bem como as expressões de
nacionalismo, expansionismo e imperialismo dela decorrentes, o que possibilita ao estudante
começar o estudo de aspectos mais familiares do tratamento de fronteiras e territórios, mobilizando
as habilidades EM13CHS201 e EM13CHS203. Os conceitos de desterritorialização e globalização
também são introduzidos, sendo vinculados principalmente aos impactos das tecnologias nas
dinâmicas de trânsito global, eixo da habilidade EM13CHS202. Dessa maneira, espera-se que os
estudantes compreendam os processos de configuração de dissolução das fronteiras estatais,
avaliando as implicações políticas e sociais deles decorrentes, com sensibilidade para reconhecer
os grupos sociais diretamente afetados e suas demandas. Por fim, outras formas de territorialidade
entram em foco, possibilitando aos estudantes ir além na compreensão do assunto e identificar o
espaço de algumas culturas juvenis, mobilizando a habilidade EM13CHS205.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Nesta coleção, a discussão com a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias está em foco no livro
DA EDITORA DO BRASIL
cujo tema condutor é a construção da vida em sociedade pelos seres humanos e como, nesse processo,
eles se relacionam e transformam a natureza. Nele, são trabalhadas as categorias indivíduo, natureza,
sociedade, cultura e ética das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, a competência específica 3 da área
e suas seis habilidades. O uso dos recursos naturais por diversas sociedades no tempo, os impactos
socioambientais desse uso e as medidas de regulação, controle e fiscalização são objetos de análise crítica
nesse livro, que, para além da aquisição de conhecimentos teóricos, busca estimular a ação propositiva
dos estudantes e promover atitudes conscientes e sustentáveis, mobilizando as habilidades EM13CHS301,
EM13CHS302, EM13CHS304, EM13CHS305 e EM13CHS306. Também é proposto um estudo aprofun-
dado sobre a formação e a expansão da cultura de massa, orientado pela habilidade EM13CHS303,
estimulando uma discussão sobre a relação entre padrão de consumo, qualidade de vida e meio ambiente.
Esses debates são relevantes para o desenvolvimento do espírito crítico e o posicionamento consciente e
bem fundamentado dos estudantes.
De modo geral, os conteúdos e atividades desse livro apontam a relação intrínseca que os seres
humanos estabelecem com o meio em que vivem e a necessidade que têm do consumo de recur-
sos naturais para produzir a própria sobrevivência. Essa perspectiva é importante para que os
estudantes não demonizem a exploração de recursos naturais por princípio, mas compreendam o
modo predatório como isso tem sido feito, sobretudo após a expansão do sistema capitalista no
último século, e possam identificar e elaborar alternativas sustentáveis. Este é o propósito da
competência específica 3: ela possibilita a construção de uma visão equilibrada sobre o assunto e
fornece ferramentas para que os estudantes questionem os próprios comportamentos de consumo
e os modelos produtivos vigentes.

XVII
A preparação para o mundo do trabalho perpassa o conjunto da obra, sendo potencializada sobre-
tudo no livro cujo tema condutor é a maneira como os grupos humanos produzem sua vida material
e como as mudanças no mundo do trabalho impactam a vida social. Nele, mobilizam-se a categoria
trabalho, assim como a competência específica 4 da área de Ciências Humanas e suas quatro habi-
lidades. Ao longo do desenvolvimento desta competência na obra, os estudantes irão tomar contato
com a complexidade das formas de trabalho desenvolvidas no tempo e avaliar as causas e as conse-
quências das transformações no modo de produção da vida material. Com isso, poderão compreen-
der com maior clareza o lugar do trabalho na contemporaneidade e identificar o papel dos jovens e
das gerações futuras diante das rápidas transformações em curso, mobilizando as habilidades
EM13CHS401, EM13CHS403 e EM13CHS404.
Inevitável pontuar que o mundo do trabalho da atualidade é profundamente marcado pelas mudanças
ocorridas com o advento e a popularização das tecnologias digitais. Por isso, orientar os estudantes na
avaliação dos impactos tecnológicos e no bom uso das tecnologias de informação e comunicação é uma
tarefa a ser cumprida pelo professor. Muitas atividades propostas nesse livro sobre trabalho se apresentam
nesse sentido, com o intuito de incentivar os estudantes à análise crítica e ao uso orientado das tecnologias.
A diferenciação dos conceitos de trabalho, emprego e renda, um critério para o desenvolvimento da
habilidade EM13CHS402, também é abordado no livro. Durante o desenvolvimento do assunto, tabe-
las e gráficos são utilizados como recursos didáticos, estimulando os estudantes à verificação de dados
e à elaboração de conclusões sobre a distribuição do mercado de trabalho, a concentração de renda e
a desigualdade étnico-racial, por exemplo.
Na competência específica 5 das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o foco é o reconhecimento
das formas de desigualdade e da violência com vistas à construção de um posicionamento ético e alinhado
aos direitos humanos. Tendo o conceito filosófico de ética como fio condutor, busca-se compreender
diferentes expressões socioculturais desenvolvidas no tempo e no espaço e, assim, desnaturalizar práticas
de opressão como o preconceito, o silenciamento e a segregação. Isso se dá, efetivamente, não pela dis-
cussão de situações hipotéticas, mas de casos reais em que a violência, o preconceito e a desigualdade se
expressam e marcam o cotidiano de grupos sociais específicos.
Nesse sentido, o livro cujos temas condutores são os conceitos de conflito, desigualdade, violência e
justiça foi elaborado em torno de quatro estudos de caso, que destacam situações reais vividas por povos
de diferentes partes do mundo: a África do Sul, a Índia, a Palestina e o Brasil. Por meio deles, convida-se
o estudante a refletir sobre violência, desigualdade, preconceito e justiça em contextos específicos da
atualidade, mobilizando a competência específica 5 e suas quatro habilidades: EM13CHS501,
EM13CHS502, EM13CHS503 e EM13CHS504. Espera-se que, ao longo do diálogo estabelecido pelo
texto e as imagens e na execução das atividades propostas, o estudante seja sensibilizado ao combate
às desigualdades e violências por meio, principalmente, da empatia.
O livro cujo tema condutor é o aprendizado sobre a política brasileira e o exercício da cidadania,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
valorizando-se a participação no espaço público de maneira crítica e responsável, desenvolve a
DA EDITORA DO
competência BRASIL6 de Ciências Humanas e suas seis habilidades. A familiarização com o
específica
vocabulário político é fundamental para a qualificação dos estudantes para o debate público e, con-
sequentemente, para que se sintam confiantes e aptos para defender e contribuir para o fortalecimento
das instituições democráticas.
Nesse livro, mobilizando as habilidades EM13CHS601, EM13CHS602, EM13CHS603, EM13CHS604,
EM13CHS605 e EM13CHS606, os estudantes poderão não apenas compreender os mecanismos polí-
ticos que estruturam o Estado brasileiro, mas compreender a si mesmos como atores políticos necessá-
rios e relevantes. Em um âmbito mais amplo, busca-se dirimir a falsa ideia de que a política está restrita
aos círculos privilegiados da sociedade, levando ao entendimento de que as condições coletivas só
melhoram os debates públicos.

O trabalho com Temas Contemporâneos Transversais


Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) envolvem a inserção de questões sociais como objeto
de aprendizagem e reflexão dos estudantes. A transversalidade se dá pela importância das diferentes áreas
do conhecimento para analisar e tomar ações sobre essas questões, que podem envolver a proposição de
soluções, a estimativa de riscos, a previsão de impactos etc.
Os TCTs buscam contextualizar os tópicos ensinados para ajudar o estudante a se apropriar do que
aprendeu e transpor esse aprendizado em sua vida, o que auxilia em seu desenvolvimento como cidadão
e em sua atuação na sociedade. Os temas são:

XVIII
MEIO AMBIENTE
Educação ambiental
Educação para o consumo

DAE
ECONOMIA
CIÊNCIA E TECNOLOGIA Trabalho
Ciência e tecnologia Educação financeira
Educação fiscal
TEMAS CONTEMPORÂNEOS
TRANSVERSAIS

MULTICULTURALISMO (BNCC)
SAÚDE
Diversidade cultural
Saúde
Educação para a valorização do
multiculturalismo nas matrizes Educação alimentar
históricas e culturais brasileiras e nutricional
CIDADANIA E CIVISMO
Vida familiar e social
Educação para o trânsito
Educação em direitos humanos
Direitos da criança e do adolescente
Processo de envelhecimento,
respeito e valorização do idoso

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas contemporâneos transversais na BNCC: propostas
de práticas de implementação. Brasília: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/
implementacao/guia_pratico_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 4 ago. 2020.

Trata-se, portanto, de temas bastante amplos, que podem ser divididos em tópicos e trabalhados em
diferentes momentos na obra. No “Mapa do ensino”, são apresentados alguns dos temas que foram abor-
dados pelas diferentes unidades. No entanto, todos podem ser relacionados com a área de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas. Vale ressaltar que eles também geram excelentes oportunidades para tra-
balhos interdisciplinares.

PROPOSTA TEÓRICO-METODOLÓGICA DA OBRA


Em razão do caráter próprio ao objeto das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, procede-se, nesta
coleção, uma abordagem qualitativa dos temas e conteúdos. Os fenômenos sociais, em razão de sua
complexidade e dinamicidade, precisam ser compreendidos em relação aos seus contextos particulares,
tendo em vista a apreensão dos significados que lhes são conferidos pelos sujeitos que neles estão envol-
vidos como atores diretos ou como intérpretes.
A abordagem qualitativa supõe, assim, pôr em evidência a maneira pela qual os indivíduos entendem
a realidade. Para tal, é necessário tomar os eventos como partes de uma totalidade, o que implica levar
em consideração as interações e influências recíprocas dos componentes de uma dada situação. Deve-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
-se, também, buscar entender como os indivíduos atribuem sentidos aos acontecimentos e às relações
DA EDITORA DO BRASIL
sociais do cotidiano, bem como explicitar quais são esses sentidos que compõem suas visões de mundo
e orientam suas vidas.
Assim, o conjunto de formulações, conceitos e problemas abordados pelos componentes de Filosofia,
Geografia, História e Sociologia, conforme foram elaboradas no transcorrer da tradição do pensamento
ocidental, se propõe a tratar os temas relacionando-os a questões contemporâneas. Isso poderá propor-
cionar ao estudante da etapa do Ensino Médio o desenvolvimento de competências cognitivas ligadas à
compreensão de pressupostos e implicações contidas nas diferentes estratégias práticas e discursivas.
Para tanto, esta obra se estrutura na forma de apresentações – textuais e estéticas – de conhecimentos
e desafios conceituais, a partir de temas que constituem eixos norteadores para a apresentação dos
conceitos das humanidades.
Deste modo, o caminho a ser trilhado passa, prioritariamente, pela tematização expositiva dos conceitos
relacionados a cada tema-motivador das discussões, abrangendo análise, compreensão e abordagem crítica.
Os temas são problematizados e debatidos, sobretudo, por meio de metodologias ativas, que levam
os estudantes a se apropriarem de seu processo de aprendizagem, a relacionarem teoria e prática e a
desenvolverem conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que aplicarão na vida cotidiana. De acordo
com o educador brasileiro José Moran: “As metodologias ativas dão ênfase ao papel protagonista do
estudante, ao seu envolvimento direito, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, experi-
mentando, desenhando, criando, com orientação do professor.”7

7 MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.).
Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book.

XIX
Portanto, textos, boxes, seções e atividades foram construídos, nessa coleção, com o objetivo de
colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem. Nesse sentido, o papel do professor é de
mediador, facilitador e ativador dessa aprendizagem, motivando os estudantes para irem ainda além
daquilo que alcançaram de forma independente.8 Na obra, essas metodologias podem ser observadas,
sobretudo, nas seções “Mídia” e “Pesquisa” que desenvolvem propostas em que os estudantes con-
duzem práticas científicas de forma autônoma e para solucionar e/ou debater uma questão que afeta
o seu contexto histórico, social, econômico, geográfico e ambiental.
A coleção foi construída com o objetivo de incentivar o desenvolvimento integral dos jovens como
protagonistas de seus percursos de vida, por meio do reconhecimento de suas singularidades, e sua
formação para o exercício pleno da cidadania, com autonomia e responsabilidade em relação a si mes-
mos, ao outro e ao mundo. Além disso, há o aprofundamento dos conhecimentos científicos desenvol-
vidos no Ensino Fundamental.
Os pressupostos teórico-metodológicos que nortearam a produção da coleção são apresentados em
mais detalhes na sequência.

Professores e a BNCC
Esta obra apresenta uma diversidade de propostas que visam à formação plena e interdisciplinar
dos estudantes e de acordo com os princípios da BNCC.
A autonomia dos estudantes é estimulada tanto em exercícios circunscritos aos conteúdos propria-
mente ditos como naqueles mais abrangentes. Nestes, favorecem-se a reflexão crítica, a argumentação
e a comunicação das produções para uma comunidade ampliada.
A nova BNCC traz desafios importantes e requer a adoção de novas posturas e metodologias, além
de um processo de revisão e de melhoria de práticas consolidadas, e não a recusa delas. Trata-se de
um ponto importante, pois a capacidade de refletir sobre as próprias práticas e de promover mudanças,
quando necessárias, caracteriza o professor. Provavelmente, o maior desafio da nova BNCC está em
pensar o trabalho pedagógico por meio de áreas de conhecimento. Muitas atividades interdisciplinares
já são realizadas nas escolas com consistência, mas a formação dos professores ainda segue a pers-
pectiva disciplinar, o que acaba por dificultar a concretização dessa nova abordagem.
De acordo com Maurice Tardif,9 o saber docente é social e plural, advindo das experiências individuais,
da formação acadêmica, da formação continuada, dos programas escolares e da experiência em sala de
aula. Assim, é composto de saberes da formação profissional, saberes disciplinares, saberes curriculares
e saberes próprios da experiência de vida e outros obtidos ao longo da carreira profissional. Nessa nova
realidade, o professor aprenderá a articular sua experiência e seus saberes em torno de conteúdos temá-
ticos. Conhecê-los é importante para que possa atuar como mediador, sem necessariamente assumir a
visão de especialista, mas tentando provocar o interesse dos estudantes pela temática por meio da
contextualização. Com isso, é essencial apropriar-se de ferramentas que propiciem boa comunicação com
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
as juventudes com que lidará: o que funciona com uma turma não necessariamente funciona com outra,
o que exige do professor o emprego de diferentes estratégias para realizar essa mediação.
DA EDITORA DO BRASIL
De maneira geral, para iniciar a implementação da BNCC no Ensino Médio, será necessário que o
docente conheça as referências empregadas para a reelaboração curricular, adéque projetos pedagó-
gicos, bem como os processos de ensino e aprendizagem, encontre formas de utilizar os materiais
didáticos, introduza práticas de utilização de tecnologias digitais e adapte a avaliação e o acompanha-
mento de aprendizagem. Este Manual do Professor pode auxiliar em alguns desses tópicos.

Elementos de metodologias ativas no planejamento


e na condução das aulas
Para que a escola e a educação sejam capazes de responder aos desafios impostos pela contempo-
raneidade, a nova BNCC apresenta diretrizes e pressupostos para que as mudanças, que já vinham ocor-
rendo no ambiente escolar, se concretizem de maneira a contemplar todos os estudantes brasileiros.
No cenário educacional contemporâneo, são muitas as possibilidades para quem assume como missão
promover processos de ensino-aprendizagem mais compatíveis com a realidade que vivenciamos.
Tomando como base a ideia de sujeitos ativos, as metodologias ativas apresentam-se como um caminho
particularmente rico para que sejam atingidos os objetivos fundamentais da educação no século XXI.

8 Ibidem.
9 TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

XX
Tais metodologias variam em termos de pressupostos metodológicos e teóricos e também se apre-
sentam sob diferentes modelos e estratégias. Todas, porém, se alicerçam no protagonismo dos estu-
dantes no que se refere à construção de conhecimento. A nova BNCC prioriza a autonomia e a formação
de espírito crítico na prática pedagógica, para que o protagonismo desponte na sala de aula. Para
ajudar o professor na execução dessa importante tarefa, descrevemos algumas possibilidades de
metodologias ativas, que são trabalhadas na coleção.

O ensino por projetos


A pedagogia de projetos tem propósitos e objetos consistentes baseados na resolução de problemas.
Trata-se da proposta, idealizada originalmente pelo pedagogo estadunidense John Dewey, em que os
estudantes conduzem um processo investigativo estruturado, com os objetivos claramente demarcados,
direcionado para a criação de um produto final e a resolução de um problema.
É interessante observar que a literatura da área aponta para o desenvolvimento da competência de
aprender a aprender. Trata-se, pois, de uma pedagogia investigativa, apoiada em problemas, e mais
abrangente por ser eminentemente interdisciplinar, uma vez que propõe atividades múltiplas e, de
preferência, com a participação de diferentes componentes, pertencentes a áreas de conhecimento
distintas. Assim, uma das características mais marcantes do ensino por projetos é a interdisciplinaridade.
Para que os projetos sejam efetivos na construção de conhecimentos, tanto pelos professores como
pelos estudantes, é necessário que o docente tenha clareza sobre o problema que deseja formular para
instigar os educandos. De todo modo, é preciso amparar-se na realidade, tomá-la como ponto de par-
tida, em uma aproximação com a vida do estudante e da comunidade em que ele está inserido.
Assim, utilizando um tema ou problema, iniciam-se as pesquisas com a seleção de fontes confiáveis
de informação e a adoção de modos de organização que facilitem a interpretação dos dados encontra-
dos. Com esse processo, novas dúvidas surgem e propiciam o estabelecimento de muitas relações com
outros problemas. Ao final, é essencial avaliar o processo e verificar aquilo que foi aprendido, incenti-
vando a conexão com outros problemas relacionados.10
O ensino por projetos não exclui outras metodologias. Na verdade, ele soma-se a elas e as comple-
menta, como é o caso da metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), que potencia-
liza os processos de ensino-aprendizagem.
A metodologia por projetos fomenta a autonomia dos estudantes e confere ao professor a posição de
mediador, o que possibilita, também, a ressignificação de sua prática.
O esquema abaixo ilustra fases ou etapas que podem ser encontradas no desenvolvimento de um
projeto. O foco está sempre na aprendizagem e um fluxo contínuo ocorre entre todas as partes. Isso
significa que ajustes de percurso podem e devem ser feitos, uma vez que os processos de avaliação do
andamento do projeto são contínuos.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DAE

discussão e
contrato didático
DA EDITORA DO BRASIL
programa de aprendizagem com os estudantes
levantamento da problematização
do tema com os estudantes

avaliação coletiva e
levantamento de contextualização
sugestões

Fonte: BEHRENS, Maria A.


APRENDIZAGEM Metodologia de projetos:
aulas teóricas explanatórias aprender e ensinar para a
produção final produção do conhecimento
numa visão complexa.
Coleção Agrinho, 2014, p.
95-106. Disponível em:
pesquisa individual http://www.agrinho.com.br/
produção coletiva referente ao tema
site/wp-content/
uploads/2014/09/2_04_
Metodologia-de-projetos.
discussão crítica produção individual pdf. Acesso em:
30 maio 2020.

10 BEHRENS, Maria A. Metodologia de projetos: aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa visão complexa.
Coleção Agrinho, 2014, p. 95-106. Disponível em: https://www.agrinho.com.br/materialdoprofessor/metodologia-de-projetos-
aprender-e-ensinar-para-producao-conhecimento-numa-visao-complexa. Acesso em: 5 set. 2020.

XXI
A pedagogia de projetos também favorece, em função de seu caráter interdisciplinar, o desenvolvi-
mento de temas transversais. Discutir temas como ética, saúde, pluralidade cultural, meio ambiente,
ciência, tecnologia e sociedade por meio de projetos propicia abordagens ricas, com possibilidades
concretas de promover uma aprendizagem significativa para estudantes e professores.

A sala de aula invertida


A abordagem característica da aprendizagem baseada em projetos pode extrapolar para outras
metodologias ativas, como a sala de aula invertida. Essa abordagem propõe a inversão do método
tradicional de ensino, em que o professor expõe o conteúdo para estudantes ouvintes, em uma relação
unilateral. Aqui, os professores provocam os estudantes com perguntas acerca de um tema.
Na sala de aula invertida, a ideia central está no contato prévio dos estudantes, orientados pelo pro-
fessor, com o conteúdo que será trabalhado. Essa preparação pode, inclusive, ser resultado de pesquisas
e de reflexão sobre uma situação-problema a ser discutida posteriormente. A preparação dos estudantes
pode ser feita por meio de materiais digitais (como videoaulas e podcasts) e também pela leitura de livros,
jornais e revistas. Esse estudo individual, feito em casa, serve como base para a discussão e a formulação
de dúvidas. Assuntos complementares, projetos e atividades em grupo podem ser propostos, em
razão de sua importância em processos de ensino-aprendizagem colaborativos e ativos.
A metodologia da sala de aula invertida gera possibilidades de aprendizagens significativas e permite
que os estudantes explorem, em grupo, um conteúdo que viram previamente sozinhos em casa e o
aprofundem. Também promove a autonomia porque é o estudante quem seleciona os materiais que
vai consultar. Ao professor cabe a orientação na busca e na consulta desses materiais.

Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP)


A análise de situações-problema dá aos estudantes a oportunidade de mobilizar conteúdos concei-
tuais, procedimentais e atitudinais. Assim, a ABP consiste em uma metodologia ativa afinada com os
pressupostos da BNCC e se mostra capaz de promover o desenvolvimento das competências e habili-
dades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
A ABP fornece aos estudantes ferramentas para que construam os próprios processos de aprendizado,
que deve ser singular. Na verdade, são muitos os aprendizados possíveis, e todos eles constituem os
objetivos da ABP.
Para que os objetivos de aprendizagem sejam alcançados, a metodologia da ABP propõe problemas
que devem ser resolvidos pelos estudantes. No entanto, é fundamental ter em mente que esses pro-
blemas não devem ser totalmente genéricos ou imaginários, mas ancorados em suas realidades e
vivências concretas. Assim, diante de problemas reais, e trabalhando em grupos, os estudantes socia-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
lizam suas ideias e propostas de resolução dos problemas apresentados, compartilham dúvidas e
DA EDITORA DO BRASIL
manifestam desconforto intelectual ou conflitos cognitivos que surjam das experiências vividas.
A ABP pode ser empregada em associação com outras metodologias ativas, como o ensino por projetos.

Como estimular o trabalho em grupo?


O trabalho em grupo pode ser extremamente enriquecedor, já que envolve comunicação, defesa de
pontos de vista, argumentação, negociação, empatia etc. e possibilita o desenvolvimento e o aprimo-
ramento de diversas competências e habilidades. É relevante destacar para a turma que, quando um
grupo de pessoas trabalha em conjunto, a prioridade é a busca de um objetivo comum, respeitando
sempre a opinião do outro. Assim, cada integrante pode desempenhar diferentes funções, ou o traba-
lho pode ser igualmente dividido, o que promove o senso de responsabilidade e de colaboração.
Como um mesmo problema pode ser abordado segundo várias perspectivas, é provável que se
chegue a diferentes soluções e, com isso, enriqueça a capacidade dos estudantes de resolver problemas.
Para tanto, é importante selecionar atividades em grupo que sejam desafiadoras e que possam apre-
sentar diferentes posicionamentos.
O papel do professor em um trabalho assim desenvolvido envolve a mediação de conflitos, motivo
pelo qual é necessário lembrar aos estudantes que divergências fazem parte do trabalho em grupo,
mas não necessariamente geram conflitos. Entretanto, se isso ocorrer, lembre-os de que é preciso
resolvê-los de forma definitiva para que o trabalho a ser realizado seja proveitoso. Ao final, durante a
avaliação do trabalho, pode-se fazer uma análise do que causou o conflito para evitar sua repetição.

XXII
A coleção apresenta diversas oportunidades de trabalho em grupo, porém, vale ressaltar, cabe
sempre ao professor, por meio da avaliação do contexto da sala de aula, decidir pela realização da
atividade em grupo ou individual. Assim, considere a orientação de trabalho das atividades apenas
como sugestões, que podem ser adaptadas de acordo com seu plano de aula.
Duas variáveis devem ser consideradas nessas propostas: o tamanho e a composição dos grupos.
Em relação ao tamanho, devem-se levar em conta I) o escopo e a duração da tarefa e II) o perfil da
turma. Há vantagens e desvantagens em se optar por grupos maiores ou menores, conforme descrevem
Cohen e Lothan:

[...] Grupos de quatro ou cinco membros parecem ser ideais para discussão produtiva e cola-
boração eficiente. Esse tamanho permite que os membros estejam em proximidade física para
ouvir as conversas e sejam capazes de estabelecer contato visual com qualquer outro colega. Se
o grupo for maior, há chances de que um ou mais alunos sejam quase que inteiramente deixados
de fora da interação.
Um dos principais argumentos a favor de grupos maiores é a necessidade de haver mais pes-
soas para a realização de um projeto de longo prazo; o grupo maior, então, divide-se em grupos
de trabalho para realizar submetas. Além disso, quando o equipamento é caro ou difícil de encon-
trar, pode ser mais prático ter menos grupos, mesmo que maiores. No entanto, o desafio nesse
projeto é o de que o grupo-como-um-todo desenvolva um consenso sobre quais serão as tarefas
parciais e quem vai trabalhar nos vários subgrupos. O professor pode ter de verificar o processo
de tomada de decisão para garantir que todos expressem sua opinião e sintam-se participantes
da decisão final. É bom lembrar ainda que, quando o grupo fica maior, organizar horários e locais
para reuniões e atividades torna-se mais e mais difícil. Grupos que são menores evidenciam di-
ficuldades próprias. Em um grupo de três alunos, muitas vezes dois formam uma coalizão, dei-
xando o terceiro isolado. Para certas tarefas, duplas são ideais. A limitação da dupla é que, se a
tarefa é um desafio que requer diferentes e múltiplos conhecimentos intelectuais e outras habili-
dades, algumas podem não ter os recursos adequados para concluí-la, tampouco ideias suficien-
tes nem insights criativos. [...]
COHEN, Elizabeth G.; LOTHAN, Rachel A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula
heterogêneas. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2017. p. 95-96.

Quanto à composição dos grupos, existem diversas formas de organizá-los. Algumas delas são: por
afinidade; por sorteio; por interesse no tema; por habilidades complementares. Todas são válidas, mas é
interessante mesclá-las para que se formem grupos diferentes ao longo do ano. Com isso, os estudantes
podem desenvolver diversas habilidades e competências, além de entrarem em contato com distintas
dinâmicas de trabalho e socializarem entre diferentes grupos, ampliando laços de amizade e de afeto.

O trabalho com competências e habilidades de diferentes áreas


A organização dos conteúdos no Ensino Médio obedece à lógica das áreas de conhecimento, o que
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
não exclui os componentes com suas especificidades e saberes próprios; antes, busca-se fortalecer e
DA EDITORA DO BRASIL
explicitar as relações entre elas. Assim, são quatro as áreas de conhecimento estabelecidas pela BNCC:
Linguagens e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências da Natureza e suas Tecnolo-
gias; e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Entretanto, apesar dessa organização, a BNCC fomenta
um intenso e constante diálogo entre as áreas de conhecimento e não apenas entre as disciplinas que
formam cada uma delas. Isso significa que a interdisciplinaridade é, com efeito, um traço marcante da
proposta do Novo Ensino Médio.
A interdisciplinaridade requer que o foco dos processos de ensino e aprendizagem se volte para temas
e problemas extraídos da realidade concreta, em particular das realidades vivenciadas pelos jovens no
mundo atual. Por essa razão, a contextualização para apreensão e intervenção sobre a realidade solicita
um trabalho conjunto dos professores no planejamento e na execução de planos de ensino.11
O paradigma disciplinar não é mais suficiente para responder aos complexos problemas da contem-
poraneidade. Assim, novas formas de abordagem são necessárias para a análise e a intervenção na
realidade, que se mostra multidimensional. A perspectiva interdisciplinar nos processos de ensino-
-aprendizagem aponta para um amplo movimento de reflexão crítica sobre os avanços das ciências.12
Trata-se, portanto, de ampliar a compreensão dos objetos de estudo a partir do diálogo e da contribui-
ção de cada uma das disciplinas.

11 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p.32.
12 ALVARENGA, Augusta T. de et al. Histórico, fundamentos filosóficos e teórico-metodológicos da interdisciplinaridade. In:
PHILLIPPI JR., Arlindo.; NETO, Antônio. J. S. (ed.). Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e inovação. Barueri, São Paulo:
Manole, 2011. p.4.

XXIII
Abordagens interdisciplinares, tanto na produção dos conhecimentos científicos como nos processos
de ensino-aprendizagem, demandam propostas de um trabalho colaborativo, seja entre as disciplinas
de uma área de conhecimento, seja entre as diferentes áreas de conhecimento. É isso que conduz a
uma interação de fato, na qual existe reciprocidade nas trocas com enriquecimento mútuo.13 Tem-se,
então, o desafio da BNCC para que todos os estudantes do Brasil sejam capazes de ler o mundo de
forma crítica, consciente e, portanto, cidadã.
O diálogo entre as áreas do conhecimento oferece ao estudante as principais ferramentas teóricas
e metodológicas para pensar o mundo social em que vive, com seus desafios e potencialidades. Partindo
do concreto ao abstrato, permite transformar o conhecimento escolar em habilidades e competências
úteis ao cotidiano do estudante e de seu desenvolvimento integral. Cada área do conhecimento tem
suas contribuições específicas para analisar e agir no mundo, e juntas ampliam a capacidade crítica e
analítica da realidade.
Assim, para que a integração seja possível e consistente, é indispensável conhecer as competências
específicas e as habilidades que cada área intenta desenvolver, a fim de que a formação integral dos
estudantes se concretize.

Linguagens e suas Tecnologias


A área de Linguagens e suas Tecnologias, no Novo Ensino Médio, tem por foco a ampliação da auto-
nomia dos estudantes por meio do protagonismo e da autoria garantidos pela prática de diferentes
linguagens. Além disso, a área deve promover a identificação dos diferentes usos das linguagens e
fomentar tanto a apreciação quanto a crítica das diversas manifestações culturais e artísticas e a utili-
zação criativa das mídias, evidenciando a capacidade desses usos no estabelecimento de relações
sociais e culturais.
Sendo a área, por excelência, da comunicação e da expressão, sua integração é inerente com a área
de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A prática textual é a ferramenta para expressar os sentidos
do conhecimento produzido pelas Ciências Humanas, assim como a leitura é a habilidade principal para
sua apreensão. Porém, com uma linguagem própria, baseada em conceitos e categorias, as Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas contribuem também para a ampliação dos conhecimentos e habilidades
da área de Linguagens e suas Tecnologias por meio da leitura do mundo, de forma sistematizada e
fundamentada. As artes plásticas, a música e a literatura são produtos culturais que, muitas vezes,
antecedem as análises científicas acerca da vida social.
Esta obra promove, ao longo de todo o seu desenvolvimento, o uso de diferentes linguagens artísti-
cas, textuais e imagéticas com referências constantes às obras clássicas e contemporâneas da cultura
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
universal para garantir ao estudante os recursos necessários para conhecer e analisar os múltiplos
DA EDITORA DO BRASIL
aspectos da vida, tanto nos textos explicativos quanto nas atividades propostas.

Matemática e suas Tecnologias


Na área de Matemática e suas Tecnologias, a consolidação e a ampliação de conhecimentos oferece
aos estudantes a oportunidade de solucionar problemas complexos, que demandam alto grau de abs-
tração, bem como de aumentar a percepção da importância das competências e habilidades matemá-
ticas, aplicando-as à realidade.
Embora pareçam de universos distintos, as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas necessitam
da área de Matemática e suas Tecnologias para desenvolver as ferramentas de estudos para com-
preender, em termos quantitativos, o cenário social mundial. Estatísticas, porcentagem e frações
são as ferramentas usadas nas Ciências Humanas para conhecer melhor sua população, seus
índices sociais e as tendências em termos de maioria e minoria no que tange à organização social.
Gráficos, tabelas e fluxogramas permitem visualizar tais dados, por isso, são usados ao longo de
toda a coleção. É impossível pensar fenômenos sociais, como a desigualdade social, por exemplo,
sem o uso da linguagem matemática.

13 Ibidem, p. 37.

XXIV
No mesmo sentido, as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas contribuem para a área de Matemá-
tica e suas Tecnologias ao fornecerem o sentido desta linguagem na abordagem de temas concretos,
que fazem parte da realidade do estudante e do mundo ao seu redor. Nesta via de mão dupla, ambas
as áreas se enriquecem ao se apropriarem das contribuições uma da outra, em um movimento com-
plementar.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias


Esta obra conecta-se, particularmente, com a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, a
qual tem como objetivo interpretar os fenômenos naturais e processos tecnológicos, inserindo os estu-
dantes no campo do pensamento abstrato e da cultura científica. Essa área é para as Ciências Humanas
o fundamento para a compreensão dos processos sociais e para refletir sobre a própria humanidade e
sua cultura, que interage e molda os sentidos aos fenômenos biológicos, químicos e físicos. Os concei-
tos centrais dessa área, como matéria e energia, são fundamentais para que o estudante compreenda
as transformações sociais promovidas pela Revolução Industrial, por exemplo. Assim, além de com-
partilharem o processo de alfabetização científica, as duas áreas se integram para explicar o processo
histórico da humanidade, que é feito com base na organização social em seu desenvolvimento tecno-
lógico e em sua relação com os fenômenos naturais.

Formação Técnica e Profissional


A Formação Técnica e Profissional, também trabalhada na BNCC e no Novo Ensino Médio, indepen-
dentemente dos itinerários formativos escolhidos, requer flexibilidade, pensamento crítico, capacidade
de tomar decisões, com ideais voltados à sustentabilidade e a ações responsáveis e efetivas no mundo,
capacidade de propor ideias, conhecimento técnico e científico, além de aptidão para a colaboração e
a realização de trabalho em equipe valendo-se de uma perspectiva interdisciplinar. Nesse sentido, todas
as competências e habilidades, promovidas pelas áreas de conhecimento, convergem para a formação
integral do jovem a fim de melhor prepará-lo para o mundo do trabalho, em permanente transformação.

Perfis estudantis: estratégias de condução


A ideia de “juventudes” está intimamente relacionada à noção de diversidade, isto é, à existência de
variados tipos de sujeito jovem. Porém, a diversidade, em seu sentido mais restrito, pode camuflar
desigualdades sociais que acabam por determinar as condições materiais e subjetivas da relação dos
jovens com o saber e com o ambiente escolar.
Não há “o jovem”, “o estudante”, mas sim jovens estudantes com demandas, necessidades e inte-
resses distintos. À escola cabe reconhecê-los e trabalhar como mediadora nos processos de desenvol-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
vimento integral para promover a aquisição de competências e habilidades.
As propostasDA
de EDITORA DO curricular
flexibilização BRASIL configuram-se em larga medida como uma resposta a
essa demanda, pois oferecem possibilidades de escolha aos jovens com base em seus interesses.
Segundo a literatura especializada, a motivação é um fator fundamental para incentivar o aprendizado
e despertar o interesse pelos temas a serem estudados. Contudo, ainda assim, há dificuldades a
serem vencidas.
Os projetos de vida, transversais por natureza, implicam processos de planejamento, pelos quais os
jovens podem se conhecer melhor, identificar seus potenciais e interesses e estabelecer estratégias e
metas para alcançar os objetivos que eles mesmos determinaram. Os professores devem ser sujeitos
ativos na mediação desses processos, auxiliando os jovens em suas reflexões, instigando-os a descobrir
seus interesses e a elaborar estratégias com a flexibilidade inerente às inconstâncias características dessa
faixa etária. O jovem não é, para si mesmo, alguém definido, com perspectivas fixas; ao contrário, ele está
em formação e, portanto, em constante processo de mudança marcada por sua história de vida.
Para que as culturas jovens possam ser trabalhadas no ambiente escolar e para que os projetos de vida
sejam construídos, é necessário efetuar análises críticas, criativas e propositivas. O pensamento crítico pode
ser fomentado por meio da discussão de temas relevantes da realidade a que os jovens pertencem. Como
essa realidade também é múltipla, os temas devem ser diversificados e abrangentes, de modo a contemplar
as juventudes em seus aspectos mais amplos. Temas que respondem a essas características podem estar
relacionadas à ética, à pluralidade cultural, às questões relativas ao meio ambiente, à saúde e a temáticas
locais, que devem ser constantemente levantadas nas unidades escolares.

XXV
Os temas mencionados podem ser trabalhados por meio de textos, filmes, vídeos, saídas a
ambientes de educação não formal (museus, casas de cultura etc.), entrevistas, debates, pesquisas,
entre outras possibilidades. Como disparador, uma excelente opção é utilizar uma situação-problema
proposta pelos jovens em conjunto com o professor. Não se pode perder de vista que é pela reso-
lução de um problema que os jovens têm a possibilidade de desenvolver um pensamento que
podemos chamar de computacional.
Esse termo é aplicável quando a resolução segue o seguinte percurso: o estágio de formulação do
problema – o que requer abstração –, o estágio de expressão de uma solução – automação – e o estágio
de solução e avaliação – um processo de análise, portanto. O pensamento do tipo computacional também
promove a capacidade de inferir o que é fundamental no desenvolvimento de um pensamento racional e
consistente. Percebe-se, assim, que as atividades propostas aos estudantes, desde que pensadas e
intencionais, podem ajudá-los a desenvolver o pensamento crítico e a capacidade argumentativa engen-
drada de forma computacional e inferencial. É importante ressaltar, porém, que a abordagem interdisci-
plinar é condição indispensável para o êxito dessas propostas pedagógicas.
À medida que os jovens entram em contato com diferentes perspectivas sobre um mesmo tema, as
possibilidades de análise crítica se potencializam. Mas, acima de tudo, os jovens devem ter a oportunidade
de falar e de serem ouvidos, promovendo sua capacidade argumentativa, o autoconhecimento e a auto-
nomia, pré-requisitos para o protagonismo no ambiente escolar. Poder falar e ser ouvido, poder escrever
e ser lido, para os jovens, significa a consolidação da autoestima e o alargamento do horizonte de enga-
jamento na construção do conhecimento.
A literatura especializada identifica diferentes perfis de estudantes e de aprendizagens. Portanto, a
adoção de uma abordagem única em sala de aula pode prejudicar aqueles estudantes que apresentam
perfis diferentes. Por essa razão, é importante variar os estilos de abordagem para contemplar todos
os estudantes de uma turma. Uma das propostas para classificar os perfis foi elaborada pelos pesqui-
sadores Richard Felder e Linda Silverman,14 os quais também criaram um modelo de estilos de apren-
dizagem em que cada estudante pode ser classificado de acordo com um polo de cada uma das
seguintes dimensões:
• Percepção – o estudante é sensorial ou intuitivo;
• Entrada (ou input) – o estudante é visual ou verbal;
• Processamento – o estudante é ativo ou reflexivo;
• Entendimento – o estudante é sequencial ou global.
Cada estudante apresenta um polo de cada uma dessas características. O ideal é avaliar a turma
e considerar todos esses perfis no planejamento, com brechas para as ações dos estudantes. A
tarefa é complexa e trabalhosa, mas é facilitada por atividades que foram concebidas para dar
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
protagonismo aos educandos, já que eles podem encaminhar a resolução de cada atividade de
DA EDITORA DO BRASIL
acordo com o próprio perfil.
Além dessa proposta de perfis de estudante, existem diversas outras. Vale lembrar que, assim como
os estudantes têm perfis de aprendizagem distintos, professores têm perfis de ensino diferentes. Como
resultado, um estudante pode apresentar melhor desempenho nos componentes em que o perfil dele
e o do docente sejam semelhantes. Então, nossa sugestão é que o professor se mantenha atento ao
próprio perfil e faça ajustes em seu planejamento de aula, tendo como referencial a análise dos varia-
dos perfis apresentados pela turma.

Sugestões de abordagem para diferentes estilos de aprendizagem


As Ciências Humanas e Sociais Aplicadas apresentam uma peculiaridade em seu desenvolvimento:
a proximidade entre pesquisador e objeto investigado. Somos parte da sociedade, e o distanciamento
requerido ao processo científico entre quem pesquisa e a sociedade como um todo é um desafio, mas
é também sua potencialidade. Por meio do cotidiano do estudante pode-se avançar do conhecimento
mais concreto, do dia a dia de cada um de nós, ao conhecimento abstrato, da sociedade de forma mais
ampla, formulando hipóteses, teorias e categorias, bem como conhecendo o processo histórico, social,
econômico, epistemológico, geográfico e cultural do qual derivam nossa inserção social no mundo.

14 FELDER, Richard. M.; SILVERMAN, Linda. K. Learning and Teaching Styles in Engineering Education. Journal of Engineering
Education, Washington, v. 7, n. 78, p. 674-681, 1988.

XXVI
Com base nos estudos de Felder e Silverman,15 podemos propor algumas estratégias para trabalhar
com estudantes com diferentes estilos de aprendizagem.
• Relacione, sempre que possível, o conteúdo a ser apresentado ao que veio antes e ao que ainda es-
tá por vir, dando destaque a suas relações com outras áreas de conhecimento. Então, estimule os
estudantes a relacionar esse conteúdo às experiências pessoais deles.
• No caso das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, o contexto é muito importante. Assim, nem sem-
pre uma teoria científica é universal, devendo ser analisada sob qual circunstância sua aplicação é
pertinente.
• Use figuras, esquemas, gráficos e esboços simples sempre que considerar oportuno e em conjunto
com a apresentação do conteúdo. Apresente filmes e vídeos relacionados, com discussões acerca
de seu conteúdo.
• Oriente e estimule o uso de recursos digitais na realização de pesquisas, na produção de conteúdo
e na obtenção e análise de dados.
• Não preencha todos os minutos das aulas dando palestras e escrevendo na lousa. Estabeleça inter-
valos, ainda que breves, para a turma pensar sobre o que foi dito ou proposto.
• Organize-se para alternar seu estilo de aula: se for mais expositivo, prepare algumas aulas interativas.
Se for mais interativo, planeje algumas aulas mais introspectivas.
• Forneça também atividades e problemas abertos, que exijam análise e síntese.
• Nas tarefas a serem realizadas em casa, proponha resoluções colaborativas, e não apenas indivi-
duais. Permita que os estudantes colaborem na proposição das estratégias de cooperação.

Culturas juvenis e projeto de vida


A BNCC adota o termo “juventudes” ao invés de “juventude”, pois implica o entendimento das dife-
rentes culturas juvenis em suas singularidades, assim como compreendê-las como integrantes de uma
sociedade que é igualmente diversa e complexa.16
É a fase da vida em que se experimenta a inserção social no mundo, de descoberta de si mesmo e
das possibilidades para a construção da própria vida. As distintas condições de classe social, de diver-
sidade religiosa, cultural, de valores familiares, de gênero, de região etc. fazem com que esta fase da
vida seja permeada por diferentes contextos históricos, socioculturais e econômicos, e que existam
diferentes formas de vivenciá-la. Como afirma o pesquisador Juarez Dayrell: “Além das marcas da
diversidade cultural e das desiguais condições de acesso aos bens econômicos, educacionais e cultu-
rais, a juventude é uma categoria dinâmica. Ela é transformada no contexto das mutações sociais que
vêm ocorrendo ao longo da história”.17
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Além da multiplicidade das juventudes, as incertezas sobre o futuro em um mundo tecnológico e em
DA EDITORA DO BRASIL
constante transformação também podem moldar a experiência de muitos jovens. Essas inseguranças
sobre o futuro podem, inclusive, estimular os estudantes a negligenciar seus projetos de vida, mas
também tornam cada vez mais urgente acompanhar os estudantes no planejamento de seu futuro.
Conhecer a realidade concreta é fundamental para que estudantes possam desenhar, com clareza, os
desafios as potencialidades ao longo da vida adulta.
Quando chegam à escola, os estudantes já possuem uma trajetória biográfica própria. Logo, os pro-
jetos de vida não podem ser desvinculados de cada uma dessas histórias nem vistos exclusivamente
como o que está por vir, o que está por ser constituído, pois o futuro depende das pequenas construções
que vão se somando e se remodelando na formação das subjetividades plurais que encontramos nos
jovens. Tais subjetividades não se formam no vácuo. Elas são tributárias das relações humanas que são
estabelecidas, ou seja, elas reportam ao “outro”. Por essa razão, a escola deve ser um espaço que
privilegia manifestações da diversidade cultural e da pluralidade de visões de mundo.
Para definir “projeto de vida”, podemos tomar emprestada a proposta de William Damon. Para esse
pesquisador, trata-se de “uma intenção estável e generalizada de alcançar algo que é ao mesmo tempo

15 Ibidem.
16 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p. 463.
17 DAYRELL, Juarez (org.). Por uma pedagogia das juventudes: experiências educativas do Observatório da Juventude da UFMG.
Belo Horizonte: Mazza Edições, 2016. p. 27.

