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EXM (A). SR (A). JUIZ (ÍZA) DE DIREITO DA 14ª.

VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA


DO ESTADO DA PARAÍBA (SUBSEÇÃO DE PATOS-PB)

Processo nº 0000415-85.2013.4.05.8201

Promovente: Ministério Público Federal


Promovida: Jeane Araújo de Medeiros e outros

JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS, devidamente qualificada nos autos

da AÇÃO CIVIL PÚBLICA, vem muito respeitosamente, à presença do Nobre Julgador,

através do seu Procurador, já devidamente habilitado, apresentar a sua contestação em relação

a acusação efetivada nos autos do processo em epígrafe, o que o faz consubstanciado nas razões

de fato e de direito a seguir expostas:

I– SÍNTESE FÁTICA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do seu Procurador

da República, ingressou com a Ação Civil Pública por ato de improbidade supostamente

cometido pelos promovidos na realização de licitação fraudulenta, com o fito de efetuar a

contratação à perfuração e a instalação de 05 (cinco) poços tubulares profundos, utilizando-

se, para tanto, de recursos repassados pela FUNASA ao MUNICÍPIO DE VÁRZEA/PB

por meio do Convênio 2112/2006 (SIAFI 570427).

De acordo com a exordial, a operação fraudulenta teria se iniciado ainda

durante o procedimento licitatório, efetuado na Gestão do EX-PREFEITO WALDEMAR

MARINHO FILHO, ocasião em que a Administração Municipal de VÁRZEA foi conivente

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com um sórdido esquema de fraude à licitação, mormente, com a participação de empresas

de fachada para ludibriarem a legalidade do certame, dando a aparência de competição à

licitação em curso, algo que inexistiu, consoante a lídima exposição do representante do

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.

Com efeito, segundo a mesma denúncia, foi engendrada a Carta Convite

017/2007, pela qual, foram convidadas as empresas: MAVIL que não existia de fato, mas só

no papel e que só serviu para compor o número mínimo de licitantes; a CONSTRUTORA

WALLACE LTDA que não possuía maquinário, nem pessoal, só subsistindo no papel e

com íntima ligação com a empresa HYDROGEO PROJETOS E SERVIÇOS LTDA

que possuía todo o equipamento para a perfuração dos poços e que efetuava, de fato, as

obras ganhas pela CONSTRUTORA WALLACE.

No referido certame, sagrou-se vencedora a CONSTRUTORA WALLACE

que terceirizou, como de “costume”, os serviços licitados para a empresa HYDROGEO

PROJETOS E SERVIÇOS LTDA. Esta sim, foi a encarregada de executar as obras do

Convênio 2112/2006 (SIAFI 570427) entre o Município de Várzea/Pb que desembolsou uma

pequena contrapartida e a FUNASA que liberou substancial porção de recursos: R$ 90.000,00

(noventa mil reais) em recursos federais.

De contraparte, a CONSTRUTORA WALLACE teve o assessoramento

técnico do Engenheiro de Minas JOSÉ IVALDO DE MORAIS, à época do fato, Vereador

do Município de Várzea/PB pela quarta vez consecutiva: o demandado era o responsável

pelo acompanhamento da execução das obras de perfuração dos poços, realizando “ocasional”

e de forma “graciosa” tal encargo, conforme disse em seu depoimento, sem manter qual-

quer ligação com a atinente empresa, o que é óbvio, não convenceu o representante do

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.

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Doutro modo, o certame foi presidido por JEANE ARAÚJO DE ME-

DEIROS, tendo ainda, como integrantes da CPL, SANDRA ARAÚJO E EDCLEIDE

MEDEIROS DE SOUTO ROCHA. E foi homologado e o objeto adjudicado em 20 de

abril de 2007 e o contrato assinado no mesmo dia (ff. 197, 198), tudo durante a gestão de

WALDEMAR MARINHO FILHO. E assinou em nome da empresa vencedora do certame,

o seu sócio-administrador ANTÔNIO MILITÃO.

Portanto, este é um breve resumo dos fatos arguidos pelo representante do


MPF que ingressou com a Ação Civil Pública por improbidade cometida pelos promovidos
na realização de licitação fraudulenta atinente a contratação de empreiteira à perfuração e a
instalação de 05 (cinco) poços, utilizando-se, para tanto, de uma porção substancial de
recursos federais oriundos do Convênio 2112/2006, através da transferência voluntária de
valores não incorporáveis ao patrimônio municipal, repassados ao MUNICÍPIO DE
VÁRZEA/PB pela FUNASA, o que, inclusive, levou ao exato ajuizamento desta ação na
Justiça Federal por ser esta a competente para apreciar o feito com base nos arts. 37, § 4°,
109, I, 127, 129, III da CF, bem como, na Súmula n° 208 e 329 do STJ1.

II-PRELIMINARMENTE:

Integração do Pólo Passivo. Litisconsórcio Passivo Necessário

Dando continuidade à exposição, mormente, em sede das questões pre-

liminares, cabe chamar a atenção para a existência, no concernente caso, de litisconsórcio

passivo necessário, considerado in statu assertionis. De fato, o art. 3º da Lei Federal n.

8.429/92 têm o seguinte teor:

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,


àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou
concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se
beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

1
TRF-5- RSE 39334820134050000, Des. Rel. Francisco Cavalcanti, DJE: 18/07/2013; TRF-5. AC
5588004/PE, Des. Rel. José Maria Lucena, DJE: 07/11/2013

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De fato, é com base neste dispositivo que a defesa sustenta a inclusão de

KEYLLA M. LACERDA [“OAB N.° 9247/PB?”], no pólo passivo do presente feito,


por ser a pessoa que auxiliava juridicamente a CPL DE VÁRZEA/PB naquele período,

notadamente, elaborando a documentação pertinente àquela licitação (art. 3° da LIA), de

modo que também merece ser acionada no pólo passivo da atinente demanda a fim de

prestar esclarecimentos e responder pelos seus atos se for o caso.

Neste sentido, o escritor Marcelo Figueiredo analisando esse conceito,


preceituou que são sujeitos ativos das condutas previstas na LIA:

a) os agentes públicos, servidores públicos (estatutários,

celetistas ou remanescentes de regimes pretéritos) das entidades

públicas (Administração direta, autarquias e fundações

públicas); b) os servidores públicos (servidores celetistas, dos

entes governamentais privados (fundações governamentais

privadas, sociedades de economia mista e empresas públicas);

c) os contratados, particulares exercendo transitoriamente

funções estatais, sem vínculo profissional; os agentes políticos,

respeitadas as disposições constitucionais; e) aqueles que não

são servidores ou agentes públicos, mas que induziram ou

concorreram para a prática do ato de improbidade ou dele

se beneficiaram sob qualquer forma direta ou indireta (v.

art. 3° da lei). Terceiros portanto, servidores ou não; daí por

que a dicção do art 1° c/c o art. 3°: no que couber2.

2
FIGUEIREDO, Marcelo. Probidade administrativa: comentários à Lei 8.429/92 e legislação
complementar. 4. ed., atual, e ampl. São Paulo: Malheiros Editores, 2.000, p. 27.

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Deveras, a AÇÃO CIVIL PÚBLICA deve ser dirigida contra todos os

que se enquadrem, em tese, nos arts. 1º e 3º da Lei 8.429/92, que serão litisconsortes neces-

sários, como bem expôs ROGÉRIO PACHECO ALVES:

Como se vê, buscou o legislador a responsabilização de todos


aqueles que tenham, de alguma forma, praticado ou concor-
rido para a prática de improbidade, sendo bastante amplo o
campo de incidência da norma. A pluralidade de agentes e/ou
terceiros que tenham de alguma forma concorrido ou se
beneficiado da improbidade leva à ocorrência de litisconsórcio
necessário no pólo passivo, na forma do art. 47 do CPC, com a
possibilidade, inclusive, de aplicação do art. 7º, III, da Lei
4.717/65 (...). Por primeiro, a necessidade do litisconsórcio,
aqui, decorre da indisponibilidade dos interesses em jogo, não
se podendo tolerar o não-chamamento judicial de quem tenha
causado lesão ao patrimônio público. Mais especificamente, a
necessidade decorrerá da própria Lei n. 8.429/92 (litisconsórcio
necessário por força de lei), cujos arts. 3º e 6º, da mesma forma
que se dá no âmbito da ação popular (art. 6º), conferem uma
significativa amplitude conceitual aos sujeitos ativos do ato de
improbidade, visando a possibilitar a cabal reparação do dano3

Outrossim, já se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça:

Processual Civil. Administrativo. Réu Particular. Ausência


de participação conjunta de agente público no pólo passivo
da ação de improbidade administrativa. Impossibilidade.
1. Os arts. 1° e 3° da Lei 8.429/92 são expressos ao prever a
responsabilização de todos, agentes públicos ou não, que
induzam ou concorram para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficiem sob qualquer forma,
direta ou indireta (...) [STJ, REsp 1155992/PA, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado
em 23/03/2010, DJe de 01/07/2010].

3
GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 1.ª ed. rev. e ampl-.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2.002, p. 560.

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III-DO MÉRITO

De acordo com a peça inaugural elaborada pelo representante do MPF, os

promovidos são acusados de terem participado de um esquema de fraude à licitação, através

de construtoras fantasmas utilizadas para comporem a licitação em exame, o que teria

frustrado o caráter competitivo do referido certame, comprometendo a lisura no processo

licitatório com o fito de auferirem dividendos espuriamente.

Outrossim, é de ressaltar-se que o promovente deixou bem claro em sua

exordial que tal evento esteve correlacionado ao Convênio 2112/2006 (SIAFI 570427)

firmado entre a FUNASA e o Município de Várzea/PB, o que redundou em um severo

prejuízo da ordem de R$ 92.455,90 (noventa e dois mil, quatrocentos e cinquenta e cinco

reais e noventa centavos), conforme o seguinte grau de participação:

(...) a responsabilidade intelectual por engendrar e arquitetar


toda a fraude licitatória foi do engenheiro JOSÉ IVALDO DE
MORAIS, que é o atual prefeito do município de Várzea. Em
verdade, JOSÉ IVALDO era o responsável pelo acompanha-
mento das obras realizadas em parceria entre a WALLACE e
a HYDROGEO, atuando junto à prefeitura para maquiar todo
o procedimento licitatório e, em um segundo momento, acom-
panhando a execução das obras.

