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ORGANIZAÇÃO
Forum Justiça e Criola
PESQUISADORA RESPONSÁVEL
Ana Miria dos Santos Carvalho Carinhanha
REVISÃO
Juanita Cuéllar Benavides
Lia Maria Manso Siqueira
Vinícius Alves Barreto da Silva
PROJETO GRÁFICO
André Victor e Gabriel Alma
PROJETO
Adriana Silva de Britto,
Ana Miria dos Santos Carvalho Carinhanha,
Élida de Oliveira Lauris dos Santos,
Rosane Maria Reis Lavigne, Lúcia Maria Xavier de Castro,
Vinícius Alves Barreto da Silva
8 Apresentação
366 Considerações gerais para ação
12 Introdução
402 ANEXO I
Questionário
80 PARTE I
Instituição e composição dos quadros da
defensoria pública do estado 424 ANEXO II
Informe do Workshop “Sistema de
Justiça e Racismo Institucional”
188 PARTE II
Composição dos quadros da
administração da defensoria pública do 438 LISTA
Lista de Gráficos e Tabelas
estado
262 PARTE IV
Atendimento ao público
280 PARTE V
Atuação em conflitos coletivos, ações
civis públicas e sistemas internacionais
de proteção
304 PARTE VI
Núcleos especializados
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A missão da organização é instrumentalizar mulheres, adolescen- pelo sistema de justiça como serviço público. Possui protagonismo
tes e meninas negras para o enfrentamento ao racismo, sexismo, no debate da reforma judicial no Brasil para facilitação do diálogo
lesbofobia e transfobia, e para o desenvolvimento de ações volta- entre atores motivados a promover transformações profundas no
das à melhoria das condições de vida da população negra e das sistema de justiça e assim superar o correlato déficit democrá-
mulheres negras em especial. Criola busca a inserção de mulheres tico, as assimetrias desse sistema e o quadro de desigualdades da
negras como agentes de transformação, contribuindo para a cons- sociedade brasileira. O FJ tem desenvolvido, desde a sua formação
trução de uma sociedade fundada em valores de justiça, equidade em 2011, um trabalho contínuo com vistas a emprestar sentido à
e solidariedade, em que a presença e contribuição da mulher negra expressão “modelo de justiça integrador”, disposta na Declaração
sejam acolhidas como um bem da humanidade. que integra as 100 Regras de Brasília, documento publicizado pela
Cúpula Judicial Ibero-Americana, em Brasília, em 2008.
A produção de conhecimento qualificado por dados específicos
sobre o contexto atual das questões de direitos e a busca pelo Em parceria, Criola e Fórum de Justiça, com o objetivo de fornecer
acesso à justiça e à equidade de gênero, raça e orientação sexual uma reflexão qualificada sobre como se estruturam as Defensorias
estão entre os principais objetivos estabelecidos pela organização. Públicas dos Estados para o enfrentamento ao racismo e o reco-
Além disso, Criola busca: criar e aplicar novas tecnologias para a luta nhecimento da desigualdade racial, desenvolveram a Consultoria
política de grupos de mulheres negras; formar lideranças negras “Sistema de justiça em foco: dinâmicas de reprodução, combate
aptas a elaborar suas agendas de demanda por políticas públicas ao racismo e promoção da igualdade racial”.
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Por reconhecerem o valor central da Defensoria Pública para as VII - A reunião para apresentação dos resultados preliminares em
políticas de acesso à justiça no país e por observar maior proxi- 23 de abril de 2019;
midade da Defensoria Pública dos Estados com os usuários do
VIII - A confecção do livro “Perspectivas multidisciplinares sobre
sistema de justiça, Criola e Fórum Justiça elegeram as Defensorias
Racismo Institucional”, em andamento;
Públicas dos Estados como campo de observação e análise da
IX – A apresentação e discussão das recomendações, realizadas no
presente consultoria e buscaram, de maneira participativa, analisar
Seminário “Democracia e Defensoria Pública na América Latina”,
a estrutura e a organização das Defensorias Públicas dos Estados
nos dias 10 e 11 de novembro de 2019;
no enfrentamento ao racismo institucional no sistema de justiça.
X - A produção de um relatório final do estudo.
A consultoria se deu em etapas que compreenderam:
O presente texto consiste na sistematização das etapas de pesquisa
I - A realização de um workshop “Sistema de Justiça e Racismo
e na apresentação do relatório final, complementado pelas reco-
Institucional” que ocorreu no dia 12 de julho de 2017, na sede do
mendações finais acordadas pelos parceiros da pesquisa.
IBCCRIM em São Paulo, reunindo parceiros e pesquisadores para
discussões;
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As temáticas abordadas incluíram o racismo e a seletividade no Desse modo, ao mapear os instrumentos de enfrentamento ao
sistema de justiça, o enfrentamento ao racismo, a institucionali- racismo colocados em prática pelas Defensorias Públicas Estaduais,
dade racista brasileira, a questão de raça e classe, as dificuldades problematizamos o modo como o racismo tem atravessado as ações,
no acesso a informações sobre a variável raça nos dados do sistema práticas, normas, organizações e estruturas dentro das instituições
de justiça, ações afirmativas, o movimento negro e as esquerdas, do sistema de justiça utilizando o recorte analítico pautado nos
o acúmulo do movimento negro no que tange ao racismo no sis- conceitos centrais de “racismo institucional”, “sistema de justiça”
tema de justiça e as dificuldades e limites da Defensoria Pública e “interseccionalidade”.
para trabalhar com raça e gênero. Sobre este último ponto, fez-se a
O modo como as Defensorias Públicas têm enfrentado o racismo
indicação às Defensorias de construção de uma política institucional
institucional será aqui observado através da I) cultura institucional, e
de ações afirmativas, não só de acesso e de produção de dados,
também a partir das suas II) manifestações para o público. A saber:
mas uma política completa.
Cultura Institucional, que abarca os eixos relacionados à iden-
Guiadas pelas discussões pautadas nesse workshop desenvolvemos
tificação e ao enfrentamento do racismo institucional dentro
a presente reflexão política e conceitual acerca do papel do Sistema
das próprias instituições – na visibilização do compromisso
de Justiça da reprodução e enfrentamento do racismo institucional.
institucional nos documentos orientadores da atuação de cada
A partir da consideração da configuração histórica e política do sis- órgão e em orientações e normativas específicas; na criação de
tema de justiça brasileiro e também das condições de produção do uma instância de governança que responda por esse compro-
conhecimento face ao racismo estruturante em nossa sociedade, misso em nome da instituição; na formulação e implementação
que atravessa práticas, ideologias e discursos, sobretudo no que de ações afirmativas e outras políticas de enfrentamento do
concerne à negação da existência do racismo, buscamos proble- racismo institucional.
matizar e desvendar as repercussões dos seus efeitos manifestos
Manifestações para o Público, que se refere a como as institui-
e latentes.
ções abordam e enfrentam o problema em sua atuação junto
São para nós indicadores de análise importantes para o presente à sociedade, por meio da produção de dados e informações
trabalho: a ausência da categoria raça nas abordagens sociais, cadastrais sobre o público; da formação de competência cultu-
inclusive no Judiciário; do reducionismo economicista enquanto ral entre @s servidor@s públic@s para que o enfrentamento do
categoria analítica da estrutura da nossa sociedade; do uso a-his- racismo seja de fato incorporado em todas as etapas do processo
tórico e descontextualizado das análises concernentes ao sistema de formulação, implementação e avaliação das políticas e dos
de justiça; da perseverança de mitos justificadores da permanência serviços [grifos nossos] (GELEDÉS, 2013a, p. 16).
de uma ordem racista, como o mito da democracia racial e o mito
A partir da observação da organização e da estrutura das Defensorias
da neutralidade jurídica; da falta de participação popular no que
Públicas Estaduais, buscaremos compreender como tem se cons-
concerne às tomadas de decisão nas instituições de justiça (e de
truído a sua “cultura institucional” e suas “manifestações para o
poder como um todo) no país, entre outros.
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público” acerca do enfrentamento ao racismo no sistema de justiça como se incorpora o racismo em nossa sociedade e de desenvolver
e na própria Defensoria Pública. estratégias de enfrentamento que ainda não foram implementa-
das; o reconhecimento da implementação de políticas de ações
No workshop supramencionado, defensores públicos, acadêmicos,
afirmativas para o ingresso de defensoras e defensores públicos
ativistas e representantes de associações da sociedade civil levan-
negras e negros como possibilidade de reconfiguração dos espaços
taram dilema e potencialidades para a realização dessa observação
institucionais.
e análise.
Partimos da compreensão e da atualização histórica de que o
No que concerne aos dilemas e dificuldades mencionadas, destaca-
racismo constitui e é constitutivo do projeto e estrutura da República
ram-se: o “desconhecimento ideológico do racismo” (SALES, 2006); a
do Brasil, não sendo o racismo no Brasil uma mera herança irresoluta
ausência do debate racial dentro da instituição; a dificuldade de com-
da escravidão, mas fundante no projeto de nação e da República
preender o processo e de operar as dimensões do racismo dentro do
que se consolidou em ideologias, práticas e instituições tais como
sistema de justiça; a ausência de diagnósticos consistentes dentro
o branqueamento, as Escolas de Eugenia, as teorias jurídicas raciais
do sistema de justiça que envolvam a variável raça; a dificuldade
da degenerescência, e o próprio lema da nossa bandeira, “Ordem
das instituições em gerar e avaliar essas informações referentes a
e Progresso”, traduzindo a ideologia do darwinismo social, dentre
raça e racismo institucional; dificuldade em estabelecer alianças e
outros.
vínculos políticos sólidos e compromissados com o enfrentamento
ao racismo; a percepção de um projeto de Estado racista (dimensão Apesar da ausência de black codes (legislações que expressamente
estrutural); a não compreensão do sistema de justiça enquanto restringiam aos negros a fruição de direitos nos EUA e na África
serviço público; a exclusão da participação da sociedade civil dos do Sul, por exemplo) o apartheid brasileiro é visível no sistema de
processos decisórios; o generalismo, universalismo dos sujeitos e a justiça a partir dos dados que refletem a manutenção do racismo
não racialização do debate no Judiciário; o não enfrentamento ao a partir do funcionamento e estruturação das próprias instituições
fato de que as mulheres negras ainda sejam as que mais sofrem do Judiciário. Apesar do advento da Constituição Federal de 1988
com o acúmulo das opressões de raça e gênero; a persistência dos e dos sucessivos enfrentamentos políticos encabeçados em sua
mitos da democracia racial e do reducionismo econômico no que grande maioria pelos movimentos sociais, é recorrente a existência
concerne à consideração da vulnerabilidade dos usuários do ser- de observações, relatos e pesquisas que evidenciam a existência
viço da Defensoria; a não responsabilização do Judiciário e órgãos de desigualdades raciais importantes na área da justiça no Brasil.
correlatos no enfrentamento ao racismo; a falta de transparência
Essas desigualdades são observáveis, por exemplo, através da per-
nos processos administrativos no sistema de justiça.
secução, violência e repressão policial; dos obstáculos no acesso
No que concerne às potencialidades mencionadas, destacamos: à justiça, principalmente criminal, com dificuldade de proteção e
a possibilidade e o desejo de alguns defensores e defensoras em promoção de seus direitos constitucionais; do perfilamento racial;
criar uma fissura no sistema de justiça, romper com a invisibilidade da seletividade penal; da sobrerrepresentação da população car-
e gerar oportunidades de debate; a possibilidade de compreender cerária negra; da sub-representação dos negros nos cargos de
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chefia e alto escalão na sociedade; da discriminação racial; e de mobilizada na produção de discursos, práticas e ideologias relacio-
outras modalidades de racismo e ideais racistas que influenciaram nais, institucionais e/ou estruturais. Podemos nos questionar, a nível
e influenciam a sociedade brasileira, inclusive o Judiciário. de manutenção do equilíbrio do sistema social, como o racismo se
apresenta em sua (dis)funcionalidade?
Para Silvio Almeida (2018), o racismo constitui-se como modo de
organização da vida social que compõe a estrutura (política, econo- O racismo mobiliza dispositivos que legitima privilégios, por um
mia e subjetiva) regulada pelas instituições. Nos interessa saber como lado, e que naturaliza opressões, por outro. As suas consequências
o sistema de justiça, enquanto instituição, regula essas estruturas. podem ser ao mesmo tempo percebidas como funcionais para um
grupo (dos que compreendem os privilégios da “branquitude” como
O sistema de justiça, enquanto conjunto de instituições jurídicas,
vantagens) e disfuncionais para outro (dos que compreendem as
tem por função internalizar e gerenciar os conflitos. Estes, ao não
desvantagens da “negritude” como um problema). A nível social,
serem facilmente absorvidos nos momentos de crise, são gerencia-
contudo, observa-se o racismo enquanto disfuncional, dadas as
dos de maneira ineficaz por esse sistema, transbordando em seus
diversas crises sociais alimentadas pelo racismo que prejudicam
efeitos não resolvidos para fora dele, ou, em outras palavras, tendo
a maior parte da população no Brasil, diretamente atingida pelas
os seus efeitos exógenos indevidamente integrados ao sistema
desvantagens atribuídas e direcionadas à “negritude”.
de justiça. Desse modo, o sistema de justiça acaba servindo como
instituição que mantém a estrutura, gerenciando com ineficácia ou Ao considerarmos três das dimensões possíveis de observação do
de modo a manter a estrutura de opressão decorrente dos conflitos racismo em nossa sociedade (interpessoal/relacional; institucional
relacionados à classe, gênero e raça, por exemplo. e estrutural), em diferentes níveis (manifesto e latente), podemos
construir algumas categorias de observação da sua manifestação,
Observando a Defensoria Pública como instituição que compõe o
conforme ilustramos no quadro-sintético a seguir:
sistema de justiça, é necessário questionar a sua função na repro-
dução e no enfrentamento das opressões, tais quais o racismo,
num contexto de gerenciamento de conflitos e crises. Diante destes
dilemas e potencialidades, nos perguntamos: como uma instituição
do sistema de justiça enfrenta o racismo? Racismo Relacional Institucional Estrutural
Além de produzir dados sobre o tema, nos propomos a pensar Relacional- Institucional- Estrutural-
Manifesto
sobre qual é a instrumentalidade desse conceito para a sociedade Manifesto Manifesto Manifesto
brasileira e encarar a raça enquanto categoria analítica, tomando
o enfrentamento ao racismo enquanto proposição política e de Relacional- Institucional- Estrutural-
Latente Latente Latente Latente
transformação da vida.
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Essas categorias analíticas são exemplificativas e não encerram as relacionamentos afetivos ou de desejo aquilo que está relacionado
modalidades de expressão, tampouco a discussão sobre racismo. aos padrões de beleza associados à “branquitude”, rechaçando os
Elas se inter-relacionam e se retroalimentam, não podendo ser, na associados à “negritude”; II) a nível institucional-latente: as insti-
prática, tão facilmente decupadas. Até mesmo porque uma mesma tuições que naturalizam em suas práticas, ações e discursos os
prática, ação, ideologia, institucionalidade e/ou estrutura racista lugares sociais das pessoas a partir do seu (não) pertencimento
pode, ao mesmo tempo, ser identificada com padrões diversos de de “cor”, no qual a “negritude” está relacionada às funções mais
manifestação. precárias dentro da própria instituição ou relacionada à própria
noção de precariedade, competência reduzida, ausência de reco-
Aqui, ao mencionar os níveis “manifesto” e “latente” como modos de
nhecimento e a “branquitude” está relacionada às funções mais
manifestação do racismo não estamos nos referindo à intenciona-
valorizadas, atrelada à noção de eficácia e sucesso; as instituições
lidade da ação, discurso, ideologia racista que se propõe enquanto
que adotam a política de cotas, mas que não avaliam a sua eficá-
projeto, mas à uma expressão que é declarada a partir de uma ação
cia e não mobilizam recursos para implementá-la com sucesso;
ou omissão, como por exemplo: I) a nível relacional-manifesto: a
a inexistência de uma política institucional antirracista; III) a nível
pessoa que ofende outra atribuindo valor pejorativo a caracterís-
estrutural-latente: a aceitação e reprodução de uma estrutura que
ticas relacionadas à negritude; II) a nível institucional-manifesto: a
retroalimenta e atravessa a composição da sociedade, em suas
instituição que desenvolve um conjunto de técnicas, ações e prá-
instituições e relações pessoais, inclusive, como o que podemos
ticas que impedem o atendimento, ou não oferecem a prestação
ver a nível econômico ou político na reprodução de mitos como o
de um serviço adequado e de qualidade, ou não contratam outra
mito meritocrático, por exemplo, ou diante da omissão ou rejeição
pessoa porque esta é negra, ou se recusa a aplicar a política de cotas
de políticas redistributivas através da omissão.
raciais; III) a nível estrutural-manifesto: a produção e disseminação
de uma estrutura que retroalimenta e atravessa a composição da Deste modo, iremos focar, neste trabalho, nas dimensões do
sociedade, em suas instituições e relações pessoais, inclusive, como o racismo institucional (manifestas e latentes) no sistema de jus-
que podemos ver a nível econômico ou político, como, por exemplo, tiça, sem desconsiderar as dimensões relacionais e estruturais que
nos discursos da extrema direita, na tipificação de legislações assu- também o constituem e que são influenciadas por ele. Façamos um
midamente racistas, na reprodução dos discursos eugenistas, etc. pequeno exercício. Ao observar, por exemplo, o funcionamento da
Defensoria Pública de um Estado, podemos identificar diferentes
No que concerne ao modo latente de manifestação do racismo,
manifestações do racismo nas relações intrapessoais, institucio-
observamos que as práticas, discursos e ideologias racistas, por
nais e estruturais. São inúmeras as possibilidades se observarmos
ação ou omissão, não se apresentam como projeto expressamente
as relações entre os usuários dos serviços desta instituição, e os
racista, com ou sem intenção de sê-lo, mas servem de instrumentos
fornecedores disso que podemos chamar de “serviço de justiça”,
diretos na manutenção dos privilégios da “branquitude” e desvanta-
sejam os defensores públicos, os estagiários, secretários e outros
gens da “negritude”, como por exemplo: I) a nível relacional-latente:
que trabalham com serviços diretamente relacionados à prestação
as pessoas que internalizam e reproduzem em seus padrões de
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de um serviço jurídico. Podemos ainda pensar os terceirizados que SAMPAIO, 2003 apud SALES JÚNIOR, P. 20, 2006) capazes de gerar
trabalham nessa instituição, como por exemplo os reprografistas, e legitimar condutas excludentes (GELEDÉS, 2013a, p 17).
os seguranças, os faxineiros, os merendeiros, guardadores de carro,
A diferença de tratamento e oportunidades, dentro dos espaços
e as demais pessoas que oferecem serviços secundários e que, de
privilegiados, em razão da cor, raça ou etnia é uma definição cor-
alguma maneira, ocupam o espaço da Defensoria Pública ofere-
rente do racismo institucional, este conceito
cendo um serviço, mas que não seja, necessariamente, um serviço
foi definido pelos ativistas integrantes do grupo Panteras Negras,
jurídico. São também inúmeras as possibilidades de manifestação
Stokely Carmichael e Charles Hamilton em 1967, para especificar
do racismo institucional se observarmos a organização e a estrutu-
como se manifesta o racismo nas estruturas de organização da
ração da instituição no enfrentamento ao racismo.
sociedade e nas instituições. Para os autores, “trata-se da falha
Façamos um primeiro exercício e pensemos em como o racismo
coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado
institucional perpassa o nosso imaginário e as nossas interações
e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem
ao realizar a simples tarefa mental de “colorir” os funcionários das
étnica. (GELEDÉS, 2013a, p.11)
Defensorias Públicas de acordo com as experiências hegemônicas
Apesar de ter se consolidado nos anos 90, o surgimento do con-
que informam a ocupação dos cargos e funções na instituição. O
ceito de racismo institucional ocorre na década de 1960, conforme
modo como “atribuímos cor” a estas pessoas, neste exercício, é
afirma Liana Lewis (2013):
resultante da dimensão performática do racismo estrutural criando
representações de pertencimento aos espaços. Esta representação O termo Racismo Institucional surgiu na década de 1960 através
decorrente de uma imagem introjetada da estrutura está direta- do Movimento Negro Norte-americano, mas foi definido apenas
mente associada aos relacionamentos interpessoais e também na década de 1990 na Inglaterra, como resposta ao assassinato
aos modos como as instituições se organizam e oferecem os seus do jovem negro Stephen Lawrence por uma gangue branca.
serviços. O Relatório Macpherson, documento judicial relativo ao caso,
ampliou a questão isolada do assassinato argumentando que
Compreenderemos o racismo institucional como “falha coletiva de
não apenas os policiais que lidaram com o caso operaram de
uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às
forma discriminatória, mas a própria instituição policial acio-
pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica” (Carmichael,
nou dispositivos diversos de leniência que findou, no primeiro
S. e Hamilton, C. Black power: the politics of liberation in America.
momento, com a absolvição de todos os criminosos. No Brasil,
New York, Vintage, 1967, p. 4, apud GELEDÉS, 2013a, p 17). O racismo
o Racismo Institucional é informado por uma maneira notada-
institucional possui uma dimensão performática decorrente do
mente peculiar de lidarmos com a questão racial. A ideia de que,
“tratamento diferenciado” ou da “discriminação resultante de pre-
pelo fato de não possuirmos segregações raciais legitimadas
conceito inconsciente, ignorância, falta de atenção ou de estereóti-
por um aparato jurídico, e as distinções territoriais e simbólicas
pos racistas que colocam minorias étnicas em desvantagens” (CF.
não serem nomeadas através de dualismos de cor como ocorre,
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por exemplo, nos Estados Unidos, construímos nosso cotidiano privadas, produzindo e reproduzindo a hierarquia racial” (GELEDÉS,
de forma harmoniosa no que diz respeito à questão racial, finda 2013b, p. 15). Esta hierarquia racial relaciona-se com as hierarquias
por legitimar o privilégio da população branca, silenciando parte decorrentes de outros marcadores sociais da diferença, como gênero,
considerável da população negra e perpetuando uma desigual- classe, orientação sexual, religião, entre outros, que nos permitem
dade que se mantém sempre sob o atributo da diferença social observar a singularidade dos sujeitos e os diferentes níveis de opres-
(LEWIS, 2013, p. 11-12). são aos quais são submetidos a depender das suas categorias de
Neste sentido, nos interessamos particularmente pelos mecanis- pertencimento. As pesquisas sobre marcadores sociais da diferença
mos estruturais do racismo institucional, que garantem “a exclusão no Brasil nos informam que as mulheres negras ainda são as que
seletiva dos grupos racialmente subordinados” (GELEDÉS, 2013b, mais sofrem com o acúmulo das opressões de raça e gênero no país.
p. 17). Tomaremos como ponto de partida a exclusão diferenciada A reformulação de narrativas dentro do Judiciário que questionem o
de diferentes sujeitos a partir da compreensão de que o racismo universalismo do sujeito de direito e a não racialização dos debates
institucional “garante a apropriação dos resultados positivos da é urgente. A dificuldade de se trabalhar com essas categorias no
produção de riquezas pelos segmentos raciais privilegiados na sistema de justiça, inclusive nas Defensorias Públicas dos Estados,
sociedade, ao mesmo tempo em que ajuda a manter a fragmen- decorre não só da persistência do reducionismo econômico no que
tação da distribuição destes resultados no seu interior” (GELEDÉS, concerne à avaliação da vulnerabilidade dos usuários do serviço
2013b, p. 17), produzindo hierarquias sociais pautadas na raça. da Defensoria, mas também da ignorância dos efeitos da intersec-
cionalidade na produção dos efeitos dos serviços oferecidos pelo
O Racismo Institucional e a interseccionalidade sistema de justiça.
Pensar o comportamento das instituições públicas ou privadas As discussões sobre interseccionalidade surgiram nos debates
é fundamental para compreender a precariedade do acesso da feministas norte-americanos nas décadas de 1970/1980 quando
população negra aos direitos fundamentais e sociais, previstos pela o feminismo, assim como tudo que se pretendeu universal, igno-
Constituição Federal. Dentro de uma sociedade historicamente rando as diferenças de raça e classe, não foi capaz de contemplar
racializada como a brasileira, é impossível ignorar os resquícios da as demandas das mulheres negras. Em resposta às limitações do
escravidão e a influência eugenista que se materializou por meio feminismo hegemônico, que manteve na invisibilidade as causas
das políticas higienistas que surgem no século XIX/XX e que se per- levantadas pelas mulheres negras, estas evidenciaram as interse-
petuam com nova roupagem nas gestões administrativas atuais. ções e interações das opressões que acontecem de maneira simul-
tânea e não hierarquizada em termos de raça, classe e gênero. Na
O racismo institucional apresenta-se, portanto, para além da pers-
década de 1990, a jurista afro-americana Kimberlé Crenshaw define
pectiva intersubjetiva ou pessoal. Ele “opera de forma a induzir,
a “interseccionalidade” como sensibilidade analítica para observar
manter e condicionar a organização e a ação do Estado, suas ins-
diferentes formas de opressão:
tituições e políticas públicas – atuando também nas instituições
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Interseccionalidade é uma sensibilidade analítica, uma maneira como pano de fundo). Para apreender a discriminação como um
de pensar sobre a identidade e sua relação com o poder. Arti- problema interseccional, as dimensões raciais ou de gênero, que
culada originalmente em favor das mulheres negras, o termo são parte da estrutura, teriam de ser colocadas em primeiro plano,
trouxe à luz a invisibilidade de muitos cidadãos dentro de grupos como fatores que contribuem para a produção da subordinação.
que os reivindicam como membros, mas que muitas vezes não
Nesse sentido, gostaríamos de ilustrar por meio do gráfico apresen-
conseguem representá-los. O apagamento interseccional não
tado no “Dossiê das Mulheres Negras no Brasil” (IPEA, 2013, p.30),
é exclusivo das mulheres negras. Pessoas negras ou de outras
como se distribuem esses marcadores na análise do rendimento
raças/etnias dentro dos movimentos LGBT; meninas negras ou
domiciliar per capita médio no Brasil com relação às variáveis sexo
de outras raças/etnias na luta contra o sistema que empurra os
e cor/raça entre os anos de 1995 e 2009:
jovens para a cadeia; mulheres nos movimentos de imigração;
mulheres trans dentro dos movimentos feministas; e as pessoas
com deficiência lutando contra o abuso policial – todas essas pes-
soas sofrem vulnerabilidades que refletem as intersecções entre
racismo, sexismo, opressão de classe, transfobia, capacitismo e
muito mais. A interseccionalidade deu a muitas dessas pessoas
uma forma de se destacar as suas circunstâncias e lutar por sua
visibilidade e inclusão (CRENSHAW, 2015).
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cor/raça dos chefes de família por último, pelos homens brancos” (IPEA, 2013, p.29). Ainda hoje, as
mulheres negras possuem a menor renda per capita do país. Elas
Brasil (1995 - 2009 / Em R$) recebem os menores salários e ocupam os cargos mais subalternos
na sociedade brasileira. Logo em seguida vêm os homens negros,
ainda em uma posição bastante longe das mulheres brancas, que
são as próximas na escala de renda per capita no Brasil, seguidas
dos homens brancos, que ocupam o topo da escala.
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e desconsidera que raça é uma modalidade de vivência de classe É nosso pressuposto que raça é um dos elementos estruturais
no Brasil. Esse raciocínio nos serve para pensar como se expressa de sociedades multirraciais de origem colonial. Os conceitos de
a disputa dos espaços de poder entre pessoas de diferentes cores apartheid social, a supremacia do conceito de classe social so-
e gêneros que estão numa mesma classe. bre os demais - como pretendem os pensadores de esquerda,
herdeiros do materialismo histórico dialético – são conceitos
Racismo Institucional nos debates brasileiros sobre raça que não alcançam, e, ao contrário, invisibilizam ou mascaram a
contradição racial presente nas sociedades multirraciais, posto
Raça é uma categoria que só existe em relação (Schucman, 2016).
que nelas raça/cor/etnia e, em especial para o Brasil, são variá-
Nesse sentido, é importante considerar que o negro, enquanto
veis que impactam a própria estrutura de classes. Disso decorre
categoria racial, só existe porque o branco foi pautado enquanto
que a essência do racismo, enquanto pseudociência, foi buscar
categoria “normal” de raça, sendo o negro “o outro”, “o desviante”.
legitimar, no plano das ideias, uma prática, e uma política, sobre
Em outras palavras, o branco e o não-branco só existem a partir
os povos não-brancos e de produção de privilégios simbólicos e/
do surgimento de categorias de reconhecimento e exclusão de
ou materiais para a supremacia branca que o engendrou. São
raça/cor. Nesse sentido, observa-se o interesse na perpetuação
esses privilégios que determinam a permanência e reprodução
dos preconceitos na medida em que a “branquitude” configura os
do racismo enquanto instrumento de dominação, exploração e
privilégios que acompanham as características atribuídas ao que
mais contemporaneamente, de exclusão social em detrimento de
se relaciona com o “branco/normal” em uma sociedade racializada,
toda evidência científica que invalida qualquer sustentabilidade
ainda que muitos não o admitam abertamente.
para o conceito de raça (CARNEIRO, 2005, p.29 apud REIS, 2014).
