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SOCIOLOGIA E PSICOLOGIA

APLICADAS AO TRABALHO
Psicologia social e
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sua aplicação no trabalho


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APLICADAS AO TRABALHO

SUMÁRIO
SOCIOLOGIA E PSICOLOGIA APLICADAS AO TRABALHO ................................................................5

1. PSICOLOGIA SOCIAL E SUA APLICAÇÃO NO TRABALHO ....................................................................... 5


1.1. Relação entre indivíduo e sociedade ............................................................................................ 8
1.2. Intervenções psicossociais em comunidades e organizações .................................................... 13
1.3. Psicologia social na saúde, educação, justiça e políticas públicas ............................................. 17
1.4. Promoção da mudança social e enfrentamento de problemas sociais ..................................... 20
1.5. Identidade pessoal, social, pertencimento e processos de categorização social ..................... 25
1.6. Identidade de gênero, etnia, nacionalidade, entre outras ...................................................... 28
1.7. Grupos e dinâmicas de grupo ...................................................................................................... 29
QUESTÕES PROPOSTAS ........................................................................................................................... 40

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SOCIOLOGIA E PSICOLOGIA APLICADAS AO TRABALHO

TEMA DO DIA
Psicologia social e sua aplicação no trabalho

1. PSICOLOGIA SOCIAL E SUA APLICAÇÃO NO TRABALHO

A Psicologia Social é um campo que estuda como as interações sociais influenciam o comportamento
humano, as percepções e as atitudes das pessoas. No contexto do ambiente de trabalho, a compreensão dos
princípios da Psicologia Social pode ser fundamental para promover um ambiente saudável, produtivo e
colaborativo.

A Psicologia Social do Trabalho oferece dois enfoques para entender as interações humanas no
ambiente laboral: o individualista, que se concentra nas características individuais dos trabalhadores, como
personalidade e motivação; e o sistêmico, que examina as estruturas organizacionais e suas influências sobre
o comportamento dos colaboradores. 49603

Entretanto, essa disciplina enfrenta críticas significativas. Uma delas é a secundarização do trabalho
em relação à família, onde o aspecto familiar muitas vezes é considerado mais importante do que o próprio
trabalho. Além disso, há uma perspectiva elitista do trabalho em algumas abordagens, que valorizam apenas
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certas ocupações, ignorando a diversidade de experiências laborais.

Outra crítica é a adoção de um modelo médico de saúde ocupacional, que se concentra principalmente
em aspectos físicos e objetivos da saúde no trabalho, negligenciando as dimensões subjetivas e emocionais
que o adoecimento no trabalho pode compreender.

Apesar dessas críticas, a Psicologia Social do Trabalho desempenha um papel crucial ao complementar
e contrapor a abordagem mais individualista da psicologia. Ao considerar tanto os aspectos individuais quanto
os sistêmicos, busca promover ambientes de trabalho mais saudáveis, produtivos e satisfatórios para todos os
envolvidos.

Duas teses bem recentes da psicologia social nos ajudam a entender melhor qual é a aplicação dos
conhecimentos dessa área para analisar nosso contexto atual do trabalho.

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A primeira tese – “o desmoronamento do trabalho como suporte identitário: incerteza, volatilidade e
precarização dos empregos” - questiona o lugar de centralidade ocupado pelo trabalho na produção das
identidades contemporâneas, tendo em vista mudanças no mercado de trabalho, na organização e na cultura
empresarial. Assim, o trabalho deixaria de ser o eixo central a partir do qual se organizaria a vida dos sujeitos.

A segunda tese - “a regulação da identidade na empresa pós-fordista: o novo ideal de trabalhador


flexível e empreendedor” – se ancora no novo perfil de trabalhador requerido por empresas flexíveis. As
transformações decorrentes do desenvolvimento capitalista observado nas últimas décadas implicaram na
emergência de modelos flexíveis de gestão empresarial, os quais estariam preocupados em moldar a
identidade do trabalhador.

Outro exemplo interessante da aplicação da Psicologia Social no mercado de trabalho é a sua análise
dos setores mais institucionalizados, como empresas e indústrias. No entanto, uma crítica significativa surge
em relação à falta de atenção dedicada aos setores pobres e marginalizados. Um desses setores
frequentemente negligenciados é a prostituição, por exemplo. Estes ramos do trabalho são notavelmente
invisíveis e raramente analisados pela ótica da Psicologia Social.
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Enquanto a Psicologia do Trabalho tende a se concentrar nos ambientes laborais mais convencionais e
estruturados, como empresas e organizações, setores como o trabalho ambulante, a reciclagem, etc.
permanecem à margem de sua investigação. Essa lacuna na pesquisa psicológica resulta em uma compreensão
limitada das complexidades e desafios enfrentados por aqueles que trabalham em profissões marginalizadas.

Por outro lado, disciplinas como a Sociologia e a Economia têm sido mais bem-sucedidas em analisar
essas áreas informais e marginais. A Sociologia, por exemplo, oferece insights valiosos sobre as estruturas
sociais e os padrões de interação que permeiam esses ambientes de trabalho menos convencionais. Enquanto
isso, a Economia pode examinar os aspectos financeiros e de mercado que influenciam esses setores,
destacando questões como oferta e demanda, precariedade econômica e exploração laboral.

Portanto, embora a Psicologia Social tenha muito a contribuir para a compreensão do mercado de
trabalho, é fundamental reconhecer suas limitações e buscar colaboração interdisciplinar para abordar
questões relacionadas a todos os estratos sociais, inclusive aqueles que muitas vezes são negligenciados.
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Agora, vamos ver alguns conceitos interessantes da psicologia social que podemos utilizar como
ferramentas para analisar o mundo do trabalho hoje:

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Percepção Social:

A percepção social refere-se à forma como as pessoas interpretam e atribuem significado ao


comportamento dos outros. No ambiente de trabalho, compreender as diferentes percepções dos colegas
pode ajudar a evitar mal-entendidos e conflitos. Os líderes podem aplicar esse conceito ao considerar como
suas ações e decisões são interpretadas pela equipe, promovendo uma comunicação clara e transparente.

Atitudes e Mudança de Atitude:

As atitudes são predisposições aprendidas para responder de maneira consistente a pessoas, ideias e
situações. No trabalho, os gestores podem influenciar as atitudes dos funcionários por meio de políticas
organizacionais, liderança exemplar e programas de engajamento. Compreender como as atitudes são
formadas e modificadas pode ajudar na implementação eficaz de mudanças organizacionais e na promoção de
uma cultura empresarial positiva.

Conformidade e Obediência:
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A conformidade refere-se à tendência das pessoas em ajustar seu comportamento ou opiniões para se
enquadrarem nas normas do grupo. A obediência, por sua vez, envolve a submissão à autoridade. No ambiente
de trabalho, é importante reconhecer como esses fenômenos podem influenciar a dinâmica da equipe e a
tomada de decisões. Líderes podem usar esse conhecimento para incentivar a colaboração, a criatividade e a
autonomia dos funcionários, evitando armadilhas de conformidade excessiva ou obediência cega.

Teoria da Identidade Social:

A Teoria da Identidade Social sugere que as pessoas tendem a categorizar a si mesmas e aos outros em
grupos sociais, e que a identidade grupal influencia o comportamento e as atitudes. No contexto profissional,
promover uma identidade compartilhada entre os membros da equipe pode fortalecer o senso de
pertencimento e cooperação. Os líderes podem enfatizar valores e objetivos comuns para criar uma cultura
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organizacional coesa e motivadora.

Comportamento Altruísta e Pró-social:

O comportamento altruísta envolve agir em benefício dos outros, muitas vezes sem benefício pessoal
imediato. No local de trabalho, promover um ambiente onde o comportamento pró-social seja incentivado e
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reconhecido pode melhorar o moral da equipe e fortalecer os laços interpessoais. Isso pode incluir a
colaboração em projetos, o apoio aos colegas em momentos difíceis e a participação em iniciativas de
responsabilidade social corporativa.

Preconceito e Discriminação:

O preconceito e a discriminação são fenômenos sociais prejudiciais que podem criar um ambiente de
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trabalho tóxico e prejudicar o desempenho individual e organizacional. Os líderes devem estar atentos a sinais
de preconceito e discriminação e tomar medidas para promover a diversidade, a inclusão e a igualdade de
oportunidades. Isso pode envolver a implementação de políticas antidiscriminatórias, a sensibilização por meio
de treinamentos e a promoção de uma cultura de respeito e aceitação mútua.

Influência Social:

A influência social refere-se à capacidade de uma pessoa ou grupo de modificar as atitudes ou


comportamentos dos outros. No ambiente de trabalho, os líderes podem usar técnicas de influência social
para motivar os funcionários, resolver conflitos e promover
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a mudança organizacional. Isso pode incluir o uso
de liderança carismática, persuasão eficaz e modelos de comportamento exemplar.

Estresse e Apoio Social:


O suporte social desempenha um papel importante na saúde mental e no bem-estar dos funcionários.
No ambiente de trabalho, promover redes de apoio e um clima de solidariedade entre os colegas pode ajudar
a mitigar o estresse ocupacional e melhorar a satisfação no trabalho.

1.1. Relação entre indivíduo e sociedade

A relação entre o indivíduo e a sociedade é um tema central na Psicologia Social, uma disciplina que
investiga como as interações sociais e o ambiente social influenciam o comportamento, as atitudes e as
percepções dos indivíduos. Para compreender essa interação complexa, é essencial considerar as contribuições
teóricas de diversos autores e os exemplos práticos que ilustram essa dinâmica.

Vimos que o foco da Psicologia Social é estudar o comportamento de indivíduos no que ele é
influenciado socialmente. E sabemos que nós nos tornamos sociais quando nascemos, ou até mesmo antes,
devido nossas condições históricas. Mas como isso acontece? Em todos os momentos da nossa vida somos
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influenciados pelos meios sociais. Então, não podemos dizer que o homem é um ser isolado. Somos seres
individualizados e, ao mesmo tempo, coletivos, somos influenciados pela sociedade a partir das relações
culturais. Por isso, estudar o processo de socialização, os agentes socializadores e a cultura e o conceito de
identidade social é de fundamental importância para compreender os problemas sociais que ocorrem na
sociedade.

Cada indivíduo, ao nascer, encontra-se num sistema social criado através de gerações já existentes e
que é assimilado por meio de inter-relações sociais. O ser humano, desde seus primórdios, é considerado um
ser de relações sociais, que incorpora normas, valores vigentes na família, em seus pares, na sociedade. Assim,
a formação da personalidade do ser humano é decorrente, de um processo de socialização, no qual intervêm
fatores inatos e adquiridos. Entende-se, por49603
fatores inatos, aquilo que herdamos geneticamente dos nossos
familiares, e os fatores adquiridos provém da natureza social e cultural.

O ser humano é um animal que depende de interação para receber afeto, cuidados e até mesmo para
se manter vivo. Somos animais sociais, pois o fato de ouvir, tocar, sentir, ver o outro fazem parte da nossa
natureza social. O ser humano precisa se relacionar com os outros por diversos motivos: por necessidade de
se comunicar, de aprender, de ensinar, de dizer que ama o seu próximo, de exigir melhores condições de vida,
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bem como de melhorar o seu ambiente externo, de expressar seus desejos e vontades.

