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Direito Processual do Trabalho 2 – 1º Bimestre – Thalita M.

Bortoloso | 1

Ação de Cumprimento
Art. 872, CLT: “Celebrado o acordo, ou transitada em julgado a decisão, seguir-se-á o seu
cumprimento, sob as penas estabelecidas neste Título”.
Parágrafo único: “Quando os empregadores deixarem de satisfazer o pagamento de salários, na
conformidade da decisão proferida, poderão os empregados ou seus sindicatos, independentes
de outorga de poderes de seus associados, juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação
à Junta ou Juízo competente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título, sendo
vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já apreciada na decisão”.

✱ CONCEITO: É uma ação de natureza cognitiva e condenatória, coletiva, movida pelos


sindicatos para fazer valer, em juízo, preceitos/regras/normas contidos em instrumentos coletivos
(ex. Foi celebrado uma CCT ou ACT entre a categoria dos professores e as instituições de ensino,
de forma que foi acordada a concessão de um abono correspondente ao 14º salário. A FDV,
contudo, não cumpre essa norma. Assim, surge o direito de o sindicato dos professores ir a juízo
cobrar da FDV o cumprimento dessa norma através de uma ação de cumprimento).
Esta ação está vinculada visceralmente ao dissídio coletivo, do ponto de vista do silogismo, da
relação lógica. Isso porque, a pretexto de disciplinar um dissídio coletivo, o legislador vislumbra a
necessidade de criar uma ferramenta capaz de assegurar a efetividade da sentença
normativa.
Temos que trabalhar os momentos do discurso da norma (art. 872, p. único), analisando o que é
literal e o que deve ser interpretado: Quando a ação de cumprimento surge, ela apenas tem como
objetivo assegurar a eficácia da sentença normativa, vez que naquela época a sentença normativa era
dotada de grande importância. A sentença normativa, porém, passa por um o processo de mutação,
deixando de ser o meio ideal de resolução de conflitos coletivos, conforme já vimos, vez que a
melhor solução é a arbitragem.
Assim, considerando que quem tem legitimidade para criar normas coletivas são os sindicatos,
através de convenção coletiva, surge a necessidade de adaptar o texto e o contexto da ação de
cumprimento, de forma que ela não pode ser apenas utilizada quando do descumprimento de
uma norma coletiva fruto de sentença normativa, devendo ser utilizada para o descumprimento
de toda e qualquer norma coletiva (seja uma norma de fonte autônoma, seja uma norma de
fonte heterônoma), criada ou não por sentença normativa.
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✱ NATUREZA JURÍDICA: É uma ação coletiva de natureza cognitiva e condenatória, que


segue o mesmo rito da reclamação trabalhista, sendo, portanto, uma ação de conhecimento (e
não de execução) (obs. Não é muito correto falar que ela é uma ação especial, vez que ação
coletiva é comum do processo do trabalho).
A atividade judicial irá recair na disputa de um direito, ou seja, na tutela cognitiva haverá sempre
uma decisão a ser proferida, diferentemente de uma ação executiva.

✱ LEGITIMADOS:
✾ LEGITIMAÇÃO ATIVA: Apesar do paragrafo único, art. 482, CLT, estabelecer como
legitimados os empregados ou seus sindicatos, a norma está errada, isso porque os
empregados não podem ajuizar ação de cumprimento, mas tão somente os sindicatos
dos trabalhadores afetados pelo descumprimento da norma (pois, é uma ação coletiva).
Quando o sindicato deixar de ajuizar ação de cumprimento em benefício do empregado, esse até
poderá reclamar em juízo, mas por meio da reclamação trabalhista, que é uma ação individual, e não
por meio de ação de cumprimento.
EM RESUMO: Somente os sindicatos são legitimados ativos para ajuizar ação de cumprimento,
no intuito de resguardar a eficácia da norma coletiva sem submeter os empregados a retaliação
patronal.
➥ Mas atenção! Legitimação extraordinária do sindicato: Originalmente, a ação de
cumprimento somente poderia ser ajuizada pelo seu Sindicato em face de seus associados,
pois o legislador havia vinculado a substituição processual somente em benefício dos
associados. Atualmente, porém, não é mais necessário haver uma relação jurídica
associativas entre o substituto e o substituído. A CRFB/88, em seu art. 8º, III, retirou a ideia de
que somente os associados fossem substituídos processualmente, mas sim, toda a categoria
(de todo trabalhador da categoria, seja associado ou não), ampliando-se, assim, a legitimação
extraordinária do sindicato.
✾ LEGITIMAÇÃO PASSIVA: Somente o empregador pode descumprir norma coletiva,
vez que o beneficiário da norma coletiva é sempre o trabalhador (não há norma coletiva
impondo deveres aos empregados, mas apenas aos empregadores).
Acontece que a obrigação de pagar/dar do empregador estará sempre prevista na lei ou na norma
coletiva ou regulamento da empresa, sendo sempre identificável. Por outro lado, obrigação de fazer
do empregado não é possível escriturar humanamente, de modo que a norma coletiva gera sempre
um encargo e dever a ser satisfeita pelo empregador.
Questão! É possível o litisconsórcio passivo em uma ação de cumprimento? Não. O sujeito
passivo que é legitimado passivo na ação de cumprimento é sempre certo e determinado, ou seja, é o
empregador isoladamente considerado, que esteja a descumprir norma coletiva de seus
empregados e somente dos seus empregados (ex. CCT entre sindicato dos professores e instituições de
ensino superior. FDV e Emescam descumprem a norma do 14o salário. Não pode o sindicato dos
professores ajuizar uma mesma ação de cumprimento em face da FDV e da Emescam. Nem mesmo
dois professores, um da FDV e outro da Emescam, podem, individualmente, mas em litisconsórcio
ativo, ajuizar reclamação em face de FDV e Emescam).
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➥ Cuidado! Cláusulas atípicas do contrato de trabalho: Pode ocorrer de os sindicatos


dos empregadores estarem no polo ativo e os sindicatos dos trabalhadores estarem no
polo passivo. Isso porque existem cláusulas típicas e atípicas no contrato coletivo. As típicas
são as que tratam dos interesses das categorias, com direitos que vão agregar aos contratos de
trabalho. As atípicas são as que tratam de interesses sindicais (ex. período eleitoral -
distribuição de panfletos em refeitórios, taxa de contribuição previdenciária etc). Se uma
cláusula de uma CCT prever, por exemplo, a doação de valores por empresas para a construção
de uma sede para o sindicato, devendo haver prestação de contas. Se essa prestação de contas
nunca for feita, podem os empregadores entrar com uma ação de cumprimento, para que essa
prestação seja feita (cláusula atípica).

✱ COMPETÊNCIA: A norma celetista diz que a ação de cumprimento será proposta perante a
Junta ou juízo competente. Ao contrário do dissídio coletivo cuja competência originária é dos
Tribunais, na ação de cumprimento há uma jurisdição natural, ou seja, as ações de
cumprimento irão ingressar no primeiro grau de jurisdição.

✱ OBJETO: O objeto é a busca pelo adimplemento de uma condição coletiva de


trabalho, tendo natureza salarial direta/indireta ou não. Assim, apesar do dispositivo
falar em “salário”, inclui-se, aqui, salário em sentido estrito ou sentido latu (ex. A cláusula coletiva
de ticket alimentação não é salarial (tem natureza indenizatória), mas é inegável que é um
salário indireto, ou seja, aquilo que agrega valor ao trabalhador. Se o empregador descumprir tal
cláusula, poderá ser objeto dessa ação; ex2. espaço de amamentação para criança até os 2
anos, apesar de não ter natureza salarial direta e nem indireta, pode ser abrangida na ação de
cumprimento).

✱ INTERESSE TUTELADO: O interesse tutelado nessa ação coletiva é individual


homogêneo. A consequência disso é que a sentença condenatória transitada em julgado, ao ser
executada, prescinde da habilitação dos interessados, numa modalidade de liquidação que era
chamada de “liquidação por artigos”, atualmente chamada de liquidação por procedimento
comum.

