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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 883.

776 RORAIMA

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


RECTE.(S) : MUNICÍPIO DE BOA VISTA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR GERAL DO MUNICÍPIO DE BOA
VISTA
RECDO.(A/S) : SINDICATO DOS TRABALHADORES MUNICIPAIS
DE BOA VISTA
ADV.(A/S) : SILAS CABRAL DE ARAÚJO FRANCO E
OUTRO(A/S)

Decisão:
Vistos.
Município de Boa Vista interpõe recurso extraordinário, com
fundamento na alínea “a” do permissivo constitucional, contra acórdão
do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima, assim ementado:

“DISSÍDIO COLETIVO DE GREVE – AÇÃO


ORIGINÁRIA – DIREITO ADMINISTRATIVO – SINDICATO
PARTE ILEGÍTIMA PARA DEFLAGRAÇÃO DO
MOVIMENTO PAREDISTA – AUSÊNCIA DE AVISO ÀS
AUTORIDADES INTERESSADAS DENTRO DO LAPSO
TEMPORAL DE 48 HORAS – ATENTADO À SEGURANÇA
DOS DEMAIS SERVIDORES E PATRIMÔNIO PÚBLICO
MUNICIPAL – INOCORRÊNCIA. PEDIDOS
IMPROCEDENTES CONSONÂNCIA COM PARECER
MINISTERIAL.
1) O Direito à greve do servidor público tem amparo e
status constitucional.
2) O inciso VII, do artigo 37, da Constituição Federal, com
a redação dada pela Emenda Constitucional 19/98, exige que o
direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos
em lei específica.
3) Em face de omissão legislativa o Supremo Tribunal
Federal, julgando Mandado de Injunção, reconheceu a
aplicação da Lei n° 7.783, de 28 de junho de 1989, no que
couber. (MI 712 / PA – PARÁ, MANDADO DE INJUNÇÃO,
Relator(a): Min. EROS GRAU, Julgamento: 25/10/2007, Órgão

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RE 883776 / RR

Julgador: Tribunal Pleno)


4) Coerente com a Lei n° 7.783, de 28 de junho de 1989, o
aviso prévio de greve deve ser fornecido com antecedência
mínima de 48 horas ao sindicato patronal ou aos empregadores,
sendo de serviços essenciais a antecedência passa para 72 horas.
In casu greve foi deflagrada dentro do prazo exigido pela lei.
5) A legitimidade para a instauração da greve cabe ao
sindicato em assembleia geral. No artigo 37, incio VI, a
Constituição Federal esta garantido ao servidor público civil o
direito à livre associação sindical. “[...] O Poder Público, tendo
em vista o preceito constitucional proibitivo, exerce mera
fiscalização.” (RE 157940 / RECURSO EXTRAORDINÁRIO,
Rel. Ministro MAURÍCIO CORRÊA, j.: 03/11/1997, T2, DJ 27-03-
1998).
6) O Direito à greve abrange passeatas e piquetes
pacíficos, panfletagem/propaganda, reivindicações em geral,
inclusive com coleta de fundos, “operação tartaruga”,
“cumprimento estrito do dever”, “não colaboração”, dentre
outros.
7) A parte autora não logrou êxito ao apresentar
argumentos e provas de danos ao patrimônio público
municipal e aos demais servidores que não faziam parte da
paralisação.
8) Pedidos improcedentes, em consonância com parecer
ministerial (fls. 156/166)”.

No recurso extraordinário, sustenta-se violação do artigo 8º, incisos I


e II, da Constituição Federal, argumentando que o sindicato interlocutor
das reivindicações não possui legitimidade para representar os servidores
municipais por não estar devidamente registrado no Ministério do
Trabalho e Emprego.
Decido.
Merece prosperar a irresignação, haja vista que o acórdão recorrido
não está em sintonia com a orientação jurisprudencial fixada por esta
Corte, no sentido de ser o registro do Sindicato no Ministério do Trabalho

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e Emprego o ato que legitima a entidade sindical à representação de


determinada categoria. Nesse sentido, anote-se:

“CONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REGISTRO


SINDICAL. OBSERVÂNCIA DO POSTULADO DA
UNICIDADE SINDICAL. 1. É indispensável o registro sindical
perante o Ministério do Trabalho e Emprego para a
representação de determinada categoria, tendo em vista a
necessidade de observância ao princípio da unicidade sindical.
Precedente. 2. Agravo regimental improvido” (AI nº
789.108/BA-AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen
Gracie , DJ de 28/10/10).

“AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO. AÇÃO


CIVIL PÚBLICA PROPOSTA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
DO TRABALHO. RECLAMAÇÃO AJUIZADA NO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO
REGIMENTAL DE DECISÃO DE RELATOR. ARTIGO 8º,
INCISOS I, II E III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE DO SINDICATO PARA
ATUAR PERANTE A SUPREMA CORTE. AUSÊNCIA DE
REGISTRO SINDICAL NO MINISTÉRIO DO TRABALHO E
EMPREGO. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DO
POSTULADO DA UNICIDADE SINDICAL. LIBERDADE E
UNICIDADE SINDICAL. 1. Incumbe ao sindicato comprovar
que possui registro sindical junto ao Ministério do Trabalho e
Emprego, instrumento indispensável para a fiscalização do
postulado da unicidade sindical. 2. O registro sindical é o ato
que habilita as entidades sindicais para a representação de
determinada categoria, tendo em vista a necessidade de
observância do postulado da unicidade sindical. 3. O postulado
da unicidade sindical, devidamente previsto no art. 8º, II, da
Constituição Federal, é a mais importante das limitações
constitucionais à liberdade sindical. 4. Existência de
precedentes do Tribunal em casos análogos. 5. Agravo
regimental interposto por sindicato contra decisão que

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indeferiu seu pedido de admissão na presente reclamação na


qualidade de interessado. 6. Agravo regimental improvido”
(RCL nº 4.990/PB, Tribunal Pleno, Relatora a Ministra Ellen
Gracie , DJ de 27/3/09).

Essa é a orientação da Súmula nº 677 desta Corte, in verbis :

“Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao


Ministério do Trabalho proceder ao registro das entidades
sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade.”

No mesmo sentido, ainda, as seguintes decisões monocráticas: RE nº


828.165/MG, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJ de 3/12/10, AI nº
765.720/SP, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ de 26/4/10, e AI nº
594.597/MG, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJ de 11/12/09.
Ante o exposto, nos termos do artigo 557, § 1º-A, do Código de
Processo Civil, conheço do recurso extraordinário e lhe dou provimento.
Publique-se.
Brasília, 26 de maio de 2015.

Ministro DIAS TOFFOLI


Relator
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