Essas relações que vão se efetivando entre indivíduos e indivíduos, indivíduos e grupos, grupos e
grupos, indivíduo e organização, organização e organização, surgem por meio de necessidades específicas,
identificadas por cada um, de acordo com seu interesse. Vivemos em diversos grupos (familiares, de vizinho,
de amigos, de trabalho) nos quais interagimos e crescemos. Os mais diversos grupos sociais influenciam na
vida do indivíduo. O indivíduo tem, para si, claras as características que o diferenciam dos demais, como seus
fatores biológicos, seu corpo físico, seus traços, sua psiquê que envolve emoções, sentimentos e
temperamento. Todavia, o indivíduo, como objeto de estudo da psicologia social e da sociologia, é considerado
dentro dos seus padrões sociais, pois ele vive em sociedade, como membro do grupo. A própria consciência
da sua individualidade é construída como membro do grupo social, visto que é determinada pelas relações
entre o “eu” e os “outros”, entre o grupo interno e o grupo externo.

Então, quando estudamos sobre o indivíduo, percebemos a forma como ele organiza o seu
pensamento, seu comportamento. Assim, iremos concluir que essa construção e organização ocorrem, a partir
do contato que tem com o outro. Por isso, temos a necessidade de estudar não só o indivíduo enquanto ser
social, mas este influenciado por padrões culturais diante da sociedade em que vive, pois a cultura fornece

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regras específicas. Assim, para compreendermos o indivíduo e a sociedade, precisamos entender a cultura à
qual pertencemos.

O indivíduo, enquanto ser particular e social, desenvolve-se em um contexto multicultural, em que


temos regras, padrões, crenças, valores, identidades muito diferenciadas. Assim, a cultura torna-se um
processo de “intercâmbio” entre indivíduos, grupos e sociedades. A partir do momento em que faz uso da
linguagem, o indivíduo se encontra em um processo cultural, que, por meio de símbolos, reproduz o contexto
cultural que vivencia. Essa cultura se refere ao conjunto de hábitos, regras sociais, intuições, tipos de
relacionamento interpessoal de um determinado grupo, aprendidos no contexto das atividades grupais.

Assim, não podemos considerar a cultura como algo isolado, mas como um conjunto, integrado de
características comportamentais aprendidas. Essas características são manifestadas pelos sujeitos de uma
sociedade e compartilhadas por todos. Com isso, a cultura refere-se ao modo de vida total de um grupo
humano, compreendendo seus elementos naturais, não naturais e ideológicos. Segundo Ramos (2003, p. 265),
“as culturas penetram o indivíduo [...] da mesma forma que as instituições sociais determinam estruturas
psicológicas [...] o homem pensa e age dentro do seu ciclo de cultura”.
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Partindo desses princípios, devemos considerar o indivíduo como sujeito ativo no contexto cultural.
Ele tem a liberdade de tomar decisões, por meio de novas interpretações. Ele recebe a informação e constrói,
criativa e coletivamente, um processo cultural voltado à época histórica atual que vivencia. Ele mesmo constrói
suas regras, por meio das atividades coletivas, podendo alterá-las, da mesma forma que é afetado por elas.
Podemos considerar a cultura como uma herança social, que é transmitida por ensinamento a cada nova
geração. Portanto, devemos conhecer a realidade cultural do indivíduo para compreender suas práticas,
costumes, concepções e as transformações que ocorrem na sua vida. E é nessa realidade sociocultural que o
indivíduo se socializa. Sua personalidade, suas atitudes, opiniões
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socioculturais, em que controla e planeja suas próprias atividades.

Agentes socializadores e processo de socialização

O processo de socialização é fundamental para o desenvolvimento humano, moldando nossa


compreensão do mundo e influenciando nosso comportamento, valores e identidade. Desde o nascimento até
a idade adulta, somos constantemente expostos a diversos agentes de socialização que desempenham papéis
cruciais nesse processo.

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Desde os primeiros momentos de vida, os membros da família desempenham um papel central na
socialização. Eles são os primeiros a nos introduzir às normas culturais, valores e tradições. A família é onde
aprendemos as regras básicas de convivência, como expressar emoções, interagir com os outros e adotar
papéis de gênero.

Além da família, a escola é outro agente importante de socialização. Na escola, aprendemos não
apenas conhecimentos acadêmicos, mas também habilidades sociais essenciais, como trabalhar em equipe,
seguir regras e lidar com a diversidade. Os professores e colegas desempenham papéis significativos na
formação de nossa identidade social e no desenvolvimento de nossas habilidades interpessoais.

A mídia e a tecnologia também exercem uma influência cada vez maior no processo de socialização.
Através da televisão, internet, redes sociais e outras formas de mídia, somos expostos a uma ampla gama de
valores, ideias e comportamentos. A mídia molda nossas percepções do mundo e contribui para a construção
de identidades individuais e coletivas.
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Além desses agentes principais, há uma variedade de outros contextos sociais que contribuem para o
processo de socialização, como grupos de pares, organizações
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religiosas, grupos étnicos e comunidades locais.
Cada um desses agentes desempenha um papel único na formação de nossa identidade e no desenvolvimento
de nossa compreensão do mundo ao nosso redor.

Papéis sociais

Os papéis sociais desempenham um papel crucial na Psicologia Social, pois são fundamentais para
entender como os indivíduos se comportam e interagem dentro de contextos sociais específicos. Um papel
social refere-se às expectativas, normas e comportamentos associados a uma posição particular que um
indivíduo ocupa na sociedade.

Um dos conceitos centrais na Psicologia Social é o da teoria dos papéis. Essa teoria sugere que os
comportamentos das pessoas são influenciados pelas expectativas sociais associadas aos papéis que
desempenham. Por exemplo, um indivíduo que assume o papel de professor provavelmente se comportará de
maneira diferente em sala de aula do que em um ambiente informal, devido às expectativas e normas
associadas ao papel de professor.

Os papéis sociais podem ser tanto atribuídos quanto adquiridos. Os papéis atribuídos são aqueles que
são dados a uma pessoa por outros membros da sociedade com base em características como idade, gênero,
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ocupação ou status social. Por exemplo, ser pai ou mãe é um papel atribuído com expectativas específicas de
comportamento associadas a ele. Já os papéis adquiridos são aqueles que uma pessoa escolhe ou desenvolve
ao longo do tempo, muitas vezes em resposta às oportunidades e demandas do ambiente social.

É importante ressaltar que os papéis sociais não são estáticos e podem mudar ao longo do tempo e
em diferentes contextos sociais. Além disso, os indivíduos podem desempenhar múltiplos papéis
simultaneamente, o que pode criar conflitos de papéis quando as expectativas associadas a esses papéis
entram em conflito.

Na Psicologia Social, o estudo dos papéis sociais ajuda a entender uma variedade de fenômenos
sociais, como conformidade, obediência, identidade social e influência social. Compreender como os papéis
sociais influenciam o comportamento humano é essencial para entender a dinâmica dos grupos e sociedades
e para desenvolver intervenções eficazes em áreas como educação, saúde e trabalho.

Identidade social e consciência de si mesmo

A identidade social e a consciência de si mesmo


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são conceitos centrais na Psicologia Social, que
oferecem abordagens interessantes sobre como os indivíduos se percebem e se relacionam com os outros
dentro de contextos sociais.

A identidade social refere-se à parte da autoimagem de um indivíduo que está relacionada às suas
afiliações e pertencimentos a grupos sociais específicos. Esses grupos podem incluir categorias como gênero,
etnia, religião, nacionalidade, profissão, entre outros. A identidade social é formada a partir da identificação
com esses grupos e da internalização das normas, valores e comportamentos associados a eles.

A consciência de si mesmo, por sua vez, refere-se à capacidade de um indivíduo de se perceber como
um ser único e distinto dos outros. Envolve a reflexão sobre os próprios pensamentos, sentimentos,
características e comportamentos, bem como a consciência de como esses aspectos se comparam aos dos
outros. 49603

Embora a identidade social e a consciência de si mesmo sejam conceitos distintos, eles estão inter-
relacionados de várias maneiras. Por exemplo, a identidade social pode influenciar a autoimagem de um
indivíduo e sua consciência de si mesmo. Quando um indivíduo se identifica fortemente com um grupo social
específico, isso pode moldar sua autoimagem e influenciar como ele se percebe em relação aos outros.

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Além disso, a consciência de si mesmo também pode afetar a identidade social de um indivíduo. Um
alto nível de autoconsciência pode levar alguém a refletir sobre suas identificações grupais e a questionar se
estas são congruentes com sua própria identidade pessoal.

Ambos os conceitos desempenham um papel importante na compreensão do comportamento


humano e das dinâmicas sociais. Por exemplo, a identidade social pode influenciar a forma como os indivíduos
se comportam em grupos, moldando suas atitudes, crenças e comportamentos de acordo com as normas do
grupo. Da mesma forma, a consciência de si mesmo pode influenciar como os indivíduos respondem a
situações sociais e como percebem a si mesmos em relação aos outros.

1.2. Intervenções psicossociais em comunidades e organizações

As intervenções psicossociais em comunidades e organizações são ferramentas poderosas para


promover mudanças positivas, fortalecer os laços sociais e melhorar o bem-estar coletivo. Essas intervenções
combinam princípios da psicologia social, sociologia e práticas de intervenção para abordar desafios
específicos enfrentados por grupos de pessoas em contextos
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exploraremos algumas das principais abordagens e estratégias utilizadas nessas intervenções, bem como
exemplos de sua aplicação prática.

Para compreender a realidade brasileira, discute-se muito sobre o conceito de fatalismo, que é
considerado responsável pela resignação e desmobilização das pessoas. Em reflexões importantes na
psicologia social, foi contestada a ideia de que o fatalismo é inerente ao psiquismo ou à cultura da pobreza,
independentemente das condições sociais. Geralmente se argumenta contra a noção de que o comportamento
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fatalista é uma característica intrínseca do povo latino-americano, desvinculada do funcionamento das
estruturas sociais, econômicas e políticas. Essas visões psicologizantes culpam as camadas marginalizadas por
sua própria exclusão, ao atribuir a elas condutas passivas e submissas, tornando o psiquismo o alicerce da
estruturação social.

A psicologia social sugere que o fatalismo observado nas populações excluídas da América Latina é, na
verdade, um sistema de ideologias internalizadas a partir das experiências cotidianas com o mundo social. Os
indivíduos que nascem nas periferias das cidades latino-americanas aprendem, desde cedo, o seu lugar social
e a improvável eficácia de seus esforços para promover mudanças efetivas em uma sociedade marcada pela
exploração e opressão. A realidade social, portanto, reforça essa ideologia fatalista, que é transmitida por meio

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de organizações institucionais e processos de socialização, como a educação doméstica, a escola, a igreja e o
trabalho.

Conforme essa visão, o fatalismo é uma realidade social externa e objetiva antes de se tornar uma
atitude pessoal interna e subjetiva. As classes dominadas não têm capacidade real de controlar seu próprio
futuro, de definir o horizonte de sua existência e de moldar sua vida de acordo com essa definição. O local de
nascimento se converte em destino.

Nesse contexto, o papel do psicólogo social e do profissional envolvido em trabalhos comunitários é


desmontar a ideologia fatalista e expor a falsidade oficial de que não é possível modificar a sociedade devido
a um destino inevitável e fatal. No entanto, é importante destacar que a superação do fatalismo não implica
apenas mudanças individuais ou transformações das condições sociais. É necessário redefinir a relação entre
o indivíduo e a sociedade, o que requer não apenas a mudança de crenças individuais em relação ao mundo e
ao destino, mas também alterações nas condições reais da vida social. O processo de superação do fatalismo
é dialético e envolve a transformação das atitudes individuais e a mudança na organização social, através da
recuperação da memória histórica, do fortalecimento das virtudes populares e da organização coletiva.
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Em relação à prática profissional, é importante definir uma posição política e fazer uma opção histórica
antes de qualquer intervenção comunitária. O psicólogo social deve escolher entre reproduzir as estruturas
sociais existentes ou adotar uma postura de resistência e contestação diante da opressão das sociedades. Se
optar pela transformação das condições de vida das maiorias populares, é necessário adotar a perspectiva
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histórica do povo e contribuir para a desconstrução da ideologia dominante. A tarefa do psicólogo é incentivar
a desideologização da realidade cotidiana, desmantelando os discursos ideológicos que justificam o sistema
social e legitimam comportamentos passivos, resignados e fatalistas. Esse processo não depende apenas dos
instrumentos teórico-metodológicos do psicólogo, mas também da relação entre o profissional e a
comunidade, despertando a consciência de ambos os sujeitos envolvidos nesse processo.

