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Direito Constitucional do Trabalho

Rúbia Zanotelli de Alvarenga


Coordenadora

Direito Constitucional do Trabalho


EDITORA LTDA.
© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571


CEP 01224-001
São Paulo, SP – Brasil
Fone (11) 2167-1101
www.ltr.com.br
Maio, 2015

Versão impressa: LTr 5263.3 — ISBN: 978-85-361-8392-3


Versão digital: LTr 8688.6 — ISBN: 978-85-361-8373-2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Direito constitucional do trabalho / Rúbia Zanotelli de Alvarenga,


coordenadora. – São Paulo : LTr, 2015.

Vários colaboradores.

1. Direito constitucional 2. Direito do trabalho 3. Direitos fundamentais


4. Direito internacional I. Alvarenga, Rúbia Zanotelli de.

15-03347 CDU-342:331

Índice para catálogo sistemático:


1. Direito constitucional do trabalho 342:331
Colaboradores

André Araújo Molina: Doutorando em Filosofia disciplinas de Direito do Trabalho e Processo do Traba-
do Direito (PUC-SP), Mestre em Direito do Trabalho lho na Faculdade SEAMA/AP e colaborador da Escola
(PUC-SP), Especialista em Direito do Trabalho (UCB- Judicial do TRT da 8ª Região – EJUD8.
-RJ) e em Direito Processual Civil (UCB-RJ), Bacharel Gustavo Filipe Barbosa Garcia: Livre-Docente pela
em Direito (UFMT), Professor de Teoria do Direito, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Filosofia do Direito e Direito do Trabalho (ESMATRA
Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Uni-
XXIII), Professor visitante em programas de especia-
versidade de São Paulo. Especialista em Direito pela
lização, autor de Teoria dos Princípios Trabalhistas
Universidad de Sevilla. Pós-Doutorado em Direito.
(Atlas, 2013) e Juiz do Trabalho Titular na 23ª Região.
Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho,
Ben-Hur Silveira Claus: Juiz do Trabalho titular da Titular da Cadeira n. 27. Membro Pesquisador do IBDSCJ.
Vara do Trabalho de Carazinho – RS, 4ª Região. Mestre Professor Universitário em Cursos de Graduação e Pós-
em direito pela Unisinos. -Graduação em Direito. Advogado e Consultor Jurídi-
Carlos Henrique Bezerra Leite: Doutor e Mestre co. Foi Juiz do Trabalho das 2ª, 8ª e 24ª Regiões, Pro-
em Direito (PUC/SP). Professor de Direitos Humanos curador do Trabalho do Ministério Público da União e
Sociais e Metaindividuais do Programa de Pós-Gra- Auditor Fiscal do Trabalho.
duação (Mestrado e Doutorado) da FDV. Professor
Jair Teixeira dos Reis: Graduado em Direito pela
de Direito Processual do Trabalho da Graduação em
Direito (FDV). Desembargador do Trabalho do TRT/ Universidade Estadual de Montes Claros/MG – UNI-
ES. Ex-Procurador Regional do Ministério Público do MONTES, com especialização em Direito Tributário em
Trabalho. Doutor e Mestre em Direito (PUC/SP). Ti- pós-graduação pelo IBET – Instituto Brasileiro de Estu-
tular da Cadeira 44 da Academia Brasileira de Direito dos Tributários. É professor de Ciência Política, Direito
do Trabalho. Ex-Diretor da Ejud-Escola Judicial do Empresarial, Direitos Humanos, Licitações e Contratos
TRT/ES. em cursos de graduação da Faculdade São Geraldo –
Carlos Roberto Husek: Doutor e Mestre em Direito FSG. Concluiu o curso de doutoramento em Direito
pela PUC de São Paulo, coordenador de Direito Inter- pela Universidade Lusíada de Lisboa. Concluiu o cur-
nacional no bacharelado, professor de pós-graduação so de Direitos Humanos e Direitos do Cidadão pela
nos cursos de especialização, mestrado e doutorado, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e o
desembargador no Tribunal Regional do Trabalho da curso de Formação em Direito Humano à Alimentação
2ª Região, membro da Academia Paulista de Direito e Adequada no contexto da Segurança Alimentar e Nutri-
sócio fundador da Comunidade de juristas da Língua cional, promovido pelo Ministério do Desenvolvimen-
Portuguesa. to Social e Combate à Fome – MDS em parceria com
Enoque Ribeiro dos Santos: Desembargador Fede- a Ágere Cooperação em Advocacy e a Ação Brasileira
ral do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da pela Nutrição e Direitos Humanos (Abrandh). Técnico
1ª Região. Professor Associado da Faculdade de Direito em Agropecuária pela Escola Agrotécnica Federal de
da Universidade de São Paulo (USP). Mestre (UNESP), Januária/MG. Auditor Fiscal do Trabalho desde 1996.
Doutor e Livre-docente em Direito do Trabalho pela Fa- Membro da Associação Luso-Brasileira de Juristas do
culdade de Direito da USP. Trabalho – JUTRA.
Francisco Milton Araújo Júnior: Juiz Federal do José Pedro Pedrassani: Advogado. Doutor em Di-
Trabalho – Titular da 5ª Vara do Trabalho de Macapá/Ap. reito do Trabalho (USP) e Mestre em Direito Processual
Mestre em Direito do Trabalho pela Universidade Fede- (UFRGS). Membro Pesquisador do Instituto de Direito
ral do Pará – UFPa. Especialista em Higiene Ocupacional Social Cesarino Júnior. Professor dos Cursos de Pós-
pela Universidade de São Paulo – USP. Professor das -Graduação da Unisinos/RS e PUC/RS.
6 Direito Constitucional do Trabalho
Rúbia Zanotelli de Alvarenga (Coordenadora)

