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Bortoloso | 1
Ação de Cumprimento
Art. 872, CLT: “Celebrado o acordo, ou transitada em julgado a decisão, seguir-se-á o seu
cumprimento, sob as penas estabelecidas neste Título”.
Parágrafo único: “Quando os empregadores deixarem de satisfazer o pagamento de salários, na
conformidade da decisão proferida, poderão os empregados ou seus sindicatos, independentes
de outorga de poderes de seus associados, juntando certidão de tal decisão, apresentar reclamação
à Junta ou Juízo competente, observado o processo previsto no Capítulo II deste Título, sendo
vedado, porém, questionar sobre a matéria de fato e de direito já apreciada na decisão”.
✱ LEGITIMADOS:
✾ LEGITIMAÇÃO ATIVA: Apesar do paragrafo único, art. 482, CLT, estabelecer como
legitimados os empregados ou seus sindicatos, a norma está errada, isso porque os
empregados não podem ajuizar ação de cumprimento, mas tão somente os sindicatos
dos trabalhadores afetados pelo descumprimento da norma (pois, é uma ação coletiva).
Quando o sindicato deixar de ajuizar ação de cumprimento em benefício do empregado, esse até
poderá reclamar em juízo, mas por meio da reclamação trabalhista, que é uma ação individual, e não
por meio de ação de cumprimento.
EM RESUMO: Somente os sindicatos são legitimados ativos para ajuizar ação de cumprimento,
no intuito de resguardar a eficácia da norma coletiva sem submeter os empregados a retaliação
patronal.
➥ Mas atenção! Legitimação extraordinária do sindicato: Originalmente, a ação de
cumprimento somente poderia ser ajuizada pelo seu Sindicato em face de seus associados,
pois o legislador havia vinculado a substituição processual somente em benefício dos
associados. Atualmente, porém, não é mais necessário haver uma relação jurídica
associativas entre o substituto e o substituído. A CRFB/88, em seu art. 8º, III, retirou a ideia de
que somente os associados fossem substituídos processualmente, mas sim, toda a categoria
(de todo trabalhador da categoria, seja associado ou não), ampliando-se, assim, a legitimação
extraordinária do sindicato.
✾ LEGITIMAÇÃO PASSIVA: Somente o empregador pode descumprir norma coletiva,
vez que o beneficiário da norma coletiva é sempre o trabalhador (não há norma coletiva
impondo deveres aos empregados, mas apenas aos empregadores).
Acontece que a obrigação de pagar/dar do empregador estará sempre prevista na lei ou na norma
coletiva ou regulamento da empresa, sendo sempre identificável. Por outro lado, obrigação de fazer
do empregado não é possível escriturar humanamente, de modo que a norma coletiva gera sempre
um encargo e dever a ser satisfeita pelo empregador.
Questão! É possível o litisconsórcio passivo em uma ação de cumprimento? Não. O sujeito
passivo que é legitimado passivo na ação de cumprimento é sempre certo e determinado, ou seja, é o
empregador isoladamente considerado, que esteja a descumprir norma coletiva de seus
empregados e somente dos seus empregados (ex. CCT entre sindicato dos professores e instituições de
ensino superior. FDV e Emescam descumprem a norma do 14o salário. Não pode o sindicato dos
professores ajuizar uma mesma ação de cumprimento em face da FDV e da Emescam. Nem mesmo
dois professores, um da FDV e outro da Emescam, podem, individualmente, mas em litisconsórcio
ativo, ajuizar reclamação em face de FDV e Emescam).
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✱ COMPETÊNCIA: A norma celetista diz que a ação de cumprimento será proposta perante a
Junta ou juízo competente. Ao contrário do dissídio coletivo cuja competência originária é dos
Tribunais, na ação de cumprimento há uma jurisdição natural, ou seja, as ações de
cumprimento irão ingressar no primeiro grau de jurisdição.
natureza transitória e a projeção da dos seus efeitos para o futuro. A coisa julgada formal significa
dizer que no processo não cabe mais recurso, ou seja, é a imutabilidade da sentença nos
próprios autos.
Cumpre frisar, ainda, que a sentença normativa é dotada da característica da cláusula rebus sic
stantibus, exposta no art. 505, CPC 6 . Tal norma determina que as coisas pactuadas devem
permanecer na forma em que foram pactuadas, salvo se as condições originárias forem
modificadas, o que permite a sua alteração.
