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MANUAL DO
MANUAL DO PROFESSOR
ENSINO MÉDIO
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CIDADANIA E ÉTICA
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CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
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ÉTICA
CIDADANIA E
ENSINO MÉDIO
Editores responsáveis:
Flávio Manzatto de Souza
2 0 8 0 6 5 Valéria Vaz
ISBN 978-65-5744-183-1
Organizadora: SM Educação
2 900002 080650 Obra coletiva, desenvolvida e produzida
por SM Educação.
O C I A I S APLIC ADAS
HUMAN A S E S
CIÊNCIAS
ÉTIC A
CIDADANIA E
ENSINO MÉDIO
EDITORES RESPONSÁVEIS:
FlÁVIO MaNzaTTO DE SOuza
Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP).
Editor de livros didáticos.
ValéRIa Vaz
Licenciada em História pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).
Especialista em Linguagens Visuais e mestra em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (FASM).
Bacharela em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Editora de livros didáticos.
Organizadora: SM Educação
Obra coletiva, desenvolvida e produzida por SM Educação.
São Paulo, 1a edição, 2020
Ser Protagonista Ciências Humanas e Sociais Aplicadas –
Cidadania e ética
© SM Educação
Todos os direitos reservados
Bibliografia.
ISBN 978-65-5744-182-4 (aluno)
ISBN 978-65-5744-183-1 (professor)
20-41984 CDD-373.19
Índices para catálogo sistemático:
1. Ensino integrado : Livro-texto : Ensino médio 373.19
1a edição, 2020
SM Educação
Rua Tenente Lycurgo Lopes da Cruz, 55
Água Branca 05036-120 São Paulo SP Brasil
Tel. 11 2111-7400
atendimento@grupo-sm.com
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Equipe editorial
CONHEÇA SEU LIVRO
Unidade
4
ABERTURA DE UNIDADE
DEMOCRACIA
BRASILEIRA: DESAFIOS Direitos sociais 10
Múltiplos desafios 11
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE
rafapress/Shutterstock.com/ID/BR
CECNT3: EM13CNT310. lhore ainda mais seus indicadores sociais.
CELT1: EM13LGG101,
EM13LGG102 e EM13LGG104. 1. Como os avanços sociais implementados no Brasil nas
116 117
X1
Composta
horas estabelecido por lei e submetem as pessoas ao trabalho excessivo, cau- É interessante notar como um setor considerado termômetro para a economia,
sando danos à sua saúde ou colocando sua vida em risco. ou seja, quando a economia vai bem, o setor vai bem, quando a economia vai mal,
BRASIL: PRINCIPAIS ATIVIDADES DE • Trabalho forçado: é caracterizado por res- a construção civil acompanha, pode ser cenário também de arbitrariedades na área
tringir a liberdade dos trabalhadores, man- trabalhista.
de textos,
TRABALHADORES RESGATADOS (1995-2016)
tendo-os isolados e sob ameaças de […]
Adilson Secco/ID/BR
violência física e psicológica para que não O trabalho de auditoria foi […] acompanhado de representantes do MPT para
(1 350) 3% 2% (984) deixem de trabalhar. verificação acerca da veracidade das denúncias recebidas. Foi constatado que os
reflorestamento extrativismo vegetal
• Servidão por dívida: nesse caso, os traba-
imagens e
trabalhadores eram migrantes […], tendo sido alojados em pequenos hotéis da ci- Aliciador: aquele que convence outro
(2 420) 4% 1% (689) por meio de argumentos que não são
atividades diversas mineração
lhadores são obrigados a trabalhar para dade. A prática de aliciamento foi constatada, tendo como exemplo os trabalhado-
verdadeiros.
e não identificadas pagar uma dívida ilegal, geralmente rela- res vindos da cidade de Poço Redondo, no Sergipe.
1% (553) cionada a gastos com o próprio serviço, Estes trabalhadores foram procurados por aliciadores,
confecção têxtil
Cesar Diniz/Pulsar Imagens
questões
os chamados “gatos”, conhecidos como Zildo e Cláudio.
(2 772) 5%
desmatamento 31% (16 824) mentos de trabalho, moradia e alimenta- Este último informou aos trabalhadores que os mesmos
(2 888) 6% pecuária ção durante a jornada de trabalho. A deveriam pagar a quantia de R$ 400,00 (quatrocentos
construção civil cobrança é feita de modo desproporcio- reais) pelo transporte, mas que o valor seria restituído
nal, descontando valores diretamente do pela empresa contratante quando chegassem a Juiz de
que se
(3 791) 7%
carvão vegetal salário do trabalhador. Fora. […]
Pesquisadores e juristas distinguem Ao chegarem, serventes, pedreiros, carpinteiros e ar-
escravidão de trabalho análogo à escra- madores se depararam com a triste realidade. As promes-
vidão por se tratar de contextos históricos sas que lhes foram feitas eram falsas. Desta forma, os
relacionam e
(9 754) 18% 22% (11 939) específicos, como veremos ao longo des- homens tiveram que pagar pela alimentação […], foram
lavouras diversas cana-de-açúcar te capítulo. informados que também os valores pagos pelo transpor-
Observe o gráfico ao lado, elaborado com te não seriam restituídos.
base em informações sobre os trabalhado
introduzem
Fonte de pesquisa: Escravo, nem pensar! Disponível em: http://
Já no alojamento foram verificadas irregularidades
escravonempensar.org.br/o-trabalho-escravo-no-brasil/. res que foram resgatados de condições de como a superlotação dos quartos, o que obrigava os tra-
Acesso em: 30 mar. 2020. trabalho análogas à escravidão. balhadores a dividirem camas de solteiro. Além disso, a
alimentação era de péssima qualidade e em quantidade
insuficiente.
o assunto do
1. A liberdade é assegurada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,
proclamada em 1948. De que modo a situação retratada no gráfico se rela- […] Aqui também estes homens foram separados de
ciona a esse direito? Reflita a respeito disso e comente suas percepções com suas famílias e amigos, trazidos amontoados em um meio
os colegas. de transporte precário.
O setor da construção civil é um dos
capítulo.
2. O município ou o estado onde você mora realiza algumas das atividades eco- RibeiRo, Glaucy Meyre de Oliveira. Escravidão moderna: o trabalho no setor da construção civil.
que mais submete trabalhadores a
nômicas presentes no gráfico? Você se lembra de alguma notícia sobre traba- Dissertação (Mestrado em Direito e Inovação) – Universidade Federal de Juiz de Fora,
condições análogas à escravidão.
Faculdade de Direito, Minas Gerais, 2017. p. 84-85.
lho análogo à escravidão na região onde vive? Em caso afirmativo, é possível Prédio em construção em São
relacioná-la aos dados do gráfico? Compartilhe suas informações com a turma. Paulo (SP). Foto de 2018.
Passado escravocrata
Os pesquisadores não chamam o trabalho escravo contemporâneo de escra-
BOXES
vidão. Como você observou na abertura deste capítulo, trata-se de uma escolha
científica para diferenciar os regimes de trabalho que submetem as pessoas a
condições análogas à escravidão da escravidão que fazia parte da estrutura do
Brasil desde o período colonial.
A escravização que ocorreu no Brasil entre os séculos XVI e XIX é chamada
pelos especialistas de escravidão moderna, pois desenvolveu-se sensivelmente
durante a Idade Moderna, período histórico em que parte da Europa Ocidental se
voltava para a exploração de terras e do trabalho de pessoas de outros continen-
tes. A opção por essa expressão também tem por objetivo diferenciá-la dos regi-
mes de escravidão surgidos durante a Antiguidade em diferentes locais, como
Grécia, Roma e Egito antigos.
É possível notar algumas similaridades entre a escravidão moderna e as con-
dições de trabalho análogas à escravidão. Porém, trata-se de circunstâncias si-
tuadas em contextos históricos diferentes, cuja principal distinção é o fato de, no
primeiro caso, a escravidão ser permitida por lei no Brasil e defendida pela maio-
ria dos governantes, que também eram os detentores de terras e de africanos
escravizados. Nesse tipo de estrutura, uma pequena parcela da população detém
o poder político e econômico em detrimento de uma grande camada da popula-
ção, na qual a maioria das pessoas tem seus direitos negligenciados.
O Brasil foi o último país da América Latina a pôr um fim na escravidão moder-
Naturalizar: no texto, refere-se ao ato
Glossário
na. Em termos históricos, trata-se de um evento recente: a escravidão moderna
foi extinta há cerca de 130 anos, após vigorar por mais de três séculos. De acordode tornar algo natural, normal.
Naturalizar: no texto, refere-se ao ato
CONHECENDO OS DESAFIOS: INDICADORES SOCIAIS
com pesquisadores, como Lilia Schwarcz e Laurentino Gomes, a proximidade his-
de tornar algo natural, normal.
tórica com a realidade escravista e o longo período em que essa realidade persis- Para analisar o acesso à cidadania e as questões éticas que envolvem as rela-
ções sociais entre os indivíduos e a comunidade, refletimos sobre diferentes in-
Apresenta
tiu são dois dos principais motivos que colaboram para naturalizar:
• a violência contra trabalhadores, em especial aqueles com níveis menores de dicadores sociais. Assim, ao longo do volume, dados organizados, como taxas,
escolaridade e de renda; índices, quantidades relativas e absolutas da população total ou de determinados
INTERAÇÃO
a explicação
quanto outros vivem na miséria. desta página relaciona
a escravidão moderna ram obtidos de fontes institucionais, como órgãos governamentais, e também de
Os dois aspectos listados evidenciam características das desigualdades social,
com os regimes de tra- pesquisas acadêmicas realizadas por equipes de sociólogos, filósofos, geógrafos,
racial, econômica e cultural de nosso país. Ambos não são evidências naturais, e
balho atuais que são historiadores, antropólogos, estatísticos e muitos outros profissionais.
sim construções históricas e sociais. Essa percepção é importante para que pos-
considerados análogos Apesar de serem importantes para os pesquisadores, essas informações são
de palavras
samos analisar e questionar a nossa sociedade.
à escravidão? Comente ainda mais relevantes para os governantes, já que é com base nelas que devem
Dessa forma, pesquisar as condições sociais atuais do Brasil e conhecer suas suas percepções com ser elaboradas as políticas públicas. Ou seja, as decisões políticas e os projetos
estruturas no passado favorecem a nossa compreensão do presente, as continui- os colegas. desenvolvidos pelos governos levam em consideração os retratos sociais apre-
dades históricas, os movimentos de transformação e também a percepção de co-
sentados pelos indicadores. É assim que eles reconhecem a situação dos desa-
e conceitos
mo podemos agir para a construção de um país mais justo.
fios que vão enfrentar. O excerto a seguir apresenta características da relação
entre indicadores sociais e políticas públicas.
Dálcio/Acervo do artista
que você
Os indicadores e suas aplicações
Os indicadores estabelecem um padrão normativo, por meio do qual é possível cons-
truir um diagnóstico para subsidiar a formulação e a avaliação de políticas públicas.
Não obstante a grande utilidade dos indicadores, é essencial salientar que a sua
talvez não
interpretação deve ser acompanhada de uma análise detalhada do fenômeno estu-
Interação
dado, uma vez que o alcance dos indicadores é limitado, enquanto tentativa de cap-
tar num simples número a complexa realidade social. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde […] e [Paulo de Martino] Jannuzzi […], um indicador deve possuir,
conheça.
como propriedades desejáveis, a validade para representar o fenômeno que pretende
Contém atividades
medir, a confiabilidade de fornecer os mesmos resultados quando calculado em cir-
cunstâncias similares, a sensibilidade de refletir mudanças no fenômeno de interesse,
Dálcio. Correio Popular, a especificidade de refletir mudanças em fenômenos específicos, a relevância para a
25 jan. 2015. discussão da agenda da política em questão, o grau de cobertura populacional ade-
pressureUA/istockphoto.com/ID/BR
desenvolver
Pereira, Danielle Ramos de Miranda; Pinto, Marcelo de Rezende. A importância do entendimento
dos indicadores na tomada de decisão de gestores públicos. Revista do Serviço Público,
Brasília, v. 63, n. 3, p. 363-380, jul./set. 2012. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/
handle/1/1779. Acesso em: 30 abr. 2020.
habilidades e a
INTERAÇÃO
consideração durante
1. De acordo com o texto, que critérios de análise devem ser levados em
a escolha
consideração durante ae a interpretação
escolha dos indicadores
e a interpretação dos indicadores sociais? sociais?
AÇÃO E CIDADANIA 2. Junte-se a dois colegas. Com base nos critérios que vocês conheceram,
ampla e integrada
Os Krenak do rio Doce escolham um indicador social, referente à renda, para pesquisar os dados
e federal. Sistematizem esses dados primeiro em forma de tabela e, depois,
em forma de gráfico. Lembrem-se de que os gráficos e as tabelas precisam
AÇÃO E CIDADANIA
Os povos Borum, autodenominados Krenak, vivem ho- mais recentes desse indicador
apresentar nospesquisadas.
títulos e fontes níveis No decasogoverno municipal,
dos gráficos, as legendas estadual
também são importantes. Em uma data combinada, compartilhem as des-
e federal. Sistematizem
cobertasesses dados primeiro emdasforma dedeles.
tabela e, depois,
dos assuntos
je em sua reserva, próxima ao município de Resplendor
Os Krenak do rio Doce com os colegas e conheçam os resultados pesquisas
Os povos Borum, autodenominados Krenak, vivem ho-
em forma de gráfico. Lembrem-se de que os gráficos e as tabelas precisam
Marcello Lourenco/Tyba
estudados.
tativas
tativas de pacificação de pacificação
e apropriação e apropriação de seu território pela
de seu território pela também são importantes. Em uma data combinada, compartilhem as des-
Coroa portuguesa, o que levou dom João VI a uma guerra
Coroa
de extermínio contra eles noportuguesa,
século XIX. o que levou dom João VI a uma guerra cobertas com os colegas e conheçam os resultados das pesquisas deles.
de extermínio contra
Os Krenak sobreviveram a esse ataque e, no século XX,
passaram por dois processos de reassentamento forçado
eles no século XIX.
promovidos pelo Estado Os Krenak
brasileiro. sobreviveram
O primeiro ocorreu em a esse ataque e, no século XX,
1957, quando foram retirados de suas terras e deslocados
passaram
para as Terras Indígenas por no
dos Maxacali, dois processos
município de de reassentamento forçado
Santa Helena de Minas (MG). Descontentes, os Krenak re-
tornaram para seu território original em 1959, em uma ca-
minhada que durou três meses. O segundo reassentamen-
to ocorreu em 1972, sob a gestão da Funai e com o apoio
do governo do estado de Minas Gerais, quando esse povo
foi deslocado para a Fazenda Guarani, no município de Car-
Manifestantes Krenak fecham a ferrovia da Companhia Vale do
mésia (MG). No entanto, os Krenak retornaram para suas
Rio Doce em protesto contra a poluição do rio Doce após a
terras em 1980, em uma caminhada que durou 95 dias. ruptura da barragem em Mariana (MG) em 2015.
Além dos dois processos violentos de expulsão, que cul-
minaram no retorno a seu território, esses povos foram obri- O desastre, que alterou o curso do rio Doce e o poluiu com
gados a conviver com um projeto que estava em andamento, detritos tóxicos da mineração, deixou dezenas de mortos
em consonância com suas consecutivas tentativas de retira- e feridos e configurou um desastre ambiental de grandes
da: a construção de dois grandes empreendimentos estatais proporções. Para os povos indígenas que vivem ali, isso
que impactaram a manutenção e a reprodução de sua cultu- representou a impossibilidade de exercer suas práticas
ra. Um deles era a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) e o culturais e de sobrevivência relacionadas ao rio. Os Krenak
outro era a Usina Hidrelétrica de Aimorés, ambas proprieda- entendem o rompimento da barragem como a morte do rio
de da mineradora Vale S.A. Doce e, por isso, segundo suas tradições, necessitaria da
Apesar desse contexto, os Krenak não deixaram de re- não interferência humana total por algum tempo para que
sistir e lutar em defesa de seu território e, em 1997, con- novos sinais de vida se manifestassem.
seguiram recuperar parte dele. Atualmente, lutam incan- Os Krenak lutam pela preservação de suas terras e
savelmente pela demarcação das terras que reivindicam sua cultura, reflorestando matas e córregos devastados
como sagradas, denominadas Sete Salões, que se torna- e preservando os cantos, as danças e as tradições de seus
ram o Parque Estadual Sete Salões, criado pelo estado de ancestrais.
Minas Gerais em 1998. Assim como os Krenak, outros povos indígenas, como
Um episódio recente que afetou profundamente a vida os Yanomami e os Guarani, lutam contra investidas de mi-
Ação e cidadania
dos Krenak, bem como de toda a população da região, foi neradoras e grandes latifundiários sobre suas terras, en-
o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). frentando reações igualmente violentas.
Fotografias: Fabio Braga/Folhapress
apresentado, auxiliam na
Democracia nacional-populista (entre 1946 e 1964).
emprego de mão de obra escravizada africana nos empreen-
Crescimento constante – desde a redemocratização do dimentos coloniais. Nessa estrutura, os colonos europeus as-
O jogo deve continuar, gravura
regime político em 1945 – do clientelismo urbano como sumiam posições de liderança, ganhavam terras da Coroa portuguesa e proteção
Ditadura civil-militar (entre 1964 e 1984). colorizada de autoria desconhecida,
instrumento de deformação das vontades no plano eleitoral. legal para acumular riquezas e impor valores culturais como o cristianismo e as 1789. Essa gravura representa os
considerando a ampliação e no
ideias de civilização, conforme os moldes ocidentais. antigos privilégios da nobreza
e do clero, que se apoiavam no
Supressão total (no caso do Estado Novo) ou quase total Nos séculos XVIII e XIX, enquanto o Brasil era colônia de Portugal, a Europa trabalho do terceiro estamento,
(no caso do regime militar) dos direitos políticos. Novo regime democrático-constitucional (a partir de 1988).
passava por transformações que levaram à ascensão da burguesia. Esse período composto de burgueses, artesãos,
foi marcado por revoluções burguesas e pelo questionamento dos privilégios da operários e camponeses.
Fonte de pesquisa: SaeS, Décio Azevedo Marques de. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. Estudos Avançados, v. 15, n. 42,
realidade e aprofundamento
As revoluções europeias do
p. 379-410, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200021. Acesso em: 25 abr. 2020. nobreza, do clero e dos poderes reais. Ideias iluministas, como liberdades indivi- século XVIII reivindicavam o fim
duais e igualdade de direitos, passaram a disputar espaço com a organização dos privilégios de nascimento e a
hierárquica das sociedades absolutistas, baseadas no direito divino. igualdade de direitos.
REFLEXÃO
REFLEXÃO
autoritarismo econômica, social e política do Brasil Nas revoluções burguesas, contudo, a ideia de liberdade dizia respeito ao livre
assunto ou o
evidenciando o verdadeiroPinho ‘sentido da colonização’”,
, Carlos Eduardo contextualiza
Santos. In: SantoS, João Vitor. O autoritarismoonaprofessor e
formação econômica, pesquisadores Nem
da organização nãoogovernamental
sempre é fácil perceber Instituto
quanto somos beneficiados Identidades
ou prejudicados pelos do Brasil
cientista social Carlos Eduardo
social e política do Brasil. Entrevista especial com Carlos Eduardo Santos Pinho. Instituto
Santos
Humanitas Pinho.
Unisinos, 24 jul. 2019. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/ (ID_BR) desenvolveram um jogo de perguntas e respostas que podem ajudar a
privilégios sociais dos quais determinados grupos desfrutam. Pensando nisso, os
pesquisadores da organização não governamental Instituto Identidades do Brasil
Pinho, Carlos Eduardo Santos. In:
entrevistas/591015-o-autoritarismo-e-seu-peso-na-formacao-economica-social-e-politica-do-
SantoS, João Vitor. O autoritarismo na formação
brasil-entrevista-especial-com-carlos-eduardo-santos-pinho. econômica,
Acesso em: 15 abr. 2020.
identificar as barreiras sociais eum
(ID_BR) desenvolveram eventuais vantagens
jogo de perguntas ouquedesvantagens
e respostas podem ajudar a às quais
conceito
social e política do Brasil. Entrevista especial com Carlos Eduardo Santos Pinho. Instituto um indivíduo brasileiro
identificar asestá sujeito,
barreiras sociais de acordo
e eventuais com aoucor
vantagens da pele. às
desvantagens Asquais
instruções de
um indivíduo brasileiro está sujeito, de acordo com a cor da pele. As instruções de
Humanitas Unisinos, 1. 24Relacione a fala do sociólogo
jul. 2019. Disponível Carlos Eduardo Santos Pinho com as infor-
em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/ jogo e o vídeo explicativo estão disponíveis em: http://simaigualdaderacial.com.
jogo e o vídeo explicativo estão disponíveis em: http://simaigualdaderacial.com.
mações disponibilizadas nos dois esquemas apresentados anteriormen-
entrevistas/591015-o-autoritarismo-e-seu-peso-na-formacao-economica-social-e-politica-do-
te. Apresente suas conclusões aos colegas.
brasil-entrevista-especial-com-carlos-eduardo-santos-pinho. Acesso em: 15 abr. 2020.
br/site/?mergulhe_no_tema=vantagem-racial-jogo-do-privilegio-branco.
br/site/?mergulhe_no_tema=vantagem-racial-jogo-do-privilegio-branco. Acesso Acesso
trabalhado.
em: 13 maio 2020.
em: 13 maio 2020.
1. Relacione a fala
Nãodo sociólogo
escreva no livro. Carlos Eduardo Santos Pinho com as infor-
85 Não escreva no livro.
49
mações disponibilizadas nos dois esquemas apresentados anteriormen-
te. Apresente suas conclusões aos colegas.
Atividades
ATIVIDADES
SEÇÕES DE CAPÍTULO
1 Observe o gráfico abaixo e, depois, faça as atividades. a) Retome o trecho da notícia que você leu na aber- 6 (Unimontes)
tura deste capítulo. Como ele se relaciona com a de todos os brasileiros. Nós vimos recentemente que cinco
Superior
tulo? Explique. tos, qualidade de vida, direitos do cidadão e desenvolvi- sociais, junto com outros setores democráticos, vão
ao que você quer explorar. Se necessário, con- Considerando o texto e essa conjuntura, analise as
processo de oligarquização da democracia repre- ser chamada de Constituição ci-
sulte também o professor de Língua Portuiguesa. afirmativas, tendo em vista o significado da partici-
sentativa? Escreva uma dissertação sobre o tema, dadã, a senhora, então, não a vê
Em uma data combinada, compartilhe seu texto pação social:
apresentando suas reflexões. Depois, leia seu assim? Ao longo desses 30 anos, com os colegas. I. Participar da gestão dos interesses coletivos
texto para a turma. a senhora acha que os direitos significa participar do governo da sociedade, dis-
2 Leia o texto e, depois, responda às questões.
conseguidos foram diminuídos? 5 (Enem) putar espaço no Estado e no mercado, nos espa-
Senadora Rose de Freitas ços de definição e execução das políticas públicas.
[…] – Não, eu quero dizer o se- II. Os movimentos sociais têm, apesar das limitações
Em 1911, Robert Michels publicava a primeira edição guinte: a Constituição cidadã No sistema democrático de Schumpeter, os únicos e precariedades, construído contrapartidas que
de Para uma sociologia dos partidos políticos na democra- existe. Ela é pormenorizada. participantes plenos são os membros de elites políti- colocam num outro patamar de dignidade e
Senadora Rose de A Constituição brasileira é uma cas em partidos e em instituições públicas. O papel respeito setores excluídos da sociedade, rom-
cia moderna, obra que se tornou um marco incontornável
Freitas. Foto de 2016.
do debate acerca das potencialidades e limites da demo- Constituição cidadã. Ela existe, dos cidadãos ordinários é não apenas altamente limi- pendo as fronteiras dos espaços onde têm sido
cracia. No livro – que teria uma segunda edição publicada ela entra em detalhes dos direitos individuais, mas se es- tado, mas frequentemente retratado como uma intru- confinados.
em 1925, revisada e bastante ampliada em relação à pri- quecendo de muitas outras coisas. […] são indesejada no funcionamento tranquilo do pro- III. Ampliar a tolerância, o respeito democrático pelo
meira […] –, Michels aponta que qualquer organização so- Digo que ela precisa avançar porque eu acho… Por cesso “público” de tomada de decisões. diferente, eliminar as segregações raciais, de
cial de maiores dimensões (não só os partidos) tende a se exemplo, eu entrei no processo constituinte com uma men- gênero, de opção sexual, entre outras, é o resul-
Held, D. Modelos de democracia.
converter em uma oligarquia, passando a ser governada talidade profundamente estatizante. Hoje, eu vejo que o Belo Horizonte: Paideia, 1987. tado da incidência de práticas participativas que
Brasil não pode ser assim. Então, é importante que a gen-
constroem e modificam os valores sociais.
por uma reduzida camada de dirigentes, que se afasta dos
interesses da massa a quem deveria representar. Indepen- te entenda que os direitos de cada um também estão in- IV. Participar significa questionar o monopólio do
dentemente dos objetivos declarados pela organização, da cluídos dentro de uma plataforma de construção de um O modelo de sistema democrático apresentado pelo Estado como gestor da coisa pública, construir
texto pressupõe a: espaços públicos não estatais, abrir caminhos
Práticas de texto
forma de funcionamento interno, das características do Brasil mais desenvolvido, para que todos possam usufruir
a) consolidação da racionalidade comunicativa. para o aprendizado da negociação democrática
ambiente ou das idiossincrasias de seus líderes, a prática da renda e do trabalho com toda a dignidade pessoal.
e afirmar a importância do controle social sobre
da democracia interna se torna mais difícil quanto maiores Então, garantir que cada um tenha seu direito respei- b) adoção dos institutos do plebiscito e do referendo. o Estado.
forem a dimensão e o êxito alcançados pela agremiação. tado é muito certo; nisso não temos de mexer. Nós temos c) condução de debates entre cidadãos iguais e o
Estão corretas as afirmativas:
Estado.
AMPLIANDO
Democracia: conceito e prática • corpo do texto, com parágrafos de desenvolvimen-
Muito se tem discutido, em diversas mídias, sobre os rumos da democracia na atualidade, ora
PRÁTICAS DE TEXTO TEXTO 2
Combate a racismo exige reconhecimento
to do tema e um parágrafo de conclusão;
• mapas, gráficos e imagens para complementar as
como crítica, ora como instrumento de legitimação de determinada forma de governo. Em sua acep- de privilégios da branquitude informações, com as respectivas legendas;
ção mais tradicional, a palavra democracia se refere à forma de governo que tem como principal Reportagem on-line Vantagens materiais e simbólicas de pessoas bran- • nome do(s) autor(es) da reportagem.
característica a escolha dos governantes pelo povo. Apesar disso, esse conceito sofreu diversas res- cas precisam ser notadas para enfrentamento da 5. Procurem ampliar a reflexão sobre o tema, levantan-
significações ao longo da história, passando a abarcar (ou rejeitar) uma série de novas implicações.
Ampliando
discriminação do diferentes pontos a respeito da questão abordada.
Proposta 2. Para inspirar a pesquisa sobre os temas, leia os
A escolha dos governantes pelo povo, por exemplo, supõe, por extensão, a ideia de soberania textos a seguir. Você vai às compras sozinha sabendo que não se-
6. Para ressaltar determinadas opiniões, utilizem argu-
popular e, ao mesmo tempo, o pressuposto de igualdade entre todos os que podem escolher seus Considerando os temas abordados neste capítulo no rá seguida ou perturbada?
mentos consistentes com base em exemplos, dados
representantes. Apesar disso, as dinâmicas internas de nossa sociedade colocam em cheque a que se refere às consequências da escravidão moderna, Se ligar a TV ou abrir o jornal, é certo que verá pes- estatísticos de fontes confiáveis, opiniões de espe-
Apresenta
ideia de igualdade presumida em um regime democrático. perceptíveis no país até os dias atuais, você e os colegas TEXTO 1 soas da sua raça amplamente representadas? cialistas, profissionais e outros envolvidos, além dos
À luz dessas inúmeras ressignificações e contradições, muitos poderão se perguntar: Vivemos vão escrever uma reportagem para ser publicada em Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil Quando um policial para seu carro, você tem con- relatos ou entrevistas coletados pelo grupo.
de fato em uma democracia? O que constitui uma democracia na atualidade? um blog da turma e compartilhada em redes sociais. casos de trabalho escravo no Brasil vicção de que não foi por causa da sua cor?
A reportagem tem como finalidade desenvolver de- 7. Utilizem uma linguagem coerente com a situação de
No trecho de texto a seguir, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz comenta suas percep- […] comunicação e com o público-alvo do texto.
terminado tema, apresentando diferentes informações A maior parte desses trabalhadores (1,2 mil)
textos diversos
ções a respeito da Constituição de 1988 e da democracia no Brasil atual. estava em áreas rurais e 1,1 mil foram resga-
e pontos de vista. Ela não se prende ao relato de um Se respondeu “sim” a essas perguntas, com certe-
8. Atentem para a coerência e a coesão do texto, a pon-
fato específico, como ocorre com a notícia, mas expõe tados, segundo o governo federal za você é uma pessoa branca. Esses são alguns dos
tuação das frases, a divisão dos parágrafos, a orto-
uma série de aspectos que ajudam o leitor a se apro- 46 privilégios brancos elencados pela pesquisadora grafia e a acentuação das palavras.
[...] a Constituição de 1988 continua sendo a melhor ex- […] Em 2018, ações fiscais da Inspeção do Tra-
Luciana Whitaker/Pulsar Imagens
sobre questões
balho, do governo federal, identificaram 1,7 mil ca-
pressão de um Brasil que firmou um sólido compromisso de-
sos de trabalho escravo no Brasil. A maior parte
mica feminista e antirracista se tornou a principal di-
Revisão e reescrita
mocrático em vários níveis das relações sociais, bem como Comunidade escolar e leitores interes- vulgadora dos estudos críticos da branquitude (“whi-
Público desses trabalhadores (1,2 mil) estava em áreas ru-
estabeleceu políticas maduras de defesa dos direitos huma- sados no tema. teness”, em inglês) enquanto lugar social de vantagens 1. Releiam e avaliem o texto, observando os seguintes
rais, onde a prática historicamente é mais comum.
nos. Ela é atenta às minorias políticas, avançada nas questões materiais e simbólicas. […] elementos:
Levar à reflexão sobre as influências
contemporâneas
Foram resgatadas 1 133 pessoas. Em todo o ano
ambientais, empenhada em prever meios e instrumentos cons- do processo de escravização nas con- menA, Fernanda; CAmAzAno, Priscila. Combate a racismo exige
Objetivo passado foram realizadas 231 inspeções. Em um
titucionais legais para a participação popular e direta. [...] dições de trabalho e sobre questões reconhecimento de privilégios da branquitude. Folha de O texto apresenta título, título auxiliar, lide e um
quarto delas houve registro de trabalho análogo ao S.Paulo, 15 dez. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.
como o racismo na sociedade brasileira. parágrafo inicial resumindo o tema a ser abordado?
A Constituição sublinhou, entre outros, a igualdade entre de escravo. com.br/ilustrissima/2019/12/combate-a-racismo-exige-
reconhecimento-de-privilegios-da-branquitude. O texto traz informações pertinentes que ajudam
associadas aos
homens e mulheres, o fim da tortura, o direito de resposta e Blog da turma e compartilhamento em Desde que o governo brasileiro reconheceu a
Circulação shtml?origin=folha. Acesso em: 30 mar. 2020.
a ampliar a discussão sobre o tema?
de indenização por dano material, moral ou à imagem, a au- redes sociais. existência dessa prática ilegal e passou a comba-
tonomia intelectual, artística, científica e de comunicação. tê-la, em 1995, os grupos de fiscalização da Inspe- As fontes pesquisadas são confiáveis e estão
Tornou o racismo um crime inafiançável e imprescritível; de- ção do Trabalho resgataram 53 607 trabalhadores Branquitude: termo que se refere à identidade racial branca, devidamente identificadas?
Planejamento e elaboração relacionado aos privilégios simbólicos e objetivos desse seg-
assuntos da
terminou o caráter inviolável da intimidade, da vida privada e nessa condição em todo o país. Nesse período, fo-
mento em detrimento da população não branca. Há recursos imagéticos complementares
da honra; proibiu a violação do sigilo de correspondências; ram pagos mais de R$ 100 milhões em verbas sa-
1. Forme um grupo com até cinco integrantes. Definam devidamente descritos por meio de legendas?
permitiu o acesso a informações, a criação de associações, o lariais e rescisórias durante as operações.
o tema da reportagem que vocês vão escrever e uma 3. Um dos elementos-chave de uma boa reportagem é A linguagem e o registro do texto estão
direito à propriedade; definiu o fim da censura de natureza […]
pergunta norteadora que gostariam de esclarecer a qualidade da pesquisa feita previamente. Para adequados à situação de comunicação e sem
unidade, com o
política, ideológica e artística; e estabeleceu a liberdade de ou desenvolver ao longo do texto. Sempre que pos- De acordo com o artigo 149 do Código Penal embasar o texto, vocês podem utilizar fontes: desvios ortográficos?
consciência, de pensamento, de crença, de convicção filosó- sível, considerem as características locais da comu- brasileiro, caracterizam o trabalho análogo ao de
nidade escolar. Confiram abaixo algumas sugestões. • escritas, como notícias, verbetes de enciclopédia,
fica e política. escravo condições degradantes de trabalho (incom- 2. Façam os ajustes e as melhorias que considerarem
gráficos, infográficos e textos informativos. Obser-
• De forma geral, como andam as condições de tra- patíveis com a dignidade humana, caracterizadas necessários e redijam a versão final, salvando-a em
Schwarcz, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: vem se as publicações são confiáveis e anotem au-
intuito de
Companhia das Letras, 2019. E-book. balho e empregabilidade locais? As oportunidades pela violação de direitos fundamentais [que] colo- uma pasta compartilhada entre o grupo.
tores, nome das publicações, links, etc.;
de trabalho na região em que vocês vivem consi- quem em risco a saúde e a vida do trabalhador),
• orais, como entrevistas e relatos. Nesse caso, con- 3. Caso haja imagens ao longo do texto, atentem para
deram a diversidade da população local? Como? jornada exaustiva (em que o trabalhador é subme-
videm especialistas ou outras pessoas envolvidas que o tamanho delas possibilite uma boa visualização.
Cabine de votação no Rio de Janeiro (RJ). tido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho
Foto de 2018. A eleição é o instrumento • Que atitudes podem ser adotadas para comba- com o tema, combinem horário e local para a reali-
desenvolver a
que acarreta danos à sua saúde ou risco de vida),
pelo qual a população brasileira escolhe ter o trabalho análogo à escravidão na região zação da entrevista (ou videoconferência), elaborem Circulação
seus representantes no governo.
trabalho forçado (manter a pessoa no serviço atra-
onde vocês vivem? o roteiro com perguntas e providenciem equipamen-
vés de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e 1. Publiquem o texto no blog da turma. Caso não tenham
• Que atitudes podem ser adotadas por empresas to para registrar a conversa em vídeo, áudio ou por
violências físicas e psicológicas) e servidão por dí- um blog, pesquisem por sites gratuitos para a criação
para combater o racismo estrutural? Que medi- escrito. Se necessário, solicitem a autorização dos
1. Para você, o que é democracia?
reflexão e a
vida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um da página e criem uma conta compartilhada.
das sociais são imprescindíveis para combater o entrevistados para a divulgação das informações.
débito e prendê-lo a ele). Os elementos podem vir
2. Você concorda com a opinião da historiadora a respeito da Constituição de 1988 e do estado racismo? 2. As reportagens devem ser publicadas no blog, uma
juntos ou isoladamente. 4. A reportagem deve conter estes elementos:
da democracia brasileira na atualidade? Por quê? • Como o racismo pode ser combatido dentro da por vez, atentando para os tamanhos do texto e das
Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil casos de trabalho • título; imagens, o espaçamento entre parágrafos, etc.
escola? Em que medida é possível perceber o au-
análise crítica.
escravo no Brasil. O Globo, 28 jan. 2019. Disponível em:
3. A Constituição Federal de 1988 determina o Brasil como um “Estado democrático de direito”. torreconhecimento e a autovalorização da popu- • título auxiliar que chame a atenção do leitor;
https://oglobo.globo.com/economia/em-2018-fiscais- 3. Leiam os textos dos outros grupos e deixem comen-
Em sua opinião, todas as instâncias que compõem a sociedade brasileira são realmente lação negra na comunidade em que a escola está identificaram-17-mil-casos-de-trabalho-escravo-no- • lide ou parágrafo inicial resumindo os elementos tários sobre eles, sempre prezando pelo respeito e
democráticas? Por quê? inserida? Que exemplos podem ser encontrados?
brasil-23409423. Acesso em: 30 mar. 2020.
principais a serem desenvolvidos no texto; pela troca cooperativa de informações.
PRÁTICAS DE PESQUISA Procedimentos rapidamente ou ele parece bem denso? O tipo de or-
ganização do texto incentiva a leitura?
Práticas de pesquisa
tradicional, utilizando, para isso, a análise de discurso multimodal.
5 Elaborem um relatório com as considerações do gru-
2 É importante ter contato com a obra inteira. Se não po para cada matéria analisada. Comecem esse rela-
Emmanuel Dunand/AFP
houver essa possibilidade, procurem na internet as tório reproduzindo as informações da ficha de leitura
versões on-line desses veículos de comunicação,
e o raciocínio científico.
discursa no Parlamento da • o veículo e a data nos quais a matéria foi publicada; de comunicação analisados?
União Europeia, na
Bélgica, em 2017. • o título da matéria e o(a) autor(a);
3. O que os vocês aprenderam sobre as características
• o assunto da matéria;
do populismo de direita? De que maneira se posicio-
O problema • um resumo com as ideias principais do texto. nam em relação a ele?
O mundo vivencia um momento de questionamento da democracia liberal
e de ascensão ao poder de líderes de extrema direita, com inspiração autoritá- 4 Combinem um encontro do grupo para que cada inte-
ria. Que países têm líderes desse tipo e que ações os caracterizam? Como di- grante apresente sua ficha. Em seguida, vocês vão Comunicação dos resultados
ferentes jornais e revistas informam sobre essas ações e como se posicionam realizar as análises de discurso de cada matéria.
diante delas? Para que o resultado das pesquisas realizadas por vo-
cês possa ser conhecido por mais pessoas, organizem um
Parte III – Análise das fontes
A investigação debate com as outras turmas da escola que realizaram
• Prática de pesquisa: análise de mídias tradicionais (princípios de análise de 1 Observem os elementos visuais: O texto ocupa muito essa mesma pesquisa.
discurso multimodal) ou pouco espaço na página? A maneira como está dis- Cada turma deve apresentar seus resultados às outras,
posto chama a atenção do leitor? Que tipos de ima- explicando suas conclusões e seus argumentos. O obje-
Material gem o acompanham? Qual a função delas? tivo do debate não é chegar a uma conclusão em comum,
mas trocar ideias. Dessa maneira, é importante ter clare-
• Folhas para anotações, lápis e caneta
2 Verifiquem a forma como o texto é diagramado: Os za na exposição das opiniões e dos argumentos e respei-
• Computador com acesso à internet parágrafos são longos ou curtos? É possível lê-lo tar o posicionamento dos colegas.
• Jornais e revistas impressos
6
CAPÍTULO 9 – Os movimentos Atividades 127
UNIDADE 3 80 populares 104 Ampliando: Democracia:
Ética e movimentos populares 105 conceito e prática 128
O Brasil e a democracia A questão agrária 106
CAPÍTULO 11 – Múltiplos
Ciberativismo 111
desafios 129
Atividades 112
Conhecendo os desafios:
CAPÍTULO 7 – O Estado brasileiro Práticas de texto: indicadores sociais 130
é autoritário? 82 Escrita de biografia 113
Atividades 136
Índice de Democracia: tipos Práticas de pesquisa:
Democracia em xeque 114 Práticas de texto:
de regime 83
Debate regrado 137
Debate sobre o autoritarismo 84
CAPÍTULO 12 – Possibilidades de
Instabilidades políticas
e intervenções no
UNIDADE 4 116 futuro: a periferia 138
Brasil republicano 85 Periferia: espaço e identidade 139
Resistência e busca pela Democracia brasileira: Produção cultural
democracia 90 desafios nas periferias 140
Atividades 92 Vozes periféricas 141
Periferia literária 142
CAPÍTULO 10 – Direitos sociais 118
CAPÍTULO 8 – Representatividade Empreendedorismo periférico 143
Saúde pública 119
e democracia 94 Empreendedorismo social 144
Educação em pauta 121
Crise na representatividade Atividades 145
democrática 95 Um novo Ensino Médio 122
Práticas de pesquisa:
Constituição de 1988: avanços Programas sociais e
Futuro profissional 146
democráticos 99 investimentos públicos 123
Projetos políticos 125 Competências e habilidades
Atividades 100
desenvolvidas nesta obra 150
Ampliando: Soberania Estado de bem-estar social 125
do povo 102 Políticas neoliberais 126 Bibliografia comentada 158
7
Este volume propõe uma reflexão sobre os problemas estruturais do Brasil
por meio da análise dos processos políticos e sociais relacionados ao passado
Apresentação escravocrata, que reverberam de diversas maneiras no cotidiano dos brasilei-
ros. Busca-se refletir sobre as instituições públicas, os projetos políticos e os
dos objetivos desafios em prol do bem comum, desnaturalizando e problematizando formas
de desigualdade, de preconceito, de intolerância e de discriminação.
8
5 Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diver-
sas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, aces-
sar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver pro-
blemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
5 Identificar e combater as
diversas formas de injustiça,
preconceito e violência, ado-
tando princípios éticos, de-
mocráticos, inclusivos e soli-
dários, e respeitando os
Direitos Humanos.
9
ECOS DA ESCRAVIDÃO
NO BRASIL
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE
Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB6,
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
Competências específicas e
habilidades das áreas:
IDEIAS
CECHSA1: EM13CHS101, Por mais de três séculos, vigoraram no Brasil leis que as-
EM13CHS102, EM13CHS103 e
IDEIAS
2.
garantiu muitos privilégios a uma parcela da população bran-
CECHSA6: EM13CHS601 e
ORGANIZAR
10
Unidade
11
X1
ESCRAVIDÃO E TRABALHO
CAPÍTULO
ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO
A palavra “escravidão” remete, geralmente, à imagem de africanos sequestra-
» Competências e
dos e comercializados como escravizados, especialmente no continente america-
habilidades
no, entre os séculos XVI e XIX.
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. Apesar de o fim do regime escravocrata ter sido oficializado no Brasil em 1888,
CECHSA1: EM13CHS101, com a assinatura da Lei Áurea, atualmente há milhares de trabalhadores que são
EM13CHS102, EM13CHS103 e submetidos a condições análogas à escravidão.
EM13CHS105.
De acordo com o Código Penal brasileiro, essa situação é caracterizada pelos
CECHSA5: EM13CHS502 e
EM13CHS503.
seguintes aspectos:
CECNT2: EM13CNT206. • Condições degradantes de trabalho: refere-se a condições que violam a digni-
CEMT1: EM13MAT102 e dade do trabalhador, colocando sua vida ou sua saúde em risco. Por exemplo:
EM13MAT104. instalações precárias; ausência de equipamentos de proteção individual; falta
de saneamento básico, de água potável e de assistência médica.
• Jornadas exaustivas: são jornadas de trabalho que ultrapassam o limite de
horas estabelecido por lei e submetem as pessoas ao trabalho excessivo, cau-
sando danos à sua saúde ou colocando sua vida em risco.
(2 420) 4% 1% (689)
• Servidão por dívida: nesse caso, os traba-
atividades diversas mineração
lhadores são obrigados a trabalhar para
e não identificadas pagar uma dívida ilegal, geralmente rela-
1% (553) cionada a gastos com o próprio serviço,
confecção têxtil
como aquisição de ferramentas e equipa-
(2 772) 5%
desmatamento 31% (16 824) mentos de trabalho, moradia e alimenta-
(2 888) 6% pecuária ção durante a jornada de trabalho. A
construção civil cobrança é feita de modo desproporcio-
nal, descontando valores diretamente do
(3 791) 7%
carvão vegetal salário do trabalhador.
Pesquisadores e juristas distinguem
escravidão de trabalho análogo à escra-
vidão por se tratar de contextos históricos
(9 754) 18% 22% (11 939) específicos, como veremos ao longo des-
lavouras diversas cana-de-açúcar te capítulo.
Observe o gráfico ao lado, elaborado com
base em informações sobre os trabalhado
Fonte de pesquisa: Escravo, nem pensar! Disponível em: http://
escravonempensar.org.br/o-trabalho-escravo-no-brasil/. res que foram resgatados de condições de
Acesso em: 30 mar. 2020. trabalho análogas à escravidão.
Construção civil
De acordo com dados do Ministério do Trabalho e do Emprego, em 2018, o se-
tor da construção civil era o terceiro que mais empregava trabalhadores subme-
tidos a regimes análogos à escravidão.
O texto a seguir aborda um caso de trabalhadores resgatados dessa situação,
no município de Juiz de Fora (MG). A pesquisadora Glaucy Ribeiro acompanhou
o trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT), órgão responsável por inves-
tigar e atuar em casos como esse.
M
Mar Negro
ar
Cá
AMÉRICA ESTADOS
sp
io
UNIDOS
DO NORTE TUNÍSIA
Mar Mediterrâneo ÁSIA
OCEANO MARROCOS
LÍBIA
EGITO
ATLÂNTICO
Ma
Trópico de Câncer
Cuba
rV
ARÁBIA
erm
São Domingo ÍNDIA
Veracruz
Jamaica
elh
IÊMEN Mar da
o
AMÉRICA Barbados Senegâmbia Costa do
1700-1900 Arábia
CA
CENTRAL Cartagena RI Marfim ÁFRICA
BE Serra Benin
Leoa Costa
do Ouro Biafra
Equador 0°
OCEANO
1500-1900 Costa
PACÍFICO AMÉRICA
Suaíli
Costa oeste
DO SUL da África Central
OCEANO
Número de africanos ÍNDICO
escravizados BRASIL Sudeste Madagascar
Trópico de Ilhas
Capricórnio da África Mascarenhas
8 000 000
de Greenwich
4 000 000
Meridiano
Fonte de pesquisa: Banco de Dados do Tráfico Transatlântico de Escravos. Disponível em: https://slavevoyages.org/voyage/maps#introductory-.
Acesso em: 5 abr. 2020.
PARA EXPLORAR Além dos traumas do sequestro, as pessoas aprisionadas tinham de lidar com
as longas jornadas atlânticas, as péssimas condições das embarcações, a escas-
» Banco de Dados do Tráfico
sez de água e de alimentos e os constantes maus-tratos durante a viagem, oca-
Transatlântico de Escravos
sionando muitas mortes nessa travessia. O gráfico abaixo fornece um panorama
O mapa e o gráfico desta pá-
gina foram construídos com tanto da quantidade de africanos escravizados embarcados e desembarcados
base nas informações dispo- quanto da mortalidade nas viagens transatlânticas, fatos que corroboram a de-
nibilizadas pelo Banco de Da- nominação dada a essas embarcações, chamadas tumbeiros.
dos do Tráfico Transatlântico
de Escravos, um projeto mun- PESSOAS ESCRAVIZADAS EMBARCADAS E DESEMBARCADAS (1500-1900)
dial e interdisciplinar que con-
Adilson Secco/ID/BR
Assinatura da Lei Eusébio de Queirós, que proíbe o tráfico Aprovação da Lei do Aprovação da Lei dos
transatlântico de escravizados. Ao observar o mapa e o gráfico da Ventre Livre, que Sexagenários, que
página anterior, é possível notar que houve um grande aumento na concede liberdade aos concede liberdade às
quantidade de pessoas trazidas à força para o Brasil nesse momento. filhos das famílias pessoas escravizadas
Isso ocorreu porque a proibição da importação de pessoas escravizadas nascidos com idade igual ou
escravizadas gerou o receio da falta de escravizados, aumentando a a partir dessa data. superior a 65 anos.
procura por eles, que passaram a ser comprados de modo ilegal.
Reconhecimento oficial, pelo governo brasileiro, da existência do O Código Penal Assinatura da Lei
trabalho escravo no Brasil contemporâneo. Esse reconhecimento brasileiro passa a Áurea, que marca a
ocorreu por conta do caso do trabalhador José Pereira, que sofreu prever como crime abolição oficial da
uma tentativa de assassinato enquanto fugia de uma fazenda no o ato de reduzir escravidão no Brasil. A
estado do Pará, onde era submetido a condições de trabalho alguém à partir dessa data, fica
análogas à escravidão. Nesse atentado, Pereira perdeu a visão de um escravidão, proibido, oficialmente,
dos olhos. O caso foi julgado em 1995 pela Corte Internacional de explicitado no o direito de
Direitos Humanos (CIDH) e o Brasil foi um dos primeiros países do artigo 149 do propriedade de uma
mundo a admitir a ocorrência do trabalho forçado em seu território. documento. pessoa sobre outra.
Fundação da organização Criação da Lista suja do trabalho Criação do Pacto Nacional Criação do
não governamental escravo pelo Ministério do pela Erradicação do Trabalho 2o Pacto
Repórter Brasil, que reúne Trabalho e Emprego e pela Escravo. Nesse documento, Nacional de
pesquisadores de Secretaria de Direitos Humanos. as empresas se Erradicação
diferentes áreas que se O trabalhador José Pereira comprometem a não do Trabalho
dedicam a combater o finalmente é indenizado pelo negociar a compra de Escravo.
trabalho análogo à Estado por ter sido submetido produtos fabricados com o
escravidão e a denunciar ao trabalho escravo. Seu caso é trabalho de pessoas
outras violações aos emblemático na luta contra o submetidas a condições Linha do tempo sem
direitos humanos. trabalho escravo no Brasil. análogas à escravidão. escala temporal.
Fonte de pesquisa: Escravo, nem pensar! Disponível em: http://escravonempensar.org.br/livro/linha-do-tempo/#1. Acesso em: 2 abr. 2020.
INTERAÇÃO
Agropecuária
A notícia a seguir, publicada em 2020, traz um retrato da situação do trabalho
análogo à escravidão no contexto rural do Brasil.
Quase 132 anos após a abolição da escravatura no Brasil, 1 054 pessoas precisa-
ram ser resgatadas por estarem enfrentando situações análogas ao trabalho escra-
vo. Os resgates foram realizados em 111 dos 267 estabelecimentos fiscalizados em
2019, segundo dados do Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) da
Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.
O meio rural continua concentrando o maior número de registros, com 87% dos
casos em 2019, principalmente nos setores de produção de carvão vegetal, cultivo
de café, criação de bovinos para corte, comércio varejista e cultivo de milho. […]
Minas Gerais foi o estado com mais fiscalizações (45 ações) e onde foram encon-
trados mais trabalhadores em condição análoga à de escravo (468). São Paulo e Pa-
rá tiveram 25 ações fiscais cada, sendo que em São Paulo foram resgatados 91 tra-
balhadores e no Pará, 66. No estado de São Paulo, os cinco setores com maior
ocorrência de trabalho escravo são: criação de bovinos para corte, fabricação de ál-
cool, comércio varejista de suvenires, bijuterias e artesanatos, cultivo de café e cul-
tivo de arroz.
OCEANO
ATLÂNTICO
RR AP
Equador 0°
AM MA
PA CE
PI
PE
AC
TO
RO
BA
MT
Escravizados libertos
1 000
750 Limite da
500 Amazônia
Legal DF
400
300 Área GO MG
200 desmatada
OCEANO
100 0 250 km
PACÍFICO
50 MS
Fonte de pesquisa: Trabalho escravo na Amazônia. InfoAmazonia, 23 abr. 2019. Disponível em: https://infoamazonia.org/pt/maps/forced-labour-in-
amazonia/#!/story=post-19287&full=true&loc=-7.362466865535738,-55.986328125,4. Acesso em: 5 abr. 2020.
REFLEXÃO
InfoAmazonia
O projeto InfoAmazonia reúne pesquisadores de diferentes áreas que
atuam na coleta, organização e disponibilização de informações atualizadas
sobre a situação da floresta Amazônica. O mapa desta página foi elaborado
com base em dados divulgados por essa iniciativa.
1. O mapa evidencia ou refuta a relação entre desmatamento e emprego de
mão de obra submetida a condições análogas à escravidão? Explique com
exemplos baseados nos dados do mapa.
2. Que diferenças você observa entre a situação do mapa e a relação da
agricultura com a mão de obra submetida a condições análogas à escra-
vidão, abordada na página anterior?
60ºO 40ºO
3 “A escravidão no Brasil é um evento que pertence ao A estratégia defendida no texto para reduzir o pro-
passado, extinto em 1888. A partir dessa data, todos blema social apontado consiste em:
os escravizados foram libertos e passou a ser termi- a) articular os órgãos públicos.
nantemente proibido que uma pessoa tivesse a
b) pressionar o Poder Legislativo.
posse sobre outra. Até então, os escravizados, que
eram exclusivamente africanos ou descendentes de c) ampliar a emissão das multas.
africanos, eram considerados bens dos senhores de d) limitar a autonomia das empresas
escravos”. e) financiar as pesquisas acadêmicas.
O texto apresenta incorreções. Com base no que você
estudou, liste-as no caderno e explique por que elas 7 (Enem)
não são corretas. Compartilhe suas percepções com
os colegas. Números de escravos africanos
Ano
desembarcados no Brasil
4 Observe novamente o mapa da página 19 e, em se-
guida, responda: 1846 64 262
a) Qual é a relação entre o desmatamento na Ama-
zônia Legal e o trabalho análogo à escravidão? 1847 75 893
b) Após mais de 130 anos de abolição da escravidão,
1848 76 338
ainda são recorrentes notícias de existência de
trabalho análogo à escravidão. Converse com os
1849 70 827
colegas sobre os motivos que levam isso ainda a
ocorrer no Brasil.
1850 37 672
5 Observe novamente o mapa da página 20 e respon-
1851 7 058
da: Onde estão as Terras Indígenas do estado onde
você mora? Com base nessa resposta, faça uma
1852 1 234
pesquisa buscando as informações a seguir.
a) Quais povos vivem nessas terras. Disponível em: www.slavevoyafes.org.
Acesso em: 24 fev. 2012 (adaptado).
b) A situação atual deles em relação a demografia,
segurança, saúde e principais manifestações
A mudança apresentada na tabela é reflexo da Lei
culturais.
Eusébio de Queiroz, que, em 1850:
• A pesquisa pode ser feita em publicações impres- a) aboliu a escravidão no território brasileiro.
sas, digitais ou por meio de entrevistas, caso vo- b) definiu o tráfico de escravos como pirataria.
cê faça parte de uma dessas comunidades
c) elevou as taxas para importação de escravos.
indígenas ou possa dialogar diretamente com
elas. Combine uma data com o professor e a tur- d) libertou os escravos com mais de 60 anos.
ma para compartilhar os resultados da pesquisa. e) garantiu o direito de alforria aos escravos.
No âmbito da conduta humana regulada pelas leis morais, que Kant chama de leis da liberdade,
em contraposição às leis da necessidade, que regulam os fenômenos do universo natural, o primeiro
e mais grave problema a ser enfrentado é o da distinção entre duas formas diversas de legislação e
de ações: quer dizer, a distinção entre legislação moral propriamente dita e legislação jurídica, ou en-
tre ação moral e ação jurídica. Trata-se do clássico problema da distinção entre moral e direito, que
é geralmente considerado como problema preliminar de qualquer filosofia do direito. Na obra de Kant
encontram-se não somente um, mas vários critérios de distinção, alguns explícitos, outros implícitos,
que agora devemos examinar separadamente.
O primeiro critério de distinção é puramente formal, no que diz respeito ao conteúdo, respectiva-
mente da lei moral e da lei jurídica, mas exclusivamente quanto à forma da obrigação; e é o critério
com base no qual Kant distingue a moralidade da legalidade.
Para esclarecer a natureza desse critério, é preciso considerar quais são os elementos formais que
distinguem a ação moral no pensamento de Kant. A fundamentação começa com uma frase famosa:
“Não é possível pensar nada no mundo, e em geral também nada fora dele, que possa ser consi-
derado como bom sem restrição, a não ser somente uma boa vontade” […]
Por ‘boa vontade’ Kant entende aquela vontade que não está determinada por atitude alguma e
por cálculo interessado algum, mas somente pelo respeito ao dever.
Portanto, são três os requisitos fundamentais da ação moral:
1) ação moral é aquela que é realizada não para obedecer a uma certa atitude sensível, a um cer-
to interesse material, mas somente para obedecer à lei do dever. Existem ações que aparente-
mente são honestas, mas não podem ser chamadas morais, porque são cumpridas por impulsos
diversos daquele do cumprimento do próprio dever. Kant dá o exemplo do comerciante que não
abusa do cliente ingênuo: se ele age assim, não porque esse seja seu dever, mas unicamente
porque seja de seu próprio interesse, a sua ação não é moral. O segundo exemplo é dos homens
que não se suicidam, mas contribuem para conservar a própria vida obedecendo ao instinto
imediato da própria conservação: também nesse caso, ainda que a conservação da vida seja um
dever para cada homem, a ação não é moral, porque não é cumprida unicamente por respeito
ao dever. Também aquele que obedece a uma atitude nobre, como a de favorecer o próximo – e
este é o terceiro exemplo –, não cumpre uma ação moral se a ação de favorecer é cumprida não
para o dever, mas por simpatia ao próximo, ou seja, segundo uma tendência sensível;
2) ação moral é aquela que é cumprida não por um fim, mas somente pela máxima que a de-
termina. Em outras palavras, a ação moral não deve ser determinada por um objeto qualquer
da nossa faculdade de desejar (por exemplo, pelo fim da felicidade, ou da saúde, ou do bem-
-estar), mas unicamente pelo princípio da vontade.
3) a ação moral é aquela que não é movida por outra inclinação a não ser o respeito à lei. Na
conduta moral, cada impulso subjetivo deve ser excluído; o único impulso subjetivo com-
patível com a moralidade é o sentido de respeito à lei moral, que deve vencer qualquer ou-
tra inclinação.
Em conclusão, é possível dizer de maneira sintética que, para que uma ação seja moral,
não é suficiente, segundo Kant, que seja coerente com o dever; é necessário que seja também
cumprida pelo dever.
bobbio, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. São Paulo: Mandarim, 2000. p. 86-88.
1. Em sua opinião, o que é moral? O que diferencia uma ação moral de uma imoral? Cite
exemplos.
2. Levando em consideração a distinção kantiana entre ações morais e ações jurídicas, que
critério pode ser considerado o principal fator a diferenciar essas ações? Explique.
3 Como visto anteriormente, o emprego de mão de obra escravizada entre os séculos XVI
e XIX era não apenas amplamente praticado no Brasil, como também respaldado pelas
leis vigentes. Em sua opinião, por que os senhores de escravizados empregavam esse
tipo de mão de obra?
4. Com base na visão de Kant a respeito de ações morais, o que podemos dizer sobre o
emprego de mão de obra escravizada no Brasil entre os séculos XVI e XIX?
5. Considerando o contexto do Brasil atual, o que podemos dizer, com base nas ideias de
Kant, sobre o emprego de mão de obra análoga à escravidão?
NO BRASIL?
Em 1888, com a assinatura da Lei Áurea, a escravidão foi abolida legalmente
» Competências e do Brasil. No entanto, essa transformação legislativa não resultou em uma liber-
habilidades
dade digna e igualitária para a população até então escravizada.
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. O movimento abolicionista, no Brasil e em outras partes do mundo ocidental,
CECHSA1: EM13CHS101. defendia medidas que garantissem uma inclusão social digna e efetiva da popu-
CECHSA5: EM13CHS501, lação recém-liberta. Esses projetos conflitavam com as alas conservadoras da so-
EM13CHS502 e ciedade escravista. Assim, muitas questões abordadas na luta atual dos movi-
EM13CHS503.
mentos negros no Brasil ainda contêm elementos das pautas dos abolicionistas
CECHSA6: EM13CHS601,
do século XIX.
EM13CHS602 e
EM13CHS606. Essa perspectiva contradiz a teoria da democracia racial. Articulada pelo so-
CELT5: EM13LGG502. ciólogo brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987), essa teoria trata da ideia de que,
CELT7: EM13LGG704. historicamente, no Brasil, sempre houve a convivência pacífica entre pessoas
CECNT3: EM13CNT302. brancas, negras e indígenas e, por isso, questões como racismo ou segregação
racial, quando existiram, foram brandas, se comparadas a de outros lugares onde
também houve escravidão.
A seguir, leia o trecho de uma letra de música que aborda algumas dessas
questões.
A carne
[…]
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão
[…]
E esse país vai deixando todo mundo preto
1. Para você, a que se refere a palavra “carne” na letra da música? Explique suas
reflexões para a turma.
2. O segundo e o terceiro verso do texto podem ser associados à escravidão
moderna no Brasil. Como você os relacionaria com esse período histórico?
3. De acordo com as suas percepções, a letra da música contradiz ou concorda
com a teoria da democracia racial de Gilberto Freyre? Por quê?
4. Em sua opinião, o que é racismo? Como é possível caracterizá-lo? E como
podemos combatê-lo?
REFLEXÃO
Ao analisar as sociedades e seus modos de vida, os pesquisadores identificam Estruturalismo e pós-
processos e organizações que são chamados de estruturais. Essa expressão in- -estruturalismo
dica características e aspectos que sustentam e organizam a vida social de um A análise estruturalista
grupo, uma comunidade ou um povo. Por ser a base sobre a qual se desenvolvem faz parte do repertório de
as mais diversas manifestações culturais, as mudanças dos aspectos estruturais pesquisa das Ciências Hu-
de uma sociedade são complexas e, geralmente, não são bruscas: ocorrem no manas e Sociais desde a
tempo histórico, chamado de longa duração. publicação dos trabalhos
Considerando que os processos que formam o Brasil têm cerca de quinhentos do linguista suíço Ferdi-
anos de história e que o sistema escravocrata durou em torno de trezentos anos, nand de Saussure (1857-
-1913). A partir da década
é possível analisar a escravidão como uma estrutura da sociedade brasileira,
de 1960, esse método
oriunda do período colonial. Assim, mudar essa estrutura demanda esforço e
passou a ser revisado por
transformações nas formas de pensar e de agir, nos âmbitos público e privado e pensadores de diversas
nos níveis individual e coletivo. áreas do conhecimento. A
A assinatura da Lei Áurea é uma conquista importante nesse sentido. Contu- principal crítica dos cha-
do, sem a ação de todos os sujeitos sociais, a transformação não se torna efetiva mados pós-estruturalistas
e acabamos reproduzindo as lógicas escravistas. é que a análise sobre uma
No capítulo anterior, vimos uma dessas permanências escravocratas: a exis- sociedade não pode se
tência, ainda hoje, de iniciativas privadas – empresas particulares – que sub- restringir às suas estrutu-
metem pessoas a condições análogas à escravidão. Por outro lado, há uma ras, sem abordar suas
série de projetos e legislações que buscam coibir essa prática e conscientizar transformações e os indi-
víduos e grupos que con-
a população e as empresas de que se trata de um crime que atenta contra os
seguem romper com essas
direitos humanos.
estruturas. Michel Fou-
Neste capítulo, vamos aprofundar o debate sobre outra permanência escravo- cault, Gilles Deleuze, Jean
crata: o racismo estrutural. O texto a seguir, do jurista e filósofo Silvio Luiz de Al- Baudrillard, Judith Butler
meida, apresenta algumas reflexões sobre esse conceito. e Julia Kristeva são alguns
dos pensadores conside-
rados pós-estruturalistas.
[…] Em uma sociedade em que Eles não reivindicam o fim
Valdir de Oliveira/Fotoarena
Racismo sem
querer, de Pedro
Leite. Esta história
em quadrinhos
mostra algumas
frases que
evidenciam a
naturalização do
racismo contra
pessoas negras.
[…] o pós-abolição deve ser visto como um campo de disputas, e não como
uma realidade dada, uma herança inexorável da escravidão. É verdade que os ne-
gros já entraram em campo em posição de desvantagem em relação aos brancos,
com o placar lhes sendo muitas vezes desfavorável, mas nem sempre eles perde-
ram. Com engenhosidade, versatilidade e usando armas de diversos tipos e cali-
bres, os negros selaram conexões diversas, travaram alianças ambivalentes, capi-
talizaram as possibilidades e frestas do sistema, fizeram escolhas, negociaram suas
identidades e lealdades até conseguirem reverter o placar e ganhar o jogo […].
Não se trata aqui de negar a famigerada opressão racial no Brasil […], mas de real-
çar a necessidade imperiosa de lançar luzes em formas alternativas e criativas de
vida, resistência e agenciamentos. O protagonismo negro no pós-abolição é uma
área de estudos e pesquisas em franca expansão. […]
Domingues, Petrônio. Fios de Ariadne: o protagonismo negro no pós-abolição. Anos 90, v. 16,
n. 30, p. 240-241, 2009. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/anos90/article/
view/18932/11021. Acesso em: 2 abr. 2020.
Ilustrações: ID/BR
MARIELLE FRANCO,
JUÍZA DIZ QUE RÉU NÃO
VEREADORA DO PSOL, É
PARECE BANDIDO POR TER ASSASSINADA NO CENTRO
“PELE, OLHOS E DO RIO APÓS EVENTO COM
CABELOS CLAROS” ATIVISTAS NEGRAS
Folha de S.Paulo, 1o mar. 2018. Esta manchete é um indício de racismo de El País, 15 mar. 2018. Esta manchete aborda o feminicídio de Marielle
uma representante do Poder Judiciário, responsável por defender os Franco, vereadora negra eleita pelo município do Rio de Janeiro em 2018.
direitos dos cidadãos e promover a justiça.
Estados Unidos /
Cuba Porto Rico Antilhas Holandesas Peru / Nova Granada
Brasil (colônia (colônia e Guiana (colônias Venezuela Argentina (Colômbia) /
espanhola) espanhola) holandesas) Equador
Fonte de pesquisa: FGV – CPDOC. O fim da escravidão. In: Atlas histórico do Brasil. Disponível em: https://atlas.fgv.br/
marcos/o-fim-da-escravidao/mapas/linha-do-tempo-do-fim-da-escravidao-nas-americas. Acesso em: 8 abr. 2020.
a) Quanto tempo se passou entre a abolição da escravidão no Haiti, o primeiro país a revogá-la, e a
abolição no Brasil?
b) Se a linha do tempo fosse organizada em um ranking com os países que mais cedo aboliram a
escravidão, qual posição o Brasil ocuparia?
c) O que isso pode indicar sobre o sistema escravista em nosso país? Anote sua resposta no caderno.
3 Durante um discurso em Oakland, nos Estados Unidos, em 1979, a filósofa e professora Angela
Davis afirmou: “Numa sociedade racista, não adianta não ser racista, nós devemos ser antirracistas”.
Com base no que você estudou, como você justificaria a frase de Davis, relacionando-a ao racismo
estrutural? Escreva sobre isso no caderno e depois leia suas ideias para os colegas.
4 Observe a imagem da página 27. Quais elementos dela evidenciam o racismo estrutural no momen-
to histórico retratado? Liste os elementos no caderno, explicando a relação deles com o racismo.
5 (Enem)
A luta contra o racismo, no Brasil, tomou um rumo contrário ao imaginário nacional e ao consenso cien-
tífico, formado a partir dos anos 1930. Por um lado, o Movimento Negro Unificado, assim como as demais
organizações negras, priorizaram em sua luta a desmistificação do credo da democracia racial, negando o
caráter cordial das relações raciais e afirmando que, no Brasil, o racismo está entranhado nas relações so-
ciais. O movimento aprofundou, por outro lado, sua política de construção de identidade racial, chamando
de “negros” todos aqueles com alguma ascendência africana, e não apenas os “pretos”.
guimArães, A. S. A. Classes, raças e democracia.
São Paulo: Editora 34, 2012.
NO BRASIL
“Parem de nos matar!” é um grito de justiça exclamado toda vez que uma pes-
» Competências e soa negra é assassinada, alvo de balas perdidas, execuções policiais ou guerras
habilidades
do crime organizado.
CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e A desigualdade social no Brasil começou a ser configurada em seu passado
CGEB10. colonial quando fortunas foram acumuladas com base no trabalho escravo e mi-
CECHSA1: EM13CHS101. lhares de negros foram desumanizados por mais de trezentos anos. A Lei Áurea
CECHSA5: EM13CHS501, aboliu a escravidão, mas não amparou a reconstituição social dessas pessoas.
EM13CHS502 e
Libertos da escravização legal, os negros não tinham terras para produzir nem
EM13CHS503.
oportunidades dignas de trabalho.
CECHSA6: EM13CHS601 e
EM13CHS602. Filhas, netas e bisnetas da África, as pessoas pretas do Brasil mais uma vez
CELT5: EM13LGG502. rearticularam suas lutas e resistências para sobreviver à nova condição de pes-
CELT7: EM13LGG704. soas livres juridicamente e conquistar espaços reais de liberdade nos campos po-
CEMT1: EM13MAT102 e lítico, econômico, social e cultural.
EM13MAT104. Nessa luta por reconhecimento e pertencimento, contudo, os corpos pretos
CECNT3: EM13CNT301. permanecem sendo o alvo preferencial da violência que se expressa pela insufi-
ciência de políticas públicas e pela mentalidade do racismo estrutural. Até quan-
do as pessoas negras periféricas precisarão bradar “Parem de nos matar!”?
Protesto intitulado “Por Ágatha, dizemos: Parem de nos matar!”, em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (RJ).
O protesto ocorreu após o assassinato de Ágatha Félix, de 8 anos de idade. Foto de 2019.
50 46,9
40,8 40,8 40,7
40
33,7
30
20
Adilson Secco/ID/BR
(%) População branca População preta ou parda
50
45,3
40
31,9
30
30 28
23,6
20,1 21
20 19,1
15,9
10 9 9 9,2
0
À educação À proteção social* A condições A serviços de À comunicação Ao menos
de moradia saneamento básico (internet) três restrições
Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
visualizacao/livros/liv101629.pdf. Acesso em: 9 abr. 2020.
* Pessoas que não contribuem para o Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) em qualquer trabalho; que não têm direito à
aposentaria/pensão; que não recebem rendimentos de programas sociais.
Qual é a relação entre a [garantia] do direito à vida e a juventude negra? Como es-
se direito tem sido afetado pelo racismo? Será que a vida dos nossos jovens negros ao
invés de ser garantida está sendo, na realidade, criminalizada? Há um extermínio da
vida dessa juventude? Um genocídio? Quem luta para garantir o direito à vida dos nos-
sos jovens negros? A educação se preocupa com essas questões?
[…]
PARA EXPLORAR
É possível dizer que, nos últimos anos, tem aumentado a consciência política sobre
» #Parem de nos matar!, de a situação de extermínio da juventude negra. Além da denúncia, a vontade política e
Cidinha da Silva. São Paulo:
jurídica de alguns setores em conhecer as causas desse extermínio vem sendo desper-
Pólen Livros, 2016.
tada. Dentre as causas mais citadas teríamos: a violência urbana, a pobreza e a vulne-
O livro reúne crônicas de uma
escritora e dramaturga negra rabilidade social, o tráfico, a ausência de uma política democrática de segurança. So-
que vivencia o racismo no co- mado a elas existiria, ainda, toda uma situação de falta de acesso à educação escolar,
tidiano e pensa seu lugar na a ausência de equipamentos públicos de lazer nos bairros pobres, vilas e favelas, baixa
sociedade. Além de tratar do ou pouca inserção no mercado de trabalho de maneira digna, pouco acesso aos bens
racismo estrutural e denunciar culturais, disputa entre os próprios jovens resultando em morte por armas de fogo.
o genocídio contra a juventu- […] Mas fica sempre a pergunta: essas são, de fato, as causas do extermínio da
de negra, a autora trata de
juventude negra?
histórias, construções cultu-
rais e resistência de um povo […] existe uma macrocausa que gera toda a violência que se volta contra essa ju-
que tem sobrevivido na luta ventude e que não tem sido discutida pelas políticas públicas e nem tem sido anali-
histórica por liberdade. sada com profundidade pelas ciências sociais e humanas, com destaque para o cam-
po da educação: o racismo.
Polén/Arquivo da editora
[…]
A campanha Vidas Negras: pelo fim da violência contra a juventude negra no Bra-
sil (ONU/BR) assumiu publicamente que o racismo é a macrocausa do extermínio da
juventude negra. Em relação à situação dos jovens negros apontada pelos dados ofi-
ciais, a campanha defende que: “esta morte precisa ser evitada e, para isso, é neces-
sário que Estado e sociedade se comprometam com o fim do racismo – elemento-
-chave na definição do perfil das vítimas da violência”.
Gomes, Nilma Lino; Laborne, Ana Amélia de Paula. Pedagogia da crueldade: racismo e extermínio
da juventude negra. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 34, 23 nov. 2018. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982018000100657&lng=pt&
nrm=iso#B2. Acesso em: 10 abr. 2020.
Akin/Futura Press
Felix Lima/Folhapress
2003 2008
2010
2008 2010
Greg Salibian/Folhapress
2011
2016 2015
2015
1 Retome o gráfico da página 33 sobre a proporção de pessoas ocupadas em trabalhos informais por
sexo e cor ou raça e, depois, responda:
a) Qual vertente apresenta desequilíbrio?
b) Qual é a diferença de porcentagem de ocupação nessa vertente?
c) Escreva um parágrafo explicando por que esse grupo que ocupa mais postos de trabalho no
mercado informal teria dificuldades em conquistar vagas no mercado formal.
2 Agora, retome o gráfico de rendimento-hora médio real do trabalho principal das pessoas ocupadas
por cor ou raça, na página 33, e responda:
a) O que os dados revelam sobre o perfil das disparidades salariais no Brasil?
b) Que privilégios são revelados nesses dados? Reflita sobre o tema, elencando os variados tipos
de vantagem de um grupo sobre o outro.
c) Existe um discurso recorrente na sociedade brasileira atual de que aquele que se esforça é capaz
de conquistar as recompensas merecidas, ascendendo socialmente. O que a última coluna do
gráfico revela sobre a consistência desse pensamento?
4 O gráfico da página 35, sobre a taxa de homicídios de negros e de não negros, revela que a popula-
ção negra é alvo de violência no país. Quais motivos explicariam essa curva ascendente?
6 Dialogando com o texto "Pedagogia da crueldade", da página 36, por que o racismo deve ser consi-
derado a macrocausa do genocídio da juventude negra?
7 Reflita o porquê de os aquilombamentos, citados na poesia de Conceição Evaristo, serem uma táti-
ca de defesa contra o genocídio negro e uma arma de conquistas democráticas.