De fato, conforme evidenciou o representante do MPF, subentende-se

com razão que JOSÉ IVALDO DE MORAIS teria sido o engendrador de um sórdido esquema

de fraude à licitação juntamente com o EX-PREFEITO e as empresas licitantes, de forma

a ludibriarem a livre concorrência, auferindo vantagens com o mencionado procedimento e

gerando prejuízos aos Cofres Públicos com as suas condutas ímprobas.

Contudo, data máxima vênia, mas a verdade completa merece prosperar e

vir à tona, a fim de que nenhuma dúvida reste acerca do presente feito. É com esse intuito

que a demandada JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS vem expor o que de fato aconteceu,

sem se esquivar de relatar a inteireza dos acontecimentos que teve conhecimento, a fim de

eliminar quaisquer suposições acerca do seu bom caráter.


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A priori, cabe ressaltar que a demandada é uma pessoa oriunda de uma

modesta família do Sítio Alemanha, S/N, Zona Rural de Várzea/Pb, que cursou tão somente

até o ensino médio (doc. 01) e que teve a possibilidade de melhorar de vida quando passou

num concurso público no ano de 2.006 (doc. 02), ingressado na carreira pública no cargo de

Auxiliar de Serviços Gerais daquele referido Município.

Em 02 de janeiro de 2.007, o EX-PREFEITO WALDEMAR MARINHO,

de modo unilateral e sem o prévio conhecimento da promovida, nomeou-a à CPL do

aludido ente federativo, prevalecendo-se, assim, da sua condição de Prefeito para exteriorizar

um ato administrativo discricionário da sua alçada com a nomeação de uma integrante à CPL

de VÁRZEA/PB, sem que a referida possuísse qualificação, ou mesmo, maiores noções

técnico-jurídicas sobre os procedimentos licitatórios.

Após isso, quando a promovida JEANE ARAUJO DE MEDEIROS tomou

ciência de que tinha sido designada, desaprovou de imediato a sua indicação para a CPL DE

VÁRZEA/PB, visto que era totalmente despreparada, de modo que reclamou com o ex-

Gestor, ao que este último respondeu “que não tinha mais como voltar atrás, pois já havia

publicado a Portaria da sua nomeação no Diário Oficial do Município e enviado a cópia do

mesmo para o TCE/PB (...).”

De contraparte, WALDEMAR MARINHO FILHO que conseguiu designar

a promovida JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS, a contragosto desta e iludindo-a com a

afirmação descarada de que não tinha mais como voltar atrás na sua nomeação, também

passou a determinar que ela colocasse a sua assinatura em vários papéis, sem dá maiores

detalhes sobre os mesmos, só afirmando que “eram documentos corriqueiros às licitações

feitas pela PREFEITURA e que não continham nenhum problema (...)”, quando na realidade,

o que se sucedeu foi o oposto daquilo apregoado pelo mesmo.

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A posteriori, com o decorrer do tempo, a demandada JEANE ARAÚJO

ficou sabendo que os aludidos documentos eram elaborados pela Sra. KEYLLA M.

LACERDA e que esta prestava uma assessoria, em termos licitatórios, para a COMISSÃO

PERMANENTE DE LICITAÇÃO DE VÁRZEA/PB, durante a Administração do EX-

PREFEITO WALDEMAR MARINHO FILHO.

E isso não é uma afirmação desarrazoada e isolada de JEANE ARAÚJO

DE MEDEIROS, haja vista que o mesmo também foi dito no depoimento de SANDRA

ARAÚJO, consignado no Inquérito Civil Público [n°. 1.24.001.000177/2.012-51], no qual,

“ foi orientada e acompanhada pelo PROCURADOR DE VÁRZEA-PB, JOSÉ LACERDA

BRASILEIRO que apôs a sua assinatura naquele referido inquérito”, aquela demandada

afirmou categoricamente (f. 288):

“A CPL era assessorada por advogado, que auxiliava no


período compreendido entre 2006 e 2008. A CPL era
assessorada por advogado, que auxiliava na elaboração dos
documentos. Acredita que a assessora jurídica na época era
a Dra. Keylla”.

De fato, desde 2.006 que a Sra. KEYLLA M. LACERDA prestava um

assessoramento jurídico à CPL, auxiliando a concernente comissão, através da elaboração

da documentação pertinente a todos os procedimentos licitatórios e, em especial, do referido

certame atinente à CARTA CONVITE 017/2.007 que foi alvo de um suposto esquema de

fraude à licitação, consoante discorreu o representante do MPF.

Com efeito, todo aquele procedimento licitatório teve a batuta do então

PREFEITO WALDEMAR MARINHO e do EX-VEREADOR JOSÉ IVALDO DE MORAIS,

com o suporte jurídico da Sra. KEYLLA LACERDA, conseguindo, assim, engendrar uma

licitação fraudulenta e prejudicial aos Cofres Públicos, servindo-se para tanto, da inexperiência

e da falta de entendimento técnico-jurídico da demandada JEANE que foi levada a participar

de um procedimento para o qual nem tinha conhecimento jurídico.

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Doutro modo, KEYLLA M. LACERDA é bem versada no concernente

aos procedimentos licitatórios, inclusive, prestando, serviços do gênero para diversos outros

municípios da região sertaneja4, a exemplo de Santa Terezinha, sendo que, nesta última

localidade, a mesma teria praticado uma suposta fraude à licitação, através da certificação

de atos inexistentes, aos quais, vem respondendo criminalmente perante a Justiça Federal,

notadamente, neste mesmo Juízo [processo n° 0000850-47.2013.4.05.8205].

Porém, é de frisar-se que, em Várzea, a Sra. KEYLLA M. LACERDA

não só elaborou a documentação pertinente à licitação aludida, mas também apôs a sua assi-

natura no rol de testemunhas, conforme podemos aferir de modo bem nítido no concernente

instrumento contratual firmado entre a PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA, ATRA-

VÉS DO ENTÃO PREFEITO WALDEMAR MARINHO FILHO E O EMPRESÁRIO

ANTÔNIO MILITÃO (f. 203):

4
Disponível em:<< http://dados.tce.pb.gov.br/html/esfera_municipal/2006/empenhos/TCE-PB-SAGRES-
201172-EMP-MUN-2006-PREFEITURA_MUNICIPAL_DE_SANTA_TERESINHA.html; http://dados.tce.
pb.gov.br /html/esfera_municipal/2008/empenhos/TCE-PB-SAGRES-101044-EMP-MUN-2008-CAMARA_
MUNICI PAL _DE_CACIMBAS.html; dados.tce.pb.gov.br/html/esfera_municipal/2013/ empenhos/TCE-PB-
SAGRES-201056-EMP-MUN-2013-PREFEITURA_MUNICIPAL_DE_CATINGUEIRA.html; http://www.
prpb. mpf. mp.br/arquivos_ascom/ACPIAS_2013/04-Patos/12-Dezembro/RUI%20NOBREGA% 20DE%20
PONTES %20e%20outros%20-%20 Santa%20Terezinha.pdf >>.

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Todavia, nem o ex-Prefeito WALDEMAR foi só um mero homologador e

adjudicador do certame em foco, e tampouco só um assinante do contrato em questão, nem

a Sra. KEYLLA MEDEIROS LACERDA foi só uma mera testemunha ocular do Contrato

resultante da CARTA CONVITE 017/2007, porquanto um e outro, juntamente com JOSÉ

IVALDO DE MORAIS tiveram uma participação proativa na configuração do processo

licitatório que foi alvo de questionamento judicial.

É de ressaltar-se que neste ínterim, a demandada JEANE ARAÚJO DE

MEDEIROS era totalmente leiga acerca dos procedimentos jurídicos que culminaram

com a CARTA CONVITE 017/2007, de sorte que ela nada sabia sobre aquele certame em

curso, mesmo porque, a documentação já vinha pronta, só restando à mesma, assinar os

referidos papéis por insistência do EX-PREFEITO WALDEMAR MARINHO FILHO que

afirmava que eram documentos corriqueiros e sem problemas.

Em 2.008, diante da falta de maiores conhecimentos sobre a máquina pú-

blica, a promovida JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS resolveu por iniciativa própria

fazer um Curso de Capacitação promovido pela FAMUP (FEDERAÇÃO DOS MUNICÍPIOS

DA PARAÍBA), relativo à formação de Pregoeiros e Lei Complementar 123, efetuado nos

dias 11, 12 e 13 de março daquele ano (doc. 03), ou seja, 1 (um) ano após a ocorrência

daquele certame reputado como fraudulento.

Portanto, conforme se percebe, a demandada era totalmente leiga sobre os

procedimentos licitatórios, somente vindo a adquirir conhecimentos jurídicos sobre o que

era licitação e as suas regras, após o ano de 2.007, depois de ter ocorrido a fatídica CARTA

CONVITE 017/2007 que redundou na convocação das empresas fraudulentas e na contratação

de uma destas, segundo relatou o representante do MPF.

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Em relação aos demais promovidos e, em especial, ao Sr. JOSÉ IVALDO
DE MORAIS e aos representantes das empresas MAVIL, WALLACE e HYDROGEO,
a demandada desconhece maiores detalhes sobre a relação entre ambos. Entretanto, o re-
presentante do MPF deixou bem claro a participação de cada um deles no suposto esquema
de fraude à licitação com base em declarações à RFB e depoimentos no ICP.

Deveras, segundo ficou evidenciado na declaração colhida pela RFB, o

Sr. JOSÉ IVALDO DE MORAIS, Engenheiro de Minas com larga experiência na área de

perfuração de poços, teria sido o configurador do esquema entre as empresas aludidas e a

PREFEITURA DE VÁRZEA/PB, porquanto antes do procedimento licitatório em questão,

já vinha realizando obras em parceria com aquelas (ff. 257, 282, 283):

(...) esclareceu que após a CONSTRUTORA WALLACE


vencer os procedimentos licitatórios junto a órgãos públicos, o
declarante era o responsável pelo acompanhamento da
execução das obras relativas a perfuração de poços.
Acrescentou que era, igualmente, o responsável pelos projetos
referentes a tais obras. Questionado quanto ao montante de
sua participação nas receitas decorrentes de tais obras,
afirmou que tal valor era variável, dependendo de cada caso
(...) O depoente conhece a pessoa de MARCOS TADEU, já
tendo acompanhado obras de suas empresas, possivelmente da
construtora MAVIL.