XXVII
significativo para o eu e [que] gera consequências no mundo além do eu”.18 É relevante ressaltar que
essa definição identifica três dimensões indissociáveis: a intenção estável orientada para o futuro, o
engajamento significativo em atividades que conduzam à realização da intenção e um desejo de conec-
tar-se e contribuir para algo que está além da individualidade, ou seja, que antes se insere no campo
social. Para que possam ser viáveis, os projetos de vida devem apresentar estabilidade, incluir objetivos
concretos e de longo prazo e ser organizadores e motivadores da tomada de decisão e do engajamento
com as etapas necessárias para sua concretização.
Tendo em vista o que se aponta acima, podemos afirmar que cabe à escola, e também aos profes-
sores, auxiliar os jovens a organizar seus projetos de vida. Vale enfatizar que o professor orientador ou
mediador é aquele que, na interação com os estudantes, faculta a clareza na formulação e na concre-
tização dos projetos de vida das juventudes plurais que compõem a sala de aula. Para isso, ele deve
ser capaz de olhar para cada juventude singular.
A tarefa é bastante complexa, visto que projetos de vida são processos dinâmicos e carregados de
pessoalidade, mas que dependem, ao mesmo tempo, da construção da identidade e das interações e
experimentações sociais. Por ter como princípio o desenvolvimento, a escola e a educação estão capa-
citadas a propiciar aos jovens, por meio de práticas críticas e autônomas, não apenas a construção dos
projetos de vida, mas também os meios para que eles possam se concretizar. Esta coleção pretende
contribuir para isso.

Saúde mental e bullying


De acordo com a competência geral 8, os estudantes, ao longo de toda a Educação Básica, devem
“[...] cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo
suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas”.19 Portanto, é preciso
criar, dentro da comunidade escolar, espaços de fala e de escuta por meio dos quais os estudantes
possam manifestar suas inquietações e desconfortos – um espaço de troca afetiva, livre de estigmas e
tabus. Dessa maneira, os estudantes sentem-se protegidos e seguros para compartilhar suas emoções.
Essa competência deve ser, principalmente, cuidada e desenvolvida, pois, segundo apontam estudos
da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), estima-se que entre 10% a 20% das crianças e dos
adolescentes no mundo apresentam algum tipo de transtorno mental e comportamental.20 Muitos deles
são agravados em razão do bullying, prática individual e coletiva de intimidação, agressão e humilhação
de um estudante em espaços de convívio juvenil, podendo causar casos de violência autoprovocada,
como automutilação e suicídio.
Solucionar casos de bullying na escola é uma tarefa complexa que depende da participação e do
envolvimento de toda a comunidade escolar e, muitas vezes, requer o auxílio de profissionais especia-
listas – psicólogos e psiquiatras – para orientar acerca da melhor forma de administrar, intervir e resol-
ver o problema.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Um encaminhamento possível é o desenvolvimento de programas antibullying como parte do projeto
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político-pedagógico. Esses programas devem ser planejados e aplicados de forma sistêmica, seguindo
uma sequência de ações objetivas e claras que visem ao desenvolvimento das competências socioe-
mocionais dos estudantes e cuidem da manutenção da saúde mental de toda a comunidade escolar.

Pensamento computacional
Quando se fala em pensamento computacional, pensamos de início nas Ciências da Computação e
na Matemática, ou, ainda, em aparelhos tecnológicos e digitais, como computadores e celulares. De
fato, essa era a perspectiva dominante em sua origem, nos anos 1960 e, posteriormente, na década de
1980, época em que o termo foi cunhado, quando se desejava legitimar as nascentes Ciências da
Computação. Mas, à medida que as tecnologias da computação se desenvolviam e os equipamentos
digitais e computacionais passavam a fazer parte do nosso dia a dia, a noção de pensamento compu-
tacional ganhou novas dimensões e adentrou o universo escolar.

18 DAMON, William. O que o jovem quer da vida? Como pais e professores podem orientar e motivar os adolescentes. São Paulo:
Summus, 2009. p. 53.
19 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília,
DF: MEC/SEB, 2018. p. 10.
20 OPAS Brasil. Folha informativa - Saúde mental dos adolescentes. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.
php?option=com_content&view=article&id=5779:folha-informativa-saude-mental-dos-adolescentes&Itemid=839. Acesso
em: 10 ago. 2020.

XXVIII
O pensamento computacional é indicado pela BNCC como parte fundamental do processo de desen-
volvimento dos estudantes brasileiros. Não podemos nos esquecer de que a Base Nacional Comum
Curricular fundamenta todo o trabalho a ser desenvolvido na Educação Básica no que se refere a com-
petências e habilidades. Dentre elas, destaca-se a necessidade de o pensamento computacional estar
presente ao longo de toda a escolaridade.
Tomando como ponto de partida uma compreensão mais alargada do conceito de pensamento
computacional, pode-se sustentar que as competências e habilidades ligadas a ele, apesar de recaírem
sobre os processos de ensino-aprendizagem de Matemática, não se restringe a ele, pois é estratégia
de formulação e resolução de problemas. Dito de outra maneira, trata-se do processo de pensamento
envolvido na formulação de um problema e na expressão de suas soluções, de tal modo que possam
ser executadas, seja por uma pessoa, seja por uma máquina, seja por ambos.
Essa formulação mais abrangente foi proposta por Jeannette Wing, professora do Carnegie Mellon,
em Pittsburgh, nos Estados Unidos. Segundo Wing, no pensa­mento computacional, a conceitualização
é entendida como organização dos conceitos e não a programação deles. Trata-se de uma habilidade
não mecânica, em que se tem uma forma humana de pensar, diferente daquela dos computadores.
Além disso, é um pensamento complementar, que articula a Matemática à Engenharia e deve ser pro-
movido para todos e em todos os lugares.21
O pensamento computacional subdivide-se nos conceitos de decomposição, algoritmo, reconheci-
mento de padrões e abstração. A decomposição consiste em dividir um problema em partes menores,
ou seja, trata-se de um processo de análise. O conceito de algoritmo está relacionado à estipulação de
uma ordem ou sequência de passos para resolver o problema. Procede-se, assim, à análise. A identifi-
cação dos padrões que geram o problema também concerne à análise. Finalmente, os processos de
abstração podem ser entendidos como uma possibilidade de síntese, na medida em que a capacidade
de abstrair requer que sejam ignorados os detalhes de uma ou mais soluções e se parte para a cons-
trução de uma solução (ou soluções) válida e que possa ser extrapolada para atender a outros proble-
mas, assim como para o descarte de partes não essenciais.
O pensamento computacional não exige necessariamente o uso de um computador, tendo em vista
que as unidades escolares variam quanto à disponibilidade de dispositivos digitais. Contudo, ele pode
ser trabalhado de maneira transversal, encaixado nos componentes já existentes. Nesta coleção, como
dito, algumas propostas de atividade dão destaque a esse tipo de abordagem, ainda que seus pilares
possam ser observados em outras seções e propostas de atividades.

Leitura inferencial e argumentação


Ler é um processo por meio do qual o leitor, necessariamente, é remetido à produção de sentidos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
de acordo com sua subjetividade, ou seja, aquilo que conhece, suas experiências de vida, o contexto
em que está inserido, seus valores.
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Uma leitura pode ensejar uma compreensão literal e ainda ser eficiente quando se trata de um texto
técnico. Porém, cabe enfatizar, boa parte dos textos apresenta camadas de significação que, para serem
alcançadas, requerem prática e intimidade com a expressão escrita. Essa leitura, que envolve uma
compreensão para além da literalidade, é chamada de inferencial.
A leitura inferencial constrói sentidos que não são fornecidos de maneira óbvia, mas que requerem
uma atitude ativa do leitor. É na inferência que novos conhecimentos podem aflorar sustentados pelos
conhecimentos prévios, e é nesse tipo de leitura que aquilo que já se sabe é ativado a fim de permitir
que o novo desponte. O surgimento do novo é a condição para que a perspectiva do leitor perante o
mundo se transforme, se enriqueça. É o desenvolvimento do pensamento crítico que se está promovendo
ao ofertar para os estudantes textos escritos e multimodais em que a inferência se revele fundamental
para uma compreensão eficiente.
Parte da inserção no mundo pelos jovens se faz com base na confrontação de diversos pontos de
vista. A pluralidade de perspectivas é, assim, essencial para os estudantes nesse processo, pois eles
vivenciam ao mesmo tempo significados distintos atribuídos ao mundo por ele e pelos outros. Entretanto,
não podemos nos esquecer de que esse modo de inserção depende muito do contexto vivenciado por
eles. Daí a ideia de juventudes no plural.

21 WING, Jeannette M. Viewpoint. Computational Thinking. Communications of the ACM, v. 49, n. 3, mar. 2006. Disponível em:
https://www.cs.cmu.edu/~15110-s13/Wing06-ct.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

XXIX
Não são apenas os jovens que impregnam de significado suas leituras e ações. Também o autor do
texto está sujeito a forças, como pressões sociais e econômicas, e à própria subjetividade. Isso equivale
a dizer que uma leitura inferencial não pode prescindir de um olhar crítico cujo intuito seja descobrir a
conjuntura da produção de determinado um texto. Essa questão é central para que o estudante seja
capaz de realizar uma leitura inferencial competente, reconhecendo todas as camadas de significação.
Se é verdade que, de um lado, o leitor tem liberdade para construir os sentidos, de outro, ele está,
necessariamente, limitado pelos significados presentes no texto, pelas suas condições de uso e contexto
de produção da obra. Ter liberdade em uma leitura inferencial não significa apenas opinar; ela é, de
fato, uma construção de sentidos alicerçada na racionalidade, na utilização de argumentos e de ele-
mentos lógicos que recontextualizam o texto para o leitor, com base em sua história de vida.
A inferência é, por conseguinte, o resultado de um processo cognitivo que revela algo desconhecido
ao apoiar-se na observação e na interação do leitor e de sua subjetividade com o texto em seu contexto.
É o resultado, enfim, de um raciocínio fundado em indícios. Sua qualidade é tanto maior quanto mais
relações e mais camadas o leitor for capaz de alcançar.
As informações de um texto funcionam como pistas ou indícios que, aliados aos conhecimentos
prévios dos estudantes, ativam a construção de sentidos. Mas esse processo não é natural, tampouco
inato, não obstante tenhamos sempre o impulso de atribuir sentidos às coisas.
Para o desenvolvimento da leitura inferencial, a mediação do professor é de grande importância.
Lembremo-nos da técnica socrática, a maiêutica, em que o professor atua como um “parteiro” dos
conhecimentos de seus discípulos. Ao mediar o processo de construção de novos conhecimentos pelos
estudantes com base no que já sabem, ele promove o desenvolvimento da autonomia e do pensamento
crítico e fomenta a ação no mundo, transformando os jovens em cidadãos.
Daí a importância de aumentar a capacidade dos estudantes de desenvolver estratégias de seleção
daquilo que é mais relevante e daquilo que não está explícito no texto. Esse procedimento auxilia na
formulação de hipóteses, de antecipação e de inferência, as quais, contudo, precisam ser verificadas
– afinal, inferir não é um vale-tudo, não é a expressão de uma opinião. Logo, retomar o texto é neces-
sário para respaldar as hipóteses formuladas ou reelaborá-las por meio de um processo de verificação.
Propiciar o acesso a textos multimodais, introduzir a pluralidade de perspectivas sobre um mesmo
tema, trazer contribuições dos saberes de comunidades tradicionais, promover discussões em sala de
aula, possibilitar a prática de debates com defesa de pontos de vista, incentivar a argumentação e a
tomada de decisões – eis algumas estratégias para ajudar os estudantes no desenvolvimento da leitura
inferencial com o objetivo de formá-los integralmente e capacitá-los para uma ação consciente no mundo.
Portanto, a leitura inferencial está relacionada com o desenvolvimento da capacidade argumen-
tativa. Argumentar é uma habilidade que requer o domínio, por parte dos estudantes, das diferentes
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dimensões constitutivas dos temas estudados, por meio da análise dos diversos discursos e pontos
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de vista. Assim, implica no exame de noções, conceitos e ideias que se apresentam nos cenários
científico e social, pelos quais são apreendidos, compreendidos e “explicados” os diferentes elemen-
tos da prática social. Exige, também a apreensão crítica das múltiplas e diferentes alternativas dis-
cursivas que buscam expor questões sociais e históricas, permitindo ao estudante se posicionar
diante dos problemas a elas relacionados.
O desenvolvimento da capacidade argumentativa possibilita ao estudante uma reelaboração pes-
soal qualificada de referenciais de entendimento do mundo. Nesse sentido, ele deve ser capaz de
levantar possibilidades de explicação para os processos sociais, mobilizando o conjunto de elemen-
tos disponíveis.

Tecnologias digitais de informação e comunicação


Nas metodologias ativas da educação do e para o século XXI, as Tecnologias Digitais de Informação
e Comunicação (as TDICs) exercem um papel desafiador. A sigla TDICs refere-se à multiplicidade de
tecnologias proporcionadas por diferentes equipamentos e com diferentes funções, permitindo criar,
capturar, guardar, receber e transmitir informações. Estamos falando da internet, dos computadores
em rede, das redes sociais, do e-mail e das ferramentas de busca.
É desnecessário mencionar quanto as TDICs revolucionaram o mundo e quanto os desenvolvimentos
tecnológicos, sobretudo aqueles relativos ao mundo digital, mudaram as noções de tempo e espaço,
impactando o mundo do trabalho, o modo como as pessoas se relacionam e como conduzem a própria

XXX
vida. Tudo isso é vivenciado pelos professores, dentre os quais muitos não nasceram em um mundo assim
regido. No entanto, para os mais jovens, o mundo digital é uma realidade. Eles são os chamados nativos
digitais, e isso tem consequências na maneira como entendem as relações entre as pessoas, entre as
pessoas e o conhecimento, entre as pessoas e a velocidade, entre as pessoas e o tempo e o espaço. Os
jovens tendem a naturalizar as tecnologias digitais como se elas sempre tivessem existido. Esse é um dos
pontos sobre os quais é preciso refletir quando se pensa na presença das TDICs na educação.
O volume de informações disponibilizado pela internet em uma fração de tempo incrivelmente
diminuta é imenso, mas vale ressaltar que informação não é conhecimento, ainda que possa vir a
sê-lo. Assim, a escola enfrenta o desafio de auxiliar os estudantes a organizarem, selecionarem e
verificarem tantas informações, de modo a promover o salto qualitativo para que estas se transformem
em conhecimento sólido.
As TDICs criaram formas de distribuição da informação que permitem o trabalho com novas culturas
de aprendizagem. Porém, para que a informação se torne conhecimento, é necessário dialogar com
essas tecnologias. As competências cognitivas demandadas para isso se relacionam à construção de
um novo olhar, com uma capacidade crítica distinta, a fim de dar conta de um volume tão grande e
difuso de informações.22
Um dos grandes desafios das escolas, na atualidade, é o desenvolvimento de habilidades de aprendi-
zagem, para que os estudantes consigam assimilar as informações de forma crítica. Esse desafio talvez
seja ainda maior para os professores do que para os estudantes, em razão de os primeiros não serem
nativos digitais. Assim, pode ser necessário desenvolver novas formas de aprender e de ensinar.
Juan Pozo e Carlos de Aldama23 apontam três posturas possíveis em relação às TDICs na educação:
a otimista, a pessimista e a cética. O argumento otimista baseia-se na ideia de que as TDICs têm grande
apelo junto aos jovens, o qual pode se traduzir em um engajamento maior, o que é fundamental nos
processos de ensino-aprendizagem. Entre os pessimistas, há quem defenda que o uso das TDICs
empobrece as formas de ensinar e conhecer, em face do imediatismo e da superficialidade com que as
informações são recebidas e tratadas. O argumento cético, por sua vez, apoia-se na noção de que não
houve mudanças, de fato, nos processos de ensino-aprendizagem. Com as TDICs, segundo os autores,
as mudanças foram apenas de suporte (como o uso de computadores em sala de aula), mas os pro-
cessos se mantiveram. Esse tipo de discurso aponta um dado interessante: os estudantes têm dificul-
dade em converter as informações digitais em conhecimento. Para comprovar essa conclusão, os
céticos utilizam, por exemplo, o Informe PISA-ERA (Programa Internacional de Avaliação de Estudan-
tes) de 2009, cujos dados revelam que a leitura digital dos adolescentes em muitos países, incluindo
o Brasil, é deficiente, pior do que a leitura tradicional, em papel.
Cabe aos professores, então, refletir sobre como tornar o uso das TDICs mais produtivo em sala de
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aula. Se, por um lado, uma perspectiva positiva se impõe, por outro, o ceticismo não pode ser deixado
de lado. A inclusão digital é necessária para que os estudantes não sejam alijados dos processos de
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construção de conhecimento no mundo contemporâneo.
Falemos agora do reverso da inclusão: a exclusão digital. A definição desse termo não é tão simples
como pode parecer. A exclusão digital pode ser minimamente entendida como a falta de acesso a com-
putadores e aos conhecimentos básicos para poder utilizá-los. A essa definição mínima acrescenta-se a
falta de acesso à internet.24 Assim, a inclusão digital demanda o uso de programas, aplicativos e congê-
neres que passam a fazer parte da esfera educacional.
A maior dificuldade na implementação de aprendizagens ativas relacionadas às TDICs são as
condições técnicas e tecnológicas das escolas. Vamos tomar como exemplo os clickers: tais aparelhos
são semelhantes a um controle remoto, com teclado numérico e, em alguns casos, botões de controle,
por meio dos quais os estudantes podem responder rapidamente a questões propostas pelo profes-
sor. Um software compila essas respostas, as armazena e produz estatísticas de desempenho. Ainda
que as respostas possam ser dadas por meio de um formulário disponível em rede, a utilização dos

22 POZO, Juan I. A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informação em conhecimento. Revista Pátio, ano 8,
p. 34-36, ago./out. 2004. Disponível em: http://www.udemo.org.br/A%20sociedade.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.
23 POZO, Juan I.; ALDAMA, Carlos de. A mudança nas formas de ensinar e aprender na era digital. Revista Pátio, n. 19, dez. 2013.
Disponível em: https://www.academia.edu/33795030/A_MUDAN%C3%A7A_NAS_FORMAS_DE_ENSINAR_E_APRENDER_
NA_ERA_DIGITAL. Acesso em: 30 maio 2020.
24 SILVEIRA, Sérgio A. da. Inclusão digital, software livre e globalização contra-hegemônica. Parcerias Estratégicas, n. 20,
p. 421-446, jun. 2005.

XXXI
clickers é importante, pois, com eles, os estudantes têm acesso às escolhas dos colegas em tempo
real, o que oferece a possibilidade de mudar ou não as respostas depois das discussões.
Trata-se de um uso muito interessante das TDICs, mas, infelizmente, ainda de difícil viabilização. Isso
não quer dizer que soluções alternativas não possam ser encontradas. O importante é a ideia da partici-
pação ativa dos estudantes mediada por um recurso tecnológico capaz de alterar o andar do pensamento.
Talvez o professor possa fazer uma adaptação usando algum aplicativo de mensagens instantâneas. Ou
ainda poderia ser criado um grupo da sala, com as respostas sendo enviadas por meio do celular. A con-
tabilização ficaria um pouco mais complicada, porém, ainda assim, vale a pena considerar essas alterna-
tivas. As respostas também podem ser enviadas em tiras de papel e então contabilizadas, o que simplifica
os materiais necessários, mas aumenta o tempo usado para a aplicação da metodologia.
Há muitas outras possibilidades de utilização de metodologias ativas em sala de aula, usando o
pensamento computacional e as TDICs. Ao longo das unidades, este Manual do Professor apresenta
outros exemplos e sugestões para sua prática. A seleção de dados em páginas de internet confiáveis,
como de instituições públicas ou de centros de pesquisa, são requisitados de forma a estimular os
estudantes a trabalharem com informações quantitativas como subsídios para análises qualitativas.
Da mesma forma, levantamento de dados próprios é estimulado para que os estudantes consigam
elaborar questões e diferenciar o essencial do supérfluo no processo de analisar um determinado
cenário. Com a articulação entre o conhecimento acumulado dos docentes e a habilidade digital dos
estudantes, pode-se construir uma nova forma de colaboração entre professores e estudantes na
construção dos conhecimentos relevantes e úteis para o desenvolvimento de seus projetos de vida.

Museus, visitas de campo e uso de aplicativos


Algumas ferramentas podem ajudar os estudantes a compreender conteúdos e a desenvolver
habilidades e competências, relacionando-as com o cotidiano. No entanto, elas dependem de parti-
cularidades da comunidade na qual o colégio se encontra.
Esse tipo de atividade pode ser mais proveitoso se os estudantes elaborarem algum material para
comunicar resultados, impressões ou descobertas das atividades, o que pode ser feito com as TDICs.
Eles podem fazer isso com o uso de aplicativos utilizados regularmente para se comunicar com
conhecidos ou produzindo vídeos, posts, podcasts etc.
Visitas a museus são uma oportunidade de expor os estudantes a conhecimentos que não podem
ser satisfatoriamente demonstradas em um livro didático. Isso envolve verificar as possibilidades
locais, pedir autorizações aos responsáveis e organizar o evento, o que em alguns casos exige recursos
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que a escola não possui. Nesse caso, pode-se utilizar museus virtuais. Uma lista de alguns deles está
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disponível em: https://www.eravirtual.org (acesso em: 17 ago. 2020). Se possível, procure museus
próximos à escola e entre em contato, pois eles geralmente disponibilizam programas para estudantes.
Visitas de campo têm características similares à ida a museus, porém são mais simples, visto que
provavelmente há diversos lugares que podem ser visitados próximos à escola. Algumas sugestões
são: patrimônios culturais locais, universidades etc. É possível que alguns desses locais também
disponibilizem programas preestabelecidos para estudantes.

PLANEJAMENTO: CONSTRUINDO O REGISTRO DOCENTE


Todo o planejamento, bem como os resultados coletados no decorrer de uma sequência didática
em uma unidade, deve ser registrado com clareza e da forma mais completa possível, quase como
se fosse um diário de bordo.
O registro é particularmente valioso porque, ao recorrer a ele, o professor pode efetuar os ajustes
assertivamente tanto para a sequência didática em andamento como para elaborações futuras. Ele se
torna ainda mais valioso se o trabalho for interdisciplinar, visto que o cotejamento entre registros de
diferentes docentes pode resultar em um trabalho mais bem desenvolvido. Além disso, existe a possi-
bilidade de o registro ser transformado em material de pesquisa para o professor e originar trabalho a
ser apresentado em congressos e encontros de Educação. Ele também pode ser adaptado ao formato
de artigo, para que seja publicado em revistas especializadas. Da mesma maneira que você recorre a

XXXII
artigos e a trabalhos de terceiros para sua formação e inspiração, seu trabalho pode se transformar em
fonte para outros docentes.
Como a escola é um espaço em que se produz conhecimento, ao adaptar e transformar seus regis-
tros em apresentações ou artigos, por exemplo, para congressos da área educacional ou específicos
da área de Ciências Humanas, você contribuirá para a efetivação desse processo.
Para finalizar, lembramos que o conjunto de ideias aqui apresentado não tem a intenção de ser um
manual ou um protocolo de procedimentos lineares, com etapas consecutivas, fixas e rígidas; em vez
disso, consiste apenas em um lembrete de que o planejamento permite a articulação entre ideias e
objetivos, maximizando as chances de promover uma aprendizagem significativa para estudantes e
professores, segundo os processos de ensino-aprendizagem fundamentados na perspectiva das meto-
dologias ativas. Para que esse trabalho seja possível, é necessário que você, professor, reflita sobre sua
prática continuamente e esteja sempre aberto às mudanças.

Perfil indicado dos professores


Os processos de ensino-aprendizagem são de mão dupla, ou seja, uma pessoa não ensina sem
antes aprender e não aprende sem que seja ensinada. Há, aqui, uma dialética essencial. Entretanto,
o ato de aprender e ensinar é facilitado quando os aprendizes assumem a postura de sujeitos ativos
dos próprios processos de aprendizagem e quando o professor entende que seu papel não é mais o
de transmissor de saberes, e sim o de mediador, aquele que auxilia os estudantes para que consigam
vencer os desafios que enfrentam no presente e também os que tenham de confrontar no futuro.
É de extrema relevância o papel de mediação que os professores desempenham na perspectiva
educacional. Mediar, nesse contexto, significa guiar os estudantes na construção de seus conheci-
mentos. A mediação engloba todos os âmbitos da vida dos educandos, como resultado da integração
e da organização das práticas com intencionalidade. A noção de intenção deve ser a base da ação
pedagógica, uma vez que é ela que produz as significações concretas como meios de atingir objetivos
educacionais mais amplos. Portanto, o professor precisa conhecer a realidade dos estudantes, seus
anseios e interesses, e, com base nisso, trabalhar de forma verdadeiramente interativa e comparti-
lhada, estimulando o pensamento crítico e a participação ativa deles nos processos de ensino-apren-
dizagem. No mundo atual, essa mediação requer a utilização de recursos tecnológicos em sala de
aula, pois estes permitem estabelecer conexão com as formas mais recentes de comunicação e
expressão das novas gerações. Desse professor é requerido dinamismo, atualização constante, capa-
cidade de atender às singularidades dos estudantes e orientação no uso seguro das tecnologias e
seus desdobramentos.
No caso da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, esse desafio é apresentado para os pro-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
fessores de Filosofia, História, Sociologia e Geografia com uma característica adicional: propor uma
construção de conhecimentos de forma interdisciplinar. Isso equivale a dizer que cada um dos compo-
DA EDITORA DO BRASIL
nentes é convocado a complementar reciprocamente o conteúdo dos outros, de maneira que os edu-
candos tenham uma compreensão global e integral dos fenômenos naturais e das produções científicas.
Assim, cabe a cada professor estabelecer um diálogo constante com os colegas dos demais
componentes da área. Uma obra interdisciplinar será adotada por docentes com várias formações,
de áreas distintas, que vão trabalhar os mesmos conteúdos de maneira particular, iluminando os
diferentes aspectos de uma mesma questão.
É válido ressaltar que a BNCC também aponta para a elaboração de propostas curriculares com
base nas categorias centrais para a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, considerando a
organização proposta para o Ensino Médio, a pertinência aos eixos formativos e o equilíbrio entre
os conteúdos dos quatro componentes curriculares de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Os objetivos formativos gerais dessa área, no contexto do Ensino Médio, enfatizam o reconheci-
mento das ciências como um constructo humano atravessado por forças sociais e históricas; de que
seus princípios e conhecimentos são socialmente formulados; de que a leitura do mundo pode e deve
ser mediada pelos conhecimentos da Filosofia, História, Sociologia e Geografia; da importância da
discussão e da interpretação das relações entre as áreas do conhecimento, as tecnologias e a socie-
dade, convergindo para julgamentos e a proposição de soluções para os problemas encontrados no
mundo; da necessidade de reflexão crítica, levando em conta valores humanos, éticos e morais.
Ao refletir sobre os objetivos gerais das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, podemos pensar
em unidades curriculares e estabelecer as contribuições que se esperam do professor de cada

XXXIII
disciplina para a construção de um processo de ensino-aprendizagem que contribua para a forma-
ção de estudantes protagonistas, ativos e críticos.
Assim, a Filosofia, a História, a Sociologia e a Geografia estão representadas em todos os livros pela
contribuição própria de cada um desses componentes na análise e reflexão dos temas propostos em cada
unidade, mobilizando as competências específicas e as habilidades proposta para a área pela BNCC.
As aproximações temáticas entre os quatro componentes são, às vezes, muito claras, outras nem
tanto. No livro que trata do trabalho como tema condutor, os diferentes componentes trazem con-
tribuições que dialogam de forma direta e clara sobre o mundo do trabalho, suas contradições e as
formas de relações entre os indivíduos no contexto de uma sociedade pautada pelo sistema capi-
talista e sua busca incessante de lucros, debatendo temas e conceitos centrais para essa discussão.
O mesmo exemplo cabe ao livro que trata dos quatro estudos de caso (África do Sul, Índia, Palestina
e Brasil), no qual, a partir de contextos selecionados, cada componente lança luz para a reflexão
acerca de problemáticas contemporâneas, a fim de permitir a construção por professores e estu-
dantes de um debate amplo, diverso, interdisciplinar e efetivo.

O trabalho com professores de outras áreas de conhecimento


Para garantir um trabalho interdisciplinar eficiente e competente, é necessário não apenas a utiliza-
ção de conceitos e recursos de diferentes áreas do conhecimento, mas a orientação da prática peda-
gógica por objetivos e competências a serem adquiridas pelos estudantes. Isso implica que, ao eleger
temas para uma aula ou um projeto em comum com as Ciências da Natureza e suas Tecnologias, por
exemplo, deve-se privilegiar assuntos ou problemas que atravessem as diversas áreas em igual pro-
porção e estabeleçam pontos claros de intersecção, garantindo um diálogo bem costurado, coerente e
equilibrado. Outro aspecto importante a ser observado é a construção de um planejamento geral, que
indique os objetivos envolvidos nas áreas mobilizadas, em articulação com planejamentos específicos
de cada componente. Nessa seara, cabe aos professores estabelecer individualmente as expectativas
de aprendizagem e as propostas de atividades e de avaliação das áreas que lhes competem e, partindo
dessas diretrizes, contribuir para uma proposição conjunta a ser executada com os demais.

Unidades e sequências didáticas


Uma boa forma de iniciar o planejamento é considerar as competências específicas, enquanto arti-
culadoras dos livros. Os temas condutores explorados em cada livro da coleção, nesse sentido, podem
ser usados como ponto de partida.
A forma de organização dessa obra visa à superação das estruturas tradicionais de planejamento do
trabalho em sala de aula em relação aos objetivos que se deseja alcançar, aos conteúdos conceituais
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
que se pretende desenvolver e à avaliação do aprendizado dos estudantes. Esse aspecto alternativo
DA EDITORA DO BRASIL
está alicerçado na crença de que os currículos não são instâncias acabadas, fechadas; antes, eles
representam um processo construído nas relações intersubjetivas da comunidade escolar, as quais,
embora intrinsecamente políticas, são sempre intencionais. Apesar de cada proposta ao longo dos livros
possuir começo, meio e fim, sua estrutura, em que se agregam complexidade e questionamento, é
flexível, com uma construção dialógica.
O planejamento das aulas segundo as unidades não apenas potencializa o engajamento dos estu-
dantes, como promove a integração entre professores de componentes diferentes, gerando um traba-
lho interdisciplinar bastante significativo.
Para elaborar o trabalho interdisciplinar, permeado pelas unidades dos livros, é necessário ter em
mente a importância de uma temática no contexto da matriz conceitual dos componentes envolvidos
e no contexto dos estudantes. Ao exercer o papel de mediador, o professor auxilia os estudantes na
construção de seus conhecimentos sobre determinado assunto.
Sequências didáticas podem ser compreendidas como um conjunto de atividades ordenadas, estru-
turadas e articuladas com o propósito de alcançar determinados objetivos educacionais. Elas têm
princípio e fim conhecidos, tanto pelos professores como pelos estudantes.25 Além disso, caracterizam-
-se por abarcar quatro componentes básicos que devem ser considerados em sua construção: profes-
sor, estudantes, mundo real e conhecimento (científico). Esses componentes se dispõem em duas
dimensões: a epistêmica e a pedagógica.

25 ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

XXXIV
A dimensão epistêmica é composta dos processos de elaboração, assim como de métodos de vali-
dação do conhecimento científico, dando-lhe um significado em relação ao mundo real. A dimensão
pedagógica constitui-se dos papéis desempenhados pelo professor e pelos estudantes e das interações
recíprocas. Seguindo as proposições metodológicas desta coleção, parte-se da proposição de uma
situação-problema e, ao longo da sequência didática, executam-se atividades diversificadas e previa-
mente estabelecidas. Estas formam a dimensão pedagógica dessa sequência. A diversificação é impor-
tante porque oportuniza o desenvolvimento de diferentes habilidades e competências ao mesmo tempo
que privilegia as que os estudantes já possuem.
Assim, dependendo do tema escolhido para a unidade e dos conteúdos previstos para a sequência
didática, esta última pode ser composta de aulas práticas, saídas, registros escritos, produção de port-
fólios, apresentação de seminários, pesquisas, entre outras possibilidades, considerando o que é mais
adequado a cada turma.

Cronograma
A proposta do Novo Ensino Médio possibilita que as escolas distribuam a carga horária referente à
formação geral básica e aos itinerários formativos da maneira que melhor condiga com a realidade da
comunidade, desde que seja implementada uma carga anual mínima de 1 000 horas para todos os anos
do Ensino Médio até março de 2022.
Veja o exemplo a seguir.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Guia de implementação do Novo Ensino Médio. Disponível
em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/resources/downloads/pdf/Guia.pdf. Acesso em: 9 jul. 2020.
DA EDITORA DO BRASIL
Por isso, de acordo com a escola, as diretrizes curriculares do estado, a necessidade dos diferentes
jovens e as especificidades da comunidade, o trabalho com os seis livros pode ser rearranjando de
diferentes maneiras ao longo dos três anos que formam o Ensino Médio.
Nas orientações específicas deste Manual do Professor, como sugestão, estão propostos cronogra-
mas para o trabalho com cada um dos livros; consideramos que cada volume poderá ser trabalhado
em um semestre. Nessa sugestão, a formação básica se estende pelos três anos do Ensino Médio, com
a divisão da carga horária com os itinerários formativos desde o primeiro ano.

Construindo os processos de avaliação


A avaliação não pode ser confundida com uma prova final. No contexto das metodologias ativas, ela
deve ser encarada como um processo. Isso significa que a avaliação não é final, ou seja, é feita ao longo
do desenvolvimento da sequência didática dentro da unidade de aprendizagem elaborada. Por ser
processual, ela permite ajustes de percurso, a fim de assegurar êxito na produção de uma aprendizagem
significativa. Além disso, os processos de avaliação devem ser encarados como oportunidades de
aprendizado tanto para os estudantes como para os professores.
Antoni Zabala26 defende o uso de vários tipos de avaliação: uma inicial ou diagnóstica, uma regula-
dora, uma integradora e uma autoavaliação.

26 Ibidem.

XXXV
A avaliação inicial ou diagnóstica é interessante porque permite ao professor levantar os conheci-
mentos prévios dos estudantes. Como discutido anteriormente, trata-se de um procedimento funda-
mental não apenas porque valoriza aquilo que o educando traz como conhecimento, como também
porque possibilita um replanejamento, se isso se mostrar necessário, logo no início. Essa avaliação pode
ser feita por escrito ou por meio de uma aula dialogada. Em ambos os casos, o registro é importante
para que, ao final da sequência didática, seja possível verificar as mudanças conceituais dos estudan-
tes. A verificação final pode ser feita por evocação da sequência didática; é muito interessante perceber,
na evocação que lida com a memória, aquilo que realmente foi significativo para eles.
A avaliação reguladora tem a finalidade de criar uma percepção sobre o que cada estudante
aprende. Ela é processual e contínua e requer do professor sensibilidade e atenção para notar as
especificidades que cada um apresenta. Quando o planejamento é bem-feito, essa sensibilidade é
amplamente favorecida.
Por sua vez, a avaliação integradora também é processual e fornece uma dimensão global do apren-
dizado, uma vez que integra, ao final, todas as avaliações efetuadas ao longo da sequência didática.
Tanto as avaliações reguladoras como as integradoras pressupõem constante reflexão do professor
sobre os processos de ensino-aprendizagem. Realizadas ao longo do processo, seja em uma unidade
de aprendizagem, seja em uma sequência didática, a avaliação reguladora recai sobre cada atividade
desenvolvida, ao passo que a avaliação integradora, como o nome indica, integra as avaliações regula-
doras feitas no decorrer do processo.
Vale ressaltar o caráter intrinsecamente intencional dessas avaliações. O professor deve definir com
clareza seus objetivos e o modo de atingi-los por meio das atividades propostas e desenvolvidas em sala de
aula. Ele deve ainda efetuar a avaliação comparando o que se pretendia com o que foi efetivamente realizado.
A autoavaliação é particularmente valiosa em uma proposta pedagógica ativa porque traz para o cenário
um estudante que vai se tornando protagonista dos seus processos de aprendizagem. Nesse processo,
devem ser combinados critérios de avaliação entre o professor e os estudantes de modo que esse procedi-
mento gere uma reflexão e uma análise sobre sua aprendizagem. Trata-se de um processo metacognitivo
na medida em que a autoavaliação permite que os estudantes percebam a maneira como aprendem.
Qualquer avaliação deve ser compatível com os objetivos previamente estabelecidos e com os con-
teúdos efetivamente discutidos ao longo da sequência didática. Não faz sentido avaliar aquilo que não
foi trabalhado nem o que não foi explicitamente identificado como objetivo a ser atingido.

INDICAÇÕES COMPLEMENTARES
Documentários
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
• Human, volumes 1, 2 e 3, direção de Yann Arthus-Bertrand, França, 2015, 83 min (volume 1); 86
DA min
EDITORA
(volumeDO
2);BRASIL
93 min (volume 3).
O documentário dá voz a dezenas de pessoas de diferentes nacionalidades, religiões, gêneros, línguas,
profissões e classes sociais, as quais são convidadas a falar sobre temas como a existência humana, a
felicidade, a morte, a pobreza e o sentido da vida. As entrevistas mostram que a homogeneização cultu-
ral pode ser nociva para a preservação da diversidade de formas de ser e estar no mundo.
• Pro dia nascer feliz, direção de João Jardim. Brasil, 2005 (89 min).
O documentário acompanha o cotidiano escolar de estudantes de diferentes realidades, trazendo
depoimentos dos jovens sobre suas aspirações, medos, visões de mundo etc. Trata-se de uma obra que
retrata a multiplicidade das juventudes e de seus diferentes projetos de vida.
• Últimas conversas, direção de Eduardo Coutinho. Brasil, 2015, 85 min.
O documentário entrevista uma série de jovens para buscar compreender seus sonhos, desejos e
perspectivas de mundo.

Filmes
• Efeito Pigmaleão, direção de Grand Corps Malade e Mehdi Idir. França, 2019 (111 min).
Em uma escola de um bairro periférico de Paris, os estudantes, em sua maioria de minorias étnicas
empobrecidas, recebem uma nova coordenadora pedagógica, também ela de origem étnica mino-
ritária. Com base no conhecimento da realidade desses jovens, novas relações se estabelecem e
geram frutos mais positivos para toda a comunidade escolar.

XXXVI
• Entre os muros da escola, direção de Laurence Cantet. França, 2008 (131 min).
O filme se passa em uma escola na periferia de Paris que apresenta tensões étnicas de difícil trato.
São mostradas a aproximação da escola com o mundo da vida e as dificuldades que o professor de
francês enfrenta ao tentar despertar nos estudantes o interesse pelo conhecimento. Trata-se de uma
reflexão sobre o papel que a escola poderia ocupar na vida de estudantes.
• Escritores da liberdade, direção de Richard LaGravenese. Estados Unidos, 2007 (123 min).
O filme é baseado na história real de Erin Grunwell, uma jovem e idealista professora de Língua
Inglesa que vai lecionar em uma escola periférica marcada pela violência e pela desmotivação. Ela
propõe aos estudantes, em sua maioria pertencentes a minorias étnicas, que escrevam sobre a
própria vida ou sobre aquilo que desejarem. Grunwell acaba por criar a Freedom Writers Foundation,
cujo objetivo é difundir sua metodologia e dar a jovens carentes a oportunidade de estudar.
• O sorriso de Mona Lisa, direção de Mike Newell. Estados Unidos, 2003 (119 min).
Em uma instituição de alto padrão exclusiva para mulheres, que, em meados do século XX, ainda
eram educadas para o casamento, uma professora de História da Arte tenta alargar os horizontes
das estudantes, o que a leva a confrontar valores tradicionais arraigados do local. Fugindo de fórmu-
las simplistas, o filme mostra que as influências dos professores nem sempre são capazes de pro-
mover a emancipação.
• O substituto, direção de Tony Kaye. Estados Unidos, 2011 (100 min).
O professor de Ensino Médio Henry Barthes optou por trabalhar sempre como substituto, a fim de evitar
a criação de vínculos com os estudantes. No entanto, ao substituir um professor em uma escola pública
de uma comunidade carente e diante de colegas desmotivados, ele acaba se envolvendo e mostrando
que as relações professor-estudantes podem ser ricas e transformadoras.
• Sementes podres, direção de Kheiron. França, 2018 (105 min).
O filme trata de jovens considerados “estudantes-problema”. Expulsos de suas escolas e pertencentes
a minorias étnicas, eles frequentam uma espécie de ONG como forma de se “reintegrarem” à escola. Lá
eles entram em contato com um educador cuja família foi exterminada pelo Exército de Israel quando
criança. O contato que ele consegue estabelecer com os jovens é surpreendente.

Livros
• OLIVEIRA, Paulo de Salles (org.). Metodologia das Ciências Humanas. São Paulo: Editora Hucitec, 2001.
Coletânea de textos de diversos estudiosos da área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, como
a filósofa Marilena Chaui (1941-), o historiador Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) e o soció-
logo Florestan Fernandes (1920-1995), cujo objetivo é a construção de um material de consulta para
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
todos os professores e pesquisadores da área.

DA EDITORA DO BRASIL
• PURIFICAÇÃO, Marcelo M.; CATARINO, Elisângela M. (org.). Teoria, prática e metodologias das Ciên-
cias Humanas. Ponta Grossa: Atena Editora, 2019.
Obra que apresenta relatos e debates de diferentes práticas relacionadas às Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas feita por pesquisadores e educadores em distintos contextos.

Documentos digitais e sites


• Ação Educativa. Disponível em: http://acaoeducativa.org.br/. Acesso em: 16 jun. 2020.
A Ação Educativa é uma organização não governamental nascida na e da Educação Popular. Seu
objetivo é promover as juventudes por meio de ações que reafirmam a autonomia e a ação social
e política dos estudantes. No site dessa ONG, você encontra projetos, textos, espaços de formação
e uma série de subsídios para tornar sua prática mais sintonizada com as novas demandas do
mundo e dos jovens.
• Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de
história e cultura afro-brasileira e africana. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/informacao-da-
publicacao/-/asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/document/id/488171. Acesso em: 17 ago. 2020.
O documento do MEC sobre a educação para as relações étnico-raciais traz importantes contribuições
no que diz respeito à perspectiva da ética e da educação para a paz, além de orientações e ações a
serem empreendidas ao longo da Educação Básica. Trata-se de um documento relevante porque leva
para o ambiente escolar a grande diversidade cultural brasileira e os saberes das sociedades tradicionais.

XXXVII
• Juventudes na escola, sentidos e buscas: por que frequentam?. Disponível em: http://flacso.org.br/
files/2015/11/LIVROWEB_Juventudes-na-escola-sentidos-e-buscas.pdf. Acesso em: 17 ago. 2020.
Esse livro digital apresenta o panorama teórico e debates conceituais sobre juventude/juventudes;
cultura escolar; a importância da condição juvenil; educação; escola e o lugar do saber. Também busca
responder por que os jovens frequentam a escola. Além disso, mostra e discute os resultados obtidos
por uma ampla pesquisa de mapeamento das problemáticas juvenis. Trata-se de um livro fundamental
para compreender o jovem de hoje.
• Relatório Juventudes e Ensino Médio. Disponível em: https://fazsentido.org.br/wp-content/
uploads/2017/08/20190111_RelatorioEstudoJovem_Fazsentido.pdf. Acesso em: 17 ago. 2020.
O relatório digital Juventudes e Ensino Médio, derivado do Projeto Faz Sentido, é mais um exemplo de
material de qualidade que pode e deve ser consultado pelos professores. Nele são apresentadas
questões fundamentais que dizem respeito à vida dos jovens. Sexualidades, identidades, cidadania e
política, entretenimento e cultura, aprendizado, projeto de vida, entre outros temas, são abordados
com o objetivo de informar os educadores e fazê-los refletir sobre os jovens no Ensino Médio.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVARENGA, Augusta T. de et al. Histórico, fundamentos filosóficos e teórico-metodológicos da interdiscipli-
naridade. In: PHILLIPPI JR., Arlindo; NETO, Antônio J. S. (ed.). Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e
inovação. Barueri: Manole, 2011.
Nesse livro são apresentadas numerosas pesquisas, levadas a cabo por professores universitários, sobre práticas in-
terdisciplinares e seus resultados. Trata-se de uma obra inspiradora porque aponta as potencialidades positivas do
desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares.