Kathe Regina Altafim Menezes: Mestranda em desde fevereiro de 2014. Ex-Professor do Doutorado e
Ciência da Educação. Pós-graduada em Ciência da Mestrado em Direito do Trabalho da PUC-Minas (2000-
Educação, Direito Público, Direito Processual do Tra- -2012). Ex-Professor da UFMG: inicialmente na Facul-
balho e Direito Processual Civil. Professora de Direito dade de Filosofia e Ciências Humanas – Curso de Ciên-
Processual Civil da Faculdade Casa do Estudante em cia Política (1978-1992); posteriormente, na Faculda-
Aracruz, ES. Advogada. de de Direito (1992-2000). Ex-Professor Colaborador
Lucas Raggi Tatagiba Cordeiro: Bacharelando em da Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário
Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo. IESB, em Brasília (2008-2013).
Membro do grupo de pesquisa NEAPI (Coord. Prof. Dr. Raimundo Simão de Melo: Consultor Jurídico e
Rodrigo Reis Mazzei) e do grupo de estudos “Os novos Advogado. Procurador Regional do Trabalho aposen-
contornos da Responsabilidade Civil Contratual” (Prof. tado. Doutor e Mestre em Direito das relações sociais
Dr. Francisco Vieira Lima Neto e Prof. Me. Gilberto Fa- pela PUC/SP. Professor de Direito e de Processo do Tra-
chetti Silvestre). balho, e membro da Academia Nacional de Direito do
Luiz Cláudio dos Santos: Mestre em Direito Cons- Trabalho. Autor dos livros jurídicos, entre outros, Direi-
titucional pela PUC-Rio. Professor universitário e ad- to ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador e Ações
vogado. acidentárias na Justiça do Trabalho.
Luiz Eduardo Gunther: Professor do Centro Uni- Roberta Freitas Guerra: Doutoranda e Mestre em
versitário Curitiba – UNICURITIBA. Desembargador Direito do Trabalho pela Pontifícia Universidade Cató-
do Trabalho junto ao TRT da 9ª Região, Doutor em lica de Minas Gerais (PUC-Minas). Professora Adjunta
Direito do Estado pela UFPR e Membro da Academia do Departamento de Direito da Universidade Federal
Nacional de Direito do Trabalho, da Academia Para- de Viçosa (UFV). Advogada. Bolsista CAPES.
naense de Direito do Trabalho, do Instituto Histórico e Ronaldo Lima dos Santos: Professor Doutor do
Geográfico do Paraná, do Centro de Letras do Paraná e Departamento de Direito do Trabalho e da Segurida-
da Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho de Social da Faculdade de Direito da Universidade de
– ALJT. São Paulo – USP. Procurador do Trabalho da PRT/2ª
Marco Antonio Cesar Villatore: Pós-Doutorando Região – São Paulo. Ex-Procurador Federal (Procura-
em Direito pela Universidade de Roma II, “Tor Verga- dor do INSS). Mestre e Doutor em Direito do Traba-
ta”, Doutor pela Universidade de Roma I, “La Sapienza”/ lho pela Faculdade de Direito da Universidade de São
UFSC e Mestre pela PUC/SP. Professor Adjunto da Uni- Paulo (USP).
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor Rosita de Nazaré Sidrim Nassar: Professora da Uni-
da Graduação da FACINTER e Professor Titular do Cur- versidade Federal do Pará – UFPa. Mestre pela Pontifí-
so de Mestrado e do Doutorado em Direito da Pontifícia cia Universidade Católica do Rio de Janeiro PUC – RJ.
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Membro da Doutora pela Universidade de São Paulo – USP. Juíza do
Academia Paranaense de Direito do Trabalho e líder do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região e membro
Grupo de Pesquisa “Desregulamentação do Direito, do da Academia Nacional de Direito do Trabalho.
Estado e Atividade Econômica: Enfoque Laboral”. Ad- Rúbia Zanotelli de Alvarenga: Mestre e Doutora
vogado (disponível em <http://www.villatore.com.br> e em Direito do Trabalho pela PUC-Minas. Professora de
e-mail pessoal <marcovillatore@gmail.com>). Direito e Processo do Trabalho da Faculdade Casa do
Martha Halfeld Furtado de Mendonça Schmidt: Estudante em Aracruz-ES. Professora de Direito do Tra-
Juíza Titular da 3ª Vara do Trabalho de Juiz de Fora. balho e Previdenciário de cursos de Pós-Graduação em
Mestre e Doutora em Direito pela Université de Paris Vitória-ES. Membro Pesquisadora do Instituto Brasilei-
II – Panthéon-Assas, diploma reconhecido pela UFMG, ro de Direito Social Cesarino Júnior. Advogada.
Professora de cursos de graduação e pós-graduação. Vitor Salino de Moura Eça: Professor Doutor do
Mauricio Godinho Delgado: Ministro do Tribunal Programa de Pós-Graduação stricto sensu, Mestrado e
Superior do Trabalho desde 2007. Doutor em Direito Doutorado em Direito da PUC-Minas – CAPES 6. Juiz
(UFMG) e Mestre em Ciência Política (UFMG). Pro- do Trabalho no Tribunal Regional do Trabalho da 3ª
fessor Titular do Centro Universitário UDF, em Brasília, Região.
Sumário