Não é que as sentenças normativas não transitam em julgado materialmente, pois há o transito em
julgado, só que elas sofrem uma volatilidade, ou seja, uma coisa material volátil/ flexível (é a
mesma situação que ocorre, por exemplo, com a ação de alimentos, ação de adicional de
insalubridade etc.).
A sentença normativa produz efeitos necessariamente para o futuro, de forma que ela não
tem a eficácia de coisa julgada material nos termos que o legislador coloca, pois está sujeita a
uma relativização que é própria às tutelas coletivas, como uma forma que o legislador encontrou de
prestigiar a norma coletiva heterônoma.
EM RESUMO: Não é correto chamar “coisa julgada material” da sentença normativa, fala- se em:
limitação legal da matéria controvertida, de modo que se já foi ventilado a matéria na
sentença normativa e a parte invocar isso, o julgado deve decretar a preclusão. Então, por mais que
seja um instituto análogo a coisa julgada material, não é correto essa aplicação em relação sentença
normativa. Sendo assim, pode-se dizer que a sentença normativa apenas faz coisa julgada
formal e possui uma limitação legal da matéria controvertida.
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Art. 505, CLT: “Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se,
tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que
poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença”.
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✱ SENTENÇA E PEDIDO: O art. 322, CPC traz dois atributos cumulativos do pedido, que deve
ser certo e determinado.
Um pedido certo é aquele que permite perceber, ao primeiro olhar, o que o autor pretende na
ação. Já um pedido determinado é quando se percebe o quanto daquilo que ele quer.
Os pedidos, em regra, sempre são dotados desses dois atributos. Todavia, o próprio legislador
autoriza, no art. 324, §1º, CPC, a formulação de pedido genérico, ou seja, de pedido ilíquido.
Observe essas hipóteses:
I. “Nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados”:
As ações universais são aquelas como a petição de herança, em que o herdeiro necessário é
deixado de fora da sucessão e vai a juízo reclamar seus direitos sucessórios não sabendo
quanto daquilo cabe a ele (é universalidade de bens), sua quota parte.
II. “Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou
do fato”: O legislador, aqui, fala de algo muito específico que é o ato ilícito (lesão não
contratual), pelo fato de que quando o autor ingressa com a ação, o dano ainda está sendo
produzido e continuará assim por muito tempo. É o caso dos danos materiais: lucros cessantes
e danos emergentes. A dimensão desses danos e as consequências desse ato não são
totalmente mensuráveis com o ajuizamento da ação, de modo que se ajuíza a demanda
requerendo tudo.
III. “Quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de
ato que deva ser praticado pelo réu”: Esse inciso trata das obrigações alternativas a
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serem adimplidas pelo réu no vencimento ou no implemento de uma condição, em que é ele
quem deve escolher. MAS ATENÇÃO! Isso não ocorre no processo do trabalho, que não
apresenta, em regra, obrigações alternativas.
Conforme o exposto, entende-se que, se o próprio pedido pode ser genérico, a sentença também
poderá. Uma sentença, quando totalmente procedente, tem que reproduzir os pedidos, não podendo
dar mais, menos ou diferente do que foi pedido. Se o pedido for genérico e já for hora de julgar a
causa, mas ainda não for possível a apuração do "quantum debeatur" da sentença, ela será mesmo
assim proferida. Acontece que, na hora de ser executada, deverá se tonar líquida primeiro,
interrompendo o fluxoprocessual.
➥ Obs. AN DEBEATUR é o que é devido (elemento qualitativo); QUANTUM DEBEATUR
é o quanto é devido (elemento quantitativo).
➥ Atenção! No processo do trabalho, no caso do procedimento sumaríssimo, é proibido o
pedido ilíquido, exigindo-se que na própria inicial os valores estejam liquidados.
Natureza Jurídica
Como já visto, a liquidação de sentença é um INCIDENTE COGNITIVO, observando a lógica típica
da jurisdição cognitiva, seguindo as regras do devido processo legal, com amplo contraditório.