ANDRÉ, Marli E. D. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995.


O livro tem por objetivo discutir a contribuição que os estudos do tipo etnográfico, voltados ao cotidiano escolar, vêm
oferecendo para repensar e reconstruir o saber didático.

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Pedagogy, Symbolic Control and Identity: Theory, Research, Critique. ed. rev. atual.
Londres: Rowman & Littlefield, 2000.
O livro aborda aspectos do trabalho com a identidade juvenil, articulando premissas sociais que têm como base prá-
ticas pedagógicas

BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem
teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. E-book.
Livro em que se discutem diferentes práticas de metodologias ativas que envolvem tecnologias digitais, tornando-se
MATERIAL
uma obraDE DIVULGAÇÃO
importante no desenvolvimento desse tipo de método em sala de aula.

DA EDITORA
BEHRENS, DOA. BRASIL
Maria Metodologia de projetos: aprender e ensinar para a produção do conhecimento numa vi-
são complexa. Coleção Agrinho, 2014, p. 95-106. Disponível em: http://www.agrinho.com.br/site/wp-content/
uploads/2014/09/2_04_Metodologia-de-projetos.pdf. Acesso em: 30 maio 2020.
Artigo em que se discutem a nova realidade da sociedade do conhecimento e o modo como ela tem desafiado os pro-
fessores a repensarem suas práticas pedagógicas. O aprender a aprender e a formação de estudantes autônomos e
criativos são centrais na metodologia de projetos, pois, como defende a autora do artigo, é por intermédio dela que os
estudantes podem entrar em contato com o pensamento complexo e com o trabalho colaborativo em grupo, cons-
truindo assim seu conhecimento de forma significativa e crítica.

BRASIL. Competências socioemocionais como fator de proteção à saúde mental e ao bullying. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/implementacao/praticas/caderno-de-praticas/aprofundamentos/
195-competencias-socioemocionais-como-fator-de-protecao-a-saude-mental-e-ao-bullying. Acesso em:
31 ago. 2020.
Documento que trata do trabalho com as competências socioemocionais e como essa abordagem pode auxiliar no
combate ao bullying e no cuidado com a saúde mental dos estudantes.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.
gov.br/resources/downloads/pdf/dcnem.pdf. Acesso em: 16 ago. 2020.
Documento que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio de acordo com a BNCC.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular: educação é
a base. Brasília, DF: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 5 maio 2020.

XXXVIII
No documento da Base Nacional Comum Curricular estão detalhados os fundamentos da proposta, seus marcos le-
gais e teóricos, bem como a explicitação das áreas de conhecimento com suas competências específicas e as habili-
dades a elas vinculadas. Trata-se de um documento rico, com muitos subsídios para pensar o desenvolvimento da
autonomia dos estudantes na perspectiva das juventudes plurais.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Guia da implementação do Novo Ensino Mé-
dio. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/resources/downloads/pdf/Guia.pdf. Acesso em: 9 jul.
2020.
Documento que busca orientar docentes e gestores na construção de caminhos para a implementação do novo Ensi-
no Médio.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas contemporâneos transversais na


BNCC: propostas de práticas de implementação. Brasília: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.
mec.gov.br/images/implementacao/guia_pratico_temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 4 ago. 2020.
Documento que explica o conceito de tema contemporâneo transversal e apresenta estratégias de práticas educativas
com eles.

BRASIL. O Novo Ensino Médio. Brasília, DF: MEC, 2016. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/
pagina-inicial. Acesso em: 5 maio 2020.
A página do MEC traz todas as informações necessárias para que o professor conheça e entenda as propostas do No-
vo Ensino Médio – o que é, o que muda, o marco legal e as relações dessa proposta com a BNCC.

BRASIL. Plano Nacional de Educação. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-e-


ducacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Acesso em: 16 ago. 2020.
Apresenta as metas do Plano Nacional de Educação.

BRASIL. Presidência da República. Secretaria Geral. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm. Acesso em: 16 ago. 2020.
Lei que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional

COHEN, Elizabeth G.; LOTHAN, Rachel. A. Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula he-
terogêneas. 3. ed. Porto Alegre: Penso, 2017.
O livro traz sugestões para aplicar com a aprendizagem cooperativa, indicando estratégias para lidar com grupos grandes
e pequenos, orientações sobre como proceder com turmas heterogêneas e formas de preparar o trabalho em grupo, pa-
ra que ele de fato contribua para o desenvolvimento e a participação ativa dos estudantes.

DAMON, William. O que o jovem quer da vida? Como pais e professores podem orientar e motivar os adoles-
centes. São Paulo: Summus, 2009.
Nesse livro, o pesquisador estadunidense William Damon, utilizando dados de uma extensa pesquisa de campo,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
busca entender a mente dos jovens entrevistados para descobrir as razões de sua desmotivação e ansiedade dian-
te da vida. Comparando esse quadro com o que pensam os jovens “bem encaminhados”, ele mostra que o papel da
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família, da escola e dos mentores é fundamental na constituição das subjetividades dos jovens motivados e dos
desmotivados. Damon destaca, como conclusão, a importância dos projetos de vida para o desenvolvimento posi-
tivo e pleno dos jovens.

DAYRELL, Juarez (org.). Por uma pedagogia das juventudes: experiências educativas do Observatório da Ju-
ventude da UFMG. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2016.
Obra que apresenta relatos e teses derivados de anos de pesquisa sobre culturas juvenis no Observatório da Juven-
tude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2011.


O professor e pesquisador Pedro Demo propõe uma reflexão profunda sobre a prática pedagógica. Partindo da
peculiaridade do ambiente escolar, Demo defende que as práticas nele desenvolvidas estejam sempre apoiadas
na pesquisa, porque, nessa perspectiva, a dinamicidade é mantida graças a um movimento de questionamento
reconstrutivo que nega a educação baseada apenas na reprodução. Ao contrário, educar pela pesquisa implica a
construção e a transformação tanto dos professores como dos estudantes. Para esse autor, a educação é, sobre-
tudo, um espaço de formação da autonomia crítica e criativa dos sujeitos envolvidos nos processos de ensino-
-aprendizagem.

FELDER, Richard M.; SILVERMAN, Linda K. Learning and Teaching Styles in Engineering Education. Journal of
Engineering Education, Washington, v. 7, n. 78, p. 674-681, 1988.
Artigo clássico sobre o trabalho com estudantes e professores de diferentes estilos. Apresenta as principais carac-
terísticas de cada perfil de ensino e aprendizagem propostos por eles e sugestões de como lidar com esses perfis.

XXXIX
FERRARINI, R., SAHEB, D.; TORRES, P. L. (2019). Metodologias ativas e tecnologias digitais: aproximações e
distinções. Revista Educação em Questão, v. 57, n. 52, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.21680/
1981-1802.2019v57n52ID15762. Acesso em: 31 ago. 2020.
Artigo que aborda as conexões entre as práticas de metodologias ativas e o uso de tecnologias digitais.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.


É apresentada nesse livro a concepção de educação como forma de emancipação humana. A educação, para Freire,
deve capacitar as pessoas a “ler o mundo”. Para isso, são necessários o engajamento dos professores e a participação
ativa dos estudantes na construção de seus conhecimentos. Freire mostra como as práticas educativas podem ser
“bancárias”, nas quais os estudantes são reduzidos a depositários de conhecimentos. Assim, partindo da realidade
dos estudantes, por meio dos temas geradores, a educação freiriana defende o desenvolvimento da autonomia e do
protagonismo tanto de quem ensina como de quem aprende.

ONU. Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em:
https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 16 ago.2020.
Plano de ação da ONU para garantir um futuro sustentável.

OPAS Brasil. Folha informativa - Saúde mental dos adolescentes. Disponível em: https://www.paho.org/bra/
index.php?option=com_content&view=article&id=5779:folha-informativa-saude-mental-dos-
adolescentes&Itemid=839. Acesso em: 10 ago. 2020.
Relatório com dados sobre a saúde mental dos jovens na contemporaneidade.

POZO, Juan I.; ALDAMA, Carlos de. A mudança nas formas de ensinar e aprender na era digital. Revista Pátio,
n. 19, dez. 2013. Disponível em: https://www.academia.edu/33795030/A_MUDAN%C3%A7A_NAS
_FORMAS_DE_ENSINAR_E_APRENDER_NA_ERA_DIGITAL. Acesso em: maio 2020.
Nesse trabalho, os pesquisadores defendem que as TICs são ferramentas com potencial extraordinário para a cons-
trução de competências e de uma nova cultura de aprendizagem. Considerando que os jovens de hoje são nativos di-
gitais, colocar-se no contexto digital é condição fundamental para que os estudantes se engajem e aprendam, de for-
ma significativa e crítica, os conteúdos científicos e suas relações com a sociedade em sentido mais amplo.

POZO, Juan I. A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informação em conhecimento. Revista


Pátio, ano 8, p. 34-36, ago./out. 2004. Disponível em: http://www.udemo.org.br/A%20sociedade.pdf. Acesso
em: 30 maio 2020.
O artigo discute o paradoxo da necessidade de se aprender cada vez mais e dos obstáculos que acabam levando a um
número maior de tentativas fracassadas de aprendizagem.

SILVEIRA, Sergio A. da. Inclusão digital, software livre e globalização contra-hegemônica. Parcerias Estraté-
gicas, n. 20, p. 421-446, jun. 2005.
O artigo defende a necessidade de uma política efetiva de inclusão digital e as possibilidades de existência do movi-
mento do software livre. Essa defesa está relacionada ao entendimento de que, no mundo contemporâneo, não ter
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
acesso às tecnologias e ao ambiente digital é uma forma de exclusão social e, portanto, de negação da cidadania ple-
na. Pela análise de dados relativos a diversos países, Silveira mostra quanto o Brasil ainda precisa se desenvolver pa-
DA EDITORA DO BRASIL
ra que a inclusão digital seja uma realidade.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
O livro apresenta discussões sobre os conhecimentos utilizados como base para o trabalho do professor em sala de
aula e a importância de uma sólida formação profissional.

WING, Jeannette M. Viewpoint. Computational Thinking. Communications of the ACM, v. 49, n. 3, mar. 2006.
Disponível em: https://www.cs.cmu.edu/~15110-s13/Wing06-ct.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.
Artigo que apresenta os quatro pilares do pensamento computacional de maneira simples, derrubando alguns mitos
a respeito desse tipo de raciocínio.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Zabala já se tornou referência no campo da Pedagogia. Nesse livro, o autor tece comentários importantíssimos so-
bre o ato de ensinar. Partindo do conceito de unidades de análise, Zabala afirma que o planejamento de sequências
didáticas é indispensável para a prática docente. Segundo ele, essas sequências devem apresentar atividades di-
versificadas, de modo a contemplar as diferentes inteligências e os variados interesses dos estudantes. O autor
enfatiza a importância de pensar a avaliação como um processo: por meio da observação e da coleta de dados, o
professor reflete sobre os resultados de seu trabalho e o modifica, se julgar pertinente. É uma obra de leitura fácil
e agradável, fundamental para ajudar os professores em seus planejamentos e suas práticas.

XL
Orientações didáticas e
comentários específicos
SUMÁRIO UNIDADE 3: EM BUSCA DA
Introdução XLII CIDADANIA  LXXII
Mapa do ensino XLIII Visão geral  LXXII
Cronograma XLVII
Orientações didáticas LXXII
INTRODUÇÃO DO LIVRO DO
ESTUDANTE XLVIII Cidadania e direitos LXXII
Orientações didáticas XLVIII • Conexões: Bioética  LXXIII

UNIDADE 1: MODOS DE • Atividades LXXV


GOVERNANÇA REPUBLICANOS  XLVIII Às vésperas da Nova República LXXVI
Visão geral XLVIII • Atividades LXXVIII
Orientações didáticas XLVIII O exercício da democracia LXXVIII
Governos e formas de governar XLVIII
• Atividades  LXXIX
• Atividades  L
Território e planejamento
A República brasileira no século XX LI
• Atividades  LIV no Brasil LXXX
Partidos políticos no Brasil LV • Atividades LXXXI
• Atividades LVI
Indicações complementares LXXXII
Política e economia no Brasil LVI
• Conexões: Desmatamento e saúde  LVIII UNIDADE 4: CAMINHOS E DEBATES
• Atividades LVIII PARA PENSAR O FUTURO  LXXXII

Indicações complementares LIX Visão geral LXXXII


UNIDADE 2: MINORIAS SOCIAIS E Orientações didáticas LXXXIII
DEMANDAS HISTÓRICAS LX
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Utopias LXXXIII
Visão geral  LX
DA EDITORA DO BRASIL • Atividades LXXXVI
Orientações didáticas LX
Compreender a História para agir
O conceito de minorias  LX
• Atividades LXII na realidade LXXXVI
Indígenas e afrodescendentes • Atividades LXXXIX
no Brasil republicano  LXIII Política popular além do voto XC
• Atividades LXVI
• Atividades XC
Modernidade brasileira
e a questão racial  LXVII Organismos internacionais e organização
• Atividades  LXVIII do espaço mundial XCI
Minorias e seus espaços: indígenas • Atividades  XCIII
e quilombolas LXVIII • Pesquisa: Estudo de caso – Participação
• Mídia: Estudo de caso: etnomídia e
política das mulheres XCIII
a Rádio Yandê LXIX
• Atividades LXX Indicações complementares XCIV
Indicações complementares LXXI Referências bibliográficas XCIV

XLI
INTRODUÇÃO
Este material foi elaborado com o intuito de subsidiar o trabalho dos professores na área de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas, integrada pelos componentes Filosofia, História, Sociologia e Geografia,
no processo de ensino-aprendizagem com os estudantes do Ensino Médio, e sobretudo no desenvol-
vimento de habilidades e na formação de competências cognitivas, socioemocionais e atitudinais.
O tema condutor das discussões do livro é o aprendizado sobre a política brasileira e o exercício da
cidadania, valorizando-se a participação política crítica e responsável, e a compreensão do papel de
todos na construção de uma sociedade mais justa e democrática. Essas discussões possibilitam que
os estudantes problematizem a categoria política, fundamental ao estudo das Ciências Humanas e
Sociais Aplicadas de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A competência específica 6 e suas seis habilidades são mobilizadas por meio do incentivo à parti-
cipação no debate político e na vida pública, estimulando uma atuação responsável e crítica. Para tanto,
é desenvolvido o trabalho com conceitos políticos básicos, entendendo a vida pública como instrumento
para a discussão de ideias, com respeito à liberdade, à diversidade e aos diferentes projetos de vida.
Entremeando essas discussões, diversos Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) são abordados,
como: ciência e tecnologia; direitos da criança e do adolescente; diversidade cultural; educação ambiental;
educação em direitos humanos; educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas
e culturais brasileiras; saúde; e vida familiar e social.
Esses conteúdos podem ser desenvolvidos por meio de metodologias ativas, que levam os estudan-
tes a se apropriar de seu processo de aprendizagem, a relacionar teoria e prática, e a desenvolver
conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que aplicarão na vida cotidiana.
O desenvolvimento das discussões e a realização das atividades propostas trabalham, de maneira
organizada, linguagens e gêneros textuais variados, além de conteúdos disponibilizados em diversas
mídias. Aqui, não se opõe as diferentes modalidades de mediações comunicativas e artísticas àquelas
possibilitadas pelas tecnologias digitais. Ao contrário, as linguagens se integram e compõem uma
totalidade em que, ao mesmo tempo, se preservam suas diferenças e se potencializam um entendimento
e um aprendizado significativo.
Nesse processo, as finalidades educativas articuladas se concretizam por meio da compreensão
conceitual e capacitam o estudante a lidar com situações próprias de sua vivência e da sociedade em
que está inserido, apoiando-se em contextos sócio-históricos.
No constante diálogo multidisciplinar entre Filosofia, História, Sociologia e Geografia, busca-se
fornecer subsídios para que o estudante possa conhecer melhor sobre si mesmo e sobre o regramento
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
da sociedade em que está inserido, desenvolver valores éticos e cidadãos, e elaborar o próprio projeto
DA EDITORA DO BRASIL
de vida diante das possibilidades e limitações oferecidas no meio social.

XLII
Mapa do ensino
Conheça a seguir de que modo se articulam os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs), as com-
petências e as habilidades da BNCC, os objetivos e as justificativas de cada unidade do livro, assim como
qual é o perfil do professor indicado para tratar com cada um dos segmentos da obra.

UNIDADE 1
OBJETIVO
O objetivo da unidade é que o estudante aproprie-se de conceitos políticos pertinentes à trajetória
histórica e à realidade política brasileira, podendo usá-los para qualificar a análise, a interpretação e a
intervenção na sociedade e nas instâncias políticas. Para isso, é feito um estudo das fases republicanas
no Brasil, debatendo-se os conceitos de democracia, autoritarismo, paternalismo, populismo e de partido
político. Analisam-se também os impactos de discursos desenvolvimentistas em diferentes momentos
da história do país.

JUSTIFICATIVA
O entendimento de conceitos políticos e da trajetória da República no Brasil visa preparar o estudante
para participar do debate público, identificar problemas sociais e propor ações que promovam a demo-
cracia e os direitos humanos, assim como caminhos para a construção de uma uma sociedade mais
justa, inclusiva e próspera.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS

Competências gerais Competência específica de Ciências Temas Contemporâneos


Habilidades
da Educação Básica Humanas e Sociais Aplicadas Transversais
•• EM13CHS602 •• Educação ambiental
1, 2, 6, 7 e 9 6 •• EM13CHS603 •• Vida familiar e social
•• EM13CHS606 •• Saúde

PERFIL DO PROFESSOR

Temas da unidade Perfil do professor indicado para trabalhar com o tema


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
GOVERNO E FORMAS DE GOVERNAR Sugere-se que o professor tenha formação em Filosofia, pois é feita uma
DA EDITORA DO BRASIL
•• Estado de exceção reflexão sobre conceitos políticos como república, autoritarismo, ditadura,
•• Formas de poder entre outros.
A REPÚBLICA BRASILEIRA NO SÉCULO XX Sugere-se que o professor tenha formação em História, pois são
•• A Constituição de 1891 estudados aspectos de diferentes regimes políticos no Brasil durante o
•• Primeira República (1889-1930) século XX, além de momentos-chave da política latino-americana no
•• A Era Vargas mesmo período.
•• O populismo na América Latina
•• A República de 1946
•• A Ditadura Civil-Militar
PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências Sociais, pois
•• A Ciência política: Estado e sociedade discute-se o conceito de partido político e suas principais funções.
•• Partidos políticos: conceito, funções e dilemas

POLÍTICA E ECONOMIA NO BRASIL Sugere-se que o professor tenha formação em Geografia, pois se reflete
•• Populismo e economia nos governos Vargas sobre o processo de integração e articulação econômica do território
•• Guerra, indústria e o apoio estadunidense brasileiro.
•• Brasil: território e desenvolvimento
•• A República na segunda metade do século XX:
motores do desenvolvimento
•• Mudanças sociais e territoriais
•• A ditadura e as contradições do período

XLIII
UNIDADE 2

OBJETIVO
O objetivo da unidade é que o estudante compreenda o conceito de minoria social e o aplique ao
contexto brasileiro, analisando as relações entre o Estado e as minorias sociais durante o período repu-
blicano. Também espera-se que estude dados para identificar as causas e efeitos da desigualdade social
e étnico-racial no Brasil, de modo a fundamentar as críticas a essa situação. E avalie a ação política de
minorias sociais e comunidades tradicionais, considerando suas formas de organização, reivindicações
e demandas históricas, podendo também reconhecer avanços políticos conquistados por esses grupos.

JUSTIFICATIVA
O reconhecimento das raízes históricas, sociais, ideológicas e econômicas da desigualdade no
Brasil e o entendimento de como ela se manifesta no tempo e no espaço, é fundamental para a pro-
moção de ações que visem ao combate a esse problema e à inclusão de grupos historicamente
excluídos da ordem social republicana.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS

Competência
Competências gerais específica de Temas Contemporâneos
Habilidades
da Educação Básica Ciências Humanas e Transversais
Sociais Aplicadas

•• Diversidade cultural
•• Educação em direitos humanos
1, 2, 3, 5, 6, •• EM13CHS601 •• Educação para valorização do
6
7, 8, 9 e 10 •• EM13CHS605 multiculturalismo nas matrizes históricas
e culturais brasileiras
•• Vida familiar e social

PERFIL DO PROFESSOR

Temas da unidade Perfil do professor indicado para trabalhar com o tema

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
O CONCEITO DE MINORIAS Sugere-se que o professor tenha formação em Filosofia, pois se
•• Maioridade e minoridade racional debate o conceito de minorias para diferentes correntes e
•• DA EDITORA DO BRASIL
As minorias sob o jugo do fascismo e do nazismo organizações sociais.
•• Stalinismo e as minorias nacionais
•• Marxismo e minorias: classe e identidades
INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES NO BRASIL Sugere-se que o professor tenha formação em História, pois é
REPUBLICANO feita uma discussão sobre as ações e representações das
•• Teorias raciais no pensamento social populações negra e indígena, ao longo do tempo, na República
•• A tutela indígena brasileira.
•• O mito da democracia racial
•• Avanços na República de 1946
•• Minorias étnicas na Ditadura Civil-Militar
MODERNIDADE BRASILEIRA E A QUESTÃO RACIAL Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências Sociais,
•• Dados do racismo no Brasil pois são analisados dados para fundamentar a crítica à
•• Multiplicidade de vozes desigualdade social e étnico-racial no Brasil.

MINORIAS E SEUS ESPAÇOS: INDÍGENAS E QUILOMBOLAS Sugere-se que o professor tenha formação em
•• Violência e o apagamento de minorias Geografia, pois se estuda os espaços ocupados por
•• Constituição Cidadã e seu significado para os indígenas comunidades e povos tradicionais, considerando suas lutas e
•• Ocupar: as demandas históricas de minorias pelo direito de viver reivindicações.
•• População quilombola na Constituição Cidadã
•• Representatividade e participação política

XLIV
UNIDADE 3

OBJETIVO
O objetivo da unidade é que o estudante conheça e compreenda os princípios de justiça, igualdade
e liberdade presentes na Declaração dos Direitos Humanos, bem como da Constituição federal brasileira,
refletindo sobre a aplicação dessas normativas na sociedade brasileira. A unidade também promove
uma análise dos avanços e desafios da Nova República, destacando a conquista de direitos sociais e
os aprimoramentos necessários para a garantia de uma vida digna a toda a população brasileira.

JUSTIFICATIVA
Estudar a política, a democracia e a cidadania por meio de ferramentas metodológicas e conceituais
fornece embasamento para ampliar o repertório crítico do estudante, preparando-o para participar da
vida pública de forma consciente e ativa para assim atuar em espaços de representatividade social e
política em prol da garantia e da efetivação de direitos.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS

Competência específica
Competências gerais Temas Contemporâneos
de Ciências Humanas e Habilidades
da Educação Básica Transversais
Sociais Aplicadas

•• Direitos da criança e do adolescente


•• EM13CHS605 •• Diversidade cultural
1, 2, 3, 6, 7, 8 e 9 6
•• EM13CHS606 •• Educação em direitos humanos
•• Vida familiar e social

PERFIL DO PROFESSOR

Temas da unidade Perfil do professor indicado para trabalhar com o tema

CIDADANIA E DIREITOS Sugere-se que o professor tenha formação em Filosofia, pois


•• As concepções de cidadania reflete-se sobre conceitos de cidadania, justiça, igualdade e
•• A cidadania nos tempos atuais equidade, para fundamentar a crítica à desigualdade entre
•• Direitos, um símbolo da democracia indivíduos, grupos e sociedades.
••
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Direitos humanos, uma conquista constante
•• DA EDITORA DO BRASIL
Direitos sociais, um caminho para realizar a justiça
•• Direitos individuais: por uma existência digna
•• Os conceitos de justiça, igualdade e equidade
ÀS VÉSPERAS DA NOVA REPÚBLICA Sugere-se que o professor tenha formação em História, pois
•• A reorganização partidária são estudados os aspectos do processo de transição do regime
•• A Constituição Cidadã e os direitos humanos militar para a democracia, e os principais projetos nacionais em
•• Avanços e desafios na Nova República disputa no início da Nova República.
•• Juventude e políticas públicas

O EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências Sociais,


•• Presidencialismo x parlamentarismo pois se analisa o funcionamento de diferentes regimes
•• Presidencialismo de coalizão políticos.
•• Mulheres nos espaços de poder
TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO NO BRASIL Sugere-se que o professor tenha formação em Geografia, pois
•• Planejamento, integração e regiões se contempla o estudo das propostas de regionalização
•• Regiões e as superintendências de desenvolvimento regional brasileira, favorecendo algumas análises das características
•• Diferentes propostas e realidades sociais e econômicas do território brasileiro.
•• Os “quatro Brasis”
•• Divisão regional e desigualdade
•• As concentrações das redes
•• Desenvolvimento territorial como política de Estado

XLV
UNIDADE 4

OBJETIVO
A unidade é iniciada com um debate sobre o conceito de utopia e sua aplicação a diferentes formas
de organização social, incluindo o desenvolvimento da ideia de cidadania no Brasil. O intuito é expor
alguns debates pertinentes à construção de alternativas para o presente e o futuro, de modo que o
estudante se localize neles e possa orientar melhor sua ação social, política e cidadã. Para isso, pro-
põe-se reflexão sobre a função social da História e apropriação das ferramentas democráticas para
além do processo eleitoral. Também espera-se que o estudante faça uma análise das relações que se
estabelecem entre organismos internacionais e os Estados no contexto mundial, identificando limites
e possibilidades de atuação desses organismos.

JUSTIFICATIVA
O debate sobre o conceito de cidadania e sobre diferentes ferramentas democráticas contribui para
a formação cidadã do estudante e seu protagonismo social, de modo que se aproprie das discussões
do espaço público de modo crítico. Além disso, a compreensão das disputas nos âmbitos políticos,
sociais e epistemológicos e o posicionamento em meio a elas garantem o protagonismo na construção
de uma perspectiva de futuro mais igualitária, justa e fraterna.

COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS

Competências gerais Competências específicas de Ciências Temas Contemporâneos


Habilidades
da Educação Básica Humanas e Sociais Aplicadas Transversais
•• EM13CHS101 •• Ciência e tecnologia
•• EM13CHS104 •• Diversidade cultural
1, 2, 6, 7, 8, 9 e 10 1e6 •• EM13CHS604 •• Vida familiar e social
•• EM13CHS605
•• EM13CHS606

PERFIL DO PROFESSOR

Temas da unidade Perfil do professor indicado para trabalhar com o tema

UTOPIAS Sugere-se que o professor tenha formação em Filosofia, pois se


••
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Usos do termo “utopia” reflete sobre o conceito de utopia, aplicando-o a diferentes
•• DA EDITORA DO BRASIL
O socialismo dos utópicos formas de organização social.
•• O socialismo em bases científicas
•• Social-democracia como sistema possível
COMPREENDER A HISTÓRIA PARA AGIR NA REALIDADE Sugere-se que o professor tenha formação em História, pois
•• História e poder reflete-se sobre a função social do conhecimento histórico,
•• Quem escreve a História? considerando suas contribuições para a ação na realidade
•• Quem faz a História? presente.
•• A História como devir político
•• A crítica ao presenteísmo
•• A História no pensamento brasileiro
POLÍTICA POPULAR ALÉM DO VOTO Sugere-se que o professor tenha formação em Ciências Sociais,
•• Participação popular na Constituinte pois discute-se formas de participação política popular além do
•• A política como experiência voto, comentando-se casos da história recente do Brasil.
•• Conselhos gestores no Brasil

ORGANISMOS INTERNACIONAIS E ORGANIZAÇÃO Sugere-se que o professor tenha formação em Geografia, pois
DO ESPAÇO MUNDIAL analisa-se o papel de organismos internacionais na organização
•• A ONU na atualidade do espaço mundial atualmente.
•• A Organização Mundial do Comércio (OMC)
•• Blocos econômicos: uma nova forma de Estado?
•• Uma agenda internacional?

XLVI
Cronograma
Para trabalhar com os conteúdos indicados anteriormente, sugere-se que este livro seja desenvolvido
ao longo de um semestre. Porém, trata-se apenas de uma sugestão de trabalho. Faça as devidas adap-
tações de acordo com as determinações de carga horária de sua escola e do currículo estadual, levando
também em consideração a realidade e os interesses dos estudantes.
Semest

Semestre Parte do livro Parte da unidade Número de aulas

Introdução do livro 1

Desenvolvimento de
20
conteúdos e boxes

Desenvolvimento da
Unidade 1 2
seção “Conexões”

Desenvolvimento da
1
seção “Atividades”

Desenvolvimento de
21
conteúdos e boxes

Desenvolvimento da
Unidade 2 2
seção “Mídia”

Desenvolvimento da
96 aulas 1
seção “Atividades”

Desenvolvimento de
21
conteúdos e boxes

Desenvolvimento da
Unidade 3 2
seção “Conexões”

Desenvolvimento da
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO seção “Atividades”
1

DA EDITORA DO BRASIL
Desenvolvimento de
20
conteúdo e boxes

Desenvolvimento da
Unidade 4 1
seção “Atividades”

Desenvolvimento da
3
seção “Pesquisa”

Existem várias outras possibilidades de organização, incluindo distribuir o conteúdo em bimestres


ou trimestres. Para determinar esse cronograma, a distribuição das aulas não precisa ser necessaria-
mente equilibrada entre unidades, como indicado acima. Dependendo do engajamento e do interesse
da turma, é possível dedicar mais aulas a determinados temas do que a outros.

XLVII
INTRODUÇÃO DO LIVRO DO UNIDADE 1
ESTUDANTE MODOS DE GOVERNANÇA
REPUBLICANOS
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
VISÃO GERAL
P. 12-13
A introdução é o primeiro contato do estudante com o A Unidade 1 proporciona uma análise sobre a trajetó-
ria da República no Brasil, contribuindo para uma parti-
tema do livro. Por isso, é uma oportunidade para diagnos-
cipação consciente no debate público e para o exercício
ticar quais são suas percepções sobre o conceito de cida-
da cidadania, mobilizando as habilidades EM13CHS602,
dania e a noção de participação política. Para auxiliá-lo
EM13CHS603 e EM13CHS606.
nesse diagnóstico, sugere-se realizar uma discussão entre
os estudantes, sobre a prática do slam. Peça que os estu- Para isso, inicia-se com uma análise de conceitos basi-
dantes pesquisem na internet por competições de poesia lares da Ciência política e da Filosofia política, pelos quais
falada e solicite que prestem atenção: aos temas aborda- é possível classificar práticas e formas de organização do
dos e a forma como são expressados (tom de voz, movi- poder e da administração política da sociedade. Nesse
mentação corporal, configuração da poesia etc). Espera-se sentido, busca-se habilitar o estudante a entender os prin-
que percebam que algumas das temáticas tratadas nesses cipais componentes do processo político e da organização
slams podem se relacionar à suas próprias experiências e do Estado.
que os slammers, muitas vezes, cobram soluções para Em seguida, é feita uma reflexão sobre a história da
alguns problemas do Estado e das instituições políticas. República brasileira no século XX, apresentando as distor-
A pesquisa e o debate sobre slam podem provocar indaga- ções dos princípios republicanos quando ajustados à reali-
ções como: Quem são os sujeitos e/ou grupos sociais que dade política do país de modo a condizer com os interesses
têm seus direitos cerceados? Por que isso ocorre? De que das elites. Desse modo, espera-se que os estudantes com-
forma esses sujeitos podem se organizar para resistir a esse preendam as razões da fragilidade da democracia brasileira,
tipo de marginalização? Os estudantes já sentiram que não a tendência autoritária de certos setores da sociedade e os
eram representados politicamente ou que seus direitos não percalços e lutas para a inclusão de demandas populares
foram respeitados? Como podem lutar contra isso? na Constituição e para a criação de políticas públicas volta-
das ao auxílio das classes menos favorecidas. Assim, bus-
O debate em sala de aula deve ser direcionado, mas os
ca-se mostrar aos estudantes as diferentes visões de Estado
estudantes precisam se sentir livres para expressar suas
e disputas pelo poder que atravessam a história do Brasil
ideias e sentimentos sobre a temática.
republicano, para que compreendam o período atual como
A introdução também pode ser o início do trabalho com uma continuidade desse processo.
o projeto de pesquisa que é proposto ao final do Livro do
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO Na sequência, é feita uma discussão sobre a organiza-
Estudante. No projeto, os estudantes vão realizar um estudo
DA EDITORA DO BRASIL
de caso sobre a participação política das mulheres no Brasil.
ção em partidos políticos, analisando-se os seus signifi-
cados e limitações. Por fim, debatem-se as diferentes
Começo de conversa orientações políticas e de desenvolvimento nos diversos
governos republicanos do Brasil, compreendendo-se dis-
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes inves-
cursos desenvolvimentistas em diversos contextos e seus
tiguem o que acreditam que precisa ser transformado
impactos sociais, econômicos e espaciais. Dessa maneira,
em sua realidade e quais são as principais formas de
se reflete sobre o processo de integração e articulação
desigualdade e injustiça social que desejam combater.
econômica do território brasileiro.
2. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a perceber
a cidadania como uma forma de se expressar politi-
camente e como algo que deve fazer parte dos seus ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
cotidianos.
P. 14
3. Resposta pessoal. Os estudantes podem mencionar
diversos aspectos relacionados à sua experiência que Governos e formas de governar
considerem tópicos marginalizados do debate público. Dá-se início ao estudo dos modos de governança repu-
4. Resposta pessoal. O objetivo da questão é que os estu- blicanos com a abordagem das diferentes formas de
dantes percebam que o fazer político pode ocorrer coti- governo que já regeram e regem diferentes sociedades ao
dianamente e em diferentes lugares, não estando reser- redor do mundo. Para começar, apre­sente aos estudantes
vado a instituições do poder federal. o conceito geral de governo baseado em sua etimologia e

XLVIII
em seu significado corrente. Em seguida, conversem sobre do povo, caracterizado pela obediência passiva, e totalita-
a noção de governo de si ou autogoverno, apoiando-se na rismo, em que o governo também é ditatorial, mas conta
frase do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984). com o engajamento popular e com a figura de um chefe
Espera-se que eles compreendam que governar a si mesmo “carismático”. Foi o que aconteceu no nazismo de Hitler
implica o uso da consciência para a tomada de decisões (1889-1945), no fascismo de Mussolini (1883-1945) e no
autônomas e responsáveis. stalinismo, com Joseph Stalin (1878-1953), na antiga União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
O conceito de governo também é abordado sob a pers-
pectiva do filósofo iluminista francês Jean-Jacques Chame a atenção para o fato de que o Brasil passou por
Rousseau (1712-1778) na obra Do contrato social. Escla- um período ditatorial entre os anos de 1964 e 1985,
reça que o conceito de governo designa a administração durante o qual a imprensa, artistas, estudantes, professo-
(de um país, de um estado ou de uma cidade) realizada res, trabalhadores e parte da população foram duramente
por uma pessoa ou por um conjunto de pessoas que, reprimidos. Nesse período da história do país, muitas pes-
no exercício legítimo de seu poder, foram incumbidas soas desapareceram e há famílias que até hoje desconhe-
dessa tarefa. cem o paradeiro delas.

O estudo da etimologia das palavras relacionadas às Proponha uma atividade de pesquisa sobre o período
diferentes formas de governo é importante para que os ditatorial no Brasil ou em outros países da América Latina
em que a oposição e a manifestação popular foram repri-
estudantes compreendam a origem e a configuração das
midas. Sugira uma apresentação, por meio de seminários
diversas formas de governo existentes no mundo. Por isso,
ou roda de conversa, dos resultados dessa pesquisa,
é interessante propor um diálogo com a área de Lingua-
incluindo o processo de instauração do governo ditatorial
gens e suas Tecnologias, de modo a auxiliar a investigação
nesses países, o funcionamento das ditaduras, quem
da formação de palavras ligadas ao tema em foco.
foram as pessoas torturadas, quem foram os sobreviven-
P. 15 tes, qual o papel da cultura nesse momento, entre outros
tópicos preestabelecidos.
Estado de exceção Ao abordar o conceito de democracia, enfatize o poder de
Comente que o conceito de estado de exceção diz respeito decisão de um povo por meio da eleição do governante, com
a uma situação em que os indivíduos de uma sociedade não a possibilidade de revogar o mandato, caso o representante
podem recorrer às leis que regem o país para se proteger. não cumpra o que prometeu durante a campanha ou res-
Trata-se de uma situação extraordinária prevista pela Cons- ponda por crime de responsabilidade contra probidade na
tituição federal brasileira, com vistas a garantir a continuidade administração pública, desde que esse crime seja provado.
da normalidade constitucional quando esta for ameaçada. Adicionalmente, saliente que, nesse regime de governo, o
Ressalte, porém, que essa é uma situação que deve ocorrer poder é caracterizado pelo processo de alternância.
apenas quando estritamente necessário e por tempo deter- Sobre esse conceito, espera-se que os estudantes com-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
minado, sob o risco de dar vazão a impulsos autoritários. preendam ainda que a democracia pode ser representativa
ou direta. Essa diferenciação é essencial para que eles iden-
P. 15-18 DA EDITORA DO BRASIL tifiquem, por exemplo, o modelo democrático aplicado atual-
mente no Brasil e reflitam a respeito. Destaque que, na
Formas de poder
democracia representativa, os cidadãos votam em membros
Comece explicando que teocracia é o modelo de de partidos políticos que representam os membros da socie-
governo cujas leis são fundamentadas em escrituras sagra- dade em tomadas de decisões referentes a propostas e pro-
das, como a Bíblia e o Alcorão. A monarquia, por sua vez, jetos implementados no âmbito municipal, estadual ou
deve ser compreendida como a forma de governo na qual federal; já na democracia direta, as iniciativas políticas são
o poder é centralizado, concentrado em uma única pessoa, votadas não por representantes dos cidadãos, e sim pelos
que é a/o monarca (a rainha ou o rei). próprios cidadãos. Verifique se os estudantes concluem que,
Com relação à ditadura, é importante ressaltar como no Brasil, a democracia é representativa.
esse tipo de governo se instaura: de maneira ilegítima, por Lembre-se de reiterar que a democracia é, atualmente,
meio de um golpe de Estado, que consiste na derrubada o modelo de governo que mais inclui os indivíduos de uma
ilegal, por um órgão do Estado, da ordem constitucional sociedade em suas decisões políticas, mas isso não sig-
legítima. Em uma ditadura, qualquer manifestação contrá- nifica que seja um sistema perfeito. Um ponto muito
ria aos desígnios do governo é repreendida por meio de importante a ser abordado é a noção de conflito, que,
fortes mecanismos de repressão, tais como prisão, tortura assim como as diferenças, são legítimos em uma demo-
ou mesmo morte. Além disso, é relevante estabelecer dis- cracia, dado que esta se caracteriza pela inclusão de todos
tinção entre autoritarismo, que designa um governo ditato- e pela decisão da maioria. A existência de diferenças é
rial marcado pela repressão e pela apatia política por parte fundamental para a democracia.

XLIX
Comente que, em uma democracia republicana, como P. 19
no Brasil, o poder é dividido em três instâncias: Executiva
(prefeito, governador e presidente), Legislativa (verea- Atividades
dores, deputados estaduais, deputados federais e sena-
1. Espera-se que os estudantes identifiquem em suas
dores) e Judiciária (funcionários públicos concursados).
pesquisas que o Irã vive sob um regime teocrático
Explicite o que são essas esferas e o papel que elas assu-
desde 1979, governado por um líder supremo que
mem em um governo democrático. Apresente cada uma
é eleito em decorrência de seus conhecimentos teo-
dessas instâncias ou proponha uma pesquisa em grupo.
lógicos. Quanto à Nigéria, apesar de seu governo
Explique que o conceito de república tem origem configurar-se como uma república federativa demo-
latina e significa “coisa pública”, ou seja, refere-se aos crática representativa, em que o presidente é esco-
bens públicos, pertencentes a todos os indivíduos de lhido pelo povo, existem grupos, como o Boko
uma sociedade. Para proporcionar uma compreensão Haram, que se caracterizam pelo caráter fundamen-
mais efetiva dos estudantes, elenque instituições de talista e que lutam há anos para o estabelecimento
caráter público que oferecem serviços a todos os mem- de uma teocracia no norte da Nigéria. Já a Arábia
bros de uma sociedade, como escolas públicas, hospitais Saudita caracteriza-se pelo governo monárquico
públicos, praças públicas, bibliotecas públicas. Inicie absolutista, em que o rei é chefe de Estado e de
uma discussão sobre a importância da existência desses Governo, e cuja Constituição está baseada na Sharia
bens e da desmistificação da ideia de que tudo o que é e no Alcorão, o que demonstra o caráter teocrático
público é de má qualidade. Espera-se que eles com- do governo.
preendam que, em uma República (como o Brasil), o
2. Espera-se que os estudantes identifiquem que gover-
povo delega representantes temporários responsáveis
nar é a habilidade de uma pessoa ou um grupo orga-
pela administração pública, com base no interesse
nizar, de maneira legítima, um país, estado ou cidade,
comum da população.
de acordo com o que lhe foi delegado e com o regime
No texto de apoio, as historiadoras Lilia Schwarcz (1957-) político vigente.
e Heloisa Starling (1956-) debatem a questão das múltiplas
3. Espera-se que os estudantes identifiquem que o con-
faces da república.
ceito de República delineia uma organização política
Texto de apoio baseada na organização do povo, em assembleias,
por exemplo, para as tomadas de decisões visando
ao bem de todos. No Brasil, essa organização acon-
Mas há também outras faces da república a serem
tece por meio das eleições, em que os cidadãos esco-
exploradas. O compromisso do republicanismo com
uma concepção de liberdade que não dispensa o en- lhem seus governantes, e pela organização do corpo
volvimento dos cidadãos nos assuntos públicos e na político em Câmaras dos Deputados e Senado, que,
formulação do bem comum permite pensar a repú- em teoria, representam os interesses da população
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
blica à luz de suas oposições, melhor dizendo, de
seus “outros”. O outro da república é a tirania – isso
e da democracia.
DA EDITORA DO BRASIL
inclui as tiranias de qualquer tipo: monarquias ab- 4. Espera-se que os estudantes identifiquem na charge
solutistas, despotismos, ditaduras modernas ou an- que a reunião de todas as pessoas de uma sociedade
tigas. Uma tirania não deixa de ser republicana por (ou a maioria delas) provoca, inevitavelmente, o surgi-
ter um governante único, mas sim por não levar em
consideração o interesse público, por não respeitar mento de diferenças e conflitos, o que é absolutamente
a liberdade do cidadão e por não agir segundo os legítimo. Porém, a charge retrata uma situação na qual
critérios de justiça e de função agregadora do direi- essas diferenças são excluídas da tomada de decisão,
to. Por essa razão, nos tempos atuais, a república e embora se levante a necessidade de um pacto que
a prática republicana são opostas a todas as formas
de autoritarismo. envolva a sociedade integralmente. Retome, se neces-
Portanto, falar de republicanismo na contempo- sário, as ideias de Platão (427 a.C-347 a.C.) e Marilena
raneidade exige tratar de democracia – ou para usar Chaui (1941-): uma democracia só pode ser assim
o argumento do filósofo Claude Lefort, hoje “a re- caracterizada quando o povo está unido e respeita a
pública tornou-se democrática e a própria demo- vontade das maiorias e das minorias.
cracia é republicana ou então deixa de designar
uma sociedade política”. Mas democracia não é um 5. Espera-se que os estudantes retomem os conceitos
sinônimo de república e menos ainda denota uma abordados por Renato Janine Ribeiro (1949-) para
forma política de natureza republicana e muito compreender que uma república pode até não ser
desejável.
democrática, como foi o caso do Brasil em determina-
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel.
Dicionário da República. São Paulo: Companhia das Letras,
dos momentos da história. Contudo, para que uma
2019. E-book. democracia exista e seja efetiva, é necessária a exis-
tência da república.

