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DIREITO COLETIVO DO
TRABALHO

Greve

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INTRODUÇÃO

Os conflitos coletivos trabalhistas, em regra, passam por três modalidades de

encaminhamento para uma solução:

(a) autocomposição – negociação coletiva;

(b) heterocomposição – dissídio coletivo (processo judicial), arbitragem ou

mediação; ou

(c) autotutela – greve e lock-out (ou “locaute”).

A autotutela é modo de exercício direto de coerção pelos particulares. A greve

é um mecanismo de autotutela.

Maurício Godinho Delgado – A greve “se trata de um dos principais


mecanismos de pressão e convencimento possuído pelos obreiros, coletivamente

considerados, em seu eventual enfrentamento à força empresarial, no contexto da

negociação coletiva trabalhista”.

LOCAUTE

Maurício Godinho Delgado – “Locaute é a paralisação provisória das atividades

da empresa, estabelecimento ou seu setor, realizada por determinação empresarial,


com o objetivo de exercer pressões sobre os trabalhadores, frustrando negociação

coletiva ou dificultando o atendimento a reivindicações coletivas obreiras”.

Características:

• Paralisação empresarial por ato de vontade do empregador;

• Tempo de paralisação – é, regra geral, temporária;

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• Objetivo – exercer pressão sobre os trabalhadores, de modo a enfraquecer


ou frustrar suas reivindicações.

O locaute é vedado pela ordem jurídica brasileira, assim como ocorre em

outras nações democráticas, uma vez que é visto como um instrumento

desproporcional ou desmesurado de autotutela; é considerado uma maximização

de poder e socialmente injusto.

Lei n. 7.783/89

Art. 17 - Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador,

com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações


dos respectivos empregados (lockout).

Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos trabalhadores o direito à

percepção dos salários durante o período de paralisação.

CLT

Art. 722 - Os empregadores que, individual ou coletivamente, suspenderem os

trabalhos dos seus estabelecimentos, sem prévia autorização do Tribunal competente,


ou que violarem, ou se recusarem a cumprir decisão proferida em dissídio coletivo,

incorrerão nas seguintes penalidades:

a) multa de cinco mil cruzeiros a cinquenta mil cruzeiros;

b) perda do cargo de representação profissional em cujo desempenho estiverem;

c) suspensão, pelo prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, do direito de serem eleitos para

cargos de representação profissional.

§ 1º - Se o empregador for pessoa jurídica, as penas previstas nas alíneas "b" e "c"
incidirão sobre os administradores responsáveis.

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§ 2º - Se o empregador for concessionário de serviço público, as penas serão aplicadas

em dobro. Nesse caso, se o concessionário for pessoa jurídica o Presidente do


Tribunal que houver proferido a decisão poderá, sem prejuízo do cumprimento desta

e da aplicação das penalidades cabíveis, ordenar o afastamento dos administradores

responsáveis, sob pena de ser cassada a concessão.

§ 3º - Sem prejuízo das sanções cominadas neste artigo, os empregadores ficarão


obrigados a pagar os salários devidos aos seus empregados, durante o tempo de

suspensão do trabalho.

IMPORTANTE COMENTÁRIO DE MAURÍCIO GODINHO DELGADO: Não há

contradição na ordem jurídica ao acatar o instrumento de autotutela coletiva dos

trabalhadores (a greve), negando validade a esse instrumento de autotutela coletiva


dos empresários (o locaute). Conforme já exposto, há uma magnitude de

instrumentos de pressão coletiva naturalmente já detidos pelos empregadores, muito

além do locaute, em face da natureza coletiva dos seres empresariais. Em contraponto


a isso, a greve é um dos poucos — e, sem dúvida, o principal — mecanismos de

pressão e convencimento possuídos pelos obreiros, coletivamente considerados, em

seu eventual enfrentamento à força empresarial, no contexto da negociação coletiva


trabalhista. Por tais razões, destituir os trabalhadores das potencialidades do

instrumento paredista é tornar falacioso o princípio juscoletivo da equivalência entre

os contratantes coletivos, ao passo que ofertar ao empregador o mecanismo do

locaute será criar distanciamento de poder incomparável na ordem sociodemocrática


contemporânea. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei

da reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores —


Mauricio Godinho Delgado. — 18. ed.— São Paulo: LTr, 2019.

