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Compilação de Jurisprudências Direito Tributário - 2021 -2022

Fizemos um compilado dos últimos informativos do STF/STJ na área


TRIBUTÁRIA, porém em razão do número de julgados relevantes referentes à
nossa matéria entendemos que não seria viável incluir um período maior.

Ao final dos informativos, daremos destaque para algumas jurisprudências que


foram cobradas no concurso para Fiscal da Receita Estadual - SEFA PA no
último fim de semana.

Informativo 1015/STF

TESE FIXADA:
“O artigo 42 da Lei 9.430/1996 é constitucional”.

RESUMO:
É constitucional a tributação de valores depositados em conta mantida junto a
instituição financeira, cuja origem não for comprovada pelo titular — pessoa
física ou jurídica —, desde que ele seja intimado para tanto. Dessa forma, incide
Imposto de Renda sobre os depósitos bancários considerados como omissão de
receita ou de rendimento, em face da previsão contida no art. 42 da Lei
9.430/1996 (1).

Consoante o art. 43 do Código Tributário Nacional (CTN) (2), o aspecto material da


regra matriz de incidência do Imposto de Renda é a aquisição ou disponibilidade de
renda ou acréscimos patrimoniais. Verifica-se que o art. 42 da Lei 9.430/1996 — lei
ordiná-ria — não ampliou o fato gerador do Imposto de Renda. Ele trouxe apenas a
possibi-lidade de se impor a exação quando o contribuinte, embora intimado, não
conseguir comprovar a origem de seus rendimentos.

Pensar de maneira diversa permitiria a vedação à tributação de renda obtida, cuja


origem não foi comprovada, na contramão de todo o Sistema Tributário Nacional e
em violação aos princípios da igualdade e da isonomia. A omissão de receita resulta
na dificuldade de o Fisco auferir a origem dos depósitos efetuados na conta corrente
do contribuinte, bem como o valor exato das receitas/rendimentos tributáveis, o que
também justifica atribuir o ônus da prova ao correntista omisso.

Por fim, o acórdão recorrido manteve o lançamento tributário realizado pelo Fisco,
por compreender não comprovada, no âmbito de procedimento fiscalizatório, a
origem das quantias depositadas na conta corrente do contribuinte. Para se chegar à
conclusão diversa, o Supremo Tribunal Federal precisaria incursionar nos fatos e
provas constan-tes dos autos, o que é vedado em sede de recurso extraordinário,
conforme Verbete 279 da Súmula do STF (3).

Ao apreciar o Tema 842 da repercussão geral, o Plenário, por maioria, negou


provi-mento ao recurso extraordinário do contribuinte. Vencidos os ministros Marco
Aurélio (relator) e Dias Toffoli.
(1) Lei 9.430/1996: “Art. 42. Caracterizam-se também omissão de receita ou de
rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida
junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica,
regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a
origem dos recursos utilizados nessas operações.”
(2) CTN/1966: “Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e
proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica: I – de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho
ou da combinação de ambos; II – de proventos de qualquer natureza, assim entendidos
os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. § 1º A incidência
do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização,
condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção. § 2º
Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as
condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do
imposto referido neste artigo.”
(3) Súmula 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso
extraordinário.”

RE 855649/RS, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de


Moraes, julga-mento virtual finalizado em 30.4.2021 (sexta-feira), às 23:59

Informativo 1016/STF

TESE FIXADA:
“É constitucional a fixação de alíquotas de IPI superiores a zero sobre garrafões,
garrafas e tampas plásticas, ainda que utilizados para o acondicionamento de
produtos essenciais ”.

RESUMO:
Em se tratando de embalagens, o que deve ser considerado para fins de seletividade
(art. 153, § 3º, I, da Constituição Federal) (1) é o grau de essencialidade do produto a
ser acondicionado e não da embalagem propriamente considerada.

Com efeito, a CF impõe que o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) seja
seletivo em razão da essencialidade do produto, ou seja, a alíquota do imposto levará
em consideração a importância e necessidade do bem para o consumidor e para a
coletividade. Entretanto, a observância à seletividade e a atribuição de alíquota zero
aos produtos essenciais são fenômenos que não se confundem. É possível que o Poder
Executivo, de acordo com as balizas impostas pelo legislador, estabeleça alíquotas
reduzidas, superiores a zero, a produtos considerados essenciais, sem que isso afronte
o princípio da seletividade. Dessa forma, a essencialidade do produto não é apenas
atendida quando a ele for atribuída a alíquota zero, podendo haver uma gradação
razoável nas alíquotas e, ainda assim, respeitar-se a seletividade.

Com base nesse entendimento, ao apreciar o Tema 501 da repercussão geral, o


Plenário deu provimento ao recurso extraordinário. Os ministros Alexandre de
Moraes e Nunes Marques acompanharam o voto do relator com ressalvas.
(1) CF/1988: “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) IV - produtos
industrializados; (...) § 3º O imposto previsto no inciso IV: I - será seletivo, em função
da essencialidade do produto;”

RE 606314/PE, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em


11.5.2021 (terça-feira) às 23:59

Informativo 1017/STF

TESE FIXADA:
“É dos Estados e Distrito Federal a titularidade do que arrecadado, considerado
Imposto de Renda, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer
título, por si, autarquias e fundações que instituírem e mantiverem”.

RESUMO:
Pertence aos estados e ao Distrito Federal o produto da arrecadação do Imposto
de Renda incidente sobre os rendimentos, quando pagos, por si, respectivas
autarquias e fundações.

Nos termos do que disposto no art. 157, I, da Constituição Federal (CF) (1),
depreende-se haver o constituinte estabelecido distinção considerados o ente
competente e o beneficiado pela receita tributária. Embora a competência impositiva
tenha sido atribuída à União (CF, art. 153, III) (2), cabe aos estados e ao Distrito
Federal a arrecadação, na fonte, do tributo sobre os rendimentos pagos. No ato de
retenção dos valores, dá-se a incorporação, ao patrimônio estadual ou distrital, do
produto arrecadado.

Frise-se que, ao disciplinar a entrega de recursos a ser realizada pela União,


considerada fração do montante arrecadado a título de Imposto sobre Produtos
Industrializados - IPI e Imposto de Renda - IR, o constituinte decotou, para efeito de
cálculo, o importe versado no art. 157, I, da CF, o que revela a disponibilidade
originária e efetiva dos valores pelos estados e Distrito Federal.

Por fim, sendo as unidades federativas destinatárias do tributo retido, cumpre


reconhecer-lhes a capacidade ativa para arrecadar o imposto. Por esse motivo, na
linha de precedente da Corte (3), cabe à Justiça comum estadual julgar controvérsia
envolvendo Imposto de Renda retido na fonte, na forma do art. 157, I, da CF, ante a
ausência do interesse da União sobre ação de repetição de indébito relativa ao tributo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o Tema


364da repercussão geral, deu provimento a recurso extraordinário para determinar a
conversão, em renda do estado do Rio de Janeiro, dos depósitos judiciais realizados
no processo.

(1) CF: “Art. 157. Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal: I - o produto da
arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza,
incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas
autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem;”
(2) CF: “Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) III - renda e
proventos de qualquer natureza;”(3) Precedente citado: RE 684.169/RS, relator Min.
Luiz Fux (DJe de 23.10.2012).

RE 607886/RJ, relator Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em


4.5.2021 (sexta-feira), às 23:59

TESE FIXADA:
“É constitucional a expressão ‘de forma não cumulativa’ constante do ‘caput’ do
art. 20 da Lei 8.212/1991”.

RESUMO:
É compatível com a Constituição Federal (CF) a progressividade simples
estipulada no art. 20 da Lei 1) 1991/8.212), ou seja, a apuração das contribuições
previdenciárias devidas pelo segurado empregado, inclusive o doméstico, e pelo
trabalhador avulso mediante a incidência de apenas uma alíquota — aquela
correspondente à faixa de tributação — sobre a íntegra do salário de
contribuição mensal.

O preceito questionado não incidiu em inconstitucionalidade ao utilizar-se da


progressividade tributária no âmbito das contribuições previdenciárias devidas pelo
empregado, inclusive o doméstico, e pelo trabalhador avulso. Além de a
progressividade ser compatível com a aludida exação, não se vislumbra, no texto
constitucional, qualquer restrição a seu uso na disciplina do tributo. A expressão “de
forma não cumulativa” traduz a opção do legislador pela progressividade simples,
portanto, não foi eleita a progressividade gradual, tradicionalmente presente, por
exemplo, na tabela adotada para a apuração do imposto de renda.

Ademais, não há que se falar que o aumento na contribuição previdenciária seja


inconstitucional por eventualmente acarretar “decréscimo remuneratório”. De um
lado, a cláusula da irredutibilidade não se estende aos tributos, porque não implica
imunidade tributária. Do outro, os aumentos da carga tributária resultantes da
passagem de uma faixa para outra podem ser suportados pelo contribuinte, haja vista
o aumento de sua capacidade contributiva — não há efeito confiscatório, tampouco os
aumentos são irrazoáveis ou desproporcionais.

Ao apreciar o Tema 833 da repercussão geral, o Plenário deu provimento a recurso


extraordinário, declarando, incidentalmente, a constitucionalidade da expressão “de
forma não cumulativa” constante do caput art. 20 da Lei 8.212/1991.

(1) Lei 8.212/1991: “Art. 20. A contribuição do empregado, inclusive o doméstico, e a


do trabalhador avulso é calculada mediante a aplicação da correspondente alíquota
sobre o seu salário-de-contribuição mensal, de forma não cumulativa, observado o
disposto no art. 28, de acordo com a seguinte tabela: Salário-de-contribuição -
Alíquota em % - até 249,80 - 8,00 - de 249,81 até 416,33 - 9,00 - de 416,34 até 832,66
- 11,00”.
RE 852796/RS, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em
14.5.2021(sexta-feira), às 23:59

TESE FIXADA:
“A inadimplência do usuário não afasta a incidência ou a exigibilidade do ICMS
sobre serviços de telecomunicações”.

RESUMO:
As vendas inadimplidas não podem ser excluídas da base de cálculo do tributo,
pois a inadimplência do consumidor final — por se tratar de evento posterior e
alheio — não obsta a ocorrência do fato gerador do ICMS-comunicação.

Uma vez prestado o serviço de comunicação ao consumidor, de forma onerosa,


incidirá necessariamente o imposto, independentemente de a empresa ter efetivamente
auferido receita com a realização do serviço.

Ressalte-se, nesses termos, a existência de duas relações jurídicas distintas e


independentes entre si, regidas por normas específicas: uma entre a empresa
(contribuinte de direito) e o respectivo consumidor/usuário (contribuinte de fato) de
natureza civil; e outra, de caráter estritamente tributário, entre a empresa (sujeito
passivo) e o Fisco (sujeito ativo).

Além disso, não possui qualquer respaldo constitucional, sendo, portanto,


absolutamente inadmissível, repassar ao Erário os riscos próprios da atividade
econômica em face de eventual inadimplemento dos consumidores/usuários, a
pretexto de fazer valer os princípios da não-cumulatividade, da capacidade
contributiva e da vedação ao confisco.

Por fim, a inadimplência do usuário não constitui excludente legal do tributo, de


modo que admitir que as vendas inadimplidas pudessem ser excluídas da base de
cálculo do ICMS implicaria violação direta ao princípio da legalidade tributária, bem
como ao disposto nos artigos 150, § 6º (1), e 155, § 2º, XII, g, da Constituição Federal
(CF) (2). Nessa hipótese, o Supremo Tribunal Federal (STF) estaria atuando como
legislador positivo, modificando as normas tributárias inerentes ao ICMS para
instituir benefício fiscal em favor dos contribuintes, o que ensejaria violação também
ao princípio da separação dos Poderes (3).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, apreciando o Tema 705 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário. Vencidos os ministros
Marco Aurélio (relator) e Edson Fachin.

(1) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) § 6º Qualquer
subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido,
anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser
concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou
contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.”
(2) CF: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) XII - cabe à lei
complementar: (...) g) regular a forma como, mediante revogados.”
(3) CF: “Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”

RE 1003758/RO, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de


Moraes, julgamento virtual finalizado em 14.5.2021 (sexta-feira), às 23:59

TESE FIXADA:
“É constitucional a imposição tributária de diferencial de alíquota do ICMS pelo
Estado de destino na entrada de mercadoria em seu território devido por
sociedade empresária aderente ao Simples Nacional, independentemente da
posição desta na cadeia produtiva ou da possibilidade de compensação dos
créditos”.

RESUMO:
É constitucional a cobrança antecipada de diferencial de alíquota de ICMS de
sociedade empresária optante pelo Simples Nacional, independentemente de o
contribuinte estar na condição de consumidor final no momento da aquisição.

A cobrança do diferencial de alíquota não viola a sistemática do Simples Nacional,


uma vez que há previsão expressa no art. 13, § 1º, XIII, g, da Lei Complementar (LC)
123/2002 (1). Além disso, não há ofensa à regra da não cumulatividade, haja vista que
o art. 23 da LC 123/2002 (2) veda explicitamente a apropriação ou compensação de
créditos relativos a impostos ou contribuições abrangidos pelo Simples Nacional.

O diferencial de alíquota consiste em recolhimento pelo estado de destino da


diferença entre as alíquotas interestadual (menor) e interna (maior), de maneira a
equilibrar a partilha do ICMS em operações entre entes federados. Complementa-se o
valor do ICMS devido na operação. Ocorre, portanto, a cobrança de um único imposto
(ICMS) calculado de duas formas distintas, de modo a alcançar o valor total devido na
operação interestadual.

Cabe ao legislador ordinário excepcionar a norma-regra da não cumulatividade


mesmo em situação de plurifasia, impedindo a formação do direito ao abatimento,
desde que em prol da racionalidade do regime diferenciado e mais favorável ao micro
e pequeno empreendedor, bem como lastreado em finalidades com assento
constitucional, como é o caso da promoção do federalismo fiscal cooperativo de
equilíbrio e da continuidade dos pilares do Estado Fiscal (3).

Cabe destacar, por fim, que a opção pelo Simples Nacional é facultativa no âmbito da
livre conformação do planejamento tributário, arcando-se com bônus e ônus
decorrentes dessa escolha empresarial que, em sua generalidade, representa um
tratamento tributário sensivelmente mais favorável à maioria das sociedades
empresárias de pequeno e médio porte. Nesse contexto, não há como prosperar uma
adesão parcial ao regime simplificado, adimplindo-se obrigação tributária de forma
centralizada e com carga menor, simultaneamente ao não recolhimento de diferencial
de alíquota nas operações interestaduais.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 517 da
repercussão geral, negou provimento a recurso extraordinário.

(1) LC 123/2002: “Art. 13. O Simples Nacional implica o recolhimento mensal,


mediante documento único de arrecadação, dos seguintes impostos e contribuições:
(...) § 1º O recolhimento na forma deste artigo não exclui a incidência dos seguintes
impostos ou contribuições, devidos na qualidade de contribuinte ou responsável, em
relação aos quais será observada a legislação aplicável às demais pessoas jurídicas:
(...) XIII - ICMS devido: (...) g) nas operações com bens ou mercadorias sujeitas ao
regime de antecipação do recolhimento do imposto, nas aquisições em outros Estados
e Distrito Federal: 1. com encerramento da tributação, observado o disposto no inciso
IV do § 4º do art. 18 desta Lei Complementar; 2. sem encerramento da tributação,
hipótese em que será cobrada a diferença entre a alíquota interna e a interestadual,
sendo vedada a agregação de qualquer valor;”
(2) LC 123/2002: “Art. 23. As microempresas e as empresas de pequeno porte
optantes pelo Simples Nacional não farão jus à apropriação nem transferirão créditos
relativos a impostos ou contribuições abrangidos pelo Simples Nacional. § 1º As
pessoas jurídicas e aquelas a elas equiparadas pela legislação tributária não optantes
pelo Simples Nacional terão direito a crédito correspondente ao ICMS incidente sobre
as suas aquisições de mercadorias de microempresa ou empresa de pequeno porte
optante pelo Simples Nacional, desde que destinadas à comercialização ou
industrialização e observado, como limite, o ICMS efetivamente devido pelas
optantes pelo Simples Nacional em relação a essas aquisições. § 2º A alíquota
aplicável ao cálculo do crédito de que trata o § 1º deste artigo deverá ser informada no
documento fiscal e corresponderá ao percentual de ICMS previsto nos Anexos I ou II
desta Lei Complementar para a faixa de receita bruta a que a microempresa ou a
empresa de pequeno porte estiver sujeita no mês anterior ao da operação. § 3º Na
hipótese de a operação ocorrer no mês de início de atividades da microempresa ou
empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional, a alíquota aplicável ao
cálculo do crédito de que trata o § 1 º deste artigo corresponderá ao percentual de
ICMS referente à menor alíquota prevista nos Anexos I ou II desta Lei Complementar.
§ 4º Não se aplica o disposto nos §§ 1º a 3º deste artigo quando: I - a microempresa
ou empresa de pequeno porte estiver sujeita à tributação do ICMS no Simples
Nacional por valores fixos mensais; II - a microempresa ou a empresa de pequeno
porte não informar a alíquota de que trata o § 2º deste artigo no documento fiscal; III -
houver isenção estabelecida pelo Estado ou Distrito Federal que abranja a faixa de
receita bruta a que a microempresa ou a empresa de pequeno porte estiver sujeita no
mês da operação. IV - o remetente da operação ou prestação considerar, por opção,
que a alíquota determinada na forma do caput e dos §§ 1º e 2º do art. 18 desta Lei
Complementar deverá incidir sobre a receita recebida no mês. § 5º Mediante
deliberação exclusiva e unilateral dos Estados e do Distrito Federal, poderá ser
concedido às pessoas jurídicas e àquelas a elas equiparadas pela legislação tributária
não optantes pelo Simples Nacional crédito correspondente ao ICMS incidente sobre
os insumos utilizados nas mercadorias adquiridas de indústria optante pelo Simples
Nacional, sendo vedado o estabelecimento de diferenciação no valor do crédito em
razão da procedência dessas mercadorias. § 6º O Comitê Gestor do Simples Nacional
disciplinará o disposto neste artigo.”
(3) Precedentes: RE 723.651/PR, relator Min. Marco Aurélio, Pleno; ARE 658.571
AgR/RS, relator Min. Teori Zavascki, Segunda Turma.

RE 970821/RS, relator Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em


11.5.2021 (terça-feira), às 23:59

Informativo 1020/STF

TESE FIXADA:
“São inconstitucionais os arts. 47 e 48 da Lei 11.196/2005, que vedam a apuração
de créditos de PIS/Cofins na aquisição de insumos recicláveis.”

RESUMO:
É inconstitucional o complexo normativo formado pelos arts. 47 e 48 da Lei
11.196/2005, que impede empresas, submetidas ao regime não cumulativo, de
compensarem créditos da contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, oriundos
da aquisição de desperdícios, resíduos ou aparas de vários materiais, entre eles,
plástico, papel, cartão, vidro, ferro, aço, cobre, níquel, alumínio, chumbo, zinco e
estanho, além de outros desperdícios e resíduos metálicos.

Submetidas a condições de mercado similares, as empresas que adquirem


matéria-prima reciclável não competem em pé de igualdade com as produtoras que
utilizam insumos extraídos da natureza, cujo potencial de degradação ambiental é
indubitavelmente superior. Os dispositivos impugnados oferecem tratamento
tributário prejudicial às cadeias econômicas ecologicamente sustentáveis,
desincentivando a manutenção de linhas de produção assentadas em tecnologias
limpas e no reaproveitamento de materiais recicláveis.

A proibição de abatimento de créditos na aquisição de insumos reutilizáveis (art. 47)


não é suficientemente compensada pela isenção de PIS/Cofins concedida na etapa
anterior da cadeia produtiva (art. 48), resultando em elevação da carga tributária total
incidente sobre o processo de reciclagem. As consequências são ainda mais nocivas
quando a fornecedora de tais insumos é optante pelo Simples Nacional. A lei não
prevê isenção tributária para o microempresário ou empresa de pequeno porte e,
mesmo assim, proíbe a apuração de créditos pelo adquirente.

As normas impugnadas, além de violarem diretamente o princípio da igualdade, uma


vez que o critério de distinção é ilegítimo, são incompatíveis com as finalidades que a
Constituição Federal almeja em matéria de proteção ao meio ambiente e de
valorização do trabalho humano.

Ao apreciar o Tema 304 da Repercussão Geral, o Plenário, por maioria e em


conclusão de julgamento, deu provimento ao recurso extraordinário, reconhecendo a
inconstitucionalidade do art. 47 da Lei 11.196/2005 e, por arrastamento, do art. 48 do
mesmo diploma normativo (1), nos termos do voto do Ministro Gilmar Mendes.
Vencidos o ministro Alexandre de Moraes e, parcialmente, os ministros Rosa Weber
(relatora), Marco Aurélio e Dias Toffoli.