L
P. 20
Texto de apoio
A República brasileira no século XX
Ao introduzir o assunto, faça um levantamento dos Apesar dessas tentativas de mobilização popular,
conhecimentos prévios dos estudantes sobre o tema e a República se faria como a Independência se fizera
esclareça quais são as habilidades e competências a – sem a colaboração das massas. O novo regime re-
serem desenvolvidas. sultaria de um golpe militar. Nos meios republica-
nos, a estratégia conspiratória prevaleceu sobre a
Reitere que o termo “república” se origina do latim
estratégia revolucionária. O Exército apareceu aos
res publica, cujo significado é “coisa pública”. Logo, um
olhos das novas elites como um instrumento ideal
modelo de governo republicano é aquele construído com para derrubar a monarquia e instituir um novo re-
base nos interesses coletivos da sociedade em detrimento gime que as colocasse no poder.
de interesses particulares ou de um grupo social. Reforce
COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República:
que uma república pode apresentar formas diferentes de Momentos Decisivos. São Paulo: Unesp, 1999. p. 15.
organização política. No Brasil, o advento da passagem para
a República foi resultado de um golpe militar, o que fez com
que o modelo instaurado no Brasil em 1889 fosse militarista Primeira República (1889-1930)
e militarizado, ainda que republicano. Explique que a República da Espada foi o nome dado
ao período entre 1889 e 1894, que contou com a hege-
P. 21
monia dos militares no poder. Logo após, iniciou-se a
A Constituição de 1891 chamada República Oligárquica (1894-1930), em que
Comente que a Constituição de 1891 não é a primeira o poder se concentrou nos membros da elite agrária
Constituição brasileira, mas sim a primeira do período brasileira. Espera-se que os estudantes percebam que,
republicano, inspirada no modelo estadunidense. apesar da adoção de um modelo republicano, ainda hoje
se repete a estrutura de concentração de poder nas
Nesse momento, proponha uma reflexão sobre o sig-
mãos das elites, o que vem se repetindo desde o domí-
nificado real do termo “sufrágio universal” no Brasil e do
nio colonial.
próprio estabelecimento de um governo republicano –
teo­rica­mente construído por todo o povo de uma nação O voto de cabresto era a prática de suborno, ou seja,
– quando, na verdade, a participação política é restrita a compra de votos ou abuso do poder econômico utili-
a uma parcela ínfima da população e os poderes políticos zada pelos “coronéis” para fraudar as eleições durante
se concentram nas mãos de uma parcela ainda menor. a Primeira República.
Pergunte aos estudantes: “Quem é representado pelo Espera-se que os estudantes percebam que, no
termo universal?”. período em foco, a República não era sinônimo de repre-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Um dos objetivos neste momento de estudo é que os sentação popular e que os métodos eleitorais eram, em
estudantes percebam que o governo republicano no Bra- geral, fraudulentos.
DA EDITORA DO BRASIL
sil nunca pretendeu adotar um modelo de representati- Comente que predominava entre a população o senti-
vidade de todas as camadas da população brasileira, mas mento de descrença na via eleitoral, enxergando-a como
sim de camadas específicas que não tinham nenhum algo que não funcionava ou que era pouco justo. E, de fato,
acesso, ou acesso reduzido, ao poder político no domínio as eleições eram processos fraudulentos e sem supervi-
imperial, como as elites agrárias, as burguesias urbanas são: o voto não era secreto e não havia um órgão de justiça
ascendentes e os militares. eleitoral, o que só foi criado em 1932, já com Getúlio Var-
Espera-se que eles compreendam que a passagem para gas (1882-1954) no poder.
a República para boa parte da população brasileira não Proponha uma reflexão sobre como essa descrença
teve o significado de uma ruptura brusca com o período em relação às instituições políticas brasileiras continua
imperial anterior nem necessariamente respeitou uma presente em parte da população. Questione-os: “Por
ordem “evolutiva”, uma vez que, para alguns setores, o que que, para algumas camadas sociais, a política parece
se verificou de fato foi retrocesso e piora nas condições de ineficaz ou injusta?”; “Como isso pode ser um resquício
vida. Essa sensação também decorre da falta de partici- do modo como a República brasileira foi formada?”.
pação popular na Constituição da República, em que a Esse processo é importante para despertar o pensa-
população não assume protagonismo no processo. mento crítico dos estudantes com relação ao conteúdo
No texto de apoio, a historiadora Emília Viotti da Costa abordado e também para promover o desenvolvimento
(1928-2017) fala da exclusão da população do processo da habilidade de estabelecer paralelos do passado com
de estabelecimento da República. o presente.

LI
Vargas. Verifique se eles entendem a ligação de Vargas
P. 22-23
com a classe trabalhadora; para evitar as manifestações
A Era Vargas da classe, ele acabou cedendo às reivindicações históricas
dos operários. Entretanto, ao mesmo tempo que concedia
Certifique-se de que os estudantes compreendam o
benefícios e assistências às populações mais carentes,
início da Era Vargas como uma ruptura importante na
Getúlio Vargas perseguiu críticos do seu governo, como
política brasileira. Explique que esse foi o nome dado
os partidos políticos de esquerda.
ao período em que Getúlio Vargas esteve no poder, de
1930-1945. O historiador Boris Fausto, no texto de apoio, indica
algumas características da política trabalhista de Vargas.
O historiador Boris Fausto (1930-), no texto de apoio,
indica algumas características do novo Estado desenvol- Texto de apoio
vido nessa era de poder.
Um dos aspectos mais coerentes do governo
Texto de apoio
Vargas foi a política trabalhista. Entre 1930 e 1945,
ela passou por várias fases, mas desde logo se apre-
Um novo tipo de Estado nasceu após 1930, dis- sentou como inovadora com relação ao período an-
tinguindo-se do Estado oligárquico não apenas terior. Teve por objetivos principais reprimir os
pela centralização e pelo maior grau de autonomia esforços organizatórios da classe trabalhadora ur-
como também por outros elementos. Devemos acen- bana fora do controle do Estado e atraí-la para o
tuar pelo menos três dentre eles: 1. A atuação eco- apoio difuso do governo. No que diz respeito ao pri-
nômica [...]; 2. A atuação social, tendente a dar meiro objetivo, a repressão se abateu sobre partidos
algum tipo de proteção aos trabalhadores urbanos, e organizações de esquerda, especialmente o PCB,
incorporando-os, a seguir, a uma aliança de classes logo após 1930.
promovida pelo poder estatal; 3. O papel central [...] O sindicato foi definido como órgão consul-
atribuído às Forças Armadas – em especial o Exér- tivo e de colaboração com o poder público. Adotou-
cito – como suporte de criação de uma indústria de
-se o princípio da unidade sindical, ou seja, do re-
base e sobretudo como fator de garantia de ordem
conhecimento pelo Estado de um único sindicato
interna.
por categoria profissional. [...]
Tentando juntar estes elementos em uma síntese,
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp,
poderíamos dizer que o Estado getulista promoveu o 2006. p. 335.
capitalismo nacional, tendo dois suportes: no apare-
lho de Estado, as Forças Armadas; na sociedade, uma
aliança entre a burguesia industrial e setores da clas-
se trabalhadora urbana. Foi desse modo, e não porque O autoritarismo no Estado Novo
tivesse atuado na Revolução de 1930, que a burguesia
Explique que o Plano Cohen foi a justificativa utilizada
industrial foi promovida, passando a ter vez e força
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
no interior do governo. O projeto de industrialização pelo governo brasileiro para boicotar as eleições marcadas
[...] foi aliás muito mais dos quadros técnicos gover- para 1938. De acordo com o conteúdo desse documento,
DA EDITORA DO BRASIL
namentais do que dos empresários. haveria um suposto plano para a tomada de poder por
As transformações apontadas não ocorreram da parte dos comunistas.
noite para o dia, nem correspondem a um plano de
Pergunte aos estudantes: “É possível relacionar esse
conjunto de governo revolucionário. Elas foram sen-
do realizadas ao longo dos anos com ênfase maior discurso, proferido em 1937, com a realidade política atual
neste ou naquele aspecto. Desse modo, uma visão de do Brasil?”; “Ainda há a ideia de uma ameaça comunista
conjunto só se tornou clara com a perspectiva dada no cenário brasileiro?”. Verifique se eles apresentam argu-
pelo tempo [...]. mentos fundamentados e coerentes.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006.
p. 327-328.
Incentive os estudantes a relacionar o recrudescimento
do autoritarismo do governo Vargas durante o Estado Novo
(1937-1945) – período ditatorial da Era Vargas – com o
O trabalhismo de Vargas cenário político mundial de ascensão dos governos tota-
litários europeus, com o nazifascismo.
Explique aos estudantes que, a partir da década de
1930, com o governo Vargas, o Brasil passou de uma Por fim, proponha que os estudantes reflitam sobre
sociedade essencialmente agrícola para uma que viven- como a propaganda e os meios de comunicação são gran-
ciou a expansão da urbanização. Nesse cenário, a classe des aliados dos governos autoritários. No texto de apoio,
operária urbana, até então desassistida pelas políticas leia sobre o Departamento de Imprensa e Propaganda
públicas, aumentou e se tornou uma das bases do governo (DIP) instaurado no governo de Vargas.

LII
Texto de apoio P. 24

O centro de sustentação do Estado Novo estava Entre o paternalismo e o populismo


corporificado funcional e pessoalmente na figura de Ao assimilar os conceitos de populismo e paternalismo
Vargas – o único civil a comandar uma ditadura no político, os estudantes conseguirão compreender sua ação
Brasil, garantida pelas Forças Armadas, em especial conjunta durante os anos da Era Vargas no Brasil.
pelo Exército, e apoiada numa política de massas. O
Os 15 anos de duração dessa era carregam caracterís-
novo regime fazia uso da leitura da obra de alguns
pensadores políticos conservadores [...]. Também ti- ticas específicas, ainda que cada período desenvolva suas
nha nome e tonalidades fascistas. “Estado Novo” de- especificidades. Comente com os estudantes que o con-
signava a ditadura de Salazar iniciada em Portugal ceito de populismo surgiu para caracterizar uma forma de
em 1932, e o regime brasileiro compartilhava alguns fazer política inaugurada com Getúlio Vargas, mas que se
traços com o fascismo europeu: a ênfase no poder do estendeu para outros governos, não só no Brasil, mas como
Executivo personificado numa liderança única; a re- um fenômeno na América Latina.
presentação de interesses de grupos e classes sociais O pesquisador Antonio Negro fala sobre a questão do
num arranjo corporativo, isto é, sob a forma de uma
paternalismo no texto de apoio.
política de colaboração entre patrões e empregados,
tutelada pelo Estado; a crença na capacidade técnica Texto de apoio
posta a serviço da eficiência do governo e acompa-
nhada da supressão do dissenso.
[...] enxerga na Consolidação das Leis do Traba-
Apesar disso, no caso do Estado Novo imposto por lho (CLT) o sopro de um paternalismo latino-ame-
Vargas, não se tratava de um regime fascista, e menos ricano eco da herança colonial. Esse eco teria sido
ainda da reprodução de um modelo fascista europeu reelaborado na forma de paternalismo estatal, com
[...]. Sua natureza era outra: autoritária, modernizan- o governo agindo como benfeitor, favorecendo uns
te e pragmática. [...] O projeto de uma sociedade au- de maneira arbitrária ou clientelista, ou respon-
toritariamente controlada pelo Estado – e não apenas dendo a outros em função de pressões corporati-
suas classes populares – envolvia, é claro o estabele- vas (em prejuízo do bem-estar da maioria). Na
cimento de um sistema repressivo capaz de manter abordagem indicada, o paternalismo arraigado na
com sucesso a tampa sobre o caldeirão e impedir a mentalidade dos donos do poder inspira o traba-
ebulição de qualquer atividade oposicionista. lhismo, e aí se renova e se prolonga, arrebatando
as massas. [...]
[...]
NEGRO, Antonio Luigi. Paternalismo, populismo e história
O Estado Novo, como qualquer governo de força, de- social. Cadernos AEL, 11(20/21). Disponível em: https://
pendia do consentimento da maioria da população. www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ael/article/view/2532.
Aliás, nenhum governo anterior a Vargas devotou mais Acesso em: 24 jul. 2020.

esforços a tentar construir um aparato propício para se


MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
legitimar e difundir seu ideário político. Tampouco se
esqueceu do exercício sistemático e amplo da censura, Outro ponto de vista: Uso do termo populismo
DA EDITORA DO BRASIL
vista como peça fundamental de desmobilização e su- O objetivo do boxe é apresentar uma discussão histo-
pressão do dissenso. A peça-chave que ligou o sistema riográfica sobre o uso do termo populismo, mostrando as
e o fez funcionar foi concebida por Getúlio, em 1939,
controvérsias sobre o seu significado.
sob a forma de uma agência com gigantesco poder de
interferência na área de comunicação – O Departamen- RESPOSTA
to de Imprensa e Propaganda (DIP).
O problema do uso do termo populismo é a interpreta-
Diretamente subordinado à Presidência, com ór-
ção que ele contém da população, que é vista como pas-
gãos filiados nos estados e dirigidos por um jornalis-
siva, manipulável e/ou cúmplice do jogo político.
ta, Lourival Fontes, [...] o DIP era uma máquina bem
planejada: tinha seis seções – propaganda, radiodi-
fusão, cinema e teatro, turismo, imprensa e serviços
P. 25
auxiliares – e a tarefa de projetar as bases da legiti-
midade do Estado Novo. A agência interferiu em to-
O populismo na América Latina
das as áreas da cultura brasileira; censurou formas Verifique a percepção dos estudantes quanto ao fenô-
de manifestação artística e cultural; instrumentalizou meno do populismo na América Latina como um reflexo
compositores, jornalistas, escritores e artistas, e de- das mudanças sociais que ocorreram nos países latinos a
senvolveu múltiplas linhas de ação. [...] partir da década de 1930. A consolidação da industriali-
SCHWARCZ, Lilia M; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma zação e da urbanização deu origem a uma massa urbana
biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. E-book. que não se sentia representada pelas oligarquias predo-
minantes no cenário político da região.

LIII
Espera-se que os estudantes reconheçam os governos (1919-1976) para efetivar o golpe. Incentive os estudantes
populistas como uma forma de contenção das massas de a refletir sobre como o discurso de ameaça comunista – no
trabalhadores. Se, por um lado, os políticos se aliam aos auge da Guerra Fria – foi utilizado como forma de romper
discursos de apoio aos trabalhadores, por outro, os gover- com a democracia no país.
nos não são compostos de membros dessa classe. Proponha que eles pensem a respeito da fragilidade
das tradições democráticas no Brasil e de que maneira
Boxe: Peronismo na Argentina
isso se reflete no atual cenário brasileiro.
Veja, no texto de apoio, como Boris Fausto se refere ao
peronismo e getulismo.
P. 28
Texto de apoio
A Ditadura Civil-Militar
Peronismo e getulismo iriam se aproximar em Elucide que o período que vai de 1964 até 1985 é
muitos pontos. Ambos pretendiam promover no pla- chamado de “Ditadura Civil-Militar” justamente por ter
no econômico um capitalismo nacional, sustentado contado com o apoio de camadas da população civil para
pela ação do Estado. Ambos pretendiam no plano po- se manter vigente durante tanto tempo. A elite brasileira,
lítico reduzir as rivalidades entre as classes, chaman- grandes empresários e meios de comunicação foram
do as massas populares e a burguesia nacional a uma
apoiadores e patrocinadores do governo militar.
colaboração promovida pelo Estado. Desse modo, o
Estado encarnaria as aspirações de todo o povo e não Destaque a participação do governo estadunidense na
os interesses particulares desta ou daquela classe. construção e na consolidação do golpe militar. Os estu-
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006. dantes devem relacionar a interferência dos Estados
p. 387-388. Unidos na política brasileira e de outros países da Amé-
rica Latina, dentro do contexto da Guerra Fria, como modo
de estabelecer a sua hegemonia na região.
P. 26
Alguns desafios podem surgir ao abordar esse tema. Em
virtude das tendências revisionistas, alguns estudantes
A República de 1946
podem suscitar a discussão sobre a não existência de uma
Ajude os estudantes a notar que a virada na política
ditadura no Brasil, bem como reproduzir uma versão de que
brasileira a partir de 1946 se associou também às mudan-
ela tenha sido branda ou benéfica. Lembre-os, contudo, de
ças do contexto político mundial após o término da
que a História é uma ciência, feita, portanto, de métodos. O
Segunda Guerra. Essa mudança é representada sobretudo
entendimento esperado é de que a História não deve ser
pela participação da população nas eleições, que efeti-
tratada como uma opinião; é preciso ser baseada em estu-
vamente se faz em um processo democrático, depois de
dos, pesquisas, documentos etc.
anos de ditadura. Entretanto, é necessário compreender
É necessário proporcionar essa visão para que os estu-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
os elementos que permaneceram no período que se ini-
ciou, visto que a transição foi feita sem rupturas bruscas. dantes não desvalorizem o conhecimento produzido den-
DA EDITORA DO BRASIL
Um dos objetivos deste conteúdo é o entendimento, pelos tro da sala de aula. Alerte também sobre a importância,
estudantes, da força do varguismo, mesmo após a saída inclusive constitucional, de defender a democracia e
do presidente, em 1945. comente a relevância da construção de uma memória
acerca do período da ditadura militar para que eventos
Boxe: O problema do termo “populismo” como esse não voltem a se repetir. A expectativa é de que
Explique que Vavy Pacheco Borges traça uma crítica se desenvolva a habilidade de enxergar a História como
aos teóricos que caracterizam todo o período que vai de ferramenta cidadã.
1946 a 1964 como populista, sem reconhecer as especi-
ficidades de cada governo, as quais contribuíram para P. 29
construir tradições presentes na política brasileira até hoje.
Atividades
P. 27
1. a) 
O principal argumento do trecho é de que os populis-
O governo João Goulart tas buscam mobilizar a população e manipular a opi-
nião pública a seu favor ainda que ao custo do ataque
O tema central deste texto consiste no papel da elite
brasileira civil no processo que levou ao Golpe Militar. e do desrespeito à política institucional. Portanto seu
Os setores conservadores do Exército se apoiaram no sen- objetivo não é governar, mas se manter no poder.
timento de medo da população diante de uma nova suposta b) De acordo com o filósofo Roger Scruton, políticos
ameaça comunista representada por João Goulart populistas não possuem interesse no processo

LIV
político institucional e na democracia represen- b) Para responder a essa questão, os estudantes
tativa, pois não abririam mão de abandonar os podem fazer alusão aos períodos estudados na
procedimentos legais de governo para atingir seus unidade, como a Era Vargas, ou usar como exem-
objetivos, o que em geral é feito por meio da agi- plo governos mais recentes. É importante que, ao
tação das massas em busca de apoio popular. apontarem os contextos, eles expliquem os mo-
c) Scruton e Negro têm visões diferentes sobre o fe- tivos que os levaram a classificá-los como popu-
nômeno do populismo. Enquanto o primeiro busca listas. No tocante a Era Vargas, é possível falar
dar uma definição ao termo afirmando que este se sobre as demandas sociais atendidas por Vargas,
baseia na agitação dos “sentimentos irrefletidos da ao mesmo tempo que seu governo favorecia ban-
queiros e os setores da burguesia.
massa”, Negro afirma que o termo é de difícil defi-
nição e esta é quase sempre apoiada na ideia de c) A charge ironiza alguns apelos do discurso populista
que a população é facilmente manipulável. como “redução de impostos”, “liberdade de expres-
são” e “saúde para todos” ao complementar dizendo
2. a) Para Tocqueville, o Estado paternalista busca pro-
que apenas os ricos e as grandes corporações são
ver a população com aquilo que lhe é necessário,
os beneficiados. Por isso, o populismo possui uma
mas como consequência impede o seu desenvol-
retórica que supostamente representa os interesses
vimento devido ao assistencialismo.
do povo, mas está articulado com os interesses das
b) Resposta pessoal. Sugira ao estudante que consi- elites. Logo, a charge reforça a visão de que os po-
dere as vantagens e desvantagens do assistencia- pulistas se aproveitam da disputa entre ricos e pobres
lismo e da “tutela” do Estado, sobretudo para a para atrair a população e se manter no poder.
população mais pobre, ao formular sua resposta.
P. 30
3. Conduza a discussão entre a turma, enfatizando que,
na História, os maniqueísmos não ajudam na cons- Partidos políticos no Brasil
trução do conhecimento. Lembre-os de que, ao longo Como parte da formação para a cidadania, esse item
dos quinze anos da Era Vargas, o governo de Getúlio se utiliza dos conceitos, métodos e análises da Ciência
apresentou diversas “faces”, combinando uma polí- política para pensar a democracia liberal e seu principal
tica paternalista com repressão política e a centrali- instrumento: os partidos políticos.
zação do poder na sua imagem. Entretanto, espera-se
Os partidos políticos são alvo de intensos debates na
que os estudantes concluam que na maior parte
sociedade e, em todo o mundo, sofrem um processo de
dessa era o que se vivenciou foi um governo ditatorial,
desgaste por causa da a negação da política como esfera
o Estado Novo, que fez uso principalmente de instru-
de negociações e de utopias, levando a um retorno de
mentos de repressão para manter seu domínio.
ideologias autoritárias que deslegitimam os partidos
Auxilie as duplas na elaboração da pesquisa, reto- como instituições que organizam os interesses dos vários
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
mando os conceitos a serem mobilizados. A expec- grupos sociais.
tativa é de que eles apontem as diferenças e as
DA EDITORA DO BRASIL A polarização política contemporânea impulsiona
semelhanças fundamentais entre os dois períodos.
estudantes e a juventude a se interessar cada vez mais
Entre as semelhanças estão a repressão do Estado
por temas ligados à vida política da sociedade, acompa-
aos opositores do regime, a restrição das atividades
nhando as notícias com bastante intensidade. Dessa
políticas (fechamento do Congresso Nacional, no-
maneira, esse item busca auxiliar os estudantes a anali-
meação de prefeitos e governadores etc.) e o cará-
sar e compreender seu lugar no mundo e na política de
ter desenvolvimentista do plano econômico. Como
forma mais ampla, com a ciência política para fundamen-
diferença básica está o fato de o Estado Novo ter
tar sua interpretação dos fenômenos democráticos para
sido liderado por um civil (Getúlio Vargas), enquan-
além do senso comum.
to a ditadura de 1964-1985 foi conduzida por mi-
As atividades propostas objetivam ensinar o estudante
litares. Espera-se, ainda, que seja apontado que o
a escolher e a pesquisar os temas e grupos políticos de
princípio fundamental do Republicanismo é a par-
seu interesse, articulando questões locais, nacionais e
ticipação popular na política, não presente em ne-
internacionais.
nhuma ditadura.
4. a) A charge critica a política populista, ao retratá-la P. 31-32
como um modelo que afirma representar os inte-
resses da massa da população, mas que economi- A Ciência política: Estado e sociedade
camente favorece as grandes corporações e as A Ciência política é apresentada ao estudante para
elites sociais. que ele possa compreender que há um processo de

LV
sistematização do conhecimento sobre o mundo polí- ouvir. Espera-se que os estudantes consigam exerci-
tico, que vai além de questões pontuais. As ferramentas, tar sua capacidade de argumentação e abstração para
os métodos e as teorias que fundamentam esta ciência entender a função e a relevância dos partidos numa
empírica servem de balizador para que o estudante sociedade democrática. A falta deles pode implicar
apreenda a linguagem própria deste campo. em regimes autoritários, na limitação da liberdade e
Nicolau Maquiavel (1469-1527), Karl Marx (1818- na fragilidade, principalmente dos mais pobres.
-1883) e Max Weber (1864-1920) são os principais teó- 3. Essa atividade tem por objetivo ajudar o estudante
ricos que dão origem ao pensamento concreto sobre a a compreender os processos que minam, pouco a
relação entre estado e sociedade, dos quais derivam as pouco, a democracia, como o tema da cláusula de
pesquisas sobre a política na modernidade. Em sala de barreira. Uma importante análise desse processo foi
aula, pode-se aprofundar no debate sobre a importância feita pelo jornalista e professor Hélio Doyle. Dispo-
dos clássicos para pensar o mundo e se, no caso dos nível em: https://www.brasil247.com/blog/clausula
partidos e fenômenos políticos, ainda valem para analisar -de-barreira-pode-ser-mas-assim-e-demais/,
a sociedade contemporânea. (acesso em: 29 ago. 2020). Espera-se que os estu-
dantes consigam reunir e sistematizar informações
P. 32-34 sobre o tema para que tomem suas próprias deci-
sões e se posicionem com embasamento. Em 1995
Partidos políticos: conceito, foi criado esse dispositivo, que retirava a condição
funções e dilemas dos partidos pequenos de ter acesso ao fundo elei-
A abordagem desse tema se baseia em importantes toral, de ter representação partidária e de indicar a
autores da Ciência política, como Norberto Bobbio (1909- presidência nas comissões da Câmara e do Senado.
-2004), para oferecer ao estudante uma perspectiva mais Esse dispositivo foi considerado inconstitucional
abrangente dos partidos políticos e sua função na socie- pelo STF, mas voltou a ser debatido nas eleições de
dade. Os três principais momentos que marcam a história 2018 e 2020.
dos partidos são apresentados: os partidos da burguesia, 4. A atividade busca conectar os estudantes aos proces-
na figura do partido dos notáveis; os partidos operários, sos políticos partidários mais amplos, como uma fer-
como os partidos de massa; e os partidos de caráter elei- ramenta para que compreendam os processos inter-
toral, com a análise que embasa a sua crise de legitimidade nacionais e os grandes partidos da história moderna
contemporânea. no mundo e ampliem seu repertório de conhecimen-
tos sobre temas contemporâneos. Desse modo, espe-
Em seguida, discutem-se as disputas que se manifes-
ra-se que eles consigam estudar aspectos políticos e
tavam por meio de conflitos partidários, na história do
sociais de um país que os interesse por meio da situa-
Brasil, do período colonial até a contemporaneidade. Essa
ção de seus partidos e de suas disputas, de forma a
análise auxilia o estudante a compreender as classes
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sociais e os interesses de vários grupos brasileiros em
atender a habilidade EM13CHS603, compreendendo
e aplicando conceitos políticos básicos na análise da
DA EDITORA DO BRASIL
disputa no cenário político.
formação de diferentes países, povos e nações e de
suas experiências políticas.
P. 35

Atividades P. 36

1. Respostas pessoais. A atividade busca, por meio Política e economia no Brasil


dos interesses do próprio estudante, que ele con- Para iniciar, contextualize a ascensão de Getúlio Vargas
siga levantar dados qualitativos, processos históri- ao poder. É relevante destacar que esse governo se encar-
cos e interesses de classe para formular uma aná- regou de conjugar interesses de diferentes setores exis-
lise própria da democracia, bem como consolidar
tentes na época.
uma linguagem política que o permita compreender
como posicionar-se no debate público e buscar
informações relevantes para sua experiência na
Populismo e economia nos
vida social e cidadã. governos Vargas
2. Esta atividade necessita da mediação do professor na Mencione outra política de intervenção do governo
organização do debate. Como o tema desperta emo- Vargas, que afetou diretamente o espaço urbano. Em
ções políticas, é importante garantir a fala de todos, 1942, ele decretou a Lei do Inquilinato, por meio da qual
por isso, propõe-se que se estabeleça um tempo de congelaria os preços dos aluguéis no país. Com essa
um a dois minutos para que cada um possa falar e medida, além de angariar o apoio dos trabalhadores, o

LVI
presidente esperava impulsionar a industrialização no pela busca de trabalho nas indústrias que estavam se
Brasil porque os investidores perceberiam que não seria instalando nessa região.
mais vantajoso investir no mercado imobiliário e trans- Por fim, destaque a complexidade do mapa nos anos
feririam o capital para o setor industrial. 1990, mostrando como grande extensão do território
brasileiro está conectada à economia nacional. Aponte,
P. 37 por exemplo, que a capital do país havia sido transferida
para Brasília, o que deu maior dinamismo econômico
Guerra, indústria e o apoio estadunidense para a região Centro-Oeste. Elucide também que a ativi-
Os Estados Unidos tinham grande interesse em anga- dade agropecuária avançou sobre essa região, especial-
riar o apoio da América Latina durante a Segunda Guerra mente por meio da pecuária e do plantio de soja, e que
Mundial, e uma das razões era o desejo de obter maté- essas atividades correspondiam, naquele momento, às
rias-primas que estavam em falta em sua indústria frentes de expansão em direção à região Norte.
naquele momento, como o látex, extraído das seringuei-
ras da região Norte do Brasil. Para atingir seus objetivos, P. 39
os estadunidenses concederam crédito e armamentos
ao governo brasileiro. Esse período ficou conhecido, em A República na segunda metade do
toda a América Latina, como Política da Boa Vizinhança. século XX: motores do desenvolvimento
Se possível, explore a diferença desse momento e de É importante tratar das políticas governamentais que
outros, como aquele marcado pela Doutrina Monroe, deram impulso ao desenvolvimento econômico e territorial
quando os Estados Unidos e os países latino-americanos do país. Tendo por base as estratégias e o movimento dos
mantinham outro tipo de relação. Aborde também como governos Vargas e Juscelino Kubitschek (1902-1976),
a cultura foi utilizada como estratégia para uma aproxi- considere explorar os investimentos e o desenvolvimento
mação com o Brasil e demais países da região, o que da indústria, com destaque para os investimentos na área
pode ser exemplificado por meio da criação do perso- de transportes. Nesse contexto, abordar a importância da
nagem Zé Carioca. integração do território, promovida pelos meios de trans-
porte, passando pelas escolhas da matriz brasileira de
P. 38 transporte que privilegiou, principalmente a partir de 1930
o transporte rodoviário.
Brasil: território e desenvolvimento
Explore os mapas reproduzidos no livro. Inicialmente, P. 40
oriente os estudantes a se reunir em grupos para discu-
tir o que compreenderam dos mapas e, em seguida, Mudanças sociais e territoriais
anotarem e apresentarem suas análises à turma. Na Destacar as transformações promovidas na segunda
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sequência, conduza uma reflexão coletiva em uma roda metade do século XX, sobretudo as ligadas à urbanização
de conversa.
DA EDITORA DO BRASIL do país, destacando que a industrialização levou milha-
Destaque que, no mapa do final do século XIX, poucos res de pessoas para as cidades, processo paralelo à
espaços estavam conectados à economia nacional, res- mecanização do campo e expulsão dos trabalhadores
tritos entre as áreas de cultivo de café no Sudeste e de rurais dessas áreas. Nesse sentido, o gráfico de popula-
cana-de-açúcar no Nordeste. Além disso, evidencie o ção por situação de domicílio auxilia a visualização da
fluxo migratório que já existia do Nordeste para o Norte dinâmica de mudanças em relação à população rural e
do país, em função do início do ciclo da borracha. Indique urbana ao longo do tempo.
os fatores que levaram a essa migração, enfatizando que
eles não se resumem à seca: embora possam coincidir P. 41
com os grandes picos de falta de chuva, os maiores flu-
xos estão relacionados, sobretudo, à estrutura fundiária A ditadura e as contradições do período
no Nordeste. Demonstre as condições de vida dos trabalhadores
Ressalte que, no mapa dos anos 1940, é possível nesse período, quando houve imensa expansão das peri-
visualizar que o espaço conectado à economia nacional ferias nas grandes cidades brasileiras. Apesar de o Banco
localizado na região Sudeste se expandiu, motivado pelos Nacional de Habitação (BNH) ter financiado moradias
investimentos em infraestrutura e pela industrialização, para a população durante quase todo o período da dita-
então realizados por Getúlio Vargas. Além disso, é impor- dura, os mais pobres não foram significativamente bene-
tante salientar o fluxo migratório de origem nordestina ficiados e tiveram de recorrer a formas precárias de
em direção ao Sudeste, provocado, entre outras razões, habitação, como as favelas.

LVII
Explique que o aumento da desigualdade social no P. 44
período foi uma decorrência da interdição dos sindicatos,
pois não havia como os trabalhadores se organizarem O milagre econômico
para reivindicar melhores condições de trabalho e Proponha que os estudantes comparem os gráficos
aumento salarial. apresentados e percebam que, ao mesmo tempo que o
PIB do país teve momentos de crescimento na década de
P. 42-43
1970, houve também, no período, um impulso na concen-
Conexões: Desmatamento e saúde tração de renda do 1% mais rico da população.
Se for viável, incentive a turma a pesquisar com mais
Tendo como tema central a questão do desmatamento
detalhes a repreensão social vivida durante a ditadura
e seus prejuízos à saúde humana e à biodiversidade, a
militar, sobretudo ao longo da década de 1970, período
seção possibilita o trabalho com os seguintes Temas
do chamado “milagre econômico”, quando vigorava o Ato
Contemporâneos Transversais: educação ambiental e
Institucional 5 (AI-5). Chame a atenção para aspectos
saúde. Para refletir sobre esse tema central, os estudan-
como a censura às manifestações artísticas e políticas, e
tes entrarão em contato com debates das áreas de Ciên-
cias Humanas e Socias Aplicadas e de Ciências da a repreensão aos sindicatos.
Natureza e suas Tecnologias, podendo reconhecer como
P. 45
esses campos são articulados em diversos aspectos da
realidade. Atividades
Caso julgue adequado, articule o trabalho dessa seção 1. A crise de 1929 e seus impactos na economia do café
juntos aos professores de Ciências da Natureza, combi- somaram-se a outros fatores que foram importantes
nando a melhor maneira de potencializar o trabalho com
para o aumento da industrialização no Brasil. Naquele
as habilidades das duas áreas.
momento, no qual foram decisivas as políticas implan-
Proponha aos estudantes que reflitam a respeito das tadas por Getúlio Vargas, estavam lançadas as bases
consequências do desenvolvimento sobre os biomas e o para a passagem da sociedade brasileira de agroex-
ambiente, de forma geral, de modo a compreender como portadora para uma sociedade urbano-industrial.
essas intervenções, sobretudo quando estabelecidas de
2. De acordo com Schwarcz e Starling, “O Plano de Metas
modo predatório e sem controle, podem, além de alterar
definiu 31 objetivos com enfoque privilegiado em
o equilíbrio dos ecossistemas, causar impactos sérios na
quatro pontos. Na primeira prioridade, o governo pre-
vida e na saúde humana. Procure instigá-los a refletir sobre
via alocar investimentos para o setor de transportes,
os dados e informações trazidos, relacionando-os às dis-
em especial o rodoviário, e incentivar a indústria auto-
cussões feitas na unidade.
mobilística – as outras três prioridades canalizavam
RESPOSTAS
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO recursos em energia, indústria pesada e alimentos.”.
1. Auxilie os estudantes a encontrar essas imagens. Portanto, o plano do governo Juscelino Kubitschek
DA EDITORA DO BRASIL
Além da pesquisa na internet, eles podem consultar envolvia investimentos em áreas estratégicas para o
arquivos da prefeitura do munícipio e/ou biblioteca desenvolvimento nacional: indústria, energia e trans-
públicas que podem oferecer imagens que não foram portes, além da meta-síntese: a construção de Bra-
ainda digitalizadas. sília. O elevado interesse no desenvolvimento da
2. Espera-se que os estudantes expliquem que o desma- indústria automobilística e a manutenção do rodovia-
tamento no Brasil foi iniciado no século XVI com a rismo como a opção principal da matriz de transpor-
exploração do pau-brasil e, ao longo do tempo, os bio- tes levaram à ampliação e construção de rodovias, de
mas foram desmatados para construção de estradas, modo a favorecer a integração e o desenvolvimento
expansão agrícola e agropecuária etc. Isso levou ao econômico do país.
aumento populacional nas regiões desmatadas e, con- 3. Oriente os estudantes em uma pesquisa sobre os
sequentemente, a desequilíbrios ambientais e ao projetos de grande porte realizados na Amazônia
aumento de disseminação de doenças infecciosas durante a Ditadura Civil-Militar. Entre eles, incluem-
nessas regiões. -se: a construção da rodovia Transamazônica, o Pro-
3. Espera-se que os estudantes expliquem que o desma- jeto Carajás, o Sivam – Sistema Integrado de Vigilân-
tamento levou ao aumento populacional nas regiões cia da Amazônia e o Projeto Calha Norte. Discuta
desmatadas, possibilitando maior proximidade entre também a relativa negação da ocupação existente
animais e humanos, o que tem propiciado situações nessa área, que era tratada, em alguns casos, como
de risco de transmissão de vírus entre espécies. um vazio demográfico.

LVIII
torturas, desaparecimentos e mortes praticados em nome da
INDICAÇÕES COMPLEMENTARES manutenção do regime militar no Brasil.

Livros O pacto de Adriana, direção de Lissette Orozco. Chile, 2017


AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio. Sistema político (96 min).
brasileiro: uma introdução. São Paulo: Editora Unesp, Documentário em que a diretora narra a descoberta de que
2015. sua tia, Adriana, trabalhava para a polícia secreta do ditador
É uma das obras essenciais da Ciência Política brasileira e chileno Augusto Pinochet, responsável por torturas e mortes
contemporânea que analisa a dinâmica institucional dos par- durante a ditadura militar naquele país. Utilize-o para ilustrar
tidos, da relação entre os poderes Legislativo e Executivo e como pessoas envolvidas (direta ou indiretamente) em crimes
entre sociedade e eleições. de tortura durante as ditaduras militares tendem a negar a
realidade. Trabalhe o seguinte questionamento: “A quem in-
HAGEMEYER, Rafael R. Caminhando e cantando: o imagi- teressa apagar o passado ou fingir que ele não existiu?”.
nário do movimento estudantil brasileiro de 1968. São
Paulo: Edusp, 2016. Podcast
Esse livro resgata a luta do movimento estudantil durante a Presidente da Semana. Disponível em: https://presidente
ditadura militar e seus eventos mais duros, ocorridos em -dasemana.libsyn.com/. Acesso em: 8 ago. 2020.
1968, ano do AI-5. Além disso, em um de seus capítulos, o
Episódios de podcast que apresentam a história de todos os
autor aborda a importância dos festivais de música na dé-
presidentes brasileiros, de 1889 a 2018. Pode ser utilizado
cada de 1960, cujos compositores muitas vezes faziam crí-
como ferramenta para subsidiar a compreensão do conceito
ticas de conteúdo social e à ditadura. Esse material é
de República.
importante para contextualizar o período e complementar
a abordagem econômica.
Sites
SATRAPI, Marjane. Persépolis. São Paulo: Tradução: Pau- Biblioteca Nacional Digital. Disponível em: https://bndigital.
lo Werneck. Companhia das Letras, 2007. bn.gov.br/artigos/documentos-historicos/. Acesso em:
Nessa obra autobiográfica escrita no formato de história 9 ago. 2020.
em quadrinhos (HQ), a iraniana Marjane Satrapi conta co- Site que conta com um acervo digital amplo, com documentos
mo o Irã, então uma monarquia com grande afinidade com escritos, imagens, fotos e artigos sobre a história do Brasil, os
o Ocidente, foi alvo de crítica em função da maneira auto- quais podem utilizados em sala de aula como ferramentas di-
ritária como o xá Reza Pahlevi conduzia o país. Em 1979, dáticas e de pesquisa.
com a Revolução Islâmica, o governo assumiu os preceitos
religiosos como base, transformando a República recém- Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB). Disponível
-criada em um verdadeiro Estado teocrático, influenciado em: https://www.ihgb.org.br/. Acesso em: 9 ago. 2020.
por religiosos não eleitos, com o estabelecimento de novas
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
doutrinas para os iranianos.
O site do IHGB contém vasta documentação disponível para
consulta e aprofundamento da História do Brasil.
DAem
Trabalhar com HQ EDITORA DOconstitui
sala de aula BRASIL uma forma muito
interessante de os estudantes terem acesso a uma literatura Comissão Nacional da Verdade (CNV). Disponível em: http://
que abrange diferentes linguagens, verbal e não verbal. Além cnv.memoriasreveladas.gov.br/. Acesso em: 8 ago. 2020.
disso, a obra de Satrapi ilustra algumas das formas de gover-
O site da Comissão Nacional da Verdade, instituída em 16 de
no mencionadas no material que o estudante tem em mãos,
maio de 2012, por meio da Lei n. 12.528/2011, contém vários
o que pode facilitar a compreensão do conteúdo.
documentos e dados sobre graves violações de direitos hu-
manos ocorridas no Brasil entre 18 de setembro de 1946 e
Filmes
5 de outubro de 1988 – período que compreende a Ditadura
O dia que durou 21 dias, direção de Camilo Tavares. Rio Civil-Militar brasileira.
de Janeiro, São Paulo, 2013 (26 min).
Esse documentário, composto de três episódios de 26 minu- Portal Memórias da Ditadura. Disponível em: https://
tos cada, explora o papel que os Estados Unidos tiveram no memoriasdaditadura.org.br/. Acesso em: 8 ago. 2020.
golpe de 1964 e no regime militar brasileiro, que durou 21 Esse portal foi idealizado com o objetivo de divulgar a História
anos, até 1985. Além disso, retrata como a ditadura militar do Brasil no período entre 1964 e 1985 para o grande públi-
contou com o apoio de grupos privados, representados no co, em especial a população jovem. O portal reúne conteúdos
Brasil pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, que apresentados em várias mídias, que expõem a complexidade
apoiaram integralmente os movimentos do regime. São apre- e a intensidade dos fatos ocorridos durante a Ditadura Civil-
sentados áudios originais e documentos que comprovam a -Militar no Brasil do ponto de vista político, social e cultural,
omissão do governo estadunidense em relação a prisões, na perspectiva dos direitos humanos e da memória e verdade.