Precisamos, ainda, considerar a prática do colorismo enquanto
A permanência e a reprodução do racismo como instrumentos
técnica de preconceito e dominação que deve ser pensada a partir
de dominação, exploração e exclusão social são resultantes de um
da categorização dos privilégios que são atribuídos à “branquitude”
processo de interação que ultrapassa a lógica da mera adesão.
e das desvantagens atribuídas à “negritude”, refletida na avaliação
Para a professora Lia Vainer Schucman (2016), o racismo é um
visual dos corpos que se aproximam e se afastam aos tons de pele
processo de aprendizado no qual a “branquitude” consolidou-se
e categorias fenotípicas (cabelo, nariz, forma corporal, etc.) presti-
enquanto instrumento de dominação e exploração, naturalizando
giadas (da raça branca) e depreciadas (da raça negra).
o racismo e criando padrões baseados numa hierarquia racial. Ela
Para além disso, o racismo estrutural, que forja a sociedade e os propõe o enfrentamento ao racismo a partir do que ela chama de
sujeitos no Brasil, configura-se enquanto estratégia de exclusão “letramento racial”, conceito proposto por France Winddance Twine
imbricada também nas relações e subjetividades, cujos reflexos para a compreensão do fenômeno da branquidade/branquitude,
podemos perceber nas mais diversas instâncias sociais. Nas palavras no qual prepondera a análise dos sujeitos e as respostas individuais.
de Sueli Carneiro (2005): Engloba duas dimensões de respostas que podem ser dadas ao
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racismo: a individual e a coletiva. Segundo Schucman (2016), o ultrapassa a noção de “ausência de informação” e se relaciona com
letramento racial consiste em: a noção valorativa do que precisa ser conhecido sobre a realidade
é um “desconhecimento” que interfere diretamente na perspec-
Conjunto de práticas que pode ser melhor caracterizado como
tiva de produção e interpretação de dados, inclusive gerando a
uma prática de leitura, uma forma de perceber e responder
ausência de dados. Ou seja, este fenômeno de desconhecimento
individualmente as tensões das hierarquias raciais da estrutura
possui relação direta com a sofisticação das técnicas obstrutivas
social que inclui o seguinte: 1) o reconhecimento do valor sim-
de enfrentamento ao racismo e a limitação das instituições nesse
bólico e material da branquitude; 2) definição do racismo como
enfrentamento, sobretudo porque impede ou invalida o discurso
um problema social atual e não como um legado histórico (há
racial.
uma legitimação diária do racismo); 3) o entendimento de que
as identidades raciais são aprendidas e o resultado de práti- Dentre os principais efeitos produzidos pelo desconhecimento ideo-
cas sociais (se é possível aprender, é possível desaprender); 4) a lógico do racismo, podemos citar a “ausência de fatos e dados sobre
posse de uma gramática e um vocabulário racial que permita as relações raciais”. Para Sales Júnior (2006, p.vi) o discurso racial
a discussão de raça, racismo e antirracismo; 5) a capacidade de
entrincheirou-se no discurso “vulgar” (aforismático, passional,
traduzir e interpretar os códigos e práticas racializadas da nossa
informal e privado), através da forma do não-dito racista que se
sociedade (interpretar quando uma coisa é racismo e não um
consolidou intimamente ligado às relações “cordiais”, paterna-
mal entendido).
listas e patrimonialistas de poder como um pacto de silêncio
Entender o racismo e o processo de aprendizagem pelo qual pas- entre dominados e dominadores. O não dito é uma técnica de
samos cotidianamente em uma sociedade racista é imprescindível dizer alguma coisa sem, contudo, aceitar a responsabilidade de
para desenvolver estratégias e técnicas de enfrentamento ao racismo tê-la dito, resultando daí a utilização de um discurso racista de
em suas múltiplas dimensões. Mas porque para muitos parece tão uma diversidade de recursos tais como implícitos, denegações,
difícil se questionar como o racismo ainda consegue, de maneira tão discursos oblíquos, figuras de linguagem, trocadilhos, chistes,
sólida, estruturar e influenciar as dinâmicas sociais a ponto de ser frases feitas, provérbios, piadas e injúria racial.
tão naturalizado que se torna imperceptível? Por que o letramento O desconhecimento ideológico do racismo associado ao mito da
racial aparece para muitos como algo tão longínquo e inacessível? democracia racial impede a sua tematização pública e permite a
Sales Júnior (2006) nos apresenta como pista importante para res- continuidade da invisibilidade do tema e a não responsabilização
ponder a essas questões os conceitos de “desconhecimento ideoló- dos sujeitos e instituições que praticam ações racistas. Para Sales
gico do racismo” e “desconhecimento ideológico das relações raciais”, Júnior (2006, p. 64-65):
que não significam necessariamente a ausência de conhecimento a invisibilidade do racismo, ou melhor, no contexto do discurso
nem ignorância passiva acerca do tema. Eles se instituem enquanto jurídico, a impunidade do racismo, é resultado de dois efeitos
técnicas que marginalizam saberes tidos como irrelevantes, falsos de sentido combinados produzidos pelo “Mito da Democracia
problemas, ou sem-sentidos. Esse tipo de “desconhecimento” que
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Racial”: por um lado a separação ideológica, performativa, entre continua-se produzindo um domínio racial, mantém-se, assim, a
preconceito e discriminação pelo não-dito do discurso racial neutralidade científica, e exorciza-se um passado (racismo cien-
cotidiano – racismo sem racista, discriminação não intencional; tífico) como “não-científico”, como pensamento pré-científico,
por outro lado, a redução semântico ideológica de discriminação preconceito.
ao preconceito racial, efeito de uma série de indeterminações se-
O percurso histórico-epistemológico do direito no Brasil nos traz
mânticas, segundo a qual a discriminação é definida em termos
a necessidade de discutir os papéis da “ciência jurídica” hege-
de crença e intenção, não em termos de atos e consequências,
mônica e contra-hegemônica na contribuição para a perpetuação e
segundo o desconhecimento ideológico das “relações raciais”; tal
enfrentamento ao racismo institucional no Brasil por uma série de
situação possui indecidibilidades, ambiguidades, deslocamen-
motivos. A “universalização do sujeito de direito” é um dos motivos
tos, etc, exigindo, na busca de superá-las, uma série de decisões
principais e relaciona-se diretamente com o que dissemos acima
ético-semânticas dos sujeitos sociais envolvidos, cuja interação,
sobre o desconhecimento ideológico do racismo e a ausência ou
no contexto das ações legais, devem resultar na decisão judicial
precariedade de dados raciais no sistema de justiça.
(SALES JÚNIOR, 2006, p. 65).
Esta ausência e precariedade de dados nos confrontam com as
A decisão judicial, assim como os produtos decorrentes da prestação
demandas comprobatórias exigidas pela ciência hegemônica para
de um serviço jurídico, é fruto dessas indecidibilidades, ambiguida-
admitir determinado fenômeno como sendo importante. A mar-
des e deslocamentos decorrentes do efeito do desconhecimento
ginalização de saberes tidos como irrelevantes, a criação de falsos
ideológico do racismo. Esses deslocamentos também limitam o
problemas e a atribuição de um não sentido também se relacio-
avanço das discussões sobre a questão racial e performam resulta-
nam com as formas autorizadas de se produzir conhecimentos
dos racistas. Por exemplo, no teor das sentenças e na ausência de
sobre a realidade. A necessidade de produzir e apresentar dados
dados raciais no Judiciário, no tipo de tratamento dado aos usuá-
de forma cartesiana, confrontando as categorias raciais como variá-
rios de serviços jurídicos nas instituições do sistema de justiça, que
veis dependentes para avaliar fenômenos nos impõe uma grande
são tratadas como neutras, objetivas, imparciais. De acordo com
dificuldade que advém do nosso primeiro grande resultado de
Ronaldo Sales Júnior (2006, p.221):
pesquisa: a ausência e/ou precarização da racialização do debate
O desconhecimento ideológico das relações raciais, portanto, é nas Defensorias Públicas.
decorrente não meramente de obstáculos teóricos e metodoló-
Além disso, os moldes hegemônicos de produção do conhecimento
gicos, mas estes obstáculos são barricadas e trincheiras de uma
sobre o sistema de justiça estão pautados, na maioria das vezes,
luta política travada no e pelos discursos científicos. Todavia,
por pesquisas dedutivas e quantitativas, que valorizam um tipo de
estes obstáculos, ao mesmo tempo em que impedem o avanço
dado ainda invisível e não coletado, desconsiderando a categoria
de um terror racial no discurso científico, impedem, também, o
raça na grande parte dos serviços jurídicos.
avanço de um discurso racial emancipatório, mantendo as duas
forças num equilíbrio assimétrico, pois, não se instaura o terror,
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A título ilustrativo, a inclusão de variáveis como gênero, raça e A não racialização do debate, ainda que em termos de “negritude”
orientação sexual, por exemplo, nos permitiria confrontar dados ou “branquitude”, nos impõe sempre a compreensão de que os
relacionados aos modos de tratamento dados aos diferentes usuários resultados das lides judiciais e conflitos extrajudiciais são predo-
no que concerne à durabilidade dos atendimentos, ao acesso às minantemente informados por características universais, descon-
instâncias superiores, aos tipos de demanda (penais, cíveis, traba- siderando os aspectos sociais que forjam os próprios sujeitos e as
lhistas, consumeristas, etc.), à quantidade de condenações ou absol- instituições e o papel performativo dos fenômenos discriminatórios
vições, tipos de argumentos utilizados e legislações mobilizadas, como o racismo, o machismo e a lgbtfobia.
a localização e quantidade de núcleos da Defensoria distribuídos
Há uma distinção interessante entre os sujeitos reais (público de
por território considerando-se a quantidade de usuários, o número
usuários dos serviços de justiça) e os sujeitos ideais (sujeito de direito)
de defensores em comparação a outras estruturas do Judiciário e
universais percebidos pelo direito. A noção de sujeito de direito
defensores, aos salários dos defensores, etc.
universal que permeia o imaginário jurídico brasileiro é a noção
A classe ainda é tomada como uma categoria predominante diante forjada durante as revoluções burguesas na Europa e reforçada pela
dos demais marcadores sociais da diferença. Isso, o que poderíamos ideologia liberal (do sujeito sem raça, sem classe e sem gênero),
chamar de reducionismo econômico e a subestimação das funções que possui o seu parâmetro de normalidade e correspondência na
simbólicas e materiais dos demais marcadores sociais da diferença, figura do homem branco burguês europeu.
nos impede de designar especificações adjuvantes e contingentes
Com base nos alicerces do liberalismo europeu, o sujeito de direito
na reprodução e enfrentamento do racismo.
no Brasil foi “normalizado” a partir de uma perspectiva patriarcal,
A utilização da classe como categoria prevalente nos induz ao erro branca, machista, heteronormativa e racista. Além disso, a hege-
de pensar que “raça e classe” são a mesma face de uma moeda ou monia do pensamento liberal conservador e do modo de produção
elementos que nos permitem avaliar todos os fenômenos sociais a capitalista nos fez naturalizar as relações de propriedade, de expro-
partir das mesmas lentes. Indiretamente, esse modo de perceber os priação e exploração dos bens (simbólicos e materiais), do trabalho,
marcadores sociais da diferença faz com que as instituições ajam do tempo e dos mais vulneráveis pelos mais poderosos. Esse olhar,
como se vivêssemos em uma “democracia racial” ou em condições que supervaloriza a instância econômica, empobrece o debate e
de equidade de gênero, por exemplo. É como se pensássemos que, a apreensão da realidade social complexa e nos priva de discutir
tendo a mesma renda, negros e brancos teriam oportunidades e encontrar possíveis soluções para os conflitos e desigualdades.
iguais de ascensão social, o que não é verdade. A “não racialização
A necessidade de racialização do debate apresenta-se para nós em
dos debates” e a simples “prevalência da categoria classe” para a
termos não morais. Esta é uma necessidade que se impõe para
produção de hierarquia e avaliação dos marcadores sociais ignoram
pensar como as diferenças de raça, assim como as diferenças de
a própria existência do racismo e reforçam a ideia da igualdade
classe e de gênero, interferem no oferecimento de determinados
formal dentro do direito.
serviços e na execução de determinadas políticas públicas, seja no
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que concerne à manutenção de privilégios, seja no que concerne realidade social de maneira transversal, considerando o seu caráter
à manutenção de opressões. de “visibilidade” e “permanência no tempo”.
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e do racismo, pela abertura à sociedade civil e pela incorporação de da sociedade civil, movimentos sociais e instituições integrantes
pautas sociais na construção de novos conceitos e práticas. Repensar do sistema de justiça (FÓRUM JUSTIÇA, 2017, p.2)
tecnologias de participação a partir do que os novos sujeitos sociais Para se pensar a formulação e a reforma de políticas sociais de
apresentam como demanda é um passo importantíssimo para a enfrentamento ao racismo institucional é imprescindível consi-
consecução deste processo. derar a perspectiva e entendimento dos movimentos sociais e a
Lembramos que algumas das preocupações dos participantes do participação social nos espaços de discussão e tomada de decisão.
workshop “Sistema de Justiça e Racismo Institucional” relacionam-se É preciso encarar os movimentos sociais como atores políticos
à dificuldade em estabelecer alianças e vínculos políticos sólidos e proporcionar a intervenção direta desses sujeitos nos âmbitos
e comprometidos com o enfrentamento ao racismo; à não com- políticos, jurídicos e econômicos como estratégia de ruptura com
preensão do sistema de justiça enquanto serviço público; à exclusão o anacronismo do direito para a superação das suas crises de legi-
da participação da sociedade civil dos processos decisórios; à falta timidade e de concepções de justiça.
de transparência nos processos administrativos, dentre outros. Infelizmente, o reconhecimento da importância dos movimentos
A importância que Criola, enquanto organização da sociedade civil, sociais ainda é bastante incipiente no mundo jurídico. Além disso,
atribui à participação popular e ao reconhecimento dos movimentos existe um falso imaginário popular que dissemina a ideia de que
sociais nos processos de tomada de decisão dentro das instituições a apatia política é característica do povo brasileiro. O que não se
públicas, inclusive no sistema de justiça, nos processos de formu- problematiza com essa afirmação é que os movimentos sociais são
lação de políticas e nos processos de formulação de concepções reiteradamente silenciados e massacrados pela estrutura opressora
de Estado, nos remete a pensar o sistema de justiça, antes de tudo, do Estado, o que nos dá uma falsa impressão de passividade.
como uma política pública de acesso à justiça. O Fórum Justiça
pauta a importância deste reconhecimento e em sua proposta de Participação popular e políticas públicas de
pesquisa e afirma que: enfrentamento ao racismo institucional
O papel exercido por organizações e movimentos sociais nas O não reconhecimento pelo Estado dos movimentos sociais se
discussões que concernem aos desafios da democracia e de contrapõe ao enfrentamento e resistência diários exercidos sobre-
implementação dos direitos humanos ressalta a importância da tudo no âmbito da informalidade. Os setores mais desfavorecidos
ampliação dos circuitos de (re)conhecimento da funcionalidade da sociedade encontram-se desamparados, sendo a todo tempo
do sistema de justiça e da necessidade de identificação do perfil dissuadidos pelas técnicas estatais que reforçam cada vez mais a
institucional de suas estruturas e formas de representação de- vulnerabilidade dessas pessoas. Esta é uma pista que poderia nos
mocrática. Por outro lado, verificam-se empecilhos, muitas vezes ajudar a pensar, inclusive, por que as populações mais subalterni-
tomados como naturais ou disciplinares, ao estabelecimento de zadas acessam menos o sistema de justiça. É preciso desconstruir o
canais permanentes para o necessário diálogo entre organizações imaginário de apatia política também para proporcionar a utilização
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de um serviço adequado e eficaz, proporcionando ao usuário uma da Constituição Federal de 1988 surgiram várias inovações legais
experiência satisfatória que lhe traga mais dignidade. acerca da ampliação da participação popular (DAGNINO, 2004).
Entendemos que o enfrentamento à despolitização repressiva passa O processo que se sedimenta desde a mobilização/participação
obrigatoriamente pela inserção dos atores sociais nos campos de popular até a formulação/implementação de uma política pública,
disputa jurídica, econômica e política e pelo enfrentamento direto é, contudo, um processo bastante complexo e que não ocorre de
à manutenção de privilégios do grupo opressor. Esse processo se maneira linear. Desde I) a preocupação com determinado conjunto
dá a partir de uma ruptura social, pela mudança das estruturas e de coisas, passando pela II) sua transformação em um problema
pela equalização das relações de poder a fim de promover o exercí- político, à III) formulação de uma política pública, podemos ima-
cio efetivo da cidadania e atender às demandas dos atores sociais, ginar percursos conflitivos em que se faz necessário administrar
produzindo novos direitos e novos espaços sociais. as tensões, sendo o ‘momento da formulação de alternativas um
dos momentos mais importantes do processo decisório, pois, é
Encarar as políticas públicas como uma forma contemporânea de
o momento em que os atores manifestam os seus interesses e
exercício do poder resultante da interação entre Estado e sociedade
entram em confronto’ (RUA, 1997).Nesse processo de administração
(GIOVANNI, 2009) ainda é bastante difícil no Brasil, Estado tradicio-
das tensões sociais as possibilidades e impossibilidades de atribuir
nalmente conservador, que dá pouca ênfase ao bem-estar social
relevância a determinado conflito são resultantes de uma complexa
e que, historicamente, adquiriu uma posição de fazedor e não de
rede de demandas, interesses e suportes.
regulador das relações, assumindo uma tradição de crescimento
muito mais no âmbito econômico do que de proteção social ao O debate sobre cotas raciais nos é caro para pensar as mudanças
conjunto da sociedade (BACELAR, 2003). estruturais a partir de demandas sociais que se transformaram em
políticas públicas. A aplicação da política de cotas raciais sofreu e
Nesse quadro de “administração” da vida em sociedade é impres-
vem sofrendo inúmeras represálias sob os argumentos de “racismo
cindível ressaltar a importância das políticas públicas enquanto
às avessas”; potencial geração de ódio racial entre aqueles que
práticas capazes de distribuir o poder entre a sociedade e o Estado,
seriam ou não beneficiados pela política; queda do nível intelectual
fazendo com que a sociedade participe diretamente dos processos
e performático das instituições; dentre outros argumentos pautados
de discussão que envolvem a política e os demais mecanismos de
no mito da meritocracia, por exemplo.
regulação e reconstrução social.
De forma polêmica, o sistema de cotas nas universidades públicas
No Brasil, a participação popular começou a receber novos olhares
e mais tarde nos concursos públicos para provimento de cargos
a partir das décadas de 70/80. A vontade de participação política se
efetivos e empregos públicos estabeleceu-se como uma política
fortaleceu com a ação dos movimentos sociais e a crise da ditadura
afirmativa importante no Brasil e gerou debates intensos nos círcu-
militar, pois a população se mobilizava cada vez mais a favor da
los acadêmicos, midiáticos, políticos e sociais. Embora em algumas
descentralização política e da abertura democrática. Com o advento
instâncias existisse o consenso de que algo precisava ser feito para
diminuir as desigualdades sociais, alguns consideravam e conside-
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ram que a política de cotas poderia até solucionar o problema ao decisão, envolve ações estrategicamente selecionadas para a sua
mesmo tempo em que geraria outros. implementação. Sem o debate, a política fica à mercê de quem
Estimulados pelas controvérsias e debates, os políticos e a sociedade as formulou, podendo a qualquer momento ser obstruídas. Nesse
a desigualdade racial nas instituições como um problema político Vale observar que a obstrução pode ocorrer até mesmo antes
e a política de cotas entrou na agenda pública brasileira. Com isso, da formulação do problema, impedindo que ele passe de um
foram desenvolvidas as discussões sobre como a implementação estado de coisas a um problema político. E pode ocorrer também
dessa política poderia ser feita. No que concerne à política de cotas depois da formulação, de maneira que as decisões não sejam
na Defensoria Pública, a sua implementação não se deu ao mesmo transformadas em ações, no momento da implementação da
tempo em todos os Estados. No Rio de Janeiro, o primeiro concurso política. Pode ocorrer, e frequentemente ocorre, que determinados
da Defensoria Pública com cotas raciais para negros e índios foi atores que se opõem a uma política por princípio, participam do
realizado em 2012 após a aprovação da Lei Nº 6067/2011, que foi processo de formulação com o intuito deliberado de impedir que
sancionada em outubro de 2011. Ainda hoje existem Defensorias se chegue a uma decisão - qualquer que seja ela. O seu interesse
Públicas que não regulamentaram a política de cotas. é de que a política não seja decidida e que as coisas continuem
como estão. Nesse caso, é relativamente fácil observar a estra-
A política de cotas raciais no Brasil foi fruto de discussões e enfrenta-
tégia de obstrução, que se manifesta no comportamento dos
mentos constantes envolvendo intelectuais, políticos e movimentos
atores de diversas formas: propondo medidas extremamente
sociais e que contou com a intensa participação do movimento
radicais, não negociando, fazendo exigências descabidas, etc.
negro enquanto legitimador de uma luta que buscava e busca
(RUA, 1997). [Grifos nossos]
reduzir desigualdades históricas. Contudo, muitas vezes o processo
de criação e implementação de uma política pública é feito sem a A consecução de um projeto de política pública de acesso à justiça
participação dos atores envolvidos no processo de formulação. Esse também está sujeita a essas obstruções. É importante identificar,
processo pode resultar em decisões carentes de debate público e por exemplo, a partir deste raciocínio, as obstruções que vem sendo
que refletem interesses meramente pessoais ou corporativos que encontradas pelas Defensorias Públicas dos Estados na concepção,
excluem outros atores sociais, geralmente os marginalizados, e que implementação, execução e avaliação das políticas de enfrenta-
contribuem negativamente para questões sociais e econômicas. mento ao racismo institucional dentro do sistema de justiça. A
De um modo geral, não devem os atores sociais, ainda que não dotação de ineficácia à política de cotas nas Defensorias Públicas
formalmente organizado em partidos ou movimentos sociais estru- Estaduais com concursos que não conseguem aprovar cotistas é
turados, serem furtados à participação das decisões que os atin- um exemplo de obstrução de uma política pública.
gem direta e indiretamente. A falta de debate público acerca das A participação popular e o exercício da cidadania constituem-se
questões relevantes e as ações provenientes desses debates são importantes instrumentos a serem mobilizados contra a obstrução
o marco inicial de uma trajetória que envolve mais do que uma
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das políticas públicas no âmbito da formulação, acompanhamento podemos citar a falta de discussão e a desqualificação dos debates
da implementação e avaliação das políticas públicas. em decorrência da utilização de falsas premissas; a ausência de
transparência das questões e dos argumentos; a falta de acesso (no
O debate sobre a política de cotas raciais é visto por alguns como
caso de imposições antidemocráticas) e o falso acesso (quando a
um debate bastante polêmico por se tratar de uma política de
fala de algum dos atores é ignorada) aos debates; a implementação
arena redistributiva que busca harmonizar as opressões e os privi-
enganosa (quando já se pretende a obstrução da política em uma
légios. A ideia de redistribuição gera pânico não só por seu caráter
etapa posterior); demais obstruções ideológicas e materiais (como
redistributivo, mas por trazer a compreensão dessa redistribuição
a não disponibilização de recursos humanos e materiais para a sua
como um direito. Sobre a arena redistributiva:
execução). No caso da política de cotas raciais, o principal problema
pode-se imaginar quão conflitiva é a natureza de uma ques-
a ser vencido na arena da discussão foi de cunho valorativo: o próprio
tão redistributiva, não tanto pelo resultado da política que ela
racismo em si, refletido mais uma vez no discurso da meritocracia
produz (redistribuição), mas pelas “expectativas sobre o que ela
e no desconhecimento ideológico das relações raciais.
pode vir a ser ou ameaçar. (...) Do que foi dito até aqui, podemos
A defesa das cotas raciais foi estratégica para o movimento negro.
depreender que questões específicas (relativas a determinadas
Apesar da resistência do Ministério da Educação à época, o docu-
“arenas de poder”) acabam por formatar sua base de apoio ou
mento oficial que o Brasil levou à Conferência das Nações Unidas
rejeição, e a forma pela qual essas coalizões inter-relacionam-se,
contra o Racismo, em Durban, na África do Sul, propôs a adoção
para transformá-las em políticas públicas. Por isso, afirma Lowi,
de cotas ou outras medidas afirmativas para garantir o acesso
as políticas públicas determinam a política. Elas estruturam o sis-
de negros às universidades públicas brasileiras. O documento foi
tema político, definem espaços e atores, e delimitam os desafios
aprovado e apresentado ao então presidente do Brasil Fernando
que os governos e as sociedades enfrentam (RODRIGUES, 2010).
Henrique Cardoso. O relatório elaborado pelo comitê responsá-
A política de cotas raciais é, portanto, apesar da crítica que recebe
vel, que reuniu participantes do governo e da sociedade civil e
como política neoliberal de assimilação, uma política cujos impactos
que era presidido pelo secretário de Estado de Direitos Humanos,
atingem categorias amplas. As cotas são conflitivas sobretudo do
embaixador Gilberto Vergne Saboia, continha um diagnóstico da
ponto de vista da reestruturação social. Diferentemente de políti-
situação do racismo e da discriminação no Brasil e listava medidas
cas públicas que se apresentam com caráter meramente formal
já adotadas pelo governo brasileiro e propunha novas medidas de
ou com caráter de continuidade, as políticas de cotas raciais nos
combate ao problema.
têm dado resultados práticos que dizem respeito a um problema
Apesar de não apresentar teor deliberativo, o documento buscava
visceralmente político que envolve fortes questões valorativas e,
orientar as políticas para os órgãos executivos responsáveis, como
também por esse motivo, são fortemente rebatidas.
a adoção de “medidas reparatórias” por meio de políticas públicas
Muitos são os obstáculos para a formulação e implementação de
de superação da desigualdade e previa também a criação de uma
uma política pública exitosa. Dentre os obstáculos mais comuns
secretaria de promoção da igualdade racial, hoje extinta. O docu-
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mento trazia também recomendações para combater a discrimina- da mídia, que influencia muito a formação da opinião pública e
ção contra portadores de deficiência. Este relatório foi influenciado tem se mostrado conservadora no que tange às transformações
pelo documento final da Conferência Nacional contra o Racismo e a sociais mais polêmicas; a utilização de uma linguagem rebuscada
Intolerância realizada no Rio de Janeiro em julho de 2001, a chamada e ambígua, que estimula a confusão ou o erro; a hierarquização das
“Carta do Rio”, que já trazia a frase “estabelecimento de cotas para práticas de acesso; bem como a falsa ideia de implementação e as
negros nas universidades”, que mais tarde se tornaria uma grande permanências ideológicas racistas.
pauta do movimento negro (ALBERTI & PEREIRA, 2006).
Vê-se que essa obstrução pode ser realizada sutilmente ou de forma
Ainda que a previsão legal da promoção da igualdade racial não explícita, extravagante. Por isso, é importante promover o acesso à
fosse suficiente para concretizá-la, é possível observar que a mate- discussão sobre os problemas políticos começando desde a lingua-
rialização de programas, projetos e serviços de “reparação” surgiram gem com a qual se discute e indo até os instrumentos institucionais
na medida em que o enfrentamento ao racismo passou a se tornar utilizados em sua implementação e posterior avaliação.
uma política de Estado. Se por um lado “os índices de desigualdade
Dentre as diversas crises que vivemos atualmente, a falta de discus-
da população negra se expressam por meio da constatação empírica
são do estado de coisas e a carência no diálogo entre Estado e socie-
da precariedade das condições de vida dos afrodescendentes brasi-
dade civil são os pontos que mais representam a falta de “espaços
leiros, inclusive do ponto de vista da naturalização desse fenômeno”
públicos” (encaramos aqui o espaço não só em sua dimensão física,
(JUNIOR, 2017), por outro lado é possível observar a importância de
mas também simbólica e volitiva daqueles que detém os espaços
explicitar projetos raciais das instituições, organizações e serviços
de discussão) para discutir o que nos acontece cotidianamente.
em seus planejamentos de enfrentamento ao racismo e promo-
Desse modo, soma-se à hipertrofia das políticas públicas incom-
ção da igualdade racial, o que ajuda a ultrapassar a sistemática de
preendidas ou falsamente compreendidas a pequena participação
ausência de informações ou pautada em informações enganosas.
popular em suas formulações. O sentimento frustrado de repre-
Só assim é possível compreender como as instituições se preparam
sentação também reflete a crise da participação/representação no
para receber o público cotista. Como poderíamos hoje observar o
contexto em que deveria existir uma maior correspondência entre
modo como as instituições se preparam para receber mulheres,
as carências de grupos sociais e as ações destinadas a eles.
negros e pessoas com deficiência? Como as instituições expres-
A formulação de políticas sociais, desde os espaços de discussão até
sam a sua cultura institucional? Quais são as manifestações que
a implementação, é uma arena possível de concretização da luta
apresenta ao seu público?
pela igualdade de direitos, de extensão da cidadania e da participa-
Essa desinformação ou a informação enganosa retira do jogo os ato-
ção da sociedade no esforço de assegurar os direitos dos cidadãos.
res que poderiam contra-argumentar, sugerir melhores estratégias
O conhecimento e a participação na formulação das políticas públi-
ou novas possibilidades no quadro de formulação e, principalmente,
cas são ações importantes para que os movimentos sociais possam
tentar desconstruir os argumentos preconceituosos acerca de
acompanhar o processo que vai dotar essas políticas de eficácia,
determinados temas. Contribuem para essa situação o monopólio
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analisar a sua viabilidade e os suportes disponíveis àquela política. travadas. Discussões em que os atores compreendam o que se
O conhecimento desses suportes advém também de processos de discute e se façam escutar. A formulação das políticas públicas
discussão e conhecimento antes de se tornarem consequências de deve ser pública não só devido ao caráter imperativo da ação, mas
processos decisórios. Para isso também são necessárias as pesqui- também por conta do processo democrático resultante da sua
sas e a transparência na divulgação dos dados e nas estratégias de tomada de decisão e dos atores capazes de acompanhar e avaliar
ação e organização das instituições. o seu processo.
A grande complexidade que envolve as políticas públicas (atores, Percebemos nuances de conquistas e retrocessos no cenário nacio-
interesses, ações, reações, contextos) faz delas um componente nal no que concerne à participação popular nas instituições do
sempre mutável na fluidez dos acontecimentos contemporâneos. sistema de justiça. No âmbito da Defensoria Pública, podemos citar
No processo de formulação de uma política pública, as crenças, como exemplo duas situações assimétricas: ao mesmo tempo em
os valores e as ideias sobre uma determinada questão podem ser que a ativista e socióloga Vilma Reis, figura de importância reco-
defendidos ou atacados por um grupo que pode ou não compar- nhecida pelos movimentos sociais da Bahia, ocupava o cargo de
tilhar dessas crenças, valores ou ideias (GELINSKI, 2008). ouvidora externa na Defensoria Pública da Bahia e se preparava
para ser sucedida por outra mulher negra representante de movi-
Quando falamos de questões polêmicas, como as que envolvem
mentos sociais chamada Sirlene Assis, em São Paulo tentava-se
a temática racial, sobretudo no Brasil, se faz necessário ter uma
acabar com a Ouvidoria Externa da Defensoria Pública do Estado.
sensibilidade para acompanhar o processo e, principalmente, argu-
Naquele Estado, a escolha do ouvidor externo, como nos informa
mentos sólidos para contestar as forças conservadoras. A pressão
Alderon Costa (2017) em publicação no jornal O Estado de São Paulo,
política pressupõe, portanto, um estado mínimo de organização
já elimina a participação da sociedade civil organizada:
capaz de incomodar aqueles que decidem pela relevância política
de determinada situação. No dia 13/07/2017 o Conselho Superior da Defensoria Pública do
Estado de São Paulo decidiu modificar irrevogavelmente o mo-
A formulação de uma política pública pode representar uma impo-
delo de escolha do Ouvidor-Geral Externo da instituição. O mo-
sição hegemônica ou uma pretensão social legítima. A mobilização
delo vigente até então enfatizava o protagonismo da sociedade
dos atores interessados nessa política pública se faz necessária para
civil, revelando o consenso específico em torno do qual ocorreu
representar os seus interesses e enfrentar o problema da falta de
a construção inicial da instituição. A nova forma de eleição, por
participação na formulação das políticas públicas para que, sabendo
sua vez, elimina totalmente a participação da sociedade civil
da existência delas, possa haver a compreensão, a participação e a
organizada – o processo agora será organizado apenas por de-
avaliação em seu processo.
fensores públicos, e os votantes serão indivíduos que se inscre-
A agenda pública deve ser resultante da participação de diversos
verão previamente –, escancarando a nova versão assumida pela
atores, de preferência com ampla representatividade, para que o
instituição: individualista, desarticuladora e contrária a qualquer
processo democrático valha efetivamente a partir das discussões
forma de expressão popular.