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Efeitos jurídicos do locaute:

• O afastamento do empregado será considerado interrupção do contrato de


trabalho, sendo devidas todas as parcelas trabalhistas (artigo 17, parágrafo

único, da Lei n. 7.783/89);

• Constitui falta empresarial por descumprimento do contrato e da ordem


jurídica (artigo 483, “d”, da CLT);

GREVE

Conceito:

Plá Rodriguez – “A greve constitui uma medida de luta que se efetua para

pressionar o empregador ou o grupo de empregadores a fim de obter sucesso de


uma reivindicação ou evidenciar publicamente um protesto”.

Arnaldo Süssekind – “A greve pode corresponder a dois fenômenos sociais

distintos: a) a insubordinação concertada de pessoas interligadas por interesses

comuns, com a finalidade de modificar ou substituir instituições públicas ou sistemas


legais; b) pressão contra empresários, visando ao êxito da negociação coletiva sobre

aspectos jurídicos, econômicos ou ambientais de trabalho. Na primeira hipótese,

existe uma manifestação sociopolítica de índole revolucionária; e na segunda, se


trata de um procedimento jurídico-trabalhista a ser regulamentado, seja por lei

(sistema heterônomo) ou por entidades sindicais de cúpula (sistema autônomo)”.

Amauri Mascaro Nascimento – “A greve é forma de autodefesa conferida pela


ordem jurídica, para que, através de uma ação direta, os trabalhadores possam

responder à alteração das condições objetivas existentes, prejudiciais aos seus

interesses, salariais ou não, e, pela greve, forçar a modificação do contrato de


trabalho, impondo a sua vontade. Como autodefesa, a greve é medida de caráter

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excepcional, da mesma forma que a legítima defesa, a defesa possessória direta e o


estado de necessidade, devendo, portanto, ser utilizada como remédio extremo, só
depois de totalmente esgotada a possibilidade de diálogo”.

Carlos Henrique Bezerra Leite – “A greve é meio de luta dos trabalhadores,

em função do que assume caráter instrumental de acordo com o ordenamento

jurídico de um determinado Estado”.

GREVE POLÍTICA E DE SOLIDARIEDADE: São movimentos grevistas que não estão


relacionados aos interesses trabalhistas do grupo que protesta. Há controvérsia

quanto ao seu reconhecimento pela ordem jurídica. Contudo, na opinião de José

Afonso da Silva: “A Constituição assegura o direito de greve, por si própria (art. 9º).

Não o subordinou a eventual previsão em lei. É certo que isso não impede que lei
defina os procedimentos de seu exercício, como exigência de assembleia sindical que

a declare, de quorum para decidi-la e para definir abusos e respectivas penas. Mas a

lei não pode restringir o direito mesmo, nem quanto à oportunidade de exercê-lo
nem sobre os interesses que, por meio dele, devem ser defendidos. Tais decisões

competem aos trabalhadores, e só a eles (art. 9º). Diz-se que a melhor

regulamentação ao direito de greve é a que não existe. Lei que venha a existir deverá
ser de proteção do direito de greve, não deve ir no sentido de sua limitação, mas de
sua garantia e proteção. Quer dizer, os trabalhadores podem decretar greves

reivindicatórias, objetivando a melhoria das condições de trabalho, ou greves de


solidariedade, em apoio a outras categorias ou grupos reprimidos, ou greves políticas,
com o fim de conseguir as transformações econômico-sociais que a sociedade

requeira, ou greves de protestos”.

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Previsão normativa:

Constituição Federal
Art. 9º - É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre

a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

§ 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento


das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Lei n. 7.783/89 (Lei de Greve)


Art. 2º - Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a

suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de

serviços a empregador”.

Greve no âmbito da OIT: não há, no âmbito da Organização Internacional do

Trabalho, convenção que disponha a respeito de normas gerais sobre a greve.

Ressalte-se que a Convenção n. 105 faz menção à greve, contudo, não para
discipliná-la, mas tão somente para prescrever que o trabalho forçado jamais

poderá ser empregado como maneira de punição por participação em greves. Há,
no entanto, orientações da OIT sobre o direito de greve, especialmente quanto à
razoabilidade das limitações, aos serviços essenciais e à função pública.