(1) Lei 11.196/2005: “Art. 47. Fica vedada a utilização do crédito de que tratam o
inciso II do caput do art. 3º da Lei 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e o inciso II
do caput do art. 3º da Lei 10.833, de 29 de dezembro de 2003, nas aquisições de
desperdícios, resíduos ou aparas de plástico, de papel ou cartão, de vidro, de ferro ou
aço, de cobre, de níquel, de alumínio, de chumbo, de zinco e de estanho, classificados
respectivamente nas posições 39.15, 47.07, 70.01, 72.04, 74.04, 75.03, 76.02, 78.02,
79.02 e 80.02 da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados –
TIPI, e demais desperdícios e resíduos metálicos do Capítulo 81 da TIPI. Art. 48. A
incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins fica suspensa no caso de
venda de desperdícios, resíduos ou aparas de que trata o art. 47 desta Lei, para pessoa
jurídica que apure o imposto de renda com base no lucro real. Parágrafo único. A
suspensão de que trata o caput deste artigo não se aplica às vendas efetuadas por
pessoa jurídica optante pelo Simples.”

RE 607109/PR, relatora Min. Rosa Weber, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento virtual finalizado em 7.6.2021 (segunda-feira), às 23:59

TESE FIXADA:
“É constitucional o artigo 5º da Lei nº 9.779/1999, no que autorizada a cobrança
de Imposto de Renda sobre resultados financeiros verificados na liquidação de
contratos de swap para fins de hedge.”

RESUMO:
Havendo saldo positivo na liquidação da obrigação ao termo do contrato de swap
para fins de hedge, é constitucional a cobrança do Imposto de Renda na forma
do art. 5º da Lei 9.779/1999 (1).

Isso porque, havendo aquisição de riqueza ante a operação de swap, incide o imposto,
não importando a destinação dada aos valores. Mesmo se direcionados a neutralizar o
aumento da dívida decorrente do contrato principal, em razão da valorização da
moeda estrangeira, cumpre tributar os rendimentos.

Ademais, assentada a materialidade do Imposto de Renda no tocante às operações,


improcede o alegado quanto a empréstimo compulsório ou exercício ilegítimo da
competência tributária residual da União (arts. 148 e 154 da Constituição Federal).
Tampouco há confisco ou ofensa ao princípio da irretroatividade.

Com base nesse entendimento, o Plenário, ao apreciar o Tema 185 da repercussão


geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

(1) Lei 9.779/1999: “Art. 5º Os rendimentos auferidos em qualquer aplicação ou


operação financeira de renda fixa ou de renda variável sujeitam-se à incidência do
imposto de renda na fonte, mesmo no caso das operações de cobertura (hedge),
realizadas por meio de operações de swap e outras, nos mercados de derivativos.”
RE 1224696/SP, relator Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em
7.6.2021 (segunda-feira), às 23:59

Taxa de Registro de Contratos - ADI 6737/PR

RESUMO:
É constitucional a instituição de taxa pela qual observada equivalência razoável
entre o valor exigido do contribuinte e os custos referentes ao exercício do poder
de polícia, nos termos do art. 145, II, da Constituição Federal.

A Taxa de Registro de Contratos, devida pelo exercício regular do poder de polícia do


Detran/PR, não se afigura excessiva a caracterizar ofensa ao princípio que veda a
utilização de tributo com efeito de confisco. Não há, tampouco, incongruência entre o
valor da taxa e o custo da atividade estatal por ela remunerada.

Com base nesse entendimento, o Plenário conheceu da ação direta de


inconstitucionalidade apenas na parte na qual impugnado o valor da Taxa de Registro
de Contratos devida pelo exercício regular do poder de polícia do Detran/PR, disposta
no § 1º do art. 3º da Lei 20.437/2020 do estado Paraná (1) e, nesta parte, julgou
improcedente o pedido.

(1) Lei 20.437/2020 do estado do Paraná: “Art. 3º O recolhimento da Taxa de


Registro de Contratos se dará no momento da solicitação ao Detran-PR do registro
dos contratos de que trata o caput do art. 1º desta Lei. § 1º O valor da taxa é de R$
173,37 (cento e setenta e três reais e trinta e sete centavos).”

ADI 6737/PR, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 7.6.2021
(segunda-feira) às 23:59

Informativo 1022/STF

TESE FIXADA:
“É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza
-ISS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta –
CPRB.”

RESUMO:
A receita bruta, para fins de determinação da base de cálculo da CPRB,
compreende os tributos sobre ela incidentes.

Inaugurando nova ordem previdenciária, a Emenda Constitucional (EC) 42/2003, ao


inserir o parágrafo 13 no art. 195 da Constituição Federal (1) (CF), atualmente
revogado pela EC 103/2019, permitiu a instituição de contribuição previdenciária
substitutiva daquela incidente sobre a folha de salários e pagamentos. Diante da
autorização constitucional, foi editada a Lei 12.546/2011, instituindo contribuição
substitutiva (CPRB), com o escopo de desonerar a folha de salários/pagamentos e
reduzir a carga tributária.
Quando de sua instituição, a contribuição era obrigatória às empresas listadas nos
artigos 7º e 8º da Lei 12.546/2011 (2). Todavia, após alterações promovidas pela Lei
13.161/2015, o novo regime passou a ser facultativo, podendo as empresas a ele aderir
apenas se concluíssem que a sistemática da CPRB seria, no seu contexto, mais
benéfica do que a contribuição sobre a folha de pagamentos.

Diante disso, não é possível à empresa optar pelo novo regime de contribuição por
livre vontade e, ao mesmo tempo, se beneficiar de regras que não lhe sejam
aplicáveis. Abater do cálculo da CPRB o Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISS) sobre ela incidente ampliaria demasiadamente o benefício fiscal,
pautado em amplo debate de políticas públicas tributárias, em grave violação ao artigo
150, § 6º, da CF (3), que determina a edição de lei específica para tratar sobre redução
de base de cálculo de tributo.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, apreciando o Tema 1135 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário. Vencidos os ministros
Marco Aurélio (Relator), Rosa Weber e Cármen Lúcia.

(1) CF: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: (...) § 13. Aplica-se o disposto no § 12 inclusive na hipótese de
substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I,
a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento. (Revogado pela Emenda
Constitucional 103, de 2019)”
(2) Lei 12.546/2011: “Art. 7º Até 31 de dezembro de 2020, poderão contribuir sobre o
valor da receita bruta, excluídos as vendas canceladas e os descontos incondicionais
concedidos, em substituição às contribuições previstas nos incisos I e III do caput do
art. 22 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991: (...) Art. 8º Até 31 de dezembro de
2021, poderão contribuir sobre o valor da receita bruta, excluídos as vendas
canceladas e os descontos incondicionais concedidos, em substituição às
contribuições previstas nos incisos I e III do caput do art. 22 da Lei nº 8.212, de 24 de
julho de 1991:”
(3) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) § 6º Qualquer
subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido,
anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser
concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou
contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.”

RE 1285845/RS, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de


Moraes, julgamento virtual finalizado em 18.6.2021 (sexta-feira), às 23:59

Regime especial de tributação do ICMS a indústrias localizadas no estado do


Pará - ADI 6479/PA

RESUMO:
É inconstitucional a sistemática de incentivo fiscal de ICMS às indústrias paraenses
de produtos industrializados derivados do trigo, prevista no Anexo I do Decreto
4.676/2001 do estado do Pará (Regulamento do ICMS).

Com efeito, contraria o disposto nos §§ 6º e 7º do art. 150 da Constituição Federal


(CF) (1) o estabelecimento, por Decreto estadual, de regime especial de recolhimento
antecipado do ICMS, com substituição tributária e benefícios fiscais.

Ademais, ao privilegiar as empresas produtoras de trigo e seus derivados localizadas


no estado do Pará, as normas impugnadas ofendem tanto o princípio da isonomia (2)
quanto a vedação de discriminações de qualquer natureza aos produtos em razão da
procedência ou destino (3).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou procedente o


pedido formulado em ação direta para reconhecer a inconstitucionalidade dos incs. I e
II do caput do art. 118, do art. 119, do caput e dos §§ 1º e 2º do art. 119-A, do capute
dos §§ 1º e 2º do art. 119-C, do art. 119-D, do caput, dos incs. I, II e III do § 1º, dos
incs. I e II do § 2º e do § 3º do art. 120, dos arts. 122-A e 123-A do Anexo I do
Decreto 4.676/2001 do estado do Pará (Regulamento do ICMS), com as alterações
dos Decretos 1.522/2009, 1.551/2009 e 360/2019.

(1) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) § 6º Qualquer
subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido,
anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser
concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou
contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (...) § 7º A lei poderá
atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo
pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
não se realize o fato gerador presumido.”
(2) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II - instituir
tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente,
proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles
exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou
direitos;”
(3) CF: “Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão
de sua procedência ou destino.”

ADI 6479/PA, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em


18.6.2021 (sexta-feira), às 23:59

Informativo 1023/STF

Preferência da União no recebimento de créditos da dívida ativa - ADPF 357/DF


RESUMO:
O concurso de preferência entre os entes federados na cobrança judicial dos
créditos tributários e não tributários, previsto no parágrafo único do art. 187 da
Lei 5.172/1966 (Código Tributário Nacional) e no parágrafo único do art. 29 da
Lei 6.830/1980 (Lei de Execuções Fiscais), não foi recepcionado pela Constituição
Federal de 1988 (CF/1988).

Isso porque ameaça o pacto federativo e contraria o inc. III do art. 19 da CF/1988 (1)
a definição de hierarquia na cobrança judicial dos créditos da dívida pública da União
aos estados e Distrito Federal e esses aos Municípios.

A autonomia e a isonomia dos entes federados são os alicerces para a manutenção do


modelo jurídico-constitucional adotado.

Somente pela Constituição, e quando houver finalidade constitucional adequadamente


demonstrada, pode-se criar distinções entre os entes federados na cobrança judicial
dos créditos tributários e não tributários.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido
formulado em arguição de descumprimento de preceito fundamental para declarar a
não recepção, pela CF/1988, das normas previstas no parágrafo único do art. 187 da
Lei 5.172/1966 e no parágrafo único do art. 29 da Lei 6.830/1980, e para cancelar o
Enunciado 563 da Súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) (2).

(1) CF/1988: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios: (...) III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.”
(2) Enunciado 563 da Súmula do STF: “O concurso de preferência a que se refere o
parágrafo único do art. 187 do Código Tributário Nacional é compatível com o
disposto no art. 9º, inciso I, da Constituição Federal.”

ADPF 357/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24.6.2021

Informativo 1024/STF

TESE FIXADA:
“É inconstitucional a incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação (ICMS) sobre o licenciamento ou cessão do direito de uso de
programas de computador.”

RESUMO:
As operações relativas ao licenciamento ou cessão do direito de uso de “software”,
padronizado ou elaborado por encomenda, são tributáveis pelo Imposto sobre
Serviços (ISS), e não pelo ICMS.
Isso porque trata-se de operações complexas que envolvem obrigações de dar e de
fazer, a exemplo da manutenção de programas, disponibilização de manuais,
atualizações tecnológicas e outras funcionalidades previstas em contrato (1).

Nesse contexto, o legislador complementar, ao incluir essas operações no subitem


1.05 da lista de serviços tributáveis pelo ISS anexa à Lei Complementar (LC)
116/2003, buscou dirimir eventual conflito de competência tributária entre estados e
municípios [Constituição Federal (CF), art. 146, I (2)].

Com base nesse entendimento, o Plenário conheceu parcialmente da ação direta de


inconstitucionalidade e, nessa parte, julgou o pedido procedente, para dar
interpretação conforme a Constituição ao art. 2º da LC 87/1996 e ao art. 1º da Lei
6.374/1989 do Estado de São Paulo, de modo a impedir a incidência do ICMS sobre o
licenciamento ou cessão do direito de uso de programas de computador.

Por fim, por maioria, decidiu modular os efeitos dessa decisão para, de maneira
análoga ao decidido nas ADIs 1.945 e 5.659, atribuir eficácia ex nunc, a contar de
3.3.2021, data em que publicada a ata de julgamento das aludidas ações diretas de
inconstitucionalidade. Ressalvou da modulação, porém, as seguintes situações: a) as
ações judiciais já ajuizadas e ainda em curso em 2.3.2021; b) as hipóteses de
bitributação relativas a fatos geradores ocorridos até 2.3.2021, nas quais será devida a
restituição Edição 1024/2021 | 15 INFORMATIVO STF SUMÁRIO do ICMS
recolhido, respeitado o prazo prescricional, independentemente da propositura de ação
judicial até aquela data; e c) as hipóteses relativas a fatos geradores ocorridos até
2.3.2021 em que não houve o recolhimento do ISS ou do ICMS, nas quais será devido
o pagamento do imposto municipal, respeitados os prazos decadencial e prescricional.
Vencido o ministro Marco Aurélio, quanto à modulação.

(1) Precedentes: ADI 1.945 e ADI 5.659.


(2) CF: “Art. 146. Cabe à lei complementar: (...) I - dispor sobre conflitos de
competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios;”

ADI 5576/SP, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em


2.8.2021 (segunda- -feira), às 23:59

Necessidade de lei em sentido estrito para a instituição de substituição tributária


- ADI 6144/AM e ADI 6624/AM

RESUMO:
É inconstitucional decreto estadual que atribua às empresas geradoras de
energia elétrica a responsabilidade por substituição tributária pelo recolhimento
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) (1).

Para haver substituição tributária relativamente ao ICMS, é imprescindível que haja a


lei complementar federal a que alude o art. 155, § 2º, XII, b, da Constituição Federal
(CF) (2) e que o mecanismo esteja previsto em lei estadual, conforme determina o art.
150, § 7º, da CF (3) (4).
No que diz respeito ao primeiro requisito, a Lei Complementar (LC) 87/1996 (Lei
Kandir) permite que essa responsabilidade seja atribuída por lei estadual (art. 6º) (5),
observada, ainda, a necessidade de acordo celebrado pelos estados interessados, se a
operação for interestadual (art. 9º) (6). Em relação às operações com energia elétrica,
a própria Lei Kandir já trouxe quais atores econômicos podem ser eleitos como
substitutos tributários (art. 9º, § 1º, II) (7), mas não atribuiu, ela própria, desde logo, a
nenhum sujeito passivo alguma responsabilidade por substituição tributária.

Assim, se a substituição tributária não está prevista em lei estadual em sentido estrito,
o decreto, ao tratar originariamente do assunto, inova no ordenamento jurídico e
incide em inconstitucionalidade formal, por ofensa ao princípio da legalidade
tributária.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, em análise conjunta, julgou
prejudicadas as ações diretas quanto ao art. 1º, II, do Decreto 40.628/2019 do Estado
do Amazonas, na parte em que fixou a Margem de Valor Agregado (MVA) de 150%
em relação à energia elétrica, e as julgou procedentes na parte subsistente, declarando
a inconstitucionalidade dos arts. 1º, I e II, e 2º do mesmo decreto. Foram modulados
os efeitos da declaração de inconstitucionalidade, estabelecendo-se que a decisão
produza efeitos a partir do início do próximo exercício financeiro (2022), ficando
ressalvadas as ações ajuizadas até a véspera da publicação da ata de julgamento do
mérito. Vencidos parcialmente os ministros Marco Aurélio e Edson Fachin, que
divergiram tão somente no tocante à projeção dos efeitos da decisão referente à
declaração de inconstitucionalidade.

(1) Precedente: ADI 4.281.


(2) CF: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) XII - cabe à lei
complementar: (...) b) dispor sobre substituição tributária;”
(3) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) § 7º A lei
poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável
pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso
não se realize o fato gerador presumido.”
(4) Precedente: RE 598.677 (Tema 456 da Repercussão Geral)
(5) LC 87/1996: “Art. 6º Lei estadual poderá atribuir a contribuinte do imposto ou a
depositário a qualquer título a responsabilidade pelo seu pagamento, hipótese em que
assumirá a condição de substituto tributário.”
(6) LC 87/1996: “Art. 9º A adoção do regime de substituição tributária em operações
interestaduais dependerá de acordo específico celebrado pelos Estados interessados.”
(7) LC 87/1996: “Art. 9º. (...) § 1º A responsabilidade a que se refere o art. 6º poderá
ser atribuída: (...) II – às empresas geradoras ou distribuidoras de energia elétrica, nas
operações internas e interestaduais, na condição de contribuinte ou de substituto
tributário, pelo pagamento do imposto, desde a produção ou importação até a última
operação, sendo seu cálculo efetuado sobre o preço praticado na operação final,
assegurado seu recolhimento ao Estado onde deva ocorrer essa operação.”
ADI 6144/AM, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 2.8.2021
(segunda-feira), às 23:59
ADI 6624/AM, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 2.8.2021
(segunda-feira) às 23:59

Informativo 1025/STF

Fixação de alíquota do ICMS sobre operações interestaduais com bens e


mercadorias importados - ADI 4858/DF

RESUMO:
É constitucional resolução do Senado Federal que fixa alíquota do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aplicável às operações
interestaduais com bens e mercadorias importados do exterior.

No inciso II do art. 155 da Constituição Federal (CF) (1), que guia toda a disciplina
que se segue em matéria de ICMS, há respaldo à cobrança do referido imposto nas
operações interestaduais com bens e mercadorias importados. No texto constitucional,
afirma-se expressamente que o ICMS pode ser cobrado “ainda que as operações e as
prestações se iniciem no exterior”.

Além disso, de acordo com art. 155, § 2º, IV, da CF (2), compete ao Senado Federal,
por meio de resolução, o estabelecimento das alíquotas de ICMS aplicáveis às
operações e prestações interestaduais.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente a ação
direta, para reconhecer a constitucionalidade da Resolução 13/2012 do Senado
Federal. Vencidos o ministro Edson Fachin (relator) e o ministro Marco Aurélio.

(1) CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos
sobre: (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior; (Redação dada pela EC 3/1993)”
(2) CF/1988: “Art. 155 (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte:
(...) IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou de
um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros,
estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de
exportação;”

ADI 4858/DF, relator Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgamento virtual finalizado em 16.8.2021 (segunda-feira), às 23:59

Informativo 1031/STF

TESE FIXADA:
“É inconstitucional a incidência do IRPJ e da CSLL sobre os valores atinentes à
taxa Selic recebidos em razão de repetição de indébito tributário.”
RESUMO:
Os valores relativos à taxa Selic recebidos pelo contribuinte na repetição de indébito
tributário não compõem a base de incidência do Imposto sobre a Renda das Pessoas
Jurídicas (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Os juros de mora legais, correspondentes à taxa Selic, na repetição de indébito


tributário são valores recebidos pelo contribuinte a título de danos emergentes e visam
recompor efetivas perdas, não implicando aumento de patrimônio do credor (1).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao julgar o Tema 962 da
repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário para dar interpretação
conforme à Constituição Federal ao § 1º do art. 3º da Lei 7.713/1988 (2), ao art. 17 do
Decreto-Lei 1.598/1977 (3) e ao art. 43, II e § 1º, da Lei 5.172/1966 (Código
Tributário Nacional) (4), de modo a excluir do âmbito de aplicação desses
dispositivos a incidência do imposto de renda e da CSLL sobre a taxa Selic recebida
pelo contribuinte na repetição de indébito tributário.

(1) Precedentes: RE 117.887; ACO 369.


(2) Lei 7.713/1988: “Art. 3º O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem
qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14 desta Lei. § 1º Constituem
rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos,
os alimentos e pensões percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer
natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes
aos rendimentos declarados.”
(3) Decreto-Lei 1.598/1977: “Art. 17 Os juros, o desconto, a correção monetária
prefixada, o lucro na operação de reporte e o prêmio de resgate de títulos ou
debêntures, ganhos pelo contribuinte, serão incluídos no lucro operacional e, quando
derivados de operações ou títulos com vencimento posterior ao encerramento do
exercício social, poderão ser rateados pelos períodos a que competirem.”
(4) Lei 5.172/1966: “Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e
proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica: (...) II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos
os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. § 1º A incidência
do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização,
condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção.
(Incluído pela Lcp nº 104, de 2001)”

RE 1063187/SC, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em


24.9.2021 (sexta-feira), às 23:59

Informativo 1033/STF

TESE FIXADA:
“Pertence ao Município, aos Estados e ao Distrito Federal a titularidade das
receitas arrecadadas a título de imposto de renda retido na fonte incidente sobre
valores pagos por eles, suas autarquias e fundações a pessoas físicas ou jurídicas
contratadas para a prestação de bens ou serviços, conforme disposto nos arts.
158, I, e 157, I, da Constituição Federal.”