50 51
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
Para além do seu impacto imediatamente prático – o próximo sentativa àqueles que sonharam a instituição muito antes deles
Ouvidor-Geral deixará de representar interesses dos setores or- sequer sonharem com o privilégio de seu substancioso salário,
ganizados de defesa dos direitos humanos e do acesso à justiça combinado com gratificações e diárias. Numa tentativa impu-
pelas populações vulneráveis – a decisão vem coroar, do ponto nemente bem-sucedida vão soterrando o engajamento que é, e
de vista simbólico, o fim de um projeto de Defensoria Pública sempre será, a marca de origem da instituição, com a narrativa
sonhado pelos defensores pioneiros conjuntamente com amplos bem-comportada da equiparação ao Poder Judiciário e ao Mi-
movimentos sociais. Nesse sentido, a eliminação integral dos nistério Público. (COSTA, 2017)
movimentos sociais do processo de escolha de sua própria repre-
Ao serem ilustrados antagonicamente, esses casos refletem uma
sentação na instituição é o signo máximo das opções políticas
conjuntura de fatores que se devem a relações de força e de poder.
e ideológicas feitas pela Defensoria, e sintetiza a sua derradeira
Compreender a política como mobilização de ações em prol de
integração à burocracia judiciária.
interesses pode nos ajudar também a identificar quais sãos os
Como se sabe, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo foi interesses manifestos e latentes de determinadas ações, discursos,
uma das últimas do país a ser implementada, à medida que instituições ou governos.
sua própria existência afrontaria interesses poderosos em nosso
Uma política pública é antes de tudo uma política e traz consigo
estado, do poder executivo sistematicamente violador de direi-
cargas valorativas e de interesse, o que nos faz problematizar mais
tos, aos advogados enquanto classe corporativa. Por isso, o fator
uma vez a hierarquia de prioridades dos governos quando decidem
decisivo para que a instituição saísse do papel, em que figurava
privilegiar algumas políticas em detrimento de outras. De acordo
como previsão constitucional, foi uma amplíssima mobilização da
com a perspectiva foucaultiana, quando um governo adota o racismo
sociedade civil, que aglutinou uma pluralidade impressionante
(na perspectiva do biopoder e não especificamente na perspectiva
de pontos de vista e de atores, congregando desde movimentos
racial de cor) como estratégia de governamentalidade e institui a
de cultura, a associações de bairro, ONGs, movimentos sociais,
partir daí as suas técnicas de normalização, ele estabelece os seus
especialistas, grupos universitários, igrejas, partidos políticos. A
dispositivos de dominação disciplinar dos corpos e regulamentar
criação da Defensoria Pública é um marco de memória coletiva
das populações; ele decide quem morre e quem vive. Antes, a partir
da luta por direitos humanos em nosso estado, à medida que
das relações de poder pautadas na soberania, decidia-se a quem
em todos os espaços da militância histórica é possível encontrar
deixava-se viver e a quem fazia-se morrer. A partir das estratégias
pessoas que participaram ativamente daquela mobilização.
modernas de governamentalidade, decide-se a quem se deixa
No entanto, não foi necessário mais do que dez anos de existên- morrer e quem se faz viver (FOUCAULT, 2000).
cia para que uma camada da casta burocrática que se apossou
Perguntamos: a quem deixamos morrer e a quem fazemos viver
da instituição iniciasse um processo de revisão desse passado
com as ações, discursos e ideologias disseminados pelas instituições
histórico, impondo ilegitimamente, sem qualquer debate subs-
que compõem o sistema de justiça?
tancialmente democrático, a sua visão de democracia repre-
52 53
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
A estruturação das políticas públicas e a ausência de garantias e Devemos, contudo, somar a esse raciocínio a ideia de que o Judiciário
proteção a direitos, bem como a ameaça a esses direitos, são fenô- brasileiro não surgiu para atender à população negra, ou ainda, de
menos que não se tratam de performances isoladas que produzem que quando as instituições do Judiciário foram implementadas
e reproduzem o racismo, afetando diretamente as condições de vida os negros eram majoritariamente objetos de direitos comparados
e de morte da população negra e não negra no Brasil. Aos negros aos bens móveis, aos semoventes. Como pensar, portanto, a con-
ainda se faz morrer. secução do negro enquanto um sujeito ético no Brasil se durante
muito tempo sequer poderíamos falar do negro enquanto sujeitos
Tomamos o contexto histórico-político do Brasil a partir de uma
de direito? Precisamos questionar a todo momento as permanên-
perspectiva construtivista a fim de compreender as razões e prio-
cias históricas decorrentes da escravidão e do racismo cotidiano
ridades do Estado e das instituições e o seu papel na reprodução e
estrutural, institucional e relacional.
enfrentamento de opressões raciais. Buscamos compreender como
a (não) implementação de políticas públicas no Brasil, sobretudo no Aqui estamos falando mais do que de uma relação que estabelece
tocante aos marcadores sociais da diferença, serve para aprofundar uma hierarquia baseada em raça; estamos falando da necessidade
as desigualdades e comprometer o desenvolvimento da popula- de enfrentamento de uma realidade complexa que exclui, explora
ção negra, mantendo os privilégios da “branquitude” na medida e extermina os sujeitos a partir de múltiplas dimensões identitárias,
em que favorece a perpetuação das ideologias e práticas racistas. relacionais, institucionais e estruturais. Pensar o sistema de justiça
no Brasil implica pensar a racialização de todos os debates como
Desse modo, para pensar rupturas a partir de dentro de uma estru-
tarefa imprescindível.
tura racista, é preciso assumir a existência de alguns mitos em
nossa sociedade e tentar desmistificá-los. O primeiro deles seria O racismo, enquanto experiência cotidiana, opera a partir das práti-
o próprio mito da democracia racial, que até hoje não obteve um cas naturalizadas, projetadas e incorporadas nas dinâmicas sociais
“direito de resposta eficaz”, relacionando-se com outros mitos como e introjetadas nas subjetividades das pessoas, tornando-se muitas
por exemplo o mito da meritocracia ou o mito da neutralidade das vezes imperceptíveis, mas que se reproduzem em diversas instân-
instituições de justiça. cias sociais. O racismo, enquanto experiência cotidiana, opera a
partir das organizações institucionais que pautam a manutenção
A hegemonia capitalista nos provoca a refletir sobre a problemática
das estruturas de poder, de pensamento, de ideologia e de ação.
do reducionismo econômico no que concerne à ponderação dos
marcadores sociais da diferença e a assunção de um pensamento Visamos problematizar a dimensão formal jurídico-legal, que não
interseccional. Nesse caso, precisamos compreender que as cate- é suficiente para dar conta da problemática do racismo dentro do
gorias raça, classe e gênero estão conectadas por questões estrutu- sistema de justiça no Brasil. Por isso, precisamos propor um novo
rais e estruturantes decorrentes do modo de produção escravista, olhar sobre o sistema de justiça e também sobre o racismo. É neces-
misógino, patriarcal e elitista sob as quais se configurou o Brasil. sário pensar o enfrentamento ao racismo institucional desde a com-
preensão do conceito até a execução de políticas públicas a serem
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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
implementadas, passando pela cultura jurídica das instituições e Para isso, nos colocamos como objetivos específicos conhecer e
o modo como se organizam (ou não) para responder ao racismo. compreender como se estruturam as Defensorias Públicas dos
sistema de justiça implica a racialização dos debates no Judiciário, resultados da análise da (não) implementação de estruturas, proje-
a visibilização das opressões por meio da produção de dados e tos, núcleos, atividades e programas de enfrentamento ao racismo,
pesquisas, da produção de memórias das lutas e conquistas dos apresentando recomendações com base nas discussões teóricas e
mativas de integração e de mudanças da estrutura institucional, do Criola e Fórum Justiça estimam que a presente pesquisa seja orien-
combate a mitos como o da democracia racial e de uma atuação tada para intervenção, podendo contribuir para a formulação e
explícita e assumidamente antirracista. reforma de políticas de enfrentamento ao racismo dentro ou a
partir das Defensorias Públicas. Além disso, a presente pesquisa
B) Proposta de pesquisa e metodologia de apresenta uma dimensão teórico-crítica, pois está orientada a
trabalho problemas de ordem política que são observáveis também no
mundo jurídico. Deste modo, a pesquisa visa conclusões críticas
Com o intuito de produzir um diagnóstico acerca do modo como as que permitam melhorar a sua estruturação e seu funcionamento
Defensorias Públicas Estaduais se estruturam e se organizam para e não simplesmente avaliativas.
o enfrentamento do racismo, o reconhecimento das desigualdades
Partindo do pressuposto de que as Defensorias Públicas Estaduais
raciais e a promoção de igualdade racial, Criola e Fórum Justiça se
possuem interesse em “desenvolver, monitorar e avaliar seus pro-
propuseram a realizar uma reflexão empírico-teórica qualitativa.
cessos de eliminação do Racismo Institucional na totalidade de suas
Esta pesquisa se deu com base em análise documental institucional,
ações e processos” (GELEDÉS, 2013b, p. 44), pretendemos observar
observação em campo, bem como coleta de dados secundários e
“a vigência, pertinência e adequação das iniciativas de eliminação
produção de dados primários a partir da aplicação predominante
do Racismo Institucional nas políticas de proteção social” (GELEDÉS,
de questionários e realização acessória e incidental de entrevistas
2013b, p. 44) desta instituição. Em outras palavras, buscaremos
semiestruturadas.
observar os processos de criação e implementação de “medidas e
Deste modo, com o objetivo de observar e analisar como as mecanismos capazes de quebrar a invisibilidade do racismo insti-
Defensorias Públicas têm enfrentado e reconhecido o racismo e tucional, de romper a cultura institucional” (GELEDÉS, 2013b, p. 20).
as suas dinâmicas de exclusão, desigualdade e opressão, e como
Propomos, portanto, realizar a presente pesquisa predominante-
tem (ou não) promovido a igualdade racial, lançamo-nos ao desafio
mente a partir da análise da estrutura organizacional das Defensorias
de compreender: “as Defensorias Públicas possuem dinâmicas de
Públicas dos Estados e de como o racismo institucional nela se
enfrentamento ao racismo dentro do sistema de justiça brasileiro?
inscreve. Para isso, no que concerne à construção das bases teóri-
Como funcionam?”
cas da pesquisa e da produção de dados, utilizaremos como base
56 57
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
os indicadores trazidos no Guia de Enfrentamento ao Racismo - Adoção de critérios de admissão e promoção baseados na
Institucional: necessidade de promoção da diversidade e da equidade.
- Periodicidade de estudos e avaliações internas sobre inci- - A instituição utiliza periodicamente ações para identificar a
dência do racismo. presença do racismo dentro da instituição? (...)
- Meta de enfrentamento ao racismo estabelecida e monito- - Todos os integrantes das equipes de trabalho informados e
rada pela direção da instituição. comprometidos com os princípios de promoção da equidade
e do enfrentamento do racismo.
- Existência de portaria interna ou outro tipo de regulamento
para o enfrentamento do RI. - Presença nas equipes de mulheres e homens heterossexuais,
homossexuais, travestis e transexuais, de diferentes gerações, de
- Comunicação institucional com diferentes linguagens (segundo
pessoas com deficiência e outros.
gênero, raça e cultura) e veículos acessíveis. (...)
- Percentual de mulheres, homens heterossexuais, homossexuais,
- Instância instalada em nível hierárquico superior e funcio-
travestis e transexuais, de diferentes gerações e condição física
nando adequadamente.
e mental com estabilidade funcional.
- Dotação orçamentária específica e livre de contingenciamentos
- Metas diferenciadas de ocupação de cargos de direção se-
- Equipe qualificada com diversidade de gênero, raça e cultura.
gundo gênero, raça, identidade de gênero.
- Instância independente, em nível hierárquico superior e com
- Processos de monitoramento e avaliação periódica do alcance
capacidade de indução vertical e horizontal das ações.
das metas, instalados. (...)
- Redução do racismo institucional como um dos indicadores
- Equipes treinadas para coleta da informação e preenchi-
da qualidade da ação da direção da instituição e da prestação
mento dos formulários. Informações objetivas e acessíveis
de serviços. (...)
acerca do significado desta informação, disponíveis para os
- Proporção de mulheres e homens negros, indígenas e ou- diferentes públicos.
tros ocupando posições de relacionamento com o público em
- Calendário de avaliação periódica da qualidade da coleta e
relação à sua proporção na população local.
análise das informações estabelecido. Participação dos dife-
- Política institucional de incentivo à qualificação e ocupação rentes grupos populacionais na análise e avaliação da coleta e
de cargos superiores por mulheres negras, indígenas e outras, das informações.
aprovada e implantada.
- Resultados da avaliação das metas de enfrentamento ao
- Mecanismos afirmativos para inclusão de mulheres negras, racismo alimentando o ciclo seguinte de planejamento. (...)
indígenas e outras na ocupação dos postos de direção insti-
tucional.
58 59
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
- Percentual de respostas afirmativas quanto ao acolhimento de - Calendário de avaliação periódica da qualidade da coleta e
diferentes sujeitos colhidas pelas ouvidorias, segundo gênero, análise das informações conhecido por toda a equipe e pela
raça, identidade de gênero etc. população. (...)
- Percentual de integrantes da equipe capazes de apresentar - Análise das informações apresentadas às equipes e ao público.
informações consistentes acerca do público e sua diversidade.
- Planejamento institucional baseado em dados atualizados
- Existência de protocolos de ação (estabelecimento de condutas pelas análises.
e procedimentos) adequados às linguagens e visões de mundo
- Avaliações das ações de enfrentamento ao racismo e de eli-
de cada grupo populacional.
minação das disparidades raciais divulgadas ampla e periodi-
- Percentual de respostas afirmativas a esta questão colhidas camente pelos diferentes canais de comunicação institucional.
pelas ouvidorias, segundo grupos populacionais.
- Grau de informação dos diferentes grupos acerca do calendário
- Grau de incorporação das recomendações e/ou deliberações de apresentação da prestação de contas.
das diferentes instâncias de participação nas políticas e ações
- Listagem de canais de divulgação ampla e diversificada. (GE-
institucionais. (...)
LEDÉS, 2013a, p. 17-25) [Grifos nossos]
- Ouvidoria instalada, acessível e com divulgação ampla.
Pretendemos assim analisar a organização das Defensorias Públicas
- Grau de participação de mulheres, homens heterossexuais,
dos Estados no enfrentamento ao racismo buscando apoiá-la com
homossexuais, travestis e transexuais, de diferentes gerações e
produção de dados e com reflexões conceituais e estratégicas.
condição física e mental na definição da política de comunicação
Realizamos, deste modo, um estudo analítico e prescritivo conside-
institucional.
rando prioritariamente as abordagens crítico-indutivas, a produção
- Proporção de ocupação de cargos na instituição, nos diferentes e a análise de dados.
níveis funcionais, por representantes dos diferentes grupos raciais
O controle de validade dos dados foi realizado a partir de proce-
segundo sua participação na população geral. (...)
dimentos de triangulação: a) de pesquisadores e membros da
- Ações para eliminação das disparidades raciais e do racismo sociedade civil, com reuniões para construir a pesquisa de maneira
como pauta permanente das reuniões de direção da organi- participativa e democrática; b) de teorias, considerando várias pro-
zação. duções sobre a temática racial e; c) interna, por meio dos questio-
- Metas de eliminação das disparidades raciais e de enfrenta- nários aplicados e pela realização de entrevistas semiestruturadas.
mento do racismo institucional monitoradas periodicamente A nossa principal técnica de pesquisa utilizada para o levantamento
pela direção. e produção de dados foi a confecção e aplicação dos questionários
- Indicadores de efetividade da política segundo raça/cor, sexo online, mas também procedemos à realização de entrevistas abertas
e identidade de gênero. e/ou semiestruturadas de maneira acessória à pesquisa bibliográfica
60 61
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
e documental. Também realizamos uma fase de pesquisa experi- (ANADEP)[2] e no site de cada Defensoria Pública Estadual, um ofício
mental orientada, estimulando eventos e discussões para promover em nome de Criola e Fórum Justiça com um login para acesso e
a discussão da temática com estudiosos e defensores públicos. uma senha exclusiva para a Defensoria Pública de cada Estado da
Federação, e Distrito Federal e Territórios. Os 27 questionários foram
A amostra utilizada foi híbrida. Os dados primários foram obtidos por
endereçados à Defensora ou Defensor Público-Geral de cada Estado.
entrevistas e por informações fornecidas pelos próprios órgãos por
Observamos, entretanto, que alguns endereços de e-mail estavam
meio de questionários online endereçados às Defensorias Públicas
errados. Alguns e-mails voltaram e outros não foram respondidos.
de cada Estado da Federação e também à Defensoria Pública do
Distrito Federal e Territórios. A esses se somam dados secundários Em decorrência das dificuldades de contato por e-mail e por tele-
provenientes de fontes bibliográficas, legislativas e também regu- fone e do baixo acesso ao questionário nos dois meses seguintes,
lamentos e regimentos próprios da Defensoria Pública, além da optamos por colocar em prática algumas estratégias para vencer
observação empírica da atuação da Defensoria Pública do Rio de a dificuldade de obter alguma resposta ao questionário.
Janeiro e do seu Núcleo Contra a Desigualdade Racial (NUCORA).
No dia 29 de junho de 2018, em vista da reunião do Colégio de
O questionário foi formulado com o intuito de observar como se Defensores Públicos-Gerais (CONDEGE) ocorrida na sede da
organiza a Defensoria Pública dos Estados. Para isso, nos pautamos Defensoria Pública do Rio de Janeiro, conseguimos um espaço na
na Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994, que organiza pauta de reunião e realizamos uma sucinta apresentação da pes-
a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios quisa. Entregamos uma via impressa do questionário para cada um
e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, e dá dos presentes com a explicação correlata e solicitamos uma lista para
outras providências. Existe, dessa maneira, uma correlação entre as que os mesmos preenchessem os e-mails e telefones através dos
categorias utilizadas para a elaboração do questionário e as Normas quais poderíamos entrar em contato. Nos questionários distribuídos
Gerais para a Organização da Defensoria Pública dos Estados. em mãos disponibilizamos também o contato das organizações e
da pesquisadora responsável pelo questionário.
Com base nesta metodologia, o questionário de pesquisa “Políticas
de igualdade racial e combate ao racismo nas Defensorias Públicas Em posse dos novos endereços de e-mail os ofícios foram reen-
dos estados e o enfrentamento ao racismo institucional no sistema caminhados nos meses de junho e julho de 2018. Seguimos um
de justiça” (Anexo 1) foi elaborado com exclusividade para a con- protocolo de comunicação por telefone a fim de nos certificar que
sultoria “Sistema de Justiça em Foco: dinâmicas de reprodução, todas as Defensorias tinham recebido e conseguido ter acesso aos
combate ao racismo e promoção da igualdade racial” e após ser questionários. A comunicação se estabeleceu com dificuldade
aprovado e testado foi alocado em área restrita no site do Fórum em alguns casos nos quais as Defensorias não sabiam informar se
Justiça em abril de 2018. tinham recebido o questionário, quem havia recebido e quem seria
a pessoa responsável por respondê-lo. Ligamos em média cinco
No dia 24/04/2018 enviamos, conforme endereços eletrônicos dispo-
vezes para cada Defensoria.
nibilizados no site da Associação Nacional de Defensores Públicos
[2] https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/defensorias_nacionais
62 63
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
Encerramos o recebimento das respostas do questionário no dia questionário e/ou se estavam precisando de alguma orientação
19/12/2018. Analisamos todas as respostas de questionários rece- para respondê-lo.
bidos. Obtivemos respostas consistentes de nove Estados e além Nessa etapa da pesquisa observamos que existe um problema de
disso realizamos entrevistas semiestruturadas com alguns defen- acesso à informação nas Defensorias Públicas dos Estados. Ainda
sores, ouvidores, diretores de núcleos e responsáveis pela Escola da que tenhamos lançado mão de todos os recursos mencionados
Defensoria. Os questionários enviados pelas Defensorias Públicas para que as Defensorias Públicas acessassem e respondessem ao
dos Estados encontram-se nos anexos. questionário, as Defensorias Públicas dos Estados do Alagoas, Amapá
Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Pernambuco,
C) Análise das respostas ao questionário Piauí, Rio Grande do Sul e Santa Catarina não o acessaram, forne-
cendo 0% das informações solicitadas.
Neste tópico iremos analisar as respostas dos questionários que
foram acessados e enviados à Criola e ao Fórum Justiça pelas As demais Defensorias Públicas acessaram o questionário e nos
Defensorias Públicas dos Estados do Acre, Amapá, Bahia, Ceará, ofereceram respostas discrepantes: a Defensoria Pública da Bahia e
Distrito Federal e Territórios, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas a Defensoria Pública do Maranhão responderam 2% do questioná-
Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, rio; a Defensoria Pública do Acre e a Defensoria Pública do Distrito
São Paulo, Sergipe e Tocantins. Todas as respostas foram observa- Federal e Territórios responderam 3% do questionário; a Defensoria
das para a confecção do presente relatório, independentemente Pública do Rio Grande do Norte respondeu 5% do questionário;
da sua consistência. a Defensoria Pública do Ceará respondeu 6% do questionário; a
Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul respondeu 18% do ques-
As Defensorias Públicas dos Estados de Alagoas, Amapá, Espírito
tionário; a Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul respondeu 18%
Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio
do questionário; a Defensoria Pública de Roraima respondeu 27%
Grande do Sul e Santa Cataria sequer acessaram o questionário,
do questionário; a Defensoria Pública do Pará 36% do questionário;
não tendo submetido qualquer tipo de resposta ou justificativa.
a Defensoria Pública de Sergipe respondeu 64% do questionário; a
Em suma, Criola e Fórum Justiça expediram ofícios internos ende-
Defensoria Pública do Amazonas e a Defensoria Pública de Minas
reçados à chefia institucional de cada Defensoria Pública Estadual;
Gerais responderam 68% do questionário; a Defensoria Pública de
realizaram uma etapa de tentativa de contato e acompanhamento
Rondônia respondeu 70% do questionário; a Defensoria Pública do
por ligações telefônicas; realizaram a entrega do questionário
Tocantins respondeu 76% do questionário; a Defensoria Pública de
impresso aos Defensores Públicos-Gerais na reunião do Colégio
São Paulo respondeu 89% do questionário; e a Defensoria Pública
de Defensores Públicos Gerais (CONDEGE) realizada na sede da
do Rio de Janeiro respondeu 92% do questionário.
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro na reunião do dia
Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República
19/12/2018; e realizaram também contato e acompanhamento por
Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região
e-mail contínuos para saber se as Defensorias haviam recebido o
com a indicação da porcentagem das respostas ao questionário.
64 65
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
66 67
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 1
Respostas ao questionário
por Defensoria Pública
I VII VIII
AC
I VII VIII
AM
I VII VIII
RR
I VII VIII
PA
68%
I VII VIII
76% TO
36%
3% I VII VIII
70% RO
68 69
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 1
Respostas ao questionário
por Defensoria Pública
I VII VIII
MA
I VII VIII
CE
I VII VIII
RN
2% 5%
6% I VII VIII
PB
0%
0% 0%
PE
0% AL
2%
64% SE
BA
PI
70 71
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 1
Respostas ao questionário
por Defensoria Pública
MG
68%
SP
ES
0%
RJ
89%
92%
72 73
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 1
Respostas ao questionário
por Defensoria Pública
0%
PR
0%
SC
RS
0%
74 75
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 1
Respostas ao questionário
por Defensoria Pública
MT
0%
MS
0% 3% DF
GO
14%
76 77
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
Considerações analíticas
Observamos que há dificuldade de acesso à informação em grande
parte das Defensorias Públicas Estaduais, tanto pela dificuldade
de contato com a própria instituição pelos meios fornecidos ao
público quanto pela disponibilidade e capacidade da instituição
em fornecer as informações solicitadas. As Defensorias Públicas dos
Estados, em sua maioria, não possuem os dados atualizados para
que o público possa acessá-la de maneira eficaz e não respondem
a contento as demandas de informações solicitadas.
PARTE I – INSTITUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DOS Neste tópico analisaremos as respostas às treze (13) perguntas do
QUADROS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ES- item I do questionário: I) Instituição e composição dos quadros da
TADO Defensoria Pública do Estado. As perguntas do item I do questio-
nário inquiriram sobre:
80 81
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
82 83
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 2
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AC
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AM
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AP
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RR
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PA
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
TO
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RO
84 85
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 2
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
CE
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RN
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PB
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PE
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AL
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
SE
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
BA
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1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
GO
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Na parte I do questionário analisamos a composição dos quadros da Espírito Santo LC 28/1992; LC 55/1994
Defensoria Pública com base nas declarações de gênero e de raça/
Goiás 19/04/2005 (1ª convocação de con-
cor dos defensores e defensoras, servidores e servidoras, estagiários
cursados em 2015)
e estagiárias, e terceirizados e terceirizadas. Também solicitamos
Maranhão 11/01/1994 (1ª convocação de con-
a data da instituição de políticas de ações afirmativas para cada
cursados em 2001)
cargo/ocupação mencionado e a quantidade de ingressantes por
Mato Grosso 29/03/1999
cada modalidade.
Mato Grosso do Sul 30/10/1990
INSTITUIÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA DOS ESTADOS
Minas Gerais 04/08/1976
Na questão 1.1 do questionário solicitamos a identificação do Estado Pará 26/12/1985
correspondente e a questão 1.2 a data de instituição da Defensoria Paraíba LC 39/02 (regulamentação
Pública. Com a resposta das Defensorias e com base em outras 15/03/2002)
pesquisas conseguimos sistematizar as datas nas quais foram ins- Paraná LC 55/1991 institui; LC 136/2001
tituídas as Defensorias Públicas dos Estados: organiza
Pernambuco LC 20/98 (regulamentação
17/11/2003)
Defensorias Públicas dos
Data de instituição Piauí 08/08/1983
Estados
Rio de Janeiro 12/05/1977
Acre 24/07/2001 Rio Grande do Norte 07/07/2003
Alagoas 20/07/2001 Rio Grande do Sul 05/1994
Amapá 01/10/1991 (1ª convocação de con- Rondônia 26/07/2006
cursados em 2019) Roraima 19/05/2000
Amazonas 30/03/1990 [3]
Santa Catarina 02/08/2012
Bahia 26/12/1985 São Paulo 09/01/2006
Ceará 28/04/1997 Sergipe 20/12/1994
Distrito Federal e Territórios 17/12/2012 Tocantins 22/12/2004
[3] As Defensorias Públicas dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará, Ama- É possível observar uma discrepância nas datas de instituição das
zonas, Sergipe, Ceará, Roraima, Rio Grande do Norte, Tocantins, São Paulo e Rondônia
informaram as datas da sua instituição por meio de respostas ao questionário As De- Defensorias Públicas dos Estados. A cronologia ilustrada pelo IPEA
fensorias Públicas dos demais Estados não responderam a este questionamento via (2019) nos apresenta cinco fases nas quais pode ser percebido o
questionário e realizamos buscas nos sites oficiais das instituições, cujos links estão
nas referências. lento, gradual e discrepante processo de criação e instituição das
94 95
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Defensorias Públicas dos Estados desde a década de 50, com a Lei GRÁFICO 2
Federal n. 1.060/1950, que possuía o texto embrionário estabelecendo
que «os poderes públicos federal e estadual concederão assistência Criação das Defensorias
Públicas no Brasil: uma
judiciária aos necessitados nos termos da presente Lei» (art. 4º).
Até os anos 80 seis Defensorias haviam sido criadas e dos anos 80
aos anos 90 mais dez Defensorias foram criadas. Nesse intervalo
de tempo temos a promulgação da Constituição Federal, que esta-
cronologia
beleceu em seu art. 5º, LXXIV que «o Estado prestará assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos» e reconheceu (artigo 134, CF) a Defensoria Pública como
«instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbin-
do-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV». Da década de 90 até os
anos 2000, mais oito Defensorias foram criadas. No ano de 2004,
a Emenda Constitucional n. 45 assegurou às Defensorias Públicas
Estaduais autonomia funcional e administrativa, dando-lhes tra-
tamento equiparável ao da Magistratura e do Ministério Público. A
partir de 2010 foram criadas as Defensorias Públicas nos Estados do
Paraná, em 2011, e de Santa Catarina, em 2012, com a Lei Orgânica
da Defensoria Pública em ambos os Estados. 2011 e 2012 foram os
anos em que as resoluções AG/RES. 2714 (XLII-O/12) e AG/RES 2656
(XLI-O/11) foram aprovadas por unanimidade na Assembleia Geral
da Organização dos Estados Americanos (OEA) “recomendando a
todos os países-membros a adoção do modelo público de Defensoria
Pública, com autonomia e independência funcional” (IPEA, 2019).
Fonte: III Diagnóstico Defensoria Pública no Brasil/MJ e Leis Orgânicas das Defensorias Públicas
de Goiás, Paraná e Santa Catarina.
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Apesar de em 2012 todas as Defensorias Públicas já terem sido informada de defensoras e defensores públicos que compõem os
criadas, 4 delas ainda não haviam sido instaladas (Amapá, Goiás, quadros das Defensorias Públicas dos Estados, observamos a exis-
Paraná e Santa Catarina), com a grande maioria dos cargos ainda tência de paridade de gênero, exceto no Estado do Rio de Janeiro,
a serem providos. Observa-se que, mesmo após a promulgação que informa uma proporção quase duas vezes maior de defensoras
da Constituição de 1988 e a criação das Defensorias Públicas nos mulheres, e Rondônia, que apresenta uma proporção de menos da
Estados brasileiros, muitos ainda são os obstáculos com relação à: metade de mulheres. Observamos, ainda, um desconhecimento
I) sua implantação, II) necessidade de ampliação da cobertura ter- com relação à raça/cor das defensoras e defensores. Nos Estados
ritorial, devido ao grande número de comarcas não atendidas, e III) em que é possível conhecer a raça/cor dos funcionários, observa-
grande quantidade de cargos não providos, ainda que já existentes mos, em regra, uma sobrerrepresentação de pessoas brancas e
(IPEA, 2019). Somamos a esses obstáculos as questões próprias uma sub-representação de pessoas negras, que é acentuada na
da estruturação e organização da Defensoria em cada sede. Em medida em que observamos as hierarquias dos diferentes tipos
decorrência do índice de evasão por remuneração e por condições de cargos e ocupações.
de trabalho inadequadas, a Defensoria passou a adotar em alguns
Com relação ao gênero das defensoras e defensores públicos, obte-
Estados planos de carreira e de equiparação de salários, mas que
mos a resposta das Defensorias Públicas dos Estados de Tocantins,
ainda não solucionou o problema dos cargos providos.
São Paulo, Sergipe, Roraima, Rondônia, Rio de Janeiro, Pará, Minas
Gerais e Amazônia. A partir dos dados informados formulamos o
Composição dos cargos na Defensoria Pública dos seguinte gráfico:
estados
Além dos problemas da recente institucionalização das Defensorias
Públicas Estaduais, observamos a existência de grande disparidade
no que concerne à representatividade na composição dos cargos e
funções no tocante à raça/cor dos seus funcionários, situação que
é agravada na medida em que observamos a ocupação dos cargos
em função da hierarquia institucional administrativa.
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GRÁFICO 3
Quantidade de Defensoras/Defensores
Públicos por Estado segundo o sexo
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De um universo conhecido de 2809 defensoras e defensores públicos que a predominância nos cargos de alto escalão, quando obser-
estaduais, 1515 (53,53%) são mulheres e 1294 (46,07%) são homens. vada a composição dos quadros da administração das Defensorias
Abaixo segue a proporção em cada Defensoria Pública: Públicas Estaduais, é masculina (ver parte II).
»» Na Defensoria Pública do Tocantins 60 (53,1%) são mulheres e Ao desmembrarmos os dados obtidos acima para além da variá-
53 (46,9%) homens; vel de gênero, podemos ser ainda mais precisos e afirmar que a
Defensoria Pública Estadual é uma instituição composta majori-
»» Na Defensoria Pública de São Paulo 384 (53,04%) são mulheres
tariamente por mulheres brancas. Observemos a tabela a seguir[4]
e 340 (46,96%) homens;
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TA B E L A 4
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas por Estado segundo
gênero e raça/cor
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GRÁFICO 8 População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas do Rio de Janeiro (N) = Geral – 777; Bran-
cos - 395; Negros – 23; Raça/cor não informada - 359.
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas do Estado do Rio de
Janeiro segundo raça/cor
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Tabela 3175 gerada em 20/02/2019 na plataforma Cidra do IBGE, correspondente à Unidade Fe-
derativa do RJ, disponível em: https://sidra.ibge.gov.br População (N) = RJ –15989929; Brancos –
7583047; Negros – 8266776; Amarelos – 122838; Indígenas – 15894; Sem declaração - 1374
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Quantidade de Servidoras/Servidores
por Estado, gênero e raça/cor
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GRÁFICO 11 População de Servidores/Servidoras (N) = Geral – 4343, AC – N/I, AL – N/I, AM – 210, BA – N/I, CE – N/I,
DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 147, MS – N/I, MT – N/I, PA – 348, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I,
PR – N/I, RJ – 1.381, RN – N/I, RO – 470, RR – 259, RS –N/I, SC – N/I, SE – 95, SP – 824, TO – 609.
Quantidade de servidores da
Defensoria Pública dos Estados
segundo o gênero
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Isso nos permite dizer que também com relação ao gênero e raça/ GRÁFICO 12
cor dos servidores e servidoras, a Defensoria Pública Estadual é uma
instituição feminina branca. Do universo conhecido de 4343 (100%) Proporção de servidoras/servidores
servidoras e servidores, 2515 (57,91%) são mulheres e 1828 (42,09%) da Defensoria Pública dos Estados por
são homens. 2382 servidoras e servidores (54,85%) possuem a raça/
cor não informada, dentre os quais 1335 são mulheres (56,05%) com
raça/cor/gênero
raça/cor não informada; 1047 (43,95%) são homens com raça/cor
não informada. 902 são mulheres brancas (46%); 540 são homens
brancos (27,53%); 241 homens negros (12,29%); 278 mulheres negras
(14,18%), somando o total de 1442 (73,53%) servidoras e servidores
brancos e 519 (26,47%) servidoras e servidores negros.