Outrossim, na época do fato, JOSÉ IVALDO era um dos vereadores da

base de sustentação do Sr. WALDEMAR MARINHO FILHO, o que serviu para aproximar

este último às empresas concernentes. Realmente, ambos integravam o mesmo partido, por

ocasião daquele procedimento licitatório, segundo pudemos aferir na lista5 dos eleitos nas

eleições de 2.004 (doc. 04) e no depoimento do inquirido (ff. 282-283):

O depoente é Engenheiro de Minas e exerce o cargo de


Prefeito do Município de Várzea, nas gestões 2.009/2.012 e
2.013/2.016. Na legislatura 2.005/2.008, o depoente ocupava
o cargo de vereador, sendo aquela a quarta oportunidade
consecutiva em que exercia o referido cargo. O depoente se
recorda da execução de cinco poços no município de Várzea
entre os anos de 2007 e 2.008 aproximadamente.

5
Disponível em: http://www.tre-pb.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/resultados-de-eleicoes

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A posteriori, o Sr. JOSÉ IVALDO DE MORAIS que teria arquitetado

este esquema fraudulento e servido de elo de ligação entre as empresas em foco com a

PREFEITURA DE VÁRZEA/PB, também teria acompanhado, posteriormente, a execução

da perfuração dos poços, naquele ínterim, consoante pudemos constatar no seu depoimento,

ipsis literis (f.257):

(...) Informado de que o Sr. Antônio Militão teria afirmado


que as obras decorrentes dos convites n° 04/2007 da
Prefeitura Municipal de Aguiar, n° 11/2007 da Prefeitura
Municipal de Gurjão, n° 10/2007 da Prefeitura Municipal
de Junco do Seridó e n° 017/2007 do Município de Várzea
teriam sido realizadas em parceria com o declarante, este
respondeu que, de fato, foi o responsável pelo projeto e
acompanhamento das referidas obras, sendo que, em
Aguiar e Várzea, acompanhou as obras até a conclusão.

E pelos serviços prestados para a referida empresa, o então Vereador de

VÁRZEA/PB, JOSÉ IVALDO DE MORAIS auferiu pagamentos, conforme disse o Sr.

ANTÔNIO MILITÃO em sua declaração, em 06 de maio de 2.009, colacionada pela

DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL (f. 238):

“(...) que outra pessoa que recebeu parcela dos pagamentos


feitos à CONSTRUTORA WALLACE foi JOSÉ IVALDO
MORAIS por ter arranjado um contrato com a prefeitura
da cidade de VÁRZEA/PB; que diferentemente de
VALDECIR AMORIM, JOSÉ IVALDO não tinha
procuração da CONSTRUTORA WALLACE; que o
declarante recebia os pagamentos feitos pelos órgãos
contratantes e repassava aos citados a parte que lhes cabia”.

Ademais, o promovido JOSÉ IVALDO DE MORAIS além de ter sido o

grande articulador, junto a Prefeitura, do esquema de fraude à licitação na perfuração dos

poços, recebendo remuneração por isso, segundo disse o Sr. ANTÔNIO MILITÃO (f. 238),

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também, foi o responsável por acompanhar a execução das obras até a sua conclusão,

conforme declaração dele a RFB (f.257) e, sobretudo, teria assinado, quando assumiu a

condição de Prefeito de Várzea/Pb, em 2.009, o Termo Aditivo de n° 4 de 20 de abril que

alterou o prazo do contrato que ele sabia ser manifestamente irregular que foi prorrogado

por mais 90 dias, ensejando a liberação pela FUNASA da 3ª e última parcela no valor de

R$ 18.000,00 (dezoito mil reais) reais no dia 23 de abril do ano de 2009 (f.108).

Por outro lado, o demandado JOSÉ IVALDO DE MORAIS também

participou com a CONSTRUTORA WALLACE de outros processos de licitação ocorridos

em diversos municípios do Estado da Paraíba, conforme declarações prestadas por aquele

promovido e por ANTÔNIO MILITÃO para a RFB (ff. 241, 257), igualmente, alvos da

investigação do representante do MPF que constatou uma série de irregularidades com

matizes similares às que foram verificadas em VÁRZEA/PB6.

Outrossim, a HYDROGEO e a WALLACE [que mantinham um estreito

relacionamento colaborativo com aquele promovido] também tinham um elevado nível

de entrosamento entre si, compartilhando desde pessoal, maquinários, serviços e débitos

tributários, de modo que isso levantou a suspeita no MPF de que elas estariam conluiadas

no suposto esquema de fraude à licitação ocorrido em VÁRZEA/PB e noutros municípios

paraibanos. JOSÉ IVALDO confirmou em seu depoimento que sabia que a WALLACE

não tinha maquinário e que terceirizava os serviços (ff. 282/283).

6
O “Sr. Antônio Militão teria afirmado que as obras decorrentes dos convites n.° 04/2007 da
Prefeitura Municipal de Aguiar, n° 11/2007 da Prefeitura Municipal de Gurjão, n.° 10/2007 da Prefeitura
Municipal de Junco do Seridó e n.° 017/2007 do Município de Várzea teriam sido realizadas em parceria
com o declarante” (f. 257). Ademais, correm processos, neste juízo, contra o demandado José Ivaldo, por
fraude à licitação, em razão do mesmo modus operandi em Junco do Seridó (Processo n° 0000372-
39.2013.4.05.8205) e São Mamede (00873-90.2013.4.05.8205).

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E o mesmo foi ratificado por JOSÉ W. BORBOREMA ARCOVERDE,

representante técnico da HYDROGEO, que disse a RFB e nos autos do ICP (ff. 266/267):

O depoente confirma seu depoimento prestado a Receita


Federal de ff. 245/246 na parte em que confirma a existência
de parceria entre a HYDROGEO e a CONSTRUTORA
WALLACE. A WALLACE não possuía maquinário para a
perfuração de poços. A parceria consistia na execução de
algumas obras pela HYDROGEO quando a WALLACE
sagrasse vencedora em alguma licitação para a perfuração
de poços. Segundo ouviu dizer o depoente, nesses casos, após
deduzir as despesas operacionais e tributárias, Tota Militão
e Francisco Araújo Neto dividiam os lucros, cabendo a
maior parte para Francisco Araújo Neto que era o dono dos
maquinários.

Contudo, a suspeita de conluio entre ambas foi confirmada pelo próprio


ANTÔNIO MILITÃO que assim declarou à Delegacia da RFB em 06 de maio de 2.009 (f.
238):
“Sr. ANTÔNIO MILITÃO (...) tendo declarado que, na
realidade, na maioria dos contratos, recebia apenas 5% dos
pagamentos efetuados à empresa pelas prefeituras
contratantes; que o restante do pagamento era recebido por
FRANCISCO ARAUJO NETO, proprietário da empresa
HYDROGEO: que FRANCISCO DE ARAÚJO NETO é, de
fato, sócio da empresa, com participação majoritária nos
resultados; que o outro sócio de nome ROBISON PIRES
DOS SANTOS, apenas tem o seu nome no contrato social,
mas não participando da vida da empresa (...), que
FRANCISCO ARAÚJO passou a participar da empresa a
partir de 2.005; que nos anos anteriores a 2.005 a empresa
estava paralisada; que FRANCISCO ARAÚJO participava
do dia a dia das obras da construtora WALLACE.”

Portanto, estas foram as informações, às quais, a demandada JEANE A.

DE MEDEIROS tomou conhecimento, no referido processo, através do seu Advogado.

Além do mais, ela não possuía qualquer relação de intimidade ou compadrio com os

demandados supracitados, não vindo, assim, a saber das peculiaridades concernentes às

tratativas da licitação em comento: como é sabido, os malefícios sociais são praticados no

silêncio dos confrades, bem distante dos olhos e dos ouvidos da população em geral.
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IV-DO DIREITO
Da lesão ao erário público

Por conseguinte, asseverou o digno representante do MPF que JEANE

ARAÚJO DE MEDEIROS e as demais integrantes da CPL, SANDRA ARAÚJO E ED-

CLEIDE MEDEIROS DE SOUTO ROCHA comandaram todo o procedimento, enquanto

WALDEMAR MARINHO FILHO homologou e adjudicou o objeto licitado. E que por

suas condutas, eles infringiram o disposto no art. 10, da Lei n° 8.429/92:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa


lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa,
que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, mal-
baratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º da lei, e notadamente (...): VIII - frustrar a
licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente

Contudo, há de frisar que o representante do MPF partiu de uma presunção

generalista e sem arrimo na realidade dos fatos, tendo apontado a promovida JEANE A.

DE MEDEIROS e as demais integrantes da CPL como comandantes da suposta fraude à

licitação, quando na verdade, os reais comandantes e engendradores do referido certame

foram outrem, de maior envergadura e projeção, conforme se aferiu.

Destarte, temos que foram olvidados os princípios processuais que norteiam

os processos, mormente, o da individualização e da substanciação bem descritos por Jonatas

Luiz Moreira de Paula (2002, p. 114), consoante podemos aferir a seguir:

(...) Para a primeira [individualização] o importante na


causa de pedir é a dedução de todos os fatos narrados pelo
autor, a fim de possibilitar o pronunciamento do Juiz, nesta
teoria se encontra a divisão em causa de pedir próxima e
remota supra mencionadas. Enquanto para a segunda teoria
[substanciação], o que importa para a causa de pedir é a
própria relação entre o direito e a situação fática como
fundamento da ação ou defesa (...).

