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REALIZAÇÃO

ORGANIZAÇÃO
Forum Justiça e Criola

PESQUISADORA RESPONSÁVEL
Ana Miria dos Santos Carvalho Carinhanha

REVISÃO
Juanita Cuéllar Benavides
Lia Maria Manso Siqueira
Vinícius Alves Barreto da Silva

PROJETO GRÁFICO
André Victor e Gabriel Alma

PROJETO
Adriana Silva de Britto,
Ana Miria dos Santos Carvalho Carinhanha,
Élida de Oliveira Lauris dos Santos,
Rosane Maria Reis Lavigne, Lúcia Maria Xavier de Castro,
Vinícius Alves Barreto da Silva

1ª edição (livro digital): Outubro de 2020

Dados Internacionais de Catalogação da Publicação (CIP)


Catalogação na fonte: Ana Virginia Ferreira Carmo (CRB 8/10251)

F745 Fórum Justiça. Criola. Dinâmicas de reprodução e enfrentamento ao


racismo institucional na defensoria pública.

[livro eletrônico]. / Fórum Justiça.Criola. Ana Míria dos Santos Carvalho


Carinhanha (pesquisadora responsável).1.ed. Rio de Janeiro: Fórum
Justiça – , 2020.

445f.; Livro digital;


Vários autores.
ISBN 978-65-992442-1-6

1.Direito. 2.Racismo. 3. Combate ao racismo.4. Defensoria pública I. Título


CDU: 34:323.14
CDD: 341.2724
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8 Apresentação
366 Considerações gerais para ação

12 Introdução
402 ANEXO I
Questionário
80 PARTE I
Instituição e composição dos quadros da
defensoria pública do estado 424 ANEXO II
Informe do Workshop “Sistema de
Justiça e Racismo Institucional”
188 PARTE II
Composição dos quadros da
administração da defensoria pública do 438 LISTA
Lista de Gráficos e Tabelas
estado

226 PARTE III


Formação

262 PARTE IV
Atendimento ao público

280 PARTE V
Atuação em conflitos coletivos, ações
civis públicas e sistemas internacionais
de proteção

304 PARTE VI
Núcleos especializados

334 PARTE VII


Produção de dados e pesquisa

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incrementar a pressão política sobre governos e demais instâncias

Apresentação públicas pela efetivação de direitos, particularmente o direito à saúde,


o acesso à justiça e à equidade de gênero, raça e orientação sexual.

O Fórum Justiça (FJ) constitui-se em uma livre iniciativa proveniente


de um grupo de defensoras(es) públicas(os) fluminenses, destinada a
estimular o debate e realizar ações para consolidação de uma política
judicial integradora no Brasil, considerando o contexto ibero-latino-
Criola é uma organização da sociedade civil com mais de 28 anos de -americano. Trata-se de uma política judicial assentada na redistri-
trajetória na defesa e promoção dos direitos das mulheres negras. buição de recursos, no reconhecimento de especificidades coletivas
Fundada em 1992, a organização atua na construção de uma socie- e individuais e na participação popular. Projeta-se em distintas
dade onde os valores de justiça, equidade, solidariedade são funda- regiões do país, agregando sujeitos interessados em discutir política
mentais. Durante quase três décadas, a Criola reafirma que a ação judicial e em elaborar ações estratégicas para a democratização do
transformadora das mulheres negras é essencial para o bem viver sistema de justiça. É aberto a movimentos sociais, organizações da
de toda a sociedade brasileira. sociedade civil, setores acadêmicos e agentes públicos interessados

A missão da organização é instrumentalizar mulheres, adolescen- pelo sistema de justiça como serviço público. Possui protagonismo

tes e meninas negras para o enfrentamento ao racismo, sexismo, no debate da reforma judicial no Brasil para facilitação do diálogo

lesbofobia e transfobia, e para o desenvolvimento de ações volta- entre atores motivados a promover transformações profundas no

das à melhoria das condições de vida da população negra e das sistema de justiça e assim superar o correlato déficit democrá-

mulheres negras em especial. Criola busca a inserção de mulheres tico, as assimetrias desse sistema e o quadro de desigualdades da

negras como agentes de transformação, contribuindo para a cons- sociedade brasileira. O FJ tem desenvolvido, desde a sua formação

trução de uma sociedade fundada em valores de justiça, equidade em 2011, um trabalho contínuo com vistas a emprestar sentido à

e solidariedade, em que a presença e contribuição da mulher negra expressão “modelo de justiça integrador”, disposta na Declaração

sejam acolhidas como um bem da humanidade. que integra as 100 Regras de Brasília, documento publicizado pela
Cúpula Judicial Ibero-Americana, em Brasília, em 2008.
A produção de conhecimento qualificado por dados específicos
sobre o contexto atual das questões de direitos e a busca pelo Em parceria, Criola e Fórum de Justiça, com o objetivo de fornecer

acesso à justiça e à equidade de gênero, raça e orientação sexual uma reflexão qualificada sobre como se estruturam as Defensorias

estão entre os principais objetivos estabelecidos pela organização. Públicas dos Estados para o enfrentamento ao racismo e o reco-

Além disso, Criola busca: criar e aplicar novas tecnologias para a luta nhecimento da desigualdade racial, desenvolveram a Consultoria

política de grupos de mulheres negras; formar lideranças negras “Sistema de justiça em foco: dinâmicas de reprodução, combate

aptas a elaborar suas agendas de demanda por políticas públicas ao racismo e promoção da igualdade racial”.

e a conduzir processos de interlocução com gestores públicos; e

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Por reconhecerem o valor central da Defensoria Pública para as VII - A reunião para apresentação dos resultados preliminares em
políticas de acesso à justiça no país e por observar maior proxi- 23 de abril de 2019;
midade da Defensoria Pública dos Estados com os usuários do
VIII - A confecção do livro “Perspectivas multidisciplinares sobre
sistema de justiça, Criola e Fórum Justiça elegeram as Defensorias
Racismo Institucional”, em andamento;
Públicas dos Estados como campo de observação e análise da
IX – A apresentação e discussão das recomendações, realizadas no
presente consultoria e buscaram, de maneira participativa, analisar
Seminário “Democracia e Defensoria Pública na América Latina”,
a estrutura e a organização das Defensorias Públicas dos Estados
nos dias 10 e 11 de novembro de 2019;
no enfrentamento ao racismo institucional no sistema de justiça.
X - A produção de um relatório final do estudo.
A consultoria se deu em etapas que compreenderam:
O presente texto consiste na sistematização das etapas de pesquisa
I - A realização de um workshop “Sistema de Justiça e Racismo
e na apresentação do relatório final, complementado pelas reco-
Institucional” que ocorreu no dia 12 de julho de 2017, na sede do
mendações finais acordadas pelos parceiros da pesquisa.
IBCCRIM em São Paulo, reunindo parceiros e pesquisadores para
discussões;

II - A produção de um documento técnico contendo a proposta


de pesquisa com detalhamento da metodologia, técnicas a serem
empregadas e cronograma de tarefas aprovado em 14 de julho de
2017;

III - A produção de um documento de reflexão conceitual e política


acerca do papel do sistema de justiça nas dinâmicas de reprodução
do e enfrentamento ao racismo institucional, aprovado em 04 de
setembro de 2017;

IV - A produção de um questionário de pesquisa sobre a estruturação


da Defensoria Pública dos Estados aprovado em 21 de novembro
de 2017;

V - A realização da “I Jornada Nacional Sobre Racismo Institucional


e Sistema de Justiça”, ocorrida entre os dias 22 e 23 de março de
2018 na sede da Defensoria Pública do Rio de Janeiro;

VI - O envio de ofícios para as Defensorias Públicas dos Estados e


a disponibilização dos questionários online em 24 de abril de 2018;

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enfrentamento ao racismo institucional no sistema de justiça” e

Introdução retratar o atual cenário das políticas de enfrentamento ao racismo,


de reconhecimento das desigualdades raciais e de promoção de
igualdade racial promovidas pelas Defensorias Públicas Estaduais
no contexto do sistema de justiça brasileiro.

Deste modo seguimos com a A) apresentação de reflexão conceitual


e política acerca do papel do sistema de justiça nas dinâmicas
Criola e Fórum de Justiça, por meio da consultoria “Sistema de de reprodução do e enfrentamento ao racismo institucional; B)
Justiça em Foco: dinâmicas de reprodução, combate ao racismo e apresentação da proposta de pesquisa e metodologia de trabalho;
promoção da igualdade racial”, oferecem um estudo sobre como C) apresentação da análise das respostas às questões apresentadas
as Defensorias Públicas dos Estados se estruturam para o enfren-
[1]
no questionário aplicado (anexo I) de acordo com os tópicos de
tamento ao racismo e reconhecimento da desigualdade racial. questões apresentados: I) Instituição e composição dos quadros
Com produção de dados, reflexão conceitual estratégica, realiza- da Defensoria Pública do Estado; II) Composição dos quadros da
ção de reuniões, publicações e eventos, bem como intervenções administração da Defensoria Pública do Estado; III) Formação; IV)
in loco, ao longo desta pesquisa promoveram-se ações dedica- Atendimento ao Público; V) Atuação em conflitos coletivos, ações
das à luta contra a desigualdade racial no sistema de justiça. Este civis públicas e sistemas internacionais de proteção; VI) Núcleos
relatório constitui-se em um diagnóstico acerca da estruturação especializados; VII) Produção de dados e pesquisas; VIII) Outras
e da atuação institucional das Defensorias Públicas dos Estados informações; e D) apresentação das recomendações.
no combate ao racismo e no reconhecimento da desigualdade
racial. Produzimos informação acerca da composição e atuação A) Reflexão conceitual e política acerca do
desta instituição, em especial a produção de dados quantitativos papel do sistema de justiça nas dinâmicas
e qualitativos gerais acerca da sua atuação e funcionamento face de reprodução e enfrentamento ao
às dinâmicas de racismo institucional. racismo institucional
O presente relatório concentra-se, portanto, em apresentar os resul-
Com base no workshop “Sistema de Justiça e Racismo Institucional”
tados obtidos a partir da pesquisa “Políticas de igualdade racial
(o informe encontra-se nos anexos), realizado no dia 12 de julho de
e combate ao racismo nas Defensorias Públicas dos Estados e o
2017 , na sede do IBCCRIM em São Paulo, membros de organizações
[1] Usa-se o termo Defensorias Públicas Estaduais ou dos Estados no plural para se
da sociedade civil, das Defensorias Públicas do Rio de Janeiro e de
adequar ao uso feito pelo IV Diagnóstico da Defensoria Pública do Brasil para diferen-
ciá-las da Defensoria Pública da União e em voga na língua corrente. Esse termo, no São Paulo, ativistas e acadêmicos reuniram-se para discutir estraté-
plural, ressalta a autonomia administrativa de cada uma das Defensorias Públicas e a
gias teórico-conceituais e instrumentais que pudessem contribuir
pluralidade de respostas, dado importante para uma pesquisa sociojurídica empírica.
Contudo, é importante registrar que, em termos jurídicos, a Defensoria Pública se im- para o enfrentamento ao racismo institucional dentro do sistema
põe como instituição una distribuída em suas expressões estaduais e federal.
de justiça brasileiro.
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As temáticas abordadas incluíram o racismo e a seletividade no Desse modo, ao mapear os instrumentos de enfrentamento ao
sistema de justiça, o enfrentamento ao racismo, a institucionali- racismo colocados em prática pelas Defensorias Públicas Estaduais,
dade racista brasileira, a questão de raça e classe, as dificuldades problematizamos o modo como o racismo tem atravessado as ações,
no acesso a informações sobre a variável raça nos dados do sistema práticas, normas, organizações e estruturas dentro das instituições
de justiça, ações afirmativas, o movimento negro e as esquerdas, do sistema de justiça utilizando o recorte analítico pautado nos
o acúmulo do movimento negro no que tange ao racismo no sis- conceitos centrais de “racismo institucional”, “sistema de justiça”
tema de justiça e as dificuldades e limites da Defensoria Pública e “interseccionalidade”.
para trabalhar com raça e gênero. Sobre este último ponto, fez-se a
O modo como as Defensorias Públicas têm enfrentado o racismo
indicação às Defensorias de construção de uma política institucional
institucional será aqui observado através da I) cultura institucional, e
de ações afirmativas, não só de acesso e de produção de dados,
também a partir das suas II) manifestações para o público. A saber:
mas uma política completa.
Cultura Institucional, que abarca os eixos relacionados à iden-
Guiadas pelas discussões pautadas nesse workshop desenvolvemos
tificação e ao enfrentamento do racismo institucional dentro
a presente reflexão política e conceitual acerca do papel do Sistema
das próprias instituições – na visibilização do compromisso
de Justiça da reprodução e enfrentamento do racismo institucional.
institucional nos documentos orientadores da atuação de cada
A partir da consideração da configuração histórica e política do sis- órgão e em orientações e normativas específicas; na criação de
tema de justiça brasileiro e também das condições de produção do uma instância de governança que responda por esse compro-
conhecimento face ao racismo estruturante em nossa sociedade, misso em nome da instituição; na formulação e implementação
que atravessa práticas, ideologias e discursos, sobretudo no que de ações afirmativas e outras políticas de enfrentamento do
concerne à negação da existência do racismo, buscamos proble- racismo institucional.
matizar e desvendar as repercussões dos seus efeitos manifestos
Manifestações para o Público, que se refere a como as institui-
e latentes.
ções abordam e enfrentam o problema em sua atuação junto
São para nós indicadores de análise importantes para o presente à sociedade, por meio da produção de dados e informações
trabalho: a ausência da categoria raça nas abordagens sociais, cadastrais sobre o público; da formação de competência cultu-
inclusive no Judiciário; do reducionismo economicista enquanto ral entre @s servidor@s públic@s para que o enfrentamento do
categoria analítica da estrutura da nossa sociedade; do uso a-his- racismo seja de fato incorporado em todas as etapas do processo
tórico e descontextualizado das análises concernentes ao sistema de formulação, implementação e avaliação das políticas e dos
de justiça; da perseverança de mitos justificadores da permanência serviços [grifos nossos] (GELEDÉS, 2013a, p. 16).
de uma ordem racista, como o mito da democracia racial e o mito
A partir da observação da organização e da estrutura das Defensorias
da neutralidade jurídica; da falta de participação popular no que
Públicas Estaduais, buscaremos compreender como tem se cons-
concerne às tomadas de decisão nas instituições de justiça (e de
truído a sua “cultura institucional” e suas “manifestações para o
poder como um todo) no país, entre outros.

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público” acerca do enfrentamento ao racismo no sistema de justiça como se incorpora o racismo em nossa sociedade e de desenvolver
e na própria Defensoria Pública. estratégias de enfrentamento que ainda não foram implementa-
das; o reconhecimento da implementação de políticas de ações
No workshop supramencionado, defensores públicos, acadêmicos,
afirmativas para o ingresso de defensoras e defensores públicos
ativistas e representantes de associações da sociedade civil levan-
negras e negros como possibilidade de reconfiguração dos espaços
taram dilema e potencialidades para a realização dessa observação
institucionais.
e análise.
Partimos da compreensão e da atualização histórica de que o
No que concerne aos dilemas e dificuldades mencionadas, destaca-
racismo constitui e é constitutivo do projeto e estrutura da República
ram-se: o “desconhecimento ideológico do racismo” (SALES, 2006); a
do Brasil, não sendo o racismo no Brasil uma mera herança irresoluta
ausência do debate racial dentro da instituição; a dificuldade de com-
da escravidão, mas fundante no projeto de nação e da República
preender o processo e de operar as dimensões do racismo dentro do
que se consolidou em ideologias, práticas e instituições tais como
sistema de justiça; a ausência de diagnósticos consistentes dentro
o branqueamento, as Escolas de Eugenia, as teorias jurídicas raciais
do sistema de justiça que envolvam a variável raça; a dificuldade
da degenerescência, e o próprio lema da nossa bandeira, “Ordem
das instituições em gerar e avaliar essas informações referentes a
e Progresso”, traduzindo a ideologia do darwinismo social, dentre
raça e racismo institucional; dificuldade em estabelecer alianças e
outros.
vínculos políticos sólidos e compromissados com o enfrentamento
ao racismo; a percepção de um projeto de Estado racista (dimensão Apesar da ausência de black codes (legislações que expressamente
estrutural); a não compreensão do sistema de justiça enquanto restringiam aos negros a fruição de direitos nos EUA e na África
serviço público; a exclusão da participação da sociedade civil dos do Sul, por exemplo) o apartheid brasileiro é visível no sistema de
processos decisórios; o generalismo, universalismo dos sujeitos e a justiça a partir dos dados que refletem a manutenção do racismo
não racialização do debate no Judiciário; o não enfrentamento ao a partir do funcionamento e estruturação das próprias instituições
fato de que as mulheres negras ainda sejam as que mais sofrem do Judiciário. Apesar do advento da Constituição Federal de 1988
com o acúmulo das opressões de raça e gênero; a persistência dos e dos sucessivos enfrentamentos políticos encabeçados em sua
mitos da democracia racial e do reducionismo econômico no que grande maioria pelos movimentos sociais, é recorrente a existência
concerne à consideração da vulnerabilidade dos usuários do ser- de observações, relatos e pesquisas que evidenciam a existência
viço da Defensoria; a não responsabilização do Judiciário e órgãos de desigualdades raciais importantes na área da justiça no Brasil.
correlatos no enfrentamento ao racismo; a falta de transparência
Essas desigualdades são observáveis, por exemplo, através da per-
nos processos administrativos no sistema de justiça.
secução, violência e repressão policial; dos obstáculos no acesso
No que concerne às potencialidades mencionadas, destacamos: à justiça, principalmente criminal, com dificuldade de proteção e
a possibilidade e o desejo de alguns defensores e defensoras em promoção de seus direitos constitucionais; do perfilamento racial;
criar uma fissura no sistema de justiça, romper com a invisibilidade da seletividade penal; da sobrerrepresentação da população car-
e gerar oportunidades de debate; a possibilidade de compreender cerária negra; da sub-representação dos negros nos cargos de

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chefia e alto escalão na sociedade; da discriminação racial; e de mobilizada na produção de discursos, práticas e ideologias relacio-
outras modalidades de racismo e ideais racistas que influenciaram nais, institucionais e/ou estruturais. Podemos nos questionar, a nível
e influenciam a sociedade brasileira, inclusive o Judiciário. de manutenção do equilíbrio do sistema social, como o racismo se
apresenta em sua (dis)funcionalidade?
Para Silvio Almeida (2018), o racismo constitui-se como modo de
organização da vida social que compõe a estrutura (política, econo- O racismo mobiliza dispositivos que legitima privilégios, por um
mia e subjetiva) regulada pelas instituições. Nos interessa saber como lado, e que naturaliza opressões, por outro. As suas consequências
o sistema de justiça, enquanto instituição, regula essas estruturas. podem ser ao mesmo tempo percebidas como funcionais para um
grupo (dos que compreendem os privilégios da “branquitude” como
O sistema de justiça, enquanto conjunto de instituições jurídicas,
vantagens) e disfuncionais para outro (dos que compreendem as
tem por função internalizar e gerenciar os conflitos. Estes, ao não
desvantagens da “negritude” como um problema). A nível social,
serem facilmente absorvidos nos momentos de crise, são gerencia-
contudo, observa-se o racismo enquanto disfuncional, dadas as
dos de maneira ineficaz por esse sistema, transbordando em seus
diversas crises sociais alimentadas pelo racismo que prejudicam
efeitos não resolvidos para fora dele, ou, em outras palavras, tendo
a maior parte da população no Brasil, diretamente atingida pelas
os seus efeitos exógenos indevidamente integrados ao sistema
desvantagens atribuídas e direcionadas à “negritude”.
de justiça. Desse modo, o sistema de justiça acaba servindo como
instituição que mantém a estrutura, gerenciando com ineficácia ou Ao considerarmos três das dimensões possíveis de observação do
de modo a manter a estrutura de opressão decorrente dos conflitos racismo em nossa sociedade (interpessoal/relacional; institucional
relacionados à classe, gênero e raça, por exemplo. e estrutural), em diferentes níveis (manifesto e latente), podemos
construir algumas categorias de observação da sua manifestação,
Observando a Defensoria Pública como instituição que compõe o
conforme ilustramos no quadro-sintético a seguir:
sistema de justiça, é necessário questionar a sua função na repro-
dução e no enfrentamento das opressões, tais quais o racismo,
num contexto de gerenciamento de conflitos e crises. Diante destes
dilemas e potencialidades, nos perguntamos: como uma instituição
do sistema de justiça enfrenta o racismo? Racismo Relacional Institucional Estrutural

Além de produzir dados sobre o tema, nos propomos a pensar Relacional- Institucional- Estrutural-
Manifesto
sobre qual é a instrumentalidade desse conceito para a sociedade Manifesto Manifesto Manifesto
brasileira e encarar a raça enquanto categoria analítica, tomando
o enfrentamento ao racismo enquanto proposição política e de Relacional- Institucional- Estrutural-
Latente Latente Latente Latente
transformação da vida.

O racismo, enquanto fenômeno social, produz efeitos diversos,


independentemente da intenção ou ausência de intenção racista

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Essas categorias analíticas são exemplificativas e não encerram as relacionamentos afetivos ou de desejo aquilo que está relacionado
modalidades de expressão, tampouco a discussão sobre racismo. aos padrões de beleza associados à “branquitude”, rechaçando os
Elas se inter-relacionam e se retroalimentam, não podendo ser, na associados à “negritude”; II) a nível institucional-latente: as insti-
prática, tão facilmente decupadas. Até mesmo porque uma mesma tuições que naturalizam em suas práticas, ações e discursos os
prática, ação, ideologia, institucionalidade e/ou estrutura racista lugares sociais das pessoas a partir do seu (não) pertencimento
pode, ao mesmo tempo, ser identificada com padrões diversos de de “cor”, no qual a “negritude” está relacionada às funções mais
manifestação. precárias dentro da própria instituição ou relacionada à própria
noção de precariedade, competência reduzida, ausência de reco-
Aqui, ao mencionar os níveis “manifesto” e “latente” como modos de
nhecimento e a “branquitude” está relacionada às funções mais
manifestação do racismo não estamos nos referindo à intenciona-
valorizadas, atrelada à noção de eficácia e sucesso; as instituições
lidade da ação, discurso, ideologia racista que se propõe enquanto
que adotam a política de cotas, mas que não avaliam a sua eficá-
projeto, mas à uma expressão que é declarada a partir de uma ação
cia e não mobilizam recursos para implementá-la com sucesso;
ou omissão, como por exemplo: I) a nível relacional-manifesto: a
a inexistência de uma política institucional antirracista; III) a nível
pessoa que ofende outra atribuindo valor pejorativo a caracterís-
estrutural-latente: a aceitação e reprodução de uma estrutura que
ticas relacionadas à negritude; II) a nível institucional-manifesto: a
retroalimenta e atravessa a composição da sociedade, em suas
instituição que desenvolve um conjunto de técnicas, ações e prá-
instituições e relações pessoais, inclusive, como o que podemos
ticas que impedem o atendimento, ou não oferecem a prestação
ver a nível econômico ou político na reprodução de mitos como o
de um serviço adequado e de qualidade, ou não contratam outra
mito meritocrático, por exemplo, ou diante da omissão ou rejeição
pessoa porque esta é negra, ou se recusa a aplicar a política de cotas
de políticas redistributivas através da omissão.
raciais; III) a nível estrutural-manifesto: a produção e disseminação
de uma estrutura que retroalimenta e atravessa a composição da Deste modo, iremos focar, neste trabalho, nas dimensões do
sociedade, em suas instituições e relações pessoais, inclusive, como o racismo institucional (manifestas e latentes) no sistema de jus-
que podemos ver a nível econômico ou político, como, por exemplo, tiça, sem desconsiderar as dimensões relacionais e estruturais que
nos discursos da extrema direita, na tipificação de legislações assu- também o constituem e que são influenciadas por ele. Façamos um
midamente racistas, na reprodução dos discursos eugenistas, etc. pequeno exercício. Ao observar, por exemplo, o funcionamento da
Defensoria Pública de um Estado, podemos identificar diferentes
No que concerne ao modo latente de manifestação do racismo,
manifestações do racismo nas relações intrapessoais, institucio-
observamos que as práticas, discursos e ideologias racistas, por
nais e estruturais. São inúmeras as possibilidades se observarmos
ação ou omissão, não se apresentam como projeto expressamente
as relações entre os usuários dos serviços desta instituição, e os
racista, com ou sem intenção de sê-lo, mas servem de instrumentos
fornecedores disso que podemos chamar de “serviço de justiça”,
diretos na manutenção dos privilégios da “branquitude” e desvanta-
sejam os defensores públicos, os estagiários, secretários e outros
gens da “negritude”, como por exemplo: I) a nível relacional-latente:
que trabalham com serviços diretamente relacionados à prestação
as pessoas que internalizam e reproduzem em seus padrões de

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de um serviço jurídico. Podemos ainda pensar os terceirizados que SAMPAIO, 2003 apud SALES JÚNIOR, P. 20, 2006) capazes de gerar
trabalham nessa instituição, como por exemplo os reprografistas, e legitimar condutas excludentes (GELEDÉS, 2013a, p 17).
os seguranças, os faxineiros, os merendeiros, guardadores de carro,
A diferença de tratamento e oportunidades, dentro dos espaços
e as demais pessoas que oferecem serviços secundários e que, de
privilegiados, em razão da cor, raça ou etnia é uma definição cor-
alguma maneira, ocupam o espaço da Defensoria Pública ofere-
rente do racismo institucional, este conceito
cendo um serviço, mas que não seja, necessariamente, um serviço
foi definido pelos ativistas integrantes do grupo Panteras Negras,
jurídico. São também inúmeras as possibilidades de manifestação
Stokely Carmichael e Charles Hamilton em 1967, para especificar
do racismo institucional se observarmos a organização e a estrutu-
como se manifesta o racismo nas estruturas de organização da
ração da instituição no enfrentamento ao racismo.
sociedade e nas instituições. Para os autores, “trata-se da falha
Façamos um primeiro exercício e pensemos em como o racismo
coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado
institucional perpassa o nosso imaginário e as nossas interações
e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem
ao realizar a simples tarefa mental de “colorir” os funcionários das
étnica. (GELEDÉS, 2013a, p.11)
Defensorias Públicas de acordo com as experiências hegemônicas
Apesar de ter se consolidado nos anos 90, o surgimento do con-
que informam a ocupação dos cargos e funções na instituição. O
ceito de racismo institucional ocorre na década de 1960, conforme
modo como “atribuímos cor” a estas pessoas, neste exercício, é
afirma Liana Lewis (2013):
resultante da dimensão performática do racismo estrutural criando
representações de pertencimento aos espaços. Esta representação O termo Racismo Institucional surgiu na década de 1960 através
decorrente de uma imagem introjetada da estrutura está direta- do Movimento Negro Norte-americano, mas foi definido apenas
mente associada aos relacionamentos interpessoais e também na década de 1990 na Inglaterra, como resposta ao assassinato
aos modos como as instituições se organizam e oferecem os seus do jovem negro Stephen Lawrence por uma gangue branca.
serviços. O Relatório Macpherson, documento judicial relativo ao caso,
ampliou a questão isolada do assassinato argumentando que
Compreenderemos o racismo institucional como “falha coletiva de
não apenas os policiais que lidaram com o caso operaram de
uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às
forma discriminatória, mas a própria instituição policial acio-
pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica” (Carmichael,
nou dispositivos diversos de leniência que findou, no primeiro
S. e Hamilton, C. Black power: the politics of liberation in America.
momento, com a absolvição de todos os criminosos. No Brasil,
New York, Vintage, 1967, p. 4, apud GELEDÉS, 2013a, p 17). O racismo
o Racismo Institucional é informado por uma maneira notada-
institucional possui uma dimensão performática decorrente do
mente peculiar de lidarmos com a questão racial. A ideia de que,
“tratamento diferenciado” ou da “discriminação resultante de pre-
pelo fato de não possuirmos segregações raciais legitimadas
conceito inconsciente, ignorância, falta de atenção ou de estereóti-
por um aparato jurídico, e as distinções territoriais e simbólicas
pos racistas que colocam minorias étnicas em desvantagens” (CF.
não serem nomeadas através de dualismos de cor como ocorre,

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por exemplo, nos Estados Unidos, construímos nosso cotidiano privadas, produzindo e reproduzindo a hierarquia racial” (GELEDÉS,
de forma harmoniosa no que diz respeito à questão racial, finda 2013b, p. 15). Esta hierarquia racial relaciona-se com as hierarquias
por legitimar o privilégio da população branca, silenciando parte decorrentes de outros marcadores sociais da diferença, como gênero,
considerável da população negra e perpetuando uma desigual- classe, orientação sexual, religião, entre outros, que nos permitem
dade que se mantém sempre sob o atributo da diferença social observar a singularidade dos sujeitos e os diferentes níveis de opres-
(LEWIS, 2013, p. 11-12). são aos quais são submetidos a depender das suas categorias de

Neste sentido, nos interessamos particularmente pelos mecanis- pertencimento. As pesquisas sobre marcadores sociais da diferença

mos estruturais do racismo institucional, que garantem “a exclusão no Brasil nos informam que as mulheres negras ainda são as que

seletiva dos grupos racialmente subordinados” (GELEDÉS, 2013b, mais sofrem com o acúmulo das opressões de raça e gênero no país.

p. 17). Tomaremos como ponto de partida a exclusão diferenciada A reformulação de narrativas dentro do Judiciário que questionem o
de diferentes sujeitos a partir da compreensão de que o racismo universalismo do sujeito de direito e a não racialização dos debates
institucional “garante a apropriação dos resultados positivos da é urgente. A dificuldade de se trabalhar com essas categorias no
produção de riquezas pelos segmentos raciais privilegiados na sistema de justiça, inclusive nas Defensorias Públicas dos Estados,
sociedade, ao mesmo tempo em que ajuda a manter a fragmen- decorre não só da persistência do reducionismo econômico no que
tação da distribuição destes resultados no seu interior” (GELEDÉS, concerne à avaliação da vulnerabilidade dos usuários do serviço
2013b, p. 17), produzindo hierarquias sociais pautadas na raça. da Defensoria, mas também da ignorância dos efeitos da intersec-
cionalidade na produção dos efeitos dos serviços oferecidos pelo
O Racismo Institucional e a interseccionalidade sistema de justiça.

Pensar o comportamento das instituições públicas ou privadas As discussões sobre interseccionalidade surgiram nos debates
é fundamental para compreender a precariedade do acesso da feministas norte-americanos nas décadas de 1970/1980 quando
população negra aos direitos fundamentais e sociais, previstos pela o feminismo, assim como tudo que se pretendeu universal, igno-
Constituição Federal. Dentro de uma sociedade historicamente rando as diferenças de raça e classe, não foi capaz de contemplar
racializada como a brasileira, é impossível ignorar os resquícios da as demandas das mulheres negras. Em resposta às limitações do
escravidão e a influência eugenista que se materializou por meio feminismo hegemônico, que manteve na invisibilidade as causas
das políticas higienistas que surgem no século XIX/XX e que se per- levantadas pelas mulheres negras, estas evidenciaram as interse-
petuam com nova roupagem nas gestões administrativas atuais. ções e interações das opressões que acontecem de maneira simul-
tânea e não hierarquizada em termos de raça, classe e gênero. Na
O racismo institucional apresenta-se, portanto, para além da pers-
década de 1990, a jurista afro-americana Kimberlé Crenshaw define
pectiva intersubjetiva ou pessoal. Ele “opera de forma a induzir,
a “interseccionalidade” como sensibilidade analítica para observar
manter e condicionar a organização e a ação do Estado, suas ins-
diferentes formas de opressão:
tituições e políticas públicas – atuando também nas instituições

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Interseccionalidade é uma sensibilidade analítica, uma maneira como pano de fundo). Para apreender a discriminação como um
de pensar sobre a identidade e sua relação com o poder. Arti- problema interseccional, as dimensões raciais ou de gênero, que
culada originalmente em favor das mulheres negras, o termo são parte da estrutura, teriam de ser colocadas em primeiro plano,
trouxe à luz a invisibilidade de muitos cidadãos dentro de grupos como fatores que contribuem para a produção da subordinação.
que os reivindicam como membros, mas que muitas vezes não
Nesse sentido, gostaríamos de ilustrar por meio do gráfico apresen-
conseguem representá-los. O apagamento interseccional não
tado no “Dossiê das Mulheres Negras no Brasil” (IPEA, 2013, p.30),
é exclusivo das mulheres negras. Pessoas negras ou de outras
como se distribuem esses marcadores na análise do rendimento
raças/etnias dentro dos movimentos LGBT; meninas negras ou
domiciliar per capita médio no Brasil com relação às variáveis sexo
de outras raças/etnias na luta contra o sistema que empurra os
e cor/raça entre os anos de 1995 e 2009:
jovens para a cadeia; mulheres nos movimentos de imigração;
mulheres trans dentro dos movimentos feministas; e as pessoas
com deficiência lutando contra o abuso policial – todas essas pes-
soas sofrem vulnerabilidades que refletem as intersecções entre
racismo, sexismo, opressão de classe, transfobia, capacitismo e
muito mais. A interseccionalidade deu a muitas dessas pessoas
uma forma de se destacar as suas circunstâncias e lutar por sua
visibilidade e inclusão (CRENSHAW, 2015).

Ainda segundo Kimberlé Crenshaw (2002, p. 176):

A discriminação interseccional é particularmente difícil de ser


identificada em contextos onde forças econômicas, culturais e
sociais silenciosamente moldam o pano de fundo, de forma a
colocar as mulheres em uma posição onde acabam sendo afeta-
das por outros sistemas de subordinação. Por ser tão comum, a
ponto de parecer um fato da vida, natural ou pelo menos imutável,
esse pano de fundo (estrutural) é, muitas vezes, invisível. O efeito
disso é que somente o aspecto mais imediato da discriminação
é percebido, enquanto a estrutura que coloca as mulheres na
posição de receber tal subordinação permanece obscurecida.
Como resultado, a discriminação em questão poderia ser vista
simplesmente como sexista (se existir uma estrutura racial como
pano de fundo) ou racista (se existir uma estrutura de gênero

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GRÁFICO 1 Segundo o gráfico, apesar da evolução da renda per capita no


Brasil, a estrutura desta desigualdade racial permanece pratica-
Rendimento domiciliar mente inalterada. “De fato, entre 1995 e 2009, as famílias chefiadas

per capita médio, por sexo e


por mulheres negras mantiveram-se sempre na posição de piores
rendimentos, seguida pelos homens negros, mulheres brancas e,

cor/raça dos chefes de família por último, pelos homens brancos” (IPEA, 2013, p.29). Ainda hoje, as
mulheres negras possuem a menor renda per capita do país. Elas
Brasil (1995 - 2009 / Em R$) recebem os menores salários e ocupam os cargos mais subalternos
na sociedade brasileira. Logo em seguida vêm os homens negros,
ainda em uma posição bastante longe das mulheres brancas, que
são as próximas na escala de renda per capita no Brasil, seguidas
dos homens brancos, que ocupam o topo da escala.

Para compreender as dificuldades enfrentadas pela Defensoria


Pública na execução dos seus objetivos e oferecimento dos seus
serviços a partir de uma lógica interseccional, é necessário, por-
tanto, dizer que essa instituição pauta a vulnerabilidade dos seus
usuários exclusivamente a partir do recorte de classe. Daí a neces-
sidade de observar, para além do fator econômico, a ponderação
dos fatores de raça e gênero na avaliação dessa vulnerabilidade,
nas demandas e no oferecimento dos serviços, já que a instância
econômica é ainda considerada como instância principal neste con-
texto onde múltiplas forças se interpelam. Deste modo, tendo por
base a teoria desenvolvida por Crenshaw, nos propomos a pensar
a interseccionalidade a partir da compreensão não hierarquizada
dos marcadores sociais, ainda que outras formas de empregar a
interseccionalidade sejam possíveis.

As expressões do racismo, manifestas e latentes, interferem na


dinâmica da ocupação dos espaços de poder e fortalecem o ima-
ginário social coletivo que se subentende a partir de uma estrutura
Fonte: Ipea et al. (2011) — Elaboração da autoria.
desigual. Utilizar somente a classe para a consideração das vulne-
Obs: 1. A PNAD não foi realizada no ano de 2000 / 2. Em 2004 passa a contemplar a população rural rabilidades pressupõe que esta categoria englobe todas as outras
de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

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e desconsidera que raça é uma modalidade de vivência de classe É nosso pressuposto que raça é um dos elementos estruturais
no Brasil. Esse raciocínio nos serve para pensar como se expressa de sociedades multirraciais de origem colonial. Os conceitos de
a disputa dos espaços de poder entre pessoas de diferentes cores apartheid social, a supremacia do conceito de classe social so-
e gêneros que estão numa mesma classe. bre os demais - como pretendem os pensadores de esquerda,
herdeiros do materialismo histórico dialético – são conceitos
Racismo Institucional nos debates brasileiros sobre raça que não alcançam, e, ao contrário, invisibilizam ou mascaram a
contradição racial presente nas sociedades multirraciais, posto
Raça é uma categoria que só existe em relação (Schucman, 2016).
que nelas raça/cor/etnia e, em especial para o Brasil, são variá-
Nesse sentido, é importante considerar que o negro, enquanto
veis que impactam a própria estrutura de classes. Disso decorre
categoria racial, só existe porque o branco foi pautado enquanto
que a essência do racismo, enquanto pseudociência, foi buscar
categoria “normal” de raça, sendo o negro “o outro”, “o desviante”.
legitimar, no plano das ideias, uma prática, e uma política, sobre
Em outras palavras, o branco e o não-branco só existem a partir
os povos não-brancos e de produção de privilégios simbólicos e/
do surgimento de categorias de reconhecimento e exclusão de
ou materiais para a supremacia branca que o engendrou. São
raça/cor. Nesse sentido, observa-se o interesse na perpetuação
esses privilégios que determinam a permanência e reprodução
dos preconceitos na medida em que a “branquitude” configura os
do racismo enquanto instrumento de dominação, exploração e
privilégios que acompanham as características atribuídas ao que
mais contemporaneamente, de exclusão social em detrimento de
se relaciona com o “branco/normal” em uma sociedade racializada,
toda evidência científica que invalida qualquer sustentabilidade
ainda que muitos não o admitam abertamente.
para o conceito de raça (CARNEIRO, 2005, p.29 apud REIS, 2014).
Precisamos, ainda, considerar a prática do colorismo enquanto
A permanência e a reprodução do racismo como instrumentos
técnica de preconceito e dominação que deve ser pensada a partir
de dominação, exploração e exclusão social são resultantes de um
da categorização dos privilégios que são atribuídos à “branquitude”
processo de interação que ultrapassa a lógica da mera adesão.
e das desvantagens atribuídas à “negritude”, refletida na avaliação
Para a professora Lia Vainer Schucman (2016), o racismo é um
visual dos corpos que se aproximam e se afastam aos tons de pele
processo de aprendizado no qual a “branquitude” consolidou-se
e categorias fenotípicas (cabelo, nariz, forma corporal, etc.) presti-
enquanto instrumento de dominação e exploração, naturalizando
giadas (da raça branca) e depreciadas (da raça negra).
o racismo e criando padrões baseados numa hierarquia racial. Ela
Para além disso, o racismo estrutural, que forja a sociedade e os propõe o enfrentamento ao racismo a partir do que ela chama de
sujeitos no Brasil, configura-se enquanto estratégia de exclusão “letramento racial”, conceito proposto por France Winddance Twine
imbricada também nas relações e subjetividades, cujos reflexos para a compreensão do fenômeno da branquidade/branquitude,
podemos perceber nas mais diversas instâncias sociais. Nas palavras no qual prepondera a análise dos sujeitos e as respostas individuais.
de Sueli Carneiro (2005): Engloba duas dimensões de respostas que podem ser dadas ao

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racismo: a individual e a coletiva. Segundo Schucman (2016), o ultrapassa a noção de “ausência de informação” e se relaciona com
letramento racial consiste em: a noção valorativa do que precisa ser conhecido sobre a realidade
é um “desconhecimento” que interfere diretamente na perspec-
Conjunto de práticas que pode ser melhor caracterizado como
tiva de produção e interpretação de dados, inclusive gerando a
uma prática de leitura, uma forma de perceber e responder
ausência de dados. Ou seja, este fenômeno de desconhecimento
individualmente as tensões das hierarquias raciais da estrutura
possui relação direta com a sofisticação das técnicas obstrutivas
social que inclui o seguinte: 1) o reconhecimento do valor sim-
de enfrentamento ao racismo e a limitação das instituições nesse
bólico e material da branquitude; 2) definição do racismo como
enfrentamento, sobretudo porque impede ou invalida o discurso
um problema social atual e não como um legado histórico (há
racial.
uma legitimação diária do racismo); 3) o entendimento de que
as identidades raciais são aprendidas e o resultado de práti- Dentre os principais efeitos produzidos pelo desconhecimento ideo-
cas sociais (se é possível aprender, é possível desaprender); 4) a lógico do racismo, podemos citar a “ausência de fatos e dados sobre
posse de uma gramática e um vocabulário racial que permita as relações raciais”. Para Sales Júnior (2006, p.vi) o discurso racial
a discussão de raça, racismo e antirracismo; 5) a capacidade de
entrincheirou-se no discurso “vulgar” (aforismático, passional,
traduzir e interpretar os códigos e práticas racializadas da nossa
informal e privado), através da forma do não-dito racista que se
sociedade (interpretar quando uma coisa é racismo e não um
consolidou intimamente ligado às relações “cordiais”, paterna-
mal entendido).
listas e patrimonialistas de poder como um pacto de silêncio
Entender o racismo e o processo de aprendizagem pelo qual pas- entre dominados e dominadores. O não dito é uma técnica de
samos cotidianamente em uma sociedade racista é imprescindível dizer alguma coisa sem, contudo, aceitar a responsabilidade de
para desenvolver estratégias e técnicas de enfrentamento ao racismo tê-la dito, resultando daí a utilização de um discurso racista de
em suas múltiplas dimensões. Mas porque para muitos parece tão uma diversidade de recursos tais como implícitos, denegações,
difícil se questionar como o racismo ainda consegue, de maneira tão discursos oblíquos, figuras de linguagem, trocadilhos, chistes,
sólida, estruturar e influenciar as dinâmicas sociais a ponto de ser frases feitas, provérbios, piadas e injúria racial.
tão naturalizado que se torna imperceptível? Por que o letramento O desconhecimento ideológico do racismo associado ao mito da
racial aparece para muitos como algo tão longínquo e inacessível? democracia racial impede a sua tematização pública e permite a
Sales Júnior (2006) nos apresenta como pista importante para res- continuidade da invisibilidade do tema e a não responsabilização
ponder a essas questões os conceitos de “desconhecimento ideoló- dos sujeitos e instituições que praticam ações racistas. Para Sales
gico do racismo” e “desconhecimento ideológico das relações raciais”, Júnior (2006, p. 64-65):
que não significam necessariamente a ausência de conhecimento a invisibilidade do racismo, ou melhor, no contexto do discurso
nem ignorância passiva acerca do tema. Eles se instituem enquanto jurídico, a impunidade do racismo, é resultado de dois efeitos
técnicas que marginalizam saberes tidos como irrelevantes, falsos de sentido combinados produzidos pelo “Mito da Democracia
problemas, ou sem-sentidos. Esse tipo de “desconhecimento” que

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Racial”: por um lado a separação ideológica, performativa, entre continua-se produzindo um domínio racial, mantém-se, assim, a
preconceito e discriminação pelo não-dito do discurso racial neutralidade científica, e exorciza-se um passado (racismo cien-
cotidiano – racismo sem racista, discriminação não intencional; tífico) como “não-científico”, como pensamento pré-científico,
por outro lado, a redução semântico ideológica de discriminação preconceito.
ao preconceito racial, efeito de uma série de indeterminações se-
O percurso histórico-epistemológico do direito no Brasil nos traz
mânticas, segundo a qual a discriminação é definida em termos
a necessidade de discutir os papéis da “ciência jurídica” hege-
de crença e intenção, não em termos de atos e consequências,
mônica e contra-hegemônica na contribuição para a perpetuação e
segundo o desconhecimento ideológico das “relações raciais”; tal
enfrentamento ao racismo institucional no Brasil por uma série de
situação possui indecidibilidades, ambiguidades, deslocamen-
motivos. A “universalização do sujeito de direito” é um dos motivos
tos, etc, exigindo, na busca de superá-las, uma série de decisões
principais e relaciona-se diretamente com o que dissemos acima
ético-semânticas dos sujeitos sociais envolvidos, cuja interação,
sobre o desconhecimento ideológico do racismo e a ausência ou
no contexto das ações legais, devem resultar na decisão judicial
precariedade de dados raciais no sistema de justiça.
(SALES JÚNIOR, 2006, p. 65).
Esta ausência e precariedade de dados nos confrontam com as
A decisão judicial, assim como os produtos decorrentes da prestação
demandas comprobatórias exigidas pela ciência hegemônica para
de um serviço jurídico, é fruto dessas indecidibilidades, ambiguida-
admitir determinado fenômeno como sendo importante. A mar-
des e deslocamentos decorrentes do efeito do desconhecimento
ginalização de saberes tidos como irrelevantes, a criação de falsos
ideológico do racismo. Esses deslocamentos também limitam o
problemas e a atribuição de um não sentido também se relacio-
avanço das discussões sobre a questão racial e performam resulta-
nam com as formas autorizadas de se produzir conhecimentos
dos racistas. Por exemplo, no teor das sentenças e na ausência de
sobre a realidade. A necessidade de produzir e apresentar dados
dados raciais no Judiciário, no tipo de tratamento dado aos usuá-
de forma cartesiana, confrontando as categorias raciais como variá-
rios de serviços jurídicos nas instituições do sistema de justiça, que
veis dependentes para avaliar fenômenos nos impõe uma grande
são tratadas como neutras, objetivas, imparciais. De acordo com
dificuldade que advém do nosso primeiro grande resultado de
Ronaldo Sales Júnior (2006, p.221):
pesquisa: a ausência e/ou precarização da racialização do debate
O desconhecimento ideológico das relações raciais, portanto, é nas Defensorias Públicas.
decorrente não meramente de obstáculos teóricos e metodoló-
Além disso, os moldes hegemônicos de produção do conhecimento
gicos, mas estes obstáculos são barricadas e trincheiras de uma
sobre o sistema de justiça estão pautados, na maioria das vezes,
luta política travada no e pelos discursos científicos. Todavia,
por pesquisas dedutivas e quantitativas, que valorizam um tipo de
estes obstáculos, ao mesmo tempo em que impedem o avanço
dado ainda invisível e não coletado, desconsiderando a categoria
de um terror racial no discurso científico, impedem, também, o
raça na grande parte dos serviços jurídicos.
avanço de um discurso racial emancipatório, mantendo as duas
forças num equilíbrio assimétrico, pois, não se instaura o terror,

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A título ilustrativo, a inclusão de variáveis como gênero, raça e A não racialização do debate, ainda que em termos de “negritude”
orientação sexual, por exemplo, nos permitiria confrontar dados ou “branquitude”, nos impõe sempre a compreensão de que os
relacionados aos modos de tratamento dados aos diferentes usuários resultados das lides judiciais e conflitos extrajudiciais são predo-
no que concerne à durabilidade dos atendimentos, ao acesso às minantemente informados por características universais, descon-
instâncias superiores, aos tipos de demanda (penais, cíveis, traba- siderando os aspectos sociais que forjam os próprios sujeitos e as
lhistas, consumeristas, etc.), à quantidade de condenações ou absol- instituições e o papel performativo dos fenômenos discriminatórios
vições, tipos de argumentos utilizados e legislações mobilizadas, como o racismo, o machismo e a lgbtfobia.
a localização e quantidade de núcleos da Defensoria distribuídos
Há uma distinção interessante entre os sujeitos reais (público de
por território considerando-se a quantidade de usuários, o número
usuários dos serviços de justiça) e os sujeitos ideais (sujeito de direito)
de defensores em comparação a outras estruturas do Judiciário e
universais percebidos pelo direito. A noção de sujeito de direito
defensores, aos salários dos defensores, etc.
universal que permeia o imaginário jurídico brasileiro é a noção
A classe ainda é tomada como uma categoria predominante diante forjada durante as revoluções burguesas na Europa e reforçada pela
dos demais marcadores sociais da diferença. Isso, o que poderíamos ideologia liberal (do sujeito sem raça, sem classe e sem gênero),
chamar de reducionismo econômico e a subestimação das funções que possui o seu parâmetro de normalidade e correspondência na
simbólicas e materiais dos demais marcadores sociais da diferença, figura do homem branco burguês europeu.
nos impede de designar especificações adjuvantes e contingentes
Com base nos alicerces do liberalismo europeu, o sujeito de direito
na reprodução e enfrentamento do racismo.
no Brasil foi “normalizado” a partir de uma perspectiva patriarcal,
A utilização da classe como categoria prevalente nos induz ao erro branca, machista, heteronormativa e racista. Além disso, a hege-
de pensar que “raça e classe” são a mesma face de uma moeda ou monia do pensamento liberal conservador e do modo de produção
elementos que nos permitem avaliar todos os fenômenos sociais a capitalista nos fez naturalizar as relações de propriedade, de expro-
partir das mesmas lentes. Indiretamente, esse modo de perceber os priação e exploração dos bens (simbólicos e materiais), do trabalho,
marcadores sociais da diferença faz com que as instituições ajam do tempo e dos mais vulneráveis pelos mais poderosos. Esse olhar,
como se vivêssemos em uma “democracia racial” ou em condições que supervaloriza a instância econômica, empobrece o debate e
de equidade de gênero, por exemplo. É como se pensássemos que, a apreensão da realidade social complexa e nos priva de discutir
tendo a mesma renda, negros e brancos teriam oportunidades e encontrar possíveis soluções para os conflitos e desigualdades.
iguais de ascensão social, o que não é verdade. A “não racialização
A necessidade de racialização do debate apresenta-se para nós em
dos debates” e a simples “prevalência da categoria classe” para a
termos não morais. Esta é uma necessidade que se impõe para
produção de hierarquia e avaliação dos marcadores sociais ignoram
pensar como as diferenças de raça, assim como as diferenças de
a própria existência do racismo e reforçam a ideia da igualdade
classe e de gênero, interferem no oferecimento de determinados
formal dentro do direito.
serviços e na execução de determinadas políticas públicas, seja no

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que concerne à manutenção de privilégios, seja no que concerne realidade social de maneira transversal, considerando o seu caráter
à manutenção de opressões. de “visibilidade” e “permanência no tempo”.