✱ PROCEDIMENTO: O procedimento para a ação de cumprimento é externado na redação do


parágrafo único do art. 872 da seguinte forma: "observado o processo previsto no Capítulo II
deste Título".
De início, cabe pontuar que o vocábulo "processo" é empregado de forma errada, então, deve-se ler,
em seu lugar, procedimento comum ordinário do processo do trabalho, ou seja, o rito que
se aplica às reclamações trabalhistas individuais, mesmo sendo uma ação coletiva. Assim, se prima
pela oralidade pela técnica do procedimento em audiência.
Também é necessário adaptar a passagem do texto de “juntando certidão de tal decisão”. Essa
certidão, originariamente, se refere à sentença normativa. Contudo, com todas as mudanças
ocorridas, e com a compreensão moderna de que a ação de cumprimento é cabível para assegurar
direito previsto em qualquer instrumento coletivo, esse termo
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"certidão" ganha nova acepção, compreendida em um requisito formal para a ação de


cumprimento no que diz respeito ao instrumento coletivo.
Em suma, então, percebe-se a existência de dois requisitos/pressupostos da ação de cumprimento,
quais sejam:
1) REQUISITO MATERIAL: Inadimplemento por parte do empregador no
cumprimento de preceito coletivo.
Não se concebe uma ação de cumprimento que não seja para discutir esse descumprimento, de forma
que, se for ajuizada essa ação para tratar de qualquer outra matéria, a ação será extinta
sumariamente por falta de interesse ad causam (interesse de agir).
2) REQUISITO FORMAL: A lei exige que a petição inicial seja instruída com a cópia de
inteiro teor do instrumento normativo.
O instrumento coletivo é documento indispensável para a propositura da ação. Se não for
cumprido tal requisito, deve-se intimar o sindicato para realizar a juntada, conforme determina o art.
321, CPC. Existe, portanto, uma sanção de nulidade (relativa) decorrente da não juntada do
documento indispensável, o que transforma sua juntada num ônus para parte.
➥ Documentos indispensáveis: É necessário entender o que é um documento indispensável,
vez que existem muitos outros documentos (ordinários/comum) que se não forem juntados não
importam em descumprimento de ônus, não sendo sancionado com nulidade, mas apenas
afetando a questão probatória da parte.
Os documentos comuns provam FATOS relevantes ou controvertidos, aplicando-se apenas a
teoria do ônus da prova para sancionar, não implicando em nenhuma nulidade. Trata-se, na verdade,
da prova da causa de pedir remota (aquela que apresenta a narrativa dos fatos).
Já os documentos indispensáveis provam a CAUSA DE PEDIR PRÓXIMA, isto é, a
forma pela qual os fatos repercutem na esfera jurídica do autor. A falta desse documento enseja na
inépcia da inicial, pois não haverá como prestar a jurisdição (ex. A norma coletiva é particular e
privada na maior parte dos casos, não tendo o juiz conhecimento na maioria das vezes. Assim, quando
falta esse documento, não tem como analisar a questão).
➥ Questão! Somente é possível fazer prova de fatos ou também é possível provar direito?
É possível fazer prova de direito em situação excepcional (Art. 376, CPC), pois se
alguma das partes alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, é possível
provar seu teor ou vigência, se assim o juiz determinar.

✱ LIMITAÇÃO LEGAL DA MATÉRIA CONTROVERTIDA: O trecho do parágrafo único, do


artigo 872, da CLT que diz “Sendo vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de
direito já apreciada na decisão”, é uma limitação legal que apenas se aplica às ações de
cumprimento baseadas em sentenças normativas já tratadas em dissídio coletivo. Isso
significa que se uma questão (ponto controvertido) já foi debatida no dissídio coletivo,
essa não poderá ser debatida na ação de cumprimento.
A sentença normativa faz coisa julgada formal. A sentença normativa é formalmente uma
sentença, porém materialmente é uma fonte heterônoma de direito material análoga à lei. Ademais,
existe um complicador que resulta de o fato da sentença normativa ter uma
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natureza transitória e a projeção da dos seus efeitos para o futuro. A coisa julgada formal significa
dizer que no processo não cabe mais recurso, ou seja, é a imutabilidade da sentença nos
próprios autos.
Cumpre frisar, ainda, que a sentença normativa é dotada da característica da cláusula rebus sic
stantibus, exposta no art. 505, CPC 6 . Tal norma determina que as coisas pactuadas devem
permanecer na forma em que foram pactuadas, salvo se as condições originárias forem
modificadas, o que permite a sua alteração.
Não é que as sentenças normativas não transitam em julgado materialmente, pois há o transito em
julgado, só que elas sofrem uma volatilidade, ou seja, uma coisa material volátil/ flexível (é a
mesma situação que ocorre, por exemplo, com a ação de alimentos, ação de adicional de
insalubridade etc.).
A sentença normativa produz efeitos necessariamente para o futuro, de forma que ela não
tem a eficácia de coisa julgada material nos termos que o legislador coloca, pois está sujeita a
uma relativização que é própria às tutelas coletivas, como uma forma que o legislador encontrou de
prestigiar a norma coletiva heterônoma.
EM RESUMO: Não é correto chamar “coisa julgada material” da sentença normativa, fala- se em:
limitação legal da matéria controvertida, de modo que se já foi ventilado a matéria na
sentença normativa e a parte invocar isso, o julgado deve decretar a preclusão. Então, por mais que
seja um instituto análogo a coisa julgada material, não é correto essa aplicação em relação sentença
normativa. Sendo assim, pode-se dizer que a sentença normativa apenas faz coisa julgada
formal e possui uma limitação legal da matéria controvertida.

✱ TRÂNSITO EM JULGADO E PRESCRIÇÃO: O caput do art. 872 coloca que seria


necessário aguardar o trânsito em julgado da sentença normativa para interpor a ação de
cumprimento, mas essa parte da norma está revogada pelas Leis nº 4725/65 e nº 7701/88, arts.
7º, 8º e 10, pois determinam que a ação de cumprimento pode ser proposta 10 dias após a
publicação da sentença normativa, seja dela interposto ou não recurso.
A Súmula 246, TST confirma o disposto nessas leis, in verbis: “AÇÃO DE CUMPRIMENTO.
TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA NORMATIVA. É dispensável o trânsito em julgado da
sentença normativa para a propositura da ação de cumprimento”.
➥ Questão! O que acontecerá se o tribunal, mesmo após essa ação de cumprimento
ajuizada, der provimento ao recurso? Não há direito a repetição, em razão do princípio do
tempus regit actum. Assim, essa nova posição do TST apenas será aplicada dali para frente, e
a norma coletiva que até então era aplicada fica revogada.
Dessa forma, se a norma coletiva estipulada por sentença normativa não tiver sido executada, com o
julgamento do recurso no TST procedente, ela apenas deixa de ser aplicada por perda
superveniente de interesse (perda do direito). Quando a norma for modificada em sede de
recurso pelo TST, mas já tiver sido executada, entende-se que a anterior está revogada.

6
Art. 505, CLT: “Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se,
tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que
poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença”.
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➥ PRESCRIÇÃO (S. 350, TST): “PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. AÇÃO DE


CUMPRIMENTO. SENTENÇA NORMATIVA. O prazo de prescrição com relação à
ação de cumprimento de decisão normativa flui apenas da data de seu trânsito em
julgado”. Aqui, aparenta-se a existência de uma contradição, uma vez que a pretensão do exercício
da ação de cumprimento nasce em 10 dias após a publicação da sentença normativa, mas o prazo
prescricional para o ajuizamento da ação começa a correr apenas após o transito
em julgado da sentença normativa.
Esse raciocínio é aplicado como uma forma de dar prestigio à sentença normativa, para resguardar
a importância dessa norma heterônoma. Ou seja, mesmo com a execução possível antes do trânsito
em julgado, o prazo prescricional para o exercício da pretensão apenas é iniciado com o
trânsito em julgado da sentença normativa.