8 O historiador Flávio dos Santos Gomes (1964- ) realizou um estudo importante sobre a formação
dos quilombos e seus desdobramentos no passado e no presente. Leia o trecho abaixo e, depois,
faça o que se pede.
[…] Ao longo do século XX, a despeito da existência de inúmeras comunidades remanescentes de qui-
lombos no interior do Brasil – a maior parte das quais desconhecida –, a ideia de quilombo passou a ser
agenciada. A militância negra se apropriou do quilombo como representação política de luta contra a dis-
criminação racial e valorização da “cultura negra”.
Gomes, Flávio dos Santos. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro.
São Paulo: Claro Enigma, 2015. p. 127 (Coleção Agenda brasileira).
10 (Enem)
Quebranto
às vezes sou o policial que me suspeito às vezes faço questão de não me ver
me peço documentos e entupido com a visão deles
e mesmo de posse deles sinto-me a miséria concebida como um eterno começo
me prendo e me dou porrada fecho-me o cerco
às vezes sou o porteiro sendo o gesto que me nego
não me deixando entrar em mim mesmo a pinga que me bebo e me embebedo
a não ser pela porta de serviço o dedo que me aponto
[…] e denuncio
o ponto em que me entrego.
às vezes!...
Cuti. Negroesia. Belo Horizonte:
Mazza, 2007 (fragmento).
Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que tradu-
zem experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico:
a) incorpora seletivamente o discurso do seu opressor.
b) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento.
c) engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças.
d) sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento.
e) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária.
11 (Enem)
Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi por vezes tratado como cordial e hospitaleiro, mas não é is-
so o que acontece nas redes sociais: a democracia racial apregoada por Gilberto Freyre passa ao largo do
que acontece diariamente nas comunidades virtuais do país. Levantamento inédito realizado pelo projeto
Comunica que Muda […] mostra em números a intolerância do internauta tupiniquim. Entre abril e junho,
um algoritmo vasculhou plataformas […] atrás de mensagens e textos sobre temas sensíveis, como racis-
mo, posicionamento político e homofobia. Foram identificadas 393 284 menções, sendo 84% delas com abor-
dagem negativa, de exposição do preconceito e da discriminação.
Disponível em: https://oglobo.globo.com.
Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).
Ao abordar a postura do internauta brasileiro mapeada por meio de uma pesquisa em plataformas
virtuais, o texto:
a) minimiza o alcance da comunicação digital.
b) refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro.
c) relativiza responsabilidades sobre a noção de respeito.
d) exemplifica conceitos contidos na literatura e na sociologia.
e) expõe a ineficácia dos estudos para alterar tal comportamento.
Racismo estrutural
Para começar A investigação
• Prática de pesquisa: revisão bibliográfica
Durante mais de três séculos, os africanos es-
cravizados foram trazidos à força de seu continen- Material
te por meio do tráfico negreiro para suprir a deman-
da por mão de obra cativa no Brasil. Ainda hoje • Folhas para anotações, lápis e caneta
sofremos as consequências desse sistema escra- • Computador com acesso à internet
vocrata que estratificou a sociedade brasileira. E • Livros para consulta
uma delas é o racismo.
O filósofo Silvio de Almeida é um dos principais Procedimentos
expoentes do estudo de questões étnico-raciais
no Brasil, com ênfase no racismo estrutural. Se-
gundo ele: Parte I – Planejamento e análise
4 Para que o grupo tenha contato com uma quan- 4. Quais seriam as principais práticas antirracistas
tidade razoável de artigos, cada integrante de- que deveríamos adotar no cotidiano? Como a
ve se responsabilizar por realizar a leitura de luta contra as discriminações contribui para a
um ou dois artigos, fazer o fichamento e apre- consolidação da democracia no Brasil?
sentar um resumo dos artigos aos colegas.
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE
Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10.
Competências específicas e
habilidades das áreas:
CECHSA1: EM13CHS102,
EM13CHS103, EM13CHS104 e
EM13CHS106.
CECHSA5: EM13CHS501,
ORGANIZAR IDEIAS
44
Unidade
2
Igualdade social ou privilégios? 4
45
4
CAPÍTULO
IGUALDADE SOCIAL
OU PRIVILÉGIOS?
A questão que dá título ao capítulo suscita uma reflexão sobre as características
» Competências e da realidade brasileira. Há muitos valores que afirmam o esforço individual como a
habilidades
chave do sucesso profissional e da autorrealização. No entanto, esse conjunto de
CGEB1, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. valores estabelecidos socialmente pode, muitas vezes, ocultar contextos sociais
CECHSA1: EM13CHS103 e que influenciam e constroem as realidades vividas pelas pessoas cotidianamente.
EM13CHS106. Nas sociedades contemporâneas, sobretudo ocidentais, essas ideias que cir-
CECHSA5: EM13CHS501, culam estão baseadas no ideal da democracia como um sistema político justo, em
EM13CHS502 e
que o povo governa de forma soberana e a cidadania é exercida de forma iguali-
EM13CHS503.
tária. Aliada a esses valores, há a ideia de esforço individual, segundo a qual aque-
CECHSA6: EM13CHS601 e
EM13CHS605. le que se esforça tem mais chances de obter sucesso. Mas qual é o significado da
CELT2: EM13LGG201 e igualdade em uma democracia? E que direitos podem garantir a igualdade social?
EM13LGG202. Veja o que diz a Constituição Brasileira de 1988 e, em seguida, observe a imagem.
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406.
Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, ga-
rantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade […]:
[…]
Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a mo-
radia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternida-
de e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 abr. 2020.
Lightspring/Shutterstock.com/ID/BR
A imposição de
barreiras é uma das
manifestações da
discriminação
racial no Brasil.
Adilson Secco/ID/BR
100
Até ½ salário mínimo
90
Até 1 salário mínimo
80 76,0 77,3 Mais de 2 salários mínimos
70
60 58,9
49,9 50,2 52,0
50 48,1
42,3
40
30,7
30
21,4 23,2 21,5
20,5 20,0
20 16,2 15,6 BRASIL: ÍNDICE GLOBAL
10 7,8 7,7 DE MOBILIDADE
0 SOCIAL (2020)
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017. Posição País Pontos
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101629.pdf. Acesso em: 21 abr. 2020.
1 Dinamarca 85,2
De acordo com um estudo que analisa as possibilidades de ascensão social 2 Noruega 83,6
em diversos países, publicado em janeiro de 2020 pelo Fórum Econômico Mun-
dial (FEM), o Brasil ocupa a 60a posição no ranking de mobilidade social estabe- 3 Finlândia 83,6
lecido entre 82 países analisados. Os dados analisados nessa pesquisa indicam
que, no atual cenário brasileiro, levaria nove gerações para que uma pessoa per- 4 Suécia 83,5
tencente à camada mais baixa da população alcançasse a renda média do país.
5 Islândia 82,7
Veja na tabela ao lado a posição ocupada por alguns países, entre eles o Brasil,
no ranking estabelecido pelo estudo do Fórum Econômico Mundial. 11 Alemanha 78,8
Para chegar a esse resultado, foram examinadas e pontuadas cinco grandes
áreas de atuação: saúde, educação, tecnologia, trabalho e proteção social. De acor- 15 Japão 76,1
do com a análise, o Brasil obteve desempenhos regulares e ruins, destacando-se
Estados
negativamente, principalmente, no tópico de educação “Aprendizagem ao longo 27 70,4
Unidos
da vida”, no qual ocupa o 80o lugar. Essa situação reflete a dificuldade dos brasi-
leiros de acessar níveis mínimos de educação. 45 China 61,5
Os dados apontam para uma realidade brasileira com instituições pouco inclu-
sivas, baixa equidade nas condições de educação entre ricos e pobres, mercado 47 Chile 60,3
de trabalho bastante restrito e alto índice de desigualdade de oportunidades.
51 Argentina 57,3
Segundo a pesquisa, os dez países com maior possibilidade de mobilidade são
europeus. Dinamarca, Noruega, Finlândia, Suécia e Islândia estão no topo do ran- 60 Brasil 52,1
king, pois apresentam bons índices de desenvolvimento humano e sistemas pú-
blicos eficientes de saúde e educação. É importante ressaltar, no entanto, que Costa do
82 34,5
Marfim
esses países contam com uma população bastante pequena e homogênea.
De acordo com o FEM, os níveis de mobilidade social têm impacto efetivo nos Fonte de pesquisa: World Economic
índices de crescimento de um país, o que significa dizer que a promoção de con- Forum. The Global Social Mobility Report
2020. Disponível em: http://www3.
dições sociais menos discrepantes, além de possibilitar contornos sociais mais weforum.org/docs/Global_Social_Mobility_
justos, promove a economia local como um todo. Report.pdf. Acesso em: 21 abr. 2020.
Vozes-mulheres
A voz de minha bisavó A voz de minha mãe
ecoou criança ecoou baixinho revolta
nos porões do navio. no fundo das cozinhas alheias
Ecoou lamentos debaixo das trouxas
de uma infância perdida. roupagens sujas dos brancos
A voz de minha avó pelo caminho empoeirado
ecoou obediência rumo à favela.
aos brancos-donos de tudo. A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
a fala e o ato.
za/ID
PARA EXPLORAR
51
MERITOCRACIA
Nas sociedades democráticas contemporâneas, a meritocracia é percebida co-
mo o reconhecimento e a premiação dos indivíduos que apresentam bom com-
portamento e melhor desempenho em suas produções acadêmicas e profissio-
nais. Um dos fundamentos da meritocracia é a ideia de que vivemos em um
sistema em que todos os cidadãos têm igualdade de direitos e oportunidades.
Assim, aqueles que se destacam produtivamente poderiam ocupar melhores pos-
tos nas hierarquias sociais. A ideologia meritocrática consiste na ideia de que o
indivíduo deve ser avaliado e recompensado de acordo com o próprio mérito e
com sua eficiência ao desempenhar funções. Para isso, elementos como qualida-
de, inovação, dedicação, comprometimento e eficiência são utilizados como mé-
tricas para avaliar seu desempenho.
Na sociedade estadunidense, por exemplo, que se configura como um dos
grandes referenciais em termos de cultura meritocrática, o modelo de premiação
das potencialidades e méritos individuais é utilizado como forma de estimular
a competição e a produtividade, bem como incentivar o destaque social. Dife-
renças individuais são vistas como propulsoras de particularidades únicas que
personalizam criações.
Duke/Acervo do chargista
AÇÃO E CIDADANIA
1 Retome o gráfico da página 47, que apresenta a 6 Qual é a importância da representatividade de mi-
proporção de pessoas residentes em domicílios par- norias políticas, como negros e mulheres, em postos
ticulares, por classe de rendimento real efetivo do- de comando?
miciliar per capita, em relação ao salário mínimo, e,
depois, responda às questões. 7 De que forma a presença de minorias políticas na
a) Por que é possível dizer que o Brasil apresenta mídia e em cargos de gestão contribui para a quebra
grande desigualdade social? de padrões culturais e sociais e para a visibilidade
de suas causas?
b) Quais regiões apresentam as maiores disparida-
des? Como é possível chegar a essa conclusão?
8 A história do Brasil é marcada pela omissão de polí-
Quais seriam as razões desse desequilíbrio?
ticas públicas voltadas para a inserção social da
população negra. Ao longo das últimas décadas,
2 Segundo o estudo do Fórum Econômico Mundial,
contudo, têm sido implementados projetos no sen-
mencionado na página 47, o Brasil ocupa a 60a po-
tido de equalização social e minimização dos atuais
sição no ranking de mobilidade social. Quais seriam
privilégios das elites masculinas brancas. Faça uma
as alternativas para mudar esse cenário?
pesquisa sobre as políticas atuais de inclusão social
e reparo histórico.
3 Com base nos dados levantados pelo IBGE e no es-
tudo do Fórum Econômico Mundial, abordados na
9 (Enem)
questão anterior, é possível considerar que os esfor-
ços individuais são suficientes para alterar o quadro
de desigualdade social do Brasil? Justifique. A cidade
E a situação sempre mais ou menos,
4 Quais seriam as consequências de uma política ex-
Sempre uns com mais e outros com menos.
clusivamente meritocrática em uma sociedade mar-
cada por privilégios de classes? A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce.
5 Observe o gráfico e responda à questão. Chico Science e Nação Zumbi. In: Da lama ao caos.
Rio de Janeiro: Chaos; Sony Music, 1994 (fragmento).
50
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como
40 75 uma política para todos constitui-se uma das mais
71
30
importantes conquistas da sociedade brasileira no sé-
57
culo XX. O SUS deve ser valorizado e defendido como
20 um marco para a cidadania e o avanço civilizatório. A
10 democracia envolve um modelo de Estado no qual
políticas protegem os cidadãos e reduzem as desi-
0
Deputados Deputados Vereadores gualdades. O SUS é uma diretriz que fortalece a cida-
federais estaduais dania e contribui para assegurar o exercício de direi-
tos, o pluralismo político e o bem-estar como valores
Fonte de pesquisa: Tribunal Superior Eleitoral.
Disponível em: https://tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/ de uma sociedade fraterna, pluralista e sem precon-
repositorio-de-dados-eleitorais-1/repositorio-de- ceitos, conforme prevê a Constituição Federal de 1988.
dados-eleitorais. Acesso em: 12 maio 2020.
Rizzoto, M. L. F. et al. Justiça social, democracia com direitos
sociais e saúde: a luta do Cebes. Revista Saúde em Debate,
• O que esses dados revelam sobre a igualdade po- n. 116, jan.-mar. 2018 (adaptado).
lítica no Brasil?
Laerte/Acervo do chargista
11 (Enem)
a) conter a abertura econômica para conseguir a A charge remete a um conjunto de questões que
adesão das elites. apontam, senão para a morte, ao menos para o re-
b) impedir a ingerência externa para garantir a con- fluxo do espírito democrático na modernidade, em
servação de direitos. diversos países. Nessas manifestações, verifica-se:
c) regulamentar os meios de comunicação para a) intensificação do nacionalismo e a defesa de
coibir os partidos de oposição. políticas protecionistas animadas pela crise mun-
d) aprovar os projetos reformistas para atender à dial dos empregos, disputados em maior intensi-
mobilização de setores trabalhistas. dade no contexto dos deslocamentos de grandes
e) incrementar o processo de desestatização para contingentes populacionais.
diminuir a pressão da opinião pública. b) a defesa intransigente do Estado laico, capaz de
concretizar os valores da ciência e da razão, em
12 (Enem) detrimento da vinculação aos ideais fornecidos
pelos diversos matizes de religião existentes no
mundo moderno.
Com a Lei de Terras de 1850, o acesso à terra só
passou a ser possível por meio da compra com paga-
c) a recusa aos princípios da meritocracia, uma vez
que esta atende a algumas centenas de privile-
mento em dinheiro. Isso limitava, ou mesmo pratica-
giados contemplados com as políticas compen-
mente impedia, o acesso à terra para os trabalhadores
satórias conduzidas pelos governos nacionais das
escravos que conquistavam a liberdade.
mais variadas tendências.
oliveiRa, A. U. Agricultura brasileira: d) o tratamento das questões sociais via valorização
transformações recentes. In: Ross, J. L. S.
Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2009.
da perspectiva dialógica, eliminando, assim, o
uso de medidas coercitivas nos espaços público
e privado.
O fato legal evidenciado no texto acentuou o pro-
e) a necessidade de politização do ensino, trazendo
cesso de:
para o âmbito escolar temas polêmicos, como a
a) reforma agrária. educação sexual, gênero e tratamento humani-
b) expansão mercantil. zado na questão das drogas.
Achievement: rea-
lização. À primeira vista, pode parecer estranho relacionar a ideia de igualdade à questão da avaliação de de-
Idiossincrasia: ca- sempenho. Igualdade parece ser um valor político mais associado a questões, opiniões e atitudes relati-
racterísticas únicas vas a eleições, candidatos, governo e ideologias. Na realidade, a ideia de igualdade é muito mais do que
e particulares de
um grupo ou um in- um tema político; ela é um valor estrutural nas sociedades modernas, na medida em que se configura
divíduo. como um dos atributos centrais do personagem social característico dessas sociedades – o indivíduo.
Mas por que igualdade se relaciona com desempenho? Porque, de acordo com a ideologia das socie-
Alunos consultam dades modernas, todos os indivíduos nascem livres e iguais. Além de sujeitos empíricos, eles também
lista de aprovados são sujeitos morais. Isso significa que nenhum atributo social do tipo ascendência, riqueza, status, rela-
no vestibular do
Instituto Federal de ções pessoais, etc. pode ser levado em conta no tratamento que a sociedade dispensa aos seus membros.
Pernambuco (PE), Eles não definem o indivíduo. O que define o indivíduo é uma suposta semelhança moral dada pela exis-
2017. O acesso a tência de uma dimensão natural/física idêntica entre todos os seres humanos. Essa semelhança de forma
vagas em
universidades por é tomada como base de um sistema de direitos ao qual todos devem ter acesso igual. Neste contexto, o
meio de vestibulares único elemento a diferenciar uma pessoa da outra são as características idiossincráticas de cada uma
pode ser delas, ou seja, tanto os seus talentos naturais como a sua disposição interior para realizar o que os nor-
considerado um
modelo inspirado te-americanos chamam de achievement. E a única hierarquia ideologicamente possível é aquela cons-
em ideias truída a partir da avaliação dos diferentes desempenhos individuais.
meritocráticas.
Marlon Costa/Futura Press
56
Contudo, para que o desempenho dos in-
divíduos tenha legitimidade social, ele deve
3. Por que a relação entre igualdade e desempenho, observada pela autora, evidencia uma
contradição entre a idealização teórica de sistemas meritocráticos e sua aplicação na
prática social?
IGUALDADE
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, todas as pessoas nascidas
» Competências e no Brasil são iguais perante a lei e têm os mesmos direitos. Em nosso cotidiano,
habilidades
é possível verificar essa igualdade?
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
Ao longo do século XX e nas duas primeiras décadas do XXI, houve diversos
CECHSA1: EM13CHS103.
avanços em relação às chamadas “minorias”, que, na verdade, constituem a
CECHSA5: EM13CHS501 e
EM13CHS502. maioria da população: mulheres, negros, LGBTQI+, indígenas, entre outros gru-
CECHSA6: EM13CHS601 e pos sociais.
EM13CHS605. É importante ressaltar que os direitos desses grupos foram conquistados por
CELT2: EM13LGG201, mobilizações e reivindicações da sociedade civil organizada.
EM13LGG202, EM13LGG203
Sobre a luta desses grupos, leia o poema a seguir, de autoria de Danielle Almeida.
e EM13LGG204.
CELT3: EM13LGG301,
EM13LGG303 e
EM13LGG304. Preta, liberte-se!
1. De acordo com suas vivências e as experiências das pessoas com que você
convive, como familiares e amigos, é possível afirmar que homens e mulheres,
brancos e negros, são tratados em todos os contextos sociais da mesma for-
ma? Justifique sua resposta com exemplos.
2. Você se identifica com algum aspecto descrito por Danielle Almeida no poema
acima? Por quê?
3. O poema “Preta, liberte-se!” retrata um processo de transformação pelo
qual o eu lírico passa. Em sua opinião, o que pode ter possibilitado as mu-
danças descritas?
Acervo Iconographia/Reminiscências
indivíduos negros pertencentes à Marinha que se
opunham aos castigos físicos aplicados aos traba-
lhadores, como centenas de chibatadas. Um grupo
de marinheiros, liderado por João Cândido, conhe-
cido como Almirante Negro, tomou o controle de
várias embarcações da Marinha e escreveu um
manifesto ao então presidente, Hermes da Fonse-
ca, pedindo o fim dos castigos físicos e ameaçando
um ataque à cidade do Rio de Janeiro. O levante
dos marinheiros foi dura e violentamente reprimi-
do pelo governo, tendo como resultado a prisão e
a morte dos envolvidos.
Além dos movimentos reivindicatórios urbanos,
houve uma série de revoltas rurais, como a Guerra
de Canudos (entre 1896 e 1897) e a Revolta de
Juazeiro (entre 1913 e 1914). Apesar de suas es-
pecificidades, esses movimentos reivindicatórios
foram caracterizados por um forte sentimento re-
ligioso e questionavam a divisão desigual de rique-
zas. Além disso, apresentavam insatisfações liga-
das ao não atendimento das demandas populares.
Esses acontecimentos demonstram que dife-
rentes grupos sociais tinham projetos distintos pa-
ra o país. Surgiram, ainda, outros movimentos po-
pulares que lutavam por condições de vida mais
justas e mais próximas do que conhecemos hoje
como cidadania e direitos humanos. No entanto, Nesta fotografia, João Cândido lê para as autoridades da Marinha o
manifesto feito pelos revoltosos pedindo mudanças na forma como os
todas essas manifestações foram reprimidas vio- marinheiros negros eram tratados na Marinha do Rio de Janeiro (RJ).
lentamente pelos poderes centrais e regionais. Foto de 1910.
60
POLÍTICAS AFIRMATIVAS
No início do século XXI, como resultado das pres-
Anderson Barbosa/Fotoarena
sões exercidas por grupos organizados, os poderes
Legislativo e Executivo e outras instituições da socie-
dade começaram a pôr em prática políticas afirmativas,
que são medidas que objetivam garantir benefícios
para pessoas ou comunidades marginalizadas socioe-
conomicamente. Essas políticas garantem equidade
de direitos e promovem a valorização étnico-cultural.
Um exemplo de política afirmativa brasileira é a
obrigatoriedade do ensino das histórias e das culturas
afro-brasileira e indígena nos currículos de todas as
escolas do país. Essa medida foi tomada em 2008 por Manifestação de alunos da
meio da Lei n. 11 645. Antes, era comum que os estudantes formados no Ensino Universidade de São Paulo (USP)
Básico passassem por sua trajetória escolar sem estudar de forma específica es- a favor da adoção das cotas
raciais. A USP não é uma
ses grupos étnicos que compõem a maioria da população brasileira, o que levava instituição federal e, portanto,
à negação da identidade multicultural do país. não é obrigada a aceitar as cotas,
Outro exemplo é a Lei n. 12 711, criada em 2012, conhecida como Lei de Cotas. mas adotou esse modelo em
2017, atendendo a uma
Ela prevê que as instituições federais dos ensinos Técnico e Superior reservem 50% demanda da comunidade
de suas vagas para pessoas negras, indígenas, alunos oriundos da rede pública de universitária. Foto tirada em São
ensino e que comprovem baixa renda. Essa lei é considerada uma política afirma- Paulo (SP), 2012.
tiva, pois pretende inserir um segmento populacional que, historicamente, repre-
senta a minoria dos alunos matriculados no Ensino Superior.
REFLEXÃO
Sufragistas inglesas carregam cartazes em defesa do voto das Manifestação de mulheres realizada no Dia Internacional
mulheres e chamam a população para participar de uma reunião da Mulher em São Paulo (SP), em março de 2019.
na qual esse tema seria debatido. Foto de 1912.
David Fenton/Getty Images
Mulheres negras
estadunidenses
em protesto do
Partido dos
Panteras Negras,
em 1969.
Movimentação
na 22a edição da
Parada do Orgulho
LGBTQI+ na avenida
Paulista, em
São Paulo (SP), 2018.
Bruno Santos/Folhapress
64
MULHERES CIDADÃS: DESAFIOS ATUAIS
No Brasil, as mulheres também se organizaram para reivindicar o direito de
votar e de concorrer a cargos políticos. No entanto, o sufrágio feminino não era
visto como um fim em si mesmo, mas como uma maneira de, por meio da partici-
pação política ativa, garantir direitos iguais para homens e mulheres e, assim,
possibilitar que as mulheres elegessem representantes que defendessem os di-
reitos femininos.
Entre os anos de 1910 e 1930, foram criadas várias agremiações femininas
que lutaram pelo direito ao voto e à cidadania plena das mulheres no país. Dois
exemplos são o Partido Republicano Feminino, criado no Rio de Janeiro, em
1910, e a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 1922. Am-
bas reivindicavam o direito feminino ao voto, à educação e ao trabalho. Após
anos de luta, somente em 1932 as mulheres passaram a participar das eleições
do país como votantes e candidatas. Em 1934, a cientista Berta Lutz entrou pa-
ra a história como a primeira mulher que participou das eleições. Ela concorreu
como deputada pelo Rio de Janeiro, ganhou o cargo como suplente e exerceu
seu mandato por um ano.
Atualmente, ainda são poucas as mulheres em cargos de representação polí-
tica no país. Apesar de a Lei n. 12 034/2009 exigir que todos os partidos políticos
tenham, pelo menos, 30% de candidatas em cada eleição, as mulheres ainda são
minoria na política. Um exemplo da sub-representação feminina nos cargos polí-
ticos é o fato de que, nas eleições municipais de 2016, para cada sete homens
eleitos vereadores, foi eleita uma mulher para o mesmo cargo.
Manifestantes realizam
ato em frente ao Superior
Tribunal Federal (STF),
em Brasília (DF), pelo fim
da violência contra a
mulher. Foto de 2016.
A militante dos Panteras Negras Angela Davis discursa para Djamila Ribeiro é uma das precursoras do debate sobre
manifestantes. Estados Unidos, 1974. o feminismo negro no Brasil. Paraty (RJ), 2018.
A meu ver, feminista é o homem ou a mulher que a) Quais filósofas estudadas neste capítulo você
diz: “Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e escolheria para analisar as experiências relatadas
temos que resolvê-lo, temos que melhorar”. Todos nós, pela autora? Justifique usando trechos do relato.
mulheres e homens, temos que melhorar. b) O relato de Oliveira cita um movimento social
Adichie, Chimamanda Ngozie. Sejamos todos feministas. relevante no Brasil contemporâneo. Identifique-
São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 49-50. -o e caracterize-o, de acordo com os seus conhe-
cimentos.
c) Oliveira denuncia experiências de racismo na
3 O texto a seguir foi retirado de uma entrevista con- escola. Você já vivenciou algo assim? Como você
cedida pela pesquisadora e professora brasileira se posicionaria se algo semelhante ocorresse com
Kiusam de Oliveira, docente da Universidade Federal você ou com pessoas próximas a você? Comente
do Espírito Santo (Ufes). com a turma.
4 (Enem)
Karime Xavier/Folhapress
Kiusam de Oliveira em São Paulo (SP), 2020. Na década de 1960, a proposição de Simone de
[…] No meu caso, as percepções sobre racismo Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento
social que teve como marca o(a):
começaram por práticas discriminatórias vivenciadas
por mim dentro do espaço escolar e sendo ensinada, a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a vio-
inclusive, pelos próprios profissionais da educação. A lência sexual.
minha entrada para o movimento negro (MNU) pos- b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla
sibilitou-me focar também nas questões de gênero e jornada de trabalho.
me atentar mais ainda aos preconceitos que eu sofria. c) organização de protestos públicos para garantir
Desta forma, eu aprendi que ser mulher e negra numa a igualdade de gênero.
sociedade racista e machista tal qual é a nossa jamais d) oposição de grupos religiosos para impedir os
seria algo fácil e, sim, motivos de grandes lutas e sa- casamentos homoafetivos.
crifícios. A necessidade da formação acadêmica veio e) estabelecimento de políticas governamentais para
promover ações afirmativas.
A LUTA PERMANENTE
Até o século XIX, o território que hoje corresponde ao Brasil foi uma colônia por-
» Competências e tuguesa, cujas principais atividades econômicas baseavam-se na exploração e no
habilidades
tráfico de mão de obra escravizada. Como vimos anteriormente, esse processo foi
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10. responsável por muitas estruturas que configuram nossa sociedade na atualidade.
CECHSA1: EM13CHS102 e O processo de independência do Brasil, por sua vez, esteve diretamente rela-
EM13CHS104. cionado ao processo de construção de uma identidade nacional, distinta e inde-
CECHSA5: EM13CHS501, pendente da identidade da antiga metrópole portuguesa. Isso ocorreu em meio
EM13CHS502 e
a intensas transformações sociais, instabilidades políticas e fragmentações ter-
EM13CHS503.
ritoriais, contribuindo para a concepção do Brasil como Estado e para a formação
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS604, EM13CHS605 das identidades brasileiras, isto é, as identidades do povo brasileiro.
e EM13CHS606. Embora essa construção identitária tenha se iniciado num contexto histórico
CECNT1: EM13CNT104. específico, o processo de formação das identidades brasileiras continua a acon-
CECNT2: EM13CNT206. tecer até os dias atuais e envolve o reconhecimento de diversos aspectos cultu-
CECNT3: EM13CNT309. rais de diferentes povos e a valorização das comunidades que preservam ainda
CELT3: EM13LGG303 e hoje suas culturas tradicionais em diferentes regiões.
EM13LGG304.
Além dos indígenas, os quilombolas também são considerados povos tradicionais,
CELT7: EM13LGG704.
e a preservação deles está relacionada, em muitos casos, com a preservação de ter-
CEMT1: EM13MAT102.
ritórios naturais ameaçados pela exploração econômica. De acordo com o Decreto
CEMT4: EM13MAT406.
Federal n. 6 040, de 2007, povos e comunidades tradicionais são:
[…] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que pos-
suem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recur-
sos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral
e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos
pela tradição.
Brasil. Decreto Federal n. 6 040, de 7 de fevereiro de 2007. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em: 27 abr. 2020.
68
OS POVOS INDÍGENAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988
Na Assembleia Constituinte ocorrida entre 1987 e 1988, houve grande esfor-
Acervo/Estadão Conteúdo
ço e mobilização por parte de alguns grupos sociais para criar leis que efetiva-
mente protegessem os interesses dos povos indígenas e reconhecessem seu
modo de vida e seu direito à terra.
Assim, a Constituição Cidadã, como é chamada a Constituição de 1988, esta-
beleceu leis de proteção que romperam com a perspectiva constitucional anterior,
que entendia os indígenas como categoria social transitória, que desapareceria
em meio à forma de vida atual. Dessa forma, a nova Constituição definiu que os
direitos dos indígenas sobre suas terras passariam a ser um direito originário, ou
seja, anterior à criação do próprio Estado, reconhecendo o fato histórico de que
eles foram os primeiros povos a viver no Brasil.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocu-
pam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1o São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis
à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
Líder indígena Aílton Krenak realiza
Brasil. Artigo 231 da Constituição de 1988. Título VIII: da ordem social, discurso histórico sobre os direitos
capítulo VIII: dos índios. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/ dos povos indígenas no Brasil, que
const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_231_.asp. Acesso em: 20 abr. 2020. reforçou as discussões que levaram
à inclusão de um capítulo sobre os
direitos indígenas na Constituição
de 1988. Brasília (DF), 1987.
Nesse momento, iniciou-se o movimento constitucional que impôs ao Estado
a obrigatoriedade da demarcação das Terras Indígenas, considerando-as espaços
necessários para a manutenção de seus modos de vida tradicionais.
Atualmente, no Brasil, há 462 Terras Indígenas regularizadas, que representam
cerca de 12,2% do território nacional. Essas terras estão presentes em todos os bio-
mas, mas a maioria está localizada na Amazônia Legal, que passa por um processo
de reconhecimento de Terras Indígenas iniciado pela Fundação Nacional do Índio
(Funai) na década de 1980 como resultado da política de integração nacional e da Assembleia Constituinte: congresso,
assembleia ou comissão que tem a
consolidação da fronteira econômica do norte e do noroeste do país. Veja, no gráfi- missão de elaborar uma Constituição.
co a seguir, as proporções de Terras Indígenas por região. Fundação Nacional do Índio (Funai):
A Constituição de 1988 estabeleceu, dessa forma, novos diálogos e relações órgão indigenista oficial do Estado
entre o Estado, a sociedade brasileira como um todo e os povos indígenas, reco- brasileiro, responsável por fiscalizar
e garantir os direitos indígenas.
nhecendo por lei a garantia de seus direitos.
PARA EXPLORAR
Vista de garimpo de ouro no limite da Floresta Nacional do Jamari. O garimpo invade o limite da
reserva com queimada para ampliar a área de mineração, em Itapuã do Oeste (RO), 2019.
AP
RR
Equador 0º
AM PA
MA CE
RN
PI PB
AC PE
TO AL
RO SE
BA
MT
DF
GO OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
MG
PACÍFICO ES
MS 20ºS
SP
RJ
nio
de Capricór
Trópico PR
SC
RS
Mineração existente
0 445 km
e planejada
Marcello Lourenco/Tyba
je em sua reserva, próxima ao município de Resplendor
(MG), às margens do rio Doce. Esses povos ficaram conhe-
cidos ao longo da história do Brasil por desafiarem as ten-
tativas de pacificação e apropriação de seu território pela
Coroa portuguesa, o que levou dom João VI a uma guerra
de extermínio contra eles no século XIX.
Os Krenak sobreviveram a esse ataque e, no século XX,
passaram por dois processos de reassentamento forçado
promovidos pelo Estado brasileiro. O primeiro ocorreu em
1957, quando foram retirados de suas terras e deslocados
para as Terras Indígenas dos Maxacali, no município de
Santa Helena de Minas (MG). Descontentes, os Krenak re-
tornaram para seu território original em 1959, em uma ca-
minhada que durou três meses. O segundo reassentamen-
to ocorreu em 1972, sob a gestão da Funai e com o apoio
do governo do estado de Minas Gerais, quando esse povo
foi deslocado para a Fazenda Guarani, no município de Car-
Manifestantes Krenak fecham a ferrovia da Companhia Vale do
mésia (MG). No entanto, os Krenak retornaram para suas
Rio Doce em protesto contra a poluição do rio Doce após a
terras em 1980, em uma caminhada que durou 95 dias. ruptura da barragem em Mariana (MG) em 2015.
Além dos dois processos violentos de expulsão, que cul-
minaram no retorno a seu território, esses povos foram obri- O desastre, que alterou o curso do rio Doce e o poluiu com
gados a conviver com um projeto que estava em andamento, detritos tóxicos da mineração, deixou dezenas de mortos
em consonância com suas consecutivas tentativas de retira- e feridos e configurou um desastre ambiental de grandes
da: a construção de dois grandes empreendimentos estatais proporções. Para os povos indígenas que vivem ali, isso
que impactaram a manutenção e a reprodução de sua cultu- representou a impossibilidade de exercer suas práticas
ra. Um deles era a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) e o culturais e de sobrevivência relacionadas ao rio. Os Krenak
outro era a Usina Hidrelétrica de Aimorés, ambas proprieda- entendem o rompimento da barragem como a morte do rio
de da mineradora Vale S.A. Doce e, por isso, segundo suas tradições, necessitaria da
Apesar desse contexto, os Krenak não deixaram de re- não interferência humana total por algum tempo para que
sistir e lutar em defesa de seu território e, em 1997, con- novos sinais de vida se manifestassem.
seguiram recuperar parte dele. Atualmente, lutam incan- Os Krenak lutam pela preservação de suas terras e
savelmente pela demarcação das terras que reivindicam sua cultura, reflorestando matas e córregos devastados
como sagradas, denominadas Sete Salões, que se torna- e preservando os cantos, as danças e as tradições de seus
ram o Parque Estadual Sete Salões, criado pelo estado de ancestrais.
Minas Gerais em 1998. Assim como os Krenak, outros povos indígenas, como
Um episódio recente que afetou profundamente a vida os Yanomami e os Guarani, lutam contra investidas de mi-
dos Krenak, bem como de toda a população da região, foi neradoras e grandes latifundiários sobre suas terras, en-
o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). frentando reações igualmente violentas.
Fotografias: Fabio Braga/Folhapress
O rio Doce antes e depois do rompimento da barragem do Fundão, que ocorreu em 2015, em Mariana (MG).
1. Considerando a trajetória dos Krenak e sua relação com a região do rio Doce, extremamente afetada pelas empresas
mineradoras, explique a importância da presença e da resistência indígena no Brasil para a preservação ambiental.
Art. 68: Aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupan-
do suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes
os títulos respectivos.
Brasil. Artigo 68 da Constituição de 1988. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/ Quilombolas durante apresentação de
const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_68_.asp. Acesso em: 20 abr. 2020. jongo no Quilombo Boa Esperança, em
Presidente Kennedy (ES). Foto de 2019.
RR
3
31
» Saravá jongueiro novo. Dire-
Equador AP
ção: Luciano Santos Dayrell.
399
0º
Brasil, 2012 (20 min).
Conheça mais aspectos da co-
3
32 munidade de remanescentes
66 63 57 2 20
AM CE RN quilombolas São José da Ser-
29
PA MA
5 61 PB ra, em Valença (RJ), por meio
AC PI PE 2
90 do documentário disponível
2 4 33 AL 1
SE 4 17 em: https://curtadoc.tv/curta/
RO TO
293 comportamento/sarava-
73 20 30
jongueiro-novo/. Acesso em:
MT
GO
DF BA
21 abr. 2020.
Terras 1 OCEANO
27
Quilombolas
em processo
228 ATLÂNTICO
3 18
18
1 692 Terras
Quilombolas
MS 6 50
MG
RJ
ES 20ºS
SP 3
tituladas 1 Trópico
de Cap
38 PR 24 ri córnio
OCEANO 181 SC 1 17
PACÍFICO 4 Fonte de pesquisa: Comissão Pró-índio
94 de São Paulo, 2016. Disponível em: http://
Terras Quilombolas em processo RS cpisp.org.br/publicacao/mapa-terras-
0 465 km
Terras Quilombolas tituladas quilombolas-tituladas-e-em-processo-
no-incra-2016/. Acesso em: 25 abr. 2020.
5 (Enem)
Comunidades quilombolas tentam
resistir ao avanço de grandes
empreiteiras Coube aos Xavante e aos Timbira, povos indígenas
Descendentes de escravos têm direitos limitados do Cerrado, um recente e marcante gesto simbólico:
por empresas que compraram as terras anteriormen- a realização de sua tradicional corrida de toras (de
te. Alguns casos parecem irregulares. buriti) em plena Avenida Paulista (SP), para denunciar
o cerco de suas terras e a degradação de seus entor-
As palavras “quilombo” e “quilombola” hoje estão
nos pelo avanço do agronegócio.
associadas a um povo que teria desaparecido com o
fim da escravidão. O que hoje se chama de “comuni- ricardo, B.; ricardo, F. Povos indígenas do Brasil:
2001-2005. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2006
dade remanescente de quilombo” são agrupamentos
(adaptado).
que herdaram as principais características desses es-
paços, formados por netos e bisnetos de escravos. E,
se no tempo de colônia os quilombolas enfrentavam
A questão indígena contemporânea no Brasil eviden-
senhores de engenho, escravocratas e seus caçadores
cia a relação dos usos socioculturais da terra com os
de aluguel, hoje os inimigos são as grandes corpora- atuais problemas socioambientais, caracterizados
ções da construção civil, que esbarram em proteção pelas tensões entre:
legal ao tentar construir condomínios e resorts em
a) a expansão territorial do agronegócio, em especial
áreas tituladas – e, portanto, protegidas pelo Decreto nas regiões Centro-Oeste e Norte, e as leis de
4 887/2003. proteção indígena e ambiental.
A relação conturbada das lideranças quilombolas b) os grileiros articuladores do agronegócio e os
com os interesses imobiliários já rendeu episódios que povos indígenas pouco organizados no Cerrado.
extrapolaram a disputa judicial, escalando para amea- c) as leis mais brandas sobre o uso tradicional do
ças, agressões e até homicídios. […] meio ambiente e as severas leis sobre o uso ca-
O ano de 2017 foi o mais violento da última déca- pitalista do meio ambiente.
da, com 113 ocorrências. Foram 29 casos de ameaça d) os povos indígenas do Cerrado e os polos eco-
ou perseguição, seguidos por 22 ocorrências de perda nômicos representados pelas elites industriais
ou possibilidade de perda de território por invasão e, paulistas.
finalmente, 18 assassinatos consumados. Num corte e) o campo e a cidade no Cerrado, que faz com que
de dez anos, o número assusta ainda mais: entre o as terras indígenas dali sejam alvo de invasões
urbanas.
Proposta
Considerando os temas abordados neste capítulo e a observação do contexto escolar, você e os cole-
gas vão criar um vídeo para expor opiniões e comentários com o objetivo de promover o respeito à diver-
sidade cultural e étnica brasileira, ajudando a combater formas de violência como o bullying, o racismo e
o preconceito de forma geral. Esse vídeo deverá ser postado em um vlog da turma.
Planejamento e elaboração
1. Reúna-se com os colegas em um grupo de até cinco integrantes. Para inspirar a criação do vídeo de
vocês, pesquisem em um site de busca o vídeo "Quando digo que sou indígena", do vlog Katú, em
que a atriz, rapper e ativista indígena Katú Mirim relata situações de preconceito que ela vivencia
por ser indígena.
2. Avaliem possíveis situações ocorridas na comunidade escolar nas quais vocês gostariam de intervir
com o objetivo de combater formas de violência como bullying, racismo e outros tipos de preconceito.
3. Tentem se lembrar de situações no cotidiano escolar nas quais vocês ou outros colegas se sentiram
desrespeitados ou inferiorizados por não fazerem parte de determinado grupo ou por terem origem
diferente.
5. Para dar embasamento às opiniões de vocês, pesquisem livros, sites, jornais, revistas,
vlogs, blogs, podcasts, entre outros materiais que tratem do assunto. Caso queiram citar
informações no vídeo, utilizem dados, relatos pessoais e opiniões de especialistas obtidos
de fontes confiáveis.
6. Organizem um roteiro para o vídeo. Ele não precisa ser minucioso, mas deve indicar os
momentos-chave e o tempo médio de duração de cada fala. Isso facilitará o trabalho
de vocês.
7. Combinem qual ou quais integrantes do grupo vão falar e o que vão dizer. Os demais
podem ajudar com a gravação, o roteiro e a edição do vídeo, por exemplo.
9. Escolham um local silencioso e com bastante luminosidade para a gravação. Façam tes-
tes para determinar o posicionamento da câmera ou do celular e dos participantes do
vídeo. Mantenham a câmera em posição fixa para evitar erros de continuidade.
10. Ensaiem previamente, utilizem um tom de voz claro e falem de maneira objetiva, para
que todos possam compreender o que está sendo dito. Gravem uma versão-teste do vídeo
e avaliem a qualidade do som e da imagem e se tudo ocorreu conforme o esperado. De-
pois, gravem a versão final.
11. Caso não seja possível utilizar ferramentas digitais para a gravação do vídeo, combinem
um dia para que cada grupo exponha o que produziu para esta atividade em uma apre-
sentação oral.
Revisão
2. Se necessário, editem a versão final para que o vídeo fique mais adequado ao público-
-alvo. Há diversos softwares gratuitos na internet com tutoriais disponíveis que podem
ajudar na edição, permitindo inserir sons ambiente, efeitos de voz e de imagem, cortar
ou inserir cenas, acrescentar legendas, etc.
3. Salvem o arquivo da versão final do vídeo em uma pasta compartilhada pelo grupo. Se
possível, façam uma cópia de segurança e salvem em outro local.
Circulação
1. Combinem uma data para exibir o vídeo à turma e assistir aos trabalhos dos outros gru-
pos. Conversem sobre eles no final.
3. Disponibilizem os vídeos no vlog e compartilhem-nos nas redes sociais, para que outras
pessoas possam refletir sobre os conteúdos que vocês apresentaram.
Privilégios à brasileira
Para começar uma revista brasileira com a ilustração de Ro-
drigo Leão. Façam uma descrição detalhada de
Nesta unidade, vimos que a sociedade brasileira cada uma e identifiquem as semelhanças e as
é marcada pela desigualdade social: a riqueza está diferenças entre elas. Em seguida, discutam as
concentrada nas mãos de uma pequena parcela da seguintes questões:
população, enquanto a maior parte dela vive com
poucos recursos e não tem acesso satisfatório a bens • Quais são os elementos da aquarela de De-
essenciais. Sabemos que as raízes dessa desigual- bret que indicam a existência de privilégios
dade são históricas e têm estreita relação com a es- no Brasil do início do século XIX?
cravidão. Mas será que esse conhecimento está dis- • Quais são os elementos da capa da revista
seminado na população? Nesta seção, realizaremos que indicam a manutenção de privilégios no
um estudo de recepção para pesquisar em que me- Brasil contemporâneo?
dida esse fenômeno é conhecido pelas pessoas. • Na opinião de vocês, por que o ilustrador
O problema escolheu essa aquarela de Debret como ins-
É possível estabelecer relações diretas entre a piração para a capa? O que ela representa?
desigualdade social no Brasil e a escravidão, pois o • Como o ilustrador estabelece relações en-
sistema escravista pressupunha, em sua estrutura, tre a escravidão existente até o século XIX
uma desigualdade extrema, visto que os escraviza- no Brasil e a desigualdade na atualidade?
dos não tinham absolutamente nada, nem ao me-
nos recebiam por seu trabalho, enquanto poucos e 3 Planejem a pesquisa, decidindo quais pessoas
ricos senhores gozavam de imensos privilégios. No serão entrevistadas. Podem ser pessoas da co-
entanto, o fim da escravidão não diminuiu esses munidade escolar ou não. Cada integrante do
contrastes. Muito pelo contrário, os mais ricos con- grupo deve entrevistar ao menos duas pessoas,
tinuaram a concentrar riquezas e privilégios. mas, quanto mais pessoas entrevistadas, me-
Mas será que os brasileiros percebem os proces- lhor. Estabeleçam, então, um prazo para que as
sos históricos que resultaram na desigualdade no entrevistas sejam feitas e vocês façam nova
país e identificam sua relação com a escravidão? reunião para sistematizar as respostas.
A investigação
4 Preparem as perguntas que vocês farão nas en-
• Prática de pesquisa: estudo de recepção trevistas. Atenção: o objetivo não é perguntar
Material diretamente aos entrevistados se eles reconhe-
cem que a desigualdade foi historicamente cons-
• Folhas para anotações, lápis e caneta
truída e qual é a relação deles com a escravidão,
• Gravador de áudio ou de vídeo
mas identificar se, na recepção que eles fazem
• Este livro das imagens, essas ideias aparecem. As primei-
ras perguntas devem ser abertas, para captar
Procedimentos as impressões e os sentimentos que as imagens
despertam nas pessoas entrevistadas. Por exem-
plo: Que impressão você tem ao olhar essa ima-
Parte I – Planejamento e análise
gem? Que tipo de sentimento ela desperta em
1 Organizem-se em grupos de quatro ou cinco você? Formulem também perguntas que evi-
integrantes. denciem a contextualização que o receptor faz
das imagens e como as interpreta. Exemplos:
2 Analisem com cuidado a aquarela Um jantar Qual fenômeno social é retratado? Em sua opi-
brasileiro, do pintor Jean-Baptiste Debret, que nião, que mensagem é transmitida por meio
viveu no Brasil entre 1816 e 1831, e a capa de dessas imagens?
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE
Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10.
Competências específicas e
habilidades das áreas:
CECHSA1: EM13CHS101,
EM13CHS103, EM13CHS105 e
EM13CHS106.
CECHSA5: EM13CHS501,
EM13CHS502, EM13CHS503 e
EM13CHS504.
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS602, EM13CHS603 e
ORGANIZAR IDEIAS
80
Unidade
3
O Estado brasileiro é autoritário? 7
Representatividade e democracia 8
Os movimentos populares 9
Acervo Iconographia/Reminiscências
81
7
O ESTADO BRASILEIRO
CAPÍTULO
É AUTORITÁRIO?
Você já ouviu falar sobre o Democracy Index (Índice de Democracia, em tradu-
» Competências e ção livre)? Trata-se de um ranking elaborado pelo setor de inteligência do jornal
habilidades
britânico The Economist, que analisa diferentes aspectos sociais de cada país pa-
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10. ra indicar seu nível de democracia.
CECHSA1: EM13CHS101, A verificação do nível de democracia se dá pela análise de quatro critérios, lis-
EM13CHS103 e EM13CHS106. tados a seguir, avaliados com notas de zero a dez. Quanto maior a pontuação,
CECHSA5: EM13CHS501. melhor é a posição que o país ocupa no ranking da democracia.
CECHSA6: EM13CHS602,
EM13CHS603 e
• Processo eleitoral e pluralismo: avalia os níveis de justiça social, de diversida-
EM13CHS605.
de nas eleições e de liberdade de expressão e de voto.
CELT1: EM13LGG105. • Funcionamento do governo: avalia os níveis de transparência do governo em
CELT2: EM13LGG202 e relação aos gastos e aos investimentos públicos.
•
EM13LGG204.
Cultura política: verifica se a participação política dos cidadãos é incentivada e
CELT3: EM13LGG303 e
EM13LGG305.
valorizada pelo governo, tornando-se uma prática constante na sociedade.
• Liberdades civis: mensura os níveis de liberdade de expressão e de liberdade
de imprensa no país.
Em 2019, o Índice de Democracia apresentou a pontuação global mais baixa
desde 2006, ano em que o ranking começou a ser divulgado. De acordo com os
dados de 2019, apenas 5,7% da população mundial está na faixa que o estudo
denomina democracia plena. Observe o mapa abaixo.
45°N
OCEANO
PACÍFICO OCEANO
ATLÂNTICO
Trópico de Câncer
OCEANO
PACÍFICO
Democracia plena Equador 0º
9-10 OCEANO
Meridiano de Greenwich
8-9
ÍNDICO
Democracia imperfeita
7-8 Trópico de Capricórnio
6-7
Regime híbrido
5-6
45°S
4-5
Regime autoritário
3-4
2-3 OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO Círculo Polar Antártico
0-2
0 2 585 km
Sem dados
Fonte de pesquisa:
Democracy Index 2019.
The Economist. Disponível 1. O Brasil aparece em qual faixa de democracia? O que você acha que essa
em: http://www.eiu.com/ faixa significa, em termos de regime democrático?
topic/democracy-index.
Acesso em: 13 abr. 2020. 2. Em sua opinião, por que o Brasil não está na categoria da democracia plena?
Anote suas reflexões no caderno e, depois, compartilhe-as com a turma.
3. Por que o Brasil não está na categoria de regime autoritário?
As liberdades políticas fundamentais e as liberdades civis não são apenas respeitadas, mas
também reforçadas por meio de políticas que objetivam consolidar a cultura dos princípios
democráticos. Para isso, os países implementam sistemas equilibrados de pesos e
contrapesos entre os poderes institucionais, garantindo a autonomia do Judiciário na
INTERAÇÃO
aplicação da lei de maneira igualitária. O governo costuma ser eficiente e a mídia tem 1. Analise a definição re-
liberdade para publicar de modo diversificado e independente. ferente à faixa de de-
Faixas de notas: 8-9 e 9-10.
mocracia na qual o
Brasil se situa e, com
base nela, realize uma
Democracia imperfeita pesquisa, em publica-
ções impressas e/ou
As eleições são livres e idôneas e as liberdades civis básicas são respeitadas, embora digitais, que comprove
possam ocorrer violações, como censuras aos meios de comunicação e opressão de alguns ou refute a categoria
grupos sociais. Por isso, nos países dessa categoria, existem falhas relevantes em vários
aspectos democráticos, em especial no que se refere à criação, consolidação e manutenção
associada ao Brasil. Em
da cultura política democrática. É comum que apresentem baixos níveis de participação na uma data combinada
política e problemas no funcionamento do governo. com o professor, apre-
Faixas de notas: 6-7 e 7-8. sente aos colegas da
turma sua pesquisa e
suas explicações sobre
os motivos de as notí-
Regime híbrido cias ou textos acadê-
Fraudes eleitorais recorrentes e opressão de movimentos populares, de modo a impedir a micos que você esco-
democracia plena e livre. Trata-se de países em que há perseguição política em casos de lheu corroborarem ou
oposição às decisões do governo, falta de independência do Judiciário, corrupção refutarem o Índice de
generalizada e controle sobre a mídia. Nessa categoria, as falhas em relação à manutenção Democracia, em relação
dos direitos humanos e civis são mais acentuadas do que as das democracias imperfeitas.
à informação referente
Os níveis de participação política são muito baixos por parte da população e o governo
apresenta níveis insatisfatórios com relação à administração pública. ao Brasil.
Faixas de notas: 4-5 e 5-6.
Regime autoritário
Diversidade política limitada ou inexistente, em que não há oposição política ao governo.
Os países dessa categoria costumam ser caracterizados como ditaduras ou monarquias, e
as instituições superficialmente democráticas são esvaziadas ou ineficientes,
apresentando-se mais para garantir benefícios diplomáticos no contexto internacional do
que para assegurar a participação política dos cidadãos. Há constantes violações às
liberdades civis e aos direitos humanos. A mídia não tem liberdade, assim como o
Judiciário.
Faixas de notas: 0-2; 2-3 e 3-4.
do autoritarismo. Foto de 1949. 1. Retome o diálogo entre regimes de governo e autoritarismo e os critérios
apresentados na página 83. Liste as principais características de um re-
gime autoritário.
2. Com base nessa lista, elabore uma narrativa que tenha como cenário
um país sob um regime político com as características que você listou.
Lembre-se de apresentar as personagens e de estabelecer um começo,
um desenvolvimento e um final para a sua ficção. Em uma data combi-
nada, compartilhe seu texto com os colegas e conheça as histórias que
eles criaram.
1 2
Ausência do voto feminino, do voto secreto e de uma Período de transição (entre 1930 e 1937).
justiça eleitoral de cunho burocrático e profissional até o
Código eleitoral de 1932 e a Constituição Federal de 1934.
Fonte de pesquisa: SaeS, Décio Azevedo Marques de. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. Estudos Avançados, v. 15, n. 42,
p. 379-410, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200021. Acesso em: 25 abr. 2020.
REFLEXÃO
1. Como você classificaria para o aprofundamento do debate sobre esses processos, os quais também po-
os eventos analisados dem ser chamados de golpes de Estado. A transição entre os governos de Jânio
no texto, tendo como Quadros e de João Goulart (1961) e o regime militar (1964-1985) são dois des-
base os esquemas da ses momentos.
página anterior?
No primeiro momento, a ordem democrática quase sofreu o chamado golpe
2. Relacione o conteúdo institucional. Na época, o vice-presidente da República não era da mesma cha-
da placa que a mani- pa que o presidente, mas o segundo colocado nas eleições. Em 1961, Jânio
festante da imagem Quadros foi empossado na Presidência da República, enquanto João Goulart,
abaixo está segurando também conhecido como Jango, tomou posse da vice-presidência. Jânio per-
com os processos ana-
maneceu no poder por pouco mais de seis meses: com uma política externa in-
lisados no texto desta
dependente e, muitas vezes, contraditória e usando como base um discurso
página. Compartilhe
suas impressões com anticorrupção e de defesa da moral, Jânio se isolou politicamente, optando pe-
os colegas. la renúncia. Nesse momento, o vice-presidente estava em uma missão oficial
na China, um país comunista.
No contexto da Guerra Fria, visitar um país comunista poderia ser visto como
um alinhamento antiestadunidense, o que frustrava o interesse de uma parcela
da população, em geral formada pelo empresariado e pelos latifundiários do Bra-
sil, alinhados com as políticas dos Estados Unidos. Assim, os ministros militares
que formavam o corpo do governo de Jânio rejeitaram o nome de Jango para a
Presidência e iniciaram negociações tensas com o Congresso para impedir a pos-
se. Como o impedimento da posse se daria por meio do Congresso, a ordem de-
mocrática seria alterada pelos meios institucionais,
Arquivo/Museu da Comunicação Hipólito José da Costa
INTERAÇÃO
Reprodução da capa
do jornal O Globo do
dia 2 de abril de 1964.
A Nasa é mentirosa. Apesar de o código citado tratar apenas dos deveres dos jornalistas, a ética
referente à produção e divulgação de notícias não se restringe a estes profis-
sionais. “Os jornalistas devem enxergar a notícia falsa como uma fraude no pro-
Cienpies Design/
Shutterstock.com/ID/BR
1. De acordo com o texto, qual é a relação entre jornalistas, ética e as fake news?
2. Qual é a responsabilidade dos indivíduos em relação às fake news?
3. De que modo você pode agir para evitar a propagação das fake news e contri-
buir para a conscientização dos efeitos nocivos que elas podem trazer? Faça
uma pesquisa a respeito do tema e elabore uma lista de ações em seu caderno.
Compartilhe suas ideias com a turma e, juntos, combinem quais ações podem
ser realizadas coletivamente e como colocá-las em prática nesse momento.
press
A transição à democracia a partir da derrocada de uma ditadu-
Matuiti Mayezo/Folhapress
90
E hoje?
Com base nos textos e materiais que você leu, pesquisou e analisou, consegue
PARA EXPLORAR
responder à pergunta “O Estado brasileiro é autoritário?”, que dá título ao capítulo?
Uma das maneiras de construir os argumentos que respondam a essa questão » Memorial da Democracia
é observando, em seu cotidiano, os critérios avaliados pelo Índice de Democracia. No portal do Memorial da De-
Assim, analisar se sua liberdade e a liberdade dos grupos sociais dos quais você mocracia, você encontra linhas
faz parte são respeitadas e protegidas institucionalmente é uma forma de anali- do tempo, artigos, vídeos e
relatos sobre diversos momen-
sar a sua realidade. Por exemplo, verifique se você e as pessoas da comunidade
tos da democracia no Brasil.
da qual faz parte podem manifestar descontentamentos contra o governo sem
O site pode ser usado como
serem reprimidos, perseguidos, presos ou mesmo torturados; se há incentivos pa- fonte de pesquisa sobre o te-
ra que participem ativamente da vida política da região onde vivem; se há diver- ma. Disponível em: http://
sidade partidária durante as eleições; etc. memorialdademocracia.com.
Outra possibilidade de construir argumentos é traçar paralelos históricos, so- br/. Acesso em: 15 abr. 2020.
ciológicos e filosóficos – conforme observado ao longo deste capítulo – para ana-
lisar momentos de estabilidade política e momentos em que essa estabilidade foi
interrompida por algum tipo de golpe.
Acervo/Folhapress
Em ambos os percursos, você vai notar movimentos entre democra-
cia e autoritarismo. Mas é possível que ambos coexistam? De acordo
com o sociólogo Carlos Eduardo Santos Pinho, é preciso sempre obser-
var os discursos e pronunciamentos dos governantes, pois eles eviden-
ciam os níveis de comprometimento que os mandatários têm com a
manutenção da democracia. Um dos critérios que podem ser observa-
dos nesses discursos é o tratamento dado às populações que histori-
camente foram marginalizadas, como os povos indígenas, as mulheres,
os negros, a comunidade LGBTQI+ e as pessoas portadoras de neces-
sidades especiais.
Em uma sociedade democrática, o povo como um todo deve ter sua
dignidade resguardada, independentemente de suas características
físicas, étnicas e psicológicas. Sobre esse tema, Pinho afirma:
Acervo/Folhapress
conquistas sociais das minorias obtidas a duras penas nas últimas décadas. Portanto, Nacional dos Estudantes (UNE)
estamos vivendo num contexto de uma democracia debilitada, em que os direitos de organizado em uma fazenda
minorias são sistematicamente atacados, desrespeitados e vilipendiados. É a mate- em Ibiúna (SP). Foto de 1968.
91
ATIVIDADES
1 Neste capítulo, você analisou dados do Índice de a) Na notícia, há denúncia da violação de quais di-
Democracia referentes ao ano de 2019. Faça uma reitos civis? Justifique sua resposta usando trechos
pesquisa para descobrir os resultados do índice no do texto.
último ano e compare-os com os de 2019. Para isso, b) De acordo com o Índice de Democracia e com suas
verifique os pontos listados a seguir, anotando suas
percepções sobre a democracia brasileira, notícias
percepções no caderno.
como essa corroboram a classificação do Brasil
a) Identifique as mudanças em relação ao Brasil, aos como uma democracia imperfeita? Explique.
outros países da América do Sul, da América La-
c) Como os países classificados como democracias
tina e, por fim, do continente americano.
plenas lidam com os protestos? Faça uma pes-
b) Observe se houve transformações nos países de quisa em publicações impressas e/ou digitais para
regimes autoritários.
descobrir. Depois, com base nelas, conte para os
c) Analise as mudanças no continente africano e no colegas da turma como você acha que uma situa-
europeu. ção como a retratada na notícia poderia ser solu-
Em uma data combinada, apresente suas percepções cionada sem o uso da força policial.
para a turma e ouça as análises dos colegas sobre o
Índice de Democracia no mundo atual. 4 Como você relaciona os relatos da página 89 com a
categoria de democracia imperfeita? Responda usan-
2 Escolha um dos movimentos apresentados nas pá-
do trechos dos relatos e os critérios usados pelo Ín-
ginas 90 e 91 e faça uma análise dele, em forma de
dice de Democracia.
dissertação, com base nos conceitos apresentados
por Bruno Galindo. Você pode buscar mais informações
5 Forme dupla com um colega para verificar se, na co-
sobre o movimento escolhido em publicações impres-
sas e/ou digitais. Apresente sua análise aos colegas. munidade em que vocês vivem, há grupos sociais que
Lembre-se de anotar as fontes de pesquisa para sofrem algum tipo de repressão pelo governo
disponibilizá-las ao final do trabalho. que vocês consideram injusta ou desalinhada com os
direitos humanos. Dialoguem com seus amigos e fa-
3 Leia o trecho da notícia a seguir. miliares sobre o tema para investigar a situação do
lugar onde vocês moram. Se necessário, façam regis-
tros das entrevistas, como anotações, fotos ou vídeos.
Cerca de 20 mil pessoas, a maioria professores da
a) Em uma data combinada, apresentem suas des-
rede pública de ensino, se reuniram no dia 29 de abril
cobertas à turma e ouçam as descobertas das
em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Pa-
outras duplas.
raná, na cidade de Curitiba, para protestar contra as
b) O que vocês acham que poderia ser feito para
mudanças nas regras do estado para a previdência
evitar situações como essas e garantir que todos
social e aposentadoria dos funcionários públicos. Os
os grupos possam se manifestar de modo iguali-
professores estavam em greve desde 25 de abril para
tário? Debatam com a turma, mobilizando o que
protestar contra essas mudanças e estavam reunidos
vocês sabem sobre a construção da democracia
em frente à Assembleia Legislativa do Paraná desde
no Brasil.
o dia anterior (28) enquanto a votação sobre as novas
regras era esperada. Por volta de 16h do dia 29, a po- 6 Leia um trecho do livro do historiador Carlos Fico
lícia militar que estava presente (incluindo o Tropa de (1959- ) e, depois, responda às questões.
Choque) recebeu ordens para dispersar o protesto e
iniciou uma forte repressão aos participantes usando
gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes. […] A ditadura militar brasileira foi muito violen-
A unidade municipal de saúde relatou 213 mani- ta desde os primeiros momentos após o golpe de
festantes feridos, alguns deles gravemente. Muitos 1964. Entretanto, a partir de 1968, essa violência se
tinham sido atingidos por balas de borracha no rosto. ampliou muito com a instituição de aparatos insti-
Pelo menos um jornalista ficou ferido depois de ser tucionalizados de repressão que criaram um siste-
atacado por um cachorro da polícia militar. Em uma ma nacional de espionagem, uma polícia política,
declaração oficial da Secretaria de Segurança Pública um departamento de propaganda e outro de censu-
do Estado, foi relatado que sete manifestantes foram ra política, além de um tribunal de exceção para o
detidos por serem “membros de grupos radicais”. julgamento de pessoas supostamente implicadas
Ação urgente: Polícia Militar ataca professores em protesto.
em corrupção.
Anistia Internacional Brasil, 12 maio 2015. Disponível em: Fico, Carlo. História do Brasil contemporâneo:
https://anistia.org.br/entre-em-acao/email/acao-urgente-3/. da morte de Vargas até os dias atuais.
Acesso em: 15 abr. 2020. São Paulo: Contexto, 2015. p. 62.
E DEMOCRACIA
A representatividade é a base do sistema democrático no Brasil, o que signifi-
» Competências e ca que os cidadãos brasileiros votam em representantes que vão defender seus
habilidades
interesses nos órgãos governamentais. Quanto mais os representantes do povo
CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB9 e CGEB10. no governo estão alinhados com a população, mais equilibrados estão os pilares
CECHSA1: EM13CHS101, democráticos, pois os diferentes grupos podem se posicionar e ter voz nas ins-
EM13CHS103 e EM13CHS106. tâncias do poder.
CECHSA5: EM13CHS501, No entanto, não é exatamente isso que ocorre no Brasil atual. Leia o trecho
EM13CHS502 e
da reportagem a seguir, sobre os resultados das eleições de 2018 para o Con-
EM13CHS503.
gresso Federal.
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS602, EM13CHS603
e EM13CHS605.
CEMT1: EM13MAT102. Perfil médio do deputado federal eleito é homem, branco, casado
e com ensino superior
O perfil médio dos 513 deputados federais eleitos se assemelha ao dos candidatos
que disputaram as eleições deste ano. A partir de 2019, a Câmara dos Deputados con-
tinua a ser composta, principalmente, por homens, brancos, casados e com ensino
superior. A idade média é de 49 anos (elas variam de 22 a 84 anos). […]
Os representantes mais jovem e mais velho da Câmara são mulheres. Luisa Can-
ziani […] tem 22 anos e será a mais nova da Casa. […] Aos 84 anos, Luiza Erundina
foi a mais velha eleita para o cargo neste ano. Quase a maioria dos deputados fede-
rais eleitos (46%) informa ao TSE ter a ocupação de “deputado”. Um levantamento
[…] já mostrou ainda que os milionários na Câmara são 47% dos 513 deputados fe-
derais eleitos.
Caesar, Gabriela. Perfil médio do deputado federal eleito é homem, branco, casado e com ensino
superior. G1, 21 out. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-
em-numeros/noticia/2018/10/21/perfil-medio-do-deputado-federal-eleito-e-homem-branco-
casado-e-com-ensino-superior.ghtml. Acesso em: 17 abr. 2020.
Movimentação de pessoas na rua Ademar Galvão com a praça Barão do Rio Branco, em
Vitória da Conquista (BA). Foto de 2019.
Superior completo
Médio completo
43 Superior incompleto
98
CONSTITUIÇÃO DE 1988: AVANÇOS DEMOCRÁTICOS
O processo de retorno da democracia representativa no Brasil culminou na
escrita de uma nova Constituição Federal, conhecida como Constituição Cidadã,
promulgada em 1988. Conforme visto nas unidades anteriores, a Carta foi ela-
borada com base na participação de diferentes movimentos sociais, de repre-
sentantes dos diversos segmentos que compunham a sociedade brasileira e
dos povos indígenas.
Ela se caracteriza como um marco democrático no país, no qual, em um mo-
mento único na história do Brasil, os diversos setores da sociedade civil partici-
Deputado constituinte: deputado elei-
pam da construção de uma Carta Magna. to para participar da Assembleia Cons-
Para aprofundar o debate sobre a Constituição Cidadã, leia os dois relatos a se- tituinte, um colegiado reunido para
guir. Ambos foram concedidos pelo deputado constituinte Bernardo Cabral (1932-) debater e escrever a Constituição do
país.
e revelam algumas de suas percepções a respeito da Constituição de 1988 em dois
momentos históricos distintos.
Texto 2
ConJur – Que balanço o senhor faz desses 30 anos?
Bernardo Cabral – As Cassandras que diziam que a Constituição não duraria
Capa da Constituição da República
seis meses devem estar se revirando no túmulo. O que precisamos sentir nesses Federativa do Brasil de 1988.
30 anos é que se deve à Constituição não ter havido nenhuma crise política de ordem
que mantivesse ou propiciasse uma ditadura. […] Quando o senhor Collor foi apeado
do poder, quem assumiu não foi uma junta, foi seu vice, Itamar Franco, que assumiu
com a Constituição debaixo do braço. Quando a Dilma sofreu o impeachment, foi seu
vice, Michel Temer, quem assumiu. Esta Constituição, com todos os seus defeitos, foi
o que não permitiu que não houvesse um golpe de Estado.
Canário, Pedro. “Devemos à Constituição o fato de não ter havido
golpes de Estado nestes 30 anos”. ConJur, 12 out. 2018. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2018-out-12/entrevista-bernardo-
cabral-relator-assembleia-constituinte. Acesso em: 20 abr. 2020
INTERAÇÃO
1 Observe o gráfico abaixo e, depois, faça as atividades. a) Retome o trecho da notícia que você leu na aber-
tura deste capítulo. Como ele se relaciona com a
ESCOLARIDADE DOS BRASILEIROS tese de Robert Michels?
COM 25 ANOS OU MAIS (2018) b) Há relações entre a tese de Michels e a do soció-
logo Cláudio Couto, que você estudou neste capí-
Adilson Secco/ID/BR
Superior
tulo? Explique.
33,1% completo c) Com base em seus conhecimentos, debata com a
8,1% Superior turma como a oligarquização de uma democracia,
incompleto como a brasileira, poderia ser evitada ou revertida.
4% Médio
completo 3 Retome ao esquema a respeito do Pacote de Abril
Médio da página 97 e responda às questões.
4,5%
incompleto
Fundamental
a) As eleições de governadores e senadores tinham
26,9% 6,9% características semelhantes às eleições realizadas
completo
Fundamental atualmente? Explique com itens do conjunto de
16,5% incompleto medidas proposto pelo governo militar.
Não lê e/ou b) Em sua opinião, por que os militares optaram por
escreve
uma abertura “lenta, segura e gradual”? Como
Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra
isso se relaciona com as estruturas da democracia
de Domicílios Contínua: Educação 2018. Disponível em: representativa brasileira que você analisou nas
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibgearquivos/ unidades anteriores e nesta unidade?
00e02a8bb67cdedc4fb22601ed264c00.pdf. Acesso em 30 jun. 2020.
4 Leia o trecho da entrevista concedida pela deputada
a) Compare esse gráfico com o da página 95 e res- constituinte Rose de Freitas ao Serviço de Arquivo
ponda: Os representantes no Congresso Nacional Histórico do Senado Federal.
têm o perfil escolar semelhante ao da população
brasileira?
b) Como o fator da escolarização contribui para o Entrevistadora – Apesar de
Charles Sholl/Futura Press
[…] A opinião pública, transformada em poder comunicativo segundo processos democráticos, não
pode “dominar” por si mesma o uso do poder administrativo; mas pode, de certa forma direcioná-lo.
O conceito de soberania do povo resulta da apropriação e da conversão republicana da ideia de sobe-
rania, oriunda dos tempos modernos, e que inicialmente era ligada ao governo absolutista. O Estado, que
monopoliza os meios da aplicação legítima da força, é tido como uma concentração de poder, capaz de
sobrepujar todos os demais poderes deste mundo. Rousseau transpôs essa figura de pensamento, que
remonta a Bodin, para a vontade do povo unido, diluiu-a com a ideia de autodomínio de pessoas livres e
iguais e a integrou no conceito moderno de autonomia. Porém, apesar desta sublimação normativa, o
conceito de soberania manteve a ideia de uma incorporação no povo (que, no início, se encontrava pre-
sente fisicamente). Ao passo que, na interpretação republicana, o povo, que deve estar presente ao me-
nos virtualmente, é o titular de uma soberania que não pode ser delegada por princípio, ou seja, o povo
não pode deixar-se representar em sua qualidade de soberana. O poder constituinte baseia-se na prática
de autodeterminação das pessoas privadas, não na de seus representantes. O liberalismo contrapõe a is-
so uma ideia mais realista, segundo a qual, no Estado democrático de direito, o poder do Estado, que
emana do povo, é exercitado “em eleições e convenções e através de órgãos especiais da legislação, do
poder executivo e do judiciário” […].
Habermas, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. v. 2, p. 23-24.
Ato durante
Pedro Ladeira/Folhapress
a Marcha das
Margaridas em
Brasília (DF). Foto
de 2019. A Marcha
das Margaridas é
uma manifestação,
que ocorre desde
o ano 2000, de
trabalhadoras
rurais pela melhoria
das condições de
trabalho e pela
garantia de
seus direitos.
Manifestações,
marchas e
atos públicos
são formas
constitucionalmente
protegidas pelas
quais o povo
reivindica sua
soberania e
pressiona as
instituições
políticas pelo
cumprimento da
vontade popular.
102
Paulo Guereta/Photo Premium/Folhapress
Hospital de Campanha
em São Paulo (SP).
Foto de 2020. Durante a
pandemia de covid-19,
foi necessário ampliar
rapidamente a rede de
hospitais com leitos
de unidades de terapia
intensiva (UTIs).
O financiamento desses
hospitais por empresas
privadas acelerou as
obras, o que pode ser
tomado como exemplo
de parceria entre a
iniciativa privada e a
sociedade em geral.
A concepção de política deliberativa é uma tentativa de formular uma teoria da democracia a partir
de duas tradições teórico-políticas: a concepção de autonomia pública da teoria política republicana
(vontade geral, soberania popular), com a concepção de autonomia privada da teoria política liberal (in-
teresses particulares, liberdades individuais). Ela pode ser concebida, simultaneamente, como um meio-
-termo e uma alternativa aos modelos republicano e liberal. […] No entanto, embora o tema geral seja
o mesmo, há diferentes visões de democracia deliberativa, que conferem diferentes níveis dos processos
democráticos, e modos diferentes de compreender as fronteiras entre a autonomia privada e autonomia
pública. Embora não possamos prestar contas aqui das diferenciações internas pormenorizadas dessas
diferentes compreensões, há, por um lado, autores que buscam reformular internamente elementos do
modelo liberal de democracia, e por outro lado, há aqueles que refutam o paradigma liberal apresentan-
do novas alternativas. […] Mas, diferentemente de quem rejeita veementemente a tradição liberal, Ha-
bermas ainda busca conciliar as tradições liberal e republicana. No entanto, se a teoria deliberativa é
uma alternativa frente aos modelos liberal e republicano, o que ela introduz de novo? O modelo delibe-
rativo pode “fazer a diferença”? […]
Lubenow, Jorge Adriano. Esfera pública e democracia deliberativa em Habermas: modelo teórico e discursos críticos.
Kriterion, Belo Horizonte, v. 51, n. 121, p. 227-258, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-512X2010000100012&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 27 abr. 2020.
1. Com base nos excertos que você leu, reflita e responda: Que diferenciação Habermas
estabelece entre as perspectivas republicana e liberal no que se refere à forma pela qual
a soberania do povo se concretiza?
3. Como você relaciona os dois contextos registrados nas imagens, tendo como base o
pensamento de Habermas?
POPULARES
De acordo com o capítulo anterior, para o filósofo Jacques Rancière e para o
» Competências e cientista político Cláudio Couto, os movimentos populares são essenciais para a
habilidades
transformação das estruturas de uma sociedade. Como a tendência das classes
CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB7, CGEB9 e CGEB10. que ocupam o poder é se manter nele, realizando a manutenção institucional de
CECHSA1: EM13CHS101 e suas posições, cabe às organizações populares reivindicar medidas que assegu-
EM13CHS105. rem a proteção de suas liberdades e o acesso a seus direitos, conforme defendido
CECHSA5: EM13CHS502, também por Jürgen Habermas. Dessa maneira, organizar-se para reivindicar trans-
EM13CHS503 e
EM13CHS504.
formações também é uma forma de participar da política em uma democracia.