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No mesmo sentido, Luiz R. Wambier (WAMBIER, 2.002, p.118-119)
asseverou que:

Ao levar sua pretensão a juízo, o autor apresenta duas ordens


de fundamentos: os fatos a respeito dos quais se pretende uma
solução do Estado e o direito, que, em seu entender, decorre de
tais fatos. Em razão disso, isto é, deste conjunto complexo de
fatos e fundamentos jurídicos, é que o autor formula seu
pedido. A causa de pedir (causa petendi) ou razão do pedido
significa, resumidamente, o conjunto de fundamentos levados
pelo autor a juízo, constituído pelos fatos e pelo fundamento
jurídico a eles aplicável. O CPC adotou a teoria da
substanciação, pela qual são necessárias, além da fundamenta-
ção jurídica, a alegação e descrição dos fatos sobre os quais
incide o direito alegado como fundamento do pedido. A funda-
mentação jurídica é, via de regra, a causa de pedir próxima,
enquanto o fato gerador do alegado direito se constitui,
também na generalidade dos casos, na causa pedir remota.

De fato, com a devida máxima vênia ao Ilustre promovente da demanda,

mas o EX-GESTOR DE VÁRZEA não foi só um mero homologador e adjudicador do certame

licitatório sub examine, nem as integrantes da CPL foram as que comandaram o mesmo. De

fato, quem comandou o referido procedimento licitatório foram os demandados WALDEMAR

MARINHO e JOSÉ IVALDO DE MORAIS, contando com o apoio jurídico da Sra.

KEYLLA M. LACERDA que foi quem de fato elaborou a documentação pertinente.

Assim, não é de bom alvedrio imputar-se aquela conduta ímproba a quem

não deu causa à lesão ao erário público, notadamente, às integrantes da CPL. Deveras, para a

configuração desta espécie de ato de improbidade, exige-se: a) a ação ou omissão ilegal do

agente público no exercício de suas funções; b) derivada de má-fé, desonestidade (dolosa ou

culposa) e c) causadora de danos efetivos ao erário.

Com efeito, a ação de engendrar o certame foi do Sr. WALDEMAR

MARINHO FILHO, JOSÉ IVALDO DE MORAIS E DOS EMPRESÁRIOS DAS RE-

FERIDAS EMPRESAS DENUNCIADAS, contando com o suporte jurídico da Sra. KEYLLA

M. LACERDA que foi quem de fato preparou a documentação para o procedimento

licitatório em foco, conforme se aferiu anteriormente.


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Por outro lado, para configuração do ato de improbidade deve haver dolo
(artigo 9º, 10 e 11) ou pelo menos culpa grave (art. 10), conforme podemos aferir na
decisão proferida pelo STJ em REsp. 827.445:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DE
SERVIDORES SEM CONCURSO PÚBLICO. AUSÊNCIA DE
ELEMENTO SUBJETIVO (DOLO OU CULPA GRAVE) NA
CONDUTA DO DEMANDADO.

1. É firme a jurisprudência do STJ, inclusive de sua Corte


Especial, no sentido de que „Não se pode confundir
improbidade com simples ilegalidade. A improbidade é
ilegalidade tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo
da conduta do agente. Por isso mesmo, a jurisprudência do
STJ considera indispensável para a caracterização de
improbidade que a conduta do agente seja dolosa, para a
tipificação das condutas descritas nos artigos 9º e 11 da Lei
8.429/92, ou pelo menos eivada de culpa grave, nas do artigo
10‟ (AIA 30/AM, Corte Especial, DJe de 27.09.2011).

2. Agravo regimental a que se nega provimento.” (AgRg


no REsp 975540 / SP. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL 2007/0180690-1. Relator(a):
Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI (1124). Órgão
Julgador: T1 – PRIMEIRA TURMA. Data do Julgamento:
17.11/2011 Data da Publicação/Fonte: DJe 28.11.2011)

De fato, segundo Fernando Capez, dolo “é a vontade e a consciência de

realizar os elementos constantes do tipo penal. Mais precisamente, é a vontade manifestada

pela pessoa humana de realizar a conduta” [In Curso de Direito Penal, v. 1, p. 193]. Nesta

perspectiva temos que a demandada JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS também não

incorreu em conduta dolosa, já que não teve a consciência e a intenção de lesar o erário

público, pois era totalmente desinformada sobre questões jurídicas.

Enfim, a demandada JEANE era completamente leiga, à época do certame,

sobre as questões relacionadas ao Direito, mormente, sobre o Direito Administrativo e os

procedimentos licitatórios, só tendo participado da CPL, do Município de VÁRZEA-PB,

depois do Sr. WALDEMAR a induzir a erro, afirmando “que não tinha mais como voltar

atrás na sua designação à CPL, pois já havia publicado a Portaria da sua nomeação no

Diário Oficial do Município e enviado a cópia do mesmo para o TCE/PB (...).”

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De fato, o EX-PREFEITO utilizou-se de um expediente assaz ardiloso para
nomear a demandada JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS, valendo-se da inexperiência e da
falta de conhecimento técnico desta última. Por outro lado, além de tê-la nomeado através de
um engodo, ele também foi responsável por escolher uma pessoa inapta para a CPL, o que
inclusive, feriu o preceito do art. 51 da Lei 8666 que dispõe:

Art. 51. A habilitação preliminar, a inscrição em registro cadastral, a


sua alteração ou cancelamento, e as propostas serão processadas e
julgadas por comissão permanente ou especial de, no mínimo, 3
(três) membros, sendo pelo menos 2 (dois) deles servidores quali-
ficados pertencentes aos quadros permanentes dos órgãos da
Administração responsáveis pela licitação.

Deveras, a demandada JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS juntamente com


SANDRA ARAÚJO eram recém-ingressas na Administração Pública de VÁRZEA/PB e em
estágio probatório, conforme se depreendeu dos seus depoimentos, e sem o mínimo de quali-
ficação ou experiência técnica na área de engenharia7 para apreciarem as propostas das
empresas licitantes, além do que, nem capacitadas elas foram para aferirem juridicamente a
documentação concernente à habilitação daquelas construtoras, no decurso de 2.007, quando
ocorreu aquele certame, sendo que JEANE só veio a ter sua primeira capacitação na área de
licitação em 2.008 (ff.284,288;doc.03).

Neste sentido, Marçal Justen Filho, em face do princípio da eficiência


insculpido no art. 37 da Constituição Federal, entende que:
A nomeação de membros técnica e profissionalmente não
habilitados para julgar o objeto da licitação caracteriza
abuso de poder da autoridade competente. Se a Admi-
nistração impõe exigências técnicas aos interessados, não
pode invocar sua discricionariedade para nomear comissão
destituída de condições para apreciar o preenchimento de
tais requisitos. O Agente que não está técnica, científica e
profissionalmente habilitado para emitir juízo acerca de
certo assunto não pode integrar comissão de licitação que
tenha atribuições de apreciar propostas naquela área.
[Marçal Justen Filho, Comentários à Lei de Licitações e
Contratos Administrativos. 8ª ed. São Paulo: Dialética, 2.000,
p. 493-494].

7
Nesta mesma senda intelectiva, o Eng. Civil Pedro Paulo Piovesan de Farias asseverou sobre a
necessidade de profissionais habilitados, na área de engenharia, para avaliarem as propostas dos
licitantes neste segmento. In Licitações e Obras Públicas. Curitiba: CREA, 2.011, p. 22 (Série de
Cadernos Técnicos). Disponível em: <http:www.crea-pr.org.br>. Acesso em 01 de set. 2014.

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Notadamente, é dever que impende ao Gestor Público, a escolha e a
nomeação de indivíduos com o mínimo de qualificação para a CPL, pois são eles que terão
a incumbência de receber, examinar todos os documentos e os procedimentos relativos ao
cadastramento, à habilitação e ao julgamento das propostas dos licitantes (art. 6°, XVI, da
Lei 8.666/93). Ademais, deve-se conferir capacitação aos que não são versados em licitação,
como meio de instruí-los, consoante os Acórdãos do TCU:

CAPACITAÇÃO e LICITAÇÕES. DOU de 29.01.2010, S. 1,


p. 249. Ementa: determinação à CORE/FUNASA/AL para
que realize os processos licitatórios, pregões e dispensas de
licitação com celeridade, procedendo com urgência a
qualificação dos servidores encarregados de dirigir os
certames [item 1.5.10, TC-018.592/2008-5]

Oportunize a todos os membros de Comissão de Licitação, e


não apenas ao seu presidente, o necessário e suficiente
treinamento para o satisfatório desempenho de suas
atribuições legais, conforme os arts. 6º, inciso XVI. 51, todos
da Lei 8.666/1993 [TCU. Processo TC nº 010.215/2003-2.
Acórdão nº 1182/2004 – Plenário. Neste mesmo sentido:
Processo TC nº 012.133/2003-4. Acórdão nº 171/2005 - 1ª
Câmara. Processo TC nº 011.846/1995-0. Decisão nº 136/1997 -
Plenário; Processo TC nº 010.029/2005-3].

Decerto que a designação de servidor incompetente ou inapto, bem como,


a negligência em prover os meios e recursos necessários para o adequado exercício da
função, podem determinar a responsabilidade da autoridade por culpa in eligendo, in
omittendo e in vigilando, conforme dispõe o art. 124 da Lei 8112/90, o art. 186 c/c inc. III,
do art. 932, do nosso CCB e o próprio entendimento do TCU:
Responsabilidade da autoridade que homologa a licitação

Acompanhando o voto do relator, o Plenário negou provimento


a pedido de reexame interposto contra o Acórdão n.º
1.541/2007-Plenário, por meio do qual foi aplicada multa à
recorrente em razão de: (i) não publicação do aviso de tomada
de preços no Diário Oficial da União e em jornal de grande
circulação, em afronta ao art. 21, I e III, da Lei nº 8.666/93; e
(ii) desclassificação de licitante por exigência impertinente,
desprovida de fundamento legal. A recorrente procurava se
eximir da responsabilidade simplesmente tentando
transferir o ônus aos seus subordinados. Segundo ela,
estando a adjudicação na essência das atribuições da
comissão de licitação, e inexistindo recurso ou erro claro,
não seria razoável exigir-lhe que não homologasse o
certame. Trouxe também como argumento recursal a suposta
ausência de prejuízo, por ter sido a contratação efetivada pelo
valor de mercado. Para o relator, o ato omisso da recorrente,
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investida como autoridade homologadora da licitação, estaria
materializado na ausência de conferência dos requisitos
essenciais do procedimento sob sua responsabilidade. Restaria
caracterizada, portanto, “a negligência, ou seja, a inobservância
de normas que lhe ordenariam a agir com atenção, capacidade,
solicitude e discernimento”. Tal negligência, afirmou o
relator, “não pode ser descaracterizada simplesmente
alegando-se possível erro de subordinados ou suposta
ausência de prejuízo financeiro computado. Mesmo porque
a responsabilidade, neste caso, pode advir de culpa in
eligendo, ou seja, da má escolha daquele em quem se confia
a prática de um ato ou o adimplemento da obrigação, e da
culpa in vigilando, decorrente da falta de atenção com o
procedimento de outrem. Há que se considerar, ainda, que
responsabilidade não se transfere” [Acórdão n.º 137/2010-
Plenário, TC-015.583/2002-3, rel. Min. José Múcio Monteiro,
03.02.2010. Neste mesmo sentido: Acórdão do TCU, AC-1190-
21/09-P, proferido na sessão do dia 03/06/09; Acórdão 5.842/2010
– TCU – 1ª Câmara, rel. Min. Walton Alencar Rodrigues. Diário
Oficial da União, 20 de set. 2010].