Unidade 2 – Liquidação de Sentença


Introdução
O processo de liquidação de sentença ocorre quando há sentenças transitadas em julgado que não são
líquidas, constituindo-se títulos executivos ilíquidos, que não autorizaram os atos executivos,
necessitando, portanto, ser liquidada. Surge, então, esse incidente cognitivo, que recebe o nome
de liquidação de sentença.
Sua pertinência é apenas em casos de sentenças condenatórias, cabendo, neste ponto,
relembrar as modalidades de tutela, para refletir qual delas apresenta a liquidação de sentença como
fase integrante do deslinde processual. Veja-se:
✾ CRISE DE CERTEZA JURÍDICA (tutela declaratória pura): O autor da ação requer
em juízo o reconhecimento da existência ou inexistência de relação jurídica com a parte
contrária. Essa modalidade de tutela exaure os interesses de autor simplesmente ao ser
proferida, sem necessidade de acoplar qualquer ato executório para garantir sua eficácia prática.
✾ CRISE DE SITUAÇÃO JURÍDICA (tutela constitutiva): Aqui, o autor pretende criar,
modificar ou extinguir uma relação jurídica, materializando o exercício de direito potestativo. O
ato do juiz ao proferir sentença quase que exaure toda a pretensão do autor, cabendo, em certos
casos, apenas algumas pequenas determinação feitas de ofício pelo juiz, não necessitando, de
igual forma, acoplar atos executivos para garantir a eficácia da sentença.
✾ CRISE DE INADIMPLEMENTO (tutela condenatória): Tutela ligada às obrigações. O
juiz, ao sentenciar, apenas cumpre uma das etapas do processo, quando o autor obtém êxito em
sua ação. Proferida a sentença, se o réu não cumpre o ato decisório, será necessário acoplar
atos de execução para que essa condenação opere seus efeitos práticos. No caso em
que essas sentenças condenatórias estejam marcadas pela iliquidez, será necessário cumprir
mais uma etapa, que é a fase de liquidação de sentença.
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Regras de Regência da Liquidação de Sentença


✱ CONCEITO DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA (art. 879, caput e §1º, CLT): “Sendo
ilíquida a sentença exequenda, ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita
por cálculo, por arbitramento ou por artigos [atual liquidação por procedimento comum].
§1º: Na liquidação, não se poderá modificar, ou inovar, a sentença liquidanda nem discutir matéria
pertinente à causa principal”.
A sentença quando condenatória e envolvendo quantia certa tem que apresentar dois atributos: o
que é devido e quanto é devido. Quando a sentença não determinar o quantum debeatur, deve-se
ter a liquidação de sentença, que é um incidente cognitivo que se coloca entre a fase de
conhecimento e a fase de execução do processo sincrético, tendo como escopo dotar de liquidez a
sentença ilíquida (sentença ilíquida não pode ser levada a uma atividade executiva sem ser tornada
líquida).
No passado, essa ação era tratada como uma ação incidental. Contudo, o processo sincrético
elimina a autonomia dessas “ações”, que passam a ser tratadas como mero incidentes.
Como a CLT é carente de dispositivos na parte de liquidação de sentença e execução, utiliza-se
muito o CPC. Assim, completando o artigo 879, tem-se o art. 509 do CPC, com a seguinte redação:
“Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua
liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: I - por arbitramento, quando
determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do
objeto da liquidação; II - pelo procedimento comum, quando houver necessidade de
alegar e provar fato novo”.
Verifica-se que sua redação apenas traz como modalidades de liquidação de sentença a por
arbitramento e por procedimento comum, o que permite concluir que, em processo civil, a
modalidade de liquidação por cálculo não exige a instauração do incidente de liquidação de sentença.
Inclusive, tal conclusão encontra-se positivada no §2º, do art. 509, que diz: “Quando a apuração
do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo,
o cumprimento da sentença”.
EM RESUMO: A liquidação de sentença surge da premissa de que uma sentença sem o elemento
quantitativo torna absolutamente inviável a eficácia da norma concreta contida na sentença.

✱ SENTENÇA COMO TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL: A sentença condenatória é um título


executivo judicial, devendo se fazer presente as suas três características fundamentais: certeza,
exigibilidade e liquidez.
✾ CERTEZA: O título é certo quando não se duvida da sua existência, ou seja, quando não
se tem dúvida quanto à oportunidade da exigência do cumprimento do conteúdo que nele
contém.
Nas sentenças judiciais, o que a fez ser um título certo é o simples fato dela existir, pois ela é
verdadeiro título executivo (≠ de titulo executivo extrajudicial, que apenas será certo quando
estiver em conformidade com a lei que o define como tal).
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✾ EXIGIBILIDADE: A sentença judicial condenatória é exigida quando do seu trânsito em


julgado ou quando a lei permite que a sentença seja executada provisoriamente, conforme
algumas hipóteses previstas pelo legislador (≠ de titulo executivo extrajudicial, que será
exigível quando vencer seu prazo ou se implementar a condição nele prevista).
✾ LIQUIDEZ: O título executivo será líquido quando não houver dúvida quanto à quantidade da
prestação a ser cumprida em razão dele.
A liquidez é da própria essência do titulo executivo extrajudicial, pois sem ele não se pode iniciar a
execução. Esse título, portanto, tem que trazer objetivamente e com clareza, a quantidade da
obrigação a ser satisfeita pelo devedor.
Já a sentença condenatória pode não ter esse atributo da liquidez, sendo ilíquida sem qualquer tipo
de nulidade, tendo como única consequência a impossibilidade de ser executada sem uma fase de
liquidação. Quando a sentença nascer desprovida de liquidez, antes de dar início aos atos de
execução, tem-se que paralisar o fluxo do processo e instaurar o incidente de
liquidação, pois só depois que a sentença se tornar líquida é que poderá iniciar os atos executórios.
➥ Questão! Por qual motivo o legislador permite que a sentença possa surgir desprovida
do atributo da liquidez? Por que as vezes não é viável ou não é possível que, naquele momento,
se defina seu quantitativo.
➥ Crítica: a sentença ilíquida é anacrônica e prejudicial ao processo, pois vai de encontro
à celeridade e à efetividade processual.

✱ SENTENÇA E PEDIDO: O art. 322, CPC traz dois atributos cumulativos do pedido, que deve
ser certo e determinado.
Um pedido certo é aquele que permite perceber, ao primeiro olhar, o que o autor pretende na
ação. Já um pedido determinado é quando se percebe o quanto daquilo que ele quer.
Os pedidos, em regra, sempre são dotados desses dois atributos. Todavia, o próprio legislador
autoriza, no art. 324, §1º, CPC, a formulação de pedido genérico, ou seja, de pedido ilíquido.
Observe essas hipóteses:
I. “Nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados”:
As ações universais são aquelas como a petição de herança, em que o herdeiro necessário é
deixado de fora da sucessão e vai a juízo reclamar seus direitos sucessórios não sabendo
quanto daquilo cabe a ele (é universalidade de bens), sua quota parte.
II. “Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou
do fato”: O legislador, aqui, fala de algo muito específico que é o ato ilícito (lesão não
contratual), pelo fato de que quando o autor ingressa com a ação, o dano ainda está sendo
produzido e continuará assim por muito tempo. É o caso dos danos materiais: lucros cessantes
e danos emergentes. A dimensão desses danos e as consequências desse ato não são
totalmente mensuráveis com o ajuizamento da ação, de modo que se ajuíza a demanda
requerendo tudo.
III. “Quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de
ato que deva ser praticado pelo réu”: Esse inciso trata das obrigações alternativas a
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serem adimplidas pelo réu no vencimento ou no implemento de uma condição, em que é ele
quem deve escolher. MAS ATENÇÃO! Isso não ocorre no processo do trabalho, que não
apresenta, em regra, obrigações alternativas.
Conforme o exposto, entende-se que, se o próprio pedido pode ser genérico, a sentença também
poderá. Uma sentença, quando totalmente procedente, tem que reproduzir os pedidos, não podendo
dar mais, menos ou diferente do que foi pedido. Se o pedido for genérico e já for hora de julgar a
causa, mas ainda não for possível a apuração do "quantum debeatur" da sentença, ela será mesmo
assim proferida. Acontece que, na hora de ser executada, deverá se tonar líquida primeiro,
interrompendo o fluxoprocessual.
➥ Obs. AN DEBEATUR é o que é devido (elemento qualitativo); QUANTUM DEBEATUR
é o quanto é devido (elemento quantitativo).
➥ Atenção! No processo do trabalho, no caso do procedimento sumaríssimo, é proibido o
pedido ilíquido, exigindo-se que na própria inicial os valores estejam liquidados.

