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PROFESSOR

MANUAL DO
MANUAL DO PROFESSOR

ENSINO MÉDIO

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CIDADANIA E ÉTICA

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CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
N CI A S HU M ANA S
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S OC I A IS A PL ICADAS
E
ÉTICA
CIDADANIA E

ENSINO MÉDIO

Editores responsáveis:
Flávio Manzatto de Souza
2 0 8 0 6 5 Valéria Vaz
ISBN 978-65-5744-183-1

Organizadora: SM Educação
2 900002 080650 Obra coletiva, desenvolvida e produzida
por SM Educação.

SP_PNLD21_CAPA_CH_CIDADANIA_MP_DIVULGACAO.indd 2 4/19/21 3:25 PM


MANUAL DO PROFESSOR

O C I A I S APLIC ADAS
HUMAN A S E S
CIÊNCIAS
ÉTIC A
CIDADANIA E
ENSINO MÉDIO

EDITORES RESPONSÁVEIS:
FlÁVIO MaNzaTTO DE SOuza
Bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP).
Editor de livros didáticos.

ValéRIa Vaz
Licenciada em História pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).
Especialista em Linguagens Visuais e mestra em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (FASM).
Bacharela em Letras pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Editora de livros didáticos.

Organizadora: SM Educação
Obra coletiva, desenvolvida e produzida por SM Educação.
São Paulo, 1a edição, 2020
Ser Protagonista Ciências Humanas e Sociais Aplicadas –
Cidadania e ética
© SM Educação
Todos os direitos reservados

Direção editorial M. Esther Nejm Elaboração de originais:


Gerência editorial Cláudia Carvalho Neves Bianca Zucchi
Gerência de design e produção André Monteiro Bacharela e licenciada em História
Edição executiva Flávio Manzatto de Souza, Valéria Vaz da Educação pela Pontifícia
Edição Gabriel Careta, Isis Ridão Teixeira, Rodrigo Souza Universidade Católica de
Colaboração técnico-pedagógica Aldaíres Souto França São Paulo (PUC-SP).
Suporte editorial Fernanda Fortunato, Karina Miquelini Mestra e doutora em História
pela PUC-SP.
Coordenação de preparação e revisão Cláudia Rodrigues do Espírito Santo
Professora no Ensino Médio e no
Preparação: Ana Paula Perestrelo, Fernanda Oliveira Souza,
Ensino Superior.
Helena Alves Costa, Maíra de Freitas Cammarano
Janaina Tiosse de O. Corrêa
Revisão: Ana Paula Perestrelo, Beatriz Nascimento,
Bacharela e licenciada em História
Clara Fernandes, Fernanda Oliveira Souza
pela PUC-SP.
Apoio de equipe: Alzira Aparecida Bertholim Meana,
Autora e editora de livros didáticos.
Camila Durães Torres, Camila Lamin Lessa, Lívia Taioque
Coordenação de design Gilciane Munhoz
Design: Andreza Moreira
Coordenação de arte Ulisses Pires
Edição de arte: Eduardo Sokei
Assistência de arte: Mauro Moreira, Selma Barbosa Celestino
Assistência de produção: Leslie Morais
Coordenação de iconografia Josiane Laurentino
Pesquisa iconográfica: Beatriz Micsik
Tratamento de imagem: Marcelo Casaro
Capa Gilciane Munhoz, Lissa Sakajiri
Ilustração de capa: Hannah Nader
Projeto gráfico Gilciane Munhoz, Thatiana Kalaes
Editoração eletrônica Essencial Design

Pré-impressão  Américo Jesus


Fabricação Alexander Maeda
Impressão

Em respeito ao meio ambiente, as Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


folhas deste livro foram produzidas com (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
fibras obtidas de árvores de florestas
Ser protagonista : ciências humanas e sociais aplicadas :
plantadas, com origem certificada.
cidadania e ética : ensino médio / obra coletiva,
desenvolvida e produzida por SM Educação ; editores
responsáveis Flávio Manzatto de Souza ; Valéria Vaz. —
1. ed. — São Paulo : Edições SM, 2020.

Bibliografia.
ISBN 978-65-5744-182-4 (aluno)
ISBN 978-65-5744-183-1 (professor)

1. Ciências humanas (Ensino médio) 2. Ciências sociais


(Ensino médio) I. Souza, Flávio Manzatto de. II. Vaz, Valéria.

20-41984 CDD-373.19
Índices para catálogo sistemático:
1. Ensino integrado : Livro-texto : Ensino médio 373.19

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

1a edição, 2020

SM Educação
Rua Tenente Lycurgo Lopes da Cruz, 55
Água Branca 05036-120 São Paulo SP Brasil
Tel. 11 2111-7400
atendimento@grupo-sm.com
www.grupo-sm.com/br

SP_CHSA1_PNLD21_CREDITOS_002_LA.indd 2 25/09/20 19:18


APRESENTAÇÃO

O Ensino Médio, mais do que a etapa final da Educação Básica, é o momento de


ressignificação e aplicação dos conhecimentos que você adquiriu em seu percurso
escolar. Agora será estabelecida uma conexão profunda entre os conhecimentos
teóricos e suas vivências, trazendo mais sentido aos conteúdos apreendidos no de-
correr do processo de ensino-aprendizagem.
Trata-se, portanto, de uma oportunidade de pensar a respeito de como as teo-
rias se aplicam em nosso dia a dia e de compreender como os diversos processos
e mudanças ocorridos ao longo do tempo se manifestam no presente. É também
uma ocasião importante para refletir sobre nosso papel e nossa forma de atuação
na sociedade.
A área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas propõe a ampliação e o apro-
fundamento das aprendizagens que favorecem o diálogo e o protagonismo juvenil.
Por isso, esta coleção foi elaborada com o intuito de contribuir para que, entendendo
melhor os diferentes aspectos da realidade, você possa agir de modo crítico, conscien-
te, ético e responsável em todos os ambientes, reconhecendo e compreendendo as
diferenças, respeitando os direitos humanos e cuidando de si mesmo e dos demais.
No decorrer do trabalho com a coleção, você vai se engajar em práticas coope-
rativas e conhecer diversas formas de registro por meio do contato com diferentes
linguagens: textual, imagética, artística, tecnológica, cartográfica, entre outras.
Este volume tem como principal objetivo promover o desenvolvimento de uma
educação ética voltada para a cidadania. A partir da reflexão sobre direitos e deve-
res coletivos e individuais, necessários à construção de uma sociedade mais justa,
democrática e inclusiva, busca-se compreender as circunstâncias históricas, políti-
cas e sociais relacionadas à diversidade cultural e étnica brasileira.

Equipe editorial
CONHEÇA SEU LIVRO
Unidade

4
ABERTURA DE UNIDADE

DEMOCRACIA
BRASILEIRA: DESAFIOS Direitos sociais 10

Múltiplos desafios 11

Possibilidades de futuro: a periferia 12

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE

Elaborada em página dupla, apresenta


Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB3, CGEB4,
CGEB5, CGEB7, CGEB8, CGEB9 e
CGEB10.

um pequeno texto, uma imagem e


Competências específicas e
habilidades das áreas:
CECHSA1: EM13CHS101,
EM13CHS103, EM13CHS104 e
EM13CHS106.

questões para que você comece a


CECHSA5: EM13CHS501,
EM13CHS502, EM13CHS503 e
ORGANIZAR IDEIAS

Apesar das dificuldades econômicas e sociais enfrentadas


EM13CHS504.
nos últimos anos, o Brasil obteve avanços significativos em
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS603, EM13CHS605 e termos sociais nas últimas três décadas. A Constituição de

refletir sobre o assunto da unidade e o


EM13CHS606. 1988 teve um papel fundamental nesse período, contudo, há
CECNT1: EM13CNT104. ainda um longo caminho a ser percorrido para que o país me-

rafapress/Shutterstock.com/ID/BR
CECNT3: EM13CNT310. lhore ainda mais seus indicadores sociais.
CELT1: EM13LGG101,
EM13LGG102 e EM13LGG104. 1. Como os avanços sociais implementados no Brasil nas

que já sabe a respeito dele.


CEMT1: EM13MAT102. últimas décadas fazem parte do nosso cotidiano? Explique. Mulher lê seus direitos
CEMT4: EM13MAT406 e 2. Por que é importante estabelecer metas de melhoria dos no livro da Constituição
EM13MAT407. de 1988. Foto de 2019.
índices sociais?

116 117
X1

ESCRAVIDÃO E TRABALHO O TRABALHO ANÁLOGO


CAPÍTULO

À ESCRAVIDÃO NOS ESPAÇOS URBANOS


ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO
ABERTURA DE CAPÍTULO

Retome o gráfico da página 12 e observe as atividades econômicas mencio-


nadas nele. Você vai notar que os setores da construção civil e da indústria têxtil
concentram os maiores números de trabalhadores libertados de atividades aná-
A palavra “escravidão” remete, geralmente, à imagem de africanos sequestra- logas à escravidão realizadas nos meios urbanos. Trata-se de uma realidade que
» Competências e
dos e comercializados como escravizados, especialmente no continente america- aflige brasileiros e imigrantes no país.
habilidades
no, entre os séculos XVI e XIX.
Construção civil
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. Apesar de o fim do regime escravocrata ter sido oficializado no Brasil em 1888,
CECHSA1: EM13CHS101, com a assinatura da Lei Áurea, atualmente há milhares de trabalhadores que são De acordo com dados do Ministério do Trabalho e do Emprego, em 2018, o se-
EM13CHS102, EM13CHS103 e submetidos a condições análogas à escravidão. tor da construção civil era o terceiro que mais empregava trabalhadores subme-
EM13CHS105.
De acordo com o Código Penal brasileiro, essa situação é caracterizada pelos tidos a regimes análogos à escravidão.
CECHSA5: EM13CHS502 e
EM13CHS503.
seguintes aspectos: O texto a seguir aborda um caso de trabalhadores resgatados dessa situação,
CECNT2: EM13CNT206. • Condições degradantes de trabalho: refere-se a condições que violam a digni- no município de Juiz de Fora (MG). A pesquisadora Glaucy Ribeiro acompanhou
CEMT1: EM13MAT102 e dade do trabalhador, colocando sua vida ou sua saúde em risco. Por exemplo: o trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT), órgão responsável por inves-
EM13MAT104. instalações precárias; ausência de equipamentos de proteção individual; falta tigar e atuar em casos como esse.
de saneamento básico, de água potável e de assistência médica.
• Jornadas exaustivas: são jornadas de trabalho que ultrapassam o limite de

Composta
horas estabelecido por lei e submetem as pessoas ao trabalho excessivo, cau- É interessante notar como um setor considerado termômetro para a economia,
sando danos à sua saúde ou colocando sua vida em risco. ou seja, quando a economia vai bem, o setor vai bem, quando a economia vai mal,

BRASIL: PRINCIPAIS ATIVIDADES DE • Trabalho forçado: é caracterizado por res- a construção civil acompanha, pode ser cenário também de arbitrariedades na área
tringir a liberdade dos trabalhadores, man- trabalhista.

de textos,
TRABALHADORES RESGATADOS (1995-2016)
tendo-os isolados e sob ameaças de […]
Adilson Secco/ID/BR

violência física e psicológica para que não O trabalho de auditoria foi […] acompanhado de representantes do MPT para
(1 350) 3% 2% (984) deixem de trabalhar. verificação acerca da veracidade das denúncias recebidas. Foi constatado que os
reflorestamento extrativismo vegetal
• Servidão por dívida: nesse caso, os traba-

imagens e
trabalhadores eram migrantes […], tendo sido alojados em pequenos hotéis da ci- Aliciador: aquele que convence outro
(2 420) 4% 1% (689) por meio de argumentos que não são
atividades diversas mineração
lhadores são obrigados a trabalhar para dade. A prática de aliciamento foi constatada, tendo como exemplo os trabalhado-
verdadeiros.
e não identificadas pagar uma dívida ilegal, geralmente rela- res vindos da cidade de Poço Redondo, no Sergipe.
1% (553) cionada a gastos com o próprio serviço, Estes trabalhadores foram procurados por aliciadores,
confecção têxtil
Cesar Diniz/Pulsar Imagens

como aquisição de ferramentas e equipa-

questões
os chamados “gatos”, conhecidos como Zildo e Cláudio.
(2 772) 5%
desmatamento 31% (16 824) mentos de trabalho, moradia e alimenta- Este último informou aos trabalhadores que os mesmos
(2 888) 6% pecuária ção durante a jornada de trabalho. A deveriam pagar a quantia de R$ 400,00 (quatrocentos
construção civil cobrança é feita de modo desproporcio- reais) pelo transporte, mas que o valor seria restituído
nal, descontando valores diretamente do pela empresa contratante quando chegassem a Juiz de

que se
(3 791) 7%
carvão vegetal salário do trabalhador. Fora. […]
Pesquisadores e juristas distinguem Ao chegarem, serventes, pedreiros, carpinteiros e ar-
escravidão de trabalho análogo à escra- madores se depararam com a triste realidade. As promes-
vidão por se tratar de contextos históricos sas que lhes foram feitas eram falsas. Desta forma, os

relacionam e
(9 754) 18% 22% (11 939) específicos, como veremos ao longo des- homens tiveram que pagar pela alimentação […], foram
lavouras diversas cana-de-açúcar te capítulo. informados que também os valores pagos pelo transpor-
Observe o gráfico ao lado, elaborado com te não seriam restituídos.
base em informações sobre os trabalhado

introduzem
Fonte de pesquisa: Escravo, nem pensar! Disponível em: http://
Já no alojamento foram verificadas irregularidades
escravonempensar.org.br/o-trabalho-escravo-no-brasil/. res que foram resgatados de condições de como a superlotação dos quartos, o que obrigava os tra-
Acesso em: 30 mar. 2020. trabalho análogas à escravidão. balhadores a dividirem camas de solteiro. Além disso, a
alimentação era de péssima qualidade e em quantidade
insuficiente.

o assunto do
1. A liberdade é assegurada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,
proclamada em 1948. De que modo a situação retratada no gráfico se rela- […] Aqui também estes homens foram separados de
ciona a esse direito? Reflita a respeito disso e comente suas percepções com suas famílias e amigos, trazidos amontoados em um meio
os colegas. de transporte precário.
O setor da construção civil é um dos

capítulo.
2. O município ou o estado onde você mora realiza algumas das atividades eco- RibeiRo, Glaucy Meyre de Oliveira. Escravidão moderna: o trabalho no setor da construção civil.
que mais submete trabalhadores a
nômicas presentes no gráfico? Você se lembra de alguma notícia sobre traba- Dissertação (Mestrado em Direito e Inovação) – Universidade Federal de Juiz de Fora,
condições análogas à escravidão.
Faculdade de Direito, Minas Gerais, 2017. p. 84-85.
lho análogo à escravidão na região onde vive? Em caso afirmativo, é possível Prédio em construção em São
relacioná-la aos dados do gráfico? Compartilhe suas informações com a turma. Paulo (SP). Foto de 2018.

Não escreva no livro. Não escreva no livro.


12 13

Passado escravocrata
Os pesquisadores não chamam o trabalho escravo contemporâneo de escra-
BOXES

vidão. Como você observou na abertura deste capítulo, trata-se de uma escolha
científica para diferenciar os regimes de trabalho que submetem as pessoas a
condições análogas à escravidão da escravidão que fazia parte da estrutura do
Brasil desde o período colonial.
A escravização que ocorreu no Brasil entre os séculos XVI e XIX é chamada
pelos especialistas de escravidão moderna, pois desenvolveu-se sensivelmente
durante a Idade Moderna, período histórico em que parte da Europa Ocidental se
voltava para a exploração de terras e do trabalho de pessoas de outros continen-
tes. A opção por essa expressão também tem por objetivo diferenciá-la dos regi-
mes de escravidão surgidos durante a Antiguidade em diferentes locais, como
Grécia, Roma e Egito antigos.
É possível notar algumas similaridades entre a escravidão moderna e as con-
dições de trabalho análogas à escravidão. Porém, trata-se de circunstâncias si-
tuadas em contextos históricos diferentes, cuja principal distinção é o fato de, no
primeiro caso, a escravidão ser permitida por lei no Brasil e defendida pela maio-
ria dos governantes, que também eram os detentores de terras e de africanos
escravizados. Nesse tipo de estrutura, uma pequena parcela da população detém
o poder político e econômico em detrimento de uma grande camada da popula-
ção, na qual a maioria das pessoas tem seus direitos negligenciados.
O Brasil foi o último país da América Latina a pôr um fim na escravidão moder-
Naturalizar: no texto, refere-se ao ato

Glossário
na. Em termos históricos, trata-se de um evento recente: a escravidão moderna
foi extinta há cerca de 130 anos, após vigorar por mais de três séculos. De acordode tornar algo natural, normal.
Naturalizar: no texto, refere-se ao ato
CONHECENDO OS DESAFIOS: INDICADORES SOCIAIS
com pesquisadores, como Lilia Schwarcz e Laurentino Gomes, a proximidade his-
de tornar algo natural, normal.
tórica com a realidade escravista e o longo período em que essa realidade persis- Para analisar o acesso à cidadania e as questões éticas que envolvem as rela-
ções sociais entre os indivíduos e a comunidade, refletimos sobre diferentes in-

Apresenta
tiu são dois dos principais motivos que colaboram para naturalizar:
• a violência contra trabalhadores, em especial aqueles com níveis menores de dicadores sociais. Assim, ao longo do volume, dados organizados, como taxas,
escolaridade e de renda; índices, quantidades relativas e absolutas da população total ou de determinados
INTERAÇÃO

grupos, foram pesquisados para avaliar as situações de desigualdade, liberdade,


• a existência de grupos que detêm uma grande quantidade de riquezas en- 1. De que modo a charge
democracia, igualdade e justiça, em diferentes aspectos sociais. Esses dados fo-

a explicação
quanto outros vivem na miséria. desta página relaciona
a escravidão moderna ram obtidos de fontes institucionais, como órgãos governamentais, e também de
Os dois aspectos listados evidenciam características das desigualdades social,
com os regimes de tra- pesquisas acadêmicas realizadas por equipes de sociólogos, filósofos, geógrafos,
racial, econômica e cultural de nosso país. Ambos não são evidências naturais, e
balho atuais que são historiadores, antropólogos, estatísticos e muitos outros profissionais.
sim construções históricas e sociais. Essa percepção é importante para que pos-
considerados análogos Apesar de serem importantes para os pesquisadores, essas informações são

de palavras
samos analisar e questionar a nossa sociedade.
à escravidão? Comente ainda mais relevantes para os governantes, já que é com base nelas que devem
Dessa forma, pesquisar as condições sociais atuais do Brasil e conhecer suas suas percepções com ser elaboradas as políticas públicas. Ou seja, as decisões políticas e os projetos
estruturas no passado favorecem a nossa compreensão do presente, as continui- os colegas. desenvolvidos pelos governos levam em consideração os retratos sociais apre-
dades históricas, os movimentos de transformação e também a percepção de co-
sentados pelos indicadores. É assim que eles reconhecem a situação dos desa-

e conceitos
mo podemos agir para a construção de um país mais justo.
fios que vão enfrentar. O excerto a seguir apresenta características da relação
entre indicadores sociais e políticas públicas.
Dálcio/Acervo do artista

que você
Os indicadores e suas aplicações
Os indicadores estabelecem um padrão normativo, por meio do qual é possível cons-
truir um diagnóstico para subsidiar a formulação e a avaliação de políticas públicas.
Não obstante a grande utilidade dos indicadores, é essencial salientar que a sua

talvez não
interpretação deve ser acompanhada de uma análise detalhada do fenômeno estu-

Interação
dado, uma vez que o alcance dos indicadores é limitado, enquanto tentativa de cap-
tar num simples número a complexa realidade social. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde […] e [Paulo de Martino] Jannuzzi […], um indicador deve possuir,

conheça.
como propriedades desejáveis, a validade para representar o fenômeno que pretende

Contém atividades
medir, a confiabilidade de fornecer os mesmos resultados quando calculado em cir-
cunstâncias similares, a sensibilidade de refletir mudanças no fenômeno de interesse,
Dálcio. Correio Popular, a especificidade de refletir mudanças em fenômenos específicos, a relevância para a
25 jan. 2015. discussão da agenda da política em questão, o grau de cobertura populacional ade-
pressureUA/istockphoto.com/ID/BR

que vão ajudá-lo a


quado, a simplicidade para o devido entendimento dos agentes das políticas e do
Não escreva no livro.
15 público-alvo dessas políticas, a atualização periódica, a desagregação em termos so-
cioeconômicos e demográficos e, ainda, certa historicidade.
[…]

desenvolver
Pereira, Danielle Ramos de Miranda; Pinto, Marcelo de Rezende. A importância do entendimento
dos indicadores na tomada de decisão de gestores públicos. Revista do Serviço Público,
Brasília, v. 63, n. 3, p. 363-380, jul./set. 2012. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/
handle/1/1779. Acesso em: 30 abr. 2020.

habilidades e a
INTERAÇÃO

1. De acordo com o texto, que critérios de análise devem ser levados em


INTERAÇÃO

consideração durante
1. De acordo com o texto, que critérios de análise devem ser levados em
a escolha
consideração durante ae a interpretação
escolha dos indicadores
e a interpretação dos indicadores sociais? sociais?

adquirir uma visão


Qual é a importância desses critérios?
Qual é a importância desses critérios?

AÇÃO E CIDADANIA 2. Junte-se a dois colegas. Com base nos critérios que vocês conheceram,

2. Junte-se a dois colegas.


mais recentesCom dessebase
indicadornos critérios
nos níveis que vocês
de governo municipal, estadual conheceram,
escolham um indicador social, referente à renda, para pesquisar os dados

ampla e integrada
Os Krenak do rio Doce escolham um indicador social, referente à renda, para pesquisar os dados
e federal. Sistematizem esses dados primeiro em forma de tabela e, depois,
em forma de gráfico. Lembrem-se de que os gráficos e as tabelas precisam
AÇÃO E CIDADANIA
Os povos Borum, autodenominados Krenak, vivem ho- mais recentes desse indicador
apresentar nospesquisadas.
títulos e fontes níveis No decasogoverno municipal,
dos gráficos, as legendas estadual
também são importantes. Em uma data combinada, compartilhem as des-
e federal. Sistematizem
cobertasesses dados primeiro emdasforma dedeles.
tabela e, depois,

dos assuntos
je em sua reserva, próxima ao município de Resplendor
Os Krenak do rio Doce com os colegas e conheçam os resultados pesquisas
Os povos Borum, autodenominados Krenak, vivem ho-
em forma de gráfico. Lembrem-se de que os gráficos e as tabelas precisam
Marcello Lourenco/Tyba

je em sua reserva, (MG),


próximaàsao margens do rio Doce. Esses povos ficaram conhe-
município de Resplendor
cidos ao longo da história do Brasil por desafiarem as ten-
(MG), às margens do rio Doce. Esses povos ficaram conhe-
cidos ao longo da história do Brasil por desafiarem as ten- 130
apresentar títulos e fontes pesquisadas. No caso dosNãográficos, escreva no livro.as legendas

estudados.
tativas
tativas de pacificação de pacificação
e apropriação e apropriação de seu território pela
de seu território pela também são importantes. Em uma data combinada, compartilhem as des-
Coroa portuguesa, o que levou dom João VI a uma guerra
Coroa
de extermínio contra eles noportuguesa,
século XIX. o que levou dom João VI a uma guerra cobertas com os colegas e conheçam os resultados das pesquisas deles.
de extermínio contra
Os Krenak sobreviveram a esse ataque e, no século XX,
passaram por dois processos de reassentamento forçado
eles no século XIX.
promovidos pelo Estado Os Krenak
brasileiro. sobreviveram
O primeiro ocorreu em a esse ataque e, no século XX,
1957, quando foram retirados de suas terras e deslocados
passaram
para as Terras Indígenas por no
dos Maxacali, dois processos
município de de reassentamento forçado
Santa Helena de Minas (MG). Descontentes, os Krenak re-
tornaram para seu território original em 1959, em uma ca-
minhada que durou três meses. O segundo reassentamen-
to ocorreu em 1972, sob a gestão da Funai e com o apoio
do governo do estado de Minas Gerais, quando esse povo
foi deslocado para a Fazenda Guarani, no município de Car-
Manifestantes Krenak fecham a ferrovia da Companhia Vale do
mésia (MG). No entanto, os Krenak retornaram para suas
Rio Doce em protesto contra a poluição do rio Doce após a
terras em 1980, em uma caminhada que durou 95 dias. ruptura da barragem em Mariana (MG) em 2015.
Além dos dois processos violentos de expulsão, que cul-
minaram no retorno a seu território, esses povos foram obri- O desastre, que alterou o curso do rio Doce e o poluiu com
gados a conviver com um projeto que estava em andamento, detritos tóxicos da mineração, deixou dezenas de mortos
em consonância com suas consecutivas tentativas de retira- e feridos e configurou um desastre ambiental de grandes
da: a construção de dois grandes empreendimentos estatais proporções. Para os povos indígenas que vivem ali, isso
que impactaram a manutenção e a reprodução de sua cultu- representou a impossibilidade de exercer suas práticas
ra. Um deles era a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) e o culturais e de sobrevivência relacionadas ao rio. Os Krenak
outro era a Usina Hidrelétrica de Aimorés, ambas proprieda- entendem o rompimento da barragem como a morte do rio
de da mineradora Vale S.A. Doce e, por isso, segundo suas tradições, necessitaria da
Apesar desse contexto, os Krenak não deixaram de re- não interferência humana total por algum tempo para que
sistir e lutar em defesa de seu território e, em 1997, con- novos sinais de vida se manifestassem.
seguiram recuperar parte dele. Atualmente, lutam incan- Os Krenak lutam pela preservação de suas terras e
savelmente pela demarcação das terras que reivindicam sua cultura, reflorestando matas e córregos devastados
como sagradas, denominadas Sete Salões, que se torna- e preservando os cantos, as danças e as tradições de seus
ram o Parque Estadual Sete Salões, criado pelo estado de ancestrais.
Minas Gerais em 1998. Assim como os Krenak, outros povos indígenas, como
Um episódio recente que afetou profundamente a vida os Yanomami e os Guarani, lutam contra investidas de mi-

Ação e cidadania
dos Krenak, bem como de toda a população da região, foi neradoras e grandes latifundiários sobre suas terras, en-
o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). frentando reações igualmente violentas.
Fotografias: Fabio Braga/Folhapress

Apresenta informações e questões relacionadas


à ação cidadã com o objetivo de promover
O rio Doce antes e depois do rompimento da barragem do Fundão, que ocorreu em 2015, em Mariana (MG).
melhorias nos âmbitos social, econômico,
ambiental e cultural, entre outros.
1. Considerando a trajetória dos Krenak e sua relação com a região do rio Doce, extremamente afetada pelas empresas
mineradoras, explique a importância da presença e da resistência indígena no Brasil para a preservação ambiental.

Não escreva no livro.


72

Não escreva no livro.


4
Reflexão Para explorar
INSTABILIDADES POLÍTICAS E INTERVENÇÕES COMO NASCEM OS PRIVILÉGIOS?
NO BRASIL REPUBLICANO O termo privilégio é muito comum no cotidiano, não é mes-

Museu Carnavalet, Paris, França. Fotografia: Bridgeman Images/Easypix


Para caracterizarmos a democracia no Brasil atual, classificada como imperfeita mo? Você já parou para pensar sobre o significado dessa pa-

Composto de texto Traz indicações


pelo Índice de Democracia, é importante conhecer alguns dos processos políticos lavra e sobre o peso que ela carrega nas sociedades contem-
e sociais pelos quais passaram o Estado e o governo de nosso país. porâneas democráticas?
No período republicano (1889- ), os regimes políticos nem sempre foram de- “Privilégio” significa um conjunto de vantagens usufruídas
mocráticos. Os esquemas abaixo trazem mais informações sobre os períodos em por um grupo em prejuízo de outros segmentos da socieda-

e de questões que de produções


que as liberdades individuais e o acesso aos direitos civis foram limitados pelo de. Essas vantagens podem ser materiais, como maior aces-
Estado brasileiro. so a bens de consumo, mas também simbólicas, manifesta-
das pela valorização social dessas pessoas e pela atribuição
de uma suposta superioridade intelectual. A existência de

envolvem análise, audiovisuais,


1 2 grupos privilegiados econômica, política e culturalmente é
uma grande contradição das sociedades democráticas, que
têm como pressuposto a igualdade entre os cidadãos.
Momentos de interdição Momentos democráticos e No entanto, é importante ressaltar que os grupos privile-

pesquisa e sites, livros,


de direitos políticos momentos autoritários giados, assim como os conceitos de igualdade, cidadania e
democracia, nem sempre existiram no tempo e no espaço.
Interdição do voto de analfabetos, desde a lei imperial de Como tudo que é construído socialmente, esses conceitos e
Democracia “oligárquica” (entre 1894 e 1930).
1881 até a Constituição Federal de 1988. a própria estrutura da sociedade têm história, surgem e se

reflexão sobre o entre outros


concretizam em contextos específicos e se transformam ao
Ausência do voto feminino, do voto secreto e de uma longo do tempo. Ao considerar essa perspectiva histórica,
Período de transição (entre 1930 e 1937).
justiça eleitoral de cunho burocrático e profissional até o uma pergunta torna-se bastante relevante: como os privilé-
Código eleitoral de 1932 e a Constituição Federal de 1934. gios nasceram no Brasil?

conteúdo materiais que


O Brasil contemporâneo é uma consequência da invasão
Ditadura do Estado Novo (entre 1937 e 1945).
Limitação prática do exercício do direito de voto durante dos portugueses em terras alcançadas durante as Grandes
toda a Primeira República, por obra da submissão da Navegações, marcada pela aniquilação física e cultural de di-
maioria do eleitorado a práticas coronelísticas. versos povos indígenas que habitavam essas terras e pelo

apresentado, auxiliam na
Democracia nacional-populista (entre 1946 e 1964).
emprego de mão de obra escravizada africana nos empreen-
Crescimento constante – desde a redemocratização do dimentos coloniais. Nessa estrutura, os colonos europeus as-
O jogo deve continuar, gravura
regime político em 1945 – do clientelismo urbano como sumiam posições de liderança, ganhavam terras da Coroa portuguesa e proteção
Ditadura civil-militar (entre 1964 e 1984). colorizada de autoria desconhecida,
instrumento de deformação das vontades no plano eleitoral. legal para acumular riquezas e impor valores culturais como o cristianismo e as 1789. Essa gravura representa os

considerando a ampliação e no
ideias de civilização, conforme os moldes ocidentais. antigos privilégios da nobreza
e do clero, que se apoiavam no
Supressão total (no caso do Estado Novo) ou quase total Nos séculos XVIII e XIX, enquanto o Brasil era colônia de Portugal, a Europa trabalho do terceiro estamento,
(no caso do regime militar) dos direitos políticos. Novo regime democrático-constitucional (a partir de 1988).
passava por transformações que levaram à ascensão da burguesia. Esse período composto de burgueses, artesãos,
foi marcado por revoluções burguesas e pelo questionamento dos privilégios da operários e camponeses.
Fonte de pesquisa: SaeS, Décio Azevedo Marques de. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. Estudos Avançados, v. 15, n. 42,

realidade e aprofundamento
As revoluções europeias do
p. 379-410, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200021. Acesso em: 25 abr. 2020. nobreza, do clero e dos poderes reais. Ideias iluministas, como liberdades indivi- século XVIII reivindicavam o fim
duais e igualdade de direitos, passaram a disputar espaço com a organização dos privilégios de nascimento e a
hierárquica das sociedades absolutistas, baseadas no direito divino. igualdade de direitos.
REFLEXÃO

O autoritarismo na Oformação econômica,


na formação social e política do Brasil

REFLEXÃO
autoritarismo econômica, social e política do Brasil Nas revoluções burguesas, contudo, a ideia de liberdade dizia respeito ao livre

buscando ampliar dos conteúdos


comércio, à autonomia de trabalho dos indivíduos e à liberdade de pensamento
“A tradição autoritária é“Auma
tradição autoritária
marca é uma marca
indelével indelével daeconômica
da formação formação econômica e socio-
e socio-
política do Brasil, assentada no regime de apropriação privada da terra, na ausên- e de exercício da fé religiosa, esferas antes controladas pelo Estado. Quanto à
política do Brasil, assentada no regime de apropriação privada da terra, na ausên-
cia de relações de solidariedade social, na primazia da autarquia individual, nas PARA EXPLORARigualdade, esta seria perante a lei, em que todos nasceriam com os mesmos di-
cia de relações de solidariedade social,
‘lutas de famílias’, no na
poderprimazia da autarquia
incontrastável do potentadoindividual, nas da
rural, dos caudilhos reitos, independentemente de sua linhagem familiar, e seriam julgados pela Jus-
»

e/ou aprofundar o estudados.


terra bem
‘lutas de famílias’, no poder como no emprego
incontrastável dosistemático
potentado da mão de obra
rural, dosescrava para sustentar
caudilhos da Descubra o jogo do privilégio
tiça conforme seus atos, e branco
não sua posição social.

terra bem como no emprego


uma produção monocultora orientada fundamentalmente para o mercado externo,
sistemático da mão de obra escrava para sustentar
evidenciando o verdadeiro ‘sentido da colonização’”, contextualiza o professor e
Nem sempre PARA
é fácil perceber o quanto somos beneficiados ou prejudicados pelos
EXPLORAR
uma produção monocultora orientada
cientista fundamentalmente
social Carlos Eduardo Santos Pinho.para o mercado externo, privilégios sociais dos quais determinados grupos desfrutam. Pensando nisso, os
» Descubra o jogo do privilégio branco

assunto ou o
evidenciando o verdadeiroPinho ‘sentido da colonização’”,
, Carlos Eduardo contextualiza
Santos. In: SantoS, João Vitor. O autoritarismoonaprofessor e
formação econômica, pesquisadores Nem
da organização nãoogovernamental
sempre é fácil perceber Instituto
quanto somos beneficiados Identidades
ou prejudicados pelos do Brasil
cientista social Carlos Eduardo
social e política do Brasil. Entrevista especial com Carlos Eduardo Santos Pinho. Instituto
Santos
Humanitas Pinho.
Unisinos, 24 jul. 2019. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/ (ID_BR) desenvolveram um jogo de perguntas e respostas que podem ajudar a
privilégios sociais dos quais determinados grupos desfrutam. Pensando nisso, os
pesquisadores da organização não governamental Instituto Identidades do Brasil
Pinho, Carlos Eduardo Santos. In:
entrevistas/591015-o-autoritarismo-e-seu-peso-na-formacao-economica-social-e-politica-do-
SantoS, João Vitor. O autoritarismo na formação
brasil-entrevista-especial-com-carlos-eduardo-santos-pinho. econômica,
Acesso em: 15 abr. 2020.
identificar as barreiras sociais eum
(ID_BR) desenvolveram eventuais vantagens
jogo de perguntas ouquedesvantagens
e respostas podem ajudar a às quais

conceito
social e política do Brasil. Entrevista especial com Carlos Eduardo Santos Pinho. Instituto um indivíduo brasileiro
identificar asestá sujeito,
barreiras sociais de acordo
e eventuais com aoucor
vantagens da pele. às
desvantagens Asquais
instruções de
um indivíduo brasileiro está sujeito, de acordo com a cor da pele. As instruções de
Humanitas Unisinos, 1. 24Relacione a fala do sociólogo
jul. 2019. Disponível Carlos Eduardo Santos Pinho com as infor-
em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/ jogo e o vídeo explicativo estão disponíveis em: http://simaigualdaderacial.com.
jogo e o vídeo explicativo estão disponíveis em: http://simaigualdaderacial.com.
mações disponibilizadas nos dois esquemas apresentados anteriormen-
entrevistas/591015-o-autoritarismo-e-seu-peso-na-formacao-economica-social-e-politica-do-
te. Apresente suas conclusões aos colegas.
brasil-entrevista-especial-com-carlos-eduardo-santos-pinho. Acesso em: 15 abr. 2020.
br/site/?mergulhe_no_tema=vantagem-racial-jogo-do-privilegio-branco.
br/site/?mergulhe_no_tema=vantagem-racial-jogo-do-privilegio-branco. Acesso Acesso

trabalhado.
em: 13 maio 2020.
em: 13 maio 2020.
1. Relacione a fala
Nãodo sociólogo
escreva no livro. Carlos Eduardo Santos Pinho com as infor-
85 Não escreva no livro.
49
mações disponibilizadas nos dois esquemas apresentados anteriormen-
te. Apresente suas conclusões aos colegas.

Atividades
ATIVIDADES

SEÇÕES DE CAPÍTULO
1 Observe o gráfico abaixo e, depois, faça as atividades. a) Retome o trecho da notícia que você leu na aber- 6 (Unimontes)
tura deste capítulo. Como ele se relaciona com a de todos os brasileiros. Nós vimos recentemente que cinco

Ao final de cada capítulo, um conjunto de


tese de Robert Michels? grandes empresários brasileiros detêm uma fortuna que
ESCOLARIDADE DOS BRASILEIROS
corresponde àquilo que têm milhões de brasileiros.
COM 25 ANOS OU MAIS (2018) b) Há relações entre a tese de Michels e a do soció- À medida que, a partir dos anos 70, amplia-se uma
logo Cláudio Couto, que você estudou neste capí- Então, é preciso uma Constituição que resguarde direi- cultura democrática no Brasil, que os movimentos
Adilson Secco/ID/BR

Superior
tulo? Explique. tos, qualidade de vida, direitos do cidadão e desenvolvi- sociais, junto com outros setores democráticos, vão

atividades possibilita a consolidação, a


33,1% completo c) Com base em seus conhecimentos, debata com a mento, para se promover a democracia da renda no País. arrombando as portas da ditadura, o Estado torna-se
8,1% Superior turma como a oligarquização de uma democracia, Secretaria de Registro e Redação Parlamentar da Secretaria lentamente permeável à participação de novos ato-
incompleto como a brasileira, poderia ser evitada ou revertida. Geral da Mesa (SGM). Entrevista Completa Rose de Freitas, 6 abr. res sociais. O Estado brasileiro, tradicionalmente
4% Médio 2018. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/
privatizado pelos seus vínculos com grupos oligár-
completo 3 Retome ao esquema a respeito do Pacote de Abril institucional/arquivo/entrevista?grupo=senadores&id=ro

retomada, a análise, a síntese e a pesquisa


Médio quicos, vai lentamente cedendo espaço, tornando-se
4,5% da página 97 e responda às questões. se-de-freitas. Acesso em: 20 abr. 2020.
incompleto mais permeável a uma sociedade civil que se orga-
Fundamental
a) As eleições de governadores e senadores tinham
6,9% niza, que se articula, que constitui espaços públicos
26,9% completo caracteísticas semelhantes às eleições realizadas
Fundamental atualmente? Explique com itens do conjunto de a) Quais críticas a deputada constituinte faz à Cons- nos quais reivindica opinar e interferir sobre a polí-
tituição Cidadã?

dos assuntos abordados. A seção traz também


incompleto medidas proposto pelo governo militar. tica, sobre a gestão do destino comum da sociedade.
16,5%
Não lê e/ou b) Em sua opinião, por que os militares optaram por b) Quais elementos ela acredita que precisam ser A radicalização da democracia não significa apenas
escreve
uma abertura “lenta, segura e gradual”? Como mais bem conduzidos? a construção de um regime político democrático,
isso se relaciona com as estruturas da democracia c) Ao final do trecho, Rose de Freitas apresenta um mas também a democratização da sociedade e a
Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra
representativa brasileira que você analisou nas retrato da desigualdade econômica no Brasil atual. construção de uma cultura democrática. Esse é ain-

questões de importantes exames nacionais.


de Domicílios Contínua: Educação 2018. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibgearquivos/ unidades anteriores e nesta unidade? Como você analisa o contexto citado por ela, com da um desafio.
00e02a8bb67cdedc4fb22601ed264c00.pdf. Acesso em 30 jun. 2020. base no que estudou nas unidades anteriores e Adaptado de CarValHo, Maria do C. A. A.
4 Leia o trecho da entrevista concedida pela deputada em suas percepções sobre esse tema? Participação social no Brasil hoje. Disponível em:
a) Compare esse gráfico com o da página 95 e res- constituinte Rose de Freitas ao Serviço de Arquivo http://www.polis.org.br/obras/arquivo_169.pdf.
ponda: Os representantes no Congresso Nacional d) De que modo a Constituição pode contribuir para
Histórico do Senado Federal. Acesso em maio 2011.
têm o perfil escolar semelhante ao da população melhorar e eventualmente solucionar essas ques-
brasileira? tões? Para responder, elabore um texto em seu
caderno. Escolha o gênero que mais se adapta
b) Como o fator da escolarização contribui para o Entrevistadora – Apesar de
Charles Sholl/Futura Press

ao que você quer explorar. Se necessário, con- Considerando o texto e essa conjuntura, analise as
processo de oligarquização da democracia repre- ser chamada de Constituição ci-
sulte também o professor de Língua Portuiguesa. afirmativas, tendo em vista o significado da partici-
sentativa? Escreva uma dissertação sobre o tema, dadã, a senhora, então, não a vê
Em uma data combinada, compartilhe seu texto pação social:
apresentando suas reflexões. Depois, leia seu assim? Ao longo desses 30 anos, com os colegas. I. Participar da gestão dos interesses coletivos
texto para a turma. a senhora acha que os direitos significa participar do governo da sociedade, dis-
2 Leia o texto e, depois, responda às questões.
conseguidos foram diminuídos? 5 (Enem) putar espaço no Estado e no mercado, nos espa-
Senadora Rose de Freitas ços de definição e execução das políticas públicas.
[…] – Não, eu quero dizer o se- II. Os movimentos sociais têm, apesar das limitações
Em 1911, Robert Michels publicava a primeira edição guinte: a Constituição cidadã No sistema democrático de Schumpeter, os únicos e precariedades, construído contrapartidas que
de Para uma sociologia dos partidos políticos na democra- existe. Ela é pormenorizada. participantes plenos são os membros de elites políti- colocam num outro patamar de dignidade e
Senadora Rose de A Constituição brasileira é uma cas em partidos e em instituições públicas. O papel respeito setores excluídos da sociedade, rom-
cia moderna, obra que se tornou um marco incontornável
Freitas. Foto de 2016.
do debate acerca das potencialidades e limites da demo- Constituição cidadã. Ela existe, dos cidadãos ordinários é não apenas altamente limi- pendo as fronteiras dos espaços onde têm sido
cracia. No livro – que teria uma segunda edição publicada ela entra em detalhes dos direitos individuais, mas se es- tado, mas frequentemente retratado como uma intru- confinados.
em 1925, revisada e bastante ampliada em relação à pri- quecendo de muitas outras coisas. […] são indesejada no funcionamento tranquilo do pro- III. Ampliar a tolerância, o respeito democrático pelo
meira […] –, Michels aponta que qualquer organização so- Digo que ela precisa avançar porque eu acho… Por cesso “público” de tomada de decisões. diferente, eliminar as segregações raciais, de
cial de maiores dimensões (não só os partidos) tende a se exemplo, eu entrei no processo constituinte com uma men- gênero, de opção sexual, entre outras, é o resul-
Held, D. Modelos de democracia.
converter em uma oligarquia, passando a ser governada talidade profundamente estatizante. Hoje, eu vejo que o Belo Horizonte: Paideia, 1987. tado da incidência de práticas participativas que
Brasil não pode ser assim. Então, é importante que a gen-
constroem e modificam os valores sociais.
por uma reduzida camada de dirigentes, que se afasta dos
interesses da massa a quem deveria representar. Indepen- te entenda que os direitos de cada um também estão in- IV. Participar significa questionar o monopólio do
dentemente dos objetivos declarados pela organização, da cluídos dentro de uma plataforma de construção de um O modelo de sistema democrático apresentado pelo Estado como gestor da coisa pública, construir
texto pressupõe a: espaços públicos não estatais, abrir caminhos

Práticas de texto
forma de funcionamento interno, das características do Brasil mais desenvolvido, para que todos possam usufruir
a) consolidação da racionalidade comunicativa. para o aprendizado da negociação democrática
ambiente ou das idiossincrasias de seus líderes, a prática da renda e do trabalho com toda a dignidade pessoal.
e afirmar a importância do controle social sobre
da democracia interna se torna mais difícil quanto maiores Então, garantir que cada um tenha seu direito respei- b) adoção dos institutos do plebiscito e do referendo. o Estado.
forem a dimensão e o êxito alcançados pela agremiação. tado é muito certo; nisso não temos de mexer. Nós temos c) condução de debates entre cidadãos iguais e o
Estão corretas as afirmativas:
Estado.

Com base na produção textual de


RibeiRo, Pedro Floriano. A lei da oligarquia de Michels: modos de usar. até de avançar na questão do gênero da mulher. Mas, em
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 29, n. 85, p. 179-193, 2014.
a) II, III e IV, apenas.
relação ao capital e ao trabalho, por exemplo, nós temos d) substituição da dinâmica representativa pela cí-
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
de melhorar bastante. O Brasil pretende evoluir e se desen- vico-participativa. b) I, II e III, apenas.
arttext&pid=S0102-69092014000200012&lng=en&nrm=iso.
Acesso em: 20 abr. 2020. volver. Que esse desenvolvimento possa estar ao alcance e) deliberação dos líderes políticos com restrição da c) I, III e IV, apenas.
participação das massas. d) I, II, III e IV.

diferentes gêneros, a seção


Não escreva no livro. Não escreva no livro.
100 101

contribui para o desenvolvimento das


habilidades de leitura e escrita.

AMPLIANDO
Democracia: conceito e prática • corpo do texto, com parágrafos de desenvolvimen-

Muito se tem discutido, em diversas mídias, sobre os rumos da democracia na atualidade, ora
PRÁTICAS DE TEXTO TEXTO 2
Combate a racismo exige reconhecimento
to do tema e um parágrafo de conclusão;
• mapas, gráficos e imagens para complementar as
como crítica, ora como instrumento de legitimação de determinada forma de governo. Em sua acep- de privilégios da branquitude informações, com as respectivas legendas;
ção mais tradicional, a palavra democracia se refere à forma de governo que tem como principal Reportagem on-line Vantagens materiais e simbólicas de pessoas bran- • nome do(s) autor(es) da reportagem.
característica a escolha dos governantes pelo povo. Apesar disso, esse conceito sofreu diversas res- cas precisam ser notadas para enfrentamento da 5. Procurem ampliar a reflexão sobre o tema, levantan-
significações ao longo da história, passando a abarcar (ou rejeitar) uma série de novas implicações.

Ampliando
discriminação do diferentes pontos a respeito da questão abordada.
Proposta 2. Para inspirar a pesquisa sobre os temas, leia os
A escolha dos governantes pelo povo, por exemplo, supõe, por extensão, a ideia de soberania textos a seguir. Você vai às compras sozinha sabendo que não se-
6. Para ressaltar determinadas opiniões, utilizem argu-
popular e, ao mesmo tempo, o pressuposto de igualdade entre todos os que podem escolher seus Considerando os temas abordados neste capítulo no rá seguida ou perturbada?
mentos consistentes com base em exemplos, dados
representantes. Apesar disso, as dinâmicas internas de nossa sociedade colocam em cheque a que se refere às consequências da escravidão moderna, Se ligar a TV ou abrir o jornal, é certo que verá pes- estatísticos de fontes confiáveis, opiniões de espe-

Apresenta
ideia de igualdade presumida em um regime democrático. perceptíveis no país até os dias atuais, você e os colegas TEXTO 1 soas da sua raça amplamente representadas? cialistas, profissionais e outros envolvidos, além dos
À luz dessas inúmeras ressignificações e contradições, muitos poderão se perguntar: Vivemos vão escrever uma reportagem para ser publicada em Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil Quando um policial para seu carro, você tem con- relatos ou entrevistas coletados pelo grupo.
de fato em uma democracia? O que constitui uma democracia na atualidade? um blog da turma e compartilhada em redes sociais. casos de trabalho escravo no Brasil vicção de que não foi por causa da sua cor?
A reportagem tem como finalidade desenvolver de- 7. Utilizem uma linguagem coerente com a situação de
No trecho de texto a seguir, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz comenta suas percep- […] comunicação e com o público-alvo do texto.
terminado tema, apresentando diferentes informações A maior parte desses trabalhadores (1,2 mil)

textos diversos
ções a respeito da Constituição de 1988 e da democracia no Brasil atual. estava em áreas rurais e 1,1 mil foram resga-
e pontos de vista. Ela não se prende ao relato de um Se respondeu “sim” a essas perguntas, com certe-
8. Atentem para a coerência e a coesão do texto, a pon-
fato específico, como ocorre com a notícia, mas expõe tados, segundo o governo federal za você é uma pessoa branca. Esses são alguns dos
tuação das frases, a divisão dos parágrafos, a orto-
uma série de aspectos que ajudam o leitor a se apro- 46 privilégios brancos elencados pela pesquisadora grafia e a acentuação das palavras.
[...] a Constituição de 1988 continua sendo a melhor ex- […] Em 2018, ações fiscais da Inspeção do Tra-
Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

fundar na questão. americana Peggy McIntosh em 1988, quando a acadê-

sobre questões
balho, do governo federal, identificaram 1,7 mil ca-
pressão de um Brasil que firmou um sólido compromisso de-
sos de trabalho escravo no Brasil. A maior parte
mica feminista e antirracista se tornou a principal di-
Revisão e reescrita
mocrático em vários níveis das relações sociais, bem como Comunidade escolar e leitores interes- vulgadora dos estudos críticos da branquitude (“whi-
Público desses trabalhadores (1,2 mil) estava em áreas ru-
estabeleceu políticas maduras de defesa dos direitos huma- sados no tema. teness”, em inglês) enquanto lugar social de vantagens 1. Releiam e avaliem o texto, observando os seguintes
rais, onde a prática historicamente é mais comum.
nos. Ela é atenta às minorias políticas, avançada nas questões materiais e simbólicas. […] elementos:
Levar à reflexão sobre as influências

contemporâneas
Foram resgatadas 1 133 pessoas. Em todo o ano
ambientais, empenhada em prever meios e instrumentos cons- do processo de escravização nas con- menA, Fernanda; CAmAzAno, Priscila. Combate a racismo exige
Objetivo passado foram realizadas 231 inspeções. Em um
titucionais legais para a participação popular e direta. [...] dições de trabalho e sobre questões reconhecimento de privilégios da branquitude. Folha de O texto apresenta título, título auxiliar, lide e um
quarto delas houve registro de trabalho análogo ao S.Paulo, 15 dez. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.
como o racismo na sociedade brasileira. parágrafo inicial resumindo o tema a ser abordado?
A Constituição sublinhou, entre outros, a igualdade entre de escravo. com.br/ilustrissima/2019/12/combate-a-racismo-exige-
reconhecimento-de-privilegios-da-branquitude. O texto traz informações pertinentes que ajudam

associadas aos
homens e mulheres, o fim da tortura, o direito de resposta e Blog da turma e compartilhamento em Desde que o governo brasileiro reconheceu a
Circulação shtml?origin=folha. Acesso em: 30 mar. 2020.
a ampliar a discussão sobre o tema?
de indenização por dano material, moral ou à imagem, a au- redes sociais. existência dessa prática ilegal e passou a comba-
tonomia intelectual, artística, científica e de comunicação. tê-la, em 1995, os grupos de fiscalização da Inspe- As fontes pesquisadas são confiáveis e estão
Tornou o racismo um crime inafiançável e imprescritível; de- ção do Trabalho resgataram 53 607 trabalhadores Branquitude: termo que se refere à identidade racial branca, devidamente identificadas?
Planejamento e elaboração relacionado aos privilégios simbólicos e objetivos desse seg-

assuntos da
terminou o caráter inviolável da intimidade, da vida privada e nessa condição em todo o país. Nesse período, fo-
mento em detrimento da população não branca. Há recursos imagéticos complementares
da honra; proibiu a violação do sigilo de correspondências; ram pagos mais de R$ 100 milhões em verbas sa-
1. Forme um grupo com até cinco integrantes. Definam devidamente descritos por meio de legendas?
permitiu o acesso a informações, a criação de associações, o lariais e rescisórias durante as operações.
o tema da reportagem que vocês vão escrever e uma 3. Um dos elementos-chave de uma boa reportagem é A linguagem e o registro do texto estão
direito à propriedade; definiu o fim da censura de natureza […]
pergunta norteadora que gostariam de esclarecer a qualidade da pesquisa feita previamente. Para adequados à situação de comunicação e sem

unidade, com o
política, ideológica e artística; e estabeleceu a liberdade de ou desenvolver ao longo do texto. Sempre que pos- De acordo com o artigo 149 do Código Penal embasar o texto, vocês podem utilizar fontes: desvios ortográficos?
consciência, de pensamento, de crença, de convicção filosó- sível, considerem as características locais da comu- brasileiro, caracterizam o trabalho análogo ao de
nidade escolar. Confiram abaixo algumas sugestões. • escritas, como notícias, verbetes de enciclopédia,
fica e política. escravo condições degradantes de trabalho (incom- 2. Façam os ajustes e as melhorias que considerarem
gráficos, infográficos e textos informativos. Obser-
• De forma geral, como andam as condições de tra- patíveis com a dignidade humana, caracterizadas necessários e redijam a versão final, salvando-a em
Schwarcz, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: vem se as publicações são confiáveis e anotem au-

intuito de
Companhia das Letras, 2019. E-book. balho e empregabilidade locais? As oportunidades pela violação de direitos fundamentais [que] colo- uma pasta compartilhada entre o grupo.
tores, nome das publicações, links, etc.;
de trabalho na região em que vocês vivem consi- quem em risco a saúde e a vida do trabalhador),
• orais, como entrevistas e relatos. Nesse caso, con- 3. Caso haja imagens ao longo do texto, atentem para
deram a diversidade da população local? Como? jornada exaustiva (em que o trabalhador é subme-
videm especialistas ou outras pessoas envolvidas que o tamanho delas possibilite uma boa visualização.
Cabine de votação no Rio de Janeiro (RJ). tido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho
Foto de 2018. A eleição é o instrumento • Que atitudes podem ser adotadas para comba- com o tema, combinem horário e local para a reali-

desenvolver a
que acarreta danos à sua saúde ou risco de vida),
pelo qual a população brasileira escolhe ter o trabalho análogo à escravidão na região zação da entrevista (ou videoconferência), elaborem Circulação
seus representantes no governo.
trabalho forçado (manter a pessoa no serviço atra-
onde vocês vivem? o roteiro com perguntas e providenciem equipamen-
vés de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e 1. Publiquem o texto no blog da turma. Caso não tenham
• Que atitudes podem ser adotadas por empresas to para registrar a conversa em vídeo, áudio ou por
violências físicas e psicológicas) e servidão por dí- um blog, pesquisem por sites gratuitos para a criação
para combater o racismo estrutural? Que medi- escrito. Se necessário, solicitem a autorização dos
1. Para você, o que é democracia?

reflexão e a
vida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um da página e criem uma conta compartilhada.
das sociais são imprescindíveis para combater o entrevistados para a divulgação das informações.
débito e prendê-lo a ele). Os elementos podem vir
2. Você concorda com a opinião da historiadora a respeito da Constituição de 1988 e do estado racismo? 2. As reportagens devem ser publicadas no blog, uma
juntos ou isoladamente. 4. A reportagem deve conter estes elementos:
da democracia brasileira na atualidade? Por quê? • Como o racismo pode ser combatido dentro da por vez, atentando para os tamanhos do texto e das
Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil casos de trabalho • título; imagens, o espaçamento entre parágrafos, etc.
escola? Em que medida é possível perceber o au-

análise crítica.
escravo no Brasil. O Globo, 28 jan. 2019. Disponível em:
3. A Constituição Federal de 1988 determina o Brasil como um “Estado democrático de direito”. torreconhecimento e a autovalorização da popu- • título auxiliar que chame a atenção do leitor;
https://oglobo.globo.com/economia/em-2018-fiscais- 3. Leiam os textos dos outros grupos e deixem comen-
Em sua opinião, todas as instâncias que compõem a sociedade brasileira são realmente lação negra na comunidade em que a escola está identificaram-17-mil-casos-de-trabalho-escravo-no- • lide ou parágrafo inicial resumindo os elementos tários sobre eles, sempre prezando pelo respeito e
democráticas? Por quê? inserida? Que exemplos podem ser encontrados?
brasil-23409423. Acesso em: 30 mar. 2020.
principais a serem desenvolvidos no texto; pela troca cooperativa de informações.

Não escreva no livro.


128 30 Não escreva no livro. Não escreva no livro.
31
SEÇÃO ESPECIAL

PRÁTICAS DE PESQUISA Procedimentos rapidamente ou ele parece bem denso? O tipo de or-
ganização do texto incentiva a leitura?

Parte I – Planejamento 3 Analisem o texto escrito: As palavras usadas são sim-


ples ou complexas? Há uso de adjetivos para qualifi-
1 Organizem-se em grupos de quatro ou cinco inte-
Democracia em xeque grantes.
car as informações? Há ênfase ou repetição de ter-
mos? Há muitos subtítulos? O texto é formal ou
informal? O texto traz apenas informações ou também
Para começar 2 Procurem, em jornais e/ou revistas impressos, notícias traz opiniões? As opiniões são do(a) autor(a) do texto
ou reportagens recentes que tenham relação com o ou aparecem em entrevistas e referências a terceiros?
Nesta unidade, estudamos os significados de autoritarismo e democracia no tema da pesquisa. Cada grupo deve trabalhar com pe-
contexto da história brasileira da segunda metade do século XX até os dias de O texto apresenta, explícita ou implicitamente, julga-
lo menos três notícias ou reportagens publicadas em
hoje, compreendendo a importância dos movimentos sociais para a construção e mentos de valor?
três jornais ou revistas diferentes.
a estabilidade da democracia.
Após o final da Guerra Fria, os regimes democráticos predominaram em mui- 4 Agora, discutam sobre como cada jornal ou revista que
tos países do mundo, ainda que alguns se mantivessem sob regime autoritário.
Parte II – Levantamento de artigos vocês analisaram informa e se posiciona sobre o as-
Contudo, no presente, estudiosos têm detectado uma mudança de cenário em sunto pesquisado: Dá destaque ao tema ou o trata de
1 Consultem as versões impressas dos jornais ou das maneira superficial? Parece ser favorável, desfavorá-
grande parte do mundo ocidental: a democracia liberal tem sido questionada por
revistas em sua totalidade. Essa etapa é importan- vel ou não se posiciona? Que elementos do discurso,
uma corrente política denominada extrema direita e líderes que representam es-
te porque o objetivo da pesquisa é investigar a for- considerando todos os elementos presentes na ma-
se pensamento têm ascendido ao poder. Nesta seção, faremos uma análise em
ma de veicular informações e o posicionamento de téria, comprovam a opinião de vocês?
jornais e revistas para entender como esse fenômeno tem sido visto pela mídia
cada revista ou jornal consultado.

Práticas de pesquisa
tradicional, utilizando, para isso, a análise de discurso multimodal.
5 Elaborem um relatório com as considerações do gru-
2 É importante ter contato com a obra inteira. Se não po para cada matéria analisada. Comecem esse rela-
Emmanuel Dunand/AFP

houver essa possibilidade, procurem na internet as tório reproduzindo as informações da ficha de leitura
versões on-line desses veículos de comunicação,

Propõe diferentes metodologias e


e, em seguida, redijam um texto com as conclusões do
mas busquem versões completas. Evitem fazer a grupo e os argumentos que as sustentam.
pesquisa por meio de buscas na internet. Se fize-
rem isso, vocês só terão contato com notícias ou re-
portagens isoladas – o que não garante que o texto Questões para discussão

procedimentos de pesquisa com o


Victor Orban, primeiro- tenha sido publicado em um jornal ou revista com
-ministro da Hungria, é um versão impressa, perdendo a noção do conjunto.
dos líderes de extrema 1. Que desafios vocês encontraram durante a realização
direita que chegou ao desse tipo de pesquisa (análise de mídias tradicionais)?
poder. Em mais de dez 3 Dividam as matérias entre os integrantes do grupo,

objetivo de aprimorar a investigação


anos no cargo, Orban
O que foi mais fácil e o que foi mais difícil?
promoveu a fragilização
de modo que cada um faça, individualmente, a leitura
das instituições do Estado de uma delas e elabore uma ficha para a matéria lida. 2. Como a ascensão dos líderes de extrema direita é
democrático na Hungria. Na ficha, deve constar: apresentada nas matérias jornalísticas? É possível
Na foto, o governante indicar uma posição predominante entre os veículos

e o raciocínio científico.
discursa no Parlamento da • o veículo e a data nos quais a matéria foi publicada; de comunicação analisados?
União Europeia, na
Bélgica, em 2017. • o título da matéria e o(a) autor(a);
3. O que os vocês aprenderam sobre as características
• o assunto da matéria;
do populismo de direita? De que maneira se posicio-
O problema • um resumo com as ideias principais do texto. nam em relação a ele?
O mundo vivencia um momento de questionamento da democracia liberal
e de ascensão ao poder de líderes de extrema direita, com inspiração autoritá- 4 Combinem um encontro do grupo para que cada inte-
ria. Que países têm líderes desse tipo e que ações os caracterizam? Como di- grante apresente sua ficha. Em seguida, vocês vão Comunicação dos resultados
ferentes jornais e revistas informam sobre essas ações e como se posicionam realizar as análises de discurso de cada matéria.
diante delas? Para que o resultado das pesquisas realizadas por vo-
cês possa ser conhecido por mais pessoas, organizem um
Parte III – Análise das fontes
A investigação debate com as outras turmas da escola que realizaram
• Prática de pesquisa: análise de mídias tradicionais (princípios de análise de 1 Observem os elementos visuais: O texto ocupa muito essa mesma pesquisa.
discurso multimodal) ou pouco espaço na página? A maneira como está dis- Cada turma deve apresentar seus resultados às outras,
posto chama a atenção do leitor? Que tipos de ima- explicando suas conclusões e seus argumentos. O obje-
Material gem o acompanham? Qual a função delas? tivo do debate não é chegar a uma conclusão em comum,
mas trocar ideias. Dessa maneira, é importante ter clare-
• Folhas para anotações, lápis e caneta
2 Verifiquem a forma como o texto é diagramado: Os za na exposição das opiniões e dos argumentos e respei-
• Computador com acesso à internet parágrafos são longos ou curtos? É possível lê-lo tar o posicionamento dos colegas.
• Jornais e revistas impressos

Não escreva no livro. Não escreva no livro.


114 115

Não escreva no livro.


5
SUMÁRIO
Apresentação dos objetivos, justificativas e competências 8

UNIDADE 1 CAPÍTULO 3 – Vidas negras Atividades 54


10 no Brasil 32 Ampliando: Igualdade e
Índices sociais 33 desempenho 56
Ecos da escravidão no Brasil Quem é alvo da violência CAPÍTULO 5 – A busca pela
no Brasil? 35
igualdade 58
Vidas negras importam!
Histórias de lutas, sobrevivência Investigando as resistências:
CAPÍTULO 1 – Escravidão e trabalho e resistências 37 panorama da Primeira República 59
análogo à escravidão 12 Políticas públicas para a A cidadania para a
igualdade racial 38 população negra 60
O trabalho análogo à escravidão
nos espaços urbanos 13 Consciência negra, militância e Políticas afirmativas 61
O tráfico de escravizados 16 aquilombamentos 39 Feministas e a
Atividades 40 emancipação feminina 62
Continuidades históricas
no campo 18 Práticas de pesquisa: Mulheres cidadãs:
Racismo estrutural 42 desafios atuais 65
Atividades 21
Igualdade de gênero 66
Ampliando: A moralidade de UNIDADE 2
Kant e a escravidão 22 44 Atividades 67

CAPÍTULO 6 – Povos tradicionais:


Cidadania brasileira hoje a luta permanente 68
CAPÍTULO 2 – Existe racismo
no Brasil? 24 Os povos indígenas e a
Constituição de 1988 69
Questões estruturais 25 CAPÍTULO 4 – Igualdade social
O interesse privado nas
Sistema escravocrata ou privilégios? 46 Terras Indígenas 70
no Brasil 26 Panorama da desigualdade 47 Comunidades de
Contexto do pós-abolição 27 Fissuras sociais 48 remanescentes quilombolas 73
Racismo estrutural: Como nascem os privilégios? 49 Atividades 75
um panorama geral 28 Os privilégios no Brasil 50 Práticas de texto:
Atividades 29 Meritocracia 52 Vídeo para um vlog 76
Práticas de texto: É possível pensar em Práticas de pesquisa:
Reportagem on-line 30 meritocracia no Brasil? 53 Privilégios à brasileira 78

6
CAPÍTULO 9 – Os movimentos Atividades 127
UNIDADE 3 80 populares 104 Ampliando: Democracia:
Ética e movimentos populares 105 conceito e prática 128
O Brasil e a democracia A questão agrária 106
CAPÍTULO 11 – Múltiplos
Ciberativismo 111
desafios 129
Atividades 112
Conhecendo os desafios:
CAPÍTULO 7 – O Estado brasileiro Práticas de texto: indicadores sociais 130
é autoritário? 82 Escrita de biografia 113
Atividades 136
Índice de Democracia: tipos Práticas de pesquisa:
Democracia em xeque 114 Práticas de texto:
de regime 83
Debate regrado 137
Debate sobre o autoritarismo 84
CAPÍTULO 12 – Possibilidades de
Instabilidades políticas
e intervenções no
UNIDADE 4 116 futuro: a periferia 138
Brasil republicano 85 Periferia: espaço e identidade 139
Resistência e busca pela Democracia brasileira: Produção cultural
democracia 90 desafios nas periferias 140
Atividades 92 Vozes periféricas 141
Periferia literária 142
CAPÍTULO 10 – Direitos sociais 118
CAPÍTULO 8 – Representatividade Empreendedorismo periférico 143
Saúde pública 119
e democracia 94 Empreendedorismo social 144
Educação em pauta 121
Crise na representatividade Atividades 145
democrática 95 Um novo Ensino Médio 122
Práticas de pesquisa:
Constituição de 1988: avanços Programas sociais e
Futuro profissional 146
democráticos 99 investimentos públicos 123
Projetos políticos 125 Competências e habilidades
Atividades 100
desenvolvidas nesta obra 150
Ampliando: Soberania Estado de bem-estar social 125
do povo 102 Políticas neoliberais 126 Bibliografia comentada 158

Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens

7
Este volume propõe uma reflexão sobre os problemas estruturais do Brasil
por meio da análise dos processos políticos e sociais relacionados ao passado
Apresentação escravocrata, que reverberam de diversas maneiras no cotidiano dos brasilei-
ros. Busca-se refletir sobre as instituições públicas, os projetos políticos e os
dos objetivos desafios em prol do bem comum, desnaturalizando e problematizando formas
de desigualdade, de preconceito, de intolerância e de discriminação.

OBJETIVOS COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

• Refletir sobre os problemas es-


truturais da sociedade brasileira.
Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construí-
1
• Analisar os processos políticos dos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e
e sociais relacionados ao pas- explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a cons-
sado escravocrata. trução de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
• Identificar as gêneses das di-
versas formas de desigualda-
Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem
des sociais étnico-culturais. 2
própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a
• Identificar os privilégios de análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar
uma parcela da sociedade. causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver pro-
• Promover princípios éticos, in- blemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base
clusivos, sustentáveis e solidá- nos conhecimentos das diferentes áreas.
rios, em benefício de uma
sociedade mais democrática e
do Estado de direito. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e
3
culturais, das locais às mundiais, e também participar de
• Refletir sobre a participação
práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
dos indivíduos na vida pública
e na produção cultural.
Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-
4
-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e
JUSTIFICATIVAS digital –, bem como conhecimentos das linguagens artísti-
ca, matemática e científica, para se expressar e partilhar
A formação para a cidadania con- informações, experiências, ideias e sentimentos em dife-
tribui para a produção de novas rentes contextos e produzir sentidos que levem ao enten-
perspectivas sobre a realidade so- dimento mútuo.
cial. Com base nas reflexões e pro-
blematizações realizadas, é possível
observar a dinâmica das instituições
públicas, os projetos políticos e os
desafios para o bem comum.
COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE CIÊNCIAS HUMANAS
O estudo a respeito da cidada- E SOCIAIS APLICADAS PARA O ENSINO MÉDIO
nia colabora para o desenvolvi-
mento de competências e habili-
dades, procurando motivar e Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e
1
melhorar as relações na comuni- culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferen-
dade mediante um conjunto de tes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológi-
ações que visa promover a troca cos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-
de experiência sobre os direitos, -se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos
deveres e responsabilidades. No de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de
contexto atual, é importante iden- natureza científica.
tificar as formas de atuação em
prol da cidadania, considerando
os direitos e deveres coletivos e Analisar a formação de territórios e fronteiras em
individuais e adotando princípios 2
diferentes tempos e espaços, mediante a compreen-
éticos que são essenciais para a são das relações de poder que determinam as terri-
promoção de uma sociedade mais torialidades e o papel geopolítico dos Estados-nações.
justa, democrática e inclusiva.

8
5 Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e
comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diver-
sas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, aces-
sar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver pro-
blemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6 Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apro-


priar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem en-
tender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas
alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com
liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

7 Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis,


para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões
comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a cons-
ciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local,
regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado
de si mesmo, dos outros e do planeta.

8 Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocio-


nal, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo
suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para
lidar com elas.

9 Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a coo-


peração, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e
aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversida-
de de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, cul-
turas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10 Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabi-


lidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando de-
cisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos,
sustentáveis e solidários.

5 Identificar e combater as
diversas formas de injustiça,
preconceito e violência, ado-
tando princípios éticos, de-
mocráticos, inclusivos e soli-
dários, e respeitando os
Direitos Humanos.

3 Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes gru-


pos, povos e sociedades com a natureza (produção, distribuição
e consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com
vistas à proposição de alternativas que respeitem e promovam
6 Participar do debate públi-
a consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável
co de forma crítica, respeitan-
em âmbito local, regional, nacional e global.
do diferentes posições e fa-
zendo escolhas alinhadas ao
exercício da cidadania e ao
Analisar as relações de produção, capital e trabalho em seu projeto de vida, com liber-
4
diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o pa- dade, autonomia, consciência
pel dessas relações na construção, consolidação e trans- crítica e responsabilidade.
formação das sociedades.

9
ECOS DA ESCRAVIDÃO
NO BRASIL

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE

Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB6,
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.

Competências específicas e
habilidades das áreas:
IDEIAS

CECHSA1: EM13CHS101, Por mais de três séculos, vigoraram no Brasil leis que as-
EM13CHS102, EM13CHS103 e
IDEIAS

seguravam a legalidade da escravidão e permitiam que se-


EM13CHS105.
nhores
1. tivessem direito de posse sobre africanos escraviza-
CECHSA5: EM13CHS501,
EM13CHS502 e EM13CHS503. dos. O sistema escravocrata marcou a sociedade brasileira e
ORGANIZAR

2.
garantiu muitos privilégios a uma parcela da população bran-
CECHSA6: EM13CHS601 e
ORGANIZAR

EM13CHS602. ca. Tais privilégios ganharam contornos racistas após a Lei


CECNT2: EM13CNT206. Áurea, que tornou a escravidão ilegal no país.
CECNT3: EM13CNT301 e
EM13CNT302. 1. Diante das gêneses dos problemas estruturais do nosso
CELT5: EM13LGG502. país, o que é necessário para superar os impactos da es-
CELT7: EM13LGG704. cravidão na sociedade brasileira atual?
CEMT1: EM13MAT102 e 2. De que maneira os mais de trezentos anos de escravidão
EM13MAT104.
se refletem no cotidiano dos brasileiros?

10
Unidade

Wesley Almeida/Acervo do fotógrafo


Escravidão e trabalho análogo à escravidão 1

Existe racismo no Brasil? 2

Vidas negras no Brasil 3

Mãos de uma pessoa


submetida ao trabalho
análogo à escravidão em
São Paulo (SP), 2020.

11
X1
ESCRAVIDÃO E TRABALHO
CAPÍTULO

ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO
A palavra “escravidão” remete, geralmente, à imagem de africanos sequestra-
» Competências e
dos e comercializados como escravizados, especialmente no continente america-
habilidades
no, entre os séculos XVI e XIX.
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. Apesar de o fim do regime escravocrata ter sido oficializado no Brasil em 1888,
CECHSA1: EM13CHS101, com a assinatura da Lei Áurea, atualmente há milhares de trabalhadores que são
EM13CHS102, EM13CHS103 e submetidos a condições análogas à escravidão.
EM13CHS105.
De acordo com o Código Penal brasileiro, essa situação é caracterizada pelos
CECHSA5: EM13CHS502 e
EM13CHS503.
seguintes aspectos:
CECNT2: EM13CNT206. • Condições degradantes de trabalho: refere-se a condições que violam a digni-
CEMT1: EM13MAT102 e dade do trabalhador, colocando sua vida ou sua saúde em risco. Por exemplo:
EM13MAT104. instalações precárias; ausência de equipamentos de proteção individual; falta
de saneamento básico, de água potável e de assistência médica.
• Jornadas exaustivas: são jornadas de trabalho que ultrapassam o limite de
horas estabelecido por lei e submetem as pessoas ao trabalho excessivo, cau-
sando danos à sua saúde ou colocando sua vida em risco.

BRASIL: PRINCIPAIS ATIVIDADES DE • Trabalho forçado: é caracterizado por res-


tringir a liberdade dos trabalhadores, man-
TRABALHADORES RESGATADOS (1995-2016)
tendo-os isolados e sob ameaças de
Adilson Secco/ID/BR

violência física e psicológica para que não


(1 350) 3% 2% (984) deixem de trabalhar.
reflorestamento extrativismo vegetal

(2 420) 4% 1% (689)
• Servidão por dívida: nesse caso, os traba-
atividades diversas mineração
lhadores são obrigados a trabalhar para
e não identificadas pagar uma dívida ilegal, geralmente rela-
1% (553) cionada a gastos com o próprio serviço,
confecção têxtil
como aquisição de ferramentas e equipa-
(2 772) 5%
desmatamento 31% (16 824) mentos de trabalho, moradia e alimenta-
(2 888) 6% pecuária ção durante a jornada de trabalho. A
construção civil cobrança é feita de modo desproporcio-
nal, descontando valores diretamente do
(3 791) 7%
carvão vegetal salário do trabalhador.
Pesquisadores e juristas distinguem
escravidão de trabalho análogo à escra-
vidão por se tratar de contextos históricos
(9 754) 18% 22% (11 939) específicos, como veremos ao longo des-
lavouras diversas cana-de-açúcar te capítulo.
Observe o gráfico ao lado, elaborado com
base em informações sobre os trabalhado
Fonte de pesquisa: Escravo, nem pensar! Disponível em: http://
escravonempensar.org.br/o-trabalho-escravo-no-brasil/. res que foram resgatados de condições de
Acesso em: 30 mar. 2020. trabalho análogas à escravidão.

1. A liberdade é assegurada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,


proclamada em 1948. De que modo a situação retratada no gráfico se rela-
ciona a esse direito? Reflita a respeito disso e comente suas percepções com
os colegas.
2. O município ou o estado onde você mora realiza algumas das atividades eco-
nômicas presentes no gráfico? Você se lembra de alguma notícia sobre traba-
lho análogo à escravidão na região onde vive? Em caso afirmativo, é possível
relacioná-la aos dados do gráfico? Compartilhe suas informações com a turma.

Não escreva no livro.


12
O TRABALHO ANÁLOGO
À ESCRAVIDÃO NOS ESPAÇOS URBANOS
Retome o gráfico da página 12 e observe as atividades econômicas mencio-
nadas nele. Você vai notar que os setores da construção civil e da indústria têxtil
concentram os maiores números de trabalhadores libertados de atividades aná-
logas à escravidão realizadas nos meios urbanos. Trata-se de uma realidade que
aflige brasileiros e imigrantes no país.

Construção civil
De acordo com dados do Ministério do Trabalho e do Emprego, em 2018, o se-
tor da construção civil era o terceiro que mais empregava trabalhadores subme-
tidos a regimes análogos à escravidão.
O texto a seguir aborda um caso de trabalhadores resgatados dessa situação,
no município de Juiz de Fora (MG). A pesquisadora Glaucy Ribeiro acompanhou
o trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT), órgão responsável por inves-
tigar e atuar em casos como esse.

É interessante notar como um setor considerado termômetro para a economia,


ou seja, quando a economia vai bem, o setor vai bem, quando a economia vai mal,
a construção civil acompanha, pode ser cenário também de arbitrariedades na área
trabalhista.
[…]
O trabalho de auditoria foi […] acompanhado de representantes do MPT para
verificação acerca da veracidade das denúncias recebidas. Foi constatado que os
trabalhadores eram migrantes […], tendo sido alojados em pequenos hotéis da ci- Aliciador: aquele que convence outro
dade. A prática de aliciamento foi constatada, tendo como exemplo os trabalhado- por meio de argumentos que não são
verdadeiros.
res vindos da cidade de Poço Redondo, no Sergipe.
Estes trabalhadores foram procurados por aliciadores,
Cesar Diniz/Pulsar Imagens

os chamados “gatos”, conhecidos como Zildo e Cláudio.


Este último informou aos trabalhadores que os mesmos
deveriam pagar a quantia de R$ 400,00 (quatrocentos
reais) pelo transporte, mas que o valor seria restituído
pela empresa contratante quando chegassem a Juiz de
Fora. […]
Ao chegarem, serventes, pedreiros, carpinteiros e ar-
madores se depararam com a triste realidade. As promes-
sas que lhes foram feitas eram falsas. Desta forma, os
homens tiveram que pagar pela alimentação […], foram
informados que também os valores pagos pelo transpor-
te não seriam restituídos.
Já no alojamento foram verificadas irregularidades
como a superlotação dos quartos, o que obrigava os tra-
balhadores a dividirem camas de solteiro. Além disso, a
alimentação era de péssima qualidade e em quantidade
insuficiente.
[…] Aqui também estes homens foram separados de
suas famílias e amigos, trazidos amontoados em um meio
de transporte precário.
O setor da construção civil é um dos
RibeiRo, Glaucy Meyre de Oliveira. Escravidão moderna: o trabalho no setor da construção civil.
que mais submete trabalhadores a
Dissertação (Mestrado em Direito e Inovação) – Universidade Federal de Juiz de Fora,
condições análogas à escravidão.
Faculdade de Direito, Minas Gerais, 2017. p. 84-85.
Prédio em construção em São
Paulo (SP). Foto de 2018.

Não escreva no livro.


13
Indústria têxtil
Como você leu no texto da pesquisadora Glaucy Ribeiro, os trabalhadores sub-
metidos a condições análogas à escravidão são aliciados por discursos repletos
de promessas de uma vida melhor e de condições legalizadas de trabalho, além
de rápido retorno financeiro.
Geralmente, os grupos de trabalhadores são levados para longe do lugar onde
vivem, muitas vezes para outro estado, ficando isolados de sua comunidade e,
consequentemente, distantes de quem poderia ajudá-los a escapar da situação
análoga à escravidão. Nessas condições, esses trabalhadores são privados da li-
berdade e de seus direitos a uma vida digna.
Além da construção civil, a indústria têxtil também con-

Daniel Cymbalista/Pulsar Imagens


centra uma quantidade considerável de trabalhadores
em situações análogas à escravidão. De acordo com da-
dos da organização não governamental Rede Brasil Atual,
as principais vítimas dos aliciadores são mulheres latino-
-americanas que nasceram em áreas muito pobres do
continente, como as zonas periféricas da Bolívia e do Pe-
ru. Elas são trazidas para trabalhar em confecções na Re-
gião Sudeste do Brasil, especialmente no estado de São
Paulo, permanecendo nos locais de trabalho, onde dor-
mem e fazem as refeições. As construções em que essas
confecções estão instaladas geralmente não têm infraes-
trutura adequada e são muito suscetíveis a incêndios.
Além disso, muitas vezes, as trabalhadoras têm seus do-
cumentos retidos pelos empregadores e, assim, ficam im-
pedidas de buscar outras possibilidades de trabalho ou
de se mudar.
Na indústria da moda têxtil, o
emprego de mão de obra submetida
a condições análogas à escravidão
ocorre no Brasil e em diversos
países. Em 2013, surgiu um AÇÃO E CIDADANIA
movimento internacional chamado
Fashion Revolution, que defende a Consumo consciente
transparência da cadeia produtiva
das roupas. Vista interna de uma loja Você já se perguntou por que as empresas submetem trabalhadores a regimes
de roupas em São Paulo (SP), 2019. análogos à escravidão? Submeter grupos de trabalhadores a situações como as
listadas na página 12 diminui muito os gastos com funcionários da empresa con-
tratante, que deveria garantir a seus trabalhadores salário digno, transporte, ali-
mentação, folga remunerada, equipamentos de segurança, décimo terceiro salá-
rio, assistência médica e jornadas de trabalho saudáveis, entre outros direitos
garantidos por lei.
É fundamental que os consumidores saibam a procedência dos produtos que
adquirem e cobrem das empresas condutas alinhadas aos direitos humanos. O
primeiro passo é conhecer quais são as empresas ligadas ao trabalho escravo pa-
ra, então, pressioná-las a regularizar seus sistemas de trabalho. Para isso, desde
2016, o Ministério Público do Trabalho divulga o Cadastro de empregadores que
tenham submetido trabalhadores a condições análogas à escravidão, apelidado
de Lista suja do trabalho escravo, que consiste em uma lista com os nomes dos
empregadores autuados por submeter funcionários diretos ou terceirizados a es-
sa situação.
1. Do ponto de vista humanitário, você considera correto uma empresa submeter
trabalhadores a regimes análogos à escravidão? Por quê? Explique sua res-
posta aos colegas.
2. Faça uma pesquisa em publicações digitais ou impressas e consulte a versão
mais atual da Lista suja do trabalho escravo. Há alguma marca ou empresa
nessa lista que produza mercadorias que você consome? Em caso afirmativo,
como você se posiciona diante disso? Liste suas ações no caderno e compar-
tilhe-as com a turma.

Não escreva no livro.


14
Passado escravocrata
Os pesquisadores não chamam o trabalho escravo contemporâneo de escra-
vidão. Como você observou na abertura deste capítulo, trata-se de uma escolha
científica para diferenciar os regimes de trabalho que submetem as pessoas a
condições análogas à escravidão da escravidão que fazia parte da estrutura do
Brasil desde o período colonial.
A escravização que ocorreu no Brasil entre os séculos XVI e XIX é chamada
pelos especialistas de escravidão moderna, pois desenvolveu-se sensivelmente
durante a Idade Moderna, período histórico em que parte da Europa Ocidental se
voltava para a exploração de terras e do trabalho de pessoas de outros continen-
tes. A opção por essa expressão também tem por objetivo diferenciá-la dos regi-
mes de escravidão surgidos durante a Antiguidade em diferentes locais, como
Grécia, Roma e Egito antigos.
É possível notar algumas similaridades entre a escravidão moderna e as con-
dições de trabalho análogas à escravidão. Porém, trata-se de circunstâncias si-
tuadas em contextos históricos diferentes, cuja principal distinção é o fato de, no
primeiro caso, a escravidão ser permitida por lei no Brasil e defendida pela maio-
ria dos governantes, que também eram os detentores de terras e de africanos
escravizados. Nesse tipo de estrutura, uma pequena parcela da população detém
o poder político e econômico em detrimento de uma grande camada da popula-
ção, na qual a maioria das pessoas tem seus direitos negligenciados.
O Brasil foi o último país da América Latina a pôr um fim na escravidão moder-
na. Em termos históricos, trata-se de um evento recente: a escravidão moderna
foi extinta há cerca de 130 anos, após vigorar por mais de três séculos. De acordo
com pesquisadores, como Lilia Schwarcz e Laurentino Gomes, a proximidade his- Naturalizar: no texto, refere-se ao ato
de tornar algo natural, normal.
tórica com a realidade escravista e o longo período em que essa realidade persis-
tiu são dois dos principais motivos que colaboram para naturalizar:
• a violência contra trabalhadores, em especial aqueles com níveis menores de
escolaridade e de renda;
INTERAÇÃO
• a existência de grupos que detêm uma grande quantidade de riquezas en- 1. De que modo a charge
quanto outros vivem na miséria. desta página relaciona
Os dois aspectos listados evidenciam características das desigualdades social, a escravidão moderna
com os regimes de tra-
racial, econômica e cultural de nosso país. Ambos não são evidências naturais, e
balho atuais que são
sim construções históricas e sociais. Essa percepção é importante para que pos-
considerados análogos
samos analisar e questionar a nossa sociedade.
à escravidão? Comente
Dessa forma, pesquisar as condições sociais atuais do Brasil e conhecer suas suas percepções com
estruturas no passado favorecem a nossa compreensão do presente, as continui- os colegas.
dades históricas, os movimentos de transformação e também a percepção de co-
mo podemos agir para a construção de um país mais justo.
Dálcio/Acervo do artista

Dálcio. Correio Popular,


25 jan. 2015.

Não escreva no livro.


15
O TRÁFICO DE ESCRAVIZADOS
Como você observou na página 13, o aliciamento de trabalhadores por empre-
sas que submetem pessoas a regimes análogos à escravidão é caracterizado, en-
tre outros aspectos, pelo transporte dos grupos aliciados para locais distantes de
suas residências e comunidades. Trata-se de mais uma semelhança entre o con-
texto atual desse problema e a escravidão moderna.
O mapa a seguir retrata o tráfico de pessoas escravizadas do continente africa-
no para outros continentes. Esse processo é conhecido como diáspora africana.

TRÁFICO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS PARTINDO DA ÁFRICA (1500-1900)

João Miguel A. Moreira/ID/BR



EUROPA

M
Mar Negro

ar

AMÉRICA ESTADOS

sp
io
UNIDOS
DO NORTE TUNÍSIA
Mar Mediterrâneo ÁSIA
OCEANO MARROCOS
LÍBIA
EGITO
ATLÂNTICO

Ma
Trópico de Câncer
Cuba

rV
ARÁBIA

erm
São Domingo ÍNDIA
Veracruz
Jamaica

elh
IÊMEN Mar da

o
AMÉRICA Barbados Senegâmbia Costa do
1700-1900 Arábia
CA
CENTRAL Cartagena RI Marfim ÁFRICA
BE Serra Benin
Leoa Costa
do Ouro Biafra
Equador 0°

OCEANO
1500-1900 Costa
PACÍFICO AMÉRICA
Suaíli
Costa oeste
DO SUL da África Central
OCEANO
Número de africanos ÍNDICO
escravizados BRASIL Sudeste Madagascar
Trópico de Ilhas
Capricórnio da África Mascarenhas

8 000 000
de Greenwich

4 000 000
Meridiano

2 000 000 URUGUAI


1 000 000
0 1 365 km

Fonte de pesquisa: Banco de Dados do Tráfico Transatlântico de Escravos. Disponível em: https://slavevoyages.org/voyage/maps#introductory-.
Acesso em: 5 abr. 2020.

PARA EXPLORAR Além dos traumas do sequestro, as pessoas aprisionadas tinham de lidar com
as longas jornadas atlânticas, as péssimas condições das embarcações, a escas-
» Banco de Dados do Tráfico
sez de água e de alimentos e os constantes maus-tratos durante a viagem, oca-
Transatlântico de Escravos
sionando muitas mortes nessa travessia. O gráfico abaixo fornece um panorama
O mapa e o gráfico desta pá-
gina foram construídos com tanto da quantidade de africanos escravizados embarcados e desembarcados
base nas informações dispo- quanto da mortalidade nas viagens transatlânticas, fatos que corroboram a de-
nibilizadas pelo Banco de Da- nominação dada a essas embarcações, chamadas tumbeiros.
dos do Tráfico Transatlântico
de Escravos, um projeto mun- PESSOAS ESCRAVIZADAS EMBARCADAS E DESEMBARCADAS (1500-1900)
dial e interdisciplinar que con-
Adilson Secco/ID/BR

centra dados sobre a diáspora 6 000 000


1751-1800 1801-1850 1851-1900 Totais
africana. Os números são atua- Embarcados
Número de pessoas

lizados bienalmente, de acor- 5 000 000 Desembarcados

do com pesquisas realizadas


4 000 000
por cientistas de diferentes
países. Você pode acessar os 3 000 000
conteúdos do banco de dados
no site: https://slavevoyages. 2 000 000
org/. Acesso em: 4 abr. 2020.
1 000 000

Fonte de pesquisa: Banco de Dados do Tráfico 0


América América América Estados América
Transatlântico de Escravos. Disponível em:
Espanhola/ Portuguesa/ Inglesa Unidos Francesa
https://slavevoyages.org/assessment/
Uruguai Brasil
estimates. Acesso em: 8 abr. 2020.

Não escreva no livro.


16
Alguns marcos históricos
Ao analisar o mapa e o gráfico da página anterior, observando os períodos apre-
sentados, é possível identificar eventos políticos que impactaram o tráfico de pessoas
escravizadas entre o continente africano e o continente americano.
A linha do tempo a seguir apresenta alguns desses eventos e outros relacio-
nados ao trabalho escravo nos dias atuais.

1850 1871 1885

Assinatura da Lei Eusébio de Queirós, que proíbe o tráfico Aprovação da Lei do Aprovação da Lei dos
transatlântico de escravizados. Ao observar o mapa e o gráfico da Ventre Livre, que Sexagenários, que
página anterior, é possível notar que houve um grande aumento na concede liberdade aos concede liberdade às
quantidade de pessoas trazidas à força para o Brasil nesse momento. filhos das famílias pessoas escravizadas
Isso ocorreu porque a proibição da importação de pessoas escravizadas nascidos com idade igual ou
escravizadas gerou o receio da falta de escravizados, aumentando a a partir dessa data. superior a 65 anos.
procura por eles, que passaram a ser comprados de modo ilegal.

1995 1940 1888

Reconhecimento oficial, pelo governo brasileiro, da existência do O Código Penal Assinatura da Lei
trabalho escravo no Brasil contemporâneo. Esse reconhecimento brasileiro passa a Áurea, que marca a
ocorreu por conta do caso do trabalhador José Pereira, que sofreu prever como crime abolição oficial da
uma tentativa de assassinato enquanto fugia de uma fazenda no o ato de reduzir escravidão no Brasil. A
estado do Pará, onde era submetido a condições de trabalho alguém à partir dessa data, fica
análogas à escravidão. Nesse atentado, Pereira perdeu a visão de um escravidão, proibido, oficialmente,
dos olhos. O caso foi julgado em 1995 pela Corte Internacional de explicitado no o direito de
Direitos Humanos (CIDH) e o Brasil foi um dos primeiros países do artigo 149 do propriedade de uma
mundo a admitir a ocorrência do trabalho forçado em seu território. documento. pessoa sobre outra.

2001 2003 2005 2008

Fundação da organização Criação da Lista suja do trabalho Criação do Pacto Nacional Criação do
não governamental escravo pelo Ministério do pela Erradicação do Trabalho 2o Pacto
Repórter Brasil, que reúne Trabalho e Emprego e pela Escravo. Nesse documento, Nacional de
pesquisadores de Secretaria de Direitos Humanos. as empresas se Erradicação
diferentes áreas que se O trabalhador José Pereira comprometem a não do Trabalho
dedicam a combater o finalmente é indenizado pelo negociar a compra de Escravo.
trabalho análogo à Estado por ter sido submetido produtos fabricados com o
escravidão e a denunciar ao trabalho escravo. Seu caso é trabalho de pessoas
outras violações aos emblemático na luta contra o submetidas a condições Linha do tempo sem
direitos humanos. trabalho escravo no Brasil. análogas à escravidão. escala temporal.

Fonte de pesquisa: Escravo, nem pensar! Disponível em: http://escravonempensar.org.br/livro/linha-do-tempo/#1. Acesso em: 2 abr. 2020.
INTERAÇÃO

Retome o mapa e o gráfico da página anterior e observe a linha do tempo


PARA EXPLORAR
desta página. Depois, responda às questões.
1. Qual território mais recebeu pessoas escravizadas durante a diáspora » Relatos de escravidão: José
Pereira
africana?
Para saber mais detalhes da
2. Em qual período houve maior número de pessoas sequestradas e escra- história do trabalhador José
vizadas que desembarcaram no Brasil? Como você relacionaria isso aos Pereira, veja uma dramatiza-
eventos abordados na linha do tempo? ção do relato dele, produzida
3. Forme dupla com um colega para dialogarem sobre as informações da e publicada pela equipe da
linha do tempo, do gráfico e do mapa. Depois, individualmente, liste três Secretaria da Previdência e
características do trabalho forçado no Brasil, nas diferentes temporalida- do Trabalho. Disponível em:
des abordadas, com base nos materiais que você e o colega analisaram. https://www.youtube.com/
Por fim, apresentem suas conclusões um para o outro. watch?v=WzTi_vN6osg. Aces-
so em: 2 abr. 2020.

Não escreva no livro.


17
CONTINUIDADES HISTÓRICAS NO CAMPO
Observe novamente o gráfico da página 12. Você vai notar que a maioria das
atividades mencionadas ocorre nas áreas rurais do país, especialmente na pe-
cuária, na lavoura, como a de cana-de-açúcar, na produção de carvão vegetal, no
extrativismo vegetal e na mineração.
Para alguns pesquisadores, trata-se de uma permanência histórica que os tra-
balhadores rurais sejam submetidos a condições escravagistas. Vamos entender
melhor a situação?

Agropecuária
A notícia a seguir, publicada em 2020, traz um retrato da situação do trabalho
análogo à escravidão no contexto rural do Brasil.

Quase 132 anos após a abolição da escravatura no Brasil, 1 054 pessoas precisa-
ram ser resgatadas por estarem enfrentando situações análogas ao trabalho escra-
vo. Os resgates foram realizados em 111 dos 267 estabelecimentos fiscalizados em
2019, segundo dados do Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) da
Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.
O meio rural continua concentrando o maior número de registros, com 87% dos
casos em 2019, principalmente nos setores de produção de carvão vegetal, cultivo
de café, criação de bovinos para corte, comércio varejista e cultivo de milho. […]
Minas Gerais foi o estado com mais fiscalizações (45 ações) e onde foram encon-
trados mais trabalhadores em condição análoga à de escravo (468). São Paulo e Pa-
rá tiveram 25 ações fiscais cada, sendo que em São Paulo foram resgatados 91 tra-
balhadores e no Pará, 66. No estado de São Paulo, os cinco setores com maior
ocorrência de trabalho escravo são: criação de bovinos para corte, fabricação de ál-
cool, comércio varejista de suvenires, bijuterias e artesanatos, cultivo de café e cul-
tivo de arroz.

Cesar Diniz/Pulsar Imagens


INTERAÇÃO

Retome os dados apre-


sentados no texto para
responder à questão.
1. Qual região do Brasil
concentra as maiores
taxas de trabalhadores
resgatados? Como você
explicaria o fato de ha- Agricultora capina canteiro de repolho roxo no polo de agricultura orgânica de
ver mais trabalhadores Ibiúna (SP), 2017.
submetidos a condições
Lima Neto, Francisco. Sobem os números de trabalho escravo. Correio¸ 29 jan. 2020. Disponível
análogas à escravidão em: https://correio.rac.com.br/_conteudo/2020/01/campinas_e_rmc/896069-
nessa região? Conte sobem-os-numeros-de-trabalho-escravo.html. Acesso em: 31 mar. 2020.
suas hipóteses à turma.

Não escreva no livro.


18
Desmatamento e escravidão
A situação de escravização de trabalhadores nas áreas rurais também eviden-
cia outros problemas do nosso país. Pesquisas realizadas pela Organização In-
ternacional do Trabalho (OIT) sobre a situação do trabalho análogo à escravidão
no Brasil entre 2010 e 2018 revelaram que esse é o tipo de mão de obra empre-
gado nas áreas de maior desmatamento.
Além de explorar as pessoas, os empreendimentos também realizam práticas
ilegais contra o meio ambiente, como queimadas de grandes áreas e corte não
autorizado de árvores nativas para o uso de madeireiras e, posteriormente, para
a exploração do solo, especialmente na pecuária.
Assim, forma-se uma cadeia de práticas ilegais que prejudicam a sociedade de
modo geral. Observe o mapa a seguir.

DESMATAMENTO E TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO (2016)

João Miguel A. Moreira/ID/BR


60°O

OCEANO
ATLÂNTICO
RR AP
Equador 0°

AM MA
PA CE

PI
PE
AC

TO
RO

BA
MT
Escravizados libertos
1 000
750 Limite da
500 Amazônia
Legal DF
400
300 Área GO MG
200 desmatada
OCEANO
100 0 250 km
PACÍFICO
50 MS

Fonte de pesquisa: Trabalho escravo na Amazônia. InfoAmazonia, 23 abr. 2019. Disponível em: https://infoamazonia.org/pt/maps/forced-labour-in-
amazonia/#!/story=post-19287&full=true&loc=-7.362466865535738,-55.986328125,4. Acesso em: 5 abr. 2020.
REFLEXÃO

InfoAmazonia
O projeto InfoAmazonia reúne pesquisadores de diferentes áreas que
atuam na coleta, organização e disponibilização de informações atualizadas
sobre a situação da floresta Amazônica. O mapa desta página foi elaborado
com base em dados divulgados por essa iniciativa.
1. O mapa evidencia ou refuta a relação entre desmatamento e emprego de
mão de obra submetida a condições análogas à escravidão? Explique com
exemplos baseados nos dados do mapa.
2. Que diferenças você observa entre a situação do mapa e a relação da
agricultura com a mão de obra submetida a condições análogas à escra-
vidão, abordada na página anterior?

Não escreva no livro.


19
TERRAS INDÍGENAS (2015) Terras Indígenas
Observe o mapa ao lado. Nele, estão re-
João Miguel A. Moreira/ID/BR

60ºO 40ºO

presentadas as Terras Indígenas demarca-


AP
das no Brasil. Compare-o com o mapa da
RR
Equador 0º página anterior. Você vai notar que muitas
delas estão em regiões onde há desmata-
mento da floresta Amazônica e exploração
AM
PA
MA
CE de mão de obra submetida a condições aná-
RN
PB
logas à escravidão. Trata-se de mais um cri-
PI
PE me associado à prática do trabalho forçado:
AC RO
TO AL invadir Terras Indígenas. Essas invasões
BA
SE
geralmente levam a conflitos armados, nos
MT
quais muitos indígenas são assassinados.
DF É importante ressaltar que os povos in-
GO
dígenas também foram escravizados por
MS
MG
ES
europeus durante o período colonial. Nes-
OCEANO 20ºS se período, diversos povos indígenas foram
PACÍFICO SP capturados por portugueses e escraviza-
RJ
Trópico d
Situação jurídico-administrativa PR
e Capricór
nio dos, principalmente entre os séculos XVI
das Terras Indígenas
Em identificação
e XVIII.
Declarada SC O trecho a seguir faz parte da pesquisa
Identificada
Homologada RS OCEANO do antropólogo João Pacheco (1948- ) e
Terra Indígena não ATLÂNTICO apresenta relatos históricos sobre a escra-
representável nessa
escala
0 455 km vização de indígenas na região Amazônica
no passado.
Fonte de pesquisa: Instituto
Socioambiental. Disponível em: https://
pib.socioambiental.org/pt/
REFLEXÃO

Localiza%C3%A7%C3%A3o_e_ Formas de dominação sobre o indígena na fronteira


extens%C3%A3o_das_TIs. Acesso em:
4 abr. 2020.
amazônica: Alto Solimões, de 1650 a 1910
[…] Toda […] atividade que exigisse esforço (e, mais especificamente, a ativi-
dade econômica) na região Norte, desde o século XVII até a segunda metade do
século XIX, estava fundamentalmente ancorada na mão de obra indígena, as “mãos
e pés”, como os colonos a chamavam. Isso ocorreu, já de início, no Maranhão, on-
de eram basicamente os índios que trabalhavam nas lavouras e nos engenhos. […]
Embora, pela mortalidade e pelas fugas, fosse pequena a duração do escravo ín-
dio […], o seu baixo custo em relação ao escravo negro importado parece tornar
economicamente mais vantajosa uma utilização extensa das populações indígenas,
ainda que isso resultasse em rápida depopulação de determinadas áreas. Heriarte
[ouvidor-geral, 1662] refere-se à existência anterior de 18 aldeias de índios na ilha do
Maranhão (São Luís), das quais apenas três teriam sobrevivido até sua época […].
É em torno do controle da mão de obra indígena que vai se desencadear um prolon-
gado conflito entre religiosos e moradores […]. São unânimes os historiadores ao
apontar a oscilação da coroa portuguesa em relação a essa disputa. […] Na prática,
porém, as restrições à escravização dos índios eram cotidianamente infringidas: os
sertanistas […].
Oliveira, João Pacheco de. Formas de dominação sobre o indígena na fronteira amazônica:
Alto Solimões, de 1650 a 1910. Caderno CRH, v. 25, n. 64, p. 17-32, jan./abr. 2012. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/S0103-49792012000100002. Acesso em: 2 abr. 2020.

1. De acordo com o texto, quais atividades eram realizadas pelos indígenas


escravizados? Por que essas atividades eram importantes?
2. Compare essas atividades com as que estão listadas no gráfico da página 12.
Que diferenças e semelhanças você identifica? No caderno, escreva um
parágrafo sobre isso e, depois, leia suas conclusões para a turma.

Não escreva no livro.


20
ATIVIDADES

1 Retome as atividades econômicas apresentadas no 6 (Enem)


gráfico da página 12. Com base no que você estudou,
quais delas representam continuidades históricas,
tanto no campo quanto nos meios urbanos? Escreva O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) rea-
um parágrafo explicando suas percepções e, depois, lizou 248 ações fiscais e resgatou um total de
dialogue com a turma. 1 590 trabalhadores da situação análoga à de escra-
vo, em 2014, em todo o país. A análise do enfrenta-
2 Retome o texto da pesquisadora Glaucy Ribeiro, na mento do trabalho em condições análogas às de
página 13, e responda: escravo materializa a efetivação de parcerias iné-
a) Que aspectos característicos do trabalho análogo ditas no trato da questão, podendo ser referencia-
à escravidão podem ser identificados na situação das ações fiscais realizadas com o Ministério da
dos trabalhadores apresentados por Ribeiro? Defesa, Exército Brasileiro, Instituto do Meio Am-
b) No município em que você vive, o setor de cons- biente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
trução civil é desenvolvido? A que condições de e Instituto Chico Mendes de Conservação da Bio-
trabalho os funcionários das obras são subme- diversidade (ICMBio).
tidos? Com a orientação do professor, faça uma
Disponível em: http://portal.mte.gov.br.
pesquisa sobre o tema e apresente suas conclu- Acesso em: 4 fev. 2015 (adaptado).
sões à turma.

3 “A escravidão no Brasil é um evento que pertence ao A estratégia defendida no texto para reduzir o pro-
passado, extinto em 1888. A partir dessa data, todos blema social apontado consiste em:
os escravizados foram libertos e passou a ser termi- a) articular os órgãos públicos.
nantemente proibido que uma pessoa tivesse a
b) pressionar o Poder Legislativo.
posse sobre outra. Até então, os escravizados, que
eram exclusivamente africanos ou descendentes de c) ampliar a emissão das multas.
africanos, eram considerados bens dos senhores de d) limitar a autonomia das empresas
escravos”. e) financiar as pesquisas acadêmicas.
O texto apresenta incorreções. Com base no que você
estudou, liste-as no caderno e explique por que elas 7 (Enem)
não são corretas. Compartilhe suas percepções com
os colegas. Números de escravos africanos
Ano
desembarcados no Brasil
4 Observe novamente o mapa da página 19 e, em se-
guida, responda: 1846 64 262
a) Qual é a relação entre o desmatamento na Ama-
zônia Legal e o trabalho análogo à escravidão? 1847 75 893
b) Após mais de 130 anos de abolição da escravidão,
1848 76 338
ainda são recorrentes notícias de existência de
trabalho análogo à escravidão. Converse com os
1849 70 827
colegas sobre os motivos que levam isso ainda a
ocorrer no Brasil.
1850 37 672
5 Observe novamente o mapa da página 20 e respon-
1851 7 058
da: Onde estão as Terras Indígenas do estado onde
você mora? Com base nessa resposta, faça uma
1852 1 234
pesquisa buscando as informações a seguir.
a) Quais povos vivem nessas terras. Disponível em: www.slavevoyafes.org.
Acesso em: 24 fev. 2012 (adaptado).
b) A situação atual deles em relação a demografia,
segurança, saúde e principais manifestações
A mudança apresentada na tabela é reflexo da Lei
culturais.
Eusébio de Queiroz, que, em 1850:
• A pesquisa pode ser feita em publicações impres- a) aboliu a escravidão no território brasileiro.
sas, digitais ou por meio de entrevistas, caso vo- b) definiu o tráfico de escravos como pirataria.
cê faça parte de uma dessas comunidades
c) elevou as taxas para importação de escravos.
indígenas ou possa dialogar diretamente com
elas. Combine uma data com o professor e a tur- d) libertou os escravos com mais de 60 anos.
ma para compartilhar os resultados da pesquisa. e) garantiu o direito de alforria aos escravos.

Não escreva no livro.


21
AMPLIANDO
A moralidade de Kant e a escravidão
XXX

Editora Vozes/Arquivo da editora


Em sua obra Metafísica dos costumes, o filósofo prussiano
Immanuel Kant (1724-1804) analisa as leis que regulam a con-
duta humana sob um ponto de vista meramente racional (não
empírico). Para Kant, o ser humano, enquanto ser livre, perten-
cente ao mundo inteligível, está sujeito não somente às leis da
natureza, como os demais seres vivos, mas também a um con-
junto de leis morais que originam os costumes.
Sobre as leis que regulam as ações humanas, Kant também
observa uma importante distinção entre as leis (ou ações) ju-
rídicas e as leis (ou ações) morais. O texto a seguir, de autoria
do filósofo Norberto Bobbio (1909-2004), explica essa distin-
ção de acordo com o pensamento kantiano.

Em Metafísica dos costumes, Kant aborda as leis


morais segundo as quais as ações humanas são
regulamentadas. Capa da obra, publicada
pela editora Vozes, em 2013.

No âmbito da conduta humana regulada pelas leis morais, que Kant chama de leis da liberdade,
em contraposição às leis da necessidade, que regulam os fenômenos do universo natural, o primeiro
e mais grave problema a ser enfrentado é o da distinção entre duas formas diversas de legislação e
de ações: quer dizer, a distinção entre legislação moral propriamente dita e legislação jurídica, ou en-
tre ação moral e ação jurídica. Trata-se do clássico problema da distinção entre moral e direito, que
é geralmente considerado como problema preliminar de qualquer filosofia do direito. Na obra de Kant
encontram-se não somente um, mas vários critérios de distinção, alguns explícitos, outros implícitos,
que agora devemos examinar separadamente.
O primeiro critério de distinção é puramente formal, no que diz respeito ao conteúdo, respectiva-
mente da lei moral e da lei jurídica, mas exclusivamente quanto à forma da obrigação; e é o critério
com base no qual Kant distingue a moralidade da legalidade.
Para esclarecer a natureza desse critério, é preciso considerar quais são os elementos formais que
distinguem a ação moral no pensamento de Kant. A fundamentação começa com uma frase famosa:
“Não é possível pensar nada no mundo, e em geral também nada fora dele, que possa ser consi-
derado como bom sem restrição, a não ser somente uma boa vontade” […]
Por ‘boa vontade’ Kant entende aquela vontade que não está determinada por atitude alguma e
por cálculo interessado algum, mas somente pelo respeito ao dever.
Portanto, são três os requisitos fundamentais da ação moral:
1) ação moral é aquela que é realizada não para obedecer a uma certa atitude sensível, a um cer-
to interesse material, mas somente para obedecer à lei do dever. Existem ações que aparente-
mente são honestas, mas não podem ser chamadas morais, porque são cumpridas por impulsos
diversos daquele do cumprimento do próprio dever. Kant dá o exemplo do comerciante que não
abusa do cliente ingênuo: se ele age assim, não porque esse seja seu dever, mas unicamente
porque seja de seu próprio interesse, a sua ação não é moral. O segundo exemplo é dos homens
que não se suicidam, mas contribuem para conservar a própria vida obedecendo ao instinto
imediato da própria conservação: também nesse caso, ainda que a conservação da vida seja um
dever para cada homem, a ação não é moral, porque não é cumprida unicamente por respeito
ao dever. Também aquele que obedece a uma atitude nobre, como a de favorecer o próximo – e
este é o terceiro exemplo –, não cumpre uma ação moral se a ação de favorecer é cumprida não
para o dever, mas por simpatia ao próximo, ou seja, segundo uma tendência sensível;

Não escreva no livro.


22
Vittoriano Rastelli/Getty Images
Em sua obra Direito e
Estado no pensamento de
Emanuel Kant, o filósofo
político Norberto Bobbio
analisa, entre outras
coisas, o significado da
“metafísica dos costumes”
de Kant, abordando temas
fundamentais para a
compreensão da
moralidade kantiana. Na
foto, o autor em Turim,
Itália, em 1983.

2) ação moral é aquela que é cumprida não por um fim, mas somente pela máxima que a de-
termina. Em outras palavras, a ação moral não deve ser determinada por um objeto qualquer
da nossa faculdade de desejar (por exemplo, pelo fim da felicidade, ou da saúde, ou do bem-
-estar), mas unicamente pelo princípio da vontade.
3) a ação moral é aquela que não é movida por outra inclinação a não ser o respeito à lei. Na
conduta moral, cada impulso subjetivo deve ser excluído; o único impulso subjetivo com-
patível com a moralidade é o sentido de respeito à lei moral, que deve vencer qualquer ou-
tra inclinação.
Em conclusão, é possível dizer de maneira sintética que, para que uma ação seja moral,
não é suficiente, segundo Kant, que seja coerente com o dever; é necessário que seja também
cumprida pelo dever.
bobbio, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. São Paulo: Mandarim, 2000. p. 86-88.

1. Em sua opinião, o que é moral? O que diferencia uma ação moral de uma imoral? Cite
exemplos.

2. Levando em consideração a distinção kantiana entre ações morais e ações jurídicas, que
critério pode ser considerado o principal fator a diferenciar essas ações? Explique.

3 Como visto anteriormente, o emprego de mão de obra escravizada entre os séculos XVI
e XIX era não apenas amplamente praticado no Brasil, como também respaldado pelas
leis vigentes. Em sua opinião, por que os senhores de escravizados empregavam esse
tipo de mão de obra?

4. Com base na visão de Kant a respeito de ações morais, o que podemos dizer sobre o
emprego de mão de obra escravizada no Brasil entre os séculos XVI e XIX?

5. Considerando o contexto do Brasil atual, o que podemos dizer, com base nas ideias de
Kant, sobre o emprego de mão de obra análoga à escravidão?

Não escreva no livro.


23
2
X
EXISTE RACISMO
CAPÍTULO

NO BRASIL?
Em 1888, com a assinatura da Lei Áurea, a escravidão foi abolida legalmente
» Competências e do Brasil. No entanto, essa transformação legislativa não resultou em uma liber-
habilidades
dade digna e igualitária para a população até então escravizada.
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. O movimento abolicionista, no Brasil e em outras partes do mundo ocidental,
CECHSA1: EM13CHS101. defendia medidas que garantissem uma inclusão social digna e efetiva da popu-
CECHSA5: EM13CHS501, lação recém-liberta. Esses projetos conflitavam com as alas conservadoras da so-
EM13CHS502 e ciedade escravista. Assim, muitas questões abordadas na luta atual dos movi-
EM13CHS503.
mentos negros no Brasil ainda contêm elementos das pautas dos abolicionistas
CECHSA6: EM13CHS601,
do século XIX.
EM13CHS602 e
EM13CHS606. Essa perspectiva contradiz a teoria da democracia racial. Articulada pelo so-
CELT5: EM13LGG502. ciólogo brasileiro Gilberto Freyre (1900-1987), essa teoria trata da ideia de que,
CELT7: EM13LGG704. historicamente, no Brasil, sempre houve a convivência pacífica entre pessoas
CECNT3: EM13CNT302. brancas, negras e indígenas e, por isso, questões como racismo ou segregação
racial, quando existiram, foram brandas, se comparadas a de outros lugares onde
também houve escravidão.
A seguir, leia o trecho de uma letra de música que aborda algumas dessas
questões.

A carne
[…]
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que fez e faz história
Segurando esse país no braço, meu irmão
[…]
E esse país vai deixando todo mundo preto

Ilustrações: Linoca Souza/ID/BR


E o cabelo esticado

Mas mesmo assim ainda guarda o direito


De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito (Pode acreditar)
[…]
A carne. Intérprete: Elza Soares. Compositores: Marcelo Yuka; Seu
Jorge; Ulisses Cappelletti. In: Do cóccix até o pescoço. Maianga
Discos, 2002. 1 CD, faixa 6.

1. Para você, a que se refere a palavra “carne” na letra da música? Explique suas
reflexões para a turma.
2. O segundo e o terceiro verso do texto podem ser associados à escravidão
moderna no Brasil. Como você os relacionaria com esse período histórico?
3. De acordo com as suas percepções, a letra da música contradiz ou concorda
com a teoria da democracia racial de Gilberto Freyre? Por quê?
4. Em sua opinião, o que é racismo? Como é possível caracterizá-lo? E como
podemos combatê-lo?

Não escreva no livro.


24
QUESTÕES ESTRUTURAIS

REFLEXÃO
Ao analisar as sociedades e seus modos de vida, os pesquisadores identificam Estruturalismo e pós-
processos e organizações que são chamados de estruturais. Essa expressão in- -estruturalismo
dica características e aspectos que sustentam e organizam a vida social de um A análise estruturalista
grupo, uma comunidade ou um povo. Por ser a base sobre a qual se desenvolvem faz parte do repertório de
as mais diversas manifestações culturais, as mudanças dos aspectos estruturais pesquisa das Ciências Hu-
de uma sociedade são complexas e, geralmente, não são bruscas: ocorrem no manas e Sociais desde a
tempo histórico, chamado de longa duração. publicação dos trabalhos
Considerando que os processos que formam o Brasil têm cerca de quinhentos do linguista suíço Ferdi-
anos de história e que o sistema escravocrata durou em torno de trezentos anos, nand de Saussure (1857-
-1913). A partir da década
é possível analisar a escravidão como uma estrutura da sociedade brasileira,
de 1960, esse método
oriunda do período colonial. Assim, mudar essa estrutura demanda esforço e
passou a ser revisado por
transformações nas formas de pensar e de agir, nos âmbitos público e privado e pensadores de diversas
nos níveis individual e coletivo. áreas do conhecimento. A
A assinatura da Lei Áurea é uma conquista importante nesse sentido. Contu- principal crítica dos cha-
do, sem a ação de todos os sujeitos sociais, a transformação não se torna efetiva mados pós-estruturalistas
e acabamos reproduzindo as lógicas escravistas. é que a análise sobre uma
No capítulo anterior, vimos uma dessas permanências escravocratas: a exis- sociedade não pode se
tência, ainda hoje, de iniciativas privadas – empresas particulares – que sub- restringir às suas estrutu-
metem pessoas a condições análogas à escravidão. Por outro lado, há uma ras, sem abordar suas
série de projetos e legislações que buscam coibir essa prática e conscientizar transformações e os indi-
víduos e grupos que con-
a população e as empresas de que se trata de um crime que atenta contra os
seguem romper com essas
direitos humanos.
estruturas. Michel Fou-
Neste capítulo, vamos aprofundar o debate sobre outra permanência escravo- cault, Gilles Deleuze, Jean
crata: o racismo estrutural. O texto a seguir, do jurista e filósofo Silvio Luiz de Al- Baudrillard, Judith Butler
meida, apresenta algumas reflexões sobre esse conceito. e Julia Kristeva são alguns
dos pensadores conside-
rados pós-estruturalistas.
[…] Em uma sociedade em que Eles não reivindicam o fim
Valdir de Oliveira/Fotoarena

o racismo está presente na vida da análise das estruturas,


cotidiana, as instituições que não mas um alargamento da
tratarem de maneira ativa e como análise sobre elas.
um problema a desigualdade racial

SOPA Images Limited/Alamy/Fotoarena


irão facilmente reproduzir as prá-
ticas racistas já tidas como “nor-
mais” em toda a sociedade. É o que
geralmente acontece nos governos,
empresas e escolas em que não há
espaços ou mecanismos institu-
cionais para tratar de conflitos ra-
O filósofo e jurista Silvio Luiz de Almeida é um ciais e de gênero. […]
dos principais estudiosos da questão racial no
Brasil. Foto de 2019. […] A filósofa pós-estruturalista
estadunidense Judith Butler
A viabilidade da reprodução sistêmica de práticas racistas está na organiza- (1956- ) é uma das principais
ção política, econômica e jurídica da sociedade. O racismo se expressa concreta- teóricas da questão
mente como desigualdade política, econômica e jurídica. Porém, o uso do termo contemporânea do
feminismo, da teoria queer,
estrutura não significa dizer que o racismo seja uma condição incontornável e da filosofia política e da ética.
que ações políticas institucionais antirracistas sejam inúteis; ou, ainda, que indi-
víduos que cometam atos discriminatórios não devam ser pessoalmente respon- 1. Com base nessas infor-
sabilizados. […] O que queremos enfatizar do ponto de vista teórico é que o ra- mações, releia o trecho
cismo, como processo histórico e político, cria as condições sociais para que, do texto de Silvio Luiz
direta ou indiretamente, grupos racialmente identificados sejam discriminados de de Almeida e responda:
forma sistemática. A análise dele é unica-
mente estruturalista?
AlmeidA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Explique suas percep-
Letramento, 2018. p. 37, 39 (Feminismos Plurais).
ções aos colegas.

Não escreva no livro.


25
SISTEMA ESCRAVOCRATA NO BRASIL No entanto, mesmo sendo detentoras de técnicas e
de conhecimentos diversos, essas pessoas não eram le-
Para investigar o racismo estrutural, é importante bus- vadas em consideração e não tinham direito nem à ci-
car suas origens no sistema escravocrata que vigorou em dadania nem à liberdade. Socialmente, eram considera-
nosso país. das inferiores aos não escravizados. Juridicamente, sequer
No capítulo anterior, você analisou, entre outros aspec- estavam no patamar de indivíduos: eram bens, merca-
tos, o tráfico de pessoas na escravidão moderna. Ele con- dorias das quais os proprietários poderiam dispor. Em-
sistia em um negócio rentável para os mercantilistas que bora se constituíssem como o maior grupo populacional
abasteciam principalmente o continente americano de e fossem responsáveis por praticamente todo o trabalho
mão de obra submetida à escravidão. realizado em diferentes setores, os escravizados não
Essas pessoas, trazidas do continente africano em detinham poderes legais sobre seus corpos, identifica-
quantidades cada vez maiores, eram vendidas em mer- dos, geralmente, por serem negros.
cados abertos, geralmente próximos aos portos onde de- Assim, ao longo dos séculos de escravidão, as pessoas
sembarcavam. De lá eram levadas pelos seus proprietá- negras eram comumente classificadas como escraviza-
rios para que trabalhassem em diversas atividades. das. Mesmo aquelas que conquistaram a alforria preci-
A agropecuária, a princípio nas lavouras de cana-de- savam sempre levar consigo os documentos que compro-
-açúcar e depois nas de café, foi o setor que mais requi- vavam sua liberdade. De outro modo, poderiam ser presas
sitou escravizados. Isso ocorreu por pelo menos duas ra- e vendidas novamente.
zões: primeiro porque essas eram atividades econômicas Durante esse período, as situações de violências (fí-
que ocupavam enormes extensões de terra, demandando sica e emocional) contra pessoas negras e escravizadas
contingentes grandes de trabalhadores; segundo porque eram não apenas corriqueiras, mas também naturaliza-
a maioria dos escravizados trazidos para essas regiões das, ou seja, a estrutura escravocrata no Brasil tornou
eram provenientes de comunidades de agricultores e pas- natural que pessoas negras fossem submetidas a con-
tores, ou seja, detinham conhecimentos técnicos e tecno- dições de privação tanto de liberdade quanto de digni-
lógicos para realizar o trabalho. A mineração também re- dade, dois aspectos básicos salvaguardados pelos direi-
cebeu grandes quantidades de escravizados, geralmente tos humanos.
conhecedores das atividades extrativistas e metalúrgicas.

Pedro Leite/Acervo do artista

Racismo sem
querer, de Pedro
Leite. Esta história
em quadrinhos
mostra algumas
frases que
evidenciam a
naturalização do
racismo contra
pessoas negras.

Não escreva no livro.


26
CONTEXTO DO PÓS-ABOLIÇÃO
Compreender os contextos políticos e sociais dos anos seguintes à abolição

Coleção Waldyr Fontoura Cordovil Pires. Rio de Janeiro (RJ).


Fotografia: Jorge Henrique Papf
pode aprofundar as percepções sobre as raízes do racismo estrutural no Brasil. A
assinatura da Lei Áurea não foi acompanhada de medidas que garantissem aos
recém-libertos condições para que pudessem se sustentar de maneira digna e,
assim, viver com liberdade.
O movimento abolicionista, representado no Senado por André Rebouças
(1838-1898) e Joaquim Nabuco (1849-1910), pressionava para que, acompanha-
da da abolição, fosse feita uma reforma agrária na qual seriam concedidas terras
às pessoas libertadas. A posse das terras seria uma possibilidade de recomeço
para essa população no Brasil, de modo que ela poderia se integrar à sociedade
com dignidade: acessando moradia, alimentação e, posteriormente, educação.
Esse projeto foi chamado por Rebouças de “democracia rural”.
O projeto tinha como base os princípios do liberalismo econômico de Adam
Smith (1723-1790), já que pregava o incentivo à livre iniciativa no campo e o uso
das terras improdutivas. Os senadores temiam que a ausência desse tipo de po-
lítica de reparação gerasse no Brasil uma desigualdade social gigantesca.
No entanto, esse projeto não obteve êxito e a Lei Áurea foi assinada, em pará- Mulher com criança, Petrópolis (RJ),
1899. Embora a foto tenha sido feita
grafo único, determinando a liberdade jurídica das pessoas até então escraviza-
cerca de onze anos após a abolição,
das. Não há dúvidas de que a população negra enfrentou dificuldades de ordem ela evidencia que as estruturas
social, política, econômica e cultural devido à vitória de uma política conservado- baseadas no racismo ainda não
haviam sido desconstruídas.
ra em relação à posse de terras. Porém, nesse mesmo período, indivíduos, comu-
nidades e organizações de negros no Brasil puderam se articular, dando conti-
nuidade a redes de apoio e proteção criadas durante o período de escravidão.
REFLEXÃO

Protagonismo negro no pós-abolição


Durante décadas, as pesquisas sobre o período pós-abolição trouxeram
análises generalizadoras a respeito da população negra. Na década de 2010,
houve um aumento de pesquisas que buscaram evidenciar outros aspectos
relacionados a indivíduos e comunidades negras. O objetivo dessas pesqui-
sas não é negar o racismo estrutural, mas extrapolá-lo com a possibilidade
de uma sociedade mais igualitária. Leia o texto a seguir.

[…] o pós-abolição deve ser visto como um campo de disputas, e não como
uma realidade dada, uma herança inexorável da escravidão. É verdade que os ne-
gros já entraram em campo em posição de desvantagem em relação aos brancos,
com o placar lhes sendo muitas vezes desfavorável, mas nem sempre eles perde-
ram. Com engenhosidade, versatilidade e usando armas de diversos tipos e cali-
bres, os negros selaram conexões diversas, travaram alianças ambivalentes, capi-
talizaram as possibilidades e frestas do sistema, fizeram escolhas, negociaram suas
identidades e lealdades até conseguirem reverter o placar e ganhar o jogo […].
Não se trata aqui de negar a famigerada opressão racial no Brasil […], mas de real-
çar a necessidade imperiosa de lançar luzes em formas alternativas e criativas de
vida, resistência e agenciamentos. O protagonismo negro no pós-abolição é uma
área de estudos e pesquisas em franca expansão. […]
Domingues, Petrônio. Fios de Ariadne: o protagonismo negro no pós-abolição. Anos 90, v. 16,
n. 30, p. 240-241, 2009. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/anos90/article/
view/18932/11021. Acesso em: 2 abr. 2020.

1. Forme dupla com um colega. Vocês devem pesquisar como a população


negra da região onde moram se organizou após o fim da escravidão. Es-
colham um dos casos pesquisados para apresentar à turma. A apresen-
tação pode ser feita por meio de uma cena teatral. É importante expressar
as informações básicas sobre o caso: os sujeitos envolvidos, o período
histórico em que atuaram e as principais ações deles.

Não escreva no livro.


27
RACISMO ESTRUTURAL: UM PANORAMA GERAL
O diálogo sobre racismo estrutural será retomado em outros momentos deste
volume. No entanto, com base no que você estudou até aqui, é provável que res-
ponda afirmativamente à pergunta que dá nome a este capítulo.
Existe racismo no Brasil? Sim. Até mesmo a abordagem dessa temática em
nosso país é fruto da luta de intelectuais e militantes negros e também de pes-
soas não negras que identificam que combater o racismo estrutural é essencial
para a construção de uma sociedade justa.
Passos relevantes foram dados nesse sentido, tanto pela sociedade civil quan-
to pelas instituições públicas e privadas, mas ainda há muito para transformar-
mos. Observe as manchetes selecionadas a seguir e leia as legendas.

Ilustrações: ID/BR
MARIELLE FRANCO,
JUÍZA DIZ QUE RÉU NÃO
VEREADORA DO PSOL, É
PARECE BANDIDO POR TER ASSASSINADA NO CENTRO
“PELE, OLHOS E DO RIO APÓS EVENTO COM
CABELOS CLAROS” ATIVISTAS NEGRAS

Contrária à intervenção federal, a política havia


Homem foi condenado a 30 anos criticado dias antes ação da PM em Acari.
de prisão por latrocínio Vereadora e seu motorista foram mortos no
Estácio, na região central da capital fluminense

Folha de S.Paulo, 1o mar. 2018. Esta manchete é um indício de racismo de El País, 15 mar. 2018. Esta manchete aborda o feminicídio de Marielle
uma representante do Poder Judiciário, responsável por defender os Franco, vereadora negra eleita pelo município do Rio de Janeiro em 2018.
direitos dos cidadãos e promover a justiça.