O referido entendimento também tem encontrado ressonância no STF que


ressaltou a possibilidade de responsabilização dos agentes políticos por atos de improbidade
administrativa, o que reforçou os princípios constitucionais da inafastabilidade da jurisdição
e da isonomia processual (CF, art. 5°, incisos I, XXXV):
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO
MUNICIPAL. AGENTE POLÍTICO. DESVIO E APLICAÇÃO INDE-
VIDA DE RECURSOS DO FUNDEF. LIBERAÇÃO DE VERBAS SEM
PRÉVIA LICITAÇÃO. FRAUDE EM PROCESSOS LICITATÓRIOS.
DESNECESSIDADE DE LESÃO PATRIMONIAL AO ERÁRIO PARA
CARACTERIZAÇAO DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
QUE VIOLE PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS.

1. O STF entendeu, na Reclamação n. 2.138, que os agentes


políticos, por serem regidos por normas especiais de
responsabilidade, não respondem por improbidade
administrativa com base na Lei 8.429/92, mas, apenas, por
crime de responsabilidade em ação que somente pode ser
proposta perante a Corte, nos termos do art. 102, I, c, da
CF. 2. A decisão proferida na Reclamação n. 2.138, contudo,
não possui efeito vinculante nem eficácia erga omnes, não se
estendendo a quem não foi parte naquele processo, uma vez
que não tem os mesmos efeitos das ações constitucionais de
controle concentrado de constitucionalidade. 3. Os Prefeitos
Municipais, ainda que sejam agentes políticos, estão sujeitos
à Lei de Improbidade Administrativa, conforme o disposto
no art. 2º dessa norma, e nos artigos 15, V, e 37, § 4º, da
Constituição Federal. Também estão sujeitos à ação penal
por crime de responsabilidade, na forma do Decreto-Lei nº.
201/67, em decorrência do mesmo fato. Precedentes do STJ
e deste Tribunal. 4. Configura ato de improbidade
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administrativa, previsto no art. 9º, X e XI, da Lei nº
8.429/92, a vantagem econômica, de qualquer natureza,
direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício,
providência ou declaração a que esteja obrigado. 5.
Configura ato de improbidade administrativa, previsto no
art. 10, I e IX, da Lei nº 8.429/92, providenciar o pagamento
a pessoas que prestavam serviços de forma irregular e
ordenar despesas relacionadas à obra não realizada,
porquanto foram liberadas verbas públicas sem a estrita
observância das normas pertinentes ao concurso público e
ao processo licitatório. 6. Configura ato de improbidade
administrativa, previsto no art. 11, I, da Lei nº 8.429/92,
contribuir para fraudar licitação (...). Recurso de apelação
não provido. Opostos embargos de declaração, foram
rejeitados (STF - ARE: 644749 DF , Relator: Min. ROSA
WEBER, Data de Julgamento: 10/09/2012, Data de
Publicação: DJe-186 DIVULG 20/09/2012 PUBLIC
21/09/2012)

Em decisão similar, posicionou-se o STJ acerca da possibilidade de res-


ponsabilização do agente político por ato de improbidade, consoante as disposições dos artigos
1° c/c 2° da Lei 8.429/92:

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.


AGENTES POLÍTICOS. COMPATIBILIDADE ENTRE RE-
GIME ESPECIAL DE RESPONSABILIZAÇAO POLÍTICA
E A LEI DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA (...) 2. esta
Corte Superior admite a possibilidade de ajuizamento de
ação de improbidade em face de agentes políticos, em razão
da perfeita compatibilidade existente entre o regime especial
de responsabilização política e o regime de improbidade
administrativa previsto na Lei n. 8.429/92 [REsp 1282046/RJ,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em
16/02/2.012, Dje 27/02/2.012. Neste mesmo sentido, decisão do TRF-
5 sobre a aplicabilidade da LIA a um Agente Político do Município de
Pombal/Pb: AC 470786 PB 0000264-63.2006.4.05.8202, Relator:
Desembargador Federal Maximiliano Cavalcanti (Substituto), Data de
Julgamento: 29/10/2009, Primeira Turma, Data de Publicação: Fonte:
Diário da Justiça Eletrônico - Data: 23/04/2010 - Página: 241 - Ano:
2010].

Entretanto, o Sr. WALDEMAR MARINHO FILHO olvidou do bom

senso e da razoabilidade, nomeando duas servidoras sem o mínimo de qualificação para a

CPL, em contraponto ao que manda o art. 37 da CF acerca do princípio da eficiência, o art.

51 da Lei 8.666/93 sobre a necessidade de qualificação dos integrantes da comissão de

licitação e os acórdãos do TCU que recomendam a capacitação permanente dos membros

das COMISSÕES PERMANENTES DE LICITAÇÃO.


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A posteriori, após o referido EX-PREFEITO utilizar-se deste expediente

para nomear a referida demandada, a contragosto dela, ele também passou a ordená-la que

colocasse a assinatura dela em vários documentos, prevalecendo-se, assim, da condição de

PREFEITO, sem especificar, no entanto, do que se tratavam e sem dá maiores detalhes

sobre os mesmos, só afirmando que “eram documentos corriqueiros às licitações feitas pela

PREFEITURA e que não continham nenhum problema (...).”

Assim, a demandada foi, involuntariamente, levada a assentir com uma

situação, para a qual, se tivesse o devido conhecimento e a experiência, não teria de modo

algum participado, visto que a mesma foi iludida pelo EX-PREFEITO que asseverou que

aquela documentação era perfeita e sem nenhum problema, quando, na realidade, era o

oposto daquilo que esta autoridade apregoou.

Com razão, o referido promovido apresentava a documentação e deter-

minava que a mesma assinasse. Logo, depreende-se que, em nenhum momento, subsistiu

qualquer possibilidade dela aferir a habilitação jurídica, a qualificação técnica, a qualificação

econômico-financeira ou a regularidade fiscal pertinente aos licitantes, mesmo porque, nem

aptidão, para tal encargo, JEANE, e quiçá SANDRA tinham, pois as duas eram recém-

ingressas no serviço público e sem o mínimo de capacidade técnico-jurídica para apreciarem a

regularidade daqueles documentos [arts. 28, 29, 30, 31 da Lei Lei 8.666/93].

De fato, apenas indivíduos bem versados no Direito e com especialização

em questões técnicas minuciosas poderiam, com desvelo, conferir uma série de documentos

e a sua regularidade de acordo com os meandros da Lei 8.666/93, bem como, da legislação

correlata. Nisto, há de convir-se que nenhuma daquelas duas estavam aptas para apreciarem

a habilitação das empresas licitantes no certame em questão, visto que não foram capacitadas

para este mister durante o ano de 2007.

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No tocante a isso, é de ressaltar-se que a abertura dos envelopes, contendo
as propostas, está condicionada à prévia apreciação da regularidade dos documentos dos
licitantes [art. 43, I, II, III da lei 8.666/93]. Contudo, é de questionar-se como poderiam abrir
os envelopes das propostas, se nem mesmo uma aferição digna e eficaz da documentação
teria sido possível àquelas duas integrantes da CPL, notavelmente, pessoas que não tiveram
o mínimo de capacitação jurídica àquele múnus público.

Todavia, as empresas acusadas de conluio, pelo MPF, nada contestaram

e assinaram um Termo de Desistência dos Recursos, rubricaram os envelopes e a docu-

mentação, sendo encerrada “a pretensa reunião para habilitação e recebimento das

propostas” que começou às 10h 00min e que durou apenas “40 minutos” (f.105), apesar

de toda a carência de capacitação e de entendimento jurídico daquelas duas promovidas para

apreciarem aquela documentação...

A seguir, no mesmo dia dezessete de abril de 2.007, às 10:40 (dez horas e


quarenta minutos), iniciou-se “a pretensa reunião de julgamento e classificação das pro-
postas‟‟, após um período tão exíguo às integrantes da CPL apreciarem a habilitação dos con-
correntes (f.152, 153). Estranhamente, as mesmas que não tinham o mínimo de discernimento
jurídico para conferirem a regularidade dos documentos, depois disso, supostamente fizeram
um julgamento conforme os critérios objetivos, sem nem mesmo saberem quais eram...

Neste sentido, Hely conceitua o julgamento das propostas como sendo8:

o ato pelo qual se confrontam as ofertas, classificam-se os


proponentes e escolhe-se o vencedor, a quem deverá ser
adjudicado o objeto da licitação, para o subseqüente
contrato com a Administração. Esse julgamento não é
discricionário; é vinculado ao critério que for fixado pela
Administração, levando-se em conta, no interesse do
serviço público, os fatores qualidade, rendimento, preço,
condições de pagamento, prazos e outros pertinentes à
licitação, indicados no edital ou no convite. É o que se
denomina julgamento objetivo (art. 3° e 45).

8
MEIRELLES, Hely Lopes. Licitações e contratos administrativos. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 1.999,
p. 134-135.