A racialização não moral do debate é imprescindível para que


possamos avançar sobre o tema. Para a professora, pesquisadora e
Raça e o sistema de justiça brasileiro
psicóloga Lia Vainer Schucman (2016), a não racialização do debate No âmbito do sistema de justiça brasileiro e das Defensorias Públicas
é o primeiro grande privilégio da “branquitude”. Para Schucman Estaduais, a racialização do debate implica a assunção da categoria
(2016), a ideia de raça só é invocada na relação entre grupos sociais raça enquanto elemento importante para discutir as práticas e dis-
diferentes. Para ela “o mundo dito ocidental construiu a perspectiva cursos mobilizados pela instituição, o que vai desde a construção de
de raça a partir da compreensão de que: “Quem tem raça é o outro”. questionários socioeconômicos que incluam a categoria raça até a
Ou, seja, a normalização da raça foi realizada a partir de determi- formulação de políticas públicas específicas capazes de enfrentar
nados parâmetros onde a racialidade não marcada é a branca. os problemas identificados a partir da análise e melhorar o atendi-
Assim, “o maior privilégio do branco é não se perceber como grupo mento nos setores mais precários, passando pela criação e divisão
racializado, é se perceber como indivíduo” (SCHUCMAN, 2016). Em das pastas dentro da Defensoria, especificando as incidências em
nosso trabalho, entenderemos “branquitude” como o: cada setor da instituição e campo do direito.
lugar de privilégios simbólicos, subjetivos, objetivos, isto é, mate- O funcionamento e a organização das instituições de justiça são
riais palpáveis que colaboram para construção social e reprodução permeados por relações de poder que legitimam determinadas
do preconceito racial, discriminação racial “injusta” e racismo. práticas e discursos. A organização, a estrutura e a funcionalidade
Uma pesquisadora proeminente desse tema Ruth Frankenberg das instituições são também práticas políticas. Na Defensoria Pública
define a branquitude como um lugar estrutural de onde o sujeito também é possível observar como se dão essas práticas políticas,
branco vê os outros, e a si mesmo, uma posição de poder, um como nas formas como a instituição reflete sobre os seus próprios
lugar confortável do qual se pode atribuir ao outro aquilo que fundamentos; o modo como institui e compõe os seus quadros
não se atribui a si mesmo. (...) Em suma, a branquitude procura se (considerando os diferentes cargos e funções); as formações que
resguardar numa pretensa ideia de invisibilidade, ao agir assim, realiza; as pesquisas que produz; o modo como atende o seu público;
ser branco é considerado como padrão normativo único. O bran- o modo como atua na representação dos conflitos individuais e
co enquanto indivíduo ou grupo concebido como único padrão coletivos; os temas e núcleos que institui como prioritários; o modo
sinônimo de ser humano “ideal” é indubitavelmente uma das como realiza inclusões e exclusões; o modo como integra as con-
características marcantes da branquitude em nossa sociedade cepções de direito, as novas maneiras de produzir juridicidade; e a
e em outras (CARDOSO, 2010, p. 50). abertura à participação popular.
Racializar o debate implica a desconstrução desse sujeito universal. Nesse sentido, o enfrentamento ao racismo, dentro e fora do “sistema
Implica colocar lentes que ultrapassem o universalismo e a redu- de justiça”, passa necessariamente pela desmistificação do direito
ção aos discursos de classe e introduzir categorias que informam a

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e do racismo, pela abertura à sociedade civil e pela incorporação de da sociedade civil, movimentos sociais e instituições integrantes
pautas sociais na construção de novos conceitos e práticas. Repensar do sistema de justiça (FÓRUM JUSTIÇA, 2017, p.2)
tecnologias de participação a partir do que os novos sujeitos sociais Para se pensar a formulação e a reforma de políticas sociais de
apresentam como demanda é um passo importantíssimo para a enfrentamento ao racismo institucional é imprescindível consi-
consecução deste processo. derar a perspectiva e entendimento dos movimentos sociais e a
Lembramos que algumas das preocupações dos participantes do participação social nos espaços de discussão e tomada de decisão.
workshop “Sistema de Justiça e Racismo Institucional” relacionam-se É preciso encarar os movimentos sociais como atores políticos
à dificuldade em estabelecer alianças e vínculos políticos sólidos e proporcionar a intervenção direta desses sujeitos nos âmbitos
e comprometidos com o enfrentamento ao racismo; à não com- políticos, jurídicos e econômicos como estratégia de ruptura com
preensão do sistema de justiça enquanto serviço público; à exclusão o anacronismo do direito para a superação das suas crises de legi-
da participação da sociedade civil dos processos decisórios; à falta timidade e de concepções de justiça.
de transparência nos processos administrativos, dentre outros. Infelizmente, o reconhecimento da importância dos movimentos
A importância que Criola, enquanto organização da sociedade civil, sociais ainda é bastante incipiente no mundo jurídico. Além disso,
atribui à participação popular e ao reconhecimento dos movimentos existe um falso imaginário popular que dissemina a ideia de que
sociais nos processos de tomada de decisão dentro das instituições a apatia política é característica do povo brasileiro. O que não se
públicas, inclusive no sistema de justiça, nos processos de formu- problematiza com essa afirmação é que os movimentos sociais são
lação de políticas e nos processos de formulação de concepções reiteradamente silenciados e massacrados pela estrutura opressora
de Estado, nos remete a pensar o sistema de justiça, antes de tudo, do Estado, o que nos dá uma falsa impressão de passividade.
como uma política pública de acesso à justiça. O Fórum Justiça
pauta a importância deste reconhecimento e em sua proposta de Participação popular e políticas públicas de
pesquisa e afirma que: enfrentamento ao racismo institucional
O papel exercido por organizações e movimentos sociais nas O não reconhecimento pelo Estado dos movimentos sociais se
discussões que concernem aos desafios da democracia e de contrapõe ao enfrentamento e resistência diários exercidos sobre-
implementação dos direitos humanos ressalta a importância da tudo no âmbito da informalidade. Os setores mais desfavorecidos
ampliação dos circuitos de (re)conhecimento da funcionalidade da sociedade encontram-se desamparados, sendo a todo tempo
do sistema de justiça e da necessidade de identificação do perfil dissuadidos pelas técnicas estatais que reforçam cada vez mais a
institucional de suas estruturas e formas de representação de- vulnerabilidade dessas pessoas. Esta é uma pista que poderia nos
mocrática. Por outro lado, verificam-se empecilhos, muitas vezes ajudar a pensar, inclusive, por que as populações mais subalterni-
tomados como naturais ou disciplinares, ao estabelecimento de zadas acessam menos o sistema de justiça. É preciso desconstruir o
canais permanentes para o necessário diálogo entre organizações imaginário de apatia política também para proporcionar a utilização

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de um serviço adequado e eficaz, proporcionando ao usuário uma da Constituição Federal de 1988 surgiram várias inovações legais
experiência satisfatória que lhe traga mais dignidade. acerca da ampliação da participação popular (DAGNINO, 2004).

Entendemos que o enfrentamento à despolitização repressiva passa O processo que se sedimenta desde a mobilização/participação
obrigatoriamente pela inserção dos atores sociais nos campos de popular até a formulação/implementação de uma política pública,
disputa jurídica, econômica e política e pelo enfrentamento direto é, contudo, um processo bastante complexo e que não ocorre de
à manutenção de privilégios do grupo opressor. Esse processo se maneira linear. Desde I) a preocupação com determinado conjunto
dá a partir de uma ruptura social, pela mudança das estruturas e de coisas, passando pela II) sua transformação em um problema
pela equalização das relações de poder a fim de promover o exercí- político, à III) formulação de uma política pública, podemos ima-
cio efetivo da cidadania e atender às demandas dos atores sociais, ginar percursos conflitivos em que se faz necessário administrar
produzindo novos direitos e novos espaços sociais. as tensões, sendo o ‘momento da formulação de alternativas um
dos momentos mais importantes do processo decisório, pois, é
Encarar as políticas públicas como uma forma contemporânea de
o momento em que os atores manifestam os seus interesses e
exercício do poder resultante da interação entre Estado e sociedade
entram em confronto’ (RUA, 1997).Nesse processo de administração
(GIOVANNI, 2009) ainda é bastante difícil no Brasil, Estado tradicio-
das tensões sociais as possibilidades e impossibilidades de atribuir
nalmente conservador, que dá pouca ênfase ao bem-estar social
relevância a determinado conflito são resultantes de uma complexa
e que, historicamente, adquiriu uma posição de fazedor e não de
rede de demandas, interesses e suportes.
regulador das relações, assumindo uma tradição de crescimento
muito mais no âmbito econômico do que de proteção social ao O debate sobre cotas raciais nos é caro para pensar as mudanças
conjunto da sociedade (BACELAR, 2003). estruturais a partir de demandas sociais que se transformaram em
políticas públicas. A aplicação da política de cotas raciais sofreu e
Nesse quadro de “administração” da vida em sociedade é impres-
vem sofrendo inúmeras represálias sob os argumentos de “racismo
cindível ressaltar a importância das políticas públicas enquanto
às avessas”; potencial geração de ódio racial entre aqueles que
práticas capazes de distribuir o poder entre a sociedade e o Estado,
seriam ou não beneficiados pela política; queda do nível intelectual
fazendo com que a sociedade participe diretamente dos processos
e performático das instituições; dentre outros argumentos pautados
de discussão que envolvem a política e os demais mecanismos de
no mito da meritocracia, por exemplo.
regulação e reconstrução social.
De forma polêmica, o sistema de cotas nas universidades públicas
No Brasil, a participação popular começou a receber novos olhares
e mais tarde nos concursos públicos para provimento de cargos
a partir das décadas de 70/80. A vontade de participação política se
efetivos e empregos públicos estabeleceu-se como uma política
fortaleceu com a ação dos movimentos sociais e a crise da ditadura
afirmativa importante no Brasil e gerou debates intensos nos círcu-
militar, pois a população se mobilizava cada vez mais a favor da
los acadêmicos, midiáticos, políticos e sociais. Embora em algumas
descentralização política e da abertura democrática. Com o advento
instâncias existisse o consenso de que algo precisava ser feito para
diminuir as desigualdades sociais, alguns consideravam e conside-

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ram que a política de cotas poderia até solucionar o problema ao decisão, envolve ações estrategicamente selecionadas para a sua
mesmo tempo em que geraria outros. implementação. Sem o debate, a política fica à mercê de quem

Estimulados pelas controvérsias e debates, os políticos e a sociedade as formulou, podendo a qualquer momento ser obstruídas. Nesse

civil “admitiram” o estado de coisas gerado pelas discussões sobre sentido,

a desigualdade racial nas instituições como um problema político Vale observar que a obstrução pode ocorrer até mesmo antes
e a política de cotas entrou na agenda pública brasileira. Com isso, da formulação do problema, impedindo que ele passe de um
foram desenvolvidas as discussões sobre como a implementação estado de coisas a um problema político. E pode ocorrer também
dessa política poderia ser feita. No que concerne à política de cotas depois da formulação, de maneira que as decisões não sejam
na Defensoria Pública, a sua implementação não se deu ao mesmo transformadas em ações, no momento da implementação da
tempo em todos os Estados. No Rio de Janeiro, o primeiro concurso política. Pode ocorrer, e frequentemente ocorre, que determinados
da Defensoria Pública com cotas raciais para negros e índios foi atores que se opõem a uma política por princípio, participam do
realizado em 2012 após a aprovação da Lei Nº 6067/2011, que foi processo de formulação com o intuito deliberado de impedir que
sancionada em outubro de 2011. Ainda hoje existem Defensorias se chegue a uma decisão - qualquer que seja ela. O seu interesse
Públicas que não regulamentaram a política de cotas. é de que a política não seja decidida e que as coisas continuem
como estão. Nesse caso, é relativamente fácil observar a estra-
A política de cotas raciais no Brasil foi fruto de discussões e enfrenta-
tégia de obstrução, que se manifesta no comportamento dos
mentos constantes envolvendo intelectuais, políticos e movimentos
atores de diversas formas: propondo medidas extremamente
sociais e que contou com a intensa participação do movimento
radicais, não negociando, fazendo exigências descabidas, etc.
negro enquanto legitimador de uma luta que buscava e busca
(RUA, 1997). [Grifos nossos]
reduzir desigualdades históricas. Contudo, muitas vezes o processo
de criação e implementação de uma política pública é feito sem a A consecução de um projeto de política pública de acesso à justiça
participação dos atores envolvidos no processo de formulação. Esse também está sujeita a essas obstruções. É importante identificar,
processo pode resultar em decisões carentes de debate público e por exemplo, a partir deste raciocínio, as obstruções que vem sendo
que refletem interesses meramente pessoais ou corporativos que encontradas pelas Defensorias Públicas dos Estados na concepção,
excluem outros atores sociais, geralmente os marginalizados, e que implementação, execução e avaliação das políticas de enfrenta-
contribuem negativamente para questões sociais e econômicas. mento ao racismo institucional dentro do sistema de justiça. A

De um modo geral, não devem os atores sociais, ainda que não dotação de ineficácia à política de cotas nas Defensorias Públicas

formalmente organizado em partidos ou movimentos sociais estru- Estaduais com concursos que não conseguem aprovar cotistas é

turados, serem furtados à participação das decisões que os atin- um exemplo de obstrução de uma política pública.

gem direta e indiretamente. A falta de debate público acerca das A participação popular e o exercício da cidadania constituem-se
questões relevantes e as ações provenientes desses debates são importantes instrumentos a serem mobilizados contra a obstrução
o marco inicial de uma trajetória que envolve mais do que uma

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das políticas públicas no âmbito da formulação, acompanhamento podemos citar a falta de discussão e a desqualificação dos debates
da implementação e avaliação das políticas públicas. em decorrência da utilização de falsas premissas; a ausência de
transparência das questões e dos argumentos; a falta de acesso (no
O debate sobre a política de cotas raciais é visto por alguns como
caso de imposições antidemocráticas) e o falso acesso (quando a
um debate bastante polêmico por se tratar de uma política de
fala de algum dos atores é ignorada) aos debates; a implementação
arena redistributiva que busca harmonizar as opressões e os privi-
enganosa (quando já se pretende a obstrução da política em uma
légios. A ideia de redistribuição gera pânico não só por seu caráter
etapa posterior); demais obstruções ideológicas e materiais (como
redistributivo, mas por trazer a compreensão dessa redistribuição
a não disponibilização de recursos humanos e materiais para a sua
como um direito. Sobre a arena redistributiva:
execução). No caso da política de cotas raciais, o principal problema
pode-se imaginar quão conflitiva é a natureza de uma ques-
a ser vencido na arena da discussão foi de cunho valorativo: o próprio
tão redistributiva, não tanto pelo resultado da política que ela
racismo em si, refletido mais uma vez no discurso da meritocracia
produz (redistribuição), mas pelas “expectativas sobre o que ela
e no desconhecimento ideológico das relações raciais.
pode vir a ser ou ameaçar. (...) Do que foi dito até aqui, podemos
A defesa das cotas raciais foi estratégica para o movimento negro.
depreender que questões específicas (relativas a determinadas
Apesar da resistência do Ministério da Educação à época, o docu-
“arenas de poder”) acabam por formatar sua base de apoio ou
mento oficial que o Brasil levou à Conferência das Nações Unidas
rejeição, e a forma pela qual essas coalizões inter-relacionam-se,
contra o Racismo, em Durban, na África do Sul, propôs a adoção
para transformá-las em políticas públicas. Por isso, afirma Lowi,
de cotas ou outras medidas afirmativas para garantir o acesso
as políticas públicas determinam a política. Elas estruturam o sis-
de negros às universidades públicas brasileiras. O documento foi
tema político, definem espaços e atores, e delimitam os desafios
aprovado e apresentado ao então presidente do Brasil Fernando
que os governos e as sociedades enfrentam (RODRIGUES, 2010).
Henrique Cardoso. O relatório elaborado pelo comitê responsá-
A política de cotas raciais é, portanto, apesar da crítica que recebe
vel, que reuniu participantes do governo e da sociedade civil e
como política neoliberal de assimilação, uma política cujos impactos
que era presidido pelo secretário de Estado de Direitos Humanos,
atingem categorias amplas. As cotas são conflitivas sobretudo do
embaixador Gilberto Vergne Saboia, continha um diagnóstico da
ponto de vista da reestruturação social. Diferentemente de políti-
situação do racismo e da discriminação no Brasil e listava medidas
cas públicas que se apresentam com caráter meramente formal
já adotadas pelo governo brasileiro e propunha novas medidas de
ou com caráter de continuidade, as políticas de cotas raciais nos
combate ao problema.
têm dado resultados práticos que dizem respeito a um problema
Apesar de não apresentar teor deliberativo, o documento buscava
visceralmente político que envolve fortes questões valorativas e,
orientar as políticas para os órgãos executivos responsáveis, como
também por esse motivo, são fortemente rebatidas.
a adoção de “medidas reparatórias” por meio de políticas públicas
Muitos são os obstáculos para a formulação e implementação de
de superação da desigualdade e previa também a criação de uma
uma política pública exitosa. Dentre os obstáculos mais comuns
secretaria de promoção da igualdade racial, hoje extinta. O docu-

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mento trazia também recomendações para combater a discrimina- da mídia, que influencia muito a formação da opinião pública e
ção contra portadores de deficiência. Este relatório foi influenciado tem se mostrado conservadora no que tange às transformações
pelo documento final da Conferência Nacional contra o Racismo e a sociais mais polêmicas; a utilização de uma linguagem rebuscada
Intolerância realizada no Rio de Janeiro em julho de 2001, a chamada e ambígua, que estimula a confusão ou o erro; a hierarquização das
“Carta do Rio”, que já trazia a frase “estabelecimento de cotas para práticas de acesso; bem como a falsa ideia de implementação e as
negros nas universidades”, que mais tarde se tornaria uma grande permanências ideológicas racistas.
pauta do movimento negro (ALBERTI & PEREIRA, 2006).
Vê-se que essa obstrução pode ser realizada sutilmente ou de forma
Ainda que a previsão legal da promoção da igualdade racial não explícita, extravagante. Por isso, é importante promover o acesso à
fosse suficiente para concretizá-la, é possível observar que a mate- discussão sobre os problemas políticos começando desde a lingua-
rialização de programas, projetos e serviços de “reparação” surgiram gem com a qual se discute e indo até os instrumentos institucionais
na medida em que o enfrentamento ao racismo passou a se tornar utilizados em sua implementação e posterior avaliação.
uma política de Estado. Se por um lado “os índices de desigualdade
Dentre as diversas crises que vivemos atualmente, a falta de discus-
da população negra se expressam por meio da constatação empírica
são do estado de coisas e a carência no diálogo entre Estado e socie-
da precariedade das condições de vida dos afrodescendentes brasi-
dade civil são os pontos que mais representam a falta de “espaços
leiros, inclusive do ponto de vista da naturalização desse fenômeno”
públicos” (encaramos aqui o espaço não só em sua dimensão física,
(JUNIOR, 2017), por outro lado é possível observar a importância de
mas também simbólica e volitiva daqueles que detém os espaços
explicitar projetos raciais das instituições, organizações e serviços
de discussão) para discutir o que nos acontece cotidianamente.
em seus planejamentos de enfrentamento ao racismo e promo-
Desse modo, soma-se à hipertrofia das políticas públicas incom-
ção da igualdade racial, o que ajuda a ultrapassar a sistemática de
preendidas ou falsamente compreendidas a pequena participação
ausência de informações ou pautada em informações enganosas.
popular em suas formulações. O sentimento frustrado de repre-
Só assim é possível compreender como as instituições se preparam
sentação também reflete a crise da participação/representação no
para receber o público cotista. Como poderíamos hoje observar o
contexto em que deveria existir uma maior correspondência entre
modo como as instituições se preparam para receber mulheres,
as carências de grupos sociais e as ações destinadas a eles.
negros e pessoas com deficiência? Como as instituições expres-
A formulação de políticas sociais, desde os espaços de discussão até
sam a sua cultura institucional? Quais são as manifestações que
a implementação, é uma arena possível de concretização da luta
apresenta ao seu público?
pela igualdade de direitos, de extensão da cidadania e da participa-
Essa desinformação ou a informação enganosa retira do jogo os ato-
ção da sociedade no esforço de assegurar os direitos dos cidadãos.
res que poderiam contra-argumentar, sugerir melhores estratégias
O conhecimento e a participação na formulação das políticas públi-
ou novas possibilidades no quadro de formulação e, principalmente,
cas são ações importantes para que os movimentos sociais possam
tentar desconstruir os argumentos preconceituosos acerca de
acompanhar o processo que vai dotar essas políticas de eficácia,
determinados temas. Contribuem para essa situação o monopólio

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analisar a sua viabilidade e os suportes disponíveis àquela política. travadas. Discussões em que os atores compreendam o que se
O conhecimento desses suportes advém também de processos de discute e se façam escutar. A formulação das políticas públicas
discussão e conhecimento antes de se tornarem consequências de deve ser pública não só devido ao caráter imperativo da ação, mas
processos decisórios. Para isso também são necessárias as pesqui- também por conta do processo democrático resultante da sua
sas e a transparência na divulgação dos dados e nas estratégias de tomada de decisão e dos atores capazes de acompanhar e avaliar
ação e organização das instituições. o seu processo.

A grande complexidade que envolve as políticas públicas (atores, Percebemos nuances de conquistas e retrocessos no cenário nacio-
interesses, ações, reações, contextos) faz delas um componente nal no que concerne à participação popular nas instituições do
sempre mutável na fluidez dos acontecimentos contemporâneos. sistema de justiça. No âmbito da Defensoria Pública, podemos citar
No processo de formulação de uma política pública, as crenças, como exemplo duas situações assimétricas: ao mesmo tempo em
os valores e as ideias sobre uma determinada questão podem ser que a ativista e socióloga Vilma Reis, figura de importância reco-
defendidos ou atacados por um grupo que pode ou não compar- nhecida pelos movimentos sociais da Bahia, ocupava o cargo de
tilhar dessas crenças, valores ou ideias (GELINSKI, 2008). ouvidora externa na Defensoria Pública da Bahia e se preparava
para ser sucedida por outra mulher negra representante de movi-
Quando falamos de questões polêmicas, como as que envolvem
mentos sociais chamada Sirlene Assis, em São Paulo tentava-se
a temática racial, sobretudo no Brasil, se faz necessário ter uma
acabar com a Ouvidoria Externa da Defensoria Pública do Estado.
sensibilidade para acompanhar o processo e, principalmente, argu-
Naquele Estado, a escolha do ouvidor externo, como nos informa
mentos sólidos para contestar as forças conservadoras. A pressão
Alderon Costa (2017) em publicação no jornal O Estado de São Paulo,
política pressupõe, portanto, um estado mínimo de organização
já elimina a participação da sociedade civil organizada:
capaz de incomodar aqueles que decidem pela relevância política
de determinada situação. No dia 13/07/2017 o Conselho Superior da Defensoria Pública do
Estado de São Paulo decidiu modificar irrevogavelmente o mo-
A formulação de uma política pública pode representar uma impo-
delo de escolha do Ouvidor-Geral Externo da instituição. O mo-
sição hegemônica ou uma pretensão social legítima. A mobilização
delo vigente até então enfatizava o protagonismo da sociedade
dos atores interessados nessa política pública se faz necessária para
civil, revelando o consenso específico em torno do qual ocorreu
representar os seus interesses e enfrentar o problema da falta de
a construção inicial da instituição. A nova forma de eleição, por
participação na formulação das políticas públicas para que, sabendo
sua vez, elimina totalmente a participação da sociedade civil
da existência delas, possa haver a compreensão, a participação e a
organizada – o processo agora será organizado apenas por de-
avaliação em seu processo.
fensores públicos, e os votantes serão indivíduos que se inscre-
A agenda pública deve ser resultante da participação de diversos
verão previamente –, escancarando a nova versão assumida pela
atores, de preferência com ampla representatividade, para que o
instituição: individualista, desarticuladora e contrária a qualquer
processo democrático valha efetivamente a partir das discussões
forma de expressão popular.

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Para além do seu impacto imediatamente prático – o próximo sentativa àqueles que sonharam a instituição muito antes deles
Ouvidor-Geral deixará de representar interesses dos setores or- sequer sonharem com o privilégio de seu substancioso salário,
ganizados de defesa dos direitos humanos e do acesso à justiça combinado com gratificações e diárias. Numa tentativa impu-
pelas populações vulneráveis – a decisão vem coroar, do ponto nemente bem-sucedida vão soterrando o engajamento que é, e
de vista simbólico, o fim de um projeto de Defensoria Pública sempre será, a marca de origem da instituição, com a narrativa
sonhado pelos defensores pioneiros conjuntamente com amplos bem-comportada da equiparação ao Poder Judiciário e ao Mi-
movimentos sociais. Nesse sentido, a eliminação integral dos nistério Público. (COSTA, 2017)
movimentos sociais do processo de escolha de sua própria repre-
Ao serem ilustrados antagonicamente, esses casos refletem uma
sentação na instituição é o signo máximo das opções políticas
conjuntura de fatores que se devem a relações de força e de poder.
e ideológicas feitas pela Defensoria, e sintetiza a sua derradeira
Compreender a política como mobilização de ações em prol de
integração à burocracia judiciária.
interesses pode nos ajudar também a identificar quais sãos os
Como se sabe, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo foi interesses manifestos e latentes de determinadas ações, discursos,
uma das últimas do país a ser implementada, à medida que instituições ou governos.
sua própria existência afrontaria interesses poderosos em nosso
Uma política pública é antes de tudo uma política e traz consigo
estado, do poder executivo sistematicamente violador de direi-
cargas valorativas e de interesse, o que nos faz problematizar mais
tos, aos advogados enquanto classe corporativa. Por isso, o fator
uma vez a hierarquia de prioridades dos governos quando decidem
decisivo para que a instituição saísse do papel, em que figurava
privilegiar algumas políticas em detrimento de outras. De acordo
como previsão constitucional, foi uma amplíssima mobilização da
com a perspectiva foucaultiana, quando um governo adota o racismo
sociedade civil, que aglutinou uma pluralidade impressionante
(na perspectiva do biopoder e não especificamente na perspectiva
de pontos de vista e de atores, congregando desde movimentos
racial de cor) como estratégia de governamentalidade e institui a
de cultura, a associações de bairro, ONGs, movimentos sociais,
partir daí as suas técnicas de normalização, ele estabelece os seus
especialistas, grupos universitários, igrejas, partidos políticos. A
dispositivos de dominação disciplinar dos corpos e regulamentar
criação da Defensoria Pública é um marco de memória coletiva
das populações; ele decide quem morre e quem vive. Antes, a partir
da luta por direitos humanos em nosso estado, à medida que
das relações de poder pautadas na soberania, decidia-se a quem
em todos os espaços da militância histórica é possível encontrar
deixava-se viver e a quem fazia-se morrer. A partir das estratégias
pessoas que participaram ativamente daquela mobilização.
modernas de governamentalidade, decide-se a quem se deixa
No entanto, não foi necessário mais do que dez anos de existên- morrer e quem se faz viver (FOUCAULT, 2000).
cia para que uma camada da casta burocrática que se apossou
Perguntamos: a quem deixamos morrer e a quem fazemos viver
da instituição iniciasse um processo de revisão desse passado
com as ações, discursos e ideologias disseminados pelas instituições
histórico, impondo ilegitimamente, sem qualquer debate subs-
que compõem o sistema de justiça?
tancialmente democrático, a sua visão de democracia repre-

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A estruturação das políticas públicas e a ausência de garantias e Devemos, contudo, somar a esse raciocínio a ideia de que o Judiciário
proteção a direitos, bem como a ameaça a esses direitos, são fenô- brasileiro não surgiu para atender à população negra, ou ainda, de
menos que não se tratam de performances isoladas que produzem que quando as instituições do Judiciário foram implementadas
e reproduzem o racismo, afetando diretamente as condições de vida os negros eram majoritariamente objetos de direitos comparados
e de morte da população negra e não negra no Brasil. Aos negros aos bens móveis, aos semoventes. Como pensar, portanto, a con-
ainda se faz morrer. secução do negro enquanto um sujeito ético no Brasil se durante
muito tempo sequer poderíamos falar do negro enquanto sujeitos
Tomamos o contexto histórico-político do Brasil a partir de uma
de direito? Precisamos questionar a todo momento as permanên-
perspectiva construtivista a fim de compreender as razões e prio-
cias históricas decorrentes da escravidão e do racismo cotidiano
ridades do Estado e das instituições e o seu papel na reprodução e
estrutural, institucional e relacional.
enfrentamento de opressões raciais. Buscamos compreender como
a (não) implementação de políticas públicas no Brasil, sobretudo no Aqui estamos falando mais do que de uma relação que estabelece
tocante aos marcadores sociais da diferença, serve para aprofundar uma hierarquia baseada em raça; estamos falando da necessidade
as desigualdades e comprometer o desenvolvimento da popula- de enfrentamento de uma realidade complexa que exclui, explora
ção negra, mantendo os privilégios da “branquitude” na medida e extermina os sujeitos a partir de múltiplas dimensões identitárias,
em que favorece a perpetuação das ideologias e práticas racistas. relacionais, institucionais e estruturais. Pensar o sistema de justiça
no Brasil implica pensar a racialização de todos os debates como
Desse modo, para pensar rupturas a partir de dentro de uma estru-
tarefa imprescindível.
tura racista, é preciso assumir a existência de alguns mitos em
nossa sociedade e tentar desmistificá-los. O primeiro deles seria O racismo, enquanto experiência cotidiana, opera a partir das práti-
o próprio mito da democracia racial, que até hoje não obteve um cas naturalizadas, projetadas e incorporadas nas dinâmicas sociais
“direito de resposta eficaz”, relacionando-se com outros mitos como e introjetadas nas subjetividades das pessoas, tornando-se muitas
por exemplo o mito da meritocracia ou o mito da neutralidade das vezes imperceptíveis, mas que se reproduzem em diversas instân-
instituições de justiça. cias sociais. O racismo, enquanto experiência cotidiana, opera a
partir das organizações institucionais que pautam a manutenção
A hegemonia capitalista nos provoca a refletir sobre a problemática
das estruturas de poder, de pensamento, de ideologia e de ação.
do reducionismo econômico no que concerne à ponderação dos
marcadores sociais da diferença e a assunção de um pensamento Visamos problematizar a dimensão formal jurídico-legal, que não
interseccional. Nesse caso, precisamos compreender que as cate- é suficiente para dar conta da problemática do racismo dentro do
gorias raça, classe e gênero estão conectadas por questões estrutu- sistema de justiça no Brasil. Por isso, precisamos propor um novo
rais e estruturantes decorrentes do modo de produção escravista, olhar sobre o sistema de justiça e também sobre o racismo. É neces-
misógino, patriarcal e elitista sob as quais se configurou o Brasil. sário pensar o enfrentamento ao racismo institucional desde a com-
preensão do conceito até a execução de políticas públicas a serem

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implementadas, passando pela cultura jurídica das instituições e Para isso, nos colocamos como objetivos específicos conhecer e
o modo como se organizam (ou não) para responder ao racismo. compreender como se estruturam as Defensorias Públicas dos

O enfrentamento ao desconhecimento ideológico do racismo no Estados no enfrentamento ao racismo e teorizar criticamente os

sistema de justiça implica a racialização dos debates no Judiciário, resultados da análise da (não) implementação de estruturas, proje-

a visibilização das opressões por meio da produção de dados e tos, núcleos, atividades e programas de enfrentamento ao racismo,

pesquisas, da produção de memórias das lutas e conquistas dos apresentando recomendações com base nas discussões teóricas e

movimentos sociais, da transparência institucional, de políticas afir- observações empíricas.

mativas de integração e de mudanças da estrutura institucional, do Criola e Fórum Justiça estimam que a presente pesquisa seja orien-
combate a mitos como o da democracia racial e de uma atuação tada para intervenção, podendo contribuir para a formulação e
explícita e assumidamente antirracista. reforma de políticas de enfrentamento ao racismo dentro ou a
partir das Defensorias Públicas. Além disso, a presente pesquisa
B) Proposta de pesquisa e metodologia de apresenta uma dimensão teórico-crítica, pois está orientada a
trabalho problemas de ordem política que são observáveis também no
mundo jurídico. Deste modo, a pesquisa visa conclusões críticas
Com o intuito de produzir um diagnóstico acerca do modo como as que permitam melhorar a sua estruturação e seu funcionamento
Defensorias Públicas Estaduais se estruturam e se organizam para e não simplesmente avaliativas.
o enfrentamento do racismo, o reconhecimento das desigualdades
Partindo do pressuposto de que as Defensorias Públicas Estaduais
raciais e a promoção de igualdade racial, Criola e Fórum Justiça se
possuem interesse em “desenvolver, monitorar e avaliar seus pro-
propuseram a realizar uma reflexão empírico-teórica qualitativa.
cessos de eliminação do Racismo Institucional na totalidade de suas
Esta pesquisa se deu com base em análise documental institucional,
ações e processos” (GELEDÉS, 2013b, p. 44), pretendemos observar
observação em campo, bem como coleta de dados secundários e
“a vigência, pertinência e adequação das iniciativas de eliminação
produção de dados primários a partir da aplicação predominante
do Racismo Institucional nas políticas de proteção social” (GELEDÉS,
de questionários e realização acessória e incidental de entrevistas
2013b, p. 44) desta instituição. Em outras palavras, buscaremos
semiestruturadas.
observar os processos de criação e implementação de “medidas e
Deste modo, com o objetivo de observar e analisar como as mecanismos capazes de quebrar a invisibilidade do racismo insti-
Defensorias Públicas têm enfrentado e reconhecido o racismo e tucional, de romper a cultura institucional” (GELEDÉS, 2013b, p. 20).
as suas dinâmicas de exclusão, desigualdade e opressão, e como
Propomos, portanto, realizar a presente pesquisa predominante-
tem (ou não) promovido a igualdade racial, lançamo-nos ao desafio
mente a partir da análise da estrutura organizacional das Defensorias
de compreender: “as Defensorias Públicas possuem dinâmicas de
Públicas dos Estados e de como o racismo institucional nela se
enfrentamento ao racismo dentro do sistema de justiça brasileiro?
inscreve. Para isso, no que concerne à construção das bases teóri-
Como funcionam?”
cas da pesquisa e da produção de dados, utilizaremos como base

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os indicadores trazidos no Guia de Enfrentamento ao Racismo - Adoção de critérios de admissão e promoção baseados na
Institucional: necessidade de promoção da diversidade e da equidade.

- Periodicidade de estudos e avaliações internas sobre inci- - A instituição utiliza periodicamente ações para identificar a
dência do racismo. presença do racismo dentro da instituição? (...)

- Meta de enfrentamento ao racismo estabelecida e monito- - Todos os integrantes das equipes de trabalho informados e
rada pela direção da instituição. comprometidos com os princípios de promoção da equidade
e do enfrentamento do racismo.
- Existência de portaria interna ou outro tipo de regulamento
para o enfrentamento do RI. - Presença nas equipes de mulheres e homens heterossexuais,
homossexuais, travestis e transexuais, de diferentes gerações, de
- Comunicação institucional com diferentes linguagens (segundo
pessoas com deficiência e outros.
gênero, raça e cultura) e veículos acessíveis. (...)
- Percentual de mulheres, homens heterossexuais, homossexuais,
- Instância instalada em nível hierárquico superior e funcio-
travestis e transexuais, de diferentes gerações e condição física
nando adequadamente.
e mental com estabilidade funcional.
- Dotação orçamentária específica e livre de contingenciamentos
- Metas diferenciadas de ocupação de cargos de direção se-
- Equipe qualificada com diversidade de gênero, raça e cultura.
gundo gênero, raça, identidade de gênero.
- Instância independente, em nível hierárquico superior e com
- Processos de monitoramento e avaliação periódica do alcance
capacidade de indução vertical e horizontal das ações.
das metas, instalados. (...)
- Redução do racismo institucional como um dos indicadores
- Equipes treinadas para coleta da informação e preenchi-
da qualidade da ação da direção da instituição e da prestação
mento dos formulários. Informações objetivas e acessíveis
de serviços. (...)
acerca do significado desta informação, disponíveis para os
- Proporção de mulheres e homens negros, indígenas e ou- diferentes públicos.
tros ocupando posições de relacionamento com o público em
- Calendário de avaliação periódica da qualidade da coleta e
relação à sua proporção na população local.
análise das informações estabelecido. Participação dos dife-
- Política institucional de incentivo à qualificação e ocupação rentes grupos populacionais na análise e avaliação da coleta e
de cargos superiores por mulheres negras, indígenas e outras, das informações.
aprovada e implantada.
- Resultados da avaliação das metas de enfrentamento ao
- Mecanismos afirmativos para inclusão de mulheres negras, racismo alimentando o ciclo seguinte de planejamento. (...)
indígenas e outras na ocupação dos postos de direção insti-
tucional.

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- Percentual de respostas afirmativas quanto ao acolhimento de - Calendário de avaliação periódica da qualidade da coleta e
diferentes sujeitos colhidas pelas ouvidorias, segundo gênero, análise das informações conhecido por toda a equipe e pela
raça, identidade de gênero etc. população. (...)

- Percentual de integrantes da equipe capazes de apresentar - Análise das informações apresentadas às equipes e ao público.
informações consistentes acerca do público e sua diversidade.
- Planejamento institucional baseado em dados atualizados
- Existência de protocolos de ação (estabelecimento de condutas pelas análises.
e procedimentos) adequados às linguagens e visões de mundo
- Avaliações das ações de enfrentamento ao racismo e de eli-
de cada grupo populacional.
minação das disparidades raciais divulgadas ampla e periodi-
- Percentual de respostas afirmativas a esta questão colhidas camente pelos diferentes canais de comunicação institucional.
pelas ouvidorias, segundo grupos populacionais.
- Grau de informação dos diferentes grupos acerca do calendário
- Grau de incorporação das recomendações e/ou deliberações de apresentação da prestação de contas.
das diferentes instâncias de participação nas políticas e ações
- Listagem de canais de divulgação ampla e diversificada. (GE-
institucionais. (...)
LEDÉS, 2013a, p. 17-25) [Grifos nossos]
- Ouvidoria instalada, acessível e com divulgação ampla.
Pretendemos assim analisar a organização das Defensorias Públicas
- Grau de participação de mulheres, homens heterossexuais,
dos Estados no enfrentamento ao racismo buscando apoiá-la com
homossexuais, travestis e transexuais, de diferentes gerações e
produção de dados e com reflexões conceituais e estratégicas.
condição física e mental na definição da política de comunicação
Realizamos, deste modo, um estudo analítico e prescritivo conside-
institucional.
rando prioritariamente as abordagens crítico-indutivas, a produção
- Proporção de ocupação de cargos na instituição, nos diferentes e a análise de dados.
níveis funcionais, por representantes dos diferentes grupos raciais
O controle de validade dos dados foi realizado a partir de proce-
segundo sua participação na população geral. (...)
dimentos de triangulação: a) de pesquisadores e membros da
- Ações para eliminação das disparidades raciais e do racismo sociedade civil, com reuniões para construir a pesquisa de maneira
como pauta permanente das reuniões de direção da organi- participativa e democrática; b) de teorias, considerando várias pro-
zação. duções sobre a temática racial e; c) interna, por meio dos questio-
- Metas de eliminação das disparidades raciais e de enfrenta- nários aplicados e pela realização de entrevistas semiestruturadas.
mento do racismo institucional monitoradas periodicamente A nossa principal técnica de pesquisa utilizada para o levantamento
pela direção. e produção de dados foi a confecção e aplicação dos questionários
- Indicadores de efetividade da política segundo raça/cor, sexo online, mas também procedemos à realização de entrevistas abertas
e identidade de gênero. e/ou semiestruturadas de maneira acessória à pesquisa bibliográfica

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e documental. Também realizamos uma fase de pesquisa experi- (ANADEP)[2] e no site de cada Defensoria Pública Estadual, um ofício
mental orientada, estimulando eventos e discussões para promover em nome de Criola e Fórum Justiça com um login para acesso e
a discussão da temática com estudiosos e defensores públicos. uma senha exclusiva para a Defensoria Pública de cada Estado da
Federação, e Distrito Federal e Territórios. Os 27 questionários foram
A amostra utilizada foi híbrida. Os dados primários foram obtidos por
endereçados à Defensora ou Defensor Público-Geral de cada Estado.
entrevistas e por informações fornecidas pelos próprios órgãos por
Observamos, entretanto, que alguns endereços de e-mail estavam
meio de questionários online endereçados às Defensorias Públicas
errados. Alguns e-mails voltaram e outros não foram respondidos.
de cada Estado da Federação e também à Defensoria Pública do
Distrito Federal e Territórios. A esses se somam dados secundários Em decorrência das dificuldades de contato por e-mail e por tele-
provenientes de fontes bibliográficas, legislativas e também regu- fone e do baixo acesso ao questionário nos dois meses seguintes,
lamentos e regimentos próprios da Defensoria Pública, além da optamos por colocar em prática algumas estratégias para vencer
observação empírica da atuação da Defensoria Pública do Rio de a dificuldade de obter alguma resposta ao questionário.
Janeiro e do seu Núcleo Contra a Desigualdade Racial (NUCORA).
No dia 29 de junho de 2018, em vista da reunião do Colégio de
O questionário foi formulado com o intuito de observar como se Defensores Públicos-Gerais (CONDEGE) ocorrida na sede da
organiza a Defensoria Pública dos Estados. Para isso, nos pautamos Defensoria Pública do Rio de Janeiro, conseguimos um espaço na
na Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994, que organiza pauta de reunião e realizamos uma sucinta apresentação da pes-
a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios quisa. Entregamos uma via impressa do questionário para cada um
e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, e dá dos presentes com a explicação correlata e solicitamos uma lista para
outras providências. Existe, dessa maneira, uma correlação entre as que os mesmos preenchessem os e-mails e telefones através dos
categorias utilizadas para a elaboração do questionário e as Normas quais poderíamos entrar em contato. Nos questionários distribuídos
Gerais para a Organização da Defensoria Pública dos Estados. em mãos disponibilizamos também o contato das organizações e
da pesquisadora responsável pelo questionário.
Com base nesta metodologia, o questionário de pesquisa “Políticas
de igualdade racial e combate ao racismo nas Defensorias Públicas Em posse dos novos endereços de e-mail os ofícios foram reen-
dos estados e o enfrentamento ao racismo institucional no sistema caminhados nos meses de junho e julho de 2018. Seguimos um
de justiça” (Anexo 1) foi elaborado com exclusividade para a con- protocolo de comunicação por telefone a fim de nos certificar que
sultoria “Sistema de Justiça em Foco: dinâmicas de reprodução, todas as Defensorias tinham recebido e conseguido ter acesso aos
combate ao racismo e promoção da igualdade racial” e após ser questionários. A comunicação se estabeleceu com dificuldade
aprovado e testado foi alocado em área restrita no site do Fórum em alguns casos nos quais as Defensorias não sabiam informar se
Justiça em abril de 2018. tinham recebido o questionário, quem havia recebido e quem seria
a pessoa responsável por respondê-lo. Ligamos em média cinco
No dia 24/04/2018 enviamos, conforme endereços eletrônicos dispo-
vezes para cada Defensoria.
nibilizados no site da Associação Nacional de Defensores Públicos
[2] https://www.anadep.org.br/wtk/pagina/defensorias_nacionais

62 63
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Encerramos o recebimento das respostas do questionário no dia questionário e/ou se estavam precisando de alguma orientação
19/12/2018. Analisamos todas as respostas de questionários rece- para respondê-lo.
bidos. Obtivemos respostas consistentes de nove Estados e além Nessa etapa da pesquisa observamos que existe um problema de
disso realizamos entrevistas semiestruturadas com alguns defen- acesso à informação nas Defensorias Públicas dos Estados. Ainda
sores, ouvidores, diretores de núcleos e responsáveis pela Escola da que tenhamos lançado mão de todos os recursos mencionados
Defensoria. Os questionários enviados pelas Defensorias Públicas para que as Defensorias Públicas acessassem e respondessem ao
dos Estados encontram-se nos anexos. questionário, as Defensorias Públicas dos Estados do Alagoas, Amapá
Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Pernambuco,
C) Análise das respostas ao questionário Piauí, Rio Grande do Sul e Santa Catarina não o acessaram, forne-
cendo 0% das informações solicitadas.
Neste tópico iremos analisar as respostas dos questionários que
foram acessados e enviados à Criola e ao Fórum Justiça pelas As demais Defensorias Públicas acessaram o questionário e nos
Defensorias Públicas dos Estados do Acre, Amapá, Bahia, Ceará, ofereceram respostas discrepantes: a Defensoria Pública da Bahia e
Distrito Federal e Territórios, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas a Defensoria Pública do Maranhão responderam 2% do questioná-
Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, rio; a Defensoria Pública do Acre e a Defensoria Pública do Distrito
São Paulo, Sergipe e Tocantins. Todas as respostas foram observa- Federal e Territórios responderam 3% do questionário; a Defensoria
das para a confecção do presente relatório, independentemente Pública do Rio Grande do Norte respondeu 5% do questionário;
da sua consistência. a Defensoria Pública do Ceará respondeu 6% do questionário; a
Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul respondeu 18% do ques-
As Defensorias Públicas dos Estados de Alagoas, Amapá, Espírito
tionário; a Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul respondeu 18%
Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio
do questionário; a Defensoria Pública de Roraima respondeu 27%
Grande do Sul e Santa Cataria sequer acessaram o questionário,
do questionário; a Defensoria Pública do Pará 36% do questionário;
não tendo submetido qualquer tipo de resposta ou justificativa.
a Defensoria Pública de Sergipe respondeu 64% do questionário; a
Em suma, Criola e Fórum Justiça expediram ofícios internos ende-
Defensoria Pública do Amazonas e a Defensoria Pública de Minas
reçados à chefia institucional de cada Defensoria Pública Estadual;
Gerais responderam 68% do questionário; a Defensoria Pública de
realizaram uma etapa de tentativa de contato e acompanhamento
Rondônia respondeu 70% do questionário; a Defensoria Pública do
por ligações telefônicas; realizaram a entrega do questionário
Tocantins respondeu 76% do questionário; a Defensoria Pública de
impresso aos Defensores Públicos-Gerais na reunião do Colégio
São Paulo respondeu 89% do questionário; e a Defensoria Pública
de Defensores Públicos Gerais (CONDEGE) realizada na sede da
do Rio de Janeiro respondeu 92% do questionário.
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro na reunião do dia
Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República
19/12/2018; e realizaram também contato e acompanhamento por
Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região
e-mail contínuos para saber se as Defensorias haviam recebido o
com a indicação da porcentagem das respostas ao questionário.