Apresentação.................................................................................................................................................... 11

Prefácio............................................................................................................................................................ 13
Carlos Roberto Husek

Parte I
Constituição da República e Direito do Trabalho
Capítulo 1. Constituição da República, Estado Democrático de Direito e Direito do Trabalho.................... 17
Mauricio Godinho Delgado

Parte II
Direito Constitucional do Trabalho
Capítulo 2. Direito Constitucional do Trabalho Sul-Americano................................................................... 35
Vitor Salino de Moura Eça

Capítulo 3. Direito Constitucional do Trabalho............................................................................................ 43


Rúbia Zanotelli de Alvarenga

Parte III
Direitos Humanos e Direitos Fundamentais
Capítulo 4. Conceito. Objetivo. Diferença entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais..................... 59
Rúbia Zanotelli de Alvarenga

Capítulo 5. Direitos Fundamentais Metaindividuais nas Relações de Trabalho: conhecer bem para efetivar
melhor.............................................................................................................................................................. 67
Carlos Henrique Bezerra Leite

Parte IV
A Eficácia dos Direitos Fundamentais Trabalhistas
Capítulo 6. A Eficácia dos Direitos Fundamentais nas Relações de Trabalho............................................... 83
André Araújo Molina

Capítulo 7. O Trabalho como Direito Humano e Fundamental.................................................................... 105


Luiz Cláudio dos Santos
8 Direito Constitucional do Trabalho
Sumário

Parte V
Direito Constitucional do Trabalho e Direito Internacional do Trabalho
Capítulo 8. Tratados de Direitos Humanos na Constituição de 1988: o direito do trabalho e o link necessário
entre o direito constitucional e o direito internacional (ensaio de reflexão)................................................... 117
Martha Halfeld Furtado de Mendonça Schmidt

Capítulo 9. Convenções Internacionais e os Direitos Humanos: um fenômeno do mundo moderno.......... 141


Carlos Roberto Husek

Parte VI
A Colisão de Direitos Fundamentais Trabalhistas
Capítulo 10. A Colisão de Direitos Fundamentais e a Regra da Proporcionalidade na Teoria de Robert
Alexy: um estudo de casos paradigmáticos julgados pelo Tribunal Superior do Trabalho.............................. 149
Roberta Freitas Guerra

Parte VII
O Meio Ambiente do Trabalho e a Saúde do Trabalhador na
Constituição Federal do Brasil
Capítulo 11. A Restrição da Rescisão Contratual do Trabalhador Vítima de Acidente de Trabalho e/ou
Doença Ocupacional a partir de um Novo Viés Interpretativo do art. 7º, inciso I, da Constituição Federal
(Diálogo das Fontes)........................................................................................................................................ 167
Rosita de Nazaré Sidrim Nassar e Francisco Milton Araújo Júnior

Capítulo 12. O Meio Ambiente do Trabalho como Direito Fundamental..................................................... 179


Kathe Regina Altafim Menezes

Capítulo 13. A Tutela do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador na Constituição Federal
do Brasil............................................................................................................................................................ 185
Raimundo Simão de Melo

Parte VIII
Os Direitos Constitucionais do Trabalhador Doméstico
Capítulo 14. O Novo Contrato de Trabalho do Empregado Doméstico........................................................ 203
Lucas Raggi Tatagiba Cordeiro

Parte IX
A Proibição do Retrocesso dos Direitos Humanos e o Direito
Constitucional do Trabalho
Capítulo 15. A Aplicabilidade do Princípio da Proibição do Retrocesso dos Direitos Humanos na Proposta
de Alteração do Art. 149 do Código Penal....................................................................................................... 215
Jair Teixeira dos Reis
Direito Constitucional do Trabalho
Sumário 9
Parte X
A Efetividade da Execução Trabalhista sob a Ótica do Direito Constitucional
do Trabalho

Capítulo 16. A Execução Trabalhista não se Submete à Regra Exceptiva da Execução Menos Gravosa –
A Efetividade da Jurisdição como Horizonte Hermenêutico Constitucional................................................... 227
Ben-Hur Silveira Claus

Parte XI
A Proteção Constitucional ao Trabalhador Avulso
Capítulo 17. O Auditor Fiscal na Defesa do Trabalhador Avulso em Armazéns Gerais................................ 239
Jair Teixeira dos Reis

Parte XII
As Relações Coletivas de Trabalho na Constituição Federal do Brasil
Capítulo 18. Substituição Processual pelo Sindicato na Constituição Federal de 1988................................ 245
Gustavo Filipe Barbosa Garcia

Capítulo 19. Contribuição à Quantificação Objetiva do Dano Moral Coletivo............................................. 253


Enoque Ribeiro dos Santos

Capítulo 20. Interditos Proibitórios e Direito Fundamental de Greve.......................................................... 261


Ronaldo Lima dos Santos

Capítulo 21. A Greve como Delito, como Liberdade e como Direito Humano Fundamental: um percurso
histórico e jurídico e suas consequências sociais e econômicas – A situação do Brasil................................... 275
Luiz Eduardo Gunther e Marco Antonio Cesar Villatore

