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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA

____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DO MUNÍCIPIO


BRILHANTE

JOÃO DA SILVA, estado civil, profissão e ocupante do cargo eletivo de


vereador do município brilhante, inscrito no Cadastro de Pessoa Física (CPF)
sob nº, com Registro Geral (RG) nº, domiciliado no endereço, do município de
brilhante/UF, por intermédio de seu advogado que ao final assinado(procuração
anexa), inscrito na OAB/UF sob nº, endereço profissional sito a ...., e com
endereço eletrônico ...., local indicado para receber intimações (artigo 77, V do
CPC) com fundamento no art.5º, inciso LXXIII da Constituição Federal, na Lei
nº 4.717/1965 e no artigo 319 do Código de Processo Civil ajuizar

AÇÃO POPULAR

Em face do Munícipio de Brilhante pessoa jurídica de direito público,


com sede na rua ...., nº ..., bairro, cep nº ..., bem como, da empresa Joli
Produtos Cirúrgicos LTDA., pessoa jurídica de direito privado, com sede na
rua ..., nº ..., bairro, cep nº ....
Pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
I - DOS FATOS

A Secretária de Saúde do Município Brilhante contratou diretamente com


inexigibilidade de licitação, o fornecimento de dez mil pares de luvas cirúrgicas,
de dez mil máscaras cirúrgicas e de duas mil lâminas de bisturi com empresa
Joli Produtos Cirúrgicos LTDA.
Ocorre que, o demandante, na qualidade de vereador do Município
Brilhante, após ter acesso ao contrato de compra e venda de materiais de
saúde, fez um levantamento dos respectivos valores de mercado dos produtos
adquiridos, e verificou que os preços ajustados entre a referida Secretária de
Saúde e a empresa Joli Produtos Cirúrgicos LTDA, no valor de R$
1.000.000.00 (um milhão de reais), eram muito superiores àqueles
habitualmente praticados na aquisição de produtos similares e da mesma
qualidade, estando inequívoca a identificação de superfaturamento.
É importante mencionar que, também foi constatado que o Município
Brilhante havia adquirido recentemente os mesmos produtos para a rede
municipal de saúde, porém de outro fornecedor, por valores em mais de
cinquenta por centos inferiores dos preços praticados nesse recente contrato.
Diante de tais fatos, como cidadão e vereador da municipalidade, o
requerente não vê outra alternativa, senão a propositura da presente ação
popular visando reparar os atos lesivos ao patrimônio público pelos
fundamentos a seguir aduzidos.

II – DO DIREITO
2.1 – Do cabimento da ação popular

O artigo 5º, inciso LXXIII, da CRFB, admite a impetração da ação


popular por qualquer cidadão que vise anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência.
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor,
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência;

A ação popular é uma ação constitucional, gratuita, de natureza cível,


que tem fins preventivos e repressivos da atividade administrativa ilegal e
lesiva ao patrimônio público, sendo o rito da presente ação estabelecido pela
Lei nº 4.717/65.

Conforme a redação da Lei nº 14.133/2021, bem como o art. 37, inciso


XXI, da Constituição Federal a realização de contratos administrativos
pertinentes às compras no âmbito dos poderes da União, dos Estados e dos
Municípios devem ser precedidos de um procedimento licitatório. Portanto, a
contratação direta com inexigibilidade de licitação, realizada pelo Município de
Brilhante com a empresa Joli Produtos Cirúrgicos LTDA., no presente contexto
foi inadequada, injustificada e juridicamente ilegal, pois a contratação com
dispensa de licitação não se deu em virtude de estado de emergência ou por
justa razão prevista, sendo configurado ato lesivo à moralidade administrativa,
ao princípio da legalidade e contra os interesses públicos, em evidente afronta
ao art. 11, e art. 23, §4º, da lei federal 14133/21. Assim o ajuizamento da
presente ação é cabível.

 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação,
as obras, serviços, compras e alienações serão contratados
mediante processo de licitação pública que assegure igualdade
de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.(
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988)
Art. 23. O valor previamente estimado da contratação deverá
ser compatível com os valores praticados pelo mercado,
considerados os preços constantes de bancos de dados públicos e as
quantidades a serem contratadas, observadas a potencial economia
de escala e as peculiaridades do local de execução do objeto.
§ 4º Nas contratações diretas por inexigibilidade ou por
dispensa, quando não for possível estimar o valor do objeto na forma
estabelecida nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo, o contratado deverá
comprovar previamente que os preços estão em conformidade com
os praticados em contratações semelhantes de objetos de mesma
natureza, por meio da apresentação de notas fiscais emitidas para
outros contratantes no período de até 1 (um) ano anterior à data da
contratação pela Administração, ou por outro meio idôneo. (LEI Nº
14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021)

Cabe ainda anotar que os fatos também devem ser objeto de


procedimento próprio no âmbito do combate à Improbidade administrativa à luz
do art. 5º, da lei federal 8429/93, conforme pacífica posição jurisprudencial:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO.


RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE.
FRAUDE À LICITAÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 5º DA
LEI 8.429/92. NÃO OCORRÊNCIA. ALEGADA
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONTRATADO. PERÍCIA.
AUSÊNCIA DE CONSTATAÇÃO. DANO IN RE
IPSA. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.
POSSIBILIDADE. 1. No que tange à possibilidade de
imposição de ressarcimento ao erário, nos casos em que o
dano decorrer da contratação irregular proveniente de
fraude a processo licitatório, como ocorreu na hipótese, a
jurisprudência desta Corte de Justiça tem evoluído no
sentido de considerar que o dano, em tais circunstâncias, é
in re ipsa, na medida em que o Poder Público deixa de, por
condutas de administradores, contratar a melhor proposta.
Precedentes: REsp 1.280.321/MG, Rel. Ministro
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 9/3/2012.
AgRg nos EDcl no AREsp 419.769/SC, Rel. Ministro
Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
18/10/2016, DJe 25/10/2016. REsp 1.376.524/RJ, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
2/9/2014, DJe 9/9/2014.

2.2 – Do sujeito ativo – legitimidade ativa ad causam

A legitimidade ativa do presente remédio constitucional se encontra no


art. 5, LXXIII da Constituição Federal e no art. 1º, §3º da Lei nº 4.717/65.
Assim, qualquer cidadão em pelo gozo dos direitos políticos é parte legítima
para atacar ato lesivo ao patrimônio público, como também a inobservância dos
princípios da boa administração (Art.37 da CRFB).
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a
anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio
da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista
(Constituição, art. 141, § 38), de sociedades mútuas de seguro nas
quais a União represente os segurados ausentes, de empresas
públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações
para cuja criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou
concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita anual de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do
Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer
pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.

Vejamos o entendimento da doutrina sobre a legitimidade, conforme


dispõe o autor Roberto de Figueiredo Dantas (2021, p. 965):

“A ação popular, conforme ressalta a doutrina, é uma decorrência


lógica do princípio republicano. Com efeito, tendo em vista que o
patrimônio pertence ao povo, nada mais justo que este último
possa fiscalizar aquilo que lhe pertence. Dessa forma, além de
outras formas estabelecidas para a fiscalização da coisa pública (tais
como a fiscalização pelo Poder Legislativo, com o auxílio dos
Tribunais de Contas), a Constituição vigente conferiu ao cidadão a
possibilidade de se vale do Poder Judiciário para semelhante
mister.”

Assim, no presente caso dos remédios constitucionais, o impetrante


preenche os requisitos subjetivos de ser cidadão, pois possui o título de eleitor,
bem como é vereador do munícipio brilhante e para tal cargo deve estar em
pleno gozo de seus direitos passivos e ativos políticos. Portanto, não resta
dúvidas que o sr. João da Silva está apto para a impetração da presente ação.

2.3 – Do sujeito passivo

Segundo o disposto do artigo 6º, caput, da Lei nº 4.717/65, são sujeitos


passivos da ação popular as pessoas jurídicas de que tenha emanado o ato
lesivo e referidos no artigo 1º, deste diploma legal, dentre eles, sobressai os
entes que realizaram o contrato impugnado, no caso concreto o Município
Brilhante, juntamente com a empresa Joli Produtos Cirúrgicos Ltda.
  Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas
públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra
as autoridades, funcionários ou administradores que houverem
autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado,
ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e
contra os beneficiários diretos do mesmo.( LEI Nº 4.717, DE 29 DE
JUNHO DE 1965.)

Assim, está claro que devem figurar no polo passivo da presente


demanda o ente que celebrou o contrato impugnado, no caso concreto, o
Município Brilhante, por seu legal representante, o senhor Prefeito Municipal,
ordenador da despesa, e solidariamente o secretário de Municipal de Saúde,
subscritor do contrato oneroso juntamente com o Prefeito Municipal, bem como
a empresa Joli Produtos Cirúrgicos Ltda.