CECHSA6: EM13CHS601, A Carta Magna de 1988 assegura uma série de direitos sociais que, na prática,
EM13CHS602 e ainda não são a realidade de uma parte considerável da população brasileira. Ob-
EM13CHS605.
serve os gráficos a seguir.
CECNT2: EM13CNT206 e
EM13CNT207.
CELT7: EM13LGG703 e POPULAÇÃO BRASILEIRA NA EXTREMA POBREZA (1992-2016)
EM13LGG704.
35
30
25 23,55
21,63
19,56
20
Fonte de pesquisa: 14,58 14,15
15
Envolverde. Disponível em: 9,97 9,97
10
https://envolverde.cartacapital. 5,16
com.br/com-o-aumento-da- 5
extrema-pobreza-brasil- 0
retrocede-dez-anos-em-dois/.
92
93
95
96
97
98
99
20 1
02
03
04
05
06
07
08
09
11
12
13
14
15
16
0
20
20
20
20
20
20
20
20
19
19
19
20
20
19
19
20
20
20
19
20
8 7,26 7,33
6,76 6,88 6,75 20,4
7 20
6
5 15 12,3
4
10 7,7 8,8
3 7,2
2 5
1
0 0
2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 15 anos 18 anos 25 anos 40 anos 60 anos
ou mais ou mais ou mais ou mais ou mais
Fonte de pesquisa: O Estado de S. Paulo, 6 jan. 2019. Fonte de pesquisa: IBGE. Pnad Contínua 2017. Disponível em: https://
Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/ biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101576_informativo.pdf.
geral,deficit-habitacional-e-recorde-no- Acesso em: 23 abr. 2020.
pais,70002669433. Acesso em: 25 abr. 2020.
tas. Atuando em redes, constroem ações coletivas que agem como resistência à ex-
clusão e lutam pela inclusão social. […] Ao realizar essas ações, projetam em seus 1. Quais características da
imagem você consegue
participantes sentimentos de pertencimento social. Aqueles que eram excluídos pas-
relacionar com a defini-
sam a se sentir incluídos em algum tipo de ação de um grupo ativo.
ção de movimento so-
Gohn, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. cial proposta por Gohn?
Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 47, p. 335-336, 2011. Disponível em: Comente suas percep-
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020.
ções com os colegas.
Propriedades
rurais com:
A conexão que foi sendo construída, a partir da atuação da Igreja, entre o Estado
autoritário e a violência cometida contra os camponeses no Brasil e a caracterização
dos conflitos rurais utilizando a linguagem de direitos humanos permitiram aos di-
versos grupos […] furar o bloqueio construído pelo Estado e construir uma base de
apoio não apenas através do contato com ONGs transnacionais ligadas à Igreja Ca-
tólica, como também junto a organizações de direitos humanos locais e transnacio-
nais. A atenção dessas últimas já estava em grande parte voltada para a América La-
tina entre os anos 1970 e 1980, mas até então ela era dirigida primordialmente ao
problema das perseguições políticas dos regimes autoritários. O ativismo da Igreja,
sobretudo no Norte e Nordeste, deu impulso à criação de diversas associações de
proteção aos direitos humanos, a partir da constatação dos altos níveis de violência
e impunidade presentes nos conflitos rurais no Brasil.
Reis, Rossana Rocha. O direito à terra como um direito humano: a luta pela reforma agrária e o
movimento de direitos humanos no Brasil. Lua Nova, São Paulo, n. 86, p. 89-122, 2012.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452012000200004&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 jun. 2020.
INTERAÇÃO
1 2
Indígenas de várias etnias e de diversas regiões do Brasil em Criação do Conselho das Comunidades Tradicionais, em Ilhabela (SP).
frente ao Congresso Nacional, em Brasília (DF). Foto de 2019. Foto de 2019. O projeto de lei foi elaborado pelos caiçaras.
108
Movimentos no contexto urbano
Além dos movimentos sociais no contexto ru-
ral, há também movimentos sociais nas áreas
urbanas de nosso país, que surgiram de acordo
com o desenvolvimento dos centros urbanos.
Como no Brasil não existe uma tradição signifi-
cativa em relação ao planejamento das cidades,
1
Franklin de Freitas/Folhapress
visadas ou inseguras.
Com essa conjuntura, os movimentos urbanos
de maior adesão costumam ser aqueles que rei-
vindicam moradia digna, direitos trabalhistas e
melhorias no transporte público. Há também mo-
vimentos pela ampliação da oferta de saúde, de
educação e de segurança, demanda relativa à in-
fraestrutura que nem sempre é garantida às re-
giões periféricas, ferindo os direitos sociais asse-
gurados pela Constituição.
Nesta e na próxima página, vamos conhecer
as temáticas dos movimentos urbanos de dife-
rentes cidades do Brasil e também do mundo, as-
sim como suas principais reivindicações, que vão
Imagem de fundo: rob zs/Shutterstock.com/ID/BR
Nicolas Tucat/AFP
3 4
A ativista sueca Greta Thunberg discursa sobre mudanças Manifestantes do Movimento Colete Amarelo na França.
climáticas na Itália. Foto de 2019. Foto de 2019.
Stephen Eisenhammer/Reuters/Fotoarena
5 6
Manifestantes com guarda-chuvas participam da Marcha Global Manifestantes protestam contra a corrupção em Angola.
Anti-Totalitarismo em Hong Kong. Foto de 2019. Foto de 2018.
Marcelo Hernandez/Getty Images
Manifestantes protestam por uma nova Constituição para o Ativistas do Occupy Wall Street no centro comercial de Nova
Chile. Foto de 2018. York, Estados Unidos. Foto de 2018.
INTERAÇÃO
[Stefan] Wray (1998) classifica três formas de ativismo na internet: ativismo com-
putadorizado, desobediência eletrônica civil e hackeamento politizado. O ativismo
computadorizado é fruto de uma interseção entre movimentos sociais políticos com
a comunicação mediada pelo computador. […] O ativismo computadorizado em um
nível mais profundo, isto é, para além do compartilhamento de informações e do diá-
logo entre ativistas, é a “infoguerra”, na qual a internet é utilizada para incitar a ação
em escala global.
A desobediência civil eletrônica é uma forma de ação direta e descentralizada, no
meio eletrônico, que promove o bloqueio virtual de sites. […]
Já o hackeamento politizado é uma forma de ação política diferente das anterio-
res, pois não envolve mobilização e participação. Ao contrário disso, depende do ano-
nimato de seus membros e muitas vezes pode ser realizada individualmente. Outra
diferença entre o hacktivismo politizado e a desobediência civil é que, enquanto esta
última opera em áreas ambíguas da lei, o hacktivismo muitas vezes é inquestionavel-
mente ilegal […].
AlcântArA, Lívia Moreira de. Ciberativismo e movimentos sociais: mapeando discussões. Aurora:
revista de arte, mídia e política, v. 8, n. 23, p. 81, 2015. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/aurora/article/view/22474/18888. Acesso em: 21 abr. 2020.
2 Retome os movimentos sociais apresentados nas (Adaptado de: Cirne, S. Somos todos ativistas.
páginas 108, 109 e 110. Galileu, abr. 2016. p. 41.)
Circulação Comunidade escolar e redes sociais. 3. Anote ou grave a entrevista para utilizar os da-
dos obtidos na biografia. Além disso, pesquise
O trecho a seguir faz parte da biografia do jogador de dados históricos do período no qual se situam os
futebol Sócrates. Além de sua relevância na história do fatos relatados pela pessoa biografada para con-
futebol brasileiro, Sócrates teve um papel importante no textualizar, em seu texto, o momento retratado.
movimento Diretas Já.
4. A biografia deve conter estes elementos:
• título com o nome pelo qual a pessoa biografada
é conhecida;
Domicio Pinheiro/Estadão Conteúdo
Revisão e reescrita
1. Releia seu texto, observando os aspectos a seguir.
Democracia em xeque
Para começar
Nesta unidade, estudamos os significados de autoritarismo e democracia no
contexto da história brasileira da segunda metade do século XX até os dias de
hoje, compreendendo a importância dos movimentos sociais para a construção e
a estabilidade da democracia.
Após o final da Guerra Fria, os regimes democráticos predominaram em mui-
tos países do mundo, ainda que alguns se mantivessem sob regime autoritário.
Contudo, no presente, estudiosos têm detectado uma mudança de cenário em
grande parte do mundo ocidental: a democracia liberal tem sido questionada por
uma corrente política denominada extrema direita e líderes que representam es-
se pensamento têm ascendido ao poder. Nesta seção, faremos uma análise em
jornais e revistas para entender como esse fenômeno tem sido visto pela mídia
tradicional, utilizando, para isso, a análise de discurso multimodal.
Emmanuel Dunand/AFP
Victor Orban, primeiro-
-ministro da Hungria, é um
dos líderes de extrema
direita que chegou ao
poder. Em mais de dez
anos no cargo, Orban
promoveu a fragilização
das instituições do Estado
democrático na Hungria.
Na foto, o governante
discursa no Parlamento da
União Europeia, na
Bélgica, em 2017.
O problema
O mundo vivencia um momento de questionamento da democracia liberal
e de ascensão ao poder de líderes de extrema direita, com inspiração autoritá-
ria. Que países têm líderes desse tipo e que ações os caracterizam? Como di-
ferentes jornais e revistas informam sobre essas ações e como se posicionam
diante delas?
A investigação
• Prática de pesquisa: análise de mídias tradicionais (princípios de análise de
discurso multimodal)
Material
• Folhas para anotações, lápis e caneta
• Computador com acesso à internet
• Jornais e revistas impressos
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE
Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB3, CGEB4,
CGEB5, CGEB7, CGEB8, CGEB9 e
CGEB10.
Competências específicas e
habilidades das áreas:
CECHSA1: EM13CHS101,
EM13CHS103, EM13CHS104 e
EM13CHS106.
CECHSA5: EM13CHS501,
EM13CHS502, EM13CHS503 e
ORGANIZAR IDEIAS
116
Unidade
4
Direitos sociais 10
Múltiplos desafios 11
rafapress/Shutterstock.com/ID/BR
117
10
DIREITOS
CAPÍTULO
SOCIAIS
A Constituição Federal de 1988 tem como um de seus principais fundamentos
» Competências e a “dignidade da pessoa humana”, que é assegurada, sobretudo, pelos direitos so-
habilidades
ciais, isto é, os direitos que o Estado se obriga a garantir de forma igualitária a to-
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10. dos os cidadãos. Os direitos sociais previstos na Constituição são: educação, saú-
CECHSA1: EM13CHS101. de, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social,
CECHSA5: EM13CHS501, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados.
EM13CHS502 e A ideia de direitos sociais está diretamente associada ao pleno acesso à cida-
EM13CHS503.
dania, que, por sua vez, pressupõe a igualdade entre todos os indivíduos que
CECHSA6: EM13CHS603 e
compõem a sociedade. Durante a crise que afetou o país e provocou o isolamen-
EM13CHS605.
to social em razão da pandemia de covid-19, foi necessário que os governos crias-
CECNT1: EM13CNT104.
sem um plano emergencial de renda para auxiliar as famílias mais carentes. Nos
CECNT3: EM13CNT310.
grandes centros urbanos, a periferia apresentava índices mais elevados de infec-
CEMT1: EM13MAT102.
ção pelo vírus, demonstrando que as dinâmicas internas de nossa sociedade criam
CEMT4: EM13MAT406 e
EM13MAT407. e reforçam uma grande discrepância entre as formas pelas quais seus diferentes
grupos e indivíduos têm acesso à cidadania.
A essa discrepância, como visto anteriormente, damos o nome de desigualda-
de social. Nesse sentido, os direitos sociais assegurados pela Constituição federal
e sua aplicação prática a todos os cidadãos, de forma gratuita e sem distinções,
representam um ganho social conside-
Luciana Whitaker/Pulsar Imagens
1. Em sua opinião, quais grupos e indivíduos têm mais dificuldade de acesso aos
direitos sociais garantidos pela Constituição?
2. Como você percebe seu acesso aos direitos sociais listados no primeiro
parágrafo?
Pôster da campanha Outubro Rosa, em 2020. Um dos principais Pôster da campanha nacional de combate à depressão, em 2019.
objetivos dessa campanha é incentivar o diagnóstico precoce do Uma das propostas dessa campanha é incentivar os jovens
câncer de mama, aumentando, assim, as chances de recuperação brasileiros a aproveitar mais os momentos de convívio com a
do paciente em relação à doença. família e os amigos.
(%)*
14 13,5 Inflação média Planos de saúde
12 11,2
10
8,2
8
6
4,3
* Dados do IPCA, em %. 3,8
4
Fonte de pesquisa: IBGE. Índice Nacional de 2,9
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/ 2
estatisticas/economicas/precos-e-
custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao- 0
consumidor-amplo.html?=&t=o-que-e. 2017 2018 2019
Acesso em: 2 maio 2020.
Adilson Secco/ID/BR
(%)
O direito à educação é assegurado às pessoas por diversos dispositivos legais que 100
estipulam normas, diretrizes e formas pelas quais o Estado, em conjunto com as fa-
90
mílias e as comunidades, se obriga a oferecer educação aos jovens e às crianças do
Brasil. Cabe ao Estado oferecer educação escolar pública (universal e gratuita) e de 80
qualidade a toda a população em idade escolar (dos 4 aos 17 anos), bem como àque- 70
les que não tiveram acesso ao Ensino Fundamental e Médio na idade adequada.
60
Apesar disso, dados do IBGE, obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
micílios Contínua (Pnad Contínua), em 2018, apontavam que apenas 47,4% de bra- 50
sileiros com 25 anos ou mais haviam concluído o Ensino Médio. Esse dado constatou 40
uma realidade alarmante: aproximadamente 70,3 milhões de brasileiros, ou seja, um
30
terço da população nacional, não concluíram a Educação Básica. O número de pes-
soas que concluíram a Educação Básica, como se pode observar no mapa abaixo, era 20
maior na Região Sudeste do que nas demais regiões do Brasil e com uma porcenta- 10
gem maior de mulheres e de pessoas brancas que concluíram o Ensino Médio. 0
A evasão escolar é um dos grandes desafios da educação na atualidade. Em 2018, 2017 2018 2017 2018
737 mil jovens brasileiros, entre 15 e 17 anos, encontravam-se fora das escolas. Es- Homem Mulher
sa situação era ainda mais frequente entre os jovens de famílias mais pobres. Os mo- Trabalho ou procura por trabalho
tivos para a evasão escolar são diversos, entre eles o acesso limitado às instituições Afazeres domésticos e cuidados de pessoas
Não tem interesse
de ensino, especialmente em periferias e zonas rurais; dificuldade de conciliar os es- Já concluiu o nível de estudo que desejava
Falta de dinheiro para pagar despesas
tudos com o trabalho; gravidez e maternidade. Outros motivos
A educação pública no Brasil tem enfrentado diversos problemas para garantir
Fonte de pesquisa: IBGE. Pnad Contínua:
seus princípios de qualidade e universalidade, muitos deles de ordem estrutural, co-
Educação 2018. Disponível em: https://
mo os baixos investimentos na área e a falta de priorização de políticas públicas que agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/
visem à ampliação da oferta e às melhorias na qualidade de ensino. com_mediaibge/arquivos/
00e02a8bb67cdedc4fb22601
ed264c00.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020.
PERCENTUAL DE PESSOAS DE 25 ANOS DE IDADE OU MAIS QUE
CONCLUÍRAM AO MENOS A EDUCAÇÃO BÁSICA OBRIGATÓRIA, SEGUNDO
SEXO, COR OU RAÇA E AS GRANDES REGIÕES (2018)
João Miguel A. Moreira/ID/BR
60ºO 40ºO
Equador 0º
Mulher
NORTE 46,8 48,2 49,5
40,6 42,1 43,6 Homem
43,2 43,9 45,0
NORDESTE
36,1 37,2 38,9
Branco
53,5 54,5 55,8
Preto ou pardo
CENTRO-OESTE 37,3 38,9 40,3
46,4 47,6 48,7
SUDESTE
OCEANO 51,1 52,2 53,6 20ºS
PACÍFICO
Trópic
o de Ca
pricór
n io
OCEANO Fonte de pesquisa: IBGE. Pnad Contínua:
SUL Educação 2018. Disponível em:
Ano ATLÂNTICO
2016 44,4 45,0 45,7 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/
2017 com_mediaibge/arquivos/00e02a8bb
0 665 km
2018 67cdedc4fb22601ed264c00.pdf.
Acesso em: 20 abr. 2020.
Ilustrações: Partes/ID/BR
Bolsa Família
O que é
É um programa de distribuição direta de renda que garante uma renda mínima
às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. O valor do benefício
concedido leva em consideração variáveis relacionadas com a renda, o número
e a idade dos integrantes da família.
Quem pode receber
Famílias que tenham renda mensal per capita de até R$ 178,00.
Quais são as condições
A família deverá ter em sua composição gestantes, crianças ou adolescentes
de 0 a 17 anos.
Crianças de 6 a 17 anos devem frequentar a escola.
Crianças com até 7 anos devem ter todas as vacinações em dia.
Gestantes e nutrizes devem fazer acompanhamento pré-natal e pós-natal.
Bolsa Verde
O que é
O Programa de Apoio à Conservação Ambiental, conhecido como Bolsa
Verde, visa ajudar famílias que vivem em situação de extrema pobreza e
que desenvolvam atividades de conservação ambiental.
Quem pode receber
Famílias com renda bruta mensal per capita de até R$ 85,00 que
exerçam atividades de conservação ambiental.
Quais são as condições
Participar do Bolsa Família.
A área na qual a família desempenha sua atividade deve estar de
acordo com as leis ambientais e possuir instrumento de gestão.
O programa oferece R$ 300,00 trimestralmente às famílias beneficiárias.
Fontes de pesquisa: Caixa Econômica Federal. Bolsa Família. Disponível em: http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-familia/Paginas/default.aspx;
Minha Casa Minha Vida. Disponível em: http://www.caixa.gov.br/voce/habitacao/minha-casa-minha-vida/Paginas/default.aspx; Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil (Peti). Disponível em: http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/peti/Paginas/default.aspx; Bolsa Verde. Disponível em: http://www.
caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-verde/Paginas/default.aspx; Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais. Disponível em: http://www.
caixa.gov.br/poder-publico/programas-uniao/area-rural/fomento-atividades-produtivas-rurais/Paginas/default.aspx; Ministério da Economia.
Benefício assistencial à pessoa com deficiência (BPC). Disponível em: https://www.inss.gov.br/beneficios/
beneficio-assistencia-a-pessoa-com-deficiencia-bpc/. Acessos em: 3 maio 2020.
[…] o pensamento neoliberal não surgiu nos anos de 1970, ele originou-se nos de-
bates econômicos europeus do início do século XX. Segundo os representantes da
Escola Austríaca de Economia, especialmente Friedrich Hayek, a crise econômica era
consequência do excessivo poder do movimento operário, uma vez que as reivindi-
cações dos sindicatos por aumento salarial e de gastos sociais teriam comprometido
a acumulação capitalista. A solução, para os liberais, encontrava-se na adoção de
medidas como estabilidade monetária, diminuição dos gastos sociais e restauração
da taxa de desemprego, o que enfraqueceria a capacidade de reivindicação dos tra-
balhadores e, assim, desestabilizaria o poder dos sindicatos. As ideias lançadas pelos
liberais permaneceram no âmbito teórico por muitos anos, até a crise da década de
1970 e a recessão no mundo capitalista avançado.
[…]
Gros, Denise B. Institutos liberais, neoliberalismo e políticas públicas na Nova República.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 19, n. 54, p. 143-159, fev. 2004.
1 Charge é uma ilustração artística que geralmente c) Entrevistem pelo menos três alunos que tenham
apresenta uma crítica sobre determinado tema. Ob- abandonado a escola, buscando levantar os
serve a charge e faça o que se pede. motivos de tal ação, bem como suas opiniões a
respeito do que poderia ser feito para alterar
essa realidade.
Angeli/Fotoarena
d) Com base no levantamento proposto nos itens
anteriores, elaborem um plano de ação para evi-
tar novos casos de evasão escolar na escola onde
estudam. Lembrem-se de levar em consideração
os recursos disponíveis em sua comunidade es-
colar e de avaliar, com a coordenação da escola,
a viabilidade desse plano de ação.
4 (Enem)
Muito se tem discutido, em diversas mídias, sobre os rumos da democracia na atualidade, ora
como crítica, ora como instrumento de legitimação de determinada forma de governo. Em sua acep-
ção mais tradicional, a palavra democracia se refere à forma de governo que tem como principal
característica a escolha dos governantes pelo povo. Apesar disso, esse conceito sofreu diversas res-
significações ao longo da história, passando a abarcar (ou rejeitar) uma série de novas implicações.
A escolha dos governantes pelo povo, por exemplo, supõe, por extensão, a ideia de soberania
popular e, ao mesmo tempo, o pressuposto de igualdade entre todos os que podem escolher seus
representantes. Apesar disso, as dinâmicas internas de nossa sociedade colocam em cheque a
ideia de igualdade presumida em um regime democrático.
À luz dessas inúmeras ressignificações e contradições, muitos poderão se perguntar: Vivemos
de fato em uma democracia? O que constitui uma democracia na atualidade?
No trecho de texto a seguir, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz comenta suas percep-
ções a respeito da Constituição de 1988 e da democracia no Brasil atual.
DESAFIOS
» Competências e
Ao longo deste volume, você foi convidado a analisar, de modo crítico, a socie- habilidades
dade em que vive, observando seus aspectos positivos, os aspectos que precisam CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
ser melhorados e o modo como essas características impactam sua vida e a vida
CECHSA1: EM13CHS103,
de sua comunidade. Para aprimorar sua capacidade de análise, foram mobiliza-
EM13CHS104 e EM13CHS106.
dos conceitos, teorias e posicionamentos de diferentes cientistas que se propu-
CECHSA5: EM13CHS501,
seram (e se propõem) a estudar nossa sociedade. EM13CHS502, EM13CHS503
Agora, você vai aprofundar essas percepções investigando grandes desafios e EM13CHS504.
do Brasil contemporâneo: a distribuição de renda e os impactos nas áreas da se- CECHSA6: EM13CHS601 e
EM13CHS606.
gurança pública e de acesso à cultura. Esse recorte foi escolhido por proporcionar
CELT1: EM13LGG101,
a visibilidade de questões cidadãs e éticas que você já conhece. EM13LGG102 e EM13LGG104.
O trecho de texto a seguir apresenta algumas considerações sobre a situação CEMT1: EM13MAT102.
de pobreza e seus impactos sociais. CEMT4: EM13MAT406 e
EM13MAT407.
rafapress/Shutterstock.com/ID/BR
tóricos – populações tradicionais – ou familiares espe-
cíficos, sejam associadas a momentos no ciclo de vida
– casais jovens com crianças – ou condições de vulne-
rabilidade física ou social – doenças, isolamento,
drogadição, entre tantas outras.
[…]
Fonseca, Ana et al. Do Bolsa Família ao Brasil sem Miséria: o
desafio de universalizar a cidadania. In: Montali, Lilia (org.).
Proteção social e transferência de renda. Caderno de
Pesquisa NEPP. Campinas: Unicamp, Núcleo de Estudos de
Políticas Públicas (NEPP), n. 86, p. 52-79, jun. 2018. Disponível Cartão do programa Bolsa
em: https://www.nepp.unicamp.br/upload/documents/ Família de distribuição de
Drogadição: uso abusivo renda para famílias em
publicacoes/4f91a0e745befe346ba37455bba17335. de substâncias ilícitas.
pdf#page=52. Acesso em: 27 abr. 2020. situação de pobreza e de
extrema pobreza.
INTERAÇÃO
tante, especialmente nas décadas posteriores à abertura do regime militar. Como 1. Qual é a proporção en-
forma de analisar e compreender o período em que vigorou a violência de Estado tre a taxa de homicídios
praticada durante a ditadura, os estudos avançaram muito em diferentes áreas de jovens negros e a de
do conhecimento, como psicologia, estatística, antropologia e sociologia. jovens não negros?
Atualmente, os indicadores sobre segurança pública, criminalidade e violência 2. Escreva um parágrafo
são construídos com base em dados coletados e analisados pelas Secretarias de analisando essa pro-
Segurança Pública estaduais. Esses dados são disponibilizados, geralmente, pe- porção com base nas
lo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e, com base neles, as unidades reflexões que você já
federativas podem organizar seus planos de ação para contingenciar a violência fez sobre racismo es-
e a criminalidade. trutural e desigualdade
Observe a seguir, alguns dos indicadores sobre segurança pública e juven- social. Compartilhe seu
texto com os colegas.
tude.
Adilson Secco/ID/BR
Ceará Rio Grande do Norte Taxa de homicídios de jovens
(%)
50
140,2 152,3 40
43,1
Pernambuco 30
20 16
133,0 10
0
Negros Não negros
Crescimento da taxa de
homicídios de jovens (2007-2017)
(%)
50
126,3 128,6 40
33,1
30
Acre Alagoas
20
Fonte de pesquisa: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Atlas da violência 2019. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784. Acesso em: 29 abr. 2020.
PARA EXPLORAR
REFLEXÃO
Redirecionar a política de droga para a redução da demanda, dado que até hoje
o foco na contenção da oferta não conseguiu reduzir o consumo e tem efeitos
2 deletérios sobre a segurança pública, como corrupção, violência policial,
conflitos dentro e entre quadrilhas, execução de usuários com dívidas, alto
número de prisões de pequenos traficantes.
PARA EXPLORAR
Acesso, Difusão e Criação Políticas Culturais
» Plano Nacional de Cultura
Conheça os indicadores sociais
utilizados para subsidiar os
planejamentos de cada meta
no site oficial do Plano Nacio-
nal de Cultura, disponível em:
http://pnc.cultura.gov.br/.
Gestão Pública Espaços Culturais
Acesso em: 29 abr. 2020.
Ribeirinhos da comunidade do Lago do Catalão em Iranduba (AM). Estudantes do Instituto Federal em Rondonópolis (MT). Foto de
Foto de 2020. Apoiar e promover publicamente a valorização da 2018. Ampliar em pelo menos 100% (em relação a 2012) o total
diversidade cultural e o respeito, com foco nos povos indígenas e de pessoas beneficiadas anualmente por ações de fomento à
outras comunidades tradicionais é a Meta 6 do PNC. pesquisa, formação, produção e difusão do conhecimento faz
parte da Meta 19 do PNC.
Elisabete Alves/Secretaria Especial
da Cultura/Governo Federal
Cerimônia de abertura da III Conferência Nacional de Cultura em Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU) em Coari (AM). Foto de
Brasília (DF). Foto de 2013. As conferências nacionais de cultura 2019. A construção de CEUs e a criação de mil espaços que integrem
incentivam a participação da sociedade na elaboração e avaliação lazer, esportes, formação profissional, inclusão digital e serviços de
das políticas públicas de cultura, objetivo da Meta 49 do PNC. assistência social fazem parte da Meta 33 do PNC.
Rogério Reis/Pulsar Imagens
5 6
Casario que abriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Samba de Roda em Vera Cruz (BA). Foto de 2019. Eventos como
Nacional (Iphan) em Pirenópolis (GO). Foto de 2018. A criação de esse contribuem para a realização da Meta 4, política de
15 mil pontos de cultura, em parceria entre os governos federais, valorização dos conhecimentos e expressões das culturas
estaduais e municipais, é a Meta 23 do PNC. populares e tradicionais, e da Meta 18, que visa à qualificação de
pessoas em cursos, fóruns, oficinas e seminários sobre gestão
cultural e demais áreas da cultura.
1 Neste capítulo, você conheceu alguns desafios en- 4 Retome as metas do PNC e faça o que se pede.
frentados pela sociedade brasileira nos quesitos a) Observe as fotos e as iniciativas apresentadas na
renda, segurança pública e acesso à cultura. Com página 135: Há alguma ação semelhante no mu-
base nos debates e dados analisados, escreva uma nicípio e no estado onde você vive? Realize uma
dissertação relacionando esses três itens e a sua pesquisa para responder a essa questão.
vida, como jovem cidadão brasileiro. Você pode abor- b) Se você fosse um governante, que ações realiza-
dar, por exemplo, o modo como as políticas públicas ria em sua comunidade para garantir a todos os
nessas áreas refletem em seu cotidiano. Depois, cidadãos o acesso à cultura? Como você faria isso?
compartilhe seu texto com os colegas. Faça uma pesquisa em publicações impressas ou
digitais para elaborar um plano de ação passo a
2 Faça uma pesquisa dos indicadores sociais e das passo, como se o seu projeto fizesse parte das
políticas públicas existentes ou em planejamento na políticas públicas locais. Apresente seu projeto
região onde você mora. Com base nos resultados da para a turma.
pesquisa, responda às questões a seguir.
a) Quais são os impactos que as políticas públicas 5 (UEL) Sobre violência e criminalidade no Brasil, as-
tiveram no município e no estado onde você sinale a alternativa correta.
reside? a) As políticas repressivas contra o crime organiza-
b) Em sua opinião, quais foram os três impactos do são suficientes para erradicar a violência e a
principais? Quais foram os critérios utilizados para insegurança nas cidades.
que você chegasse a essa conclusão? b) As altas taxas de violência e de homicídios contra
c) Em sua opinião e com base nas informações jovens em situação de pobreza têm sido revertidas
obtidas sobre indicadores sociais e políticas pú- com a eficácia do sistema prisional.
blicas onde você vive, há aspectos que precisam c) As desigualdades e assimetrias nas relações
ser melhorados? Quais? sociais, a discriminação e o racismo são fatores
que acentuam a violência no Brasil.
3 Qual é a situação da segurança pública em seu mu- d) A violência urbana contemporânea é resultado
nicípio? E no seu estado? Forme dupla com um cole- dos choques entre diferentes civilizações que se
ga e pesquisem os principais indicadores sociais manifestam nas metrópoles brasileiras.
sobre esse tema, referentes ao estado e ao município e) O rigor punitivo das agências oficiais no combate
onde vivem. Concluída a pesquisa, sigam as orienta- à criminalidade impede o surgimento de justicei-
ções abaixo. ros e milícias.
a) Sistematizem os dados em tabelas ou gráficos,
escrevendo parágrafos explicativos para cada 6 (FGV) O Plano Nacional de Cultura (PNC), instituído
item. pela Lei n. 12 343, de 2 de dezembro de 2010, tem
b) Apresentem os resultados para a turma e ouça por finalidade o planejamento e a implementação
as descobertas realizadas por outras duplas. de políticas públicas voltadas à proteção e à promo-
ção da diversidade cultural brasileira. Elaborado por
c) As pesquisas que realizaram refletem as ações
meio de ampla participação da sociedade e dos
indicadas pelo Ipea para 2023? Analisem os dados gestores públicos, o Plano estabelece metas para
obtidos com a pesquisa para responder. Se os um período de dez anos. Quanto ao tema, analise os
dados não indicarem uma resposta significativa, objetivos a seguir:
retomem a etapa de pesquisa, buscando infor-
I. profissionalizar e especializar a presença da arte
mações sobre o tema em publicações impressas
e da cultura no ambiente educacional;
ou digitais.
II. reconhecer e valorizar a diversidade cultural,
d) O que precisa ser melhorado em relação à segu-
étnica e regional brasileira;
rança pública do município e do estado onde vi-
vem? Elaborem uma lista coletiva, utilizando os III. ampliar a presença e o intercâmbio dos gestores
resultados das pesquisas realizadas pelas duplas, culturais brasileiros no mundo contemporâneo;
e encaminhem-na para a Secretaria de Seguran- IV. consolidar processos de consulta e participação
ça Pública do estado onde vivem. Lembrem-se de da sociedade na formulação das políticas culturais.
escrever um texto explicativo, contando sobre os São objetivos do Plano Nacional de Cultura somente:
debates e as pesquisas realizados. Solicitem, a) I e II;
ainda, uma devolutiva do governo, para que pos-
b) I e III;
sam acompanhar os impactos da ação empreen-
dida por vocês. c) I e IV;
e) Compartilhem com a comunidade escolar as in- d) II e IV;
formações resultantes dessa ação. e) III e IV.
Avaliar e discutir diferentes projetos po- 5. Realizem o debate na data combinada. O(A) me-
Objetivo líticos por meio de argumentos consis- diador(a) deverá apresentar os participantes, o
tentes. tema e as regras de participação e sortear a ordem
de apresentação dos debatedores.
Circulação Sala de aula.
6. O debate pode ser realizado de diversas maneiras.
A seguir, sugerem-se algumas etapas. Façam uma
Rubens Chaves/Pulsar Imagens
pesquisa.
• Pergunta do(a) mediador(a) ou do público sobre
o tema abordado, sendo a primeira pergunta
do(a) mediador(a).
• Resposta de cada um dos grupos, apresentando
seus argumentos e propostas.
• Segunda resposta dos grupos em relação aos
apontamentos do grupo anterior.
• Encerramento final pelo(a) mediador(a), que de-
ve sintetizar os argumentos apresentados pelos
Estudantes realizam debate com professores em
participantes, destacar o tema do debate e agra-
São Paulo (SP). Foto de 2017.
decer a presença aos participantes.
FUTURO: A PERIFERIA
Ao longo deste livro, dialogamos sobre ética e cidadania com foco no Brasil e
» Competências e na comunidade onde você vive. Analisamos problemas estruturais – construídos
habilidades
historicamente – e também como a democracia se constitui em nosso país. Mas
CGEB1, CGEB2, CGEB3,
CGEB4, CGEB5, CGEB8, e as possibilidades de futuro? Pensando nelas, vamos conhecer algumas inicia-
CGEB9 e CGEB10. tivas realizadas por indivíduos e coletivos que ocupam espaços nem sempre va-
CECHSA1: EM13CHS101. lorizados: as periferias.
CECHSA5: EM13CHS501, Espaço geográfico, local de fala, identidade, a periferia é formada pela multiplici-
EM13CHS502 e
dade de percepções, vivências e experiências. Caracterizada, na maior parte das ve-
EM13CHS503.
zes, como um negativo dos privilégios sociais, a periferia é, sim, um dos grandes em-
CECHSA6: EM13CHS603 e
EM13CHS605. blemas da desigualdade social no país e de todas as mazelas que dela decorrem,
mas é também a vida e a luta cotidiana de milhares de brasileiras e brasileiros.
A violência é uma das ideias mais comumente associadas à periferia, mas cer-
tamente não é a única a defini-la. Talvez um dos principais conceitos para com-
preendê-la seja a desigualdade, tanto no que se refere à distribuição de acessos
e privilégios sociais como também às diversas realidades periféricas pelo Brasil,
tendo em vista que pensar periferias no Nordeste, por exemplo, exige reflexões
e ferramentas distintas das necessárias para refletir sobre as experiências peri-
féricas do Sudeste.
As desigualdades sociais, como vimos anteriormente, configuram-se em um
dos principais desafios para o pleno acesso à cidadania e para a construção de
uma realidade plenamente democrática. Em 2020, por exemplo, as regiões peri-
féricas foram as mais afetadas pela pandemia de covid-19. O trecho de reporta-
gem a seguir comenta sobre esse dado.
Múltiplas identidades
Ao considerarmos as experiências perifé-
Tom Vieira Freitas/Fotoarena
Mauro Pimentel/AFP
140
VOZES PERIFÉRICAS
Apesar da estigmatização das produções culturais periféricas, pode-se notar,
por meio da visibilidade em redes socais de alguns artistas oriundos de perife-
rias, bem como da extensa utilização de suas músicas em trilhas sonoras de no-
velas, que essas produções culturais têm adquirido grande destaque no cenário
musical brasileiro.
Se, por um lado, a popularização de ritmos como o rap e o funk tem contribuí-
do para diminuir estigmas e levar as vozes periféricas para além dos limites da
periferia, por outro, também evidencia uma lógica que torna exótica e, ao mesmo
tempo, oculta as identidades periféricas.
Por “tornar exótica” entende-se a valorização de aspectos idealizados dos co-
tidianos periféricos como algo diferente, cuja existência é condicionada à apre-
ciação das classes dominantes como um passatempo ou lazer. Essa perspectiva,
além de contribuir para a perpetuação de estereótipos, invisibiliza todos os de-
mais aspectos do cotidiano das periferias que, porventura, não sejam tão agra-
dáveis à sensibilidade das classes mais favorecidas da sociedade.
Um outro aspecto a ser levado em consideração nessa dinâmica de projeção e
ocultação é a forma de representação televisiva da periferia, elaborada geralmen-
te a partir de uma visão externa, que enxerga o sujeito periférico não como um
igual, mas como um outro, pertencente a um grupo distinto. Esse outro é, na maio-
ria das vezes, representado de forma subalterna não como um sujeito ativo de
suas próprias narrativas, mas, muitas vezes, como um objeto passivo diante das
intempéries do destino.
Subjetividades
A projeção das musicalidades periféricas tem contribuído para que outras vo-
zes marginalizadas também sejam ouvidas. É o caso, por exemplo, de artistas mu-
lheres e LGBTQI+ em periferias, que sofrem uma dupla marginalização: por seu
local de origem e pelo gênero e/ou sexualidade com o qual se identificam.
A cena musical periférica e o rap, em especial, se configuraram como ambien-
tes predominantemente masculinos e heteronormativos, muitas vezes reprodu-
tores de estereótipos e preconceitos relacionados a gênero e sexualidade. A pro- Heteronormativo: refere-se a valores,
dução musical de artistas mulheres e LGBTQI+ desafia essa lógica da ações e conceitos que são pautados
heteronormatividade masculina e dá voz às subjetividades das periferias, retra- com base em um referencial relacio-
nado à heterossexualidade.
tando suas vivências, dores, violências, lutas e empoderamentos.
Bruno Santos/Folhapress
Karol Conka, uma das vozes mais emblemáticas do rap feminino na A cantora e ativista trans Linn da Quebrada faz do seu corpo e de sua
atualidade. Com suas letras e batidas fortes, a rapper relata o cotidiano arte um instrumento de resistência contra a violência direcionada a
e a luta de mulheres negras na periferia. São Paulo (SP). Foto de 2018. corpos negros, trans e periféricos. São Paulo (SP). Foto de 2020.
Um dos grandes marcos dessa literatura periférica são os saraus, entre os quais
podem-se citar os saraus da Cooperifa, que ocorrem desde 2001 na zona sul da
cidade de São Paulo, como um dos precursores desse movimento. Nesses saraus,
espaços comuns são ressignificados enquanto palco de expressão literária, no
qual os poetas da periferia apresentam suas obras.
A iniciativa dos saraus de periferia tem se disseminado por diferentes regiões
do Brasil, atraindo públicos cada vez mais diversificados que não se restringem
somente aos que habitam em regiões periféricas. Tem inspirado também outros
Perifacon, evento voltado à cultura
nerd e geek na periferia, em São movimentos que têm por objetivo divulgar as produções literárias das periferias
Paulo (SP). Foto de 2020. feitas a partir da ótica e da subjetividade dos que nelas vivem.
Roberto Vazquez/Futura Press
142
EMPREENDEDORISMO PERIFÉRICO
Nos últimos anos, diversas ações empreendedoras originadas nas periferias
brasileiras têm chamado a atenção de pesquisadores do mercado financeiro e tam-
bém da população em geral para uma das inúmeras contradições que caracterizam
esses espaços: apesar da exclusão social e financeira, as periferias não se configu-
ram como espaços econômicos inférteis. Essas ações vêm demonstrando que elas
têm um potencial econômico com características específicas e que é possível, sim,
empreender nessas regiões não somente como alternativa à crescente escassez
de trabalhos formais no país, mas também como forma de gerar impactos sociais
positivos que transformem a realidade da comunidade.
A matéria a seguir, publicada em novembro de 2019, pela plataforma Ecoa,
comenta sobre a primeira edição do G10 Favelas, iniciativa de lideranças comu-
nitárias periféricas que, à semelhança das reuniões dos blocos econômicos mais
poderosos do mundo, buscam discutir formas de cooperação econômica entre as
comunidades de todo o país.
G10 favelas. Fac-símile: ID/BR
AÇÃO E CIDADANIA
Ação local
Como visto anteriormente, as ações de empreendedorismo social têm um gran-
de potencial para a resolução de situações-problema locais, bem como para o in-
vestimento em medidas de médio e longo prazo que causem impactos positivos
e transformem a realidade de determinada comunidade.
À semelhança do que é feito nessas ações, reúna-se com mais quatro colegas
para elaborar uma ação que tenha o objetivo de resolver ou minimizar alguma situa-
ção-problema da comunidade em que vocês vivem ou na qual a escola está inserida.
Para isso, vocês deverão:
a. identificar uma situação-problema em sua região;
b. elaborar um plano de ação com estratégias para a resolução ou a minimização
dessa situação-problema;
c. elaborar o cronograma do plano de ação;
d. identificar parcerias que possam auxiliar na resolução dessa situação-problema;
e. levantar os custos e prospectar recursos financeiros para viabilizar as estra-
tégias elaboradas na etapa 2;
f. seguir as etapas estipuladas no cronograma do plano de ação;
g. avaliar os resultados alcançados.
1 No excerto da entrevista a seguir, concedida à Re- tivos prevenir pela dissuasão a ocorrência de bailes
vista Cult, em 2017, a cantora e ativista Linn da em locais públicos.
Quebrada comenta sobre seu ativismo diante das
a) A realização de festas e eventos em espaços
violências da sociedade.
públicos, desde que atendendo a determinadas
legislações, é considerada uma atividade permi-
tida pela lei. Apesar disso, em muitas cidades,
[…]
projetos de lei e ações policiais, como a descrita
O que é terrorista de gênero? anteriormente, buscam coibir esse tipo de ativi-
Eu lancei essa ideia porque eu acho que a violên- dade. Em sua opinião, por que isso acontece?
cia da sociedade com alguns corpos, corpos como o b) Em sua opinião, o emprego da violência da polícia
meu, pretos, transviados, de quebrada, essa violência militar contra a população civil em ações que não
está posta. É necessário responder também com ter- incorram em crime se justifica? Por quê?
ror, com agressividade, colocando o meu corpo como
arma, como protesto, manifesto, como pólvora diante 3 (Unicamp) Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo
desse sistema que é violento cotidianamente. Literário”, um manifesto do escritor Ferréz.
Eu penso, antes de tudo, que o “choque” é mais
consequência e não causa do conservadorismo. Co-
mo é viver no Brasil e na zona leste nos últimos anos? A capoeira não vem mais, agora reagimos com a
Exatamente. Ele é resposta. Essa violência, essa palavra, porque pouca coisa mudou, principalmente
opressão, não só na zona leste, mas em toda a [cidade para nós. A literatura marginal se faz presente para
de] São Paulo, nos territórios por onde eu passei, sem- representar a cultura de um povo composto de mino-
pre existiu. Essa hostilidade para corpos como o meu, rias, mas em seu todo uma maioria. A Literatura Mar-
negros, para corpos travestis, corpos trans, corpos ginal, sempre é bom frisar, é uma literatura feita por
pretos, está dada. O que tem mudado é a formação minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas. Li-
de redes com pessoas que vivem essa mesma situa- teratura feita à margem dos núcleos centrais do saber
ção ou situações semelhantes, estabelecendo parce- e da grande cultura nacional, isto é, de grande poder
rias para nos mantermos vivas. Juntas nós consegui- aquisitivo. Mas alguns dizem que sua principal ca-
mos nos manter mais fortes, nós conseguimos ocupar racterística é a linguagem, é o jeito que falamos, que
outros espaços, conseguimos nos proteger. contamos a história, bom, isso fica para os estudiosos.
Cansei de ouvir: — “Mas o que cês tão fazendo é se-
[…]
parar a literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca
Trói, Marcelo de. Linn da Quebrada: O “cis-tema” só valoriza cansarei de responder: — “O barato já tá separado há
os saberes heterossexuais. Cult, 8 ago. 2017. Disponível
muito tempo, foi feito todo um mundo de teses e de
em: https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-linn-da-
quebrada/. Acesso em: 3 maio 2020. estudos do lado de lá, e do de cá mal terminamos o
ensino dito básico.”
(Adaptado de Ferréz. Terrorismo literário. In: Ferréz (org.).
a) Na entrevista, Linn da Quebrada menciona sub- Literatura marginal: talentos da escrita periférica.
jetividades que são vítimas da violência da socie- Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 9, 12, 13.)
dade. Quais são essas subjetividades?
b) Quais seriam as violências da sociedade?
c) Em sua opinião, por que essas subjetividades são Ferréz defende sua proposta literária como uma
vítimas da violência da sociedade? a) descoberta de que é preciso reagir com a palavra
d) De que forma Linn da Quebrada luta contra essa para que não haja separação entre a grande cul-
violência? tura nacional e a literatura feita por minorias.
b) comprovação de que, sendo as minorias de fato
2 Em dezembro de 2019, uma ação policial de disper- uma maioria, não faz sentido distinguir duas lite-
são de um baile funk em Paraisópolis, na zona sul raturas, uma do centro e outra da periferia.
da cidade de São Paulo, deixou nove mortos e doze
feridos. Apesar de as mortes terem sido causadas c) manifestação de que a literatura marginal tem
por pisoteamentos durante a dispersão, a ação dos seu modo próprio de falar e de contar histórias,
policiais foi marcada pelo uso desproporcional de já reconhecido pelos estudiosos.
violência contra os frequentadores do baile. Essa d) constatação de que é preciso reagir com a palavra
ação integrava um conjunto de ações conhecidas e mostrar-se nesse lugar marginal como literatu-
como “Operação Pancadão”, que, segundo o site da ra feita por minorias que juntas formam uma
Polícia Militar, tem por um de seus principais obje- maioria.
Futuro profissional
Para começar
Nesta unidade, estudamos muitos problemas vivenciados por nosso país nos
últimos anos e discutimos a importância das políticas públicas e das ações indi-
viduais e comunitárias para vencê-los. Além disso, refletimos sobre os desafios
que os jovens enfrentam no mercado de trabalho. Esses desafios começam na
escolha da carreira.
Leia o artigo a seguir sobre uma pesquisa feita com jovens em fase de decidir
o próprio futuro profissional.
Alessandro Xavier, com 19 anos, acabou de sair do ensino médio, e Matheus Teles,
de 21 anos, está na faculdade. Os dois jovens têm algo em comum, além da pouca
idade: não sabem ao certo que carreira escolher. Junto com eles estão também outros
jovens indecisos. De acordo com uma pesquisa realizada, durante a Expo CIEE 2019,
pelo CPS (Cedaspy Professional School) – rede de escolas de capacitação e profissio-
nalização –, 60% dos jovens ainda têm dúvida quanto ao futuro profissional.
Alessandro pretende se matricular em um curso pré-vestibular. Pedagogia, gestão
ambiental e relações públicas são suas opções. Já Matheus está no quinto semestre
de publicidade e propaganda. Mas esse não é o seu primeiro curso e ainda não tem
certeza se é o ideal para ele.
Matheus conta que, enquanto alguns colegas sempre tiveram certeza da profis-
são a seguir, essa dúvida o acompanha desde o período escolar. “Eu me identifica-
va com várias matérias diferentes”. Mas o jovem buscou a resposta. Pesquisou gra-
des curriculares, fez testes vocacionais, conversou com professores, até que
encontrou o curso ideal: farmácia. Dois semestres depois, a escolha não parecia tão
acertada assim.
De acordo com a psicóloga e analista de orientação vocacional da Central de Car-
reiras da Universidade Salvador (Unifacs), Ludmila Guimarães, essa indecisão é mui-
to comum e está atrelada à falta de autoconhecimento. “Se eu não me conheço, não
sei quais minhas habilidades, competências e interesses, dificilmente vou fazer uma
escolha acertada”, afirma a psicóloga.
Alessandro, depois de muita dúvida, fez sua escolha: pedagogia. Ele conta que
a decisão não foi fácil, mas precisou ser tomada para que pudesse estudar para o
vestibular. […]
Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo CPS, 40% dos jovens indecisos
têm dúvida entre áreas completamente diferentes. Foi o que aconteceu com Ma-
theus. Depois de muita angústia e pesquisas, o estudante resolveu mudar de área.
Dessa vez, o curso ideal era publicidade. Assim que decidiu, conversou com os pais
e se matriculou.
Para Ludmila, o desconforto sofrido por Matheus e outros jovens que fazem esse
tipo de transição é ainda maior por conta do investimento e do peso da idade. Já Si-
mone Brasil relaciona isso à pressão exercida pela sociedade.
[…]
Já a pressão sofrida por Alessandro é diferente. Para Brasil, o desconforto está no
“ter que escolher”, inerente à fase.
Nesta seção, vocês vão realizar uma pesquisa para coletar informações sobre
como os jovens que estão no Ensino Médio vivenciam essa questão e se plane-
jam para o futuro.
O problema
Ao longo do Ensino Médio, principalmente ao final dele, os jovens se depa-
ram com diversas questões sobre seu futuro, principalmente em relação à vida
profissional. Quais são as profissões mais almejadas pelos jovens, que critérios
seguem para escolhê-las e como se planejam e agem para concretizar suas es-
colhas profissionais?
Roberto Casimiro/Fotoarena
3 O(a) moderador(a) deve iniciar a discussão en- 2. Quais são as profissões mais almejadas pelos
fatizando que não há respostas certas ou er- jovens? Vocês se identificam com essas es-
radas; observando os participantes e encora- colhas?
jando a palavra de cada um; buscando 3. As pretensões profissionais da turma estão em
aprofundar respostas e comentários que con- consonância com a maioria das pessoas entre-
siderar relevantes. vistadas?
TÍTULO DO TRABALHO
INTRODUÇÃO oditatus utecaborerum quae quid eri nis escia
Ximaio. Cia nimod quis quiaepratur, opta nit sum res eium qui rerit aspeles ectatia dunt quas
aut quate pellessum es is dellaut et quid etur ut most, niendissum quuntin cilias pellor aut est,
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Nimi, sit ute sum el int amenditem fuga. Bore
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omnis quia consequ untemol lorioriore eatet des
Legenda da imagem. nulpa sequis excestion estemposanda quatetur
sequi venimusam as dolentiisquo cores untem
voloribusa corehenditas expliqu idunto quis
elit dolutemque volecer ferehentis eost, omni
molest exerferferem sin post alignissus velliqu
ut oditae nonseque cus ut porro mo ea num
oditatur? Od et que repe nescius dio dolo
IMAGEM volorem non conseque quat anis sit aria nus.
que vernam ex es ut vitat evel mo de volupta
Rae. El minciunt apidend itassequist, essit,
tionsequi to explibus, corit expedit aut verum
optas ut volo dolupitatur?
latur autempo rescilla quas mi, sunt, ipsandi
Et ipsunt qui cum qui vera deriae remquae non-
cimodisciisi illitati conse nessi sumquatur sit et
seque nem volore eum eos ma dolore, odis
pe non consequidunt aut occaborio consequo Legenda da imagem.
(EM13LGG502) Analisar criticamente preconceitos, estereótipos e relações de poder presentes nas práticas
corporais, adotando posicionamento contrário a qualquer manifestação de injustiça e desrespeito a direitos
humanos e valores democráticos.
(EM13LGG704) Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de informação, por meio de
ferramentas e dos novos formatos de produção e distribuição do conhecimento na cultura de rede.
POSSIBILIDADES DE INTERDISCIPLINARIDADE:
CIÊNCIAS DA NATUREZA ...................................................................................... 170
164
Mas isso não é algo iné- 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e cul-
dito nos debates sobre a turais, das locais às mundiais, e também participar de prá-
educação: trata-se da oficia- ticas diversificadas da produção artístico-cultural.
lização de movimentos que
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-mo-
já faziam partem do cenário
tora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital
educativo. Por isso, a BNCC
dialoga com documentos –, bem como conhecimentos das linguagens artística, mate-
que são referências da polí- mática e científica, para se expressar e partilhar informações,
tica educacional, como a experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos
LDB e o PNE, já citados, e as e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
Diretrizes Curriculares Na- 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de in-
cionais para o Ensino Médio formação e comunicação de forma crítica, significativa, re-
(DCNEM), de 2018. flexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
A BNCC também dialoga Reprodução da capa da ver- escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informa-
com documentos ligados aos são final da BNCC (2018). A ções, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer
organismos internacionais, pirâmide formada por cubos
protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
com as cores da bandeira de
como a Agenda 2030 para o
nosso país comunica o ideal 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e
Desenvolvimento Sustentá- de construção de um projeto apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe pos-
vel (ONU, 2015) e a Global educativo para o Brasil.
sibilitem entender as relações próprias do mundo do traba-
Competency for an Inclusive
World (OCDE, 2018). A interlocução com esses textos apare- lho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
ce principalmente na abertura do documento, na qual se des- ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciên-
taca o discurso educacional dos organismos internacionais. cia crítica e responsabilidade.
Diferentemente de outros textos políticos educacionais, o 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações
interlocutor da BNCC é toda a sociedade, e não apenas do- confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos
centes, gestores escolares e estudantes. Dessa forma, refor- de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os
ça-se a concepção de que a BNCC representa um projeto de direitos humanos, a consciência socioambiental e o consu-
sociedade e, mais do que isso, de nação, cujos cidadãos – por mo responsável em âmbito local, regional e global, com po-
meio da educação – aprenderão as competências e as habi- sicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos
lidades necessárias para a transformação da sociedade bra- outros e do planeta.
sileira naquela que se pretende construir por meio do conhe-
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e
cimento que mobiliza para o agir com consciência, ética e
emocional, compreendendo-se na diversidade humana e
autonomia.
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrí-
O eixo norteador do documento é o desenvolvimento das
aprendizagens essenciais dos estudantes, em uma perspec- tica e capacidade para lidar com elas.
tiva de eficiência educativa e em consonância com o propos- 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e
to pelas avaliações realizadas em larga escala. Para isso, es- a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respei-
tabelece as competências gerais e essenciais, que são to ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e va-
compreendidas como: lorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais,
seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem
[…] mobilização de conhecimentos (conceitos e preconceitos de qualquer natureza.
procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e so- 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, respon-
cioemocionais), atitudes e valores para resolver deman- sabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, toman-
das complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da do decisões com base em princípios éticos, democráticos,
cidadania e do mundo do trabalho. inclusivos, sustentáveis e solidários.
Assim, estas são as competências gerais para a Educação De acordo com Antoni Zabala, o desenvolvimento de com-
Básica: petências e habilidades desloca o foco dos currículos do con-
teúdo para a aprendizagem:
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente cons-
truídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para Não é suficiente saber ou dominar uma técnica, nem é
entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e co- suficiente sua compreensão e sua funcionalidade, é neces-
laborar para a construção de uma sociedade justa, demo- sário que o que se aprende sirva para poder agir de forma
crática e inclusiva. eficiente e determinada diante de uma situação real. É nis-
so que estamos envolvidos.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem
própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a (ZaBala, 2014, p. 10)
análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar
causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver pro- Não basta saber o que fazer, mas é essencial saber para quê.
Assim, o desenvolvimento de competências e habilidades não
blemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base
objetiva apenas a obtenção de melhores resultados nas avalia-
nos conhecimentos das diferentes áreas.
ções; ele é uma resposta a anseios como “o que o estudante
165
fará com o que estuda?”, ou seja, preocupa-se com o agir. A fi- É importante salientar que a BNCC não se propõe a “unifor-
nalidade passa a nortear o processo de aprendizagem, e o foco mizar” os currículos, e sim a relacionar as escalas nacional, re-
desloca-se da formação centrada na transmissão de conheci- gional e local ao pensar a educação brasileira, orientando o pro-
mentos e memorização para um modelo fundamentado no de- cesso de formação dos currículos escolares e do corpo discente
senvolvimento por competências. Ainda segundo Zabala:
com base na diversidade de realidades locais.
Dessa forma, o documento coloca em pauta o pensamento
A competência identificará aquilo que qualquer pessoa intercultural, cujas pretensões se opõem aos processos de uni-
necessita para responder aos problemas aos quais se depa- formização do outro.
rará ao longo da vida. Portanto, competência consistirá na Entende, ainda, a educação integral como o desenvolvi-
intervenção eficaz nos diferentes âmbitos da vida mediante mento do estudante em todas as suas dimensões – intelectual,
ações nas quais se mobilizam, ao mesmo tempo e de ma-
física, emocional, social e cultural –, tendo em vista as múltiplas
neira inter-relacionada, componentes atitudinais, procedi-
culturas juvenis. E isso envolve a responsabilidade não só da
mentais e conceituais.
escola, mas também das famílias, dos educadores em geral e
(ZaBala, 2014, p. 42-43)
da comunidade.
166
oferecem os outros segmentos da Educação Básica, exigindo além da elaboração de respostas criativas para as questões
um deslocamento maior dos estudantes –, a necessidade de comunitárias. Tal postura também favorece as percepções
entrar no mercado de trabalho e a defasagem no ensino, acu- sobre a responsabilidade cidadã de responder aos anseios
mulada em anos anteriores. de melhorias sociais e de comunicar aos diferentes grupos
A reorganização da proposta do currículo de Ensino Mé- de interesse as ações possíveis e as informações confiáveis.
dio busca conscientizar os estudantes e a sociedade da im- A divulgação desses conhecimentos construídos no Ensi-
portância dessa etapa da Educação Básica para a formação no Médio é essencial para que os jovens fortaleçam a autoes-
cidadã e, também, profissional. Assim, por meio do incenti- tima e se empoderem de seus papéis como cidadãos atuan-
vo à integração entre as diferentes áreas do conhecimento, tes. Idealmente, isso reverbera em toda a comunidade, já que
os estudantes são convidados a mobilizar os diferentes co- a ação dos jovens nesse sentido impacta o seu entorno
nhecimentos que já detêm para observar, analisar, refletir, no cotidiano. Desse modo, a construção de argumentação
pensar e realizar ações acerca de questões que fazem par- coerente, alinhada aos discursos éticos e à defesa da demo-
te de seu cotidiano em nível individual e coletivo. cracia, se faz essencial para a ação cidadã proposta.
Essa perspectiva possibilita maior acolhimento das cul- O organograma a seguir sistematiza os principais resul-
turas juvenis, visando ao engajamento escolar e, especial- tados esperados na vida dos jovens com as mudanças no
mente, à ressignificação e à construção de conhecimento, Ensino Médio.
grivina/iStock/
Getty Images
Continuidade
dos estudos
Exercício da
cidadania
167
O ENSINO MÉDIO E AS CIÊNCIAS
HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
Garantir um processo adequado de transição do Ensino
Fundamental para o Ensino Médio é um desafio que se im- […] conhecer melhor o mundo cultural dos alunos; per-
põe ao processo de formação escolar. Além da mudança do ceber que os alunos trazem experiências que são significa-
ciclo escolar, há, em marcha, a mudança da própria estrutura tivas e importantes; relatos de histórias de vida; observar a
do Ensino Médio, como discutido anteriormente. cultura da escola buscando elementos que possam quebrar
O tempo vivido pelo estudante no Ensino Médio é carac- a homogeneidade; refletir sobre os conhecimentos que se
terizado por inquietudes que não são silenciosas; ao contrário, pretende construir, questionar; problematizar as formas de
são bastante “barulhentas”. É nessa vivência, caracterizada construção desses conhecimentos na escola; ouvir e prestar
pela intensificação das questões existenciais, sociais e cultu-
atenção, se aproximar e sentir o outro; descobrir no corpo
rais próprias da adolescência, que os estudantes assumem
docente quem são as pessoas mais sensíveis ao tema; es-
novos compromissos e responsabilidades, constituindo seu
modo de ser e estar no mundo. Dessa forma, a questão que tabelecer parcerias.
se impõe à escola é: Como a escola pode contribuir para po-
(Candau, 2016, p. 355)
tencializar a vida dos jovens?
Para isso, uma possibilidade é apostar em uma educação
Assim, a escola se abrirá para a diversidade das culturas
intercultural, que significa pensar a organização do currículo
juvenis, buscando olhar, aproximar e sentir o outro em toda
escolar tendo como foco os estudantes, contemplando a acei-
tação e o respeito às diferenças e à diversidade cultural. a complexidade da sua formação humana. Nesse aspecto,
É importante considerar que a escola exerce um papel as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas desempenham um
fundamental para a formação humana por meio de práticas papel essencial na educação da juventude, já que permitem
educativas planejadas e intencionais. É essencial, nesse pro- investigar, analisar, identificar e observar de modo crítico o
cesso, incentivar os estudantes a exercitar a autonomia, ou mundo e a sociedade, os papéis sociais, as dinâmicas de po-
seja, o efetivo protagonismo, dando oportunidade à produ- der e outras características culturais que favorecem as per-
ção e à apropriação de saberes de forma crítica, incentivando cepções sobre a própria identidade e, também, as possibili-
os diálogos culturais e gerenciando as questões relacionadas dades de transformação social.
ao universo do adolescente. Segundo Candau, é preciso
168
[…] a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – 6. Participar do debate público de forma crítica, respeitando
integrada por Filosofia, Geografia, História e Sociologia – diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exer-
propõe a ampliação e o aprofundamento das aprendizagens cício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade,
essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental, sempre autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
orientada para a uma formação ética. Tal compromisso edu- (Brasil, 2018, p. 570)
cativo tem como base as ideias de justiça, solidariedade,
autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, Como é possível observar, a área de Ciências Humanas e So-
a compreensão e o reconhecimento das diferenças, o res- ciais Aplicadas tem entre seus objetivos provocar os estudantes
peito aos direitos humanos e à interculturalidade, e o com- para a percepção crítica do conhecimento e de sua brevidade,
bate aos preconceitos de qualquer natureza. com o intuito de buscar soluções sociais criativas e éticas. A con-
cepção apresentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino-
(Brasil, 2018, p. 561) vações para essa área do conhecimento é consonante com aque-
la observada na BNCC, como é possível identificar a seguir:
Apresentamos, a seguir, alguns exemplos práticos da im-
portância estratégica das Ciências Humanas e Sociais Apli-
As pesquisas em ciências humanas vão desde o estudo
cadas para a formação ética e cidadã:
• identificar e analisar as relações de poder, assim como do comportamento humano passando pela interação em con-
dialogar e refletir sobre elas, favorece a formulação de textos sociais, culturais, ambientais, econômicos e políticos,
percepções sobre a sociedade em que se vive e sobre os aos desenvolvimentos da linguagem, artes e arquitetura. Es-
impactos dessas relações em diferentes níveis na própria tas pesquisas têm na dinâmica humana sua centralidade,
comunidade, como a formação do território ocupado; com focos históricos ou contemporâneos, de contextos pes-
soais a globais, e consideram o nosso preparo para os desa-
• investigar as próprias identidades culturais e refletir sobre fios do futuro. Por meio da pesquisa em macroáreas da Lin-
elas possibilita não apenas o autoconhecimento, mas tam-
guística, Artes, Humanidades, Ciências Sociais, Sociais
bém a percepção sobre si e sobre os outros, sobre o modo
Aplicadas e Ética, e de seus desdobramentos e inter-relações,
como os estudantes colocam no mundo suas identidades
espera-se a habilitação coletiva da sociedade brasileira em
individuais e coletivas, afetando desde as relações pes-
sua capacidade de questionar, pensar criticamente, resolver
soais até as relações institucionais;
problemas, comunicar de maneira eficaz, tomar decisões e
• debater e fomentar essas ideias promove a apreensão fi- adaptar-se às mudanças. Responder aos desafios humanos
losófica dos estudantes e colabora para torná-los críticos exige uma compreensão dos principais fatores, linguísticos,
e atentos ao mundo em que vivem. cognitivos, históricos, geográficos, políticos, econômicos, cul-
Para dar conta do que é esperado dessa área de conhe- turais, éticos e sociais envolvidos, e como esses diferentes
cimento, a BNCC lista as seguintes competências específicas fatores se inter-relacionam.
de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas:
(Brasil, s/d)
1. Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambien- Percebe-se, por essa concepção, que a escola que se pre-
tais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial tende é aquela que ensine a pensar, por meio do domínio
em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimen- teórico-metodológico característico dos componentes curri-
tos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a culares relacionados à área de Ciências Humanas e Sociais
compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, Aplicadas.
considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões
baseadas em argumentos e fontes de natureza científica. Considerando as aprendizagens a ser garantidas aos jo-
2. Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferen- vens no Ensino Médio, a BNCC da área de Ciências Huma-
tes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações nas e Sociais Aplicadas está organizada de modo a tema-
de poder que determinam as territorialidades e o papel geo- tizar e problematizar algumas categorias da área,
político dos Estados-nações. fundamentais à formação dos estudantes: Tempo e Espaço;
Territórios e Fronteiras; Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cul-
3. Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes
tura e Ética; e Política e Trabalho. Cada uma delas pode ser
grupos, povos e sociedades com a natureza (produção, dis-
desdobrada em outras ou ainda analisada à luz das especi-
tribuição e consumo) e seus impactos econômicos e so-
ficidades de cada região brasileira, de seu território, da sua
cioambientais, com vistas à proposição de alternativas que
história e da sua cultura.
respeitem e promovam a consciência, a ética socioambien-
tal e o consumo responsável em âmbito local, regional, na- (Brasil, 2018, p. 562)
cional e global.
Do mesmo modo, espera-se que essa escola favoreça o
4. Analisar as relações de produção, capital e trabalho em desenvolvimento do conhecimento socialmente produzido e
diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o pa- acumulado, aliado às propostas de flexibilidade, autonomia
pel dessas relações na construção, consolidação e transfor- e protagonismo que se pretende desenvolver na formação
mação das sociedades. dos estudantes. Assim, as Ciências Humanas e Sociais Apli-
5. Identificar e combater as diversas formas de injustiça, pre- cadas visam promover um processo de aprendizagem para
conceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, a formação de cidadãos autônomos e capazes de fazer uso
dos próprios conhecimentos para solucionar problemas de
inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.
diversas naturezas ao longo da vida.
169
No Ensino Fundamental, a BNCC se concentra nos pro- ao domínio de conceitos e metodologias próprios dessa
cessos de tomada de consciência do Eu, do Outro e do Nós, área. As operações de identificação, seleção, organização,
das diferenças em relação ao Outro e das diversas formas comparação, análise, interpretação e compreensão de um
de organização da família e da sociedade em diferentes es- dado objeto de conhecimento são procedimentos respon-
paços e épocas históricas. Para tanto, prevê que os estu- sáveis pela construção e desconstrução dos significados do
dantes explorem conhecimentos próprios da Geografia e da que foi selecionado, organizado e conceituado por um de-
História: temporalidade, espacialidade, ambiente e diversi- terminado sujeito ou grupo social, inserido em um tempo,
dade (de raça, religião, tradições étnicas etc.), modos de or- um lugar e uma circunstância específicos.
ganização da sociedade e relações de produção, trabalho e
poder, sem deixar de lado o processo de transformação de (Brasil, 2018, p. 561-562)
POSSIBILIDADES DE
INTERDISCIPLINARIDADE:
CIÊNCIAS DA NATUREZA
realizado em Nice, França, em fevereiro de 1970, visando dis-
A interdisciplinaridade é vivenciada pelo homem sempre cutir a fragmentação do conhecimento. Desse evento, resul-
que ele se apropria de algum conhecimento em suas relações taram estudos que nortearam diversas pesquisas sobre o
com o mundo. O simples fato de acordar, trabalhar e interagir tema, fazendo circular a noção de interdisciplinaridade rela-
com outros indivíduos, e com isso alterar sua forma de pen- cionada aos pressupostos de John Dewey (1859-1952), con-
sar e de agir, constitui uma atividade interdisciplinar. As di- tribuindo para o avanço nos debates sobre conceitos como
ferentes formas de conhecimentos que precisam ser aciona- interdisciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar.
das no dia a dia correlacionam-se para que o ser humano Segundo o filósofo Ivan Domingues, do Instituto de Es-
possa aprimorar novas estratégias que facilitem sua vida. tudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG):
(Giordani, 2000, p. 81)
Conforme o pensamento de Jean Piaget (1896-1980), ci- […] sem dúvida, há uma flutuação conceitual entre es-
tado por Giordani, a interdisciplinaridade é o movimento que ses termos. […] a grande diferença entre os três é que o in-
a ciência faz em busca da produção de conhecimentos mais terdisciplinar e o multidisciplinar estão ainda presos às dis-
abrangentes. Embora aconteça no cotidiano, em relação ao ciplinas. Ao passo que o transdisciplinar quer ir além. Mas
conhecimento científico e à prática didática, esse movimento entendemos que a pesquisa transdisciplinar só poderá ser
não é espontâneo, devendo fundamentar-se em um plane-
adotada e enfrentada com sucesso tendo uma base cultural
jamento que deixe evidente sua intencionalidade.
A noção de interdisciplinaridade, que surgiu no cerne do sólida, o que vamos encontrar em pesquisas interdiscipli-
pragmatismo e foi apropriada pela pedagogia culturalista, nares ou multidisciplinares de sucesso.
além de concebida como uma educação global, passou a cir- […] A interdisciplinaridade é amiga da transdisciplinari-
cular com mais intensidade a partir da década de 1970, prin- dade. Não há nenhuma oposição. Mas queremos dar um pas-
cipalmente na produção dos intelectuais que se reuniram no
so além, pois a base cultural da transdisciplinaridade é a
Seminário sobre Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade,
170
interdisciplinaridade. […] Na multi, várias disciplinas coope- tendência de cada professor a priorizar os conhecimentos
ram com um projeto, mas cada qual trabalhando um aspecto específicos de sua disciplina.
do objeto com o seu método. Na inter, há situações em que A leitura superficial poderia indicar que os docentes são
uma disciplina nova adota métodos de uma outra mais anti- os responsáveis pela não aplicabilidade das propostas inter-
ga. É o caso clássico, por exemplo, da Bioquímica, matéria disciplinares. Porém, o que esses resultados evidenciam são
em que houve uma fusão de campos. Na trans, a tentativa é as lacunas formativas no Ensino Superior, que ainda não pri-
a de instaurar uma metodologia [de pesquisa] unificada. vilegia esse tipo de abordagem. Para Nogueira (2001), a ação
interdisciplinar deve estar na gênese dos planejamentos e
(Domingues, 2003)
da formação do corpo docente. Assim, a formação continua-
da e os cursos complementares podem ser importantes es-
A abordagem interdisciplinar tem boas oportunidades de
desenvolvimento na investigação científica de contextos que, tratégias para construir a integração entre as áreas, de acor-
para serem analisados, mobilizam diferentes campos do co- do com os projetos político-pedagógicos de cada instituição
nhecimento, acionando métodos de pesquisa pertinentes a e com a realidade escolar.
diferentes áreas, como as Ciências Humanas e Sociais Aplica- Neste manual, serão apresentadas algumas propostas,
das e as Ciências da Natureza. Ao longo da coleção, há momen- em contextos que foram escolhidos especialmente para in-
tos oportunos para essa abordagem em diversas atividades e centivar a percepção interdisciplinar de problemas diversos.
seções, como a Práticas de pesquisa. Em relação à abordagem As propostas de pesquisa sugeridas, por exemplo, mobilizam
interdisciplinar, o pesquisador Carlos Santos argumenta: competências e habilidades das Ciências da Natureza e de
outras áreas do conhecimento. Essas ofertas podem e devem
[…] não haver objeção à afirmação de que o caráter es- ser ampliadas, aprofundadas e complementadas com base
sencial da natureza é interdisciplinar. Eram pensadores in- em eventos relacionados ao cotidiano da comunidade esco-
terdisciplinares os primeiros a perscrutarem os mistérios da lar. Para isso, a atenção do docente é essencial; ele deve ob-
natureza. O reducionismo que levou ao surgimento da bio- servar as oportunidades de trazer o mundo extraescolar pa-
logia, física e química vem da incapacidade humana em in- ra a sala de aula e, também, de levar a escola para o mundo.
vestigar os fenômenos naturais no contexto de seu caráter De modo mais prático, há diversos aspectos das compe-
holístico. Embora não tenhamos como saber se avanços de tências das Ciências da Natureza que possibilitam a interfa-
recursos tecnológicos e ferramentas matemáticas nos leva- ce com as diferentes frentes das Ciências Humanas e Sociais
rão de volta a um estado de quase completa interdiscipli- Aplicadas, como mostram os destaques a seguir:
naridade como se via nas antigas civilizações, é notável co-
mo abordagens interdisciplinares avançam pontualmente Competências específicas de
na pesquisa científica.
Ciências da Natureza e suas
(santos, 2018, p. 363) Tecnologias para o Ensino Médio
O exercício de correlacionar os saberes visando à com- 1. Analisar fenômenos naturais e processos tecnológi-
preensão de eventos físicos, biológicos, culturais e sociais é cos, com base nas interações e relações entre matéria e
importante para que os estudantes sejam capazes de enten- energia, para propor ações individuais e coletivas que aper-
der, com maior propriedade, o mundo e as conjunturas sob feiçoem processos produtivos, minimizem impactos so-
as quais vivem e de neles atuar da melhor forma possível. O cioambientais e melhorem as condições de vida em
desenvolvimento de competências e habilidades, bem como âmbito local, regional e global.
do raciocínio científico, também contribui para esse aspecto
2. Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vi-
e é potencializado nas propostas de trabalho interdisciplinar.
Alguns exemplos de propostas que podem ser trabalha- da, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar
das sob a perspectiva interdisciplinar são a descoberta do previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vi-
petróleo no pré-sal do território brasileiro em 2007; o terre- vos e do Universo, e fundamentar e defender decisões
moto no Haiti em 2010; e a pandemia do coronavírus em éticas e responsáveis.
2020. Esses grandes eventos são exemplos de fenômenos 3. Investigar situações-problema e avaliar aplicações
que trazem impactos diversos para o cotidiano das popula- do conhecimento científico e tecnológico e suas im-
ções e podem ser mais bem compreendidos em sua ampli- plicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens
tude se combinarmos conhecimentos de áreas como as de próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que
Ciências da Natureza e de Ciências Humanas e Sociais Apli-
considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comu-
cadas. Importantes referências, nesse aspecto, são as pes-
nicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em
quisas do National Research Council, nos Estados Unidos, as
diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecno-
quais sugerem que os temas transversais sirvam de ponte
logias digitais de informação e comunicação (TDIC).
entre as Ciências da Natureza e outras áreas do conhecimen-
to, de forma interdisciplinar. (Brasil, 2018, p. 553; grifo nosso)
Em 2004, um grupo de mestrandos do Programa de Pós-
-graduação em Educação para a Ciência, da Faculdade de Nas páginas 179 a 182 são indicados os momentos em
Ciências da Universidade de São Paulo, desenvolveu uma que o trabalho com essas competências é privilegiado. Tra-
pesquisa com o objetivo de investigar como os docentes da ta-se de uma abordagem inicial que pode servir de apoio pa-
área de Ciências da Natureza concebem o conceito de inter- ra os planejamentos didáticos. Eles não encerram as possi-
disciplinaridade. Com base nas respostas às questões pro- bilidades de integração, que podem ser ampliadas e
postas pelos pesquisadores, foi possível perceber a aprofundadas pelo trabalho conjunto dos docentes.