Características:

• Caráter coletivo do movimento – embora a greve possa ser total ou


parcial, abranger toda a empresa ou apenas alguns de seus

estabelecimentos, é indispensável o seu caráter coletivo, o que significa

que paralisações individuais ou isoladas não podem ser caracterizadas


como greve.

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• Sustação de atividades contratuais – deve haver a sustação provisória


pelos trabalhadores quanto ao cumprimento das suas obrigações
contratuais. O movimento denominado lock-in (ocupação dos locais de

trabalho) é controvertida, uma vez que a antiga Lei de Greve (Lei n.

4.330/64) previa como um dos requisitos da greve a desocupação do local


de trabalho, o que, contudo, não foi repetido na atual Lei (Lei n. 7.783/89).

• Exercício coercitivo coletivo e direto – tal característica não autoriza atos

de violência contra o empregador, seu patrimônio e demais empregados.


A Lei n. 7.783/89 prevê que a “responsabilidade pelos atos praticados,

ilícitos ou crimes cometidos, no curso da greve, será apurada, conforme o

caso, segundo a legislação trabalhista, civil ou penal” (artigo 15).

• Objetivos da greve – como instrumento de pressão, o objetivo da greve


é propiciar o alcance de reivindicações, regra geral, de natureza

econômico-profissionais, mediante o convencimento da parte contrária. A

Constituição prevê que compete aos trabalhadores a decisão sobre a


oportunidade de exercer o direito, assim como a decisão a respeito dos

interesses que devam ser defendidos (artigo 9º, caput).


• Enquadramento variável de seu prazo de duração – o período de
afastamento, em regra, é tratado como suspensão do contrato de

trabalho, de modo que os dias parados, em princípio, não são pagos pelo

empregador (artigo 7º da Lei n. 7.783/89). Contudo, o empregador não


pode dispensar o trabalhador durante a greve e nem dispensá-lo por justa

causa. Este enquadramento como “suspensão contratual” não é rigoroso,

já que a própria Lei de Greve prevê a modificação de tal efeito em


instrumento normativo regente do final do movimento, que pode convolar

o período em simples interrupção da prestação laborativa ou em outra

vantagem próxima.

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A jurisprudência trabalhista vem, no entanto, considerando como fatores


aptos a justificar a vedação do desconto dos dias parados os seguintes:

manifesto descumprimento, pelo empregador, de cláusulas e regras legais

imperativas e relevantes; descumprimento pelo empregador de


instrumento coletivo negociado em período de plena vigência;

desrespeito pelo empregador a precedente judicial relativo à necessidade

de prévia negociação coletiva com o Sindicato obreiro para realização de


dispensas coletivas.

Lei n. 7.783/89

Art. 7º - Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve


suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o

período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do

Trabalho.

Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem

como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses

previstas nos arts. 9º e 14.

Súmula 316 do STF - A simples adesão a greve não constitui falta grave.

IMPORTANTE COMENTÁRIO DE MAURÍCIO GODINHO DELGADO: “É óbvio que não

se pode falar apenas em greve de empregados contra os respectivos empregadores;

mas também de trabalhadores contra os respectivos tomadores de serviços”.

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Titularidade do direito de greve

A titularidade do direito de greve é dos trabalhadores subordinados


(empregado, eventual, avulso, temporário etc.).

Para Carlos Henrique Bezerra Leite, “podemos dizer que a legitimidade para

deflagrar a greve é dos sindicatos dos trabalhadores destinatários da proteção


constitucional-trabalhista (empregado rural e urbano, trabalhador avulso e

servidor público), já que a greve, que é um ato coletivo, um direito coletivo,

pressupõe o exaurimento da negociação coletiva, em função do que é obrigatória a


participação dos sindicatos em toda e qualquer espécie de negociação coletiva (CF,

art. 8º, V), sendo certo que é o sindicato que representa individual e coletivamente

a categoria”.

Porém, caso os trabalhadores não estejam organizados em sindicato (federação


ou confederação), faculta a Lei de Greve que a deflagração do movimento paredista

seja levada a cabo pela Comissão de Negociação eleita em assembleia geral dos

trabalhadores interessados (art. 4º, §2º).