III – DO MÉRITO

3.1 Da inexigibilidade de licitação

No que tange a inexigibilidade da licitação firmado entre as partes


constante no respectivo contrato, verifica-se que de acordo com o que
estabelece o artigo 13 e 14, da nova lei de licitações nº 14133/2021, o objeto
do respectivo contrato não atende aos requisitos da referida lei e fere também
o artigo 4º, III, “a”, Lei nº 4.717/65.
Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos,
praticados ou celebrados por quaisquer das pessoas ou entidades
referidas no artigo 1º
a) o respectivo contrato houver sido celebrado sem prévia
concorrência pública ou administrativa, sem que essa condição seja
estabelecida em lei, regulamento ou norma geral;

É importante mencionar que a inexigibilidade ocorre quando a


competição em torno do objeto pretendido pela Administração Pública se
mostra inviável. Contudo, na presente demanda não existia uma necessidade
ou urgência que justificasse a contratação direta, haja vista que a Secretaria de
Saúde havia adquirido recentemente os mesmos produtos para a rede
municipal de saúde com outro fabricante, demonstrando que a conduta não
visava aquisição do objeto em si, visto que não havia uma demanda
significativa, bem como não foi contratado com a mesma empresa que já era
conhecida e fornecia por valores inferiores que eram mais vantajosos para
administração pública.
Diante do exposto, é cristalino o entendimento que a contratação direta
foi praticada visando o superfaturamento e não na necessidade da aquisição
do objeto.

3.2 – Da ofensa ao patrimônio público


A ação popular tem por objetivo principal instituiu, anular ou declarar a
nulidade de ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao
meio ambiente ou ao patrimônio histórico e cultural. Tem por fundamento,
portanto, a lesividade, a ocorrência de ato que se revele lesivo ao patrimônio
público, à moralidade pública, ao meio ambiente, ou, ainda, ao patrimônio
histórico e cultural.

Os fatos praticados no referido contrato são em sua totalidade


considerados lesivos ao patrimônio público, uma vez que houve o
superfaturamento do objeto uma vez que o valor de R$ 1.000.000,00 (um
milhão de reais) ultrapassa demasiadamente contratos firmados anteriormente
pelo mesmo município. Além do mais, não havia necessidade de nova
aquisição de materiais, bem como de acordo com os fatos demonstrados
acima, fica constatada a ilegalidade do objeto do contrato firmado bem como o
vício de forma, uma vez que não houve o devido processo licitatório, bem
como o superfaturamento da compra realizada junto a empresa Joli Produtos
Cirúrgicos LTDA, sendo portanto atos nulos de acordo com a Lei nº 4.717/65,
artigo 2º, “b” e “c” e artigos 3º e 4º.
.

3.3 – Da ofensa à moralidade administrativa


Estabelece o artigo 37, XXI da CRFB/88 que as compras deverão ser
contratadas mediante licitação pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes.
Assim, tal prática visando o superfaturamento fere os princípios da
impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da eficiência, da
probidade administrativa, da economicidade, do desenvolvimento nacional
sustentável, da vinculação ao instrumento convocatório, da obtenção de
competitividade e do julgamento objetivo que devem ser sempre serem
observados na realização de compras por contratos para assegurar a seleção
da proposta mais vantajosa, afim de evitar prejuízos administração pública.
Dessa forma, ante os fatos expostos é possível verificar que houve total
descumprimento de preceito constitucional, sendo assim o não atendimento às
normas gera vicio de forma, conforme prevê a Lei nº 4.117/65, artigo 2º, “a”.

IV – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) Sejam os requeridos citados na pessoa de seus representantes


legais, para, querendo, apresentarem defesa;
b) Seja intimado o represente do Ministério Público para atuar como
“custos legis”;
c) A procedência do pedido, para decretar a anulação do contrato
firmado, bem como a suspensão de sua execução;
d) A condenação dos impetrados a ressarcirem o erário todos os custos
advindos da celebração do contrato;
e) A condenação dos impetrados em custas e honorários
sucumbenciais.
f) A condenação da empresa por seus integrantes em proibição de
contratação com o Poder Público, na forma da lei;
g) A condenação dos requeridos a devolverem aos cofres públicos
todos os valores recebidos, em dobro, identificados no memorial
descritivo dos cálculos por preços superfaturados.
h) Após a condenação, requer o autor, sejam extraídas peças dos autos
e remetidos ao Ministério Público, por distribuição a uma das
Promotorias de Justiça da Fazenda Pública para adoção das
medidas judiciais criminais cabíveis à luz da lei federal 14133/2021, e
por sua responsabilidade por prática de atos de Improbidade
administrativa à luz da lei federal 8429/93.

Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

Termos em que,
Pede deferimento.

Brilhante/UF, data.

Advogado
OAB/UF

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