171
A COLEÇÃO
■ PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Definir os pressupostos teóricos e metodológicos desta contribui para que o estudante se torne sujeito dos processos
coleção implica considerações teóricas amplas e complexas. de ensino-aprendizagem, possibilitando ao professor ser, cada
Por isso, neste manual, opta-se por fazê-lo a partir do diálo- vez mais, um orientador responsável por propor seu modo cria-
go entre a teoria e a prática. Para isso, a proposta não foi li- tivo de teorizar e praticar a pesquisa. Essas perspectivas, por-
mitada ao pensamento grego, segundo o qual a paideia (uma tanto, valorizam os conhecimentos que os estudantes trazem
ideia de escola) cumpriria a função de formar os cidadãos de seus contextos locais, partindo do pressuposto de que a:
para a vida na pólis. Essa perspectiva pode aprisionar as pro-
postas didáticas ao eurocentrismo, omitindo as possibilida-
[…] essência do processo de aprendizagem significativa
des epistemológicas oferecidas por diferentes povos que
é que as ideias expressas simbolicamente são relacionadas
constituíram e que constituem as identidades brasileiras.
às informações previamente adquiridas pelo aluno através
Assim, dialogando com a proposta dos documentos curri-
de uma relação não arbitrária e substantiva (não literal).
culares apresentados, propõe-se uma perspectiva intercultu-
ral, que se fundamenta na diversidade cultural e se contrapõe (ausuBel; novak; Hanesian, 1980)
à condição colonial, ainda existente, mesmo depois da inde-
pendência de países dos continentes americano, asiático e Também é imprescindível levar em conta a alteridade, ou
africano. Os fundamentos dessa posição estão na construção seja, as diferentes dimensões humanas – estética, ética, so-
de posturas de valorização de diversas visões de mundo, no cial, política e cultural –, para fazer observações, análises e
diálogo de saberes e na estreita relação entre teoria e prática. reflexões. Por isso, nesta coleção, propõe-se ressaltar a visão
O objetivo é potencializar o olhar para a realidade com o multiculturalista e intercultural da sociedade proposta pela
intuito de compreendê-la em sua totalidade e em sua com- BNCC e pelos demais documentos mencionados.
plexidade. Assim, buscou-se apresentar propostas de ensino A diversidade cultural apresenta-se como um recurso pa-
e de aprendizagem que têm como base a realidade dos edu- ra ampliar a visão da integridade humana, valorizando a di-
candos, sempre que possível problematizando-as e relacio- vergência, o respeito e o compartilhamento na construção
nando-as em níveis locais, regionais e mundiais, como frutos das práticas sociais e culturais. Essas perspectivas também
de realidades socioeconômicas, políticas e culturais diversi- reverberam na construção de propostas de práticas de pes-
ficadas e complexas, que podem ser mais bem compreendi- quisa que podem receber tratamento interdisciplinar, am-
das a partir de um ponto de vista interdisciplinar que possa pliando, assim, os temas, as abordagens e as possibilidades
romper com a fragmentação do saber. de interpretação e de ação.
Para isso, a coleção propõe certa reordenação geopolítica
do conhecimento, retomando a memória coletiva de povos Interculturalidade e descolonização
indígenas, africanos e afro-brasileiros, bem como de outras
A educação é estratégica para a transformação social e,
comunidades historicamente subalternizadas e invisibiliza-
por isso, abordagens que incentivem a interculturalidade e a
das no trato oficial. Também assume uma postura crítica dian-
descolonização são importantes, seja no modo de pensar co-
te dos cânones, que devem ser conhecidos como repertório
cultural, mas também debatidos e problematizados. Essa tidianamente, seja em termos científicos. Mais uma vez, não
postura proporciona a concepção de diferentes lógicas e for- se trata de rejeitar cânones, já que eles fazem parte de muitas
mas de pensar, incentivando a criação de outros modos de identidades brasileiras, sul-americanas e ocidentais. Trata-se
vida social, política e de pensamento, estimulando novos co- de admitir outras matrizes de pensamento e de valorizá-las
nhecimentos e outras interpretações de mundo. tanto quanto os cânones. Os resultados esperados, em última
É importante considerar que o saber e a cultura precedem instância, são a valorização e o respeito aos conhecimentos
a ciência. É o saber acumulado, que circula social e cultural- e saberes da comunidade, assim como a conscientização acer-
mente, que constrói a ciência. Assim, torna-se fundamental ca das responsabilidades individuais e coletivas sobre os es-
incentivar no estudante a reflexão sobre a relação entre seus paços (físicos e culturais) onde se vive.
conhecimentos prévios e o saber científico, além de estimu- Para tanto, é importante analisar o “pensamento do ou-
lar a alteridade, o relativismo cultural e o raciocínio próprio tro”, contrapondo-se à hegemonia do eurocentrismo e do co-
da ciência, abordando os aspectos metodológicos de uma lonialismo, visando, assim, à descolonização do currículo
pesquisa, por exemplo. (munsBerG, 2019 ). Essa é uma perspectiva que a BNCC e o
A proposta para o atual Ensino Médio tem como princípios
Novo Ensino Médio proporcionam. Ao compreender os pro-
pedagógicos a pesquisa e a interdisciplinaridade. Assim, ao
cessos colonialistas na lógica da Modernidade, desconstruir
longo dos volumes, enfatiza-se a metodologia de pesquisa,
esse modo de pensar e analisar suas consequências socioe-
com a aplicação de técnicas e métodos diversificados para a
construção do saber científico, reconhecendo que o conheci- conômicas e geopolíticas na atualidade pode trazer novas
mento é desenvolvido e apreendido de maneiras diferentes perspectivas científicas em todas as áreas.
e dinâmicas. Assim, sugere-se que, no planejamento docente, a busca
A pesquisa é um processo de questionamento da realidade pela descolonização da educação seja constante. Também se
que propicia, a partir disso, a reconstrução e a ressignificação incentiva o ativismo social, desenvolvendo ações de colabora-
do conhecimento. Ter a pesquisa como princípio educativo ção intercultural, como a escuta do outro por meio de atividades
172
didáticas como a criação de assembleias estudantis; a organi- pedagógica ética, crítica, reflexiva e transformadora, ultra-
zação de rodas de conversa; o planejamento e a execução de passando os limites do treinamento puramente técnico, pa-
exposições e saraus, feiras de ciências e apresentações teatrais; ra efetivamente alcançar a formação do […] ser histórico,
entre muitas outras possibilidades. Esses são exemplos de al- inscrito na dialética da ação-reflexão-ação.
gumas das propostas disponíveis no Livro do Estudante. Em
diferentes momentos da coleção, apresentam-se conteúdos (mitre, 2008)
que visam ressignificar os espaços tradicionais da escola, por
meio de atividades que visam engajar a comunidade escolar, O excerto acima assinala aspectos importantes das me-
promovendo a ação protagonista dos estudantes, a mediação todologias ativas, isto é, aquelas que fomentam práticas que
dos docentes e a participação dos funcionários da escola, dos não trazem ações em um plano ideal, e sim na realidade, nos
moradores do entorno e das famílias dos estudantes. espaços concretos, levando em consideração a pluralidade
Para dar conta dessas escolhas, optou-se pela mobiliza- escolar e, também, a das comunidades brasileiras. Essas prá-
ção de metodologias ativas, com foco na resolução de pro- ticas, que envolvem a organização de grupos de trabalho, a
blemas e no incentivo do protagonismo juvenil. Essa decisão identificação de questões do cotidiano, o desenvolvimento
reverbera tanto nos tipos de atividades propostas quanto nos de pesquisas, a sistematização das descobertas, a divulga-
contextos mobilizadores de aprendizagem. Ambos vão in- ção científica, o planejamento das ações e a transformação
centivar os estudantes a buscar os conhecimentos necessá- objetiva do entorno, possibilitam aos estudantes desenvolver
rios para elaborar análises sobre os problemas apresentados habilidades e competências por meio da resolução de pro-
e ações para tentar resolvê-los. blemas que fazem parte de suas vidas, seja em nível indivi-
dual, seja em diferentes níveis coletivos. O deslocamento do
protagonismo da pesquisa, nesse caso, vai além do conteúdo
METODOLOGIAS ATIVAS puro e simples em direção ao estudante-pesquisador, que
busca conhecimentos para solucionar questionamentos que
lhes causam algum impacto.
Essas estratégias também fomentam a autonomia e a to-
O grande desafio deste início de século [XXI] está na
mada de decisões conscientes por parte dos jovens, aspectos
perspectiva de se desenvolver a autonomia individual em
essenciais para a formação de cidadãos aptos a conduzir as
íntima coalizão com o coletivo. A educação deve ser capaz
transformações de mundo preconizadas pelos projetos polí-
de desencadear uma visão do todo – de interdependência
ticos veiculados pela BNCC e pelos demais documentos na-
e de transdisciplinaridade –, além de possibilitar a constru-
cionais e internacionais que as embasam.
ção de redes de mudanças sociais, com a consequente ex- A utilização de metodologias ativas para a resolução de
pansão da consciência individual e coletiva. Portanto, um situações-problema pode ser esquematizada com base no
dos seus méritos está, justamente, na crescente tendência diagrama conhecido como arco de Maguerez – nome dado
à busca de métodos inovadores, que admitam uma prática em alusão a seu desenvolvedor, o pesquisador francês Char-
les Maguerez –, apresentado a seguir:
TEORIZAÇÃO
Pontos- Hipóteses
de
-chave
solução
Observação Aplicação à
da realidade realidade
(problema) (prática)
REALIDADE
Fonte de pesquisa: Prado, Marta Lenise do et al. Arco de Charles Maguerez: refletindo estratégias de metodologia ativa na formação de
profissionais de saúde. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, mar. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-
81452012000100023&script=sci_arttext. Acesso em: 6 jul. 2020.
No diagrama, é possível observar que o trabalho para a Esse processo, ancorado na realidade, contribui para o de-
resolução de determinada situação-problema necessaria- senvolvimento do pensamento crítico dos estudantes, bem
mente parte da realidade concreta e retorna a ela, seja na como de sua autonomia e de seu protagonismo, além de va-
observação do problema, seja na aplicação de sua resolução. lorizar as culturas juvenis e suas soluções inovadoras.
173
a resolução e a comparação, com a finalidade de possibilitar
O ensino pela problematização ou ensino baseado na
ao estudante o desenvolvimento de um pensamento autô-
investigação (Inquiry Based Learning) teve início em 1980,
nomo e metódico para a identificação e a resolução de pro-
na Universidade do Havaí, como proposta metodológica que
blemas, favorecendo, assim, a análise de dados de forma ló-
buscava um currículo orientado para os problemas, definin-
gica e o reconhecimento de padrões e generalizações para
do a maneira como os estudantes aprendiam e quais habi-
aplicar esses processos na resolução de problemas diversos.
lidades cognitivas e afetivas seriam adquiridas. Fundamen- Essa abordagem contribui, em parte, para que os estudantes
ta-se na pedagogia libertadora de Paulo Freire, nos princípios adotem posturas mais éticas no uso das novas tecnologias
do materialismo histórico-dialético e no construtivismo de da informação, como as computacionais, e mais conscientes
Piaget. […] especialmente, aos referenciais da teoria piage- quanto à lógica de seu desenvolvimento e funcionamento.
tiana da equilibração e desequilibração cognitiva –, a qual Assim, pretende-se incentivar essas abordagens no pro-
considera que o conhecimento deve ser produzido a partir cesso de ensino-aprendizagem, que não se encerra no livro
da interseção entre sujeito e mundo, como amplamente pro- didático, mas o extrapola, atingindo não apenas os atores
blematizado por teóricos como Paulo Freire. diretos (estudantes e docentes), mas também a comunidade
(mitre et al, 2008)
escolar. Há, também, uma preocupação com o desenvolvi-
mento da capacidade e dos modos de se expressar, argu-
Em consonância com os quatro pilares educativos da mentar e debater coerentemente. A seção Práticas de texto,
Unesco (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a por exemplo, aproxima-se dessa questão contribuindo para
viver com os outros e aprender a ser), essa perspectiva de a formação de estudantes capazes de compreender a lingua-
ensino reforça a ideia de que o aprender está vinculado ao gem e as relações entre o que está explícito no texto e aqui-
fazer, ao viver e ao ser, em um processo contínuo de enfren- lo que, ao contrário, exige do leitor uma inferência, um pen-
tamento de desafios e incertezas do mundo contemporâneo. samento, uma conclusão. A forma de o estudante apreender
Nesta coleção, essas perspectivas ativas podem ser no- um texto, as especificidades das diferentes linguagens e o
tadas desde a escolha dos grandes temas até os recortes modo como ele se expressa a partir dessa compreensão têm
estabelecidos para sua observação, análise e reflexão, espe- relação próxima com os pilares da Unesco. Fazer inferências
cialmente nas propostas de pesquisa e ampliações ofereci- com base nas informações do texto, por exemplo, é um modo
das aos estudantes. As atividades, por exemplo, envolvem de transformar os próprios conhecimentos, gerando novas
diferentes processos cognitivos, como a análise, a definição, reflexões.
■ A AVALIAÇÃO
A avaliação é um dos grandes desafios da prática educa- • a avaliação não deve ser vista como um ponto final, e sim
tiva. As formas de planejar, ministrar e reformular a avaliação como parte de um processo de aprendizagem, propician-
mudam ao longo do tempo, conforme os objetivos aos quais do o acompanhamento do processo de domínio de com-
se pretende atender, bem como as perspectivas teóricas e os petências e habilidades;
aspectos sociais ou políticos. • a avaliação deve também subsidiar o planejamento da
Torna-se necessário, considerando os pressupostos da BNCC, intervenção pedagógica.
voltados à educação integral e ao desenvolvimento de compe-
tências e habilidades, estabelecer formas de avaliação condi-
zentes com os desafios contemporâneos a ser reconhecidos e AS AVALIAÇÕES PROCESSUAIS
superados pelos estudantes em seus contextos de vivência.
E INTEGRADORAS
Como seria isso na prática? Após o estabelecimento de
Conhecer o nível de domínio que os alunos adquiriram
uma situação-problema, é possível, por meio de uma avalia-
de uma competência é uma tarefa bastante complexa, pois
ção diagnóstica, verificar o repertório que os estudantes já
implica partir de situações-problema as quais simulem con- têm para lidar com ela, bem como o repertório que ainda ne-
textos reais e dispor dos meios de avaliação específicos pa- cessitam desenvolver. Feito isso, planeja-se a prática educa-
ra cada um dos componentes da competência. tiva de forma coerente com as reais necessidades da turma,
realizando adaptações e modificações no itinerário conforme
(ZaBala, 2014, p. 206)
essas necessidades forem observadas por meio das avalia-
O desenvolvimento de um processo de ensino-aprendi- ções reguladoras.
zagem com base em competências e habilidades, portanto, O processo avaliativo, portanto, não termina com uma
avaliação final, que, de acordo com Zabala, está relacionada
aponta para a necessidade de mudanças nas formas de ava-
aos resultados obtidos e aos conhecimentos adquiridos pe-
liar o processo de ensino-aprendizagem:
los estudantes, distinguindo-se, portanto, da avaliação inte-
• o foco deve ser transferido do conhecimento para o pro- gradora ou somativa, que abrange todo o percurso dos estu-
cesso de aprendizagem; dantes. Assim, a avaliação é compreendida como:
• deve-se criar estratégias de avaliação coerentes com esse
novo foco, levando em consideração as competências que
[…] um informe global do processo que, a partir do co-
se pretende desenvolver, e avaliar conforme a tipologia
nhecimento inicial (avaliação inicial), manifesta a trajetória
de seu conteúdo;
174
seguida pelo aluno, as medidas específicas que foram to-
Avaliação inicial
madas, o resultado final de todo o processo e, especialmen-
te, a partir desse conhecimento, as previsões sobre o que é
• Nas aberturas de unidade e de capítulo, são apresentadas
necessário continuar fazendo ou o que é necessário fazer questões que buscam engajar os estudantes nos contex-
de novo. tos didáticos apresentados, possibilitando o levantamen-
(ZaBala, 1998, p. 201)
to de conhecimentos prévios, a elaboração de hipóteses
iniciais e o aguçamento da curiosidade sobre os temas
Assim, a avaliação integradora cumpre o papel de orientar que vão ser abordados.
a intervenção pedagógica e acompanhar o processo de
aprendizagem. Avaliação reguladora
Sobre a coerência no processo avaliativo, Zabala destaca:
• Ao longo dos capítulos, foram disponibilizadas questões que
buscam ampliar e/ou aprofundar as observações, análises e
Da análise das características do processo avaliativo das
reflexões propostas, acompanhando a construção e o desen-
competências podemos concluir que:
volvimento das habilidades e das competências indicadas.
• O problema não se reduz a se as competências são ou
• Há também seções especiais cujas atividades facilitam o
não conhecidas, mas a qual é o nível de eficiência com
acompanhamento do desenvolvimento dos processos de
o qual elas são aplicadas.
ensino-aprendizagem.
• Para isso, as atividades dirigidas a conhecer o processo
e os resultados da aprendizagem devem se correspon- Avaliação final integradora
der aos meios para responderem a uma situação-pro-
blema a qual possa ser entendida como real.
• Ao final de cada capítulo, há propostas de atividades que
• A simples exposição do conhecimento que um aluno buscam integrar as diferentes frentes abordadas no ca-
tem sobre um assunto e a capacidade de resolver pro- pítulo, explorando as possibilidades do trabalho em gru-
blemas estereotipados não são estratégias avaliativas po, as abordagens interdisciplinares e o diálogo ampliado
apropriadas para a avaliação de competências. […] sobre os temas.
• A informação para a avaliação de competências não de- • Ao final de cada unidade, há uma proposta de pesquisa
ve limitar-se ao conhecimento adquirido em provas, mas que envolve temáticas e metodologias de pesquisa espe-
ser o resultado da observação das atividades de aula. cíficas. Cada proposta é acompanhada de aporte atitudinal
• Os conteúdos dos programas devem se referir explici- e procedimental, sendo finalizada com o compartilhamento
tamente às competências gerais. dos resultados e uma autoavaliação.
AS AVALIAÇÕES EXTERNAS
a avaliação “criterial” (em função das possibilidades
reais de cada aluno) além da normativa.
(ZaBala, 2014, p. 222). De modo geral, as avaliações externas foram implemen-
tadas no Brasil no final de 1980. Inicialmente, cumpriam a
Dessa forma, a avaliação tem a função de mobilizar tanto função de monitorar o desempenho dos estudantes em pro-
os estudantes como os professores, que devem planejar in- vas padronizadas, limitando-se à comparação entre as redes
tervenções pedagógicas, identificando as variáveis do desen- de ensino. Somente no início da década de 1990, as avalia-
volvimento da aprendizagem e planejando ações de interven- ções externas adquiriram um caráter qualitativo da educação
ção para dar continuidade ao processo de aprendizagem em nacional, com a criação do Sistema de Avaliação da Educação
seus contextos específicos. Básica (Saeb).
Na conclusão de seu livro A prática educativa, Zabala cha- Em 2005, o Saeb adotou duas avaliações complementares:
ma a atenção para a importância de não perder de vista o a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) – a Pro-
papel da avaliação como elemento-chave de todo o processo va Brasil; e a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb),
de ensino-aprendizagem. Chama a atenção, ainda, para a ambas para a avaliação de leitura em Língua Portuguesa e de
importância da diversificação das formas de avaliação con- resolução de problemas em Matemática. A partir de 2007, a
forme os objetivos e as finalidades específicas, bem como do Prova Brasil apropriou-se do referencial do Ideb e passou a
desenvolvimento de uma atitude observadora e indagadora avaliar todos os níveis da Educação Básica, tornando-se o pa-
por parte dos professores e de confiança na habilidade dos râmetro para a avaliação da qualidade da educação no país.
estudantes de se autoavaliar. A partir de 2018, diferentemente das escolas da rede pú-
Nesse contexto, salienta-se a importância de uma avalia- blica, as escolas da rede privada de ensino, nas quais havia
ção continuada e processual, que se preocupe com as ques- pelo menos dez estudantes matriculados em turmas regula-
tões do cotidiano que afetam a aprendizagem, como dificul- res do último ano do Ensino Médio, passaram a fazer parte
dades de origem física, mental ou emocional, ocorrências de das avaliações por adesão voluntária, tanto nas áreas urba-
bullying, ações de combate ao suicídio e à violência domés- nas como nas áreas rurais. E, a partir de 2019, todas as ava-
tica, entre outras. Por último, o autor destaca a complexidade liações que compreendiam o sistema passaram a ser chama-
e a importância do processo de avaliação do ensino e da das de Saeb e se consolidaram como parâmetros de
aprendizagem. qualidade de ensino.
A seguir, apresentamos como as diferentes etapas ava- Segundo Machado e Alavarse (2014), as avaliações ex-
liativas propostas por Zabala são associadas aos momentos ternas têm ocupado um lugar cada vez mais relevante, sub-
em que podem ser desenvolvidas nesta coleção: sidiando as tomadas de decisão tanto no contexto das
175
políticas educacionais como no âmbito das unidades escola- Desde 2017, tem havido diferentes discussões sobre os
res. Em aproximação com as políticas curriculares, elas ava- projetos políticos propostos para o Saeb. Em 2019, foram pu-
liam o desenvolvimento das competências e das habilidades, blicadas as mudanças que originariam o Novo Saeb, que traria
servem de parâmetro para o planejamento das práticas edu- mudanças significativas, como a possibilidade de um Enem
cativas cotidianas, orientam a intervenção pedagógica e são seriado e a aplicação de provas digitais. Essas medidas esta-
referências para o acompanhamento das metas qualitativas vam planejadas para 2020; no entanto, devido à reorganiza-
e quantitativas. No entanto, é importante considerar a dimen- ção dos calendários escolares em virtude da pandemia de co-
são política dessas avaliações: ronavírus, as principais mudanças foram temporariamente
suspensas. Por isso, é muito importante que os gestores es-
colares e os professores estejam atentos às principais altera-
Embora a concepção de qualidade associada ao Ideb
ções nas políticas das avaliações de larga escala, já que elas
seja um tanto reducionista, por não contemplar aspectos
impactam o dia a dia do estudante de Ensino Médio e seus
relevantes do processo pedagógico, é possível considerar planejamentos escolares e profissionais. Além disso, as ma-
algumas potencialidades no Ideb por conta de duas carac- trizes avaliativas dos exames do Saeb são hoje uma das prin-
terísticas: por facilitar uma apreensão, mesmo que parcial, cipais referências para os cursos de formação de professores.
da realidade educacional brasileira, aí destacadas suas es- Nesta coleção, apresentam-se atividades que buscam
colas, e, sobretudo, por articular dois elementos que há mui- apoiar o desenvolvimento das habilidades e das competên-
to tempo parecem ser antagônicos: o aumento da aprovação cias alinhadas às prerrogativas da BNCC e dos exames de
e o aumento do desempenho. larga escala, essenciais para os estudantes que almejam
acessar o Ensino Superior. Foram disponibilizadas atividades
[…]
coletadas das provas dos principais exames tanto no Livro
Nessa perspectiva, é necessário encarar a avaliação do Estudante, na seção Atividades, quanto na segunda par-
vinculando-a ao desafio da aprendizagem, o que deriva do te deste manual. Esse trabalho também pode ser comple-
esforço de desvinculá-la dos mecanismos de aprovação ou mentado pelos docentes sempre que julgarem conveniente,
reprovação e, mais importante, destaca outra finalidade da pela busca, nos meios digitais, de outras questões dos gran-
avaliação educacional, no que se concentra sua verdadei- des exames, de modo a ampliar a exposição dos estudantes
ra dimensão política, pois numa escola que se pretenda a esse tipo de avaliação e prepará-los para esse desafio.
democrática e inclusiva, as práticas avaliativas deveriam Há, porém, uma característica relevante nos grandes exa-
mes, especialmente nas provas das instituições municipais e
se pautar por garantir que, no limite, todos aprendessem
estaduais: as avaliações costumam apresentar abordagens re-
tudo. […]
gionais, principalmente em relação aos componentes curricu-
[…] Frente a isso, coloca-se como imperativo a busca de lares das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Por isso, é im-
um processo mais amplo de avaliação de escolas e redes portante que o grupo docente esteja atento aos temas e
que, para além da utilização de provas padronizadas, tenha contextos locais. Uma boa estratégia, nesse aspecto, é a elabo-
presente o caráter político da educação escolar. Reconhecer ração de questões sobre esses contextos com base nas matri-
esse caráter implica reconhecer profissionais e usuários das zes do Inep e nos vestibulares da região onde a escola se loca-
escolas como sujeitos que precisam ser considerados como liza. Se houver estudantes que planejam, por exemplo, estudar
tais nos processos avaliativos, pois, sem omitir suas respon- fora do estado de residência, os professores podem conduzir
sabilidades, são eles que, nos ambientes escolares, materia- estudos mais específicos sobre a unidade federativa ou a região
lizam a tarefa educativa. […] em questão. As matrizes de referência do Inep, assim como ou-
tras informações sobre elas, podem ser acessadas no endereço
(maCHado e alavarse, 2014)
eletrônico oficial do instituto (disponível em: http://portal.inep.
gov.br/matriz-de-referencia. Acesso em: 14 jul. 2020).
■ ORGANIZAÇÃO DA COLEÇÃO
A coleção é composta de seis volumes, cada qual com qua- são incentivados a dialogar, refletir, analisar, investigar, elabo-
tro unidades. As unidades são constituídas de dois a quatro rar percepções e hipóteses, bem como a desenvolver planos
capítulos (totalizando 12 capítulos por volume) e uma propos- de ação de modo protagonista, ético e cidadão.
ta de projeto que mobiliza práticas de pesquisa específicas. No presente volume, são mobilizados contextos contem-
Os volumes são independentes, como forma de favorecer porâneos que chamam a atenção dos estudantes para sua
a escolha dos docentes, que devem, para tanto, considerar o condição de cidadãos brasileiros. Ao longo das unidades pro-
projeto político-pedagógico da escola, a realidade escolar e postas, os jovens vão analisar seus cotidianos e suas possi-
as características dos interesses dos diferentes grupos de bilidades de ação e refletir sobre eles, questionando quais são
estudantes com os quais vão construir os percursos do En- as ações éticas que cabem a um cidadão consciente e respon-
sino Médio. sável. A construção da cidadania no Brasil e seus dilemas
Assim, cada volume é organizado com base em uma dupla atuais são os principais contextos abordados.
de eixos temáticos que são os motores que mobilizam concei- Os textos didáticos são complementados por itens iconográ-
tos e categorias dos diferentes campos do saber. Não obstan- ficos e cartográficos, organogramas e textos citados de diferen-
te, em alguns casos, um mesmo objeto de análise é abordado tes tipos (letras de música, poesias, excertos de artigos acadê-
em diferentes volumes, possibilitando aos estudantes apro- micos, notícias, textos de divulgação científica, trechos de
fundar suas percepções sobre ele em diferentes contextos. romances de segmentos diversos, entre outros). Os capítulos e
Por meio da apresentação de contextos atuais, os estudantes as unidades apresentam os seguintes boxes e seções:
176
Seções
177
Ao final de cada volume, são disponibilizadas as descrições
Competências e habilidades das competências específicas e das habilidades trabalhadas
desenvolvidas na obra em cada unidade.
Boxes
Este manual fornece aos docentes subsídios que podem vestibulares de universidades públicas e particulares, com-
auxiliá-los em seus planejamentos, apresentando estratégias plementando as propostas feitas para os estudantes nas se-
e possibilidades de encaminhamento das diferentes propos- ções Atividades. Todas são acompanhadas de respostas e
tas feitas no Livro do Estudante. Além disso, apresenta su- comentários.
gestões de materiais para os professores, como livros, artigos, Os professores também terão acesso a seis vídeos, um
teses, filmes, entre outras, e atividades complementares que para cada volume, que explicam os principais objetivos, as
podem contribuir para aprofundar e/ou ampliar as propostas justificativas e as propostas da coleção. Esses materiais po-
do Livro do Estudante. Para cada unidade, há orientações di- dem ampliar as possibilidades de ensino dos docentes e au-
dáticas específicas e respostas e comentários referentes às xiliar no acompanhamento ao longo do ano letivo.
propostas feitas aos estudantes. Ao final das orientações A seguir, estão listados os conteúdos, os contextos mobi-
didáticas de cada unidade, há uma sugestão de sistematiza- lizadores e as principais competências e habilidades aborda-
ção das relações entre os principais conteúdos e os conceitos das em cada unidade deste volume. Depois, são apresentadas
trabalhados. Em seguida, são disponibilizadas listas de ques- sugestões de cronograma para subsidiar o planejamento di-
tões de exames de larga escala, como o Enem, e de dático.
178
■ QUADRO DE CONTEÚDOS
UNIDADE 1 – ECOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Ação e cidadania
Consumo consciente
Ampliando
A moralidade de Kant e a escravidão
Práticas de texto
Reportagem on-line.
179
UNIDADE 2 – CIDADANIA BRASILEIRA HOJE
Principais conteúdos Competências Competências específicas e
e contextos abordados gerais em destaque habilidades em destaque
Ampliando
Igualdade e desempenho.
180
UNIDADE 3 – O BRASIL E A DEMOCRACIA
Principais conteúdos Competências Competências específicas e
e contextos abordados gerais em destaque habilidades em destaque
Ação e cidadania
Jornalismo, ética e cidadania: fake news.
Ampliando
Soberania do povo.
181
UNIDADE 4 – DEMOCRACIA BRASILEIRA: DESAFIOS
Ação e cidadania
Ação local.
• Grupo focal sobre futuro profissional. CGBE7, CGBE8 e CGBE9. CECHSA1: EM13CHS101.
• Comunicação dos resultados: apre- CECHSA6: EM13CHS606.
Práticas de pesquisa sentação da pesquisa à comunidade
escolar por meio de pôsteres.
182
■ SUGESTÕES DE CRONOGRAMA
Vale lembrar que a coleção está organizada em seis Os temas, os conteúdos, as competências e as habili-
volumes independentes, com doze capítulos cada, agru- dades listados nas páginas anteriores possibilitam o pla-
pados em unidades temáticas. Essa oferta contribui para nejamento estruturado, facilitando a elaboração de ava-
a autonomia dos docentes no planejamento e na elabo- liações, o estabelecimento dos ritmos do trabalho didático
ração dos planos de aula e das sequências didáticas, de e a mobilização da comunidade escolar em prol das ativi-
acordo com a diversidade escolar, os projetos político-pe- dades propostas, já que é possível prever as ocorrências
dagógicos das diferentes instituições e os grupos de es- mais sistematizadas dessa participação no ano letivo.
tudantes, com base em cronogramas bimestrais, trimes- Assim, os cronogramas favorecem a construção de re-
trais ou semestrais. Essa escolha geralmente é feita pelo lações de qualidade com os moradores do entorno da ins-
corpo docente após diálogos diagnósticos nas etapas de tituição escolar e com as famílias dos estudantes.
preparação do planejamento. A seguir, foram disponibilizadas propostas de organi-
Assim, os grupos de professores podem organizar a zação nas quais os doze capítulos de cada volume possam
abordagem dos conteúdos, a consecução das sugestões ser trabalhados ao longo de 32 aulas, que podem ser agru-
de projetos de pesquisa e o acompanhamento dos estu- padas semestral, trimestral ou bimestralmente, entre ou-
dantes com vistas à autonomia deles no processo de tras possibilidades.
aprendizagem.
4 7e8 3 4 10 a 12 4 4 13 a 16 5e6
5 9 e 10 3e4 5 13 a 15 5 5 17 a 20 6e7
6 11 e 12 4 6 16 a 18 6 6 21 a 24 7e8
7 13 e 14 5 7 19 a 21 7 7 25 a 28 9 e 10
8 15 e 16 5e6 8 22 a 24 8 8 29 a 32 11 e 12
9 17 e 18 6 9 25 e 26 9
10 19 e 20 7 10 27 e 28 10
11 21 e 22 7e8 11 29 e 30 11
12 23 e 24 8 12 31 e 32 12
13 25 e 26 9
14 27 e 28 10
15 29 e 30 11
16 31 e 32 12
183
■ LEITURAS COMPLEMENTARES
Os textos a seguir podem aprofundar e/ou ampliar os diá-
existem momentos em que outras estratégias pedagógicas
logos propostos ao longo deste volume, proporcionando re-
precisam ser colocadas em ação para que os alunos possam
flexões diferentes sobre os objetos de pesquisa analisados
aprender determinados conceitos. Nesse sentido, é neces-
e as perspectivas teórico-metodológicas adotadas na coleção.
sário que o professor tenha abertura e flexibilidade para re-
O trabalho com projetos lativizar a sua prática e as estratégias pedagógicas, com
vistas a propiciar ao aluno a reconstrução do conhecimen-
to. O compromisso educacional do professor é justamente
Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo saber o quê, como, quando e por que desenvolver deter-
de produzir, de levantar dúvidas, de pesquisar e de criar re- minadas ações pedagógicas. E para isto é fundamental co-
lações, que incentivam novas buscas, descobertas, com- nhecer o processo de aprendizagem do aluno e ter clareza
preensões e reconstruções de conhecimento. E, portanto, o da sua intencionalidade pedagógica. Outro questionamen-
papel do professor deixa de ser aquele que ensina por meio to que normalmente vem à tona diz respeito à duração de
da transmissão de informações – que tem como centro do um projeto, uma vez que a atuação do professor segue um
processo a atuação do professor –, para criar situações de calendário escolar e, portanto, pensar na possibilidade de
aprendizagem cujo foco incide sobre as relações que se es- ter um projeto sem fim cria uma certa preocupação em ter-
tabelecem neste processo, cabendo ao professor realizar as mos de seu compromisso com os alunos de uma determi-
mediações necessárias para que o aluno possa encontrar nada turma. Nesse sentido, uma possibilidade seria pensar
sentido naquilo que está aprendendo, a partir das relações no desenvolvimento de um projeto que tenha começo-meio-
criadas nessas situações. […] -fim, tratando esse fim como um momento provisório, ou
[…] seja, que a partir de um fim possam surgir novos começos.
A importância desse ciclo de ações é justamente que o pro-
No entanto, para fazer a mediação pedagógica, o pro-
fessor possa criar momentos de sistematização dos concei-
fessor precisa acompanhar o processo de aprendizagem do
tos, estratégias e procedimentos utilizados no desenvolvi-
aluno, ou seja, entender seu caminho, seu universo cogni-
mento do projeto. A formalização pode propiciar a abertura
tivo e afetivo, bem como sua cultura, história e contexto de
[…] para um novo ciclo de ações num nível mais elaborado
vida. Além disso, é fundamental que o professor tenha cla-
de compreensão dando, portanto, um formato de uma espi-
reza da sua intencionalidade pedagógica para saber intervir
ral ascendente, representando o mecanismo do processo de
no processo de aprendizagem do aluno, garantindo que os
aprendizagem.
conceitos utilizados, intuitivamente ou não, na realização
do projeto sejam compreendidos, sistematizados e formali- Prado, Maria Elisabette Brisola Brito. Série “Pedagogia de
zados pelo aluno. […] Outro aspecto importante na atuação Projetos e Integração de Mídias” – Programa Salto para o
Futuro, set. 2003. Disponível em: http://www.eadconsultoria.
do professor é o de propiciar o estabelecimento de relações com.br/matapoio/biblioteca/textos_pdf/texto18.pdf. Acesso
interpessoais entre os alunos e respectivas dinâmicas so- em: 15 jul. 2020.
ciais, valores e crenças próprios do contexto em que vivem.
Portanto, existem três aspectos fundamentais que o profes-
sor precisa considerar para trabalhar com projetos: as pos- Protagonismo juvenil
sibilidades de desenvolvimento de seus alunos; as dinâmi-
cas sociais do contexto em que atua e as possibilidades de
[…] O tema da participação política dos jovens é um lu-
sua mediação pedagógica. O trabalho por projetos requer
gar comum nas políticas públicas de juventude atualmente,
mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e,
constituindo-se como uma espécie de pilar metodológico
consequentemente, na postura do professor. [Fernando] Her-
para estas, de forma que, sem ele, a legitimidade de uma
nández […] enfatiza que o trabalho por projeto “não deve
política pública é posta em dúvida. Esse tema, como foi evi-
ser visto como uma opção puramente metodológica, mas
denciado até aqui, não surgiu em 1985 com o Ano Interna-
como uma maneira de repensar a função da escola” […].
cional da Juventude, não era uma novidade, mas sim uma
Essa compreensão é fundamental, porque aqueles que bus-
orientação que já vinha sendo discutida pela ONU há algum
cam apenas conhecer os procedimentos, os métodos para
tempo. […]
desenvolver projetos, acabam se frustrando, pois não existe
[…]
um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da com-
plexidade que envolve a realidade de sala de aula, do con- Essa modalidade de política pública teria como objetivo
texto escolar. uma ação sobre várias esferas da vida dos jovens, não sen-
do uma temeridade dizer que ela tem como estratégia a
[…]
gestão de suas vidas em relação à sociedade, fazendo com
Uma questão que gera questionamento entre os profes-
que esses jovens sejam atores estratégicos no desenvolvi-
sores é o fato de que nem todos os conteúdos curriculares
mento social, incluindo-os e fazendo-os participarem da
previstos para serem estudados numa determinada série de
sociedade enquanto tal, sem rupturas ou conflitos que po-
escolaridade são possíveis de serem abordados no contex-
nham em risco as estratégias que visam à melhoria da vida
to do projeto. Esta é uma situação que mostra que o proje-
de toda a população. A prática do protagonismo juvenil, em
to não pode ser concebido como uma camisa-de-força, pois
termos oficiais, desse modo, se torna um eixo fundamental
184
das ações políticas que têm os jovens como público-alvo, Relações étnico-raciais e a
isto é, na concepção do protagonismo juvenil “[…] o jovem
tem que ser o ator principal em todas as etapas das propos-
descolonização dos currículos
tas a serem construídas em seu favor” […]. É claro que não
podemos nos prender apenas ao termo “protagonismo ju- Vivemos um momento ímpar no campo do conhecimen-
venil”, mas levar em consideração que ele está relacionado to. O debate sobre a diversidade epistemológica do mundo
a um tipo de prática política que não prescinde de todo um encontra maior espaço nas ciências humanas e sociais. É
trabalho de formação e autoformação do jovem, elementos nesse contexto que a educação participa como um campo
comuns em ações políticas que tentam incentivar um ideal que articula de maneira tensa a teoria e a prática. Podemos
de cidadania para a juventude. […] Ora, isso significa não dizer que, embora não seja uma relação linear, os avanços,
apenas a ideia de que os jovens devem se tornar atores prin- as novas indagações e os limites da teoria educacional têm
cipais das ações políticas governamentais ou não governa- repercussões na prática pedagógica, assim como os desa-
mentais, mas sim, que a sua força deve ser capitalizada, fios colocados por essa mesma prática impactam a teoria,
deve ser transformada numa espécie de moeda de troca, um indagam conceitos e categorias, questionam interpretações
trunfo para desenvolvimento e progresso mundial. É preci- clássicas sobre o fenômeno educativo que ocorre dentro e
so levar em consideração que, com esse dito acerca da ju- fora do espaço escolar.
ventude enquanto “futuro no presente”, temos uma espécie Esse processo atinge os currículos que, cada vez mais são
de estreitamento do discurso da responsabilidade para com inquiridos a mudar. Os dilemas para os formuladores de po-
as futuras gerações. Isso é um ponto importante, pois não líticas, gestores, cursos de formação de professores e para as
se está apenas falando de uma preocupação com as gera- escolas no que se refere ao currículo são outros: adequar-se
ções futuras, aquelas que nem existem ainda, e sim de uma às avaliações standartizadas nacionais e internacionais ou
preocupação de quem vive agora consigo mesmo. Diríamos construir propostas criativas que dialoguem, de fato, com a
que a sociedade quer ações no presente por parte dos jo- realidade sociocultural brasileira, articulando conhecimento
vens, porém, para eles, essas ações são vendidas como in- científico e os outros conhecimentos produzidos pelos sujei-
vestimentos no seu próprio futuro. […] tos sociais em suas realidades sociais, culturais, históricas e
[…] Os comportamentos de risco dos jovens são prejudi- políticas? Compreender o currículo como parte do processo
ciais, tanto para eles quanto para a sociedade, isto é, o prejuí- de formação humana ou persistir em enxergá-lo como rol de
zo de um é o prejuízo do outro. Investir no jovem é investir conteúdos que preparam os estudantes para o mercado ou
no país. Entretanto, não podemos deixar de levar em consi- para o vestibular? E onde entra a autonomia do docente? E
deração a noção capital humano, pois ela diz respeito à rela- onde ficam as condições do trabalho docente, hoje, no Brasil
ção que um sujeito estabelece consigo mesmo. Ela tem um e na América Latina? Como lidar com o currículo em um con-
significado importante, pois, a partir dessa noção, o sujeito, texto de desigualdades e diversidade?
com aquilo que ele é e sabe fazer, passa a ser a sua própria Nesse contexto, é possível dizer que a teoria educacio-
moeda de troca. As suas habilidades, portanto, serão vistas nal e o campo do currículo participam de um movimento
como um capital, algo que pode lhe gerar, inclusive, renda. apontado por Santos (2006) composto por duas vertentes:
Falar em investimento no capital humano significa falar em a interna, que questiona o caráter monolítico do cânone
investimento nas capacidades das pessoas e, por conseguin- epistemológico e se interroga sobre a relevância episte-
te, nas suas maneiras de gerir suas próprias vidas. mológica, sociológica e política da diversidade interna de
[…] práticas científicas dos diferentes modos de fazer ciência
O incentivo ao empreendedorismo juvenil é um ponto e da pluralidade interna da ciência; e a externa, que se in-
comum em alguns documentos que pautam as políticas pú- terroga sobre a exclusividade epistemológica da ciência e
blicas de juventude. No entanto, é preciso levar em consi- se concentra nas relações entre a ciência e outros conhe-
deração que empreender não é apenas constituir uma em- cimentos, ou seja, aquela que diz respeito à pluralidade
presa ou investir dinheiro, porém, executar uma tarefa, fazer externa da ciência. Segundo o autor acima citado, essas
algo que exija certa força e coragem: algo como uma capa- vertentes podem ser compreendidas como dois conjuntos
cidade própria que só depende de si mesmo. Por outro lado, de epistemologias que procuram, a partir de diferentes
tendo em vista a concepção de capital humano, empreender perspectivas, responder às premissas culturais da diversi-
é formar-se, é também investir em si, acumulando saberes dade e da globalização.
para que esses sejam contabilizados como capital, numa Pode-se dizer que, na teoria educacional e na prática do
espécie de economia de conhecimento. Dessa maneira, po- currículo, esses dois conjuntos de epistemologias são pro-
demos estabelecer uma conexão entre protagonismo e em- duzidos por um movimento dinâmico: as reflexões internas
preendedorismo, tendo em vista que ambos dizem respeito à ciência e as questões colocadas pelos sujeitos sociais
a um autoinvestimento que tem por finalidade um tipo de organizados em movimentos sociais e ações coletivas ao
autonomia. campo educacional. Quanto mais se amplia o direito à edu-
cação, quanto mais se universaliza a educação básica e se
Goulart, Marcos Vinicius da Silva; santos, Nair Iracema Silveira
dos. Protagonismo juvenil e capital humano: uma análise da democratiza o acesso ao ensino superior, mais entram para
participação política da juventude no Brasil. Ciências Sociais o espaço escolar sujeitos antes invisibilizados ou descon-
Unisinos, v. 50, n. 2, p. 129-134, 2014. Disponível em: https:// siderados como sujeitos de conhecimento. Eles chegam
www.redalyc.org/pdf/938/93832099004.pdf.
Acesso em: 11 ago. 2020. com os seus conhecimentos, demandas políticas, valores,
185
corporeidade, condições de vida, sofrimentos e vitórias. territórios em disputa, sobretudo desses novos sujeitos so-
Questionam nossos currículos colonizados e colonizadores ciais organizados em ações coletivas e movimentos sociais
e exigem propostas emancipatórias. Quais são as respostas […].
epistemológicas do campo da educação a esse movimento?
Gomes, Nilma Lino. Relações étnico-raciais e descolonização
Será que elas são tão fortes como a dura realidade dos sujei- dos currículos. Currículos sem fronteiras, v. 12, n. 1,
tos que as demandam? Ou são fracas, burocráticas e com p. 99-103, jan./abr. 2012. Disponível em: http://
os olhos fixos na relação entre conhecimento e os índices www.curriculosemfronteiras.org/vol12iss1articles/
gomes.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020.
internacionais de desempenho escolar?
Por isso, uma análise que nos permita avançar ou com-
preender de maneira mais profunda esse momento da edu- Ética e cidadania
cação brasileira não pode prescindir de uma leitura atenta
que articule as duras condições materiais de existência vi-
Delinear um entrelaçamento nas discussões entre éti-
vida pelos sujeitos sociais às dinâmicas culturais, identitá-
rias e políticas. É nesse contexto que se encontra a deman- ca e cidadania é mais que estreitar os relacionamentos
da curricular de introdução obrigatória do ensino de entre o saber ético-filosófico e o saber político. Trata-se
História da África e das culturas afro-brasileiras nas escolas de colocar a nu uma evidência, que é aquela segundo a
da educação básica. Ela exige mudança de práticas e des- qual boa parte das práticas sociais (boas ou más, úteis ou
colonização dos currículos da educação básica e superior não, lícitas ou ilícitas) se compõem de ações (individuais
em relação à África e aos afro-brasileiros. Mudanças de re- ou coletivas) capazes de traduzir os sentimentos, as sen-
presentação e de práticas. Exige questionamento dos luga- sações, as angústias, as dificuldades etc. ligados ao com-
res de poder. Indaga a relação entre direitos e privilégios portamento humano em sociedade. As práticas políticas
arraigada em nossa cultura política e educacional, em nos- se constroem, portanto, sobre um projeto social que pos-
sas escolas e na própria universidade. sui como substância de desenvolvimento o próprio com-
portamento humano (suas necessidades e patologias,
[…]
seus desvios, suas carências, projeções, orientações…),
Descolonizar os currículos é mais um desafio para a edu- que se tenta tornar maximamente previsível e calculada-
cação escolar. Muito já denunciamos sobre a rigidez das mente controlado dentro das necessidades sociais, o que
grades curriculares, o empobrecimento do caráter conteu- somente torna ainda mais importante a reflexão conjun-
dista dos currículos, a necessidade de diálogo entre escola, ta acerca das práticas sociopolíticas, encetadas pela re-
currículo e realidade social, a necessidade de formar profes- flexão política, e as práticas axiológico-comportamentais,
sores e professoras reflexivos e sobre as culturas negadas e encetadas pela reflexão ética.
silenciadas nos currículos.
E, quando se trata de pensar a ética, trata-se de eviden-
No entanto, é importante considerar que há alguma mu- ciar a raiz de onde tudo provém, a sede das tormentas e das
dança no horizonte. A força das culturas consideradas ne- soluções sociais: o comportamento humano. De fato, não
gadas e silenciadas nos currículos tende a aumentar cada bastasse o termo éthos (do grego, “hábito”) já revelar esse
vez mais nos últimos anos. As mudanças sociais, os proces- sentido, a reflexão ética se propõe exatamente a colocar-se
sos hegemônicos e contra-hegemônicos de globalização e atenta aos entrelaçamentos profundamente humanos das
as tensões políticas em torno do conhecimento e dos seus ações intersubjetivas e das intenções intrassubjetivas.
efeitos sobre a sociedade e o meio ambiente introduzem,
E, num primeiro olhar, o que é que se constata no com-
cada vez mais, outra dinâmica cultural e societária que es-
portamento humano? O que é que permite inaugurar uma
tá a exigir uma nova relação entre desigualdade, diversida-
investigação ligada à perspectiva que ora se assume como
de cultural e conhecimento. Os ditos excluídos começam a
eixo de reflexão? Parte-se de uma pergunta: do que é que
reagir de forma diferente: lançam mão de estratégias cole-
somos capazes como seres capazes de razão, de delibera-
tivas e individuais. Articulam-se em rede. A tão falada glo-
ção e decisão? Do que é que somos capazes por pensarmos
balização que quebraria as fronteiras aproximando merca-
causas e fins, meios e métodos, por sermos seres que inten-
dos e acirrando a exploração capitalista se vê não somente
tam, confabulam, refletem, agem e são capazes de criação?
diante de um movimento de uma globalização contra-he-
O que podemos fazer como seres criativos?
gemônica, nos dizeres de [Boaventura de Sousa] Santos
(2006), mas também de formas autônomas de reação, algu- Quando a pergunta é o que somos capazes de fazer co-
mas delas duras e violentas. Esse contexto complexo atin- mo seres criativos, a resposta parece encaminhar-se com
ge as escolas, as universidades, o campo de produção do facilidade. Somos capazes de agir, fazer, produzir, inovar, re-
conhecimento e a formação de professores/as. Juntamente volucionar, mudar, instituir, estruturar, formar, construir, do-
às formas novas de exploração capitalista surgem movimen- minar, sistematizar, dimensionar, calcular, consertar, moldar
tos de luta pela democracia, governos populares, reações etc. Isso significa que nesses verbos moram as grandes con-
contra-hegemônicas de países considerados periféricos ou quistas e realizações, de indivíduos, grupos e, por vezes, ci-
em desenvolvimento. Esse processo atinge os currículos, os vilizações inteiras. […]
sujeitos e suas práticas, instando-os a um processo de re- No entanto, é paradoxal que a capacidade de criar se
novação. Não mais a renovação restrita à teoria, mas aque- encontra alinhada com a paralela capacidade de destruir. E
la que cobra uma real relação teoria e prática. E mais: uma esta parece ser uma força tão equivalente àquela criativa.
renovação do imaginário pedagógico e da relação entre os É assim que fenômenos absolutamente assintônicos e dia-
sujeitos da educação. Os currículos passam a ser um dos metralmente opostos convivam lado a lado, produzindo to-
186
das as contradições que marcam a vida social. adaptar, chega-se ao sentido negociado no interior do pro-
[…] Atrás de todo esse dilema está o infindável rol de es- cesso educativo. Este espaço educativo torna-se ele mesmo
colhas e decisões que marcam a capacidade humana de deli- instituidor de sentidos”. Segundo este autor, nisso se resume
berar e, portanto, que dão condições para a formação do agir a grande diferença da educação ética nos dias atuais. Acerca
ético. Principalmente num contexto pós-moderno, urge sejam disto podemos levantar, entre outras, as seguintes preocupa-
pensadas as perspectivas éticas e os dilemas axiológicos, ten- ções: 1) o que está para ser negociado neste âmbito e o que
do em vista a importância de se falar de algo que se pode con- o antecede? 2) qual a relação que deve se estabelecer com a
siderar ainda pouco explorado, ou, se já suficientemente ex- cultura que, em última instância, corrobora ou não o ethos?
plorado, ainda inadequadamente explorado. Falar de ética, bem Estas preocupações justificam-se em nosso entender
como do entrelaçamento desta com as questões da cidadania, pelo fato de a escola ser uma instituição republicana que
não é contrassenso, mas sim um exercício necessário, até mes- tem uma responsabilidade social que a ultrapassa. Por outro
mo porque num momento de ceticismo ético e de derrocada lado, não podemos esquecer que a escola, o projeto peda-
dos universais morais se depreende novos valores despontan- gógico, são produções coletivas, o que implica disposição
do a partir da própria cultura histórica desse tempo. de entendimento entre os pares […]
Este exercício contínuo e reiterado de equilíbrio sobre Para enfrentar este desafio, a constatação de que cada
um fio de prumo, esta sensação de que se vive ora penden- um tem sua opinião e seus valores, não deve ser o fim de
do para um lado, ora pendendo para o outro, é o que se po- um diálogo, algo como: “tu tens a tua opinião, eu tenho a
de chamar de experiência ética. minha e pronto”. Pode ser, entretanto, motivo para iniciar
um diálogo, que será tanto mais produtivo quanto maior for
Bittar, Eduardo C. B. Ética, educação, cidadania
e direitos humanos: estudos filosóficos entre cosmopolitismo a capacidade de nos entregarmos de forma efetiva, dispos-
e responsabilidade social. Barueri: Manole, 2004. p. 1-4. tos a rever posições, reconhecendo que “emitir opinião não
é um ato de arrogância, ao contrário, arrogante pode ser o
gesto de não emitir opinião, acreditando que um dia possa
Ética e a educação escolar fazê-lo de uma vez por todas”.
FensterseiFer, Paulo E. Ética e educação: reflexões acerca
Situando esse debate no âmbito da educação escolar, da docência. Educação, Santa Maria, v. 34, n. 3, p. 564-566,
podemos perceber a complexidade na qual estamos envol- set./dez. 2009. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/
reveducacao/article/view/868/602. Acesso em: 6 jul. 2020.
vidos, amparamo-nos na máxima que afirma ser mais pro-
missor “ficar embaralhado com a complexidade do que fal-
samente esclarecido”. Escolarização formal e cidadania
Podemos entender que “falsamente esclarecido”, nesse
caso, é acreditar que educar é um ato técnico, não deman-
Ao restringir o espaço de reflexão à escolarização for-
dando a constante reflexão, ou científico, deduzindo as ações
mal, sujeitos e saberes estão claramente delimitados: pro-
de um saber prévio, abolindo-se em ambos a necessidade
fessores e alunos e o conhecimento tido como “científico”.
de escolha. Garantir espaço para este exercício pode ser
Sujeitos que ocupam lugares sociais delimitados e, desse
então a grande contribuição da educação escolar, o que
modo, mais do que responderem por si mesmos, veiculam,
pressupõe desnaturalizar o real, suspeitar do real, reconhe-
através de suas falas, posturas e gestos, vozes sociais que
cendo-o como produção histórica decorrente de escolhas
expressam a história socialmente produzida desses luga-
humanas. É, enfim, combater toda forma de reificação, co-
res. O que se constitui como objeto do conhecimento, por
roamento do processo de alienação do criador que não se
sua vez, também veicula a nossa história e as formas pelas
reconhece na criatura por ele mesmo produzida.
quais representamos simbolicamente o mundo em que vi-
Neste esforço cabe reconhecer que o mundo com o qual vemos, a realidade tanto física quanto social. Soma-se a
estamos implicados é sempre construção humana, produto isso o fato de que, juntamente com conhecimentos, são
das decisões circunstanciadas e com pretensões normati- veiculados na ação pedagógica juízos de valor, crenças,
vas, forjadoras da moral, a qual, no entender de Goergen preferências, qualificações e desqualificações, enfim, toda
(2001a, p. 153), “são regras precárias, configuradas concre- uma gama de conteúdos que dizem respeito aos sujeitos
tamente no interior de um mundo de circunstâncias, mas à em relação e a forma como representam a realidade, os
luz de princípios éticos mais gerais”. “A falta de certeza”, outros e a si mesmos.
acrescenta ele, “é uma realidade que tem de ser assumida Essa delimitação, portanto, em princípio facilita a refle-
pela educação”. Afinal, “se existissem princípios absolutos xão a respeito da cidadania. Por outro lado, a complexifica:
não careceríamos de educação: eles deveriam simplesmen- afinal, aprendemos a ser cidadãos ou somos cidadãos quan-
te ser aceitos e observados” (p. 155). O que estaria mais do aprendemos? Relacionada aos sujeitos e à forma como
próximo da ideia de adestramento e não de educação. En- se posicionam frente a realidade e considerando que é pos-
tão, “só a incerteza e a contingência necessitam de educa- sível aprender a ser cidadão em um contexto de sala de au-
ção” (p. 156), o que coloca a capacidade de gerenciar con- la, uma vez aprendido esse “conteúdo”, o mesmo é genera-
flitos como uma das tarefas centrais da educação moral, lizado para outras esferas da vida cotidiana além das quatro
pois, acrescento, é deles que pode nascer o novo. paredes que compõem o universo escolar?
Citando mais uma vez Goergen (2001a, p. 157), tem-se Para delimitar um pouco o campo de reflexões, neces-
que, “do sentido transcendente, ao qual todos tinham de se sário explicitar que cidadania é aqui entendida como
187
condição, na medida em que diz respeito ao lugar ocupado demonstrado muito positiva, pois os indígenas formados
pelo sujeito na esfera social. Diz respeito, portanto, a forma nas mais diversas áreas tendem a se tornar interlocutores
como nos inserimos no contexto social, ao acesso (ou não) […] entre os grupos indígenas e a sociedade envolvente,
que temos aos bens culturais historicamente produzidos especialmente com o Estado brasileiro […].
pelos homens, à possibilidade de participar das decisões […]
que dizem respeito à coletividade, ao efetivo exercício das
Acredita-se que a história indígena é a melhor designa-
possibilidades humanas.
ção para o campo de pesquisas que vem sendo tratado nes-
Enquanto condição, e considerando o contexto social, te artigo. Dentro dessa proposta, a etno-história se configu-
econômico e político em que vivemos, a cidadania não é algo ra como uma metodologia bastante eficaz de trabalho. Para
a ser concedido, pois, se assim o fosse, restaria à grande maio- finalizar, discutir-se-ão agora alguns aspectos deste campo
ria da população esperar. Ao contrário, essa condição advém de pesquisas.
da luta, do confronto, da explicitação das graves contradições
[…] Como afirmou Manuela Carneiro da Cunha […], du-
que marcam nossa sociedade, decorrentes de um modelo so-
rante muito tempo os indígenas não foram vítimas apenas
cial e econômico pautado pela lógica da exclusão.
da eliminação física, mas também da eliminação enquanto
Desse modo, enquanto condição, o espaço para o exercício sujeitos históricos.
da cidadania não pode ser restrito e sua aprendizagem não
A década de 1990 marcou um momento de guinada, pois
pode decorrer unicamente de um contexto e de pessoas que,
várias novas iniciativas frutos da articulação entre antropó-
na função de professores, sejam porta-vozes desse “conteúdo”.
logos, arqueólogos e historiadores trouxeram à tona trabalhos
[…] com perspectivas renovadas. Pode-se destacar a publicação
O espaço da sala de aula […] parece ter relevante papel, da coletânea “História dos Índios no Brasil” [Manuela Carnei-
ainda que não absoluto, no que se refere à construção da ro Cunha, 1992] […] como um marco importante para a his-
cidadania. Cabe destacar, no entanto, que essa contribuição tória indígena no país. Além desse, há vários outros trabalhos
é limitada, pois nem tudo que se discute ou trabalha no es- que se tornaram marco de referência da historiografia sobre
paço pedagógico é apropriado pelo sujeito […] o assunto, como, por exemplo, “Negros da Terra” de John Ma-
[…] nuel Monteiro (1994) e “Ensaios em Antropologia Histórica”
Por fim, entendendo a importância da escolarização for- de João Pacheco de Oliveira (1999). Nesse período também
mal para a consolidação de uma sociedade efetivamente se viu florescer a formação de vários especialistas na área,
democrática e, portanto, para a possibilidade de todos serem que, embora ainda não sejam tão numerosos, têm contribuí-
de fato cidadãos, demarca-se que a escolarização por si só do para com o avanço das pesquisas e para a formação de
não garantirá isto. A escola para todos não nos dará de mo- novos pesquisadores. Observa-se também a interiorização e
do algum cidadania, pois esta decorre da luta, da resistência a ampliação do número de instituições que começam a abrir
que precisamos travar cotidianamente contra toda e qual- espaço para esse tipo de pesquisa.
quer forma de dominação e usurpação. […]
Desse modo, não é a sala de aula que resolverá nossos Mas não se pode enganar, apesar de tudo o que já foi fei-
graves problemas sociais. Esse espaço, porém, é importan- to, há um longo caminho a ser percorrido. Em 2008 a Lei Fe-
te e não pode ser negligenciado, pois pode constituir-se co- deral n. 11 645, a exemplo do que já era previsto desde 2003
mo fórum de discussão, de embate, de explicitação das con- em relação à história e cultura afro-brasileira, tornou obriga-
tradições, de reconhecimento das condições em que vivemos tório o estudo da história e cultura indígena nos estabeleci-
e delineamento de perspectivas futuras. mentos de ensino fundamental e médio do país. […] A legis-
Fundamental, portanto, é saber que podemos vir a ser lação traz otimismo, mas também certa melancolia por saber
cidadãos, reconhecer o quanto nos falta para que consiga- que é necessária uma obrigação legal para oferecer algum
mos efetivamente viver em uma sociedade democrática em espaço à história indígena ou ao indígena na história do Bra-
que todos tenham a possibilidade de usufruir dos bens so- sil ensinada nas escolas. Apesar dessa questão, esse dispo-
cial e historicamente produzidos pelos próprios homens. sitivo legal pode contribuir para o desenvolvimento da pes-
quisa em história indígena, pois se espera que as instituições
Zanella, Andréa Vieira. Escolarização formal e cidadania:
possíveis relações, relações possíveis? In: silveira, A. F. (org.) de ensino superior abram novos postos de trabalho nessa
Cidadania e participação social. Rio de Janeiro: área. Isso propiciará a contratação de professores e pesqui-
Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. p. 87-90. sadores comprometidos com a temática e a formação de li-
Disponível em: http://books.scielo.org/id/hn3q6/pdf/
cenciados habilitados para o ensino da questão nas escolas.
silveira-9788599662885-09.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020.
Para o sucesso efetivo dessa legislação, é fundamental
que seja superada a perspectiva eurocêntrica e evolucionis-
ta presente em muitos currículos escolares. […]
Etno-história e histórias indígenas Um dos principais objetivos desta lei é o de combater os
preconceitos em relação aos povos indígenas. Por isso cabe
Nos últimos anos […] tem crescido a participação de in- uma reflexão acerca de qual história indígena será ou está sen-
dígenas em cursos superiores, participação essa que não se do ensinada? Esta é uma importante questão, uma questão que
limita aos cursos de graduação, ocorrendo também em cur- foge ao controle legal, o que amplia a responsabilidade do meio
sos de pós-graduação stricto sensu. Tal participação tem se acadêmico sobre essa reflexão. O papel da academia é
188
importantíssimo, pois ela tem se configurado como o espaço quando o processo evoluiu no sentido de garantir a gover-
privilegiado de produção de conhecimento, conhecimento es- nabilidade, as democracias eleitorais não atendam neces-
se que tende a ser didatizado. Portanto, a história ensinada é, sariamente aos critérios mínimos segundo os quais um sis-
de certo modo, reflexo da produção acadêmica universitária tema político autoritário se transforma em democrático […].
[…] […]
Nesse sentido alguns pontos podem ser destacados. Pri- […] o estabelecimento de um regime democrático envol-
meiramente, é importante caminhar no sentido, já defendido veria basicamente: 1) o direito dos cidadãos escolherem go-
anteriormente, de uma história indígena que não seja tempo- vernos por meio de eleições com a participação dos membros
ralmente determinada pela história colonial. Ou seja, a histo- adultos da comunidade política, mas a universalidade dessa
riografia não pode repetir a ideia de que a história indígena condição só foi plenamente reconhecida com a progressiva
começa com a dominação colonial, pois é sabido que há mui- extensão do sufrágio às mulheres no século XX; 2) eleições
ta história na chamada “pré-história”. Uma abordagem nesse regulares, livres, competitivas e abertas; 3) garantia de direitos
sentido só avançará com a inclusão mais sistemática da ar- de expressão, reunião e organização, em especial, de partidos
queologia nas pautas de discussão sobre história indígena […]. políticos para competir pelo poder, embora sem considerar se
É preciso, também, promover a descolonização do discur- as decisões internas dos partidos são submetidas a regras de-
so histórico, isso é possível a partir do momento em que os mocráticas; e 4) acesso a fontes alternativas de informação
povos indígenas sejam tomados como sujeitos históricos ple- sobre a ação de governos e o processo político. A definição
nos. Assim sendo, não devem ser tratados apenas como víti- sustentava que qualquer sistema político que não fosse basea-
mas de processo colonial, mas também como responsáveis do em processos competitivos de escolha de autoridades pú-
pela própria história […]. Isso não significa, de forma alguma, blicas, dependentes do voto da massa de cidadãos, não podia
atribuir a culpa de suas mazelas aos próprios indígenas. Jamais ser considerado uma democracia, mas, omitia o fato de que
se deve esquecer ou omitir que a relação colonial entre indí- isso, em boa parte dos casos, só valia para metade das socie-
genas e não indígenas foi e continua sendo uma relação desi- dades ao excluir os eleitores do sexo feminino, afrodescenden-
gual. Nesse sentido, por exemplo, a própria linguagem utiliza- tes e outros outsiders.
da para representar esse momento tem algo de colonial. […]
[…] A perspectiva que avança na direção de um tratamen-
É sempre bom lembrar que o termo “índio” do qual deriva to efetivo […] é a que define a democracia em termos de
“indígena” é um termo generalizante que não reflete a diver- sua qualidade. […] A qualidade envolveria processos con-
sidade de povos e culturas existentes na América. Seu uso é trolados por métodos e timing precisos, singulares, capa-
aceito apenas no sentido de oposição entre povos de origem zes de atribuir características particulares ao produto de
europeia, de culturas ocidentais e os “nativos” de culturas modo a satisfazer as expectativas de seus consumidores
não ocidentais, mas nunca se deve imaginar que os povos potenciais. No caso da democracia, espera-se que ela se-
indígenas tenham em algum momento constituído um bloco ja capaz de satisfazer as expectativas dos cidadãos quan-
monolítico. São, portanto, importantes as relações de aliança to à missão que eles atribuem aos governos (qualidade de
e conflito historicamente observadas entre povos diversos e resultados); à garantia de seus direitos de liberdade e de
mesmo as relações políticas e sociais internas a cada grupo. igualdade políticas necessárias para participar e alcançar
seus interesses e preferências (qualidade de conteúdo); e
CavalCante, Thiago Leandro Vieira. Etno-história e história
à existência de métodos ou procedimentos institucionais
indígena: questões sobre conceitos, métodos e relevância da
de escolha de governantes e de sua responsabilização des-
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em seu nome (qualidade de procedimentos). Procedimen-
tos institucionais e a ação de governos são vistos como
189
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Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. E-book. Nesse link, estão disponibilizadas definições oficiais do governo so-
Trata-se de uma obra de referência sobre a psicologia educacional bre a área de Ciências Humanas e Sociais aplicadas, seus principais
que pode subsidiar os diálogos sobre o desenvolvimento emocional desafios e as temáticas que se destacam nas abordagens dessa área.
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bdu/bitstream/10737/1868/1/2017VolneiAndreBald.pdf. Documento elaborado pelo Ministério da Educação, conforme previs-
Acesso em: 7 jul. 2020. to na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Estabelece as
Os autores fazem uma análise qualitativa a respeito das transforma- competências, as habilidades e as aprendizagens essenciais aos es-
ções da estrutura e da organização do Ensino Médio no Brasil ao lon- tudantes de todas as escolas públicas e particulares do país, em todas
go do tempo. Para isso, analisam a opinião de sujeitos e de especia- as etapas da Educação Básica.
listas da área de educação envolvidos no processo de concepção e Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional dos
implantação do Novo Ensino Médio. Secretários Estaduais de Educação. Guia de implementação
Bittar, Eduardo C. B. Ética, educação, cidadania e direitos hu- do Novo Ensino Médio. 2019. Disponível em: http://novoen
manos. Barueri: Manole, 2004. sinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em: 6 jul. 2020.
A obra apresenta reflexões filosóficas sobre o trabalho na sala de au- O documento explica as mudanças previstas pela reforma do Ensino
la com foco nas posturas e propostas éticas alinhadas aos direitos Médio na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e fornece aos
humanos. O ponto de partida para os debates são as experiências técnicos da rede de ensino e aos gestores escolares orientações sobre
selecionadas pelo autor, enriquecendo as proposições que aliam fi- como implementá-las. Elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) e
losofia e direito. pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
Brasil. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- Brasil. Resolução n. 3, de 21 de novembro de 2018. Disponí-
nais Anísio Teixeira (Inep). Matriz Referência do Enem. Dis- vel em: http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujr-
ponível em: http://download.inep.gov.br/download/enem/ w0TZC2Mb/content/id/51281622. Acesso em: 28 jul. 2020.
matriz_referencia.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020. A resolução atualizou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
O documento apresenta as habilidades avaliadas em cada etapa da es- Ensino Médio para orientar as políticas públicas educacionais em
colarização e orienta a elaboração de itens de testes e provas aplicadas todas as formas e modalidades de Ensino Médio no Brasil. O do-
aos estudantes na avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cumento favorece, ainda, a elaboração, o planejamento, a avaliação
partindo das quatro áreas do conhecimento: Linguagem, Códigos e suas das propostas curriculares das instituições de ensino públicas e
Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas privadas que ofertam o Ensino Médio.
Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Candau, Vera Maria (org.). Interculturalizar, descolonizar, de-
Brasil. Casa Civil. Lei n. 9 394, de 20 de dezembro de 1996. mocratizar: uma educação “outra”? Rio de Janeiro: 7 Letras,
Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Bra- 2016.
sília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
O livro reúne uma série de artigos elaborados por especialistas de di-
vil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 23 jul. 2020. ferentes nacionalidades. Os textos tratam da interculturalidade crítica
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada e de suas implicações para os processos educacionais, da relação en-
em 1996, tem a função de organizar a estrutura e o funcionamento tre descolonização e educação e da literatura pedagógica sob uma
do sistema de educação brasileiro, definindo os objetivos e as perspectiva das práticas educativas interculturais.
190
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contexto nacional e internacional, ressaltando a importância desse
Nessa entrevista, o filósofo brasileiro Ivan Domingues discorre so-
tipo de investimento para a sociedade contemporânea.
bre os principais desafios do Ensino Superior, especialmente em re-
lação às propostas interdisciplinares, multidisciplinares e transdis- maChaDo, Cristiane; alavarse, Ocimar Munhoz. Qualidade das
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Enrique Dussel propõe em seu artigo o deslocamento geopolítico do ram diretrizes da política educacional nacional para proporcionar me-
lugar e o marco temporal do surgimento da filosofia moderna. Essa lhorias na qualidade da educação no Brasil.
proposta é sustentada com base em textos produzidos por filósofos melo, Bárbara de Caldas; sant’ana, Geisa. A prática da meto-
do sul da Europa, da América do Sul e do norte da África que influen- dologia ativa: compreensão dos discentes enquanto autores
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veducacao/article/view/868/602. Acesso em: 6 jul. 2020. As autoras do artigo apresentam alguns aspectos importantes sobre
Nesse artigo, o filósofo brasileiro Paulo E. Fensterseifer debate sobre a construção da aprendizagem dos estudantes por meio das meto-
as interfaces entre o campo da ética e o campo da educação, refletin- dologias ativas. Além disso, investigam a adaptação e analisam as
do sobre os referenciais éticos e morais da prática docente ao longo vantagens e fragilidades da aplicação dessas metodologias na práti-
do tempo. ca docente, em especial na articulação entre teoria e prática.
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No artigo, é discutida a transformação proporcionada pela adoção de
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metodologias ativas, que partem prementemente da indissociabili-
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O estudo problematiza as representações sobre o ensino de Estudos de saúde.
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em: 15 jul. 2020.
volvimento interdisciplinar no ensino das Ciências da Natureza e
O texto aborda algumas características do trabalho pedagógico com apresenta uma proposta para viabilizar as atuações pedagógicas
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Companhia das Letras, 2019.
orGaniZação das nações unidas (onu). Agenda 2030 para o de- A historiadora Lilia Schwarcz faz uma análise das gêneses do autori-
senvolvimento sustentável, 2015. Disponível em: https://na- tarismo no Brasil. Ao longo do livro, apresenta alguns exemplos que
coesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 7 jul. corroboram o autoritarismo, como o mito da democracia racial, o pa-
2020. triarcalismo, o mandonismo, a violência, a desigualdade, o patrimo-
nialismo, a intolerância social, entre outros.
A Agenda 2030 é um plano de ação que visa ao desenvolvimento
de um mundo mais justo e igualitário. O documento apresenta 17 sCHwarCZ, Lilia; Gomes, Flávio (org.). Dicionário da escravidão
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para fortalecer a paz e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Le-
universal e para erradicar a pobreza em suas diversas dimensões. tras, 2018.
orGaniZação Para a CooPeração e desenvolvimento eConômiCo (oCde). O dicionário apresenta cinquenta verbetes que tratam de história,
Global Competency for an Inclusive World. Disponível em: eventos, temas, processos e personagens elaborados por especia-
https://www.oecd.org/education/Global-competen- listas que desenvolvem robusta produção acadêmica. Esse conjun-
cy-for-an-inclusive-world.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020. to de verbetes oferece ao leitor um panorama sobre os aspectos
relacionados à escravidão e à liberdade no Brasil.
O documento versa sobre a importância do desenvolvimento de
ZaBala, Antoni. A avaliação. In: ZaBala, Antoni. A prática edu-
uma competência global em que os indivíduos, em especial os es-
tudantes, possam analisar questões locais, globais e interculturais.
cativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Nesse aspecto, a escola torna-se o ambiente propício para o desen- O pedagogo Antoni Zabala problematiza o conceito de avaliação,
volvimento de uma competência global envolvendo diferentes po- levando em consideração os processos individual e grupal. Para
vos, línguas e culturas em diversas localidades do mundo. isso, pauta-se nas possibilidades de identificação do objeto e do
sujeito da avaliação para questionar o que é preciso avaliar, a quem
Piovesan, Flávia. Democracia, direitos humanos e globalização e como, além da maneira de comunicar o conhecimento obtido por
econômica: desafios e perspectivas para a construção da ci- meio da avaliação.
dadania no Brasil. DHnet – Rede de Direitos Humanos & Cul-
tura, 2016. Disponível em: http://dhnet.org.br/direitos/mili- ZaBala, Antoni; arnau, Laia. Como aprender e ensinar compe-
ta n te s / fl av i a p i ove s a n / p i ove s a n _ d e m o c ra c i a _ d h _ tências. Porto Alegre: Penso, 2014.
global_economica_br.pdf. Acesso em: 11 ago. 2020. Nessa obra, os autores abordam a importância do uso educacional
das competências para o desenvolvimento integral dos estudan-
O artigo desenvolve uma análise temática sobre o conceito de demo-
tes. Além disso, argumentam que o ensino pautado em competên-
cracia e as relações desse conceito com os direitos humanos. Além
cias desenvolve, necessariamente, habilidades e atitudes, dando
disso, a autora reflete sobre os principais impactos da globalização
um caráter metadisciplinar aos componentes curriculares de maior
econômica no processo de efetivação dos direitos humanos, com fo-
relevância diante de problemas reais.
co no caso brasileiro.