População de Servidores/Servidoras da Defensora Pública dos Estados (N) = Geral – 4343, AC – N/I,
AL – N/I, AM – 210, BA – N/I, CE – N/I, DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 147, MS – N/I, MT – N/I,
PA – 348, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I, PR – N/I, RJ – 1.381, RN – N/I, RO – 470, RR – 259, RS –N/I, SC – N/I,
SE – 95, SP – 824, TO – 609. / Servidoras com raça/cor não informada – 1335; Servidores com raça/cor
não informada - 1047; Servidoras brancas - 902; Servidores brancos – 540; Servidoras negras – 278;
e Servidores negros – 241.
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GRÁFICO 13 População de Servidores/Servidoras da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo
segundo gênero e raça/cor (N) = Geral – 2464; RJ – 1.381; RR – 259; SP – 824.
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Quantidade de terceirizadas/
terceirizados por Estado segundo
gênero e raça/cor
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Considerações analíticas
Destacamos a redução da diferença numérica entre os gênero dos
terceirizados e terceirizadas e a ausência de informação sobre a
raça/cor desse grupo que não possui vínculo empregatício com a
instituição. Essa ausência de informação está também relacionada
à precarização do trabalho e aos efeitos do “desconhecimento
ideológico do racismo” pela instituição.
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Quantidade de estagiárias/estagiários
por Estado segundo gênero e raça/cor
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GRÁFICO 15 População de estagiárias e estagiários da Defensoria Pública dos Estados (N) = Geral - 6259, AC
– N/I, AL – N/I, AM – 254, BA – N/I, CE – N/I, DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 351, MS – N/I,
MT – N/I, PA – 413, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I, PR – N/I , RJ – 2026, RN – N/I, RO – 74, RR – 49, RS – N/I,
Quantidade de estagiários e estagiárias SC – N/I, SE – 114, SP – 2829, TO – 149.
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Do universo informado de 6262 (100%) estagiários e estagiárias, 4055 servidoras e servidores; (1.10) terceirizados e terceirizadas e (1.12)
(64,76%) são mulheres e 2207 (35,24%) são homens; 6139 estagiárias estagiários e estagiárias.
e estagiários (98,04%) possuem a raça/cor não informada, sendo
Das respostas aos questionários observamos que, dentre as
4002 mulheres (63,91%) com raça/cor não informada e 2137 (36,09%)
Defensorias que responderam, a Defensoria Pública do Amazonas
são homens com raça/cor não informada; 47 (0,75%) são mulheres
não possui cotas raciais e possui cotas para deficiente físico para o
negras; 27 (0,43%) são homens negros; 23 (0,38%) são mulheres
ingresso de defensoras e defensores públicos. A Defensoria Pública
brancas; 26 (0,45%) são homens brancos.
do Ceará não possui nenhuma modalidade de cotas para o ingresso
Apenas duas Defensorias informaram a raça/cor dos seus estagiário. na carreira de defensora e defensor público. Na Defensoria Pública
Roraima declarou que todos são brancos: 23 (46,94%) mulheres e de Minas Gerais observa-se a existência das duas modalidades de
26 (53,06%) homens; Rondônia declarou que todos são negros: 47 cotas, raciais e para deficientes físicos, no ingresso da carreira para
(63,51%) mulheres e 27 (36,49%) homens. Nos chama a atenção os defensor e defensora pública, mas apenas a data da instituição
dados informados pela Defensoria Pública de Rondônia, pois des- das cotas para deficientes físicos nos foi informada, 28/07/1995. A
toam das informações fornecidas pelas demais Defensorias Públicas. Defensoria Pública do Pará informou a existência das duas moda-
lidades de cotas, raciais e para deficientes físicos, no ingresso da
Considerações analíticas carreira para defensor e defensora pública, tendo instituído as
cotas para deficientes físicos em 24/01/1994 e as cotas raciais em
A Defensoria Pública Estadual é, de acordo com os dados informados,
19/02/2018. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou a exis-
uma instituição feminina e branca. As opressões relacionadas ao
tência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
indicador “raça” são mais difíceis de se vencer do que as opressões
físicos, no ingresso da carreira para defensor e defensora pública,
relacionadas ao indicador “gênero” no acesso aos seus cargos e
tendo instituído ambas as modalidades de cotas no dia 26/01/2012.
funções. Observamos ainda que, na medida em que ocorre a pre-
A Defensoria Pública do Rio Grande do Norte não respondeu aos
carização do vínculo empregatício, menores são as informações
questionamentos sobre a instituição de cotas raciais e para defi-
obtidas a respeito dos trabalhadores.
cientes físicos no ingresso das carreiras de Defensora e defensor
público. A Defensoria Pública de Rondônia nos informou apenas
Políticas de ações afirmativas
que possui cotas para deficientes físicos no ingresso da carreira
Nos tópicos 1.4; 1.8; 1.10 e 1.12 perguntamos sobre a implementação para defensora e defensor público, mas não nos informou a data
de ações afirmativas nas Defensorias Públicas Estaduais nas modali- de instituição. A Defensoria Pública de Roraima informou a exis-
dades de cotas raciais e cotas para deficientes físicos, demandando tência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
se sabiam qual a quantidade de ingressantes por cada modalidade físicos, no ingresso da carreira para defensor e defensora pública,
de cota, respectivamente para (1.4) defensoras e defensores; (1.8) tendo instituído ambas as modalidades de cotas no dia 03/01/2002.
A Defensoria Pública de Sergipe informa não possuir nenhuma
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Desses dados é possível afirmar as seguintes conclusões: a) todas não vem de outros concursos, e não corresponde à realidade, por
as Defensorias que possuem cotas étnico-raciais possuem também diversos motivos. O desconhecimento, a questão de se identificar,
cotas para deficientes físicos; b) há Defensorias que possuem apenas aí é o espaço para uma boa discussão.
cotas para deficientes físicos e que não possuem cotas raciais; c) nos Observamos que, como regra, as Defensorias Públicas Estaduais
casos das Defensorias que possuem cotas para deficientes físicos e não acompanham a efetivação e a efetividade das suas políticas
cotas raciais, a instituição das políticas de cotas se deu de maneira afirmativas, não informando se esta política proporcionou ou não
simultânea, ou com a instituição de cotas para deficientes físicos em o acesso do público alvo aos cargos a ela destinados. Não se sabe
um primeiro momento, não tendo sido observada a instituição de o que a Defensoria Pública dos Estados tem feito para dar eficácia
políticas de cotas raciais antes da política de cotas para deficientes à política de cotas em cada Estado.
físicos em nenhuma das Defensorias; d) há Defensorias que não
A esse respeito, o ex-ouvidor da Defensoria Pública de São Paulo,
possuem nenhuma política de cotas; e) a Defensoria Pública dos
Alderon Costa, relata:
Estados de Minas Gerais, Rondônia, Roraima e São Paulo informam
conhecer ingressantes na modalidade de cotas para deficientes físi- Aqui a gente tem feito essa discussão, em 2014 nós conseguimos
cos; f) apenas a Defensoria Pública de São Paulo informa conhecer aprovar as cotas, só que essa aprovação das cotas não resultou em
algum ingressante pela modalidade de cotas raciais. uma efetividade. Nós não tivemos nenhum candidato aprovado
pelas cotas. Nós tivemos dois candidatos negros aprovados, mas
Considerações analíticas não foi pelas cotas. Quer dizer, a efetividade desse mecanismo
no caso da Defensoria Pública de São Paulo ainda não se provou
Observa-se que as Defensorias Públicas dos Estados vêm imple-
eficiente. Talvez haja a necessidade de uma reformulação. Mas
mentando as cotas de maneira lenta e não sistemática, tendo
é bem claro que há uma questão que não é um problema só da
privilegiado a implementação das cotas para deficientes físicos
Defensoria, que é um problema de origem, das Universidades,
ao longo do tempo.
dos concursos, um problema que leva a essa estratificação, a
Sobre a situação das cotas para deficientes físicos e cotas raciais essa peneira racial. [...]
em uma das Defensorias Públicas, a defensora Cláudia Márcia
Eu acho que tem um pouco a ver com a maneira como foi apro-
(nome fictício) também destaca as dificuldades em decorrência
vada aqui [as cotas raciais] no concurso. Porque se reservou uma
da implementação tardia e carente de aperfeiçoamentos:
quantidade de vagas, se eu não me engano, 20%, só que esses
A indicação da deficiência a gente tem em nossa ficha, a pessoa 20%, depois eles entram na nota de corte. Então, quer dizer, pri-
declara por uma série de motivos, e a de raça pode ser que te- meiro, se você não tem um sistema educacional focado também
nha, mas ela não é real. Até no concurso, por exemplo, isso já foi com essa preocupação de inclusão de pessoas não brancas, é
questionado, e é algo que é colocado pela própria sistemática do claro que essa estratificação vai subindo. E aí chega no concurso,
concurso, então tem esse marcador lá. E a questão de raça não, as pessoas que se inscrevem não estão preparadas, não tem as
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mesmas oportunidades de cursinho, tudo isso. E eu acredito que de ingressante via política de cotas e/ou o conhecimento do não
esse sistema vem levando a essa estratificação, mas, no caso da ingresso de cotistas via políticas de cotas afirmativas.
Defensoria, agora, talvez ela precisasse ser mais avançada, não
Ainda hoje, poucas são as Defensorias Públicas que adotaram
é? É muito tímida a discussão. Porque a resistência na Defen-
política de cotas com base na raça/cor, mas podemos observar
soria foi muito grande e é muito grande, porque essa questão
que esta política pode ser esvaziada. A esse respeito, acrescenta
do preconceito, do racismo institucional, está muito arraigada
Alderon Costa:
nas pessoas, né, nas pessoas que estão compondo a Defensoria
Acho que a primeira resistência é a essência do preconceito
hoje. São pessoas que dizem que não existe racismo. Isso numa
histórico, quem é que faz parte da defensoria, quem é que co-
instituição como a Defensoria é um absurdo. Então, primeiro, é
manda a Defensoria hoje? A gente tem pessoas brancas, pessoas
que a discussão aqui não foi tão simples, não foi tão fácil, foi uma
de classe média alta, pessoas que tem uma formação elitista,
disputa mesmo, uma disputa política que foi feita. E nessa disputa
e toda construção educacional que se tem é uma construção
política nós acabamos cedendo em algumas questões, inclusive
da casa grande, quer dizer, essas pessoas são formadas para
na quantidade, que era 30% e a gente aceitou ser 20% para não
defender os proprietários, defender o status quo daqueles que
perder tudo, e nessas discussões, eu acho que o modelo que foi
já estão no poder, como a questão racial, ela diz em sua maioria
criado não foi suficiente e não resolveu, porque o resultado do
com relação à questão negra, quer dizer “a senzala”, então esse
concurso, que aconteceu logo após a aprovação das cotas, ele
modelo de entendimento nas defensorias é muito forte, porque
se mostrou que nós não tivemos, e é muito objetivo isso, que
quem domina são esses que estão defendendo essa ideologia da
nós não tivemos nenhum candidato aprovado pelas cotas e que
casa grande, e as universidades não mudaram esse pensamento.
tomasse posse pelas cotas. Nós tivemos uma que tomou posse,
Então a pessoa chega na defensoria e ela ainda tem essa ideia.
acho que foi esse ano (2018), ou no final do ano passado, mas
Então, nós tivemos defensores que defendiam claramente que
ela foi aprovada na lista geral, ou seja, ela seria aprovada sem as
não deveriam ter cotas, que não entendiam que deveria haver
cotas. Então eu acho que é importante a gente rever esses me-
uma correção. Que o concurso é para todos e que todos tem que
canismos de cotas. Eu acho que ela é importante, a política de
concorrer de igual para igual. Isso é um absurdo, é um desconheci-
cotas, é uma das formas que se tem de se corrigir essa distorção,
mento histórico, as pessoas desconhecem, tanto que nós tivemos
iniciar a correção dessa dívida histórica com a comunidade negra.
nas discussões falas muito importantes, falar das discussões das
É necessário problematizar o desconhecimento e a ausência do
cotas foi muito bom na Defensoria porque conseguiu-se trazer
ingresso dos cotistas nas Defensorias Públicas, pois, apesar da exis-
essa questão da diferença, mas também da falta de oportunidade,
tência da política afirmativa, vê-se que ela não é dotada de eficácia.
da discriminação histórica contra os negros, da cultura negra,
Podemos observar a obstrução dessa política afirmativa a partir
inclusive o preconceito. Por exemplo, nós conseguimos trazer a
dos dados que nos informam o desconhecimento da quantidade
comunidade negra para fazer uma manifestação na Defenso-
ria, tocar berimbau, e aí a gente ouvia comentários do tipo: “o
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candomblé (inaudível)“, “vai fazer macumba aqui”... é um pouco A grande maioria dos Estados não soube informar quantos foram
desse desconhecimento, ou talvez um conhecimento até demais os ingressantes via política de cotas. Estima-se, a partir de conver-
e a provocação em relação a esse preconceito que existe contra sas e observações, que o número de ingressantes seja inferior ao
as religiões afro. Então, a questão do preconceito para mim é o número de vagas disponibilizadas. É o que ocorre, por exemplo,
mais forte que está aí. E a outra questão é a questão do poder nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
mesmo, é, alguns não querem ver uma Defensoria colorida, uma
Segundo o IV Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil:
Defensoria aonde se tenha por exemplo todas as cores do nosso
Em relação à cor ou raça, a maior parte dos Defensores Públicos
país, de todas as populações que têm no nosso país. [...]
Federais No que tange à cor/raça dos Defensores, a maioria – mais
Eu não sou um estudioso dessa área, eu milito no conhecimento
de 75% – se declararam brancos. O segundo grupo, com maior
que eu fui adquirindo aí no dia a dia e no princípio da igualdade
representatividade nesse quesito, são os pardos que chegam a
para todos que nós temos aí nessa luta, de que todos tem o mesmo
pouco mais de 19%. Por fim, as denominações preta, amarela e
direito. Nós temos que quebrar esse preconceitos, nós temos que
indígena são muito pouco representativas, somando, juntas, 4,4%.
quebrar essa história que vem aí da colonização e que ela vem
Essa distribuição está longe de refletir as proporções registrada no
em momentos em que ela se torna muito porte, porque é uma
Censo demográfico de 2010 (IBGE), em que os que se declaram
disputa de poder, uma disputa de espaço ideológico, inclusive
brancos não ultrapassam os 47%. Tendo em vista essa distribuição
na relação que se dá e se estabelece dessa relação do racismo.
racial, seria importante uma reflexão mais profunda a respeito da
Porque o branco é aquele que está no poder e ele não quer ceder,
exclusão de determinados setores sociais da população, de modo
e essa ideologia é muito forte no Brasil e a gente milita para que
a combater a desigualdade social. (BRASIL; 2015, p.85)
a gente consiga derrubá-la.
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A respeito da instituição de políticas afirmativas para o ingresso de Tabela 12 – Quantidade de servidoras/servidores porta-
servidores modalidades de “cotas raciais” e “cotas para deficientes dores de alguma deficiência física na Defensoria Públi-
físicos” podemos afirmar que: a) todas as Defensorias que possuem ca dos Estados
cotas étnico-raciais possuem também cotas para deficientes físicos,
como ocorre, por exemplo, nas Defensorias Públicas dos Estados AM CE MG PA RJ RN RO RR SE SP TO
do Pará, Rio de Janeiro e São Paulo; b) há Defensorias que possuem Servidores c/ - - 1 8 - - 6 3 1 6 18
apenas cotas para deficientes físicos e que não possuem cotas raciais, deficiência
Ingressantes - - - 8 22 - 6 2 - 5 -
como nas Defensorias Públicas dos Estados do Amazonas, Minas
por cotas
Gerais, Rondônia, Roraima e Sergipe; c) nos casos das Defensorias
para DF
que possuem cotas para deficientes físicos e cotas raciais, a insti-
tuição das políticas de cotas se deu de maneira simultânea (como Na Defensoria Pública de Minas Gerais há 1 servidor portador de
na Defensoria Pública do Rio de Janeiro) ou com a instituição de algum tipo de deficiência física; na Defensoria Pública do Pará
cotas para deficientes físicos em um primeiro momento (como há 8 e todos eles ingressaram através da política de cotas para
ocorrido em todas as demais Defensorias Públicas), não tendo sido portadores de deficiência física; na Defensoria Pública do Rio de
observada a instituição de políticas de cotas raciais antes da política Janeiro, apesar de não terem conseguido nos informar a totalidade
de cotas para deficientes físicos em nenhuma das Defensorias; de servidores portadores de algum tipo de deficiência, fomos infor-
d) há Defensorias que não possuem nenhuma política de cotas, madas que há 22 ingressantes através da política de cotas para
como a Defensoria Pública do Estado de Sergipe; e) a Defensoria portadores de deficiência física; na Defensoria Pública de Rondônia,
Pública dos Estados de Minas Gerais e Roraima, que possuem cotas há 6 servidores portadores de algum tipo de deficiência e todos
raciais para o ingresso de Defensoras e Defensores Públicos, não eles ingressaram através da política de cotas para portadores de
possuem cotas raciais para o ingresso de servidoras e servidores; f) a algum tipo de deficiência física; na Defensoria Pública de Roraima
Defensoria Pública dos Estados de Minas Gerais e Roraima possuem há 3 servidores portadores de algum tipo de deficiência física e
cotas para deficientes físicos para o ingresso de servidoras e servi- dois deles ingressaram através da política de cotas; na Defensoria
dores; g) apenas a Defensoria Pública Rio de Janeiro nos informou Pública de Sergipe há 1 servidor portador de algum tipo de defi-
a quantidade de servidores ingressantes pela modalidade de cotas ciência física e nenhum ingressante através da política de cotas
raciais, a saber, 109 servidores e/ou servidoras. para portadores de algum tipo de deficiência física; na Defensoria
Questionadas sobre a quantidade de servidoras e servidoras Pública de São Paulo, há 6 servidores portadores de algum tipo
com deficiência física e sobre o ingresso de servidoras e servidores a de deficiência, dentre os quais 5 ingressaram através da política
partir das cotas para portadores de algum tipo de deficiência física, de cotas para portadores de algum tipo de deficiência física; e, na
as Defensorias Públicas nos forneceram as seguintes informações: Defensoria Pública do Tocantins há 18 servidores portadores de
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algum tipo de deficiência física e nenhum ingressante através da pela modalidade de cotas para deficientes físicos; a Defensoria
política de cotas para portadores de deficiência física. Pública do Pará não informou nem a quantidade de ingressantes
por cotas raciais nem a quantidade de ingressantes por cotas para
Sobre as políticas de ações afirmativas para estagiárias e estagiá-
deficientes físicos. É o que representamos na tabela a seguir:
rios, as Defensorias Públicas dos Estados do Ceará, Mato Grosso do
Sul e Rio Grande do Norte não responderam ao questionamento.
As Defensorias Públicas dos Estados do Amazonas, Minas Gerais,
Rondônia, Roraima, Sergipe, São Paulo e Tocantins informaram que
não tinham cotas raciais para estagiárias e estagiários. A Defensoria
Pública do Amazonas, apesar de não possuir cotas raciais para o
ingresso de estagiárias e estagiários, possui cotas para deficiente
físico, tendo sido instituídas em 20/10/2017; a Defensoria Pública
de Minas Gerais não possui cotas raciais e possui cotas para defi-
ciente físico para o ingresso de estagiários e estagiárias, tendo sido
instituída em 28/07/1995; a Defensoria Pública do Pará informou a
existência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
físicos no ingresso de estagiárias e estagiários, tendo instituído as
cotas para deficientes físicos em 24/01/1994 e as cotas raciais em
19/02/2018; a Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou a exis-
tência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
físicos, no ingresso de estagiários e estagiárias, tendo instituído
ambas as modalidades de cotas no dia 13/10/2011.
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A partir da análise da tabela acima, observamos que: a) instituição A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou a existência de
da política para deficientes físicos para os estagiários se deu antes um grupo de trabalho sobre a política institucional de ações afir-
ou simultaneamente à política de cotas raciais, como o que pode mativas, criado pela Resolução DPGE nº 887, de 12 de julho de
ser verificado na Defensoria Pública do Pará, que instituiu a política 2017. Informou também a realização do 1º Workshop Linguagem
de cotas para deficientes físicos em 24/01/1994 e para afrodescen- inclusiva na Defensoria Pública, além da existência de editais de
dentes em 19/02/2018; e na Defensoria Pública do Rio de Janeiro, revistas jurídicas e aperfeiçoamento técnico da Fundação da Escola
que instituiu ambas as políticas em 13/10/2011; b) verifica-se que há da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Defensorias Públicas Estaduais que possuem cotas para deficientes
A Defensoria Pública do Estado de Rondônia informou que o:
físicos e que não possuem cotas para afrodescendentes, como é
Defensor Público geral encaminhou no dia da Consciência ne-
o caso da Defensoria Pública do Amazonas e de Minas Gerais; c)
gra, em 20/11/2015, projeto de lei à Assembleia Legislativa do
não verificamos nenhum caso em que a política de cotas para
Estado para criação de cotas para negros em concurso público.
afrodescendentes foi instituída anteriormente à política de cotas
O projeto foi arquivado pela mencionada Assembleia. 1. Pessoas
para deficientes físicos; d) não verificamos nenhum caso em que
pertencentes a minorias raciais são atendidas pela Defensoria
a Defensoria Pública de qualquer dos Estados possua política de
Pública de Rondônia independente da renda, por força da Re-
cotas para afrodescendentes e não possua política de cotas para
solução 34/2015[5] do Conselho Superior da Defensoria Pública.
deficientes físicos; e) as Defensorias Públicas do Amazonas e a de
2. Nos últimos dois anos aparelhamos a Assessoria da Impren-
Minas Gerais conseguiram informar a quantidade de estagiários
sa da Instituição – ASCON – com a recomendação de veicular
que ingressaram a partir da política de cotas para deficientes físi-
matérias que combatam o machismo, discriminação racial e
cos; f) apenas a Defensoria do Estado do Rio de Janeiro conseguiu
de gênero. 3. Criação do Núcleo Maria da Penha para defesa e
nos informar a quantidade de estagiários ingressantes através da
empoderamento da mulher. 4. Nos Congressos organizados pela
política de cotas para afrodescendentes; g) as demais Defensorias
Instituição há sempre pautas que versam sobre a discriminação
Públicas não responderam a esse questionamento.
racial e de gênero.
As Defensorias Públicas também foram perguntadas se possuíam
A aplicação da política de cotas na Defensoria Pública Estadual é
outras políticas de ações afirmativas e quais seriam caso a resposta
incipiente e as Defensorias não colocaram em prática mecanismos
fosse afirmativa. Nesse sentido, a Defensoria Pública de Minas Gerais,
que permitam a implementação efetiva desta política. A escassez
que possui cotas para deficientes físicos e não possui cotas étnico-
de dados a respeito da efetivação da política de cotas e os baixos
-raciais, declarou realizar processo seletivo voltado para o público
índices de aprovação evidenciados nos poucos dados que existem
travesti e transexual. A Defensoria Pública do Pará especificou que
nos mostram que as Defensorias Públicas necessitam firmar com-
possui política de cotas para ingresso em todos os concursos e
seleções para indígenas, quilombolas e negros.
[5] Resolução que regulamenta os critérios para aferição da hipossuficiência dos
assistidos da Defensoria Pública do Estado de Rondônia e estabelece as hipóteses de
atendimento.
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Considerações analíticas
Em conversa com a defensora pública da Bahia Cláudia Márcia
(nome fictício), discutimos a importância da identificação da exis-
tência ou da ausência de pluralidade e equidade de gênero e racial
na Defensoria Pública. Ela nos alertou para algo que pode ter sido
uma questão para os respondentes ao questionário:
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PARTE II – COMPOSIÇÃO DOS QUADROS DA Na segunda parte do questionário “II – Composição dos quadros
ADMINISTRAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA da administração da Defensoria Pública do Estado” inquirimos as
DO ESTADO Defensorias Públicas dos Estados sobre:
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2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
AC
2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
AM
2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
AP
2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
RR
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PA
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É possível observar que os quadros da administração das Defensorias só tem como identificar porque a ouvidoria existe, porque não
Públicas dos Estados são majoritariamente compostos por homens chegam na mesma proporção na corregedoria. O que chega para
brancos, apresentando a necessidade de democratização e acesso a ouvidoria não chega para a corregedoria, muitas vezes, e não
a esses quadros através da inclusão racial e de gênero. é porque morre na ouvidoria não. É porque as pessoas não sen-
tem a mesma possibilidade de escuta, ou porque, infelizmente,
Ouvidorias das Defensorias Públicas Estaduais as corregedorias viraram, infelizmente, um espaço corporativo,
não estou dizendo que é a realidade da nossa. Essa corregedoria
Obtivemos dados de duas Ouvidorias. O Ouvidor-Geral do Rio de
de agora tem até uma dinâmica interessante de escuta, mas por
Janeiro é um homem branco e o ouvidor de São Paulo é um homem
exemplo, as corregedorias ficaram conhecidas no Brasil todo como
branco.
um espaço de corporativismo, né, de proteção corporativista.
Por reconhecermos a importância da Ouvidoria Externa enquanto Enquanto a ouvidoria externa é que tem um processo mais de
elo imprescindível entre a sociedade e a Defensoria no que diz res- independência. As pessoas se identificam com alguém que ao
peito ao exercício da cidadania e à democratização da instituição, mesmo tempo é parte e não é parte da instituição, que tem um
consideramos pertinente ouvir os ex-ouvidores que se dispuseram pouco mais de independência, de como encaminhar as coisas
a nos conceder entrevistas. Pudemos ouvir o ex-Ouvidor-Geral da dentro da instituição. A ouvidoria para mim, externa, tem essa
Defensoria Pública de São Paulo, Alderon Costa, e a ex-Ouvidora- diferença quando você possui em uma instituição como a Defen-
-Geral da Defensoria Pública da Bahia, Vilma Reis. soria, dentro da sua organicidade, uma ouvidoria. Que proporciona
Para a Defensora Pública, Cláudia Márcia (nome fictício): essa reflexão, essa dupla dimensão externa e interna, e, enfim, o
aprimoramento mesmo. Então é assim, aqui, a minha tentativa,
a importância da ouvidoria é porque ao mesmo tempo ela é uma
por uma questão de identificação com a ouvidora inclusive, mas
caixa de ressonância interna e externa, porque eu quando tenho
assim, a gente tem buscado sempre fazer um trabalho em cima
um problema dentro da defensoria eu posso levar para a ouvidoria
de sintomas que a gente percebe, tanto da escuta dela, com a
e discutir. Se algum superior me discriminar em alguma medida,
repetição de determinados questionamentos em relação a de-
eu posso me dirigir à ouvidoria da defensoria... ou se tiver um
terminados temas, ou qualidade do atendimento, ou agilidade,
problema com um estagiário, que seja, porque às vezes ocorre. Eu
ou procedimento, ou questão racial, ou alguma discriminação...
posso ir para a ouvidoria, ou o meu estagiário ou a minha estagi-
ária irem na ouvidoria registrar o fato relacionado a mim. Então Vilma Reis fala da importância em promover o debate sobre partici-
é assim, é uma caixa de ressonância interna e externa, já tiveram pação, controle social e democracia no sistema de justiça. Demarca
situações assim. Não sei se elas vão ser colocadas, ou se vão poder a importância de execução de uma política real de representação
ser disponibilizadas para avaliação, porque algumas certamente em que a população esteja no sistema de justiça não apenas como
implicaram em processos administrativos ou sindicâncias, mas cliente, mas também como agente. Ela explica que a Defensoria
tem. E para nós a ouvidoria tem um grande valor porque a gente Pública necessita formular e fortalecer de maneira real as bases
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da “política racial da instituição”. Para ela a presença da Ouvidoria um servidor com essa qualidade técnica se envolvesse com a
Externa é essencial nesse processo e é necessário que seja uma questão racial. (...)
presença ativa, com um compromisso social que ultrapasse o cor- Eu sou por uma luta que não pode ter política de governo tem
porativismo institucional. Em suas palavras: que ter política de Estado. Quando sair essa geração da ouvidoria,
[A ouvidoria] Só faz sentido se tiver [atividade de intercâmbio da coordenação de Direitos Humanos e do próprio DPG hoje,
com a sociedade civil]. Por isso esse esforço tão grande de não você ter um refluxo, entende?
admitir ouvidorias cartoriais ou com gente muito mansa. Ah, Ela explica que a Ouvidoria deve ter uma ação conjunta à Defensoria,
você achou ali uma pessoa boazinha, aí você quer essa pessoa observando a pertinência social de todas as ações da Defensoria,
daquele movimento bonzinho para ser Ouvidor/Ouvidora. Não, desde ações consideradas “pequenas” e “corriqueiras” na institui-
meu amigo, pare de querer controlar isso. Porque ou você tem ção, como por exemplo o seu material de divulgação, até o plano
uma ouvidoria crítica, que tá enxergando a coisa e indo pra cima, de gestão. É o que ela relata em uma experiência concreta na qual
ou nem faz sentido. A primeira coisa que a gente tem que desfazer observou o equilíbrio de equidade racial nos materiais de divulga-
é que “ouvidoria não é corregedoria”. A ouvidoria para fazer com ção da Defensoria:
muito esmero, com muita força, com muita crença essa ponte
E é diferente, você pode vir aqui, ver a imagem: negro tá aqui,
com a sociedade civil, e quando você tiver da ponte você precisa
mulher negra tá aqui. A mulher negra tá aqui né, em várias situ-
fortalecer isso de verdade, senão você tem pauta de Defensor
ações. Mas não é o discurso direto de enfrentamento que tá aqui.
para ir para a assembleia legislativa para a população ser bucha
Obviamente que quando você faz um material desse e coloca
de canhão? (...)
imagens como essa você está sumindo assim: olha, há todas as
E eu fico vendo aí, porque esse silenciamento, né? Eu fico vendo diversidades das mulheres e elas estão razoavelmente retratadas
lá no Rio Grande do Sul, o servidor, claro que é militante da causa aqui. Quando você faz um material desse você está tomando
LGBT, ele preparou para ver como nessa violência contra a po- posição, numa sociedade que quer todo mundo neutro. A gente
pulação tem um viés racial forte... e quando a gente prepara um tá aqui assumindo né, que na Bahia, que tem graves situações
protocolo a gente quer saber, né? Como é que o cara pode fazer de violação de direitos humanos e racismo contra as mulheres,
audiência e não perguntar ao preso se ele foi espancado? A gente negros, a Juventude Negra, Comunidades Quilombolas, indí-
não tá aqui para fazer uma escala de quem é o mais oprimido, genas, de pescadores, pessoas em situação de rua, de terreiros
mas aí a gente quer uma equidade. Aí você olha na parada gay, e comunidades LGBT, pessoas presas e suas famílias, pessoas
com a ajuda da Defensoria, eles criaram um protocolo de não em sofrimento mental e outros grupos, existe um espaço que
violação de direitos da comunidade LGBT durante a parada. E privilegia a democracia participativa, a ouvidoria cidadã. Falar
aí eu fiquei olhando aquilo, o cara veio, apresentou com tanto dessas coisas que para a gente é tão importante. Os programas
gosto, e eu fiquei pensando assim, gente, como eu queria que da própria ouvidoria, grupos de trabalho intersetorial para povos
tradicionais, programas de educação, que é para você ir marcan-
212 213
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do... nas imagens você vai marcar... porque essa história dessa e trabalharem de maneira estratégica de modo a institucionalizar
neutralidade, ela faz mal à saúde. Então isso aqui, eu acho que os mecanismos de ação, permitindo o seu uso e aprimoramento,
Eva Rodrigues, enquanto a coordenadora de Direitos Humanos, para que este seja um compromisso institucional e não um mero
que a gente parte com um material como esse... A gente preparou compromisso de gestão.