Portanto, a superação do fatalismo e a conscientização requerem uma abordagem relacional, social,


comunitária e política, diretamente ligada à relação com os sujeitos sociais, à ação coletiva e à transformação
da sociedade. É um processo complexo que não pode ser assumido como responsabilidade exclusiva do
psicólogo, mas requer o engajamento ativo de todos os membros da comunidade.

O Paradigma da Construção e Transformação Crítica, conhecido como Paradigma da Psicologia Social


Latino-americana ou Modelo de Produção de Conhecimentos, vem sendo desenvolvido ao longo de mais de
quatro décadas pelos psicólogos que atuam em comunidades, e é composto por cinco dimensões. Essas
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dimensões servem como base para pensar propostas de intervenção na comunidade e para realizar a
problematização do trabalho comunitário.

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A primeira dimensão é a ontológica, que trata da natureza do ser e levanta questões sobre a relação
entre os investigadores/agentes externos e as pessoas que formam as comunidades. Questões como os
problemas, desejos, necessidades, expectativas e recursos percebidos pelos membros da comunidade são
consideradas nessa dimensão.

A dimensão epistemológica aborda a produção do conhecimento e a relação entre sujeitos capazes de


refletir sobre objetos do conhecimento. É destacada a ideia de que tanto o sujeito quanto o objeto são parte
de uma mesma dimensão em uma relação de mútua influência. Questões sobre o que os sujeitos envolvidos
aprenderam e ensinaram são exploradas nessa dimensão.

A dimensão metodológica trata dos métodos empregados para produzir conhecimento. Destaca-se a
necessidade de desenvolver métodos que possam se adaptar às mudanças nas comunidades, gerando
continuamente perguntas e respostas diante das transformações e perspectivas de ação. É sugerido o uso de
uma metodologia dialógica, dinâmica e transformadora49603
que incorpore a comunidade.

A dimensão ética foca na inclusão das pessoas atendidas no processo de produção do conhecimento,
garantindo sua participação efetiva na autoria e propriedade do saber construído coletivamente. Questões
sobre quem são os participantes provenientes da comunidade, quais são seus interesses e qual é o lugar do
agente interno na produção do conhecimento são consideradas.

Por fim, a dimensão política está relacionada à finalidade e aplicabilidade do conhecimento,


fornecendo elementos para compreender o propósito e os efeitos sociais do saber produzido. Questões sobre
quem se beneficia do conhecimento e se as pessoas interessadas na comunidade são conscientes de seus
direitos e deveres são levantadas nessa dimensão.

Gostaria agora de apresentar alguns exemplos de intervenções em comunidades e organizações.

1. Desenvolvimento de Liderança Comunitária:

Uma intervenção comum em comunidades é o desenvolvimento de liderança comunitária, que visa


capacitar os membros locais a se tornarem agentes de mudança em suas próprias comunidades. Isso pode

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envolver a oferta de treinamentos, workshops e programas de mentoria para desenvolver habilidades de
liderança, resolução de conflitos e advocacia comunitária.

Exemplo: Um projeto em uma área urbana carente oferece treinamentos de liderança para jovens locais,
capacitando-os a organizar eventos comunitários, liderar iniciativas de melhoria do bairro e representar os
interesses de sua comunidade perante autoridades locais.

2. Intervenções para Promoção da Saúde Mental e Bem-Estar:

Em organizações e comunidades, intervenções psicossociais são frequentemente implementadas para


promover a saúde mental e o bem-estar emocional dos membros. Isso pode incluir programas de
conscientização sobre saúde mental, grupos de apoio, intervenções de redução do estresse e estratégias de
autocuidado.

Exemplo: Uma empresa implementa um programa de bem-estar para funcionários, que inclui sessões de
mindfulness, aconselhamento individual, e workshops sobre gerenciamento do estresse e promoção de
hábitos saudáveis, visando melhorar o ambiente de trabalho
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e a satisfação dos colaboradores.

3. Intervenções para Redução de Preconceito e Discriminação:

Em comunidades e organizações, intervenções são frequentemente desenvolvidas para combater o


preconceito e a discriminação e promover a diversidade e a inclusão. Isso pode envolver treinamentos sobre
conscientização cultural, workshops sobre estereótipos e preconceitos, e programas de educação sobre
direitos humanos.

Exemplo: Uma ONG lança uma campanha de sensibilização em escolas locais, abordando questões de
discriminação racial e promovendo a aceitação da diversidade. A campanha inclui palestras, atividades
educativas e eventos culturais que celebram a diversidade étnica e cultural.

4. Intervenções para
49603 Promoção da Resolução de Conflitos:

Em contextos comunitários e organizacionais, intervenções são frequentemente desenvolvidas para


facilitar a resolução de conflitos de maneira construtiva e pacífica. Isso pode incluir mediação de conflitos,
treinamentos em comunicação não violenta e desenvolvimento de habilidades de negociação.

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Exemplo: Um centro comunitário oferece serviços de mediação de conflitos para resolver disputas entre
vizinhos, colegas de trabalho e famílias, proporcionando um espaço seguro e imparcial para a resolução de
conflitos e a restauração de relacionamentos.

Em resumo, as intervenções psicossociais em comunidades e organizações desempenham um papel


crucial na promoção do desenvolvimento positivo, no fortalecimento das relações sociais e na melhoria do
bem-estar coletivo. Ao adotar uma abordagem integrada que combina princípios da psicologia social,
sociologia e práticas de intervenção, essas intervenções têm o potencial de criar mudanças significativas e
49603

duradouras em diversos contextos sociais.

1.3. Psicologia social na saúde, educação, justiça e políticas públicas

As relações entre a Psicologia e as políticas públicas no Brasil são diversas e complexas, com uma vasta
literatura que aborda essa temática em diferentes áreas como saúde, educação, assistência social, segurança
pública e direitos humanos. Esses estudos foram realizados por psicólogos e profissionais de outros campos,
utilizando diferentes perspectivas analíticas e repertórios
49603teóricos.

Para discutir essa relação, é necessário compreender o que é a Psicologia e o que são políticas públicas.
Ambos os termos são abrangentes e complexos, permeados por contradições e diferentes interpretações. A
Psicologia é um campo disciplinar, institucional e profissional que abrange diversas áreas do conhecimento,
enquanto as políticas públicas são ações promovidas pelo poder público em diferentes áreas de atuação, não
se limitando apenas às ações estatais de longo prazo.

É importante promover diálogos e aproximações entre as diversas abordagens desses campos,


reconhecendo que existem diferentes conceituações de políticas públicas e definições dos objetos da
Psicologia. Não se trata de estabelecer uma única verdade sobre esses estudos, mas sim de explorar como
esses dois campos podem se relacionar por meio de diferentes olhares, espaços, temporalidades e
perspectivas.

A relação entre Psicologia e Políticas Públicas no Brasil apresenta uma história marcada por momentos
de aproximação e distanciamento, com recentes indícios de uma ligação mais consistente. Estudos mais
recentes sugerem uma maior abertura ao diálogo entre esses campos, apesar das múltiplas abordagens
teóricas e linguagens de ação que os caracterizam.

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Enquanto as políticas públicas são frequentemente percebidas como um artefato institucional voltado
para resultados eficientes, eficazes e efetivos, também são vistas como processos dinâmicos em busca de
coerência diante da constante ambiguidade dos processos organizacionais, políticos e sociais que as moldam.
Nesse sentido, mais do que um conceito estático, as políticas públicas são também um produto das ações das
pessoas. 49603

O estudo das políticas públicas, segundo alguns autores, é uma prática socialmente construída. Essa
perspectiva vai além da visão centrada exclusivamente no Estado como protagonista da implementação das
políticas, considerando uma gama de atores públicos e privados em diferentes níveis. A análise das políticas
públicas contribui para a compreensão da dinâmica das sociedades, destacando as interações entre atores,
instituições, normas e processos que moldam tais políticas.

A abordagem da ação pública, por sua vez, concentra-se mais nas interações entre os atores envolvidos
do que nos efeitos das políticas públicas. Enquanto a perspectiva das políticas públicas, tradicionalmente
associada à ciência política, está interessada nos resultados das políticas produzidas nos níveis centrais da
administração estatal (modelo top-down), a abordagem da ação pública, típica da sociologia, busca
compreender as interações entre os diversos atores políticos
49603
(modelo bottom-up).

Essa mudança de ênfase não diminui a importância dos processos políticos, mas destaca a
complexidade das interações sociais que influenciam a formulação e implementação das políticas públicas. A
análise empírica dos processos de implementação de políticas públicas emerge como um campo privilegiado
de investigação, revelando as intricadas relações entre regulação social e política.

Muitas vezes o Estado negligencia o ciclo de políticas públicas, elemento fundamental nesse campo. É
na fase de implementação que as políticas são entregues aos cidadãos, e é aí que a função dos
implementadores, os "burocratas do nível da rua", ganha destaque. Esses agentes não deveriam ser meros
executores, mas também poderiam participar ativamente na formulação da política, fazendo escolhas e
tomadas de decisão dentro dos limites estabelecidos pela legislação.

Esses burocratas, que incluem psicólogos que atuam em serviços públicos, podem ter uma margem de
liberdade considerável em suas decisões diárias. A discricionariedade não é uma anomalia, mas uma
consequência inevitável das interações cotidianas. Suas ações são influenciadas por valores individuais e
institucionais, afetando diretamente a natureza e a qualidade dos serviços prestados.

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O debate sobre a discricionariedade dos burocratas muitas vezes gira em torno da legitimidade de suas
decisões. Embora possam adaptar as políticas para atingir melhor seus objetivos, sua falta de legitimidade
democrática para tomar certas decisões que afetam os cidadãos é frequentemente questionada.

A teoria do reconhecimento oferece uma perspectiva interessante para entender essas dinâmicas,
especialmente ao considerar as "ordens de reconhecimento" que moldam as interações sociais. A Psicologia
Social Crítica, orientada por essa teoria, pode fornecer uma base sólida para a pesquisa sobre a implementação
de políticas públicas, indo além das limitações encontradas em ambos os campos.

É importante reconhecer a distinção entre a linguagem dos direitos, que é imperativa e evocada por
movimentos sociais, e a linguagem das políticas públicas, que é mais orientativa e pertence à esfera das
relações de reconhecimento. Optar pela cacofonia performática, em vez de aceitar a hegemonia da política
pública, pode ser uma estratégia metodológica mais adequada para abordar essas questões complexas.

Vimos então como a Psicologia Social desempenha um papel fundamental em diversas áreas da
sociedade, incluindo saúde, educação, justiça e políticas públicas. Suas contribuições nessas áreas ajudam a
compreender melhor as dinâmicas sociais, promover mudanças
49603
positivas e abordar desafios complexos que
afetam indivíduos e comunidades. Vamos observar alguns exemplos?
49603

1. Saúde:

Na área da saúde, a Psicologia Social pode contribuir para entender como fatores sociais, culturais e
psicológicos influenciam o bem-estar físico e mental das pessoas. Ela investiga a relação entre estresse, suporte
social, comportamentos de saúde e acesso aos cuidados de saúde. Além disso, intervém no desenvolvimento
e implementação de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças.