Zanella, Andréa Vieira. Escolarização formal e cidadania: pos-
Prado, Marta Lenise do et al. Arco de Charles Maguerez: re- síveis relações, relações possíveis? In: silveira, A. F. (org.). Ci-
fletindo estratégias de metodologia ativa na formação de dadania e participação social. Rio de Janeiro: Centro Edelstein
profissionais de saúde. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, de Pesquisas Sociais, 2008. Disponível em: http://books.scie-
v. 16, n. 1, mar. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/ lo.org/id/hn3q6/pdf/silveira-9788599662885-09.pdf. Aces-
scielo.php?pid=S1414-81452012000100023&script=sci_ so em: 28 jul. 2020.
arttext. Acesso em: 6 jul. 2020.
O artigo apresenta um debate interessante sobre as relações entre
As autoras apresentam um relato a respeito de um seminário a educação escolar e a formação cidadã, traçando, primeiro, um
sobre metodologia ativa que tomou como base o arco de Charles panorama histórico do debate e, depois, dialogando sobre expe-
Maguerez. As informações discutidas no artigo possibilitam refle- riências de estudantes e docentes por meio de abordagens perti-
xões acerca das práticas pedagógicas dos participantes do evento. nentes à filosofia da educação.
192
ORIENTAÇÕES E COMENTÁRIOS
ESPECÍFICOS
Unidade
ECOS DA ESCRAVIDÃO
1 NO BRASIL
INTRODUÇÃO
Nessa unidade, serão abordados temas como o tráfico de escravizados e a escravidão no Brasil, suas marcas ainda
presentes nos dias atuais e a luta contra o racismo e pelo fim das desigualdades no país. A análise da formação do Brasil,
como processo histórico de longa duração, permite aos estudantes compreender as rupturas e as permanências que a
caracterizam.
No capítulo 1, a escravidão moderna, que utilizou mão de obra africana e indígena, e o trabalho análogo à escravidão em
diferentes setores, na atualidade, são temas centrais para a compreensão das rupturas e das permanências relacionadas
ao processo de escravidão, ainda que guardadas suas especificidades, em razão do contexto em que cada um desses siste-
mas estava inserido. No capítulo 2, discute-se o racismo estrutural no Brasil como consequência do longo período em que o
escravismo vigorou no país e da ausência de políticas de reparação no período seguinte à abolição da escravidão. No capí-
tulo 3, as temáticas das desigualdades racial e social, vistas como categorias indissociáveis, e da luta antirracista são abor-
dadas para que os estudantes consigam compreender as conexões entre o passado e o presente, ou seja, entre a adoção
do escravismo e a marginalização da população negra e a permanente luta do povo preto e pardo para a reversão dessa
realidade perversa.
Os temas tratados na unidade contemplam parte do conteúdo exigido pela Lei n. 11 645/2008, atualização da Lei
n. 10 639/2003, que determina a inclusão da história africana e das culturas afro-brasileira e indígena em todos os compo-
nentes curriculares. Considerando a proposta da unidade, é recomendável que ela seja trabalhada pelos professores de His-
tória e/ou Geografia.
Ao longo do estudo dos conteúdos dessa unidade, é fundamental que os professores estejam atentos aos conhecimentos
prévios dos estudantes e os incentivem ao debate, levando em consideração o respeito ao próximo. Recomenda-se o traba-
lho interdisciplinar, que pode ser realizado por meio da leitura matemática de gráficos e índices e da literatura, ao explorar
produções literárias desenvolvidas por autores negros e indígenas.
OBJETIVOS DA UNIDADE
• Compreender o uso de mão de obra escravizada como um fato constituinte da história nacional.
• Analisar as práticas de marginalização da população negra após a abolição da escravidão.
• Avaliar os impactos do escravismo e da marginalização da população negra como aspectos ainda presentes e constitui-
dores da desigualdade social.
• Compreender o racismo estrutural e as razões da luta antirracista.
• Observar e analisar novos significados atribuídos às experiências passadas, a fim de valorizar a luta antirracista e o pro-
tagonismo da população negra.
JUSTIFICATIVA
O conteúdo da unidade permite a compreensão dos estudantes sobre o escravismo, a marginalização da população negra,
a luta contra o racismo, os motivos da busca por instrumentos de reversão da desigualdade e o protagonismo dos negros,
aqui observados como sujeitos históricos.
Os temas abordados permitem estabelecer relações entre acontecimentos do passado e seus desdobramentos no presen-
te. Pela relevância desses temas, eles favorecem o diálogo com os estudantes, a partir de situações que eles vivenciam em
seu cotidiano ou têm conhecimento por meio das intensas discussões na mídia e nas redes sociais. Dessa forma, os estudan-
tes são convidados a se posicionar nesse debate de forma consciente e apropriada, levando em consideração a importância
do respeito aos direitos humanos.
Por fim, os conteúdos da unidade possibilitam aos estudantes identificar e analisar as características da sociedade brasi-
leira e os complexos problemas inerentes a ela, bem como verificar os caminhos que têm sido construídos para a reversão
desses problemas.
193
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS DA COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO BÁSICA E HABILIDADES
CECHSA1: EM13CHS101.
CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601, EM13CHS602 e EM13CHS606.
2 CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
CECNT3: EM13CNT302.
CELT5: EM13LGG502.
CELT7: EM13LGG704.
CECHSA1: EM13CHS101.
CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601 e EM13CHS602.
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB6, CECNT3: EM13CNT301.
3 CELT5: EM13LGG502.
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
CELT7: EM13LGG704.
CEMT1: EM13MAT102 e EM13MAT104.
194
Para demarcar a distinção legal entres os conceitos traba- balho (OIT), 2006. Disponível em: https://www.ilo.org/
lhados na unidade, destaque as situações que são caracteri- wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/
zadas no Código Penal brasileiro como análogas à escravidão. documents/publication/wcms_227551.pdf. Acesso em:
Explique aos estudantes que a legalidade ou não dessa forma 17 jun. 2020.
de exploração do trabalho não é o único elemento que diferencia Com o apoio da OIT, o livro apresenta um estudo amplo que
os conceitos desenvolvidos na unidade. Justificativas religiosas e mapeia as condições, as estatísticas e as políticas de enfren-
estereótipos reforçavam a condição de inferioridade dos africanos tamento do trabalho análogo à escravidão no Brasil atual.
e dos indígenas escravizados entre os séculos XVI e XIX. Vídeo
Em relação aos trabalhos análogos à escravidão, peça aos
» Depoimento de um trabalhador escravo. Escravo, Nem
estudantes que levantem hipóteses que justificariam a perma- Pensar! Disponível em: http://escravonempensar.org.br/
nência de um indivíduo sob as condições ilegais descritas na biblioteca/depoimento-de-um-trabalhador-escravo/. Acesso
página. Indique a eles que vários elementos podem favorecer em: 10 jun. 2020.
essa permanência, entre os quais a ausência do conhecimento Como aponta o título do vídeo, nele é apresentado o teste-
dos direitos existentes, a vulnerabilidade e a extrema pobreza. munho de um trabalhador (não identificado) sobre as violên-
No diálogo, ressalte que a culpa da situação não é das vítimas, cias sofridas em diferentes locais de trabalho. Ele também
e sim da ação criminosa dos empreendimentos privados. apresenta imagens para compor a declaração e permitir a
Peça aos estudantes que observem o gráfico da página. Ne- visualização do que é narrado. O site oferece, ainda, outros
le, há informações sobre os índices das principais atividades curtas que exploram temas correlatos.
dos trabalhadores resgatados do trabalho ilegal. Sugira que
observem quais são as áreas de maior ocorrência no gráfico.
Espera-se que os estudantes reconheçam a predominância do O trabalho análogo à escravidão
trabalho análogo à escravidão nas atividades da área rural. Di- nos espaços urbanos (Página 13)
ga a eles que a justificativa para isso pode ser a dificuldade de Como sugerido no Livro do Estudante, retome as informa-
fiscalização dos órgãos competentes, o que abre espaço para ções do gráfico da página 12 e destaque a porcentagem de
a disseminação de práticas criminosas. trabalhadores libertados na área urbana, informando aos es-
A abertura do capítulo colabora para a construção das ha- tudantes que, ainda que esse espaço abrigue um número
bilidades EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103 e menor desses trabalhadores, isso não deixa de ser um pro-
EM13CHS105, bem como da habilidade EM13MAT104. Esse blema real e não solucionado.
trabalho será aprofundado ao longo do capítulo, promovendo Indique que a existência de imigrantes em condições análo-
também a abordagem das CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CGEB10. gas à escravidão é facilitada pela falta de proteção ao grupo,
pelas dívidas adquiridas na viagem ou na estadia no país e, ain-
da, pela retenção ilegal dos documentos desses indivíduos, que
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES se veem nas mãos de empregadores mal-intencionados.
Sugira aos estudantes a leitura do texto de Glaucy Ribeiro.
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que, em condições Solicite a eles que identifiquem no texto elementos que indicam
de trabalho análogas à escravidão, os indivíduos são priva- que as condições narradas configuram ilegalidades nas relações
dos de seus direitos de ir e vir, de expressar sua identidade, de trabalho. Igualmente, pergunte a eles se conhecem narrati-
entre outras violações do direito à liberdade. O gráfico mostra vas semelhantes, por meio de familiares ou da imprensa.
a situação de trabalhadores libertados, indicando que eles Caso considere pertinente, comente que o texto apresen-
retomaram esse direito. tado é parte da pesquisa de mestrado em direito de Glaucy
2. Respostas pessoais. O objetivo da questão é incentivar os Ribeiro. Indique, portanto, que o conhecimento tem o caráter
estudantes a identificar relações entre o tema e o cotidiano de permanente construção e é desenvolvido levando em con-
deles, considerando a comunidade em que estão inseridos e sideração métodos de pesquisa que lhe dão legitimidade.
o lugar onde moram. Se julgar conveniente, apresente alguns Igualmente, informe-os que os sites das bibliotecas das uni-
dados da região em que a escola está situada que se relacio- versidades costumam manter esses textos científicos dispo-
nem com as atividades econômicas do gráfico ou com notí- níveis para consulta gratuita on-line, visando à democratização
cias de trabalhadores libertados de condições análogas à do acesso ao conhecimento.
escravidão. É importante que os estudantes sejam incentivados a refle-
tir sobre as condições de trabalho descritas e sobre a necessi-
dade de combate a essa realidade por órgãos públicos e pela
Sugestões para o professor
sociedade.
Site
195
situação. Mas o emprego de mão de obra análoga à escravidão pessoas a condições análogas à escravidão; divulgar nos
não se resume apenas a esse segmento do setor; condenações comércios que revendem a marca que ela está na Lista su-
também ocorreram em redes europeias de roupas de grife, o que ja, entre outras possibilidades. A proposta favorece a cons-
representa um alerta para a necessidade de consumo conscien- cientização dos estudantes sobre seus papéis como
te e de mecanismos de fiscalização eficientes. cidadãos e como consumidores.
Destaque aos estudantes os meios que possibilitam a ma-
nutenção de formas de trabalho análogas à escravidão. É im- Sugestão para o professor
portante que eles reconheçam que os fatores que mantêm es- Vídeo
ses trabalhadores nessa condição são diversos, tais como a
distância da comunidade em que viviam, o emprego de violên-
» Trabalho escravo no setor têxtil. Escravo, Nem Pensar!
Disponível em: http://escravonempensar.org.br/biblioteca/
cia física e psicológica e a retenção dos documentos desses
trabalho-escravo-no-setor-textil/. Acesso em: 10 jun. 2020.
indivíduos, tornando-os vulneráveis. Ressalte que esses me-
Nesse vídeo, uma conversa casual entre amigas sugere uma
canismos são utilizados como meios de impedi-los de buscar
reflexão sobre a utilização do trabalho análogo à escravidão
ajuda e de mantê-los sob controle.
por determinadas empresas do setor têxtil, os impactos para
Solicite aos estudantes que observem a legenda que apre-
os trabalhadores envolvidos e as possíveis motivações para
senta um movimento que combate essa situação no setor têxtil.
a manutenção deles nessa situação. O site ainda disponibi-
O movimento Fashion Revolution foi criado após o desabamen-
liza pequenos vídeos sobre o trabalho infantil, o tráfico de
to do edifício Rana Paza, em Bangladesh, que resultou na mor-
pessoas, a ocupação na Amazônia e o ciclo do trabalho es-
te de 1 134 trabalhadores da indústria de confecção. Caso a es-
cola tenha disponível um laboratório de informática, os cravo contemporâneo.
estudantes podem acessar o site do movimento, que possui um
ramo atuante no Brasil. Passado escravocrata (Página 15)
Em História, determinadas palavras ganham sentidos pró-
Boxe Ação e cidadania prios de acordo com o contexto em que são utilizadas. Dessa
• Converse com os estudantes sobre os hábitos de consumo forma, a palavra “escravidão”, utilizada desde a Antiguidade,
deles, em especial, sobre compra de produtos de vestuá- possui contornos distintos construídos em períodos específi-
rio, como roupas e calçados, favorecendo a construção da cos. É por esse motivo que o capítulo demonstra a preocupa-
CGEB7. Pergunte aos estudantes se existe uma preocupa- ção com a conceitualização e a diferenciação entre a escravi-
ção deles e de suas famílias com relação à origem do pro- dão moderna, que vigorou no Brasil entre os séculos XVI e
duto e quais são os fatores determinantes para sua compra XIX, e o trabalho análogo à escravidão, característico dos sé-
(o preço da mercadoria, a marca, etc.). Esse diálogo inicial culos XX e XXI, quando práticas ilegais de exploração do tra-
não tem o objetivo de culpabilizar o consumidor pela exis- balhador são utilizadas para obtenção de um lucro maior pe-
tência de formas de trabalho análogas à escravidão, mas lo explorador.
sensibilizar os estudantes da necessidade de compreen- A escravidão moderna, praticada no Brasil nos períodos
dermos o impacto dos hábitos de consumo. colonial e imperial, constitui uma das características funda-
mentais da sociedade brasileira dessa época. O volume de
• Caso a escola tenha disponível uma sala de informática, você pessoas escravizadas que passaram a compor a sociedade
pode sugerir que os estudantes busquem informações sobre
o cadastro de empregadores que tenham submetido traba- brasileira, o regime de exploração dessa mão de obra, a ne-
lhadores a condições análogas à escravidão, para a realiza- gação de direitos dos indivíduos que a realizavam, a ausência
ção da atividade e do debate sobre o tema. de políticas de reparação imediatas ao fim da escravidão e a
construção de políticas de marginalização da população ne-
• A proposta favorece a abordagem aprofundada das habili- gra resultaram nas imensas desigualdades social e racial do
dades EM13CHS502 e EM13CHS503, bem como da CGEB7,
país. Portanto, é importante que os estudantes reconheçam
da CGEB9 e da CGEB10.
a construção histórica das desigualdades e a permanência da
1. Respostas pessoais. A proposta promove uma reflexão rela- exploração dos vulneráveis como práticas históricas que de-
cionada à ética e ao respeito aos direitos humanos, incenti- vem ser combatidas.
vando os estudantes a se posicionar em relação às práticas
produtivas ilegais abordadas no capítulo. Além disso, promo- Boxe Interação
ve o aprofundamento das questões sobre o trabalho forçado,
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
provocando os estudantes a refletir sobre a atuação das em-
que as crianças queriam uma história do passado da avó ne-
presas em relação aos indivíduos.
gra sobre a escravidão (em alusão à escravidão moderna),
2. Atividade de pesquisa. Oriente os estudantes durante a pes- mas ela indica que a história está em um jornal atual (aludin-
quisa em meios digitais ou impressos, de acordo com a rea-
do à situação de pessoas submetidas a condições análogas
lidade da escola. Geralmente, o documento em questão é
à escravidão).
publicado nas comunicações oficiais do governo federal.
Além de promover a pesquisa, a atividade incentiva uma
Sugestão para o professor
postura atitudinal dos estudantes, que devem elaborar es-
Filme
tratégias para pressionar as empresas associadas a regimes
de trabalho análogos à escravidão a fim de que passem a » Menino 23. Direção: Belisário Franca. Brasil, 2016 (80 min).
agir de modo transparente e alinhado com os direitos hu- Fruto da tese de doutorado de Sydney Aguilar, o documen-
manos, coibindo práticas de escravização de colaboradores tário aborda a ação de empresários ligados ao pensamento
diretos e terceirizados. Alguns exemplos de estratégias são: eugenista que, nos anos 1930, obtiveram a guarda de 50
boicotar os produtos da marca; divulgar nas redes sociais meninos órfãos destinados às fazendas para trabalhar sob
que a marca está envolvida em ações ilegais, submetendo regime análogo à escravidão.
196
Atividade complementar A primeira edição da biografia de Baquaqua foi lançada nos
Estados Unidos, em 1854. O autor nasceu no atual Benin, foi
Caso julgue apropriado, solicite aos estudantes que elaborem
trazido ao Brasil na condição de escravizado e fugiu para os
um quadro comparativo a respeito das semelhanças e das dife-
Estados Unidos. Um relato de época que permite a compreen-
renças entre as diversas formas de emprego de mão de obra
são de usos e costumes do sistema escravista.
escravizada ou em condição análoga à escravidão. Para tanto,
deverão mobilizar seus conhecimentos prévios a respeito da es-
cravidão nos seguintes contextos: Alguns marcos históricos (Página 17)
• Antiguidade clássica (Grécia e Roma) Destaque as datas apresentadas como marcos históricos im-
portantes. Em seguida, retome o gráfico apresentado na página
• Europa medieval
anterior. No que se refere às quatro primeiras datas apresenta-
• Escravidão em sociedades africanas na Antiguidade
das, auxilie os estudantes na compreensão de que, à medida
• Escravidão moderna na Europa
que as leis pareciam caminhar para o fim do tráfico e para a abo-
• Escravidão moderna nas Américas lição da escravidão, o tráfico de escravizados aumentava para
• Trabalho análogo à escravidão no Brasil atual garantir a sobrevivência do sistema escravista.
Essa atividade visa reforçar as especificidades da prática da Em relação aos marcos a partir do Código Penal de 1940, ex-
escravidão em cada um desses contextos, de forma a desnatu- plique que a contínua preocupação com práticas análogas à es-
ralizar essa prática. cravidão é indício da permanência das relações ilegais dessa
A elaboração do quadro poderá ser feita coletivamente, forma de mão de obra. Dessa maneira, os estudantes devem
com as especificidades de cada um desses contextos escra- compreender que, mesmo não se tratando da escravidão mo-
vistas sendo anotadas na lousa à medida que os estudantes derna ainda em 2008, se faziam necessárias regulações para
mobilizam seus conhecimentos prévios; ou de forma indivi- proibir a existência do trabalho análogo à escravidão.
dual, no caderno. O vídeo indicado no boxe Para explorar pode ser utilizado
como forma de sensibilização dos estudantes à realidade viven-
O tráfico de escravizados (Página 16) ciada pelos indivíduos que são submetidos ao trabalho análogo
O tráfico de escravizados tem sido bastante revisitado por à escravidão. Ressalte que se trata de uma dramatização de um
pesquisadores de diferentes áreas. Tradicionalmente, o des- relato real e que, neste mesmo canal da Secretaria da Previdên-
taque recai sobre esse lucrativo comércio que beneficiou as cia e do Trabalho, existem outras narrativas semelhantes.
nações europeias, favorecendo a acumulação de capital, e de-
pois foi direcionado ao desenvolvimento industrial. Porém,
Boxe Interação
atualmente, outras abordagens têm sido exploradas, tais co- 1. A área que hoje corresponde ao Brasil. Isso pode ser identi-
mo as características das estruturas internas das sociedades ficado, no mapa, pela espessura das setas e, no gráfico, pelas
africanas e a perspectiva dos indivíduos sequestrados e tra- quantidades expressas em números.
zidos para a América, espaço desconhecido para eles e que 2. Na primeira metade do século XIX. Espera-se que os estu-
representava a interrupção das experiências vividas até aque- dantes relacionem esse aumento à Lei Eusébio de Queirós,
le momento. que proíbe o tráfico de pessoas escravizadas.
Peça aos estudantes que analisem o mapa e o gráfico apre-
3. Resposta pessoal. Essa atividade promove competências de
sentados. Destaque o lugar ocupado pelo Brasil como principal
análise de dados de diferentes materiais (mapa, gráfico e li-
destino dos escravizados. Essa informação é importante para
nha do tempo) e compartilhamento das conclusões. Os estu-
compreender a composição da sociedade brasileira e o impacto
dantes podem escolher diferentes aspectos para abordar,
do passado em sua formação. Igualmente, permite iniciar o es-
como: os fatos de o Brasil ter sido o maior importador de pes-
tudo da construção histórica de privilégios, discutida de forma
soas escravizadas entre os séculos XVI e XIX e de ainda hoje
mais aprofundada na unidade 2 deste volume.
existir pessoas submetidas a condições análogas à escravi-
O trabalho de análise do gráfico presente nesta página favo-
dão; as características da empresa do tráfico de pessoas que,
rece o desenvolvimento de aspectos da habilidade EM13MAT102.
tanto no passado quanto no presente, desloca indivíduos de
O gráfico e o boxe Para explorar apresentados na página fazem
seus lugares de origem para trabalharem de maneira forçada;
menção ao Banco de Dados do Tráfico Transatlântico de Escra-
a importância das organizações civis para a transformação
vos. Trata-se de uma importante iniciativa de diversos pesqui-
dessa realidade, ainda que de forma lenta, provocando mu-
sadores para auxiliar na compreensão desse processo histórico.
danças nas posturas institucionais; entre outros.
Além dos dados numéricos, é possível acessar mapas interati-
vos, tabelas e gráficos.
Continuidades históricas no campo
Sugestões para o professor (Página 18)
Livros
Os dados sobre o trabalho análogo à escravidão apresen-
» RedikeR, Marcus. O navio negreiro: uma história humana. tados no Livro do Estudante apontam para o alto índice de sua
São Paulo: Companhia das Letras, 2011. existência nas áreas rurais. Nesses espaços, as relações de
O historiador aborda o tráfico de escravos de uma perspec- trabalho são historicamente mais frágeis e, por esse motivo, é
tiva até então inédita: o cotidiano dos passageiros (livres e possível questionar a efetividade da fiscalização dos órgãos
escravizados) durante a viagem pelo Atlântico. Da falta de competentes.
higiene à violência, os registros ajudam a elucidar traumas Recomenda-se a leitura atenta da reportagem apresentada.
pouco conhecidos do processo. Os estudantes devem compreender a importância do jornalismo,
» Baquaqua, Mahommah Gardo. Biografia de Mahommah assim como das fontes e dos dados oficiais utilizados por esses
Gardo Baquaqua: um nativo de Zoogoo, no interior da profissionais que dão credibilidade à reportagem e ao profissio-
África. São Paulo: Editora Uirapuru, 2017. nal dessa área.
197
Questione se eles reconhecem no texto o órgão competente a cor amarela, sinalizando o desmatamento, também são
de fiscalização e combate ao trabalho análogo à escravidão men- aquelas que apresentam os ícones de cor vermelha, que in-
cionado. Espera-se que indiquem a existência de uma subse- dicam a ocorrência de trabalho escravo.
cretaria no Ministério da Economia. Se julgar conveniente, co- 2. O mapa mostra a região Amazônica, no norte do país. Já a
mente com eles que, até 2019, a competência era do Ministério situação abordada na página anterior menciona casos mais
do Trabalho, Emprego e Previdência e que sua extinção e a dis- concentrados na Região Sudeste, embora cite ocorrências
tribuição de funções para outras pastas têm sido consideradas no Pará.
problemáticas, pois podem impactar na efetividade das ativida-
des que vinham sendo realizadas. Sugestão para o professor
Site
Boxe Interação
» Organização Internacional do Trabalho (OIT). Disponível
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que a Região em: https://www.ilo.org/brasilia/lang--pt/index.htm. Acesso
Sudeste concentra a maior parte das atividades rurais em em: 11 jun. 2020.
que foram encontrados trabalhadores submetidos a condi- O site oficial do escritório brasileiro da OIT oferece dados so-
ções de trabalho análogas à escravidão. Trata-se da região bre a trajetória e a missão da organização e informações so-
que também concentra a maior parte da riqueza do país: há bre as relações do trabalho em diferentes partes do globo.
mais empreendimentos financeiros nessa área e, como vi- Pode ser explorado por professores e estudantes para com-
mos, a escravização é uma estratégia – cruel e absoluta- preender as ações que visam à promoção da igualdade das
mente contrária aos direitos humanos – para aumentar as relações de trabalho.
margens de lucros das empresas. É possível, ainda, levantar
hipóteses sobre as taxas de fiscalização nas diferentes re-
Terras Indígenas (Página 20)
giões do país.
O reconhecimento do direto dos povos indígenas à posse da
terra foi uma conquista obtida somente na Constituição Federal
Desmatamento e escravidão (Página 19) de 1988, fruto da intensa mobilização dos próprios indígenas e
As discussões acerca da relação entre desmatamento e es- das organizações não governamentais. Ainda assim, a demora
cravidão, no passado e no presente, favorecem o desenvolvi- no processo de demarcação e legalização da posse e os cons-
mento de aspectos da habilidade EM13CNT206. tantes ataques sofridos pelos indígenas por fazendeiros, ma-
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em deireiros e donos de garimpo têm comprometido a garantia des-
1919 como parte dos acordos do Tratado de Versalhes, que re- se direito constitucional.
presenta o fim da Primeira Guerra Mundial. Mesmo com as mui- Para iniciar o debate, é possível perguntar aos estudantes se
tas alterações realizadas desde o projeto inicial, a OIT se dedica eles conhecem o conceito de “Terra Indígena” e se conseguem
à promoção da igualdade social e dos direitos humanos e traba- diferenciá-lo do termo “aldeia”, tradicionalmente usado de for-
lhistas. Nessa organização, atualmente, 186 estados-membros, ma estereotipada, ainda que existente na língua portuguesa
incluindo o Brasil, estão comprometidos com a missão do órgão. para definir povoado pouco numeroso, abaixo da condição de
Ressalte aos estudantes que o emprego do trabalho análogo vila. Ressalte que a expressão “Terra Indígena” é utilizada na le-
à escravidão no desmatamento tem impacto não apenas na vi- gislação atualmente.
da dos indivíduos explorados, mas também na sociedade como É importante que os estudantes reconheçam que a explora-
um todo. Além disso, o avanço das áreas desmatadas tem preo- ção e a escravização dos povos indígenas são marcas da histó-
cupado as comunidades acadêmicas nacionais e internacionais ria do país. Ainda que menos estudada ou divulgada, a escravi-
e comprometido a credibilidade do país. zação indígena foi uma realidade colonial nos espaços de menor
Nos últimos anos, lideranças – algumas delas jovens – têm presença dos africanos escravizados. Igualmente danoso, foi o
assumido o compromisso com a denúncia de práticas nocivas processo de apresamento e aldeamento dos povos indígenas,
ao meio ambiente e com a preservação da natureza, como a jo- cuja justificativa de conversão religiosa somava-se ao uso da
vem sueca Greta Thunberg, indicada ao Nobel da Paz em 2019. mão de obra compulsória.
É importante que os estudantes reconheçam esse posiciona-
mento como parte do exercício da cidadania, para que eles se- Boxe Reflexão
jam incentivados a participar do debate público de forma crítica
e consciente.
• Para retomar o conhecimento sobre escravização indígena e
aprofundá-lo, sugere-se a leitura atenta do texto de João Pa-
checo de Oliveira a respeito da dominação indígena entre os
Boxe Reflexão séculos XVII e XIX.
• Auxilie os estudantes na identificação da fonte de pesquisa • Comente com os estudantes que o assassinato de grande
da qual o mapa apresentado foi extraído. Enfatize a impor- parte da população indígena não pode ser utilizado como fa-
tância das pesquisas e da divulgação desses conhecimentos tor de silenciamento da exploração da mão de obra dos indí-
para o debate público e a conscientização da sociedade. genas que permaneceram, tampouco deve servir como
• Caso a escola disponha de sala de informática, é possível aces- argumento para o desaparecimento dos povos nativos. Ao
sar o site InfoAmazonia e observar outros dados relevantes contrário, dados atuais do IBGE têm indicado o aumento des-
para as realidades social e ambiental vivenciada na região. sa população, resultante do reconhecimento positivo da des-
cendência.
• A proposta articula-se com o que se propõe em diferentes
habilidades específicas, especialmente nas habilidades 1. De acordo com o texto, todas as atividades que exigiam esfor-
EM13CHS101 e EM13CHS102. ço eram realizadas por indígenas submetidos à escravidão.
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que o mapa evi- 2. Resposta pessoal. O objetivo da atividade é incentivar os
dencia essa relação: em muitos casos, as áreas indicadas com estudantes a analisar os materiais apresentados em
198
diferentes suportes e a compartilhar suas ideias. É possí- apenas do passado, já que, ainda hoje, há trabalhadores
vel que entre as respostas apareçam as informações lista- submetidos a condições análogas à escravidão. Embora
das a seguir. Diferenças: o gráfico apresenta uma série de os africanos e seus descendentes formassem o maior con-
atividades mais relacionadas aos meios urbanos, enquan- tingente de pessoas escravizadas no Brasil, no período da
to o foco do texto recai sobre as práticas rurais; o gráfico mos- escravidão moderna, comunidades indígenas também fo-
tra atividades de pessoas submetidas a condições análogas ram escravizadas.
à escravidão que podem ou não ser indígenas, enquanto
4. a) O mapa apresenta uma grande concentração de indivíduos
o texto foca na escravização das populações nativas. Se-
em condições de trabalho análogas à escravidão em regiões
melhanças: em ambos os materiais, há a abordagem do
onde há grande incidência de desmatamento. Por meio des-
trabalho escravo nos meios rurais, em especial nas lavou-
sa análise, pode-se supor que a mão de obra análoga à es-
ras, e a evidência das características dessa prática ilegal
cravidão é utilizada justamente para promover esse
no Brasil contemporâneo.
desmatamento, em total desacordo com as legislações tra-
balhistas e ambientais vigentes.
Sugestão para o professor
Site b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes indiquem
que os motivos que ocasionam essas formas ilegais de tra-
» IBGE. Indígenas. Disponível em: https://indigenas.ibge.gov.
balho são diversos. Em relação às pessoas que exploram es-
br/. Acesso em: 11 jun. 2020.
se tipo de trabalho, pode-se mencionar o desejo de obter mais
O site apresenta dados importantes sobre os povos indíge-
lucro desconsiderando os direitos e a dignidade dos traba-
nas, com destaque para as informações dos censos de 1991,
lhadores. Em relação às pessoas que realizam esse tipo de
2000 e 2010, que adotaram o quesito cor como investigação
trabalho, pode-se mencionar a pobreza extrema, a vulnera-
e revelaram o crescimento dos autodeclarados indígenas.
bilidade e as diversas formas de violências empregadas por
exploradores para submeter os indivíduos explorados a essa
Atividades (Página 21)
realidade.
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
5. Atividade de pesquisa. Essa proposta possibilita que os
quem que as atividades relacionadas, principalmente, à mi-
estudantes aprofundem seus conhecimentos sobre as
neração, à pecuária, à cana-de-açúcar e à construção civil
comunidades indígenas da região onde vivem. Igualmente,
empregavam mão de obra escravizada nos períodos colonial
favorece o desenvolvimento do conhecimento e da análise
e imperial e utilizam mão de obra análoga à escravidão na
dos processos políticos e culturais de ocupações regionais.
atualidade.
Esse tema será retomado na unidade 3 deste volume. A
2. a) A pesquisa de Ribeiro apresenta todas as características consulta ao site do Instituto Socioambiental pode auxiliá-los
listadas pelo Código Penal brasileiro para caracterizar o tra-
no levantamento de dados (disponível em: https://pib.
balho análogo à escravidão: condições degradantes de tra-
socioambiental.org/pt/P%C3%A1gina_principal; acesso em:
balho, jornadas exaustivas, trabalho forçado e servidão por
9 abr. 2020).
dívida.
6. Resposta correta: alternativa a. O excerto menciona cinco ór-
b) Atividade de pesquisa. O objetivo é incentivar os estu-
gãos públicos que, juntos, agiram para o resgate de 1 590
dantes a fazer uma investigação em suas comunidades pa-
trabalhadores em 2014, indicando, portanto, a articulação
ra identificar a atividade econômica proposta na questão
desses órgãos para combater o problema.
(construção civil) e a situação dos trabalhadores nessa ati-
vidade, de modo a exercitar a cidadania e o posicionamen- 7. Resposta correta: alternativa b. Nessa questão, o estudante
to ético em relação aos direitos humanos. Oriente-os a deve ter conhecimento sobre o conteúdo da Lei Eusébio de
buscar informações em publicações impressas ou digitais, Queirós, que proibiu o tráfico transatlântico no Brasil, resul-
de acordo com a realidade escolar. Se possível, organize um tando, à primeira vista, na diminuição do volume de trafica-
estudo do meio em uma área em que haja atividade de dos oficias, embora ainda houvesse a continuidade da
construção civil. Para isso, dialogue com a coordenação da atividade de forma ilegal.
escola e também com a empresa responsável pela constru-
ção. Cuide para que os jovens utilizem equipamentos bási- Ampliando (Páginas 22 e 23)
cos de proteção durante a visita e, previamente, oriente-os
A seção propõe uma reflexão sobre o tratamento do tema
a se deslocar com cuidado pela área. Você pode combinar
escravidão na obra Metafísica dos costumes, de Immanuel Kant
dois momentos do estudo do meio: um roteiro de observa-
(1724-1804), por intermédio da leitura do filósofo Norberto
ção e um diálogo com uma equipe de trabalho, durante o
Bobbio (1909-2004). O conteúdo dessa seção favorece a inter-
qual os jovens possam fazer perguntas aos trabalhadores.
disciplinaridade, envolvendo as disciplinas História e Filosofia.
Os momentos podem ser registrados por meio de fotos e
Solicite aos estudantes que realizem a leitura atenta do ex-
vídeos, que, depois, podem ser disponibilizados à comuni-
certo, destacando os elementos que consideram centrais para
dade escolar em uma mostra. Outra possibilidade é convi-
a definição do que é moral.
dar trabalhadores da construção civil para um diálogo com
É possível trazer a reflexão para os dias atuais e indagar os
os estudantes na escola.
estudantes sobre o que consideram moral e imoral no que tan-
3. Por meio desse contraexemplo, baseado no senso comum ge às relações existentes entre empregadores e empregados.
sobre a escravidão no Brasil, os estudantes são incenti- Incentive-os a buscar dados e informações estudados ao longo
vados a analisar criticamente as frases, embasados nas do capítulo e a expor conhecimentos sobre o assunto adquiridos
reflexões feitas ao longo do capítulo, para identificar os em outros meios.
equívocos e, depois, debater sobre eles com os colegas. O Se julgar conveniente, é possível, ainda, sugerir aos estudan-
trabalho escravo no Brasil não é uma característica tes que reflitam sobre moralidade e legalidade, por meio, por
199
exemplo, da seguinte pergunta: Tudo que é legal é moral? Eles internacional como legítima preocupação com a dignidade da po-
podem oferecer exemplos ou buscá-los, de acordo com a con- pulação negra. Destaca-se também a organização dos próprios
dução da atividade pelo professor. escravizados e ex-escravizados, que intensificaram a resistência
Nessa seção, são especialmente mobilizadas as habilidades ao cativeiro das mais diferentes formas.
EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103 e EM13CHS105. Ao mesmo tempo em que ocorria o fim legal da escravidão,
surgia no século XIX o darwinismo social, uma corrente científi-
ca de pensamento que afirmava a existência de raças e a hie-
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES rarquia entre elas. Essa forma de pensar passou a pautar a di-
1. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes mobilizem ferenciação entre os seres humanos, tornando-se um elemento
seus conhecimentos prévios para responder o que conside- a mais nas dificuldades enfrentadas pela população recém-li-
ram moral. É possível que as respostas deles apresentem berta nas Américas.
definições relacionadas à consonância com regras ou costu- No Brasil, foram criadas interpretações das relações raciais
mes. Nesse caso, incentive-os a refletir sobre os fatores e as próprias ao contexto brasileiro. Entre as mais marcantes, em es-
finalidades envolvidos na criação de regras e costumes. Es- pecial pela sua aceitação e pela presença de seus reflexos na
pera-se também que eles citem exemplos de ações que con- atualidade, está a teoria da democracia racial, mencionada no Li-
sideram morais ou imorais em seu cotidiano. vro do Estudante. Nela, Gilberto Freyre (1900-1987) afirma que
a convivência entre brancos, negros e indígenas foi mais harmo-
2. O principal fator que diferencia uma ação moral de uma ação
niosa e menos violenta se comparada a outros lugares, como nos
jurídica é, segundo Kant, a intencionalidade que motiva a
Estados Unidos, país em que o autor morou e onde houve a cria-
ação. Se uma lei é cumprida pelo simples dever de cumprir-
ção de dispositivos legais para segregar a população negra.
-se, ela é moral; se, no entanto, é cumprida com alguma outra
Solicite aos estudantes que leiam o trecho da música “A Car-
intencionalidade, ou visando a alguma forma de benefício,
ne”. Se possível, reproduza a música em áudio para que os es-
ela é exclusivamente jurídica.
tudantes tenham acesso à composição na íntegra e à sonorida-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencionem de da canção.
que o emprego de mão de obra escravizada trazia vantagens Possivelmente, os estudantes já tiveram contato com discus-
aos senhores de escravizados, entre elas a de contar com sões sobre o racismo. Por isso, caso sintam-se confortáveis pa-
uma mão de obra produtiva sem precisar arcar com os custos ra tratar do assunto, você pode sugerir uma discussão sobre o
de remuneração aos trabalhadores. que conhecem do tema e se reconhecem que o racismo é um
4. Com base na moral kantiana, pode-se afirmar que, apesar crime determinado em lei. É importante que o debate leve em
de respaldado por um sistema de leis jurídicas, o emprego consideração o respeito para evitar qualquer tipo de reprodução
de mão de obra escravizada no Brasil entre os séculos XVI de preconceitos.
e XIX não está de acordo com a lei moral, pois sua motiva- Na abertura do capítulo, a abordagem do racismo por meio
ção não está no cumprimento da legislação em si, mas na do trecho de uma música e dos conhecimentos prévios dos es-
obtenção de lucros e benefícios pelas pessoas que pratica- tudantes possibilita o trabalho com a habilidade EM13CHS101.
vam essa ação.
5. No Brasil atual, o emprego de mão de obra análoga à escra- RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
vidão é proibido pelo sistema de leis, logo não está de acordo
com uma ação jurídica nem com uma ação moral. 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem
a palavra “carne” aos corpos de pessoas negras no Brasil.
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem
CAPÍTULO 2 EXISTE RACISMO os versos da música com o fato de a população de africanos
NO BRASIL? (Página 24) e seus descendentes se constituírem como a principal força
de trabalho no território brasileiro durante o período da es-
O capítulo inicia propondo uma pergunta: Existe racismo no
cravidão.
Brasil? Durante os debates propostos, o capítulo mobiliza pro-
cessos históricos e eventos contemporâneos para responder a 3. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes identifi-
essa pergunta. Também revela aos estudantes que, no Brasil, quem que a letra da música contradiz a teoria de Gilberto
houve a criação de uma estrutura racista que deu origem às de- Freyre, já que explicita o racismo estrutural, que ainda vigora
sigualdades racial e social, dois marcadores fundamentais que em nosso país.
não podem ser separados para compreender a sociedade bra- 4. Respostas pessoais. O objetivo da questão é promover o diá-
sileira e as possibilidades de ação para transformá-la. logo inicial sobre o racismo. Nesse momento, incentive os
estudantes a se posicionar sobre o assunto, já que, provavel-
Existe racismo no Brasil? (Página 24) mente, conhecem o conceito de racismo desde o Ensino Fun-
damental e também por meio de suas vivências.
É necessário compreender que a escravidão moderna, que
vigorou entre os séculos XVI e XIX, ocorria de acordo com a le-
Sugestão para o professor
galidade jurídica dos países responsáveis e beneficiados pelo
comércio de escravizados. Música
Comente que a oposição à escravidão moderna aumentou gra- » Brown, Mano; rock, Edi. Negro drama. Intérprete: Racionais
dualmente no século XIX em diferentes grupos. Ainda que a ênfa- MC’s. In: Nada como um dia após o outro. São Paulo: Cosa
se dessa oposição recaia na pressão inglesa para o fim do tráfico – Nostra, 2002. 1 CD. Faixa 5.
ainda mais em uma nação recente, como o Brasil, que se tornava A música aborda os problemas e as questões de um jovem
cada vez mais industrializada, para a qual o assalariamento era negro da periferia de uma cidade grande. Ainda que o grupo
uma forma de garantir consumidores –, é importante reconhecer seja paulistano, muitas das discussões são válidas em outros
também o crescimento dos movimentos abolicionistas nacional e contextos do país.
200
Questões estruturais (Página 25)
Sugestão para o professor
Livro
O conceito de longa duração foi cunhado pelo historiador
Fernand Braudel (1902-1985) e apresentado pela primeira vez » Cunha Junior, Henrique. Tecnologia africana na formação
em seu doutorado O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na brasileira. Rio de Janeiro: Ceap, 2010.
época de Felipe II, em 1949. Em suma, compreende-se que de- O livro aborda os diferentes conhecimentos trazidos pelos
terminados elementos históricos não são demarcados cronolo- africanos ao continente que foram utilizados no contexto co-
gicamente em seus eventos. Aplicado ao tema abordado na uni- lonial da escravização.
dade, seria correto afirmar que a escravidão é um evento de
longa duração, pois seus impactos foram e ainda são sentidos Contexto do pós-abolição (Página 27)
depois do fim oficial desse regime. Ainda que muitas críticas possam ser feitas à obra Casa-gran-
Para compreender melhor o que é o racismo estrutural e de- de e senzala, de Gilberto Freyre, considerado responsável por
bater sobre ele, solicite aos estudantes que leiam com atenção dotar de caráter científico o mito da democracia racial, as discus-
o texto de Silvio Almeida (1976-). Filósofo e bacharel em direito, sões sobre as relações culturais no Brasil escravista foram, pela
Almeida é especialista no tema e tem uma atuação importante primeira vez, alvo de atenção acadêmica nesse livro. A fotogra-
na discussão do racismo na sociedade brasileira. fia de Jorge Henrique Papf, por exemplo, dialoga com cenas des-
critas na obra de Gilberto Freyre. Ainda que hoje a análise efe-
Boxe Reflexão tivada seja distinta da do historiador, é importante observar a
• Ao abordar o conteúdo sobre o estruturalismo e sobre os es- imagem para destacar a existência do racismo e o desejo de
tudiosos que com ele dialogam e que o revisam, é interes- manter a existência de grupos subalternos e, portanto, preser-
sante indicar aos estudantes que o conhecimento científico var os privilégios.
é um campo de pesquisa e de debate. Assim, unanimidades Para estudar a pós-abolição, os historiadores debruçam-se
são raras, e fatos são importantes para o debate e a constru- sobre os processos que aconteceram nos últimos anos da le-
ção do conhecimento. galidade da escravidão, indicando as contestações e as mobi-
• No boxe, o trabalho com as habilidades EM13CHS601, lizações que reivindicavam o fim desse regime. Eles também
EM13CHS602 e EM13CHS606 é realizado com destaque. exploram os anos seguintes ao ano 1888, a fim de indicar a
omissão do Estado na integração da população negra na so-
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que o autor faz
ciedade, como também os dispositivos criados pelos próprios
uma abordagem próxima do pós-estruturalismo, já que rei-
vindica o rompimento das estruturas racistas. negros para sua proteção e sua sobrevivência, designados
agência negra.
No processo de conquista da liberdade, é importante que se-
Sistema escravocrata no Brasil jam destacadas ações dos abolicionistas negros e das popula-
(Página 26) ções negras escravizada e livre, que se organizaram para a ob-
Caso julgue necessário, retome algumas das considerações tenção da liberdade. Visto pela perspectiva da população negra,
sobre o tráfico de escravizados, abordando os dados apresen- o conteúdo é capaz de despertar um pertencimento positivo e,
tados no mapa e no gráfico da página 16, no capítulo 1. igualmente, tornar as explicações históricas mais complexas.
Destaque que os africanos escravizados possuíam técnicas Destaque aos estudantes que havia um debate sobre a
e conhecimentos e que eles foram aplicados nas atividades criação de instrumentos que viabilizassem a integração da
produtivas da América. Na mineração, por exemplo, havia pre- população negra na sociedade, contudo a opção do Estado
dileção por escravizados originários da Costa da Mina, no lito- seguiu na direção oposta. Nesse sentido, sugere-se a discus-
ral da África Ocidental, atual Gana, porque parte das socieda- são sobre a Lei de Terras de 1850, que inviabilizava a posse
des dessa região tinha conhecimentos em metalurgia e da terra pelo uso, costume vigente no país desde os tempos
fabricação de joias. O fato revela que, a despeito da tentativa coloniais. Ressalte que a Lei de Terras foi promulgada na mes-
de desumanização desses indivíduos, as experiências apon- ma data que a Lei Eusébio de Queirós, que colocava um fim
tam para a atuação deles nas mais distintas áreas, além do legal ao tráfico de escravos, portanto tratava-se de evitar o
âmbito do trabalho indicado nesse caso. acesso à terra aos futuros libertos.
Em contraposição ao destaque positivo, é importante reco-
nhecer que o sistema escravista vigorou sob forte violência fí- Boxe Reflexão
sica e controle da população escravizada e livre. Esta última
permanecia vulnerável diante daquele contexto e precisava
• Com o objetivo de conscientizar os estudantes da existência
de outras narrativas sobre a pós-abolição, solicite a leitura
achar meios de confirmar sua liberdade quando necessário. A atenta do texto disposto no boxe.
“carta de alforria” nada mais era do que um documento que
comprovava que o portador era dono de si mesmo. • O debate pode ser iniciado a partir do termo "protagonismo",
que integra o título da seção. Espera-se que os estudantes
A fim de estabelecer um paralelo com relações cotidianas,
peça aos estudantes que observem o quadrinho Racismo reconheçam as experiências das populações negras também
sem querer, de Pedro Leite. Caso julgue necessário, ao fazer como elementos fundantes da história.
a leitura, intervenha evidenciando o racismo explícito nos • A respeito do autor apresentado, vale mencionar que Pe-
diálogos, pois é possível que os estudantes não reconheçam trônio Domingues é historiador especialista na formação
de imediato algumas afirmações como racistas, como no se- (e na ação) dos movimentos negros, com ênfase na Frente
gundo quadrinho, que trata do vestibular, afinal os critérios Negra Brasileira. A entidade, criada em 1931, tornou-se
para usufruir as cotas, em geral, não são de domínio coletivo. partido político em 1936 e foi desmobilizada em 1937, com
Nesse momento, é possível, ainda, incentivar os estudantes o fechamento dos demais partidos no governo de Getúlio
a apresentar outros exemplos de racismo no cotidiano. Vargas.
201
• A proposta favorece o trabalho aprofundado com as CGEB6, aprovações das Leis n. 10 639/2003 e n. 12 711/2012, que de-
CGEB7, CGEB9 e CGEB10, possibilitando o reconhecimento finem, respectivamente, a introdução dos estudos sobre his-
de personalidades de destaque na própria comunidade co- tória africana e afro-brasileira nos currículos escolares e a cria-
mo exemplos positivos de trajetórias. ção de cotas raciais para o ingresso na universidade pública,
1. Atividade de pesquisa. O objetivo dessa proposta é incenti- o debate sobre a reparação histórica tem alcançado uma visi-
var os estudantes a reconhecer aspectos históricos e sociais bilidade sem precedentes.
da região em que vivem, bem como suas contradições, como O artigo sugerido no boxe Para explorar traz informações
o racismo estrutural. Auxilie-os durante a pesquisa, que po- sobre a fundação e a atuação do Alma Preta, coletivo surgi-
de ser feita em publicações impressas e digitais, como do- do em 2015 entre os estudantes de jornalismo de uma uni-
cumentários, por meio de entrevistas, visitas a espaços de versidade pública do estado de São Paulo. Desde então, o
cultura, entre outros recursos, de acordo com a realidade grupo tem atuado produzindo notícias que denunciam as
desigualdades social e racial e o racismo, os órgãos públicos
escolar. Oriente-os também na escolha da forma como vão
e a sociedade.
apresentar o trabalho, lembrando-os de que a apresentação
O tema trabalhado favorece a compreensão da importância
deve ser acessível à comunidade escolar. Se julgar mais ade-
de garantir os direitos humanos e respeitá-los. Também permi-
quado, solicite aos estudantes uma pesquisa sobre o con-
te a construção de uma consciência cidadã e do posicionamen-
texto pós-abolição, de modo que eles possam compartilhar
to ético no debate público em defesa da luta antirracista. Por
as descobertas com a turma. Previamente, selecione alguns
isso, a proposta é um ótimo momento para mobilizar as habili-
casos e mostre-os às duplas após o diálogo sobre o contex-
dades EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503. Também
to, propondo que cada dupla escolha um dos contextos que
pode favorecer o trabalho com a habilidade EM13LGG502.
você selecionou. Os casos podem ser encontrados, por exem-
plo, em trabalhados acadêmicos das instituições universitá-
Boxe Interação
rias de sua região. Você pode acessá-los digitalmente ou
presencialmente, nas bibliotecas. 1. Respostas pessoais. A proposta favorece a leitura crítica e a
problematização do racismo no Brasil, além de incentivar a
construção de posições dialógicas e empáticas. Espera-se
Sugestões para o professor que os estudantes mobilizem os debates realizados até o
Livros momento para identificar o racismo em cada manchete e criar
explicações claras e éticas acerca de suas percepções.
» Silva, Lúcia Helena Oliveira. Paulistas afrodescendentes
no Rio de Janeiro pós-abolição (1888-1926). São Paulo:
Humanitas, 2016.
Atividade complementar
Fruto do trabalho de doutorado da historiadora, o livro ex- Como forma de ampliar a discussão acerca do racismo es-
plora as motivações para o deslocamento da população trutural no Brasil, solicite aos estudantes que façam uma
negra de Campinas para o Rio de Janeiro após 1888. Nes- pesquisa sobre a representatividade da população negra na
sa obra, é possível explorar o contexto pela perspectiva televisão.
dos próprios negros, pelos seus desejos e anseios naque- Para tanto, eles deverão selecionar produções audiovisuais
le tempo. (filmes, novelas, noticiários, programas humorísticos, etc.) e ana-
lisar e identificar:
» Ferreira, Lígia Fonseca (org.). Com a palavra, Luiz Gama:
poemas, artigos, carta, máximas. São Paulo: Imprensa Ofi- • A quantidade de indivíduos negros representados e a sua
proporção em relação aos indivíduos brancos.
cial, 2001.
Nascido livre, vendido ilegalmente pelo pai, liberto novamen- • Os papeis desempenhados pelos indivíduos negros nessas
te, Luiz Gama se torna advogado e ativista abolicionista. Nes- produções.
sa obra, a organizadora seleciona textos do próprio Luiz Ga- • O tempo de aparição dos indivíduos negros em uma deter-
ma e outros escritos sobre ele. minada cena em comparação ao tempo de aparição dos in-
divíduos brancos.
Racismo estrutural: um panorama geral • A presença (ou ausência) de indivíduos negros nos materiais
(Página 28) de divulgação dessa produção audiovisual.
A intenção dessa atividade é demonstrar, de maneira prá-
Retome a questão inicial levantada no título do capítulo (Exis-
tica, que, apesar dos imensos avanços na luta antirracista, a
te racismo no Brasil?). Pergunte aos estudantes se eles reconhe-
população negra ainda tem menos espaço nas produções
cem a existência do racismo e como as manchetes dispostas
televisivas (e na mídia como um todo) do que indivíduos bran-
podem auxiliar na compreensão dessa realidade. Espera-se que
cos e que, mesmo quando esse espaço é conquistado, indi-
todos sinalizem afirmativamente e, a partir dessa dinâmica, re-
víduos negros são, muitas vezes, retratados de maneira su-
force que o estudo desenvolvido nesse capítulo busca demons-
balternizada. Esse fato é uma das inúmeras consequências
trar que o racismo é uma construção histórica, iniciada no escra-
do racismo estrutural, que, entre outras consequências, pro-
vismo e presente ainda hoje.
move o apagamento da imagem e das narrativas da popula-
Explique aos estudantes que o reconhecimento da existên-
ção negra.
cia do racismo e a discussão sobre ele são importantes. Reforce
que essas discussões representam um avanço no caminho da
resolução do problema para um país que, até pouco tempo, se- Atividades (Página 29)
quer se reconhecia racista. 1. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacio-
A historiografia aponta que o primeiro presidente a reconhe- nem a frase aos diversos aspectos do sistema escravista
cer em discurso oficial a existência do racismo foi Fernando moderno e do racismo estrutural, citando exemplos com ba-
Henrique Cardoso (1931-). Desde então, em especial com as se no que estudaram no capítulo, em especial, as duas
202
manchetes que abordam os assassinatos de Marielle Fran- A atividade tem o potencial de desenvolver posturas críticas em
co, em março de 2018, e de Evaldo Rosa dos Santos, em relação à construção de textos informativos e ao entendimento do
abril de 2019. conteúdo abordado e estudado ao longo da unidade. Ao mesmo
b) Resposta pessoal. Os estudantes devem perceber que a tempo, traz subsídios para que os estudantes se posicionem de
ausência de conhecimento da cultura negra e a necessidade forma crítica e fundamentada em suas vidas públicas.
de os negros lutarem por direitos e respeito estão presentes A proposta de trabalho dessa seção também pode contri-
nos quadrinhos e na letra da música "A carne". buir para o desenvolvimento de aspectos das habilidades
EM13LGG704 e EM13CNT302.
a) 95 anos.
b) O Brasil ocuparia a última posição. Sugestões para o professor
c) O fato de o Brasil ter sido o último país a abolir a escravi-
Artigo
dão pode indicar a importância que o emprego dessa mão
de obra, bem como o tráfico de escravizados propriamente » CardoSo, Lourenço. O branco-objeto: o movimento negro
situando a branquitude. Revista Instrumento, v. 13, n. 1,
dito, desempenhava para a economia do país. Pode indicar
2011. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/
também uma forte resistência das elites locais, como proprie-
revistainstrumento/article/view/18706. Acesso em: 13 jun.
tárias de escravizados, a abrir mão de seus privilégios.
2020.
2. Resposta pessoal. Por meio da fala de Davis, a atividade in- Nesse artigo, o autor ajuda na compreensão da branquitude
centiva posturas críticas e éticas diante do racismo, explici- como identidade, poder e lugar de privilégio e contribui para
tando aos jovens que, apesar de ser algo estrutural, é o entendimento de como o conceito tem sido abordado na
passível de transformação, se for encarado com responsabi- produção acadêmica.
lidade pelos cidadãos. Dessa forma, espera-se que os estu-
Livro
dantes expliquem que, para transformar a situação, é preciso
que a sociedade como um todo (negros e não negros) mobi- » Müller, Tânia M.; CardoSo, Lourenço. Branquitude: estudos
sobre a identidade branca no Brasil. Curitiba: Appris Edi-
lize ações individuais e coletivas, públicas e privadas, com
tora e Livraria Eireli-ME, 2018.
responsabilidade.
A obra aborda o conceito de branquitude e a constituição da
3. A imagem da página 27 é uma fotografia de Jorge Papf feita
identidade branca em relação aos não brancos.
em 1899. Ainda que tenham se passado dez anos da aboli-
ção, a fotografia retrata a subalternidade do indivíduo negro
em relação ao branco: a pose escolhida (criança branca em CAPÍTULO 3 VIDAS NEGRAS NO
cima de uma mulher negra) parece indicar que a mulher ne-
gra serve de brinquedo para a criança, que aparece em des-
BRASIL (página 32)
taque na fotografia. O racismo estrutural implica a insistência No capítulo 3, são abordados temas inerentes ao racismo e
em atribuir papéis subalternos e secundários a determinados ao antirracismo. Nele, são explorados índices que comprovam
grupos – e, no Brasil, as populações negra e indígena são as as desigualdades racial e social como elementos intrínsecos e o
mais afetadas. genocídio da população negra. Também é discutida a luta de
4. Resposta correta: alternativa c. O texto do cientista social Al- pretos e pardos para denunciar essa condição de desigualdade
fredo Guimarães apresenta, resumidamente, aspectos do e obter dispositivos legais para reversão dessa situação. Nesse
Movimento Negro Unificado (MNU), centrando-se no comba- momento, as questões abordadas com mais atenção no capítu-
te às discriminações étnicas. É certo que as demais alterna- lo 1 são retomadas no capítulo 3 em diálogo com o presente, em
tivas também estão na pauta do MNU, mas não foram perspectivas diversas.
mencionadas no recorte.
Vidas negras no Brasil (Página 32)
Práticas de texto (Páginas 30 e 31) O genocídio da população negra tem sido denunciado pela
A atividade e sua apresentação final favorecem o posiciona- militância negra brasileira ao longo dos séculos XX e XXI. Inte-
mento ético no debate público, a defesa dos direitos humanos lectuais como Abdias do Nascimento (1914-2011) e Lélia Gon-
e a luta contra o preconceito racial. zalez (1935-1994) atuaram politicamente por meio de escritos,
Ao longo do planejamento e da produção da atividade, soli- palestras, pronunciamentos, cargos eletivos e de assessoria po-
cite aos estudantes que se atentem às orientações quanto ao lítica, denunciando e buscando meios de reversão dessa reali-
público-alvo e ao objetivo da atividade. Comente com eles que dade. A defesa desses indivíduos é clara: os efeitos danosos da
essa atenção também ocorre com a imprensa em geral e que ela escravização, pela própria existência do regime, não foram in-
determina as linhas de orientação para jornais, revistas, blogs, terrompidos em 1888. Ao contrário, no pós-abolição, surgem
etc. Mencione também que esses elementos costumam marcar dispositivos para a manutenção da opressão e a marginalização
a forma da escrita, os temas e as abordagens. dos negros na sociedade.
Ao iniciarem a busca por informações que vão compor a repor- A fim de compreender o quanto os estudantes conhecem so-
tagem on-line, é interessante que os estudantes sejam orientados bre o tema, valorizando, assim, seus conhecimentos prévios,
a identificar a importância da credibilidade das fontes e o uso de pergunte a eles se já tiveram contato com manifestações antir-
diferentes fontes de informação como forma de garantir uma racistas como a da imagem.
compreensão mais aprofundada do fenômeno estudado. Nesse Solicite que leiam a legenda e reconheçam que se trata de
sentido, peça a eles atenção ao descrito no item 3 da atividade. uma manifestação ocorrida após o assassinato da menina Ága-
Utilize os textos dispostos no Livro do Estudante como docu- tha Félix, de 8 anos, no Rio de Janeiro. Para a realização das ati-
mentos complementares ao conteúdo trabalhado até o momen- vidades, será necessário que os estudantes pesquisem sobre o
to, uma vez que contêm dados que podem ajudar na composi- fato, que ganhou notoriedade e é ainda rememorado por grupos
ção da atividade pelos estudantes. de ativistas negros e de direitos humanos.
203
Pela atualidade dos debates propostos, o capítulo realiza em níveis iguais de escolarização, brancos têm renda média sa-
um trabalho consistente que integra a CGEB1, a CGEB4 e a larial maior do que os pretos e os pardos. Portanto, não se trata
CGEB6. Elas serão retomadas ao longo do capítulo – e também exclusivamente de um problema de formação educacional, mas
do volume. de uma preferência na ocupação das vagas de emprego, o que
evidencia o racismo estrutural.
A abordagem proposta na página mobiliza com destaque a
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES habilidade EM13CHS101. Além disso, contribui para o trabalho
com a CGEB2 e a CGEB7, e com aspectos das habilidades
1. Espera-se que os estudantes identifiquem o protesto como
EM13MAT102 e EM13MAT104.
uma reação dos movimentos negros ao genocídio de jovens
negros, assassinados diariamente nas cidades brasileiras,
representados pelo assassinato de Ágatha Félix, de 8 anos. Sugestão para o professor
O fato ocorreu em 2019, quando a criança foi atingida por Site
um tiro quando estava dentro de um transporte público, na
» Retratos da Desigualdade de Gênero e Raça. Ipea. Dispo-
periferia carioca. A versão da polícia é que houve um confron- nível em: https://www.ipea.gov.br/retrato/apresentacao.
to com bandidos, mas foi desmentida por testemunhas e ja- html. Acesso em: 17 jun. 2020.
mais provada.
Fruto da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica
2. Resposta pessoal. O objetivo da questão é retomar os aspec- Aplicada, com base em dados oficiais da Pesquisa Nacio-
tos que fundaram a imagem idealizada da sociedade brasi- nal por Amostra e Domicílios (Pnad), o site apresenta re-
leira como pacífica, tolerante e aberta, reforçando os problemas latórios, dados estatísticos e infográficos que evidenciam
que mitos como esses geram, como encobrir raízes profundas as desigualdades de raça e gênero no país. É importante
de violência e perpetuar a segregação e as desigualdades so- observar que, quando somadas as categorias raça e gê-
ciais. É necessário destacar aos estudantes que o assassina- nero, chega-se à conclusão de que as mulheres negras
to de jovens e crianças não pode ser naturalizado. estão em situação de maior vulnerabilidade do que os de-
mais grupos.
Sugestão para o professor
Livro Vulnerabilidade social dos negros
» NaSCiMeNto, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: pro- (Página 34)
cesso de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, O conteúdo retoma os índices apresentados anteriormente
2016. e os amplia, apresentando o gráfico com informações sobre res-
Publicado pela primeira vez em 1977, sob a vigência da Lei trição da população negra ao acesso à educação, à proteção so-
de Segurança Nacional, que criminalizava as discussões so- cial, à moradia, ao saneamento e à internet.
bre raça no país, o livro é uma denúncia da morte sistemática Mencione aos estudantes que esses dados podem ser leva-
da população negra no Brasil, empreendimento no qual o dos em consideração quando se argumenta sobre a existência
Estado representa papel de destaque. de um privilégio branco. Espera-se que eles reconheçam que a
desigualdade historicamente construída promove o acesso a
Índices sociais (Página 33) serviços de forma desigual a brancos, pretos e pardos.
É possível que seja mencionada pelos estudantes a existên-
Pergunte aos estudantes se eles reconhecem o conceito de cia de pessoas brancas e pobres, portanto tão vulneráveis quan-
democracia. Com base nos conhecimentos prévios deles, ques- to pretos e pardos. Caso isso ocorra, peça a eles que retomem o
tione se é possível afirmar que o Brasil se constituiu como uma gráfico da página 33 que leva em conta os critérios rendimen-
democracia plena. Espera-se que os estudantes indiquem que to-hora e escolarização. Nesse gráfico, é possível observar que,
em uma democracia plena há direitos garantidos, entre eles a mesmo com níveis educacionais iguais, existe uma disparidade
igualdade de oportunidades e de acesso a bens e serviços como de ganho salarial entre as populações negra e branca. Em ou-
educação, saúde e moradia, integrantes dos direitos sociais dos tras palavras, brancos pobres no Brasil também podem se en-
indivíduos. Tendo isso em vista, reflita com os estudantes sobre contrar em condições de vulnerabilidade, mas sua cor não faz
o fato de o Brasil ser configurado como um Estado democrático, parte dos elementos que dificultam seu acesso ao universo do
mas, ao mesmo tempo, negar o acesso pleno a esses direitos a trabalho, por exemplo.
todos os cidadãos. A discussão sobre a vulnerabilidade social da população ne-
Para ampliar essa discussão, auxilie os estudantes na leitura gra permite o trabalho aprofundado com a habilidade
dos gráficos dispostos na página. EM13CHS503.
O primeiro gráfico indica que pretos e pardos são a maioria
dos indivíduos em trabalhos informais, o que significa também Sugestão para o professor
ausência de proteção social e maior vulnerabilidade às condi-
ções econômicas. É o que tem provado, por exemplo, as políticas Livro
de distanciamento social, ocorridas em 2020 em decorrência da » Preta-rara. Eu, empregada doméstica: a senzala moder-
pandemia de covid-19. Os indivíduos ocupados em trabalhos na é o quartinho da empregada. São Paulo: Letramento,
informais foram os mais economicamente atingidos pelo fecha- 2019.
mento do comércio. Tradicionalmente uma das profissões mais exploradas, pelo
O segundo gráfico apresenta a desigualdade salarial, com costume escravocrata e pela lacuna na legislação, o trabalho
base nos critérios raça e escolaridade. Nesse gráfico, não so- doméstico é discutido pela militante, historiadora, rapper e
mente é possível verificar que o menor rendimento é atribuído ex-empregada doméstica Joyce Fernandes, mais conhecida
aos pardos e aos pretos, como também observar que, mesmo como Preta-Rara, nome que adotou.
204
Quem é alvo da violência no Brasil? O artigo apresenta considerações sobre a adjetivação dos sus-
peitos na imprensa – com foco no jornal Folha de S.Paulo – de
(Página 35) acordo com a raça do indivíduo.
Solicite aos estudantes que leiam atentamente as informa-
ções dispostas na página. Retome a frase que aparece na foto O antirracismo como arma contra o
da abertura desse capítulo, “Parem de nos matar!”, e questio-
ne-os se a frase apresenta mais sentido agora, depois de ex-
genocídio negro (Página 36)
plorar os índices que apontam as desigualdades e o alto índice A discussão sobre o conceito de antirracismo pode viabilizar
de mortes da população negra. Espera-se que reconheçam a o desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13CHS501
legitimidade da frase e por que ela foi cunhada como um “grito e EM13CHS502.
de justiça”. A fim de valorizar os conhecimentos prévios e mobilizar um
Ressalte que o uso do termo “genocídio”, utilizado ao longo debate que guie o estudo do conteúdo proposto, pergunte aos
desse capítulo, marca não apenas o alto índice de assassinato estudantes se eles conhecem o significado do termo “antirracis-
da população negra, mas também o fato como ato deliberado, mo”. Explique que o termo designa movimentos e sentimentos
parcial, no que se refere à omissão, e total, se levada em consi- de oposição ao racismo, comumente presente na população que
deração a ausência de leis de reparação. sofre com a prática racista, embora possa e deva ser uma ban-
Destaque a informação obtida pela Seppir a respeito da me- deira de todos. Dessa forma, a discussão contempla a preocu-
nor comoção popular quando a violência atinge os negros. Tra- pação com a prática da cidadania e com a necessidade de esti-
ta-se de um diálogo que contribui para a construção da CGEB9 mular o respeito aos direitos humanos.
e da CGEB10. Reforce a questão do racismo, do genocídio da população
É possível associar esse fenômeno à abordagem da mídia de negra e da naturalização desses problemas como elementos
casos ligados à violência e à normalização social do genocídio construídos histórico e socialmente. Da mesma forma, retome o
de negros, fruto da estrutura racista discutida no Livro do Estu- conceito da branquitude, ressaltando que a população branca é
dante. Caso julgue conveniente, peça aos estudantes que pes- privilegiada e que é necessário discutir esse fato, para gerar a
quisem manchetes que reflitam sobre essa situação. igualdade de acesso aos serviços e aos direitos.
Um exemplo impressionante é a manchete do Jornal Extra, de Peça aos estudantes que leiam o texto de Nilma Gomes e
maio de 2009, no qual se lê: “Troca de tiros na Chácara do Céu Ana Laborne com atenção. Ambas pesquisam as relações raciais
leva pânico a moradores do Leblon” (disponível em: https://extra. no Brasil. Destaque a atuação intelectual e militante de Nilma
globo.com/casos-de-policia/troca-de-tiros-na-chacara-do-ceu- Gomes, que já foi ministra da Secretaria de Promoção da Igual-
leva-panico-moradores-do-leblon-278540.html. Acesso em: dade Racial.
18 jun. 2020). Nessa manchete, fica explícito que o medo dos A respeito da sugestão de leitura indicada no boxe Para ex-
moradores da periferia é desconsiderado. Provavelmente, o plorar, é importante ressaltar que a leitura e a discussão de pro-
jornalista acredita que se trata de algo natural para esses in- duções literárias de sujeitos negros, que lutam contra o racismo
divíduos, o que não é válido para os moradores do Leblon, e visam dar visibilidade aos problemas da população negra, como
bairro de elite. o livro Parem de nos matar, de Cidinha da Silva, contribuem gran-
Exercício semelhante se aplica às caracterizações de sujeitos demente para interromper a subalternidade da população negra,
apreendidos com drogas ilícitas. Quando pardo ou preto, a man- transferindo sua posição da representação pelo olhar do outro
chete o condena com o adjetivo “bandido”; quando branco, o su- para a posição de sujeito autônomo e produtor de conhecimento.
jeito é caracterizado por sua profissão ou condição de estudante –
e a suspeita do porte ilegal. Como mostra a manchete do G1, de Vidas negras importam! Histórias de
fevereiro de 2020, na qual se pode ler: “Estudante de medicina lutas, sobrevivência e resistências
é preso com 42 kg de cocaína e 16 kg de crack escondidos em
carro na BR-277, diz PRF [...] Segundo a polícia, o suspeito disse (Página 37)
que levaria a droga para São Paulo [...]” (disponível em: https:// As expressões “movimentos negros” e “entidades negras”
g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2020/02/21/estudante- referem-se à coletividade de grupos formados pela população
de-medicina-e-preso-com-42-kg-de-cocaina-e-16-kg-de- negra e por aliados que discutem e elaboram estratégias de lu-
crack-escondidos-em-carro-na-br-277-diz-prf.ghtml. Acesso em: ta contra o racismo. A variedade dessas estratégias é ampla, re-
18 jun. 2020). presentadas pela discussão, pela organização de palestras e
oficinas, pela criação de conteúdos (impressos, digitais ou didá-
Sugestões para o professor ticos), pelos grupos de teatro, pela assessoria política, pela ocu-
pação de cargos eletivos, entre outras. O que une, portanto, es-
Livro
sa variedade de grupos e ações é a luta contra o racismo e tudo
» MbeMbe, Achille. Necropolítica. 3. ed. São Paulo: N-1 edições, o que isso representa, tal como o fim da desigualdade econômi-
2018. ca e o reconhecimento positivo da cultura negra.
Influente intelectual contemporâneo, o camaronês Achille Essas entidades, em geral, reconhecem como cultura negra
Mbembe apresenta no livro o conceito de necropolítica, no as produções de negros e afrodescendentes brasileiros e de
qual se baseia o poder do Estado na definição de que a so- africanos negros de outros países.
berania é exercer controle sobre a mortalidade. Em outros Destacar o nome e a atuação de pessoas negras é impor-
termos, poder político define “quem é descartável, e quem tante para construir o reconhecimento do protagonismo dos
não é”, segundo o autor. negros como sujeitos históricos, ou seja, como indivíduos que
Artigo atuam e vivem experiências de acordo com suas convicções e
» GiorGi, M. C.; alMeida, F. S. de; Paiva, M. V. S. Mídia, raça e condições. Vale mencionar que a prática é recomendada pelas
a construção do suspeito. Domínios de Lingu@gem, v. 12, Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações
n. 1, p. 604-624, 29 mar. 2018. étnico-raciais.
205
É importante que os estudantes compreendam que a criação negras. Esses partidos pioneiros são o Partido Democrático Tra-
de instrumentos de aferição das desigualdades, como o critério balhista, do qual Abdias do Nascimento fez parte e lançou-se
cor, nos censos do IBGE, as pesquisas do Ipea, a criação da como político partidário, e o Partido dos Trabalhadores, ao qual
Lei n. 10 639/03, bem como a criação da Seppir, é fruto da orga- parte dos integrantes do MNU de São Paulo e Rio de Janeiro se
nização das militâncias negras nos anos 1980 e sua estratégia filiaram, tal como Milton Barbosa e Lélia Gonzalez (depois filia-
de aproximação das esferas de poder político. da ao PDT). A entrada desses indivíduos no PT, em especial, mas
Os movimentos negros contemporâneos, como são chamadas também na assessoria de vereadores, deputados e senadores
as entidades criadas após 1978, com o ato público do Movimento eleitos, possibilitou a aprovação de legislações que visam repa-
Unificado Contra a Discriminação Racial – mais tarde chamado so- rar econômica ou culturalmente a população negra.
mente de Movimento Negro Unificado (MNU) –, foram os primeiros Contudo, se julgar conveniente, alerte os estudantes para
a reconhecer que o Estado é um importante reprodutor do racismo, a fragilidade de conquistas que se tornam políticas de gover-
portanto deve ser igualmente responsabilizado e envolvido na so- no, e não de Estado. Assim, a Seppir, já reestruturada no últi-
lução do problema racial da sociedade brasileira. mo governo de Dilma Rousseff, unindo-se ao Ministério das
A CGEB6 e a CGEB9 são abordadas de maneira consistente Mulheres, tornou-se, no governo de Jair Bolsonaro, parte das
nesse tema, contribuindo para a construção de planos positivos atribuições do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
para uma sociedade mais justa e igualitária. Além disso, essa Humanos.
discussão também pode contribuir para o desenvolvimento de O trabalho com essa temática propicia a mobilização de as-
aspectos da habilidade EM13LGG502. pectos das habilidades EM13CHS601 e EM13CHS602.
206
Nessa canção, a compositora transita entre passado e pre- mercado de trabalho, as pessoas brancas são mais bem
sente, colocando-se dentro das embarcações do tráfico de remuneradas que negros e pardos. Assim, o privilégio sim-
escravizados e denunciando a recusa de corpos negros nas bólico de maior aceitação leva ao privilégio material de
cidades brasileiras de hoje. maior renda.
c) Espera-se que os estudantes identifiquem que a última
Atividade complementar coluna do gráfico representa a diferença salarial entre bran-
Os anos 1990 são considerados, pelo historiador Petrônio cos e pretos com nível superior de instrução, uma diferença
Domingues, como tempo de surgimento de um novo tipo de que chega a R$ 9,60 a hora de trabalho paga. Tal disparida-
movimento negro, aquele representado pela popularização de salarial revela a inconsistência da ideia de meritocracia,
pois demonstra que, mesmo as pessoas negras e pardas que
do rap como forma de expressão da juventude preta e parda
tiveram acesso à educação formal e conseguiram construir
das periferias das grandes cidades. Nomes emblemáticos
um plano de carreira, recebem uma recompensa inferior à
desse período são Racionais MC’s, Thaíde, Sabotage e Fac-
das pessoas brancas. Muitas pessoas negras com formação
ção Central.
superior conquistaram um diploma com um esforço maior do
Atualmente, a denúncia da desigualdade e a ressignificação
que as pessoas brancas, conciliando estudo e trabalho e su-
da cultura negra têm emergido entre as canções, em diferentes
perando obstáculos de escassez – e, ainda assim, recebem
estilos e regiões do Brasil. Para aproveitar essa multiplicidade,
uma remuneração inferior.
você pode sugerir a seguinte atividade.