RESUMO:
Os entes municipais, estaduais e o Distrito Federal possuem direito ao produto da
arrecadação do imposto de renda retido na fonte, incidente sobre rendimentos pagos
por eles e suas respectivas autarquias e fundações a pessoas físicas ou jurídicas
contratadas para a prestação de bens ou serviços.

A análise dos dispositivos constitucionais que versam sobre a repartição de receitas


entre os entes federados, considerando o contexto histórico em que elaborados, deve
ter em vista a tendência de descentralização dos recursos e os valores do federalismo
de cooperação, com vistas ao fortalecimento e autonomia dos entes subnacionais.
Assim, o conceito constitucional de rendimentos, constante dos arts. 157, I, e 158, I,
da Constituição Federal (CF) (1), deve ser considerado de forma mais abrangente, e
não de forma restritiva.

Além disso, a expressão “a qualquer título” (CF, arts. 157, I, e 158, I) é


suficientemente clara para afastar a pretensão do Fisco de limitar, por meio de ato
normativo infraconstitucional [Código Tributário Nacional (CTN), art. 85, II] (2), a
repartição da receita do imposto de renda retido na fonte.
Com base nesse entendimento, o Plenário, ao julgar o Tema 1130 da repercussão
geral, negou provimento a recurso extraordinário.

(1) CF: “Art. 157. Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal: I - o produto da
arrecadação do imposto da União sobre renda e proventos de qualquer natureza,
incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas
autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem; (...) Art. 158. Pertencem
aos Municípios: I - o produto da arrecadação do imposto da União sobre renda e
proventos de qualquer natureza, incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a
qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e
mantiverem;”
(2) CTN: “Art. 85. Serão distribuídos pela União: (...) II - aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, o produto da arrecadação, na fonte, do imposto a que se
refere o artigo 43, incidente sobre a renda das obrigações de sua dívida pública e
sobre os proventos dos seus servidores e dos de suas autarquias.”

RE 1293453/RS, relator Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em


8.10.2021 (sexta-feira), às 23:59

Informativo 1034/STF

TESE FIXADA:
“1. A ausência de estudo atuarial específico e prévio à edição de lei que aumente
a contribuição previdenciária dos servidores públicos não implica vício de
inconstitucionalidade, mas mera irregularidade que pode ser sanada pela
demonstração do déficit financeiro ou atuarial que justificava a medida.
2. A majoração da alíquota da contribuição previdenciária do servidor público
para 13,25% não afronta os princípios da razoabilidade e da vedação ao
confisco.”

RESUMO:
A falta de estudo atuarial específico e prévio não inviabiliza o aumento da alíquota da
contribuição previdenciária dos servidores.

O que a Constituição Federal (CF) exige como pressuposto para o aumento da


contribuição previdenciária é a necessidade de fazer frente ao custeio das despesas do
respectivo regime (CF, art. 149, § 1º) (1).

A majoração da alíquota de 11% para 13,25% não afronta os princípios da


razoabilidade e da vedação ao confisco.

Conforme o disposto no art. 7º, II, da Lei 8.134/1990 (2), o valor correspondente à
contribuição previdenciária deve ser deduzido da base de cálculo do imposto de
renda. Desse modo, se o servidor sofre um aumento na tributação dos seus
rendimentos pela contribuição previdenciária, também se beneficia de redução do
montante pago a título de imposto de renda.

Nesse contexto, o acréscimo de 2,25% na exação, cujo impacto é reduzido pela


dedução da base de cálculo do imposto de renda, não parece comprometer a
sobrevivência digna dos servidores públicos.
Com base nesses entendimentos, ao julgar o Tema 933 da repercussão geral, o
Plenário deu provimento a recurso extraordinário, para declarar a constitucionalidade
da Lei Complementar 100/2012 do Estado de Goiás.

CF: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de


intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou
econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. § 1º A União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições para
custeio de regime próprio de previdência social, cobradas dos servidores ativos, dos
aposentados e dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progressivas de acordo com
o valor da base de contribuição ou dos proventos de aposentadoria e de pensões.”
Lei 8.134/1990: “Art. 7º Na determinação da base de cálculo sujeita à incidência
mensal do imposto de renda, poderão ser deduzidas: (...) II - as contribuições para a
Previdência Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;”

ARE 875958/GO, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em


18.10.2021 (segunda-feira), às 23:59

Informativo 1035/STF

Parâmetros para o cálculo das custas judiciais e das taxas judiciárias - ADI
5688/PB
RESUMO:
É legítima a cobrança das custas judiciais e das taxas judiciárias tendo por parâmetro
o valor da causa, desde que fixados valores mínimos e máximos (1).

O art. 145, II, da Constituição Federal (CF) (2) determina, implicitamente, que a base
de cálculo das taxas cobradas pela prestação de serviço público específico e divisível
deve guardar consonância com o gasto oriundo da atividade estatal (3).

Não há se falar em excessiva majoração dos valores cobrados se a instituição do


tributo, ou o seu reajuste, (a) guardam correlação com o serviço prestado, (b)
mostram-se razoáveis e proporcionais, (c) não impedem o acesso ao Judiciário, e (d)
não possuem caráter confiscatório.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improcedente o pedido
formulado em ação direta, para declarar a constitucionalidade do art. 3º da Lei
8.071/2006 do Estado da Paraíba (4).

(1) Precedente: ADI 3.124.


CF: “Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
instituir os seguintes tributos: (...) II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia
ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis,
prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;”
Precedente: ADI 2.696.
Lei 8.071/2006 do Estado da Paraíba: “Art. 3º - O § 1º do artigo 2º da Lei 6.682, de
02 de dezembro de 1998, passa a viger com a seguinte redação: ‘§ 1º Em nenhuma
hipótese, a taxa de que trata esta lei poderá ultrapassar o valor correspondente a
novecentas (900) UFR’s nem será inferior ao valor de uma (1) UFR’.”

ADI 5688/PB, relator Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Dias Toffoli,
julgamento virtual finalizado em 22.10.2021 (sexta-feira), às 23:59

Informativo 1037/STF

TESE:
“É constitucional a inclusão do valor do IPI incidente nas operações de venda
feitas por fabricantes ou importadores de veículos na base de cálculo presumida
fixada para propiciar, em regime de substituição tributária, a cobrança e o
recolhimento antecipados, na forma do art. 43 da Medida Provisória nº
2.158-35/2001, de contribuições para o PIS e da Cofins devidas pelos
comerciantes varejistas.”

RESUMO:
É legítima a inclusão do IPI na base de cálculo presumida do PIS e da Cofins, a
ser considerada pelos industriais e importadores de veículos, em regime de
substituição tributária.
Na substituição tributária, a base de cálculo é presumida e corresponde aos fatos
geradores que serão praticados futuramente pelos comerciantes varejistas de veículos,
que não são contribuintes do IPI.

Não há, portanto, como o varejista de veículo dizer que estariam incidindo
contribuições sociais sobre valores que não compõem sua receita, pois destinados à
Fazenda, visto que ele não recolhe IPI aos cofres públicos. O revendedor de
automóveis, quando vende um veículo a um consumidor, não recebe qualquer valor
que posteriormente recolherá à Fazenda Nacional como IPI.

Ademais, nos casos em que a base de cálculo real se mostrar inferior à base de cálculo
presumida, poderá o comerciante varejista de veículos, demonstrando-o, requerer a
restituição da diferença.

Com base nesse entendimento, o Plenário ao apreciar o Tema 303 da repercussão


geral, negou provimento ao recurso extraordinário.

RE 605506/RS, relatora Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em


10.11.2021 (quarta-feira), às 23:59

Informativo 1040/STF

TESE:
“É constitucional a incidência do ISS no licenciamento ou na cessão de direito de
uso de programas de computação desenvolvidos para clientes de forma
personalizada, nos termos do subitem 1.05 da lista anexa à LC 116/2003.”

RESUMO:
Incide o Imposto sobre serviços (ISS) no licenciamento ou na cessão de direito de uso
de softwares desenvolvidos para clientes de forma personalizada, mesmo quando o
serviço seja proveniente do exterior ou sua prestação tenha se iniciado no exterior.

Para fins de incidência do ISS a que se refere o subitem 1.05 da lista anexa à LC
116/2003 (1), não interessa se o software é personalizado ou padronizado. Existindo o
licenciamento ou a cessão de direito de uso de programa de computação, deve incidir
o imposto municipal, independentemente de o software ser de um ou de outro tipo (2).

Além disso, é plenamente válida a incidência do ISS sobre serviço proveniente do


exterior ou sobre serviço cuja prestação se tenha iniciado no exterior, nos termos do
art. 1º, § 1º, da LC 116/2003 (3). Esse dispositivo, em harmonia com o texto
constitucional, prestigia o princípio da tributação no destino.

A propósito, note-se que, a teor do art. 156, § 3º, da Constituição Federal (4), cumpre
a lei complementar excluir da incidência do imposto em questão exportações de
serviços para o exterior. A ideia é que, a partir do mencionado preceito, a tributação
dos bens ou serviços exportados ocorram no país em que são eles consumidos. Nessa
toada, o país exportador deixa de os tributar e o país importador exerce, sobre os bens
ou serviços importados, a competência tributária pertinente.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, apreciando o Tema 590
da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário. No tocante à
modulação dos efeitos, o Plenário atribuiu eficácia ex nunc à decisão, a contar de
3/3/2021, data na qual foi publicada a ata de julgamento das ADIs 1.945 e 5.659.

(1) Lista anexa à LC 116/2003: “1.05 – Licenciamento ou cessão de direito de uso de


programas de computação.”
(2) Precedentes: ADIs 1.945 e 5.659.
(3) LC 116/2003: “Art. 1o O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de
competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação
de serviços constantes da lista anexa, ainda que esses não se constituam como
atividade preponderante do prestador. § 1o O imposto incide também sobre o serviço
proveniente do exterior do País ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior do
País.”
(4) CF: “Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: (...) III - serviços
de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei
complementar. (...) § 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste
artigo, cabe à lei complementar: I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas; II -
excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior. III - regular a forma
e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e
revogados.”

RE 688223/PR, relator Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 3.12.2021


(sexta-feira), às 23:59

Informativo 1042/STF

TESE:
“É constitucional a lei estadual ou distrital que, com amparo em convênio do
CONFAZ, conceda remissão de créditos de ICMS oriundos de benefícios fiscais
anteriormente julgados inconstitucionais.”

RESUMO:
É cabível a concessão de remissão, com amparo em convênios CONFAZ, de créditos
de ICMS oriundos de benefícios fiscais declarados inconstitucionais.

No caso, a Lei distrital 4.732/2011 não “ressuscitou” benefícios fiscais unilaterais


declarados inconstitucionais, mas apenas remitiu, com amparo em convênios, os
créditos de ICMS decorrentes, configurando-se, assim, novo benefício fiscal.

Ademais, a lei distrital reuniu os requisitos formais e materiais para resguardar a


segurança jurídica em favor dos contribuintes. Isso porque, com base no art. 155, § 2º,
XII, g, da Constituição Federal e na Lei Complementar 24/1975, remitiu os créditos
que seriam cobrados inclusive dos contribuintes que usufruíram de benefícios fiscais
condicionais ou onerosos.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o tema 817
da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário e reconheceu a
constitucionalidade da Lei distrital 4.732/2011, com a redação dada pela Lei distrital
4.969/2012.

RE 851421/DF, relator Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em


17.12.2021 (sexta-feira), às 23:59

Informativo 1042/STF

TESE: “A contribuição prevista no artigo 1º da Lei Complementar 110/2001 foi


recepcionada pela Emenda Constitucional 33/2001.”

RESUMO:
A base de cálculo da contribuição prevista pelo artigo 1º da Lei Complementar
110/2001 (1) é compatível com o texto constitucional, mesmo após o advento da
Emenda Constitucional 33/2001.

A Corte, no julgamento do RE 878.313 (Tema 846 da repercussão geral), assentou a


constitucionalidade da contribuição social prevista no artigo 1º da Lei Complementar
110/2001, afastando qualquer possibilidade de discussão acerca do exaurimento da
finalidade para a qual ela foi instituída.

Ademais, o acréscimo realizado pela EC 33/2001 ao art. 149, § 2º, III, da CF/88 (2)
não estabeleceu um rol exaustivo das bases econômicas passíveis de tributação por
contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico. Portanto, a base de
cálculo da contribuição do artigo 1º da Lei Complementar 110/2001, que é o saldo da
conta do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, é compatível com o texto
constitucional. Por via de consequência, impõe-se a manutenção da exigibilidade de
seu recolhimento pelo contribuinte.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu a existência


de repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema 1193 RG). No mérito,
por maioria, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a matéria (3) para prover o
recurso extraordinário.

(1) LC 110/2001: “Art. 1º Fica instituída contribuição social devida pelos


empregadores em caso de despedida de empregado sem justa causa, à alíquota de dez
por cento sobre o montante de todos os depósitos devidos, referentes ao Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, durante a vigência do contrato de trabalho,
acrescido das remunerações aplicáveis às contas vinculadas. Parágrafo único. Ficam
isentos da contribuição social instituída neste artigo os empregadores domésticos”.

(2) CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições


sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias
profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas,
observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art.
195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. (...) § 2º As
contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput
deste artigo: (...)III - poderão ter alíquotas: a) ad valorem , tendo por base o
faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor
aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada”

(3) Precedentes: ADI 2.556; ADI 2.568; RE 878.313; RE 603.624; RE 630.898; ARE
1.311.473 AgR; RE 1.250.692 segundo AgR; ARE 1.349.153; ARE 1.310.658; ARE
1.340.940; ARE 1.309.537; RE 1.000.402 ED; ARE 1.353.467; ARE 1.147.146; e
ARE 1.185.369.

RE 1317786/PE, relator Min. Luiz Fux, julgamento finalizado no Plenário Virtual em


4.2.2022

Informativo 1043/STF

TESE: “É constitucional a exclusão dos bens de informática dos incentivos fiscais


previstos para a Zona Franca de Manaus, promovida pela Lei 8.387/1991.”

RESUMO:
A Lei 8.387/1991 não reduziu favor fiscal previsto pelo Decreto-lei 288/1967 (1),
nem violou o art. 40 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) (2).

Com efeito, o art. 40 do ADCT garante a manutenção dos favores fiscais outorgados
pelo Decreto-lei 288/1967 e existentes ao tempo da promulgação da Constituição
Federal (CF) de 1988.

Ocorre que, quando a CF foi promulgada, os bens de informática não eram regulados
pelo Decreto-lei 288/1967, mas pela Lei 7.232/1984 (Lei de Informática). Isso se deu
em razão da revogação tácita, já que diante da incompatibilidade entre as duas
normas, prevaleceu a Lei de Informática por ser lei mais nova e especial em relação
ao decreto-lei.

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, declarou a perda de objeto da
ação direta em relação ao art. 11 da Lei 10.176/2001 e ao art. 2º, § 3º, da Lei
8.387/1991 e, quanto aos demais dispositivos questionados, julgou improcedente o
pedido formulado. Vencidos, parcialmente, os ministros Marco Aurélio (relator), Rosa
Weber, Edson Fachin e Roberto Barroso.

(1) Precedente citado: ADI 4.254


(2) ADCT: “Art. 40. É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas características de
área livre de comércio, de exportação e importação, e de incentivos fiscais, pelo prazo
de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da Constituição.”

ADI 2399/AM, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli,
julgamento virtual finalizado em 11.2.2022 (sexta-feira), às 23:59

Informativo 681/STJ

PROCESSO REsp 1.579.967-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 08/09/2020, DJe 09/10/2020

TEMA Contribuição previdenciária sobre receita bruta - CPRB. Operações de


vendas destinadas à Zona Franca de Manaus. Equivalência à exportação.
Isenção.

DESTAQUE
As receitas decorrentes das operações de vendas de mercadorias destinadas à
Zona Franca de Manaus devem ser excluídas da base de cálculo da contribuição
previdenciária sobre a receita bruta.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A Lei n. 12.546/2011, com redação dada pela Lei n. 12.844/13, criou espécie de
contribuição previdenciária substitutiva: "até 31 de dezembro de 2014, contribuirão
sobre o valor da receita bruta, excluídas as vendas canceladas e os descontos
incondicionais concedidos, à alíquota de 1% (um por cento), em substituição às
contribuições previstas nos incisos I e III do art. 22 da Lei n. 8.212/1991, as empresas
que fabricam os produtos classificados na TIPI, aprovada pelo Decreto n. 7.660/2011,
nos códigos referidos no Anexo desta Lei" (art. 8º); e dispôs que, "para fins do
disposto nos arts. 7º e 8º, exclui-se da base de cálculo das contribuições a receita bruta
de exportações" (art. 9º, II).

Por sua vez, a Zona Franca de Manaus constitui área de livre comércio instituída pelo
Decreto-lei n. 288/1967, cujo art. 4º veicula incentivo fiscal especial, estabelecendo
que "a exportação de mercadorias de origem nacional para consumo ou
industrialização na Zona Franca de Manaus, ou reexportação para o estrangeiro, será
para todos os efeitos fiscais, constantes da legislação em vigor, equivalente a uma
exportação brasileira para o estrangeiro".

As vendas de mercadorias para a Zona Franca de Manaus, na linha de pacífico


entendimento jurisprudencial deste Tribunal Superior, são alcançadas pela regra do
art. 9º, II, da Lei n. 12.546/2011.

A propósito, a Segunda Turma tem assim entendido: "a venda de mercadorias para
empresas situadas na Zona Franca de Manaus equivale à exportação de produto
brasileiro para o estrangeiro, em termos de efeitos fiscais, segundo interpretação do
Decreto-lei n. 288/1967, de modo que, com base nesse entendimento consolidado, é
possível concluir que não incide sobre tais receitas a contribuição substitutiva prevista
na Lei n. 12.546/2011" (AgInt no REsp 1.736.363/PR, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, julgado em 06/09/2018, DJe 13/09/2018).

Informativo 682/STJ

PROCESSO EREsp 1.493.162-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 14/10/2020, DJe 21/10/2020

TEMA ITBI. Negócio jurídico de compra e venda de imóvel. Declaração judicial


de nulidade. Insubsistência do fato gerador do tributo. Restituição dos valores
recolhidos a título de imposto.

DESTAQUE
A nulidade de negócio jurídico de compra e venda de imóvel viabiliza a
restituição do valor recolhido pelo contribuinte a título de ITBI.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


De acordo com os arts. 156, II da CF, e 35, I, II, e III do CTN, o fato gerador do ITBI
ocorre, no seu aspecto material e temporal, com a efetiva transmissão, a qualquer
título, da propriedade imobiliária, o que se perfectibiliza com a consumação do
negócio jurídico hábil a transmitir a titularidade do bem, mediante o registro do título
translativo no Cartório de Registro de Imóveis.

Todavia, no caso verifica-se que o negócio jurídico que ensejou a transferência de


propriedade do imóvel e, por conseguinte, a tributação pelo ITBI, não se concretizou
em caráter definitivo devido à superveniente declaração de nulidade por força de
sentença judicial transitada em julgado.

Logo, não tendo havido a transmissão da propriedade, já que nulo o negócio jurídico
de compra e venda de imóvel entabulado pelas partes, ausente fato gerador do
imposto em apreço, sendo devida a restituição do correspondente valor recolhido pelo
contribuinte a tal título.

Informativo 683/STJ
PROCESSO REsp 1.421.590-RN, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 17/11/2020, DJe 30/11/2020

TEMA Imposto sobre Renda de Pessoa Jurídica e Contribuição Social sobre


Lucro Líquido. Lucro presumido. Despesas com "reembolso de materiais".
Dedução. Descabimento.

DESTAQUE
Os valores auferidos a título de "reembolso de materiais" adquiridos para a
atividade de construção civil não devem ser deduzidos da base de cálculo do
IRPJ e da CSLL pelo lucro presumido.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Cinge-se a controvérsia a analisar se empresa optante da tributação do IRPJ e da
CSLL pelo lucro presumido pode deduzir da receita bruta, base de cálculo dos tributos
nesse regime, os valores que aufere a título de "reembolso de materiais" adquiridos
para a atividade de construção civil.

Em regra, receita bruta corresponde aos ingressos financeiros no patrimônio,


decorrentes ou não do desenvolvimento das atividades empresariais ou profissionais,
e que não sofrem deduções por quaisquer despesas ou custos suportados pelo
contribuinte.

O acolhimento de pedido tendente a excluir da receita bruta determinada despesa ou


custo, no regime de apuração pelo lucro presumido, conduziria a uma indevida dupla
dedução da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, na medida em que, na determinação
dos percentuais incidentes, a lei já considera, em tese, todas as reduções possíveis, de
acordo com cada ramo de atividade.

Se o contribuinte pretende que sejam considerados determinados custos ou despesas,


deve optar pelo regime de apuração pelo lucro real, que contempla essa possibilidade,
não se podendo permitir, à luz dos dispositivos de regência, que promova uma
combinação dos dois regimes, a fim de reduzir indevidamente a base de cálculo dos
tributos.

