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RECURSO ESPECIAL Nº 2020817 - RS (2022/0125377-3)

RELATORA : MINISTRA REGINA HELENA COSTA


RECORRENTE : CARRER ALIMENTOS LTDA
ADVOGADO : JOÃO JOAQUIM MARTINELLI - RS045071
RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL

DECISÃO

Vistos.
Trata-se de Recurso Especial interposto por CARRER ALIMENTOS LTDA
contra acórdão prolatado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim
ementado (fl. 217e):

CONTRIBUIÇÃO PARA O PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL


(PIS). LEI Nº 10.637, DE 2002. CONTRIBUIÇÃO PARA O
FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL (COFINS). LEI Nº 10.833,
DE 2003. REGIME NÃO-CUMULATIVO. DEDUÇÕES DA BASE DE
CÁLCULO.
Não tem o contribuinte o direito de deduzir créditos de PIS e COFINS, no
âmbito do regime não-cumulativo, das comissões que paga aos seus
representantes comerciais, porque tais custos constituem despesa
operacional, e não insumo.

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados (fls. 247/250e).


Com amparo no art. 105, III, a, da Constituição da República, a Recorrente
aponta, além de omissão no julgado, ofensa a dispositivos legais, alegando, em
síntese, o direito "de promover o creditamento da PIS/COFINS em relação às despesas
incorridas com comissões pagas aos seus representantes comerciais, conforme artigos
3º, II, das leis 10.637/02 e10.833/03" (fl. 285e).
Com contrarrazões, o recurso foi inadmitido, tendo sido interposto Agravo,
posteriormente convertido em Recurso Especial (fl. 463e).
O Ministério Público Federal manifestou-se às fls. 457/461e.
Feito breve relato, decido.
Por primeiro, consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão
realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela data da publicação
do provimento jurisdicional impugnado. Assim sendo, in casu, aplica-se o Código de
Processo Civil de 2015.
Nos termos do art. 932, III, do Código de Processo Civil de 2015, combinado

Edição nº 0 - Brasília, Publicação: quarta-feira, 31 de agosto de 2022


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Publicação no DJe/STJ nº 3467 de 31/08/2022. Código de Controle do Documento: 1db2c6d1-e397-4b23-91ec-4962eb81c37e
com os arts. 34, XVIII, a, e 255, I, ambos do Regimento Interno desta Corte, o Relator
está autorizado, por meio de decisão monocrática, a não conhecer de recurso
inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado especificamente os
fundamentos da decisão recorrida.
Não se pode conhecer a apontada violação ao art. 1.022 do CPC/2015,
porquanto o recurso cinge-se a alegações genéricas e, por isso, não demonstra, com
transparência e precisão, qual seria o ponto omisso, contraditório ou obscuro do
acórdão recorrido, a sua importância para o deslinde da controvérsia, bem como o
porquê não estaria devidamente fundamentado, o que atrai o óbice da Súmula 284 do
Supremo Tribunal Federal, aplicável, por analogia, no âmbito desta Corte.
Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PRESCRIÇÃO DA


PRETENSÃO EXECUTÓRIA. AFASTAMENTO. AUSÊNCIA DE INÉRCIA
DO CREDOR. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. SÚMULA
7/STJ. DISSÍDIO NÃO COMPROVADO.
1. É deficiente a fundamentação do recurso especial em que a alegação
de ofensa ao art. 535 do CPC se faz de forma genérica, sem a
demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão se fez omisso,
contraditório ou obscuro. Aplica-se, na hipótese, o óbice da Súmula 284
do STF.
(...)
(AgRg no REsp 1450797/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 05/06/2014, DJe 11/06/2014).

