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Documento assinado via Token digitalmente por PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA ANTONIO AUGUSTO BRANDAO DE ARAS, em 24/01/2023 19:44.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

RECLAMAÇÃO 56.194/DF
RELATOR: MINISTRO DIAS TOFFOLI
RECLAMANTE: ASSOCIAÇÃO DOS PROFISSIONAIS CONCURSADOS NAS
CARREIRAS UNIVERSITÁRIAS E TECNOLÓGICAS NO
SERVIÇO PÚBLICO MUNICIPAL DE GUARULHOS
ADVOGADO: LEANDRO CAETANO DOS SANTOS
RECLAMADO: TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO
BENEFICIÁRIO: MUNICÍPIO DE GUARULHOS
PARECER AJT/PGR Nº 40119/2023

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RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL. ADPF 53/PI,
149/DF E 171/MA. ART. 5º DA LEI 4.950-A/1966.
PISO SALARIAL FIXADO EM MÚLTIPLOS DE
SALÁRIO-MÍNIMO. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988. CONGELAMENTO DA BASE
DE CÁLCULO. AUSÊNCIA DE ADERÊNCIA
ESTRITA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO.
1. O STF apreciou conjuntamente as ADPFs 53/PI,
149/DF e 171/MA, todas da relatoria da Ministra
Rosa Weber, julgando parcialmente procedente o
pedido formulado, “para atribuir interpretação
conforme a Constituição ao art. 5º da Lei nº
4.950-A/1966, de modo a congelar a base de cálculo dos
pisos profissionais nele fixados na data da publicação da
ata do presente julgamento”. Atingiu a compreensão de
que a fixação do piso salarial em múltiplos do salário
mínimo mostra-se compatível com o texto
constitucional, desde que não ocorra vinculação a
reajustes futuros.

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2. No ato reclamado inexiste posição afirmativa da


não recepção do art. 5º da Lei 4.950-A/1966 pela
Constituição Federal de 1988. A Oitava Turma do
TST deliberou apenas que o preceito legal “não é
aplicável ao servidor público da Administração Pública
Direta, autárquica ou fundacional, ainda que contratado
sob a égide da CLT”. Apoiou-se na jurisprudência
interna que mira o princípio da legalidade – estrita e
orçamentária –, de destacada incidência na Função
Pública, aduzindo que a “remuneração somente pode
ser fixada ou alterada por meio de lei específica, e também

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por ser vedada a instituição de vantagem sem expressa
autorização legal e prévia dotação orçamentária, nos
termos do art. 37, X, e 169 da Constituição Federal”.
3. O cotejo entre o ato reclamado e a decisão
paradigma denota a ausência da aderência estrita
necessária à admissibilidade da reclamação.
4. É incabível reclamação quando ausente aderência
estrita entre a decisão paradigma e o ato reclamado.
— Parecer pela negativa de seguimento da
reclamação.

Excelentíssimo Senhor Ministro Dias Toffoli,

Trata-se de reclamação em que se pleiteia cassação do acórdão

proferido pela 8ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho, que decidiu pela

inaplicabilidade do piso salarial profissional estabelecido na Lei 4.950-A/1966

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a servidores públicos da Administração Pública Direta, autárquica ou

fundacional, ainda que contratado sob a égide da CLT.

Alega transgredidos os comandos proferidos no julgamento das

ADPFs 53/PI, 149/DF e 171/MA.

Esclarecimentos prestados pela autoridade reclamada às fls. 981-992.

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Contestação à reclamação constitucional apresentada pelo

Município de Guarulhos às fls. 999/1017.

Vieram os autos à Procuradoria-Geral da República, para parecer.

Em síntese, é o relatório.

A reclamante demandou na Justiça do Trabalho que o Município de

Guarulhos implementasse o piso salarial previsto na Lei 4.950-A/1966 aos

empregados engenheiros.

Houve insucesso em todo o transcurso processual, culminando com

o pronunciamento da 8ª Turma do TST, que negou provimento ao agravo de

instrumento em recurso de revista, conforme ementa (fl. 961):

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AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


DA ASSOCIAÇÃO AUTORA, INTERPOSTO NA VIGÊNCIA
DA LEI 13.467/2017
1 - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA
DE OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM FACE
DO ACÓRDÃO DO TRIBUNAL REGIONAL. PRECLUSÃO.
SÚMULAS 184 E 297, II, DO TST. PREJUDICADO O EXAME
DA TRANSCENDÊNCIA. No caso dos autos, não foram opostos
embargos de declaração em face do acórdão do Tribunal Regional
proferido no julgamento do recurso ordinário, restando, portanto,
preclusa a insurgência da agravante, no aspecto, a teor das Súmulas

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184 e 297, II, do TST. Agravo de instrumento não provido.
2 - DIFERENÇAS SALARIAIS. SALÁRIO PROFISSIONAL.
SERVIDOR PÚBLICO CELETISTA DA ADMINISTRAÇÃO
DIRETA MUNICIPAL. INAPLICABILIDADE DA LEI
4.950-A/1966. TRANSCENDÊNCIA AUSENTE. A
jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que o
salário profissional previsto na Lei 4.950-A/66 não é aplicável
ao servidor público da Administração Pública Direta,
autárquica ou fundacional, ainda que contratado sob a égide
da CLT, pois sua remuneração somente pode ser fixada ou
alterada por meio de lei específica, e também por ser vedada a
instituição de vantagem sem expressa autorização legal e
prévia dotação orçamentária, nos termos do art. 37, X, e 169
da Constituição Federal. Agravo de instrumento não provido.
(AIRR-1001296-67.2020.5.02.0322, 8ª Turma, Rel. Min. Delaide
Alves Miranda Arantes, DEJT 9.9.2022) – Grifo nosso.