✱ JURISDIÇÃO COGNITIVA x JURISDIÇÃO EXECUTIVA: A jurisdição ou é cognitiva ou é
executiva/mandamental. Na cognição, o juiz declara o direito a quem pertence. Na jurisdição
executiva, promove-se a implementação dos efeitos práticos da decisão. A doutrina chama de
“acertamento” e “cumprimento” para falar da jurisdição cognitiva e executiva, respectivamente.
No caso da liquidação de sentença, essa mantém as características da cognição, vez que a decisão
nela proferida apresenta natureza de ser declaratória, traduzindo no mundo do direito o que é
aferível no mundo real, declarando o quantum debeatur.
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Objeto
O objeto da liquidação é a apuração do valor, podendo ser resumido como o quantum
debeatur. Não é possível apreciar, na liquidação, nada além disso, como por exemplo, qual a
quantidade da prestação.
➥ Atenção! §4º, art. 509, CPC: “Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou
modificar a sentença que a julgou”.
O artigo mencionado preocupa-se em explicitar que a liquidação não decidirá de novo a lide, nem
modificará a sentença, o que tem relação com a coisa julgada.
A sentença que valerá, é a do processo de conhecimento, que reconhece o an debeatur. A
liquidação apresenta uma sentença que é apenas um acessório da sentença da ação ‘principal’.
O legislador precisava fazer essa ressalva pelo fato de que o incidente de liquidação reabre,
de certa forma, a cognição após seu trânsito em julgado, correndo-se um risco de haver rediscussão
do mérito, pois nele se devolve a dialética, que é a marca registrada da jurisdição cognitiva, que
permite que se redesenhe contornos de controvérsia de toda ordem. Diante disso, o legislador chama
a atenção ao colocar que a cognição que se abre no incidente de liquidação é estreita, com
contraditório e dialética limitados apenas ao quantum,
não se discutindo a lide que o primevo julgador já julgou.
Legitimados
O Art. 509, do CPC, determina que: “Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida,
proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor”.
Ao analisar essa norma sob a ótica processual trabalhista, deve-se lembrar que, no Processo do
Trabalho, a execução também pode ser promovida de ofício pelo juiz nos casos em que as partes
não estiverem representadas por advogado 7 , e, portanto, entende-se que nessas hipóteses, a
liquidação também poderá. Todavia, a regra é que a execução seja requerida pelas partes.
7
Art. 878, CLT: “A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente
do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado”.
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Ressalta-se, ainda, que a redação do art. 509 não se aproxima da realidade prática, pois não é de
interesse de um devedor (que já está devendo/inadimplente) requerer que sua prestação devida seja
liquidada, para depois ser executada, de modo que a previsão trazida pelo §1º, do art. 513, CPC é
mais adequada, pois coloca que a execução da sentença deve ser requerida pelo exequente, observe:
“O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou
definitivo, far-se-á a requerimento do exequente”.
Peculiaridades
✱ LIQUIDAÇÃO NA PENDÊNCIA DE RECURSO (Art. 512, CPC): “A liquidação poderá ser
realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem,
cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes”.
No CPC, a regra é que a Apelação seja sempre recebida no duplo efeito (devolutivo e suspensivo),
exceto se tratar de algumas das hipóteses previstas no §1º do art. 1012, no intuito de promover a
execução provisória. A grande vantagem da execução provisória é ganhar o tempo, adiantando o
incidente de liquidação. As únicas sentenças condenatórias cíveis que comportam execução
provisória são as que condenam alimentos ou as que confirmam ou concedem tutela provisória.
Todavia, para evitar o grande atraso dos processos que estão na pendencia de recurso, o art. 512
determinou que, em se tratando de sentença ilíquida, mesmo que dela tenho sido interposta apelação,
seu beneficiário em potencial poderá, mesmo na pendência do recurso, liquidá-la.
No processo do trabalho, ao contrário do processo civil, os recursos interpostos das sentenças
trabalhistas são sempre desprovidos de efeito suspensivo, tendo apenas efeito devolutivo,
conforme dispões o art. 899, CLT: “Os recursos serão interpostos por simples petição e terão
efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas neste Título, permitida a
execução provisória até a penhora”.
Assim, as sentenças trabalhistas sempre podem ser objeto da execução provisória,
buscando-se, portanto, a efetividade.