64 65
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Os algarismos romanos correspondem às perguntas contidas


no questionário sobre: I) Instituição e composição dos quadros
da Defensoria Pública do Estado; II) Composição dos quadros da
administração da Defensoria Pública do Estado; III) Formação; IV)
Atendimento ao Público; V) Atuação em conflitos coletivos, ações
civis públicas e sistemas internacionais de proteção; VI) Núcleos
especializados; VII) Produção de dados e pesquisas; VIII) Outras
informações.

Abaixo de cada algarismo romano, o círculo vazio indica os itens


não respondidos pelas Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário de volta pela plataforma do site. O círculo
marcado com um “X” representa as partes do questionário em que
nenhuma subquestão do item foi respondida pelas Defensorias
Públicas que submeteram o questionário. O círculo preenchido
representa as partes do questionário em que pelo menos uma sub-
questão ou a totalidade do item foi respondida pelas Defensorias
Públicas que submeteram o questionário. Cada item representa
um universo de subquestões que serão exploradas com detalhes
na análise a seguir das respostas ao questionário.

66 67
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1

Respostas ao questionário
por Defensoria Pública

I VII VIII
AC
I VII VIII
AM

27% 0% I VII VIII


AP

I VII VIII
RR

I VII VIII
PA
68%
I VII VIII
76% TO
36%
3% I VII VIII
70% RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

68 69
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1

Respostas ao questionário
por Defensoria Pública
I VII VIII
MA

I VII VIII
CE

I VII VIII
RN
2% 5%
6% I VII VIII
PB
0%

0% 0%
PE

0% AL
2%
64% SE

BA

PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

70 71
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1

Respostas ao questionário
por Defensoria Pública

MG
68%
SP

ES
0%

RJ

89%
92%

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

72 73
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1

Respostas ao questionário
por Defensoria Pública

0%

PR
0%
SC

RS
0%

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

74 75
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1

Respostas ao questionário
por Defensoria Pública

MT
0%
MS

0% 3% DF

GO

14%

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

76 77
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Considerações analíticas
Observamos que há dificuldade de acesso à informação em grande
parte das Defensorias Públicas Estaduais, tanto pela dificuldade
de contato com a própria instituição pelos meios fornecidos ao
público quanto pela disponibilidade e capacidade da instituição
em fornecer as informações solicitadas. As Defensorias Públicas dos
Estados, em sua maioria, não possuem os dados atualizados para
que o público possa acessá-la de maneira eficaz e não respondem
a contento as demandas de informações solicitadas.

A extinção da Secretaria de Reforma do Judiciário, órgão do Ministério


da Justiça que oferecia diagnósticos sobre o funcionamento do
sistema de justiça, inclusive sobre as Defensorias Públicas, repre-
sentou uma perda na interlocução entre o sistema de justiça e a
sociedade civil no que concerne à obtenção de dados e também às
demais políticas de acesso à justiça e iniciativas de aperfeiçoamento,
transparência e valorização das instituições do Judiciário e afins.

Nesse sentido, a ausência desse importante órgão que observava


e avaliava o sistema de justiça implica para entidades como a
Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (ANADEP)
e o Colégio de Defensores Gerais (CONDEGE) a necessidade de
proatividade na execução de funções suplementares, incluindo
a observação, acompanhamento, produção e disponibilização de
informação aos profissionais e ao público em geral, sobretudo
nesse contexto em que órgãos da administração da justiça estão
comprometidos.

O cenário de discrepância entre as Defensorias Públicas Estaduais


ainda é grande, o que pode ser percebido nas taxas de respostas
de cada Estado e na densidade das respostas oferecidas. A institu-
cionalidade da Defensoria Pública é recente e em muitos Estados
a instituição precisa de maior atenção para que a sua organização
seja eficaz.
78 79
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

PARTE I – INSTITUIÇÃO E COMPOSIÇÃO DOS Neste tópico analisaremos as respostas às treze (13) perguntas do
QUADROS DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ES- item I do questionário: I) Instituição e composição dos quadros da
TADO Defensoria Pública do Estado. As perguntas do item I do questio-
nário inquiriram sobre:

1.1) Identificação do Estado

1.2) Qual a data de instituição da Defensoria Pública do Estado?

1.3) Quantos Defensoras e Defensores Públicos compõem os


quadros da Defensoria Pública do Estado? (Com distinção entre
gênero e raça/cor)

1.4) A Defensoria Pública do Estado conta com política de ações


afirmativas para o ingresso de defensores/defensoras? (Se sim,
em quais modalidades? Qual a data da instituição? Qual a quan-
tidade de ingressantes por cada modalidade de cotas?)

1.5) Espaço para anexar o hiperlink do último edital de seleção


de defensores/defensoras

Parte superior do formulário

1.6) Quantos servidores compõem os quadros da Defensoria


Pública do Estado? Obs: Entende-se por servidores os concursa-
dos, cedidos e/ou assimilados, extraquadros e ingressantes por
modalidades distintas de concurso público, exceto terceirizados.
(Com distinção entre gênero e raça/cor)

1.7) Dentre os servidores e servidoras acima descritos quantos


são pessoas com deficiência?

1.8) A Defensoria Pública do Estado conta com política de ações


afirmativas para o ingresso de servidores e servidoras? (Se sim,
em quais modalidades? Qual a data da instituição? Qual a quan-
tidade de ingressantes por cada modalidade de cotas?)

80 81
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

1.9) Espaço para anexar o hiperlink do edital de seleção de ser-


vidores

Parte superior do formulário

1.10) Quantos terceirizados compõem os quadros da Defensoria


Pública do Estado nesta capital? (Se sim, em quais modalidades?
Qual a data da instituição? Qual a quantidade de ingressantes
por cada modalidade de cotas?)

1.11) Quantos estagiários e estagiárias compõem os quadros da


Defensoria Pública do Estado nesta capital? (Com distinção entre
gênero e raça/cor)

1.12) A Defensoria Pública do Estado conta com política de ações


afirmativas para o ingresso de estagiários e estagiárias? (Se sim,
em quais modalidades? Qual a data da instituição? Qual a quan-
tidade de ingressantes por cada modalidade de cotas?)

1.13) A Defensoria Pública deste Estado possui outras políticas de


ações afirmativas? Quais?

Desse modo, na tabela abaixo temos a representação dos Estados


da República Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios
por região, com as respostas ao item 1 - Instituição e composição dos
quadros da Defensoria Pública do Estado. Os números correspon-
dem aos sub-itens da questão I ( que varia do 1.1 ao 1.13 ). O círculo
vazio indica os itens não respondidos pelas Defensorias que não
acessaram e não submeteram o questionario de volta pela plata-
forma do site. O círculo marcado com um X representa as partes do
questionário em que nenhuma subquestão do item foi respondida
pelas Defensorias Públicas que submeteram o questionário. O cír-
culo preenchido representa as partes do questionário em que pelo
menos uma subquestão ou totalidade do item foi respondida pelas
Defensorias Públicas que submeteram o questionario.

82 83
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2

Respostas ao “Item I – Instituição e


composição dos quadros da Defensoria
Pública do Estado”

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AC
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AM

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AP

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RR

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PA

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
TO

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

84 85
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2

Respostas ao “Item I – Instituição e


composição dos quadros da Defensoria
Pública do Estado”
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
MA

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
CE

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RN

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PB

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PE

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
AL

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
SE

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
BA

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

86 87
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2

Respostas ao “Item I – Instituição e


composição dos quadros da Defensoria
Pública do Estado”

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
MG

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
SP

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
ES

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

88 89
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2

Respostas ao “Item I – Instituição e


composição dos quadros da Defensoria
Pública do Estado”

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
PR

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
SC

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

90 91
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2

Respostas ao “Item I – Instituição e


composição dos quadros da Defensoria
Pública do Estado”

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
MT

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
MS

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
DF

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 1.10 1.11 1.12 1.13
GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

92 93
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Na parte I do questionário analisamos a composição dos quadros da Espírito Santo LC 28/1992; LC 55/1994
Defensoria Pública com base nas declarações de gênero e de raça/
Goiás 19/04/2005 (1ª convocação de con-
cor dos defensores e defensoras, servidores e servidoras, estagiários
cursados em 2015)
e estagiárias, e terceirizados e terceirizadas. Também solicitamos
Maranhão 11/01/1994 (1ª convocação de con-
a data da instituição de políticas de ações afirmativas para cada
cursados em 2001)
cargo/ocupação mencionado e a quantidade de ingressantes por
Mato Grosso 29/03/1999
cada modalidade.
Mato Grosso do Sul 30/10/1990
INSTITUIÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA DOS ESTADOS
Minas Gerais 04/08/1976
Na questão 1.1 do questionário solicitamos a identificação do Estado Pará 26/12/1985
correspondente e a questão 1.2 a data de instituição da Defensoria Paraíba LC 39/02 (regulamentação
Pública. Com a resposta das Defensorias e com base em outras 15/03/2002)
pesquisas conseguimos sistematizar as datas nas quais foram ins- Paraná LC 55/1991 institui; LC 136/2001
tituídas as Defensorias Públicas dos Estados: organiza
Pernambuco LC 20/98 (regulamentação
17/11/2003)
Defensorias Públicas dos
Data de instituição Piauí 08/08/1983
Estados
Rio de Janeiro 12/05/1977
Acre 24/07/2001 Rio Grande do Norte 07/07/2003
Alagoas 20/07/2001 Rio Grande do Sul 05/1994
Amapá 01/10/1991 (1ª convocação de con- Rondônia 26/07/2006
cursados em 2019) Roraima 19/05/2000
Amazonas 30/03/1990 [3]
Santa Catarina 02/08/2012
Bahia 26/12/1985 São Paulo 09/01/2006
Ceará 28/04/1997 Sergipe 20/12/1994
Distrito Federal e Territórios 17/12/2012 Tocantins 22/12/2004

[3] As Defensorias Públicas dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará, Ama- É possível observar uma discrepância nas datas de instituição das
zonas, Sergipe, Ceará, Roraima, Rio Grande do Norte, Tocantins, São Paulo e Rondônia
informaram as datas da sua instituição por meio de respostas ao questionário As De- Defensorias Públicas dos Estados. A cronologia ilustrada pelo IPEA
fensorias Públicas dos demais Estados não responderam a este questionamento via (2019) nos apresenta cinco fases nas quais pode ser percebido o
questionário e realizamos buscas nos sites oficiais das instituições, cujos links estão
nas referências. lento, gradual e discrepante processo de criação e instituição das

94 95
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Defensorias Públicas dos Estados desde a década de 50, com a Lei GRÁFICO 2
Federal n. 1.060/1950, que possuía o texto embrionário estabelecendo
que «os poderes públicos federal e estadual concederão assistência Criação das Defensorias
Públicas no Brasil: uma
judiciária aos necessitados nos termos da presente Lei» (art. 4º).
Até os anos 80 seis Defensorias haviam sido criadas e dos anos 80
aos anos 90 mais dez Defensorias foram criadas. Nesse intervalo
de tempo temos a promulgação da Constituição Federal, que esta-
cronologia
beleceu em seu art. 5º, LXXIV que «o Estado prestará assistência
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos» e reconheceu (artigo 134, CF) a Defensoria Pública como
«instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbin-
do-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos
necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV». Da década de 90 até os
anos 2000, mais oito Defensorias foram criadas. No ano de 2004,
a Emenda Constitucional n. 45 assegurou às Defensorias Públicas
Estaduais autonomia funcional e administrativa, dando-lhes tra-
tamento equiparável ao da Magistratura e do Ministério Público. A
partir de 2010 foram criadas as Defensorias Públicas nos Estados do
Paraná, em 2011, e de Santa Catarina, em 2012, com a Lei Orgânica
da Defensoria Pública em ambos os Estados. 2011 e 2012 foram os
anos em que as resoluções AG/RES. 2714 (XLII-O/12) e AG/RES 2656
(XLI-O/11) foram aprovadas por unanimidade na Assembleia Geral
da Organização dos Estados Americanos (OEA) “recomendando a
todos os países-membros a adoção do modelo público de Defensoria
Pública, com autonomia e independência funcional” (IPEA, 2019).

O gráfico da criação das Defensorias Públicas no Brasil apresenta


a cronologia a seguir:

Fonte: III Diagnóstico Defensoria Pública no Brasil/MJ e Leis Orgânicas das Defensorias Públicas
de Goiás, Paraná e Santa Catarina.

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Apesar de em 2012 todas as Defensorias Públicas já terem sido informada de defensoras e defensores públicos que compõem os
criadas, 4 delas ainda não haviam sido instaladas (Amapá, Goiás, quadros das Defensorias Públicas dos Estados, observamos a exis-
Paraná e Santa Catarina), com a grande maioria dos cargos ainda tência de paridade de gênero, exceto no Estado do Rio de Janeiro,
a serem providos. Observa-se que, mesmo após a promulgação que informa uma proporção quase duas vezes maior de defensoras
da Constituição de 1988 e a criação das Defensorias Públicas nos mulheres, e Rondônia, que apresenta uma proporção de menos da
Estados brasileiros, muitos ainda são os obstáculos com relação à: metade de mulheres. Observamos, ainda, um desconhecimento
I) sua implantação, II) necessidade de ampliação da cobertura ter- com relação à raça/cor das defensoras e defensores. Nos Estados
ritorial, devido ao grande número de comarcas não atendidas, e III) em que é possível conhecer a raça/cor dos funcionários, observa-
grande quantidade de cargos não providos, ainda que já existentes mos, em regra, uma sobrerrepresentação de pessoas brancas e
(IPEA, 2019). Somamos a esses obstáculos as questões próprias uma sub-representação de pessoas negras, que é acentuada na
da estruturação e organização da Defensoria em cada sede. Em medida em que observamos as hierarquias dos diferentes tipos
decorrência do índice de evasão por remuneração e por condições de cargos e ocupações.
de trabalho inadequadas, a Defensoria passou a adotar em alguns
Com relação ao gênero das defensoras e defensores públicos, obte-
Estados planos de carreira e de equiparação de salários, mas que
mos a resposta das Defensorias Públicas dos Estados de Tocantins,
ainda não solucionou o problema dos cargos providos.
São Paulo, Sergipe, Roraima, Rondônia, Rio de Janeiro, Pará, Minas
Gerais e Amazônia. A partir dos dados informados formulamos o
Composição dos cargos na Defensoria Pública dos seguinte gráfico:
estados
Além dos problemas da recente institucionalização das Defensorias
Públicas Estaduais, observamos a existência de grande disparidade
no que concerne à representatividade na composição dos cargos e
funções no tocante à raça/cor dos seus funcionários, situação que
é agravada na medida em que observamos a ocupação dos cargos
em função da hierarquia institucional administrativa.

Defensores e Defensoras nas Defensorias Públicas dos


estados
Na questão 1.3 do questionário solicitamos às Defensorias a identi-
ficação da quantidade de defensores por gênero (homens, mulhe-
res), raça/cor (brancas/brancos, pretas/pretos ou pardas/pardos)
e titularidade (titulares, substitutos). Com relação à quantidade

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GRÁFICO 3

Quantidade de Defensoras/Defensores
Públicos por Estado segundo o sexo

População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas Estaduais (N) = Geral – 2.809, AC – N/I, AL


– N/I, AM – 100, BA – N/I, CE – N/I, DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 650, MS – N/I, MT – N/I,
PA – 246, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I, PR – N/I, RJ – 777, RN – N/I, RO – 62, RR – 44, RS –N/I, SC – N/I,
SE – 93, SP – 724, TO – 113.

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De um universo conhecido de 2809 defensoras e defensores públicos que a predominância nos cargos de alto escalão, quando obser-
estaduais, 1515 (53,53%) são mulheres e 1294 (46,07%) são homens. vada a composição dos quadros da administração das Defensorias
Abaixo segue a proporção em cada Defensoria Pública: Públicas Estaduais, é masculina (ver parte II).

»» Na Defensoria Pública do Tocantins 60 (53,1%) são mulheres e Ao desmembrarmos os dados obtidos acima para além da variá-
53 (46,9%) homens; vel de gênero, podemos ser ainda mais precisos e afirmar que a
Defensoria Pública Estadual é uma instituição composta majori-
»» Na Defensoria Pública de São Paulo 384 (53,04%) são mulheres
tariamente por mulheres brancas. Observemos a tabela a seguir[4]
e 340 (46,96%) homens;

»» Na Defensoria Pública de Sergipe 47 (50,54%) são mulheres e


46 homens (49,46%);

»» Na Defensoria Pública de Roraima 23 (52,3%) são mulheres e 21


(47,7%) são homens;

»» Na Defensoria Pública de Rondônia 15 (24,2%) são mulheres e


47 (75,8%) são homens;

»» Na Defensoria Pública do Rio de Janeiro 517 (66,37%) mulheres


e 260 (33,63%) homens;

»» Na Defensoria Pública do Pará 109 (44,49%) são mulheres, 137


(55,51%) homens;

»» Na Defensoria Pública de Minas Gerais 316 (48,62%) são mulheres


e 334 (51,38%) homens;

»» Na Defensoria Pública do Amazonas 44 (44%) são mulheres e


56 (56%) homens. As demais Defensorias Públicas não respon-
deram a este questionamento.

Apesar de o foco do nosso trabalho ser a análise da organização


das Defensorias Públicas dos Estados a partir da estrutura para o
enfrentamento ao racismo e da variável racial, a variável “gênero”
nos chamou a atenção. É possível dizer com base nos dados levanta-
dos que a Defensoria Pública Estadual é uma instituição composta [4] Algumas Defensorias nos indicaram apenas universos parciais de defensores e
defensoras segundo a sua “raça/cor”, o que nos levou a obter por exclusão a categoria
majoritariamente por mulheres. Contudo, observaremos a seguir de defensores e defensoras com “raça/cor” não identificada nos questionários envia-
dos.

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TA B E L A 4

Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas por Estado segundo
gênero e raça/cor

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Observada a raça/cor da quantidade informada de defensoras e


defensores, os dados demonstram que este é um dado majorita-
riamente desconhecido pelas Defensorias. Apenas as Defensorias
Públicas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Roraima e
Rondônia apresentaram dados desmembrados em raça/cor sobre
os seus defensores e defensoras. São Paulo apresenta um quadro
de 16 (2,21%) mulheres negras defensoras, 16 (2,21%) homens negros
defensores, 209 (28,87%) mulheres brancas defensoras, 187 (25,83%)
homens brancos defensores, 159 (21,93%) mulheres defensoras com
raça/cor não identificada, 137 (18,92%) homens defensores com raça
cor não identificada.

Rondônia apresenta um quadro atípico de 15 (24,2%) mulheres


negras defensoras, 46 (74,2%) homens negros defensores, 1 (1,6%)
homem branco defensor e 0 (0%) mulheres brancas defensoras.
Rio de Janeiro apresenta um quadro de 15 (1,93%) mulheres negras
defensoras, 8 (1,03%) homens negros defensores, 265 (34,01%) mulhe-
res brancas defensoras e 130 (16,74%) homens brancos defensores,
237 (30,5%) mulheres defensoras com raça/cor não identificada, 122
(15,70) homens defensores com raça cor não identificada. Roraima
apresenta um quadro de 0 (0%) mulheres negras defensoras, 1 (2,27%)
homem negro defensor, 23 (52,3%) mulheres brancas defensoras e
20 (45,45%) homens brancos defensores.

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TA B E L A 5 População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas Estaduais (N) = Geral – 2.809, AC – N/I, AL


– N/I, AM – 100, BA – N/I, CE – N/I, DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 650, MS – N/I, MT – N/I,
PA – 246, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I, PR – N/I, RJ – 777, RN – N/I, RO – 62, RR – 44, RS –N/I, SC – N/I,
Quantidade de Defensores/Defensoras SE – 93, SP – 724, TO – 113.

Públicos/Públicas por Estado segundo


raça/cor

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GRÁFICO 4 Considerando o universo total de defensoras e defensores públicos


estaduais cuja raça/cor foi informada nos questionários e analisando
Proporção de defensores/defensoras o gênero, de 2809 (100%) defensoras e defensores, 1857 (66,1%) pos-
por raça/cor suem a raça/cor desconhecida, dentre os quais 972 são mulheres
(34,6%) com raça/cor não informada e 885 são homens com raça/
cor não informada (31,5% ); 497 são mulheres brancas (17,69%); 338
são homens brancos (12,03%); 71 homens negros (2,52%); 46 mulhe-
res negras (1,63%), somando o total de 835 (29,72%) defensoras e
defensores brancos e 117 (4,16%) defensoras e defensores negros.
Ao desdobrar essas informações segundo o gênero e a raça das
defensoras e defensores, temos o seguinte gráfico:

População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas estaduais (N) = Geral – 2.809, Defensoras


e Defensores Públicos Estaduais com raça/cor não informada – 1857; Defensoras e Defensores
Públicos estaduais brancos e brancas – 835; Defensoras e Defensores Públicos estaduais negros
e negras – 117.

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GRÁFICO 5 Considerando apenas as Defensoras e Defensores cuja raça/cor é


conhecida, de 952 defensoras e defensores, são 835 brancos e 117
Proporção da quantidade de negros.
defensores/defensoras por raça/cor e
gênero

População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas (N) = Geral – 2.809, Defensoras Públicas


Estaduais com raça/cor não informada – 972; Defensores Públicos com raça/cor não informada -
885; Defensoras Públicas Estaduais brancas - 497; Defensores Públicos Estaduais brancos – 338;
Defensoras Públicas Estaduais negras – 46; e Defensores Públicos Estaduais negros – 71.

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GRÁFICO 6 No Estado do Rio de Janeiro é possível observar que a maior parte


dos defensores e defensoras são brancos e brancas, somando 51%
Proporção de Defensoras e Defensores do total. 34% (265) são mulheres brancas; 17% (130) homens brancos;
Públicos/Públicas estaduais segundo 1% (8) homens negros; 2% (15) mulheres negras; 16% (122) homens
de raça/cor não informada e 30% (237) mulheres de raça/cor não
raça/cor desconsiderando a população informada.
não informada

População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas Estaduais (N) = Geral – 952; Brancos - 835;


Negros - 117.

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GRÁFICO 7 Visto de outro modo, ao desmembrar os dados e observar a raça/


cor e o gênero dos defensores e das defensoras do Estado do Rio
Proporção de Defensores/Defensoras de Janeiro temos o seguinte gráfico:
do Rio de Janeiro por raça/cor e gênero

População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas do Rio de Janeiro (N) = Geral – 777, De-


fensoras Públicas do Rio de Janeiro com raça/cor não informada – 237; Defensores Públicos do Rio
de Janeiro com raça/cor não informada - 122; Defensoras Públicas do Rio de Janeiro brancas - 265;
Defensores Públicos do Rio de Janeiro brancos – 130; Defensoras Públicas do Rio de Janeiro negras
– 15; e Defensores Públicos do Rio de Janeiro negros – 8.

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GRÁFICO 8 População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas do Rio de Janeiro (N) = Geral – 777; Bran-
cos - 395; Negros – 23; Raça/cor não informada - 359.

Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas do Estado do Rio de
Janeiro segundo raça/cor

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Os defensores e defensoras brancas chegam a 94% da quantidade GRÁFICO 9


com raça/cor conhecida pela instituição (dos 418 defensoras e
defensores públicos do Rio de Janeiro com raça/cor conhecida, 395 Proporção de Defensores/Defensoras
são brancos e apenas 23 negros). Públicos/Públicas do Rio de Janeiro
segundo raça/cor da população
informada

População de Defensores/Defensoras Públicos/Públicas do Rio de Janeiro (N) = 777, Mulheres


brancas – 265; Homens brancos - 130, Mulheres negras - 15, Homens negros - Mulheres com raça/
cor não identificada - 237, Homens com raça cor não identificada - 122

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É importante destacar a sub-representação dos negros na Defensoria GRÁFICO 10


Pública do Estado, visto que a população negra no Estado do Rio
de Janeiro corresponde a 52% (8.266.776) dos habitantes, a popula- População residente do Estado do Rio
ção branca corresponde a 47% (7583047) e os amarelos, indígenas de Janeiro segundo o critério raça/cor
e sem declaração correspondem a apenas 1% dessa população
(140.106). Produzimos uma tabela referente a um recorte da Tabela
3175 - População residente, por cor ou raça, segundo a situação do
domicílio, o gênero e a idade nas Unidades Federativas do Brasil
de acordo com os dados disponibilizados pelo IBGE. Da tabela
gerada (3175) observamos a Unidade Federativa do Rio de Janeiro
e obtivemos o seguinte recorte.

Tabela 6 – Raça/cor da população residente do Estado do Rio


de Janeiro

*Recorte da Tabela 3175 gerada em 20/02/2019 na plataforma Cidra do IBGE, correspondente à


Unidade Federativa do RJ, disponível em: https://sidra.ibge.gov.br

Tabela 3175 gerada em 20/02/2019 na plataforma Cidra do IBGE, correspondente à Unidade Fe-
derativa do RJ, disponível em: https://sidra.ibge.gov.br População (N) = RJ –15989929; Brancos –
7583047; Negros – 8266776; Amarelos – 122838; Indígenas – 15894; Sem declaração - 1374

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Comparando os dados gerais da população do Estado do Rio de


Janeiro, observamos que, ao passo em que a população negra do
Rio de Janeiro corresponde a 52 % do total da população, no qua-
dro de defensoras e defensores da Defensoria Pública do Estado
do Rio de Janeiro, a população negra é sub-representada. É o que
podemos observar nos gráficos 9 e 10.

Servidores e servidoras na Defensoria Pública


dos Estados
No item 1.6, questionados sobre a quantidade de servidores que
compunham os quadros das Defensorias Públicas Estaduais e sobre
a raça/cor e o gênero desses servidores.

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TA B E L A 7

Quantidade de Servidoras/Servidores
por Estado, gênero e raça/cor

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Os únicos Estados que nos apresentaram informações sobre a raça/


cor dos seus servidores foram Roraima, São Paulo e Rio de Janeiro.
Rondônia, que havia informado sobre a raça/cor das suas defensoras
e defensores públicos, não nos informou sobre a raça/cor das suas
servidoras e servidores. Com relação à distinção de gênero das ser-
vidoras e dos servidores, observamos que as Defensorias Públicas
possuem, em regra, mais servidoras mulheres do que homens,
exceto a Defensoria Pública de Minas Gerais (dentre as Defensorias
Públicas informantes). Veja as proporções abaixo:

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GRÁFICO 11 População de Servidores/Servidoras (N) = Geral – 4343, AC – N/I, AL – N/I, AM – 210, BA – N/I, CE – N/I,
DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 147, MS – N/I, MT – N/I, PA – 348, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I,
PR – N/I, RJ – 1.381, RN – N/I, RO – 470, RR – 259, RS –N/I, SC – N/I, SE – 95, SP – 824, TO – 609.
Quantidade de servidores da
Defensoria Pública dos Estados
segundo o gênero

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»» Na Defensoria Pública do Amazonas, de um total de 210 servi-


dores e servidoras, 117 (55,71%) são mulheres e 93 (44,29%) são
homens;

»» Na Defensoria Pública de Minas Gerais, de um total de 147 ser-


vidores e servidoras, 67 (45,58%) são mulheres e 80 (54,42%)
são homens;

»» Na Defensoria Pública do Pará, de um total de 348 servidores e


servidoras, 178 (51,15%) são mulheres e 170 (48,85%) são homens;

»» Na Defensoria Pública do Rio de Janeiro, de um total de 1381


servidores e servidoras, 830 (60,10%) são mulheres e 551 (39,90%)
são homens;

»» Na Defensoria Pública de Rondônia, de um total de 470 ser-


vidores e servidoras, 268 (57,02%) são mulheres e 202 (42,98%)
são homens;

»» Na Defensoria Pública de Roraima, de um total de 259 servidores


e servidoras, 156 (60,23%) são mulheres e 103 (39,77%) são homens;

»» Na Defensoria Pública de Sergipe, de um total de 95 servidores


e servidoras, 64 (67,37%) são mulheres e 31 (32,63%) são homens;

»» Na Defensoria Pública de São Paulo, de um total de 824 servi-


dores e servidoras, 479 (58,13%) são mulheres e 345 (41,87%) são
homens;

»» Na Defensoria Pública de Tocantins, de um total de 609 ser-


vidores e servidoras, 356 (58,46%) são mulheres e 253 (41,54%)
são homens;

Além do gênero, é possível observar ainda que a grande maioria


dos servidores e servidoras são homens e mulheres brancas. A
quantidade de servidoras e servidores segundo raça/cor e gênero
está ilustrada na tabela a seguir:

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TA B E L A 8

Quantidade de servidores das


Defensorias Públicas dos Estados do
Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo
segundo gênero e raça/cor

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Isso nos permite dizer que também com relação ao gênero e raça/ GRÁFICO 12
cor dos servidores e servidoras, a Defensoria Pública Estadual é uma
instituição feminina branca. Do universo conhecido de 4343 (100%) Proporção de servidoras/servidores
servidoras e servidores, 2515 (57,91%) são mulheres e 1828 (42,09%) da Defensoria Pública dos Estados por
são homens. 2382 servidoras e servidores (54,85%) possuem a raça/
cor não informada, dentre os quais 1335 são mulheres (56,05%) com
raça/cor/gênero
raça/cor não informada; 1047 (43,95%) são homens com raça/cor
não informada. 902 são mulheres brancas (46%); 540 são homens
brancos (27,53%); 241 homens negros (12,29%); 278 mulheres negras
(14,18%), somando o total de 1442 (73,53%) servidoras e servidores
brancos e 519 (26,47%) servidoras e servidores negros.

População de Servidores/Servidoras da Defensora Pública dos Estados (N) = Geral – 4343, AC – N/I,
AL – N/I, AM – 210, BA – N/I, CE – N/I, DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 147, MS – N/I, MT – N/I,
PA – 348, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I, PR – N/I, RJ – 1.381, RN – N/I, RO – 470, RR – 259, RS –N/I, SC – N/I,
SE – 95, SP – 824, TO – 609. / Servidoras com raça/cor não informada – 1335; Servidores com raça/cor
não informada - 1047; Servidoras brancas - 902; Servidores brancos – 540; Servidoras negras – 278;
e Servidores negros – 241.

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Observemos o detalhamento da quantidade de servidores e ser-


vidoras segundo as variáveis gênero e raça/cor nas Defensorias
Públicas dos Estados que informaram o quesito:

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GRÁFICO 13 População de Servidores/Servidoras da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo
segundo gênero e raça/cor (N) = Geral – 2464; RJ – 1.381; RR – 259; SP – 824.

Quantidade de servidores das


Defensorias Públicas dos Estados do
Rio de Janeiro, Roraima, e São Paulo
segundo gênero e raça/cor

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Considerando, por Estado, o universo de servidores cuja raça/cor


foi informada, em São Paulo as mulheres brancas são a maioria
representando 36,77% (303) contra 183 (22,21%) homens brancos;
74 (8,98%) mulheres negras; 63 (7,65%) homens negros; 102 (12,38%)
mulheres com raça/cor não identificada e; 99 (12,01%) homens com
raça cor não identificada. No Rio de Janeiro, as mulheres brancas
correspondem a 33,96% (469) do número de servidoras e servidores
contra 257 (18,61%) homens brancos, 178 (12,89%) mulheres negras,
175 (12,67%) homens negros, 183 (13,25%) mulheres com raça/cor não
identificada, 119 (8,62%) homens com raça cor não identificada. Em
Roraima, as servidoras brancas são 130 (50,19%), acompanhadas
por 100 (38,61%) servidores brancos, 3 (1,16%) servidores negros e 26
(10,04%) servidoras negras.

Aqui percebemos que as mulheres brancas também são maioria,


mas, diferentemente do que ocorre com as defensoras e defen-
sores públicos, as mulheres negras também superam o número
de homens negros no que concerne à ocupação dos cargos de
servidoras e servidores.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa que “não foi indi-


cado o total de defensores e servidores na 2ª parte dos itens 1.3 e
1.6 porque há casos sem informações e registro de outras raças”.

Terceirizados e terceirizadas na Defensoria Pública dos


Estados
No item 1.10, questionados sobre a quantidade de terceirizadas e
terceirizados que compunham os quadros da Defensoria Pública
dos Estados. Construímos a seguinte tabela:

142 143
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TA B E L A 9

Quantidade de terceirizadas/
terceirizados por Estado segundo
gênero e raça/cor

144 145
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Nenhuma das Defensorias apresentou informações sobre a raça/cor


dos funcionários terceirizados, informações que de alguma maneira
foram apresentadas com relação aos defensores, servidores e esta-
giários. As Defensorias Públicas de São Paulo, Sergipe, Pará, Minas
Gerais e Amazonas nos apresentaram informações sobre o gênero
dos seus funcionários terceirizados enquanto que as Defensorias
Públicas do Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e Tocantins não
forneceram dados a respeito desse questionamento.

146 1 47
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G R Á F I C O 14 População de Terceirizados/Terceirizadas (N) = Geral – 1.013, AC – N/I, AL – N/I, AM – 50, BA – N/I,


CE – N/I, DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 324, MS – N/I, MT – N/I, PA – 52, PB – N/I, PE – N/I,
PI – N/I, PR – N/I, RJ – N/I, RN – N/I, RO – 470, RR – 259, RS –N/I, SC – N/I, SE – 68, SP – 519, TO – N/I.
Quantidade de terceirizados e
terceirizadas das Defensorias Públicas
dos Estados do Amazonas, Minas
Gerais, Pará, Sergipe e São Paulo
segundo gênero

148 149
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Do universo conhecido de 1013 (100%) terceirizados e terceirizadas


das Defensorias Públicas Estaduais, 485 (47,88%) são mulheres e 528
(52,12%) são homens, a raça/cor de nenhum dentre os terceirizados e
terceirizadas foi informada. Na Defensoria Pública do Amazonas, de
um total de 50 terceirizados e terceirizadas, 31 (62%) são mulheres e
19 (38%) são homens; na Defensoria Pública de Minas Gerais, de um
total de 324 terceirizados e terceirizadas, 184 (56,79%) são mulheres
e 140 (43,21%) são homens; na Defensoria Pública do Pará, de um
total de 52 terceirizados e terceirizadas, 33 (63,46%) são mulheres e
19 (36,54%) são homens; na Defensoria Pública de Sergipe, de um
total de 68 terceirizados e terceirizadas, 43 (63,24%) são mulheres e
25 (36,76%) são homens; na Defensoria Pública de São Paulo, de um
total de 519 terceirizados e terceirizadas, 194 (37,38%) são mulheres e
325 (62,62%) são homens. A raça/cor dos funcionários e funcionárias
terceirizados não foi informada.

Considerações analíticas
Destacamos a redução da diferença numérica entre os gênero dos
terceirizados e terceirizadas e a ausência de informação sobre a
raça/cor desse grupo que não possui vínculo empregatício com a
instituição. Essa ausência de informação está também relacionada
à precarização do trabalho e aos efeitos do “desconhecimento
ideológico do racismo” pela instituição.

Estagiários e estagiárias na Defensoria Pública


dos Estados
No item 1.11, as Defensorias Públicas Estaduais foram questionadas
sobre a quantidade de estagiárias e estagiários que compunham
os quadros da instituição de acordo com raça/cor e gênero. A partir
dos dados recebidos construímos a seguinte tabela:

150 151
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TA B E L A 1 0

Quantidade de estagiárias/estagiários
por Estado segundo gênero e raça/cor

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Apenas as Defensorias Públicas de Rondônia e Roraima nos forne-


ceram dados sobre a raça/cor dos seus estagiários e estagiárias. As
Defensorias Públicas dos Estados de Tocantins, São Paulo, Sergipe,
Roraima, Rondônia, Rio de Janeiro, Pará, Minas Gerais e Amazonas
nos apresentaram informações sobre o gênero das suas estagiárias
e dos seus estagiários, representados no gráfico a seguir.

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GRÁFICO 15 População de estagiárias e estagiários da Defensoria Pública dos Estados (N) = Geral - 6259, AC
– N/I, AL – N/I, AM – 254, BA – N/I, CE – N/I, DF – N/I, ES – N/I, GO – N/I, MA – N/I, MG – 351, MS – N/I,
MT – N/I, PA – 413, PB – N/I, PE – N/I, PI – N/I, PR – N/I , RJ – 2026, RN – N/I, RO – 74, RR – 49, RS – N/I,
Quantidade de estagiários e estagiárias SC – N/I, SE – 114, SP – 2829, TO – 149.

na Defensoria Pública dos Estados

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Do universo informado de 6262 (100%) estagiários e estagiárias, 4055 servidoras e servidores; (1.10) terceirizados e terceirizadas e (1.12)
(64,76%) são mulheres e 2207 (35,24%) são homens; 6139 estagiárias estagiários e estagiárias.
e estagiários (98,04%) possuem a raça/cor não informada, sendo
Das respostas aos questionários observamos que, dentre as
4002 mulheres (63,91%) com raça/cor não informada e 2137 (36,09%)
Defensorias que responderam, a Defensoria Pública do Amazonas
são homens com raça/cor não informada; 47 (0,75%) são mulheres
não possui cotas raciais e possui cotas para deficiente físico para o
negras; 27 (0,43%) são homens negros; 23 (0,38%) são mulheres
ingresso de defensoras e defensores públicos. A Defensoria Pública
brancas; 26 (0,45%) são homens brancos.
do Ceará não possui nenhuma modalidade de cotas para o ingresso
Apenas duas Defensorias informaram a raça/cor dos seus estagiário. na carreira de defensora e defensor público. Na Defensoria Pública
Roraima declarou que todos são brancos: 23 (46,94%) mulheres e de Minas Gerais observa-se a existência das duas modalidades de
26 (53,06%) homens; Rondônia declarou que todos são negros: 47 cotas, raciais e para deficientes físicos, no ingresso da carreira para
(63,51%) mulheres e 27 (36,49%) homens. Nos chama a atenção os defensor e defensora pública, mas apenas a data da instituição
dados informados pela Defensoria Pública de Rondônia, pois des- das cotas para deficientes físicos nos foi informada, 28/07/1995. A
toam das informações fornecidas pelas demais Defensorias Públicas. Defensoria Pública do Pará informou a existência das duas moda-
lidades de cotas, raciais e para deficientes físicos, no ingresso da
Considerações analíticas carreira para defensor e defensora pública, tendo instituído as
cotas para deficientes físicos em 24/01/1994 e as cotas raciais em
A Defensoria Pública Estadual é, de acordo com os dados informados,
19/02/2018. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou a exis-
uma instituição feminina e branca. As opressões relacionadas ao
tência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
indicador “raça” são mais difíceis de se vencer do que as opressões
físicos, no ingresso da carreira para defensor e defensora pública,
relacionadas ao indicador “gênero” no acesso aos seus cargos e
tendo instituído ambas as modalidades de cotas no dia 26/01/2012.
funções. Observamos ainda que, na medida em que ocorre a pre-
A Defensoria Pública do Rio Grande do Norte não respondeu aos
carização do vínculo empregatício, menores são as informações
questionamentos sobre a instituição de cotas raciais e para defi-
obtidas a respeito dos trabalhadores.
cientes físicos no ingresso das carreiras de Defensora e defensor
público. A Defensoria Pública de Rondônia nos informou apenas
Políticas de ações afirmativas
que possui cotas para deficientes físicos no ingresso da carreira
Nos tópicos 1.4; 1.8; 1.10 e 1.12 perguntamos sobre a implementação para defensora e defensor público, mas não nos informou a data
de ações afirmativas nas Defensorias Públicas Estaduais nas modali- de instituição. A Defensoria Pública de Roraima informou a exis-
dades de cotas raciais e cotas para deficientes físicos, demandando tência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
se sabiam qual a quantidade de ingressantes por cada modalidade físicos, no ingresso da carreira para defensor e defensora pública,
de cota, respectivamente para (1.4) defensoras e defensores; (1.8) tendo instituído ambas as modalidades de cotas no dia 03/01/2002.
A Defensoria Pública de Sergipe informa não possuir nenhuma

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das duas modalidades de cotas, nem cotas raciais e nem cotas


para deficientes físicos, para ingresso na carreira de defensora e
defensor público. A Defensoria Pública de São Paulo informou a
existência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
físicos, no ingresso da carreira para defensor e defensora pública,
tendo instituído as cotas para deficientes físicos em 09/01/2006 e
as cotas raciais em 19/11/2014. Finalmente, a Defensoria Pública de
Tocantins não respondeu aos questionamentos sobre a instituição
de cotas raciais e para deficientes físicos no ingresso das carreiras
de defensora e defensor público.

Em regra, as Defensorias Públicas não informaram a quantidade


de defensoras e defensores ingressantes por cada modalidade de
cotas. Contudo, a Defensoria Pública de Minas Gerais e a Defensoria
Pública de Rondônia informaram possuir dois ingressantes pela
modalidade de cotas para deficientes físicos cada uma; a Defensoria
Pública de Roraima e a Defensoria Pública de São Paulo informaram
possuir 1 ingressante pela modalidade de cotas para deficientes
físicos e a Defensoria Pública de São Paulo nos informou possuir
dois ingressantes pela modalidade de cotas raciais em seus quadros.