Exemplo: Psicólogos sociais podem realizar estudos sobre os determinantes sociais da saúde, como a
influência do status socioeconômico na saúde mental, e desenvolver intervenções para promover hábitos
saudáveis, como programas de prevenção ao tabagismo em escolas e comunidades.

2. Educação:

Na área da educação, a Psicologia Social se concentra no estudo dos processos de aprendizagem,


interação social em sala de aula e no desenvolvimento socioemocional dos estudantes. Ela investiga como

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fatores como motivação, autoeficácia, identidade social e clima escolar afetam o desempenho acadêmico e o
bem-estar dos alunos.

Exemplo: Psicólogos sociais podem realizar pesquisas sobre técnicas de ensino eficazes, desenvolver
programas de intervenção para prevenir o bullying escolar e oferecer apoio emocional aos alunos que
enfrentam dificuldades acadêmicas.

3. Justiça:

Na área da justiça, a Psicologia Social contribui para entender o comportamento criminoso, o processo
de tomada de decisão judicial e a eficácia das intervenções corretivas. Ela investiga fatores como preconceito,
49603

estereótipos, tomada de decisão em grupo e respostas emocionais ao crime.

Exemplo: Psicólogos sociais podem realizar estudos sobre o impacto do viés racial nas decisões judiciais,
desenvolver programas de intervenção para a reintegração de infratores na sociedade e oferecer terapia para
vítimas de crimes.
49603

4. Políticas Públicas:

Na área de políticas públicas, a Psicologia Social contribui para entender as necessidades e preferências
da população, avaliar o impacto de políticas e programas governamentais e desenvolver estratégias eficazes
para promover o bem-estar social e a igualdade de oportunidades.

Exemplo: Psicólogos sociais podem realizar pesquisas para informar políticas de combate à pobreza,
desenvolver campanhas de conscientização sobre questões sociais, como saúde mental ou violência
doméstica, e avaliar a eficácia de programas de inclusão social.

Em resumo, a Psicologia Social desempenha um papel crucial em diversas áreas da sociedade,


contribuindo para promover o bem-estar, reduzir desigualdades e criar ambientes mais saudáveis e justos. Seu
enfoque interdisciplinar e suas abordagens baseadas em evidências são essenciais para enfrentar os desafios
complexos que enfrentamos em nossa sociedade contemporânea.

1.4. Promoção da mudança social e enfrentamento de problemas sociais

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A promoção da mudança social e o enfrentamento de problemas sociais são áreas em que a Psicologia
Social desempenha um papel crucial. Essa disciplina investiga as dinâmicas sociais subjacentes aos problemas
enfrentados pela sociedade e desenvolve estratégias para criar mudanças positivas e duradouras. Neste texto,
exploraremos como a Psicologia Social contribui para a promoção da mudança social e o enfrentamento de
problemas sociais, destacando suas abordagens e exemplos de intervenções.

O conceito de "questão social" surgiu no século XIX para descrever as desigualdades decorrentes do
capitalismo, como a pobreza e a exploração no trabalho. Essa pobreza é resultado direto do sistema
econômico, mas frequentemente é abordada isoladamente, sem considerar suas raízes históricas e
econômicas. O neoliberalismo tende a atribuir a responsabilidade pela pobreza ao indivíduo, promovendo
políticas assistenciais focalizadas e enfraquecendo a intervenção estatal. Isso leva a uma visão da "questão
social" desvinculada de sua base econômica e política, atribuindo-a a problemas comportamentais e
individuais. Nesse contexto, surge o questionamento sobre o papel da Psicologia, que pode reforçar o discurso
neoliberal ao enfatizar aspectos individuais em detrimento das questões estruturais.

Muitos autores criticam a abordagem da Psicologia ao longo de sua história, argumentando que ela
tem servido predominantemente à classe dominante e49603
perpetuado visões racistas e misóginas. Algo que se
debate muito é que o conhecimento produzido pela Psicologia tem sido utilizado como uma ferramenta de
controle social, focando na adaptação dos indivíduos aos padrões estabelecidos pela sociedade e mantendo o
status quo do sistema capitalista.

Outros autores também


49603 questionam o papel político da Psicologia na América Latina e no Brasil,
destacando como suas pesquisas frequentemente se concentram em questões individuais e negligenciam as
dimensões sociais mais amplas. Eles argumentam que essa abordagem individualista influencia as práticas
políticas que moldam a vida das pessoas de acordo com um sistema econômico explorador e opressor.

Apesar das críticas, a Psicologia pode desempenhar um papel importante no enfrentamento das
questões sociais se adotar uma perspectiva mais ampla e engajada. Algumas abordagens emergentes, como a
Psicologia Social da libertação e a psicologia histórico-cultural, estão contribuindo para uma compreensão mais
completa dos problemas sociais na América Latina e além.

Vários autores propõem uma análise das práticas sociais à luz dos efeitos ideológicos que exercem
sobre os sujeitos e grupos sociais. Eles destacam a ideologia como um elemento central no trabalho
psicológico, entendendo-a como um obstáculo à compreensão da realidade e à superação dos problemas

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cotidianos. Um desses autores, Martín-Baró, argumenta que a ideologia funciona como uma "cortina de
fumaça" que obscurece a visão das pessoas, impedindo-as de enxergar além do que lhes é apresentado.

Essa abordagem tem relevância para entendermos 49603


e intervirmos na questão da pobreza, pois a
ideologia muitas vezes obscurece as condições em que as classes subalternas estão inseridas. Muitos
acadêmicos destacam como análises sobre a pobreza frequentemente culpabilizam os próprios indivíduos que
vivem em situação de pobreza, desviando o foco das falhas do sistema econômico e do Estado para as supostas
deficiências individuais.

Sob essa perspectiva, os pobres são frequentemente retratados como responsáveis por sua própria
condição, como se tivessem escolhido ser pobres ou como se suas características individuais os impedissem
de se inserir no mercado de consumo capitalista. Essa visão individualista e culpabilizadora muitas vezes reflete
ideias relacionadas ao "darwinismo social", onde a pobreza é vista como parte de uma suposta seleção natural,
com os mais "fracos" sendo deixados para trás.

Outros autores também destacam como na sociedade capitalista o pobre é frequentemente


estigmatizado e visto como incompetente, sendo responsabilizado
49603
por seus próprios fracassos. Essa "ideologia
da culpabilização do pobre" serve para justificar a desigualdade social ao invés de questionar as limitações do
próprio sistema capitalista.

Consequentemente, as expressões da "questão social", como a pobreza, têm sido frequentemente


interpretadas através de um viés ideológico que responsabiliza e culpabiliza os próprios indivíduos por sua
condição. Essas análises influenciam diretamente na forma como as pessoas que vivenciam a pobreza
percebem a si mesmas e constroem alternativas para suas vidas. Sentimentos de fatalismo, culpa, humilhação,
naturalização e vergonha são comuns entre aqueles que enfrentam diariamente a pobreza, muitas vezes sem
enxergar alternativas viáveis para superar uma condição que lhes é imposta como individual, minando
qualquer possibilidade de organização coletiva e resistência.

É inegável que esses equívocos de análise sobre a realidade social foram e continuam sendo construídos com
o intuito de perpetuar e manter a pobreza e outras desigualdades sociais. Essa naturalização da dinâmica social
serve como uma estratégia ideológica com efeitos psicopolíticos de dominação na vida das pessoas. A pobreza,
que deveria ser compreendida como uma criação social e histórica em certo contexto histórico-social, é tratada
como um fenômeno natural, contribuindo para a apatia, crenças e comportamentos que reforçam a ideia de
imutabilidade da realidade.

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Entendemos que uma compreensão dos aspectos subjetivos pode contribuir para desmistificar a ideia
de que a pobreza é um fenômeno natural e inevitável, no qual os mais ricos superam os mais pobres, algo dado
desde o nascimento ou escolha das pessoas em situação de pobreza. Essas perspectivas visam romper com
qualquer abordagem psicologizante nos processos de intervenção profissional.

Além disso, ao reconhecer o caráter ideológico presente nas análises sobre a pobreza, com uma
tendência à psicologização da "questão social", questionamos os limites da atuação profissional nesse
contexto. A inserção da Psicologia nos dispositivos da Política e da Assistência Social exige uma revisão teórica
e metodológica do campo psicológico como uma ferramenta capaz de contribuir para transformar a realidade
social. No entanto, esse encontro com diferentes sujeitos ressalta a necessidade de quebrar as fronteiras
disciplinares, buscando uma abordagem conjuntados fenômenos sociais.

Diante do panorama anteriormente exposto, a atuação profissional da Psicologia tem sido cada vez
49603
mais questionada quanto à sua capacidade de contribuir para o enfrentamento da pobreza e outras expressões
da desigualdade. Como mencionado brevemente, a profissão tem um histórico de comprometimento com as
elites econômicas dominantes, muitas vezes contribuindo para a manutenção das estruturas de poder e
dominação. 49603

No entanto, a inserção da Psicologia na Política e na Assistência Social tem proporcionado um campo


fértil de atuação, colocando a profissão diante de novos problemas sociais, ou seja, as manifestações concretas
nas desigualdades sociais que enfrentamos, que tradicionalmente têm sido o foco de intervenção do Estado,
pelo menos no contexto brasileiro. Nesse sentido, o conceito de interdisciplinaridade ganha destaque,
podendo ser um guia importante para fortalecer um trabalho eficaz no combate às injustiças sociais e aos
problemas enfrentados pela classe trabalhadora em situação de pobreza.

Vários autores afirmam que a interdisciplinaridade é essencial para superar a fragmentação na


produção de conhecimento e na prática profissional. Portanto, a interdisciplinaridade, promovida através do
encontro entre Psicologia, Serviço Social e outros atores sociais, no enfrentamento das expressões da "questão
social", deve promover uma reavaliação dos modos de produção do conhecimento em Psicologia e em outras
áreas, visando transcender as fronteiras rígidas que foram estabelecidas ao longo do tempo.

Portanto, a capacidade de ação dos sujeitos deve ser o foco da intervenção dos profissionais de
Psicologia inseridos na política de assistência social, adotando uma perspectiva realista e crítica. Os trabalhos
realizados ao longo das décadas no continente latino-americano e em particular no Brasil, visando fortalecer
e emancipar os sujeitos em consonância com a transformação radical do modo de produção capitalista, podem
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servir como caminhos possíveis para a intervenção profissional. Compreender o sujeito como um ser social,
histórico e ativo na construção de si mesmo e de sua realidade são premissas para uma prática crítica e
transformadora em Psicologia.

Vamos ver alguns exemplos de como a Psicologia Social pode atuar nesse campo.

49603
1. Compreensão dos Problemas Sociais:

A Psicologia Social ajuda a compreender as raízes psicológicas e sociais dos problemas sociais, como
discriminação, pobreza, violência e exclusão social. Ela investiga fatores como preconceito, estereótipos,
identidade social e dinâmicas de poder que contribuem para a perpetuação desses problemas.

Exemplo: Pesquisas em Psicologia Social podem examinar como estereótipos de gênero contribuem para a
desigualdade de gênero no local de trabalho, fornecendo análises importantes para o desenvolvimento de
intervenções para promover a igualdade de oportunidades.

2. Engajamento Comunitário: 49603

A Psicologia Social promove o engajamento comunitário como uma estratégia para enfrentar
problemas sociais. Ela valoriza a participação ativa dos membros da comunidade na identificação de
problemas, no planejamento de intervenções e na implementação de mudanças.