MILITAR ACUSA VÍTIMA DE TER


APÓS SER CHAMADO DE
“MACACO”, JOGADOR DO ATIRADO PARA JUSTIFICAR
VASCO FAZ GOL E DIZ: “TENHO CASO DOS 80 TIROS NO RIO
ORGULHO DA MINHA COR” Militares dispararam, ao todo, 257 tiros
Miranda acusa atleta do Independente de durante a ocorrência em Guadalupe,
racismo em partida pela Copa RS Sub-20, zona norte do Rio, dos quais 83
mas segue na partida e faz gol da vitória atingiram o veículo em que Evaldo e a
família estavam
Estadão, 12 dez. 2019. Esta manchete revela o racismo no esporte,
especificamente no futebol, uma das modalidades mais populares no Brasil. FolhaPE, 12 dez. 2019. Neste caso, o músico Evaldo Rosa, assassinado,
era negro e estava em um carro com sua família enquanto circulava
pelo bairro de Guadalupe, no município do Rio de Janeiro.
PARA EXPLORAR

» O racismo está nos títulos,


nas pautas e nas entrelinhas
Para aprofundar o debate so-
bre a representação da popu-
INTERAÇÃO

lação negra na mídia, leia o


As manchetes evidenciam aspectos do racismo estrutural na
artigo do portal Hysteria sobre
sociedade brasileira.
o tema. Disponível em: https://
hysteria.etc.br/ler/o-racismo- 1. Imagine que você precise explicar a um colega por que essas manchetes
esta-nos-titulos-nas-pautas- são racistas. Como você explicaria cada uma? Anote seus argumentos no
e-nas-entrelinhas/. Acesso em: caderno e, depois, compartilhe-os com a turma.
4 abr. 2020.

Não escreva no livro.


28
ATIVIDADES

1 Retome a letra da música “A carne”, na página 24, e responda às questões.


a) De acordo com seus conhecimentos, a que situações históricas e sociológicas a frase “a carne
mais barata do mercado é a carne negra” se refere? Explique suas percepções aos colegas.
b) Retome a história em quadrinhos da página 26. De que modo ela pode ser relacionada à letra da
música? Escreva um parágrafo explicativo e compartilhe-o com a turma.

2 Observe esta linha do tempo.

Abolição da escravidão moderna

1793 1823 1829 1831 1834 1838 1842 1848

Bolívia Canadá / Trinidad / Uruguai / Martinica, Guadalupe e


Haiti Chile México
Guiana Inglesa Jamaica Paraguai Guiana (colônias francesas) /
Índias Ocidentais
Linha do tempo sem escala temporal. Dinamarquesas
(atuais Ilhas Virgens)

1888 1886 1873 1863 1854 1853 1851

Estados Unidos /
Cuba Porto Rico Antilhas Holandesas Peru / Nova Granada
Brasil (colônia (colônia e Guiana (colônias Venezuela Argentina (Colômbia) /
espanhola) espanhola) holandesas) Equador

Fonte de pesquisa: FGV – CPDOC. O fim da escravidão. In: Atlas histórico do Brasil. Disponível em: https://atlas.fgv.br/
marcos/o-fim-da-escravidao/mapas/linha-do-tempo-do-fim-da-escravidao-nas-americas. Acesso em: 8 abr. 2020.

a) Quanto tempo se passou entre a abolição da escravidão no Haiti, o primeiro país a revogá-la, e a
abolição no Brasil?
b) Se a linha do tempo fosse organizada em um ranking com os países que mais cedo aboliram a
escravidão, qual posição o Brasil ocuparia?
c) O que isso pode indicar sobre o sistema escravista em nosso país? Anote sua resposta no caderno.

3 Durante um discurso em Oakland, nos Estados Unidos, em 1979, a filósofa e professora Angela
Davis afirmou: “Numa sociedade racista, não adianta não ser racista, nós devemos ser antirracistas”.
Com base no que você estudou, como você justificaria a frase de Davis, relacionando-a ao racismo
estrutural? Escreva sobre isso no caderno e depois leia suas ideias para os colegas.

4 Observe a imagem da página 27. Quais elementos dela evidenciam o racismo estrutural no momen-
to histórico retratado? Liste os elementos no caderno, explicando a relação deles com o racismo.

5 (Enem)

A luta contra o racismo, no Brasil, tomou um rumo contrário ao imaginário nacional e ao consenso cien-
tífico, formado a partir dos anos 1930. Por um lado, o Movimento Negro Unificado, assim como as demais
organizações negras, priorizaram em sua luta a desmistificação do credo da democracia racial, negando o
caráter cordial das relações raciais e afirmando que, no Brasil, o racismo está entranhado nas relações so-
ciais. O movimento aprofundou, por outro lado, sua política de construção de identidade racial, chamando
de “negros” todos aqueles com alguma ascendência africana, e não apenas os “pretos”.
guimArães, A. S. A. Classes, raças e democracia.
São Paulo: Editora 34, 2012.

A estratégia utilizada por esse movimento tinha como objetivo:


a) eliminar privilégios de classe. d) identificar preconceitos religiosos.
b) alterar injustiças econômicas. e) reduzir as desigualdades culturais.
c) combater discriminações étnicas.

Não escreva no livro.


29
PRÁTICAS DE TEXTO
Reportagem on-line

Proposta 2. Para inspirar a pesquisa sobre os temas, leia os


textos a seguir.
Considerando os temas abordados neste capítulo no
que se refere às consequências da escravidão moderna,
perceptíveis no país até os dias atuais, você e os colegas TEXTO 1
vão escrever uma reportagem para ser publicada em Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil
um blog da turma e compartilhada em redes sociais. casos de trabalho escravo no Brasil
A reportagem tem como finalidade desenvolver de-
terminado tema, apresentando diferentes informações A maior parte desses trabalhadores (1,2 mil)
e pontos de vista. Ela não se prende ao relato de um estava em áreas rurais e 1,1 mil foram resga-
fato específico, como ocorre com a notícia, mas expõe tados, segundo o governo federal
uma série de aspectos que ajudam o leitor a se apro- […] Em 2018, ações fiscais da Inspeção do Tra-
fundar na questão. balho, do governo federal, identificaram 1,7 mil ca-
sos de trabalho escravo no Brasil. A maior parte
Comunidade escolar e leitores interes-
Público desses trabalhadores (1,2 mil) estava em áreas ru-
sados no tema.
rais, onde a prática historicamente é mais comum.
Levar à reflexão sobre as influências Foram resgatadas 1 133 pessoas. Em todo o ano
do processo de escravização nas con- passado foram realizadas 231 inspeções. Em um
Objetivo
dições de trabalho e sobre questões quarto delas houve registro de trabalho análogo ao
como o racismo na sociedade brasileira. de escravo.
Blog da turma e compartilhamento em Desde que o governo brasileiro reconheceu a
Circulação
redes sociais. existência dessa prática ilegal e passou a comba-
tê-la, em 1995, os grupos de fiscalização da Inspe-
ção do Trabalho resgataram 53 607 trabalhadores
Planejamento e elaboração nessa condição em todo o país. Nesse período, fo-
ram pagos mais de R$ 100 milhões em verbas sa-
1. Forme um grupo com até cinco integrantes. Definam lariais e rescisórias durante as operações.
o tema da reportagem que vocês vão escrever e uma
[…]
pergunta norteadora que gostariam de esclarecer
ou desenvolver ao longo do texto. Sempre que pos- De acordo com o artigo 149 do Código Penal
sível, considerem as características locais da comu- brasileiro, caracterizam o trabalho análogo ao de
nidade escolar. Confiram abaixo algumas sugestões. escravo condições degradantes de trabalho (incom-
• De forma geral, como andam as condições de tra- patíveis com a dignidade humana, caracterizadas
balho e empregabilidade locais? As oportunidades pela violação de direitos fundamentais [que] colo-
de trabalho na região em que vocês vivem consi- quem em risco a saúde e a vida do trabalhador),
deram a diversidade da população local? Como? jornada exaustiva (em que o trabalhador é subme-
tido a esforço excessivo ou sobrecarga de trabalho
• Que atitudes podem ser adotadas para comba-
que acarreta danos à sua saúde ou risco de vida),
ter o trabalho análogo à escravidão na região
trabalho forçado (manter a pessoa no serviço atra-
onde vocês vivem?
vés de fraudes, isolamento geográfico, ameaças e
• Que atitudes podem ser adotadas por empresas violências físicas e psicológicas) e servidão por dí-
para combater o racismo estrutural? Que medi- vida (fazer o trabalhador contrair ilegalmente um
das sociais são imprescindíveis para combater o débito e prendê-lo a ele). Os elementos podem vir
racismo? juntos ou isoladamente.
• Como o racismo pode ser combatido dentro da
Em 2018, fiscais identificaram 1,7 mil casos de trabalho
escola? Em que medida é possível perceber o au- escravo no Brasil. O Globo, 28 jan. 2019. Disponível em:
torreconhecimento e a autovalorização da popu- https://oglobo.globo.com/economia/em-2018-fiscais-
lação negra na comunidade em que a escola está identificaram-17-mil-casos-de-trabalho-escravo-no-
brasil-23409423. Acesso em: 30 mar. 2020.
inserida? Que exemplos podem ser encontrados?

Não escreva no livro.


30
• corpo do texto, com parágrafos de desenvolvimen-
TEXTO 2 to do tema e um parágrafo de conclusão;
Combate a racismo exige reconhecimento • mapas, gráficos e imagens para complementar as
de privilégios da branquitude informações, com as respectivas legendas;
Vantagens materiais e simbólicas de pessoas bran- • nome do(s) autor(es) da reportagem.
cas precisam ser notadas para enfrentamento da 5. Procurem ampliar a reflexão sobre o tema, levantan-
discriminação do diferentes pontos a respeito da questão abordada.
Você vai às compras sozinha sabendo que não se-
6. Para ressaltar determinadas opiniões, utilizem argu-
rá seguida ou perturbada?
mentos consistentes com base em exemplos, dados
Se ligar a TV ou abrir o jornal, é certo que verá pes- estatísticos de fontes confiáveis, opiniões de espe-
soas da sua raça amplamente representadas? cialistas, profissionais e outros envolvidos, além dos
Quando um policial para seu carro, você tem con- relatos ou entrevistas coletados pelo grupo.
vicção de que não foi por causa da sua cor?
7. Utilizem uma linguagem coerente com a situação de
[…] comunicação e com o público-alvo do texto.
Se respondeu “sim” a essas perguntas, com certe-
8. Atentem para a coerência e a coesão do texto, a pon-
za você é uma pessoa branca. Esses são alguns dos
tuação das frases, a divisão dos parágrafos, a orto-
46 privilégios brancos elencados pela pesquisadora grafia e a acentuação das palavras.
americana Peggy McIntosh em 1988, quando a acadê-
mica feminista e antirracista se tornou a principal di-
Revisão e reescrita
vulgadora dos estudos críticos da branquitude (“whi-
teness”, em inglês) enquanto lugar social de vantagens 1. Releiam e avaliem o texto, observando os seguintes
materiais e simbólicas. […] elementos:
menA, Fernanda; CAmAzAno, Priscila. Combate a racismo exige
reconhecimento de privilégios da branquitude. Folha de O texto apresenta título, título auxiliar, lide e um
S.Paulo, 15 dez. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol. parágrafo inicial resumindo o tema a ser abordado?
com.br/ilustrissima/2019/12/combate-a-racismo-exige-
reconhecimento-de-privilegios-da-branquitude. O texto traz informações pertinentes que ajudam
shtml?origin=folha. Acesso em: 30 mar. 2020.
a ampliar a discussão sobre o tema?

As fontes pesquisadas são confiáveis e estão


Branquitude: termo que se refere à identidade racial branca, devidamente identificadas?
relacionado aos privilégios simbólicos e objetivos desse seg-
mento em detrimento da população não branca. Há recursos imagéticos complementares
devidamente descritos por meio de legendas?
3. Um dos elementos-chave de uma boa reportagem é A linguagem e o registro do texto estão
a qualidade da pesquisa feita previamente. Para adequados à situação de comunicação e sem
embasar o texto, vocês podem utilizar fontes: desvios ortográficos?
• escritas, como notícias, verbetes de enciclopédia,
2. Façam os ajustes e as melhorias que considerarem
gráficos, infográficos e textos informativos. Obser-
necessários e redijam a versão final, salvando-a em
vem se as publicações são confiáveis e anotem au-
uma pasta compartilhada entre o grupo.
tores, nome das publicações, links, etc.;
• orais, como entrevistas e relatos. Nesse caso, con- 3. Caso haja imagens ao longo do texto, atentem para
videm especialistas ou outras pessoas envolvidas que o tamanho delas possibilite uma boa visualização.
com o tema, combinem horário e local para a reali-
zação da entrevista (ou videoconferência), elaborem Circulação
o roteiro com perguntas e providenciem equipamen-
1. Publiquem o texto no blog da turma. Caso não tenham
to para registrar a conversa em vídeo, áudio ou por
um blog, pesquisem por sites gratuitos para a criação
escrito. Se necessário, solicitem a autorização dos
da página e criem uma conta compartilhada.
entrevistados para a divulgação das informações.
2. As reportagens devem ser publicadas no blog, uma
4. A reportagem deve conter estes elementos:
por vez, atentando para os tamanhos do texto e das
• título; imagens, o espaçamento entre parágrafos, etc.
• título auxiliar que chame a atenção do leitor;
3. Leiam os textos dos outros grupos e deixem comen-
• lide ou parágrafo inicial resumindo os elementos tários sobre eles, sempre prezando pelo respeito e
principais a serem desenvolvidos no texto; pela troca cooperativa de informações.

Não escreva no livro.


31
3
X
VIDAS NEGRAS
CAPÍTULO

NO BRASIL
“Parem de nos matar!” é um grito de justiça exclamado toda vez que uma pes-
» Competências e soa negra é assassinada, alvo de balas perdidas, execuções policiais ou guerras
habilidades
do crime organizado.
CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB6, CGEB7, CGEB9 e A desigualdade social no Brasil começou a ser configurada em seu passado
CGEB10. colonial quando fortunas foram acumuladas com base no trabalho escravo e mi-
CECHSA1: EM13CHS101. lhares de negros foram desumanizados por mais de trezentos anos. A Lei Áurea
CECHSA5: EM13CHS501, aboliu a escravidão, mas não amparou a reconstituição social dessas pessoas.
EM13CHS502 e
Libertos da escravização legal, os negros não tinham terras para produzir nem
EM13CHS503.
oportunidades dignas de trabalho.
CECHSA6: EM13CHS601 e
EM13CHS602. Filhas, netas e bisnetas da África, as pessoas pretas do Brasil mais uma vez
CELT5: EM13LGG502. rearticularam suas lutas e resistências para sobreviver à nova condição de pes-
CELT7: EM13LGG704. soas livres juridicamente e conquistar espaços reais de liberdade nos campos po-
CEMT1: EM13MAT102 e lítico, econômico, social e cultural.
EM13MAT104. Nessa luta por reconhecimento e pertencimento, contudo, os corpos pretos
CECNT3: EM13CNT301. permanecem sendo o alvo preferencial da violência que se expressa pela insufi-
ciência de políticas públicas e pela mentalidade do racismo estrutural. Até quan-
do as pessoas negras periféricas precisarão bradar “Parem de nos matar!”?

Marcos Vidal/Futura Press

Protesto intitulado “Por Ágatha, dizemos: Parem de nos matar!”, em frente à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (RJ).
O protesto ocorreu após o assassinato de Ágatha Félix, de 8 anos de idade. Foto de 2019.

1. Observe a foto e tente contextualizá-la: O que está acontecendo, onde e qual


é a motivação das pessoas mostradas nela?
2. De que maneira o genocídio negro desconstrói o mito da cordialidade do bra-
sileiro e da democracia racial?

Não escreva no livro.


32
ÍNDICES SOCIAIS
A democracia pressupõe a igualdade de oportunidades entre os cidadãos de
um país. E já sabemos que o Brasil não foi constituído sobre bases de igualdade
e que a democracia racial é um mito, inventado e recontado ao longo dos anos
como forma de tentar apaziguar a violenta formação da nação.
Para compreender essa continuidade histórica que mantém a desigualdade
entre pessoas pretas e pessoas brancas no Brasil, vamos analisar alguns dados
e refletir sobre algumas questões. Como estão distribuídos os postos de trabalho
no Brasil? Existem diferenças salariais em razão da cor da pele? Quem mora nos
bairros periféricos das cidades brasileiras? Quais são as estruturas de acesso aos
serviços básicos nesses bairros?
Com base nessas questões, podemos analisar de que forma a marginalização
histórica dos negros no Brasil pode ser traduzida em dados socioeconômicos.

PROPORÇÃO DE PESSOAS OCUPADAS EM TRABALHOS


INFORMAIS POR SEXO E COR OU RAÇA (2017)
(%)
Gráficos: Adilson Secco/ID/BR

50 46,9
40,8 40,8 40,7
40
33,7
30

20

10 Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa


Nacional por Amostra de Domicílios
0 Contínua 2017. Disponível em: https://
Total Homens Mulheres Branca Preta ou parda biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/
Sexo Cor ou raça liv101629.pdf. Acesso em: 9 abr. 2020.

RENDIMENTO-HORA MÉDIO REAL DO TRABALHO PRINCIPAL


DAS PESSOAS OCUPADAS POR COR OU RAÇA (2017)

(R$/hora) Brasil Branca Preta ou parda


35,00 31,9
30,00 28,9
25,00 22,3
20,00
16,1
15,00 12,7
9,5 10,3 11,6 9,2
10,00 7,2 8,5 6,4 8,2 9,1 7,5
5,00
Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa
0,00
Total Sem instrução ou Fundamental Médio completo Superior Nacional por Amostra de Domicílios
Fundamental completo ou ou Superior completo Contínua 2017. Disponível em: https://
incompleto Médio incompleto incompleto biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/
liv101629.pdf. Acesso em: 9 abr. 2020.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em


2017, existiam 37,3 milhões de trabalhadores informais no Brasil, o que repre-
senta 40,8% da população ocupada no país. O que define o trabalho informal?
Entre as características do trabalho informal podemos destacar a ausência de re-
gistro em carteira de trabalho, o que, na prática, significa a falta de proteção social
garantida por direitos como o recebimento de um salário mínimo, estabilidade, segu-
ro-desemprego, contribuição previdenciária e aposentadoria. Outra característica co-
mum da informalidade é a precariedade dos serviços e os riscos à segurança e à vida.
Ainda segundo as pesquisas, as áreas que mais concentram trabalhadores in-
formais são os serviços domésticos, o agronegócio e a construção civil.
Se observarmos as continuidades históricas, essas áreas remetem àquelas do
Brasil colonial, nas quais era utilizada a mão de obra escravizada rural e urbana:
escravos dos engenhos, escravos de ganho e escravos domésticos.

Não escreva no livro.


33
Vulnerabilidade social dos negros
O gráfico desta página nos leva a reconhecer que a população negra representa
46,9% dos trabalhadores informais do Brasil, expostos à inseguridade física e so-
cial. Trata-se de pessoas que precisam sobreviver no sistema capitalista e que acei-
tam condições de trabalho que não se ajustam aos discursos de igualdade de di-
reitos e de oportunidades entre os cidadãos brasileiros. A lógica da informalidade
tem raízes na sociedade escravocrata, perpetuando o não reconhecimento do tra-
balhador, sobretudo do trabalhador braçal, como um cidadão, como alguém igual
juridicamente. Além das raízes no passado, o trabalho informal também dialoga
com a presente lógica de maximização dos lucros, em que reduzir os gastos com a
força de trabalho significa aumentar a riqueza dos donos dos meios de produção.
E se, historicamente, as elites brasileiras conservadoras se mobilizam para cris-
talizar as hierarquias sociais e a exploração do trabalho para o próprio benefício
e para a manutenção das desigualdades, o que explicaria os dados do segundo
gráfico, em que pessoas com a mesma formação educacional têm rendas dife-
rentes em função do gênero ou da cor da pele? Mais uma vez podemos recorrer
ao racismo estrutural que premia da melhor forma as pessoas brancas e mantém
a mentalidade de que o trabalho negro teria menor valor.
Estando a população negra mais vulnerável a extensas jornadas de trabalho
e a baixos salários, como se dá seu acesso aos serviços estruturais básicos? Ob-
serve a seguir os dados sobre vulnerabilidade social da população brasileira.

VULNERABILIDADE SOCIAL BRASILEIRA: RESTRIÇÃO DE ACESSO (2017)

Adilson Secco/ID/BR
(%) População branca População preta ou parda
50
45,3

40

31,9
30
30 28
23,6
20,1 21
20 19,1
15,9

10 9 9 9,2

0
À educação À proteção social* A condições A serviços de À comunicação Ao menos
de moradia saneamento básico (internet) três restrições

Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
visualizacao/livros/liv101629.pdf. Acesso em: 9 abr. 2020.
* Pessoas que não contribuem para o Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) em qualquer trabalho; que não têm direito à
aposentaria/pensão; que não recebem rendimentos de programas sociais.

De que forma a restrição de acesso aos serviços mencionados impacta a so-


brevivência das pessoas? Quais são suas chances de desenvolver uma carreira
acadêmica e profissional? Como podem negociar direitos trabalhistas e melhores
condições de empregabilidade?
Vimos que a combinação entre as desigualdades sociais enraizadas historica-
mente e o racismo estrutural marginaliza a população negra no Brasil, entre ou-
tros fatores, em virtude do trabalho informal, das disparidades salariais e da falta
de acesso a serviços básicos.
Nesse contexto, esses indivíduos estão desassistidos pelo Estado em seus di-
reitos básicos de cidadãos. Inseridos em zonas de conflito, onde a violência atra-
vessa seu cotidiano, uma imensa maioria de pessoas negras tem seu direito mais
básico violado: o direito à vida.

Não escreva no livro.


34
QUEM É ALVO DA VIOLÊNCIA NO BRASIL?
Agora, observe o resultado da pesquisa sobre as taxas de homicídio nos esta-
dos brasileiros.

BRASIL: TAXAS DE HOMICÍDIOS DE NEGROS E DE NÃO NEGROS A CADA


100 MIL HABITANTES DENTRO DESSES GRUPOS POPULACIONAIS (2007-2017)
Adilson Secco/ID/BR

Taxa de homicídios de negros *


Taxa de homicídios de não negros
(%)
50
45
40
35
Fonte de pesquisa: Instituto de Pesquisa
30
Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de
25 Segurança Pública. Atlas da violência 2019.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/
20 portal/images/stories/PDFs/relatorio_
15 institucional/190605_atlas_da_
violencia_2019.pdf. Acesso em: 9 abr. 2020.
10
5 * O número de negros foi obtido somando-se
pardos e pretos, enquanto o de não negros
0 corresponde à soma de brancos, amarelos
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 e indígenas; todos os ignorados não
entraram nas contas.

Ao analisarmos uma porcentagem tão desigual nas taxas de mortes violentas


entre pessoas negras e não negras, indagamo-nos sobre os motivos dessa rea-
lidade, sobretudo quando pensamos que a maioria dessas pessoas é jovem, isto
é, homens negros entre 15 e 29 anos de idade.
Retomando os dados socioeconômicos observados anteriormente, sabemos
das disparidades salariais, da taxa de ocupação dos negros no trabalho informal
e de uma grande porcentagem de pessoas negras habitando regiões onde falta
acesso a serviços básicos como educação, saúde e saneamento.
Em sua marginalização socioeconômica, o jovem negro periférico está mais
exposto às facções criminosas e às suas guerras. Na falta de oportunidades que
proporcionem as bases da cidadania, grupos criminosos aliciam, para suas fac-
ções, jovens sem estudo, sem emprego digno e sem perspectiva de uma vida equi-
librada. Dentro do crime, a expectativa de vida desses jovens é curta, visto que
eles são constantemente ameaçados pelas guerras entre facções e pelos ataques
policiais. Estudos publicados no Atlas da Violência 2019 atribuem muitas dessas
mortes ao acirramento das guerras entre duas facções penais, o Primeiro Coman-
do da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), para expandir seus mercados de
tráfico de drogas da Região Sudeste para outros estados do Brasil, sobretudo a
partir de 2007. Quanto maiores as facções, maior o aliciamento de jovens, e, quan-
to mais recorrentes as guerras do narcotráfico, mais morrem os jovens envolvidos.
E não são apenas os jovens aliciados pelo crime que morrem nas periferias das
cidades brasileiras. A guerra entre facções e os embates entre o narcotráfico e a
polícia atingem a população comum que vive nos bairros periféricos. Esses mo-
radores se tornam vítimas de balas perdidas, brigas, latrocínios, tribunais do cri-
me e também da violência da polícia, que não distingue, nesses lugares, o trata-
mento destinado aos criminosos do destinado aos cidadãos comuns, muitas vezes
executando inocentes em suas abordagens e ações.
Segundo uma pesquisa de opinião pública realizada em 2012 pela Secretaria
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e pelo Senado Federal, a
população brasileira reconhece a recorrência das mortes violentas dos jovens ne-
gros e, mais do que isso, 55,8% dos entrevistados concordam que a morte desses
jovens choca menos a população do que a morte de jovens brancos.

Não escreva no livro.


35
O antirracismo como arma contra o genocídio negro
Para compreender o porquê de os negros estarem entre a população vulne-
rável, é necessário olhar para além da desigualdade do tempo presente. É preci-
so olhar novamente para o passado colonial escravista e compreender que a na-
turalização da violência contra o negro tem origem em séculos de desumanização,
em castigos físicos e emocionais como forma de controle sobre seus corpos e
suas mentes. A abolição, mais do que libertar pessoas, criou um contingente
enorme de despossuídos que continuaram a viver de trabalhos pesados e mal
remunerados. Durante a escravidão, os corpos dos negros eram vistos como mer-
cadorias valiosas; após a abolição, os negros perderam essa utilidade e passa-
ram a ser vistos com desprezo.
Existe um abismo entre pretos e brancos no que se refere às oportunidades a
que cada grupo tem acesso e às formas como suas humanidades são compreen-
didas. Somente o racismo estrutural explica as bases da desigualdade e o motivo
de uma pessoa negra receber um salário menor que o de uma pessoa branca, mes-
mo ocupando o mesmo cargo e tendo a mesma formação escolar. Apenas o racis-
mo estrutural explica que uma pessoa branca seja preferida em um cargo de em-
prego, naturalizando as pessoas negras em subempregos e no trabalho informal.
E o que dizer ainda da evasão escolar e da reduzida presença de negros nas
universidades?

Qual é a relação entre a [garantia] do direito à vida e a juventude negra? Como es-
se direito tem sido afetado pelo racismo? Será que a vida dos nossos jovens negros ao
invés de ser garantida está sendo, na realidade, criminalizada? Há um extermínio da
vida dessa juventude? Um genocídio? Quem luta para garantir o direito à vida dos nos-
sos jovens negros? A educação se preocupa com essas questões?
[…]
PARA EXPLORAR
É possível dizer que, nos últimos anos, tem aumentado a consciência política sobre
» #Parem de nos matar!, de a situação de extermínio da juventude negra. Além da denúncia, a vontade política e
Cidinha da Silva. São Paulo:
jurídica de alguns setores em conhecer as causas desse extermínio vem sendo desper-
Pólen Livros, 2016.
tada. Dentre as causas mais citadas teríamos: a violência urbana, a pobreza e a vulne-
O livro reúne crônicas de uma
escritora e dramaturga negra rabilidade social, o tráfico, a ausência de uma política democrática de segurança. So-
que vivencia o racismo no co- mado a elas existiria, ainda, toda uma situação de falta de acesso à educação escolar,
tidiano e pensa seu lugar na a ausência de equipamentos públicos de lazer nos bairros pobres, vilas e favelas, baixa
sociedade. Além de tratar do ou pouca inserção no mercado de trabalho de maneira digna, pouco acesso aos bens
racismo estrutural e denunciar culturais, disputa entre os próprios jovens resultando em morte por armas de fogo.
o genocídio contra a juventu- […] Mas fica sempre a pergunta: essas são, de fato, as causas do extermínio da
de negra, a autora trata de
juventude negra?
histórias, construções cultu-
rais e resistência de um povo […] existe uma macrocausa que gera toda a violência que se volta contra essa ju-
que tem sobrevivido na luta ventude e que não tem sido discutida pelas políticas públicas e nem tem sido anali-
histórica por liberdade. sada com profundidade pelas ciências sociais e humanas, com destaque para o cam-
po da educação: o racismo.
Polén/Arquivo da editora

[…]
A campanha Vidas Negras: pelo fim da violência contra a juventude negra no Bra-
sil (ONU/BR) assumiu publicamente que o racismo é a macrocausa do extermínio da
juventude negra. Em relação à situação dos jovens negros apontada pelos dados ofi-
ciais, a campanha defende que: “esta morte precisa ser evitada e, para isso, é neces-
sário que Estado e sociedade se comprometam com o fim do racismo – elemento-
-chave na definição do perfil das vítimas da violência”.
Gomes, Nilma Lino; Laborne, Ana Amélia de Paula. Pedagogia da crueldade: racismo e extermínio
da juventude negra. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 34, 23 nov. 2018. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982018000100657&lng=pt&
nrm=iso#B2. Acesso em: 10 abr. 2020.

Não escreva no livro.


36
VIDAS NEGRAS IMPORTAM! HISTÓRIAS DE LUTAS,
SOBREVIVÊNCIA E RESISTÊNCIAS
Ao reivindicar a máxima “Parem de nos matar!”, os movimentos negros expõem
suas insatisfações e mostram a consciência de suas condições na sociedade bra-
sileira, assim como suas articulações políticas. A própria organização e divulgação
de pesquisas como as publicadas pelo IBGE, Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada (Ipea) e Seppir, entre outros institutos e órgãos, revela a mobilização política
em torno dos fenômenos sociológicos que envolvem a população negra do Brasil.
Toda essa trajetória de luta e resistência é antiga e per-

Arquivo Nacional. Fotografia: ID/BR


passa pelos aquilombamentos dos escravizados e pela
luta de abolicionistas como André Rebouças, engenheiro
negro que defendia a reforma agrária como meio de am-
parar os recém-libertos despossuídos. No período pós-abo-
lição, tiveram continuidade as irmandades, espaços de
apoio mútuo e de fortalecimento comunitário, assim como
foram inaugurados, por membros da classe média e das
elites negras, jornais impressos que denunciavam o racis-
mo e promoviam a autoestima afrodescendente.
A partir da organização de um desses jornais, foi fun-
dado, na década de 1930, o partido político Frente Negra
Brasileira (FNB), movimento que lutava contra a discri-
minação racial em lugares públicos. Nesse contexto, des-
taca-se Abdias do Nascimento (1914-2011), artista e
intelectual que iniciou sua militância como membro do
FNB, ampliando sua atuação ao inaugurar o Teatro Ex-
perimental do Negro (1944-1961), e investiu em sua
carreira política assumindo diversos cargos públicos,
inaugurando a Secretaria do Movimento Negro do Par-
tido Democrático Trabalhista (PDT). Como deputado fe- O Teatro Experimental do Negro encenava peças que abordavam
deral que compôs a Assembleia Nacional Constituinte, as condições em que vivia a população negra no Brasil e no
mundo, contribuindo para a conscientização racial e para a
Abdias articulou a aprovação do projeto de criminaliza- divulgação de símbolos culturais negros. Além do compromisso
ção do racismo na Constituição de 1988. artístico com o teatro, a companhia viabilizava concursos de
Além de Abdias do Nascimento, outros intelectuais beleza para promover a autoestima das pessoas negras e atuava
politicamente contra o racismo. Ela também deu origem à
se destacaram na militância negra, como a historiadora, Associação das Empregadas Domésticas e ao Conselho Nacional
filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez (1935-1994), que, de Mulheres Negras. Na foto, Abdias do Nascimento (abaixado) e
a partir dos anos 1970, focou as questões raciais em Léa Garcia (em pé, à direita) em 1957.

sua produção acadêmica, sobretudo a condição das mu-

Alberto Jacob/Agência O Globo


lheres negras, oprimidas pelo viés do gênero e da raça.
Integrante do Movimento Negro Unificado (MNU), Lélia
denunciava a exploração do trabalho das mulheres ne-
gras como empregadas domésticas mal remuneradas
e sem direitos trabalhistas, associando o contexto des-
sa mão de obra precarizada à herança colonial das es-
cravas domésticas. Fundadora do Instituto de Pesquisa
das Culturas Negras (IPCN), Lélia desconstruiu o mito
da democracia racial, uma vez que ele funcionava como
um elemento de dominação e perpetuação de violên-
cias que impedia o povo brasileiro de enxergar o racis-
mo como um problema real e, portanto, impossibilitava
sua problematização e superação.

A militância e a produção acadêmica de


estudiosos como Lélia Gonzalez, entre os anos
1970 e 1990, contribuiu para a
conscientização do racismo como elemento de
segregação racial e mantenedor da profunda
violência que marca a sociedade brasileira.

Não escreva no livro.


37
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A IGUALDADE RACIAL
Como fruto de séculos de luta, o movimento negro tem pública, visando fortalecer sua atuação política. Exem-
conquistado seu espaço na política institucional brasilei- plos dessas ações foram os investimentos em instala-
ra. Nos anos 1990, durante o governo de Fernando Hen- ção de cisternas em comunidades quilombolas, a insta-
rique Cardoso, a mobilização nacional reivindicou a insti- lação de energia elétrica em cidades e comunidades
tuição de políticas públicas voltadas para a resolução do periféricas do país, o estabelecimento de diálogos com
racismo e da marginalização da população negra, o que lideranças negras, a identificação e impulsão de poten-
impulsionou a criação do Grupo de Trabalho Interminis- ciais fontes de renda, a luta contra o racismo cultural e
terial para a Valorização da População Negra (1995). Ain- religioso e a promoção de autoestima de grupos histo-
da nos anos 1990, denúncias feitas à Organização Inter- ricamente inferiorizados.
nacional do Trabalho (OIT) lançaram luz sobre a Ainda no ano de 2003, foi aprovada a Lei n. 10 639,
discriminação racial no mercado de trabalho e influencia- que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obriga-
ram o governo brasileiro na definição de novas diretrizes toriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira
públicas. Em 1996, foi lançado o Programa Nacional dos nas disciplinas ministradas nas escolas e nos materiais
Direitos Humanos, que, pela primeira vez, abordou a de- didáticos. Em 2008, a lei foi ajustada para incluir a His-
sigualdade de oportunidades baseada na raça. tória e Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Lei n. 11 645).
Nos anos 2000, por sua vez, houve uma nova fase A Lei de cotas foi aprovada em 2012, durante o governo
de articulações e conquistas do movimento negro bra- da presidenta Dilma Rousseff, e institui a reserva de va-
sileiro. Em 2003, foi instituída a Seppir pelo presidente gas nas universidades federais para estudantes oriundos
Luiz Inácio Lula da Silva. A secretaria, com estatuto de de escolas públicas, pessoas de baixa renda, negras, par-
ministério, tinha por objetivos específicos a inclusão so- das e indígenas. A promoção da história e da cultura afro-
cial, a redução das desigualdades sociais e a promoção -brasileiras tem contribuído para a reflexão sobre seu
da igualdade racial. Por meio desses objetivos, sua es- protagonismo histórico ao longo de séculos, e a presen-
trutura dialogava com todos os outros ministérios do ça dos negros nas universidades tem promovido a inser-
governo, a fim de implementar políticas de ações afir- ção social e o fortalecimento de sua mobilização política
mativas, fomentar a economia local de comunidades na transformação da sociedade brasileira rumo a uma
tradicionais como as remanescentes de quilombos e democracia que, de fato, zele pelos direitos à vida e pela
capacitar as demais comunidades negras para a gestão concessão de oportunidades iguais de cidadania.

Os ministros-chefes da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial


Adriano Machado/Folhapress

Akin/Futura Press

Felix Lima/Folhapress

2003 2008
2010
2008 2010

Matilde Ribeiro Édson Santos Eloi Ferreira Araújo


Alan Marques/Folhapress

Greg Salibian/Folhapress

Luiz Claudio Barbosa/Futura Press

2011
2016 2015
2015

Luislinda Valois Nilma Lino Gomes Luiza Bairros

Não escreva no livro.


38
CONSCIÊNCIA NEGRA, MILITÂNCIA E
AQUILOMBAMENTOS

Ilustrações: Linoca Souza/ID/BR


Tempo de nos aquilombar

É tempo de caminhar em fingido silêncio,


e buscar o momento certo do grito,
aparentar fechar um olho evitando o cisco
e abrir escancaradamente o outro.

É tempo de fazer os ouvidos moucos


para os vazios lero-leros,
e cuidar dos passos assuntando as vias,
ir se vigiando atento, que o buraco é fundo.

É tempo de ninguém se soltar de ninguém,


mas olhar fundo na palma aberta
a alma de quem lhe oferece o gesto.
O laçar de mãos não pode ser algema
e sim acertada tática, necessário esquema.

É tempo de formar novos quilombos,


em qualquer lugar que estejamos,
e que venham os dias futuros, salve 2020,
a mística quilombola persiste afirmando:
“a liberdade é uma luta constante”.

Evaristo, Conceição. Tempo de nos aquilombar. O Globo, 31 dez. 2019.


Disponível em: http://levantebh.com.br/arte-e-cultura/tempo-de-nos-
aquilombar-de-conceicao-evaristo/. Acesso em: 12 abr. 2020.

Nesse texto, a escritora Conceição Evaristo chama a atenção para a importân-


cia de formar novos quilombos no tempo presente. Sua chamada reflete um mo-
vimento já em expansão, no qual o termo quilombo ultrapassa a concepção dos
antigos retiros de escravos fugidos.
Os novos quilombos, sejam rurais, sejam urbanos, se constituem como espa-
ços de encontros e sociabilidade para fortalecer a identidade negra e discutir es-
tratégias de lutas e resistências. Os novos aquilombamentos surgem, assim, em
espaços universitários, cursinhos populares, ocupações de moradias dignas, em
movimentos políticos, em associações culturais como grupos de capoeira, blocos
de carnaval e de festas folclóricas, bem como saraus, movimentos de hip-hop,
bailes funk, feiras de empreendedorismo e também em comunidades virtuais das
redes sociais.
Nesses espaços, em que a voz negra é amplificada como grito de resistência, a
desconstrução do racismo e o empoderamento da estética negra servem como
meios de estimular a juventude negra a sair das estatísticas da violência no Brasil,
sobrevivendo e assumindo seu protagonismo histórico.

Não escreva no livro.


39
ATIVIDADES

1 Retome o gráfico da página 33 sobre a proporção de pessoas ocupadas em trabalhos informais por
sexo e cor ou raça e, depois, responda:
a) Qual vertente apresenta desequilíbrio?
b) Qual é a diferença de porcentagem de ocupação nessa vertente?
c) Escreva um parágrafo explicando por que esse grupo que ocupa mais postos de trabalho no
mercado informal teria dificuldades em conquistar vagas no mercado formal.

2 Agora, retome o gráfico de rendimento-hora médio real do trabalho principal das pessoas ocupadas
por cor ou raça, na página 33, e responda:
a) O que os dados revelam sobre o perfil das disparidades salariais no Brasil?
b) Que privilégios são revelados nesses dados? Reflita sobre o tema, elencando os variados tipos
de vantagem de um grupo sobre o outro.
c) Existe um discurso recorrente na sociedade brasileira atual de que aquele que se esforça é capaz
de conquistar as recompensas merecidas, ascendendo socialmente. O que a última coluna do
gráfico revela sobre a consistência desse pensamento?

3 Retome o gráfico sobre a vulnerabilidade social brasileira, na página 34, e responda:


a) De que forma a restrição de acesso a serviços básicos dificulta o ingresso das pessoas nas
universidades?
b) Que tipos de esforço os negros precisam fazer para ascender social e economicamente?

4 O gráfico da página 35, sobre a taxa de homicídios de negros e de não negros, revela que a popula-
ção negra é alvo de violência no país. Quais motivos explicariam essa curva ascendente?

5 Mesmo levando em conta a existência de pessoas brancas em condições de vulnerabilidade social,


a taxa de homicídios crescente demonstra que os negros são o grupo mais perseguido na sociedade
brasileira, enquanto o assassinato de pessoas brancas é mais baixo e estável. Levante hipóteses
sobre essas diferenças estatísticas e justifique a expressão “genocídio negro”.

6 Dialogando com o texto "Pedagogia da crueldade", da página 36, por que o racismo deve ser consi-
derado a macrocausa do genocídio da juventude negra?

7 Reflita o porquê de os aquilombamentos, citados na poesia de Conceição Evaristo, serem uma táti-
ca de defesa contra o genocídio negro e uma arma de conquistas democráticas.

8 O historiador Flávio dos Santos Gomes (1964- ) realizou um estudo importante sobre a formação
dos quilombos e seus desdobramentos no passado e no presente. Leia o trecho abaixo e, depois,
faça o que se pede.

[…] Ao longo do século XX, a despeito da existência de inúmeras comunidades remanescentes de qui-
lombos no interior do Brasil – a maior parte das quais desconhecida –, a ideia de quilombo passou a ser
agenciada. A militância negra se apropriou do quilombo como representação política de luta contra a dis-
criminação racial e valorização da “cultura negra”.
Gomes, Flávio dos Santos. Mocambos e quilombos: uma história do campesinato negro.
São Paulo: Claro Enigma, 2015. p. 127 (Coleção Agenda brasileira).

a) Quais são as diferenças entre os quilombos do passado e do presente?


b) Converse com os colegas sobre a importância dos quilombos para a luta da população negra
contra o racismo.

9 A concepção sobre o significado de quilombo acompanha as mudanças históricas e se reajusta às


necessidades de resistência e de luta da população negra no Brasil. Nesse sentido, têm se tornado
comum as referências aos quilombos contemporâneos. Você conhece esse termo? Explique.

Não escreva no livro.


40
• Faça uma pesquisa sobre o que são os quilombos contemporâneos, diferenciando-os dos qui-
lombos do período colonial.
• Depois, identifique os quilombos rurais ou urbanos existentes em seu bairro ou cidade, faça uma
pesquisa sobre suas atividades e escreva sobre sua importância para a comunidade negra que
os integra. Em uma data combinada, compartilhe os resultados com a turma.

10 (Enem)

Quebranto
às vezes sou o policial que me suspeito às vezes faço questão de não me ver
me peço documentos e entupido com a visão deles
e mesmo de posse deles sinto-me a miséria concebida como um eterno começo
me prendo e me dou porrada fecho-me o cerco
às vezes sou o porteiro sendo o gesto que me nego
não me deixando entrar em mim mesmo a pinga que me bebo e me embebedo
a não ser pela porta de serviço o dedo que me aponto
[…] e denuncio
o ponto em que me entrego.
às vezes!...
Cuti. Negroesia. Belo Horizonte:
Mazza, 2007 (fragmento).

Na literatura de temática negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que tradu-
zem experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico:
a) incorpora seletivamente o discurso do seu opressor.
b) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento.
c) engaja-se na denúncia do passado de opressão e injustiças.
d) sofre uma perda de identidade e de noção de pertencimento.
e) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária.

11 (Enem)

Na sociologia e na literatura, o brasileiro foi por vezes tratado como cordial e hospitaleiro, mas não é is-
so o que acontece nas redes sociais: a democracia racial apregoada por Gilberto Freyre passa ao largo do
que acontece diariamente nas comunidades virtuais do país. Levantamento inédito realizado pelo projeto
Comunica que Muda […] mostra em números a intolerância do internauta tupiniquim. Entre abril e junho,
um algoritmo vasculhou plataformas […] atrás de mensagens e textos sobre temas sensíveis, como racis-
mo, posicionamento político e homofobia. Foram identificadas 393 284 menções, sendo 84% delas com abor-
dagem negativa, de exposição do preconceito e da discriminação.
Disponível em: https://oglobo.globo.com.
Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).

Ao abordar a postura do internauta brasileiro mapeada por meio de uma pesquisa em plataformas
virtuais, o texto:
a) minimiza o alcance da comunicação digital.
b) refuta ideias preconcebidas sobre o brasileiro.
c) relativiza responsabilidades sobre a noção de respeito.
d) exemplifica conceitos contidos na literatura e na sociologia.
e) expõe a ineficácia dos estudos para alterar tal comportamento.

Não escreva no livro.


41
PRÁTICAS DE PESQUISA

Racismo estrutural
Para começar A investigação
• Prática de pesquisa: revisão bibliográfica
Durante mais de três séculos, os africanos es-
cravizados foram trazidos à força de seu continen- Material
te por meio do tráfico negreiro para suprir a deman-
da por mão de obra cativa no Brasil. Ainda hoje • Folhas para anotações, lápis e caneta
sofremos as consequências desse sistema escra- • Computador com acesso à internet
vocrata que estratificou a sociedade brasileira. E • Livros para consulta
uma delas é o racismo.
O filósofo Silvio de Almeida é um dos principais Procedimentos
expoentes do estudo de questões étnico-raciais
no Brasil, com ênfase no racismo estrutural. Se-
gundo ele: Parte I – Planejamento e análise

1 Organizem-se em grupos de quatro ou cinco


[…] o racismo é uma decorrência da própria es-
integrantes.
trutura social, ou seja, do modo “normal” com que
2 Cada grupo deve escolher uma das três obras
se constituem as relações políticas, econômicas,
de referência indicadas abaixo, de modo que
jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia
cada livro seja analisado por pelo menos um
social e nem um desarranjo institucional. O racis-
grupo da sala.
mo é estrutural. Comportamentos individuais e pro-
cessos institucionais são derivados de uma socie- Identifiquem, no livro escolhido, os capítulos e
dade cujo racismo é regra e não exceção. […] trechos que tratam diretamente das caracte-
alMeida, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. rísticas do tema racismo estrutural e façam, in-
In: RibeiRo, Djamila (coord.). Feminismos plurais. dividualmente, a leitura e o fichamento desse
São Paulo: Pólen, 2019. p. 50. material.
• Munanga, Kabengele. Rediscutindo a mes-
Nesta seção, vamos fazer uma investigação so- tiçagem no Brasil: identidade nacional ver-
bre o racismo estrutural no Brasil, analisando como sus identidade negra. 5. ed. Belo Horizonte:
se dá a reprodução sistêmica de práticas racistas Autêntica, 2019.
na sociedade brasileira. Para isso, realizaremos uma • alMeida, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. In:
revisão bibliográfica sobre esse tema. RibeiRo, Djamila (coord.). Feminismos plurais.
São Paulo: Pólen, 2019. p. 50.
O problema
• RibeiRo, Djamila. Pequeno manual antirra-
Segundo os critérios do IBGE, pretos e pardos, cista. São Paulo: Companhia das Letras,
proporção que compõe a população negra, são 2019.
mais da metade dos brasileiros. Entretanto, ain-
da hoje, os indicadores sociais dessa parcela da 3 Reúnam-se com o grupo e discutam os concei-
população são inferiores aos dos brancos em de- tos e as proposições do autor ou da autora dos
corrência de uma condição histórica que restrin- livros relacionados às características do racismo
giu o acesso dessa população aos mesmos direi- estrutural no Brasil, fazendo perguntas do tipo:
tos dos brancos. Como o racismo é estruturado na sociedade bra-
O racismo faz parte da estrutura da sociedade sileira? Por que as práticas racistas ainda fazem
brasileira. Contudo, isso não retira a responsabili- parte do cotidiano dos brasileiros? Como deve-
dade de cada um de nós sobre a prática de condu- mos lidar com situações em que ocorrem práti-
tas racistas, o que nos torna ainda mais responsá- cas racistas? Anotem suas conclusões, elas se-
veis pelo combate ao racismo, com a adoção de rão importantes na etapa de elaboração do
práticas antirracistas. texto de revisão bibliográfica.

Não escreva no livro.


42
Parte II – Levantamento de artigos 2 Formatem o texto segundo as normas da Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e
1 Façam um levantamento de artigos em periódi- façam a revisão bibliográfica.
cos acadêmicos que tratem do tema, com o ob-
• Tipo de letra: Arial ou Times New Roman. Sem-
jetivo de complementar, ampliar ou mesmo se
pre seguindo o mesmo padrão do restante do
contrapor às proposições do(a) autor(a) de refe-
documento.
rência. Os artigos devem ser recentes, com me-
nos de cinco anos. • Tamanho da fonte: 12 (em todos os elementos).
• Margens: 3 cm superior e esquerda / 2 cm in-
2 A seguir, indicamos revistas acadêmicas reco- ferior e direita.
nhecidas, todas com versão eletrônica disponí-
• Capa: no topo da folha, centralizado, escreva
vel na internet. Se julgarem necessário, vocês
em negrito o nome de sua instituição de ensino.
podem ampliar a pesquisa consultando outras
Depois, três parágrafos abaixo, insira o nome
publicações, mas é importante que elas sejam
dos integrantes do grupo em letra maiúscula.
acadêmicas, ou seja, publicadas por universida-
des ou centros de estudo. • No centro da capa, escreva o título do trabalho
em negrito e em letra maiúscula e, se houver, o
• Revistas Negras – Universidade Federal do subtítulo, sem negrito e em letra maiúscula. Na
Recôncavo da Bahia (UFRB) parte inferior da página, nas últimas duas linhas,
• Afro-Ásia – Universidade Federal da Bahia escreva, centralizado, o local (cidade e estado)
(UFBA) na primeira linha e, na segunda, a data (ano).
• Revista Brasileira de História – Associação
Nacional de História (ANPUH)
Questões para discussão
• Tempo – Universidade Federal Fluminense
(UFF)
1. Que desafios vocês encontraram durante a
• Varia História – Faculdade de Filosofia e realização desse tipo de pesquisa? O que foi
Ciências Humanas da Universidade Federal mais fácil e o que foi mais difícil de fazer?
de Minas Gerais (UFMG)
• Clio – Programa de pós-graduação da Uni- 2. Segundo a pesquisa feita por todos os grupos,
como são apresentadas as questões étnico-ra-
versidade Federal de Pernambuco (UFPE)
ciais? Quais são as principais características das
• Canoa do Tempo – Universidade Federal do
práticas de manifestações racistas no Brasil?
Amazonas (Ufam)
Como vocês percebem essas manifestações
3 Acessem o site da revista e façam uma busca com discriminatórias no cotidiano?
palavras-chave, como “questões étnico-raciais”,
3. Quais são as contribuições que essa pesquisa
“racismo estrutural” e “práticas antirracistas”.
pode trazer para o combate ao racismo?

4 Para que o grupo tenha contato com uma quan- 4. Quais seriam as principais práticas antirracistas
tidade razoável de artigos, cada integrante de- que deveríamos adotar no cotidiano? Como a
ve se responsabilizar por realizar a leitura de luta contra as discriminações contribui para a
um ou dois artigos, fazer o fichamento e apre- consolidação da democracia no Brasil?
sentar um resumo dos artigos aos colegas.

Parte III – Elaboração do texto Comunicação dos resultados


1 Com todas as anotações em mãos, redijam um Para que o resultado das pesquisas realizadas
texto final com as conclusões a que vocês che- por vocês possa ser compartilhado com outras pes-
garam. Primeiro, apresentem o problema, o li- soas que se interessem pelo assunto, com o auxílio
vro de referência escolhido e seu(sua) autor do professor, organizem uma revista com a coletâ-
ou autora e os conceitos e proposições de ca- nea das revisões bibliográficas feitas pela turma.
da um em relação ao tema. Em seguida, apre- Criem um nome e uma capa para a revista. Na
sentem os artigos lidos por vocês, mostrando primeira página, elaborem um texto explicando do
de que forma eles complementam, ampliam que se trata. Em seguida à página de apresenta-
ou se contrapõem às ideias do(a) autor ou da ção, componham os títulos dos trabalhos da turma
autora de referência. na sequência em que são apresentados.

Não escreva no livro.


43
CIDADANIA
BRASILEIRA HOJE

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE

Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10.

Competências específicas e
habilidades das áreas:
CECHSA1: EM13CHS102,
EM13CHS103, EM13CHS104 e
EM13CHS106.
CECHSA5: EM13CHS501,
ORGANIZAR IDEIAS

O Brasil é um país com muitas desigualdades. A realidade brasi-


EM13CHS502 e EM13CHS503.
leira atual está fortemente associada à escravidão, sistema que ga-
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS604 e EM13CHS605. rantiu o monopólio de renda e poder a uma parcela privilegiada da
CECNT1: EM13CNT104. sociedade, enquanto negava à maioria da população o direito à re-
CECNT2: EM13CNT206. muneração, à liberdade e à educação.
CECNT3: EM13CNT309. 1. Passados mais de 130 anos da abolição da escravidão e mais de
CELT2: EM13LGG201, 30 anos da Constituição de 1988, que prevê a garantia de direi-
EM13LGG202, EM13LGG203 e
EM13LGG204. tos sociais por meio do acesso à educação, à saúde e ao sanea-
CELT3: EM13LGG301, mento, por que o Brasil continua a ser um país extremamente
EM13LGG303 e EM13LGG304. desigual? Reflita sobre isso e converse com seus colegas.
CELT7: EM13LGG704.
2. Qual é a relação entre a garantia dos direitos sociais e políticos
CEMT1: EM13MAT102.
prescrita na nossa Constituição e a atuação dos movimentos
CEMT4: EM13MAT406.
sociais brasileiros? Levante hipóteses com os colegas.

44
Unidade

2
Igualdade social ou privilégios? 4

A busca pela igualdade 5

Povos tradicionais: a luta permanente 6

A. Dorgiva/Arquivo ABR/Senado Federal

Os movimentos sociais tiveram papel


importante no contexto da elaboração da
Constituição de 1988, que consolidou a
redemocratização. Na foto, populares
comemoram a eleição de Tancredo Neves
pelo colégio eleitoral. Brasília (DF), 1985.

45
4
CAPÍTULO
IGUALDADE SOCIAL
OU PRIVILÉGIOS?
A questão que dá título ao capítulo suscita uma reflexão sobre as características
» Competências e da realidade brasileira. Há muitos valores que afirmam o esforço individual como a
habilidades
chave do sucesso profissional e da autorrealização. No entanto, esse conjunto de
CGEB1, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. valores estabelecidos socialmente pode, muitas vezes, ocultar contextos sociais
CECHSA1: EM13CHS103 e que influenciam e constroem as realidades vividas pelas pessoas cotidianamente.
EM13CHS106. Nas sociedades contemporâneas, sobretudo ocidentais, essas ideias que cir-
CECHSA5: EM13CHS501, culam estão baseadas no ideal da democracia como um sistema político justo, em
EM13CHS502 e
que o povo governa de forma soberana e a cidadania é exercida de forma iguali-
EM13CHS503.
tária. Aliada a esses valores, há a ideia de esforço individual, segundo a qual aque-
CECHSA6: EM13CHS601 e
EM13CHS605. le que se esforça tem mais chances de obter sucesso. Mas qual é o significado da
CELT2: EM13LGG201 e igualdade em uma democracia? E que direitos podem garantir a igualdade social?
EM13LGG202. Veja o que diz a Constituição Brasileira de 1988 e, em seguida, observe a imagem.
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406.

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, ga-
rantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade […]:
[…]
Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a mo-
radia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternida-
de e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 abr. 2020.

Lightspring/Shutterstock.com/ID/BR

A imposição de
barreiras é uma das
manifestações da
discriminação
racial no Brasil.

1. Em sua opinião, a imagem acima representa a população brasileira? Justifique


sua resposta.
2. Relacione o lugar social ocupado pelas pessoas representadas na imagem e
os direitos garantidos pela Constituição. A imagem mostra que ambas têm
amplo acesso a esse lugar social? Comente suas percepções e hipóteses com
a turma.

Não escreva no livro.


46
PANORAMA DA DESIGUALDADE
A despeito do texto constitucional que fundamenta a democracia brasileira, os
dados comprovam que muitos grupos sociais não têm acesso aos direitos sociais
básicos, enquanto outros desfrutam de vantagens nas estruturas de serviços, nas
relações hierárquicas de poder e na acumulação de bens materiais.
Os dados do IBGE apontam para a grande desigualdade de renda dos brasi-
leiros e sua segregação em diferentes camadas sociais. Nesse contexto, quais
são as possibilidades de superação das dificuldades e de ascensão social dos ex-
tratos mais pobres da população?

BRASIL: PROPORÇÃO DE PESSOAS RESIDENTES EM DOMICÍLIOS PARTICULARES,


POR CLASSE DE RENDIMENTO REAL EFETIVO DOMICILIAR PER CAPITA,
EM RELAÇÃO AO SALÁRIO MÍNIMO, SEGUNDO AS GRANDES REGIÕES (2017)
(%)

Adilson Secco/ID/BR
100
Até ½ salário mínimo
90
Até 1 salário mínimo
80 76,0 77,3 Mais de 2 salários mínimos
70
60 58,9
49,9 50,2 52,0
50 48,1
42,3
40
30,7
30
21,4 23,2 21,5
20,5 20,0
20 16,2 15,6 BRASIL: ÍNDICE GLOBAL
10 7,8 7,7 DE MOBILIDADE
0 SOCIAL (2020)
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017. Posição País Pontos
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101629.pdf. Acesso em: 21 abr. 2020.
1 Dinamarca 85,2
De acordo com um estudo que analisa as possibilidades de ascensão social 2 Noruega 83,6
em diversos países, publicado em janeiro de 2020 pelo Fórum Econômico Mun-
dial (FEM), o Brasil ocupa a 60a posição no ranking de mobilidade social estabe- 3 Finlândia 83,6
lecido entre 82 países analisados. Os dados analisados nessa pesquisa indicam
que, no atual cenário brasileiro, levaria nove gerações para que uma pessoa per- 4 Suécia 83,5
tencente à camada mais baixa da população alcançasse a renda média do país.
5 Islândia 82,7
Veja na tabela ao lado a posição ocupada por alguns países, entre eles o Brasil,
no ranking estabelecido pelo estudo do Fórum Econômico Mundial. 11 Alemanha 78,8
Para chegar a esse resultado, foram examinadas e pontuadas cinco grandes
áreas de atuação: saúde, educação, tecnologia, trabalho e proteção social. De acor- 15 Japão 76,1
do com a análise, o Brasil obteve desempenhos regulares e ruins, destacando-se
Estados
negativamente, principalmente, no tópico de educação “Aprendizagem ao longo 27 70,4
Unidos
da vida”, no qual ocupa o 80o lugar. Essa situação reflete a dificuldade dos brasi-
leiros de acessar níveis mínimos de educação. 45 China 61,5
Os dados apontam para uma realidade brasileira com instituições pouco inclu-
sivas, baixa equidade nas condições de educação entre ricos e pobres, mercado 47 Chile 60,3
de trabalho bastante restrito e alto índice de desigualdade de oportunidades.
51 Argentina 57,3
Segundo a pesquisa, os dez países com maior possibilidade de mobilidade são
europeus. Dinamarca, Noruega, Finlândia, Suécia e Islândia estão no topo do ran- 60 Brasil 52,1
king, pois apresentam bons índices de desenvolvimento humano e sistemas pú-
blicos eficientes de saúde e educação. É importante ressaltar, no entanto, que Costa do
82 34,5
Marfim
esses países contam com uma população bastante pequena e homogênea.
De acordo com o FEM, os níveis de mobilidade social têm impacto efetivo nos Fonte de pesquisa: World Economic
índices de crescimento de um país, o que significa dizer que a promoção de con- Forum. The Global Social Mobility Report
2020. Disponível em: http://www3.
dições sociais menos discrepantes, além de possibilitar contornos sociais mais weforum.org/docs/Global_Social_Mobility_
justos, promove a economia local como um todo. Report.pdf. Acesso em: 21 abr. 2020.

Não escreva no livro.


47
FISSURAS SOCIAIS

Vozes-mulheres
A voz de minha bisavó A voz de minha mãe
ecoou criança ecoou baixinho revolta
nos porões do navio. no fundo das cozinhas alheias
Ecoou lamentos debaixo das trouxas
de uma infância perdida. roupagens sujas dos brancos
A voz de minha avó pelo caminho empoeirado
ecoou obediência rumo à favela.
aos brancos-donos de tudo. A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.

A voz de minha filha


recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
/BR

a fala e o ato.
za/ID

O ontem – o hoje – o agora.


a Sou

Na voz de minha filha


Linoc

se fará ouvir a ressonância


o eco da vida-liberdade.

Evaristo, Conceição. Poemas da


recordação e outros movimentos.
Rio de Janeiro: Malê, 2008. p. 50-51.

Para compreender a realidade atual brasileira, é fundamental considerar as


relações históricas estabelecidas desde o século XVI, durante o processo de co-
lonização do Brasil, que delinearam diferentes realidades a partir da exploração
do trabalho escravo e servil e da acumulação material por uma elite branca. As
consequências das práticas desse passado colonial ainda estão presentes nas
relações cotidianas da sociedade brasileira contemporânea.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, rea-
lizada em 2019 pelo IBGE, 56,10% da população brasileira se autodeclarou negra.
Embora representem a maioria da população, dois terços dos trabalhadores ne-
gros estão fora do mercado de trabalho. Ao analisar os dados de ascensão social,
esses números são ainda mais discrepantes. Em um levantamento feito pelo Ins-
tituto Ethos em setembro de 2019, foi possível verificar que apenas 6,3% dos car-
gos de gerência das 500 empresas mais ricas do Brasil são ocupados por pessoas
negras. No quadro executivo, a proporção cai para 4,7%. Em relação às mulheres
negras executivas, o número chega a 0,4%.
INTERAÇÃO

1. Qual é a relação entre o poema “Vozes-mulheres”, de Conceição Eva-


risto, e os dados socioeconômicos que evidenciam as fissuras históri-
cas do Brasil?

Não escreva no livro.


48
COMO NASCEM OS PRIVILÉGIOS?
O termo privilégio é muito comum no cotidiano, não é mes-

Museu Carnavalet, Paris, França. Fotografia: Bridgeman Images/Easypix


mo? Você já parou para pensar sobre o significado dessa pa-
lavra e sobre o peso que ela carrega nas sociedades contem-
porâneas democráticas?
“Privilégio” significa um conjunto de vantagens usufruídas
por um grupo em prejuízo de outros segmentos da socieda-
de. Essas vantagens podem ser materiais, como maior aces-
so a bens de consumo, mas também simbólicas, manifesta-
das pela valorização social dessas pessoas e pela atribuição
de uma suposta superioridade intelectual. A existência de
grupos privilegiados econômica, política e culturalmente é
uma grande contradição das sociedades democráticas, que
têm como pressuposto a igualdade entre os cidadãos.
No entanto, é importante ressaltar que os grupos privile-
giados, assim como os conceitos de igualdade, cidadania e
democracia, nem sempre existiram no tempo e no espaço.
Como tudo que é construído socialmente, esses conceitos e
a própria estrutura da sociedade têm história, surgem e se
concretizam em contextos específicos e se transformam ao
longo do tempo. Ao considerar essa perspectiva histórica,
uma pergunta torna-se bastante relevante: como os privilé-
gios nasceram no Brasil?
O Brasil contemporâneo é uma consequência da invasão
dos portugueses em terras alcançadas durante as Grandes
Navegações, marcada pela aniquilação física e cultural de di-
versos povos indígenas que habitavam essas terras e pelo
emprego de mão de obra escravizada africana nos empreen-
dimentos coloniais. Nessa estrutura, os colonos europeus as-
O jogo deve continuar, gravura
sumiam posições de liderança, ganhavam terras da Coroa portuguesa e proteção colorizada de autoria desconhecida,
legal para acumular riquezas e impor valores culturais como o cristianismo e as 1789. Essa gravura representa os
ideias de civilização, conforme os moldes ocidentais. antigos privilégios da nobreza
e do clero, que se apoiavam no
Nos séculos XVIII e XIX, enquanto o Brasil era colônia de Portugal, a Europa trabalho do terceiro estamento,
passava por transformações que levaram à ascensão da burguesia. Esse período composto de burgueses, artesãos,
foi marcado por revoluções burguesas e pelo questionamento dos privilégios da operários e camponeses.
As revoluções europeias do
nobreza, do clero e dos poderes reais. Ideias iluministas, como liberdades indivi- século XVIII reivindicavam o fim
duais e igualdade de direitos, passaram a disputar espaço com a organização dos privilégios de nascimento e a
hierárquica das sociedades absolutistas, baseadas no direito divino. igualdade de direitos.
Nas revoluções burguesas, contudo, a ideia de liberdade dizia respeito ao livre
comércio, à autonomia de trabalho dos indivíduos e à liberdade de pensamento
e de exercício da fé religiosa, esferas antes controladas pelo Estado. Quanto à
igualdade, esta seria perante a lei, em que todos nasceriam com os mesmos di-
reitos, independentemente de sua linhagem familiar, e seriam julgados pela Jus-
tiça conforme seus atos, e não sua posição social.

PARA EXPLORAR

» Descubra o jogo do privilégio branco


Nem sempre é fácil perceber o quanto somos beneficiados ou prejudicados pelos
privilégios sociais dos quais determinados grupos desfrutam. Pensando nisso, os
pesquisadores da organização não governamental Instituto Identidades do Brasil
(ID_BR) desenvolveram um jogo de perguntas e respostas que podem ajudar a
identificar as barreiras sociais e eventuais vantagens ou desvantagens às quais
um indivíduo brasileiro está sujeito, de acordo com a cor da pele. As instruções de
jogo e o vídeo explicativo estão disponíveis em: http://simaigualdaderacial.com.
br/site/?mergulhe_no_tema=vantagem-racial-jogo-do-privilegio-branco. Acesso
em: 13 maio 2020.

Não escreva no livro.


49
OS PRIVILÉGIOS NO BRASIL
Conforme vimos anteriormente, os ideais de liberdade e igualdade se desen-
volveram no contexto do Iluminismo na Europa, entre os séculos XVIII e XIX. À
época, o Brasil era uma sociedade colonial, escravocrata e organizada com base
em pressupostos que contradiziam esses princípios. Hoje, no entanto, apesar da
intensa desigualdade social que ainda configura a sociedade brasileira, o país ex-
pressa esses ideais em sua Constituição. Como eles foram incorporados pela so-
ciedade brasileira? Quais processos históricos promoveram essa transformação?
A partir do século XIX, as ideias iluministas passaram a circular com maior in-
tensidade entre as elites coloniais intelectualizadas do Brasil. O desgaste político
entre as elites brasileiras e a Coroa portuguesa mobilizou a reivindicação por li-
berdade econômica em relação ao controle absolutista europeu. Esses ideais fo-
ram utilizados para legitimar a independência política do Estado, mas essa reivin-
dicação não abarcava a abolição imediata da escravatura, estrutura
profundamente antagônica ao ideal de liberdade. Já a igualdade se restringia
àqueles considerados cidadãos: homens brancos que possuíssem determinada
renda. Esses critérios excluíam os negros escravizados e libertos, as mulheres e
as pessoas pobres em geral.
Em 1850, foi aprovada a Lei de Terras, que formalizava a posse dos antigos
latifundiários, homens brancos receptores ou herdeiros das sesmarias. Além de
Sesmaria: lote de terra entregue pela
Coroa às elites coloniais. beneficiar as tradicionais elites, a lei tornava a terra uma mercadoria cara, aces-
sível apenas a um estrato social.
Em meio às transformações da sociedade colonial associadas ao desenvolvi-
mento capitalista, o emprego da mão de obra escrava gerava grandes discussões
na sociedade brasileira. Além de ser contrário aos valores morais de liberdade e
igualdade, representava um entrave à formação de um mercado consumidor, ba-
seado nas relações assalariadas. Ao longo da segunda metade do século XIX, a
redução da escravização foi regulamentada pela Lei do Ventre Livre, em 1871, e
pela Lei dos Sexagenários, em 1885.
A libertação de recém-nascidos e de idosos es-
Acervo Instituto Martius-Staden/Museu da Imigração/Fotografia: autoria desconhecida

tabelecida por essas leis era acompanhada de


indenização de seus antigos proprietários. Em
1888, foi aprovada a Lei Áurea, que abolia defi-
nitivamente a escravidão no Brasil. Embora não
previsse a indenização aos antigos senhores, o
governo brasileiro criou sistemas de empréstimos
para minimizar seus prejuízos e financiou a vinda
de imigrantes assalariados para a realização dos
trabalhos anteriormente desempenhados pelos
escravizados no país.
Os imigrantes, sobretudo os de origem euro-
peia, tinham preferência para ocupar os novos
postos de trabalho nas zonas rurais e urbanas.
As condições e possibilidades oferecidas pelo go-
verno aos europeus que chegavam ao Brasil dei-
xavam claro que os negros não eram considera-
dos iguais em oportunidades e direitos.
Ao longo da Primeira República, o voto era cen-
sitário, e somente quem tivesse determinada ren-
da poderia votar. Os cargos políticos eram ocupa-
dos pelas mesmas elites, formadas por homens
brancos que mantinham seus privilégios sociais,
Família de imigrantes alemães em Santa Catarina, no início do século XX. enquanto negros, pobres, analfabetos, trabalha-
A imigração foi estimulada para implementar a mão de obra livre. Os negros
eram considerados trabalhadores de menor prestígio e sua presença, cor da dores rurais e mulheres não eram considerados
pele e fenótipo eram tidos como algo a ser superado. cidadãos dignos de igualdade.

Não escreva no livro.


50
Quem são os privilegiados da atual sociedade brasileira?
A existência de grupos privilegiados no Brasil está diretamente relacionada à
manutenção de estruturas de hierarquia elaboradas no passado. O lugar das pes-
soas nessa pirâmide é determinado com base em características físicas, biológi-
cas, intelectuais, culturais e sociais, como cor da pele, descendência, gênero, iden-
tidade de gênero, orientação sexual, classe social, entre outras. No passado, os
mais altos postos da hierarquia social estratificada eram ocupados por reis, prín-
cipes, senhores de engenho e representantes do governo colonial. Atualmente, a
figura social que desfruta de maior status social é o homem branco, rico, bem-su-
cedido e pai de família. Os outros atores sociais recebem um valor diferente, con-
forme se distanciam desse modelo ideal. PARA EXPLORAR
Os privilégios podem ser observados na esfera material pelo acúmulo de he- » Grupos privilegiados preci-
ranças transmitidas de geração a geração provenientes, por exemplo, da explo- sam enxergar o racismo
ração do trabalho escravo. Ainda no campo material, os privilégios se expressam como realidade e fazer par-
na facilidade de uma pessoa branca ser contratada em um emprego formal, re- te da mudança
ceber maiores salários, ter mais chances de promoção e ascender socialmente. A plataforma Um Brasil apre-
Na esfera simbólica, esses privilégios se manifestam na adoção do padrão senta vídeos que abordam os
privilégios e a representativi-
branco de beleza; na valorização de elementos culturais europeus e na inferio-
dade negra. Alexandra Loras
rização de outros povos; na ausência ou na escassez de negros, mulheres e ho-
(ex-consulesa da França e
mossexuais nos cargos políticos ou nos altos escalões executivos das grandes mestre em Gestão de Mídia),
empresas; na baixa representatividade de figuras que fujam do padrão de be- Amara Moira (escritora e mi-
leza branco em produtos culturais como filmes, programas televisivos, brinque- litante LGBTQI+), Djamila Ri-
dos, livros, etc.; e no tratamento destinado a pessoas negras nos espaços públi- beiro (filósofa e ativista do fe-
cos e privados. minismo negro) e José
O acesso a direitos sociais básicos também está permeado de privilégios. Pes- Vicente (fundador e reitor da
soas pobres, sobretudo negras, enfrentam uma série de obstáculos para frequen- faculdade Zumbi dos Palma-
tar escolas, bibliotecas, espaços culturais e partilhar dos bens culturais valoriza- res) são algumas das perso-
dos socialmente. nalidades que discorrem sobre
essas temáticas. Você pode
Embora as atuais pessoas brancas não possam ser responsabilizadas pelo
acessar os conteúdos da pá-
sistema colonial e pelo processo de escravização que moldou esses abismos so-
gina no site: http://umbrasil.
ciais, é fundamental que todos tenham consciência dos privilégios que marcam com/noticias/grupos-privile
a sociedade, assim como identifiquem o racismo estrutural e sua presença em giados-precisam-enxergar-o
nossa mentalidade. Para superar esse contexto, é preciso promover políticas pú- -racismo-como-realidade-e
blicas que visem reduzir as desigualdades às quais certos grupos historicamente -fazer-parte-da-mudanca/.
marginalizados são submetidos e que dialoguem com as reivindicações presen- Acesso em: 22 abr. 2020.
tes desses grupos.
Frederico Brasil/Futura Press

As políticas públicas que


implementaram cotas de acesso às
universidades federais têm conquistado
resultados positivos no que se refere à
inserção social da população negra.
Contudo, a desigualdade de acesso
ainda é grande e a frequência dos
cursos ainda é uma barreira para alunos
pobres que precisam conciliar trabalho
e estudo. Na foto, deputados, em sua
maioria homens brancos, durante
votação em Brasília (DF), 2020.

51
MERITOCRACIA
Nas sociedades democráticas contemporâneas, a meritocracia é percebida co-
mo o reconhecimento e a premiação dos indivíduos que apresentam bom com-
portamento e melhor desempenho em suas produções acadêmicas e profissio-
nais. Um dos fundamentos da meritocracia é a ideia de que vivemos em um
sistema em que todos os cidadãos têm igualdade de direitos e oportunidades.
Assim, aqueles que se destacam produtivamente poderiam ocupar melhores pos-
tos nas hierarquias sociais. A ideologia meritocrática consiste na ideia de que o
indivíduo deve ser avaliado e recompensado de acordo com o próprio mérito e
com sua eficiência ao desempenhar funções. Para isso, elementos como qualida-
de, inovação, dedicação, comprometimento e eficiência são utilizados como mé-
tricas para avaliar seu desempenho.
Na sociedade estadunidense, por exemplo, que se configura como um dos
grandes referenciais em termos de cultura meritocrática, o modelo de premiação
das potencialidades e méritos individuais é utilizado como forma de estimular
a competição e a produtividade, bem como incentivar o destaque social. Dife-
renças individuais são vistas como propulsoras de particularidades únicas que
personalizam criações.

Para a Sociologia, segundo Boudon e Bourricaud, há dois tipos de democracia mo-


derna: a liberal e a radical. A primeira, cuja referência é o modelo inglês e norte-ame-
ricano, dá prioridade à liberdade, resguardando os interesses privados da interferência
da autoridade pública, e pensa a igualdade apenas como a ausência de privilégios e
condição que permite ao indivíduo a independência e a realização pessoal, alcança-
da ou não conforme o mérito de cada um.
Silva, Kalina Vanderlei; Silva, Maciel Henrique.
Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 90.

Nesse sentido, a cultura meritocrática estadunidense parte da premissa de que


todos os cidadãos teriam seus direitos individuais básicos garantidos pela manu-
tenção da liberdade proporcionada pela democracia. Essa premissa, por sua vez,
contribui para a supervalorização da figura do self made man, expressão que po-
de ser traduzida para o português como “o homem que se faz por conta própria”,
em referência aos indivíduos que supostamente superam as barreiras histórico-
-sociais sozinhos e enriquecem por mérito pessoal

Duke/Acervo do chargista

Duke. O Tempo, 13 ago. 2016.

Não escreva no livro.


52
É POSSÍVEL PENSAR EM MERITOCRACIA NO BRASIL?
No contexto brasileiro, a menção à meritocracia provoca embates bastante
acalorados entre diferentes esferas políticas e sociais. A questão-chave é: É pos-
sível estimular a competição meritocrática e premiar os melhores resultados em
um país tão desigual, onde as elites acumulam privilégios e os pobres não têm
acesso a direitos básicos?
Para contextualizar a prática da meritocracia no país, é importante pontuar que
desde o século XIX têm sido adotadas políticas formais que selecionam pessoas
para ocupar determinados postos, levando em consideração sua trajetória edu-
cacional, profissional e seus méritos. Esses processos seletivos ocorrem, por exem-
plo, no funcionalismo e nas universidades públicas, cujos alunos e funcionários
ingressam por meio de concursos e têm sua carreira definida por avaliações de
desempenho. Contudo, embora, a rigor, o Brasil adote a meritocracia em algumas
esferas, ideologicamente a sociedade brasileira tem dificuldade de superar as re-
lações pessoais e de julgar o outro apenas por suas habilidades concretas.
Para os defensores do sistema meritocrático no país, a valorização indivi-
dual racionalizada seria uma forma de estimular empreendimentos e supera- Cordialidade: referente às manifes-
ções individuais, além de romper com a pessoalidade das relações profissio- tações de afeto. O historiador Sérgio
Buarque de Holanda (1902-1982)
nais, os favorecimentos, os apadrinhamentos e os melindres que marcam a define o brasileiro como “o homem
cordialidade brasileira. cordial”, cujas relações perpassariam
Em uma outra vertente de argumentação, os críticos da ideologia meritocrática o favorecimento pessoal, as iras pas-
sionais e a indistinção entre os espa-
ressaltam que a importância concedida às relações pessoais, os apadrinhamen- ços público e privado.
tos e as desigualdades sociais fazem com que a premiação por méritos beneficie
apenas uma parcela privilegiada da população, que teve acesso à estrutura fa-
miliar, saúde e educação de qualidade. Para esses críticos, a adoção irrestrita da
meritocracia aprofundaria os abismos sociais, pois não considera as desigualda-
des sociais entre os brasileiros: Se os indivíduos não partem exatamente de um
mesmo ponto inicial, como avaliá-los usando um mesmo critério? Nesse contexto,
o diálogo com os grupos sociais excluídos e a implementação de políticas públi-
cas para garantir as mesmas condições a todos apresentam-se como formas de
moldar a democracia e aperfeiçoar as noções de liberdade, igualdade e cidadania.
Collection Mix: Sub/Getty Images

AÇÃO E CIDADANIA

1. Observe a imagem e os diferentes pontos de partida dos indivíduos. Identifique


os grupos sociais representados e pontue as vantagens e as dificuldades de
cada um deles para conseguir um bom emprego.
2. Tendo em vista que as desigualdades estruturais prejudicam toda a sociedade,
converse com os colegas e formule políticas públicas capazes de corrigir essas
distorções históricas.

Não escreva no livro.


53
ATIVIDADES

1 Retome o gráfico da página 47, que apresenta a 6 Qual é a importância da representatividade de mi-
proporção de pessoas residentes em domicílios par- norias políticas, como negros e mulheres, em postos
ticulares, por classe de rendimento real efetivo do- de comando?
miciliar per capita, em relação ao salário mínimo, e,
depois, responda às questões. 7 De que forma a presença de minorias políticas na
a) Por que é possível dizer que o Brasil apresenta mídia e em cargos de gestão contribui para a quebra
grande desigualdade social? de padrões culturais e sociais e para a visibilidade
de suas causas?
b) Quais regiões apresentam as maiores disparida-
des? Como é possível chegar a essa conclusão?
8 A história do Brasil é marcada pela omissão de polí-
Quais seriam as razões desse desequilíbrio?
ticas públicas voltadas para a inserção social da
população negra. Ao longo das últimas décadas,
2 Segundo o estudo do Fórum Econômico Mundial,
contudo, têm sido implementados projetos no sen-
mencionado na página 47, o Brasil ocupa a 60a po-
tido de equalização social e minimização dos atuais
sição no ranking de mobilidade social. Quais seriam
privilégios das elites masculinas brancas. Faça uma
as alternativas para mudar esse cenário?
pesquisa sobre as políticas atuais de inclusão social
e reparo histórico.
3 Com base nos dados levantados pelo IBGE e no es-
tudo do Fórum Econômico Mundial, abordados na
9 (Enem)
questão anterior, é possível considerar que os esfor-
ços individuais são suficientes para alterar o quadro
de desigualdade social do Brasil? Justifique. A cidade
E a situação sempre mais ou menos,
4 Quais seriam as consequências de uma política ex-
Sempre uns com mais e outros com menos.
clusivamente meritocrática em uma sociedade mar-
cada por privilégios de classes? A cidade não para, a cidade só cresce
O de cima sobe e o de baixo desce.
5 Observe o gráfico e responda à questão. Chico Science e Nação Zumbi. In: Da lama ao caos.
Rio de Janeiro: Chaos; Sony Music, 1994 (fragmento).

BRASIL: DISTRIBUIÇÃO DOS DEPUTADOS


FEDERAIS, DEPUTADOS ESTADUAIS E A letra da canção do início dos anos 1990 destaca
VEREADORES SEGUNDO A COR (2018) uma questão presente nos centros urbanos brasilei-
ros que se refere ao(à):
Adilson Secco/ID/BR

Branca Preta ou parda a) déficit de transporte público.


(%)
100 b) estagnação do setor terciário.
c) controle das taxas de natalidade.
90
24 d) elevação dos índices de criminalidade.
28
80
42 e) desigualdade da distribuição de renda.
70
10 (Enem)
60

50
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) como
40 75 uma política para todos constitui-se uma das mais
71
30
importantes conquistas da sociedade brasileira no sé-
57
culo XX. O SUS deve ser valorizado e defendido como
20 um marco para a cidadania e o avanço civilizatório. A
10 democracia envolve um modelo de Estado no qual
políticas protegem os cidadãos e reduzem as desi-
0
Deputados Deputados Vereadores gualdades. O SUS é uma diretriz que fortalece a cida-
federais estaduais dania e contribui para assegurar o exercício de direi-
tos, o pluralismo político e o bem-estar como valores
Fonte de pesquisa: Tribunal Superior Eleitoral.
Disponível em: https://tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/ de uma sociedade fraterna, pluralista e sem precon-
repositorio-de-dados-eleitorais-1/repositorio-de- ceitos, conforme prevê a Constituição Federal de 1988.
dados-eleitorais. Acesso em: 12 maio 2020.
Rizzoto, M. L. F. et al. Justiça social, democracia com direitos
sociais e saúde: a luta do Cebes. Revista Saúde em Debate,
• O que esses dados revelam sobre a igualdade po- n. 116, jan.-mar. 2018 (adaptado).
lítica no Brasil?

Não escreva no livro.


54
Segundo o texto, duas características da concepção c) concentração fundiária.
da política pública analisada são: d) desruralização da elite.
a) paternalismo e filantropia. e) mecanização da produção.
b) liberalismo e meritocracia.
c) universalismo e igualitarismo. 13 (UEL)
d) nacionalismo e individualismo. Leia a charge a seguir.
e) revolucionarismo e coparticipação.

Laerte/Acervo do chargista
11 (Enem)

A democracia que eles pretendem é a democracia


dos privilégios, a democracia da intolerância e do ódio.
A democracia que eles querem é para liquidar com a
Petrobras, é a democracia dos monopólios, nacionais
e internacionais, a democracia que pudesse lutar con-
tra o povo. Ainda ontem eu afirmava que a democra-
cia jamais poderia ser ameaçada pelo povo, quando
o povo livremente vem para as praças – as praças que
são do povo. Para as ruas – que são do povo.
Disponível em: www.revistadehistoria.com.br/secao/
artigos/discurso-de-joao-goulart-no-comicio-da-central.
Acesso em: 29 out. 2015.

Em um momento de radicalização política, a retórica


no discurso do presidente João Goulart, proferido no Disponível em: https://revistaforum.com.br/blogs/mariafro/
comício da Central do Brasil, buscava justificar a bmariafro-laerte-dia-do-orgulho-reacionario/.
necessidade de: Acesso em: 15 jun. 2017.

a) conter a abertura econômica para conseguir a A charge remete a um conjunto de questões que
adesão das elites. apontam, senão para a morte, ao menos para o re-
b) impedir a ingerência externa para garantir a con- fluxo do espírito democrático na modernidade, em
servação de direitos. diversos países. Nessas manifestações, verifica-se:
c) regulamentar os meios de comunicação para a) intensificação do nacionalismo e a defesa de
coibir os partidos de oposição. políticas protecionistas animadas pela crise mun-
d) aprovar os projetos reformistas para atender à dial dos empregos, disputados em maior intensi-
mobilização de setores trabalhistas. dade no contexto dos deslocamentos de grandes
e) incrementar o processo de desestatização para contingentes populacionais.
diminuir a pressão da opinião pública. b) a defesa intransigente do Estado laico, capaz de
concretizar os valores da ciência e da razão, em
12 (Enem) detrimento da vinculação aos ideais fornecidos
pelos diversos matizes de religião existentes no
mundo moderno.
Com a Lei de Terras de 1850, o acesso à terra só
passou a ser possível por meio da compra com paga-
c) a recusa aos princípios da meritocracia, uma vez
que esta atende a algumas centenas de privile-
mento em dinheiro. Isso limitava, ou mesmo pratica-
giados contemplados com as políticas compen-
mente impedia, o acesso à terra para os trabalhadores
satórias conduzidas pelos governos nacionais das
escravos que conquistavam a liberdade.
mais variadas tendências.
oliveiRa, A. U. Agricultura brasileira: d) o tratamento das questões sociais via valorização
transformações recentes. In: Ross, J. L. S.
Geografia do Brasil. São Paulo: Edusp, 2009.
da perspectiva dialógica, eliminando, assim, o
uso de medidas coercitivas nos espaços público
e privado.
O fato legal evidenciado no texto acentuou o pro-
e) a necessidade de politização do ensino, trazendo
cesso de:
para o âmbito escolar temas polêmicos, como a
a) reforma agrária. educação sexual, gênero e tratamento humani-
b) expansão mercantil. zado na questão das drogas.

Não escreva no livro.


55
AMPLIANDO
Igualdade e desempenho

Apesar de a ideia de modernidade geralmente ser associada ao conceito de meritocracia,


sistemas de avaliação de desempenho que determinam recompensas ou punições com base
no mérito individual não são uma novidade e podem ser observados em diversas sociedades
ao redor do mundo, no passado e no presente.
No Brasil, por exemplo, o acesso a cargos públicos ou a vagas em universidades por meio
de concursos e vestibulares, respectivamente, pode ser considerado um mecanismo merito-
crático, pois tais sistemas avaliam o desempenho individual de cada candidato como principal
métrica para sua admissão ou recusa.
Ao analisar os pressupostos nos quais os sistemas meritocráticos se baseiam, no entanto,
também surgem críticas que ressaltam uma clara contradição entre sua idealização teórica e
sua aplicação na prática social. Sobre essa contradição, a antropóloga Lívia Barbosa escreve:

Achievement: rea-
lização. À primeira vista, pode parecer estranho relacionar a ideia de igualdade à questão da avaliação de de-
Idiossincrasia: ca- sempenho. Igualdade parece ser um valor político mais associado a questões, opiniões e atitudes relati-
racterísticas únicas vas a eleições, candidatos, governo e ideologias. Na realidade, a ideia de igualdade é muito mais do que
e particulares de
um grupo ou um in- um tema político; ela é um valor estrutural nas sociedades modernas, na medida em que se configura
divíduo. como um dos atributos centrais do personagem social característico dessas sociedades – o indivíduo.
Mas por que igualdade se relaciona com desempenho? Porque, de acordo com a ideologia das socie-
Alunos consultam dades modernas, todos os indivíduos nascem livres e iguais. Além de sujeitos empíricos, eles também
lista de aprovados são sujeitos morais. Isso significa que nenhum atributo social do tipo ascendência, riqueza, status, rela-
no vestibular do
Instituto Federal de ções pessoais, etc. pode ser levado em conta no tratamento que a sociedade dispensa aos seus membros.
Pernambuco (PE), Eles não definem o indivíduo. O que define o indivíduo é uma suposta semelhança moral dada pela exis-
2017. O acesso a tência de uma dimensão natural/física idêntica entre todos os seres humanos. Essa semelhança de forma
vagas em
universidades por é tomada como base de um sistema de direitos ao qual todos devem ter acesso igual. Neste contexto, o
meio de vestibulares único elemento a diferenciar uma pessoa da outra são as características idiossincráticas de cada uma
pode ser delas, ou seja, tanto os seus talentos naturais como a sua disposição interior para realizar o que os nor-
considerado um
modelo inspirado te-americanos chamam de achievement. E a única hierarquia ideologicamente possível é aquela cons-
em ideias truída a partir da avaliação dos diferentes desempenhos individuais.
meritocráticas.
Marlon Costa/Futura Press

56
Contudo, para que o desempenho dos in-
divíduos tenha legitimidade social, ele deve

Toby Morris/Acervo do chargista


estar inserido num contexto juridicamente
igualitário, no qual a igualdade funcione co-
mo uma moldura para os acontecimentos e
proporcione as condições para que as pes-
soas sejam avaliadas exclusivamente pelas
suas realizações. Ou seja, nenhum outro cri-
tério como, por exemplo, poder econômico,
status, relações familiares e pessoais podem
influenciar esta avaliação. É por isso que
desempenho e igualdade estão intimamen-
te associados. Esta última fornece as con-
dições necessárias e suficientes para a sua
legitimidade.
Em termos de representações simbólicas,
as coisas funcionam mais ou menos como o
descrito acima. As variações começam a
surgir quando saímos deste nível geral da
ideologia e passamos à sua implementação
prática em universos sociais distintos. En-
tão, é possível observar-se que os conceitos
anteriores – igualdade, desempenho e mé-
rito –, embora continuem na base da orga-
nização social e administrativa das socieda-
des complexas, possuem conteúdos sociais
distintos, bem como as condições sociais
consideradas legítimas para a avaliação das
produções individuais.
BarBosa, Lívia. Meritocracia à brasileira:
o que é o desempenho no Brasil.
Revista do Serviço Público, ano 47, v. 120,
n. 3, p. 67-68, 80-81, set./dez. 1996.

Nesta tirinha, publicada em The


Pencilsword: On a Plate, o cartunista
ressalta a desigualdade de acesso a
privilégios sociais.

1. O que você entende por meritocracia?

2. De que forma a antropóloga Lívia Barbosa relaciona, no texto acima, os conceitos de


igualdade e desempenho?

3. Por que a relação entre igualdade e desempenho, observada pela autora, evidencia uma
contradição entre a idealização teórica de sistemas meritocráticos e sua aplicação na
prática social?

4. Levando em consideração as desigualdades sociais que caracterizam a sociedade brasi-


leira, é possível afirmar que os mecanismos meritocráticos em vigor avaliam somente o
desempenho de cada indivíduo? Por quê?

5. Em sua opinião, a adoção de mecanismos de avaliação meritocráticos pode contribuir


para acentuar as desigualdades sociais no Brasil? Por quê?

Não escreva no livro.


57
5
X
A BUSCA PELA
CAPÍTULO

IGUALDADE
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, todas as pessoas nascidas
» Competências e no Brasil são iguais perante a lei e têm os mesmos direitos. Em nosso cotidiano,
habilidades
é possível verificar essa igualdade?
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
Ao longo do século XX e nas duas primeiras décadas do XXI, houve diversos
CECHSA1: EM13CHS103.
avanços em relação às chamadas “minorias”, que, na verdade, constituem a
CECHSA5: EM13CHS501 e
EM13CHS502. maioria da população: mulheres, negros, LGBTQI+, indígenas, entre outros gru-
CECHSA6: EM13CHS601 e pos sociais.
EM13CHS605. É importante ressaltar que os direitos desses grupos foram conquistados por
CELT2: EM13LGG201, mobilizações e reivindicações da sociedade civil organizada.
EM13LGG202, EM13LGG203
Sobre a luta desses grupos, leia o poema a seguir, de autoria de Danielle Almeida.
e EM13LGG204.
CELT3: EM13LGG301,
EM13LGG303 e
EM13LGG304. Preta, liberte-se!

Rafael Silva/Acervo da cedente


CELT7: EM13LGG701,
EM13LGG702, EM13LGG703
Chamaram-me de piche.
e EM13LGG704. Fizeram-me odiar minha cor.
Fizeram-me odiar meus cabelos.
Fizeram-me pensar que seria um objeto sexual.
LGBTQI+: sigla que se refe- Deram-me de presente vassourinhas e rodinhos
re à comunidade formada quando criança.
por lésbicas, gays, bisse-
Falaram que meu sorriso largo, alto e solto era
xuais, travestis, transexuais,
transgêneros, queers, in- safadeza.
tersexuais e outros grupos Logo meu sorriso…
relacionados à diversidade
Compararam-me com o “cruzamento de cava-
sexual e de gênero.
lo com jumenta ou de jumento com égua”.
Acreditei que nunca seria bela. Danielle Almeida, poeta de
Mas daí… destaque nas apresentações de
Eu cresci… slam, competição de poesia falada
que aborda temas como racismo,
Me empoderei… violência, drogas, entre outros.
Agora sou feminista!
Agora eu amo a minha cor!
Agora só meus cabelos sabem o quanto os amo!
Não sou objeto sexual!
Meu riso; ah, meu riso…
Continua largo, alto e solto, fácil, fácil ele aparece por aí.
Agora eu quero que me chamem de Negra!
AlmeidA, Danielle. Preta, liberte-se! In: duArte, Mel (org.).
Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta.
São Paulo: Planeta, 2019. p. 79.

1. De acordo com suas vivências e as experiências das pessoas com que você
convive, como familiares e amigos, é possível afirmar que homens e mulheres,
brancos e negros, são tratados em todos os contextos sociais da mesma for-
ma? Justifique sua resposta com exemplos.
2. Você se identifica com algum aspecto descrito por Danielle Almeida no poema
acima? Por quê?
3. O poema “Preta, liberte-se!” retrata um processo de transformação pelo
qual o eu lírico passa. Em sua opinião, o que pode ter possibilitado as mu-
danças descritas?

Não escreva no livro.


58
INVESTIGANDO AS RESISTÊNCIAS:
PANORAMA DA PRIMEIRA REPÚBLICA
Em 1889, um ano após o fim da escravidão, ocorreu outra mudança importan-
te no Brasil: o país deixou de ser um império e se tornou uma república. Com isso,
o poder deixou de ser hereditário e concentrado na figura de um monarca e pas-
sou a ser exercido por um presidente eleito pelos cidadãos brasileiros.
Atualmente, todas as pessoas que nascem no país ou se naturalizam brasilei-
ras são consideradas cidadãs e, portanto, têm direitos civis – direito à vida, à li-
berdade, à propriedade, etc. –, direitos políticos – direito de votar e de ser votado
– e direitos sociais – direito à educação, à saúde, ao trabalho, entre outros.
Com relação aos direitos políticos, o voto é obrigatório para pessoas entre 18
e 70 anos alfabetizadas. No entanto, durante a Primeira República (1889-1930),
só tinham direito ao voto os homens alfabetizados e maiores de 21 anos. Assim,
somente uma parcela diminuta da população era considerada cidadã e podia fa-
zer escolhas políticas.
A grande maioria da população, composta de negros, indígenas, trabalhadores
pobres, mulheres e crianças, estava excluída dos direitos políticos e sociais. Em-
bora o sistema político tenha sido alterado, houve uma permanência entre os gru-
pos sociais que formavam as elites e tomavam decisões políticas no país. Além
disso, foram mantidos altos índices de pobreza e uma enorme desigualdade so-
cial. As demandas da maioria da população foram ignoradas. Essa situação gerou
mobilizações e revoltas populares que questionavam a extrema pobreza e a au-
sência da participação popular na sociedade.
Um dos exemplos é a Revolta da Chibata, ocorrida em 1910, que teve um ca-
ráter racial e social. Esse movimento remetia às continuidades das práticas racis-
tas do período escravocrata. Os rebelados eram

Acervo Iconographia/Reminiscências
indivíduos negros pertencentes à Marinha que se
opunham aos castigos físicos aplicados aos traba-
lhadores, como centenas de chibatadas. Um grupo
de marinheiros, liderado por João Cândido, conhe-
cido como Almirante Negro, tomou o controle de
várias embarcações da Marinha e escreveu um
manifesto ao então presidente, Hermes da Fonse-
ca, pedindo o fim dos castigos físicos e ameaçando
um ataque à cidade do Rio de Janeiro. O levante
dos marinheiros foi dura e violentamente reprimi-
do pelo governo, tendo como resultado a prisão e
a morte dos envolvidos.
Além dos movimentos reivindicatórios urbanos,
houve uma série de revoltas rurais, como a Guerra
de Canudos (entre 1896 e 1897) e a Revolta de
Juazeiro (entre 1913 e 1914). Apesar de suas es-
pecificidades, esses movimentos reivindicatórios
foram caracterizados por um forte sentimento re-
ligioso e questionavam a divisão desigual de rique-
zas. Além disso, apresentavam insatisfações liga-
das ao não atendimento das demandas populares.
Esses acontecimentos demonstram que dife-
rentes grupos sociais tinham projetos distintos pa-
ra o país. Surgiram, ainda, outros movimentos po-
pulares que lutavam por condições de vida mais
justas e mais próximas do que conhecemos hoje
como cidadania e direitos humanos. No entanto, Nesta fotografia, João Cândido lê para as autoridades da Marinha o
manifesto feito pelos revoltosos pedindo mudanças na forma como os
todas essas manifestações foram reprimidas vio- marinheiros negros eram tratados na Marinha do Rio de Janeiro (RJ).
lentamente pelos poderes centrais e regionais. Foto de 1910.

Não escreva no livro.


59
A CIDADANIA PARA A POPULAÇÃO NEGRA
O Movimento Negro Unificado (MNU) foi criado em 18 de
Acervo/Ipeafro

junho de 1978, durante a ditadura militar, e apresentado ao


público dias depois, em uma manifestação em frente ao Tea-
tro Municipal de São Paulo. O evento foi chamado de Ato
público contra a violência, a discriminação e o racismo. Nele,
foi lido um manifesto que denunciava o racismo (que era ne-
gado por intelectuais e por parte população) e a necessidade
de uma reação contra a violência imposta à população negra
em diversas áreas sociais. Os estopins desse movimento fo-
ram a tortura e o assassinato de um jovem negro na zona
leste da cidade de São Paulo e um episódio no qual jovens
negras foram impedidas de realizar treinos esportivos em
um famoso clube da cidade.
Até hoje, o MNU tem grande importância política, social e
simbólica e, ao longo de sua história, reuniu e tornou públi-
cas diversas pautas da população negra. Além disso, realizou
várias iniciativas que contribuíram para a organização dos
movimentos negros no Brasil, como a fundação de agremia-
ções educativas e esportivas e de jornais destinados à po-
pulação negra.
Abdias do Nascimento, que idealizou o MNU com Milton
Barbosa e José Adão de Oliveira, foi um dos mais importan-
tes nomes na construção de entidades contra o racismo e a
favor da emancipação da população negra. Em 1941, criou
A atriz Ruth de Souza contracena com o Teatro Experimental do Negro (TEN), que levou ao palco homens e mulheres
Abdias do Nascimento na peça Todos negros oriundos de classes sociais mais baixas da sociedade, a quem oferecia
os filhos de Deus têm asas, de autoria
de Eugene O’Neill, produzida e cursos de alfabetização e de dramaturgia.
apresentada ao público pelo Teatro No decurso dos seus quase vinte anos de existência, o TEN apresentou à socie-
Experimental do Negro no Rio de dade, por meio de peças teatrais, questões vivenciadas pela população negra, co-
Janeiro (RJ). Foto de 1946.
mo o racismo, a situação das empregadas domésticas e os questionamentos da
estética eurocêntrica. Abdias também publicou livros e um jornal chamado Quilom-
bo, no qual eram veiculados textos sobre racismo e movimentos negros de outros
países, além de questões ligadas à inserção dos negros no mundo das artes.

No dia 7 de julho de 1978, o MNU


foi apresentado em um ato em
frente ao Teatro Municipal de São
Paulo. As principais pautas
apresentadas tratavam do fim do
racismo e das necessidades da
população negra.
Acervo/Folhapress

60
POLÍTICAS AFIRMATIVAS
No início do século XXI, como resultado das pres-

Anderson Barbosa/Fotoarena
sões exercidas por grupos organizados, os poderes
Legislativo e Executivo e outras instituições da socie-
dade começaram a pôr em prática políticas afirmativas,
que são medidas que objetivam garantir benefícios
para pessoas ou comunidades marginalizadas socioe-
conomicamente. Essas políticas garantem equidade
de direitos e promovem a valorização étnico-cultural.
Um exemplo de política afirmativa brasileira é a
obrigatoriedade do ensino das histórias e das culturas
afro-brasileira e indígena nos currículos de todas as
escolas do país. Essa medida foi tomada em 2008 por Manifestação de alunos da
meio da Lei n. 11 645. Antes, era comum que os estudantes formados no Ensino Universidade de São Paulo (USP)
Básico passassem por sua trajetória escolar sem estudar de forma específica es- a favor da adoção das cotas
raciais. A USP não é uma
ses grupos étnicos que compõem a maioria da população brasileira, o que levava instituição federal e, portanto,
à negação da identidade multicultural do país. não é obrigada a aceitar as cotas,
Outro exemplo é a Lei n. 12 711, criada em 2012, conhecida como Lei de Cotas. mas adotou esse modelo em
2017, atendendo a uma
Ela prevê que as instituições federais dos ensinos Técnico e Superior reservem 50% demanda da comunidade
de suas vagas para pessoas negras, indígenas, alunos oriundos da rede pública de universitária. Foto tirada em São
ensino e que comprovem baixa renda. Essa lei é considerada uma política afirma- Paulo (SP), 2012.
tiva, pois pretende inserir um segmento populacional que, historicamente, repre-
senta a minoria dos alunos matriculados no Ensino Superior.
REFLEXÃO

Experiências de alunos cotistas na Universidade Federal da Bahia


[…] Ex-manicure e garçonete […], Cássia achava que, no máximo, seria técni-
ca de enfermagem.
Acabou se tornando a primeira pessoa da família a entrar em uma universidade.
Após duas reprovações no vestibular, aos 30 anos de idade, grávida de gêmeos,
passou para Psicologia pelas cotas. Cinco anos depois se tornaria pró-reitora.
“Mudei a história e a autoestima da minha família. As pessoas se orgulham e
querem fazer o mesmo. Essa é a história de muitos outros cotistas”, afirma Cássia,
filha de mãe solteira e empregada doméstica, além de sobrinha de sete outras em-
pregadas. […]
Lá no início, em 2005, era muito pior, narra o médico Ícaro Luis Vidal, 32 anos,
primeiro estudante negro a se formar em Medicina como cotista. Ele descreve um
ambiente bastante hostil na primeira turma. “Os estudantes sempre diziam que
seus colegas com melhor capacitação […] haviam ficado de fora por causa das
cotas. Os professores diziam que a qualidade do curso despencaria com alunos de
‘baixo nível’ intelectual. Pensei em desistir” […].
Seu colega, Miguel de Jesus Andrade Júnior, 28 anos, […] não se esquece do
quanto também foi duro enfrentar o racismo estrutural. […] hoje ele tem uma ro-
tina puxada e gratificante entre plantões em um posto de saúde […] e duas emer-
gências em Salvador. No período da universidade, se tornou um dos fundadores
do Coletivo Negrex, formado por estudantes de Medicina negros.
Lyrio, Alexandre. 15 anos de cotas na UFBA: onde eles estão e como estão vivendo?,
Geledés, 24 nov. 2019. Disponível em: https://www.geledes.org.br/15-anos-de-
cotas-na-ufba-onde-eles-estao-e-como-estao-vivendo/. Acesso em: 20 abr. 2020.

1. De acordo com os depoimentos acima, de que forma o acesso ao Ensino


Superior por meio das cotas pode modificar a sociedade?
2. Em sua opinião, por que os alunos cotistas sofreram racismo ao entrar na
universidade? O que você faria para modificar essa situação?

Não escreva no livro.


61
FEMINISTAS E A liberdade, a igualdade e a fraternidade para os homens,
mas não incluía as mulheres.
EMANCIPAÇÃO FEMININA Entre o final do século XIX e o início do século XX, vários
Mobilizações sociais organizadas com o intuito de países passavam por um processo de consolidação da de-
melhorar as condições de vida das mulheres e ampliar mocracia. O direito ao voto, porém, era exclusivamente mas-
sua participação na sociedade existem desde, pelo me- culino, sendo vetado às mulheres o direito de escolher seus
nos, o século XVIII. No bojo da Revolução Francesa, em representantes políticos. Nesse contexto, surgiram movimen-
1791, um grupo de mulheres se reuniu para redigir um tos pelo sufrágio feminino em alguns países, como a Ingla-
documento intitulado Declaração dos Direitos das Mu- terra, onde grupos de mulheres passaram a protestar pelo
lheres e das Cidadãs, tendo em vista que as mulheres direito ao voto por meio de ações pacíficas e diretas, como
tinham reivindicações específicas e não se sentiram con- ataques ao patrimônio público e greves de fome coletivas. O
templadas em um documento anterior e mais conheci- sufrágio feminino foi conquistado na Inglaterra em 1918 co-
do, a Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cida- mo fruto da luta, da prisão e da morte de muitas sufragistas.
dãos, de 1789, promulgado na Assembleia Nacional Esses movimentos são considerados parte da primei-
Constituinte Francesa. ra onda do movimento feminista, caracterizada pela luta
No entanto, o documento elaborado por essas mu- de mulheres brancas, oriundas de classes sociais favore-
lheres, o qual objetivava garantir direitos iguais às mu- cidas pelos seus direitos políticos.
lheres e aos homens franceses, não foi aceito, e uma de Desde então, os movimentos organizados que lutam
suas autoras, Marie Gouze (que usava o pseudônimo de pelos direitos e pela emancipação das mulheres se mul-
Olympe de Gouze), foi condenada à guilhotina. Ela foi tiplicaram, bem como suas demandas, o que demonstra
considerada alguém que se opunha aos princípios da que diferentes grupos de mulheres ainda demonstram
Revolução Francesa, que tinha como principais lemas a insatisfações e lutam por mudanças na sociedade.
Archive Pics/Alamy/Fotoarena

Fabio Vieira/FotoRua/NurPhoto/Getty Images


1 2

Sufragistas inglesas carregam cartazes em defesa do voto das Manifestação de mulheres realizada no Dia Internacional
mulheres e chamam a população para participar de uma reunião da Mulher em São Paulo (SP), em março de 2019.
na qual esse tema seria debatido. Foto de 1912.
David Fenton/Getty Images

Mulheres negras
estadunidenses
em protesto do
Partido dos
Panteras Negras,
em 1969.

Não escreva no livro.


62
O que é o feminino?
O que é uma mulher? Essa é a principal indagação da francesa Simone de Beau-
voir (1908-1986) em sua obra mais conhecida, O segundo sexo, lançada em 1949. Existencialismo: doutrina filosófica
Considerada uma das mais proeminentes filósofas do existencialismo, a autora criada no século XX baseada no pres-
suposto de que a existência é anterior
foi a primeira pessoa que se propôs a investigar e a indagar de forma radical e à essência, ou seja, não há uma defi-
ampla, do ponto de vista das ciências e da filosofia, as definições acerca do femi- nição predeterminada dos indivíduos,
nino e da mulher. que existe à revelia da experiência
das pessoas como indivíduo ou gru-
Beauvoir argumenta que a sociedade ocidental foi criada com base em prin- po. O existencialismo coloca no centro
cípios e interesses masculinos e que, portanto, os homens se colocam no papel da especulação filosófica a realidade
do “eu” e reconhecem às mulheres o papel do “outro”, estabelecendo, dessa for- concreta dos seres humanos em de-
trimento de ideias preconcebidas.
ma, uma relação de alteridade que entende os homens como seres superiores Além de Beauvoir, o filósofo francês
e completos e as mulheres como seres incompletos e inferiores, pertencentes Jean-Paul Sartre (1905-1980) tam-
ao “segundo sexo”. Essa construção sociocultural colocaria as meninas e as mu- bém é considerado um importante
expoente dessa corrente.
lheres em desvantagem desde o nascimento, pois o modelo de “feminino” es-
perado delas foi construído com base em uma ideia masculina de diferenciação
entre os sexos.
A filósofa afirma, ainda, que há uma diferença entre ser fêmea – uma condição
biológica – e ser mulher – uma condição cultural carregada de valores, caracterís-
ticas e papéis sociais predeterminados – e que esses elementos são bastante di-
versos e precisam ser diferenciados e discutidos, pois limitam a vida das mulhe-
res da infância à velhice.
Na frase “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, Beauvoir condensa seu en-
tendimento sobre o lugar das mulheres na sociedade. Segundo a autora, desde
o nascimento, são atribuídas aos seres humanos do sexo feminino determinadas
características – como a ideia de que as meninas devem ser dóceis, comportadas
e submissas – e funções – mãe, dona de casa, esposa, entre outras. Diante desse
contexto, a autora afirma que as mulheres podem contestar esses papéis e se
tornar mulheres diferentes – ou não – desse modelo, “fazendo-se” mulheres de
forma mais livre e autônoma.
O segundo sexo é considerada a obra inaugural da segunda onda do feminis-
mo, que se caracteriza pelas propostas de desconstrução e combate das estrutu-
ras machistas e opressoras, reivindicando a politização das mulheres, bem como
de seu corpo e de sua vida.
Harlingue/Roger-Viollet/AFP

Além de O segundo sexo, Simone


de Beauvoir escreveu diversas
obras de gêneros literários e fez
parte do grupo de intelectuais que
criaram a revista Tempos Modernos,
em 1945, que até hoje divulga
estudos filosóficos baseados
no existencialismo. Foto de 1945.

Não escreva no livro.


63
Teoria queer: múltiplas formas de ser
Desde que foram publicadas, as análises e as ideias de Simone de Beauvoir

Paulo Lopes/Futura Press


foram debatidas e incorporadas em novas pesquisas acadêmicas que se dedica-
ram a estudar questões semelhantes àquelas que Beauvoir inseriu nos debates
filosófico, histórico, sociológico e antropológico. Um exemplo é o trabalho da filó-
sofa estadunidense Judith Butler, que, a partir da década de 1990, passou a cri-
ticar as ideias de:
• construção de pares binários, como homens e mulheres, meninos e meninas.
Por meio de estudos de diferentes sociedades, a pesquisadora identificou que,
em muitas delas, há mais de dois gêneros possíveis para o desenvolvimento
dos indivíduos;
• sexo e gênero como conceitos fixos, como entendia Beauvoir. Para Butler, es-
ses conceitos são variáveis de acordo com a sociedade e o indivíduo, não sen-
do possível defini-los de modo absoluto.
Em novembro de 2017, Judith Butler defende análises centradas nas possibilidades individuais, que são múl-
Butler esteve no Brasil para um
tiplas e fluidas, de transitar entre variadas maneiras de entender, ser e demons-
ciclo de palestras e debates. Mas
suas ideias e propostas foram alvo trar – em seus corpos, seus posicionamentos e seus desejos – suas construções
de manifestantes contrários ao sobre o gênero e a sexualidade. Dessa forma, ela busca desconstruir categorias
debate sobre questões de gênero
que predeterminam os sujeitos e apresenta a indeterminação e a instabilidade
e a teoria queer. Essa foto foi feita
na porta do Sesc Pompeia, em São como características intrínsecas das identidades sexuais e de gênero.
Paulo (SP), na data em que Butler O termo queer, comumente utilizado para se referir a tudo o que é de difícil en-
fez uma palestra na instituição.
tendimento ou significação, foi empregado por Butler para definir suas propostas,
Havia um grupo de manifestantes
contra a filósofa e outro a favor. chamadas de teoria queer. Com isso, ela afirma que o termo queer se coloca em
busca do que é transitivo, múltiplo e avesso a classificações. Portanto, as ideias
de sexo e gênero deixam de ser consideradas definições fixas ou estáveis da se-
xualidade humana (homem × mulher, heterossexual x homossexual) e passam
a ser vistas como algo que “fazemos”, e não como algo que “somos”. Assim, a fi-
lósofa leva em conta as questões subjetivas das construções dos sujeitos, ques-
tionando definições preestabelecidas sobre sexo, gênero e desejo sexual.

Movimentação
na 22a edição da
Parada do Orgulho
LGBTQI+ na avenida
Paulista, em
São Paulo (SP), 2018.

Bruno Santos/Folhapress

64
MULHERES CIDADÃS: DESAFIOS ATUAIS
No Brasil, as mulheres também se organizaram para reivindicar o direito de
votar e de concorrer a cargos políticos. No entanto, o sufrágio feminino não era
visto como um fim em si mesmo, mas como uma maneira de, por meio da partici-
pação política ativa, garantir direitos iguais para homens e mulheres e, assim,
possibilitar que as mulheres elegessem representantes que defendessem os di-
reitos femininos.
Entre os anos de 1910 e 1930, foram criadas várias agremiações femininas
que lutaram pelo direito ao voto e à cidadania plena das mulheres no país. Dois
exemplos são o Partido Republicano Feminino, criado no Rio de Janeiro, em
1910, e a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 1922. Am-
bas reivindicavam o direito feminino ao voto, à educação e ao trabalho. Após
anos de luta, somente em 1932 as mulheres passaram a participar das eleições
do país como votantes e candidatas. Em 1934, a cientista Berta Lutz entrou pa-
ra a história como a primeira mulher que participou das eleições. Ela concorreu
como deputada pelo Rio de Janeiro, ganhou o cargo como suplente e exerceu
seu mandato por um ano.
Atualmente, ainda são poucas as mulheres em cargos de representação polí-
tica no país. Apesar de a Lei n. 12 034/2009 exigir que todos os partidos políticos
tenham, pelo menos, 30% de candidatas em cada eleição, as mulheres ainda são
minoria na política. Um exemplo da sub-representação feminina nos cargos polí-
ticos é o fato de que, nas eleições municipais de 2016, para cada sete homens
eleitos vereadores, foi eleita uma mulher para o mesmo cargo.

Para além da política


Do ponto de vista econômico, as mulheres brasileiras ainda lutam contra as
desigualdades. De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE, em 2019, as brasi-
leiras recebiam salários 20,5% menores do que os rendimentos dos homens, mes-
mo quando ambos tinham a mesma formação escolar e ocupavam o mesmo car-
go. Ainda de acordo com o IBGE, em 2018, cerca de 93% das mulheres que tinham
emprego remunerado também realizavam trabalho doméstico e de cuidado com
os filhos. Para cumprir essa jornada dupla, as mulheres dedicam cerca de 3 horas
diárias a mais de trabalho do que os homens.
Com relação à violência, os dados são reveladores. Segundo a compilação de
dados da ONG Patrícia Galvão, no Brasil, a cada nove minutos uma mulher é víti- Lei Maria da Penha: lei brasileira que
tipifica crimes de violência doméstica
ma de estupro; ocorrem cerca de três feminicídios por dia; uma mulher transgê- contra mulheres, estabelecendo pu-
nero é assassinada a cada dois dias; a cada dois minutos é feita uma denúncia nições específicas aos agressores,
com base na Lei Maria da Penha. Portanto, além de novos debates científicos e visando coibir esse tipo de violência
e proteger suas vítimas.
filosóficos sobre gênero e participação feminina na sociedade, ainda são neces-
sárias políticas que garantam a igualdade entre homens e mulheres no país.
Alan Marques/Folhapress

Manifestantes realizam
ato em frente ao Superior
Tribunal Federal (STF),
em Brasília (DF), pelo fim
da violência contra a
mulher. Foto de 2016.

Não escreva no livro.


65
IGUALDADE DE GÊNERO
Atualmente, a referência ao movimento feminista, no singular, é um equívoco.
As ideias e as propostas elaboradas durante o século XX sobre o feminino, a mu-
lher e o papel que elas deveriam desempenhar na sociedade foram apropriadas
por diversos grupos de mulheres que, refutando algumas ideias e acrescentando
novas demandas, vêm formulando diferentes frentes feministas, no plural. Em
comum, todos esses movimentos defendem a melhoria das condições das mu-
lheres e a necessidade do protagonismo feminino.
Ao longo do tempo, foram adicionados outros aspectos importantes às reivin-
dicações feministas e outros olhares foram elaborados em pesquisas acadêmi-
cas. A filósofa estadunidense Angela Davis, por exemplo, inovou ao propor que
as questões relacionadas às mulheres não deveriam ser pesquisadas sem con-
siderar, ao menos, outros dois aspectos: sua classe social e sua cor. Para chegar
a essa conclusão, ela considerou que as mulheres negras e de outras etnias têm
demandas bastante diversas das necessidades das mulheres brancas de classe
média ou alta.

Bettmann Archive/Getty Images

Luciana Serra/Futura Press

A militante dos Panteras Negras Angela Davis discursa para Djamila Ribeiro é uma das precursoras do debate sobre
manifestantes. Estados Unidos, 1974. o feminismo negro no Brasil. Paraty (RJ), 2018.

No Brasil, a filósofa Djamila Ribeiro é um dos principais nomes do feminismo


negro. Por meio de seu ativismo e suas obras, ela vem fomentando o debate so-
bre o papel das mulheres negras e propondo pesquisas e políticas que levem em
PARA EXPLORAR
conta a interseccionalidade, deixando de lado categorias universais (como se as
» Sejamos todos feministas, mulheres formassem um grupo homogêneo) e levando em conta aspectos espe-
de Chimamanda Ngozi Adi- cíficos de cada grupo, como origem social, questões culturais e econômicas e
chie. São Paulo: Companhia
orientação sexual. A filósofa negra Sueli Carneiro também aponta para esse ca-
das Letras, 2015.
minho para tratar das questões ligadas ao feminino e ao feminismo, ao propor a
No livro, a escritora nigeriana
aborda, de forma didática e seguinte pergunta: “De quais mulheres estamos falando?”.
direta, os benefícios que o fe- Nas últimas décadas, o feminismo se diversificou e, ao mesmo tempo, os de-
minismo pode trazer tanto pa- bates sobre a igualdade de gênero se estenderam e alcançaram vários setores
ra as mulheres como para os da sociedade que entendem o fim do machismo e o questionamento do patriar-
homens nos dias de hoje. cado como necessários para a efetiva promoção dos direitos humanos para todos.

Não escreva no livro.


66
ATIVIDADES

1 Retome o contexto da abertura do capítulo. Como você


analisa o movimento dos slams femininos de poesia, como consequência das experiências enquanto cida-
com base nas correntes filosóficas que você debateu dã que busca entender a fundo a origem destas cate-
até agora? Se necessário, faça uma pesquisa em gorias (racismo e sexismo) nas sociedades e, para is-
publicações digitais ou impressas ou, se possível, so, é preciso buscar referências acadêmicas profundas
entreviste pessoas que integrem esse tipo de inicia-
e não ocidentais (de preferência africanas) para tentar
tiva em sua comunidade. Tome notas e faça registros
de todo o processo de pesquisa. Ao final, produza um aumentar nossos conhecimentos e buscarmos, de fa-
texto com a sua resposta. Ele pode ser uma poesia e to, propormos alguns caminhos inovadores.
você pode apresentá-lo à turma em um sarau. oliveirA, Kiusam de. In: AndrAde, Camila. HCnoar,
13 out. 2014. Disponível em: http://www.hcnoar.com/
2 Leia um trecho de uma obra da escritora nigeriana post/2014/10/13/Batemos-um-papo-com-Kiusam-de-
Chimamanda Ngozie Adichie. Depois, escreva um Oliveira-ativista-do-movimento-negro-e-falamos-sobre-o-
comportamento-humano-racismo-e-o-sucesso-de-seu-
pequeno texto posicionando-se em relação à afirma-
livro-O-mundo-no-black-power-de-Tayo-Esta-imperdivel-
ção da autora. Justifique seu posicionamento. Veja-a-entrevista!.aspx. Acesso em: 27 abr. 2020.

A meu ver, feminista é o homem ou a mulher que a) Quais filósofas estudadas neste capítulo você
diz: “Sim, existe um problema de gênero ainda hoje e escolheria para analisar as experiências relatadas
temos que resolvê-lo, temos que melhorar”. Todos nós, pela autora? Justifique usando trechos do relato.
mulheres e homens, temos que melhorar. b) O relato de Oliveira cita um movimento social
Adichie, Chimamanda Ngozie. Sejamos todos feministas. relevante no Brasil contemporâneo. Identifique-
São Paulo: Companhia das Letras, 2005. p. 49-50. -o e caracterize-o, de acordo com os seus conhe-
cimentos.
c) Oliveira denuncia experiências de racismo na
3 O texto a seguir foi retirado de uma entrevista con- escola. Você já vivenciou algo assim? Como você
cedida pela pesquisadora e professora brasileira se posicionaria se algo semelhante ocorresse com
Kiusam de Oliveira, docente da Universidade Federal você ou com pessoas próximas a você? Comente
do Espírito Santo (Ufes). com a turma.

4 (Enem)
Karime Xavier/Folhapress

Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum


destino biológico, psíquico, econômico define a forma
que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é
o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado que quali-
ficam o feminino.
BeAuvoir, S. O segundo sexo.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Kiusam de Oliveira em São Paulo (SP), 2020. Na década de 1960, a proposição de Simone de
[…] No meu caso, as percepções sobre racismo Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento
social que teve como marca o(a):
começaram por práticas discriminatórias vivenciadas
por mim dentro do espaço escolar e sendo ensinada, a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a vio-
inclusive, pelos próprios profissionais da educação. A lência sexual.
minha entrada para o movimento negro (MNU) pos- b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla
sibilitou-me focar também nas questões de gênero e jornada de trabalho.
me atentar mais ainda aos preconceitos que eu sofria. c) organização de protestos públicos para garantir
Desta forma, eu aprendi que ser mulher e negra numa a igualdade de gênero.
sociedade racista e machista tal qual é a nossa jamais d) oposição de grupos religiosos para impedir os
seria algo fácil e, sim, motivos de grandes lutas e sa- casamentos homoafetivos.
crifícios. A necessidade da formação acadêmica veio e) estabelecimento de políticas governamentais para
promover ações afirmativas.

Não escreva no livro.


67
6
X
POVOS TRADICIONAIS:
CAPÍTULO

A LUTA PERMANENTE
Até o século XIX, o território que hoje corresponde ao Brasil foi uma colônia por-
» Competências e tuguesa, cujas principais atividades econômicas baseavam-se na exploração e no
habilidades
tráfico de mão de obra escravizada. Como vimos anteriormente, esse processo foi
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10. responsável por muitas estruturas que configuram nossa sociedade na atualidade.
CECHSA1: EM13CHS102 e O processo de independência do Brasil, por sua vez, esteve diretamente rela-
EM13CHS104. cionado ao processo de construção de uma identidade nacional, distinta e inde-
CECHSA5: EM13CHS501, pendente da identidade da antiga metrópole portuguesa. Isso ocorreu em meio
EM13CHS502 e
a intensas transformações sociais, instabilidades políticas e fragmentações ter-
EM13CHS503.
ritoriais, contribuindo para a concepção do Brasil como Estado e para a formação
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS604, EM13CHS605 das identidades brasileiras, isto é, as identidades do povo brasileiro.
e EM13CHS606. Embora essa construção identitária tenha se iniciado num contexto histórico
CECNT1: EM13CNT104. específico, o processo de formação das identidades brasileiras continua a acon-
CECNT2: EM13CNT206. tecer até os dias atuais e envolve o reconhecimento de diversos aspectos cultu-
CECNT3: EM13CNT309. rais de diferentes povos e a valorização das comunidades que preservam ainda
CELT3: EM13LGG303 e hoje suas culturas tradicionais em diferentes regiões.
EM13LGG304.
Além dos indígenas, os quilombolas também são considerados povos tradicionais,
CELT7: EM13LGG704.
e a preservação deles está relacionada, em muitos casos, com a preservação de ter-
CEMT1: EM13MAT102.
ritórios naturais ameaçados pela exploração econômica. De acordo com o Decreto
CEMT4: EM13MAT406.
Federal n. 6 040, de 2007, povos e comunidades tradicionais são:

[…] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que pos-
suem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recur-
sos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral
e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos
pela tradição.
Brasil. Decreto Federal n. 6 040, de 7 de fevereiro de 2007. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em: 27 abr. 2020.

Pajé Hushahu, primeira mulher a se


tornar pajé do povo Yawanawá, durante
festa na aldeia Mutum, na Terra Indígena
Rio Gregório, em Tarauacá (AC), 2018.

1. De acordo com o texto, quem são os povos e as comunidades tradicionais


brasileiros?
2. Quais contextos históricos de formação do Brasil podem ser relacionados à
Simon Plestenjak/

vulnerabilidade de algumas populações tradicionais brasileiras?


Pulsar Imagens

3. Em sua opinião, qual é a importância de criar leis que apoiem as comunidades


e os povos tradicionais?

68
OS POVOS INDÍGENAS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988
Na Assembleia Constituinte ocorrida entre 1987 e 1988, houve grande esfor-

Acervo/Estadão Conteúdo
ço e mobilização por parte de alguns grupos sociais para criar leis que efetiva-
mente protegessem os interesses dos povos indígenas e reconhecessem seu
modo de vida e seu direito à terra.
Assim, a Constituição Cidadã, como é chamada a Constituição de 1988, esta-
beleceu leis de proteção que romperam com a perspectiva constitucional anterior,
que entendia os indígenas como categoria social transitória, que desapareceria
em meio à forma de vida atual. Dessa forma, a nova Constituição definiu que os
direitos dos indígenas sobre suas terras passariam a ser um direito originário, ou
seja, anterior à criação do próprio Estado, reconhecendo o fato histórico de que
eles foram os primeiros povos a viver no Brasil.

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocu-
pam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1o São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis
à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
Líder indígena Aílton Krenak realiza
Brasil. Artigo 231 da Constituição de 1988. Título VIII: da ordem social, discurso histórico sobre os direitos
capítulo VIII: dos índios. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/ dos povos indígenas no Brasil, que
const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_231_.asp. Acesso em: 20 abr. 2020. reforçou as discussões que levaram
à inclusão de um capítulo sobre os
direitos indígenas na Constituição
de 1988. Brasília (DF), 1987.
Nesse momento, iniciou-se o movimento constitucional que impôs ao Estado
a obrigatoriedade da demarcação das Terras Indígenas, considerando-as espaços
necessários para a manutenção de seus modos de vida tradicionais.
Atualmente, no Brasil, há 462 Terras Indígenas regularizadas, que representam
cerca de 12,2% do território nacional. Essas terras estão presentes em todos os bio-
mas, mas a maioria está localizada na Amazônia Legal, que passa por um processo
de reconhecimento de Terras Indígenas iniciado pela Fundação Nacional do Índio
(Funai) na década de 1980 como resultado da política de integração nacional e da Assembleia Constituinte: congresso,
assembleia ou comissão que tem a
consolidação da fronteira econômica do norte e do noroeste do país. Veja, no gráfi- missão de elaborar uma Constituição.
co a seguir, as proporções de Terras Indígenas por região. Fundação Nacional do Índio (Funai):
A Constituição de 1988 estabeleceu, dessa forma, novos diálogos e relações órgão indigenista oficial do Estado
entre o Estado, a sociedade brasileira como um todo e os povos indígenas, reco- brasileiro, responsável por fiscalizar
e garantir os direitos indígenas.
nhecendo por lei a garantia de seus direitos.

DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS


REGULARIZADAS POR REGIÃO ADMINISTRATIVA
Adilson Secco/ID/BR

PARA EXPLORAR

» Índio cidadão? Direção: Ro-


54% drigo Siqueira. Brasil, 2014
Norte (52 min).
Centro-Oeste Conheça os pontos de vista
Nordeste das lideranças indígenas du-
Sul Fonte de pesquisa:
6% Funai. Disponível em: rante a Constituinte de 1988.
Sudeste
19% http://www.funai.gov.br/ O documentário completo po-
10% index.php/nossas-acoes/ de ser visto em: https://www.
demarcacao-de-terras-
11% youtube.com/watch?v=Ti1q9-
indigenas?limitstart=0#.
Acesso em: 25 abr. eWtc8. Acesso em: 25 abr.
2020. 2020.