Art. 4º - Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu


estatuto, assembleia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará

sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços.

§ 1º - O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação

e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve.

§ 2º - Na falta de entidade sindical, a assembleia geral dos trabalhadores


interessados deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão de

negociação.

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Distinções

Piquetes – É uma forma de pressão dos


trabalhadores vinculada ao exercício do direito

de greve na tentativa de dissuadir os

recalcitrantes que persistirem em não suspender


a atividade laboral durante o movimento
Figuras próximas paredista. São válidos enquanto meios pacíficos
ou associadas: são tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores
instrumentos para a aderirem à greve (artigo 6º, I, da Lei n.
a própria 7.783/89), vedado o uso de qualquer forma de
realização do violência.
G movimento
Operação tartaruga ou excesso de zelo –
R paredista.
modalidades coletivas de redução da produção,
E utilizadas como pressão para reivindicação

V imediata ou ameaça para futuro movimento mais


amplo.
E
Ocupação de estabelecimento (lock in) – é um

método de realização da greve, em que os


empregados ocupam o local de trabalho.

Boicotagem – é a conduta de convencimento da

Formas de comunidade para que restrinja ou elimine a

pressão social que aquisição de bens ou de serviços de

não se determinada(s) empresa(s); não necessariamente

circunscrevem ao se vincula a movimentos trabalhistas, contudo,

espaço se estiver associada a certo movimento

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delimitado do trabalhista, não produz efeitos no âmbito

estabelecimento contratual trabalhista, desde que se trate de


ou da empresa conduta coletiva pacífica.

Sabotagem – conduta intencionalmente

predatória do patrimônio empresarial, como


mecanismo de pressão para alcance de pleitos
Condutas ilícitas
trabalhistas ou reforço da greve. Exemplo:
de pressão
quebra de máquinas, dolosa produção de peças
imprestáveis etc. Tais atos abusivos são

censurados pela Constituição (artigo 9º, §2º).

Limites ao exercício do direito de greve:

O artigo 9º da CF/88 prevê extensão bastante larga ao direito de greve no

segmento privado: cabe aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de

exercer o direito de greve. Contudo, há certos limites previstos no ordenamento


jurídico:

• Primeira limitação constitucional (artigo 9º, §1º, CF/88) – traz limitações ao

direito de greve envolvendo serviços ou atividades essenciais, de modo a


garantir o atendimento às necessidades inadiáveis da comunidade; a norma

prevê que as definições de tais expressões caberão à lei.

CF/88

Art. 9º, §1 – A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o

atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

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Lei 7.783/89

Art. 10 - São considerados serviços ou atividades essenciais:

I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica,

gás e combustíveis;

II - assistência médica e hospitalar;

III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;

IV - funerários;

V - transporte coletivo;

VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;

VII - telecomunicações;

VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais

nucleares;

IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;

X - controle de tráfego aéreo e navegação aérea;

XI compensação bancária.

XII - atividades médico-periciais relacionadas com o regime geral de previdência


social e a assistência social;

XIII - atividades médico-periciais relacionadas com a caracterização do impedimento


físico, mental, intelectual ou sensorial da pessoa com deficiência, por meio da

integração de equipes multiprofissionais e interdisciplinares, para fins de

reconhecimento de direitos previstos em lei, em especial na Lei nº 13.146, de 6 de


julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência); e

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XIV - outras prestações médico-periciais da carreira de Perito Médico Federal

indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

XV - atividades portuárias.

OBS.: as hipóteses acima arroladas são numerus clausus, o que exige a interpretação

restritiva do dispositivo legal.

Lei 7.783/89

Art. 9º - Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo

com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade


equipes de empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja

paralisação resultem em prejuízo irreparável, pela deterioração irreversível de

bens, máquinas e equipamentos, bem como a manutenção daqueles essenciais


à retomada das atividades da empresa quando da cessação do movimento.

Parágrafo único. Não havendo acordo, é assegurado ao empregador, enquanto

perdurar a greve, o direito de contratar diretamente os serviços necessários a que


se refere este artigo.