Caso em que os ingressos provenientes de pagamentos realizados pelo contratante


pelos materiais empregados na obra, ainda que a título de reembolso, referem-se, em
última análise, à prestação do serviço da empresa e, por conseguinte, integram a
definição de receita bruta, para fins de incidência do IRPJ e da CSLL, no regime de
apuração pelo lucro presumido.

PROCESSO ProAfR no REsp 1.896.526-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa,


Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 20/10/2020, DJe 17/11/2020

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A Primeira Seção acolheu a proposta de afetação do recurso especial ao rito dos
recursos repetitivos, conjuntamente com o REsp 1.895.496/DF, a fim de uniformizar o
entendimento a respeito da seguinte controvérsia: necessidade de se comprovar, no
arrolamento sumário, o pagamento do Imposto de Transmissão Causa Mortis e
Doação - ITCMD como condição para a homologação da partilha ou expedição da
carta de adjudicação, à luz dos arts. 192 do CTN e 659, § 2º, do CPC/2015.

Informativo 684/STJ

PROCESSO REsp 1.168.001-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, por
maioria, julgado em 17/11/2020, DJe 17/12/2020

TEMA Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI. Crédito presumido.


Ressarcimento de PIS e COFINS. Lei n. 9.363/1996. Critério temporal. Data da
exportação (Registro junto ao SISCOMEX).

DESTAQUE
O direito ao crédito presumido de IPI só surge na data de exportação e não na
data de aquisição dos insumos.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A Lei n. 9.363/1996 instituiu o benefício fiscal de crédito presumido de Imposto sobre
Produtos Industrializados - IPI para ressarcimento do valor de PIS/PASEP e COFINS
incidente sobre as respectivas aquisições no mercado interno de insumos utilizados no
processo produtivo (art. 1º).

O objetivo do benefício foi o de desonerar as exportações; a tal propósito, o elemento


temporal eleito pelo legislador para o gozo dessa benesse foi a data da exportação (e
não a da aquisição dos insumos).

Já a MP n. 1.807-2/1.999 promoveu a suspensão da fruição desse mesmo benefício,


no período compreendido entre 1º de abril e 31 de dezembro de 1999 (art. 12).

Tal suspensão ocorreu nas exportações realizadas no lapso previsto na MP n.


1.807/1999, considerando-se que o direito ao crédito surge quando da realização da
exportação (data de registro junto ao SISCOMEX).

Com efeito, "apenas as exportações efetuadas dentro do primeiro trimestre de 1999


geraram crédito presumido de IPI. Isso porque, muito embora se possa dizer que o
direito ao crédito tenha por causa desonerar as aquisições no mercado interno, a sua
utilização somente pode ocorrer quando da realização da exportação (data de registro
junto ao SISCOMEX e embarque da mercadoria), já que o objetivo do benefício é
desonerar as exportações" (REsp 1.340.086/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 2/5/2017).

Informativo 691/STJ

PROCESSO EAREsp 31.084/MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira


Seção, por maioria, julgado em 24/03/2021.
TEMA ISSQN. Sociedades simples no regime limitado. Quadro societário
composto por médicos. Recolhimento do ISSQN pela alíquota fixa. Regime do
artigo 9º, § 3º, do Decreto-Lei n. 406/1968. Serviço prestado em caráter pessoal e
em nome da sociedade.

DESTAQUE
Sociedades simples fazem jus ao recolhimento do ISSQN na forma privilegiada
previsto no art. 9º, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei n. 406/1968 quando a atividade
desempenhada não se sobrepuser à atuação profissional e direta dos sócios na
condução do objeto social da empresa, sendo irrelevante para essa finalidade o
fato de a pessoa jurídica ter se constituído sob a forma de responsabilidade
limitada.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A questão cinge-se em saber se uma sociedade limitada faz jus ao recolhimento do
ISSQN na forma privilegiada previsto no art. 9º, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei n.
406/1968. No caso, trata-se de sociedade simples limitada, em que o objeto social é a
prestação de serviços médicos desenvolvidos diretamente pelos sócios que compõem
o quadro societário, cuja responsabilidade pessoal é regida pelo Código de Ética
Médica.

Pautado nas mais variadas concepções factuais, hodiernamente a jurisprudência dessa


Corte tem negado às sociedades limitadas, a benesse da tributação prevista no
Decreto-Lei n. 406/1968, tendo por parâmetro, ora a forma com que a sociedade é
constituída (limitada, por exemplo), ora baseada no método de distribuição de lucros
de seus sócios entre si, se proporcionalmente ao serviço prestado por cada um em
nome da sociedade, ou se proporcionalmente à sua participação no capital social.

Neste cenário, há de se esclarecer que o fato de uma sociedade simples adotar o


regime de sociedade limitada, não a torna automaticamente uma sociedade
empresária. Em verdade, as municipalidades ao interpretar a norma do artigo 9º, § 3º,
do Decreto-Lei n. 406/1968 confundem a limitação da responsabilidade perante as
obrigações societárias, limitada às quotas de capital social de cada um dos sócios,
com a responsabilidade pessoal pela prestação do serviço, que decorre das normas que
regulamentam a profissão dos sócios.

A propósito, as profissões descritas no rol do Decreto-Lei n. 406/1968 possuem cada


qual, uma lei específica regulamentando e disciplinando a responsabilidade civil pelo
exercício da profissão para o público, seja de forma autônoma, seja através de uma
pessoa jurídica constituída para esse fim. Nesse cenário, conjugando esses
regramentos profissionais, com a norma tributária que instituiu o benefício da alíquota
fixa, não se pode condicionar o gozo da referida benesse fiscal ao modelo societário
elegido pelos sócios para a consecução do objeto social da pessoa jurídica. A rigor, a
responsabilidade pessoal descrita no artigo 9º, § 3º, do Decreto-Lei n. 406/1968 é
aquela descrita nas leis de regência de cada profissão.

Desse modo, quando os serviços prestados forem de caráter exclusivamente


intelectual, não se pode a partir da forma de constituição societária, avaliar o caráter
empresarial da sociedade, como o único elemento para se definir se ela faz jus ao
benefício da alíquota fixa de ISSQN, porquanto existem sociedades limitadas que não
são empresárias, conforme preveem expressamente os artigos 982 e 983 do Código
Civil.

Assim, a fruição do direito à tributação privilegiada do ISSQN depende, basicamente,


da análise da atividade efetivamente exercida pela sociedade, para saber se ela se
enquadra dentre aquelas elencadas no § 3º do art. 9º do Decreto-lei n. 406/1968 (itens
1, 4, 8, 25, 52, 88, 89, 90, 92 da lista anexa à LC n. 56/1987), bem como se perquirir
se a atividade intelectual, científica, literária ou artística desempenhada pela pessoa
jurídica não constitua elemento de empresa, ou melhor, nos termos do artigo 966 do
Código Civil, que os fatores de produção, circulação e de organização empresarial não
se sobreponham à atuação profissional e direta dos sócios na condução do objeto
social da empresa, sendo irrelevante para essa finalidade o fato de a pessoa jurídica ter
se constituído sob a forma de responsabilidade limitada.

Informativo 692/STJ

PROCESSO EDv nos EAREsp 1.109.354/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira
Seção, por maioria, julgado em 14/04/2021.

TEMA Contribuição ao PIS e COFINS. Regime monofásico. Creditamento. Não


cabimento. Excepcionalidade. Previsão legislativa expressa.

DESTAQUE
A técnica de creditamento, em regra, não se coaduna com o regime monofásico
da contribuição ao PIS e COFINS, só sendo excepcionada quando expressamente
prevista pelo legislador.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


No regime monofásico, a carga tributária concentra-se numa única fase, sendo
suportada por um único contribuinte, não havendo cumulatividade a se evitar. Na
técnica não cumulativa, por sua vez, a carga tributária é diluída em operações
sucessivas (plurifasia), sendo suportada por cada elo (contribuinte) da cadeia
produtiva, havendo direito a abater o crédito da etapa anterior.

Por outro lado, algumas vezes, por opção política, o legislador pode optar pela
geração ficta de crédito, por exemplo, forma de incentivo a determinados segmentos
da economia, como fez o art. 17 da Lei n. 11.033/2004 para os beneficiários do
regime tributário especial denominado REPORTO, caso que não se confunde com os
créditos próprios do regime não cumulativo.

A respeito dos mais diversos benefícios fiscais, a Constituição Federal, no art. 150, §
6º, estabelece que "qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,
concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou
contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou
municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, §
2.º, XII, g".

Ante o cenário normativo vigente, percebe-se que um benefício fiscal estruturado e


instituído para um determinado fim ou destinado a contemplar uma parcela específica
de contribuintes não pode ser estendido a hipótese diversa daquela estabelecida pelo
Poder Legislativo, ressalvada a posterior opção legislativa pela ampliação do seu
alcance.

Nesse caminho, em interpretação histórica dos dispositivos que cuidam da matéria em


debate, bem como da leitura do item 8 da Exposição de motivos da MP n. 66/2002,
convertida na Lei n. 10.637/2002, ficou estabelecido que os contribuintes tributados
em regime monofásico estavam excluídos da incidência não cumulativa.

À luz dessas premissas, a jurisprudência deste Tribunal Superior, em um primeiro


momento, entendeu que o benefício instituído pelo artigo 17 da Lei n. 11.033/04
somente se aplicaria aos contribuintes integrantes do regime específico de tributação
denominado REPORTO e não alcançaria o sistema não cumulativo desenhado para a
COFINS e a Contribuição ao PIS.

Contudo, esse entendimento (na parte referente à extensão da Lei do REPORTO), foi
superado por ambos os órgãos fracionários que compõem a Primeira Seção do STJ,
tendo sido decidido que o benefício fiscal previsto no art. 17 da Lei n. 11.033/2004
deveria ser estendido a outras pessoas jurídicas além daquelas definidas na referida
lei.

Ocorre que, no que concerne à incompatibilidade do creditamento da contribuição ao


PIS e da COFINS quando a tributação se desse pelo regime monofásico, não houve
alteração de entendimento da Segunda Turma do STJ, que continuou decidindo
reiteradamente pela sua impossibilidade.

Ocorre que a Primeira Turma, no ano de 2017, alterou seu posicionamento (quanto à
possibilidade de creditamento na monofasia), para entender que "o benefício fiscal
consistente em permitir a manutenção de créditos de PIS e COFINS, ainda que as
vendas e revendas realizadas pela empresa não tenham sido oneradas pela incidência
dessas contribuições no sistema monofásico, é extensível às pessoas jurídicas não
vinculadas ao REPORTO, regime tributário diferenciado para incentivar a
modernização e ampliação da estrutura portuária nacional, por expressa determinação
legal". Nesse julgado, considerou-se que tal benefício era extensível às pessoas
jurídicas não vinculadas ao REPORTO e que o art. 17 da Lei n. 11.033/2004 teria
derrogado, tacitamente, a Lei n. 10.637/2002 e a Lei n. 10.833/2003, porque teria
regulado inteiramente a matéria tratada nos arts. 3º dessas leis.

No entanto, atento ao que determinam o art. 150, § 6º, da CF/88 e o art. 2º do


Decreto-Lei n. 4.657/1942, deve prevalecer o entendimento da Segunda Turma desta
Corte Superior, segundo o qual o benefício fiscal do art. 17 da Lei n. 11.033/2004, em
razão da especialidade, não derrogou a Lei n. 10.637/2002 e a Lei n. 10.833/2003,
bem como não desnaturou a estrutura do sistema de créditos estabelecida pelo
legislador para a observância do princípio da não cumulatividade.
Por fim, pontua-se que tal técnica é utilizada para setores econômicos geradores de
expressiva arrecadação, por imperativo de praticabilidade tributária, e objetiva o
combate à evasão fiscal, foge, com todo o respeito, da razoabilidade uma
interpretação que venha a admitir a possibilidade de creditamento do tributo que
termine por neutralizar toda a arrecadação exatamente dos setores mais fortes da
economia.

Informativo 694/STJ

PROCESSO REsp 1.841.798/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção,


por unanimidade, julgado em 20/04/2021. (Tema 1048)

TEMA Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação - ITCDM. Doação não


declarada. Prazo decadencial. Art. 173, I, do CTN. Primeiro dia do exercício
seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Tema 1048.

DESTAQUE
O Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação - ITCDM, referente a doação
não oportunamente declarada pelo contribuinte ao fisco estadual, a contagem do
prazo decadencial tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que
o lançamento poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em
conformidade com os arts. 144 e 173, I, ambos do CTN.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Cinge-se a controvérsia a definir o início da contagem do prazo decadencial previsto
no art. 173, I, do CTN para a constituição do Imposto de Transmissão Causa Mortis e
Doação (ITCMD) referente a doação não oportunamente declarada pelo contribuinte
ao fisco estadual.

Nos termos do art. 149, II, do CTN, quando a declaração não seja prestada, por quem
de direito, no prazo e na forma da legislação tributária, surge para o Fisco a
necessidade de proceder ao lançamento de ofício, no prazo de cinco anos contados do
primeiro dia do exercício seguinte à data em que ocorrido o fato gerador do tributo
(art. 173, I, do CTN).

Em se tratando do imposto sobre a transmissão de bens ou direitos, mediante doação,


o fato gerador ocorrerá: (i) no tocante aos bens imóveis, pela efetiva transcrição
realizada no registro de imóveis (art. 1.245 do CC/2020); (i) em relação aos bens
móveis, ou direitos, a transmissão da titularidade, que caracteriza a doação, se dará
por tradição (art. 1.267 do CC/2020), eventualmente objeto de registro administrativo.

Para o caso de omissão na declaração do contribuinte, a respeito da ocorrência do fato


gerador do imposto incidente sobre a transmissão de bens ou direitos por doação,
caberá ao Fisco diligenciar quanto aos fatos tributáveis e exercer a constituição do
crédito tributário mediante lançamento de ofício, dentro do prazo decadencial.
O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacificado no sentido de que, no
caso do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação - ITCDM, a contagem do
prazo decadencial tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em conformidade
com os arts. 144 e 173, I, ambos do CTN, sendo irrelevante a data em que o fisco teve
conhecimento da ocorrência do fato gerador (AgInt no REsp 1.690.263/MG, Rel.
Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma Segunda Turma, julgado em 10/9/2019,
DJe 16/9/2019). No mesmo sentido: AgInt no REsp 1.795.066/MG, Rel. Ministro
Benedito Gonçalves,(Primeira Turma Primeira Turma, julgado em 16/9/2019, DJe 18/
9/2019).

Informativo 695/STJ

PROCESSO REsp 1.520.184-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 04/05/2021.

TEMA Contribuição ao PIS e COFINS. Lei n. 9.718/1998. Cooperativa de


pesquisa agropecuária. Venda de sementes, grãos e mudas. Desenvolvimento de
tecnologia. Fato definidor da qualidade da mercadoria. Royalties. Base de
cálculo. Inclusão. Possibilidade.

DESTAQUE
As receitas de royalties provenientes de atividades próprias da cooperativa de
desenvolvimento científico e tecnológico de pesquisa agropecuária, devem
integrar a base de cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento, segundo o qual a receita bruta e o
faturamento, para fins de definição da base de cálculo de incidência da contribuição
para o PIS e da COFINS, são termos equivalentes e consistem na totalidade das
receitas auferidas com a venda de mercadorias, de serviços ou de mercadorias e
serviços, assim entendido como a soma das receitas oriundas do exercício das
atividades empresariais típicas.

No caso, trata-se de "sociedade cooperativa que tem por objeto social o


desenvolvimento científico e tecnológico de pesquisa agropecuária e aufere receitas
decorrentes da venda dos seus produtos (sementes, fertilizantes, mudas etc) e também
de royalties (rendimentos decorrentes da exploração dos direitos sobre as sementes e
mudas desenvolvidas na atividade de pesquisa)".

É certo que os royalties são pagos em razão do uso, da fruição ou da exploração de


direitos, e não pela prestação de serviços ou em decorrência da venda de sementes,
grãos, mudas etc.

O produto resultante da pesquisa científica e tecnológica é o know how de como


desenvolver 1 determinas espécies de sementes e mudas mais resistentes a pragas,
p.ex.; e, assim, não se confunde os rendimentos recebidos pela venda dessas
mercadorias biotecnológicas.
A pesquisa científica ou tecnológica cria, melhora ou desenvolve o produto oferecido,
tornando-o atraente para os potenciais compradores interessados nas características
desenvolvidas pelo procedimento científico. Essas características são, em alta
proporção, definidoras da qualidade específica buscada pelo produtor-cooperado
(menor custo de produção por hectare; menor incidência de pragas; maior resistência
a produtos químicos etc).

Por isso, a receita da venda do produto (semente, grãos, mudas etc) e, concomitante,
as receitas de royalties (derivados de seu desenvolvimento) são provenientes das
atividades típicas da cooperativa autora; são indissociáveis, se considerado o fato de
uma receita estar intimamente vinculada com a geração da outra, razão pela qual não
há como se retirar os royalties da base de cálculo das contribuições, tendo em vista
compor a "soma das receitas oriundas do exercício das atividades empresariais
típicas"

Informativo 696/STJ

PROCESSO RMS 52.051-AP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma,
por unanimidade, julgado em 11/05/2021.

TEMA Imposto de Renda - IR. Contraprestação de plantões médicos. Incidência.

DESTAQUE
Incide Imposto de Renda sobre verba paga como contraprestação de plantões
médicos.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Cinge-se a controvérsia a analisar se incide Imposto de Renda - IR sobre a verba
como contraprestação de plantões médicos considerando que lei local considera a
referida verba como indenizatória.

De início, pontua-se que a existência de lei considerando a referida verba como


indenizatória não transmuta a natureza jurídica desta verba para fins de IR. Nesse
sentido, segue precedente: "(...) 1. Os rendimentos do trabalho assalariado estão
sujeitos à incidência do imposto de renda (art. 7º, I, da Lei n. 7.713/1988). 2. O fato
de lei estadual denominar a remuneração pelo serviço prestado em plantões como
verba indenizatória não altera sua natureza jurídica para fins de imposto de renda,
porquanto, nos termos dos arts. 109, 110 e 111 do CTN, combinados com os arts. 3º,
6º e 7º da Lei n. 7.713/1988, a incidência desse tributo, de competência da União,
independe da denominação específica dos rendimentos, sendo certo que inexiste
hipótese legal de isenção. (...) (RMS n. 50.738/AP, Primeira Turma, Rel. Min. Gurgel
de Faria, julgado em 10/05/2016, DJe03/06/2016).

À toda evidência, como bem ressaltada pela Corte de Origem "apesar de a redação do
art. 5° da Lei Estadual n. 1.575/2011 prever que a remuneração dos plantões médicos
possui natureza indenizatória, não há como fechar os olhos à realidade, posto que tais
pagamentos são habituais, comutativos e de caráter eminentemente retributivo do
serviço prestado mês a mês e não se prestam a ressarcir qualquer gasto ou despesa
extraordinária realizada pelo servidor [...]".

Com efeito, a verba assim instituída se assemelha àquela paga por horas extras aos
demais trabalhadores da iniciativa privada ou servidores públicos, constituindo
evidentemente remuneração, pois corresponde à paga pelo serviço prestado fora dos
horários habituais. Para estes casos (hora extra) é pacífica a jurisprudência deste STJ
no sentido da incidência do imposto de renda.

Informativo 697/STJ

PROCESSO REsp 1.452.963-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 18/05/2021

TEMA Imposto sobre operações financeiras - IOF. Câmbio. Vinculação à


exportação. Adiantamento sobre contrato de câmbio (ACC). Operação de
crédito. Fato gerador. Inexistência.

DESTAQUE
O Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), vinculado à exportação de
bens e serviços, não constitui fato gerador do Imposto sobre Operações
Financeiras - IOF.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Nos termos do art. 63, II, do CTN constitui fato gerador do IOF a liquidação do
contrato de câmbio, de modo que somente quando há a efetiva troca de moeda é
cabível a incidência do tributo.

No Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), a instituição financeira se obriga


a pagar, em reais e no momento estabelecido na avença, pela moeda estrangeira
comprada a termo, ou seja, paga-se antecipadamente, de forma total ou parcial, pelo
valor correspondente ao câmbio, que se efetivará no futuro.

No âmbito das exportações, a venda de mercadorias e serviços é formalizada, em


regra, mediante um contrato firmado entre a empresa nacional e o adquirente
estrangeiro. O pagamento é realizado pela moeda do país importador. Todavia, o
exportador brasileiro deve recebê-lo em moeda corrente brasileira, recebida por
operação de câmbio, a ser intermediada por instituição financeira. De acordo com o
seu interesse, pode formular um ACC, para antecipar esse valor, sujeitando-se aos
seus consectários pertinentes.

