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25/11/2022

A mecanização da
produção

Páginas 74 - 79
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A mecanização da produção

• O desenvolvimento do capitalismo
comercial, no contexto expansionista
dos séculos XV a XVII, foi intensificado
com as transformações causadas pelo
fenômeno conhecido como Revolução
Industrial.
• Iniciado na Inglaterra por volta da
década de 1760, o processo de
mecanização da produção e a
consequente ampliação da escala
produtiva afetaram radicalmente as
economias, as sociedades e as formas de
relação de trabalho em todos os
continentes.

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• Os fatores determinantes para o pioneirismo britânico devem ser creditados às


condições políticas e econômicas que se configuravam no país antes do século Cercamento: limitação do
XVIII. acesso à terra de uso comum
• Com a consolidação da monarquia parlamentar, após a Revolução Gloriosa aos camponeses, terra em
(1688-1689), os parlamentares representantes da burguesia passaram a controlar que eles trabalhavam e da
o poder aprovando políticas públicas que estimulavam o crescimento industrial qual extraíam sua
e comercial do país. subsistência, transformando-
• Além disso, o processo de cercamento das áreas comunais agrícolas, que havia a em área destinada à criação
se iniciado no século XVI em virtude do lucrativo comércio de lã, foi ampliado de ovelhas e de outros
por uma série de leis (Enclosure Acts) promulgadas pelo Parlamento. artigos para a venda.
• Os cercamentos foram responsáveis pela expropriação maciça dos
camponeses, que, para garantir sua sobrevivência, migraram para as cidades e
passaram a oferecer sua força de trabalho para a produção manufatureira e para
as minas. .

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• O aumento na produção de lã e algodão havia multiplicado


a quantidade de manufaturas têxteis na Inglaterra.
• O lanifício estava ligado à economia camponesa, associado
desde muitas gerações à criação de ovelhas. Já a indústria
algodoeira vinculava-se ao comércio ultramarino, tanto pelo
fornecimento de matérias-primas quanto pelo cultivo do
algodão nas colônias americanas.

As grandes cidades britânicas, nos anos


1800 (veja mapa), tiveram intenso
impulso populacional com a
industrialização. no campo, além das
mudanças socioeconômicas, as
transformações técnicas afetaram a
tradicional paisagem rural, como mostra
a pintura ao lado, de 1777, de William
Williams. as chaminés, por todo o país,
eram muito mais que simples marcas da
paisagem: eram símbolos de uma ampla
revolução produtiva e social.

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• Outro importante fator que impulsionou a industrialização britânica foi a utilização da máquina a vapor,
inventada por Thomas Newcomen e aperfeiçoada por James Watt em 1769.

• Essa máquina transformava o


vapor-d ’água em força motriz,
que movimentava teares,
aumentando a produção têxtil.
• As indústrias metalúrgicas e
siderúrgicas também se
desenvolveram no decorrer da
Revolução Industrial.
• Sua demanda estava ligada ao
setor militar, à produção de
máquinas utilizadas nas
indústrias, especialmente na
naval, e, posteriormente, à
construção de ferrovias,
responsáveis pelo transporte de
mercadorias e de um enorme
contingente de pessoas

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Laminadores de ferro, de a. Von Mozel, 1875. esta pintura do


final do século XiX retrata o pesado trabalho numa laminação
de ferro, com o ambiente hostil, sujo e quente de uma
siderúrgica.

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INDUSTRIAL

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As cidades industriais
• As novas relações de trabalho nas cidades
industrializadas transformaram gradualmente a
dinâmica familiar, a relação com o tempo, as
formas de moradia e os hábitos de maneira geral.
• Antes do início do processo de industrialização, as
cidades britânicas eram centros de dimensões
relativamente reduzidas voltados para a
administração, o comércio e a prestação de
serviços. Nelas viviam funcionários públicos,
artesãos, mercadores etc.
• Com o avanço da indústria, a concentração
populacional nas áreas fabris passou a marcar a
paisagem das cidades, onde operários habitavam
bairros populosos ou cortiços em péssimas
condições sanitárias, geralmente próximos às
fábricas.
• Os burgueses viviam nos bairros mais ricos e se
instalavam em casas confortáveis e suntuosas.