Exemplo: Projetos comunitários liderados por psicólogos sociais podem envolver a mobilização de moradores
locais para abordar questões como segurança pública, acesso a serviços de saúde e desenvolvimento de
recursos para jovens.

3. Empoderamento de Grupos Marginalizados:

A Psicologia Social promove o empoderamento de grupos marginalizados como uma estratégia para
promover a mudança social. Ela valoriza o fortalecimento da autoestima, identidade e capacidade de agência
desses grupos para reivindicar seus direitos e promover a igualdade.

Exemplo: Programas de empoderamento para mulheres em situação de vulnerabilidade podem oferecer


treinamento em habilidades sociais, acesso a recursos econômicos e apoio psicológico para fortalecer sua
capacidade de enfrentar o machismo e buscar oportunidades de vida melhores.
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4.Direito e Influência Política:

A Psicologia Social promove a advocacia e a influência política como estratégias para promover
mudanças sociais. Ela engaja psicólogos sociais e ativistas na defesa de políticas públicas que abordem
questões sociais, promovam direitos humanos e promovam a justiça social.

Exemplo: Grupos de psicólogos sociais podem se envolver em campanhas para promover políticas de saúde
mental acessíveis, programas de redução da pobreza e leis contra a discriminação, utilizando evidências
científicas para embasar suas reivindicações.

5. Intervenções Baseadas em Evidências:

A Psicologia Social desenvolve intervenções baseadas em evidências para enfrentar problemas sociais,
utilizando métodos de pesquisa rigorosos para avaliar a eficácia de programas e políticas de mudança social.
49603

Exemplo: Avaliações de impacto de programas de intervenção


49603
em comunidades carentes podem medir os
resultados em termos de melhoria da qualidade de vida, redução da violência e aumento do capital social,
fornecendo dados importantes para aprimorar e expandir essas iniciativas.

Em resumo, a Psicologia Social desempenha um papel essencial na promoção da mudança social e no


enfrentamento de problemas sociais, fornecendo uma compreensão profunda dos processos sociais
subjacentes e desenvolvendo estratégias eficazes para criar um mundo mais justo, igualitário e inclusivo.

1.5. Identidade pessoal, social, pertencimento e processos de categorização social

A Psicologia Social investiga profundamente os conceitos de identidade pessoal e social,


pertencimento e os processos de categorização social, que são fundamentais para compreender como os
indivíduos se percebem, se relacionam com os outros e constroem sua compreensão do mundo ao seu redor.
Neste trecho, exploraremos esses conceitos e sua importância no contexto da Psicologia Social.

1. Identidade Pessoal e Social:


- A identidade pessoal refere-se à compreensão que um indivíduo tem de si mesmo como único e distinto dos
outros. Inclui aspectos como traços de personalidade, valores, crenças e experiências pessoais.
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- Já a identidade social refere-se à parte da autoimagem do indivíduo que é derivada de sua associação a grupos
sociais específicos. Esses grupos podem ser baseados em características como gênero, etnia, religião,
nacionalidade, profissão, entre outros.

Exemplo: Um indivíduo pode se identificar pessoalmente como uma pessoa criativa e extrovertida, enquanto
também se identifica socialmente como membro de um grupo religioso específico e como parte de uma equipe
de trabalho em uma empresa.

2. Pertencimento e Afiliação Social:


- O pertencimento refere-se à sensação de conexão e vínculo emocional que os indivíduos experimentam ao
fazer parte de um grupo social. É uma necessidade básica humana e está associada a sentimentos de
segurança, aceitação e apoio.
- A afiliação social descreve a participação ativa de um indivíduo em grupos sociais específicos, que podem
fornecer identidade, significado e suporte social.

Exemplo: Um estudante universitário pode experimentar um forte senso de pertencimento ao se juntar a uma
fraternidade, onde encontra companheirismo, camaradagem
49603
e apoio mútuo.

3. Processos de Categorização Social:


- Os processos de categorização social referem-se à tendência natural dos seres humanos de categorizar a si
mesmos e aos outros em grupos com base em características perceptíveis, como idade, gênero, raça, classe
social, entre outras.
- Essas categorizações sociais são fundamentais para a formação da identidade social e influenciam as
percepções, atitudes e comportamentos dos indivíduos em relação aos membros de outros grupos.

Exemplo: Um estudo clássico de Henri Tajfel e John Turner, conhecido como "Experimento do Mínimo Grupo",
demonstrou como até mesmo categorizações arbitrariamente definidas, como a preferência por pinturas
abstratas ou figurativas, podem levar à formação de favoritismo dentro do grupo e discriminação em relação
aos membros de outros grupos.

Em suma, os conceitos de identidade pessoal e social, pertencimento e processos de categorização


social são fundamentais para a compreensão da dinâmica das interações sociais e das relações entre os
49603

indivíduos e a sociedade. Eles desempenham um papel crucial na formação da autoimagem, na construção de


relacionamentos sociais e na compreensão dos padrões de comportamento e interação em grupos sociais.

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Incorporando o Debate sobre Estigma de Goffman

Além dos conceitos de identidade pessoal e social, pertencimento e processos de categorização social,
é crucial incorporar o debate sobre estigma proposto por Erving Goffman. O estigma refere-se a um atributo
ou marca que desqualifica uma pessoa na sociedade, levando à desvalorização, exclusão social e discriminação.
Goffman argumentou que o estigma pode ser de três tipos: estigma físico, estigma moral e estigma tribal.

1. Estigma Físico:
- O estigma físico está relacionado a características visíveis ou óbvias de uma pessoa, como deficiências físicas,
deformidades ou condições de saúde.
- Goffman argumentou que o estigma físico pode afetar a autoimagem e a interação social de uma pessoa,
levando a experiências de vergonha, constrangimento e discriminação.

Exemplo: Uma pessoa com uma deficiência física visível pode enfrentar estigma e discriminação no local de
trabalho devido a estereótipos negativos associados à sua condição.

49603

2. Estigma Moral:
- O estigma moral está relacionado a comportamentos percebidos como socialmente inadequados, imorais ou
desviantes, como uso de drogas, criminalidade ou comportamento sexual não convencional.
- Goffman argumentou que o estigma moral
49603
pode levar à rotulação e à marginalização de indivíduos,
resultando em estereótipos negativos e exclusão social.

Exemplo: Uma pessoa que cumpriu pena de prisão pode enfrentar estigma e discriminação ao procurar
emprego devido à associação negativa com a criminalidade.

3. Estigma Tribal:
- O estigma tribal está relacionado à pertença a grupos sociais estigmatizados, como minorias étnicas,
religiosas ou culturais.
- Goffman argumentou que o estigma tribal pode resultar em discriminação sistêmica e estrutural, afetando o
acesso a oportunidades, recursos e serviços.

Exemplo: Membros de uma comunidade étnica minoritária podem enfrentar estigma e discriminação no
acesso à moradia devido a preconceitos raciais por parte de proprietários de imóveis.
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Ao incorporar o debate sobre estigma de Goffman, ampliamos nossa compreensão dos processos de
categorização social e das dinâmicas de poder que influenciam a construção da identidade pessoal e social, o
pertencimento e as interações sociais. Reconhecer o impacto do estigma nos indivíduos e na sociedade é
fundamental para promover a igualdade, a justiça social e a inclusão de grupos marginalizados.

1.6. Identidade de gênero, etnia, nacionalidade, entre outras

1. Identidade de Gênero: A psicologia social explora como as pessoas desenvolvem e internalizam sua
identidade de gênero, bem como os processos sociais que influenciam a maneira como o gênero é percebido
e tratado na sociedade. Isso inclui estudos sobre socialização de gênero, papéis de gênero, estereótipos de
gênero e discriminação de gênero. Por exemplo, pesquisas mostram que desde tenra idade, as crianças são
expostas a normas culturais sobre o que é considerado apropriado para meninos e meninas, o que influencia
a formação de sua identidade de gênero. Além disso, a psicologia social examina como as pessoas transgênero
enfrentam o estigma, o preconceito e a discriminação, 49603
e como isso afeta sua saúde mental e bem-estar.

2. Etnia: Na psicologia social, a etnia é vista como uma construção social que influencia a identidade individual
e as interações sociais. Os pesquisadores estudam como as pessoas percebem sua própria etnia, como
desenvolvem uma identidade étnica e como isso afeta suas atitudes, crenças e comportamentos. Além disso,
a psicologia social investiga como ocorrem os processos de categorização e estereotipagem étnica, bem como
os impactos da discriminação étnica e do preconceito
49603 intergrupal. Por exemplo, estudos mostram que a
identificação étnica positiva pode promover a autoestima e o bem-estar emocional, enquanto a discriminação
étnica pode levar ao estresse psicológico e ao desenvolvimento de problemas de saúde mental.

3. Nacionalidade: A psicologia social examina como a identidade nacional é formada e mantida, incluindo a
influência de fatores como história, cultura, mídia e interações sociais. Os pesquisadores estudam como as
pessoas desenvolvem um senso de pertencimento a uma nação e como isso afeta suas atitudes em relação a
outras nações e grupos étnicos. Além disso, a psicologia social investiga como ocorre a formação de
identidades nacionais coletivas, incluindo o papel de narrativas históricas compartilhadas e símbolos culturais.
Por exemplo, pesquisas mostram que a identificação forte com a nação pode promover o patriotismo e o apoio
a políticas nacionalistas, mas também pode contribuir para conflitos intergrupais e hostilidade em relação a
grupos percebidos como "estrangeiros".

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E quando as diferentes identidades sociais atuam juntas na desigualdade? A interseccionalidade

A interseccionalidade, tema cada vez mais discutido e relevante nos estudos sociais, traz à tona uma
questão crucial: como as diferentes identidades sociais atuam em conjunto na perpetuação da desigualdade?
Quando olhamos para a interseção entre gênero, raça, classe social, orientação sexual e outras formas de
identidade, fica evidente que as pessoas não são apenas afetadas por uma única forma de opressão, mas sim
por uma complexa rede de fatores interconectados.

Por exemplo, uma mulher negra enfrenta não apenas o sexismo, mas também o racismo. Da mesma
forma, uma pessoa LGBTQ+ de classe baixa pode enfrentar discriminação não apenas por sua orientação
sexual, mas também por sua condição socioeconômica. Essas interseções de identidade criam experiências
únicas de opressão e privilégio, moldando as vidas das pessoas de maneiras profundas e muitas vezes invisíveis.

A interseccionalidade nos lembra que não podemos abordar as questões de desigualdade de forma
isolada. Precisamos considerar como diferentes formas de opressão se entrelaçam e se reforçam, criando
sistemas complexos de dominação e subordinação. Isso significa reconhecer que as lutas sociais e as políticas
públicas contra o sexismo, o racismo, a homofobia, 49603
a transfobia e outras formas de discriminação estão
49603
intrinsecamente ligadas e não podem ser separadas umas das outras.

Além disso, a interseccionalidade nos desafia a ampliar nossos horizontes e a reconhecer as


experiências e perspectivas daqueles que estão em interseção de múltiplas identidades sociais. Isso requer
uma abordagem mais inclusiva e sensível às diversas formas de opressão que as pessoas enfrentam em suas
vidas cotidianas.

Em última análise, a interseccionalidade nos convida a questionar e desconstruir as estruturas de


poder que perpetuam a desigualdade, reconhecendo que as pessoas não são definidas por uma única
identidade, mas sim por uma interseção complexa de diferentes identidades sociais.

Em resumo, a psicologia social oferece apontamentos valiosos sobre como a identidade de gênero, etnia e
nacionalidade são formadas, mantidas e influenciadas por fatores sociais, culturais e históricos, bem como os
impactos psicológicos e sociais dessas identidades na vida das pessoas.