um protocolo para tratar a questão da violência policial e esse
No que diz respeito à participação da Ouvidoria nas formações,
protocolo é uma coisa importante... porque como a coordenação
Vilma Reis relata:
aqui porque a coordenação não pode chegar todas as comarcas
A ouvidoria participa da formação dos Defensores, um dos mó-
do interior... (...) então quando você coloca e produz materiais a
dulos é a gente que dá. Eu sempre digo, não é possível nessa
gente rompe com esse negócio de neutralidade. (...) Deu um qui-
Bahia, com tanto quilombo, com tantos povos indígenas, com
proquó nessas imagens com a Dascom, porque só tinha branco,
tanto problema na vida dos pescadores, dos terreiros, não tá
então a gente devolveu o material e não deixou rodar.
emergindo essas coisas no interior? E tem a ver com a miopia
Ela explica que, na Bahia, as ações da Ouvidoria são múltiplas,
política, né? Aí eu comecei a levar um tipo de material e ao refa-
incluindo a avaliação de casos que chegam como denúncia de
zer esse folder, ao puxar essas discussões no folder da ouvidoria,
racismo; a formação dos defensores e o oferecimento de cursos para
a questão é essa... Tanto no curso de Defensores que a gente tá
a sociedade; a observação da rotina institucional, como a impressão
dentro do curso quanto no curso de Defensores populares, que
de materiais gráficos para a divulgação da instituição; a realização
são os movimentos sociais vindo via ouvidoria e escola superior,
do plano de gestão; construção do orçamento participativo ou do
a gente vai levando os conteúdos. E nas atividades também, mas
planejamento estratégico. Esses últimos estabelecem as ações da
eu fico pensando, por exemplo, a gente está articulando uma
instituição, como a ampliação de núcleos para o interior, a criação
pesquisa para saber o grau de satisfação dos presos. (...) Então, a
de grupos de trabalho ou ainda a criação de um protocolo capaz
gente tá articulando uma pesquisa, no campo das audiências de
de orientar um defensor que se vê diante de um caso de racismo,
custódia, desde quando Ana Flauzina estava na Unilab a gente
intolerância religiosa ou violência policial.
puxou um convênio com a Unilab, que era o caso específico dela
Vilma Reis conta que esse protocolo foi apresentado ao Colégio lá, e agora a gente tá trazendo para a UFBA, como é que num
Nacional de Defensores Públicos-Gerais (CONDEGE) em setembro projeto de extensão, pode botar esses estudantes aí para acom-
de 2016, em reunião realizada na Bahia e que poderia ser utilizado panhar, com monitoramento dela, para também trabalhar os
para influenciar os outros Estados. Para Vilma Reis, cabe à Ouvidoria dados do que a atuação da Defensoria na audiência de Custódia,
inclusive fazer recomendações à Defensoria e cita a recomenda- mas também para a gente enxergar coisas. A outra é no sistema
ção que a Ouvidoria Externa da Defensoria Pública da Bahia fez à socioeducativo, porque a gente às vezes está falando aqui dos
Defensoria de notificar a questão racial nos casos de violência poli- conselhos penitenciários que, normalmente, quem tem acento
cial. Para ela, contudo, essas recomendações só serão eficazes se as lá é a coordenadora da área criminal e de execução penal (...) No
pessoas responsáveis estiverem comprometidas com a causa social mais é assim, a gente passa nas unidades para ver como é que
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está o trabalho da Defensoria e a gente volta para a coordenação vai dizer “olha, você só pode ser um bom representante no interior
e diz, talvez aqui dá para mudar... Porque às vezes a gente pensa se você se colocar junto com a sociedade civil”, entendeu? Se
assim, poxa, a população não vai ter coragem avaliar realmente você não der abertura, porque imagine, antigamente podia só
o defensor. um defensor abrir a comarca. Hoje em dia não, pelo modelo aqui
tem que ir pelo menos um e uma, ou dois ou duas, certo? Então
Vilma Reis aponta a necessidade de disseminar um pensamento
vai lá, se essas pessoas não criarem os links aqui, ó, com a socie-
social dentro da instituição e afirma que a Ouvidoria tem um papel
dade, é impossível construir uma defensoria com algum plano
importantíssimo nessa missão. Para ela, “se você faz aí uma Ouvidoria
de realidade. Porque o mais fácil é dizer “não, eu vou ficar aqui
que toma um cunho burocrático obediente e manso, ela não vai se
só fazendo minha petiçãozinha”... “Não, eu ando muito ocupado,
meter nesses temas, porque aparentemente esses temas não tem
ouvidora, eu tenho que fazer júri, eu tenho que atender, eu tenho
a ver”, e ela se coloca enquanto agente nesse processo, indicando
que...” E aí a gente tem que dizer, “mas ah, você também tem
que além de ajudar na formação dos defensores também preparou
que conversar com a sociedade civil”... Porque se você faz ações
um módulo do curso de Defensoras Populares. Narra a ex-ouvidora
coletivas, você pode até diminuir o seu trabalho, né, porque se
da Defensoria Pública da Bahia:
a sociedade se empoderar, ela mesma tem coisas que ela pode
a gente antes tinha 10 minutos, 15 minutos para apresentar, ia
resolver chamando a associação, chamando a prefeitura. Agora
para a mesa geral com o DPG, corregedor, ADEP, aquele mesão
se você ficar lá trancado no diacho do seu gabinete só fazendo
e falava, né? Aí eu levantei a minha mãozinha na sala do conselho
petição, ô meu amigo, aí então... você tem que ir no curso de for-
superior e falei “não dá tempo”, “eles não fixam o que é a ouvidoria,
mação para dizer isso, que às vezes a diretora da Escola Superior
os compromissos que precisam ter para ser defensores”, “então a
não pode dizer. Tem coisa que a corregedora não vai poder dizer,
gente precisa de tempo”, “vamos preparar essa formação”, e foi aí
e eles vão dizer até que assediou, não sei o que, mas a ouvidoria
que a gente foi alargando. Mas aí eu acho estranho que alguém...
que representa a sociedade civil, essa tem que dizer. Você não
agora quando a gente vai fazer formação com novos defensores
representa a gestão, o DPG, os compromissos políticos... não.
a gente leva a equipe inteira, as pessoas do atendimento, da
Você aqui representa a sociedade civil. A defensoria existe para
análise jurídica, da secretaria, todo mundo fala. Porque você não
defender os grupos mais vulnerabilizados da sociedade, a gente
pode transformar isso em uma atividade burocrática, entende?
quer que tenha Defensoria para todo mundo, seguindo o ponto
Isso aqui, Ana, é uma atividade política de alta relevância porque
16 dos desafios do milênio. O ponto 16 diz, pô, deveria ter justiça
a gente leva pasta para todo mundo com o material, direciona.
para todo mundo. Como diz Élida Lauris, na ordem capitalista,
As coisas que a gente aderiu de IBCCRIM e todos esses docu-
o sistema de justiça entrou para ordenar a desordem que o ca-
mentos, Rede de mulheres negras da Bahia fez um manifesto,
pitalismo criou. Então a gente precisa entrar aqui nesse meio
“parem de nos matar”, a gente copia e bota dentro da pasta. Os
de campo. Então para isso acontecer e ampliar um bocadinho...
compromissos da Defensoria Pública e os seus eixos, a gente vai
para ajudar os que estão arrastando a barriga no chão você tem
começar a conversar sobre isso, porque você não pode... a gente
que fazer ação social. E fazer ação social não é buscar a paz so-
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cial, porque a paz social é um inferno. A turma da paz é o caos. da equipe cria constrangimento... “porque é que a ouvidora tá
Então, você tá aqui sabendo que você é um agente político para aqui”. Porque o cara falou no dia que eu cheguei lá e tudo fora do
atuar junto com a sociedade, sem usurpar a fala da sociedade lugar... eles estão acostumados a lidar com brancos com poder.
e que você vai ser parte de um processo. Você não vai resolver Então, quando eles têm que lidar com negro que tem poder, eles
nada como Defensor, você não é salvador de nada, você vai ser muitas vezes negam... esse aqui não tem poder nenhum, mas
parte desse processo aqui, e sendo parte você vai entender que a tem poder. Simbolicamente tem poder. Primeiro, você chega
sociedade sabe mais do que você. Então o Defensor que tá lá só ali naquela central do Iguatemi, e você entra lá e você não é
fazendo petição, ele é um problema para a sociedade, por mais revistado, e são várias filtros que são impostos a pessoas negras
que ele se ache certo. Então, na formação, você tem que ter as todos os dias, e você vai chegar ali e você é uma pessoa negra
condições de dizer isso. (...) vai entrar ali e não vai passar por esses constrangimentos. E isso
é pedagógico, porque o cara fica ali, porra, mas eu queria fazer
A gente tem encontrado resistência também. Teve uma turma
com todos os negros, e eu não vou poder fazer com esse aqui.
que eu fui que uma moça lá falou “Nossa, que dificuldade, a
gente só tá falando dessa coisa aqui”... Aí eu dei minha volta, fiz Esse é um dos exemplos que nos ajudam a pensar em como a equi-
que eu não tava vendo nada e disse “olha, as questões na área dade racial e de gênero é importante para pensar a estruturação
cível, na área criminal, na área de fazenda pública, de direitos do da nossa sociedade e das instituições.
consumidor, de direitos humanos, se você for pelo espectro dos
direitos humanos, de direitos dos idosos, pessoas com deficiência, Considerações analíticas
das mulheres, todos esses direitos, eles estão atravessados por
A Defensoria Pública Estadual apresenta grande discrepância de
raça”. Então você também tem que ser alguém que tá entenden-
raça/cor e de gênero na ocupação dos quadros da sua adminis-
do onde você está se metendo para você desafiar ele. Você tem
tração, sendo composta majoritariamente por homens brancos,
que dizer, o racismo ele é estruturante da sociedade.
destoando inclusive da composição da própria Defensoria, que é
A ex-ouvidora destaca o valor real, simbólico e pedagógico da ocu- majoritariamente composta por mulheres brancas.
pação dos espaços de poder por pessoas negras. Narra que muitas
Questionado sobre a sua percepção do racismo nas Defensorias
vezes sentia o constrangimento e o “não saber como lidar” que
Públicas, o ex-ouvidor da Defensoria Pública de São Paulo, Alderon
muitos evidenciavam ao encontrá-la na posição de ouvidora e reco-
Costa, relata:
nhecê-la neste posto como alguém que direta ou indiretamente
ocupa o lugar de agente no sistema. Ela narra: É claro que a gente vê o racismo. A questão do olhar é muito
objetiva nesse sentido. Se você vai numa reunião do Conselho
[enquanto fazia a inspeção] ele [ia] dizendo: “olha doutora, agora
Superior da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e você olha
você não vai mais encontrar preso pelo chão...”. Porque ele sabe
o Conselho, é um Conselho Branco. Você não tem a diversidade
que eu tô falando disso, porque também esse poder da fala gera
que representa o Brasil. Só observando aí você já vê que o racis-
constrangimento, porque a sua presença também e a presença
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mo fica muito claro, quando você um conselho que representa sempre uma história. Teve uma menina aqui, uma mãe de uma
uma instituição, você não ter índios, não ter negros, e, inclusive, criança de sete anos, que a menina foi com a mãe ali na loja in-
no caso de São Paulo, você não ter mulher eleita. Todos os eleitos sinuante no shopping Lapa, e aí tinha umas bicicletas na frente
são homens. Então essa questão do racismo é muito clara, e isso e a mãe foi procurar alguma coisa e aí a menina ficou brincando
eu não tenho dúvida. Na questão da Defensoria como um todo, a com as bicicletas junto com outros meninos brancos, filhos de
gente também observa que são poucos os defensores negros ou quem estava lá comprando também. E aí o segurança foi e saiu
negras, você, no caso de São Paulo, se tiver 5 ou 6 são muitos, em carregando a menina. E aí corre todo mundo pra chamar a mãe
700, um número tão grande desse. E isso num país desse em que da menina, e aí o segurança disse que tirou a menina porque
nós temos a metade ou mais da população é negra, e você não a menina era suspeita. Suspeita de que? Uma criança de sete
tem essa representação na instituição. Isso é um problema claro. anos. E aí processo vai, processo vem, e aí a criança sofreu um
processo de baixa autoestima terrível. E ela começou a arrancar
o pedaço da pele para aparecer a partezinha branca. A menina
Para a defensora pública Cláudia Márcia (nome fictício), a questão
ficou completamente transtornada. Então assim, isso impacta
da política de cotas tem apresentado um duplo impacto na dinâ-
na autoestima da gente. A questão do cabelo, a questão da cor
mica da instituição. Para ela:
da pele, isso tem um impacto na auto estima, até você descobrir
E isso tem um duplo impacto, tanto no sentido de que ser negro que isso é legal, que isso é bonito, até você enxergar dessa forma,
é algo positivo ou negativo, e aí você querer ou não se identificar e enxergar isso como um espaço de poder também, e de pensar
com algo positivo ou negativo. Porque isso a gente identifica no assim: “do jeito que eu sou eu consigo acessar igual todo mundo”.
concurso. Tudo isso é aprendizado. Estudo mesmo que a gente fez É diferente, sabe? Eu acho que essas questões, elas precisam de
por causa do concurso. A gente identificou no sistema de cotas mais atenção. (...) A gente vivenciou muito aqui na Defensoria
que, pela primeira vez, as pessoas entendem que ser negro é uma nesses últimos anos, eu, especificamente, porque trabalho com
coisa legal, que o grande lance é você ser negro e não o contrário. direitos humanos desde 2003, horas mais com questões raciais,
Pro bem e pro mal. Porque aí tem quem burla, tem quem queira horas mais com questão de gênero, mas, assim, a experiência
que transpareça uma coisa que não é. Mas por outro lado, tem com o concurso e com as cotas me trouxe outra experiência, e
você, pela primeira vez, ter orgulho de ser o que você é e de poder os estudos também sobre a história do nosso povo.
dizer que você é negro. Eu acho isso fantástico, e isso é um reflexo,
A respeito da atuação do Núcleo de Combate ao Racismo da
digamos assim, direto das cotas, porque a cota quer botar pra
Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Lívia Casseres comenta:
dentro da defensoria e das instituições e torná-las mais iguais, mais
representativas, mas assim, o que é que isso gera indiretamente? A gente levantou em 2015 qual era o número de profissionais au-
Que mexe inclusive com a questão da autoestima, de você poder todeclarados negros na defensoria e aí constatamos os problemas
inclusive, com isso, revolucionar outros aspectos da sua vida. E a dos editais, e aí em conversa tanto com a chefia da instituição,
pessoa vê isso como um motivo de orgulho. Eu costumo contar tanto com o CEJUR, que participa desses concursos, quanto a
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coordenação de estágio e de recursos humanos, teve uma série esvaziar a norma nova, que era o nosso objetivo garantir que os
de mudanças nos editais. Então, uma das questões que não cotistas conseguissem participar do concurso. Porque a história
existiam eram as comissões de verificação. Hoje todos os editais é essa, o cotista nem participa do concurso. E aí redundou no
preveem a verificação como uma etapa do processo seletivo. E mesmo problema.
teve uma discussão sobre uma etapa do processo de seleção para
Para além do que pudemos observar da política de cotas, Cláudia
defensor que era a de transformar a prova na primeira fase em
Márcia (nome fictício) chama a atenção à necessidade de pensar o
uma prova de múltipla escolha. O NUCORA tem acompanhado
enfrentamento ao racismo institucional para além da representati-
esse processo e percebeu que não foi efetivo mudar o edital sem
vidade nos quadros e da implementação de uma política de cotas
mudar a metodologia da primeira fase. Porque a gente fez uma
eficaz, o que é imprescindível, mas insuficiente para se pensar um
série de mudanças no edital para tentar dar mais efetividade
plano de enfrentamento ao racismo que não discuta as hierarquias
à política de cotas, e como a primeira fase continuou sendo
dentro da própria instituição. Para ela, esse enfrentamento passa
discursiva, nada do que a gente previu se concretizou. Então o
também pela questão da formação. Perguntada sobre a observação
número de pessoas aprovado na primeira fase era menor que
das manifestações de racismo institucional ela conta:
o número de cotistas que poderiam ser admitidos segundo o
Se você me perguntar se existe, existe. E aqui, nas defensorias,
edital. Então essa é uma barreira que a gente propôs a mudança
elas vêm, como em todas as instituições... porque não adianta
e ainda não foi aceita, a mudança da metodologia de aplicação
resolver isso no topo, no âmbito da representatividade, e não
da prova da primeira fase. (...) Em um concurso em andamento,
resolver isso nas relações interpessoais. Então é assim, o que
aqui, agora, a gente tem que não houve o preenchimento nem
é que acontece, não adianta você entrar na instituição por um
dos candidatos habilitados na primeira fase. Isso eu ainda não
sistema de cotas e você promover racismo institucional com o
questionei formalmente, mas é uma surpresa péssima porque a
seu estagiário ou com o seu servidor/servidora negro. Não adian-
ideia desse edital era justamente a de reverter isso, né. Esse edital
ta a gente consertar uma coisa e outros problemas seguirem.
previa que em torno de 600 pessoas iam para a segunda fase. E
Não adianta a gente implantar um sistema de cotas se a gente
o que que aconteceu, a banca examinadora reprovou quase todo
segue como instituição discriminando que está na base. Quem
mundo e só aprovou um número muito menor de candidatos,
é que tá na base hoje da defensoria pública? Os servidores con-
o que inviabilizou a participação de candidatos cotistas. Então
tratados pelas empresas terceirizadas e os estagiários de nível
os candidatos cotistas não chegaram na segunda fase. (...) . Não
médio que são massivamente negros. Então não adianta nada
tem um órgão externo mais imparcial que faça a gestão da prova,
implantar um sistema de cotas bacana e na relação exercer uma
das questões, das correções, não tem uma banca contratada,
relação totalmente discriminadora, entendeu. E aí você destrata,
talvez o argumento seja o da economia, e eu acho que isso gera
você coloca o servidor para carregar a sua pasta, o estagiário de
problemas. (...) a gente estabeleceu nota de corte para garantir
nível médio para carregar a sua pasta, para pegar o seu cafezi-
que um número determinado de cotistas ia chegar na segunda
nho, para pegar o seu copo com água, você entende o que eu
fase e aí a subjetividade da correção da primeira fase conseguiu
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estou falando? Essas são práticas que lembram muito práticas Considerações para ação
utilizadas no momento da escravidão. Então, assim, quem são
as pessoas que estão fazendo o serviço de baixa qualificação na »» As Defensorias Públicas Estaduais devem observar a paridade
instituição? Acho que isso diz muito, né? Quem é que está na racial e de gênero nos seus quadros de administração superior,
base da instituição fazendo essas tarefas que, digamos assim, criando e implementando ações que promovam a preparação
na escala de importância, é uma importância secundária? En- das mulheres, sobretudo das mulheres negras, para os car-
tão não adianta resolver algumas coisas se na relação interna gos de gestão. É imprescindível considerar a dupla jornada de
[as violências se perpetuam], principalmente na relação com mulheres e as condições para exercer este trabalho, de modo
estagiário de nível médio, que são adolescentes que estão em que a instituição deve pensar em ações afirmativas eficazes
formação. (...) E a gente precisa ter um pouco essa noção de que que não representem o aumento da jornada de trabalho para
a instituição precisa se abrir para esse tipo de discussão e, mais essas mulheres.
ainda, para refletir sobre o modelo de relação que se estabelece, »» A política racial da instituição deve estar explicitada em seu
das relações de poder mesmo. O que acontece, o Defensor ou planejamento de modo que venha mencionada como pretende
defensora exerce uma relação de poder com relação ao servidor, ser abordada em suas linhas de atuação, previstas no plano
que está à disposição, e o servidor, por via de consequência, exerce plurianual e no plano de atuação da Defensoria de cada Estado.
uma relação de poder sobre o estagiário de nível superior, que
exerce uma relação de poder sobre o estagiário de nível médio, PARTE III – FORMAÇÃO
que exerce uma relação de poder ou não, com a moça que faz a
limpeza. Então, a gente tá reproduzindo um modelo completa-
Na terceira parte do questionário “III – Formação”, inquirimos as
na formação dos estagiários e dos defensores, sobre como fazer 3.1) Quais as disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial
a análise dessas relações. E aqui é claro que não escapa não, tem de preparação à carreira de Defensora Pública/Defensor Público
situações de discriminação que são trazidas, ou de algum tipo de deste Estado?
situação que possa ser identificada como assédio, e aí é preciso
dialogar. A defensoria criou também mecanismos internos de
fazer essa discussão.
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3.2) As disciplinas/módulos/atividades que compuseram o últi- mo curso oficial de preparação à carreira de Defensora Pública/
Defensor Público deste Estado incluíram temas relacionados à
questão racial? Como?
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- Violência contra as mulheres: ( ) Cursos e capacitações ( ) 3.12) Quais as principais atividades organizadas nos últimos dois
Eventos e ações anos com formadoras/es negras/os?
- Direitos das mulheres: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República
ações Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região,
com as respostas ao item 3. Os números correspondem aos
- Povos indígenas e comunidades tradicionais: ( ) Cursos e capa-
sub-itens da questão 3 (que varia do 3.1 ao 3.12)
citações ( ) Eventos e ações
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3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
AC
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AM
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AP
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RR
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PA
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TO
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RO
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MS
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DF
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GO
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Formação nas
Defensorias Públicas
dos Estados
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Considerando as principais disciplinas/módulos ofertados no último maior demanda e prioridade de formação é o “sistema prisional”.
curso oficial de preparação à carreira de defensor público, observa- A Defensoria Pública mineira informa realizar parcerias com outras
mos que a Defensoria Pública do Amazonas, Rio de Janeiro e São entidades do sistema de justiça, com o Governo do Estado e com
Paulo oferecem disciplinas que abrangem temáticas relacionadas entidades da sociedade civil de uma forma em geral. A instituição
a: I) Questões internas à organização, administração, atendimento e informou ter realizado atividades relacionadas à questão racial nos
funcionamento da Defensoria Pública do Estado; II) Temas de direito últimos dois anos e avalia como principais ações a realização de um
coletivo, direitos humanos e/ou atuação em tribunais internacionais; seminário sobre a temática e a inclusão da política de cotas para
III) Temáticas na área penal; IV) Temáticas nas áreas cíveis. negros no concurso.
As Defensorias Públicas do Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, As principais disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial
Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins de preparação à carreira de defensor público do Estado do Rio de
não informaram as principais disciplinas e módulos ofertados no Janeiro são: I) Funcionamento da Defensoria Pública (coordena-
curso oficial de preparação à carreira de defensor público. As prin- ções, núcleos especializados, suporte técnico, etc.); II) princípios
cipais disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial de institucionais; III) Processo civil, família, consumidor, cível, atuação
preparação à carreira de defensor público do Estado do Amazonas nos fóruns e tribunais, penal, processo penal, sistema-socio-edu-
são: I) Organização/Administração/Técnicas de atendimento; II) cativo, infância, execução penal, fazenda pública; IV) visitas a locais
Direito Coletivo e Fundiário; III) Atuação da Defensoria Pública no de atuação (comunidades e unidade prisional); V) criminologia,
Interior: ênfase na área de Família; III) Normas e regimentos internos direitos humanos, sistema interamericano, VI) Defensoria Pública
da DPE; IV) Atuação da Defensoria Pública no Interior: ênfase na e democracia; VII) métodos extrajudiciais de soluções de contro-
área civil; V) Diretrizes sobre audiência de Custódia; VI) Atuação da vérsias; VII) direito à moradia; VIII) política de drogas.
Defensoria Pública no Interior: Ênfase na Área Criminal.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou que as disciplinas/
A Defensoria Pública do Amazonas informa que “trabalha com dois módulos/atividades que compuseram o último curso oficial de
projetos importantes no âmbito do Estado. “Um novo amanhã”, que preparação à carreira incluiu temas relacionados à questão racial
trabalha com crianças e adolescentes que sofreram com abuso através das aulas do NUCORA (Núcleo de Combate ao Racismo)
sexual, e o “Ensina-me a sonhar”, que trabalha com adolescentes e NUDIVERSIS (Núcleo pela Diversidade) de combate ao racismo
que cumprem medidas socioeducativas. A Defensoria Pública e discriminação com a defensora Lívia Casseres, com a visita ao
do Amazonas não indicou ter realizado atividades relacionadas à Quilombo Sacopã, incluindo a vivência e o estudo de caso com Luiz
questão racial nos últimos dois anos. Sacopã e Lívia Casseres. A Defensoria fluminense disponibilizou o
programa de formação do último curso.
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou que “a instituição
não fornece cursos para o ingresso em seus quadros, apenas cur- A Defensoria Pública de São Paulo informa que realizou a apre-
sos de capacitação abertos ao público, inclusive com inclusão de sentação do Núcleo Especializado de Combate à Discriminação,
debates sobre a questão racial”. Para essa Defensoria, a área de Racismo e Preconceito e também a palestra “A dinâmica dos meca-
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Áreas de cursos,
eventos e/ou
capacitações
realizados nos últimos
dois anos
Medidas
socioedu-
Direitos da cativas /
AM NÃO
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Áreas de cursos,
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realizados nos últimos
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Promoção Violência contra
da as mulheres/
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MS N/I N/I N/I N/I N/I N/I SE Eventos Eventos Eventos NÃO Eventos NÃO
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Áreas de cursos,
eventos e/ou
capacitações
realizados nos últimos
dois anos
Questões
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CE N/I N/I N/I N/I N/I RO Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos
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A Defensoria Pública do Amazonas oferece cursos e capacitações técnico jurídicas, podendo abarcar noções fundamentais de psi-
nas áreas de direitos da criança e do adolescente; medidas socioe- cologia, ciência política, sociologia, mediação, criminologia e de
ducativas/ juventude e prisão. A Defensoria Pública de Minas Gerais filosofia do direito” e; em Tocantins a “área da família”.
oferece cursos e capacitações nas áreas de direitos humanos; direitos
Questionadas sobre quais teriam sido as principais atividades rela-
da criança e do adolescente; sistema carcerário; medidas socioe-
cionadas à questão racial organizadas nos últimos dois anos, a
ducativas/ juventude e prisão; saúde; questões urbanas e moradia;
Defensoria Pública de Minas Gerais informou terem sido “Seminários
consumidor; política de drogas; violência contra as mulheres/direitos
e a inclusão no edital do concurso de percentual de cotas para
das mulheres.
negros” (essa Defensoria não soube, contudo, nos informar quantos
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro oferece cursos e capacita- teriam sido os candidatos aprovados via sistema de cotas). Mato
ções nas áreas de direitos humanos; direitos da criança e do ado- Grosso do Sul informa a realização de “Seminários, Palestras in loco
lescente; sistema carcerário; medidas socioeducativas/ juventude e atendimentos especializados”.
e prisão; saúde; população de rua; promoção da igualdade racial;
A Defensoria do Rio de Janeiro informou a realização dos eventos
sexualidade; terra e território; questões urbanas e moradia; idosos;
“I Jornada Nacional sobre Racismo Institucional no Sistema de
pessoa com deficiência; consumidor; política de drogas; sexualidade;
Justiça” e “Direito à saúde e seus avessos: Racismo Institucional e
violência contra as mulheres/direitos das mulheres; povos indígenas
Mortalidade Materna”, o “Curso Racismo Institucional e Sistema de
e comunidades tradicionais.
Justiça”; a “Roda de Conversa Gênero; Negritude e Igualdade”; o
A Defensoria Pública de Rondônia oferece cursos e capacitações nas “Cine Debate sobre o filme 13ª Emenda”, tendo também realizado
áreas de saúde; violência contra as mulheres/direitos das mulheres. outros cursos com formadoras/es negras/os.
A Defensoria Pública de Tocantins oferece cursos e capacitações nas
A Defensoria de São Paulo informa ter realizado o “Seminário
áreas de direitos humanos; promoção da igualdade racial; sexua-
Igualdade Racial e Direitos Humanos”, “Fórum de Religiões Africanas”,
lidade; consumidor; povos indígenas e comunidades tradicionais.
“Ciclo de debates: Racismo, o que é, como é por que é?”, “Ciclo de
A Defensoria Pública de São Paulo declarou promover eventos em
debates: estéticas, modismos, identidades negras e apropriação
todas as áreas mencionadas e listou uma série de outros cursos e
cultural sobre turbantes, cabelos, privilégios e violências”, “Cine
formações disponibilizadas.
debate: Menino 23”; Diálogos interdisciplinares e Relações Raciais”,
Perguntadas sobre a área de maior demanda e prioridade da for- “Debates sobre racismo institucional”; “Seminário: as religiões de
mação da Defensoria Pública em cada Estado, a Defensoria Pública matriz africanas e intolerância religiosa”; “Aula de Criminologia e
de Minas Gerais respondeu que seria “Sistema Prisional”; no Rio Racismo”, e informa que em todas essas atividades contaram com
de Janeiro, “Direitos Humanos”; em Rondônia, “os egressos” e “as a colaboração de formadoras/es negras/os.
mazelas vivenciadas pela população hipossuficiente”; em São Paulo
Tocantins informou que realizou “Seminário sobre Ações Afirmativas:
a resposta dada nos indicou que “o curso de preparação à carreira
Rodas de conversa sobre igualdade racial”; “Cine debate: oficina
objetiva treinamento específico para o desempenho das funções
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sobre saberes e Fazeres das Comunidades Tradicionais Quilombolas”; Em entrevista com a defensora Cláudia Márcia discutimos algumas
“Publicação da Cartilha sobre Igualdade Racial e Direitos Humanos”; questões com relação à formação e questões raciais que gostaría-
“Palestra sobre o papel da Defensoria na Promoção de Ações mos de destacar. A primeira dessas questões diz respeito à missão
Afirmativas: Participação ativa nas conferências regionais, muni- da Defensoria Pública em enfrentar o que chamamos de “desco-
cipal (Palmas -TO) e nacional de Promoção de da Igualdade Racial”; nhecimento ideológico do racismo” a partir da atuação das escolas
“Integrou a programação da Semana da Consciência Negra” “Integra da Defensoria.
o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial”; “Submeteu
E também é preciso que as escolas da Defensoria trabalhem
projeto de capacitação de recurso à SEPPIR para desenvolver ações
conteúdos relacionados com a formação do nosso povo, porque
sobre o tema” e informa ter contado com a colaboração de forma-
parte do desconhecimento da gente sobre as questões raciais
doras/es negras/os no “Seminário Ações Afirmativas: a garantia
parte do desconhecimento da história. Então, é assim, a gente não
da diversidade étnico-racial” e na “Oficina Saberes e fazeres das
sabe como o nosso povo foi formado, como é que foi a questão
comunidades tradicionais”.
do tráfico dos negros da África pra cá, então é assim: “Como é
Rondônia informa que as disciplinas/módulos/atividades organiza- que funcionou isso, como é que isso impacta hoje na Defenso-
das nos últimos dois anos pela Defensoria Pública não incluíram ria? O que é que isso tem a ver com a Defensoria?” A princípio as
temas relacionados à questão racial. As demais Defensorias não pessoas não vão entender nada, mas isso interfere diretamente
responderam a esse questionamento. com a política institucional que a gente leva. O fato de ser uma
instituição que, digamos assim, repara essas questões ou não...
Considerações analíticas Para a defensora, esse deve ser um compromisso da instituição, que
É possível observar que as Defensorias Públicas Estaduais que ofe- deve fortalecer o processo de valorização desse conteúdo. Para ela:
recem cursos e capacitações dispõem de Escola Superior ou Centro Esse conhecimento racial é invisibilizado nas nossas matrizes
de Estudos Jurídicos, de modo que a existência da estrutura para nas escolas de formação dos Defensores, com raras exceções.
pesquisa e estudos parece interferir diretamente na capacidade para Isso precisa inclusive ser trabalhado, quando você fala aí das
o oferecimento dos cursos e capacitações e realização de eventos. formações é importante pensar nisso, porque aí entra na matriz.
Observamos, contudo, que apenas as Defensorias Públicas do Rio Eu não tenho como trabalhar população carcerária se eu não
de Janeiro e de Tocantins informaram realizar cursos e formações entender como é que funciona o racismo no Brasil, né? Como é
sobre promoção da igualdade racial para além de eventos. Essa que o nosso povo foi formado.
dado pode demonstrar que as Defensorias Públicas sejam canais A defensora e coordenadora da Escola Superior da Defensoria
institucionais importantes na promoção do debate público por Pública da Bahia acredita que a questão racial e a questão de gênero
meio de eventos, mas ainda carecem de formação sistemática na devem ser disciplinas obrigatórias nos cursos preparatórios. Indica
temática de raça para o seu público interno.