LIX
proposta, porém, no tocante à garantia e à fruição de direitos,
UNIDADE 2 o conceito de minorias pode, contraditoriamente, ser usado
MINORIAS SOCIAIS E para fazer referência a uma maioria da população. Isso ocorre
DEMANDAS HISTÓRICAS porque, no contexto em questão, esse conceito designa a
parcela da população formada por indivíduos cujos direitos
são negados ou negligenciados pelo Estado.
VISÃO GERAL
A Unidade 2 propõe uma discussão sobre a relação entre P. 46-47
minorias e a representatividade e a participação política,
mobilizando as habilidades EM13CHS601 e EM13CHS605.
Maioridade e minoridade racional
Para isso, inicialmente debate-se o conceito de minorias Saliente que esta última visão sobre o conceito de mino-
para diferentes correntes e organizações sociais. ria tem resquícios históricos, na medida em que, no século
XVIII, por exemplo, eram considerados cidadãos, de
Em seguida, reflete-se sobre o complexo processo de
acordo com Immanuel Kant (1724-1804), os homens
inclusão e exclusão de afrodescendentes e indígenas na
livres e independentes (portadores de maioridade intelec-
ordem social brasileira, sobretudo durante o período repu-
tual e, logo, de direitos), o que excluía todo o grupo de
blicano. O objetivo é fazer com que o estudante compreenda
pessoas formado por mulheres, crianças, escravos, estran-
os múltiplos conflitos e lutas sociais envolvidos na elabo-
ração de uma agenda estatal e de políticas públicas de geiros, idosos, entre outros.
redução das desigualdades sociais e raciais, observando as Igualmente relevante é a compreensão de que, atual-
práticas arraigadas de segregação desses grupos e a origem mente, no Brasil, constituem-se como minorias mulheres,
colonial dos mecanismos de exclusão. Também busca-se crianças, idosos, pessoas negras, indígenas, homosse-
conscientizar os estudantes de que indivíduos socialmente xuais, transgêneros, pessoas com deficiência física ou
excluídos são sujeitos de direitos e cidadãos que participam mental. Comente que tais grupos, pela negligência com
ativamente na luta pelo reconhecimento do Estado quanto que seus direitos são tratados, são atingidos pela vulne-
a sua vulnerabilidade social e pelo aumento de sua partici- rabilidade social. O estado de vulnerabilidade social tem
pação política nas instâncias de poder. origem quando uma característica, comum aos membros
Na sequência, trata-se da relação entre racismo e moder- de uma minoria, é encarada como negativa pelo grupo
nidade no Brasil, trabalhando-se o pensamento de Florestan oposto, configurando-se como a maioria dominante deten-
Fernandes (1920-1995) e Djamila Ribeiro (1980-), e anali- tora de poder político, econômico e social.
sando-se dados para fundamentar a crítica à desigualdade Proponha uma roda de conversa para que os estudan-
social e étnico-racial no Brasil. tes debatam e exponham suas opiniões sobre o conceito
Por fim, discutem-se a memória – fortemente associada de minorias e sobre quem as compõem atualmente no
a um território – e a luta por direitos e pela representati- Brasil. Verifique se esse debate contempla a noção de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
vidade dos povos indígenas e quilombolas no Brasil. Dessa inclusão social, com questionamentos sobre estereótipos
ou ideias preconcebidas acerca de grupos minoritários,
DA EDITORA DO BRASIL
maneira, trata-se da exclusão e da inclusão desigual dos
promovendo o exercício da reflexão crítica diante de ques-
povos originários e afrodescendentes na sociedade, reto-
mando a importância de reforçar os princípios dos direitos tões relevantes da sociedade.
humanos e da cidadania no Brasil. A filósofa brasileira Marilena Chaui (1941-) discute o
conceito de minoria no texto de apoio.
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS Texto de apoio
P. 46
Parece estranho falar em ‘minoria’ para referir-se
O conceito de minorias a mulheres, negros, idosos, crianças, pois quantitati-
Esse conceito será abordado no âmbito das Ciências vamente formam a maioria. É que a palavra minoria
Humanas e Sociais. Espera-se que os estudantes com- não é usada em sentido quantitativo, mas qualitativo.
preendam que, quando se fala em minorias, não se fala Quando o pensamento político liberal definiu os que
necessariamente de minoria numérica. teriam direito à cidadania, usou como critério a ideia
de maioridade racional: seriam cidadãos aqueles que
É importante diferenciar as maneiras pelas quais o con- houvessem alcançado o pleno uso da razão. Alcança-
ceito pode ser assimilado. Destaque que, com relação aos ram o pleno uso da razão ou a maioridade racional os
sistemas de votação, por exemplo, os conceitos de minoria que são independentes, isto é, não dependem de ou-
e maioria são aplicados na acepção numérica, ou seja, refe- tros para viver. São independentes os proprietários
rem-se ao número de pessoas que votaram em determinada

LX
P. 48
privados dos meios de produção e os profissionais li-
berais. São dependentes e, portanto, em estado de Stalinismo e as minorias nacionais
minoridade racional: as mulheres, as crianças, os ado-
No que tange à relação entre o governo de Joseph
lescentes, os trabalhadores e os ‘selvagens primitivos’
(africanos e índios). Formam a minoria. Como há ou- Stalin e as minorias nacionais, o objetivo é que os estu-
tros grupos cujos direitos não são reconhecidos (por dantes compreendam que o stalinismo, assim como o
exemplo, os homossexuais), fala-se em ‘minorias’. A fascismo, foi um sistema de governo totalitário originado
‘maioridade’ liberal refere-se, pois, ao homem adulto na URSS no início do século XX. Ao apresentar o funcio-
branco proprietário ou profissional liberal. namento interno do governo stalinista, explique no que
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, consiste o processo de burocratização. Trata-se da ade-
2000, p. 567.
quação do sistema político a uma estrutura organizativa
caracterizada por regras e procedimentos explícitos e
regularizados, com divisão de responsabilidades e espe-
P. 47 cialização do trabalho, hierarquia e relações impessoais.

As minorias sob o jugo do fascismo e Esclareça que minorias nacionais designam grupos que
do nazismo se diferenciam da maioria da população por conta da lín-
gua, da nacionalidade, da religião e da cultura. As minorias
Explique para os estudantes a maneira como algumas
étnicas, nesse contexto, eram formadas por poloneses,
formas de governo e sistemas de pensamento lidaram com
letões, georgianos, ucranianos, húngaros, tchecos, croatas,
as minorias, cada uma em seu contexto social. A primeira
lituanos, armênios, curdos, albaneses, entre outras que
relação apresentada no texto é aquela entre o fascismo e
viveram sob o regime stalinista.
as minorias. Espera-se que eles compreendam, inicial-
mente, o que foi o fascismo italiano e em que contexto ele Para tornar o conceito um pouco mais próximo da rea-
se firmou. Governo totalitário, entre tantos surgidos no lidade dos estudantes, aborde as minorias nacionais den-
início do século XX, foi liderado por Benito Mussolini, na tro do Brasil, formadas por angolanos, bolivianos, sírios
Itália, em 1922, e perdurou até 1943. e outras nacionalidades, que muitas vezes chegam ao país
na situação de refugiados. Pergunte-lhes: “Quais são os
No momento em foco, o grupo de minorias sociais era
direitos e deveres dos refugiados em situação de minoria
constituído por apátridas, judeus e nativos das colônias
nacional no Brasil?”.
italianas, como a Etiópia. Comente que tais grupos perde-
ram direitos essenciais, conhecidos como os Direitos do P. 49-50
Homem – os quais, mais tarde, deram origem aos Direitos
Humanos, tal como conhecemos atualmente. Marxismo e minorias: classe e identidades
Os grupos minoritários surgiram no contexto da promul- O conceito de minoria é apresentado neste momento
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
gação de leis raciais na Itália que se voltavam de modo geral com base na perspectiva marxista. Espera-se que os estu-
contra tais grupos sociais, retirando deles inúmeros direitos. dantes entendam o pensamento de Karl Marx e suas pro-
DA EDITORA DO BRASIL
A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) trata do postas sobre o funcionamento das sociedades capitalistas.
conceito de apátrida e minorias no texto de apoio. No marxismo tradicional, o conceito de minorias tem
um viés quantitativo, pois se refere àqueles que possuem
Texto de apoio os meios de produção, ou seja, os detentores da maior
parte da riqueza resultante do trabalho realizado pelo pro-
Os judeus tiveram papel importante tanto na his- letariado, que constitui, em números, a maioria da socie-
tória da “nação de minorias” como na formação dos
dade. Apesar de o conceito de minorias em Marx ainda ser
povos apátridas. Estiveram à frente do chamado
aplicado atualmente, ele acabou ganhando novas cores
movimento de minorias, não só em virtude de sua ne-
cessidade de proteção (somente igualada pela com o passar dos anos e com o surgimento de demandas
necessidade dos armênios) e da capacidade de apro- de diferentes grupos sociais, tais como o movimento negro,
veitamento de suas excelentes conexões internacio- o movimento feminista e o movimento LGBTQI+.
nais, mas, acima de tudo, porque não constituíam
Essas novas demandas, somadas às demandas sociais
maioria em país algum e, portanto, podiam ser consi-
antes expostas pelo marxismo, são denominadas (às
derados a minorité par excellence, isto é, a única mino-
ria cujos interesses só podiam ser defendidos por uma vezes pejorativamente, por marxistas ortodoxos) pautas
proteção garantida internacionalmente. identitárias, pois, ao refletir sobre os mecanismos de
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: exploração aos quais os indivíduos de uma sociedade
Companhia das Letras, 2016. p. 322. estão sujeitos, leva-se em consideração não apenas sua
situação econômica, mas também a materialidade que

LXI
constitui sua subjetividade, como a cor da pele, o gênero, P. 52
a orientação sexual, por exemplo. Trabalhe o pensamento
das filósofas contemporâneas mencionadas no material: Atividades
Silvia Federici (1942-) e Angela Davis (1944-). Aproveite
1. Espera-se que os estudantes sejam capazes de refletir
para convidá-los a refletir sobre os temas tratados pelas sobre o fato de que o conceito de minoria pode estar
autoras na medida em que subjetividades individuais tam- relacionado à não garantia de direitos ou à representa-
bém delineiam condições materiais de existência. ção política de determinados grupos sociais por conta
de diferenças que residem na raça, no gênero, na idade,
P. 51 na religião, entre outros fatores, e não necessariamente
do valor numérico desses grupos na sociedade.
Boxe: O pensamento de Angela Davis
O objetivo do boxe é trazer a perspectiva marxista de Angela 2. Existe uma corrente do marxismo, representada por
Davis que se conecta com temáticas de gênero e de raça. pensadoras como Angela Davis, segundo a qual a análise
da sociedade capitalista deve ser feita pela interseccio-
RESPOSTAS nalidade de raça, classe e gênero. Por outro lado, o mar-
a) A autora delineia que mulheres negras e mulheres xismo ortodoxo defende que os movimentos de minorias
brancas assumiram diferentes posições nas relações fazem parte de uma política identitária e, em razão disso,
de trabalho ao longo da história. Mulheres negras deveriam ser analisados somente na esfera cultural.
trabalhavam fora de casa antes de mulheres brancas 3. a) O autor indica que a luta é sobre: “[...] como perten-
iniciarem o processo de entrada no mundo do trabalho. cer de pleno direito a este mundo que nos é comum?
Mulheres negras trabalhavam sob o regime de escra- Como passar do estatuto de ‘sem-parte’ para o de
vidão, enquanto mulheres brancas eram livres. Por ‘parte interessada’? Como tomar parte na constitui-
isso, quando se fala sobre o fato de mulheres terem ção deste mundo e na sua partilha?”.
conquistado novos espaços de trabalho, é preciso b) O autor determina que existe uma minoria históri-
levar em consideração que mulheres são essas. ca em que a presença das pessoas negras é um
b) Segundo a autora, no século XIX, esperava-se da fator incontestável, mas cuja integração se mantém
mulher que ela fosse uma mãe protetora, dona de ambígua, há as minorias não vistas, cuja presença
casa amável e sensível, o que configuraria o mo- se torna indesejável em determinados lugares,
delo de feminilidade da época. Na medida em que como na França. E, por fim, há a minoria que tem
mulheres negras têm esse modelo negado pela maioria demográfica e poder político, mas não
força do trabalho escravo, elas deixam de ser vistas econômico.
como femininas, como seres dotados de um gêne- Comente que, no Brasil, embora a população negra
ro que é alvo de opressões não apenas racistas, e parda se constitua como maioria, esse grupo
mas também machistas. social não possui direitos plenamente garantidos.
c) A autora expõe que o povo negro era compreendido Verifique se os estudantes percebem que o texto
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO aborda especificamente a questão racial, mas que
como uma propriedade por parte dos senhores. Assim,
DA EDITORA DO BRASIL
proporcionavam a riqueza e o crescimento material ele pode ser aplicado a outras minorias sociais.
desse senhor por meio de sua força de trabalho. Para c) Na África do Sul, embora a população seja majori-
Marx, é a propriedade dos meios de produção que tariamente composta de pessoas negras, é redu-
caracteriza o burguês e o diferencia do proletariado. zido o acesso que elas têm às riquezas materiais
Porém, é importante lembrar que Angela Davis não fala do país. Essa situação é um reflexo da política de
aqui de máquinas e indústrias, e sim de pessoas que Apartheid implantada em 1948, que não permitia
eram vistas como propriedade, ou seja, que tiveram o acesso dos negros às urnas e os proibia de ad-
sua humanidade execrada pelo sistema escravista. quirir terras na maior parte do país.
d) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes 4. a) A ação antifascista idealizada pelo Partido Comu-
façam observações sobre quais são as expectativas nista Alemanha (KPD).
de gênero que ainda persistem na vivência das b) Espera-se que os estudantes mencionem movimen-
mulheres na contemporaneiade. tos atuais que buscam reproduzir alguns elementos
e) Espera-se que os estudantes busquem dados em da ideologia fascista, especialmente em relação à
fontes confiáveis. Por exemplo, sobre os levantamentos marginalização de minorias, o que impulsionou a
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), criação de grupos antifascistas no presente.
um exemplo está disponível em: https://www.ipea. Ainda que o fascismo como movimento político
gov.br/portal/index.php?option=com_acymailing tenha surgido no início do século XX, alguns de seus
&ctrl=archive&task=view&listid=10- (acesso em: mecanismos de controle da sociedade persistem,
29 ago. 2020). principalmente o racismo e o preconceito étnico.

LXII
P. 53 Proponha aos estudantes que reflitam sobre a pre-
sença ainda latente da discriminação contra as religiões
Indígenas e afrodescendentes de matriz africana no Brasil. Comente que são comuns
no Brasil republicano os ataques a terreiros de candomblé e umbanda, bem
como àqueles que os praticam, ainda que a liberdade
Incentive os estudantes a refletir sobre a situação da
religiosa seja garantida por lei. Espera-se que os estu-
população negra e indígena atualmente no Brasil. Para
dantes relacionem essas ações com uma forma de
efetuar um levantamento do conhecimento prévio deles,
expressão do racismo religioso.
pergunte: “Quais são as principais demandas dessas popu-
lações?”; “Como elas são representadas?”. No texto apoio, a historiadora Lilia Schwarcz trata do
desenvolvimento das teorias raciais no Brasil.
Proponha uma contagem de quantos estudantes negros
e indígenas compõem a sala de aula. Depois, questione Texto apoio
se eles são maioria ou minoria, de modo que os estudan-
tes compreendam a diferença entre maioria e minoria em
termos numéricos e de representatividade política. As teorias raciais só chegaram aqui a partir de
meados do século XIX, no momento em que a aboli-
Com base nesses questionamentos e reflexões, espe- ção da escravidão tornava-se irreversível. [...]
ra-se que a turma chegue à conclusão de que a presente Foi só com a proximidade do fim da escravidão e
desigualdade racial que permeia a sociedade brasileira é da própria monarquia que a questão racial passou
consequência do processo de formação do país. para a agenda do dia. Até então, como “propriedade”,
o escravo era por definição o “não cidadão”. No Bra-
P. 53-54 sil, é com a entrada das teorias raciais, portanto, que
as desigualdades sociais se transformam em matéria
Teorias raciais no pensamento social da natureza. Tendo por fundamento uma ciência po-
Resgate conceitos, como eugenia, racismo científico e sitiva e determinista, pretendia-se explicar com ob-
jetividade – valendo-se da mensuração de cérebros
darwinismo social, pois o esperado é que os estudantes
e da aferição das características físicas – uma supos-
relacionem conteúdos já vistos com o assunto em foco – a ta diferença entre grupos. A “raça” era introduzida,
desigualdade racial e as questões indígena e negra na assim, com base nos dados da biologia da época e
sociedade brasileira. privilegiava a definição dos grupos segundo seu fe-
A exclusão da população negra no período posterior à nótipo, o que eliminava a possibilidade de pensar no
indivíduo e no próprio exercício da cidadania e do ar-
abolição se concretizou nas mais diversas esferas sociais
bítrio. Dessa maneira, em vista da promessa de uma
e tomou contornos de lei, como, por exemplo, a Lei da igualdade jurídica, a resposta foi “comprovação cien-
Vadiagem, de 1941. Comente que manifestações culturais tífica” da desigualdade biológica entre os homens, ao
afro-brasileiras, hoje tidas como patrimônios nacionais, lado da manutenção peremptória do liberalismo, tal
como o samba e a capoeira, eram enquadradas na Lei da como exaltado pela nova República de 1889.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Vadiagem e proibidas de serem realizadas. Como mostra Leo Spitzer, nesse contexto, o deter-
Explique que DA EDITORA baseado
DO BRASIL minismo racial criaria novas formas de hierarquia e
o pensamento nas teorias euge-
estratificação. [...]
nistas permeia a intelectualidade brasileira, que é com-
No entanto, tais teorias não foram apenas introdu-
posta majoritariamente de membros da elite branca; ele
zidas e traduzidas no país; aqui ocorreu uma releitu-
se fez presentes em obras de autores consagrados, como ra particular: ao mesmo tempo que se absorveu a
Monteiro Lobato (1882-1948). Informe os estudantes de ideia de que as raças significavam realidades essen-
que escritores hoje reconhecidos nacionalmente, como ciais, negou-se a noção de que a mestiçagem levava
Lima Barreto (1881-1922), negro, receberam pouco ou sempre à degeneração, conforme previa o modelo
nenhum reconhecimento. Destaque o caso de Machado original. Fazendo-se um casamento entre modelos
de Assis (1839-1908), um dos maiores escritores brasi- evolucionistas (que acreditavam que a humanidade
passava por etapas diferentes de desenvolvimento) e
leiros, também negro, consagrado durante a Primeira
darwinismo social (que negava qualquer futuro na
República e embranquecido pela História. Críticos de miscigenação racial) – arranjo esse que, em outros
literatura, como Sílvio Romero (1851-1914), que enfati- contextos, acabaria em separação litigiosa –, no Brasil
zavam a “importância da mestiçagem”, não escapavam as teorias ajudaram a explicar a desigualdade como
do teor racista em seus escritos, influenciados pelas teo- inferioridade, mas também apostaram em uma mis-
rias raciais do século XIX. Portanto, deve-se propor uma cigenação positiva, contato que o resultado fosse cada
reflexão sobre a construção da ideia de raça e do racismo vez mais branco.
como parte de um projeto de dominação e não apenas SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo
contrário: cor e raça na sociabilidade brasileira. São Paulo:
uma consequência das desigualdades sociais ou uma Claro Enigma, 2012. E-book.
herança da escravidão.

LXIII
P. 55 P. 56

A tutela indígena O mito da democracia racial


Ressalte a postura do Estado brasileiro na República Enfatize que o olhar lançado para a população brasi-
de aculturamento dos povos indígenas. Ao adotar ações leira mudou a partir da década de 1930. A “Nova Repú-
com vistas a “integrá-los” à sociedade, considera-se que: blica” pretendia construir uma identidade nacional forte,
1. Ele não faz parte da nação, mesmo sendo nativo; 2. Para baseada na celebração do povo, da cultura e da nação
fazer parte dela, deve abandonar seu modo de vida tradi- brasileira. Para isso, o “mestiço” é transformado em “pro-
cional e adotar um modo de vida ocidental. Dessa forma, duto nacional”.
perpetuam-se as ações de aculturamento, originadas no
A ideia de que a miscigenação brasileira se fez de
período da colonização do território brasileiro.
maneira pacífica, instituída com base no “mito das três
Destaque que a imagem do indígena como selvagem raças” – representado principalmente pela obra de Gil-
ainda permanece na República, uma vez que se consi- berto Freyre (1900-1987) –, em que o português aparece
dera a necessidade de “tutela” ou de sua “transforma- como o “Bom colonizador”, apaga a violência do processo
ção” em cidadão. de miscigenação racial brasileira que, de modo geral,
Vale lembrar que os indígenas enfrentam igualmente um envolveu a violência do branco sobre as populações negras
processo de racialização, enxergados como inferiores ou e indígenas. Explique que a celebração da miscigenação
menos capazes. Portanto, eles também foram vítimas das acontece quando ela “clareia” uma família, o que mostra
políticas oriundas das teorias raciais a partir do século XIX. que, apesar do abandono das teorias raciais, o racismo
Leia o texto de apoio, que aprofunda a questão da tute- permanece presente nas estruturas do pensamento.
lagem dos indígenas pelo Estado. Destaque que o samba passou a ser celebrado como a
música que representa a nação brasileira, por isso saiu da
Texto de apoio marginalidade. Entretanto, houve uma mudança profunda
nas letras das músicas: antes, elas celebravam o modo de
Algumas contradições básicas existiram no âmbi- vida das periferias e a malandragem e, como reflexo da
to do SPI: enquanto se propunha a respeitar as terras política trabalhista de Vargas, passaram a cantar a exalta-
e a cultura indígena, agia transferindo índios e libe- ção do trabalho.
rando territórios indígenas para colonização, ao mes-
mo tempo em que reprimia práticas tradicionais e Promova um debate sobre como o mito da democracia
impunha uma pedagogia que alterava o sistema pro- racial no Brasil ajudou a consolidar um racismo velado,
dutivo indígena. O regime tutelar, instaurado com a não mais presente nas legislações, que na teoria celebra
criação de uma agência indigenista inspirada na ex- a cultura africana, mas que, na prática, marginaliza e exclui
periência da Comissão Rondon e formatada no ser- o povo negro dos avanços sociais.
tanismo como representação imagética, tem seu di-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
namismo estabelecido por uma contradição básica e P. 57
DA EDITORA DO BRASIL
fundadora, conhecida como ‘o paradoxo da tutela’
(Pacheco de Oliveira, 1988). O tutor existe para pro- Negros e indígenas no Estado Novo
teger o indígena da sociedade envolvente ou para de-
Espera-se despertar nos estudantes a percepção de
fender os interesses mais amplos da sociedade junto
aos indígenas? É da própria natureza da tutela sua
que as atitudes adotadas por Vargas durante o Estado Novo
ambiguidade, as ações que engendra não podendo na tentativa de efetivar o apagamento do negro do imagi-
ser lidas apenas numa dimensão humanitária (apon- nário brasileiro, além de não combaterem as desigualda-
tando para obrigações éticas ou legais), nem como des raciais, fizeram parte da ideologia que norteava seu
um instrumento simples de dominação. É no entre- governo, em boa parte inspirado nos governos nazifascis-
cruzamento dessas causas e motivações que deve ser tas europeus.
buscada a chave para a compreensão do indigenismo
brasileiro, um regime tutelar estabelecido para as po-
Retome o papel desempenhado pelo DIP na censura
pulações autóctones que foi hegemônico de 1910 até à representação dos negros, bem como no combate aos
a Constituição de 1988, perdurando em certa medida meios de comunicação e à auto-organização desses
até os dias atuais em decorrência da força de inércia povos.
dos aparelhos de poder e de estruturas governativas.
OLIVEIRA, João Pacheco de; FREIRE, Carlos Augusto da
Boxe: Associativismo e imprensa negra
Rocha. A presença indígena na formação do Brasil. Comente que a ausência do Estado nas regiões mais
Brasília, DF: Ministério da Educação, Secretaria de pobres, onde habitava uma maioria negra, gerou a neces-
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade;
Laced/Museu Nacional, 2006. p. 115. sidade de criar mecanismos de auto-organização para
solucionar os problemas das comunidades. Auxilie os

LXIV
estudantes a associar essa prática à tradição quilombola, No texto de apoio, aprofunda-se um pouco sobre a cria-
relativa à criação de formas de resistência às opressões. ção do parque.
Trace também um paralelo com as associações existentes
nos bairros periféricos e nas favelas. Texto de apoio
Recomende aos estudantes que pesquisem o jornal A voz
O Parque Indígena do Xingu (PIX) foi a primeira
das comunidades, disponível em: https://www.vozdas
grande terra indígena reconhecida no país e também
comunidades.com.br/ (acesso em: 29 ago. 2020), organizado
a abrigar várias etnias indígenas [...]. Sua localização
por René Silva, que relata o cotidiano nas comunidades que praticamente no centro geográfico do país, na região
compõem o Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro. de transição dos biomas Cerrado e Amazônia, associa
Outra possibilidade é a análise de alguns números do jor- de forma original sociodiversidade a uma riquíssima
nal A Voz da Raça, editado pela Frente Negra Brasileira (FNB) biodiversidade. A história de contato e convívio de
e mencionado na página 57 e no boxe. Alguns exemplares seus povos com o restante da sociedade brasileira
traduz e representa a longa saga, ainda em curso, de
digitalizados desse jornal estão disponíveis no acervo da
ocupação desse imenso território chamado Brasil.
Biblioteca Nacional Digital: http://bndigital.bn.br/acervo
Criado há 50 anos (em 1961) pelo então presidente
-digital/voz-raca/845027 (acesso em: 9 set. 2020).
Jânio Quadros, visto como cartão de visita da política
indigenista oficial durante muitos anos, o PIX localiza-
P. 58
-se na região nordeste do Estado do Mato Grosso, na
parte sul da Amazônia brasileira, e está totalmente in-
A colonização de terras indígenas
serido na bacia do rio Xingu. Sua criação se deu após
A expectativa é de que, com a leitura do texto-base, uma longa discussão que mobilizou diferentes setores
os estudantes associem a Marcha para o Oeste às ações e instituições privadas e públicas. Seus limites foram
de ocupação das terras indígenas da colonização. O obje- contestados na época por interesses econômicos liga-
tivo de reforçar as fronteiras e “levar o desenvolvimento” dos ao mercado mato-grossense de especulação de
ao “Brasil profundo” fez com que o Estado getulista terras e, posteriormente, por vários povos indígenas
tivesse de lançar mão de políticas destinadas aos povos que tiveram parcelas significativas de seus territórios
tradicionais excluídos da sua demarcação.
indígenas. Destaque a continuidade das políticas colo-
nialistas de povoamento das regiões Centro-Sul e Cen- O Parque significou a delimitação de um espaço
privilegiado e incontestável de proteção para as
tro-Oeste do Brasil durante o governo de Juscelino
etnias que lá viviam e para aquelas que viviam amea-
Kubitschek, também baseadas na lógica da existência de
çadas na sua circunvizinhança e que para lá foram
um “vazio” nessas áreas do território nacional. Assim, levadas pelos irmãos Villas Bôas, algumas debilita-
durante a construção de Brasília foi enaltecida a figura das, com um quadro drástico de redução populacio-
dos migrantes conhecidos como “candangos” em detri- nal, à beira da extinção. Por outro lado, sua criação
mento dos povos indígenas que foram excluídos da polí- pode ser vista também como uma ação de ordena-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tica de ocupação dessa região. mento territorial por parte do Estado brasileiro, libe-
DA EDITORA
Retome o caráter DO BRASIL
tutelar adotado pelas políticas indi-
rando territórios de ocupação tradicional de várias
etnias para a expansão e ocupação das frentes colo-
genistas durante a República, o que se concretizou por
nizadoras do Centro-Oeste e da Amazônia, confinan-
meio da tomada das terras desses povos e em ações de do os índios em um território muito menor do que o
“incorporação” do indígena à sociedade, transformando-o que habitavam tradicionalmente.
num trabalhador funcional para o Estado. Internamente, o Parque é conformado, em sua por-
ção sul, pela área cultural do Alto Xingu, formada pe-
Boxe: Entre a adesão e a resistência los povos Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu,
Incentive os estudantes a pesquisar como diferentes Mehinako, Nafukuá, Naruvôtu, Waurá e Yawalapiti.
povos indígenas reagiam às políticas governamentais do Apesar de falarem línguas diferentes, esses povos ca-
Estado Novo, sobretudo os xerentes e karajás, que tiveram racterizam-se por uma grande similaridade no seu
posicionamentos opostos entre si. modo de vida e visão de mundo, principalmente por
estarem há séculos articulados em uma rede de tro-
P. 59 cas, casamentos e rituais. No entanto, mesmo que o
intercâmbio cerimonial e econômico celebre a socie-
Avanços na República de 1946 dade altoxinguana, cada um desses grupos faz ques-
tão de cultivar suas diferenças e identidade étnica.
O breve período democrático permitiu avanços, como
ISA. Parque indígena do Xingu 50 anos. Disponível em:
a criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, e a dimi-
https://www.socioambiental.org/sites/blog.socioambiental.
nuição das desigualdades de renda no período. Entretanto, org/files/publicacoes/10380_0.pdf. Acesso em: 4 set. 2020.
deve-se ressaltar que as mudanças não são estruturais.

LXV
P. 60 na sociedade. Os estudantes podem citar casos de
violência contra os negros, o fato de estes terem mais
Minorias étnicas na Ditadura Civil-Militar dificuldades de acesso ao ensino ou a cargos em pos-
tos mais altos de uma empresa.
Saliente que a população negra sofreu de maneira mais
acentuada a repressão da ditadura militar. Ao mesmo tempo Caso julgue adequado, complemente a atividade
que o governo antidemocrático coibia qualquer ação vista apresentando aos estudantes a foto Poder, de Carlos
Vergara, de 1972, disponível em: https://masp.org.br/
como “subversiva”, perseguindo e prendendo militantes do
en/exhibitions/afro-atlantic-histories (acesso em: 9 set.
movimento negro, também houve aumento das ações repres-
2020). Na imagem, é possível ver três homens negros
sivas nas favelas e periferias, onde a polícia tratava com vio-
sem camisa, com a palavra “Poder” escrita em branco
lência as populações enquadradas como “classes perigosas”.
no peito de cada um deles. Trata-se de uma fantasia de
Verifique se os estudantes estabelecem conexão com carnaval com um forte sentido político, pois os foliões
os recentes casos de violência policial que atingem as estão exibindo a sua pele e seu corpo como um lugar de
periferias no país. “poder”. A foto foi tirada durante a reunião do Cacique
de Ramos, tradicional bloco carnavalesco do subúrbio
Boxe: O quilombismo de Abdias Nascimento do Rio de Janeiro. Trata-se de um local tradicional de
Proponha que os estudantes façam uma pesquisa sobre rodas de samba e preservação da cultura popular,
Abdias do Nascimento (1914-2011) e suas contribuições formado majoritariamente pela comunidade negra
acerca da questão racial no Brasil. carioca. Sugira aos estudantes que busquem identificar
elementos subjetivos da imagem e as similaridades dela
P. 61 com o texto de Abdias do Nascimento. Na foto, os jovens
retratados demonstram ter consciência política da
Massacre de povos indígenas condição do negro na sociedade, similar àquela presente
Explique aos estudantes que as ações de expansão no pensamento de Abdias, e utilizam a fantasia
desenvolvimentista que marcaram as décadas de 1960 e carnavalesca como forma de manifestação.
1970 tiveram forte impacto na vida dos indígenas brasi- 2. a) 
Não se pode afirmar que foram realizados esforços
leiros. As grandes obras levaram não só ao extermínio de para incluir o indígena na sociedade brasileira. Os
populações inteiras, como provocaram a destruição da povos indígenas começaram a ser objeto de políti-
vegetação, fonte principal de sustento desses povos. Rela- cas públicas a partir do século XX, entretanto as
cione as ações de colonização das regiões pouco habitadas políticas direcionadas a eles recorriam majoritaria-
do Brasil com a ocupação ilegal de terras que pertenciam mente a práticas de aculturação, por meio de mis-
sões religiosas ou aldeamentos, em que eram
a povos nativos, com as práticas que remetem à coloniza-
submetidos a um processo de “transformação”,
ção, desde a conquista até o bandeirantismo.
com o objetivo final de serem utilizados em traba-
Proponha uma discussão sobre como a população indí- lhos rurais. É possível entender, então, que as polí-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
gena no Brasil é tratada atualmente. Faça perguntas como: ticas indigenistas seguem tratando os indígenas
“Ainda há invasão de terras?”; “Como os indígenas são como uma população selvagem a ser civilizada,
DA EDITORA DO BRASIL
tratados no que diz respeito às suas demandas?”. Esses seja pela via da religião, seja pela do trabalho.
questionamentos devem nortear as percepções sobre os b) A principal demanda que permanece latente entre
avanços, os retrocessos e as permanências envolvidas na os povos indígenas na atualidade é a garantia dos
realidade dos povos indígenas brasileiros. seus direitos sobre a terra. Ainda hoje, eles sofrem
com disputas de terras, especialmente com o agro-
Boxe: As grandes assembleias indígenas negócio. A questão da terra é uma continuidade de
Ressalte a importância da auto-organização dos povos uma disputa histórica iniciada com a colonização
para lutar por suas demandas e para garantir seus direi- e reforçada sistematicamente pela ausência de
tos fundamentais. políticas públicas capazes de garantir a posse dos
territórios aos povos nativos.
P. 62 Estimule os estudantes a pesquisar disputas recentes
envolvendo a demarcação de terras indígenas pres-
Atividades
tando atenção aos grupos e interesses envolvidos no
1. A expectativa é de que os estudantes interpretem o conflito (mineração, agronegócio, garimpo ilegal etc.).
texto como uma forma de manifestação contra o Como exemplo, você pode citar a questão do marco
racismo brasileiro e de afirmação da negritude. Certi- regulatório, em que ruralistas e grandes agricultores
fique-se de que eles interpretem a democracia racial disputam a posse com os indígenas das terras ocu-
como um mito, visto que os dados da realidade brasi- padas antes da promulgação da Constituição de 1988,
leira comprovam a existência de um racismo estrutural a qual garantiu o direito à terra aos povos originários.

LXVI
3. a) O texto trata da ampliação da rede de Ensino Básico P. 66
e Superior no Brasil na Ditadura Civil-Militar e de seus
Boxe: Frantz Fanon e a descolonização
efeitos sobre o aumento da oferta de ensino privado
e na desigualdade de acesso ao Ensino Superior.
das mentes
O objetivo do boxe é debater as ideias de Frantz Fanon
b) A desigualdade citada no texto é relacionada com o (1925-1961), sobretudo a noção de “descolonização
acesso à educação no Brasil. O autor afirma que, ao das mentes”.
ampliar a rede de ensino superior e instituir o siste-
ma de vestibular, foi criado um filtro social e racial. RESPOSTAS

Isso significa que as universidades públicas se trans- a) Frantz Fanon analisa as condições objetivas e sub-
formaram em espaços da classe média branca, en- jetivas da colonização, observando como os coloni-
quanto as privadas – que promovem um ensino de zadores impõem sua visão de mundo e seus valores
qualidade inferior – suprem a demanda das classes aos descolonizados. O racismo, nesse sentido, se
baixas e das pessoas “de cor” – negros e pardos. constrói em torno da negação da humanidade dos
c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes nativos. Valores europeus e elementos da cultura
compartilhem vivências relacionadas ao tema e europeia concorrem para diminuir e subalternizar a
percebam, no cotidiano, de que maneira essas cultura nativa, desvalorizando as características dos
colonizados. Do ponto de vista psíquico, observa
desigualdades ainda existem e se manifestam.
Fanon, os nativos procuram se aproximar da cultura
d) Resposta pessoal. Os estudantes devem avaliar o e dos valores europeus, introjetando a ideia de in-
legado da Ditadura Civil-Militar, sobretudo na de- ferioridade da sua cultura nativa e, portanto, de si
sigualdade de qualidade de ensino no país. mesmos. A valorização da cultura nativa, o resgate
das histórias e do passado de um povo colonizado
P. 63-65 e a criação de uma consciência nacional são impres-
cindíveis para a percepção dos mecanismos de
Modernidade brasileira e a questão racial
subjugação e opressão das forças coloniais. São
A construção social do conceito de minoria está rela- elementos fundamentais para criar na população o
cionada a grupos excluídos dos espaços de poder e de sentimento de unidade necessário para organizar
tomada de decisões, os quais se encontram marginaliza- uma resistência às ações e instituições dos coloni-
dos ou são constantemente obrigados a lutar pela sobre- zadores, assim como para empreender ações que
vivência ou em defesa de seu modo de vida. Nesse item, visem à libertação do jugo colonial. Fanon entende
reflete-se sobre como esses grupos foram sistematica- que qualquer projeto nacional dissociado do enfren-
mente excluídos mediante processos de natureza política tamento do racismo não se sustenta.
e social que se reproduzem até hoje, expressos por meio b) A perspectiva descolonial proposta por Fanon par-
de discriminação e preconceitos, como o racismo. te da violência que é intrínseca ao colonialismo e
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Para isso, parte-se para a análise do pensamento de imposta aos colonizados. Por um lado, ele conviveu
DA EDITORA DO BRASIL
Florestan Fernandes (1920-1995). Ele observa como a de perto com as arbitrariedades e a violência ins-
sociedade brasileira criou mecanismos que permitiram critas no corpo dos colonizados, como forma de
que a população negra, após a abolição da escravidão, silenciá-los, de docilizá-los, de ensiná-los a aceitar
continuasse marginalizada, empobrecida e perseguida seu lugar subalterno na sociedade. Por outro, ele
também viu as marcas que essas violências deixa-
pelas forças do Estado; e como o preconceito racial se
ram sobre os próprios colonizadores, aqueles que
intensificou com as políticas de apoio à entrada de imi-
prendiam e matavam, e os traumas decorrentes
grantes europeus para fazerem o trabalho antes realizado
das relações violentas e desiguais. A violência é um
pelos homens e mulheres escravizados, ainda operando
meio muito eficaz para a dominação colonial. Ela
na ideia eugênica de que seria importante “branquear” a
também está presente na desumanização dos
população brasileira.
colonizados e na forma como eles são convencidos
Em seguida, discutem-se dados de pesquisas recentes de sua inferioridade em comparação aos padrões
que embasam essa noção de que existe uma desigualdade europeus que são impostos.
social e econômica entre brancos e negros, os quais possuem Na percepção de Fanon, a violência entre os colo-
menos oportunidades para se educar, para trabalhar e para nizados pode virar-se inclusive contra eles mesmos,
serem representados politicamente. Por isso, faz-se neces- sob a forma de conflitos internos, agressões que
sário a resistência dessa população a esse racismo estrutural, escalam rapidamente, muito em função do estabe-
e a organização de sua luta por direitos. Por fim, debatem-se lecimento de uma linguagem violenta e da natura-
o conceito de “lugar de fala” e o modo que ele se configura lização das relações violentas. Fanon propõe que a
na articulação dessa população por maior representatividade. resposta dos colonizados à violência do colonizador

LXVII
é também violência, que precisa ser dirigida à fon- 2. O debate sobre lugar de fala figura um tema em desta-
te da própria violência, ao “verdadeiro inimigo”. que nas polêmicas das redes sociais. Por um lado, o
Descolonizar é reorientar essa violência interioriza- silenciamento imposto aos grupos historicamente
da, um processo que permite reagir aos valores excluídos dos espaços legítimos de voz e reconheci-
ocidentais. Foi por essa razão que os caminhos mento, criou a necessidade de organização e ênfase
pacíficos para a conquista da liberdade se mostraram sobre a multiplicidade de vozes na sociedade. Por outro,
infrutíferos. Os colonizadores não estavam dispos- sendo a liberdade de expressão um valor da moderni-
tos a abrir mão do poder e da condição de superio- dade, o lugar de fala é considerado um conceito que não
ridade e privilégios sem utilizar, eles mesmos, os corresponde aos princípios da autonomia do sujeito de
recursos violentos dos quais dispõem – isso fica cada um poder falar e se expressar livremente.
claro na questão da luta pela libertação na Argélia. 3. Essa atividade é preparatória para a próxima unidade e
tem como objetivo levar os estudantes a refletir sobre
P. 67 a representatividade política dos grupos considerados
“minorias” nas esferas de poder. É menos importante
Atividades atentar para os partidos políticos do que para a presença
1. a) 
O Estado brasileiro poderia ter desenvolvido polí- ou não de pessoas negras no Poder Legislativo de esta-
ticas de habitação popular e moradia para os tra- dos e municípios e para a relação que estes têm com
balhadores que foram escravizados e que nunca os movimentos e reivindicações das pessoas negras.
tiveram condição de ter casa própria, com sanea-
mento básico e condições de salubridade; também P. 68-69
poderia ter promovido o acesso à terra e a meios
Minorias e seus espaços: indígenas
de produção, para que esses trabalhadores pudes-
sem produzir no campo sem submeter-se aos anti-
e quilombolas
gos senhores; desenvolvido políticas de acesso à
escola e educação, tanto básica como profissional,
Violência e o apagamento de minorias
possibilitando aos recém-libertos o acesso a postos Discuta com os estudantes o apagamento social e cul-
de trabalho melhores e bem remunerados, muitas tural dos povos indígenas e de outros povos das memórias
vezes aproveitando conhecimentos e saberes que oficiais do país. É possível fazer um paralelo com os povos
africanos, que foram trazidos ao Brasil para trabalhar como
já possuíam. Ainda, poderiam ter criado políticas
escravizados e deixaram muitas marcas por onde passaram.
de acesso ao trabalho e de proteção ao emprego,
Porém, nem sempre o trabalho que realizaram, as influên-
incentivando empresários e industriais a incorporar
cias culturais que legaram e as histórias de lutas são recu-
ao trabalho livre, tanto no campo quanto na cidade, perados ou evidenciados. Ressalte a importância de
essa massa de trabalhadores de ex-escravizados. preservar a memória desses povos para que os estudantes
Há outras possibilidades, como a criação de um se conscientizem de como se deu o processo histórico de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
sistema de assistência social para atender as famí- formação do Brasil, marcado por injustiças e violências.
DA EDITORA DO BRASIL
lias de homens e mulheres negros que foram escra- Mobilize-os a refletir, com base no lugar onde moram, sobre
vizados, auxiliando-os no acesso aos seus direitos como a memória desses povos está presente.
de cidadãos, e a promulgação de leis que inibissem Reforce a diversidade dos povos indígenas, para que os
ações racistas e o preconceito racial. estudantes não os vejam de forma genérica. De acordo
b) Para Florestan Fernandes, a questão racial no Brasil com Bessa Freire (2009), para muitos brasileiros os indí-
mostra que não adentramos plenamente na moder- genas são um bloco único, como se todos tivessem as
mesmas crenças, a mesma língua, o mesmo modo de vida.
nidade, que está pautada pela industrialização e
Trata-se de um grande equívoco, pois estamos falando de
pelos valores liberais e de exercício da cidadania.
culturas diferenciadas.
Com a exclusão da população que foi escravizada
do acesso aos direitos sociais e ao mercado de Aborde os dados do gráfico da página 69 a fim de evi-
trabalho formal, o Brasil se sustenta na articulação denciar o aumento do número de assassinatos de líderes
entre um modo arcaico de sociedade com o mode- indígenas de 2009 a 2019 e discutir o que esses homicí-
lo moderno. dios representam para a luta indígena no reconhecimento
de seus direitos.
c) A condição de emprego e renda da população
negra no Brasil, ocupando os empregos informais P. 69-70
e subempregos, com pouca mobilidade social,
mostram o caráter de país em desenvolvimento do Entre existir e resistir
Brasil e a distância para se chegar à modernidade Desenvolva os temas abordados com a finalidade de des-
de forma a atender toda sua população. construir outro grande equívoco relacionado com a questão

LXVIII
indígena, conforme apontado por Bessa Freire (2009). alternativa/etnomídia, a Rádio Yandê, e sugerida a análise
Segundo esse autor, não se deve congelar a cultura dos da proposta, da programação e do alcance desse veículo.
povos originários, negando-lhe o direito a uma intercultura- Dessa maneira, os estudantes entram em contato com
lidade, do qual qualquer outro povo pode desfrutar. Ele res- uma forma de as minorias encontrarem espaço para a
salta que a aquisição de novos elementos culturais não foi disseminação de suas pautas e vozes, mobilizando as habi-
uma opção para esses povos; isso foi imposto à força. Nesse lidades EM13CHS601 e EM13CHS605.
sentido, conduza a análise dos povos indígenas que migra-
ram para as áreas urbanas, depois de terem sido expulsos P. 76-77
de seus territórios originais, com um olhar histórico, desfa-
zendo os preconceitos que existem em torno do tema. Ocupar: as demandas históricas
P. 71 de minorias pelos direitos de viver
Articule a condição dos negros no Brasil nos dias de
Constituição Cidadã e seu significado para hoje com o processo de escravidão que vigorou durante
os indígenas mais de trezentos anos no país. Quando se fala em misci-
genação e diversidade étnico-racial, é importante apre-
Enfatize os dados presentes no gráfico, sobretudo a moro-
sentar a base histórica de dominação e violência que
sidade do processo de demarcação das terras indígenas, e a
fundamentou essas pluralidades na população.
diminuição, ao longo do tempo, no índice de terras declaradas
e homologadas, o que não decorre simplesmente de ques-
Boxe: Tráfico transatlântico
tões burocráticas, mas do conflito de interesses envolvendo
O objetivo do boxe é avaliar de que forma os africanos,
esses territórios, em especial por conta dos sujeitos ligados
de diferentes etnias, tiveram impacto cultural no Brasil.
ao agronegócio e à mineração. Assim, analise com os estu-
dantes as etapas que as terras indígenas têm de perpassar RESPOSTAS
para serem plenamente reconhecidas e homologadas, como
a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes
está previsto na Constituição de 1988.
pesquisem os destinos dos povos africanos duran-
te a escravidão de modo a verificarem as influências
P. 72-73 culturais desses povos em hábitos atuais.
Infográfico: Como funciona o processo de b) Espera-se que, com base nas pesquisas, os estu-
demarcação de terras indígenas no Brasil? dantes mencionem que a população negra, trazida
Com base no infográfico, sugere-se que os estudantes à força da África, contribuiu expressivamente para
façam uma votação na sala de aula para escolher dois a formação populacional e cultural brasileira. Um
casos de terras indígenas demarcadas. Feitas as escolhas, dado que corrobora essa afirmação é a participação
divida a turma em dois grupos, cada um encarregado de percentual dos negros e pardos na população bra-
pesquisar entrevistas de lideranças, documentários, repor- sileira atualmente, que respondem pela maior par-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tagens que tratem do processo de demarcação dessas cela da população do Brasil.
terras e informações sobre as etnias que a reivindicaram.
DA EDITORA DO BRASIL
Essas pesquisas podem ser realizadas individualmente e, P. 78
em data marcada, levadas para a sala de aula. Solicite que
eles as entreguem de maneira sistematizada, organizada A luta dos negros pela liberdade
e com um resumo do que foi compreendido. Oriente os Discuta o surgimento dos quilombos como forma de
grupos a trocar o que pesquisaram de modo a se apropria- resistência e de sobrevivência dos negros que fugiam da
rem do outro estudo de caso. Ao final, cada estudante pode situação de escravidão, em condições completamente
entregar um relatório individual comparando os dois casos desumanas. Esclareça que, nesses espaços, eles puderam
analisados. Caso seja viável, alguns materiais utilizados exercer suas crenças, musicalidades, danças e demais
durante a atividade ou que tenham sido separados pelo tradições de origem africana que lhes foram negadas com
professor podem ser trabalhados coletivamente. o processo de escravização.
Organize um debate sobre a autonomia alimentar que
P. 74-75 muitos quilombos conquistaram por meio da agricultura.
Além disso, em alguns casos, os quilombolas comerciali-
Mídia: Estudo de caso: etnomídia zavam os excedentes. De acordo com Alfredo Wagner
e a Rádio Yandê Berno de Almeida, há registros de situações em que os
Essa proposta de atividade tem os objetivos de mobi- fazendeiros, ao depararem com contextos econômicos
lizar práticas de pesquisa relacionadas ao estudo de caso adversos, compravam os alimentos destinados aos escra-
e desenvolver a competência geral 2 da Educação Básica. vizados de comerciantes cujos produtos tinham origem na
Para isso, é abordado um caso específico de mídia produção de quilombos.