✱ TIPOS DE LIQUIDAÇÃO (CLT x CPC): A CLT menciona 03 tipos de liquidação: liquidação


por cálculo, por título e por artigo (que é o atual por procedimento comum). Como já
vimos, a CLT é defasada em normas sobre liquidação de sentença, de forma quer devemos
recorrer ao CPC. Contudo, em alguns casos, o CPC não responderá a todos os questionamentos, a
exemplo da liquidação por cálculo.
Isso porque, no processo civil, o incidente de liquidação por cálculo deixou de existir, em
virtude do fato de que os fóruns não conseguiam dispor de contadorias suficientes para atender as
demandas. Assim, o CPC prevê apenas duas hipóteses de incidente de liquidação: a por arbitramento
e por procedimento comum (atenção! Há liquidação por cálculo no CPC, todavia, não há a
instauração de incidente de liquidação por cálculo. Isso porque, a liquidação por cálculo deverá ser
feita, necessariamente, pelo credor).
Em contrapartida, no processo do trabalho o incidente de liquidação por cálculo ainda existe
e pode, inclusive, ser determinado de ofício pelo juiz, que ao proferir uma sentença ilíquida, a remete
imediatamente às contadorias do Tribunal.

Natureza Jurídica
Como já visto, a liquidação de sentença é um INCIDENTE COGNITIVO, observando a lógica típica
da jurisdição cognitiva, seguindo as regras do devido processo legal, com amplo contraditório.
✱ JURISDIÇÃO COGNITIVA x JURISDIÇÃO EXECUTIVA: A jurisdição ou é cognitiva ou é
executiva/mandamental. Na cognição, o juiz declara o direito a quem pertence. Na jurisdição
executiva, promove-se a implementação dos efeitos práticos da decisão. A doutrina chama de
“acertamento” e “cumprimento” para falar da jurisdição cognitiva e executiva, respectivamente.
No caso da liquidação de sentença, essa mantém as características da cognição, vez que a decisão
nela proferida apresenta natureza de ser declaratória, traduzindo no mundo do direito o que é
aferível no mundo real, declarando o quantum debeatur.
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EM RESUMO: A liquidação de sentença é um incidente cognitivo que termina com uma


decisão de conteúdo e natureza declaratória.

ATENÇÃO! A liquidação de sentença, portanto, é uma MICROFASE cognitiva que se coloca na


confluência do final e início dessas fases cognitiva e executiva, corrigindo a deficiência da
iliquidez da sentença. Acontece, porém, que se o pedido for determinado e a sentença for ilíquida,
essa sentença será NULA. Ademais, sendo possível a determinação do pedido e o autor trazendo
pedido genérico, o juiz deverá dar prazo (15 dias) para emendar, sob pena de extinção sem
resolução do mérito (art. 321, CPC).

Objeto
O objeto da liquidação é a apuração do valor, podendo ser resumido como o quantum
debeatur. Não é possível apreciar, na liquidação, nada além disso, como por exemplo, qual a
quantidade da prestação.
➥ Atenção! §4º, art. 509, CPC: “Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou
modificar a sentença que a julgou”.
O artigo mencionado preocupa-se em explicitar que a liquidação não decidirá de novo a lide, nem
modificará a sentença, o que tem relação com a coisa julgada.
A sentença que valerá, é a do processo de conhecimento, que reconhece o an debeatur. A
liquidação apresenta uma sentença que é apenas um acessório da sentença da ação ‘principal’.
O legislador precisava fazer essa ressalva pelo fato de que o incidente de liquidação reabre,
de certa forma, a cognição após seu trânsito em julgado, correndo-se um risco de haver rediscussão
do mérito, pois nele se devolve a dialética, que é a marca registrada da jurisdição cognitiva, que
permite que se redesenhe contornos de controvérsia de toda ordem. Diante disso, o legislador chama
a atenção ao colocar que a cognição que se abre no incidente de liquidação é estreita, com
contraditório e dialética limitados apenas ao quantum,
não se discutindo a lide que o primevo julgador já julgou.

Legitimados
O Art. 509, do CPC, determina que: “Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,
proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor”.
Ao analisar essa norma sob a ótica processual trabalhista, deve-se lembrar que, no Processo do
Trabalho, a execução também pode ser promovida de ofício pelo juiz nos casos em que as partes
não estiverem representadas por advogado 7 , e, portanto, entende-se que nessas hipóteses, a
liquidação também poderá. Todavia, a regra é que a execução seja requerida pelas partes.

7
Art. 878, CLT: “A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente
do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado”.
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Ressalta-se, ainda, que a redação do art. 509 não se aproxima da realidade prática, pois não é de
interesse de um devedor (que já está devendo/inadimplente) requerer que sua prestação devida seja
liquidada, para depois ser executada, de modo que a previsão trazida pelo §1º, do art. 513, CPC é
mais adequada, pois coloca que a execução da sentença deve ser requerida pelo exequente, observe:
“O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou
definitivo, far-se-á a requerimento do exequente”.

Peculiaridades
✱ LIQUIDAÇÃO NA PENDÊNCIA DE RECURSO (Art. 512, CPC): “A liquidação poderá ser
realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem,
cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes”.
No CPC, a regra é que a Apelação seja sempre recebida no duplo efeito (devolutivo e suspensivo),
exceto se tratar de algumas das hipóteses previstas no §1º do art. 1012, no intuito de promover a
execução provisória. A grande vantagem da execução provisória é ganhar o tempo, adiantando o
incidente de liquidação. As únicas sentenças condenatórias cíveis que comportam execução
provisória são as que condenam alimentos ou as que confirmam ou concedem tutela provisória.
Todavia, para evitar o grande atraso dos processos que estão na pendencia de recurso, o art. 512
determinou que, em se tratando de sentença ilíquida, mesmo que dela tenho sido interposta apelação,
seu beneficiário em potencial poderá, mesmo na pendência do recurso, liquidá-la.
No processo do trabalho, ao contrário do processo civil, os recursos interpostos das sentenças
trabalhistas são sempre desprovidos de efeito suspensivo, tendo apenas efeito devolutivo,
conforme dispões o art. 899, CLT: “Os recursos serão interpostos por simples petição e terão
efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a
execução provisória até a penhora”.
Assim, as sentenças trabalhistas sempre podem ser objeto da execução provisória,
buscando-se, portanto, a efetividade.

✱ LIQUIDAÇAO PARCIAL (§1º, art. 509, CPC): “Quando na sentença houver uma parte líquida
e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos
apartados, a liquidação desta”.
Após o trânsito em julgado, a sentença pode ser parcialmente ilíquida (ex. condena-se o réu a
pagar os danos materiais causados ao autor, com todos os danos emergentes e os lucros cessantes,
que serão apurados em liquidação). A parte líquida já pode ser executada, enquanto a parte ilíquida
será liquidada em autos apartados.
➥ Atenção! A liquidação é sempre em 1º grau de jurisdição. Desse modo, mesmo que tenha
havido recurso, os autos retornarão ao juízo de piso para serem liquidados.

✱ LIQUIDAÇÃO FRUSTRADA OU LIQUIDAÇÃO ZERO: Ocorre quando na hora de apurar o


“quantum debeatur” descobre-se que não há valor para ser apurado (ex. O autor entrou em
juízo com pedido de adicional de insalubridade. O réu não se manifesta, sendo revel, e assim não
há perícia dessa insalubridade. O juiz sentencia e define que o quantum desse adicional será
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definido em liquidação, mas na liquidação, após a perícia, verifica-se que não há insalubridade;
ex2. As partes discutem as defasagens nos valores pagos de previdência complementar. Juiz
profere sentença favorável ao autor, mas de forma ilíquida. Na liquidação, percebe-se que o
reclamante já ganhava o teto dessa previdência, não tendo como haver diferença de valores).
Sucede, contudo, que o juiz não pode proferir decisão de improcedência na liquidação de
sentença, pois, se assim o fizesse, estaria modificando a sentença liquidanda (que diz ter o autor
“direito”).
Nessas situações, o juiz deve extinguir o incidente por sentença terminativa, sem resolver
o mérito, sob justificativa de ser impossível chegar num quantum debeatur, isentando de custas
tanto o autor quanto o réu e, deixando de forma facultativa que com novas provas, o autor possa
reingressar com a liquidação daquela sentença.
EM RESUMO: Na liquidação frustrada ou zero foi proferida uma sentença ‘injusta’, sendo uma
sentença ilíquida defeituosa, pois os elementos quantitativos, que em tese seriam acessórios, não são
acessórios como aparentam ser, de forma que não apenas qualificam o elemento qualitativo, mas
também ajudam a definir o próprio elemento qualitativo. Se o juiz, na hora de definir o “an
debeatur” se debruçasse sobre os elementos quantitativo, teria observado que o autor não teria
direito.