Com efeito, o ACC representa uma antecipação da obrigação contratual formulada


com a instituição financeira, que tem por objeto pagar ao exportador o preço em
moeda nacional da moeda estrangeira adquirida para entrega futura.

Conclui-se que há um liame, um vínculo indissociável, entre o ACC e a operação de


câmbio, na medida em que se antecipa para o exportador nacional uma importância
que irá se concretizar com o recebimento da moeda estrangeira, advinda da efetiva
exportação dos bens ou serviços.

Nesse contexto, o ACC não representa uma operação de crédito, embora não se negue
a antecipação de numerário que ela representa. Trata-se de uma operação de câmbio
de forma antecipada, e assim deve ser tributada, pois vinculada a compra a termo de
moeda estrangeira.

Ademais, em se tratando de operação de câmbio vinculada às exportações, sempre foi


observada a alíquota (zero) de IOF, seguindo a orientação constitucional de que não se
exporta tributos (arts. 149, § 2º, I; 153, § 3º, III; e 155, § 2º, X, "a", da Constituição
Federal).

Informativo 700/STJ

PROCESSO AREsp 1.273.046-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,


porunanimidade, julgado em 08/06/2021.

TEMA Compensação ou restituição de indébitos. Relação jurídico-tributária de


filial. Matriz. Legitimidade ativa.

DESTAQUE
A matriz pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição ou
compensação relativamente a indébitos de suas filiais.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

Na origem, trata-se de mandado de segurança, objetivando que a autoridade impetrada


se abstivesse de cobrar a Contribuição para o Seguro Acidente de Trabalho (SAT)
com base em alíquota apurada de acordo com a atividade preponderante da empresa
como um todo e permitisse o recolhimento dessa contribuição com base em alíquotas
aferidas de acordo com a atividade preponderante em cada estabelecimento.

No caso, o Tribunal a quo estabeleceu que a matriz e cada filial deveriam,


individualmente, buscar o Poder Judiciário, com vistas a obter declaração do direito
de se enquadrar em alíquota diversa da que vinha lhe sendo atribuída.

A sucursal, a filial e a agência não têm um registro próprio, autônomo, pois a pessoa
jurídica como um todo é que possui personalidade, sendo ela sujeito de direitos e
obrigações, assumindo com todo o seu patrimônio a correspondente responsabilidade

As filiais são estabelecimentos secundários da mesma pessoa jurídica,


desprovidas de personalidade jurídica e patrimônio próprio, apesar de poderem
possuir domicílios em lugares diferentes (art. 75, § 1º, do CC) e inscrições distintas no
CNPJ.
O fato de as filiais possuírem CNPJ próprio confere a elas somente autonomia
administrativa e operacional para fins fiscalizatórios, não abarcando a autonomia
jurídica, já que existe a relação de dependência entre o CNPJ das filiais e o da matriz.

Os valores a receber provenientes de pagamentos indevidos a título de tributos


pertencem à sociedade como um todo, de modo que a matriz pode discutir relação
jurídico-tributária, pleitear restituição ou compensação relativamente a indébitos de
suas filiais.

PROCESSO REsp 1.725.452-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd.
Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma, por maioria, julgado em 08/06/2021.

TEMA PIS. Cofins. Programa de inclusão digital. Lei n. 11.196/2005 (Lei do


Bem). Alíquota zero. Prazo determinado e sob condição onerosa. Prorrogação do
prazo pela Lei n. 13.097/2015. Antecipação do vencimento desse prazo, pela Lei
n. 13.241/2015. Impossibilidade. Princípio da segurança jurídica. Art. 178 do
CTN. Súmula 544 do STF.

DESTAQUE
É ilegal a antecipação do vencimento do benefício fiscal pelo art. 9º da Medida
Provisória n.690/2015, convertida na Lei n. 13.241/2015, sendo imperioso o
restabelecimento da desoneração fiscal objetiva dada ao PIS e à Cofins pelos
artigos 28 a 30 da Lei do Bem até o dia 31 de dezembro de 2018, nos termos do
artigo 5º da Lei n. 13.097/2015, incidentes sobre a receita bruta a varejo de
produtos relacionados ao Programa de Inclusão Digital.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Na origem, a contribuinte varejista insurge-se quanto à submissão aos efeitos do art.
9º da MP n.690/2015 (convertida na Lei n. 13.241/2015), dispositivo que antecipa, em
três exercícios, o derradeiro dia da redução a zero, por prazo certo, das alíquotas da
Contribuição ao PIS e da Cofins incidentes sobre a receita bruta das alienações dos
produtos especificados em lei.

Tal desoneração foi disciplinada pela Lei n. 11.196/2005 para as vendas efetuadas até
31.12.2009 (arts. 28; e 30, II), e, posteriormente, para as alienações até: (i)
31.12.2014, pelo disposto na MP n.472/2009, convertida na Lei n. 12.249/2010; e (ii)
31/12/2018, em razão da superveniência da MP n. 656/2014, convertida na Lei n.
13.097/2015.

De início, impende destacar a disciplina do Código Tributário Nacional quanto ao


instituto da isenção, notadamente na modalidade condicionada e por prazo certo: Art.
178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas
condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o
disposto no inciso III do art. 104. (Redação dada pela Lei Complementar n. 24/1975).

Não obstante a controvérsia não diga respeito à isenção, destaca-se a convergência


quanto à aplicação do art. 178 do CTN à hipótese de fixação, por prazo certo e em
função de determinadas condições, de alíquota zero das exações.
Com efeito, revela-se desarrazoado afastar-se a aplicação de tal dispositivo legal na
hipótese da alíquota zero, pois os contribuintes, tanto no caso de isenção,
quanto no de alíquota zero, encontram-se em posição equivalente no que tange
ao resultado prático do alívio fiscal.

Assinale-se que a fruição da redução da alíquota a zero sujeitava a empresa varejista:


(i) à restrição de fornecedores, apenas os nacionais com adoção do processo produtivo
indicado pelo Poder Executivo poderiam ser contratados; e (ii) à limitação do preço
de venda.

Estampadas, desse modo, as condições para a fruição da exoneração tributária,


revestidas de nítido caráter oneroso, especialmente, no ambiente da economia de livre
mercado. Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, há muito, cristalizou, em sua
Súmula 544, de 1969, o entendimento deque as "isenções tributárias concedidas,
sob condição onerosa, não podem ser livremente
suprimidas".

Ainda, a proteção da confiança no âmbito tributário, uma das faces do princípio da


segurança jurídica, prestigiado pela norma do art. 178 do CTN, deve ser
homenageada, sob pena de olvidar-se a boa-fé da contribuinte, que aderiu à política
fiscal de inclusão social, concebida mediante condições onerosas para o gozo do
incentivo da alíquota zero de tributos (Contribuição ao PIS e a Cofins).

Assim, a sujeição ao limite de preço, somada à restrição na contratação dos


fornecedores, revela a contrapartida da empresa no que tange à ação governamental
voltada à democratização do acesso aos meios digitais, porquanto esteve ela
submetida ao efeito próprio da restrição à liberdade empresarial - a diminuição do
lucro -, impondo a imediata readequação da estrutura do negócio, além da
manutenção dessa conformação empresarial durante o longo período de vigência do
incentivo.

Ademais, consistindo a previsibilidade das consequências decorrentes das condutas


adotadas pela Administração outro desdobramento da segurança jurídica, como
sublinhado, configura ato censurável a prematura extinção do regime de alíquota zero
para tais contribuições, após sua prorrogação para novos exercícios, os quais,
somados aos períodos anteriormente concedidos, ultrapassam uma década de ação
indutora do comportamento dos agentes econômicos do setor, inclusive dos varejistas,
com vista a beneficiar os consumidores de baixa renda.

Informativo 701/STJ

PROCESSO REsp 1.570.571-PB, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda


Turma, por unanimidade, julgado em15/06/2021, DJe 18/06/2021.

TEMA Entrega de declaração de compensação. Reiteração sobre débito não


homologado. Inviabilidade. Art. 74 da Lei n. 9.430/1996.
DESTAQUE
Descabe ao contribuinte reiterar declaração de compensação com base no mesmo
débito que fora objeto de compensação anterior não homologada.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A controvérsia cinge-se em saber se é possível ao contribuinte reiterar
declaração de compensação (§ 1º do art. 74 da Lei n. 9.430/1996) com base no
mesmo débito que fora objeto de compensação anterior não homologada.

O art. 74 da Lei n. 9.430/1996 (na redação dada pela Lei n. 10.637/2002 e Lei n.
10.833/2003) explicita que não poderão ser objeto de compensação mediante entrega,
pelo sujeito passivo, de débito que já tenha sido objeto de compensação não
homologada, ainda que a compensação se encontre pendente. Neste ponto, a Lei n.
9.430/1996 é clara ao asseverar que a compensação (de débito que já tenha sido
objeto de compensação não homologada) será considerada como "não declarada" (art.
74, § 3º, inciso V, da Lei n. 9.430/96), e, portanto, impassível de novo pedido de
compensação, independentemente da qualidade do crédito fiscal que seja
apresentado pelo contribuinte, consoante os termos do artigo 74, § 12, inciso I,
da Lei 9.430/1996.

Como se observa, a lei não concedeu margem para que se possa apresentar novos
pedidos de compensação sob os débitos fiscais que não foram homologados,
independentemente do pedido apresentar créditos distintos, porquanto em tais
situações, o débito foi considerado como "não declarado", logo inviável de ser
extinto pelo instituto da compensação fiscal, consoante uma interpretação
restritiva imposta pelo artigo 111, inciso I, do Código Tributário Nacional.

Assim, uma vez considerado o débito não declarado, com a inviabilidade de sua
compensação fiscal, este passivo tributário se tornará exigível para a Fazenda Pública
(Art. 74, § 7º, da Lei9.430/96), não podendo haver a sua extinção pelo instituto da
compensação. Portanto, relativizar tal condição, mediante a apresentação de outro
pedido de compensação, a par da existência de outros créditos pelo sujeito passivo,
permitiria ao contribuinte desvirtuar o instituto, ao suspender a exigibilidade do débito
fiscal ao seu alvedrio, sempre que disponibilizasse de créditos fiscais para tal missão.

PROCESSO REsp 1.893.966-SP, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, por


unanimidade, julgada em 08/06/2021, DJed e 16/06/2021.

TEMA Embargos à execução. Duplo ajuizamento. Custas processuais devidas


nos dois processos. Citação da parte contrária. Irrelevância.

DESTAQUE
O ajuizamento de um segundo processo de embargos à execução é fato gerador
de novas custas judiciais, independentemente da desistência nos primeiros antes
de realizada a citação.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


O art. 90 do CPC estabelece a responsabilidade pelas despesas processuais e
honorários advocatícios em caso de desistência e renúncia, nos seguintes termos:
Proferida sentença com fundamento em desistência, em renúncia ou em
reconhecimento do pedido, as despesas e os honorários serão pagos pela parte que
desistiu, renunciou ou reconheceu.

Por seu turno, o art. 84 do CPC assim estabelece o que pode ser incluído na categoria
"despesa processual": As despesas abrangem as custas dos atos do processo, a
indenização de viagem, a remuneração do assistente técnico e a diária de testemunha.
Dessa forma, no gênero despesas, podem ser incluídas diversas verbas: indenização
de viagem, remuneração do assistente técnico, diária de testemunha e as custas
judiciais, que têm natureza jurídica de taxa.

Portanto, as custas representam um tributo. A aparente confusão ocorre por algumas


legislações estaduais utilizarem o termo genérico "custas", outro, porém, empregarem
duas rubricas: custas e taxa judiciária.

Como se sabe, o tributo taxa pode ser cobrado em razão do exercício do poder de
polícia ou em razão do serviço público efetivamente prestado ou colocado à
disposição do contribuinte.

Ora, ao se ajuizar determinada demanda, dá-se início ao processo. O encerramento


desse processo exige a prestação do serviço público judicial, ainda que não se analise
o mérito da causa. Assim, o fato de em um primeiro processo de embargos à
execução fiscal ter gerado desistência sem a citação da parte contrária não afasta a
necessidade de recolhimento das "custas" com o ajuizamento de novos embargos
porque o serviço público foi prestado e estava à disposição do contribuinte.

Além disso, com o ajuizamento da demanda, já existe relação jurídica processual,


ainda que linear. A citação da parte apontada para figurar no polo passivo apenas tem
o condão de ampliar a relação jurídica. Logo, já há processo e já existe prestação
do serviço público. Por conseguinte, o ajuizamento de um segundo processo de
embargos gera um novo fato gerador do tributo.

Informativo 702/STJ

PROCESSO EREsp 1.404.931-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção,


por maioria, julgado em 23/06/2021.

TEMA Parcelamento. Pagamento à vista. Art. 1º, § 3º da Lei n.11.941/2009.


Redução de 100% das multas de mora e de ofício. Redução de 45% sobre os
juros de mora. Legalidade. Remissões distintas. Exegese firmada em
julgamento de Recurso Repetitivo. Preservação da estabilidade dos
precedentes.

DESTAQUE
A redução de 45% dos juros de mora previsto no art. 1º, § 3º, da Lei n.
11.941/2009 para pagamento ou parcelamento de créditos tributários incide
sobre a própria rubrica (juros de mora) em que se decompõe o crédito original, e
não sobre a soma das rubricas "principal + multa de mora".

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Cinge-se a controvérsia à interpretação da norma do art. 1º, § 3º, da Lei n.
11.941/2009, que possibilita reduzir as multas de mora e de ofício quando concedidos
os parcelamentos de créditos tributários com fundamento na referida lei.

O acórdão embargado estabeleceu que "(...) O art. 1º, § 3º, I, da Lei n.


11.941/2009,expressamente dispõe que o contribuinte optante pelo pagamento à
vista do débito fiscal será beneficiado com redução de 100% (cem por cento) do
valor das multas moratória e de ofício. Segue-se, desse modo, que os juros de mora,
cuja aplicação se entenda eventualmente devida sobre o valor das multas, incidirá,
por força da própria previsão legal, sobre as bases de cálculo inexistentes,
porquanto integralmente afastadas a priori pela lei, em consonância com o art. 155-A,
§ 1º, do CTN".

Já no acórdão apontado como paradigma, a Segunda Turma do Superior Tribunal de


Justiça decidiu que: "(...) é que o inciso I do § 3º do art. 1º da Lei nº 11.941/2009, a
despeito de ter reduzido em 100% (cem por cento) as multas de mora e de ofício,
apenas reduziu em 45% (quarenta e cinco por cento) o montante relativo aos juros de
mora".

A orientação da Segunda Turma é que responde de modo tecnicamente mais


adequado às questões acima pontuadas.

O art. 1º, § 3º, I, da Lei 11.941/2009, expressamente dispõe: "Observado o disposto no


art. 3ºdesta Lei e os requisitos e as condições estabelecidos em ato conjunto do
Procurador-Geral da Fazenda Nacional e do Secretário da Receita Federal do
Brasil, a ser editado no prazo de 60 (sessenta) dias a partir da data de
publicação desta Lei, os débitos que não foram objeto de parcelamentos
anteriores a que se refere este artigo poderão ser pagos ou parcelados da seguinte
forma: I - pagos a vista, com redução de 100% (cem por cento) das multas de mora e
de ofício, de40% (quarenta por cento) das isoladas, de 45% (quarenta e cinco por
cento) dos juros de mora e de100% (cem por cento) sobre o valor do encargo legal".

Percebe-se que qualquer outra interpretação a ser dada ao dispositivo torna inócuas
suas duas últimas partes que estabelecem remissão de 45% (quarenta e cinco por
cento) dos juros de mora e de 100% (cem por cento) sobre o valor do encargo legal.
Isso porque, caso recalculados os juros de mora e o encargo legal sobre débito não
mais existente, não haveria mais nenhum valor sobre o qual pudessem incidir os
percentuais de 45% e 100% de remissão, respectivamente.

Por ocasião do julgamento do REsp 1.251.513/PR (art. 543-C do CPC/1973), da


relatoria do Min. Mauro Campbell Marques, a Primeira Seção do STJ endossou
o entendimento acima delineado quando, nas razões de decidir do voto condutor,
definiu que a redução de 45% dos juros de mora incide sobre a própria rubrica (juros
de mora) em que se decompõe o crédito original, e não sobre a soma das rubricas
"principal + multa de mora".

Merece transcrição, nesse ponto, o seguinte excerto da referida decisão, que bem
explica a forma de cálculo definida no art. 1º, § 3º, da Lei 11.941/2009: "(...) A
remissão de juros moratórios, portanto, refere-se aos juros que compõem o crédito
tributário e não aos juros que remuneram o depósito judicial. A este respeito,
convém rememorar as parcelas ou rubricas que compõem o crédito tributário:
Principal: é valor do tributo devido ou da multa isolada devida; Multa: é o valor da
multa devida quanto atrelada ao principal, podendo ser de ofício, no caso de infração
à legislação tributária, ou de mora, no caso de atraso no pagamento do principal; Juros
de mora: são os juros incidentes em razão de atraso no pagamento do principal (art.
161, §1º, do CTN, atualmente a SELIC, por força do art. 61, §3º, da Lei n.
9.430/1996). Encargos: demais encargos incidentes sobre a dívida. No caso dos
débitos inscritos em Dívida Ativa da União incide o encargo legal previsto no art.1º,
do Decreto-Lei n. 1.025/1969. (...) Se o contribuinte realiza o depósito integral
após o encaminhamento do débito para inscrição em Dívida Ativa da União, tem-se o
congelamento da seguinte composição do crédito tributário (CT): CT = R$ 100,00
(principal) + R$ 20,00 (multa demora 20%) + R$ 1,20 (juros de mora 1%) + R$ 24,24
(encargo legal 20%) = TOTAL DE R$ 144,36 O depósito, para ser integral, deve ser
feito no valor de R$ 144,36. Se o depósito foi assim efetuado, exige o art. 10, da
Lei n. 11.941/2009, que, antes da transformação em pagamento
definitivo(conversão em renda), seja aplicada a remissão/anistia sobre o crédito
tributário, que passa a ter a seguinte composição (art. 1º, §3º, I, da Lei n.
11.941/2009): CT = R$ 100,00 (principal) + R$ 0,00(anistia de 100% da multa de
mora) + R$ 0,66 (remissão de 45% dos juros de mora) + R$ 0,00 (remissão de 100%
do encargo legal) = TOTAL DE R$ 100,66".

Conclui-se que a redução dos juros de mora em 45% deve ser aplicada, após a
consolidação da dívida, sobre o próprio montante devido originalmente a esse
título (juros de mora), faltando amparo legal para que a exclusão de 100% da
multa de mora e de ofício implique exclusão proporcional dos juros de mora, sem
que a lei assim o tenha definido de modo expresso. Como se vê, exegese em sentido
contrário, além de ampliar o sentido da norma restritiva, esbarra na tese fixada em
recurso repetitivo do STJ, instaurando, em consequência, indesejável insegurança
jurídica nomeio social.

Ressalta-se, por fim, a impossibilidade de interpretar de modo ampliativo e retroativo,


sem expressa previsão legal, a norma que disciplina remissão de parte do crédito
tributário (art. 111, I,do CTN) e a inviabilidade de fazer prevalecer, sem demonstração
de mudança no panorama fático e jurídico, orientação jurisprudencial dissonante da
estabelecida em recurso julgado no rito dos repetitivos.

PROCESSO REsp 1.895.557-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 22/06/2021.
TEMA Protesto de CDA. Lei n. 9.492/1997. Norma nacional. Plena eficácia.
Adoção por Fazenda Estadual e Municipal. Possibilidade. Lei local autorizativa.
Desnecessidade.

DESTAQUE
A validade do protesto de CDA emitida por Fazenda Pública Estadual ou
Fazenda Municipal não está condicionada à previa existência de lei local que
autorize a adoção dessa modalidade de cobrança extrajudicial.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A Lei n. 12.767/2012 incluiu o parágrafo único no art. 1º da Lei n
9.492/1997, in verbis: "Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de
dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das
respectivas autarquias e fundações públicas."

A interpretação desse dispositivo de lei federal já foi objeto de julgamento de recurso


especial repetitivo (REsp 1.686.659/SP), tendo a Primeira Seção firmado a tese de que
"a Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA,
documento de dívida, na forma do art. 1º,parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997,
com a redação dada pela Lei n. 12.767/2012" (Tema n. 777do STJ).

O protesto de título de crédito é matéria afeta ao ramo do direito civil e


comercial, cuja competência legislativa é privativa da União, conforme
preconiza do art. 22, I, da Constituição Federal. Tem-se, assim, que essa norma
federal é de caráter nacional e, por isso, dispensa autorização legislativa dos
outros entes da federação para a sua pronta aplicação.

Basta, então, à Fazenda Pública credora atender ao procedimento previsto na própria


Lei n.9.492/1997 para obter o protesto de seu título de crédito, a CDA, não havendo
necessidade de lei específica do ente tributante que preveja a adoção dessa medida,
visto que a citada lei federal já é dotada de plena eficácia.