O objetivo da unidade é auxiliar os estudantes a compreen- 3. a) Espera-se que os estudantes identifiquem que muitas
der a origem histórica das desigualdades raciais e sociais (in- restrições são impostas a uma grande parte da população
trínsecas) no país, o racismo estrutural como meio de perma- negra no Brasil. Para muitas dessas pessoas, a formação
nência dessa desigualdade e, ao mesmo tempo, a organização acadêmica não é uma prioridade a ser alcançada, pois an-
da população como propulsora de mudanças. Para que com- tes precisam ter condições dignas de moradia, com água
preendam essas questões por meio da música, produto que encanada, rede de esgoto e energia elétrica. Além da res-
encontra grande receptividade no universo jovem, propõem- trição às condições básicas de sobrevivência, muitos negros
-se as seguintes etapas: no Brasil habitam regiões sem escolas nas proximidades;
e, por vezes, mesmo tendo escolas em seu entorno, essas
• Os estudantes devem buscar na internet canções que tratem pessoas abandonam a vida escolar para trabalhar, a fim de
da questão racial, como problema ou ressignificada positiva-
compor a renda familiar. Todas essas restrições impõem
mente.
muitos obstáculos para o ingresso das pessoas pretas nas
• Após as escolhas das canções, cada indivíduo ou grupo (de universidades.
acordo com a orientação do professor) deve explicar o moti-
b) Espera-se que os estudantes reflitam sobre os esforços
vo da escolha da música.
que grande parte da população preta do Brasil precisa fazer
• Em seguida, caso seja viável, seria interessante apresentar para ascender social e economicamente, superando a vul-
a letra da canção em algum projetor simultaneamente à mú- nerabilidade social, frequentando a escola, mesmo que es-
sica. No trabalho didático com músicas, o ideal é que letra e ta fique longe de suas casas, e tendo de conciliar trabalho
a sonoridade sejam observadas. e estudo desde muito cedo. Além disso, sobretudo no sis-
• No momento de socialização das músicas selecionadas, e tema atual, os negros têm de enfrentar o racismo estrutural,
justificadas, a turma deve ser incentivada a debater os sig- esforçando-se mais do que os brancos para se destacar na
nificados das letras, e em que medida elas podem ser inter- vida escolar e acadêmica e provar que são bons profissio-
pretadas como ressignificações ou lutas antirracistas. nais, e, portanto, merecedores de boa remuneração, bons
cargos, promoções, etc.
Atividades (Páginas 40 e 41) 4. Espera-se que os estudantes reflitam sobre o racismo e a
vulnerabilidade social como motivadores da violência con-
1. a) A vertente que apresenta desequilíbrio é a de cor ou raça. tra pessoas pretas e pardas. A curva ascendente revela
b) Enquanto 33,7% de pessoas brancas estão na informali- que, em cenários de crises econômica, política e social, as
dade no mercado de trabalho, essa taxa é de 46,9% para as pessoas pretas ficam mais vulneráveis ao crime organiza-
pessoas pretas e pardas. Logo, a diferença de porcentagem do, ao aliciamento ou a tornar-se vítimas das guerras entre
do trabalho informal nessa vertente é de 13,2%. facções e da violência da polícia, que as tem como princi-
pais suspeitas.
c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes comentem
em suas respostas suas percepções acerca das estruturas 5. Espera-se que os estudantes reflitam sobre o fato de que,
racistas que dificultam o acesso da população negra ao mer- mesmo em contextos de aumento da criminalidade e das
cado formal de trabalho. guerras entre facções, o número de assassinatos de pes-
soas brancas se mantém estável. Essa informação, associa-
2. a) Os dados revelam que existe uma grande variação salarial da à pesquisa de opinião que revela que a morte de pessoas
em razão da cor da pele dos trabalhadores no Brasil. A pri- brancas choca mais a sociedade do que a morte de pessoas
meira coluna do gráfico, que disponibiliza uma visão total pretas, indica que a morte dos negros é banalizada e que
dessas diferenças, independentemente dos níveis de forma- eles são alvos preferenciais da violência do Estado. Essa
ção, apresenta uma variação de R$ 6,60 para a hora de tra- violência pode ser classificada como genocídio, pois traduz
balho paga a brancos e a negros e pardos. especificamente o extermínio da comunidade negra em
b) Espera-se que os estudantes reflitam sobre os privilé- ações da polícia, que moldam um perfil suspeito, inferiori-
gios das pessoas brancas, cuja mão de obra em razão do zam o valor da vida negra e agem de forma violenta nas
racismo estrutural é mais valorizada do que a mão de obra comunidades periféricas, em ataques armados contra cri-
de negros ou pardos. Além de serem preferidas no minosos e cidadãos comuns negros.
207
6. Espera-se que os estudantes reflitam sobre o racismo estru- exploradas, assim como bancos de teses e dissertações das uni-
tural como a causa da vulnerabilidade social da população ne- versidades.
gra. Nesse sentido, o racismo explica o fato de os negros serem A proposta é que eles pesquisem o racismo estrutural no Bra-
preteridos no mercado de trabalho e de receberem salários sil. Definições e elementos sobre esse tema foram trabalhados
inferiores, o que diminui suas oportunidades de ascensão so- na unidade, em especial no capítulo 2, e devem ser retomados
cial e econômica, tornando-os suscetíveis ao crime. É o racis- pelos estudantes.
mo, sobretudo, que molda os negros como figuras indesejadas O objetivo é ampliar os conhecimentos dos estudantes a res-
nos meios privilegiados, autorizando, assim, seu extermínio peito do racismo estrutural, e fazê-los compreender que o co-
pelas forças do Estado. nhecimento científico é resultado de um intenso debate da co-
7. Espera-se que os estudantes analisem a poesia de Concei- munidade acadêmica. Ademais, é fundamental reconhecer a
ção Evaristo e reflitam sobre o poder da união, do olhar hu- possibilidade de acessar parte dessa produção de forma gratui-
manizado para o outro e das redes de proteção que são ta. Dessa maneira, estimula-se a democratização do acesso ao
estabelecidas nas comunidades negras. Na poesia, a ideia conhecimento.
de aquilombamento faz referência às lutas do passado es- Solicite aos estudantes que observem com atenção as infor-
cravocrata e atualiza seu sentido para as lutas atuais e cons- mações dispostas nos procedimentos, para que a atividade se-
tantes dos negros, que, unidos, podem se mobilizar contra ja mais facilmente executada.
políticas que sejam contrárias a seu direito à vida. Caso exista a dificuldade de acesso a algum dos livros indi-
8. a) Enquanto os quilombos, entre os séculos XVI e XIX, tinham cados, sugere-se a substituição, ou mesmo complementação,
como principal função a resistência contra a escravidão, os com os seguintes textos:
quilombos da atualidade são caracterizados como espaços Schwarcz, L. K. M. A culpa é sempre dos outros. Interesse
de encontro e sociabilidade para discussão de estratégias de Nacional, v. 27, p. 48-54, 2014. Disponível em: http://
resistência ao racismo. interessenacional.com.br/2014/10/01/a-culpa-e-sempre-
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes dialo- dos-outros/. Acesso em: 19 jun. 2020.
guem sobre a importância da união entre pessoas que vi- Schwarcz, L. K. M. Do preto, do branco e do amarelo: sobre o
venciam a negritude em seus cotidianos para uma mito nacional de um Brasil (bem) mestiçado. Ciência e Cultu-
compreensão mais ampla acerca do significado dessa vi- ra, v. 64, p. 48-55, 2012. Disponível em: http://cienciae
vência, bem como das possibilidades de luta e resistência cultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67
contra o racismo estrutural. 252012000100018. Acesso em: 19 jun. 2020.
9. Atividade de pesquisa. Nessa proposta, os estudantes vão Munanga, K. Por que ensinar a história da África e do negro no
aprofundar seus conhecimentos sobre as comunidades e os Brasil de hoje? Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 1,
movimentos negros articulados, assim como sobre a apro- p. 15-239, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rieb/
priação do termo “quilombo” para designar os espaços de lu- n62/2316-901X-rieb-62-00020.pdf. Acesso em: 19 jun. 2020.
ta que marcam realidade do tempo presente. O objetivo é que,
ao entrar em contato com as ações desses movimentos, eles Munanga, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça,
percebam a importância de sua articulação política, do aco- racismo, identidade e etnia. Cadernos PENESB (Programa de
lhimento das pessoas marginalizadas socialmente e da pro- Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira). Rio de
moção da autoestima e da consciência da história da Janeiro, n. 5, p. 15-34, 2004. Disponível em: https://www.
população negra. O artigo “O quilombismo em espaços urba- geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-
nos – 130 anos após a abolição” pode auxiliar os estudantes abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-
nessa pesquisa (disponível em: https://www.revistas.usp.br/ dentidade-e-etnia.pdf. Acesso em: 19 jun. 2020.
extraprensa/article/download/153780/157007/; acesso em: Como foi possível observar ao longo da unidade, o tema ra-
14 abr. 2020). cismo estrutural está vinculado a outros assuntos que derivam
10. Resposta correta: alternativa a. É possível notar que o poeta dele ou o complementam, tais como escravismo, racismo, vio-
se coloca ora como o opressor/violento ora como o oprimi- lência, etc. Espera-se que os estudantes reconheçam, portanto,
do/agredido. Retome aqui o debate sobre o racismo estru- esses outros temas complementares e que consigam articular
tural e a pouca consciência de pertencimento da população essas questões como parte integrante do tema estudado.
negra como elementos que favorecem essas experiências. O processo de execução e discussão da atividade deve prio-
11. Resposta correta: alternativa b. O texto atesta a inconsis- rizar o envolvimento de todos os estudantes. Nessa etapa, é
tência do mito da cordialidade brasileira, utilizada como importante que eles aprendam a desenvolver argumentos de
propaganda positiva dos costumes brasileiros e silencia- forma oral. Na etapa final da atividade de pesquisa, eles de-
mento de atos como racismo, intolerância e xenofobia, vem elaborar um texto escrito que será disponibilizado na in-
constantes no cotidiano do país. ternet, o que possibilita desenvolver a articulação de conheci-
mentos de texto e escrita com o uso das novas tecnologias de
comunicação e informação como espaço de divulgação e diá-
Práticas de pesquisa (Páginas 42 e 43)
logo. Práticas como essa desenvolvem habilidades escritas e
Nessa seção, pretende-se desenvolver nos estudantes as orais, bem como têm a potencialidade de auxiliar o indivíduo
habilidades e as práticas de pesquisa com base no método da na sua inserção no debate público de forma consciente, res-
revisão bibliográfica, ou seja, por meio do levantamento e da peitando o conhecimento científico consolidado e os direitos
análise daquilo que já foi produzido e divulgado a respeito do dos cidadãos.
tema selecionado. A proposta de trabalho desenvolvida nessa seção contribui
O Livro do Estudante já oferece algumas indicações de arti- para o desenvolvimento da CGEB6 e da CGEB7, das habilidades
gos e livros. Explique aos estudantes que existem plataformas EM13CHS502 e EM13CHS503 e de aspectos das habilidades
cujo conteúdo é oferecido de forma gratuita que podem ser EM13LGG704 e EM13CNT301.
208
Retomada
A seguir, apresentamos os principais conceitos trabalhados maneira se apropriaram desse conhecimento e as relações que
ao longo da unidade e suas relações. Você pode pedir aos estu- conseguiram estabelecer. Assim, é possível, ainda, identificar
dantes que montem os próprios mapas mentais de organização dúvidas e dificuldades dos estudantes em relação ao conteúdo
dos conteúdos estudados. Com isso, é possível perceber de que estudado e retomar ou aprofundar os conceitos necessários.
Escravização
Leis abolicionistas
Leis e
costumes de Pós-abolição
marginalização
Desigualdades Racismo
(Índices) estrutural
Luta antirracista
209
■ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enem)
Abolição da escravatura
Lei Eusébio de Queirós Lei do Ventre Livre Lei do Sexagenários Lei Áurea
(fim do tráfico (liberdade para os filhos (liberdade para os escravos (abolição da
negreiro) de escravos nascidos a maiores de 60 anos) escravatura)
partir dessa data)
Considerando a linha do tempo acima e o processo de abolição da escravatura no Brasil, assinale a opção correta.
a) O processo abolicionista foi rápido porque recebeu a adesão de todas as correntes políticas do país.
b) O primeiro passo para a abolição da escravatura foi a proibição do uso dos serviços das crianças nascidas em cativeiro.
c) Antes que a compra de escravos no exterior fosse proibida, decidiu-se pela libertação dos cativos mais velhos.
d) Assinada pela princesa Isabel, a Lei Áurea concluiu o processo abolicionista, tornando ilegal a escravidão no Brasil.
e) Ao abolir o tráfico negreiro, a Lei Eusébio de Queirós bloqueou a formulação de novas leis antiescravidão no Brasil.
Resposta: alternativa d.
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado Liberte o cativeiro social
Não sou escravo de nenhum senhor
Senhor, eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Meu Paraíso é meu bastião
Tenho sangue avermelhado
Meu Tuiuti, o quilombo da favela
O mesmo que escorre da ferida
É sentinela na libertação
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Sobre o processo do fim da escravidão e o período pós-abo-
Mas falta em seu peito um coração lição no Brasil, é correto afirmar que
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz 01) no começo do século XX, depois da abolição, as elites e
Eu fui mandinga, cambinda, haussá os poderes públicos passaram a combater hábitos e cos-
tumes da população afrodescendente brasileira, trans-
Fui um Rei Egbá preso na corrente
formando, por exemplo, a capoeira e as práticas
Sofri nos braços de um capataz religiosas africanas em ações criminosas.
Morri nos canaviais onde se plantava gente 02) o movimento abolicionista tomou definitivo impulso nos
centros urbanos e a agitação política dos clubes aboli-
Ê, Calunga, ê! Ê, Calunga! cionistas se articularia com o aumento das fugas já en-
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou tre o fim da década de 1870 e o início da de 1880.
Onde mora a Senhora Liberdade 04) o governo imperial, em processo de abolição gradual
com a aprovação de leis como a do Ventre Livre (1871)
Não tem ferro nem feitor e a dos Sexagenários (1885), já havia conseguido que
Amparo do Rosário ao negro Benedito 95% dos cativos gozassem de liberdade quando foi as-
sinada a Lei Áurea (1888).
Um grito feito pele do tambor
08) tomados por ideias eugenistas, jornais de grande cir-
Deu no noticiário, com lágrimas escrito culação, já no período republicano, costumavam repre-
Um rito, uma luta, um homem de cor sentar a população negra brasileira negativamente,
repleta de estereótipos, o que dificultou sobremaneira
E assim, quando a lei foi assinada a construção de uma imagem positiva do negro na so-
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu ciedade brasileira.
210
16) apesar de ter sua história marcada por séculos de escravi- racismo. Nós nem cremos que escravos outrora. Tenha havido
dão, o Brasil é reconhecido internacionalmente como um em tão nobre País.... diz a certa altura, o Hino da República (1890),
país de “democracia racial”, fruto de um longo processo de de autoria de Medeiros Albuquerque (letra) e Leopoldo Miguez
investimento em políticas étnico-raciais de combate ao ra- (música). Não por acaso, o trecho costuma ser lembrado pelos
cismo. estudiosos da escravidão como testemunho de que o país se re-
32) a partir da Lei Eusébio de Queirós (1850) e com o incen- laciona mal com suas verdades incômodas sobre o racismo...”
tivo governamental à imigração europeia, o preço médio (Revista Veja, edição 2 557 de 22 de novembro de 2017, p. 79.)
de um cativo despencou pela falta de interesse por esse
tipo de mão de obra. A esse respeito, assinale a alternativa incorreta.
64) a igualdade política garantida pela Constituição de 1891 a) Em todos os indicadores de qualidade de vida e de parti-
fez com que muitos negros ascendessem a cargos ele- cipação na sociedade, a população preta e parda, resumi-
tivos, ajudando na construção de políticas de inclusão da, nas pesquisas do IBGE, no grupo de “negros” aparece
social como a de distribuição de terras e a de expansão em franca desvantagem em relação aos brancos, situação
da escolarização aos ex-escravizados. que pouco mudou na última década.
b) Uma das mais temidas formas de resistência contra a es-
Resposta: 01 + 02 + 08 = 11. cravidão no Brasil era a formação dos quilombos, comu-
nidades independentes de escravos alforriados.
3. (Enade) c) Os cultos religiosos negros atuaram como uma das for-
A ideia segundo a qual todo ser humano, sem distinção, me- mas de resistência étnica contra o branco colonizador e
rece tratamento digno corresponde a um valor moral. O pluralis- senhor das terras.
mo político, por exemplo, pressupõe um valor moral: os seres d) A visão distorcida sobre o peso da cor da pele no Brasil se
humanos têm o direito de ter suas opiniões, expressá-las e orga- formou, inicialmente, nos quase quatro séculos de escra-
nizar-se em torno delas. Não se deve, portanto, obrigá-los a si- vidão, depois no conjunto de atitudes que sucederam a
lenciar ou a esconder seus pontos de vista; vale dizer, são livres. sua abolição e, por fim, na falta de vontade geral de tirar
Na sociedade brasileira, não é permitido agir de forma precon- o racismo da sombra.
ceituosa, presumindo a inferioridade de alguns (em razão de et- e) Um certo avanço ocorrido no início dos anos 2000 contra
nia, raça, sexo ou cor), sustentando e promovendo a desigualda- o racismo brasileiro foi com relação às primeiras universi-
de. Trata-se de um consenso mínimo, de um conjunto central de dades que instituíram o sistema de cotas para negros.
valores, indispensável à sociedade democrática: sem esse con-
junto central, cai-se na anomia, entendida como ausência de re- Resposta: alternativa b.
gras ou como total relativização delas.
5. (Uerj)
Brasil. Ética e Cidadania. Brasília: MEC/SEB, 2007 (adaptado).
No último mês de janeiro, nas comemorações do Dia de Mar-
Com base nesse fragmento de texto, infere-se que a socie- tin Luther King, propagou-se, mais uma vez, a frase Black
dade moderna e democrática lives matter “Vidas negras importam”, que surgiu nos pro-
testos gerados pela morte de um jovem negro, em agosto
a) promove a anomia, ao garantir os direitos de minorias ét-
de 2014, na cidade norte-americana de Ferguson.
nicas, de raça, de sexo ou de cor.
A utilização dessa frase nas comemorações de 2015 aponta
b) admite o pluralismo político, que pressupõe a promoção
para uma contradição existente entre uma característica da
de algumas identidades étnicas em detrimento de outras.
ordem política norte-americana e um impedimento ao pleno
c) sustenta-se em um conjunto de valores pautados pela exercício dos direitos civis.
isonomia no tratamento dos cidadãos.
Essa característica e esse impedimento, respectivamente, são
d) apoia-se em preceitos éticos e morais que fundamentam
a) prevalência do republicanismo e existência de grupos pa-
a completa relativização de valores.
ramilitares.
e) adota preceitos éticos e morais incompatíveis com o plu-
b) legitimidade do associativismo e regulação dos movimen-
ralismo político.
tos populares.
Resposta: alternativa c. c) vigência do ideal democrático e permanência de desigual-
dades étnicas.
4. (UFRR) d) garantia da liberdade de manifestação e monitoramento
Uma verdade inconveniente: Ser negro no Brasil é conviver das redes sociais.
com o preconceito e a desigualdade. O silencio em torno desse
fato não ajuda em nada o país: precisamos, pois, falar sobre o Resposta: alternativa c.
211
Unidade
CIDADANIA
2 BRASILEIRA HOJE
INTRODUÇÃO
Essa unidade tem como tema central o conceito de cidadania no contexto brasileiro. Com base na constata-
ção do alto índice de desigualdade social no país, são analisados fatores históricos, políticos e socioculturais que
atuaram e atuam na produção dessa desigualdade. Além disso, são apresentadas experiências de atuação po-
lítica e social que buscam superar esse quadro.
No capítulo 4, a igualdade social é abordada como um princípio constitucional que, muitas vezes, não é res-
peitado, o que se pode observar a partir da constatação de que uma parcela considerável da população não des-
fruta de direitos básicos, enquanto poucos são altamente privilegiados e beneficiados pelo Estado. O capítulo 5
trata das lutas das minorias pela obtenção e manutenção de direitos civis, políticos e sociais básicos, apresen-
tando um histórico das conquistas mais relevantes e dando um panorama do que ainda precisa melhorar. Já no
capítulo 6, a luta dos povos tradicionais pela sobrevivência e pela conservação de suas culturas é discutida en-
quanto elemento fundamental para diminuir as desigualdades sociais no país.
Por trabalhar conceitos tradicionais das áreas de Sociologia e/ou Filosofia, recomenda-se que o desenvolvi-
mento do trabalho com os temas da unidade seja liderado por professores dessas disciplinas. No entanto, tam-
bém é possível uma interlocução dos temas com as demais áreas de humanidades, especialmente com a Histó-
ria. A todo momento, é necessário tomar cuidado para não reforçar estereótipos de qualquer tipo e trabalhar
para que os estudantes desenvolvam suas habilidades críticas sobre as questões em foco.
OBJETIVOS DA UNIDADE
• Compreender os elementos que atuaram e atuam para que o Brasil seja uma nação desigual e analisar ex-
periências históricas que buscaram a superação dessa situação.
• Reconhecer a existência de grupos sociais marginalizados e subrepresentados no Brasil e examinar suas si-
tuações, demandas e os princípios que defendem.
• Relacionar a desigualdade com a condição social de privação de direitos para uns e de benefícios e privilégios
para outros.
• Desenvolver um olhar crítico diante das demandas dos movimentos sociais e dos princípios constitucionais.
JUSTIFICATIVA
O debate da unidade permite aos estudantes reconhecer o que nos caracteriza como cidadãos, ou seja, a ga-
rantia de que temos direitos e deveres a cumprir em relação ao Estado. Contudo, na unidade, é demonstrado co-
mo a cidadania não é garantida plenamente no Brasil, visto que o país sofre com uma enorme desigualdade.
Dessa forma, as discussões propostas contribuem para aprimorar a compreensão dos estudantes sobre os mo-
tivos que ocasionam essa desigualdade.
Para que os estudantes compreendam esse quadro, a unidade possibilita a eles conhecer o que são privilé-
gios sociais, quem tem acesso a eles e quem não tem, bem como os mecanismos que condicionam esse acesso.
Relacionar e diferenciar esses grupos permite compreender os diferentes tipos de desigualdade que acometem
a população.
Um dos aspectos mais enfatizados nessa discussão é a forma como as desigualdades configuram o modo
de vida da população brasileira no presente e como elas estão relacionadas aos principais problemas do país.
Outro aspecto de bastante relevância nessa discussão é o papel dos movimentos de luta por direitos para com-
bater as desigualdades e promover uma sociedade justa e democrática.
212
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS DA
CAPÍTULO COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES
EDUCAÇÃO BÁSICA
CECHSA1: EM13CHS103.
CECHSA5: EM13CHS501 e EM13CHS502.
CECHSA6: EM13CHS601 e EM13CHS605.
5 CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
CELT2: EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG203 e EM13LGG204.
CELT3: EM13LGG301, EM13LGG303 e EM13LGG304.
CELT7: EM13LGG701, EM13LGG702, EM13LGG703 e EM13LGG704.
213
Sugestão para o professor Essa discussão mobiliza as habilidades EM13CHS103 e
EM13CHS106, pela análise de informações de diversas lingua-
Artigo
gens (gráfico, tabela e texto) que diagnosticam a desigualdade
» Nogueira, Cláudio Marques Martins; Nogueira, Maria Alice. A no Brasil como uma mazela social histórica. Além disso, tam-
sociologia da educação de Pierre Bourdieu: limites e contri- bém pode colaborar com o desenvolvimento de aspectos das
buições. Educação & Sociedade, v. 23, n. 78, Campinas, abr. habilidades EM13MAT102 e EM13MAT406.
2002. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S0101-73302002000200003. Acesso em: 13 abr.
2020. Fissuras sociais (Página 48)
As reflexões sobre o tema desigualdade social podem ser Explore a leitura do poema com os estudantes e debata so-
aprofundadas nesse artigo, que traz assuntos como a rela- bre seu conteúdo e sua forma. Para isso, peça a um estudante
ção entre herança familiar (cultural) e desempenho escolar e que o leia em voz alta. Essa primeira leitura do texto permitirá a
o papel da escola na reprodução e legitimação das desigual- realização da atividade do boxe Interação.
dades sociais. É importante apresentar aos estudantes quem é Conceição
Evaristo. Escritora negra contemporânea, nasceu em uma co-
munidade em Belo Horizonte e trabalhou como empregada do-
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES méstica até concluir a Educação Básica, próximo aos seus 25
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes possam ve- anos. Depois de passar em um concurso para magistério, seguiu
rificar que, da mesma maneira que ocorre na sociedade bra- a carreira acadêmica e se tornou mestre e doutora em literatura.
sileira, onde certos indivíduos e grupos têm mais condições Começou a escrever aos 50 anos de idade e hoje figura como
de acesso a bens e serviços do que outros, não há condições uma das escritoras brasileiras mais influentes.
iguais aos dois indivíduos representados nessa imagem. Discutir o poema de Conceição Evaristo pode auxiliar no de-
senvolvimento de aspectos das habilidades EM13LGG201 e
2. A imagem faz alusão ao acesso a bens e serviços ofereci-
EM13LGG202.
dos aos diversos indivíduos e grupos que compõem a po-
Uma forma de problematizar o conteúdo desse tópico é ques-
pulação. Enquanto o acesso a esses bens e serviços é
tionar os estudantes sobre o seu título: O que seria uma fissura
facilitado para alguns – representados, na imagem, pelo
social? Essa ideia, que é próxima do sentido de abismo social,
indivíduo que ocupa o patamar mais alto e para quem es-
mostra como há uma profunda distância entre os diversos gru-
tá à disposição uma escada cujos degraus podem ser fa-
pos sociais brasileiros.
cilmente escalados –, para outros, ele é dificultado ou até
A desigualdade social tem raízes no contexto da colonização
mesmo negado – representados, na imagem, pelo indiví-
brasileira. Os estudantes devem compreender como as desigual-
duo que ocupa o patamar mais baixo, em relação ao ante-
dades são produzidas por processos sociais de subjugação e
rior, e para quem está à disposição uma escada cujos
depreciação. Essa análise permite a mobilização da habilidade
degraus são muito altos e, por isso, difíceis, senão impos-
EM13CHS503.
síveis, de serem escalados.
Boxe Interação
Panorama da desigualdade (Página 47) 1. Espera-se que os estudantes identifiquem a trajetória histó-
Esse tópico amplia a discussão iniciada na página 46 sobre rica das mulheres negras no Brasil por meio da poesia de
as desigualdades na democracia brasileira. Os dados apresen- Conceição Evaristo, que retoma a escravização de suas an-
tados evidenciam que alguns grupos sociais não têm acesso aos cestrais, a marginalização social de sua mãe, que prestava
direitos considerados básicos, enquanto outros têm vantagens serviços domésticos às classes mais privilegiadas, até chegar
e privilégios. ao presente e refletir sobre sua condição de mulher negra e
Explore as informações do gráfico com os estudantes, rela- escritora, perplexa diante do atual racismo estrutural, mas
cionando seu conteúdo com o conteúdo do texto. Dois fenôme- que deposita sua esperança nas novas gerações para o re-
nos importantes de trabalhar são o fato de que a maioria dos conhecimento de sua mobilização política, suas lutas e suas
residentes em domicílios particulares ganha até 1 salário míni- conquistas.
mo e o contraste desses números quando comparadas as re-
giões Norte e Nordeste com as regiões Sudeste, Sul e Centro-
-Oeste do país. Como nascem os privilégios? (Página 49)
Pela constatação da desigualdade de renda do país, pode-se O objetivo central desse tópico consiste na definição do con-
deduzir que o país também apresente uma desigualdade de ceito de privilégio e na reflexão sobre como ele é construído na
acesso aos meios de ascensão social. Deve-se frisar aos estu- prática social. Na definição, é indispensável demarcar claramen-
dantes que constatar a desigualdade de um país não significa te as diferenças entre as vantagens materiais e/ou simbólicas
concluir que ele seja pobre, mas que as riquezas não são distri- dos privilégios.
buídas igualmente, e disso derivam as situações em que peque- Assim como a desigualdade social, os privilégios também
nos grupos concentram a maior parte dessas riquezas, enquan- têm uma história que remete ao processo colonizador do Brasil.
to grupos bem mais numerosos vivem em situação de pobreza. Esse é um bom momento para discorrer sobre os diversos povos
Explique aos estudantes o que significa a mobilidade social que constituíram a população brasileira e como cada um parti-
e como, no Brasil, essa mobilidade é baixa, tendo como referên- cipou no processo de povoamento do país.
cia as informações trabalhadas até aqui: o direito básico social O caráter histórico dos privilégios está expresso também na
(educação, saúde, trabalho, proteção social, etc.) não é assegu- hereditariedade dos privilégios. Explique que não é incomum
rado de maneira igualitária aos brasileiros, portanto não há ga- que membros das classes mais privilegiadas descendam de eli-
rantia de igualdade social e, por consequência, as possibilidades tes coloniais, enquanto os desfavorecidos remetem aos negros,
de ascensão social são baixas. indígenas ou brancos pobres.
214
Apesar do ideal iluminista de igualdade universal e da pro- Mediante essa constatação, incentive os alunos a refletir se
clamação dos direitos humanos, nem todos os seres humanos o estabelecimento da igualdade como princípio constitucional é
podem gozar dessa igualdade. Comente com os estudantes co- suficiente para garantir a igualdade efetiva, na prática social,
mo a classe burguesa se beneficiou dos ideais iluministas para entre todos os indivíduos e grupos da população.
ascender ao poder e conservou-se nele pela manutenção de A discussão a respeito da construção dos privilégios no Bra-
privilégios sociais. sil e os seus efeitos na sociedade atual é propícia para o desen-
Nessa etapa, são trabalhadas as habilidades EM13CHS601 volvimento da CGEB1.
e EM13CHS605, por elaborar-se de forma crítica um debate so-
bre a desigualdade que atinge as minorias brasileiras e sua re-
Quem são os privilegiados da atual
lação com o ideal global de igualdade.
sociedade brasileira? (Página 51)
Boxe Para explorar Ao nos perguntarmos sobre quem seriam aqueles que
hoje são dotados de privilégios, é provável que a imagem
O jogo do privilégio branco foi desenvolvido pelo Instituto
que nos surja à mente seja a de um homem branco, finan-
Identidades do Brasil e elaborado com base em reflexões acer-
ceiramente bem-sucedido e pai de família. É importante ex-
ca da forma como o acesso a certos locais sociais é determinado
plicar aos estudantes o porquê disso, relacionando esse tipo
por condições prévias, como origem, cor, gênero, sexualidade,
ideal às hierarquias estruturadas no passado pelos colonos
situação econômica, etc. Seu uso em sala de aula pode contri-
europeus.
buir para a conscientização dos estudantes a respeito dos pró-
É indispensável reforçar aos estudantes a diferença entre os
prios privilégios sociais, bem como da ausência deles.
privilégios materiais, e como eles são mantidos pela herança, e
os privilégios simbólicos, transmitidos pela cultura, que ainda é
Atividade complementar fortemente influenciada por valores das classes mais privilegia-
Se julgar pertinente, realize esse jogo com os estudantes, co- das. Trabalhe essa diferença refletindo sobre como os valores
mo forma de ampliar suas percepções acerca da existência e do éticos e estéticos no Brasil são derivados das tradições euro-
significado de privilégios sociais. peias, enquanto elementos culturais de outras matrizes são,
Antes de jogá-lo, é importante evidenciar que não se trata de muitas vezes, desvalorizados no país.
um jogo para ganhar ou perder, mas sim para trazer uma refle- Dentre todos os obstáculos possíveis para a ascensão so-
xão e uma conscientização a respeito das facilidades e dificul- cial, a falta de acesso à educação é talvez o mais crítico. Orien-
dades vivenciadas por diferentes grupos e indivíduos. te os estudantes a refletir sobre como a educação pode ser
Prepare previamente o local em que o jogo será realizado, um meio de reduzir a desigualdade quando todos, de fato,
utilizando fita adesiva ou giz para demarcar o espaço no qual os têm acesso a uma educação de qualidade. Nesse ponto, é re-
alunos se deslocarão. comendado assistir aos vídeos indicados no boxe Para Explo-
Caso deseje tornar o jogo mais complexo, é possível acres- rar, especialmente o vídeo de José Vicente sobre educação
centar questões que avaliem outras formas de privilégios, como contra o racismo.
as de gênero, sexualidade, origem, etc. De quem é a responsabilidade pela colonização? Essa ques-
Como alternativa, o jogo pode ser realizado individualmente, tão deve ser trabalhada com cuidado, uma vez que é possível
em folhas de papel. Nesse caso, em vez de passos, os alunos cair em uma lógica culpabilizadora. É importante salientar que,
contabilizam pontos, que serão somados no final do jogo. hoje, ninguém é culpado pelos eventos e processos históricos
do passado. Apesar disso, é importante reconhecermos que es-
ses eventos e processos são responsáveis pelo cenário atual,
Os privilégios no Brasil (Página 50) com o qual podemos e devemos nos ocupar, reconhecendo a
Retome o debate do início do capítulo sobre os artigos da existência de desigualdades e privilégios e buscando formas de
Constituição que tratam da igualdade. construir uma sociedade mais justa e igualitária.
Discuta com os estudantes as semelhanças e diferenças Comente com os estudantes que devemos reivindicar direitos
entre os significados atribuídos ao ideal de igualdade no pas- para todos e exigir a garantia desses direitos pelo Estado, pois
sado e no presente, chamando a atenção para o modo como essa ação é uma forma de exigir reparação. Lance a seguinte per-
esse ideal desconsiderava a população negra no Brasil entre gunta aos estudantes: Que tipo de reparação nós podemos exi-
os séculos XVIII e XIX. gir? Diga a eles que um bom exemplo de reparação é o sistema
Reflita com os estudantes sobre o conceito de igualdade na de cotas adotado por universidades federais.
atualidade e questione-os: Será que, quando pensamos em
igualdade hoje, realmente estamos considerando todos os indi- Boxe Para explorar
víduos e grupos da sociedade? O conteúdo dessa plataforma pode ser utilizado para abor-
Aborde os mecanismos que continuaram a excluir a popula- dar a interseccionalidade entre os movimentos negros, feminis-
ção negra do pleno acesso à cidadania mesmo após a abolição tas e LGBTQI+, evidenciando a importância da união entre gru-
da escravidão: a Lei de Terras, a preferência ao emprego de mão pos e indivíduos marginalizados e da reflexão coletiva acerca
de obra de imigrantes, o voto censitário, entre outros. das diversas formas de privilégios sociais.
Evidencie como esses mecanismos ocasionaram prejuízos à
população negra, bem como a outros indivíduos e grupos, pro-
piciando a construção de uma sociedade na qual apenas alguns Meritocracia (Página 52)
indivíduos e grupos são privilegiados. Para abordar o conceito de meritocracia, esclareça que ela
Chame a atenção dos estudantes para a ausência de políti- pode ser definida como um sistema que supõe mecanismos
cas reparadoras a esses prejuízos e a forma como essa ausência de avaliação e acesso em que os indivíduos são avaliados
está diretamente associada à marginalização desses indivíduos pelo seu desempenho pessoal. Essa ideia, no entanto, se ba-
e grupos na atualidade. seia em uma suposta igualdade entre todos os indivíduos,
215
mas, na prática, ela permite que determinados indivíduos se- 2. Resposta pessoal. Essa atividade retoma os conteúdos es-
jam privilegiados, por suas condições prévias, em detrimen- tudados até o momento, propondo uma reflexão acerca dos
to de outros. mecanismos que reforçam as desigualdades sociais, bem
Além do exposto anteriormente sobre a meritocracia, é im- como sobre as formas de superá-las. Os estudantes devem
portante delimitar como a meritocracia também implica um refletir sobre novas propostas para diminuir ou eliminar di-
olhar que aclama o sucesso e despreza o fracasso, basean- versas formas de desigualdades sociais.
do-se na ideia de que o mérito individual deve ser critério de
avaliação social. Atividades (Páginas 54 e 55)
O tópico abre espaço para explorar a charge criticamente.
1. a) O gráfico apresenta uma média nacional de renda e mos-
É interessante apresentá-la aos estudantes tratando de con-
tra a existência de uma grande parcela da população que
textualizá-la e questionando sobre o sentido do humor dela,
sobrevive com um salário mínimo ou menos, enquanto uma
para refletir sobre quais pessoas defendem esse tipo de me-
fatia menor concentra uma renda de mais de dois salários
ritocracia, por exemplo.
mínimos, o que é um grande indicativo de desigualdade, em
O posicionamento crítico exigido nessa etapa contribui para razão da forma como a renda é distribuída no país.
o desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13CHS501
b) As regiões com maiores disparidades são o Nordeste e o
e EM13CHS502.
Norte. Enquanto no Nordeste 49,9% da população vive com
menos de um salário mínimo por mês, apenas 7,7% da po-
É possível pensar em meritocracia pulação desfruta de uma renda maior do que dois salários
no Brasil? (Página 53) mínimos. No Norte, 48,1% recebe menos de um salário míni-
mo e 7,8% concentra mais de dois salários mínimos. Nessas
É possível medir as pessoas por seus êxitos em condições
regiões, há predominância de áreas rurais e trabalho agríco-
tão adversas e desiguais? Esse tópico permite consolidar o de-
la, e as possíveis razões para essas disparidades são falta de
bate desenvolvido desde o início do capítulo, retomando as se-
estrutura governamental para fiscalizar as relações de tra-
guintes ideias:
balho e escassez de serviços básicos como saneamento, hos-
• dados comprovam que o Brasil é um país desigual; pitais e escolas, além da existência de poucas empresas
• existe uma enorme dificuldade na superação das desigual- instaladas e possibilidades de empregos formais.
dades no Brasil; 2. O estudo do Fórum Econômico Mundial examinou áreas con-
• os privilégios das elites brasileiras são antigos e se vinculam sideradas fundamentais para a promoção de mobilidade so-
às estruturas sociais herdadas do colonialismo; cial e igualdade entre os cidadãos: saúde, educação,
tecnologia, trabalho e proteção social. Para o Brasil melhorar
• a manutenção dos privilégios inibe o desenvolvimento social sua posição nesse ranking, seria necessário promover gran-
dos desprivilegiados.
des investimentos em educação pública de qualidade, equa-
A constatação desses dados pode suscitar uma reflexão acer- lizando as potencialidades de pobres e ricos, além de ampliar
ca da validade do emprego de mecanismos meritocráticos como o mercado de trabalho e estimular a igualdade de oportuni-
forma de acesso a determinados espaços da sociedade em uma dades por meio de políticas públicas direcionadas a grupos
sociedade tão desigual como a brasileira. historicamente marginalizados.
Desenvolva com os estudantes a discussão de como a meri-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam so-
tocracia se baseia em uma visão de mundo individualista, que
bre os processos históricos que produziram os privilégios e
não enxerga a importância da vida em comunidade e não com-
promoveram as desigualdades sociais no país. Nesse senti-
preende que toda situação de bem-estar depende do trabalho
do, é importante que eles reconheçam que, apesar dos es-
conjunto. forços individuais, existem estruturas sociais, econômicas,
políticas e culturais que reforçam essas desigualdades e que,
Boxe Ação e cidadania portanto, os esforços individuais, apesar de importantes, não
O conteúdo desse boxe contribui para uma reflexão aprofun- são suficientes para desconstruir o panorama de desigual-
dada acerca da relação entre privilégios sociais e o conceito de dade no país.
meritocracia, levando em consideração a realidade da sociedade 4. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam so-
brasileira. bre a necessidade de garantir a igualdade de direitos e opor-
As questões propostas visam provocar uma reflexão sobre tunidades para que os indivíduos possam ser selecionados,
o ponto de partida ocupado por cada segmento da sociedade, avaliados e recompensados por seus esforços e méritos pes-
chamando a atenção para o fato de que fatores como cor, gêne- soais. Em sociedades desiguais, marcadas pela exploração
ro, orientação sexual, entre outros, colocam cada segmento da de determinados grupos marginalizados historicamente, in-
sociedade em posições diferentes, que podem facilitar ou difi- serir a adoção de um único modelo de inclusão e ascensão
cultar sua trajetória. Em decorrência disso, essa discussão pode social tende a aprofundar ainda mais as disparidades eco-
contribuir para mobilizar a CGEB7, a CGEB9 e a CGEB10. nômicas, políticas e sociais.
1. Resposta pessoal. Essa atividade incentiva os estudantes 5. Os dados revelam que, embora as pessoas autodeclaradas
a apontar os obstáculos vivenciados por diferentes grupos negras e pardas no Brasil sejam a maioria da população, sua
sociais, como dupla jornada de trabalho, acúmulo de fun- representatividade em cargos políticos é baixa, o que signi-
ções e tarefas domésticas, racismo estrutural, falta de aces- fica que suas pautas e suas reivindicações encontram pouco
so aos direitos básicos, entre outros. Espera-se que os respaldo na estrutura legislativa do país.
estudantes reconheçam que a posição de cada indivíduo 6. Ao ocupar cargos de comando, as minorias políticas teriam
representado na imagem, bem como os obstáculos que eles mais possibilidades de inserir e representar suas pautas, am-
enfrentarão em sua trajetória, relacionam-se ao segmento pliando a democracia ao pluralizar os diálogos e estabelecer
social ao qual pertencem. projetos inclusivos que fossem além da manutenção dos
216
interesses e dos privilégios das elites brancas do país. Um sem levar em consideração condições prévias, como poder eco-
Congresso dominado por uma elite masculina branca tende nômico, status, relações familiares ou pessoais, entre outras.
a legislar conforme suas demandas de classe. Já um Con- 3. Porque, do ponto de vista teórico, as sociedades modernas
gresso plural, com brancos, negros, indígenas, mulheres e são organizadas com base no princípio de igualdade entre
representantes da comunidade LGBTQI+, por exemplo, am- todos os indivíduos que as compõem. Entretanto, na prática
pliaria as pautas de discussão e inclusão no Brasil. social, as desigualdades sociais impossibilitam que todos os
7. A presença de minorias políticas na mídia e em cargos de indivíduos e grupos tenham acesso de maneira igualitária
gestão contribui para a quebra de padrões sociais que co- aos mesmos privilégios sociais. Dessa forma, outros critérios
locam negros em papéis subalternos e desvalorizam fenó- podem se sobrepor à avaliação de desempenho individual.
tipos relacionados à negritude, assim como a representação
4. Não, pois as desigualdades sociais criam um desequilíbrio
de mulheres em papéis de comando colabora para a supe-
no desempenho dos indivíduos, fazendo com que pessoas
ração da estrutura patriarcal, que inferioriza suas capacida-
socialmente mais privilegiadas obtenham vantagens de ava-
des intelectual e pragmática.
liação em relação a indivíduos menos privilegiados.
8. Atividade de pesquisa. Nessa proposta, os estudantes vão
5. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes expressem
aprofundar seus conhecimentos sobre as políticas sociais
suas opiniões a respeito da legitimidade de sistemas meri-
reivindicadas há tempos pelos movimentos negros e os efei-
tocráticos, levando em consideração os privilégios sociais de
tos dessas políticas para a equalização social no Brasil. Para
diferentes segmentos da sociedade.
auxiliar os estudantes na pesquisa, sugira a consulta ao ar-
tigo O longo combate às desigualdades sociais, disponível
em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option= CAPÍTULO 5 A BUSCA PELA IGUALDADE
com_content&view=article&id=2674:catid=28&Itemid=23;
(Página 58)
acesso em: 24 abr. 2020.
9. Resposta correta: alternativa e. O segundo e o último versos O capítulo trata da busca pela igualdade a partir da luta dos
reproduzidos podem ser tomados como exemplos na abor- movimentos negros e do feminismo. Nele, são abordados os
dagem sobre as desigualdades sociais. desdobramentos das desigualdades relacionadas a cor e gêne-
ro, bem como possíveis meios para superar essa situação. Para
10. Resposta correta: alternativa c. Apesar de não terem anali-
isso, o capítulo apresenta as políticas afirmativas e a produção
sado todos os conceitos abordados pela questão, os estu-
de leis e instituições contra a desigualdade social e civil.
dantes podem deduzir alguns dos sentidos por meio da
análise que fizeram sobre o Sistema Único de Saúde e so- A busca pela igualdade (Página 58)
bre algumas características do estado de bem-estar social.
O objetivo do conteúdo dessa página é abordar, por meio de
11. Resposta correta: alternativa d. O trecho aborda justificati-
textos e imagens, a intersecção dos movimentos por igualdade
vas para as Reformas de Base, plataforma de governo de
racial e de gênero e discutir sua importância na problematização
João Goulart, conhecido como Jango.
das estruturas machistas e racistas no país. Se considerar inte-
12. Resposta correta: alternativa c. O texto discorre sobre a Lei ressante, solicite aos estudantes que pesquisem outros poemas
de Terras de 1850, que dificultava o acesso democrático à feitos por jovens em slams que tratem desses temas, ou escolha
terra, contribuindo, assim, para a concentração fundiária. alguns para trabalhar com eles. Peça aos estudantes que leiam
13. Resposta correta: alternativa a. Apesar de o conjunto de em voz alta esses poemas e manifestem sentimentos, dúvidas
placas exibido na charge apresentar diversas pautas an- e sensações sobre eles.
tidemocráticas, duas delas (“Fechem as mesquitas” e “Ex- O conceito de minoria deve ser apresentado e explicitado pa-
pulsão dos imigrantes”), em especial, reforçam o caráter ra os estudantes, tendo em vista que o termo é mencionado e
nacionalista e protecionista mencionado na alternativa a trabalhado ao longo do capítulo. Explique aos estudantes que
dessa questão. o termo “minoria”, apesar de indicar um sentido de pouco nume-
roso, se refere, nesse contexto, a grupos que constituem uma
Ampliando (Páginas 56 e 57) maioria em relação a termos numéricos. Esses grupos são assim
denominados em razão de sua subrepresentação política e de
A seção propõe uma reflexão sobre igualdade e desempenho suas desvantagens sociais no que se refere à posse e aos exer-
com base em um texto da antropóloga Lívia Barbosa. A ideia cícios de poder na sociedade.
central é que não é possível avaliar o desempenho de indivíduos As minorias integram os grupos distintos que lutam por di-
que tiveram origens e pontos de partida distintos. reitos, ou porque esses direitos ainda não foram reconhecidos
O modelo tradicional do vestibular no Brasil é tido por muitos ou porque eles existem nas leis, mas não são cumpridos pelas
como um exemplo de avaliação que não leva em conta as desi- instituições do Estado.
gualdades. Debata com os estudantes as possibilidades de uma O trabalho com o conteúdo dessa página, a partir da poesia
avaliação que levasse em conta as diferentes formações e a de- Preta, liberte-se!, pode contribuir para a mobilização de aspec-
sigualdade social e que, assim, pudesse avaliar de maneira mais tos das habilidades EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG203
justa as capacidades do indivíduo. e EM13LGG204.
217
218
1. O Ensino Superior representa um espaço historicamente ne- eles considerem os processos educacionais vivenciados por me-
gado ou dificultado à população negra e pobre. Nesse senti- ninas e meninos na família, na sociedade e na escola. Estimule-os
do, o acesso a esse espaço, por meio de políticas afirmativas, a pensar criticamente sobre o tema e posicionar-se em relação
como as cotas, contribui para a presença dessa parcela da aos estereótipos femininos e masculinos em nossa sociedade.
população nesse espaço e para melhores oportunidades no Problematize com os estudantes a questão “O que é uma mu-
mercado de trabalho. lher?”, chamando a atenção para os estereótipos de gênero que
2. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes perce- são atribuídos às mulheres, de forma a desnaturalizá-los.
bam que nem todos são a favor das cotas e que isso pode Diferencie, segundo a perspectiva de Beauvoir, uma mulher
ocasionar situações de preconceito. É importante também de uma fêmea e delimite como o feminino é fruto de uma cons-
que identifiquem a importância desse tipo de política afir- trução sociocultural que engloba o dado biológico, mas não se
mativa para a construção de uma sociedade mais justa e reduz a ele.
igualitária. Como possibilidade de ação para modificar essa Ressalte como Beauvoir considerava o feminino o segundo
realidade, os estudantes podem mencionar a importância sexo, no sentido de o gênero masculino ser, muitas vezes, em
de se posicionarem de forma empática, propondo maneiras nossa sociedade, considerado o padrão social, a norma ou o “pri-
criativas e críticas de coibir manifestações e posicionamen- meiro sexo”, de modo que a mulher seria algo como o outro, a
tos racistas. Se considerar interessante, proponha aos es- alteridade. Ressalte o papel dos estereótipos de gênero para
tudantes que escolham uma universidade federal presente essa forma de hierarquização. Essa discussão trabalha aspectos
no estado em que vivem e façam uma pesquisa para veri- da habilidade EM13CHS103.
ficar os resultados acadêmicos e sociais obtidos após a ado- O processo de reprodução social, também chamado de pro-
ção da política de cotas. cesso de subjetivação, nos faz ser quem somos. Com base nisso,
a imagem da mulher que foi criada e que é reproduzida cultu-
Sugestão para o professor ralmente nas sociedades machistas a caracteriza como uma fi-
Artigo gura inferior ao homem.
É importante mostrar como essa imagem é transmitida so-
» américo, Márcia Cristina. Formação de professores para a
cialmente pelo processo de aculturamento. Peça aos estudantes
implementação da Lei 10 639/2003: o ensino da história
que criem uma lista com exemplos de diferenças na educação de
e cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar.
meninos e meninas e expliquem como isso forma quem somos.
Disponível em: www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.
php/Poiesis/article/view/1540. Acesso em: 23 abr. 2020. Essa lista deve evidenciar como estruturas sociais machistas
e patriarcais fazem com que as mulheres sejam, muitas vezes,
Esse artigo trata da Lei n. 10 639/2003 e das mudanças aca-
educadas para a vida doméstica e instigadas ao desenvolvimen-
dêmicas decorrentes dessa normatização.
to da sensibilidade, enquanto caberia aos homens o monopólio
das atividades físicas e da violência.
Feministas e a emancipação feminina Esclareça que uma das principais pautas do feminismo é a
(Página 62) contestação das hierarquias sociais que subordinam as mulhe-
Esse tópico traz uma abordagem histórica que embasa o con- res aos homens e que tratam essa relação de subordinação co-
texto do surgimento do feminismo moderno e a condição das mo algo natural, e não social e cultural. Destaque como a luta
mulheres com o advento da Revolução Francesa. Para isso, ex- feminista é importante na defesa da liberdade de as mulheres
plore como as revoluções burguesas, as guerras e os movimen- serem quem elas quiserem ser.
tos do pós-guerra trouxeram uma nova demanda da figura fe-
minina, o que propiciou o avanço da causa feminista. Sugestão para o professor
É interessante notar como certas pautas e reivindicações Vídeo
muitas vezes aproximaram os movimentos feministas e negros, » Tese Onze. Pra ler e entender o feminismo. Disponível em:
especialmente as pautas relacionadas à igualdade de direitos www.youtube.com/watch?v=1iej_iP6jzw. Acesso em: 15 jul.
políticos, à representatividade e ao fim da violência. 2020.
As habilidades EM13CHS501 e EM13CHS502 são desenvol- Esse vídeo traz dicas de leitura sobre o feminismo e uma biblio-
vidas por meio da explicitação dos ideais éticos feministas e da grafia básica sobre o tema. Com linguagem simples e referên-
resistência exercida pela sociedade machista. cias acessíveis, ele é indicado para professores e estudantes.
219
essa ideia, comente que Butler defende que não nos apegue- discussão sobre o feminismo enquanto ferramenta para a cons-
mos às classificações acerca das identidades de sexualidade trução de uma sociedade mais justa e igualitária. Nesse sentido,
e gênero, porque elas atuam como forma de reprimir a capaci- é importante considerar que, apesar de o feminismo privilegiar
dade dos sujeitos de experimentar e vivenciar aspectos fun- as mulheres enquanto foco central de suas teorias e práticas, o
damentais da nossa existência, que é a afetividade. reconhecimento da existência de estruturas machistas em nos-
A teoria queer propõe uma crítica aos discursos que se ocu- sa sociedade e a busca por formas de desconstruí-las pode be-
pam em dizer o que somos e promove uma substituição desses neficiar indivíduos de todos os gêneros.
discursos por uma prática ética centrada em explorar aquilo que
podemos fazer. Atividades (Página 67)
Sugestão para o professor 1. Atividade de pesquisa e produção de texto. O objetivo da ati-
Artigo vidade é fazer com que os estudantes possam identificar trans-
formações relacionadas aos papéis femininos no contexto
» rodrigues, Carla. Butler e a desconstrução do gênero. Re-
brasileiro, com base nas ideias de Simone de Beauvoir, Ange-
vista Estudos Feministas, v. 13, n. 1, Florianópolis, jan./
abr. 2005. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?scrip- la Davis, Chimamanda Ngozi Adichie e Djamila Ribeiro. Os pro-
t=sci_arttext&pid=S0104-026X2005000100012. Acesso dutos dessa atividade podem dar origem a um sarau ou
em: 22 abr. 2020. mesmo a um slam na escola, de acordo com o engajamento
da turma. Em decorrência disso, essa atividade pode propiciar
Esse artigo serve de referência para compreender melhor a
a mobilização de aspectos das habilidades EM13LGG701,
teoria queer na visão de Judith Butler.
EM13LGG702, EM13LGG703 e EM13LGG704.
Mulheres cidadãs: desafios atuais 2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
(Página 65) que, na perspectiva da autora, o feminismo e a luta pela igual-
dade de gênero não são somente direcionados às mulheres,
Proponha uma análise conjunta com os estudantes que rela-
mas também aos homens. A autora nos leva a refletir sobre
cione os dados referentes à violência contra a mulher e a fotografia a necessidade de pensarmos criticamente sobre o feminis-
da página. Incentive-os a refletir sobre os motivos que fazem com mo, relacionando-o com as possibilidades individuais e cole-
que as mulheres sejam vítimas de assédio, estupro e feminicídio. tivas de mudança para a construção de um mundo mais
Questione-os também sobre como a divisão das tarefas do- justo para todos.
mésticas é feita em suas casas e como isso poderia ser modifi-
cado. Aproveite esse momento para desnaturalizar a concepção 3. a) Espera-se que os estudantes selecionem especialmente
as filósofas Djamila Ribeiro e Angela Davis, por utilizarem
socialmente construída de que somente as mulheres devem
como método de pesquisa a interseccionalidade, abordando,
realizar essas atividades.
simultaneamente, aspectos relacionados ao racismo e ao
Ressalte que uma das primeiras lutas feministas foi pelo di-
machismo. O objetivo da questão é que os estudantes tomem
reito ao voto, pois ele poderia garantir às mulheres a inserção
o relato de Kiusam de Oliveira como objeto de pesquisa que
na vida política. Comente que, apesar da conquista desse direi-
evidencia conjunturas e estruturas sociais, em continuidade
to, as mulheres ainda hoje são minoria no campo político e, por
com o trabalho iniciado na unidade 1.
isso, falta representação feminina.
Informe aos estudantes o modo como instituições e leis, co- b) O relato cita o Movimento Negro Unificado (MNU) e a im-
mo a Delegacia da Mulher e a Lei Maria da Penha, servem para portância dele na formação política da intelectual. Espera-se
garantir os direitos civis básicos, como o direito à vida, e comba- que os estudantes tragam dados importantes sobre o movi-
ter a violência. Afinal, as leis são iguais para todos, mas elas de- mento, como contexto de fundação, principais conquistas,
pendem de condições específicas para ser aplicadas. frentes em que atua, etc.
c) Resposta pessoal. Cuide para que os estudantes se sin-
Igualdade de gênero (Página 66) tam confortáveis durante o compartilhamento de relatos
Para encerrar o estudo do capítulo, faça um debate com os e oriente o diálogo de modo a desconstruir eventuais falas
estudantes sobre as dificuldades encontradas pelas mulheres preconceituosas, dando continuidade ao trabalho iniciado
no âmbito da luta por igualdade de gênero. Solicite a eles que na unidade anterior.
identifiquem a forma como as mulheres são representadas nas 4. Resposta correta: alternativa c. Ao retomar o que analisaram
propagandas, nos filmes e nos programas de televisão. Se con- no capítulo, os estudantes podem inferir que as obras de
siderar oportuno, peça aos estudantes que criem pequenas es- Beauvoir defendiam a igualdade de gênero.
quetes teatrais, abordando o tema de forma crítica e propondo
formas de modificar essa situação.
Aproveite essa aula para fazer uma breve retomada das CAPÍTULO 6 POVOS TRADICIONAIS:
três ondas feministas, apresentando cada uma com base em A LUTA PERMANENTE
suas demandas e características específicas e sua época
de atuação. (Página 68)
Instigue os estudantes a pesquisar escritoras negras con- Nesse capítulo, são abordados dois grupos que se reconhe-
temporâneas, como Chimamanda Ngozi. Há uma grande chan- cem como povos tradicionais do Brasil: indígenas e quilombolas.
ce de essas escritoras tratarem, em algum momento, da questão A luta deles é centrada, principalmente, no reconhecimento e na
negra e do feminismo demarcação de seus territórios. Dentre outros fatores, essa de-
marcação é importante para eles porque a manutenção de seus
Boxe Para explorar modos de vida tradicionais dependem, em grande parte, dessas
O livro de Chimamanda Ngozi aborda o significado do femi- terras, as quais são constantemente ameaçadas pela ação de
nismo no século XXI e pode contribuir grandemente para a grileiros, posseiros, madeireiros ilegais, entre outros grupos.
220
Povos tradicionais: a luta permanente mata nativa na qual muitos povos tradicionais habitam e
realizam suas atividades.
(Página 68)
A abertura do capítulo propõe uma reflexão inicial acerca do Os povos indígenas e a
processo de construção da identidade nacional brasileira e co- Constituição de 1988 (Página 69)
mo esse processo promoveu o apagamento de outras identida-
des que também integram o Brasil. Na Constituição de 1988, foi reconhecido o direito dos povos
O intuito desse tópico é estimular a reflexão sobre a diversi- indígenas às suas terras. Esse direito à terra, portanto, implica
sua demarcação, embora a Constituição não deixe claro como
dade cultural brasileira, os processos de exclusão e realocamen-
isso deve ocorrer. Explicite aos estudantes que a luta desses po-
to territorial de grupos de brasileiros considerados tradicionais,
vos é, em grande medida, caracterizada pela reivindicação de
levando em conta a importância da preservação de suas cultu-
que essa garantia constitucional seja cumprida, embora não se
ras e de seus territórios.
restrinja apenas a isso.
O trecho do Decreto Federal n. 6 040, de 7 de fevereiro de
A posse e o usufruto de suas terras garante aos indígenas a
2007, descreve os povos e as comunidades considerados tradi- manutenção de seus estilos de vida e de suas culturas.
cionais. A menção às lutas sociais desses povos por direitos ser- O tópico apresenta um gráfico sobre a distribuição de Terras
ve como ponto de partida para discussões relacionadas à iden- Indígenas regularizadas por região administrativa no Brasil que
tidade e ao autorreconhecimento, temas que serão abordados pode ser problematizado em sala de aula. Por que a maioria das
ao longo desse capítulo. Terras Indígenas regularizadas fica na Região Norte do país?
O reconhecimento e a valorização das culturas dos povos tra- Solicite aos estudantes uma pesquisa sobre o motivo de a maior
dicionais contribui para o desenvolvimento da habilidade ocupação ser nessa região.
EM13CHS104. O trabalho com o gráfico disponível na página pode propiciar
As atividades propostas na abertura desse capítulo contri- o desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13MAT102
buem para o desenvolvimento de aspectos das CGEB1, CGEB7, e EM13MAT406.
CGEB9 e CGEB10.
Boxe Para explorar
Sugestões para o professor O documentário indicado nesse boxe pode contribuir gran-
Artigos demente para a reflexão e a discussão acerca da luta das popu-
» Direitos dos povos e comunidades tradicionais. Gesta UFMG lações indígenas pela criação de dispositivos legais que lhes
– Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais. Disponível assegurem o direito à existência e à manutenção de seus modos
em: https://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/ de vida. Se julgar pertinente, sugira aos estudantes que assis-
uploads/2014/04/Cartilha-Povos-tradicionais.pdf. Acesso tam a esse documentário antes de iniciar a discussão do con-
em: 13 maio 2020. teúdo da página.
Produzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
e pelo governo de Minas Gerais, o material contém informa- O interesse privado nas Terras
ções sobre as características e os direitos dos povos tradicio- Indígenas (Páginas 70 e 71)
nais brasileiros, com foco nas comunidades presentes no es-
A Fundação Nacional do Índio (Funai) é o órgão indigenista
tado de Minas Gerais. oficial do Estado brasileiro que, dentre outras funções, atua no
» As comunidades tradicionais e a discussão sobre o con- reconhecimento, na regulamentação e na demarcação de Terras
ceito de território. Revista Espacios, v. 38, n. 12, 2017. Indígenas.
Disponível em: https://www.revistaespacios.com/a17v38n Se julgar pertinente, solicite aos alunos que acessem a seção
12/a17v38n12p17.pdf. Acesso em: 13 maio 2020. relacionada à demarcação de Terras Indígenas do site da Funai,
Publicação da revista científica Espacios sobre a relação das disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/nossas-acoes/
populações tradicionais com seus territórios. demarcacao-de-terras-indigenas; acesso em: 5 ago. 2020. Des-
sa forma, eles poderão conhecer mais sobre o papel da Funai
nesse processo.
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
Comente sobre o interesse de alguns empreendimentos, co-
1. Espera-se que os estudantes identifiquem como povos e mo os de mineração, de garimpos, de agricultura, entre outros,
comunidades tradicionais os grupos culturalmente autoi- nas Terras Indígenas e como esse interesse afeta o processo de
dentificados e que apresentam uma relação estreita entre reconhecimento e demarcação dessas terras. Explore, especial-
as suas práticas socioculturais e os territórios específicos, mente, o desmatamento e o legado de destruição dessas ativi-
reproduzindo aspectos culturais, sociais ou religiosos por dades para os povos indígenas e como os diversos tipos de ex-
meio da oralidade e da ancestralidade. ploração da terra ameaçam a existência desses povos e a
2. Espera-se que os estudantes relacionem a vulnerabilidade manutenção de seus modos de vida tradicionais.
de algumas populações tradicionais, especialmente os po- A caracterização dos conflitos entre os povos tradicionais e
vos indígenas e as comunidades quilombolas, tanto ao con- as demandas de consumo que impelem o avanço extrativista é
texto histórico de exploração escravista quanto ao processo contemplada pelas habilidades EM13CHS501, EM13CHS502 e
de formação da identidade nacional, que desconsiderou EM13CHS503.
esses povos.
Boxe Interação
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
quem as políticas de assistência aos povos tradicionais bra- 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes compreen-
sileiros como forma de reparar os danos decorrentes da dam que os trechos da reportagem reforçam a ideia de que
exploração histórica e como possibilidade de preservar não esses conflitos são gerados em razão das investidas econô-
apenas os diversos aspectos culturais formadores das múl- micas sobre essas regiões, em especial as investidas relacio-
tiplas identidades brasileiras, mas também as áreas de nadas à atividade garimpeira. Espera-se também que
221
percebam essas investidas econômicas como uma ameaça Atividade complementar
ao direito constitucional assegurado aos indígenas de terem
Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que assistam ao
suas terras reconhecidas e respeitadas.
documentário Saravá jongueiro novo e, após assisti-lo, elabo-
2. Espera-se que os estudantes identifiquem o avanço das rem uma resenha crítica sobre seu conteúdo, ressaltando a im-
atividades mineradoras e de desmatamento como uma portância do jongo para a preservação da cultura das comuni-
ameaça à manutenção dos territórios e dos meios de vida dades jongueiras retratadas.
tradicionais indígenas, considerando que o desmatamento
e o esgotamento das terras provocariam a diminuição das Reconhecimento e acesso à cidadania
florestas e a impossibilidade de reprodução dos modos de (Página 74)
vida indígenas.
Para abordar esse tópico, retome a discussão iniciada na
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencionem abertura desse capítulo, acerca da definição de povos e comu-
o cumprimento da Constituição e a tomada de medidas es- nidades tradicionais, bem como do processo de formação da
tatais mais efetivas de proteção à população indígena, assim identidade nacional brasileira.
como o remanejamento e o replanejamento das atividades Ressalte a forma como essa construção da identidade nacio-
de extração nesses territórios. nal promoveu o apagamento de outras identidades e culturas
existentes no país em prol de um projeto de construção de uma
Boxe Ação e cidadania (Página 72) identidade homogênea.
O boxe apresenta a cultura dos Krenak e a maneira como eles Ressalte também que o reconhecimento dessas identidades
resistiram à colonização na época do conflito com dom João VI e o respeito a elas é fundamental para garantir que os modos
e a Coroa portuguesa. A história deles é marcada por idas e vin- de vida dos respectivos povos sejam preservados.
das em relação ao território que ocupam. Instigue os estudantes com os seguintes questionamentos:
Os Krenak foram um dos povos mais afetados com o rom- Como manter uma cultura viva? E por quê? Organize uma roda
pimento da barragem em Mariana (MG), fato que colocou em de conversa sobre essas questões e auxilie os estudantes a mo-
xeque a possibilidade de continuar suas formas de vida. De bilizar aquilo que trabalharam e desenvolveram durante o estu-
acordo com a cultura Krenak, no entanto, mesmo que o rio do da unidade.
Doce seja considerado morto atualmente, também é conside- Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que pesquisem
rado que ele pode reviver se o homem não mexer nele. outros povos e comunidades tradicionais para além dos indíge-
O conteúdo desse boxe propicia a análise das circunstâncias nas e quilombolas, identificando suas situações e reivindicações
históricas que desencadearam a migração constante dos Kre- no presente.
nak, o que possibilita o trabalho com aspectos da CGEB2 e das As habilidades EM13CHS601, EM13CHS604 e EM13CHS605
habilidades EM13CHS102, EM13CNT104, EM13CNT206 e são trabalhadas nesse tópico pelo reconhecimento dos direitos
EM13CNT309. dos povos tradicionais e pela valorização de suas lutas constan-
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam so- tes por igualdade.
bre o conflito e a exploração de Terras Indígenas no Brasil e
mencionem a resistência indígena, exemplificada pela histó- Atividades (Página 75)
ria dos Krenak, como uma forma não apenas de manter as 1. a) A Região Norte apresenta mais terras demarcadas por lei.
tradições culturais vivas, mas também de proteger suas ter-
b) Espera-se que os estudantes relacionem essa diferença
ras das empresas de mineração, que vêm causando desas-
à demarcação de terras indígenas pela Funai antes da Cons-
tres e impactos ambientais diversos.
tituição de 1988, que favoreceu a oficialização da criação
de áreas protegidas por lei na Região Norte, e que também
Comunidades de remanescentes levem em conta o fato de o desenvolvimento das atividades
quilombolas (Página 73) econômicas ter sido mais acelerado nas demais regiões,
Explore as informações do mapa das Terras Quilombolas e processo que dificulta a demarcação e ocasiona diversos
compare-as com as informações do gráfico da página 69. Tema- conflitos por terras em áreas das regiões Sudeste, Sul, Nor-
tize as histórias dos povos quilombolas e suas ocupações e per- deste e Centro-Oeste, especialmente no Mato Grosso.
gunte aos estudantes quais semelhanças e diferenças eles iden- 2. Espera-se que os estudantes percebam, ao comparar os ma-
tificam entre os quilombolas e os indígenas. pas, que as áreas demarcadas coincidem com as áreas onde
Peça aos estudantes que analisem no mapa onde existem há atividades de extração mineral e desmatamento no Brasil,
mais Terras Quilombolas e examinem a diferença do percen- ressaltando os processos burocráticos legais que favorecem
tual de terras tituladas e de terras ainda não tituladas. Obser- a exploração econômica dos territórios em detrimento da
ve com eles essa situação de não titulação e suas consequên- preservação dos meios de vida dos povos que os habitam e
cias sociais. protegem, o que ocasiona muitos conflitos por terras no ter-
A análise das informações disponíveis no mapa pode contri- ritório brasileiro.
buir para o desenvolvimento de aspectos da habilidade 3. Atividade de pesquisa. Caso a escola faça parte de uma
EM13CHS606. comunidade de povos tradicionais, a atividade pode ser
realizada de modo que os estudantes busquem as histó-
Boxe Para explorar rias da própria família, convidando a comunidade escolar
O documentário retrata as dificuldades vivenciadas pelas co- para um diálogo, que pode ser bastante enriquecedor. Se
munidades jongueiras na preservação de sua cultura e na su- esse não for o caso, oriente os estudantes a realizar a pes-
peração dos preconceitos. Além disso, ele trata da importância quisa em publicações impressas ou digitais, registrando
do jongo enquanto patrimônio cultural que constrói e reafirma suas percepções. Combine uma data para a apresentação
identidades. dos resultados.
222
Se julgar conveniente, organize, com a coordenação da escola, Incentive os estudantes a utilizar as próprias histórias na
com as lideranças dos povos tradicionais e com a comunidade produção do vídeo e solicite que não só a apresentem, mas que
escolar, uma visita a uma das comunidades tradicionais pes- tratem de argumentar criticamente sobre o ocorrido, tendo em
quisadas. Essa proposta favorece o desenvolvimento da cida- vista expressar uma opinião embasada sobre o tema.
dania e do respeito à diversidade cultural. Para isso, combine É essencial orientar os estudantes sobre o assunto que esco-
previamente com os estudantes um roteiro de investigação lheram tratar. Você pode fazer isso fornecendo referências a eles
que deve ser seguido durante o estudo do meio. Explique a e/ou fazendo alguma revisão do assunto por meio do conteúdo
eles que os registros (fotos e vídeos) devem ser previamente trabalhado nos capítulos da unidade.
É recomendável acessar antes dos estudantes o vlog indica-
acordados com a comunidade, e a decisão do grupo pesqui-
do pela atividade, buscar algum vídeo que julgue interessante
sado deve ser respeitada. Em outra data combinada, incentive
e sugeri-lo aos estudantes, caso tenham dificuldades em encon-
os estudantes a compartilhar registros, percepções e análises
trar um conteúdo relevante.
sobre a experiência.
Essa etapa deve ser cumprida pelos próprios estudantes
4. Essa atividade pode colaborar para o desenvolvimento de durante a produção final do vídeo. É importante apoiá-los
aspectos das habilidades EM13LGG303 e EM13LGG304. diante das dificuldades que possam surgir nessa etapa, tan-
a) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes conhe- to as de ordem técnica quanto as de ordem afetiva, visto que
çam e tragam exemplos de violência contra pessoas que de- esse tipo de atividade pode gerar ansiedade ou insegurança
fendiam os povos tradicionais e as reservas dos territórios nos estudantes.
É fundamental garantir que todos estejam minimamente
ocupados por eles, relembrando casos da história brasileira,
confortáveis para participar da atividade. Aqueles que não qui-
como os assassinatos da Irmã Dorothy e de Chico Mendes,
serem contribuir com a apresentação de alguma história ou aná-
por exemplo, além de inúmeros ataques às lideranças indí-
lise podem trabalhar de maneira mais detida na produção e na
genas por todo o Brasil.
divulgação do material.
b) Espera-se que os estudantes compreendam e discorram A divulgação dos vídeos deve ser feita com cuidado, garan-
sobre a demora e a falta de efetividade na demarcação de tindo que somente os estudantes e demais pessoas envolvidas
terras de povos tradicionais protegidas por lei e o interesse no projeto tenham acesso ao material. A depender da dimensão
econômico de empresas e, muitas vezes, do próprio Estado da proposta, é cabível comunicar à coordenação pedagógica da
em explorá-las. instituição o que está sendo realizado.
Se o resultado for positivo e houver a pretensão de divulga-
c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem
ção do produto final para um grupo maior de pessoas, é crucial
a hostilidade em relação às comunidades quilombolas, ex-
debater com estudantes e responsáveis o ônus e os bônus de
pressa no texto, com a discriminação racial sofrida pela po-
tal atividade.
pulação negra e a consequente desvalorização de suas
culturas. É importante que eles destaquem o contexto de vio-
lência estrutural que configura o desrespeito às comunida-
Práticas de pesquisa (Páginas 78 e79)
des remanescentes de quilombos, bem como às suas Essa proposta de pesquisa tem como objetivo analisar a per-
manifestações culturais, religiosas e modos de vida, e que cepção das pessoas sobre duas obras artísticas. Essa análise
situações como essa também estão presentes em outros âm- tem o intuito de compreender a recepção das pessoas sobre o
bitos sociais. conteúdo social expresso nas obras.
As obras que vão servir de base para a pesquisa são Um jan-
5. Resposta correta: alternativa a. Os povos indígenas encon-
tar brasileiro, de Jean-Baptiste Debret, e uma releitura contem-
tram-se em constante vigilância e luta por seus direitos asse-
porânea do quadro de Debret feita por Rodrigo Leão.
gurados por lei. E ainda enfrentam a expansão do agronegócio
É fundamental analisar a obra com os estudantes, exploran-
e a falta de fiscalização por parte do governo brasileiro.
do os recursos artísticos para a caracterização de uma realidade
social tão patente.
Práticas de texto (Páginas 76 e 77) O problema a ser investigado pela pesquisa envolve a com-
Essa atividade propõe a produção de um vídeo que será pu- preensão de como a população brasileira enxerga o legado da
blicado em um vlog criado pelos estudantes. Para a realização escravidão nos dias atuais e a vinculação desse legado ao esta-
dessa atividade, é necessário o acesso à tecnologia que permita tuto atual de desigualdade social, favorecendo o desenvolvi-
gravar vídeos e publicá-los em plataformas digitais. Por conta mento de aspectos da habilidade EM13LGG704.
disso, deve-se verificar se os estudantes dispõem desse tipo de Como a pesquisa é limitada a uma pequena amostra, não é
acesso antes de propor a realização da atividade. possível obter concepções generalistas, mas é possível verificar
No caso de não haver acesso às tecnologias necessárias, é a percepção e a opinião das pessoas que estão no entorno dos
possível realizar uma apresentação oral da pesquisa. Nesse ca-
estudantes.
so, peça aos estudantes que prepararem uma apresentação que
Sobre o tema escravidão e sua relação com a desigualdade,
não reproduza os aspectos de um seminário comum, mas que
a pesquisa buscar verificar se as pessoas concebem que há ain-
seja tão dinâmica quanto um vlog.
da uma situação atual de desigualdade decorrente da escravi-
Organize os estudantes em grupos pequenos (até cinco mem-
bros), ajudando com a distribuição de tarefas e com o planeja- dão, em que muitos têm poucos direitos enquanto uma peque-
mento da produção, gravação e publicação do vídeo. Uma boa na elite desfruta de diversos privilégios. As pessoas percebem
forma é solicitar aos estudantes, antes de tudo, um roteiro de essa relação dessa maneira?
produção que siga as indicações da atividade. As respostas a essa pergunta serão avaliadas a partir da ma-
Auxilie os grupos na escolha de um tema relevante para a neira como os entrevistados vão descrever suas impressões e
atividade e também na escolha dos participantes dos vídeos. É opiniões sobre as duas obras de arte.
importante insistir em como o conteúdo dos vídeos deve ser mo- Explique aos estudantes o que é ressentimento de classe, por
derado e não pode apresentar nada que produza qualquer tipo meio do texto indicado na atividade. Esse conceito e o debate que
de constrangimento entre os estudantes. ele fornece nos possibilita compreender de maneira mais ampla
223
os diversos elementos ideológicos que constituem nossa visão processo de constituição, o que vai ao encontro do proposto nas
atual sobre privilégios e desigualdade. habilidades EM13CHS102 e EM13CHS104.