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que a obrigatoriedade desses temas precisa ser institucionalizada estruturas bloco de educação para direitos que tenha nas suas
nas escolas e cursos. Para ela: estruturas formações específicas. Então, com a gente aqui é com
mulheres. Então, nas primeiras a gente teve 54 mulheres, basi-
Todo curso preparatório para a carreira de defensor público tem
camente mulheres negras, do subúrbio, e aí, e a gente investiu
que discutir raça e gênero. Tem outras coisas para discutir tam-
mesmo na formação. E aí eu tive que fazer ajustes internos com a
bém, mas raça, é porque é fundante. Se você não entende dessa
defensoria, com os defensores e com a administração superior. De
forma... então assim... as desigualdades sociais do Brasil estão
por exemplo, disponibilizar carro para buscar e levar as mulheres.
praticamente todas calcadas nesses dois pilares.
De disponibilizar o lanche. Então, eu fiz um convencimento das
Cláudia Márcia explica que, apesar de nem sempre conseguir,
coordenações, dos defensores, de que a gente abrisse mão do
ela procura transformar o que observa como sendo carências da
coffee break do curso dos defensores para que os coffee breaks
Defensoria Pública em alguma iniciativa de formação. É o que ela
fossem disponibilizados para os defensores populares, por uma
explica ao descrever uma experiência que avalia como exitosa, na
questão muito simples, muitas delas saem sem comer, ou iam
Bahia:
daqui para a faculdade, ou iam voltar para casa para chegar 19h da
A gente pensa, se é talvez porque tá faltando algum tipo de noite com fome. Então, é assim, elas iam ficar aqui com a gente 5
conhecimento sobre gênero, então é assim, o público alvo da horas sem comer? Porque para elas estarem aqui no curso com
Defensoria Pública é majoritariamente feminino, então são as a gente 13:30, 14h elas tinham que sair de casa 12:30. Às vezes não
mulheres que procuram a defensoria pública, a gente precisa saiu a comida lá ainda e tal. Então é assim. Aí a gente fez esse
ter uma escuta diferenciada, então isso tudo a gente tem traba- processo de negociação com os defensores. E isso é uma coisa
lhado. (...) na Bahia, a gente resolveu dar o enfoque de gênero, que hoje em dia os defensores nem questionam mais, porque
então a gente foca em mulheres, e aí também foi outro drama que as defensoras populares tem lanche e porque nos cursos
para eu lidar, porque aí eu tive que defender que a gente preci- para os defensores tem água, café e suco porque a compra é
sava formar primeiro as mulheres, porque são elas que estão na aquela geralzona, ou senão os sequilhos que eu compro do meu
linha de frente, elas que tem sofrido a maior parte das violên- próprio bolso e boto lá, mas assim, lanche mesmo de coffee break
cias, e aí a gente foi trabalhando a formação em direito para as e carro pra levar e buscar tem pras defensoras populares, e isso
mulheres, e hoje tem algumas coisas, e as defensorias investem tem motivo. Não saem pegando defensor de carro pra levar para
mais ou menos nisso, o que tem um pouco também daquilo aqui e para acolá, mas elas sim. Inclusive tem uma van para isso,
que a ouvidoria vem fazer, que é essa questão de você dividir o que a gente conseguiu suplementação, inclusive, para comprar
poder. Porque assim, a gente não vai conseguir resolver todos essa van, para esse curso. Então assim, as meninas já estão em
os problemas da sociedade como um todo. Então é assim, ou a uma outra perspectiva.
gente tem aliados e pessoas e formamos pessoas que podem
nos ajudar na defesa de direitos ou a gente não vai ter como agir.
Então, (...) é estratégico que a defensoria pública tenha nas suas
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Ficha, sistema e
categorização de
dados de atendimento
ao público
Sistema de informações
Ficha de cadastro simultâneas para cadastro dos Categorização de dados
dos usuários usuários (sexo, gênero, raça, idade)
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Em regra, os Estados utilizam ficha de cadastro dos usuários (No afirma seguir a Resolução nº 170/2018, que também possui como
Amazonas: Próton – Sistema de controles de processos e docu- regra o critério econômico.
mentos; em Minas Gerais: SISGED, sistema interno; em São Paulo,
Para os Estados citados acima, os critérios podem ser flexibiliza-
o DOL – Defensoria On-line), mas não possuem categorização de
dos se demonstrada vulnerabilidade concreta e/ou comprovada
dados com relação ao sexo, gênero, raça, idade dos seus usuários.
a impossibilidade financeira de custear honorários de um advo-
A Defensoria Pública de Rondônia utiliza o sistema de atendimento gado. A Defensoria Pública de Sergipe informa possuir um Estatuto
ODIN, mas possui apenas a categorização dos dados de idade e Social elaborado pelo CIAPS (Centro Integrado de Atendimento
gênero. Ela, contudo, não informou os dados. Psicossocial) da Defensoria, o que permite também a flexibilização
dos critérios de hipossuficiência observadas as situações concretas.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa utilizar o sistema
A Defensoria Pública de São Paulo informou que há previsão para
VERDE como sistema de informações simultâneas para cadastro de
Deliberação do Conselho Superior em casos excepcionais para
usuários e afirma possuir categorização dos dados com relação ao
avaliar fatores que evidenciam exclusão social e a flexibilização dos
sexo, gênero, raça e idade dos seus usuários. Contudo, ela não ane-
critérios de hipossuficiência. A Defensoria Pública do Tocantins
xou documentos produzidos pelos órgãos/núcleos de atendimento.
afirma a possibilidade de flexibilização do critério econômico e cita
A Defensoria Pública de Tocantins informa utilizar o sistema SOLAR
os casos de violência doméstica e saúde como exemplos previstos
como sistema de informações simultâneas para cadastro de usuá-
na resolução nº 170/2018.
rios e afirma possuir categorização dos dados com relação ao sexo,
A Defensoria Pública de Sergipe informou que não possui ficha de
gênero, raça e idade dos seus usuários. Contudo, ela não anexou
cadastro dos usuários, que não possui um sistema de informações
documentos produzidos pelos órgãos/núcleos de atendimento.
simultâneas para cadastro e que não possui categorização de dados
O critério de atendimento para o público e definição de hipossu-
com relação ao sexo, gênero, raça e idade dos seus usuários. As
ficiência é em regra o critério econômico. A Defensoria Pública
Defensorias Públicas do Mato Grosso do Sul, Rio Grande no Norte
do Amazonas especificou que utiliza critério geográfico para as
e Roraima não responderam aos questionamentos sobre atendi-
áreas de família, consumidor e fundiária, e critério econômico de
mento ao público.
até 3 salários mínimos para as demais áreas conforme triagem em
cada núcleo. A Defensoria Pública de Minas Gerais informa que a Considerações analíticas
renda individual do usuário não pode ser superior a três salários
mínimos como regra. A Defensoria Pública de Rondônia também A não informação dos dados pelas Defensorias e a ausência de
afirma que “o principal critério é não possuir renda superior a três categorização desses dados são um impedimento de análises mais
salários mínimos”, assim como a Defensoria Pública de Sergipe. A complexas sobre o tipo de serviço e a qualidade do serviço que é
Defensoria Pública de São Paulo atende usuários com renda de até oferecido aos usuários, e também sobre o tipo de usuário que utiliza
quatro salários mínimos federais. A Defensoria Pública do Tocantins os serviços da Defensoria. A ausência de uma ficha de atendimento
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uniformizada que considere o critério raça/cor e a ausência de for- - As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver/pos-
mação para o preenchimento do quesito raça/cor nas Defensorias suir/promover a categorização dos dados sobre os seus usuários e
Públicas também dificulta a coleta e o tratamento desses dados. demandas a fim de conhecer o seu público e as áreas de incidência.
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PARTE V – ATUAÇÃO EM CONFLITOS COLETI- Na quinta parte do questionário “V – Atuação em conflitos, ações
VOS, AÇÕES CIVIS PÚBLICAS E SISTEMAS IN- civis públicas e sistemas internacionais de proteção”, inquirimos às
TERNACIONAIS DE PROTEÇÃO Defensorias Públicas dos Estados os seguintes questionamentos:
- Direitos humanos:
- Sistema carcerário:
- Saúde:
- População de rua:
- Sexualidade:
- Intolerância religiosa:
- Terra e território:
- Idosos:
- Consumidor:
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- Política de drogas:
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Representação
ao Sistema Audiências Audiências
ONU ou Siste- Quantas ACP sobre Públicas públicas sobre
ma Interameri- representa- questão sobre funções questões ra-
cano ções racial institucionais ciais
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As Defensorias Públicas do Amazonas, do Mato Grosso do Sul e de A Defensoria Pública de Sergipe e de Tocantins não informaram se
Sergipe informaram que não representaram aos sistemas interna- promoveram, na atual gestão, ações civis públicas a fim de propi-
cionais de proteção dos direitos humanos (Sistema ONU ou Sistema ciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais
Interamericano). homogêneos relacionados às temáticas da raça.
A Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais e de Rondônia A Defensoria Pública de Minas Gerais informa que promoveu, na
informam que já representaram aos sistemas internacionais de atual gestão, ações civis públicas a fim de propiciar a adequada
proteção dos direitos humanos, mas não especificaram as ações. tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos
relacionados às temáticas da raça, tendo citado “valores de tarifas
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro informa que já
de transportes coletivos, apresentação de custodiados, entre outros”.
representou aos sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos com ações que envolviam questões relacionadas a Direitos A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro informa que
Humanos, Direitos da Criança e do Adolescente, Sistema Carcerário promoveu, na atual gestão, ações civis públicas a fim de propiciar
(duas vezes) e Saúde. a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos relacionados às temáticas da raça e cita como “exem-
A Defensoria Pública de Rondônia informa que já representou aos
plos de ações que abordaram o racismo estrutural ou institucio-
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos com
nal promovidas desde 2015 (gestão do DPG André Castro): 1) TAC
ações que envolviam questões relacionadas a direitos humanos e
Fazenda Santa Eufrasia (Volta Redonda – atuação em parceria com
sistema carcerário.
o MPF para combater práticas racistas nas fazendas que exercem
A Defensoria Pública de São Paulo informa que já representou aos
atividades turísticas no Vale do Café); 2) Ação possessória tendo
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos com
por objeto o território do Quilombo Santa Justina e Santa Izabel,
ações que envolviam questões relacionadas a sistema carcerário,
em Mangaratiba; 3) Recomendação ao DETRAN RJ para possibi-
medidas socioeducativas/juventude e internação; sexualidade e
lidade de utilização de elementos da estética negra na fotografia
violência contra as mulheres.
da carteira de identidade (atuação em parceria com a Comissão
A Defensoria Pública do Tocantins informa que já representou aos de Igualdade Racial na OABRJ); 4) Embargos de terceiros coletivo
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos com no processo de obrigação de fazer promovido contra a liderança
ações que envolviam questões relacionadas a “Terra e Território”. quilombola Luiz Sacopã (atualmente está sendo discutida parceria
As Defensorias Públicas do Amazonas, do Mato Grosso do Sul, de com o pesquisador Ronaldo Lobão – UFF, a fim de promover uma
Rondônia e de São Paulo informaram que não promoveram, na nova ação coletiva); 5) Ação Civil Pública contra o Estado do Rio de
atual gestão, ações civis públicas a fim de propiciar a adequada Janeiro para a garantia dos pagamentos da bolsa permanência dos
tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos estudantes cotistas da UERJ; 6) Ação Civil Pública sobre Operações
relacionados às temáticas da raça. Policiais na Favela da Maré; 7) Habeas Corpus Coletivo contra buscas
domiciliares na Favela do Jacarezinho; 8) Habeas Corpus Coletivo
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contra buscas domiciliares na Favela da Cidade de Deus; 9) Ação situação clínica de pessoas com HIV, independentemente da análise
Civil Pública sobre a invasão de domicílios no Complexo do Alemão.” concreta do caso pelo profissional de saúde e da relação médico
paciente. – O fornecimento de água e energia-elétrica nos assen-
As Defensorias Públicas do Amazonas, de Rondônia e de Sergipe
tamentos informais. – Dados, subsídios, informações, sugestões e
informaram que não convocaram nos últimos dois anos audiên-
críticas sobre a atuação do Grupo de Intervenção Rápida nos pre-
cias públicas para discutir matérias relacionadas às suas funções
sídios paulistas, com vistas a possibilitar a atuação da Defensoria
institucionais.
Pública no sentido de pôr fim às violações praticadas pelo referido
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou ter convocado, nos
grupamento; - A gentrificação das áreas centrais da cidade de São
últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias rela-
Paulo; - O movimento de expulsão da população de baixa renda
cionadas às suas funções institucionais, citando a área de “direitos
do centro de São Paulo; - Política mães em cárcere; - Processo
humanos, entre outras”.
Transexualizador do SUS no Estado de São Paulo; - Obtenção de
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou ter convocado, insumos para futura atuação judicial em face de eventuais abusos
nos últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias relativos à atuação da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar
relacionadas às suas funções institucionais, citando a área de “direi- do Estado de São Paulo na região conhecida como “Cracolância”,
tos humanos, violência institucional, direito e moradia, segurança que teriam gerado violação à integridade física e/ou psíquica das
pública”. pessoas que frequentam o lugar a qualquer título, ou que transitam
A Defensoria Pública de São Paulo informou ter convocado, nos pelas redondezas”.
últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias relacio- A Defensoria Pública de Tocantins informou ter convocado, nos
nadas às suas funções institucionais. Especificou que “[a] Defensoria últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias rela-
Pública promove, a cada dois anos, Ciclos de Conferências em todo cionadas às suas funções institucionais. Especificou que “[e]m 06 de
o Estado de São Paulo, nos quais a sociedade civil participante março de 2017 houve Audiência Pública para discussão acerca da
formula propostas sobre os temas de atuação da instituição como Proposta de Resolução para Reorganização e Redimensionamento
um todo e, mais especificamente, de seus Núcleos Especializados. de Núcleos da DPE-TO (NADEP – Assistência e Defesa ao preso;
Ademais, foram promovidas as seguintes audiências públicas: NDDH – Defesa dos Direitos Humanos; DPAGRA – Defensoria Pública
- Dados, subsídios, informações, sugestões, críticas, propostas e Agrária; NUDECA – Direitos da Criança e Adolescente; NUDEM –
especialmente (sic) promover a conscientização sobre a violência Defesa dos direitos da Mulher; NUDECON – Defesa do Consumidor;
obstétrica com a divulgação de medidas e ações para a melhoria e NUMECON – Mediação e Conciliação; NUAmac – Núcleo Aplicado
humanização dos serviços de saúde na assistência ao parto. – HIV/ das Minorias e Ações Coletivas; NUJURI – Tribunal do Júri; NUSA –
AIDS (sic) para debater a recente mudança no Protocolo Clínico e Defesa da Saúde.
Diretriz Terapêutica do SUS que restringiu a solicitação e a realização
de exames de contagem de linfócitos CD4 a partir de determinada
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A Defensoria Pública de Tocantins informou ter realizado em 10 que devem entrar como pauta privilegiada nas Defensorias Públicas.
de novembro de 2016 audiência pública sobre Ações Afirmativas e Para ela, ‘essa questão tem nos custado a vida’:
Garantia da Igualdade Racial.
A questão prisional, por mais que esteja colocada em várias
A Defensoria Pública do Amazonas não respondeu quais audiências questões. Eu sinto que hoje, a chamada guerra às drogas está
públicas promovidas nos últimos dois anos discutiram direta ou totalmente atravessada pela questão racial. (...) a política de di-
indiretamente a questão racial. reitos humanos, encarceramento, tudo isso são indicadores que
apontam para o incremento da força da chamada guerra às dro-
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou ter promovido,
gas. (...) Mesmo sendo a Defensoria Pública essa força no sistema
nos últimos dois anos, audiências públicas que discutiram direta
de justiça, não quer dizer que nas Defensorias do país tenham
ou indiretamente a questão racial, citando “audiência pública na
o fato resolvido de que todo mundo, por exemplo, é a favor da
assembleia com presença de Defensores Públicos”.
descriminalização das drogas, do enfrentamento, ou mesmo no
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou ter promovido,
campo mais radical, do abolicionismo penal, da descriminaliza-
nos últimos dois anos, audiências públicas que discutiram direta
ção das drogas.
ou indiretamente a questão racial, citando a “ocupação de casas
Os estados todos estão implementando políticas de segurança
dos moradores do Complexo do Alemão pela Polícia; intervenção
pública que só vão dar em mais angústia social. (...) como fica a
federal no Estado do Rio de Janeiro; violência institucional contra
política de drogas no país que é atravessado pelo superencar-
a juventude”.
ceramento, e todas atravessados por raça. (...) O carro chefe da
A Defensoria Pública de São Paulo informou ter promovido, nos
criminalização da política de drogas tá aqui. Sistema carcerário,
últimos dois anos, audiências públicas que discutiram direta ou indi-
negação dos Direitos Humanos...
retamente a questão racial, citando que “um dos eixos de discussão
Nesse sentido observamos que, apesar de a área criminal, o sistema
dos Ciclos de Conferências é “Diversidade e Igualdade Racial” e que
prisional, a política de drogas e o enfrentamento a questões insti-
“No último Ciclo de Conferências, realizado em 2017, foram eleitas
tucionais aparecerem como temáticas importantes para atividades
cinco propostas deste eixo”. A Defensoria Pública de São Paulo não
de formação, as Defensorias Públicas em geral ainda não pensam
informou, contudo, quais foram as propostas eleitas.
atuações coletivas de maneira estratégica com relação a essas
As Defensorias Públicas do Rio Grande no Norte e de Roraima não
temáticas, sobretudo a temática da “política de drogas”, dentro e
responderam aos questionamentos sobre atuação em conflitos
fora da Defensoria.
coletivos, ações civis públicas e sistemas internacionais de proteção.
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ações civis públicas e no sistema interamericano ainda é incipiente. »» - As Defensorias Públicas dos Estados devem promover audiên-
Percebemos que esta atuação coletiva se dá predominantemente cias públicas periódicas e propositivas sobre as questões raciais;
nos Estados em que há a existência de núcleos especializados e o
»» - O enfrentamento ao racismo deve ser considerado pauta
oferecimento de cursos e formações, como nas Defensorias Públicas
institucional para as Defensorias Públicas dos Estados (prevista
de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.
no orçamento, nos planos de trabalho, com recursos humanos,
administrativos e financeiros direcionados para tal).
Considerações para ação
»» - As Defensorias Públicas dos Estados devem pensar estraté-
gias para compartilhar materiais e experiências a respeito das
formações e da atuação em ações civis públicas, bem como em
outras ações coletivas extrajudiciais, ações constitucionais e no
sistema interamericano;
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PARTE VI – NÚCLEOS ESPECIALIZADOS Na sexta parte do questionário “VI – Núcleos especializados”, inqui-
rimos às Defensorias Públicas Estaduais os seguintes questiona-
mentos:
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O panorama geral indica que, em boa parte das Defensorias Públicas, anos. A Defensoria informa que as funções do Núcleo são “prestar
a questão racial está sendo deslocada para a área de Direitos assistência jurídica aos envolvidos e/ou grupos discriminados em
Humanos. As Defensorias Públicas do Rio Grande no Norte e de razão de raça/cor, descendência, origem nacional ou étnica, tais
Roraima não responderam aos questionamentos sobre os núcleos como os negros os indígenas, os remanescentes de comunidades
especializados. Apenas as Defensorias Públicas do Mato Grosso do quilombolas, dentre outros”. Informa ainda que as principais ações
Sul, Rio de Janeiro e São Paulo informaram possuir núcleos espe- do Núcleo são no campo da violência institucional e racismo. Aponta
cializados de combate ao racismo e promoção da igualdade racial as “[a]ções coletivas relacionadas a práticas institucionalmente
e afirmaram que os núcleos possuem atuação coletiva. racistas dos órgãos de segurança pública do Rio de Janeiro como
as principais ações coletivas ajuizadas pelo núcleo nos últimos dois
A Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul informou que possui
anos”.
núcleo especializado de combate ao racismo e a promoção da
igualdade racial; contudo, não nos informou qual seria o núcleo A Defensoria Pública de São Paulo informa possuir núcleos especia-
e nem disponibilizou dados referentes à sua estrutura e atuação. lizados de Cidadania e Direitos Humanos; Diversidade e Igualdade
Verificamos no site da instituição a existência do Núcleo Institucional Racial; Direitos do Consumidor; Direitos da Pessoa Idosa e da Pessoa
de Promoção e Defesa dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial com Deficiência; Habitação e Urbanismo; Infância e Juventude;
e Étnica[6]. Segunda Instância e Tribunais Superiores; Direitos das Mulheres
e; Situação Carcerária.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro também informou pos-
suir um núcleo especializado de combate ao racismo e promo- A Defensoria Pública de São Paulo informou que possui núcleo
ção da igualdade racial, o Núcleo contra a Desigualdade Racial especializado de combate ao racismo e promoção da igualdade
(NUCORA). A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa pos- racial. Verificamos, contudo, que as ações do Núcleo de Combate
suir como núcleos de atuação ou núcleos especializados os de: à Discriminação, Racismo e Preconceito (NCDRP) subincluem a
Terras e habitação; Loteamentos; Defesa dos Direitos da Criança temática racial com relação às temáticas de diversidade de gênero,
e do Adolescente; Direitos Humanos; Atendimento à Pessoa com como podemos observar na descrição, a seguir, das ações do Núcleo.
Deficiência; Atendimento à Pessoa Idosa, Desigualdade Racial;
O Núcleo especializado de Diversidade e Igualdade Racial de São
Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos; Direitos da Mulher;
Paulo possui atuação coletiva e conta com 2 defensores públicos,
Consumidor; Sistema Penitenciário; Cadeias Públicas e apoio ao
3 servidores e 5 estagiários e é coordenado por Isadora Brandão
Preso Provisório; Audiências de Custódia; Fazenda Pública.
Araújo da Silva, mulher preta de 30 anos. A Defensoria informa que
O núcleo especializado de combate ao racismo e promoção da o Núcleo Especializado de Defesa da Diversidade e da Igualdade
igualdade racial do Rio de Janeiro conta com a colaboração de uma Racial (NUDDIR) possui atualmente 265 (duzentos e sessenta e
defensora pública, dois servidores e três estagiários e é coordenado cinco) procedimentos administrativos em andamento, bem como
por Lívia Miranda Muller Drummond Casseres, mulher preta, de 32 333 (trezentos e trinta e três) protocolos abertos/expedientes admi-
[6] Disponível em: http://www.defensoria.ms.gov.br/nupiir nistrativos, sendo que, desses últimos, 4 (quatro) em andamento
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para acompanhamento de projetos de lei que versam sobre temá- Serviço Social, Psicologia e Medicina”, ocorrido em julho. Ademais,
tica afeta ao Núcleo. Destacam-se como principais ações: 333 novos destacam-se as ações de implementação das propostas aprovadas
atendimentos, sendo que destes 67 contaram com presença do no V Ciclo de Conferências da Defensoria Pública do Estado de São
Centro de Atendimento Multidisciplinar. Dentre as principais temá- Paulo. – Buscar a aplicação e pressionar o Estado de São Paulo para
ticas tem-se – Combate às discriminações – transfóbica, homofóbica o cumprimento das Leis nº 11.645/08 e 10.639/03[7], que preveem a
e racial. – Questões relacionadas à saúde física e mental, tanto no obrigatoriedade do ensino [de] história e cultura afro-brasileiras e
âmbito familiar, quanto no trabalho. – Uso do nome social e orien- indígenas nas escolas. – Fomentar políticas públicas de formação
tações sobre a retificação do nome em documentos. – Não foram inicial e continuada de professores e gestores educacionais na área
propostas ações coletivas. Todavia, há três procedimentos adminis- de combate ao preconceito, racismo e discriminação. – Exigir o
trativos em andamento buscando solucionar pela via administra- cumprimento dos artigos 68, 215, 216 e 231 da Constituição Federal,
tiva conflitos relativos a direitos coletivos, como o de uso de nome na busca da proteção das comunidades tradicionais (populações
social em bilhetes de passagens, um contra o então candidato à negras, quilombolas, caiçaras, indígenas, caboclos e ciganos), espe-
prefeitura de Andradina em 2016 e alterações no Protocolo Clínico cialmente por meio da regularização fundiária de seus territórios e
de Diretrizes Terapêuticas para o manejo do HIV em adultos e novos da proteção da cultura e atividades destas, como pesca artesanal,
critérios adequados para determinação de realização de exames roça coivara e artesanato. – Cobrar a implantação e implementação
no SUS; os representantes do Núcleo participaram de diversas reu- das políticas nacionais referentes à população negra, principal-
niões com órgãos do Poder Público federal, estadual e municipais, mente a política nacional de saúde integral da população negra.
dentre as quais destacam-se o Fórum Inter-Religioso do Estado – Acompanhar e pressionar permanentemente os serviços que
de São Paulo para uma Cultura de Paz e Liberdade de Crença, a oferecem o processo transexualizador, especificamente as cirurgias,
reunião aberta no Conselho Federal de Medicina para tratar de reivindicando a sua descentralização, especialmente dos acompa-
nova normativa técnica acerca do processo transexualizador em nhamentos endocrinológicos e psicológicos, nos âmbitos público
Brasília e a reunião com a sede no Conjunto das Nações Unidas e privado. – Fazer avaliação financeira individual para os casos em
sobre HIV/AIDS – UNAIDS em Brasília. Vale destacar a participação que o/a usuário/usuária sofra qualquer discriminação dentro de seu
na audiência pública de “Políticas de financiamento para a AIDS”, núcleo familiar (em razão de sua orientação sexual, identidade de
de iniciativa da Dep. Maria Lúcia Amary, na Assembleia Legislativa gênero, opção religiosa, entre outros).
do Estado de SP. O Núcleo organizou três grandes eventos no ano
A Defensoria Pública de São Paulo informa ainda que as principais
de 2017, com presença de grande público em todos eles. Os even-
ações coletivas ajuizadas pelo núcleo de Diversidade e da Igualdade
tos foram: “Estéticas, modismos, identidades negras e apropriação
Racial foram a PA nº 11/2016 – Discriminação homofóbica – Contra
cultural: sobre turbantes, cabelos, privilégios e violências”, ocorrido
em maio; “Visibilidade Lésbica: Direitos e Políticas Públicas”, ocorrido
[7] Com a reforma do Ensino Médio, as leis nº 11.645/08 e 10.639/03 deixaram de ser
em agosto no dia da visibilidade lésbica e o “Transexualidade e o
obrigatórias, e os currículos das escolas podem ser organizados sem os conteúdos
Diálogo com os Saberes: do Experiencial ao Direito, passando pelo previstos pelas leis.
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irmãos Piólogo e a Ação Civil Pública Processo Judicial nº 1059191- A Defensoria Pública de Sergipe informa possuir núcleos especiali-
91.2016.8.26.010[8]. zados de Flagrante Delito e Acompanhamento a Presos Provisórios;
Execução Penal; Inquérito Administrativo; Defesa dos Direitos da
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou que possui núcleo
Mulher; Direitos do Consumidor; Direitos da Criança e do Adolescente;
especializado de combate ao racismo e a promoção da igualdade
Direitos Humanos e Inclusão Social; Saúde; Primeiro Atendimento
racial. Contudo, verificamos que a referida Defensoria não possui um
e Movimentos de Bairro.
núcleo específico, mas uma Defensoria Especializada em Direitos
Humanos, Coletivos e Socioambientais (DPDH), que subinclui a A Defensoria Pública do Amazonas, de Rondônia e do Tocantins não
temática racial em suas atividades . [9]
possuem núcleo especializado de combate ao racismo e promoção
da igualdade racial. No Amazonas as questões correspondentes ao
A Defensoria Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e
tema são encaminhadas à Defensoria Especializada na Promoção
Socioambientais (DPDH), que em tese se responsabiliza pelas
e Defesa de Direitos Humanos. A Defensoria Pública do Amazonas
questões relacionadas ao combate ao racismo e promoção da
informa possuir como núcleos de atuação ou núcleos especializa-
Igualdade racial de Minas Gerais, conta com a colaboração de dez
dos de: Interesses Coletivos, Saúde, Direitos Humanos, Flagrantes
defensores públicos, dois servidores e dois estagiários. Este núcleo
Criminais, Atendimento ao Consumidor, Atendimento Fundiário,
é coordenado por Aylton Rodrigues Magalhães (raça/cor do coor-
Atendimento à Mulher Vítima de Violência Doméstica, Infância e
denador do Núcleo não foi informada). A Defensoria Pública de
Juventude Civil e Atendimento ao Idoso.
Minas Gerais também informa possuir como núcleos de atuação
ou núcleos especializados: Saúde, NUDEM (direitos da mulher), A Defensoria Pública de Rondônia informa que não possui núcleo
Direitos Humanos, Infância e Juventude. específico de combate ao racismo e promoção da igualdade racial
e que “encaminha as questões relativas à temática para o núcleo
A Defensoria Pública de Sergipe informou que possui núcleo espe-
de tutela coletiva/Direitos Humanos, e, sendo demanda individual,
cializado de combate ao racismo e promoção da igualdade racial. No
para a defensoria com atribuição”. A Defensoria Pública de Rondônia
entanto, verificamos que a referida Defensoria não possui um núcleo
informa possuir Núcleos especializados de Tutela Coletiva; Direitos
específico para tratar a temática, mas um Núcleo Especializado de
Humanos; Sistema Prisional; Mulher Vítima de Violência Doméstica.
Defesa dos Direitos Humanos e Promoção da Inclusão Social, que
possivelmente subinclui a temática[10]. Ele conta com a colaboração A Defensoria Pública de Tocantins informa que não possui núcleo
de 4 defensores públicos e é coordenado por Sérgio Barreto Morais, especializado de combate ao racismo e promoção da igualdade
homem de 45 anos cuja raça/cor não foi informada racial e que encaminha as questões relativas ao tema ao Núcleo
de Defesa dos Direitos Humanos (NDDH). A Defensoria Pública do
Tocantins informa possuir Núcleo especializado de Defesa da Saúde
[8] Processo não encontrado.