A propósito, a lei processual também é de competência legislativa privativa da União


(art. 22, I,CF/88), sendo certo que a Lei n. 6.830/1980, que trata da "execução judicial
da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e
respectivas autarquias", igualmente à Lei n.9.492/1997, não contém nenhum
dispositivo que condicione a sua imediata aplicação por Estados e Municípios à
existência de lei de local autorizativa.

Se ambas as formas de cobrança estão previstas em lei federal de caráter nacional,


caberá ao Poder Executivo eleger a mais adequada para obter a arrecadação de
determinado crédito.

Ainda, o Poder Legislativo de cada ente federativo pode deliberar por restringir a
atuação da sua Administração, estabelecendo, por exemplo, condições mínimas de
valor e de tempo, para que a CDA seja levada a protesto, sendo certo que, na ausência
dessas restrições legais ao protesto, não há óbice para que a Fazenda Pública cobre
seu crédito por essa via extrajudicial, que, a toda evidência, é menos grave e onerosa
em comparação com o ajuizamento de execução fiscal.

Informativo 703/STJ

PROCESSO REsp 1.583.638-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda


Turma, por unanimidade, julgado 03/08/2021.

TEMA Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas (IRPF).Previdência Privada.


Isenção para proventos de aposentadoria e resgates. Moléstia grave. Art. 6º, XIV,
da Lei n. 7.713/1988, C/C art. 39, § 6º, do Decreto n.3.000/1999. Modelo PGBL
(Plano Gerador de Benefício Livre) ou VGBL (Vida Gerador de Benefício
Livre).Irrelevância.

DESTAQUE
O fato de se pagar parte ou totalidade do IRPF sobre o rendimento do
contribuinte ou sobre o resgate do plano e o fato de um plano ser tecnicamente
chamado de "previdência" (PGBL) e o outro de "seguro" (VGBL) são
irrelevantes para a aplicação da isenção prevista no art. 6º, XIV, da Lei
n.7.713/1988 c/c art. 39, § 6º, do Decreto n. 3.000/1999.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Conforme posicionamento já pacificado por este Superior Tribunal, a extensão da
aplicação do art. 6º, XIV, da Lei n. 7.713/1988 (isenção para proventos de
aposentadoria ou reforma recebidos por portadores de moléstia grave) também para os
recolhimentos ou resgates envolvendo entidades de previdência privada ocorreu com
o advento do art. 39, §6º, do Decreto n. 3.000/1999.

Também é de se registrar que esta Corte, por ambas as Turmas de Direito Tributário,
compreende que o destino tributário dos benefícios recebidos de entidade de
previdência privada não pode ser diverso do destino das importâncias correspondentes
ao resgate das respectivas contribuições. Desse modo, se há isenção para os benefícios
recebidos por portadores de moléstia grave, que nada mais são que o recebimento dos
valores aplicados nos planos de previdência privada de forma parcelada no tempo, a
norma também alberga a isenção para os resgates das mesmas importâncias, que nada
mais são que o recebimento dos valores aplicados de uma só vez.

Para a aplicação da jurisprudência é irrelevante tratar-se de plano de previdência


privada modelo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) ou VGBL (Vida Gerador
de Benefício Livre), isto porque são apenas duas espécies do mesmo gênero
(planos de caráter previdenciário) que se diferenciam em razão do fato de se
pagar parte do IR antes (sobre o rendimento do contribuinte) ou depois (sobre
o resgate do plano).

O fato de se pagar parte ou totalidade do IR antes ou depois e o fato de um


plano ser tecnicamente chamado de "previdência" (PGBL) e o outro de
"seguro" (VGBL) são irrelevantes para a aplicação da leitura que este Superior
Tribunal de Justiça faz da isenção prevista no art. 6º, XIV, da Lei n. 7.713/88
c/c art. 39, §6º, do Decreto n. 3.000/99. Isto porque ambos os planos irão
gerar efeitos previdenciários, quais sejam: uma renda mensal - que poderá ser
vitalícia ou por período determinado - ou um pagamento único correspondentes
à sobrevida do participante/beneficiário.

PROCESSO REsp 1.931.633-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,


por unanimidade, julgado em 03/08/2021.

TEMA Recuperação judicial. Habilitação de crédito. Multa administrativa.


Natureza não tributária. Fazenda Pública. Concurso de credores. Não
sujeição.

DESTAQUE
O crédito fiscal não tributário não se submete aos efeitos do plano de
recuperação judicial.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Nos termos do art. 49, caput, da Lei n. 11.101/2005, estão sujeitos à
recuperação judicial do devedor todos os créditos existentes na data do pedido
(ainda que não vencidos), sendo certo que a aferição da existência ou não do
crédito deve levar em consideração a data da ocorrência de seu fato gerador
(fonte da obrigação).

O art. 187, caput, do Código Tributário Nacional exclui os créditos de natureza


tributária dos efeitos da recuperação judicial do devedor, nada dispondo,
contudo, acerca dos créditos de natureza não tributária.

A Lei n. 11.101/2005, ao se referir a "execuções fiscais" (art. 6º, § 7º-B), está


tratando do instrumento processual que o ordenamento jurídico disponibiliza aos
respectivos titulares para cobrança dos créditos públicos, independentemente de
sua natureza, conforme disposto no art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei n. 6.830/1980.

Desse modo, se, por um lado, o art. 187 do CTN estabelece que os créditos
tributários não se sujeitam ao processo de soerguimento - silenciando quanto
aqueles de natureza não tributária -, por outro lado verifica-se que o próprio
diploma recuperacional e falimentar não estabeleceu distinção entre a natureza
dos créditos que deram ensejo ao ajuizamento do executivo fiscal para
afastá-los dos efeitos do processo de soerguimento.

Ademais, a própria Lei n. 10.522/2002 - que trata do parcelamento especial


previsto no art. 68, caput, da LFRE - prevê, em seu art. 10-A, que tanto os
créditos de natureza tributária quanto não tributária poderão ser liquidados de
acordo com uma das modalidades ali estabelecidas, de modo que admitir a
submissão destes ao plano de soerguimento equivaleria a chancelar a
possibilidade de eventual cobrança em duplicidade.

Tampouco a Lei n. 6.830/1980, em seus artigos 5º e 29, faz distinção entre


créditos tributários e não tributários, estabelecendo apenas, em sentido amplo,
que a "cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública não é sujeita a
concurso de credores ou habilitação em falência, concordata, liquidação,
inventário ou arrolamento".

Esta Corte Superior, ao tratar de questões envolvendo a possibilidade ou não


de continuidade da prática, em execuções fiscais, de atos expropriatórios em
face da recuperanda, também não se preocupou em diferenciar a natureza do
crédito em cobrança, denotando que tal distinção não apresenta relevância para
fins de submissão (ou não) da dívida aos efeitos do processo de soerguimento.

Assim, em que pese a dicção aparentemente restritiva da norma do caput do


art. 187 do CTN, a interpretação conjugada das demais disposições que regem
a cobrança dos créditos da Fazenda Pública insertas na Lei de Execução Fiscal,
bem como daquelas integrantes da própria Lei n. 11.101/2005 e da Lei n.
10.522/2002, autorizam a conclusão de que, para fins de não sujeição aos
efeitos do plano de recuperação judicial, a natureza tributária ou não tributária
do valor devido é irrelevante.

Informativo 705/STJ

PROCESSO REsp 1.927.469-PE, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, por


unanimidade, julgado em 10/08/2021.

TEMA Execução fiscal. Pagamento do débito após o ajuizamento e antes da


citação. Honorários advocatícios. Não cabimento.

DESTAQUE
Não cabe a condenação em honorários advocatícios por débito quitado após
ajuizamento da execução fiscal e antes da citação.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


O caput do art. 85 do CPC/2015 fixa o critério da sucumbência como a regra matriz
da fixação de honorários advocatícios. O § 10 estabelece o critério da
causalidade como complemento à sucumbência.

Pelo critério da sucumbência, a parte vencida deve pagar honorários à parte


vencedora. O parágrafo primeiro deve ser lido em consonância com o caput. Ele tem o
condão de destacar que os honorários não são devidos apenas no processo de
conhecimento natural, mas são também devidos na reconvenção, no cumprimento de
sentença, na execução e nos recursos.

Quando o parágrafo primeiro afirma que os honorários são devidos para a execução
resistida ou não resistida, quer dizer, em verdade, que, quando existe a formação da
relação jurídica processual entre exequente e executado, independentemente de
apresentação de defesa em autos próprios ou apartados, existe a incidência honorários
advocatícios.
Essa interpretação decorre não só da leitura do parágrafo primeiro em consonância
com o caput do art. 85, mas também pela leitura do art. 312 do CPC. Esse dispositivo
prevê que a propositura da demanda só produz efeitos para o polo passivo na citação.
Essa previsão é aplicável ao processo de execução por força do disposto no parágrafo
único, do art. 318 do CPC, o qual preconiza que o procedimento comum aplica-se
subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.
Assim, verifica-se que a sucumbência não poderia recair sobre a parte executada se o
pagamento ocorreu em momento anterior à citação, já que os efeitos da demanda não
a alcançam.

Evidentemente, a causalidade impede que a Fazenda Pública seja condenada em


honorários pelo pagamento anterior à citação e após o ajuizamento. Ela teria o
condão, neste caso, de afastar a responsabilidade pelo pagamento da verba, uma vez
que, no momento da propositura da demanda, o débito inscrito estava ativo.

Registre-se, por fim, tratar o caso concreto de execução fiscal ajuizada pela Fazenda
Pública Municipal, na qual não há previsão de encargos da dívida ativa de forma
automática, hipótese diversa da Fazenda Pública Federal, em que o art. 1º do
Decreto-lei 1025/69 prevê a cobrança de20% (vinte por cento) sobre o valor do
crédito, montante esse que substitui a condenação em honorários de sucumbência.

Informativo 706/STJ

PROCESSO REsp 1.470.443-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira


Seção, por maioria, julgado em 25/08/2021.(Tema 878)

TEMA Imposto de renda da pessoa física - IRPF. Incidência sobre juros de


mora. Adaptação da jurisprudência do STJ ao que julgado pelo STF no RE n.
855.091/RS (Tema 808- RG). Preservação em parte das teses julgadas no REsp
1.089.720/RS e recurso representativo da controvérsia REsp 1.227.133/RS.
Preservação da totalidade da tese julgada no recurso representativo de
controvérsia REsp 1.138.685/SC. Integralidade, estabilidade e coerência da
jurisprudência. Tema 878.

DESTAQUE
1) Regra geral, os juros de mora possuem natureza de lucros cessantes, o que
permite a incidência do Imposto de Renda;
2) Os juros de mora decorrentes do pagamento em atraso de verbas alimentares
a pessoas físicas escapam à regra geral da incidência do Imposto de Renda, posto
que, excepcionalmente, configuram indenização por danos emergentes;
3) Escapam à regra geral de incidência do Imposto de Renda sobre juros de
mora aqueles cuja verba principal seja isenta ou fora do campo de incidência do
IR.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


O Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE 855.091/RS (Tribunal Pleno, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 15.03.2021), apreciando o Tema 808 da Repercussão
Geral, em caso concreto onde em discussão juros moratórios acrescidos a verbas
remuneratórias reconhecidas em reclamatória trabalhista, considerou não
recepcionada pela Constituição Federal de 1988 a parte do parágrafo único do art. 16,
da Lei n. 4.506/1964 que determina a incidência do imposto de renda sobre juros de
mora decorrentes de atraso no pagamento das remunerações previstas no artigo, ou
seja, rendimentos do trabalho assalariado (remunerações advindas de exercício
de empregos, cargos ou funções). Fixou-se então a seguinte tese: Tema 808 da
Repercussão Geral: "Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo
atraso no pagamento de remuneração por exercício de emprego, cargo ou função".

O dever de manter a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça íntegra, estável


e coerente (art. 926, do CPC/2015) impõe realizar a compatibilização da
jurisprudência desta Casa formada em repetitivos e precedentes da Primeira Seção ao
que decidido no Tema 808 pela Corte Constitucional. Dessa análise, após as
derrogações perpetradas pelo julgado do STF na jurisprudência deste STJ, exsurgem
as seguintes teses: 1) Regra geral, os juros de mora possuem natureza de lucros
cessantes, o que permite a incidência do Imposto de Renda - Precedentes: REsp.
1.227.133/RS, REsp. n.1.089.720/RS e REsp. 1.138.695/SC; 2) Os juros de mora
decorrentes do pagamento em atraso de verbas alimentares a pessoas físicas escapam
à regra geral da incidência do Imposto de Renda, posto que, excepcionalmente,
configuram indenização por danos emergentes - Precedente: RE855.091/RS; 3)
Escapam à regra geral de incidência do Imposto de Renda sobre juros de mora aqueles
cuja verba principal seja isenta ou fora do campo de incidência do IR - Precedente:
REsp.1.089.720/RS.

Informativo 709/STJ

PROCESSO REsp 1.878.680-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma,


por unanimidade, julgado em14/09/2021.

TEMA Benefício fiscal. Programa "Minha Casa, Minha Vida". Contrato de


construção de unidades imobiliárias. Regime especial de tributação. Pagamento
unificado de tributos. Período de vigência. Termo final. Vigência do contrato.

DESTAQUE
O benefício fiscal do pagamento unificado de tributos, previsto no art. 2º da Lei
n. 12.024/2009, na redação dada pela Lei n. 13.097/2015, é aplicável até o final do
contrato firmado até31/12/2018, com a conclusão da obra contratada.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A presente controvérsia se concentra na definição do sentido e alcance da disposição
normativa constante no art. 2º da Lei n. 12.024/2009 (na redação dada pela Lei n.
13.097/2015).

Na vigência da redação dada pela Lei n. 13.097/2015, até 31 de dezembro de 2018, a


empresa construtora estava autorizada a efetuar o pagamento unificado de tributos
equivalente 1% da receita mensal auferida pelo contrato de construção.
Com o advento da Lei n. 13.970/2019 (publicada em 27/12/2019), o legislador impôs
a contratação da empresa para as obras ou o início das obras, até 31 de dezembro de
2018, como requisito para autorização do pagamento unificado de tributos equivalente
a 1% (um por cento) da receita mensal auferida pelo contrato de construção até a
extinção do respectivo contrato celebrado e, no caso de comercialização da unidade,
até a quitação plena do preço do imóvel", com a explicitação de que, na hipótese em
que a empresa construa unidades habitacionais para vendê-las prontas, o pagamento
unificado de tributos a que se refere o caput será equivalente a 1% (um porcento) da
receita mensal auferida pelo contrato de alienação.

O dispositivo legal de interpretação controvertida, art. 2º da Lei n. 12.024/2009 (na


redação dada pela Lei n. 13.097/2015), se constitui em um benefício fiscal
condicionado. Para a sua aplicação, as seguintes condições precisam ser observadas:
(i) existência de um contrato (condição objetiva); (ii) o contrato deve envolver
empresa construtora (condição subjetiva); (iii) a contratação precisa ter por objeto a
construção de unidades habitacionais de valor de até R$ 100.000,00 (cem mil reais)
no âmbito do Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV, de que trata a Lei n.
11.977, de 7 de julho de2009 (condição finalística); (iv) e o termo final, que é a data
de 31 de dezembro de 2018 (condição temporal).

As condições postas no dispositivo legal são de aplicação cumulativa e, portanto,


devem ser interpretadas de modo harmônico. Especificamente em relação à
condicionante temporal, contida na expressão "até 31 de dezembro de 2018", que está
umbilicalmente atrelada ao contrato firmado.

Nesse sentido, o dispositivo, como consequência do atendimento dos requisitos que


coloca, permite que a contratada efetue "o pagamento unificado de tributos
equivalente a um por cento da receita mensal auferida pelo contrato de construção".

O contrato firmado é uma condição objetiva para o gozo do benefício fiscal e este será
usufruído "por" aquele, ou seja, durante a vigência ou sobrevivência daquele. Assim
como compreenderam os juízos de primeiro e segundo graus, a interpretação do
dispositivo legal é a de que o benefício fiscal é devido "pelo" contrato.

Desse modo, enquanto o contrato não se exaurir, o benefício fiscal também não estará
exaurido: o recolhimento unificado e a vida do contrato estão correlacionados
normativamente. A fórmula temporal está relacionada ao benefício fiscal, mas
também ao próprio contrato, de modo que a sua aplicação se conecta ao surgimento e
duração contratual.

Informativo 710/STJ

PROCESSO EREsp 1.580.304-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 16/09/2021, DJe 23/09/2021.

TEMA Regime especial de importação. Drawback-suspensão. Causa de


exclusão de crédito tributário. Multa moratória. Incidência a partir do
trigésimo primeiro dia do inadimplemento do compromisso de exportar.
DESTAQUE
A multa moratória na hipótese de descumprimento, pelo contribuinte
beneficiário, da obrigação de exportar no regime especial de drawback em
sua modalidade suspensão, somente ocorrerá após o trigésimo dia do
inadimplemento.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Trata-se da incidência ou não de multa moratória na hipótese de
descumprimento, pelo contribuinte beneficiário, da obrigação de exportar no
regime especial de drawback, em sua modalidade suspensão.

O acórdão embargado, proferido pela Segunda Turma desta Corte, entendeu


pela incidência de juros de mora e multa ao fundamento de que o prazo de
trinta dias previsto no art. 342 do Decreto n. 4.543/2002 "não tem o condão
de alterar a data de constituição da obrigação tributária, tampouco da data de
pagamento dos tributos sem encargos moratórios".

Já o acórdão paradigma, exarado pela Primeira Turma, concluiu que "a


orientação que melhor se coaduna com uma visão sistemática da legislação e
princípios do Direito Tributário pátrio e, em especial, com a finalidade da
norma instituidora do regime específico de tributação em discussão, é aquela
que afasta a incidência da multa moratória".

Nesse contexto, tem-se que o drawback é uma espécie de regime aduaneiro


especial, consistente em um incentivo à exportação, visto que as operações por
ele contempladas são aquelas em que se importam insumos, para emprego na
fabricação ou no aperfeiçoamento de produtos a serem depois exportados.

O fato gerador dos tributos aduaneiros, no drawback suspensão, ocorre na data


do registro da declaração de importação na repartição aduaneira; o pagamento das
respectivas exações é que fica, em princípio, postergado para o prazo de um ano após
esse momento, e apenas se não houver o implemento de sua condição resolutiva, que
se consuma com o ato mesmo da exportação. Assim, escorreita a compreensão de que,
inadimplida a condição estabelecida para a fruição do incentivo (ausência da
exportação), os consectários ligados ao tributo, a saber, juros e correção monetária,
devem fluir a contar do fato gerador dos tributos suspensos, ou seja, a partir do
respectivo registro da declaração de importação na repartição aduaneira.

Diferente, no entanto, desponta o viés temporal ligado à aplicação da questionada


multa moratória. Tal penalidade, tendo como pressuposto o descumprimento da
obrigação de exportar, só poderá atuar após escoado o prazo de 30 dias, cujos
alicerces vinham descritos nos arts. 340 e 342do revogado Decreto n. 4.543/2002
(hoje sucedido pelo Decreto n. 6.759/2009).

PROCESSO REsp 1.858.965-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 22/09/2021. (Tema 1054)
TEMA Execução fiscal. Recolhimento antecipado das custas para a citação postal
do devedor. Exigência indevida. Exegese do art. 39 da Lei n. 6.830/1980. Tema
1054.

DESTAQUE
A teor do art. 39 da Lei n. 6.830/1980, a fazenda pública exequente, no âmbito
das execuções fiscais, está dispensada de promover o adiantamento de custas
relativas ao ato citatório, devendo recolher o respectivo valor somente ao final da
demanda, acaso resulte vencida.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Pela dicção do art. 39 da Lei n. 6.830/1980, diploma normativo especial, disciplinador
das execuções fiscais, a fazenda pública está exonerada de desembolsar as despesas
com atos processuais, só as ressarcindo, ao fim, se for vencida.

Na mesma linha de entendimento, preconiza o art. 91 do CPC que as custas


processuais só serão pagas pela fazenda pública ao fim, se resultar vencida na
demanda. Essa previsão já constava no CPC/1973, em seu art. 27: "As despesas
dos atos processuais, efetuados a requerimento do Ministério Público ou da
Fazenda Pública, serão pagas a final pelo vencido". Em outras palavras, a lei
processual, mesmo sob a égide do antigo CPC/1973, dispensava alguns
litigantes do ônus de adiantar as despesas processuais, a exemplo da fazenda
pública.

Outrossim, vale acrescentar, é entendimento assente no STJ o de que "Custas e


emolumentos, quanto à natureza jurídica, não se confundem com despesas para
o custeio de atos fora da atividade cartorial" (RMS 10.349/RS, Rel. Ministro
Milton Luiz Pereira, Primeira Turma, DJ 20/11/2000, p. 267).