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A atividade artesanal medieval e a


indústria do século XIX representam
estruturas produtivas bem diferentes. em
cima, iluminura de 1390 mostrando
artesãos: pequena produção,
trabalhadores donos dos meios de
produção e dos frutos de seu trabalho,
habilidade criativa e produtiva. na foto
inferior, de 1881, trabalho industrial nos
estados unidos: operários, grande
produção, assalariados, sujeição à
máquina e alienação.
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O TRABALHO NAS FÁBRICAS


• No sistema artesanal e doméstico, a organização da
produção era conduzida por uma pessoa ou um
pequeno grupo familiar que, ao receber as encomendas
e a matéria-prima, confeccionava os artefatos e os
entregava para o consumo do próprio comprador ou
para a revenda. O artesão, portanto, acompanhava
todas as fases da produção.
• Com a manufatura, os operários passaram a se reunir
em grandes galpões onde trabalhavam com matérias-
primas e ferramentas que pertenciam aos patrões. Em
troca de uma jornada diária de trabalho, recebiam um
salário fixo.
• Depois, com a manufatura e a divisão do trabalho, o
controle técnico do processo de produção deixou de
pertencer aos trabalhadores e passou para os donos
das fábricas. Como resultado, seguiu-se a alienação
crescente do trabalhador, que não visualizava o
resultado e os destinos das mercadorias que produzia.

Alienação: nesse caso, diz respeito ao termo utilizado


pelo filósofo alemão Karl Marx para referir-se à perda
de controle do trabalhador sobre o processo
produtivo, a natureza e o produto final de seu Gravura do final do século XVIII representando o
trabalho interior de uma fábrica inglesa.

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• Como observou o historiador E. P. Thompson,


a Revolução Industrial mudou também a
maneira de ver e de usar o tempo.
• Com o surgimento da fábrica e do trabalho
assalariado, passou a haver a necessidade de
controlar o tempo: o trabalhador, por exemplo,
precisava saber a hora de levantar; ao patrão
interessava saber quanto tempo os
trabalhadores levariam para fabricar
determinado produto, o relógio passou a ser
uma necessidade dentro e fora das fábricas e
foi sendo adquirido por um número maior de
pessoas (até o século XIX, só os milionários
possuíam relógio).
• Enfim, com a Revolução Industrial, o tempo
passou a ser um bem precioso. Nesta época, e
não por acaso, surgiram expressões como:
“perder tempo”, “ganhar tempo”, “economizar
tempo” etc.
• As pessoas passaram a se guiar pelo tempo da
fábrica.

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Manufatura X Maquinofatura
Segundo o historiador Francisco
Iglésias:
“O homem passa a agente de
direção, de manobra de aparelhos
mais ou menos complicados.
Assiste-se, pois, à passagem da
manufatura para a maquinofatura.
[...] Enquanto antes se produzia
para certo mercado, constituído
por pessoas conhecidas, agora se
produz para um mercado anônimo;
enquanto antes o artigo era feito
por um artesão, uma pessoa, agora
o é pela máquina ou por várias
pessoas, que dividem as tarefas
[...].”
IGLÉSIAS, F. A Revolução Industrial. 3. ed.
São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 48-49.
(Coleção Tudo é história)

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A exploração do trabalho de mulheres e crianças


• A vida dos primeiros trabalhadores das indústrias era
insalubre. Os operários chegavam a trabalhar dezoito
horas por dia em ambientes abafados, mal iluminados e
sujos. Desempenhavam funções cansativas e monótonas,
o que os deixava vulneráveis a acidentes.
• Os salários eram baixos, e não havia direitos trabalhistas,
como férias, pagamento de horas extras e descanso
semanal remunerado. Quando sofriam acidentes nas
fábricas, ficavam doentes ou desempregados, não
contavam com nenhum tipo de auxílio.
• Muitos dos trabalhadores eram adultos do sexo masculino,
mas os industriais recorreram sistematicamente ao
trabalho feminino e à exploração da mão de obra infantil
para baratear o custo da produção.
• As mulheres, geralmente recrutadas nas fábricas têxteis,
recebiam salários menores que os dos homens, situação
que, ainda hoje, persiste em várias partes do mundo.

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A exploração do trabalho de mulheres e crianças


• As crianças também recebiam
salários menores que os dos
homens, e seu trabalho era
preferido pelos industriais, porque
elas aprendiam as funções com
mais rapidez e eram facilmente
intimidadas para cumprir ordens.
• Além disso, por serem pequenas,
eram mais ágeis e tinham
facilidade para movimentar-se por
entre as peças das máquinas.
• Além da extenuante jornada de
trabalho, as crianças recebiam Mulheres e crianças em um cortiço de Londres, Grã-Bretanha,
castigos físicos caso século XIX. Com a industrialização, os trabalhadores passaram a
adormecessem ou diminuíssem o residir em bairros perto das fábricas, que eram caracterizados
ritmo e corriam o risco de contrair pela pobreza e pelas habitações precárias
doenças e sofrer acidentes.

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A organização dos
trabalhadores
• As primeiras organizações de trabalhadores britânicos,
conhecidas como trade unions, formaram-se antes da
Revolução Industrial e, em geral, eram ligadas aos
ofícios artesanais.
• Esses grupos enviavam diversas petições ao
Parlamento, reivindicando, basicamente, aumentos
salariais.
• As mudanças trazidas com a Revolução Industrial –
como a introdução de máquinas, o ritmo intenso de
trabalho, os baixíssimos salários e a falta de segurança
e higiene nas fábricas, entre outras – aumentaram e
motivaram sucessivas reações por parte dos
trabalhadores.
• Ao longo do século XVIII e no início do século XIX,
formas violentas de protesto foram colocadas em
prática, como a queima de colheitas e a destruição de
máquinas pelos trabalhadores urbanos e rurais.