1.7. Grupos e dinâmicas de grupo

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A teoria de Kurt Lewin sobre as dinâmicas de grupo é um marco na psicologia social, oferecendo uma
compreensão profunda do comportamento coletivo e das interações dentro dos grupos. Lewin, um dos
pioneiros da psicologia social, acreditava que compreender os grupos exigia uma abordagem holística,
considerando não apenas as características individuais dos membros, mas também o contexto social, as
normas culturais e as forças que moldam o ambiente em que o grupo está inserido.

Um dos conceitos centrais de Lewin é a ideia de que os grupos são como "campos de forças", onde
forças opostas atuam e interagem para determinar o comportamento coletivo. Essas forças podem ser
internas, como as motivações individuais dos membros do grupo, ou externas, como normas sociais,
expectativas culturais e pressões ambientais.

Para ilustrar essa ideia, consideremos um exemplo de um grupo de estudantes universitários


trabalhando em um projeto em equipe. Cada membro do grupo pode ter motivações individuais diferentes,
como obter uma boa nota, aprender novas habilidades ou simplesmente completar a tarefa o mais rápido
possível. Além disso, o grupo é influenciado por fatores externos, como prazos de entrega, recursos disponíveis
e expectativas do professor. Todas essas forças interagem e moldam o comportamento do grupo como um
todo. 49603

Outro conceito importante de Lewin é o de "espaço de vida", que representa o espaço psicológico e
social que um grupo ocupa e interage. Para Lewin, o espaço de vida representa o ambiente psicológico e social
no qual um indivíduo ou grupo opera e interage. É um conceito fundamental para entender como as pessoas
percebem e respondem ao mundo ao seu redor, bem como para compreender os processos de mudança e
adaptação.

Segundo Lewin, o espaço de vida é influenciado por duas forças principais: as forças atrativas, que
incentivam o indivíduo a permanecer em seu ambiente atual, e as forças repulsivas, que o motivam a buscar
mudanças e sair de sua zona de conforto. Essas forças podem ser tanto internas quanto externas, e variam de
acordo com as circunstâncias e as experiências individuais de cada pessoa.

Uma das contribuições mais significativas de Lewin foi a aplicação do conceito de espaço de vida à
compreensão das dinâmicas de grupo. Ele argumentava que os grupos também têm seu próprio espaço de
vida, que é moldado pelas interações entre seus membros, pelas normas sociais e pelas expectativas culturais.
49603

Mudanças nesse espaço de vida podem ocorrer quando há um desequilíbrio nas forças que atuam sobre o
grupo, levando a processos de mudança e adaptação.

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Um exemplo prático do conceito de espaço de vida em um contexto de grupo pode ser observado em
49603
uma equipe de trabalho que enfrenta desafios significativos em um projeto. Se as forças atrativas, como o
senso de pertencimento ao grupo e a cooperação entre os membros, forem mais fortes do que as forças
repulsivas, como a falta de recursos ou conflitos internos, o grupo provavelmente permanecerá coeso e
encontrará soluções para superar os obstáculos. No entanto, se as forças repulsivas superarem as atrativas, o
grupo pode enfrentar rupturas ou até mesmo se desintegrar.

Lewin também enfatizava a importância do feedback contínuo no processo de mudança do espaço de


vida de um grupo. O feedback permite que os membros do grupo avaliem seu progresso, identifiquem áreas
de melhoria e ajustem seu comportamento conforme necessário para alcançar seus objetivos.

Lewin também identificou três estilos de liderança que podem influenciar significativamente a
dinâmica de grupo: autocrático, democrático e liberal. Um líder autocrático toma decisões unilateralmente,
sem considerar a opinião dos membros do grupo, o que pode levar à falta de engajamento e ressentimento.
Um líder democrático envolve os membros do grupo na tomada de decisões, promovendo um senso de
participação e comprometimento. Já um líder liberal adota uma abordagem mais hands-off, permitindo que
os membros do grupo assumam a responsabilidade por49603
suas próprias ações.

Em resumo, a teoria de Lewin oferece uma abordagem abrangente e integrativa para entender o
comportamento coletivo. Suas ideias continuam sendo relevantes e influentes não apenas na psicologia social,
mas também em áreas como gestão de equipe, desenvolvimento organizacional e educação.

1.7.1 Formação e desenvolvimento de grupos.

A teoria de Will Schutz sobre formação e desenvolvimento de grupos é uma contribuição significativa
para a psicologia social, oferecendo abordagens valiosas sobre como os grupos se formam, evoluem e
funcionam. Schutz desenvolveu sua teoria com base em pesquisas e observações sobre o comportamento
humano em contextos grupais, fornecendo um modelo compreensivo para entender as dinâmicas grupais.

Segundo Schutz, os grupos passam por três fases distintas: inclusão, controle e abertura. Cada fase é
caracterizada por diferentes necessidades psicológicas e padrões de interação entre os membros do grupo.

Na fase de inclusão, os membros do grupo buscam estabelecer conexões e se sentir aceitos pelo grupo.
Neste estágio, as interações são geralmente marcadas por cortesias superficiais, tentativas de evitar conflitos

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e um desejo de pertencimento. Os membros podem se preocupar com a impressão que estão causando aos
outros e podem se esforçar para se conformar com as normas sociais do grupo.

À medida que o grupo avança para a fase de controle, surgem questões relacionadas ao poder,
influência e autoridade dentro do grupo. Os membros podem começar a competir por status e liderança, e as
hierarquias sociais começam a se formar. Conflitos e disputas podem surgir à medida que os membros tentam
estabelecer sua posição no grupo e garantir sua participação nas decisões e atividades grupais.

Finalmente, na fase de abertura, o grupo alcança um nível mais profundo de conexão e intimidade. Os
membros se sentem à vontade para expressar suas opiniões e sentimentos de maneira aberta e honesta, e a
confiança mútua é fortalecida. Neste estágio, os conflitos são resolvidos de forma construtiva, e o grupo é
capaz de colaborar de forma eficaz para alcançar seus objetivos.

Schutz também identificou três necessidades psicológicas fundamentais que influenciam a dinâmica
do grupo: inclusão, controle e afeição. A necessidade de inclusão refere-se ao desejo básico de pertencer a um
grupo e ser aceito pelos outros. A necessidade de controle está relacionada ao desejo de influenciar o grupo
e contribuir para as decisões e atividades do grupo. Por fim, a necessidade de afeição diz respeito ao desejo
49603

de intimidade e conexão emocional com os outros membros do grupo.

Um exemplo prático da teoria de Schutz pode ser observado em um ambiente de trabalho, onde uma
equipe é formada para realizar um projeto. No início, os membros podem se concentrar em estabelecer
relacionamentos positivos e construir uma atmosfera de colaboração e camaradagem (fase de inclusão).
49603
Conforme o projeto avança e as responsabilidades são distribuídas, podem surgir conflitos sobre a direção do
projeto e as contribuições individuais (fase de controle). No entanto, à medida que o grupo aprende a trabalhar
junto e a valorizar as habilidades e perspectivas de cada membro, eles podem alcançar um nível mais profundo
de confiança e eficácia (fase de abertura).

Em suma, a teoria de Will Schutz oferece uma estrutura útil para entender as complexidades da
dinâmica de grupo, destacando a importância das necessidades psicológicas dos membros individuais e os
estágios pelos quais os grupos passam ao longo de seu desenvolvimento. Essa compreensão pode ser aplicada
em uma variedade de contextos, desde equipes de trabalho até grupos comunitários, para promover uma
colaboração mais eficaz e relacionamentos mais saudáveis dentro do grupo.

1.7.2 Liderança, poder e influência dentro de grupos.

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Na psicologia social, a liderança é um tema fundamental que tem sido extensivamente estudado ao
longo do tempo. Diferentes teorias e abordagens foram desenvolvidas para entender os diferentes tipos de
liderança e seu impacto nos grupos e organizações. Entre os principais tipos de liderança abordados na
psicologia social estão a liderança autocrática, democrática e liberal.

1. Liderança autocrática:

A liderança autocrática é caracterizada por um estilo de liderança em que o líder toma todas as
decisões sem consultar os membros do grupo. Nesse tipo de liderança, o líder detém todo o poder e
autoridade, e as ordens são dadas de cima para baixo. Os membros do grupo têm pouca ou nenhuma
participação nas decisões e geralmente são esperados para seguir as instruções do líder sem questionar. Esse
estilo de liderança pode ser eficaz em situações de emergência ou quando decisões rápidas precisam ser
tomadas, mas pode levar à falta de motivação e satisfação entre os membros do grupo a longo prazo. Além
disso, pode criar um ambiente de trabalho onde os membros do grupo se sintam desvalorizados e
desengajados.

2. Liderança democrática: 49603

Ao contrário da liderança autocrática, a liderança democrática envolve a participação ativa dos


membros do grupo no processo de tomada de decisão. Nesse estilo de liderança, o líder facilita a discussão e
o debate entre os membros do grupo e encoraja a contribuição de todos. As decisões são tomadas de forma
coletiva, levando em consideração as opiniões e perspectivas de todos os envolvidos. Esse estilo de liderança
promove a autonomia, a criatividade e o senso de responsabilidade entre os membros do grupo, o que pode
levar a uma maior satisfação e coesão do grupo a longo prazo. Além disso, os membros do grupo geralmente
se sentem mais valorizados e engajados em um ambiente liderado democraticamente.

3. Liderança liberal:

A liderança liberal, também conhecida como laissez-faire, é caracterizada pela ausência de um líder
dominante e pela falta 49603
de direção ou orientação clara. Nesse estilo de liderança, o líder permite que os
membros do grupo tenham total liberdade para tomar decisões e realizar suas tarefas sem interferência.
Embora esse estilo de liderança possa parecer libertador, pode resultar em falta de direção e coordenação
dentro do grupo. Os membros do grupo podem se sentir perdidos ou desorientados sem a orientação de um
líder, e isso pode levar a conflitos ou baixo desempenho. No entanto, em certas situações, como em equipes

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altamente qualificadas e auto-organizadas, a liderança liberal pode ser eficaz, permitindo que os membros do
grupo expressem sua criatividade e inovação.

O estudo dos diferentes tipos de poder em grupos também é essencial para entender as dinâmicas
sociais e as relações de poder que ocorrem dentro deles. A psicologia social oferece uma visão abrangente dos
diversos mecanismos pelos quais o poder é exercido e mantido dentro de um grupo. Vamos explorar cada um
desses tipos de poder em detalhes, fornecendo exemplos para ilustrar sua aplicação prática:

1. Poder por coerção:


O poder por coerção é baseado na capacidade de punir ou ameaçar punir os membros do grupo que não
cumprem as regras ou obedecem às ordens. Esse tipo de poder geralmente é exercido por indivíduos ou
instituições que têm autoridade formal sobre o grupo. Um exemplo disso seria um chefe que usa sua posição
de autoridade para punir funcionários que não seguem as políticas da empresa, como demiti-los por mau
desempenho.

2. Poder por recompensa:


O poder por recompensa envolve a capacidade de conceder
49603
benefícios ou incentivos aos membros do grupo
em troca de sua conformidade ou obediência. Isso pode incluir promoções, aumentos de salário, elogios ou
outras formas de recompensa. Por exemplo, um professor que oferece créditos extras aos alunos que
participam ativamente das aulas está exercendo poder por recompensa.

3. Poder por competência:


O poder por competência deriva do conhecimento, habilidades ou experiência de um indivíduo, que são
reconhecidos e respeitados pelo grupo. Os membros do grupo são influenciados a seguir aqueles que
demonstram competência em uma determinada área. Um exemplo seria um líder técnico em uma equipe de
projeto de engenharia, cujo conhecimento e habilidades são valorizados e respeitados pelos outros membros
da equipe.