✱ LIQUIDAÇAO PARCIAL (§1º, art. 509, CPC): “Quando na sentença houver uma parte líquida
e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos
apartados, a liquidação desta”.
Após o trânsito em julgado, a sentença pode ser parcialmente ilíquida (ex. condena-se o réu a
pagar os danos materiais causados ao autor, com todos os danos emergentes e os lucros cessantes,
que serão apurados em liquidação). A parte líquida já pode ser executada, enquanto a parte ilíquida
será liquidada em autos apartados.
➥ Atenção! A liquidação é sempre em 1º grau de jurisdição. Desse modo, mesmo que tenha
havido recurso, os autos retornarão ao juízo de piso para serem liquidados.
definido em liquidação, mas na liquidação, após a perícia, verifica-se que não há insalubridade;
ex2. As partes discutem as defasagens nos valores pagos de previdência complementar. Juiz
profere sentença favorável ao autor, mas de forma ilíquida. Na liquidação, percebe-se que o
reclamante já ganhava o teto dessa previdência, não tendo como haver diferença de valores).
Sucede, contudo, que o juiz não pode proferir decisão de improcedência na liquidação de
sentença, pois, se assim o fizesse, estaria modificando a sentença liquidanda (que diz ter o autor
“direito”).
Nessas situações, o juiz deve extinguir o incidente por sentença terminativa, sem resolver
o mérito, sob justificativa de ser impossível chegar num quantum debeatur, isentando de custas
tanto o autor quanto o réu e, deixando de forma facultativa que com novas provas, o autor possa
reingressar com a liquidação daquela sentença.
EM RESUMO: Na liquidação frustrada ou zero foi proferida uma sentença ‘injusta’, sendo uma
sentença ilíquida defeituosa, pois os elementos quantitativos, que em tese seriam acessórios, não são
acessórios como aparentam ser, de forma que não apenas qualificam o elemento qualitativo, mas
também ajudam a definir o próprio elemento qualitativo. Se o juiz, na hora de definir o “an
debeatur” se debruçasse sobre os elementos quantitativo, teria observado que o autor não teria
direito.
✱ PROCESSO CIVIL: O legislador, no §2º, do art. 509, CPC, atribuiu ao credor a iniciativa de
realizar o cálculo, assumindo ele próprio essa responsabilidade, de modo que a modalidade
cálculo é menos complexa.
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O §3º, art. 509, CPC8 traz o programa disponibilizado para a realização dos cálculos,
para sejam feitos sem a necessidade de contratar um contador, como uma saída do legislador para
minimizar o procedimento que ele adotou para a liquidação por calculo, que recai sobre o credor.
Como já visto, a liquidação por cálculo existe no processo civil, o que não existe é o incidente
cognitivo para liquidar a sentença por cálculo. Feito o cálculo, tal conta será anexada ao
requerimento que o credor precisa fazer para dar início a execução, de modo que tal conta
deve preencher os requisitos previstos na norma. O art. 523, CPC exige que haja um requerimento
expresso do exequente para iniciar a execução. Assim, tornada líquida a sentença, inicia-se a
execução. O juiz irá intimar o executado para pagar em 15 dias, sob pena multa de 10% e
honorários advocatícios (atos executórios).
➥ Questão! E o contraditório nessa liquidação por cálculo no CPC? O contraditório na
liquidação por cálculo do processo civil é diferido/dilatado. O devedor pode impugnar os
cálculos elaborados pelo credor unilateralmente em sede de IMPUGNAÇÃO. Essa discussão
tem que ser qualificada, não podendo apenas dizer que a conta esta errada, pois ele tem que
dizer onde está o erro e falar qual o valor correto, sob pena de indeferimento liminar da
impugnação, conforme coloca os §§4 e 4º, art. 525, CPC: §4º: “Quando o executado alegar
que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença,
cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo
discriminado e atualizado de seu cálculo”; § 5º: “Na hipótese do § 4º, não apontado o valor
correto ou não apresentado o demonstrativo, a impugnação será liminarmente rejeitada, se o
excesso de execução for o seu único fundamento, ou, se houver outro, a impugnação será
processada, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução”.
➥ Art. 524, §§1º e 2º, CPC:
§1º: “Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da
condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a
importância que o juiz entender adequada”.