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Políticas de ações afirmativas para o


ingresso de Defensoras/Defensores nas
Defensorias Públicas dos Estados

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Desses dados é possível afirmar as seguintes conclusões: a) todas não vem de outros concursos, e não corresponde à realidade, por
as Defensorias que possuem cotas étnico-raciais possuem também diversos motivos. O desconhecimento, a questão de se identificar,
cotas para deficientes físicos; b) há Defensorias que possuem apenas aí é o espaço para uma boa discussão.
cotas para deficientes físicos e que não possuem cotas raciais; c) nos Observamos que, como regra, as Defensorias Públicas Estaduais
casos das Defensorias que possuem cotas para deficientes físicos e não acompanham a efetivação e a efetividade das suas políticas
cotas raciais, a instituição das políticas de cotas se deu de maneira afirmativas, não informando se esta política proporcionou ou não
simultânea, ou com a instituição de cotas para deficientes físicos em o acesso do público alvo aos cargos a ela destinados. Não se sabe
um primeiro momento, não tendo sido observada a instituição de o que a Defensoria Pública dos Estados tem feito para dar eficácia
políticas de cotas raciais antes da política de cotas para deficientes à política de cotas em cada Estado.
físicos em nenhuma das Defensorias; d) há Defensorias que não
A esse respeito, o ex-ouvidor da Defensoria Pública de São Paulo,
possuem nenhuma política de cotas; e) a Defensoria Pública dos
Alderon Costa, relata:
Estados de Minas Gerais, Rondônia, Roraima e São Paulo informam
conhecer ingressantes na modalidade de cotas para deficientes físi- Aqui a gente tem feito essa discussão, em 2014 nós conseguimos
cos; f) apenas a Defensoria Pública de São Paulo informa conhecer aprovar as cotas, só que essa aprovação das cotas não resultou em
algum ingressante pela modalidade de cotas raciais. uma efetividade. Nós não tivemos nenhum candidato aprovado
pelas cotas. Nós tivemos dois candidatos negros aprovados, mas
Considerações analíticas não foi pelas cotas. Quer dizer, a efetividade desse mecanismo
no caso da Defensoria Pública de São Paulo ainda não se provou
Observa-se que as Defensorias Públicas dos Estados vêm imple-
eficiente. Talvez haja a necessidade de uma reformulação. Mas
mentando as cotas de maneira lenta e não sistemática, tendo
é bem claro que há uma questão que não é um problema só da
privilegiado a implementação das cotas para deficientes físicos
Defensoria, que é um problema de origem, das Universidades,
ao longo do tempo.
dos concursos, um problema que leva a essa estratificação, a
Sobre a situação das cotas para deficientes físicos e cotas raciais essa peneira racial. [...]
em uma das Defensorias Públicas, a defensora Cláudia Márcia
Eu acho que tem um pouco a ver com a maneira como foi apro-
(nome fictício) também destaca as dificuldades em decorrência
vada aqui [as cotas raciais] no concurso. Porque se reservou uma
da implementação tardia e carente de aperfeiçoamentos:
quantidade de vagas, se eu não me engano, 20%, só que esses
A indicação da deficiência a gente tem em nossa ficha, a pessoa 20%, depois eles entram na nota de corte. Então, quer dizer, pri-
declara por uma série de motivos, e a de raça pode ser que te- meiro, se você não tem um sistema educacional focado também
nha, mas ela não é real. Até no concurso, por exemplo, isso já foi com essa preocupação de inclusão de pessoas não brancas, é
questionado, e é algo que é colocado pela própria sistemática do claro que essa estratificação vai subindo. E aí chega no concurso,
concurso, então tem esse marcador lá. E a questão de raça não, as pessoas que se inscrevem não estão preparadas, não tem as

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mesmas oportunidades de cursinho, tudo isso. E eu acredito que de ingressante via política de cotas e/ou o conhecimento do não
esse sistema vem levando a essa estratificação, mas, no caso da ingresso de cotistas via políticas de cotas afirmativas.
Defensoria, agora, talvez ela precisasse ser mais avançada, não
Ainda hoje, poucas são as Defensorias Públicas que adotaram
é? É muito tímida a discussão. Porque a resistência na Defen-
política de cotas com base na raça/cor, mas podemos observar
soria foi muito grande e é muito grande, porque essa questão
que esta política pode ser esvaziada. A esse respeito, acrescenta
do preconceito, do racismo institucional, está muito arraigada
Alderon Costa:
nas pessoas, né, nas pessoas que estão compondo a Defensoria
Acho que a primeira resistência é a essência do preconceito
hoje. São pessoas que dizem que não existe racismo. Isso numa
histórico, quem é que faz parte da defensoria, quem é que co-
instituição como a Defensoria é um absurdo. Então, primeiro, é
manda a Defensoria hoje? A gente tem pessoas brancas, pessoas
que a discussão aqui não foi tão simples, não foi tão fácil, foi uma
de classe média alta, pessoas que tem uma formação elitista,
disputa mesmo, uma disputa política que foi feita. E nessa disputa
e toda construção educacional que se tem é uma construção
política nós acabamos cedendo em algumas questões, inclusive
da casa grande, quer dizer, essas pessoas são formadas para
na quantidade, que era 30% e a gente aceitou ser 20% para não
defender os proprietários, defender o status quo daqueles que
perder tudo, e nessas discussões, eu acho que o modelo que foi
já estão no poder, como a questão racial, ela diz em sua maioria
criado não foi suficiente e não resolveu, porque o resultado do
com relação à questão negra, quer dizer “a senzala”, então esse
concurso, que aconteceu logo após a aprovação das cotas, ele
modelo de entendimento nas defensorias é muito forte, porque
se mostrou que nós não tivemos, e é muito objetivo isso, que
quem domina são esses que estão defendendo essa ideologia da
nós não tivemos nenhum candidato aprovado pelas cotas e que
casa grande, e as universidades não mudaram esse pensamento.
tomasse posse pelas cotas. Nós tivemos uma que tomou posse,
Então a pessoa chega na defensoria e ela ainda tem essa ideia.
acho que foi esse ano (2018), ou no final do ano passado, mas
Então, nós tivemos defensores que defendiam claramente que
ela foi aprovada na lista geral, ou seja, ela seria aprovada sem as
não deveriam ter cotas, que não entendiam que deveria haver
cotas. Então eu acho que é importante a gente rever esses me-
uma correção. Que o concurso é para todos e que todos tem que
canismos de cotas. Eu acho que ela é importante, a política de
concorrer de igual para igual. Isso é um absurdo, é um desconheci-
cotas, é uma das formas que se tem de se corrigir essa distorção,
mento histórico, as pessoas desconhecem, tanto que nós tivemos
iniciar a correção dessa dívida histórica com a comunidade negra.
nas discussões falas muito importantes, falar das discussões das
É necessário problematizar o desconhecimento e a ausência do
cotas foi muito bom na Defensoria porque conseguiu-se trazer
ingresso dos cotistas nas Defensorias Públicas, pois, apesar da exis-
essa questão da diferença, mas também da falta de oportunidade,
tência da política afirmativa, vê-se que ela não é dotada de eficácia.
da discriminação histórica contra os negros, da cultura negra,
Podemos observar a obstrução dessa política afirmativa a partir
inclusive o preconceito. Por exemplo, nós conseguimos trazer a
dos dados que nos informam o desconhecimento da quantidade
comunidade negra para fazer uma manifestação na Defenso-
ria, tocar berimbau, e aí a gente ouvia comentários do tipo: “o

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candomblé (inaudível)“, “vai fazer macumba aqui”... é um pouco A grande maioria dos Estados não soube informar quantos foram
desse desconhecimento, ou talvez um conhecimento até demais os ingressantes via política de cotas. Estima-se, a partir de conver-
e a provocação em relação a esse preconceito que existe contra sas e observações, que o número de ingressantes seja inferior ao
as religiões afro. Então, a questão do preconceito para mim é o número de vagas disponibilizadas. É o que ocorre, por exemplo,
mais forte que está aí. E a outra questão é a questão do poder nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
mesmo, é, alguns não querem ver uma Defensoria colorida, uma
Segundo o IV Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil:
Defensoria aonde se tenha por exemplo todas as cores do nosso
Em relação à cor ou raça, a maior parte dos Defensores Públicos
país, de todas as populações que têm no nosso país. [...]
Federais No que tange à cor/raça dos Defensores, a maioria – mais
Eu não sou um estudioso dessa área, eu milito no conhecimento
de 75% – se declararam brancos. O segundo grupo, com maior
que eu fui adquirindo aí no dia a dia e no princípio da igualdade
representatividade nesse quesito, são os pardos que chegam a
para todos que nós temos aí nessa luta, de que todos tem o mesmo
pouco mais de 19%. Por fim, as denominações preta, amarela e
direito. Nós temos que quebrar esse preconceitos, nós temos que
indígena são muito pouco representativas, somando, juntas, 4,4%.
quebrar essa história que vem aí da colonização e que ela vem
Essa distribuição está longe de refletir as proporções registrada no
em momentos em que ela se torna muito porte, porque é uma
Censo demográfico de 2010 (IBGE), em que os que se declaram
disputa de poder, uma disputa de espaço ideológico, inclusive
brancos não ultrapassam os 47%. Tendo em vista essa distribuição
na relação que se dá e se estabelece dessa relação do racismo.
racial, seria importante uma reflexão mais profunda a respeito da
Porque o branco é aquele que está no poder e ele não quer ceder,
exclusão de determinados setores sociais da população, de modo
e essa ideologia é muito forte no Brasil e a gente milita para que
a combater a desigualdade social. (BRASIL; 2015, p.85)
a gente consiga derrubá-la.

As cotas foram uma tentativa da gente tornar a Defensoria mais


Ao observarmos o gráfico para defensores públicos estaduais pro-
democrática racialmente, porque hoje a comunidade negra se
duzido pelo IV Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil, assim
sente desprotegida pelas defensorias, porque a maioria que
como o do III Diagnóstico (BRASIL, 2009), e analisando os dados
deveria fazer a defesa da comunidade negra são brancos, e eles
coletados por nós, vemos que a estrutura racial da Defensoria
tem dificuldade de entender a cultura negra inclusive alguns
Pública Estadual permanece praticamente inalterada, sendo a
discursos mais inflamados, que são importantes, né? (...) nós
grande maioria das defensoras e defensores brancos.
brancos temos que ter a humildade de aprender, de discutir com
os brancos essa relação de poder que tem, essa discriminação
histórica, e precisamos transformar isso (...) isso nas defensorias
ainda é muito fraco, e prevalece a cultura branca, a ideologia
branca, a ideologia do poder, a ideologia do homem, do machista,
que tá muito relacionado.

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GRÁFICO 16 Ainda segundo o IV Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil,


com relação ao posicionamento dos Defensores Públicos Estaduais
Cor ou raça dos Defensores Públicos quanto a temas jurídicos: 50,5% dos defensores questionados se
Estaduais disseram favoráveis a instituição de ações afirmativas baseadas
em sistema de cotas, 17,1% não se posicionaram e 32,4% dos defen-
sores foram contrários às ações afirmativas baseadas em sistema
de cotas. (p. 27)

Uma das principais justificativas contrárias ao sistema de cotas


raciais no imaginário social brasileiro está pautada na “meritocra-
cia”. Questionado sobre o tema, Alderon Costa nos explica a sua
compreensão sobre a temática:

Sim, é aquele pensamento de que é normal você ter quem es-


tuda, quem tem possibilidade de fazer um concurso e passar, e
aí você usa os argumentos que você pode para manter os seus
privilégios, porque isso não é direito, isso é privilégio, você ter
a oportunidade de estudar em boas faculdades, ter a oportu-
nidade de fazer cursinhos, ter a oportunidade de ficar um ano
estudando sem trabalhar, de poder prestar um concurso, então
esse é um privilégio que se tem. E dentro desse privilégio, qual-
quer coisa que ameaça isso, tem que se criar, vamos dizer assim,
uma justificativa para que isso não aconteça. E uma justificativa,
que não é só da Defensoria, mas de todo o Brasil, é falar que não
tem preconceito, porque o negro pode entrar no mesmo espaço
que o branco, é esse argumento que se tem, né? Que eles têm a
mesma oportunidade, mas a gente sabe que não é bem assim.
E aí, quando você ouve um depoimento no Conselho Superior
dizendo assim: “Olha, se entra um branco numa loja ele tem um
tratamento, se entra um negro, pode ver que ele tem outro tra-
tamento...” e também depoimentos do tipo, “olha o tratamento
que a polícia dá quando a polícia faz uma revista no branco e
Fonte: Defensores Públicos Estaduais | IV Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil (2015). faz uma revista no negro”. Tem diferença? Qual é a diferença?”
População (N) = 5.512

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Tem diferença. Aliás, a gente vê pouco brancos sendo parados e


revistados pela polícia, a maioria são negros. Quer dizer, alguma
O ex-ouvidor destaca que o público usuário da Defensoria Pública
coisa está errada, mas não se reconhece isso. E não se reconhe-
de São Paulo é negro, o que evidencia ainda mais essa contradi-
ce isso também por uma questão de manter o status quo, um
ção. Em suas palavras: “Mas o público aqui a maioria é negra, são
status quo daqueles que são da classe branca, classe média alta,
pessoas pobres, que vem da periferia, que buscam a defensoria, e
homens. Então, se defende essa cultura. Poderia se falar que é
quando você olha o atendimento, você vê que a maioria é negra.
uma defesa ideológica da manutenção de uma estrutura injusta,
É uma contradição, né?”
que retrata um pouco ainda isso da “casa grande e senzala”. [...]
No que diz respeito à instituição de políticas de ações afirmativas
A gente tem, por exemplo, aqui na ouvidoria, servidores negros,
nas modalidades “cotas raciais” e “cotas para deficientes físicos”
e eles mesmos já passaram por situações de racismo, inclusive
para servidores e servidoras, a Defensoria Pública do Amazonas
por parte de usuários, situação que é difícil para nós, né? A gente
não possui cotas raciais e possui cotas para deficientes físicos
teve que lidar com usuário que é preconceituoso. Então a gente
para o ingresso de servidoras e servidores, tendo sido instituída
vive, cotidianamente, convivendo com este preconceito, e inter-
em 20/10/2017; a Defensoria Pública do Ceará não possui nenhuma
namente a gente tem disso. A gente teve esse caso concreto. [...]
modalidade de cotas para o ingresso de servidoras e servidores;
a pessoa chamou o nosso servidor, que estava na nossa equipe,
a Defensoria Pública de Minas Gerais não possui cotas raciais e
de negro, desqualificando-o, normalmente é uma fala que des-
possui cotas para deficiente físico para o ingresso de servidoras
qualifica e desautoriza a pessoa, “você não poderia estar nessa
e servidores, tendo sido instituída em 28/07/1995; a Defensoria
situação que você está”. [...] Mas a gente vê constantemente, é
Pública do Pará informou a existência das duas modalidades de
muito claro, essa percepção que a gente tem do tratamento de
cotas, raciais e para deficientes físicos no ingresso de servidoras
uma pessoa branca e de uma pessoa negra, inclusive, interna-
e servidores, tendo instituído as cotas para deficientes físicos em
mente, na Defensoria. [...] Essa questão é muito escamoteada,
24/01/1994 e as cotas raciais em 19/02/2018; a Defensoria Pública
é muito difícil você identificar. Pode ser que a pessoa tenha a
do Rio de Janeiro informou a existência das duas modalidades de
intenção de discriminação, mas ela consegue escamotear isso,
cotas, raciais e para deficientes físicos, no ingresso de servidoras
é muito comum isso na instituição também. Por isso que o que
e servidores, tendo instituído ambas as modalidades de cotas no
fica mais claro e mais objetivo é a falta da presença de pessoas
dia 31/01/2014; a Defensoria Pública do Rio Grande do Norte não
negras na instituição, acho que isso é um dado que é muito forte,
respondeu aos questionamentos sobre a instituição de cotas raciais
que é um dado objetivo que a gente tem. [...]
e para deficientes físicos no ingresso de servidoras e servidores; a
A mesma relação, o número de servidores negros é muito baixo, Defensoria Pública de Rondônia nos informou que possui apenas
e o de estagiários também. É porque é que nem uma peneira, política de cotas para deficientes físicos no ingresso de servidoras e
né. Antes de chegar na defensoria é uma peneira educacional, servidores, tendo sido instituída em 07/11/1994; a Defensoria Pública
social, que as pessoas vão ficando no meio do caminho. de Roraima nos informou que possui apenas política de cotas para

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deficientes físicos no ingresso de servidoras e servidores, tendo sido


instituída em 13/10/2015; a Defensoria Pública de Sergipe informa
não possuir nenhuma das duas modalidades de cotas, nem cotas
raciais nem cotas para deficientes físicos, para o ingresso de servi-
doras e servidores; a Defensoria Pública de São Paulo informou a
existência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficien-
tes físicos, no ingresso servidoras e servidores, tendo instituído as
cotas para deficientes físicos em 09/01/2006 e as cotas raciais em
19/03/2015; a Defensoria Pública de Tocantins não respondeu aos
questionamentos sobre a instituição de cotas raciais e para defi-
cientes físicos para o ingresso de servidores.

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Políticas de ações afirmativas para o


ingresso de Servidoras/Servidores nas
Defensorias Públicas dos Estados

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A respeito da instituição de políticas afirmativas para o ingresso de Tabela 12 – Quantidade de servidoras/servidores porta-
servidores modalidades de “cotas raciais” e “cotas para deficientes dores de alguma deficiência física na Defensoria Públi-
físicos” podemos afirmar que: a) todas as Defensorias que possuem ca dos Estados
cotas étnico-raciais possuem também cotas para deficientes físicos,
como ocorre, por exemplo, nas Defensorias Públicas dos Estados AM CE MG PA RJ RN RO RR SE SP TO
do Pará, Rio de Janeiro e São Paulo; b) há Defensorias que possuem Servidores c/ - - 1 8 - - 6 3 1 6 18

apenas cotas para deficientes físicos e que não possuem cotas raciais, deficiência
Ingressantes - - - 8 22 - 6 2 - 5 -
como nas Defensorias Públicas dos Estados do Amazonas, Minas
por cotas
Gerais, Rondônia, Roraima e Sergipe; c) nos casos das Defensorias
para DF
que possuem cotas para deficientes físicos e cotas raciais, a insti-
tuição das políticas de cotas se deu de maneira simultânea (como Na Defensoria Pública de Minas Gerais há 1 servidor portador de
na Defensoria Pública do Rio de Janeiro) ou com a instituição de algum tipo de deficiência física; na Defensoria Pública do Pará
cotas para deficientes físicos em um primeiro momento (como há 8 e todos eles ingressaram através da política de cotas para
ocorrido em todas as demais Defensorias Públicas), não tendo sido portadores de deficiência física; na Defensoria Pública do Rio de
observada a instituição de políticas de cotas raciais antes da política Janeiro, apesar de não terem conseguido nos informar a totalidade
de cotas para deficientes físicos em nenhuma das Defensorias; de servidores portadores de algum tipo de deficiência, fomos infor-
d) há Defensorias que não possuem nenhuma política de cotas, madas que há 22 ingressantes através da política de cotas para
como a Defensoria Pública do Estado de Sergipe; e) a Defensoria portadores de deficiência física; na Defensoria Pública de Rondônia,
Pública dos Estados de Minas Gerais e Roraima, que possuem cotas há 6 servidores portadores de algum tipo de deficiência e todos
raciais para o ingresso de Defensoras e Defensores Públicos, não eles ingressaram através da política de cotas para portadores de
possuem cotas raciais para o ingresso de servidoras e servidores; f) a algum tipo de deficiência física; na Defensoria Pública de Roraima
Defensoria Pública dos Estados de Minas Gerais e Roraima possuem há 3 servidores portadores de algum tipo de deficiência física e
cotas para deficientes físicos para o ingresso de servidoras e servi- dois deles ingressaram através da política de cotas; na Defensoria
dores; g) apenas a Defensoria Pública Rio de Janeiro nos informou Pública de Sergipe há 1 servidor portador de algum tipo de defi-
a quantidade de servidores ingressantes pela modalidade de cotas ciência física e nenhum ingressante através da política de cotas
raciais, a saber, 109 servidores e/ou servidoras. para portadores de algum tipo de deficiência física; na Defensoria
Questionadas sobre a quantidade de servidoras e servidoras Pública de São Paulo, há 6 servidores portadores de algum tipo
com deficiência física e sobre o ingresso de servidoras e servidores a de deficiência, dentre os quais 5 ingressaram através da política
partir das cotas para portadores de algum tipo de deficiência física, de cotas para portadores de algum tipo de deficiência física; e, na
as Defensorias Públicas nos forneceram as seguintes informações: Defensoria Pública do Tocantins há 18 servidores portadores de

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algum tipo de deficiência física e nenhum ingressante através da pela modalidade de cotas para deficientes físicos; a Defensoria
política de cotas para portadores de deficiência física. Pública do Pará não informou nem a quantidade de ingressantes
por cotas raciais nem a quantidade de ingressantes por cotas para
Sobre as políticas de ações afirmativas para estagiárias e estagiá-
deficientes físicos. É o que representamos na tabela a seguir:
rios, as Defensorias Públicas dos Estados do Ceará, Mato Grosso do
Sul e Rio Grande do Norte não responderam ao questionamento.
As Defensorias Públicas dos Estados do Amazonas, Minas Gerais,
Rondônia, Roraima, Sergipe, São Paulo e Tocantins informaram que
não tinham cotas raciais para estagiárias e estagiários. A Defensoria
Pública do Amazonas, apesar de não possuir cotas raciais para o
ingresso de estagiárias e estagiários, possui cotas para deficiente
físico, tendo sido instituídas em 20/10/2017; a Defensoria Pública
de Minas Gerais não possui cotas raciais e possui cotas para defi-
ciente físico para o ingresso de estagiários e estagiárias, tendo sido
instituída em 28/07/1995; a Defensoria Pública do Pará informou a
existência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
físicos no ingresso de estagiárias e estagiários, tendo instituído as
cotas para deficientes físicos em 24/01/1994 e as cotas raciais em
19/02/2018; a Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou a exis-
tência das duas modalidades de cotas, raciais e para deficientes
físicos, no ingresso de estagiários e estagiárias, tendo instituído
ambas as modalidades de cotas no dia 13/10/2011.

Apenas as Defensorias dos Estados do Pará e Rio de Janeiro infor-


maram que possuíam as duas modalidades de cotas, raciais e para
deficientes físicos e só a Defensoria Pública do Rio de Janeiro soube
informar a quantidade de estagiários e/ou estagiárias ingressantes
pela modalidade de cotas raciais: quinze. A Defensoria Pública do
Rio de Janeiro informou o ingresso de 0 estagiários pela moda-
lidade de cotas para deficientes físicos. A Defensoria Pública do
Amazonas informou o ingresso de 2 estagiários e estagiárias pela
modalidade de cotas para deficientes físicos; a Defensoria Pública
de Minas Gerais informou o ingresso de 3 estagiários e estagiárias

180 181
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TA B E L A 1 3

Políticas de ações afirmativas para o


ingresso de Estagiárias/Estagiários nas
Defensorias Públicas dos Estados

182 183
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A partir da análise da tabela acima, observamos que: a) instituição A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou a existência de
da política para deficientes físicos para os estagiários se deu antes um grupo de trabalho sobre a política institucional de ações afir-
ou simultaneamente à política de cotas raciais, como o que pode mativas, criado pela Resolução DPGE nº 887, de 12 de julho de
ser verificado na Defensoria Pública do Pará, que instituiu a política 2017. Informou também a realização do 1º Workshop Linguagem
de cotas para deficientes físicos em 24/01/1994 e para afrodescen- inclusiva na Defensoria Pública, além da existência de editais de
dentes em 19/02/2018; e na Defensoria Pública do Rio de Janeiro, revistas jurídicas e aperfeiçoamento técnico da Fundação da Escola
que instituiu ambas as políticas em 13/10/2011; b) verifica-se que há da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Defensorias Públicas Estaduais que possuem cotas para deficientes
A Defensoria Pública do Estado de Rondônia informou que o:
físicos e que não possuem cotas para afrodescendentes, como é
Defensor Público geral encaminhou no dia da Consciência ne-
o caso da Defensoria Pública do Amazonas e de Minas Gerais; c)
gra, em 20/11/2015, projeto de lei à Assembleia Legislativa do
não verificamos nenhum caso em que a política de cotas para
Estado para criação de cotas para negros em concurso público.
afrodescendentes foi instituída anteriormente à política de cotas
O projeto foi arquivado pela mencionada Assembleia. 1. Pessoas
para deficientes físicos; d) não verificamos nenhum caso em que
pertencentes a minorias raciais são atendidas pela Defensoria
a Defensoria Pública de qualquer dos Estados possua política de
Pública de Rondônia independente da renda, por força da Re-
cotas para afrodescendentes e não possua política de cotas para
solução 34/2015[5] do Conselho Superior da Defensoria Pública.
deficientes físicos; e) as Defensorias Públicas do Amazonas e a de
2. Nos últimos dois anos aparelhamos a Assessoria da Impren-
Minas Gerais conseguiram informar a quantidade de estagiários
sa da Instituição – ASCON – com a recomendação de veicular
que ingressaram a partir da política de cotas para deficientes físi-
matérias que combatam o machismo, discriminação racial e
cos; f) apenas a Defensoria do Estado do Rio de Janeiro conseguiu
de gênero. 3. Criação do Núcleo Maria da Penha para defesa e
nos informar a quantidade de estagiários ingressantes através da
empoderamento da mulher. 4. Nos Congressos organizados pela
política de cotas para afrodescendentes; g) as demais Defensorias
Instituição há sempre pautas que versam sobre a discriminação
Públicas não responderam a esse questionamento.
racial e de gênero.
As Defensorias Públicas também foram perguntadas se possuíam
A aplicação da política de cotas na Defensoria Pública Estadual é
outras políticas de ações afirmativas e quais seriam caso a resposta
incipiente e as Defensorias não colocaram em prática mecanismos
fosse afirmativa. Nesse sentido, a Defensoria Pública de Minas Gerais,
que permitam a implementação efetiva desta política. A escassez
que possui cotas para deficientes físicos e não possui cotas étnico-
de dados a respeito da efetivação da política de cotas e os baixos
-raciais, declarou realizar processo seletivo voltado para o público
índices de aprovação evidenciados nos poucos dados que existem
travesti e transexual. A Defensoria Pública do Pará especificou que
nos mostram que as Defensorias Públicas necessitam firmar com-
possui política de cotas para ingresso em todos os concursos e
seleções para indígenas, quilombolas e negros.
[5] Resolução que regulamenta os critérios para aferição da hipossuficiência dos
assistidos da Defensoria Pública do Estado de Rondônia e estabelece as hipóteses de
atendimento.

184 185
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promisso institucional para efetivar a política de cotas, permitindo


que as vagas sejam preenchidas e acompanhando o percurso dos
ingressantes para que a política não seja esvaziada ao longo da sua
implementação.

Considerações analíticas
Em conversa com a defensora pública da Bahia Cláudia Márcia
(nome fictício), discutimos a importância da identificação da exis-
tência ou da ausência de pluralidade e equidade de gênero e racial
na Defensoria Pública. Ela nos alertou para algo que pode ter sido
uma questão para os respondentes ao questionário:

É possível que muitos defensores de outras defensorias não sai-


bam responder o questionário, porque eles não sabem a diferença
entre preto e pardo. E no que isso impacta também, né? Porque
não é só se autodeclarar, é saber que o resultado dessa resposta
tem um impacto muito grande na instituição, porque é como a
instituição se reconhece. (Entrevista com Cláudia Márcia, 2018)

É curioso observar que, à exceção do Rio de Janeiro, ainda que as


mulheres brancas ocupem a maior quantidade de cargos na ins-
tituição, as Defensoras negras ainda são minoria em comparação
ao número de defensores negros.

Apesar da enorme discrepância racial nos quadros da Defensoria


Pública dos Estados em relação ao ingresso de defensores e defen-
soras, servidores e servidoras, terceirizados e terceirizadas, e esta-
giários e estagiárias, a implementação da política de cotas raciais
tem sido lenta e inefetiva. É urgente a implementação da política
de cotas para afrodescendentes e deficientes, observado o per-
centual populacional equivalente para o ingresso em cada cargo
ou função e a criação de condições de verificação e avaliação da
efetividade dessas políticas.

186 187
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PARTE II – COMPOSIÇÃO DOS QUADROS DA Na segunda parte do questionário “II – Composição dos quadros
ADMINISTRAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA da administração da Defensoria Pública do Estado” inquirimos as
DO ESTADO Defensorias Públicas dos Estados sobre:

2.1) Dados do Defensor/Defensora Público-Geral

2.2) Dados da última lista tríplice formada para a eleição da De-


fensoria Pública Geral deste Estado:

2.3) Qual regulamentação foi utilizada pelo Conselho Superior


para a escolha do Defensor Público-Geral?

2.4) Espaço para anexar o hiperlink das normas de regulamentação

2.5) Dados do/da Subdefensor/Subdefensora Público-Geral

2.6) Dados do/da II Subdefensor/Subdefensora Público-Geral (se


houver)

2.7) Dados do Corregedor/Corregedora Público-Geral

2.8) Dados do Subcorregedor/Sub-corregedora Público-Geral


(se houver)

2.9) Dados do Ouvidor/Ouvidora Geral

2.10) Dados dos Conselheiros Classistas

2.11) Quem é o/a atual presidente da entidade de classe de maior


representatividade dos membros da Defensoria Pública do Es-
tado?

2.12) Quais são as linhas de atuação previstas no Plano Plurianual


e no Plano de Atuação da Defensoria Pública do Estado?

2.13) Espaço para anexar o hiperlink do relatório anual das ativi-


dades desenvolvidas pela Defensoria Pública (Hiperlink):

Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República


Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região, com
as respostas ao item 2. Os números correspondem aos sub-itens
da questão 2 (que varia do 2.1 ao 2.13).
188 189
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TA B E L A 1 4

Respostas ao “Item 2 – Composição


dos quadros da administração da
Defensoria Pública do Estado”

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
AC
2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
AM

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
AP

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
RR

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
PA

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
TO

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

190 191
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TA B E L A 1 4

Respostas ao “Item 2 – Composição


dos quadros da administração da
Defensoria Pública do Estado”
2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
MA

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2


2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
CE

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
RN

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
PB

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
PE

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
AL

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
SE

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
BA

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

192 193
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TA B E L A 1 4

Respostas ao “Item 2 – Composição


dos quadros da administração da
Defensoria Pública do Estado”

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
MG

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
SP

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
ES

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

194 195
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TA B E L A 1 4

Respostas ao “Item 2 – Composição


dos quadros da administração da
Defensoria Pública do Estado”

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
PR

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
SC

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

196 197
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TA B E L A 1 4

Respostas ao “Item 2 – Composição


dos quadros da administração da
Defensoria Pública do Estado”

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
MT

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
MS

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
DF

2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13
GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

198 199
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Nove foram as Defensorias que nos forneceram dados a respeito


da composição dos quadros da sua administração superior. Dentre
os Defensores Públicos-Gerais, 77,78% (7) são homens e 22,22% (2)
são mulheres, destes 44,4% (4) se declararam brancos ou brancas;
33,33% (3) se declararam pardos ou pardas e 22,22% (2) não tiveram
a raça/cor declarada; e 0% (0) se declarou preto ou preta.

Dentre os 11 Subdefensores Públicos-Gerais, 63,64% (7) são homens


e 36,36% (4) são mulheres. Desse universo 90,91% (10) se declararam
brancos ou brancas e 9,09% (1) se declarou pardo.

Dos 9 Corregedores-Gerais, 55,6% (5) são homens e 44,4% (4) são


mulheres. Destes, 66,6% (6) se declararam brancos ou brancas;
22,22% (2) se declararam pardos ou pardas; 11,11% (1) não teve a raça/
cor declarada; e 0% (0) se declarou preto ou preta.

Dentre os 7 Subcorregedores-Gerais, 71,4% (5) são homens e 28,5%


(2) são mulheres. Destes, 28,5% (2) se declararam brancos ou brancas;
57,1% (4) se declararam pardos ou pardas; 14,2% (1) não teve a raça/
cor declarada; e 0% (0) se declarou preto ou preta.

Tivemos acesso a informações de 23 conselheiros classistas, dentre


os quais 78,26% (18) são homens e 21,74% (5) são mulheres. Destes,
39,13% (9) se declararam brancos ou brancas; 8,7% (2) se declararam
pardos ou pardas; 52,17% (12) não tiveram a raça/cor declarada; e 0%
(0) se declarou preto ou preta.

Dentre os 9 presidentes de associações estaduais de defensores e


defensoras públicas, 66,66% (6) são homens e 33,33% (3) são mulhe-
res. Destes, 33,33% (3) se declararam brancos ou brancas; 33,33%
(3) se declararam pardos ou pardas; 33,33% (3) não teve a raça/cor
declarada; e 0% (0) se declarou preto ou preta.

200 201
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1 5

Composição dos quadros da


administração das Defensorias Públicas
por Estados e raça/cor

202 203
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Considerando tanto o gênero quanto a raça/cor das pessoas que TA B E L A 1 6


ocupam os cargos da administração das Defensorias Públicas
Estaduais, confeccionamos a seguinte tabela: Composição dos quadros da
administração das Defensorias Públicas
dos Estados por gênero e raça/cor

204 205
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Nesta parte do questionário as pessoas deveriam preenchê-lo com GRÁFICO 17


letra cursiva e não apenas marcando as caixas para indicar a sua
raça/cor. Todas as pessoas se declararam brancos ou brancas ou Raça/cor dos/das componentes
pardos ou pardas, nenhuma delas se declarou negro ou negra, ou dos quadros da administração da
preto ou preta. A partir dos dados informados confeccionamos o
seguinte gráfico:
Defensoria Pública dos Estados

Componentes dos quadros da administração da Defensoria Pública do Amazonas, Minas Gerais,


Pará, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Sergipe, São Paulo e Tocantins (N) = Geral - 70, homens
brancos - 22, mulheres brancas - 13, homens pardos - 13, mulheres pardas - 2, homens raça/cor
não informada - 14, mulheres de raça/cor não informada - 6, homens e mulheres pretos/pretas – 0.

206 207
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A raça/cor dos/das componentes dos quadros geral da adminis- GRÁFICO 18


tração da Defensoria Pública dos Estados é representada por 31%
de homens brancos (22); 19% de mulheres brancas (13); 19% de Gênero dos/das componentes
homens pardos (13); 3% de mulheres pardas (2); 20% de homens dos quadros da administração da
cuja raça/cor não foi informada (14); 8% de mulheres cuja raça/cor
não foi informada (6) e 0% (0) de homens ou mulheres pretos ou
Defensória Pública
pretas. Nas duas únicas Defensorias (Defensoria Pública do Rio de
Janeiro e de São Paulo) em que obtivemos as informações comple-
tas a respeito da raça/cor de todos os componentes dos quadros
da administração superior, todos são brancos/brancas. Em outras
palavras, 100% dos componentes dos quadros da administração
superior das Defensorias Públicas dos Estados de São Paulo e do
Rio de Janeiro são pessoas brancas.

Observada apenas a proporção entre homens e mulheres, sem


distinção de raça/cor, ocupando os quadros da administração das
Defensorias Públicas dos Estados informantes (Amazonas, Minas
Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Sergipe, São Paulo
e Tocantins) temos a proporção de 70% (49) homens para 30% (21)
mulheres.

Componentes dos quadros da administração da Defensoria Pública do Amazonas, Minas Gerais,


Pará, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Sergipe, São Paulo e Tocantins (N) = Geral - 70, homens
– 49; mulheres – 21.

208 209
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É possível observar que os quadros da administração das Defensorias só tem como identificar porque a ouvidoria existe, porque não
Públicas dos Estados são majoritariamente compostos por homens chegam na mesma proporção na corregedoria. O que chega para
brancos, apresentando a necessidade de democratização e acesso a ouvidoria não chega para a corregedoria, muitas vezes, e não
a esses quadros através da inclusão racial e de gênero. é porque morre na ouvidoria não. É porque as pessoas não sen-
tem a mesma possibilidade de escuta, ou porque, infelizmente,
Ouvidorias das Defensorias Públicas Estaduais as corregedorias viraram, infelizmente, um espaço corporativo,
não estou dizendo que é a realidade da nossa. Essa corregedoria
Obtivemos dados de duas Ouvidorias. O Ouvidor-Geral do Rio de
de agora tem até uma dinâmica interessante de escuta, mas por
Janeiro é um homem branco e o ouvidor de São Paulo é um homem
exemplo, as corregedorias ficaram conhecidas no Brasil todo como
branco.
um espaço de corporativismo, né, de proteção corporativista.
Por reconhecermos a importância da Ouvidoria Externa enquanto Enquanto a ouvidoria externa é que tem um processo mais de
elo imprescindível entre a sociedade e a Defensoria no que diz res- independência. As pessoas se identificam com alguém que ao
peito ao exercício da cidadania e à democratização da instituição, mesmo tempo é parte e não é parte da instituição, que tem um
consideramos pertinente ouvir os ex-ouvidores que se dispuseram pouco mais de independência, de como encaminhar as coisas
a nos conceder entrevistas. Pudemos ouvir o ex-Ouvidor-Geral da dentro da instituição. A ouvidoria para mim, externa, tem essa
Defensoria Pública de São Paulo, Alderon Costa, e a ex-Ouvidora- diferença quando você possui em uma instituição como a Defen-
-Geral da Defensoria Pública da Bahia, Vilma Reis. soria, dentro da sua organicidade, uma ouvidoria. Que proporciona

Para a Defensora Pública, Cláudia Márcia (nome fictício): essa reflexão, essa dupla dimensão externa e interna, e, enfim, o
aprimoramento mesmo. Então é assim, aqui, a minha tentativa,
a importância da ouvidoria é porque ao mesmo tempo ela é uma
por uma questão de identificação com a ouvidora inclusive, mas
caixa de ressonância interna e externa, porque eu quando tenho
assim, a gente tem buscado sempre fazer um trabalho em cima
um problema dentro da defensoria eu posso levar para a ouvidoria
de sintomas que a gente percebe, tanto da escuta dela, com a
e discutir. Se algum superior me discriminar em alguma medida,
repetição de determinados questionamentos em relação a de-
eu posso me dirigir à ouvidoria da defensoria... ou se tiver um
terminados temas, ou qualidade do atendimento, ou agilidade,
problema com um estagiário, que seja, porque às vezes ocorre. Eu
ou procedimento, ou questão racial, ou alguma discriminação...
posso ir para a ouvidoria, ou o meu estagiário ou a minha estagi-
ária irem na ouvidoria registrar o fato relacionado a mim. Então Vilma Reis fala da importância em promover o debate sobre partici-
é assim, é uma caixa de ressonância interna e externa, já tiveram pação, controle social e democracia no sistema de justiça. Demarca
situações assim. Não sei se elas vão ser colocadas, ou se vão poder a importância de execução de uma política real de representação
ser disponibilizadas para avaliação, porque algumas certamente em que a população esteja no sistema de justiça não apenas como
implicaram em processos administrativos ou sindicâncias, mas cliente, mas também como agente. Ela explica que a Defensoria
tem. E para nós a ouvidoria tem um grande valor porque a gente Pública necessita formular e fortalecer de maneira real as bases

210 211
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da “política racial da instituição”. Para ela a presença da Ouvidoria um servidor com essa qualidade técnica se envolvesse com a
Externa é essencial nesse processo e é necessário que seja uma questão racial. (...)
presença ativa, com um compromisso social que ultrapasse o cor- Eu sou por uma luta que não pode ter política de governo tem
porativismo institucional. Em suas palavras: que ter política de Estado. Quando sair essa geração da ouvidoria,
[A ouvidoria] Só faz sentido se tiver [atividade de intercâmbio da coordenação de Direitos Humanos e do próprio DPG hoje,
com a sociedade civil]. Por isso esse esforço tão grande de não você ter um refluxo, entende?
admitir ouvidorias cartoriais ou com gente muito mansa. Ah, Ela explica que a Ouvidoria deve ter uma ação conjunta à Defensoria,
você achou ali uma pessoa boazinha, aí você quer essa pessoa observando a pertinência social de todas as ações da Defensoria,
daquele movimento bonzinho para ser Ouvidor/Ouvidora. Não, desde ações consideradas “pequenas” e “corriqueiras” na institui-
meu amigo, pare de querer controlar isso. Porque ou você tem ção, como por exemplo o seu material de divulgação, até o plano
uma ouvidoria crítica, que tá enxergando a coisa e indo pra cima, de gestão. É o que ela relata em uma experiência concreta na qual
ou nem faz sentido. A primeira coisa que a gente tem que desfazer observou o equilíbrio de equidade racial nos materiais de divulga-
é que “ouvidoria não é corregedoria”. A ouvidoria para fazer com ção da Defensoria:
muito esmero, com muita força, com muita crença essa ponte
E é diferente, você pode vir aqui, ver a imagem: negro tá aqui,
com a sociedade civil, e quando você tiver da ponte você precisa
mulher negra tá aqui. A mulher negra tá aqui né, em várias situ-
fortalecer isso de verdade, senão você tem pauta de Defensor
ações. Mas não é o discurso direto de enfrentamento que tá aqui.
para ir para a assembleia legislativa para a população ser bucha
Obviamente que quando você faz um material desse e coloca
de canhão? (...)
imagens como essa você está sumindo assim: olha, há todas as
E eu fico vendo aí, porque esse silenciamento, né? Eu fico vendo diversidades das mulheres e elas estão razoavelmente retratadas
lá no Rio Grande do Sul, o servidor, claro que é militante da causa aqui. Quando você faz um material desse você está tomando
LGBT, ele preparou para ver como nessa violência contra a po- posição, numa sociedade que quer todo mundo neutro. A gente
pulação tem um viés racial forte... e quando a gente prepara um tá aqui assumindo né, que na Bahia, que tem graves situações
protocolo a gente quer saber, né? Como é que o cara pode fazer de violação de direitos humanos e racismo contra as mulheres,
audiência e não perguntar ao preso se ele foi espancado? A gente negros, a Juventude Negra, Comunidades Quilombolas, indí-
não tá aqui para fazer uma escala de quem é o mais oprimido, genas, de pescadores, pessoas em situação de rua, de terreiros
mas aí a gente quer uma equidade. Aí você olha na parada gay, e comunidades LGBT, pessoas presas e suas famílias, pessoas
com a ajuda da Defensoria, eles criaram um protocolo de não em sofrimento mental e outros grupos, existe um espaço que
violação de direitos da comunidade LGBT durante a parada. E privilegia a democracia participativa, a ouvidoria cidadã. Falar
aí eu fiquei olhando aquilo, o cara veio, apresentou com tanto dessas coisas que para a gente é tão importante. Os programas
gosto, e eu fiquei pensando assim, gente, como eu queria que da própria ouvidoria, grupos de trabalho intersetorial para povos
tradicionais, programas de educação, que é para você ir marcan-

212 213
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do... nas imagens você vai marcar... porque essa história dessa e trabalharem de maneira estratégica de modo a institucionalizar
neutralidade, ela faz mal à saúde. Então isso aqui, eu acho que os mecanismos de ação, permitindo o seu uso e aprimoramento,
Eva Rodrigues, enquanto a coordenadora de Direitos Humanos, para que este seja um compromisso institucional e não um mero
que a gente parte com um material como esse... A gente preparou compromisso de gestão.
um protocolo para tratar a questão da violência policial e esse
No que diz respeito à participação da Ouvidoria nas formações,
protocolo é uma coisa importante... porque como a coordenação
Vilma Reis relata:
aqui porque a coordenação não pode chegar todas as comarcas
A ouvidoria participa da formação dos Defensores, um dos mó-
do interior... (...) então quando você coloca e produz materiais a
dulos é a gente que dá. Eu sempre digo, não é possível nessa
gente rompe com esse negócio de neutralidade. (...) Deu um qui-
Bahia, com tanto quilombo, com tantos povos indígenas, com
proquó nessas imagens com a Dascom, porque só tinha branco,
tanto problema na vida dos pescadores, dos terreiros, não tá
então a gente devolveu o material e não deixou rodar.
emergindo essas coisas no interior? E tem a ver com a miopia
Ela explica que, na Bahia, as ações da Ouvidoria são múltiplas,
política, né? Aí eu comecei a levar um tipo de material e ao refa-
incluindo a avaliação de casos que chegam como denúncia de
zer esse folder, ao puxar essas discussões no folder da ouvidoria,
racismo; a formação dos defensores e o oferecimento de cursos para
a questão é essa... Tanto no curso de Defensores que a gente tá
a sociedade; a observação da rotina institucional, como a impressão
dentro do curso quanto no curso de Defensores populares, que
de materiais gráficos para a divulgação da instituição; a realização
são os movimentos sociais vindo via ouvidoria e escola superior,
do plano de gestão; construção do orçamento participativo ou do
a gente vai levando os conteúdos. E nas atividades também, mas
planejamento estratégico. Esses últimos estabelecem as ações da
eu fico pensando, por exemplo, a gente está articulando uma
instituição, como a ampliação de núcleos para o interior, a criação
pesquisa para saber o grau de satisfação dos presos. (...) Então, a
de grupos de trabalho ou ainda a criação de um protocolo capaz
gente tá articulando uma pesquisa, no campo das audiências de
de orientar um defensor que se vê diante de um caso de racismo,
custódia, desde quando Ana Flauzina estava na Unilab a gente
intolerância religiosa ou violência policial.
puxou um convênio com a Unilab, que era o caso específico dela
Vilma Reis conta que esse protocolo foi apresentado ao Colégio lá, e agora a gente tá trazendo para a UFBA, como é que num
Nacional de Defensores Públicos-Gerais (CONDEGE) em setembro projeto de extensão, pode botar esses estudantes aí para acom-
de 2016, em reunião realizada na Bahia e que poderia ser utilizado panhar, com monitoramento dela, para também trabalhar os
para influenciar os outros Estados. Para Vilma Reis, cabe à Ouvidoria dados do que a atuação da Defensoria na audiência de Custódia,
inclusive fazer recomendações à Defensoria e cita a recomenda- mas também para a gente enxergar coisas. A outra é no sistema
ção que a Ouvidoria Externa da Defensoria Pública da Bahia fez à socioeducativo, porque a gente às vezes está falando aqui dos
Defensoria de notificar a questão racial nos casos de violência poli- conselhos penitenciários que, normalmente, quem tem acento
cial. Para ela, contudo, essas recomendações só serão eficazes se as lá é a coordenadora da área criminal e de execução penal (...) No
pessoas responsáveis estiverem comprometidas com a causa social mais é assim, a gente passa nas unidades para ver como é que