4. Poder por legitimidade:


O poder por legitimidade é baseado na crença de que a autoridade de uma pessoa ou instituição é legítima
e justa. Esse tipo de poder é geralmente associado a posições de autoridade formal, como líderes políticos,
49603
chefes de estado ou figuras religiosas. Por exemplo, um presidente eleito tem poder por legitimidade devido
ao seu status como líder eleito pelo povo.

5. Poder por informação:


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O poder por informação está relacionado à posse e ao controle de informações importantes ou valiosas.
Aqueles que têm acesso a informações privilegiadas podem influenciar o grupo ao compartilhar ou reter
informações conforme desejado. Um exemplo seria um gerente que detém informações críticas sobre uma
decisão importante da empresa e usa isso para influenciar a opinião dos funcionários.

6. Poder por persuasão:


O poder por persuasão envolve a capacidade de influenciar as crenças, atitudes ou comportamentos dos
outros por meio da comunicação persuasiva. Indivíduos que são habilidosos em persuadir os outros podem
exercer uma grande influência sobre o grupo. Um exemplo seria um líder carismático que usa discursos
convincentes para mobilizar o apoio de seus seguidores.

7. Poder por ligação:


O poder por ligação refere-se à capacidade de um indivíduo de se conectar com outros membros influentes
do grupo ou de fora dele. Essas conexões podem ser usadas para obter informações, recursos ou apoio para
alcançar objetivos específicos. Por exemplo, um executivo que tem uma rede extensa de contatos na indústria
pode usar essas conexões para ajudar sua empresa a fechar um grande negócio.
49603

49603
8. Poder por carisma:
O poder por carisma é baseado na capacidade de uma pessoa atrair e inspirar os outros com sua
personalidade, charme e carisma pessoal. Líderes carismáticos são capazes de exercer uma forte influência
sobre os membros do grupo, muitas vezes inspirando devoção e lealdade. Um exemplo clássico seria líderes
religiosos ou políticos que conseguem mobilizar grandes multidões com sua presença magnética e discurso
cativante.

Em resumo, os diferentes tipos de poder em grupos refletem uma variedade de estratégias e recursos
que os indivíduos podem usar para influenciar e controlar os outros dentro do contexto social. Compreender
esses tipos de poder é fundamental para analisar as dinâmicas de grupo e entender como as relações de poder
afetam o comportamento e as interações sociais.

1.7.3 Processos de coesão e conflito em grupos.

O que é um grupo?

Inicialmente, consideremos que o ser humano é um ser que vive eminentemente em sociedade, por
consequência, vivemos em relação com os nossos semelhantes, nos constituímos na relação com os outros, e
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as nossas relações podem ocorrer em contextos e formas variadas. Em função dessas variadas maneiras de
nos relacionar, costumamos nos reunir com pessoas que buscam o mesmo objetivo, nos reunir em grupos.

Um grupo é composto por diferentes pessoas, dois ou mais indivíduos, que partilham os mesmos
objetivos e necessidades, porém há interdependência entre seus membros, onde cada um desempenha um
papel para que se possa atingir o seu objetivo. É comum que os integrantes adotem regras e normas que
regulam o comportamento no espaço interno do grupo. Vale ressaltar que existem muitos autores que definem
diferentemente o que são grupos. Para Lewin, por exemplo,
49603é imprescindível que haja a interdependência

entre os membros para que se tenha um grupo. Seus estudos com pequenos grupos se deu a partir da década
de 1940 e é ele o idealizador do termo dinâmica de grupo. Moreno, na década de 1930, também é um grande
precursor do estudo dos grupos. Ele criou o Psicodrama, técnica para se trabalhar com grupos que tem sido
amplamente utilizado na educação, nas empresas, nos hospitais, na clínica, nas comunidades.

Ao longo da nossa vida, participamos de diversos grupos. O primeiro grupo ao qual pertencemos é o
grupo familiar. Há os grupos espontâneos, com finalidades especificas e as organizações coletivas, como os
grupos religiosos, os que atuam em comunidades, anônimos, de familiares de enfermos, com os próprios
enfermos e sindicatos, por exemplo. Socialmente falando,
49603
os grupos são responsáveis pela definição dos
nossos papéis sociais de acordo com a função que temos internamente. Para identificar se nos comportamos
como membro de um grupo, devemos observar se partilhamos dos mesmos valores, objetivos e regras dele,
por exemplo. De fato, participamos de um número considerável de grupos, como os do trabalho, a família, da
comunidade e da política. Ao vivenciar a dinamicidade dos grupos, percebe-se que ele passa por diferentes
fases no seu desenvolvimento, no seu processo histórico e o quanto ele é caracterizado por ser um espaço
plural.

É importante ressaltar que não há um tipo puro, ideal, de grupo, pois eles sempre estarão se
processando em uma lógica que uma etapa irá englobar aspectos de uma etapa anterior. O grupo é um todo
dinâmico porque os indivíduos que o compõe e suas relações não são estáticas, mas estão em constante
mudança.

No grupo, papéis são definidos para a manutenção do mesmo, as relações de poder estão presentes e
perpassam decisões cotidianas. Outro ponto a ser destacado é que o conflito é inerente ao processo grupal e
dependendo da forma como este for manejado pelos membros pode ser fonte de crescimento para o grupo.
O grupo é, pois, o lugar de convivência com o diferente, pois é formado por duas ou mais pessoas e esses
indivíduos são diferentes, pensam diferente, porém, juntos eles podem produzir o processo grupal.

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Processos Grupais

Quando um grupo se estabelece uma série de fenômenos passa a atuar sobre as pessoas
individualmente e, consequentemente, sobre o grupo. É o chamado processo grupal. Diz respeito a dinâmica
das relações, dos papéis, do funcionamento de determinado grupo (dinâmica psicossocial). Como aspectos
dos processos grupais pode-se citar coesão, cooperação, liderança, padrões grupais, motivação e objetivos
grupais, papéis sociais, status, entre outros.

A coesão grupal refere-se ao grau de união, solidariedade e identificação entre os membros de um


grupo. Quando os membros se sentem conectados e comprometidos com os objetivos comuns, a coesão
aumenta, promovendo um ambiente propício para a colaboração, a confiança e o apoio mútuo. Por outro lado,
a falta de coesão pode levar à fragmentação do grupo e ao surgimento de conflitos internos.

A cooperação é outro aspecto importante dos processos grupais, envolvendo a disposição dos
membros em trabalhar juntos para alcançar metas compartilhadas. A colaboração eficaz requer comunicação
aberta, compartilhamento de recursos e habilidades, 49603
além de um compromisso comum com o sucesso do
grupo.

A liderança é crucial para guiar e coordenar as atividades do grupo, influenciando o comportamento e


as decisões dos membros. Existem diferentes estilos de liderança, que variam de autocráticos a democráticos
e liberais, cada um com suas características e abordagens específicas.

Os padrões grupais referem-se às normas, valores e expectativas compartilhadas pelos membros do


grupo, que moldam o comportamento individual e coletivo. Esses padrões podem influenciar desde a forma
como as tarefas são realizadas até as relações interpessoais dentro do grupo.

A motivação
49603 e os objetivos grupais são fundamentais para direcionar o esforço e a energia dos
membros do grupo para a realização de metas específicas. Quando os objetivos são claros, desafiadores e
significativos para os membros, eles tendem a se engajar mais nas atividades do grupo e a trabalhar em
conjunto para alcançá-los.

Os papéis sociais e o status dentro do grupo também desempenham um papel importante na dinâmica
grupal, determinando as responsabilidades, expectativas e relações de poder entre os membros. Cada

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membro pode ocupar diferentes papéis sociais, como líder, facilitador, seguidor, entre outros, que contribuem
para a eficácia do grupo.

Em resumo, os aspectos dos processos grupais, como coesão, cooperação, liderança, padrões grupais,
motivação e objetivos grupais, papéis sociais e status, são essenciais para entendermos como os grupos
funcionam e como as interações sociais influenciam o comportamento e o desempenho dos seus membros.
Ao compreendermos e gerenciarmos esses processos de forma eficaz, podemos promover o sucesso e o bem-
estar dos grupos em diversos contextos sociais.

O psicólogo que trabalha com processos grupais deve ter cuidado com a postura de superioridade
conferida pela relação de saber/poder. Sua posição não deve ser a de dono do saber, que interpreta o que está
oculto no psiquismo. Manejar grupos é diferente do processo terapêutico tradicional e vai na linha da
perspectiva de uma clínica mais ampliada. As demandas trazidas é que devem indicar o tipo de técnica a ser
utilizada pelo psicólogo, que deve ter claras questões como qual o tipo de inserção do grupo na instituição? O
grupo surge espontaneamente? Quais as condições que propiciam o surgimento do grupo?

O profissional que atua na esfera do processo 49603


grupal precisa identificar a intencionalidade, tanto do
seu referencial teórico, técnicas, conteúdo e objetivos, bem como os dos membros do grupo, buscando
conhecer seus motivos em participar do grupo, ideias, valores, personalidade e comportamentos.

Enfim, há uma preocupação em centrar na tarefa e tornar explícitas as questões implícitas que estão
dificultando a realização da tarefa pretendida, ou que a estão facilitando.
49603
Esta é uma maneira de o grupo se
tornar sujeito do seu próprio processo e os integrantes da experiência terem condições de tomar decisões de
forma mais lúcida.

Em psicologia social, entender e aplicar técnicas eficazes é fundamental para promover o


desenvolvimento saudável dos grupos e facilitar a interação entre os membros. Dentre essas técnicas,
destacam-se o enquadre, o ambiente agradável, a identificação e manejo de resistências, formas de
comunicação, papéis e vínculos, e a consideração da totalidade do grupo.

O enquadre refere-se ao conjunto de regras, atitudes e contrato estabelecidos para orientar as


interações dentro do grupo. Estabelecer um enquadre claro e consistente ajuda a criar um ambiente seguro e
previsível, onde os membros se sintam confortáveis para compartilhar suas experiências e ideias.

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Um ambiente agradável é essencial para promover a participação e o engajamento dos membros do
grupo. Isso envolve criar um espaço físico acolhedor e inclusivo, onde todos se sintam bem-vindos e
respeitados. Além disso, é importante cultivar uma atmosfera emocional positiva, encorajando o apoio mútuo
e a expressão autêntica de sentimentos e opiniões.

A identificação e manejo de resistências são aspectos-chave no trabalho com grupos, pois nem sempre
os membros estão dispostos ou prontos para se envolverem plenamente. Identificar e compreender as
resistências individuais e coletivas permite ao facilitador ou líder do grupo abordá-las de forma sensível e
eficaz, ajudando os membros a superar obstáculos e participar mais ativamente.

As formas de comunicação desempenham um papel crucial na dinâmica grupal, influenciando a


qualidade das interações e a eficácia da colaboração. Promover uma comunicação aberta, honesta e empática
dentro do grupo facilita a expressão de pensamentos e sentimentos, o compartilhamento de informações e a
resolução de conflitos de forma construtiva.

Os papéis e vínculos estabelecidos entre os membros do grupo também são importantes para
determinar a dinâmica e o funcionamento do grupo como
49603
um todo. Cada membro pode assumir diferentes
papéis sociais e desenvolver vínculos específicos com os outros, influenciando a coesão, a colaboração e a
produtividade do grupo.

Por fim, é essencial considerar a totalidade do grupo, ou seja, entender o grupo como um sistema
complexo, onde as partes estão interconectadas e interdependentes. Isso envolve reconhecer as diferentes
características, necessidades e dinâmicas dos membros individuais, bem como as influências contextuais e
culturais que moldam o funcionamento do grupo como um todo.