Pela ideia de ressentimento social, pode-se questionar o quan- O ponto central dessa etapa é averiguar o quanto os entre-
to os conflitos culturais entre as classes sociais atuam como im- vistados reconhecem a relação entre a desigualdade e o passa-
peditivo de ascensão social das camadas desfavorecidas. do escravocrata do país. Pode ser difícil para os estudantes con-
É possível trabalhar essas ideias com base nas seguintes ques-
seguir aferir tal questão, assim como podem surgir diversos
tões: O brasileiro possui privilégios? Ele admite isso? O brasileiro
empecilhos durante as entrevistas. Por isso, é importante traba-
gosta de ter privilégios? Ele admite isso? Aqueles que possuem
lhar com os estudantes o fato de que pesquisas também apre-
privilégios têm medo de perdê-los? E aqueles que são desfavo-
recidos têm vontade de possuir privilégios? sentam falhas e processos inconclusivos, mas que tais situações
Para dar seguimento com a atividade, é importante atuar co- devem servir de aprendizado.
mo organizador e ajudar os estudantes a se preparar e seguir o A divulgação dos resultados deve ser feita em conjunto pela
roteiro da atividade. Auxilie-os na organização dos grupos, no turma, que deverá estar organizada em grupos, cada um com
estabelecimento de um cronograma e, especialmente, na reali- atividades distintas, conforme o roteiro da atividade. Essa etapa
zação da entrevista. serve ao professor como forma de ponderar sobre o quanto foi
Antes de começar as entrevistas, determine quem serão as possível aos estudantes desenvolver habilidades e constituir
pessoas entrevistadas (amigos, vizinhos, parentes, etc.). Estipu- repertório para tratar da temática da unidade com um posicio-
le uma quantidade de acordo com o roteiro da atividade .
namento crítico.
É possível realizar as entrevistas de modo não presencial,
utilizando ferramentas on-line, como videochamada. No entan-
Retomada
to, é fundamental que o entrevistador realize a entrevista, e não
apenas colete as respostas. A seguir, há a proposta de um mapa mental com os principais
Após as entrevistas, o passo seguinte consiste em avaliar os conceitos abordados na unidade. Trata-se de uma sugestão que
dados obtidos. O cruzamento e a análise das entrevistas permi- pode incentivar a turma a construir o próprio mapa mental, de
tirão comparar diversas narrativas sobre a desigualdade e seu modo individual ou coletivo, de acordo com o perfil da classe.
224
■ ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enem) das tradições e das práticas culturais próprias. Estima-se que em
todo o país existam mais de três mil comunidades quilombolas.
Quem acompanhasse os debates na Câmara dos Deputados
O Decreto Federal n. 4 887, de 20 de novembro de 2003, regula-
em 1884 poderia ouvir a leitura de uma moção de fazendeiros do
menta o procedimento para identificação, reconhecimento, deli-
Rio de Janeiro: “Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela
mitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por rema-
escravidão, mas não há um só brasileiro que não se oponha aos
nescentes das comunidades dos quilombos.
perigos da desorganização do atual sistema de trabalho”. Livres
os negros, as cidades seriam invadidas por “turbas ignaras”, “gen- Adaptado de incra.gov.br.
te refratária ao trabalho e ávida de ociosidade”. A produção seria
A demarcação de terras de comunidades quilombolas é fato
destruída e a segurança das famílias estaria ameaçada. Veio a
recente nas práticas governamentais brasileiras.
Abolição, o Apocalipse ficou para depois e o Brasil melhorou (ou
será que alguém duvida?). Passados dez anos do início do deba- Um dos principais objetivos dessa política pública é viabilizar
te em torno das ações afirmativas e do recurso às cotas para fa- a promoção de:
cilitar o acesso dos negros às universidades públicas brasileiras, a) aceleração da reforma agrária.
felizmente é possível conferir a consistência dos argumentos b) reparação de grupos excluídos.
apresentados contra essa iniciativa. De saída, veio a advertência
c) absorção de trabalhadores urbanos.
de que as cotas exacerbariam a questão racial. Essa ameaça vai
completar 18 anos e não se registraram casos significativos de d) reconhecimento da diversidade étnica.
exacerbação.
Resposta: alternativa b.
Gaspari, E. As cotas e a urucubaca. Folha de S.Paulo, 3 jun. 2009.
3. (FGV)
O argumento elaborado pelo autor sugere que as censuras Na frase “Apesar de aparentar ser uma ideologia justa, a me-
às cotas raciais são ritocracia, por causa principalmente de disparidades socioe-
a) politicamente ignoradas. conômicas, revela-se imparcial, uma vez que só detêm
b) socialmente justificadas. méritos aqueles que são beneficiados com oportunidades
para alcançá-los”, pode-se apontar incoerência devido ao
c) culturalmente qualificadas.
emprego inadequado da palavra
d) historicamente equivocadas.
a) “ideologia”.
e) economicamente fundamentadas.
b) “disparidades”.
Resposta: alternativa d. c) “imparcial”.
d) “beneficiados”.
2. (Uerj)
As comunidades quilombolas, que são predominantemente e) “oportunidades”.
constituídas por população negra, se autodefinem a partir das re-
Resposta: alternativa c.
lações com a terra, do parentesco, do território, da ancestralidade,
225
Unidade
O BRASIL E A
3 DEMOCRACIA
INTRODUÇÃO
Nessa unidade, a ideia de democracia será trabalhada criticamente com base na análise de sua prática social na realida-
de brasileira. Nesse sentido, parte-se de um panorama sobre os tipos de regimes políticos possíveis e, para considerar as
distinções entre os regimes, entende-se que o autoritarismo estaria no extremo oposto da democracia.
No capítulo 7, são discutidas as características dos sistemas políticos, com base em um índice de democracia elaborado
pelo núcleo de pesquisas do periódico inglês The Economist. Essa discussão desdobra-se em uma análise dos panoramas
políticos brasileiros ao longo do tempo para que se possa refletir sobre a categoria “democracia imperfeita”, apresentada no
índice supracitado e segundo o qual o Brasil se enquadraria. Para isso, são analisadas permanências autoritárias na socie-
dade brasileira contemporânea relacionadas à ditadura militar que vigorou entre 1964 e 1985.
No capítulo 8, discute-se a representatividade democrática no Brasil, o processo de redemocratização do país entre as
décadas de 1970 e 1980 e os dilemas das democracias na atualidade. Os debates favorecem a contextualização histórica
e a conscientização dos jovens sobre suas responsabilidades cidadãs, possibilitando que tracem análises do momento po-
lítico em que estão inseridos.
Já no capítulo 9, os movimentos populares, incluindo o ciberativismo, são apresentados como formas de exercício direto
do poder político da população, sendo um contraponto importante da democracia no Brasil
Recomenda-se que o trabalho desenvolvido com as temáticas dessa unidade seja liderado pelos professores de Socio-
logia ou de História, pois são trabalhados principalmente conceitos e formas de análise tradicionais desses componentes
curriculares. É importante que os processos históricos, os temas e os conceitos sejam analisados de forma ampla, levando-
-se em consideração os contextos nos quais se desenrolaram, sem reducionismos ou explicações monocausais.
OBJETIVOS DA UNIDADE
• Examinar o conceito de democracia de forma ampla, verificando sua oposição a práticas autoritárias.
• Debater sobre o conceito de democracia e o conceito de autoritarismo.
• Compreender os desafios que permeiam os regimes democráticos, com especial ênfase aos desafios enfrentados pelas
democracias da atualidade.
• Situar o regime democrático brasileiro em relação às demais democracias contemporâneas, identificando os aspectos
positivos e os pontos de melhoria.
• Conhecer os principais marcadores democráticos utilizados pelos pesquisadores.
• Dialogar sobre as características das democracias plenas, visando a elaboração de estratégias para que a democracia
brasileira possa alcançar patamar.
• Analisar a prática social da democracia no Brasil em diversas temporalidades, analisando suas rupturas e permanências.
• Analisar dados e questões relacionadas aos dilemas da representatividade democrática, tanto nas democracias plenas
quanto no Brasil contemporâneo.
• Debater sobre estratégias que possam coibir a formação das oligarquias nas democracias e garantir a participação am-
pla, justa e igualitária dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira.
• Conhecer a atuação de movimentos populares de contextos rural, urbano e virtual, reconhecendo suas demandas, ideais
e a maneira como atuam politicamente.
JUSTIFICATIVA
Analisar o conceito de democracia de maneira ampla e sua aplicação na sociedade brasileira permite aos estudantes
compreender a importância desse regime político para a construção e a manutenção de uma sociedade na qual todos os in-
divíduos e grupos são tratados de maneira igualitária e gozam de liberdade para participar da vida pública.
Nesse sentido, a reflexão acerca dos desafios enfrentados pelas democracias da atualidade incentiva os estudantes a
refletir sobre possibilidades de melhorias nesse regime, posicionando-se de forma crítica e responsável pela construção da
cidadania plena, da preservação dos pilares democráticos e do Estado de direito.
Trata-se de diálogos que incentivam a formação de posturas cidadãs conscientes de suas responsabilidades e de seus
poderes de ação na comunidade em que vivem – em continuidade com o que vem sendo construído desde o início do pre-
sente volume.
Além disso, o reconhecimento de diversas formas de atuação política dentro de um regime democrático pode incentivar
os estudantes a buscar novas formas de participação social e o exercício da cidadania.
226
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS DA COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO BÁSICA E HABILIDADES
ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
podem enfraquecer a democracia no país, além de formas de
superá-los.
227
política de todos os cidadãos de maneira igualitária. Essa retoma- Dê especial atenção para a definição de democracia imper-
da conceitual pode ser acompanhada de uma reflexão sobre os feita, considerando que ela compreende e descreve a situação
critérios utilizados no Índice de Democracia para caracterizar os brasileira na atualidade. Essa reflexão será aprofundada no bo-
governos democráticos da atualidade: processo eleitoral trans- xe Interação.
parente e pluralismo de ideias, transparência do governo, incen- A indicação do boxe Para explorar comenta, de maneira aces-
tivo da cultura política e liberdade civil. sível aos estudantes, um ranking elaborado pela ONG Transpa-
O mapa Índice de Democracia (2019) apresenta informações rência Internacional, o qual classifica países de acordo com o
que possibilitam uma análise global a respeito da democracia e grau de honestidade no setor público. Esse ranking, denomina-
devem ser exploradas com os estudantes, especialmente como do Índice de Percepção de Corrupção, combina diferentes pes-
forma de análise das diversas experiências democráticas da quisas internacionais para classificar os países analisados. Mais
atualidade. Essa análise, por sua vez, contribui para o desenvol- informações sobre estão disponíveis no site da ONG: https://
vimento de aspectos da habilidade EM13CHS106. transparenciainternacional.org.br/home/destaques. Acesso em:
As questões propostas permitem a exploração da temática 17 jul. 2020.
com base no contexto brasileiro, propiciando, dessa forma, a
mobilização da CGEB1 e da CGEB2. Boxe Interação
1. Atividade de pesquisa. Se julgar conveniente e de acordo com
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES os interesses dos estudantes, oriente-os a escolher um cri-
tério da descrição da categoria apresentada para realizar a
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que o Brasil está pesquisa de casos. Por exemplo, se um estudante escolher
na faixa chamada democracia imperfeita, caracterizada pelas o tema “eleições livres e idôneas”, ele pode descobrir que o
democracias que ainda estão buscando a consolidação, pro- sistema de votação eletrônico do Brasil é um dos mais segu-
cesso que será abordado ao longo do capítulo. ros do mundo e que já foi implantado por outras nações. Por
2. Resposta pessoal. O objetivo dessa questão é incentivar outro lado, ainda há locais em que ocorre a compra de votos,
os estudantes a refletir a respeito da democracia no Brasil uma prática ilegal e que implica falta de cultura política e de-
sigualdade social. O objetivo é que os estudantes reflitam
com base nos conhecimentos que eles já têm sobre o te-
sobre as contradições das democracias imperfeitas, aspecto
ma. Para isso, é importante que eles relacionem conceitos
essencial para que eles compreendam o contexto político e
mobilizados nas unidades anteriores, como racismo, desi-
social no qual estão inseridos como cidadãos. Combine uma
gualdade social e privilégios, com as estruturas que fazem
data para que os estudantes possam apresentar os resulta-
com que a democracia ainda não tenha sido plenamente
dos de suas pesquisas para a turma.
consolidada no Brasil.
3. Essa questão, de modo análogo à anterior, busca mobilizar
os conhecimentos prévios dos estudantes sobre democracias
Debate sobre o autoritarismo (Página 84)
e regimes autoritários e incentivar a análise crítica a respeito Os regimes políticos que se situam em oposição ao conceito
da realidade política do Brasil atual. de democracia – autoritarismo e totalitarismo – são trabalhados
nesse tópico, contribuindo para o desenvolvimento da habilida-
Sugestão para o professor de EM13CHS501. Em ambos os casos, a liberdade e os direitos
Artigo individuais são suprimidos por um Estado controlador.
A diferença entre autoritarismo e totalitarismo pode ser tra-
» O que está acontecendo com a democracia? OpenDemo-
balhada com base na distinção apresentada por Hannah Arendt,
cracy, 2020. Disponível em: www.opendemocracy.net/pt/
que enxerga no autoritarismo uma despolitização da população,
democraciaabierta-pt/o-que-esta-acontecendo-com-a-de-
a qual é levada a abandonar a vida pública, enquanto, no tota-
mocracia/. Acesso em: 8 jul. 2020.
litarismo, o povo é mobilizado pelo Estado visando sua adesão
O texto, publicado pela agência internacional Open Democra-
em torno de uma pessoa ou um ideal geral.
cy, faz uma análise sobre o Índice de Democracia de 2019 e
pode subsidiar os debates sobre o tema proposto no capítulo.
Boxe Interação
Índice de Democracia: tipos de regime 1. Para criar a lista, os estudantes podem se basear nas carac-
terísticas dos regimes autoritários apresentadas na página
(Página 83) 83, aprofundando as definições com base nos trabalhos de
É indicado apresentar aos estudantes os tipos de regime que Vida e de Arendt.
estão sendo trabalhados (democracia plena, democracia imper-
2. Atividade de produção textual. Os estudantes são incentiva-
feita, regime híbrido e regime autoritário) e garantir a compreen-
dos a mobilizar os próprios conhecimentos sobre autoritaris-
são rigorosa de cada um dos conceitos.
mo. Retome com eles as principais características dos textos
Uma forma de explorar a caracterização dos tipos de regime
narrativos, criando uma interface com a área de Linguagens.
consiste em opor os conceitos de democracia e autoritarismo,
As obras indicadas a seguir podem fornecer subsídios para
explicando que um regime democrático pleno implica maior ga-
essa discussão.
rantia dos direitos humanos do que um regime autoritário, no
qual as garantias são mínimas.
Sugestões para o professor
Retomar o mapa do tema anterior pode contribuir com essa
Livros
discussão, pois ele apresenta a classificação dos países segun-
do o Índice de Democracia. » Arendt, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Com-
Aproveite para analisar com os estudantes pelo menos um panhia das Letras, 2013.
país que represente cada tipo de regime apresentado, tendo em Nesse livro, considerado uma das maiores referências sobre
vista o desenvolvimento de aspectos das habilidades os movimentos políticos totalitários, Hannah Arendt analisa
EM13CHS101 e EM13CHS103. o surgimento de movimentos totalitários na Europa do
228
século XX, relacionando a ascensão desses movimentos à pelo legado do colonialismo, além do fato de, cinicamente, o
práticas e às ideologias racistas e imperialistas, bem como à brasileiro se considerar mais tolerante, acolhedor e dócil do
massificação das classes sociais e ao emprego da propagan- que realmente é.
da e do terror como ferramentas políticas.
» Orwell, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, Jânio e Jango: um panorama (Página 86)
2009. Esse tópico aborda outro elemento antidemocrático que es-
A obra tem uma narrativa ambientada em um país que vive tá presente na tradição brasileira: sempre houve no Brasil uma
sob um regime totalitário, mas que tenta transmitir uma ima- oligarquia atávica formada por elites econômicas e/ou políticas.
gem de país democrático. Esse clássico da literatura contem- Esses grupos atuam de acordo com interesses privados próprios
porânea favorece a abordagem de diferentes temas relacio- de maneira quase que plenamente livre, uma vez que as insti-
nados à democracia, aos direitos humanos e às liberdades civis. tuições democráticas ainda são frágeis e acabam sendo atrope-
» AtwOOd, Margaret. O conto da Aia. Rio de Janeiro: Rocco, ladas pela vontade de tais grupos.
2017. Os estudantes podem compreender esse fenômeno pela nar-
rativa sobre a tentativa de golpe institucional sofrida por João
Narrada em primeira pessoa, esse romance distópico retrata
Goulart. Nesse caso, grupos de interesses específicos exerceram
um regime totalitário fictício que tem controle sobre as fun-
seu poder no Estado em detrimento da vontade popular.
ções sociais e físicas dos indivíduos, principalmente em rela-
ção às mulheres e à reprodução.
Boxe Interação
» SOltAni, Amir; BendiB, Khalil. O paraíso de Zahra. São Pau-
lo: Leya, 2011. 1. Resposta pessoal. Oriente os estudantes a organizar uma li-
nha do tempo dos eventos mencionados no texto e a relacio-
Narrada em HQ, a história se passa no Irã, em 2009, durante
ná-la com a periodização apresentada nos esquemas. As
os levantes contra o regime autoritário do país. O enredo gi-
respostas devem localizar os eventos nos itens: Esquema 1
ra em torno da busca de uma mãe pelo filho que desapare-
– ditadura civil-militar; Esquema 2 – supressão total dos di-
ceu em uma das manifestações contra o governo e tem como
reitos políticos.
foco a falta de liberdade de expressão e de transparência de
um governo não democrático. 2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
que a imagem retrata a forma como grande parte da popu-
Instabilidades políticas e intervenções lação, especialmente do Rio Grande do Sul, estava não so-
mente do lado de Jango como também lutando por
no Brasil republicano (Página 85) legalidade e democracia. É importante destacar também co-
É apresentado um panorama de processos políticos e sociais mo a vontade popular pesou pouco, o que caracteriza uma
do Brasil, caracterizando momentos democráticos e momentos democracia frágil.
autoritários, tendo como ponto de partida a instauração da re-
pública. Reflita com os estudantes sobre os primeiros governos Os militares no poder (Página 87)
republicanos no Brasil, para, então, delimitar o regime de gover-
A forma como se construiu o regime militar ditatorial de 1964
no vigente em cada período.
demonstra o mais grave e claro caso de interrupção da demo-
Cabe ressaltar para os estudantes que o Brasil, em sua his-
cracia no Brasil. É importante que os estudantes compreendam
tória republicana, teve seis constituições, das quais duas (a de o que foi esse evento e as consequências socioculturais dele.
1937 e a de 1967) destacam-se pelo seu caráter autoritário e Para iniciar o estudo desse tópico, trace com os estudantes
ditatorial. Essa análise contribui para o desenvolvimento das um panorama breve sobre o contexto mundial da Guerra Fria e
habilidades EM13CHS602 e EM13CHS603. o embate entre as ideologias capitalista e comunista à época,
que no Brasil deu o tom das disputas por poder que culminaram
Boxe Reflexão na ditadura militar.
• O boxe apresenta alguns elementos constitutivos da formação Jango tinha um plano de governo voltado para reformas de
histórica do autoritarismo brasileiro e comenta como pode ser combate à desigualdade estrutural. Naquele contexto de pola-
difícil alcançar a democracia plena em um país caracterizado por rização política, essas propostas foram vistas pelos setores mais
práticas antidemocráticas e colonialistas, como o caudilhismo conservadores da sociedade como uma possível ligação entre
ou a instituição de condições de trabalho desumanas. Jango e a ideologia socialista.
1. A fala do sociólogo aborda a tradição autoritária do Brasil co- Ressalte a importância da aliança formada entre militares e
mo estrutura que impede a conformação da lógica democráti- setores conservadores da sociedade civil para a instauração de
uma ditadura militar no Brasil.
ca. Espera-se que os estudantes identifiquem que os esquemas
Nesse sentido, cabe refletir com os estudantes sobre o quan-
propostos apontam os momentos de interrupção da democra-
to as políticas propostas por Jango de fato eram alinhadas aos
cia. Essa conscientização é importante para que os estudantes
ideais comunistas ou até que ponto essa ideologia teria sido
percebam quão desafiador é, para o Estado brasileiro, conso-
imputada ao então presidente como forma de desmoralizá-lo
lidar o regime democrático sem transformar as estruturas oli-
nacionalmente em decorrência de privilegiar interesses contrá-
gárquicas construídas desde o período colonial.
rios aos das elites brasileiras da época.
Apesar de não haver qualquer evidência histórica de um pos-
Sugestão para o professor
sível golpe comunista em curso, do qual Jango faria parte, alguns
Livro setores da sociedade atual ainda defendem que a tomada do
» SchwArcz, Lilia. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Pau- poder pelos militares teria sido a única alternativa possível fren-
lo: Companhia das Letras, 2019. te a uma suposta ameaça comunista.
Livro que trata de maneira direta a forma como a moral bra- Se julgar pertinente, dialogue com os estudantes sobre como
sileira é autoritária por herança das práticas escravocratas e a polarização política da atualidade tem contribuído para
229
reavivar um medo coletivo de uma suposta ameaça comunista, • Nesse momento, você deve ser o orientador, e não o líder do
mesmo que o contexto da Guerra Fria já tenha sido superado há projeto, incentivando os estudantes a se responsabilizar pe-
décadas. la elaboração e consecução das atividades.
Esse diálogo também pode propiciar uma reflexão sobre co-
• As etapas podem ser registradas em vídeos e fotos e com-
mo o fenômeno da injúria como ferramenta política tem sido partilhadas ao final do processo, durante uma nova roda de
mobilizado na atualidade, por meio da disseminação de menti- conversa, na qual vão fazer um balanço das experiências e
ras e ataques a figuras públicas – as fake news, como forma de observar quais foram as aprendizagens e os principais de-
desmoralizar e intimidar determinados sujeitos políticos. safios da atividade.
A discussão sobre a participação dos meios de comunicação
na crescente tensão característica do período pode contribuir
para a mobilização de aspectos da habilidade EM13LGG202.
Os Atos Institucionais (AIs) (Página 89)
Nesse tópico, são abordados os Atos Institucionais, disposi-
Boxe Interação tivos legais promulgados pelo Poder Executivo entre 1964 e
1969 que se sobrepunham à Constituição vigente e institucio-
1. Resposta pessoal. Por meio da análise das matérias da capa, nalizavam a ditadura militar no país.
é possível que os estudantes identifiquem que o jornal parece Chame a atenção dos estudantes para a maneira como esses
se posicionar a favor da tomada do poder pelos militares devi- dispositivos suspendiam garantias democráticas e atuavam na
do à forma como retratam a renúncia de João Goulart (“Fugiu manutenção do poder militar, embasando atos autoritários e de
Goulart e a democracia está sendo restabelecida” e “Ressurge repressão pela classe militar. Para reforçar a característica anti-
a democracia”), bem como ao destaque atribuído à fala de Cas- democrática desses dispositivos, leia com os estudantes os re-
telo Branco (“As Forças Armadas são para defender a lei, não latos apresentados, que expõem as percepções de um militar,
a baderna”). um músico e uma estudante universitária a respeito do autori-
tarismo no período.
Boxe Ação e cidadania As indicações disponibilizadas nos boxes Para explorar des-
• O boxe explora a relação entre o golpe militar e a mídia, que sa página podem contribuir para ampliar a discussão acerca da
construía narrativas e guiava as opiniões populares, criando instituição do autoritarismo no período da ditadura militar. No
tensões políticas. É possível traçar um paralelo com a situa- primeiro boxe, é indicado um artigo do Portal da Legislação, do
ção atual, em relação às práticas de fake news, sendo esse Palácio do Planalto, que apresenta um resumo do conteúdo de
o foco do texto e das perguntas que o seguem. cada um dos Atos Institucionais. No segundo, são apresentadas
obras que reúnem histórias em quadrinhos e charges a respeito
• São colocadas em questão a ética e as responsabilidades do do autoritarismo vigente nesse período.
indivíduo em relação às fake news. Essa discussão contribui
para o desenvolvimento de aspectos da CGEB7, da CGEB9 e
Sugestão para o professor
da CGEB10, bem como das habilidades EM13LGG105,
Livro
EM13LGG204, EM13LGG303 e EM13LGG305.
1. Espera-se que os estudantes analisem o trecho que cita o » teleS, Edson; SAfAtle, Vladimir (org.). O que resta da dita-
dura. São Paulo: Boitempo, 2010.
Código de Ética dos Jornalistas de Vitória (ES), percebendo a
responsabilidade dos jornalistas na veiculação de informa- O livro aborda o legado da ditadura militar no Brasil em di-
ções precisas em detrimento da propagação de boatos. A versas esferas, como vida social, jurídica e política. Os ensaios
atuação ética das mídias é importantíssima para garantir aos que compõem a obra provocam no leitor a percepção de que
cidadãos informações idôneas e de qualidade. a única forma de garantir que esse passado não se repita é
2. O objetivo da atividade é promover, nos estudantes, a per- encarando e elaborando o lado mais perverso desse longo
cepção de que o leitor de fake news também tem responsa- episódio de nossa história.
bilidade sobre os boatos. Optar por compartilhar notícias
incompletas ou sensacionalistas é uma postura antiética e Resistência e busca pela democracia
torna o leitor parte da rede que fortalece as fake news e con- (Página 90)
tribui para a desinformação da população. Assim, a questão
É importante caracterizar os momentos de transição entre
contribuiu para a construção da responsabilidade cidadã.
regimes de governo. Comente com os estudantes que crises eco-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes com- nômicas e/ou levantes populares são frequentes em situações
preendam a importância do tratamento responsável de
de transição de regime, seja no caso de uma democratização,
informações e as formas individuais e coletivas pelas
seja na instauração do autoritarismo.
quais podem contribuir para interromper a disseminação
Reserve um espaço da aula para analisar com os estudantes
de notícias falsas.
as imagens da página. Sugere-se que sejam selecionadas pre-
viamente outras fotos de momentos da ditadura no país para
Atividade complementar fazer uma análise comparativa das manifestações populares
Se julgar pertinente, aproveite a oportunidade ensejada pe- durante o regime.
la discussão a respeito das fake news para incentivar o prota-
gonismo da turma na comunidade escolar. E hoje? (Página 91)
• Em uma data combinada, organize uma roda de conversa e O tópico retoma a pergunta feita no título desse capítulo (“O
oriente os estudantes a estabelecer uma lista coletiva de Estado brasileiro é autoritário?”) e a direciona para o presente,
ações contra as fake news na comunidade. propondo uma nova pergunta: Será que o Estado brasileiro de
• Depois, auxilie-os a elaborar um cronograma para a imple- hoje é autoritário?
mentação dessas ações, de modo que possam combinar pra- Para responder a essa questão, são apresentadas formas de
zos e estabelecer qual etapa cada equipe ficará responsável. análise do panorama brasileiro atual, por meio da observação
230
da realidade ou de referenciais teóricos. É interessante promo- resposta às demandas dos protestantes, com a organização
ver um debate sobre o tema, buscando levantar argumentos que de reuniões e encontros para o diálogo e a busca por solu-
indiquem se o Estado brasileiro é ou não autoritário. Para a rea- ções, também costuma ser mais rápida onde há democracia
lização desse debate sobre a situação brasileira, retome o con- plena do que nos países com democracia imperfeita.
teúdo do capítulo, especialmente dados como os do Índice de 4. Espera-se que os estudantes identifiquem nos relatos carac-
Democracia, e indique aos estudantes a leitura do boxe Para terísticas como cerceamento das liberdades individuais e de
explorar dessa página e do material sugerido nele. As informa- expressão, falta de transparência nas ações do governo e
ções disponíveis no site do Memorial da Democracia podem am- uso da violência contra a população, as quais se aproximam
mais dos regimes mistos e autoritários do Índice da Demo-
pliar as discussões a respeito da história da democracia no Brasil
cracia. A transformação dessa realidade no Brasil vem ocor-
republicano. As linhas do tempo, em especial, contribuem para
rendo desde a abertura política, e o objetivo é nos tornarmos
apresentar uma cronologia dos diferentes eventos relacionados à uma democracia plena.
democracia no país. Nesse sentido, podem ser utilizadas como ma-
5. Atividade de pesquisa. Dependendo da realidade escolar, em
terial de apoio para uma possível revisão das temáticas discutidas
vez de duplas, a turma pode realizar a atividade coletivamen-
nessa unidade. te. Lembre os estudantes de que precisam da autorização ex-
Essa discussão pode propiciar a mobilização de aspectos da pressa dos entrevistados para realizar o registro de imagem
habilidade EM13CHS605. e de som e também para divulgar o diálogo recolhido. O obje-
tivo da atividade é incentivar os jovens cidadãos a observar os
Sugestão para o professor grupos sociais que os cercam e as conjunturas em que vivem.
Vídeo Caso os estudantes façam parte de algum coletivo que sofre
repressão, este pode ser um momento rico de compartilha-
» O brasileiro é autoritário? Entrevista com Lilia Schwarcz.
mento de impressões e de organizar ou consolidar projetos de
Disponível em: https://youtu.be/bEpQAI8f96A. Acesso em:
resistência cultural e segurança desses grupos.
9 jul. 2020.
6. a) Segundo o trecho do texto de Carlo Fico, os elementos que
Trata-se de um vídeo em que Lilia Schwarcz, autora do livro
propiciaram o aumento do autoritarismo no Brasil durante a
Sobre o autoritarismo brasileiro (indicado na página 229 des- ditadura militar foram a criação de um sistema nacional de
te manual), com base em questões levantadas pelo público, espionagem, o emprego de uma polícia política, a atuação
fala sobre o autoritarismo no Brasil e seus fundamentos. dos departamentos de propaganda e censura política e o tri-
bunal exceção.
Atividades (Páginas 92 e 93) b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes apontem
1. Atividade de pesquisa. O site oficial do Índice de Democracia que esses mecanismos foram utilizados para perseguir, si-
lenciar e eliminar os opositores à ditadura.
está em inglês. No entanto, é possível encontrar notícias sobre
o índice em português, em diversas publicações digitais ou im- 7. Resposta correta: alternativa d. Os excertos do AI-5 destaca-
pressas da mídia oficial. dos no enunciado evidenciam o esvaziamento dos outros
poderes diante das decisões dos órgãos do Executivo.
Se possível, imprima ou projete os dados levantados pelos es-
8. Resposta correta: alternativa a. O primeiro texto apresenta
tudantes, incentivando-os a realizar as análises solicitadas de
motivações de manutenção da organização estatal (repre-
modo autônomo, para favorecer o protagonismo deles no pro-
sentado pela democracia); já o segundo, é focado na liberda-
cesso de construção do conhecimento sobre o estado atual da
de e contrário a organizações autoritárias.
democracia no Brasil e no mundo.
9. Resposta correta: alternativa a. Uma das estratégias do tota-
2. Atividade de pesquisa. Os estudantes devem identificar que litarismo é tornar indistintas as esferas públicas das esferas
os movimentos apresentados nas fotografias das páginas 90 privadas, homogeneizando os sujeitos que podem, eventual-
e 91 são o movimento pelas Diretas Já, articulado por diversos mente, se opor ao regime.
grupos; a Passeata dos Cem Mil, organizada pela UNE; e o mo-
vimento de mães de estudantes presos e desaparecidos no 10. Resposta correta: alternativa d. Retome com os estudantes
contexto da ditadura. Em suas pesquisas, deverão identificar as ideias debatidas sobre o Índice de Democracia, reforçan-
o que reivindicavam esses movimentos e como sua atuação, do a importância da liberdade de imprensa para que a so-
em conjunto com a atuação de outros grupos opositores ao ciedade possa acompanhar o trabalho dos governantes.
regime militar, contribuíram para a redemocratização do país.
3. a) Liberdade de manifestação (“a polícia militar que estava
presente […] recebeu ordens para dispersar o protesto) e se-
CAPÍTULO 8 REPRESENTATIVIDADE
gurança (“iniciou uma forte repressão aos participantes usan- E DEMOCRACIA (Página 94)
do gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes”).
O capítulo 8 trata da democracia brasileira, que se apoia na
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respon-
Constituição de 1988 e na abertura política iniciada em 1985.
dam afirmativamente, já que a notícia evidencia a violação
Atualmente, nossa democracia imperfeita enfrenta grandes de-
de liberdades civis e a violência com a qual o Estado tratou
os professores que protestavam. safios, como a crise da representatividade, a fragilidade de suas
instituições e a ameaça constante de ruptura.
c) Os estudantes podem consultar os nomes dos países clas-
Esse capítulo aborda também a atuação de movimentos so-
sificados como democracia plena no mapa da página 82. Eles
podem buscar notícias, artigos acadêmicos e relatos em pu- ciais como forma de exercício da cidadania e instrumento de lu-
blicações impressas e/ou digitais sobre as respostas das au- ta pela democracia.
toridades a protestos nos países escolhidos. Eles devem
notar que, mesmo em democracias plenas, quando há mani- Representatividade e democracia
festações que escapam do controle dos grupos organizado-
(Página 94)
res (causando, por exemplo, a depredação de patrimônio
público), o governo utiliza métodos de repressão. Porém, a A abertura desse capítulo traz uma reportagem produzida
diferença está nos níveis de violência contra os cidadãos. A com base em dados divulgados por um órgão institucional, o
231
Tribunal Superior Eleitoral. Os estudantes devem confrontar as que quase metade dos cidadãos não confia nos políticos. Em
informações do texto com a imagem, mobilizando habilidades seguida, trabalhe com eles meios de combater institucionalmen-
de leitura de texto e análise de dados. O objetivo é que eles per- te esse processo. Essa discussão contribui para a mobilização
cebam um aspecto contraditório à democracia no país ao ob- de aspectos das habilidades EM13CHS601 e EM13CHS602.
servar o abismo entre o perfil dos representantes do povo na Dialogue com os estudantes sobre a questão dos financia-
política e o da população brasileira, que raramente ocupa ver- mentos eleitorais e sua relação com o processo de oligarquiza-
dadeiramente o espaço político. ção das organizações políticas. Chame atenção para o fato de
No decorrer do capítulo, o debate sobre os limites das demo- os candidatos e os partidos mais alinhados aos interesses das
cracias representativas será aprofundado, com reflexões espe- elites econômicas terem, geralmente, uma campanha mais vas-
cialmente sobre o Brasil. Essas discussões colaboram para a ta, pois dispõem de mais verbas, o que contribui para sua ma-
formação da consciência cidadã e auxilia os jovens a se posicio- nutenção no poder.
nar de modo mais responsável na comunidade em que estão O artigo indicado no boxe Para explorar possibilita aos estu-
inseridos. dantes ampliar seu entendimento a respeito do conceito de oli-
O conceito de representatividade política é trabalhado com garquia, bem como sua aplicação na sociedade brasileira. Esse
os estudantes, de modo que identifiquem que nosso modelo artigo também pode ser utilizado para retomar a discussão so-
de democracia representativa implica se constitui por meio do bre meritocracia, iniciada na unidade 2 do Livro do Estudante,
voto em pessoas que vão representar o poder do povo. Essa por abordar a formação de meritocracias oligarquizadas, que
caracterização abre discussão para pensar se os indivíduos elei- resultam da aplicação de sistemas meritocráticos em realidades
tos para cargos políticos representam realmente o povo brasi- onde não há igualdade entre aqueles que são submetidos a es-
leiro, tanto no sentido de parecer ou ter semelhanças com ele sa forma de avaliação.
como no de atuar politicamente de acordo com os interesses
Sugestão para o professor
dos eleitores.
A proposta desenvolvida nessa abertura de capítulo contri- Site
bui para a mobilização destacada das habilidades EM13CHS101 » #28 Crise democrática. Uol Tab. Disponível em: https://
e EM13CHS103. tab.uol.com.br/democracia/. Acesso em: 10 jul. 2020.
Tab é um projeto editorial interativo do portal UOL e, em sua
edição 28, apresenta um panorama atual sobre a democracia
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
no mundo e, especialmente, no Brasil. A reportagem intitula-
1. O objetivo é que os estudantes mobilizem suas habilidades da “Crise democrática”, que estampa a hashtag #nãomere-
de leitura de textos e imagens e de análise e aplicação de presenta na imagem de capa, traz informações sobre índices,
dados, para traçar perfis e identificar padrões em uma reali- bem como avaliações, reflexões históricas e culturais sobre
dade registrada. Espera-se que os jovens percebam que o os elementos mais característicos da democracia nacional.
perfil dos eleitos para a Câmara dos Deputados não condiz
com a diversidade da população brasileira, como é possível Democracia moderna: dilemas (Página 96)
observar na foto que retrata uma via movimentada em Vitó- Nos últimos anos, ganhou espaço na mídia um discurso de
ria da Conquista (BA). ódio à democracia, decorrente da desconfiança dos cidadãos em
2. Resposta pessoal. Os estudantes vão observar a própria co- relação à capacidade de se realizar os ideais democráticos. In-
munidade, de modo análogo ao que fizeram na questão an- dique para os estudantes esses ideais e analise as dificuldades
terior. Provavelmente, a população do município onde eles de atingi-los.
vivem não é plenamente representada em diversidade pelos Ressalte que o modelo de democracia em vigor nas socieda-
deputados eleitos. des atuais tem como premissa a necessidade de representação
política. Instigue os estudantes a refletir sobre as possíveis difi-
3. Respostas pessoais. Com base nas reflexões realizadas até
culdades que esse modelo apresenta para garantir a participa-
o momento, os estudantes podem apresentar sugestões pa-
ção de todos em decisões políticas.
ra a transformação da realidade brasileira por meio, por exem-
A ideia de movimento popular é importantíssima nesse tópi-
plo, da consecução de políticas públicas de reparação,
co, pois indica uma forma de participação da população na vida
analisadas na unidade anterior, e também de medidas que
pública. As propostas de análise, pesquisa e debate incentivam
objetivam a formação da cultura política, como o incentivo da
a construção da CGEB2. A noção de “vida pública” é interessan-
participação popular nas decisões políticas locais.
te de ser trabalhada com os estudantes nesse momento, visan-
do o desenvolvimento da CGEB9 e da CGEB10, bem como das
Crise na representatividade democrática habilidades EM13CHS603 e EM13CHS605.
(Página 95)
Boxe Interação
O tema trata da crise na representatividade da política brasi-
leira e mundial, sendo importante indicar aos estudantes como 1. Resposta pessoal. O objetivo da atividade é que os estudan-
esse tipo de crise é inerente aos sistemas democráticos como tes desenvolvam habilidades referentes à oralidade, além de
os concebemos na atualidade. Dessa forma, essa discussão po- adotar uma postura ética e respeitosa. Assim, eles poderão
de propiciar a mobilização da competência geral CGEB1. retomar o debate proposto na página e organizá-lo de modo
O trabalho com o gráfico contribui para a mobilização da didático para o diálogo explicativo, conscientizando sua co-
CGEB4 e de aspectos das habilidades EM13CHS106 e munidade da importância da participação política para a cons-
EM13MAT102. trução da democracia plena.
A oligarquização das organizações políticas é tida como um 2. Resposta pessoal. Se necessário, retome com os estudantes
dos motivos para a baixa confiança nos grupos políticos que os conteúdos do capítulo anterior para orientá-los na elabo-
atuam segundo interesses próprios. Pergunte aos estudantes ração da lista. Ela pode ser feita de modo coletivo e dialógico,
sobre as consequências de uma democracia representativa em sistematizando as ideias levantadas ao longo da unidade.
232
Outra possibilidade é orientá-los a retomar as pesquisas so- Boxe Interação
bre como os países classificados como democracias plenas
resolvem seus problemas de modo democrático e ético, bus- 1. Atividade de pesquisa e contextualização histórica. No Portal
cando inspiração neles. das Constituições, disponibilizado pelo Senado, é possível
encontrar diversas fotos oficiais da Assembleia Constituinte
Movimentos pela democracia (Página 97) de 1988. O acervo está disponível em: https://www2.camara.
leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasilei-
As Diretas Já representam um dos mais expressivos movi-
ras/constituicao-cidada/publicacoes/album-de-fotos-1. Aces-
mentos em prol da democracia, porque compeliu à abertura de-
so em: 12 jul. 2020. As fotos selecionadas pelos estudantes
mocrática e ao fim da ditadura. A grandiosidade do movimento podem ser impressas ou projetadas e o compartilhamento
é percebida pelo fato de que ele unia diferentes ideologias, algo de impressões pode ser feito em uma roda da conversa. Pro-
raro nos movimentos sociais atuais. ponha à turma a confecção de um mural, um painel ou um
A crise econômica inflacionária dos anos 1970 acirrou a de- varal com as fotos históricas, acompanhadas de legendas
manda por abertura, somada ao descontentamento do povo com explicativas.
o desempenho do governo. Este ponto é importante ser abor-
2. Cassandra é uma figura da mitologia grega que anunciava ca-
dado: crises econômicas, sociais e políticas, entre outras, propi-
tástrofes iminentes. No relato, é feita uma alusão a essa per-
ciam a mudança de governo.
sonagem ao se referir aos pessimistas ou opositores da
O Pacote de Abril previa a abertura gradual do país. Discuta
Constituição, que não acreditavam que ela de fato fosse sobre-
com a turma as medidas previstas nesse pacote e peça aos es- viver aos distúrbios políticos como "Cassandras". Espera-se que
tudantes que reflitam sobre como cada uma delas pode contri- os estudantes percebam que a Assembleia Constituinte se
buir para a instauração e a manutenção do regime democrático. configurou como território de disputa entre diferentes projetos
e que, até hoje, sua implantação segue com intensos debates.
Diretas Já (Página 98)
3. O segundo relato traz algumas percepções sobre os pro-
É importante que os estudantes saibam quem foi Vladimir
cessos políticos que poderiam abalar as estruturas demo-
Herzog; portanto, comente com eles sobre o contexto da prisão
cráticas ocorridos após a promulgação da Constituição de
e da morte do jornalista.
1988. Os impeachments marcam a retirada do poder de
Debata com os estudantes sobre a seguinte questão: Por que
representantes eleitos pelo povo e poderiam indicar uma
demorou cerca de dez anos até que a abertura da democracia
quebra na ordem democrática, evidenciando uma possível
se concretizasse? Mais do que buscar uma resposta a essa per-
crise democrática. Apesar disso, o texto evidencia que as
gunta, é importante refletir sobre o contexto do período e as
sucessões presidenciais ocorreram conforme parâmetros
possibilidades de atuação dos movimentos sociais frente ao re-
democráticos, amparados pela Constituição.
gime militar.
É importante também propor uma reflexão acerca da proxi-
midade temporal, em termos históricos, entre o período ditato-
Atividade complementar
rial e o presente, evidenciando a permanência de certas estru- Se julgar apropriado, solicite aos estudantes que pesquisem
turas políticas e sociais que remontam a esse contexto. e identifiquem os movimentos sociais que estiveram envolvidos
na elaboração da Constituição federal de 1988.
Sugestão para o professor Entre os movimentos identificados, eles deverão selecionar
Vídeo um para pesquisar, verificando o que esse movimento reivindi-
» Diretas Já. Cultne Acervo. Disponível em: https://youtu. cava e de que maneira essa reivindicação foi manifestada na
be/3E-jNkiiVhA. Acesso em: 11 jul. 2020. Constituição, as políticas governamentais e de Estado que foram
Registro em vídeo do período das Diretas Já apresentado em empregadas após a Constituição para cumprir a reivindicação e
nove partes. Disponibilizado pelo acervo da cultura negra, o como a situação reivindicada se apresenta nos dias de hoje.
Cultne, é um material muito interessante de ser trabalhado
em sala de aula, pois retrata bem o clima de efervescência Atividades (Páginas 100 e 101)
política e cultural dos movimentos em prol das eleições dire-
tas e pela democratização. 1. a) Espera-se que os estudantes identifiquem que não, já que
a maior parte da população brasileira possui Ensino Funda-
Constituição de 1988: avanços mental incompleto, enquanto os deputados eleitos em 2018
tinham Ensino Superior completo.
democráticos (Página 99)
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
Ao abordar a temática da Constituição de 1988, é importan-
quem que o processo de oligarquização, apesar de ser comum
te ressaltar que sua elaboração esteve diretamente relacionada
em todas as democracias representativas, é potencializado
à luta e aos esforços dos movimentos sociais, como os movi-
no Brasil pelo contexto das desigualdades sociais estruturais.
mentos negros e indígenas.
Para isso, eles podem retomar momentos históricos e pro-
Essa Constituição representou uma grande ruptura na tradi-
blemas analisados em outros capítulos deste volume e tam-
ção autoritária, não somente por ter sido elaborada no contexto
bém utilizar exemplos de seu cotidiano.
da redemocratização do país, mas também por vincular um en-
tendimento de cidadão que abrange todos os indivíduos, sem 2. a) O trecho da notícia apresentada na abertura do capítulo
restrições, residentes em território nacional. apresenta o perfil dos representantes políticos da população
Ressalte que, apesar desse entendimento de cidadão vincu- brasileira, evidenciando a característica oligárquica da demo-
lado pela Constituição, muitos grupos e indivíduos ainda tem o cracia representativa no Brasil, na qual uma pequena cama-
acesso à cidadania negados ou dificultados na prática social. da de dirigentes governa, distanciando-se dos interesses das
Essa discussão contribui para a mobilização de aspectos das massas, ideia que é comentada por Pedro Floriano Ribeiro
habilidades EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503. ao discutir o pensamento de Robert Michels.
233
b) Espera-se que os estudantes percebam que ambos tratam A discussão em torno das ideias de Habermas caracteriza a
da mesma teoria política. Michels é uma das referências usa- soberania como exercício concentrado do poder, mas que incor-
das por Couto e outros politólogos que se dedicam a estudar porou a vontade popular. O problema consiste em saber se a
a democracia representativa. Comente com os estudantes soberania é garantida diretamente ou se ela só seria possível
que, na construção das teses científicas, busca-se sempre de maneira indireta em um regime democrático.
dialogar com os pensadores que se debruçam sobre ques- A democracia deliberativa de Habermas supõe uma concilia-
tões do mesmo campo de estudo. ção entre republicanismo e liberalismo. Para finalizar o debate
c) A atividade retoma e dá continuidade aos diálogos reali- desse capítulo, ressalte os diversos tipos e modelos de demo-
zados ao longo dessa unidade sobre as transformações ne- cracia, solicitando aos estudantes que compartilhem suas im-
cessárias à democracia brasileira. Incentive os estudantes a pressões sobre eles. Dessa forma, é possível dar continuidade
retomar a lista feita na atividade do boxe Interação na pági- ao trabalho sobre o conceito de democracia sem perder de vista
na 96 e ampliar as proposições elencadas nela. o protagonismo dos jovens e as possibilidades de articulação
3. a) Não, pois atualmente, tanto governadores quanto sena- sobre o tema.
dores são eleitos por voto direto.
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes façam RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
um balanço histórico e sociológico sobre a democracia re-
1. Para Habermas, embora ambas as perspectivas apontem o
presentativa brasileira, os momentos de governo autoritá-
povo como fonte do poder político, a perspectiva republicana
rio e os processos de retomada democrática e de golpes
de Estado. não admite a transferência desse poder a representantes,
cabendo ao povo exercê-lo. Já a perspectiva liberal admite
4. a) A deputada aponta que, apesar de a Constituição Cida- que o poder possa ser exercido, em nome do povo, por órgãos
dã, como é conhecida a Constituição federal de 1988, re-
e instituições eleitos.
presentar um grande avanço no que se refere à garantia
de direitos individuais, ela não abrange todos os brasilei- 2. Durante o regime ditatorial, foi instituído um Estado de exce-
ros, nem promove desenvolvimento, renda, trabalho e dig- ção no país, no qual muitos direitos foram revogados, entre
nidade a todos. eles os direitos políticos. Nesse período, o poder do Estado
era exercido e legitimado pelos militares, excluindo a popu-
b) Ela cita que é preciso uma Constituição que resguarde di-
lação desse processo. Nesse sentido, a garantia constitucio-
reitos, qualidade de vida, direitos do cidadão e desenvolvi-
nal de soberania do povo visa encerrar essa exceção e
mento a todos os brasileiros.
devolver a soberania ao povo.
c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifiquem
quem a constatação da desigualdade social no país no dis-
curso da deputada e a relacionem à dificuldade para a que a imagem que retrata a manifestação popular e a ima-
consolidação de uma democracia plena. gem da parceria estabelecida entre os setores público e pri-
vado para obtenção de benefícios à comunidade reiteram a
d) Resposta pessoal. Em suas produções, os estudantes de- soberania popular sobre os espaços e recursos. Trata-se, po-
verão evidenciar suas percepções acerca da finalidade de
rém, de dois momentos específicos que não representam as
uma constituição e de seus desdobramentos para a socieda-
relações gerais estabelecidas entre a iniciativa liberal e a pos-
de. Espera-se eles identifiquem a Constituição federal como
sibilidade de democracia deliberativa.
o conjunto de normas que regem o Estado e que, portanto,
determina a relação entre o Estado e os cidadãos. 4. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes evidenciem
sua percepção acerca da participação popular no governo
5. Resposta correta: alternativa e. O texto evidencia que, no sis-
atual, seja por meio da eleição de representantes, seja por
tema democrático de Schumpeter, a participação popular é
meio do respeito e da consideração para com a vontade po-
vista como uma intrusão indesejada; portanto, esse sistema
pular na tomada de decisões públicas.
democrático pressupõe a deliberação dos líderes políticos
com restrição da participação das massas.
6. Resposta correta: alternativa a. As afirmativas indicadas nes-
sa opção abordam diversas possibilidades de participação CAPÍTULO 9 OS MOVIMENTOS
da sociedade civil na vida pública, para além do trabalho em POPULARES (Página 104)
órgãos institucionais.
O foco deste capítulo são os movimentos sociais, especial-
mente os que atuam no Brasil, apresentados de acordo com
Ampliando (Páginas 102 e 103) os locais onde se desenvolvem: movimentos rurais e movi-
Essa seção aborda o conceito de soberania popular levando mentos urbanos. Esses fenômenos sociais são analisados tan-
em consideração as ideias do filósofo Jürgen Habermas sobre to em linhas gerais, sob o ponto de vista ético e dos direitos
soberania e representatividade. humanos, quanto de modo microcósmico, com a exploração
Inicie a discussão chamando a atenção dos estudantes para de alguns casos.
o primeiro artigo da Constituição brasileira, que enuncia que o Nos movimentos rurais, a luta envolve, principalmente, o re-
poder por meio do qual o Estado atua emana do povo e é exer- conhecimento da posse da terra por comunidades tradicionais,
cido por representantes. Leia o trecho da Constituição disponi- respeito às terras demarcadas a essas comunidades e a valori-
bilizado no texto introdutório e instigue os estudantes a refletir zação do trabalho rural. Nos movimentos urbanos, é comum que
sobre seu significado. sejam reivindicadas . O capítulo traz também uma breve reflexão
Em seguida, oriente os estudantes a ler os trechos dos textos sobre o uso que esses movimentos fazem das redes sociais e
de Habermas, bem como do professor Jorge Adriano Lubenow. de outras ferramentas on-line.
234
Os movimentos populares (Página 104) movimentos sociais brasileiros no presente. Se considerar
apropriado, reproduza trechos desse episódio em sala de au-
O objetivo central é apresentar os movimentos sociais popu- la. Para isso, recomenda-se que seu conteúdo seja ouvido
lares aos estudantes como forma de atuação em prol de trans-
previamente para selecionar os trechos que serão apresen-
formações sociais, mobilizando, assim, aspectos das CGEB1
tados aos estudantes.
e CGEB2.
Os gráficos apresentados, cuja análise favorece o desenvol-
Boxe Interação
vimento de aspectos das CGEB4 e CGEB7 e da habilidade
EM13MAT102, demonstram que a sociedade brasileira não 1. Resposta pessoal. Os estudantes devem relacionar a coleti-
põe em prática todos os aspectos presentes na Carta Magna vidade expressa na imagem com a ideia de movimento social
de 1988, pois ainda há déficit habitacional, pobreza extrema e de Gohn.
analfabetismo no Brasil. É imprescindível demonstrar aos es-
tudantes como isso está vinculado às lutas por moradia, traba- A questão agrária (Página 106)
lho e educação.
A questão agrária brasileira remete ao início da colonização,
As perguntas envolvem uma reflexão coletiva que deve ser
quando os povos indígenas foram exterminados ou expulsos
estimulada nesse capítulo, tendo em vista que são tratadas
de suas localidades, e à abolição da escravidão, no fim do sé-
questões sociológicas e políticas que podem fazer mais sentido
quando elaboradas conjuntamente. Você pode, por exemplo, culo XIX. Essa questão, contudo, permanece atual, pois a luta
trabalhá-las em uma roda de conversa. dos povos tradicionais por suas terras persiste atualmente e
tem grande risco de retrocesso, o que justifica a importância
desse debate.
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES Das capitanias às sesmarias, as terras nacionais foram en-
tregues pelo Estado aos interesses privados de grandes empre-
1. Moradia digna, renda e educação. Espera-se que os estudan-
sários e, assim, instituíram-se as oligarquias agrárias. Explique
tes cheguem a essa conclusão após a leitura do título de ca-
alguns efeitos da concentração ou do monopólio de terras nas
da gráfico. Se necessário, chame a atenção deles para esse
mãos de uma elite rural: o trabalhador rural não tem suporte do
item e explore o significado dos termos que talvez não sejam
Estado para sua subsistência, e os povos indígenas e quilombo-
conhecidos pelos estudantes, como déficit.
las enfrentam grandes desafios para delimitar suas terras.
2. Respostas pessoais. O objetivo é que os estudantes possam Os debates propostos favorecem o desenvolvimento de di-
identificar, em sua realidade, os contextos abordados pelos
versos aspectos das habilidades EM13CHS602, EM13CHS605
gráficos, estabelecendo, dessa forma, relação entre os dados
e EM13CNT206.
analisados e a prática social.
3. Respostas pessoais. A proposta de elaboração de lista po- Movimentos pelo acesso à terra
de retomar as atividades atitudinais realizadas anterior-
mente, colaborando para a construção de uma lista mais (Página 107)
consistente e baseada nas pesquisas e nos dados levanta- Explique aos estudantes que a teologia da libertação é uma
dos até o momento. corrente cristã que trabalha especificamente com os sujeitos
desvalidos e despossuídos, tendo como foco de atuação os mo-
Ética e movimentos populares (Página 105) vimentos sociais que visam a melhoria das condições de vidas
deles. É indicado abordar com os estudantes a ação de algumas
Explique aos estudantes que os movimentos sociais são
figuras ilustres da teologia da libertação e a relação delas com
ações coletivas que visam a organização e a expressão de de-
a obra e o legado de Paulo Freire.
mandas de um grupo de pessoas que luta para ter um ou mais
direitos atendidos.
Boxe Interação
Trata-se de um momento que favorece alguns debates, por
exemplo: O Estado brasileiro garante a igualdade de justiça e 1. Rossana Reis aponta que o ativismo de setores da Igreja ca-
de liberdade?Essa discussão colabora para o desenvolvimento tólica foi essencial para que diversas associações de prote-
de aspectos das habilidades EM13CHS502, EM13CHS503 e ção aos direitos humanos fossem criadas e formassem uma
EM13CHS504. base de apoio para os movimentos do campo.
Outra possibilidade que pode aprofundar os diálogos pro- 2. O texto faz referência a um Estado autoritário construído pe-
postos é incentivar a turma a pensar sobre a seguinte questão: las oligarquias, em sua maioria detentora de latifúndios. Se
A internet potencializa os movimentos sociais? Há movimenta-
necessário, retome com os estudantes os contextos de oli-
ção social pela internet? Esse tipo de reflexão se aproxima da
garquias da democracia representativa do Brasil, debate
realidade dos estudantes e é o centro das discussões políticas
aprofundado no capítulo anterior.
em tempos, por exemplo, de isolamento social, uma realidade
experienciada durante a pandemia do coronavírus. 3. Atividade de pesquisa. Os estudantes poderão se apropriar
Vale comentar que movimento social é resistência e também do modo como as propriedades rurais estão organizadas em
inventividade. Se considerar adequado, comente com os estu- seu município, adquirindo consciência dessa realidade, caso
dantes a importância dos movimentos para a transformação da a desconheçam. Trata-se de mais uma estratégia para cha-
sociedade: as organizações populares possibilitam diagnósticos mar a atenção dos jovens para as condições do Brasil atual
sociais e culturais e criam propostas coletivas e alternativas ri- que impactam em seu cotidiano. A pesquisa pode ser reali-
quíssimas para solucionar problemas. zada em publicações impressas ou digitais, de acordo com a
No episódio indicado no boxe Para explorar, o podcast disponibilidade. Se a escola se localizar na área rural, também
transcorre como uma entrevista, na qual Roniel Sampaio-Sil- é possível que a pesquisa contemple entrevistas com traba-
va questiona Cristiano Bodart sobre a conjuntura dos lhadores rurais e pequenos produtores.
235
236
Atividades (Página 112) Práticas de texto (Página 113)
1. a) O gráfico sobre a população brasileira na extrema pobreza Os estudantes deverão escrever uma biografia de uma pes-
apresenta uma tendência oscilante e distinta entre os casos de soa de relevância para a comunidade escolar. Essa tarefa pode
pobreza e extrema pobreza; contudo, a partir de 2003 nota-se contribui para mobilização da habilidade EM13LGG703.
uma queda em ambas os casos, que se transforma em ascen- Comece explicando à turma os pontos centrais que compõem
são a partir de 2014. O gráfico de déficit habitacional também uma biografia. É importante ressaltar que existem variados ti-
apresenta oscilação, sendo que o período entre 2007 e 2013 pos de biografia e explicar as características que as diferenciam.
tem oscilação maior, e o período entre 2014 e 2017, menor. Por Se julgar conveniente, trabalhe em parceria com um docente da
fim, o gráfico sobre pessoas que não sabem ler ou escrever apre- área de Linguagens.
senta uma tendência decrescente, a qual se pode perceber pela Os estudantes podem ter dificuldade para escolher uma
diferença de porcentagem entre as pessoas com 60 anos ou pessoa relevante para a escola; caso isso aconteça, indique al-
mais e 15 anos ou mais que não sabiam ler ou escrever em 2016. guns nomes que julgar interessantes e convenientes. O traba-
lho pode ser feito individualmente ou em grupo. Considere in-
b) Atividade de pesquisa. Espera-se que os estudantes iden-
dicar que escrevam sobre um professor ou outro funcionário
tifiquem medidas adotadas pelo governo federal ou pelos
da comunidade escolar. Essa pode ser uma boa oportunidade
governos estaduais e municipais para erradicar a pobreza e
para conhecer melhor esses profissionais.
a extrema pobreza, garantir habitação à população e elevar
Oriente os estudantes a montar um questionário com infor-
a taxa de alfabetização no país. Muitas dessas informações
mações essenciais para a construção da biografia. A depender
podem ser consultadas nos portais oficiais do governo fede-
do tipo de biografia, algumas informações serão mais relevan-
ral ou dos governos estaduais e municipais.
tes que outras. Apoie-os nessa tarefa caso seja necessário. Isso
c) Atividade de pesquisa. Em complementaridade ao item an- pode ser feito ao trazer exemplos de pequenas biografias reti-
terior, os estudantes deverão verificar, por meio de pesquisa radas de jornais, revistas e livros, entre outras publicações, po-
em fontes diversas, se as ações tomadas pelos governos vi- de ajudar os estudantes na realização da tarefa.
sando melhorias nos setores pesquisados se efetivaram. Pa- Caso considere oportuno, você pode organizar a turma de
ra isso, os estudantes poderão buscar em canais oficiais e modo que uns leiam os textos dos outros e, assim, se ajudem
confiáveis tanto por fontes que apresentem dados relaciona- mutuamente na revisão. É interessante optar por publicar os
dos a melhorias nesses setores quanto por análises e comen- textos produzidos em alguma plataforma on-line gratuita. Além
tários que avaliem a eficácia das ações empreendidas. desse formato não ter custo, ele permite a circulação de infor-
d) Resposta pessoal. Mediante a constatação da desigualda- mação de forma fluida e muito mais rapidamente do que o ma-
de social que vem sendo abordada em diversos momentos terial impresso.
dessa coleção, espera-se que os estudantes identifiquem Se optarem por produzir o material impresso, uma possibili-
que a atuação dos movimentos sociais ainda se faz neces- dade é fixar as biografias no mural da escola. As opções de cir-
sária para promover melhorias nessas áreas. culação dos textos devem ser debatidas com os estudantes e/
2. Atividade de pesquisa. Essa atividade busca ampliar a com- ou responsáveis. Em ambos os casos, é fundamental que os es-
preensão dos estudantes acerca da importância e das formas tudantes obtenham autorização prévia da pessoa biografada e
de atuação dos movimentos na luta por justiça e igualdade que essa pessoa tenha acesso a essa biografia antes de sua
social. Incentive-os a escolher um movimento social com o publicação.
qual se identificam e a pesquisar, em fontes confiáveis, ma-
teriais que explicitem em que consiste esse movimento, o que Práticas de pesquisa (Páginas 114 e 115)
reivindica e como atua. Incentive-os também a buscar análi- A atividade propõe a realização de uma pesquisa de análise
ses de jornalistas e comentadores políticos ou sociais acerca de mídia, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da habi-
dos resultados obtidos por esse movimento. lidade EM13LGG704. Esse tipo de pesquisa envolve analisar os
Caso haja disponibilidade e se julgar pertinente, convide pes- recursos expressivos utilizados pelas mídias tradicionais para
soas que participem de movimentos sociais em seu município comunicar certos ideários.
ou em sua comunidade para uma roda de conversa com os O objetivo é centrar a investigação em figuras autoritárias
estudantes. que ocupam atualmente posição de liderança política e analisar
como os diversos suportes da mídia tradicional tratam de um
3. a) Espera-se que os estudantes identifiquem que a proprie-
mesmo acontecimento. O problema gira em torno de avaliar os
dade abordada são os latifúndios, que concentram a posse
líderes autoritários que surgiram em meio à crise da democracia
de terras nas mãos de poucas pessoas. Isso significa que a
e verificar a imagem criada pela mídia em torno deles, contribuin-
maioria da população rural brasileira não é detentora de ter-
do para o desenvolvimento das habilidades EM13CHS101 e
ras, levando uma parte significativa desse grupo a migrar pa-
EM13CHS602. A proposta dá continuidade à construção da pos-
ra zonas urbanas em busca de melhores condições de vida.
tura cidadã, desenvolvendo nos estudantes percepções sobre os
b) O texto defende que a gênese da desigualdade social está discursos políticos, como cada projeto de governo pode impactar
na concentração da posse de terras por um pequeno grupo. a comunidade em que vive e qual é a responsabilidade, individual
Os estudantes podem citar alguns dos reflexos disso: a exis- e coletiva, na democracia, tornando os jovens cada vez mais cons-
tência de pessoas que não possuem moradia; trabalhadores cientes de suas atuações nas relações de poder.
rurais desempregados; áreas urbanas superpopulosas, etc. É importante que você auxilie os estudantes nas análises dos
4. Resposta correta: alternativa b. Assim como evidenciado no diversos elementos que compõem jornais e revistas, tendo em
texto, uma parte significativa das mobilizações dos atores da vista a intertextualidade. Oriente os estudantes a escolher jor-
sociedade civil tem se caracterizado cada vez mais pela des- nais com diversas orientações: grandes, pequenos, privados,
centralidade e multiplicidade de atores sociais envolvidos, estatais, independentes, etc. Essa atividade contribui para o de-
imersos na vida cotidiana. senvolvimento das habilidades EM13CHS502 e EM13CHS504.
237
Retomada Observe as produções e busque identificar de que maneira
A seguir, apresentamos um esquema com os principais con- se apropriaram dos conteúdos vistos, as relações que consegui-
ceitos trabalhados ao longo da unidade e como eles estão rela- ram estabelecer, quais as dúvidas e dificuldades remanescen-
cionados. Use-o como apoio para sua mediação, mas oriente os tes, e, com base nos dados levantados, retome ou aprofunde os
estudantes a montar os próprios mapas mentais, revendo e or- conceitos necessários. Outra possibilidade é solicitar aos estu-
ganizando os conteúdos estudados. dantes que realizem pesquisas sobre os pontos de dúvidas.
Tipos de regime
Totalitarismo
Crise de democracia
Lutas pela
democracia
Movimentos Movimentos
populares populares
Ciberativismo urbanos – luta rurais – luta por
por direitos e terra (questão
infraestruturas agrária)
238
ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enem) humanidade. Por isso, ainda hoje invocamos esses velhos “di-
reitos naturais” nas batalhas contra os regimes autoritários
A política foi, inicialmente, a arte de impedir as pessoas de se
que subsistem.
ocuparem do que lhes diz respeito. Posteriormente, passou a ser
a arte de compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que (Quirino, C. G.; Montes, M. L. Constituições.
nada entendem. São Paulo: Ática, 1992 - adaptado)
Valéry, P. Cadernos. Apud beneVides, M. V. M. A cidadania ativa. O conjunto de direitos ao qual o texto se refere inclui:
São Paulo: Ática, 1996.
a) voto secreto e candidatura em eleições.
Nessa definição o autor entende que a história da política b) moradia digna e vagas em universidade.
está dividida em dois momentos principais: um primeiro, mar- c) previdência social e saúde de qualidade.
cado pelo autoritarismo excludente, e um segundo, caracte-
rizado por uma democracia incompleta. d) igualdade jurídica e liberdade de expressão.
Considerando o texto, qual é o elemento comum a esses dois e) filiação partidária e participação em sindicatos.
momentos da história política?
Resposta: alternativa d.
a) A distribuição equilibrada do poder.
b) O impedimento da participação popular. 4. (Fuvest)
c) O controle das decisões por uma minoria. Não nos esqueçamos de que este é um tempo de abertura.
Vivemos sob o signo da anistia que é esquecimento, ou devia ser.
d) A valorização das opiniões mais competentes.
Tempo que pede contenção e paciência. Sofremos todo ímpeto
e) A sistematização dos processos decisórios. agressivo. Adocemos os gestos. O tempo é de perdão. […] Es-
queçamos tudo isto, mas cuidado! Não nos esqueçamos de en-
Resposta: alternativa c.
frentar, agora, a tarefa em que fracassamos ontem e que deu lu-
gar a tudo isto. Não nos esqueçamos de organizar a defesa das
2. (IFSul) Ao longo da década de 1980, a sociedade brasileira
viveu uma síntese de esperança e desilusão devido a avan- instituições democráticas contra novos golpistas militares e civis
ços e retrocessos no campo político, econômico e social que para que em tempo algum do futuro ninguém tenha outra vez de
marcaram os primeiros anos da Nova República. enfrentar e sofrer, e depois esquecer os conspiradores, os tortu-
radores, os censores e todos os culpados e coniventes que bebe-
Nessa conjuntura surgiram
ram nosso sangue e pedem nosso esquecimento.
a) a Lei de Anistia, a mobilização de movimentos sociais, a
crise inflacionária, o retorno da democracia plena, a carta ribeiro, Darcy. “Réquiem”, Ensaios insólitos.
constitucional de 1988. Porto Alegre: L&PM, 1979.
b) a Lei de Anistia, o retorno do pluripartidarismo, a crise in- O texto remete à anistia e à reflexão sobre os impasses da
flacionária, o retorno da democracia plena, o Plano Real. abertura política no Brasil, no período final do regime militar,
c) a campanha das Diretas Já, o retorno do pluripartidarismo, implantado com o golpe de 1964. Com base nessas referên-
a crise inflacionária, a reabertura democrática consentida cias, escolha a alternativa correta.
pelas forças civil-militares da ditadura, a carta constitucio- a) A presença de censores na redação dos jornais somente foi
nal de 1988. extinta em 1988, quando promulgada a nova Constituição.
d) a Lei de Anistia, a mobilização de movimentos sociais, a b) O projeto de lei pela anistia ampla, geral e irrestrita foi uma
crise inflacionária, a reabertura democrática consentida proposta defendida pelos militares como forma de apazi-
pelas forças civil-militares da ditadura, o Plano Real. guar os atos de exceção.
e) a campanha das Diretas Já, a Lei de Segurança Nacional, c) Durante a transição democrática, foram conquistados o bi-
a crise inflacionária, a reabertura democrática consentida partidarismo, as eleições livres e gerais e a convocação da
pelas forças civil-militares da ditadura, a carta constitucio- Assembleia Constituinte.
nal de 1988.
d) A lei de anistia aprovada pelo Congresso beneficiou pre-
sos políticos e exilados, e também agentes da repressão.
Resposta: alternativa c.
e) O esquecimento e o perdão mencionados integravam a
3. (Enem) pauta da Teologia da Libertação, uma importante diretriz
Os direitos civis, surgidos na luta contra o Absolutismo real, da Igreja católica.
ao se inscreverem nas primeiras constituições modernas,
Resposta: alternativa d.
aparecem como se fossem conquistas definitivas de toda a
239
DEMOCRACIA BRASILEIRA:
Unidade
4 DESAFIOS
INTRODUÇÃO
Nessa unidade, inicia-se a análise dos desafios da democracia brasileira. O processo histórico é apresen-
tado como um importante aspecto para a construção das desigualdades, das políticas públicas e do prota-
gonismo dos sujeitos atingidos por essas desigualdades como formas de reversão dessa trajetória.
No capítulo 10, são abordados os direitos sociais e as práticas políticas e econômicas na contemporanei-
dade para que os estudantes compreendam o papel do Estado como agente da diminuição das desigual-
dades sociais. Já o capítulo 11 aprofunda a discussão sobre as desigualdades sociais brasileiras, apresen-
tando os índices sociais como ferramentas de compreensão dos problemas que precisam ser enfrentados
e de elaboração de estratégias de resolução. Para aprofundar essa discussão, as temáticas relacionadas à
renda, à segurança pública e à cultura são mais detidamente analisadas. No capítulo 12, a periferia é abor-
dada com base em dois prismas opostos e dialógicos: como espaço construído pela exclusão e como espa-
ço de resistência. Nesse momento, os sujeitos periféricos são observados como personagens autônomas,
que denunciam as mazelas vividas, cobram políticas públicas e, ao mesmo tempo, agem e ressignificam es-
ses espaços, culturalmente e economicamente.
Considerando a proposta dessa unidade, é recomendável que o projeto seja liderado pelos professores
de História e/ou Sociologia, que devem estar atentos aos interesses e às dificuldades dos jovens e, sempre
que possível, trabalhar com os professores das demais áreas de conhecimento. Os conteúdos abordados
nessa unidade possibilitam o diálogo com a Matemática, durante a leitura de dados e gráficos dispostos, e
com a Língua Portuguesa, mais especificamente com a área da literatura, que pode contribuir para a visibi-
lidade de outros sujeitos, considerados não consagrados ou hegemônicos. Ao longo dessa trajetória, é im-
portante valorizar os conhecimentos prévios dos estudantes, bem como ressaltar que o conteúdo estudado
na unidade trata, principalmente, do respeito aos direitos fundamentais dos seres humanos e da importân-
cia de garantir esses direitos.
OBJETIVOS DA UNIDADE
• Compreender os desafios para a construção de uma democracia plena no Brasil.
• Analisar os índices sociais, a forma como são elaborados e sua importância para as políticas públicas.
• Identificar as diferentes possibilidades de organização do Estado.
• Reconhecer o Estado como agente responsável pela garantia de direitos e serviços essenciais.
• Identificar e analisar os desafios enfrentados pela população brasileira, em especial, pela população po-
bre, preta e parda do país.
• Identificar e analisar os protagonismos dos indivíduos periféricos como forma de mudar a realidade em
que vivem, bem como elevar a autoestima dos que habitam esses espaços.
JUSTIFICATIVA
Os conceitos desenvolvidos nessa unidade favorecem a compreensão dos estudantes sobre o processo
de construção de desigualdades sociais, políticas, econômicas e espaciais, que originam locais de exclusão,
nos quais os serviços essenciais (segurança, saúde, educação, etc.) são ainda mais precários ou ausentes.
A unidade articula de forma significativa os conteúdos estudados ao longo deste volume e favorece o
diálogo com o cotidiano dos jovens brasileiros. Assim, a reflexão propõe a análise das realidades descritas
no livro e dos contextos vivenciados pelos estudantes e a comparação dessas experiências. Assim, a unida-
de favorece a construção de conhecimentos e valores e desenvolve a consciência crítica em relação à reali-
dade, contribuindo para que os estudantes se posicionem nos debates públicos de forma ética e crítica.
240
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS
CAPÍTULO COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES
DA EDUCAÇÃO BÁSICA
CECHSA1: EM13CHS101.
CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS603 e EM13CHS605.
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
10 CECNT1: EM13CNT104.
CGEB9 e CGEB10.
CECNT3: EM13CNT310.
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406 e EM13MAT407.
ABERTURA DE UNIDADE O capítulo aborda o acesso aos direitos, com ênfase na saú-
de e na educação, e caracteriza as políticas de Estado contem-
(Páginas 116 e 117)
porâneas direcionadas a aspectos sociais e econômicos. Os te-
Oriente os estudantes a observar a imagem que abre essa mas permitem a reflexão sobre a relação entre a ausência do
unidade. Peça a eles que identifiquem o que a mulher está len- Estado e o aprofundamento das desigualdades, bem como so-
do. Após notarem que se trata do texto da Constituição Federal bre a importância do oferecimento de serviços.
de 1988, pergunte a eles o que conhecem sobre esse documen-
to. Nesse momento, é importante conhecer e valorizar os conhe- Direitos sociais (Página 118)
cimentos prévios dos estudantes. A cidadania é amplamente reivindicada, mas poucos com-
A Constituição Federal de 1988 é um documento fundamen- preendem sua abrangência. Muitas vezes associada ao direito
tal não apenas por reunir as leis máximas do país, mas princi- ao voto e à participação política, a cidadania hoje é pensada em
palmente pelo grande debate social e pela participação inten- três diferentes instâncias: a política, que diz respeito à participa-
sa da sociedade civil que marcaram a construção do seu texto. ção política; a civil, que prevê o respeito à vida e à liberdade e a
igualdade perante a lei; e a social, ligada ao direito à educação,
Conhecido também como Constituição Cidadã, esse documen-
à saúde, ao trabalho, ao salário justo, entre outros.
to apresentou ganhos importantes para as populações mais
Oriente os estudantes a identificar os direitos sociais men-
vulneráveis do país. No entanto, é importante ressaltar que, cionados, e questione-os se, de fato, todos os brasileiros usu-
hoje, embora tenham ocorrido avanços sociais nos últimos trin- fruem desses direitos. Incentive-os a mencionar exemplos de
ta anos, a distância entre o texto e a realidade é um fato. desigualdade social e a identificar quais grupos sociais eles ima-
ginam que a desigualdade atinge em maior proporção.