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está o trabalho da Defensoria e a gente volta para a coordenação vai dizer “olha, você só pode ser um bom representante no interior
e diz, talvez aqui dá para mudar... Porque às vezes a gente pensa se você se colocar junto com a sociedade civil”, entendeu? Se
assim, poxa, a população não vai ter coragem avaliar realmente você não der abertura, porque imagine, antigamente podia só
o defensor. um defensor abrir a comarca. Hoje em dia não, pelo modelo aqui
tem que ir pelo menos um e uma, ou dois ou duas, certo? Então
Vilma Reis aponta a necessidade de disseminar um pensamento
vai lá, se essas pessoas não criarem os links aqui, ó, com a socie-
social dentro da instituição e afirma que a Ouvidoria tem um papel
dade, é impossível construir uma defensoria com algum plano
importantíssimo nessa missão. Para ela, “se você faz aí uma Ouvidoria
de realidade. Porque o mais fácil é dizer “não, eu vou ficar aqui
que toma um cunho burocrático obediente e manso, ela não vai se
só fazendo minha petiçãozinha”... “Não, eu ando muito ocupado,
meter nesses temas, porque aparentemente esses temas não tem
ouvidora, eu tenho que fazer júri, eu tenho que atender, eu tenho
a ver”, e ela se coloca enquanto agente nesse processo, indicando
que...” E aí a gente tem que dizer, “mas ah, você também tem
que além de ajudar na formação dos defensores também preparou
que conversar com a sociedade civil”... Porque se você faz ações
um módulo do curso de Defensoras Populares. Narra a ex-ouvidora
coletivas, você pode até diminuir o seu trabalho, né, porque se
da Defensoria Pública da Bahia:
a sociedade se empoderar, ela mesma tem coisas que ela pode
a gente antes tinha 10 minutos, 15 minutos para apresentar, ia
resolver chamando a associação, chamando a prefeitura. Agora
para a mesa geral com o DPG, corregedor, ADEP, aquele mesão
se você ficar lá trancado no diacho do seu gabinete só fazendo
e falava, né? Aí eu levantei a minha mãozinha na sala do conselho
petição, ô meu amigo, aí então... você tem que ir no curso de for-
superior e falei “não dá tempo”, “eles não fixam o que é a ouvidoria,
mação para dizer isso, que às vezes a diretora da Escola Superior
os compromissos que precisam ter para ser defensores”, “então a
não pode dizer. Tem coisa que a corregedora não vai poder dizer,
gente precisa de tempo”, “vamos preparar essa formação”, e foi aí
e eles vão dizer até que assediou, não sei o que, mas a ouvidoria
que a gente foi alargando. Mas aí eu acho estranho que alguém...
que representa a sociedade civil, essa tem que dizer. Você não
agora quando a gente vai fazer formação com novos defensores
representa a gestão, o DPG, os compromissos políticos... não.
a gente leva a equipe inteira, as pessoas do atendimento, da
Você aqui representa a sociedade civil. A defensoria existe para
análise jurídica, da secretaria, todo mundo fala. Porque você não
defender os grupos mais vulnerabilizados da sociedade, a gente
pode transformar isso em uma atividade burocrática, entende?
quer que tenha Defensoria para todo mundo, seguindo o ponto
Isso aqui, Ana, é uma atividade política de alta relevância porque
16 dos desafios do milênio. O ponto 16 diz, pô, deveria ter justiça
a gente leva pasta para todo mundo com o material, direciona.
para todo mundo. Como diz Élida Lauris, na ordem capitalista,
As coisas que a gente aderiu de IBCCRIM e todos esses docu-
o sistema de justiça entrou para ordenar a desordem que o ca-
mentos, Rede de mulheres negras da Bahia fez um manifesto,
pitalismo criou. Então a gente precisa entrar aqui nesse meio
“parem de nos matar”, a gente copia e bota dentro da pasta. Os
de campo. Então para isso acontecer e ampliar um bocadinho...
compromissos da Defensoria Pública e os seus eixos, a gente vai
para ajudar os que estão arrastando a barriga no chão você tem
começar a conversar sobre isso, porque você não pode... a gente
que fazer ação social. E fazer ação social não é buscar a paz so-

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cial, porque a paz social é um inferno. A turma da paz é o caos. da equipe cria constrangimento... “porque é que a ouvidora tá
Então, você tá aqui sabendo que você é um agente político para aqui”. Porque o cara falou no dia que eu cheguei lá e tudo fora do
atuar junto com a sociedade, sem usurpar a fala da sociedade lugar... eles estão acostumados a lidar com brancos com poder.
e que você vai ser parte de um processo. Você não vai resolver Então, quando eles têm que lidar com negro que tem poder, eles
nada como Defensor, você não é salvador de nada, você vai ser muitas vezes negam... esse aqui não tem poder nenhum, mas
parte desse processo aqui, e sendo parte você vai entender que a tem poder. Simbolicamente tem poder. Primeiro, você chega
sociedade sabe mais do que você. Então o Defensor que tá lá só ali naquela central do Iguatemi, e você entra lá e você não é
fazendo petição, ele é um problema para a sociedade, por mais revistado, e são várias filtros que são impostos a pessoas negras
que ele se ache certo. Então, na formação, você tem que ter as todos os dias, e você vai chegar ali e você é uma pessoa negra
condições de dizer isso. (...) vai entrar ali e não vai passar por esses constrangimentos. E isso
é pedagógico, porque o cara fica ali, porra, mas eu queria fazer
A gente tem encontrado resistência também. Teve uma turma
com todos os negros, e eu não vou poder fazer com esse aqui.
que eu fui que uma moça lá falou “Nossa, que dificuldade, a
gente só tá falando dessa coisa aqui”... Aí eu dei minha volta, fiz Esse é um dos exemplos que nos ajudam a pensar em como a equi-
que eu não tava vendo nada e disse “olha, as questões na área dade racial e de gênero é importante para pensar a estruturação
cível, na área criminal, na área de fazenda pública, de direitos do da nossa sociedade e das instituições.
consumidor, de direitos humanos, se você for pelo espectro dos
direitos humanos, de direitos dos idosos, pessoas com deficiência, Considerações analíticas
das mulheres, todos esses direitos, eles estão atravessados por
A Defensoria Pública Estadual apresenta grande discrepância de
raça”. Então você também tem que ser alguém que tá entenden-
raça/cor e de gênero na ocupação dos quadros da sua adminis-
do onde você está se metendo para você desafiar ele. Você tem
tração, sendo composta majoritariamente por homens brancos,
que dizer, o racismo ele é estruturante da sociedade.
destoando inclusive da composição da própria Defensoria, que é
A ex-ouvidora destaca o valor real, simbólico e pedagógico da ocu- majoritariamente composta por mulheres brancas.
pação dos espaços de poder por pessoas negras. Narra que muitas
Questionado sobre a sua percepção do racismo nas Defensorias
vezes sentia o constrangimento e o “não saber como lidar” que
Públicas, o ex-ouvidor da Defensoria Pública de São Paulo, Alderon
muitos evidenciavam ao encontrá-la na posição de ouvidora e reco-
Costa, relata:
nhecê-la neste posto como alguém que direta ou indiretamente
ocupa o lugar de agente no sistema. Ela narra: É claro que a gente vê o racismo. A questão do olhar é muito
objetiva nesse sentido. Se você vai numa reunião do Conselho
[enquanto fazia a inspeção] ele [ia] dizendo: “olha doutora, agora
Superior da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e você olha
você não vai mais encontrar preso pelo chão...”. Porque ele sabe
o Conselho, é um Conselho Branco. Você não tem a diversidade
que eu tô falando disso, porque também esse poder da fala gera
que representa o Brasil. Só observando aí você já vê que o racis-
constrangimento, porque a sua presença também e a presença

218 219
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mo fica muito claro, quando você um conselho que representa sempre uma história. Teve uma menina aqui, uma mãe de uma
uma instituição, você não ter índios, não ter negros, e, inclusive, criança de sete anos, que a menina foi com a mãe ali na loja in-
no caso de São Paulo, você não ter mulher eleita. Todos os eleitos sinuante no shopping Lapa, e aí tinha umas bicicletas na frente
são homens. Então essa questão do racismo é muito clara, e isso e a mãe foi procurar alguma coisa e aí a menina ficou brincando
eu não tenho dúvida. Na questão da Defensoria como um todo, a com as bicicletas junto com outros meninos brancos, filhos de
gente também observa que são poucos os defensores negros ou quem estava lá comprando também. E aí o segurança foi e saiu
negras, você, no caso de São Paulo, se tiver 5 ou 6 são muitos, em carregando a menina. E aí corre todo mundo pra chamar a mãe
700, um número tão grande desse. E isso num país desse em que da menina, e aí o segurança disse que tirou a menina porque
nós temos a metade ou mais da população é negra, e você não a menina era suspeita. Suspeita de que? Uma criança de sete
tem essa representação na instituição. Isso é um problema claro. anos. E aí processo vai, processo vem, e aí a criança sofreu um
processo de baixa autoestima terrível. E ela começou a arrancar
o pedaço da pele para aparecer a partezinha branca. A menina
Para a defensora pública Cláudia Márcia (nome fictício), a questão
ficou completamente transtornada. Então assim, isso impacta
da política de cotas tem apresentado um duplo impacto na dinâ-
na autoestima da gente. A questão do cabelo, a questão da cor
mica da instituição. Para ela:
da pele, isso tem um impacto na auto estima, até você descobrir
E isso tem um duplo impacto, tanto no sentido de que ser negro que isso é legal, que isso é bonito, até você enxergar dessa forma,
é algo positivo ou negativo, e aí você querer ou não se identificar e enxergar isso como um espaço de poder também, e de pensar
com algo positivo ou negativo. Porque isso a gente identifica no assim: “do jeito que eu sou eu consigo acessar igual todo mundo”.
concurso. Tudo isso é aprendizado. Estudo mesmo que a gente fez É diferente, sabe? Eu acho que essas questões, elas precisam de
por causa do concurso. A gente identificou no sistema de cotas mais atenção. (...) A gente vivenciou muito aqui na Defensoria
que, pela primeira vez, as pessoas entendem que ser negro é uma nesses últimos anos, eu, especificamente, porque trabalho com
coisa legal, que o grande lance é você ser negro e não o contrário. direitos humanos desde 2003, horas mais com questões raciais,
Pro bem e pro mal. Porque aí tem quem burla, tem quem queira horas mais com questão de gênero, mas, assim, a experiência
que transpareça uma coisa que não é. Mas por outro lado, tem com o concurso e com as cotas me trouxe outra experiência, e
você, pela primeira vez, ter orgulho de ser o que você é e de poder os estudos também sobre a história do nosso povo.
dizer que você é negro. Eu acho isso fantástico, e isso é um reflexo,
A respeito da atuação do Núcleo de Combate ao Racismo da
digamos assim, direto das cotas, porque a cota quer botar pra
Defensoria Pública do Rio de Janeiro, Lívia Casseres comenta:
dentro da defensoria e das instituições e torná-las mais iguais, mais
representativas, mas assim, o que é que isso gera indiretamente? A gente levantou em 2015 qual era o número de profissionais au-
Que mexe inclusive com a questão da autoestima, de você poder todeclarados negros na defensoria e aí constatamos os problemas
inclusive, com isso, revolucionar outros aspectos da sua vida. E a dos editais, e aí em conversa tanto com a chefia da instituição,
pessoa vê isso como um motivo de orgulho. Eu costumo contar tanto com o CEJUR, que participa desses concursos, quanto a

220 221
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coordenação de estágio e de recursos humanos, teve uma série esvaziar a norma nova, que era o nosso objetivo garantir que os
de mudanças nos editais. Então, uma das questões que não cotistas conseguissem participar do concurso. Porque a história
existiam eram as comissões de verificação. Hoje todos os editais é essa, o cotista nem participa do concurso. E aí redundou no
preveem a verificação como uma etapa do processo seletivo. E mesmo problema.
teve uma discussão sobre uma etapa do processo de seleção para
Para além do que pudemos observar da política de cotas, Cláudia
defensor que era a de transformar a prova na primeira fase em
Márcia (nome fictício) chama a atenção à necessidade de pensar o
uma prova de múltipla escolha. O NUCORA tem acompanhado
enfrentamento ao racismo institucional para além da representati-
esse processo e percebeu que não foi efetivo mudar o edital sem
vidade nos quadros e da implementação de uma política de cotas
mudar a metodologia da primeira fase. Porque a gente fez uma
eficaz, o que é imprescindível, mas insuficiente para se pensar um
série de mudanças no edital para tentar dar mais efetividade
plano de enfrentamento ao racismo que não discuta as hierarquias
à política de cotas, e como a primeira fase continuou sendo
dentro da própria instituição. Para ela, esse enfrentamento passa
discursiva, nada do que a gente previu se concretizou. Então o
também pela questão da formação. Perguntada sobre a observação
número de pessoas aprovado na primeira fase era menor que
das manifestações de racismo institucional ela conta:
o número de cotistas que poderiam ser admitidos segundo o
Se você me perguntar se existe, existe. E aqui, nas defensorias,
edital. Então essa é uma barreira que a gente propôs a mudança
elas vêm, como em todas as instituições... porque não adianta
e ainda não foi aceita, a mudança da metodologia de aplicação
resolver isso no topo, no âmbito da representatividade, e não
da prova da primeira fase. (...) Em um concurso em andamento,
resolver isso nas relações interpessoais. Então é assim, o que
aqui, agora, a gente tem que não houve o preenchimento nem
é que acontece, não adianta você entrar na instituição por um
dos candidatos habilitados na primeira fase. Isso eu ainda não
sistema de cotas e você promover racismo institucional com o
questionei formalmente, mas é uma surpresa péssima porque a
seu estagiário ou com o seu servidor/servidora negro. Não adian-
ideia desse edital era justamente a de reverter isso, né. Esse edital
ta a gente consertar uma coisa e outros problemas seguirem.
previa que em torno de 600 pessoas iam para a segunda fase. E
Não adianta a gente implantar um sistema de cotas se a gente
o que que aconteceu, a banca examinadora reprovou quase todo
segue como instituição discriminando que está na base. Quem
mundo e só aprovou um número muito menor de candidatos,
é que tá na base hoje da defensoria pública? Os servidores con-
o que inviabilizou a participação de candidatos cotistas. Então
tratados pelas empresas terceirizadas e os estagiários de nível
os candidatos cotistas não chegaram na segunda fase. (...) . Não
médio que são massivamente negros. Então não adianta nada
tem um órgão externo mais imparcial que faça a gestão da prova,
implantar um sistema de cotas bacana e na relação exercer uma
das questões, das correções, não tem uma banca contratada,
relação totalmente discriminadora, entendeu. E aí você destrata,
talvez o argumento seja o da economia, e eu acho que isso gera
você coloca o servidor para carregar a sua pasta, o estagiário de
problemas. (...) a gente estabeleceu nota de corte para garantir
nível médio para carregar a sua pasta, para pegar o seu cafezi-
que um número determinado de cotistas ia chegar na segunda
nho, para pegar o seu copo com água, você entende o que eu
fase e aí a subjetividade da correção da primeira fase conseguiu

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estou falando? Essas são práticas que lembram muito práticas Considerações para ação
utilizadas no momento da escravidão. Então, assim, quem são
as pessoas que estão fazendo o serviço de baixa qualificação na »» As Defensorias Públicas Estaduais devem observar a paridade
instituição? Acho que isso diz muito, né? Quem é que está na racial e de gênero nos seus quadros de administração superior,
base da instituição fazendo essas tarefas que, digamos assim, criando e implementando ações que promovam a preparação
na escala de importância, é uma importância secundária? En- das mulheres, sobretudo das mulheres negras, para os car-
tão não adianta resolver algumas coisas se na relação interna gos de gestão. É imprescindível considerar a dupla jornada de
[as violências se perpetuam], principalmente na relação com mulheres e as condições para exercer este trabalho, de modo
estagiário de nível médio, que são adolescentes que estão em que a instituição deve pensar em ações afirmativas eficazes
formação. (...) E a gente precisa ter um pouco essa noção de que que não representem o aumento da jornada de trabalho para
a instituição precisa se abrir para esse tipo de discussão e, mais essas mulheres.
ainda, para refletir sobre o modelo de relação que se estabelece, »» A política racial da instituição deve estar explicitada em seu
das relações de poder mesmo. O que acontece, o Defensor ou planejamento de modo que venha mencionada como pretende
defensora exerce uma relação de poder com relação ao servidor, ser abordada em suas linhas de atuação, previstas no plano
que está à disposição, e o servidor, por via de consequência, exerce plurianual e no plano de atuação da Defensoria de cada Estado.
uma relação de poder sobre o estagiário de nível superior, que
exerce uma relação de poder sobre o estagiário de nível médio, PARTE III – FORMAÇÃO
que exerce uma relação de poder ou não, com a moça que faz a
limpeza. Então, a gente tá reproduzindo um modelo completa-
Na terceira parte do questionário “III – Formação”, inquirimos as

mente equivocado desse jeito, não é? Então a gente insiste muito


Defensorias Públicas Estaduais sobre:

na formação dos estagiários e dos defensores, sobre como fazer 3.1) Quais as disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial
a análise dessas relações. E aqui é claro que não escapa não, tem de preparação à carreira de Defensora Pública/Defensor Público
situações de discriminação que são trazidas, ou de algum tipo de deste Estado?
situação que possa ser identificada como assédio, e aí é preciso
dialogar. A defensoria criou também mecanismos internos de
fazer essa discussão.

Nesse sentido, passamos para a análise do próximo tópico do questio-


nário, que discute a formação nas Defensorias Públicas dos Estados.

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3.2) As disciplinas/módulos/atividades que compuseram o últi- mo curso oficial de preparação à carreira de Defensora Pública/
Defensor Público deste Estado incluíram temas relacionados à
questão racial? Como?

3.3) Espaço para anexar o hiperlink do programa de formação do


último curso: (Hiperlink):

3.4) Qual a duração da formação? Como ela é realizada? Quem


são os responsáveis pela formação? Houve representatividade
de raça no que concerne às pessoas que ministraram o último
curso de preparação?

3.5) A Defensoria Pública deste Estado dispõe de Escola Superior


ou Centro de Estudos Jurídicos? ( ) Não ( ) Sim

3.6) A Defensoria Pública desde Estado realizou, ao longo dos


últimos 2 anos, cursos, eventos e/ou capacitações nas áreas se-
guintes?

- Direitos humanos: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

- Direitos da criança e do adolescente: ( ) Cursos e capacitações


( ) Eventos e ações

- Sistema carcerário: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

- Medidas socioeducativas/ juventude e prisão: ( ) Cursos e ca-


pacitações ( ) Eventos e ações

- Saúde: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

- População em situação de rua: ( ) Cursos e capacitações ( )


Eventos e ações

- Promoção da igualdade racial: ( ) Cursos e capacitações ( )


Eventos e ações

- Sexualidade: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

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- Violência contra as mulheres: ( ) Cursos e capacitações ( ) 3.12) Quais as principais atividades organizadas nos últimos dois
Eventos e ações anos com formadoras/es negras/os?

- Direitos das mulheres: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República
ações Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região,
com as respostas ao item 3. Os números correspondem aos
- Povos indígenas e comunidades tradicionais: ( ) Cursos e capa-
sub-itens da questão 3 (que varia do 3.1 ao 3.12)
citações ( ) Eventos e ações

- Intolerância religiosa: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

- Terra e território: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

- Questões urbanas e moradia: ( ) Cursos e capacitações ( )


Eventos e ações

- Idosos: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

- Pessoa com deficiência: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos


e ações

- Consumidor: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

- Política de drogas: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

3.7) Se houver outra opção diferente das de cima especifique


abaixo.

3.8) Qual a área de maior demanda e prioridade de formação e


atuação da Defensoria Pública deste Estado?

3.9) A Defensoria Pública deste Estado realiza parcerias para o


oferecimento e realização destes cursos, eventos e capacitações?

3.10) As disciplinas/módulos/atividades organizadas nos últimos


dois anos, pela Defensoria Pública deste Estado incluíram temas
relacionados à questão racial.

3.11) Quais as principais atividades organizadas nos últimos dois


anos com essa abordagem?

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TA B E L A 1 7

Respostas ao “Item 3 – Formação”

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
AC
3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
AM

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
AP

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
RR

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
PA

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
TO

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1 7

Respostas ao “Item 3 – Formação”

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
MA

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
CE

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
RN

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
PB

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
PE

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
AL

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
SE

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
BA

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

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TA B E L A 1 7

Respostas ao “Item 3 – Formação”

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
MG

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
SP

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
ES

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

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TA B E L A 1 7

Respostas ao “Item 3 – Formação”

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
PR

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
SC

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

236 237
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1 7

Respostas ao “Item 3 – Formação”

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
MT

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
MS

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
DF

3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 3.10 3.11 3.12
GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

238 239
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

A partir das respostas oferecidas pelas Defensorias Públicas do


Amazonas, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro,
Rondônia, São Paulo, Sergipe e Tocantins, formulamos as seguintes
tabelas:

240 241
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
TA B E L A 1 8

Formação nas
Defensorias Públicas
dos Estados

242 243
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Considerando as principais disciplinas/módulos ofertados no último maior demanda e prioridade de formação é o “sistema prisional”.
curso oficial de preparação à carreira de defensor público, observa- A Defensoria Pública mineira informa realizar parcerias com outras
mos que a Defensoria Pública do Amazonas, Rio de Janeiro e São entidades do sistema de justiça, com o Governo do Estado e com
Paulo oferecem disciplinas que abrangem temáticas relacionadas entidades da sociedade civil de uma forma em geral. A instituição
a: I) Questões internas à organização, administração, atendimento e informou ter realizado atividades relacionadas à questão racial nos
funcionamento da Defensoria Pública do Estado; II) Temas de direito últimos dois anos e avalia como principais ações a realização de um
coletivo, direitos humanos e/ou atuação em tribunais internacionais; seminário sobre a temática e a inclusão da política de cotas para
III) Temáticas na área penal; IV) Temáticas nas áreas cíveis. negros no concurso.

As Defensorias Públicas do Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, As principais disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial
Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins de preparação à carreira de defensor público do Estado do Rio de
não informaram as principais disciplinas e módulos ofertados no Janeiro são: I) Funcionamento da Defensoria Pública (coordena-
curso oficial de preparação à carreira de defensor público. As prin- ções, núcleos especializados, suporte técnico, etc.); II) princípios
cipais disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial de institucionais; III) Processo civil, família, consumidor, cível, atuação
preparação à carreira de defensor público do Estado do Amazonas nos fóruns e tribunais, penal, processo penal, sistema-socio-edu-
são: I) Organização/Administração/Técnicas de atendimento; II) cativo, infância, execução penal, fazenda pública; IV) visitas a locais
Direito Coletivo e Fundiário; III) Atuação da Defensoria Pública no de atuação (comunidades e unidade prisional); V) criminologia,
Interior: ênfase na área de Família; III) Normas e regimentos internos direitos humanos, sistema interamericano, VI) Defensoria Pública
da DPE; IV) Atuação da Defensoria Pública no Interior: ênfase na e democracia; VII) métodos extrajudiciais de soluções de contro-
área civil; V) Diretrizes sobre audiência de Custódia; VI) Atuação da vérsias; VII) direito à moradia; VIII) política de drogas.
Defensoria Pública no Interior: Ênfase na Área Criminal.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou que as disciplinas/
A Defensoria Pública do Amazonas informa que “trabalha com dois módulos/atividades que compuseram o último curso oficial de
projetos importantes no âmbito do Estado. “Um novo amanhã”, que preparação à carreira incluiu temas relacionados à questão racial
trabalha com crianças e adolescentes que sofreram com abuso através das aulas do NUCORA (Núcleo de Combate ao Racismo)
sexual, e o “Ensina-me a sonhar”, que trabalha com adolescentes e NUDIVERSIS (Núcleo pela Diversidade) de combate ao racismo
que cumprem medidas socioeducativas. A Defensoria Pública e discriminação com a defensora Lívia Casseres, com a visita ao
do Amazonas não indicou ter realizado atividades relacionadas à Quilombo Sacopã, incluindo a vivência e o estudo de caso com Luiz
questão racial nos últimos dois anos. Sacopã e Lívia Casseres. A Defensoria fluminense disponibilizou o
programa de formação do último curso.
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou que “a instituição
não fornece cursos para o ingresso em seus quadros, apenas cur- A Defensoria Pública de São Paulo informa que realizou a apre-
sos de capacitação abertos ao público, inclusive com inclusão de sentação do Núcleo Especializado de Combate à Discriminação,
debates sobre a questão racial”. Para essa Defensoria, a área de Racismo e Preconceito e também a palestra “A dinâmica dos meca-

244 245
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

nismos discriminatórios e suas formas de enfrentamento”; a oficina:


“Construção da identidade e da diferença – O Movimento Negro
– Diversidade sexual: conceitos e reflexões”; a Mesa de debates:
“relações de gênero, a situação da mulher relativamente aos direi-
tos sexuais e reprodutivos na perspectiva da convenção sobre a
eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher
– Proteção jurídica da mulher: combatendo a discriminação e a
violência.”

As Defensorias Públicas dos Estados do Amazonas, Sergipe e


Tocantins não incluíram temas relacionados à questão racial nas
disciplinas/módulos/atividades que compuseram o último curso
oficial de preparação à carreira de defensor público.

As Defensorias foram perguntadas se realizaram nos últimos dois


anos cursos, eventos e/ou capacitações, na área de I) direitos huma-
nos; II) direitos da criança e do adolescente; III) sistema carcerário;
IV) medidas socioeducativas/ juventude e prisão; V) saúde; VI) popu-
lação de rua; VII) promoção da igualdade racial; VIII) sexualidade;
IX) violência contra as mulheres/ direitos das mulheres; X) povos
indígenas e comunidades tradicionais; XI) intolerância religiosa; XII)
terra e território; XIII) questões urbanas e moradia. Formulamos a
tabela a seguir com as informações fornecidas.

246 247
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1 9

Áreas de cursos,
eventos e/ou
capacitações
realizados nos últimos
dois anos
Medidas

socioedu-

Direitos da cativas /

Direitos Criança e do Sistema juventude População

Humanos adolescente carcerário e prisão Saúde de rua

AM NÃO
Cursos e ca-
NÃO
Cursos e ca-
NÃO NÃO RN N/I N/I N/I N/I N/I N/I
pacitações pacitações

Cursos e ca-
CE N/I N/I N/I N/I N/I N/I RO Eventos Eventos Eventos Eventos
pacitações
NÃO

Cursos e ca-
Cursos e ca-
Cursos e ca- Cursos e ca- Cursos e ca-
RR N/I N/I N/I N/I N/I N/I
MG pacitações
pacitações
pacitações pacitações pacitações Eventos

Eventos Eventos Eventos Eventos


SE Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos NÃO

MS N/I N/I N/I N/I N/I N/I


SP Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos

PA NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO


Cursos e ca-

TO pacitações Eventos Eventos Eventos Eventos NÃO


Cursos e ca- Cursos e ca- Cursos e ca- Cursos e ca- Cursos e ca- Cursos e ca-
Eventos
RJ pacitações pacitações pacitações pacitações pacitações pacitações

Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos

248 249
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1 9

Áreas de cursos,
eventos e/ou
capacitações
realizados nos últimos
dois anos
Promoção Violência contra

da as mulheres/

igualdade Direitos das Povos Terra e

racial Sexualidade mulheres indígenas e território

AM NÃO NÃO Eventos NÃO NÃO NÃO RN N/I N/I N/I N/I N/I N/I

CE N/I N/I N/I N/I N/I N/I Cursos e capaci-

RO Eventos NÃO tações NÃO NÃO Eventos

Cursos e capaci- Eventos

MG Eventos Eventos tações NÃO NÃO NÃO

Eventos RR N/I N/I N/I N/I N/I N/I

MS N/I N/I N/I N/I N/I N/I SE Eventos Eventos Eventos NÃO Eventos NÃO

PA NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO SP Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos

Cursos e Cursos e ca- Cursos e ca- Cursos e ca-


Cursos e ca- Cursos e capaci- Cursos e ca-
Cursos e ca- capacita- TO pacitações pacitações Eventos pacitações Eventos Eventos
RJ pacitações tações pacitações NÃO
pacitações ções Eventos Eventos Eventos
Eventos Eventos Eventos
Eventos

250 251
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 1 9

Áreas de cursos,
eventos e/ou
capacitações
realizados nos últimos
dois anos

Questões

urbanas e Pessoa com Política de

moradia Idosos deficiência Consumidor drogas

AM NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO RN N/I N/I N/I N/I N/I

CE N/I N/I N/I N/I N/I RO Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos

Cursos e Cursos e Cursos e


RR N/I N/I N/I N/I N/I
MG capacitações NÃO NÃO capacitações capacitações

Eventos Eventos Eventos


SE Eventos NÃO NÃO Eventos NÃO

MS N/I N/I N/I N/I N/I


SP Eventos Eventos Eventos Eventos Eventos

PA NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO


Cursos e

TO Eventos Eventos Eventos capacitações NÃO


Cursos e Cursos e Cursos e
Cursos e Cursos e Eventos
RJ capacitações
capacitações capacitações
capacitações capacitações

Eventos Eventos Eventos

252 253
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

A Defensoria Pública do Amazonas oferece cursos e capacitações técnico jurídicas, podendo abarcar noções fundamentais de psi-
nas áreas de direitos da criança e do adolescente; medidas socioe- cologia, ciência política, sociologia, mediação, criminologia e de
ducativas/ juventude e prisão. A Defensoria Pública de Minas Gerais filosofia do direito” e; em Tocantins a “área da família”.
oferece cursos e capacitações nas áreas de direitos humanos; direitos
Questionadas sobre quais teriam sido as principais atividades rela-
da criança e do adolescente; sistema carcerário; medidas socioe-
cionadas à questão racial organizadas nos últimos dois anos, a
ducativas/ juventude e prisão; saúde; questões urbanas e moradia;
Defensoria Pública de Minas Gerais informou terem sido “Seminários
consumidor; política de drogas; violência contra as mulheres/direitos
e a inclusão no edital do concurso de percentual de cotas para
das mulheres.
negros” (essa Defensoria não soube, contudo, nos informar quantos
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro oferece cursos e capacita- teriam sido os candidatos aprovados via sistema de cotas). Mato
ções nas áreas de direitos humanos; direitos da criança e do ado- Grosso do Sul informa a realização de “Seminários, Palestras in loco
lescente; sistema carcerário; medidas socioeducativas/ juventude e atendimentos especializados”.
e prisão; saúde; população de rua; promoção da igualdade racial;
A Defensoria do Rio de Janeiro informou a realização dos eventos
sexualidade; terra e território; questões urbanas e moradia; idosos;
“I Jornada Nacional sobre Racismo Institucional no Sistema de
pessoa com deficiência; consumidor; política de drogas; sexualidade;
Justiça” e “Direito à saúde e seus avessos: Racismo Institucional e
violência contra as mulheres/direitos das mulheres; povos indígenas
Mortalidade Materna”, o “Curso Racismo Institucional e Sistema de
e comunidades tradicionais.
Justiça”; a “Roda de Conversa Gênero; Negritude e Igualdade”; o
A Defensoria Pública de Rondônia oferece cursos e capacitações nas “Cine Debate sobre o filme 13ª Emenda”, tendo também realizado
áreas de saúde; violência contra as mulheres/direitos das mulheres. outros cursos com formadoras/es negras/os.
A Defensoria Pública de Tocantins oferece cursos e capacitações nas
A Defensoria de São Paulo informa ter realizado o “Seminário
áreas de direitos humanos; promoção da igualdade racial; sexua-
Igualdade Racial e Direitos Humanos”, “Fórum de Religiões Africanas”,
lidade; consumidor; povos indígenas e comunidades tradicionais.
“Ciclo de debates: Racismo, o que é, como é por que é?”, “Ciclo de
A Defensoria Pública de São Paulo declarou promover eventos em
debates: estéticas, modismos, identidades negras e apropriação
todas as áreas mencionadas e listou uma série de outros cursos e
cultural sobre turbantes, cabelos, privilégios e violências”, “Cine
formações disponibilizadas.
debate: Menino 23”; Diálogos interdisciplinares e Relações Raciais”,
Perguntadas sobre a área de maior demanda e prioridade da for- “Debates sobre racismo institucional”; “Seminário: as religiões de
mação da Defensoria Pública em cada Estado, a Defensoria Pública matriz africanas e intolerância religiosa”; “Aula de Criminologia e
de Minas Gerais respondeu que seria “Sistema Prisional”; no Rio Racismo”, e informa que em todas essas atividades contaram com
de Janeiro, “Direitos Humanos”; em Rondônia, “os egressos” e “as a colaboração de formadoras/es negras/os.
mazelas vivenciadas pela população hipossuficiente”; em São Paulo
Tocantins informou que realizou “Seminário sobre Ações Afirmativas:
a resposta dada nos indicou que “o curso de preparação à carreira
Rodas de conversa sobre igualdade racial”; “Cine debate: oficina
objetiva treinamento específico para o desempenho das funções

254 255
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

sobre saberes e Fazeres das Comunidades Tradicionais Quilombolas”; Em entrevista com a defensora Cláudia Márcia discutimos algumas
“Publicação da Cartilha sobre Igualdade Racial e Direitos Humanos”; questões com relação à formação e questões raciais que gostaría-
“Palestra sobre o papel da Defensoria na Promoção de Ações mos de destacar. A primeira dessas questões diz respeito à missão
Afirmativas: Participação ativa nas conferências regionais, muni- da Defensoria Pública em enfrentar o que chamamos de “desco-
cipal (Palmas -TO) e nacional de Promoção de da Igualdade Racial”; nhecimento ideológico do racismo” a partir da atuação das escolas
“Integrou a programação da Semana da Consciência Negra” “Integra da Defensoria.
o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial”; “Submeteu
E também é preciso que as escolas da Defensoria trabalhem
projeto de capacitação de recurso à SEPPIR para desenvolver ações
conteúdos relacionados com a formação do nosso povo, porque
sobre o tema” e informa ter contado com a colaboração de forma-
parte do desconhecimento da gente sobre as questões raciais
doras/es negras/os no “Seminário Ações Afirmativas: a garantia
parte do desconhecimento da história. Então, é assim, a gente não
da diversidade étnico-racial” e na “Oficina Saberes e fazeres das
sabe como o nosso povo foi formado, como é que foi a questão
comunidades tradicionais”.
do tráfico dos negros da África pra cá, então é assim: “Como é
Rondônia informa que as disciplinas/módulos/atividades organiza- que funcionou isso, como é que isso impacta hoje na Defenso-
das nos últimos dois anos pela Defensoria Pública não incluíram ria? O que é que isso tem a ver com a Defensoria?” A princípio as
temas relacionados à questão racial. As demais Defensorias não pessoas não vão entender nada, mas isso interfere diretamente
responderam a esse questionamento. com a política institucional que a gente leva. O fato de ser uma
instituição que, digamos assim, repara essas questões ou não...
Considerações analíticas Para a defensora, esse deve ser um compromisso da instituição, que
É possível observar que as Defensorias Públicas Estaduais que ofe- deve fortalecer o processo de valorização desse conteúdo. Para ela:
recem cursos e capacitações dispõem de Escola Superior ou Centro Esse conhecimento racial é invisibilizado nas nossas matrizes
de Estudos Jurídicos, de modo que a existência da estrutura para nas escolas de formação dos Defensores, com raras exceções.
pesquisa e estudos parece interferir diretamente na capacidade para Isso precisa inclusive ser trabalhado, quando você fala aí das
o oferecimento dos cursos e capacitações e realização de eventos. formações é importante pensar nisso, porque aí entra na matriz.

Observamos, contudo, que apenas as Defensorias Públicas do Rio Eu não tenho como trabalhar população carcerária se eu não

de Janeiro e de Tocantins informaram realizar cursos e formações entender como é que funciona o racismo no Brasil, né? Como é

sobre promoção da igualdade racial para além de eventos. Essa que o nosso povo foi formado.

dado pode demonstrar que as Defensorias Públicas sejam canais A defensora e coordenadora da Escola Superior da Defensoria
institucionais importantes na promoção do debate público por Pública da Bahia acredita que a questão racial e a questão de gênero
meio de eventos, mas ainda carecem de formação sistemática na devem ser disciplinas obrigatórias nos cursos preparatórios. Indica
temática de raça para o seu público interno.

256 257
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

que a obrigatoriedade desses temas precisa ser institucionalizada estruturas bloco de educação para direitos que tenha nas suas
nas escolas e cursos. Para ela: estruturas formações específicas. Então, com a gente aqui é com
mulheres. Então, nas primeiras a gente teve 54 mulheres, basi-
Todo curso preparatório para a carreira de defensor público tem
camente mulheres negras, do subúrbio, e aí, e a gente investiu
que discutir raça e gênero. Tem outras coisas para discutir tam-
mesmo na formação. E aí eu tive que fazer ajustes internos com a
bém, mas raça, é porque é fundante. Se você não entende dessa
defensoria, com os defensores e com a administração superior. De
forma... então assim... as desigualdades sociais do Brasil estão
por exemplo, disponibilizar carro para buscar e levar as mulheres.
praticamente todas calcadas nesses dois pilares.
De disponibilizar o lanche. Então, eu fiz um convencimento das
Cláudia Márcia explica que, apesar de nem sempre conseguir,
coordenações, dos defensores, de que a gente abrisse mão do
ela procura transformar o que observa como sendo carências da
coffee break do curso dos defensores para que os coffee breaks
Defensoria Pública em alguma iniciativa de formação. É o que ela
fossem disponibilizados para os defensores populares, por uma
explica ao descrever uma experiência que avalia como exitosa, na
questão muito simples, muitas delas saem sem comer, ou iam
Bahia:
daqui para a faculdade, ou iam voltar para casa para chegar 19h da
A gente pensa, se é talvez porque tá faltando algum tipo de noite com fome. Então, é assim, elas iam ficar aqui com a gente 5
conhecimento sobre gênero, então é assim, o público alvo da horas sem comer? Porque para elas estarem aqui no curso com
Defensoria Pública é majoritariamente feminino, então são as a gente 13:30, 14h elas tinham que sair de casa 12:30. Às vezes não
mulheres que procuram a defensoria pública, a gente precisa saiu a comida lá ainda e tal. Então é assim. Aí a gente fez esse
ter uma escuta diferenciada, então isso tudo a gente tem traba- processo de negociação com os defensores. E isso é uma coisa
lhado. (...) na Bahia, a gente resolveu dar o enfoque de gênero, que hoje em dia os defensores nem questionam mais, porque
então a gente foca em mulheres, e aí também foi outro drama que as defensoras populares tem lanche e porque nos cursos
para eu lidar, porque aí eu tive que defender que a gente preci- para os defensores tem água, café e suco porque a compra é
sava formar primeiro as mulheres, porque são elas que estão na aquela geralzona, ou senão os sequilhos que eu compro do meu
linha de frente, elas que tem sofrido a maior parte das violên- próprio bolso e boto lá, mas assim, lanche mesmo de coffee break
cias, e aí a gente foi trabalhando a formação em direito para as e carro pra levar e buscar tem pras defensoras populares, e isso
mulheres, e hoje tem algumas coisas, e as defensorias investem tem motivo. Não saem pegando defensor de carro pra levar para
mais ou menos nisso, o que tem um pouco também daquilo aqui e para acolá, mas elas sim. Inclusive tem uma van para isso,
que a ouvidoria vem fazer, que é essa questão de você dividir o que a gente conseguiu suplementação, inclusive, para comprar
poder. Porque assim, a gente não vai conseguir resolver todos essa van, para esse curso. Então assim, as meninas já estão em
os problemas da sociedade como um todo. Então é assim, ou a uma outra perspectiva.
gente tem aliados e pessoas e formamos pessoas que podem
nos ajudar na defesa de direitos ou a gente não vai ter como agir.
Então, (...) é estratégico que a defensoria pública tenha nas suas

258 259
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Considerações para ação


- As Defensorias Públicas dos Estados devem oferecer no curso
oficial de ingresso para seus quadros os temas que consideram
essenciais para a carreira de defensor e defensora pública a partir
de uma perspectiva racializada, abordando a temática do racismo
de maneira transversal em todos os módulos. Devem oferecer
também um módulo específico sobre a questão racial;

- As Defensorias Públicas dos Estados devem dispor de uma Escola


Superior e/ou de um Centro e Estudos Jurídicos;

- A participação dos defensores e defensoras públicas na formação


oficial deve ser obrigatória;

- As Defensorias Públicas dos Estados devem abordar os temas das


disciplinas/módulos/atividades organizadas nas Defensorias sob uma
perspectiva racializada e devem promover atividades específicas
sobre a questão racial;

- As Defensorias Públicas dos Estados devem realizar cursos, eventos


e/ou capacitações sobre a questão racial e devem trazer a questão
racial de maneira transversal em seus outros cursos, eventos e/ou
capacitações.

260 261
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

PARTE IV – ATENDIMENTO AO PÚBLICO Na quarta parte do questionário “IV – Atendimento ao público”,


inquirimos a Defensoria Pública dos Estados com os seguintes
questionamentos:

4.1) Existe alguma ficha de cadastro dos usuários?

4.2) Espaço para anexar hiperlinks da ficha de cadastro dos usu-


ários atendidos por esta Defensoria. (Hiperlinks):

4.3) Existe algum sistema de informações simultâneas para ca-


dastro de usuários utilizados por esta Defensoria?

4.4) A Defensoria Pública do Estado possui alguma categorização


de dados com relação ao sexo/gênero, gênero, raça, idade dos
seus usuários?

4.5) Quais são os critérios de atendimento para o público e para


a definição da hipossuficiência?

4.6) Favor anexar a regulamentação dos critérios. Espaço para


anexar hiperlink da regulamentação dos critérios de atendimento
e/ou hipossuficiência. (Hiperlinks):

4.7) Existe alguma exceção para a flexibilização desses critérios?

4.8) Espaço para anexar hiperlinks que identifiquem os órgãos/


núcleos de atendimento (Hiperlinks):

Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República


Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região, com
as respostas ao item 4. Os números correspondem aos sub-itens
da questão 4 (que varia do 4.1 ao 4.8)

262 263
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 0

Respostas ao “Item 4 – Atendimento ao


público”

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


AC
4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8
AM

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


AP

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


RR

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


PA

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


TO

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

264 265
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 0

Respostas ao “Item 4 – Atendimento ao


público”

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


MA

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


CE

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


RN

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


PB

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


PE

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


AL

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


SE

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


BA

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

266 267
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 0

Respostas ao “Item 4 – Atendimento ao


público”

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7


MG

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7


SP

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7


ES

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7


RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

268 269
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 0

Respostas ao “Item 4 – Atendimento ao


público”

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


PR

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


SC

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

270 271
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 0

Respostas ao “Item 4 – Atendimento ao


público”

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


MT

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


MS

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


DF

4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8


GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

272 273
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Na quarta parte do questionário perguntamos às Defensorias


Públicas Estaduais se possuíam alguma ficha de cadastro dos
usuários, sistema de informações simultâneas para cadastro dos
usuários e alguma categorização de dados com relação ao sexo,
gênero, raça e idade dos seus usuários. Das respostas recebidas
formulamos a tabela a seguir:

2 74 275
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 1

Ficha, sistema e
categorização de
dados de atendimento
ao público

Sistema de informações
Ficha de cadastro simultâneas para cadastro dos Categorização de dados
dos usuários usuários (sexo, gênero, raça, idade)

AM Sim Sim (PROTÓN) Não Sim (Parcial - idade,


RO Sim Sim (ODIN)
gênero)

CE N/I N/I N/I


RR N/I N/I N/I

MG Sim Sim (SISGED) Sim (parcial)


SE Não Não Não

MS N/I N/I N/I


SP Sim Sim (DOL) Não

PA N/I N/I N/I


TO Sim Sim (Solar) Sim

RJ Sim Sim (Verde) Sim

RN N/I N/I N/I

276 277
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Em regra, os Estados utilizam ficha de cadastro dos usuários (No afirma seguir a Resolução nº 170/2018, que também possui como
Amazonas: Próton – Sistema de controles de processos e docu- regra o critério econômico.
mentos; em Minas Gerais: SISGED, sistema interno; em São Paulo,
Para os Estados citados acima, os critérios podem ser flexibiliza-
o DOL – Defensoria On-line), mas não possuem categorização de
dos se demonstrada vulnerabilidade concreta e/ou comprovada
dados com relação ao sexo, gênero, raça, idade dos seus usuários.
a impossibilidade financeira de custear honorários de um advo-
A Defensoria Pública de Rondônia utiliza o sistema de atendimento gado. A Defensoria Pública de Sergipe informa possuir um Estatuto
ODIN, mas possui apenas a categorização dos dados de idade e Social elaborado pelo CIAPS (Centro Integrado de Atendimento
gênero. Ela, contudo, não informou os dados. Psicossocial) da Defensoria, o que permite também a flexibilização
dos critérios de hipossuficiência observadas as situações concretas.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa utilizar o sistema
A Defensoria Pública de São Paulo informou que há previsão para
VERDE como sistema de informações simultâneas para cadastro de
Deliberação do Conselho Superior em casos excepcionais para
usuários e afirma possuir categorização dos dados com relação ao
avaliar fatores que evidenciam exclusão social e a flexibilização dos
sexo, gênero, raça e idade dos seus usuários. Contudo, ela não ane-
critérios de hipossuficiência. A Defensoria Pública do Tocantins
xou documentos produzidos pelos órgãos/núcleos de atendimento.
afirma a possibilidade de flexibilização do critério econômico e cita
A Defensoria Pública de Tocantins informa utilizar o sistema SOLAR
os casos de violência doméstica e saúde como exemplos previstos
como sistema de informações simultâneas para cadastro de usuá-
na resolução nº 170/2018.
rios e afirma possuir categorização dos dados com relação ao sexo,
A Defensoria Pública de Sergipe informou que não possui ficha de
gênero, raça e idade dos seus usuários. Contudo, ela não anexou
cadastro dos usuários, que não possui um sistema de informações
documentos produzidos pelos órgãos/núcleos de atendimento.
simultâneas para cadastro e que não possui categorização de dados
O critério de atendimento para o público e definição de hipossu-
com relação ao sexo, gênero, raça e idade dos seus usuários. As
ficiência é em regra o critério econômico. A Defensoria Pública
Defensorias Públicas do Mato Grosso do Sul, Rio Grande no Norte
do Amazonas especificou que utiliza critério geográfico para as
e Roraima não responderam aos questionamentos sobre atendi-
áreas de família, consumidor e fundiária, e critério econômico de
mento ao público.
até 3 salários mínimos para as demais áreas conforme triagem em
cada núcleo. A Defensoria Pública de Minas Gerais informa que a Considerações analíticas
renda individual do usuário não pode ser superior a três salários
mínimos como regra. A Defensoria Pública de Rondônia também A não informação dos dados pelas Defensorias e a ausência de
afirma que “o principal critério é não possuir renda superior a três categorização desses dados são um impedimento de análises mais
salários mínimos”, assim como a Defensoria Pública de Sergipe. A complexas sobre o tipo de serviço e a qualidade do serviço que é
Defensoria Pública de São Paulo atende usuários com renda de até oferecido aos usuários, e também sobre o tipo de usuário que utiliza
quatro salários mínimos federais. A Defensoria Pública do Tocantins os serviços da Defensoria. A ausência de uma ficha de atendimento

278 279
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

uniformizada que considere o critério raça/cor e a ausência de for- - As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver/pos-
mação para o preenchimento do quesito raça/cor nas Defensorias suir/promover a categorização dos dados sobre os seus usuários e
Públicas também dificulta a coleta e o tratamento desses dados. demandas a fim de conhecer o seu público e as áreas de incidência.