Bibliografia 49603

Bernardo, M. H. , Oliveira, F., Souza, H. A., & Sousa, C. C. (2017). Linhas paralelas: as distintas aproximações da
Psicologia em relação ao trabalho.Estudos de Psicologia, 34(1), 15-24.

Bourdieu, P. (1994). O campo científico. In R. Ortiz (Org.), Pierre Bourdieu (pp. 122-155). São Paulo: Ática.

Certeau, M. (2009). A invenção do cotidiano:Artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes.

Coutinho, M. C. , Bernardo, M. H. , & Sato, L. (Orgs.). (2017). Psicologia Social do Trabalho Petrópolis, RJ: Vozes .

Farr, R. M. (1996). As raízes da Psicologia Social Moderna Petrópolis, RJ: Vozes .

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QUESTÕES PROPOSTAS
QUESTÃO 1
(ESAF 2003) A reflexão abaixo permite várias afirmações sobre a psicopatologia do trabalho. Uma das
apresentadas é falsa; assinale-a.
A Psicopatologia do Trabalho (cf. Dejour) centra sua análise nas experiências e vivências dos trabalhadores(as)
no cotidiano de trabalho. Sob essa ótica, estão em evidência as formas de expressão do sofrimento advindo
do trabalho. Trata-se de tematizar o sofrimento no trabalho e as defesas coletivas contra a doença,
evidenciando os vínculos entre pressões do trabalho e defesas e não entre as pressões do trabalho e as
doenças.

Na perspectiva da psicopatologia do trabalho ressaltam-se as estratégias defensivas coletivas, construídas para


suportar e lutar contra o sofrimento advindo do trabalho.

A) O reconhecimento no trabalho possui importante função nas possibilidades de saúde mental dos
trabalhadores. Existe o reconhecimento pela hierarquia e o reconhecimento pelos pares ou pelos colegas de
trabalho.
B) A noção de saúde mental no trabalho sugere as possibilidades que os trabalhadores forjam de alterar as
condições de trabalho causadoras de sofrimento.
C) O sofrimento no trabalho diminui à medida que os conhecimentos práticos ou tácitos dos trabalhadores são
transformados em prescrições.
D) O reconhecimento que advém da família e da sociedade com relação à atividade realizada desempenha
49603
importante papel na saúde mental do trabalhador.
49603

QUESTÃO 2
(FGV 2023) A figura do delinquente ou do anormal corresponde às práticas de constituição do sujeito, cujos
modos de subjetivação estão ligados, segundo Michel Foucault, ao exercício do poder. De importância inegável
para a psicologia, especialmente a psicologia jurídica, a analítica dos poderes é, para esse autor, o modo de
abordar o tema do sujeito. De acordo com M. Foucault, é correto afirmar que o poder:

A) constitui o desejo humano através do interdito do incesto;


B) é repressor e se impõe de forma vertical a partir do Estado;
C) impõe-se sobre o sujeito que a priori possui uma essência natural;
D) tem caráter de positividade na medida em que produz individualidades;
E) é objetificado pelas classes burguesas para explorar a mão de obra proletária.

QUESTÃO 3
(FGV 2023) No Brasil, a violência contra mulheres e crianças ainda é uma triste realidade, e uma das formas de
combate e diminuição dessas violências é compreender como se atribuem sentidos às relações tecidas entre
homens, mulheres, crianças, travestis, transgêneros, transexuais. Judith Butler define gênero como:

A) expressão ou compreensão da essência biológica, pois as diferenças anatômicas entre os sexos resultam em
desigualdades psicológicas, sociais e comportamentais;

40

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B) ato performativo de nomeação (representações e comportamentos) que produz a diferença
anatômica/sexual e as possibilidades de relações entre os seres;
C) resultado das pressões ambientais onde a biologia diferencial dos corpos é o parâmetro de inteligibilidade
e de organização das relações entre homens e mulheres;
D) efeito de uma estrutura simbólica que oprime homens e mulheres igualmente, pois os homens também são
conformados em determinados papéis sociais e sexuais;
E) objetivo de dominação social das relações entre homens e mulheres fundada na realidade biológica que
distingue masculino e feminino.

QUESTÃO 4
(FGV 2029) Nas últimas décadas, contribuições teóricas da Psicologia no campo das relações raciais têm se
intensificado no Brasil, na defesa dos direitos de cidadania a uma enorme parcela da população submetidas a
inúmeras situações de dominação e opressão. Nesse contexto de discussão, correlacione os termos com suas
respectivas definições.

1. Raça.

2. Etnia.

49603
3. Racismo institucional.

4. Racismo interpessoal.

( ) construção simbólico-cultural de elementos que ligam os sujeitos em49603


um mesmo grupo.

( ) processos de desigualdade política com base na raça/cor que ocorrem entre os sujeitos em interação.

( ) materialidade do corpo expressa pelo fenótipo.

( ) gestão coletiva que inflige condições desfavoráveis de vida à população negra e indígena, ao mesmo tempo
que atua como alavanca social para os(as) brancos(as).

Assinale a alternativa que mostra a relação correta, de cima para baixo.

A) 2, 4, 1 e 3.
B) 1, 4, 2 e 3.
C) 2, 3, 1 e 4.
D) 1, 3, 2 e 4.
E) 4, 3, 1 e 2.

QUESTÃO 5
(CESGRANRIO 2019) A Psicologia Comunitária, que emerge nos anos 60, traz contribuições interessantes para
a ampliação da atuação da Psicologia. Seu alcance amplo permite outras formas de intervenção.

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RETA FINAL AFT
SOCIOLOGIA E PSICOLOGIA
APLICADAS AO TRABALHO
Qual é um dos principais pilares conceituais da Psicologia Comunitária para desenvolver intervenções?

A) Assistencialismo
B) Versatilidade
C) Institucionalização
D) Comunicação
E) Empoderamento

QUESTÃO 6
(FGV 2019) Os estudos sobre riscos vêm sendo intensificados por psicólogos no Brasil desde os anos de 1990.
Em relação a risco, assinale a afirmativa correta.

A) É um conceito utilizado para definir as suscetibilidades psicológicas individuais que potencializam os efeitos
dos estressores e impedem que o indivíduo responda, de forma insatisfatória, ao estresse.
B) É um processo em que a presença de eventos negativos (como pobreza e miséria) aumenta a probabilidade
de o indivíduo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais.
C) É uma relação particular entre a pessoa e o ambiente que é considerado por ela como excedente aos seus
recursos, o que coloca em perigo o seu bem-estar.
D) É um conjunto de esforços cognitivos e comportamentais usados com o fim de lidar com as demandas que
surgem em situação de estresse.
E) É fator que influencia (modificando, melhorando ou alterando) respostas individuais em situações adversas
49603
e críticas nas vidas das pessoas.
49603

QUESTÃO 7
(FGV 2019) Com relação ao racismo, analise as afirmativas a seguir.

I. A prática de racismo institucional é marcada pelo tratamento diferenciado e desigual, efetivada em


estruturas públicas e privadas, indicando a falha do Estado em prover assistência igualitária aos diferentes
grupos sociais.

II. A dimensão do racismo interpessoal versa sobre os processos de desigualdade política com base na raça,
que ocorrem entre os sujeitos em interação, perpassando relações verticais e horizontais, amorosas ou não.

III. É um erro conceitual falar de racismo às avessas ou de racismo de negro contra branco.

Está correto o que se afirma em

A) I, apenas.
B) II, apenas.
C) I e II, apenas.
D) II e III, apenas.
E) I, II e III.

QUESTÃO 8

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RETA FINAL AFT
SOCIOLOGIA E PSICOLOGIA
APLICADAS AO TRABALHO
(FGV 2019) O aumento da desigualdade social vem acompanhado por um amento das teorias que tendem a
justificar o fenômeno. Enquanto a pobreza ou a condição assalariada, no modelo capitalista tradicional, podiam
ser percebidas como consequências de uma ordem social injusta, no novo capitalismo tendem a ser associadas
à natureza das coisas e, em última instância, à responsabilidade pessoal.

Com relação aos processos de segregação e exclusão sociais, assinale a afirmativa correta.

A) A exclusão tende a substituir a relação de exploração, pois as novas formas de organização de trabalho
indicam que só uma minoria de trabalhadores seria incorporada de maneira estável, enquanto a maioria se
submeteria a condições de extrema precariedade laborativa.
B) A sociedade horizontal, baseada na exploração dos que ocupam posições superiores aos que estão em
posições inferiores, está em transição para uma sociedade vertical, em que o importante é a distância em
relação ao centro da sociedade.
C) A tomada de consciência da exclusão gera uma reação de mobilização coletiva e de conflito organizado das
instituições representativas, como os sindicatos, partidos políticos etc.
D) A exploração implica atualmente na fixação de metas e resultados que são, geralmente, superiores às
capacidades reais e obrigam a produzir muito mais do que o habitual.
E) A mobilidade profissional na sociedade contemporânea atende à lógica da exploração, produzindo
movimentos ambiguamente laterais, em que as pessoas têm pouca informação confiável sobre novas posições,
o que pode conduzir a decisões equivocadas.

49603
QUESTÃO 9
(FGV 2018) A Teoria Queer surgiu nos Estados Unidos com a proposta de mudança de foco dos estudos sobre
identidade de gênero e de sexo que caracterizavam até então a maioria dos empreendimentos no campo da
sociologia e das ciências humanas em geral.

Nesse contexto de discussão, Judith Butler é uma referência teórica importante, segundo a qual:

A) o sexo é um dado invariável, ao passo que o gênero varia de acordo com o contexto sociocultural;
B) a produção do sexo como elemento pré-discursivo é efeito da construção cultural de gênero;
C) a identidade de gênero depende da resolução do complexo de Édipo independentemente da anatomia;
D) o corpo biológico é o que gera a formação
49603 de identidades de gênero;
E) a repressão social para que o gênero esteja adequado ao sexo biológico ocorre desde a Idade Média.

QUESTÃO 10
(FGV 2015) “A noção de exclusão, bastante polissêmica, compreende fenômenos tão variados que nós
podemos nos perguntar até onde se justifica falar ou tratar de exclusão em geral, o que suporia juntar todos
os processos que ela implica ou todas as formas que ela toma em uma mesma alternativa. (...) Há pelo menos
um nível em que uma abordagem única da exclusão pode fazer sentido: o nível das interações entre pessoas e
entre grupos, que dela são agentes ou vítimas. Este nível é próprio da Psicologia Social.”
(JODELET, D. Os processos psicossociais da exclusão. IN SAWAIA, B. (org). As artimanhas da exclusão: análise
psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2011).

Sobre o fenômeno da exclusão, assinale a afirmativa correta.

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RETA FINAL AFT
SOCIOLOGIA E PSICOLOGIA
APLICADAS AO TRABALHO
A) A interrogação dos psicólogos sociais sobre a exclusão foi suscitada pelos movimentos abolicionistas do final
do século XIX.
B) A teoria da personalidade autoritária desconsidera a ideologia na tomada de posições autoritárias.
C) O fenômeno da “privação fraterna” consiste na competição e disputa dos recursos com membros do mesmo
grupo.
D) A Psicologia Social não opõe a interpretação psicológica às interpretações socio-históricas, culturais ou
econômicas.
49603
E) O preconceito é o julgamento necessariamente negativo, formulado sem exame prévio acerca de uma
pessoa ou coisa.

GABARITO
1 A
2 B
3 E
4 A
5 C 49603

6 B
7 E
8 D
9 B
10 D

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