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• O movimento de destruição das máquinas


recebeu o nome de ludismo, em referência a
Ned Ludd, que teria quebrado os teares de
uma fábrica têxtil.
• De certa forma, os instrumentos físicos – as
máquinas de produção – representavam o
surgimento e o estabelecimento de novas
relações sociais e até hábitos culturais. As
ações dos ludistas alastraram-se pela Grã-
Bretanha e por várias outras regiões da
Europa.
• Com isso, muitos integrantes desse
movimento de protesto foram presos e
condenados ao enforcamento
• Outro movimento importante foi o London
Corresponding Society. Criado em 1792,
reivindicava a redução da jornada de
trabalho, a igualdade de representação, o fim
das pensões dadas às camadas dirigentes e a
diminuição dos impostos. Muitos membros
desse movimento acabaram presos.

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• Para coibir as diversas formas de protesto, o governo da


Grã-Bretanha instituiu, em 1799, as Combination Acts, leis
que proibiam todas as associações de trabalhadores nos
países. Apesar disso, muitas continuaram em atividade.
• Entre 1804 e 1805, por exemplo, cerca de quarenta mil
tecelões da Escócia entraram em greve. Mais tarde, em
1810, milhares de fiadores de algodão de Manchester
também cruzaram os braços em protesto.
• Em razão das lutas operárias, as Combination Acts foram
revogadas em 1825, mas outras leis foram criadas punindo
manifestações e greves, que passaram a ser consideradas
crimes. Alguns anos depois, formou-se a Grand National
Consolidated Trades Union, primeira central de
trabalhadores da Grã-Bretanha.
• Entre as conquistas dos operários na época, estavam a
limitação do trabalho das crianças entre nove e treze anos a
oito horas diárias e entre treze e dezoito anos a doze horas
diárias (1833), a proibição do trabalho feminino nas minas
(1842) e a redução da jornada de trabalho para dez horas
diárias (1847).

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O cartismo
• Em 1832, o Parlamento britânico
aprovou o Reform Act, ato que
ampliou o direito ao voto entre
os homens adultos da classe
média e os pequenos
proprietários.
• No entanto, a maior parte da
população britânica, como as
mulheres, os trabalhadores
agrícolas e os operários
continuaram excluídos do
processo eleitoral.

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• Afastado da arena pública, o proletariado reclamava o


direito de participar das eleições.
• Diante da resistência do Parlamento em aceitar essa
demanda, muitos trabalhadores alistaram-se em um
movimento que ficou conhecido como cartismo.
Organizado por Feargus O’Connor e William Lovett, o
movimento teve início com uma petição conhecida como
Carta do Povo, apresentada ao Parlamento em 1838, na
qual os trabalhadores reivindicavam:
• extensão do direito ao voto a todos os homens maiores
de 21 anos;
• igualdade de representatividade para os distritos
eleitorais;
• voto secreto;
• eleições anuais para o Parlamento;
• abolição do censo eleitoral (requisitos de propriedade
para os candidatos à Câmara dos Comuns);
• remuneração das funções parlamentares.

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• Os cartistas publicavam suas propostas em


jornais próprios, recorriam a passeatas e
organizavam a coleta de assinaturas em
petições que enviavam ao Parlamento.
• A pressão que realizaram contribuiu para a
aprovação de leis que reduziram a jornada
de trabalho e proibiram o trabalho infantil.
• Em abril de 1848, os cartistas prepararam
uma marcha de operários para apresentar
uma nova petição aos parlamentares. Eles
esperavam que o número de manifestantes
forçasse o Parlamento a conceder as
reformas, mas a petição foi rejeitada.
• Nesse ano, revoltas ocorriam em toda a
Europa – ainda assim, o cartismo perdeu
força.
• Contudo, inspirou outros movimentos, cujos
participantes posteriormente conseguiram
obter a aprovação de leis que melhoraram
as condições de trabalho na Grã-Bretanha.

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A atuação das mulheres


• Muitas mulheres participaram de maneira ativa
do movimento cartista, redigindo artigos e
participando das manifestações e petições.
• Ainda que a Carta do Povo não tenha incluído a
demanda pelo voto feminino, durante os séculos
XIX e XX, as mulheres criaram organizações em
defesa da igualdade de gêneros.
• Em 1918, o Parlamento britânico aprovou o
direito ao voto feminino apenas para as mulheres
com mais de trinta anos de idade.
• Dez anos depois, o Equal Franchise Act (1928)
estabeleceu que as mulheres com mais de 21
anos poderiam votar, tal como era permitido aos
homens.

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