COMENTÁRIOS DE CARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITE:

“Extrai-se do preceito em causa que:

a) A contratação de serviços só poderá ser feita enquanto perdurar a greve;

b) Não há óbice à contratação de pessoas jurídicas especializadas;

c) Nem à contratação de empresas de trabalho temporário (Lei n. 6.019/74), com a


observância do prazo máximo de 3 meses;

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d) Pode o empregador firmar contrato por tempo determinado, porquanto trata-se,


in casu, de serviço especificado cuja transitoriedade justifica a predeterminação do

prazo (CLT, art. 443, §§1º e 2º).

Curso de Direito do Trabalho / Carlos Henrique Bezerra Leite. – 9. ed. – São Paulo:

Saraiva Educação, 2018.

STF - “A disciplina do direito de greve para os trabalhadores em geral, quanto às

‘atividades essenciais’, é especificamente delineada nos arts. 9º a 11 da Lei 7.783/1989.


Na hipótese de aplicação dessa legislação geral ao caso específico do direito de greve

dos servidores públicos, antes de tudo, afigura -se inegável o conflito existente entre

as necessidades mínimas de legislação para o exercício do direito de greve dos


servidores públicos civis (CF, art. 9º, caput, c/c art. 37, VII), de um lado, e o direito a

serviços públicos adequados e prestados de forma contínua a todos os cidadãos (CF,

art. 9º, § 1º), de outro.” (MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 25-10-2007,
Plenário, DJE de 31-10-2008.) No mesmo sentido: MI 670, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar

Mendes, julgamento em 25-10-2007, Plenário, DJE de 31-10-2008.

Lei 7.783/89

Art. 11 - Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os

trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a


prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades

inadiáveis da comunidade.

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Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não

atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a


segurança da população.

Art. 12 - No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público

assegurará a prestação dos serviços indispensáveis.

Art. 13 - Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais

ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos

empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 horas da


paralisação.

IMPORTANTE COMENTÁRIO DE MAURÍCIO GODINHO DELGADO: “Note-se que

não estão nesse rol (artigo 10 da Lei de Greve), ilustrativamente, serviços bancários,
exceto compensação, com o processamento de dados a ele vinculado; serviços de

comunicação, exceto telecomunicações (e respectivo processamento de dados);

serviço de carga e descarga, exceto transporte coletivo; escolas; serviços de correios”.

• Segunda limitação constitucional (artigo 9º, §2º, da CF/88) – os abusos

cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. Não há permissivo para


atos abusivos, violentos ou similares pelos grevistas.

• Princípio da lealdade e transparência nas negociações coletivas – segundo

este princípio do Direito Coletivo do Trabalho não seria válido movimento


paredista em período de cumprimento de instrumento negocial coletivo ou

em detrimento de negociação recém-concluída.

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• Limitação prevista na Lei de Greve – proteção especial ao trabalhador que


insista em trabalhar (artigo 6º, §3º).

§ 3º - As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão


impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa.

Requisitos para a validade do movimento grevista:

• Ocorrência de real tentativa de negociação antes de se deflagrar o

movimento paredista (artigo 3º, caput, da Lei n. 7.783/89). “A jurisprudência

tem exigido demonstrações satisfatórias de que houve real desenvolvimento


ou, pelo menos, efetivo intento em estabelecer-se uma etapa negocial prévia,

que se frustrou, entretanto” (GODINHO).

• Aprovação da assembleia de trabalhadores (artigo 4º da Lei n. 7.783/89).

• Aviso prévio à parte adversa (artigo 3º, parágrafo único, Lei n. 7.783/89) –

Em geral, o aviso deve ser dado com antecedência mínima de 48 horas, exceto
nos casos de serviços ou atividades essenciais, em que a lei exige a

antecedência de 72 horas, além da comunicação aos usuários do serviço.

• Atendimento às necessidades inadiáveis da comunidade, quando da

greve em serviços ou atividades essenciais (artigo 9º, §1º, da CF/88 c/c


artigos 10, 11 e 12 da Lei n. 7.783/89).