Logo, no caso das custas e dos emolumentos, está a Fazenda Pública


dispensada de promover o adiantamento de numerário, enquanto, na hipótese de
despesas, o ente público deve efetuar o pagamento de forma antecipada.

Sobre a natureza dos valores despendidos para realização do ato citatório, este
STJ tem entendimento antigo no sentido de que a "citação postal constitui-se
ato processual cujo valor está abrangido nas custas processuais, e não se
confunde com despesas processuais, as quais se referem ao custeio de atos não
abrangidos pela atividade cartorial, como é o caso dos honorários de perito e
diligências promovidas por Oficial de Justiça" (REsp 443.678/RS, Rel. Min.
José Delgado, Primeira Turma, DJ 07/10/2002).

Conclui-se, dessa forma, que as despesas com a citação postal estão


compreendidas no conceito de "custas processuais", referidas estas como "atos
judiciais de seu interesse [do exequente]" pelo art. 39 da Lei n. 6.830/1980, e
"despesas dos atos processuais" pelo art. 91 do CPC. Além disso, essa expressa
previsão do vigente Código de Processo Civil, acerca da desnecessidade de
adiantamento das despesas processuais pelo ente público, veio referendar o que
já dizia o estatuto específico das execuções fiscais.
Assim, atento aos dizeres do art. 39 da Lei n. 6.830/1980, o STJ, de há
muito, tem se manifestado no rumo de não ser exigível, que a fazenda
exequente adiante o pagamento das custas com a citação postal do devedor na
execução fiscal, devendo fazê-lo apenas ao fim do processo, acaso vencida.

PROCESSO REsp 1.894.736-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 21/09/2021.

TEMA ICMS. Compensação com precatório. Momento de repasse ao município.


Extinção do crédito tributário.

DESTAQUE
O repasse referente à participação que o município faz jus sobre o ICMS
compensado com precatório se dá com a aceitação desse último com forma de
quitação do crédito tributário, não estando condicionado (o repasse) ao momento
em que o crédito estampado no precatório for efetivamente disponibilizado em
espécie, segundo a ordem cronológica.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


De acordo com a literalidade do § 1º do art. 4º da LC n. 63/1990, o legislador foi claro
ao assentar que na hipótese de o ICMS ser extinto mediante compensação ou
transação o estado deverá efetuar o repasse da participação constitucionalmente
assegurada a municipalidade quando da realização desse ato de extinção do crédito
tributário (art. 156, II, do CTN).

Como cediço, a extinção de débitos tributários mediante compensação com créditos


estampado sem precatório se dá com a aceitação desse último como forma de quitação
da dívida.

Por outro lado, não há na lei federal nenhuma disposição postergando o momento do
repasse da participação do ICMS compensado com precatório à ordem cronológica de
efetivo pagamento dos créditos nele estampados.

A propósito, a tese de condicionar a extinção e o repasse do ICMS à ordem


cronológica do precatório intenta transmudar a hipótese de compensação tributária
para arrecadação por meio de efetivo pagamento de que trata o caput do art. 4º,
esvaziando, assim, a norma específica contida no §1º.

Informativo 712/STJ

PROCESSO REsp 1.945.068-RS, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador


convocado do TRF da 5ª Região), Primeira Turma, por unanimidade, julgado
em05/10/2021.

TEMA PIS e COFINS. Base de cálculo. Contribuição Previdenciária sobre


Receita Bruta-CPRB. Legalidade.
DESTAQUE
Os valores recolhidos a título de Contribuição Previdenciária sobre a Receita
Bruta – CPRB integram a base de cálculo do PIS e da COFINS.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Destaque-se, inicialmente, que os casos idênticos até então submetidos à apreciação
desta Corte não estavam sendo conhecidos sob o fundamento de que, apesar de
constar de lei federal, a definição de faturamento e receita bruta para delimitar a base
de cálculo do PIS/COFINS tem índole constitucional, até mesmo em relação à
alegada ofensa ao art. 110 do CTN.

Todavia, o STF, ao analisar o RE 1.244.117 RG/SC (Tema 1.111), firmou a seguinte


tese: "É infraconstitucional a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão
geral, a controvérsia relativa à inclusão da contribuição previdenciária substitutiva
incidente sobre a receita bruta(CPRB) na base de cálculo da contribuição ao PIS e da
COFINS" (Min. Relator Dias Toffoli, publicado em 26.2.2021).

No que diz respeito à base de cálculo do PIS e da COFINS, os arts. 1º, §§ 1º e 2º, das
Leis n.10.637/2002 e 10.833/2003, dispõem que as referidas contribuições sociais
incidem sobre o total das receitas auferidas no mês pela contribuinte, que compreende
a receita bruta de que trata o art.12 do Decreto-Lei n. 1.598/1977 e as demais receitas,
excluindo-se apenas as receitas taxativamente elencadas em lei.

Da interpretação literal das normas que regem a matéria em debate, constata-se


que "os tributos incidentes sobre a receita bruta - dentre os quais se inclui a
CPRB - devem compor a receita bruta, que consiste na base de cálculo das
referidas contribuições, de modo que a inclusão da CPRB na base de cálculo
do PIS e da COFINS está de acordo com o princípio da legalidade tributária
(artigo 150, I, da CF)".

Além disso, a Suprema Corte, analisando caso similar no julgamento do RE


1.187.264 RG/SP (Tema 1.048), entendeu pela constitucionalidade da inclusão
do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços-ICMS na base de
cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta-CPRB.

Na ocasião, em adição aos fundamentos constitucionais, a questão foi analisada


à luz do art. 12 do Decreto-Lei n. 1.598/1977, com a redação dada pela Lei n.
12.973/2014, que trouxe a definição de receita bruta e líquida para fins de
incidência tributária, prevalecendo a orientação de que a receita bruta
compreende os tributos sobre ela incidentes.

Informativo 713/STJ

PROCESSO EAREsp 1.125.139-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, por
maioria, julgado em 06/10/2021.
TEMA Energia elétrica. Empréstimo compulsório. Cessão de crédito.
Necessidade de notificação do devedor. Art. 290do Código Civil. Ação de
cobrança pelo credor-cessionário. Citação. Requisito cumprido.

DESTAQUE
A citação na ação de cobrança ajuizada pelo credor-cessionário é suficiente para
cumprir a exigência de cientificar o devedor acerca da transferência do crédito.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Por ocasião do julgamento do REsp 1.119.558/SC, Primeira Seção, DJe 01/08/2012,
sob a sistemática do art. 543-C do CPC, ficou consignado que "os créditos decorrentes
da obrigação de devolução do empréstimo compulsório, incidente sobre o consumo de
energia elétrica, podem ser cedidos a terceiros, uma vez inexistente impedimento
legal expresso à transferência ou à cessão dos aludidos créditos, nada inibindo a
incidência das normas de direito privado à espécie, notadamente do art. 286 do
Código Civil". E, outrossim, que "o art. 286 do Código Civil autoriza a cessão de
crédito, condicionada à notificação do devedor".

Nesse contexto, decidiu o acórdão embargado da Segunda Turma que "a validade da
cessão de créditos oriundos da devolução de empréstimo compulsório sobre
energia elétrica submete-se não apenas ao preenchimento dos requisitos insertos
no art. 104 do CC, como também ao fato de a devolução do empréstimo
compulsório não se dar mediante a compensação dos débitos com valores
resultantes do consumo de energia, ficando sua eficácia sujeita à notificação do
cedido (art. 286 do CC)." Asseverou ainda que, "a cessionária não se
desincumbiu do ônus de notificar formalmente a parte devedora - Eletrobrás.
Cabe ressaltar que, diferentemente do alegado pela agravante, a proposição do
cumprimento de sentença, por si só, não equivale à notificação formal da
devedora. Deveria, no caso, a cessionária dar ciência da cessão à Eletrobrás
antes da propositura da cobrança judicial." (AgInt no AREsp 1.125.139/PR, Rel.
Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 27/08/2018).

Por sua vez, o acórdão paradigma da Terceira Turma consignou a tese de que
"a ausência de notificação do devedor a respeito da cessão de crédito, não
pode ser alegada pelo credor [rectius: devedor] quando esse teve conhecimento
da cessão quando citado na ação executiva." (AgRg no AREsp 545.311/SP, Rel.
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 23/03/2015).

Frisa-se, desde logo, que não se vislumbra nenhuma circunstância distintiva no


fato de a cessão em tela se referir a crédito oriundo de empréstimo
compulsório, tampouco no fato de a devolução do empréstimo compulsório não
poder se dar mediante a compensação dos débitos com valores resultantes do
consumo de energia.

A controvérsia cinge-se, na verdade, a saber se a citação da devedora em ação


movida pelo cessionário atende a finalidade precípua do art. 290 do Código
Civil, que é a de "dar ciência" ao devedor do negócio, por meio de "escrito
público ou particular."
Pelo que se pode inferir da norma sob análise (art. 290 do Código Civil: A
cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este
notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou
particular, se declarou ciente da cessão feita.), a finalidade é informar ao
devedor quem é o seu novo credor.

É importante ressaltar que o devedor fica dispensado de ter de pagar


novamente ao credor cessionário, se já saldou a dívida diretamente com o
credor originário. Ademais, o devedor pode opor ao credor-cessionário as
exceções de caráter pessoal que teria em relação ao credor-cedente, anteriores a
transferência do crédito e também posteriores, até o momento da cobrança,
conforme dispõe o art. 294 do Código Civil (O devedor pode opor ao
cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento
em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente).

Cabe ressaltar que, segundo precedente deste Tribunal Superior, "[a] falta de
notificação do devedor sobre a cessão do crédito não torna a dívida inexigível
(art. 290 do CC/02)" (REsp 1.882.117/MS, Rel. Ministra Nancy Andrighi,
Terceira Turma, DJe 12/11/2020).

Nesse contexto, se ausência de comunicação da cessão do crédito não afasta a


exigibilidade da dívida, a questão está melhor decidida pelo acórdão paradigma,
ao considerar suficiente a citação do devedor na ação de cobrança ajuizada
pelo credor-cessionário para atender ao comando do art. 290 do Código Civil,
que é a de "dar ciência" ao devedor do negócio, por meio de "escrito público
ou particular."

Com efeito, a partir da citação, o devedor toma ciência inequívoca da cessão


de crédito e, por conseguinte, a quem deve pagar. Assim, a citação revela-se
suficiente para cumprir a exigência de cientificar o devedor da transferência do
crédito.

PROCESSO AgInt no AREsp 1.738.784-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda


Turma, por unanimidade, julgado em05/10/2021.

TEMA Execução fiscal. honorários advocatícios. Despacho inicial. Aplicação


subsidiária do art. 827, § 1° do CPC/2015.

DESTAQUE
Na Execução Fiscal, quando não incluídos como encargo na CDA, os honorários
provisórios arbitrados no despacho do juiz que ordena a citação devem observar
o percentual estabelecido no art. 827 e não as faixas do art. 85, § 3°, ambos do
Código de Processo Civil/2015.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


O CPC/2015, nos arts. 523, § 1º, e 827, prevê o pagamento de honorários tanto na
fase de cumprimento de sentença como no processo de execução, estabelecendo, em
ambos os casos, o percentual fixo de 10% (dez por cento).

Também em ambos os casos, o Código concede benefício ao devedor que satisfizer o


crédito exequendo voluntariamente. No cumprimento de sentença, os honorários só
serão devidos se não houver pagamento no prazo de quinze dias contados da
intimação para pagamento voluntário (art. 523, caput e § 1º). E, no processo de
execução, embora no mandado citatório seja fixada ab initio a verba honorária,
"[n]o caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos
honorários advocatícios será reduzido pela metade" (art. 827, § 1º).

Como se vê, se a verba honorária na fase de conhecimento está condicionada


ao trabalho que se exigiu do advogado (art. 85, § 2º) e, mesmo nas causas em
que a Fazenda Pública for parte, tem quantificação variável (art. 85, § 3º), nos
procedimentos executivos o percentual de 10% (dez por cento) é dado pela lei,
sendo, conforme doutrina, "ilegal o juiz fixar percentual inferior ou superior". A
exclusão dessa verba (art. 523, caput e § 1º) ou sua redução à metade (art.
827, § 1º) condicionam-se única e exclusivamente ao comportamento do
devedor.

A norma especial, no caso, não é o § 3º do art. 85, que versa sobre


honorários definitivos na fase de conhecimento, mas o art. 827, que, compondo
a sistemática legal dos honorários provisórios nos procedimentos executivos,
conforme doutrina, "concede ao executado um estímulo para que satisfaça o
mais rapidamente possível a execução". A regra do art. 85, § 3º, somente
poderia ser considerada especial em relação ao art. 827 se disciplinasse
concretamente os honorários provisórios.

Com isso, verifica-se correta a interpretação do Tribunal de Origem que assim


consignou: " 4.1 A Lei de Execução Fiscal, em seu artigo 1º, traz,
expressamente, a possibilidade de aplicação subsidiária das normas expressas no
Código de Processo Civil à cobrança da Dívida Ativa da Fazenda Pública.
Confira-se: (...) 4.1.1 Diante deste cenário, segundo a previsão do artigo 827
do Código de Processo Civil/2015, o MM. Julgador, ao proferir despacho
inicial, nos processos executivos, fixará, de plano, a verba honorária, no valor
de 10% (dez por cento), a ser paga pela parte Executada. Aludido valor
poderá, inclusive, ser reduzido pela metade, caso ocorra o pagamento integral
do débito exequendo".

PROCESSO REsp 1.445.843-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 05/10/2021.

TEMA PIS. COFINS. Setor agropecuário. Regime não cumulativo. Cooperativa


fornecedora de insumos. Receita sobre comercialização. Suspensão.
Aproveitamento de créditos. Direito a ressarcimento ou compensação.
Impossibilidade.
DESTAQUE
As empresas e as cooperativas que exercem função intermediária de
fornecimento de insumos e usufruem da suspensão da incidência das
contribuições incidentes sobre a receita da sua comercialização não têm direito
ao aproveitamento de créditos, à luz da vedação contida no art. 8º, §4º, inciso II,
da Lei n. 10.925/2004.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A Lei n. 10.925/2004 instituiu um microssistema jurídico integrado por agricultores,
fornecedores de insumos e industriais, atendendo as peculiaridades do setor
agroindustrial, que sobreveio em substituição ao regime não cumulativo geral
relativamente aos insumos que menciona, previsto nas Leis n. 10.637/2002 e
10.833/2003.

O referido microssistema busca desonerar a cadeia produtiva e estabelece a


possibilidade de dedução de crédito presumido da contribuição ao PIS/PASEP e da
COFINS tão somente pelas pessoas jurídicas descritas no art. 8º, caput, da Lei n.
10.925/2004, ou seja, pelos produtores de alimentos.

A lei instituiu o crédito presumido com a finalidade de incrementar a aquisição de


mercadorias de pessoas físicas, que não são sujeitas ao pagamento das contribuições
em referência, de modo a estimular a atividade rural e a produção de alimentos. Com
efeito, se não houvesse crédito presumido, os produtores somente adquiririam seus
insumos de pessoas jurídicas, que geram créditos ordinários.

As empresas que exercem uma função intermediária de fornecimento de insumos, ao


comercializarem os produtos descritos na lei, embora não sejam beneficiadas com o
crédito presumido, em face da vedação do art. 8º, § 4º, da Lei 10.925/2004,
usufruem da suspensão da incidência das contribuições incidentes sobre a
receita da sua comercialização, por força das disposições contidas no art. 9º e
incisos do mencionado diploma legal.

Em outras palavras, as empresas, inclusive cooperativas, que promovem


atividades pré industriais não oferecem a receita proveniente da comercialização
dos produtos especificados em lei à tributação das contribuições em tela, pois a
revenda, no mercado interno, para os produtores de alimentos encontra-se
sujeita à suspensão.

Desse modo, tem-se a seguinte sequência de tributação relativamente aos


agentes, inclusive cooperativas, que atuam com os produtos agrícolas e
pecuários descritos na norma: a) os agricultores e pecuaristas, pessoas físicas ou
cooperados pessoas físicas, que não são sujeitos ao pagamento das contribuições
em tela; b) os fornecedores de insumos especificados na lei, que exercem
função intermediária ao adquirem os insumos agropecuários e são igualmente
desobrigados ao pagamento das contribuições, em razão da suspensão da sua
incidência; e c) os produtores de alimentos, que gozam de créditos presumidos,
na forma da lei.
Outrossim, à luz do art. 9º-A da Lei n. 10.925/2004, somente aqueles que
apuram saldos de créditos presumidos, ou seja, os produtores de alimentos,
podem requerer ressarcimento ou compensação.

Com efeito, a tese de que seria aplicável o benefício fiscal do art. 17 da Lei
n. 11.033/2004 não encontra respaldo na orientação firmada pelo Superior
Tribunal de Justiça, pois tal dispositivo, em razão da especialidade, não
derrogou a Lei n. 10.637/2002 e a Lei n. 10.833/2003, bem como não
desnaturou a estrutura do sistema de créditos estabelecida pelo legislador para
a materialização do princípio da não cumulatividade, quanto à COFINS e à
contribuição ao PIS.

Dessa forma, da leitura dos dispositivos legais que regem a matéria em


nenhum momento se pode extrair a compreensão de que seria possível
ressarcimento ou compensação relativos a operações de saída com suspensão da
Contribuição ao PIS e da COFINS.

Informativo 714/STJ

PROCESSO EDcl no AgInt no AREsp 1.821.102-SC, Rel. Min. Assusete Magalhães,


Segunda Turma, por maioria, julgado em05/10/2021, DJe 18/10/2021.

TEMA EDcl no RE 574.706/PR (Tema 69). Modulação dos efeitos pelo STF. Fato
superveniente. Adequação de julgado. Conhecimento do recurso e relação com o
objeto recursal. Requisitos. Necessidade.

DESTAQUE
Para a adequação de determinado julgado, após a modulação dos efeitos de
decisão pelo Supremo Tribunal Federal, é necessário que o recurso tenha sido
conhecido e que haja relação entre o objeto recursal e o fato superveniente.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A questão controvertida trata sobre a ocorrência de fato novo superveniente, relativo
ao julgamento, pelo STF, dos Embargos de Declaração no RE 574.706/PR.

Quanto à questão, em 13/05/2021, o Plenário do Supremo Tribunal Federal,


por maioria, acolheu, em parte, os Embargos de Declaração opostos, pela
Fazenda Nacional, apenas "para modular os efeitos do julgado cuja produção
haverá de se dar desde 15/03/2017(...), ressalvadas as ações judiciais e
administrativas protocoladas até a data da sessão em que proferido o
julgamento de mérito".

Assim, a rigor, a modulação apanharia o presente feito, impetrado em


31/01/2018, ou seja, data posterior ao termo inicial de produção de efeitos da
tese fixada pelo STF.
Não obstante isso, neste momento processual, é tecnicamente inviável a
aplicação da modulação de efeitos, pelo STJ, na forma decidida pelo STF, ou a
determinação da remessa dos autos à origem, para que o faça.

Isso porque em sede extraordinária, o art. 493 do CPC/2015 "admite o exame


de fato superveniente apenas nas hipóteses em que, ultrapassada a barreira do
conhecimento do recurso especial, este Tribunal for julgar a causa" (AgInt no
AREsp 850.277/MS, rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, DJe de
11/09/2018), o que não se verifica, na espécie, haja vista que, no mérito, não
se conheceu do apelo nobre, ante a natureza constitucional da controvérsia.

Assim, para o reconhecimento de fato superveniente, é necessário, além do


conhecimento do recurso, que haja relação entre o objeto recursal e aludido
fato superveniente. Trata-se de decorrência lógica do princípio tantum
devolutum quantum apellatum. Desse modo, aplicar a modulação de efeitos, na
espécie, ou determinar que o Tribunal de origem o faça, implicaria ofensa à
coisa julgada.

PROCESSO REsp 1.926.749-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira


Turma, por maioria, julgado em 05/10/2021.

TEMA COFINS-importação. Importação de peças para aeronaves. Acréscimo


de alíquota de 1%. Legalidade.

DESTAQUE
O acréscimo determinado pelo § 21 do art. 8º da Lei n. 10.865/2004
(incluído pela Lei n. 12.844/2013) majorou de maneira linear, em 01 ponto
percentual, todas as alíquotas para a COFINS-Importação tratadas neste
artigo.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A controvérsia gravita em torno de definir se o §21, acrescentado ao art. 8º
da Lei n. 10.865/2004 pela Lei n. 12.844/2013, tem como resultado: a) majorar
todas as alíquotas para a COFINS Importação tratadas no art. 8º, de maneira
linear, em 01 ponto percentual (de modo que, onde havia alíquota-zero, se
passaria a 1%); ou b) promover o referido aumento apenas onde havia
alíquotas positivas definidas, estando as hipóteses de alíquota-zero ressalvadas
do aumento linear, em razão de seu caráter excepcional ("lex specialis derrogat
lex generalis").