– NUSA, Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos
[9] Disponível em https://www.defensoria.mg.def.br/servicos/carteira-de-servicos/di-
reitos-humanos/ da Criança e do Adolescente – NUDECA, Núcleo Especializado de
[10] Disponível em: https://www.defensoria.se.def.br/?page_id=12208 Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos; Núcleo espe-
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do Mato Grosso do Sul não nos ofereceu elementos para avaliar a O NUCORA foi criado em 2014, então é um Núcleo relativamente
atuação do Núcleo. Em regra, a questão racial aparece subincluída novo, e acho que foi criado muito por conta do ativismo pessoal
em núcleos de Direitos Humanos. do Defensor Público Geral da época, que se aproximou de alguns
segmentos específicos do movimento negro, de alguns atores
Vilma Reis destaca, sobre o funcionamento dos núcleos especiali-
do próprio sistema de justiça que são militantes do movimento
zados, a necessidade de assumir explicitamente uma política racial
negro, da OAB, do tribunal de justiça, e ele puxou essa pauta para
dentro da instituição. Além disso, os instrumentos de ação precisam
si. Eu tenho uma memória da atuação do ex Defensor Público
estar institucionalizados nos núcleos de modo que os funcionários
Geral com o movimento negro, o Doutor Nilson Bruno, promo-
possam colocá-los em prática ainda que haja mudança de gestão. A
vendo eventos, marchas que ele chegou a organizar e sediar na
gestão do núcleo deve ser vista de maneira estratégica e não apenas
Defensoria. E teve a organização do Núcleo que ele inaugurou
como uma questão de promoção dentro da carreira, sem que haja
no último mandato dele, em março de 2014.
afinidade ou compromisso social com a temática. Por exemplo:
Esse núcleo, quando ele foi criado, ele não tinha um planejamento
Eu fiquei pensando assim, tinha todas as condições, e eu fiquei
tão claro e ele não teve uma coordenação exclusiva. Então ele
pensando assim, poxa, eu acho que ele está morrendo na praia...
era coordenado da mesma pessoa que coordenava o Núcleo de
Porque você não pode criar só estruturas burocráticas. Eu não
Direitos Humanos como um todo, acumulava uma série de fun-
sei se o problema tá nessa questão da promoção... deve ser as-
ções. Então não ficou muito estabelecida de início a autonomia
sim também na Defensoria de outros Estados... quem tá na fila
do NUCORA, as suas demandas, metodologias, práticas, etc.
vai ocupar aquele lugar, porra, não pode ser assim. A gente tá
Ele ficou muito no plano formal, nesse início. Então, a demanda
criticando a Vara de Violência doméstica porque promove dessa
que começou a vir espontaneamente muito nesse início foi a
forma, o juiz que tá na fila vai para a vara. Não tem nenhuma
demanda de crimes raciais, e práticas de racismo intersubjeti-
afinidade. O cara às vezes, ele é um adversário da Lei Maria da
va, as pessoas procurando assistência para ação indenizatórias,
Penha, e ele é promovido e vai para a Vara. Principalmente porque
para acompanhar a investigação policial penal de crimes contra
essas são varas hiper especializadas e ela só tem ou na capital
honra motivados pela questão da raça/cor, e algumas pequenas
ou em cidades pontos.
demandas relacionadas a saúde e educação, tinham dois proce-
Núcleo de Combate ao Racismo da Defensoria Pública dimentos, cada um sobre um desses temas, e um procedimento
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tutela coletiva, por exemplo, na educação, ofícios dirigidos a mas na estrutura de cargos da Defensoria está previsto um órgão
todas as escolas dos 96 municípios do Estado do Rio de Janeiro para ser ocupado por um Defensor, que é um órgão que está
perguntando se a lei 10.639 era cumprida. Só que, por exemplo, dividido entre sete pessoas que tem outras atribuições. Em um
esses ofícios não tinham uma quesitação específica sobre o cur- mundo ideal, deveríamos ter um titular e a coordenação, com
rículo das escolas, sobre a forma de implementar a lei, etc. Eram dois defensores trabalhando, coordenando, se substituindo um ao
ofícios meio genéricos, que eu achei que talvez tenha faltado outro. Essa é uma situação comum a outros núcleos, Nudiversis,
uma articulação com os profissionais do setor, com os militantes Núcleo da pessoa idosa, é uma situação comum na Defensoria e
que tem uma história de atuação na área da educação. Então nos nossos núcleos especializados é mais sério ainda porque em
talvez, nesse momento ainda era um laboratório, um teste, uma muitos deles não tem ninguém fixo. Eles são divididos.
experimentação... o Núcleo era muito jovem.
Na nossa organização interna, como a Letícia está no NUDIVERSIS
Então em 2015 eu acabei assumindo a coordenação, mas ainda de também e atua nos Direitos Humanos, a gente internamente se
uma maneira muito precária, por conta de acumular também a organizou para conseguir se especializar nas matérias, dentro da
coordenação do NUDIVERSIS. A mesma situação do meu colega possibilidade que a Defensoria oferece. Hoje eu identifico que
anterior que me precedeu, ele acumulava a coordenação do NU- o grosso da demanda individual do NUCORA continua sendo
CORA e do NUDEGE, na nova administração isso foi mantido, até atendimentos para situações de racismo intersubjetivo, mas
2018. Então de 2014 até 2018 não havia uma coordenação exclusi- ampliou bastante para outros tipos de discriminação racial ou
va para o NUCORA, então era um órgão que não tinha nenhum experiências de racismo institucional, em situação relacionada
defensor, tinha o pedaço da atenção de uma coordenadora. A com as temáticas de gênero... e tem a demanda por planejar
gente só conseguiu efetivamente criar uma coordenação um melhor a atenção do NUCORA, isso não está estruturado.
pouco mais efetiva em 2018, que chega uma colega nova para
Por exemplo, a gente tem os planos para esse ano (2019) de fa-
o campo da diversidade, coordenar o NUDIVERSIS (O núcleo
zer atuações mais voltadas para o público interno e atuar como
das diversidades, direitos LGBT), e eu, apesar de continuar com
uma coordenadoria especializada mesmo, capacitando os de-
funções no Núcleo de Direitos Humanos, consigo me concentrar
fensores. Tem alguns temas que eu identifiquei, por exemplo, o
mais agora em 2019 no núcleo contra a desigualdade racial. (...)
preenchimento do “sistema verde” que está sendo utilizado pela
o Núcleo Contra a Desigualdade Racial só tem um órgão de defensoria agora tem o quesito racial e aí a gente já fez algumas
atuação e hoje ainda tem o seguinte problema, a gente não reuniões, uma delas de audiência de custódia, e que os colegas
tem exclusivamente uma pessoa atuando no NUCORA, ele é demonstravam dificuldades. Eles não estão familiarizados com
composto de uma coordenação, que é a que eu ocupo, e um alguns conceitos, têm vergonha de perguntar, acham que estão
órgão de atuação que seria o coordenado por mim, esse órgão constrangendo a pessoa presa se perguntar sobre isso e tal. Então
não existe. O NUCORA tem hoje uma equipe exclusiva que tem é uma coisa que a gente tem como necessidade para esse ano
um servidor, que é a Letícia Correia, e tem três estagiários oficiais, de 2019 é capacitar os defensores e servidores no preenchimento
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do quesito raça cor do “verde”. Porque também é uma novidade está criando um fluxo de acompanhamento da investigação do
o “verde”. O programa está sendo implementado desde o ano ato da tortura e dos efeitos para dentro do processo, para den-
passado. (...) tro da defesa criminal, que a gente vai poder produzir teses por
exemplo de ilicitude da prova, contaminação das provas, pedir
Outro grande tema que chega para o NUCORA é a violência
o relaxamento da prisão da pessoa, pela prática da tortura. E o
institucional que é muito conectado com o Núcleo de Direitos
elemento racial é bem marcante nesse levantamento, porque
Humanos. E aí tem várias vertentes de ações coletivas, de aten-
tem um índice absurdo dentre os réus negros de prática de
dimentos individuais, de audiências públicas em que a gente
tortura. Tem uma certa diferença entre os tipos de violência que
pauta a questão do racismo. (...)
as pessoas privadas de liberdade estão sujeitas segundo a cor.
As demandas internas têm sido as ações mais estratégicas e
Ela destaca ainda que uma proposta foi levada à administração
ações coletivas. (...) Por exemplo, litigância internacional que a
superior da Defensoria para que “a questão racial ocupasse uma
gente fez no ano passado. Teve um caso que envolvia tanto a
coordenadoria na Defensoria, além do Núcleo especializado”. Para
intervenção quanto a violência institucional e a gente criou uma
ela, é necessário:
argumentação relacionada à questão racial, que envolvia isso e
tudo mais... e uma parte dos direitos violados é o direito à não inserir a questão racial no ponto de vista de todos os defensores
discriminação e a Denúncia do Estado pelas práticas de racismo públicos e conseguir trabalhar com esse olhar em qualquer aten-
institucional no campo da segurança e tudo mais. Então assim, dimento que a defensoria preste e centralizar o racismo como um
acho que maioria das demandas são externas sim. problema da defensoria. Um problema a ser trabalhado interna-
mente e externamente, porque a posição do núcleo especializado
Lívia Casseres destacou dentre as principais ações do núcleo uma
é de órgão de atendimento, então ela vai servir para promover
pesquisa realizada sobre o aborto, promovida juntamente com a
ações individuais, ações coletivas, produzir uma estratégia jurídica
Comissão da Mulher; o programa de Violência Institucional, que é
a serviço da sociedade com o olhar da questão racial.
um programa de Direitos Humanos; o protocolo de combate à tor-
tura e uma pesquisa sobre “o elemento racial na prática da tortura”
no Estado do Rio de Janeiro. Sobre o protocolo contra a tortura que Ela destaca também as dificuldades de exercer as atividades no
está em processo de implementação Lívia Casseres explica: Núcleo, sobretudo as relacionadas ao enfrentamento ideológico
É um protocolo que já está publicado desde o ano passado para dos que questionam o combate ao racismo e até mesmo dos que
atuação dos Defensores nos casos em que eles sejam comuni- questionam a própria existência do racismo. A defensora narra:
cados de que aconteceu tortura contra a pessoa que está sendo Eu acho que hoje a nossa grande dificuldade é um certo iso-
atendida. Então a gente criou um banco de dados para monitorar lamento interno, não só do NUCORA, mas de outros núcleos
a partir da audiência de custódia, tudo que é relatado em termos especializados. Mas a gente percebeu que com os processos
de tortura, pelos atendidos pela Defensoria. Então hoje a gente políticos do ano passado que diversos defensores consideram
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problemático que a Defensoria veicule o Racismo como um foco »» As Defensorias Públicas dos Estados devem criar núcleos espe-
das suas preocupações, se ocupe de uma agenda do movimento cializados de combate ao racismo e promoção da igualdade
negro, por exemplo, isso é visto como uma politização indevida racial para incidência estratégica interna e externa;
da Defensoria ou uma cooptação da Defensoria por um segui-
»» As Defensorias Públicas devem adotar o enfrentamento ao
mento da sociedade. [...] É comum eu escutar que “tem núcleo
racismo como questão transversal em todos os seus núcleos;
pra tudo nessa defensoria, tem núcleo até de questão racial. Pra
que é que existe isso? Esse núcleo é fictício”. Isso é super comum.
»» As Defensorias Públicas que não possuem núcleos exclusivos
de enfrentamento ao racismo devem estar atentas para que a
(...) Questionando a própria existência do racismo.
temática racial não esteja sendo subincluída ou tratada com
Contudo, Lívia também reconhece os pontos positivos da exis-
menor importância dentro do núcleo sob o qual esteja subor-
tência do Núcleo para a contribuição com o trabalho e missão da
dinada;
Defensoria e destaca:
»» A Defensoria Pública de São Paulo deve observar possível pro-
Acho que tem algumas construções políticas que a Defensoria
blema da subinclusão da questão racial no núcleo de enfren-
Pública proporciona quando ela se deixa apropriar pela sociedade
tamento ao racismo.
e se abre para a participação popular, para o controle social, para
um planejamento participativo, acho que essas construções são
um foco de resistência bem importante e fértil no sistema de
justiça. (...) Eu acho que ela [a Defensoria Pública] pode propor-
cionar experiências de resistência dentro do sistema de justiça
importantes, de serem instrumentalizadas para outros projetos
de Democracia e de Justiça.
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PARTE VII – PRODUÇÃO DE DADOS E PESQUISA Na sétima parte do questionário “VII – Produção de dados e pes-
quisa”, inquirimos às Defensorias Públicas Estaduais os seguintes
questionamentos:
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A Defensoria Pública do Amazonas não promoveu/promove a pro- da mulher criminalizada por aborto no estado do Rio de Janeiro; o
dução e difusão de dados e pesquisas referente a sua atividade. 1º diagnóstico de gênero da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.
A Defensoria Pública de Minas Gerais, de Rondônia e de Sergipe A Defensoria Pública do Amazonas informa um “caso emblemático
informam ter promovido/promover a produção e difusão de dados de vítima de Racismo no Fórum de Justiça Ministro Henoch Reis.
e pesquisas referente a sua atividade, mas não anexaram qualquer A assistida, que é de nacionalidade africana e veio ao Brasil por
documento a esse respeito e nem informaram quais as pesquisas um programa de intercâmbio acadêmico, estagiava em uma das
ou dados produzidos. varas de família do fórum de justiça e foi racialmente injuriada por
membro do jurisdicionado no desempenho de suas funções. A ação
A Defensoria Pública de Tocantins informa ter promovido/promover
de responsabilização civil foi apresentada pela Defensoria Pública
a produção e difusão de dados e pesquisas referente a sua atividade
Especializada na Promoção e Defesa de Direitos Humanos e segue
e diz realizar “relatórios mensais de atividades do NDDH”, onde
em andamento. Ainda não foi realizada Audiência de Instrução”. A
registram a atuação do núcleo especializado de maneira descritiva
Defensoria Pública do Amazonas anexou a petição inicial.
e numérica. Informa que este documento se encontra disponível
na página da Defensoria Pública do Estado e junto à Corregedoria. A Defensoria Pública de São Paulo informa que, sobre os dados da
instituição, estão procedendo a um recadastramento dos defen-
A Defensoria Pública de Tocantins informa ainda que “[a] DPE,
sores e defensoras e dos servidores e servidoras tendo em vista a
representada por seu NDDH (Núcleo de Direitos Humanos), integrou
edição da Lei nº 16.758 de 2018, também conhecida como Lei Leci
a comissão organizadora das Conferências Municipais e Estadual
Brandão, que torna obrigatória a informação sobre cor ou identi-
de Promoção da Igualdade Racial, por meio da sua forte atuação
ficação racial em todos os cadastros, bancos de dados e registros
junto ao Conselho Estadual de Promoção de Igualdade Racial. Além
de informações assemelhados, públicos e privados, no Estado, e dá
de organizar, servidores e defensores participam efetivamente das
providências correlatas.
etapas, contribuindo com a proposição de políticas de promoção
da igualdade racial, com foco nas especificidades do povo tocanti- A Defensoria Pública de São Paulo informa que promoveu/promove
nense. Destas proposições, a maioria foi contemplada em sede de a produção e difusão de dados e pesquisas referentes à sua ativi-
Conferência Nacional e passarão a integrar o Plano Nacional de PIR”. dade e disponibilizou pesquisas e dados produzidos no campo da
“Habitação e Urbanismo”; “Direito do Consumidor”, dentre outros.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa ter promovido/pro-
mover a produção e difusão de dados e pesquisas referente a sua As Defensorias Públicas do Rio Grande no Norte, de Roraima e do
atividade, tendo produzido relatórios periódicos com o perfil dos Mato Grosso do Sul não responderam aos questionamentos sobre
réus atendidos pela Defensoria Pública nas audiências de custódia; produção de dados e pesquisas.
pesquisa sobre as sentenças judiciais por tráfico de drogas na cidade
e região metropolitana do Rio de Janeiro; pesquisa sobre o perfil
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Considerações analíticas
A produção de dados e pesquisas pelas Defensorias Públicas
Estaduais é, em geral, casuística e pouco participativa, havendo
poucas informações sistematizadas e disponibilizadas ao usuário.
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CONSIDERAÇÕES GERAIS PARA AÇÃO »» O enfrentamento ao racismo deve ser considerado pauta insti-
tucional para as Defensorias Públicas dos Estados, com vistas a
ampliar a diversidade institucional e colaborar com a redução
das disparidades entre grupos raciais e internamente no mesmo
grupo racial. A política racial da instituição deve estar explici-
tada em seu planejamento de modo a que venha mencionado
como pretende ser abordada em suas linhas de atuação pre-
vistas no plano plurianual e no plano de atuação da Defensoria
Pública de cada Estado, com atenção aos quadros técnicos e
terceirizados.
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de modo a atestar o cumprimento do dever institucional e ofere- objetivos e corrigir ações ,condutas inadequadas e equívocos
cerem condições para o trabalho proposto. Esta recomendação em tempo hábil;
está alinhada com o art. 52 do Estatuto de igualdade Racial;
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver uma
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover o ingresso cultura de pesquisa, atuando na produção e difusão de dados
sistemático de mais negros, negras e indígenas em seus qua- sistematizados sobre as suas atividades, seus usuários, seus fun-
dros por meio de política de cotas para afrodescendentes, cionários, demandas sociais e ações nas quais atuem. Devem
indígenas e deficientes, observado o percentual populacio- produzir dados de avaliação do serviço prestado de acordo
nal equivalente. A existência de diversidade de profissionais com o público atendido. O percentual de mulheres, homens
qualificados e comprometidos atesta o cumprimento do dever heterossexuais, homossexuais, travestis e transexuais, de dife-
institucional e colabora para a sua realização adequada; rentes gerações e condição física e mental satisfeitos com o
atendimento ajudam a demonstrar a competência cultural
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver ações
da instituição e a qualidade das informações sobre o público
afirmativas para ascensão funcional de negros, negras e
e seus quadros, contribuindo para a formulação de ações de
indígenas, sobretudo de mulheres negras e indígenas, o que
enfrentamento do racismo mais eficazes;
irá colaborar para a explicitação e incorporação do dever ins-
titucional de enfrentar o racismo e garantir maior diversidade »» As Defensorias Públicas dos Estados devem atuar na produ-
na direção; ção e difusão de dados sobre o racismo e enfrentamento da
questão racial, bem como trazer em suas outras produções de
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem observar a paridade
dados e estudos uma perspectiva transversal da questão racial;
racial e de gênero nos quadros da administração superior,
criando e implementando ações que promovam a prepara- »» As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver ou
ção das mulheres, sobretudo das mulheres negras e indígenas, possuir um sistema de informações simultâneas em que
para os cargos de gestão. É imprescindível considerar a dupla possam cadastrar os usuários e deve haver uma uniformização
jornada de mulheres e as condições para exercer este trabalho, nacional da ficha de cadastro dos usuários para a produção
de modo que a instituição deve pensar em ações afirmativas e tratamento de dados. Uniformizar e aprimorar os sistemas
eficazes que não representem o aumento da jornada de trabalho de cadastro e acompanhamento dos usuários seriam passos
para essas mulheres; importantes para obter essas informações;
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem criar condições de »» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover a cate-
monitoramento, verificação e avaliação da efetividade da gorização dos dados sobre os seus usuários e demandas a
política de cotas raciais e para deficientes físicos e de outras fim de conhecer o seu público e as áreas de incidência;
medidas de enfrentamento ao racismo, buscando atingir seus
»» A ficha de cadastro dos usuários das Defensorias Públicas dos
Estados deve conter o critério raça/cor para que os usuários
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possam se AUTO IDENTIFICAR (sexo, gênero, idade, endereço, a partir de uma perspectiva racializada, abordando a temática
etc.); do racismo de maneira transversal a todos os módulos. Devem
oferecer também um módulo específico sobre a questão racial.
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover estudos
A participação neste curso deve ser obrigatória;
de caso sobre situações específicas relacionadas às deman-
das que chegam à Defensoria em colaboração com grupos da »» As Defensorias Públicas dos Estados devem implementar
sociedade civil; Ouvidorias Externas preparadas para receber e incorporar as
demandas dos diferentes grupos raciais nas políticas institu-
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem sistematizar e pro-
cionais. As Ouvidorias Externas colaboram para a ampliação
porcionar o acesso a informações dos casos em que atuem
da participação;
para os seus usuários e para a sociedade em geral;
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»» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover ações incorporar aos dados de acesso válidos a data de instituição
civis públicas e audiências públicas para abordar questões de cada Defensoria Pública Estadual;
raciais e questões incidentais que trazem a temática racial
como fator determinante na discussão, incluindo as suas fun-
ções institucionais;
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Grandes Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes Perguntas Análise situacional Recomendações
eixos norteadoras eixos norteadoras
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Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações
norteadoras norteadoras
A instituição tem As Defensorias Públicas A proporcionalidade entre mu- A instituição in- As Defensorias Públicas dos Ter equipes qualificadas,
informações atuais dos Estados, em geral, não lheres e homens negros, indí- forma e educa Estados não apresentam um que colaborem para a maior
sobre a proporção de aferem a proporção de mu- genas e outros permite verificar as equipes e seu plano estratégico de enfrenta- adesão e para a realização
mulheres e homens lheres e homens negros, in- a capacidade da instituição em público quanto à mento ao racismo que permita adequada dos objetivos de
negros, indígenas e dígenas e outros ocupando enfrentar internamente o racis- adoção de ações aos funcionários estarem infor- enfrentamento ao racismo
outros na instituição e posições de relacionamento mo institucional. As Defensorias afirmativas? mados e comprometidos com institucional.
em que posições? com o público em relação à Públicas dos Estados precisam os princípios de promoção da
sua proporção na popula- construir uma política da ação equidade e do enfrentamento
ção local. afirmativa eficaz que permita o do racismo.
ingresso proporcional de negros
e negras e indígenas proporcio- As ações afirma- As Defensorias Públicas dos Ampliar a diversidade institu-
nal à população local de cada tivas adotadas Estados não apresentam uma cional, de modo a colaborar
Estado. permitem enfren- diversidade nas equipes de com a redução das disparida-
tar outras formas mulheres e homens heterosse- des entre grupos raciais e in-
Existe alguma ação As Defensorias Públicas Implementar uma política de desigualdades xuais, homossexuais, travestis ternamente no mesmo grupo
específica para a ga- dos Estados não possuem institucional de incentivo à qua- vivenciadas pelos/ e transexuais, de diferentes racial.
rantia da diversidade uma política institucional lificação e ocupação de cargos as negros/as (de gerações, de pessoas com defi-
de gênero de incentivo à qualifica- superiores por mulheres negras, gênero, orientação ciência e outros.
ção e ocupação de cargos sexual, condição
e raça no acesso e na superiores por mulheres indígenas e outras, o que per- física e mental,
ascensão funcional? negras, indígenas e outras, mitirá explicitar a incorporação geração etc.)?
aprovada e implantada. dos objetivos de enfrentamento
do racismo e das disparidades Qual é a abran- As Defensorias Públicas dos Deve apresentar uma diversi-
Ações
raciais na ocupação de cargos gência dessa ação Estados apresentam ações afir- dade de funcionários/funcio-
afirmativas
institucionais, melhorando o afirmativa (acesso, mativas para o acesso à carreira nárias com estabilidade fun-
e outras
relacionamento com o público. permanência, mo- de defensor e defensora pública cional, de modo que colabore
Ações políticas
bilidade, cultura que ainda não provaram ser para explicitação do dever e do
afirmativas de
Os critérios utilizados As Defensorias Públicas dos Desenvolver ações afirmativas organizacional)? bem sucedidas. Baixo núme- compromisso institucional de
e outras enfrentamento
nos processos seletivos Estados não apresentam para ascensão funcional de ro de Defensorias apresenta enfrentamento do racismo e
políticas do racismo
promovem a ocu- mecanismos afirmativos negros e negras, sobretudo núcleos especializados de com- suas interseccionalidades.
de institucional
pação proporcional para inclusão de mulheres de mulheres negras e indíge- bate ao racismo e promoção
enfrentamento dos cargos segundo negras, indígenas e outras nas, o que irá colaborar para a da igualdade racial. Na maior
do racismo gênero, raça e cultura na ocupação dos postos explicitação e incorporação do parte, o tema é subincluído em
institucional em todos os cargos da de direção institucional. Os dever institucional de enfrentar núcleos dedicados à defesa dos
instituição? mecanismos afirmativos o racismo e garantir maior diver- direitos humanos.
em vigor sequer permitem sidade na direção.
o ingresso do mínimo de Há metas objeti- As Defensorias Públicas dos Adotar metas explícitas para a
vagas reservada aos negros vas definidas de Estados não apresentam metas
e negras. maior diversidade diferenciadas de ocupação de garantia da diversidade em
nos diferentes cargos de direção segundo quantidade proporcional à sua
níveis hierárqui- gênero, raça, identidade de representação populacional,
cos do quadro gênero. o que irá colaborar para a
funcional? realização do dever institucio-
Os processos seletivos As Defensorias Públicas implementar, de maneira eficaz, nal de enfrentar o racismo e as
são guiados pelos dos Estados formalmente ações afirmativas voltadas para disparidades raciais.
princípios da igualda- adotam quotas raciais para garantir a participação propor-
de de oportunidades o ingresso na carreira de cional de representantes dos Há acompanha- As Defensorias Públicas dos Acompanhar a execução das
segundo gênero, raça, defensor e defensora públi- grupos racialmente excluídos mento contínuo Estados não apresentam ações afirmativas. A realização
cultura? ca, mas elas não têm sido nos diversos postos institucio- dessas ações? processos de monitoramento e de processos de monitora-
suficientes para permitir o nais colaboram para a realização avaliação periódica do alcance mento e avaliação das ações
ingresso de grupos racial- do dever institucional. das metas, nem mesmo das afirmativas, e outras, garante
mente excluídos. cotas raciais enquanto políticas sua maior eficácia e correção
de ação afirmativa. de equívocos em tempo hábil.
A instituição utiliza As Defensorias Públicas Monitorar o enfrentamento ao
periodicamente ações dos Estados não utilizam racismo institucional, buscando
para identificar a periodicamente ações para atingir seus objetivos e corrigir
presença do racismo identificar a presença do ra- ações e condutas inadequadas.
dentro da instituição? cismo dentro da instituição.
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Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações
norteadoras norteadoras
O quesito raça/cor é As Defensorias Públicas Ter um sistema e equipes As equipes estão As Defensorias Públicas Produzir dados de avaliação do
preenchido segun- dos Estados, em regra, não preparadas para coletar e tratar treinadas para reco- dos Estados, em geral, não serviço prestado de acordo com
do as categorias realizam a coleta sistemática informações. nhecer a diversida- possuem sistematização o público atendido. O percen-
de classificação do da informação raça/cor dos de de sujeitos e de de dados a respeito do tual de mulheres, homens
IBGE? seus usuários via preenchi- demandas? percentual de diferentes heterossexuais, homossexuais,
mento dos formulários. As sujeitos em atendimento e travestis e transexuais, de
Defensorias Públicas dos acolhidos pelas ouvidorias diferentes gerações e condi-
Estados não apresentaram segundo gênero, raça, etc. ção física e mental satisfeitos
informações objetivas e aces- com o atendimento ajudam
síveis acerca do significado a demonstrar a competência
desta informação para os cultural da instituição.
diferentes públicos.
As equipes têm As Defensorias Públicas dos Gerar dados sistematizados
A qualidade da co- As Defensorias Públicas dos Desenvolver uma cultura de acesso a informa- Estados não foram capazes sobre o público que atende.
Produção de
leta da informação Estados não possuem calen- pesquisa. Garantir a veracidade ções detalhadas de apresentar informações Uniformizar e aprimorar os
dados e informa-
do quesito raça/cor dário de avaliação periódica e qualidade das informações sobre os diferentes consistentes acerca do sistemas de cadastro e acompa-
ções cadastrais
é avaliada periodi- da qualidade da coleta e sobre o público contribui para grupos populacio- público atendido e da sua nhamento dos usuários seriam
sobre o público
camente? análise das informações esta- a formulação de ações de en- nais para quem diversidade. passos importantes para obter
belecido. frentamento do racismo mais trabalham? essas informações. O grau de
eficazes. informação da equipe acerca
da população (segundo raça/
cor e outras) a que deve atender
As informações As Defensorias Públicas dos Elaborar um plano de enfrenta- contribui para o planejamento
coletadas são utili- Estados precisam gerar da- mento ao racismo, estabele- e execução de ações adequadas
zadas para a defini- dos e informações a respeito cendo metas e avaliando os de enfrentamento do racismo
ção de prioridades do enfrentamento ao racis- seus objetivos. Os resultados e eliminação das disparidades
e para elaboração mo institucional para, a partir das avaliações periódicas Competência raciais.
de políticas e pro- daí, avaliar as suas metas e a devem constituir a linha de cultural
gramas? execução do planejamento. base para o próximo ciclo de A instituição tem Apesar da existência de Desenvolver protocolos de atua-
planejamento como forma de abordagens dife- núcleos especializados ção e condutas específicas que
aprimoramento de ações. renciadas para os em combate ao racismo e garantam maior acolhimento
diferentes grupos em promoção da diversi- às pessoas e suas demandas
populacionais? dade sexual em algumas e atestem o compromisso
Defensorias Públicas, institucional com o enfrenta-
em geral, a instituição mento das disparidades raciais
não possui protocolos de e outras.
ação (estabelecimento de
condutas e procedimentos)
adequados às linguagens
e visões de mundo de cada
grupo populacional.
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Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações
norteadoras norteadoras
A instituição possui Nem todas as Defensorias As Ouvidorias Externas são pe- Há acompanha- As Defensorias Públicas Prezar pelo debate perma-
ouvidorias acessíveis Públicas dos Estados pos- ças essenciais para que se possa mento contínuo dos Estados não nente, a ser liderado pela ad-
aos diferentes gru- suem uma Ouvidoria Externa falar de democracia no âmbito dessas ações? apresentam ações ministração superior, acerca
pos populacionais? popular instalada, acessível e das Defensorias Públicas dos para eliminação das da adequação das ações de
com divulgação ampla. Estados. As Ouvidorias Exter- disparidades raciais e enfrentamento do racismo
nas devem estar preparadas do racismo como pauta institucional e das dispa-
para receber e incorporar as permanente das reuniões ridades raciais através das
demandas dos diferentes gru- de direção da instituição. ações e políticas, de modo a
pos raciais nas políticas institu- contribuir para explicitar seu
cionais. As Ouvidorias Externas compromisso e para a quali-
colaboram para a ampliação da dade do trabalho.
participação.
Há monitoramento As Defensorias Públicas Implementar o monitora-
A instituição utiliza As Defensorias Públicas dos Contar com a participação de das ações de enfren- dos Estados não apresen- mento preciso das ações de
formas de comuni- Estados não apresentam representantes dos diferentes tamento ao racismo tam metas de eliminação enfrentamento do racismo
cação diferenciadas grau de participação de mu- grupos populacionais na ela- institucional? das disparidades raciais e redução das disparidades
segundo as necessi- lheres, homens heterosse- boração de estratégias de co- e de enfrentamento do raciais através das ações e po-
dades e linguagens xuais, homossexuais, travestis municação institucional, o que racismo institucional mo- líticas, de modo a contribuir
segundo gênero, e transexuais, de diferentes irá colaborar para a utilização Avaliação das nitoradas periodicamente para a qualidade do trabalho
Competência
raça e cultura? gerações e condição física e de linguagens e conteúdo mais políticas e pela direção. desenvolvido e alcance dos
cultural
mental na definição da políti- adequados a cada grupo. serviços objetivos propostos.
ca de comunicação
Há monitoramento As Defensorias Públicas Resultados positivos das
institucional. da eliminação das dos Estados não estabe- políticas de modo equivalente
disparidades raciais leceram indicadores de para cada grupo permitem
O quadro funcional As Defensorias Públicas dos Prezar por uma diversidade e de gênero nas efetividade da política considerar a efetividade do
tem representantes Estados não apresentam institucional proporcional à políticas finalísticas segundo raça/cor, sexo e enfrentamento do racismo
dos diferentes gru- proporção de ocupação de participação destes grupos na da instituição? identidade de gênero. institucional pela capacidade
pos populacionais cargos na instituição, nos população geral contribui para institucional de trabalhar
(segundo gênero, diferentes níveis funcionais, a realização do dever institu- igualmente com grupos
raça e cultura)? por representantes dos cional. populacionais distintos.
diferentes grupos raciais
segundo sua participação Qual é a periodici- As Defensorias Públicas Divulgar adequadamente seu
na população geral. O que dade de monitora- dos Estados não apre- calendário de avaliações, o
se percebe é que a estratifi- mento? sentam calendário de que colabora para o estabele-
cação racial e de gênero au- avaliação periódica da cimento de rotinas adequa-
menta na medida em que os qualidade da coleta e das e para a informação da
cargos são hierarquicamente análise das informações população.
superiores. conhecido por toda a
equipe e pela população.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS A opção pelo estudo da Defensoria Pública Estadual se deu prin-
cipalmente pelos seus objetivos constitucionais voltados para o
acesso à justiça dos cidadãos menos favorecidos e a democratização
do sistema de justiça. Por este motivo lançamos nosso olhar a fim
de compreender como a instituição se estrutura para enfrentar o
racismo e promover a igualdade racial.
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cenário bastante discrepante no que diz respeito à sua organização, Todos os indicadores que utilizamos para observar a sua organiza-
à sua cultura institucional heterogênea e às diferentes manifes- ção e estruturação no enfrentamento ao racismo e promoção da
tações para o público. Os diferentes graus de responsividade das igualdade racial nos mostram que precisamos abordar de maneira
Defensorias quanto ao questionário nos evidenciam diferenças explícita a necessidade de formação de competência cultural entre
em conhecer e dispor de dados sobre a sua própria organização. os defensores e defensoras, servidores e servidoras, terceirizados e
A desarticulação institucional com o Ministério da Justiça reforça terceirizadas, e estagiário e estagiárias para que o enfrentamento
a necessidade de proatividade do Colégio Nacional de Defensores ao racismo seja incorporado à rotina da instituição e ao processo de
Públicos Gerais (CONDEGE) e da Associação Nacional de Defensoras formulação, implementação e avaliação das suas políticas e serviços.
e Defensores Públicos (ANADEP) no exercício de suas atribuições
Ao observar a composição dos cargos nas Defensorias Públicas dos
para produção de dados e diagnósticos.