Não escreva no livro.


69
O INTERESSE PRIVADO NAS TERRAS INDÍGENAS
Apesar do avanço após a Constituição de 1988, a demarcação de terras foi
mais robusta na Região Norte em decorrência dos trabalhos prévios da Funai.
Nas demais regiões do país, onde o processo de colonização e exploração eco-
nômica se desenvolveu de forma mais intensa e houve a instalação de grandes
latifúndios, os povos indígenas conseguiram, após a promulgação da Constitui-
ção, manter a posse de territórios mais reduzidos e esparsos entre si e, em alguns
casos, tiveram seus territórios reduzidos, como ocorreu no Mato Grosso do Sul,
por exemplo, em especial com os Guarani-Kaiowá.
Assim, nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul, além do estado do Mato Grosso, mui-
tas populações indígenas vivem em situação de confinamento territorial e restrição
de seus modos de vida, havendo ainda muitas delas com terras não demarcadas.
Esse contexto tem gerado, ao longo das últimas décadas, grande ocorrência
de conflitos fundiários e disputas pela terra, suscitando um debate sobre o cum-
primento da Constituição em relação à regularização de territórios indígenas e as
investidas econômicas sobre essas regiões. A mineração e o desmatamento para
plantio de gêneros agrícolas destinados à exportação, a extração de madeira, en-
tre outras atividades, têm exercido forte pressão sobre os territórios indígenas.
Leia mais informações sobre esse debate no texto a seguir.

Andre Dib/Pulsar Imagens

Vista de garimpo de ouro no limite da Floresta Nacional do Jamari. O garimpo invade o limite da
reserva com queimada para ampliar a área de mineração, em Itapuã do Oeste (RO), 2019.

Metade das terras indígenas homologadas da Amazônia é alvo de


mineração
Estudo revela que, das 379 áreas homologadas na Amazônia, 190 registram algum
processo de interesse para garimpo
Um estudo encomendado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
Mineral (ABPM) mostra que metade das terras indígenas homologadas da Amazônia
Legal é foco de interesse minerário por empresas ou pessoas físicas. O levantamen-
to mostra que, das 379 terras indígenas homologadas e localizadas na Amazônia Le-
gal, 190 são alvo de algum tipo de processo minerário. Ao todo, 4 050 processos tra-
mitam na Agência Nacional de Mineração (ANM) que incidem sobre terras indígenas
já homologadas.

Não escreva no livro.


70

SP_CHSA1_PNLD21_U2C6_068A079_LA.indd 70 4/12/21 18:17


[…]
O levantamento feito pela ABPM cruzou dados da Funai, ANM e IBGE. O resulta-
do é apontado pelo estudo como uma espécie de bússola que indica as áreas de mais
interesse de empresas que visam a exploração mineral na região amazônica.
Desde 1988, a legislação proíbe que órgãos do governo concedam autorizações
para pesquisa ou exploração mineral em terras indígenas. A Constituição Federal pre-
viu a atividade mineral em áreas indígenas desde que ela fosse regulamentada por
lei, o que não aconteceu ainda.
Prazeres, Leandro. Metade das terras indígenas homologadas da Amazônia é alvo de mineração.
O Globo, 17 fev. 2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/metade-das-terras-
indigenas-homologadas-da-amazonia-alvo-de-mineracao-24252961. Acesso em: 26 abr. 2020.

MINERAÇÃO: PROJETOS EM EXECUÇÃO (2017)

João Miguel A. Moreira/ID/BR


60ºO 40ºO

AP
RR
Equador 0º

AM PA
MA CE
RN
PI PB
AC PE
TO AL
RO SE
BA
MT
DF
GO OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
MG
PACÍFICO ES
MS 20ºS
SP
RJ
nio
de Capricór
Trópico PR

SC

RS

Mineração existente
0 445 km
e planejada

Fonte de pesquisa: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), 2017.


Disponível: https://ipam.org.br/projetos-de-lei-querem-mineracao-em-1-
renca-em-areas-protegidas-do-brasil/. Acesso em: 26 abr. 2020.
INTERAÇÃO

A reportagem e o mapa apresentados ilustram a complexa relação entre


a demarcação das Terras Indígenas no Brasil e o avanço econômico por meio
da exploração de recursos naturais, panorama que gera inúmeros conflitos
entre indígenas, latifundiários e donos de grandes empresas.
1. Relacione a reportagem com os conflitos ocorridos em territórios indígenas.
2. Retome o mapa Terras Indígenas (2015), na página 20, e compare-o com
o mapa desta página para responder à pergunta: O que o avanço do des-
matamento e das atividades de mineração pode representar para as co-
munidades indígenas?
3. Em sua opinião, quais fatores poderiam amenizar a tensão entre indíge-
nas e latifundiários nas terras demarcadas e nas terras passíveis de
demarcação?

Não escreva no livro.


71
AÇÃO E CIDADANIA

Os Krenak do rio Doce


Os povos Borum, autodenominados Krenak, vivem ho-

Marcello Lourenco/Tyba
je em sua reserva, próxima ao município de Resplendor
(MG), às margens do rio Doce. Esses povos ficaram conhe-
cidos ao longo da história do Brasil por desafiarem as ten-
tativas de pacificação e apropriação de seu território pela
Coroa portuguesa, o que levou dom João VI a uma guerra
de extermínio contra eles no século XIX.
Os Krenak sobreviveram a esse ataque e, no século XX,
passaram por dois processos de reassentamento forçado
promovidos pelo Estado brasileiro. O primeiro ocorreu em
1957, quando foram retirados de suas terras e deslocados
para as Terras Indígenas dos Maxacali, no município de
Santa Helena de Minas (MG). Descontentes, os Krenak re-
tornaram para seu território original em 1959, em uma ca-
minhada que durou três meses. O segundo reassentamen-
to ocorreu em 1972, sob a gestão da Funai e com o apoio
do governo do estado de Minas Gerais, quando esse povo
foi deslocado para a Fazenda Guarani, no município de Car-
Manifestantes Krenak fecham a ferrovia da Companhia Vale do
mésia (MG). No entanto, os Krenak retornaram para suas
Rio Doce em protesto contra a poluição do rio Doce após a
terras em 1980, em uma caminhada que durou 95 dias. ruptura da barragem em Mariana (MG) em 2015.
Além dos dois processos violentos de expulsão, que cul-
minaram no retorno a seu território, esses povos foram obri- O desastre, que alterou o curso do rio Doce e o poluiu com
gados a conviver com um projeto que estava em andamento, detritos tóxicos da mineração, deixou dezenas de mortos
em consonância com suas consecutivas tentativas de retira- e feridos e configurou um desastre ambiental de grandes
da: a construção de dois grandes empreendimentos estatais proporções. Para os povos indígenas que vivem ali, isso
que impactaram a manutenção e a reprodução de sua cultu- representou a impossibilidade de exercer suas práticas
ra. Um deles era a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM) e o culturais e de sobrevivência relacionadas ao rio. Os Krenak
outro era a Usina Hidrelétrica de Aimorés, ambas proprieda- entendem o rompimento da barragem como a morte do rio
de da mineradora Vale S.A. Doce e, por isso, segundo suas tradições, necessitaria da
Apesar desse contexto, os Krenak não deixaram de re- não interferência humana total por algum tempo para que
sistir e lutar em defesa de seu território e, em 1997, con- novos sinais de vida se manifestassem.
seguiram recuperar parte dele. Atualmente, lutam incan- Os Krenak lutam pela preservação de suas terras e
savelmente pela demarcação das terras que reivindicam sua cultura, reflorestando matas e córregos devastados
como sagradas, denominadas Sete Salões, que se torna- e preservando os cantos, as danças e as tradições de seus
ram o Parque Estadual Sete Salões, criado pelo estado de ancestrais.
Minas Gerais em 1998. Assim como os Krenak, outros povos indígenas, como
Um episódio recente que afetou profundamente a vida os Yanomami e os Guarani, lutam contra investidas de mi-
dos Krenak, bem como de toda a população da região, foi neradoras e grandes latifundiários sobre suas terras, en-
o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). frentando reações igualmente violentas.
Fotografias: Fabio Braga/Folhapress

O rio Doce antes e depois do rompimento da barragem do Fundão, que ocorreu em 2015, em Mariana (MG).

1. Considerando a trajetória dos Krenak e sua relação com a região do rio Doce, extremamente afetada pelas empresas
mineradoras, explique a importância da presença e da resistência indígena no Brasil para a preservação ambiental.

Não escreva no livro.


72
COMUNIDADES DE REMANESCENTES QUILOMBOLAS
São considerados comunidades quilombolas ou remanescentes de quilombo-

Chico Ferreira/Pulsar Imagens


las os grupos étnicos rurais e urbanos predominantemente constituídos de ne-
gros descendentes de africanos escravizados e seus descendentes, que se auto-
definem quilombolas por estabelecerem relações específicas com o território em
que vivem, relações de parentesco com os demais membros da comunidade e
apresentarem práticas culturais próprias, relacionadas à ancestralidade e às tra-
dições culturais africanas.
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) é o órgão estatal
responsável pela titulação dos territórios quilombolas e estima que haja atual-
mente mais de 3 mil comunidades quilombolas no Brasil. A demarcação das Ter-
ras Quilombolas também foi definida pela Constituição de 1988.

Art. 68: Aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupan-
do suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes
os títulos respectivos.
Brasil. Artigo 68 da Constituição de 1988. Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/ Quilombolas durante apresentação de
const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_68_.asp. Acesso em: 20 abr. 2020. jongo no Quilombo Boa Esperança, em
Presidente Kennedy (ES). Foto de 2019.

As terras em que vivem essas comunidades, assim como os territórios indíge-


nas, são protegidas por lei, com o intuito de garantir aos quilombolas sua repro-
dução física, social, econômica e cultural.
A demarcação desses territórios é entendida como parte de uma reparação
histórica pelos danos causados pelo passado escravista brasileiro e tem o intuito
de reconhecer e tornar possível a dignidade e a continuidade do modo de vida
desses grupos étnicos. No entanto, assim como no caso de outros povos tradicio-
nais, há ainda impasses na oficialização e no apoio à manutenção de muitas Ter-
ras Quilombolas no Brasil. Veja, no mapa abaixo, os territórios quilombolas de-
marcados no Brasil até 2016.

TERRAS QUILOMBOLAS: TITULADAS E EM PROCESSO (2016)


João Miguel A. Moreira/ID/BR

60ºO 40ºO PARA EXPLORAR

RR
3
31
» Saravá jongueiro novo. Dire-
Equador AP
ção: Luciano Santos Dayrell.
399

Brasil, 2012 (20 min).
Conheça mais aspectos da co-
3
32 munidade de remanescentes
66 63 57 2 20
AM CE RN quilombolas São José da Ser-
29
PA MA
5 61 PB ra, em Valença (RJ), por meio
AC PI PE 2
90 do documentário disponível
2 4 33 AL 1
SE 4 17 em: https://curtadoc.tv/curta/
RO TO
293 comportamento/sarava-
73 20 30
jongueiro-novo/. Acesso em:
MT
GO
DF BA
21 abr. 2020.
Terras 1 OCEANO
27
Quilombolas
em processo
228 ATLÂNTICO
3 18
18
1 692 Terras
Quilombolas
MS 6 50
MG
RJ
ES 20ºS

SP 3
tituladas 1 Trópico
de Cap
38 PR 24 ri córnio

OCEANO 181 SC 1 17
PACÍFICO 4 Fonte de pesquisa: Comissão Pró-índio
94 de São Paulo, 2016. Disponível em: http://
Terras Quilombolas em processo RS cpisp.org.br/publicacao/mapa-terras-
0 465 km
Terras Quilombolas tituladas quilombolas-tituladas-e-em-processo-
no-incra-2016/. Acesso em: 25 abr. 2020.

Não escreva no livro.


73
Reconhecimento e acesso à cidadania
O pressuposto constitucional que trata das comunidades tradicionais ba-
seia-se na ideia de que esses grupos sociais se autointitulam e devem ser va-
lorizados e reconhecidos pela importância de suas culturas tradicionais para
a formação cultural do Brasil. Esse fundamento foi definido após décadas de
debates entre pesquisadores de diversas áreas do saber, como o direito, a his-
tória e a antropologia, e as próprias populações tradicionais, com o intuito de
legalizar o reconhecimento desses povos e garantir a aplicação concreta das
leis de acesso à terra.
O reconhecimento do direito das populações tradicionais à terra relaciona-se
com o entendimento de toda a população a respeito da importância da preserva-
ção de suas culturas. A garantia do acesso à terra, desde a promulgação da Cons-
tituição, até hoje, está ligada a um forte processo de autorreconhecimento iden-
titário, bem como de preservação e de luta dos povos tradicionais do Brasil. Veja
um exemplo a seguir.

Quando um povo se reconhece como tradicional?


Existentes há séculos, os povos tradicio-
Andre Dib/Pulsar Imagens

nais do país são frutos da antiga miscige-


nação de indígenas, negros e europeus que
formam o povo brasileiro. A formação de
cada um deles se desenhou de acordo com
o contexto histórico e geográfico em que
viviam.
Por muito tempo, o reconhecimento da
identidade como comunidade tradicional
não foi uma questão para esses povos. Se-
gundo a antropóloga Katia Favilla, com o
avanço das fronteiras agrícolas, criação de
hidrelétricas, rodovias ou projetos de mine-
ração, passou a existir no país uma corrida
por reconhecimento. A lógica era a da mais
pura sobrevivência.
“A partir do momento em que eles se sen-
tem ameaçados na sua forma de existência,
eles falam para o mundo, ‘olha, a gente está
aqui, a gente existe’”, explica ela […].
Os Kalunga são um dos povos que O precursor dessa busca por reconhecimento foi o seringueiro e ambientalista
se autointitulam quilombolas. Eles
vivem no estado de Goiás há cerca de Chico Mendes, morto a tiros em 1988, no Acre. A partir dele, o Estado começa a per-
300 anos, criando gado, produzindo ceber que povos tradicionais não são apenas indígenas e quilombolas, mas também
arroz, feijão, milho, mandioca, farinha diversas comunidades que dependem diretamente da preservação do meio ambien-
e extraindo produtos da
biodiversidade. Apesar de viverem há te para sobreviverem.
muitos anos no mesmo local, imagens As reivindicações dos seringueiros resultaram na criação das Reservas Extrati-
de satélite da região mostram a
integridade da natureza, apontando vistas e influenciaram a formação do Sistema Nacional de Unidades de Conserva-
para o baixo impacto de suas ção, que, além de prever as áreas de Proteção Integral (sem presença de humanos),
atividades e para a importância dessa criou também as de Uso Sustentável. “O Estado reconheceu que existe a possibili-
comunidade para a preservação
ambiental. Na foto, quilombola dade de uma Unidade de Conservação com pessoas morando dentro e preservando,
produzindo farinha no tipiti na porque eles sempre conservaram”, disse Favilla.
comunidade kalunga de Sucuri, em
Monte Alegre de Goiás (GO), 2018. 650 mil famílias se declaram “povos tradicionais” no Brasil; conheça os kalungas,
do maior quilombo do país. O Globo, 29 out. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/
natureza/desafio-natureza/noticia/2019/10/29/650-mil-familias-se-declaram-povos-
tradicionais-no-brasil-conheca-os-kalungas-do-maior-quilombo-do-pais.ghtml.
Acesso em: 22 abr. 2020.

Não escreva no livro.


74
ATIVIDADES

1 Retome os gráficos sobre as populações tradicionais


no Brasil, nas páginas 69 e 73, para responder às início de 2008 e o fim 2017, 32 homens e seis mulhe-
questões. res foram assassinados. A Região Nordeste foi a mais
a) Qual região do Brasil apresenta mais terras tra- recorrente, com 49% dos casos. Bahia e Pará foram os
dicionais demarcadas por lei? estados mais violentos, seguidos por Minas Gerais,
b) Explique os fatores relacionados à diferença en- Rio de Janeiro e Piauí. […]
tre o número de comunidades demarcadas em Comunidades quilombolas tentam resistir ao avanço de
cada região. grandes empreiteiras. Época, 21 abr. 2019. Disponível em:
https://epoca.globo.com/comunidades-quilombolas-
2 Retome as informações dos mapas da página 71 para tentam-resistir-ao-avanco-de-grandes-
empreiteiras-23613697. Acesso em: 25 abr. 2020.
relacionar o avanço de atividades econômicas nas
regiões destacadas com os conflitos que envolvem
os povos tradicionais, em especial os indígenas.
a) Você já ouviu falar de situações parecidas à men-
3 Pesquise se há comunidades quilombolas na região cionada no texto vivenciadas por outras popula-
em que você vive. Caso exista, descubra a situação ções tradicionais? Se sim, cite-as.
dessas comunidades atualmente. Em uma data b) Explique a relação entre as dificuldades na de-
combinada, apresente os resultados da sua pesqui- marcação de terras protegidas e a apropriação
sa para a turma. desses territórios pelas empreiteiras.
c) Considerando os temas estudados nos capítulos
4 Leia o texto a seguir, que aborda uma ameaça às anteriores, responda: Qual é a relação entre o
terras e às lideranças quilombolas em diversas regiões racismo estrutural e o ataque às comunidades
do Brasil. Depois, responda às questões propostas. quilombolas?

5 (Enem)
Comunidades quilombolas tentam
resistir ao avanço de grandes
empreiteiras Coube aos Xavante e aos Timbira, povos indígenas
Descendentes de escravos têm direitos limitados do Cerrado, um recente e marcante gesto simbólico:
por empresas que compraram as terras anteriormen- a realização de sua tradicional corrida de toras (de
te. Alguns casos parecem irregulares. buriti) em plena Avenida Paulista (SP), para denunciar
o cerco de suas terras e a degradação de seus entor-
As palavras “quilombo” e “quilombola” hoje estão
nos pelo avanço do agronegócio.
associadas a um povo que teria desaparecido com o
fim da escravidão. O que hoje se chama de “comuni- ricardo, B.; ricardo, F. Povos indígenas do Brasil:
2001-2005. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2006
dade remanescente de quilombo” são agrupamentos
(adaptado).
que herdaram as principais características desses es-
paços, formados por netos e bisnetos de escravos. E,
se no tempo de colônia os quilombolas enfrentavam
A questão indígena contemporânea no Brasil eviden-
senhores de engenho, escravocratas e seus caçadores
cia a relação dos usos socioculturais da terra com os
de aluguel, hoje os inimigos são as grandes corpora- atuais problemas socioambientais, caracterizados
ções da construção civil, que esbarram em proteção pelas tensões entre:
legal ao tentar construir condomínios e resorts em
a) a expansão territorial do agronegócio, em especial
áreas tituladas – e, portanto, protegidas pelo Decreto nas regiões Centro-Oeste e Norte, e as leis de
4 887/2003. proteção indígena e ambiental.
A relação conturbada das lideranças quilombolas b) os grileiros articuladores do agronegócio e os
com os interesses imobiliários já rendeu episódios que povos indígenas pouco organizados no Cerrado.
extrapolaram a disputa judicial, escalando para amea- c) as leis mais brandas sobre o uso tradicional do
ças, agressões e até homicídios. […] meio ambiente e as severas leis sobre o uso ca-
O ano de 2017 foi o mais violento da última déca- pitalista do meio ambiente.
da, com 113 ocorrências. Foram 29 casos de ameaça d) os povos indígenas do Cerrado e os polos eco-
ou perseguição, seguidos por 22 ocorrências de perda nômicos representados pelas elites industriais
ou possibilidade de perda de território por invasão e, paulistas.
finalmente, 18 assassinatos consumados. Num corte e) o campo e a cidade no Cerrado, que faz com que
de dez anos, o número assusta ainda mais: entre o as terras indígenas dali sejam alvo de invasões
urbanas.

Não escreva no livro.


75
PRÁTICAS DE TEXTO
Vídeo para um vlog

Proposta
Considerando os temas abordados neste capítulo e a observação do contexto escolar, você e os cole-
gas vão criar um vídeo para expor opiniões e comentários com o objetivo de promover o respeito à diver-
sidade cultural e étnica brasileira, ajudando a combater formas de violência como o bullying, o racismo e
o preconceito de forma geral. Esse vídeo deverá ser postado em um vlog da turma.

Público Comunidade escolar e outros espectadores interessados no tema.

Promover a reflexão sobre as diversidades cultural e étnica e combater diferentes formas


Objetivo
de violência.

Circulação Vlog em plataforma de vídeos na internet.

Planejamento e elaboração
1. Reúna-se com os colegas em um grupo de até cinco integrantes. Para inspirar a criação do vídeo de
vocês, pesquisem em um site de busca o vídeo "Quando digo que sou indígena", do vlog Katú, em
que a atriz, rapper e ativista indígena Katú Mirim relata situações de preconceito que ela vivencia
por ser indígena.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NVbs-D5ER7c. Acesso em: 8 maio 2020.

Katú Mirim em seu vlog postado em um site de compartilhamento de vídeos, em 2018.

2. Avaliem possíveis situações ocorridas na comunidade escolar nas quais vocês gostariam de intervir
com o objetivo de combater formas de violência como bullying, racismo e outros tipos de preconceito.

3. Tentem se lembrar de situações no cotidiano escolar nas quais vocês ou outros colegas se sentiram
desrespeitados ou inferiorizados por não fazerem parte de determinado grupo ou por terem origem
diferente.

Não escreva no livro.


76
4. Incentivem as pessoas a dar depoimentos reais no vídeo, mas sempre tomando o cuida-
do de não expor nenhum colega de forma negativa. Como alternativa, vocês podem criar
histórias fictícias com base em relatos reais para gerar empatia e evitar a exposição das
pessoas envolvidas.

5. Para dar embasamento às opiniões de vocês, pesquisem livros, sites, jornais, revistas,
vlogs, blogs, podcasts, entre outros materiais que tratem do assunto. Caso queiram citar
informações no vídeo, utilizem dados, relatos pessoais e opiniões de especialistas obtidos
de fontes confiáveis.

6. Organizem um roteiro para o vídeo. Ele não precisa ser minucioso, mas deve indicar os
momentos-chave e o tempo médio de duração de cada fala. Isso facilitará o trabalho
de vocês.

7. Combinem qual ou quais integrantes do grupo vão falar e o que vão dizer. Os demais
podem ajudar com a gravação, o roteiro e a edição do vídeo, por exemplo.

8. Providenciem o material necessário para a gravação, como câmera ou celular.

9. Escolham um local silencioso e com bastante luminosidade para a gravação. Façam tes-
tes para determinar o posicionamento da câmera ou do celular e dos participantes do
vídeo. Mantenham a câmera em posição fixa para evitar erros de continuidade.

10. Ensaiem previamente, utilizem um tom de voz claro e falem de maneira objetiva, para
que todos possam compreender o que está sendo dito. Gravem uma versão-teste do vídeo
e avaliem a qualidade do som e da imagem e se tudo ocorreu conforme o esperado. De-
pois, gravem a versão final.

11. Caso não seja possível utilizar ferramentas digitais para a gravação do vídeo, combinem
um dia para que cada grupo exponha o que produziu para esta atividade em uma apre-
sentação oral.

Revisão

1. Assistam à versão final do vídeo e avaliem os itens a seguir.

O vídeo expõe opiniões que ajudam a combater formas de violência?

A fala do(s) vlogger(s) é clara e objetiva?

Os sons podem ser ouvidos claramente e sem interferências?

A qualidade de imagem do vídeo está dentro do esperado?

2. Se necessário, editem a versão final para que o vídeo fique mais adequado ao público-
-alvo. Há diversos softwares gratuitos na internet com tutoriais disponíveis que podem
ajudar na edição, permitindo inserir sons ambiente, efeitos de voz e de imagem, cortar
ou inserir cenas, acrescentar legendas, etc.

3. Salvem o arquivo da versão final do vídeo em uma pasta compartilhada pelo grupo. Se
possível, façam uma cópia de segurança e salvem em outro local.

Circulação

1. Combinem uma data para exibir o vídeo à turma e assistir aos trabalhos dos outros gru-
pos. Conversem sobre eles no final.

2. Com toda a turma, criem um vlog em uma plataforma de compartilhamento de vídeos.


Deem um título para o vlog e façam uma descrição geral do grupo.

3. Disponibilizem os vídeos no vlog e compartilhem-nos nas redes sociais, para que outras
pessoas possam refletir sobre os conteúdos que vocês apresentaram.

Não escreva no livro.


77
PRÁTICAS DE PESQUISA

Privilégios à brasileira
Para começar uma revista brasileira com a ilustração de Ro-
drigo Leão. Façam uma descrição detalhada de
Nesta unidade, vimos que a sociedade brasileira cada uma e identifiquem as semelhanças e as
é marcada pela desigualdade social: a riqueza está diferenças entre elas. Em seguida, discutam as
concentrada nas mãos de uma pequena parcela da seguintes questões:
população, enquanto a maior parte dela vive com
poucos recursos e não tem acesso satisfatório a bens • Quais são os elementos da aquarela de De-
essenciais. Sabemos que as raízes dessa desigual- bret que indicam a existência de privilégios
dade são históricas e têm estreita relação com a es- no Brasil do início do século XIX?
cravidão. Mas será que esse conhecimento está dis- • Quais são os elementos da capa da revista
seminado na população? Nesta seção, realizaremos que indicam a manutenção de privilégios no
um estudo de recepção para pesquisar em que me- Brasil contemporâneo?
dida esse fenômeno é conhecido pelas pessoas. • Na opinião de vocês, por que o ilustrador
O problema escolheu essa aquarela de Debret como ins-
É possível estabelecer relações diretas entre a piração para a capa? O que ela representa?
desigualdade social no Brasil e a escravidão, pois o • Como o ilustrador estabelece relações en-
sistema escravista pressupunha, em sua estrutura, tre a escravidão existente até o século XIX
uma desigualdade extrema, visto que os escraviza- no Brasil e a desigualdade na atualidade?
dos não tinham absolutamente nada, nem ao me-
nos recebiam por seu trabalho, enquanto poucos e 3 Planejem a pesquisa, decidindo quais pessoas
ricos senhores gozavam de imensos privilégios. No serão entrevistadas. Podem ser pessoas da co-
entanto, o fim da escravidão não diminuiu esses munidade escolar ou não. Cada integrante do
contrastes. Muito pelo contrário, os mais ricos con- grupo deve entrevistar ao menos duas pessoas,
tinuaram a concentrar riquezas e privilégios. mas, quanto mais pessoas entrevistadas, me-
Mas será que os brasileiros percebem os proces- lhor. Estabeleçam, então, um prazo para que as
sos históricos que resultaram na desigualdade no entrevistas sejam feitas e vocês façam nova
país e identificam sua relação com a escravidão? reunião para sistematizar as respostas.

A investigação
4 Preparem as perguntas que vocês farão nas en-
• Prática de pesquisa: estudo de recepção trevistas. Atenção: o objetivo não é perguntar
Material diretamente aos entrevistados se eles reconhe-
cem que a desigualdade foi historicamente cons-
• Folhas para anotações, lápis e caneta
truída e qual é a relação deles com a escravidão,
• Gravador de áudio ou de vídeo
mas identificar se, na recepção que eles fazem
• Este livro das imagens, essas ideias aparecem. As primei-
ras perguntas devem ser abertas, para captar
Procedimentos as impressões e os sentimentos que as imagens
despertam nas pessoas entrevistadas. Por exem-
plo: Que impressão você tem ao olhar essa ima-
Parte I – Planejamento e análise
gem? Que tipo de sentimento ela desperta em
1 Organizem-se em grupos de quatro ou cinco você? Formulem também perguntas que evi-
integrantes. denciem a contextualização que o receptor faz
das imagens e como as interpreta. Exemplos:
2 Analisem com cuidado a aquarela Um jantar Qual fenômeno social é retratado? Em sua opi-
brasileiro, do pintor Jean-Baptiste Debret, que nião, que mensagem é transmitida por meio
viveu no Brasil entre 1816 e 1831, e a capa de dessas imagens?

Não escreva no livro.


78
Parte II – Realização da entrevista Parte III – Organização dos resultados
1 Lembrem-se de levar o material necessário pa- 1 Finalizadas as entrevistas, transcrevam-nas ou,
ra anotar as entrevistas ou gravá-las e este li- caso tenham anotado as respostas, revejam as
vro, para que possam mostrar as imagens aos anotações e as organizem.
entrevistados.
2 Combinem uma reunião do grupo para compar-
2 Durante a entrevista, primeiro deem explicações tilhar as informações obtidas. Verifiquem, nas
sobre a pesquisa e informem à pessoa entrevis- respostas, se as pessoas relacionam a desigual-
tada que o nome dela não será exposto. Depois, dade com a escravidão e se percebem que a de-
mostrem as imagens abaixo. sigualdade foi construída historicamente.

3 Identifiquem quantas pessoas reconhecem as


Coleção particular. Fotografia: ID/BR

relações investigadas e quantas não percebem


essas relações.

4 Em seguida, apresentem os resultados à turma


e, coletivamente, façam uma contagem, consi-
derando todas as entrevistas realizadas.

Questões para discussão

1 Que desafios vocês enfrentaram durante o es-


tudo de recepção? O que foi mais fácil e o que
foi mais difícil? Com base nos resultados obti-
Debret, Jean-Baptiste. Um jantar brasileiro, 1839. Aquarela dos, a que conclusões é possível chegar em re-
sobre papel, 16 cm 3 22 cm. lação ao problema da pesquisa?

2 As pessoas entrevistadas têm consciência do


Rodrigo Leão/ Le Monde Diplomatique Brasil

papel da escravidão para o contexto atual de


desigualdade?

3 Na opinião de vocês, qual é a importância de re-


lacionar nossa realidade atual com o conheci-
mento histórico?

Comunicação dos resultados


A fim de que mais pessoas tenham acesso ao
conhecimento gerado pela pesquisa de vocês, ela-
borem um relatório de pesquisa que contenha seus
resultados e suas conclusões e o publiquem na
internet. Para isso, dividam essas tarefas entre os
grupos: fazer um texto que apresente e descreva
a pesquisa; recolher e organizar os resultados ob-
tidos pelos grupos; elaborar um texto com as con-
clusões da turma sobre o problema; formatar todo
o material produzido; e fazer uma capa para ele.
Lembrem-se de reproduzir no relatório as ima-
gens que foram utilizadas nas entrevistas.
Publiquem o relatório por meio de algum aplica-
tivo gratuito que possibilite a construção de blogs.
Compartilhem o endereço em suas redes sociais e
Capa da Revista Le Monde Diplomatique Brasil, ago. 2015. na escola.

Não escreva no livro.


79
O BRASIL E A
DEMOCRACIA

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE

Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10.

Competências específicas e
habilidades das áreas:
CECHSA1: EM13CHS101,
EM13CHS103, EM13CHS105 e
EM13CHS106.
CECHSA5: EM13CHS501,
EM13CHS502, EM13CHS503 e
EM13CHS504.
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS602, EM13CHS603 e
ORGANIZAR IDEIAS

O mundo contemporâneo está passando por mudanças,


EM13CHS605.
as quais acentuam as desigualdades e acarretam conflitos
CECNT2: EM13CNT206 e
EM13CNT207. sociais, promovendo, assim, a fragilização das democra-
CELT1: EM13LGG105. cias. Nesse contexto, a disputa entre projetos políticos an-
CELT2: EM13LGG202 e tagônicos se torna cada vez mais evidente no Brasil e em
EM13LGG204. outros países.
CELT3: EM13LGG303 e
EM13LGG305. 1. Em sua opinião, quais são os fatores que explicam a fra-
CELT7: EM13LGG703 e gilização das democracias em diversos países?
EM13LGG704.
2. No Brasil, o que é necessário para consolidar a democracia
CEMT1: EM13MAT102.
e fortalecer nossas instituições?

80
Unidade

3
O Estado brasileiro é autoritário? 7

Representatividade e democracia 8

Os movimentos populares 9

Acervo Iconographia/Reminiscências

Batalha da Maria Antônia, em São Paulo (SP),


caracterizada pelo confronto entre estudantes
de duas universidades que defendiam projetos
políticos distintos para o país. Foto de 1968.

81
7
O ESTADO BRASILEIRO
CAPÍTULO

É AUTORITÁRIO?
Você já ouviu falar sobre o Democracy Index (Índice de Democracia, em tradu-
» Competências e ção livre)? Trata-se de um ranking elaborado pelo setor de inteligência do jornal
habilidades
britânico The Economist, que analisa diferentes aspectos sociais de cada país pa-
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10. ra indicar seu nível de democracia.
CECHSA1: EM13CHS101, A verificação do nível de democracia se dá pela análise de quatro critérios, lis-
EM13CHS103 e EM13CHS106. tados a seguir, avaliados com notas de zero a dez. Quanto maior a pontuação,
CECHSA5: EM13CHS501. melhor é a posição que o país ocupa no ranking da democracia.
CECHSA6: EM13CHS602,
EM13CHS603 e
• Processo eleitoral e pluralismo: avalia os níveis de justiça social, de diversida-
EM13CHS605.
de nas eleições e de liberdade de expressão e de voto.
CELT1: EM13LGG105. • Funcionamento do governo: avalia os níveis de transparência do governo em
CELT2: EM13LGG202 e relação aos gastos e aos investimentos públicos.

EM13LGG204.
Cultura política: verifica se a participação política dos cidadãos é incentivada e
CELT3: EM13LGG303 e
EM13LGG305.
valorizada pelo governo, tornando-se uma prática constante na sociedade.
• Liberdades civis: mensura os níveis de liberdade de expressão e de liberdade
de imprensa no país.
Em 2019, o Índice de Democracia apresentou a pontuação global mais baixa
desde 2006, ano em que o ranking começou a ser divulgado. De acordo com os
dados de 2019, apenas 5,7% da população mundial está na faixa que o estudo
denomina democracia plena. Observe o mapa abaixo.

ÍNDICE DE DEMOCRACIA (2019)

João Miguel A. Moreira/ID/BR


135°O 90°O 45°O 0º 45°L 90°L 135°L
OCEANO GLACIAL ÁRTICO

Círculo Polar Ártico

45°N
OCEANO
PACÍFICO OCEANO
ATLÂNTICO
Trópico de Câncer

OCEANO
PACÍFICO
Democracia plena Equador 0º
9-10 OCEANO
Meridiano de Greenwich

8-9
ÍNDICO
Democracia imperfeita
7-8 Trópico de Capricórnio
6-7
Regime híbrido
5-6
45°S
4-5
Regime autoritário
3-4
2-3 OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO Círculo Polar Antártico
0-2
0 2 585 km
Sem dados

Fonte de pesquisa:
Democracy Index 2019.
The Economist. Disponível 1. O Brasil aparece em qual faixa de democracia? O que você acha que essa
em: http://www.eiu.com/ faixa significa, em termos de regime democrático?
topic/democracy-index.
Acesso em: 13 abr. 2020. 2. Em sua opinião, por que o Brasil não está na categoria da democracia plena?
Anote suas reflexões no caderno e, depois, compartilhe-as com a turma.
3. Por que o Brasil não está na categoria de regime autoritário?

Não escreva no livro.


82
ÍNDICE DE DEMOCRACIA: TIPOS DE REGIME
O Índice de Democracia classifica os países em quatro categorias: democracia PARA EXPLORAR
plena, democracia imperfeita, regime híbrido e regime autoritário. Conhecer as de-
finições de cada categoria nos auxilia a compreender a situação da democracia no » Ranking aponta os países
mais (e menos) corruptos do
Brasil e no mundo. mundo
Essas categorias, especificadas adiante, embora não tenham sido criadas pe- Para ampliar seus conheci-
lo setor de inteligência do The Economist, resultam de análises e reflexões de mentos sobre o conceito de
pesquisadores de diferentes áreas que se propuseram a debater a democracia democracia imperfeita, é im-
mundial. Dessas análises é possível compreender, por exemplo, que, na demo- portante aprofundar o debate
cracia plena, encontra-se o tipo de governo que, até o momento, tem as melhores sobre a corrupção, tema em
condições de garantir que os direitos humanos sejam assegurados. É válido res- constante discussão no Brasil.
saltar, portanto, que as definições a seguir foram elaboradas e reelaboradas pe- Conheça alguns dados publi-
los pesquisadores ao longo do tempo e ainda podem sofrer modificações. cados pela organização não
governamental Transparência
Internacional. Disponível em:
https://super.abril.com.br/
Índice de Democracia: classificações comportamento/ranking-
aponta-os-paises-mais-e-
menos-corruptos-do-mundo/.
Democracia plena Acesso em: 12 abr. 2020.

As liberdades políticas fundamentais e as liberdades civis não são apenas respeitadas, mas
também reforçadas por meio de políticas que objetivam consolidar a cultura dos princípios
democráticos. Para isso, os países implementam sistemas equilibrados de pesos e
contrapesos entre os poderes institucionais, garantindo a autonomia do Judiciário na

INTERAÇÃO
aplicação da lei de maneira igualitária. O governo costuma ser eficiente e a mídia tem 1. Analise a definição re-
liberdade para publicar de modo diversificado e independente. ferente à faixa de de-
Faixas de notas: 8-9 e 9-10.
mocracia na qual o
Brasil se situa e, com
base nela, realize uma
Democracia imperfeita pesquisa, em publica-
ções impressas e/ou
As eleições são livres e idôneas e as liberdades civis básicas são respeitadas, embora digitais, que comprove
possam ocorrer violações, como censuras aos meios de comunicação e opressão de alguns ou refute a categoria
grupos sociais. Por isso, nos países dessa categoria, existem falhas relevantes em vários
aspectos democráticos, em especial no que se refere à criação, consolidação e manutenção
associada ao Brasil. Em
da cultura política democrática. É comum que apresentem baixos níveis de participação na uma data combinada
política e problemas no funcionamento do governo. com o professor, apre-
Faixas de notas: 6-7 e 7-8. sente aos colegas da
turma sua pesquisa e
suas explicações sobre
os motivos de as notí-
Regime híbrido cias ou textos acadê-
Fraudes eleitorais recorrentes e opressão de movimentos populares, de modo a impedir a micos que você esco-
democracia plena e livre. Trata-se de países em que há perseguição política em casos de lheu corroborarem ou
oposição às decisões do governo, falta de independência do Judiciário, corrupção refutarem o Índice de
generalizada e controle sobre a mídia. Nessa categoria, as falhas em relação à manutenção Democracia, em relação
dos direitos humanos e civis são mais acentuadas do que as das democracias imperfeitas.
à informação referente
Os níveis de participação política são muito baixos por parte da população e o governo
apresenta níveis insatisfatórios com relação à administração pública. ao Brasil.
Faixas de notas: 4-5 e 5-6.

Regime autoritário
Diversidade política limitada ou inexistente, em que não há oposição política ao governo.
Os países dessa categoria costumam ser caracterizados como ditaduras ou monarquias, e
as instituições superficialmente democráticas são esvaziadas ou ineficientes,
apresentando-se mais para garantir benefícios diplomáticos no contexto internacional do
que para assegurar a participação política dos cidadãos. Há constantes violações às
liberdades civis e aos direitos humanos. A mídia não tem liberdade, assim como o
Judiciário.
Faixas de notas: 0-2; 2-3 e 3-4.

Não escreva no livro.


83
DEBATE SOBRE O AUTORITARISMO
Uma das principais cientistas políticas consultadas para a elaboração das ca-

Raquel Ojeda/Acervo da cedente


tegorias do Índice da Democracia foi a espanhola Inmaculada Szmolka Vida. O
ponto de partida utilizado por ela foi a reunião dos conceitos de diferentes pen-
sadores sobre os regimes políticos opostos: democracias plenas e regimes auto-
ritários. Com base nas características dessas duas polaridades políticas, a pesqui-
sadora também buscou elaborar os critérios que caracterizam os regimes híbridos
e as democracias imperfeitas.
É possível notar que Szmolka não foi a única criadora dos conceitos, visto que
uma das principais características das pesquisas científicas é que elas não ocor-
rem de modo isolado: as pesquisas estão em diálogo com o mundo onde o pes-
quisador vive e com os conhecimentos construídos até o momento pela comuni-
dade científica. Assim, o trabalho de Szmolka dialoga com outros pesquisadores
A professora da Faculdade de Ciências que também se debruçaram sobre as questões que caracterizam as relações en-
Políticas e Sociologia da Universidade tre cidadãos, Estados, regimes políticos e direitos civis, como a liberdade. Como
de Granada, Espanha, e cientista
política Inmaculada Szmolka é uma exemplos de filósofos com os quais Szmolka dialoga em sua pesquisa, podemos
das principais estudiosa de regimes citar Franz Neumann (1900-1954), Karl Popper (1902-1994), Karl Loewenstein
políticos e de seus processos de (1891-1973) e Hannah Arendt (1906-1975).
mudanças. Foto de 2013.
Hannah Arendt é uma filósofa alemã de origem judaica que dedicou boa par-
te de sua obra à reflexão sobre os regimes autoritários, bem como sobre as ori-
gens desse tipo de governo, a ascensão do autoritarismo no mundo ocidental e
os motivos que levam as populações a viver sob regimes autoritários e até mes-
mo totalitários.
Para Arendt, os regimes autoritários surgem quando as des-
Fred Stein Archive/Archive Photos/Getty Images

confianças do povo sobre as autoridades se tornam cada vez


maiores, gerando uma crise política. Essa crise recebe uma res-
posta do Estado por meio do cerceamento da liberdade dos in-
divíduos, em nome do bem comum, para a continuidade do fun-
cionamento do Estado. Os regimes totalitários também são
construídos dessa maneira, porém com uma característica adi-
cional: o terrorismo de Estado, no qual a sociedade vive ame-
drontada por perigos externos e/ou internos, submetendo-se a
grandes restrições de liberdade para ter segurança. Não por aca-
so, Arendt, Neumann, Popper e Loewenstein viveram em um pe-
ríodo em que a Europa era governada por diversos regimes to-
talitários, como o nazismo, na Alemanha, e o fascismo, na Itália.
Vida e outros pensadores que integram as gerações posterio-
res a Arendt, como o jurista e filósofo brasileiro Bruno Galindo,
acompanharam a abertura dos regimes totalitários e a busca pe-
lo estabelecimento das democracias e do respeito aos direitos
humanos na maior parte do mundo ocidental. Esses são os pos-
síveis motivos para que as pesquisas deles e o surgimento do
Índice de Democracia abordem as transições dos regimes mais
fechados até a democracia plena.
Filósofa alemã de origem
judaica, Hannah Arendt foi
uma das maiores estudiosas
INTERAÇÃO

do autoritarismo. Foto de 1949. 1. Retome o diálogo entre regimes de governo e autoritarismo e os critérios
apresentados na página 83. Liste as principais características de um re-
gime autoritário.
2. Com base nessa lista, elabore uma narrativa que tenha como cenário
um país sob um regime político com as características que você listou.
Lembre-se de apresentar as personagens e de estabelecer um começo,
um desenvolvimento e um final para a sua ficção. Em uma data combi-
nada, compartilhe seu texto com os colegas e conheça as histórias que
eles criaram.

Não escreva no livro.


84
INSTABILIDADES POLÍTICAS E INTERVENÇÕES
NO BRASIL REPUBLICANO
Para caracterizarmos a democracia no Brasil atual, classificada como imperfeita
pelo Índice de Democracia, é importante conhecer alguns dos processos políticos
e sociais pelos quais passaram o Estado e o governo de nosso país.
No período republicano (1889- ), os regimes políticos nem sempre foram de-
mocráticos. Os esquemas abaixo trazem mais informações sobre os períodos em
que as liberdades individuais e o acesso aos direitos civis foram limitados pelo
Estado brasileiro.

1 2

Momentos de interdição Momentos democráticos e


de direitos políticos momentos autoritários

Interdição do voto de analfabetos, desde a lei imperial de


Democracia “oligárquica” (entre 1894 e 1930).
1881 até a Constituição Federal de 1988.

Ausência do voto feminino, do voto secreto e de uma Período de transição (entre 1930 e 1937).
justiça eleitoral de cunho burocrático e profissional até o
Código eleitoral de 1932 e a Constituição Federal de 1934.

Ditadura do Estado Novo (entre 1937 e 1945).


Limitação prática do exercício do direito de voto durante
toda a Primeira República, por obra da submissão da
maioria do eleitorado a práticas coronelísticas.
Democracia nacional-populista (entre 1946 e 1964).

Crescimento constante – desde a redemocratização do


regime político em 1945 – do clientelismo urbano como
instrumento de deformação das vontades no plano eleitoral. Ditadura civil-militar (entre 1964 e 1984).

Supressão total (no caso do Estado Novo) ou quase total


(no caso do regime militar) dos direitos políticos. Novo regime democrático-constitucional (a partir de 1988).

Fonte de pesquisa: SaeS, Décio Azevedo Marques de. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. Estudos Avançados, v. 15, n. 42,
p. 379-410, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142001000200021. Acesso em: 25 abr. 2020.
REFLEXÃO

O autoritarismo na formação econômica, social e política do Brasil


“A tradição autoritária é uma marca indelével da formação econômica e socio-
política do Brasil, assentada no regime de apropriação privada da terra, na ausên-
cia de relações de solidariedade social, na primazia da autarquia individual, nas
‘lutas de famílias’, no poder incontrastável do potentado rural, dos caudilhos da
terra bem como no emprego sistemático da mão de obra escrava para sustentar
uma produção monocultora orientada fundamentalmente para o mercado externo,
evidenciando o verdadeiro ‘sentido da colonização’”, contextualiza o professor e
cientista social Carlos Eduardo Santos Pinho.
Pinho, Carlos Eduardo Santos. In: SantoS, João Vitor. O autoritarismo na formação econômica,
social e política do Brasil. Entrevista especial com Carlos Eduardo Santos Pinho. Instituto
Humanitas Unisinos, 24 jul. 2019. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/
entrevistas/591015-o-autoritarismo-e-seu-peso-na-formacao-economica-social-e-politica-do-
brasil-entrevista-especial-com-carlos-eduardo-santos-pinho. Acesso em: 15 abr. 2020.

1. Relacione a fala do sociólogo Carlos Eduardo Santos Pinho com as infor-


mações disponibilizadas nos dois esquemas apresentados anteriormen-
te. Apresente suas conclusões aos colegas.

Não escreva no livro.


85
Jânio e Jango: um panorama
Alguns dos principais problemas estruturais que caracterizam a democracia no
Brasil podem ser percebidos na análise das informações apresentadas nos es-
quemas da página anterior e do trecho da entrevista com o sociólogo Carlos Pi-
nho. Os esquemas evidenciam os momentos históricos em que o povo, detentor
do poder nas democracias, deixou de ser consultado, e as decisões passaram a
ser tomadas por um grupo que se apropria do poder. Em outras palavras, o poder
passa a ser exercido por um grupo que não foi o escolhido pelo povo por meio dos
mecanismos democráticos (eleições e plebiscitos), e as deliberações anteriores,
realizadas pelo povo, são desconsideradas ou mesmo anuladas.
Os momentos históricos em que isso ocorreu no Brasil e o fato de ele se repe-
tir de tempos em tempos evidenciam os problemas estruturais de nossa demo-
cracia, demostrando, por exemplo, que as instituições democráticas no país ainda
são frágeis e são atropeladas por determinados grupos sempre que os interesses
deles não são plenamente contemplados.
Na segunda metade do século XX, há alguns eventos que servem de exemplo
INTERAÇÃO

1. Como você classificaria para o aprofundamento do debate sobre esses processos, os quais também po-
os eventos analisados dem ser chamados de golpes de Estado. A transição entre os governos de Jânio
no texto, tendo como Quadros e de João Goulart (1961) e o regime militar (1964-1985) são dois des-
base os esquemas da ses momentos.
página anterior?
No primeiro momento, a ordem democrática quase sofreu o chamado golpe
2. Relacione o conteúdo institucional. Na época, o vice-presidente da República não era da mesma cha-
da placa que a mani- pa que o presidente, mas o segundo colocado nas eleições. Em 1961, Jânio
festante da imagem Quadros foi empossado na Presidência da República, enquanto João Goulart,
abaixo está segurando também conhecido como Jango, tomou posse da vice-presidência. Jânio per-
com os processos ana-
maneceu no poder por pouco mais de seis meses: com uma política externa in-
lisados no texto desta
dependente e, muitas vezes, contraditória e usando como base um discurso
página. Compartilhe
suas impressões com anticorrupção e de defesa da moral, Jânio se isolou politicamente, optando pe-
os colegas. la renúncia. Nesse momento, o vice-presidente estava em uma missão oficial
na China, um país comunista.
No contexto da Guerra Fria, visitar um país comunista poderia ser visto como
um alinhamento antiestadunidense, o que frustrava o interesse de uma parcela
da população, em geral formada pelo empresariado e pelos latifundiários do Bra-
sil, alinhados com as políticas dos Estados Unidos. Assim, os ministros militares
que formavam o corpo do governo de Jânio rejeitaram o nome de Jango para a
Presidência e iniciaram negociações tensas com o Congresso para impedir a pos-
se. Como o impedimento da posse se daria por meio do Congresso, a ordem de-
mocrática seria alterada pelos meios institucionais,
Arquivo/Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

por isso recebeu o nome de golpe institucional.


Diversos deputados e governadores se posicio-
naram contra o golpe, assim como grande parte da
população. O movimento mais famoso foi a Campa-
nha pela Legalidade, encabeçada pelo estado do Rio
Grande do Sul, estado natal de Jango. Esse movi-
mento também dividiu as Forças Armadas: uma par-
te apoiava o golpe e a outra apoiava a posse de Jan-
go, em defesa da democracia.
A tensão foi resolvida por meio de um acordo, que
não incluiu a participação popular, no qual ficou es-
tabelecido que a posse de Jango poderia ocorrer,
mas apenas sob o Parlamentarismo. Na prática, isso
significa uma diminuição dos poderes da Presidên-
cia, que dependeria mais do Parlamento para fazer
valer suas deliberações. Dessa maneira, em setem-
A Campanha da Legalidade foi uma das maiores mobilizações populares bro de 1961, Jango finalmente toma posse, embora
da história do país. Manifestantes em Porto Alegre (RS), 1961. a democracia permanecesse fragilizada.

Não escreva no livro.


86
Os militares no poder
O segundo momento na história do Brasil, em que houve interrupção da or-
dem democrática, foi o golpe de Estado empreendido pelos militares, em 1964.
O então presidente João Goulart havia enfrentado dificuldades para tomar pos-
se de seu cargo, concordando em exercer seu mandato sob um governo de re-
gime parlamentarista.
A conjuntura internacional era a da Guerra Fria: de um lado, os Estados Unidos,
encabeçando o bloco capitalista, e, de outro, a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), liderando o bloco comunista. As ideologias comunista e capi-
talista propõem diferentes maneiras de ver o mundo, de se relacionar em comu-
nidade e de se posicionar diante da distribuição de riquezas. Dessa forma, elas
também causam impacto no modo como a cidadania é vivenciada e na forma co-
mo os governos são estruturados.
Em razão desse cenário mundial, o período de governo de Jango foi marcado
por discursos políticos bastante polarizados, nos quais se refletiam as pressões
internacionais. A pauta política de Jango, por sua vez, amplamente alinhada às
classes operárias e campesinas, propunha reformas estruturais, conhecidas co-
mo Reformas de Base, que tinham como objetivo viabilizar a diminuição das de-
sigualdades sociais do país, prevendo transformações nos setores bancários, fis-
cais, urbanos, administrativos, universitários e agrários.
De acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatís-
tica (Ibope), em março de 1964, em virtude das reformas propostas por Jango, o
então presidente contava com a aprovação de cerca de 70% da população.
No entanto, essas reformas políticas não atendiam aos interesses dos setores
mais conservadores, que toleravam Jango desde o acordo estabelecido em 1961.
Por causa desse repúdio, ele era constantemente acusado de comunismo pela mí-
dia, por políticos da oposição e pelos militares. A crescente tensão também era ali-
mentada por alguns meios de comunicação, criando um clima de terror e convulsão
social crescente, que culminaria na tomada de poder pelos militares em 1964.
Arquivo/Agência O Globo

INTERAÇÃO

1. A capa do jornal repro-


duzida nesta página
parece se posicionar
contra ou a favor da
tomada de poder pelos
militares? Justifique
sua resposta citando
trechos dos textos da
capa como exemplo.

Reprodução da capa
do jornal O Globo do
dia 2 de abril de 1964.

Não escreva no livro.


87
AÇÃO E CIDADANIA

Jornalismo, ética e cidadania: fake news


Os meios de comunicação desempenham papel importante na formação da
opinião pública. Os profissionais dessa área possuem responsabilidade em deci-
dir o que e como publicar. Os cidadãos que recebem as notícias, principalmente
em redes sociais de plataformas digitais, também têm responsabilidades, como a
de checar a fonte e a veracidade das informações.
O texto a seguir apresenta alguns posicionamentos sobre cidadania, ética e
jornalismo.

“Fake News”: há punição para quem divulga ou compartilha


boatos?
Antigamente, as fake news eram o popular boato; a diferença é que ele tinha
uma propagação com início, meio e fim. Hoje, o processo de interação das pes-
soas no mundo virtual permite que qualquer usuário da rede seja um produtor de
conteúdo; não somente um produtor, mas um replicador do que recebe. Esse
usuário exerce, portanto, papel determinante no ciclo de produção e comparti-
lhamento de notícias.
[…]
O código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, de Vitória (ES), atualizado em
2007, preocupa-se em levar uma informação livre e de qualidade aos cidadãos
brasileiros. O artigo 2o, I, diz que a divulgação da informação precisa e correta é
dever dos meios de comunicação. O inciso II diz que “a produção e a divulgação
Vacina causa câncer
da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o
em bebês.
interesse público”. Já o artigo 4o dispõe que “o compromisso fundamental do jor-
nalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa
apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação”.
[…]

A Nasa é mentirosa. Apesar de o código citado tratar apenas dos deveres dos jornalistas, a ética
referente à produção e divulgação de notícias não se restringe a estes profis-
sionais. “Os jornalistas devem enxergar a notícia falsa como uma fraude no pro-
Cienpies Design/
Shutterstock.com/ID/BR

cesso de comunicação e, como tal, devem ser os primeiros a serem impiedosos


com a prática. Entendo que ela compromete, sim, a imagem da atividade jorna-
Mulheres precisam lística. Talvez isso possa contribuir no sentido de despertar uma ação mais con-
se casar. sistente por parte dos profissionais de imprensa e veículos sobre a questão, su-
perando o discurso superficial de que a mídia convencional tem credibilidade
e, portanto, está isenta da produção da notícia falsa; ao passo que sua existên-
cia e consumo está restrita às redes sociais, aqui vistas como um lugar de um
vale-tudo informativo”, afirma o professor Fabiano Mazzini.
No entanto, qualquer cidadão e usuário de redes sociais é responsável por criar
e compartilhar notícias. […]
Martinez, Mariana. ‘Fake News’: há punição para quem divulga ou compartilha boatos?
Folha Vitória, 22 maio 2018. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/geral/
noticia/05/2018/fake-news--ha-punicao-para-quem-divulga-ou-compartilha-boatos#.
Acesso em: 14 abr. 2020.

1. De acordo com o texto, qual é a relação entre jornalistas, ética e as fake news?
2. Qual é a responsabilidade dos indivíduos em relação às fake news?
3. De que modo você pode agir para evitar a propagação das fake news e contri-
buir para a conscientização dos efeitos nocivos que elas podem trazer? Faça
uma pesquisa a respeito do tema e elabore uma lista de ações em seu caderno.
Compartilhe suas ideias com a turma e, juntos, combinem quais ações podem
ser realizadas coletivamente e como colocá-las em prática nesse momento.

Não escreva no livro.


88
Os Atos Institucionais (AIs)
Durante o governo dos presidentes militares, as liberdades civis foram restrin-
gidas, com a censura aos meios de comunicação, o controle dos deslocamentos Cassado: cancelado, sem efeito.

de grupos de pessoas e a extinção da maioria dos partidos políticos. Além disso,


muitos governantes eleitos pelo povo tiveram seus mandatos cassados e cente-
nas de pessoas foram presas, torturadas, enviadas ao exílio ou assassinadas por PARA EXPLORAR
se posicionarem contra o governo vigente.
As eleições para presidente, para governador e até mesmo para prefeito se » Atos Institucionais
Conheça o que cada Ato Ins-
tornaram indiretas. Os governantes que ocupariam esses cargos seriam escolhi-
titucional alterou oficialmen-
dos pelo pequeno grupo que estava no poder.
te no Brasil por meio de ma-
Nesse período, os Atos Institucionais conferiram às Forças Armadas e às suas terial disponibilizado pelo
instituições elevado poder na centralização administrativa e política do país. Ao to- Governo Federal. Disponível
do foram 17 Atos Institucionais, publicados entre 1964 e 1969, que apresentavam em: http://www4.planalto.gov.
restrições às práticas democráticas. br/legislacao/portal-legis/
legislacao-historica/atos-
Liberdades vigiadas institucionais. Acesso em:
15 abr. 2020.
Os relatos a seguir mostram alguns impactos que o cerceamento das liberda-
des civis e individuais podem trazer para o cotidiano.
Texturas de fundo: Shutterstock.com/ID/BR

Adir Figueira, militar


Eu fui entregar um […] documento altamen- Raul Ellwanger, músico
te sigiloso que era chegado do presidente da […] Então, havia perseguição
República. Então, ao entrar na sala esbarrei no porque eu participava da UNE
homem fardado e ele considerou aquilo como [União Nacional dos Estudan-
agressão, ou talvez uma tentativa contra a vida tes], na PUC [Pontifícia Univer-
dele, creio eu que ele na hora quis dar prisão. E sidade Católica], participava da
eu tentava falar com ele, entendeu, que eu es- política, no diretório acadêmico
tava com aquele documento importante pra en- do direito. Surgiram os telefone-
tregar e ele: “Calado”, e eu tentava e ele: “Cala- mas, os seguimentos, os foto-
do”. Você vai entender, um ministro ali é um grafamentos, chegou uma men-
deus, um brigadeiro é um deus, tanto que você sagem final entre aspas: “para
imagina… Ele, abaixo do presidente, ele é o co- calar-se e abster-se”.
mandante-geral da Força Aérea, e eu esbarrei
Havia vigilância sobre a fa-
nele fardado e ainda bati nas medalhas do ho- PARA EXPLORAR
mília, apartamento alugado em
mem. Aquilo pra ele foi uma ofensa, porque san-
frente à casa de minha família » Notas de um tempo silencia-
gue azul, soldado pra ele era ralé.
com as câmeras funcionando do, de Robson Vilalba. Porto
Fiquei preso lá na prisão da base aérea do Alegre: BesouroBox, 2015.
dia e noite […].
Galeão […]. Esse livro de histórias em qua-
drinhos apresenta treze his-
tórias baseadas em relatos
reais de grupos ou indivíduos,
entre eles ativistas, indígenas,
quilombolas e estudantes uni-
Lúcia do Amaral Lopes, universitária versitários, que vivenciaram
Eu entrei na faculdade, em [19]68, e eu participei ativamente das atividades que ti- os anos mais difíceis do regi-
nham lá, das manifestações e tudo. Daí eu fui presa no Congresso da UNE. Eu tinha me militar.
um namorado que era com quem depois eu me casei, se chama José Eli da Veiga, ele » Ah, como era boa a ditadu-
era presidente do grêmio da Filosofia da USP. […] E daí, em [19]69, começou a repres- ra…, de Luiz Gê. São Paulo:
são mais pesada, que teve o Ato 5. Eles entravam nas faculdades, tiravam os alunos de Quadrinhos na Cia., 2015.
dentro da classe de aula. Muita gente começou a ser presa, já estavam tendo algumas Com título irônico, a obra reú-
ações armadas. […] ne as charges do artista Luiz
Gê, publicadas a partir de
1981, sobre o governo de João
Para nunca esquecer: 8 relatos de vítimas da ditadura militar no Brasil. Nonada – Jornalismo Travessia,
31 mar. 2019. Disponível em: http://www.nonada.com.br/2019/03/para-nunca-esquecer-8-relatos-de- Figueiredo, último presidente
vitimas-da-ditadura-militar-no-brasil/. Acesso em: 17 abr. 2020. do regime militar brasileiro.

Não escreva no livro.


89
RESISTÊNCIA E BUSCA PELA DEMOCRACIA
Os relatos apresentados na página anterior abordam alguns dos momentos
cotidianos em que a ausência de liberdade trouxe graves impactos para a vida
dos cidadãos brasileiros. E, se retomarmos os critérios de avaliação do Índice de
Democracia, será possível observar que os governos militares se encaixariam no
perfil de regimes autoritários. A oposição era firmemente rechaçada e perseguida
pelo governo, que tinha a seu favor todo o aparato estatal. Dessa maneira, os le-
vantes e os movimentos populares são fundamentais para combater essa forma
de governo autoritário e restabelecer a democracia.
Sobre o tema, leia o trecho do texto do cientista político Bruno Galindo e obser-
ve as imagens, que mostram alguns movimentos civis pelo fim do governo militar.

press
A transição à democracia a partir da derrocada de uma ditadu-

Luiz Carlos Murauskas/Folha


ra simples implica normalmente a gradual cessão do poder político
aos setores democratas, bem como o afrouxamento das políticas
autoritárias, permitindo a mudança de normas constitucionais e le-
gais em direção ao Estado democrático. Normalmente a economia
dá sinais de crise e a sociedade civil se mostra amplamente insatis-
feita, enfraquecendo o apoio ao governo, mas ainda com setores
oposicionistas fragilizados, o que faz com que as coalizações e alian-
ças entre setores oposicionistas e dissidentes governistas sejam fre-
quentes. A força de determinados caracteres culturais também tem
a tendência de determinar soluções de transição mais pacíficas e
conciliatórias ou mais conturbadas e de enfrentamento mais direto
Diretas Já foi um movimento pelo com o legado autoritário
restabelecimento da eleição direta
para a Presidência da República, Galindo, Bruno. Constitucionalismo e justiça de transição: em busca de uma metodologia de
que mobilizou milhares de análise a partir dos conceitos de autoritarismo e democracia. Revista da Faculdade de Direito
brasileiros. Passeata realizada em da UFMG, n. 67, p. 75-104, 2015. Disponível em: https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/
São Paulo (SP), 1984. revista/article/view/1722. Acesso em: 15 abr. 2020.

Matuiti Mayezo/Folhapress

A passeata pelas Diretas Já


contou com a participação dos
setores organizados da sociedade
civil. Passeata realizada em São
Paulo (SP). Foto de 1984.

90
E hoje?
Com base nos textos e materiais que você leu, pesquisou e analisou, consegue
PARA EXPLORAR
responder à pergunta “O Estado brasileiro é autoritário?”, que dá título ao capítulo?
Uma das maneiras de construir os argumentos que respondam a essa questão » Memorial da Democracia
é observando, em seu cotidiano, os critérios avaliados pelo Índice de Democracia. No portal do Memorial da De-
Assim, analisar se sua liberdade e a liberdade dos grupos sociais dos quais você mocracia, você encontra linhas
faz parte são respeitadas e protegidas institucionalmente é uma forma de anali- do tempo, artigos, vídeos e
relatos sobre diversos momen-
sar a sua realidade. Por exemplo, verifique se você e as pessoas da comunidade
tos da democracia no Brasil.
da qual faz parte podem manifestar descontentamentos contra o governo sem
O site pode ser usado como
serem reprimidos, perseguidos, presos ou mesmo torturados; se há incentivos pa- fonte de pesquisa sobre o te-
ra que participem ativamente da vida política da região onde vivem; se há diver- ma. Disponível em: http://
sidade partidária durante as eleições; etc. memorialdademocracia.com.
Outra possibilidade de construir argumentos é traçar paralelos históricos, so- br/. Acesso em: 15 abr. 2020.
ciológicos e filosóficos – conforme observado ao longo deste capítulo – para ana-
lisar momentos de estabilidade política e momentos em que essa estabilidade foi
interrompida por algum tipo de golpe.

Acervo/Folhapress
Em ambos os percursos, você vai notar movimentos entre democra-
cia e autoritarismo. Mas é possível que ambos coexistam? De acordo
com o sociólogo Carlos Eduardo Santos Pinho, é preciso sempre obser-
var os discursos e pronunciamentos dos governantes, pois eles eviden-
ciam os níveis de comprometimento que os mandatários têm com a
manutenção da democracia. Um dos critérios que podem ser observa-
dos nesses discursos é o tratamento dado às populações que histori-
camente foram marginalizadas, como os povos indígenas, as mulheres,
os negros, a comunidade LGBTQI+ e as pessoas portadoras de neces-
sidades especiais.
Em uma sociedade democrática, o povo como um todo deve ter sua
dignidade resguardada, independentemente de suas características
físicas, étnicas e psicológicas. Sobre esse tema, Pinho afirma:

Mães de estudantes protestam em


[…] Essa herança autoritária, insolidária, escravocrata que conserva privilégios ao frente ao presídio de Tiradentes
longo do tempo repudia o diverso e fundamenta-se na humilhação daquele que é di- após cerca de mil estudantes
ferente e considerado “inferior”. Há um repúdio explícito dessas elites políticas às serem presos por participaram
do 30o Congresso da União

Acervo/Folhapress
conquistas sociais das minorias obtidas a duras penas nas últimas décadas. Portanto, Nacional dos Estudantes (UNE)
estamos vivendo num contexto de uma democracia debilitada, em que os direitos de organizado em uma fazenda
minorias são sistematicamente atacados, desrespeitados e vilipendiados. É a mate- em Ibiúna (SP). Foto de 1968.

rialização do ódio ao dissenso e um despotismo revestido de carapaça democrática.


Pinho, Carlos Eduardo Santos. In: SantoS, João Vitor. O autoritarismo na formação econômica,
social e política do Brasil. Entrevista especial com Carlos Eduardo Santos Pinho. Instituto
Humanitas Unisinos, 24 jul. 2019. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/159-noticias/
entrevistas/591015-o-autoritarismo-e-seu-peso-na-formacao-economica-social-e-politica-do-
brasil-entrevista-especial-com-carlos-eduardo-santos-pinho. Acesso em: 15 abr. 2020.

A Passeata dos Cem Mil foi uma


manifestação da UNE contra o
governo militar realizada no Rio
de Janeiro (RJ). Foto de 1968.

91
ATIVIDADES

1 Neste capítulo, você analisou dados do Índice de a) Na notícia, há denúncia da violação de quais di-
Democracia referentes ao ano de 2019. Faça uma reitos civis? Justifique sua resposta usando trechos
pesquisa para descobrir os resultados do índice no do texto.
último ano e compare-os com os de 2019. Para isso, b) De acordo com o Índice de Democracia e com suas
verifique os pontos listados a seguir, anotando suas
percepções sobre a democracia brasileira, notícias
percepções no caderno.
como essa corroboram a classificação do Brasil
a) Identifique as mudanças em relação ao Brasil, aos como uma democracia imperfeita? Explique.
outros países da América do Sul, da América La-
c) Como os países classificados como democracias
tina e, por fim, do continente americano.
plenas lidam com os protestos? Faça uma pes-
b) Observe se houve transformações nos países de quisa em publicações impressas e/ou digitais para
regimes autoritários.
descobrir. Depois, com base nelas, conte para os
c) Analise as mudanças no continente africano e no colegas da turma como você acha que uma situa-
europeu. ção como a retratada na notícia poderia ser solu-
Em uma data combinada, apresente suas percepções cionada sem o uso da força policial.
para a turma e ouça as análises dos colegas sobre o
Índice de Democracia no mundo atual. 4 Como você relaciona os relatos da página 89 com a
categoria de democracia imperfeita? Responda usan-
2 Escolha um dos movimentos apresentados nas pá-
do trechos dos relatos e os critérios usados pelo Ín-
ginas 90 e 91 e faça uma análise dele, em forma de
dice de Democracia.
dissertação, com base nos conceitos apresentados
por Bruno Galindo. Você pode buscar mais informações
5 Forme dupla com um colega para verificar se, na co-
sobre o movimento escolhido em publicações impres-
sas e/ou digitais. Apresente sua análise aos colegas. munidade em que vocês vivem, há grupos sociais que
Lembre-se de anotar as fontes de pesquisa para sofrem algum tipo de repressão pelo governo
disponibilizá-las ao final do trabalho. que vocês consideram injusta ou desalinhada com os
direitos humanos. Dialoguem com seus amigos e fa-
3 Leia o trecho da notícia a seguir. miliares sobre o tema para investigar a situação do
lugar onde vocês moram. Se necessário, façam regis-
tros das entrevistas, como anotações, fotos ou vídeos.
Cerca de 20 mil pessoas, a maioria professores da
a) Em uma data combinada, apresentem suas des-
rede pública de ensino, se reuniram no dia 29 de abril
cobertas à turma e ouçam as descobertas das
em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Pa-
outras duplas.
raná, na cidade de Curitiba, para protestar contra as
b) O que vocês acham que poderia ser feito para
mudanças nas regras do estado para a previdência
evitar situações como essas e garantir que todos
social e aposentadoria dos funcionários públicos. Os
os grupos possam se manifestar de modo iguali-
professores estavam em greve desde 25 de abril para
tário? Debatam com a turma, mobilizando o que
protestar contra essas mudanças e estavam reunidos
vocês sabem sobre a construção da democracia
em frente à Assembleia Legislativa do Paraná desde
no Brasil.
o dia anterior (28) enquanto a votação sobre as novas
regras era esperada. Por volta de 16h do dia 29, a po- 6 Leia um trecho do livro do historiador Carlos Fico
lícia militar que estava presente (incluindo o Tropa de (1959- ) e, depois, responda às questões.
Choque) recebeu ordens para dispersar o protesto e
iniciou uma forte repressão aos participantes usando
gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes. […] A ditadura militar brasileira foi muito violen-
A unidade municipal de saúde relatou 213 mani- ta desde os primeiros momentos após o golpe de
festantes feridos, alguns deles gravemente. Muitos 1964. Entretanto, a partir de 1968, essa violência se
tinham sido atingidos por balas de borracha no rosto. ampliou muito com a instituição de aparatos insti-
Pelo menos um jornalista ficou ferido depois de ser tucionalizados de repressão que criaram um siste-
atacado por um cachorro da polícia militar. Em uma ma nacional de espionagem, uma polícia política,
declaração oficial da Secretaria de Segurança Pública um departamento de propaganda e outro de censu-
do Estado, foi relatado que sete manifestantes foram ra política, além de um tribunal de exceção para o
detidos por serem “membros de grupos radicais”. julgamento de pessoas supostamente implicadas
Ação urgente: Polícia Militar ataca professores em protesto.
em corrupção.
Anistia Internacional Brasil, 12 maio 2015. Disponível em: Fico, Carlo. História do Brasil contemporâneo:
https://anistia.org.br/entre-em-acao/email/acao-urgente-3/. da morte de Vargas até os dias atuais.
Acesso em: 15 abr. 2020. São Paulo: Contexto, 2015. p. 62.

Não escreva no livro.


92
a) De acordo com o trecho, quais são os elementos Embora enfatizem a defesa da democracia, as visões
que permitiram o aumento do autoritarismo no do movimento político-militar de 1964 divergem ao
Estado brasileiro durante o regime militar? focarem, respectivamente:
b) Em sua opinião, por que o regime militar utilizou a) Razões de Estado – Soberania popular.
desses artifícios, principalmente após 1968?
b) Ordenação da Nação – Prerrogativas religiosas.
7 (Enem) c) Imposição das Forças Armadas – Deveres sociais.
d) Normatização do Poder Judiciário – Regras morais.
Ato Institucional no 5 e) Contestação do sistema de governo – Tradições
culturais.
Art. 10 - Fica suspensa a garantia de habeas cor-
pus, nos casos de crimes políticos, contra a seguran-
9 (UFMT) De acordo com a filósofa Hannah Arendt, o
ça nacional, a ordem econômica e social e a economia
totalitarismo é uma forma de governo essencialmen-
popular.
te diferente de outras formas de opressão política
Art. 11 – Excluem-se de qualquer apreciação ju- conhecidas, como o despotismo, a tirania e a ditadu-
dicial todos os atos praticados de acordo com este ra. Considerando as características e as expressões
Ato Institucional e seus Atos Complementares, bem históricas do totalitarismo no século XX, assinale a
como os respectivos efeitos. afirmativa INCORRETA.
Disponível em: http://www.senado.gov.br. a) O totalitarismo procura reforçar a distinção entre
Acesso em: 29 jul. 2010. esfera pública e esfera privada.
b) Nazismo e stalinismo são dois exemplos históricos
Nos artigos do AI-5 selecionados, o governo militar de regimes totalitários.
procurou limitar a atuação do poder judiciário, porque c) A propaganda é um meio importante para a difu-
isso significava: são da ideologia oficial nos governos totalitários.
a) a substituição da Constituição de 1967. d) O terror é um princípio fundamental da ação po-
b) o início do processo de distensão política. lítica totalitária.
c) a garantia legal para o autoritarismo dos juízes.
d) a ampliação dos poderes nas mãos do Executivo. 10 (Enem)
e) a revogação dos instrumentos jurídicos implan-
tados durante o regime militar de 1964.
Em um governo que deriva sua legitimidade de
8 (Enem) eleições livres e regulares, a ativação de uma corren-
te comunicativa entre a sociedade política e a civil é
essencial e constitutiva, não apenas inevitável. As
TEXTO I múltiplas fontes de informação e as variadas formas
O presidente do jornal de maior circulação do país de comunicação e influência que os cidadãos ativam
destacava também os avanços econômicos obtidos através da mídia, movimentos sociais e partidos po-
naqueles vinte anos, mas, ao justificar sua adesão aos líticos dão o tom da representação em uma socieda-
militares em 1964, deixava clara sua crença de que a de democrática.
intervenção fora imprescindível para a manutenção
da democracia. Urbinati, N. O que torna a representação democrática?
Lua Nova, n. 67, 2006.
Disponível em: http://oglobo.globo.com.
Acesso em: 1o set. 2013 (adaptado).

Esse papel exercido pelos meios de comunicação


favorece uma transformação democrática em fun-
ção do(a):
TEXTO II
a) limitação dos gastos públicos.
Nada pode ser colocado em compensação à perda
das liberdades individuais. Não existe nada de bom b) interesse de grupos corporativos.
quando se aceita uma solução autoritária. c) dissolução de conflitos ideológicos.
Fico, C. A educação e o golpe de 1964. Disponível em:
d) fortalecimento da participação popular.
www.brasilrecente.com. Acesso em: 4 abr. 2014 (adaptado).
e) autonomia dos órgãos governamentais.

Não escreva no livro.


93
8
REPRESENTATIVIDADE
CAPÍTULO

E DEMOCRACIA
A representatividade é a base do sistema democrático no Brasil, o que signifi-
» Competências e ca que os cidadãos brasileiros votam em representantes que vão defender seus
habilidades
interesses nos órgãos governamentais. Quanto mais os representantes do povo
CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB9 e CGEB10. no governo estão alinhados com a população, mais equilibrados estão os pilares
CECHSA1: EM13CHS101, democráticos, pois os diferentes grupos podem se posicionar e ter voz nas ins-
EM13CHS103 e EM13CHS106. tâncias do poder.
CECHSA5: EM13CHS501, No entanto, não é exatamente isso que ocorre no Brasil atual. Leia o trecho
EM13CHS502 e
da reportagem a seguir, sobre os resultados das eleições de 2018 para o Con-
EM13CHS503.
gresso Federal.
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS602, EM13CHS603
e EM13CHS605.
CEMT1: EM13MAT102. Perfil médio do deputado federal eleito é homem, branco, casado
e com ensino superior
O perfil médio dos 513 deputados federais eleitos se assemelha ao dos candidatos
que disputaram as eleições deste ano. A partir de 2019, a Câmara dos Deputados con-
tinua a ser composta, principalmente, por homens, brancos, casados e com ensino
superior. A idade média é de 49 anos (elas variam de 22 a 84 anos). […]
Os representantes mais jovem e mais velho da Câmara são mulheres. Luisa Can-
ziani […] tem 22 anos e será a mais nova da Casa. […] Aos 84 anos, Luiza Erundina
foi a mais velha eleita para o cargo neste ano. Quase a maioria dos deputados fede-
rais eleitos (46%) informa ao TSE ter a ocupação de “deputado”. Um levantamento
[…] já mostrou ainda que os milionários na Câmara são 47% dos 513 deputados fe-
derais eleitos.
Caesar, Gabriela. Perfil médio do deputado federal eleito é homem, branco, casado e com ensino
superior. G1, 21 out. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-
em-numeros/noticia/2018/10/21/perfil-medio-do-deputado-federal-eleito-e-homem-branco-
casado-e-com-ensino-superior.ghtml. Acesso em: 17 abr. 2020.

Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

Movimentação de pessoas na rua Ademar Galvão com a praça Barão do Rio Branco, em
Vitória da Conquista (BA). Foto de 2019.

1. Com base na foto e na reportagem, é possível inferir que os dados noticiados


condizem com a comunidade do município de Vitória da Conquista (BA)? Explique.
2. A população da comunidade em que você vive é plenamente representada
pelos deputados eleitos? Compartilhe suas percepções com a turma.
3. Em sua opinião, com base na sua resposta à questão anterior, por que isso
ocorre? Que medidas poderiam ser tomadas para que a democracia represen-
tativa representasse de fato a diversidade da população brasileira?

Não escreva no livro.


94
CRISE NA REPRESENTATIVIDADE DEMOCRÁTICA
Os dados apresentados anteriormente, que traçam o perfil médio dos deputa-
dos federais eleitos, evidenciam um cenário descrito pelos pesquisadores como
o de crise na representatividade brasileira. De acordo com o Instituto de Pesqui-
sas Datafolha, em pesquisa que buscava verificar a credibilidade dos partidos
políticos e das instituições governamentais, em 2019, cerca de 58% dos eleitores
não confiavam nos partidos políticos, 36% afirmaram confiar pouco, 4% disseram
confiar muito e 1% não soube responder. O índice de desconfiança no Supremo
Tribunal Federal foi de 33% e no Congresso Nacional, 45%.
O tema da crise de representatividade em uma democracia é objeto de estudo
de diferentes cientistas sociais, e uma das observações feitas pela comunidade
científica é a de que essa crise é inerente à democracia. Um dos motivos aponta-
dos é o de que os políticos acabam formando uma classe específica que, ao longo
do tempo, passa a desenvolver práticas de interesse próprio para prosseguir nas
lideranças das posições que ocupam. Esse processo é chamado de oligarquiza-
ção das organizações políticas. Dessa maneira, mesmo que os dirigentes inte-
grem partidos diferentes e/ou rivais, ainda assim existe, em certo nível, união en-
tre eles como membros de uma classe, a fim de que possam se organizar em
defesa de interesses corporativos comuns.
Em diversos países, há dispositivos para tentar regular e evitar a oligarquiza-
ção, como a impossibilidade de reeleição e auditorias das contas das campanhas PARA EXPLORAR
eleitorais, com limites para o recebimento de doações. Essas medidas são neces-
sárias para evitar que o candidato com mais financiamento (e não necessaria- » O que é uma oligarquia
mente mais apoiadores) tenha mais condições financeiras de influenciar as elei- Em publicação na revista ele-
trônica FGV EAESP Pesquisa,
ções durante a campanha. O perfil do candidato que mais tem chance de ser
o sociólogo Cláudio Couto
financiado é aquele apresentado no texto de abertura do capítulo. O gráfico des-
define oligarquia, possibili-
ta página também traz informações sobre o grau de escolaridade de candidatos tando o aprofundamento
com esse perfil. desse conceito. Disponível
No Brasil, o processo de oligarquização é apenas um dos problemas da crise. em: https://pesquisa-eaesp.
Fatores como corrupção estrutural nas diversas instâncias do poder e replicação fgv.br/ publicacoes/gvp/
do modelo oligárquico nos níveis federal, estadual e municipal dificultam ainda o-que-e- uma-oligarquia.
mais o estabelecimento da democracia plena, além de colaborar para o distancia- Acesso em: 20 abr. 2020.
mento entre o povo e os governantes.
Se retomarmos os dados da pesquisa do Instituto Datafolha, é possível obser-
var que quase metade da população não confia nos congressistas eleitos. De acor-
do com o sociólogo brasileiro Cláudio Couto, esse contexto ainda é sobrecarregado
pelos órgãos de controle, responsáveis por fiscalizar as instituições, como o Su-
premo Tribunal Federal e o Ministério Público. Para Couto, essa dinâmica acirra o
distanciamento entre os cidadãos e seus representantes, alimentando as descon-
fianças da população tanto nas instituições regulares quanto nas de controle.

ESCOLARIDADE DOS DEPUTADOS FEDERAIS ELEITOS (2018)


Adilson Secco/ID/BR

Superior completo
Médio completo

43 Superior incompleto

415 Fundamental completo


Fonte de pesquisa: 80% dos
37 Fundamental incompleto deputados eleitos têm ensino
10 5 superior completo. Câmara
Médio incompleto
dos Deputados. Disponível
Lê e escreve em: https://www.camara.leg.
br/noticias/545865-80-dos-
1 2 deputados-eleitos-tem-
ensino-superior-completo.
Acesso em: 27 abr. 2020.

Não escreva no livro.


95
Democracia moderna: dilemas
A crise de representatividade na democracia, que tem contornos estruturais e
históricos, é um fenômeno que ocorre em todas as democracias, em maior ou me-
nor grau, de acordo com o nível de implementação do projeto democrático. Du-
rante os primeiros vinte anos do século XXI, a falta de confiança e de perspectiva
na democracia chegou a níveis de acirramento, permitindo que os discursos de
ódio à democracia encontrassem espaço nas mídias, nas redes sociais e até mes-
mo entre partidos políticos.
O filósofo franco-argelino Jacques Rancière (1940- ) publicou, em 2015, o en-
saio O ódio à democracia, no qual procura analisar as origens da democracia re-
presentativa e a formação dos discursos de ódio ao sistema democrático represen-
tativo. Para isso, Rancière busca as origens da democracia na Antiguidade Grega,
evidenciando que a democracia moderna, oriunda da Revolução Francesa (1789),
diverge da antiga em diferentes aspectos e que, possivelmente, as origens da cri-
se estejam nessas divergências conceituais, as quais se tornaram a estrutura da
ideia de democracia que adotamos hoje.
Na Grécia Antiga, o sistema democrático funcionava de modo aleatório: de
tempos em tempos, realizava-se um sorteio que determinaria quais cidadãos
deveriam atuar nos cargos políticos. Esse sistema se caracterizava como o “go-
verno de qualquer um”, já que qualquer cidadão tinha chances iguais de aces-
sar o poder. No caso da democracia representativa moderna, essa escolha ocor-
re por meio do voto em cidadãos que se candidatam para representar a
população, pela escolha da maioria, o que pode ser denominado “governo de
todos”. Essa diferença radical faz emergir a diferencia-
Ulf Andersen/Aurimages/AFP

ção da classe política e extinguir o princípio da igualda-


de, gerando as oligarquias políticas sobre as quais dia-
logou-se anteriormente.
Para o filósofo, antes de ser um efeito colateral da de-
mocracia representativa, a formação das oligarquias po-
líticas seria proposital, como projeto político, para garantir
que as elites historicamente no poder se perpetuem nes-
sa posição. Desse modo, as desigualdades sociais, cultu-
rais, políticas, econômicas e raciais também se manteriam,
assim como o ódio à democracia: de um lado, pelo povo
que não se vê representado e, de outro, pelas elites que
não têm mais acesso a títulos sociais permanentes.
Por esse raciocínio é possível compreender a impor-
tância dos movimentos sociais para pressionar os gover-
nos, mesmo que democraticamente eleitos, a adotar me-
didas favoráveis à maioria da população. Sobre esse tema,
Rancière afirma que todas as conquistas sociais e o reco-
nhecimento de direitos são frutos dos movimentos popu-
lares, ações coletivas organizadas por populações que
não se sentem representadas pelo Estado e que buscam
mudanças na forma de governo, o qual elas mesmas aju-
daram a eleger.
O filósofo Jacques Rancière é
especialista em estética e política.
Foto de 2011.
INTERAÇÃO

1. Imagine que você esteja conversando com um familiar sobre a democra-


cia no Brasil e precise explicar para ele a crise da representatividade. Como
você faria isso? Compartilhe sua resposta com a turma.
2. Quais medidas você considera importantes para aumentar os índices de
confiança nas instituições governamentais e os níveis de reconhecimen-
to entre eleitores e políticos? Faça uma lista no caderno e, depois, com-
partilhe com os colegas as principais ideias que você teve.

Não escreva no livro.


96
Movimentos pela democracia
O Pacote de Abril
No contexto dos movimentos populares que reivindicam participação
política, a mobilização pelas Diretas Já foi um dos mais expressivos mo-
vimentos ocorridos no Brasil. Ele se destaca por ter reunido diversos se-
tores sociais, muitas vezes ideologicamente contrários, sob a pauta da
abertura do regime militar e do retorno do poder político aos civis.
Os militares assumiram o poder em 1964 e, a partir de 1975, inicia- Eleições indiretas para governador
ram a abertura do regime diante de uma conjuntura marcada pela reces- (chamado de governador biônico)
são econômica, após o boom inicial de investimentos estadunidenses
que caracterizou o início do governo militar.
A recessão econômica afetou a população, que via a inflação deterio-
rar o valor dos salários: os preços de moradia, alimentação e transportes
subiam, e esse aumento não era acompanhado pelos salários, fazendo Eleições indiretas para um senador por es-
com que os honorários recebidos pelo trabalhador perdessem valor. Além tado (chamado de senador biônico). Os
do descontentamento popular com o governo dos militares, havia o des- demais senadores estaduais eram eleitos
gaste interno das Forças Armadas. De acordo com a antropóloga Lilia pelo voto popular.
Schwarcz (1957-) e a historiadora Heloísa Starling (1956-), havia dois
pontos principais para esse desgaste:
• ambivalência das Forças Armadas – os militares passaram a ser res-
ponsáveis pela vida política e por zelar pela segurança interna do país,
comprometendo oficiais, que constantemente tinham suas funções Ampliação do mandato do presidente, a ser
militares desviadas, para a administração pública. Esse aspecto era escolhido indiretamente em 1978, de cinco
entendido como um risco para os interesses das Forças Armadas; para seis anos.

• desvirtuamento das Forças Armadas – ao longo do regime militar,


muitos oficiais dos quartéis foram retirados de suas estruturas hie-
rárquicas de comando para exercer missões policiais e punitivas, co-
mo reprimir os opositores do governo. Esses oficiais eram condecorados
e promovidos por esses feitos, que, a princípio, são contrários às fun- Ampliação para as eleições estaduais e fe-
ções militares de proteção aos cidadãos. As pesquisadoras denomi- derais da Lei Falcão (1976), que restringia
nam essa estrutura de “burocracia da violência”, uma vez que ela se a propaganda eleitoral no rádio e na tele-
visão. Se, por um lado, a oposição poderia
tornara um caminho para avançar na carreira militar. Os militares do apresentar mais candidatos, por outro, ha-
alto escalão viam esse aspecto como algo que poderia enfraquecer a via a restrição da propaganda eleitoral.
credibilidade das Forças Armadas.
Dessa forma, em 1977, foi lançado o Pacote de Abril, que era um con-
junto de medidas que previam a abertura democrática de modo “lento,
gradual e seguro”, como preconizava o texto do documento. O pacote
também previa o afrouxamento das censuras e concedia mais espaço
Criação do estado do Mato Grosso do Sul.
para que a oposição se manifestasse. Por outro lado, a lentidão dos pro-
cessos também foi alvo da oposição da população, que ansiava pela
abertura completa do regime. Conheça as principais medidas desse pa- Ícones: notbad/Shutterstock.com/ID/BR

cote no esquema ao lado.


Orlando Brito/Agência O Globo

Criação de sublegendas nos partidos – que


eram apenas dois: Arena, do regime mili-
tar, e MDB, da oposição – para a eleição
direta dos senadores, permitindo que ca-
da partido apresentasse mais de um can-
didato por estado. Os votos dados às sub-
legendas eram somados, e a totalidade
era atribuída ao candidato mais votado,
facilitando a eleição de candidatos não
populares, como era o caso da maioria dos
candidatos que apoiavam o regime.

Fonte de pesquisa: Paganine, Joseana.


Agência Senado, 31 mar. 2017. Disponível em: https://
www12.senado.leg.br/noticias/materias/2017/03/31/
O Congresso Nacional, em Brasília (DF), ficou fechado após o governo de Geisel ha-40-anos-ditadura-impunha-pacote-de-abril-e-
decretar o Pacote de Abril em 1977. adiava-abertura-politica. Acesso em: 20 abr. 2020.

Não escreva no livro.


97
Diretas Já
Com base no que foi estudado anteriormente, é possível observar que o pro-
cesso de abertura do regime foi institucionalmente tutelado pelo governo dos mi-
litares. A importância do movimento das Diretas Já está relacionado com o empo-
deramento da população civil, que atuou como catalisador para o fim do regime
militar, acelerando o processo planejado pelos governantes.
O estopim para essa organização popular foi o assassinato do jornalista Vla-
dimir Herzog (1937-1975) nas dependências do Destacamento de Operações de
Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), um órgão de in-
teligência e repressão do governo brasileiro durante o regime militar.
Herzog era diretor de jornalismo da TV Cultura e se apresentou, de modo es-
pontâneo, no prédio do governo quando foi solicitado a dar explicações sobre sua
atuação no Partido Comunista Brasileiro. Dessa forma, muitos presenciariam sua
cooperação em esclarecer os fatos. O jornalista foi encontrado morto nas instala-
ções da cela onde estava preso e a administração do local afirmou que ele havia
cometido suicídio. Na época, a versão foi contestada, pois o corpo continha sinais
de tortura. O episódio tornou-se símbolo da resistência por apresentar indícios de
falsidade.
A notícia da morte de Herzog mobilizou uma ampla frente pela democracia, re-
unindo, a princípio, estudantes e jornalistas em protestos contra a prisão ilegal, a
tortura e o assassinato. Se, durante os anos anteriores, a oposição ao governo se
caracterizou pela luta armada, nesse momento, com a grande adesão popular, os
movimentos começaram a buscar as vias legais de atuação política, como os pro-
testos pacíficos. A mobilização atingiu também outras organizações sociais popu-
lares, entre as quais clubes de mães, comitês de saúde e associações de morado-
res. O slogan “Pelas liberdades democráticas”, além de denunciar o autoritarismo
do governo militar, demonstrava a percepção da sociedade sobre a democracia.
Apesar de as pressões populares se intensificarem pelas vias legais em 1975,
o governo militar ainda perduraria até 1985. Se pensarmos no tempo histórico,
trata-se de um capítulo recente da história do Brasil e que evidencia muitas das
fragilidades estruturais de nossa democracia.

Mauricio Simonetti/Pulsar Imagens

Comício da campanha pelas


Diretas Já realizado na praça
da Sé em São Paulo (SP).
Foto de 1984.

98
CONSTITUIÇÃO DE 1988: AVANÇOS DEMOCRÁTICOS
O processo de retorno da democracia representativa no Brasil culminou na
escrita de uma nova Constituição Federal, conhecida como Constituição Cidadã,
promulgada em 1988. Conforme visto nas unidades anteriores, a Carta foi ela-
borada com base na participação de diferentes movimentos sociais, de repre-
sentantes dos diversos segmentos que compunham a sociedade brasileira e
dos povos indígenas.
Ela se caracteriza como um marco democrático no país, no qual, em um mo-
mento único na história do Brasil, os diversos setores da sociedade civil partici-
Deputado constituinte: deputado elei-
pam da construção de uma Carta Magna. to para participar da Assembleia Cons-
Para aprofundar o debate sobre a Constituição Cidadã, leia os dois relatos a se- tituinte, um colegiado reunido para
guir. Ambos foram concedidos pelo deputado constituinte Bernardo Cabral (1932-) debater e escrever a Constituição do
país.
e revelam algumas de suas percepções a respeito da Constituição de 1988 em dois
momentos históricos distintos.

Governo Federal/Fotografia: ID/BR


Texto 1
Os corredores do Congresso fervilhavam de pessoas. Nós tínhamos milhares de
pessoas diariamente no Congresso, nos corredores, nos gabinetes, levando papéis,
levando pareceres, levando opiniões.
Cabral, Bernardo. In: Venturini, Lilian. Constituição Cidadã, 30 anos: direitos, amarras e desafios.
Nexo, 21 set. 2018. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/explicado/
2018/09/21/Constitui%C3%A7%C3%A3o-cidad%C3%A3-30-anos-direitos-amarras-e-desafios.
Acesso em: 20 abr. 2020.

Texto 2
ConJur – Que balanço o senhor faz desses 30 anos?
Bernardo Cabral – As Cassandras que diziam que a Constituição não duraria
Capa da Constituição da República
seis meses devem estar se revirando no túmulo. O que precisamos sentir nesses Federativa do Brasil de 1988.
30 anos é que se deve à Constituição não ter havido nenhuma crise política de ordem
que mantivesse ou propiciasse uma ditadura. […] Quando o senhor Collor foi apeado
do poder, quem assumiu não foi uma junta, foi seu vice, Itamar Franco, que assumiu
com a Constituição debaixo do braço. Quando a Dilma sofreu o impeachment, foi seu
vice, Michel Temer, quem assumiu. Esta Constituição, com todos os seus defeitos, foi
o que não permitiu que não houvesse um golpe de Estado.
Canário, Pedro. “Devemos à Constituição o fato de não ter havido
golpes de Estado nestes 30 anos”. ConJur, 12 out. 2018. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2018-out-12/entrevista-bernardo-
cabral-relator-assembleia-constituinte. Acesso em: 20 abr. 2020
INTERAÇÃO

1. Pesquise imagens da Assembleia Constituinte de 1988 em publicações


impressas e/ou digitais. Selecione a imagem que você considera a mais
emblemática desse processo histórico e, em uma data combinada, traga
uma cópia dela para mostrar aos colegas. Lembre-se de produzir uma
legenda para a imagem, indicando local, evento retratado e data. Expli-
que para a turma por que você escolheu essa imagem e como ela se
relaciona com o relato do texto 1.
2. O que significa a expressão “As Cassandras”, usada no relato do texto 2?
3. Qual é a relação entre a crise da democracia e o relato do texto 2? Escre-
va um texto explicando suas percepções e, depois, leia-o para os colegas.

Não escreva no livro.


99
ATIVIDADES

1 Observe o gráfico abaixo e, depois, faça as atividades. a) Retome o trecho da notícia que você leu na aber-
tura deste capítulo. Como ele se relaciona com a
ESCOLARIDADE DOS BRASILEIROS tese de Robert Michels?
COM 25 ANOS OU MAIS (2018) b) Há relações entre a tese de Michels e a do soció-
logo Cláudio Couto, que você estudou neste capí-

Adilson Secco/ID/BR
Superior
tulo? Explique.
33,1% completo c) Com base em seus conhecimentos, debata com a
8,1% Superior turma como a oligarquização de uma democracia,
incompleto como a brasileira, poderia ser evitada ou revertida.
4% Médio
completo 3 Retome ao esquema a respeito do Pacote de Abril
Médio da página 97 e responda às questões.
4,5%
incompleto
Fundamental
a) As eleições de governadores e senadores tinham
26,9% 6,9% características semelhantes às eleições realizadas
completo
Fundamental atualmente? Explique com itens do conjunto de
16,5% incompleto medidas proposto pelo governo militar.
Não lê e/ou b) Em sua opinião, por que os militares optaram por
escreve
uma abertura “lenta, segura e gradual”? Como
Fonte de pesquisa: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra
isso se relaciona com as estruturas da democracia
de Domicílios Contínua: Educação 2018. Disponível em: representativa brasileira que você analisou nas
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibgearquivos/ unidades anteriores e nesta unidade?
00e02a8bb67cdedc4fb22601ed264c00.pdf. Acesso em 30 jun. 2020.
4 Leia o trecho da entrevista concedida pela deputada
a) Compare esse gráfico com o da página 95 e res- constituinte Rose de Freitas ao Serviço de Arquivo
ponda: Os representantes no Congresso Nacional Histórico do Senado Federal.
têm o perfil escolar semelhante ao da população
brasileira?
b) Como o fator da escolarização contribui para o Entrevistadora – Apesar de
Charles Sholl/Futura Press

processo de oligarquização da democracia repre- ser chamada de Constituição ci-


sentativa? Escreva uma dissertação sobre o tema, dadã, a senhora, então, não a vê
apresentando suas reflexões. Depois, leia seu assim? Ao longo desses 30 anos,
texto para a turma. a senhora acha que os direitos
conseguidos foram diminuídos?
2 Leia o texto e, depois, responda às questões.
Senadora Rose de Freitas
[…] – Não, eu quero dizer o se-
Em 1911, Robert Michels publicava a primeira edição guinte: a Constituição cidadã
de Para uma sociologia dos partidos políticos na democra- existe. Ela é pormenorizada.
Senadora Rose de A Constituição brasileira é uma
cia moderna, obra que se tornou um marco incontornável
Freitas. Foto de 2016.
do debate acerca das potencialidades e limites da demo- Constituição cidadã. Ela existe,
cracia. No livro – que teria uma segunda edição publicada ela entra em detalhes dos direitos individuais, mas se es-
em 1925, revisada e bastante ampliada em relação à pri- quecendo de muitas outras coisas. […]
meira […] –, Michels aponta que qualquer organização so- Digo que ela precisa avançar porque eu acho… Por
cial de maiores dimensões (não só os partidos) tende a se exemplo, eu entrei no processo constituinte com uma men-
converter em uma oligarquia, passando a ser governada talidade profundamente estatizante. Hoje, eu vejo que o
por uma reduzida camada de dirigentes, que se afasta dos Brasil não pode ser assim. Então, é importante que a gen-
interesses da massa a quem deveria representar. Indepen- te entenda que os direitos de cada um também estão in-
dentemente dos objetivos declarados pela organização, da cluídos dentro de uma plataforma de construção de um
forma de funcionamento interno, das características do Brasil mais desenvolvido, para que todos possam usufruir
ambiente ou das idiossincrasias de seus líderes, a prática da renda e do trabalho com toda a dignidade pessoal.
da democracia interna se torna mais difícil quanto maiores Então, garantir que cada um tenha seu direito respei-
forem a dimensão e o êxito alcançados pela agremiação. tado é muito certo; nisso não temos de mexer. Nós temos
Ribeiro, Pedro Floriano. A lei da oligarquia de Michels: modos de usar. até de avançar na questão do gênero da mulher. Mas, em
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 29, n. 85, p. 179-193, 2014. relação ao capital e ao trabalho, por exemplo, nós temos
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
de melhorar bastante. O Brasil pretende evoluir e se desen-
arttext&pid=S0102-69092014000200012&lng=en&nrm=iso.
Acesso em: 20 abr. 2020. volver. Que esse desenvolvimento possa estar ao alcance

Não escreva no livro.


100

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6 (Unimontes)
de todos os brasileiros. Nós vimos recentemente que cinco
grandes empresários brasileiros detêm uma fortuna que
corresponde àquilo que têm milhões de brasileiros.
À medida que, a partir dos anos 70, amplia-se uma
Então, é preciso uma Constituição que resguarde direi- cultura democrática no Brasil, que os movimentos
tos, qualidade de vida, direitos do cidadão e desenvolvi- sociais, junto com outros setores democráticos, vão
mento, para se promover a democracia da renda no País. arrombando as portas da ditadura, o Estado torna-se
Secretaria de Registro e Redação Parlamentar da Secretaria lentamente permeável à participação de novos ato-
Geral da Mesa (SGM). Entrevista Completa Rose de Freitas, 6 abr. res sociais. O Estado brasileiro, tradicionalmente
2018. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/
privatizado pelos seus vínculos com grupos oligár-
institucional/arquivo/entrevista?grupo=senadores&id=ro
se-de-freitas. Acesso em: 20 abr. 2020. quicos, vai lentamente cedendo espaço, tornando-se
mais permeável a uma sociedade civil que se orga-
niza, que se articula, que constitui espaços públicos
a) Quais críticas a deputada constituinte faz à Cons- nos quais reivindica opinar e interferir sobre a polí-
tituição Cidadã? tica, sobre a gestão do destino comum da sociedade.
b) Quais elementos ela acredita que precisam ser A radicalização da democracia não significa apenas
mais bem conduzidos? a construção de um regime político democrático,
c) Ao final do trecho, Rose de Freitas apresenta um mas também a democratização da sociedade e a
retrato da desigualdade econômica no Brasil atual. construção de uma cultura democrática. Esse é ain-
Como você analisa o contexto citado por ela, com da um desafio.
base no que estudou nas unidades anteriores e Adaptado de CarvalHo, Maria do C. A. A.
em suas percepções sobre esse tema? Participação social no Brasil hoje. Disponível em:
d) De que modo a Constituição pode contribuir para http://www.polis.org.br/obras/arquivo_169.pdf.
Acesso em maio 2011.
melhorar e eventualmente solucionar essas ques-
tões? Para responder, elabore um texto em seu
caderno. Escolha o gênero que mais se adapta
ao que você quer explorar. Se necessário, con- Considerando o texto e essa conjuntura, analise as
sulte também o professor de Língua Portuguesa. afirmativas, tendo em vista o significado da partici-
Em uma data combinada, compartilhe seu texto pação social:
com os colegas. I. Participar da gestão dos interesses coletivos
significa participar do governo da sociedade, dis-
5 (Enem) putar espaço no Estado e no mercado, nos espa-
ços de definição e execução das políticas públicas.
II. Os movimentos sociais têm, apesar das limitações
No sistema democrático de Schumpeter, os únicos e precariedades, construído contrapartidas que
participantes plenos são os membros de elites políti- colocam num outro patamar de dignidade e
cas em partidos e em instituições públicas. O papel respeito setores excluídos da sociedade, rom-
dos cidadãos ordinários é não apenas altamente limi- pendo as fronteiras dos espaços onde têm sido
tado, mas frequentemente retratado como uma intru- confinados.
são indesejada no funcionamento tranquilo do pro- III. Ampliar a tolerância, o respeito democrático pelo
cesso “público” de tomada de decisões. diferente, eliminar as segregações raciais, de
gênero, de opção sexual, entre outras, é o resul-
Held, D. Modelos de democracia.
Belo Horizonte: Paideia, 1987. tado da incidência de práticas participativas que
constroem e modificam os valores sociais.
IV. Participar significa questionar o monopólio do
O modelo de sistema democrático apresentado pelo Estado como gestor da coisa pública, construir
texto pressupõe a: espaços públicos não estatais, abrir caminhos
a) consolidação da racionalidade comunicativa. para o aprendizado da negociação democrática
e afirmar a importância do controle social sobre
b) adoção dos institutos do plebiscito e do referendo. o Estado.
c) condução de debates entre cidadãos iguais e o
Estão corretas as afirmativas:
Estado.
a) II, III e IV, apenas.
d) substituição da dinâmica representativa pela cí-
vico-participativa. b) I, II e III, apenas.
e) deliberação dos líderes políticos com restrição da c) I, III e IV, apenas.
participação das massas. d) I, II, III e IV.

Não escreva no livro.


101
AMPLIANDO
Soberania do povo

Um dos grandes pressupostos de sociedades democráticas é o protagonismo atribuído à


população no que se refere à forma como o poder político se constitui e à sua legitimidade.
Não por acaso, o parágrafo único do Art. 1o da Constituição Federal de 1988 determina que
“todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição”.
O texto a seguir, de autoria do filósofo alemão Jürgen Habermas (1929- ), comenta o papel
protagonista do povo.

[…] A opinião pública, transformada em poder comunicativo segundo processos democráticos, não
pode “dominar” por si mesma o uso do poder administrativo; mas pode, de certa forma direcioná-lo.
O conceito de soberania do povo resulta da apropriação e da conversão republicana da ideia de sobe-
rania, oriunda dos tempos modernos, e que inicialmente era ligada ao governo absolutista. O Estado, que
monopoliza os meios da aplicação legítima da força, é tido como uma concentração de poder, capaz de
sobrepujar todos os demais poderes deste mundo. Rousseau transpôs essa figura de pensamento, que
remonta a Bodin, para a vontade do povo unido, diluiu-a com a ideia de autodomínio de pessoas livres e
iguais e a integrou no conceito moderno de autonomia. Porém, apesar desta sublimação normativa, o
conceito de soberania manteve a ideia de uma incorporação no povo (que, no início, se encontrava pre-
sente fisicamente). Ao passo que, na interpretação republicana, o povo, que deve estar presente ao me-
nos virtualmente, é o titular de uma soberania que não pode ser delegada por princípio, ou seja, o povo
não pode deixar-se representar em sua qualidade de soberana. O poder constituinte baseia-se na prática
de autodeterminação das pessoas privadas, não na de seus representantes. O liberalismo contrapõe a is-
so uma ideia mais realista, segundo a qual, no Estado democrático de direito, o poder do Estado, que
emana do povo, é exercitado “em eleições e convenções e através de órgãos especiais da legislação, do
poder executivo e do judiciário” […].
Habermas, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. v. 2, p. 23-24.

Ato durante

Pedro Ladeira/Folhapress
a Marcha das
Margaridas em
Brasília (DF). Foto
de 2019. A Marcha
das Margaridas é
uma manifestação,
que ocorre desde
o ano 2000, de
trabalhadoras
rurais pela melhoria
das condições de
trabalho e pela
garantia de
seus direitos.
Manifestações,
marchas e
atos públicos
são formas
constitucionalmente
protegidas pelas
quais o povo
reivindica sua
soberania e
pressiona as
instituições
políticas pelo
cumprimento da
vontade popular.

102
Paulo Guereta/Photo Premium/Folhapress

Hospital de Campanha
em São Paulo (SP).
Foto de 2020. Durante a
pandemia de covid-19,
foi necessário ampliar
rapidamente a rede de
hospitais com leitos
de unidades de terapia
intensiva (UTIs).
O financiamento desses
hospitais por empresas
privadas acelerou as
obras, o que pode ser
tomado como exemplo
de parceria entre a
iniciativa privada e a
sociedade em geral.

Para aprofundar o debate sobre as ideias de Habermas e também levar em consideração


as tensões entre os interesses coletivos e os interesses individuais, leia um trecho do texto
escrito por um comentador de Habermas, Jorge Adriano Lubenow, professor de filosofia da
Universidade Federal do Piauí.

A concepção de política deliberativa é uma tentativa de formular uma teoria da democracia a partir
de duas tradições teórico-políticas: a concepção de autonomia pública da teoria política republicana
(vontade geral, soberania popular), com a concepção de autonomia privada da teoria política liberal (in-
teresses particulares, liberdades individuais). Ela pode ser concebida, simultaneamente, como um meio-
-termo e uma alternativa aos modelos republicano e liberal. […] No entanto, embora o tema geral seja
o mesmo, há diferentes visões de democracia deliberativa, que conferem diferentes níveis dos processos
democráticos, e modos diferentes de compreender as fronteiras entre a autonomia privada e autonomia
pública. Embora não possamos prestar contas aqui das diferenciações internas pormenorizadas dessas
diferentes compreensões, há, por um lado, autores que buscam reformular internamente elementos do
modelo liberal de democracia, e por outro lado, há aqueles que refutam o paradigma liberal apresentan-
do novas alternativas. […] Mas, diferentemente de quem rejeita veementemente a tradição liberal, Ha-
bermas ainda busca conciliar as tradições liberal e republicana. No entanto, se a teoria deliberativa é
uma alternativa frente aos modelos liberal e republicano, o que ela introduz de novo? O modelo delibe-
rativo pode “fazer a diferença”? […]
Lubenow, Jorge Adriano. Esfera pública e democracia deliberativa em Habermas: modelo teórico e discursos críticos.
Kriterion, Belo Horizonte, v. 51, n. 121, p. 227-258, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-512X2010000100012&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 27 abr. 2020.

1. Com base nos excertos que você leu, reflita e responda: Que diferenciação Habermas
estabelece entre as perspectivas republicana e liberal no que se refere à forma pela qual
a soberania do povo se concretiza?

2. Como visto anteriormente, a Constituição Federal de 1988 foi elaborada no contexto de


redemocratização do Brasil após o regime ditatorial militar. Qual a importância de uma
garantia constitucional de soberania do povo nesse contexto?

3. Como você relaciona os dois contextos registrados nas imagens, tendo como base o
pensamento de Habermas?

4. Em sua opinião, o povo é realmente soberano no Brasil atual? Explique.

Não escreva no livro.


103
9
OS MOVIMENTOS
CAPÍTULO

POPULARES
De acordo com o capítulo anterior, para o filósofo Jacques Rancière e para o
» Competências e cientista político Cláudio Couto, os movimentos populares são essenciais para a
habilidades
transformação das estruturas de uma sociedade. Como a tendência das classes
CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB7, CGEB9 e CGEB10. que ocupam o poder é se manter nele, realizando a manutenção institucional de
CECHSA1: EM13CHS101 e suas posições, cabe às organizações populares reivindicar medidas que assegu-
EM13CHS105. rem a proteção de suas liberdades e o acesso a seus direitos, conforme defendido
CECHSA5: EM13CHS502, também por Jürgen Habermas. Dessa maneira, organizar-se para reivindicar trans-
EM13CHS503 e
EM13CHS504.
formações também é uma forma de participar da política em uma democracia.
CECHSA6: EM13CHS601, A Carta Magna de 1988 assegura uma série de direitos sociais que, na prática,
EM13CHS602 e ainda não são a realidade de uma parte considerável da população brasileira. Ob-
EM13CHS605.
serve os gráficos a seguir.
CECNT2: EM13CNT206 e
EM13CNT207.
CELT7: EM13LGG703 e POPULAÇÃO BRASILEIRA NA EXTREMA POBREZA (1992-2016)
EM13LGG704.

Gráficos: Adilson Secco/ID/BR


50 Extrema pobreza Pobreza
45,25
CEMT1: EM13MAT102. 45 41,81
40
Em milhões de pessoas

35
30
25 23,55
21,63
19,56
20
Fonte de pesquisa: 14,58 14,15
15
Envolverde. Disponível em: 9,97 9,97
10
https://envolverde.cartacapital. 5,16
com.br/com-o-aumento-da- 5
extrema-pobreza-brasil- 0
retrocede-dez-anos-em-dois/.
92

93
95
96

97
98

99

20 1
02

03
04

05
06

07
08

09

11
12

13
14

15
16
0

20

20
20

20
20

20
20

Acesso em: 23 abr. 2020.


19

20
19
19

19

20

20
19

19

20

20

20
19

20

BRASIL: DÉFICIT HABITACIONAL (2007-2017) BRASIL: TAXA DE PESSOAS QUE NÃO


SABEM LER OU ESCREVER (2016)
10
9 (%)
7,76 7,53 7,78 25
7,36 7,56
Em milhões de unidades

8 7,26 7,33
6,76 6,88 6,75 20,4
7 20
6
5 15 12,3
4
10 7,7 8,8
3 7,2
2 5
1
0 0
2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 15 anos 18 anos 25 anos 40 anos 60 anos
ou mais ou mais ou mais ou mais ou mais

Fonte de pesquisa: O Estado de S. Paulo, 6 jan. 2019. Fonte de pesquisa: IBGE. Pnad Contínua 2017. Disponível em: https://
Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/ biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101576_informativo.pdf.
geral,deficit-habitacional-e-recorde-no- Acesso em: 23 abr. 2020.
pais,70002669433. Acesso em: 25 abr. 2020.

1. Os gráficos evidenciam o desrespeito a quais direitos sociais assegurados


pela Constituição de 1988?
2. Você vivencia, já vivenciou ou conhece pessoas que vivenciam o desrespeito
a algum desses direitos? Como isso pode prejudicar a vida dessas pessoas?
Compartilhe suas impressões com a turma.
3. Quais medidas você acha que poderiam ser tomadas para solucionar os pro-
blemas sociais apresentados nos gráficos? Elabore uma lista coletiva de ações
com a turma.

Não escreva no livro.


104
ÉTICA E MOVIMENTOS POPULARES
A situação apresentada na página anterior aborda alguns dos direitos sociais
garantidos pela Constituição Cidadã que ainda não são acessíveis para muitos
brasileiros. Trata-se de um problema complexo, que tem dimensões materiais,
uma vez que os indivíduos são materialmente prejudicados pela falta de políticas
para que o acesso aos direitos sociais seja garantido a todos os cidadãos, e ideo-
lógicas, pois envolve questionamentos relacionados à política e à ética, entre ou-
tras áreas. Uma das respostas da sociedade ao desrespeito aos direitos sociais
assegurados pela Constituição é a organização de movimentos sociais que pres-
sionam as instituições a empreender mudanças estruturais, conforme analisado PARA EXPLORAR
no caso do movimento Diretas Já. » Café com Sociologia – Con-
Nas Ciências Humanas e Sociais, há um campo de estudo denominado ético- juntura dos movimentos so-
-política, em que os pesquisadores que se dedicam a ele buscam analisar e refle- ciais e ações coletivas
tir sobre questões que se relacionam simultaneamente com a ética e com a polí- Para aprofundar seus conheci-
mentos sobre o potencial dos
tica. Justiça, igualdade, liberdade e solidariedade são alguns dos valores éticos
movimentos sociais e seus im-
que guiam a nossa sociedade, portanto, uma pergunta que pode ser respondida pactos no cotidiano, ouça o epi-
por intelectuais desse campo é: As políticas do Estado brasileiro garantem que sódio 006 do podcast Café com
todos os cidadãos possam acessar níveis igualitários de justiça e liberdade? Sociologia, do sociólogo e pro-
O filósofo estadunidense John Rawls (1921-2002) é considerado um dos prin- fessor da Universidade Federal
cipais pensadores da ético-política, especialmente acerca dos conceitos de justi- do Alagoas (Ufal), Cristiano das
ça e de direitos dos povos. Já o sociólogo francês Alain Touraine (1925-) dedica-se Neves Bodart. Disponível em:
https://cafecomsociologia.com/
ao estudo dos movimentos sociais na sociedade contemporânea, principalmente
ep006-cafe-com-sociologia-
nas comunidades ocidentais que vivenciaram as Revoluções Industriais. No tex- conjuntura-dos-movimentos-
to a seguir, a cientista política brasileira Maria Gohn (1947-) mobiliza conceitos sociais-e-acoes-coletivas/.
desses dois pensadores para apresentar definições sobre os movimentos sociais. Acesso em: 20 abr. 2020.

[…] Nós os encaramos como ações sociais coletivas

Mario Bands. Fotografia: Bruno C. Dias/Abrasco


de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas
distintas de a população se organizar e expressar suas
demandas […]. Na ação concreta, essas formas adotam
diferentes estratégias que variam da simples denúncia,
passando pela pressão direta (mobilizações, marchas,
concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída,
atos de desobediência civil, negociações etc.) até as pres-
sões indiretas. Na atualidade, os principais movimentos
sociais atuam por meio de redes sociais, locais, regionais,
nacionais e internacionais ou transnacionais, e utilizam-
-se muito dos novos meios de comunicação e informação,
como a internet […].
[…] Concordamos com antigas análises de [Alain]
Touraine, em que afirmava que os movimentos são o coração, o pulsar da sociedade. Grafite para a campanha Manifesto
pela democracia, Rio de Janeiro (RJ).
Eles expressam energias de resistência ao velho que oprime ou de construção do no- Foto de 2016.
vo que liberte. Energias sociais antes dispersas são canalizadas e potencializadas por
meio de suas práticas em “fazeres propositivos”.
Os movimentos realizam diagnósticos sobre a realidade social, constroem propos-
INTERAÇÃO

tas. Atuando em redes, constroem ações coletivas que agem como resistência à ex-
clusão e lutam pela inclusão social. […] Ao realizar essas ações, projetam em seus 1. Quais características da
imagem você consegue
participantes sentimentos de pertencimento social. Aqueles que eram excluídos pas-
relacionar com a defini-
sam a se sentir incluídos em algum tipo de ação de um grupo ativo.
ção de movimento so-
Gohn, Maria da Glória. Movimentos sociais na contemporaneidade. cial proposta por Gohn?
Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 47, p. 335-336, 2011. Disponível em: Comente suas percep-
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020.
ções com os colegas.

Não escreva no livro.


105
A QUESTÃO AGRÁRIA
Durante a Assembleia Constituinte que deu origem à Carta Magna de 1988, os
movimentos que defendiam a reforma agrária foram essenciais para popularizar
o debate sobre ela, uma reivindicação no Brasil que começou a dar seus primei-
ros passos no período da abolição, no final do século XIX.
A questão fundiária no Brasil, no entanto, tem suas origens ainda no período
colonial, como analisado na unidade anterior. Desde que Portugal colocou em
marcha seu projeto de colonização, os povos indígenas que ocupavam o território
foram expulsos, perseguidos e, muitas vezes, assassinados. Assim, a luta das co-
munidades indígenas pelo reconhecimento institucional da posse de suas terras
é um fato constante na história do Brasil.
O início do período colonial também foi marcado pela distribuição de latifún-
dios a alguns poucos nobres, as capitanias hereditárias. Com o fracasso desse
modelo, as capitanias foram divididas em sesmarias e doadas a empresários que
estavam dispostos a viver no chamado Novo Mundo. Ainda assim, considerando
a extensão territorial das sesmarias, eram áreas muito vastas.
Desde então, a posse de latifúndios por pequenos grupos, a chamada oli-
garquia agrária, se consolidou como estrutura fundiária no Brasil. De acordo
com o Censo Agropecuário, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE):

Em 2017, havia 2 mil latifúndios em nosso país. Juntos, eles ocu-


pam uma área superior a 44,8 milhões de metros quadrados.

Propriedades
rurais com:

• até 50 hectares • com mais de 10 mil hectares


(equivalentes a 500 mil metros (equivalentes a 14 mil campos de
quadrados ou 70 campos de futebol) futebol ou mais)

• 81,3% dos • 0,04% das propriedades


estabelecimentos rurais do país
agropecuários • 14,8% das terras
produtivas
• 12,8% das terras
produtivas

Fonte de pesquisa: IBGE. Censo Agropecuário 2017. Disponível em: https://censos.ibge.gov.br/


agro/2017/templates/censo_agro/resultadosagro/estabelecimentos.html. Acesso em: 22 jul. 2020.

A posse de grandes extensões de terras por poucas pessoas implica a dimi-


nuição do acesso à terra pela população historicamente pobre, que não tem con-
dições de comprar terrenos dos grandes proprietários.
A concentração de terras nas mãos de um pequeno grupo também traz ques-
tões sociais e ambientais, como a escolha dos gêneros que serão produzidos, se
esses gêneros serão para o consumo interno ou para exportação, as áreas que
serão desmatadas, o salário dos trabalhadores dessas grandes extensões de ter-
ras, entre outras.
Apesar de existirem, atualmente, legislações que protegem os trabalhadores
rurais e as áreas verdes do país, a fiscalização do governo enfrenta problemas
devido às grandes extensões das propriedades rurais.

Não escreva no livro.


106
Movimentos pelo acesso à terra
No início do capítulo, foram analisados dados sobre moradia, educação e
alimentação. Esses aspectos sociais se relacionam, de diferentes formas, à
questão do acesso à propriedade da terra. Ter moradia digna, acesso a escolas
nas proximidades de onde se vive e acesso a alimentos variados e de qualida-
de integram, de modo direto ou indireto, os direitos sociais assegurados pela
Constituição de 1988.
As classes políticas brasileiras, contudo, agiram muitas vezes de maneira con-
trária aos anseios da maioria da população, optando pela manutenção das estru-
turas que dão base e sustentam continuidades das desigualdades sociais entre
os brasileiros. Mas a população civil, por sua vez, também se organiza para rei-
vindicar ações efetivas que resultem na justiça social, conceito essencialmente
relacionado aos direitos humanos, os quais alegam que nenhum ser humano de-
ve ter uma vida sub-humana.
No Brasil, a luta pela reforma agrária integrou até mesmo organizações da
Igreja católica, principalmente aquelas ligadas à teologia da libertação, uma cor-
rente do pensamento católico que propõe a reflexão sobre os ensinamentos de
Jesus Cristo, visando à libertação das injustiças econômicas, políticas e sociais.
Trata-se de uma corrente que surgiu na década de 1970, na América Latina, e te-
ve grande repercussão nas organizações campesinas brasileiras, mesmo duran-
te o regime militar.
Veja a seguir a análise da cientista política brasileira Rossana Rocha Reis
sobre o tema.

A conexão que foi sendo construída, a partir da atuação da Igreja, entre o Estado
autoritário e a violência cometida contra os camponeses no Brasil e a caracterização
dos conflitos rurais utilizando a linguagem de direitos humanos permitiram aos di-
versos grupos […] furar o bloqueio construído pelo Estado e construir uma base de
apoio não apenas através do contato com ONGs transnacionais ligadas à Igreja Ca-
tólica, como também junto a organizações de direitos humanos locais e transnacio-
nais. A atenção dessas últimas já estava em grande parte voltada para a América La-
tina entre os anos 1970 e 1980, mas até então ela era dirigida primordialmente ao
problema das perseguições políticas dos regimes autoritários. O ativismo da Igreja,
sobretudo no Norte e Nordeste, deu impulso à criação de diversas associações de
proteção aos direitos humanos, a partir da constatação dos altos níveis de violência
e impunidade presentes nos conflitos rurais no Brasil.
Reis, Rossana Rocha. O direito à terra como um direito humano: a luta pela reforma agrária e o
movimento de direitos humanos no Brasil. Lua Nova, São Paulo, n. 86, p. 89-122, 2012.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64452012000200004&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15 jun. 2020.
INTERAÇÃO

Retome o esquema da página anterior, relacione-o às reflexões propostas


no texto e responda:
1. Como Rossana Reis relaciona os movimentos pelos direitos humanos com
a luta pelo acesso à terra?
2. Que relação você consegue estabelecer entre a situação exposta no es-
quema e o Estado autoritário ao qual o texto faz referência?
3. No município onde você mora, como são organizadas as propriedades
rurais? Elas são consideradas latifúndios ou pequenas propriedades?
Faça uma pesquisa em publicações impressas e/ou digitais das caracte-
rísticas dessas propriedades e, depois, compartilhe suas descobertas
com a turma.

Não escreva no livro.


107
Principais movimentos organizados praias por gerações. Conheça um desses movimentos
na imagem 2.
Conforme analisado nas unidades anteriores, os mo-
Além do reconhecimento da posse de territórios tradi-
vimentos pelo acesso à terra no Brasil têm início com os
povos indígenas, as primeiras comunidades alienadas da cionalmente ocupados, há também movimentos organi-
posse do território, antes mesmo da consolidação da ideia zados por trabalhadores rurais. Trata-se de um dos gru-
de Brasil como um Estado. pos mais vulneráveis em nossa sociedade, pois, além de
Os movimentos dos povos indígenas se organizam de estarem expostos aos desmandos dos latifundiários, ha-
diversas formas e em diferentes frentes, de acordo com bitam regiões menos povoadas e mais isoladas, com me-
suas tradições: organizações locais, instituídas em cada nos infraestrutura que os centros urbanos e menos fis-
aldeia ou pela união de um grupo de aldeias; organiza- calizações trabalhistas, podendo se tornar vítimas de
ções interestaduais; organizações transnacionais, ou se- trabalhos análogos à escravidão.
ja, aquelas que extrapolam as fronteiras nacionais, como Historicamente, o Brasil, desde o período colonial, é um
mostra a imagem 1 desta página. grande exportador de gêneros agrícolas. Paradoxalmente,
As comunidades de remanescentes quilombolas que apesar de o trabalhador rural ser aquele que lida com a ter-
ocupam áreas rurais também se organizam para buscar ra para produzir esses gêneros, ele dificilmente tem a posse
o reconhecimento de seus territórios, pois, assim como os de territórios, inclusive para moradia, o que o torna ainda
povos indígenas, elas ocupam determinadas terras du- mais dependente dos latifundiários. Uma maneira de rei-
rante séculos e, por isso, têm direitos de propriedade. vindicar a reforma agrária e fortalecer a ação política desse
Atualmente, existem movimentos locais e nacionais grupo foi a criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais
para que as terras de comunidades ribeirinhas e caiça- Sem Terra (MST), em 1984, no contexto de abertura política.
ras também sejam reconhecidas e a posse garantida a Trata-se de um dos movimentos sociais mais signifi-
elas, já que ocupam imediações de determinados rios e cativos do Brasil atual, como mostra a imagem 3.

Câmara Municipal de Ilhabela


Pedro Ladeira/Folhapress

1 2

Indígenas de várias etnias e de diversas regiões do Brasil em Criação do Conselho das Comunidades Tradicionais, em Ilhabela (SP).
frente ao Congresso Nacional, em Brasília (DF). Foto de 2019. Foto de 2019. O projeto de lei foi elaborado pelos caiçaras.

Luciana Whitaker/Pulsar Imagens


3

Turma multisseriada do Ensino


Fundamental no assentamento
Mocambo do MST, em Vitória da
Conquista (BA). Foto de 2019.

108
Movimentos no contexto urbano
Além dos movimentos sociais no contexto ru-
ral, há também movimentos sociais nas áreas
urbanas de nosso país, que surgiram de acordo
com o desenvolvimento dos centros urbanos.
Como no Brasil não existe uma tradição signifi-
cativa em relação ao planejamento das cidades,
1

Danilo M Yoshioka/Futura Press


embora isso seja facilmente observável em ci-
dades como Brasília, Belo Horizonte e Curitiba,
entre outros municípios, a maioria dos centros
urbanos foi crescendo desordenadamente à me-
dida que passaram a concentrar as principais
atividades econômicas de uma região ao longo
do tempo.
Esses processos de crescimento variam con-
forme a região e o setor ou os setores econômi-
cos em desenvolvimento. O que há em comum
nesses processos é que o aumento populacio-
nal não acompanha o crescimento da infraes-
trutura, como vias pavimentadas e seguras,
oferta de água potável e esgoto encanado, co-
leta de lixo, transporte público de qualidade e
moradias dignas.
À medida que mais trabalhadores se deslocam
para as áreas que concentram as oportunidades
de emprego, aumenta também a procura por imó-
Manifestação organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL)
veis nessas regiões, que, em razão da demanda,
contra o aumento na tarifa do transporte público, em São
se tornam mais caros. Por causa do alto custo dos Paulo (SP). Foto de 2019.
imóveis, os recém-chegados passam a procurar
habitações mais distantes desses centros, depen-
dendo mais dos meios de transporte para chegar
ao trabalho ou se submetendo a moradias impro-
2

Franklin de Freitas/Folhapress
visadas ou inseguras.
Com essa conjuntura, os movimentos urbanos
de maior adesão costumam ser aqueles que rei-
vindicam moradia digna, direitos trabalhistas e
melhorias no transporte público. Há também mo-
vimentos pela ampliação da oferta de saúde, de
educação e de segurança, demanda relativa à in-
fraestrutura que nem sempre é garantida às re-
giões periféricas, ferindo os direitos sociais asse-
gurados pela Constituição.
Nesta e na próxima página, vamos conhecer
as temáticas dos movimentos urbanos de dife-
rentes cidades do Brasil e também do mundo, as-
sim como suas principais reivindicações, que vão
Imagem de fundo: rob zs/Shutterstock.com/ID/BR

desde questões sobre infraestrutura, como as


discutidas neste texto, até questões constitucio-
nais, especialmente sobre os direitos sociais. No-
te que os protestos são um dos principais meca-
nismos de ação desses movimentos. Por se tratar
de áreas urbanas, eles trazem mais impacto, for- Assembleia de estudantes do Movimento Ocupa Paraná, em
Curitiba (PR). Foto de 2016. Os integrantes do movimento
çando o governo a agilizar negociações para nor- protestam contra as medidas anunciadas pelo governo federal
malizar os fluxos de pessoas na cidade e também para a reforma do ensino e o congelamento de investimentos
na Educação.
de conter os manifestantes.