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Greve em

serviços ou
Greve comum
atividades

essenciais

Real e anterior tentativa de SIM SIM


negociação

Aprovação em assembleia de SIM SIM

trabalhadores

Aviso prévio à parte adversa SIM – 48 horas SIM – 72 horas

Aviso prévio aos usuários / público NÃO SIM

Atendimento às necessidades NÃO SIM

inadiáveis da comunidade

Direitos dos grevistas:

• Utilização de meios pacíficos de persuasão (artigo 6º, Lei de Greve);

• Arrecadação de fundos por meios lícitos (artigo 6º, Lei de Greve);


• Livre divulgação do movimento (artigo 6º, Lei de Greve);

• Proteção contra a dispensa por parte do empregador (artigo 7º, Lei de

Greve);
• Proteção contra a contratação de substitutos pelo empregador (artigo 7º,

parágrafo único, da Lei de Greve); EXCEÇÃO: formação, pelos

trabalhadores ou pelo sindicato, de equipes de manutenção de bens e


serviços cuja paralisação, na empresa, possa causar prejuízo irreparável ou
que sejam essenciais à futura retomada das atividades empresariais (artigo

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9º, Lei de Greve). Este artigo deve ser interpretado restritivamente, de


modo a não frustrar a efetiva realização do movimento paredista.

Lei 7.783/89

Art. 14 - Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas

na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de


acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.

Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença normativa não

constitui abuso do exercício do direito de greve a paralisação que:

I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição;

II - seja motivada pela superveniência de fato novo ou acontecimento imprevisto que

modifique substancialmente a relação de trabalho.

Deveres dos grevistas:

São eles: assegurar a prestação de serviços indispensáveis às necessidades

inadiáveis da comunidade, quando realizando greve em serviços ou atividades


essenciais; organizar equipes para manutenção de serviços cuja paralisação

provoque prejuízos irreparáveis ou que sejam essenciais à posterior retomada de


atividades pela empresa; não fazer greve após a celebração de convenção ou acordo
coletivos ou decisão judicial relativa ao movimento; respeitar direitos fundamentais

de outrem; e não produzir atos de violência.

Greve no serviço público:

• Servidores MILITARES: não lhes foi garantido o direito de greve pela


Constituição, nem mesmo o direito de sindicalização (artigo 142, §3º, IV,
da CF/88);

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• Servidores CIVIS: a Constituição lhes garante o direito à livre associação


sindical e o direito de greve (artigo 37, VI e VII, CF/88). Prevê a CF/88,
contudo, que o “direito de greve será exercido nos termos e nos limites

definidos em lei específica” (artigo 37, VII). Esta lei específica ainda não

foi editada!

Posição do STF: (a) na década de 1990 – entendeu tratar-se o artigo 37,

VII, de norma de eficácia limitada, absolutamente dependente de


legislação ulterior, porque a CF/88 deixa claro que o direito será exercido

“nos termos e limites definidos em lei complementar” (o termo “lei

específica” só foi incluído mediante a Emenda Constitucional n. 19/98) -


ADI 339-RJ, de 17/07/1990, MI 20-DF, de 01/05/1994, e MI 438-GO, de

11/11/1994; (b) em 2007 – diante da omissão legislativa, alterou sua

jurisprudência construída nos anos 1990, determinando a aplicação da Lei


n. 7.783/89 à área pública até que seja editada a lei específica a que se

refere o inciso VII do artigo 37 da CF/88.

Natureza jurídica da greve:

A greve é um direito fundamental de caráter coletivo, resultante da


autonomia privada coletiva inerente às sociedades democráticas.

IMPORTANTE COMENTÁRIO DE MAURÍCIO GODINHO DELGADO: “Não há dúvida

quanto a greve ser, originalmente, uma modalidade de autotutela, de coerção


coletiva. Contudo, sua consagração nas ordens jurídicas democráticas, como direito

fundamental, conferiu-lhe não somente força, mas também civilidade. Nesta última

medida, a figura ultrapassou o caráter de mera dominação da vontade de um sujeito


sobre outro, como inerente à autotutela”.

RESUMO – Direito Coletivo do Trabalho – GREVE


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Fundamentos do direito de greve:

• Liberdade de trabalho;
• Liberdade associativa e sindical;

• Princípio da autonomia dos sindicatos; e

• Autonomia privada coletiva.