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL


NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO
CPC. SÚMULA 284/STF. SERVIDOR PÚBLICO. PROFISSIONAL DA
ÁREA DA SAÚDE. IMPOSSIBILIDADE DE ACUMULAÇÃO DE
CARGOS. ACÓRDÃO COM FUNDAMENTO EMINENTEMENTE
CONSTITUCIONAL. INCOMPATIBILIDADE DE HORÁRIOS.
IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO, NA VIA ELEITA. SÚMULA 7/STJ.
PRECEDENTES DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I. Quanto à alegação de negativa de prestação jurisdicional, verifica-se
que, apesar de apontar como violado o art. 535 do CPC, a agravante não
evidencia qualquer vício no acórdão recorrido, deixando de demonstrar no
que consistiu a alegada ofensa ao citado dispositivo, atraindo, por
analogia, a incidência da Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal ("é
inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia").
Nesse sentido: STJ, AgRg no AREsp 422.907/RJ, Rel. Ministra ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, DJe de 18/12/2013; AgRg no AREsp
75.356/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
21/10/2013.
(AgRg no AREsp 318.883/RJ, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 18/06/2014, DJe 01/07/2014, destaque
meu).

No mérito, esta Corte firmou posicionamento, em recurso repetitivo, segundo


o qual o conceito de insumo, para efeito do creditamento relativo às contribuições

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denominadas PIS e COFINS, deve ser aferido à luz dos critérios da essencialidade ou
relevância, considerando-se a imprescindibilidade ou a importância de determinado
item – bem ou serviço – para o desenvolvimento da atividade econômica
desempenhada pelo contribuinte.
Outrossim, ficou definido que cabe à instância de origem apreciar, em cotejo
com o objeto social da empresa, a possibilidade de dedução dos créditos relativos a
custo e despesas, como o demonstra o julgado assim ementado:

TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. NÃO-


CUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS.
DEFINIÇÃO ADMINISTRATIVA PELAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS
247/2002 E 404/2004, DA SRF, QUE TRADUZ PROPÓSITO
RESTRITIVO E DESVIRTUADOR DO SEU ALCANCE LEGAL.
DESCABIMENTO. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE INSUMOS À LUZ
DOS CRITÉRIOS DA ESSENCIALIDADE OU RELEVÂNCIA. RECURSO
ESPECIAL DA CONTRIBUINTE PARCIALMENTE CONHECIDO, E,
NESTA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO, SOB O RITO DO
ART. 543-C DO CPC/1973 (ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015).
1. Para efeito do creditamento relativo às contribuições denominadas PIS
e COFINS, a definição restritiva da compreensão de insumo, proposta na
IN 247/2002 e na IN 404/2004, ambas da SRF, efetivamente desrespeita
o comando contido no art. 3o., II, da Lei 10.637/2002 e da Lei
10.833/2003, que contém rol exemplificativo.
2. O conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios da
essencialidade ou relevância, vale dizer, considerando-se a
imprescindibilidade ou a importância de determinado item - bem ou
serviço - para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada
pelo contribuinte.
3. Recurso Especial representativo da controvérsia parcialmente
conhecido e, nesta extensão, parcialmente provido, para determinar o
retorno dos autos à instância de origem, a fim de que se aprecie, em
cotejo com o objeto social da empresa, a possibilidade de dedução dos
créditos realtivos a custo e despesas com: água, combustíveis e
lubrificantes, materiais e exames laboratoriais, materiais de limpeza e
equipamentos de proteção individual-EPI.
4. Sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 (arts. 1.036 e seguintes do
CPC/2015), assentam-se as seguintes teses: (a) é ilegal a disciplina de
creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002 e
404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de não-
cumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido
nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003; e (b) o conceito de insumo deve ser
aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja,
considerando-se a imprescindibilidade ou a importância de terminado item
- bem ou serviço - para o desenvolvimento da atividade econômica
desempenhada pelo Contribuinte.
(REsp 1221170/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe 24/04/2018)

Nesse aspecto, o tribunal de origem, após criteriosa análise dos elementos


fáticos-probatórios constantes dos autos, e com base no precedente desta Corte supra
mencionado, concluiu que (fls. 221/225e):