Ademais, grande parte das Defensorias Públicas utilizam o crité-


rio econômico como o definidor da hipossuficiência dos usuários.
Entretanto, observadas as dinâmicas de reprodução do racismo
e as dificuldades às quais os negros são submetidos em sua vida
cotidiana e também no acesso à justiça, gostaríamos de propor
uma reflexão sobre a relação do critério socioeconômico e a ques-
tão racial e propor igualmente a reflexão a respeito da criação de
um protocolo para o atendimento da pessoa negra considerando-a
enquanto grupo vulnerável.

Considerações para ação


- As Defensorias Públicas dos Estados devem cadastrar os usuários
com uma ficha onde eles possam se AUTO IDENTIFICAR (sexo,
gênero, idade, endereço, etc.) e que essa ficha contenha o critério
RAÇA/COR;

- As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver/possuir


um sistema de informações simultâneas onde possam cadastrar
os usuários e que haja uniformização nacional da ficha de cadastro
dos usuários;

- As Defensorias Púbicas dos Estados devem criar um protocolo


para o atendimento da pessoa negra considerando-a enquanto
grupo vulnerável;

- As Defensorias Públicas dos Estados devem realizar atividade de


formação para preenchimento do critério raça/cor e promover a
atenção para outros profissionais que fazem atendimento (funcio-
nários, estagiários);

280 281
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

PARTE V – ATUAÇÃO EM CONFLITOS COLETI- Na quinta parte do questionário “V – Atuação em conflitos, ações
VOS, AÇÕES CIVIS PÚBLICAS E SISTEMAS IN- civis públicas e sistemas internacionais de proteção”, inquirimos às
TERNACIONAIS DE PROTEÇÃO Defensorias Públicas dos Estados os seguintes questionamentos:

5.1) A Defensoria Pública do Estado representa/já representou


alguma vez aos sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos (Sistema ONU e Sistema Interamericano), postulando
perante seus órgãos?

5.2) Quantas causas envolviam questões relacionadas a:

- Direitos humanos:

- Direitos da criança e do adolescente:

- Sistema carcerário:

- Medidas socioeducativas/ juventude e prisão:

- Saúde:

- População de rua:

- Promoção da igualdade racial:

- Sexualidade:

- Violência contra as mulheres:

- Direitos das mulheres:

- Povos indígenas e comunidades tradicionais:

- Intolerância religiosa:

- Terra e território:

- Questões urbanas e moradia:

- Idosos:

- Pessoa com deficiência:

- Consumidor:

282 283
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

- Política de drogas:

5.3) A Defensoria Pública deste Estado promoveu, na atual gestão,


ações civis públicas a fim de propiciar a adequada tutela dos di-
reitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos relacionados
às temáticas de raça?

5.4) A Defensoria Pública do Estado convocou, nos últimos dois


anos, audiências públicas para discutir matérias relacionadas às
suas funções institucionais?

5.5) Quais audiências públicas promovidas nos últimos dois anos


discutiram direta ou indiretamente a questão racial?

Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República


Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região,
com as respostas ao item 5. Os números correspondem aos subitens
da questão 5 (que varia do 5.1 ao 5.5).

284 285
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 2

Respostas ao “Item 5 – Atuação em


conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção”

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


AC
5.1 5.2 5.3 5.4 5.5
AM

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


AP

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


RR

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


PA

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


TO

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

286 287
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 2

Respostas ao “Item 5 – Atuação em


conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção”
5.1 5.2 5.3 5.4 5.5
MA

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


CE

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


RN

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


PB

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


PE

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


AL

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


SE

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


BA

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

288 289
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 2

Respostas ao “Item 5 – Atuação em


conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção”

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


MG

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


SP

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


ES

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

290 291
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 2

Respostas ao “Item 5 – Atuação em


conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção”

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


PR

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


SC

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

292 293
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TA B E L A 2 2

Respostas ao “Item 5 – Atuação em


conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção”

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


MT

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


MS

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


DF

5.1 5.2 5.3 5.4 5.5


GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

294 295
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 3

Representação aos sistemas


internacionais de proteção de
direitos humanos; ações civis
públicas; audiências públicas
e questões raciais

Representação
ao Sistema Audiências Audiências
ONU ou Siste- Quantas ACP sobre Públicas públicas sobre
ma Interameri- representa- questão sobre funções questões ra-
cano ções racial institucionais ciais

AM Não X Não Não N/I RO Sim 3* Não Não N/I

CE N/I N/I N/I N/I N/I RR N/I N/I N/I N/I N/I

MG Sim N/I Sim Sim Sim SE N/I X N/I Não N/I

MS Não X Não N/I N/I SP Sim 5* Não Sim Sim

PA N/I N/I N/I N/I N/I TO Sim 1* N/I Sim Sim

RJ Sim 5* Sim Sim Sim

RN N/I N/I N/I N/I N/I

296 297
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

As Defensorias Públicas do Amazonas, do Mato Grosso do Sul e de A Defensoria Pública de Sergipe e de Tocantins não informaram se
Sergipe informaram que não representaram aos sistemas interna- promoveram, na atual gestão, ações civis públicas a fim de propi-
cionais de proteção dos direitos humanos (Sistema ONU ou Sistema ciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais
Interamericano). homogêneos relacionados às temáticas da raça.

A Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais e de Rondônia A Defensoria Pública de Minas Gerais informa que promoveu, na
informam que já representaram aos sistemas internacionais de atual gestão, ações civis públicas a fim de propiciar a adequada
proteção dos direitos humanos, mas não especificaram as ações. tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos
relacionados às temáticas da raça, tendo citado “valores de tarifas
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro informa que já
de transportes coletivos, apresentação de custodiados, entre outros”.
representou aos sistemas internacionais de proteção dos direitos
humanos com ações que envolviam questões relacionadas a Direitos A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro informa que
Humanos, Direitos da Criança e do Adolescente, Sistema Carcerário promoveu, na atual gestão, ações civis públicas a fim de propiciar
(duas vezes) e Saúde. a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais
homogêneos relacionados às temáticas da raça e cita como “exem-
A Defensoria Pública de Rondônia informa que já representou aos
plos de ações que abordaram o racismo estrutural ou institucio-
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos com
nal promovidas desde 2015 (gestão do DPG André Castro): 1) TAC
ações que envolviam questões relacionadas a direitos humanos e
Fazenda Santa Eufrasia (Volta Redonda – atuação em parceria com
sistema carcerário.
o MPF para combater práticas racistas nas fazendas que exercem
A Defensoria Pública de São Paulo informa que já representou aos
atividades turísticas no Vale do Café); 2) Ação possessória tendo
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos com
por objeto o território do Quilombo Santa Justina e Santa Izabel,
ações que envolviam questões relacionadas a sistema carcerário,
em Mangaratiba; 3) Recomendação ao DETRAN RJ para possibi-
medidas socioeducativas/juventude e internação; sexualidade e
lidade de utilização de elementos da estética negra na fotografia
violência contra as mulheres.
da carteira de identidade (atuação em parceria com a Comissão
A Defensoria Pública do Tocantins informa que já representou aos de Igualdade Racial na OABRJ); 4) Embargos de terceiros coletivo
sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos com no processo de obrigação de fazer promovido contra a liderança
ações que envolviam questões relacionadas a “Terra e Território”. quilombola Luiz Sacopã (atualmente está sendo discutida parceria

As Defensorias Públicas do Amazonas, do Mato Grosso do Sul, de com o pesquisador Ronaldo Lobão – UFF, a fim de promover uma

Rondônia e de São Paulo informaram que não promoveram, na nova ação coletiva); 5) Ação Civil Pública contra o Estado do Rio de

atual gestão, ações civis públicas a fim de propiciar a adequada Janeiro para a garantia dos pagamentos da bolsa permanência dos

tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos estudantes cotistas da UERJ; 6) Ação Civil Pública sobre Operações

relacionados às temáticas da raça. Policiais na Favela da Maré; 7) Habeas Corpus Coletivo contra buscas
domiciliares na Favela do Jacarezinho; 8) Habeas Corpus Coletivo

298 299
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

contra buscas domiciliares na Favela da Cidade de Deus; 9) Ação situação clínica de pessoas com HIV, independentemente da análise
Civil Pública sobre a invasão de domicílios no Complexo do Alemão.” concreta do caso pelo profissional de saúde e da relação médico
paciente. – O fornecimento de água e energia-elétrica nos assen-
As Defensorias Públicas do Amazonas, de Rondônia e de Sergipe
tamentos informais. – Dados, subsídios, informações, sugestões e
informaram que não convocaram nos últimos dois anos audiên-
críticas sobre a atuação do Grupo de Intervenção Rápida nos pre-
cias públicas para discutir matérias relacionadas às suas funções
sídios paulistas, com vistas a possibilitar a atuação da Defensoria
institucionais.
Pública no sentido de pôr fim às violações praticadas pelo referido
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou ter convocado, nos
grupamento; - A gentrificação das áreas centrais da cidade de São
últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias rela-
Paulo; - O movimento de expulsão da população de baixa renda
cionadas às suas funções institucionais, citando a área de “direitos
do centro de São Paulo; - Política mães em cárcere; - Processo
humanos, entre outras”.
Transexualizador do SUS no Estado de São Paulo; - Obtenção de
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou ter convocado, insumos para futura atuação judicial em face de eventuais abusos
nos últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias relativos à atuação da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar
relacionadas às suas funções institucionais, citando a área de “direi- do Estado de São Paulo na região conhecida como “Cracolância”,
tos humanos, violência institucional, direito e moradia, segurança que teriam gerado violação à integridade física e/ou psíquica das
pública”. pessoas que frequentam o lugar a qualquer título, ou que transitam

A Defensoria Pública de São Paulo informou ter convocado, nos pelas redondezas”.

últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias relacio- A Defensoria Pública de Tocantins informou ter convocado, nos
nadas às suas funções institucionais. Especificou que “[a] Defensoria últimos dois anos, audiências públicas para discutir matérias rela-
Pública promove, a cada dois anos, Ciclos de Conferências em todo cionadas às suas funções institucionais. Especificou que “[e]m 06 de
o Estado de São Paulo, nos quais a sociedade civil participante março de 2017 houve Audiência Pública para discussão acerca da
formula propostas sobre os temas de atuação da instituição como Proposta de Resolução para Reorganização e Redimensionamento
um todo e, mais especificamente, de seus Núcleos Especializados. de Núcleos da DPE-TO (NADEP – Assistência e Defesa ao preso;
Ademais, foram promovidas as seguintes audiências públicas: NDDH – Defesa dos Direitos Humanos; DPAGRA – Defensoria Pública
- Dados, subsídios, informações, sugestões, críticas, propostas e Agrária; NUDECA – Direitos da Criança e Adolescente; NUDEM –
especialmente (sic) promover a conscientização sobre a violência Defesa dos direitos da Mulher; NUDECON – Defesa do Consumidor;
obstétrica com a divulgação de medidas e ações para a melhoria e NUMECON – Mediação e Conciliação; NUAmac – Núcleo Aplicado
humanização dos serviços de saúde na assistência ao parto. – HIV/ das Minorias e Ações Coletivas; NUJURI – Tribunal do Júri; NUSA –
AIDS (sic) para debater a recente mudança no Protocolo Clínico e Defesa da Saúde.
Diretriz Terapêutica do SUS que restringiu a solicitação e a realização
de exames de contagem de linfócitos CD4 a partir de determinada

300 301
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

A Defensoria Pública de Tocantins informou ter realizado em 10 que devem entrar como pauta privilegiada nas Defensorias Públicas.
de novembro de 2016 audiência pública sobre Ações Afirmativas e Para ela, ‘essa questão tem nos custado a vida’:
Garantia da Igualdade Racial.
A questão prisional, por mais que esteja colocada em várias
A Defensoria Pública do Amazonas não respondeu quais audiências questões. Eu sinto que hoje, a chamada guerra às drogas está
públicas promovidas nos últimos dois anos discutiram direta ou totalmente atravessada pela questão racial. (...) a política de di-
indiretamente a questão racial. reitos humanos, encarceramento, tudo isso são indicadores que
apontam para o incremento da força da chamada guerra às dro-
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou ter promovido,
gas. (...) Mesmo sendo a Defensoria Pública essa força no sistema
nos últimos dois anos, audiências públicas que discutiram direta
de justiça, não quer dizer que nas Defensorias do país tenham
ou indiretamente a questão racial, citando “audiência pública na
o fato resolvido de que todo mundo, por exemplo, é a favor da
assembleia com presença de Defensores Públicos”.
descriminalização das drogas, do enfrentamento, ou mesmo no
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou ter promovido,
campo mais radical, do abolicionismo penal, da descriminaliza-
nos últimos dois anos, audiências públicas que discutiram direta
ção das drogas.
ou indiretamente a questão racial, citando a “ocupação de casas
Os estados todos estão implementando políticas de segurança
dos moradores do Complexo do Alemão pela Polícia; intervenção
pública que só vão dar em mais angústia social. (...) como fica a
federal no Estado do Rio de Janeiro; violência institucional contra
política de drogas no país que é atravessado pelo superencar-
a juventude”.
ceramento, e todas atravessados por raça. (...) O carro chefe da
A Defensoria Pública de São Paulo informou ter promovido, nos
criminalização da política de drogas tá aqui. Sistema carcerário,
últimos dois anos, audiências públicas que discutiram direta ou indi-
negação dos Direitos Humanos...
retamente a questão racial, citando que “um dos eixos de discussão
Nesse sentido observamos que, apesar de a área criminal, o sistema
dos Ciclos de Conferências é “Diversidade e Igualdade Racial” e que
prisional, a política de drogas e o enfrentamento a questões insti-
“No último Ciclo de Conferências, realizado em 2017, foram eleitas
tucionais aparecerem como temáticas importantes para atividades
cinco propostas deste eixo”. A Defensoria Pública de São Paulo não
de formação, as Defensorias Públicas em geral ainda não pensam
informou, contudo, quais foram as propostas eleitas.
atuações coletivas de maneira estratégica com relação a essas
As Defensorias Públicas do Rio Grande no Norte e de Roraima não
temáticas, sobretudo a temática da “política de drogas”, dentro e
responderam aos questionamentos sobre atuação em conflitos
fora da Defensoria.
coletivos, ações civis públicas e sistemas internacionais de proteção.

A ex-ouvidora da Defensoria Pública da Bahia, Vilma Reis, destaca Considerações analíticas


a “questão prisional”, diretamente ligada à “guerra às drogas” e ao
A atuação das Defensorias Públicas Estaduais ainda é predominante-
debate do “genocídio da juventude negra” como questões centrais
mente individual. A atuação institucional em conflitos coletivos, em

302 303
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

ações civis públicas e no sistema interamericano ainda é incipiente. »» - As Defensorias Públicas dos Estados devem promover audiên-
Percebemos que esta atuação coletiva se dá predominantemente cias públicas periódicas e propositivas sobre as questões raciais;
nos Estados em que há a existência de núcleos especializados e o
»» - O enfrentamento ao racismo deve ser considerado pauta
oferecimento de cursos e formações, como nas Defensorias Públicas
institucional para as Defensorias Públicas dos Estados (prevista
de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.
no orçamento, nos planos de trabalho, com recursos humanos,
administrativos e financeiros direcionados para tal).
Considerações para ação
»» - As Defensorias Públicas dos Estados devem pensar estraté-
gias para compartilhar materiais e experiências a respeito das
formações e da atuação em ações civis públicas, bem como em
outras ações coletivas extrajudiciais, ações constitucionais e no
sistema interamericano;

»» - As Defensorias Públicas dos Estados devem promover estudos


de casos sobre situações específicas relacionadas às demandas
que chegam à Defensoria;

»» - As Defensorias Públicas dos Estados devem sistematizar e


proporcionar o acesso a informações dos casos em que atua
para os seus usuários e para a sociedade em geral;

»» - As Defensorias Públicas dos Estados devem avaliar a possibili-


dade de também representar junto aos sistemas internacionais
de proteção dos direitos humanos (Sistema ONU ou Sistema
Interamericano).

»» - As Defensorias Públicas dos Estados devem promover ações


civis públicas para abordar questões raciais e questões incidentais
que trazem a temática racial como fator determinante, a partir
e com setores de sociedade civil para a construção da expertise
sobre a temática racial;

»» - As Defensorias Públicas dos Estados devem promover audiên-


cias públicas sobre suas funções institucionais e a sua execução;

304 305
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

PARTE VI – NÚCLEOS ESPECIALIZADOS Na sexta parte do questionário “VI – Núcleos especializados”, inqui-
rimos às Defensorias Públicas Estaduais os seguintes questiona-
mentos:

6.1) A Defensoria Pública do Estado possui núcleos de atuação e


núcleos especializados?

6.2) A Defensoria Pública do Estado conta com núcleo especia-


lizado de combate ao racismo e promoção de igualdade racial?

6.3) Em caso negativo, para onde são encaminhadas as questões


de combate ao racismo e promoção da igualdade racial?

6.4) Em caso positivo, qual a estrutura de funcionamento do


núcleo?

6.5) Composição do núcleo

6.6) Com relação ao quadro de servidores

6.7) O núcleo tem atuação coletiva?

6.8) Quais as principais ações do núcleo nos últimos dois anos?

6.9) Quais as principais ações coletivas ajuizadas pelo núcleo nos


últimos dois anos?

Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República


Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região, com
as respostas ao item 6. Os números correspondem aos subitens da
questão 6 (que varia do 6.1 ao 6.9).

306 307
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 4

Respostas ao “Item 6 – Núcleos


especializados”

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


AC
6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9
AM

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


AP

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


RR

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


PA

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


TO

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

308 309
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 4

Respostas ao “Item 6 – Núcleos


especializados”

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


MA
6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9
CE

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


RN

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


PB

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


PE

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


AL

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


SE

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


BA

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

310 311
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 4

Respostas ao “Item 6 – Núcleos


especializados”

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


MG

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


SP

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


ES

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

312 313
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 4

Respostas ao “Item 6 – Núcleos


especializados”

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


PR

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


SC

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

314 315
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TA B E L A 2 4

Respostas ao “Item 6 – Núcleos


especializados”

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


MT

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


MS

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


DF

6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7 6.8 6.9


GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

316 317
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Perguntamos às Defensorias Públicas se possuíam núcleos de TA B E L A 2 5


atuação ou núcleos especializados e se possuíam núcleo espe-
cializado de combate ao racismo e promoção da igualdade racial. Núcleos especializados
Formulamos a tabela a seguir com as respostas:
e Núcleos de combate
ao racismo
Possui núcleo especia- Temática trabalha-
Possui Núcleos de lizado de combate ao Temática racial da (com ou sem
atuação ou Núcle- racismo e promoção subincluída em a existência de
os Especializados da igualdade racial outro núcleo núcleo específico)

AM Sim Não Sim Não

CE N/I N/I N/I N/I

MG Sim Não Sim Sim

MS N/R Sim N/I N/I

PA N/I N/I N/I N/I

RJ Sim Sim Não Sim

RN N/I N/I N/I N/I

RO Sim Não Sim N/I

RR N/R N/R N/I N/I

SE Sim Não Não Não

SP Sim Sim Sim Sim

TO Sim Não Sim Sim

318 319
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O panorama geral indica que, em boa parte das Defensorias Públicas, anos. A Defensoria informa que as funções do Núcleo são “prestar
a questão racial está sendo deslocada para a área de Direitos assistência jurídica aos envolvidos e/ou grupos discriminados em
Humanos. As Defensorias Públicas do Rio Grande no Norte e de razão de raça/cor, descendência, origem nacional ou étnica, tais
Roraima não responderam aos questionamentos sobre os núcleos como os negros os indígenas, os remanescentes de comunidades
especializados. Apenas as Defensorias Públicas do Mato Grosso do quilombolas, dentre outros”. Informa ainda que as principais ações
Sul, Rio de Janeiro e São Paulo informaram possuir núcleos espe- do Núcleo são no campo da violência institucional e racismo. Aponta
cializados de combate ao racismo e promoção da igualdade racial as “[a]ções coletivas relacionadas a práticas institucionalmente
e afirmaram que os núcleos possuem atuação coletiva. racistas dos órgãos de segurança pública do Rio de Janeiro como
as principais ações coletivas ajuizadas pelo núcleo nos últimos dois
A Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul informou que possui
anos”.
núcleo especializado de combate ao racismo e a promoção da
igualdade racial; contudo, não nos informou qual seria o núcleo A Defensoria Pública de São Paulo informa possuir núcleos especia-
e nem disponibilizou dados referentes à sua estrutura e atuação. lizados de Cidadania e Direitos Humanos; Diversidade e Igualdade
Verificamos no site da instituição a existência do Núcleo Institucional Racial; Direitos do Consumidor; Direitos da Pessoa Idosa e da Pessoa
de Promoção e Defesa dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial com Deficiência; Habitação e Urbanismo; Infância e Juventude;
e Étnica[6]. Segunda Instância e Tribunais Superiores; Direitos das Mulheres
e; Situação Carcerária.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro também informou pos-
suir um núcleo especializado de combate ao racismo e promo- A Defensoria Pública de São Paulo informou que possui núcleo
ção da igualdade racial, o Núcleo contra a Desigualdade Racial especializado de combate ao racismo e promoção da igualdade
(NUCORA). A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa pos- racial. Verificamos, contudo, que as ações do Núcleo de Combate
suir como núcleos de atuação ou núcleos especializados os de: à Discriminação, Racismo e Preconceito (NCDRP) subincluem a
Terras e habitação; Loteamentos; Defesa dos Direitos da Criança temática racial com relação às temáticas de diversidade de gênero,
e do Adolescente; Direitos Humanos; Atendimento à Pessoa com como podemos observar na descrição, a seguir, das ações do Núcleo.
Deficiência; Atendimento à Pessoa Idosa, Desigualdade Racial;
O Núcleo especializado de Diversidade e Igualdade Racial de São
Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos; Direitos da Mulher;
Paulo possui atuação coletiva e conta com 2 defensores públicos,
Consumidor; Sistema Penitenciário; Cadeias Públicas e apoio ao
3 servidores e 5 estagiários e é coordenado por Isadora Brandão
Preso Provisório; Audiências de Custódia; Fazenda Pública.
Araújo da Silva, mulher preta de 30 anos. A Defensoria informa que
O núcleo especializado de combate ao racismo e promoção da o Núcleo Especializado de Defesa da Diversidade e da Igualdade
igualdade racial do Rio de Janeiro conta com a colaboração de uma Racial (NUDDIR) possui atualmente 265 (duzentos e sessenta e
defensora pública, dois servidores e três estagiários e é coordenado cinco) procedimentos administrativos em andamento, bem como
por Lívia Miranda Muller Drummond Casseres, mulher preta, de 32 333 (trezentos e trinta e três) protocolos abertos/expedientes admi-
[6] Disponível em: http://www.defensoria.ms.gov.br/nupiir nistrativos, sendo que, desses últimos, 4 (quatro) em andamento

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para acompanhamento de projetos de lei que versam sobre temá- Serviço Social, Psicologia e Medicina”, ocorrido em julho. Ademais,
tica afeta ao Núcleo. Destacam-se como principais ações: 333 novos destacam-se as ações de implementação das propostas aprovadas
atendimentos, sendo que destes 67 contaram com presença do no V Ciclo de Conferências da Defensoria Pública do Estado de São
Centro de Atendimento Multidisciplinar. Dentre as principais temá- Paulo. – Buscar a aplicação e pressionar o Estado de São Paulo para
ticas tem-se – Combate às discriminações – transfóbica, homofóbica o cumprimento das Leis nº 11.645/08 e 10.639/03[7], que preveem a
e racial. – Questões relacionadas à saúde física e mental, tanto no obrigatoriedade do ensino [de] história e cultura afro-brasileiras e
âmbito familiar, quanto no trabalho. – Uso do nome social e orien- indígenas nas escolas. – Fomentar políticas públicas de formação
tações sobre a retificação do nome em documentos. – Não foram inicial e continuada de professores e gestores educacionais na área
propostas ações coletivas. Todavia, há três procedimentos adminis- de combate ao preconceito, racismo e discriminação. – Exigir o
trativos em andamento buscando solucionar pela via administra- cumprimento dos artigos 68, 215, 216 e 231 da Constituição Federal,
tiva conflitos relativos a direitos coletivos, como o de uso de nome na busca da proteção das comunidades tradicionais (populações
social em bilhetes de passagens, um contra o então candidato à negras, quilombolas, caiçaras, indígenas, caboclos e ciganos), espe-
prefeitura de Andradina em 2016 e alterações no Protocolo Clínico cialmente por meio da regularização fundiária de seus territórios e
de Diretrizes Terapêuticas para o manejo do HIV em adultos e novos da proteção da cultura e atividades destas, como pesca artesanal,
critérios adequados para determinação de realização de exames roça coivara e artesanato. – Cobrar a implantação e implementação
no SUS; os representantes do Núcleo participaram de diversas reu- das políticas nacionais referentes à população negra, principal-
niões com órgãos do Poder Público federal, estadual e municipais, mente a política nacional de saúde integral da população negra.
dentre as quais destacam-se o Fórum Inter-Religioso do Estado – Acompanhar e pressionar permanentemente os serviços que
de São Paulo para uma Cultura de Paz e Liberdade de Crença, a oferecem o processo transexualizador, especificamente as cirurgias,
reunião aberta no Conselho Federal de Medicina para tratar de reivindicando a sua descentralização, especialmente dos acompa-
nova normativa técnica acerca do processo transexualizador em nhamentos endocrinológicos e psicológicos, nos âmbitos público
Brasília e a reunião com a sede no Conjunto das Nações Unidas e privado. – Fazer avaliação financeira individual para os casos em
sobre HIV/AIDS – UNAIDS em Brasília. Vale destacar a participação que o/a usuário/usuária sofra qualquer discriminação dentro de seu
na audiência pública de “Políticas de financiamento para a AIDS”, núcleo familiar (em razão de sua orientação sexual, identidade de
de iniciativa da Dep. Maria Lúcia Amary, na Assembleia Legislativa gênero, opção religiosa, entre outros).
do Estado de SP. O Núcleo organizou três grandes eventos no ano
A Defensoria Pública de São Paulo informa ainda que as principais
de 2017, com presença de grande público em todos eles. Os even-
ações coletivas ajuizadas pelo núcleo de Diversidade e da Igualdade
tos foram: “Estéticas, modismos, identidades negras e apropriação
Racial foram a PA nº 11/2016 – Discriminação homofóbica – Contra
cultural: sobre turbantes, cabelos, privilégios e violências”, ocorrido
em maio; “Visibilidade Lésbica: Direitos e Políticas Públicas”, ocorrido
[7] Com a reforma do Ensino Médio, as leis nº 11.645/08 e 10.639/03 deixaram de ser
em agosto no dia da visibilidade lésbica e o “Transexualidade e o
obrigatórias, e os currículos das escolas podem ser organizados sem os conteúdos
Diálogo com os Saberes: do Experiencial ao Direito, passando pelo previstos pelas leis.

322 323
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irmãos Piólogo e a Ação Civil Pública Processo Judicial nº 1059191- A Defensoria Pública de Sergipe informa possuir núcleos especiali-
91.2016.8.26.010[8]. zados de Flagrante Delito e Acompanhamento a Presos Provisórios;
Execução Penal; Inquérito Administrativo; Defesa dos Direitos da
A Defensoria Pública de Minas Gerais informou que possui núcleo
Mulher; Direitos do Consumidor; Direitos da Criança e do Adolescente;
especializado de combate ao racismo e a promoção da igualdade
Direitos Humanos e Inclusão Social; Saúde; Primeiro Atendimento
racial. Contudo, verificamos que a referida Defensoria não possui um
e Movimentos de Bairro.
núcleo específico, mas uma Defensoria Especializada em Direitos
Humanos, Coletivos e Socioambientais (DPDH), que subinclui a A Defensoria Pública do Amazonas, de Rondônia e do Tocantins não
temática racial em suas atividades . [9]
possuem núcleo especializado de combate ao racismo e promoção
da igualdade racial. No Amazonas as questões correspondentes ao
A Defensoria Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e
tema são encaminhadas à Defensoria Especializada na Promoção
Socioambientais (DPDH), que em tese se responsabiliza pelas
e Defesa de Direitos Humanos. A Defensoria Pública do Amazonas
questões relacionadas ao combate ao racismo e promoção da
informa possuir como núcleos de atuação ou núcleos especializa-
Igualdade racial de Minas Gerais, conta com a colaboração de dez
dos de: Interesses Coletivos, Saúde, Direitos Humanos, Flagrantes
defensores públicos, dois servidores e dois estagiários. Este núcleo
Criminais, Atendimento ao Consumidor, Atendimento Fundiário,
é coordenado por Aylton Rodrigues Magalhães (raça/cor do coor-
Atendimento à Mulher Vítima de Violência Doméstica, Infância e
denador do Núcleo não foi informada). A Defensoria Pública de
Juventude Civil e Atendimento ao Idoso.
Minas Gerais também informa possuir como núcleos de atuação
ou núcleos especializados: Saúde, NUDEM (direitos da mulher), A Defensoria Pública de Rondônia informa que não possui núcleo
Direitos Humanos, Infância e Juventude. específico de combate ao racismo e promoção da igualdade racial
e que “encaminha as questões relativas à temática para o núcleo
A Defensoria Pública de Sergipe informou que possui núcleo espe-
de tutela coletiva/Direitos Humanos, e, sendo demanda individual,
cializado de combate ao racismo e promoção da igualdade racial. No
para a defensoria com atribuição”. A Defensoria Pública de Rondônia
entanto, verificamos que a referida Defensoria não possui um núcleo
informa possuir Núcleos especializados de Tutela Coletiva; Direitos
específico para tratar a temática, mas um Núcleo Especializado de
Humanos; Sistema Prisional; Mulher Vítima de Violência Doméstica.
Defesa dos Direitos Humanos e Promoção da Inclusão Social, que
possivelmente subinclui a temática[10]. Ele conta com a colaboração A Defensoria Pública de Tocantins informa que não possui núcleo
de 4 defensores públicos e é coordenado por Sérgio Barreto Morais, especializado de combate ao racismo e promoção da igualdade
homem de 45 anos cuja raça/cor não foi informada racial e que encaminha as questões relativas ao tema ao Núcleo
de Defesa dos Direitos Humanos (NDDH). A Defensoria Pública do
Tocantins informa possuir Núcleo especializado de Defesa da Saúde
[8] Processo não encontrado.
– NUSA, Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos
[9] Disponível em https://www.defensoria.mg.def.br/servicos/carteira-de-servicos/di-
reitos-humanos/ da Criança e do Adolescente – NUDECA, Núcleo Especializado de
[10] Disponível em: https://www.defensoria.se.def.br/?page_id=12208 Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos; Núcleo espe-

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cializado de promoção e defesa dos Direitos da Mulher – NUDEM, Considerações analíticas


Núcleos de Mediação e Conciliação – NUMECOM; Núcleos Aplicados
das Minorias e Ações Coletivas – NUAmac’s. Coletivo Permanente Os núcleos possuem não só a função de oferecer atendimento
tendo como objetivo a discussão das questões de sexualidade e individual aos usuários da Defensoria Pública dos Estados, mas é
gênero. Núcleos itinerantes, Núcleo da Defensoria Pública Agrária alicerce importante para o desenvolvimento e amadurecimento das
– DPAGRA. Núcleo de Defesa do Consumidor, Núcleo do tribunal ações da própria Defensoria, podendo/devendo realizar um traba-
do Júri – NUJURI; Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos – NDDH lho de amadurecimento das pautas dentro da própria instituição,
e Núcleo de Assistência e Defesa ao Preso – NADEP. como um trabalho de litigância estratégica em casos coletivos e até
mesmo pautar incidência legislativa junto aos órgãos competentes.
A Defensoria Pública de Tocantins informa que as principais ações
do núcleo de Defesa dos Direitos Humanos – NDDH nos últimos dois Essa realidade nos convida a problematizar a ausência de uma
anos foram a realização de eventos de formação e promoção dos estrutura específica e de dados para o aperfeiçoamento do enfren-
direitos humanos, com especial ênfase na igualdade racial; desen- tamento ao racismo dentro e fora da instituição. Os núcleos espe-
volvimento de projetos que atendem as orientações do SINAPIR; cializados de enfrentamento ao racismo e promoção de igualdade
integração efetiva e fortalecimento dos Conselhos de Direitos, entre racial devem ser tidos como instrumentos de ação afirmativa pelas
eles com CEPIR/TO; atendimentos coletivos e individuais. Defensorias Públicas, de modo que a preocupação com a questão
racial também deva ser observada em todas as outras instâncias
A Defensoria Pública de Tocantins informa que as principais ações
da instituição, observada a organização e a cultura institucional
coletivas ajuizadas pelo núcleo de Defesa dos Direitos Humanos –
da Defensoria.
NDDH foram: Ação Civil pública sobre veiculação de imagens de
presos; Ação Civil Pública para a construção da ponte que dá acesso É possível observar que as atividades de formação disponibiliza-
a Povoado Mumbuca (quilombola); Ação Civil Pública para resolu- das pelas Defensorias Públicas dos Estados relacionam-se com
ção de demanda referente a esgoto da casa da Unidade Prisional a existência de núcleos específicos que desenvolvem atividades
Feminina; Mandado de Segurança Coletivo sobre transferência de relacionadas aos temas dessas atividades de formação. Também
presos; Ação Civil Pública sobre regularização do Setor União Sul; é possível observar que a atuação das Defensorias Públicas em
Ação Civil Pública sobre dano moral coletivo em caso de execução conflitos coletivos se dá nos casos em que existem núcleos que
de presos em Colmeia/TO; Ação Civil Pública sobre aluguel social desenvolvem as temáticas, o que nos leva a pensar que, de alguma
para familiares de baixa renda desocupadas de prédios da prefei- maneira, a existência de núcleos e a realização de formações cor-
tura de Palmas. roboram a atuação dos defensores públicos nas ações coletivas.

Apenas as Defensorias Públicas de Mato Grosso do Sul, Rio


de Janeiro e São Paulo possuem núcleos especializados de combate
ao racismo e promoção da igualdade racial, sendo esta questão niti-
damente subincluída no núcleo de São Paulo. A Defensoria Pública

326 327
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do Mato Grosso do Sul não nos ofereceu elementos para avaliar a O NUCORA foi criado em 2014, então é um Núcleo relativamente
atuação do Núcleo. Em regra, a questão racial aparece subincluída novo, e acho que foi criado muito por conta do ativismo pessoal
em núcleos de Direitos Humanos. do Defensor Público Geral da época, que se aproximou de alguns
segmentos específicos do movimento negro, de alguns atores
Vilma Reis destaca, sobre o funcionamento dos núcleos especiali-
do próprio sistema de justiça que são militantes do movimento
zados, a necessidade de assumir explicitamente uma política racial
negro, da OAB, do tribunal de justiça, e ele puxou essa pauta para
dentro da instituição. Além disso, os instrumentos de ação precisam
si. Eu tenho uma memória da atuação do ex Defensor Público
estar institucionalizados nos núcleos de modo que os funcionários
Geral com o movimento negro, o Doutor Nilson Bruno, promo-
possam colocá-los em prática ainda que haja mudança de gestão. A
vendo eventos, marchas que ele chegou a organizar e sediar na
gestão do núcleo deve ser vista de maneira estratégica e não apenas
Defensoria. E teve a organização do Núcleo que ele inaugurou
como uma questão de promoção dentro da carreira, sem que haja
no último mandato dele, em março de 2014.
afinidade ou compromisso social com a temática. Por exemplo:
Esse núcleo, quando ele foi criado, ele não tinha um planejamento
Eu fiquei pensando assim, tinha todas as condições, e eu fiquei
tão claro e ele não teve uma coordenação exclusiva. Então ele
pensando assim, poxa, eu acho que ele está morrendo na praia...
era coordenado da mesma pessoa que coordenava o Núcleo de
Porque você não pode criar só estruturas burocráticas. Eu não
Direitos Humanos como um todo, acumulava uma série de fun-
sei se o problema tá nessa questão da promoção... deve ser as-
ções. Então não ficou muito estabelecida de início a autonomia
sim também na Defensoria de outros Estados... quem tá na fila
do NUCORA, as suas demandas, metodologias, práticas, etc.
vai ocupar aquele lugar, porra, não pode ser assim. A gente tá
Ele ficou muito no plano formal, nesse início. Então, a demanda
criticando a Vara de Violência doméstica porque promove dessa
que começou a vir espontaneamente muito nesse início foi a
forma, o juiz que tá na fila vai para a vara. Não tem nenhuma
demanda de crimes raciais, e práticas de racismo intersubjeti-
afinidade. O cara às vezes, ele é um adversário da Lei Maria da
va, as pessoas procurando assistência para ação indenizatórias,
Penha, e ele é promovido e vai para a Vara. Principalmente porque
para acompanhar a investigação policial penal de crimes contra
essas são varas hiper especializadas e ela só tem ou na capital
honra motivados pela questão da raça/cor, e algumas pequenas
ou em cidades pontos.
demandas relacionadas a saúde e educação, tinham dois proce-

Núcleo de Combate ao Racismo da Defensoria Pública dimentos, cada um sobre um desses temas, e um procedimento

do Rio de Janeiro (NUCORA) religiões, religiosidade, racismo religioso.

Só que todos os três, quando a gente assumiu aqui em abril


A coordenadora do Núcleo de Combate ao Racismo da Defensoria
de 2015, foi difícil entender como foi a construção dessas três
Pública do Rio de Janeiro (NUCORA), Lívia Casseres, nos forneceu
atuações. Me pareceu que ficou uma coisa mais formal, mais
mediante entrevista algumas informações sobre a estruturação e
burocrática. Ou seja, se escutou que essas eram pautas do mo-
atuação do Núcleo. De acordo com a defensora pública:
vimento negro e foram expedidos ofícios já voltados a promover

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tutela coletiva, por exemplo, na educação, ofícios dirigidos a mas na estrutura de cargos da Defensoria está previsto um órgão
todas as escolas dos 96 municípios do Estado do Rio de Janeiro para ser ocupado por um Defensor, que é um órgão que está
perguntando se a lei 10.639 era cumprida. Só que, por exemplo, dividido entre sete pessoas que tem outras atribuições. Em um
esses ofícios não tinham uma quesitação específica sobre o cur- mundo ideal, deveríamos ter um titular e a coordenação, com
rículo das escolas, sobre a forma de implementar a lei, etc. Eram dois defensores trabalhando, coordenando, se substituindo um ao
ofícios meio genéricos, que eu achei que talvez tenha faltado outro. Essa é uma situação comum a outros núcleos, Nudiversis,
uma articulação com os profissionais do setor, com os militantes Núcleo da pessoa idosa, é uma situação comum na Defensoria e
que tem uma história de atuação na área da educação. Então nos nossos núcleos especializados é mais sério ainda porque em
talvez, nesse momento ainda era um laboratório, um teste, uma muitos deles não tem ninguém fixo. Eles são divididos.
experimentação... o Núcleo era muito jovem.
Na nossa organização interna, como a Letícia está no NUDIVERSIS
Então em 2015 eu acabei assumindo a coordenação, mas ainda de também e atua nos Direitos Humanos, a gente internamente se
uma maneira muito precária, por conta de acumular também a organizou para conseguir se especializar nas matérias, dentro da
coordenação do NUDIVERSIS. A mesma situação do meu colega possibilidade que a Defensoria oferece. Hoje eu identifico que
anterior que me precedeu, ele acumulava a coordenação do NU- o grosso da demanda individual do NUCORA continua sendo
CORA e do NUDEGE, na nova administração isso foi mantido, até atendimentos para situações de racismo intersubjetivo, mas
2018. Então de 2014 até 2018 não havia uma coordenação exclusi- ampliou bastante para outros tipos de discriminação racial ou
va para o NUCORA, então era um órgão que não tinha nenhum experiências de racismo institucional, em situação relacionada
defensor, tinha o pedaço da atenção de uma coordenadora. A com as temáticas de gênero... e tem a demanda por planejar
gente só conseguiu efetivamente criar uma coordenação um melhor a atenção do NUCORA, isso não está estruturado.
pouco mais efetiva em 2018, que chega uma colega nova para
Por exemplo, a gente tem os planos para esse ano (2019) de fa-
o campo da diversidade, coordenar o NUDIVERSIS (O núcleo
zer atuações mais voltadas para o público interno e atuar como
das diversidades, direitos LGBT), e eu, apesar de continuar com
uma coordenadoria especializada mesmo, capacitando os de-
funções no Núcleo de Direitos Humanos, consigo me concentrar
fensores. Tem alguns temas que eu identifiquei, por exemplo, o
mais agora em 2019 no núcleo contra a desigualdade racial. (...)
preenchimento do “sistema verde” que está sendo utilizado pela
o Núcleo Contra a Desigualdade Racial só tem um órgão de defensoria agora tem o quesito racial e aí a gente já fez algumas
atuação e hoje ainda tem o seguinte problema, a gente não reuniões, uma delas de audiência de custódia, e que os colegas
tem exclusivamente uma pessoa atuando no NUCORA, ele é demonstravam dificuldades. Eles não estão familiarizados com
composto de uma coordenação, que é a que eu ocupo, e um alguns conceitos, têm vergonha de perguntar, acham que estão
órgão de atuação que seria o coordenado por mim, esse órgão constrangendo a pessoa presa se perguntar sobre isso e tal. Então
não existe. O NUCORA tem hoje uma equipe exclusiva que tem é uma coisa que a gente tem como necessidade para esse ano
um servidor, que é a Letícia Correia, e tem três estagiários oficiais, de 2019 é capacitar os defensores e servidores no preenchimento

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do quesito raça cor do “verde”. Porque também é uma novidade está criando um fluxo de acompanhamento da investigação do
o “verde”. O programa está sendo implementado desde o ano ato da tortura e dos efeitos para dentro do processo, para den-
passado. (...) tro da defesa criminal, que a gente vai poder produzir teses por
exemplo de ilicitude da prova, contaminação das provas, pedir
Outro grande tema que chega para o NUCORA é a violência
o relaxamento da prisão da pessoa, pela prática da tortura. E o
institucional que é muito conectado com o Núcleo de Direitos
elemento racial é bem marcante nesse levantamento, porque
Humanos. E aí tem várias vertentes de ações coletivas, de aten-
tem um índice absurdo dentre os réus negros de prática de
dimentos individuais, de audiências públicas em que a gente
tortura. Tem uma certa diferença entre os tipos de violência que
pauta a questão do racismo. (...)
as pessoas privadas de liberdade estão sujeitas segundo a cor.
As demandas internas têm sido as ações mais estratégicas e
Ela destaca ainda que uma proposta foi levada à administração
ações coletivas. (...) Por exemplo, litigância internacional que a
superior da Defensoria para que “a questão racial ocupasse uma
gente fez no ano passado. Teve um caso que envolvia tanto a
coordenadoria na Defensoria, além do Núcleo especializado”. Para
intervenção quanto a violência institucional e a gente criou uma
ela, é necessário:
argumentação relacionada à questão racial, que envolvia isso e
tudo mais... e uma parte dos direitos violados é o direito à não inserir a questão racial no ponto de vista de todos os defensores
discriminação e a Denúncia do Estado pelas práticas de racismo públicos e conseguir trabalhar com esse olhar em qualquer aten-
institucional no campo da segurança e tudo mais. Então assim, dimento que a defensoria preste e centralizar o racismo como um
acho que maioria das demandas são externas sim. problema da defensoria. Um problema a ser trabalhado interna-
mente e externamente, porque a posição do núcleo especializado
Lívia Casseres destacou dentre as principais ações do núcleo uma
é de órgão de atendimento, então ela vai servir para promover
pesquisa realizada sobre o aborto, promovida juntamente com a
ações individuais, ações coletivas, produzir uma estratégia jurídica
Comissão da Mulher; o programa de Violência Institucional, que é
a serviço da sociedade com o olhar da questão racial.
um programa de Direitos Humanos; o protocolo de combate à tor-
tura e uma pesquisa sobre “o elemento racial na prática da tortura”
no Estado do Rio de Janeiro. Sobre o protocolo contra a tortura que Ela destaca também as dificuldades de exercer as atividades no
está em processo de implementação Lívia Casseres explica: Núcleo, sobretudo as relacionadas ao enfrentamento ideológico
É um protocolo que já está publicado desde o ano passado para dos que questionam o combate ao racismo e até mesmo dos que
atuação dos Defensores nos casos em que eles sejam comuni- questionam a própria existência do racismo. A defensora narra:
cados de que aconteceu tortura contra a pessoa que está sendo Eu acho que hoje a nossa grande dificuldade é um certo iso-
atendida. Então a gente criou um banco de dados para monitorar lamento interno, não só do NUCORA, mas de outros núcleos
a partir da audiência de custódia, tudo que é relatado em termos especializados. Mas a gente percebeu que com os processos
de tortura, pelos atendidos pela Defensoria. Então hoje a gente políticos do ano passado que diversos defensores consideram

332 333
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problemático que a Defensoria veicule o Racismo como um foco »» As Defensorias Públicas dos Estados devem criar núcleos espe-
das suas preocupações, se ocupe de uma agenda do movimento cializados de combate ao racismo e promoção da igualdade
negro, por exemplo, isso é visto como uma politização indevida racial para incidência estratégica interna e externa;
da Defensoria ou uma cooptação da Defensoria por um segui-
»» As Defensorias Públicas devem adotar o enfrentamento ao
mento da sociedade. [...] É comum eu escutar que “tem núcleo
racismo como questão transversal em todos os seus núcleos;
pra tudo nessa defensoria, tem núcleo até de questão racial. Pra
que é que existe isso? Esse núcleo é fictício”. Isso é super comum.
»» As Defensorias Públicas que não possuem núcleos exclusivos
de enfrentamento ao racismo devem estar atentas para que a
(...) Questionando a própria existência do racismo.
temática racial não esteja sendo subincluída ou tratada com
Contudo, Lívia também reconhece os pontos positivos da exis-
menor importância dentro do núcleo sob o qual esteja subor-
tência do Núcleo para a contribuição com o trabalho e missão da
dinada;
Defensoria e destaca:
»» A Defensoria Pública de São Paulo deve observar possível pro-
Acho que tem algumas construções políticas que a Defensoria
blema da subinclusão da questão racial no núcleo de enfren-
Pública proporciona quando ela se deixa apropriar pela sociedade
tamento ao racismo.
e se abre para a participação popular, para o controle social, para
um planejamento participativo, acho que essas construções são
um foco de resistência bem importante e fértil no sistema de
justiça. (...) Eu acho que ela [a Defensoria Pública] pode propor-
cionar experiências de resistência dentro do sistema de justiça
importantes, de serem instrumentalizadas para outros projetos
de Democracia e de Justiça.