Organizar ideias Também é importante que os estudantes reconheçam as
causas da dificuldade de acesso a direitos. Para isso, ressalte a
1. Resposta pessoal. Essa questão tem por objetivo provocar permanência histórica da desigualdade – analisada de forma
uma reflexão entre os estudantes acerca do significado da mais detida na unidade 1 deste volume – e a má administração
expressão “avanços sociais”. Para tanto, espera-se que eles pública.
mencionem exemplos do que consideram avanços sociais
em seu cotidiano, como políticas públicas relacionadas à edu-
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
cação, saúde e moradia, e de que forma essas políticas se
relacionam com o cotidiano na comunidade onde vivem. 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencio-
nem grupos historicamente marginalizados, como negros,
2. Resposta pessoal. Os estudantes devem reconhecer que a indígenas, mulheres, integrantes da população LGBTQI+,
ampliação de serviços e dos direitos ainda é frágil e deve ser pessoas em situação de rua, entre outros. Também é im-
aprimorada. Assim, espera-se que eles identifiquem o esta- portante que eles reconheçam que o acesso aos direitos
belecimento de metas de melhoria dos índices sociais como sociais também é influenciado pela região na qual os indi-
uma forma de ampliá-los. víduos vivem.
241
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes levem em Outro importante elemento é a distribuição de médicos na fe-
consideração os direitos sociais aos quais têm acesso, na re- deração. Dados da Demografia Médica de 2018 apontam que a
gião onde vivem, por meio de programas, ações e instituições incidência maior de médicos em relação ao número de habitan-
governamentais. tes por região se dá de forma decrescente nas regiões no Brasil:
Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Disponível em:
Sugestão para o professor https://amb.org.br/wp-content/uploads/2018/03/DEMOGRAFIA-
Livro M%C3%89DICA.pdf. Acesso em: 20 jun. 2020.
» Carvalho, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Oriente os estudantes na leitura do gráfico. É importante
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. que eles compreendam a relação entre a desvalorização da
O historiador aborda a amplitude do conceito de cidadania e imagem do SUS, em parte explicada pela desigualdade da
as dificuldades históricas do Brasil em reconhecer e garantir estrutura na federação, e o crescimento significativo dos valo-
os direitos e os deveres inerentes à cidadania. res dos convênios médicos, que supera a inflação média para
o período.
A discussão sobre os desafios da saúde pública no Brasil po-
Saúde pública (Página 119) de colaborar com a mobilização de aspectos das habilidades
A criação e a universalização do Sistema Único de Saúde EM13CNT104 e EM13CNT310.
(SUS) foi uma medida essencial para o combate à desigualdade
de acesso aos serviços públicos de saúde dos grupos historica-
Educação em pauta (Página 121)
mente excluídos. Antes do estabelecimento do SUS, o ofereci-
mento de serviços médicos públicos era restrito aos trabalhado- Para iniciar o debate proposto nesse tópico, pergunte aos
res vinculados à Previdência Social, e a população pobre estudantes qual é a importância da educação para eles. Ca-
brasileira dependia de instituições filantrópicas, identificadas so julgue conveniente, anote as palavras-chave menciona-
como Casas de Misericórdia. das pelos estudantes e retome-as no final do conteúdo para
Para evidenciar a importância da universalização dos serviços observar se as respostas se alteraram após o estudo. Esse
de saúde gratuitos, comente com os estudantes que, em países debate inicial tem a potencialidade de valorizar os conheci-
onde os serviços de saúde são predominantemente privados, mentos prévios dos estudantes e permite a sensibilização
como os Estados Unidos, é comum que as pessoas se endividem para o tema.
ou fiquem sem atendimento médico por não ter condições de A educação é um direito social que possibilita ao indivíduo
arcar com os gastos. Se achar conveniente, é possível explorar o contato com determinados conhecimentos produzidos pela
artigos que tratam dessas questões e que ganharam grande sociedade. Por isso, deve ser oferecida de forma gratuita e com
visibilidade no contexto da pandemia de covid-19, como “Homem qualidade, como determina a legislação competente. Ainda as-
recebe conta de U$ 1,1 milhão do hospital onde se tratou sim, os índices brasileiros têm demonstrado que há gargalos
de covid-19 nos EUA”. Disponível em: https://g1.globo.com/ no acesso e na permanência dos estudantes no ensino, em es-
bemestar/coronavirus/noticia/2020/06/13/homem-recebe- pecial no Ensino Médio. Segundo dados divulgados em 2018
conta-de-us-11-milhao-do-hospital-onde-se-tratou-de-covid- pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-
19-nos-eua.ghtml. Acesso em: 20 jun. 2020). nômico (OCDE), 52% dos brasileiros entre 25 e 64 anos não
Solicite aos estudantes que observem as campanhas de saú- concluíram o Ensino Médio. No Ensino Superior, essa porcen-
de pública mencionadas. É importante comentar que essas cam- tagem é ainda maior.
panhas previnem problemas graves de saúde e que integram Comente com os estudantes que a educação é abordada na
uma política pública que concebe a saúde de maneira integral, Constituição Federal em uma seção específica, que pode ser
abrangendo não somente o tratamento de doenças, mas tam- utilizada em sala de aula para aprofundar os conhecimentos
bém sua prevenção e a manutenção da saúde pública. sobre o tema e possibilitar a observação das competências de
cada instância governamental. Ao fazer essa atividade, verifi-
Sugestão para o professor que se os estudantes notam que cabe aos municípios a priori-
Filme dade de assegurar a Educação Infantil e o Ensino Fundamen-
tal e aos estados e ao Distrito Federal a oferta do Ensino Médio.
» Sicko: SOS Saúde. Direção: Michael Moore. EUA, 2008 (123
Ressalte para os estudantes o fato de não haver uma determi-
min).
nação sobre universalização e gratuidade das universidades
Produzido pelo estadunidense Michael Moore, crítico de mui-
na Carta Magna.
tas práticas de seu país, esse documentário aborda a crise
Os obstáculos para a permanência escolar são maiores entre
do sistema de saúde dos Estados Unidos, comparando-o com
a população mais pobre, o que torna necessário considerar o
os sistemas de saúde de outros países, como França, Ingla-
critério racial como marca do processo histórico do país. Assim,
terra e Cuba.
os jovens pretos e pardos, quando comparados aos brancos,
possuem menor índice de formação educacional. De acordo com
Desafios da saúde pública (Página 120) dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em
Para complementar a discussão sobre as campanhas do SUS, 2015, a média de anos de estudos da população branca era
peça aos estudantes que busquem informações sobre a medi- de 8,3 anos; enquanto a da população negra era de 6,8 anos.
cina familiar, sobre a prevenção como um método eficiente de Indicadores ainda mais graves são observados entre os homens
administrar o acesso à saúde e sobre os encargos públicos com negros, para os quais a média de estudo é de 6,6 anos, em
esses serviços. comparação aos 8,1 anos dos homens brancos. Disponível
É importante que os estudantes compreendam o avanço em: https://www.ipea.gov.br/retrato/indicadores.html. Acesso em:
proporcionado pela criação e pela ampliação do SUS. Ao 20 jun. 2020.
mesmo tempo, é fundamental que eles reconheçam a distri- Os diálogos propostos nesse item favorecem a mobilização
buição desigual da qualidade de serviço entre as diversas de aspectos das habilidades EM13CHS501, EM13CHS502,
regiões do país. EM13CHS503, EM13MAT102, EM13MAT406 e EM13MAT407
242
por incentivar a reflexão e a análise sobre os obstáculos ao aces- líquida, apresentada em livro homônimo, caracterizada pela
so à educação. Além disso, contribuem para o trabalho com a fluidez das diversas estruturas e formas que caracterizam
CGEB1, a CGEB2 e a CGEB7. essa modernidade.
1. Resposta pessoal. Dialogue com os estudantes sobre as per-
Sugestões para o professor
cepções deles acerca da escola e dos aprendizados escolares,
Filme chamando a atenção para o desenvolvimento de competên-
» Nunca me sonharam. Direção: Cacau Rhoden. Brasil, 2017 cias que visem à formação de sujeitos críticos, independen-
(90 min). tes e preparados para o exercício da cidadania.
Nesse documentário, sonhos e frustrações dos estudantes
do ensino público são apresentados, propondo ao especta-
dor uma reflexão sobre o ensino que temos e o que deseja- Programas sociais e investimentos
mos construir. públicos (Páginas 123 e 124)
Artigo As estruturas coloniais, o sistema escravista e as políticas
» andrade, Cibele Yahn de; dachs, J. Norberto W. Acesso à de marginalização de negros e indígenas, entre outros, são fa-
educação por faixas etárias segundo renda e raça/cor. tores que resultam na extrema desigualdade econômica da
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 131, p. 399- sociedade. É importante que os estudantes reconheçam a ori-
422, maio/ago. 2007. Disponível em: https://www.scielo. gem histórica da desigualdade e seu aprofundamento ao lon-
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-157420070 go dos anos.
00200009. Acesso em: 20 jun. 2020.
Nessa perspectiva, aborde os programas sociais e os in-
Pesquisadores do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas vestimentos públicos como fundamentais para o combate à
da Universidade Estadual de Campinas, os autores apre- vulnerabilidade extrema de alguns grupos sociais, ainda que
sentam as situações econômica e de raça/cor no acesso à atualmente ainda haja uma longa distância a ser percorrida
educação da escola básica ao Ensino Superior, concluindo
para reverter a extrema desigualdade entre os grupos sociais
que os contextos econômicos e raciais são fatores deter-
brasileiros.
minantes.
Segundo dados coletados pelo IBGE em 2019, o Brasil é o se-
gundo país do mundo em concentração de renda. A renda do 1%
mais rico é 34 vezes maior que da metade mais pobre, de acordo
Um novo Ensino Médio (Página 122)
com a matéria publicada em outubro de 2019 no caderno Econo-
Solicite aos estudantes que leiam o conteúdo dessa página. mia do portal UOL. Disponível em: https://economia.uol.com.br/
Em seguida, ressalte que o processo de aprovação das legisla- noticias/redacao/2019/10/16/rendimento-brasileiros-ibge-estu-
ções se constitui em campos de debate. Para exemplificar essa
do.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996.
questão, aborde outras legislações que, como a reforma do En-
Acesso em: 20 jun. 2020.
sino Médio, tenham provocado reações em parlamentares e na
sociedade civil. Comente que a ausência de diálogo com entida-
des de classe e especialistas da educação foi bastante criticada Atividade complementar
por diversos setores da sociedade.
Caso a escola tenha uma sala de informática, outra pos-
• Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que se organi-
zem em seis grupos. Peça a eles que selecionem um dos
sibilidade para trabalhar a formulação de legislações como programas sociais apresentados nas páginas do Livro do
um processo que envolve o debate é explorar com os estu-
Estudante e pesquisem sobre ele.
dantes um conteúdo elaborado pela Câmara dos Deputados
que explica as etapas de elaboração das leis (disponível em: • Em suas pesquisas, eles deverão identificar a situação-pro-
https://www.camara.leg.br/entenda-o-processo-legislativo/; blema que o programa em questão tenta resolver ou minimi-
acesso em: 20 jun. 2020). Também é possível acessar os dis- zar, indicadores sociais que apresentem dados relacionados
cursos que envolveram a aprovação de determinadas leis. a essa situação-problema antes do início do programa e no
Para isso, basta acessar o site da Câmara Legislativa (dispo- presente, bem como análises diversas que avaliem a eficácia
nível em:https://www.camara.leg.br/; acesso em: 20 jun. desses programas.
2020) e inserir um tema que julgar importante para a análise
dos estudantes na aba “discurso”, do menu "Atividade legis- • Os resultados das pesquisas poderão ser apresentados em
lativa" da página. forma de seminário, em um dia e horário combinados.
Para compreender um dos impactos gerados pela reforma
do Ensino Médio, solicite aos estudantes que leiam o segundo Sugestão para o professor
parágrafo da página, que trata do agrupamento disciplinar das Site
Ciências Humanas, e que observem o sumário do volume 1. Es-
pera-se que os estudantes reconheçam que a organização da
» Pnad Contínua 2018. Disponível em: https://agenciade
noticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-
obra corresponde à formulação regulamentada para o novo En-
agencia-de-noticias/releases/25700-pnad-continua
sino Médio.
-2018-10-da-populacao-concentram-43-1-da-massa-de-
rendimentos-do-pais. Acesso em: 20 jun. 2020.
Boxe Reflexão
• O site explica as formas de aferir o rendimento mensal mé-
• O texto apresentado nesse boxe é um fragmento da obra 44 dio da população brasileira e apresenta os dados mais recen-
cartas do mundo líquido moderno, no qual o sociólogo polonês tes, coletados em 2018, segundo os quais 10% da população
Zygmunt Bauman comenta diversos aspectos e paradigmas concentra 43,1% dos rendimentos do país, entre outras in-
do mundo moderno a partir de sua visão de modernidade formações relevantes.
243
Projetos políticos (Página 125) ser considerados com base em seus contextos de criação e suas
características próprias.
Solicite aos estudantes que leiam atentamente o conteúdo Recomende aos estudantes que leiam com atenção as ca-
sobre a pesquisa realizada por Richard Wilkinson e Kate Pickett. racterísticas gerais do neoliberalismo. Depois, solicite a eles
É importante destacar alguns dados, como o interesse de dife- que comparem esse modelo ao Estado de bem-estar social.
rentes grupos sociais no combate à desigualdade social e a de- Ressalte que os dois modelos fazem parte do sistema econô-
sigualdade como uma realidade de países ricos e pobres. mico capitalista.
Os estudantes devem reconhecer que o acesso, por exemplo, Os diálogos propostos nesse tópico, bem como no tópico an-
à saúde e à educação plena e de qualidade são garantias ne- terior (Estado de bem-estar social), favorecem a mobilização de
cessárias para a construção de uma sociedade mais consciente aspectos das habilidades EM13CHS101, EM13CHS603 e
de seus direitos e deveres, e que isso, potencialmente, repercu- EM13CHS605, promovendo também o desenvolvimento das
te em índices de violência menores. CGEB1, CGEB9 e CGEB10.
Se julgar relevante, apresente o documentário sugerido no
boxe Para explorar, que apresenta a recuperação midiática das Boxe Interação
etapas políticas que resultaram na saída de Dilma Rousseff do
1. Resposta pessoal. Como exemplos de políticas públicas re-
cargo de presidenta da República. O filme é um produto históri-
lacionadas à manutenção do bem-estar social, os estudantes
co e, assim como todas as produções audiovisuais que repre-
poderão mencionar a existência do sistema público de saúde,
sentam determinado fato ou processo histórico, relata a cons-
a previdência social e os programas de redistribuição de ren-
trução de narrativas de um grupo social específico, afinal a
da, como o Bolsa Família, entre outros. Já como exemplos de
diretora e idealizadora imprime sua perspectiva sobre os fatos
práticas neoliberais, eles podem citar as reformas trabalhis-
representados.
ta e da previdência e a PEC 55, que congelou o teto de gastos
públicos por 20 anos, entre outras.
Estado de bem-estar social (Página 125) 2. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes possam
refletir quais projetos políticos se alinham mais às suas ex-
Considerando que o crescimento da desigualdade econômi-
pectativas de futuro, assim como de suas comunidades. Esse
ca e social é uma das características fundantes do capitalismo,
tipo de debate incentiva a análise dos discursos políticos, as
o Estado de bem-estar social não representa uma oposição ao
práticas associadas a eles e como reverberam na sociedade,
sistema, mas a criação de dispositivos estatais com o objetivo
contribuindo para que os jovens se reconheçam como impor-
de promover os direitos sociais e evitar um aprofundamento da
tantes atores sociais.
desigualdade.
Historicamente, essas estratégias de atuação do Estado vol-
Sugestões para o professor
tadas à garantia dos direitos sociais e econômicos surgiram após
Livros
a Segunda Guerra Mundial, intimamente ligadas à tentativa de
amenizar os impactos sociais do conflito, sendo a Inglaterra uma » Carvalho, Laura. Valsa brasileira: do boom ao caos econô-
das nações mais representativas do Estado de bem-estar social. mico. São Paulo: Todavia, 2018.
Assim, em 1948, foi criado o NHS, sistema de saúde público bri- A autora aborda o período de 2006 a 2017, que considera os
tânico, que serviu de inspiração ao SUS brasileiro. Em suma, na anos de maior prosperidade econômica do país, seguido de
Inglaterra, como em outros países, houve um grande crescimen- uma crise sem precedentes, acentuada pela instabilidade
to da oferta de serviços assistenciais, aliado a uma forte inter- política.
venção nas atividades econômicas. » Keynes, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro
e da moeda. São Paulo: Saraiva, 2012.
Sugestões para o professor Conhecida entre os economistas por “teoria geral”, a obra
Filmes aborda características do desenvolvimento do capitalismo
relacionadas, entre outros elementos, ao emprego e ao de-
» O invasor americano. Direção: Michael Moore. EUA, 2016
semprego.
(120 min).
Nesse documentário, o cineasta e crítico do neoliberalismo
Michael Moore visita países europeus apresentando algumas
Atividades (Página 127)
práticas bem-sucedidas de aplicação do Estado de bem-es- 1. a) A charge critica a desigualdade de renda e sua origem. É
tar social. possível percebê-lo ao notar a ostentação da casa em que as
personagens se encontram e as palavras escritas na raiz da
» Desigualdade para todos. Direção: Jacob Kornbluth. EUA,
2013 (110 min). árvore.
Adaptação do livro do professor e economista Robert Reich, b) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a observar as
o documentário explora o processo de aprofundamento das palavras que compõem a raiz da árvore e auxilie-os a identi-
desigualdades sociais ocorridas nos Estados Unidos, consi- ficar a origem histórica da concentração de renda, da desi-
derando marcadores importantes as crises de 1929 e de gualdade e da violência como consequências desse
2008. processo histórico.
2. a) Os representantes da Escola Austríaca de Economia atri-
buíram a responsabilidade da crise ao movimento operário,
Políticas neoliberais (Página 126) cujas reivindicações por melhorias salariais prejudicavam a
Termos como “capitalismo”, “liberalismo” e “neoliberalismo” acumulação capitalista.
têm sido apropriados no debate público de forma pouco quali- b) Trata-se de um ato de violência contra os trabalhadores e
ficada. Envolvidos em disputas políticas e na polarização, que as camadas mais vulneráveis da sociedade, os mais prejudi-
tem sido a marca brasileira desde 2016, esses conceitos devem cados em qualquer crise econômica pela redução dos
244
recursos públicos que garantem sua sobrevivência e sua dig- problema. A análise proposta se aprofunda em alguns elemen-
nidade, assim como a própria capacidade de reivindicação. tos, como a renda, a segurança pública e a cultura.
c) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a expressar
seus pontos de vista e argumentos com base em dados da
realidade, lembrando-os sempre da importância do respeito
Múltiplos desafios (Página 129)
e da ética. O estudo dos desafios sociais enfrentados pela sociedade
3. Resposta pessoal. Nessa atividade, os estudantes deverão contemporânea é fundamental para que os estudantes se re-
elaborar propostas de ação local para evitar a evasão esco- conheçam como parte da sociedade, observem os problemas
lar. Para isso, é imprescindível que suas ações sejam basea- e elaborem possíveis soluções. Diálogo, empatia e disposição
das na realidade da escola e envolvam a coordenação para enfrentar essas questões centrais (por vezes incômodas)
escolar ou o departamento competente para tal. Visando à são necessários ao longo de todo o processo de ensino-apren-
otimização da atividade e das ações, incentive cada grupo a dizagem.
focar suas ações em um motivo específico para a evasão es- Ao longo deste volume, os estudantes percorreram uma sé-
colar, levando em consideração aquele que mais afeta a co- rie de conteúdos que auxiliaram na compreensão dos temas
munidade escolar. tratados nesse capítulo. Valorize essa trajetória e solicite aos
4. Resposta correta: alternativa c. No último parágrafo do texto estudantes que levantem hipóteses para explicar a existência
é dito que, segundo a diretora-geral da Unesco, a discussão das disparidades de renda e de acesso à segurança e à educa-
sobre direitos humanos deve começar nas carteiras das es- ção de qualidade no Brasil. Espera-se que eles retomem a for-
colas, ou seja, ainda na Educação Básica. mação histórica do país, como o escravismo, as políticas de mar-
ginalização da população preta e parda, a ausência do Estado
na resolução de problemas estruturais e os privilégios.
Ampliando (Página 128) As discussões propostas nesse tópico contribuem para o de-
A seção propõe uma reflexão sobre a democracia e um de- senvolvimento de aspectos da habilidade EM13CHS103.
bate sobre o significado desse termo na atualidade.
É importante valorizar os conhecimentos prévios dos estu-
dantes sobre o termo “democracia” e, caso necessário, expandir RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
esses conhecimentos para que eles compreendam a complexi- 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes retomem
dade dessa palavra. as análises feitas até o momento sobre a desigualdade
Nos últimos anos, o Brasil tem experimentado uma bipolari- social e avaliem o impacto da ausência de renda na vida
zação política que resulta no esvaziamento das discussões no de indivíduos – que, com isso, podem se tornar reféns de
campo político. Assim, escolhas partidárias são defendidas de situações desfavoráveis –, como as pessoas em situação
forma acalorada e, muitas vezes, irracional. Práticas como essas de pobreza e/ou de extrema pobreza, que estão mais su-
devem ser questionadas. Da mesma forma, espera-se que os jeitas a condições degradantes e à exploração. Além disso,
estudantes compreendam a experiência cotidiana da democra- o consumo de cultura também é comprometido, já que de-
cia, repudiando todo tipo de aproximação com o autoritarismo manda tempo e acesso a espaços, conteúdos e conheci-
e de desrespeito em relação aos chamados grupos minoritários. mentos. A via da criminalidade pode ser uma das condições
Discussões como a proposta nessa seção favorecem o reco- degradantes às quais alguns grupos se submetem para
nhecimento da importância do respeito e da defesa dos direitos obter renda. Esse diálogo inicial será aprofundado ao lon-
humanos, bem como prepara os estudantes para, no futuro, se go do capítulo.
posicionarem no debate público de forma consciente e apropria-
2. O texto faz parte do artigo Do Bolsa Família ao Brasil Sem
da. Além disso, essas discussões promovem o trabalho com a
Miséria: o desafio de universalizar a cidadania, em que são
CGEB1, a CGEB7 e a CGEB10.
analisadas as transformações que os programas de distri-
buição de renda trouxeram para as famílias necessitadas.
Espera-se que os estudantes relacionem esses programas
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
às políticas públicas que visam cumprir o previsto na Consti-
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes evidenciem tuição de 1988, no sentido de que todos os brasileiros pos-
seus entendimentos pessoais a respeito da democracia. sam usufruir de seus direitos sociais. A renda é central no
acesso à cidadania, já que pessoas em situação de extrema
2. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a evidenciar seus
pobreza ficam excluídas de possibilidades como estudo, pro-
pontos de vista com base em dados concretos, levando em
fissionalização, acesso à cultura, à saúde, etc.
consideração suas percepções pessoais a respeito da demo-
cracia brasileira na atualidade.
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes apontem as Conhecendo os desafios:
contradições decorrentes de uma sociedade democrática que,
paradoxalmente, não oferece acessos democráticos de ma-
indicadores sociais (Página 130)
neira igualitária a todos os indivíduos que a compõem. Os indicadores sociais são de extrema importância para o
conhecimento da realidade e dos desafios que precisam ser en-
frentados pelo Estado mediante as políticas públicas. Por meio
CAPÍTULO 11 MÚLTIPLOS DESAFIOS de taxas, índices, entre outros dados, os indicadores dão visibi-
lidade a informações diversas a respeito da sociedade.
(Página 129)
Cientes desse fenômeno, nos anos 1980, os movimentos
Estabelecendo como premissa de análise a profunda desi- identitários – negros e indígenas – se mobilizaram intensamen-
gualdade social brasileira, o capítulo aborda os índices sociais e te para reivindicar a inserção do critério cor/raça nas estatísticas
as políticas públicas como meios de observar e combater esse produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
245
(IBGE), por exemplo. O fato de que a desigualdade social no país
Segurança pública (Página 131)
não pode ser desassociada da questão da cor emerge, então, de
forma evidente. O trabalho com esse tópico contribui para a mobilização
Para que essas considerações sejam compreendidas, retome das habilidades EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503
o gráfico Rendimento-hora médio real do trabalho principal das e EM13CHS504. O trabalho com mapa e gráficos, em espe-
pessoas ocupadas por cor ou raça (2017), disposto na unidade 1, cial, também favorece a mobilização de aspectos das ha-
página 33. Nele, é possível verificar a desigualdade de renda entre bilidades EM13CHS106, EM13MAT102, EM13MAT406 e
indivíduos com o mesmo nível educacional, mas de raças diferen- EM13MAT407.
tes, evidenciando o preterimento da população preta e parda em Os temas relacionados à segurança pública e ao sentir-se
todos os níveis de ensino. seguro são vivenciados pelos estudantes no cotidiano. Nesse
Peça aos estudantes que leiam com atenção o texto de Da- sentido, sugere-se que a discussão inicial considere as carac-
nielle Pereira e Marcelo Pinto. Após a leitura, verifique se eles terísticas da comunidade escolar e incentive os estudantes a
reconhecem que a análise de determinado dado envolve a ob- apresentar seus conhecimentos prévios e narrativas que pos-
servação e o conhecimento de outros indicadores e estudos so- sam contribuir para a discussão.
bre o tema retratado. Ainda que muitos sejam os recortes, é importante destacar
Essa discussão sobre os indicadores sociais pode contribuir dois marcadores fundamentais que produzem a inexistência da
para a mobilização de aspectos das habilidades EM13CHS601 segurança pública de qualidade: gênero e raça.
e EM13CHS606, bem como das CGEB1, CGEB2, CGEB4 e CGEB10. As informações apresentadas nessa página possibilitam
o trabalho com o recorte racial. Auxilie os estudantes a com-
Boxe Interação preender que a população jovem, preta e parda no Brasil é a
mais atingida pela violência urbana, representando 43,10%
1. O texto elenca critérios referentes à confiabilidade dos indi-
dos atingidos.
cadores e destaca o quanto o recorte escolhido é represen-
Para o estudo da violência contra as mulheres, oriente os
tativo do todo. É importante que os estudantes reconheçam
estudantes a buscar dados complementares que evidenciem
essa relação, pois, de outro modo, a pesquisa pode ser inva- o feminicídio (1 206 vítimas no ano de 2019) e a violência
lidada. Além disso, os critérios dão mais clareza aos dados sexual (dos 180 casos que acontecem por dia, 53,8% ocorrem
pesquisados, pois demonstram os limites dessas informa- com crianças de até 13 anos) como problemas crescentes que
ções, evitando equívocos na análise dos dados e/ou susci- necessitam de políticas específicas. Disponível em: http://www.
tando novas pesquisas. forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-
2. Atividade de pesquisa. Oriente os estudantes em relação às 2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020.
possibilidades de pesquisa, já que são múltiplos os indicadores O mapa com destaque para os estados mais atingidos pela
de renda, como renda per capita, dados sobre a população que violência pode ser discutido em comparação com os gastos dis-
vive em situação de pobreza e de extrema pobreza, rendimen- pendidos em segurança pública pelos estados brasileiros. Esses
to médio mensal domiciliar, etc. Primeiro, a turma deve levantar dados estão disponíveis, por exemplo, no 13o Anuário Brasileiro
os tipos de indicadores de renda e, depois, cada trio pode es- de Segurança Pública, elaborado em 2019, no qual há a indica-
colher um tipo para pesquisar. A seguir, foram disponibilizadas ção dos gastos per capita na seguinte ordem decrescente: Cen-
sugestões de plataformas digitais que podem ser indicadas tro-Oeste, Norte, Sudeste, Sul e Nordeste. É possível, ainda, ob-
aos estudantes como fontes de pesquisa confiáveis, contribuin- ter dados mais pontuais no site da Secretaria de Segurança
do para a construção consistente da CGEB5. A elaboração das Pública de cada estado.
tabelas e dos gráficos pode ser acompanhada pelo docente da Os indicadores sociais apresentados reforçam um elemento
área de Matemática. O compartilhamento das pesquisas po- que tem sido discutido ao longo deste volume: as permanências
derá ser feito em três partes, cada uma abordando um nível de de práticas de marginalização e violência contra a população
governo: municipal, estadual e federal. Oriente os trios a cria- preta e parda no Brasil. O racismo estrutural garante a desigual-
rem apresentações de slides ou vídeos com os resultados da dade social e promove a vulnerabilidade do jovem periférico,
pesquisa, ampliando o trabalho com as ferramentas digitais. que fica à mercê de gangues e da violência institucionalizada
Durante as apresentações, incentive os estudantes a compa- pelo Estado e perpetua a estigmatização desse segmento da
rarem os dados dos diferentes indicadores sociais. sociedade.
Caso considere interessante a sensibilização dos estudantes
Sugestões para o professor para o tema das permanências históricas, uma sugestão é tra-
Sites balhar a composição do grupo O Rappa chamada “Todo cambu-
rão tem um pouco de navio negreiro”. (O Rappa. O Rappa. Rio de
» Ipea. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/. Aces-
so em: 22 jun. 2020. Janeiro: Warner Music Brasil, 1994. 1 CD. Faixa 3.)
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é um dos
Boxe Interação
órgãos que utilizam os indicadores sociais para a promoção
de análises qualificadas. A página ainda oferece uma seção 1. Os estudantes devem realizar o cálculo da proporção entre
de publicações que podem ser exploradas. 43,1% e 16%: 43,1 : 16 = 2,69. É possível arredondar a pro-
» Ipea. Retrato das desigualdades de gênero e raça. Dispo- porção para 2,7. Incentive-os a realizar a leitura dessa pro-
nível em: https://www.ipea.gov.br/retrato/. Acesso em: 22 porção. Ela significa que, para cada jovem não negro
jun. 2020. assassinado, há 2,7 assassinatos de jovens negros.
Os dados e as análises apresentados pelo Ipea apontam a 2. Resposta pessoal. O objetivo é que os estudantes aprofun-
existência de uma profunda desigualdade de classe, raça e dem as reflexões sobre as questões estruturais analisadas
gênero no Brasil. A página ainda dispõe de infográficos que até o momento e avaliem o quanto elas impactam a realidade
podem ser facilmente utilizados como material didático. de juventude.
246
Sugestão para o professor Sugestões para o professor
Relatório Site
» 13o Anuário de Segurança Pública. Disponível em: http:// » Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em:
www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/ http://www.forumseguranca.org.br/. Acesso em: 22 jun.
Anuario-2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020. 2020.
O relatório apresenta dados nacionais sobre a segurança O site disponibiliza dados e análises importantes sobre a se-
pública, desde os investimentos até a identificação de áreas gurança pública e pode auxiliar no aprofundamento das dis-
de menor efetividade, bem como destaca e analisa infor- cussões.
mações importantes sobre os grupos mais atingidos pela Filme
violência.
» GregNews: polícia. Direção: Alessandro Orofino. Brasil,
2020 (29 min).
O programa do comediante Gregório Duvivier explora, sema-
Crime organizado (Página 132) nalmente, questões vivenciadas pela realidade brasileira. Es-
Peça aos estudantes que identifiquem o conceito de segu- se episódio aborda a falta de investimento na polícia militar
rança pública elaborado pelo sociólogo Renato Sérgio de Lima. no Brasil, bem como as práticas dessa corporação e seus im-
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no qual Lima é dire- pactos na sociedade.
tor-presidente, é uma organização não governamental, não vin-
culada a partidos políticos e sem fins lucrativos. Baseado na Há soluções possíveis? (Página 133)
cooperação técnica, une pesquisadores, gestores e polícias, a
A presença do crime organizado não se limita ao Brasil. Nar-
fim de dar transparência a informações sobre segurança públi-
rativas sobre a máfia italiana ou sobre o crime organizado esta-
ca e violência no Brasil.
dunidense costumam ser exploradas, até de forma gloriosa, nos
É importante reconhecer a complexidade da violência no
filmes de Hollywood. No entanto, na prática, a existência dessas
Brasil, onde elementos históricos unem-se a eventos mais re-
formas estruturadas, articuladas com instâncias da sociedade e
centes e constroem uma complexa trama que tende a crimina-
do próprio poder instituído, cria imensos problemas para a so-
lizar as populações mais pobres, que são as mais vitimadas.
ciedade. Do aumento da violência urbana ao aliciamento dos
Para que os estudantes observem essa complexidade e reco-
indivíduos mais vulneráveis, a prática é uma das mais difíceis
nheçam a lavagem de dinheiro como uma dessas facetas, pe-
de combater.
ça a eles que leiam o texto com atenção e dialoguem sobre os
Peça aos estudantes que observem as ações elencadas co-
indicadores de violência e suas possíveis ligações com o crime
mo forma de combate ao crime organizado. Entre os elementos
descrito.
mencionados, destaque a necessidade do empenho do aparato
O seriado sugerido no boxe Para explorar tem uma aborda-
do Estado, em especial dos políticos. Comente que, muitas ve-
gem interessante, pois leva em consideração o comportamento
zes, parte das operações do crime organizado ocorre com a co-
das personagens descritas. Sem dúvida, as temáticas aborda-
nivência ou até o favorecimento de grupos corruptos dentro do
das podem ter maior conexão com os estudantes dos grandes
governo.
centros urbanos, mas, ainda assim, contribui para a compreen-
são dos problemas de parte dos jovens brasileiros.
Boxe Interação
1. Respostas pessoais. A atividade dá continuidade ao debate
Boxe Reflexão
sobre segurança pública, ações possíveis e impactos na reali-
• A reflexão proposta nesse boxe resgata a discussão sobre dade da juventude brasileira. Dialogue com os estudantes so-
violência, iniciada na página anterior e a relaciona ao crime bre cada item, apontando como ele poderia ser traduzido em
organizado e à prática da lavagem de dinheiro. ações e como as ações poderiam ser sentidas pela comunida-
de onde os estudantes vivem. Dessa forma, o diálogo favore-
1. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identi-
ce a percepção da ação cidadã no cotidiano e também
fiquem que a lavagem de dinheiro é a etapa final das ati-
instrumentaliza os estudantes na análise dos projetos políti-
vidades criminosas, obscurecendo a origem do dinheiro
cos. Se julgar conveniente, selecione outros trechos do docu-
obtido por meio de práticas que levam jovens a serem as-
mento do Ipea para mostrar aos estudantes. Disponível em:
sassinados, como assaltos, roubos e tráfico de drogas.
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_con-
Além disso, o dinheiro, depois de limpo, pode ser usado
tent&view=article&id=26752&catid=345&Itemid=383. Aces-
para financiar novas estruturas criminosas, como a aqui-
so em: 21 abr. 2020.
sição de veículos, armamentos e imóveis, fortalecendo o
ciclo econômico da violência.
Sugestões para o professor
b) Resposta pessoal. Essa reflexão é importante para que Filmes
os estudantes se conscientizem tanto da relevância dos im-
postos para a sociedade quanto dos danos provocados pe- » Explicando: bilionários. Direção: Claire Gordon e Joe Posner.
EUA, 2018 (23 min).
lo crime organizado e por práticas como a lavagem de
dinheiro. Esse tipo de ação impede que a sociedade recolha Nesse episódio da série Explicando, é comentada a origem
valores relevantes para serem investidos em seu benefício, da riqueza dos bilionários de diferentes países e a natureza
além de financiar atividades criminosas que prejudicam mi- duvidosa dos bens.
lhares de pessoas, como os esquemas de desvio de dinhei- » Na rota do dinheiro sujo: o andar da carruagem. Direção:
ro público, o pagamento de subornos e a compra ilegal de Paul Snyder. EUA, 2018 (23 min).
armas. Assim, a lavagem de dinheiro é uma ação absoluta- Nesse episódio da série Na rota do dinheiro sujo, funcioná-
mente contrária à cidadania e altamente prejudicial para o rios de um banco privado estadunidense denunciam práticas
conjunto da sociedade. fraudulentas de obtenção de lucro.
247
Acesso à cultura (Página 134)
políticas públicas que não são exclusivamente relacionadas
à economia são, muitas vezes, negligenciadas. A pandemia
Comente com os estudantes que o termo “cultura” é um con- de covid-19 vivenciada em 2020 foi um momento em que is-
ceito importante das Ciências Humanas e deve ser, antes do es- so ocorreu. Nesse período, a preocupação com a cultura e com
tudo, compreendido em sua amplitude. A cultura abrange todos os agentes que vivem dela não entrou na pauta das discus-
os conhecimentos, as produções, as ideias e as crenças de cada sões ou, se entrou, apresentou-se timidamente por meio da
sociedade. Além disso, não deve ser hierarquizada (como tradi-
atuação do setor cultural e de poucos políticos eleitos com
cionalmente feito por meio, por exemplo, da diferenciação entre
sensibilidade ao tema.
cultura erudita e cultura popular) e não é considerada um dado
Peça aos estudantes que identifiquem as instituições ou os
estático, ou seja, muda por meio do contato com outras culturas
grupos sociais representados em cada uma das imagens e suas
e ao longo do tempo.
áreas de atuação. Aproveite a oportunidade e pergunte aos
Espera-se que os estudantes percebam que a desigualdade
estudantes se eles conhecem iniciativas semelhantes no mu-
social no país repercute nas mais diferentes esferas, inclusive
nicípio ou na comunidade onde vivem. Solicite a eles que ava-
no acesso à cultura e ao lazer. Quanto a este último, sugira aos
liem se elas têm sido valorizadas ou se deveriam receber maior
estudantes que pensem sobre as discrepâncias entre os espa-
atenção.
ços públicos no município onde vivem. Em geral, enquanto nos
Nesse momento, é possível trabalhar com os estudantes os
bairros de elite há áreas verdes e espaços para a prática de es-
conceitos de patrimônio material e patrimônio imaterial brasi-
porte bem conservados, as áreas periféricas, quando possuem
leiro, vastíssimo em seu conteúdo e existente em diversas for-
algum equipamento de lazer, precisam contar com a manuten-
mas em todo o território nacional, favorecendo, assim, a mobili-
ção pouco regular das prefeituras, o que gera pouco aproveita-
zação de aspectos da habilidade EM13CHS104 e das CGEB7 e
mento desses espaços.
CGEB9.
É aconselhável comentar com os estudantes que a preocu-
pação do governo federal com a cultura tem se tornado progres-
sivamente secundária, o que acarreta políticas frágeis de manu- Atividades (Página 136)
tenção do compromisso do Estado em fomentar a cultura. Ainda 1. Atividade de produção de texto. Se julgar conveniente, de-
assim, o site indicado no boxe Para explorar oferece alguns in- senvolva a atividade em conjunto com o professor de Língua
dicadores e informações da atual Secretaria Especial da Cultura, Portuguesa. Essa atividade possibilita aos estudantes ama-
que é um órgão do Ministério do Turismo. durecer suas percepções sobre os desafios enfrentados pe-
Atividade complementar lo governo e o modo como essas questões reverberam em
seus cotidianos, contribuindo para a formação cidadã e a
• Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que façam uma consciência da responsabilidade, como sujeitos, pela imple-
pesquisa de satisfação sobre as instalações relacionadas à mentação de melhorias.
cultura existentes na comunidade onde a escola está situa-
2. Atividade de pesquisa. Se houver laboratório de informática
da. Essa pesquisa pode ser seguida de uma ação comunitá-
disponível, a turma pode pesquisar informações no portal do
ria visando à preservação e à melhoria dessas instalações
Ministério da Cidadania, que apresenta uma seção específi-
ou, ainda, a um plano de ação para novas instalações.
ca para a divulgação de indicadores sociais. Disponível em:
• Para isso, eles deverão fazer um levantamento para identi- https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/portal/index.php?
ficar a quantidade de instalações existentes, o tipo de insta- grupo=185. Acesso em: 2 maio 2020.
lação (biblioteca, quadra esportiva, etc.) e o estado de Promova um debate para que os jovens possam expor suas
conservação. percepções e traçar paralelos com suas realidades acerca da
importância dos programas de distribuição de renda à popu-
• Em um segundo momento, os estudantes deverão entrevis-
tar moradores dessa comunidade para identificar como usam lação que vive em situação de extrema pobreza.
essas instalações, bem como seu nível de satisfação com elas 3. Atividade de pesquisa. O objetivo dessa atividade é desen-
e possíveis demandas por novas instalações. volver a crítica, a cidadania e a divulgação científica. Oriente
os estudantes em relação às pesquisas, para que selecionem
• Após esse diagnóstico, sugere-se que os estudantes elabo- as informações em fontes confiáveis. O processo de constru-
rem um plano de ação comunitário visando à melhoria das
ção de gráficos e tabelas pode ser realizado com o professor
instalações relacionadas à cultura nessa comunidade. Caso
de Matemática. Leia os parágrafos explicativos com os estu-
a maior parte dos moradores tenha se mostrado satisfeita
dantes, realizando apontamentos sobre a análise que eles
com as instalações existentes, pode-se pensar em planos
fizeram dos dados. Você pode retomar as etapas da pesqui-
para melhorias ou preservação delas. Do contrário, deverão
pensar em planos de ação para implementação de novas ins- sa de renda sugerida na página 130.
talações que atendam às demandas da comunidade. O item d promove o protagonismo juvenil e o empoderamen-
to dos jovens como cidadãos. Assim, eles terão uma expe-
• Em ambos os casos, é imprescindível que as autoridades riência prática de acionamento das autoridades com base
competentes sejam devidamente consultadas.
na vivência e na pesquisa, apropriando-se de seus lugares
como sujeitos.
Iniciativas e mudanças estruturais 4. a) Resposta pessoal. O diálogo sobre os equipamentos e as
(Página 135) ações culturais favorece a apropriação dos espaços pelos jo-
O avanço de políticas públicas direcionadas à cultura os- vens, para que reconheçam seu direito à cultura. Durante os
cila, infelizmente, em razão da dependência de outros ele- diálogos e a pesquisa, incentive-os a traçar caminhos entre
mentos. Todos os serviços oferecidos pelo Estado ou que de- a casa onde moram e os espaços de cultura, orientando-os
pendem dele para seu incentivo são importantes. No entanto, a acompanhar as agendas desses lugares.
248
b) Respostas pessoais. Oriente os estudantes a buscar infor- de as desigualdades afetarem esses locais com maior profun-
mações no site indicado no boxe Para explorar, da página didade. Ademais, o capítulo é um exercício para refletir sobre as
134. Assim como foi feito em relação à renda e à segurança periferias com base em outras perspectivas, com foco na articu-
pública, a atividade possibilita aos estudantes elaborar ações lação dos indivíduos que vivem nesses locais e no reconheci-
que possam transformar suas realidades, reconhecendo o mento da dignidade deles.
potencial que detêm como cidadãos.
5. Resposta correta: alternativa c. Espera-se que os estudantes Possibilidades de futuro: a periferia
reconheçam a discriminação, o racismo e as desigualdades (Página 138)
sociais como aspectos fundamentais para compreender a
Retome com os estudantes que as desigualdades sociais fo-
violência e a criminalidade existentes no Brasil.
ram construídas por fatores diversos ao longo da história do
6. Resposta correta: alternativa d. O texto da lei que apresenta Brasil. Essas desigualdades são percebidas não somente no
os objetivos relacionados ao Plano Nacional de Cultura men- acesso pleno às cidadanias política, civil e social, mas também
ciona “estimular a presença da arte e da cultura no ambiente em sua distribuição desigual no espaço das cidades brasileiras.
educacional” sem fazer qualquer referência à profissionali- Ainda que o Brasil seja grande e as periferias ganhem contor-
zação ou especialização nesse âmbito, invalidando, assim, o nos próprios em termos regionais e locais, é possível reconhecer
item I. Da mesma forma, o item III é invalidado, pois o texto facilmente onde estão as periferias e os problemas que nela
da lei menciona o intercâmbio da cultura, mas não dos ges- emergem.
tores culturais. Comente com os estudantes que a relação entre o número de
vítimas de covid-19 no Brasil e as áreas em que houve mais ca-
Práticas de texto (Página 137) sos são dados emblemáticos da desigualdade no país. Assim, se
As proposições dessa atividade, incluindo a apresentação fi- os primeiros casos em território brasileiro foram de indivíduos que
nal, favorecem o posicionamento ético no debate público e a ar- retornavam de viagens internacionais, a maior parte das mortes
ticulação entre a produção de conhecimentos e a exposição oral. (mesmo no início da pandemia) foi registrada entre a população
As discussões em sala de aula devem ser estimuladas sem- mais pobre, para a qual o acesso à saúde tende a ser limitado e
pre que possível. A atuação dos indivíduos em sociedade e no o distanciamento social é dificultado pelas condições de moradia
mercado de trabalho exigem que as pessoas sejam capazes de ou pela necessidade de deslocamento para o trabalho.
se expressar com clareza. Contudo, ainda que a tônica seja a insuficiência de políticas
Oriente os estudantes a buscar informações para a formula- públicas nas periferias, o capítulo aborda essas questões com
ção de seus argumentos. Comente que é necessário pensar na base em outra perspectiva, atentando-se para as potencialida-
ordem em que esses argumentos serão apresentados. des periféricas. Esse exercício é importante para o reconheci-
Ressalte para os estudantes a importância de fundamentar mento do engajamento, da vivência e da busca por dignidade
os argumentos com dados estatísticos, muitos deles apresen- dos habitantes dessas regiões.
tados ao longo da unidade, para que esses argumentos estejam
amparados em dados científicos e, assim, possam ser defendi-
dos de forma coerente. RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
A atividade tem o potencial de desenvolver posturas críticas,
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes expliquem,
fundamentadas na construção e na exposição de argumentos,
com as próprias palavras e com base em suas vivências e
assim como no conteúdo abordado ao longo da unidade. Em
visões de mundo, o que entendem por periferia. Durante a
paralelo, um dos objetivos dessa atividade é preparar os estu-
discussão, atente para evitar estereótipos que contribuam
dantes para se posicionar em suas vidas públicas de forma crí-
para o preconceito contra as pessoas que habitam as regiões
tica e fundamentada.
periféricas.
Além disso, essa atividade também pode contribuir com o
desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13LGG101, 2. O trecho da reportagem menciona o pouco acesso das comu-
EM13LGG102 e EM13LGG104, bem como das CGEB7 e CGEB10. nidades periféricas às vagas formais de trabalho e, por con-
sequência, a instabilidade financeira. Em decorrência disso,
Sugestão para o professor muitos trabalhadores autônomos e informais das regiões
periféricas não aderiram ao isolamento social, expondo-se
Livro
ao risco de contrair coronavírus.
» Camargo, Fausto; Daros, Thuinie. A sala de aula inovadora:
3. Resposta pessoal. Os estudantes poderão mencionar a difi-
estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ati-
vo. Rio Grande do Sul: Penso, 2018. culdade de acesso a serviços de saúde, que caracteriza algu-
mas das regiões periféricas, elevando, assim, a taxa de
No livro, há dois capítulos que auxiliam na compreensão dos
letalidade em decorrência da doença nessas regiões.
benefícios do debate em sala de aula para o desenvolvimen-
to de competências, bem como apresentam as estratégias
para desenvolver essa prática de forma eficiente. Periferia: espaço e identidade (Página 139)
Solicite aos estudantes que identifiquem os significados do
termo “periferia”, que se trata de uma área fora da região cen-
CAPÍTULO 12 POSSIBILIDADES DE tral, mas que tem sido designada também como regiões de ex-
FUTURO: A PERIFERIA clusão. Igualmente, há a extensão do termo aos habitantes des-
sas regiões.
(Página 138)
Esclareça que o conceito de identidade é essencial para as
Nesse capítulo, são abordados temas relacionados às peri- Ciências Humanas e tem estado em destaque nos últimos trinta
ferias brasileiras, relacionando-os às desigualdades e ao fato anos. Possivelmente, os estudantes já conhecem esse termo,
249
uma vez que movimentos identitários têm ganhado visibilidade
Produção cultural nas periferias
nas mídias e nas redes sociais.
Comente com os estudantes que a construção da autoestima (Página 140)
entre os jovens da periferia e a reivindicação dos direitos da pe- O que define o que é ou não cultura? Quais são os atributos
riferia é um fenômeno relativamente recente. Em grande medi- necessários para que uma manifestação cultural seja vista co-
da, a periferia passou a ganhar visibilidade por meio de artistas mo digna de ser inserida entre as artes valorizadas? É impor-
que emergiram e passaram a valorizar o espaço de origem, co- tante reconhecer que sempre houve uma hierarquia sobre as
mo Racionais MC’s, Emicida, Karol Conka e Gaby Amarantos. manifestações culturais, e, em geral, que tendeu a inferiorizar
Esse assunto será retomado no capítulo e poderá ser explorado as manifestações da população negra no país.
com os estudantes com maior profundidade. Nesse sentido, comente com os estudantes que o samba
Pergunte aos estudantes se eles conhecem algum grupo (criado nas periferias cariocas no século XIX) e o carnaval de en-
organizado na periferia do município onde moram ou de outras trudo (que ocorria nas ruas e envolvia a população livre e escra-
localidades. Comente com eles que, diante da omissão do Es- vizada), por exemplo, eram considerados inapropriados pelas
tado, muitos moradores acabam criando creches, cursinhos pré- elites e foram perseguidos pelo Estado. Foi somente no governo
-vestibulares e espaços de lazer, cumprindo um papel destina- Vargas que essas manifestações culturais passaram a ser valo-
do às políticas públicas e demonstrando a capacidade da rizadas, inclusive com financiamento público, parte das políticas
população de se mobilizar para resolver questões emergenciais. de desenvolvimento da nacionalidade.
Essas ações colaboram para a construção de uma identidade É importante reconhecer que as culturas das periferias cos-
comunitária positiva, o que pode ressignificar a experiência des- tumam ser estigmatizadas e perseguidas. Assim, muitas produ-
ções periféricas enfatizam esteticamente a diferença entre o
ses indivíduos.
“asfalto” e a periferia, como afirma a música de Amilcka e Cho-
A discussão sobre as identidades e subjetividades periféricas
colate “Som de preto” (Intérprete: Amilcka e Chocolate. In: Funk
pode contribuir para o desenvolvimento de aspectos das habi-
Brasil bem funk. Rio de Janeiro: Som livre, 2005. 1 CD. Faixa 19).
lidades EM13CHS101 e EM13CHS501. Além disso, contribui
Essa discussão contribui para o desenvolvimento das habi-
para o trabalho com a CGEB3, a CGEB4 e a CGEB8.
lidades EM13CHS502 e EM13CHS503, bem como de aspectos
das habilidades EM13CHS603 e EM13CHS605. Além disso, con-
Boxe Reflexão
tribui para o desenvolvimento das CGEB1, CGEB3, CGEB5 e
• Nesse boxe, os estudantes são convidados a refletir so- CGEB10.
bre a multiplicidade de identidades periféricas existentes
a partir da constatação da existência de subjetividades Sugestões para o professor
dentro de grupos identitários e da forma como a expe- Tese
riência de alteridade pode gerar novas formas de inclusão » LoPes, Adriana Carvalho et al. “Funk-se quem quiser” no
e exclusão. batidão negro da cidade carioca. 2010. 187 f. Tese (Dou-
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam torado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, SP, 2010. Disponível em: http://
que não, pois essas subjetividades também condicionam o
repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/270844. Acesso
acesso a privilégios sociais, fazendo com que, mesmo dentro
em: 26 jun. 2020.
de um grupo identitário maior, existam diferenças de acesso
A pesquisa aborda o funk carioca como uma das maiores
a esses privilégios.
manifestações culturais de massa e explora os bastidores
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam dos bailes e as falas dos agentes envolvidos. Na tese, a mú-
que sim, como é possível observar nas relações de opressão sica e a performance do funk são formas de expor a carto-
baseadas no gênero, nas quais indivíduos do gênero mascu- grafia social do Rio de Janeiro, incluindo o racismo e a forma-
lino oprimem indivíduos do gênero feminino, independente- ção de novas identidades de raça e gênero.
mente de ambos compartilharem outras identidades. Filme
Sugestões para o professor » Pixo. Direção: Roberto T. Oliveira. Brasil, 2009 (61 min).
O documentário explora o pixo como um fenômeno social.
Livros
Apresenta entrevistas de jovens da periferia paulistana e co-
» SIlva, Kalina; SIlva, Maciel. Dicionário de conceitos histó- mo eles interpretam essa manifestação, considerada uma
ricos. São Paulo: Contexto, 2009. demarcação da periferia nos centros excludentes.
Ferramenta interessante para os professores, esse dicionário
de conceitos sumariza o uso de alguns termos considerando Vozes periféricas (Página 141)
o contexto histórico e as definições. Sobre o conceito identi-
Comente com os estudantes que a ampliação dos meios de
dade, lê-se: “é um sistema de representações que permite a
comunicação e o surgimento das redes sociais – ainda que não
construção do ‘eu’, ou seja, que permite que o indivíduo se
plenamente democratizados – possibilitaram a divulgação de
torne semelhante a si mesmo e diferente dos outros. Tal sis-
sujeitos que estão fora dos circuitos hegemônicos. Indivíduos
tema possui representações do passado, de condutas atuais
que dificilmente teriam espaço em grandes gravadoras ou na
e de projeto de futuro” (p. 202).
academia usam as plataformas virtuais para lançar conteúdo e
» CarrIl, Lourdes. Quilombo, favela e periferia: a longa bus- visibilizar suas ideias e vivências periféricas.
ca da cidadania. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2006. Ainda que o funk tenha alçado à categoria de música popu-
Nesse livro, a geógrafa Lourdes Carril aborda as perma- lar, com a utilização de suas composições nas telenovelas, como
nências históricas na formação dos espaços no país, com mencionado no Livro do Estudante, é importante destacar que
base na experiência do quilombo, da favela e da periferia, há uma rígida seleção estética do indivíduo e do produto que
no sentido político dos termos. será publicizado na grande mídia. Assim, há uma seleção das
250
manifestações mais palatáveis, que correspondem ao padrão
de beleza ou que evitam discussões sobre as profundas desi-
Periferia literária (Página 142)
gualdades sociais e raciais do país. Atualmente, intelectuais e militantes periféricos têm denun-
Comente com os estudantes que há um risco de caracterizar ciado que, no Brasil, os indivíduos periféricos (aí inclusos tanto
esses indivíduos e suas produções como exóticos. Em geral, o habitantes das periferias como outros indivíduos marginaliza-
exótico é apreciado pela sua excentricidade, mas dificilmente é dos da sociedade) tendem a ser vistos como objetos de pesqui-
valorizado como manifestação cultural legítima ou levado a dis- sa, e não como produtores de conhecimento. Explorar a litera-
cussões mais profundas que possam contribuir para mudanças. tura dessa população é uma forma de evidenciar que esses
Pergunte aos estudantes se conhecem os termos utilizados indivíduos também emitem discursos, constroem narrativas e
na página, como “heteronormativo”, e o significado da sigla LGB- têm formas próprias de vivenciar os espaços urbanos.
TQI+. A sigla abrange lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, Recentemente, a introdução de Quarto de despejo, de Caro-
queers, intersexuais e outras minorias sexuais, representadas lina Maria de Jesus (1914-1977), e de Sobrevivendo no inferno,
pelo sinal de mais. Ressalte que essa sigla já passou por diver- um álbum do grupo de rap Racionais MC’s, entre as leituras obri-
sas modificações, à medida que a luta da população LGBTQI+ gatórias de um importante vestibular paulista somaram-se ao
prossegue, abrangendo cada vez mais indivíduos, orientações debate sobre a hierarquia no campo da literatura.
e identidades que não sejam heterossexuais e cisgêneros. A chamada "literatura negra" é um exemplo de literatura pe-
É fundamental que qualquer conversa sobre esses temas riférica. Essa expressão é utilizada como forma de sinalizar que
ocorra com base no respeito aos indivíduos. Por se tratar de te- há uma tendência em universalizar a experiência branca e eu-
mas tabus para alguns grupos sociais, talvez o desconhecimen- ropeia. Assim, permanece a necessidade de demarcar que o in-
to resulte em um comportamento de intolerância. Para isso, con- divíduo que produziu a obra é negro, destacando positivamente
verse com eles sobre o assunto de maneira a desfazer qualquer sua ação para desconstruir concepções hegemônicas.
tipo de preconceito. É importante ressaltar que, desde 2003, com a aprovação
Pergunte aos estudantes se eles conhecem as cantoras re- da Lei n. 10 639, a história e a cultura afro-brasileiras e africa-
tratadas nas imagens e seu repertório. Caso julgue conveniente, nas foram introduzidas em todos os componentes escolares,
explore algumas músicas das artistas, como “Bixa Preta” (Linn o que inclui uma revisão da literatura tradicionalmente indica-
da Quebrada. Bixa preta, single, 2017) e “É o poder” (Karol Conka, da aos estudantes. No campo editorial, a existência da lei e o
single, 2015). crescimento da demanda por produtos que as contemplem ori-
ginaram o aumento da publicação de autores negros brasilei-
Sugestões para o professor ros e africanos.
Artigo Após a leitura atenta do excerto apresentado nessa página,
retome com os estudantes que a organização das comunidades
» Romani, André. A vida de Thiago Torres, “o chavoso da
é um elemento importante a ser destacado, demonstrando a ca-
USP”, depois do post. Jornal do Campus, 16 maio 2019.
pacidade dos envolvidos de reconhecer seus problemas e ela-
Disponível em: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.
php/2019/05/a-vida-de-thiago-torres-o-chavoso-da-usp- borar soluções para eles.
depois-do-post/. Acesso em: 27 jun. 2020. Chame atenção dos estudantes para a obra indicada no boxe
Para explorar. Originalmente uma tese de doutorado, o livro de-
A reportagem aborda a história de Thiago Torres, estudante
bate a periferia, os indivíduos periféricos e seus discursos polí-
da periferia que cursou Ciências Sociais na Universidade de
ticos e culturais. Já que o fenômeno da produção literária peri-
São Paulo e criou um canal em uma plataforma digital para
férica também está presente em outros países, o autor analisa
disponibilizar conteúdo sobre seus estudos, ao mesmo tem-
alguns exemplos internacionais.
po que questiona a ausência da periferia dentro da universi-
A discussão sobre a produção literária da periferia possibili-
dade e o incômodo inicial que sua presença representou nes-
ta o desenvolvimento de aspectos das CGEB4 e CGEB9.
se espaço, por ele conquistado.
Livros
Atividade complementar
» William, Rodney. Apropriação cultural. São Paulo: Pólen,
Compreensão das produções literárias
2019.
O livro aborda o fenômeno da apropriação cultural, elemento • A Lei n. 10 639 tornou obrigatória a introdução de conteúdos
que pode vir à tona no que se refere às manifestações e aos sobre a história e a cultura africanas e afro-brasileiras e au-
objetos negros e africanos, ao utilizar esses artefatos esva- mentou a procura de professores e interessados no tema por
ziando-os de sentido. produtos que respondessem a essa necessidade.
» Feitosa, Cleyton. Políticas públicas LGBT e construção de-
• Esse contexto também favoreceu a edição e a tradução de
mocrática no Brasil. Curitiba: Appris, 2017.
livros de autores negros e africanos, que passaram a ser pu-
O livro apresenta as pesquisas do autor a respeito das polí- blicados por grandes empresas editoriais e por selos edito-
ticas públicas de direitos humanos voltadas à população riais voltados para a temática identitária (como Pólen, Selo
LGBTQI+ com base na implantação do Centro Estadual de Negro, Pallas, Malê, Mazza, entre outros).
Combate à Homofobia do estado de Pernambuco.
Descrição da atividade
» Trevisan, João Silvério. Devassos no paraíso: a homosse-
xualidade da colônia à atualidade. 4. ed. São Paulo: Obje- • Para que os estudantes reconheçam a existência de produ-
tiva, 2018. ções literárias que vão além dos lugares hegemônicos, pro-
Obra já consagrada sobre a homossexualidade em diferen- ponha a eles que pesquisem livros de autores africanos e de
tes períodos da história brasileira, o livro foi reeditado e am- escritores negros brasileiros. Pode ser interessante incluir a
pliado e traz novos capítulos com diferentes reflexões e abor- pesquisa de livros de autores indígenas brasileiros, que, em
dagens sobre a história da homossexualidade e do escala menor, também têm sido publicados pela indústria
movimento LGBTQI+ no país. editorial. Sugira os seguintes passos:
251
• Em grupos, solicite aos estudantes que pesquisem na inter- • Essa atividade é especialmente propícia para a mobilização
net os nomes de editoras e seus catálogos. de aspectos da habilidade EM13CHS501 e contribui para o
desenvolvimento das CGEB1, CGEB2 e CGEB9.
• Ao acessar os sites e os catálogos, oriente os estudantes
a observar se há autores que respondem aos critérios da • Reposta pessoal. Auxilie os estudantes nas etapas que
pesquisa. constituem essa tarefa. Utilizando como exemplo uma ação
local que vise diminuir o acúmulo de lixo em vias públicas,
• Após identificar as obras, peça a eles que façam uma ficha algumas das estratégias possíveis são: ações educativas
com um breve resumo do livro e a reprodução de suas capas
comunitárias que demonstrem a importância do descarte
em escala menor. seletivo e do encaminhamento do lixo reciclável para esta-
• Reproduza, com os estudantes, um mapa-múndi em uma ções de tratamento, construção de composteiras para o
cartolina. Em seguida, solicite a eles que apresentem a obra aproveitamento de parte do lixo orgânico, etc. Por se tratar
pesquisada e coloquem a ficha correspondente sobre o país de um problema de médio prazo, o cronograma poderá ser
ou a região de nascimento do autor. elaborado prevendo ações que ocorram no espaço de um
ano. Para isso, instituições parceiras, cooperativas de reci-
• A atividade possibilita o diálogo com os professores de Lite- clagem e empresas de coleta de lixo reciclável poderão ser
ratura e Geografia. acionadas. Os custos dessa ação dependem dos recursos
que serão empregados na produção de materiais educati-
vos para as ações na comunidade e na construção de com-
Empreendedorismo periférico (Página 143) posteiras, bem como de possíveis taxas para a coleta
É importante sempre ressaltar que, de acordo com o IBGE, os seletiva. Os fundos para cobrir esses custos poderão ser
negros representam 54% da população brasileira. Ainda que, obtidos mediante ações diversas, tal como financiamentos
estatisticamente, tenham renda inferior aos 45,22% de brancos, coletivos pela internet, venda de rifas ou criação e venda de
representam uma fatia grande do mercado consumidor, e há produtos relacionados à causa.
empreendimentos que reconhecem esse poder de compra, o Durante a etapa de execução, é importante que os estudan-
que originou expressões como “black money”. tes sejam resilientes diante das adversidades e estejam
Solicite aos estudantes que leiam com atenção a reportagem abertos a repensar as estratégias caso alguma delas for
de Debora Komukai. Discuta com eles os impactos positivos ori- inviável. Por fim, ao término do tempo estipulado, solicite
ginados pelo desenvolvimento de uma economia na própria pe- aos estudantes que avaliem o resultado das ações, consi-
riferia, como a criação de empregos, a injeção de dinheiro, o for- derando os acertos e as possibilidades de melhoria em
talecimento da autoestima das pessoas que vivem nessas ações futuras.
regiões e a ressignificação desses espaços. É importante ressal-
tar, no entanto, que o empreendedorismo nos termos tratados
nessa obra não dispensa a necessidade de políticas públicas, Atividades (Página 145)
apenas auxiliam na resolução de problemas por outras vias que
1. a) As subjetividades dos corpos negros, periféricos e trans-
podem ser complementares. gêneros.
b) São as violências que tentam ocultar ou deslegitimar as
Empreendedorismo social (Página 144) subjetividades consideradas desviantes, ou pela exclusão
O objetivo desse tópico é que os estudantes compreendam social, difamação, criminalização, ou até mesmo pelo homi-
o papel histórico dos sujeitos históricos, com ênfase na impor- cídio.
tância de políticas públicas que promovam transformações so- c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencio-
ciais e econômicas e na ação dos indivíduos que vivem em con- nem que esses corpos, enquanto subjetividades, são vítimas
textos extremamente desiguais. da violência por fugirem do padrão de valorização de uma
sociedade conservadora, racista, machista e LGBTfóbica, que
tem o corpo branco, rico e masculino como o ideal e referen-
Sugestão para o professor
cial e busca ocultar e deslegitimar todos os demais corpos.
Artigo
d) A cantora e ativista luta utilizando o próprio corpo e a for-
» SImões, Nataly. Empreendedorismo social impulsiona
mação de redes de pessoas que vivenciam a mesma violên-
desenvolvimento de profissionais negros. Alma Preta, 9
cia como formas de protesto e manifesto.
set. 2019. Disponível em: https://www.almapreta.com/
editorias/realidade/empreendedorismo-social-impulsiona- 2. a) Resposta pessoal. As respostas podem envolver diversos
o-desenvolvimento-de-profissionais-negros. Acesso em: 27 aspectos relacionados à convivência em espaços públicos,
jun. 2020. como o volume do som, que pode incomodar outros habitan-
Nessa reportagem, o tema do empreendedorismo de impac- tes da região, e também a criminalização do funk, como pro-
to é analisado, bem como são oferecidos exemplos concretos dução cultural periférica e marginal.
do modelo. b) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a responder à
questão com base em argumentos concretos, pautados na
realidade, ressaltando a importância do respeito à dignidade
Boxe Ação e cidadania humana.
• Nesse boxe, a discussão sobre empreendedorismo social é 3. Resposta correta: alternativa d. Ferréz constata que a litera-
ampliada por meio de um convite à sua experimentação prá- tura é um instrumento de resistência que vem sendo utiliza-
tica, de forma a incentivar o protagonismo dos estudantes e do pelas minorias, e que o fato de ocupar um lugar de
engajá-los de maneira ativa e cidadã em suas comunidades. marginalidade é uma forma tanto de reivindicar um lugar de
252
fala quanto de se unir a outras minorias, que, juntas, formam Para complementar o estudo, sugira aos estudantes que
uma maioria. leiam os textos indicados abaixo. O primeiro texto aborda o con-
texto dos estudantes aprovados na Universidade Federal do
Práticas de pesquisa (Páginas 146 a 149) Maranhão. O segundo relata uma pesquisa feita com estudan-
tes de um curso pré-vestibular da cidade de Santa Maria, no Rio
O objetivo dessa seção é possibilitar aos estudantes o de-
Grande do Sul. O terceiro texto é um artigo sobre a necessidade
senvolvimento de habilidades e práticas de pesquisa, coleta e
análise de informações. A proposta é que eles organizem gru- de reabilitar os adolescentes a definir o próprio destino. Esses
pos de jovens em fase de escolha profissional para, então, obter textos possibilitam a observação de contextos geográficos dis-
as informações sobre esse processo. tintos e a análise de possíveis semelhanças e diferenças.
O tema é complexo, e as angústias que o cercam podem ser • Halabe, Dannilo Jorge Escorcio. A escolha profissional no Enem:
diferentes de acordo com os contextos dos sujeitos seleciona- entre o ideal e as imposições do real. 2012. Dissertação (Mes-
dos no grupo focal. Assim, é possível que apareçam elementos trado em Educação) - Universidade Federal do Maranhão, São
como a pressão familiar para que os estudantes ingressem nas Luís, 2012. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.
universidades mais prestigiadas, as dificuldades familiares em ufma.br/index.php/reducacaoemancipacao/article/view/3340.
custear as mensalidades dos institutos privados, o anseio para Acesso em: 27 jun. 2020.
seguir a carreira do pai e da mãe ou o desejo de ser o primeiro
indivíduo da família a acessar o espaço universitário. Ressalte, • Maffei, Alexsandra Machado. A situação socioeconómica e a
contudo, que a angústia está presente nessa fase, ainda que por escolha profissional: sujeitos de diferentes estratos sociais e
motivos diversos. suas perspectivas profissionais. 2008. Dissertação (Mestrado
As questões que precisam ser respondidas ao longo da em Ciências Políticas) – Universidade Fernando Pessoa,
pesquisa são: Quais são as profissões almejadas pelos jo- Porto, 2008. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/
vens? Quais foram os critérios utilizados para escolhê-las? 10284/1081/2/Alexsandra%20Machado.pdf. Acesso em: 27
Como os jovens têm se preparado para concretizar as esco- jun. 2020.
lhas profissionais?
Peça aos estudantes que atentem para o item Procedimen-
• Barreto, Maria Auxiliadora; aiello-Vaisberg, Tania. Escolha pro-
fissional e dramática do viver adolescente. Psicologia & So-
tos, que indica cada uma das etapas, inclusive sugerindo ques-
ciedade, Porto Alegre, v. 19, n. 1, p. 107-114, jan./abr. 2007.
tões complementares e fundamentais para a compreensão do
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
fenômeno.
text&pid=S0102-71822007000100015&lng=en&
O objetivo dessa atividade é compreender quais são os ele-
nrm=iso. Acesso em: 27 jun. 2020.
mentos que colaboraram para as escolhas profissionais dos jo-
vens. Contudo, sua realização favorece o desenvolvimento das O desenvolvimento da atividade e sua divulgação permitem
habilidades de organização em grupos, compreensão de como aos estudantes a valorização das realidades e dos saberes das
proceder de forma ética e respeitosa durante um debate coleti- juventudes e o diálogo entre o conteúdo estudado e as práticas
vo e de como organizar essas informações, aprimorando a ex- críticas e cidadãs que os estudantes possam inserir no debate
posição oral dos estudantes. público de forma consciente.
253
Retomada
A seguir, apresentamos os principais conceitos trabalhados eles se apropriaram desse conhecimento e as relações que con-
ao longo da unidade e suas relações. Peça aos estudantes que seguiram estabelecer. Identifique, ainda, as dúvidas e as dificul-
elaborem os próprios mapas mentais de organização dos con- dades dos estudantes em relação ao conteúdo estudado, e re-
teúdos estudados. Com isso, é possível perceber de que maneira tome ou aprofunde os conceitos necessários.
Estado de
Neoliberalismo
bem-estar social
Cultura
Democracia brasileira
Periferia
Juventude Autoestima
254
■ ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enade) d) I, II e IV.
TEXTO I e) II, III e IV.
Com base em dados de 2015, estima-se que, no Brasil, ha-
Resposta: alternativa b.
ja em torno de 100 mil pessoas em situação de rua. A popula-
ção que vivencia situação de rua é formada por pessoas que,
2. (UFBA)
em sua maioria, possuem menos que o necessário para aten-
der às necessidades básicas do ser humano, estando no limi- O Estado deve ser fundamentalmente diferenciado da Na-
te da indigência ou da pobreza extrema, com comprometi- ção, porque o Estado consiste em uma organização política,
mento da própria sobrevivência. A situação desse grupo um poder independente no plano externo, e supremo no in-
excluído e marginalizado pode decorrer de diversos fatores, terno, provido de recursos humanos e financeiros para sus-
como desemprego estrutural, migração, uso prejudicial de ál- tentar sua independência e autoridade. Não podemos iden-
cool e outras drogas, presença de transtornos mentais, confli- tificar o primeiro com a segunda, como se costumava fazer,
tos familiares, entre outros. até entre os próprios patriotas catalães, que falavam ou es-
creviam sobre uma nação catalã no sentido de um Estado
Hino, P.; SantoS, J. O.; RoSa, A. S. Pessoas que vivenciam
catalão independente. […]
situação de rua sob o olhar da saúde. Revista Brasileira de
Enfermagem. v. 71, Suplemento 1, p. 732-740, 2018 (adaptado). (CaStellS, 1999, p. 60.)
255
procedimentos contrários ao espírito do tempo. Nossa moder- e a dança (o break). No hip-hop os jovens usam as expressões
nização tem sido conservadora. artísticas como uma forma de resistência política.
nogueiRa, M. As possibilidades da política: ideias para Enraizado nas camadas populares urbanas, o hip-hop afir-
a reforma democrática do Estado. Rio de Janeiro: mou-se no Brasil e no mundo com um discurso político a favor
Paz e Terra, 1998. dos excluídos, sobretudo dos negros. Apesar de ser um movi-
mento originário das periferias norte-americanas, não encontrou
O texto apresenta uma análise recorrente sobre o processo
barreiras no Brasil, onde se instalou com certa naturalidade – o
de modernização do Brasil na segunda metade do século XX.
que, no entanto, não significa que o hip-hop brasileiro não tenha
De acordo com a análise, uma característica desse processo
sofrido influências locais. O movimento no Brasil é híbrido: rap
reside na(s):
com um pouco de samba, break parecido com capoeira e grafite
a) uniformização técnica dos espaços de produção. de cores muito vivas.
b) construção municipalista do regime representativo. (Adaptado de Ciência e Cultura, 2004)
c) organização estadual das agremiações partidárias. De acordo com o texto, o hip-hop é uma manifestação artísti-
ca tipicamente urbana, que tem como principais características
d) limitações políticas no estabelecimento de reformas
sociais. a) a ênfase nas artes visuais e a defesa do caráter naciona-
e) restrições financeiras no encaminhamento das demandas lista.
ruralistas. b) a alienação política e a preocupação com o conflito de ge-
rações.
Resposta: alternativa d. c) a afirmação dos socialmente excluídos e a combinação de
linguagens.
4. (Enem) d) a integração de diferentes classes sociais e a exaltação do
progresso.
O movimento hip-hop é tão urbano quanto as grandes cons-
e) a valorização da natureza e o compromisso com os ideais
truções de concreto e as estações de metrô, e cada dia se tor-
na mais presente nas grandes metrópoles mundiais. Nasceu norte-americanos.
na periferia dos bairros pobres de Nova Iorque. É formado por
três elementos: a música (o rap), as artes plásticas (o grafite) Resposta: alternativa c.
256
MANUAL DO PROFESSOR
ENSINO MÉDIO
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ENSINO MÉDIO
Editores responsáveis:
Flávio Manzatto de Souza
2 0 8 0 6 5 Valéria Vaz
ISBN 978-65-5744-183-1
Organizadora: SM Educação
2 900002 080650 Obra coletiva, desenvolvida e produzida
por SM Educação.