Capítulo 22. Representação Sindical e Representante Eleito: compartilhamento da unicidade sindical ou


intransponível conflito constitucional?........................................................................................................... 291
José Pedro Pedrassani

Parte XIII
O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana
Capítulo 23. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana como Fundamento do Direito Constitucional
do Trabalho...................................................................................................................................................... 301
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Apresentação

A obra ora propugnada relata e analisa o tema dos Direitos Fundamentais, na área específica do Direito Cons-
titucional do Trabalho, com assaz profundidade. A leitura de tão bem elaborado estudo é imprescindível a todos
quantos pretendem se debruçar sobre os conhecimentos dos Direitos Fundamentais nas Relações de Trabalho sob
o viés do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Imperioso ressaltar que, somente após a Carta Magna de 1988, os direitos sociais trabalhistas ganharam a di-
mensão de direitos humanos fundamentais. Logo, a Constituição Federal de 1988 constitui um marco na história
jurídico-social-política dos Direitos Fundamentais Trabalhistas por ter erigido a dignidade da pessoa humana a
eixo central do Estado Democrático de Direito e dos direitos humanos fundamentais. O conjunto de regras, de
princípios e de institutos jurídicos do Direito Constitucional do Trabalho se encontra expresso na CF/88 por meio
da cláusula geral de proteção aos direitos, inserida no art. 1º, inc. III: a dignidade da pessoa humana. A Constitui-
ção Federal de 1988 constitui, portanto, a Carta Constitucional responsável por inaugurar o Direito Constitucional
do Trabalho no Brasil.
A Carta Magna de 1988 representa, pois, a matriz do Direito Constitucional do Trabalho, não só pela proteção
que ela confere aos direitos sociais trabalhistas, mas também por ter inaugurado, no país, uma fase de maturação
para o Direito do Trabalho, cuja análise somente pode ser apreendida, desde que conjugada com os direitos fun-
damentais trabalhistas que têm como fundamento a dignidade da pessoa humana. Diante de tais considerações,
verifica-se que, somente após a Constituição Federal de 1988, pode-se falar, efetivamente, na existência de um
Direito Constitucional do Trabalho no Brasil.
Portanto, o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana constitui a base para a compreensão e
para a tutela do conjunto dos direitos sociais trabalhistas, bem como o fundamento dos direitos e das garantias
fundamentais estabelecidos no Título II da CF/88.
Em assim sendo, o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana consiste em ponto basilar ou
nucléico a partir do qual se desdobram todos os direitos fundamentais do ser humano, vinculando o poder pú-
blico como um todo, e, ainda, os particulares – pessoas naturais ou jurídicas. Uma vez que a dignidade da pessoa
humana, inserida da Carta Magna 1988, em seu art. 1º, inciso III, como fundamento da República Federativa do
Brasil e núcleo axiológico de todo o ordenamento jurídico, ela atrai a tutela de todas as situações que envolvem
violações à pessoa, mesmo que não previstas taxativamente.
A Constituição Federal de 1988 alçou o trabalho decente à categoria de princípio ao determinar que a Repúbli-
ca Federativa do Brasil tem como um dos fundamentos a dignidade da pessoa humana e o valor social do trabalho,
segundo dispõe o inciso IV do art. 1º; e, como objetivos: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a
redução das desigualdades sociais; a erradicação da pobreza e da marginalização social; além da promoção do bem
de todos (art. 3º, I, III e IV, CF/88). Também a ordem econômica encontra-se fundada na valorização do trabalho,
observada a busca do pleno emprego, nos termos do caput e inciso VIII, do art. 170, da Carta Magna de 1988. Já
a ordem social tem como base o primado do trabalho e como objetivos o bem-estar e a justiça social (art. 193).
Em homenagem, então, a este importante papel conferido à Constituição Federal de 1988, num esforço coleti-
vo, vinte e dois autores examinam, com profundidade e com brilhantismo, temas relativos ao Direito Constitucio-
nal do Trabalho, buscando esclarecer aos leitores as diversas formas especiais de tutela ao princípio constitucional
da dignidade da pessoa humana por meio de comentários detalhados acerca de variados temas, como se observará
a partir das pesquisas exaustivamente empreendidas.
Trata-se, por assim ser, de leitura do interesse não apenas dos profissionais e dos estudiosos do Direito, mas
de todos aqueles que, de um modo ou de outro, tenham seu olhar direcionado para o âmbito do Direito Consti-
tucional do Trabalho.
12 Direito Constitucional do Trabalho
Rúbia Zanotelli de Alvarenga (Coordenadora)

Face ao seu conteúdo temático, esta é, sem dúvida, uma obra inédita e diferenciada da novel área dos Direi-
tos Fundamentais nas relações de trabalho, ao se comunicar, por vias diversas, com o Direito Constitucional do
Trabalho e com o Direito do Trabalho. Cabe-nos, por fim, parabenizar cada um dos colaboradores pelo feito e
agradecer cada um pela contribuição de tamanho e de expressivo valor para todos nós – eternos estudiosos leitores
do Direito do Trabalho. Isso posto, brindamos os caríssimos leitores e leitoras com trabalho de tal envergadura,
pretendendo contribuir para a concretização do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana nas re-
lações de trabalho.

Vila-Velha/ES, abril de 2015.


Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Prefácio

Honra-me o convite para prefaciar o livro Direito Constitucional do Trabalho escrito sob a coordenação de Rúbia
Zanotelli de Alvarenga, uma vez que a professora Rúbia há muito coopera com as letras jurídicas, escrevendo, coorde-
nando, participando de eventos que envolvam, de algum modo, o Direito Internacional e o Direito do Trabalho.
A reunião de autores que abrilhantam a doutrina nacional não é tarefa fácil, porquanto todos os que subscrevem
os capítulos que se seguem já fizeram carreira solo na doutrina e pontificam nas academias.
Assim, temos no presente volume os seguintes doutrinadores: André Araújo Molina, Ben-Hur Silveira Claus,
Carlos Henrique Bezerra Leite, Gustavo Filipe Barbosa Garcia, Jair Teixeira dos Reis, José Pedro Pedrassani,
Kathe Regina Altafim Menezes, Lucas Raggi Tatagiba Cordeiro, Luiz Cláudio dos Santos, Luiz Eduardo Gunther,
Marco Antonio Cesar Villatore, Maurício Godinho Delgado, Raimundo Simão de Melo, Roberta Freitas Guerra,
Ronaldo Lima dos Santos, Rosita de Nazaré Sidrim Nassar, Francisco Milton Araújo Júnior, Rúbia Zanotelli de
Alvarenga, Vitor Salino de Moura Eça, Enoque Ribeiro dos Santos, Martha Halfeld Furtado de Mandonça Schmidt
e este que ora assina o presente prefácio.
Não se trata de um livro de Direito do Trabalho, pois classificá-lo nessa área seria desprezar a natural vocação para
o estudo diversificado, inter e transdisciplinar, que faz sua pena percorrer a linha dos direitos fundamentais,
com análise técnica específica de algumas figuras do Direito interno e outras do próprio Direito internacional, sob
a base comum da interpretação constitucional.
Escrever é um árduo trabalho e um risco que se amplia na comunicação dos vocábulos e do verdadeiro sentido
que proporcionam, porque o Direito é uma ciência que não se concretiza em números, equações e experimentos,
mas na fala e na escrita, que deve ao mesmo tempo frutificar no coração e no cérebro.
Parabéns, Prof. Rúbia Zanotelli de Alvarenga, por mais esta obra, que inspirará a todos nós, eternos estudiosos,
a mais pensar e escrever.

Carlos Roberto Husek


Mestre e Doutor em Direito pela PUC de São Paulo, coordenador de Direito Internacional no bacharelado, professor de
pós-graduação nos cursos de especialização, mestrado e doutorado, desembargador no Tribunal Regional do Trabalho da
2ª Região, membro da Academia Paulista de Direito e sócio fundador da Comunidade de juristas da Língua Portuguesa.
paRtE I Constituição da República e Direito do
Trabalho
Capítulo 1 Constituição da República, Estado
Democrático de Direito e Direito do
Trabalho(*)
Mauricio Godinho Delgado(**)

I. INTRODUÇÃO conceito de Estado Democrático de Direito, em con-


formidade com a dimensão constitucional que o Texto
A análise das inter-relações entre a Constituição da Máximo de 1988 conferiu ao fenômeno no Brasil.
República Federativa do Brasil, o conceito constitucio-
Esse processo de criação e de inter-relações é que
nal de Estado Democrático de Direito e o segmento ju-
será objeto do presente artigo.
rídico especializado do Direito do Trabalho passa pela
referência a conceito e realidade correlatos, o da De-
mocracia. II. DEMOCRACIA E CIVILIZAÇÃO
A Democracia consiste em uma das mais impor-
Democracia é construção recente na civilização.
tantes e criativas instituições geradas pela inteligência
Embora a palavra tenha origem grega há mais de dois
humana, propiciando o desenvolvimento de novos e
importantes fenômenos no campo da sociedade e do milênios, em Atenas (dêmos – povo + kratía – força, po-
Direito. der)(1), tempo em que se lançaram na cultura ateniense
antiga alguns conceitos de grande relevância para o es-
A conexão da Democracia com a História das Cons-
tudo próprio e comparativo do fenômeno, o fato é que
tituições constitui liame que permite classificar as mais
a realidade efetiva da Democracia somente despontou
bem demarcadas fases do constitucionalismo contem-
porâneo, até se chegar ao presente Estado Democrático na História no período contemporâneo.
de Direito. Democracia, enquanto método e institucionaliza-
Nesse quadro de elaboração de novas realidades ção de gestão da sociedade política e da sociedade civil,
sociais e jurídicas e de tessitura de inter-relações de baseada na garantia firme das liberdades públicas, li-
conceitos contemporâneos, ocupa posição de destaque berdades sociais e liberdades individuais, com partici-
o Direito do Trabalho. De simples ramo jurídico espe- pação ampla das diversas camadas da população, sem
cializado, no instante de seu nascimento século e meio restrições decorrentes de sua riqueza e poder pessoais,
atrás, esse complexo de princípios, regras e institutos dotada de mecanismos institucionalizados de inclusão
jurídicos trilhou caminho de afirmação e generalização, e de participação dos setores sociais destituídos de po-
bem próximo às vicissitudes da Democracia no mun- der e de riqueza, é fenômeno que despontou na Histó-
do contemporâneo. Nesse roteiro nem sempre linear, ria apenas a partir da segunda metade do século XIX na
tem despontado como componente decisivo do próprio Europa Ocidental.