Estados, percebemos que esta é uma instituição majoritariamente
Ao analisar as Defensorias Públicas a partir da I) instituição e com- branca, que não corresponde à diversidade racial da sociedade e
posição dos seus quadros; II) composição dos quadros da admi- que consolida hierarquias de acesso aos cargos simbolicamente
nistração superior; III) atividades de formação; IV) atendimento ao mais valorizados na sociedade, tornando mais severa a desigual-
público; V) atuação em conflitos coletivos, ações civis públicas e dade de raça/cor e de gênero na medida em que se aproxima dos
sistemas internacionais de proteção; VI) núcleos especializados e; quadros da administração superior. Ainda que a variável de gênero
VII) produção de dados e pesquisas, buscamos identificar como as nos tenha chamado a atenção com relação ao grande número de
Defensorias se organizam para enfrentar o racismo institucional mulheres defensoras, observamos que estas ainda são minoria
dentro da própria instituição e para fora dela. na ocupação dos cargos da administração superior, o que nos faz
levantar hipóteses que considerem a cumulação de jornadas de
Desse modo, observamos que a instituição possui uma visibiliza-
trabalho ou outros impeditivos ligados ao sexismo. A sub-repre-
ção insatisfatória do compromisso institucional de enfrentamento
sentação dos negros na ocupação de todos os cargos e serviços,
ao racismo, sendo necessária a inclusão explícita dessa pauta em
agravada nos cargos de mais alto escalão, nos dá uma dimensão de
seus documentos orientadores de atuação, bem como o desen-
que é urgente colocar em prática mecanismos de enfrentamento
volvimento de orientações normativas específicas e a criação de
ao racismo institucional.
instâncias institucionais (como por exemplo a criação de núcleos)
que respondam por este compromisso em nome da instituição A implementação das políticas de ações afirmativas também nos
na implementação de ações afirmativas e na realização de outras dá uma dimensão de que é preciso colocar em prática mecanismos
políticas de enfrentamento ao racismo. capazes de romper com os dispositivos do racismo institucional que
ainda obstruem a efetivação da política pública. É preciso pensar
No que diz respeito às manifestações para o público também ava-
meios de romper com os elementos obstrutivos que impedem que
liamos como insuficientes o modo como as Defensorias Públicas
negros e negras ingressem e permaneçam na instituição. Também
abordam e enfrentam o problema do racismo institucional em sua
não foi informado como essa política tem sido avaliada internamente.
organização e atuação junto à sociedade.
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No que concerne à formação, observamos que a realização de das Defensorias Públicas em sua organização e atuação interna,
eventos sobre a temática racial ainda é maior que a realização de como incidência externa para os usuários e para a comunidade em
cursos e capacitações, o que nos leva a questionar a esporadicidade geral. A existência de núcleos especializados de enfrentamento ao
com a qual a temática racial é tratada, sobretudo em situações de racismo e promoção da igualdade racial deve ser tomada como
datas comemorativas. Isso nos faz tecer relações com a ausência ação afirmativa e estratégica e não deve impedir que a temática
ou a escassa produção de dados e pesquisas sobre a temática. seja assumida explicitamente em todos os outros campos da ins-
tituição, como as Ouvidorias Externas.
A ausência de informações cadastrais sobre o público a partir
de uma perspectiva racializada é um outro problema grave que Os núcleos especializados de enfrentamento ao racismo e promoção
impede uma compreensão mais apurada a respeito da qualidade da igualdade racial são dispositivos estratégicos na estruturação
do serviço que vem sendo oferecido aos usuários das Defensorias e na consolidação do compromisso institucional de combate ao
Públicas dos Estados. É necessária a existência de uma ficha de racismo nas Defensorias Públicas dos Estados, servindo também
cadastro que preveja o quesito racial para que os usuários possam para impulsionar programas, ações, pesquisas (produção e difusão
se autoidentificar. Além disso, é necessária a capacitação dos tra- de dados) e a própria cultura institucional.
balhadores da Defensoria Pública para que saibam atender e lidar
O acesso à informação pelo usuário deve ser observado como ponto
com esse público e com a peculiaridade das suas questões e do
central no oferecimento do serviço das Defensorias Públicas dos
modo como estão colocadas em nossa sociedade. Também por
Estados. As Defensorias Públicas possuem uma cultura de acesso
isso se faz necessário pensar um protocolo de atendimento para
à informação prejudicada não só pela carência de dados a respeito
a comunidade negra, para que não seja novamente vitimada pelo
dos usuários, do Judiciário e da avaliação do serviço oferecido, mas
racismo institucional e para que a instituição possa efetivar esse
também pela dificuldade de acesso aos dados gerados pela sua
enfrentamento. A existência de um sistema e a categorização de
própria atuação.
dados de atendimento ao público são elementos essenciais para
coletar e disponibilizar esses dados para uso da própria instituição
e da sociedade como um todo.
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400 401
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
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Silva. (Org.). Acesso à justiça I. 1ed. FLORIANÓPOLIS: CONPEDI, 2014, v.,
p. 513-541.
402 403
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
404 405
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
ao racismo, sexismo, lesbofobia (discriminação contra lésbicas) e I – O presente questionário somente estará disponível para preen-
transfobia (fobia contra pessoas transexuais e travestis). chimento mediante o uso de senha e login enviados por e-mail. O
questionário poderá ser preenchido em etapas e salvo em seguida,
A sua contribuição é de fundamental importância para que possa-
de forma que não é necessário preenchê-lo todo de uma única vez.
mos realizar um panorama institucional de mapeamento e observa-
Ao final, será enviada uma mensagem indicando que foi comple-
ção das possíveis ações de reprodução e enfrentamento ao racismo
tado com sucesso.
institucional no sistema de justiça. Desse modo, com a finalidade
máxima de combater o racismo e aprimorar os serviços oferecidos II – O prazo para o preenchimento será até o dia 15 de maio de 2018.
pelas Defensorias Públicas dos Estados e também proporcionar
III – Caso não possuam dados solicitados, especifique, ao final do
melhores condições de atendimento para o público e melhores
questionário, os quesitos que não foram respondidos, indicando as
condições de trabalho para as defensoras, defensores, ouvidoras,
razões pelas quais não foi possível disponibilizar a resposta solicitada.
ouvidores, servidores e servidoras, estagiárias e estagiários, gos-
IV– Ao final do questionário há um espaço para anexarem quaisquer
taríamos de solicitar a disponibilização de um momento em sua
informações que acreditem ser pertinentes, sejam links, notícias,
agenda para que possa responder este questionário.
produtos, justificativas, avaliações, recomendações, etc.
Para maiores informações ou auxílio com o preenchimento do
V – Em caso de dúvidas para o preenchimento do referido ques-
questionário, estaremos disponíveis através do endereço de e-mail:
tionário, e/ou suporte para responder às questões relacionadas ao
amc@criola.org.br
mesmo, estaremos disponíveis através do endereço eletrônico:
Desde já, agradecemos pela sua colaboração e nos colocamos à
amc@criola.org.br e no telefone: (21) 2518-7964.
disposição para realizar qualquer atendimento referente ao pre-
Agradecemos a sua atenção e colaboração em prol do estudo das
sente estudo.
“POLÍTICAS DE IGUALDADE RACIAL E COMBATE AO RACISMO NAS
Atenciosamente, Criola e Fórum Justiça.
DEFENSORIAS PÚBLICAS DOS ESTADOS E O ENFRENTAMENTO
Orientações para preenchimento do questionário: AO RACISMO INSTITUCIONAL NO SISTEMA DE JUSTIÇA”.
406 407
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
( ) Marque um X na caixa à esquerda se a Defensoria Pública do Estado não possui esses dados.
1.7) Dentre os servidores e servidoras acima descritos quantos
1.4) A Defensoria Pública do Estado conta com política de são pessoas com deficiência?
ações afirmativas para o ingresso de defensores/defensoras? 1.8) A Defensoria Pública do Estado conta com política de ações
( ) Não afirmativas para o ingresso de servidores e servidoras?
( ) Sim. Em quais modalidades? Qual a data do primeiro edital ( ) Não
de concurso com previsão de cotas? ( ) Sim. Em quais modalidades?
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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
Cotas étnicas e raciais. Data de instituição ( / / ) 1.12) A Defensoria Pública do Estado conta com política de ações
afirmativas para o ingresso de estagiários e estagiárias?
Quantidade de servidores ingressantes por cotas étnicas e raciais
( ) Não
Cada arquivo deve ter no máximo 32MB. Cotas para pessoas com deficiência. Data de instituição
Homens Mulheres
Homens Mulheres Total de 1.13) A Defensoria Pública deste Estado possui outras políticas de
pretos e pretas e
brancos Brancas Servidores
pardos pardas
ações afirmativas? Quais?
Terceirizados/
Terceirizadas
*A categoria pretos e pardos, utilizada ao longo deste questionário, remete-se à classificação cen-
sitária utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
II – Composição dos quadros da administração da De-
fensoria Pública do Estado
1.11) Quantos estagiários e estagiárias compõem os quadros da
2.1) Dados do Defensor/Defensora Público-Geral
Defensoria Pública do Estado nesta capital?
Dados do Defensor/Defensora Público-Geral
Homens Mulheres
Homens Mulheres Total de Nome
pretos e pretas e
brancos Brancas Servidores
pardos pardas
Idade
Estagiários /
Sexo/Gênero
Estagiárias
Raça/cor
Mandato
410 411
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
2.2) Dados da última lista tríplice formada para a eleição da De- 2.6) Dados do/da II Subdefensor/Subdefensora Público-Geral (se
fensoria Pública Geral deste Estado: houver)
Dados dos Defensores/Defensoras que compuseram a lista tríplice Dados do II Subdefensor/Subdefensora Público-Geral (se houver)
Nome Nome
Idade Idade
Sexo/Gênero Sexo/Gênero
Raça/cor Raça/cor
2.3) Qual regulamentação foi utilizada pelo Conselho Superior 2.7) Dados do Corregedor/Corregedora Público-Geral
para a escolha do Defensor Público-Geral? Dados do Corregedor/Corregedora Público-Geral
Nome
Idade
2.4) Espaço para anexar o hiperlink das normas de regulamentação Sexo/Gênero
(Hiperlink): Raça/cor
A quanto tempo
exerce o cargo
Raça/cor Nome
Raça/cor
A quanto tempo
exerce o cargo
412 413
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
2.9) Dados do Ouvidor/Ouvidora Geral 2.13) Espaço para anexar o hiperlink do relatório anual das ativi-
Sexo/Gênero
Raça/cor
A quanto tempo
III – Formação
exerce o cargo
3.1) Quais as disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial
de preparação à carreira de Defensora Pública/Defensor Público
2.10) Dados dos Conselheiros Classistas
deste Estado?
Dados dos Conselheiros Classistas
Nome
Idade
3.2) As disciplinas/módulos/atividades que compuseram o últi-
Sexo/Gênero
mo curso oficial de preparação à carreira de Defensora Pública/
Raça/cor
Defensor Público deste Estado incluíram temas relacionados à
questão racial? Como?
2.11) Quem é o/a atual presidente da entidade de classe de maior
representatividade dos membros da Defensoria Pública do Es-
tado? 3.3) Espaço para anexar o hiperlink do programa de formação
Presidente
do último curso:
Nome
(Hiperlink):
Idade
Sexo/Gênero
( ) Não
( ) Sim
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3.6) A Defensoria Pública desde Estado realizou, ao longo dos - Pessoa com deficiência: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos
últimos 2 anos, cursos, eventos e/ou capacitações nas áreas se- e ações
guintes?
- Consumidor: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
- Direitos humanos: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
- Política de drogas: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
- Direitos da criança e do adolescente: ( ) Cursos e capacitações
( ) Eventos e ações
3.7) Se houver outra opção diferente das de cima especifique
- Sistema carcerário: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
abaixo.
- Medidas socioeducativas/ juventude e prisão: ( ) Cursos e ca-
pacitações ( ) Eventos e ações
3.8) Qual a área de maior demanda e prioridade de formação e
- Saúde: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
atuação da Defensoria Pública deste Estado?
- População em situação de rua: ( ) Cursos e capacitações ( )
Eventos e ações
3.9) A Defensoria Pública deste Estado realiza parcerias para o
- Promoção da igualdade racial: ( ) Cursos e capacitações ( )
oferecimento e realização destes cursos, eventos e capacitações?
Eventos e ações
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IV – Atendimento ao público 4.8) Espaço para anexar hiperlinks que identifiquem os órgãos/
núcleos de atendimento:
(Hiperlinks):
4.1) Existe alguma ficha de cadastro dos usuários?
V – Atuação em conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção
4.2) Espaço para anexar hiperlinks da ficha de cadastro dos usu-
ários atendidos por esta Defensoria. 5.1) A Defensoria Pública do Estado representa/já representou
- Direitos humanos:
4.4) A Defensoria Pública do Estado possui alguma categorização
de dados com relação ao sexo/gênero, gênero, raça, idade dos - Direitos da criança e do adolescente:
- Intolerância religiosa:
4.7) Existe alguma exceção para a flexibilização desses critérios?
- Terra e território:
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- Consumidor:
Número de defensores públicos Número de servidores Número de estagiários
- Política de drogas:
Nome
5.4) A Defensoria Pública do Estado convocou, nos últimos dois
Idade
anos, audiências públicas para discutir matérias relacionadas às
Sexo/Gênero
suas funções institucionais?
Raça/cor
Formação/Escolaridade
E-mail
5.5) Quais audiências públicas promovidas nos últimos dois anos
Telefone
discutiram direta ou indiretamente a questão racial? Critério para a escolha da coordena-
ção
Produto(s) do núcleo
núcleos especializados?
Qual o número de
servidores com atuação
interdisciplinar
6.3) em caso negativo, para onde são encaminhadas as questões
de combate ao racismo e promoção da igualdade racial? 6.7) O núcleo tem atuação coletiva?
420 421
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6.8) Quais as principais ações do núcleo nos últimos dois anos? - Questões urbanas e moradia: ( ) Sim ( ) Não
6.9) Quais as principais ações coletivas ajuizadas pelo núcleo nos - Pessoa com deficiência: ( ) Sim ( ) Não
últimos dois anos?
- Consumidor ( ) Sim ( ) Não
- Promoção da igualdade racial: ( ) Sim ( ) Não 8.2) Se houver algum arquivo, anexe aqui.
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Vilma Reis, socióloga e Ouvidora da DP/BA, abre o workshop com a leitura do poema Vozes-Mu-
lheres, de Conceição Evaristo.
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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
É nesse contexto que Criola aceitou a proposta de consultoria des- Oficina foi uma oportunidade de fazer valer esses conhecimentos
tinada ao acompanhamento de e apoio a ações de participação, já produzidos. Por outro lado, percebe-se que há uma resistência
reconhecimento e redistribuição nas instituições essenciais do no sistema de justiça em geral e na Defensoria Pública em espe-
sistema de justiça, com foco nas Defensorias Públicas, com vistas à cíficoquanto ao tema do racismo. Afinal qual é o papel do sistema
produção de dados e reflexão conceitual e estratégicadas práticas de justiça na estrutura do racismo no Brasil? Qual seria o sistema
dos órgãos especializados do sistema de justiça dedicados à luta de justiça adequado às negras e aos negros? Para ser antirracista,
contra a desigualdade racial. Ao lado desse amplo objetivo, há o de quais políticas adotaria?
produzir diagnóstico acerca da atuação institucional da Defensoria
Pública na luta pela igualdade racial e contra a discriminação. Racismo e Seletividade
Para embasar essa complexa ação, o workshop foi pensado visando Nesses questionamentos insere-se já o problema de se pensar o
reunir a contribuição teórica de atores experientes para subsidiar racismo a partir da seletividade penal. Observou-se que mesmo
as próximas. A institucionalidade do sistema de justiça foi repre- quando fala da seletividade penal, a academia branca não a ana-
sentada por Vilma Reis – Ouvidora da Defensoria Pública da Bahia, lisa a partir do racismo. Nessa questão, o comportamento policial
Livia Casseres e Rosane Lavigne – defensoras públicas no Rio de acaba sendo o foco de análises, estudos e críticas, mas importa
Janeiro, e Vinicius Conceição e Isadora Brandão, defensorespúblicos também identificar a responsabilidade das demais instituições
em São Paulo. Da sociedade civil organizada, estiveram presentes: que se silenciam, como o próprio Judiciário e o Ministério Público.
Caroline Bispo (Elas Existem – Mulheres Encarceradas), Lúcia Xavier, Apontou-se a necessidade de requalificar o debate sobre seletivi-
Lia Manso e Ana Miria (Criola), Allyne Andrade, Haydee Paixão, dade penal a partir da percepção de que não existe sistema penal
Dina Alves, Luciana Zaffalon, Tainara e Willians (IBCCRIM), Esther não seletivo. E que só se é capaz de entender a seletividade se ela
Horta (Coletivo Adelinas) e Rodnei Jericó (GELEDÉS), além de Élida estiver conjugada à questão do racismo e à questão econômica.
Lauris, Vinícius Alves (Fórum Justiça), Alex Vítor (advogado) e Natália No contexto de crise econômica, o sistema penal e a seletividade
(socióloga). Do campo acadêmico, participaram Felipe Freitas, dou- se voltam para o extermínio da população negra e pobre.
torando em Direito com pequisa sobre a Polícia; Poliana Ferreira,
E, apesar das especificidades e consequências próprias da sele-
do Grupos de Pesquisa em Criminologia da UNEB e pesquisadora
tividade do sistema de justiça criminal, os participantes pontua-
na FGV; Nataly e Bárbara, pesquisadoras de Políticas Públicas e
ram que o racismo e a seletividade estão presentes no sistema de
Inclusão Social da USP; Silvio de Almeida, professor da Universidade
justiça no seu conjunto, não sendo uma exclusividade do sistema
Mackenzie;Evandro Piza, professor da UnB; Ronaldo Sales, professor
penal. A categoria raça perpassa questões de família e trabalhista.
na UFCG eThula Pires, professora da PUC-Rio.
Por exemplo, há uma grande dificuldade de debater o conceito
A provocação inicial se baseou na constatação de que os estudos de família monoparental na justiça, já que esta segue o conceito
produzidos por negros e sobre a questão racial no sistema de jus- de família branco e burguês. A família monoparental é vista como
tiça existem, mas ficam tão pouco evidentes que não aparecem. A família não ideal e problemática, abrindo porta para ingerência do
426 427
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
Estado no contexto familiar. A questão das empregadas domésticas rompida, que é uma ordem racista. De toda sorte, foi destacada a
também envolve raçae até hoje não houve equiparação em termos importância de constrangimentos internacionais frente a episódios
de direito do trabalho. de racismo. O efeito dessa litigância internacional é enorme e afeta
diretamente os casos individuais.
Para além da seletividade, o sistema de justiça opera com o tema
do racismo a partir das definições legais de racismo e injúria racial,
o que não engloba as abordagens institucionais e estruturais que
se busca fazer valer quando se discute mais a fundo o tema. Há,
portanto, o desafio inicial de construir essa narrativa para além da
lei ao lidar com instituições do sistema de justiça. Ao desenvolver
uma análise institucional, olha-se para estruturas, sentidos e rela-
ções. Se ficarmos na definição legal, não será de se estranhar que
estaremos mais restritos ao sistema penal.
O enfrentamento do racismo
Como proceder frente a situações concretas de racismo? Para
alguns, o enfrentamento ao racismo dentro da seara penal está
Pesquisadoras/es, defensoras/es públicas/es e ativistas de organizações e movimentos sociais cola-
na contramão do que se vislumbra como projeto de sociedade boraram com aportes teóricos e estratégias.
justo e igual, o que leva à tarefa de se pensar como punir essas
ações discriminatórias. Qual seria a pena adequada? Quais medidas Institucionalidade racista brasileira
alternativas? A justiça restaurativa é uma solução? Esses questio-
namentos trouxeram posicionamentos diversos. Para uma parte Há que se pontuar o caráter racista vinculado ao projeto republi-
cano de nação, oriundo do positivismo e darwinismo social. Esse
dos participantes, o que se almeja é a punição penal do autor de
diagnóstico histórico e social, que perdura na atualidade, aponta
racismo, sem qualquer medida alternativa enquanto que outros
apontaram quelidar com a questão racial pela via civil e trabalhista para a necessidade de uma refundação institucional. Por outro
traz um resultado um pouco mais satisfatório que na via criminal e lado, percebe-se que essa institucionalidade racista é tributária de
que talvez essa diferenciação passe pela sensibilidade do julgador uma estrutura racista.
em cada uma das esferas. Em defesa da justiça restaurativa, susten- As instituições são decorrências das estruturas, que são o modo de
tou-se que a lógica penal não lida com o racismo institucional, mas organização da vida social: a política, a economia e a constituição
personaliza o racismo. A lógica restaurativa pensa outras estratégias da subjetividade. As instituições reproduzem o funcionamento
de lidar; a participação de todos os envolvidos na resolução de con- regular desses três elementos. O tema do racismo estrutural coloca
flitos faz parte dessa filosofia. O direito penal restabelece a ordem o problema de como entender o racismo como ponto central de
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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
funcionamento e estruturação das relações sociais no Brasil. As insti- tumado à horizontalidade. Possui um discurso de caridade, sacer-
tuições que não reproduzem esses elementos perdem suas funções dócio. Defendeu-se a política de ação afirmativa e a intervenção
e deixam de serinstituições. De acordo com essa perspectiva, no das mulheres negras.
campo institucional o máximo a ser feito é uma política de redução
Compreender o funcionamento do sistema de justiça passa por
de danos. O sistema de justiça se mede pela sua capacidade de
quebrar a escada que o serviço público constituiu junto à população.
institucionalizar conflitos. Numa crise, porém, não há possibilidade
Há que se interpelar esses servidores pelos códigos que eles operam
de institucionalizar conflitos e,quando isso não acontece,o sistema
com a população. Nomear os tratamentos racistas realizados por
volta-se para o extermínio. A Defensoria foi feita não para atender
esses atores, tirando-os do abstrato. O que torna a naturalização
interesses de classe no sistema de justiça, mas para reproduzir o
do racismo possível é que essas ações ficam diluídas e não se com-
processo de estruturação da sociedade.
prometem os agentes. Isso faz com que se conviva com a falta de
Por outro lado, há uma disputa sobre o que é institucional e não dados, com a gestão do extermínio e com um sistema de justiça
institucional. A ideia de que existe um lado de fora da instituição em que só perdemos. É necessária, portanto, uma pedagogia do
não funciona para certos grupos, já que todos os lados são lados constrangimento. Sustentou-se que, quando ressaltamos a participa-
de disputa. Os conceitos de racismo estrutural e institucionalsão ção popular no sistema de justiça, serve para interpelar as escolhas
construídos nos EUA após as lutas por direitos civis, o que traz o das instituições e constrangê-las para inviabilizar efetivamente o
problema da sua importação para a realidade brasileira. Representa funcionamento de algumas delas quanto à gestão do extermínio
a eliminação do sistema legal segregador, mas a permanência do e assim construir institucionalidades em outros termos.
racismo. Questionou-se a instrumentalidade desse conceito para
O tema do racismo deve ser estendido para o sistema de justiça
a realidade brasileira, uma sociedade que não viveu seu momento
expandido, que são as faculdades e organizações, que também con-
de catarse social. Vivemos numa sociedade estratificada via raça
formam como se constrói os maus modos do sistemade justiça em
emum apartheid social, ainda que silencioso.
geral. Que contribuição a advocacia tem para compor hierarquias
Que sentido faz falarde um sistema de justiça democrático numa raciais no sistema de justiça? Outra questão são as faculdades de
sociedade ainda longe de ser democrática? Defendeu-se que a direito, quenão implementaram matérias ligadas à Lei 10.639/03 e
principal tarefa talvez seja promover um colapso dessas instituições. reproduzem as estruturas de racismo na formação dos atores da
Pior do que seletivo, o sistema é genocida. O genocídio não opera justiça.
só com a eliminação física, mas também deixando a população
negra sem autoestima, como mortos vivos. É necessário que o
povo negro fale de si, para si e por si, eliminando as mediações que
passam por instituições brancas.
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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
432 433
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
população negra representada, dado o número de policiais negros. conseguem dialogar. Chamam para suas reuniões sem perceber
Tem que se pensar a nível institucional eas ações afirmativas têm que o movimento negro tem uma pauta extensa. As institucionali-
importância como forma de reconfiguração dos espaços institu- dades e os sujeitos por detrás da esquerda não reconhecem esses
cionais, de alteração do horizonte interpretativo e de representa- anseios. Questionou-se de por que continuamos dialogando com
ção social dentro do espaço. Entretanto, há um perigo de que as esses agentes. Há várias pequenas experiências democráticas que
cotas não sejam efetivas caso não existam desde a primeira fase podem trazer alternativas a essas institucionalidade de esquerda.
dos concursos.
Denunciou-se que a esquerda branca faz uma encenação com a
participação de negras e negros nos espaços acadêmicos e políti-
cos, inclusive de forma muito sutil. As pessoas negras servem para
participar do espaço, como representação, mas não para disputar
efetivamente os espaços. O racismo se transforma para controlar
a entrada de trajetórias negras nesses espaços.
434 435
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
O acúmulo do movimento negro Em relação à Defensoria Pública, notou-se que a instituição tem
limites e dificuldades em trabalhar com raça e gênero. Não existe
Fez-se o registro de que a ação no sistema de justiça não é nova, o reconhecimento de que se trata de uma questão fundamental e
de quehá escritórios e redes montados. Desde a Conferência de que o foco parece ser a categoria da classe econômica. Apesar de
Durban há uma grande produção sobre racismo e sistema de justi- ter havido algum progresso quando se passou da hipossuficiência
çaque temque ser recuperada. Há um histórico de reflexão, estudo para o da vulnerabilidade como categoria de atendimento, parece
e ação política. O movimento teria deixado de lado advogadas/ que isso somente resultou em uma especialização da atuação da
os e acadêmicas/os valorosas/os, que têm seus textos marcados e Defensoria, que não está conectada em nada com questões estru-
mal interpretados pelo enviesamento. Importa utilizar as teses das turais das relações sociais. Não há uma reflexão sobre a metodologia
negras e dos negros nas petições. Foi lembrado que hoje quem de atuação para pensar mudanças estruturais. Como pensar novas
diz o que é racismo são as negras e os negros e que é necessário metodologias para compreender o sujeito de uma maneira mais
embasar as categorias que são então usadas e desenvolvidas. Nesse complexa para além da questão de classe?
sentido, sustentou-se que o que informa gênero e classe é a raça
Para muitos, não se vê como alterar a configuração institucional
e que deve-se a partir daí. A história de que a/o negra/o não tem
da Defensoria a partir de dentro se não estivermos as negras e os
consciência de ser negra/onão se sustenta. Quem nasceu no Brasil,
negros não estiverem dentro. Os brancos não farão essa transfor-
sabe o que é ser negro.
mação. Por outro lado, a incidência nas Ouvidorias Externas é uma
resposta coletiva e necessária. Percebe-se que a incidência das
Defensoria Pública
negras e negros no sistema de justiça é irreversível e que sem essa
intervenção, o sistema não se sustenta. Defende-se uma Defensoria
Pública em que a população tenha poder de decisão. As políticas
de ação afirmativa são essa forma de incidência.
436 437
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA F O R U M J ULSI TS ITÇAA D E G R Á F I C O S E T A B E L A S
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
28 GRÁFICO 1
Rendimento domiciliar per capita 112 GRÁFICO 5
Proporção da quantidade de defensores/
médio, por sexo e cor/raça dos chefes de defensoras por raça/cor e gênero
família
114 GRÁFICO 6
68 TABELA 1
Respostas ao questionário por
Proporção de Defensoras e Defensores
Públicos/Públicas estaduais segundo
Defensoria Pública raça/cor desconsiderando a população
não informada
84 TABELA 2
Respostas ao “Item I – Instituição e
composição dos quadros da Defensoria 116 GRÁFICO 7
Proporção de Defensores/Defensoras do
Pública do Estado” Rio de Janeiro por raça/cor e gênero
100 GRÁFICO 3
Quantidade de Defensoras/Defensores 118 GRÁFICO 8
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos por Estado segundo o sexo Públicos/Públicas do Estado do Rio de
Janeiro segundo raça/cor
104 TABELA 4
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas por Estado segundo 121 GRÁFICO 9
Proporção de Defensores/Defensoras
gênero e raça/cor Públicos/Públicas do Rio de Janeiro
segundo raça/cor da população
informada
108 TABELA 5
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas por Estado segundo
raça/cor 122 TABELA 6
Raça/cor da população residente do
Estado do Rio de Janeiro
110 GRÁFICO 4
Proporção de defensores/defensoras por
raça/cor 123 GRÁFICO 10
População residente do Estado do Rio
de Janeiro segundo o critério raça/cor
438 439
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA F O R U M J ULSI TS ITÇAA D E G R Á F I C O S E T A B E L A S
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
126 TABELA 7
Quantidade de Servidoras/Servidores 148 GRÁFICO 14
Quantidade de terceirizados e
por Estado, gênero e raça/cor terceirizadas das Defensorias Públicas
dos Estados do Amazonas, Minas Gerais,
Pará, Sergipe e São Paulo segundo
130 GRÁFICO 11
Quantidade de servidores da Defensoria gênero
Pública dos Estados segundo o gênero
152 TABELA 10
Quantidade de estagiárias/estagiários
134 TABELA 8
Quantidade de servidores das por Estado segundo gênero e raça/cor
Defensorias Públicas dos Estados do
Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo
segundo gênero e raça/cor 156 GRÁFICO 15
Quantidade de estagiários e estagiárias
na Defensoria Pública dos Estados
137 GRÁFICO 12
Proporção de servidoras/servidores
da Defensoria Pública dos Estados por 162 TABELA 11
Políticas de ações afirmativas para o
raça/cor/gênero ingresso de Defensoras/Defensores nas
Defensorias Públicas dos Estados
140 GRÁFICO 13
Quantidade de servidores das
Defensorias Públicas dos Estados do 170 GRÁFICO 16
Cor ou raça dos Defensores Públicos
Rio de Janeiro, Roraima, e São Paulo Estaduais
segundo gênero e raça/cor
176 TABELA 12
144 TABELA 9
Quantidade de terceirizadas/
Políticas de ações afirmativas para o
ingresso de Servidoras/Servidores nas
terceirizados por Estado segundo Defensorias Públicas dos Estados
gênero e raça/cor
440 441
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA F O R U M J ULSI TS ITÇAA D E G R Á F I C O S E T A B E L A S
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
182 TABELA 13
Políticas de ações afirmativas para o 242 TABELA 18
Formação nas Defensorias Públicas dos
ingresso de Estagiárias/Estagiários nas Estados
Defensorias Públicas dos Estados
248 TABELA 19
190 TABELA 14
Respostas ao “Item 2 – Composição dos
Áreas de cursos, eventos e/ou
capacitações realizados nos últimos dois
quadros da administração da Defensoria anos
Pública do Estado”
264 TABELA 20
202 TABELA 15
Composição dos quadros da
Respostas ao “Item 4 – Atendimento ao
público”
administração das Defensorias Públicas
por Estados e raça/cor
276 TABELA 21
Ficha, sistema e categorização de dados
205 TABELA 16
Composição dos quadros da
de atendimento ao público
442 443
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
319 TABELA 25
Núcleos especializados e Núcleos de
combate ao racismo
340 TABELA 26
Respostas ao “Item VII – Produção de
dados e pesquisa”
352 TABELA 27
Respostas a “Outros questionamentos”
363 TABELA 28
Produção e difusão de dados/ Dados
sobre racismo e questão racial
444 445