LXIX
P. 79-80 fornecer exemplos atuais, os quais demonstram
que o espaço dos povos indígenas é constantemen-
População quilombola na te ameaçado por interesses diversos. Considere
Constituição Cidadã inserir na discussão as tragédias que ocorreram em
Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, com sérias
Explore a questão da permanência dos territórios qui-
consequências para comunidades ribeirinhas e
lombolas após o fim da escravidão. Segundo Almeida, os
indígenas e para a biodiversidade.
quilombos não aparecem em boa parte da legislação repu-
b) Resposta pessoal. Oriente os estudantes a fazer as
blicana porque se acreditava que eles desapareceriam com
pesquisas em livros ou sites de instituições confiá-
a abolição da escravatura. No entanto, não foi o que acon-
veis, públicas ou privadas, que disponham dos
teceu: com sua existência, eles representam uma continui-
dados e informações necessários.
dade da memória, das tradições, das práticas agrícolas e da
história dos ancestrais que deram origem àqueles espaços.
P. 82
Almeida comenta também que, quando os quilombos
foram retomados na Constituição de 1988, depois de muita Representatividade e participação política
pressão e luta, são designados como “remanescentes”, uma
Incentive os estudantes a pesquisar ativistas, lideran-
espécie de sobra, como se fosse uma aceitação daquilo que ças e políticos que foram e ainda são importantes na luta
já foi. Para o autor, o foco deveria estar naquilo que eles são por direitos indígenas em todo o Brasil. Cada um deles
agora, levando em conta suas características atuais. pode ficar responsável pela pesquisa a respeito de uma
Aborde os problemas na demarcação nas terras qui- personalidade; solicite que eles forneçam essa informa-
lombolas, a exemplo do que acontece com as terras indí- ção aos colegas para que não haja muitas repetições. Na
genas. Mais uma vez, não se trata de uma questão sequência, em sala de aula, estimule-os a se apresentar
meramente burocrática, embora ela exista – os quilom- como se estivessem no lugar da pessoa cuja trajetória foi
bolas precisam comprovar os laços ancestrais com escra- pesquisada. Realize um debate sobre a questão indígena,
vizados –; trata-se, sobretudo, de um conflito que envolve durante o qual eles representem essa personalidade e
os interesses econômicos pela terra. defendam uma opinião com base nos pensamentos,
É importante que os estudantes compreendam que ações e vivências dela.
existem conflitos em jogo, em virtude da reprodução do
modo capitalista de produção, em uma sociedade em que P. 83
o agronegócio tem grande força econômica e política, e a
terra é fundamental para a ampliação dos negócios. Essa Atividades
situação acaba por gerar casos de violência. 1. A PEC 215 pretendia alterar a Constituição de 1988
Aprofunde o tema do desmatamento associado ao para que a demarcação de terras indígenas não fosse
avanço das atividades econômicas na Amazônia. Segundo mais feita pelo Poder Executivo, e sim pelo Congresso
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Ima- Nacional. A MP 886 de 2019, por sua vez, pretende
zon), o índice de desmatamento atingido em abril de 2020 passar essa competência para o Ministério da Agricul-
DA EDITORA DO BRASIL
foi o maior nos últimos dez anos. Assim, oriente os estu- tura, Pecuária e Abastecimento.
dantes na realização de uma pesquisa sobre as causas do 2. a) A charge mostra o aviso de um indígena sobre a
aumento da derrubada da vegetação bem como acerca chegada de população de não indígenas ao espaço,
das tecnologias disponíveis hoje para ajudar no controle bem como os impactos negativos que esse contato
dessas práticas ilegais etc. pode trazer, como desmatamento e invasão do ter-
ritório. Uma interpretação possível é de que essa
P. 81 charge retrata a própria chegada dos portugueses
ao território que viria a ser o Brasil.
Boxe: Resistência, Belo Monte e os povos
b) As sociedades indígenas, em geral, veem a natureza
indígenas do Xingu e todos os seus elementos como parte de suas cren-
O objetivo do boxe é que os estudantes investiguem um ças e não se consideram dissociadas desses elemen-
exemplo de situação em que os direitos dos indígenas e tos naturais: a Terra é um todo sagrado. As sociedades
sua visão de mundo foram violados. não indígenas, por sua vez, tendem a enxergar a
natureza como provedora de recursos para o desen-
RESPOSTAS
volvimento capitalista ou até mesmo como obstácu-
a) Resposta pessoal. Desenvolva a ideia de que a lo para a efetivação dessas práticas econômicas. A
lógica capitalista presente em nossa sociedade não preservação dos modos de vida indígenas e de suas
contempla a lógica do modo de vida indígena. Além sociedades é fundamental para a manutenção da
de todo o processo histórico já abordado, é possível natureza e da biodiversidade do país.

LXX
3. Promova uma discussão, com base no pensamento de seu trabalho extremamente difícil: jogando xadrez com a pa-
Edson Kayapó sobre o uso do termo “índio” e como este troa. O curta pode contribuir para tratar as relações sociais
baseadas no racismo no Brasil, que continuam extremamen-
se relaciona com a visão etnocêntrica e civilizatória dos
te presente nos dias de hoje.
colonizadores europeus.
4. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes Uma história de amor e fúria, direção de Luiz Bolognesi.
pontuem que a representação política pode signi- São Paulo, 2013 (75 min).
ficar um maior debate e a proposição de soluções Passado e futuro se encontram na trama dessa animação, que
e encaminhamentos para demandas específicas aborda a história do Brasil em três períodos: descobrimento,
que atingem grupos da população. Quando não há escravidão e Ditadura Civil-Militar, além de um paralelo do fu-
representantes de um determinado segmento da turo, em 2096.
sociedade nesses espaços, reivindicações e pautas
específicas podem ficar relegadas a segundo plano, Livros
o que não quer dizer, por outro lado, que essa pre- EVARISTO, Conceição. Canção para ninar menino grande.
sença signifique necessariamente o debate ou a São Paulo: Unipalmares, 2018.
discussão de algumas demandas, por falta de Trata da vivência das mulheres negras por meio de reflexões
espaço ou mesmo pela não identificação dos indi- acerca das profundas desigualdades raciais brasileiras. Mis-
víduos eleitos com pautas específicas. turando realidade e ficção, a autora privilegia a denúncia das
opressões raciais e de gênero, assim como a recuperação da
b) Esse item pode ser desdobrado em um debate. A
ancestralidade da negritude brasileira.
ideia é discutir os limites e as possibilidades dessa
representatividade. Por exemplo, basta que um FREIRE, José Ribamar BESSA. Da língua geral ao portu-
indivíduo ou um grupo de indivíduos seja eleito para guês: para uma história dos usos sociais das línguas na
que construam uma frente ampla pela luta de di- Amazônia. 2003. Tese (Doutorado em Literatura Compa-
reitos de uma determinada demanda, que seja rada) – Instituto de Letras, Universidade Estadual do Rio
indígena, LGBTQI, afrodescendente, etc? Pode ser de Janeiro, Rio de Janeiro.
que não, pois as pessoas têm diferentes formas de
Em sua tese de doutorado, Bessa Freire analisa a trajetória da
se enxergar e enxergar o grupo na sociedade. Por- língua geral no Brasil, que nada mais é do que uma derivação
tanto, uma maior equidade na política garante não do tupi resultante da influência portuguesa. O autor discorre
apenas um debate plural, amplo, diverso e justo, sobre os motivos para a redução significativa de sua reprodu-
mas contribui para que as diferentes demandas ção em nosso país. Esse material pode ser empregado com
possam ter lugar de exposição e debate. apoio na abordagem do processo de extermínio dos povos in-
dígenas e das lutas indígenas nos dias de hoje.

INDICAÇÕES SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes:


COMPLEMENTARES
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO mito e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2013.

DA EDITORA DO BRASIL Livro em que é discutida a opressão sofrida pelas mulheres


Filmes no capitalismo, abordando-se a relação entre machismo, ra-
Bróder, direção de Jefferson. Brasil, 2010 (93 min). cismo e modo de produção capitalista.

A história é centrada no reencontro de três amigos que divi-


SANTOS, Renato Emerson dos (org.). Diversidade, espaço
diram a infância no Capão Redondo, na periferia de São Pau-
e relações étnico-raciais: o negro na geografia do Brasil.
lo, e na importante decisão que um deles precisa tomar sobre
ingressar ou não no tráfico Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
A coletânea de textos que compõem esse livro contribui para
Cidade de Deus, direção de Fernando Meirelles, Kátia Lund. reduzir o apagamento dos negros e de sua memória da histó-
Roteiro: Bráulio Mantovani. Produção: Andrea Barata Ri- ria brasileira. Nele, propõem-se uma Geografia e o ensino de
beiro, Maurício Andrade Ramos. Brasil, 2002 (130 min). uma Geografia que contemplem o papel e a importância do
negro na sociedade.
O filme traça um retrato da vida nas favelas do Rio de Janeiro
na década de 1970, mostrando a relação entre o tráfico e as Site
comunidades, assim como entre a polícia e o “asfalto”.
Coordenação Nacional da Articulação das Comunidades
O xadrez das cores, direção de Marco Schiavon, 2004 (22 min). Negras Rurais Quilombolas (Conaq). Disponível em: http://
Esse curta-metragem aborda a relação entre uma senhora conaq.org.br/quem-somos/. Acesso em: 11 ago. 2020.
racista e sua empregada Cida, que é negra. A patroa trata Ci- A Conaq é uma organização de âmbito nacional, sem fins lu-
da muito mal, embora precise diretamente de seus cuidados. crativos, que representa a grande maioria da população qui-
Cida encontra uma maneira de se sentir um pouco melhor em lombola do Brasil, a saber, 23 estados da federação.

LXXI
UNIDADE 3 P. 84-85
EM BUSCA DA CIDADANIA As concepções de cidadania
O material contempla o conceito de cidadania na Grécia
Antiga, contexto em que ele era bastante restrito, uma vez
VISÃO GERAL que era aplicado apenas a homens livres e autônomos; por­
A Unidade 3 aprofunda os estudos sobre a cidadania e tanto, mulheres, crianças, idosos e escravos ficavam de fora
debate as características socioeconômicas das dife­ da classe daqueles que eram considerados cidadãos.
rentes regiões brasileiras, mobilizando as habilidades
Enfatize a concepção aristotélica de cidadania, que pre­
EM13CHS605 e EM13CHS606. Para isso, são analisados via a participação nas assembleias como uma tarefa pró­
os princípios da Declaração dos Direitos Humanos, bem pria daquele que era cidadão (exceto, mais uma vez, os
como da Constituição federal brasileira de 1988, recor­ grupos mencionados acima). Proponha uma reflexão com
rendo aos conceitos de justiça, igualdade e equidade, para base no seguinte questionamento: “Em que medida esse
fundamentar a crítica à desigualdade entre indivíduos, conceito de cidadania se assemelha ou se distancia do
grupos e sociedades. nosso sistema de participação social?”.
Em seguida, realiza-se uma discussão sobre os embates Espera-se que os estudantes compreendam que, na
políticos e sociais envolvidos no processo de redemocra­ Era Moderna, filósofos como John Locke (1632-1704)
tização que caracterizam a Nova República, inaugurada e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) compartilhavam
com o fim da Ditadura Civil-Militar. Espera-se que o estu­ a ideia da existência de um estado de natureza, no qual
dante atente à centralidade dos novos atores políticos que o homem vivia antes da criação de um governo. Nesse
emergem durante o período, como os movimentos sociais, estado, as noções de igualdade e liberdade, de acordo
o sindicalismo e os novos partidos e a sua participação com Locke, são fundamentais, pois o homem teria a
ativa nas disputas políticas presentes nos debates da liberdade de dispor de suas posses como bem enten­
Assembleia Nacional Constituinte de 1988. É importante desse, sem ter mais do que outros homens, o que con­
que o estudante reflita sobre as contradições entre a figuraria a igualdade. Com a criação da sociedade civil,
garantia de direitos sociais e políticos pretendidos pela porém, o poder político passou a expressar-se por meio
de uma pessoa ou grupo encarregado de administrar os
Constituição de 1988 e a realidade da precária condição
interesses dos membros da sociedade. Nesse caso, o
de vida de grande parte da população brasileira.
conceito de cidadania estaria associado ao poder polí­
Depois, trata-se de conceitos e questões próprias da tico e aos direitos dos homens na sociedade civil. É
Ciência política, discutindo o funcionamento das institui­ importante a percepção de que tal conceito não diz res­
ções democráticas e sua relação com a sociedade brasi­ peito apenas à participação política no momento da
leira pós-1988. votação, o que Rousseau denomina modelo democrático
A unidade contempla também o estudo das propostas meramente formal. A cidadania estaria relacionada à
de regionalização brasileira, favorecendo o desenvolvi­ participação política ativa do indivíduo, como no pro­
mento de uma consciência crítica sobre os projetos de cesso de formulação de leis. Neste momento, promova
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
desenvolvimento do Estado brasileiro, inseridos em uma reflexão sobre momentos da história do Brasil em
que essa participação ativa foi requisitada aos cidadãos
DA EDITORA DO BRASIL
contextos políticos específicos. Assim, é possível perceber
brasileiros. Mencione, por exemplo, o referendo de
as semelhanças e as diferenças de ações voltadas para
2005, que levou o povo às urnas para decidir sobre o
pensar e planejar o território, bem como perceber as
Estatuto do Desarmamento.
intenções e as razões que permeiam essas políticas, a
exemplo das diferentes regionalizações criadas pelo IBGE,
P. 86
que visavam atender a diferentes demandas e necessida­
des, como a produção de dados e informações econômi­ A cidadania nos tempos atuais
cas, sociais e territoriais.
Traga o conceito de cidadania para a contemporanei­
dade por meio da ideia de que pensar em cidadania implica
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS reconhecer que o mundo está passando por um processo
expressivo de globalização. Isso nos leva a ponderar, por
P. 84 exemplo, sobre a coerência, na atualidade, das medidas
de restrição da cidadania a estrangeiros adotadas na Anti­
Cidadania e direitos guidade. Verifique se os estudantes compreendem que,
Neste item, os estudantes entrarão em contato com no presente, cidadão é o indivíduo portador de direitos e
conceitos comumente ligados à Filosofia política, como deveres que se relaciona com a esfera pública do poder
cidadania, direitos (humanos, sociais e individuais), justiça, e das leis e membro de uma classe social, que, por sua
igualdade e equidade. Inicialmente, será abordado o con­ vez, se relaciona com a esfera pública do poder e das leis.
ceito de cidadania, cuja definição muda com o passar do O filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas (1929-)
tempo, pois cada época a compreende de uma forma. trata do conceito de cidadania no texto de apoio.

LXXII
Texto de apoio sua história: o holocausto nazista. Embora os direitos
humanos carreguem em si um pouco do que os filósofos
do século XVIII defendiam acerca de direitos naturais, é
Somente uma cidadania democrática, que não se relevante ressaltar que não existem direitos que sejam
fecha num sentido particularista, pode preparar o ca- naturais, tendo em vista o fato de serem criados pelo pró­
minho para um status de cidadão do mundo, que já co-
prio homem. E, como o homem é o produto de sua época,
meça a assumir contornos em comunicações políticas
o conceito de direito humano pode ser compreendido de
de nível mundial. A Guerra do Vietnã, as transforma-
maneiras distintas em momentos diferentes.
ções revolucionárias na Europa Central e no Leste
Europeu, bem como a Guerra do Golfo, constituem os
Outro ponto de vista: A perspectiva de Hannah
primeiros acontecimentos de uma política mundial em
sentido estrito. Através da mídia eletrônica, esses
Arendt sobre os Direitos do Homem
acontecimentos puderam ser vistos por uma esfera Proponha a leitura conjunta do texto de Hannah Arendt,
pública ubiquitária. Aos referir-se à Revolução Fran- que aborda o tema dos direitos humanos no contexto de
cesa, [Immanuel] Kant apoiou-se nas reações de um sua criação. A filósofa discorre em sua obra sobre a temática
público participante. Em sua época, ele conseguiu do totalitarismo e, nesse trecho específico, comenta o fato
identificar o fenômeno de uma esfera pública mun- de que governos totalitários enxergavam na Declaração dos
dial que somente hoje assume feições reais num con- Direitos do Homem uma usurpação à soberania nacional.
texto comunicacional de cidadãos do mundo. As pró- Saliente que o nacionalismo extremo era uma das caracte­
prias potências mundiais não podem mais ignorar a rísticas comuns aos governos totalitários do início do século
realidade dos protestos que atingem dimensões pla- XX. Logo, colocar os direitos de um povo nas mãos de um
netárias. Já começamos a perceber que o estado na- órgão internacional feriria a nacionalização de determinados
tural selvagem em que se encontram Estados belige-
Estados, de acordo com o exposto pela autora.
rantes que perderam sua soberania é obsoleto. O
estado de cidadão do mundo deixou de ser uma sim- RESPOSTAS
ples quimera, mesmo que ainda estejamos muito lon-
1. Espera-se que os estudantes percebam que, embora
ge de atingi-lo. A cidadania em nível nacional e a ci-
ambas as declarações se identifiquem como univer­
dadania em nível mundial formam um continuum
cujos contornos já podem ser vislumbrados no hori- sais, por se basearem na ideia do direito natural do
zonte. homem, Estados e nações podem não aceitá-las, por
considerarem-nas “usurpação da soberania”. Ou seja,
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e
validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. um país pode achar que sua soberania está acima dos
p. 304-305. direitos universais e não concordar com eles. Justa­
mente pelo seu caráter não nacional (por serem uni­
versais), os direitos humanos podem ser vistos por
algumas nações como uma ameaça à sua nacionali­
Direitos, um símbolo da democracia
dade.
Para abordar o conceito de direitos, convide os estu­
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO 2. Ajude os estudantes na confecção desse documento
dantes a refletir sobre a noção de serem portadores de
indicando sites como o do Planalto, disponível em:
DA EDITORA DO BRASIL
direitos e sobre quais direitos seriam esses. A expectativa
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
é de que eles compreendam que os primeiros direitos
constituicao.htm (acesso em: 29 ago. 2020), em que
fundamentais do homem, criados no contexto da demo­
está disponibilizado o texto integral da Constituição
cracia ateniense, foram o de igualdade, o de liberdade e o
federal. Além disso, auxilie-os na redação do texto e
de participação no poder. Incentive uma discussão a res­
verifique se todos os atores da comunidade escolar
peito da aplicação desses direitos na contemporaneidade.
foram contemplados.
P. 87 P. 88-89
Direitos humanos, uma conquista Conexões: Bioética
constante Tendo como tema central a questão da ética em pesqui­
Quanto ao conceito de direitos humanos, certifique-se sas científicas, em práticas que vão contra os direitos huma­
de que os estudantes entendem que ele se refere à classe nos, mobiliza-se a habilidade EM13CHS605 e trabalha-se
de direitos compreendidos como inerentes a todos os com os seguintes Temas Contemporâneos Transversais:
seres humanos do planeta, por isso, são universais e ina­ ciência e tecnologia; e educação em direitos humanos. Para
lienáveis. Criados no contexto do fim da Segunda Guerra refletir sobre esse tema, os estudantes entrarão em contato
Mundial, com a proclamação da Declaração Universal dos com debates das áreas de Ciências Humanas e Sociais
Direitos Humanos, seu princípio básico é o da não violên­ Aplicadas e de Ciências da Natureza e suas Tecnologias,
cia, visto que o mundo acabara de testemunhar, naquele podendo reconhecer como esses campos são articulados
momento, um dos episódios mais tristes e violentos de em diversos aspectos da realidade.

LXXIII
Caso julgue adequado, articule o trabalho dessa seção pelo direito em questão. Por exemplo, as crianças e os
juntos aos professores de Ciências da Natureza, combi­ adolescentes têm uma série de direitos específicos, asse­
nando a melhor maneira de potencializar o trabalho com gurados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
as habilidades das duas áreas.
RESPOSTAS Direitos individuais: por
1. C
 om base na revolução científica ocorrida principal­
uma existência digna
mente no século XX, pode-se pôr em discussão o modo Direitos individuais são aqueles que preveem a auto­
como esses princípios atuam na tentativa de concilia­ nomia dos indivíduos na sociedade, ou seja, que reconhe­
ção entre a busca por inovações científicas e a preser­ cem a particularidade e a diversidade de cada pessoa ou
vação da existência humana e, em contrapartida, o grupo social. Comente, por exemplo, o direito de pessoas
respeito aos direitos individuais. transgênero adotarem documentos com seu nome social.
Ainda, o direito de escolher com quem se casar, onde
a) Espera-se que os estudantes construam argumen­
morar, que profissão adotar. Vale a pena convidá-los a
tos com base em dados relevantes e que embasem
refletir mais uma vez sobre a inclusão ou a exclusão des­
sua opinião, favorável ou contrária ao uso de fontes
ses direitos por determinados grupos sociais. Lance a
de pesquisa que levem em conta ou não o sofri­
pergunta: “Será que todo mundo tem garantido o direito
mento dos pacientes submetidos às experiências.
de escolher no que vai trabalhar?”. Para tornar o discurso
Incentive-os a exercitar a empatia nesse cenário.
mais próximo da realidade dos estudantes, integre à dis­
b) Auxilie os estudantes na formulação do artigo de cussão o fato de eles estarem prestes a fazer uma escolha
opinião, lembrando-os que devem embasar seus profissional, o que se configura em um direito individual.
argumentos na leitura da Declaração Universal
sobre Bioética e Direitos Humanos. P. 92-93
P. 90-91
Os conceitos de justiça, igualdade e
Direitos sociais, um caminho equidade
para realizar a justiça Espera-se que, quanto aos conceitos apresentados, os
Com relação ao conceito de direitos sociais, é funda­ estudantes assimilem a noção de que justiça, igualdade e
mental que os estudantes compreendam que tais direitos equidade se relacionam na garantia de direitos e na cons­
são aqueles assegurados pelo Estado com o objetivo de trução de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
garantir relações justas entre diferentes grupos sociais. O conceito de justiça reforça a noção proposta pela
Eles são assim chamados porque partem do princípio de Declaração Universal dos Direitos Humanos de que todos
que o indivíduo que vive em sociedade integra determina­ os homens são iguais perante a lei. Portanto, o conceito de
dos grupos sociais. Enfatize que os direitos sociais são igualdade expressa um princípio fundamental nas socieda­
comumente estabelecidos por meio de uma Constituição des e tornou-se uma ferramenta para a ampla participação
(documento que rege as leis de um país). Oriente-os a ler política dos cidadãos. É importante destacar que a noção
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
como a Constituição federal brasileira de 1988 define os de igualdade, que é abstrata, pode resultar em injustiças
direitos sociais no Artigo 6o.
DA EDITORA DO BRASIL sociais. Por exemplo, partindo do princípio de que todos são
Convide-os a refletir sobre como esses direitos se concre­ iguais, vestibulandos de colégios privados e vestibulandos
tizam na sociedade brasileira atualmente. Será que todos os de escolas públicas de periferia disputam a mesma vaga na
cidadãos têm esses direitos garantidos? Aproveite para reto­ universidade. Verifique o que os estudantes pensam a esse
mar o conceito de minorias, abordado na unidade anterior. respeito: trata-se de uma situação injusta, visto que os dife­
É de grande relevância a compreensão de que os direi­ rentes grupos de vestibulandos têm condições materiais
tos sociais, diferentemente dos direitos humanos, não são que os beneficiam ou os prejudicam durante o processo de
promulgados por um órgão internacional que entende que preparação para a prova?
todos os seres humanos têm direitos inalienáveis; eles Aproveite para introduzir o próximo conceito, o de equi­
são, antes, fruto de lutas sociais empreendidas por aque­ dade. Certifique-se de que os estudantes compreendam
les que usufruem desses direitos. Por exemplo, os direitos que esse termo designa o tratamento “desigual” aos desi­
trabalhistas resultaram de movimentações sociais, muitas guais para que a justiça social seja efetivada. No caso da
vezes traduzidas por meio de greves dos trabalhadores, situação exposta acima, mobilize os estudantes a refletir
que os reivindicaram. sobre propostas que poderiam ser elencadas para suprimir
Outro ponto importante a ser reforçado é aquele apre­ a desigualdade entre os vestibulandos. Tratar de maneira
sentado pelo filósofo Norberto Bobbio: enquanto os direi­ “desigual” aquele que é desigual diz respeito à criação de
tos humanos preveem a igualdade entre os homens, os políticas afirmativas com o intuito de eliminar a exclusão
direitos sociais preveem justamente aquilo que os dife­ social, cultural e econômica de indivíduos pertencentes a
rencia, à medida em que o pertencimento a diferentes grupos que sofrem algum tipo de discriminação, como
grupos sociais é o que determina quem será beneficiado mulheres, pessoas negras, homossexuais, entre outros.

LXXIV
Proponha uma roda de discussão ou a realização de um P. 94
debate sobre políticas afirmativas, como a política de cotas
em universidades e empresas. Boxe: Igualdade, equidade e justiça
Auxilie os estudantes na interpretação do texto de Aris­
Aos conceitos apresentados, soma-se o de justiça
tóteles. Para ilustrar os conceitos de igualdade, equidade
social, abordado pela filósofa Nancy Fraser (1947-). Para
e justiça, busque por imagens que façam uma problema­
essa autora, a justiça social concretiza-se por meio da
redistribuição de renda entre os indivíduos de uma socie­ tização dessa discussão. Veja um exemplo no link a seguir:
dade e do reconhecimento de que o outro (enquanto ser) https://brasil.elpais.com/verne/2020-06-16/a-igualdade
é igual a mim, à medida que merece ser tratado com dig­ -de-oportunidades-explicada-com-uma-macieira-quatro
nidade, como prevê a Declaração Universal dos Direitos -quadrinhos-e-um-meme.html (acesso em: 9 set. 2020).
Humanos, mas também de que é diferente de mim, em RESPOSTAS
face de que, assim como eu, tem suas particularidades
subjetivas e materiais. a) De acordo com Aristóteles, a justiça tem um caráter
universalizante que pode não julgar corretamente ao
Leia um trecho do pensamento de Nancy Fraser no texto
tentar igualar a situação de todos. Por isso, seria
de apoio.
necessário que a justiça fosse acompanhada da
Texto de apoio equidade. Isto é, considerar as diferenças de situação,
e aplicar a justiça de acordo com essas diferenças.
[...] proponho distinguir analiticamente duas ma- b) Como resultado da pesquisa, podem ser mencio­
neiras muito genéricas de compreender a injustiça. nadas as seguintes políticas afirmativas: a lei que
A primeira delas é a injustiça econômica, que se ra- tornou obrigatório o ensino sobre história e cultu­
dica na estrutura econômico-política da sociedade. ra afro-brasileira nas escolas, de 2003; a Política
Seus exemplos incluem a exploração (ser expropria-
Nacional de Saúde Integral da População Negra,
do do fruto do próprio trabalho em benefício de ou-
tros); a marginalização econômica (ser obrigado a um de 2009; o Estatuto da Igualdade Racial, de 2010;
trabalho indesejável e mal pago, como também não a Lei de Cotas, de 2012; entre outras.
ter acesso a trabalho remunerado); e a privação (não
ter acesso a um padrão de vida material adequado).
P. 95
[...] Atividades
A segunda maneira de compreender a injustiça é 1. Espera-se que o estudante se sinta capacitado a iden­
cultural ou simbólica. Aqui a injustiça se radica nos
tificar que o conceito de cidadania, embora englobe
padrões sociais de representação, interpretação e co-
diferentes significados e diferentes condições que
municação. Seus exemplos incluem a dominação cul-
tural (ser submetido a padrões de interpretação e co- fazem de um sujeito um cidadão, guarda como aspecto
municação associados a outra cultura, alheios e/ou fundamental a participação em decisões políticas.
hostis à sua própria); o ocultamento (tornar-se invisí- 2. Oriente os estudantes na realização da pesquisa no
vel por efeito das práticas comunicativas, interpreta- link. Pode ser que eles apresentem como resultado da
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
tivas e representacionais autorizadas da própria cul- pesquisa os artigos e parágrafos presentes no capítulo
tura); e o desrespeito (ser difamado ou desqualificado
DA EDITORA DO BRASIL
rotineiramente nas representações culturais públicas
VII da Constituição (“Da Família, da Criança, do Ado­
estereotipadas e/ou nas interações da vida cotidiana). lescente, do Jovem e do Idoso”).
[...] O remédio para a injustiça econômica é alguma 3. Espera-se que o estudante, com base na análise da tiri­
espécie de reestruturação político-econômica. Pode nha, reflita sobre a questão dos direitos humanos e as
envolver redistribuição de renda, reorganização da dificuldades atuais para que sejam colocados em prá­
divisão do trabalho, controles democráticos do inves- tica. Por exemplo, apesar de os direitos humanos se
timento ou a transformação de outras estruturas eco- apresentarem como universais, pode haver pessoas e
nômicas básicas. Embora esses vários remédios difi- projetos ideológicos que neguem sua plena efetivação.
ram significativamente entre si, doravante vou me
referir a todo esse grupo pelo termo genérico “redis- 4. A expectativa é de que os estudantes identifiquem o
tribuição”. O remédio para a injustiça cultural, em con- avanço dos aplicativos como um resultado do avanço
traste, é alguma espécie de mudança cultural ou sim- técnico. Os trabalhadores desses aplicativos, segundo
bólica. Pode envolver a revalorização das identidades exposto pela reportagem, estão submetidos a condi­
desrespeitadas e dos produtos culturais dos grupos ções de trabalho precarizadas, o que provoca o surgi­
difamados. Pode envolver, também, o reconhecimen- mento de demandas por condições melhores, isto é,
to e a valorização positiva da diversidade cultural. por direitos. No século XIX, esse tipo de relação era
FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento? impensável porque a tecnologia que utilizamos hoje
Dilemas da justiça numa era “pós-socialista”. Cadernos de
Campo. São Paulo, n. 14/15, p. 231-239, 2006. Disponível
não estava disponível, mas esse movimento se asse­
em: http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/ melha aos movimentos operários daquele período,
view/50109/54229. Acesso em: 29 jun. 2020. uma vez que trabalhadores estão em busca de melho­
res condições para o exercício de suas atividades.

LXXV
P. 96-97 Proponha uma reflexão sobre como as transições de
governo efetivadas no Brasil resultaram na manutenção
Às vésperas da Nova República de algumas características do regime anterior. Dessa forma,
a Nova República, iniciada em 1985, carregou a manuten­
O enfoque deste item é a importância das mobilizações ção de instituições herdadas da Ditadura Civil-Militar, além
populares brasileiras no processo de abertura democrá­ de numerosas semelhanças com esse regime.
tica. A reorganização de categoriais de trabalhadores,
estudantes, movimentos negro e indígena, incentivados P. 98
pelo arrefecimento das políticas de repressão, foi deter­
minante para a transição que ocorreu no período. Entre­ A reorganização partidária
tanto, enfatize que, mesmo com a imensa pressão advinda Explique para os estudantes que uma das característi­
das ruas pela queda do regime ditatorial, isso se concre­ cas dos governos democráticos é a liberdade de organiza­
tizou de maneira lenta e gradual. ção partidária, de modo que a abertura democrática
Veja no texto de apoio de que modo outras associações acarretou a reorganização dos partidos políticos. Nesse
periféricas contribuíram para essa migração à democracia. momento surgiram partidos importantes no cenário polí­
tico brasileiro até os dias de hoje, como o Partido dos Tra­
Texto de apoio balhadores (PT), o Partido da Social Democracia Brasileiro
(PSDB) e o PMDB (Partido do Movimento Democrático
Brasileiro, atual MDB).
Uma das pontas mais ativas dessa movimenta-
ção brotou na periferia de São Paulo através de as- Projetos nacionais em disputa
sociações quase invisíveis ao governo mas típicas Oriente os estudantes de modo que diferenciem as
de uma população desassistida pelos poderes pú- ideias de transição democrática e de revolução democrá­
blicos: clubes de mães, grupos de moradores, comi- tica, elaboradas pelo sociólogo Florestan Fernandes
tês de saúde. As reuniões aconteciam geralmente (1920-1995). A primeira acarretaria para o novo governo
no salão paroquial das igrejas de bairro, e contavam uma série de permanências em relação ao período ante­
com a estrutura e a proteção das Comunidades Ecle- rior, como a manutenção dos privilégios militares e da elite
siais de Base. Em meados dos anos 1970, já existiam burguesa. A segunda, no entanto, continha a ideia de rom­
milhares de CEBS espalhadas nas cidades e na área pimento brusco com as instituições e práticas do regime
rural que funcionavam como celeiros de lideranças anterior, com a construção de um governo, de fato, novo.
comunitárias. Essas comunidades estavam na ori-
Um dos objetivos é que a leitura do texto de Florestan
gem dos novos movimentos sociais que emergiram
Fernandes resulte na percepção, pelos estudantes, de que
na cena pública do país ao longo dessa década – Mo-
ele traça um paralelo entre o momento de transição da
vimento do Custo de Vida, Sociedade dos Amigos
Ditadura Civil-Militar para a democracia e outros períodos
do Bairro, Associações de Favelas –, e foram essen-
de transição de regimes no Brasil, como a Independência,
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
ciais para organizar a participação popular em ati-
a Proclamação da República e a abolição dos escravos.
vidades de pressão política.
DA EDITORA DO BRASIL Questione-os sobre a semelhança apontada pelo sociólogo
A discussão sobre a tolerância associada à pauta
nesses processos. Avalie os conhecimentos adquiridos por
dos direitos civis entrou no debate público animada
eles em relação a esses conteúdos, já estudados nas uni­
por novas formas de militância política que se orga-
dades anteriores.
nizaram durante os anos 1970: o Movimento Negro
Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR), P. 99
o Centro da Mulher Brasileira (CMB) e o Somos: Gru-
po de Afirmação Homossexual Os movimentos de Outro ponto de vista: Estado mínimo ou Estado
minorias política alargaram os contornos da luta de- intervencionista?
mocrática e fizeram seus pontos de vista em publi- O objetivo do boxe é apresentar diferentes perspectivas
cações próprias que combinavam um novo ativismo sobre a participação do Estado na economia.
político, no qual se reivindicavam o reconhecimento 1. Estado mínimo é aquele que não interfere – ou interfere
da diferença associado à pauta de demanda por igual- muito pouco – na economia. Isso significa que ele per­
dade e universalidade de direitos, e que introduziu mite que o mercado e a economia se autorregulem. O
novas categorias analíticas, como gênero ou sexua- Estado mínimo é pregado por governos liberais e neo­
lidade [...] liberais como necessário para o pleno funcionamento
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, da economia capitalista. Estado intervencionista é
Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia.
São Paulo: Companhia das Letras, aquele que exerce maior controle sobre a economia,
2015. E-book. como pela administração de setores estratégicos da
economia nacional através de empresas estatais, pela

LXXVI
adoção de políticas que restringem a margem de atua­ P. 103
ção da iniciativa privada e pela oferta de mais serviços
públicos à população. Avanços e desafios na Nova República
2. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a comparar Incentive os estudantes a identificar os principais fato­
as duas visões de participação do Estado na economia res responsáveis pelas dificuldades de cumprimentos dos
na elaboração da resposta. direitos fundamentais postulados na Constituição, como
3. Auxilie os estudantes na realização da atividade, indi­ moradia, emprego, saúde e educação. Relacione essas
cando sites confiáveis de pesquisa para a coleta de dificuldades com as desigualdades raciais e sociais estu­
informações, alertando-os para o cuidado com notícias dadas nas unidades anteriores.
falsas. Depois, incentive as duplas a socializar suas
elaborações com a turma, contribuindo, assim, para a P. 104
construção do debate sobre o tema.
Juventude e políticas públicas
P. 100-101 Esclareça o significado de políticas públicas. Elas con­
sistem em conjuntos de programas, ações e decisões toma­
A Constituição Cidadã e os direitos das pelos governos (federal, estaduais ou municipais), com
humanos a participação direta ou indireta de entes públicos ou pri­
Esclareça que a Constituição vigente atualmente no vados, com o objetivo de assegurar determinado direito de
Brasil, promulgada em 1988, é chamada de cidadã por ter cidadania a grupos sociais, étnicos ou econômicos.
sido elaborada com a participação da população, respon­ Estimule um debate sobre a importância dessas políti­
sável pela inclusão de demandas populares. O principal cas para a juventude brasileira, principalmente nas cama­
avanço com relação ao período anterior consistiu na garan­ das mais vulneráveis da população, para garantir o
tia de direitos sociais e políticos da população. cumprimento dos direitos básicos assegurados pela Cons­
Além desses avanços, é preciso frisar que a Constituição tituição.
de 1988 é marcada pela contradição de tentar atender às Proponha uma reflexão sobre a importância da juven­
demandas de todas as camadas da população, contem­ tude na construção da sociedade. Destaque que o Brasil,
plando os interesses de militares, grandes empresas, sin­ hoje, é um país demograficamente jovem, ou seja, a maior
dicalistas etc. Assim, formou-se um texto amplo, que parte da população brasileira se concentra, em primeiro
abrange temas que não necessariamente dizem respeito lugar, entre os 35 e os 39 anos e, em segundo, entre os 15
às atribuições constitucionais. e os 19. Portanto, os jovens são uma parcela significativa
Levante os conhecimentos prévios dos estudantes da população, que demandam políticas públicas especí­
sobre a Constituição brasileira, tanto no sentido dos direi­ ficas capazes de garantir seu desenvolvimento pleno.
tos como no dos deveres de cada cidadão. Leia o artigo do texto de apoio, que trata sobre juven­
tudes no espectro de sua atuação social.
P. 102 MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Texto de apoio
DA EDITORA DO BRASIL
A garantia de direitos
Explique que tratar as questões sociais como respon­ Problemas reais, identificados principalmente na
sabilidade do Estado é uma mudança de paradigma na área da saúde, da segurança pública, do trabalho e do
política brasileira. Chame a atenção para os avanços que emprego, dão a materialidade imediata para se pen-
foram alcançados nesse processo, como a garantia à sar as políticas de juventude sob a égide dos proble-
saúde e à educação públicas, bem como a participação mas sociais a serem combatidos. Nesse processo é
da população nos processos políticos. Questione como possível reconhecer que, em muitas formulações, a
esse direito se verifica na prática, pensando nos desafios própria condição juvenil se apresenta como um ele-
encontrados ainda hoje no que se refere ao acesso a ser­ mento problemático em si mesmo, requerendo, por-
tanto, estratégias de enfrentamento dos “problemas
viços públicos.
da juventude”. Isso se expressa, por exemplo, na cria-
Comente que o projeto que deu origem ao Sistema ção de programas esportivos, culturais e de trabalho
Único de Saúde (SUS) é considerado um modelo a ser orientados para o controle social do tempo livre dos
seguido em todo o mundo, por garantir acesso universal jovens, destinados especialmente aos moradores dos
à saúde em todo o território nacional. Chame a atenção da bairros periféricos das grandes cidades brasileiras.
turma para a importância do SUS no combate à Sars­ CARRANO, Paulo César Rodrigues; SPOSITO, Marília Pontos.
-CoV-2, não somente no sentido de garantir atendimento Juventude e políticas públicas no Brasil. In: 26a REUNIÃO
ANUAL DO ANPEd, 2003, Poços de Caldas, MG. Disponível
médico à população, como também por ser responsável em: https://www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a03. Acesso
pelas pesquisas e pelo desenvolvimento de tecnologias em: 26 jul. 2020.
para ajudar a sanar o problema sanitário no país.