A reclamante sustenta que o pronunciamento do TST contraria o

deliberado pela Suprema Corte nas ADPFs 53/PI, 149/DF e 171/MA, em

especial o dispositivo resultante do julgamento dos Embargos de Declaração

na ADPF 53/PI (Rel. Min. Rosa Weber, DJe-137, de 12.7.2022):

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Ao negar-se a aplicar o piso profissional previsto no artigo 5º da LF


4.950-A/1966 aos filiados à Reclamante que são servidores públicos
regidos pela CLT ou que eram regidos pela CLT nos 5 anos que
antecederam à distribuição da RECLAMAÇÃO TRABALHISTA Nº
1001296-67.2020.5.02.0322, a r. 8ª TURMA DO E. TRT DA 2ª
REGIÃO violou decisão deste C. STF, exarada no bojo da ADPF 53
(…).

A reclamação constitucional prevê a necessidade de aderência estrita do

objeto do ato reclamado ao conteúdo da decisão paradigma como requisito para a

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sua admissibilidade, nos termos dos arts. 102, I, “l”, 103-A, § 3º, da Constituição

Federal, e art. 988, II e § 4º, do CPC, exigindo-se, portanto, o ajuste exato entre o

ato questionado e o julgado reputado paradigma, para que seja possível a análise

de mérito.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal posiciona a aderência

estrita como requisito de admissibilidade da reclamação constitucional. Exemplo:

Agravo regimental na reclamação. Aderência estrita do objeto do ato


reclamado ao conteúdo do paradigma. Ausência. Reclamação
utilizada como sucedâneo recursal. Agravo regimental ao qual se
nega provimento.
1. A aderência estrita do objeto do ato reclamado ao conteúdo
do paradigma é requisito de admissibilidade da reclamação
constitucional.
2. A reclamação não pode ser utilizada como sucedâneo recursal.
3. Agravo regimental não provido
(Rcl 25.721 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Segunda Turma, DJe-
104, de 19.5.2017) – Grifo nosso.

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A Lei 4.950-A/1966, que dispõe sobre a remuneração de profissionais

diplomados em Engenharia, Química, Arquitetura, Agronomia e Veterinária, no

art. 5º prevê o piso salarial para os referidos profissionais:

Art. 5º Para a execução das atividades e tarefas classificadas na


alínea a do art. 3º, fica fixado o salário-base mínimo de 6 (seis) vezes
o maior salário-mínimo comum vigente no país, para os profissionais
relacionados na alínea a do art. 4º, e de 5 (cinco) vezes o maior
salário-mínimo comum vigente no País, para os profissionais da

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alínea b do art. 4º.

O STF apreciou conjuntamente as ADPFs 53/PI, 149/DF e 171/MA,

todas da relatoria da Ministra Rosa Weber, julgando parcialmente procedente o

pedido formulado, “para atribuir interpretação conforme a Constituição ao art. 5º da

Lei nº 4.950-A/1966, de modo a congelar a base de cálculo dos pisos profissionais nele

fixados na data da publicação da ata do presente julgamento”.1 Atingiu a compreensão

de que a fixação do piso salarial em múltiplos do salário-mínimo mostra-se

compatível com o texto constitucional, desde que não ocorra vinculação a

reajustes futuros.

No ato reclamado inexiste posição afirmativa da não recepção do art. 5º

da Lei 4.950-A/1966 pela Constituição Federal de 1988. Tampouco impôs

1 ADPF 53 MC-Ref, Rel. Min. Rosa Weber, Tribunal Pleno, DJe-52, de 18.3.2022.

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entendimento antagônico, por suposta incompatibilidade com o Diploma Maior,

à fixação de piso salarial em múltiplos do salário-mínimo.

A Oitava Turma do TST deliberou apenas que o preceito legal “não é

aplicável ao servidor público da Administração Pública Direta, autárquica ou fundacional,

ainda que contratado sob a égide da CLT”. Apoiou-se na jurisprudência interna que

mira o princípio da legalidade – estrita e orçamentária –, de destacada incidência

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na Função Pública, aduzindo que a “remuneração somente pode ser fixada ou alterada

por meio de lei específica, e também por ser vedada a instituição de vantagem sem expressa

autorização legal e prévia dotação orçamentária, nos termos do art. 37, X, e 169 da

Constituição Federal”.

O cotejo entre o ato reclamado e a decisão paradigma denotam a

ausência da aderência estrita necessária à admissibilidade da reclamação.

A jurisprudência do STF consolidou-se no sentido da necessidade de

máximo rigor na verificação dos pressupostos específicos da reclamação 2.

Exige-se o ajuste exato entre o ato questionado e os julgados reputados

paradigmas, algo que não se verifica no presente caso.

2 STF, Rcl 24.176 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, Segunda Turma, DJe nº 171, de
22.8.2018; STF, Rcl 29.178 AgR/GO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, Primeira Turma,
DJe nº 153, de 1º.8.2018; STF, Rcl 21.030 AgR/GO, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira
Turma, DJe nº 157, de 6.8.2018.

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Em face do exposto, o PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

opina pela negativa de seguimento da reclamação.

Brasília, data da assinatura digital.

Augusto Aras
Procurador-Geral da República
Assinado digitalmente

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[CMPGS/RANB]

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