Considerações para ação


»» As Defensorias Públicas dos Estados devem atuar nas causas de
enfrentamento ao racismo dentro e fora da instituição, visando
a estrutura e organização institucional e também as ações
institucionais voltadas para o atendimento aos usuários, sobre-
tudo em ações coletivas, e também relacionadas à incidência
estratégica e legislativa;

334 335
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PARTE VII – PRODUÇÃO DE DADOS E PESQUISA Na sétima parte do questionário “VII – Produção de dados e pes-
quisa”, inquirimos às Defensorias Públicas Estaduais os seguintes
questionamentos:

7.1) A Defensoria Pública do Estado promoveu/promove a produ-


ção e difusão de dados e pesquisas referentes à sua atividade?

7.2) Quais as principais temáticas desenvolvidas nos últimos dois


anos?

- Direitos humanos: ( ) Sim ( ) Não

- Direitos da criança e do adolescente: ( ) Sim ( ) Não

- Sistema carcerário: ( ) Sim ( ) Não

- Medidas socioeducativas/ juventude e prisão: ( ) Sim ( ) Não

- Saúde: ( ) Sim ( ) Não

- População de rua: ( ) Sim ( ) Não

- Promoção da igualdade racial: ( ) Sim ( ) Não

- Sexualidade: ( ) Sim ( ) Não

- Violência contra as mulheres: ( ) Sim ( ) Não

- Direitos das mulheres: ( ) Sim ( ) Não

- Cultura de povos indígenas e comunidades tradicionais: ( )


Sim ( ) Não

- Intolerância religiosa: ( ) Sim ( ) Não

- Terra e território: ( ) Sim ( ) Não

- Questões urbanas e moradia: ( ) Sim ( ) Não

- Idosos: ( ) Sim ( ) Não

- Pessoa com deficiência: ( ) Sim ( ) Não

- Consumidor ( ) Sim ( ) Não

336 337
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- Política de drogas ( ) Sim ( ) Não

7.3) Quais pesquisas ou dados produzidos nos últimos dois anos


que produziram direta ou indiretamente a questão racial.

7.4) Espaço para anexar hiperlinks das pesquisas e dados pro-


duzidos:

Na tabela abaixo temos a representação dos Estados da República


Federativa do Brasil e do Distrito Federal e Territórios por região,
com as respostas ao item 7. Os números correspondem aos subitens
da questão 7 (que varia do 7.1 ao 7.4).

338 339
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 6

Respostas ao “Item VII – Produção de


dados e pesquisa”

7.1 7.2 7.3 7.4


AC
7.1 7.2 7.3 7.4
AM

7.1 7.2 7.3 7.4


AP

7.1 7.2 7.3 7.4


RR

7.1 7.2 7.3 7.4


PA

7.1 7.2 7.3 7.4


TO

7.1 7.2 7.3 7.4


RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

340 341
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 6

Respostas ao “Item VII – Produção de


dados e pesquisa”

7.1 7.2 7.3 7.4


MA

7.1 7.2 7.3 7.4


CE

7.1 7.2 7.3 7.4


RN

7.1 7.2 7.3 7.4


PB

7.1 7.2 7.3 7.4


PE

7.1 7.2 7.3 7.4


AL

7.1 7.2 7.3 7.4


SE

7.1 7.2 7.3 7.4


BA

7.1 7.2 7.3 7.4


PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

342 343
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 6

Respostas ao “Item VII – Produção de


dados e pesquisa”

7.1 7.2 7.3 7.4


MG

7.1 7.2 7.3 7.4


SP

7.1 7.2 7.3 7.4


ES

7.1 7.2 7.3 7.4


RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

344 345
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 6

Respostas ao “Item VII – Produção de


dados e pesquisa”

7.1 7.2 7.3 7.4


PR

7.1 7.2 7.3 7.4


SC

7.1 7.2 7.3 7.4


RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

346 3 47
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 6

Respostas ao “Item VII – Produção de


dados e pesquisa”

7.1 7.2 7.3 7.4


MT

7.1 7.2 7.3 7.4


MS

7.1 7.2 7.3 7.4


DF

7.1 7.2 7.3 7.4


GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

348 349
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Para finalizar o questionário reservamos um espaço para que as


Defensorias pudessem se manifestar livremente sobre a temá-
tica. Perguntamos se “8.1) Há alguma informação relevante sobre
‘Políticas de igualdade racial e combate ao racismo nas Defensorias
Públicas dos Estados e o enfrentamento ao racismo institucional
no sistema de justiça’ que queira acrescentar?” e reservamos um
espaço para anexar arquivos na questão seguinte: “8.2) Se houver
algum arquivo, anexe aqui”. O quantitativo de respostas a cada um
desses itens é representado na tabela abaixo.

350 351
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TA B E L A 2 7

Respostas a “Outros questionamentos”

1.1 1.2
AC
1.1 1.2
AM

1.1 1.2
AP

1.1 1.2
RR

1.1 1.2
PA

1.1 1.2
TO

1.1 1.2
RO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

352 353
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TA B E L A 2 7

Respostas a “Outros questionamentos”

1.1 1.2
MA

1.1 1.2
CE

1.1 1.2
RN

1.1 1.2
PB

1.1 1.2
PE

1.1 1.2
AL

1.1 1.2
SE

1.1 1.2
BA

1.1 1.2
PI

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

354 355
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 7

Respostas a “Outros questionamentos”

1.1 1.2
MG

1.1 1.2
SP

1.1 1.2
ES

1.1 1.2
RJ

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

356 357
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

TA B E L A 2 7

Respostas a “Outros questionamentos”

1.1 1.2
PR

1.1 1.2
SC

1.1 1.2
RS

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

358 359
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TA B E L A 2 7

Respostas a “Outros questionamentos”

1.1 1.2
MT

1.1 1.2
MS

1.1 1.2
DF

1.1 1.2
GO

itens que não foram respondidos pelas


Defensorias que não acessaram e não sub-
meteram o questionário

partes do questionário em que pelo menos


uma subquestão ou a totalidade do item foi
respondida

partes do questionário em que nenhuma


subquestão do item correspondente foi
respondida

360 361
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Perguntamos às Defensorias Públicas dos Estados se promovem TA B E L A 2 8


a produção e a difusão de dados referentes à sua atividade e se
possuíam dados ou pesquisas nas quais a questão racial fosse Produção e difusão de dados/
abordada. Das respostas das Defensorias Públicas formulamos a
tabela a seguir: Dados sobre racismo e
questão racial

Promove produção e difusão de dados Dados sobre ao racismo a questão racial

AM Não N/R

CE N/R N/R

MG Sim N/R

MS N/R N/R

PA N/R N/R

RJ Sim N/R

RN N/R N/R

RO Sim N/R

RR N/R N/R

SE Sim N/R

SP Sim N/R

TO Sim Sim

362 363
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A Defensoria Pública do Amazonas não promoveu/promove a pro- da mulher criminalizada por aborto no estado do Rio de Janeiro; o
dução e difusão de dados e pesquisas referente a sua atividade. 1º diagnóstico de gênero da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

A Defensoria Pública de Minas Gerais, de Rondônia e de Sergipe A Defensoria Pública do Amazonas informa um “caso emblemático
informam ter promovido/promover a produção e difusão de dados de vítima de Racismo no Fórum de Justiça Ministro Henoch Reis.
e pesquisas referente a sua atividade, mas não anexaram qualquer A assistida, que é de nacionalidade africana e veio ao Brasil por
documento a esse respeito e nem informaram quais as pesquisas um programa de intercâmbio acadêmico, estagiava em uma das
ou dados produzidos. varas de família do fórum de justiça e foi racialmente injuriada por
membro do jurisdicionado no desempenho de suas funções. A ação
A Defensoria Pública de Tocantins informa ter promovido/promover
de responsabilização civil foi apresentada pela Defensoria Pública
a produção e difusão de dados e pesquisas referente a sua atividade
Especializada na Promoção e Defesa de Direitos Humanos e segue
e diz realizar “relatórios mensais de atividades do NDDH”, onde
em andamento. Ainda não foi realizada Audiência de Instrução”. A
registram a atuação do núcleo especializado de maneira descritiva
Defensoria Pública do Amazonas anexou a petição inicial.
e numérica. Informa que este documento se encontra disponível
na página da Defensoria Pública do Estado e junto à Corregedoria. A Defensoria Pública de São Paulo informa que, sobre os dados da
instituição, estão procedendo a um recadastramento dos defen-
A Defensoria Pública de Tocantins informa ainda que “[a] DPE,
sores e defensoras e dos servidores e servidoras tendo em vista a
representada por seu NDDH (Núcleo de Direitos Humanos), integrou
edição da Lei nº 16.758 de 2018, também conhecida como Lei Leci
a comissão organizadora das Conferências Municipais e Estadual
Brandão, que torna obrigatória a informação sobre cor ou identi-
de Promoção da Igualdade Racial, por meio da sua forte atuação
ficação racial em todos os cadastros, bancos de dados e registros
junto ao Conselho Estadual de Promoção de Igualdade Racial. Além
de informações assemelhados, públicos e privados, no Estado, e dá
de organizar, servidores e defensores participam efetivamente das
providências correlatas.
etapas, contribuindo com a proposição de políticas de promoção
da igualdade racial, com foco nas especificidades do povo tocanti- A Defensoria Pública de São Paulo informa que promoveu/promove
nense. Destas proposições, a maioria foi contemplada em sede de a produção e difusão de dados e pesquisas referentes à sua ativi-
Conferência Nacional e passarão a integrar o Plano Nacional de PIR”. dade e disponibilizou pesquisas e dados produzidos no campo da
“Habitação e Urbanismo”; “Direito do Consumidor”, dentre outros.
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro informa ter promovido/pro-
mover a produção e difusão de dados e pesquisas referente a sua As Defensorias Públicas do Rio Grande no Norte, de Roraima e do
atividade, tendo produzido relatórios periódicos com o perfil dos Mato Grosso do Sul não responderam aos questionamentos sobre
réus atendidos pela Defensoria Pública nas audiências de custódia; produção de dados e pesquisas.
pesquisa sobre as sentenças judiciais por tráfico de drogas na cidade
e região metropolitana do Rio de Janeiro; pesquisa sobre o perfil

364 365
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Considerações analíticas
A produção de dados e pesquisas pelas Defensorias Públicas
Estaduais é, em geral, casuística e pouco participativa, havendo
poucas informações sistematizadas e disponibilizadas ao usuário.

Observamos, contudo, que as Defensorias que informaram realizar


pesquisas e produzir dados foram as instituições que mais res-
ponderam a esta pesquisa, o que pode significar melhor preparo
ou estrutura para lidar com a coleta, produção, análise de dados e
capacidade de gerar conhecimento da própria instituição.

Considerações para ação


»» As Defensorias Públicas dos Estados devem produzir e difundir
dados sobre as suas atividades, seus usuários, seus funcionários,
demandas sociais e ações nas quais atuem;

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem produzir e difundir


dados sobre o racismo e o enfrentamento da questão racial,
bem como trazer em suas outras produções de dados e estudos
uma perspectiva transversal da questão racial.

366 367
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CONSIDERAÇÕES GERAIS PARA AÇÃO »» O enfrentamento ao racismo deve ser considerado pauta insti-
tucional para as Defensorias Públicas dos Estados, com vistas a
ampliar a diversidade institucional e colaborar com a redução
das disparidades entre grupos raciais e internamente no mesmo
grupo racial. A política racial da instituição deve estar explici-
tada em seu planejamento de modo a que venha mencionado
como pretende ser abordada em suas linhas de atuação pre-
vistas no plano plurianual e no plano de atuação da Defensoria
Pública de cada Estado, com atenção aos quadros técnicos e
terceirizados.

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver pro-


tocolos de atuação e atendimento da pessoa negra consi-
derando-a como grupo vulnerável, com condutas específicas
que garantam maior acolhimento pessoal de suas demandas
e atestem o compromisso institucional com o enfrentamento
das disparidades raciais e outras, contemplando a infraestrutura,
atenção e cuidado, principalmente na porta de entrada;

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem elaborar um plano


de enfrentamento ao racismo, com objetivos e metas, periódico
e com participação de sociedade civil e de pessoas usuárias por
meio de períodos prévios de consulta pública. Os resultados das
avaliações periódicas devem constituir a linha de base para o
próximo ciclo de planejamento como forma de aprimoramento
de ações;

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem instituir um órgão


hierarquicamente superior para o enfrentamento ao racismo
institucional (diretoria, secretaria, coordenadoria, comitê, ou
outra para além dos núcleos especializados de atendimento)
com equipes qualificadas, infraestrutura adequada e orçamento
suficiente para as ações planejadas, que terá função de liderar e
coordenar as ações, garantindo visibilização e responsabilização

368 369
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

de modo a atestar o cumprimento do dever institucional e ofere- objetivos e corrigir ações ,condutas inadequadas e equívocos
cerem condições para o trabalho proposto. Esta recomendação em tempo hábil;
está alinhada com o art. 52 do Estatuto de igualdade Racial;
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver uma
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover o ingresso cultura de pesquisa, atuando na produção e difusão de dados
sistemático de mais negros, negras e indígenas em seus qua- sistematizados sobre as suas atividades, seus usuários, seus fun-
dros por meio de política de cotas para afrodescendentes, cionários, demandas sociais e ações nas quais atuem. Devem
indígenas e deficientes, observado o percentual populacio- produzir dados de avaliação do serviço prestado de acordo
nal equivalente. A existência de diversidade de profissionais com o público atendido. O percentual de mulheres, homens
qualificados e comprometidos atesta o cumprimento do dever heterossexuais, homossexuais, travestis e transexuais, de dife-
institucional e colabora para a sua realização adequada; rentes gerações e condição física e mental satisfeitos com o
atendimento ajudam a demonstrar a competência cultural
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver ações
da instituição e a qualidade das informações sobre o público
afirmativas para ascensão funcional de negros, negras e
e seus quadros, contribuindo para a formulação de ações de
indígenas, sobretudo de mulheres negras e indígenas, o que
enfrentamento do racismo mais eficazes;
irá colaborar para a explicitação e incorporação do dever ins-
titucional de enfrentar o racismo e garantir maior diversidade »» As Defensorias Públicas dos Estados devem atuar na produ-
na direção; ção e difusão de dados sobre o racismo e enfrentamento da
questão racial, bem como trazer em suas outras produções de
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem observar a paridade
dados e estudos uma perspectiva transversal da questão racial;
racial e de gênero nos quadros da administração superior,
criando e implementando ações que promovam a prepara- »» As Defensorias Públicas dos Estados devem desenvolver ou
ção das mulheres, sobretudo das mulheres negras e indígenas, possuir um sistema de informações simultâneas em que
para os cargos de gestão. É imprescindível considerar a dupla possam cadastrar os usuários e deve haver uma uniformização
jornada de mulheres e as condições para exercer este trabalho, nacional da ficha de cadastro dos usuários para a produção
de modo que a instituição deve pensar em ações afirmativas e tratamento de dados. Uniformizar e aprimorar os sistemas
eficazes que não representem o aumento da jornada de trabalho de cadastro e acompanhamento dos usuários seriam passos
para essas mulheres; importantes para obter essas informações;

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem criar condições de »» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover a cate-
monitoramento, verificação e avaliação da efetividade da gorização dos dados sobre os seus usuários e demandas a
política de cotas raciais e para deficientes físicos e de outras fim de conhecer o seu público e as áreas de incidência;
medidas de enfrentamento ao racismo, buscando atingir seus
»» A ficha de cadastro dos usuários das Defensorias Públicas dos
Estados deve conter o critério raça/cor para que os usuários

370 371
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possam se AUTO IDENTIFICAR (sexo, gênero, idade, endereço, a partir de uma perspectiva racializada, abordando a temática
etc.); do racismo de maneira transversal a todos os módulos. Devem
oferecer também um módulo específico sobre a questão racial.
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover estudos
A participação neste curso deve ser obrigatória;
de caso sobre situações específicas relacionadas às deman-
das que chegam à Defensoria em colaboração com grupos da »» As Defensorias Públicas dos Estados devem implementar
sociedade civil; Ouvidorias Externas preparadas para receber e incorporar as
demandas dos diferentes grupos raciais nas políticas institu-
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem sistematizar e pro-
cionais. As Ouvidorias Externas colaboram para a ampliação
porcionar o acesso a informações dos casos em que atuem
da participação;
para os seus usuários e para a sociedade em geral;

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover uma


»» As Defensorias Públicas dos Estados devem dispor de uma
Escola Superior e/ou de um Centro de Estudos Jurídicos;
comunicação adequada e periódica dos resultados das avalia-
ções das medidas de enfrentamento ao racismo institucional »» As Defensorias Públicas dos Estados devem abordar os temas
à equipe e ao público, o que irá colaborar para o estabelecimento das disciplinas, módulos, atividades, cursos, capacitações e
de ações adequadas e para a confiança e adesão da população. eventos organizados nas Defensorias para o público interno e
externo sob uma perspectiva racializada, além de promover
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem realizar presta-
atividades específicas sobre a questão racial;
ções de contas periódicas e em linguagem compreensível
aos diferentes grupos, o que permitirá atestar o grau de com- »» As Defensorias Públicas dos Estados devem realizar atividades
promisso da direção institucional com os objetivos e a maior de formação voltadas para preenchimento do critério raça/
participação social; cor e devem promover a atenção para outros profissionais
que fazem atendimento (funcionários e estagiários);
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem divulgar adequa-
damente o calendário de prestação de contas, o que colabora »» As Defensorias Públicas dos Estados devem estabelecer estraté-
para o estabelecimento de rotinas adequadas e para a informa- gias para compartilhar materiais e experiências a respeito das
ção da população; atividades de formação e da atuação em ações civis públicas e
nos sistemas internacionais de proteção dos Direitos Humanos
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem apresentar diver-
(sistemas ONU e OEA);
sidade de canais e linguagens, o que colabora para o alcance
adequado dos diferentes públicos. »» As Defensorias Públicas dos Estados devem avaliar a possibili-
dade de também representar junto aos sistemas internacio-
»» As Defensorias Públicas dos Estados devem oferecer no curso
nais de proteção dos direitos humanos (Sistemas ONU e OEA);
oficial de ingresso para seus quadros os temas que conside-
ram essenciais para a carreira de defensor e defensora pública

372 373
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»» As Defensorias Públicas dos Estados devem promover ações incorporar aos dados de acesso válidos a data de instituição
civis públicas e audiências públicas para abordar questões de cada Defensoria Pública Estadual;
raciais e questões incidentais que trazem a temática racial
como fator determinante na discussão, incluindo as suas fun-
ções institucionais;

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem criar núcleos espe-


cializados de combate ao racismo e promoção da igualdade
racial para incidência estratégica interna e externa;

»» As Defensorias Públicas dos Estados devem adotar o enfren-


tamento ao racismo como questão transversal em todos os
seus núcleos;

»» Os núcleos de enfrentamento ao racismo e promoção da


igualdade racial devem atuar nas causas de enfrentamento
ao racismo dentro e fora da instituição, visando a estrutura e
organização institucional e também as ações institucionais
voltadas para o atendimento aos usuários, sobretudo em
ações coletivas, e também relacionadas à incidência estra-
tégica e legislativa;

»» As Defensorias Públicas dos Estados que não possuem núcleos


exclusivos de enfrentamento ao racismo devem solucionar a
subinclusão da temática racial nos núcleos aos quais são
dirigidas as questões raciais;

»» A Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos


(ANADEP) e as Defensorias Públicas de cada Estado devem
atualizar os dados de acesso válidos (Defensor Público-Geral;
Subdefensor Público-Geral; Corregedor-Geral; endereço; telefo-
nes; fax; site; e-mail) e disponibilizá-los com transparência em
seus sites e murais;

»» A Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos


(ANADEP) e as Defensorias Públicas de cada Estado devem

3 74 375
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Tendo como base os grandes eixos e perguntas norteadoras do Guia


de enfrentamento ao Racismo Institucional do Geledés – Instituto
SISTEMATIZAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA da Mulher Negra (2013a), formulamos a seguinte tabela com a siste-
matização dos resultados da pesquisa e recomendações adicionais
aplicáveis à realidade de enfrentamento do racismo institucional
pelas Defensorias Públicas dos Estados:

376 377
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Cultura institucional Cultura institucional

Grandes Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes Perguntas Análise situacional Recomendações
eixos norteadoras eixos norteadoras

A organização As Defensorias Públicas O acompanhamento A organiza- As Defensorias Públicas Implementar instância de


já identificou as dos Estados não realizam regular e avaliações ção dispõe de dos Estados não pos- enfrentamento do racismo
formas atuais de com periodicidade estudos constantes dos processos instância ou suem instância instalada (diretoria, secretaria, coor-
racismo institucio- e avaliações internas sobre institucionais de en- mecanismos de em nível hierárquico denadoria, comitê ou outra)
nal? incidência do racismo nas frentamento ao racismo governança para superior e funcionando que terá função de liderar e
instituições. atestam o compromisso o enfrentamento adequadamente para o coordenar as ações, garantin-
institucional no enfrenta- ao racismo insti- enfrentamento ao racis- do visibilização e responsabi-
mento ao racismo. Assim, tucional? mo institucional. lização.
é possível observar a
capacidade para corrigir As Defensorias Públicas Prever a disponibilização de
o posicionamento institu- dos Estados não pos- infraestrutura adequada e
cional. suem dotação orçamen- orçamento suficiente para as
tária específica e livre ações planejadas, de modo
O enfrentamento As Defensorias Públicas dos O enfrentamento ao Essa instância de contingenciamentos a atestarem o cumprimen-
ao racismo é uma Estados não apresentam o racismo e a correção possui recursos destinada ao enfren- to do dever institucional e
das metas de suas enfrentamento ao racismo das disparidades raciais (orçamento, equi- tamento ao racismo oferecerem condições para o
políticas e progra- como meta estabelecida e devem ser prioridades pe, infraestrutura institucional. trabalho proposto.
mas prioritários? monitorada pela direção da de políticas, programas e
Como? instituição. ações da instituição. adequada)? As Defensorias Públicas Promover o ingresso sistemá-
dos Estados não contam tico de mais negros e negras
com equipe com diver- em seus quadros. A existên-
A responsabilização da sidade de gênero, raça e cia de uma diversidade de
direção expõe o grau de cultura. profissionais qualificados
compromisso institu- e comprometidos atesta o
cional e colabora com cumprimento do dever insti-
eficiência e eficácia para tucional e colabora para a sua
as ações desenvolvidas, e, Instância de realização adequada.
por isso, acreditamos que
Visibilização a direção da instituição Governança Qual é o nível As Defensorias Públicas O posicionamento do orga-
do deve firmar um com- hierárquico de dos Estados não pos- nismo institucional respon-
compromisso promisso institucional e inserção dessa suem uma instância sável pela coordenação das
institucional responder por ele. institucionalidade independente em nível ações de enfrentamento
hierárquico superior e do racismo em posição
Existem normas Não verificamos que as A regulamentação do no órgão? com capacidade de indu- hierarquicamente superior
internas para o Defensorias Públicas dos compromisso institucio- ção vertical e horizontal colabora com sua capacidade
enfrentamento do Estados possuam, no mo- nal pode garantir maior das ações para o en- de liderança sobre todos os
racismo institucio- mento de conclusão desta adesão e estabilidade às frentamento ao racismo níveis hierárquicos. As Defen-
nal? pesquisa, qualquer tipo de iniciativas. As Defensorias institucional. sorias Públicas dos Estados
portaria interna ou outro Públicas dos Estados devem instituir um órgão hie-
tipo de regulamento para o devem regulamentar rarquicamente superior para
enfrentamento do racismo o enfrentamento ao o enfrentamento ao racismo
institucional. racismo institucional via institucional.
portaria interna ou outro
regulamento. Essa institucio- As Defensorias Públicas Medir a qualidade da ação da
nalidade realiza dos Estados não possuem direção institucional a partir
A organização A comunicação institucional Comunicar os objeti- monitoramento a redução do racismo ins- de sua capacidade de cumprir
tem formas de das Defensorias Públicas vos de enfrentamento das ações de titucional como um dos a determinação de enfren-
comunicação dos Estados não apresen- do racismo contribui enfrentamento indicadores da qualidade tar o racismo, o que colabora
internas e externas ta diferentes linguagens para maior confiança e ao racismo insti- da ação da administração para a sua realização adequa-
do compromisso (segundo gênero, raça e adesão às propostas. As tucional? superior da instituição e da e reafirma o compromisso
de eliminação do cultura) e veículos acessíveis Defensorias Públicas dos da prestação de serviços. institucional.
racismo institucio- voltados para o enfrenta- Estados devem pensar
nal? mento ao racismo institu- estratégias de comuni-
cional. cação para explicitar o
seu compromisso de en-
frentamento ao racismo
institucional.

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Cultura institucional Cultura institucional

Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações
norteadoras norteadoras

A instituição tem As Defensorias Públicas A proporcionalidade entre mu- A instituição in- As Defensorias Públicas dos Ter equipes qualificadas,
informações atuais dos Estados, em geral, não lheres e homens negros, indí- forma e educa Estados não apresentam um que colaborem para a maior
sobre a proporção de aferem a proporção de mu- genas e outros permite verificar as equipes e seu plano estratégico de enfrenta- adesão e para a realização
mulheres e homens lheres e homens negros, in- a capacidade da instituição em público quanto à mento ao racismo que permita adequada dos objetivos de
negros, indígenas e dígenas e outros ocupando enfrentar internamente o racis- adoção de ações aos funcionários estarem infor- enfrentamento ao racismo
outros na instituição e posições de relacionamento mo institucional. As Defensorias afirmativas? mados e comprometidos com institucional.
em que posições? com o público em relação à Públicas dos Estados precisam os princípios de promoção da
sua proporção na popula- construir uma política da ação equidade e do enfrentamento
ção local. afirmativa eficaz que permita o do racismo.
ingresso proporcional de negros
e negras e indígenas proporcio- As ações afirma- As Defensorias Públicas dos Ampliar a diversidade institu-
nal à população local de cada tivas adotadas Estados não apresentam uma cional, de modo a colaborar
Estado. permitem enfren- diversidade nas equipes de com a redução das disparida-
tar outras formas mulheres e homens heterosse- des entre grupos raciais e in-
Existe alguma ação As Defensorias Públicas Implementar uma política de desigualdades xuais, homossexuais, travestis ternamente no mesmo grupo
específica para a ga- dos Estados não possuem institucional de incentivo à qua- vivenciadas pelos/ e transexuais, de diferentes racial.
rantia da diversidade uma política institucional lificação e ocupação de cargos as negros/as (de gerações, de pessoas com defi-
de gênero de incentivo à qualifica- superiores por mulheres negras, gênero, orientação ciência e outros.
ção e ocupação de cargos sexual, condição
e raça no acesso e na superiores por mulheres indígenas e outras, o que per- física e mental,
ascensão funcional? negras, indígenas e outras, mitirá explicitar a incorporação geração etc.)?
aprovada e implantada. dos objetivos de enfrentamento
do racismo e das disparidades Qual é a abran- As Defensorias Públicas dos Deve apresentar uma diversi-
Ações
raciais na ocupação de cargos gência dessa ação Estados apresentam ações afir- dade de funcionários/funcio-
afirmativas
institucionais, melhorando o afirmativa (acesso, mativas para o acesso à carreira nárias com estabilidade fun-
e outras
relacionamento com o público. permanência, mo- de defensor e defensora pública cional, de modo que colabore
Ações políticas
bilidade, cultura que ainda não provaram ser para explicitação do dever e do
afirmativas de
Os critérios utilizados As Defensorias Públicas dos Desenvolver ações afirmativas organizacional)? bem sucedidas. Baixo núme- compromisso institucional de
e outras enfrentamento
nos processos seletivos Estados não apresentam para ascensão funcional de ro de Defensorias apresenta enfrentamento do racismo e
políticas do racismo
promovem a ocu- mecanismos afirmativos negros e negras, sobretudo núcleos especializados de com- suas interseccionalidades.
de institucional
pação proporcional para inclusão de mulheres de mulheres negras e indíge- bate ao racismo e promoção
enfrentamento dos cargos segundo negras, indígenas e outras nas, o que irá colaborar para a da igualdade racial. Na maior
do racismo gênero, raça e cultura na ocupação dos postos explicitação e incorporação do parte, o tema é subincluído em
institucional em todos os cargos da de direção institucional. Os dever institucional de enfrentar núcleos dedicados à defesa dos
instituição? mecanismos afirmativos o racismo e garantir maior diver- direitos humanos.
em vigor sequer permitem sidade na direção.
o ingresso do mínimo de Há metas objeti- As Defensorias Públicas dos Adotar metas explícitas para a
vagas reservada aos negros vas definidas de Estados não apresentam metas
e negras. maior diversidade diferenciadas de ocupação de garantia da diversidade em
nos diferentes cargos de direção segundo quantidade proporcional à sua
níveis hierárqui- gênero, raça, identidade de representação populacional,
cos do quadro gênero. o que irá colaborar para a
funcional? realização do dever institucio-
Os processos seletivos As Defensorias Públicas implementar, de maneira eficaz, nal de enfrentar o racismo e as
são guiados pelos dos Estados formalmente ações afirmativas voltadas para disparidades raciais.
princípios da igualda- adotam quotas raciais para garantir a participação propor-
de de oportunidades o ingresso na carreira de cional de representantes dos Há acompanha- As Defensorias Públicas dos Acompanhar a execução das
segundo gênero, raça, defensor e defensora públi- grupos racialmente excluídos mento contínuo Estados não apresentam ações afirmativas. A realização
cultura? ca, mas elas não têm sido nos diversos postos institucio- dessas ações? processos de monitoramento e de processos de monitora-
suficientes para permitir o nais colaboram para a realização avaliação periódica do alcance mento e avaliação das ações
ingresso de grupos racial- do dever institucional. das metas, nem mesmo das afirmativas, e outras, garante
mente excluídos. cotas raciais enquanto políticas sua maior eficácia e correção
de ação afirmativa. de equívocos em tempo hábil.
A instituição utiliza As Defensorias Públicas Monitorar o enfrentamento ao
periodicamente ações dos Estados não utilizam racismo institucional, buscando
para identificar a periodicamente ações para atingir seus objetivos e corrigir
presença do racismo identificar a presença do ra- ações e condutas inadequadas.
dentro da instituição? cismo dentro da instituição.

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Manifestações para o público Manifestações para o público

Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações
norteadoras norteadoras

O quesito raça/cor é As Defensorias Públicas Ter um sistema e equipes As equipes estão As Defensorias Públicas Produzir dados de avaliação do
preenchido segun- dos Estados, em regra, não preparadas para coletar e tratar treinadas para reco- dos Estados, em geral, não serviço prestado de acordo com
do as categorias realizam a coleta sistemática informações. nhecer a diversida- possuem sistematização o público atendido. O percen-
de classificação do da informação raça/cor dos de de sujeitos e de de dados a respeito do tual de mulheres, homens
IBGE? seus usuários via preenchi- demandas? percentual de diferentes heterossexuais, homossexuais,
mento dos formulários. As sujeitos em atendimento e travestis e transexuais, de
Defensorias Públicas dos acolhidos pelas ouvidorias diferentes gerações e condi-
Estados não apresentaram segundo gênero, raça, etc. ção física e mental satisfeitos
informações objetivas e aces- com o atendimento ajudam
síveis acerca do significado a demonstrar a competência
desta informação para os cultural da instituição.
diferentes públicos.
As equipes têm As Defensorias Públicas dos Gerar dados sistematizados
A qualidade da co- As Defensorias Públicas dos Desenvolver uma cultura de acesso a informa- Estados não foram capazes sobre o público que atende.
Produção de
leta da informação Estados não possuem calen- pesquisa. Garantir a veracidade ções detalhadas de apresentar informações Uniformizar e aprimorar os
dados e informa-
do quesito raça/cor dário de avaliação periódica e qualidade das informações sobre os diferentes consistentes acerca do sistemas de cadastro e acompa-
ções cadastrais
é avaliada periodi- da qualidade da coleta e sobre o público contribui para grupos populacio- público atendido e da sua nhamento dos usuários seriam
sobre o público
camente? análise das informações esta- a formulação de ações de en- nais para quem diversidade. passos importantes para obter
belecido. frentamento do racismo mais trabalham? essas informações. O grau de
eficazes. informação da equipe acerca
da população (segundo raça/
cor e outras) a que deve atender
As informações As Defensorias Públicas dos Elaborar um plano de enfrenta- contribui para o planejamento
coletadas são utili- Estados precisam gerar da- mento ao racismo, estabele- e execução de ações adequadas
zadas para a defini- dos e informações a respeito cendo metas e avaliando os de enfrentamento do racismo
ção de prioridades do enfrentamento ao racis- seus objetivos. Os resultados e eliminação das disparidades
e para elaboração mo institucional para, a partir das avaliações periódicas Competência raciais.
de políticas e pro- daí, avaliar as suas metas e a devem constituir a linha de cultural
gramas? execução do planejamento. base para o próximo ciclo de A instituição tem Apesar da existência de Desenvolver protocolos de atua-
planejamento como forma de abordagens dife- núcleos especializados ção e condutas específicas que
aprimoramento de ações. renciadas para os em combate ao racismo e garantam maior acolhimento
diferentes grupos em promoção da diversi- às pessoas e suas demandas
populacionais? dade sexual em algumas e atestem o compromisso
Defensorias Públicas, institucional com o enfrenta-
em geral, a instituição mento das disparidades raciais
não possui protocolos de e outras.
ação (estabelecimento de
condutas e procedimentos)
adequados às linguagens
e visões de mundo de cada
grupo populacional.

A instituição possui Nem todas as Defensorias Ser capaz de mobilizar uma


canais efetivos de Públicas implementaram diversidade de sujeitos sociais
participação dos Ouvidorias Externas con- que influenciem e adequem os
diferentes grupos forme determinado em lei. rumos das ações e políticas ins-
em todas as etapas Somente algumas contam titucionais.
das com mecanismos de
participação popular como
ações e políticas? planejamento participativo
ou ciclos de conferências.
A maior parte dos Estados
não possui um plano de
incorporação das recomen-
dações e/ou deliberações
das diferentes instâncias de
participação nas políticas e
ações institucionais.

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Manifestações para o público Manifestações para o público

Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações
norteadoras norteadoras

A instituição possui Nem todas as Defensorias As Ouvidorias Externas são pe- Há acompanha- As Defensorias Públicas Prezar pelo debate perma-
ouvidorias acessíveis Públicas dos Estados pos- ças essenciais para que se possa mento contínuo dos Estados não nente, a ser liderado pela ad-
aos diferentes gru- suem uma Ouvidoria Externa falar de democracia no âmbito dessas ações? apresentam ações ministração superior, acerca
pos populacionais? popular instalada, acessível e das Defensorias Públicas dos para eliminação das da adequação das ações de
com divulgação ampla. Estados. As Ouvidorias Exter- disparidades raciais e enfrentamento do racismo
nas devem estar preparadas do racismo como pauta institucional e das dispa-
para receber e incorporar as permanente das reuniões ridades raciais através das
demandas dos diferentes gru- de direção da instituição. ações e políticas, de modo a
pos raciais nas políticas institu- contribuir para explicitar seu
cionais. As Ouvidorias Externas compromisso e para a quali-
colaboram para a ampliação da dade do trabalho.
participação.
Há monitoramento As Defensorias Públicas Implementar o monitora-
A instituição utiliza As Defensorias Públicas dos Contar com a participação de das ações de enfren- dos Estados não apresen- mento preciso das ações de
formas de comuni- Estados não apresentam representantes dos diferentes tamento ao racismo tam metas de eliminação enfrentamento do racismo
cação diferenciadas grau de participação de mu- grupos populacionais na ela- institucional? das disparidades raciais e redução das disparidades
segundo as necessi- lheres, homens heterosse- boração de estratégias de co- e de enfrentamento do raciais através das ações e po-
dades e linguagens xuais, homossexuais, travestis municação institucional, o que racismo institucional mo- líticas, de modo a contribuir
segundo gênero, e transexuais, de diferentes irá colaborar para a utilização Avaliação das nitoradas periodicamente para a qualidade do trabalho
Competência
raça e cultura? gerações e condição física e de linguagens e conteúdo mais políticas e pela direção. desenvolvido e alcance dos
cultural
mental na definição da políti- adequados a cada grupo. serviços objetivos propostos.
ca de comunicação
Há monitoramento As Defensorias Públicas Resultados positivos das
institucional. da eliminação das dos Estados não estabe- políticas de modo equivalente
disparidades raciais leceram indicadores de para cada grupo permitem
O quadro funcional As Defensorias Públicas dos Prezar por uma diversidade e de gênero nas efetividade da política considerar a efetividade do
tem representantes Estados não apresentam institucional proporcional à políticas finalísticas segundo raça/cor, sexo e enfrentamento do racismo
dos diferentes gru- proporção de ocupação de participação destes grupos na da instituição? identidade de gênero. institucional pela capacidade
pos populacionais cargos na instituição, nos população geral contribui para institucional de trabalhar
(segundo gênero, diferentes níveis funcionais, a realização do dever institu- igualmente com grupos
raça e cultura)? por representantes dos cional. populacionais distintos.
diferentes grupos raciais
segundo sua participação Qual é a periodici- As Defensorias Públicas Divulgar adequadamente seu
na população geral. O que dade de monitora- dos Estados não apre- calendário de avaliações, o
se percebe é que a estratifi- mento? sentam calendário de que colabora para o estabele-
cação racial e de gênero au- avaliação periódica da cimento de rotinas adequa-
menta na medida em que os qualidade da coleta e das e para a informação da
cargos são hierarquicamente análise das informações população.
superiores. conhecido por toda a
equipe e pela população.

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Manifestações para o público

Grandes eixos Perguntas Análise situacional Recomendações


norteadoras

As informações As Defensorias Públicas dos Promover uma comunica-


acerca das ações de Estados não apresentam ção adequada e perió-
enfrentamento ao análise das informações dica dos resultados das
racismo institucional apresentadas às equipes e avaliações à equipe e ao
são sistematizadas e ao público. público, o que irá colaborar
analisadas? para o estabelecimento de
ações adequadas e para
a confiança e adesão da
população.

As informações As Defensorias Públicas dos Incorporar os resultados


geradas servem para Estados não apresentam das avaliações na linha de
construir a linha de planejamento institucional base do ciclo seguinte de
base para o novo ciclo baseado em dados atualiza- planejamento, o que irá
de planejamento das dos pelas análises. contribuir para adequação
ações? e eficiência das ações pla-
nejadas e dos objetivos es-
tabelecidos

Há iniciativas de As Defensorias Públicas dos Realizar prestações de


prestação de contas Estados não apresentam contas periódicas e em
Avaliação das
à sociedade sobre o avaliações das ações de linguagem compreensível
políticas e
enfrentamento do enfrentamento ao racismo e aos diferentes grupos, o
serviços
racismo institucional? de eliminação das dispa- que permitirá atestar o
ridades raciais divulgadas grau de compromisso da
ampla e periodicamente direção institucional com
pelos diferentes canais de os objetivos e a maior
comunicação institucional. participação social.

Qual é a periodicida- As Defensorias Públicas dos Comunicar adequada-


de de Estados não informaram mente o calendário de
acerca do calendário de prestação de contas, o que
divulgação dos da- apresentação da prestação colabora para o estabeleci-
dos? de contas. mento de rotinas adequa-
das e para a informação da
população.

Quais são os instru- As Defensorias Públicas Apresentar diversidade de


mentos de dos Estados apresentam canais e linguagens, o que
listagem de canais de divul- colabora para o alcance
divulgação? gação ampla e diversificada. adequado dos diferentes
Contudo, essa listagem públicos.
precisa ser constantemente
atualizada e verificada.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS A opção pelo estudo da Defensoria Pública Estadual se deu prin-
cipalmente pelos seus objetivos constitucionais voltados para o
acesso à justiça dos cidadãos menos favorecidos e a democratização
do sistema de justiça. Por este motivo lançamos nosso olhar a fim
de compreender como a instituição se estrutura para enfrentar o
racismo e promover a igualdade racial.

Tomando a promoção dos direitos humanos como objetivo explí-


cito da instituição e o reconhecimento do racismo como uma
violação flagrante aos direitos fundamentais, optamos por analisar
como ocorre a promoção da igualdade racial e o enfrentamento
ao racismo institucional a partir da sua cultura jurídica e de como
ela se manifesta para o público.

Ao longo dos dois anos em que desenvolvemos a presente pesquisa,


buscamos de maneira democrática e participativa agregar conhe-
cimentos institucionais e sociais sobre a temática racial, contando
também com a participação de pesquisadoras e pesquisadores a
fim de oferecer esse diagnóstico e um conjunto de recomendações
para além daquelas que vêm no lastro de outros diagnósticos da
Defensoria Pública.

É urgente e necessário aprimorar a coleta e análise de dados sobre


a instituição, sobretudo no que diz respeito às I) dificuldades de
acesso à informação porque há uma importante falta de responsi-
vidade por parte da maioria das Defensorias aos questionamentos;
II) dificuldades de acesso aos dados sobre a instituição mesmo em
face das Defensorias que nos responderam. Observamos que mui-
tas Defensorias não possuem os dados solicitados, desconhecendo
informações importantes sobre a sua estruturação e composição,
havendo necessidade de gerá-los.

Observamos que as Defensorias Públicas Estaduais vêm se instau-


rando no país de maneira gradual e lenta e ainda apresentam um

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cenário bastante discrepante no que diz respeito à sua organização, Todos os indicadores que utilizamos para observar a sua organiza-
à sua cultura institucional heterogênea e às diferentes manifes- ção e estruturação no enfrentamento ao racismo e promoção da
tações para o público. Os diferentes graus de responsividade das igualdade racial nos mostram que precisamos abordar de maneira
Defensorias quanto ao questionário nos evidenciam diferenças explícita a necessidade de formação de competência cultural entre
em conhecer e dispor de dados sobre a sua própria organização. os defensores e defensoras, servidores e servidoras, terceirizados e
A desarticulação institucional com o Ministério da Justiça reforça terceirizadas, e estagiário e estagiárias para que o enfrentamento
a necessidade de proatividade do Colégio Nacional de Defensores ao racismo seja incorporado à rotina da instituição e ao processo de
Públicos Gerais (CONDEGE) e da Associação Nacional de Defensoras formulação, implementação e avaliação das suas políticas e serviços.
e Defensores Públicos (ANADEP) no exercício de suas atribuições
Ao observar a composição dos cargos nas Defensorias Públicas dos
para produção de dados e diagnósticos.
Estados, percebemos que esta é uma instituição majoritariamente
Ao analisar as Defensorias Públicas a partir da I) instituição e com- branca, que não corresponde à diversidade racial da sociedade e
posição dos seus quadros; II) composição dos quadros da admi- que consolida hierarquias de acesso aos cargos simbolicamente
nistração superior; III) atividades de formação; IV) atendimento ao mais valorizados na sociedade, tornando mais severa a desigual-
público; V) atuação em conflitos coletivos, ações civis públicas e dade de raça/cor e de gênero na medida em que se aproxima dos
sistemas internacionais de proteção; VI) núcleos especializados e; quadros da administração superior. Ainda que a variável de gênero
VII) produção de dados e pesquisas, buscamos identificar como as nos tenha chamado a atenção com relação ao grande número de
Defensorias se organizam para enfrentar o racismo institucional mulheres defensoras, observamos que estas ainda são minoria
dentro da própria instituição e para fora dela. na ocupação dos cargos da administração superior, o que nos faz
levantar hipóteses que considerem a cumulação de jornadas de
Desse modo, observamos que a instituição possui uma visibiliza-
trabalho ou outros impeditivos ligados ao sexismo. A sub-repre-
ção insatisfatória do compromisso institucional de enfrentamento
sentação dos negros na ocupação de todos os cargos e serviços,
ao racismo, sendo necessária a inclusão explícita dessa pauta em
agravada nos cargos de mais alto escalão, nos dá uma dimensão de
seus documentos orientadores de atuação, bem como o desen-
que é urgente colocar em prática mecanismos de enfrentamento
volvimento de orientações normativas específicas e a criação de
ao racismo institucional.
instâncias institucionais (como por exemplo a criação de núcleos)
que respondam por este compromisso em nome da instituição A implementação das políticas de ações afirmativas também nos
na implementação de ações afirmativas e na realização de outras dá uma dimensão de que é preciso colocar em prática mecanismos
políticas de enfrentamento ao racismo. capazes de romper com os dispositivos do racismo institucional que
ainda obstruem a efetivação da política pública. É preciso pensar
No que diz respeito às manifestações para o público também ava-
meios de romper com os elementos obstrutivos que impedem que
liamos como insuficientes o modo como as Defensorias Públicas
negros e negras ingressem e permaneçam na instituição. Também
abordam e enfrentam o problema do racismo institucional em sua
não foi informado como essa política tem sido avaliada internamente.
organização e atuação junto à sociedade.