LXXVII
P. 105 d) Sim, é possível compreender a situação da popu­
lação negra hoje como um reflexo dos séculos de
Atividades escravidão e posteriormente dos séculos de exclu­
são e marginalização dessa população na socieda­
1. a) Herbert de Souza (1935-1997) traça um retrato
de brasileira. A escravidão negou o direito à huma­
da Nova República assumindo um lugar em que as
nidade dos negros no Brasil por quase 400 anos,
questões sociais chegam aos discursos, mas não
ao passo que sua abolição não propiciou a garan­
se concretizam na prática. Ou seja, a crítica do
tia de direitos nem foi responsável por políticas
autor consiste em afirmar que, ao mesmo tempo
públicas de reparação dos anos de opressão. Como
que a Nova República pós-Ditadura Civil-Militar
reflexo, tem-se na atualidade a situação estrutural
assumiu uma ideologia em que se destacava a
da população negra no Brasil.
necessidade de olhar para o social, na política
posta de fato em prática a questão social continuou e) Sim. É possível identificar mecanismos de exclusão
esquecida, reproduzindo e alimentando desigual­ pelos baixíssimos índices de acesso ao mercado
dades históricas da sociedade brasileira. de trabalho e aos cargos de alta remuneração. Ao
mesmo tempo, os índices da população carcerária
b) Espera-se que os estudantes reflitam empregando
refletem a exclusão da população negra no acesso
como subsídio os conhecimentos adquiridos ao
à educação e ao trabalho, o que gera situações de
longo da unidade. Certifique-se de que eles iden­
marginalização. No que diz respeito aos mecanismos
tifiquem a presença ainda latente das desigualda­
de inclusão, percebe-se aumento no índice de
des sociais brasileiras e a carência de políticas
acesso ao Ensino Superior, reflexo das políticas
públicas efetivas que visem acabar com esse abis­
de cotas raciais.
mo social. Dessa forma, pode-se afirmar que os
apontamentos do sociólogo são permanentes, em Conduza a discussão das análises realizadas pelos
que pesem os avanços perpetrados em determi­ estudantes cuidando para que a discussão seja
nados contextos desde o momento em que o tex­ feita de maneira organizada e respeitosa.
to foi publicado, visto que a desigualdade social f) É essencial que as propostas de ação partam dos
ainda é uma realidade. estudantes. Oriente-os a pesquisar inicialmente o
2. a) Segundo os gráficos apresentados no estudo, significado de “políticas públicas”, para ajudá-los
negros e negras compõem os maiores índices de a pensar no que pretendem elaborar.
desemprego, subutilização e informalidade de mão P. 106
de obra. Além disso, uma maioria de negros ocupa
cargos mais baixos, como estagiários e aprendizes, O exercício da democracia
ao passo que, nos cargos mais altos, com maiores Nesse item, serão discutidas as caraterísticas e as ins­
remunerações, eles são minoria. É importante des­ tituições do sistema de governo brasileiro e o equilíbrio
tacar também que negros e negras recebem os entre os três poderes como alicerce da nossa democracia.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
menores salários, e as mulheres negras são as
mais mal remuneradas.
DA EDITORA DO BRASIL Presidencialismo * parlamentarismo
b) Os dados do estudo indicam que, nos últimos Os estudantes conhecerão as definições dos termos
anos, houve aumento do número de pretos e chefe de Estado e chefe de governo, com base nas quais
principalmente de pardos – autodeclarados, negros se apresenta o significado de presidencialismo, nosso
de pele mais clara – no Ensino Superior, resulta­ sistema de governo, e parlamentarismo, com a retomada
do da aplicação da política de cotas raciais. En­ do plebiscito realizado no Brasil em 1993. Destaque que
tretanto, ainda são os negros – pretos e pardos a principal referência de comparação, o Reino Unido, tem
– que compõem a maior parte dos analfabetos, o clara distinção entre o chefe de governo e o chefe de
que escancara a desigualdade racial presente na Estado, pois esta última função é desempenhada pela
educação no Brasil. família real.
c) No que diz respeito à violência, a população negra
é a maior vítima no país em todos os sentidos. São P. 107
os negros – homens, jovens, pobres – os mais
atingidos por mortes violentas, incluindo aquelas O plebiscito de 1993
perpetradas pelo Estado; quanto à violência do­ Aponte que, na época em que se realizou o plebiscito,
méstica, enquanto há diminuição nos índices de houve questionamentos sobre a possibilidade de adotar
feminicídio entre as mulheres brancas, ocorre o uma forma de governo não republicana, a monarquia. Dos
oposto entre as mulheres negras. Os negros também 67 milhões de brasileiros que votaram, apenas 6,8 milhões
representam a maioria da população carcerária apoiaram o retorno desse regime, enquanto 44,2 milhões
brasileira, reflexo do racismo estrutural do país. optaram pela república. O presidencialismo venceu com

LXXVIII
37,1 milhões de votos, e o parlamentarismo obteve eletivos quando se está votando, para fundamentar o voto
16,5 milhões deles. Quase 10 milhões de pessoas anula­ com base na percepção de que as promessas feitas
ram o voto. durante a campanha são factíveis e estão dentro do escopo
de atuação dos candidatos.
Boxe: Os três poderes
Uma vez que o povo brasileiro optou pelo presidencia­ Boxe: Quociente eleitoral
lismo, ainda muito influenciado pelo movimento das Dire­ O objetivo do boxe é apresentar aos estudantes de que
tas Já e pelo desejo coletivo de votar de forma direta para maneira funciona o processo de eleição de parlamentares
presidente, foi preciso organizar como seria a estrutura do no Brasil e como esses cargos se relacionam com as legen­
governo. No Brasil, a democracia se apoia no equilíbrio das de partido e o quociente eleitoral.
entre os três poderes, detalhados na unidade. É importante
ressaltar que são poderes independentes, regidos por Sugestão de atividade complementar
regras próprias. Proponha aos estudantes que observem a charge dispo­
nível em: https://www.otempo.com.br/charges/charge-o
No caso do Poder Legislativo, que apresenta diversas
-tempo-25-08-2016-1.1360699 (acesso em: 29 ago. 2020),
instâncias, as eleições são pautadas pelo cálculo do quo­
publicada no jornal O Tempo, em 25 de agosto de 2016.
ciente eleitoral (QE). Ainda que não seja necessário entrar
nos pormenores matemáticos do cálculo, ele está sendo Inicie com eles uma discussão com a seguinte per­
abordado para que os estudantes entendam o mecanismo gunta: “Qual é a crítica que a charge de Duke faz ao Poder
do número de cadeiras na Câmara: um candidato que Judiciário?”.
tenha obtido votação muito expressiva acaba por “puxar” Ressalte que a charge traz uma réplica da estátua que
candidatos do seu partido com menos votos. Assim, dife­ representa a Justiça, localizada diante do Supremo Tribunal
rentemente das eleições para os cargos do Poder Execu­ Federal, na Praça dos Três Poderes. A Justiça costuma ser
tivo, o Legislativo tem uma proporcionalidade em que nem retratada de olhos vendados, pois “a justiça é cega”, o que
sempre os mais votados serão os ocupantes dos cargos. significa que a lei deveria se aplicar igualmente a todas as
O Poder Judiciário cumpre a função de regular e fisca­ pessoas, sem distinção. Nas mãos, ela segura uma balança,
lizar a atuação dos outros dois poderes. Seu papel é cons­ na qual pesa ofensas e crimes, e uma espada, com a qual
tituir-se em arcabouço das leis e da justiça no país, com executa as sentenças. O chargista manteve todos esses
poder de interferência na ação dos demais, no caso de leis elementos, mas retratou a Justiça como um boneco inflável,
ou decretos entrarem em conflito com a Constituição fede­ com a parte de baixo arredondada, que, portanto, pode
ral e seus princípios. pender para qualquer lado. A estátua retratada, assim como
o boneco, não cai, no entanto pode ser empurrada para
P. 108-110 todos os lados, chegando bem perto de tombar, mas se
reerguendo. A crítica que a imagem traz é a de que o Poder
Presidencialismo de coalizão Judiciário balança de acordo com os ataques que sofre dos
Algumas particularidades do sistema brasileiro são dis­ outros poderes e da própria população.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
cutidas, sobretudo o que ficou conhecido como presiden­
cialismo de coalizão, ou seja, a necessidade que o Poder Mulheres nos espaços de poder
DA EDITORA DO BRASIL
Executivo tem de obter o aval do Legislativo para aprovar
A abordagem desse tópico é uma oportunidade de ins­
programas e medidas, assim como rubricas orçamentárias.
tigar os estudantes sobre a atividade de pesquisa que será
Finalmente, a unidade volta-se para a atuação dos realizada ao final do livro, a qual trata também da repre­
poderes nos níveis federal, estadual e municipal. Conhecer sentatividade feminina em cargos públicos.
quais são as instâncias do governo nesses três níveis e
como elas “dialogam”, ou seja, como se efetiva a relação P. 111
entre os poderes, os governos e as Câmaras, assim como
a relação entre os partidos, entre “governo” e “oposição”, Atividades
é fundamental para compreender como funciona a nossa 1. O objetivo da atividade é aproximar os estudantes dos
democracia. Também é importante chamar a atenção para espaços de tomada de decisão política em nível local.
a função de cada uma dessas instâncias e instituições, Não se pretende promover uma discussão específica
pois, ao ter conhecimento do que cabe a cada uma, é pos­ sobre os partidos ou as convicções políticas de cada
sível saber de quem se deve cobrar determinados posi­ um, e sim entender o funcionamento da Câmara de
cionamentos e políticas. Vereadores, como foi o comportamento dos eleitores
Muito em função de uma tradição paternalista da polí­ no último período eleitoral, quem é o presidente da
tica brasileira, costuma-se associar todos os problemas Câmara, qual é a participação dos partidos etc. Orien­
sociais à figura do presidente, ou mesmo à ideia de que te-os na pesquisa dessas informações. Também se
caberia a ele resolver todos os problemas. É fundamental objetiva levar os estudantes a refletir sobre a partici­
ter noção das atribuições dos ocupantes dos cargos pação de mulheres e pessoas negras nesses espaços.

LXXIX
Pode-se pedir aos estudantes que façam uma compa­ influência de estados no comando do país, de modo a
ração das últimas duas eleições, por exemplo, para reforçar a centralização do poder.
observar a quantidade de pessoas representativas de Ressalte que a proposta de regionalização da década
“minorias” que se candidataram e quantas de fato con­ de 1940 se fundamentava, sobretudo, em aspectos natu­
seguiram se eleger refletindo sobre avanços ou retro­ rais e que, ao longo do tempo, essa proposta foi revista,
cessos quanto à representatividade no município em visando atender às transformações que se operam no
que vivem. território brasileiro, cujas circunstâncias se deram interna
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes obser­ e externamente. Na década de 1970, período em que
vem o processo complexo de negociações para aprova­ surge a regionalização, que, com algumas mudanças, é
ção de uma lei e a importância do debate público e da bem próxima da que conhecemos hoje, o país se tornava
articulação entre diferentes interesses no processo majoritariamente urbano. O governo militar elaborou pla­
parlamentar. No site do Senado e da Câmara dos nos e políticas que pudessem promover o desenvolvi­
Deputados é possível acompanhar a tramitação das leis. mento do território nacional. Para isso, era necessária uma
3. Os estudantes terão a tarefa de identificar problemas regionalização mais condizente com a realidade, cada vez
reais, bem como compreender como as lideranças mais urbana.
locais se relacionam com essas situações. Por exemplo, É importante que os estudantes compreendam que as
como os líderes dessas organizações medeiam e bus­ regiões e as fronteiras em geral são produções humanas
cam soluções para os problemas da comunidade? Após que acompanham as dinâmicas sociais, políticas e econô­
identificar um macroproblema, os estudantes deverão micas da sociedade.
classificá-lo em problemas menores. O storyboard nesta
atividade é uma forma de os estudantes utilizarem ele­ P. 113-114
mentos gráficos para representar o problema.
Regiões e as superintendências de
P. 112
desenvolvimento regional
Território e planejamento Reitere a importância da criação das regiões para o
no Brasil planejamento territorial do país, no que diz respeito tanto
à produção de estatísticas como à elaboração de políticas
Quando Getúlio Vargas (1882-1954) ascendeu ao
destinadas ao desenvolvimento regional.
poder, na década de 1930, o contexto promovido pela crise
de 1929 forneceu algumas das bases para o início da tran­ Mais especificamente sobre a criação da Superinten­
sição de uma sociedade rural para uma sociedade urbana dência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), explore
no país. Vargas, sobretudo após 1937, com o Estado Novo, a participação de Celso Furtado (1920-2004) nesse pro­
implantou um governo fortemente centralizado e passou cesso. Intelectual nascido no sertão paraibano e dono de
a fazer políticas que tinham o propósito de articular dife­ uma trajetória muito importante, Furtado se dedicou a
rentes setores econômicos e sociais. pensar a América Latina, quando integrou a Comissão Eco­
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Esclareça que, para atingir seus objetivos de cunho nômica para a América Latina (Cepal) na década de 1950
e, posteriormente, a Sudene. Com base nesse exemplo,
DA EDITORA DO BRASIL
centralizador, foi necessário que o governo varguista
desenvolvesse e integrasse o território nacional. Foi nesse discuta com os estudantes a grande quantidade de esca­
contexto que se criou o Instituto Brasileiro de Geografia e las em que é possível planejar e desenvolver ações para
Estatística (IBGE), em um processo que contou com a par­ reduzir as desigualdades regionais.
ticipação ativa de muitos geógrafos. Segundo Pedro Geiger Além disso, analise os motivos que levaram a um baixo
(1923-), na base da integração nacional estava “um dis­ desempenho da Sudene, considerando todos os seus anos
curso descritivo, a mensuração, o controle do território e, de atuação. É importante salientar que a realidade do ser­
também, dividir para reinar, ou seja, a divisão regional” tão nordestino vai muito além da seca e dos aspectos de
[GEIGER, 1988, p. 62]. ordem natural.
Considere explorar a trajetória do IBGE após a sua cria­
ção, em 1938, mostrando como as divisões regionais P. 114-115
foram importantes para obter dados sobre o espaço bra­
sileiro e traçar planos para o planejamento territorial.
Diferentes propostas e realidades
Apresente aos estudantes o mapa das regiões geoeco­
P. 112-113 nômicas elaborado pelo geógrafo Pedro Geiger. É relevante
que eles percebam que, a despeito da regionalização oficial,
Planejamento, integração e regiões houve várias formas de regionalizar o país, dependentes
Comente que a regionalização do Brasil esteve no con­ dos critérios adotados por seus autores. Chame a atenção
texto também de uma tentativa de escravizar algumas da turma para as diferenças culturais entre as regiões do
identidades territoriais, bem como reduzir o poderio e a Brasil, para além das questões econômicas e sociais.

LXXX
P. 115-117 que visavam à desconcentração das atividades econô­
micas e dos empregos, a qual, no entanto, não foi capaz
As regiões geoeconômicas de alterar a realidade brasileira.
Para abordar a proposta de Pedro Geiger, incentive os
P. 121
estudantes a refletir, com base nos conhecimentos prévios
que possuem, sobre as características em comum entre Atividades
as três regiões. Essa etapa pode ser cumprida em grupos,
1. Resposta pessoal. Com base nas discussões e pesqui­
resultando em uma apresentação das análises realizadas
sas, espera-se que os estudantes se posicionem de
e um debate na sequência.
forma crítica, autônoma e ética diante da problemática
P. 117-118 exposta, alinhado às competências gerais e específicas
da BNCC, bem como às habilidades que permeiam esta
Os “quatro Brasis” unidade. É importante que os estudantes articulem os
Para abordar essa proposta, apresente o conceito de conteúdos aprendidos ao longo da unidade às pesqui­
meio técnico-informacional desenvolvido pelo geógrafo sas para avaliar que, apesar de várias estratégias e
brasileiro Milton Santos (1926-2001). Dê exemplos de políticas de financiamento, o problema da seca per­
sistiu, muito pelo que ficou conhecido como “indústria
como essa realidade está presente nas quatro regiões
da seca”, sem que a seca seja, efetivamente, o pro­
propostas por Santos e pela geógrafa argentina Maria Laura
blema. Pode-se mencionar, por exemplo, casos de
Silveira de forma desigual, destacando o papel da região
países ou regiões em áreas áridas, como algumas
concentrada no contexto de integração ao mercado global,
cidades no oeste dos Estados Unidos e Israel, que con­
bem como as relações das demais regiões com o meio
seguiram contornar com efetividade as questões cli­
técnico-científico-informacional. Considere propor aos
máticas.
estudantes refletir sobre as diferentes regionalizações e
relacioná-las, reforçando o caráter social e político das 2. A desigualdade regional no território brasileiro é antiga
propostas. e remonta a períodos em que regiões como as que
conhecemos hoje nem existiam. Para ficar em análises
P. 118-119 recentes, é possível notar uma concentração econô­
mica no que se conhece hoje como Sudeste de forma
Divisão regional e desigualdade mais restrita, e Centro-Sul, de forma ampla, desde o
Discuta as causas das disparidades econômicas regio­ período áureo do café, em que a região se configurou
nais, atrelando-as, entre outros fatores, ao desempenho como principal produtora no circuito mundial. Com o
de alguns períodos econômicos de relevância em algumas declínio do café, os capitais gerados no período anterior
áreas do território (metais preciosos, café, borracha etc.) voltaram-se para a indústria que se consolidou na área
e à falta de uma ação política efetiva que proporcione uma que apresentava estrutura para subsidiar a atividade:
integração econômica ampla. ferrovias, portos, cidades, mão de obra etc. Apesar de
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
Explore os mapas das páginas 118-119 e estimule os
iniciativas de descentralizar o polo de desenvolvi­
mento, pouco se conseguiu, de fato, à exceção de
DA EDITORA DO BRASIL
estudantes a interpretá-los. Destaque a questão da con­
exemplos pontuais, como alguns polos no Nordeste e
centração das indústrias no Sudeste e na área litorânea
a Zona Franca de Manaus. Essa situação gera desequi­
do Brasil e estabeleça paralelos com a concentração da
líbrios diversos, como a falta de perspectivas para as
infraestrutura tanto viária como ferroviária, bem como
populações locais, que, muitas vezes, se veem obriga­
da renda da população brasileira.
das a deixar seus locais de origem em busca de alter­
P. 120 nativas e oportunidades em outros locais.
3. Há uma nítida concentração da indústria e da produção
Desenvolvimento territorial como na Região Sudeste do Brasil. Nesse sentido, as agên­
política de Estado cias de desenvolvimento têm um importante papel na
Aborde os recursos destinados pelo poder público ao coordenação de iniciativas que visem equilibrar e
desenvolvimento das regiões do Brasil, a fim de reduzir fomentar o desenvolvimento regional. Entretanto, as
os desequilíbrios existentes sobretudo em relação ao ações dessas superintendências regionais e a coorde­
Sudeste. É válido ressaltar que, apesar de alguns esfor­ nação entre elas não têm sido muito efetivas ao longo
ços, as medidas não foram muito efetivas ao longo do do tempo, prova disso foi a extinção dessas agências
tempo, destacando-se algumas iniciativas pontuais que no começo do século, tendo sido recriadas posterior­
promovem um desenvolvimento muito concentrado. Por mente.
exemplo, o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), 4. Oriente os estudantes a levar em consideração os mais
aprovado pelo governo militar no final da década de 1970, diferentes critérios para propor uma nova regionaliza­
previa, no Capítulo da Política Urbana, algumas ações ção. Eles podem se basear em aspectos culturais,

LXXXI
como música, culinária, danças, tradições; econômi­ No texto indicado, o geógrafo analisa a questão regional nas
cos, como Índice de Gini e PIB; sociais, como IDH, políticas públicas desde o Plano de Metas. Material que pode
escolaridade, tipos de habitação, saneamento básico contribuir para o entendimento da Sudene, implantada no fi-
etc. Essa atividade estimula os estudantes a exercitar nal da década de 1950.
a reflexão e a análise crítica.
Site
INDICAÇÕES COMPLEMENTARES Senado Federal. Disponível em: https://www12.senado.
leg.br/noticias/materias/2014/09/09/como_funciona_o_
Artigos Congresso_Naciona. Acesso em: 13 ago. 2020.

BECKER, Bertha. Uma nova regionalização para pensar o O site do Senado apresenta informações sobre os debates e
Brasil? In: LIMONAD, Ester; HAESBAERT, Rogério; MOREI­ as sessões do Poder Legislativo e fornece uma explicação ilus-
trada sobre o funcionamento da Casa.
RA, Ruy (org.). Brasil, século XXI: por uma nova regionali­
zação – agentes, processos, escalas. São Paulo: CNPq/Max
Limonad, 2004. UNIDADE 4
Nesse artigo, a geógrafa Bertha Becker analisa a retomada da CAMINHOS E DEBATES PARA
preocupação com a regionalização na década de 1990 e apon- PENSAR O FUTURO
ta como uma de suas motivações o resgate da importância do
Estado em um contexto de aprofundamento das políticas neo-
liberais. A autora também faz uma análise mais aprofundada VISÃO GERAL
sobre a Amazônia, fundamental para a discussão em sala de
aula sobre essa região. A Unidade 4 propõe aos estudantes uma reflexão em
torno do tipo de governo que desejam. Para isso, são for­
SOARES, Wellington. Ditadura militar no Brasil. Disponível necidas ferramentas teóricas pertinentes à elaboração do
em: https://novaescola.org.br/arquivo/ditadura-militar/. pensamento autônomo e à ação consciente e propositiva,
Acesso em: 13 ago. 2020. mobilizando as habilidades EM13CHS604, EM13CHS605
e EM13CHS606.
Artigo que traz uma linha do tempo da Ditadura Civil-Militar no
Brasil ao longo dos seus 21 anos de duração. Apresenta resu- Para iniciar a discussão, a unidade analisa o conceito de
mos de cada período, bem como indicação de vídeos e docu- utopia, aplicando-o a diferentes formas de organização
mentários que abordam o assunto, contemplando as diversas social, como o socialismo utópico e o socialismo científico.
esferas em que a ditadura atuou. O material foi elaborado pa- Apresenta as propostas de reestruturação social elaboradas
ra ser utilizado em sala de aula, portanto se trata de uma fer- por pensadores comprometidos com a crítica da desigual­
ramenta didática que possibilita aprofundar os conhecimentos dade entre indivíduos e grupos, esclarecendo os princípios
acerca do período, além de fonte de pesquisa do conteúdo.
e os objetivos que as caracterizam. Com isso, visa-se capa­
citar os estudantes a compreender os diferentes aspectos
Filmes
que estão pressupostos e implicados nos antagonismos
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
ABC da greve, direção de Leon Hirszman. Brasil, 1990 sociais observados em cada momento histórico concreto.
[1979] (75 min). DA EDITORA DO BRASIL Objetiva-se, também, propiciar aos estudantes a capaci­
Nesse documentário, é retratada a greve dos metalúrgicos na dade de autoexame acerca dos seus valores e posiciona­
região do ABC Paulista, em 1979. Trata-se da primeira greve mentos diante da realidade política e social.
depois da implementação do AI-5, em 1968. Cerca de Em seguida, pretende-se oferecer ao estudante uma
180 mil operários interromperam a produção metalúrgica, sob visão sobre o conceito, a escrita e os usos da História, de
organização do sindicato, naquele momento liderado por Luiz modo que ele esteja apto a apropriar-se dos conhecimen­
Inácio Lula da Silva. Esse evento foi responsável por abalar as
tos históricos e participar do debate público de forma crí­
estruturas da Ditadura Civil-Militar durante o período de tran-
tica, mobilizando as habilidades EM13CHS101 e
sição democrática. O documentário pode ser utilizado como
ferramenta para ilustrar o cenário político do país naqueles anos. EM13CHS104. A metodologia utilizada e a narrativa pro­
duzida são apresentadas como instrumento de análise e
O quinto poder, direção de Bill Condon. Estados Unidos, posicionamento sobre a realidade. Por isso, é fundamen­
Bélgica, Índia, 2013 (128 min). tal que o estudante reflita sobre a História como um espaço
de disputa em que narrativas hegemônicas buscam impor
O filme retrata a forma como as informações e notícias fluem
uma visão de mundo conivente com os interesses das
no século XXI.
classes dominantes, estabelecer uma hierarquia global
entre povos e nações e naturalizar desigualdades do pre­
Livro
sente ao tratar as catástrofes do passado, como a coloni­
COSTA, Wanderley Messias da. Políticas territoriais nos zação e a escravidão, como contingências históricas que
anos 50. In: COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as já foram superadas. Enfim, o objetivo é que o estudante
políticas territoriais no Brasil. São Paulo: Contexto, 1988. se perceba como sujeito e agente da História, que cumpre

LXXXII
papel tanto na construção do presente quando na defesa
da memória que queremos cultivar como sociedade. utopianos reconhecem que o povo mostraria extrema
Depois, oferece-se ao estudante um panorama amplo de relutância em se separar de objetos pelos quais co-
participação social na esfera pública para além das questões meçara a criar apreço. Contra tais problemas, elabo-
raram um sistema que condiz com todos os seus de-
eleitorais e diretamente ligadas à gestão pública. Diferentes
mais costumes, mas é de todo estranho ao nosso,
experiências e formas de organização são apre­sentadas para
visto que fazemos tanto alarde em relação ao ouro e
que o estudante consiga entender que a política se faz pre­
o entesouramos tão ciosamente. Terias de ver para
sente em nossas vidas de diferentes formas e em várias
acreditar. Pois comem e bebem em utensílios de bar-
esferas, contribuindo para que sua atuação cidadã seja de ro ou vidro, muito bem-feitos, mas baratos, enquanto
forma abrangente e contextualizada. usam o ouro e a prata para fabricar urinóis e outros
Por fim, propõe-se debater as relações que se estabe­ vasilhames para imundícies, que são usados não só
lecem entre instituições supranacionais, Estados e grupos, nos salões públicos, mas também nos lares privados.
buscando compreender limites, possibilidades e as Além disso, as correntes e os grilhões pesados que
influências dessas organizações supranacionais no espaço usam para prender os escravos são feitos dos mesmos
mundial sobre diferentes temas e contextos, sejam eles metais. Para arrematar, os estigmatizados por infâmia
pública devido a algum crime usam argolas de ouro
econômicos, sociais ou ambientais, sobretudo a partir do
nas orelhas, anéis de ouro nos dedos, correntes de ou-
fim do século XX.
ro no pescoço e até coroas de ouro na cabeça.
Assim se empenham eles de todas as formas em
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS aviltar o ouro e a prata como ignomínias. O resultado
é que, se em algum momento fosse necessário abrir
P. 122-123 mão de todos esses metais, coisa que para outros po-
vos seria como ter arrancadas as próprias entranhas,
Utopias para ninguém em Utopia seria mais do que perder
Apresente aos estudantes os conceitos de utopia, socia­ um simples centavo.
lismo utópico e social-democracia. Inicie a abordagem des­ MORE, Thomas. Utopia. São Paulo: Companhia das Letras,
ses conceitos perguntando-lhes se já ouviram o termo utopia. 2018. E-book.

Incentive aqueles que responderem positivamente a indicar


em que situação ele foi empregado e qual seu significado.
Verifique se é necessário reforçar os conceitos de ima­
Destaque com a turma a etimologia da palavra utopia e ginação utópica e imaginação reprodutora, apresentados
o seu significado em diferentes contextos. O termo utopia, pela filósofa brasileira Marilena Chaui. Em seguida, convi­
usado pela primeira vez por Thomas More (1478-1535) em de-os a uma reflexão acerca do que esses dois conceitos
seu livro Utopia, designa um lugar inexistente ou imaginário. podem significar atualmente.
É importante que os estudantes compreendam que, em sua
Veja, no texto de apoio, como Chaui define imaginação
obra, More utiliza esse termo para nomear um espaço que
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
é contraposto às monarquias inglesa e francesa de sua
utópica.

DA EDITORA DO BRASIL
época, o século XVI. O material traz um resumo do livro; ao Texto de apoio
trabalhá-lo, destaque que sua publicação se deu no con­
texto das Grandes Navegações europeias e que o pensa­
mento europeu estava então voltado ao descobrimento de A imaginação utópica cria uma outra realidade pa-
ra mostrar erros, desgraças, infâmias, angústias,
novas terras com o intuito de aumentar seus domínios, com
opressões e violências da realidade presente e para
a criação de colônias. O Brasil, por exemplo, fez parte desse
despertar, em nossa imaginação, o desejo de mudan-
processo, com a chegada dos portugueses. Enfatize que
ça. Assim, enquanto o imaginário reprodutor procu-
Utopia foi escrito durante o humanismo renascentista. ra abafar o desejo de transformação, o imaginário
utópico procura criar esse desejo em nós. Pela inven-
Texto de apoio
ção de uma outra sociedade que não existe em lugar
nenhum e em tempo nenhum, a utopia nos ajuda a
Pois bem, em Utopia, se esses metais preciosos fi- conhecer a realidade presente e buscar sua transfor-
cassem trancados em alguma torre, poderiam sus- mação. Em outras palavras, o imaginário reprodutor
peitar (dada a tola inventividade do vulgo) que o go- opera com ilusões, enquanto a imaginação criadora
vernador e o Senado estavam iludindo o povo para e a imaginação utópica operam com a invenção do
servir a seus próprios interesses. Se, por outro lado, novo e da mudança, graças ao conhecimento crítico
fossem empregados na fabricação de cálices e outros do presente.
objetos de ourivesaria e então surgisse a necessidade CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo:
de fundi-los para pagar os soldos do Exército, os Ática, 2000. p. 171.

LXXXIII
Espera-se que os estudantes compreendam que a pala­ P. 126-127
vra utopia pode ser utilizada pejorativamente ao designar
algo impossível de ser realizado, algo fantasioso; ao O socialismo em bases científicas
mesmo tempo, ela também carrega um significado posi­ Indique que o socialismo em bases científicas surgiu
tivo, ao indicar um projeto ideal de sociedade, pautado nas com Engels e Marx (1818-1883) como forma de colocar
noções de progresso e de transformação da sociedade em discussão o socialismo utópico proposto pelos pensa­
material. Comente que, ao longo dos séculos XIX e XX, o dores do início do século XIX. Esse socialismo foi assim
termo foi compreendido de formas diferentes: no contexto denominado porque se caracteriza não pela preocupação
do século XIX, destacavam-se o otimismo do progresso de como seria uma sociedade ideal, mas, antes, pela aná­
e o desenvolvimento técnico e científico, o que fez com lise crítica e científica da estrutura de funcionamento do
que o pensamento utópico abrangesse a proposta de um capitalismo, o qual pretende superar. Enfatize que o século
ideal de sociedade pautada na construção de uma vida XIX – momento histórico em que essa análise se desen­
justa e feliz; já no século XX, contrariamente, predominava volveu – foi marcado por teorias científicas e sociais, como
o pessimismo em relação à capacidade humana de cons­ o positivismo, o darwinismo social e o determinismo.
truir uma sociedade ideal, em decorrência de eventos Nesse momento, a sociedade foi analisada com base em
como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, além da princípios científicos. Por isso, também, o socialismo de
ascensão de governos totalitários. Engels e Marx recebeu o nome de socialismo científico.
Apresente o pensamento de Herbert Marcuse (1898- O pensamento de Engels traduz uma crítica ao pensa­
-1979) acerca do conceito de utopia. Certifique-se de que mento utópico socialista porque, segundo esse autor, a
os estudantes entendam que o “fim da utopia” não significa transformação da sociedade para os utópicos não estaria
necessariamente o encerramento do pensamento utópico, sujeita ao desenvolvimento histórico e material da huma­
mas, antes, a finalidade da utopia na sociedade. Aproveite nidade, e sim ao acaso. Mesmo pautado na análise cien­
para convidá-los a refletir sobre a possibilidade de uma tífica da sociedade, o socialismo marxista consiste em um
utopia se realizar no presente, e de que forma isso ocorre­ sistema de organização social que ainda se encontra no
ria. Pergunte: “Será que há ferramentas para que sejamos campo da idealização. Comente o fato de que tanto o socia­
agentes realizadores de utopias na contemporaneidade?”. lismo utópico como o socialismo marxista podem ser com­
Proponha, ao final, uma roda de discussão ou debate. preendidos contemporaneamente como formas de utopia,
pois ambos requerem uma transformação radical da
P. 124-125 maneira como as sociedades atuais se organizam.

O socialismo dos utópicos P. 127


Esclareça que a expressão socialismo utópico designa a Social-democracia como sistema possível
primeira fase do pensamento socialista, que surgiu e se
Espera-se que os estudantes constatem que a social­
desenvolveu na Europa na primeira metade do século XIX.
-democracia designa uma organização social derivada do
Ressalte que os teóricos do socialismo foram os primeiros
socialismo, em razão de este exigir uma transformação
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
a apontar que o sistema econômico baseado na propriedade
radical das sociedades contemporâneas. É relevante a
privada acarretava males para a sociedade, em especial
DA EDITORA DO BRASIL compreensão de que a social-democracia admite o sistema
para a classe trabalhadora. Espera-se que os estudantes
capitalista (e aqui reside sua principal diferença em relação
assimilem que essa proposta de socialismo está relaciona-
ao socialismo), mas reconhece que ele produz efeitos
da a cidades imaginadas pelos teóricos e que nelas inexis­ nefastos a uma parcela da população. Em decorrência
tem a propriedade privada, a exploração do trabalhador e desse reconhecimento, foram propostas medidas a fim de
as desigualdades econômicas, sociais e políticas. Tais socie­ minimizar tais efeitos por meio de intervenções econômicas
dades seriam geridas por meio do trabalho cooperativo, e sociais capazes de promover reformas parciais do sis­
ofereceriam educação para todos, com liberdade de expres­ tema, em vez de substituí-lo por inteiro. Vale destacar que
são e igualdade de direitos. Convide-os a refletir se é pos­ a social-democracia, além de admitir o sistema capitalista
sível imaginar um lugar como esse atualmente. Apresente (em vez de substituí-lo), defende as noções de liberdades
o pensamento dos principais teóricos do socialismo utópico, civis, os direitos de propriedade e a democracia represen­
mencionados no material, e proponha, se possível, a reali­ tativa, o que a insere, no espectro político, como sistema
zação de uma pesquisa em grupo sobre a vida e a obra de de organização social de centro-esquerda.
cada um desses teóricos. As apresentações podem ser Solicite aos estudantes uma pesquisa sobre os países
feitas em seminários ou em roda de debates. que, na atualidade, aplicam a social-democracia como sis­
A menção a Friedrich Engels (1820-1895) expõe a crí­ tema de organização econômica e política. Trata-se de um
tica do filósofo ao socialismo utópico. Na visão desse autor, sistema comum em alguns países da Europa, como França,
a perfeição com que as sociedades utópicas eram imagi­ Holanda, Espanha, Suécia e Áustria. Se achar conveniente,
nadas não partia do processo histórico de transformação reúna os estudantes em grupos para que pesquisem como
da sociedade. é a social-democracia em cada um desses países.

LXXXIV
P. 128 Convide os estudantes a refletir sobre a maneira pela
qual a social-democracia e o Estado de bem-estar social
Outro ponto de vista: Teses sobre o conceito refletem atualmente parte do que os socialistas – utópicos
de história e científicos – propunham no século XIX. Chame a atenção
Proponha a leitura conjunta do texto de Walter Benja­ deles para o fato de que a unidade teve início com utopias
min (1892-1940) em que ele expõe uma crítica à social- irrealizadas, passou por possíveis sistemas de governos
-democracia. Comente que o filósofo e sua crítica estão nos quais essa utopia poderia se realizar e, por fim, chegou
situados em um espaço específico (Europa) em um a um sistema de organização social em que essa utopia
momento histórico igualmente específico (meados do pode ser – ao menos parcialmente – realizada.
século XX, após o fim da Segunda Guerra Mundial). A crí­
tica feita por Benjamin se aproxima da crítica de Engels Sugestão de atividade complementar
aos socialistas utópicos, na medida em que o primeiro Sugere-se uma proposta de trabalho que visa promover
pontua que a social-democracia foi determinada pela ideia o reconhecimento da diferença no convívio social-republi­
de progresso sem vínculo com a realidade. cano junto à família, à comunidade escolar e à sociedade
em geral.
RESPOSTAS

1. Benjamin critica o princípio que orienta a social-demo­ Proposta


cracia: a ideia de um progresso sem limites, natural à Proponha uma reflexão sobre o conceito de utopia
humanidade, como se esta fosse perfeita. Além disso, baseado em uma perspectiva ampla, política e social, mas
para o filósofo, a social-democracia implementada na também em uma perspectiva mais subjetiva, ou seja,
Europa do século XX era considerada resultado de um apoiada naquilo que constitui a utopia individual. Por
processo automático, que ocorreria em um tempo vazio exemplo: a utopia pessoal de um estudante pode ser a
e homogêneo. entrada na universidade, a de outro pode ser o desejo de
não sofrer bullying.
2. Incentive os estudantes a se organizarem em grupos
pequenos. Caso julgue interessante, solicite à turma
Desenvolvimento
que escolha apenas um dos conceitos para a pesquisa
1. Solicite aos estudantes que escrevam suas utopias
de maneira que os estudantes consigam se aprofun­
pessoais em pedaços de papel, sem se identificar.
dar no tema selecionado.
2. Reúna esses papéis em um recipiente e organize a
3. Oriente a discussão entre os estudantes de modo
turma em roda.
que eles apresentem argumentos sólidos na defesa de
suas ideias. 3. Depois, peça a cada estudante que retire do recipiente
um papel e leia em voz alta a utopia sorteada.
4. É possível solicitar aos estudantes que realizem pes­
quisas sobre os principais modelos políticos na atua­ 4. A cada utopia retirada, reserve um tempo para que eles
lidade ao redor do mundo. Espera-se que eles identi­ possam discutir a respeito.
fiquem a social-democracia como o que melhor se
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
adéqua ao modelo social vigente. Conclusão
O intuito da atividade é a compreensão de que o con­
P. 129
DA EDITORA DO BRASIL ceito de utopia pode assumir uma infinidade de significa­
dos quando aplicado a existências diferentes, dadas as
Estado de bem-estar social condições materiais e as características subjetivas de cada
Explique aos estudantes que o Estado de bem-estar social indivíduo. Entrar em contato com demandas/desejos/uto­
é uma característica da social-democracia. É importante a pias de outras pessoas e colocá-los no plano da reflexão
compreensão de que se trata de uma perspectiva política e pode promover o desenvolvimento da empatia e também
econômica na qual progresso econômico e progresso social da autoestima, à medida que se percebe que uma utopia
caminham juntos. Reforce a noção de que, no Estado de pode ser igual à de outra pessoa, ou que sua utopia pessoal
bem-estar social, ganham destaque o aumento da demanda é digna de ser ouvida, acolhida e respeitada.
interna (o aumento da renda dos trabalhadores, a abertura Após a discussão, incentive a criação de uma página
de linhas de crédito subsidiadas e o gasto público direto em nas redes sociais para abordar a utopia no âmbito da sub­
obras de qualquer espécie), o reaquecimento da economia jetividade, de modo que a discussão atinja outros atores
em períodos de crise e um regime de pleno emprego. da comunidade escolar.
No Estado de bem-estar social, o governo é responsável Antes da discussão, destaque a necessidade de adotar
por regular o mercado de trabalho, mediante a criação de a postura republicana ao lidar com as diferenças entre os
leis de proteção ao trabalhador. Retome o pensamento de colegas. Além disso, acompanhe as postagens realizadas
Habermas, para quem o Estado de bem-estar social repre­ na página criada pelos estudantes a fim de verificar se elas
senta a única alternativa bem-sucedida quanto à tentativa abordam o conceito de utopia com rigor filosófico e lin­
de conciliação entre capitalismo e democracia. guagem acessível.

LXXXV
P. 130 constante transformação, também estão as visões a res-
peito do passado.
Atividades Utilize como exemplo a História do Brasil. Enfatize que
1. Resposta pessoal. O estudante poderá responder que as abordagens vão se modificando com o passar dos anos
o pensamento utópico ou a utopia tem como função e representam os contextos em que estão estabelecidas.
mobilizar transformações sociais pautadas em rela- Essa discussão poderá recair na ideia de revisionismo his-
ções justas e de paz. tórico ou de argumentos de que a História pode ser feita
com base em “opiniões”. Lembre os estudantes de que,
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes
apesar de os métodos de estudo da História se transfor-
tenham compreendido que ambos os modelos socia-
marem ao longo do tempo, o que acaba por transformar
listas surgiram como resultado de um incômodo com
também as visões sobre o passado, ela é uma ciência em
a situação do mundo (cada um em sua época). Além
que imperam o método e o trabalho sistemático de sua
disso, ambos tinham confiança de que o ser humano
investigação. Portanto, é possível ter diferentes visões
seria capaz de articular e realizar transformações
sobre o passado, que vão se modificando, mas não há
sociais que levariam a um mundo melhor.
como modificá-lo ou negá-lo.
3. a) 
Espera-se que o estudante identifique que o
sucesso da social-democracia se dá por meio da P. 132
intervenção do Estado, tanto na economia como
no processo de minimização das consequências Positivismo e historicismo
do sistema capitalista. Comente que o positivismo esteve presente como cor-
b) Espera-se que o estudante identifique no texto a rente de pensamento no Brasil, influenciando o movimento
informação de que, na social-democracia, a mas- republicano e o grupo de militares que deu o golpe de 15
sa da população tem a oportunidade de viver em de novembro de 1889. Como exemplo da influência da dou-
liberdade, com justiça social e crescente prospe- trina nesse período, você pode citar a inserção da inscrição
ridade, amparada pelas políticas de proteção ad- positivista “ordem e progresso” na bandeira nacional.
vindas da intervenção estatal. Tais aspectos seriam,
então, os resquícios dos valores utópicos apresen- P. 133
tados pelos pensadores socialistas do século XIX.
Quem escreve a História?
P. 131 Explique aos estudantes que a tradição positivista criou
a “História dos vencedores”, em que prevaleceram as nar-
Compreender a História para
rativas das classes dominantes. Por essa razão, as classes
agir na realidade subalternas eram excluídas das narrativas oficiais, ou tive-
Espera-se que os estudantes compreendam a função ram sua narrativa distorcida por serem construídas com
que a História desempenha em relação à sociedade. Des- base no “olhar do outro”.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
taque a importância de construir a memória de uma socie-
Questione-os sobre quem são, de modo geral, os pro-
dade como elemento decisivo na construção de uma
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identidade nacional, que determina, por exemplo, como a
tagonistas estudados pela “História oficial”, a fim de que
percebam o uso do poder na construção das narrativas.
História é ou não contada. Dessa forma, eles são incenti-
vados a enxergá-la como ferramenta de compreensão do Pontue que todos os seres humanos são sujeitos his-
presente, mas como algo que está sempre em aberto, em tóricos, ou seja, contribuem para a construção da História.
constante transformação, promovida pelos indivíduos que
dela fazem parte. Uma questão sobre os documentos
Esclareça que, atualmente, consideramos documentos
História e poder todos os vestígios materiais e imateriais do passado.
Certifique-se de que os estudantes entendem que a Incentive os estudantes a refletir sobre os critérios de
História é uma narrativa escrita por seres humanos e, por seleção por meio das perguntas: “Quais documentos são
esse motivo, sofre influências do ponto de vista de quem priorizados e quais são ‘esquecidos’?”; “Como eles repre-
a escreve. Assim, é possível afirmar que aqueles que sentam a ideia de uma História de vencedores?”.
detêm a narrativa hegemônica têm uma forma de poder Coloque em discussão, por exemplo, o conceito de “Pré-
sobre a construção da memória histórica. -História”, termo que define o período anterior ao surgimento
Explique que, a despeito da intenção de criar uma “His- da escrita. Seu uso acarreta a noção de que quem determina
tória neutra”, a historiografia é influenciada pelas ideolo- a história de um povo é sua escrita, e não a ação dos homens
gias predominantes em uma época e por aqueles que a e mulheres ao longo do tempo. Além disso, carrega a com-
escrevem. Desse modo, não há uma narrativa única ou preensão de que a História só pode ser documentada de uma
encerrada, pois, ao mesmo tempo que o presente está em maneira, conceito extremamente equivocado.

LXXXVI
Explique que muitas sociedades não ocidentais, como Pergunte-lhes: “Como seria a escrita da História do
as africanas, apresentam significativa tradição oral, em que Brasil redigida por um indígena?”; “Seria igual àquela con­
os costumes, as histórias e as crenças dos povos são trans­ tada por um descendente de europeus?”. Espera-se que,
mitidos de geração em geração por meio da oralidade. apoiados nos subsídios dados, eles desenvolvam as habi­
Retome, nesse momento, as discussões sobre os monu­ lidades de enxergar a História como ferramenta de com­
mentos históricos realizadas nas unidades anteriores e preensão da sociedade e de suas transformações.
promova uma reflexão sobre como esses patrimônios
Texto de apoio
erguidos no auge do positivismo histórico seguem refor­
çando uma visão hegemônica do passado.
É assim, pois, que se cria uma única história:
P. 134 mostre um povo como uma coisa, uma coisa só,
sem parar, e é isso que esse povo se torna. É im-
Quem faz a História? possível falar sobre a história única sem falar sobre
Explique que as novas formas de olhar para o ato de poder. Existe uma palavra em Igbo, * na qual sem-
“fazer História” tinham como objetivo romper com a lógica pre penso quando considero as estruturas de po-
positivista, não só da História dos vencedores e de uma der do mundo: nkali. É um substantivo, que, em
narrativa hegemônica, como também no que diz respeito tradução livre, “ser maior do que o outro”. Assim
ao entendimento dessa produção de maneira factual e como o mundo econômico e político, as histórias
cronológica, sem enxergar as nuances presentes nos pro­ também são definidas pelo princípio do nkali.: co-
cessos e suas contradições. mo elas são contadas quem as conta, quando são
contadas e quantas são contadas, depende muito
Elucide que o movimento de conter ao mesmo tempo do poder.
avanços e retrocessos históricos foi chamado de “dialética”
O poder é a habilidade de não apenas de contar
e é utilizado principalmente pelos historiadores materia­
a história de uma outra pessoa, mas de fazer a his-
listas, como Marx e Engels.
tória definitiva daquela pessoa. O poeta palestino
Garanta que os estudantes concluam que a História é Mourid Barghouti escreveu que, se você quiser es-
um processo, e não um fim em si mesma. Propicia-se, poliar um povo, a maneira mais simples é contar a
desse modo, o desenvolvimento de uma compreensão história dele e começar com “em segundo lugar”.
efetiva acerca dos períodos estudados, mediante a iden­ Comece uma história com as flechas dos indígenas
tificação de relações, continuidades, rupturas etc. americanos, e não com a chegada dos britânicos,
Destaque que o movimento de repensar a História foi e a história totalmente diferente. Comece a histó-
importante para inseri-la em um campo mais amplo, em ria com o fracasso do Estado africano, e não com a
criação colonial do Estado africano e a história se-
que estão envolvidas todas as esferas da sociedade, como
rá completamente diferente.
economia, cultura, política, religião, complementando-se.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história
Outro ponto essencial a ser constatado diz respeito à única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. E-book.
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
visão de que homens e mulheres são sujeitos históricos,
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ainda que condicionados a seu tempo e aos contextos em
que estão inseridos. * Igbo é uma etnia africana presente principalmente na
Nigéria.
Boxe: A História oral
Ressalte a importância da oralidade na construção das O espaço público como espaço
narrativas e tradições de culturas não ocidentais. de memórias
P. 135 Retome as discussões sobre disputas de narrativas e
sobre o papel do patrimônio na construção da memória.
Disputas pela História Verifique como os estudantes desenvolvem os conheci­
Retome a ideia de que não existe uma narrativa única, mentos trabalhados anteriormente.
hegemônica, e saliente que as narrativas não têm o mesmo Um dos objetivos pretendidos é a compreensão do lugar
significado para todos. dos monumentos históricos nas cidades; não só dos monu­
Com base nessa ideia, espera-se que os estudantes mentos, mas também dos espaços públicos, como eles
compreendam as narrativas como formas de agência de agem na reafirmação do poder hegemônico ou na cons­
poder. Incentive-os a pensar sobre os perigos envolvidos trução de narrativas diversas.
na disseminação de uma História única, hegemônica. Indi­ Proponha aos estudantes que pesquisem o nome de
que mais uma vez quem são aqueles que dominam a ruas do bairro onde se localiza a escola ou daquele onde
escrita da História e como isso influencia na manutenção vivem, por exemplo, e descubram a quem esses nomes e
dos mecanismos de poder. essas histórias se referem.