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Com efeito, para tal julgamento que é um ato personalíssimo, exige-se dos
julgadores que conheçam a fundo cada tipo de licitação e os critérios fixados no ato con-
vocatório [arts. 3, 41, 45 da Lei n.° 8.666/93], algo que JEANE, Presidenta da CPL, àquela
época, não sabia e nem saberia, visto que não foi capacitada, evidenciando que ela foi
inocentemente usada pelo promovido WALDEMAR MARINHO que prevalecendo da sua
função, mandava ela colocar a sua assinatura nos documentos que eram elaborados por
KEYLLA M. LACERDA, só afirmando que “eram documentos corriqueiros às licitações
feitas pela PREFEITURA e que não continham nenhum problema (...).”

Portanto, depreendemos que a promovida JEANE A. DE MEDEIROS

não praticou uma conduta consciente e nem de má-fé, uma vez que a mesma não tinha

conhecimento do que fazia, nem muito menos, teve a intenção de descumprir algum

comando legal da Lei de Licitação, sendo certo que a mesma foi mais uma vítima do

engenho maquiavélico e ludibriador do EX-PREFEITO que a usou desavergonhadamente

sem que a referida tivesse ciência.

De certo que a demandada agiu involuntariamente, de modo a desca-

racterizar, inclusive, qualquer conduta culposa, já que para o cometimento de algum ilícito

culposo exige-se a: a) conduta voluntária, b) a previsão objetiva, c) a imprevisão subjetiva,

d) a inobservância de dever de cuidado objetivo imposto a todos, seja através da impru-

dência (precipitação), negligência (displicência) e imperícia (inabilidade).

Notavelmente, o que caracteriza a culpa, no âmbito da improbidade ad-

ministrativa, é o descumprimento consciente e com má-fé de uma obrigação jurídica, conforme

asseverou com bastante propriedade o insigne Pazzaglini Filho:

Assim, a conduta ilícita do agente público para tipificar ato


de improbidade administrativa deve ter esse traço comum
ou característico de todas as modalidades de improbidade
administrativa: desonestidade, má-fé, falta de probidade no
trato da coisa pública (...). A improbidade lesiva ao pa-
trimônio público financeiro culposa se dá quando o resul-
tado danoso involuntário, porém previsível, é conseqüência
de comportamento voluntário do agente público, denotativo
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de má-fé, pela deslealdade funcional, pelo desvio ético (falta
de probidade). Assim, a culpa civil, no âmbito da improbi-
dade administrativa, configura-se com a ação ou a omissão
do agente público, resultante de descumprimento consciente
de obrigação jurídica, por má-fé, causando involuntária-
mente resultado antijurídico que poderia ele ter evitado
(lesão ao erário), caso tivesse empregado a diligência devida
pelo seu dever de ofício [In Lei de improbidade adminis-
trativa comentada: aspectos constitucionais, administrativos, ci-
vis, criminais, processuais e de responsabilidade fiscal: legislação e
jurisprudência atualizadas. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2.009, p. 4, 63,
64]

Contudo, a demandada é uma pessoa de boa-fé que agiu involuntariamente

no caso em apreço, visto que ela não previu e nem tinha condições de prever o suposto

resultado danoso, haja vista que tinha um diminuto nível de instrução e, mormente, por ser,

àquela época, uma mera Auxiliar de Serviços Gerais, recém-ingressa no serviço público, em

estágio probatório e que foi induzida a erro pelo EX-PREFEITO que se aproveitou da

ingenuidade e da falta de discernimento jurídico dela para ludibriá-la.

Outrossim, mesmo que estivesse em seu lugar um indivíduo de nível

mediano, ainda assim, estaria sujeito à situação desconfortável pela qual passou JEANE

ARAÚJO DE MEDEIROS, pois esta não praticou uma conduta voluntária e espontânea

com manifesto discernimento do que fazia, mas o fez por indução da referida autoridade.

Neste sentido, mesmo os acurados de espírito estão sujeitos aos erros provocados por

terceiros, pois ninguém se acha imune a má-fé alheia.

Neste diapasão, é de bom alvedrio cingir-se na lição do Prof. Marcelo

Figueiredo, escritor consagrado sobre este tema, o qual trouxe os elementos básicos e essenciais

para caracterizar um ato como sendo de improbidade, senão vejamos:

1. Do latim improbitate. Desonestidade. No âmbito do


direito o termo vem associado à conduta do administrador
amplamente considerado. Há sensível dificuldade doutri-
nária em fixar-se os limites do conceito de “improbidade”.
Assim, genericamente comete maus-tratos à probidade o
agente público ou particular que infringe a moralidade
administrativa. A lei, como veremos, enumera e explicita
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situações tidas como violadoras da “probidade”. Parece ter
circunscrito a punição aos atos e condutas lá estabelecidos.
Então, associa as figuras do enriquecimento ilícito, do
prejuízo ao erário e da infringência aos princípios
constitucionais, que enumera, como causas suficientes a
tipificação das condutas tidas por atentatórias à probidade.
Entendemos que a probidade é espécie do gênero
“moralidade administrativa” a que alude, v.g., o art. 37,
caput e seu § 4º, da CF. O núcleo da probidade está
associado (deflui) ao princípio maior da moralidade
administrativa; verdadeiro norte à Administração em todas
as suas manifestações. Se correta estiver a análise, podemos
associar, como o faz a moderna doutrina do direi-
to administrativo, os atos atentatórios à probidade como
também atentatórios à moralidade administrativa. Não
estamos a afirmar que ambos os conceitos são idênticos. Ao
contrario, a probidade é peculiar e específico aspecto
da moralidade administrativa. Assim, ofensas aos princípios
da lealdade, da boa fé, da boa administração estão
igualmente contidas na lei, ao lado das situações lá descritas
como ensejadoras de punição. É dizer, a lei, quando alude à
“probidade”, determina o intérprete sacar seu conteúdo da
Constituição e da lei. Nessa direção, não nos parece crível
punir o agente público, ou equiparado, quando o ato
acoimado de improbidade é, na verdade, fruto de
inabilidade, de gestão imperfeita, ausente o elemento de
“desonestidade”, ou de improbidade propriamente dita. É
necessário ampla investigação na conduta do agente para
verificar se a ilegalidade praticada pode ou não ser
catalogada como ato de improbidade.” [FIGUEIREDO,
Marcelo. Probidade administrativa. 4a edição. São Paulo:
Malheiros, 2.000, p. 23-25].

De igual modo, preceituou o Dr. Alexandre Luis Mendonça Rollo, pois


questionou e asseverou o seguinte:
Toda violação da legalidade caracteriza ato de impro-
bidade administrativa? Entendemos que não, já que se tal
situação ocorresse, teríamos improbidade administrativa,
independentemente da natureza, da gravidade ou da dispo-
sição de espírito que levou o agente público a praticar o ato
investigado. Ilegalidade não é sinônimo de improbidade, e
sua ocorrência, por si só, não configura improbidade. A
conduta ilícita do agente público, para tipificar ato de
improbidade administrativa, deve ter o traço comum de
todas as modalidades de improbidade administrativa, que é
a desonestidade, a má-fé. E essa ausência de honestidade,
retidão e integridade, na gestão pública, para nós, pressupõe
a consciência da ilicitude da ação ou omissão praticada
[ROLLO. Alexandre Luis Mendonça. Ação de responsabilidade civil
por ato de improbidade administrativa. São Paulo: Tese de doutorado
apresentada a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC,
2.006, p. 107].

Página 26 de 35
E a ilustre escritora Maria Sylvia Zanella Di Pietro seguiu por esta mesma
senda intelectiva, afirmando que:
Mesmo quando algum ato ilegal seja praticado, é preciso
verificar se houve culpa ou dolo, se houve um mínimo de
má-fé que revele realmente a presença de um compor-
tamento desonesto. A quantidade de leis, decretos, medidas
provisórias, regulamentos, portarias torna praticamente
impossível a aplicação do velho princípio de que todos
conhecem a lei. Além disso, algumas normas admitem
diferentes interpretações e são aplicadas por servidores
públicos estranhos à área jurídica. Por isso mesmo, a
aplicação da lei de improbidade exige bom-senso, pesquisa
da intenção do agente, sob pena de sobrecarregar-se inu-
tilmente o Judiciário com questões irrelevantes, que podem
ser adequadamente resolvidas na própria esfera admi-
nistrativa [PIETRO. Maria Sylvia Zanella Di. Direito administra-
tivo. 22ª ed. São Paulo: Atlas, 2.009, p. 823-824].

Neste exato sentido, propugnou o Ex-Procurador Geral da República


Aristides Junqueira, para quem a improbidade constata-se na análise subjetiva da intenção
do agente e não no simples confronto objetivo do ato com a lei:

É essa qualificadora da imoralidade administrativa que


aproxima a improbidade administrativa do conceito de
crime, não tanto pelo resultado, mas principalmente pela
conduta cuja índole de desonestidade manifesta a
devassidão do agente. É também de José Afonso da Silva
a afirmação de que “todo ato lesivo ao patrimônio agride
a moralidade administrativa, mas nem sempre a lesão ao
patrimônio público pode ser caracterizada como ato de
improbidade administrativa, por não estar a conduta do
agente, causador da lesão, marcada pela desonestidade.”
[BUENO, Cássio Scarpinella; FILHO, Pedro Paulo de
Rezende Porto. Reflexões sobre Improbidade Administrativa
no Direito Brasileiro...São Paulo: Malheiros, 2.001, p. 88]

A jurisprudência pátria também tem perfilhado por essa orientação em


sucessivos casos, segundo pudemos aferir nos seguintes julgados acerca do corrente tema:
RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Lei 8.429/92.
AUSÊNCIA DE DOLO. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
(...) "A finalidade da lei de improbidade administrativa é punir o
administrador desonesto" (Alexandre de Moraes, in
"Constituição do Brasil interpretada e legislação
constitucional", Atlas, 2002, p. 2.611)."De fato, a lei alcança o
administrador desonesto, não o inábil, despreparado,
incompetente e desastrado" (REsp 213.994-0/MG, 1ª
Turma, Rel. Min. Garcia Vieira, DOU de 27.9.1999)."
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(REsp 758.639/PB, Rel. Min. José Delgado, 1.ª Turma, DJ
15.5.2006) (...) 5. Recurso especial provido.” [STJ, Rel. Min.
José Delgado, REsp n.º 734984/SP, 1ª T., DJ de 16.06.2008]

APELAÇÃO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPRO-


BIDADE ADMINISTRATIVA. LEI 8.429/92. INTERPRE-
TAÇÃO DE PORTARIA. ELEMENTO SUBJETIVO.
AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ DO ADMINISTRADOR PÚBLI-
CO. ATO DE IMPROBIDADE NÃO CARACTERIZADO.
A Lei 8.429/92 pune o agente público que, por ação ou
omissão, viole os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, lealdade às instituições. A má-fé é premissa do
ato ilegal e ímprobo e a ilegalidade só adquire o status de
improbidade quando a conduta fere os princípios constitu-
cionais da Administração Pública. De fato, “a lei alcança o
agente desonesto, não o inábil (REsp 213994/MG, Rel.
Ministro Garcia Vieira, DJ 27/09/1999 p. 59). [TRF-2 - AC:
200651010011304 RJ 2006.51.01.001130-4, Relator:
Desembargador Federal FERNANDO MARQUES, Data de
Julgamento: 20/10/2010, QUINTA TURMA ESPECIALI-
ZADA, Data de Publicação: E-DJF2R - Data: 08/11/2010 -
Página: 327].