§2º: “Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do juízo, que terá o
prazo máximo de 30 (trinta) dias para efetuá-la, exceto se outro lhe for determinado”.
A ideia do legislador nesses parágrafos é justamente evitar a criação de um incidente, atribuindo ao
juiz o dever de determinar como penhora a importância que entender adequada, caso desconfie da
conta do credor, podendo, ainda, encaminhar os autos a Contadoria do Juízo, para que o contador
judicial confira as contas apresentadas.
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§3º, art. 509, CPC: “O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa
de atualização financeira”.
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§5º: “Se os dados adicionais a que se refere o §4º não forem apresentados pelo executado,
sem justificativa, no prazo designado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados
pelo exequente apenas com base nos dados de que dispõe”.
É comum que esses autos estejam em poder da empresa ou de terceiros (como o contador da
empresa, por exemplo). Assim, para fazer o cálculo, o credor poderá se fazer valer dessa
determinação judicial, de modo que o juiz irá intimar o devedor ou terceiro. No caso do terceiro, a
medida punitiva caso esse não traga os documentos, será a busca e apreensão. No caso do
executado, é possível aplicar o §5º, de modo que se reputarão corretos os cálculos
apresentados pelo exequente apenas com base nos dados de que dispõe.
✱ PROCESSO DO TRABALHO (Art. 879 e §§, CLT): Diferentemente do processo civil, aqui
há um incidente de liquidação por cálculo, ou seja, há uma atividade cognitiva. Nessa liquidação,
há a participação das partes até que se chegue o momento de o juiz proferir a decisão
homologando o cálculo de alguma das partes.
Os cálculos de liquidação, inclusive quanto às contribuições previdenciárias, poderão ser
apresentados pelas partes ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, ou pelo
perito na hipótese de cálculos complexos, a critério do juiz (art. 879, §§ 3º e 6º, CLT), que,
preferencialmente (é uma faculdade, não uma obrigação), deverá intimar as partes para
apresentá-lo (art. 879, § 1º-B, da CLT).
➥ Questão! Durante o incidente de liquidação por cálculo no processo do trabalho, então, o
credor pode elaborar sua conta? Sim. Nessa hipótese, o juiz deve intimar a parte contrária
para se manifestar e se deseja apresentar sua própria conta. Apresentado o cálculo também pelo
devedor, o juiz irá se manifestar sobre qual conta é mais adequada, homologando-a. Verifica-se,
portanto, que a diferença do processo civil para o processo do trabalho é que a conta
apresentada pelo credor, no processo do trabalho, não serve para instruir a execução.
➥ Questão2! Essa abertura de vista para as partes pode também ocorrer quando os
cálculos forem feitos pela contadoria (do Juízo ou perito)? Sim, consoante prevê o Art. 879,
§2º, que determina: “Elaborada a conta e tornada líquida, o juízo deverá abrir às partes
prazo comum de oito dias para impugnação fundamentada com a indicação dos
itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão”.
Isso significa que, intimada as partes sobre a conta realizada pelo contador judicial, porém passado o
prazo de 8 dias, irá incidir a preclusão. Ademais, se as partes não impugnarem de forma
fundamentada com a elaboração da conta que considera correta, também irá incidir a preclusão. O
efeito dessa preclusão é não poder mais discutir no processo o acervo da conta realizada pelo
contador judicial ou pelo perito.
➥ Mas atenção! Antes da Reforma, o juiz tinha a faculdade, isto é, a escolha de abrir prazo para
impugnação. Se fosse dado tal prazo, este seria de 10 dias, sob pena de preclusão, caso a parte
não se manifeste. Atualmente, porém, o juiz deverá intimar as partes para, no prazo de 8 dias
(rito ordinário) se manifestar sobre o cálculo, sob pena de preclusão, não podendo reclamar
depois dos valores. Assim, hoje é uma obrigação do juiz intimar as partes para se
manifestarem sobre os cálculos realizados pela contadoria ou perito.
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EM RESUMO:
Na liquidação não será possível modificar ou inovar a sentença liquidanda, nem discutir
matéria pertinente à causa principal (art. 879, § 1º, da CLT). Se o magistrado modificar a sentença,
estará violando a coisa julgada, sendo possível arguir o art. 5º, inciso XXXVI, da CRFB.