Modalidades de Liquidação da Sentença


Liquidação por Cálculos
A liquidação por cálculo é a modalidade mais simples de liquidação, mas isso não importa em
algo singelo, pois tais cálculos podem assumir uma grande complexidade, ainda mais num país como
o Brasil, marcado por várias alterações econômicas e padrões monetários. Nessa liquidação, os
dados/elementos necessários a apuração do quantum debeatur existem e estão ao
alcance dos sujeitos do processo.
Como no Processo do Trabalho entende-se que há um credor hipossuficiente por definição, que é
o trabalhador, não seria razoável que o Judiciário repassasse ao trabalhador o ônus de prover os
cálculos aritméticos (como ocorre com o credor do Processo Civil), de forma que no Processo do
Trabalho ainda há o incidente para a liquidação por cálculo.
Ademais, em tese, a Justiça do Trabalho é estruturalmente mais forte e mais aparelhada do que os
órgãos estaduais, podendo suportar o incidente de liquidação.
É justamente esses dois motivos que levam à CLT, no art. 879, falar nos 3 procedimentos de
liquidação, enquanto o art. 509, CPC, fala em apenas de dois, retirando o incidente de liquidação por
cálculo.

✱ PROCESSO CIVIL: O legislador, no §2º, do art. 509, CPC, atribuiu ao credor a iniciativa de
realizar o cálculo, assumindo ele próprio essa responsabilidade, de modo que a modalidade
cálculo é menos complexa.
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O §3º, art. 509, CPC8 traz o programa disponibilizado para a realização dos cálculos,
para sejam feitos sem a necessidade de contratar um contador, como uma saída do legislador para
minimizar o procedimento que ele adotou para a liquidação por calculo, que recai sobre o credor.
Como já visto, a liquidação por cálculo existe no processo civil, o que não existe é o incidente
cognitivo para liquidar a sentença por cálculo. Feito o cálculo, tal conta será anexada ao
requerimento que o credor precisa fazer para dar início a execução, de modo que tal conta
deve preencher os requisitos previstos na norma. O art. 523, CPC exige que haja um requerimento
expresso do exequente para iniciar a execução. Assim, tornada líquida a sentença, inicia-se a
execução. O juiz irá intimar o executado para pagar em 15 dias, sob pena multa de 10% e
honorários advocatícios (atos executórios).
➥ Questão! E o contraditório nessa liquidação por cálculo no CPC? O contraditório na
liquidação por cálculo do processo civil é diferido/dilatado. O devedor pode impugnar os
cálculos elaborados pelo credor unilateralmente em sede de IMPUGNAÇÃO. Essa discussão
tem que ser qualificada, não podendo apenas dizer que a conta esta errada, pois ele tem que
dizer onde está o erro e falar qual o valor correto, sob pena de indeferimento liminar da
impugnação, conforme coloca os §§4 e 4º, art. 525, CPC: §4º: “Quando o executado alegar
que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença,
cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado de seu cálculo”; § 5º: “Na hipótese do § 4º, não apontado o valor
correto ou não apresentado o demonstrativo, a impugnação será liminarmente rejeitada, se o
excesso de execução for o seu único fundamento, ou, se houver outro, a impugnação será
processada, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução”.
➥ Art. 524, §§1º e 2º, CPC:
§1º: “Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da
condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a
importância que o juiz entender adequada”.
§2º: “Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do juízo, que terá o
prazo máximo de 30 (trinta) dias para efetuá-la, exceto se outro lhe for determinado”.
A ideia do legislador nesses parágrafos é justamente evitar a criação de um incidente, atribuindo ao
juiz o dever de determinar como penhora a importância que entender adequada, caso desconfie da
conta do credor, podendo, ainda, encaminhar os autos a Contadoria do Juízo, para que o contador
judicial confira as contas apresentadas.

✾ APLICAÇÃO DO CPC AO PROCESSO DO TRABALHO (Art. 524, §3º, §4º e §5º):


§3º: “Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do
executado, o juiz poderá requisitá-los, sob cominação do crime de desobediência”.
§4º: “Quando a complementação do demonstrativo depender de dados adicionais em poder
do executado, o juiz poderá, a requerimento do exequente, requisitá-los, fixando prazo de até
30 (trinta) dias para o cumprimento da diligência”.

8
§3º, art. 509, CPC: “O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa
de atualização financeira”.
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§5º: “Se os dados adicionais a que se refere o §4º não forem apresentados pelo executado,
sem justificativa, no prazo designado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados
pelo exequente apenas com base nos dados de que dispõe”.
É comum que esses autos estejam em poder da empresa ou de terceiros (como o contador da
empresa, por exemplo). Assim, para fazer o cálculo, o credor poderá se fazer valer dessa
determinação judicial, de modo que o juiz irá intimar o devedor ou terceiro. No caso do terceiro, a
medida punitiva caso esse não traga os documentos, será a busca e apreensão. No caso do
executado, é possível aplicar o §5º, de modo que se reputarão corretos os cálculos
apresentados pelo exequente apenas com base nos dados de que dispõe.

✱ PROCESSO DO TRABALHO (Art. 879 e §§, CLT): Diferentemente do processo civil, aqui
há um incidente de liquidação por cálculo, ou seja, há uma atividade cognitiva. Nessa liquidação,
há a participação das partes até que se chegue o momento de o juiz proferir a decisão
homologando o cálculo de alguma das partes.
Os cálculos de liquidação, inclusive quanto às contribuições previdenciárias, poderão ser
apresentados pelas partes ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, ou pelo
perito na hipótese de cálculos complexos, a critério do juiz (art. 879, §§ 3º e 6º, CLT), que,
preferencialmente (é uma faculdade, não uma obrigação), deverá intimar as partes para
apresentá-lo (art. 879, § 1º-B, da CLT).
➥ Questão! Durante o incidente de liquidação por cálculo no processo do trabalho, então, o
credor pode elaborar sua conta? Sim. Nessa hipótese, o juiz deve intimar a parte contrária
para se manifestar e se deseja apresentar sua própria conta. Apresentado o cálculo também pelo
devedor, o juiz irá se manifestar sobre qual conta é mais adequada, homologando-a. Verifica-se,
portanto, que a diferença do processo civil para o processo do trabalho é que a conta
apresentada pelo credor, no processo do trabalho, não serve para instruir a execução.
➥ Questão2! Essa abertura de vista para as partes pode também ocorrer quando os
cálculos forem feitos pela contadoria (do Juízo ou perito)? Sim, consoante prevê o Art. 879,
§2º, que determina: “Elaborada a conta e tornada líquida, o juízo deverá abrir às partes
prazo comum de oito dias para impugnação fundamentada com a indicação dos
itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão”.
Isso significa que, intimada as partes sobre a conta realizada pelo contador judicial, porém passado o
prazo de 8 dias, irá incidir a preclusão. Ademais, se as partes não impugnarem de forma
fundamentada com a elaboração da conta que considera correta, também irá incidir a preclusão. O
efeito dessa preclusão é não poder mais discutir no processo o acervo da conta realizada pelo
contador judicial ou pelo perito.
➥ Mas atenção! Antes da Reforma, o juiz tinha a faculdade, isto é, a escolha de abrir prazo para
impugnação. Se fosse dado tal prazo, este seria de 10 dias, sob pena de preclusão, caso a parte
não se manifeste. Atualmente, porém, o juiz deverá intimar as partes para, no prazo de 8 dias
(rito ordinário) se manifestar sobre o cálculo, sob pena de preclusão, não podendo reclamar
depois dos valores. Assim, hoje é uma obrigação do juiz intimar as partes para se
manifestarem sobre os cálculos realizados pela contadoria ou perito.
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➥ Importante! Art. 884, CLT: “Garantida a execução ou penhorados os bens, terá o