Não escreva no livro.


109
NurPhoto via Getty Images

Nicolas Tucat/AFP
3 4

A ativista sueca Greta Thunberg discursa sobre mudanças Manifestantes do Movimento Colete Amarelo na França.
climáticas na Itália. Foto de 2019. Foto de 2019.

Ivan Abreu/SOPA Images/LightRocket/Getty Images

Stephen Eisenhammer/Reuters/Fotoarena
5 6

Manifestantes com guarda-chuvas participam da Marcha Global Manifestantes protestam contra a corrupção em Angola.
Anti-Totalitarismo em Hong Kong. Foto de 2019. Foto de 2018.
Marcelo Hernandez/Getty Images

Erik McGregor/Pacific Press/LightRocket/Getty Images


7 8

Imagem de fundo: rob zs/Shutterstock.com/ID/BR

Manifestantes protestam por uma nova Constituição para o Ativistas do Occupy Wall Street no centro comercial de Nova
Chile. Foto de 2018. York, Estados Unidos. Foto de 2018.
INTERAÇÃO

1. Você participa ou conhece algum movimento social? Comente sua expe-


riência com a turma.
2. Algum dos movimentos representados apresenta causas as quais você
apoiaria? Explique.

Não escreva no livro.


110
CIBERATIVISMO
A organização é uma etapa essencial

Domingos Peixoto/Agência O Globo


para as ações dos movimentos sociais. Ge-
ralmente, ela ocorre durante reuniões dos
membros, após um período de estudos rea-
lizados pelas pessoas envolvidas acerca
da questão que será reivindicada. Durante
os atos públicos dos movimentos, mais gru-
pos acabam se envolvendo, sendo atraídos
pelas pautas coletivas ou por interesses
particulares consonantes com os dos ma-
nifestantes. Trata-se de outra característi-
ca dos movimentos sociais que ocorrem
nas cidades: como a circulação de pessoas
é grande, os movimentos ficam expostos
a mais cidadãos.
A partir da década de 1990, com o ad-
vento da internet, há o surgimento de ou- As redes sociais têm papel importante
tras modalidades de protestos, manifestações e organização de movimentos so- na organização de passeatas pelos
ciais, que culminaram no uso das redes sociais digitais. Pela facilidade e rapidez movimentos sociais. Na foto,
manifestantes no Rio de Janeiro (RJ),
de contatar pessoas e também de divulgar causas e eventos, as diferentes redes em 2016.
sociais e comunicadores de mensagens eletrônicas passaram a figurar como me-
canismo para manifestação de ideais, pautas e informações sobre o governo. Por
meio de fóruns, grupos e comunidades, os manifestantes compartilham textos
informativos, realizam debates e assembleias, organizando, assim, os movimen-
tos, que podem chegar às ruas, à entrega de abaixo-assinados às autoridades e
também a ações mais individuais, como boicote a marcas e/ou a produtos consi-
derados danosos para a sociedade.
Uma crítica feita a esse tipo de organização e manifestação é que nem sempre
ele se desdobra em ações fora dos ambientes virtuais, ficando restrito à ação nas
redes digitais. Nesse caso, os movimentos são chamados pejorativamente de “ati-
vismo de sofá”.
Há diversos cientistas sociais que estudam o fenômeno do ciberativismo. Co-
nheça, a seguir, uma tipologia desse tipo de movimento.

[Stefan] Wray (1998) classifica três formas de ativismo na internet: ativismo com-
putadorizado, desobediência eletrônica civil e hackeamento politizado. O ativismo
computadorizado é fruto de uma interseção entre movimentos sociais políticos com
a comunicação mediada pelo computador. […] O ativismo computadorizado em um
nível mais profundo, isto é, para além do compartilhamento de informações e do diá-
logo entre ativistas, é a “infoguerra”, na qual a internet é utilizada para incitar a ação
em escala global.
A desobediência civil eletrônica é uma forma de ação direta e descentralizada, no
meio eletrônico, que promove o bloqueio virtual de sites. […]
Já o hackeamento politizado é uma forma de ação política diferente das anterio-
res, pois não envolve mobilização e participação. Ao contrário disso, depende do ano-
nimato de seus membros e muitas vezes pode ser realizada individualmente. Outra
diferença entre o hacktivismo politizado e a desobediência civil é que, enquanto esta
última opera em áreas ambíguas da lei, o hacktivismo muitas vezes é inquestionavel-
mente ilegal […].
AlcântArA, Lívia Moreira de. Ciberativismo e movimentos sociais: mapeando discussões. Aurora:
revista de arte, mídia e política, v. 8, n. 23, p. 81, 2015. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/aurora/article/view/22474/18888. Acesso em: 21 abr. 2020.

Não escreva no livro.


111
ATIVIDADES

1 Retome os gráficos da abertura do capítulo e faça


uma análise mais aprofundada deles, com base em Terra do Meio, coração do Pará, que o grupo CR Al-
pesquisas e em seus conhecimentos e percepções. meida, do empresário Cecílio do Rego Almeida, rei-
a) Identifique as tendências de cada gráfico. vindica para si.
b) Depois, busque quais medidas estão sendo to- Fonte: Fabiana Vezzali – Repórter Brasil, jul. 2006.
madas pelo governo atual em cada um dos três
setores apresentados. Você pode escolher uma
dimensão do governo para realizar a pesquisa
Com base nesse texto, faça o que se pede.
(municipal, estadual ou federal).
a) Relacione esse tipo de propriedade e o problema
c) Verifique, por meio de publicações impressas
da migração rural-urbano.
e/ou digitais, se as medidas se efetivaram em
melhorias para a sociedade, verificando as taxas b) Identifique um reflexo social derivado da concen-
mais recentes para o déficit de moradia, os índices tração de terras em nosso país.
de instrução da população e a porcentagem da
população em extrema pobreza.
d) Reflita: A ação dos movimentos sociais voltados Uma parte considerável dos novos ativistas já com-
para questões como acesso à moradia digna, pareceu a protestos e a encontros presenciais, mas há
erradicação da fome e educação de qualidade muitos que se manifestam exclusivamente na Internet
ainda é necessária no Brasil? Considere as pes- sob a forma de textos, hashtags e vídeos. E o volume
quisas e análises que você realizou para justificar de informação produzido por eles sinaliza a centralida-
sua resposta.
de que a política assumiu no dia a dia dos brasileiros.

2 Retome os movimentos sociais apresentados nas (Adaptado de: Cirne, S. Somos todos ativistas.
páginas 108, 109 e 110. Galileu, abr. 2016. p. 41.)

a) Escolha um dos movimentos, de acordo com suas


afinidades, e realize uma pesquisa sobre ele em
publicações impressas e/ou digitais. 4 (UEL) Leia o texto a seguir.
b) Selecione os materiais que mais evidenciam os As formas de ativismo on-line e off-line, no Brasil,
objetos e projetos do movimento escolhido. Apro- demonstram a emergência, na sociedade civil, de novos
veite também para pesquisar imagens de ações atores políticos, que se articulam por meio de ações
do movimento e anotar as fontes de pesquisa. coletivas em rede. Com base no texto e nos conheci-
mentos sobre as recentes formas de mobilização dos
c) Elabore uma dissertação a respeito do movimen-
atores da sociedade civil, assinale a alternativa correta.
to investigado. Relate também a sua opinião
sobre ele e os motivos pelos quais você o escolheu a) As ações coletivas em rede podem ser compara-
para a pesquisa. das aos movimentos sindicais brasileiros da dé-
cada de 1970, por adotarem práticas de organi-
d) Leia seu texto para a turma e ouça os textos dos
zação e de mobilização em defesa da esfera
colegas para conhecer melhor os outros movi-
privada contra a opressão estatal.
mentos.
b) As manifestações políticas organizadas em redes
3 (UFVJM) Leia este texto. de movimentos caracterizam-se pela participação
de diversos grupos e de múltiplos atores imersos
na vida cotidiana, com militância parcial e efêmera.
A raiz da desigualdade social está na concentra- c) O atual ativismo político no Brasil, a exemplo do
ção de terras rurais nas mãos de poucas famílias ou mundo, mobiliza entidades e organizações ideo-
empresas. Cerca de 3% do total das propriedades ru- logicamente unificadas e com práticas comuns
rais do país são latifúndios, ou seja, tem mais de mil no mercado, a fim de obter vantagens coletivas
trabalhistas e salariais.
hectares e ocupam 56,7% das terras agriculturáveis
– de acordo com o Atlas Fundiário do Instituto Na- d) O ciberativismo, na contemporaneidade, envolve,
cional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em
como no passado, a mobilização das grandes
classes e a afirmação do movimento operário
outras palavras, a área ocupada pelos estados de São
como principal protagonista das transformações
Paulo e Paraná juntos está nas mãos dos 300 maiores
socioeconômicas.
proprietários rurais, enquanto 4,8 milhões de famílias
e) Os sujeitos dos movimentos favoráveis às políti-
estão à espera de chão para plantar. Um dos exem-
cas neoliberais, na atualidade brasileira, organi-
plos do grau de concentração de terras em nosso país
zam-se em rede para a defesa da intervenção e
é a área de 4,5 milhões de hectares, localizada na da regulação da economia e das relações de tra-
balho, pelo Estado.

Não escreva no livro.


112
PRÁTICAS DE TEXTO
Escrita de biografia
XXXX

Proposta Planejamento e elaboração


A biografia apresenta fatos relevantes da vida de 1. Defina sobre quem você vai escrever, peça auto-
uma pessoa que tenha se destacado socialmente por rização a essa pessoa e convide-a para uma en-
suas ações, ideias, habilidades, etc. Esse gênero lite- trevista com o objetivo de coletar dados sobre
rário também pode ser uma fonte de dados consisten- a vida dela.
te para o estudo de determinado período histórico.
2. Elabore um questionário sobre a vida da pessoa
Alunos de outras turmas e de outra biografada. Pergunte seu nome completo e peça
Público a ela que conte onde e quando nasceu, onde pas-
comunidade escolar.
sou a maior parte de sua vida e os pontos relevan-
Objetivo Elaborar a biografia de uma pessoa. tes de sua trajetória.

Circulação Comunidade escolar e redes sociais. 3. Anote ou grave a entrevista para utilizar os da-
dos obtidos na biografia. Além disso, pesquise
O trecho a seguir faz parte da biografia do jogador de dados históricos do período no qual se situam os
futebol Sócrates. Além de sua relevância na história do fatos relatados pela pessoa biografada para con-
futebol brasileiro, Sócrates teve um papel importante no textualizar, em seu texto, o momento retratado.
movimento Diretas Já.
4. A biografia deve conter estes elementos:
• título com o nome pelo qual a pessoa biografada
é conhecida;
Domicio Pinheiro/Estadão Conteúdo

• apresentação da pessoa biografada, incluindo


dados pessoais, como nome completo, local e da-
ta de nascimento,
• informações relevantes e contextualização his-
tórica do período em que os fatos ocorreram.

Revisão e reescrita
1. Releia seu texto, observando os aspectos a seguir.

O texto contém título e uma apresentação


Sócrates na época da Democracia Corinthiana, em 1982. inicial do(a) biografado(a)?

Na noite do dia 25 de abril de 1984, enquanto o Co-


O texto relata de forma objetiva os
rinthians entrava em campo, sem Sócrates, para enfren-
acontecimentos da trajetória do(a) biografado(a)?
tar o Atlético Paranaense, no Morumbi, em São Paulo, o
país se mobilizara para o grande acontecimento do ano:
O texto está coerente, bem organizado e sem
a votação da emenda Dante de Oliveira. A boa notícia no
erros que possam prejudicar a compreensão?
campo – o Corinthians venceu o jogo com dois gols de
Casagrande e se classificou para pegar o Flamengo nas
quartas de final – não se estendeu para a política: a emen- 2. Faça as alterações que considerar necessárias e
da das Diretas era derrotada por falta de quórum (112 de- digite a versão final do texto.
putados não compareceram à votação) na Câmara Fe-
deral. Sócrates chorou de raiva e desabafou à imprensa.
Circulação
“[…] Na próxima a gente muda esse Congresso de sur-
dos, cegos e mudos. A mobilização vai continuar […]”. 1. Imprima cópias de seu texto e combine com os
cARdoso, Tom. Sócrates. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. E-book. colegas uma forma de divulgar as biografias es-
critas pela turma.

Não escreva no livro.


113
PRÁTICAS DE PESQUISA

Democracia em xeque

Para começar
Nesta unidade, estudamos os significados de autoritarismo e democracia no
contexto da história brasileira da segunda metade do século XX até os dias de
hoje, compreendendo a importância dos movimentos sociais para a construção e
a estabilidade da democracia.
Após o final da Guerra Fria, os regimes democráticos predominaram em mui-
tos países do mundo, ainda que alguns se mantivessem sob regime autoritário.
Contudo, no presente, estudiosos têm detectado uma mudança de cenário em
grande parte do mundo ocidental: a democracia liberal tem sido questionada por
uma corrente política denominada extrema direita e líderes que representam es-
se pensamento têm ascendido ao poder. Nesta seção, faremos uma análise em
jornais e revistas para entender como esse fenômeno tem sido visto pela mídia
tradicional, utilizando, para isso, a análise de discurso multimodal.

Emmanuel Dunand/AFP
Victor Orban, primeiro-
-ministro da Hungria, é um
dos líderes de extrema
direita que chegou ao
poder. Em mais de dez
anos no cargo, Orban
promoveu a fragilização
das instituições do Estado
democrático na Hungria.
Na foto, o governante
discursa no Parlamento da
União Europeia, na
Bélgica, em 2017.

O problema
O mundo vivencia um momento de questionamento da democracia liberal
e de ascensão ao poder de líderes de extrema direita, com inspiração autoritá-
ria. Que países têm líderes desse tipo e que ações os caracterizam? Como di-
ferentes jornais e revistas informam sobre essas ações e como se posicionam
diante delas?

A investigação
• Prática de pesquisa: análise de mídias tradicionais (princípios de análise de
discurso multimodal)

Material
• Folhas para anotações, lápis e caneta
• Computador com acesso à internet
• Jornais e revistas impressos

Não escreva no livro.


114
Procedimentos rapidamente ou ele parece bem denso? O tipo de or-
ganização do texto incentiva a leitura?

Parte I – Planejamento 3 Analisem o texto escrito: As palavras usadas são sim-


ples ou complexas? Há uso de adjetivos para qualifi-
1 Organizem-se em grupos de quatro ou cinco inte- car as informações? Há ênfase ou repetição de ter-
grantes.
mos? Há muitos subtítulos? O texto é formal ou
informal? O texto traz apenas informações ou também
2 Procurem, em jornais e/ou revistas impressos, notícias traz opiniões? As opiniões são do(a) autor(a) do texto
ou reportagens recentes que tenham relação com o ou aparecem em entrevistas e referências a terceiros?
tema da pesquisa. Cada grupo deve trabalhar com pe- O texto apresenta, explícita ou implicitamente, julga-
lo menos três notícias ou reportagens publicadas em
mentos de valor?
três jornais ou revistas diferentes.
4 Agora, discutam sobre como cada jornal ou revista que
Parte II – Levantamento de artigos vocês analisaram informa e se posiciona sobre o as-
sunto pesquisado: Dá destaque ao tema ou o trata de
1 Consultem as versões impressas dos jornais ou das maneira superficial? Parece ser favorável, desfavorá-
revistas em sua totalidade. Essa etapa é importan- vel ou não se posiciona? Que elementos do discurso,
te porque o objetivo da pesquisa é investigar a for- considerando todos os elementos presentes na ma-
ma de veicular informações e o posicionamento de téria, comprovam a opinião de vocês?
cada revista ou jornal consultado.
5 Elaborem um relatório com as considerações do gru-
2 É importante ter contato com a obra inteira. Se não po para cada matéria analisada. Comecem esse rela-
houver essa possibilidade, procurem na internet as tório reproduzindo as informações da ficha de leitura
versões on-line desses veículos de comunicação, e, em seguida, redijam um texto com as conclusões do
mas busquem versões completas. Evitem fazer a grupo e os argumentos que as sustentam.
pesquisa por meio de buscas na internet. Se fize-
rem isso, vocês só terão contato com notícias ou re-
portagens isoladas – o que não garante que o texto Questões para discussão
tenha sido publicado em um jornal ou revista com
versão impressa, perdendo a noção do conjunto.
1. Que desafios vocês encontraram durante a realização
desse tipo de pesquisa (análise de mídias tradicionais)?
3 Dividam as matérias entre os integrantes do grupo, O que foi mais fácil e o que foi mais difícil?
de modo que cada um faça, individualmente, a leitura
de uma delas e elabore uma ficha para a matéria lida. 2. Como a ascensão dos líderes de extrema direita é
Na ficha, deve constar: apresentada nas matérias jornalísticas? É possível
indicar uma posição predominante entre os veículos
• o veículo e a data nos quais a matéria foi publicada; de comunicação analisados?
• o título da matéria e o(a) autor(a);
3. O que os vocês aprenderam sobre as características
• o assunto da matéria;
do populismo de direita? De que maneira se posicio-
• um resumo com as ideias principais do texto. nam em relação a ele?

4 Combinem um encontro do grupo para que cada inte-


grante apresente sua ficha. Em seguida, vocês vão Comunicação dos resultados
realizar as análises de discurso de cada matéria.
Para que o resultado das pesquisas realizadas por vo-
cês possa ser conhecido por mais pessoas, organizem um
Parte III – Análise das fontes
debate com as outras turmas da escola que realizaram
1 Observem os elementos visuais: O texto ocupa muito essa mesma pesquisa.
ou pouco espaço na página? A maneira como está dis- Cada turma deve apresentar seus resultados às outras,
posto chama a atenção do leitor? Que tipos de ima- explicando suas conclusões e seus argumentos. O obje-
gem o acompanham? Qual a função delas? tivo do debate não é chegar a uma conclusão em comum,
mas trocar ideias. Dessa maneira, é importante ter clare-
2 Verifiquem a forma como o texto é diagramado: Os za na exposição das opiniões e dos argumentos e respei-
parágrafos são longos ou curtos? É possível lê-lo tar o posicionamento dos colegas.

Não escreva no livro.


115
DEMOCRACIA
BRASILEIRA: DESAFIOS

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
DESENVOLVIDAS NA UNIDADE

Competências gerais:
CGEB1, CGEB2, CGEB3, CGEB4,
CGEB5, CGEB7, CGEB8, CGEB9 e
CGEB10.

Competências específicas e
habilidades das áreas:
CECHSA1: EM13CHS101,
EM13CHS103, EM13CHS104 e
EM13CHS106.
CECHSA5: EM13CHS501,
EM13CHS502, EM13CHS503 e
ORGANIZAR IDEIAS

Apesar das dificuldades econômicas e sociais enfrentadas


EM13CHS504.
nos últimos anos, o Brasil obteve avanços significativos em
CECHSA6: EM13CHS601,
EM13CHS603, EM13CHS605 e termos sociais nas últimas três décadas. A Constituição de
EM13CHS606. 1988 teve um papel fundamental nesse período, contudo, há
CECNT1: EM13CNT104. ainda um longo caminho a ser percorrido para que o país me-
CECNT3: EM13CNT310. lhore ainda mais seus indicadores sociais.
CELT1: EM13LGG101,
EM13LGG102 e EM13LGG104. 1. Como os avanços sociais implementados no Brasil nas
CEMT1: EM13MAT102. últimas décadas fazem parte do nosso cotidiano? Explique.
CEMT4: EM13MAT406 e 2. Por que é importante estabelecer metas de melhoria dos
EM13MAT407.
índices sociais?

116
Unidade

4
Direitos sociais 10

Múltiplos desafios 11

Possibilidades de futuro: a periferia 12

rafapress/Shutterstock.com/ID/BR

Mulher lê seus direitos


no livro da Constituição
de 1988. Foto de 2019.

117
10
DIREITOS
CAPÍTULO

SOCIAIS
A Constituição Federal de 1988 tem como um de seus principais fundamentos
» Competências e a “dignidade da pessoa humana”, que é assegurada, sobretudo, pelos direitos so-
habilidades
ciais, isto é, os direitos que o Estado se obriga a garantir de forma igualitária a to-
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
CGEB9 e CGEB10. dos os cidadãos. Os direitos sociais previstos na Constituição são: educação, saú-
CECHSA1: EM13CHS101. de, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social,
CECHSA5: EM13CHS501, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados.
EM13CHS502 e A ideia de direitos sociais está diretamente associada ao pleno acesso à cida-
EM13CHS503.
dania, que, por sua vez, pressupõe a igualdade entre todos os indivíduos que
CECHSA6: EM13CHS603 e
compõem a sociedade. Durante a crise que afetou o país e provocou o isolamen-
EM13CHS605.
to social em razão da pandemia de covid-19, foi necessário que os governos crias-
CECNT1: EM13CNT104.
sem um plano emergencial de renda para auxiliar as famílias mais carentes. Nos
CECNT3: EM13CNT310.
grandes centros urbanos, a periferia apresentava índices mais elevados de infec-
CEMT1: EM13MAT102.
ção pelo vírus, demonstrando que as dinâmicas internas de nossa sociedade criam
CEMT4: EM13MAT406 e
EM13MAT407. e reforçam uma grande discrepância entre as formas pelas quais seus diferentes
grupos e indivíduos têm acesso à cidadania.
A essa discrepância, como visto anteriormente, damos o nome de desigualda-
de social. Nesse sentido, os direitos sociais assegurados pela Constituição federal
e sua aplicação prática a todos os cidadãos, de forma gratuita e sem distinções,
representam um ganho social conside-
Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

rável, pois permitem que lhes seja ofere-


cida uma quantidade razoável de servi-
ços e cuidados básicos para que todos
possam se desenvolver de forma mini-
mamente digna.
Apesar disso, uma parcela significati-
va da população ainda não tem pleno
acesso a esses direitos. As razões dessa
desigualdade de acesso são diversas:
desde a permanência de estruturas so-
ciais que remontam ao período colonial
e marginalizam determinados grupos e
indivíduos, passando pela má adminis-
tração pública, até o embate ideológico
acerca do papel do Estado na garantia
do bem-estar social diante dos interes-
ses do mercado financeiro, entre outros.

Vacinação contra o sarampo em posto de


saúde indígena na aldeia Bacaval, na
Terra Indígena Utiariti, em Campo Novo
dos Parecis (MT). Foto de 2018.

1. Em sua opinião, quais grupos e indivíduos têm mais dificuldade de acesso aos
direitos sociais garantidos pela Constituição?
2. Como você percebe seu acesso aos direitos sociais listados no primeiro
parágrafo?

Não escreva no livro.


118
SAÚDE PÚBLICA
A universalização da saúde é um dos aspectos mais fundamentais para a
garantia da dignidade humana e para a manutenção da saúde pública. No Bra-
sil, o direito à saúde é um dos direitos sociais garantidos à população pela Cons-
tituição e tem sua materialização no Sistema Único de Saúde (SUS). Por meio
do SUS, todos os brasileiros e estrangeiros em território nacional têm acesso
gratuito ao sistema público de saúde.
O SUS é um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mun-
do e é responsável pela gestão de todas as ações e serviços públicos de saúde
no país. Antes de sua criação, em 1988, o sistema público de saúde destinava-se
apenas aos trabalhadores vinculados à Previdência Social, ficando o atendimen-
to aos demais cidadãos a cargo de instituições filantrópicas e do setor privado.
A criação do SUS teve como base três princípios doutrinários: a universalização,
que determina o acesso à saúde a todos os indivíduos, sem nenhuma distinção; a
equidade, que pressupõe o acesso igualitário da população à saúde e, por isso, deve
levar em consideração suas necessidades distintas e, portanto, garantir mais inves-
timento público onde as carências sejam maiores; a integralidade, que considera o
indivíduo como um todo, orientando as ações de saúde de maneira integrada, ou
seja, promovendo saúde, prevenindo doenças e tratando-as, reabilitando pacientes.
A universalização do sistema de saúde pressupõe também a saúde pública
não somente como forma de tratar doenças, mas, principalmente, de promover
a saúde, o que, por sua vez, retira o foco exclusivo da saúde do corpo humano,
levando também em consideração o corpo social.
Nesse sentido, algumas campanhas de saúde pública são:
• Outubro Rosa – a adoção da campanha internacional de conscientização so-
bre o câncer de mama pelo SUS é uma importante medida de prevenção e
tratamento desse mal e de esclarecimento sobre a enfermidade, uma das
doenças que mais atingem as mulheres no Brasil. De acordo com o Instituto
Nacional do Câncer (Inca), em 2019, a diferença entre a taxa de incidência des-
se tipo de câncer (62,9 por 100 mil habitantes) e sua taxa de mortalidade
(13 por 100 mil habitantes) demonstrou uma grande vitória do sistema públi-
co de saúde brasileiro;
• Combate à depressão – tem por objetivo a conscientização acerca dos cres-
centes quadros de depressão entre a população jovem do país, visando à
prevenção e ao combate dessa doença. Segundo dados do SUS, entre 2015
e 2018, houve um aumento de 115% nos atendimentos ambulatoriais e de
internação relacionados à depressão na faixa etária de 15 a 29 anos.
Ministério da Saúde/Governo Federal

Ministério da Saúde/Governo Federal

Pôster da campanha Outubro Rosa, em 2020. Um dos principais Pôster da campanha nacional de combate à depressão, em 2019.
objetivos dessa campanha é incentivar o diagnóstico precoce do Uma das propostas dessa campanha é incentivar os jovens
câncer de mama, aumentando, assim, as chances de recuperação brasileiros a aproveitar mais os momentos de convívio com a
do paciente em relação à doença. família e os amigos.

Não escreva no livro.


119
Desafios da saúde pública
Em pouco mais de três décadas, o SUS foi responsável por diversos programas
relacionados à promoção de saúde, os quais representaram um ganho significa-
tivo para a população brasileira em termos de saúde pública. Alguns desses pro-
gramas são:
• Estratégia Saúde da Família (ESF), que promove a proximidade das equipes
médicas com famílias e comunidades, para que os profissionais da saúde com-
preendam melhor os contextos relacionados à saúde das comunidades onde
atuam e, assim, possam atuar de acordo com as necessidades locais;
• Programa Nacional de Imunizações, no qual todas as vacinas recomendadas
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) são oferecidas gratuitamente à po-
pulação para prevenir doenças e oferecer melhor qualidade de vida às pessoas;
• Programa Mais Médicos (PMM), que amplia a infraestrutura das Unidades Bá-
sicas de Saúde (UBS) e o número de profissionais de saúde em regiões de vul-
nerabilidade, com demanda emergencial de serviços e profissionais de saúde;
• Programa Farmácia Popular, que disponibiliza medicamentos gratuitos ou com
descontos para diversos tratamentos médicos.
Apesar das muitas conquistas, o Sistema Único de Saúde ainda enfrenta diver-
sos empecilhos para fazer valer seus princípios doutrinários, de modo a garantir
o direito à saúde a toda população brasileira. Se, por um lado, a rede de atendi-
mento público tem crescido ao longo dos últimos 30 anos, por outro, nota-se uma
distribuição desigual na qualidade dos serviços e na forma como são oferecidos
no território nacional, desfavorecendo os grupos mais vulneráveis da população.
Além disso, as crescentes denúncias em diversos meios de comunicação, relacio-
nadas à qualidade dos serviços prestados pela rede pública, revelam, segundo pes-
quisadores da área, um sucateamento do SUS. Uma das possíveis explicações para
esse sucateamento pode ser observada na lógica de maior investimento público no
mercado financeiro em detrimento dos bens e serviços com valor de uso para as pes-
soas. Nesse panorama, os investimentos no setor privado de saúde, principalmente
em forma de incentivos fiscais, despontam como financeiramente mais vantajosos à
lógica do mercado do que o investimento no pleno desenvolvimento da rede pública.
O gráfico a seguir retrata a inflação no preço dos planos de saúde em relação
à inflação média no Brasil. Esse aumento evidencia que, apesar da aparente van-
tagem que a geração de riqueza financeira por meio de investimentos na rede
privada suscita, ela também restringe o acesso das parcelas mais vulneráveis da
sociedade à saúde.

BRASIL: INFLAÇÃO DOS PLANOS DE SAÚDE


EM RELAÇÃO À INFLAÇÃO MÉDIA (2017-2019)
Adilson Secco/ID/BR

(%)*
14 13,5 Inflação média Planos de saúde

12 11,2

10
8,2
8

6
4,3
* Dados do IPCA, em %. 3,8
4
Fonte de pesquisa: IBGE. Índice Nacional de 2,9
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/ 2
estatisticas/economicas/precos-e-
custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao- 0
consumidor-amplo.html?=&t=o-que-e. 2017 2018 2019
Acesso em: 2 maio 2020.

Não escreva no livro.


120
EDUCAÇÃO EM PAUTA
Educação e democracia são tópicos indissociáveis. É por meio da educação que PRINCIPAIS MOTIVOS DE
crianças e jovens têm acesso a uma parte importante dos conhecimentos produzidos EVASÃO ESCOLAR ENTRE
pela humanidade, que lhes permitem atuar plenamente na sociedade. Dessa forma, JOVENS DE 15 A 29 ANOS
o direito à educação, como direito social legítimo, desempenha uma função vital na POR GÊNERO (2017-2018)
construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Adilson Secco/ID/BR
(%)
O direito à educação é assegurado às pessoas por diversos dispositivos legais que 100
estipulam normas, diretrizes e formas pelas quais o Estado, em conjunto com as fa-
90
mílias e as comunidades, se obriga a oferecer educação aos jovens e às crianças do
Brasil. Cabe ao Estado oferecer educação escolar pública (universal e gratuita) e de 80
qualidade a toda a população em idade escolar (dos 4 aos 17 anos), bem como àque- 70
les que não tiveram acesso ao Ensino Fundamental e Médio na idade adequada.
60
Apesar disso, dados do IBGE, obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
micílios Contínua (Pnad Contínua), em 2018, apontavam que apenas 47,4% de bra- 50
sileiros com 25 anos ou mais haviam concluído o Ensino Médio. Esse dado constatou 40
uma realidade alarmante: aproximadamente 70,3 milhões de brasileiros, ou seja, um
30
terço da população nacional, não concluíram a Educação Básica. O número de pes-
soas que concluíram a Educação Básica, como se pode observar no mapa abaixo, era 20

maior na Região Sudeste do que nas demais regiões do Brasil e com uma porcenta- 10
gem maior de mulheres e de pessoas brancas que concluíram o Ensino Médio. 0
A evasão escolar é um dos grandes desafios da educação na atualidade. Em 2018, 2017 2018 2017 2018
737 mil jovens brasileiros, entre 15 e 17 anos, encontravam-se fora das escolas. Es- Homem Mulher
sa situação era ainda mais frequente entre os jovens de famílias mais pobres. Os mo- Trabalho ou procura por trabalho
tivos para a evasão escolar são diversos, entre eles o acesso limitado às instituições Afazeres domésticos e cuidados de pessoas
Não tem interesse
de ensino, especialmente em periferias e zonas rurais; dificuldade de conciliar os es- Já concluiu o nível de estudo que desejava
Falta de dinheiro para pagar despesas
tudos com o trabalho; gravidez e maternidade. Outros motivos
A educação pública no Brasil tem enfrentado diversos problemas para garantir
Fonte de pesquisa: IBGE. Pnad Contínua:
seus princípios de qualidade e universalidade, muitos deles de ordem estrutural, co-
Educação 2018. Disponível em: https://
mo os baixos investimentos na área e a falta de priorização de políticas públicas que agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/
visem à ampliação da oferta e às melhorias na qualidade de ensino. com_mediaibge/arquivos/
00e02a8bb67cdedc4fb22601
ed264c00.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020.
PERCENTUAL DE PESSOAS DE 25 ANOS DE IDADE OU MAIS QUE
CONCLUÍRAM AO MENOS A EDUCAÇÃO BÁSICA OBRIGATÓRIA, SEGUNDO
SEXO, COR OU RAÇA E AS GRANDES REGIÕES (2018)
João Miguel A. Moreira/ID/BR

60ºO 40ºO

Equador 0º

Mulher
NORTE 46,8 48,2 49,5
40,6 42,1 43,6 Homem
43,2 43,9 45,0
NORDESTE
36,1 37,2 38,9
Branco
53,5 54,5 55,8
Preto ou pardo
CENTRO-OESTE 37,3 38,9 40,3
46,4 47,6 48,7

SUDESTE
OCEANO 51,1 52,2 53,6 20ºS
PACÍFICO
Trópic
o de Ca
pricór
n io
OCEANO Fonte de pesquisa: IBGE. Pnad Contínua:
SUL Educação 2018. Disponível em:
Ano ATLÂNTICO
2016 44,4 45,0 45,7 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/
2017 com_mediaibge/arquivos/00e02a8bb
0 665 km
2018 67cdedc4fb22601ed264c00.pdf.
Acesso em: 20 abr. 2020.

Não escreva no livro.


121
UM NOVO ENSINO MÉDIO
Aprovada em 2017, durante o governo do então presidente da República Mi-
chel Temer, a reforma do Ensino Médio vem suscitando intensos debates entre
diversos setores da população desde sua apresentação. Para os defensores da
reforma, o antigo modelo de Ensino Médio era desinteressante e pouco dialoga-
va com as necessidades e os interesses dos jovens brasileiros. Para seus críticos,
a reforma, apresentada e sancionada sem o devido diálogo com a sociedade civil,
não tinha clareza quanto aos seus propósitos, apresentava falhas em sua pro-
posta de execução e excluía componentes curriculares importantes para a forma-
ção crítica e democrática dos jovens.
Uma das grandes questões levantadas nesse debate se referia ao conteúdo
que seria oferecido em cada um dos componentes curriculares, tendo em vista que
alguns deles, como História, Geografia, Filosofia e Sociologia, por exemplo, foram
agrupados em áreas de conhecimento como Ciências Humanas e Sociais Aplica-
das. Esse questionamento coincidiu com a elaboração da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC), documento que vinha sendo construído desde 2015 e que visa
definir o conjunto de aprendizagens básicas e essenciais a todos os alunos do
Brasil. Esse documento foi finalizado em dezembro de 2018, com a homologação
de sua versão final pelo Ministério da Educação, contemplando todas as etapas
da Educação Básica.
A existência de uma base curricular comum a todo o território nacional já era
prevista pelos principais documentos que normatizam a educação no país e tem
como um de seus principais objetivos garantir equanimidade no acesso à educa-
ção a todos os alunos do Brasil, independentemente de sua renda ou da região
em que vivem.
Além de ser pautado pela BNCC, o novo Ensino Médio traz mudanças sig-
nificativas em relação à forma como a última etapa da Educação Básica é ofe-
recida. Uma das principais mudanças se refere aos itinerários formativos, isto
é, as possibilidades de percursos, relacionados às áreas de conhecimento e de
formação técnica e profissional, que os alunos poderão escolher com base em
seus talentos e interesses para complementar as aprendizagens comuns e
obrigatórias.
Manifestação de estudantes
secundaristas contra a
reforma do Ensino Médio.
REFLEXÃO

São Paulo (SP), 2016.


O anúncio da reforma sem
Educação em tempos líquidos
maiores esclarecimentos e O texto a seguir, de autoria do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, co-
consulta à sociedade civil menta sobre o paradigma da educação no mundo contemporâneo.
gerou protestos em
diversas regiões do país. A educação assumiu muitas formas no passado e se
demonstrou capaz de adaptar-se à mudança das cir-
Alice Vergueiro/Folhapress

cunstâncias, de definir novos objetivos e elaborar novas


estratégias. Mas, permitam-me repetir: a mudança atual
não é igual às que se verificaram no passado. Em ne-
nhum momento crucial da história da humanidade os
educadores enfrentaram desafio comparável ao divisor
de águas que hoje nos é apresentado. A verdade é que
nós nunca estivemos antes nessa situação. Ainda é pre-
ciso aprender a arte de viver num mundo saturado de
informações. E também a arte mais difícil e fascinante
de preparar seres humanos para essa vida.
Bauman, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido moderno.
Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p. 125.

1. Em sua opinião, qual é o papel da escola na cons-


trução do aprendizado de viver no que Bauman
define como “um mundo saturado de informação”?

Não escreva no livro.


122
PROGRAMAS SOCIAIS E INVESTIMENTOS PÚBLICOS
Os programas sociais são ações desenvolvidas pelo governo brasileiro para
reduzir as desigualdades sociais, oferecendo suporte financeiro às camadas mais
vulneráveis da sociedade, com o objetivo de melhorar as condições de vida dessa
parcela significativa da população.
ALGUNS DOS PROGRAMAS SOCIAIS BRASILEIROS EM VIGOR

Ilustrações: Partes/ID/BR
Bolsa Família
O que é
É um programa de distribuição direta de renda que garante uma renda mínima
às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. O valor do benefício
concedido leva em consideração variáveis relacionadas com a renda, o número
e a idade dos integrantes da família.
Quem pode receber
Famílias que tenham renda mensal per capita de até R$ 178,00.
Quais são as condições
A família deverá ter em sua composição gestantes, crianças ou adolescentes
de 0 a 17 anos.
Crianças de 6 a 17 anos devem frequentar a escola.
Crianças com até 7 anos devem ter todas as vacinações em dia.
Gestantes e nutrizes devem fazer acompanhamento pré-natal e pós-natal.

Benefício de Prestação Continuada (BPC)


O que é
É um benefício de assistência social que assegura um salário mínimo mensal a
idosos e pessoas com deficiência sem meios de prover o próprio sustento nem de
tê-lo provido pela própria família.
Quem pode receber
Idosos acima de 65 anos ou pessoas com deficiências de qualquer idade cuja
renda familiar mensal per capita seja de até um quarto do salário mínimo atual.
Quais são as condições
Comprovação de impedimento de longo prazo.
Por se tratar de um benefício assistencial, não é necessário que o requerente
tenha contribuído com o INSS.

Minha Casa Minha Vida


O que é
É um programa de habitação do governo federal que oferece condições
especiais de financiamento para a aquisição de imóveis com finalidade de
moradia em áreas urbanas, ou para a aquisição e melhorias em imóveis
com finalidade de moradia em áreas rurais.
Quem pode receber
Famílias com renda bruta mensal de até R$ 7 000,00 (em áreas urbanas).
Famílias com renda bruta anual de até R$ 78 000,00 (em áreas rurais).
Quais são as condições
As condições de financiamento são determinadas pela renda bruta da
família e pelo tipo de imóvel a ser adquirido.

Não escreva no livro.


123
Ilustrações: Partes/ID/BR
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti)
O que é
É um programa que visa garantir a integridade de crianças e adolescentes,
buscando erradicar todas as formas de trabalho infantil no país. Para tanto,
oferece um auxílio financeiro mensal à mãe ou ao responsável legal pela
criança ou pelo adolescente.
Quem pode receber
Famílias com renda bruta mensal per capita superior a R$ 170,00 que tenham
entre seus integrantes crianças ou adolescentes com idade inferior a 16 anos
em situação de trabalho infantil.
Quais são as condições
O benefício varia entre R$ 25,00 e R$ 40,00 por criança contemplada – de
acordo com a área onde vive. As crianças ou adolescentes da família:
• não podem exercer qualquer atividade laboral e/ou de exploração;
• devem ter frequência escolar mínima de 85%.

Bolsa Verde
O que é
O Programa de Apoio à Conservação Ambiental, conhecido como Bolsa
Verde, visa ajudar famílias que vivem em situação de extrema pobreza e
que desenvolvam atividades de conservação ambiental.
Quem pode receber
Famílias com renda bruta mensal per capita de até R$ 85,00 que
exerçam atividades de conservação ambiental.
Quais são as condições
Participar do Bolsa Família.
A área na qual a família desempenha sua atividade deve estar de
acordo com as leis ambientais e possuir instrumento de gestão.
O programa oferece R$ 300,00 trimestralmente às famílias beneficiárias.

Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais


O que é
É um programa de transferência de renda do governo federal, com o objetivo de auxiliar as famílias em
situação de extrema pobreza que exerçam atividade de agricultura familiar, silvicultura, aquicultura,
pesca, extrativismo e/ou que pertençam a comunidades tradicionais e povos indígenas.
Quem pode receber
Fomento Brasil sem Miséria: famílias com renda bruta mensal per
capita de até R$ 85,00 que exerçam as atividades citadas.
Fomento Semiárido: famílias com renda bruta mensal per capita de
até R$ 170,00 que exerçam atividades de conservação ambiental.
Quais são as condições
Adesão ao programa por meio de assinatura do termo
de adesão.
Envio de projeto de estruturação da unidade produtiva
e etapas de implantação.
Na modalidade Fomento Brasil sem Miséria, o valor
total de repasse é R$ 2 400,00.
Na modalidade Fomento Semiárido, o valor total do
repasse é R$ 3 000,00.

Fontes de pesquisa: Caixa Econômica Federal. Bolsa Família. Disponível em: http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-familia/Paginas/default.aspx;
Minha Casa Minha Vida. Disponível em: http://www.caixa.gov.br/voce/habitacao/minha-casa-minha-vida/Paginas/default.aspx; Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil (Peti). Disponível em: http://www.caixa.gov.br/programas-sociais/peti/Paginas/default.aspx; Bolsa Verde. Disponível em: http://www.
caixa.gov.br/programas-sociais/bolsa-verde/Paginas/default.aspx; Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais. Disponível em: http://www.
caixa.gov.br/poder-publico/programas-uniao/area-rural/fomento-atividades-produtivas-rurais/Paginas/default.aspx; Ministério da Economia.
Benefício assistencial à pessoa com deficiência (BPC). Disponível em: https://www.inss.gov.br/beneficios/
beneficio-assistencia-a-pessoa-com-deficiencia-bpc/. Acessos em: 3 maio 2020.

Não escreva no livro.


124
PROJETOS POLÍTICOS
Os epidemiologistas britânicos Richard Wilkinson e Kate Pickett, em seu livro
O nível: por que uma sociedade mais igualitária é melhor para todos (Civilização
Brasileira, 2015), elaboraram uma análise sobre a relação entre os diversos indica-
dores sociais, como expectativa de vida, alfabetização, saúde, alimentação, entre
outros, e a igualdade social nos países analisados. Nessa pesquisa, os autores evi-
denciaram, por meio de dados estatísticos, que, quanto maior a desigualdade social
em determinado país, menores serão os indicadores sociais, ao passo que, em paí-
ses onde há mais igualdade, os indicadores sociais são mais elevados. Tal relação
pode ser observada tanto em países ricos como pobres, e isso, na perspectiva dos PARA EXPLORAR
autores, significa que as mazelas sociais que atingem muitos países na atualidade
» Democracia em vertigem.
são muito menos relacionadas com a situação de pobreza de um país do que pela Direção: Petra Costa. Brasil,
divisão desigual de recursos, bens e direitos aos membros da sociedade. 2019 (121 min).
Para refletirmos sobre a importância dos direitos sociais no Brasil atual, bem Para saber mais detalhes sobre
como para a construção de uma sociedade mais justa e democrática, podemos a polarização que caracterizou
fazer uma indagação semelhante à do título do livro dos epidemiologistas: Uma o cenário político nos últimos
sociedade mais igualitária é melhor para todos? anos, assista ao documentário
Nos últimos anos, o Brasil assistiu a uma forte guinada no que se refere às nacional Democracia em ver-
orientações políticas centradas na manutenção de direitos sociais. Essa guinada tigem, de 2019. Nele, a cineas-
ta mineira Petra Costa descre-
se insere em um contexto complexo de polarização política, que envolve o emba-
ve sua perspectiva a respeito
te entre diferentes ideias e segmentos da sociedade. Um dos principais embates
do processo que levou a então
nesse contexto se refere à oposição entre um projeto de Estado de bem-estar
presidenta Dilma Rousseff ao
social e políticas neoliberais. impeachment em 2016.

ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL


A ideia de Estado de bem-estar social supõe maior responsabilidade do Esta-
do pela garantia do bem-estar social à população. Ela parte do pressuposto de
que as dinâmicas da economia capitalista acentuam as desigualdades sociais,
inviabilizando a sustentabilidade econômica e social, visto que marginalizam uma
parcela expressiva da população, na medida em que concentram o poder econô-
mico nas mãos de poucos, gerando, assim, pouco consumo e desemprego. Dessa
forma, para garantir o pleno desenvolvimento da sociedade e da economia, faz-
-se necessária a maior participação do Estado, como instituição máxima da so-
ciedade, no sentido de regular a economia e de promover os direitos sociais.
A crise desencadeada pela pandemia de covid-19, em 2020, evidenciou a impor-
tância de ações governamentais de diversos países para garantir a vida, a dignida-
de e o funcionamento dos diversos setores que compõem a sociedade. Medidas,
Requerentes em busca do auxílio
como a criação de hospitais emergenciais, o fomento às pesquisas científicas, os
emergencial de R$ 600,00 fornecido
subsídios financeiros para as populações carentes e as pequenas empresas, além, pelo governo federal aos
é claro, das campanhas de incentivo ao distanciamento social, fizeram parte das trabalhadores informais, autônomos e
desempregados – a população mais
ações adotadas por diversos países para combater a disseminação do novo coro-
economicamente afetada pela crise
navírus e seus efeitos na sociedade. durante a pandemia de covid-19, em
Recife (PE). Foto de 2020.
Marlon Costa/Futura Press

Não escreva no livro.


125
POLÍTICAS NEOLIBERAIS
O neoliberalismo, por sua vez, supõe a participação mínima do Estado na eco-
nomia, como forma de garantir o livre mercado, que, segundo seus teóricos, se-
ria autorregulável e, portanto, não necessitaria de intervenções para manter seu
funcionamento. Algumas das principais práticas neoliberais envolvem a priva-
tização de empresas estatais, a redução de gastos públicos, a desregulamenta-
ção da economia (incluindo a flexibilização de leis trabalhistas), a reforma tribu-
tária, entre outras.
No trecho de texto a seguir, a pesquisadora Denise Gros, doutora em Ciências
Sociais pela Unicamp, comenta a história do neoliberalismo e sua relação com os
direitos sociais.

[…] o pensamento neoliberal não surgiu nos anos de 1970, ele originou-se nos de-
bates econômicos europeus do início do século XX. Segundo os representantes da
Escola Austríaca de Economia, especialmente Friedrich Hayek, a crise econômica era
consequência do excessivo poder do movimento operário, uma vez que as reivindi-
cações dos sindicatos por aumento salarial e de gastos sociais teriam comprometido
a acumulação capitalista. A solução, para os liberais, encontrava-se na adoção de
medidas como estabilidade monetária, diminuição dos gastos sociais e restauração
da taxa de desemprego, o que enfraqueceria a capacidade de reivindicação dos tra-
balhadores e, assim, desestabilizaria o poder dos sindicatos. As ideias lançadas pelos
liberais permaneceram no âmbito teórico por muitos anos, até a crise da década de
1970 e a recessão no mundo capitalista avançado.
[…]
Gros, Denise B. Institutos liberais, neoliberalismo e políticas públicas na Nova República.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 19, n. 54, p. 143-159, fev. 2004.

Em 2016, os pesquisadores Jonathan D. Ostry,


Duke/Acervo do chargista

Prakash Loungani e Davide Furceri, do Fundo Monetário


Internacional (FMI), causaram grande polêmica ao criti-
car, em um artigo publicado na revista Finance & Deve-
lopment (Finanças e Desenvolvimento, em tradução li-
vre), uma das principais publicações do FMI, as políticas
neoliberais que vinham sendo adotadas em diversos
países. O motivo da polêmica era, em parte, o fato de o
FMI ser uma das maiores instituições que defendem as
práticas neoliberais, mas também por revelar o reconhe-
cimento, por parte dos economistas e pesquisadores
dessa instituição, de como as políticas com viés neolibe-
ral tendem a contribuir para o aumento das desigualda-
des sociais e, até mesmo, a comprometer o crescimento
econômico dos países.

Charge de Duke sobre o


aumento do desemprego.
INTERAÇÃO

1. Analisando o contexto do Brasil na atualidade, cite as políticas públicas


que você identifica como voltadas à manutenção do bem-estar social e as
políticas relacionadas com as práticas neoliberais.
2. Com quais projetos políticos você e a comunidade em que vive se identi-
ficam mais: as políticas de bem-estar social ou as neoliberais? Dialogue
sobre isso com a turma.

Não escreva no livro.


126
ATIVIDADES

1 Charge é uma ilustração artística que geralmente c) Entrevistem pelo menos três alunos que tenham
apresenta uma crítica sobre determinado tema. Ob- abandonado a escola, buscando levantar os
serve a charge e faça o que se pede. motivos de tal ação, bem como suas opiniões a
respeito do que poderia ser feito para alterar
essa realidade.

Angeli/Fotoarena
d) Com base no levantamento proposto nos itens
anteriores, elaborem um plano de ação para evi-
tar novos casos de evasão escolar na escola onde
estudam. Lembrem-se de levar em consideração
os recursos disponíveis em sua comunidade es-
colar e de avaliar, com a coordenação da escola,
a viabilidade desse plano de ação.

4 (Enem)

A Declaração Universal dos Direitos Humanos está


completando 70 anos em tempos de desafios crescentes,
quando o ódio, a discriminação e a violência permanecem
vivos”, disse a diretora-geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
Audrey Azoulay.
“Ao final da Segunda Guerra Mundial, a humanidade
inteira resolveu promover a dignidade humana em todos
Angeli. Folha de S.Paulo, 11 jan. 2007. os lugares e para sempre. Nesse espírito, as Nações Uni-
das adotaram a Declaração Universal dos Direitos Huma-
a) Que crítica essa charge faz? Como você percebeu nos como um padrão comum de conquistas para todos os
isso? povos e todas as nações”, disse Audrey.
b) Você concorda com essa crítica? Por quê? “Centenas de milhões de mulheres e homens são des-
tituídos e privados de condições básicas de subsistência
2 Retome o trecho do texto da pesquisadora Denise e de oportunidades. Movimentos populacionais forçados
Gros, da página 126, e responda às questões. geram violações aos direitos em uma escala sem prece-
a) A quem os representantes da Escola Austríaca de dentes. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Susten-
Economia atribuíram a responsabilidade da crise tável promete não deixar ninguém para trás – e os direitos
no início do século XX? Por quê? humanos devem ser o alicerce para todo o progresso.”
b) A responsabilização descrita pela autora e as
Segundo ela, esse processo precisa começar o quando
medidas tomadas para contornar a crise consti-
antes nas carteiras das escolas. Diante disso, a Unesco
tuem um ato de violência contra determinado
grupo social? Por quê? lidera a educação em direitos humanos para assegurar
que todas as meninas e meninos saibam seus direitos e
c) Você acredita que seja possível para um país se
os direitos dos outros.
recuperar de uma crise econômica sem violar os
direitos e a dignidade das pessoas? Disponível em: http://nacoesunidas.org.
Acesso em: 3 abr. 2018 (adaptado).

3 Reúna-se com dois colegas e, levando em conside-


ração a realidade de sua comunidade escolar, Defendendo a ideia de que “os direitos humanos
proponham uma ação local de combate à evasão devem ser o alicerce para todo o progresso”, a dire-
escolar na escola onde estudam. Para isso, sigam tora-geral da Unesco aponta, como estratégia para
as instruções. atingir esse fim, a:
a) Retomem o gráfico da página 121 e analisem os a) inclusão de todos na Agenda 2030.
principais motivos de evasão escolar, e identifi-
b) extinção da intolerância entre os indivíduos.
quem os estudantes mais vulneráveis a essa
realidade. c) discussão desse tema desde a educação básica.
b) Façam um levantamento, junto à secretaria ou d) conquista de direitos para todos os povos e nações.
coordenação da escola, do número de estudantes e) promoção da dignidade humana em todos os
evadidos nos últimos três anos. lugares.

Não escreva no livro.


127
AMPLIANDO
Democracia: conceito e prática

Muito se tem discutido, em diversas mídias, sobre os rumos da democracia na atualidade, ora
como crítica, ora como instrumento de legitimação de determinada forma de governo. Em sua acep-
ção mais tradicional, a palavra democracia se refere à forma de governo que tem como principal
característica a escolha dos governantes pelo povo. Apesar disso, esse conceito sofreu diversas res-
significações ao longo da história, passando a abarcar (ou rejeitar) uma série de novas implicações.
A escolha dos governantes pelo povo, por exemplo, supõe, por extensão, a ideia de soberania
popular e, ao mesmo tempo, o pressuposto de igualdade entre todos os que podem escolher seus
representantes. Apesar disso, as dinâmicas internas de nossa sociedade colocam em cheque a
ideia de igualdade presumida em um regime democrático.
À luz dessas inúmeras ressignificações e contradições, muitos poderão se perguntar: Vivemos
de fato em uma democracia? O que constitui uma democracia na atualidade?
No trecho de texto a seguir, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz comenta suas percep-
ções a respeito da Constituição de 1988 e da democracia no Brasil atual.

[...] a Constituição de 1988 continua sendo a melhor ex-


Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

pressão de um Brasil que firmou um sólido compromisso de-


mocrático em vários níveis das relações sociais, bem como
estabeleceu políticas maduras de defesa dos direitos huma-
nos. Ela é atenta às minorias políticas, avançada nas questões
ambientais, empenhada em prever meios e instrumentos cons-
titucionais legais para a participação popular e direta. [...]
A Constituição sublinhou, entre outros, a igualdade entre
homens e mulheres, o fim da tortura, o direito de resposta e
de indenização por dano material, moral ou à imagem, a au-
tonomia intelectual, artística, científica e de comunicação.
Tornou o racismo um crime inafiançável e imprescritível; de-
terminou o caráter inviolável da intimidade, da vida privada e
da honra; proibiu a violação do sigilo de correspondências;
permitiu o acesso a informações, a criação de associações, o
direito à propriedade; definiu o fim da censura de natureza
política, ideológica e artística; e estabeleceu a liberdade de
consciência, de pensamento, de crença, de convicção filosó-
fica e política.
Schwarcz, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo:
Companhia das Letras, 2019. E-book.

Cabine de votação no Rio de Janeiro (RJ).


Foto de 2018. A eleição é o instrumento
pelo qual a população brasileira escolhe
seus representantes no governo.

1. Para você, o que é democracia?

2. Você concorda com a opinião da historiadora a respeito da Constituição de 1988 e do estado


da democracia brasileira na atualidade? Por quê?

3. A Constituição Federal de 1988 determina o Brasil como um “Estado democrático de direito”.


Em sua opinião, todas as instâncias que compõem a sociedade brasileira são realmente
democráticas? Por quê?

Não escreva no livro.


128
11
MÚLTIPLOS
CAPÍTULO

DESAFIOS
» Competências e
Ao longo deste volume, você foi convidado a analisar, de modo crítico, a socie- habilidades
dade em que vive, observando seus aspectos positivos, os aspectos que precisam CGEB1, CGEB2, CGEB4,
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
ser melhorados e o modo como essas características impactam sua vida e a vida
CECHSA1: EM13CHS103,
de sua comunidade. Para aprimorar sua capacidade de análise, foram mobiliza-
EM13CHS104 e EM13CHS106.
dos conceitos, teorias e posicionamentos de diferentes cientistas que se propu-
CECHSA5: EM13CHS501,
seram (e se propõem) a estudar nossa sociedade. EM13CHS502, EM13CHS503
Agora, você vai aprofundar essas percepções investigando grandes desafios e EM13CHS504.

do Brasil contemporâneo: a distribuição de renda e os impactos nas áreas da se- CECHSA6: EM13CHS601 e
EM13CHS606.
gurança pública e de acesso à cultura. Esse recorte foi escolhido por proporcionar
CELT1: EM13LGG101,
a visibilidade de questões cidadãs e éticas que você já conhece. EM13LGG102 e EM13LGG104.
O trecho de texto a seguir apresenta algumas considerações sobre a situação CEMT1: EM13MAT102.
de pobreza e seus impactos sociais. CEMT4: EM13MAT406 e
EM13MAT407.

[…] Logotipo do Plano Brasil


sem Miséria, plano federal
Além de multidimensional, as situações de pobreza para incentivar a autonomia
referem-se a diferentes contextos e situações sociais. financeira de famílias que
vivem em extrema pobreza.
Referem-se tanto a territórios economicamente depri-

Ministério do Desenvolvimento Social e


Combate à Fome (MDS)/Governo Federal
midos como a regiões dinâmicas, onde postos de traba-
lho ou atividades econômicas de baixa produtividade
são eliminados. Reproduzem-se na agricultura familiar
constrangida pela falta de insumos, financiamento, apoio
técnico, mercado ou mesmo terras; mas também em ter-
ritórios urbanos segregados, com baixa oferta de servi-
ços públicos. Atingem jovens em territórios com altas
taxas de violência e baixas oportunidades de acesso ao
ensino e à qualificação profissional. As situações de ex-
trema pobreza podem ainda se referir a contextos his-

rafapress/Shutterstock.com/ID/BR
tóricos – populações tradicionais – ou familiares espe-
cíficos, sejam associadas a momentos no ciclo de vida
– casais jovens com crianças – ou condições de vulne-
rabilidade física ou social – doenças, isolamento,
drogadição, entre tantas outras.
[…]
Fonseca, Ana et al. Do Bolsa Família ao Brasil sem Miséria: o
desafio de universalizar a cidadania. In: Montali, Lilia (org.).
Proteção social e transferência de renda. Caderno de
Pesquisa NEPP. Campinas: Unicamp, Núcleo de Estudos de
Políticas Públicas (NEPP), n. 86, p. 52-79, jun. 2018. Disponível Cartão do programa Bolsa
em: https://www.nepp.unicamp.br/upload/documents/ Família de distribuição de
Drogadição: uso abusivo renda para famílias em
publicacoes/4f91a0e745befe346ba37455bba17335. de substâncias ilícitas.
pdf#page=52. Acesso em: 27 abr. 2020. situação de pobreza e de
extrema pobreza.

1. De que modo a falta de uma renda mínima impacta no exercício da cidadania,


na segurança pública e no acesso à cultura? Faça uma lista no caderno e depois
compartilhe suas reflexões com a turma.
2. Identifique o título do artigo de onde o excerto foi retirado e observe as ima-
gens. Você conhece esses programas do governo brasileiro? Que relação é
possível estabelecer entre eles e “o desafio de universalizar a cidadania”?

Não escreva no livro.


129
CONHECENDO OS DESAFIOS: INDICADORES SOCIAIS
Para analisar o acesso à cidadania e as questões éticas que envolvem as rela-
ções sociais entre os indivíduos e a comunidade, refletimos sobre diferentes in-
dicadores sociais. Assim, ao longo do volume, dados organizados, como taxas,
índices, quantidades relativas e absolutas da população total ou de determinados
grupos, foram pesquisados para avaliar as situações de desigualdade, liberdade,
democracia, igualdade e justiça, em diferentes aspectos sociais. Esses dados fo-
ram obtidos de fontes institucionais, como órgãos governamentais, e também de
pesquisas acadêmicas realizadas por equipes de sociólogos, filósofos, geógrafos,
historiadores, antropólogos, estatísticos e muitos outros profissionais.
Apesar de serem importantes para os pesquisadores, essas informações são
ainda mais relevantes para os governantes, já que é com base nelas que devem
ser elaboradas as políticas públicas. Ou seja, as decisões políticas e os projetos
desenvolvidos pelos governos levam em consideração os retratos sociais apre-
sentados pelos indicadores. É assim que eles reconhecem a situação dos desa-
fios que vão enfrentar. O excerto a seguir apresenta características da relação
entre indicadores sociais e políticas públicas.

Os indicadores e suas aplicações


Os indicadores estabelecem um padrão normativo, por meio do qual é possível cons-
truir um diagnóstico para subsidiar a formulação e a avaliação de políticas públicas.
Não obstante a grande utilidade dos indicadores, é essencial salientar que a sua
interpretação deve ser acompanhada de uma análise detalhada do fenômeno estu-
dado, uma vez que o alcance dos indicadores é limitado, enquanto tentativa de cap-
tar num simples número a complexa realidade social. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde […] e [Paulo de Martino] Jannuzzi […], um indicador deve possuir,
como propriedades desejáveis, a validade para representar o fenômeno que pretende
medir, a confiabilidade de fornecer os mesmos resultados quando calculado em cir-
cunstâncias similares, a sensibilidade de refletir mudanças no fenômeno de interesse,
a especificidade de refletir mudanças em fenômenos específicos, a relevância para a
discussão da agenda da política em questão, o grau de cobertura populacional ade-
pressureUA/istockphoto.com/ID/BR

quado, a simplicidade para o devido entendimento dos agentes das políticas e do


público-alvo dessas políticas, a atualização periódica, a desagregação em termos so-
cioeconômicos e demográficos e, ainda, certa historicidade.
[…]
Pereira, Danielle Ramos de Miranda; Pinto, Marcelo de Rezende. A importância do entendimento
dos indicadores na tomada de decisão de gestores públicos. Revista do Serviço Público,
Brasília, v. 63, n. 3, p. 363-380, jul./set. 2012. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/
handle/1/1779. Acesso em: 30 abr. 2020.
INTERAÇÃO

1. De acordo com o texto, que critérios de análise devem ser levados em


consideração durante a escolha e a interpretação dos indicadores sociais?
Qual é a importância desses critérios?
2. Junte-se a dois colegas. Com base nos critérios que vocês conheceram,
escolham um indicador social, referente à renda, para pesquisar os dados
mais recentes desse indicador nos níveis de governo municipal, estadual
e federal. Sistematizem esses dados primeiro em forma de tabela e, depois,
em forma de gráfico. Lembrem-se de que os gráficos e as tabelas precisam
apresentar títulos e fontes pesquisadas. No caso dos gráficos, as legendas
também são importantes. Em uma data combinada, compartilhem as des-
cobertas com os colegas e conheçam os resultados das pesquisas deles.

Não escreva no livro.


130
Segurança pública
Você se sente seguro ao caminhar pela rua?
A resposta a essa pergunta pode variar de acordo com as características so-
ciais do indivíduo (idade, gênero, região onde vive, horários em que costuma ca-
minhar, se tem ou não o hábito de caminhar sozinho, se está em situação de rua,
etc.) e da comunidade da qual faz parte (se está em uma área urbana ou rural,
elitizada, de classe média ou popular, se a área apresenta altos índices de desen-
volvimento econômico ou se é uma região periférica, pobre, etc.).
De acordo com os dados coletados pela Organização para a Cooperação e Desen-
volvimento Econômico (OECD), em 2019, cerca de 68% da população dos países-
-membros dessa organização afirmou se sentir segura ao andar sozinha à noite. Po-
rém, essa média geral não reflete o caso brasileiro em que a média é inferior a 40%.
Há países, como Finlândia, Noruega, Islândia e Suíça, nos quais a média alcança 85%.
Essa disparidade evidencia a complexidade da questão da segurança pública.
O debate acadêmico sobre a violência e a criminalidade no Brasil cresceu bas-

INTERAÇÃO
tante, especialmente nas décadas posteriores à abertura do regime militar. Como 1. Qual é a proporção en-
forma de analisar e compreender o período em que vigorou a violência de Estado tre a taxa de homicídios
praticada durante a ditadura, os estudos avançaram muito em diferentes áreas de jovens negros e a de
do conhecimento, como psicologia, estatística, antropologia e sociologia. jovens não negros?
Atualmente, os indicadores sobre segurança pública, criminalidade e violência 2. Escreva um parágrafo
são construídos com base em dados coletados e analisados pelas Secretarias de analisando essa pro-
Segurança Pública estaduais. Esses dados são disponibilizados, geralmente, pe- porção com base nas
lo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e, com base neles, as unidades reflexões que você já
federativas podem organizar seus planos de ação para contingenciar a violência fez sobre racismo es-
e a criminalidade. trutural e desigualdade
Observe a seguir, alguns dos indicadores sobre segurança pública e juven- social. Compartilhe seu
texto com os colegas.
tude.

BRASIL: JUVENTUDE E VIOLÊNCIA (2019)

Adilson Secco/ID/BR
Ceará Rio Grande do Norte Taxa de homicídios de jovens
(%)
50
140,2 152,3 40
43,1

Pernambuco 30

20 16
133,0 10

0
Negros Não negros

Crescimento da taxa de
homicídios de jovens (2007-2017)
(%)
50

126,3 128,6 40
33,1
30
Acre Alagoas
20

Estados com os piores


125,5 10
cenários para a taxa 3
de assassinatos por
100 mil jovens. Sergipe 0
Negros Não negros

Fonte de pesquisa: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Atlas da violência 2019. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784. Acesso em: 29 abr. 2020.

Não escreva no livro.


131
Crime organizado
De acordo com Renato Sérgio de Lima, sociólogo e diretor-presidente do Fó-
rum Brasileiro de Segurança Pública, um conceito possível de segurança pública
seria este:

[…] prevenção, investigação e punição de responsáveis por atos de violência e


criminalidade e administração de conflitos para garantir direitos básicos da popula-
ção para que ela possa exercer outros direitos da cidadania, como sair de casa, ir ao
médico e trabalhar. […]
loureiro, Gabriela. 5 razões por trás da crise de segurança pública no Brasil.
BBC News Brasil, 12 fev. 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/
portuguese/brasil-38909715. Acesso em: 29 abr. 2020.

No entanto, as frentes de violência e criminalidade são múltiplas e, como é pos-


sível verificar nos gráficos da página anterior, envolvem os esforços de diferentes
áreas do governo e não apenas a de segurança pública. Trata-se de problemas en-
dêmicos que impedem que parte da população exerça seus direitos plenamente.
Um dos maiores problemas da segurança pública hoje é o crime organizado,
assim denominado por se tratar de grupos coordenados e estruturados que mo-
vimentam grandes quantidades de lucros obtidos mediante um conjunto de ati-
vidades ilegais. Como empresas do crime, a gama de ação é variada: assaltos, se-
questros, furtos de grande porte, tráfico de armas e drogas, trabalhadores em
regimes análogos à escravidão e exploração de prostituição.
Organizados em facções ou milícias, são grupos que construíram estruturas
empresariais, muitas vezes de grande porte, para as atividades criminosas, como
laboratórios e escritórios, além de desenvolverem esquemas de logística para
atuar em todo o território nacional e também internacional, envolvendo meios de
transporte (carros particulares, ônibus, caminhões e até aviões); galpões para ar-
Suborno: pagamento a uma pessoa mazenamento de cargas ilegais; empresas de fachada para lavagem de dinheiro;
para induzi-la a realizar ou permitir e pagamento de subornos para evitar ou mesmo paralisar investigações das au-
ações ilícitas.
toridades (financiando esquemas de corrupção).
O crime organizado não é um problema enfrentado apenas pelo Brasil. Ele ocor-
re em sociedades diversas, geralmente em regiões onde a ação do Estado é limi-
tada, inexistente ou não foi reconhecida ou consolidada pela população. No caso
da América Latina, fatores como pobreza, pouco acesso à educação e facilidade de
acesso às armas de fogo contribuem para a ascensão de grupos criminosos orga-
nizados. De acordo com dados coletados pela Organização das Nações Unidas
(ONU), o crime organizado movimentou mais de 2 trilhões de dólares em 2019.

PARA EXPLORAR
REFLEXÃO

» Sintonia. Direção: Guilherme Lavagem de dinheiro


Quintella, Felipe Braga e No Brasil, os lucros e as transações comerciais de uma empresa são de-
Konrad Dantas (Kondzilla). clarados à Receita Federal. Dessa forma, o Estado pode acompanhar o de-
Brasil, 2019 (45 min). senvolvimento econômico nacional e também realizar a cobrança correta de
O seriado, de doze episódios, impostos. Esses tributos são revertidos para a população com investimentos
retrata a vida de três adoles- e manutenção das estruturas de saúde pública, educação, segurança, etc.
centes que vivem em uma Para evitar que o dinheiro obtido por meio de práticas ilegais seja apreendi-
comunidade pobre no muni- do pelo Estado – e, assim, os crimes sejam descobertos –, as organizações
cípio de São Paulo, onde li- criminosas desenvolvem esquemas de lavagem de dinheiro.
dam com os dilemas emocio-
1. Dialogue com os colegas sobre as questões a seguir.
nais, os estudos, a Igreja, a
cena musical, a violência e a) De que modo os dados sobre a violência, indicados na página ante-
também com as estruturas rior, podem se relacionar com os esquemas de lavagem de dinheiro?
do crime organizado. b) Por que a lavagem de dinheiro é prejudicial à sociedade?

Não escreva no livro.


132
Há soluções possíveis?
O crime organizado desafia as sociedades de diferentes países. Essas organi-
zações operam nas brechas deixadas pelo Estado e contam com o apoio de pes-
soas que se beneficiam, de algum modo, dessa atuação em atividades criminosas.
Para a maior parte dos especialistas, o contexto de desigualdade social no Bra-
sil contribui muito para que se busquem opções ilícitas de enriquecimento. E isso
ocorre em diferentes níveis: em um extremo, há os grupos em situação de pobre-
za e de extrema pobreza, com poucas chances de enriquecer, e que buscam no
crime um caminho de vida. De outro lado, há os grupos privilegiados, para os quais
a maioria dos crimes pode ficar impune, que atuam em esquemas de corrupção
e desvio de dinheiro. Em ambos os níveis, a sociedade brasileira perde tanto em
vidas quanto em recursos que poderiam ser revertidos à sociedade.
Assim, são necessárias mudanças estruturais para que o Brasil se torne uma
nação que garanta a segurança de seus cidadãos. Pensando nisso, os pesquisa-
dores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicaram, em 2015,
o documento Violência e segurança pública em 2023: cenários exploratórios e
planejamento prospectivo. Partindo de inúmeros dados e análises sobre a segu-
rança pública, esse grupo criou cenários possíveis para a situação do Brasil, de
acordo com a continuidade ou com a transformação das políticas. Eles apontam
determinadas ações que poderiam transformar positivamente o cenário da se-
gurança pública do país.
Conheça algumas dessas ações a seguir.

Investir na redução das vulnerabilidades sociais, principalmente nas áreas


1
mais violentas.

Redirecionar a política de droga para a redução da demanda, dado que até hoje
o foco na contenção da oferta não conseguiu reduzir o consumo e tem efeitos
2 deletérios sobre a segurança pública, como corrupção, violência policial,
conflitos dentro e entre quadrilhas, execução de usuários com dívidas, alto
número de prisões de pequenos traficantes.

3 Fortalecer o controle de armas de fogo.

Fomentar a aplicação de alternativas penais e a reforma do sistema


penitenciário. Hoje, o monitoramento eletrônico abriu a possibilidade de
iniciar um debate com a sociedade de que se podem vigiar condenados fora
das prisões e unidades de internação, o que abre a real possibilidade de a
4
prisão ser descartada como pena principal. Além disso, é necessário criar
condições, por exemplo, com projetos de educação, cidadania e formação
profissional, para que os apenados e sancionados rompam com uma
INTERAÇÃO

trajetória associada à criminalidade.


1. Relacione as recomen-
dações dos especialis-
tas em segurança pú-
Melhorar o financiamento da segurança pública, que passa pela valorização dos
5 blica do Ipea com a
profissionais da área, bem como garantir recursos para as ações de prevenção.
situação retratada nos
dados apresentados na
Investir na polícia investigativa, na perícia e na inteligência policial para página 131. Em sua opi-
assegurar, como já é feito em muitos casos, o levantamento de provas que nião, de que modo as
6
garantam a responsabilização dos envolvidos e a interrupção da atuação de ações listadas aqui po-
infratores recorrentes. dem impactar na reali-
Fonte de pesquisa: Ferreira, Helder Rogério Sant’Ana; Marcial, Elaine Coutinho (org.).
dade dos jovens brasi-
Violência e segurança pública em 2023: cenários exploratórios e planejamento prospectivo. leiros? Você considera
Rio de Janeiro: Ipea, 2015. p. 123-124. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index. isso positivo? Explique.
php?option=com_content&view=article&id=26752. Acesso em: 14 jul. 2020.

Não escreva no livro.


133
Acesso à cultura
Os indicadores sociais também impactam nos níveis de acesso à cultura que
um indivíduo tem em uma sociedade, retomando os índices relacionados à renda
que você analisou no início do capítulo.
Essa situação reflete mais uma continuidade histórica dos municípios brasilei-
ros, associada às desigualdades sociais. Uma delas é a distribuição dos equipa-
mentos culturais – como teatros, salas de cinema, museus, galerias, centros cul-
turais, salas de concertos e bibliotecas –, que, em geral, se concentram nos
grandes centros urbanos. De acordo com dados do IBGE, em 2012, apenas 17%
dos municípios de pequeno porte (com 10 mil a 20 mil habitantes) apresentavam
dois tipos de equipamento cultural.
Outra questão do acesso à cultura é a renda. Usufruir de espaços de cultura
nem sempre é gratuito e, se for necessário realizar deslocamentos para chegar
aos equipamentos culturais, há ainda os custos com o transporte. A questão or-
çamentária também atinge as produções culturais: nem sempre há investimento
garantido ou suficiente para a realização de projetos culturais nacionais.
Entretanto, o acesso à cultura é garantido pela Constituição e, assim, o governo
deve criar estratégias para fomentar a cultura e o acesso de toda a população a
ela. Em 2012, o Plano Nacional de Cultura (PNC) foi lançado pelo governo federal
com esse objetivo. Organizado em 53 metas, o plano estabelece princípios, objeti-
vos e diretrizes que devem ser seguidos pelo poder público para formular e imple-
mentar políticas culturais. As metas são distribuídas nos grupos indicados a seguir.

Disponível em: http://pnc.cultura.gov.br. Acesso em 19 maio 2020. Ministério da Cultura/Governo Federal


Economia Direito Autoral

Educação e Capacitação Diversidade Cultural

Informações e Dados Culturais Fomento, Financiamento e Incentivo

PARA EXPLORAR
Acesso, Difusão e Criação Políticas Culturais
» Plano Nacional de Cultura
Conheça os indicadores sociais
utilizados para subsidiar os
planejamentos de cada meta
no site oficial do Plano Nacio-
nal de Cultura, disponível em:
http://pnc.cultura.gov.br/.
Gestão Pública Espaços Culturais
Acesso em: 29 abr. 2020.

Não escreva no livro.


134
Iniciativas e mudanças estruturais
A partir de 2012, com o início da implementação das ações do PNC, foi possível
identificar algumas tendências de melhorias em relação ao acesso à cultura. Trata-se
de um cenário que ainda continua desafiador, mas que apresenta melhoras à me-
dida que as políticas públicas vão sendo desenvolvidas. Um exemplo disso é a taxa
dos municípios de pequeno porte que apresentavam dois tipos de equipamento cul-
tural em 2012. De acordo com o IBGE, em 2018, a taxa passou de 17% para 51%.
Conheça a seguir algumas ações derivadas do PNC que impactaram diferentes
comunidades brasileiras.
Andre Dib/Pulsar Imagens

Luciana Whitaker/Pulsar Imagens


1 2

Ribeirinhos da comunidade do Lago do Catalão em Iranduba (AM). Estudantes do Instituto Federal em Rondonópolis (MT). Foto de
Foto de 2020. Apoiar e promover publicamente a valorização da 2018. Ampliar em pelo menos 100% (em relação a 2012) o total
diversidade cultural e o respeito, com foco nos povos indígenas e de pessoas beneficiadas anualmente por ações de fomento à
outras comunidades tradicionais é a Meta 6 do PNC. pesquisa, formação, produção e difusão do conhecimento faz
parte da Meta 19 do PNC.
Elisabete Alves/Secretaria Especial
da Cultura/Governo Federal

Marcos Amend/Pulsar Imagens


3 4

Cerimônia de abertura da III Conferência Nacional de Cultura em Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU) em Coari (AM). Foto de
Brasília (DF). Foto de 2013. As conferências nacionais de cultura 2019. A construção de CEUs e a criação de mil espaços que integrem
incentivam a participação da sociedade na elaboração e avaliação lazer, esportes, formação profissional, inclusão digital e serviços de
das políticas públicas de cultura, objetivo da Meta 49 do PNC. assistência social fazem parte da Meta 33 do PNC.
Rogério Reis/Pulsar Imagens

Sérgio Pedreira/Pulsar Imagens

5 6

Casario que abriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Samba de Roda em Vera Cruz (BA). Foto de 2019. Eventos como
Nacional (Iphan) em Pirenópolis (GO). Foto de 2018. A criação de esse contribuem para a realização da Meta 4, política de
15 mil pontos de cultura, em parceria entre os governos federais, valorização dos conhecimentos e expressões das culturas
estaduais e municipais, é a Meta 23 do PNC. populares e tradicionais, e da Meta 18, que visa à qualificação de
pessoas em cursos, fóruns, oficinas e seminários sobre gestão
cultural e demais áreas da cultura.

Não escreva no livro.


135
ATIVIDADES

1 Neste capítulo, você conheceu alguns desafios en- 4 Retome as metas do PNC e faça o que se pede.
frentados pela sociedade brasileira nos quesitos a) Observe as fotos e as iniciativas apresentadas na
renda, segurança pública e acesso à cultura. Com página 135: Há alguma ação semelhante no mu-
base nos debates e dados analisados, escreva uma nicípio e no estado onde você vive? Realize uma
dissertação relacionando esses três itens e a sua pesquisa para responder a essa questão.
vida, como jovem cidadão brasileiro. Você pode abor- b) Se você fosse um governante, que ações realiza-
dar, por exemplo, o modo como as políticas públicas ria em sua comunidade para garantir a todos os
nessas áreas refletem em seu cotidiano. Depois, cidadãos o acesso à cultura? Como você faria isso?
compartilhe seu texto com os colegas. Faça uma pesquisa em publicações impressas ou
digitais para elaborar um plano de ação passo a
2 Faça uma pesquisa dos indicadores sociais e das passo, como se o seu projeto fizesse parte das
políticas públicas existentes ou em planejamento na políticas públicas locais. Apresente seu projeto
região onde você mora. Com base nos resultados da para a turma.
pesquisa, responda às questões a seguir.
a) Quais são os impactos que as políticas públicas 5 (UEL) Sobre violência e criminalidade no Brasil, as-
tiveram no município e no estado onde você sinale a alternativa correta.
reside? a) As políticas repressivas contra o crime organiza-
b) Em sua opinião, quais foram os três impactos do são suficientes para erradicar a violência e a
principais? Quais foram os critérios utilizados para insegurança nas cidades.
que você chegasse a essa conclusão? b) As altas taxas de violência e de homicídios contra
c) Em sua opinião e com base nas informações jovens em situação de pobreza têm sido revertidas
obtidas sobre indicadores sociais e políticas pú- com a eficácia do sistema prisional.
blicas onde você vive, há aspectos que precisam c) As desigualdades e assimetrias nas relações
ser melhorados? Quais? sociais, a discriminação e o racismo são fatores
que acentuam a violência no Brasil.
3 Qual é a situação da segurança pública em seu mu- d) A violência urbana contemporânea é resultado
nicípio? E no seu estado? Forme dupla com um cole- dos choques entre diferentes civilizações que se
ga e pesquisem os principais indicadores sociais manifestam nas metrópoles brasileiras.
sobre esse tema, referentes ao estado e ao município e) O rigor punitivo das agências oficiais no combate
onde vivem. Concluída a pesquisa, sigam as orienta- à criminalidade impede o surgimento de justicei-
ções abaixo. ros e milícias.
a) Sistematizem os dados em tabelas ou gráficos,
escrevendo parágrafos explicativos para cada 6 (FGV) O Plano Nacional de Cultura (PNC), instituído
item. pela Lei n. 12 343, de 2 de dezembro de 2010, tem
b) Apresentem os resultados para a turma e ouça por finalidade o planejamento e a implementação
as descobertas realizadas por outras duplas. de políticas públicas voltadas à proteção e à promo-
ção da diversidade cultural brasileira. Elaborado por
c) As pesquisas que realizaram refletem as ações
meio de ampla participação da sociedade e dos
indicadas pelo Ipea para 2023? Analisem os dados gestores públicos, o Plano estabelece metas para
obtidos com a pesquisa para responder. Se os um período de dez anos. Quanto ao tema, analise os
dados não indicarem uma resposta significativa, objetivos a seguir:
retomem a etapa de pesquisa, buscando infor-
I. profissionalizar e especializar a presença da arte
mações sobre o tema em publicações impressas
e da cultura no ambiente educacional;
ou digitais.
II. reconhecer e valorizar a diversidade cultural,
d) O que precisa ser melhorado em relação à segu-
étnica e regional brasileira;
rança pública do município e do estado onde vi-
vem? Elaborem uma lista coletiva, utilizando os III. ampliar a presença e o intercâmbio dos gestores
resultados das pesquisas realizadas pelas duplas, culturais brasileiros no mundo contemporâneo;
e encaminhem-na para a Secretaria de Seguran- IV. consolidar processos de consulta e participação
ça Pública do estado onde vivem. Lembrem-se de da sociedade na formulação das políticas culturais.
escrever um texto explicativo, contando sobre os São objetivos do Plano Nacional de Cultura somente:
debates e as pesquisas realizados. Solicitem, a) I e II;
ainda, uma devolutiva do governo, para que pos-
b) I e III;
sam acompanhar os impactos da ação empreen-
dida por vocês. c) I e IV;
e) Compartilhem com a comunidade escolar as in- d) II e IV;
formações resultantes dessa ação. e) III e IV.

Não escreva no livro.


136
PRÁTICAS DE TEXTO
Debate regrado

Proposta • Um grupo que formará o público e poderá fazer


perguntas aos debatedores.
Com base nos desafios abordados neste capítulo
3. Façam uma pesquisa, em livros, jornais, revistas,
e nos projetos políticos estudados no capítulo anterior,
enciclopédias, etc., sobre o tema e a perspectiva
você e os colegas vão realizar um debate regrado em política escolhida. Definam o posicionamento do
sala de aula para discutir e defender uma proposta po- grupo no debate, os argumentos favoráveis e os
lítica. O debate é realizado oralmente e seus partici- possíveis contra-argumentos que possam ser
pantes apresentam argumentos para convencer o pú- apontados pelo grupo oposto.
blico sobre determinado tema ou proposta.
4. Combinem os detalhes do debate e o tempo de
Público Alunos da turma. duração de cada etapa.

Avaliar e discutir diferentes projetos po- 5. Realizem o debate na data combinada. O(A) me-
Objetivo líticos por meio de argumentos consis- diador(a) deverá apresentar os participantes, o
tentes. tema e as regras de participação e sortear a ordem
de apresentação dos debatedores.
Circulação Sala de aula.
6. O debate pode ser realizado de diversas maneiras.
A seguir, sugerem-se algumas etapas. Façam uma
Rubens Chaves/Pulsar Imagens

pesquisa.
• Pergunta do(a) mediador(a) ou do público sobre
o tema abordado, sendo a primeira pergunta
do(a) mediador(a).
• Resposta de cada um dos grupos, apresentando
seus argumentos e propostas.
• Segunda resposta dos grupos em relação aos
apontamentos do grupo anterior.
• Encerramento final pelo(a) mediador(a), que de-
ve sintetizar os argumentos apresentados pelos
Estudantes realizam debate com professores em
participantes, destacar o tema do debate e agra-
São Paulo (SP). Foto de 2017.
decer a presença aos participantes.

Planejamento e elaboração 7. Avaliem quantas rodadas serão necessárias antes


do encerramento.
1. Os alunos devem dividir-se em dois grupos, e cada 8. Todos os participantes devem expor seus argu-
um vai apresentar propostas e opiniões a respeito mentos de forma clara e objetiva, utilizando a
de um tema de interesse público (exemplos: saúde, linguagem formal, e respeitar os turnos de fala
educação, segurança pública, leis trabalhistas, etc.), entre os participantes.
com base em uma das perspectivas econômico-po-
líticas a seguir:
Avaliação do debate
• neoliberalismo;
1. Os participantes se expressaram de maneira clara
• desenvolvimentismo.
e objetiva, respeitando a pluralidade de opiniões e
2. Definam as funções dos participantes. de ideias?
• Dois grupos de debatedores, que apresentarão 2. Os argumentos utilizados pelos debatedores foram
os argumentos, os contra-argumentos e respon- consistentes? Quais foram os argumentos mais
derão às perguntas do público; convincentes utilizados ao longo do debate?
• Um(a) mediador(a), que organizará o debate, apre- 3. Que conteúdos vocês aprenderam a respeito de
sentando os participantes e o tema, fazendo per- cada perspectiva política no processo de pesquisa
guntas e controlando o tempo de fala de cada um; e no debate?

Não escreva no livro.


137
12
POSSIBILIDADES DE
CAPÍTULO

FUTURO: A PERIFERIA
Ao longo deste livro, dialogamos sobre ética e cidadania com foco no Brasil e
» Competências e na comunidade onde você vive. Analisamos problemas estruturais – construídos
habilidades
historicamente – e também como a democracia se constitui em nosso país. Mas
CGEB1, CGEB2, CGEB3,
CGEB4, CGEB5, CGEB8, e as possibilidades de futuro? Pensando nelas, vamos conhecer algumas inicia-
CGEB9 e CGEB10. tivas realizadas por indivíduos e coletivos que ocupam espaços nem sempre va-
CECHSA1: EM13CHS101. lorizados: as periferias.
CECHSA5: EM13CHS501, Espaço geográfico, local de fala, identidade, a periferia é formada pela multiplici-
EM13CHS502 e
dade de percepções, vivências e experiências. Caracterizada, na maior parte das ve-
EM13CHS503.
zes, como um negativo dos privilégios sociais, a periferia é, sim, um dos grandes em-
CECHSA6: EM13CHS603 e
EM13CHS605. blemas da desigualdade social no país e de todas as mazelas que dela decorrem,
mas é também a vida e a luta cotidiana de milhares de brasileiras e brasileiros.
A violência é uma das ideias mais comumente associadas à periferia, mas cer-
tamente não é a única a defini-la. Talvez um dos principais conceitos para com-
preendê-la seja a desigualdade, tanto no que se refere à distribuição de acessos
e privilégios sociais como também às diversas realidades periféricas pelo Brasil,
tendo em vista que pensar periferias no Nordeste, por exemplo, exige reflexões
e ferramentas distintas das necessárias para refletir sobre as experiências peri-
féricas do Sudeste.
As desigualdades sociais, como vimos anteriormente, configuram-se em um
dos principais desafios para o pleno acesso à cidadania e para a construção de
uma realidade plenamente democrática. Em 2020, por exemplo, as regiões peri-
féricas foram as mais afetadas pela pandemia de covid-19. O trecho de reporta-
gem a seguir comenta sobre esse dado.

O problema é evidente: enquanto observa-


Fundamental Produções/OPNI

mos bairros nobres parados, com a quase to-


talidade de seus moradores confinados em
casa, muitas das favelas do país notaram ape-
nas uma pequena redução em suas atividades.
Isso se dá, ao menos em parte, porque 47% dos
trabalhadores destas comunidades são autô-
nomos e outros 8% informais. Para eles, parar
de trabalhar significa abdicar de sua renda,
decisão que a imensa maioria não pode se dar
ao luxo de tomar. De acordo com pesquisa do
Data Favela, 72% dos residentes dessas comu-
nidades não têm reservas de dinheiro o sufi-
ciente para manter seu já baixo padrão de vi-
da por sequer uma semana.
Grafite feito pelo Grupo
OPNI, formado por jovens Emílio, Samuel. Não podemos deixar a periferia à própria sorte na crise do coronavírus. El País,
moradores do bairro de São 16 abr. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-04-16/nao-podemos-deixar-a-
Mateus, São Paulo (SP). periferia-a-propria-sorte-na-crise-do-coronavirus.html. Acesso em: 3 maio 2020.
Foto de 2016.

1. O que você entende por periferia?


2. De que forma os dados apresentados no trecho da reportagem podem ter
afetado as regiões periféricas?
3. Além dos fatores apresentados na reportagem, de que outras formas as regiões
periféricas podem ter sido afetadas pela pandemia?

Não escreva no livro.


138
PERIFERIA: ESPAÇO E IDENTIDADE
Em um primeiro momento, a palavra “periferia” evoca a ideia daquilo que ocu-
pa as margens, em oposição à ideia de centro. Essa acepção, que se baseia na
oposição centro-periferia, foi apropriada por pesquisadores dos fenômenos ur-
banos na segunda metade do século XX para explicar os fenômenos e as dinâ-
micas decorrentes dos processos de crescimento urbano. Em sentido estrito, por-
tanto, periferia refere-se às regiões que se encontram além da região central de
determinada zona urbana.
É a partir das relações sociais, políticas e econômicas que se estabelecem nes-
sas e com essas regiões que o significado de periferia se amplia, passando a
abranger também o sentido de exclusão. Essa exclusão se refere ao processo pe-
lo qual as camadas menos favorecidas da sociedade são “empurradas” para as
regiões periféricas, em decorrência dos altos custos de vida e de moradia nas re-
giões ditas centrais (mesmo que não necessariamente se localizem no centro de
determinada zona urbana). O alto custo dessas regiões, por sua vez, decorre de
sua valorização imobiliária por fatores relacionados à infraestrutura, aos investi-
mentos públicos e privados, etc.
Se, por um lado, a periferia se refere a esses espaços de não acesso (ou pouco
acesso) à cidade, por outro, também se refere às pessoas que neles habitam, o
que inclui (mas não se restringe) pessoas de menor poder aquisitivo, bem como
seus modos de vida, hábitos de consumo, suas produções culturais e identidades.
A noção de identidade (aquilo que é próprio do Eu e do Nós) é construída com
a experiência da alteridade (aquilo que se refere ao Outro). O processo de exclu-
são mencionado acima provoca a experiência da alteridade ao contrapor dois
grupos sociais antagônicos: de um lado, o grupo dos que vivem no centro, a quem
estão disponíveis os privilégios sociais; do outro, os que vivem nas periferias e
têm seu acesso negado a esses direitos. Daí, surge o reconhecimento de uma
identidade periférica, isto é, a identidade compartilhada entre aqueles que viven-
ciam a situação de exclusão em relação aos privilégios do centro.
REFLEXÃO

Múltiplas identidades
Ao considerarmos as experiências perifé-
Tom Vieira Freitas/Fotoarena

ricas por todo o Brasil, é preciso levar em con-


ta que, se, por um lado, existe uma noção de
compartilhamento identitário entre os grupos
excluídos dos privilégios sociais, por outro, as
especificidades de cada região criam subje-
tividades, provocando novas experiências de
alteridade entre os diversos grupos periféri-
cos. Somam-se a essas especificidades outros
Jovens do Capão Redondo,
recortes de subjetividade, como gênero, cor, bairro da periferia da zona
orientação sexual, etc., originando, assim, sul de São Paulo (SP). Foto
múltiplas identidades periféricas. de 2017.

1. Levando em consideração os recortes de


Luciana Whitaker/Pulsar Imagens

subjetividade e a multiplicidade de iden-


tidades periféricas, você acredita que
todos os sujeitos periféricos vivenciem a
exclusão dos privilégios sociais da mesma
maneira? Por quê?
2. Em sua opinião, é possível que os indiví-
duos que integram um mesmo grupo iden-
titário possam oprimir outros sujeitos
Jovens da periferia durante
desse grupo que vivenciam uma subjeti- o Slam das Minas no Jardim
vidade diferente da sua? Justifique com Botânico, Rio de Janeiro
exemplos. (RJ). Foto de 2020.

Não escreva no livro.


139
PRODUÇÃO CULTURAL NAS PERIFERIAS
Não raramente, algumas pessoas costumam dizer que funk não é música. Mui-
tos se mostram indignados com a popularidade que esse estilo musical tem ad-
quirido nos últimos anos e, muitas vezes, fazem um juízo de valor bastante nega-
tivo a respeito tanto dos que produzem quanto dos que apreciam esse tipo de
música. A mesma lógica também se aplica a diversas outras manifestações cul-
turais que tiveram suas origens nas periferias, como o rap, o pixo, o passinho, os
bailes de favela, entre outras, cuja existência, frequentemente, beira à criminali-
dade para a opinião pública.
A estigmatização dessas produções culturais se insere no contexto das diver-
sas opressões impostas às populações historicamente marginalizadas. Como vis-
to anteriormente, desde os tempos da escravidão, os ritmos e as demais produ-
ções culturais negras são relegados à marginalidade, considerados inferiores,
obscenos, criminosos e inapropriados. Essa marginalização corresponde a uma
visão de mundo racista e etnocêntrica, que tem a branquitude como referencial e
medida para a leitura de todo o mundo e, portanto, associa as produções culturais
de matriz europeia a ideias como civilidade, evolução, bondade, limpeza e ordem,
relegando à negritude a condição oposta a essas características.
Outro importante fator a ser levado em consideração se refere à criminalização
da pobreza, que, nas especificidades da sociedade brasileira, também tangencia
a questão do racismo. No contexto da emergência do capitalismo industrial, con-
figura-se aquilo que o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) chamou de
sociedade disciplinar, na qual as elites passam a se preocupar não somente com
as infrações cometidas pelos sujeitos, mas com a identificação de grupos sociais
considerados propensos à criminalidade por essas elites. Nesse sentido, a estig-
matização das culturas periféricas também se insere no contexto do mito das
classes sociais perigosas, sob a ótica das elites culturais.
Portanto, reconhecer e valorizar as produções culturais periféricas como legí-
timas manifestações culturais, que são elaboradas a partir das vivências e sabe-
res dessas parcelas tão significativas da sociedade, corresponde a um ato de re-
sistência contra a dominação cultural branca e elitista e, também, de reparação
Dançarinos de funk se apresentam em
frente ao Teatro Municipal, no Rio de do direito de produzir cultura, que tem sido negado a diversos agentes sociais ao
Janeiro (RJ). Foto de 2017. longo da história brasileira.

Mauro Pimentel/AFP

140
VOZES PERIFÉRICAS
Apesar da estigmatização das produções culturais periféricas, pode-se notar,
por meio da visibilidade em redes socais de alguns artistas oriundos de perife-
rias, bem como da extensa utilização de suas músicas em trilhas sonoras de no-
velas, que essas produções culturais têm adquirido grande destaque no cenário
musical brasileiro.
Se, por um lado, a popularização de ritmos como o rap e o funk tem contribuí-
do para diminuir estigmas e levar as vozes periféricas para além dos limites da
periferia, por outro, também evidencia uma lógica que torna exótica e, ao mesmo
tempo, oculta as identidades periféricas.
Por “tornar exótica” entende-se a valorização de aspectos idealizados dos co-
tidianos periféricos como algo diferente, cuja existência é condicionada à apre-
ciação das classes dominantes como um passatempo ou lazer. Essa perspectiva,
além de contribuir para a perpetuação de estereótipos, invisibiliza todos os de-
mais aspectos do cotidiano das periferias que, porventura, não sejam tão agra-
dáveis à sensibilidade das classes mais favorecidas da sociedade.
Um outro aspecto a ser levado em consideração nessa dinâmica de projeção e
ocultação é a forma de representação televisiva da periferia, elaborada geralmen-
te a partir de uma visão externa, que enxerga o sujeito periférico não como um
igual, mas como um outro, pertencente a um grupo distinto. Esse outro é, na maio-
ria das vezes, representado de forma subalterna não como um sujeito ativo de
suas próprias narrativas, mas, muitas vezes, como um objeto passivo diante das
intempéries do destino.

Subjetividades
A projeção das musicalidades periféricas tem contribuído para que outras vo-
zes marginalizadas também sejam ouvidas. É o caso, por exemplo, de artistas mu-
lheres e LGBTQI+ em periferias, que sofrem uma dupla marginalização: por seu
local de origem e pelo gênero e/ou sexualidade com o qual se identificam.
A cena musical periférica e o rap, em especial, se configuraram como ambien-
tes predominantemente masculinos e heteronormativos, muitas vezes reprodu-
tores de estereótipos e preconceitos relacionados a gênero e sexualidade. A pro- Heteronormativo: refere-se a valores,
dução musical de artistas mulheres e LGBTQI+ desafia essa lógica da ações e conceitos que são pautados
heteronormatividade masculina e dá voz às subjetividades das periferias, retra- com base em um referencial relacio-
nado à heterossexualidade.
tando suas vivências, dores, violências, lutas e empoderamentos.
Bruno Santos/Folhapress

Ale Frata/Código19/Futura Press

Karol Conka, uma das vozes mais emblemáticas do rap feminino na A cantora e ativista trans Linn da Quebrada faz do seu corpo e de sua
atualidade. Com suas letras e batidas fortes, a rapper relata o cotidiano arte um instrumento de resistência contra a violência direcionada a
e a luta de mulheres negras na periferia. São Paulo (SP). Foto de 2018. corpos negros, trans e periféricos. São Paulo (SP). Foto de 2020.

Não escreva no livro.


141
PERIFERIA LITERÁRIA
Apesar de desempenhar um papel recorrente como tema e objeto das produ-
ções literárias do país, a periferia e os indivíduos que nela habitam têm adquirido
destaque na literatura nacional ao longo das últimas décadas. A grande novidade
se relaciona ao protagonismo periférico nessas produções literárias: a periferia
deixa de ocupar um papel de objeto, representada pelo olhar externo, para ocu-
par o papel de protagonista, enquanto local de produção literária, desenvolvida
pelos próprios sujeitos que dela fazem parte. Em outras palavras, é a periferia re-
presentando a si mesma.
Sobre essa produção literária periférica, o poeta mineiro Sérgio Vaz escreve:

A periferia, que sempre foi lugar de gente trabalhadora e supostamente ninho da


violência, como querem as autoridades nos fazer acreditar, ganhava, às custas de sua
própria dor e da sua própria geografia, uma nova poesia, a poesia das ruas.
Uma poesia única, que nasce do mesmo barraco de Carolina de Jesus, que brota
da panela vazia, do salário mínimo, do desemprego, das escolas analfabetas, do bacu-
PARA EXPLORAR
lejo na madrugada, da violência que ninguém vê, da corrupção e das casas de alve-
» Vozes dos porões: a litera- naria fincadas nos becos e vielas das favelas das periferias da Zona Sul de São Paulo.
tura periférica/marginal do
Brasil, de Alejandro Reyes. Uma poesia dura, seca, sem papas na língua, ora sem crase, ora sem vírgula, mas
Rio de Janeiro: Aeroplano, ainda assim poesia, com cheiro de pólvora, com gosto de sangue, com o pus da doen-
2013. ça sem remédio, com o pé descalço, com medo, com coragem, com arregaço, com
No livro, o escritor, jornalista melaço da cana, com o cachimbo maldito, mas que caminha com endereço certo: o
e ativista Alejandro Reyes coração alheio.
analisa a produção literária
A poesia tinha ganhado as ruas e nunca mais seria a mesma.
periférica/marginal, explici-
tando os diversos diálogos, os A Academia? Que comam brioches!
sujeitos sociais e os contextos Vaz, Sérgio. Cooperifa: antropofagia periférica. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2009. p. 115.
que envolvem essa produção.

Um dos grandes marcos dessa literatura periférica são os saraus, entre os quais
podem-se citar os saraus da Cooperifa, que ocorrem desde 2001 na zona sul da
cidade de São Paulo, como um dos precursores desse movimento. Nesses saraus,
espaços comuns são ressignificados enquanto palco de expressão literária, no
qual os poetas da periferia apresentam suas obras.
A iniciativa dos saraus de periferia tem se disseminado por diferentes regiões
do Brasil, atraindo públicos cada vez mais diversificados que não se restringem
somente aos que habitam em regiões periféricas. Tem inspirado também outros
Perifacon, evento voltado à cultura
nerd e geek na periferia, em São movimentos que têm por objetivo divulgar as produções literárias das periferias
Paulo (SP). Foto de 2020. feitas a partir da ótica e da subjetividade dos que nelas vivem.
Roberto Vazquez/Futura Press

142
EMPREENDEDORISMO PERIFÉRICO
Nos últimos anos, diversas ações empreendedoras originadas nas periferias
brasileiras têm chamado a atenção de pesquisadores do mercado financeiro e tam-
bém da população em geral para uma das inúmeras contradições que caracterizam
esses espaços: apesar da exclusão social e financeira, as periferias não se configu-
ram como espaços econômicos inférteis. Essas ações vêm demonstrando que elas
têm um potencial econômico com características específicas e que é possível, sim,
empreender nessas regiões não somente como alternativa à crescente escassez
de trabalhos formais no país, mas também como forma de gerar impactos sociais
positivos que transformem a realidade da comunidade.
A matéria a seguir, publicada em novembro de 2019, pela plataforma Ecoa,
comenta sobre a primeira edição do G10 Favelas, iniciativa de lideranças comu-
nitárias periféricas que, à semelhança das reuniões dos blocos econômicos mais
poderosos do mundo, buscam discutir formas de cooperação econômica entre as
comunidades de todo o país.
G10 favelas. Fac-símile: ID/BR

O G10 das Favelas


atua para o
desenvolvimento de
ações que promovam
o protagonismo nas
comunidades de
diversas cidades
brasileiras.

Realizada no último sábado (23), em Paraisópolis, na capital paulista, a primeira


edição do G10 Favelas – Slum Summit (Cúpula das Favelas, em tradução livre) mar-
cou a formação do bloco que reúne as dez favelas brasileiras com maior poder eco-
nômico do país. O objetivo da iniciativa é juntar esforços para buscar investimentos
para os negócios locais.
[…]
No evento, que aconteceu no ginásio de Paraisópolis e reuniu pelo menos 720 pes-
soas (a lotação do local), os organizadores anunciaram que, por meio de um financia-
mento coletivo, pretendem arrecadar R$ 2 milhões para investirem em projetos cons-
truídos dentro das regiões periféricas. O plano é que o evento volte a acontecer
anualmente.
[…]
“Queremos incentivar as pessoas de fora e [de] dentro da comunidade a olhar pa-
ra cá como um grande potencial de negócios. Com isso, vamos conseguir desenvol-
ver as comunidades e elas vão passar a não depender apenas de recursos externos”,
explica Daniel Cavaretti, fundador do Canal Transformadores e idealizador do G10.
De acordo com um estudo realizado pela empresa de comunicação Outdoor Social
em 2018, juntas, essas comunidades teriam um potencial consumo de R$ 7,7 bilhões
no ano seguinte. Foi a partir desse dado que os líderes comunitários tiveram a ideia
de criar o grupo.
O objetivo é que as conquistas do G10 sejam compartilhadas com outras favelas
brasileiras também. “Queremos que qualquer favela possa ser agente de sua própria
transformação e que possa trocar experiências umas com as outras”, afirma Gilson
[Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores de Paraisópolis e um dos idea-
lizadores do G10].
KomuKai, Debora. Primeiro G10 Favelas: as dez comunidades mais ricas do Brasil se unem. Ecoa/
UOL, 25 nov. 2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2019/11/25/
primeiro-g10-favelas.htm. Acesso em: 30 abr. 2020.

Não escreva no livro.


143
EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Uma das formas de empreendedorismo que mais tem se destacado nos últi-
mos anos é o empreendedorismo social, também conhecido como empreendedo-
rismo de impacto. Em linhas gerais, pode-se dizer que essa forma de empreende-
dorismo se caracteriza por ações locais que visam à resolução ou minimização de
determinada situação-problema em uma comunidade, causando, assim, impactos
positivos e gerando transformações sociais na comunidade em questão.
A ideia de empreendedorismo social em si não é nova e diversas empresas têm
atuado nesse setor. Entretanto, nos últimos anos, indivíduos das periferias
têm se destacado ao empreender socialmente em suas comunidades. Segundo
pesquisadores do fenômeno, esse tipo de empreendimento feito de dentro repre-
senta diversos ganhos, tanto no sentido de incentivar o protagonismo e a inde-
pendência financeira das regiões periféricas quanto pelo conhecimento acerca
da realidade, dos problemas e das dinâmicas locais.

Julia Ferreira/Acervo da fotógrafa


Thiago Vinicius é empreendedor
paulistano que atua em regiões
periféricas da cidade. Nascido e
criado no Campo Limpo, bairro
da periferia da zona sul de São
Paulo, Thiago está à frente de
diversas ações empreendedoras
que promovem impactos sociais
nas regiões onde atuam.
Foto de 2019.

AÇÃO E CIDADANIA

Ação local
Como visto anteriormente, as ações de empreendedorismo social têm um gran-
de potencial para a resolução de situações-problema locais, bem como para o in-
vestimento em medidas de médio e longo prazo que causem impactos positivos
e transformem a realidade de determinada comunidade.
À semelhança do que é feito nessas ações, reúna-se com mais quatro colegas
para elaborar uma ação que tenha o objetivo de resolver ou minimizar alguma situa-
ção-problema da comunidade em que vocês vivem ou na qual a escola está inserida.
Para isso, vocês deverão:
a. identificar uma situação-problema em sua região;
b. elaborar um plano de ação com estratégias para a resolução ou a minimização
dessa situação-problema;
c. elaborar o cronograma do plano de ação;
d. identificar parcerias que possam auxiliar na resolução dessa situação-problema;
e. levantar os custos e prospectar recursos financeiros para viabilizar as estra-
tégias elaboradas na etapa 2;
f. seguir as etapas estipuladas no cronograma do plano de ação;
g. avaliar os resultados alcançados.

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144
ATIVIDADES

1 No excerto da entrevista a seguir, concedida à Re- tivos prevenir pela dissuasão a ocorrência de bailes
vista Cult, em 2017, a cantora e ativista Linn da em locais públicos.
Quebrada comenta sobre seu ativismo diante das
a) A realização de festas e eventos em espaços
violências da sociedade.
públicos, desde que atendendo a determinadas
legislações, é considerada uma atividade permi-
tida pela lei. Apesar disso, em muitas cidades,
[…]
projetos de lei e ações policiais, como a descrita
O que é terrorista de gênero? anteriormente, buscam coibir esse tipo de ativi-
Eu lancei essa ideia porque eu acho que a violên- dade. Em sua opinião, por que isso acontece?
cia da sociedade com alguns corpos, corpos como o b) Em sua opinião, o emprego da violência da polícia
meu, pretos, transviados, de quebrada, essa violência militar contra a população civil em ações que não
está posta. É necessário responder também com ter- incorram em crime se justifica? Por quê?
ror, com agressividade, colocando o meu corpo como
arma, como protesto, manifesto, como pólvora diante 3 (Unicamp) Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo
desse sistema que é violento cotidianamente. Literário”, um manifesto do escritor Ferréz.
Eu penso, antes de tudo, que o “choque” é mais
consequência e não causa do conservadorismo. Co-
mo é viver no Brasil e na zona leste nos últimos anos? A capoeira não vem mais, agora reagimos com a
Exatamente. Ele é resposta. Essa violência, essa palavra, porque pouca coisa mudou, principalmente
opressão, não só na zona leste, mas em toda a [cidade para nós. A literatura marginal se faz presente para
de] São Paulo, nos territórios por onde eu passei, sem- representar a cultura de um povo composto de mino-
pre existiu. Essa hostilidade para corpos como o meu, rias, mas em seu todo uma maioria. A Literatura Mar-
negros, para corpos travestis, corpos trans, corpos ginal, sempre é bom frisar, é uma literatura feita por
pretos, está dada. O que tem mudado é a formação minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas. Li-
de redes com pessoas que vivem essa mesma situa- teratura feita à margem dos núcleos centrais do saber
ção ou situações semelhantes, estabelecendo parce- e da grande cultura nacional, isto é, de grande poder
rias para nos mantermos vivas. Juntas nós consegui- aquisitivo. Mas alguns dizem que sua principal ca-
mos nos manter mais fortes, nós conseguimos ocupar racterística é a linguagem, é o jeito que falamos, que
outros espaços, conseguimos nos proteger. contamos a história, bom, isso fica para os estudiosos.
Cansei de ouvir: — “Mas o que cês tão fazendo é se-
[…]
parar a literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca
Trói, Marcelo de. Linn da Quebrada: O “cis-tema” só valoriza cansarei de responder: — “O barato já tá separado há
os saberes heterossexuais. Cult, 8 ago. 2017. Disponível
muito tempo, foi feito todo um mundo de teses e de
em: https://revistacult.uol.com.br/home/entrevista-linn-da-
quebrada/. Acesso em: 3 maio 2020. estudos do lado de lá, e do de cá mal terminamos o
ensino dito básico.”
(Adaptado de Ferréz. Terrorismo literário. In: Ferréz (org.).
a) Na entrevista, Linn da Quebrada menciona sub- Literatura marginal: talentos da escrita periférica.
jetividades que são vítimas da violência da socie- Rio de Janeiro: Agir, 2005. p. 9, 12, 13.)
dade. Quais são essas subjetividades?
b) Quais seriam as violências da sociedade?
c) Em sua opinião, por que essas subjetividades são Ferréz defende sua proposta literária como uma
vítimas da violência da sociedade? a) descoberta de que é preciso reagir com a palavra
d) De que forma Linn da Quebrada luta contra essa para que não haja separação entre a grande cul-
violência? tura nacional e a literatura feita por minorias.
b) comprovação de que, sendo as minorias de fato
2 Em dezembro de 2019, uma ação policial de disper- uma maioria, não faz sentido distinguir duas lite-
são de um baile funk em Paraisópolis, na zona sul raturas, uma do centro e outra da periferia.
da cidade de São Paulo, deixou nove mortos e doze
feridos. Apesar de as mortes terem sido causadas c) manifestação de que a literatura marginal tem
por pisoteamentos durante a dispersão, a ação dos seu modo próprio de falar e de contar histórias,
policiais foi marcada pelo uso desproporcional de já reconhecido pelos estudiosos.
violência contra os frequentadores do baile. Essa d) constatação de que é preciso reagir com a palavra
ação integrava um conjunto de ações conhecidas e mostrar-se nesse lugar marginal como literatu-
como “Operação Pancadão”, que, segundo o site da ra feita por minorias que juntas formam uma
Polícia Militar, tem por um de seus principais obje- maioria.

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145
PRÁTICAS DE PESQUISA

Futuro profissional

Para começar
Nesta unidade, estudamos muitos problemas vivenciados por nosso país nos
últimos anos e discutimos a importância das políticas públicas e das ações indi-
viduais e comunitárias para vencê-los. Além disso, refletimos sobre os desafios
que os jovens enfrentam no mercado de trabalho. Esses desafios começam na
escolha da carreira.
Leia o artigo a seguir sobre uma pesquisa feita com jovens em fase de decidir
o próprio futuro profissional.

Alessandro Xavier, com 19 anos, acabou de sair do ensino médio, e Matheus Teles,
de 21 anos, está na faculdade. Os dois jovens têm algo em comum, além da pouca
idade: não sabem ao certo que carreira escolher. Junto com eles estão também outros
jovens indecisos. De acordo com uma pesquisa realizada, durante a Expo CIEE 2019,
pelo CPS (Cedaspy Professional School) – rede de escolas de capacitação e profissio-
nalização –, 60% dos jovens ainda têm dúvida quanto ao futuro profissional.
Alessandro pretende se matricular em um curso pré-vestibular. Pedagogia, gestão
ambiental e relações públicas são suas opções. Já Matheus está no quinto semestre
de publicidade e propaganda. Mas esse não é o seu primeiro curso e ainda não tem
certeza se é o ideal para ele.
Matheus conta que, enquanto alguns colegas sempre tiveram certeza da profis-
são a seguir, essa dúvida o acompanha desde o período escolar. “Eu me identifica-
va com várias matérias diferentes”. Mas o jovem buscou a resposta. Pesquisou gra-
des curriculares, fez testes vocacionais, conversou com professores, até que
encontrou o curso ideal: farmácia. Dois semestres depois, a escolha não parecia tão
acertada assim.
De acordo com a psicóloga e analista de orientação vocacional da Central de Car-
reiras da Universidade Salvador (Unifacs), Ludmila Guimarães, essa indecisão é mui-
to comum e está atrelada à falta de autoconhecimento. “Se eu não me conheço, não
sei quais minhas habilidades, competências e interesses, dificilmente vou fazer uma
escolha acertada”, afirma a psicóloga.
Alessandro, depois de muita dúvida, fez sua escolha: pedagogia. Ele conta que
a decisão não foi fácil, mas precisou ser tomada para que pudesse estudar para o
vestibular. […]
Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo CPS, 40% dos jovens indecisos
têm dúvida entre áreas completamente diferentes. Foi o que aconteceu com Ma-
theus. Depois de muita angústia e pesquisas, o estudante resolveu mudar de área.
Dessa vez, o curso ideal era publicidade. Assim que decidiu, conversou com os pais
e se matriculou.
Para Ludmila, o desconforto sofrido por Matheus e outros jovens que fazem esse
tipo de transição é ainda maior por conta do investimento e do peso da idade. Já Si-
mone Brasil relaciona isso à pressão exercida pela sociedade.
[…]
Já a pressão sofrida por Alessandro é diferente. Para Brasil, o desconforto está no
“ter que escolher”, inerente à fase.

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146
Ciclo
“Terminar o ensino médio e começar uma faculdade é algo tido como um ciclo, e,
socialmente, somos cobrados por isso. Nem sempre estamos prontos ou queremos
ter filhos depois de casar, assim como nem sempre temos uma escolha ao final do
colégio. Por isso, é preciso entender e respeitar o momento e as decisões de cada
um”, aconselha.
As especialistas concordam que a dúvida em relação ao futuro profissional sem-
pre existiu. Para Simone, o que mudou foi a importância atribuída pela família a esse
assunto. Já para Ludmila, a mudança está no grande leque de opções que surgiram.
“Antigamente não existiam muitas opções. Eu gosto de matemática, vou fazer en-
genharia. Mas qual delas? Antes era só a civil. Essa indecisão está atrelada às inúmeras
possibilidades e facilidades que temos. Quero mudar de curso, faço uma transferência”.
As cobranças incomodam Matheus, mas ele garante que elas não partem dos pais,
“eles são compreensivos”. Para o jovem, é a sociedade que cobra que ele se sinta
pronto. É o que Simone Brasil chama de pressões contemporâneas.
“Hoje vivemos comparando o palco da outra pessoa com os nossos bastidores.
Isso é injusto, é feito a partir de um recorte que mostra apenas a parte bela. Por isso,
observamos comparações cruéis, como ‘meu amigo da minha idade está se formando
e ganhando dinheiro e eu ainda não me decidi’. Isso gera muito sofrimento. Cada
pessoa tem sua trajetória e a sua régua”.
Alessandro promete que ainda vai fazer os outros cursos, e Matheus ainda tenta
se encontrar. A dica das especialistas para eles e outros jovens é buscar conhecer a
si mesmo e estudar a realidade das profissões, a parte boa e a ruim.
BamBerg, Mariana. Maioria dos jovens ainda tem dúvidas sobre carreira. A Tarde, 30 jun. 2019.
Disponível em: https://atarde.uol.com.br/empregos/noticias/2071086-maioria-dos-jovens-
ainda-tem-duvidas-sobre-carreira. Acesso em: 13 abr. 2019.

Nesta seção, vocês vão realizar uma pesquisa para coletar informações sobre
como os jovens que estão no Ensino Médio vivenciam essa questão e se plane-
jam para o futuro.

O problema
Ao longo do Ensino Médio, principalmente ao final dele, os jovens se depa-
ram com diversas questões sobre seu futuro, principalmente em relação à vida
profissional. Quais são as profissões mais almejadas pelos jovens, que critérios
seguem para escolhê-las e como se planejam e agem para concretizar suas es-
colhas profissionais?
Roberto Casimiro/Fotoarena

Feira de profissões realizada em São Paulo (SP). Foto de 2017.

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147
A investigação Parte II – Elaboração do roteiro
• Prática de pesquisa: grupo focal 1 Elaborem um roteiro com questões que pos-
sam ajudar o grupo a responder ao problema
Material
da pesquisa. É importante que as perguntas
• Caderno para anotações, lápis e caneta sejam bastante abertas, para que os partici-
• Gravador ou celular pantes do grupo focal possam se expressar o
mais livremente possível. Elas devem funcio-
• Cartolinas
nar como disparadoras de uma discussão, e
não ter uma resposta simples do tipo sim ou
Procedimentos não. Seguem alguns exemplos:
• Que profissão vocês desejam seguir?
Parte I – Planejamento • Que critérios consideraram para essa escolha?
1 Organizem-se em grupos de quatro ou cinco in- • Como vocês planejam o percurso para estar
aptos a seguir a profissão desejada?
tegrantes.
• Que medidas concretas vocês já tomaram ou
2 Definam o número de pessoas que formarão pretendem tomar para atingir esse objetivo?
o grupo focal organizado por vocês. É dese- • Acreditam estar fazendo o melhor?
jável que o grupo não seja muito grande, pa- • O seu tempo está sendo utilizado da melhor
ra que todos possam participar efetivamen- forma?
te da discussão. Sugerimos entre seis e dez
• Suas atividades estão alinhadas com um pla-
participantes.
no de carreira?
3 Considerando o perfil desejado para os entre- 2 Em relação à escolha da profissão, comentem
vistados – jovens que estejam cursando o Ensi- a importância dos seguintes fatores: admira-
no Médio –, façam uma lista de pessoas que ção pela profissão; valor dos salários pagos a
vocês pretendem convidar para participar do esses profissionais; habilidades que vocês
grupo focal e distribuam entre os integrantes têm que são necessárias para essa profissão;
do grupo a tarefa de convidá-las. Essas pessoas influência dos familiares; influência de pes-
não precisam ser próximas a vocês, mas será soas que você conhece que já exercem essa
mais fácil que elas aceitem participar da pes- profissão.
quisa se já tiverem contato com algum integran-
te do grupo, pois isso as deixará mais seguras 3 Para o dia do encontro, providenciem um gra-
para realizar a atividade. vador ou um celular com o recurso de gravação,
pois não haverá tempo de anotar todas as res-
4 Escolham o dia e o local em que o grupo focal
postas e conversas. Os integrantes do grupo
vai acontecer. Quanto ao local, deve ser de fá- que não serão moderadores devem providen-
cil acesso e abrigar confortavelmente o núme- ciar caderno e lápis para anotar observações
ro previsto de participantes. Também é reco- sobre aspectos da conversa que chamarem a
mendável que não haja muitos ruídos ou atenção, como a reação dos participantes a de-
elementos que possam distrair os participan- terminadas perguntas ou respostas, o grau de
tes. Definam o horário de início e término, pa- participação de cada um, etc.
ra que os entrevistados possam se organizar.
Sugerimos que a atividade seja feita em uma Parte III – Realização do grupo focal
hora e meia.
1 Para iniciar o grupo focal, é importante acordar
5 Escolham o integrante do grupo que será o(a) com os entrevistados algumas regras de parti-
moderador(a), ou seja, aquele(a) que conduzirá cipação:
os trabalhos no momento da pesquisa. Ele(a) • respeitar a vez de fala de cada um;
deverá exercer um papel menos diretivo e mais
• evitar discussões paralelas;
centrado no processo de discussão. Se consi-
derarem adequado, podem definir dois mode- • dizer livremente o que pensa;
radores, para que um possa apoiar o outro. Os • manter a atenção e o discurso na temática em
outros integrantes atuarão como observadores. questão.

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148
2 Antes de iniciar o grupo focal, peçam o consen-
Questões para discussão
timento dos entrevistados para gravar suas res-
postas. Em seguida, o(a) moderador(a) deve 1. Que desafios vocês encontraram durante a rea-
contextualizar a pesquisa, explicando aos en- lização desse tipo de pesquisa (grupo focal)? O
trevistados os motivos dessa atividade. que foi mais fácil e o que foi mais difícil?

3 O(a) moderador(a) deve iniciar a discussão en- 2. Quais são as profissões mais almejadas pelos
fatizando que não há respostas certas ou er- jovens? Vocês se identificam com essas es-
radas; observando os participantes e encora- colhas?
jando a palavra de cada um; buscando 3. As pretensões profissionais da turma estão em
aprofundar respostas e comentários que con- consonância com a maioria das pessoas entre-
siderar relevantes. vistadas?

4 Os observadores devem estar atentos para as


comunicações não verbais, para a postura e o Comunicação dos resultados
ritmo de cada participante.
Para que mais pessoas conheçam a pesquisa
5 Após a realização do encontro, o grupo deve realizada por vocês, organizem uma apresentação
analisar e sistematizar os dados coletados, de trabalho em pôsteres.
identificando as tendências e os padrões das Cada grupo deve fazer a descrição da sua pes-
respostas. As respostas devem ser separadas quisa, compondo os gráficos e o texto explicativo em
em pelo menos três grupos: profissões citadas, um pôster de 120 cm 3 50 cm. Para chegar a essa
critérios para a escolha das profissões e das medida, vocês devem juntar duas folhas de cartoli-
ações concretas para poder exercer, futura- na. Para a diagramação, sugerimos tomar por base
mente, essas profissões. Organizem esses re- a imagem do exemplo abaixo.
sultados em gráficos. Em dia e horário combinados com os professo-
res e a direção da escola, afixem os pôsteres em
6 Em seguida, escrevam um texto explicando os um espaço que possa ser visto por outros estudan-
dados representados no gráfico, com a siste- tes da escola. Divulguem previamente na escola a
matização das discussões, das opiniões e dos exposição. Cada grupo deve ficar ao lado do pôster
esclarecimentos dados pelos participantes do produzido para explicar a pesquisa e conversar com
grupo focal. os visitantes sobre ela.

Nome da escola e da turma


(Arial, tamanho mínimo 40)

TÍTULO DO TRABALHO
INTRODUÇÃO oditatus utecaborerum quae quid eri nis escia
Ximaio. Cia nimod quis quiaepratur, opta nit sum res eium qui rerit aspeles ectatia dunt quas
aut quate pellessum es is dellaut et quid etur ut most, niendissum quuntin cilias pellor aut est,
seque magnit es nonsequ unditat inimolo bearit sam facias aturem rendis apernatias dolorem
voluptat aut quam hil maximpo rrovit, siminis
itatur? Nobis vendic tem doluptatum nus ea IMAGEM
natum hil modit, que dolor sumenistem ex et, od
que volecesti torro consequ aepudaessunt hicit
volorectis ipsus ma culloriam explabo reserepe-
IMAGEM rias ilit optate nonet quis aut isquati onest,
omnimi, inus di tem niscit doluptis estemporrum Legenda da imagem.
nonsent maio et aut fuga. Acesecest alignime et
Nimi, sit ute sum el int amenditem fuga. Bore
volenih itasinit, que eroritiusdae dolupta nat.
omnis quia consequ untemol lorioriore eatet des
Legenda da imagem. nulpa sequis excestion estemposanda quatetur
sequi venimusam as dolentiisquo cores untem
voloribusa corehenditas expliqu idunto quis
elit dolutemque volecer ferehentis eost, omni
molest exerferferem sin post alignissus velliqu
ut oditae nonseque cus ut porro mo ea num
oditatur? Od et que repe nescius dio dolo
IMAGEM volorem non conseque quat anis sit aria nus.
que vernam ex es ut vitat evel mo de volupta
Rae. El minciunt apidend itassequist, essit,
tionsequi to explibus, corit expedit aut verum
optas ut volo dolupitatur?
latur autempo rescilla quas mi, sunt, ipsandi
Et ipsunt qui cum qui vera deriae remquae non-
cimodisciisi illitati conse nessi sumquatur sit et
seque nem volore eum eos ma dolore, odis
pe non consequidunt aut occaborio consequo Legenda da imagem.

Legenda (Arial, 25)

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149
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DESENVOLVIDAS NESTA OBRA
Nos quadros a seguir estão indicadas as competências e as habilidades para o Ensino Médio da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) trabalhadas nas unidades deste volume. Veja a seguir as siglas
utilizadas.
Competência específica de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CECHSA)
Competência específica de Ciências da Natureza e suas Tecnologias (CECNT)
Competência específica de Linguagens e suas Tecnologias (CELT)
Competência específica de Matemática e suas Tecnologias (CEMT)

UNIDADE 1: Ecos da escravidão no Brasil

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


(CECHSA1) Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional,
nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos
e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes
pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.
(CECHSA5) Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios
éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.
(CECHSA6) Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
consciência crítica e responsabilidade.

(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas


linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos,
políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas,
sociais, ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade,
cooperativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as a
narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos,
econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e
informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos
históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).
(EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar tipologias evolutivas (populações nômades e sedentárias,
entre outras) e oposições dicotômicas (cidade/campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/emoção,
material/virtual etc.), explicitando suas ambiguidades.
(EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando
processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a
autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e
problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que
promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais
vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais,
discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.
(EM13CHS601) Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos
indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo
considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem
social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.
(EM13CHS602) Identificar e caracterizar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na
política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos,
relacionando-os com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da
liberdade, do diálogo e da promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos na sociedade atual.

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150
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
(CECNT2) Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar
argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e
fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis.
(CECNT3) Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas
implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor
soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões a
públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC).

(EM13CNT206) Discutir a importância da preservação e conservação da biodiversidade, considerando


parâmetros qualitativos e quantitativos, e avaliar os efeitos da ação humana e das políticas ambientais para a
garantia da sustentabilidade do planeta.
(EM13CNT301) Construir questões, elaborar hipóteses, previsões e estimativas, empregar instrumentos de
medição e representar e interpretar modelos explicativos, dados e/ou resultados experimentais para construir,
avaliar e justificar conclusões no enfrentamento de situações-problema sob uma perspectiva científica.
(EM13CNT302) Comunicar, para públicos variados, em diversos contextos, resultados de análises, pesquisas
e/ou experimentos, elaborando e/ou interpretando textos, gráficos, tabelas, símbolos, códigos, sistemas de
classificação e equações, por meio de diferentes linguagens, mídias, tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC), de modo a participar e/ou promover debates em torno de temas científicos e/ou
tecnológicos de relevância sociocultural e ambiental.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


(CELT5) Compreender os processos de produção e negociação de sentidos nas práticas corporais, reconhecendo-
as e vivenciando-as como formas de expressão de valores e identidades, em uma perspectiva democrática e de
respeito à diversidade.
(CELT7) Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas,
criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e
coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva.