Após a apresentação dos cálculos pela contadoria do Juízo ou pelo perito, o juiz deverá permitir
a manifestação das partes quanto aos cálculos no prazo comum de 8 dias, sob pena de
preclusão (art. 879, § 2º, CLT) (ex. se depois o executado apresentar embargos à execução, não
poderá mais impugnar os cálculos). Em seguida, nos termos do § 3º, art. 879, CLT, a União será
intimada para se manifestar, no prazo de 10 dias, em relação às contribuições previdenciárias, sob
pena de preclusão.
Após o retorno, os autos serão conclusos para apreciação dos cálculos pelo juiz, que em seguida
proferirá a decisão de liquidação. Proferida a decisão, é expedido mandado de citação e
penhora, a ser cumprido por oficial de justiça (art. 880, § 2º, CLT), para que o executado pague
ou garanta o juízo, no prazo de 48 horas. Para garantia do juízo, o executado poderá depositar
o valor da execução, nomear bens à penhora ou oferecer seguro-garantia judicial (art. 882,
CLT).
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≠ do processo civil, em que a decisão é recorrível por intermédio de Agravo de Instrumento (Art. 1015).
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Caso o executado não pague ou garanta o juízo, o juiz mandará penhorar tantos bens quantos
bastem para a garantia do juízo (art. 883 do CLT), observada a ordem de penhora prevista no art. 835
do CPC.
Garantido o juízo, o executado terá 30 dias para apresentar EMBARGOS À EXECUÇÃO, e
o exequente, o mesmo prazo para apresentar IMPUGNAÇÃO À LIQUIDAÇÃO, sendo ambas as
petições endereçadas ao juiz da execução.
Após a manifestação das partes por meio de embargos à execução e impugnação à liquidação, o
juiz proferirá decisão definitiva na execução (sentença na execução - art. 884, § 4º, CLT), na
qual serão julgados, concomitantemente, os embargos e a impugnação. A sentença na execução
poderá ser impugnada por meio de AGRAVO DE PETIÇÃO (art. 897, “a”, CLT).
Apesar de ser aplicada a essa modalidade de liquidação, no que couber, aquilo que está previsto para
a perícia como prova judiciária, há diferença na natureza de ambas as perícias. Enquanto a
perícia realizada no curso do processo como prova judiciária possui natureza probatória, a perícia na
liquidação por arbitramento é o próprio procedimento de
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Na liquidação de sentença por procedimento comum a cognição será percorrida em dois estágios
diferentes. No primeiro o juiz irá percorrer os aspectos qualitativos da causa (é uma nova fase
cognitiva, mas sem rediscutir o an debeatur) e no segundo os aspectos quantitativos. Após, parte-se
para a execução (ex. de sentença ilíquida, liquidável pelo procedimento comum: Uma barragem de
uma propriedade rural transborda, sendo a água despejada na propriedade vizinha, destruindo toda a
lavoura. A vítima desse episódio vai a juízo postular reparação por responsabilidade civil do réu. O
juiz condena o réu (todos os elementos qualitativos se encontram claros) proferindo sentença
ilíquida. Ao transitar em julgado essa sentença, será necessário liquidá-la pelo procedimento comum,
pois não houve ainda a oportunidade de tratar a questão quantitativa desse dano. Antigamente, essa
modalidade era chamada de “liquidação por artigos”, pois nesta modalidade deve ser apresentada uma
petição inicial articulada (o autor que já obteve êxito na condenação do réu, terá que informar em sua
petição inicial apenas elementos quantitativos)).
✱ CONTEXTO HISTÓRICO:
✾ ROMA ANTIGA: O ato de dizer o direito era uma incumbência de ordem privada, portanto,
o juiz era um árbitro (judex), que formava um pacto formal documentado (litiscontestatio)
entre as partes.
Assim, toda vez que as partes tinham litígios para serem resolvidos sobre uma pretensão
condenatória obrigacional, elegiam um árbitro privado, a quem competia decidir a causa. A partir
daquele pacto, não se podia inovar os sujeitos e o objeto da causa, de modo que, se o réu
descumprisse o pacto (litiscontestatio), o autor precisava se dirigir ao pretor (judicium), uma
autoridade pública revestida de poder de império que exercia jurisdição estatal, fazendo com que a
sentença fosse cumprida. Essa segunda ação se chamava actio judicati, sendo uma ação executiva
autônoma, porque o árbitro não tinha autoridade de fazer valer a sua sentença.