executado 5 (cinco) dias para apresentar embargos, cabendo igual prazo ao
exequente para impugnação”.
O processo do trabalho traz um contraditório exaustivo, sendo possível ao devedor, em caso de
garantia integral do juízo, apresentar embargos à execução. Cumpre ressaltar, neste ponto, que o
prazo não é mais de 5 dias, conforme estipula o art. 884 da CLT, mas sim de 30 dias, tendo em vista
que o STF julgou recentemente uma ADIN dizendo que o prazo é de 30 dias.
➥ Questão3! É possível recorrer da Decisão proferida pelo juiz em sede de incidente de
liquidação? No processo do trabalho não é possível recorrer, de imediato, da decisão proferida
pelo juiz no incidente de liquidação, pois as decisões interlocutórias são irrecorríveis9. Para as
partes se defenderem da Decisão proferida pelo juiz em sede de
incidente de liquidação, no processo do trabalho, deverão aguardar a garantia da execução
ou a penhora dos bens (mandado de citação, penhora e avaliação), começando, a
partir de então, a correr o prazo de 30 dias para apresentação de embargos ou
impugnação a liquidação.
Ato contínuo, o juiz proferirá uma Sentença na Execução (mantendo ou não a decisão anterior
da liquidação), abrindo prazo para as partes inconformadas apresentarem Agravo de Petição,
direcionado ao Tribunal.
➥ IMPORTANTÍSSIMO! Quando as partes perderem o prazo de 8 dias determinado no
§2º, do art. 879, CLT, preclui seu direito de rediscutir os cálculos. Assim, as partes não
poderão alegar, posteriormente, em sede de embargos/impugnação à execução o excesso da
execução.

EM RESUMO:
Na liquidação não será possível modificar ou inovar a sentença liquidanda, nem discutir
matéria pertinente à causa principal (art. 879, § 1º, da CLT). Se o magistrado modificar a sentença,
estará violando a coisa julgada, sendo possível arguir o art. 5º, inciso XXXVI, da CRFB.
Após a apresentação dos cálculos pela contadoria do Juízo ou pelo perito, o juiz deverá permitir
a manifestação das partes quanto aos cálculos no prazo comum de 8 dias, sob pena de
preclusão (art. 879, § 2º, CLT) (ex. se depois o executado apresentar embargos à execução, não
poderá mais impugnar os cálculos). Em seguida, nos termos do § 3º, art. 879, CLT, a União será
intimada para se manifestar, no prazo de 10 dias, em relação às contribuições previdenciárias, sob
pena de preclusão.
Após o retorno, os autos serão conclusos para apreciação dos cálculos pelo juiz, que em seguida
proferirá a decisão de liquidação. Proferida a decisão, é expedido mandado de citação e
penhora, a ser cumprido por oficial de justiça (art. 880, § 2º, CLT), para que o executado pague
ou garanta o juízo, no prazo de 48 horas. Para garantia do juízo, o executado poderá depositar
o valor da execução, nomear bens à penhora ou oferecer seguro-garantia judicial (art. 882,
CLT).

9
≠ do processo civil, em que a decisão é recorrível por intermédio de Agravo de Instrumento (Art. 1015).
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Caso o executado não pague ou garanta o juízo, o juiz mandará penhorar tantos bens quantos
bastem para a garantia do juízo (art. 883 do CLT), observada a ordem de penhora prevista no art. 835
do CPC.
Garantido o juízo, o executado terá 30 dias para apresentar EMBARGOS À EXECUÇÃO, e
o exequente, o mesmo prazo para apresentar IMPUGNAÇÃO À LIQUIDAÇÃO, sendo ambas as
petições endereçadas ao juiz da execução.
Após a manifestação das partes por meio de embargos à execução e impugnação à liquidação, o
juiz proferirá decisão definitiva na execução (sentença na execução - art. 884, § 4º, CLT), na
qual serão julgados, concomitantemente, os embargos e a impugnação. A sentença na execução
poderá ser impugnada por meio de AGRAVO DE PETIÇÃO (art. 897, “a”, CLT).

Sentença (ilíquida)  Liquidação  Manifestação das Partes  Intimação da União 


Decisão de Liquidação  Mandado de Citação e Penhora  Garantia em juízo  Embargos
à Execução (executado) ou Impugnação à Liquidação (exequente)  Sentença na
Execução  Agravo de Petição (TRT)

Liquidação por Arbitramento


A liquidação por arbitramento consiste em exame pericial, de pessoas ou coisas, com a finalidade de
apurar o quantum relativo à obrigação pecuniária que deverá ser adimplida pelo devedor, ou, em
determinados casos, de individualizar, com precisão, o objeto da condenação (ex. perda de um braço.
Para calcular quanto deverá ser pago, deve-se analisar as condições particulares do sujeito. Isso
porque, para um pianista ou um pedreiro, a perda de um braço pode gerar mais prejuízos do que para
um juiz).
Ressalte-se, desde já, que liquidação por arbitramento própria ocorre quando o juiz nomeia o
perito e fixa o prazo para a entrega do laudo pericial, conforme estabelece o art. 510, CPC: “Na
liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou
documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará
perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial”.
➥ ≠ de liquidação por arbitramento imprópria (Art. 879, §6º, CLT): “Tratando-se de
cálculos de liquidação complexos, o juiz poderá nomear perito para a elaboração e
fixará, depois da conclusão do trabalho, o valor dos respectivos honorários com
observância, entre outros, dos critérios de razoabilidade e proporcionalidade”.
(obs. a liquidação por arbitramento em sentido impróprio, no processo civil, ocorre quando as
partes acordarem no contrato celebrado, por meio de cláusula, que a liquidação será realizada
por arbitramento. Essa cláusula, porém, não pode ser aplicada ao processo do trabalho, pois
é considerada abusiva dada a relação trabalhista com uma das partes hipossuficiente).

Apesar de ser aplicada a essa modalidade de liquidação, no que couber, aquilo que está previsto para
a perícia como prova judiciária, há diferença na natureza de ambas as perícias. Enquanto a
perícia realizada no curso do processo como prova judiciária possui natureza probatória, a perícia na
liquidação por arbitramento é o próprio procedimento de
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liquidação de sentença. Nesse momento, portanto, não se busca mais o reconhecimento do


direito, mas demonstrar, por assim dizer, o quanto tal direito, já reconhecido, foi violado. O modo
de ser feita essa perícia, no entanto, é o mesmo em ambos os casos (o procedimento é o mesmo:
participação das partes, dever de fundamentação/explicação do
perito, responsabilidade a qual ele está sujeito, etc).
Quando o perito apresentar o laudo, as partes poderão impugnar o laudo, os assistentes técnicos
poderão elaborar seus pareceres e o juiz irá proferir decisão de liquidação, ou seja, irá determinar o
quantum debeatur.

Liquidação por Procedimento Comum


Impõe-se a liquidação pelo procedimento comum quando há necessidade de alegar e provar
“fatos novos”, para quantificar ou individualizar o objeto da condenação (art. 509, II,
CPC), tendo em vista que os dados não existem. Quando o legislador utiliza o termo “fatos
novos”, em verdade, quis dizer que não existem dados e, portanto, devem ser criados. Após a
apresentação dos cálculos pelo requerente, o juiz determinará a intimação do requerido, na
pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para,
querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do art. 511,
CPC: “Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do
requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver
vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias
observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial
desse
Código”.

