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PROJETO DE VIDA:

UM COMPONENTE
CURRICULAR INOVADOR
PROJETO
DE VIDA

DIÁLOGOS
SOCIOEMOCIONAIS
ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO
MODELO PEDAGÓGICO
PROJETO DE VIDA: UM COMPONENTE CURRICULAR INOVADOR

O pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa dizia que o Projeto de Vida


é um “sonho com degraus”. É um sonho porque se refere a um objetivo
de longo prazo e de difícil e exigente realização, um desejo profundo.
É cheio de degraus porque exige gestão e organização dos passos a
seguir e entendimento de que tudo o que deve ser feito depende de
esforços e recursos. Se não há essa ordenação, transforma-se apenas
em uma projeção irrealizável, incoerente com intenções maiores e sem
possível materialização, em suma, uma fantasia, ilusão ou utopia.

Projeto de Vida também pode ser compreendido como o propósito


pessoal que faz com que alguém se engaje com empenho no cotidiano
do próprio viver, fundamentado em valores positivos e éticos.

A palavra projeto possui alguns significados. O primeiro deles é ter


metas e lançar-se no alcance delas (do latim, projectum). O segundo
relaciona-se com o futuro, dado que sem ele, não existem projetos.
O terceiro, diz respeito à qualidade desse futuro: aberto e não deter-
minado; são as ações pessoais na interação com os contextos que
tornam o projeto exitoso ou não. Por fim, um projeto é algo a ser reali-
zado pelo projetante; não se estabelece projetos pelos outros1.

Projeto de vida, por sua vez, abrange dimensões interdependentes


relacionadas à vida pessoal, cidadã, acadêmica e profissional da
pessoa. No contexto escolar, traduz-se em oportunidades educati-
vas que conferem sentido e significado aos desafios existenciais de
cada estudante, na busca e realização de seus anseios e objetivos.

Mais do que apenas se voltar para o futuro, pensar em um projeto de


vida envolve abraçar o presente. Sobre esse ponto, Burnett e Evans

1. Sobre isso, ver MACHADO, Nilson (2002). Sobre o futuro não determinado, o autor condensa em uma bela
frase o equilíbrio entre razão e emoção: “A vida é consciência, previsão, razão, controle; também é impulso,
aposta, emoção, explosão”.

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(2017) propõem a reformulação da clássica pergunta “O que você quer


ser quando crescer?”. Para eles, a questão que deve ser posta é: “No
que você quer crescer?”. Uma pequena revisão que faz toda a diferen-
ça, já que constrói a ponte entre o hoje e o amanhã. Assim, um desejo
distante torna-se algo que pode começar a ser projetado no próprio
instante de sua formulação. É no agora que a pessoa define em que
aspecto ou competência deseja desenvolver. Há também o fato de
que a pergunta passa ter o sentido de processo, de trajeto, que se
altera conforme as mudanças da vida.

Projeto de vida: estabilidade, sim! Imutabilidade, não!

Vale destacar uma importante característica do projeto de vida: a


estabilidade (DAMON, 2009) ou constância de propósito (COSTA, 2000).
Isto é, trata-se de uma meta não passageira que só pode ser concluída
no longo prazo, por isso necessita que sejam postos alguns degraus
ao longo do trajeto. Note-se que estabilidade não é sinônimo de
imutabilidade e imobilidade. O projeto de vida é algo em movimento e
aberto a transformações de acordo com os acontecimentos na vida da
pessoa. De toda maneira, embora possa haver transformações em um
projeto de vida, seu elemento motivador permanece.

Dimensões pessoal, social,


acadêmica e profissional

Para desenvolver o projeto de vida dos estudantes na escola, é funda-


mental a problematização acerca de seus modos de ver e conceber a
si mesmos, os estudos, a vida familiar e o mundo do trabalho. Muitas
de suas concepções podem estar associadas à impressões negativas

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e estereotipadas da escola, dos conteúdos ensinados, das relações


professor-aluno, do baixo autoconhecimento, do relacionamento
com colegas, das dificuldades de iniciar um curso superior, das
profissões, entre outros. Ressignificar como cada estudante pensa,
sente e atua nas dimensões pessoal, social, acadêmica e profissional
é um caminho para o desenvolvimento socioemocional e para uma
formação escolar que amplie seus campos de possibilidades.

DIMENSÃO ACADÊMICA DIMENSÃO PESSOAL

Compreensão pelo estudante do seu Identificação dos próprios sonhos,


protagonismo em sua aprendizagem e interesses e motivações em um processo
na produção de saberes, exercitando de autoconhecimento e busca contínua
sua autonomia e autogestão para pela compreensão de si, produzindo, nesse
aprender na escola e fora dela de modo processo, a autoconfiança necessária para
curioso, investigativo e engajado. fazer escolhas e tomar decisões.

DIMENSÃO PROFISSIONAL DIMENSÃO SOCIAL

Compreensão pelo estudante do seu Compreender-se como parte de um


protagonismo em sua aprendizagem e coletivo, como elemento integrante
na produção de saberes, exercitando de redes locais e virtuais, agindo em
sua autonomia e autogestão para favor do bem comum. Ser cidadão!
aprender na escola e fora dela de modo
curioso, investigativo e engajado.

