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Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a
Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar parcial provimento
ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Denise
Arruda, José Delgado, Francisco Falcão e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 21 de junho de 2005.
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RECURSO ESPECIAL Nº 644.840 - SC (2004/0028923-9)
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RECURSO ESPECIAL Nº 644.840 - SC (2004/0028923-9)
EMENTA
TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. PAGAMENTO A
EMPREGADO, POR OCASIÃO DA RESCISÃO DO CONTRATO.
GRATIFICAÇÃO A TÍTULO ESPONTÂNEO. FÉRIAS
PROPORCIONAIS. ADICIONAL DE 1/3 SOBRE FÉRIAS.
NATUREZA. REGIME TRIBUTÁRIO DAS INDENIZAÇÕES.
DISTINÇÃO ENTRE INDENIZAÇÃO POR DANOS AO
PATRIMÔNIO MATERIAL E AO PATRIMÔNIO IMATERIAL.
PRECEDENTES (RESP 674.392-SC E RESP 637.623-PR).
1. O imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza tem como fato
gerador, nos termos do art. 43 e seus parágrafos do CTN, os "acréscimos
patrimoniais", assim entendidos os acréscimos ao patrimônio material do
contribuinte.
2. Indenização é a prestação destinada a reparar ou recompensar o dano
causado a um bem jurídico. Os bens jurídicos lesados podem ser (a) de
natureza patrimonial (= integrantes do patrimônio material) ou (b) de natureza
não-patrimonial (= integrantes do patrimônio imaterial ou moral), e, em
qualquer das hipóteses, quando não recompostos in natura, obrigam o
causador do dano a uma prestação substitutiva em dinheiro.
3. O pagamento de indenização pode ou não acarretar acréscimo patrimonial,
dependendo da natureza do bem jurídico a que se refere. Quando se indeniza
dano efetivamente verificado no patrimônio material (= dano emergente), o
pagamento em dinheiro simplesmente reconstitui a perda patrimonial ocorrida
em virtude da lesão, e, portanto, não acarreta qualquer aumento no patrimônio.
Todavia, ocorre acréscimo patrimonial quando a indenização (a) ultrapassar o
valor do dano material verificado (= dano emergente), ou (b) se destinar a
compensar o ganho que deixou de ser auferido (= lucro cessante), ou (c) se
referir a dano causado a bem do patrimônio imaterial (= dano que não importou
redução do patrimônio material).
4. A indenização que acarreta acréscimo patrimonial configura fato gerador do
imposto de renda e, como tal, ficará sujeita a tributação, a não ser que o
crédito tributário esteja excluído por isenção legal, como é o caso das hipóteses
dos incisos XVI, XVII, XIX, XX e XXIII do art. 39 do Regulamento do
Imposto de Renda e Proventos de Qualquer Natureza, aprovado pelo Decreto
3.000, de 31.03.99.
5. No caso, o pagamento feito pelo empregador a seu empregado, a título de
indenização por liberalidade, em reconhecimento por relevantes serviços
prestados à empresa, não tem natureza indenizatória. E, mesmo que tivesse,
estaria sujeito à tributação do imposto de renda, já que (a) importou acréscimo
patrimonial e (b) não está beneficiado por isenção. Assim também, a parcela
relativa a adicional de 1/3 sobre férias, que possui caráter de eminentemente
salarial, conforme previsto no art. 7º, XVII, da Constituição.
6. O pagamento a título de férias proporcionais, decorrentes de rescisão do
contrato de trabalho, está beneficiado por isenção. A lei isenta de imposto de
renda "a indenização (...) por despedida ou rescisão de contrato de trabalho,
até o limite garantido pela lei trabalhista ou por dissídio coletivo e convenções
trabalhistas homologados pela Justiça do Trabalho" (art. 39 do RIR, aprovado
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pelo Decreto 3.000/99).
7. Recurso especial parcialmente provido.
VOTO
2. Há duplo equívoco na tese da impetração: (a) o de se supor que o pagamento feito tem
natureza indenizatória que não acarreta acréscimo patrimonial e (b) o de que supor que, por ser
indenização, o valor pago estaria automaticamente fora do campo da tributação do imposto de
renda. Com efeito, veja-se.
3. Arrolado pela Constituição Federal como de competência da União (CF, art. 153, III), o
imposto sobre "renda e proventos de qualquer natureza" tem a definição de seu fato gerador
definida em lei complementar (CF, art. 146, III, a), mais especificamente no art. 43 e seus
parágrafos do Código Tributário Nacional, que assim dispõem:
Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de
qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da
combinação de ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos
patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.
§ 1º A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do
rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da
origem e da forma de percepção.
§ 2º Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei
estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para
fins de incidência do imposto referido neste artigo.
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compensar a perda de um bem (que, no exemplo, é o vínculo empregatício, bem de natureza
imaterial), eis que, conforme salientou o Ministro José Delgado, em sede doutrinária, "dano tem
forte vinculação com o estado de perda, de destruição, de prejuízo (...)" (Regime
Tributário das Indenizações, obra coletiva, coordenador Hugo de Brito Machado, SP, Dialética,
2000, p. 152).