(*)
Este artigo foi originalmente publicado na Revista LTr, São Paulo: LTr, ano 75, n. 10, outubro de 2011. p. 1.159-1.171. Posteriormente,
o texto integrou o livro DELGADO, Mauricio Godinho e DELGADO, Gabriela Neves. Constituição da República e Direitos Fundamen-
tais – Dignidade da Pessoa Humana, Justiça Social e Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2012. p. 31-54.
(**)
Ministro do Tribunal Superior do Trabalho. Doutor em Direito (UFMG) e Mestre em Ciência Política (UFMG). Ex-Professor do
Doutorado e Mestrado em Direito do Trabalho da PUC MINAS; atual Professor Colaborador da Pós-Graduação em Direito do Centro
Universitário IESB, em Brasília-DF.
(1)
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
p. 935.
18 Direito Constitucional do Trabalho
Mauricio Godinho Delgado

Nessa dimensão e extensão contemporâneas, com go do tempo, a higidez dos antigos mecanismos de do-
esse caráter amplo e principalmente inclusivo – caracte- minação existentes. A urbanização e a industrialização
rísticas todas muito recentes –, é que se pode sustentar que costumam acompanhar seu processo de consolida-
o extraordinário impacto da Democracia na História. ção, com a ruptura e superação do velho poder rural
dominante, arejam o sistema econômico do respectivo
1. Dimensões da Democracia país, criando estamentos ou, até mesmo, novas classes
sociais, com integração econômica mais ampla e efetiva
De fato, considerado esse conceito e essa realida- do conjunto da população.
de da Democracia, pode-se sustentar que o fenômeno No plano cultural, a Democracia tem incentivado
tem se afirmado como uma das maiores construções da profundo avanço nas relações entre as pessoas e grupos
civilização, tomadas várias perspectivas, isoladamente sociais ao produzir a superação ou revisão de inúmeras
ou em conjunto, a saber, perspectiva política, social, tradicionais concepções sedimentadoras da desigualda-
econômica, cultural, além da institucional. de social e do desrespeito à dignidade da pessoa huma-
Há, pois, um caráter multidimensional na Demo- na. A dinâmica e a lógica democráticas é que permitem
cracia, na acepção do constitucionalismo contemporâ- que tal processo floresça e se espraie na sociedade, cris-
neo, ultrapassando a esfera estrita da sociedade política, talizando-se em práticas e até mesmo instituições novas
para espraiar-se, cada vez mais, para áreas diversas da aptas a concretizar o avanço cultural então atingido.
sociedade civil. No plano institucional, a Democracia tem gerado
No plano político, em face da Democracia, de sua mecanismos permanentes na sociedade e no Estado de
construção e de seu aperfeiçoamento, é que se viabili- grande relevância à sua própria afirmação no mundo
zou, pioneiramente, a participação da grande maioria contemporâneo e, principalmente, para o alcance de
da população nas questões de interesse mais amplo da seus objetivos centrais de incremento da participação
comunidade. Mais do que isso, ela tem permitido e até das pessoas humanas e de sua inclusão no interior das
mesmo instigado que a seara de interesses de setores sociedades civil e política a que se integram.
não dominantes também tenha de ser sopesada no con- As instituições da Democracia, geradas no âmbi-
texto da elaboração e concretização das políticas pú- to da sociedade civil, têm grande impacto no aperfei-
blicas. çoamento geral de toda a sociedade. Observe-se, por
Ainda no plano político, a Democracia tem via- exemplo, o papel impressionante dos inúmeros e di-
bilizado a melhor apreensão da inteligência e esforço versificados meios de comunicação de massa (entre
humanos, pela circunstância de propiciar mais amplo os principais, televisão, internet, jornais e revistas, por
e rico debate de ideias e perspectivas no interior da co- exemplo). Observe-se ainda o papel notável de entida-
munidade. des associativas diversas, como sindicatos, entidades
Nesse mesmo plano, a Democracia assegura, ade- de regulação profissional, associações civis de objetivos
mais, a realização da liberdade individual e social – variados etc. Reflita-se sobre a importância de certas
apanágio de raros períodos e locais na História –, nos instituições centenárias ou milenares, como as igrejas,
limites de ordem jurídica (relativamente) consensual. ilustrativamente. Aponte-se, ainda, o papel crucial de-
No plano social, a Democracia incrementa instru- sempenhado pelas escolas na estruturação dos seres
mentos mais ágeis e eficazes de superação das desigual- humanos e da vida social. Perceba-se a importância das
dades sociais pelo próprio dinamismo que ela propicia empresas e das forças econômicas (o chamado mercado
ao desenvolvimento e inter-relação dos grupos sociais. econômico) na conformação da sociedade civil de qual-
Ademais, a dinâmica democrática tende a incrementar, quer país. Note-se, por fim, a inserção dentro da socie-
de maneira geral, processos modernizantes da estrutura dade civil de certas instituições típicas do Estado, tais
social, em vista da urbanização que usualmente incen- como os partidos políticos.
tiva. Além disso, ela inevitavelmente estimula o surgi- As instituições da Democracia geradas no âmbito
mento de políticas públicas sensíveis aos interesses dos da sociedade política (Estado) também têm grande im-
segmentos desfavorecidos ou até mesmo marginaliza- pacto no aperfeiçoamento geral do sistema. Citem-se,
dos na estrutura da sociedade. inicialmente, os partidos políticos, um dos mais conhe-
No plano econômico, a Democracia, caso se mos- cidos canais de inter-relação entre a sociedade civil e