(EM13LGG502) Analisar criticamente preconceitos, estereótipos e relações de poder presentes nas práticas
corporais, adotando posicionamento contrário a qualquer manifestação de injustiça e desrespeito a direitos
humanos e valores democráticos.
(EM13LGG704) Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de informação, por meio de
ferramentas e dos novos formatos de produção e distribuição do conhecimento na cultura de rede.

MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS


(CEMT1) Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos
contextos, sejam atividades cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões
socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes meios, de modo a contribuir para uma formação geral.
(EM13MAT102) Analisar tabelas, gráficos e amostras de pesquisas estatísticas apresentadas em relatórios
divulgados por diferentes meios de comunicação, identificando, quando for o caso, inadequações que possam
induzir a erros de interpretação, como escalas e amostras não apropriadas.
(EM13MAT104) Interpretar taxas e índices de natureza socioeconômica (índice de desenvolvimento humano,
taxas de inflação, entre outros), investigando os processos de cálculo desses números, para analisar criticamente
a realidade e produzir argumentos.

Não escreva no livro.


151
UNIDADE 2: Cidadania brasileira hoje

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


(CECHSA1) Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional,
nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e
tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes
pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.
(CECHSA5) Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios
éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.
(CECHSA6) Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
consciência crítica e responsabilidade.

(EM13CHS102) Identificar, analisar e discutir as circunstâncias históricas, geográficas, políticas, econômicas,


sociais, ambientais e culturais de matrizes conceituais (etnocentrismo, racismo, evolução, modernidade,
cooperativismo/desenvolvimento etc.), avaliando criticamente seu significado histórico e comparando-as a
narrativas que contemplem outros agentes e discursos.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos,
econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e
informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos
históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).
(EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar
conhecimentos, valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de
diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros textuais e
tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas
práticas sociais, incluindo as escolares, para se comunicar, acessar e difundir informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando
processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a
autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e
problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que
promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais
vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais,
discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.
(EM13CHS601) Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos
indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo
considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem
social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.
(EM13CHS604) Discutir o papel dos organismos internacionais no contexto mundial, com vistas à elaboração
de uma visão crítica sobre seus limites e suas formas de atuação nos países, considerando os aspectos
positivos e negativos dessa atuação para as populações locais.
(EM13CHS605) Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça,
igualdade e fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas
sociedades contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses
direitos em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo.

CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS


(CECNT1) Analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas interações e relações entre
matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que aperfeiçoem processos produtivos, minimizem
impactos socioambientais e melhorem as condições de vida em âmbito local, regional e global.
(CECNT2) Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar
argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e
fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis.
(CECNT3) Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas
implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor
soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões
a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação
e comunicação (TDIC).

Não escreva no livro.


152
(EM13CNT104) Avaliar os benefícios e os riscos à saúde e ao ambiente, considerando a composição, a toxicidade
e a reatividade de diferentes materiais e produtos, como também o nível de exposição a eles, posicionando-se
criticamente e propondo soluções individuais e/ou coletivas para seus usos e descartes responsáveis.
(EM13CNT206) Discutir a importância da preservação e conservação da biodiversidade, considerando
parâmetros qualitativos e quantitativos, e avaliar os efeitos da ação humana e das políticas ambientais para a
garantia da sustentabilidade do planeta.
(EM13CNT309) Analisar questões socioambientais, políticas e econômicas relativas à dependência do mundo
atual em relação aos recursos não renováveis e discutir a necessidade de introdução de alternativas e novas
tecnologias energéticas e de materiais, comparando diferentes tipos de motores e processos de produção de
novos materiais.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


(CELT2) Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais
de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base
em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o
autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de
qualquer natureza.
(CELT3) Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com autonomia e
colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária,
defendendo pontos de vista que respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global.
(CELT7) Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas,
criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e
coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva.

(EM13LGG201) Utilizar as diversas linguagens (artísticas, corporais e verbais) em diferentes contextos,


valorizando-as como fenômeno social, cultural, histórico, variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas
práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam,
constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
(EM13LGG203) Analisar os diálogos e os processos de disputa por legitimidade nas práticas de linguagem e em
suas produções (artísticas, corporais e verbais).
(EM13LGG204) Dialogar e produzir entendimento mútuo, nas diversas linguagens (artísticas, corporais e
verbais), com vistas ao interesse comum pautado em princípios e valores de equidade assentados na
democracia e nos Direitos Humanos.
(EM13LGG301) Participar de processos de produção individual e colaborativa em diferentes linguagens
(artísticas, corporais e verbais), levando em conta suas formas e seus funcionamentos, para produzir sentidos
em diferentes contextos.
(EM13LGG303) Debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferentes argumentos e opiniões,
para formular, negociar e sustentar posições, frente à análise de perspectivas distintas.
(EM13LGG304) Formular propostas, intervir e tomar decisões que levem em conta o bem comum e os Direitos
Humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global.
(EM13LGG704) Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de informação, por meio de
ferramentas e dos novos formatos de produção e distribuição do conhecimento na cultura de rede.

MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS


(CEMT1) Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos
contextos, sejam atividades cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões
socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes meios, de modo a contribuir para uma formação geral.
(CEMT4) Compreender e utilizar, com flexibilidade e precisão, diferentes registros de representação
matemáticos (algébrico, geométrico, estatístico, computacional etc.), na busca de solução e comunicação de
resultados de problemas.

(EM13MAT102) Analisar tabelas, gráficos e amostras de pesquisas estatísticas apresentadas em relatórios


divulgados por diferentes meios de comunicação, identificando, quando for o caso, inadequações que possam
induzir a erros de interpretação, como escalas e amostras não apropriadas.
(EM13MAT406) Construir e interpretar tabelas e gráficos de frequências com base em dados obtidos em
pesquisas por amostras estatísticas, incluindo ou não o uso de softwares que inter-relacionem estatística,
geometria e álgebra.

Não escreva no livro.


153
UNIDADE 3: O Brasil e a democracia

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


(CECHSA1) Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional,
nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e
tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes
pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica.
(CECHSA5) Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios
éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.
(CECHSA6) Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo escolhas
alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e
responsabilidade.

(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas


linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos,
políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos,
econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e
informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos
históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).
(EM13CHS105) Identificar, contextualizar e criticar tipologias evolutivas (populações nômades e sedentárias,
entre outras) e oposições dicotômicas (cidade/campo, cultura/natureza, civilizados/bárbaros, razão/emoção,
material/virtual etc.), explicitando suas ambiguidades.
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros textuais e
tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas
práticas sociais, incluindo as escolares, para se comunicar, acessar e difundir informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando
processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a
autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e
problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que
promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais
vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais,
discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.
(EM13CHS504) Analisar e avaliar os impasses ético-políticos decorrentes das transformações culturais, sociais,
históricas, científicas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdobramentos nas atitudes e nos
valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas.
(EM13CHS601) Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos
indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo
considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem
social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.
(EM13CHS602) Identificar e caracterizar a presença do paternalismo, do autoritarismo e do populismo na
política, na sociedade e nas culturas brasileira e latino-americana, em períodos ditatoriais e democráticos,
relacionando-os com as formas de organização e de articulação das sociedades em defesa da autonomia, da
liberdade, do diálogo e da promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos na sociedade atual.
(EM13CHS603) Analisar a formação de diferentes países, povos e nações e de suas experiências políticas e de
exercício da cidadania, aplicando conceitos políticos básicos (Estado, poder, formas, sistemas e regimes de
governo, soberania etc.).
(EM13CHS605) Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça,
igualdade e fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas
sociedades contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses
direitos em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo.

Não escreva no livro.


154
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
(CECNT2) Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar
argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e
defender decisões éticas e responsáveis.

(EM13CNT206) Discutir a importância da preservação e conservação da biodiversidade, considerando


parâmetros qualitativos e quantitativos, e avaliar os efeitos da ação humana e das políticas ambientais para a
garantia da sustentabilidade do planeta.
(EM13CNT207) Identificar, analisar e discutir vulnerabilidades vinculadas às vivências e aos desafios
contemporâneos aos quais as juventudes estão expostas, considerando os aspectos físico, psicoemocional e
social, a fim de desenvolver e divulgar ações de prevenção e de promoção da saúde e do bem-estar.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


(CELT1) Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e
verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de
atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as
possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.
(CELT2) Compreender os processos identitários, conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais
de linguagem, respeitando as diversidades e a pluralidade de ideias e posições, e atuar socialmente com base
em princípios e valores assentados na democracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando o
autoconhecimento, a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, e combatendo preconceitos de
qualquer natureza.
(CELT3) Utilizar diferentes linguagens (artísticas, corporais e verbais) para exercer, com autonomia e
colaboração, protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva, de forma crítica, criativa, ética e solidária,
defendendo pontos de vista que respeitem o outro e promovam os Direitos Humanos, a consciência
socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global.
(CELT7) Mobilizar práticas de linguagem no universo digital, considerando as dimensões técnicas, críticas,
criativas, éticas e estéticas, para expandir as formas de produzir sentidos, de engajar-se em práticas autorais e
coletivas, e de aprender a aprender nos campos da ciência, cultura, trabalho, informação e vida pessoal e coletiva.

(EM13LGG105) Analisar e experimentar diversos processos de remidiação de produções multissemióticas,


multimídia e transmídia, desenvolvendo diferentes modos de participação e intervenção social.
(EM13LGG202) Analisar interesses, relações de poder e perspectivas de mundo nos discursos das diversas
práticas de linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo criticamente o modo como circulam,
constituem-se e (re)produzem significação e ideologias.
(EM13LGG204) Dialogar e produzir entendimento mútuo, nas diversas linguagens (artísticas, corporais e
verbais), com vistas ao interesse comum pautado em princípios e valores de equidade assentados na
democracia e nos Direitos Humanos.
(EM13LGG303) Debater questões polêmicas de relevância social, analisando diferentes argumentos e opiniões,
para formular, negociar e sustentar posições, frente à análise de perspectivas distintas.
(EM13LGG305) Mapear e criar, por meio de práticas de linguagem, possibilidades de atuação social, política, artística
e cultural para enfrentar desafios contemporâneos, discutindo princípios e objetivos dessa atuação de maneira
crítica, criativa, solidária e ética.
(EM13LGG703) Utilizar diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais em processos de produção coletiva,
colaborativa e projetos autorais em ambientes digitais.
(EM13LGG704) Apropriar-se criticamente de processos de pesquisa e busca de informação, por meio de
ferramentas e dos novos formatos de produção e distribuição do conhecimento na cultura de rede.

MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS


(CEMT1) Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos
contextos, sejam atividades cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões
socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes meios, de modo a contribuir para uma formação geral.

(EM13MAT102) Analisar tabelas, gráficos e amostras de pesquisas estatísticas apresentadas em relatórios


divulgados por diferentes meios de comunicação, identificando, quando for o caso, inadequações que possam
induzir a erros de interpretação, como escalas e amostras não apropriadas.

Não escreva no livro.


155
UNIDADE 4: Democracia brasileira: desafios

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


(CECHSA1) Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local,
regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos
epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação
a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de
natureza científica.
(CECHSA5) Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios
éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.
(CECHSA6) Participar do debate público de forma crítica, respeitando diferentes posições e fazendo
escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
consciência crítica e responsabilidade.

(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas


linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos,
políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.
(EM13CHS103) Elaborar hipóteses, selecionar evidências e compor argumentos relativos a processos políticos,
econômicos, sociais, ambientais, culturais e epistemológicos, com base na sistematização de dados e
informações de diversas naturezas (expressões artísticas, textos filosóficos e sociológicos, documentos
históricos e geográficos, gráficos, mapas, tabelas, tradições orais, entre outros).
(EM13CHS104) Analisar objetos e vestígios da cultura material e imaterial de modo a identificar conhecimentos,
valores, crenças e práticas que caracterizam a identidade e a diversidade cultural de diferentes sociedades
inseridas no tempo e no espaço.
(EM13CHS106) Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica, diferentes gêneros textuais e
tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas
práticas sociais, incluindo as escolares, para se comunicar, acessar e difundir informações, produzir
conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
(EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando
processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a
autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.
(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e
problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que
promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.
(EM13CHS503) Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais
vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais,
discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.
(EM13CHS504) Analisar e avaliar os impasses ético-políticos decorrentes das transformações culturais, sociais,
históricas, científicas e tecnológicas no mundo contemporâneo e seus desdobramentos nas atitudes e nos
valores de indivíduos, grupos sociais, sociedades e culturas.
(EM13CHS601) Identificar e analisar as demandas e os protagonismos políticos, sociais e culturais dos povos
indígenas e das populações afrodescendentes (incluindo as quilombolas) no Brasil contemporâneo
considerando a história das Américas e o contexto de exclusão e inclusão precária desses grupos na ordem
social e econômica atual, promovendo ações para a redução das desigualdades étnico-raciais no país.
(EM13CHS603) Analisar a formação de diferentes países, povos e nações e de suas experiências políticas e de
exercício da cidadania, aplicando conceitos políticos básicos (Estado, poder, formas, sistemas e regimes de
governo, soberania etc.).
(EM13CHS605) Analisar os princípios da declaração dos Direitos Humanos, recorrendo às noções de justiça,
igualdade e fraternidade, identificar os progressos e entraves à concretização desses direitos nas diversas
sociedades contemporâneas e promover ações concretas diante da desigualdade e das violações desses
direitos em diferentes espaços de vivência, respeitando a identidade de cada grupo e de cada indivíduo.
(EM13CHS606) Analisar as características socioeconômicas da sociedade brasileira – com base na análise de
documentos (dados, tabelas, mapas etc.) de diferentes fontes – e propor medidas para enfrentar os problemas
identificados e construir uma sociedade mais próspera, justa e inclusiva, que valorize o protagonismo de seus
cidadãos e promova o autoconhecimento, a autoestima, a autoconfiança e a empatia.

Não escreva no livro.


156
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
(CECNT1) Analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas interações e relações entre
matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que aperfeiçoem processos produtivos, minimizem
impactos socioambientais e melhorem as condições de vida em âmbito local, regional e global.
(CECNT3) Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas
implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor
soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões
a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação
e comunicação (TDIC).

(EM13CNT104) Avaliar os benefícios e os riscos à saúde e ao ambiente, considerando a composição, a


toxicidade e a reatividade de diferentes materiais e produtos, como também o nível de exposição a eles,
posicionando-se criticamente e propondo soluções individuais e/ou coletivas para seus usos e descartes
responsáveis.
(EM13CNT310) Investigar e analisar os efeitos de programas de infraestrutura e demais serviços básicos
(saneamento, energia elétrica, transporte, telecomunicações, cobertura vacinal, atendimento primário à saúde e
produção de alimentos, entre outros) e identificar necessidades locais e/ou regionais em relação a esses
serviços, a fim de avaliar e/ou promover ações que contribuam para a melhoria na qualidade de vida e nas
condições de saúde da população.

LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS


(CELT1) Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e
verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de
atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as
possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.

(EM13LGG101) Compreender e analisar processos de produção e circulação de discursos, nas diferentes


linguagens, para fazer escolhas fundamentadas em função de interesses pessoais e coletivos.
(EM13LGG102) Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos
discursos veiculados nas diferentes mídias, ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e
intervenção crítica da/na realidade.
(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, levando em conta seus funcionamentos, para a compreensão
e produção de textos e discursos em diversos campos de atuação social.

MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS


(CEMT1) Utilizar estratégias, conceitos e procedimentos matemáticos para interpretar situações em diversos
contextos, sejam atividades cotidianas, sejam fatos das Ciências da Natureza e Humanas, das questões
socioeconômicas ou tecnológicas, divulgados por diferentes meios, de modo a contribuir para uma formação geral.
(CEMT4) Compreender e utilizar, com flexibilidade e precisão, diferentes registros de representação
matemáticos (algébrico, geométrico, estatístico, computacional etc.), na busca de solução e comunicação de
resultados de problemas.

(EM13MAT102) Analisar tabelas, gráficos e amostras de pesquisas estatísticas apresentadas em relatórios


divulgados por diferentes meios de comunicação, identificando, quando for o caso, inadequações que possam
induzir a erros de interpretação, como escalas e amostras não apropriadas.
(EM13MAT406) Construir e interpretar tabelas e gráficos de frequências com base em dados obtidos em pesquisas
por amostras estatísticas, incluindo ou não o uso de softwares que inter-relacionem estatística, geometria e álgebra.
(EM13MAT407) Interpretar e comparar conjuntos de dados estatísticos por meio de diferentes diagramas e
gráficos (histograma, de caixa (box-plot), de ramos e folhas, entre outros), reconhecendo os mais eficientes
para sua análise.

Não escreva no livro.


157
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
AlcântArA, Lívia Moreira de. Ciberativismo e mo- transparece a ideia fundamental de Bauman –
vimentos sociais: mapeando discussões. Au- a de que vivemos em um mundo líquido, em que
rora: revista de arte, mídia e política, v. 8, n. 23, nada se conserva por muito tempo e tudo está
p. 73-97, 2015. Disponível em: https://revistas. sempre em mudança: nossos desejos, sonhos,
esperanças e valores.
pucsp.br/aurora/article/view/22474/18888.
Acesso em: 6 jul. 2020. BeAuvoir, Simone de. O segundo sexo. Rio de
O artigo discute as formas como os movimentos Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
sociais se apropriaram das ferramentas da tecno- Essa obra, publicada pela primeira vez em 1949,
logia da informação e comunicação. Busca, assim, teve e tem grande importância para o movimento
apontar as raízes culturais e políticas do ciberati- feminista. Nela, a filósofa francesa Simone de
vismo, evidenciando as inovações teóricas e con- Beauvoir analisa as condições sociais, políticas e
ceituais que se constituíram com base no estudo sexuais das mulheres na sociedade ocidental no
desse fenômeno. momento histórico em questão, trazendo à luz
AlmeidA, Silvio. O que é racismo estrutural? suas concepções sobre a importância da cultura
na definição dos papéis feminino e masculino.
Belo Horizonte: Letramento, 2018 (Feminis-
mos Plurais). BrAsil. Constituição da República Federativa
Silvio Almeida, um dos mais importantes pensa- do Brasil de 1988. Brasília: Assembleia Nacio-
dores brasileiros da atualidade, propõe nesse livro nal Constituinte, 5 de outubro de 1988. Dispo-
uma abordagem do racismo que vai além da com- nível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
preensão do tema na esfera moral ou cultural. De- constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
fende que o racismo é parte de um processo social,
6 jul. 2020.
histórico e político, decorrente da própria estrutura
social, e explora esse fenômeno ao longo da obra O texto da Constituição de 1988 é de grande im-
de forma didática e acessível. portância para conhecer e discutir os direitos e de-
veres que vigoram na sociedade brasileira.
BArBosA, Cláudia de Faria. As mulheres na
política local: entre as esferas pública e pri- Butler, Judith. Problemas de gênero: feminis-
vada. Curitiba: Appris, 2019. mo e subversão da identidade. 6. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
Nessa obra, a autora apresenta o resultado de
uma extensa pesquisa feita com mulheres que Essa é considerada a principal obra de Judith
exerceram ou exercem cargos públicos para refle- Butler, filósofa estadunidense e ativista dos direi-
tir sobre o papel das mulheres na esfera pública, tos das mulheres. Nela, a autora discute corpo, se-
evidenciando suas lutas pessoais e coletivas na xo, gênero e desejo com base em estudos de ou-
busca por maior influência e representatividade tros importantes autores que tratam desses temas,
no campo político. dialogando com eles.

BArBosA, Lívia. Meritocracia à brasileira: o que cArdoso, Lourenço. O branco-objeto: o movi-


é o desempenho no Brasil? Revista do Serviço mento negro situando a branquitude. Revis-
Público, ano 47, v. 120, n. 3, p. 67-81, set./dez. ta Instrumento, v. 13, n. 1, s. p., 2011. Dispo-
1996. Disponível em: https://revista.enap.gov. nível em: https://periodicos.ufjf.br/index.
br/index.php/RSP/article/view/396. Acesso php/revistainstrumento/article/view/18706.
em: 6 jul. 2020. Acesso em: 6 jul. 2020.
O artigo trata da questão da meritocracia e da ava- Nas últimas décadas, as discussões em torno do
liação de desempenho no setor público brasileiro tema branquitude – conceito que compreende a
e na sociedade, analisando esse conceito histori- identidade racial branca como lugar de privilégios
camente e investigando-o no âmbito da teoria da simbólicos, subjetivos e materiais – vêm ganhando
administração. espaço no mundo acadêmico. Esse ensaio apre-
senta um panorama dessas discussões.
BAumAn, Zygmunt. 44 cartas do mundo líquido
moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. cunhA, Manuela Carneiro da. Índios no Brasil:
O livro apresenta 44 textos em forma de carta história, direitos e cidadania. São Paulo: Claro
escritos pelo autor entre 2008 e 2009 para uma Enigma, 2013 (Coleção Agenda brasileira).
revista italiana, com reflexões sobre diversos Manuela Carneiro da Cunha é uma intelectual de
temas, entre os quais cultura, relações familia- referência nos estudos sobre os indígenas no Bra-
res e uso das redes sociais. Em todos eles, sil. Nessa obra, a antropóloga percorre a história

Não escreva no livro.


158
da população indígena no Brasil buscando identificá-la 000200005&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso
e romper preconceitos. em: 6 jul. 2020.
Domingues, Petrônio. Fios de Ariadne: o protagonis- O artigo apresenta um panorama dos movimentos sociais
mo negro no pós-abolição. Anos 90, v. 16, n. 30, da atualidade no Brasil e na América Latina e reflexões
sobre as relações entre esses movimentos, bem como
p. 240-241, dez. 2009. Disponível em: https://www.
sobre sua importância e representatividade no contexto
seer.ufrgs.br/anos90/article/view/18932/11021. cultural, econômico e político dos países onde atuam.
Acesso em: 6 jul. 2020.
O artigo investiga a produção acadêmica do Rio Grande gomes, Flávio dos Santos. Mocambos e quilombos:
do Sul em torno do protagonismo negro depois da abo- uma história do campesinato negro. São Paulo:
lição da escravatura. Claro Enigma, 2015 (Coleção Agenda brasileira).
O tema desse livro é a história dos quilombos, vistos
Fico, Carlo. História do Brasil contemporâneo: da
pelo autor como fundamentais nos processos de iden-
morte de Vargas até os dias atuais. São Paulo: Con- tidade e luta por cidadania das comunidades negras
texto, 2015 (Coleção História na Universidade). contemporâneas.
Nesse livro, o historiador Carlos Fico busca resumir os
acontecimentos mais importantes da segunda metade gomes, Nilma Lino; laborne, Ana Amélia de Paula.
do século XX até a atualidade. Com base na historiogra- Pedagogia da crueldade: racismo e extermínio da
fia mais recente, fornece uma visão geral sobre socieda- juventude negra. Educação em Revista, Belo Hori-
de, economia e política desse período. zonte, v. 34, nov. 2018. Disponível em: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
Fonseca, Ana et al. Do Bolsa Família ao Brasil sem
S0102-46982018000100657&lng=pt&nrm=
Miséria: o desafio de universalizar a cidadania. In:
iso#B2. Acesso em: 6 jul. 2020.
montali, Lilia (org.). Caderno de Pesquisa NEPP –
O artigo analisa a relação entre juventude, desigualdade,
Proteção social e transferência de renda, Campinas,
raça e racismo no contexto de violência institucional con-
n. 86, p. 52-79, jun. 2018. Disponível em: https://
tra a juventude negra e destaca o protagonismo dos jo-
www.nepp.unicamp.br/biblioteca/periodicos/issue/ vens negros na construção da ideia política de genocídio.
view/132/CadPesqNepp86. Acesso em: 6 jul. 2020.
Os autores desse artigo discutem a expansão dos pro- gross, Denise B. Institutos liberais, neoliberalismo
gramas sociais implementados com o objetivo de com- e políticas públicas na Nova República. Revista Bra-
bater a pobreza entre 2003 e 2010 e a situação atual sileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 19, n. 54,
dessas políticas públicas. p. 143-159, fev. 2004.
O artigo analisa o surgimento dos institutos liberais no
galinDo, Bruno. Constitucionalismo e justiça de tran-
Brasil na década de 1980, relacionando-os à conjuntura
sição: em busca de uma metodologia de análise a
internacional de rearticulação das direitas e de globali-
partir dos conceitos de autoritarismo e democracia. zação do capital financeiro. Além disso, busca identificar
Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Ho- as matrizes conceituais desses institutos e avaliar sua
rizonte, n. 67, p. 75-104, jul./dez. 2015. Disponível influência nas organizações empresariais brasileiras.
em: https://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/
revista/article/view/1722. Acesso em: 6 jul. 2020. habermas, Jürgen. Direito e democracia: entre facti-
O artigo analisa e compara diferentes experiências consti-
cidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.
tucionais para investigar as relações entre o processo de 1997. v. 2.
elaboração das constituições e a justiça de transição – Nessa obra, o filósofo e sociólogo alemão Jürgen
o direito à memória e à verdade, à justiça, à reparação e à Habermas discute a importância da esfera pública e faz
reforma institucional em contextos de redemocratização. reflexões sobre o direito e sua relação com o Estado, a
sociedade e a democracia.
gohn, Maria da Glória. Movimentos sociais e redes
de mobilizações civis no Brasil contemporâneo. hirata, Helena et al. (org.). Dicionário crítico do fe-
Petrópolis: Vozes, 2013. minismo. São Paulo: Ed. Unesp, 2009.
Por meio da sistematização dos estudos sobre os movi- Esse dicionário temático reúne verbetes de diferentes
mentos sociais, especialmente no Brasil nos últimos especialistas sobre problemas e conceitos relativos ao
30 anos, esse livro apresenta um mapa dos movimentos feminismo.
sociais e das redes civis que vêm construindo novos mo-
ibge. Estatísticas de gênero: indicadores sociais
delos organizativos na atualidade.
das mulheres no Brasil. Estudos e Pesquisas: In-
gohn, Maria da Glória. Movimentos sociais na con- formação Demográfica e Socioeconômica, n. 38,
temporaneidade. Revista Brasileira de Educação, 2018. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/
v. 16, n. 47, p. 335-336, 2011. Disponível em: https:// visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf.
www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782011 Acesso em: 6 jul. 2020.

Não escreva no livro.


159
Esse estudo, realizado em 2016, apresenta dados sobre reis, Daniel Aarão. Ditadura e democracia no Brasil:
a presença das mulheres brasileiras no mercado de tra- do golpe de 1964 à Constituição de 1988. Rio de
balho, como acesso à renda, à educação e à saúde. Janeiro: Zahar, 2014.
lubenow, Jorge Adriano. Esfera pública e democra- Nessa obra, o historiador Daniel Aarão Reis explora o
cia deliberativa em Habermas: modelo teórico e contexto social e as relações de interesses políticos e eco-
discursos críticos. Kriterion, Belo Horizonte, v. 51, nômicos que levaram ao golpe e à ditadura instituída em
n. 121, p. 227-258, 2010. Disponível em: http:// 1964 no Brasil.
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= reis, Rossana Rocha. O direito à terra como um direito
S0100-512X2010000100012&lng=en&nrm=iso. humano: a luta pela reforma agrária e o movimento
Acesso em: 6 jul. 2020. de direitos humanos no Brasil. Lua Nova, São Paulo,
Nesse artigo, o autor discute as controvérsias que envol- n. 86, p. 89-122, 2012. Disponível em: https://www.
vem as concepções de esfera pública e democracia deli- scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
berativa presentes na obra Direito e democracia: entre S0102-64452012000200004. Acesso em: 6 jul. 2020.
facticidade e validade, de Jürgen Habermas. O artigo analisa a forma como a atuação dos movimen-
nascimento, Elisa Larkin. Cultura em movimento: ma- tos sociais que lutam pela reforma agrária no Brasil im-
pulsionou e definiu a construção da concepção de que o
trizes africanas e ativismo negro no Brasil. São
direito à terra é um direito humano.
Paulo: Selo Negro, 2014. (Coleção Sankofa: matri-
zes africanas da cultura brasileira). ribeiro, Glaucy Meyre de Oliveira. Escravidão mo-
Nessa obra, a educadora Elisa Larkin Nascimento in- derna: o trabalho no setor da construção civil. 2017.
vestiga a história de resistência dos descendentes dos Dissertação (Mestrado em Direito e Inovação) – Uni-
africanos no Brasil e seu legado cultural, buscando re- versidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Di-
conhecer a construção da identidade negra no país. reito, Minas Gerais, 2017.
Preocupa-se, também, em discutir a importância da
Nessa dissertação de mestrado, a autora faz uma análise
educação no estabelecimento de relações etnorraciais
histórica da escravidão desde a Grécia Antiga e realiza
mais éticas e justas.
comparações com o trabalho análogo à escravidão no
oliveira, João Pacheco de. Formas de dominação presente, para entender os motivos que levam à ocorrên-
sobre o indígena na fronteira amazônica: Alto Soli- cia desse fenômeno.
mões, de 1650 a 1910. Caderno CRH, v. 25, n. 64, ribeiro, Pedro Floriano. A lei da oligarquia de Mi-
p. 17-32, jan./abr. 2012. Disponível em: https://doi. chels: modos de usar. Revista Brasileira de Ciências
org/10.1590/S0103-49792012000100002. Sociais, São Paulo, v. 29, n. 85, p. 179-193, 2014.
Acesso em: 6 jul. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?
Nesse artigo, o autor discute as relações entre as cren- pid=S0102-69092014000200012&script=sci_
ças, os costumes e os princípios organizativos do povo abstract&tlng=pt. Acesso em: 6 jul. 2020.
indígena Ticuna e os contextos históricos nacionais no Nesse artigo, o autor busca contribuir com a teoria demo-
período compreendido entre meados do século XVII e crática atual, estabelecendo, por meio da sistematização
início do século XX. de conceitos e de indicadores, definições mais precisas
Pereira, Danielle Ramos de Miranda; Pinto, Marcelo sobre oligarquia e oligarquização formuladas por Robert
Michels.
de Rezende. A importância do entendimento dos
indicadores na tomada de decisão de gestores pú- schwarcz, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasi-
blicos. Revista do Serviço Público, Brasília, v. 63, leiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
n. 3, p. 363-380, jul./set. 2012. Disponível em: Nessa obra, com o objetivo de ampliar o entendimento
https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/1779. acerca da onda conservadora vivida no Brasil desde
Acesso em: 6 jul. 2020. meados dos anos 2010, a historiadora Lilia Schwarcz
O artigo discute a relação entre educação e desenvolvi- se propõe a identificar as raízes históricas do autorita-
mento econômico. Para isso, detém-se sobre dois índices rismo brasileiro.
de desenvolvimento: o IDHM e o IMRS, tendo como ob-
jeto de pesquisa as dez regiões administrativas de Minas
silva, Kalina Vanderlei; silva, Maciel Henrique. Di-
Gerais. Além disso, mostra como as decisões dos gesto- cionário de conceitos históricos. São Paulo: Con-
res públicos podem ser influenciadas pela seleção de di- texto, 2009.
ferentes indicadores, utilizados na formulação ou na ava- Os autores dessa obra buscam elencar e definir os prin-
liação das políticas públicas. cipais conceitos históricos utilizados na atualidade.

Não escreva no livro.


160
MANUAL DO
PROFESSOR
APRESENTAÇÃO

Cara professora, caro professor,

O principal objetivo deste manual é oferecer aos docentes do Ensino Médio


subsídios e sugestões para o trabalho cotidiano com os conteúdos da área de
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e suas diversas possibilidades escolares
e sociais.
O Novo Ensino Médio e a Base Nacional Comum Curricular regulamentam e
propõem iniciativas para alguns dos desafios que enfrentamos atualmente co-
mo cidadãos brasileiros, por exemplo, estar preparados para as novas formas
de emprego das novas tecnologias digitais, de informação e de comunicação, e
para o uso ético e autônomo delas. A educação é o meio estratégico para que
as transformações sociais possam ocorrer e para que os jovens brasileiros cons-
truam uma sociedade cada vez mais justa, alinhada aos valores universais e
defensora da democracia e do Estado de direito.
Na primeira parte deste manual, são abordados os principais aspectos teó-
ricos e metodológicos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, bem como as
perspectivas pedagógicas que embasam a coleção. Também são propostas re-
flexões e sugestões sobre os processos de avaliação. Há, ainda, a descrição co-
mentada da estrutura dos livros da coleção e dos conteúdos deste volume, além
das referências bibliográficas mobilizadas, acompanhadas de sinopses.
A segunda parte deste manual contém orientações didáticas mais específi-
cas para o planejamento e o trabalho em sala de aula. São disponibilizados, ca-
pítulo a capítulo, comentários, sugestões pedagógicas detalhadas, atividades
complementares e respostas às atividades do Livro do Estudante. Nessa parte,
também são apresentadas indicações de sites, livros, artigos, portais digitais,
aplicativos, filmes e outros materiais que, de alguma maneira, possam apoiar a
ação docente.
Com isso, é esperado que este material dê suporte à oferta de caminhos di-
dáticos criativos e significativos às diversas comunidades escolares do país,
ampliando as possibilidades de futuro dos jovens.
Bom trabalho!
Equipe editorial
SUMÁRIO

A BNCC E O NOVO ENSINO MÉDIO ......................................................... 164

A BNCC, a juventude e o Ensino Médio ........................................................ 166

O ENSINO MÉDIO E AS CIÊNCIAS HUMANAS


E SOCIAIS APLICADAS .............................................................................................. 168

As Ciências Humanas e Sociais Aplicadas ................................................ 168

POSSIBILIDADES DE INTERDISCIPLINARIDADE:
CIÊNCIAS DA NATUREZA ...................................................................................... 170

A COLEÇÃO ................................................................................................................................. 172

Pressupostos teórico-metodológicos ............................................................ 172

Metodologias ativas .................................................................................................................. 173

A avaliação ...................................................................................................................................... 174

As avaliações processuais e integradoras ................................................................. 174

As avaliações externas ............................................................................................................ 175

Organização da coleção ................................................................................................... 176


Seções .................................................................................................................................................. 177

Boxes ..................................................................................................................................................... 178

Quadro de conteúdos ......................................................................................................... 179

Sugestões de cronograma ........................................................................................... 183

Leituras complementares ............................................................................................. 184

BIBLIOGRAFIA COMENTADA ........................................................................... 190

ORIENTAÇÕES E COMENTÁRIOS ESPECÍFICOS .................. 193


A BNCC E O NOVO
ENSINO MÉDIO
Esta coleção se estabelece como uma proposta para o en- Em junho de 2015, um grupo formado por especialistas
sino das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas em diálogo em educação começou a elaborar a primeira versão da BNCC.
com os princípios normativos da Base Nacional Comum Cur- De julho a outubro de 2015, o grupo passou a contar com a
ricular (BNCC) e com outros documentos curriculares. Nesse colaboração de técnicos das Secretarias de Educação e tam-
sentido, levantam-se duas questões para esse diálogo: Qual bém de professores. Entre outubro do mesmo ano e março
é a necessidade de uma base comum curricular? E, conside- de 2016, o debate sobre o documento se intensificou, pois o
rando-se a importância dos currículos escolares na constru- projeto possibilitou a ampla participação dos educadores nos
ção da sociedade, como esse documento comum impacta no diálogos sobre a BNCC. Por meio de uma plataforma digital,
projeto de Ensino Médio, de escola, de educação, de socie- qualquer pessoa ou instituição poderia comunicar suas aná-
dade e de nação? lises e considerações sobre o documento. Após o processa-
A criação de uma base comum curricular está vinculada à mento e a análise de todas as contribuições, uma banca de
necessidade de resolver questões pertinentes à educação especialistas de todas as áreas do conhecimento consolidou
que emergiram especialmente nas décadas de 2000 e 2010. a terceira versão da BNCC para a Educação Infantil e o Ensi-
Entre essas questões, destacam-se a: no Fundamental, homologada em 2017.
• melhoria dos índices de aprendizagem em Língua Portu- Vale lembrar que a BNCC é fundamentada no artigo 206
guesa e Matemática, conforme o Índice de Desenvolvi- da Constituição Federal de 1988, que trata da garantia de
mento da Educação Básica (Ideb); padrão de qualidade da educação, bem como no diálogo com
• preocupação com a estrutura curricular, compreendida por as diretrizes educativas de organismos internacionais, como
13 ou mais disciplinas antes da BNCC; o Banco Mundial, a Organização para a Cooperação e Desen-
volvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações
• necessidade de diversificar e flexibilizar o currículo, tendo Unidas (ONU). O documento também prevê o crescimento da
como modelos os países que apresentam melhor desem-
penho no Programa Internacional de Avaliação de Alunos eficiência do sistema educacional público, facilitando, por
(Pisa, na sigla em inglês); exemplo, a avaliação de rendimento dos estudantes por meio
de exames de larga escala. Ainda sobre a Constituição Cida-
• necessidade de ampliar o acesso dos estudantes ao En- dã, é salutar lembrar que apenas a partir dela se desenvol-
sino Superior, já que menos de 17% dos estudantes que
vem incentivos reais para a universalização do Ensino Médio,
concluem o Ensino Médio acessam o Ensino Superior;
além das legislações já citadas.
• necessidade de garantir maior acesso à escola e a perma- A construção em diálogo com a sociedade foi uma tenta-
nência dos estudantes, principalmente no Ensino Médio; e tiva de integrar as diferentes visões de mundo, em busca de
• preocupação com a educação profissional, que atende um consenso mínimo para a construção da Base Nacional
cerca de 10% das matrículas dos estudantes. Comum Curricular. De acordo com o documento, a BNCC nas-
Embora as décadas de 2000 e 2010 tenham sido decisi- ce como:
vas para a definição de políticas públicas que resultaram nas
propostas da BNCC e do Novo Ensino Médio, as formas de Referência nacional para a formulação dos currículos dos
ensino-aprendizagem já eram especialmente questionadas sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Fe-
desde a década de 1950. Em parte, esse questionamento se deral e dos Municípios e das propostas pedagógicas das
deve aos altos índices de evasão e de repetência, bem como instituições escolares […].
a um imaginário da necessidade de “aperfeiçoamento” do
Nesse sentido, espera-se que a BNCC ajude a superar a
corpo discente e “uniformização” da educação.
Nesse período, currículos regionais foram propostos com fragmentação das políticas educacionais, enseje o fortale-
maior frequência e programas de produção e distribuição de cimento do regime de colaboração entre as três esferas de
materiais didáticos foram desenvolvidos. Com isso, as ideias governo e seja balizadora da qualidade da educação. Assim,
e representações de ensino e aperfeiçoamento de professo- para além da garantia de acesso e permanência na escola,
res começaram a circular cada vez mais no país (FRANÇA, é necessário que sistemas, redes e escolas garantam um
2013), mas faltava ao debate político e educacional maior patamar comum de aprendizagens a todos os estudantes,
maturação, até mesmo para implementar uma reflexão am- tarefa para a qual a BNCC é instrumento fundamental.
pla e nacional que buscasse abranger as diversidades regio- (Brasil, 2018, p. 8)
nais. Desde então, houve a implementação de iniciativas pú-
blicas fundamentais, como a promulgação da Lei de Diretrizes O documento apresenta um projeto educacional de for-
e Bases da Educação Nacional (LDB) e dos Parâmetros Cur- mação integral que visa constituir uma sociedade alicerçada
riculares Nacionais (PCN), em meados dos anos 1990, oriun- em valores e princípios éticos, políticos e estéticos compro-
das dos debates da Constituição de 1988. Entretanto, somen- metidos com a justiça, a democracia e a inclusão social. Para
te em 2014, com a construção do Plano Nacional de Educação isso, reconhece que a educação tem um compromisso com a
(PNE) e, com ele, a definição das vinte metas para a melhoria formação e o desenvolvimento humano global, em todas as
da Educação Básica, o processo que resultou na atual BNCC suas dimensões (intelectual, física, afetiva, social, ética, moral
teve maior impulso. e simbólica).

164
Mas isso não é algo iné- 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e cul-
dito nos debates sobre a turais, das locais às mundiais, e também participar de prá-
educação: trata-se da oficia- ticas diversificadas da produção artístico-cultural.
lização de movimentos que
4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-mo-
já faziam partem do cenário
tora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital
educativo. Por isso, a BNCC
dialoga com documentos –, bem como conhecimentos das linguagens artística, mate-
que são referências da polí- mática e científica, para se expressar e partilhar informações,
tica educacional, como a experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos
LDB e o PNE, já citados, e as e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
Diretrizes Curriculares Na- 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de in-
cionais para o Ensino Médio formação e comunicação de forma crítica, significativa, re-
(DCNEM), de 2018. flexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as
A BNCC também dialoga Reprodução da capa da ver- escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informa-
com documentos ligados aos são final da BNCC (2018). A ções, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer
organismos internacionais, pirâmide formada por cubos
protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.
com as cores da bandeira de
como a Agenda 2030 para o
nosso país comunica o ideal 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e
Desenvolvimento Sustentá- de construção de um projeto apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe pos-
vel (ONU, 2015) e a Global educativo para o Brasil.
sibilitem entender as relações próprias do mundo do traba-
Competency for an Inclusive
World (OCDE, 2018). A interlocução com esses textos apare- lho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e
ce principalmente na abertura do documento, na qual se des- ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciên-
taca o discurso educacional dos organismos internacionais. cia crítica e responsabilidade.
Diferentemente de outros textos políticos educacionais, o 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações
interlocutor da BNCC é toda a sociedade, e não apenas do- confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos
centes, gestores escolares e estudantes. Dessa forma, refor- de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os
ça-se a concepção de que a BNCC representa um projeto de direitos humanos, a consciência socioambiental e o consu-
sociedade e, mais do que isso, de nação, cujos cidadãos – por mo responsável em âmbito local, regional e global, com po-
meio da educação – aprenderão as competências e as habi- sicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos
lidades necessárias para a transformação da sociedade bra- outros e do planeta.
sileira naquela que se pretende construir por meio do conhe-
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e
cimento que mobiliza para o agir com consciência, ética e
emocional, compreendendo-se na diversidade humana e
autonomia.
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrí-
O eixo norteador do documento é o desenvolvimento das
aprendizagens essenciais dos estudantes, em uma perspec- tica e capacidade para lidar com elas.
tiva de eficiência educativa e em consonância com o propos- 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e
to pelas avaliações realizadas em larga escala. Para isso, es- a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respei-
tabelece as competências gerais e essenciais, que são to ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e va-
compreendidas como: lorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais,
seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem
[…] mobilização de conhecimentos (conceitos e preconceitos de qualquer natureza.
procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e so- 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, respon-
cioemocionais), atitudes e valores para resolver deman- sabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, toman-
das complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da do decisões com base em princípios éticos, democráticos,
cidadania e do mundo do trabalho. inclusivos, sustentáveis e solidários.

(Brasil, 2018, p. 8) (Brasil, 2018, p. 9-10)

Assim, estas são as competências gerais para a Educação De acordo com Antoni Zabala, o desenvolvimento de com-
Básica: petências e habilidades desloca o foco dos currículos do con-
teúdo para a aprendizagem:
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente cons-
truídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para Não é suficiente saber ou dominar uma técnica, nem é
entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e co- suficiente sua compreensão e sua funcionalidade, é neces-
laborar para a construção de uma sociedade justa, demo- sário que o que se aprende sirva para poder agir de forma
crática e inclusiva. eficiente e determinada diante de uma situação real. É nis-
so que estamos envolvidos.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem
própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a (ZaBala, 2014, p. 10)
análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar
causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver pro- Não basta saber o que fazer, mas é essencial saber para quê.
Assim, o desenvolvimento de competências e habilidades não
blemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base
objetiva apenas a obtenção de melhores resultados nas avalia-
nos conhecimentos das diferentes áreas.
ções; ele é uma resposta a anseios como “o que o estudante

165
fará com o que estuda?”, ou seja, preocupa-se com o agir. A fi- É importante salientar que a BNCC não se propõe a “unifor-
nalidade passa a nortear o processo de aprendizagem, e o foco mizar” os currículos, e sim a relacionar as escalas nacional, re-
desloca-se da formação centrada na transmissão de conheci- gional e local ao pensar a educação brasileira, orientando o pro-
mentos e memorização para um modelo fundamentado no de- cesso de formação dos currículos escolares e do corpo discente
senvolvimento por competências. Ainda segundo Zabala:
com base na diversidade de realidades locais.
Dessa forma, o documento coloca em pauta o pensamento
A competência identificará aquilo que qualquer pessoa intercultural, cujas pretensões se opõem aos processos de uni-
necessita para responder aos problemas aos quais se depa- formização do outro.
rará ao longo da vida. Portanto, competência consistirá na Entende, ainda, a educação integral como o desenvolvi-
intervenção eficaz nos diferentes âmbitos da vida mediante mento do estudante em todas as suas dimensões – intelectual,
ações nas quais se mobilizam, ao mesmo tempo e de ma-
física, emocional, social e cultural –, tendo em vista as múltiplas
neira inter-relacionada, componentes atitudinais, procedi-
culturas juvenis. E isso envolve a responsabilidade não só da
mentais e conceituais.
escola, mas também das famílias, dos educadores em geral e
(ZaBala, 2014, p. 42-43)
da comunidade.

■ A BNCC, A JUVENTUDE E O ENSINO MÉDIO


Com foco no desenvolvimento do protagonismo intelec-
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológi-
tual dos jovens e da capacidade em situar-se como cidadãos
cos dos processos produtivos, relacionando a teoria
do/no mundo em suas dimensões emocional, intelectual, so-
com a prática, no ensino de cada disciplina.
cial e cultural, o documento apresenta a seguinte concepção
de juventude, com base no Parecer CNE/CEB n. 5/2011: (Brasil, 2018, p. 464)

A proposta de educação integral visa dar sentido aos co-


[…] a juventude como condição sócio-histórico-cultural
nhecimentos ensinados em sala de aula, relacionando-os aos
de uma categoria de sujeitos que necessita ser considerada
contextos de vivência por meio do protagonismo do estudan-
em suas múltiplas dimensões, com especificidades próprias te durante o processo de aprendizagem. Para isso, a forma-
que não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas ção integral do estudante deve ter esse objetivo em destaque,
que se encontram articuladas com uma multiplicidade de fundamentada em um processo de aprendizagem perma-
atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas nente, inclusivo e democrático.
culturas juvenis ou muitas juventudes. Imbuída desse e de outros objetivos, como a proposição
(Brasil, 2018, p. 463)
de um modelo único e flexível para a etapa do Ensino Médio,
a Lei n. 13 415/2017 estabelece que o currículo desse seg-
Em outras palavras, a BNCC considera os estudantes do mento será composto da BNCC, organizado em quatro áreas
Ensino Médio, sob uma perspectiva plural, singular e integral, do conhecimento, somadas à possibilidade do ensino profis-
sujeitos de aprendizagem, promovendo uma educação vol- sionalizante, a saber:
tada para seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvi-
mento pleno, ou seja, em todas as dimensões, tendo em vis- I – linguagens e suas tecnologias;
ta suas singularidades e diversidades. II – matemática e suas tecnologias;
Para isso, o documento fomenta um projeto para a esco-
III – ciências da natureza e suas tecnologias;
la com o objetivo de fazer com que ela não seja mais a mes-
ma, isto é, a escola agora deve ser outra (FRANÇA, 2013), IV – ciências humanas e sociais aplicadas;
deve se tornar cada vez mais um espaço de aprendizagem, V – formação técnica e profissional.
de democracia inclusiva e de práticas interculturais.
(Brasil, 2018, p. 468)
Fundamentado na LDB de 1996, o documento contextua-
liza as finalidades do Ensino Médio: Essas mudanças têm como foco transformar a escola do
Ensino Médio em um espaço que acolha mais a juventude
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos em sua diversidade e com suas potencialidades. Isso, contu-
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o pros- do, não é possível sem adotar processos que favoreçam a
seguimento de estudos; autonomia e o protagonismo dos jovens, que, em grande me-
dida, têm abandonado a escola nesse segmento escolar. De
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do
acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Do-
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser micílios Contínua (Pnad), no ano de 2019, cerca de 11% dos
capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições jovens entre 15 e 17 anos estavam fora da escola.
de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; As causas dessa situação são múltiplas, abarcando desde
III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, a falta de engajamento da comunidade escolar até fatores
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da au- estruturais e sociais, como a falta de acesso a transporte es-
tonomia intelectual e do pensamento crítico; colar – em muitos locais, o número de escolas que oferecem
o Ensino Médio é menor em relação às instituições que

166
oferecem os outros segmentos da Educação Básica, exigindo além da elaboração de respostas criativas para as questões
um deslocamento maior dos estudantes –, a necessidade de comunitárias. Tal postura também favorece as percepções
entrar no mercado de trabalho e a defasagem no ensino, acu- sobre a responsabilidade cidadã de responder aos anseios
mulada em anos anteriores. de melhorias sociais e de comunicar aos diferentes grupos
A reorganização da proposta do currículo de Ensino Mé- de interesse as ações possíveis e as informações confiáveis.
dio busca conscientizar os estudantes e a sociedade da im- A divulgação desses conhecimentos construídos no Ensi-
portância dessa etapa da Educação Básica para a formação no Médio é essencial para que os jovens fortaleçam a autoes-
cidadã e, também, profissional. Assim, por meio do incenti- tima e se empoderem de seus papéis como cidadãos atuan-
vo à integração entre as diferentes áreas do conhecimento, tes. Idealmente, isso reverbera em toda a comunidade, já que
os estudantes são convidados a mobilizar os diferentes co- a ação dos jovens nesse sentido impacta o seu entorno
nhecimentos que já detêm para observar, analisar, refletir, no cotidiano. Desse modo, a construção de argumentação
pensar e realizar ações acerca de questões que fazem par- coerente, alinhada aos discursos éticos e à defesa da demo-
te de seu cotidiano em nível individual e coletivo. cracia, se faz essencial para a ação cidadã proposta.
Essa perspectiva possibilita maior acolhimento das cul- O organograma a seguir sistematiza os principais resul-
turas juvenis, visando ao engajamento escolar e, especial- tados esperados na vida dos jovens com as mudanças no
mente, à ressignificação e à construção de conhecimento, Ensino Médio.

Protagonismo no Resolução de questões da


processo de aprendizagem vida cotidiana

grivina/iStock/
Getty Images

Continuidade
dos estudos
Exercício da
cidadania

Atuação no mundo do trabalho, com


consciência e autonomia

O manejo consciente das tecnologias digitais também é


fundamental para a participação plena dos jovens no mun- digitais […] até o acesso e uso de todo o tipo de informação
do contemporâneo. Embora no Brasil o amplo acesso à in- e conteúdos audiovisuais existentes na Internet (atualmen-
ternet ainda esteja em desenvolvimento – de acordo com a te ao alcance de quase toda a população).
Pnad 2019, cerca de 20% dos lares brasileiros não tinham (Ruiz, 2017)
nenhum tipo de acesso à internet –, fomentar o debate so-
bre as responsabilidades e as potencialidades da internet
Assim, a cultura digital não é definidora da juventude, e
dentro da escola amplia as possibilidades de uso dessas
as ferramentas digitais potencializam as possibilidades de
ferramentas, que, a cada dia, transformam com maior cele-
expressão dos jovens. Essa perspectiva retoma as posturas
ridade o modo como são realizadas as diferentes atividades
de empoderamento e protagonismo. Por meio de podcasts,
cotidianas.
vlogues e outras tantas ferramentas, uma infinidade de con-
Em contrapartida, é importante ressaltar que a cultura
teúdos pode ser produzida e divulgada pelos jovens, dentro
digital e a cultura juvenil não são sinônimos:
e fora da escola.
Todas essas mudanças de perspectivas são respaldadas
O conceito de cultura juvenil está associado à forma co- em documentos normativos e em diálogos com a sociedade
mo os jovens “tornam sua” ou reinterpretam essa cultura civil, que os influencia e é influenciada por eles, resultando em:
mais ampla na qual vivem, para ir definindo certos estilos
de vida e traços de identidade – muitos deles relacionados […] mudanças recentes na Lei de Diretrizes e Bases da
com o seu tempo livre e lazer –, uma certa linguagem e es- Educação (LDB), das novas Diretrizes Curriculares Nacio-
téticas com os seus códigos próprios, bem como outras for- nais para o Ensino Médio (DCNEM) e da elaboração da par-
mas de expressão, inclusive de criatividade artística ou te para o Ensino Médio da Base Nacional Comum Curricu-
científica próprios. lar (BNCC). O documento apresenta três grandes frentes: o
Com cultura digital, estamos nos referindo a todas as desenvolvimento do protagonismo dos estudantes e de seu
formas de comunicação, expressão (individual e coletiva), projeto de vida, por meio da escolha orientada do que que-
consumo e participação cívica e institucional que são rea- rem estudar; a valorização da aprendizagem, com a amplia-
lizadas mediante a utilização de tecnologias digitais. Desde ção da carga horária de estudos; e a garantia de direitos de
as vanguardas artísticas e científicas até a gestão burocrá- aprendizagem comuns a todos os jovens, com a definição
tica (impostos, sanções administrativas etc.); desde a comu- do que é essencial nos currículos a partir da BNCC.
nicação com amigos e familiares através de tecnologias (BRasil, 2019)

167
O ENSINO MÉDIO E AS CIÊNCIAS
HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
Garantir um processo adequado de transição do Ensino
Fundamental para o Ensino Médio é um desafio que se im- […] conhecer melhor o mundo cultural dos alunos; per-
põe ao processo de formação escolar. Além da mudança do ceber que os alunos trazem experiências que são significa-
ciclo escolar, há, em marcha, a mudança da própria estrutura tivas e importantes; relatos de histórias de vida; observar a
do Ensino Médio, como discutido anteriormente. cultura da escola buscando elementos que possam quebrar
O tempo vivido pelo estudante no Ensino Médio é carac- a homogeneidade; refletir sobre os conhecimentos que se
terizado por inquietudes que não são silenciosas; ao contrário, pretende construir, questionar; problematizar as formas de
são bastante “barulhentas”. É nessa vivência, caracterizada construção desses conhecimentos na escola; ouvir e prestar
pela intensificação das questões existenciais, sociais e cultu-
atenção, se aproximar e sentir o outro; descobrir no corpo
rais próprias da adolescência, que os estudantes assumem
docente quem são as pessoas mais sensíveis ao tema; es-
novos compromissos e responsabilidades, constituindo seu
modo de ser e estar no mundo. Dessa forma, a questão que tabelecer parcerias.
se impõe à escola é: Como a escola pode contribuir para po-
(Candau, 2016, p. 355)
tencializar a vida dos jovens?
Para isso, uma possibilidade é apostar em uma educação
Assim, a escola se abrirá para a diversidade das culturas
intercultural, que significa pensar a organização do currículo
juvenis, buscando olhar, aproximar e sentir o outro em toda
escolar tendo como foco os estudantes, contemplando a acei-
tação e o respeito às diferenças e à diversidade cultural. a complexidade da sua formação humana. Nesse aspecto,
É importante considerar que a escola exerce um papel as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas desempenham um
fundamental para a formação humana por meio de práticas papel essencial na educação da juventude, já que permitem
educativas planejadas e intencionais. É essencial, nesse pro- investigar, analisar, identificar e observar de modo crítico o
cesso, incentivar os estudantes a exercitar a autonomia, ou mundo e a sociedade, os papéis sociais, as dinâmicas de po-
seja, o efetivo protagonismo, dando oportunidade à produ- der e outras características culturais que favorecem as per-
ção e à apropriação de saberes de forma crítica, incentivando cepções sobre a própria identidade e, também, as possibili-
os diálogos culturais e gerenciando as questões relacionadas dades de transformação social.
ao universo do adolescente. Segundo Candau, é preciso

■ AS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS


A concepção de área de conhecimento das Ciências Hu- Relacionar aspectos da concepção de Estudos Sociais à
manas e Sociais Aplicadas tem relação, segundo França concepção de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas não sig-
(2013), com estudos desenvolvidos na década de 1950 pelo nifica afirmar que sejam considerados a mesma coisa. Porém,
Instituto Internacional de Pedagogia de Sèvres, em Paris, pode ajudar a compreender melhor como, nesse movimento
França. Esse centro de pesquisa possuía uma escola experi- de aproximação e distanciamento de representações sobre-
mental, onde eram realizadas pesquisas educacionais que
postas no decorrer do tempo histórico, foi constituído o que
fomentaram discussões acerca do papel das Ciências Sociais
hoje é chamado de área de conhecimento Ciências Humanas
na investigação de problemas escolares e de questões de
e Sociais Aplicadas.
ordem social. O debate estava alinhado aos fundamentos da
Escola Nova, que ganhou força no Brasil a partir da década Se, no passado, a área de Estudos Sociais era um agluti-
de 1930, por meio de cursos de formação de professores e nado de conceitos mais ou menos desconexos que fomen-
da circulação de guias curriculares que defendiam um siste- tavam práticas de memorização de nomes de relevo, hidro-
ma de ensino público e laico, com liberdade de pensamento, grafia, capitais de países, datas cívicas e nomes de batalhas,
que, entre outras questões, possibilitasse a superação das sem a devida contextualização dos processos temporais e
desigualdades sociais brasileiras. espaciais, das estruturas sociais e do campo ético, a atual
Outro debate importante nesse sentido ocorreu a partir área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, de acordo com
da publicação do Guia Metodológico para Cadernos MEC – a BNCC, tem como foco a formação integral do cidadão, bali-
Estudos Sociais (1971), cujo prefácio, escrito por Humberto
zada por preceitos éticos e democráticos, que reforçam a va-
Grande, diretor executivo da Fundação Nacional do Material
lorização da autonomia de pensamento e a superação de
Escolar (Fename), apresentou os então Estudos Sociais como
desigualdades. Cabe a essa área de conhecimento oportuni-
atividade interdisciplinar, concepção bem próxima da ideia
de integração e interdisciplinaridade difundida na atualida- zar aos educandos a compreensão dos elementos essenciais
de. Sob a representação de Estudos Sociais, essa concepção da cultura dos povos e a promoção do sentimento de justiça
de ensino circulou nas Escolas Normais, nos centros de trei- e de empoderamento democrático, princípios essenciais pa-
namento, nos cursos de “aperfeiçoamento” de professores, ra a formação humana e social.
nas publicações pedagógicas e nos materiais didáticos. De acordo com a BNCC:

168
[…] a área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – 6. Participar do debate público de forma crítica, respeitando
integrada por Filosofia, Geografia, História e Sociologia – diferentes posições e fazendo escolhas alinhadas ao exer-
propõe a ampliação e o aprofundamento das aprendizagens cício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade,
essenciais desenvolvidas no Ensino Fundamental, sempre autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
orientada para a uma formação ética. Tal compromisso edu- (Brasil, 2018, p. 570)
cativo tem como base as ideias de justiça, solidariedade,
autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, Como é possível observar, a área de Ciências Humanas e So-
a compreensão e o reconhecimento das diferenças, o res- ciais Aplicadas tem entre seus objetivos provocar os estudantes
peito aos direitos humanos e à interculturalidade, e o com- para a percepção crítica do conhecimento e de sua brevidade,
bate aos preconceitos de qualquer natureza. com o intuito de buscar soluções sociais criativas e éticas. A con-
cepção apresentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino-
(Brasil, 2018, p. 561) vações para essa área do conhecimento é consonante com aque-
la observada na BNCC, como é possível identificar a seguir:
Apresentamos, a seguir, alguns exemplos práticos da im-
portância estratégica das Ciências Humanas e Sociais Apli-
As pesquisas em ciências humanas vão desde o estudo
cadas para a formação ética e cidadã:
• identificar e analisar as relações de poder, assim como do comportamento humano passando pela interação em con-
dialogar e refletir sobre elas, favorece a formulação de textos sociais, culturais, ambientais, econômicos e políticos,
percepções sobre a sociedade em que se vive e sobre os aos desenvolvimentos da linguagem, artes e arquitetura. Es-
impactos dessas relações em diferentes níveis na própria tas pesquisas têm na dinâmica humana sua centralidade,
comunidade, como a formação do território ocupado; com focos históricos ou contemporâneos, de contextos pes-
soais a globais, e consideram o nosso preparo para os desa-
• investigar as próprias identidades culturais e refletir sobre fios do futuro. Por meio da pesquisa em macroáreas da Lin-
elas possibilita não apenas o autoconhecimento, mas tam-
guística, Artes, Humanidades, Ciências Sociais, Sociais
bém a percepção sobre si e sobre os outros, sobre o modo
Aplicadas e Ética, e de seus desdobramentos e inter-relações,
como os estudantes colocam no mundo suas identidades
espera-se a habilitação coletiva da sociedade brasileira em
individuais e coletivas, afetando desde as relações pes-
sua capacidade de questionar, pensar criticamente, resolver
soais até as relações institucionais;
problemas, comunicar de maneira eficaz, tomar decisões e
• debater e fomentar essas ideias promove a apreensão fi- adaptar-se às mudanças. Responder aos desafios humanos
losófica dos estudantes e colabora para torná-los críticos exige uma compreensão dos principais fatores, linguísticos,
e atentos ao mundo em que vivem. cognitivos, históricos, geográficos, políticos, econômicos, cul-
Para dar conta do que é esperado dessa área de conhe- turais, éticos e sociais envolvidos, e como esses diferentes
cimento, a BNCC lista as seguintes competências específicas fatores se inter-relacionam.
de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas:
(Brasil, s/d)

1. Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambien- Percebe-se, por essa concepção, que a escola que se pre-
tais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial tende é aquela que ensine a pensar, por meio do domínio
em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimen- teórico-metodológico característico dos componentes curri-
tos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a culares relacionados à área de Ciências Humanas e Sociais
compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, Aplicadas.
considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões
baseadas em argumentos e fontes de natureza científica. Considerando as aprendizagens a ser garantidas aos jo-
2. Analisar a formação de territórios e fronteiras em diferen- vens no Ensino Médio, a BNCC da área de Ciências Huma-
tes tempos e espaços, mediante a compreensão das relações nas e Sociais Aplicadas está organizada de modo a tema-
de poder que determinam as territorialidades e o papel geo- tizar e problematizar algumas categorias da área,
político dos Estados-nações. fundamentais à formação dos estudantes: Tempo e Espaço;
Territórios e Fronteiras; Indivíduo, Natureza, Sociedade, Cul-
3. Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes
tura e Ética; e Política e Trabalho. Cada uma delas pode ser
grupos, povos e sociedades com a natureza (produção, dis-
desdobrada em outras ou ainda analisada à luz das especi-
tribuição e consumo) e seus impactos econômicos e so-
ficidades de cada região brasileira, de seu território, da sua
cioambientais, com vistas à proposição de alternativas que
história e da sua cultura.
respeitem e promovam a consciência, a ética socioambien-
tal e o consumo responsável em âmbito local, regional, na- (Brasil, 2018, p. 562)
cional e global.
Do mesmo modo, espera-se que essa escola favoreça o
4. Analisar as relações de produção, capital e trabalho em desenvolvimento do conhecimento socialmente produzido e
diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o pa- acumulado, aliado às propostas de flexibilidade, autonomia
pel dessas relações na construção, consolidação e transfor- e protagonismo que se pretende desenvolver na formação
mação das sociedades. dos estudantes. Assim, as Ciências Humanas e Sociais Apli-
5. Identificar e combater as diversas formas de injustiça, pre- cadas visam promover um processo de aprendizagem para
conceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, a formação de cidadãos autônomos e capazes de fazer uso
dos próprios conhecimentos para solucionar problemas de
inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.
diversas naturezas ao longo da vida.

169
No Ensino Fundamental, a BNCC se concentra nos pro- ao domínio de conceitos e metodologias próprios dessa
cessos de tomada de consciência do Eu, do Outro e do Nós, área. As operações de identificação, seleção, organização,
das diferenças em relação ao Outro e das diversas formas comparação, análise, interpretação e compreensão de um
de organização da família e da sociedade em diferentes es- dado objeto de conhecimento são procedimentos respon-
paços e épocas históricas. Para tanto, prevê que os estu- sáveis pela construção e desconstrução dos significados do
dantes explorem conhecimentos próprios da Geografia e da que foi selecionado, organizado e conceituado por um de-
História: temporalidade, espacialidade, ambiente e diversi- terminado sujeito ou grupo social, inserido em um tempo,
dade (de raça, religião, tradições étnicas etc.), modos de or- um lugar e uma circunstância específicos.
ganização da sociedade e relações de produção, trabalho e
poder, sem deixar de lado o processo de transformação de (Brasil, 2018, p. 561-562)

cada indivíduo, da escola, da comunidade e do mundo.


A organização por área do conhecimento permite que o
(Brasil, 2018, p. 561) processo de ensino-aprendizagem seja abordado de forma
contextualizada e aplicado à realidade, favorecendo a ado-
Dessa forma, no Ensino Médio, ao estudante torna-se
ção de abordagens que se fundamentem na investigação de
possível aprofundar e ampliar os conhecimentos, desenvol-
situações-problema e oportunizando o desenvolvimento de
vendo a competência de articular informações e conhecimen-
competências e habilidades que contribuam para a formação
tos de forma argumentativa e dialogada.
integral do estudante.
Nesse sentido, a integração ocorre entre os componentes
Portanto, no Ensino Médio, a BNCC da área de Ciências
curriculares, e a interdisciplinaridade se dá no diálogo, pró-
Humanas e Sociais Aplicadas propõe que os estudantes de-
prio e distinto, entre os saberes desses componentes, confor-
senvolvam a capacidade de estabelecer diálogos – entre
me a identidade e a especificidade metodológica de cada um.
indivíduos, grupos sociais e cidadãos de diversas naciona-
A concepção de área de conhecimento permite ao profes-
lidades, saberes e culturas distintas –, elemento essencial
sor a percepção e a efetivação da docência pautada na forma
para a aceitação da alteridade e a adoção de uma conduta
mais ampla dos fenômenos humanos e sociais aplicados às
ética em sociedade. Para tanto, define habilidades relativas
práticas sociais.

POSSIBILIDADES DE
INTERDISCIPLINARIDADE:
CIÊNCIAS DA NATUREZA
realizado em Nice, França, em fevereiro de 1970, visando dis-
A interdisciplinaridade é vivenciada pelo homem sempre cutir a fragmentação do conhecimento. Desse evento, resul-
que ele se apropria de algum conhecimento em suas relações taram estudos que nortearam diversas pesquisas sobre o
com o mundo. O simples fato de acordar, trabalhar e interagir tema, fazendo circular a noção de interdisciplinaridade rela-
com outros indivíduos, e com isso alterar sua forma de pen- cionada aos pressupostos de John Dewey (1859-1952), con-
sar e de agir, constitui uma atividade interdisciplinar. As di- tribuindo para o avanço nos debates sobre conceitos como
ferentes formas de conhecimentos que precisam ser aciona- interdisciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar.
das no dia a dia correlacionam-se para que o ser humano Segundo o filósofo Ivan Domingues, do Instituto de Es-
possa aprimorar novas estratégias que facilitem sua vida. tudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG):
(Giordani, 2000, p. 81)

Conforme o pensamento de Jean Piaget (1896-1980), ci- […] sem dúvida, há uma flutuação conceitual entre es-
tado por Giordani, a interdisciplinaridade é o movimento que ses termos. […] a grande diferença entre os três é que o in-
a ciência faz em busca da produção de conhecimentos mais terdisciplinar e o multidisciplinar estão ainda presos às dis-
abrangentes. Embora aconteça no cotidiano, em relação ao ciplinas. Ao passo que o transdisciplinar quer ir além. Mas
conhecimento científico e à prática didática, esse movimento entendemos que a pesquisa transdisciplinar só poderá ser
não é espontâneo, devendo fundamentar-se em um plane-
adotada e enfrentada com sucesso tendo uma base cultural
jamento que deixe evidente sua intencionalidade.
A noção de interdisciplinaridade, que surgiu no cerne do sólida, o que vamos encontrar em pesquisas interdiscipli-
pragmatismo e foi apropriada pela pedagogia culturalista, nares ou multidisciplinares de sucesso.
além de concebida como uma educação global, passou a cir- […] A interdisciplinaridade é amiga da transdisciplinari-
cular com mais intensidade a partir da década de 1970, prin- dade. Não há nenhuma oposição. Mas queremos dar um pas-
cipalmente na produção dos intelectuais que se reuniram no
so além, pois a base cultural da transdisciplinaridade é a
Seminário sobre Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade,

170
interdisciplinaridade. […] Na multi, várias disciplinas coope- tendência de cada professor a priorizar os conhecimentos
ram com um projeto, mas cada qual trabalhando um aspecto específicos de sua disciplina.
do objeto com o seu método. Na inter, há situações em que A leitura superficial poderia indicar que os docentes são
uma disciplina nova adota métodos de uma outra mais anti- os responsáveis pela não aplicabilidade das propostas inter-
ga. É o caso clássico, por exemplo, da Bioquímica, matéria disciplinares. Porém, o que esses resultados evidenciam são
em que houve uma fusão de campos. Na trans, a tentativa é as lacunas formativas no Ensino Superior, que ainda não pri-
a de instaurar uma metodologia [de pesquisa] unificada. vilegia esse tipo de abordagem. Para Nogueira (2001), a ação
interdisciplinar deve estar na gênese dos planejamentos e
(Domingues, 2003)
da formação do corpo docente. Assim, a formação continua-
da e os cursos complementares podem ser importantes es-
A abordagem interdisciplinar tem boas oportunidades de
desenvolvimento na investigação científica de contextos que, tratégias para construir a integração entre as áreas, de acor-
para serem analisados, mobilizam diferentes campos do co- do com os projetos político-pedagógicos de cada instituição
nhecimento, acionando métodos de pesquisa pertinentes a e com a realidade escolar.
diferentes áreas, como as Ciências Humanas e Sociais Aplica- Neste manual, serão apresentadas algumas propostas,
das e as Ciências da Natureza. Ao longo da coleção, há momen- em contextos que foram escolhidos especialmente para in-
tos oportunos para essa abordagem em diversas atividades e centivar a percepção interdisciplinar de problemas diversos.
seções, como a Práticas de pesquisa. Em relação à abordagem As propostas de pesquisa sugeridas, por exemplo, mobilizam
interdisciplinar, o pesquisador Carlos Santos argumenta: competências e habilidades das Ciências da Natureza e de
outras áreas do conhecimento. Essas ofertas podem e devem
[…] não haver objeção à afirmação de que o caráter es- ser ampliadas, aprofundadas e complementadas com base
sencial da natureza é interdisciplinar. Eram pensadores in- em eventos relacionados ao cotidiano da comunidade esco-
terdisciplinares os primeiros a perscrutarem os mistérios da lar. Para isso, a atenção do docente é essencial; ele deve ob-
natureza. O reducionismo que levou ao surgimento da bio- servar as oportunidades de trazer o mundo extraescolar pa-
logia, física e química vem da incapacidade humana em in- ra a sala de aula e, também, de levar a escola para o mundo.
vestigar os fenômenos naturais no contexto de seu caráter De modo mais prático, há diversos aspectos das compe-
holístico. Embora não tenhamos como saber se avanços de tências das Ciências da Natureza que possibilitam a interfa-
recursos tecnológicos e ferramentas matemáticas nos leva- ce com as diferentes frentes das Ciências Humanas e Sociais
rão de volta a um estado de quase completa interdiscipli- Aplicadas, como mostram os destaques a seguir:
naridade como se via nas antigas civilizações, é notável co-
mo abordagens interdisciplinares avançam pontualmente Competências específicas de
na pesquisa científica.
Ciências da Natureza e suas
(santos, 2018, p. 363) Tecnologias para o Ensino Médio
O exercício de correlacionar os saberes visando à com- 1. Analisar fenômenos naturais e processos tecnológi-
preensão de eventos físicos, biológicos, culturais e sociais é cos, com base nas interações e relações entre matéria e
importante para que os estudantes sejam capazes de enten- energia, para propor ações individuais e coletivas que aper-
der, com maior propriedade, o mundo e as conjunturas sob feiçoem processos produtivos, minimizem impactos so-
as quais vivem e de neles atuar da melhor forma possível. O cioambientais e melhorem as condições de vida em
desenvolvimento de competências e habilidades, bem como âmbito local, regional e global.
do raciocínio científico, também contribui para esse aspecto
2. Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vi-
e é potencializado nas propostas de trabalho interdisciplinar.
Alguns exemplos de propostas que podem ser trabalha- da, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar
das sob a perspectiva interdisciplinar são a descoberta do previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vi-
petróleo no pré-sal do território brasileiro em 2007; o terre- vos e do Universo, e fundamentar e defender decisões
moto no Haiti em 2010; e a pandemia do coronavírus em éticas e responsáveis.
2020. Esses grandes eventos são exemplos de fenômenos 3. Investigar situações-problema e avaliar aplicações
que trazem impactos diversos para o cotidiano das popula- do conhecimento científico e tecnológico e suas im-
ções e podem ser mais bem compreendidos em sua ampli- plicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens
tude se combinarmos conhecimentos de áreas como as de próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que
Ciências da Natureza e de Ciências Humanas e Sociais Apli-
considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comu-
cadas. Importantes referências, nesse aspecto, são as pes-
nicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em
quisas do National Research Council, nos Estados Unidos, as
diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecno-
quais sugerem que os temas transversais sirvam de ponte
logias digitais de informação e comunicação (TDIC).
entre as Ciências da Natureza e outras áreas do conhecimen-
to, de forma interdisciplinar. (Brasil, 2018, p. 553; grifo nosso)
Em 2004, um grupo de mestrandos do Programa de Pós-
-graduação em Educação para a Ciência, da Faculdade de Nas páginas 179 a 182 são indicados os momentos em
Ciências da Universidade de São Paulo, desenvolveu uma que o trabalho com essas competências é privilegiado. Tra-
pesquisa com o objetivo de investigar como os docentes da ta-se de uma abordagem inicial que pode servir de apoio pa-
área de Ciências da Natureza concebem o conceito de inter- ra os planejamentos didáticos. Eles não encerram as possi-
disciplinaridade. Com base nas respostas às questões pro- bilidades de integração, que podem ser ampliadas e
postas pelos pesquisadores, foi possível perceber a aprofundadas pelo trabalho conjunto dos docentes.

171
A COLEÇÃO
■ PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Definir os pressupostos teóricos e metodológicos desta contribui para que o estudante se torne sujeito dos processos
coleção implica considerações teóricas amplas e complexas. de ensino-aprendizagem, possibilitando ao professor ser, cada
Por isso, neste manual, opta-se por fazê-lo a partir do diálo- vez mais, um orientador responsável por propor seu modo cria-
go entre a teoria e a prática. Para isso, a proposta não foi li- tivo de teorizar e praticar a pesquisa. Essas perspectivas, por-
mitada ao pensamento grego, segundo o qual a paideia (uma tanto, valorizam os conhecimentos que os estudantes trazem
ideia de escola) cumpriria a função de formar os cidadãos de seus contextos locais, partindo do pressuposto de que a:
para a vida na pólis. Essa perspectiva pode aprisionar as pro-
postas didáticas ao eurocentrismo, omitindo as possibilida-
[…] essência do processo de aprendizagem significativa
des epistemológicas oferecidas por diferentes povos que
é que as ideias expressas simbolicamente são relacionadas
constituíram e que constituem as identidades brasileiras.
às informações previamente adquiridas pelo aluno através
Assim, dialogando com a proposta dos documentos curri-
de uma relação não arbitrária e substantiva (não literal).
culares apresentados, propõe-se uma perspectiva intercultu-
ral, que se fundamenta na diversidade cultural e se contrapõe (ausuBel; novak; Hanesian, 1980)
à condição colonial, ainda existente, mesmo depois da inde-
pendência de países dos continentes americano, asiático e Também é imprescindível levar em conta a alteridade, ou
africano. Os fundamentos dessa posição estão na construção seja, as diferentes dimensões humanas – estética, ética, so-
de posturas de valorização de diversas visões de mundo, no cial, política e cultural –, para fazer observações, análises e
diálogo de saberes e na estreita relação entre teoria e prática. reflexões. Por isso, nesta coleção, propõe-se ressaltar a visão
O objetivo é potencializar o olhar para a realidade com o multiculturalista e intercultural da sociedade proposta pela
intuito de compreendê-la em sua totalidade e em sua com- BNCC e pelos demais documentos mencionados.
plexidade. Assim, buscou-se apresentar propostas de ensino A diversidade cultural apresenta-se como um recurso pa-
e de aprendizagem que têm como base a realidade dos edu- ra ampliar a visão da integridade humana, valorizando a di-
candos, sempre que possível problematizando-as e relacio- vergência, o respeito e o compartilhamento na construção
nando-as em níveis locais, regionais e mundiais, como frutos das práticas sociais e culturais. Essas perspectivas também
de realidades socioeconômicas, políticas e culturais diversi- reverberam na construção de propostas de práticas de pes-
ficadas e complexas, que podem ser mais bem compreendi- quisa que podem receber tratamento interdisciplinar, am-
das a partir de um ponto de vista interdisciplinar que possa pliando, assim, os temas, as abordagens e as possibilidades
romper com a fragmentação do saber. de interpretação e de ação.
Para isso, a coleção propõe certa reordenação geopolítica
do conhecimento, retomando a memória coletiva de povos Interculturalidade e descolonização
indígenas, africanos e afro-brasileiros, bem como de outras
A educação é estratégica para a transformação social e,
comunidades historicamente subalternizadas e invisibiliza-
por isso, abordagens que incentivem a interculturalidade e a
das no trato oficial. Também assume uma postura crítica dian-
descolonização são importantes, seja no modo de pensar co-
te dos cânones, que devem ser conhecidos como repertório
cultural, mas também debatidos e problematizados. Essa tidianamente, seja em termos científicos. Mais uma vez, não
postura proporciona a concepção de diferentes lógicas e for- se trata de rejeitar cânones, já que eles fazem parte de muitas
mas de pensar, incentivando a criação de outros modos de identidades brasileiras, sul-americanas e ocidentais. Trata-se
vida social, política e de pensamento, estimulando novos co- de admitir outras matrizes de pensamento e de valorizá-las
nhecimentos e outras interpretações de mundo. tanto quanto os cânones. Os resultados esperados, em última
É importante considerar que o saber e a cultura precedem instância, são a valorização e o respeito aos conhecimentos
a ciência. É o saber acumulado, que circula social e cultural- e saberes da comunidade, assim como a conscientização acer-
mente, que constrói a ciência. Assim, torna-se fundamental ca das responsabilidades individuais e coletivas sobre os es-
incentivar no estudante a reflexão sobre a relação entre seus paços (físicos e culturais) onde se vive.
conhecimentos prévios e o saber científico, além de estimu- Para tanto, é importante analisar o “pensamento do ou-
lar a alteridade, o relativismo cultural e o raciocínio próprio tro”, contrapondo-se à hegemonia do eurocentrismo e do co-
da ciência, abordando os aspectos metodológicos de uma lonialismo, visando, assim, à descolonização do currículo
pesquisa, por exemplo. (munsBerG, 2019 ). Essa é uma perspectiva que a BNCC e o
A proposta para o atual Ensino Médio tem como princípios
Novo Ensino Médio proporcionam. Ao compreender os pro-
pedagógicos a pesquisa e a interdisciplinaridade. Assim, ao
cessos colonialistas na lógica da Modernidade, desconstruir
longo dos volumes, enfatiza-se a metodologia de pesquisa,
esse modo de pensar e analisar suas consequências socioe-
com a aplicação de técnicas e métodos diversificados para a
construção do saber científico, reconhecendo que o conheci- conômicas e geopolíticas na atualidade pode trazer novas
mento é desenvolvido e apreendido de maneiras diferentes perspectivas científicas em todas as áreas.
e dinâmicas. Assim, sugere-se que, no planejamento docente, a busca
A pesquisa é um processo de questionamento da realidade pela descolonização da educação seja constante. Também se
que propicia, a partir disso, a reconstrução e a ressignificação incentiva o ativismo social, desenvolvendo ações de colabora-
do conhecimento. Ter a pesquisa como princípio educativo ção intercultural, como a escuta do outro por meio de atividades

172
didáticas como a criação de assembleias estudantis; a organi- pedagógica ética, crítica, reflexiva e transformadora, ultra-
zação de rodas de conversa; o planejamento e a execução de passando os limites do treinamento puramente técnico, pa-
exposições e saraus, feiras de ciências e apresentações teatrais; ra efetivamente alcançar a formação do […] ser histórico,
entre muitas outras possibilidades. Esses são exemplos de al- inscrito na dialética da ação-reflexão-ação.
gumas das propostas disponíveis no Livro do Estudante. Em
diferentes momentos da coleção, apresentam-se conteúdos (mitre, 2008)
que visam ressignificar os espaços tradicionais da escola, por
meio de atividades que visam engajar a comunidade escolar, O excerto acima assinala aspectos importantes das me-
promovendo a ação protagonista dos estudantes, a mediação todologias ativas, isto é, aquelas que fomentam práticas que
dos docentes e a participação dos funcionários da escola, dos não trazem ações em um plano ideal, e sim na realidade, nos
moradores do entorno e das famílias dos estudantes. espaços concretos, levando em consideração a pluralidade
Para dar conta dessas escolhas, optou-se pela mobiliza- escolar e, também, a das comunidades brasileiras. Essas prá-
ção de metodologias ativas, com foco na resolução de pro- ticas, que envolvem a organização de grupos de trabalho, a
blemas e no incentivo do protagonismo juvenil. Essa decisão identificação de questões do cotidiano, o desenvolvimento
reverbera tanto nos tipos de atividades propostas quanto nos de pesquisas, a sistematização das descobertas, a divulga-
contextos mobilizadores de aprendizagem. Ambos vão in- ção científica, o planejamento das ações e a transformação
centivar os estudantes a buscar os conhecimentos necessá- objetiva do entorno, possibilitam aos estudantes desenvolver
rios para elaborar análises sobre os problemas apresentados habilidades e competências por meio da resolução de pro-
e ações para tentar resolvê-los. blemas que fazem parte de suas vidas, seja em nível indivi-
dual, seja em diferentes níveis coletivos. O deslocamento do
protagonismo da pesquisa, nesse caso, vai além do conteúdo
METODOLOGIAS ATIVAS puro e simples em direção ao estudante-pesquisador, que
busca conhecimentos para solucionar questionamentos que
lhes causam algum impacto.
Essas estratégias também fomentam a autonomia e a to-
O grande desafio deste início de século [XXI] está na
mada de decisões conscientes por parte dos jovens, aspectos
perspectiva de se desenvolver a autonomia individual em
essenciais para a formação de cidadãos aptos a conduzir as
íntima coalizão com o coletivo. A educação deve ser capaz
transformações de mundo preconizadas pelos projetos polí-
de desencadear uma visão do todo – de interdependência
ticos veiculados pela BNCC e pelos demais documentos na-
e de transdisciplinaridade –, além de possibilitar a constru-
cionais e internacionais que as embasam.
ção de redes de mudanças sociais, com a consequente ex- A utilização de metodologias ativas para a resolução de
pansão da consciência individual e coletiva. Portanto, um situações-problema pode ser esquematizada com base no
dos seus méritos está, justamente, na crescente tendência diagrama conhecido como arco de Maguerez – nome dado
à busca de métodos inovadores, que admitam uma prática em alusão a seu desenvolvedor, o pesquisador francês Char-
les Maguerez –, apresentado a seguir:

TEORIZAÇÃO

Pontos- Hipóteses
de
-chave
solução

Observação Aplicação à
da realidade realidade
(problema) (prática)

REALIDADE
Fonte de pesquisa: Prado, Marta Lenise do et al. Arco de Charles Maguerez: refletindo estratégias de metodologia ativa na formação de
profissionais de saúde. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, mar. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-
81452012000100023&script=sci_arttext. Acesso em: 6 jul. 2020.

No diagrama, é possível observar que o trabalho para a Esse processo, ancorado na realidade, contribui para o de-
resolução de determinada situação-problema necessaria- senvolvimento do pensamento crítico dos estudantes, bem
mente parte da realidade concreta e retorna a ela, seja na como de sua autonomia e de seu protagonismo, além de va-
observação do problema, seja na aplicação de sua resolução. lorizar as culturas juvenis e suas soluções inovadoras.

173
a resolução e a comparação, com a finalidade de possibilitar
O ensino pela problematização ou ensino baseado na
ao estudante o desenvolvimento de um pensamento autô-
investigação (Inquiry Based Learning) teve início em 1980,
nomo e metódico para a identificação e a resolução de pro-
na Universidade do Havaí, como proposta metodológica que
blemas, favorecendo, assim, a análise de dados de forma ló-
buscava um currículo orientado para os problemas, definin-
gica e o reconhecimento de padrões e generalizações para
do a maneira como os estudantes aprendiam e quais habi-
aplicar esses processos na resolução de problemas diversos.
lidades cognitivas e afetivas seriam adquiridas. Fundamen- Essa abordagem contribui, em parte, para que os estudantes
ta-se na pedagogia libertadora de Paulo Freire, nos princípios adotem posturas mais éticas no uso das novas tecnologias
do materialismo histórico-dialético e no construtivismo de da informação, como as computacionais, e mais conscientes
Piaget. […] especialmente, aos referenciais da teoria piage- quanto à lógica de seu desenvolvimento e funcionamento.
tiana da equilibração e desequilibração cognitiva –, a qual Assim, pretende-se incentivar essas abordagens no pro-
considera que o conhecimento deve ser produzido a partir cesso de ensino-aprendizagem, que não se encerra no livro
da interseção entre sujeito e mundo, como amplamente pro- didático, mas o extrapola, atingindo não apenas os atores
blematizado por teóricos como Paulo Freire. diretos (estudantes e docentes), mas também a comunidade
(mitre et al, 2008)
escolar. Há, também, uma preocupação com o desenvolvi-
mento da capacidade e dos modos de se expressar, argu-
Em consonância com os quatro pilares educativos da mentar e debater coerentemente. A seção Práticas de texto,
Unesco (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a por exemplo, aproxima-se dessa questão contribuindo para
viver com os outros e aprender a ser), essa perspectiva de a formação de estudantes capazes de compreender a lingua-
ensino reforça a ideia de que o aprender está vinculado ao gem e as relações entre o que está explícito no texto e aqui-
fazer, ao viver e ao ser, em um processo contínuo de enfren- lo que, ao contrário, exige do leitor uma inferência, um pen-
tamento de desafios e incertezas do mundo contemporâneo. samento, uma conclusão. A forma de o estudante apreender
Nesta coleção, essas perspectivas ativas podem ser no- um texto, as especificidades das diferentes linguagens e o
tadas desde a escolha dos grandes temas até os recortes modo como ele se expressa a partir dessa compreensão têm
estabelecidos para sua observação, análise e reflexão, espe- relação próxima com os pilares da Unesco. Fazer inferências
cialmente nas propostas de pesquisa e ampliações ofereci- com base nas informações do texto, por exemplo, é um modo
das aos estudantes. As atividades, por exemplo, envolvem de transformar os próprios conhecimentos, gerando novas
diferentes processos cognitivos, como a análise, a definição, reflexões.

■ A AVALIAÇÃO
A avaliação é um dos grandes desafios da prática educa- • a avaliação não deve ser vista como um ponto final, e sim
tiva. As formas de planejar, ministrar e reformular a avaliação como parte de um processo de aprendizagem, propician-
mudam ao longo do tempo, conforme os objetivos aos quais do o acompanhamento do processo de domínio de com-
se pretende atender, bem como as perspectivas teóricas e os petências e habilidades;
aspectos sociais ou políticos. • a avaliação deve também subsidiar o planejamento da
Torna-se necessário, considerando os pressupostos da BNCC, intervenção pedagógica.
voltados à educação integral e ao desenvolvimento de compe-
tências e habilidades, estabelecer formas de avaliação condi-
zentes com os desafios contemporâneos a ser reconhecidos e AS AVALIAÇÕES PROCESSUAIS
superados pelos estudantes em seus contextos de vivência.
E INTEGRADORAS
Como seria isso na prática? Após o estabelecimento de
Conhecer o nível de domínio que os alunos adquiriram
uma situação-problema, é possível, por meio de uma avalia-
de uma competência é uma tarefa bastante complexa, pois
ção diagnóstica, verificar o repertório que os estudantes já
implica partir de situações-problema as quais simulem con- têm para lidar com ela, bem como o repertório que ainda ne-
textos reais e dispor dos meios de avaliação específicos pa- cessitam desenvolver. Feito isso, planeja-se a prática educa-
ra cada um dos componentes da competência. tiva de forma coerente com as reais necessidades da turma,
realizando adaptações e modificações no itinerário conforme
(ZaBala, 2014, p. 206)
essas necessidades forem observadas por meio das avalia-
O desenvolvimento de um processo de ensino-aprendi- ções reguladoras.
zagem com base em competências e habilidades, portanto, O processo avaliativo, portanto, não termina com uma
avaliação final, que, de acordo com Zabala, está relacionada
aponta para a necessidade de mudanças nas formas de ava-
aos resultados obtidos e aos conhecimentos adquiridos pe-
liar o processo de ensino-aprendizagem:
los estudantes, distinguindo-se, portanto, da avaliação inte-
• o foco deve ser transferido do conhecimento para o pro- gradora ou somativa, que abrange todo o percurso dos estu-
cesso de aprendizagem; dantes. Assim, a avaliação é compreendida como:
• deve-se criar estratégias de avaliação coerentes com esse
novo foco, levando em consideração as competências que
[…] um informe global do processo que, a partir do co-
se pretende desenvolver, e avaliar conforme a tipologia
nhecimento inicial (avaliação inicial), manifesta a trajetória
de seu conteúdo;

174
seguida pelo aluno, as medidas específicas que foram to-
Avaliação inicial
madas, o resultado final de todo o processo e, especialmen-
te, a partir desse conhecimento, as previsões sobre o que é
• Nas aberturas de unidade e de capítulo, são apresentadas
necessário continuar fazendo ou o que é necessário fazer questões que buscam engajar os estudantes nos contex-
de novo. tos didáticos apresentados, possibilitando o levantamen-
(ZaBala, 1998, p. 201)
to de conhecimentos prévios, a elaboração de hipóteses
iniciais e o aguçamento da curiosidade sobre os temas
Assim, a avaliação integradora cumpre o papel de orientar que vão ser abordados.
a intervenção pedagógica e acompanhar o processo de
aprendizagem. Avaliação reguladora
Sobre a coerência no processo avaliativo, Zabala destaca:
• Ao longo dos capítulos, foram disponibilizadas questões que
buscam ampliar e/ou aprofundar as observações, análises e
Da análise das características do processo avaliativo das
reflexões propostas, acompanhando a construção e o desen-
competências podemos concluir que:
volvimento das habilidades e das competências indicadas.
• O problema não se reduz a se as competências são ou
• Há também seções especiais cujas atividades facilitam o
não conhecidas, mas a qual é o nível de eficiência com
acompanhamento do desenvolvimento dos processos de
o qual elas são aplicadas.
ensino-aprendizagem.
• Para isso, as atividades dirigidas a conhecer o processo
e os resultados da aprendizagem devem se correspon- Avaliação final integradora
der aos meios para responderem a uma situação-pro-
blema a qual possa ser entendida como real.
• Ao final de cada capítulo, há propostas de atividades que
• A simples exposição do conhecimento que um aluno buscam integrar as diferentes frentes abordadas no ca-
tem sobre um assunto e a capacidade de resolver pro- pítulo, explorando as possibilidades do trabalho em gru-
blemas estereotipados não são estratégias avaliativas po, as abordagens interdisciplinares e o diálogo ampliado
apropriadas para a avaliação de competências. […] sobre os temas.
• A informação para a avaliação de competências não de- • Ao final de cada unidade, há uma proposta de pesquisa
ve limitar-se ao conhecimento adquirido em provas, mas que envolve temáticas e metodologias de pesquisa espe-
ser o resultado da observação das atividades de aula. cíficas. Cada proposta é acompanhada de aporte atitudinal
• Os conteúdos dos programas devem se referir explici- e procedimental, sendo finalizada com o compartilhamento
tamente às competências gerais. dos resultados e uma autoavaliação.

• A avaliação dos processos e dos resultados deve incluir

AS AVALIAÇÕES EXTERNAS
a avaliação “criterial” (em função das possibilidades
reais de cada aluno) além da normativa.
(ZaBala, 2014, p. 222). De modo geral, as avaliações externas foram implemen-
tadas no Brasil no final de 1980. Inicialmente, cumpriam a
Dessa forma, a avaliação tem a função de mobilizar tanto função de monitorar o desempenho dos estudantes em pro-
os estudantes como os professores, que devem planejar in- vas padronizadas, limitando-se à comparação entre as redes
tervenções pedagógicas, identificando as variáveis do desen- de ensino. Somente no início da década de 1990, as avalia-
volvimento da aprendizagem e planejando ações de interven- ções externas adquiriram um caráter qualitativo da educação
ção para dar continuidade ao processo de aprendizagem em nacional, com a criação do Sistema de Avaliação da Educação
seus contextos específicos. Básica (Saeb).
Na conclusão de seu livro A prática educativa, Zabala cha- Em 2005, o Saeb adotou duas avaliações complementares:
ma a atenção para a importância de não perder de vista o a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc) – a Pro-
papel da avaliação como elemento-chave de todo o processo va Brasil; e a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb),
de ensino-aprendizagem. Chama a atenção, ainda, para a ambas para a avaliação de leitura em Língua Portuguesa e de
importância da diversificação das formas de avaliação con- resolução de problemas em Matemática. A partir de 2007, a
forme os objetivos e as finalidades específicas, bem como do Prova Brasil apropriou-se do referencial do Ideb e passou a
desenvolvimento de uma atitude observadora e indagadora avaliar todos os níveis da Educação Básica, tornando-se o pa-
por parte dos professores e de confiança na habilidade dos râmetro para a avaliação da qualidade da educação no país.
estudantes de se autoavaliar. A partir de 2018, diferentemente das escolas da rede pú-
Nesse contexto, salienta-se a importância de uma avalia- blica, as escolas da rede privada de ensino, nas quais havia
ção continuada e processual, que se preocupe com as ques- pelo menos dez estudantes matriculados em turmas regula-
tões do cotidiano que afetam a aprendizagem, como dificul- res do último ano do Ensino Médio, passaram a fazer parte
dades de origem física, mental ou emocional, ocorrências de das avaliações por adesão voluntária, tanto nas áreas urba-
bullying, ações de combate ao suicídio e à violência domés- nas como nas áreas rurais. E, a partir de 2019, todas as ava-
tica, entre outras. Por último, o autor destaca a complexidade liações que compreendiam o sistema passaram a ser chama-
e a importância do processo de avaliação do ensino e da das de Saeb e se consolidaram como parâmetros de
aprendizagem. qualidade de ensino.
A seguir, apresentamos como as diferentes etapas ava- Segundo Machado e Alavarse (2014), as avaliações ex-
liativas propostas por Zabala são associadas aos momentos ternas têm ocupado um lugar cada vez mais relevante, sub-
em que podem ser desenvolvidas nesta coleção: sidiando as tomadas de decisão tanto no contexto das

175
políticas educacionais como no âmbito das unidades escola- Desde 2017, tem havido diferentes discussões sobre os
res. Em aproximação com as políticas curriculares, elas ava- projetos políticos propostos para o Saeb. Em 2019, foram pu-
liam o desenvolvimento das competências e das habilidades, blicadas as mudanças que originariam o Novo Saeb, que traria
servem de parâmetro para o planejamento das práticas edu- mudanças significativas, como a possibilidade de um Enem
cativas cotidianas, orientam a intervenção pedagógica e são seriado e a aplicação de provas digitais. Essas medidas esta-
referências para o acompanhamento das metas qualitativas vam planejadas para 2020; no entanto, devido à reorganiza-
e quantitativas. No entanto, é importante considerar a dimen- ção dos calendários escolares em virtude da pandemia de co-
são política dessas avaliações: ronavírus, as principais mudanças foram temporariamente
suspensas. Por isso, é muito importante que os gestores es-
colares e os professores estejam atentos às principais altera-
Embora a concepção de qualidade associada ao Ideb
ções nas políticas das avaliações de larga escala, já que elas
seja um tanto reducionista, por não contemplar aspectos
impactam o dia a dia do estudante de Ensino Médio e seus
relevantes do processo pedagógico, é possível considerar planejamentos escolares e profissionais. Além disso, as ma-
algumas potencialidades no Ideb por conta de duas carac- trizes avaliativas dos exames do Saeb são hoje uma das prin-
terísticas: por facilitar uma apreensão, mesmo que parcial, cipais referências para os cursos de formação de professores.
da realidade educacional brasileira, aí destacadas suas es- Nesta coleção, apresentam-se atividades que buscam
colas, e, sobretudo, por articular dois elementos que há mui- apoiar o desenvolvimento das habilidades e das competên-
to tempo parecem ser antagônicos: o aumento da aprovação cias alinhadas às prerrogativas da BNCC e dos exames de
e o aumento do desempenho. larga escala, essenciais para os estudantes que almejam
acessar o Ensino Superior. Foram disponibilizadas atividades
[…]
coletadas das provas dos principais exames tanto no Livro
Nessa perspectiva, é necessário encarar a avaliação do Estudante, na seção Atividades, quanto na segunda par-
vinculando-a ao desafio da aprendizagem, o que deriva do te deste manual. Esse trabalho também pode ser comple-
esforço de desvinculá-la dos mecanismos de aprovação ou mentado pelos docentes sempre que julgarem conveniente,
reprovação e, mais importante, destaca outra finalidade da pela busca, nos meios digitais, de outras questões dos gran-
avaliação educacional, no que se concentra sua verdadei- des exames, de modo a ampliar a exposição dos estudantes
ra dimensão política, pois numa escola que se pretenda a esse tipo de avaliação e prepará-los para esse desafio.
democrática e inclusiva, as práticas avaliativas deveriam Há, porém, uma característica relevante nos grandes exa-
mes, especialmente nas provas das instituições municipais e
se pautar por garantir que, no limite, todos aprendessem
estaduais: as avaliações costumam apresentar abordagens re-
tudo. […]
gionais, principalmente em relação aos componentes curricu-
[…] Frente a isso, coloca-se como imperativo a busca de lares das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Por isso, é im-
um processo mais amplo de avaliação de escolas e redes portante que o grupo docente esteja atento aos temas e
que, para além da utilização de provas padronizadas, tenha contextos locais. Uma boa estratégia, nesse aspecto, é a elabo-
presente o caráter político da educação escolar. Reconhecer ração de questões sobre esses contextos com base nas matri-
esse caráter implica reconhecer profissionais e usuários das zes do Inep e nos vestibulares da região onde a escola se loca-
escolas como sujeitos que precisam ser considerados como liza. Se houver estudantes que planejam, por exemplo, estudar
tais nos processos avaliativos, pois, sem omitir suas respon- fora do estado de residência, os professores podem conduzir
sabilidades, são eles que, nos ambientes escolares, materia- estudos mais específicos sobre a unidade federativa ou a região
lizam a tarefa educativa. […] em questão. As matrizes de referência do Inep, assim como ou-
tras informações sobre elas, podem ser acessadas no endereço
(maCHado e alavarse, 2014)
eletrônico oficial do instituto (disponível em: http://portal.inep.
gov.br/matriz-de-referencia. Acesso em: 14 jul. 2020).

■ ORGANIZAÇÃO DA COLEÇÃO
A coleção é composta de seis volumes, cada qual com qua- são incentivados a dialogar, refletir, analisar, investigar, elabo-
tro unidades. As unidades são constituídas de dois a quatro rar percepções e hipóteses, bem como a desenvolver planos
capítulos (totalizando 12 capítulos por volume) e uma propos- de ação de modo protagonista, ético e cidadão.
ta de projeto que mobiliza práticas de pesquisa específicas. No presente volume, são mobilizados contextos contem-
Os volumes são independentes, como forma de favorecer porâneos que chamam a atenção dos estudantes para sua
a escolha dos docentes, que devem, para tanto, considerar o condição de cidadãos brasileiros. Ao longo das unidades pro-
projeto político-pedagógico da escola, a realidade escolar e postas, os jovens vão analisar seus cotidianos e suas possi-
as características dos interesses dos diferentes grupos de bilidades de ação e refletir sobre eles, questionando quais são
estudantes com os quais vão construir os percursos do En- as ações éticas que cabem a um cidadão consciente e respon-
sino Médio. sável. A construção da cidadania no Brasil e seus dilemas
Assim, cada volume é organizado com base em uma dupla atuais são os principais contextos abordados.
de eixos temáticos que são os motores que mobilizam concei- Os textos didáticos são complementados por itens iconográ-
tos e categorias dos diferentes campos do saber. Não obstan- ficos e cartográficos, organogramas e textos citados de diferen-
te, em alguns casos, um mesmo objeto de análise é abordado tes tipos (letras de música, poesias, excertos de artigos acadê-
em diferentes volumes, possibilitando aos estudantes apro- micos, notícias, textos de divulgação científica, trechos de
fundar suas percepções sobre ele em diferentes contextos. romances de segmentos diversos, entre outros). Os capítulos e
Por meio da apresentação de contextos atuais, os estudantes as unidades apresentam os seguintes boxes e seções:

176
Seções

Explicitação, para os estudantes, dos objetivos e das justificati-


Objetivos, justificativas
vas da proposta do volume. Há também a descrição das compe-
e descrição das competências
tências trabalhadas.

Disponibilizada em página dupla, a abertura traz uma imagem


de impacto, incentivando o interesse dos estudantes e sugerindo
pistas sobre os diálogos propostos na unidade em questão. Aqui,
Abertura de unidade
os estudantes também encontram uma lista com as principais
competências e habilidades trabalhadas ao longo dos capítulos.
Também são disponibilizadas questões para iniciar os debates.

Marca o início da abordagem dos contextos que serão trabalhados


no capítulo. Para isso, o texto didático é acompanhado de outros
itens gráficos, como imagens, tabelas, mapas, notícias, poesias, le-
Abertura de capítulo tras de música, entre outras possibilidades. Há, ainda, um conjunto
de questões que chamam a atenção dos estudantes para os assun-
tos abordados e, também, para a investigação inicial sobre aspectos
relacionados à comunidade onde vivem.

Ocorre ao final de cada capítulo. O conjunto de atividades pro-


posto aprofunda e/ou amplia os diálogos realizados no capítulo,
Atividades contribuindo para o desenvolvimento das competências e das ha-
bilidades selecionadas. Em cada seção, há a proposição de, pelo
menos, uma questão de vestibular ou de exame de larga escala.

Aborda textos científicos ou de circulação social relacionados


com os temas do capítulo e da unidade. As atividades propostas
Ampliando
na seção buscam ampliar as possibilidades de leitura suscitadas
pelos textos apresentados.

Apresenta e analisa um gênero textual relacionado aos assun-


tos da unidade em questão e propõe também a elaboração de di-
ferentes gêneros (escritos, orais, digitais), com o intuito de capa-
Práticas de texto citar a construção de argumentos, conclusões e opiniões de
maneira qualificada e com respeito às colocações dos outros. A
seção pode contar com um texto introdutório que contextualiza o
gênero ou a linguagem em questão.

Propõe atividades de caráter investigativo, voltadas à aplicação or-


ganizada e orientada de metodologias e procedimentos de pesquisa
com o objetivo de aprimorar a investigação e o raciocínio científico.
Além disso, sistematiza o compartilhamento dos resultados de mo-
do a favorecer o desenvolvimento das formas de apresentação e a
comunicação das investigações e de suas conclusões.
A seção está estruturada em etapas:
Práticas de pesquisa
“Para começar” (contextualização da proposta); “O problema” (ques-
tão a ser investigada); “A investigação” (indicação da prática de pes-
quisa); “Procedimentos” (texto instrucional sobre como realizar a ati-
vidade); “Questões para discussão” (indagações relacionadas ao
modo como a atividade foi realizada e como os resultados foram ob-
tidos); e “Comunicação dos resultados” (orientação a respeito do
compartilhamento do conhecimento produzido).

177
Ao final de cada volume, são disponibilizadas as descrições
Competências e habilidades das competências específicas e das habilidades trabalhadas
desenvolvidas na obra em cada unidade.

Para ampliar as possibilidades de pesquisa e aprofunda-


mento dos estudantes em relação às bases de referência
Bibliografia comentada utilizadas na elaboração dos materiais oferecidos, é dispo-
nibilizada a bibliografia comentada de cada volume.

Boxes

Promove o diálogo sobre as atitudes cidadãs, valori-


zando exemplos atitudinais relacionados ao tema estu-
Ação e cidadania
dado que promovam melhorias socioeconômicas, am-
bientais e culturais, entre outras.

Sugere materiais que extrapolam o livro, ampliando as


Para explorar possibilidades dos estudantes de aprofundar o tema
proposto. São indicados livros, sites, filmes, músicas, etc.

Por meio de atividades, proporciona um momento de


análise do tema abordado, chamando a atenção, sem-
Interação
pre que possível, dos estudantes para as relações entre
suas vidas e o tema abordado.

Traz ampliações sobre o tema abordado, sempre


Reflexão acompanhadas de questões que incentivam os estudan-
tes a retomar os conteúdos e a refletir sobre eles.

Este manual fornece aos docentes subsídios que podem vestibulares de universidades públicas e particulares, com-
auxiliá-los em seus planejamentos, apresentando estratégias plementando as propostas feitas para os estudantes nas se-
e possibilidades de encaminhamento das diferentes propos- ções Atividades. Todas são acompanhadas de respostas e
tas feitas no Livro do Estudante. Além disso, apresenta su- comentários.
gestões de materiais para os professores, como livros, artigos, Os professores também terão acesso a seis vídeos, um
teses, filmes, entre outras, e atividades complementares que para cada volume, que explicam os principais objetivos, as
podem contribuir para aprofundar e/ou ampliar as propostas justificativas e as propostas da coleção. Esses materiais po-
do Livro do Estudante. Para cada unidade, há orientações di- dem ampliar as possibilidades de ensino dos docentes e au-
dáticas específicas e respostas e comentários referentes às xiliar no acompanhamento ao longo do ano letivo.
propostas feitas aos estudantes. Ao final das orientações A seguir, estão listados os conteúdos, os contextos mobi-
didáticas de cada unidade, há uma sugestão de sistematiza- lizadores e as principais competências e habilidades aborda-
ção das relações entre os principais conteúdos e os conceitos das em cada unidade deste volume. Depois, são apresentadas
trabalhados. Em seguida, são disponibilizadas listas de ques- sugestões de cronograma para subsidiar o planejamento di-
tões de exames de larga escala, como o Enem, e de dático.

178
■ QUADRO DE CONTEÚDOS
UNIDADE 1 – ECOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL

Principais conteúdos Competências Competências específicas e


e contextos abordados gerais em destaque habilidades em destaque

• Trabalho escravo no mundo atual CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CECHSA1: EM13CHS101,


(construção civil, indústria têxtil e CGEB10. EM13CHS102, EM13CHS103 e
mecanismos de combate à prática). EM13CHS105.
• Escravidão e diáspora africana. CECHSA5: EM13CHS502 e
EM13CHS503.
• Tráfico de pessoas escravizadas CECNT2: EM13CNT206.
(passado e presente).
CEMT1: EM13MAT102 e
Capítulo 1 • Outros problemas associados ao EM13MAT104.
Escravidão e trabalho trabalho análogo à escravidão (o
desmatamento e a invasão das Terras
análogo à escravidão Indígenas).

Ação e cidadania
Consumo consciente

Ampliando
A moralidade de Kant e a escravidão

• Racismo estrutural e protagonismo CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CECHSA1: EM13CHS101.


negro. CGEB10. CECHSA5: EM13CHS501,
• Estruturalismo e pós-estruturalismo. EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601
Capítulo 2 • Contexto histórico do Brasil pós-abo- EM13CHS602 e EM13CHS606.
lição da escravidão.
Existe racismo CECNT3: EM13CNT302.
no Brasil? • Escravidão no Brasil Colônia e CELT5: EM13LGG502.
Império. CELT7: EM13LGG704.

Práticas de texto
Reportagem on-line.

• Indicadores sociais sobre a população CGEB1, CGEB2, CGEB4, CECHSA1: EM13CHS101.


negra no Brasil. CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CECHSA5: EM13CHS501,
CGEB10. EM13CHS502 e EM13CHS503.
• Violência institucional.
CECHSA6: EM13CHS601 e
Capítulo 3 • Práticas antirracistas. EM13CHS602.
Vidas negras • Movimento Vidas Negras Importam! CECNT3: EM13CNT301.
no Brasil CELT5: EM13LGG502.
• Políticas públicas para a igualdade ra-
cial. CELT7: EM13LGG704.
CEMT1: EM13MAT102 e
EM13MAT104.

• Revisão bibliográfica sobre o tema ra- CGEB5 e CGEB6. CECHSA5: EM13CHS501,


cismo estrutural. EM13CHS502 e EM13CHS503.
• Comunicação dos resultados: Organi- CECHSA6: EM13CHS601,
Práticas de pesquisa EM13CHS605 e EM13CHS606.
zação e publicação de revista com a
coletânea de revisões bibliográficas,
em versão digital e/ou impressa.

179
UNIDADE 2 – CIDADANIA BRASILEIRA HOJE
Principais conteúdos Competências Competências específicas e
e contextos abordados gerais em destaque habilidades em destaque

• Conceito de desigualdade. CGEB1, CGEB7, CGEB9 e CECHSA1: EM13CHS103 e


CGEB10. EM13CHS106.
• Conceito de privilégio.
CECHSA5: EM13CHS501,
• Conceito de meritocracia. EM13CHS502 e EM13CHS503.
• Panorama da desigualdade no Brasil CECHSA6: EM13CHS601 e
contemporâneo. EM13CHS605.
Capítulo 4 CELT2: EM13LGG201 e EM13LGG202.
• Formação histórica dos privilegiados
Igualdade social ou na sociedade brasileira. CEMT1: EM13MAT102.
privilégios? CEMT4: EM13MAT406.
Ação e cidadania
Vantagens e desvantagens sociais.

Ampliando
Igualdade e desempenho.

• Primeira República e os direitos CGEB7, CGEB9 e CGEB10. CECHSA1: EM13CHS103.


políticos. CECHSA5: EM13CHS501 e
• Políticas afirmativas. EM13CHS502.
CECHSA6: EM13CHS601 e
• Movimento Negro Unificado (MNU). EM13CHS605.
Capítulo 5 • Movimentos feministas e emancipa- CELT2: EM13LGG201, EM13LGG202,
A busca pela igualdade ção da mulher. EM13LGG203 e EM13LGG204.
• Teoria queer. CELT3: EM13LGG301, EM13LGG303
e EM13LGG304.
• Igualdade de gênero. CELT7: EM13LGG701, EM13LGG702,
• Filosofias feministas. EM13LGG703 e EM13LGG704.

• Constituição de 1988 e povos indíge- CGEB1, CGEB2, CGEB7, CECHSA1: EM13CHS102 e


nas. CGEB9 e CGEB10. EM13CHS104.
• Mineração e desmatamento: enfren- CECHSA5: EM13CHS501,
tamentos indígenas. EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601,
• Comunidades de remanescentes qui- EM13CHS604, EM13CHS605 e
Capítulo 6 lombolas. EM13CHS606.
Povos tradicionais: • Cidadania para os povos tradicionais. CECNT1: EM13CNT104.
a luta permanente CECNT2: EM13CNT206.
Ação e cidadania CECNT3: EM13CNT309.
Os Krenak do rio Doce. CELT3: EM13LGG303 e EM13LGG304.
CELT7: EM13LGG704.
Práticas de texto CEMT1: EM13MAT102.
Vídeo para um vlog. CEMT4: EM13MAT406.

• Estudo de recepção sobre os privilé- CGEB1, CGEB2, CGEB7, CECHSA1: EM13CHS102.


gios na sociedade brasileira. CGEB9 e CGEB10. CECHSA5: EM13CHS501 e
• Comunicação dos resultados: Relató- EM13CHS502.
Práticas de pesquisa rio da pesquisa para ser publicado em CELT1: EM13LGG102 e EM13LGG104.
meios digitais. CELT2: EM13LGG202.

180
UNIDADE 3 – O BRASIL E A DEMOCRACIA
Principais conteúdos Competências Competências específicas e
e contextos abordados gerais em destaque habilidades em destaque

• Índice da democracia: tipos de regime CGEB1, CGEB2, CGEB7, CECHSA1: EM13CHS101,


(democracia plena, democracia CGEB9 e CGEB10. EM13CHS103 e EM13CHS106.
imperfeita, regime híbrido e regime CECHSA5: EM13CHS501.
autoritário). CECHSA6: EM13CHS602,
• Conceito de autoritarismo. EM13CHS603 e EM13CHS605.
CELT1: EM13LGG105.
• Democracia no Brasil (momentos de
Capítulo 7 interdição de direitos políticos e de CELT2: EM13LGG202 e EM13LGG204.
O Estado brasileiro é avanços da democracia). CELT3: EM13LGG303 e EM13LGG305.
autoritário? • Atos Institucionais (AIs).
• Movimentos de resistência durante o
regime militar.

Ação e cidadania
Jornalismo, ética e cidadania: fake news.

• Crise na representatividade democrá- CGEB1, CGEB2, CGEB4, CECHSA1: EM13CHS101,


tica: origens, debate filosófico e ex- CGEB9 e CGEB10. EM13CHS103 e EM13CHS106.
pressões na democracia brasileira. CECHSA5: EM13CHS501,
• Dilemas da democracia moderna: co- EM13CHS502 e EM13CHS503.
mo as democracias plenas enfrentam CECHSA6: EM13CHS601,
a crise. EM13CHS602, EM13CHS603 e
EM13CHS605.
Capítulo 8 • Movimentos pela democracia e a im-
CEMT1: EM13MAT102.
Representatividade e portância da participação popular.
democracia • Constituição de 1988: marcos históri-
cos e sociais, aprofundamento do
compromisso democrático e próximos
passos.

Ampliando
Soberania do povo.

• Conceito de ética e movimentos po- CGEB1, CGEB2, CGEB4, CECHSA1: EM13CHS101 e


pulares. CGEB7, CGEB9 e CGEB10. EM13CHS105.
• Movimentos pelo acesso à terra. CECHSA5: EM13CHS502,
EM13CHS503 e EM13CHS504.
Capítulo 9 • Movimentos sociais no contexto ur- CECHSA6: EM13CHS601,
Os movimentos bano. EM13CHS602 e EM13CHS605.
populares • Ciberativismo. CECNT2: EM13CNT206 e
EM13CNT207.
Práticas de texto CELT7: EM13LGG703 e EM13LGG704.
Escrita de biografia. CEMT1: EM13MAT102.

• Análise de mídias tradicionais CGEB1, CGEB2, CGEB4, CECHSA1: EM13CHS101,


(princípios de análise de discurso mul- CGEB7, CGEB9 e CGEB10. EM13CHS103 e EM13CHS106.
timodal). CECHSA5: EM13CHS501.
• Comunicação dos resultados: Organi- CECHSA6: EM13CHS602,
Práticas de pesquisa zação de debate com as outras tur- EM13CHS603 e EM13CHS605.
mas sobre as conclusões da pesquisa. CELT1: EM13LGG105.
CELT2: EM13LGG202 e EM13LGG204.
CELT3: EM13LGG303 e EM13LGG305.

181
UNIDADE 4 – DEMOCRACIA BRASILEIRA: DESAFIOS

Principais conteúdos Competências Competências específicas e


e contextos abordados gerais em destaque habilidades em destaque

• Conceito de direitos sociais e seus CGEB1, CGEB2, CGEB7, CECHSA1: EM13CHS101.


desdobramentos no cotidiano (saúde CGEB9 e CGEB10. CECHSA5: EM13CHS501,
pública, educação e programas so- EM13CHS502 e EM13CHS503.
ciais). CECHSA6: EM13CHS603 e
• Conceito de projetos políticos e seus EM13CHS605.
desdobramentos no cotidiano. CECNT1: EM13CNT104.
Capítulo 10 CECNT3: EM13CNT310.
• Características das políticas neolibe-
Direitos sociais rais. CEMT1: EM13MAT102
CEMT4: EM13MAT406 e
EM13MAT407.
Ampliando
Democracia: conceito e prática.

• Principais desafios para a garantia CGEB1, CGEB2, CGEB4, CECHSA1: EM13CHS103,


dos direitos sociais e o acesso a esses CGEB7, CGEB9 e CGEB10. EM13CHS104 e EM13CHS106.
direitos. CECHSA5: EM13CHS501,
• Indicadores sociais e suas aplicações EM13CHS502, EM13CHS503 e
políticas (análise de dois casos: segu- EM13CHS504.
rança pública e cultura). CECHSA6: EM13CHS601 e
EM13CHS606.
Capítulo 11 • Projetos de transformação cultural
CELT1: EM13LGG101, EM13LGG102 e
Múltiplos desafios (iniciativas locais e Plano Nacional de
EM13LGG104.
Cultura).
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406 e
EM13MAT407.
Práticas de texto
Debate regrado.

• Iniciativas de transformação social CGEB1, CGEB2, CGEB3, CECHSA1: EM13CHS101.


com ênfase no protagonismo juvenil. CGEB4, CGEB5, CGEB8, CECHSA5: EM13CHS501,
CGEB9 e CGEB10. EM13CHS502 e EM13CHS503.
• Identidades das periferias urbanas
brasileiras. CECHSA6: EM13CHS603 e
EM13CHS605.
• A importância da atuação dos jovens
na comunidade.
• A arte e a geração de renda nas áreas
periféricas.
Capítulo 12 • Produções culturais realizadas nas
Possibilidades de futuro: periferias e as diferentes subjetivida-
a periferia des (identidades juvenis).
• Conceito de empreendedorismo so-
cial e a importância do engajamento
da população nas comunidades.

Ação e cidadania
Ação local.

• Grupo focal sobre futuro profissional. CGBE7, CGBE8 e CGBE9. CECHSA1: EM13CHS101.
• Comunicação dos resultados: apre- CECHSA6: EM13CHS606.
Práticas de pesquisa sentação da pesquisa à comunidade
escolar por meio de pôsteres.

182
■ SUGESTÕES DE CRONOGRAMA
Vale lembrar que a coleção está organizada em seis Os temas, os conteúdos, as competências e as habili-
volumes independentes, com doze capítulos cada, agru- dades listados nas páginas anteriores possibilitam o pla-
pados em unidades temáticas. Essa oferta contribui para nejamento estruturado, facilitando a elaboração de ava-
a autonomia dos docentes no planejamento e na elabo- liações, o estabelecimento dos ritmos do trabalho didático
ração dos planos de aula e das sequências didáticas, de e a mobilização da comunidade escolar em prol das ativi-
acordo com a diversidade escolar, os projetos político-pe- dades propostas, já que é possível prever as ocorrências
dagógicos das diferentes instituições e os grupos de es- mais sistematizadas dessa participação no ano letivo.
tudantes, com base em cronogramas bimestrais, trimes- Assim, os cronogramas favorecem a construção de re-
trais ou semestrais. Essa escolha geralmente é feita pelo lações de qualidade com os moradores do entorno da ins-
corpo docente após diálogos diagnósticos nas etapas de tituição escolar e com as famílias dos estudantes.
preparação do planejamento. A seguir, foram disponibilizadas propostas de organi-
Assim, os grupos de professores podem organizar a zação nas quais os doze capítulos de cada volume possam
abordagem dos conteúdos, a consecução das sugestões ser trabalhados ao longo de 32 aulas, que podem ser agru-
de projetos de pesquisa e o acompanhamento dos estu- padas semestral, trimestral ou bimestralmente, entre ou-
dantes com vistas à autonomia deles no processo de tras possibilidades.
aprendizagem.

