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Promotoria de Justiça de Direitos Constitucionais Fundamentais, Ações

Constitucionais, Defesa da Probidade Administrativa e Fazenda Pública


de Santarém

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 6ª VARA
CIVEL E EMPRESARIAL DA COMARCA DE SANTARÉM/PA

Processo nº 0002852-86.2014.8.14.0051

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARÁ, pelo Promotor de Justiça que


está subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais previstas no art.127 e seguintes
da CF/88, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, manifestar-se nos termos que
seguem.
Tratam os autos de Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa
ajuizada pelo Município de Santarém em face da ex-prefeita do Município, Sra. Maria do
Carmo Martins Lima e da ex-secretária de educação, Sra. Raimunda Lucineide Gonçalves
Pinheiro, considerando que as rés firmaram o Termo de Adesão ao Programa Brasil
Alfabetizado, visando implementar o programa de alfabetização de jovens e adultos no
Município de Santarém, no valor de R$ 46.562,50 (quarenta e seis mil, quinhentos e sessenta
e dois reais e cinquenta centavos), contudo, deixaram de prestar contas do Termo de Adesão.
Conforme se infere da inicial, o Município de Santarém requereu a condenação
das requeridas pela prática disposta no art. 11, VI da Lei 8.429/92, em decorrência da omissão
legal de prestar contas dos recursos repassados pelo FNDE ao Município, em atendimento
ao Programa Brasil Alfabetizado (BRALF), exercício 2011.
O feito tramitou inicialmente na Justiça Federal e foi posteriormente declinado à
esta Justiça Estadual.
Após a apresentação das defesas cabíveis, vieram os autos ao parquet tendo em
vista a entrada em vigor do disposto no art. 3º e § 1º da Lei nº 14.230, de 2021, pelo qual o
Ministério Público passa a ser o único titular possível de ações de improbidade, a fim de que
manifeste sobre o interesse no prosseguimento do processo e a assunção ao polo ativo da
demanda.
É o relatório do necessário.
Segundo resumo dos fatos, a prática de improbidade atribuída remonta a fatos
ocorridos no ano de 2011, qual seja, a ausência de prestação de contas dos recursos
repassados pelo FNDE ao Município, em atendimento ao Programa Brasil Alfabetizado
(BRALF), exercício 2011.

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A manifestação do MPPA, nesse momento, seria sobre o interesse no


prosseguimento do feito, o que não se vislumbra.
Segundo o art. 11 da Lei de Improbidade, com a redação dada pela Lei nº
14.230/2021, de outubro, constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de
honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das seguintes
condutas:

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições
e que deva permanecer em segredo, propiciando beneficiamento por
informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da sociedade e
do Estado

IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua


imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou de outras
hipóteses instituídas em lei

V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso


público, de chamamento ou de procedimento licitatório, com vistas à
obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que


disponha das condições para isso, com vistas a ocultar irregularidades;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da


respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou econômica capaz de
afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.

VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização e aprovação


de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas.

XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por


afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de
servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou
assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou,
ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas

XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recursos do erário,


ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da Constituição
Federal, de forma a promover inequívoco enaltecimento do agente público e
personalização de atos, de programas, de obras, de serviços ou de
campanhas dos órgãos públicos.

Sucede que, com a modificação legislativa de outubro de 2021, esse artigo passou
a exigir que ocorra alguma dessas situações nele descritas, sob pena de não se caracterizar
ato de improbidade do art. 11 desta Lei por não de enquadrar no rol taxativo previsto.

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Logo, apesar da presença de indícios de ilicitude, o atual cenário legislativo não


possibilita a punição pelo art. 11 da Lei de Improbidade, haja vista que a conduta de deixar de
prestar contas só é punível quando ficar demonstrado que elas visavam ocultar
irregularidades, fato que não se será possível demonstrar nesse momento em virtude do
tempo decorrido desde então.
Assim, a condicionante que consta do final do art. 11, VI, impossibilita a punição
no presente caso, cuja causa de pedir é assentada exclusivamente na omissão de prestação
de contas.
Com efeito, não há nos autos informações sobre o descumprimento do pactuado,
ou outras irregularidades na sua execução que não àquela relacionada à ausência de
prestação de contas.
Assim, não há o que se perquirir no processo em tela, tendo em vista a
impossibilidade de punição pela LIA, consideradas as alterações legislativas trazidas pela Lei.
14.230/21.
Diante do exposto, requer-se a extinção do processo sem resolução do mérito,
forte no art. IV do art. 485 do Código de Processo Civil.
Aguarda deferimento.
Santarém/PA, 06 de dezembro de 2021.

DIEGO BELCHIOR FERREIRA SANTANA


Titular do 9º cargo Promotor de Justiça de Santarém/PA.

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