LXXXVII
Boxe: Memória individual e memória coletiva Texto de apoio
Espera-se que os estudantes entendam a memória não
como uma reprodução fiel dos fatos, e sim como a cons­ Articular historicamente o passado não significa
trução de uma imagem deles, o que pode ocorrer de dife­ conhecê-lo “como ele de fato foi”. Significa apropriar-
rentes formas, variando de pessoa para pessoa. Por -se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no
exemplo, as memórias sobre a Ditadura Civil-Militar para momento de um perigo. Cabe ao materialismo histó-
uma criança que cresceu em uma família de militares serão rico fixar uma imagem do passado, como ela se apre-
diferentes daquelas de uma criança que teve os pais pre­ senta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem
sos ou mortos por representantes desse regime. Essa é a que ele tenha consciência disso. O perigo ameaça tan-
to a existência da tradição como os que a recebem.
memória individual, ao passo que a memória coletiva diz
Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às clas-
respeito ao modo como determinado evento impacta a
ses dominantes, como seu instrumento. Em cada épo-
socidade de maneira ampla, isto é, coletiva. ca, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que
quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem ape-
P. 136 nas como salvador; ele vem também como o vence-
dor do Anticristo. O dom de despertar no passado as
Boxe: Os monumentos e o direito à memória
centelhas da esperança é privilégio exclusivo do his-
Veja uma perspectiva sobre a discussão a respeito da
toriador convencido de que também os mortos não
questão do documento e da memória. estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse ini-
migo não tem cessado de vencer.
Texto de apoio
LÖWY, Michael. Walter Benjamin: uma leitura das teses
“Sobre o conceito de história”. Trad. Wanda Nogueira Brant.
São Paulo: Boitempo, 2005. E-book.
Comandada por administrações estaduais democra-
tas, as lideranças sulistas começaram a erigir os monu-
mentos aos líderes confederados. O processo foi bas-
tante intenso durante os 50 anos seguintes. Ele se P. 138
mesclou com o ressurgimento do Partido Democrata no
Sul e gerou um predomínio político que duraria até o A crítica ao presenteísmo
final da década de 1960: um capítulo da história do par-
Converse com os estudantes sobre como os pensamen­
tido que suas lideranças atuais gostariam de esquecer.
Portanto, essas estátuas foram erguidas após a derrota
tos negacionistas do passado vêm avançando nos últimos
confederada.* Mais do que comemorar uma experiência anos e são responsáveis pelo “esquecimento” de fatos
política desbaratada, elas restauram aspectos daquilo históricos importantes na construção da memória e da
que lhe deu sentido, uma vez que a nação escravista se sociedade atual, distorcendo a percepção não só do pas­
baseava no conceito da desigualdade natural entre as sado, como também do presente.
supostas raças. Elas fazem parte do processo de discri- Questione-os sobre qual seria o interesse de quem
minação conhecido como Jim Crow, que estabeleceu a
assume uma postura negacionista do passado e quais são
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
segregação dos negros em quase todas as áreas da vida
social. Portanto as estátuas e parques em homenagem
os mecanismos que ela alimenta. Espera-se que os estu­
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aos confederados expressam uma nostalgia que apela dantes identifiquem a importância de olhar para a História
às aspirações por desigualdade racial, muito mais que de maneira contextualizada, sem o perigo de anacronis­
a uma defesa do separatismo, já que este último foi de- mos nem de presenteísmos, visto que ambos os proces­
purado do debate político nacional. sos, de alguma forma, distorcem as noções do passado, o
IZECKSOHN, Vitor. Os monumentos confederados nos que reflete na compreensão do presente.
Estados Unidos: memória e política (artigo), 11 set. 2017. In:
Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com. P. 139
br/monumentos-confederados/. Acesso em: 15 ago. 2020.

A História no pensamento brasileiro


* O termo confederados designava os estados sulistas dos Retome com os estudantes as discussões sobre como
Estados Unidos durante a Guerra Civil. Esses estados as mudanças na maneira de enxergar o ofício da História
defendiam a perpetuação da escravidão no país. impactam sua narrativa. No caso da História do Brasil, há
uma narrativa dominante até meados do século XX, em que
P. 137 se privilegia a História dos vencedores, ou seja, cujo olhar
é positivista e eurocêntrico. Entretanto, há algumas décadas
A História como devir político os historiadores têm se esforçado para construir uma his­
Explique aos estudantes que o filósofo Walter Benjamin, tória do Brasil sustentada por outras perspectivas, que
influenciado pelo materialismo histórico, enxergava a His­ englobem narrativas que contestam as visões hegemônicas.
tória como uma ferramenta para a ação política, respon­ Ressalte à turma que a maneira como a História do
sável, por sua vez, por transformá-la. Brasil foi contada durante muito tempo estava relacionada

LXXXVIII
à intenção de criar uma identidade nacional que servisse ção da memória nacional adotada no período
igualmente à perpetuação dos lugares de poder. democrático de 1946 a 1964. No monumento, as
“três raças” são consideradas importantes na
Boxe: Por uma descolonização da teoria e da constituição nacional; entretanto, os brancos estão
prática na frente, liderando o movimento. Uma das incoe­
O texto de apoio pode auxiliá-lo na abordagem desse rências que podem ser apontadas está no fato de
boxe. os bandeirantes aparecerem como brancos,
quando, na verdade, eram em sua maioria mesti­
Texto de apoio ços, principalmente com indígenas. Além disso, a
posição ocupada pelo bandeirante é a de herói,
[...] depois de concluir os meus estudos em Lisboa, noção já refutada pela historiografia brasileira há
onde, ao longo de vários anos, em grande isolamento, muitos anos, uma vez que se reconhece neles uma
fui a única estudante negra em todo o departamento das faces mais violentas da colonização.
de psicologia clínica e psicanálise. [...] Deixei Lisboa,
b) Sim, pois se trata de monumentos de exaltação ao
a cidade onde nasci e cresci, com um imenso alívio.
movimento das bandeiras, que, como se reconhe­
Não havia nada mais urgente para mim do que sair, ce atualmente, foi um movimento violento, respon­
para poder aprender uma nova linguagem. Um novo
sável pela opressão de povos indígenas e negros.
vocabulário, no qual eu pudesse finalmente encon-
trar-me. No qual eu pudesse ser eu. c) Os movimentos sociais e principalmente as popu­
lações negras e indígenas vêm tecendo críticas à
Cheguei a Berlim, onde a história colonial alemã e
a ditadura imperial fascista também deixaram mar- obras de exaultação aos bandeirantes, evidencian­
cas inimagináveis. E, no entanto, pareceu-me haver do o seu caráter opressor, pois se trata da manifes­
uma pequena diferença: enquanto eu vinha de um tação e celebração da memória dessas figuras como
lugar de negação, ou até mesmo de glorificação da his- heróis. Atos como o apresentado na foto visam
tória colonial, estava agora num outro lugar onde a questionar essa narrativa histórica, buscando re­
história provocava culpa, ou até mesmo vergonha. Es- construir essa memória, alertando para o caráter
te percurso de consciencialização coletiva, que come- opressor e violento das bandeiras no Brasil.
ça com negação – culpa – vergonha – reconhecimento –
d) Resposta pessoal. Os estudantes devem refletir
reparação, não é de forma alguma um percurso moral,
sobre o papel do patrimônio histórico e sobre os
mas um percurso de responsabilização. A responsa-
bilidade de criar novas configurações de poder e de “deveres de memória”. Espera-se que eles cons­
conhecimento. tatem quão violenta deve ser a sensação de ver os
agentes de sua opressão serem exaltados como
Essa pequena mas grande diferença era com cer-
teza a razão pela qual fui encontrar em Berlim uma heróis. Incentive-os a refletir sobre os movimentos
forte corrente de intelectuais negras que haviam trans- atuais de retirada de estátuas de figuras da histó­
formado radicalmente o pensamento e o vocabulário ria que representam símbolos de opressão, prin­
contemporâneo global, durante várias décadas. [...] cipalmente racista e colonial, os quais se espalha­
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO ram pelo mundo depois das manifestações do
[...] uma sociedade que vive na negação, ou até mesmo
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na glorificação da história colonial, não permite que no- movimento Black Lives Matter.
vas linguagens sejam criadas. Nem permite que seja a 2. Oriente os estudantes na condução do trabalho, indi­
responsabilização, e não a moral, a criar novas confi- cando fontes confiáveis para a pesquisa. Lembre-os de
gurações de poder e de conhecimento. Só quando se que o trabalho deve atender aos requisitos indicados e
reconfiguram as estruturas de poder é que as muitas ter uma elaboração cuidadosa das informações cole­
identidades marginalizadas podem também, finalmen- tadas, sem que se constituam em cópias da internet.
te, reconfigurar a noção de conhecimento: Quem sabe?
Quem pode saber? Saber o que? E o saber de quem? [...] a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de
retomem os processos da pesquisa e reflitam sobre
racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. E-book. o assunto e a relação com os seus cotidianos.
b) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a refle­
tirem sobre a memória e a construção da história
P. 140 do Brasil. É possível sugerir que eles conversem
com pessoas que integram a comunidade escolar
Atividades a respeito dos episódios pesquisados antes de
1. a) Os grupos sociais retratados na obra de Victor responder à questão.
Brecheret (1894-1955) são bandeirantes, negros c) Resposta pessoal. Retome com a turma a questão
e indígenas. É preciso destacar que ela não condiz do imaginário coletivo. Caso julgue interessante pro­
necessariamente com a realidade dos fatos histó­ ponha um debate entre os estudantes em relação à
ricos, mas faz parte de uma estratégia de constru­ importância dos episódios estudados e pesquisados.

LXXXIX
P. 141-142 O conceito de práxis, fundamental para a formação
humana e cidadã, é apresentado como a articulação entre
Política popular além do voto teoria e prática, entre a elaboração e o fazer. O pensador
Esta unidade tem por objetivo oferecer ao estudante Alexis de Tocqueville (1805-1859), um dos maiores
um panorama sociológico dos processos de participação expoentes do pensamento liberal, nos ajuda a compreen­
política para além do fenômeno eleitoral, de modo a apre­ der a importância da democracia nos diferentes espaços
sentar uma diversidade de propostas concretas relacio­ do cotidiano como parte essencial da democracia política.
nadas à ação política popular diante da desigualdade e Para ilustrar as diferentes possibilidades que a organi­
das violações de direitos em diferentes espaços. zação popular já criou, são abordadas as experiências da
Comuna de Paris, na França, em 1871, das comunidades
Considera-se, em face da multiplicidade de fenômenos
zapatistas da região de Chiapas, no México, e da comuni­
sociais e políticos que demandam a participação popular,
dade de Canudos, no Brasil, entre 1896 e 1897. Esses
que a eleição dos representantes para a condução do
movimentos evidenciam que as democracias não aten­
Estado seria apenas uma parte do processo democrático,
dem, necessariamente, toda a população.
e não sua totalidade. Assim, proponha um debate sobre o
que é, efetivamente, a democracia, a fim de verificar quais P. 145
são as concepções prévias dos estudantes e o que eles
esperam da sociedade e das formas de participação polí­ Conselhos gestores no Brasil
tica. Pode-se, ao final, produzir um texto coletivo contendo Apresente os diferentes mecanismos institucionais
as conclusões da turma. existentes no Brasil para o controle popular dos serviços
Na unidade, são abordadas as teorias de Karl Marx e de públicos. Se houver um grêmio na escola, convide os estu­
Max Weber (1864-1920) sobre as democracias liberais e dantes que dele participam a contar como ele funciona,
sua função na organização da sociedade, bem como suas pois se trata de um importante mecanismo de participação
limitações. Cabe destacar que, para Marx, a democracia democrática e organização política dos estudantes em seu
liberal e a eleição são partes do processo de controle da contexto mais próximo.
burguesia sobre o Estado, que, portanto, não é efetiva­ As pesquisas da socióloga Helena Lüchmann ajudam a
mente democrático. Weber, por sua vez, acredita que a compreender o papel dos conselhos no Brasil, bem como
eleição popular tende à demagogia, mas garante legitimi­ as transformações que eles sofreram com o avanço da
dade e força ao governante. Esse pensador, porém, mudou internet, com alguns mecanismos de consulta virtual. Con­
sua posição depois da Primeira Guerra Mundial. tudo, como salienta a pesquisadora, essas ferramentas
não garantem o avanço democrático, visto que, muitas
P. 142-143 vezes, não têm caráter deliberativo e não preveem o
debate público. Adicionalmente, há casos em que os resul­
Participação popular na Constituinte tados de tais consultas não são transparentes.
Espera-se que os estudantes entendam o processo por
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
meio do qual a população brasileira, após o período de P. 146
DA EDITORA DO BRASIL
Ditadura Civil-Militar e de abertura, contribuiu para a ela­
Atividades
boração da Constituição federal de 1988, conhecida como
Constituição Cidadã. Destaque que a legislação garante à 1. Oriente os estudantes na organização e na condução
população a possibilidade de criar leis, as chamadas “leis do debate. Verifique como eles se saem em defesa de
de iniciativa popular”. uma posição que pode não ser a sua. Aponte a neces­
sidade de apresentar argumentos coerentes, condi­
P. 143-144 zentes com os conteúdos apresentados sobre o tema.
Se possível, ao final, incentive-os a manifestar o que
A política como experiência de fato pensam a esse respeito.
Para aproximar o estudante das formas de participação 2. R
 espostas pessoais. Segundo a BNCC, “Tendo em vista
popular já vivenciadas na História, discute-se a autonomia a construção de uma sociedade mais justa, ética,
do sujeito e as formas de deslegitimar a vontade popular. democrática, inclusiva, sustentável e solidária, a escola
Converse com a turma sobre como são tratados os eleito­ que acolhe as juventudes deve ser um espaço que per­
res mais pobres ou, ainda, sobre o voto dos analfabetos, mita aos estudantes: [...] promover o diálogo, o enten­
instituído somente em 1988, sem obrigatoriedade e sem dimento e a solução não violenta de conflitos, possi­
a possibilidade de ser eleito. O Brasil é um dos poucos bilitando a manifestação de opiniões e pontos de vista
países democráticos no mundo com essa cláusula de diferentes, divergentes ou opostos; [...] valorizar sua
exclusão. O sociólogo Jacques Rancière (1940-) relata que participação política e social e a dos outros, respei­
o desprezo pela participação popular é uma demonstração tando as liberdades civis garantidas no estado demo­
de “ódio à democracia”. crático de direito [...].”. [BNCC, 2018, p. 466-467.]

XC
Esta atividade parte do pressuposto da necessidade P. 148-149
de os estudantes proporem leis que possam ser bené­
ficas para o município em que vivem. A interface ONU e as soberanias nacionais
3. A atividade visa ao trabalho de pesquisa de campo, Verifique a opinião dos estudantes sobre a atuação da
prática importante de acordo com a BNCC: “O campo ONU. Uma sugestão de questionamento para uma reflexão
das práticas de estudo e pesquisa abrange a pes­ inicial pode ser promovida com a seguinte pergunta: “A
quisa, recepção, apreciação, análise, aplicação e pro­ ONU cuida apenas de assuntos geopolíticos, distantes da
dução de discursos/textos expositivos, analíticos e realidade brasileira, ou também influencia decisões e pro­
argumentativos, que circulam tanto na esfera escolar cessos ligados a nosso país?”.
como na acadêmica e de pesquisa, assim como no
Comente que o Fundo Monetário Internacional (FMI),
jornalismo de divulgação científica. O domínio desse
instituição ligada à ONU, fornece crédito, sobretudo a países
campo é fundamental para ampliar a reflexão sobre
com dificuldade financeira – o Brasil, por exemplo, já rece­
as linguagens, contribuir para a construção do conhe­
beu empréstimos em diferentes períodos da História. É
cimento científico e para aprender a aprender”.
importante pontuar que esses empréstimos, no entanto,
[BNCC, 2018, p. 488-489.]
são condicionados a compromissos dos governos de cortar
P. 147 gastos e controlar suas contas. Geralmente, os governos
fazem isso implantando medidas de corte de investimentos
Organismos internacionais e em áreas de grande importância para a população, como
organização do espaço mundial previdência, educação e saúde. Esse exemplo visa contribuir
Inicialmente, converse com os estudantes sobre o pro­ para a reflexão dos limites entre a ação dessas instituições
cesso de globalização e o modo como as novas relações, e a soberania dos Estados, a ser feita na sequência.
resultantes do avanço das novas tecnologias, delinearam Pode-se ampliar a discussão sobre a atuação da ONU
uma nova forma de configuração geopolítica do espaço em assuntos geopolíticos diversos no mundo, como os con­
mundial. Retome com eles as discussões sobre esses flitos no Oriente Médio envolvendo Palestina e Israel, e em
avanços e seus impactos no espaço mundial, no espaço diferentes partes do continente africano. Situações envol­
urbano, nas relações do trabalho com o capital, no coti­ vendo contextos de conflitos geopolíticos costumam ser
diano etc. tratadas no âmbito da Assembleia Geral ou pelo Conselho
Considere comentar brevemente o período da Guerra de Segurança da ONU, embora, muitas vezes, as decisões
Fria, quando o mundo estava organizado segundo uma não sejam efetivamente seguidas, seja por falta de consenso
Ordem Bipolar, em que as duas maiores potências rivali­ entre os mais diretamente envolvidos, seja por contradições
zavam política e economicamente a hegemonia mundial: no processo de definição e de articulação das medidas.
Estados Unidos, comandando o bloco capitalista; e União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), liderando o A Organização Mundial do Comércio
bloco socialista. Esse resgate pode ser breve, apenas para (OMC)
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
contextualizar a configuração do espaço mundial no pós­ O debate sobre a Organização Mundial do Comércio é
-Segunda Guerra e, depois, com o fim da Ordem Bipolar,
DA EDITORA DO BRASIL particularmente importante, pois muitas das relações
de modo a contextualizar o surgimento de algumas insti­ estabelecidas no contexto global são econômicas. Os paí­
tuições supranacionais e sua função no contexto mundial. ses, à medida que passaram a se relacionar em um cená­
rio complexo, amplo e contraditório de trocas comerciais,
A ONU na atualidade precisaram encontrar formas e caminhos de regulação
Levante os conhecimentos prévios dos estudantes econômica. A OMC age nesse sentido, embora sua atuação
sobre a Organização das Nações Unidas (ONU). Pergunte nos últimos anos tenha sido lida por alguns especialistas
que instituições ligadas a essa organização eles conhecem. como ineficiente, por não conseguir fazer avançar pautas
O exemplo da Organização Mundial da Saúde (OMS) pode importantes no que tange às relações comerciais interna­
ser útil e de fácil visualização diante dos acontecimentos cionais. Um dos temas mais sensíveis nesse aspecto diz
recentes ligados à pandemia causada pela Sars-CoV-2. respeito às políticas protecionistas que, aplicadas princi­
Outros exemplos podem ser mencionados, como algumas palmente por países desenvolvidos, acabam prejudicando
organizações econômicas: Banco Mundial, Fundo Mone­ países em desenvolvimento, que, em geral, têm grande
tário Internacional, Organização Mundial do Comércio. A dependência das exportações de produtos primários, que
ideia com essa abordagem é sensibilizar os estudantes costumam ser alvo das políticas protecionistas de alguns
para o fato de que na globalização atual, que se realiza em países e regiões. Nesse contexto, cabe abordar com os
um mundo marcado pela multipolaridade, as instituições estudantes que a organização mundial é complexa e que
supranacionais, muitas vezes, assumem função de desta­ os diversos interesses e demandas não são fáceis de ser
que na relação entre Estados e na condução de políticas, equacionados, ainda que haja mecanismos e instituições
acordos e balanceamento de interesses. para realizar essas articulações.

XCI
P. 150 Europeia, também reforça uma possível reformulação
dos blocos econômicos.
As rodadas da OMC Para o cientista social Marcos Troyjo, desde que passou
O tópico aborda algumas das principais características pela forte crise econômica de 2008, o mundo está sob a
das rodadas da OMC, encontros em que são debatidas ameaça de uma “desglobalização”, na qual seria cada um,
questões como o protecionismo econômico e as diversas ou seja, cada país, por si.
contradições e interesses que essa organização tenta arti­ É importante incluir nessa discussão um debate sobre
cular, a fim de estabelecer acordos e regras para o comér­ a questão imigratória, já que as balizas sobre as fronteiras
cio global. também vêm sendo erguidas como modo de diminuir ou
evitar a entrada de imigrantes e refugiados.
Blocos econômicos: uma nova forma
de Estado? P. 152
Esclareça o contexto de criação e fortalecimento dos
blocos econômicos, principalmente a partir da década de O Mercosul
1990. A integração dos países ocorreu com o avanço das Levante os conhecimentos prévios dos estudantes
relações sociais e econômicas e foi propiciada também sobre o bloco econômico do Mercosul. Pergunte-lhes: “De
em função dos avanços tecnológicos nos setores dos que maneira um acordo como esse pode afetar a vida de
transportes e das telecomunicações. cada um?”; “Quais são as diferenças existentes entre esse
Desde a década de 1990, o mundo vem se tornando bloco e outros, como a União Europeia?”.
cada dia mais interconectado economicamente, tanto no Com base nessas perguntas, é possível discutir concre­
setor financeiro como na esfera produtiva. Passou a vigo­ tamente as ações do Mercosul. Aborde, por exemplo, a
rar a acumulação flexível, ou seja, a fragmentação do pro­ implementação de placas de veículos com a identificação
cesso produtivo no espaço global, que visa “territorializar” do Mercosul, inspirado no que acontece na União Europeia
sua produção nos locais mais vantajosos, entendendo essa já há muitos anos. Comente a tarifa externa comum, que
vantagem como maior possibilidade de lucro. todos os países-membros devem adotar, mas que nem
Com a formação dos blocos econômicos, alguns países sempre é consenso, como se verifica atualmente em rela­
se alinharam econômica e politicamente para obter ganhos ção à Argentina. No contexto, em 2020, da pandemia da
econômicos. Os blocos podem ter diferentes formatos e Covid-19, o governo argentino optou por uma política eco­
objetivos, e, em estágios mais avançados, os países-mem­ nômica mais protecionista, uma vez que muitos empregos
bros podem chegar a ter uma moeda única e estruturas foram perdidos e a indústria foi prejudicada.
políticas que transcendem os territórios, como é o caso da
União Europeia, único exemplo no mundo atual. Na maior
Uma agenda internacional?
parte dos casos, contudo, os blocos se resumem a ofere­
cer a seus membros vantagens comerciais, como padro­ Neste tópico, considere debater com os estudantes as
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
nização de taxas de importação e exportação, isenção de contradições que se colocam no mundo atual para o pro­
cesso de globalização. Embora haja discursos e mesmo
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tarifas, livre circulação de mercadorias, entre outras.
ações que apontam para o sentido inverso a um processo
P. 151 de globalização, é importante considerar que a complexi­
dade econômica e política atual no mundo requer diálogo
Experiências contemporâneas: acordos e conexão constantes entre os países, ainda que essas
e tensões práticas se realizem de forma profundamente desigual.
Uma forma de refletir sobre essa temática é pensar no
Explore a nova fase em que os blocos econômicos
estão imersos. Alguns governos têm colocado muito contexto de corporações que, sediadas em determinado
peso em suas fronteiras, sob a alegação de proteger a território, distribuem unidades produtivas e filiais por todo
economia nacional e o mercado de trabalho. Em 2017, o globo. Como pensar em um retrocesso na conexão esta­
por exemplo, o presidente Donald Trump (1946-) deci­ belecida entre os países diante dessa realidade? Outro
diu que os Estados Unidos não fariam parte do recém­ ponto a ser analisado é o fortalecimento de nacionalismos
-formado Acordo Transpacífico de Cooperação Eco- e discursos antiglobalização, a fim de analisar os limites e
nômica (TPP, na sigla em inglês), bloco que reúne países as possibilidades que esses discursos significam em seus
banhados pelo Oceano Pacífico localizados na América, contextos específicos. A pauta ambiental traz outro ele­
na Ásia e na Oceania. Como justificativa, Trump argu­ mento para pensar a importância da relação e do diálogo
mentou que o aumento das importações poderia preju­ amplo entre países na busca de soluções para problemas
dicar a criação de empregos no país. O exemplo do que se operam em âmbito global, ainda que os diferentes
Brexit (termo formado pela junção das palavras British agentes tenham atuação e contribuição diversas para o
e exit), que consistiu na saída do Reino Unido da União agravamento dessa problemática.

XCII
P. 153 caso sobre a participação das mulheres na política em dife­
rentes países. O estudo de caso é um tipo de pesquisa muito
Atividades usado para explicar como ou por que determinados fenô­
Previamente à realização das atividades, é pertinente menos sociais ocorrem, que consiste na coleta dados, sobre­
promover uma discussão para analisar a importância do tudo qualitativos, buscando explorar ou descrever um evento.
Estado no atual estágio do capitalismo em que vivemos. O texto de apoio traz mais detalhes dessa prática de
A produção e as finanças estão integradas como nunca se pesquisa.
viu, e os blocos econômicos e demais organizações supra­
nacionais regem várias dessas relações internacionais. No Texto de apoio
entanto, o Estado não está ausente e pode, até mesmo,
adotar medidas que contrariem essa lógica da globaliza­
ção. As ideias neoliberais não podem ser colocadas em O estudo de caso é um método de pesquisa estru-
turado, que pode ser aplicado em distintas situações
marcha sem a participação do Estado.
para contribuir com o conhecimento dos fenômenos
1. Como sugestão de instituição supranacional a ser estu­ individuais ou grupais. Por se tratar de um método
dada, indica-se o FMI. Solicite que, em data marcada de pesquisa, o estudo de caso possui características
com antecedência, os estudantes tragam os materiais próprias e pode ser conceituado com base nas posi-
que encontraram. Faça uma triagem desse material e ções de dois dos mais reconhecidos especialistas nes-
indique também materiais complementares, se houver te método: Robert K.Yin e Robert R.E. Stake.
necessidade. A ideia é promover um debate entre os Yin define o estudo de caso como uma pesquisa
estudantes de modo que eles possam analisar, refletir empírica, que investiga fenômenos contemporâneos
e chegar a algumas conclusões com base em suas dentro de um contexto de vida real, utilizado espe-
pesquisas e leituras. cialmente quando os limites entre o fenômeno e con-
2. Resposta pessoal. Espera-se que, com base nas pes­ texto são pouco evidentes. Atribui-lhe o objetivo de
explorar, descrever e explicar o evento ou fornecer
quisas e nas discussões feitas nesta unidade, os estu­
uma compreensão profunda do fenômeno.
dantes possam compreender que as relações entre
organizações supranacionais e Estados são permeadas Stake apresenta o estudo de caso como um siste-
por conflitos de interesses e contradições. Embora ma delimitado e enfatiza, simultaneamente, a unida-
algumas organizações, organismos e agências sejam de e a globalidade desse sistema. Concentra a atenção
nos aspectos que são relevantes para o problema de
atuantes em diferentes territórios e forneçam algumas
investigação, em um determinado tempo, para per-
orientações a serem seguidas por diferentes agentes
mitir uma visão mais clara dos fenômenos por meio
e Estados, é fato que nem sempre há consenso e aceite
de uma descrição densa.
amplo dessas recomendações. É importante que essa
análise esteja pautada na escolha de uma instituição, O estudo de caso como método de pesquisa requer
do pesquisador cuidados com o desenho do protoco-
agência ou organismo específico.
lo, explicando os procedimentos formais e reconhe-
3. a) Entre as justificativas favoráveis ao Brexit, no cendo pontos fortes e limitações do estudo. De um
entendimento de determinados grupos, estão: modo geral, a escolha por este método se torna apro-
maior controle sobre a imigração no Reino Unido; priada quando o pesquisador busca responder ques-
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garantia da soberania do país nas decisões sobre tões que expliquem circunstâncias atuais de algum
saúde e previdência; melhoria nas negociações fenômeno social, na formulação de como ou por que
DA EDITORA DO BRASIL
bilaterais com outros países. Entre as justificativas tal fenômeno social funciona.
contrárias estão: maior dificuldade de circulação Embora se trate de um método com capacidade
das pessoas que vivem no Reino Unido nos países de produzir evidências com base em distintas técni-
integrantes da União Europeia; redução dos lucros cas quantitativas e/ou qualitativas de coleta e análise
do país em virtude das cobranças de tarifa que de dados, sua aplicação nas ciências sociais perma-
passarão a ser feitas com a saída do bloco. nece desafiadora, visto que o termo “estudo de caso”
tem sido também utilizado como uma técnica, um
b) Qualquer adesão a um bloco econômico pressupõe
instrumento ou uma abordagem. Na área educacio-
certos acordos que são previstos nos estatutos que
nal, por exemplo, o estudo de caso pode ser utilizado
regulamentam essas instâncias supranacionais. como uma abordagem didática para problematizar
No entanto, cabe a cada país e a sua população uma situação a fim de aproximar a teoria e a prática.
avaliar a pertinência de integrá-los ou não, consi­ O termo também é comumente utilizado em estudos
derando os possíveis benefícios e prejuízos. médicos e psicológicos, para se referir a uma análise
detalhada de um caso individual, que explica a dinâ-
P. 154-155 mica e a patologia de uma determinada doença.
Pesquisa: Estudo de caso – Participação [...]
política das mulheres ANDRADE, Selma Regina de Andrade et al. Estudo de caso
como método de pesquisa em enfermagem: uma revisão
Esta proposta de atividade, que fecha o livro, tem o obje­ integrativa. Texto & Contexto – Enfermagem, v. 6, n. 4., 2017.
tivo de mobilizar uma prática de pesquisa relacionada ao Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/tce/v26n4/0104
estudo de caso e desenvolver a competência geral 2. Para -0707-tce-26-04-e5360016.pdf. Acesso em: 9 set. 2020.
isso, é proposto aos estudantes que realizem estudos de

XCIII
INDICAÇÕES COMPLEMENTARES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Artigo ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Polén,
2019.
ALMEIDA, Paulo Roberto. O Brasil e o FMI desde Bretton
Woods: 70 anos de História. Revista Direito GV, São Paulo, O filósofo e advogado Silvio Almeida explica o conceito de ra-
v. 10, n. 2., jul/dez. 2014. Disponível em: https://www. ça na História, bem como a noção de preconceito, racismo e
scielo.br/pdf/rdgv/v10n2/1808-2432-rdgv-10-2-0469. discriminação. Ele apresenta três concepções de racismo: a
pdf. Acesso em: 16 ago. 2020. individual, a institucional e a estrutural. O conceito de mino-
rias é abordado voltando-se para a questão racial, mas traz
Esse artigo faz amplo retrospecto das relações do Brasil com em seu discurso a inclusão de outras minorias sociais.
o FMI, resgatando a relação de dependência monetária que o
país adquiriu desse organismo internacional e que foi mais ou ANDRADE, Selma Regina de Andrade et al. Estudo de caso
menos intensa de acordo com o período histórico vivido.
como método de pesquisa em enfermagem: uma revisão
Filme integrativa. Texto & Contexto - Enfermagem, v. 6, n. 4.,
2017 Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/tce/v26n4/
O jovem Karl Marx, direção de Raoul Peck. França, Alema­ 0104-0707-tce-26-04-e5360016.pdf. Acesso em: 9 set.
nha, Bélgica, 2017 (121 min). 2020.
Retrata a vida e a produção de Karl Marx na juventude, sobre- Artigo que trata da aplicação do estudo de caso na área da
tudo o período entre 1842 e o início de 1848, quando fica enfermagem, mas que também apresenta um panorama, no
pronto o Manifesto Comunista. O filme aborda a amizade en- geral, sobre a prática desse método de pesquisa.
tre Marx e Engels, cujas teorias posteriormente se tornaram
enormemente influentes, a relação com sua parceira Jenny
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo:
von Westphalen e a relação de Marx com o movimento traba-
Companhia das Letras, 2013.
lhador da época e com outros intelectuais, como o pensador
francês Pierre Proudhon. Trata-se de ótima ferramenta didá- A autora se debruça sobre o surgimento e o desenvolvimento
tica para trabalhar o conceito de socialismo científico. dos movimentos totalitários do início do século XX, sobretudo
o nazismo, o fascismo e o stalinismo, e identifica as caracte-
Livros rísticas comuns a esses regimes e as consequências para os
indivíduos direta ou indiretamente afetados pelas políticas de
CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. São Paulo: Compa­
cada um deles. Considerado a principal obra de Arendt, o livro
nhia das Letras, 1990. é reconhecido desde sua publicação como uma obra de refe-
Calvino apresenta relatos fictícios do viajante Marco Polo en- rência sobre o tema e um clássico da filosofia política.
quanto descreve para o imperador Kublai Khan as cidades que
visitou. O desejo de Khan é montar o império perfeito basean- BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro:
do-se nos relatos que ouve. Essas cidades imaginárias têm, Elsevier, 2004.
todas elas, nomes de mulheres e são divididas em onze tipos
Obra com os principais artigos do autor relacionados à temá-
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
(as cidades e a memória, as cidades e o céu, as cidades e os
tica dos direitos humanos no contexto da democracia e da paz.
mortos etc.).
DA EDITORA DO BRASIL
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO,
racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. Gianfranco (org.). Dicionário de política. Brasília: Editora
Esse livro reúne uma série de textos sobre racismo, em que a au- UnB, 1998.
tora desmonta as estruturas de normalização e escancara a vio- O livro faz uma interpretação sintética e abrangente dos prin-
lência dessa prática, ao trabalhar com a ideia de descolonização cipais conceitos políticos.
dos discursos, ideias e espaços para a criação de novos espaços
de poder e conhecimento. Pode ser usado para aprofundar as CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática,
discussões a respeito de uma visão histórica descolonial. 2000.

Site A filósofa e professora Marilena Chaui apresenta os principais


temas discutidos ao longo da história da filosofia, desde a An-
Café História. Especialistas comentam sobre a derrubada tiguidade até os dias atuais. De maneira didática, ela trata des-
de monumentos e estátuas. Disponível em: https://www. ses temas com o embasamento da leitura crítica de textos
cafehistoria.com.br/especialistas-comentam-derrubada filosóficos por meio de abordagem e de linguagem acessíveis,
-de-estatuas-pelo-mundo/. Acesso em: 15 ago. 2020. tornando o discurso próprio da filosofia mais próximo do leitor.
Esse site reúne comentários de historiadores sobre o recente
movimento de derrubada dos monumentos históricos de per- CONTEL, Fabio Bentioli. As divisões regionais do IBGE no
sonagens controversos na História. Podem ser utilizados em século XX (1942, 1970 e 1990). Terra Brasilis, n. 3, ago.
sala de aula como fonte para alimentar as discussões propos- 2014. Disponível em: https://journals.openedition.org/ter
tas na unidade. rabrasilis/990. Acesso em: 13 jan. 2020.

XCIV
O artigo discorre sobre as propostas de regionalização do Bra- FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento?
sil nas décadas de 1940, 1970 e 1990, amarrando com o con- Dilemas da justiça numa era “pós-socialista”. Cadernos de
texto histórico e político de cada momento e evidenciando a Campo. São Paulo, n. 14/15, p. 231-239, 2006. Disponível
importância do planejamento territorial e do IBGE, sobretudo em: http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/
na Era Vargas e na Ditadura Civil-Militar. view/50109/54229. Acesso em: 29 jun. 2020.
Texto em que Nancy Fraser aborda a problemática da justiça
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: mo-
em um mundo globalizado e “pós-socialista”. Nele, a autora
mentos decisivos. São Paulo: Unesp, 1999.
esclarece as demandas dos movimentos por justiça em um
Nesse livro, são abordadas as transformações no cenário po- contexto de crise do modelo de Estado de bem-estar social e
lítico brasileiro, desde o período monárquico até sua transição fortalecimento do neoliberalismo.
para a República.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala. São Paulo: Glo-
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boi- bal, 2019.
tempo, 2016.
Marco fundamental na análise das relações raciais no espaço
Obra fundamental para entender as nuances das opressões. brasileiro, considerando a estrutura social do Brasil colônia e
os modos de exploração da escravidão. Obra de grande rele-
DIAS, Maria Clara. Os direitos sociais básicos: uma inves- vância para quem pretende se debruçar sobre a origem do
tigação filosófica da questão dos direitos humanos. Porto mito da “democracia racial”.
Alegre: EDIOUCRS, 2004.
O livro apresenta uma defesa dos direitos sociais básicos en- GEIGER, Pedro. Industrialização e urbanização no Brasil,
quanto direitos humanos. conhecimento e atuação da geografia. Revista Brasileira
de Geografia, Rio de Janeiro, v. 50, t. 2, 1988.
ENGELS, Friedrich. Do socialismo utópico ao socialismo Pedro Geiger constrói nesse artigo um retrospecto da Geogra-
científico. São Paulo: Edipro, 2017. fia moderna no Brasil, fazendo referência ao surgimento do
Livro fundamental por desenvolver o socialismo científico, IBGE, onde trabalhou, e sua importância no governo de Getú-
criando as bases teóricas do socialismo e do comunismo. lio Vargas para as políticas de planejamento territorial, que
tinham as regionalizações do país como um de seus pilares.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1968. HABERMAS, Jürgen. A nova transparência: a crise do Es-
tado de bem-estar social e o esgotamento das energias
No livro, o autor faz uma análise das violências que instaura-
ram o mundo colonial. utópicas. Novos Estudos, n. 18, set. 1987.
O autor faz uma aproximação temática dos movimentos so-
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006. ciais com a psicanálise.

MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
A História do Brasil é apresentada desde o descobrimento até
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticida-
o fim da Ditadura Civil-Militar. Sua narrativa é didática, dividi-
DA EDITORA DO BRASIL
da em temáticas principais para cada período histórico. de e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
Nesse livro, o filósofo alemão se debruça sobre alguns dos
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na socie- principais conceitos contemplados no material, sobretudo
dade de classes. São Paulo: Globo, 2008. aqueles de direito e cidadania. O autor perpassa a história dos
dois conceitos e os atualiza, aplicando-lhes novos significa-
Nessa obra fundamental da sociologia brasileira, Florestan
dos, com base em reflexões sobre a globalização e a diversi-
Fernandes analisa o período posterior à abolição da escravi-
dade cultural.
dão e a forma como homens e mulheres negros, tornados li-
vres, foram sistematicamente excluídos da sociedade de
HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos
classes, em estruturas que permanecem até hoje. É também
filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 2007.
nesse livro que ele faz a crítica mais contundente ao que vinha
sendo discutido por muitos outros autores em torno da “de- O autor faz um estudo filosófico sobre os pensamentos natu-
mocracia racial”, demonstrando como o racismo continuou ralistas e religiosos.
(e continua) se reproduzindo.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Parque Indígena do Xingu
FERRO, Marc. A história vigiada. São Paulo: Martins Fon- 50 anos. Disponível em: https://www.socioambiental.org/
tes, 1989. sites/blog.socioambiental.org/files/publicacoes/10380_0.
pdf. Acesso em: 4 set. 2020.
O autor analisa a dificuldade que os historiadores têm para
escapar à pressão dos preconceitos, das ideologias ou das Documento elaborado pelo Instituo Socioambiental em cele-
vaidades nacionais. bração do aniversário de 50 anos do Parque Indígena do Xingu.

XCV
MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a primeira década RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte:
de Tito Lívio. São Paulo: Martins Fontes, 2007. Letramento, 2017.
Maquiavel estimula o debate sobre o conceito de liberdade e Por meio do diálogo com várias autoras que se identificam
virtude cívica, apresentando a ideia de necessidade de con- com o feminismo negro, Djamila Ribeiro apresenta o debate
fiança no povo com vistas à preservação da liberdade e à ga- sobre as vozes e as lutas das mulheres negras, que, através
rantia da participação deste na vida pública. A leitura dessa do tempo, reivindicaram sua visibilidade. O lugar de fala é
obra possibilita a compreensão de que não há cidade forte compreendido não a partir de experiências individuais, e sim
sem povo, mas também não há cidade livre sem a participa- de opressões estruturais que marginalizam parcelas repre-
ção da maioria na vida política da cidade. Maquiavel, contudo, sentativas da população.
faz a ressalva de que a participação popular traz consequên-
cias. Levar o público a intenções e desejos que não são con-
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Nem preto nem branco, muito pe-
sensuais (como acontece na maior parte das vezes) pode
lo contrário: cor e raça na sociabilidade brasileira. São Pau­
resultar em conflitos políticos.
lo: Claro Enigma, 2012. E-book.
MARCUSE, Herbert. O fim da utopia. São Paulo: Paz e Nessa obra, a autora trata do racismo que é praticado no am-
Terra, 1969. biente privado e no cotidiano.
Traz uma análise crítica do que aconteceu com as correntes
liberais e de esquerda com a morte dos ideais utópicos que SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientis­
orientavam essas tendências políticas. tas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930.
São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
NASCIMENTO, Abdias do. O genocídio do negro brasileiro: A autora discute a questão da raça no Brasil e apresenta um
processo de um racismo mascarado. Rio de Janeiro: Paz panorama contendo desde as teorias raciais que nortearam
e Terra, 1978. as ações durante o século XIX até o funcionamento das insti-
O tema desse livro de Abdias do Nascimento é a realidade tuições do país e as reproduções do racismo, refutando o mi-
do negro no Brasil como pano de fundo para o debate acer- to da democracia racial.
ca do racismo estrutural presente na formação da sociedade
brasileira. SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel.
Dicionário da República. São Paulo: Companhia das Letras,
NEGRO, Antonio Luigi. Paternalismo, populismo e história 2019. E-book.
social. Cadernos AEL, 11(20/21) Disponível em: https://
Organizado pelas historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa
www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ael/article/ Starling, o livro traz uma série de verbetes sobre a República
view/2532. Acesso em: 9 ago. 2020. brasileira, os quais são explicados com base em 51 textos crí-
O artigo aborda as nuances e as intersecções entre os concei- ticos escritos por autores convidados, entre eles Kenneth Ma-
tos de paternalismo e populismo na História e esclarece as xwell, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Mello,
maneiras segundo as quais esses conceitos são utilizados pa- Marilena Chaui, João Fragoso, Silvio Almeida e Keila Grinberg.
ra explicar os cenários políticos latino-americanos, com foco
no Brasil. MATERIAL DE DIVULGAÇÃO SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel.
DA EDITORA DO BRASIL
OLIVEIRA, João Pacheco de; FREIRE, Carlos Augusto da
Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras,
2015. E-book.
Rocha. A presença indígena na formação do Brasil. Brasí­
As autoras fizeram uma radiografia da História do Brasil, da co-
lia: Ministério da Educação, Secretaria de Educação
lonização até os dias atuais, abordando os temas de maneira
Continuada, Alfabetização e Diversidade; Laced/Museu
didática.
Nacional, 2006.
O material apresenta uma linha do tempo da história indígena STANLEY, Jason. Como funciona o fascismo: a política do
no Brasil, com enfoque nas principais ações adotadas pelos
“nós” e “eles”. Porto Alegre: L&PM, 2018.
governos no trato com as populações indígenas, desde a Co-
lônia até a República. Há indicação de leituras e de documen- Obra recente que estabelece alguns princípios do fascismo
tos que podem ser usados como ferramentas didáticas para que permitem analisar governos atuais e perceber em que
aprofundar os conhecimentos relativos ao debate envolvendo medida alguns deles correspondem às ideologias declarada-
os povos indígenas. mente fascistas dos anos 1930 e 1940.

XCVI
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
DA EDITORA DO BRASIL
MATERIAL DE DIVULGAÇÃO
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ISBN 978-85-10-08391-1

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