Em razão disso, temos que, à reprovabilidade do agente, tem que se levar


em conta a capacidade dele compreender a ilicitude da sua ação e de agir de acordo com
esse entendimento, consoante dispôs o tratadista Zaffaroni em suas palavras incontestáveis:
Não se pode exigir de todos o mesmo grau de compreensão
da antijuridicidade. Há casos em que a exigência é maior do
que em outros. Isto depende do esforço que o sujeito devesse
fazer para compreender– internalizar– a norma. Circuns-
tâncias pessoais e sociais, ou mesmo uma combinação de
ambas, nos revelarão o grau de esforço do sujeito, que
estará sempre em relação inversa com a reprovabilidade:
quanto maior for o esforço que o sujeito deva fazer para
internalizar a norma, menor será a reprovabilidade de sua
conduta, e vice-versa [ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERAN-
GELI, José Henrique. Direito penal brasileiro: parte geral. 4. ed.
rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2.002, p. 621].

Entretanto, no caso em apreço, aferiu-se que a demandada JEANE A. DE


MEDEIROS nem teve a consciência, nem a intenção de prejudicar o Erário Público e nem
agiu voluntariamente no referido procedimento licitatório, já que foi vítima do engodo e da
artimanha do Ex-Gestor que se aproveitando da inexperiência dela, a fez participar da CPL
mesmo sabendo que ela não tinha aptidão e, depois, passou a ordená-la que colocasse a sua
assinatura em documentos que, segundo WALDEMAR MARINHO, “eram corriqueiros
às licitações feitas pela PREFEITURA e sem nenhum problema (...)”, quando o que se
sucedeu, na realidade, foi diverso daquilo apregoado pelo mesmo.

Página 28 de 35
Ademais, o simples fato de JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS ter par-

ticipado da referida CPL não pode dá ensejo à condenação da promovida, uma vez que o

nosso sistema legal, no concernente à LIA, não chancela a responsabilidade objetiva. Neste

exato diapasão é a irrepreensível lição do saudoso Hely Lopes Meirelles, atualizada por

Arnoldo Wald e pelo Ministro Gilmar Mendes:

Embora haja quem defenda a responsabilidade civil objetiva


dos agentes públicos em matéria de ação de improbidade
administrativa, parece-nos que o mais acertado é reconhecer a
responsabilidade apenas na modalidade subjetiva. Nem sempre
um ato ilegal será um ato ímprobo. Um agente público
incompetente, atabalhoado ou negligente não é necessáriamen-
te um corrupto ou desonesto. O ato ilegal, para ser caracteri-
zado como ato de improbidade, há de ser doloso ou, pelo
menos, de culpa gravíssima. [In Mandado de Segurança, 26ª
ed. São Paulo: ed. Malheiros, 2004, p. 210-211].

Neste mesmo sentido, asseverou em termos precisos o insigne Prof.


Fábio Medina Osório, consoante podemos constatar:
A responsabilidade subjetiva, no bojo do tipo proibitivo, é
inerente à improbidade administrativa, sendo exigíveis o
dolo ou a culpa grave, embora haja silêncio da LIA sobre o
assunto. Isto se dá, como já dissemos à exaustão, por força
dos textos constitucionais que consagram responsabilida-
des subjetivas dos agentes públicos em geral, nas ações
regressivas, e que contemplam o devido processo legal, a
proporcionalidade, a legalidade e a interdição à arbitrarieda-
de dos Poderes Públicos no desempenho de suas funções
sancionatórias. Portanto, a improbidade administrativa
envolve, modo necessário, a prática de condutas grave-
mente culposas ou dolosas, inadmitindo responsabilidade
objetiva9.

9
OSÓRIO, Fábio Medina. Teoria da improbidade administrativa, São Paulo: RT, 2007, p. 291. No
mesmo sentido: JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo, 4ª ed., São Paulo: Saraiva,
p. 889 e ss.; PAZZAGLINI FILHO, Marino. Lei de Improbidade Administrativa Comentada, 3ª ed.,
São Paulo: Atlas, 2006, p. 60 e ss.; FIGUEIREDO, Marcelo. Probidade Administrativa, 5ª ed., São
Paulo: Malheiros, 2004, p. 102 e ss.; SANTOS, Carlos Frederico Brito dos. Improbidade
Administrativa, 2ª ed., Forense, 2007, p. 92; PORTO NETO, Benedicto Pereira e PORTO FILHO,
Pedro Paulo de Rezende. “Violação ao Dever de Licitar e a Improbidade Administrativa”. Improbidade
Administrativa: questões polêmicas e atuais, São Paulo: Malheiros, 2003, p. 96 e ss.; DINAMARCO,
Pedro da Silva. “Requisitos para a Procedência das Ações por Improbidade Administrativa”.
Improbidade Administrativa: questões polêmicas e atuais, São Paulo: Malheiros, 2003, p. 332 e ss.; DI
PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, 21ª ed., São Paulo: Atlas, 2008, p. 783;
ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo: Tutela de Direitos Coletivos e Tutela Coletiva de
Direitos, 2ª ed., São Paulo: RT, p. 117.

Página 29 de 35
Além disso, a jurisprudência pátria também perfilhou pela mesma senda
intelectiva, pois, assim decidiu o eg. Superior Tribunal de Justiça:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.


CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE SERVIDOR
PÚBLICO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LEI
8.429/92. SUJEIÇÃO AO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE.
(...) 2. Nem todo o ato irregular ou ilegal configura ato de
improbidade, para os fins da Lei 8.429/92. A ilicitude que
expõe o agente às sanções ali previstas está subordinada ao
princípio da tipicidade: é apenas aquela especialmente
qualificada pelo legislador. 3. As condutas típicas que
configuram improbidade administrativa estão descritas
nos arts. 9º, 10 e 11 da Lei 8.429/92, sendo que apenas para
as do art. 10 a lei prevê a forma culposa. Considerando
que, em atenção ao princípio da culpabilidade e ao da
responsabilidade subjetiva, não se tolera responsabilização
objetiva e nem, salvo quando houver lei expressa, a
penalização por condutas meramente culposas, conclui-se
que o silêncio da Lei tem o sentido eloqüente de
desqualificar as condutas culposas nos tipos previstos nos
arts. 9.º e 11. 4. Recurso especial a que se nega provimento
[STJ, 1ª T., 1ª Turma, REsp 751.634/MG, Rel. Min. Teori
Albino Zavascki, DJ de 2/8/2007, p. 353]10.

A responsabilidade na modalidade objetiva é a exceção e há de vir,

sempre, expressamente prevista no diploma legal. É assim quando a Constituição estabelece

a responsabilidade objetiva do Estado pelos danos que as ações de seus agentes, nesta

qualidade, causem a terceiros (CF, art. 37, §6º) ou quando o Código Civil estabelece a

responsabilidade solidária dos pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e

em sua companhia (CCB, art. 932, I).

10
No mesmo sentido, os seguintes acórdãos, também da 1ª Turma: REsp 799.511/SE, Rel. Min. Luiz
Fux, DJe de 13/10/2008; REsp 727.131/SP, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 23/04/2008; REsp 965.671/RS,
Rel. Min. José Delgado, DJe de 23/4/2008; REsp 734.984/SP, Rel. Min. José Delgado, Rel. p/ Acórdão
Min. Luiz Fux, DJe de 16/6/2008; REsp 758.639/PB, Rel. Min. José Delgado, DJ de 15/5/2006; REsp
940.629/DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe de 4/9/2008; REsp 939.142/RJ, Rel. Min. Rel. p/
Acórdão Min. Luiz Fux, DJe de 10/4/2008; REsp 604.151/RS, Rel. Min. José Delgado, Rel. p/ Acórdão
Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 8/6/2006.

Página 30 de 35
Por outro lado, é extremamente desproporcional que as integrantes da
CPL, mormente JEANE ARAUJO DE MEDEIROS e SANDRA ARAÚJO, àquela época,
recém-ingressas no serviço público e em estágio probatório e, conseqüentemente, leigas em
Direito Administrativo e procedimentos licitatórios, estejam sendo o foco das atenções da
Justiça, enquanto a Sra. KEYLLA MEDEIROS LACERDA sequer foi ouvida no inquérito
aberto pelo representante do Órgão Ministerial, a fim de prestar esclarecimentos, ou
mesmo, responder por seus atos correlacionados àquele certame.

Deveras, a Sra. KEYLLA M. LACERDA era quem auxiliava a CPL,


elaborando a documentação das licitações de VÁRZEA, naquele ínterim, segundo aferimos
no depoimento de SANDRA, acompanhado e subscrito pelo próprio PROCURADOR
daquele Município (f. 288). De fato, ela era a Assessora Jurídica da CPL de VÁRZEA/PB
naquele período, de maneira que orientava juridicamente esta comissão, assim como,
elaborava a documentação necessária aos certames. Outrossim, KEYLLA foi a testemunha
do contrato daquela licitação em 2.007 (f. 203).