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No que concerne à formação, observamos que a realização de das Defensorias Públicas em sua organização e atuação interna,
eventos sobre a temática racial ainda é maior que a realização de como incidência externa para os usuários e para a comunidade em
cursos e capacitações, o que nos leva a questionar a esporadicidade geral. A existência de núcleos especializados de enfrentamento ao
com a qual a temática racial é tratada, sobretudo em situações de racismo e promoção da igualdade racial deve ser tomada como
datas comemorativas. Isso nos faz tecer relações com a ausência ação afirmativa e estratégica e não deve impedir que a temática
ou a escassa produção de dados e pesquisas sobre a temática. seja assumida explicitamente em todos os outros campos da ins-
tituição, como as Ouvidorias Externas.
A ausência de informações cadastrais sobre o público a partir
de uma perspectiva racializada é um outro problema grave que Os núcleos especializados de enfrentamento ao racismo e promoção
impede uma compreensão mais apurada a respeito da qualidade da igualdade racial são dispositivos estratégicos na estruturação
do serviço que vem sendo oferecido aos usuários das Defensorias e na consolidação do compromisso institucional de combate ao
Públicas dos Estados. É necessária a existência de uma ficha de racismo nas Defensorias Públicas dos Estados, servindo também
cadastro que preveja o quesito racial para que os usuários possam para impulsionar programas, ações, pesquisas (produção e difusão
se autoidentificar. Além disso, é necessária a capacitação dos tra- de dados) e a própria cultura institucional.
balhadores da Defensoria Pública para que saibam atender e lidar
O acesso à informação pelo usuário deve ser observado como ponto
com esse público e com a peculiaridade das suas questões e do
central no oferecimento do serviço das Defensorias Públicas dos
modo como estão colocadas em nossa sociedade. Também por
Estados. As Defensorias Públicas possuem uma cultura de acesso
isso se faz necessário pensar um protocolo de atendimento para
à informação prejudicada não só pela carência de dados a respeito
a comunidade negra, para que não seja novamente vitimada pelo
dos usuários, do Judiciário e da avaliação do serviço oferecido, mas
racismo institucional e para que a instituição possa efetivar esse
também pela dificuldade de acesso aos dados gerados pela sua
enfrentamento. A existência de um sistema e a categorização de
própria atuação.
dados de atendimento ao público são elementos essenciais para
coletar e disponibilizar esses dados para uso da própria instituição
e da sociedade como um todo.

Observamos uma atuação incipiente, mas crescente das Defensorias


Públicas Estaduais na atuação em conflitos coletivos, ações públicas
e sistemas internacionais de proteção. Estimamos que a priorização
de causas coletivas e não de atendimentos individuais é um caminho
mais eficaz no enfrentamento ao racismo institucional, colocado
para nós enquanto problema político estrutural. Entendemos que
os núcleos especializados de enfrentamento ao racismo e promo-
ção da igualdade racial são essenciais para a atuação estratégica

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Lia Schucman é autora da tese e do livro: “Entre o Encardido, o Branco
e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na Cidade de São
Paulo”. Acesso em 10 de julho de 2017. Disponível em: https://www.you-
tube.com/watch?v=Fc7sxAySoOE&t=1s

402 403
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

ANEXO I - QUESTIONÁRIO Políticas de igualdade racial e combate


ao racismo nas Defensorias Públicas dos
estados e o enfrentamento ao racismo
institucional no sistema de justiça
Excelentíssima Senhora Defensora Pública-Geral / Excelentíssimo
Senhor Defensor Público-Geral

Entendemos que a Defensoria Pública é uma instituição essencial


para proporcionar o acesso à justiça a todos os cidadãos e cidadãs
brasileiras. É a partir desta compreensão que viemos solicitar a
sua colaboração para contribuir com o primeiro mapeamento e
o entendimento das “Políticas de igualdade racial e combate ao
Racismo das Defensorias Públicas”.

As Defensorias Públicas são instituições relativamente jovens dentro


do sistema de justiça brasileiro, sendo de fundamental importân-
cia compreender o modo como esta instituição tem funcionado,
identificando potencialidades a ser exploradas e adversidades que
possam ser contornadas para o seu melhor desempenho e forta-
lecimento para atender à população.

Nestes termos, com o apoio das Defensorias Públicas dos Estados,


nós de Criola, organização da sociedade civil conduzida por mulhe-
res negras na defesa e promoção de direitos e na construção de
uma sociedade onde os valores de justiça, equidade e solidariedade
sejam fundamentais, e do Fórum Justiça, organização composta
por movimentos sociais, setores acadêmicos, estudantes, bem
como agentes públicos do sistema de justiça e outros atores e
organizações interessados em discutir justiça como serviço público
no Brasil, contamos com a sua preciosa colaboração para que
possamos conhecer melhor esta instituição e suas práticas, com
vistas a fortalecer seus valores democráticos e de enfrentamento

404 405
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

ao racismo, sexismo, lesbofobia (discriminação contra lésbicas) e I – O presente questionário somente estará disponível para preen-
transfobia (fobia contra pessoas transexuais e travestis). chimento mediante o uso de senha e login enviados por e-mail. O
questionário poderá ser preenchido em etapas e salvo em seguida,
A sua contribuição é de fundamental importância para que possa-
de forma que não é necessário preenchê-lo todo de uma única vez.
mos realizar um panorama institucional de mapeamento e observa-
Ao final, será enviada uma mensagem indicando que foi comple-
ção das possíveis ações de reprodução e enfrentamento ao racismo
tado com sucesso.
institucional no sistema de justiça. Desse modo, com a finalidade
máxima de combater o racismo e aprimorar os serviços oferecidos II – O prazo para o preenchimento será até o dia 15 de maio de 2018.
pelas Defensorias Públicas dos Estados e também proporcionar
III – Caso não possuam dados solicitados, especifique, ao final do
melhores condições de atendimento para o público e melhores
questionário, os quesitos que não foram respondidos, indicando as
condições de trabalho para as defensoras, defensores, ouvidoras,
razões pelas quais não foi possível disponibilizar a resposta solicitada.
ouvidores, servidores e servidoras, estagiárias e estagiários, gos-
IV– Ao final do questionário há um espaço para anexarem quaisquer
taríamos de solicitar a disponibilização de um momento em sua
informações que acreditem ser pertinentes, sejam links, notícias,
agenda para que possa responder este questionário.
produtos, justificativas, avaliações, recomendações, etc.
Para maiores informações ou auxílio com o preenchimento do
V – Em caso de dúvidas para o preenchimento do referido ques-
questionário, estaremos disponíveis através do endereço de e-mail:
tionário, e/ou suporte para responder às questões relacionadas ao
amc@criola.org.br
mesmo, estaremos disponíveis através do endereço eletrônico:
Desde já, agradecemos pela sua colaboração e nos colocamos à
amc@criola.org.br e no telefone: (21) 2518-7964.
disposição para realizar qualquer atendimento referente ao pre-
Agradecemos a sua atenção e colaboração em prol do estudo das
sente estudo.
“POLÍTICAS DE IGUALDADE RACIAL E COMBATE AO RACISMO NAS
Atenciosamente, Criola e Fórum Justiça.
DEFENSORIAS PÚBLICAS DOS ESTADOS E O ENFRENTAMENTO
Orientações para preenchimento do questionário: AO RACISMO INSTITUCIONAL NO SISTEMA DE JUSTIÇA”.

O questionário que se segue e encontra-se divido nas seguintes


sessões: I) Instituição e composição dos quadros da Defensoria
Pública do Estado; II) Composição dos quadros da administração
da Defensoria Pública do Estado; III) Formação; IV) Atendimento
ao Público; V) Atuação em conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção; VI) Núcleos especializados;
VII) Produção de dados e pesquisas.

406 407
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

QUESTIONÁRIO Cotas para pessoas com deficiência. Data de instituição

Quantidade de ingressantes por cotas para pessoas com defi-


I – Instituição e composição dos quadros da Defenso- ciência
ria Pública do Estado
1.1) Identificação do Estado 1.5) Espaço para anexar o hiperlink do último edital de seleção
de defensores/defensoras
1.2) Qual a data de instituição da Defensoria Pública do Estado?
Cada arquivo deve ter no máximo 32MB
1.3) Quantos Defensoras e Defensores Públicos compõem os
quadros da Defensoria Pública do Estado?
1.6) Quantos servidores compõem os quadros da Defensoria
Pública do Estado? Obs.: Entende-se por servidores os concur-
Defensores/Defensoras Homens Mulheres Total de titulares e substitutos
sados, cedidos e/ou assimilados, extraquadros e ingressantes por
Titulares
modalidades distintas de concurso público, exceto terceirizados.
Substitutos/Substitutas

Homens Mulheres Total de


Homens Mulheres Homens Mulheres
Defensores/Defensoras Pretos e Pretas e titulares e Homens Mulheres Total de
brancos Brancas pretos e pretas e
pardos* pardas* substitutos brancos Brancas Servidores
pardos pardas
Titulares
Servidores/Servidoras
Substitutos/Substitutas
*A categoria pretos e pardos, utilizada ao longo deste questionário, remete-se à classificação cen-
*A categoria pretos e pardos, utilizada ao longo deste questionário, remete-se à classificação cen- sitária utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
sitária utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

( ) Marque um X na caixa à esquerda se a Defensoria Pública do Estado não possui esses dados.
1.7) Dentre os servidores e servidoras acima descritos quantos
1.4) A Defensoria Pública do Estado conta com política de são pessoas com deficiência?
ações afirmativas para o ingresso de defensores/defensoras? 1.8) A Defensoria Pública do Estado conta com política de ações
( ) Não afirmativas para o ingresso de servidores e servidoras?
( ) Sim. Em quais modalidades? Qual a data do primeiro edital ( ) Não
de concurso com previsão de cotas? ( ) Sim. Em quais modalidades?

Cotas étnicas e raciais. Data de instituição

Quantidade de ingressantes por cotas étnicas e raciais

408 409
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Cotas étnicas e raciais. Data de instituição ( / / ) 1.12) A Defensoria Pública do Estado conta com política de ações
afirmativas para o ingresso de estagiários e estagiárias?
Quantidade de servidores ingressantes por cotas étnicas e raciais
( ) Não

( ) Sim. Em quais modalidades?


Cotas para pessoas com deficiência. Data de instituição

Quantidade de servidores ingressantes por cotas para pessoas


com deficiência. Cotas étnicas e raciais. Data de instituição

Quantidade de estagiários/estagiárias ingressantes por cotas


étnicas e raciais
1.9) Espaço para anexar o hiperlink do edital de seleção de
servidores

Cada arquivo deve ter no máximo 32MB. Cotas para pessoas com deficiência. Data de instituição

Quantidade de estagiários/estagiárias ingressantes por cotas


1.10) Quantos terceirizados compõem os quadros da Defensoria para pessoas com deficiência
Pública do Estado nesta capital?

Homens Mulheres
Homens Mulheres Total de 1.13) A Defensoria Pública deste Estado possui outras políticas de
pretos e pretas e
brancos Brancas Servidores
pardos pardas
ações afirmativas? Quais?
Terceirizados/

Terceirizadas

*A categoria pretos e pardos, utilizada ao longo deste questionário, remete-se à classificação cen-
sitária utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
II – Composição dos quadros da administração da De-
fensoria Pública do Estado
1.11) Quantos estagiários e estagiárias compõem os quadros da
2.1) Dados do Defensor/Defensora Público-Geral
Defensoria Pública do Estado nesta capital?
Dados do Defensor/Defensora Público-Geral
Homens Mulheres
Homens Mulheres Total de Nome
pretos e pretas e
brancos Brancas Servidores
pardos pardas
Idade
Estagiários /
Sexo/Gênero
Estagiárias
Raça/cor

Mandato

410 411
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

2.2) Dados da última lista tríplice formada para a eleição da De- 2.6) Dados do/da II Subdefensor/Subdefensora Público-Geral (se
fensoria Pública Geral deste Estado: houver)

Dados dos Defensores/Defensoras que compuseram a lista tríplice Dados do II Subdefensor/Subdefensora Público-Geral (se houver)

Nome Nome

Idade Idade

Sexo/Gênero Sexo/Gênero

Raça/cor Raça/cor

Quantidade de A quanto tempo


votos exerce o cargo

2.3) Qual regulamentação foi utilizada pelo Conselho Superior 2.7) Dados do Corregedor/Corregedora Público-Geral
para a escolha do Defensor Público-Geral? Dados do Corregedor/Corregedora Público-Geral

Nome

Idade
2.4) Espaço para anexar o hiperlink das normas de regulamentação Sexo/Gênero

(Hiperlink): Raça/cor

A quanto tempo
exerce o cargo

2.5) Dados do/da Subdefensor/Subdefensora Público-Geral

Dados do Subdefensor/Subdefensora Público-Geral


2.8) Dados do Sub-corregedor/Sub-corregedora Público-Geral
Nome
(se houver)
Idade

Sexo/Gênero Dados do Sub-corregedor/Sub-corregedora Público-Geral (se houver)

Raça/cor Nome

A quanto tempo Idade


exerce o cargo
Sexo/Gênero

Raça/cor

A quanto tempo
exerce o cargo

412 413
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

2.9) Dados do Ouvidor/Ouvidora Geral 2.13) Espaço para anexar o hiperlink do relatório anual das ativi-

Dados do Ouvidor/Ouvidora Geral dades desenvolvidas pela Defensoria Pública:


Nome
(Hiperlink):
Idade

Sexo/Gênero

Raça/cor

A quanto tempo
III – Formação
exerce o cargo
3.1) Quais as disciplinas/módulos ofertados no último curso oficial
de preparação à carreira de Defensora Pública/Defensor Público
2.10) Dados dos Conselheiros Classistas
deste Estado?
Dados dos Conselheiros Classistas

Nome

Idade
3.2) As disciplinas/módulos/atividades que compuseram o últi-
Sexo/Gênero
mo curso oficial de preparação à carreira de Defensora Pública/
Raça/cor
Defensor Público deste Estado incluíram temas relacionados à
questão racial? Como?
2.11) Quem é o/a atual presidente da entidade de classe de maior
representatividade dos membros da Defensoria Pública do Es-
tado? 3.3) Espaço para anexar o hiperlink do programa de formação

Presidente
do último curso:
Nome
(Hiperlink):
Idade

Sexo/Gênero

Raça/cor 3.4) Qual a duração da formação? Como ela é realizada? Quem


Entidade
são os responsáveis pela formação? Houve representatividade
de raça no que concerne às pessoas que ministraram o último
curso de preparação?
2.12) Quais são as linhas de atuação previstas no Plano Plurianual
e no Plano de Atuação da Defensoria Pública do Estado?

3.5) A Defensoria Pública deste Estado dispõe de Escola Superior


ou Centro de Estudos Jurídicos?

( ) Não

( ) Sim
414 415
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

3.6) A Defensoria Pública desde Estado realizou, ao longo dos - Pessoa com deficiência: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos
últimos 2 anos, cursos, eventos e/ou capacitações nas áreas se- e ações
guintes?
- Consumidor: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
- Direitos humanos: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
- Política de drogas: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
- Direitos da criança e do adolescente: ( ) Cursos e capacitações
( ) Eventos e ações
3.7) Se houver outra opção diferente das de cima especifique
- Sistema carcerário: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
abaixo.
- Medidas socioeducativas/ juventude e prisão: ( ) Cursos e ca-
pacitações ( ) Eventos e ações
3.8) Qual a área de maior demanda e prioridade de formação e
- Saúde: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
atuação da Defensoria Pública deste Estado?
- População em situação de rua: ( ) Cursos e capacitações ( )
Eventos e ações
3.9) A Defensoria Pública deste Estado realiza parcerias para o
- Promoção da igualdade racial: ( ) Cursos e capacitações ( )
oferecimento e realização destes cursos, eventos e capacitações?
Eventos e ações

- Sexualidade: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações


3.10) As disciplinas/módulos/atividades organizadas nos últimos
- Violência contra as mulheres: ( ) Cursos e capacitações ( )
dois anos, pela Defensoria Pública deste Estado incluíram temas
Eventos e ações
relacionados à questão racial.
- Direitos das mulheres: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e
ações
3.11) Quais as principais atividades organizadas nos últimos dois
- Povos indígenas e comunidades tradicionais: ( ) Cursos e capa-
anos com essa abordagem?
citações ( ) Eventos e ações

- Intolerância religiosa: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações


3.12) Quais as principais atividades organizadas nos últimos dois
- Terra e território: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações
anos com formadoras/es negras/os?
- Questões urbanas e moradia: ( ) Cursos e capacitações ( )
Eventos e ações

- Idosos: ( ) Cursos e capacitações ( ) Eventos e ações

416 417
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

IV – Atendimento ao público 4.8) Espaço para anexar hiperlinks que identifiquem os órgãos/
núcleos de atendimento:

(Hiperlinks):
4.1) Existe alguma ficha de cadastro dos usuários?
V – Atuação em conflitos coletivos, ações civis públicas
e sistemas internacionais de proteção
4.2) Espaço para anexar hiperlinks da ficha de cadastro dos usu-
ários atendidos por esta Defensoria. 5.1) A Defensoria Pública do Estado representa/já representou

(Hiperlinks): alguma vez aos sistemas internacionais de proteção dos direitos


humanos (Sistema ONU e Sistema Interamericano), postulando
perante seus órgãos?
4.3) Existe algum sistema de informações simultâneas para ca-
dastro de usuários utilizados por esta Defensoria?
5.2) Quantas causas envolviam questões relacionadas a:

- Direitos humanos:
4.4) A Defensoria Pública do Estado possui alguma categorização
de dados com relação ao sexo/gênero, gênero, raça, idade dos - Direitos da criança e do adolescente:

seus usuários? - Sistema carcerário:

- Medidas socioeducativas/ juventude e prisão:

4.5) Quais são os critérios de atendimento para o público e para - Saúde:


a definição da hipossuficiência?
- População de rua:

- Promoção da igualdade racial:


4.6) Favor anexar a regulamentação dos critérios. Espaço para
- Sexualidade:
anexar hiperlink da regulamentação dos critérios de atendimento
- Violência contra as mulheres:
e/ou hipossuficiência.
- Direitos das mulheres:
(Hiperlinks):
- Povos indígenas e comunidades tradicionais:

- Intolerância religiosa:
4.7) Existe alguma exceção para a flexibilização desses critérios?
- Terra e território:

- Questões urbanas e moradia:

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- Idosos: 6.4) Em caso positivo, qual a estrutura de funcionamento do


núcleo?
- Pessoa com deficiência:

- Consumidor:
Número de defensores públicos Número de servidores Número de estagiários
- Política de drogas:

5.3 A Defensoria Pública deste Estado promoveu, na atual gestão,


6.5) Composição do núcleo
ações civis públicas a fim de propiciar a adequada tutela dos di-
Composição do núcleo
reitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos relacionados
Defensores titulares Defensores substitutos
às temáticas de raça?

Dados do/da coordenador/coordenadora do núcleo

Nome
5.4) A Defensoria Pública do Estado convocou, nos últimos dois
Idade
anos, audiências públicas para discutir matérias relacionadas às
Sexo/Gênero
suas funções institucionais?
Raça/cor

Formação/Escolaridade

E-mail
5.5) Quais audiências públicas promovidas nos últimos dois anos
Telefone
discutiram direta ou indiretamente a questão racial? Critério para a escolha da coordena-
ção

VI – Núcleos especializados Atribuições e Programa(s) do núcleo

Produto(s) do núcleo

6.1) A Defensoria Pública do Estado possui núcleos de atuação e Tempo de coordenação

núcleos especializados?

6.6) Com relação ao quadro de servidores


6.2) A Defensoria Pública do Estado conta com núcleo especia-
Qual o número de servidores administrativos?
lizado de combate ao racismo e promoção de igualdade racial?
Psicólogos Assistente social Outros: especificar

Qual o número de
servidores com atuação
interdisciplinar
6.3) em caso negativo, para onde são encaminhadas as questões
de combate ao racismo e promoção da igualdade racial? 6.7) O núcleo tem atuação coletiva?

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6.8) Quais as principais ações do núcleo nos últimos dois anos? - Questões urbanas e moradia: ( ) Sim ( ) Não

- Idosos: ( ) Sim ( ) Não

6.9) Quais as principais ações coletivas ajuizadas pelo núcleo nos - Pessoa com deficiência: ( ) Sim ( ) Não
últimos dois anos?
- Consumidor ( ) Sim ( ) Não

VII – Produção de dados e pesquisas - Política de drogas ( ) Sim ( ) Não

7.1) A Defensoria Pública do Estado promoveu/promove a produ-


ção e difusão de dados e pesquisas referentes à sua atividade? 7.3) Quais pesquisas ou dados produzidos nos últimos dois anos
que produziram direta ou indiretamente a questão racial.

7.2) Quais as principais temáticas desenvolvidas nos últimos dois


anos? 7.4) Espaço para anexar hiperlinks das pesquisas e dados pro-
duzidos:
- Direitos humanos: ( ) Sim ( ) Não

- Direitos da criança e do adolescente: ( ) Sim ( ) Não


8.1) Há alguma informação relevante sobre “POLÍTICAS DE IGUAL-
- Sistema carcerário: ( ) Sim ( ) Não
DADE RACIAL E COMBATE AO RACISMO NAS DEFENSORIAS
- Medidas socioeducativas/ juventude e prisão: ( ) Sim ( ) Não PÚBLICAS DOS ESTADOS E O ENFRENTAMENTO AO RACISMO

- Saúde: ( ) Sim ( ) Não INSTITUCIONAL NO SISTEMA DE JUSTIÇA” que queira acrescentar?

- População de rua: ( ) Sim ( ) Não

- Promoção da igualdade racial: ( ) Sim ( ) Não 8.2) Se houver algum arquivo, anexe aqui.

- Sexualidade: ( ) Sim ( ) Não

- Violência contra as mulheres: ( ) Sim ( ) Não


Agradecemos a sua colaboração!

- Direitos das mulheres: ( ) Sim ( ) Não

- Cultura de povos indígenas e comunidades tradicionais: ( )


Sim ( ) Não

- Intolerância religiosa: ( ) Sim ( ) Não

- Terra e território: ( ) Sim ( ) Não

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O debate acerta do racismo institucional no sistema de justiça


ganhou destaque na última quarta-feira, dia 12 de julho. Mediante a
provocação inicial de Criola, do Fórum Justiça e do Instituto Brasileiro
de Ciências Criminais (IBCCRIM), estendeu-se convite a atores
de variadas organizações da sociedade civil, acadêmicos e das
Defensorias Públicas do Rio de Janeiro e de São Paulo para uma
reunião estratégica.

O workshop Sistema de Justiça e Racismo Institucional se coloca


no bojo de uma discussão suscitada desde a aprovação das 100
Regras de Brasília para Acesso à Justiça de Pessoas em Condição de
Vulnerabilidade. Esse documento, aprovado em 2008 pelos chefes
do Poderes Judiciários dos países reunidos na Cúpula Judicial Ibero-
Americana, ao prever tantas diretrizes políticas para o enfrentamento
de vulnerabilidades, não faz alusão à questão racial. Se essa lacuna
demonstra a invisibilidade da questão frente a tais atores de poder,
oportuniza uma mobilização de baixo para cima, de modo a que os
próprios atores negros possam colocar os termos dessa discussão
sem a oposição de diretrizes pré-estabelecidas no documento.

Vilma Reis, socióloga e Ouvidora da DP/BA, abre o workshop com a leitura do poema Vozes-Mu-
lheres, de Conceição Evaristo.

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É nesse contexto que Criola aceitou a proposta de consultoria des- Oficina foi uma oportunidade de fazer valer esses conhecimentos
tinada ao acompanhamento de e apoio a ações de participação, já produzidos. Por outro lado, percebe-se que há uma resistência
reconhecimento e redistribuição nas instituições essenciais do no sistema de justiça em geral e na Defensoria Pública em espe-
sistema de justiça, com foco nas Defensorias Públicas, com vistas à cíficoquanto ao tema do racismo. Afinal qual é o papel do sistema
produção de dados e reflexão conceitual e estratégicadas práticas de justiça na estrutura do racismo no Brasil? Qual seria o sistema
dos órgãos especializados do sistema de justiça dedicados à luta de justiça adequado às negras e aos negros? Para ser antirracista,
contra a desigualdade racial. Ao lado desse amplo objetivo, há o de quais políticas adotaria?
produzir diagnóstico acerca da atuação institucional da Defensoria
Pública na luta pela igualdade racial e contra a discriminação. Racismo e Seletividade
Para embasar essa complexa ação, o workshop foi pensado visando Nesses questionamentos insere-se já o problema de se pensar o
reunir a contribuição teórica de atores experientes para subsidiar racismo a partir da seletividade penal. Observou-se que mesmo
as próximas. A institucionalidade do sistema de justiça foi repre- quando fala da seletividade penal, a academia branca não a ana-
sentada por Vilma Reis – Ouvidora da Defensoria Pública da Bahia, lisa a partir do racismo. Nessa questão, o comportamento policial
Livia Casseres e Rosane Lavigne – defensoras públicas no Rio de acaba sendo o foco de análises, estudos e críticas, mas importa
Janeiro, e Vinicius Conceição e Isadora Brandão, defensorespúblicos também identificar a responsabilidade das demais instituições
em São Paulo. Da sociedade civil organizada, estiveram presentes: que se silenciam, como o próprio Judiciário e o Ministério Público.
Caroline Bispo (Elas Existem – Mulheres Encarceradas), Lúcia Xavier, Apontou-se a necessidade de requalificar o debate sobre seletivi-
Lia Manso e Ana Miria (Criola), Allyne Andrade, Haydee Paixão, dade penal a partir da percepção de que não existe sistema penal
Dina Alves, Luciana Zaffalon, Tainara e Willians (IBCCRIM), Esther não seletivo. E que só se é capaz de entender a seletividade se ela
Horta (Coletivo Adelinas) e Rodnei Jericó (GELEDÉS), além de Élida estiver conjugada à questão do racismo e à questão econômica.
Lauris, Vinícius Alves (Fórum Justiça), Alex Vítor (advogado) e Natália No contexto de crise econômica, o sistema penal e a seletividade
(socióloga). Do campo acadêmico, participaram Felipe Freitas, dou- se voltam para o extermínio da população negra e pobre.
torando em Direito com pequisa sobre a Polícia; Poliana Ferreira,
E, apesar das especificidades e consequências próprias da sele-
do Grupos de Pesquisa em Criminologia da UNEB e pesquisadora
tividade do sistema de justiça criminal, os participantes pontua-
na FGV; Nataly e Bárbara, pesquisadoras de Políticas Públicas e
ram que o racismo e a seletividade estão presentes no sistema de
Inclusão Social da USP; Silvio de Almeida, professor da Universidade
justiça no seu conjunto, não sendo uma exclusividade do sistema
Mackenzie;Evandro Piza, professor da UnB; Ronaldo Sales, professor
penal. A categoria raça perpassa questões de família e trabalhista.
na UFCG eThula Pires, professora da PUC-Rio.
Por exemplo, há uma grande dificuldade de debater o conceito
A provocação inicial se baseou na constatação de que os estudos de família monoparental na justiça, já que esta segue o conceito
produzidos por negros e sobre a questão racial no sistema de jus- de família branco e burguês. A família monoparental é vista como
tiça existem, mas ficam tão pouco evidentes que não aparecem. A família não ideal e problemática, abrindo porta para ingerência do

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Estado no contexto familiar. A questão das empregadas domésticas rompida, que é uma ordem racista. De toda sorte, foi destacada a
também envolve raçae até hoje não houve equiparação em termos importância de constrangimentos internacionais frente a episódios
de direito do trabalho. de racismo. O efeito dessa litigância internacional é enorme e afeta
diretamente os casos individuais.
Para além da seletividade, o sistema de justiça opera com o tema
do racismo a partir das definições legais de racismo e injúria racial,
o que não engloba as abordagens institucionais e estruturais que
se busca fazer valer quando se discute mais a fundo o tema. Há,
portanto, o desafio inicial de construir essa narrativa para além da
lei ao lidar com instituições do sistema de justiça. Ao desenvolver
uma análise institucional, olha-se para estruturas, sentidos e rela-
ções. Se ficarmos na definição legal, não será de se estranhar que
estaremos mais restritos ao sistema penal.

O enfrentamento do racismo
Como proceder frente a situações concretas de racismo? Para
alguns, o enfrentamento ao racismo dentro da seara penal está
Pesquisadoras/es, defensoras/es públicas/es e ativistas de organizações e movimentos sociais cola-
na contramão do que se vislumbra como projeto de sociedade boraram com aportes teóricos e estratégias.
justo e igual, o que leva à tarefa de se pensar como punir essas
ações discriminatórias. Qual seria a pena adequada? Quais medidas Institucionalidade racista brasileira
alternativas? A justiça restaurativa é uma solução? Esses questio-
namentos trouxeram posicionamentos diversos. Para uma parte Há que se pontuar o caráter racista vinculado ao projeto republi-
cano de nação, oriundo do positivismo e darwinismo social. Esse
dos participantes, o que se almeja é a punição penal do autor de
diagnóstico histórico e social, que perdura na atualidade, aponta
racismo, sem qualquer medida alternativa enquanto que outros
apontaram quelidar com a questão racial pela via civil e trabalhista para a necessidade de uma refundação institucional. Por outro

traz um resultado um pouco mais satisfatório que na via criminal e lado, percebe-se que essa institucionalidade racista é tributária de

que talvez essa diferenciação passe pela sensibilidade do julgador uma estrutura racista.

em cada uma das esferas. Em defesa da justiça restaurativa, susten- As instituições são decorrências das estruturas, que são o modo de
tou-se que a lógica penal não lida com o racismo institucional, mas organização da vida social: a política, a economia e a constituição
personaliza o racismo. A lógica restaurativa pensa outras estratégias da subjetividade. As instituições reproduzem o funcionamento
de lidar; a participação de todos os envolvidos na resolução de con- regular desses três elementos. O tema do racismo estrutural coloca
flitos faz parte dessa filosofia. O direito penal restabelece a ordem o problema de como entender o racismo como ponto central de

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funcionamento e estruturação das relações sociais no Brasil. As insti- tumado à horizontalidade. Possui um discurso de caridade, sacer-
tuições que não reproduzem esses elementos perdem suas funções dócio. Defendeu-se a política de ação afirmativa e a intervenção
e deixam de serinstituições. De acordo com essa perspectiva, no das mulheres negras.
campo institucional o máximo a ser feito é uma política de redução
Compreender o funcionamento do sistema de justiça passa por
de danos. O sistema de justiça se mede pela sua capacidade de
quebrar a escada que o serviço público constituiu junto à população.
institucionalizar conflitos. Numa crise, porém, não há possibilidade
Há que se interpelar esses servidores pelos códigos que eles operam
de institucionalizar conflitos e,quando isso não acontece,o sistema
com a população. Nomear os tratamentos racistas realizados por
volta-se para o extermínio. A Defensoria foi feita não para atender
esses atores, tirando-os do abstrato. O que torna a naturalização
interesses de classe no sistema de justiça, mas para reproduzir o
do racismo possível é que essas ações ficam diluídas e não se com-
processo de estruturação da sociedade.
prometem os agentes. Isso faz com que se conviva com a falta de
Por outro lado, há uma disputa sobre o que é institucional e não dados, com a gestão do extermínio e com um sistema de justiça
institucional. A ideia de que existe um lado de fora da instituição em que só perdemos. É necessária, portanto, uma pedagogia do
não funciona para certos grupos, já que todos os lados são lados constrangimento. Sustentou-se que, quando ressaltamos a participa-
de disputa. Os conceitos de racismo estrutural e institucionalsão ção popular no sistema de justiça, serve para interpelar as escolhas
construídos nos EUA após as lutas por direitos civis, o que traz o das instituições e constrangê-las para inviabilizar efetivamente o
problema da sua importação para a realidade brasileira. Representa funcionamento de algumas delas quanto à gestão do extermínio
a eliminação do sistema legal segregador, mas a permanência do e assim construir institucionalidades em outros termos.
racismo. Questionou-se a instrumentalidade desse conceito para
O tema do racismo deve ser estendido para o sistema de justiça
a realidade brasileira, uma sociedade que não viveu seu momento
expandido, que são as faculdades e organizações, que também con-
de catarse social. Vivemos numa sociedade estratificada via raça
formam como se constrói os maus modos do sistemade justiça em
emum apartheid social, ainda que silencioso.
geral. Que contribuição a advocacia tem para compor hierarquias
Que sentido faz falarde um sistema de justiça democrático numa raciais no sistema de justiça? Outra questão são as faculdades de
sociedade ainda longe de ser democrática? Defendeu-se que a direito, quenão implementaram matérias ligadas à Lei 10.639/03 e
principal tarefa talvez seja promover um colapso dessas instituições. reproduzem as estruturas de racismo na formação dos atores da
Pior do que seletivo, o sistema é genocida. O genocídio não opera justiça.
só com a eliminação física, mas também deixando a população
negra sem autoestima, como mortos vivos. É necessário que o
povo negro fale de si, para si e por si, eliminando as mediações que
passam por instituições brancas.

Ressaltou-se que o sistema de justiça não se pensa como serviço


público, mas que se sente como uma classe acima. Não está acos-

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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

Nesse sentido, também seria racismo restringir as negras e os


negros a debater somente o tema do racismo. Isso teria por con-
sequência que organizações formadas por negras e negros só vem
conseguindo financiamento para falar sobre negritude. Outras
temáticas acabam prejudicadas.

A dificuldade em obter informações


Ao nos depararmos com as instituições, lidamos com o silêncio
em face da variável raça nos dados do sistema de justiça. É um
desafio acessar a dados que dêem conta do racismo no sistema
de justiça. Foram pontuados três elementos: a) ausência de dados
consistentes sobre mortes resultantes de ação policial no Brasil; b) o
O Workshop foi uma parceria entre CRIOLA, Fórum Justiça e o IBCCRIM e se dedicou a pensar o sigilo dos processos administrativos nas corregedorias das polícias,
papel do sistema de justiça na reprodução do racismo e as possibilidades de incidência
de modo que não se consegue produzir nenhum diagnóstico ou
controle sobre eles, seus critérios, o procedimento adotado e o seu
Raça e classe
desfecho; c) a ausência de identificação clara e de fácil acesso do
Foram sustentadas diferentes visões sobre a relação entre raça e processo judicial decorrente de auto de resistência ou intervenção
classe. Uma primeira posição foi a de que o debate de classe des- policial. O registro da raça nos processos não é tão óbvio assim. Falta
virtua o tema de raça. Mais amplamente foi defendido o contrário, protocolo para que haja a inclusão do quesito raça/cor nos autos e
que classe é uma categoria analítica e no Brasil ela é articulada com nas abordagens policiais, mas também nos processos judiciais. Os
a questão racial, ainda mais num país de capitalismo periférico. cartórios do Judiciário nem o Ministério Público sabem informar
Segundo essa perspectiva, é preciso articular o mito da igualdade dados sobre esses processos. Há um (des)conhecimento ideoló-
racial com o tema do projeto nacional e econômico. As ideologias gico do racismo. Esse (des)conhecimento tem a ver com o que é
têm materialidade. Gilberto Freire, por exemplo,teria defendido, em relevante ou não de ser conhecido. Sustentou-se, por outro lado,
Ordem e Progresso, que o Brasil não precisava importar elementos que mesmo quando existe informação, há uma desvalorização do
de democracia estrangeiros e direitos sociais para o campo isso quesito raça/cor no sistema de justiça.
porque estragaria a democracia racial brasileira. Portanto, para falar
sobre raça, é importante que ir além da questão racial, fazendo os Ações Afirmativas
grandes debates sobre economia e política. Raça seria uma forma de
A indicação foi a de se pensar ações afirmativas como reforma
naturalização de desigualdade no Brasil e sem falar sobre isso, não
institucional e não somente como reserva de vagas. Se pensarmos
teria como falar de desenvolvimento econômico e industrialização.
somente em reserva de vagas poder-se-ia dizer que a polícia tem a

432 433
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

população negra representada, dado o número de policiais negros. conseguem dialogar. Chamam para suas reuniões sem perceber
Tem que se pensar a nível institucional eas ações afirmativas têm que o movimento negro tem uma pauta extensa. As institucionali-
importância como forma de reconfiguração dos espaços institu- dades e os sujeitos por detrás da esquerda não reconhecem esses
cionais, de alteração do horizonte interpretativo e de representa- anseios. Questionou-se de por que continuamos dialogando com
ção social dentro do espaço. Entretanto, há um perigo de que as esses agentes. Há várias pequenas experiências democráticas que
cotas não sejam efetivas caso não existam desde a primeira fase podem trazer alternativas a essas institucionalidade de esquerda.
dos concursos.
Denunciou-se que a esquerda branca faz uma encenação com a
participação de negras e negros nos espaços acadêmicos e políti-
cos, inclusive de forma muito sutil. As pessoas negras servem para
participar do espaço, como representação, mas não para disputar
efetivamente os espaços. O racismo se transforma para controlar
a entrada de trajetórias negras nesses espaços.

Pontuou-se o conceito de ação performática para a compreensão do


comportamento da esquerda, que faz espetáculos de reafirmação
de identidade política que só servem para a consolação, mas que
não se dedicam a ações realmente transformadoras. Há a necessi-
dade de formar lideranças, pensar o papel da educação política e
descentralizar produção teórica sobre criminologia, levando para
os bairros.
A conjuntura política e suas consequência para a luta contra o racismo foram pano de fundo das
reflexões sobre o movimento negro e as organizações de esquerda. Para os “progressistas”, é preciso contrapor um estado de inco-
Levantou-se uma polêmica em torno de negros ocupando espaços mensurabilidade, em que não há pontes nem alianças. Da inco-
de poder e atuando a favor da continuidade da ordem. Se de um mensurabilidade é que se começa a pensar algo que sustente. A
lado alguns preferem a presença de negros em espaços poder inteligência preta perdeu muita energia para achar pontes que
mesmo defendendo a ordem, outros apontam a necessidade de nunca foram estabelecidas. Não faz sentido, por exemplo, pensar
impedir essa atuação, sendo tarefa das negras e dos negros assu- religiões africanas a partir da liberdade religiosa, porque esta foi
mirem uma postura contra-hegemônica. pensada na República sob uma matriz cristã. Não há ponte entre
o ser e o não-ser. Pontuou-se ainda a covardia da esquerda branca,
O movimento negro e as esquerdas que teve na mão o poder de alterar o quadro da polícia e do sistema
carcerário e não fizeram.
A desconfiança em face dos partidos de esquerda marcou o tom de
algumas falas. Para alguns presentes, os partidos e a esquerda não

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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA

O acúmulo do movimento negro Em relação à Defensoria Pública, notou-se que a instituição tem
limites e dificuldades em trabalhar com raça e gênero. Não existe
Fez-se o registro de que a ação no sistema de justiça não é nova, o reconhecimento de que se trata de uma questão fundamental e
de quehá escritórios e redes montados. Desde a Conferência de que o foco parece ser a categoria da classe econômica. Apesar de
Durban há uma grande produção sobre racismo e sistema de justi- ter havido algum progresso quando se passou da hipossuficiência
çaque temque ser recuperada. Há um histórico de reflexão, estudo para o da vulnerabilidade como categoria de atendimento, parece
e ação política. O movimento teria deixado de lado advogadas/ que isso somente resultou em uma especialização da atuação da
os e acadêmicas/os valorosas/os, que têm seus textos marcados e Defensoria, que não está conectada em nada com questões estru-
mal interpretados pelo enviesamento. Importa utilizar as teses das turais das relações sociais. Não há uma reflexão sobre a metodologia
negras e dos negros nas petições. Foi lembrado que hoje quem de atuação para pensar mudanças estruturais. Como pensar novas
diz o que é racismo são as negras e os negros e que é necessário metodologias para compreender o sujeito de uma maneira mais
embasar as categorias que são então usadas e desenvolvidas. Nesse complexa para além da questão de classe?
sentido, sustentou-se que o que informa gênero e classe é a raça
Para muitos, não se vê como alterar a configuração institucional
e que deve-se a partir daí. A história de que a/o negra/o não tem
da Defensoria a partir de dentro se não estivermos as negras e os
consciência de ser negra/onão se sustenta. Quem nasceu no Brasil,
negros não estiverem dentro. Os brancos não farão essa transfor-
sabe o que é ser negro.
mação. Por outro lado, a incidência nas Ouvidorias Externas é uma
resposta coletiva e necessária. Percebe-se que a incidência das
Defensoria Pública
negras e negros no sistema de justiça é irreversível e que sem essa
intervenção, o sistema não se sustenta. Defende-se uma Defensoria
Pública em que a população tenha poder de decisão. As políticas
de ação afirmativa são essa forma de incidência.

Fez-se a indicação às Defensorias de construção de uma política


institucional de ações afirmativas, não só de acesso e de produção
de dados, mas uma política completa. Quesito raça/cor no cadastro
de atendimento da Defensoria. Cotas nas Escolas das Defensorias.
Turmas ou vagas específicas para cotistas. Avaliação das políticas
de cotas para concursos. Na Defensoria Pública do Rio de Janeiro,
avalia-se que a reserva de vagas não tem nenhuma efetividade.
Inserir estudo das relações raciais nos editais dos concursos e dis-
ciplinas correlatas cursos da Escola da Defensoria. Além disso, há a
indicação de produção de um diagnóstico do racismo institucional.

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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA F O R U M J ULSI TS ITÇAA D E G R Á F I C O S E T A B E L A S
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

28 GRÁFICO 1
Rendimento domiciliar per capita 112 GRÁFICO 5
Proporção da quantidade de defensores/
médio, por sexo e cor/raça dos chefes de defensoras por raça/cor e gênero
família
114 GRÁFICO 6

68 TABELA 1
Respostas ao questionário por
Proporção de Defensoras e Defensores
Públicos/Públicas estaduais segundo
Defensoria Pública raça/cor desconsiderando a população
não informada
84 TABELA 2
Respostas ao “Item I – Instituição e
composição dos quadros da Defensoria 116 GRÁFICO 7
Proporção de Defensores/Defensoras do
Pública do Estado” Rio de Janeiro por raça/cor e gênero

100 GRÁFICO 3
Quantidade de Defensoras/Defensores 118 GRÁFICO 8
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos por Estado segundo o sexo Públicos/Públicas do Estado do Rio de
Janeiro segundo raça/cor
104 TABELA 4
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas por Estado segundo 121 GRÁFICO 9
Proporção de Defensores/Defensoras
gênero e raça/cor Públicos/Públicas do Rio de Janeiro
segundo raça/cor da população
informada
108 TABELA 5
Quantidade de Defensores/Defensoras
Públicos/Públicas por Estado segundo
raça/cor 122 TABELA 6
Raça/cor da população residente do
Estado do Rio de Janeiro
110 GRÁFICO 4
Proporção de defensores/defensoras por
raça/cor 123 GRÁFICO 10
População residente do Estado do Rio
de Janeiro segundo o critério raça/cor

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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA F O R U M J ULSI TS ITÇAA D E G R Á F I C O S E T A B E L A S
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

126 TABELA 7
Quantidade de Servidoras/Servidores 148 GRÁFICO 14
Quantidade de terceirizados e
por Estado, gênero e raça/cor terceirizadas das Defensorias Públicas
dos Estados do Amazonas, Minas Gerais,
Pará, Sergipe e São Paulo segundo
130 GRÁFICO 11
Quantidade de servidores da Defensoria gênero
Pública dos Estados segundo o gênero
152 TABELA 10
Quantidade de estagiárias/estagiários
134 TABELA 8
Quantidade de servidores das por Estado segundo gênero e raça/cor
Defensorias Públicas dos Estados do
Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo
segundo gênero e raça/cor 156 GRÁFICO 15
Quantidade de estagiários e estagiárias
na Defensoria Pública dos Estados
137 GRÁFICO 12
Proporção de servidoras/servidores
da Defensoria Pública dos Estados por 162 TABELA 11
Políticas de ações afirmativas para o
raça/cor/gênero ingresso de Defensoras/Defensores nas
Defensorias Públicas dos Estados
140 GRÁFICO 13
Quantidade de servidores das
Defensorias Públicas dos Estados do 170 GRÁFICO 16
Cor ou raça dos Defensores Públicos
Rio de Janeiro, Roraima, e São Paulo Estaduais
segundo gênero e raça/cor
176 TABELA 12

144 TABELA 9
Quantidade de terceirizadas/
Políticas de ações afirmativas para o
ingresso de Servidoras/Servidores nas
terceirizados por Estado segundo Defensorias Públicas dos Estados
gênero e raça/cor

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CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA F O R U M J ULSI TS ITÇAA D E G R Á F I C O S E T A B E L A S
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

182 TABELA 13
Políticas de ações afirmativas para o 242 TABELA 18
Formação nas Defensorias Públicas dos
ingresso de Estagiárias/Estagiários nas Estados
Defensorias Públicas dos Estados
248 TABELA 19

190 TABELA 14
Respostas ao “Item 2 – Composição dos
Áreas de cursos, eventos e/ou
capacitações realizados nos últimos dois
quadros da administração da Defensoria anos
Pública do Estado”
264 TABELA 20

202 TABELA 15
Composição dos quadros da
Respostas ao “Item 4 – Atendimento ao
público”
administração das Defensorias Públicas
por Estados e raça/cor
276 TABELA 21
Ficha, sistema e categorização de dados
205 TABELA 16
Composição dos quadros da
de atendimento ao público

administração das Defensorias Públicas


dos Estados por gênero e raça/cor 286 TABELA 22
Respostas ao “Item 5 – Atuação em
conflitos coletivos, ações civis públicas e
207 GRÁFICO 17
Raça/cor dos/das componentes dos
sistemas internacionais de proteção”

quadros da administração da Defensoria


Pública dos Estados 296 TABELA 23
Representação aos sistemas
internacionais de proteção de direitos
209 GRÁFICO 18
Gênero dos/das componentes dos
humanos; ações civis públicas;
audiências públicas e questões raciais
quadros da administração da Defensória
Pública
308 TABELA 24
Respostas ao “Item 6 – Núcleos
230 TABELA 17
Respostas ao “Item 3 – Formação”
especializados”

442 443
CRIOLA FORUM JUSTIÇA CRIOLA FORUM JUSTIÇA
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

319 TABELA 25
Núcleos especializados e Núcleos de
combate ao racismo

340 TABELA 26
Respostas ao “Item VII – Produção de
dados e pesquisa”

352 TABELA 27
Respostas a “Outros questionamentos”

363 TABELA 28
Produção e difusão de dados/ Dados
sobre racismo e questão racial

444 445

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