Percebe-se, então, que nesse momento nasce a ideia de que o processo de conhecimento é
separado do processo de execução.
✾ IMPÉRIO: Posteriormente, na República Romana, o pretor passou a assumir a
responsabilidade de julgar a causa e executá-la – “iudicio” e “executio” (antes, como
visto, o pretor somente executava).
Apesar de o pretor ser, nesse momento, integralmente responsável pelas duas atividades processuais
(jurisdição), os romanos mantiveram a actio judicati, continuando com a necessidade de duas ações,
mesmo que presididas pelo mesmo responsável.
✾ BAIXA IDADE MÉDIA: Na Baixa Idade Média, quando Roma foi invadida pelos
bárbaros, houve uma mistura de tradições, ocorrendo o surgimento de uma cláusula chamada de
executio per officium judicis, prática dos povos germânicos de responder o juiz
automaticamente pela implementação da sentença proferida. Assim, essa cláusula apresenta
a possibilidade de o juiz promover ex officio, de forma automática, a execução de sua própria
sentença. Essa cláusula marca o rompimento da tradição Roma, pois representa o sincretismo
processual.
✾ IDADE MODERNA: Ao final da Idade Média, retorna-se ao modelo romano (actio
judicati), principalmente por conta do surgimento dos títulos de crédito, as cambiais, que
detinham força executiva análoga a uma força executiva de sentença judicial (executio
parata). Assim, o processo de execução que havia sido eliminado volta a existir para dar
efetividade aos títulos cambiais.
✾ REVOLUÇÃO FRANCESA: O Código Napoleônico resgata a ideia de actio judicati. A
sentença proferida pelo juiz é um título executivo, mas como qualquer outro título
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executivo, precisava de uma ação executiva, extinguindo de vez com a ideia do executio per
officium judicis.
✱ BRASIL: O modelo previsto no Código Civil Brasileiro decorre das duas correntes (actio
judicati + executio per officium judicis). Isso ocorre porque, embora se tenha um novo
sincretismo, ainda sim exige-se requerimento do exequente para instaurar a execução
(Art. 524, CPC). Desta forma, não é um processo verdadeiramente sincrético, mas também não se
assemelha à actio judicati.
➥ Atenção! O verdadeiro processo sincrético exista no processo do trabalho até a reforma, que
acaba com a execução de ofício (exceto nos casos em que as partes não estejam representadas
por advogado).
Sincretismo Processual
O sincretismo processual é traduzido nas tutelas mandamentais e executivas lato sensu.
✱ AÇÃO EXECUTIVA LATO SENSU: Ações que recaem sobre coisas e não obrigações. O
juiz tem o poder de instaurar o ato executivo de ofício, não precisando haver requerimento
da parte. O ato de julgar é acoplado ao ato executivo, já que o juiz julga para dar ao autor
determinada coisa, e não para condenar. Aqui, verifica-se o sincretismo (ex. Reivindicatória;
reintegração de posse; depósito; busca e apreensão de bem fiduciário alienado; ação do
comodante para recuperar o bem em comodato; despejo; nunciação de obra nova para efeito
demolitório; petição de herança; imissão de posse, divisão, demarcação e para restituição de
coisas infungíveis).
✱ AÇÃO MANDAMENTAL: O juiz ordena ao réu determinada coisa, sendo que esse não
tem outra saída a não ser acatar. Não há condenação, ou cumprimento de determinada obrigação,
mas apenas um mandamento (ex. Mandado de Segurança; cautelares nominadas; possessórias de
manutenção e interdito proibitório).
➥ Atenção! Direitos Relativos X Direitos Absolutos: Os direitos relativos (pessoais),
refletem pessoas, enquanto os direito absolutos (reais) refletem coisas.
Os Romanos entendiam que aquele que ingressassem com “vindicatio” (ação mais forte – continha
a cláusula executio per officium judicis) estava ingressando com ação real e aquele que estava
ingressando com ação pessoal ingressava com a “actio” (ação mais fraca).