Pois bem, do ponto de vista da efetividade do direito, o ideal seria que, ocorrido o dano, a
sua reparação fosse feita por prestação específica e in natura, isto é, mediante a exata
recomposição do status quo ante. Segundo a conhecida lição de Chiovenda, deve-se garantir a
quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo a que tem direito (Instituições de Direito
Processual Civil, tradução de J. Guimarães Menegale, São Paulo, Saraiva, 1969, vol. I, p. 46).
Todavia, isso nem sempre é possível: os danos morais, por natureza, não comportam reparação
específica e in natura; os danos materiais a comportam, mas nem sempre (é possível refazer um
muro destruído, mas não é possível recompor a autenticidade da Taça Jules Rimet transformada
em barra de ouro ou um quadro de Di Cavalcanti transformado em cinzas). Mesmo quando
possível, nem sempre a prestação in natura é a solução adequada, permitindo a lei a conversão
em pecúnia (v.g., arts. 627 e 633 do CPC).
Ora, aquilo que geralmente se entende por indenização é a prestação em dinheiro,
substitutiva da prestação específica, destinada a reparar ou recompensar o dano causado a um
bem jurídico, quando não é possível ou não é adequada a restauração in natura. Não tem
natureza indenizatória, sob esse aspecto, o pagamento, ainda quando feito por força de sentença
judicial, correspondente a uma prestação que originalmente (= antes e independentemente de
ocorrência de lesão) era devida em dinheiro (v.g., pagamento por horas extras trabalhadas, de
adicional noturno, de gratificações, 13º salário). Em tal caso, o que há, simplesmente, é o
adimplemento in natura da obrigação, ainda que fora do prazo ou mediante execução forçada.
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constitucionais impeçam a tributação." (Fábio Junqueira de Carvalho e Maria Inês
Murgel, Regime Tributário das Indenizações, cit., pp. 74-76)
9. No caso concreto, há três espécies de verbas sobre as quais se pretende ver reconhecida a
não-incidência do IR: a indenização por liberalidade da empresa, o adicional sobre 1/3 de férias e
as férias proporcionais.
10. O pagamento feito pelo empregador a seu empregado, a título de "indenização por
liberalidade da empresa", não tem natureza indenizatória. E, mesmo que indenização fosse, ainda
assim o pagamento estaria sujeito à tributação do imposto de renda, já que (a) importou
acréscimo patrimonial e (b) não está beneficiado por isenção. Com efeito, a lei isenta de imposto
de renda "a indenização (...) por despedida ou rescisão de contrato de trabalho, até o limite
garantido pela lei trabalhista ou por dissídio coletivo e convenções trabalhistas homologados pela
Justiça do Trabalho" (art. 39, XX, do RIR, aprovado pelo Decreto 3.000/99).
Da mesma forma, o pagamento relativo a adicional de 1/3 sobre férias sujeita-se à
incidência do referido imposto, não apresentando caráter indenizatório, mas tipicamente salarial.
Aliás, tal natureza está assentada de modo expresso no art. 7º, XVII, da Constituição:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
(...)
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais
do que o salário normal;
Assim, impõe-se a reforma do acórdão quanto aos tópicos.
11. De outro lado, a verba relativa a férias proporcionais não se sujeita à cobrança do
imposto de renda, pois está abrangida na regra de isenção referente à indenização paga por
despedida ou rescisão de contrato de trabalho, prevista no art. 6º, V, da Lei 7.713/88 (abaixo
transcrita) e repetida no art. 39, XX, do Regulamento do Imposto de Renda (acima mencionado),
aprovado pelo Decreto 3.000/99 :
Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendimentos
percebidos por pessoas físicas:
(...)
V - a indenização e o aviso prévio pagos por despedida ou rescisão de
contrato de trabalho, até o limite garantido por lei, bem como o montante
recebido pelos empregados e diretores, ou respectivos beneficiários,
referente aos depósitos, juros e correção monetária creditados em contas
vinculadas, nos termos da legislação do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço;
Com efeito, a conversão em pecúnia das férias devidas (a) tem natureza indenizatória (é
pagamento substitutivo do direito a descanso) e (b) decorre da cessação do contrato de trabalho.
É o que se depreende do art. 146 da CLT:
Art. 146 - Na cessação do contrato de trabalho, qualquer que seja a sua
causa, será devida ao empregado a remuneração simples ou em dobro,
conforme o caso, correspondente ao período de férias cujo direito tenha
adquirido.
Parágrafo único - Na cessação do contrato de trabalho, após 12 (doze)
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meses de serviço, o empregado, desde que não haja sido demitido por justa
causa, terá direito à remuneração relativa ao período incompleto de férias,
de acordo com o art. 130, na proporção de 1/12 (um doze avos) por mês de
serviço ou fração superior a 14 (quatorze) dias.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro LUIZ FUX
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO BANDEIRA DE MELO
Secretária
Bela. MARIA DO SOCORRO MELO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL
PROCURADOR : RÔMULO PONTICELLI GIORGI JUNIOR E OUTROS
RECORRIDO : ROMEO JOSÉ KONZEN
ADVOGADO : ARNO SCHMIDT JUNIOR E OUTROS
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Denise Arruda, José Delgado, Francisco Falcão e Luiz Fux votaram
com o Sr. Ministro Relator.
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