SEMESTRAL TRIMESTRAL BIMESTRAL

Semana Aulas Capítulos Semana Aulas Capítulos Semana Aulas Capítulos

1 1e2 1 1 1a3 1 1 1a4 1e2

2 3e4 1e2 2 4a6 2 2 5a8 2e3

3 5e6 2 3 7a9 3 3 9 a 12 3e4

4 7e8 3 4 10 a 12 4 4 13 a 16 5e6

5 9 e 10 3e4 5 13 a 15 5 5 17 a 20 6e7

6 11 e 12 4 6 16 a 18 6 6 21 a 24 7e8

7 13 e 14 5 7 19 a 21 7 7 25 a 28 9 e 10

8 15 e 16 5e6 8 22 a 24 8 8 29 a 32 11 e 12

9 17 e 18 6 9 25 e 26 9

10 19 e 20 7 10 27 e 28 10

11 21 e 22 7e8 11 29 e 30 11

12 23 e 24 8 12 31 e 32 12

13 25 e 26 9

14 27 e 28 10

15 29 e 30 11

16 31 e 32 12

183
■ LEITURAS COMPLEMENTARES
Os textos a seguir podem aprofundar e/ou ampliar os diá-
existem momentos em que outras estratégias pedagógicas
logos propostos ao longo deste volume, proporcionando re-
precisam ser colocadas em ação para que os alunos possam
flexões diferentes sobre os objetos de pesquisa analisados
aprender determinados conceitos. Nesse sentido, é neces-
e as perspectivas teórico-metodológicas adotadas na coleção.
sário que o professor tenha abertura e flexibilidade para re-
O trabalho com projetos lativizar a sua prática e as estratégias pedagógicas, com
vistas a propiciar ao aluno a reconstrução do conhecimen-
to. O compromisso educacional do professor é justamente
Na pedagogia de projetos, o aluno aprende no processo saber o quê, como, quando e por que desenvolver deter-
de produzir, de levantar dúvidas, de pesquisar e de criar re- minadas ações pedagógicas. E para isto é fundamental co-
lações, que incentivam novas buscas, descobertas, com- nhecer o processo de aprendizagem do aluno e ter clareza
preensões e reconstruções de conhecimento. E, portanto, o da sua intencionalidade pedagógica. Outro questionamen-
papel do professor deixa de ser aquele que ensina por meio to que normalmente vem à tona diz respeito à duração de
da transmissão de informações – que tem como centro do um projeto, uma vez que a atuação do professor segue um
processo a atuação do professor –, para criar situações de calendário escolar e, portanto, pensar na possibilidade de
aprendizagem cujo foco incide sobre as relações que se es- ter um projeto sem fim cria uma certa preocupação em ter-
tabelecem neste processo, cabendo ao professor realizar as mos de seu compromisso com os alunos de uma determi-
mediações necessárias para que o aluno possa encontrar nada turma. Nesse sentido, uma possibilidade seria pensar
sentido naquilo que está aprendendo, a partir das relações no desenvolvimento de um projeto que tenha começo-meio-
criadas nessas situações. […] -fim, tratando esse fim como um momento provisório, ou
[…] seja, que a partir de um fim possam surgir novos começos.
A importância desse ciclo de ações é justamente que o pro-
No entanto, para fazer a mediação pedagógica, o pro-
fessor possa criar momentos de sistematização dos concei-
fessor precisa acompanhar o processo de aprendizagem do
tos, estratégias e procedimentos utilizados no desenvolvi-
aluno, ou seja, entender seu caminho, seu universo cogni-
mento do projeto. A formalização pode propiciar a abertura
tivo e afetivo, bem como sua cultura, história e contexto de
[…] para um novo ciclo de ações num nível mais elaborado
vida. Além disso, é fundamental que o professor tenha cla-
de compreensão dando, portanto, um formato de uma espi-
reza da sua intencionalidade pedagógica para saber intervir
ral ascendente, representando o mecanismo do processo de
no processo de aprendizagem do aluno, garantindo que os
aprendizagem.
conceitos utilizados, intuitivamente ou não, na realização
do projeto sejam compreendidos, sistematizados e formali- Prado, Maria Elisabette Brisola Brito. Série “Pedagogia de
zados pelo aluno. […] Outro aspecto importante na atuação Projetos e Integração de Mídias” – Programa Salto para o
Futuro, set. 2003. Disponível em: http://www.eadconsultoria.
do professor é o de propiciar o estabelecimento de relações com.br/matapoio/biblioteca/textos_pdf/texto18.pdf. Acesso
interpessoais entre os alunos e respectivas dinâmicas so- em: 15 jul. 2020.
ciais, valores e crenças próprios do contexto em que vivem.
Portanto, existem três aspectos fundamentais que o profes-
sor precisa considerar para trabalhar com projetos: as pos- Protagonismo juvenil
sibilidades de desenvolvimento de seus alunos; as dinâmi-
cas sociais do contexto em que atua e as possibilidades de
[…] O tema da participação política dos jovens é um lu-
sua mediação pedagógica. O trabalho por projetos requer
gar comum nas políticas públicas de juventude atualmente,
mudanças na concepção de ensino e aprendizagem e,
constituindo-se como uma espécie de pilar metodológico
consequentemente, na postura do professor. [Fernando] Her-
para estas, de forma que, sem ele, a legitimidade de uma
nández […] enfatiza que o trabalho por projeto “não deve
política pública é posta em dúvida. Esse tema, como foi evi-
ser visto como uma opção puramente metodológica, mas
denciado até aqui, não surgiu em 1985 com o Ano Interna-
como uma maneira de repensar a função da escola” […].
cional da Juventude, não era uma novidade, mas sim uma
Essa compreensão é fundamental, porque aqueles que bus-
orientação que já vinha sendo discutida pela ONU há algum
cam apenas conhecer os procedimentos, os métodos para
tempo. […]
desenvolver projetos, acabam se frustrando, pois não existe
[…]
um modelo ideal pronto e acabado que dê conta da com-
plexidade que envolve a realidade de sala de aula, do con- Essa modalidade de política pública teria como objetivo
texto escolar. uma ação sobre várias esferas da vida dos jovens, não sen-
do uma temeridade dizer que ela tem como estratégia a
[…]
gestão de suas vidas em relação à sociedade, fazendo com
Uma questão que gera questionamento entre os profes-
que esses jovens sejam atores estratégicos no desenvolvi-
sores é o fato de que nem todos os conteúdos curriculares
mento social, incluindo-os e fazendo-os participarem da
previstos para serem estudados numa determinada série de
sociedade enquanto tal, sem rupturas ou conflitos que po-
escolaridade são possíveis de serem abordados no contex-
nham em risco as estratégias que visam à melhoria da vida
to do projeto. Esta é uma situação que mostra que o proje-
de toda a população. A prática do protagonismo juvenil, em
to não pode ser concebido como uma camisa-de-força, pois
termos oficiais, desse modo, se torna um eixo fundamental

184
das ações políticas que têm os jovens como público-alvo, Relações étnico-raciais e a
isto é, na concepção do protagonismo juvenil “[…] o jovem
tem que ser o ator principal em todas as etapas das propos-
descolonização dos currículos
tas a serem construídas em seu favor” […]. É claro que não
podemos nos prender apenas ao termo “protagonismo ju- Vivemos um momento ímpar no campo do conhecimen-
venil”, mas levar em consideração que ele está relacionado to. O debate sobre a diversidade epistemológica do mundo
a um tipo de prática política que não prescinde de todo um encontra maior espaço nas ciências humanas e sociais. É
trabalho de formação e autoformação do jovem, elementos nesse contexto que a educação participa como um campo
comuns em ações políticas que tentam incentivar um ideal que articula de maneira tensa a teoria e a prática. Podemos
de cidadania para a juventude. […] Ora, isso significa não dizer que, embora não seja uma relação linear, os avanços,
apenas a ideia de que os jovens devem se tornar atores prin- as novas indagações e os limites da teoria educacional têm
cipais das ações políticas governamentais ou não governa- repercussões na prática pedagógica, assim como os desa-
mentais, mas sim, que a sua força deve ser capitalizada, fios colocados por essa mesma prática impactam a teoria,
deve ser transformada numa espécie de moeda de troca, um indagam conceitos e categorias, questionam interpretações
trunfo para desenvolvimento e progresso mundial. É preci- clássicas sobre o fenômeno educativo que ocorre dentro e
so levar em consideração que, com esse dito acerca da ju- fora do espaço escolar.
ventude enquanto “futuro no presente”, temos uma espécie Esse processo atinge os currículos que, cada vez mais são
de estreitamento do discurso da responsabilidade para com inquiridos a mudar. Os dilemas para os formuladores de po-
as futuras gerações. Isso é um ponto importante, pois não líticas, gestores, cursos de formação de professores e para as
se está apenas falando de uma preocupação com as gera- escolas no que se refere ao currículo são outros: adequar-se
ções futuras, aquelas que nem existem ainda, e sim de uma às avaliações standartizadas nacionais e internacionais ou
preocupação de quem vive agora consigo mesmo. Diríamos construir propostas criativas que dialoguem, de fato, com a
que a sociedade quer ações no presente por parte dos jo- realidade sociocultural brasileira, articulando conhecimento
vens, porém, para eles, essas ações são vendidas como in- científico e os outros conhecimentos produzidos pelos sujei-
vestimentos no seu próprio futuro. […] tos sociais em suas realidades sociais, culturais, históricas e
[…] Os comportamentos de risco dos jovens são prejudi- políticas? Compreender o currículo como parte do processo
ciais, tanto para eles quanto para a sociedade, isto é, o prejuí- de formação humana ou persistir em enxergá-lo como rol de
zo de um é o prejuízo do outro. Investir no jovem é investir conteúdos que preparam os estudantes para o mercado ou
no país. Entretanto, não podemos deixar de levar em consi- para o vestibular? E onde entra a autonomia do docente? E
deração a noção capital humano, pois ela diz respeito à rela- onde ficam as condições do trabalho docente, hoje, no Brasil
ção que um sujeito estabelece consigo mesmo. Ela tem um e na América Latina? Como lidar com o currículo em um con-
significado importante, pois, a partir dessa noção, o sujeito, texto de desigualdades e diversidade?
com aquilo que ele é e sabe fazer, passa a ser a sua própria Nesse contexto, é possível dizer que a teoria educacio-
moeda de troca. As suas habilidades, portanto, serão vistas nal e o campo do currículo participam de um movimento
como um capital, algo que pode lhe gerar, inclusive, renda. apontado por Santos (2006) composto por duas vertentes:
Falar em investimento no capital humano significa falar em a interna, que questiona o caráter monolítico do cânone
investimento nas capacidades das pessoas e, por conseguin- epistemológico e se interroga sobre a relevância episte-
te, nas suas maneiras de gerir suas próprias vidas. mológica, sociológica e política da diversidade interna de
[…] práticas científicas dos diferentes modos de fazer ciência
O incentivo ao empreendedorismo juvenil é um ponto e da pluralidade interna da ciência; e a externa, que se in-
comum em alguns documentos que pautam as políticas pú- terroga sobre a exclusividade epistemológica da ciência e
blicas de juventude. No entanto, é preciso levar em consi- se concentra nas relações entre a ciência e outros conhe-
deração que empreender não é apenas constituir uma em- cimentos, ou seja, aquela que diz respeito à pluralidade
presa ou investir dinheiro, porém, executar uma tarefa, fazer externa da ciência. Segundo o autor acima citado, essas
algo que exija certa força e coragem: algo como uma capa- vertentes podem ser compreendidas como dois conjuntos
cidade própria que só depende de si mesmo. Por outro lado, de epistemologias que procuram, a partir de diferentes
tendo em vista a concepção de capital humano, empreender perspectivas, responder às premissas culturais da diversi-
é formar-se, é também investir em si, acumulando saberes dade e da globalização.
para que esses sejam contabilizados como capital, numa Pode-se dizer que, na teoria educacional e na prática do
espécie de economia de conhecimento. Dessa maneira, po- currículo, esses dois conjuntos de epistemologias são pro-
demos estabelecer uma conexão entre protagonismo e em- duzidos por um movimento dinâmico: as reflexões internas
preendedorismo, tendo em vista que ambos dizem respeito à ciência e as questões colocadas pelos sujeitos sociais
a um autoinvestimento que tem por finalidade um tipo de organizados em movimentos sociais e ações coletivas ao
autonomia. campo educacional. Quanto mais se amplia o direito à edu-
cação, quanto mais se universaliza a educação básica e se
Goulart, Marcos Vinicius da Silva; santos, Nair Iracema Silveira
dos. Protagonismo juvenil e capital humano: uma análise da democratiza o acesso ao ensino superior, mais entram para
participação política da juventude no Brasil. Ciências Sociais o espaço escolar sujeitos antes invisibilizados ou descon-
Unisinos, v. 50, n. 2, p. 129-134, 2014. Disponível em: https:// siderados como sujeitos de conhecimento. Eles chegam
www.redalyc.org/pdf/938/93832099004.pdf.
Acesso em: 11 ago. 2020. com os seus conhecimentos, demandas políticas, valores,

185
corporeidade, condições de vida, sofrimentos e vitórias. territórios em disputa, sobretudo desses novos sujeitos so-
Questionam nossos currículos colonizados e colonizadores ciais organizados em ações coletivas e movimentos sociais
e exigem propostas emancipatórias. Quais são as respostas […].
epistemológicas do campo da educação a esse movimento?
Gomes, Nilma Lino. Relações étnico-raciais e descolonização
Será que elas são tão fortes como a dura realidade dos sujei- dos currículos. Currículos sem fronteiras, v. 12, n. 1,
tos que as demandam? Ou são fracas, burocráticas e com p. 99-103, jan./abr. 2012. Disponível em: http://
os olhos fixos na relação entre conhecimento e os índices www.curriculosemfronteiras.org/vol12iss1articles/
gomes.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020.
internacionais de desempenho escolar?
Por isso, uma análise que nos permita avançar ou com-
preender de maneira mais profunda esse momento da edu- Ética e cidadania
cação brasileira não pode prescindir de uma leitura atenta
que articule as duras condições materiais de existência vi-
Delinear um entrelaçamento nas discussões entre éti-
vida pelos sujeitos sociais às dinâmicas culturais, identitá-
rias e políticas. É nesse contexto que se encontra a deman- ca e cidadania é mais que estreitar os relacionamentos
da curricular de introdução obrigatória do ensino de entre o saber ético-filosófico e o saber político. Trata-se
História da África e das culturas afro-brasileiras nas escolas de colocar a nu uma evidência, que é aquela segundo a
da educação básica. Ela exige mudança de práticas e des- qual boa parte das práticas sociais (boas ou más, úteis ou
colonização dos currículos da educação básica e superior não, lícitas ou ilícitas) se compõem de ações (individuais
em relação à África e aos afro-brasileiros. Mudanças de re- ou coletivas) capazes de traduzir os sentimentos, as sen-
presentação e de práticas. Exige questionamento dos luga- sações, as angústias, as dificuldades etc. ligados ao com-
res de poder. Indaga a relação entre direitos e privilégios portamento humano em sociedade. As práticas políticas
arraigada em nossa cultura política e educacional, em nos- se constroem, portanto, sobre um projeto social que pos-
sas escolas e na própria universidade. sui como substância de desenvolvimento o próprio com-
portamento humano (suas necessidades e patologias,
[…]
seus desvios, suas carências, projeções, orientações…),
Descolonizar os currículos é mais um desafio para a edu- que se tenta tornar maximamente previsível e calculada-
cação escolar. Muito já denunciamos sobre a rigidez das mente controlado dentro das necessidades sociais, o que
grades curriculares, o empobrecimento do caráter conteu- somente torna ainda mais importante a reflexão conjun-
dista dos currículos, a necessidade de diálogo entre escola, ta acerca das práticas sociopolíticas, encetadas pela re-
currículo e realidade social, a necessidade de formar profes- flexão política, e as práticas axiológico-comportamentais,
sores e professoras reflexivos e sobre as culturas negadas e encetadas pela reflexão ética.
silenciadas nos currículos.
E, quando se trata de pensar a ética, trata-se de eviden-
No entanto, é importante considerar que há alguma mu- ciar a raiz de onde tudo provém, a sede das tormentas e das
dança no horizonte. A força das culturas consideradas ne- soluções sociais: o comportamento humano. De fato, não
gadas e silenciadas nos currículos tende a aumentar cada bastasse o termo éthos (do grego, “hábito”) já revelar esse
vez mais nos últimos anos. As mudanças sociais, os proces- sentido, a reflexão ética se propõe exatamente a colocar-se
sos hegemônicos e contra-hegemônicos de globalização e atenta aos entrelaçamentos profundamente humanos das
as tensões políticas em torno do conhecimento e dos seus ações intersubjetivas e das intenções intrassubjetivas.
efeitos sobre a sociedade e o meio ambiente introduzem,
E, num primeiro olhar, o que é que se constata no com-
cada vez mais, outra dinâmica cultural e societária que es-
portamento humano? O que é que permite inaugurar uma
tá a exigir uma nova relação entre desigualdade, diversida-
investigação ligada à perspectiva que ora se assume como
de cultural e conhecimento. Os ditos excluídos começam a
eixo de reflexão? Parte-se de uma pergunta: do que é que
reagir de forma diferente: lançam mão de estratégias cole-
somos capazes como seres capazes de razão, de delibera-
tivas e individuais. Articulam-se em rede. A tão falada glo-
ção e decisão? Do que é que somos capazes por pensarmos
balização que quebraria as fronteiras aproximando merca-
causas e fins, meios e métodos, por sermos seres que inten-
dos e acirrando a exploração capitalista se vê não somente
tam, confabulam, refletem, agem e são capazes de criação?
diante de um movimento de uma globalização contra-he-
O que podemos fazer como seres criativos?
gemônica, nos dizeres de [Boaventura de Sousa] Santos
(2006), mas também de formas autônomas de reação, algu- Quando a pergunta é o que somos capazes de fazer co-
mas delas duras e violentas. Esse contexto complexo atin- mo seres criativos, a resposta parece encaminhar-se com
ge as escolas, as universidades, o campo de produção do facilidade. Somos capazes de agir, fazer, produzir, inovar, re-
conhecimento e a formação de professores/as. Juntamente volucionar, mudar, instituir, estruturar, formar, construir, do-
às formas novas de exploração capitalista surgem movimen- minar, sistematizar, dimensionar, calcular, consertar, moldar
tos de luta pela democracia, governos populares, reações etc. Isso significa que nesses verbos moram as grandes con-
contra-hegemônicas de países considerados periféricos ou quistas e realizações, de indivíduos, grupos e, por vezes, ci-
em desenvolvimento. Esse processo atinge os currículos, os vilizações inteiras. […]
sujeitos e suas práticas, instando-os a um processo de re- No entanto, é paradoxal que a capacidade de criar se
novação. Não mais a renovação restrita à teoria, mas aque- encontra alinhada com a paralela capacidade de destruir. E
la que cobra uma real relação teoria e prática. E mais: uma esta parece ser uma força tão equivalente àquela criativa.
renovação do imaginário pedagógico e da relação entre os É assim que fenômenos absolutamente assintônicos e dia-
sujeitos da educação. Os currículos passam a ser um dos metralmente opostos convivam lado a lado, produzindo to-

186
das as contradições que marcam a vida social. adaptar, chega-se ao sentido negociado no interior do pro-
[…] Atrás de todo esse dilema está o infindável rol de es- cesso educativo. Este espaço educativo torna-se ele mesmo
colhas e decisões que marcam a capacidade humana de deli- instituidor de sentidos”. Segundo este autor, nisso se resume
berar e, portanto, que dão condições para a formação do agir a grande diferença da educação ética nos dias atuais. Acerca
ético. Principalmente num contexto pós-moderno, urge sejam disto podemos levantar, entre outras, as seguintes preocupa-
pensadas as perspectivas éticas e os dilemas axiológicos, ten- ções: 1) o que está para ser negociado neste âmbito e o que
do em vista a importância de se falar de algo que se pode con- o antecede? 2) qual a relação que deve se estabelecer com a
siderar ainda pouco explorado, ou, se já suficientemente ex- cultura que, em última instância, corrobora ou não o ethos?
plorado, ainda inadequadamente explorado. Falar de ética, bem Estas preocupações justificam-se em nosso entender
como do entrelaçamento desta com as questões da cidadania, pelo fato de a escola ser uma instituição republicana que
não é contrassenso, mas sim um exercício necessário, até mes- tem uma responsabilidade social que a ultrapassa. Por outro
mo porque num momento de ceticismo ético e de derrocada lado, não podemos esquecer que a escola, o projeto peda-
dos universais morais se depreende novos valores despontan- gógico, são produções coletivas, o que implica disposição
do a partir da própria cultura histórica desse tempo. de entendimento entre os pares […]
Este exercício contínuo e reiterado de equilíbrio sobre Para enfrentar este desafio, a constatação de que cada
um fio de prumo, esta sensação de que se vive ora penden- um tem sua opinião e seus valores, não deve ser o fim de
do para um lado, ora pendendo para o outro, é o que se po- um diálogo, algo como: “tu tens a tua opinião, eu tenho a
de chamar de experiência ética. minha e pronto”. Pode ser, entretanto, motivo para iniciar
um diálogo, que será tanto mais produtivo quanto maior for
Bittar, Eduardo C. B. Ética, educação, cidadania
e direitos humanos: estudos filosóficos entre cosmopolitismo a capacidade de nos entregarmos de forma efetiva, dispos-
e responsabilidade social. Barueri: Manole, 2004. p. 1-4. tos a rever posições, reconhecendo que “emitir opinião não
é um ato de arrogância, ao contrário, arrogante pode ser o
gesto de não emitir opinião, acreditando que um dia possa
Ética e a educação escolar fazê-lo de uma vez por todas”.
FensterseiFer, Paulo E. Ética e educação: reflexões acerca
Situando esse debate no âmbito da educação escolar, da docência. Educação, Santa Maria, v. 34, n. 3, p. 564-566,
podemos perceber a complexidade na qual estamos envol- set./dez. 2009. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/
reveducacao/article/view/868/602. Acesso em: 6 jul. 2020.
vidos, amparamo-nos na máxima que afirma ser mais pro-
missor “ficar embaralhado com a complexidade do que fal-
samente esclarecido”. Escolarização formal e cidadania
Podemos entender que “falsamente esclarecido”, nesse
caso, é acreditar que educar é um ato técnico, não deman-
Ao restringir o espaço de reflexão à escolarização for-
dando a constante reflexão, ou científico, deduzindo as ações
mal, sujeitos e saberes estão claramente delimitados: pro-
de um saber prévio, abolindo-se em ambos a necessidade
fessores e alunos e o conhecimento tido como “científico”.
de escolha. Garantir espaço para este exercício pode ser
Sujeitos que ocupam lugares sociais delimitados e, desse
então a grande contribuição da educação escolar, o que
modo, mais do que responderem por si mesmos, veiculam,
pressupõe desnaturalizar o real, suspeitar do real, reconhe-
através de suas falas, posturas e gestos, vozes sociais que
cendo-o como produção histórica decorrente de escolhas
expressam a história socialmente produzida desses luga-
humanas. É, enfim, combater toda forma de reificação, co-
res. O que se constitui como objeto do conhecimento, por
roamento do processo de alienação do criador que não se
sua vez, também veicula a nossa história e as formas pelas
reconhece na criatura por ele mesmo produzida.
quais representamos simbolicamente o mundo em que vi-
Neste esforço cabe reconhecer que o mundo com o qual vemos, a realidade tanto física quanto social. Soma-se a
estamos implicados é sempre construção humana, produto isso o fato de que, juntamente com conhecimentos, são
das decisões circunstanciadas e com pretensões normati- veiculados na ação pedagógica juízos de valor, crenças,
vas, forjadoras da moral, a qual, no entender de Goergen preferências, qualificações e desqualificações, enfim, toda
(2001a, p. 153), “são regras precárias, configuradas concre- uma gama de conteúdos que dizem respeito aos sujeitos
tamente no interior de um mundo de circunstâncias, mas à em relação e a forma como representam a realidade, os
luz de princípios éticos mais gerais”. “A falta de certeza”, outros e a si mesmos.
acrescenta ele, “é uma realidade que tem de ser assumida Essa delimitação, portanto, em princípio facilita a refle-
pela educação”. Afinal, “se existissem princípios absolutos xão a respeito da cidadania. Por outro lado, a complexifica:
não careceríamos de educação: eles deveriam simplesmen- afinal, aprendemos a ser cidadãos ou somos cidadãos quan-
te ser aceitos e observados” (p. 155). O que estaria mais do aprendemos? Relacionada aos sujeitos e à forma como
próximo da ideia de adestramento e não de educação. En- se posicionam frente a realidade e considerando que é pos-
tão, “só a incerteza e a contingência necessitam de educa- sível aprender a ser cidadão em um contexto de sala de au-
ção” (p. 156), o que coloca a capacidade de gerenciar con- la, uma vez aprendido esse “conteúdo”, o mesmo é genera-
flitos como uma das tarefas centrais da educação moral, lizado para outras esferas da vida cotidiana além das quatro
pois, acrescento, é deles que pode nascer o novo. paredes que compõem o universo escolar?
Citando mais uma vez Goergen (2001a, p. 157), tem-se Para delimitar um pouco o campo de reflexões, neces-
que, “do sentido transcendente, ao qual todos tinham de se sário explicitar que cidadania é aqui entendida como

187
condição, na medida em que diz respeito ao lugar ocupado demonstrado muito positiva, pois os indígenas formados
pelo sujeito na esfera social. Diz respeito, portanto, a forma nas mais diversas áreas tendem a se tornar interlocutores
como nos inserimos no contexto social, ao acesso (ou não) […] entre os grupos indígenas e a sociedade envolvente,
que temos aos bens culturais historicamente produzidos especialmente com o Estado brasileiro […].
pelos homens, à possibilidade de participar das decisões […]
que dizem respeito à coletividade, ao efetivo exercício das
Acredita-se que a história indígena é a melhor designa-
possibilidades humanas.
ção para o campo de pesquisas que vem sendo tratado nes-
Enquanto condição, e considerando o contexto social, te artigo. Dentro dessa proposta, a etno-história se configu-
econômico e político em que vivemos, a cidadania não é algo ra como uma metodologia bastante eficaz de trabalho. Para
a ser concedido, pois, se assim o fosse, restaria à grande maio- finalizar, discutir-se-ão agora alguns aspectos deste campo
ria da população esperar. Ao contrário, essa condição advém de pesquisas.
da luta, do confronto, da explicitação das graves contradições
[…] Como afirmou Manuela Carneiro da Cunha […], du-
que marcam nossa sociedade, decorrentes de um modelo so-
rante muito tempo os indígenas não foram vítimas apenas
cial e econômico pautado pela lógica da exclusão.
da eliminação física, mas também da eliminação enquanto
Desse modo, enquanto condição, o espaço para o exercício sujeitos históricos.
da cidadania não pode ser restrito e sua aprendizagem não
A década de 1990 marcou um momento de guinada, pois
pode decorrer unicamente de um contexto e de pessoas que,
várias novas iniciativas frutos da articulação entre antropó-
na função de professores, sejam porta-vozes desse “conteúdo”.
logos, arqueólogos e historiadores trouxeram à tona trabalhos
[…] com perspectivas renovadas. Pode-se destacar a publicação
O espaço da sala de aula […] parece ter relevante papel, da coletânea “História dos Índios no Brasil” [Manuela Carnei-
ainda que não absoluto, no que se refere à construção da ro Cunha, 1992] […] como um marco importante para a his-
cidadania. Cabe destacar, no entanto, que essa contribuição tória indígena no país. Além desse, há vários outros trabalhos
é limitada, pois nem tudo que se discute ou trabalha no es- que se tornaram marco de referência da historiografia sobre
paço pedagógico é apropriado pelo sujeito […] o assunto, como, por exemplo, “Negros da Terra” de John Ma-
[…] nuel Monteiro (1994) e “Ensaios em Antropologia Histórica”
Por fim, entendendo a importância da escolarização for- de João Pacheco de Oliveira (1999). Nesse período também
mal para a consolidação de uma sociedade efetivamente se viu florescer a formação de vários especialistas na área,
democrática e, portanto, para a possibilidade de todos serem que, embora ainda não sejam tão numerosos, têm contribuí-
de fato cidadãos, demarca-se que a escolarização por si só do para com o avanço das pesquisas e para a formação de
não garantirá isto. A escola para todos não nos dará de mo- novos pesquisadores. Observa-se também a interiorização e
do algum cidadania, pois esta decorre da luta, da resistência a ampliação do número de instituições que começam a abrir
que precisamos travar cotidianamente contra toda e qual- espaço para esse tipo de pesquisa.
quer forma de dominação e usurpação. […]
Desse modo, não é a sala de aula que resolverá nossos Mas não se pode enganar, apesar de tudo o que já foi fei-
graves problemas sociais. Esse espaço, porém, é importan- to, há um longo caminho a ser percorrido. Em 2008 a Lei Fe-
te e não pode ser negligenciado, pois pode constituir-se co- deral n. 11 645, a exemplo do que já era previsto desde 2003
mo fórum de discussão, de embate, de explicitação das con- em relação à história e cultura afro-brasileira, tornou obriga-
tradições, de reconhecimento das condições em que vivemos tório o estudo da história e cultura indígena nos estabeleci-
e delineamento de perspectivas futuras. mentos de ensino fundamental e médio do país. […] A legis-
Fundamental, portanto, é saber que podemos vir a ser lação traz otimismo, mas também certa melancolia por saber
cidadãos, reconhecer o quanto nos falta para que consiga- que é necessária uma obrigação legal para oferecer algum
mos efetivamente viver em uma sociedade democrática em espaço à história indígena ou ao indígena na história do Bra-
que todos tenham a possibilidade de usufruir dos bens so- sil ensinada nas escolas. Apesar dessa questão, esse dispo-
cial e historicamente produzidos pelos próprios homens. sitivo legal pode contribuir para o desenvolvimento da pes-
quisa em história indígena, pois se espera que as instituições
Zanella, Andréa Vieira. Escolarização formal e cidadania:
possíveis relações, relações possíveis? In: silveira, A. F. (org.) de ensino superior abram novos postos de trabalho nessa
Cidadania e participação social. Rio de Janeiro: área. Isso propiciará a contratação de professores e pesqui-
Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. p. 87-90. sadores comprometidos com a temática e a formação de li-
Disponível em: http://books.scielo.org/id/hn3q6/pdf/
cenciados habilitados para o ensino da questão nas escolas.
silveira-9788599662885-09.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020.
Para o sucesso efetivo dessa legislação, é fundamental
que seja superada a perspectiva eurocêntrica e evolucionis-
ta presente em muitos currículos escolares. […]
Etno-história e histórias indígenas Um dos principais objetivos desta lei é o de combater os
preconceitos em relação aos povos indígenas. Por isso cabe
Nos últimos anos […] tem crescido a participação de in- uma reflexão acerca de qual história indígena será ou está sen-
dígenas em cursos superiores, participação essa que não se do ensinada? Esta é uma importante questão, uma questão que
limita aos cursos de graduação, ocorrendo também em cur- foge ao controle legal, o que amplia a responsabilidade do meio
sos de pós-graduação stricto sensu. Tal participação tem se acadêmico sobre essa reflexão. O papel da academia é

188
importantíssimo, pois ela tem se configurado como o espaço quando o processo evoluiu no sentido de garantir a gover-
privilegiado de produção de conhecimento, conhecimento es- nabilidade, as democracias eleitorais não atendam neces-
se que tende a ser didatizado. Portanto, a história ensinada é, sariamente aos critérios mínimos segundo os quais um sis-
de certo modo, reflexo da produção acadêmica universitária tema político autoritário se transforma em democrático […].
[…] […]
Nesse sentido alguns pontos podem ser destacados. Pri- […] o estabelecimento de um regime democrático envol-
meiramente, é importante caminhar no sentido, já defendido veria basicamente: 1) o direito dos cidadãos escolherem go-
anteriormente, de uma história indígena que não seja tempo- vernos por meio de eleições com a participação dos membros
ralmente determinada pela história colonial. Ou seja, a histo- adultos da comunidade política, mas a universalidade dessa
riografia não pode repetir a ideia de que a história indígena condição só foi plenamente reconhecida com a progressiva
começa com a dominação colonial, pois é sabido que há mui- extensão do sufrágio às mulheres no século XX; 2) eleições
ta história na chamada “pré-história”. Uma abordagem nesse regulares, livres, competitivas e abertas; 3) garantia de direitos
sentido só avançará com a inclusão mais sistemática da ar- de expressão, reunião e organização, em especial, de partidos
queologia nas pautas de discussão sobre história indígena […]. políticos para competir pelo poder, embora sem considerar se
É preciso, também, promover a descolonização do discur- as decisões internas dos partidos são submetidas a regras de-
so histórico, isso é possível a partir do momento em que os mocráticas; e 4) acesso a fontes alternativas de informação
povos indígenas sejam tomados como sujeitos históricos ple- sobre a ação de governos e o processo político. A definição
nos. Assim sendo, não devem ser tratados apenas como víti- sustentava que qualquer sistema político que não fosse basea-
mas de processo colonial, mas também como responsáveis do em processos competitivos de escolha de autoridades pú-
pela própria história […]. Isso não significa, de forma alguma, blicas, dependentes do voto da massa de cidadãos, não podia
atribuir a culpa de suas mazelas aos próprios indígenas. Jamais ser considerado uma democracia, mas, omitia o fato de que
se deve esquecer ou omitir que a relação colonial entre indí- isso, em boa parte dos casos, só valia para metade das socie-
genas e não indígenas foi e continua sendo uma relação desi- dades ao excluir os eleitores do sexo feminino, afrodescenden-
gual. Nesse sentido, por exemplo, a própria linguagem utiliza- tes e outros outsiders.
da para representar esse momento tem algo de colonial. […]
[…] A perspectiva que avança na direção de um tratamen-
É sempre bom lembrar que o termo “índio” do qual deriva to efetivo […] é a que define a democracia em termos de
“indígena” é um termo generalizante que não reflete a diver- sua qualidade. […] A qualidade envolveria processos con-
sidade de povos e culturas existentes na América. Seu uso é trolados por métodos e timing precisos, singulares, capa-
aceito apenas no sentido de oposição entre povos de origem zes de atribuir características particulares ao produto de
europeia, de culturas ocidentais e os “nativos” de culturas modo a satisfazer as expectativas de seus consumidores
não ocidentais, mas nunca se deve imaginar que os povos potenciais. No caso da democracia, espera-se que ela se-
indígenas tenham em algum momento constituído um bloco ja capaz de satisfazer as expectativas dos cidadãos quan-
monolítico. São, portanto, importantes as relações de aliança to à missão que eles atribuem aos governos (qualidade de
e conflito historicamente observadas entre povos diversos e resultados); à garantia de seus direitos de liberdade e de
mesmo as relações políticas e sociais internas a cada grupo. igualdade políticas necessárias para participar e alcançar
seus interesses e preferências (qualidade de conteúdo); e
CavalCante, Thiago Leandro Vieira. Etno-história e história
à existência de métodos ou procedimentos institucionais
indígena: questões sobre conceitos, métodos e relevância da
de escolha de governantes e de sua responsabilização des-
pesquisa. História (São Paulo), v. 30, n. 1, p. 358-366, 2011.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101- tinados a capacitar os cidadãos a avaliar e julgar o desem-
90742011000100017. Acesso em: 11 ago. 2020. penho de governos e de representantes autorizados a agir
em seu nome (qualidade de procedimentos). Procedimen-
tos institucionais e a ação de governos são vistos como

Representatividade democrática e meios de realização de princípios, conteúdos e resultados


esperados pelos cidadãos do processo político, cuja exi-
qualidade da democracia no Brasil gência de participação está ligada à existência de uma
cultura política capaz de legitimar o sistema. A premissa
A experiência internacional confirma que eleições são é que princípios, procedimentos institucionais e a partici-
indispensáveis para a existência de qualquer democracia, pação dos cidadãos devem se articular, o que torna a in-
mas a análise dos processos de democratização dos últimos clusão política uma condição indispensável de realização
40 anos, em várias partes do mundo, mostrou que elas per da igualdade política […]
se não garantem a instauração de um regime político capaz Moisés, José Álvaro; sanChez, Beatriz Rodrigues. Representação
de assegurar princípios fundamentais como o primado da política das mulheres e qualidade da democracia: o caso do
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Trata-se de uma obra de referência sobre a psicologia educacional bre a área de Ciências Humanas e Sociais aplicadas, seus principais
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Acesso em: 7 jul. 2020. to na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Estabelece as
Os autores fazem uma análise qualitativa a respeito das transforma- competências, as habilidades e as aprendizagens essenciais aos es-
ções da estrutura e da organização do Ensino Médio no Brasil ao lon- tudantes de todas as escolas públicas e particulares do país, em todas
go do tempo. Para isso, analisam a opinião de sujeitos e de especia- as etapas da Educação Básica.
listas da área de educação envolvidos no processo de concepção e Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional dos
implantação do Novo Ensino Médio. Secretários Estaduais de Educação. Guia de implementação
Bittar, Eduardo C. B. Ética, educação, cidadania e direitos hu- do Novo Ensino Médio. 2019. Disponível em: http://novoen
manos. Barueri: Manole, 2004. sinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em: 6 jul. 2020.
A obra apresenta reflexões filosóficas sobre o trabalho na sala de au- O documento explica as mudanças previstas pela reforma do Ensino
la com foco nas posturas e propostas éticas alinhadas aos direitos Médio na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e fornece aos
humanos. O ponto de partida para os debates são as experiências técnicos da rede de ensino e aos gestores escolares orientações sobre
selecionadas pelo autor, enriquecendo as proposições que aliam fi- como implementá-las. Elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) e
losofia e direito. pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).

Brasil. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- Brasil. Resolução n. 3, de 21 de novembro de 2018. Disponí-
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matriz_referencia.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020. A resolução atualizou as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
O documento apresenta as habilidades avaliadas em cada etapa da es- Ensino Médio para orientar as políticas públicas educacionais em
colarização e orienta a elaboração de itens de testes e provas aplicadas todas as formas e modalidades de Ensino Médio no Brasil. O do-
aos estudantes na avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cumento favorece, ainda, a elaboração, o planejamento, a avaliação
partindo das quatro áreas do conhecimento: Linguagem, Códigos e suas das propostas curriculares das instituições de ensino públicas e
Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas privadas que ofertam o Ensino Médio.
Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias.
Candau, Vera Maria (org.). Interculturalizar, descolonizar, de-
Brasil. Casa Civil. Lei n. 9 394, de 20 de dezembro de 1996. mocratizar: uma educação “outra”? Rio de Janeiro: 7 Letras,
Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Bra- 2016.
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O livro reúne uma série de artigos elaborados por especialistas de di-
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A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada e de suas implicações para os processos educacionais, da relação en-
em 1996, tem a função de organizar a estrutura e o funcionamento tre descolonização e educação e da literatura pedagógica sob uma
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190
CavalCante, Thiago Leandro Vieira. Etno-história e história Brasil, a importância política deles e os impactos para a descoloniza-
indígena: questões sobre conceitos, métodos e relevância da ção nos modos de pensar.
pesquisa. História, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 349-371, 2011. goulart, Marcos Vinicius da Silva; santos, Nair Iracema Silvei-
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-90742011 ra dos. Protagonismo juvenil e capital humano: uma análise
000100017. Acesso em: 11 ago. 2020. da participação política da juventude no Brasil. Ciências So-
O artigo traz um balanço sobre o debate conceitual e metodológico ciais Unisinos, v. 50, n. 2, p. 127-136, 2014. Disponível em:
das Ciências Humanas e Sociais acerca das histórias dos povos indí- https://www.redalyc.org/pdf/938/93832099004.pdf. Acesso
genas e da etno-história, um campo interdisciplinar de pesquisa. em: 11 ago. 2020.
Domingues, Ivan. Entrevista: humanidade inquieta. Revista Di- Nesse artigo da área da psicologia social, são analisados os principais
versa (UFMG), n. 2, 2003. Disponível em: https://www.ufmg. discursos institucionais sobre o protagonismo juvenil e as políticas
br/diversa/2/entrevista.htm. Acesso em: 23 jul. 2020. públicas que fomentam a participação dos jovens na vida pública, em
contexto nacional e internacional, ressaltando a importância desse
Nessa entrevista, o filósofo brasileiro Ivan Domingues discorre so-
tipo de investimento para a sociedade contemporânea.
bre os principais desafios do Ensino Superior, especialmente em re-
lação às propostas interdisciplinares, multidisciplinares e transdis- maChaDo, Cristiane; alavarse, Ocimar Munhoz. Qualidade das
ciplinares, discorrendo sobre as definições de cada conceito e como escolas: tensões e potencialidades das avaliações externas.
eles podem ser articulados em diferentes projetos de pesquisa. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 39, n. 2, abr./jun. 2014.
Dussel, Enrique. Meditações anticartesianas: sobre a origem Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
do antidiscurso filosófico da modernidade. In: santos, Boa- arttext&pid=S2175-62362014000200005&lang=pt. Acesso
ventura de Sousa; meneses, Maria Paula (org.). Epistemologias em: 6 jul. 2020.
do Sul. São Paulo: Cortez, 2013. E-book No artigo, os autores discutem como as avaliações externas se torna-
Enrique Dussel propõe em seu artigo o deslocamento geopolítico do ram diretrizes da política educacional nacional para proporcionar me-
lugar e o marco temporal do surgimento da filosofia moderna. Essa lhorias na qualidade da educação no Brasil.
proposta é sustentada com base em textos produzidos por filósofos melo, Bárbara de Caldas; sant’ana, Geisa. A prática da meto-
do sul da Europa, da América do Sul e do norte da África que influen- dologia ativa: compreensão dos discentes enquanto autores
ciaram o pensamento moderno.
do processo ensino-aprendizagem. Comunicação em Ciên-
FensterseiFer, Paulo Evaldo. Ética e educação: reflexões acer- cias da Saúde, v. 23, n. 4, p. 327-339, 2012. Disponível em:
ca da docência. Educação, Santa Maria, v. 34, n. 3, p. 559-572, https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-755235.
set./dez. 2009. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/re- Acesso em: 6 jul. 2020.
veducacao/article/view/868/602. Acesso em: 6 jul. 2020. As autoras do artigo apresentam alguns aspectos importantes sobre
Nesse artigo, o filósofo brasileiro Paulo E. Fensterseifer debate sobre a construção da aprendizagem dos estudantes por meio das meto-
as interfaces entre o campo da ética e o campo da educação, refletin- dologias ativas. Além disso, investigam a adaptação e analisam as
do sobre os referenciais éticos e morais da prática docente ao longo vantagens e fragilidades da aplicação dessas metodologias na práti-
do tempo. ca docente, em especial na articulação entre teoria e prática.

França, Aldaíres Souto. Propostas curriculares para o ensino mitre, Sandra M. et al. Metodologias ativas de ensino-apren-
de Estudos Sociais: circulação e apropriações de representa- dizagem na formação profissional em saúde: debates atuais.
ções de ensino de História e de aperfeiçoamento de profes- Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 2, dez.
sores (Espírito Santo, 1956-1976). 2013. 294 p. Tese (Dou- 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?scrip-
torado) – Curso de Educação, Universidade Federal do t=sci_arttext&pid=S1413-81232008000900018&lng=en.
Espírito Santo, Vitória, 2013. Disponível em: http://dspace3. Acesso em: 7 jul. 2020.
ufes.br/bitstream/10/2176/1/tese_7250_TEXTO%20COM-
No artigo, é discutida a transformação proporcionada pela adoção de
PLETO%20TESE%20DA%20ALDAIRES%20SOUTO%20
metodologias ativas, que partem prementemente da indissociabili-
FRAN%C3%87A.pdf. Acesso em: 23 ago. 2020. dade entre teoria e prática no decorrer da formação dos profissionais
O estudo problematiza as representações sobre o ensino de Estudos de saúde.
Sociais com base em publicações pedagógicas e em propostas curri-
moisés, José Álvaro; sanChez, Beatriz Rodrigues. Representa-
culares entre os anos de 1956 e 1976, no estado do Espírito Santo.
ção política das mulheres e qualidade da democracia: o caso
A tese analisa como tais documentos foram apropriados e legitima-
dos na cultura escolar ao longo do tempo.
do Brasil. In: moisés, José Álvaro. O Congresso Nacional, os
partidos políticos e o sistema de integridade: representação,
giorDani, Estela Maris. O “como” implementar a dimensão in- participação e controle interinstitucional no Brasil contempo-
terdisciplinar em práticas pedagógicas nas escolas. Revista râneo. Rio de Janeiro: Konrad Adenauer Stiftung, 2014. p. 89-
Contexto e Educação, ano 15, n. 60, p. 81-98, 2000. Disponí- -115. Disponível em: http://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/
vel em: https://revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoedu- bitstream/handle/bdtse/4923/2014_moises_congresso_na-
cacao/article/view/1224/977. Acesso em: 28 jul. 2020. cional_partidos.pdf?sequence=1#page=89. Acesso em: 11
A autora apresenta algumas considerações sobre as relações inter- ago. 2020.
disciplinares e analisa possibilidades de sua implementação no pro- O artigo dialoga sobre o conceito de qualidade da democracia com
cesso de ensino-aprendizagem desenvolvido nas escolas. vistas a analisar a representatividade das mulheres na política brasi-
gomes, Nilma Lino. Relações étnico-raciais e descolonização leira. Os autores também traçam um panorama histórico e sociológi-
dos currículos. Currículo sem fronteiras, v. 12, n. 1, p. 98-109, co da democracia no Brasil.
jan./abr. 2012. Disponível em: http://www.curriculosemfron- munsberg, João A. S. et al. O currículo decolonial: da reflexão
teiras.org/vol12iss1articles/gomes.pdf. Acesso em: 6 jul. à prática intercultural. Religare – Revista do Programa de
2020. Pós-Graduação em Ciências das Religiões da UFPB, v. 16, n. 2,
Considerado um dos textos de referência para as relações étnico-ra- p. 593-614, dez. 2019. Disponível em: https://periodicos.ufpb.
ciais na educação brasileira, esse artigo da pedagoga brasileira Nilma br/ojs2/index.php/religare/article/view/44085. Acesso em: 7
Lino Gomes dialoga sobre a construção dos currículos escolares no jul. 2020.

191
Preocupados com a naturalização do eurocentrismo no currículo es- ruiZ, José Antonio López. A internet na cultura juvenil: condi-
colar, os autores propõem a decolonização do poder, do saber e do cionamentos, significados e usos sociais. Observatório da
ser mediante uma atitude decolonial, assumindo uma postura crítica Juventude na Ibero-América, 2017. Disponível em: https://
em relação à colonialidade em termos teóricos e práticos. www.observatoriodajuventude.org/pinternet-en-la-cultura-
noGueira, Nilbo Ribeiro. Pedagogia de projetos: uma jornada -juvenil-condicionamientos-significados-y-usos-sociales/.
interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas in- Acesso em: 5 jul. 2020.
teligências. São Paulo: Ática, 2001. O artigo de divulgação científica discorre sobre os impactos do uso
da internet na juventude contemporânea, abordando os principais
A obra subsidia os diálogos sobre planejamento e estratégias didá-
efeitos emocionais e cognitivos nos jovens, de acordo com pesqui-
ticas com referência na pedagogia de projetos, debatendo sobre o
sadores de diversas universidades.
protagonismo dos estudantes nos processos de ensino e de apren-
dizagem e o papel do docente como mediador no cotidiano escolar. santos, Carlos Alberto dos. Desafios para a interdisciplinari-
dade no ensino das Ciências da Natureza. Revista Thema,
Prado, Maria Elisabette Brisola Brito. Série “Pedagogia de v. 15, n. 2, p. 363-370, 2018. Disponível em: http://periodicos.
Projetos e Integração de Mídias” – Programa Salto para o Fu- ifsul.edu.br/index.php/thema/article/view/960. Acesso em:
turo, set. 2003. Disponível em: http://www.eadconsultoria. 23 ago. 2020.
com.br/matapoio/biblioteca/textos_pdf/texto18.pdf. Acesso
Nesse artigo, o autor aborda os desafios relacionados ao desen-
em: 15 jul. 2020.
volvimento interdisciplinar no ensino das Ciências da Natureza e
O texto aborda algumas características do trabalho pedagógico com apresenta uma proposta para viabilizar as atuações pedagógicas
projetos, assim como os principais dilemas que essa metodologia po- interdisciplinares.
de trazer aos docentes, contribuindo para a elaboração de estratégias
sCHwarCZ, Lilia. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo:
significativas.
Companhia das Letras, 2019.
orGaniZação das nações unidas (onu). Agenda 2030 para o de- A historiadora Lilia Schwarcz faz uma análise das gêneses do autori-
senvolvimento sustentável, 2015. Disponível em: https://na- tarismo no Brasil. Ao longo do livro, apresenta alguns exemplos que
coesunidas.org/pos2015/agenda2030/. Acesso em: 7 jul. corroboram o autoritarismo, como o mito da democracia racial, o pa-
2020. triarcalismo, o mandonismo, a violência, a desigualdade, o patrimo-
nialismo, a intolerância social, entre outros.
A Agenda 2030 é um plano de ação que visa ao desenvolvimento
de um mundo mais justo e igualitário. O documento apresenta 17 sCHwarCZ, Lilia; Gomes, Flávio (org.). Dicionário da escravidão
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para fortalecer a paz e liberdade: 50 textos críticos. São Paulo: Companhia das Le-
universal e para erradicar a pobreza em suas diversas dimensões. tras, 2018.
orGaniZação Para a CooPeração e desenvolvimento eConômiCo (oCde). O dicionário apresenta cinquenta verbetes que tratam de história,
Global Competency for an Inclusive World. Disponível em: eventos, temas, processos e personagens elaborados por especia-
https://www.oecd.org/education/Global-competen- listas que desenvolvem robusta produção acadêmica. Esse conjun-
cy-for-an-inclusive-world.pdf. Acesso em: 7 jul. 2020. to de verbetes oferece ao leitor um panorama sobre os aspectos
relacionados à escravidão e à liberdade no Brasil.
O documento versa sobre a importância do desenvolvimento de
ZaBala, Antoni. A avaliação. In: ZaBala, Antoni. A prática edu-
uma competência global em que os indivíduos, em especial os es-
tudantes, possam analisar questões locais, globais e interculturais.
cativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
Nesse aspecto, a escola torna-se o ambiente propício para o desen- O pedagogo Antoni Zabala problematiza o conceito de avaliação,
volvimento de uma competência global envolvendo diferentes po- levando em consideração os processos individual e grupal. Para
vos, línguas e culturas em diversas localidades do mundo. isso, pauta-se nas possibilidades de identificação do objeto e do
sujeito da avaliação para questionar o que é preciso avaliar, a quem
Piovesan, Flávia. Democracia, direitos humanos e globalização e como, além da maneira de comunicar o conhecimento obtido por
econômica: desafios e perspectivas para a construção da ci- meio da avaliação.
dadania no Brasil. DHnet – Rede de Direitos Humanos & Cul-
tura, 2016. Disponível em: http://dhnet.org.br/direitos/mili- ZaBala, Antoni; arnau, Laia. Como aprender e ensinar compe-
ta n te s / fl av i a p i ove s a n / p i ove s a n _ d e m o c ra c i a _ d h _ tências. Porto Alegre: Penso, 2014.
global_economica_br.pdf. Acesso em: 11 ago. 2020. Nessa obra, os autores abordam a importância do uso educacional
das competências para o desenvolvimento integral dos estudan-
O artigo desenvolve uma análise temática sobre o conceito de demo-
tes. Além disso, argumentam que o ensino pautado em competên-
cracia e as relações desse conceito com os direitos humanos. Além
cias desenvolve, necessariamente, habilidades e atitudes, dando
disso, a autora reflete sobre os principais impactos da globalização
um caráter metadisciplinar aos componentes curriculares de maior
econômica no processo de efetivação dos direitos humanos, com fo-
relevância diante de problemas reais.
co no caso brasileiro.
Zanella, Andréa Vieira. Escolarização formal e cidadania: pos-
Prado, Marta Lenise do et al. Arco de Charles Maguerez: re- síveis relações, relações possíveis? In: silveira, A. F. (org.). Ci-
fletindo estratégias de metodologia ativa na formação de dadania e participação social. Rio de Janeiro: Centro Edelstein
profissionais de saúde. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, de Pesquisas Sociais, 2008. Disponível em: http://books.scie-
v. 16, n. 1, mar. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/ lo.org/id/hn3q6/pdf/silveira-9788599662885-09.pdf. Aces-
scielo.php?pid=S1414-81452012000100023&script=sci_ so em: 28 jul. 2020.
arttext. Acesso em: 6 jul. 2020.
O artigo apresenta um debate interessante sobre as relações entre
As autoras apresentam um relato a respeito de um seminário a educação escolar e a formação cidadã, traçando, primeiro, um
sobre metodologia ativa que tomou como base o arco de Charles panorama histórico do debate e, depois, dialogando sobre expe-
Maguerez. As informações discutidas no artigo possibilitam refle- riências de estudantes e docentes por meio de abordagens perti-
xões acerca das práticas pedagógicas dos participantes do evento. nentes à filosofia da educação.

192
ORIENTAÇÕES E COMENTÁRIOS
ESPECÍFICOS
Unidade
ECOS DA ESCRAVIDÃO
1 NO BRASIL

INTRODUÇÃO
Nessa unidade, serão abordados temas como o tráfico de escravizados e a escravidão no Brasil, suas marcas ainda
presentes nos dias atuais e a luta contra o racismo e pelo fim das desigualdades no país. A análise da formação do Brasil,
como processo histórico de longa duração, permite aos estudantes compreender as rupturas e as permanências que a
caracterizam.
No capítulo 1, a escravidão moderna, que utilizou mão de obra africana e indígena, e o trabalho análogo à escravidão em
diferentes setores, na atualidade, são temas centrais para a compreensão das rupturas e das permanências relacionadas
ao processo de escravidão, ainda que guardadas suas especificidades, em razão do contexto em que cada um desses siste-
mas estava inserido. No capítulo 2, discute-se o racismo estrutural no Brasil como consequência do longo período em que o
escravismo vigorou no país e da ausência de políticas de reparação no período seguinte à abolição da escravidão. No capí-
tulo 3, as temáticas das desigualdades racial e social, vistas como categorias indissociáveis, e da luta antirracista são abor-
dadas para que os estudantes consigam compreender as conexões entre o passado e o presente, ou seja, entre a adoção
do escravismo e a marginalização da população negra e a permanente luta do povo preto e pardo para a reversão dessa
realidade perversa.
Os temas tratados na unidade contemplam parte do conteúdo exigido pela Lei n. 11 645/2008, atualização da Lei
n. 10 639/2003, que determina a inclusão da história africana e das culturas afro-brasileira e indígena em todos os compo-
nentes curriculares. Considerando a proposta da unidade, é recomendável que ela seja trabalhada pelos professores de His-
tória e/ou Geografia.
Ao longo do estudo dos conteúdos dessa unidade, é fundamental que os professores estejam atentos aos conhecimentos
prévios dos estudantes e os incentivem ao debate, levando em consideração o respeito ao próximo. Recomenda-se o traba-
lho interdisciplinar, que pode ser realizado por meio da leitura matemática de gráficos e índices e da literatura, ao explorar
produções literárias desenvolvidas por autores negros e indígenas.

OBJETIVOS DA UNIDADE
• Compreender o uso de mão de obra escravizada como um fato constituinte da história nacional.
• Analisar as práticas de marginalização da população negra após a abolição da escravidão.
• Avaliar os impactos do escravismo e da marginalização da população negra como aspectos ainda presentes e constitui-
dores da desigualdade social.
• Compreender o racismo estrutural e as razões da luta antirracista.
• Observar e analisar novos significados atribuídos às experiências passadas, a fim de valorizar a luta antirracista e o pro-
tagonismo da população negra.

JUSTIFICATIVA
O conteúdo da unidade permite a compreensão dos estudantes sobre o escravismo, a marginalização da população negra,
a luta contra o racismo, os motivos da busca por instrumentos de reversão da desigualdade e o protagonismo dos negros,
aqui observados como sujeitos históricos.
Os temas abordados permitem estabelecer relações entre acontecimentos do passado e seus desdobramentos no presen-
te. Pela relevância desses temas, eles favorecem o diálogo com os estudantes, a partir de situações que eles vivenciam em
seu cotidiano ou têm conhecimento por meio das intensas discussões na mídia e nas redes sociais. Dessa forma, os estudan-
tes são convidados a se posicionar nesse debate de forma consciente e apropriada, levando em consideração a importância
do respeito aos direitos humanos.
Por fim, os conteúdos da unidade possibilitam aos estudantes identificar e analisar as características da sociedade brasi-
leira e os complexos problemas inerentes a ela, bem como verificar os caminhos que têm sido construídos para a reversão
desses problemas.

193
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS DA COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO BÁSICA E HABILIDADES

CECHSA1: EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103 e


EM13CHS105.
1 CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CGEB10. CECHSA5: EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECNT2: EM13CNT206.
CEMT1: EM13MAT102 e EM13MAT104.

CECHSA1: EM13CHS101.
CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601, EM13CHS602 e EM13CHS606.
2 CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
CECNT3: EM13CNT302.
CELT5: EM13LGG502.
CELT7: EM13LGG704.

CECHSA1: EM13CHS101.
CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601 e EM13CHS602.
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB6, CECNT3: EM13CNT301.
3 CELT5: EM13LGG502.
CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
CELT7: EM13LGG704.
CEMT1: EM13MAT102 e EM13MAT104.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS propostas relacionadas a cotas raciais e outras políticas


afirmativas, ou a manifestações antirracistas, as quais têm
ganhado destaque nos debates nacional e internacional
ABERTURA DE UNIDADE nos últimos anos.
(Páginas 10 e 11) 2. Resposta pessoal. Os estudantes já tiveram contato com a
história da escravidão no Ensino Fundamental e, muito pro-
• A escravidão moderna e o trabalho análogo à escravidão são
vavelmente, já observaram esse tema também nas mídias,
diferentes um do outro em razão dos elementos jurídicos, das
na própria família e em outros meios. Dessa forma, ressalte
justificativas e de suas práticas características. É importante
que o reconhecimento desse processo histórico é fundamen-
compreender, no entanto, que esses dois fatores estão dire-
tal para a compreensão da desigualdade racial existente no
tamente relacionados ao passado escravista do Brasil, que,
Brasil e em outros países que viveram o escravismo; no caso
ainda hoje, traz consequências sociais como o emprego de
do Brasil, destaque que o escravismo e o racismo resultaram
mão de obra em condições análogas à escravidão e a falta
na desigualdade de acesso à educação, à terra, ao emprego,
de compreensão de direitos como elementos fundamentais à saúde, entre outros setores, pela população negra.
para combater essa realidade.
• Oriente os estudantes a observar a imagem que abre a uni-
dade. Indique que se trata de uma fotografia das mãos de
CAPÍTULO 1 ESCRAVIDÃO E TRABALHO
uma pessoa submetida ao trabalho análogo à escravidão. ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO
Essa análise pode trazer uma reflexão sobre os impactos fí- (Página 12)
sicos causados por essa prática ilegal.
O capítulo 1 aborda o emprego de mão de obra escravizada
• Pergunte aos estudantes o que eles se lembram sobre o e suas condições análogas em diferentes tempos e espaços, co-
sistema escravista praticado na América colonial. Questio- meçando pela exploração de mão de obra análoga à escravidão
ne-os também se reconhecem o significado da palavra na atualidade e, depois, retomando a escravidão moderna, que
“privilégio”, auxiliando-os a relacionar o sistema escravis- vigorou entre os séculos XVI e XIX. Esse percurso favorece a
ta à desigualdade promovida por ele. compreensão da permanência de aspectos da exploração desde
• Você pode anotar na lousa as palavras-chave ou as expres- a escravidão moderna até o trabalho análogo à escravidão na
sões mencionadas pelos estudantes. Esse é um bom momen- atualidade, mesmo que apontadas as devidas diferenças entre
to para fazer um levantamento dos conhecimentos prévios essas duas formas de trabalho.
deles sobre o tema que será trabalhado.
Escravidão e trabalho análogo
Organizar ideias à escravidão (Página 12)
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconhe- Para a abordagem inicial do tema do capítulo, sugere-se a
çam que as desigualdades social e racial no Brasil retomada do conceito de escravidão, enfatizando que o uso
têm origem no processo histórico da formação do país. desse sistema de exploração existiu no Brasil em conformida-
É possível que, ao discutir a resposta à questão, surjam de com a lei.

194
Para demarcar a distinção legal entres os conceitos traba- balho (OIT), 2006. Disponível em: https://www.ilo.org/
lhados na unidade, destaque as situações que são caracteri- wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-brasilia/
zadas no Código Penal brasileiro como análogas à escravidão. documents/publication/wcms_227551.pdf. Acesso em:
Explique aos estudantes que a legalidade ou não dessa forma 17 jun. 2020.
de exploração do trabalho não é o único elemento que diferencia Com o apoio da OIT, o livro apresenta um estudo amplo que
os conceitos desenvolvidos na unidade. Justificativas religiosas e mapeia as condições, as estatísticas e as políticas de enfren-
estereótipos reforçavam a condição de inferioridade dos africanos tamento do trabalho análogo à escravidão no Brasil atual.
e dos indígenas escravizados entre os séculos XVI e XIX. Vídeo
Em relação aos trabalhos análogos à escravidão, peça aos
» Depoimento de um trabalhador escravo. Escravo, Nem
estudantes que levantem hipóteses que justificariam a perma- Pensar! Disponível em: http://escravonempensar.org.br/
nência de um indivíduo sob as condições ilegais descritas na biblioteca/depoimento-de-um-trabalhador-escravo/. Acesso
página. Indique a eles que vários elementos podem favorecer em: 10 jun. 2020.
essa permanência, entre os quais a ausência do conhecimento Como aponta o título do vídeo, nele é apresentado o teste-
dos direitos existentes, a vulnerabilidade e a extrema pobreza. munho de um trabalhador (não identificado) sobre as violên-
No diálogo, ressalte que a culpa da situação não é das vítimas, cias sofridas em diferentes locais de trabalho. Ele também
e sim da ação criminosa dos empreendimentos privados. apresenta imagens para compor a declaração e permitir a
Peça aos estudantes que observem o gráfico da página. Ne- visualização do que é narrado. O site oferece, ainda, outros
le, há informações sobre os índices das principais atividades curtas que exploram temas correlatos.
dos trabalhadores resgatados do trabalho ilegal. Sugira que
observem quais são as áreas de maior ocorrência no gráfico.
Espera-se que os estudantes reconheçam a predominância do O trabalho análogo à escravidão
trabalho análogo à escravidão nas atividades da área rural. Di- nos espaços urbanos (Página 13)
ga a eles que a justificativa para isso pode ser a dificuldade de Como sugerido no Livro do Estudante, retome as informa-
fiscalização dos órgãos competentes, o que abre espaço para ções do gráfico da página 12 e destaque a porcentagem de
a disseminação de práticas criminosas. trabalhadores libertados na área urbana, informando aos es-
A abertura do capítulo colabora para a construção das ha- tudantes que, ainda que esse espaço abrigue um número
bilidades EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103 e menor desses trabalhadores, isso não deixa de ser um pro-
EM13CHS105, bem como da habilidade EM13MAT104. Esse blema real e não solucionado.
trabalho será aprofundado ao longo do capítulo, promovendo Indique que a existência de imigrantes em condições análo-
também a abordagem das CGEB6, CGEB7, CGEB9 e CGEB10. gas à escravidão é facilitada pela falta de proteção ao grupo,
pelas dívidas adquiridas na viagem ou na estadia no país e, ain-
da, pela retenção ilegal dos documentos desses indivíduos, que
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES se veem nas mãos de empregadores mal-intencionados.
Sugira aos estudantes a leitura do texto de Glaucy Ribeiro.
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que, em condições Solicite a eles que identifiquem no texto elementos que indicam
de trabalho análogas à escravidão, os indivíduos são priva- que as condições narradas configuram ilegalidades nas relações
dos de seus direitos de ir e vir, de expressar sua identidade, de trabalho. Igualmente, pergunte a eles se conhecem narrati-
entre outras violações do direito à liberdade. O gráfico mostra vas semelhantes, por meio de familiares ou da imprensa.
a situação de trabalhadores libertados, indicando que eles Caso considere pertinente, comente que o texto apresen-
retomaram esse direito. tado é parte da pesquisa de mestrado em direito de Glaucy
2. Respostas pessoais. O objetivo da questão é incentivar os Ribeiro. Indique, portanto, que o conhecimento tem o caráter
estudantes a identificar relações entre o tema e o cotidiano de permanente construção e é desenvolvido levando em con-
deles, considerando a comunidade em que estão inseridos e sideração métodos de pesquisa que lhe dão legitimidade.
o lugar onde moram. Se julgar conveniente, apresente alguns Igualmente, informe-os que os sites das bibliotecas das uni-
dados da região em que a escola está situada que se relacio- versidades costumam manter esses textos científicos dispo-
nem com as atividades econômicas do gráfico ou com notí- níveis para consulta gratuita on-line, visando à democratização
cias de trabalhadores libertados de condições análogas à do acesso ao conhecimento.
escravidão. É importante que os estudantes sejam incentivados a refle-
tir sobre as condições de trabalho descritas e sobre a necessi-
dade de combate a essa realidade por órgãos públicos e pela
Sugestões para o professor
sociedade.
Site

» Trabalho escravo atualmente. Revista Em discussão!, 2011.


Indústria têxtil (Página 14)
Disponível em: https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/ O uso do trabalho análogo à escravidão na produção têx-
emdiscussao/trabalho-escravo/trabalho-escravo-atualmente. til é um tema sensível aos jovens e próximo deles, afinal, é
aspx. Acesso em: 10 jun. 2020. cada vez mais comum sua participação nas escolhas dos pro-
O site apresenta diversas informações oficiais sobre o traba- dutos adquiridos pela família. Por esse motivo, o tema pos-
lho análogo à escravidão e as formas de atuação dos órgãos sibilita a discussão sobre o consumo consciente e a constru-
competentes para combater essa prática. ção da cidadania.
Entre a classe média, compras de itens de vestuário em paí-
Livro
ses conhecidos pelos preços baixos ou nos chamados outlets
» Sakamoto, Leonardo (coord.). Trabalho escravo no Brasil revelam a falta de ciência dos meios que viabilizam o baratea-
do século XXI. Brasília: Organização Internacional do Tra- mento desses itens ou a falta de preocupação com essa

195
situação. Mas o emprego de mão de obra análoga à escravidão pessoas a condições análogas à escravidão; divulgar nos
não se resume apenas a esse segmento do setor; condenações comércios que revendem a marca que ela está na Lista su-
também ocorreram em redes europeias de roupas de grife, o que ja, entre outras possibilidades. A proposta favorece a cons-
representa um alerta para a necessidade de consumo conscien- cientização dos estudantes sobre seus papéis como
te e de mecanismos de fiscalização eficientes. cidadãos e como consumidores.
Destaque aos estudantes os meios que possibilitam a ma-
nutenção de formas de trabalho análogas à escravidão. É im- Sugestão para o professor
portante que eles reconheçam que os fatores que mantêm es- Vídeo
ses trabalhadores nessa condição são diversos, tais como a
distância da comunidade em que viviam, o emprego de violên-
» Trabalho escravo no setor têxtil. Escravo, Nem Pensar!
Disponível em: http://escravonempensar.org.br/biblioteca/
cia física e psicológica e a retenção dos documentos desses
trabalho-escravo-no-setor-textil/. Acesso em: 10 jun. 2020.
indivíduos, tornando-os vulneráveis. Ressalte que esses me-
Nesse vídeo, uma conversa casual entre amigas sugere uma
canismos são utilizados como meios de impedi-los de buscar
reflexão sobre a utilização do trabalho análogo à escravidão
ajuda e de mantê-los sob controle.
por determinadas empresas do setor têxtil, os impactos para
Solicite aos estudantes que observem a legenda que apre-
os trabalhadores envolvidos e as possíveis motivações para
senta um movimento que combate essa situação no setor têxtil.
a manutenção deles nessa situação. O site ainda disponibi-
O movimento Fashion Revolution foi criado após o desabamen-
liza pequenos vídeos sobre o trabalho infantil, o tráfico de
to do edifício Rana Paza, em Bangladesh, que resultou na mor-
pessoas, a ocupação na Amazônia e o ciclo do trabalho es-
te de 1 134 trabalhadores da indústria de confecção. Caso a es-
cola tenha disponível um laboratório de informática, os cravo contemporâneo.
estudantes podem acessar o site do movimento, que possui um
ramo atuante no Brasil. Passado escravocrata (Página 15)
Em História, determinadas palavras ganham sentidos pró-
Boxe Ação e cidadania prios de acordo com o contexto em que são utilizadas. Dessa
• Converse com os estudantes sobre os hábitos de consumo forma, a palavra “escravidão”, utilizada desde a Antiguidade,
deles, em especial, sobre compra de produtos de vestuá- possui contornos distintos construídos em períodos específi-
rio, como roupas e calçados, favorecendo a construção da cos. É por esse motivo que o capítulo demonstra a preocupa-
CGEB7. Pergunte aos estudantes se existe uma preocupa- ção com a conceitualização e a diferenciação entre a escravi-
ção deles e de suas famílias com relação à origem do pro- dão moderna, que vigorou no Brasil entre os séculos XVI e
duto e quais são os fatores determinantes para sua compra XIX, e o trabalho análogo à escravidão, característico dos sé-
(o preço da mercadoria, a marca, etc.). Esse diálogo inicial culos XX e XXI, quando práticas ilegais de exploração do tra-
não tem o objetivo de culpabilizar o consumidor pela exis- balhador são utilizadas para obtenção de um lucro maior pe-
tência de formas de trabalho análogas à escravidão, mas lo explorador.
sensibilizar os estudantes da necessidade de compreen- A escravidão moderna, praticada no Brasil nos períodos
dermos o impacto dos hábitos de consumo. colonial e imperial, constitui uma das características funda-
mentais da sociedade brasileira dessa época. O volume de
• Caso a escola tenha disponível uma sala de informática, você pessoas escravizadas que passaram a compor a sociedade
pode sugerir que os estudantes busquem informações sobre
o cadastro de empregadores que tenham submetido traba- brasileira, o regime de exploração dessa mão de obra, a ne-
lhadores a condições análogas à escravidão, para a realiza- gação de direitos dos indivíduos que a realizavam, a ausência
ção da atividade e do debate sobre o tema. de políticas de reparação imediatas ao fim da escravidão e a
construção de políticas de marginalização da população ne-
• A proposta favorece a abordagem aprofundada das habili- gra resultaram nas imensas desigualdades social e racial do
dades EM13CHS502 e EM13CHS503, bem como da CGEB7,
país. Portanto, é importante que os estudantes reconheçam
da CGEB9 e da CGEB10.
a construção histórica das desigualdades e a permanência da
1. Respostas pessoais. A proposta promove uma reflexão rela- exploração dos vulneráveis como práticas históricas que de-
cionada à ética e ao respeito aos direitos humanos, incenti- vem ser combatidas.
vando os estudantes a se posicionar em relação às práticas
produtivas ilegais abordadas no capítulo. Além disso, promo- Boxe Interação
ve o aprofundamento das questões sobre o trabalho forçado,
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
provocando os estudantes a refletir sobre a atuação das em-
que as crianças queriam uma história do passado da avó ne-
presas em relação aos indivíduos.
gra sobre a escravidão (em alusão à escravidão moderna),
2. Atividade de pesquisa. Oriente os estudantes durante a pes- mas ela indica que a história está em um jornal atual (aludin-
quisa em meios digitais ou impressos, de acordo com a rea-
do à situação de pessoas submetidas a condições análogas
lidade da escola. Geralmente, o documento em questão é
à escravidão).
publicado nas comunicações oficiais do governo federal.
Além de promover a pesquisa, a atividade incentiva uma
Sugestão para o professor
postura atitudinal dos estudantes, que devem elaborar es-
Filme
tratégias para pressionar as empresas associadas a regimes
de trabalho análogos à escravidão a fim de que passem a » Menino 23. Direção: Belisário Franca. Brasil, 2016 (80 min).
agir de modo transparente e alinhado com os direitos hu- Fruto da tese de doutorado de Sydney Aguilar, o documen-
manos, coibindo práticas de escravização de colaboradores tário aborda a ação de empresários ligados ao pensamento
diretos e terceirizados. Alguns exemplos de estratégias são: eugenista que, nos anos 1930, obtiveram a guarda de 50
boicotar os produtos da marca; divulgar nas redes sociais meninos órfãos destinados às fazendas para trabalhar sob
que a marca está envolvida em ações ilegais, submetendo regime análogo à escravidão.

196
Atividade complementar A primeira edição da biografia de Baquaqua foi lançada nos
Estados Unidos, em 1854. O autor nasceu no atual Benin, foi
Caso julgue apropriado, solicite aos estudantes que elaborem
trazido ao Brasil na condição de escravizado e fugiu para os
um quadro comparativo a respeito das semelhanças e das dife-
Estados Unidos. Um relato de época que permite a compreen-
renças entre as diversas formas de emprego de mão de obra
são de usos e costumes do sistema escravista.
escravizada ou em condição análoga à escravidão. Para tanto,
deverão mobilizar seus conhecimentos prévios a respeito da es-
cravidão nos seguintes contextos: Alguns marcos históricos (Página 17)
• Antiguidade clássica (Grécia e Roma) Destaque as datas apresentadas como marcos históricos im-
portantes. Em seguida, retome o gráfico apresentado na página
• Europa medieval
anterior. No que se refere às quatro primeiras datas apresenta-
• Escravidão em sociedades africanas na Antiguidade
das, auxilie os estudantes na compreensão de que, à medida
• Escravidão moderna na Europa
que as leis pareciam caminhar para o fim do tráfico e para a abo-
• Escravidão moderna nas Américas lição da escravidão, o tráfico de escravizados aumentava para
• Trabalho análogo à escravidão no Brasil atual garantir a sobrevivência do sistema escravista.
Essa atividade visa reforçar as especificidades da prática da Em relação aos marcos a partir do Código Penal de 1940, ex-
escravidão em cada um desses contextos, de forma a desnatu- plique que a contínua preocupação com práticas análogas à es-
ralizar essa prática. cravidão é indício da permanência das relações ilegais dessa
A elaboração do quadro poderá ser feita coletivamente, forma de mão de obra. Dessa maneira, os estudantes devem
com as especificidades de cada um desses contextos escra- compreender que, mesmo não se tratando da escravidão mo-
vistas sendo anotadas na lousa à medida que os estudantes derna ainda em 2008, se faziam necessárias regulações para
mobilizam seus conhecimentos prévios; ou de forma indivi- proibir a existência do trabalho análogo à escravidão.
dual, no caderno. O vídeo indicado no boxe Para explorar pode ser utilizado
como forma de sensibilização dos estudantes à realidade viven-
O tráfico de escravizados (Página 16) ciada pelos indivíduos que são submetidos ao trabalho análogo
O tráfico de escravizados tem sido bastante revisitado por à escravidão. Ressalte que se trata de uma dramatização de um
pesquisadores de diferentes áreas. Tradicionalmente, o des- relato real e que, neste mesmo canal da Secretaria da Previdên-
taque recai sobre esse lucrativo comércio que beneficiou as cia e do Trabalho, existem outras narrativas semelhantes.
nações europeias, favorecendo a acumulação de capital, e de-
pois foi direcionado ao desenvolvimento industrial. Porém,
Boxe Interação
atualmente, outras abordagens têm sido exploradas, tais co- 1. A área que hoje corresponde ao Brasil. Isso pode ser identi-
mo as características das estruturas internas das sociedades ficado, no mapa, pela espessura das setas e, no gráfico, pelas
africanas e a perspectiva dos indivíduos sequestrados e tra- quantidades expressas em números.
zidos para a América, espaço desconhecido para eles e que 2. Na primeira metade do século XIX. Espera-se que os estu-
representava a interrupção das experiências vividas até aque- dantes relacionem esse aumento à Lei Eusébio de Queirós,
le momento. que proíbe o tráfico de pessoas escravizadas.
Peça aos estudantes que analisem o mapa e o gráfico apre-
3. Resposta pessoal. Essa atividade promove competências de
sentados. Destaque o lugar ocupado pelo Brasil como principal
análise de dados de diferentes materiais (mapa, gráfico e li-
destino dos escravizados. Essa informação é importante para
nha do tempo) e compartilhamento das conclusões. Os estu-
compreender a composição da sociedade brasileira e o impacto
dantes podem escolher diferentes aspectos para abordar,
do passado em sua formação. Igualmente, permite iniciar o es-
como: os fatos de o Brasil ter sido o maior importador de pes-
tudo da construção histórica de privilégios, discutida de forma
soas escravizadas entre os séculos XVI e XIX e de ainda hoje
mais aprofundada na unidade 2 deste volume.
existir pessoas submetidas a condições análogas à escravi-
O trabalho de análise do gráfico presente nesta página favo-
dão; as características da empresa do tráfico de pessoas que,
rece o desenvolvimento de aspectos da habilidade EM13MAT102.
tanto no passado quanto no presente, desloca indivíduos de
O gráfico e o boxe Para explorar apresentados na página fazem
seus lugares de origem para trabalharem de maneira forçada;
menção ao Banco de Dados do Tráfico Transatlântico de Escra-
a importância das organizações civis para a transformação
vos. Trata-se de uma importante iniciativa de diversos pesqui-
dessa realidade, ainda que de forma lenta, provocando mu-
sadores para auxiliar na compreensão desse processo histórico.
danças nas posturas institucionais; entre outros.
Além dos dados numéricos, é possível acessar mapas interati-
vos, tabelas e gráficos.
Continuidades históricas no campo
Sugestões para o professor (Página 18)
Livros
Os dados sobre o trabalho análogo à escravidão apresen-
» RedikeR, Marcus. O navio negreiro: uma história humana. tados no Livro do Estudante apontam para o alto índice de sua
São Paulo: Companhia das Letras, 2011. existência nas áreas rurais. Nesses espaços, as relações de
O historiador aborda o tráfico de escravos de uma perspec- trabalho são historicamente mais frágeis e, por esse motivo, é
tiva até então inédita: o cotidiano dos passageiros (livres e possível questionar a efetividade da fiscalização dos órgãos
escravizados) durante a viagem pelo Atlântico. Da falta de competentes.
higiene à violência, os registros ajudam a elucidar traumas Recomenda-se a leitura atenta da reportagem apresentada.
pouco conhecidos do processo. Os estudantes devem compreender a importância do jornalismo,
» Baquaqua, Mahommah Gardo. Biografia de Mahommah assim como das fontes e dos dados oficiais utilizados por esses
Gardo Baquaqua: um nativo de Zoogoo, no interior da profissionais que dão credibilidade à reportagem e ao profissio-
África. São Paulo: Editora Uirapuru, 2017. nal dessa área.

197
Questione se eles reconhecem no texto o órgão competente a cor amarela, sinalizando o desmatamento, também são
de fiscalização e combate ao trabalho análogo à escravidão men- aquelas que apresentam os ícones de cor vermelha, que in-
cionado. Espera-se que indiquem a existência de uma subse- dicam a ocorrência de trabalho escravo.
cretaria no Ministério da Economia. Se julgar conveniente, co- 2. O mapa mostra a região Amazônica, no norte do país. Já a
mente com eles que, até 2019, a competência era do Ministério situação abordada na página anterior menciona casos mais
do Trabalho, Emprego e Previdência e que sua extinção e a dis- concentrados na Região Sudeste, embora cite ocorrências
tribuição de funções para outras pastas têm sido consideradas no Pará.
problemáticas, pois podem impactar na efetividade das ativida-
des que vinham sendo realizadas. Sugestão para o professor
Site
Boxe Interação
» Organização Internacional do Trabalho (OIT). Disponível
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que a Região em: https://www.ilo.org/brasilia/lang--pt/index.htm. Acesso
Sudeste concentra a maior parte das atividades rurais em em: 11 jun. 2020.
que foram encontrados trabalhadores submetidos a condi- O site oficial do escritório brasileiro da OIT oferece dados so-
ções de trabalho análogas à escravidão. Trata-se da região bre a trajetória e a missão da organização e informações so-
que também concentra a maior parte da riqueza do país: há bre as relações do trabalho em diferentes partes do globo.
mais empreendimentos financeiros nessa área e, como vi- Pode ser explorado por professores e estudantes para com-
mos, a escravização é uma estratégia – cruel e absoluta- preender as ações que visam à promoção da igualdade das
mente contrária aos direitos humanos – para aumentar as relações de trabalho.
margens de lucros das empresas. É possível, ainda, levantar
hipóteses sobre as taxas de fiscalização nas diferentes re-
Terras Indígenas (Página 20)
giões do país.
O reconhecimento do direto dos povos indígenas à posse da
terra foi uma conquista obtida somente na Constituição Federal
Desmatamento e escravidão (Página 19) de 1988, fruto da intensa mobilização dos próprios indígenas e
As discussões acerca da relação entre desmatamento e es- das organizações não governamentais. Ainda assim, a demora
cravidão, no passado e no presente, favorecem o desenvolvi- no processo de demarcação e legalização da posse e os cons-
mento de aspectos da habilidade EM13CNT206. tantes ataques sofridos pelos indígenas por fazendeiros, ma-
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) foi criada em deireiros e donos de garimpo têm comprometido a garantia des-
1919 como parte dos acordos do Tratado de Versalhes, que re- se direito constitucional.
presenta o fim da Primeira Guerra Mundial. Mesmo com as mui- Para iniciar o debate, é possível perguntar aos estudantes se
tas alterações realizadas desde o projeto inicial, a OIT se dedica eles conhecem o conceito de “Terra Indígena” e se conseguem
à promoção da igualdade social e dos direitos humanos e traba- diferenciá-lo do termo “aldeia”, tradicionalmente usado de for-
lhistas. Nessa organização, atualmente, 186 estados-membros, ma estereotipada, ainda que existente na língua portuguesa
incluindo o Brasil, estão comprometidos com a missão do órgão. para definir povoado pouco numeroso, abaixo da condição de
Ressalte aos estudantes que o emprego do trabalho análogo vila. Ressalte que a expressão “Terra Indígena” é utilizada na le-
à escravidão no desmatamento tem impacto não apenas na vi- gislação atualmente.
da dos indivíduos explorados, mas também na sociedade como É importante que os estudantes reconheçam que a explora-
um todo. Além disso, o avanço das áreas desmatadas tem preo- ção e a escravização dos povos indígenas são marcas da histó-
cupado as comunidades acadêmicas nacionais e internacionais ria do país. Ainda que menos estudada ou divulgada, a escravi-
e comprometido a credibilidade do país. zação indígena foi uma realidade colonial nos espaços de menor
Nos últimos anos, lideranças – algumas delas jovens – têm presença dos africanos escravizados. Igualmente danoso, foi o
assumido o compromisso com a denúncia de práticas nocivas processo de apresamento e aldeamento dos povos indígenas,
ao meio ambiente e com a preservação da natureza, como a jo- cuja justificativa de conversão religiosa somava-se ao uso da
vem sueca Greta Thunberg, indicada ao Nobel da Paz em 2019. mão de obra compulsória.
É importante que os estudantes reconheçam esse posiciona-
mento como parte do exercício da cidadania, para que eles se- Boxe Reflexão
jam incentivados a participar do debate público de forma crítica
e consciente.
• Para retomar o conhecimento sobre escravização indígena e
aprofundá-lo, sugere-se a leitura atenta do texto de João Pa-
checo de Oliveira a respeito da dominação indígena entre os
Boxe Reflexão séculos XVII e XIX.
• Auxilie os estudantes na identificação da fonte de pesquisa • Comente com os estudantes que o assassinato de grande
da qual o mapa apresentado foi extraído. Enfatize a impor- parte da população indígena não pode ser utilizado como fa-
tância das pesquisas e da divulgação desses conhecimentos tor de silenciamento da exploração da mão de obra dos indí-
para o debate público e a conscientização da sociedade. genas que permaneceram, tampouco deve servir como
• Caso a escola disponha de sala de informática, é possível aces- argumento para o desaparecimento dos povos nativos. Ao
sar o site InfoAmazonia e observar outros dados relevantes contrário, dados atuais do IBGE têm indicado o aumento des-
para as realidades social e ambiental vivenciada na região. sa população, resultante do reconhecimento positivo da des-
cendência.
• A proposta articula-se com o que se propõe em diferentes
habilidades específicas, especialmente nas habilidades 1. De acordo com o texto, todas as atividades que exigiam esfor-
EM13CHS101 e EM13CHS102. ço eram realizadas por indígenas submetidos à escravidão.
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que o mapa evi- 2. Resposta pessoal. O objetivo da atividade é incentivar os
dencia essa relação: em muitos casos, as áreas indicadas com estudantes a analisar os materiais apresentados em

198
diferentes suportes e a compartilhar suas ideias. É possí- apenas do passado, já que, ainda hoje, há trabalhadores
vel que entre as respostas apareçam as informações lista- submetidos a condições análogas à escravidão. Embora
das a seguir. Diferenças: o gráfico apresenta uma série de os africanos e seus descendentes formassem o maior con-
atividades mais relacionadas aos meios urbanos, enquan- tingente de pessoas escravizadas no Brasil, no período da
to o foco do texto recai sobre as práticas rurais; o gráfico mos- escravidão moderna, comunidades indígenas também fo-
tra atividades de pessoas submetidas a condições análogas ram escravizadas.
à escravidão que podem ou não ser indígenas, enquanto
4. a) O mapa apresenta uma grande concentração de indivíduos
o texto foca na escravização das populações nativas. Se-
em condições de trabalho análogas à escravidão em regiões
melhanças: em ambos os materiais, há a abordagem do
onde há grande incidência de desmatamento. Por meio des-
trabalho escravo nos meios rurais, em especial nas lavou-
sa análise, pode-se supor que a mão de obra análoga à es-
ras, e a evidência das características dessa prática ilegal
cravidão é utilizada justamente para promover esse
no Brasil contemporâneo.
desmatamento, em total desacordo com as legislações tra-
balhistas e ambientais vigentes.
Sugestão para o professor
Site b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes indiquem
que os motivos que ocasionam essas formas ilegais de tra-
» IBGE. Indígenas. Disponível em: https://indigenas.ibge.gov.
balho são diversos. Em relação às pessoas que exploram es-
br/. Acesso em: 11 jun. 2020.
se tipo de trabalho, pode-se mencionar o desejo de obter mais
O site apresenta dados importantes sobre os povos indíge-
lucro desconsiderando os direitos e a dignidade dos traba-
nas, com destaque para as informações dos censos de 1991,
lhadores. Em relação às pessoas que realizam esse tipo de
2000 e 2010, que adotaram o quesito cor como investigação
trabalho, pode-se mencionar a pobreza extrema, a vulnera-
e revelaram o crescimento dos autodeclarados indígenas.
bilidade e as diversas formas de violências empregadas por
exploradores para submeter os indivíduos explorados a essa
Atividades (Página 21)
realidade.
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
5. Atividade de pesquisa. Essa proposta possibilita que os
quem que as atividades relacionadas, principalmente, à mi-
estudantes aprofundem seus conhecimentos sobre as
neração, à pecuária, à cana-de-açúcar e à construção civil
comunidades indígenas da região onde vivem. Igualmente,
empregavam mão de obra escravizada nos períodos colonial
favorece o desenvolvimento do conhecimento e da análise
e imperial e utilizam mão de obra análoga à escravidão na
dos processos políticos e culturais de ocupações regionais.
atualidade.
Esse tema será retomado na unidade 3 deste volume. A
2. a) A pesquisa de Ribeiro apresenta todas as características consulta ao site do Instituto Socioambiental pode auxiliá-los
listadas pelo Código Penal brasileiro para caracterizar o tra-
no levantamento de dados (disponível em: https://pib.
balho análogo à escravidão: condições degradantes de tra-
socioambiental.org/pt/P%C3%A1gina_principal; acesso em:
balho, jornadas exaustivas, trabalho forçado e servidão por
9 abr. 2020).
dívida.
6. Resposta correta: alternativa a. O excerto menciona cinco ór-
b) Atividade de pesquisa. O objetivo é incentivar os estu-
gãos públicos que, juntos, agiram para o resgate de 1 590
dantes a fazer uma investigação em suas comunidades pa-
trabalhadores em 2014, indicando, portanto, a articulação
ra identificar a atividade econômica proposta na questão
desses órgãos para combater o problema.
(construção civil) e a situação dos trabalhadores nessa ati-
vidade, de modo a exercitar a cidadania e o posicionamen- 7. Resposta correta: alternativa b. Nessa questão, o estudante
to ético em relação aos direitos humanos. Oriente-os a deve ter conhecimento sobre o conteúdo da Lei Eusébio de
buscar informações em publicações impressas ou digitais, Queirós, que proibiu o tráfico transatlântico no Brasil, resul-
de acordo com a realidade escolar. Se possível, organize um tando, à primeira vista, na diminuição do volume de trafica-
estudo do meio em uma área em que haja atividade de dos oficias, embora ainda houvesse a continuidade da
construção civil. Para isso, dialogue com a coordenação da atividade de forma ilegal.
escola e também com a empresa responsável pela constru-
ção. Cuide para que os jovens utilizem equipamentos bási- Ampliando (Páginas 22 e 23)
cos de proteção durante a visita e, previamente, oriente-os
A seção propõe uma reflexão sobre o tratamento do tema
a se deslocar com cuidado pela área. Você pode combinar
escravidão na obra Metafísica dos costumes, de Immanuel Kant
dois momentos do estudo do meio: um roteiro de observa-
(1724-1804), por intermédio da leitura do filósofo Norberto
ção e um diálogo com uma equipe de trabalho, durante o
Bobbio (1909-2004). O conteúdo dessa seção favorece a inter-
qual os jovens possam fazer perguntas aos trabalhadores.
disciplinaridade, envolvendo as disciplinas História e Filosofia.
Os momentos podem ser registrados por meio de fotos e
Solicite aos estudantes que realizem a leitura atenta do ex-
vídeos, que, depois, podem ser disponibilizados à comuni-
certo, destacando os elementos que consideram centrais para
dade escolar em uma mostra. Outra possibilidade é convi-
a definição do que é moral.
dar trabalhadores da construção civil para um diálogo com
É possível trazer a reflexão para os dias atuais e indagar os
os estudantes na escola.
estudantes sobre o que consideram moral e imoral no que tan-
3. Por meio desse contraexemplo, baseado no senso comum ge às relações existentes entre empregadores e empregados.
sobre a escravidão no Brasil, os estudantes são incenti- Incentive-os a buscar dados e informações estudados ao longo
vados a analisar criticamente as frases, embasados nas do capítulo e a expor conhecimentos sobre o assunto adquiridos
reflexões feitas ao longo do capítulo, para identificar os em outros meios.
equívocos e, depois, debater sobre eles com os colegas. O Se julgar conveniente, é possível, ainda, sugerir aos estudan-
trabalho escravo no Brasil não é uma característica tes que reflitam sobre moralidade e legalidade, por meio, por

199
exemplo, da seguinte pergunta: Tudo que é legal é moral? Eles internacional como legítima preocupação com a dignidade da po-
podem oferecer exemplos ou buscá-los, de acordo com a con- pulação negra. Destaca-se também a organização dos próprios
dução da atividade pelo professor. escravizados e ex-escravizados, que intensificaram a resistência
Nessa seção, são especialmente mobilizadas as habilidades ao cativeiro das mais diferentes formas.
EM13CHS101, EM13CHS102, EM13CHS103 e EM13CHS105. Ao mesmo tempo em que ocorria o fim legal da escravidão,
surgia no século XIX o darwinismo social, uma corrente científi-
ca de pensamento que afirmava a existência de raças e a hie-
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES rarquia entre elas. Essa forma de pensar passou a pautar a di-
1. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes mobilizem ferenciação entre os seres humanos, tornando-se um elemento
seus conhecimentos prévios para responder o que conside- a mais nas dificuldades enfrentadas pela população recém-li-
ram moral. É possível que as respostas deles apresentem berta nas Américas.
definições relacionadas à consonância com regras ou costu- No Brasil, foram criadas interpretações das relações raciais
mes. Nesse caso, incentive-os a refletir sobre os fatores e as próprias ao contexto brasileiro. Entre as mais marcantes, em es-
finalidades envolvidos na criação de regras e costumes. Es- pecial pela sua aceitação e pela presença de seus reflexos na
pera-se também que eles citem exemplos de ações que con- atualidade, está a teoria da democracia racial, mencionada no Li-
sideram morais ou imorais em seu cotidiano. vro do Estudante. Nela, Gilberto Freyre (1900-1987) afirma que
a convivência entre brancos, negros e indígenas foi mais harmo-
2. O principal fator que diferencia uma ação moral de uma ação
niosa e menos violenta se comparada a outros lugares, como nos
jurídica é, segundo Kant, a intencionalidade que motiva a
Estados Unidos, país em que o autor morou e onde houve a cria-
ação. Se uma lei é cumprida pelo simples dever de cumprir-
ção de dispositivos legais para segregar a população negra.
-se, ela é moral; se, no entanto, é cumprida com alguma outra
Solicite aos estudantes que leiam o trecho da música “A Car-
intencionalidade, ou visando a alguma forma de benefício,
ne”. Se possível, reproduza a música em áudio para que os es-
ela é exclusivamente jurídica.
tudantes tenham acesso à composição na íntegra e à sonorida-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencionem de da canção.
que o emprego de mão de obra escravizada trazia vantagens Possivelmente, os estudantes já tiveram contato com discus-
aos senhores de escravizados, entre elas a de contar com sões sobre o racismo. Por isso, caso sintam-se confortáveis pa-
uma mão de obra produtiva sem precisar arcar com os custos ra tratar do assunto, você pode sugerir uma discussão sobre o
de remuneração aos trabalhadores. que conhecem do tema e se reconhecem que o racismo é um
4. Com base na moral kantiana, pode-se afirmar que, apesar crime determinado em lei. É importante que o debate leve em
de respaldado por um sistema de leis jurídicas, o emprego consideração o respeito para evitar qualquer tipo de reprodução
de mão de obra escravizada no Brasil entre os séculos XVI de preconceitos.
e XIX não está de acordo com a lei moral, pois sua motiva- Na abertura do capítulo, a abordagem do racismo por meio
ção não está no cumprimento da legislação em si, mas na do trecho de uma música e dos conhecimentos prévios dos es-
obtenção de lucros e benefícios pelas pessoas que pratica- tudantes possibilita o trabalho com a habilidade EM13CHS101.
vam essa ação.
5. No Brasil atual, o emprego de mão de obra análoga à escra- RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
vidão é proibido pelo sistema de leis, logo não está de acordo
com uma ação jurídica nem com uma ação moral. 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem
a palavra “carne” aos corpos de pessoas negras no Brasil.
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem
CAPÍTULO 2 EXISTE RACISMO os versos da música com o fato de a população de africanos
NO BRASIL? (Página 24) e seus descendentes se constituírem como a principal força
de trabalho no território brasileiro durante o período da es-
O capítulo inicia propondo uma pergunta: Existe racismo no
cravidão.
Brasil? Durante os debates propostos, o capítulo mobiliza pro-
cessos históricos e eventos contemporâneos para responder a 3. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes identifi-
essa pergunta. Também revela aos estudantes que, no Brasil, quem que a letra da música contradiz a teoria de Gilberto
houve a criação de uma estrutura racista que deu origem às de- Freyre, já que explicita o racismo estrutural, que ainda vigora
sigualdades racial e social, dois marcadores fundamentais que em nosso país.
não podem ser separados para compreender a sociedade bra- 4. Respostas pessoais. O objetivo da questão é promover o diá-
sileira e as possibilidades de ação para transformá-la. logo inicial sobre o racismo. Nesse momento, incentive os
estudantes a se posicionar sobre o assunto, já que, provavel-
Existe racismo no Brasil? (Página 24) mente, conhecem o conceito de racismo desde o Ensino Fun-
damental e também por meio de suas vivências.
É necessário compreender que a escravidão moderna, que
vigorou entre os séculos XVI e XIX, ocorria de acordo com a le-
Sugestão para o professor
galidade jurídica dos países responsáveis e beneficiados pelo
comércio de escravizados. Música
Comente que a oposição à escravidão moderna aumentou gra- » Brown, Mano; rock, Edi. Negro drama. Intérprete: Racionais
dualmente no século XIX em diferentes grupos. Ainda que a ênfa- MC’s. In: Nada como um dia após o outro. São Paulo: Cosa
se dessa oposição recaia na pressão inglesa para o fim do tráfico – Nostra, 2002. 1 CD. Faixa 5.
ainda mais em uma nação recente, como o Brasil, que se tornava A música aborda os problemas e as questões de um jovem
cada vez mais industrializada, para a qual o assalariamento era negro da periferia de uma cidade grande. Ainda que o grupo
uma forma de garantir consumidores –, é importante reconhecer seja paulistano, muitas das discussões são válidas em outros
também o crescimento dos movimentos abolicionistas nacional e contextos do país.

200
Questões estruturais (Página 25)
Sugestão para o professor
Livro
O conceito de longa duração foi cunhado pelo historiador
Fernand Braudel (1902-1985) e apresentado pela primeira vez » Cunha Junior, Henrique. Tecnologia africana na formação
em seu doutorado O Mediterrâneo e o mundo mediterrâneo na brasileira. Rio de Janeiro: Ceap, 2010.
época de Felipe II, em 1949. Em suma, compreende-se que de- O livro aborda os diferentes conhecimentos trazidos pelos
terminados elementos históricos não são demarcados cronolo- africanos ao continente que foram utilizados no contexto co-
gicamente em seus eventos. Aplicado ao tema abordado na uni- lonial da escravização.
dade, seria correto afirmar que a escravidão é um evento de
longa duração, pois seus impactos foram e ainda são sentidos Contexto do pós-abolição (Página 27)
depois do fim oficial desse regime. Ainda que muitas críticas possam ser feitas à obra Casa-gran-
Para compreender melhor o que é o racismo estrutural e de- de e senzala, de Gilberto Freyre, considerado responsável por
bater sobre ele, solicite aos estudantes que leiam com atenção dotar de caráter científico o mito da democracia racial, as discus-
o texto de Silvio Almeida (1976-). Filósofo e bacharel em direito, sões sobre as relações culturais no Brasil escravista foram, pela
Almeida é especialista no tema e tem uma atuação importante primeira vez, alvo de atenção acadêmica nesse livro. A fotogra-
na discussão do racismo na sociedade brasileira. fia de Jorge Henrique Papf, por exemplo, dialoga com cenas des-
critas na obra de Gilberto Freyre. Ainda que hoje a análise efe-
Boxe Reflexão tivada seja distinta da do historiador, é importante observar a
• Ao abordar o conteúdo sobre o estruturalismo e sobre os es- imagem para destacar a existência do racismo e o desejo de
tudiosos que com ele dialogam e que o revisam, é interes- manter a existência de grupos subalternos e, portanto, preser-
sante indicar aos estudantes que o conhecimento científico var os privilégios.
é um campo de pesquisa e de debate. Assim, unanimidades Para estudar a pós-abolição, os historiadores debruçam-se
são raras, e fatos são importantes para o debate e a constru- sobre os processos que aconteceram nos últimos anos da le-
ção do conhecimento. galidade da escravidão, indicando as contestações e as mobi-
• No boxe, o trabalho com as habilidades EM13CHS601, lizações que reivindicavam o fim desse regime. Eles também
EM13CHS602 e EM13CHS606 é realizado com destaque. exploram os anos seguintes ao ano 1888, a fim de indicar a
omissão do Estado na integração da população negra na so-
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que o autor faz
ciedade, como também os dispositivos criados pelos próprios
uma abordagem próxima do pós-estruturalismo, já que rei-
vindica o rompimento das estruturas racistas. negros para sua proteção e sua sobrevivência, designados
agência negra.
No processo de conquista da liberdade, é importante que se-
Sistema escravocrata no Brasil jam destacadas ações dos abolicionistas negros e das popula-
(Página 26) ções negras escravizada e livre, que se organizaram para a ob-
Caso julgue necessário, retome algumas das considerações tenção da liberdade. Visto pela perspectiva da população negra,
sobre o tráfico de escravizados, abordando os dados apresen- o conteúdo é capaz de despertar um pertencimento positivo e,
tados no mapa e no gráfico da página 16, no capítulo 1. igualmente, tornar as explicações históricas mais complexas.
Destaque que os africanos escravizados possuíam técnicas Destaque aos estudantes que havia um debate sobre a
e conhecimentos e que eles foram aplicados nas atividades criação de instrumentos que viabilizassem a integração da
produtivas da América. Na mineração, por exemplo, havia pre- população negra na sociedade, contudo a opção do Estado
dileção por escravizados originários da Costa da Mina, no lito- seguiu na direção oposta. Nesse sentido, sugere-se a discus-
ral da África Ocidental, atual Gana, porque parte das socieda- são sobre a Lei de Terras de 1850, que inviabilizava a posse
des dessa região tinha conhecimentos em metalurgia e da terra pelo uso, costume vigente no país desde os tempos
fabricação de joias. O fato revela que, a despeito da tentativa coloniais. Ressalte que a Lei de Terras foi promulgada na mes-
de desumanização desses indivíduos, as experiências apon- ma data que a Lei Eusébio de Queirós, que colocava um fim
tam para a atuação deles nas mais distintas áreas, além do legal ao tráfico de escravos, portanto tratava-se de evitar o
âmbito do trabalho indicado nesse caso. acesso à terra aos futuros libertos.
Em contraposição ao destaque positivo, é importante reco-
nhecer que o sistema escravista vigorou sob forte violência fí- Boxe Reflexão
sica e controle da população escravizada e livre. Esta última
permanecia vulnerável diante daquele contexto e precisava
• Com o objetivo de conscientizar os estudantes da existência
de outras narrativas sobre a pós-abolição, solicite a leitura
achar meios de confirmar sua liberdade quando necessário. A atenta do texto disposto no boxe.
“carta de alforria” nada mais era do que um documento que
comprovava que o portador era dono de si mesmo. • O debate pode ser iniciado a partir do termo "protagonismo",
que integra o título da seção. Espera-se que os estudantes
A fim de estabelecer um paralelo com relações cotidianas,
peça aos estudantes que observem o quadrinho Racismo reconheçam as experiências das populações negras também
sem querer, de Pedro Leite. Caso julgue necessário, ao fazer como elementos fundantes da história.
a leitura, intervenha evidenciando o racismo explícito nos • A respeito do autor apresentado, vale mencionar que Pe-
diálogos, pois é possível que os estudantes não reconheçam trônio Domingues é historiador especialista na formação
de imediato algumas afirmações como racistas, como no se- (e na ação) dos movimentos negros, com ênfase na Frente
gundo quadrinho, que trata do vestibular, afinal os critérios Negra Brasileira. A entidade, criada em 1931, tornou-se
para usufruir as cotas, em geral, não são de domínio coletivo. partido político em 1936 e foi desmobilizada em 1937, com
Nesse momento, é possível, ainda, incentivar os estudantes o fechamento dos demais partidos no governo de Getúlio
a apresentar outros exemplos de racismo no cotidiano. Vargas.

201
• A proposta favorece o trabalho aprofundado com as CGEB6, aprovações das Leis n. 10 639/2003 e n. 12 711/2012, que de-
CGEB7, CGEB9 e CGEB10, possibilitando o reconhecimento finem, respectivamente, a introdução dos estudos sobre his-
de personalidades de destaque na própria comunidade co- tória africana e afro-brasileira nos currículos escolares e a cria-
mo exemplos positivos de trajetórias. ção de cotas raciais para o ingresso na universidade pública,
1. Atividade de pesquisa. O objetivo dessa proposta é incenti- o debate sobre a reparação histórica tem alcançado uma visi-
var os estudantes a reconhecer aspectos históricos e sociais bilidade sem precedentes.
da região em que vivem, bem como suas contradições, como O artigo sugerido no boxe Para explorar traz informações
o racismo estrutural. Auxilie-os durante a pesquisa, que po- sobre a fundação e a atuação do Alma Preta, coletivo surgi-
de ser feita em publicações impressas e digitais, como do- do em 2015 entre os estudantes de jornalismo de uma uni-
cumentários, por meio de entrevistas, visitas a espaços de versidade pública do estado de São Paulo. Desde então, o
cultura, entre outros recursos, de acordo com a realidade grupo tem atuado produzindo notícias que denunciam as
desigualdades social e racial e o racismo, os órgãos públicos
escolar. Oriente-os também na escolha da forma como vão
e a sociedade.
apresentar o trabalho, lembrando-os de que a apresentação
O tema trabalhado favorece a compreensão da importância
deve ser acessível à comunidade escolar. Se julgar mais ade-
de garantir os direitos humanos e respeitá-los. Também permi-
quado, solicite aos estudantes uma pesquisa sobre o con-
te a construção de uma consciência cidadã e do posicionamen-
texto pós-abolição, de modo que eles possam compartilhar
to ético no debate público em defesa da luta antirracista. Por
as descobertas com a turma. Previamente, selecione alguns
isso, a proposta é um ótimo momento para mobilizar as habili-
casos e mostre-os às duplas após o diálogo sobre o contex-
dades EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503. Também
to, propondo que cada dupla escolha um dos contextos que
pode favorecer o trabalho com a habilidade EM13LGG502.
você selecionou. Os casos podem ser encontrados, por exem-
plo, em trabalhados acadêmicos das instituições universitá-
Boxe Interação
rias de sua região. Você pode acessá-los digitalmente ou
presencialmente, nas bibliotecas. 1. Respostas pessoais. A proposta favorece a leitura crítica e a
problematização do racismo no Brasil, além de incentivar a
construção de posições dialógicas e empáticas. Espera-se
Sugestões para o professor que os estudantes mobilizem os debates realizados até o
Livros momento para identificar o racismo em cada manchete e criar
explicações claras e éticas acerca de suas percepções.
» Silva, Lúcia Helena Oliveira. Paulistas afrodescendentes
no Rio de Janeiro pós-abolição (1888-1926). São Paulo:
Humanitas, 2016.
Atividade complementar
Fruto do trabalho de doutorado da historiadora, o livro ex- Como forma de ampliar a discussão acerca do racismo es-
plora as motivações para o deslocamento da população trutural no Brasil, solicite aos estudantes que façam uma
negra de Campinas para o Rio de Janeiro após 1888. Nes- pesquisa sobre a representatividade da população negra na
sa obra, é possível explorar o contexto pela perspectiva televisão.
dos próprios negros, pelos seus desejos e anseios naque- Para tanto, eles deverão selecionar produções audiovisuais
le tempo. (filmes, novelas, noticiários, programas humorísticos, etc.) e ana-
lisar e identificar:
» Ferreira, Lígia Fonseca (org.). Com a palavra, Luiz Gama:
poemas, artigos, carta, máximas. São Paulo: Imprensa Ofi- • A quantidade de indivíduos negros representados e a sua
proporção em relação aos indivíduos brancos.
cial, 2001.
Nascido livre, vendido ilegalmente pelo pai, liberto novamen- • Os papeis desempenhados pelos indivíduos negros nessas
te, Luiz Gama se torna advogado e ativista abolicionista. Nes- produções.
sa obra, a organizadora seleciona textos do próprio Luiz Ga- • O tempo de aparição dos indivíduos negros em uma deter-
ma e outros escritos sobre ele. minada cena em comparação ao tempo de aparição dos in-
divíduos brancos.
Racismo estrutural: um panorama geral • A presença (ou ausência) de indivíduos negros nos materiais
(Página 28) de divulgação dessa produção audiovisual.
A intenção dessa atividade é demonstrar, de maneira prá-
Retome a questão inicial levantada no título do capítulo (Exis-
tica, que, apesar dos imensos avanços na luta antirracista, a
te racismo no Brasil?). Pergunte aos estudantes se eles reconhe-
população negra ainda tem menos espaço nas produções
cem a existência do racismo e como as manchetes dispostas
televisivas (e na mídia como um todo) do que indivíduos bran-
podem auxiliar na compreensão dessa realidade. Espera-se que
cos e que, mesmo quando esse espaço é conquistado, indi-
todos sinalizem afirmativamente e, a partir dessa dinâmica, re-
víduos negros são, muitas vezes, retratados de maneira su-
force que o estudo desenvolvido nesse capítulo busca demons-
balternizada. Esse fato é uma das inúmeras consequências
trar que o racismo é uma construção histórica, iniciada no escra-
do racismo estrutural, que, entre outras consequências, pro-
vismo e presente ainda hoje.
move o apagamento da imagem e das narrativas da popula-
Explique aos estudantes que o reconhecimento da existên-
ção negra.
cia do racismo e a discussão sobre ele são importantes. Reforce
que essas discussões representam um avanço no caminho da
resolução do problema para um país que, até pouco tempo, se- Atividades (Página 29)
quer se reconhecia racista. 1. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacio-
A historiografia aponta que o primeiro presidente a reconhe- nem a frase aos diversos aspectos do sistema escravista
cer em discurso oficial a existência do racismo foi Fernando moderno e do racismo estrutural, citando exemplos com ba-
Henrique Cardoso (1931-). Desde então, em especial com as se no que estudaram no capítulo, em especial, as duas

202
manchetes que abordam os assassinatos de Marielle Fran- A atividade tem o potencial de desenvolver posturas críticas em
co, em março de 2018, e de Evaldo Rosa dos Santos, em relação à construção de textos informativos e ao entendimento do
abril de 2019. conteúdo abordado e estudado ao longo da unidade. Ao mesmo
b) Resposta pessoal. Os estudantes devem perceber que a tempo, traz subsídios para que os estudantes se posicionem de
ausência de conhecimento da cultura negra e a necessidade forma crítica e fundamentada em suas vidas públicas.
de os negros lutarem por direitos e respeito estão presentes A proposta de trabalho dessa seção também pode contri-
nos quadrinhos e na letra da música "A carne". buir para o desenvolvimento de aspectos das habilidades
EM13LGG704 e EM13CNT302.
a) 95 anos.
b) O Brasil ocuparia a última posição. Sugestões para o professor
c) O fato de o Brasil ter sido o último país a abolir a escravi-
Artigo
dão pode indicar a importância que o emprego dessa mão
de obra, bem como o tráfico de escravizados propriamente » CardoSo, Lourenço. O branco-objeto: o movimento negro
situando a branquitude. Revista Instrumento, v. 13, n. 1,
dito, desempenhava para a economia do país. Pode indicar
2011. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/
também uma forte resistência das elites locais, como proprie-
revistainstrumento/article/view/18706. Acesso em: 13 jun.
tárias de escravizados, a abrir mão de seus privilégios.
2020.
2. Resposta pessoal. Por meio da fala de Davis, a atividade in- Nesse artigo, o autor ajuda na compreensão da branquitude
centiva posturas críticas e éticas diante do racismo, explici- como identidade, poder e lugar de privilégio e contribui para
tando aos jovens que, apesar de ser algo estrutural, é o entendimento de como o conceito tem sido abordado na
passível de transformação, se for encarado com responsabi- produção acadêmica.
lidade pelos cidadãos. Dessa forma, espera-se que os estu-
Livro
dantes expliquem que, para transformar a situação, é preciso
que a sociedade como um todo (negros e não negros) mobi- » Müller, Tânia M.; CardoSo, Lourenço. Branquitude: estudos
sobre a identidade branca no Brasil. Curitiba: Appris Edi-
lize ações individuais e coletivas, públicas e privadas, com
tora e Livraria Eireli-ME, 2018.
responsabilidade.
A obra aborda o conceito de branquitude e a constituição da
3. A imagem da página 27 é uma fotografia de Jorge Papf feita
identidade branca em relação aos não brancos.
em 1899. Ainda que tenham se passado dez anos da aboli-
ção, a fotografia retrata a subalternidade do indivíduo negro
em relação ao branco: a pose escolhida (criança branca em CAPÍTULO 3 VIDAS NEGRAS NO
cima de uma mulher negra) parece indicar que a mulher ne-
gra serve de brinquedo para a criança, que aparece em des-
BRASIL (página 32)
taque na fotografia. O racismo estrutural implica a insistência No capítulo 3, são abordados temas inerentes ao racismo e
em atribuir papéis subalternos e secundários a determinados ao antirracismo. Nele, são explorados índices que comprovam
grupos – e, no Brasil, as populações negra e indígena são as as desigualdades racial e social como elementos intrínsecos e o
mais afetadas. genocídio da população negra. Também é discutida a luta de
4. Resposta correta: alternativa c. O texto do cientista social Al- pretos e pardos para denunciar essa condição de desigualdade
fredo Guimarães apresenta, resumidamente, aspectos do e obter dispositivos legais para reversão dessa situação. Nesse
Movimento Negro Unificado (MNU), centrando-se no comba- momento, as questões abordadas com mais atenção no capítu-
te às discriminações étnicas. É certo que as demais alterna- lo 1 são retomadas no capítulo 3 em diálogo com o presente, em
tivas também estão na pauta do MNU, mas não foram perspectivas diversas.
mencionadas no recorte.
Vidas negras no Brasil (Página 32)
Práticas de texto (Páginas 30 e 31) O genocídio da população negra tem sido denunciado pela
A atividade e sua apresentação final favorecem o posiciona- militância negra brasileira ao longo dos séculos XX e XXI. Inte-
mento ético no debate público, a defesa dos direitos humanos lectuais como Abdias do Nascimento (1914-2011) e Lélia Gon-
e a luta contra o preconceito racial. zalez (1935-1994) atuaram politicamente por meio de escritos,
Ao longo do planejamento e da produção da atividade, soli- palestras, pronunciamentos, cargos eletivos e de assessoria po-
cite aos estudantes que se atentem às orientações quanto ao lítica, denunciando e buscando meios de reversão dessa reali-
público-alvo e ao objetivo da atividade. Comente com eles que dade. A defesa desses indivíduos é clara: os efeitos danosos da
essa atenção também ocorre com a imprensa em geral e que ela escravização, pela própria existência do regime, não foram in-
determina as linhas de orientação para jornais, revistas, blogs, terrompidos em 1888. Ao contrário, no pós-abolição, surgem
etc. Mencione também que esses elementos costumam marcar dispositivos para a manutenção da opressão e a marginalização
a forma da escrita, os temas e as abordagens. dos negros na sociedade.
Ao iniciarem a busca por informações que vão compor a repor- A fim de compreender o quanto os estudantes conhecem so-
tagem on-line, é interessante que os estudantes sejam orientados bre o tema, valorizando, assim, seus conhecimentos prévios,
a identificar a importância da credibilidade das fontes e o uso de pergunte a eles se já tiveram contato com manifestações antir-
diferentes fontes de informação como forma de garantir uma racistas como a da imagem.
compreensão mais aprofundada do fenômeno estudado. Nesse Solicite que leiam a legenda e reconheçam que se trata de
sentido, peça a eles atenção ao descrito no item 3 da atividade. uma manifestação ocorrida após o assassinato da menina Ága-
Utilize os textos dispostos no Livro do Estudante como docu- tha Félix, de 8 anos, no Rio de Janeiro. Para a realização das ati-
mentos complementares ao conteúdo trabalhado até o momen- vidades, será necessário que os estudantes pesquisem sobre o
to, uma vez que contêm dados que podem ajudar na composi- fato, que ganhou notoriedade e é ainda rememorado por grupos
ção da atividade pelos estudantes. de ativistas negros e de direitos humanos.

203
Pela atualidade dos debates propostos, o capítulo realiza em níveis iguais de escolarização, brancos têm renda média sa-
um trabalho consistente que integra a CGEB1, a CGEB4 e a larial maior do que os pretos e os pardos. Portanto, não se trata
CGEB6. Elas serão retomadas ao longo do capítulo – e também exclusivamente de um problema de formação educacional, mas
do volume. de uma preferência na ocupação das vagas de emprego, o que
evidencia o racismo estrutural.
A abordagem proposta na página mobiliza com destaque a
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES habilidade EM13CHS101. Além disso, contribui para o trabalho
com a CGEB2 e a CGEB7, e com aspectos das habilidades
1. Espera-se que os estudantes identifiquem o protesto como
EM13MAT102 e EM13MAT104.
uma reação dos movimentos negros ao genocídio de jovens
negros, assassinados diariamente nas cidades brasileiras,
representados pelo assassinato de Ágatha Félix, de 8 anos. Sugestão para o professor
O fato ocorreu em 2019, quando a criança foi atingida por Site
um tiro quando estava dentro de um transporte público, na
» Retratos da Desigualdade de Gênero e Raça. Ipea. Dispo-
periferia carioca. A versão da polícia é que houve um confron- nível em: https://www.ipea.gov.br/retrato/apresentacao.
to com bandidos, mas foi desmentida por testemunhas e ja- html. Acesso em: 17 jun. 2020.
mais provada.
Fruto da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica
2. Resposta pessoal. O objetivo da questão é retomar os aspec- Aplicada, com base em dados oficiais da Pesquisa Nacio-
tos que fundaram a imagem idealizada da sociedade brasi- nal por Amostra e Domicílios (Pnad), o site apresenta re-
leira como pacífica, tolerante e aberta, reforçando os problemas latórios, dados estatísticos e infográficos que evidenciam
que mitos como esses geram, como encobrir raízes profundas as desigualdades de raça e gênero no país. É importante
de violência e perpetuar a segregação e as desigualdades so- observar que, quando somadas as categorias raça e gê-
ciais. É necessário destacar aos estudantes que o assassina- nero, chega-se à conclusão de que as mulheres negras
to de jovens e crianças não pode ser naturalizado. estão em situação de maior vulnerabilidade do que os de-
mais grupos.
Sugestão para o professor
Livro Vulnerabilidade social dos negros
» NaSCiMeNto, Abdias. O genocídio do negro brasileiro: pro- (Página 34)
cesso de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva, O conteúdo retoma os índices apresentados anteriormente
2016. e os amplia, apresentando o gráfico com informações sobre res-
Publicado pela primeira vez em 1977, sob a vigência da Lei trição da população negra ao acesso à educação, à proteção so-
de Segurança Nacional, que criminalizava as discussões so- cial, à moradia, ao saneamento e à internet.
bre raça no país, o livro é uma denúncia da morte sistemática Mencione aos estudantes que esses dados podem ser leva-
da população negra no Brasil, empreendimento no qual o dos em consideração quando se argumenta sobre a existência
Estado representa papel de destaque. de um privilégio branco. Espera-se que eles reconheçam que a
desigualdade historicamente construída promove o acesso a
Índices sociais (Página 33) serviços de forma desigual a brancos, pretos e pardos.
É possível que seja mencionada pelos estudantes a existên-
Pergunte aos estudantes se eles reconhecem o conceito de cia de pessoas brancas e pobres, portanto tão vulneráveis quan-
democracia. Com base nos conhecimentos prévios deles, ques- to pretos e pardos. Caso isso ocorra, peça a eles que retomem o
tione se é possível afirmar que o Brasil se constituiu como uma gráfico da página 33 que leva em conta os critérios rendimen-
democracia plena. Espera-se que os estudantes indiquem que to-hora e escolarização. Nesse gráfico, é possível observar que,
em uma democracia plena há direitos garantidos, entre eles a mesmo com níveis educacionais iguais, existe uma disparidade
igualdade de oportunidades e de acesso a bens e serviços como de ganho salarial entre as populações negra e branca. Em ou-
educação, saúde e moradia, integrantes dos direitos sociais dos tras palavras, brancos pobres no Brasil também podem se en-
indivíduos. Tendo isso em vista, reflita com os estudantes sobre contrar em condições de vulnerabilidade, mas sua cor não faz
o fato de o Brasil ser configurado como um Estado democrático, parte dos elementos que dificultam seu acesso ao universo do
mas, ao mesmo tempo, negar o acesso pleno a esses direitos a trabalho, por exemplo.
todos os cidadãos. A discussão sobre a vulnerabilidade social da população ne-
Para ampliar essa discussão, auxilie os estudantes na leitura gra permite o trabalho aprofundado com a habilidade
dos gráficos dispostos na página. EM13CHS503.
O primeiro gráfico indica que pretos e pardos são a maioria
dos indivíduos em trabalhos informais, o que significa também Sugestão para o professor
ausência de proteção social e maior vulnerabilidade às condi-
ções econômicas. É o que tem provado, por exemplo, as políticas Livro
de distanciamento social, ocorridas em 2020 em decorrência da » Preta-rara. Eu, empregada doméstica: a senzala moder-
pandemia de covid-19. Os indivíduos ocupados em trabalhos na é o quartinho da empregada. São Paulo: Letramento,
informais foram os mais economicamente atingidos pelo fecha- 2019.
mento do comércio. Tradicionalmente uma das profissões mais exploradas, pelo
O segundo gráfico apresenta a desigualdade salarial, com costume escravocrata e pela lacuna na legislação, o trabalho
base nos critérios raça e escolaridade. Nesse gráfico, não so- doméstico é discutido pela militante, historiadora, rapper e
mente é possível verificar que o menor rendimento é atribuído ex-empregada doméstica Joyce Fernandes, mais conhecida
aos pardos e aos pretos, como também observar que, mesmo como Preta-Rara, nome que adotou.

204
Quem é alvo da violência no Brasil? O artigo apresenta considerações sobre a adjetivação dos sus-
peitos na imprensa – com foco no jornal Folha de S.Paulo – de
(Página 35) acordo com a raça do indivíduo.
Solicite aos estudantes que leiam atentamente as informa-
ções dispostas na página. Retome a frase que aparece na foto O antirracismo como arma contra o
da abertura desse capítulo, “Parem de nos matar!”, e questio-
ne-os se a frase apresenta mais sentido agora, depois de ex-
genocídio negro (Página 36)
plorar os índices que apontam as desigualdades e o alto índice A discussão sobre o conceito de antirracismo pode viabilizar
de mortes da população negra. Espera-se que reconheçam a o desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13CHS501
legitimidade da frase e por que ela foi cunhada como um “grito e EM13CHS502.
de justiça”. A fim de valorizar os conhecimentos prévios e mobilizar um
Ressalte que o uso do termo “genocídio”, utilizado ao longo debate que guie o estudo do conteúdo proposto, pergunte aos
desse capítulo, marca não apenas o alto índice de assassinato estudantes se eles conhecem o significado do termo “antirracis-
da população negra, mas também o fato como ato deliberado, mo”. Explique que o termo designa movimentos e sentimentos
parcial, no que se refere à omissão, e total, se levada em consi- de oposição ao racismo, comumente presente na população que
deração a ausência de leis de reparação. sofre com a prática racista, embora possa e deva ser uma ban-
Destaque a informação obtida pela Seppir a respeito da me- deira de todos. Dessa forma, a discussão contempla a preocu-
nor comoção popular quando a violência atinge os negros. Tra- pação com a prática da cidadania e com a necessidade de esti-
ta-se de um diálogo que contribui para a construção da CGEB9 mular o respeito aos direitos humanos.
e da CGEB10. Reforce a questão do racismo, do genocídio da população
É possível associar esse fenômeno à abordagem da mídia de negra e da naturalização desses problemas como elementos
casos ligados à violência e à normalização social do genocídio construídos histórico e socialmente. Da mesma forma, retome o
de negros, fruto da estrutura racista discutida no Livro do Estu- conceito da branquitude, ressaltando que a população branca é
dante. Caso julgue conveniente, peça aos estudantes que pes- privilegiada e que é necessário discutir esse fato, para gerar a
quisem manchetes que reflitam sobre essa situação. igualdade de acesso aos serviços e aos direitos.
Um exemplo impressionante é a manchete do Jornal Extra, de Peça aos estudantes que leiam o texto de Nilma Gomes e
maio de 2009, no qual se lê: “Troca de tiros na Chácara do Céu Ana Laborne com atenção. Ambas pesquisam as relações raciais
leva pânico a moradores do Leblon” (disponível em: https://extra. no Brasil. Destaque a atuação intelectual e militante de Nilma
globo.com/casos-de-policia/troca-de-tiros-na-chacara-do-ceu- Gomes, que já foi ministra da Secretaria de Promoção da Igual-
leva-panico-moradores-do-leblon-278540.html. Acesso em: dade Racial.
18 jun. 2020). Nessa manchete, fica explícito que o medo dos A respeito da sugestão de leitura indicada no boxe Para ex-
moradores da periferia é desconsiderado. Provavelmente, o plorar, é importante ressaltar que a leitura e a discussão de pro-
jornalista acredita que se trata de algo natural para esses in- duções literárias de sujeitos negros, que lutam contra o racismo
divíduos, o que não é válido para os moradores do Leblon, e visam dar visibilidade aos problemas da população negra, como
bairro de elite. o livro Parem de nos matar, de Cidinha da Silva, contribuem gran-
Exercício semelhante se aplica às caracterizações de sujeitos demente para interromper a subalternidade da população negra,
apreendidos com drogas ilícitas. Quando pardo ou preto, a man- transferindo sua posição da representação pelo olhar do outro
chete o condena com o adjetivo “bandido”; quando branco, o su- para a posição de sujeito autônomo e produtor de conhecimento.
jeito é caracterizado por sua profissão ou condição de estudante –
e a suspeita do porte ilegal. Como mostra a manchete do G1, de Vidas negras importam! Histórias de
fevereiro de 2020, na qual se pode ler: “Estudante de medicina lutas, sobrevivência e resistências
é preso com 42 kg de cocaína e 16 kg de crack escondidos em
carro na BR-277, diz PRF [...] Segundo a polícia, o suspeito disse (Página 37)
que levaria a droga para São Paulo [...]” (disponível em: https:// As expressões “movimentos negros” e “entidades negras”
g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2020/02/21/estudante- referem-se à coletividade de grupos formados pela população
de-medicina-e-preso-com-42-kg-de-cocaina-e-16-kg-de- negra e por aliados que discutem e elaboram estratégias de lu-
crack-escondidos-em-carro-na-br-277-diz-prf.ghtml. Acesso em: ta contra o racismo. A variedade dessas estratégias é ampla, re-
18 jun. 2020). presentadas pela discussão, pela organização de palestras e
oficinas, pela criação de conteúdos (impressos, digitais ou didá-
Sugestões para o professor ticos), pelos grupos de teatro, pela assessoria política, pela ocu-
pação de cargos eletivos, entre outras. O que une, portanto, es-
Livro
sa variedade de grupos e ações é a luta contra o racismo e tudo
» MbeMbe, Achille. Necropolítica. 3. ed. São Paulo: N-1 edições, o que isso representa, tal como o fim da desigualdade econômi-
2018. ca e o reconhecimento positivo da cultura negra.
Influente intelectual contemporâneo, o camaronês Achille Essas entidades, em geral, reconhecem como cultura negra
Mbembe apresenta no livro o conceito de necropolítica, no as produções de negros e afrodescendentes brasileiros e de
qual se baseia o poder do Estado na definição de que a so- africanos negros de outros países.
berania é exercer controle sobre a mortalidade. Em outros Destacar o nome e a atuação de pessoas negras é impor-
termos, poder político define “quem é descartável, e quem tante para construir o reconhecimento do protagonismo dos
não é”, segundo o autor. negros como sujeitos históricos, ou seja, como indivíduos que
Artigo atuam e vivem experiências de acordo com suas convicções e
» GiorGi, M. C.; alMeida, F. S. de; Paiva, M. V. S. Mídia, raça e condições. Vale mencionar que a prática é recomendada pelas
a construção do suspeito. Domínios de Lingu@gem, v. 12, Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das relações
n. 1, p. 604-624, 29 mar. 2018. étnico-raciais.

205
É importante que os estudantes compreendam que a criação negras. Esses partidos pioneiros são o Partido Democrático Tra-
de instrumentos de aferição das desigualdades, como o critério balhista, do qual Abdias do Nascimento fez parte e lançou-se
cor, nos censos do IBGE, as pesquisas do Ipea, a criação da como político partidário, e o Partido dos Trabalhadores, ao qual
Lei n. 10 639/03, bem como a criação da Seppir, é fruto da orga- parte dos integrantes do MNU de São Paulo e Rio de Janeiro se
nização das militâncias negras nos anos 1980 e sua estratégia filiaram, tal como Milton Barbosa e Lélia Gonzalez (depois filia-
de aproximação das esferas de poder político. da ao PDT). A entrada desses indivíduos no PT, em especial, mas
Os movimentos negros contemporâneos, como são chamadas também na assessoria de vereadores, deputados e senadores
as entidades criadas após 1978, com o ato público do Movimento eleitos, possibilitou a aprovação de legislações que visam repa-
Unificado Contra a Discriminação Racial – mais tarde chamado so- rar econômica ou culturalmente a população negra.
mente de Movimento Negro Unificado (MNU) –, foram os primeiros Contudo, se julgar conveniente, alerte os estudantes para
a reconhecer que o Estado é um importante reprodutor do racismo, a fragilidade de conquistas que se tornam políticas de gover-
portanto deve ser igualmente responsabilizado e envolvido na so- no, e não de Estado. Assim, a Seppir, já reestruturada no últi-
lução do problema racial da sociedade brasileira. mo governo de Dilma Rousseff, unindo-se ao Ministério das
A CGEB6 e a CGEB9 são abordadas de maneira consistente Mulheres, tornou-se, no governo de Jair Bolsonaro, parte das
nesse tema, contribuindo para a construção de planos positivos atribuições do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
para uma sociedade mais justa e igualitária. Além disso, essa Humanos.
discussão também pode contribuir para o desenvolvimento de O trabalho com essa temática propicia a mobilização de as-
aspectos da habilidade EM13LGG502. pectos das habilidades EM13CHS601 e EM13CHS602.

Sugestões para o professor


Consciência negra, militância e
Artigos
aquilombamentos (Página 39)
» doMiNGueS, Petrônio. Movimento negro brasileiro: alguns
A fim de trabalhar o conceito de aquilombamento, peça aos
apontamentos históricos. Tempo [on-line], v. 12, n. 23,
estudantes que leiam o texto de Conceição Evaristo (1946-). Co-
p. 100-122, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/
mente que a autora é uma importante literata negra, em plena
scielo.php?pid=S1413-77042007000200007&script=sci_
abstract&tlng=pt. Acesso em: 18 jun. 2020. atividade, e que tem sido um nome fundamental na defesa da
literatura negra, como é chamada a produção literária feita por
Especialista sobre a trajetória dos movimentos negros, nesse
pretos e pardos, com especial ênfase às produções que tratam
artigo, o autor apresenta um panorama geral das entidades
do cotidiano e do racismo.
negras existentes ao longo da história brasileira, suas de-
Após a leitura, pergunte aos estudantes quais são as possí-
mandas e atuações.
veis explicações para a escolha do termo “quilombo” para gru-
» GoNzalez, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. pos atuais. Espera-se que eles reconheçam a intenção de valo-
Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, p. 223-244, 1984. rização do passado negro a partir de seu ato de resistência;
Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/ afinal, o quilombo colonial era o espaço daqueles que fugiam
4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20 para recriar novas formas de existir, longe do cativeiro criado
GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_
pelos povos europeus.
Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf. Acesso
Pergunte, ainda, se eles conhecem outras formas de ressig-
em: 18 jun. 2020.
nificação do passado semelhantes ao termo “quilombamento”.
Importante intelectual, militante e agente política, a autora É possível que apresentem elementos estéticos ressignificados,
apresenta nesse texto considerações que fundamentam a como cabelo ou adornos (garfo, turbantes, estampas), e líderes
luta antirracista feminista, explicitando que a condição de de revoltas passadas, como Zumbi e Luísa Mahin.
vulnerabilidade da mulher preta é a mais acentuada na so- Historicamente, é importante que reconhecer a memória co-
ciedade brasileira. mo campo de construção de identidades, mas, ao mesmo tem-
po, deve haver o cuidado com o anacronismo. Assim, indivíduos
Políticas públicas para a igualdade racial ou estratégias do passado compõem novos sentidos presentes,
mas devem, ao olhar da ciência, ser compreendidos dentro das
(Página 38) estruturas que vivenciaram.
Indique aos estudantes que Fernando Henrique Cardoso
foi o primeiro presidente em exercício a reconhecer a existên- Sugestões para o professor
cia do racismo no país. Sociólogo com doutorado pela Univer-
sidade de São Paulo, o ex-presidente foi orientando de Flo- Músicas
restan Fernandes, figura central da Escola de Sociologia » eMiCida. Mandume. Intérpretes: Emicida, Drik Barbosa, Amiri,
Paulista e das investigações científicas que taxaram a demo- Rico Dalasam, Muzzike, Raphão Alaafin. In: Sobre crianças,
cracia racial na categoria de mito. Autor de Capitalismo e es- quadris, pesadelos e lições de casa. São Paulo: Laboratório
cravidão no Brasil meridional e Cor e mobilidade social em Fantasma, 2015. 1 CD. Faixa 12.
Florianópolis, ambos de 1962, FHC atesta os critérios raça e O passado é articulado com questões presentes para discu-
classe como preponderantes para a desigualdade de oportu- tir o racismo e o desejo de pertencimento, assim como a di-
nidades e, ainda, mantém em entrevistas recentes a defesa ficuldade da branquitude em admitir os negros em espaços
de que só o critério raça não se sustenta para as políticas de de privilégio, como diz o início da música: “Eles querem que
reparação. Para ele, é necessário recorrer à comprovação da alguém, que vem de onde nóiz vem, seja mais humilde, baixe
condição de pobreza do indivíduo. a cabeça, nunca revide, finja que esqueceu a coisa toda”.
Entre os partidos que atuavam no período de abertura polí- » luNa, Luedji. Um corpo no mundo. Intérprete: Luedji Luna.
tica, somente dois deles criaram grupos compostos de militantes In: Um corpo no mundo. São Paulo: YB Music, 2017. 1 CD.
dos movimentos negros, para a discussão sobre as questões Faixa 4.