Todavia, na condição de Bacharela, mormente como Estagiária inscrita na


OAB “n° 9247E?” (doc. 05), a mesma não poderia efetuar isoladamente, desacompanhada de
advogado, atos de assessoria ou de consultoria jurídica, nem mesmo receber a nomenclatura
de Assessora ou Consultora Jurídica, visto que tais funções são privativas dos Bacharéis que
se submeteram e que foram aprovados no Exame da Ordem dos Advogados, inserindo-se,
assim, na militância jurídica, sob a supervisão da referida entidade, conforme dispõe o art.
1º, inciso II, art. 3º, § 2º e art. 8º, do EAOAB, c/c com o art. 29 do Regulamento Geral do
Estatuto da OAB, sob pena de violar o art. 34, inciso XXIX do EAOAB.

Neste sentido, o Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/SP já decidiu:


EXERCÍCIO DA PROFISSÃO-ASSESSORIA E CONSULTORIA
JURÍDICAS PRESTADAS POR BACHAREL EM DIREITO E
ESTAGIÁRIO-IMPOSSIBILIDADE.
1 - Os cursos jurídicos não formam advogados, mas somente
bacharéis em direito, que, para habilitarem-se profissio-
nalmente, são obrigados a inscrever-se na OAB, cumprindo
as exigências definidas no artigo 8º do Estatuto, para só
então serem autorizados a exercer as atividades da advo-
cacia e utilizar-se da denominação de advogado, que é
privativa dos inscritos na Ordem (artigo 3º do Estatuto).
Portanto, o bacharel em direito não pode sob qualquer
hipótese prestar assessoria e consultoria jurídicas, que são
atividades privativas da advocacia (artigo 1º, II, do
Estatuto), sob pena de cometer crime de exercício ilegal da
profissão (Regulamento Geral – artigo 4º). 2 - O estagiário,
Página 31 de 35
mesmo que devidamente inscrito, também não poderá
prestar assessoria e consultoria jurídicas, a não ser que o
faça em conjunto com advogado e sob a responsabilidade
deste (art. 3º, § 2º, do Estatuto) [...] Proc. E-3.011/2004 – v.u.,
em 19/08/2004, do parecer e ementa do Rel. Dr. Guilherme
Florindo Figueiredo – Rev. Dr. Zanon de Paula Barros –
Presidente Dr. João Teixeira Grande”.

Destarte, pelo princípio da isonomia processual, é de bom alvitre que o


Douto Magistrado determine a citação da Sra. KEYLLA M. LACERDA, para que a mesma
se pronuncie sobre tudo isso, haja vista que a sua não inclusão, no pólo passivo da demanda,
ferirá um valor basilar que norteia o nosso Sistema Jurídico Processual, vindo a soar como
seletiva e excludente a presente ação, mormente em detrimento dos demais promovidos do
concernente processo.

Por fim, a demandada JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS, mais uma


vez, vem reafirmar a sua total inocência, conforme ficou evidenciado pelas provas que
foram colacionadas. Não resta dúvida de que a mesma é uma pessoa de excelente caráter,
conduta ilibada e pertencente a uma família rural de Várzea honrada sob todos os aspectos,
não merecendo, de forma alguma, ser vista como suspeita ou malfeitora, quando, na rea-
lidade, tais atributos deveriam ser imputados a quem realmente deu causa à suposta fraude à
licitação ocorrida no Município de Várzea/Pb.

Em verdade, a promovida não participou de quaisquer conluios, nem tinha


conhecimento técnico-jurídico sobre o que assinava naquele fatídico ano de 2.007, nem
praticou quaisquer atos intencionais ou desidiosos voluntários que atentassem contra o
patrimônio público, nem auferiu dividendos espúrios com o referido certame licitatório,
configurando-se numa mera Auxiliar de Serviços Gerais, possuidora de um grau de instrução
diminuto e que foi manietada pelo EX-PREFEITO que usou de expediente comezinho
para ludibriá-la desavergonhadamente.

Portanto, consoante se depreendeu, a promovida foi uma vítima nas mãos


do EX-GESTOR que a enganou sorrateiramente, sendo que ele foi quem de fato conduziu
todo o arranjo licitatório em favor daquela empresa, juntamente, com o Engenheiro de Minas,
o Sr. JOSÉ IVALDO DE MORAIS que manifestou uma atitude proativa em favor da
WALLACE, com a qual mantinha uma estreita ligação, segundo relatou no seu depoimento
(f. 257), tendo promovido, com isso, interesse privado espúrio desta empreiteira junto a
PREFEITURA MUNICIPAL DE VÁRZEA/PB.

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Deveras, o concernente Engenheiro foi acusado pelo representante do

Órgão Ministerial de ter:

A responsabilidade intelectual por engendrar e arquitetar


toda a fraude licitatória (...). Em verdade, JOSÉ IVALDO
era o responsável pelo acompanhamento das obras reali-
zadas em parceria entre a WALLACE E A HYDROGEO, atu-
ando junto à prefeitura para maquiar todo o procedimento
licitatório e, em um segundo momento, acompanhando a
execução.

Efetivamente, o Sr. JOSÉ IVALDO foi o grande mentor e articulador do


certame em foco, porquanto ele já tinha o conhecimento prévio com os empresários do
ramo, notadamente, com a construtora que se sagrou vencedora naquele certame, para a qual,
já vinha realizando projetos e acompanhando a perfuração de poços anteriormente, segundo
relatou em seu depoimento (f. 257), além de possuir um vínculo político com o EX-
PREFEITO WALDEMAR MARINHO FILHO, inclusive, integrando o mesmo partido e a
base política deste na CÂMARA DE VEREADORES (doc.04).

Com isso, ele aproveitou-se do ensejo para engendrar o procedimento


licitatório em comento, patrocinando interesse privado perante a Administração Pública,
segundo confirmou ANTÔNIO MILITÃO em seu depoimento à RFB (f. 238). JOSÉ
IVALDO também teria frustrado o caráter competitivo daquele certame (art. 90 da Lei
8.666/93), com a utilização de empresas fantasmas e a falsificação da assinatura de um
representante delas, segundo asseverou o MARCOS TADEU SILVA (ff. 270/271), de
modo que vem respondendo por isso junto ao TRF11.

Outrossim, ele olvidou do seu mister de Vereador, na qualidade de Fiscal


daquela Edilidade, pois descurou da fiscalização ou nem a efetuou, o que é pior. Realmente,
como Vereador do MUNICÍPIO DE VÁRZEA/PB, era da sua estrita incumbência zelar
pela vigilância do Erário Público, conforme dispõe o art. 31 da nossa Constituição Federal:
A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante
controle externo (...).”

11
Processo n.° 0004570-96.2013.4.05.0000

Página 33 de 35
De certo que ele sabia que a empresa WALLACE não tinha maquinário e
que terceirizava os serviços de perfuração para outrem, conforme disse em seu depoimento
colacionado pelo representante do MPF (f.282-283). Outrossim, ele deixou claro que também
efetivava trabalhos para a referida empresa, inclusive, recebendo remuneração pelos serviços
prestados (ff.282-283). Logo, ele tinha uma ligação com a referida empresa, o que o impedia de
prestar serviços em VÁRZEA, e também era ciente de que aquela construtora não tinha
capacidade operacional para estar executando serviços nesta localidade.

Portanto, como Fiscal da Edilidade, na condição de Vereador, era da sua


estrita incumbência, a obrigação de alertar o MUNICÍPIO DE VÁRZEA de que a empresa
supracitada não detinha nem pessoal, nem maquinário e que seria contraproducente a sua
contratação à perfuração dos cinco poços, visto que sabia, previamente disso tudo, além da
sua estreita relação profissional com a referida empreiteira (f.257), mas manteve-se silente
sobre o caso, promovendo interesse privado espúrio perante a Administração Pública,
além de usar empresas de fachada e falsificar a assinatura do representante de uma delas
no referido certame, segundo asseverou Marcos Tadeu Silva em seu depoimento (ff. 270,
271), o que feriu os célebres princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade e
moralidade administrativa [art. 37 da CF].

A posteriori, o Sr. JOSÉ IVALDO DE MORAIS teria acompanhado a


perfuração dos poços da empresa licitante vencedora, com a qual, mantinha um estreito laço
colaborativo, sendo remunerado, por tal serviço em VÁRZEA, pelo ANTÔNIO MILITÃO,
conforme declaração deste último à RFB (f. 238). E depois disso, quando Prefeito, em 2.009,
assinou o Termo Aditivo de n° 4 de 20 de abril que prorrogou, por mais 90 (noventa) dias,
o prazo para a execução do contrato que ele sabia ser manifestamente irregular, ensejando a
liberação, em 23 de abril, pela FUNASA, da última parcela dos valores devidos à empreiteira,
segundo aferimos no processo (f.108), o que ressaltou, ainda mais, a sua relação promíscua
com aquele empresário supracitado.

V-CONCLUSÃO

Destarte, estas foram as matizes do referido caso. Assim sendo, é medida da

mais justa e acertada, a absolvição de JEANE ARAÚJO DE MEDEIROS, pois ela foi uma

vítima deste sórdido esquema de fraude à licitação montado pelos demandados WALDEMAR

MARINHO FILHO, JOSÉ IVALDO DE MORAIS E PELAS EMPRESAS LICITANTES,

Página 34 de 35
contando com o suporte jurídico da Sra. KEYLLA M. LACERDA. Então, por tudo o que

foi exposto, requer-se:

a) o acolhimento da preliminar de mérito concernente a integração no pólo passivo da


demanda da Sra. KEYLLA MEDEIROS LACERDA, pois ela auxiliou jurídica-
mente a CPL e foi quem de fato elaborou a documentação referente àquela
licitação, mormente, a CARTA CONVITE 017/2.007;
b) a improcedência da referida ação com relação a demandada JEANE ARAUJO DE
MEDEIROS, visto que ela não teve qualquer participação volitiva no caso em
apreço, nem agiu de modo consciente e nem de má-fé, sendo mais uma vítima do
concernente esquema de fraude à licitação ocorrido em VÁRZEA/PB;
c) outrossim, requer a produção de todas as provas admitidas em direito como forma de
comprovar a sua inocência no presente caso.

Nestes termos,
Pede e aguarda deferimento.
Patos/PB, 03 de fevereiro de 2.015.

________________________________________________________
ALEXSANDRO WAGNER DE ARAÚJO FERNANDES
OAB/PB: 12.922

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