tre efetiva, também favorece a superação de obstáculos a sociedade política. Mencione-se o Poder Legislativo,
ao desenvolvimento trazidos por círculos tradicionais e com sua potencialidade de assimilar o impacto das de-
restritos de poder, em face de tender a solapar, ao lon- mandas dos diversos grupos sociais. Cite-se o Poder
Capítulo 1
Constituição da República, Estado Democrático de Direito e Direito do Trabalho 19
Executivo, especialmente nos regimes presidencialistas, dade civil, estão submetidas a certas restrições. Essas
que tem dinâmica própria, relativamente autônoma em restrições serão maiores ou menores, evidentemente,
face do Legislativo, e que constitui importante núcleo segundo a natureza, a função, os objetivos e as carac-
de representação de interesses e perspectivas gestados terísticas das instituições civis; porém, não existe mais,
na sociedade. Dentro desse poder estatal, há que se en- praticamente, a possibilidade jurídica de exercício in-
fatizar a presença da multifacetada burocracia pública, contrastável de poder em sociedade e Estado efetiva-
responsável, em grande medida, pelas políticas públicas mente democráticos.
aptas a cimentar a coesão social e garantir um padrão O enquadramento da Democracia como mero regi-
mínimo de inclusão econômica e social em benefício de me político (embora esse enquadramento seja impor-
toda a população. Note-se também o Poder Judiciário, tante, repita-se) ainda tem o agravante de não perceber
que nas democracias deve se integrar e se reger por es- outra dimensão notável da Democracia, ou seja, seu
tuário sensível à compreensão da essencialidade da pró- caráter inclusivo.
pria Democracia e seus desdobramentos na estrutura e De fato, a Democracia, em razão de suas caracterís-
no funcionamento da sociedade civil e do Estado. ticas e de sua dinâmica, é tendente a produzir – ou, pelo
Os manuais de Teoria do Estado definem Demo- menos, a propiciar e incentivar – significativo proces-
cracia como regime político mediante o qual se assegu- so de inclusão de pessoas humanas. Inclusão política
ra, em contexto de garantia das liberdades públicas, a (obviamente, isso é de sua natureza original), inclusão
participação ampla da população institucionalmente social, inclusão econômica, inclusão cultural.
qualificada (cidadãos) na gestão do Estado e de seus A potencialidade heurística (criadora de novas
organismos, seja pela representação, seja por veículos hipóteses) da Democracia evidencia-se, desse modo,
de participação direta. Nessa medida, a Democracia se como aparentemente inesgotável.
antepõe às autocracias, que correspondem a regimes di-
tatoriais de exercício do poder político.
2. Democracia e Constitucionalismo
Tais definições não estão exatamente erradas, é
claro, mas despontam, de modo enfático, como nitida- A relevância da Democracia, enquanto construção
mente insuficientes. civilizatória, consiste, em verdade, no grande vértice do
A natureza de regime político da Democracia é ine- constitucionalismo contemporâneo. A partir da plena
gável, porém ela não se circunscreve apenas a um temá- incorporação da ideia e da dinâmica democráticas, tan-
rio e a uma realidade jungida à sociedade política. Ela to na esfera da sociedade política como na esfera da so-
é bem mais do que isso (embora esse primeiro aspecto ciedade civil, é que o constitucionalismo contemporâ-
destacado seja, de fato, muito importante). A Democra- neo pôde encontrar a base para alçar a pessoa humana e
cia, na verdade, abrange praticamente todos os aspectos sua dignidade ao topo das formulações constitucionais.
da vida social, invadindo, inclusive, cada vez mais, a De fato, em uma sociedade e em um Estado autori-
seara econômica. Nessa medida, o conceito ultrapassa tários, se torna simples contrafação falar-se em relevân-
bastante sua estrita dimensão política e institucional. cia da pessoa humana, dignidade da pessoa humana,
Desse modo, é evidente a natureza multidimensional direitos individuais, coletivos e sociais de caráter fun-
do fenômeno democrático. damental, em suma, falar-se em toda a notável matriz
Em consequência, a participação ampla da popu- do constitucionalismo das últimas décadas do século
lação institucionalmente qualificada, na Democracia, XX e início do presente século. A noção ampla e a práti-
não se circunscreve apenas à gestão do Estado e de seus ca crescente e cada vez mais profunda da Democracia é
organismos. O conceito contemporâneo de Democracia a energia que confere vida e dinamismo às mais impor-
invade também a esfera da sociedade civil, a qual, de ma- tantes constituições do mundo contemporâneo.
neira geral, em alguma extensão, também tem de se subor- É bem verdade que o primeiro marco do constitu-
dinar aos ditames democráticos(2). cionalismo – que foi construído em torno do Estado
Na Democracia, todas as formas de exercício de Liberal Primitivo (também chamado de Estado Libe-
poder, mesmo as situadas apenas no plano da socie- ral de Direito), a partir da segunda metade do século

(2)
Os constitucionalistas têm percebido esse caráter multidimensional da Democracia. CANOTILHO, por exemplo, estatui: “O prin-
cípio democrático aponta, porém, no sentido constitucional, para um processo de democratização extensivo a diferentes aspectos da
vida econômica, social e cultural” (grifos no original). CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7.
ed./8ª reimpressão, Coimbra: Almedina, 2003.
20 Direito Constitucional do Trabalho
Mauricio Godinho Delgado