206
Nessa canção, a compositora transita entre passado e pre- mercado de trabalho, as pessoas brancas são mais bem
sente, colocando-se dentro das embarcações do tráfico de remuneradas que negros e pardos. Assim, o privilégio sim-
escravizados e denunciando a recusa de corpos negros nas bólico de maior aceitação leva ao privilégio material de
cidades brasileiras de hoje. maior renda.
c) Espera-se que os estudantes identifiquem que a última
Atividade complementar coluna do gráfico representa a diferença salarial entre bran-
Os anos 1990 são considerados, pelo historiador Petrônio cos e pretos com nível superior de instrução, uma diferença
Domingues, como tempo de surgimento de um novo tipo de que chega a R$ 9,60 a hora de trabalho paga. Tal disparida-
movimento negro, aquele representado pela popularização de salarial revela a inconsistência da ideia de meritocracia,
pois demonstra que, mesmo as pessoas negras e pardas que
do rap como forma de expressão da juventude preta e parda
tiveram acesso à educação formal e conseguiram construir
das periferias das grandes cidades. Nomes emblemáticos
um plano de carreira, recebem uma recompensa inferior à
desse período são Racionais MC’s, Thaíde, Sabotage e Fac-
das pessoas brancas. Muitas pessoas negras com formação
ção Central.
superior conquistaram um diploma com um esforço maior do
Atualmente, a denúncia da desigualdade e a ressignificação
que as pessoas brancas, conciliando estudo e trabalho e su-
da cultura negra têm emergido entre as canções, em diferentes
perando obstáculos de escassez – e, ainda assim, recebem
estilos e regiões do Brasil. Para aproveitar essa multiplicidade,
uma remuneração inferior.
você pode sugerir a seguinte atividade.
O objetivo da unidade é auxiliar os estudantes a compreen- 3. a) Espera-se que os estudantes identifiquem que muitas
der a origem histórica das desigualdades raciais e sociais (in- restrições são impostas a uma grande parte da população
trínsecas) no país, o racismo estrutural como meio de perma- negra no Brasil. Para muitas dessas pessoas, a formação
nência dessa desigualdade e, ao mesmo tempo, a organização acadêmica não é uma prioridade a ser alcançada, pois an-
da população como propulsora de mudanças. Para que com- tes precisam ter condições dignas de moradia, com água
preendam essas questões por meio da música, produto que encanada, rede de esgoto e energia elétrica. Além da res-
encontra grande receptividade no universo jovem, propõem- trição às condições básicas de sobrevivência, muitos negros
-se as seguintes etapas: no Brasil habitam regiões sem escolas nas proximidades;
e, por vezes, mesmo tendo escolas em seu entorno, essas
• Os estudantes devem buscar na internet canções que tratem pessoas abandonam a vida escolar para trabalhar, a fim de
da questão racial, como problema ou ressignificada positiva-
compor a renda familiar. Todas essas restrições impõem
mente.
muitos obstáculos para o ingresso das pessoas pretas nas
• Após as escolhas das canções, cada indivíduo ou grupo (de universidades.
acordo com a orientação do professor) deve explicar o moti-
b) Espera-se que os estudantes reflitam sobre os esforços
vo da escolha da música.
que grande parte da população preta do Brasil precisa fazer
• Em seguida, caso seja viável, seria interessante apresentar para ascender social e economicamente, superando a vul-
a letra da canção em algum projetor simultaneamente à mú- nerabilidade social, frequentando a escola, mesmo que es-
sica. No trabalho didático com músicas, o ideal é que letra e ta fique longe de suas casas, e tendo de conciliar trabalho
a sonoridade sejam observadas. e estudo desde muito cedo. Além disso, sobretudo no sis-
• No momento de socialização das músicas selecionadas, e tema atual, os negros têm de enfrentar o racismo estrutural,
justificadas, a turma deve ser incentivada a debater os sig- esforçando-se mais do que os brancos para se destacar na
nificados das letras, e em que medida elas podem ser inter- vida escolar e acadêmica e provar que são bons profissio-
pretadas como ressignificações ou lutas antirracistas. nais, e, portanto, merecedores de boa remuneração, bons
cargos, promoções, etc.
Atividades (Páginas 40 e 41) 4. Espera-se que os estudantes reflitam sobre o racismo e a
vulnerabilidade social como motivadores da violência con-
1. a) A vertente que apresenta desequilíbrio é a de cor ou raça. tra pessoas pretas e pardas. A curva ascendente revela
b) Enquanto 33,7% de pessoas brancas estão na informali- que, em cenários de crises econômica, política e social, as
dade no mercado de trabalho, essa taxa é de 46,9% para as pessoas pretas ficam mais vulneráveis ao crime organiza-
pessoas pretas e pardas. Logo, a diferença de porcentagem do, ao aliciamento ou a tornar-se vítimas das guerras entre
do trabalho informal nessa vertente é de 13,2%. facções e da violência da polícia, que as tem como princi-
pais suspeitas.
c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes comentem
em suas respostas suas percepções acerca das estruturas 5. Espera-se que os estudantes reflitam sobre o fato de que,
racistas que dificultam o acesso da população negra ao mer- mesmo em contextos de aumento da criminalidade e das
cado formal de trabalho. guerras entre facções, o número de assassinatos de pes-
soas brancas se mantém estável. Essa informação, associa-
2. a) Os dados revelam que existe uma grande variação salarial da à pesquisa de opinião que revela que a morte de pessoas
em razão da cor da pele dos trabalhadores no Brasil. A pri- brancas choca mais a sociedade do que a morte de pessoas
meira coluna do gráfico, que disponibiliza uma visão total pretas, indica que a morte dos negros é banalizada e que
dessas diferenças, independentemente dos níveis de forma- eles são alvos preferenciais da violência do Estado. Essa
ção, apresenta uma variação de R$ 6,60 para a hora de tra- violência pode ser classificada como genocídio, pois traduz
balho paga a brancos e a negros e pardos. especificamente o extermínio da comunidade negra em
b) Espera-se que os estudantes reflitam sobre os privilé- ações da polícia, que moldam um perfil suspeito, inferiori-
gios das pessoas brancas, cuja mão de obra em razão do zam o valor da vida negra e agem de forma violenta nas
racismo estrutural é mais valorizada do que a mão de obra comunidades periféricas, em ataques armados contra cri-
de negros ou pardos. Além de serem preferidas no minosos e cidadãos comuns negros.

207
6. Espera-se que os estudantes reflitam sobre o racismo estru- exploradas, assim como bancos de teses e dissertações das uni-
tural como a causa da vulnerabilidade social da população ne- versidades.
gra. Nesse sentido, o racismo explica o fato de os negros serem A proposta é que eles pesquisem o racismo estrutural no Bra-
preteridos no mercado de trabalho e de receberem salários sil. Definições e elementos sobre esse tema foram trabalhados
inferiores, o que diminui suas oportunidades de ascensão so- na unidade, em especial no capítulo 2, e devem ser retomados
cial e econômica, tornando-os suscetíveis ao crime. É o racis- pelos estudantes.
mo, sobretudo, que molda os negros como figuras indesejadas O objetivo é ampliar os conhecimentos dos estudantes a res-
nos meios privilegiados, autorizando, assim, seu extermínio peito do racismo estrutural, e fazê-los compreender que o co-
pelas forças do Estado. nhecimento científico é resultado de um intenso debate da co-
7. Espera-se que os estudantes analisem a poesia de Concei- munidade acadêmica. Ademais, é fundamental reconhecer a
ção Evaristo e reflitam sobre o poder da união, do olhar hu- possibilidade de acessar parte dessa produção de forma gratui-
manizado para o outro e das redes de proteção que são ta. Dessa maneira, estimula-se a democratização do acesso ao
estabelecidas nas comunidades negras. Na poesia, a ideia conhecimento.
de aquilombamento faz referência às lutas do passado es- Solicite aos estudantes que observem com atenção as infor-
cravocrata e atualiza seu sentido para as lutas atuais e cons- mações dispostas nos procedimentos, para que a atividade se-
tantes dos negros, que, unidos, podem se mobilizar contra ja mais facilmente executada.
políticas que sejam contrárias a seu direito à vida. Caso exista a dificuldade de acesso a algum dos livros indi-
8. a) Enquanto os quilombos, entre os séculos XVI e XIX, tinham cados, sugere-se a substituição, ou mesmo complementação,
como principal função a resistência contra a escravidão, os com os seguintes textos:
quilombos da atualidade são caracterizados como espaços Schwarcz, L. K. M. A culpa é sempre dos outros. Interesse
de encontro e sociabilidade para discussão de estratégias de Nacional, v. 27, p. 48-54, 2014. Disponível em: http://
resistência ao racismo. interessenacional.com.br/2014/10/01/a-culpa-e-sempre-
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes dialo- dos-outros/. Acesso em: 19 jun. 2020.
guem sobre a importância da união entre pessoas que vi- Schwarcz, L. K. M. Do preto, do branco e do amarelo: sobre o
venciam a negritude em seus cotidianos para uma mito nacional de um Brasil (bem) mestiçado. Ciência e Cultu-
compreensão mais ampla acerca do significado dessa vi- ra, v. 64, p. 48-55, 2012. Disponível em: http://cienciae
vência, bem como das possibilidades de luta e resistência cultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67
contra o racismo estrutural. 252012000100018. Acesso em: 19 jun. 2020.
9. Atividade de pesquisa. Nessa proposta, os estudantes vão Munanga, K. Por que ensinar a história da África e do negro no
aprofundar seus conhecimentos sobre as comunidades e os Brasil de hoje? Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 1,
movimentos negros articulados, assim como sobre a apro- p. 15-239, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rieb/
priação do termo “quilombo” para designar os espaços de lu- n62/2316-901X-rieb-62-00020.pdf. Acesso em: 19 jun. 2020.
ta que marcam realidade do tempo presente. O objetivo é que,
ao entrar em contato com as ações desses movimentos, eles Munanga, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça,
percebam a importância de sua articulação política, do aco- racismo, identidade e etnia. Cadernos PENESB (Programa de
lhimento das pessoas marginalizadas socialmente e da pro- Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira). Rio de
moção da autoestima e da consciência da história da Janeiro, n. 5, p. 15-34, 2004. Disponível em: https://www.
população negra. O artigo “O quilombismo em espaços urba- geledes.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Uma-
nos – 130 anos após a abolição” pode auxiliar os estudantes abordagem-conceitual-das-nocoes-de-raca-racismo-
nessa pesquisa (disponível em: https://www.revistas.usp.br/ dentidade-e-etnia.pdf. Acesso em: 19 jun. 2020.
extraprensa/article/download/153780/157007/; acesso em: Como foi possível observar ao longo da unidade, o tema ra-
14 abr. 2020). cismo estrutural está vinculado a outros assuntos que derivam
10. Resposta correta: alternativa a. É possível notar que o poeta dele ou o complementam, tais como escravismo, racismo, vio-
se coloca ora como o opressor/violento ora como o oprimi- lência, etc. Espera-se que os estudantes reconheçam, portanto,
do/agredido. Retome aqui o debate sobre o racismo estru- esses outros temas complementares e que consigam articular
tural e a pouca consciência de pertencimento da população essas questões como parte integrante do tema estudado.
negra como elementos que favorecem essas experiências. O processo de execução e discussão da atividade deve prio-
11. Resposta correta: alternativa b. O texto atesta a inconsis- rizar o envolvimento de todos os estudantes. Nessa etapa, é
tência do mito da cordialidade brasileira, utilizada como importante que eles aprendam a desenvolver argumentos de
propaganda positiva dos costumes brasileiros e silencia- forma oral. Na etapa final da atividade de pesquisa, eles de-
mento de atos como racismo, intolerância e xenofobia, vem elaborar um texto escrito que será disponibilizado na in-
constantes no cotidiano do país. ternet, o que possibilita desenvolver a articulação de conheci-
mentos de texto e escrita com o uso das novas tecnologias de
comunicação e informação como espaço de divulgação e diá-
Práticas de pesquisa (Páginas 42 e 43)
logo. Práticas como essa desenvolvem habilidades escritas e
Nessa seção, pretende-se desenvolver nos estudantes as orais, bem como têm a potencialidade de auxiliar o indivíduo
habilidades e as práticas de pesquisa com base no método da na sua inserção no debate público de forma consciente, res-
revisão bibliográfica, ou seja, por meio do levantamento e da peitando o conhecimento científico consolidado e os direitos
análise daquilo que já foi produzido e divulgado a respeito do dos cidadãos.
tema selecionado. A proposta de trabalho desenvolvida nessa seção contribui
O Livro do Estudante já oferece algumas indicações de arti- para o desenvolvimento da CGEB6 e da CGEB7, das habilidades
gos e livros. Explique aos estudantes que existem plataformas EM13CHS502 e EM13CHS503 e de aspectos das habilidades
cujo conteúdo é oferecido de forma gratuita que podem ser EM13LGG704 e EM13CNT301.

208
Retomada
A seguir, apresentamos os principais conceitos trabalhados maneira se apropriaram desse conhecimento e as relações que
ao longo da unidade e suas relações. Você pode pedir aos estu- conseguiram estabelecer. Assim, é possível, ainda, identificar
dantes que montem os próprios mapas mentais de organização dúvidas e dificuldades dos estudantes em relação ao conteúdo
dos conteúdos estudados. Com isso, é possível perceber de que estudado e retomar ou aprofundar os conceitos necessários.

Escravização

Tráfico de escravizados Lei Áurea

Leis abolicionistas

Leis e
costumes de Pós-abolição
marginalização

Desigualdades Racismo
(Índices) estrutural

Luta antirracista

209
■ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enem)

Abolição da escravatura

1850 1871 1885 1888

Lei Eusébio de Queirós Lei do Ventre Livre Lei do Sexagenários Lei Áurea
(fim do tráfico (liberdade para os filhos (liberdade para os escravos (abolição da
negreiro) de escravos nascidos a maiores de 60 anos) escravatura)
partir dessa data)

Considerando a linha do tempo acima e o processo de abolição da escravatura no Brasil, assinale a opção correta.
a) O processo abolicionista foi rápido porque recebeu a adesão de todas as correntes políticas do país.
b) O primeiro passo para a abolição da escravatura foi a proibição do uso dos serviços das crianças nascidas em cativeiro.
c) Antes que a compra de escravos no exterior fosse proibida, decidiu-se pela libertação dos cativos mais velhos.
d) Assinada pela princesa Isabel, a Lei Áurea concluiu o processo abolicionista, tornando ilegal a escravidão no Brasil.
e) Ao abolir o tráfico negreiro, a Lei Eusébio de Queirós bloqueou a formulação de novas leis antiescravidão no Brasil.

Resposta: alternativa d.

Áurea feito o ouro da bandeira


2. (UFSC)
Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão? Fui rezar na cachoeira contra a bondade cruel

Compositores: Claudio Russo, Moacyr Luz, Dona Zezé,


Meu Deus! Meu Deus!
Jurandir e Aníbal – G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti (2018) Se eu chorar, não leve a mal

Irmão de olho claro ou da Guiné Pela luz do candeeiro

Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado Liberte o cativeiro social
Não sou escravo de nenhum senhor
Senhor, eu não tenho a sua fé, e nem tenho a sua cor
Meu Paraíso é meu bastião
Tenho sangue avermelhado
Meu Tuiuti, o quilombo da favela
O mesmo que escorre da ferida
É sentinela na libertação
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Sobre o processo do fim da escravidão e o período pós-abo-
Mas falta em seu peito um coração lição no Brasil, é correto afirmar que
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz 01) no começo do século XX, depois da abolição, as elites e
Eu fui mandinga, cambinda, haussá os poderes públicos passaram a combater hábitos e cos-
tumes da população afrodescendente brasileira, trans-
Fui um Rei Egbá preso na corrente
formando, por exemplo, a capoeira e as práticas
Sofri nos braços de um capataz religiosas africanas em ações criminosas.
Morri nos canaviais onde se plantava gente 02) o movimento abolicionista tomou definitivo impulso nos
centros urbanos e a agitação política dos clubes aboli-
Ê, Calunga, ê! Ê, Calunga! cionistas se articularia com o aumento das fugas já en-
Preto Velho me contou, Preto Velho me contou tre o fim da década de 1870 e o início da de 1880.
Onde mora a Senhora Liberdade 04) o governo imperial, em processo de abolição gradual
com a aprovação de leis como a do Ventre Livre (1871)
Não tem ferro nem feitor e a dos Sexagenários (1885), já havia conseguido que
Amparo do Rosário ao negro Benedito 95% dos cativos gozassem de liberdade quando foi as-
sinada a Lei Áurea (1888).
Um grito feito pele do tambor
08) tomados por ideias eugenistas, jornais de grande cir-
Deu no noticiário, com lágrimas escrito culação, já no período republicano, costumavam repre-
Um rito, uma luta, um homem de cor sentar a população negra brasileira negativamente,
repleta de estereótipos, o que dificultou sobremaneira
E assim, quando a lei foi assinada a construção de uma imagem positiva do negro na so-
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu ciedade brasileira.

210
16) apesar de ter sua história marcada por séculos de escravi- racismo. Nós nem cremos que escravos outrora. Tenha havido
dão, o Brasil é reconhecido internacionalmente como um em tão nobre País.... diz a certa altura, o Hino da República (1890),
país de “democracia racial”, fruto de um longo processo de de autoria de Medeiros Albuquerque (letra) e Leopoldo Miguez
investimento em políticas étnico-raciais de combate ao ra- (música). Não por acaso, o trecho costuma ser lembrado pelos
cismo. estudiosos da escravidão como testemunho de que o país se re-
32) a partir da Lei Eusébio de Queirós (1850) e com o incen- laciona mal com suas verdades incômodas sobre o racismo...”
tivo governamental à imigração europeia, o preço médio (Revista Veja, edição 2 557 de 22 de novembro de 2017, p. 79.)
de um cativo despencou pela falta de interesse por esse
tipo de mão de obra. A esse respeito, assinale a alternativa incorreta.
64) a igualdade política garantida pela Constituição de 1891 a) Em todos os indicadores de qualidade de vida e de parti-
fez com que muitos negros ascendessem a cargos ele- cipação na sociedade, a população preta e parda, resumi-
tivos, ajudando na construção de políticas de inclusão da, nas pesquisas do IBGE, no grupo de “negros” aparece
social como a de distribuição de terras e a de expansão em franca desvantagem em relação aos brancos, situação
da escolarização aos ex-escravizados. que pouco mudou na última década.
b) Uma das mais temidas formas de resistência contra a es-
Resposta: 01 + 02 + 08 = 11. cravidão no Brasil era a formação dos quilombos, comu-
nidades independentes de escravos alforriados.
3. (Enade) c) Os cultos religiosos negros atuaram como uma das for-
A ideia segundo a qual todo ser humano, sem distinção, me- mas de resistência étnica contra o branco colonizador e
rece tratamento digno corresponde a um valor moral. O pluralis- senhor das terras.
mo político, por exemplo, pressupõe um valor moral: os seres d) A visão distorcida sobre o peso da cor da pele no Brasil se
humanos têm o direito de ter suas opiniões, expressá-las e orga- formou, inicialmente, nos quase quatro séculos de escra-
nizar-se em torno delas. Não se deve, portanto, obrigá-los a si- vidão, depois no conjunto de atitudes que sucederam a
lenciar ou a esconder seus pontos de vista; vale dizer, são livres. sua abolição e, por fim, na falta de vontade geral de tirar
Na sociedade brasileira, não é permitido agir de forma precon- o racismo da sombra.
ceituosa, presumindo a inferioridade de alguns (em razão de et- e) Um certo avanço ocorrido no início dos anos 2000 contra
nia, raça, sexo ou cor), sustentando e promovendo a desigualda- o racismo brasileiro foi com relação às primeiras universi-
de. Trata-se de um consenso mínimo, de um conjunto central de dades que instituíram o sistema de cotas para negros.
valores, indispensável à sociedade democrática: sem esse con-
junto central, cai-se na anomia, entendida como ausência de re- Resposta: alternativa b.
gras ou como total relativização delas.
5. (Uerj)
Brasil. Ética e Cidadania. Brasília: MEC/SEB, 2007 (adaptado).
No último mês de janeiro, nas comemorações do Dia de Mar-
Com base nesse fragmento de texto, infere-se que a socie- tin Luther King, propagou-se, mais uma vez, a frase Black
dade moderna e democrática lives matter “Vidas negras importam”, que surgiu nos pro-
testos gerados pela morte de um jovem negro, em agosto
a) promove a anomia, ao garantir os direitos de minorias ét-
de 2014, na cidade norte-americana de Ferguson.
nicas, de raça, de sexo ou de cor.
A utilização dessa frase nas comemorações de 2015 aponta
b) admite o pluralismo político, que pressupõe a promoção
para uma contradição existente entre uma característica da
de algumas identidades étnicas em detrimento de outras.
ordem política norte-americana e um impedimento ao pleno
c) sustenta-se em um conjunto de valores pautados pela exercício dos direitos civis.
isonomia no tratamento dos cidadãos.
Essa característica e esse impedimento, respectivamente, são
d) apoia-se em preceitos éticos e morais que fundamentam
a) prevalência do republicanismo e existência de grupos pa-
a completa relativização de valores.
ramilitares.
e) adota preceitos éticos e morais incompatíveis com o plu-
b) legitimidade do associativismo e regulação dos movimen-
ralismo político.
tos populares.
Resposta: alternativa c. c) vigência do ideal democrático e permanência de desigual-
dades étnicas.
4. (UFRR) d) garantia da liberdade de manifestação e monitoramento
Uma verdade inconveniente: Ser negro no Brasil é conviver das redes sociais.
com o preconceito e a desigualdade. O silencio em torno desse
fato não ajuda em nada o país: precisamos, pois, falar sobre o Resposta: alternativa c.

211
Unidade
CIDADANIA
2 BRASILEIRA HOJE

INTRODUÇÃO
Essa unidade tem como tema central o conceito de cidadania no contexto brasileiro. Com base na constata-
ção do alto índice de desigualdade social no país, são analisados fatores históricos, políticos e socioculturais que
atuaram e atuam na produção dessa desigualdade. Além disso, são apresentadas experiências de atuação po-
lítica e social que buscam superar esse quadro.
No capítulo 4, a igualdade social é abordada como um princípio constitucional que, muitas vezes, não é res-
peitado, o que se pode observar a partir da constatação de que uma parcela considerável da população não des-
fruta de direitos básicos, enquanto poucos são altamente privilegiados e beneficiados pelo Estado. O capítulo 5
trata das lutas das minorias pela obtenção e manutenção de direitos civis, políticos e sociais básicos, apresen-
tando um histórico das conquistas mais relevantes e dando um panorama do que ainda precisa melhorar. Já no
capítulo 6, a luta dos povos tradicionais pela sobrevivência e pela conservação de suas culturas é discutida en-
quanto elemento fundamental para diminuir as desigualdades sociais no país.
Por trabalhar conceitos tradicionais das áreas de Sociologia e/ou Filosofia, recomenda-se que o desenvolvi-
mento do trabalho com os temas da unidade seja liderado por professores dessas disciplinas. No entanto, tam-
bém é possível uma interlocução dos temas com as demais áreas de humanidades, especialmente com a Histó-
ria. A todo momento, é necessário tomar cuidado para não reforçar estereótipos de qualquer tipo e trabalhar
para que os estudantes desenvolvam suas habilidades críticas sobre as questões em foco.

OBJETIVOS DA UNIDADE
• Compreender os elementos que atuaram e atuam para que o Brasil seja uma nação desigual e analisar ex-
periências históricas que buscaram a superação dessa situação.
• Reconhecer a existência de grupos sociais marginalizados e subrepresentados no Brasil e examinar suas si-
tuações, demandas e os princípios que defendem.
• Relacionar a desigualdade com a condição social de privação de direitos para uns e de benefícios e privilégios
para outros.
• Desenvolver um olhar crítico diante das demandas dos movimentos sociais e dos princípios constitucionais.

JUSTIFICATIVA
O debate da unidade permite aos estudantes reconhecer o que nos caracteriza como cidadãos, ou seja, a ga-
rantia de que temos direitos e deveres a cumprir em relação ao Estado. Contudo, na unidade, é demonstrado co-
mo a cidadania não é garantida plenamente no Brasil, visto que o país sofre com uma enorme desigualdade.
Dessa forma, as discussões propostas contribuem para aprimorar a compreensão dos estudantes sobre os mo-
tivos que ocasionam essa desigualdade.
Para que os estudantes compreendam esse quadro, a unidade possibilita a eles conhecer o que são privilé-
gios sociais, quem tem acesso a eles e quem não tem, bem como os mecanismos que condicionam esse acesso.
Relacionar e diferenciar esses grupos permite compreender os diferentes tipos de desigualdade que acometem
a população.
Um dos aspectos mais enfatizados nessa discussão é a forma como as desigualdades configuram o modo
de vida da população brasileira no presente e como elas estão relacionadas aos principais problemas do país.
Outro aspecto de bastante relevância nessa discussão é o papel dos movimentos de luta por direitos para com-
bater as desigualdades e promover uma sociedade justa e democrática.

212
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS DA
CAPÍTULO COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES
EDUCAÇÃO BÁSICA

CECHSA1: EM13CHS103 e EM13CHS106.


CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601 e EM13CHS605.
4 CGEB1, CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
CELT2: EM13LGG201 e EM13LGG202.
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406.

CECHSA1: EM13CHS103.
CECHSA5: EM13CHS501 e EM13CHS502.
CECHSA6: EM13CHS601 e EM13CHS605.
5 CGEB7, CGEB9 e CGEB10.
CELT2: EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG203 e EM13LGG204.
CELT3: EM13LGG301, EM13LGG303 e EM13LGG304.
CELT7: EM13LGG701, EM13LGG702, EM13LGG703 e EM13LGG704.

CGEB1, CGEB2, CGEB7, CGEB9 e CECHSA1: EM13CHS102 e EM13CHS104.


CGEB10. CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS601, EM13CHS604, EM13CHS605 e EM13CHS606.
CECNT1: EM13CNT104.
CECNT2: EM13CNT206.
6
CECNT3: EM13CNT309.
CELT3: EM13LGG303 e EM13LGG304.
CELT7: EM13LGG704 .
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS CAPÍTULO 4 IGUALDADE SOCIAL


OU PRIVILÉGIOS? (Página 46)
ABERTURA DE UNIDADE (Páginas 44 e 45)
O capítulo 4 introduz o tema da desigualdade social a partir da
A abertura da unidade permite uma reflexão inicial acerca do
constatação de seus efeitos na sociedade brasileira. Ele proble-
tema cidadania. É importante que os estudantes articulem seus
matiza o abismo social que há no país para, depois, caracterizar
conhecimentos prévios a respeito desse tema e que reflitam so-
quem são os privilegiados e como se constituíram dessa maneira
bre como o conceito de cidadania envolve uma relação de direi-
tos e deveres entre os cidadãos e o Estado. Pergunte aos estu- ao longo da formação da nação. Há, ainda, um debate sobre me-
dantes o que eles entendem e pensam sobre o que seria ritocracia e a aplicação desse conceito na prática social brasileira.
responsabilidade do cidadão e o que seria responsabilidade do
Estado nessa relação. Igualdade social ou privilégios? (Página 46)
A partir dessa discussão inicial, também é possível introduzir A abertura do capítulo busca aprofundar o debate sobre as
o tema da desigualdade social no Brasil. Se julgar pertinente, consequências da desigualdade social no Brasil. A imagem des-
mobilize essa discussão com base nas seguintes perguntas: O
sa página e as atividades estimulam os estudantes a refletir so-
Estado brasileiro cumpre com suas responsabilidades perante
bre as fissuras da democracia, por meio da comparação dos lu-
a população? Por quê?
gares sociais de grupos marginalizados e privilegiados,
Organizar ideias introduzindo, dessa forma, a temática da discrepância do aces-
so aos bens materiais e simbólicos.
1. Resposta pessoal. Para responder a essa questão, espera-se
A discussão proposta comenta a lógica argumentativa da ideo-
que os estudantes mobilizem seus conhecimentos prévios
logia da meritocracia, que defende que o esforço individual seria
acerca da ausência de políticas reparadoras após a abolição
da escravidão, bem como dos demais mecanismos que difi- a chave para obter o sucesso e a autorrealização. Nesse sentido,
cultem que determinados grupos e indivíduos tenham pleno uma questão a ser levantada é: Faz sentido falar em mérito quan-
acesso à cidadania. do as condições de realização são desiguais, privilegiando uns
em detrimento de outros?
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam
que a ação dos movimentos sociais foi (e ainda é) fundamen- Uma boa maneira de conduzir a discussão é explorar os ar-
tal para pressionar os governos para a criação e a manuten- tigos da Constituição de 1988 sobre a igualdade entre brasilei-
ção de dispositivos legais que façam com que os direitos ros e estrangeiros residentes no país e debater se essas premis-
sociais sejam distribuídos de maneira igualitária a todos os sas constitucionais são realizadas na prática. Em outras palavras,
segmentos da população. nossa sociedade é, de fato, igual perante a lei?

213
Sugestão para o professor Essa discussão mobiliza as habilidades EM13CHS103 e
EM13CHS106, pela análise de informações de diversas lingua-
Artigo
gens (gráfico, tabela e texto) que diagnosticam a desigualdade
» Nogueira, Cláudio Marques Martins; Nogueira, Maria Alice. A no Brasil como uma mazela social histórica. Além disso, tam-
sociologia da educação de Pierre Bourdieu: limites e contri- bém pode colaborar com o desenvolvimento de aspectos das
buições. Educação & Sociedade, v. 23, n. 78, Campinas, abr. habilidades EM13MAT102 e EM13MAT406.
2002. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S0101-73302002000200003. Acesso em: 13 abr.
2020. Fissuras sociais (Página 48)
As reflexões sobre o tema desigualdade social podem ser Explore a leitura do poema com os estudantes e debata so-
aprofundadas nesse artigo, que traz assuntos como a rela- bre seu conteúdo e sua forma. Para isso, peça a um estudante
ção entre herança familiar (cultural) e desempenho escolar e que o leia em voz alta. Essa primeira leitura do texto permitirá a
o papel da escola na reprodução e legitimação das desigual- realização da atividade do boxe Interação.
dades sociais. É importante apresentar aos estudantes quem é Conceição
Evaristo. Escritora negra contemporânea, nasceu em uma co-
munidade em Belo Horizonte e trabalhou como empregada do-
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES méstica até concluir a Educação Básica, próximo aos seus 25
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes possam ve- anos. Depois de passar em um concurso para magistério, seguiu
rificar que, da mesma maneira que ocorre na sociedade bra- a carreira acadêmica e se tornou mestre e doutora em literatura.
sileira, onde certos indivíduos e grupos têm mais condições Começou a escrever aos 50 anos de idade e hoje figura como
de acesso a bens e serviços do que outros, não há condições uma das escritoras brasileiras mais influentes.
iguais aos dois indivíduos representados nessa imagem. Discutir o poema de Conceição Evaristo pode auxiliar no de-
senvolvimento de aspectos das habilidades EM13LGG201 e
2. A imagem faz alusão ao acesso a bens e serviços ofereci-
EM13LGG202.
dos aos diversos indivíduos e grupos que compõem a po-
Uma forma de problematizar o conteúdo desse tópico é ques-
pulação. Enquanto o acesso a esses bens e serviços é
tionar os estudantes sobre o seu título: O que seria uma fissura
facilitado para alguns – representados, na imagem, pelo
social? Essa ideia, que é próxima do sentido de abismo social,
indivíduo que ocupa o patamar mais alto e para quem es-
mostra como há uma profunda distância entre os diversos gru-
tá à disposição uma escada cujos degraus podem ser fa-
pos sociais brasileiros.
cilmente escalados –, para outros, ele é dificultado ou até
A desigualdade social tem raízes no contexto da colonização
mesmo negado – representados, na imagem, pelo indiví-
brasileira. Os estudantes devem compreender como as desigual-
duo que ocupa o patamar mais baixo, em relação ao ante-
dades são produzidas por processos sociais de subjugação e
rior, e para quem está à disposição uma escada cujos
depreciação. Essa análise permite a mobilização da habilidade
degraus são muito altos e, por isso, difíceis, senão impos-
EM13CHS503.
síveis, de serem escalados.

Boxe Interação
Panorama da desigualdade (Página 47) 1. Espera-se que os estudantes identifiquem a trajetória histó-
Esse tópico amplia a discussão iniciada na página 46 sobre rica das mulheres negras no Brasil por meio da poesia de
as desigualdades na democracia brasileira. Os dados apresen- Conceição Evaristo, que retoma a escravização de suas an-
tados evidenciam que alguns grupos sociais não têm acesso aos cestrais, a marginalização social de sua mãe, que prestava
direitos considerados básicos, enquanto outros têm vantagens serviços domésticos às classes mais privilegiadas, até chegar
e privilégios. ao presente e refletir sobre sua condição de mulher negra e
Explore as informações do gráfico com os estudantes, rela- escritora, perplexa diante do atual racismo estrutural, mas
cionando seu conteúdo com o conteúdo do texto. Dois fenôme- que deposita sua esperança nas novas gerações para o re-
nos importantes de trabalhar são o fato de que a maioria dos conhecimento de sua mobilização política, suas lutas e suas
residentes em domicílios particulares ganha até 1 salário míni- conquistas.
mo e o contraste desses números quando comparadas as re-
giões Norte e Nordeste com as regiões Sudeste, Sul e Centro-
-Oeste do país. Como nascem os privilégios? (Página 49)
Pela constatação da desigualdade de renda do país, pode-se O objetivo central desse tópico consiste na definição do con-
deduzir que o país também apresente uma desigualdade de ceito de privilégio e na reflexão sobre como ele é construído na
acesso aos meios de ascensão social. Deve-se frisar aos estu- prática social. Na definição, é indispensável demarcar claramen-
dantes que constatar a desigualdade de um país não significa te as diferenças entre as vantagens materiais e/ou simbólicas
concluir que ele seja pobre, mas que as riquezas não são distri- dos privilégios.
buídas igualmente, e disso derivam as situações em que peque- Assim como a desigualdade social, os privilégios também
nos grupos concentram a maior parte dessas riquezas, enquan- têm uma história que remete ao processo colonizador do Brasil.
to grupos bem mais numerosos vivem em situação de pobreza. Esse é um bom momento para discorrer sobre os diversos povos
Explique aos estudantes o que significa a mobilidade social que constituíram a população brasileira e como cada um parti-
e como, no Brasil, essa mobilidade é baixa, tendo como referên- cipou no processo de povoamento do país.
cia as informações trabalhadas até aqui: o direito básico social O caráter histórico dos privilégios está expresso também na
(educação, saúde, trabalho, proteção social, etc.) não é assegu- hereditariedade dos privilégios. Explique que não é incomum
rado de maneira igualitária aos brasileiros, portanto não há ga- que membros das classes mais privilegiadas descendam de eli-
rantia de igualdade social e, por consequência, as possibilidades tes coloniais, enquanto os desfavorecidos remetem aos negros,
de ascensão social são baixas. indígenas ou brancos pobres.

214
Apesar do ideal iluminista de igualdade universal e da pro- Mediante essa constatação, incentive os alunos a refletir se
clamação dos direitos humanos, nem todos os seres humanos o estabelecimento da igualdade como princípio constitucional é
podem gozar dessa igualdade. Comente com os estudantes co- suficiente para garantir a igualdade efetiva, na prática social,
mo a classe burguesa se beneficiou dos ideais iluministas para entre todos os indivíduos e grupos da população.
ascender ao poder e conservou-se nele pela manutenção de A discussão a respeito da construção dos privilégios no Bra-
privilégios sociais. sil e os seus efeitos na sociedade atual é propícia para o desen-
Nessa etapa, são trabalhadas as habilidades EM13CHS601 volvimento da CGEB1.
e EM13CHS605, por elaborar-se de forma crítica um debate so-
bre a desigualdade que atinge as minorias brasileiras e sua re-
Quem são os privilegiados da atual
lação com o ideal global de igualdade.
sociedade brasileira? (Página 51)
Boxe Para explorar Ao nos perguntarmos sobre quem seriam aqueles que
hoje são dotados de privilégios, é provável que a imagem
O jogo do privilégio branco foi desenvolvido pelo Instituto
que nos surja à mente seja a de um homem branco, finan-
Identidades do Brasil e elaborado com base em reflexões acer-
ceiramente bem-sucedido e pai de família. É importante ex-
ca da forma como o acesso a certos locais sociais é determinado
plicar aos estudantes o porquê disso, relacionando esse tipo
por condições prévias, como origem, cor, gênero, sexualidade,
ideal às hierarquias estruturadas no passado pelos colonos
situação econômica, etc. Seu uso em sala de aula pode contri-
europeus.
buir para a conscientização dos estudantes a respeito dos pró-
É indispensável reforçar aos estudantes a diferença entre os
prios privilégios sociais, bem como da ausência deles.
privilégios materiais, e como eles são mantidos pela herança, e
os privilégios simbólicos, transmitidos pela cultura, que ainda é
Atividade complementar fortemente influenciada por valores das classes mais privilegia-
Se julgar pertinente, realize esse jogo com os estudantes, co- das. Trabalhe essa diferença refletindo sobre como os valores
mo forma de ampliar suas percepções acerca da existência e do éticos e estéticos no Brasil são derivados das tradições euro-
significado de privilégios sociais. peias, enquanto elementos culturais de outras matrizes são,
Antes de jogá-lo, é importante evidenciar que não se trata de muitas vezes, desvalorizados no país.
um jogo para ganhar ou perder, mas sim para trazer uma refle- Dentre todos os obstáculos possíveis para a ascensão so-
xão e uma conscientização a respeito das facilidades e dificul- cial, a falta de acesso à educação é talvez o mais crítico. Orien-
dades vivenciadas por diferentes grupos e indivíduos. te os estudantes a refletir sobre como a educação pode ser
Prepare previamente o local em que o jogo será realizado, um meio de reduzir a desigualdade quando todos, de fato,
utilizando fita adesiva ou giz para demarcar o espaço no qual os têm acesso a uma educação de qualidade. Nesse ponto, é re-
alunos se deslocarão. comendado assistir aos vídeos indicados no boxe Para Explo-
Caso deseje tornar o jogo mais complexo, é possível acres- rar, especialmente o vídeo de José Vicente sobre educação
centar questões que avaliem outras formas de privilégios, como contra o racismo.
as de gênero, sexualidade, origem, etc. De quem é a responsabilidade pela colonização? Essa ques-
Como alternativa, o jogo pode ser realizado individualmente, tão deve ser trabalhada com cuidado, uma vez que é possível
em folhas de papel. Nesse caso, em vez de passos, os alunos cair em uma lógica culpabilizadora. É importante salientar que,
contabilizam pontos, que serão somados no final do jogo. hoje, ninguém é culpado pelos eventos e processos históricos
do passado. Apesar disso, é importante reconhecermos que es-
ses eventos e processos são responsáveis pelo cenário atual,
Os privilégios no Brasil (Página 50) com o qual podemos e devemos nos ocupar, reconhecendo a
Retome o debate do início do capítulo sobre os artigos da existência de desigualdades e privilégios e buscando formas de
Constituição que tratam da igualdade. construir uma sociedade mais justa e igualitária.
Discuta com os estudantes as semelhanças e diferenças Comente com os estudantes que devemos reivindicar direitos
entre os significados atribuídos ao ideal de igualdade no pas- para todos e exigir a garantia desses direitos pelo Estado, pois
sado e no presente, chamando a atenção para o modo como essa ação é uma forma de exigir reparação. Lance a seguinte per-
esse ideal desconsiderava a população negra no Brasil entre gunta aos estudantes: Que tipo de reparação nós podemos exi-
os séculos XVIII e XIX. gir? Diga a eles que um bom exemplo de reparação é o sistema
Reflita com os estudantes sobre o conceito de igualdade na de cotas adotado por universidades federais.
atualidade e questione-os: Será que, quando pensamos em
igualdade hoje, realmente estamos considerando todos os indi- Boxe Para explorar
víduos e grupos da sociedade? O conteúdo dessa plataforma pode ser utilizado para abor-
Aborde os mecanismos que continuaram a excluir a popula- dar a interseccionalidade entre os movimentos negros, feminis-
ção negra do pleno acesso à cidadania mesmo após a abolição tas e LGBTQI+, evidenciando a importância da união entre gru-
da escravidão: a Lei de Terras, a preferência ao emprego de mão pos e indivíduos marginalizados e da reflexão coletiva acerca
de obra de imigrantes, o voto censitário, entre outros. das diversas formas de privilégios sociais.
Evidencie como esses mecanismos ocasionaram prejuízos à
população negra, bem como a outros indivíduos e grupos, pro-
piciando a construção de uma sociedade na qual apenas alguns Meritocracia (Página 52)
indivíduos e grupos são privilegiados. Para abordar o conceito de meritocracia, esclareça que ela
Chame a atenção dos estudantes para a ausência de políti- pode ser definida como um sistema que supõe mecanismos
cas reparadoras a esses prejuízos e a forma como essa ausência de avaliação e acesso em que os indivíduos são avaliados
está diretamente associada à marginalização desses indivíduos pelo seu desempenho pessoal. Essa ideia, no entanto, se ba-
e grupos na atualidade. seia em uma suposta igualdade entre todos os indivíduos,

215
mas, na prática, ela permite que determinados indivíduos se- 2. Resposta pessoal. Essa atividade retoma os conteúdos es-
jam privilegiados, por suas condições prévias, em detrimen- tudados até o momento, propondo uma reflexão acerca dos
to de outros. mecanismos que reforçam as desigualdades sociais, bem
Além do exposto anteriormente sobre a meritocracia, é im- como sobre as formas de superá-las. Os estudantes devem
portante delimitar como a meritocracia também implica um refletir sobre novas propostas para diminuir ou eliminar di-
olhar que aclama o sucesso e despreza o fracasso, basean- versas formas de desigualdades sociais.
do-se na ideia de que o mérito individual deve ser critério de
avaliação social. Atividades (Páginas 54 e 55)
O tópico abre espaço para explorar a charge criticamente.
1. a) O gráfico apresenta uma média nacional de renda e mos-
É interessante apresentá-la aos estudantes tratando de con-
tra a existência de uma grande parcela da população que
textualizá-la e questionando sobre o sentido do humor dela,
sobrevive com um salário mínimo ou menos, enquanto uma
para refletir sobre quais pessoas defendem esse tipo de me-
fatia menor concentra uma renda de mais de dois salários
ritocracia, por exemplo.
mínimos, o que é um grande indicativo de desigualdade, em
O posicionamento crítico exigido nessa etapa contribui para razão da forma como a renda é distribuída no país.
o desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13CHS501
b) As regiões com maiores disparidades são o Nordeste e o
e EM13CHS502.
Norte. Enquanto no Nordeste 49,9% da população vive com
menos de um salário mínimo por mês, apenas 7,7% da po-
É possível pensar em meritocracia pulação desfruta de uma renda maior do que dois salários
no Brasil? (Página 53) mínimos. No Norte, 48,1% recebe menos de um salário míni-
mo e 7,8% concentra mais de dois salários mínimos. Nessas
É possível medir as pessoas por seus êxitos em condições
regiões, há predominância de áreas rurais e trabalho agríco-
tão adversas e desiguais? Esse tópico permite consolidar o de-
la, e as possíveis razões para essas disparidades são falta de
bate desenvolvido desde o início do capítulo, retomando as se-
estrutura governamental para fiscalizar as relações de tra-
guintes ideias:
balho e escassez de serviços básicos como saneamento, hos-
• dados comprovam que o Brasil é um país desigual; pitais e escolas, além da existência de poucas empresas
• existe uma enorme dificuldade na superação das desigual- instaladas e possibilidades de empregos formais.
dades no Brasil; 2. O estudo do Fórum Econômico Mundial examinou áreas con-
• os privilégios das elites brasileiras são antigos e se vinculam sideradas fundamentais para a promoção de mobilidade so-
às estruturas sociais herdadas do colonialismo; cial e igualdade entre os cidadãos: saúde, educação,
tecnologia, trabalho e proteção social. Para o Brasil melhorar
• a manutenção dos privilégios inibe o desenvolvimento social sua posição nesse ranking, seria necessário promover gran-
dos desprivilegiados.
des investimentos em educação pública de qualidade, equa-
A constatação desses dados pode suscitar uma reflexão acer- lizando as potencialidades de pobres e ricos, além de ampliar
ca da validade do emprego de mecanismos meritocráticos como o mercado de trabalho e estimular a igualdade de oportuni-
forma de acesso a determinados espaços da sociedade em uma dades por meio de políticas públicas direcionadas a grupos
sociedade tão desigual como a brasileira. historicamente marginalizados.
Desenvolva com os estudantes a discussão de como a meri-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam so-
tocracia se baseia em uma visão de mundo individualista, que
bre os processos históricos que produziram os privilégios e
não enxerga a importância da vida em comunidade e não com-
promoveram as desigualdades sociais no país. Nesse senti-
preende que toda situação de bem-estar depende do trabalho
do, é importante que eles reconheçam que, apesar dos es-
conjunto. forços individuais, existem estruturas sociais, econômicas,
políticas e culturais que reforçam essas desigualdades e que,
Boxe Ação e cidadania portanto, os esforços individuais, apesar de importantes, não
O conteúdo desse boxe contribui para uma reflexão aprofun- são suficientes para desconstruir o panorama de desigual-
dada acerca da relação entre privilégios sociais e o conceito de dade no país.
meritocracia, levando em consideração a realidade da sociedade 4. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam so-
brasileira. bre a necessidade de garantir a igualdade de direitos e opor-
As questões propostas visam provocar uma reflexão sobre tunidades para que os indivíduos possam ser selecionados,
o ponto de partida ocupado por cada segmento da sociedade, avaliados e recompensados por seus esforços e méritos pes-
chamando a atenção para o fato de que fatores como cor, gêne- soais. Em sociedades desiguais, marcadas pela exploração
ro, orientação sexual, entre outros, colocam cada segmento da de determinados grupos marginalizados historicamente, in-
sociedade em posições diferentes, que podem facilitar ou difi- serir a adoção de um único modelo de inclusão e ascensão
cultar sua trajetória. Em decorrência disso, essa discussão pode social tende a aprofundar ainda mais as disparidades eco-
contribuir para mobilizar a CGEB7, a CGEB9 e a CGEB10. nômicas, políticas e sociais.
1. Resposta pessoal. Essa atividade incentiva os estudantes 5. Os dados revelam que, embora as pessoas autodeclaradas
a apontar os obstáculos vivenciados por diferentes grupos negras e pardas no Brasil sejam a maioria da população, sua
sociais, como dupla jornada de trabalho, acúmulo de fun- representatividade em cargos políticos é baixa, o que signi-
ções e tarefas domésticas, racismo estrutural, falta de aces- fica que suas pautas e suas reivindicações encontram pouco
so aos direitos básicos, entre outros. Espera-se que os respaldo na estrutura legislativa do país.
estudantes reconheçam que a posição de cada indivíduo 6. Ao ocupar cargos de comando, as minorias políticas teriam
representado na imagem, bem como os obstáculos que eles mais possibilidades de inserir e representar suas pautas, am-
enfrentarão em sua trajetória, relacionam-se ao segmento pliando a democracia ao pluralizar os diálogos e estabelecer
social ao qual pertencem. projetos inclusivos que fossem além da manutenção dos

216
interesses e dos privilégios das elites brancas do país. Um sem levar em consideração condições prévias, como poder eco-
Congresso dominado por uma elite masculina branca tende nômico, status, relações familiares ou pessoais, entre outras.
a legislar conforme suas demandas de classe. Já um Con- 3. Porque, do ponto de vista teórico, as sociedades modernas
gresso plural, com brancos, negros, indígenas, mulheres e são organizadas com base no princípio de igualdade entre
representantes da comunidade LGBTQI+, por exemplo, am- todos os indivíduos que as compõem. Entretanto, na prática
pliaria as pautas de discussão e inclusão no Brasil. social, as desigualdades sociais impossibilitam que todos os
7. A presença de minorias políticas na mídia e em cargos de indivíduos e grupos tenham acesso de maneira igualitária
gestão contribui para a quebra de padrões sociais que co- aos mesmos privilégios sociais. Dessa forma, outros critérios
locam negros em papéis subalternos e desvalorizam fenó- podem se sobrepor à avaliação de desempenho individual.
tipos relacionados à negritude, assim como a representação
4. Não, pois as desigualdades sociais criam um desequilíbrio
de mulheres em papéis de comando colabora para a supe-
no desempenho dos indivíduos, fazendo com que pessoas
ração da estrutura patriarcal, que inferioriza suas capacida-
socialmente mais privilegiadas obtenham vantagens de ava-
des intelectual e pragmática.
liação em relação a indivíduos menos privilegiados.
8. Atividade de pesquisa. Nessa proposta, os estudantes vão
5. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes expressem
aprofundar seus conhecimentos sobre as políticas sociais
suas opiniões a respeito da legitimidade de sistemas meri-
reivindicadas há tempos pelos movimentos negros e os efei-
tocráticos, levando em consideração os privilégios sociais de
tos dessas políticas para a equalização social no Brasil. Para
diferentes segmentos da sociedade.
auxiliar os estudantes na pesquisa, sugira a consulta ao ar-
tigo O longo combate às desigualdades sociais, disponível
em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option= CAPÍTULO 5  A BUSCA PELA IGUALDADE
com_content&view=article&id=2674:catid=28&Itemid=23;
(Página 58)
acesso em: 24 abr. 2020.
9. Resposta correta: alternativa e. O segundo e o último versos O capítulo trata da busca pela igualdade a partir da luta dos
reproduzidos podem ser tomados como exemplos na abor- movimentos negros e do feminismo. Nele, são abordados os
dagem sobre as desigualdades sociais. desdobramentos das desigualdades relacionadas a cor e gêne-
ro, bem como possíveis meios para superar essa situação. Para
10. Resposta correta: alternativa c. Apesar de não terem anali-
isso, o capítulo apresenta as políticas afirmativas e a produção
sado todos os conceitos abordados pela questão, os estu-
de leis e instituições contra a desigualdade social e civil.
dantes podem deduzir alguns dos sentidos por meio da
análise que fizeram sobre o Sistema Único de Saúde e so- A busca pela igualdade (Página 58)
bre algumas características do estado de bem-estar social.
O objetivo do conteúdo dessa página é abordar, por meio de
11. Resposta correta: alternativa d. O trecho aborda justificati-
textos e imagens, a intersecção dos movimentos por igualdade
vas para as Reformas de Base, plataforma de governo de
racial e de gênero e discutir sua importância na problematização
João Goulart, conhecido como Jango.
das estruturas machistas e racistas no país. Se considerar inte-
12. Resposta correta: alternativa c. O texto discorre sobre a Lei ressante, solicite aos estudantes que pesquisem outros poemas
de Terras de 1850, que dificultava o acesso democrático à feitos por jovens em slams que tratem desses temas, ou escolha
terra, contribuindo, assim, para a concentração fundiária. alguns para trabalhar com eles. Peça aos estudantes que leiam
13. Resposta correta: alternativa a. Apesar de o conjunto de em voz alta esses poemas e manifestem sentimentos, dúvidas
placas exibido na charge apresentar diversas pautas an- e sensações sobre eles.
tidemocráticas, duas delas (“Fechem as mesquitas” e “Ex- O conceito de minoria deve ser apresentado e explicitado pa-
pulsão dos imigrantes”), em especial, reforçam o caráter ra os estudantes, tendo em vista que o termo é mencionado e
nacionalista e protecionista mencionado na alternativa a trabalhado ao longo do capítulo. Explique aos estudantes que
dessa questão. o termo “minoria”, apesar de indicar um sentido de pouco nume-
roso, se refere, nesse contexto, a grupos que constituem uma
Ampliando (Páginas 56 e 57) maioria em relação a termos numéricos. Esses grupos são assim
denominados em razão de sua subrepresentação política e de
A seção propõe uma reflexão sobre igualdade e desempenho suas desvantagens sociais no que se refere à posse e aos exer-
com base em um texto da antropóloga Lívia Barbosa. A ideia cícios de poder na sociedade.
central é que não é possível avaliar o desempenho de indivíduos As minorias integram os grupos distintos que lutam por di-
que tiveram origens e pontos de partida distintos. reitos, ou porque esses direitos ainda não foram reconhecidos
O modelo tradicional do vestibular no Brasil é tido por muitos ou porque eles existem nas leis, mas não são cumpridos pelas
como um exemplo de avaliação que não leva em conta as desi- instituições do Estado.
gualdades. Debata com os estudantes as possibilidades de uma O trabalho com o conteúdo dessa página, a partir da poesia
avaliação que levasse em conta as diferentes formações e a de- Preta, liberte-se!, pode contribuir para a mobilização de aspec-
sigualdade social e que, assim, pudesse avaliar de maneira mais tos das habilidades EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG203
justa as capacidades do indivíduo. e EM13LGG204.

RESPOSTAS ÀS QUESTÕES RESPOSTAS ÀS QUESTÕES


1. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a relacionar o que 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam
entendem por meritocracia com o conteúdo discutido nas criticamente sobre seu cotidiano e suas vivências pessoais
páginas 52 e 53 do capítulo. para perceber aspectos ligados ao machismo e ao racismo.
2. Para a autora, a igualdade é o pressuposto que permite que o O objetivo dessa questão é sensibilizá-los com relação
desempenho individual possa ser avaliado como critério único, às demandas da população negra e das mulheres na

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sociedade brasileira, partindo de suas experiências prévias Uma forma interessante de tratar dos grupos minoritários,
e opiniões. especialmente dos movimentos negros, é trabalhando a produ-
2. Respostas pessoais. O objetivo é despertar a empatia dos ção cultural desses grupos. Um exemplo é o Bando de Teatro
estudantes em relação aos sentimentos e às vivências des- Olodum, criado em 1979, em Salvador (BA). Esse grupo sempre
critos no poema, que, além de mencionar questões ligadas retratou esteticamente os conflitos inerentes à vida dos negros
ao preconceito, trata da construção da identidade dos jovens soteropolitanos.
de modo geral.
Sugestão para o professor
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
que Danielle Almeida narra, de diferentes maneiras, situa- Site
ções em que sofreu com o racismo e o machismo em sua in- » Abdias do Nascimento e Ruth de Souza. Enciclopédia Itaú
fância e como, ao entrar em contato com o movimento negro Cultural. Disponíveis em: https://enciclopedia.itaucultural.org.
e com o feminismo, modificou sua visão por meio do empo- br/pessoa359885/abdias-nascimento e http://enciclopedia.
deramento e da problematização de estereótipos preconcei- itaucultural.org.br/pessoa349507/ruth-de-souza. Acessos
tuosos que lhe foram impostos. em: 23 abr. 2020.
Os links disponibilizam, respectivamente, os perfis de Abdias
Sugestão para o professor do Nascimento e Ruth de Souza, nos quais é possível conhe-
Vídeo cer um pouco mais sobre suas vidas e verificar a importância
da militância política de ambos por meio de suas atuações
» Slam da Guilhermina. Disponível em: www.youtube.com/
channel/UCm3LjEJzzPOh5yxUGbGXEnA. Acesso em: 23 no teatro, por exemplo.
abr. 2020.
O grupo Slam da Guilhermina é um dos mais reconhecidos Políticas afirmativas (Página 61)
na cidade de São Paulo. No link, é possível encontrar diver- O conceito de política afirmativa deve ser trabalhado com
sos vídeos dos encontros e saraus do grupo cujos temas ex- atenção, garantindo o entendimento de que se trata de uma po-
põem as questões das lutas das minorias. É recomendável lítica pública que atua para favorecer grupos historicamente
que os estudantes assistam a vídeos de slams para entrar marginalizados no sentido de diminuir os prejuízos dessa mar-
em contato com essa manifestação artística. ginalização e fornecer meios para que exista um mínimo de si-
metria em relação a indivíduos e grupos privilegiados.
Investigando as resistências: panorama O tópico traz alguns exemplos de políticas afirmativas que
devem ser explorados, considerando sua relevância atual. Uma
da Primeira República (Página 59) delas é o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena
Se considerar oportuno, retome brevemente com os es- nas escolas, como forma de nos aproximar dessas culturas tão
tudantes os conceitos de democracia e cidadania, fazendo pouco divulgadas e respeitadas. Outro exemplo é a Lei de Cotas,
uma comparação entre o que esses conceitos significavam que tem a função de aumentar o contingente de minorias no
no passado (na Antiguidade clássica, por exemplo) e o que Ensino Superior.
significam atualmente. Incentive os estudantes a identificar
as diferenças e as semelhanças entre esses conceitos com Atividade complementar
o passar do tempo.
Para aprofundar essa discussão, proponha aos estudantes
Também é possível analisar outras revoltas e reivindicações
uma pesquisa sobre a Lei de Cotas, sua proposta, sua criação e
populares durante a Primeira República, com o intuito de levan-
seus resultados, promovendo, em seguida, um debate. É impor-
tar diferentes demandas da população negra e das classes so-
tante lembrá-los de que, para o debate ser produtivo e demo-
ciais mais baixas durante esse período.
crático, é necessário que uns escutem os outros e ajam entre si
Esse tópico fornece alguns exemplos para tratar da desigual-
com empatia e respeito, principalmente em relação ao posicio-
dade do país: a Revolta da Chibata, que lutava pela igualdade
namento de cada colega. Em seguida, solicite a eles que ano-
social de tratamento dos marinheiros negros; o combate ao mo-
tem no caderno os dados pesquisados e suas conclusões sobre
nopólio do voto, que lutava pela igualdade política; revoltas e
o tema.
revoluções que lutavam pela igualdade civil, etc.
Os estudantes devem ser capazes de identificar e analisar o
panorama da luta negra e seu histórico de opressão, desenvol- Boxe Reflexão
vendo as habilidades EM13CHS601 e EM13CHS605. O boxe traz algumas narrativas de pessoas que conseguiram,
de certa forma, ascender socialmente pela utilização das políti-
cas de cotas, mas que também sofreram preconceito nesse pro-
A cidadania para a população cesso por utilizarem tal sistema. As histórias descrevem clara-
negra (Página 60) mente o funcionamento, mesmo que limitado, de uma forma de
Esse tópico apresenta um breve panorama histórico e social superação da desigualdade e suas dificuldades. Os depoimentos
do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Teatro Experimental também mostram como o racismo é uma realidade que está
do Negro (TEN), as pautas que defendiam e os grupos políticos sempre presente e parece atuar de maneira mais brutal quando
ou artísticos que participaram ou derivaram deles. se luta contra ele. É importante entender que tudo não se resol-
Comente sobre a vida de Abdias do Nascimento e, especial- ve apenas com uma medida e que ela, provavelmente, apresen-
mente, do periódico antirracista Quilombo. Auxilie os estudantes tará problemas. Apesar disso, uma política afirmativa é sempre
na busca por matérias ou conteúdos abordados no jornal e na capaz de produzir avanços.
análise deles, tendo em vista a nossa realidade atual e o pano- As atividades propostas nesse boxe podem contribuir para
rama do racismo hoje. Leve em conta os sites indicados na su- o trabalho com a CGEB7, a CGEB9 e a CGEB10, bem como com
gestão a seguir. as habilidades EM13LGG301, EM13LGG303 e EM13LGG304.

218
1. O Ensino Superior representa um espaço historicamente ne- eles considerem os processos educacionais vivenciados por me-
gado ou dificultado à população negra e pobre. Nesse senti- ninas e meninos na família, na sociedade e na escola. Estimule-os
do, o acesso a esse espaço, por meio de políticas afirmativas, a pensar criticamente sobre o tema e posicionar-se em relação
como as cotas, contribui para a presença dessa parcela da aos estereótipos femininos e masculinos em nossa sociedade.
população nesse espaço e para melhores oportunidades no Problematize com os estudantes a questão “O que é uma mu-
mercado de trabalho. lher?”, chamando a atenção para os estereótipos de gênero que
2. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes perce- são atribuídos às mulheres, de forma a desnaturalizá-los.
bam que nem todos são a favor das cotas e que isso pode Diferencie, segundo a perspectiva de Beauvoir, uma mulher
ocasionar situações de preconceito. É importante também de uma fêmea e delimite como o feminino é fruto de uma cons-
que identifiquem a importância desse tipo de política afir- trução sociocultural que engloba o dado biológico, mas não se
mativa para a construção de uma sociedade mais justa e reduz a ele.
igualitária. Como possibilidade de ação para modificar essa Ressalte como Beauvoir considerava o feminino o segundo
realidade, os estudantes podem mencionar a importância sexo, no sentido de o gênero masculino ser, muitas vezes, em
de se posicionarem de forma empática, propondo maneiras nossa sociedade, considerado o padrão social, a norma ou o “pri-
criativas e críticas de coibir manifestações e posicionamen- meiro sexo”, de modo que a mulher seria algo como o outro, a
tos racistas. Se considerar interessante, proponha aos es- alteridade. Ressalte o papel dos estereótipos de gênero para
tudantes que escolham uma universidade federal presente essa forma de hierarquização. Essa discussão trabalha aspectos
no estado em que vivem e façam uma pesquisa para veri- da habilidade EM13CHS103.
ficar os resultados acadêmicos e sociais obtidos após a ado- O processo de reprodução social, também chamado de pro-
ção da política de cotas. cesso de subjetivação, nos faz ser quem somos. Com base nisso,
a imagem da mulher que foi criada e que é reproduzida cultu-
Sugestão para o professor ralmente nas sociedades machistas a caracteriza como uma fi-
Artigo gura inferior ao homem.
É importante mostrar como essa imagem é transmitida so-
» américo, Márcia Cristina. Formação de professores para a
cialmente pelo processo de aculturamento. Peça aos estudantes
implementação da Lei 10 639/2003: o ensino da história
que criem uma lista com exemplos de diferenças na educação de
e cultura afro-brasileira e indígena no currículo escolar.
meninos e meninas e expliquem como isso forma quem somos.
Disponível em: www.portaldeperiodicos.unisul.br/index.
php/Poiesis/article/view/1540. Acesso em: 23 abr. 2020. Essa lista deve evidenciar como estruturas sociais machistas
e patriarcais fazem com que as mulheres sejam, muitas vezes,
Esse artigo trata da Lei n. 10 639/2003 e das mudanças aca-
educadas para a vida doméstica e instigadas ao desenvolvimen-
dêmicas decorrentes dessa normatização.
to da sensibilidade, enquanto caberia aos homens o monopólio
das atividades físicas e da violência.
Feministas e a emancipação feminina Esclareça que uma das principais pautas do feminismo é a
(Página 62) contestação das hierarquias sociais que subordinam as mulhe-
Esse tópico traz uma abordagem histórica que embasa o con- res aos homens e que tratam essa relação de subordinação co-
texto do surgimento do feminismo moderno e a condição das mo algo natural, e não social e cultural. Destaque como a luta
mulheres com o advento da Revolução Francesa. Para isso, ex- feminista é importante na defesa da liberdade de as mulheres
plore como as revoluções burguesas, as guerras e os movimen- serem quem elas quiserem ser.
tos do pós-guerra trouxeram uma nova demanda da figura fe-
minina, o que propiciou o avanço da causa feminista. Sugestão para o professor
É interessante notar como certas pautas e reivindicações Vídeo
muitas vezes aproximaram os movimentos feministas e negros, » Tese Onze. Pra ler e entender o feminismo. Disponível em:
especialmente as pautas relacionadas à igualdade de direitos www.youtube.com/watch?v=1iej_iP6jzw. Acesso em: 15 jul.
políticos, à representatividade e ao fim da violência. 2020.
As habilidades EM13CHS501 e EM13CHS502 são desenvol- Esse vídeo traz dicas de leitura sobre o feminismo e uma biblio-
vidas por meio da explicitação dos ideais éticos feministas e da grafia básica sobre o tema. Com linguagem simples e referên-
resistência exercida pela sociedade machista. cias acessíveis, ele é indicado para professores e estudantes.

Sugestão para o professor Teoria queer: múltiplas formas


Filme
de ser (Página 64)
» As sufragistas. Direção: Sarah Gravon. Reino Unido, 2015
A crítica do binarismo, que Judith Butler defende, representa
(107 min).
a crítica aos pensamentos que determinam a sexualidade e a
Para tratar da questão do movimento sufragista na Inglaterra,
identidade de gênero de maneira reducionista, em apenas ma-
é possível propor aos estudantes que assistam ao filme As
cho ou fêmea. Ela se opõe a Beauvoir, pois considera que os gê-
sufragistas, que também poderá ser utilizado como fonte de
neros não são tão fixos como esta concebe.
informações para estabelecer uma comparação desse movi-
Essa crítica de Butler deve ser contextualizada, pois é com-
mento com o movimento sufragista brasileiro, que será trata-
plexa e trata de um assunto polêmico e que representa um tabu
do na página 65.
para muitos. É importante ter cuidado ao tratar do assunto para
desfazer possíveis más interpretações das ideias de Butler pe-
O que é o feminino? (Página 63) los estudantes.
Se considerar oportuno, peça aos estudantes que escrevam Explique aos estudantes o que significa desconstruir a pre-
uma redação inspirando-se nas propostas de Simone de Beau- determinação dos sujeitos e o que significa defender a inde-
voir para refletir sobre as próprias experiências. É importante que terminação e a instabilidade da identidade. Para desenvolver

219
essa ideia, comente que Butler defende que não nos apegue- discussão sobre o feminismo enquanto ferramenta para a cons-
mos às classificações acerca das identidades de sexualidade trução de uma sociedade mais justa e igualitária. Nesse sentido,
e gênero, porque elas atuam como forma de reprimir a capaci- é importante considerar que, apesar de o feminismo privilegiar
dade dos sujeitos de experimentar e vivenciar aspectos fun- as mulheres enquanto foco central de suas teorias e práticas, o
damentais da nossa existência, que é a afetividade. reconhecimento da existência de estruturas machistas em nos-
A teoria queer propõe uma crítica aos discursos que se ocu- sa sociedade e a busca por formas de desconstruí-las pode be-
pam em dizer o que somos e promove uma substituição desses neficiar indivíduos de todos os gêneros.
discursos por uma prática ética centrada em explorar aquilo que
podemos fazer. Atividades (Página 67)
Sugestão para o professor 1. Atividade de pesquisa e produção de texto. O objetivo da ati-
Artigo vidade é fazer com que os estudantes possam identificar trans-
formações relacionadas aos papéis femininos no contexto
» rodrigues, Carla. Butler e a desconstrução do gênero. Re-
brasileiro, com base nas ideias de Simone de Beauvoir, Ange-
vista Estudos Feministas, v. 13, n. 1, Florianópolis, jan./
abr. 2005. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?scrip- la Davis, Chimamanda Ngozi Adichie e Djamila Ribeiro. Os pro-
t=sci_arttext&pid=S0104-026X2005000100012. Acesso dutos dessa atividade podem dar origem a um sarau ou
em: 22 abr. 2020. mesmo a um slam na escola, de acordo com o engajamento
da turma. Em decorrência disso, essa atividade pode propiciar
Esse artigo serve de referência para compreender melhor a
a mobilização de aspectos das habilidades EM13LGG701,
teoria queer na visão de Judith Butler.
EM13LGG702, EM13LGG703 e EM13LGG704.
Mulheres cidadãs: desafios atuais 2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
(Página 65) que, na perspectiva da autora, o feminismo e a luta pela igual-
dade de gênero não são somente direcionados às mulheres,
Proponha uma análise conjunta com os estudantes que rela-
mas também aos homens. A autora nos leva a refletir sobre
cione os dados referentes à violência contra a mulher e a fotografia a necessidade de pensarmos criticamente sobre o feminis-
da página. Incentive-os a refletir sobre os motivos que fazem com mo, relacionando-o com as possibilidades individuais e cole-
que as mulheres sejam vítimas de assédio, estupro e feminicídio. tivas de mudança para a construção de um mundo mais
Questione-os também sobre como a divisão das tarefas do- justo para todos.
mésticas é feita em suas casas e como isso poderia ser modifi-
cado. Aproveite esse momento para desnaturalizar a concepção 3. a) Espera-se que os estudantes selecionem especialmente
as filósofas Djamila Ribeiro e Angela Davis, por utilizarem
socialmente construída de que somente as mulheres devem
como método de pesquisa a interseccionalidade, abordando,
realizar essas atividades.
simultaneamente, aspectos relacionados ao racismo e ao
Ressalte que uma das primeiras lutas feministas foi pelo di-
machismo. O objetivo da questão é que os estudantes tomem
reito ao voto, pois ele poderia garantir às mulheres a inserção
o relato de Kiusam de Oliveira como objeto de pesquisa que
na vida política. Comente que, apesar da conquista desse direi-
evidencia conjunturas e estruturas sociais, em continuidade
to, as mulheres ainda hoje são minoria no campo político e, por
com o trabalho iniciado na unidade 1.
isso, falta representação feminina.
Informe aos estudantes o modo como instituições e leis, co- b) O relato cita o Movimento Negro Unificado (MNU) e a im-
mo a Delegacia da Mulher e a Lei Maria da Penha, servem para portância dele na formação política da intelectual. Espera-se
garantir os direitos civis básicos, como o direito à vida, e comba- que os estudantes tragam dados importantes sobre o movi-
ter a violência. Afinal, as leis são iguais para todos, mas elas de- mento, como contexto de fundação, principais conquistas,
pendem de condições específicas para ser aplicadas. frentes em que atua, etc.
c) Resposta pessoal. Cuide para que os estudantes se sin-
Igualdade de gênero (Página 66) tam confortáveis durante o compartilhamento de relatos
Para encerrar o estudo do capítulo, faça um debate com os e oriente o diálogo de modo a desconstruir eventuais falas
estudantes sobre as dificuldades encontradas pelas mulheres preconceituosas, dando continuidade ao trabalho iniciado
no âmbito da luta por igualdade de gênero. Solicite a eles que na unidade anterior.
identifiquem a forma como as mulheres são representadas nas 4. Resposta correta: alternativa c. Ao retomar o que analisaram
propagandas, nos filmes e nos programas de televisão. Se con- no capítulo, os estudantes podem inferir que as obras de
siderar oportuno, peça aos estudantes que criem pequenas es- Beauvoir defendiam a igualdade de gênero.
quetes teatrais, abordando o tema de forma crítica e propondo
formas de modificar essa situação.
Aproveite essa aula para fazer uma breve retomada das CAPÍTULO 6 POVOS TRADICIONAIS:
três ondas feministas, apresentando cada uma com base em A LUTA PERMANENTE
suas demandas e características específicas e sua época
de atuação. (Página 68)
Instigue os estudantes a pesquisar escritoras negras con- Nesse capítulo, são abordados dois grupos que se reconhe-
temporâneas, como Chimamanda Ngozi. Há uma grande chan- cem como povos tradicionais do Brasil: indígenas e quilombolas.
ce de essas escritoras tratarem, em algum momento, da questão A luta deles é centrada, principalmente, no reconhecimento e na
negra e do feminismo demarcação de seus territórios. Dentre outros fatores, essa de-
marcação é importante para eles porque a manutenção de seus
Boxe Para explorar modos de vida tradicionais dependem, em grande parte, dessas
O livro de Chimamanda Ngozi aborda o significado do femi- terras, as quais são constantemente ameaçadas pela ação de
nismo no século XXI e pode contribuir grandemente para a grileiros, posseiros, madeireiros ilegais, entre outros grupos.

220
Povos tradicionais: a luta permanente mata nativa na qual muitos povos tradicionais habitam e
realizam suas atividades.
(Página 68)
A abertura do capítulo propõe uma reflexão inicial acerca do Os povos indígenas e a
processo de construção da identidade nacional brasileira e co- Constituição de 1988 (Página 69)
mo esse processo promoveu o apagamento de outras identida-
des que também integram o Brasil. Na Constituição de 1988, foi reconhecido o direito dos povos
O intuito desse tópico é estimular a reflexão sobre a diversi- indígenas às suas terras. Esse direito à terra, portanto, implica
sua demarcação, embora a Constituição não deixe claro como
dade cultural brasileira, os processos de exclusão e realocamen-
isso deve ocorrer. Explicite aos estudantes que a luta desses po-
to territorial de grupos de brasileiros considerados tradicionais,
vos é, em grande medida, caracterizada pela reivindicação de
levando em conta a importância da preservação de suas cultu-
que essa garantia constitucional seja cumprida, embora não se
ras e de seus territórios.
restrinja apenas a isso.
O trecho do Decreto Federal n. 6 040, de 7 de fevereiro de
A posse e o usufruto de suas terras garante aos indígenas a
2007, descreve os povos e as comunidades considerados tradi- manutenção de seus estilos de vida e de suas culturas.
cionais. A menção às lutas sociais desses povos por direitos ser- O tópico apresenta um gráfico sobre a distribuição de Terras
ve como ponto de partida para discussões relacionadas à iden- Indígenas regularizadas por região administrativa no Brasil que
tidade e ao autorreconhecimento, temas que serão abordados pode ser problematizado em sala de aula. Por que a maioria das
ao longo desse capítulo. Terras Indígenas regularizadas fica na Região Norte do país?
O reconhecimento e a valorização das culturas dos povos tra- Solicite aos estudantes uma pesquisa sobre o motivo de a maior
dicionais contribui para o desenvolvimento da habilidade ocupação ser nessa região.
EM13CHS104. O trabalho com o gráfico disponível na página pode propiciar
As atividades propostas na abertura desse capítulo contri- o desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13MAT102
buem para o desenvolvimento de aspectos das CGEB1, CGEB7, e EM13MAT406.
CGEB9 e CGEB10.
Boxe Para explorar
Sugestões para o professor O documentário indicado nesse boxe pode contribuir gran-
Artigos demente para a reflexão e a discussão acerca da luta das popu-
» Direitos dos povos e comunidades tradicionais. Gesta UFMG lações indígenas pela criação de dispositivos legais que lhes
– Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais. Disponível assegurem o direito à existência e à manutenção de seus modos
em: https://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/ de vida. Se julgar pertinente, sugira aos estudantes que assis-
uploads/2014/04/Cartilha-Povos-tradicionais.pdf. Acesso tam a esse documentário antes de iniciar a discussão do con-
em: 13 maio 2020. teúdo da página.
Produzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
e pelo governo de Minas Gerais, o material contém informa- O interesse privado nas Terras
ções sobre as características e os direitos dos povos tradicio- Indígenas (Páginas 70 e 71)
nais brasileiros, com foco nas comunidades presentes no es-
A Fundação Nacional do Índio (Funai) é o órgão indigenista
tado de Minas Gerais. oficial do Estado brasileiro que, dentre outras funções, atua no
» As comunidades tradicionais e a discussão sobre o con- reconhecimento, na regulamentação e na demarcação de Terras
ceito de território. Revista Espacios, v. 38, n. 12, 2017. Indígenas.
Disponível em: https://www.revistaespacios.com/a17v38n Se julgar pertinente, solicite aos alunos que acessem a seção
12/a17v38n12p17.pdf. Acesso em: 13 maio 2020. relacionada à demarcação de Terras Indígenas do site da Funai,
Publicação da revista científica Espacios sobre a relação das disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/nossas-acoes/
populações tradicionais com seus territórios. demarcacao-de-terras-indigenas; acesso em: 5 ago. 2020. Des-
sa forma, eles poderão conhecer mais sobre o papel da Funai
nesse processo.
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
Comente sobre o interesse de alguns empreendimentos, co-
1. Espera-se que os estudantes identifiquem como povos e mo os de mineração, de garimpos, de agricultura, entre outros,
comunidades tradicionais os grupos culturalmente autoi- nas Terras Indígenas e como esse interesse afeta o processo de
dentificados e que apresentam uma relação estreita entre reconhecimento e demarcação dessas terras. Explore, especial-
as suas práticas socioculturais e os territórios específicos, mente, o desmatamento e o legado de destruição dessas ativi-
reproduzindo aspectos culturais, sociais ou religiosos por dades para os povos indígenas e como os diversos tipos de ex-
meio da oralidade e da ancestralidade. ploração da terra ameaçam a existência desses povos e a
2. Espera-se que os estudantes relacionem a vulnerabilidade manutenção de seus modos de vida tradicionais.
de algumas populações tradicionais, especialmente os po- A caracterização dos conflitos entre os povos tradicionais e
vos indígenas e as comunidades quilombolas, tanto ao con- as demandas de consumo que impelem o avanço extrativista é
texto histórico de exploração escravista quanto ao processo contemplada pelas habilidades EM13CHS501, EM13CHS502 e
de formação da identidade nacional, que desconsiderou EM13CHS503.
esses povos.
Boxe Interação
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
quem as políticas de assistência aos povos tradicionais bra- 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes compreen-
sileiros como forma de reparar os danos decorrentes da dam que os trechos da reportagem reforçam a ideia de que
exploração histórica e como possibilidade de preservar não esses conflitos são gerados em razão das investidas econô-
apenas os diversos aspectos culturais formadores das múl- micas sobre essas regiões, em especial as investidas relacio-
tiplas identidades brasileiras, mas também as áreas de nadas à atividade garimpeira. Espera-se também que

221
percebam essas investidas econômicas como uma ameaça Atividade complementar
ao direito constitucional assegurado aos indígenas de terem
Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que assistam ao
suas terras reconhecidas e respeitadas.
documentário Saravá jongueiro novo e, após assisti-lo, elabo-
2. Espera-se que os estudantes identifiquem o avanço das rem uma resenha crítica sobre seu conteúdo, ressaltando a im-
atividades mineradoras e de desmatamento como uma portância do jongo para a preservação da cultura das comuni-
ameaça à manutenção dos territórios e dos meios de vida dades jongueiras retratadas.
tradicionais indígenas, considerando que o desmatamento
e o esgotamento das terras provocariam a diminuição das Reconhecimento e acesso à cidadania
florestas e a impossibilidade de reprodução dos modos de (Página 74)
vida indígenas.
Para abordar esse tópico, retome a discussão iniciada na
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencionem abertura desse capítulo, acerca da definição de povos e comu-
o cumprimento da Constituição e a tomada de medidas es- nidades tradicionais, bem como do processo de formação da
tatais mais efetivas de proteção à população indígena, assim identidade nacional brasileira.
como o remanejamento e o replanejamento das atividades Ressalte a forma como essa construção da identidade nacio-
de extração nesses territórios. nal promoveu o apagamento de outras identidades e culturas
existentes no país em prol de um projeto de construção de uma
Boxe Ação e cidadania (Página 72) identidade homogênea.
O boxe apresenta a cultura dos Krenak e a maneira como eles Ressalte também que o reconhecimento dessas identidades
resistiram à colonização na época do conflito com dom João VI e o respeito a elas é fundamental para garantir que os modos
e a Coroa portuguesa. A história deles é marcada por idas e vin- de vida dos respectivos povos sejam preservados.
das em relação ao território que ocupam. Instigue os estudantes com os seguintes questionamentos:
Os Krenak foram um dos povos mais afetados com o rom- Como manter uma cultura viva? E por quê? Organize uma roda
pimento da barragem em Mariana (MG), fato que colocou em de conversa sobre essas questões e auxilie os estudantes a mo-
xeque a possibilidade de continuar suas formas de vida. De bilizar aquilo que trabalharam e desenvolveram durante o estu-
acordo com a cultura Krenak, no entanto, mesmo que o rio do da unidade.
Doce seja considerado morto atualmente, também é conside- Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que pesquisem
rado que ele pode reviver se o homem não mexer nele. outros povos e comunidades tradicionais para além dos indíge-
O conteúdo desse boxe propicia a análise das circunstâncias nas e quilombolas, identificando suas situações e reivindicações
históricas que desencadearam a migração constante dos Kre- no presente.
nak, o que possibilita o trabalho com aspectos da CGEB2 e das As habilidades EM13CHS601, EM13CHS604 e EM13CHS605
habilidades EM13CHS102, EM13CNT104, EM13CNT206 e são trabalhadas nesse tópico pelo reconhecimento dos direitos
EM13CNT309. dos povos tradicionais e pela valorização de suas lutas constan-
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam so- tes por igualdade.
bre o conflito e a exploração de Terras Indígenas no Brasil e
mencionem a resistência indígena, exemplificada pela histó- Atividades (Página 75)
ria dos Krenak, como uma forma não apenas de manter as 1. a) A Região Norte apresenta mais terras demarcadas por lei.
tradições culturais vivas, mas também de proteger suas ter-
b) Espera-se que os estudantes relacionem essa diferença
ras das empresas de mineração, que vêm causando desas-
à demarcação de terras indígenas pela Funai antes da Cons-
tres e impactos ambientais diversos.
tituição de 1988, que favoreceu a oficialização da criação
de áreas protegidas por lei na Região Norte, e que também
Comunidades de remanescentes levem em conta o fato de o desenvolvimento das atividades
quilombolas (Página 73) econômicas ter sido mais acelerado nas demais regiões,
Explore as informações do mapa das Terras Quilombolas e processo que dificulta a demarcação e ocasiona diversos
compare-as com as informações do gráfico da página 69. Tema- conflitos por terras em áreas das regiões Sudeste, Sul, Nor-
tize as histórias dos povos quilombolas e suas ocupações e per- deste e Centro-Oeste, especialmente no Mato Grosso.
gunte aos estudantes quais semelhanças e diferenças eles iden- 2. Espera-se que os estudantes percebam, ao comparar os ma-
tificam entre os quilombolas e os indígenas. pas, que as áreas demarcadas coincidem com as áreas onde
Peça aos estudantes que analisem no mapa onde existem há atividades de extração mineral e desmatamento no Brasil,
mais Terras Quilombolas e examinem a diferença do percen- ressaltando os processos burocráticos legais que favorecem
tual de terras tituladas e de terras ainda não tituladas. Obser- a exploração econômica dos territórios em detrimento da
ve com eles essa situação de não titulação e suas consequên- preservação dos meios de vida dos povos que os habitam e
cias sociais. protegem, o que ocasiona muitos conflitos por terras no ter-
A análise das informações disponíveis no mapa pode contri- ritório brasileiro.
buir para o desenvolvimento de aspectos da habilidade 3. Atividade de pesquisa. Caso a escola faça parte de uma
EM13CHS606. comunidade de povos tradicionais, a atividade pode ser
realizada de modo que os estudantes busquem as histó-
Boxe Para explorar rias da própria família, convidando a comunidade escolar
O documentário retrata as dificuldades vivenciadas pelas co- para um diálogo, que pode ser bastante enriquecedor. Se
munidades jongueiras na preservação de sua cultura e na su- esse não for o caso, oriente os estudantes a realizar a pes-
peração dos preconceitos. Além disso, ele trata da importância quisa em publicações impressas ou digitais, registrando
do jongo enquanto patrimônio cultural que constrói e reafirma suas percepções. Combine uma data para a apresentação
identidades. dos resultados.

222
Se julgar conveniente, organize, com a coordenação da escola, Incentive os estudantes a utilizar as próprias histórias na
com as lideranças dos povos tradicionais e com a comunidade produção do vídeo e solicite que não só a apresentem, mas que
escolar, uma visita a uma das comunidades tradicionais pes- tratem de argumentar criticamente sobre o ocorrido, tendo em
quisadas. Essa proposta favorece o desenvolvimento da cida- vista expressar uma opinião embasada sobre o tema.
dania e do respeito à diversidade cultural. Para isso, combine É essencial orientar os estudantes sobre o assunto que esco-
previamente com os estudantes um roteiro de investigação lheram tratar. Você pode fazer isso fornecendo referências a eles
que deve ser seguido durante o estudo do meio. Explique a e/ou fazendo alguma revisão do assunto por meio do conteúdo
eles que os registros (fotos e vídeos) devem ser previamente trabalhado nos capítulos da unidade.
É recomendável acessar antes dos estudantes o vlog indica-
acordados com a comunidade, e a decisão do grupo pesqui-
do pela atividade, buscar algum vídeo que julgue interessante
sado deve ser respeitada. Em outra data combinada, incentive
e sugeri-lo aos estudantes, caso tenham dificuldades em encon-
os estudantes a compartilhar registros, percepções e análises
trar um conteúdo relevante.
sobre a experiência.
Essa etapa deve ser cumprida pelos próprios estudantes
4. Essa atividade pode colaborar para o desenvolvimento de durante a produção final do vídeo. É importante apoiá-los
aspectos das habilidades EM13LGG303 e EM13LGG304. diante das dificuldades que possam surgir nessa etapa, tan-
a) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes conhe- to as de ordem técnica quanto as de ordem afetiva, visto que
çam e tragam exemplos de violência contra pessoas que de- esse tipo de atividade pode gerar ansiedade ou insegurança
fendiam os povos tradicionais e as reservas dos territórios nos estudantes.
É fundamental garantir que todos estejam minimamente
ocupados por eles, relembrando casos da história brasileira,
confortáveis para participar da atividade. Aqueles que não qui-
como os assassinatos da Irmã Dorothy e de Chico Mendes,
serem contribuir com a apresentação de alguma história ou aná-
por exemplo, além de inúmeros ataques às lideranças indí-
lise podem trabalhar de maneira mais detida na produção e na
genas por todo o Brasil.
divulgação do material.
b) Espera-se que os estudantes compreendam e discorram A divulgação dos vídeos deve ser feita com cuidado, garan-
sobre a demora e a falta de efetividade na demarcação de tindo que somente os estudantes e demais pessoas envolvidas
terras de povos tradicionais protegidas por lei e o interesse no projeto tenham acesso ao material. A depender da dimensão
econômico de empresas e, muitas vezes, do próprio Estado da proposta, é cabível comunicar à coordenação pedagógica da
em explorá-las. instituição o que está sendo realizado.
Se o resultado for positivo e houver a pretensão de divulga-
c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes relacionem
ção do produto final para um grupo maior de pessoas, é crucial
a hostilidade em relação às comunidades quilombolas, ex-
debater com estudantes e responsáveis o ônus e os bônus de
pressa no texto, com a discriminação racial sofrida pela po-
tal atividade.
pulação negra e a consequente desvalorização de suas
culturas. É importante que eles destaquem o contexto de vio-
lência estrutural que configura o desrespeito às comunida-
Práticas de pesquisa (Páginas 78 e79)
des remanescentes de quilombos, bem como às suas Essa proposta de pesquisa tem como objetivo analisar a per-
manifestações culturais, religiosas e modos de vida, e que cepção das pessoas sobre duas obras artísticas. Essa análise
situações como essa também estão presentes em outros âm- tem o intuito de compreender a recepção das pessoas sobre o
bitos sociais. conteúdo social expresso nas obras.
As obras que vão servir de base para a pesquisa são Um jan-
5. Resposta correta: alternativa a. Os povos indígenas encon-
tar brasileiro, de Jean-Baptiste Debret, e uma releitura contem-
tram-se em constante vigilância e luta por seus direitos asse-
porânea do quadro de Debret feita por Rodrigo Leão.
gurados por lei. E ainda enfrentam a expansão do agronegócio
É fundamental analisar a obra com os estudantes, exploran-
e a falta de fiscalização por parte do governo brasileiro.
do os recursos artísticos para a caracterização de uma realidade
social tão patente.
Práticas de texto (Páginas 76 e 77) O problema a ser investigado pela pesquisa envolve a com-
Essa atividade propõe a produção de um vídeo que será pu- preensão de como a população brasileira enxerga o legado da
blicado em um vlog criado pelos estudantes. Para a realização escravidão nos dias atuais e a vinculação desse legado ao esta-
dessa atividade, é necessário o acesso à tecnologia que permita tuto atual de desigualdade social, favorecendo o desenvolvi-
gravar vídeos e publicá-los em plataformas digitais. Por conta mento de aspectos da habilidade EM13LGG704.
disso, deve-se verificar se os estudantes dispõem desse tipo de Como a pesquisa é limitada a uma pequena amostra, não é
acesso antes de propor a realização da atividade. possível obter concepções generalistas, mas é possível verificar
No caso de não haver acesso às tecnologias necessárias, é a percepção e a opinião das pessoas que estão no entorno dos
possível realizar uma apresentação oral da pesquisa. Nesse ca-
estudantes.
so, peça aos estudantes que prepararem uma apresentação que
Sobre o tema escravidão e sua relação com a desigualdade,
não reproduza os aspectos de um seminário comum, mas que
a pesquisa buscar verificar se as pessoas concebem que há ain-
seja tão dinâmica quanto um vlog.
da uma situação atual de desigualdade decorrente da escravi-
Organize os estudantes em grupos pequenos (até cinco mem-
bros), ajudando com a distribuição de tarefas e com o planeja- dão, em que muitos têm poucos direitos enquanto uma peque-
mento da produção, gravação e publicação do vídeo. Uma boa na elite desfruta de diversos privilégios. As pessoas percebem
forma é solicitar aos estudantes, antes de tudo, um roteiro de essa relação dessa maneira?
produção que siga as indicações da atividade. As respostas a essa pergunta serão avaliadas a partir da ma-
Auxilie os grupos na escolha de um tema relevante para a neira como os entrevistados vão descrever suas impressões e
atividade e também na escolha dos participantes dos vídeos. É opiniões sobre as duas obras de arte.
importante insistir em como o conteúdo dos vídeos deve ser mo- Explique aos estudantes o que é ressentimento de classe, por
derado e não pode apresentar nada que produza qualquer tipo meio do texto indicado na atividade. Esse conceito e o debate que
de constrangimento entre os estudantes. ele fornece nos possibilita compreender de maneira mais ampla

223
os diversos elementos ideológicos que constituem nossa visão processo de constituição, o que vai ao encontro do proposto nas
atual sobre privilégios e desigualdade. habilidades EM13CHS102 e EM13CHS104.
Pela ideia de ressentimento social, pode-se questionar o quan- O ponto central dessa etapa é averiguar o quanto os entre-
to os conflitos culturais entre as classes sociais atuam como im- vistados reconhecem a relação entre a desigualdade e o passa-
peditivo de ascensão social das camadas desfavorecidas. do escravocrata do país. Pode ser difícil para os estudantes con-
É possível trabalhar essas ideias com base nas seguintes ques-
seguir aferir tal questão, assim como podem surgir diversos
tões: O brasileiro possui privilégios? Ele admite isso? O brasileiro
empecilhos durante as entrevistas. Por isso, é importante traba-
gosta de ter privilégios? Ele admite isso? Aqueles que possuem
lhar com os estudantes o fato de que pesquisas também apre-
privilégios têm medo de perdê-los? E aqueles que são desfavo-
recidos têm vontade de possuir privilégios? sentam falhas e processos inconclusivos, mas que tais situações
Para dar seguimento com a atividade, é importante atuar co- devem servir de aprendizado.
mo organizador e ajudar os estudantes a se preparar e seguir o A divulgação dos resultados deve ser feita em conjunto pela
roteiro da atividade. Auxilie-os na organização dos grupos, no turma, que deverá estar organizada em grupos, cada um com
estabelecimento de um cronograma e, especialmente, na reali- atividades distintas, conforme o roteiro da atividade. Essa etapa
zação da entrevista. serve ao professor como forma de ponderar sobre o quanto foi
Antes de começar as entrevistas, determine quem serão as possível aos estudantes desenvolver habilidades e constituir
pessoas entrevistadas (amigos, vizinhos, parentes, etc.). Estipu- repertório para tratar da temática da unidade com um posicio-
le uma quantidade de acordo com o roteiro da atividade .
namento crítico.
É possível realizar as entrevistas de modo não presencial,
utilizando ferramentas on-line, como videochamada. No entan-
Retomada
to, é fundamental que o entrevistador realize a entrevista, e não
apenas colete as respostas. A seguir, há a proposta de um mapa mental com os principais
Após as entrevistas, o passo seguinte consiste em avaliar os conceitos abordados na unidade. Trata-se de uma sugestão que
dados obtidos. O cruzamento e a análise das entrevistas permi- pode incentivar a turma a construir o próprio mapa mental, de
tirão comparar diversas narrativas sobre a desigualdade e seu modo individual ou coletivo, de acordo com o perfil da classe.

Cidadania no Brasil atual

Principais obstáculos para o


acesso pleno à cidadania por Sistema de cotas raciais
toda a população e socioeconômicas

Desigualdades sociais, Políticas de Reconhecimento das


econômicas e raciais reparação comunidades tradicionais

Demarcação dos territórios


Privilégios raciais, Racismo tradicionais e proteção das
culturais e estrutural comunidades e de seus
econômicos modos de vida

224
■ ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enem) das tradições e das práticas culturais próprias. Estima-se que em
todo o país existam mais de três mil comunidades quilombolas.
Quem acompanhasse os debates na Câmara dos Deputados
O Decreto Federal n. 4 887, de 20 de novembro de 2003, regula-
em 1884 poderia ouvir a leitura de uma moção de fazendeiros do
menta o procedimento para identificação, reconhecimento, deli-
Rio de Janeiro: “Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela
mitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por rema-
escravidão, mas não há um só brasileiro que não se oponha aos
nescentes das comunidades dos quilombos.
perigos da desorganização do atual sistema de trabalho”. Livres
os negros, as cidades seriam invadidas por “turbas ignaras”, “gen- Adaptado de incra.gov.br.
te refratária ao trabalho e ávida de ociosidade”. A produção seria
A demarcação de terras de comunidades quilombolas é fato
destruída e a segurança das famílias estaria ameaçada. Veio a
recente nas práticas governamentais brasileiras.
Abolição, o Apocalipse ficou para depois e o Brasil melhorou (ou
será que alguém duvida?). Passados dez anos do início do deba- Um dos principais objetivos dessa política pública é viabilizar
te em torno das ações afirmativas e do recurso às cotas para fa- a promoção de:
cilitar o acesso dos negros às universidades públicas brasileiras, a) aceleração da reforma agrária.
felizmente é possível conferir a consistência dos argumentos b) reparação de grupos excluídos.
apresentados contra essa iniciativa. De saída, veio a advertência
c) absorção de trabalhadores urbanos.
de que as cotas exacerbariam a questão racial. Essa ameaça vai
completar 18 anos e não se registraram casos significativos de d) reconhecimento da diversidade étnica.
exacerbação.
Resposta: alternativa b.
Gaspari, E. As cotas e a urucubaca. Folha de S.Paulo, 3 jun. 2009.
3. (FGV)
O argumento elaborado pelo autor sugere que as censuras Na frase “Apesar de aparentar ser uma ideologia justa, a me-
às cotas raciais são ritocracia, por causa principalmente de disparidades socioe-
a) politicamente ignoradas. conômicas, revela-se imparcial, uma vez que só detêm
b) socialmente justificadas. méritos aqueles que são beneficiados com oportunidades
para alcançá-los”, pode-se apontar incoerência devido ao
c) culturalmente qualificadas.
emprego inadequado da palavra
d) historicamente equivocadas.
a) “ideologia”.
e) economicamente fundamentadas.
b) “disparidades”.
Resposta: alternativa d. c) “imparcial”.
d) “beneficiados”.
2. (Uerj)
As comunidades quilombolas, que são predominantemente e) “oportunidades”.
constituídas por população negra, se autodefinem a partir das re-
Resposta: alternativa c.
lações com a terra, do parentesco, do território, da ancestralidade,

225
Unidade
O BRASIL E A
3 DEMOCRACIA

INTRODUÇÃO
Nessa unidade, a ideia de democracia será trabalhada criticamente com base na análise de sua prática social na realida-
de brasileira. Nesse sentido, parte-se de um panorama sobre os tipos de regimes políticos possíveis e, para considerar as
distinções entre os regimes, entende-se que o autoritarismo estaria no extremo oposto da democracia.
No capítulo 7, são discutidas as características dos sistemas políticos, com base em um índice de democracia elaborado
pelo núcleo de pesquisas do periódico inglês The Economist. Essa discussão desdobra-se em uma análise dos panoramas
políticos brasileiros ao longo do tempo para que se possa refletir sobre a categoria “democracia imperfeita”, apresentada no
índice supracitado e segundo o qual o Brasil se enquadraria. Para isso, são analisadas permanências autoritárias na socie-
dade brasileira contemporânea relacionadas à ditadura militar que vigorou entre 1964 e 1985.
No capítulo 8, discute-se a representatividade democrática no Brasil, o processo de redemocratização do país entre as
décadas de 1970 e 1980 e os dilemas das democracias na atualidade. Os debates favorecem a contextualização histórica
e a conscientização dos jovens sobre suas responsabilidades cidadãs, possibilitando que tracem análises do momento po-
lítico em que estão inseridos.
Já no capítulo 9, os movimentos populares, incluindo o ciberativismo, são apresentados como formas de exercício direto
do poder político da população, sendo um contraponto importante da democracia no Brasil
Recomenda-se que o trabalho desenvolvido com as temáticas dessa unidade seja liderado pelos professores de Socio-
logia ou de História, pois são trabalhados principalmente conceitos e formas de análise tradicionais desses componentes
curriculares. É importante que os processos históricos, os temas e os conceitos sejam analisados de forma ampla, levando-
-se em consideração os contextos nos quais se desenrolaram, sem reducionismos ou explicações monocausais.

OBJETIVOS DA UNIDADE
• Examinar o conceito de democracia de forma ampla, verificando sua oposição a práticas autoritárias.
• Debater sobre o conceito de democracia e o conceito de autoritarismo.
• Compreender os desafios que permeiam os regimes democráticos, com especial ênfase aos desafios enfrentados pelas
democracias da atualidade.
• Situar o regime democrático brasileiro em relação às demais democracias contemporâneas, identificando os aspectos
positivos e os pontos de melhoria.
• Conhecer os principais marcadores democráticos utilizados pelos pesquisadores.
• Dialogar sobre as características das democracias plenas, visando a elaboração de estratégias para que a democracia
brasileira possa alcançar patamar.
• Analisar a prática social da democracia no Brasil em diversas temporalidades, analisando suas rupturas e permanências.
• Analisar dados e questões relacionadas aos dilemas da representatividade democrática, tanto nas democracias plenas
quanto no Brasil contemporâneo.
• Debater sobre estratégias que possam coibir a formação das oligarquias nas democracias e garantir a participação am-
pla, justa e igualitária dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira.
• Conhecer a atuação de movimentos populares de contextos rural, urbano e virtual, reconhecendo suas demandas, ideais
e a maneira como atuam politicamente.

JUSTIFICATIVA
Analisar o conceito de democracia de maneira ampla e sua aplicação na sociedade brasileira permite aos estudantes
compreender a importância desse regime político para a construção e a manutenção de uma sociedade na qual todos os in-
divíduos e grupos são tratados de maneira igualitária e gozam de liberdade para participar da vida pública.
Nesse sentido, a reflexão acerca dos desafios enfrentados pelas democracias da atualidade incentiva os estudantes a
refletir sobre possibilidades de melhorias nesse regime, posicionando-se de forma crítica e responsável pela construção da
cidadania plena, da preservação dos pilares democráticos e do Estado de direito.
Trata-se de diálogos que incentivam a formação de posturas cidadãs conscientes de suas responsabilidades e de seus
poderes de ação na comunidade em que vivem – em continuidade com o que vem sendo construído desde o início do pre-
sente volume.
Além disso, o reconhecimento de diversas formas de atuação política dentro de um regime democrático pode incentivar
os estudantes a buscar novas formas de participação social e o exercício da cidadania.

226
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS DA COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS
CAPÍTULO
EDUCAÇÃO BÁSICA E HABILIDADES

CECHSA1: EM13CHS101, EM13CHS103 e EM13CHS106.


CECHSA5: EM13CHS501.
CGEB1, CGEB2, CGEB7, CGEB9 e CECHSA6: EM13CHS602, EM13CHS603 e EM13CHS605.
7
CGEB10. CELT1: EM13LGG105.
CELT2: EM13LGG202 e EM13LGG204.
CELT3: EM13LGG303 e EM13LGG305.

CECHSA1: EM13CHS101, EM13CHS103 e EM13CHS106.


CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB9 e
8 CECHSA6: EM13CHS601, EM13CHS602, EM13CHS603 e
CGEB10.
EM13CHS605.
CEMT1: EM13MAT102.

CECHSA1: EM13CHS101 e EM13CHS105.


CECHSA5: EM13CHS502, EM13CHS503 e EM13CHS504.
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CGEB7, CECHSA6: EM13CHS601, EM13CHS602 e EM13CHS605.
9
CGEB9 e CGEB10. CECNT2: EM13CNT206 e EM13CNT207.
CELT7: EM13LGG703 e EM13LGG704.
CEMT1: EM13MAT102

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
podem enfraquecer a democracia no país, além de formas de
superá-los.

ABERTURA DE UNIDADE CAPÍTULO 7 O ESTADO BRASILEIRO


(Páginas 80 e 81)
É AUTORITÁRIO? (Página 82)
A abertura da unidade traz uma reflexão inicial acerca das
fragilidades da democracia no presente, ao propor uma discus- Esse capítulo trata dos conceitos de democracia e autorita-
são sobre as transformações que têm acentuado as desigual- rismo, apresentados como ideais e práticas políticas opostas.
dades sociais e a escalada autoritária em diferentes países, e Essa discussão é iniciada por meio de uma análise da situação
no passado, ao propor a observação de uma imagem que re- democrática de diversos países, em especial do Brasil, que, se-
trata o episódio conhecido como batalha da Maria Antônia, gundo o Índice de Democracia apresentado no Livro do Estu-
evento emblemático que ocorreu em São Paulo, no contexto dante, é classificado em democracia imperfeita. Visando a com-
da ditadura militar, período marcado pela supressão da demo- preensão dessa classificação, são analisados momentos
cracia no país. autoritários da história brasileira, em busca de rupturas e per-
manências autoritárias que possam explicar o panorama demo-
crático da sociedade brasileira atual.
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
1. Resposta pessoal. O intuito da atividade é mobilizar os co- O Estado brasileiro é autoritário?
nhecimentos prévios dos estudantes sobre o conceito de de- (Página 82)
mocracia, bem como sobre as ameaças às instituições O Índice de Democracia elaborado pelo periódico The Econo-
democráticas que vêm acontecendo em diversos países. Nes- mist será a base para os estudantes aprofundarem suas refle-
se sentido, é possível que eles reconheçam que essas amea- xões sobre a democracia no Brasil contemporâneo. A resposta
ças estão, na maioria das vezes, relacionadas à escalada à pergunta que dá título ao capítulo será construída no decorrer
autoritária e à ascensão de movimentos ultraconservadores, dos estudos apresentados, que vão mobilizar debates históricos,
xenofóbicos e racistas em diversos países ao longo dos últi- sociológicos, antropológicos e filosóficos. Ao final do capítulo,
mos anos. espera-se que os estudantes possam identificar as principais
2. Resposta pessoal. É esperado que os estudantes evidenciem contradições da democracia no Brasil, suas origens históricas e
novamente o que entendem por democracia e reconheçam as possibilidades de transformação.
as fragilidades desse conceito em sua aplicação social. Para Sugere-se retomar com os estudantes o conceito de democra-
tanto é importante que eles reflitam sobre os fatores que cia como regime político que tem por fundamento a participação

227
política de todos os cidadãos de maneira igualitária. Essa retoma- Dê especial atenção para a definição de democracia imper-
da conceitual pode ser acompanhada de uma reflexão sobre os feita, considerando que ela compreende e descreve a situação
critérios utilizados no Índice de Democracia para caracterizar os brasileira na atualidade. Essa reflexão será aprofundada no bo-
governos democráticos da atualidade: processo eleitoral trans- xe Interação.
parente e pluralismo de ideias, transparência do governo, incen- A indicação do boxe Para explorar comenta, de maneira aces-
tivo da cultura política e liberdade civil. sível aos estudantes, um ranking elaborado pela ONG Transpa-
O mapa Índice de Democracia (2019) apresenta informações rência Internacional, o qual classifica países de acordo com o
que possibilitam uma análise global a respeito da democracia e grau de honestidade no setor público. Esse ranking, denomina-
devem ser exploradas com os estudantes, especialmente como do Índice de Percepção de Corrupção, combina diferentes pes-
forma de análise das diversas experiências democráticas da quisas internacionais para classificar os países analisados. Mais
atualidade. Essa análise, por sua vez, contribui para o desenvol- informações sobre estão disponíveis no site da ONG: https://
vimento de aspectos da habilidade EM13CHS106. transparenciainternacional.org.br/home/destaques. Acesso em:
As questões propostas permitem a exploração da temática 17 jul. 2020.
com base no contexto brasileiro, propiciando, dessa forma, a
mobilização da CGEB1 e da CGEB2. Boxe Interação
1. Atividade de pesquisa. Se julgar conveniente e de acordo com
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES os interesses dos estudantes, oriente-os a escolher um cri-
tério da descrição da categoria apresentada para realizar a
1. Espera-se que os estudantes identifiquem que o Brasil está pesquisa de casos. Por exemplo, se um estudante escolher
na faixa chamada democracia imperfeita, caracterizada pelas o tema “eleições livres e idôneas”, ele pode descobrir que o
democracias que ainda estão buscando a consolidação, pro- sistema de votação eletrônico do Brasil é um dos mais segu-
cesso que será abordado ao longo do capítulo. ros do mundo e que já foi implantado por outras nações. Por
2. Resposta pessoal. O objetivo dessa questão é incentivar outro lado, ainda há locais em que ocorre a compra de votos,
os estudantes a refletir a respeito da democracia no Brasil uma prática ilegal e que implica falta de cultura política e de-
sigualdade social. O objetivo é que os estudantes reflitam
com base nos conhecimentos que eles já têm sobre o te-
sobre as contradições das democracias imperfeitas, aspecto
ma. Para isso, é importante que eles relacionem conceitos
essencial para que eles compreendam o contexto político e
mobilizados nas unidades anteriores, como racismo, desi-
social no qual estão inseridos como cidadãos. Combine uma
gualdade social e privilégios, com as estruturas que fazem
data para que os estudantes possam apresentar os resulta-
com que a democracia ainda não tenha sido plenamente
dos de suas pesquisas para a turma.
consolidada no Brasil.
3. Essa questão, de modo análogo à anterior, busca mobilizar
os conhecimentos prévios dos estudantes sobre democracias
Debate sobre o autoritarismo (Página 84)
e regimes autoritários e incentivar a análise crítica a respeito Os regimes políticos que se situam em oposição ao conceito
da realidade política do Brasil atual. de democracia – autoritarismo e totalitarismo – são trabalhados
nesse tópico, contribuindo para o desenvolvimento da habilida-
Sugestão para o professor de EM13CHS501. Em ambos os casos, a liberdade e os direitos
Artigo individuais são suprimidos por um Estado controlador.
A diferença entre autoritarismo e totalitarismo pode ser tra-
» O que está acontecendo com a democracia? OpenDemo-
balhada com base na distinção apresentada por Hannah Arendt,
cracy, 2020. Disponível em: www.opendemocracy.net/pt/
que enxerga no autoritarismo uma despolitização da população,
democraciaabierta-pt/o-que-esta-acontecendo-com-a-de-
a qual é levada a abandonar a vida pública, enquanto, no tota-
mocracia/. Acesso em: 8 jul. 2020.
litarismo, o povo é mobilizado pelo Estado visando sua adesão
O texto, publicado pela agência internacional Open Democra-
em torno de uma pessoa ou um ideal geral.
cy, faz uma análise sobre o Índice de Democracia de 2019 e
pode subsidiar os debates sobre o tema proposto no capítulo.
Boxe Interação
Índice de Democracia: tipos de regime 1. Para criar a lista, os estudantes podem se basear nas carac-
terísticas dos regimes autoritários apresentadas na página
(Página 83) 83, aprofundando as definições com base nos trabalhos de
É indicado apresentar aos estudantes os tipos de regime que Vida e de Arendt.
estão sendo trabalhados (democracia plena, democracia imper-
2. Atividade de produção textual. Os estudantes são incentiva-
feita, regime híbrido e regime autoritário) e garantir a compreen-
dos a mobilizar os próprios conhecimentos sobre autoritaris-
são rigorosa de cada um dos conceitos.
mo. Retome com eles as principais características dos textos
Uma forma de explorar a caracterização dos tipos de regime
narrativos, criando uma interface com a área de Linguagens.
consiste em opor os conceitos de democracia e autoritarismo,
As obras indicadas a seguir podem fornecer subsídios para
explicando que um regime democrático pleno implica maior ga-
essa discussão.
rantia dos direitos humanos do que um regime autoritário, no
qual as garantias são mínimas.
Sugestões para o professor
Retomar o mapa do tema anterior pode contribuir com essa
Livros
discussão, pois ele apresenta a classificação dos países segun-
do o Índice de Democracia. » Arendt, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Com-
Aproveite para analisar com os estudantes pelo menos um panhia das Letras, 2013.
país que represente cada tipo de regime apresentado, tendo em Nesse livro, considerado uma das maiores referências sobre
vista o desenvolvimento de aspectos das habilidades os movimentos políticos totalitários, Hannah Arendt analisa
EM13CHS101 e EM13CHS103. o surgimento de movimentos totalitários na Europa do

228
século XX, relacionando a ascensão desses movimentos à pelo legado do colonialismo, além do fato de, cinicamente, o
práticas e às ideologias racistas e imperialistas, bem como à brasileiro se considerar mais tolerante, acolhedor e dócil do
massificação das classes sociais e ao emprego da propagan- que realmente é.
da e do terror como ferramentas políticas.
» Orwell, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, Jânio e Jango: um panorama (Página 86)
2009. Esse tópico aborda outro elemento antidemocrático que es-
A obra tem uma narrativa ambientada em um país que vive tá presente na tradição brasileira: sempre houve no Brasil uma
sob um regime totalitário, mas que tenta transmitir uma ima- oligarquia atávica formada por elites econômicas e/ou políticas.
gem de país democrático. Esse clássico da literatura contem- Esses grupos atuam de acordo com interesses privados próprios
porânea favorece a abordagem de diferentes temas relacio- de maneira quase que plenamente livre, uma vez que as insti-
nados à democracia, aos direitos humanos e às liberdades civis. tuições democráticas ainda são frágeis e acabam sendo atrope-
» AtwOOd, Margaret. O conto da Aia. Rio de Janeiro: Rocco, ladas pela vontade de tais grupos.
2017. Os estudantes podem compreender esse fenômeno pela nar-
rativa sobre a tentativa de golpe institucional sofrida por João
Narrada em primeira pessoa, esse romance distópico retrata
Goulart. Nesse caso, grupos de interesses específicos exerceram
um regime totalitário fictício que tem controle sobre as fun-
seu poder no Estado em detrimento da vontade popular.
ções sociais e físicas dos indivíduos, principalmente em rela-
ção às mulheres e à reprodução.
Boxe Interação
» SOltAni, Amir; BendiB, Khalil. O paraíso de Zahra. São Pau-
lo: Leya, 2011. 1. Resposta pessoal. Oriente os estudantes a organizar uma li-
nha do tempo dos eventos mencionados no texto e a relacio-
Narrada em HQ, a história se passa no Irã, em 2009, durante
ná-la com a periodização apresentada nos esquemas. As
os levantes contra o regime autoritário do país. O enredo gi-
respostas devem localizar os eventos nos itens: Esquema 1
ra em torno da busca de uma mãe pelo filho que desapare-
– ditadura civil-militar; Esquema 2 – supressão total dos di-
ceu em uma das manifestações contra o governo e tem como
reitos políticos.
foco a falta de liberdade de expressão e de transparência de
um governo não democrático. 2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam
que a imagem retrata a forma como grande parte da popu-
Instabilidades políticas e intervenções lação, especialmente do Rio Grande do Sul, estava não so-
mente do lado de Jango como também lutando por
no Brasil republicano (Página 85) legalidade e democracia. É importante destacar também co-
É apresentado um panorama de processos políticos e sociais mo a vontade popular pesou pouco, o que caracteriza uma
do Brasil, caracterizando momentos democráticos e momentos democracia frágil.
autoritários, tendo como ponto de partida a instauração da re-
pública. Reflita com os estudantes sobre os primeiros governos Os militares no poder (Página 87)
republicanos no Brasil, para, então, delimitar o regime de gover-
A forma como se construiu o regime militar ditatorial de 1964
no vigente em cada período.
demonstra o mais grave e claro caso de interrupção da demo-
Cabe ressaltar para os estudantes que o Brasil, em sua his-
cracia no Brasil. É importante que os estudantes compreendam
tória republicana, teve seis constituições, das quais duas (a de o que foi esse evento e as consequências socioculturais dele.
1937 e a de 1967) destacam-se pelo seu caráter autoritário e Para iniciar o estudo desse tópico, trace com os estudantes
ditatorial. Essa análise contribui para o desenvolvimento das um panorama breve sobre o contexto mundial da Guerra Fria e
habilidades EM13CHS602 e EM13CHS603. o embate entre as ideologias capitalista e comunista à época,
que no Brasil deu o tom das disputas por poder que culminaram
Boxe Reflexão na ditadura militar.
• O boxe apresenta alguns elementos constitutivos da formação Jango tinha um plano de governo voltado para reformas de
histórica do autoritarismo brasileiro e comenta como pode ser combate à desigualdade estrutural. Naquele contexto de pola-
difícil alcançar a democracia plena em um país caracterizado por rização política, essas propostas foram vistas pelos setores mais
práticas antidemocráticas e colonialistas, como o caudilhismo conservadores da sociedade como uma possível ligação entre
ou a instituição de condições de trabalho desumanas. Jango e a ideologia socialista.
1. A fala do sociólogo aborda a tradição autoritária do Brasil co- Ressalte a importância da aliança formada entre militares e
mo estrutura que impede a conformação da lógica democráti- setores conservadores da sociedade civil para a instauração de
uma ditadura militar no Brasil.
ca. Espera-se que os estudantes identifiquem que os esquemas
Nesse sentido, cabe refletir com os estudantes sobre o quan-
propostos apontam os momentos de interrupção da democra-
to as políticas propostas por Jango de fato eram alinhadas aos
cia. Essa conscientização é importante para que os estudantes
ideais comunistas ou até que ponto essa ideologia teria sido
percebam quão desafiador é, para o Estado brasileiro, conso-
imputada ao então presidente como forma de desmoralizá-lo
lidar o regime democrático sem transformar as estruturas oli-
nacionalmente em decorrência de privilegiar interesses contrá-
gárquicas construídas desde o período colonial.
rios aos das elites brasileiras da época.
Apesar de não haver qualquer evidência histórica de um pos-
Sugestão para o professor
sível golpe comunista em curso, do qual Jango faria parte, alguns
Livro setores da sociedade atual ainda defendem que a tomada do
» SchwArcz, Lilia. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Pau- poder pelos militares teria sido a única alternativa possível fren-
lo: Companhia das Letras, 2019. te a uma suposta ameaça comunista.
Livro que trata de maneira direta a forma como a moral bra- Se julgar pertinente, dialogue com os estudantes sobre como
sileira é autoritária por herança das práticas escravocratas e a polarização política da atualidade tem contribuído para

229
reavivar um medo coletivo de uma suposta ameaça comunista, • Nesse momento, você deve ser o orientador, e não o líder do
mesmo que o contexto da Guerra Fria já tenha sido superado há projeto, incentivando os estudantes a se responsabilizar pe-
décadas. la elaboração e consecução das atividades.
Esse diálogo também pode propiciar uma reflexão sobre co-
• As etapas podem ser registradas em vídeos e fotos e com-
mo o fenômeno da injúria como ferramenta política tem sido partilhadas ao final do processo, durante uma nova roda de
mobilizado na atualidade, por meio da disseminação de menti- conversa, na qual vão fazer um balanço das experiências e
ras e ataques a figuras públicas – as fake news, como forma de observar quais foram as aprendizagens e os principais de-
desmoralizar e intimidar determinados sujeitos políticos. safios da atividade.
A discussão sobre a participação dos meios de comunicação
na crescente tensão característica do período pode contribuir
para a mobilização de aspectos da habilidade EM13LGG202.
Os Atos Institucionais (AIs) (Página 89)
Nesse tópico, são abordados os Atos Institucionais, disposi-
Boxe Interação tivos legais promulgados pelo Poder Executivo entre 1964 e
1969 que se sobrepunham à Constituição vigente e institucio-
1. Resposta pessoal. Por meio da análise das matérias da capa, nalizavam a ditadura militar no país.
é possível que os estudantes identifiquem que o jornal parece Chame a atenção dos estudantes para a maneira como esses
se posicionar a favor da tomada do poder pelos militares devi- dispositivos suspendiam garantias democráticas e atuavam na
do à forma como retratam a renúncia de João Goulart (“Fugiu manutenção do poder militar, embasando atos autoritários e de
Goulart e a democracia está sendo restabelecida” e “Ressurge repressão pela classe militar. Para reforçar a característica anti-
a democracia”), bem como ao destaque atribuído à fala de Cas- democrática desses dispositivos, leia com os estudantes os re-
telo Branco (“As Forças Armadas são para defender a lei, não latos apresentados, que expõem as percepções de um militar,
a baderna”). um músico e uma estudante universitária a respeito do autori-
tarismo no período.
Boxe Ação e cidadania As indicações disponibilizadas nos boxes Para explorar des-
• O boxe explora a relação entre o golpe militar e a mídia, que sa página podem contribuir para ampliar a discussão acerca da
construía narrativas e guiava as opiniões populares, criando instituição do autoritarismo no período da ditadura militar. No
tensões políticas. É possível traçar um paralelo com a situa- primeiro boxe, é indicado um artigo do Portal da Legislação, do
ção atual, em relação às práticas de fake news, sendo esse Palácio do Planalto, que apresenta um resumo do conteúdo de
o foco do texto e das perguntas que o seguem. cada um dos Atos Institucionais. No segundo, são apresentadas
obras que reúnem histórias em quadrinhos e charges a respeito
• São colocadas em questão a ética e as responsabilidades do do autoritarismo vigente nesse período.
indivíduo em relação às fake news. Essa discussão contribui
para o desenvolvimento de aspectos da CGEB7, da CGEB9 e
Sugestão para o professor
da CGEB10, bem como das habilidades EM13LGG105,
Livro
EM13LGG204, EM13LGG303 e EM13LGG305.
1. Espera-se que os estudantes analisem o trecho que cita o » teleS, Edson; SAfAtle, Vladimir (org.). O que resta da dita-
dura. São Paulo: Boitempo, 2010.
Código de Ética dos Jornalistas de Vitória (ES), percebendo a
responsabilidade dos jornalistas na veiculação de informa- O livro aborda o legado da ditadura militar no Brasil em di-
ções precisas em detrimento da propagação de boatos. A versas esferas, como vida social, jurídica e política. Os ensaios
atuação ética das mídias é importantíssima para garantir aos que compõem a obra provocam no leitor a percepção de que
cidadãos informações idôneas e de qualidade. a única forma de garantir que esse passado não se repita é
2. O objetivo da atividade é promover, nos estudantes, a per- encarando e elaborando o lado mais perverso desse longo
cepção de que o leitor de fake news também tem responsa- episódio de nossa história.
bilidade sobre os boatos. Optar por compartilhar notícias
incompletas ou sensacionalistas é uma postura antiética e Resistência e busca pela democracia
torna o leitor parte da rede que fortalece as fake news e con- (Página 90)
tribui para a desinformação da população. Assim, a questão
É importante caracterizar os momentos de transição entre
contribuiu para a construção da responsabilidade cidadã.
regimes de governo. Comente com os estudantes que crises eco-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes com- nômicas e/ou levantes populares são frequentes em situações
preendam a importância do tratamento responsável de
de transição de regime, seja no caso de uma democratização,
informações e as formas individuais e coletivas pelas
seja na instauração do autoritarismo.
quais podem contribuir para interromper a disseminação
Reserve um espaço da aula para analisar com os estudantes
de notícias falsas.
as imagens da página. Sugere-se que sejam selecionadas pre-
viamente outras fotos de momentos da ditadura no país para
Atividade complementar fazer uma análise comparativa das manifestações populares
Se julgar pertinente, aproveite a oportunidade ensejada pe- durante o regime.
la discussão a respeito das fake news para incentivar o prota-
gonismo da turma na comunidade escolar. E hoje? (Página 91)
• Em uma data combinada, organize uma roda de conversa e O tópico retoma a pergunta feita no título desse capítulo (“O
oriente os estudantes a estabelecer uma lista coletiva de Estado brasileiro é autoritário?”) e a direciona para o presente,
ações contra as fake news na comunidade. propondo uma nova pergunta: Será que o Estado brasileiro de
• Depois, auxilie-os a elaborar um cronograma para a imple- hoje é autoritário?
mentação dessas ações, de modo que possam combinar pra- Para responder a essa questão, são apresentadas formas de
zos e estabelecer qual etapa cada equipe ficará responsável. análise do panorama brasileiro atual, por meio da observação

230
da realidade ou de referenciais teóricos. É interessante promo- resposta às demandas dos protestantes, com a organização
ver um debate sobre o tema, buscando levantar argumentos que de reuniões e encontros para o diálogo e a busca por solu-
indiquem se o Estado brasileiro é ou não autoritário. Para a rea- ções, também costuma ser mais rápida onde há democracia
lização desse debate sobre a situação brasileira, retome o con- plena do que nos países com democracia imperfeita.
teúdo do capítulo, especialmente dados como os do Índice de 4. Espera-se que os estudantes identifiquem nos relatos carac-
Democracia, e indique aos estudantes a leitura do boxe Para terísticas como cerceamento das liberdades individuais e de
explorar dessa página e do material sugerido nele. As informa- expressão, falta de transparência nas ações do governo e
ções disponíveis no site do Memorial da Democracia podem am- uso da violência contra a população, as quais se aproximam
mais dos regimes mistos e autoritários do Índice da Demo-
pliar as discussões a respeito da história da democracia no Brasil
cracia. A transformação dessa realidade no Brasil vem ocor-
republicano. As linhas do tempo, em especial, contribuem para
rendo desde a abertura política, e o objetivo é nos tornarmos
apresentar uma cronologia dos diferentes eventos relacionados à uma democracia plena.
democracia no país. Nesse sentido, podem ser utilizadas como ma-
5. Atividade de pesquisa. Dependendo da realidade escolar, em
terial de apoio para uma possível revisão das temáticas discutidas
vez de duplas, a turma pode realizar a atividade coletivamen-
nessa unidade. te. Lembre os estudantes de que precisam da autorização ex-
Essa discussão pode propiciar a mobilização de aspectos da pressa dos entrevistados para realizar o registro de imagem
habilidade EM13CHS605. e de som e também para divulgar o diálogo recolhido. O obje-
tivo da atividade é incentivar os jovens cidadãos a observar os
Sugestão para o professor grupos sociais que os cercam e as conjunturas em que vivem.
Vídeo Caso os estudantes façam parte de algum coletivo que sofre
repressão, este pode ser um momento rico de compartilha-
» O brasileiro é autoritário? Entrevista com Lilia Schwarcz.
mento de impressões e de organizar ou consolidar projetos de
Disponível em: https://youtu.be/bEpQAI8f96A. Acesso em:
resistência cultural e segurança desses grupos.
9 jul. 2020.
6. a) Segundo o trecho do texto de Carlo Fico, os elementos que
Trata-se de um vídeo em que Lilia Schwarcz, autora do livro
propiciaram o aumento do autoritarismo no Brasil durante a
Sobre o autoritarismo brasileiro (indicado na página 229 des- ditadura militar foram a criação de um sistema nacional de
te manual), com base em questões levantadas pelo público, espionagem, o emprego de uma polícia política, a atuação
fala sobre o autoritarismo no Brasil e seus fundamentos. dos departamentos de propaganda e censura política e o tri-
bunal exceção.
Atividades (Páginas 92 e 93) b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes apontem
1. Atividade de pesquisa. O site oficial do Índice de Democracia que esses mecanismos foram utilizados para perseguir, si-
lenciar e eliminar os opositores à ditadura.
está em inglês. No entanto, é possível encontrar notícias sobre
o índice em português, em diversas publicações digitais ou im- 7. Resposta correta: alternativa d. Os excertos do AI-5 destaca-
pressas da mídia oficial. dos no enunciado evidenciam o esvaziamento dos outros
poderes diante das decisões dos órgãos do Executivo.
Se possível, imprima ou projete os dados levantados pelos es-
8. Resposta correta: alternativa a. O primeiro texto apresenta
tudantes, incentivando-os a realizar as análises solicitadas de
motivações de manutenção da organização estatal (repre-
modo autônomo, para favorecer o protagonismo deles no pro-
sentado pela democracia); já o segundo, é focado na liberda-
cesso de construção do conhecimento sobre o estado atual da
de e contrário a organizações autoritárias.
democracia no Brasil e no mundo.
9. Resposta correta: alternativa a. Uma das estratégias do tota-
2. Atividade de pesquisa. Os estudantes devem identificar que litarismo é tornar indistintas as esferas públicas das esferas
os movimentos apresentados nas fotografias das páginas 90 privadas, homogeneizando os sujeitos que podem, eventual-
e 91 são o movimento pelas Diretas Já, articulado por diversos mente, se opor ao regime.
grupos; a Passeata dos Cem Mil, organizada pela UNE; e o mo-
vimento de mães de estudantes presos e desaparecidos no 10. Resposta correta: alternativa d. Retome com os estudantes
contexto da ditadura. Em suas pesquisas, deverão identificar as ideias debatidas sobre o Índice de Democracia, reforçan-
o que reivindicavam esses movimentos e como sua atuação, do a importância da liberdade de imprensa para que a so-
em conjunto com a atuação de outros grupos opositores ao ciedade possa acompanhar o trabalho dos governantes.
regime militar, contribuíram para a redemocratização do país.
3. a) Liberdade de manifestação (“a polícia militar que estava
presente […] recebeu ordens para dispersar o protesto) e se-
CAPÍTULO 8 REPRESENTATIVIDADE
gurança (“iniciou uma forte repressão aos participantes usan- E DEMOCRACIA (Página 94)
do gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes”).
O capítulo 8 trata da democracia brasileira, que se apoia na
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respon-
Constituição de 1988 e na abertura política iniciada em 1985.
dam afirmativamente, já que a notícia evidencia a violação
Atualmente, nossa democracia imperfeita enfrenta grandes de-
de liberdades civis e a violência com a qual o Estado tratou
os professores que protestavam. safios, como a crise da representatividade, a fragilidade de suas
instituições e a ameaça constante de ruptura.
c) Os estudantes podem consultar os nomes dos países clas-
Esse capítulo aborda também a atuação de movimentos so-
sificados como democracia plena no mapa da página 82. Eles
podem buscar notícias, artigos acadêmicos e relatos em pu- ciais como forma de exercício da cidadania e instrumento de lu-
blicações impressas e/ou digitais sobre as respostas das au- ta pela democracia.
toridades a protestos nos países escolhidos. Eles devem
notar que, mesmo em democracias plenas, quando há mani- Representatividade e democracia
festações que escapam do controle dos grupos organizado-
(Página 94)
res (causando, por exemplo, a depredação de patrimônio
público), o governo utiliza métodos de repressão. Porém, a A abertura desse capítulo traz uma reportagem produzida
diferença está nos níveis de violência contra os cidadãos. A com base em dados divulgados por um órgão institucional, o

231
Tribunal Superior Eleitoral. Os estudantes devem confrontar as que quase metade dos cidadãos não confia nos políticos. Em
informações do texto com a imagem, mobilizando habilidades seguida, trabalhe com eles meios de combater institucionalmen-
de leitura de texto e análise de dados. O objetivo é que eles per- te esse processo. Essa discussão contribui para a mobilização
cebam um aspecto contraditório à democracia no país ao ob- de aspectos das habilidades EM13CHS601 e EM13CHS602.
servar o abismo entre o perfil dos representantes do povo na Dialogue com os estudantes sobre a questão dos financia-
política e o da população brasileira, que raramente ocupa ver- mentos eleitorais e sua relação com o processo de oligarquiza-
dadeiramente o espaço político. ção das organizações políticas. Chame atenção para o fato de
No decorrer do capítulo, o debate sobre os limites das demo- os candidatos e os partidos mais alinhados aos interesses das
cracias representativas será aprofundado, com reflexões espe- elites econômicas terem, geralmente, uma campanha mais vas-
cialmente sobre o Brasil. Essas discussões colaboram para a ta, pois dispõem de mais verbas, o que contribui para sua ma-
formação da consciência cidadã e auxilia os jovens a se posicio- nutenção no poder.
nar de modo mais responsável na comunidade em que estão O artigo indicado no boxe Para explorar possibilita aos estu-
inseridos. dantes ampliar seu entendimento a respeito do conceito de oli-
O conceito de representatividade política é trabalhado com garquia, bem como sua aplicação na sociedade brasileira. Esse
os estudantes, de modo que identifiquem que nosso modelo artigo também pode ser utilizado para retomar a discussão so-
de democracia representativa implica se constitui por meio do bre meritocracia, iniciada na unidade 2 do Livro do Estudante,
voto em pessoas que vão representar o poder do povo. Essa por abordar a formação de meritocracias oligarquizadas, que
caracterização abre discussão para pensar se os indivíduos elei- resultam da aplicação de sistemas meritocráticos em realidades
tos para cargos políticos representam realmente o povo brasi- onde não há igualdade entre aqueles que são submetidos a es-
leiro, tanto no sentido de parecer ou ter semelhanças com ele sa forma de avaliação.
como no de atuar politicamente de acordo com os interesses
Sugestão para o professor
dos eleitores.
A proposta desenvolvida nessa abertura de capítulo contri- Site
bui para a mobilização destacada das habilidades EM13CHS101 » #28 Crise democrática. Uol Tab. Disponível em: https://
e EM13CHS103. tab.uol.com.br/democracia/. Acesso em: 10 jul. 2020.
Tab é um projeto editorial interativo do portal UOL e, em sua
edição 28, apresenta um panorama atual sobre a democracia
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
no mundo e, especialmente, no Brasil. A reportagem intitula-
1. O objetivo é que os estudantes mobilizem suas habilidades da “Crise democrática”, que estampa a hashtag #nãomere-
de leitura de textos e imagens e de análise e aplicação de presenta na imagem de capa, traz informações sobre índices,
dados, para traçar perfis e identificar padrões em uma reali- bem como avaliações, reflexões históricas e culturais sobre
dade registrada. Espera-se que os jovens percebam que o os elementos mais característicos da democracia nacional.
perfil dos eleitos para a Câmara dos Deputados não condiz
com a diversidade da população brasileira, como é possível Democracia moderna: dilemas (Página 96)
observar na foto que retrata uma via movimentada em Vitó- Nos últimos anos, ganhou espaço na mídia um discurso de
ria da Conquista (BA). ódio à democracia, decorrente da desconfiança dos cidadãos em
2. Resposta pessoal. Os estudantes vão observar a própria co- relação à capacidade de se realizar os ideais democráticos. In-
munidade, de modo análogo ao que fizeram na questão an- dique para os estudantes esses ideais e analise as dificuldades
terior. Provavelmente, a população do município onde eles de atingi-los.
vivem não é plenamente representada em diversidade pelos Ressalte que o modelo de democracia em vigor nas socieda-
deputados eleitos. des atuais tem como premissa a necessidade de representação
política. Instigue os estudantes a refletir sobre as possíveis difi-
3. Respostas pessoais. Com base nas reflexões realizadas até
culdades que esse modelo apresenta para garantir a participa-
o momento, os estudantes podem apresentar sugestões pa-
ção de todos em decisões políticas.
ra a transformação da realidade brasileira por meio, por exem-
A ideia de movimento popular é importantíssima nesse tópi-
plo, da consecução de políticas públicas de reparação,
co, pois indica uma forma de participação da população na vida
analisadas na unidade anterior, e também de medidas que
pública. As propostas de análise, pesquisa e debate incentivam
objetivam a formação da cultura política, como o incentivo da
a construção da CGEB2. A noção de “vida pública” é interessan-
participação popular nas decisões políticas locais.
te de ser trabalhada com os estudantes nesse momento, visan-
do o desenvolvimento da CGEB9 e da CGEB10, bem como das
Crise na representatividade democrática habilidades EM13CHS603 e EM13CHS605.
(Página 95)
Boxe Interação
O tema trata da crise na representatividade da política brasi-
leira e mundial, sendo importante indicar aos estudantes como 1. Resposta pessoal. O objetivo da atividade é que os estudan-
esse tipo de crise é inerente aos sistemas democráticos como tes desenvolvam habilidades referentes à oralidade, além de
os concebemos na atualidade. Dessa forma, essa discussão po- adotar uma postura ética e respeitosa. Assim, eles poderão
de propiciar a mobilização da competência geral CGEB1. retomar o debate proposto na página e organizá-lo de modo
O trabalho com o gráfico contribui para a mobilização da didático para o diálogo explicativo, conscientizando sua co-
CGEB4 e de aspectos das habilidades EM13CHS106 e munidade da importância da participação política para a cons-
EM13MAT102. trução da democracia plena.
A oligarquização das organizações políticas é tida como um 2. Resposta pessoal. Se necessário, retome com os estudantes
dos motivos para a baixa confiança nos grupos políticos que os conteúdos do capítulo anterior para orientá-los na elabo-
atuam segundo interesses próprios. Pergunte aos estudantes ração da lista. Ela pode ser feita de modo coletivo e dialógico,
sobre as consequências de uma democracia representativa em sistematizando as ideias levantadas ao longo da unidade.