➥ Civil Law X Common Law: No Brasil, a inspiração de jurisdição é baseada no “Civil
Law” (juiz fraco, que condena, mas não ordena), enfrentando a execução no Brasil sérios
problemas, vez que depende do instituto da penhora.
Já nos países de cultura anglo saxônica (common law), o nível de efetividade das execuções é muito
maior, pois lá é possível prender o devedor que não cumpre a decisão. Nesses países, há o chamado
Specific performance, na qual se exige que a obrigação por parte do devedor seja satisfeita
exatamente da maneira como restou assumida, só permitindo perdas e danos em último caso.
Entretanto, o Código Brasileiro trouxe alguns avanços em termos de técnica executiva, admitindo
outros institutos que não somente a penhora, desde que utilizados corretamente e com
responsabilidade (exs. possibilidade de levar a sentença a protesto; negativar o devedor nos
órgãos de proteção ao crédito; reter o passaporte; etc.).
Direito Processual do Trabalho 2 – 1º Bimestre – Thalita M. Bortoloso | 20
➥ Questão2! Há LIDE na fase de execução? É uma lide executiva, já que existe uma
resistência do devedor ao cumprimento espontâneo da condenação que lhe foi firmada.
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Art. 525, § 1º, CPC: “Na impugnação, o executado poderá alegar: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de
conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da
obrigação; IV - penhora incorreta ou avaliação errônea; V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI
- incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação,
como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença”.
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Entende-se, portanto, que o devedor não se defende, mas na realidade ATACA o próprio título
executivo (pode atacar a execução como um todo ou certos atos).
EM RESUMO:
PROCESSO DO TRABALHO PROCESSO CIVIL
Princípios da Execução
✱ PRINCÍPIO DO DESFECHO ÚNICO: O único desfecho esperado para a execução é a
satisfação do credor.
A execução chega a seu final normal quando é bem-sucedida, isto é, quando se verifica a entrega ao
Exequente de exatamente aquilo que receberia se não necessitasse do processo de execução.
A execução é toda voltada paro o credor, em detrimento do devedor. Se o devedor diante da
obrigação, objeto de acertamento do título, não a satisfaz, a execução é posta para substituir a
vontade resistida do devedor em satisfazer a prestação devida. Essa substituição ocorre por atos de
força, o forçando a fazer atos capazes de satisfazer a obrigação em favor do credor.
➥ Princípio da audiência bilateral: há lide executiva, mas não a lide convencional; ele
justifica determinadas condutas do juiz na execução (ex. multa ao devedor caso desvie os bens).
➥ Atentado à dignidade da justiça - Fraude à execução: art. 774, I, CPC, que estipula
multa de 10% e pagamento de honorários de 10%.
Medidas Mandamentais: são aquelas que ordenam (ex. devedor de cartão de crédito - juiz
apreende o cartão de crédito).
➥ Mas atenção! Esse tipo de linguagem não permite, em substância, mudar a ordem
lógica da execução. Isso porque, na hora de executar, se o credor não cumprir, a obrigação é
convertida em perdas e danos e a execução será de quantia certa, com a realização da
penhora. Assim, para a execução, temos que ir no art. 789, CPC.
✾ Suspensão da Execução (art. 921, III, CPC): “Suspende-se a execução: III - quando o
executado não possuir bens penhoráveis”.
O inciso III determina que a ausência de bens penhoráveis não é motivo para extinguir a execução,
mas sim para suspende-la, pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual também se suspenderá a
prescrição (§1º, art. 921, CPC).
➥ Atenção! Prescrição Intercorrente: Deve-se lembrar que a Reforma Trabalhista
inseriu expressamente a prescrição intercorrente no Processo do Trabalho, no dispositivo 11-
A, da CLT, que determina: “Ocorre a prescrição intercorrente no processo do trabalho
no prazo de dois anos”.
Assim o prazo máximo da suspensão pela ausência de bens penhoráveis será de 1 ano, período no
qual não correrá a prescrição intercorrente. Passado tal período, sem que seja encontrado nenhum
bem, começará a correr o prazo prescricional de 2 anos, ao fim do qual, o processo será extinto.
Por fim, ressalta-se que a prescrição intercorrente pode ser requerida ou declarada de ofício
em qualquer grau de jurisdição (§2º, art. 11-A, CLT).