XVIII – não possuía elementos que permitissem seu episódio da Magna Carta imposta pela nobreza fundiá-
enquadramento dentro do conceito e da realidade da ria ao monarca da Inglaterra do século XIII, limitando
Democracia. Tratava-se de sistemática manifestamente o poder soberano. Ainda na Inglaterra, no século XVII,
excludente, dirigida apenas às elites proprietárias da a revolução gloriosa e o subsequente documento polí-
economia e da sociedade, que mantinha na segregação tico, Bill of Rights (1689), cuja presença pôs cobro à
autocracia monárquica, reafirmando importante alerta
a larga maioria da população dos respectivos países.
de resistência ao absolutismo real.
Entretanto, esse primeiro marco teve a importância Tais episódios e mensagens, contudo, não consti-
histórica de fixar, com objetividade e clareza, pela pri- tuem exemplos plenos e bem contornados de um novo
meira vez, alguns pressupostos decisivos para o ulterior e revolucionário complexo jurídico, um novo Direito
desenvolvimento da Democracia. regente dos demais, o Direito Constitucional. O efeti-
Na verdade, apenas a contar do segundo marco do vo surgimento desse Direito novo somente ocorreu na
constitucionalismo (Estado Social de Direito) e, princi- segunda metade do século XVIII, com as constituições
palmente, no interior do marco mais recente do cons- instituidoras do Estado Liberal Originário (Estado Li-
beral de Direito).(4)
titucionalismo (Estado Democrático de Direito), é que
a Democracia encontra força e estrutura harmônicas à
sua real importância. 1. Estado Liberal Primitivo (ou Estado Liberal de
Direito)

III. OS GRANDES MARCOS DO O Estado Liberal Originário consubstancia o pri-


CONSTITUCIONALISMO meiro marco do constitucionalismo. Tem como fulcro
as revoluções liberais dos Estados Unidos da América e
O constitucionalismo ocidental ostenta três gran- da França ocorridas na segunda metade do século XVIII,
des marcos: as constituições do Estado Liberal Primitivo com seus respectivos documentos constitucionais.
(ou Estado Liberal de Direito), a partir da segunda meta- Tais documentos são, essencialmente, a Consti-
de do século XVIII; as constituições que reconheceram tuição dos Estados Unidos da América, de 1787 (dez
e institucionalizaram a transição para a Democracia, ca- emendas constitucionais foram logo a seguir aprova-
pitaneando o denominado Estado Social de Direito, nas das, em setembro de 1789, com ratificação em dezem-
primeiras décadas do século XX; finalmente, as cons- bro de 1791), e a Constituição da França, de 1791(5).
tituições que deram corpo e alma ao contemporâneo Integram a origem desse marco constitucional do-
Estado Democrático de Direito, no período posterior à cumentos precedentes aos dois textos constitucionais
Segunda Guerra Mundial(3). referidos. No caso dos EUA, a Declaração de Direitos
da Virgínia, de 16 de junho de 1776, a Declaração de
É claro que existem antecedentes ao constituciona- Independência dos Estados Unidos da América, de 4 de
lismo norte-americano e ao francês, de finais do século julho de 1776, além de “outras Declarações de Direitos
XVIII, especialmente na tradição inglesa. Esses prole- dos primeiros Estados”(6). No caso da França, a Decla-
gômenos podem se situar até mesmo séculos atrás, no ração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.

(3)
Os epítetos conferidos a esses padrões de Estado constitucional variam, relativamente. O constitucionalista José Afonso da Silva,
por exemplo, refere-se a Estado de Direito ou Estado Liberal de Direito, quanto ao primeiro padrão; Estado Social de Direito (embora
criticando esta denominação, registre-se), no tocante ao segundo padrão; Estado Democrático de Direito, quanto ao último e atual
padrão. SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34. ed., São Paulo: Malheiros, 2011. p. 112-122. É claro que
outros designativos existem, podendo ser utilizados no presente texto.
(4)
Os três marcos mencionados do constitucionalismo dizem respeito, é evidente, apenas a padrões de estruturação da sociedade
política e da sociedade civil que tenham relação significativa com o tema das liberdades públicas e individuais e da Democracia
(ressaltando-se que o Estado Liberal Primitivo somente ingressa nessa tríade em face de ser importante antecedente que conduziu ao
processo de democratização do Estado e da sociedade civil na Europa contemporânea). Por essa razão, não se incluem aqui os inúme-
ros experimentos e padrões de autoritarismos, sejam as autocracias tradicionais na História, sejam as novas manifestações de Estados
autoritários ou totalitários, de ditaduras de direita ou de esquerda. O estudo de tipologias ou padrões de autoritarismo corresponde a
outro objeto, não se inserindo nos propósitos do presente texto.
(5)
A respeito, consultar MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 7. ed., Coimbra (Portugal): Coimbra, 2003, tomo I,
p. 141-149. Também MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 26. ed., São Paulo: Atlas, 2010. p. 1-3. Ainda, LENZA, Pedro.
Direito Constitucional Esquematizado, 13. ed., São Paulo: Saraiva, 2009. p. 6-7.
(6)
MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. ob. cit., p. 142. Também MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional.26.
ed., São Paulo: Atlas, 2010. p. 1-3.

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