Na liquidação de sentença por procedimento comum a cognição será percorrida em dois estágios
diferentes. No primeiro o juiz irá percorrer os aspectos qualitativos da causa (é uma nova fase
cognitiva, mas sem rediscutir o an debeatur) e no segundo os aspectos quantitativos. Após, parte-se
para a execução (ex. de sentença ilíquida, liquidável pelo procedimento comum: Uma barragem de
uma propriedade rural transborda, sendo a água despejada na propriedade vizinha, destruindo toda a
lavoura. A vítima desse episódio vai a juízo postular reparação por responsabilidade civil do réu. O
juiz condena o réu (todos os elementos qualitativos se encontram claros) proferindo sentença
ilíquida. Ao transitar em julgado essa sentença, será necessário liquidá-la pelo procedimento comum,
pois não houve ainda a oportunidade de tratar a questão quantitativa desse dano. Antigamente, essa
modalidade era chamada de “liquidação por artigos”, pois nesta modalidade deve ser apresentada uma
petição inicial articulada (o autor que já obteve êxito na condenação do réu, terá que informar em sua
petição inicial apenas elementos quantitativos)).

➥ Atenção! As sentenças coletivas que envolvem direitos individuais homogêneos,


necessariamente são liquidadas por intermédio do procedimento comum (ex. Ação Civil
Pública de interesses individuais homogêneos, a fase de liquidação é feita dessa forma.
Cada um dos titulares do direito lesado e reconhecido deverá ajuizar essa ação de liquidação,
para demonstrar o porquê de estarem incluídos dentro do direito lesado).
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Unidade 3 – Cumprimento de Sentença


Introdução
✱ SINCRETISMO PROCESSUAL: Como já estudado, o processo se tornou sincrético quando
passou a ser um só, compreendendo fases, uma de cognição e outra de execução. Antes,
tinha-se um processo de cognição e outro processo de execução.

✱ CONTEXTO HISTÓRICO:
✾ ROMA ANTIGA: O ato de dizer o direito era uma incumbência de ordem privada, portanto,
o juiz era um árbitro (judex), que formava um pacto formal documentado (litiscontestatio)
entre as partes.
Assim, toda vez que as partes tinham litígios para serem resolvidos sobre uma pretensão
condenatória obrigacional, elegiam um árbitro privado, a quem competia decidir a causa. A partir
daquele pacto, não se podia inovar os sujeitos e o objeto da causa, de modo que, se o réu
descumprisse o pacto (litiscontestatio), o autor precisava se dirigir ao pretor (judicium), uma
autoridade pública revestida de poder de império que exercia jurisdição estatal, fazendo com que a
sentença fosse cumprida. Essa segunda ação se chamava actio judicati, sendo uma ação executiva
autônoma, porque o árbitro não tinha autoridade de fazer valer a sua sentença.
Percebe-se, então, que nesse momento nasce a ideia de que o processo de conhecimento é
separado do processo de execução.
✾ IMPÉRIO: Posteriormente, na República Romana, o pretor passou a assumir a
responsabilidade de julgar a causa e executá-la – “iudicio” e “executio” (antes, como
visto, o pretor somente executava).
Apesar de o pretor ser, nesse momento, integralmente responsável pelas duas atividades processuais
(jurisdição), os romanos mantiveram a actio judicati, continuando com a necessidade de duas ações,
mesmo que presididas pelo mesmo responsável.
✾ BAIXA IDADE MÉDIA: Na Baixa Idade Média, quando Roma foi invadida pelos
bárbaros, houve uma mistura de tradições, ocorrendo o surgimento de uma cláusula chamada de
executio per officium judicis, prática dos povos germânicos de responder o juiz
automaticamente pela implementação da sentença proferida. Assim, essa cláusula apresenta
a possibilidade de o juiz promover ex officio, de forma automática, a execução de sua própria
sentença. Essa cláusula marca o rompimento da tradição Roma, pois representa o sincretismo
processual.
✾ IDADE MODERNA: Ao final da Idade Média, retorna-se ao modelo romano (actio
judicati), principalmente por conta do surgimento dos títulos de crédito, as cambiais, que
detinham força executiva análoga a uma força executiva de sentença judicial (executio
parata). Assim, o processo de execução que havia sido eliminado volta a existir para dar
efetividade aos títulos cambiais.
✾ REVOLUÇÃO FRANCESA: O Código Napoleônico resgata a ideia de actio judicati. A
sentença proferida pelo juiz é um título executivo, mas como qualquer outro título
Direito Processual do Trabalho 2 – 1º Bimestre – Thalita M. Bortoloso | 19

executivo, precisava de uma ação executiva, extinguindo de vez com a ideia do executio per
officium judicis.
✱ BRASIL: O modelo previsto no Código Civil Brasileiro decorre das duas correntes (actio
judicati + executio per officium judicis). Isso ocorre porque, embora se tenha um novo
sincretismo, ainda sim exige-se requerimento do exequente para instaurar a execução
(Art. 524, CPC). Desta forma, não é um processo verdadeiramente sincrético, mas também não se
assemelha à actio judicati.
➥ Atenção! O verdadeiro processo sincrético exista no processo do trabalho até a reforma, que
acaba com a execução de ofício (exceto nos casos em que as partes não estejam representadas
por advogado).

Sincretismo Processual
O sincretismo processual é traduzido nas tutelas mandamentais e executivas lato sensu.
✱ AÇÃO EXECUTIVA LATO SENSU: Ações que recaem sobre coisas e não obrigações. O
juiz tem o poder de instaurar o ato executivo de ofício, não precisando haver requerimento
da parte. O ato de julgar é acoplado ao ato executivo, já que o juiz julga para dar ao autor
determinada coisa, e não para condenar. Aqui, verifica-se o sincretismo (ex. Reivindicatória;
reintegração de posse; depósito; busca e apreensão de bem fiduciário alienado; ação do
comodante para recuperar o bem em comodato; despejo; nunciação de obra nova para efeito
demolitório; petição de herança; imissão de posse, divisão, demarcação e para restituição de
coisas infungíveis).
✱ AÇÃO MANDAMENTAL: O juiz ordena ao réu determinada coisa, sendo que esse não
tem outra saída a não ser acatar. Não há condenação, ou cumprimento de determinada obrigação,
mas apenas um mandamento (ex. Mandado de Segurança; cautelares nominadas; possessórias de
manutenção e interdito proibitório).
➥ Atenção! Direitos Relativos X Direitos Absolutos: Os direitos relativos (pessoais),
refletem pessoas, enquanto os direito absolutos (reais) refletem coisas.
Os Romanos entendiam que aquele que ingressassem com “vindicatio” (ação mais forte – continha
a cláusula executio per officium judicis) estava ingressando com ação real e aquele que estava
ingressando com ação pessoal ingressava com a “actio” (ação mais fraca).
➥ Civil Law X Common Law: No Brasil, a inspiração de jurisdição é baseada no “Civil
Law” (juiz fraco, que condena, mas não ordena), enfrentando a execução no Brasil sérios
problemas, vez que depende do instituto da penhora.
Já nos países de cultura anglo saxônica (common law), o nível de efetividade das execuções é muito
maior, pois lá é possível prender o devedor que não cumpre a decisão. Nesses países, há o chamado
Specific performance, na qual se exige que a obrigação por parte do devedor seja satisfeita
exatamente da maneira como restou assumida, só permitindo perdas e danos em último caso.
Entretanto, o Código Brasileiro trouxe alguns avanços em termos de técnica executiva, admitindo
outros institutos que não somente a penhora, desde que utilizados corretamente e com
responsabilidade (exs. possibilidade de levar a sentença a protesto; negativar o devedor nos
órgãos de proteção ao crédito; reter o passaporte; etc.).
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Unidade 4 – Processo de Execução Trabalhista


Paralelo entre Cognição e Execução
➥ Questão! A primeira pergunta a se fazer, quando se fala em Execução de Sentença é: Há
CONTRADITÓRIO na fase de execução? Sabe-se que o contraditório é formado pelo binômio:
informação e participação-reação. Portanto, é o direito de todos serem informados de
tudo aquilo que acontece no processo e que possam afetar os seus direitos. Ademais, em razão
dessa informação, surge a possibilidade real da parte reagir, resguardando seus interesses
afetados.
Existe contraditório na execução, mas esse não é dialético (em que se discute quem é o devedor),
sendo, em verdade, um contraditório funcional / operacional, já que o devedor somente pode se
defender a partir de fatos que traduzem a nulidade, inexistência ou desvios de atos
executivos, não podendo alegar que não deve. Cabe ao devedor apenas impugnar o título.