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Na dimensão pessoal o foco é a relação do estudante consigo


mesmo, sua história de vida, suas experiências e vivências, seus
interesses. Embora haja preponderância do aspecto individual, essa
dimensão também abrange a interação com o outro, com o colega ou
família, por exemplo. Isso ocorre porque a descoberta de si depende,
em grande medida, dessas interações. Ao buscar respostas para
questões como “O que eu gosto?”, “Como me vejo?”, “Como reconheço
minha identidade”, “Quais meus interesses?”, “Quais são minhas
maiores dificuldades?” e “Em quem quero me tornar?”, os estudantes
podem potencializar suas forças e identificar estratégias para
alcançar seus objetivos.

A dimensão cidadã tem como foco a relação do estudante com o


outro na sociedade e com o meio ambiente. Ganha destaque aquilo
que constitui valores e perspectivas democráticas e do bem comum.
Cidadania, inciativa social, sustentabilidade, solidariedade, respeito,
responsabilidade social e ambiental e ética são parte daquilo que é
mobilizado nessa dimensão e articulado nas atividades do compo-
nente Projeto de Vida.

Na dimensão profissional localiza-se a inter-relação entre projeto de


vida e trabalho. Não se trata de inserir os estudantes em práticas pro-
fissionalizantes, mas sim promover a compreensão sobre o complexo
mundo do trabalho, bem como a identificação de seus interesses e
motivações, e o estabelecimento de metas e planos para alcançá-las.
Dessa forma, é compreender a dimensão laboral como um conjunto de
ocupações que as pessoas podem ter ao longo da vida e que podem ou
não estar associadas a uma profissão e que não são estáticos, ou seja:
interesses e ocupações variam ao longo da vida.

Por último, destaca-se a dimensão acadêmica. O estudante, com-


preendido como protagonista de sua aprendizagem e da produção
de saberes, exercita sua autonomia e autogestão para aprender na
escola e fora dela de modo curioso, investigativo e engajado.

Conjugar todos esses elementos não é tarefa simples, do contrário,


não haveria, como mostram alguns autores (DAMON, 2009), tantos
adultos sem clareza sobre metas ou projeções e com grande

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dificuldade de reconhecer os valores que embasam suas tomadas de


decisão e de perceber suas potencialidades e debilidades pessoais.
Daí a importância da família, da escola e do professor como media-
dores. Mesmo que projetos de vida sejam intransferíveis – ninguém
pode desenhá-los nem os realizar pelo outro (MACHADO, 2002) –, ter
apoio é um meio de fazer com que o processo seja menos árduo e
solitário. E, quando a escola oferece espaço curricular estruturado
para que seja trabalhado o projeto de vida de modo intencional, os
estudantes ampliam suas oportunidades de autoconhecimento e de
desenvolvimento integral.

Em função da potência do projeto de vida para a vida escolar,


a BNCC, explicita sua importância para os currículos. Nesse
documento, a escola é considerada como um espaço
que contribui para o delineamento do projeto de vida dos
estudantes, o que “ pode representar mais uma possibilidade de
desenvolvimento pessoal e social” (BRASIL, 2018, p. 62). Nesse
sentido, o projeto de vida tanto diz respeito “ao estudo e ao
trabalho como também no que concerne às escolhas de estilos
de vida saudáveis, sustentáveis e éticos” (BRASIL, p. 463.).

O componente Diálogos Socioemocionais - Projeto de Vida propõe


práticas estruturadas em Orientações para Planos de Aulas (OPAs)
que envolvem os estudantes em sua integralidade, em meio a situa-
ções-problema que exigem um saber fazer que une esforços cogni-
tivos e socioemocionais, bem sintetizados nas macrocompetências
abertura ao novo, autogestão, resiliência emocional, amabilidade e
engajamento com os outros. Sem a dimensão socioemocional desen-
volvida, não há como construir um projeto de vida alinhado a quem
se é e a quem se quer ser e, menos ainda, efetivá-lo. Como diriam
Burnett e Evans (2016), a partir do projeto de vida os estudantes co-
meçam a criar uma vida que podem amar, isto é, com propósito.

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MATERIAL PRODUZIDO PELO
INSTITUTO AYRTON SENNA, 2020

Sobre o Instituto:

Há quase 25 anos, o Instituto Ayrton Senna contribui para ampliar as


oportunidades de crianças e jovens por meio da educação. Nossa missão
é desenvolver o ser humano por inteiro, preparando para a vida no
século 21 em todas as suas dimensões. Impulsionados pela vontade do
tricampeão de Fórmula 1, Ayrton Senna, de construir um Brasil melhor,
atuamos em parceria com gestores públicos, educadores, pesquisadores
e outras organizações para construir políticas e práticas educacionais
baseadas em evidências. Estamos em permanente processo de inovação,
continuamente investigando novos conhecimentos para responder aos
desafios de um mundo em constante transformação.

Partindo dos principais desafios da educação identificados por


gestores e educadores com quem trabalhamos no dia a dia, produzimos,
sistematizamos e validamos conhecimentos críticos para o avanço da
qualidade da educação, em um trabalho conjunto com as redes públicas
de ensino. Todo o conhecimento produzido é compartilhado com mais
atores por meio de iniciativas de formação, difusão, cooperação técnica e
transferência de tecnologia.

Nossas ações são financiadas por doações, recursos de licenciamento e


por parcerias com a iniciativa privada. Considerando iniciativas voltadas
para o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, estamos em 15 estados
e mais de 450 municípios, apoiamos a formação de cerca de 60 mil
profissionais por ano e beneficiamos a educação de mais de 1,5 milhão de
alunos anualmente. www.institutoayrtonsenna.org.br.

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