Retrospectiva histórico-jurídica:

• Código Penal de 11/10/1890 (Decreto n. 847): primeiro diploma legal que


se refere à greve, tipificando-a e a seus atos como ilícitos criminais;

• Decreto n. 1.162 de 12/12/1890: a greve deixou de ser um ilícito penal,

passando a ordem jurídica a punir, tão somente, os atos de ameaça,

constrangimento ou violência verificados em seu meio.

• De 1930 a 1945 – implementação do modelo sindical brasileiro de caráter

corporativo-autoritário, adverso, portanto, às manifestações livres dos

movimentos paredistas.

• Constituição de 1934 – não se referiu à greve.

• Estado de sítio de 1935 – a greve foi afastada do campo dos institutos

válidos do Direito do trabalho.

• Constituição de 1937 – colocou a greve na ilegalidade, o que foi repetido


por leis posteriores.

• Decreto-Lei n. 9.070 de 15/03/1946 - Processo de redemocratização do

país (1945/1946); foi a primeira lei ordinária que disciplinou a greve,

permitindo-as em atividades acessórias.

• Constituição de 1946 – confirmou a greve como direito trabalhista.

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• Lei de Greve n. 4.330/64) – Regime Militar; restringia severamente o


instituto, proibindo movimentos que não tivessem fins estritamente
trabalhistas e vedando a estratégia ocupacional dos estabelecimentos nas

greves; instituía rito considerado inviável para os sindicalistas,

transformando o direito em mero simulacro.

• Constituição de 1967 – acentuou-se a restrição aos movimentos


paredistas, que foram proibidos nos serviços públicos e nas atividades

essenciais.

• Ato institucional 5 de dezembro de 1968 – inviabilizou qualquer tentativa


de paralisação trabalhista.

• Constituição de 1988 – momento mais elevado de reconhecimento do

direito paredista na ordem jurídica do país. Foi o primeiro e único instante


no Brasil em que o instituto da greve ganhou o status jurídico de direito

constitucional fundamental de caráter coletivo.

Competência:

A competência para dirimir lides relacionadas aos movimentos grevistas dos


trabalhadores é da Justiça do Trabalho desde a promulgação da Constituição Federal

de 1988.

Havia controvérsia quanto à competência da Justiça do trabalho para processar

e julgar outras ações relacionadas ao exercício do direito de greve, tais como


interdito proibitório, ações possessórias ou outras medidas. Contudo, com a Emenda

Constitucional n. 45/2004, não restam mais dúvidas quanto à competência da Justiça

do Trabalho:

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Art. 114, CF/88. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

(...)

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

Súmula e Orientações Jurisprudenciais sobre Greve:

Súmula nº 189 do TST. GREVE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.


ABUSIVIDADE

A Justiça do Trabalho é competente para declarar a abusividade, ou não, da greve.

OJ 10, SDC. GREVE ABUSIVA NÃO GERA EFEITOS.

É incompatível com a declaração de abusividade de movimento grevista o

estabelecimento de quaisquer vantagens ou garantias a seus partícipes, que

assumiram os riscos inerentes à utilização do instrumento de pressão máximo.

OJ 11, SDC. GREVE. IMPRESCINDIBILIDADE DE TENTATIVA DIRETA E PACÍFICA DA

SOLUÇÃO DO CONFLITO. ETAPA NEGOCIAL PRÉVIA.

É abusiva a greve levada a efeito sem que as partes hajam tentado, direta e

pacificamente, solucionar o conflito que lhe constitui o objeto.

OJ 38, SDC. GREVE. SERVIÇOS ESSENCIAIS. GARANTIA DAS NECESSIDADES

INADIÁVEIS DA POPULAÇÃO USUÁRIA. FATOR DETERMINANTE DA QUALIFICAÇÃO

JURÍDICA DO MOVIMENTO.

RESUMO – Direito Coletivo do Trabalho – GREVE


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É abusiva a greve que se realiza em setores que a lei define como sendo essenciais à

comunidade, se não é assegurado o atendimento básico das necessidades inadiáveis

dos usuários do serviço, na forma prevista na Lei nº 7.783/89.

RESUMO – Direito Coletivo do Trabalho – GREVE


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