➥ Questão2! Há LIDE na fase de execução? É uma lide executiva, já que existe uma
resistência do devedor ao cumprimento espontâneo da condenação que lhe foi firmada.

➥ Questão3! Há IGUALDADE SUBSTANCIAL DAS PARTES na fase de execução? A


igualdade das partes NÃO está presente na execução de sentença. Isso porque a execução
apenas tem um único desfecho racionalmente justificável, qual seja, satisfazer o
interesse do credor. Dessa forma, a execução será totalmente voltada para atender os
interesses do credor, com a consequente perseguição do devedor, não sendo possível falar em
igualdade das partes.
≠ da fase de cognição, em que há a ideia de igualdade, dando as partes iguais oportunidades para
defenderem seus interesses em juízo.

Execução de Título Judicial X Título Extrajudicial


A diferença entre essas execuções é metodológica, observe:
✱ TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL: Quando a execução é de titulo executivo judicial, trata- se,
na verdade, do chamado cumprimento de sentença, em que cabe ao devedor apenas
impugnar a execução, nas hipóteses previstas no art. 525, §1, CPC 10 (ex. atacar o título, o
processo, a execução ou atos processuais praticados na execução).
As questões que podem ser levantadas pelo devedor não tratam de matéria de defesa, mas sim
de ORDEM PÚBLICA, envolvendo temas de inexistência ou nulidades absolutas.

10
Art. 525, § 1º, CPC: “Na impugnação, o executado poderá alegar: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de
conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da
obrigação; IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI
- incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação,
como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença”.
Direito Processual do Trabalho 2 – 1º Bimestre – Thalita M. Bortoloso | 21

Entende-se, portanto, que o devedor não se defende, mas na realidade ATACA o próprio título
executivo (pode atacar a execução como um todo ou certos atos).

✱ TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL: Aqui, há uma atividade processual autônoma


(e não uma fase processual), que se traduz num processo autônomo. Caso esse processo seja
embargado, assumirá a forma de um processo cognitivo, com a possibilidade de ampla defesa
do devedor (e não apenas um contraditório funcional).
Assim, apesar de nesses casos o processo já se iniciar pela fase de execução, não é retirado do
suposto devedor a possibilidade de se instaurar uma fase cognitiva.

Paralelo entre Processo Civil e Processo do Trabalho


Após a reforma trabalhista, deixa de existir a execução e ofício que antes era prevista no art. 878.
Atualmente, as diferenças entre a execução no Processo Civil para a execução no Processo do
Trabalho são muito pequenas.
Enquanto o art. 523, CPC, diz que deve haver o requerimento do credor e intimação do
advogado do devedor, o art. 880, CLT determina que também será necessário o requerimento
da execução pelo credor, contudo, haverá um mandado de citação pessoal do executado.
Além disso, no âmbito do processo trabalho, para que o devedor se manifeste, esse precisará
sofrer atos expropriatório de penhora (a menos que se manifeste sobre algo muito pertinente à
penhora). Por outro lado, no processo civil é possível que o devedor se manifeste, sem ter bens
penhorados.
Por fim, enquanto os embargos à execução no Processo do Trabalho suspendem a
execução, a impugnação à execução, no processo civil, não suspenderá. Nessa ultima hipótese,
poderá o juiz atribuir efeito suspensivo à impugnação do devedor, desde que haja penhora e o
devedor apresente motivos relevantes para que esse efeito seja atribuído (art. 525, §6º).

EM RESUMO:
PROCESSO DO TRABALHO PROCESSO CIVIL

É preciso de requerimento do credor para


iniciar a execução (com exceção de quando as É preciso de requerimento do credor para
partes não estiverem representadas por iniciar a execução.
advogado, que o juiz pode iniciar de ofício)
Embargos Impugnação
Há efeito suspensivo Não há efeito suspensivo
Não há garantia do juiz para embargar nem
Há a exigência da penhora para impugnar para impugnar já que não há mais efeito
suspensivo.
Direito Processual do Trabalho 2 – 1º Bimestre – Thalita M. Bortoloso | 22

Princípios da Execução
✱ PRINCÍPIO DO DESFECHO ÚNICO: O único desfecho esperado para a execução é a
satisfação do credor.
A execução chega a seu final normal quando é bem-sucedida, isto é, quando se verifica a entrega ao
Exequente de exatamente aquilo que receberia se não necessitasse do processo de execução.
A execução é toda voltada paro o credor, em detrimento do devedor. Se o devedor diante da
obrigação, objeto de acertamento do título, não a satisfaz, a execução é posta para substituir a
vontade resistida do devedor em satisfazer a prestação devida. Essa substituição ocorre por atos de
força, o forçando a fazer atos capazes de satisfazer a obrigação em favor do credor.
➥ Princípio da audiência bilateral: há lide executiva, mas não a lide convencional; ele
justifica determinadas condutas do juiz na execução (ex. multa ao devedor caso desvie os bens).
➥ Atentado à dignidade da justiça - Fraude à execução: art. 774, I, CPC, que estipula
multa de 10% e pagamento de honorários de 10%.

✱ PRINCÍPIO REAL DA EXECUÇÃO (execução patrimonial): Somente o patrimônio do


devedor, ou de terceiros responsáveis, pode ser objeto da atividade executiva. A humanização do
direito trouxe consigo este princípio, que determina que só o patrimônio, e não a pessoa,
submete-se à execução.
Toda execução é real, sendo preciso observar, ainda, que o desenvolvimento humanista da execução
não se deteve nesse ponto de limitar a responsabilidade patrimonial ao valor da dívida, progredindo
até ser criada a impenhorabilidade de certos bens, consoante se vê no próprio Art. 789, CPC:
“O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de
suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei” (que são os casos de
impenhorabilidade).
✾ Exceções:
 Art. 824, CPC: “A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de
bens do executado, ressalvadas as execuções especiais”.
As Execuções especiais são aquelas em que não se utiliza a lógica sub-rogatória (penhora)
e expropriatória de bens (exs. Execução de alimentos, já que pode prender o devedor;
Execução contra a Fazenda Pública, que se processa pela técnica do precatório).
 Art. 139, IV, CPC: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste
Código, incumbindo-lhe: determinar todas as medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de
ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária”.
Medidas Indutivas: São aquelas capazes de induzir o devedor a satisfação a prestação
(ex. multa);
Medidas Coercitivas: São aquelas que se utilizam da força (ex. Execução de alimentos, em que
se pode prender o devedor);
Direito Processual do Trabalho 2 – 1º Bimestre – Thalita M. Bortoloso | 23

Medidas Mandamentais: são aquelas que ordenam (ex. devedor de cartão de crédito - juiz
apreende o cartão de crédito).
➥ Mas atenção! Esse tipo de linguagem não permite, em substância, mudar a ordem
lógica da execução. Isso porque, na hora de executar, se o credor não cumprir, a obrigação é
convertida em perdas e danos e a execução será de quantia certa, com a realização da
penhora. Assim, para a execução, temos que ir no art. 789, CPC.

✾ Suspensão da Execução (art. 921, III, CPC): “Suspende-se a execução: III - quando o
executado não possuir bens penhoráveis”.
O inciso III determina que a ausência de bens penhoráveis não é motivo para extinguir a execução,
mas sim para suspende-la, pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual também se suspenderá a
prescrição (§1º, art. 921, CPC).
➥ Atenção! Prescrição Intercorrente: Deve-se lembrar que a Reforma Trabalhista
inseriu expressamente a prescrição intercorrente no Processo do Trabalho, no dispositivo 11-
A, da CLT, que determina: “Ocorre a prescrição intercorrente no processo do trabalho
no prazo de dois anos”.
Assim o prazo máximo da suspensão pela ausência de bens penhoráveis será de 1 ano, período no
qual não correrá a prescrição intercorrente. Passado tal período, sem que seja encontrado nenhum
bem, começará a correr o prazo prescricional de 2 anos, ao fim do qual, o processo será extinto.
Por fim, ressalta-se que a prescrição intercorrente pode ser requerida ou declarada de ofício
em qualquer grau de jurisdição (§2º, art. 11-A, CLT).

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