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Publicação no DJe/STJ nº 3467 de 31/08/2022. Código de Controle do Documento: 1db2c6d1-e397-4b23-91ec-4962eb81c37e
[...] analisando a legislação infraconstitucional atinente ao tema, a Primeira
Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento -submetido ao regime
de recursos repetitivos - do REsp 1.221.170 / PR, firmou as teses de que (a)
é ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da
SRF ns.247/2002 e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema
de não-cumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como
definido nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003; e ( b ) o conceito de insumo
deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja,
considerando-se a imprescindibilidade ou a importância de determinado
item - bem ou serviço -para o desenvolvimento da atividade econômica
desempenhada pelo Contribuinte. O julgado paradigma restou assim
sintetizado:
[...]
Já no que se refere aos "critérios de essencialidade ou relevância",
prevaleceu a orientação - que foi tomada de empréstimo pelo Ministro
Napoleão Nunes Maia Filho, no tópico 41 do seu voto, que conduziu o
acórdão -proposta em seu voto pela Ministra Regina Helena Costa, in
verbis:
[...]
Pois bem. A impetrante pretende, em suma, o reconhecimento do direito de
deduzir créditos no âmbito do regime não-cumulativo do PIS e COFINS
(Leis nºs 10.637, de 2002, e 10.833, de 2003, art. 3º) das suas despesas
com as comissões que paga aos seus representantes comerciais.
Ocorre que a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento
do REsp 1.221.170 / PR, afastou a possibilidade da então recorrente- que,
aliás, era empresa do ramo alimentício ("ANHAMBI ALIMENTOS LTDA")-
de deduzir créditos de PIS e COFINS das despesas com comissões pagas
aos representantes comerciais, determinando o retorno dos autos ao
tribunal de origem para analisar, em cotejo com o objeto social da empresa,
apenas os custos e despesas com "água, combustíveis e lubrificantes,
materiais e exames laboratoriais, materiais de limpeza e equipamentos de
proteção individual-EPI".
Também este Tribunal tem afastado o direito de dedução de crédito de PIS
e COFINS das despesas com comissões pagas aos
representantes comerciais.
[...]
Outrossim, no caso em exame a própria impetrante reconhece que poderia
realizar normalmente a comercialização dos seus produtos por meio de
vendedores próprios, embora nesse caso, segundo pretexta, haveria uma
drástica diminuição da sua atuação no mercado nacional, uma vez que não
conseguiria atender às mais diversas regiões do Brasil como hoje vem
fazendo". Daí bem se vê que a utilização da representação comercial ocorre
por questões subjetivas da impetrante, como por exemplo o seu porte
empresarial e a sua estratégia negocial e operacional, para alcançar e
atender maior territorialidade e número de clientes, bem como para obter
maior volume de vendas e faturamento.
Com efeito, a impetrante poderia exercer perfeitamente a sua atividade
econômica de produtora e comerciante atacadista e varejista de produtos
alimentícios utilizando-se apenas de vendedores próprios, sendo irrelevante
a conclusão de que nesse caso teria uma área territorial de abrangência das
suas vendas menor; um volume de vendas menor e/ou um faturamento
menor.
Em resumo, a despesa com comissões pagas aos representantes
comerciais não se trata de "item do qual dependa, intrínseca e
fundamentalmente, o produto ou o serviço" da impetrante (critério da

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essencialidade), e nem tampouco integra o seu processo empresarial "em
face de singularidades da sua cadeia produtiva" ou por força de "imposição
legal" (critério da relevância). As comissões pagas aos representantes
comerciais na verdade não são insumos, mas sim despesas operacionais
da impetrante, que não dão direito ao crédito de PIS e COFINS.
Sinale-se, de resto, que não há confundir com a presente situação, de
pagamento de comissão por representação comercial, com o caso do
fabricante ou importador de veículos que paga comissão ao concessionário,
pela intermediação ou entrega dos veículos. As relações jurídicas de
representação comercial e de concessão comercial de veículos são em
muito diversas, regidas cada uma por regras próprias, sendo certo que o art.
3º, II, das Leis nº 10.637, de 2002, e 10.833, de 2003, tratou apenas da
relação de concessão comercial de veículos.

In casu, rever tal entendimento, com o objetivo de acolher a pretensão


recursal, demandaria necessário revolvimento de matéria fática, o que é inviável em
sede de recurso especial, à luz do óbice contido na Súmula n. 07 desta Corte, assim
enunciada: "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial".
Posto isso, com fundamento nos arts. 932, III, do Código de Processo Civil
de 2015 e 34, XVIII, a, e 255, I, do RISTJ, NÃO CONHEÇO do Recurso Especial.
Publique-se e intimem-se.
Brasília, 29 de agosto de 2022.

REGINA HELENA COSTA


Relatora

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