232
Outra possibilidade é orientá-los a retomar as pesquisas so- Boxe Interação
bre como os países classificados como democracias plenas
resolvem seus problemas de modo democrático e ético, bus- 1. Atividade de pesquisa e contextualização histórica. No Portal
cando inspiração neles. das Constituições, disponibilizado pelo Senado, é possível
encontrar diversas fotos oficiais da Assembleia Constituinte
Movimentos pela democracia (Página 97) de 1988. O acervo está disponível em: https://www2.camara.
leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasilei-
As Diretas Já representam um dos mais expressivos movi-
ras/constituicao-cidada/publicacoes/album-de-fotos-1. Aces-
mentos em prol da democracia, porque compeliu à abertura de-
so em: 12 jul. 2020. As fotos selecionadas pelos estudantes
mocrática e ao fim da ditadura. A grandiosidade do movimento podem ser impressas ou projetadas e o compartilhamento
é percebida pelo fato de que ele unia diferentes ideologias, algo de impressões pode ser feito em uma roda da conversa. Pro-
raro nos movimentos sociais atuais. ponha à turma a confecção de um mural, um painel ou um
A crise econômica inflacionária dos anos 1970 acirrou a de- varal com as fotos históricas, acompanhadas de legendas
manda por abertura, somada ao descontentamento do povo com explicativas.
o desempenho do governo. Este ponto é importante ser abor-
2. Cassandra é uma figura da mitologia grega que anunciava ca-
dado: crises econômicas, sociais e políticas, entre outras, propi-
tástrofes iminentes. No relato, é feita uma alusão a essa per-
ciam a mudança de governo.
sonagem ao se referir aos pessimistas ou opositores da
O Pacote de Abril previa a abertura gradual do país. Discuta
Constituição, que não acreditavam que ela de fato fosse sobre-
com a turma as medidas previstas nesse pacote e peça aos es- viver aos distúrbios políticos como "Cassandras". Espera-se que
tudantes que reflitam sobre como cada uma delas pode contri- os estudantes percebam que a Assembleia Constituinte se
buir para a instauração e a manutenção do regime democrático. configurou como território de disputa entre diferentes projetos
e que, até hoje, sua implantação segue com intensos debates.
Diretas Já (Página 98)
3. O segundo relato traz algumas percepções sobre os pro-
É importante que os estudantes saibam quem foi Vladimir
cessos políticos que poderiam abalar as estruturas demo-
Herzog; portanto, comente com eles sobre o contexto da prisão
cráticas ocorridos após a promulgação da Constituição de
e da morte do jornalista.
1988. Os impeachments marcam a retirada do poder de
Debata com os estudantes sobre a seguinte questão: Por que
representantes eleitos pelo povo e poderiam indicar uma
demorou cerca de dez anos até que a abertura da democracia
quebra na ordem democrática, evidenciando uma possível
se concretizasse? Mais do que buscar uma resposta a essa per-
crise democrática. Apesar disso, o texto evidencia que as
gunta, é importante refletir sobre o contexto do período e as
sucessões presidenciais ocorreram conforme parâmetros
possibilidades de atuação dos movimentos sociais frente ao re-
democráticos, amparados pela Constituição.
gime militar.
É importante também propor uma reflexão acerca da proxi-
midade temporal, em termos históricos, entre o período ditato-
Atividade complementar
rial e o presente, evidenciando a permanência de certas estru- Se julgar apropriado, solicite aos estudantes que pesquisem
turas políticas e sociais que remontam a esse contexto. e identifiquem os movimentos sociais que estiveram envolvidos
na elaboração da Constituição federal de 1988.
Sugestão para o professor Entre os movimentos identificados, eles deverão selecionar
Vídeo um para pesquisar, verificando o que esse movimento reivindi-
» Diretas Já. Cultne Acervo. Disponível em: https://youtu. cava e de que maneira essa reivindicação foi manifestada na
be/3E-jNkiiVhA. Acesso em: 11 jul. 2020. Constituição, as políticas governamentais e de Estado que foram
Registro em vídeo do período das Diretas Já apresentado em empregadas após a Constituição para cumprir a reivindicação e
nove partes. Disponibilizado pelo acervo da cultura negra, o como a situação reivindicada se apresenta nos dias de hoje.
Cultne, é um material muito interessante de ser trabalhado
em sala de aula, pois retrata bem o clima de efervescência Atividades (Páginas 100 e 101)
política e cultural dos movimentos em prol das eleições dire-
tas e pela democratização. 1. a) Espera-se que os estudantes identifiquem que não, já que
a maior parte da população brasileira possui Ensino Funda-
Constituição de 1988: avanços mental incompleto, enquanto os deputados eleitos em 2018
tinham Ensino Superior completo.
democráticos (Página 99)
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
Ao abordar a temática da Constituição de 1988, é importan-
quem que o processo de oligarquização, apesar de ser comum
te ressaltar que sua elaboração esteve diretamente relacionada
em todas as democracias representativas, é potencializado
à luta e aos esforços dos movimentos sociais, como os movi-
no Brasil pelo contexto das desigualdades sociais estruturais.
mentos negros e indígenas.
Para isso, eles podem retomar momentos históricos e pro-
Essa Constituição representou uma grande ruptura na tradi-
blemas analisados em outros capítulos deste volume e tam-
ção autoritária, não somente por ter sido elaborada no contexto
bém utilizar exemplos de seu cotidiano.
da redemocratização do país, mas também por vincular um en-
tendimento de cidadão que abrange todos os indivíduos, sem 2. a) O trecho da notícia apresentada na abertura do capítulo
restrições, residentes em território nacional. apresenta o perfil dos representantes políticos da população
Ressalte que, apesar desse entendimento de cidadão vincu- brasileira, evidenciando a característica oligárquica da demo-
lado pela Constituição, muitos grupos e indivíduos ainda tem o cracia representativa no Brasil, na qual uma pequena cama-
acesso à cidadania negados ou dificultados na prática social. da de dirigentes governa, distanciando-se dos interesses das
Essa discussão contribui para a mobilização de aspectos das massas, ideia que é comentada por Pedro Floriano Ribeiro
habilidades EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503. ao discutir o pensamento de Robert Michels.

233
b) Espera-se que os estudantes percebam que ambos tratam A discussão em torno das ideias de Habermas caracteriza a
da mesma teoria política. Michels é uma das referências usa- soberania como exercício concentrado do poder, mas que incor-
das por Couto e outros politólogos que se dedicam a estudar porou a vontade popular. O problema consiste em saber se a
a democracia representativa. Comente com os estudantes soberania é garantida diretamente ou se ela só seria possível
que, na construção das teses científicas, busca-se sempre de maneira indireta em um regime democrático.
dialogar com os pensadores que se debruçam sobre ques- A democracia deliberativa de Habermas supõe uma concilia-
tões do mesmo campo de estudo. ção entre republicanismo e liberalismo. Para finalizar o debate
c) A atividade retoma e dá continuidade aos diálogos reali- desse capítulo, ressalte os diversos tipos e modelos de demo-
zados ao longo dessa unidade sobre as transformações ne- cracia, solicitando aos estudantes que compartilhem suas im-
cessárias à democracia brasileira. Incentive os estudantes a pressões sobre eles. Dessa forma, é possível dar continuidade
retomar a lista feita na atividade do boxe Interação na pági- ao trabalho sobre o conceito de democracia sem perder de vista
na 96 e ampliar as proposições elencadas nela. o protagonismo dos jovens e as possibilidades de articulação
3. a) Não, pois atualmente, tanto governadores quanto sena- sobre o tema.
dores são eleitos por voto direto.
b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes façam RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
um balanço histórico e sociológico sobre a democracia re-
1. Para Habermas, embora ambas as perspectivas apontem o
presentativa brasileira, os momentos de governo autoritá-
povo como fonte do poder político, a perspectiva republicana
rio e os processos de retomada democrática e de golpes
de Estado. não admite a transferência desse poder a representantes,
cabendo ao povo exercê-lo. Já a perspectiva liberal admite
4. a) A deputada aponta que, apesar de a Constituição Cida- que o poder possa ser exercido, em nome do povo, por órgãos
dã, como é conhecida a Constituição federal de 1988, re-
e instituições eleitos.
presentar um grande avanço no que se refere à garantia
de direitos individuais, ela não abrange todos os brasilei- 2. Durante o regime ditatorial, foi instituído um Estado de exce-
ros, nem promove desenvolvimento, renda, trabalho e dig- ção no país, no qual muitos direitos foram revogados, entre
nidade a todos. eles os direitos políticos. Nesse período, o poder do Estado
era exercido e legitimado pelos militares, excluindo a popu-
b) Ela cita que é preciso uma Constituição que resguarde di-
lação desse processo. Nesse sentido, a garantia constitucio-
reitos, qualidade de vida, direitos do cidadão e desenvolvi-
nal de soberania do povo visa encerrar essa exceção e
mento a todos os brasileiros.
devolver a soberania ao povo.
c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifi-
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identifiquem
quem a constatação da desigualdade social no país no dis-
curso da deputada e a relacionem à dificuldade para a que a imagem que retrata a manifestação popular e a ima-
consolidação de uma democracia plena. gem da parceria estabelecida entre os setores público e pri-
vado para obtenção de benefícios à comunidade reiteram a
d) Resposta pessoal. Em suas produções, os estudantes de- soberania popular sobre os espaços e recursos. Trata-se, po-
verão evidenciar suas percepções acerca da finalidade de
rém, de dois momentos específicos que não representam as
uma constituição e de seus desdobramentos para a socieda-
relações gerais estabelecidas entre a iniciativa liberal e a pos-
de. Espera-se eles identifiquem a Constituição federal como
sibilidade de democracia deliberativa.
o conjunto de normas que regem o Estado e que, portanto,
determina a relação entre o Estado e os cidadãos. 4. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes evidenciem
sua percepção acerca da participação popular no governo
5. Resposta correta: alternativa e. O texto evidencia que, no sis-
atual, seja por meio da eleição de representantes, seja por
tema democrático de Schumpeter, a participação popular é
meio do respeito e da consideração para com a vontade po-
vista como uma intrusão indesejada; portanto, esse sistema
pular na tomada de decisões públicas.
democrático pressupõe a deliberação dos líderes políticos
com restrição da participação das massas.
6. Resposta correta: alternativa a. As afirmativas indicadas nes-
sa opção abordam diversas possibilidades de participação CAPÍTULO 9 OS MOVIMENTOS
da sociedade civil na vida pública, para além do trabalho em POPULARES (Página 104)
órgãos institucionais.
O foco deste capítulo são os movimentos sociais, especial-
mente os que atuam no Brasil, apresentados de acordo com
Ampliando (Páginas 102 e 103) os locais onde se desenvolvem: movimentos rurais e movi-
Essa seção aborda o conceito de soberania popular levando mentos urbanos. Esses fenômenos sociais são analisados tan-
em consideração as ideias do filósofo Jürgen Habermas sobre to em linhas gerais, sob o ponto de vista ético e dos direitos
soberania e representatividade. humanos, quanto de modo microcósmico, com a exploração
Inicie a discussão chamando a atenção dos estudantes para de alguns casos.
o primeiro artigo da Constituição brasileira, que enuncia que o Nos movimentos rurais, a luta envolve, principalmente, o re-
poder por meio do qual o Estado atua emana do povo e é exer- conhecimento da posse da terra por comunidades tradicionais,
cido por representantes. Leia o trecho da Constituição disponi- respeito às terras demarcadas a essas comunidades e a valori-
bilizado no texto introdutório e instigue os estudantes a refletir zação do trabalho rural. Nos movimentos urbanos, é comum que
sobre seu significado. sejam reivindicadas . O capítulo traz também uma breve reflexão
Em seguida, oriente os estudantes a ler os trechos dos textos sobre o uso que esses movimentos fazem das redes sociais e
de Habermas, bem como do professor Jorge Adriano Lubenow. de outras ferramentas on-line.

234
Os movimentos populares (Página 104) movimentos sociais brasileiros no presente. Se considerar
apropriado, reproduza trechos desse episódio em sala de au-
O objetivo central é apresentar os movimentos sociais popu- la. Para isso, recomenda-se que seu conteúdo seja ouvido
lares aos estudantes como forma de atuação em prol de trans-
previamente para selecionar os trechos que serão apresen-
formações sociais, mobilizando, assim, aspectos das CGEB1
tados aos estudantes.
e CGEB2.
Os gráficos apresentados, cuja análise favorece o desenvol-
Boxe Interação
vimento de aspectos das CGEB4 e CGEB7 e da habilidade
EM13MAT102, demonstram que a sociedade brasileira não 1. Resposta pessoal. Os estudantes devem relacionar a coleti-
põe em prática todos os aspectos presentes na Carta Magna vidade expressa na imagem com a ideia de movimento social
de 1988, pois ainda há déficit habitacional, pobreza extrema e de Gohn.
analfabetismo no Brasil. É imprescindível demonstrar aos es-
tudantes como isso está vinculado às lutas por moradia, traba- A questão agrária (Página 106)
lho e educação.
A questão agrária brasileira remete ao início da colonização,
As perguntas envolvem uma reflexão coletiva que deve ser
quando os povos indígenas foram exterminados ou expulsos
estimulada nesse capítulo, tendo em vista que são tratadas
de suas localidades, e à abolição da escravidão, no fim do sé-
questões sociológicas e políticas que podem fazer mais sentido
quando elaboradas conjuntamente. Você pode, por exemplo, culo XIX. Essa questão, contudo, permanece atual, pois a luta
trabalhá-las em uma roda de conversa. dos povos tradicionais por suas terras persiste atualmente e
tem grande risco de retrocesso, o que justifica a importância
desse debate.
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES Das capitanias às sesmarias, as terras nacionais foram en-
tregues pelo Estado aos interesses privados de grandes empre-
1. Moradia digna, renda e educação. Espera-se que os estudan-
sários e, assim, instituíram-se as oligarquias agrárias. Explique
tes cheguem a essa conclusão após a leitura do título de ca-
alguns efeitos da concentração ou do monopólio de terras nas
da gráfico. Se necessário, chame a atenção deles para esse
mãos de uma elite rural: o trabalhador rural não tem suporte do
item e explore o significado dos termos que talvez não sejam
Estado para sua subsistência, e os povos indígenas e quilombo-
conhecidos pelos estudantes, como déficit.
las enfrentam grandes desafios para delimitar suas terras.
2. Respostas pessoais. O objetivo é que os estudantes possam Os debates propostos favorecem o desenvolvimento de di-
identificar, em sua realidade, os contextos abordados pelos
versos aspectos das habilidades EM13CHS602, EM13CHS605
gráficos, estabelecendo, dessa forma, relação entre os dados
e EM13CNT206.
analisados e a prática social.
3. Respostas pessoais. A proposta de elaboração de lista po- Movimentos pelo acesso à terra
de retomar as atividades atitudinais realizadas anterior-
mente, colaborando para a construção de uma lista mais (Página 107)
consistente e baseada nas pesquisas e nos dados levanta- Explique aos estudantes que a teologia da libertação é uma
dos até o momento. corrente cristã que trabalha especificamente com os sujeitos
desvalidos e despossuídos, tendo como foco de atuação os mo-
Ética e movimentos populares (Página 105) vimentos sociais que visam a melhoria das condições de vidas
deles. É indicado abordar com os estudantes a ação de algumas
Explique aos estudantes que os movimentos sociais são
figuras ilustres da teologia da libertação e a relação delas com
ações coletivas que visam a organização e a expressão de de-
a obra e o legado de Paulo Freire.
mandas de um grupo de pessoas que luta para ter um ou mais
direitos atendidos.
Boxe Interação
Trata-se de um momento que favorece alguns debates, por
exemplo: O Estado brasileiro garante a igualdade de justiça e 1. Rossana Reis aponta que o ativismo de setores da Igreja ca-
de liberdade?Essa discussão colabora para o desenvolvimento tólica foi essencial para que diversas associações de prote-
de aspectos das habilidades EM13CHS502, EM13CHS503 e ção aos direitos humanos fossem criadas e formassem uma
EM13CHS504. base de apoio para os movimentos do campo.
Outra possibilidade que pode aprofundar os diálogos pro- 2. O texto faz referência a um Estado autoritário construído pe-
postos é incentivar a turma a pensar sobre a seguinte questão: las oligarquias, em sua maioria detentora de latifúndios. Se
A internet potencializa os movimentos sociais? Há movimenta-
necessário, retome com os estudantes os contextos de oli-
ção social pela internet? Esse tipo de reflexão se aproxima da
garquias da democracia representativa do Brasil, debate
realidade dos estudantes e é o centro das discussões políticas
aprofundado no capítulo anterior.
em tempos, por exemplo, de isolamento social, uma realidade
experienciada durante a pandemia do coronavírus. 3. Atividade de pesquisa. Os estudantes poderão se apropriar
Vale comentar que movimento social é resistência e também do modo como as propriedades rurais estão organizadas em
inventividade. Se considerar adequado, comente com os estu- seu município, adquirindo consciência dessa realidade, caso
dantes a importância dos movimentos para a transformação da a desconheçam. Trata-se de mais uma estratégia para cha-
sociedade: as organizações populares possibilitam diagnósticos mar a atenção dos jovens para as condições do Brasil atual
sociais e culturais e criam propostas coletivas e alternativas ri- que impactam em seu cotidiano. A pesquisa pode ser reali-
quíssimas para solucionar problemas. zada em publicações impressas ou digitais, de acordo com a
No episódio indicado no boxe Para explorar, o podcast disponibilidade. Se a escola se localizar na área rural, também
transcorre como uma entrevista, na qual Roniel Sampaio-Sil- é possível que a pesquisa contemple entrevistas com traba-
va questiona Cristiano Bodart sobre a conjuntura dos lhadores rurais e pequenos produtores.

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Principais movimentos organizados Sugestão para o professor
Livro
(Página 108)
» SAntOS, Regina Bega dos. Movimentos sociais urbanos.
Ressalte que os movimentos pelo acesso à terra têm origem São Paulo: Ed. da Unesp, 2008.
com as reivindicação dos povos indígenas e quilombolas. Com
Nesse livro, a autora explicita o sentido dos movimentos so-
o objetivo de continuar o desenvolvimento da habilidade
ciais e foca os aspectos mais centrais dos movimentos urba-
EM13CHS601, é indicado retomar os capítulos da unidade 2 que
nos, refletindo sobre suas formas de luta pela coerção políti-
tratam desse tema e aprofundar a reflexão.
ca. É apresentado um bom panorama sobre os movimentos
Comente com os estudantes que o movimento dos traba-
brasileiros e as formas de garantir que suas demandas sejam
lhadores rurais representa uma das classes mais vulneráveis
atendidas.
do país. Por estar localizados muito distantes dos centros ur-
banos, as informações e notícias a respeito desses grupos,
muitas vezes, não chegam a grande parte da população, o que Ciberativismo (Página 111)
contribui para a criação de mitos em torno da imagem deles e Os movimentos urbanos têm maior adesão que os rurais pe-
para o preconceito. la intensa circulação de pessoas nas grandes cidades. Já a inter-
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) net permite que pessoas de lugares diferentes estabeleçam
surgiu com a abertura política do país e, desde então, esse gru- contato e organizem grupos com interesses e lutas em comum.
po se dedica a demonstrar para a população brasileira a relação Esses grupos podem iniciar movimentos sociais importantes,
entre a riqueza da economia agrária, que “sustenta” o país, e a com grandes impactos na comunidade. Por outro lado, um as-
miséria dos trabalhadores rurais, e a lutar pelo direito de aces- pecto negativo das atividades do ciberativismo é que, muitas
so à terra. Retome com a turma questões sobre as desigualda- vezes, aatuação fica restrita ao mundo virtual.
des econômica e social no país para esclarecer melhor esse É indicado tratar os três tipos de ciberativismo apresenta-
abismo existente. dos no texto (ativismo computadorizado, desobediência ele-
trônica civil e hackeamento politizado) dando exemplos reais
Sugestão para o professor
e atuais. A discussão sobre ciberativismo pode propiciar a re-
Site flexão a respeito da importância da ética e do uso responsável
» Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). das mídias digitais, mobilizando aspectos da habilidade
Disponível em: https://mst.org.br. Acesso em: 13 jul. 2020. EM13CNT207.
O MST é um dos movimentos sociais mais tradicionais do Bra-
sil que ainda lutam para a garantia de condições justas de Atividades complementares
trabalho e subsistência. Em seu site oficial, há o histórico do
movimento e informações sobre como atuam.
• Se julgar pertinente e caso haja disponibilidade, convide os
estudantes a organizar um coletivo visando a resolução ou
a minimização de alguma situação-problema no local onde
Movimentos no contexto urbano a comunidade escolar está inserida.
(Páginas 109 e 110) • Os diálogos realizados sobre atuação cidadã, participação
Existem também os movimentos sociais em contexto urbano. democrática, direitos humanos e responsabilidade podem
O crescimento descontrolado dos centros urbanos criou polos ser retomados nesse momento e mobilizados de modo sig-
desiguais, nos quais regiões de pobreza extrema convivem com nificativo pela turma, na construção do coletivo proposto.
regiões riquíssimas. O aumento populacional geralmente não é
acompanhado de melhoria na infraestrutura. Luta-se, ainda, por
• Para trabalhar o conceito de ciberativismo, a atuação desse
coletivo deverá levar em consideração, principalmente, o uso
condições estruturais, como saneamento, transporte e moradia, de ferramentas on-line, seja para chamar atenção para de-
mas também por melhores condições de educação, segurança
terminada situação-problema, seja para angariar fundos ou
e saúde, por emprego e por direitos trabalhistas.
mobilizar indivíduos para resolvê-la.
As discussões propostas nessa dupla de páginas, especial-
mente no boxe Interação, favorecem o desenvolvimento de as- • É importante que, em uma discussão introdutória sobre essa
pectos das CGEB9 e CGEB10. atividade, seja feita uma roda de conversa para discutir ética,
Visando desenvolver as habilidades EM13CHS101 e responsabilidade e segurança em ambientes virtuais.
EM13CHS105, debata com os estudantes sobre as diferenças • Nesse sentido, sugere-se criar um comitê de ética, responsa-
entre movimentos rurais e movimentos urbanos. bilidade e segurança on-line formado por profissionais da
comunidade escolar e estudantes para que os planos de ação
Boxe Interação desenvolvidos sejam submetidos à avaliação e à aprovação
1. Resposta pessoal. Caso existam jovens ativistas na turma, or- antes de sua efetivação. Para conduzir essa proposta, uma
ganize uma roda de conversa para que eles possam ser en- estratégia interessante é formar grupos de debate para que
trevistados pelos colegas e compartilhar suas motivações, os os conceitos, como ética e responsabilidade, sejam desdo-
modos de organização e as ações desenvolvidas pelo movi- brados e aprofundados.
mento do qual fazem parte, assim como seus impactos sociais. • Com base nesses diálogos, que podem mobilizar toda a co-
2. Resposta pessoal. A atividade incentiva o protagonismo ju- munidade escolar, os grupos devem redigir os pilares do co-
venil e a participação política. No capítulo anterior, foram ana- mitê, definir os representantes e a sazonalidade com qual
lisadas formas de participação dentro do sistema comitê vai renovar seus quadros. Essas medidas são impor-
representativo; nessa questão, o estudante poderá refletir tantes justamente para garantir a ética do comitê, evitando
sobre outras formas democráticas de ação política e como a formação de oligárquias e a centralização desse tipo de
ele se vê em relação a elas. poder em um único grupo .

236
Atividades (Página 112) Práticas de texto (Página 113)
1. a) O gráfico sobre a população brasileira na extrema pobreza Os estudantes deverão escrever uma biografia de uma pes-
apresenta uma tendência oscilante e distinta entre os casos de soa de relevância para a comunidade escolar. Essa tarefa pode
pobreza e extrema pobreza; contudo, a partir de 2003 nota-se contribui para mobilização da habilidade EM13LGG703.
uma queda em ambas os casos, que se transforma em ascen- Comece explicando à turma os pontos centrais que compõem
são a partir de 2014. O gráfico de déficit habitacional também uma biografia. É importante ressaltar que existem variados ti-
apresenta oscilação, sendo que o período entre 2007 e 2013 pos de biografia e explicar as características que as diferenciam.
tem oscilação maior, e o período entre 2014 e 2017, menor. Por Se julgar conveniente, trabalhe em parceria com um docente da
fim, o gráfico sobre pessoas que não sabem ler ou escrever apre- área de Linguagens.
senta uma tendência decrescente, a qual se pode perceber pela Os estudantes podem ter dificuldade para escolher uma
diferença de porcentagem entre as pessoas com 60 anos ou pessoa relevante para a escola; caso isso aconteça, indique al-
mais e 15 anos ou mais que não sabiam ler ou escrever em 2016. guns nomes que julgar interessantes e convenientes. O traba-
lho pode ser feito individualmente ou em grupo. Considere in-
b) Atividade de pesquisa. Espera-se que os estudantes iden-
dicar que escrevam sobre um professor ou outro funcionário
tifiquem medidas adotadas pelo governo federal ou pelos
da comunidade escolar. Essa pode ser uma boa oportunidade
governos estaduais e municipais para erradicar a pobreza e
para conhecer melhor esses profissionais.
a extrema pobreza, garantir habitação à população e elevar
Oriente os estudantes a montar um questionário com infor-
a taxa de alfabetização no país. Muitas dessas informações
mações essenciais para a construção da biografia. A depender
podem ser consultadas nos portais oficiais do governo fede-
do tipo de biografia, algumas informações serão mais relevan-
ral ou dos governos estaduais e municipais.
tes que outras. Apoie-os nessa tarefa caso seja necessário. Isso
c) Atividade de pesquisa. Em complementaridade ao item an- pode ser feito ao trazer exemplos de pequenas biografias reti-
terior, os estudantes deverão verificar, por meio de pesquisa radas de jornais, revistas e livros, entre outras publicações, po-
em fontes diversas, se as ações tomadas pelos governos vi- de ajudar os estudantes na realização da tarefa.
sando melhorias nos setores pesquisados se efetivaram. Pa- Caso considere oportuno, você pode organizar a turma de
ra isso, os estudantes poderão buscar em canais oficiais e modo que uns leiam os textos dos outros e, assim, se ajudem
confiáveis tanto por fontes que apresentem dados relaciona- mutuamente na revisão. É interessante optar por publicar os
dos a melhorias nesses setores quanto por análises e comen- textos produzidos em alguma plataforma on-line gratuita. Além
tários que avaliem a eficácia das ações empreendidas. desse formato não ter custo, ele permite a circulação de infor-
d) Resposta pessoal. Mediante a constatação da desigualda- mação de forma fluida e muito mais rapidamente do que o ma-
de social que vem sendo abordada em diversos momentos terial impresso.
dessa coleção, espera-se que os estudantes identifiquem Se optarem por produzir o material impresso, uma possibili-
que a atuação dos movimentos sociais ainda se faz neces- dade é fixar as biografias no mural da escola. As opções de cir-
sária para promover melhorias nessas áreas. culação dos textos devem ser debatidas com os estudantes e/
2. Atividade de pesquisa. Essa atividade busca ampliar a com- ou responsáveis. Em ambos os casos, é fundamental que os es-
preensão dos estudantes acerca da importância e das formas tudantes obtenham autorização prévia da pessoa biografada e
de atuação dos movimentos na luta por justiça e igualdade que essa pessoa tenha acesso a essa biografia antes de sua
social. Incentive-os a escolher um movimento social com o publicação.
qual se identificam e a pesquisar, em fontes confiáveis, ma-
teriais que explicitem em que consiste esse movimento, o que Práticas de pesquisa (Páginas 114 e 115)
reivindica e como atua. Incentive-os também a buscar análi- A atividade propõe a realização de uma pesquisa de análise
ses de jornalistas e comentadores políticos ou sociais acerca de mídia, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da habi-
dos resultados obtidos por esse movimento. lidade EM13LGG704. Esse tipo de pesquisa envolve analisar os
Caso haja disponibilidade e se julgar pertinente, convide pes- recursos expressivos utilizados pelas mídias tradicionais para
soas que participem de movimentos sociais em seu município comunicar certos ideários.
ou em sua comunidade para uma roda de conversa com os O objetivo é centrar a investigação em figuras autoritárias
estudantes. que ocupam atualmente posição de liderança política e analisar
como os diversos suportes da mídia tradicional tratam de um
3. a) Espera-se que os estudantes identifiquem que a proprie-
mesmo acontecimento. O problema gira em torno de avaliar os
dade abordada são os latifúndios, que concentram a posse
líderes autoritários que surgiram em meio à crise da democracia
de terras nas mãos de poucas pessoas. Isso significa que a
e verificar a imagem criada pela mídia em torno deles, contribuin-
maioria da população rural brasileira não é detentora de ter-
do para o desenvolvimento das habilidades EM13CHS101 e
ras, levando uma parte significativa desse grupo a migrar pa-
EM13CHS602. A proposta dá continuidade à construção da pos-
ra zonas urbanas em busca de melhores condições de vida.
tura cidadã, desenvolvendo nos estudantes percepções sobre os
b) O texto defende que a gênese da desigualdade social está discursos políticos, como cada projeto de governo pode impactar
na concentração da posse de terras por um pequeno grupo. a comunidade em que vive e qual é a responsabilidade, individual
Os estudantes podem citar alguns dos reflexos disso: a exis- e coletiva, na democracia, tornando os jovens cada vez mais cons-
tência de pessoas que não possuem moradia; trabalhadores cientes de suas atuações nas relações de poder.
rurais desempregados; áreas urbanas superpopulosas, etc. É importante que você auxilie os estudantes nas análises dos
4. Resposta correta: alternativa b. Assim como evidenciado no diversos elementos que compõem jornais e revistas, tendo em
texto, uma parte significativa das mobilizações dos atores da vista a intertextualidade. Oriente os estudantes a escolher jor-
sociedade civil tem se caracterizado cada vez mais pela des- nais com diversas orientações: grandes, pequenos, privados,
centralidade e multiplicidade de atores sociais envolvidos, estatais, independentes, etc. Essa atividade contribui para o de-
imersos na vida cotidiana. senvolvimento das habilidades EM13CHS502 e EM13CHS504.

237
Retomada Observe as produções e busque identificar de que maneira
A seguir, apresentamos um esquema com os principais con- se apropriaram dos conteúdos vistos, as relações que consegui-
ceitos trabalhados ao longo da unidade e como eles estão rela- ram estabelecer, quais as dúvidas e dificuldades remanescen-
cionados. Use-o como apoio para sua mediação, mas oriente os tes, e, com base nos dados levantados, retome ou aprofunde os
estudantes a montar os próprios mapas mentais, revendo e or- conceitos necessários. Outra possibilidade é solicitar aos estu-
ganizando os conteúdos estudados. dantes que realizem pesquisas sobre os pontos de dúvidas.

Tipos de regime

Regime Democracia Democracia


Autoritarismo
híbrido imperfeita plena

Totalitarismo

Instituições democráticas frágeis Democracia


e um passado autoritário (ditadura) brasileira

Crise de democracia

Ódio e desconfiança Crise de Exigências de Movimentos


em relação à representatividade exercício direto populares atuando
democracia política da soberania popular politicamente

Lutas pela
democracia

Movimentos Movimentos
populares populares
Ciberativismo urbanos – luta rurais – luta por
por direitos e terra (questão
infraestruturas agrária)

238
ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enem) humanidade. Por isso, ainda hoje invocamos esses velhos “di-
reitos naturais” nas batalhas contra os regimes autoritários
A política foi, inicialmente, a arte de impedir as pessoas de se
que subsistem.
ocuparem do que lhes diz respeito. Posteriormente, passou a ser
a arte de compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que (Quirino, C. G.; Montes, M. L. Constituições.
nada entendem. São Paulo: Ática, 1992 - adaptado)

Valéry, P. Cadernos. Apud beneVides, M. V. M. A cidadania ativa. O conjunto de direitos ao qual o texto se refere inclui:
São Paulo: Ática, 1996.
a) voto secreto e candidatura em eleições.
Nessa definição o autor entende que a história da política b) moradia digna e vagas em universidade.
está dividida em dois momentos principais: um primeiro, mar- c) previdência social e saúde de qualidade.
cado pelo autoritarismo excludente, e um segundo, caracte-
rizado por uma democracia incompleta. d) igualdade jurídica e liberdade de expressão.

Considerando o texto, qual é o elemento comum a esses dois e) filiação partidária e participação em sindicatos.
momentos da história política?
Resposta: alternativa d.
a) A distribuição equilibrada do poder.
b) O impedimento da participação popular. 4. (Fuvest)
c) O controle das decisões por uma minoria. Não nos esqueçamos de que este é um tempo de abertura.
Vivemos sob o signo da anistia que é esquecimento, ou devia ser.
d) A valorização das opiniões mais competentes.
Tempo que pede contenção e paciência. Sofremos todo ímpeto
e) A sistematização dos processos decisórios. agressivo. Adocemos os gestos. O tempo é de perdão. […] Es-
queçamos tudo isto, mas cuidado! Não nos esqueçamos de en-
Resposta: alternativa c.
frentar, agora, a tarefa em que fracassamos ontem e que deu lu-
gar a tudo isto. Não nos esqueçamos de organizar a defesa das
2. (IFSul) Ao longo da década de 1980, a sociedade brasileira
viveu uma síntese de esperança e desilusão devido a avan- instituições democráticas contra novos golpistas militares e civis
ços e retrocessos no campo político, econômico e social que para que em tempo algum do futuro ninguém tenha outra vez de
marcaram os primeiros anos da Nova República. enfrentar e sofrer, e depois esquecer os conspiradores, os tortu-
radores, os censores e todos os culpados e coniventes que bebe-
Nessa conjuntura surgiram
ram nosso sangue e pedem nosso esquecimento.
a) a Lei de Anistia, a mobilização de movimentos sociais, a
crise inflacionária, o retorno da democracia plena, a carta ribeiro, Darcy. “Réquiem”, Ensaios insólitos.
constitucional de 1988. Porto Alegre: L&PM, 1979.

b) a Lei de Anistia, o retorno do pluripartidarismo, a crise in- O texto remete à anistia e à reflexão sobre os impasses da
flacionária, o retorno da democracia plena, o Plano Real. abertura política no Brasil, no período final do regime militar,
c) a campanha das Diretas Já, o retorno do pluripartidarismo, implantado com o golpe de 1964. Com base nessas referên-
a crise inflacionária, a reabertura democrática consentida cias, escolha a alternativa correta.
pelas forças civil-militares da ditadura, a carta constitucio- a) A presença de censores na redação dos jornais somente foi
nal de 1988. extinta em 1988, quando promulgada a nova Constituição.
d) a Lei de Anistia, a mobilização de movimentos sociais, a b) O projeto de lei pela anistia ampla, geral e irrestrita foi uma
crise inflacionária, a reabertura democrática consentida proposta defendida pelos militares como forma de apazi-
pelas forças civil-militares da ditadura, o Plano Real. guar os atos de exceção.
e) a campanha das Diretas Já, a Lei de Segurança Nacional, c) Durante a transição democrática, foram conquistados o bi-
a crise inflacionária, a reabertura democrática consentida partidarismo, as eleições livres e gerais e a convocação da
pelas forças civil-militares da ditadura, a carta constitucio- Assembleia Constituinte.
nal de 1988.
d) A lei de anistia aprovada pelo Congresso beneficiou pre-
sos políticos e exilados, e também agentes da repressão.
Resposta: alternativa c.
e) O esquecimento e o perdão mencionados integravam a
3. (Enem) pauta da Teologia da Libertação, uma importante diretriz
Os direitos civis, surgidos na luta contra o Absolutismo real, da Igreja católica.
ao se inscreverem nas primeiras constituições modernas,
Resposta: alternativa d.
aparecem como se fossem conquistas definitivas de toda a

239
DEMOCRACIA BRASILEIRA:
Unidade

4 DESAFIOS

INTRODUÇÃO
Nessa unidade, inicia-se a análise dos desafios da democracia brasileira. O processo histórico é apresen-
tado como um importante aspecto para a construção das desigualdades, das políticas públicas e do prota-
gonismo dos sujeitos atingidos por essas desigualdades como formas de reversão dessa trajetória.
No capítulo 10, são abordados os direitos sociais e as práticas políticas e econômicas na contemporanei-
dade para que os estudantes compreendam o papel do Estado como agente da diminuição das desigual-
dades sociais. Já o capítulo 11 aprofunda a discussão sobre as desigualdades sociais brasileiras, apresen-
tando os índices sociais como ferramentas de compreensão dos problemas que precisam ser enfrentados
e de elaboração de estratégias de resolução. Para aprofundar essa discussão, as temáticas relacionadas à
renda, à segurança pública e à cultura são mais detidamente analisadas. No capítulo 12, a periferia é abor-
dada com base em dois prismas opostos e dialógicos: como espaço construído pela exclusão e como espa-
ço de resistência. Nesse momento, os sujeitos periféricos são observados como personagens autônomas,
que denunciam as mazelas vividas, cobram políticas públicas e, ao mesmo tempo, agem e ressignificam es-
ses espaços, culturalmente e economicamente.
Considerando a proposta dessa unidade, é recomendável que o projeto seja liderado pelos professores
de História e/ou Sociologia, que devem estar atentos aos interesses e às dificuldades dos jovens e, sempre
que possível, trabalhar com os professores das demais áreas de conhecimento. Os conteúdos abordados
nessa unidade possibilitam o diálogo com a Matemática, durante a leitura de dados e gráficos dispostos, e
com a Língua Portuguesa, mais especificamente com a área da literatura, que pode contribuir para a visibi-
lidade de outros sujeitos, considerados não consagrados ou hegemônicos. Ao longo dessa trajetória, é im-
portante valorizar os conhecimentos prévios dos estudantes, bem como ressaltar que o conteúdo estudado
na unidade trata, principalmente, do respeito aos direitos fundamentais dos seres humanos e da importân-
cia de garantir esses direitos.

OBJETIVOS DA UNIDADE
• Compreender os desafios para a construção de uma democracia plena no Brasil.
• Analisar os índices sociais, a forma como são elaborados e sua importância para as políticas públicas.
• Identificar as diferentes possibilidades de organização do Estado.
• Reconhecer o Estado como agente responsável pela garantia de direitos e serviços essenciais.
• Identificar e analisar os desafios enfrentados pela população brasileira, em especial, pela população po-
bre, preta e parda do país.

• Identificar e analisar os protagonismos dos indivíduos periféricos como forma de mudar a realidade em
que vivem, bem como elevar a autoestima dos que habitam esses espaços.

JUSTIFICATIVA
Os conceitos desenvolvidos nessa unidade favorecem a compreensão dos estudantes sobre o processo
de construção de desigualdades sociais, políticas, econômicas e espaciais, que originam locais de exclusão,
nos quais os serviços essenciais (segurança, saúde, educação, etc.) são ainda mais precários ou ausentes.
A unidade articula de forma significativa os conteúdos estudados ao longo deste volume e favorece o
diálogo com o cotidiano dos jovens brasileiros. Assim, a reflexão propõe a análise das realidades descritas
no livro e dos contextos vivenciados pelos estudantes e a comparação dessas experiências. Assim, a unida-
de favorece a construção de conhecimentos e valores e desenvolve a consciência crítica em relação à reali-
dade, contribuindo para que os estudantes se posicionem nos debates públicos de forma ética e crítica.

240
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA UNIDADE
COMPETÊNCIAS GERAIS
CAPÍTULO COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS E HABILIDADES
DA EDUCAÇÃO BÁSICA

CECHSA1: EM13CHS101.
CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CECHSA6: EM13CHS603 e EM13CHS605.
CGEB1, CGEB2, CGEB7,
10 CECNT1: EM13CNT104.
CGEB9 e CGEB10.
CECNT3: EM13CNT310.
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406 e EM13MAT407.

CECHSA1: EM13CHS103, EM13CHS104 e EM13CHS106.


CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503 e EM13CHS504.
CGEB1, CGEB2, CGEB4, CECHSA6: EM13CHS601 e EM13CHS606.
11 CGEB5, CGEB7, CGEB9 e
CGEB10. CELT1: EM13LGG101, EM13LGG102 e EM13LGG104.
CEMT1: EM13MAT102.
CEMT4: EM13MAT406 e EM13MAT407.

CGEB1, CGEB2, CGEB3, CECHSA1: EM13CHS101.


12 CGEB4, CGEB8, CGEB9 e CECHSA5: EM13CHS501, EM13CHS502 e EM13CHS503.
CGEB10. CECHSA6: EM13CHS603 e EM13CHS605.

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS CAPÍTULO 10 DIREITOS SOCIAIS


(Página 118)

ABERTURA DE UNIDADE O capítulo aborda o acesso aos direitos, com ênfase na saú-
de e na educação, e caracteriza as políticas de Estado contem-
(Páginas 116 e 117)
porâneas direcionadas a aspectos sociais e econômicos. Os te-
Oriente os estudantes a observar a imagem que abre essa mas permitem a reflexão sobre a relação entre a ausência do
unidade. Peça a eles que identifiquem o que a mulher está len- Estado e o aprofundamento das desigualdades, bem como so-
do. Após notarem que se trata do texto da Constituição Federal bre a importância do oferecimento de serviços.
de 1988, pergunte a eles o que conhecem sobre esse documen-
to. Nesse momento, é importante conhecer e valorizar os conhe- Direitos sociais (Página 118)
cimentos prévios dos estudantes. A cidadania é amplamente reivindicada, mas poucos com-
A Constituição Federal de 1988 é um documento fundamen- preendem sua abrangência. Muitas vezes associada ao direito
tal não apenas por reunir as leis máximas do país, mas princi- ao voto e à participação política, a cidadania hoje é pensada em
palmente pelo grande debate social e pela participação inten- três diferentes instâncias: a política, que diz respeito à participa-
sa da sociedade civil que marcaram a construção do seu texto. ção política; a civil, que prevê o respeito à vida e à liberdade e a
igualdade perante a lei; e a social, ligada ao direito à educação,
Conhecido também como Constituição Cidadã, esse documen-
à saúde, ao trabalho, ao salário justo, entre outros.
to apresentou ganhos importantes para as populações mais
Oriente os estudantes a identificar os direitos sociais men-
vulneráveis do país. No entanto, é importante ressaltar que, cionados, e questione-os se, de fato, todos os brasileiros usu-
hoje, embora tenham ocorrido avanços sociais nos últimos trin- fruem desses direitos. Incentive-os a mencionar exemplos de
ta anos, a distância entre o texto e a realidade é um fato. desigualdade social e a identificar quais grupos sociais eles ima-
ginam que a desigualdade atinge em maior proporção.
Organizar ideias Também é importante que os estudantes reconheçam as
causas da dificuldade de acesso a direitos. Para isso, ressalte a
1. Resposta pessoal. Essa questão tem por objetivo provocar permanência histórica da desigualdade – analisada de forma
uma reflexão entre os estudantes acerca do significado da mais detida na unidade 1 deste volume – e a má administração
expressão “avanços sociais”. Para tanto, espera-se que eles pública.
mencionem exemplos do que consideram avanços sociais
em seu cotidiano, como políticas públicas relacionadas à edu-
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
cação, saúde e moradia, e de que forma essas políticas se
relacionam com o cotidiano na comunidade onde vivem. 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencio-
nem grupos historicamente marginalizados, como negros,
2. Resposta pessoal. Os estudantes devem reconhecer que a indígenas, mulheres, integrantes da população LGBTQI+,
ampliação de serviços e dos direitos ainda é frágil e deve ser pessoas em situação de rua, entre outros. Também é im-
aprimorada. Assim, espera-se que eles identifiquem o esta- portante que eles reconheçam que o acesso aos direitos
belecimento de metas de melhoria dos índices sociais como sociais também é influenciado pela região na qual os indi-
uma forma de ampliá-los. víduos vivem.

241
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes levem em Outro importante elemento é a distribuição de médicos na fe-
consideração os direitos sociais aos quais têm acesso, na re- deração. Dados da Demografia Médica de 2018 apontam que a
gião onde vivem, por meio de programas, ações e instituições incidência maior de médicos em relação ao número de habitan-
governamentais. tes por região se dá de forma decrescente nas regiões no Brasil:
Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Disponível em:
Sugestão para o professor https://amb.org.br/wp-content/uploads/2018/03/DEMOGRAFIA-
Livro M%C3%89DICA.pdf. Acesso em: 20 jun. 2020.
» Carvalho, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Oriente os estudantes na leitura do gráfico. É importante
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. que eles compreendam a relação entre a desvalorização da
O historiador aborda a amplitude do conceito de cidadania e imagem do SUS, em parte explicada pela desigualdade da
as dificuldades históricas do Brasil em reconhecer e garantir estrutura na federação, e o crescimento significativo dos valo-
os direitos e os deveres inerentes à cidadania. res dos convênios médicos, que supera a inflação média para
o período.
A discussão sobre os desafios da saúde pública no Brasil po-
Saúde pública (Página 119) de colaborar com a mobilização de aspectos das habilidades
A criação e a universalização do Sistema Único de Saúde EM13CNT104 e EM13CNT310.
(SUS) foi uma medida essencial para o combate à desigualdade
de acesso aos serviços públicos de saúde dos grupos historica-
Educação em pauta (Página 121)
mente excluídos. Antes do estabelecimento do SUS, o ofereci-
mento de serviços médicos públicos era restrito aos trabalhado- Para iniciar o debate proposto nesse tópico, pergunte aos
res vinculados à Previdência Social, e a população pobre estudantes qual é a importância da educação para eles. Ca-
brasileira dependia de instituições filantrópicas, identificadas so julgue conveniente, anote as palavras-chave menciona-
como Casas de Misericórdia. das pelos estudantes e retome-as no final do conteúdo para
Para evidenciar a importância da universalização dos serviços observar se as respostas se alteraram após o estudo. Esse
de saúde gratuitos, comente com os estudantes que, em países debate inicial tem a potencialidade de valorizar os conheci-
onde os serviços de saúde são predominantemente privados, mentos prévios dos estudantes e permite a sensibilização
como os Estados Unidos, é comum que as pessoas se endividem para o tema.
ou fiquem sem atendimento médico por não ter condições de A educação é um direito social que possibilita ao indivíduo
arcar com os gastos. Se achar conveniente, é possível explorar o contato com determinados conhecimentos produzidos pela
artigos que tratam dessas questões e que ganharam grande sociedade. Por isso, deve ser oferecida de forma gratuita e com
visibilidade no contexto da pandemia de covid-19, como “Homem qualidade, como determina a legislação competente. Ainda as-
recebe conta de U$ 1,1 milhão do hospital onde se tratou sim, os índices brasileiros têm demonstrado que há gargalos
de covid-19 nos EUA”. Disponível em: https://g1.globo.com/ no acesso e na permanência dos estudantes no ensino, em es-
bemestar/coronavirus/noticia/2020/06/13/homem-recebe- pecial no Ensino Médio. Segundo dados divulgados em 2018
conta-de-us-11-milhao-do-hospital-onde-se-tratou-de-covid- pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Eco-
19-nos-eua.ghtml. Acesso em: 20 jun. 2020). nômico (OCDE), 52% dos brasileiros entre 25 e 64 anos não
Solicite aos estudantes que observem as campanhas de saú- concluíram o Ensino Médio. No Ensino Superior, essa porcen-
de pública mencionadas. É importante comentar que essas cam- tagem é ainda maior.
panhas previnem problemas graves de saúde e que integram Comente com os estudantes que a educação é abordada na
uma política pública que concebe a saúde de maneira integral, Constituição Federal em uma seção específica, que pode ser
abrangendo não somente o tratamento de doenças, mas tam- utilizada em sala de aula para aprofundar os conhecimentos
bém sua prevenção e a manutenção da saúde pública. sobre o tema e possibilitar a observação das competências de
cada instância governamental. Ao fazer essa atividade, verifi-
Sugestão para o professor que se os estudantes notam que cabe aos municípios a priori-
Filme dade de assegurar a Educação Infantil e o Ensino Fundamen-
tal e aos estados e ao Distrito Federal a oferta do Ensino Médio.
» Sicko: SOS Saúde. Direção: Michael Moore. EUA, 2008 (123
Ressalte para os estudantes o fato de não haver uma determi-
min).
nação sobre universalização e gratuidade das universidades
Produzido pelo estadunidense Michael Moore, crítico de mui-
na Carta Magna.
tas práticas de seu país, esse documentário aborda a crise
Os obstáculos para a permanência escolar são maiores entre
do sistema de saúde dos Estados Unidos, comparando-o com
a população mais pobre, o que torna necessário considerar o
os sistemas de saúde de outros países, como França, Ingla-
critério racial como marca do processo histórico do país. Assim,
terra e Cuba.
os jovens pretos e pardos, quando comparados aos brancos,
possuem menor índice de formação educacional. De acordo com
Desafios da saúde pública (Página 120) dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em
Para complementar a discussão sobre as campanhas do SUS, 2015, a média de anos de estudos da população branca era
peça aos estudantes que busquem informações sobre a medi- de 8,3 anos; enquanto a da população negra era de 6,8 anos.
cina familiar, sobre a prevenção como um método eficiente de Indicadores ainda mais graves são observados entre os homens
administrar o acesso à saúde e sobre os encargos públicos com negros, para os quais a média de estudo é de 6,6 anos, em
esses serviços. comparação aos 8,1 anos dos homens brancos. Disponível
É importante que os estudantes compreendam o avanço em: https://www.ipea.gov.br/retrato/indicadores.html. Acesso em:
proporcionado pela criação e pela ampliação do SUS. Ao 20 jun. 2020.
mesmo tempo, é fundamental que eles reconheçam a distri- Os diálogos propostos nesse item favorecem a mobilização
buição desigual da qualidade de serviço entre as diversas de aspectos das habilidades EM13CHS501, EM13CHS502,
regiões do país. EM13CHS503, EM13MAT102, EM13MAT406 e EM13MAT407

242
por incentivar a reflexão e a análise sobre os obstáculos ao aces- líquida, apresentada em livro homônimo, caracterizada pela
so à educação. Além disso, contribuem para o trabalho com a fluidez das diversas estruturas e formas que caracterizam
CGEB1, a CGEB2 e a CGEB7. essa modernidade.
1. Resposta pessoal. Dialogue com os estudantes sobre as per-
Sugestões para o professor
cepções deles acerca da escola e dos aprendizados escolares,
Filme chamando a atenção para o desenvolvimento de competên-
» Nunca me sonharam. Direção: Cacau Rhoden. Brasil, 2017 cias que visem à formação de sujeitos críticos, independen-
(90 min). tes e preparados para o exercício da cidadania.
Nesse documentário, sonhos e frustrações dos estudantes
do ensino público são apresentados, propondo ao especta-
dor uma reflexão sobre o ensino que temos e o que deseja- Programas sociais e investimentos
mos construir. públicos (Páginas 123 e 124)
Artigo As estruturas coloniais, o sistema escravista e as políticas
» andrade, Cibele Yahn de; dachs, J. Norberto W. Acesso à de marginalização de negros e indígenas, entre outros, são fa-
educação por faixas etárias segundo renda e raça/cor. tores que resultam na extrema desigualdade econômica da
Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 37, n. 131, p. 399- sociedade. É importante que os estudantes reconheçam a ori-
422, maio/ago. 2007. Disponível em: https://www.scielo. gem histórica da desigualdade e seu aprofundamento ao lon-
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-157420070 go dos anos.
00200009. Acesso em: 20 jun. 2020.
Nessa perspectiva, aborde os programas sociais e os in-
Pesquisadores do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas vestimentos públicos como fundamentais para o combate à
da Universidade Estadual de Campinas, os autores apre- vulnerabilidade extrema de alguns grupos sociais, ainda que
sentam as situações econômica e de raça/cor no acesso à atualmente ainda haja uma longa distância a ser percorrida
educação da escola básica ao Ensino Superior, concluindo
para reverter a extrema desigualdade entre os grupos sociais
que os contextos econômicos e raciais são fatores deter-
brasileiros.
minantes.
Segundo dados coletados pelo IBGE em 2019, o Brasil é o se-
gundo país do mundo em concentração de renda. A renda do 1%
mais rico é 34 vezes maior que da metade mais pobre, de acordo
Um novo Ensino Médio (Página 122)
com a matéria publicada em outubro de 2019 no caderno Econo-
Solicite aos estudantes que leiam o conteúdo dessa página. mia do portal UOL. Disponível em: https://economia.uol.com.br/
Em seguida, ressalte que o processo de aprovação das legisla- noticias/redacao/2019/10/16/rendimento-brasileiros-ibge-estu-
ções se constitui em campos de debate. Para exemplificar essa
do.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996.
questão, aborde outras legislações que, como a reforma do En-
Acesso em: 20 jun. 2020.
sino Médio, tenham provocado reações em parlamentares e na
sociedade civil. Comente que a ausência de diálogo com entida-
des de classe e especialistas da educação foi bastante criticada Atividade complementar
por diversos setores da sociedade.
Caso a escola tenha uma sala de informática, outra pos-
• Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que se organi-
zem em seis grupos. Peça a eles que selecionem um dos
sibilidade para trabalhar a formulação de legislações como programas sociais apresentados nas páginas do Livro do
um processo que envolve o debate é explorar com os estu-
Estudante e pesquisem sobre ele.
dantes um conteúdo elaborado pela Câmara dos Deputados
que explica as etapas de elaboração das leis (disponível em: • Em suas pesquisas, eles deverão identificar a situação-pro-
https://www.camara.leg.br/entenda-o-processo-legislativo/; blema que o programa em questão tenta resolver ou minimi-
acesso em: 20 jun. 2020). Também é possível acessar os dis- zar, indicadores sociais que apresentem dados relacionados
cursos que envolveram a aprovação de determinadas leis. a essa situação-problema antes do início do programa e no
Para isso, basta acessar o site da Câmara Legislativa (dispo- presente, bem como análises diversas que avaliem a eficácia
nível em:https://www.camara.leg.br/; acesso em: 20 jun. desses programas.
2020) e inserir um tema que julgar importante para a análise
dos estudantes na aba “discurso”, do menu "Atividade legis- • Os resultados das pesquisas poderão ser apresentados em
lativa" da página. forma de seminário, em um dia e horário combinados.
Para compreender um dos impactos gerados pela reforma
do Ensino Médio, solicite aos estudantes que leiam o segundo Sugestão para o professor
parágrafo da página, que trata do agrupamento disciplinar das Site
Ciências Humanas, e que observem o sumário do volume 1. Es-
pera-se que os estudantes reconheçam que a organização da
» Pnad Contínua 2018. Disponível em: https://agenciade
noticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-
obra corresponde à formulação regulamentada para o novo En-
agencia-de-noticias/releases/25700-pnad-continua
sino Médio.
-2018-10-da-populacao-concentram-43-1-da-massa-de-
rendimentos-do-pais. Acesso em: 20 jun. 2020.
Boxe Reflexão
• O site explica as formas de aferir o rendimento mensal mé-
• O texto apresentado nesse boxe é um fragmento da obra 44 dio da população brasileira e apresenta os dados mais recen-
cartas do mundo líquido moderno, no qual o sociólogo polonês tes, coletados em 2018, segundo os quais 10% da população
Zygmunt Bauman comenta diversos aspectos e paradigmas concentra 43,1% dos rendimentos do país, entre outras in-
do mundo moderno a partir de sua visão de modernidade formações relevantes.

243
Projetos políticos (Página 125) ser considerados com base em seus contextos de criação e suas
características próprias.
Solicite aos estudantes que leiam atentamente o conteúdo Recomende aos estudantes que leiam com atenção as ca-
sobre a pesquisa realizada por Richard Wilkinson e Kate Pickett. racterísticas gerais do neoliberalismo. Depois, solicite a eles
É importante destacar alguns dados, como o interesse de dife- que comparem esse modelo ao Estado de bem-estar social.
rentes grupos sociais no combate à desigualdade social e a de- Ressalte que os dois modelos fazem parte do sistema econô-
sigualdade como uma realidade de países ricos e pobres. mico capitalista.
Os estudantes devem reconhecer que o acesso, por exemplo, Os diálogos propostos nesse tópico, bem como no tópico an-
à saúde e à educação plena e de qualidade são garantias ne- terior (Estado de bem-estar social), favorecem a mobilização de
cessárias para a construção de uma sociedade mais consciente aspectos das habilidades EM13CHS101, EM13CHS603 e
de seus direitos e deveres, e que isso, potencialmente, repercu- EM13CHS605, promovendo também o desenvolvimento das
te em índices de violência menores. CGEB1, CGEB9 e CGEB10.
Se julgar relevante, apresente o documentário sugerido no
boxe Para explorar, que apresenta a recuperação midiática das Boxe Interação
etapas políticas que resultaram na saída de Dilma Rousseff do
1. Resposta pessoal. Como exemplos de políticas públicas re-
cargo de presidenta da República. O filme é um produto históri-
lacionadas à manutenção do bem-estar social, os estudantes
co e, assim como todas as produções audiovisuais que repre-
poderão mencionar a existência do sistema público de saúde,
sentam determinado fato ou processo histórico, relata a cons-
a previdência social e os programas de redistribuição de ren-
trução de narrativas de um grupo social específico, afinal a
da, como o Bolsa Família, entre outros. Já como exemplos de
diretora e idealizadora imprime sua perspectiva sobre os fatos
práticas neoliberais, eles podem citar as reformas trabalhis-
representados.
ta e da previdência e a PEC 55, que congelou o teto de gastos
públicos por 20 anos, entre outras.

Estado de bem-estar social (Página 125) 2. Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes possam
refletir quais projetos políticos se alinham mais às suas ex-
Considerando que o crescimento da desigualdade econômi-
pectativas de futuro, assim como de suas comunidades. Esse
ca e social é uma das características fundantes do capitalismo,
tipo de debate incentiva a análise dos discursos políticos, as
o Estado de bem-estar social não representa uma oposição ao
práticas associadas a eles e como reverberam na sociedade,
sistema, mas a criação de dispositivos estatais com o objetivo
contribuindo para que os jovens se reconheçam como impor-
de promover os direitos sociais e evitar um aprofundamento da
tantes atores sociais.
desigualdade.
Historicamente, essas estratégias de atuação do Estado vol-
Sugestões para o professor
tadas à garantia dos direitos sociais e econômicos surgiram após
Livros
a Segunda Guerra Mundial, intimamente ligadas à tentativa de
amenizar os impactos sociais do conflito, sendo a Inglaterra uma » Carvalho, Laura. Valsa brasileira: do boom ao caos econô-
das nações mais representativas do Estado de bem-estar social. mico. São Paulo: Todavia, 2018.
Assim, em 1948, foi criado o NHS, sistema de saúde público bri- A autora aborda o período de 2006 a 2017, que considera os
tânico, que serviu de inspiração ao SUS brasileiro. Em suma, na anos de maior prosperidade econômica do país, seguido de
Inglaterra, como em outros países, houve um grande crescimen- uma crise sem precedentes, acentuada pela instabilidade
to da oferta de serviços assistenciais, aliado a uma forte inter- política.
venção nas atividades econômicas. » Keynes, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro
e da moeda. São Paulo: Saraiva, 2012.
Sugestões para o professor Conhecida entre os economistas por “teoria geral”, a obra
Filmes aborda características do desenvolvimento do capitalismo
relacionadas, entre outros elementos, ao emprego e ao de-
» O invasor americano. Direção: Michael Moore. EUA, 2016
semprego.
(120 min).
Nesse documentário, o cineasta e crítico do neoliberalismo
Michael Moore visita países europeus apresentando algumas
Atividades (Página 127)
práticas bem-sucedidas de aplicação do Estado de bem-es- 1. a) A charge critica a desigualdade de renda e sua origem. É
tar social. possível percebê-lo ao notar a ostentação da casa em que as
personagens se encontram e as palavras escritas na raiz da
» Desigualdade para todos. Direção: Jacob Kornbluth. EUA,
2013 (110 min). árvore.
Adaptação do livro do professor e economista Robert Reich, b) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a observar as
o documentário explora o processo de aprofundamento das palavras que compõem a raiz da árvore e auxilie-os a identi-
desigualdades sociais ocorridas nos Estados Unidos, consi- ficar a origem histórica da concentração de renda, da desi-
derando marcadores importantes as crises de 1929 e de gualdade e da violência como consequências desse
2008. processo histórico.
2. a) Os representantes da Escola Austríaca de Economia atri-
buíram a responsabilidade da crise ao movimento operário,
Políticas neoliberais (Página 126) cujas reivindicações por melhorias salariais prejudicavam a
Termos como “capitalismo”, “liberalismo” e “neoliberalismo” acumulação capitalista.
têm sido apropriados no debate público de forma pouco quali- b) Trata-se de um ato de violência contra os trabalhadores e
ficada. Envolvidos em disputas políticas e na polarização, que as camadas mais vulneráveis da sociedade, os mais prejudi-
tem sido a marca brasileira desde 2016, esses conceitos devem cados em qualquer crise econômica pela redução dos

244
recursos públicos que garantem sua sobrevivência e sua dig- problema. A análise proposta se aprofunda em alguns elemen-
nidade, assim como a própria capacidade de reivindicação. tos, como a renda, a segurança pública e a cultura.
c) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a expressar
seus pontos de vista e argumentos com base em dados da
realidade, lembrando-os sempre da importância do respeito
Múltiplos desafios (Página 129)
e da ética. O estudo dos desafios sociais enfrentados pela sociedade
3. Resposta pessoal. Nessa atividade, os estudantes deverão contemporânea é fundamental para que os estudantes se re-
elaborar propostas de ação local para evitar a evasão esco- conheçam como parte da sociedade, observem os problemas
lar. Para isso, é imprescindível que suas ações sejam basea- e elaborem possíveis soluções. Diálogo, empatia e disposição
das na realidade da escola e envolvam a coordenação para enfrentar essas questões centrais (por vezes incômodas)
escolar ou o departamento competente para tal. Visando à são necessários ao longo de todo o processo de ensino-apren-
otimização da atividade e das ações, incentive cada grupo a dizagem.
focar suas ações em um motivo específico para a evasão es- Ao longo deste volume, os estudantes percorreram uma sé-
colar, levando em consideração aquele que mais afeta a co- rie de conteúdos que auxiliaram na compreensão dos temas
munidade escolar. tratados nesse capítulo. Valorize essa trajetória e solicite aos
4. Resposta correta: alternativa c. No último parágrafo do texto estudantes que levantem hipóteses para explicar a existência
é dito que, segundo a diretora-geral da Unesco, a discussão das disparidades de renda e de acesso à segurança e à educa-
sobre direitos humanos deve começar nas carteiras das es- ção de qualidade no Brasil. Espera-se que eles retomem a for-
colas, ou seja, ainda na Educação Básica. mação histórica do país, como o escravismo, as políticas de mar-
ginalização da população preta e parda, a ausência do Estado
na resolução de problemas estruturais e os privilégios.
Ampliando (Página 128) As discussões propostas nesse tópico contribuem para o de-
A seção propõe uma reflexão sobre a democracia e um de- senvolvimento de aspectos da habilidade EM13CHS103.
bate sobre o significado desse termo na atualidade.
É importante valorizar os conhecimentos prévios dos estu-
dantes sobre o termo “democracia” e, caso necessário, expandir RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
esses conhecimentos para que eles compreendam a complexi- 1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes retomem
dade dessa palavra. as análises feitas até o momento sobre a desigualdade
Nos últimos anos, o Brasil tem experimentado uma bipolari- social e avaliem o impacto da ausência de renda na vida
zação política que resulta no esvaziamento das discussões no de indivíduos – que, com isso, podem se tornar reféns de
campo político. Assim, escolhas partidárias são defendidas de situações desfavoráveis –, como as pessoas em situação
forma acalorada e, muitas vezes, irracional. Práticas como essas de pobreza e/ou de extrema pobreza, que estão mais su-
devem ser questionadas. Da mesma forma, espera-se que os jeitas a condições degradantes e à exploração. Além disso,
estudantes compreendam a experiência cotidiana da democra- o consumo de cultura também é comprometido, já que de-
cia, repudiando todo tipo de aproximação com o autoritarismo manda tempo e acesso a espaços, conteúdos e conheci-
e de desrespeito em relação aos chamados grupos minoritários. mentos. A via da criminalidade pode ser uma das condições
Discussões como a proposta nessa seção favorecem o reco- degradantes às quais alguns grupos se submetem para
nhecimento da importância do respeito e da defesa dos direitos obter renda. Esse diálogo inicial será aprofundado ao lon-
humanos, bem como prepara os estudantes para, no futuro, se go do capítulo.
posicionarem no debate público de forma consciente e apropria-
2. O texto faz parte do artigo Do Bolsa Família ao Brasil Sem
da. Além disso, essas discussões promovem o trabalho com a
Miséria: o desafio de universalizar a cidadania, em que são
CGEB1, a CGEB7 e a CGEB10.
analisadas as transformações que os programas de distri-
buição de renda trouxeram para as famílias necessitadas.
Espera-se que os estudantes relacionem esses programas
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
às políticas públicas que visam cumprir o previsto na Consti-
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes evidenciem tuição de 1988, no sentido de que todos os brasileiros pos-
seus entendimentos pessoais a respeito da democracia. sam usufruir de seus direitos sociais. A renda é central no
acesso à cidadania, já que pessoas em situação de extrema
2. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a evidenciar seus
pobreza ficam excluídas de possibilidades como estudo, pro-
pontos de vista com base em dados concretos, levando em
fissionalização, acesso à cultura, à saúde, etc.
consideração suas percepções pessoais a respeito da demo-
cracia brasileira na atualidade.
3. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes apontem as Conhecendo os desafios:
contradições decorrentes de uma sociedade democrática que,
paradoxalmente, não oferece acessos democráticos de ma-
indicadores sociais (Página 130)
neira igualitária a todos os indivíduos que a compõem. Os indicadores sociais são de extrema importância para o
conhecimento da realidade e dos desafios que precisam ser en-
frentados pelo Estado mediante as políticas públicas. Por meio
CAPÍTULO 11 MÚLTIPLOS DESAFIOS de taxas, índices, entre outros dados, os indicadores dão visibi-
lidade a informações diversas a respeito da sociedade.
(Página 129)
Cientes desse fenômeno, nos anos 1980, os movimentos
Estabelecendo como premissa de análise a profunda desi- identitários – negros e indígenas – se mobilizaram intensamen-
gualdade social brasileira, o capítulo aborda os índices sociais e te para reivindicar a inserção do critério cor/raça nas estatísticas
as políticas públicas como meios de observar e combater esse produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

245
(IBGE), por exemplo. O fato de que a desigualdade social no país
Segurança pública (Página 131)
não pode ser desassociada da questão da cor emerge, então, de
forma evidente. O trabalho com esse tópico contribui para a mobilização
Para que essas considerações sejam compreendidas, retome das habilidades EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS503
o gráfico Rendimento-hora médio real do trabalho principal das e EM13CHS504. O trabalho com mapa e gráficos, em espe-
pessoas ocupadas por cor ou raça (2017), disposto na unidade 1, cial, também favorece a mobilização de aspectos das ha-
página 33. Nele, é possível verificar a desigualdade de renda entre bilidades EM13CHS106, EM13MAT102, EM13MAT406 e
indivíduos com o mesmo nível educacional, mas de raças diferen- EM13MAT407.
tes, evidenciando o preterimento da população preta e parda em Os temas relacionados à segurança pública e ao sentir-se
todos os níveis de ensino. seguro são vivenciados pelos estudantes no cotidiano. Nesse
Peça aos estudantes que leiam com atenção o texto de Da- sentido, sugere-se que a discussão inicial considere as carac-
nielle Pereira e Marcelo Pinto. Após a leitura, verifique se eles terísticas da comunidade escolar e incentive os estudantes a
reconhecem que a análise de determinado dado envolve a ob- apresentar seus conhecimentos prévios e narrativas que pos-
servação e o conhecimento de outros indicadores e estudos so- sam contribuir para a discussão.
bre o tema retratado. Ainda que muitos sejam os recortes, é importante destacar
Essa discussão sobre os indicadores sociais pode contribuir dois marcadores fundamentais que produzem a inexistência da
para a mobilização de aspectos das habilidades EM13CHS601 segurança pública de qualidade: gênero e raça.
e EM13CHS606, bem como das CGEB1, CGEB2, CGEB4 e CGEB10. As informações apresentadas nessa página possibilitam
o trabalho com o recorte racial. Auxilie os estudantes a com-
Boxe Interação preender que a população jovem, preta e parda no Brasil é a
mais atingida pela violência urbana, representando 43,10%
1. O texto elenca critérios referentes à confiabilidade dos indi-
dos atingidos.
cadores e destaca o quanto o recorte escolhido é represen-
Para o estudo da violência contra as mulheres, oriente os
tativo do todo. É importante que os estudantes reconheçam
estudantes a buscar dados complementares que evidenciem
essa relação, pois, de outro modo, a pesquisa pode ser inva- o feminicídio (1 206 vítimas no ano de 2019) e a violência
lidada. Além disso, os critérios dão mais clareza aos dados sexual (dos 180 casos que acontecem por dia, 53,8% ocorrem
pesquisados, pois demonstram os limites dessas informa- com crianças de até 13 anos) como problemas crescentes que
ções, evitando equívocos na análise dos dados e/ou susci- necessitam de políticas específicas. Disponível em: http://www.
tando novas pesquisas. forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-
2. Atividade de pesquisa. Oriente os estudantes em relação às 2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020.
possibilidades de pesquisa, já que são múltiplos os indicadores O mapa com destaque para os estados mais atingidos pela
de renda, como renda per capita, dados sobre a população que violência pode ser discutido em comparação com os gastos dis-
vive em situação de pobreza e de extrema pobreza, rendimen- pendidos em segurança pública pelos estados brasileiros. Esses
to médio mensal domiciliar, etc. Primeiro, a turma deve levantar dados estão disponíveis, por exemplo, no 13o Anuário Brasileiro
os tipos de indicadores de renda e, depois, cada trio pode es- de Segurança Pública, elaborado em 2019, no qual há a indica-
colher um tipo para pesquisar. A seguir, foram disponibilizadas ção dos gastos per capita na seguinte ordem decrescente: Cen-
sugestões de plataformas digitais que podem ser indicadas tro-Oeste, Norte, Sudeste, Sul e Nordeste. É possível, ainda, ob-
aos estudantes como fontes de pesquisa confiáveis, contribuin- ter dados mais pontuais no site da Secretaria de Segurança
do para a construção consistente da CGEB5. A elaboração das Pública de cada estado.
tabelas e dos gráficos pode ser acompanhada pelo docente da Os indicadores sociais apresentados reforçam um elemento
área de Matemática. O compartilhamento das pesquisas po- que tem sido discutido ao longo deste volume: as permanências
derá ser feito em três partes, cada uma abordando um nível de de práticas de marginalização e violência contra a população
governo: municipal, estadual e federal. Oriente os trios a cria- preta e parda no Brasil. O racismo estrutural garante a desigual-
rem apresentações de slides ou vídeos com os resultados da dade social e promove a vulnerabilidade do jovem periférico,
pesquisa, ampliando o trabalho com as ferramentas digitais. que fica à mercê de gangues e da violência institucionalizada
Durante as apresentações, incentive os estudantes a compa- pelo Estado e perpetua a estigmatização desse segmento da
rarem os dados dos diferentes indicadores sociais. sociedade.
Caso considere interessante a sensibilização dos estudantes
Sugestões para o professor para o tema das permanências históricas, uma sugestão é tra-
Sites balhar a composição do grupo O Rappa chamada “Todo cambu-
rão tem um pouco de navio negreiro”. (O Rappa. O Rappa. Rio de
» Ipea. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/. Aces-
so em: 22 jun. 2020. Janeiro: Warner Music Brasil, 1994. 1 CD. Faixa 3.)
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é um dos
Boxe Interação
órgãos que utilizam os indicadores sociais para a promoção
de análises qualificadas. A página ainda oferece uma seção 1. Os estudantes devem realizar o cálculo da proporção entre
de publicações que podem ser exploradas. 43,1% e 16%: 43,1 : 16 = 2,69. É possível arredondar a pro-
» Ipea. Retrato das desigualdades de gênero e raça. Dispo- porção para 2,7. Incentive-os a realizar a leitura dessa pro-
nível em: https://www.ipea.gov.br/retrato/. Acesso em: 22 porção. Ela significa que, para cada jovem não negro
jun. 2020. assassinado, há 2,7 assassinatos de jovens negros.
Os dados e as análises apresentados pelo Ipea apontam a 2. Resposta pessoal. O objetivo é que os estudantes aprofun-
existência de uma profunda desigualdade de classe, raça e dem as reflexões sobre as questões estruturais analisadas
gênero no Brasil. A página ainda dispõe de infográficos que até o momento e avaliem o quanto elas impactam a realidade
podem ser facilmente utilizados como material didático. de juventude.

246
Sugestão para o professor Sugestões para o professor
Relatório Site
» 13o Anuário de Segurança Pública. Disponível em: http:// » Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em:
www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/ http://www.forumseguranca.org.br/. Acesso em: 22 jun.
Anuario-2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020. 2020.
O relatório apresenta dados nacionais sobre a segurança O site disponibiliza dados e análises importantes sobre a se-
pública, desde os investimentos até a identificação de áreas gurança pública e pode auxiliar no aprofundamento das dis-
de menor efetividade, bem como destaca e analisa infor- cussões.
mações importantes sobre os grupos mais atingidos pela Filme
violência.
» GregNews: polícia. Direção: Alessandro Orofino. Brasil,
2020 (29 min).
O programa do comediante Gregório Duvivier explora, sema-
Crime organizado (Página 132) nalmente, questões vivenciadas pela realidade brasileira. Es-
Peça aos estudantes que identifiquem o conceito de segu- se episódio aborda a falta de investimento na polícia militar
rança pública elaborado pelo sociólogo Renato Sérgio de Lima. no Brasil, bem como as práticas dessa corporação e seus im-
O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no qual Lima é dire- pactos na sociedade.
tor-presidente, é uma organização não governamental, não vin-
culada a partidos políticos e sem fins lucrativos. Baseado na Há soluções possíveis? (Página 133)
cooperação técnica, une pesquisadores, gestores e polícias, a
A presença do crime organizado não se limita ao Brasil. Nar-
fim de dar transparência a informações sobre segurança públi-
rativas sobre a máfia italiana ou sobre o crime organizado esta-
ca e violência no Brasil.
dunidense costumam ser exploradas, até de forma gloriosa, nos
É importante reconhecer a complexidade da violência no
filmes de Hollywood. No entanto, na prática, a existência dessas
Brasil, onde elementos históricos unem-se a eventos mais re-
formas estruturadas, articuladas com instâncias da sociedade e
centes e constroem uma complexa trama que tende a crimina-
do próprio poder instituído, cria imensos problemas para a so-
lizar as populações mais pobres, que são as mais vitimadas.
ciedade. Do aumento da violência urbana ao aliciamento dos
Para que os estudantes observem essa complexidade e reco-
indivíduos mais vulneráveis, a prática é uma das mais difíceis
nheçam a lavagem de dinheiro como uma dessas facetas, pe-
de combater.
ça a eles que leiam o texto com atenção e dialoguem sobre os
Peça aos estudantes que observem as ações elencadas co-
indicadores de violência e suas possíveis ligações com o crime
mo forma de combate ao crime organizado. Entre os elementos
descrito.
mencionados, destaque a necessidade do empenho do aparato
O seriado sugerido no boxe Para explorar tem uma aborda-
do Estado, em especial dos políticos. Comente que, muitas ve-
gem interessante, pois leva em consideração o comportamento
zes, parte das operações do crime organizado ocorre com a co-
das personagens descritas. Sem dúvida, as temáticas aborda-
nivência ou até o favorecimento de grupos corruptos dentro do
das podem ter maior conexão com os estudantes dos grandes
governo.
centros urbanos, mas, ainda assim, contribui para a compreen-
são dos problemas de parte dos jovens brasileiros.
Boxe Interação
1. Respostas pessoais. A atividade dá continuidade ao debate
Boxe Reflexão
sobre segurança pública, ações possíveis e impactos na reali-
• A reflexão proposta nesse boxe resgata a discussão sobre dade da juventude brasileira. Dialogue com os estudantes so-
violência, iniciada na página anterior e a relaciona ao crime bre cada item, apontando como ele poderia ser traduzido em
organizado e à prática da lavagem de dinheiro. ações e como as ações poderiam ser sentidas pela comunida-
de onde os estudantes vivem. Dessa forma, o diálogo favore-
1. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes identi-
ce a percepção da ação cidadã no cotidiano e também
fiquem que a lavagem de dinheiro é a etapa final das ati-
instrumentaliza os estudantes na análise dos projetos políti-
vidades criminosas, obscurecendo a origem do dinheiro
cos. Se julgar conveniente, selecione outros trechos do docu-
obtido por meio de práticas que levam jovens a serem as-
mento do Ipea para mostrar aos estudantes. Disponível em:
sassinados, como assaltos, roubos e tráfico de drogas.
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_con-
Além disso, o dinheiro, depois de limpo, pode ser usado
tent&view=article&id=26752&catid=345&Itemid=383. Aces-
para financiar novas estruturas criminosas, como a aqui-
so em: 21 abr. 2020.
sição de veículos, armamentos e imóveis, fortalecendo o
ciclo econômico da violência.
Sugestões para o professor
b) Resposta pessoal. Essa reflexão é importante para que Filmes
os estudantes se conscientizem tanto da relevância dos im-
postos para a sociedade quanto dos danos provocados pe- » Explicando: bilionários. Direção: Claire Gordon e Joe Posner.
EUA, 2018 (23 min).
lo crime organizado e por práticas como a lavagem de
dinheiro. Esse tipo de ação impede que a sociedade recolha Nesse episódio da série Explicando, é comentada a origem
valores relevantes para serem investidos em seu benefício, da riqueza dos bilionários de diferentes países e a natureza
além de financiar atividades criminosas que prejudicam mi- duvidosa dos bens.
lhares de pessoas, como os esquemas de desvio de dinhei- » Na rota do dinheiro sujo: o andar da carruagem. Direção:
ro público, o pagamento de subornos e a compra ilegal de Paul Snyder. EUA, 2018 (23 min).
armas. Assim, a lavagem de dinheiro é uma ação absoluta- Nesse episódio da série Na rota do dinheiro sujo, funcioná-
mente contrária à cidadania e altamente prejudicial para o rios de um banco privado estadunidense denunciam práticas
conjunto da sociedade. fraudulentas de obtenção de lucro.

247
Acesso à cultura (Página 134)
políticas públicas que não são exclusivamente relacionadas
à economia são, muitas vezes, negligenciadas. A pandemia
Comente com os estudantes que o termo “cultura” é um con- de covid-19 vivenciada em 2020 foi um momento em que is-
ceito importante das Ciências Humanas e deve ser, antes do es- so ocorreu. Nesse período, a preocupação com a cultura e com
tudo, compreendido em sua amplitude. A cultura abrange todos os agentes que vivem dela não entrou na pauta das discus-
os conhecimentos, as produções, as ideias e as crenças de cada sões ou, se entrou, apresentou-se timidamente por meio da
sociedade. Além disso, não deve ser hierarquizada (como tradi-
atuação do setor cultural e de poucos políticos eleitos com
cionalmente feito por meio, por exemplo, da diferenciação entre
sensibilidade ao tema.
cultura erudita e cultura popular) e não é considerada um dado
Peça aos estudantes que identifiquem as instituições ou os
estático, ou seja, muda por meio do contato com outras culturas
grupos sociais representados em cada uma das imagens e suas
e ao longo do tempo.
áreas de atuação. Aproveite a oportunidade e pergunte aos
Espera-se que os estudantes percebam que a desigualdade
estudantes se eles conhecem iniciativas semelhantes no mu-
social no país repercute nas mais diferentes esferas, inclusive
nicípio ou na comunidade onde vivem. Solicite a eles que ava-
no acesso à cultura e ao lazer. Quanto a este último, sugira aos
liem se elas têm sido valorizadas ou se deveriam receber maior
estudantes que pensem sobre as discrepâncias entre os espa-
atenção.
ços públicos no município onde vivem. Em geral, enquanto nos
Nesse momento, é possível trabalhar com os estudantes os
bairros de elite há áreas verdes e espaços para a prática de es-
conceitos de patrimônio material e patrimônio imaterial brasi-
porte bem conservados, as áreas periféricas, quando possuem
leiro, vastíssimo em seu conteúdo e existente em diversas for-
algum equipamento de lazer, precisam contar com a manuten-
mas em todo o território nacional, favorecendo, assim, a mobili-
ção pouco regular das prefeituras, o que gera pouco aproveita-
zação de aspectos da habilidade EM13CHS104 e das CGEB7 e
mento desses espaços.
CGEB9.
É aconselhável comentar com os estudantes que a preocu-
pação do governo federal com a cultura tem se tornado progres-
sivamente secundária, o que acarreta políticas frágeis de manu- Atividades (Página 136)
tenção do compromisso do Estado em fomentar a cultura. Ainda 1. Atividade de produção de texto. Se julgar conveniente, de-
assim, o site indicado no boxe Para explorar oferece alguns in- senvolva a atividade em conjunto com o professor de Língua
dicadores e informações da atual Secretaria Especial da Cultura, Portuguesa. Essa atividade possibilita aos estudantes ama-
que é um órgão do Ministério do Turismo. durecer suas percepções sobre os desafios enfrentados pe-
Atividade complementar lo governo e o modo como essas questões reverberam em
seus cotidianos, contribuindo para a formação cidadã e a
• Se julgar pertinente, solicite aos estudantes que façam uma consciência da responsabilidade, como sujeitos, pela imple-
pesquisa de satisfação sobre as instalações relacionadas à mentação de melhorias.
cultura existentes na comunidade onde a escola está situa-
2. Atividade de pesquisa. Se houver laboratório de informática
da. Essa pesquisa pode ser seguida de uma ação comunitá-
disponível, a turma pode pesquisar informações no portal do
ria visando à preservação e à melhoria dessas instalações
Ministério da Cidadania, que apresenta uma seção específi-
ou, ainda, a um plano de ação para novas instalações.
ca para a divulgação de indicadores sociais. Disponível em:
• Para isso, eles deverão fazer um levantamento para identi- https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/portal/index.php?
ficar a quantidade de instalações existentes, o tipo de insta- grupo=185. Acesso em: 2 maio 2020.
lação (biblioteca, quadra esportiva, etc.) e o estado de Promova um debate para que os jovens possam expor suas
conservação. percepções e traçar paralelos com suas realidades acerca da
importância dos programas de distribuição de renda à popu-
• Em um segundo momento, os estudantes deverão entrevis-
tar moradores dessa comunidade para identificar como usam lação que vive em situação de extrema pobreza.
essas instalações, bem como seu nível de satisfação com elas 3. Atividade de pesquisa. O objetivo dessa atividade é desen-
e possíveis demandas por novas instalações. volver a crítica, a cidadania e a divulgação científica. Oriente
os estudantes em relação às pesquisas, para que selecionem
• Após esse diagnóstico, sugere-se que os estudantes elabo- as informações em fontes confiáveis. O processo de constru-
rem um plano de ação comunitário visando à melhoria das
ção de gráficos e tabelas pode ser realizado com o professor
instalações relacionadas à cultura nessa comunidade. Caso
de Matemática. Leia os parágrafos explicativos com os estu-
a maior parte dos moradores tenha se mostrado satisfeita
dantes, realizando apontamentos sobre a análise que eles
com as instalações existentes, pode-se pensar em planos
fizeram dos dados. Você pode retomar as etapas da pesqui-
para melhorias ou preservação delas. Do contrário, deverão
pensar em planos de ação para implementação de novas ins- sa de renda sugerida na página 130.
talações que atendam às demandas da comunidade. O item d promove o protagonismo juvenil e o empoderamen-
to dos jovens como cidadãos. Assim, eles terão uma expe-
• Em ambos os casos, é imprescindível que as autoridades riência prática de acionamento das autoridades com base
competentes sejam devidamente consultadas.
na vivência e na pesquisa, apropriando-se de seus lugares
como sujeitos.
Iniciativas e mudanças estruturais 4. a) Resposta pessoal. O diálogo sobre os equipamentos e as
(Página 135) ações culturais favorece a apropriação dos espaços pelos jo-
O avanço de políticas públicas direcionadas à cultura os- vens, para que reconheçam seu direito à cultura. Durante os
cila, infelizmente, em razão da dependência de outros ele- diálogos e a pesquisa, incentive-os a traçar caminhos entre
mentos. Todos os serviços oferecidos pelo Estado ou que de- a casa onde moram e os espaços de cultura, orientando-os
pendem dele para seu incentivo são importantes. No entanto, a acompanhar as agendas desses lugares.

248
b) Respostas pessoais. Oriente os estudantes a buscar infor- de as desigualdades afetarem esses locais com maior profun-
mações no site indicado no boxe Para explorar, da página didade. Ademais, o capítulo é um exercício para refletir sobre as
134. Assim como foi feito em relação à renda e à segurança periferias com base em outras perspectivas, com foco na articu-
pública, a atividade possibilita aos estudantes elaborar ações lação dos indivíduos que vivem nesses locais e no reconheci-
que possam transformar suas realidades, reconhecendo o mento da dignidade deles.
potencial que detêm como cidadãos.
5. Resposta correta: alternativa c. Espera-se que os estudantes Possibilidades de futuro: a periferia
reconheçam a discriminação, o racismo e as desigualdades (Página 138)
sociais como aspectos fundamentais para compreender a
Retome com os estudantes que as desigualdades sociais fo-
violência e a criminalidade existentes no Brasil.
ram construídas por fatores diversos ao longo da história do
6. Resposta correta: alternativa d. O texto da lei que apresenta Brasil. Essas desigualdades são percebidas não somente no
os objetivos relacionados ao Plano Nacional de Cultura men- acesso pleno às cidadanias política, civil e social, mas também
ciona “estimular a presença da arte e da cultura no ambiente em sua distribuição desigual no espaço das cidades brasileiras.
educacional” sem fazer qualquer referência à profissionali- Ainda que o Brasil seja grande e as periferias ganhem contor-
zação ou especialização nesse âmbito, invalidando, assim, o nos próprios em termos regionais e locais, é possível reconhecer
item I. Da mesma forma, o item III é invalidado, pois o texto facilmente onde estão as periferias e os problemas que nela
da lei menciona o intercâmbio da cultura, mas não dos ges- emergem.
tores culturais. Comente com os estudantes que a relação entre o número de
vítimas de covid-19 no Brasil e as áreas em que houve mais ca-
Práticas de texto (Página 137) sos são dados emblemáticos da desigualdade no país. Assim, se
As proposições dessa atividade, incluindo a apresentação fi- os primeiros casos em território brasileiro foram de indivíduos que
nal, favorecem o posicionamento ético no debate público e a ar- retornavam de viagens internacionais, a maior parte das mortes
ticulação entre a produção de conhecimentos e a exposição oral. (mesmo no início da pandemia) foi registrada entre a população
As discussões em sala de aula devem ser estimuladas sem- mais pobre, para a qual o acesso à saúde tende a ser limitado e
pre que possível. A atuação dos indivíduos em sociedade e no o distanciamento social é dificultado pelas condições de moradia
mercado de trabalho exigem que as pessoas sejam capazes de ou pela necessidade de deslocamento para o trabalho.
se expressar com clareza. Contudo, ainda que a tônica seja a insuficiência de políticas
Oriente os estudantes a buscar informações para a formula- públicas nas periferias, o capítulo aborda essas questões com
ção de seus argumentos. Comente que é necessário pensar na base em outra perspectiva, atentando-se para as potencialida-
ordem em que esses argumentos serão apresentados. des periféricas. Esse exercício é importante para o reconheci-
Ressalte para os estudantes a importância de fundamentar mento do engajamento, da vivência e da busca por dignidade
os argumentos com dados estatísticos, muitos deles apresen- dos habitantes dessas regiões.
tados ao longo da unidade, para que esses argumentos estejam
amparados em dados científicos e, assim, possam ser defendi-
dos de forma coerente. RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
A atividade tem o potencial de desenvolver posturas críticas,
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes expliquem,
fundamentadas na construção e na exposição de argumentos,
com as próprias palavras e com base em suas vivências e
assim como no conteúdo abordado ao longo da unidade. Em
visões de mundo, o que entendem por periferia. Durante a
paralelo, um dos objetivos dessa atividade é preparar os estu-
discussão, atente para evitar estereótipos que contribuam
dantes para se posicionar em suas vidas públicas de forma crí-
para o preconceito contra as pessoas que habitam as regiões
tica e fundamentada.
periféricas.
Além disso, essa atividade também pode contribuir com o
desenvolvimento de aspectos das habilidades EM13LGG101, 2. O trecho da reportagem menciona o pouco acesso das comu-
EM13LGG102 e EM13LGG104, bem como das CGEB7 e CGEB10. nidades periféricas às vagas formais de trabalho e, por con-
sequência, a instabilidade financeira. Em decorrência disso,
Sugestão para o professor muitos trabalhadores autônomos e informais das regiões
periféricas não aderiram ao isolamento social, expondo-se
Livro
ao risco de contrair coronavírus.
» Camargo, Fausto; Daros, Thuinie. A sala de aula inovadora:
3. Resposta pessoal. Os estudantes poderão mencionar a difi-
estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ati-
vo. Rio Grande do Sul: Penso, 2018. culdade de acesso a serviços de saúde, que caracteriza algu-
mas das regiões periféricas, elevando, assim, a taxa de
No livro, há dois capítulos que auxiliam na compreensão dos
letalidade em decorrência da doença nessas regiões.
benefícios do debate em sala de aula para o desenvolvimen-
to de competências, bem como apresentam as estratégias
para desenvolver essa prática de forma eficiente. Periferia: espaço e identidade (Página 139)
Solicite aos estudantes que identifiquem os significados do
termo “periferia”, que se trata de uma área fora da região cen-
CAPÍTULO 12 POSSIBILIDADES DE tral, mas que tem sido designada também como regiões de ex-
FUTURO: A PERIFERIA clusão. Igualmente, há a extensão do termo aos habitantes des-
sas regiões.
(Página 138)
Esclareça que o conceito de identidade é essencial para as
Nesse capítulo, são abordados temas relacionados às peri- Ciências Humanas e tem estado em destaque nos últimos trinta
ferias brasileiras, relacionando-os às desigualdades e ao fato anos. Possivelmente, os estudantes já conhecem esse termo,

249
uma vez que movimentos identitários têm ganhado visibilidade
Produção cultural nas periferias
nas mídias e nas redes sociais.
Comente com os estudantes que a construção da autoestima (Página 140)
entre os jovens da periferia e a reivindicação dos direitos da pe- O que define o que é ou não cultura? Quais são os atributos
riferia é um fenômeno relativamente recente. Em grande medi- necessários para que uma manifestação cultural seja vista co-
da, a periferia passou a ganhar visibilidade por meio de artistas mo digna de ser inserida entre as artes valorizadas? É impor-
que emergiram e passaram a valorizar o espaço de origem, co- tante reconhecer que sempre houve uma hierarquia sobre as
mo Racionais MC’s, Emicida, Karol Conka e Gaby Amarantos. manifestações culturais, e, em geral, que tendeu a inferiorizar
Esse assunto será retomado no capítulo e poderá ser explorado as manifestações da população negra no país.
com os estudantes com maior profundidade. Nesse sentido, comente com os estudantes que o samba
Pergunte aos estudantes se eles conhecem algum grupo (criado nas periferias cariocas no século XIX) e o carnaval de en-
organizado na periferia do município onde moram ou de outras trudo (que ocorria nas ruas e envolvia a população livre e escra-
localidades. Comente com eles que, diante da omissão do Es- vizada), por exemplo, eram considerados inapropriados pelas
tado, muitos moradores acabam criando creches, cursinhos pré- elites e foram perseguidos pelo Estado. Foi somente no governo
-vestibulares e espaços de lazer, cumprindo um papel destina- Vargas que essas manifestações culturais passaram a ser valo-
do às políticas públicas e demonstrando a capacidade da rizadas, inclusive com financiamento público, parte das políticas
população de se mobilizar para resolver questões emergenciais. de desenvolvimento da nacionalidade.
Essas ações colaboram para a construção de uma identidade É importante reconhecer que as culturas das periferias cos-
comunitária positiva, o que pode ressignificar a experiência des- tumam ser estigmatizadas e perseguidas. Assim, muitas produ-
ções periféricas enfatizam esteticamente a diferença entre o
ses indivíduos.
“asfalto” e a periferia, como afirma a música de Amilcka e Cho-
A discussão sobre as identidades e subjetividades periféricas
colate “Som de preto” (Intérprete: Amilcka e Chocolate. In: Funk
pode contribuir para o desenvolvimento de aspectos das habi-
Brasil bem funk. Rio de Janeiro: Som livre, 2005. 1 CD. Faixa 19).
lidades EM13CHS101 e EM13CHS501. Além disso, contribui
Essa discussão contribui para o desenvolvimento das habi-
para o trabalho com a CGEB3, a CGEB4 e a CGEB8.
lidades EM13CHS502 e EM13CHS503, bem como de aspectos
das habilidades EM13CHS603 e EM13CHS605. Além disso, con-
Boxe Reflexão
tribui para o desenvolvimento das CGEB1, CGEB3, CGEB5 e
• Nesse boxe, os estudantes são convidados a refletir so- CGEB10.
bre a multiplicidade de identidades periféricas existentes
a partir da constatação da existência de subjetividades Sugestões para o professor
dentro de grupos identitários e da forma como a expe- Tese
riência de alteridade pode gerar novas formas de inclusão » LoPes, Adriana Carvalho et al. “Funk-se quem quiser” no
e exclusão. batidão negro da cidade carioca. 2010. 187 f. Tese (Dou-
1. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam torado em Estudos da Linguagem) – Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, SP, 2010. Disponível em: http://
que não, pois essas subjetividades também condicionam o
repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/270844. Acesso
acesso a privilégios sociais, fazendo com que, mesmo dentro
em: 26 jun. 2020.
de um grupo identitário maior, existam diferenças de acesso
A pesquisa aborda o funk carioca como uma das maiores
a esses privilégios.
manifestações culturais de massa e explora os bastidores
2. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam dos bailes e as falas dos agentes envolvidos. Na tese, a mú-
que sim, como é possível observar nas relações de opressão sica e a performance do funk são formas de expor a carto-
baseadas no gênero, nas quais indivíduos do gênero mascu- grafia social do Rio de Janeiro, incluindo o racismo e a forma-
lino oprimem indivíduos do gênero feminino, independente- ção de novas identidades de raça e gênero.
mente de ambos compartilharem outras identidades. Filme

Sugestões para o professor » Pixo. Direção: Roberto T. Oliveira. Brasil, 2009 (61 min).
O documentário explora o pixo como um fenômeno social.
Livros
Apresenta entrevistas de jovens da periferia paulistana e co-
» SIlva, Kalina; SIlva, Maciel. Dicionário de conceitos histó- mo eles interpretam essa manifestação, considerada uma
ricos. São Paulo: Contexto, 2009. demarcação da periferia nos centros excludentes.
Ferramenta interessante para os professores, esse dicionário
de conceitos sumariza o uso de alguns termos considerando Vozes periféricas (Página 141)
o contexto histórico e as definições. Sobre o conceito identi-
Comente com os estudantes que a ampliação dos meios de
dade, lê-se: “é um sistema de representações que permite a
comunicação e o surgimento das redes sociais – ainda que não
construção do ‘eu’, ou seja, que permite que o indivíduo se
plenamente democratizados – possibilitaram a divulgação de
torne semelhante a si mesmo e diferente dos outros. Tal sis-
sujeitos que estão fora dos circuitos hegemônicos. Indivíduos
tema possui representações do passado, de condutas atuais
que dificilmente teriam espaço em grandes gravadoras ou na
e de projeto de futuro” (p. 202).
academia usam as plataformas virtuais para lançar conteúdo e
» CarrIl, Lourdes. Quilombo, favela e periferia: a longa bus- visibilizar suas ideias e vivências periféricas.
ca da cidadania. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2006. Ainda que o funk tenha alçado à categoria de música popu-
Nesse livro, a geógrafa Lourdes Carril aborda as perma- lar, com a utilização de suas composições nas telenovelas, como
nências históricas na formação dos espaços no país, com mencionado no Livro do Estudante, é importante destacar que
base na experiência do quilombo, da favela e da periferia, há uma rígida seleção estética do indivíduo e do produto que
no sentido político dos termos. será publicizado na grande mídia. Assim, há uma seleção das

250
manifestações mais palatáveis, que correspondem ao padrão
de beleza ou que evitam discussões sobre as profundas desi-
Periferia literária (Página 142)
gualdades sociais e raciais do país. Atualmente, intelectuais e militantes periféricos têm denun-
Comente com os estudantes que há um risco de caracterizar ciado que, no Brasil, os indivíduos periféricos (aí inclusos tanto
esses indivíduos e suas produções como exóticos. Em geral, o habitantes das periferias como outros indivíduos marginaliza-
exótico é apreciado pela sua excentricidade, mas dificilmente é dos da sociedade) tendem a ser vistos como objetos de pesqui-
valorizado como manifestação cultural legítima ou levado a dis- sa, e não como produtores de conhecimento. Explorar a litera-
cussões mais profundas que possam contribuir para mudanças. tura dessa população é uma forma de evidenciar que esses
Pergunte aos estudantes se conhecem os termos utilizados indivíduos também emitem discursos, constroem narrativas e
na página, como “heteronormativo”, e o significado da sigla LGB- têm formas próprias de vivenciar os espaços urbanos.
TQI+. A sigla abrange lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, Recentemente, a introdução de Quarto de despejo, de Caro-
queers, intersexuais e outras minorias sexuais, representadas lina Maria de Jesus (1914-1977), e de Sobrevivendo no inferno,
pelo sinal de mais. Ressalte que essa sigla já passou por diver- um álbum do grupo de rap Racionais MC’s, entre as leituras obri-
sas modificações, à medida que a luta da população LGBTQI+ gatórias de um importante vestibular paulista somaram-se ao
prossegue, abrangendo cada vez mais indivíduos, orientações debate sobre a hierarquia no campo da literatura.
e identidades que não sejam heterossexuais e cisgêneros. A chamada "literatura negra" é um exemplo de literatura pe-
É fundamental que qualquer conversa sobre esses temas riférica. Essa expressão é utilizada como forma de sinalizar que
ocorra com base no respeito aos indivíduos. Por se tratar de te- há uma tendência em universalizar a experiência branca e eu-
mas tabus para alguns grupos sociais, talvez o desconhecimen- ropeia. Assim, permanece a necessidade de demarcar que o in-
to resulte em um comportamento de intolerância. Para isso, con- divíduo que produziu a obra é negro, destacando positivamente
verse com eles sobre o assunto de maneira a desfazer qualquer sua ação para desconstruir concepções hegemônicas.
tipo de preconceito. É importante ressaltar que, desde 2003, com a aprovação
Pergunte aos estudantes se eles conhecem as cantoras re- da Lei n. 10 639, a história e a cultura afro-brasileiras e africa-
tratadas nas imagens e seu repertório. Caso julgue conveniente, nas foram introduzidas em todos os componentes escolares,
explore algumas músicas das artistas, como “Bixa Preta” (Linn o que inclui uma revisão da literatura tradicionalmente indica-
da Quebrada. Bixa preta, single, 2017) e “É o poder” (Karol Conka, da aos estudantes. No campo editorial, a existência da lei e o
single, 2015). crescimento da demanda por produtos que as contemplem ori-
ginaram o aumento da publicação de autores negros brasilei-
Sugestões para o professor ros e africanos.
Artigo Após a leitura atenta do excerto apresentado nessa página,
retome com os estudantes que a organização das comunidades
» Romani, André. A vida de Thiago Torres, “o chavoso da
é um elemento importante a ser destacado, demonstrando a ca-
USP”, depois do post. Jornal do Campus, 16 maio 2019.
pacidade dos envolvidos de reconhecer seus problemas e ela-
Disponível em: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.
php/2019/05/a-vida-de-thiago-torres-o-chavoso-da-usp- borar soluções para eles.
depois-do-post/. Acesso em: 27 jun. 2020. Chame atenção dos estudantes para a obra indicada no boxe
Para explorar. Originalmente uma tese de doutorado, o livro de-
A reportagem aborda a história de Thiago Torres, estudante
bate a periferia, os indivíduos periféricos e seus discursos polí-
da periferia que cursou Ciências Sociais na Universidade de
ticos e culturais. Já que o fenômeno da produção literária peri-
São Paulo e criou um canal em uma plataforma digital para
férica também está presente em outros países, o autor analisa
disponibilizar conteúdo sobre seus estudos, ao mesmo tem-
alguns exemplos internacionais.
po que questiona a ausência da periferia dentro da universi-
A discussão sobre a produção literária da periferia possibili-
dade e o incômodo inicial que sua presença representou nes-
ta o desenvolvimento de aspectos das CGEB4 e CGEB9.
se espaço, por ele conquistado.
Livros
Atividade complementar
» William, Rodney. Apropriação cultural. São Paulo: Pólen,
Compreensão das produções literárias
2019.
O livro aborda o fenômeno da apropriação cultural, elemento • A Lei n. 10 639 tornou obrigatória a introdução de conteúdos
que pode vir à tona no que se refere às manifestações e aos sobre a história e a cultura africanas e afro-brasileiras e au-
objetos negros e africanos, ao utilizar esses artefatos esva- mentou a procura de professores e interessados no tema por
ziando-os de sentido. produtos que respondessem a essa necessidade.
» Feitosa, Cleyton. Políticas públicas LGBT e construção de-
• Esse contexto também favoreceu a edição e a tradução de
mocrática no Brasil. Curitiba: Appris, 2017.
livros de autores negros e africanos, que passaram a ser pu-
O livro apresenta as pesquisas do autor a respeito das polí- blicados por grandes empresas editoriais e por selos edito-
ticas públicas de direitos humanos voltadas à população riais voltados para a temática identitária (como Pólen, Selo
LGBTQI+ com base na implantação do Centro Estadual de Negro, Pallas, Malê, Mazza, entre outros).
Combate à Homofobia do estado de Pernambuco.
Descrição da atividade
» Trevisan, João Silvério. Devassos no paraíso: a homosse-
xualidade da colônia à atualidade. 4. ed. São Paulo: Obje- • Para que os estudantes reconheçam a existência de produ-
tiva, 2018. ções literárias que vão além dos lugares hegemônicos, pro-
Obra já consagrada sobre a homossexualidade em diferen- ponha a eles que pesquisem livros de autores africanos e de
tes períodos da história brasileira, o livro foi reeditado e am- escritores negros brasileiros. Pode ser interessante incluir a
pliado e traz novos capítulos com diferentes reflexões e abor- pesquisa de livros de autores indígenas brasileiros, que, em
dagens sobre a história da homossexualidade e do escala menor, também têm sido publicados pela indústria
movimento LGBTQI+ no país. editorial. Sugira os seguintes passos:

251
• Em grupos, solicite aos estudantes que pesquisem na inter- • Essa atividade é especialmente propícia para a mobilização
net os nomes de editoras e seus catálogos. de aspectos da habilidade EM13CHS501 e contribui para o
desenvolvimento das CGEB1, CGEB2 e CGEB9.
• Ao acessar os sites e os catálogos, oriente os estudantes
a observar se há autores que respondem aos critérios da • Reposta pessoal. Auxilie os estudantes nas etapas que
pesquisa. constituem essa tarefa. Utilizando como exemplo uma ação
local que vise diminuir o acúmulo de lixo em vias públicas,
• Após identificar as obras, peça a eles que façam uma ficha algumas das estratégias possíveis são: ações educativas
com um breve resumo do livro e a reprodução de suas capas
comunitárias que demonstrem a importância do descarte
em escala menor. seletivo e do encaminhamento do lixo reciclável para esta-
• Reproduza, com os estudantes, um mapa-múndi em uma ções de tratamento, construção de composteiras para o
cartolina. Em seguida, solicite a eles que apresentem a obra aproveitamento de parte do lixo orgânico, etc. Por se tratar
pesquisada e coloquem a ficha correspondente sobre o país de um problema de médio prazo, o cronograma poderá ser
ou a região de nascimento do autor. elaborado prevendo ações que ocorram no espaço de um
ano. Para isso, instituições parceiras, cooperativas de reci-
• A atividade possibilita o diálogo com os professores de Lite- clagem e empresas de coleta de lixo reciclável poderão ser
ratura e Geografia. acionadas. Os custos dessa ação dependem dos recursos
que serão empregados na produção de materiais educati-
vos para as ações na comunidade e na construção de com-
Empreendedorismo periférico (Página 143) posteiras, bem como de possíveis taxas para a coleta
É importante sempre ressaltar que, de acordo com o IBGE, os seletiva. Os fundos para cobrir esses custos poderão ser
negros representam 54% da população brasileira. Ainda que, obtidos mediante ações diversas, tal como financiamentos
estatisticamente, tenham renda inferior aos 45,22% de brancos, coletivos pela internet, venda de rifas ou criação e venda de
representam uma fatia grande do mercado consumidor, e há produtos relacionados à causa.
empreendimentos que reconhecem esse poder de compra, o Durante a etapa de execução, é importante que os estudan-
que originou expressões como “black money”. tes sejam resilientes diante das adversidades e estejam
Solicite aos estudantes que leiam com atenção a reportagem abertos a repensar as estratégias caso alguma delas for
de Debora Komukai. Discuta com eles os impactos positivos ori- inviável. Por fim, ao término do tempo estipulado, solicite
ginados pelo desenvolvimento de uma economia na própria pe- aos estudantes que avaliem o resultado das ações, consi-
riferia, como a criação de empregos, a injeção de dinheiro, o for- derando os acertos e as possibilidades de melhoria em
talecimento da autoestima das pessoas que vivem nessas ações futuras.
regiões e a ressignificação desses espaços. É importante ressal-
tar, no entanto, que o empreendedorismo nos termos tratados
nessa obra não dispensa a necessidade de políticas públicas, Atividades (Página 145)
apenas auxiliam na resolução de problemas por outras vias que
1. a) As subjetividades dos corpos negros, periféricos e trans-
podem ser complementares. gêneros.
b) São as violências que tentam ocultar ou deslegitimar as
Empreendedorismo social (Página 144) subjetividades consideradas desviantes, ou pela exclusão
O objetivo desse tópico é que os estudantes compreendam social, difamação, criminalização, ou até mesmo pelo homi-
o papel histórico dos sujeitos históricos, com ênfase na impor- cídio.
tância de políticas públicas que promovam transformações so- c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes mencio-
ciais e econômicas e na ação dos indivíduos que vivem em con- nem que esses corpos, enquanto subjetividades, são vítimas
textos extremamente desiguais. da violência por fugirem do padrão de valorização de uma
sociedade conservadora, racista, machista e LGBTfóbica, que
tem o corpo branco, rico e masculino como o ideal e referen-
Sugestão para o professor
cial e busca ocultar e deslegitimar todos os demais corpos.
Artigo
d) A cantora e ativista luta utilizando o próprio corpo e a for-
» SImões, Nataly. Empreendedorismo social impulsiona
mação de redes de pessoas que vivenciam a mesma violên-
desenvolvimento de profissionais negros. Alma Preta, 9
cia como formas de protesto e manifesto.
set. 2019. Disponível em: https://www.almapreta.com/
editorias/realidade/empreendedorismo-social-impulsiona- 2. a) Resposta pessoal. As respostas podem envolver diversos
o-desenvolvimento-de-profissionais-negros. Acesso em: 27 aspectos relacionados à convivência em espaços públicos,
jun. 2020. como o volume do som, que pode incomodar outros habitan-
Nessa reportagem, o tema do empreendedorismo de impac- tes da região, e também a criminalização do funk, como pro-
to é analisado, bem como são oferecidos exemplos concretos dução cultural periférica e marginal.
do modelo. b) Resposta pessoal. Incentive os estudantes a responder à
questão com base em argumentos concretos, pautados na
realidade, ressaltando a importância do respeito à dignidade
Boxe Ação e cidadania humana.
• Nesse boxe, a discussão sobre empreendedorismo social é 3. Resposta correta: alternativa d. Ferréz constata que a litera-
ampliada por meio de um convite à sua experimentação prá- tura é um instrumento de resistência que vem sendo utiliza-
tica, de forma a incentivar o protagonismo dos estudantes e do pelas minorias, e que o fato de ocupar um lugar de
engajá-los de maneira ativa e cidadã em suas comunidades. marginalidade é uma forma tanto de reivindicar um lugar de

252
fala quanto de se unir a outras minorias, que, juntas, formam Para complementar o estudo, sugira aos estudantes que
uma maioria. leiam os textos indicados abaixo. O primeiro texto aborda o con-
texto dos estudantes aprovados na Universidade Federal do
Práticas de pesquisa (Páginas 146 a 149) Maranhão. O segundo relata uma pesquisa feita com estudan-
tes de um curso pré-vestibular da cidade de Santa Maria, no Rio
O objetivo dessa seção é possibilitar aos estudantes o de-
Grande do Sul. O terceiro texto é um artigo sobre a necessidade
senvolvimento de habilidades e práticas de pesquisa, coleta e
análise de informações. A proposta é que eles organizem gru- de reabilitar os adolescentes a definir o próprio destino. Esses
pos de jovens em fase de escolha profissional para, então, obter textos possibilitam a observação de contextos geográficos dis-
as informações sobre esse processo. tintos e a análise de possíveis semelhanças e diferenças.
O tema é complexo, e as angústias que o cercam podem ser • Halabe, Dannilo Jorge Escorcio. A escolha profissional no Enem:
diferentes de acordo com os contextos dos sujeitos seleciona- entre o ideal e as imposições do real. 2012. Dissertação (Mes-
dos no grupo focal. Assim, é possível que apareçam elementos trado em Educação) - Universidade Federal do Maranhão, São
como a pressão familiar para que os estudantes ingressem nas Luís, 2012. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.
universidades mais prestigiadas, as dificuldades familiares em ufma.br/index.php/reducacaoemancipacao/article/view/3340.
custear as mensalidades dos institutos privados, o anseio para Acesso em: 27 jun. 2020.
seguir a carreira do pai e da mãe ou o desejo de ser o primeiro
indivíduo da família a acessar o espaço universitário. Ressalte, • Maffei, Alexsandra Machado. A situação socioeconómica e a
contudo, que a angústia está presente nessa fase, ainda que por escolha profissional: sujeitos de diferentes estratos sociais e
motivos diversos. suas perspectivas profissionais. 2008. Dissertação (Mestrado
As questões que precisam ser respondidas ao longo da em Ciências Políticas) – Universidade Fernando Pessoa,
pesquisa são: Quais são as profissões almejadas pelos jo- Porto, 2008. Disponível em: https://bdigital.ufp.pt/bitstream/
vens? Quais foram os critérios utilizados para escolhê-las? 10284/1081/2/Alexsandra%20Machado.pdf. Acesso em: 27
Como os jovens têm se preparado para concretizar as esco- jun. 2020.
lhas profissionais?
Peça aos estudantes que atentem para o item Procedimen-
• Barreto, Maria Auxiliadora; aiello-Vaisberg, Tania. Escolha pro-
fissional e dramática do viver adolescente. Psicologia & So-
tos, que indica cada uma das etapas, inclusive sugerindo ques-
ciedade, Porto Alegre, v. 19, n. 1, p. 107-114, jan./abr. 2007.
tões complementares e fundamentais para a compreensão do
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
fenômeno.
text&pid=S0102-71822007000100015&lng=en&
O objetivo dessa atividade é compreender quais são os ele-
nrm=iso. Acesso em: 27 jun. 2020.
mentos que colaboraram para as escolhas profissionais dos jo-
vens. Contudo, sua realização favorece o desenvolvimento das O desenvolvimento da atividade e sua divulgação permitem
habilidades de organização em grupos, compreensão de como aos estudantes a valorização das realidades e dos saberes das
proceder de forma ética e respeitosa durante um debate coleti- juventudes e o diálogo entre o conteúdo estudado e as práticas
vo e de como organizar essas informações, aprimorando a ex- críticas e cidadãs que os estudantes possam inserir no debate
posição oral dos estudantes. público de forma consciente.

253
Retomada
A seguir, apresentamos os principais conceitos trabalhados eles se apropriaram desse conhecimento e as relações que con-
ao longo da unidade e suas relações. Peça aos estudantes que seguiram estabelecer. Identifique, ainda, as dúvidas e as dificul-
elaborem os próprios mapas mentais de organização dos con- dades dos estudantes em relação ao conteúdo estudado, e re-
teúdos estudados. Com isso, é possível perceber de que maneira tome ou aprofunde os conceitos necessários.

Estado de
Neoliberalismo
bem-estar social

Cultura

Saúde Educação Renda Segurança

Direitos sociais Políticas públicas Desafios

Democracia brasileira

Periferia

Literatura Cultura Empreendedorismo

Juventude Autoestima

254
■ ATIVIDADES DE PREPARAÇÃO PARA EXAMES
1. (Enade) d) I, II e IV.
TEXTO I e) II, III e IV.
Com base em dados de 2015, estima-se que, no Brasil, ha-
Resposta: alternativa b.
ja em torno de 100 mil pessoas em situação de rua. A popula-
ção que vivencia situação de rua é formada por pessoas que,
2. (UFBA)
em sua maioria, possuem menos que o necessário para aten-
der às necessidades básicas do ser humano, estando no limi- O Estado deve ser fundamentalmente diferenciado da Na-
te da indigência ou da pobreza extrema, com comprometi- ção, porque o Estado consiste em uma organização política,
mento da própria sobrevivência. A situação desse grupo um poder independente no plano externo, e supremo no in-
excluído e marginalizado pode decorrer de diversos fatores, terno, provido de recursos humanos e financeiros para sus-
como desemprego estrutural, migração, uso prejudicial de ál- tentar sua independência e autoridade. Não podemos iden-
cool e outras drogas, presença de transtornos mentais, confli- tificar o primeiro com a segunda, como se costumava fazer,
tos familiares, entre outros. até entre os próprios patriotas catalães, que falavam ou es-
creviam sobre uma nação catalã no sentido de um Estado
Hino, P.; SantoS, J. O.; RoSa, A. S. Pessoas que vivenciam
catalão independente. […]
situação de rua sob o olhar da saúde. Revista Brasileira de
Enfermagem. v. 71, Suplemento 1, p. 732-740, 2018 (adaptado). (CaStellS, 1999, p. 60.)

TEXTO II O conceito em análise, contido no texto, permite reconhecer


como Estado:
O Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e a Secre- 01) os reinos e os impérios da Antiguidade, visto constituí-
taria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), rem organizações políticas dirigidas por governos ge-
lançou uma campanha que objetiva valorizar a saúde como ralmente autoritários, apoiados no poder da classe
um direito humano de cidadania e ressaltar que as pessoas dominante e na força militar, a fim de garantir as con-
quistas e a defesa de ameaças externas.
em situação de rua têm o direito de ser atendidas na rede de
serviços do SUS. 02) os feudos da Europa medieval, por terem conservado as
fronteiras e a divisão política vigentes no antigo Império
Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/
index.php/cidadao/principal/campanhas-publicitarias/ Romano do Ocidente.
19300-camanha-pop-rua.
Acesso em: 11 set. 2018 (adaptado). 04) as formações políticas que se construíram na Idade
Moderna europeia, por possuírem fronteiras definidas,
A respeito da população que vivencia situação de rua e território unificado, sistema de leis e de justiça organi-
considerando os textos apresentados, avalie as afirma- zados, língua oficial predominante, moeda única e go-
ções a seguir. verno centralizado sob a forma de monarquias ou
I. Na elaboração de políticas públicas, devem ser conside- oligarquias aristocráticas.
rados os fatores pessoais e contextuais que levam pes- 08) os reinos da Itália (1860) e da Alemanha (1871), de-
soas a viver em situação de rua, o que exige o trabalho pois das lutas travadas interna e externamente, por
de equipes multidisciplinares, com o objetivo de asse- alcançarem a unificação dos seus respectivos territó-
gurar direitos de saúde, dignidade e cidadania a essa rios, fator indispensável à concepção do Estado e ao
população. reconhecimento de sua existência por outros países
II. A inexistência de endereço fixo que possibilite fazer ca- europeus.
dastros oficiais e estabelecer contato quando necessário 16) a Nação Palestina, cujos cidadãos, dispersos no Egito,
inviabiliza a inserção dos indivíduos em situação de rua no Irã e em campos de refugiados da Síria, têm utiliza-
nas políticas públicas de saúde, educação e moradia. do métodos pacifistas, para manterem o status de Es-
III. A homogeneidade do grupo de pessoas que vivem em tado, já reconhecido pela ONU desde o fim da Segunda
situação de rua contribui para o desenvolvimento das Guerra Mundial.
estratégias de acolhimento e de atendimento pelas equi- 32) a Organização dos Estados Americanos (OEA), por aglu-
pes envolvidas em campanhas dirigidas a esse público. tinar todos os países da América e por estar submetida
IV. A falta de moradia convencional e o comprometimento aos princípios da Doutrina Monroe.
da identidade, da segurança, do bem-estar físico e emo-
cional e do sentimento de pertencimento são problemas Resposta: 01 1 04 1 08 5 13.
vivenciados pelas pessoas que vivem em situação de
rua e requerem atenção do poder público. 3. (Enem)
É correto apenas o que se afirma em: Temos vivido, como nação, atormentados pelos males mo-
dernos e pelos males do passado, pelo velho e pelo novo, sem
a) I e III.
termos podido conhecer uma história de rupturas revolucio-
b) I e IV. nárias. Não que não tenhamos nos modernizado e chegado ao
c) II e III. desenvolvimento. Mas não eliminamos relações, estruturas e

255
procedimentos contrários ao espírito do tempo. Nossa moder- e a dança (o break). No hip-hop os jovens usam as expressões
nização tem sido conservadora. artísticas como uma forma de resistência política.

nogueiRa, M. As possibilidades da política: ideias para Enraizado nas camadas populares urbanas, o hip-hop afir-
a reforma democrática do Estado. Rio de Janeiro: mou-se no Brasil e no mundo com um discurso político a favor
Paz e Terra, 1998. dos excluídos, sobretudo dos negros. Apesar de ser um movi-
mento originário das periferias norte-americanas, não encontrou
O texto apresenta uma análise recorrente sobre o processo
barreiras no Brasil, onde se instalou com certa naturalidade – o
de modernização do Brasil na segunda metade do século XX.
que, no entanto, não significa que o hip-hop brasileiro não tenha
De acordo com a análise, uma característica desse processo
sofrido influências locais. O movimento no Brasil é híbrido: rap
reside na(s):
com um pouco de samba, break parecido com capoeira e grafite
a) uniformização técnica dos espaços de produção. de cores muito vivas.
b) construção municipalista do regime representativo. (Adaptado de Ciência e Cultura, 2004)

c) organização estadual das agremiações partidárias. De acordo com o texto, o hip-hop é uma manifestação artísti-
ca tipicamente urbana, que tem como principais características
d) limitações políticas no estabelecimento de reformas
sociais. a) a ênfase nas artes visuais e a defesa do caráter naciona-
e) restrições financeiras no encaminhamento das demandas lista.
ruralistas. b) a alienação política e a preocupação com o conflito de ge-
rações.
Resposta: alternativa d. c) a afirmação dos socialmente excluídos e a combinação de
linguagens.
4. (Enem) d) a integração de diferentes classes sociais e a exaltação do
progresso.
O movimento hip-hop é tão urbano quanto as grandes cons-
e) a valorização da natureza e o compromisso com os ideais
truções de concreto e as estações de metrô, e cada dia se tor-
na mais presente nas grandes metrópoles mundiais. Nasceu norte-americanos.
na periferia dos bairros pobres de Nova Iorque. É formado por
três elementos: a música (o rap), as artes plásticas (o grafite) Resposta: alternativa c.

256
MANUAL DO PROFESSOR

ENSINO MÉDIO

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CIDADANIA E

ENSINO MÉDIO

Editores responsáveis:
Flávio Manzatto de Souza
2 0 8 0 6 5 Valéria Vaz
ISBN 978-65-5744-183-1

Organizadora: SM Educação
2 900002 080650 Obra coletiva, desenvolvida e produzida
por SM Educação.

SP_PNLD21_CAPA_CH_CIDADANIA_MP_DIVULGACAO.indd 2 4/19/21 3:25 PM

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