É oportuno mencionar que o Supremo Tribunal Federal, no RE 1.178.310/PR,


em repercussão geral, decidiu pela "constitucionalidade da majoração, em um
ponto percentual, da alíquota da COFINS-Importação, introduzida pelo artigo 8º,
§ 21, da Lei n. 10.865/2004, com a redação dada pela Lei n. 12.715/2012, e
da vedação ao aproveitamento integral dos créditos oriundos do pagamento da
exação, constante do §1º-A do artigo 15 da Lei n. 10.865/2004, incluído pela
Lei n. 13.137/2015".
Registra-se que o STF julgou apenas a constitucionalidade do acréscimo de
alíquota como um todo, não abordando a inter-relação das normas
infraconstitucionais envolvidas, que é o caso aqui.

Todavia, é importante trazer o julgamento a lume para esclarecer que a


Suprema Corte negou existir contrariedade ao princípio da isonomia, justamente
em razão do intuito do legislador de equalizar a tributação entre produtos
nacionais e importados diante da nova CPRB.

Se no âmbito de sua competência o STF afastou a tese de tratamento desigual


entre bens produzidos no País e bens importados, no âmbito de competência
deste STJ as duas Turmas de Direito Público já decidiram pela inaplicabilidade
da Cláusula de "Obrigação de Tratamento Nacional" à COFINS-Importação.

Quanto ao critério de especialidade que norteou o julgador a quo, tem-se que


o legislador não revogou qualquer das alíquotas estabelecidas anteriormente no
art. 8º da Lei n. 10.865/2004. Pelo contrário, fez literal adição às disposições
já existentes no art. 8º, acrescentando 01 ponto percentual a todas as "alíquotas
da COFINS-Importação de que trata este artigo" (§21, incluído pela Lei n.
12.844/2013). E o fez indistintamente, seja qual fosse a alíquota anteriormente
prevista no artigo. Não se trata, portanto, de revogação presumida de benefício.
É adição expressa. É literal.

O debate entre norma geral e norma especial tem lugar quando há antinomia
aparente de normas. No caso, não há antinomia quando um dispositivo
estabelece uma alíquota (ainda que seja zero) e outro, posterior, estabelece uma
adição de alíquota, no mesmo artigo de lei, ainda que tal adição alcance um
conjunto maior de itens.

Assim, quer se entenda aplicável, por analogia, o art. 111 do CTN


(interpretação literal), quer se busque apoio em outros métodos de interpretação,
não resta dúvida sobre o alcance amplo que o legislador ordinário desejou
conferir à determinação do §21 do art. 8º da Lei n. 10.865/2004.

Informativo 716/STJ

PROCESSO EREsp 1.109.579-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira


Seção, por unanimidade, julgado em 27/10/2021, DJe 04/11/2021.

TEMA Certidão de Dívida Ativa - CDA. Protesto. Regime anterior à vigência


da Lei n. 12.767/2012. Possibilidade.

DESTAQUE
É possível o protesto da CDA desde a entrada em vigor da Lei n. 9.492/1997.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Em sede de acórdão submetido ao regime dos recursos repetitivos (REsp
1.686.659/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 11/03/2019), a Primeira
Seção do STJ pacificou entendimento no sentido de que a Fazenda Pública
possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida, na
forma do art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada
pela Lei n. 12.767/2012.

No caso, o protesto da CDA ocorreu antes da vigência da Lei n. 12.767/2012


razão pela qual não se aplica a tese jurídica acima mencionada.

Não obstante, em reiterados julgados, a Segunda Turma do STJ tem


reconhecido a possibilidade de protesto da CDA desde a entrada em vigor da
Lei n. 9.492/1997, entendendo que a Lei n. 12.767/2012 veio reforçar essa
possibilidade, tratando-se de norma meramente interpretativa.

Frise-se que essa linha de entendimento coaduna-se com os fundamentos


adotados no REsp 1.686.659/SP.

Informativo 717/STJ

PROCESSO EREsp 1.770.495-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 10/11/2021.

TEMA Mandado de segurança. Direito à compensação. Declaração. Súmula 213


do STJ. Valores recolhidos anteriormente à impetração não atingidos pela
prescrição. Aproveitamento. Possibilidade.

DESTAQUE
A pretensão em mandado de segurança que visa exclusivamente a declaração do
direito à compensação de eventuais indébitos recolhidos anteriormente à
impetração, ainda não atingidos pela prescrição, não importa em produção de
efeito patrimonial pretérito, aproveitando apenas o valor referente a indébitos
recolhidos nos cinco anos anteriores ao manejo da ação mandamental.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


No acórdão embargado, a Segunda Turma, ponderando o entendimento sedimentado
na Súmula 271 do STF, que veda a concessão de efeitos patrimoniais pretéritos ao
mandado de segurança, manteve o acórdão recorrido que indeferira o pedido de
declaração do direito de compensação dos indébitos recolhidos nos cinco anos
anteriores à data da impetração, limitando a declaração do direito à
compensação apenas para o aproveitamento dos pagamentos ocorridos
posteriormente à impetração do writ.

Já o aresto paradigma, da Primeira Turma, também analisando mandado de


segurança de que trata a Súmula 213 do STJ, expressamente declarou o direito
à compensação de indébitos anteriores à impetração, desde que ainda não
atingidos pela prescrição.

Quanto ao objeto do dissenso jurisprudencial ora apresentado, deve prevalecer a


conclusão estampada no aresto apontado como paradigma.
Isso porque o provimento alcançado em mandado de segurança, que visa
exclusivamente a declaração do direito à compensação tributária, nos termos da
Súmula 213 do STJ ("O mandado de segurança constitui ação adequada para a
declaração do direito à compensação tributária"), tem efeitos exclusivamente
prospectivos, os quais somente serão sentidos posteriormente ao trânsito em
julgado (art. 170-A do CTN), quando da realização do efetivo encontro de
contas, o qual está sujeito à fiscalização pela Administração Tributária.

Para essa espécie de pretensão mandamental, o reconhecimento do direito à


compensação de eventuais indébitos recolhidos anteriormente à impetração ainda
não atingidos pela prescrição não importa em produção de efeito patrimonial
pretérito, vedado pela Súmula 271 do STF, visto que não há quantificação dos
créditos a compensar e, por conseguinte, provimento condenatório em desfavor
da Fazenda Pública à devolução de determinado valor, o qual deverá ser
calculado posteriormente pelo contribuinte e pelo fisco no âmbito administrativo
segundo o direito declarado judicialmente ao impetrante.

Frise-se que da tese explicitada no julgamento do Recurso Especial Repetitivo


REsp 1.365.095/SP é possível depreender que o pedido de declaração do direito
à compensação tributária está normalmente atrelado ao "reconhecimento da
ilegalidade ou da inconstitucionalidade da anterior exigência da exação", ou
seja, aos tributos indevidamente cobrados antes da impetração, não havendo
razão jurídica para que, respeitada a prescrição, esses créditos não constem do
provimento declaratório.

Aliás, como cediço, a decisão de natureza declaratória não constitui, mas


apenas reconhece um direito pré-existente.

Acrescenta-se, por oportuno, que esta Corte Superior orienta que a impetração
de mandado de segurança interrompe o prazo prescricional para o ajuizamento
da ação de repetição de indébito, entendimento esse que, pela mesma ratio
decidendi, permite concluir que tal interrupção também se opera para fins do
exercício do direito à compensação declarado a ser exercido na esfera
administrativa, de sorte que, quando do encontro de contas, o contribuinte
poderá aproveitar o valor referente a indébitos recolhidos nos cinco anos
anteriores à data da impetração.

PROCESSO REsp 1.599.065-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, Primeira Turma,
por unanimidade, julgado em 09/11/2021.

TEMA PIS e Cofins. Regime cumulativo. Base de cálculo. Faturamento. Serviços


de telecomunicações. Inclusão de valores a título de interconexão e roaming.
Ilegalidade.

DESTAQUE
Configura ilegalidade exigir das empresas prestadoras de serviços de telefonia a
base de cálculo da Contribuição ao PIS e da Cofins integrada com os montantes
concernentes ao uso da estrutura de terceiros - interconexão e roaming.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


In casu, sobreleva frisar o contexto no qual se inserem os eventos conhecidos como a
interconexão e o roaming, mormente o quanto dispõe a Lei n. 9.472/1997 - a
denominada "Lei Geralda Telecomunicação": Art. 146. As redes serão organizadas
como vias integradas de livre circulação, nos termos seguintes: I - é obrigatória a
interconexão entre as redes, na forma da regulamentação.

Por sua vez, a Resolução n. 693/2018, da Agência Nacional de Telecomunicações -


Anatel -Regulamento Geral de Interconexão -, define tal ocorrência em seu art. 3º, III,
verbis: "ligação de redes de telecomunicações funcionalmente compatíveis, de modo
que os usuários de serviços de uma das redes possam comunicar-se com usuários de
serviços de outra ou acessar serviços nela disponíveis".

Quanto ao roaming (itinerância), pode-se consignar que se trata de vocábulo


empregado em telefonia móvel, e aplicável, igualmente, a outras tecnologias de rede
sem fio, sendo termo relativo à capacidade de um usuário de obter conectividade em
áreas fora da localidade geográfica de registro, é dizer, conseguindo acesso por meio
de outra rede onde é visitante, a qual possa pertencer a diferente operadora.

Dessa forma, a atuação empresarial, no ambiente da política regulatória nacional dos


serviços de telecomunicações, com inevitável compartilhamento de estrutura, implica
a segregação da receita entre as empresas, bem como do custo de entrega do tráfego
advindo da rede, demonstrado, em verdade, que se está diante de um autêntico
repasse, valor estranho ao faturamento das operadoras.

Logo, as cifras em tela ingressam, tão somente, de maneira transitória pelo


resultado das empresas, porquanto há imposição legal, de caráter regulatório no
sentido do repasse aos terceiros que cedem suas redes, justamente para
viabilizar a integral prestação do serviço.

Tal especificidade da presente discussão atrai, induvidosamente, a compreensão


assentada pelo STF, ao julgar, o Tema n. 69 de repercussão geral (RE n.
574.706/PR), que declarou a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base
de cálculo da Contribuição ao PIS e da Cofins, por compreender que o valor
de ICMS não se incorpora ao patrimônio do contribuinte, constituindo mero
ingresso de caixa, cujo destino final são os cofres públicos.

Axiologia da ratio decidendi que afasta a pretensão de caracterização, como


faturamento, de cifras relativas à interconexão e ao roaming, as quais obedecem
a sistemática própria do serviço público prestado pelas empresas do setor.

Daí porque equivocada a afirmação segundo a qual seria necessária expressa


previsão legal para "excluir" os valores em discussão da base de cálculo de
tais contribuições. O apontado montante, como salientado, não pertence ao
universo do faturamento, mostra-se alheio a ele e, desse modo, como
decorrência lógica, desbordando de sua materialidade, dele não precisa ser
"excluído", pois se cuida de não incidência das exações.

Em consequência, a interpretação do Fisco que qualifica as quantias de


interconexão e roaming como receita financeira revela-se inidônea para efeito de
inseri-las no conceito de faturamento e, assim, integrá-las à base de cálculo da
Contribuição ao PIS e da Cofins, porquanto inafastável caber somente a lei a
disciplina da base de cálculo de tributos.

PROCESSO REsp 1.671.357-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda


Turma, por unanimidade, julgado em09/11/2021.

TEMA Operação simbólica de câmbio. Conferência internacional de ações de


sociedade estrangeira no aumento de capital social de empresa brasileira. IOF.
Incidência.

DESTAQUE
O IOF incide nas movimentações decorrentes das operações de "conferência
internacional de ações" de sociedade estrangeira no aumento do capital social de
empresa brasileira.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


No caso analisado, por exigência do BACEN o contribuinte realizou contrato de
câmbio, nos termos do item 10, da Circular n. 3.491/2010 (antigo art. 9º do
Regulamento Anexo à Circular BACEN n. 2.997/2000), para viabilizar
transformações empresariais realizadas por si e por suas acionistas. Tais contratos
permitem ao BACEN controlar as ações nominativas que entraram e saíram do país
exclusivamente para integralizar capital de empresa estrangeira.

Sendo assim, resta evidente que o contribuinte realizou oferta de ações no exterior a
fim de captar determinada quantia em moeda estrangeira. É o que basta para
caracterizar a operação de câmbio que se sujeita tanto ao IOF quanto à CPMF,
consoante a jurisprudência desta Casa, nesse sentido: REsp. n. 1.316.221/SP, Segunda
Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em15/12/2015.

As razões de decidir do precedente citado, muito embora referentes à incidência da


CPMF e não especificamente ao IOF, em tudo se aplicam ao presente caso, mormente
porque construídas a partir do art. 9º do Regulamento Anexo à Circular BACEN n.
2.997/2000, o qual foi substituído justamente pelo item 10, da Circular BACEN n.
3.491/2010, que trata do mesmo tema de idêntica forma. Sendo assim, ambos os casos
tratam de operações simbólicas de câmbio realizadas por exigência do BACEN
("operação simbólica de câmbio"), implicando integralização de ações de empresa
brasileira com novas ações de companhias estrangeiras.

Assim, perfeitamente aplicáveis o precedente julgado em sede de recurso


representativo da controvérsia REsp. n. 1.129.335/SP (Primeira Seção, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 9/6/2010) relativo ao tema 338: A Contribuição
Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores de Créditos e
Direitos de Natureza Financeira - CPMF, enquanto vigente, incidia sobre a
conversão de crédito decorrente de empréstimo em investimento externo direto
(contrato de câmbio simbólico), uma vez que a tributação aperfeiçoava-se
mesmo diante de operação unicamente escritural.

Com efeito, dá-se a efetivação da operação de câmbio, fato gerador do IOF,


"pela entrega de moeda nacional ou estrangeira, ou de documento que a
represente, ou sua colocação à disposição do interessado em montante
equivalente à moeda estrangeira ou nacional entregue ou posta à disposição por
este" (art. 63, II, do CTN).

Informativo 718/STJ

PROCESSO REsp 1.872.759-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 18/11/2021. (Tema 1092)

TEMA Execução Fiscal. Falência. Pedido de habilitação de crédito. Fazenda


Pública. Possibilidade. Tema 1092.

DESTAQUE
É possível a Fazenda Pública habilitar em processo de falência crédito tributário
objeto de execução fiscal em curso, mesmo antes da vigência da Lei n.
14.112/2020, e desde que não haja pedido de constrição de bens no feito
executivo.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Inicialmente cumpre salientar que a controvérsia a ser dirimida há de se concentrar
nos pedidos de habilitação de crédito ocorridos antes da entrada em vigor da Lei n.
14.112/2020.

A execução fiscal é o procedimento pelo qual a Fazenda Pública cobra dívida


tributária ou não tributária. Da leitura dos arts. 5º e 38 da Lei de Execuções Fiscais,
verifica-se que a competência para decidir a respeito do crédito tributário é privativa
do Juízo da Execução.

O juízo falimentar, por outro lado, nos termos do que estabelece a Lei n. 11.101/2005,
é "indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses
e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não
reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo".

Desse panorama, conclui-se que, mesmo antes da alteração legislativa trazida


pela Lei n. 14.112/2020 na Lei de Falências, inexistia qualquer óbice legal à
coexistência do executivo fiscal com o pedido de habilitação de crédito no juízo
falimentar. Tanto isso é verdade que o entendimento jurisprudencial desta Corte
Superior, de há muito consolidado, é no sentido de que a falência superveniente
do devedor não tem o condão de paralisar o processo de execução fiscal.
Contudo, não obstante a possibilidade de ambos os procedimentos coexistirem,
sendo a opção por um deles, prerrogativa da Fazenda Pública, observa-se que,
proposta a execução fiscal e, posteriormente, apresentado o pedido de
habilitação de crédito no juízo falimentar, a ação de cobrança perderá a sua
utilidade, pelo menos, momentaneamente, pois dependerá do desfecho do
processo de falência e por isso, deverá ser suspensa, não importando, esse fato,
no entanto, em renúncia da Fazenda Pública ao direito de cobrar o crédito
tributário através do executivo fiscal.

Portanto, da interpretação sistemática da legislação de regência, a execução


fiscal e o pedido de habilitação de crédito no juízo falimentar coexistem a fim
de preservar o interesse maior, que é a satisfação do crédito tributário, não
podendo a prejudicialidade do processo falimentar ser confundida com falta de
interesse de agir do ente público.

Ponderados esses elementos, para os fins previstos no art. 1.039 do CPC,


define-se a seguinte tese: "É possível a Fazenda Pública habilitar em processo
de falência crédito tributário objeto de execução fiscal em curso, mesmo antes
da vigência da Lei n. 14.112/2020, e desde que não haja pedido de constrição
de bens no feito executivo".

PROCESSO REsp 1.423.000-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,


por unanimidade, julgado em 09/11/2021.

TEMA PIS. COFINS. Não-cumulatividade. Aquisição de bens e serviços.


Alíquota zero. Saída tributada. Aproveitamento de crédito. Impossibilidade.

DESTAQUE
É incabível o aproveitamento de crédito da Contribuição ao PIS e da
COFINS decorrentes de aquisição de insumos sujeitos à alíquota zero,
quando ocorrerem saídas tributadas.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Em conformidade com as disposições contidas nos arts. 1º, §§ 1º e 2º, das
Leis ns. 10.637/2002 e 10.833/2003, a base de cálculo da Contribuição ao PIS
e da COFINS é o total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica,
independentemente de sua denominação ou classificação contábil.

De forma diversa do que ocorre no ICMS e no IPI, o desenho normativo da


não cumulatividade da Contribuição ao PIS e da COFINS consiste em autorizar
que o contribuinte desconte créditos relativamente a determinados custos e
despesas, o que significa, na prática, poder deduzir do valor apurado (alíquota
x faturamento) determinado valor referente às aquisições (alíquota x aquisições).

No caso, busca-se ver reconhecido o direito à compensação de valores que


teriam sido recolhidos indevidamente a título de PIS e da COFINS, sob o
argumento de que não fora permitida a dedução de bens e serviços adquiridos
à alíquota zero.
Pela leitura do disposto nos arts. 3º, § 2º, I e II, das Leis ns. 10.637/2002 e
10.833/2003, verificase que a isenção das contribuições em tela sobre a receita
decorrente da aquisição de bens ou serviços impede o aproveitamento dos
créditos tão somente quando revendidos ou utilizados como insumo em produtos
ou serviços sujeitos à alíquota a (zero), isentos ou não alcançados pela
contribuição. Assim, não há óbice para que sejam aproveitados créditos de
isenção nos demais casos.

Contudo, em se tratando de tributo sujeito à alíquota zero, a lei não estabelece


tal disciplina, de modo que, em regra, se apresenta incabível o aproveitamento
de créditos, inclusive nos casos em que houver saída tributada.

Assim, diante da eficácia limitada da norma constitucional e por observância


ao princípio da legalidade, somente podem ser utilizados os créditos das
contribuições em tela expressamente previstos em lei, não havendo que se falar
em crédito presumido sem amparo legal.

Outrossim, se, em regra, os créditos são gerados pelas aquisições sujeitas à


incidência da Contribuição ao PIS e da COFINS, apresenta-se inerente ao
próprio regime da não-cumulatividade obstar esse direito quando forem
provenientes de serviços pagos à pessoa física (cuja receita não se sujeita à
incidência das contribuições em tela) ou pela entrada de bens ou serviços
sujeitos à alíquota 0% (zero por cento), na forma do art. 3º, §2º, das Leis ns.
10.637/2002 e 10.833/2003.

Dessa forma, incabível a pretensão de que seja permitido desconto de créditos


relativos a bens ou serviços adquiridos à alíquota 0 (zero) das contribuições em
tela, sob o argumento de tal hipótese seria permitida no caso de isenção,
porquanto seria o mesmo que criar crédito presumido, estabelecendo um
benefício fiscal ao arrepio da previsão legal.

PROCESSO REsp 1.961.488-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, Segunda Turma,


julgado em 16/11/2021, DJe 17/11/2021.

TEMA Plano VGBL Individual - Vida Gerador de Benefício Livre. Morte do


segurado. Valores recebidos por beneficiário. ITCMD. Não incidência.
Natureza de seguro de vida.

DESTAQUE
O seguro de vida VGBL não integra a base de cálculo do ITCMD.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Consoante esclarece a Superintendência de Seguros Privados - SUSEP, autarquia
federal vinculada ao Ministério da Economia, responsável pelo controle e
fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e
resseguro, "o VGBL Individual - Vida Gerador de Benefício Livre é um seguro
de vida individual que tem por objetivo pagar uma indenização, ao segurado,
sob a forma de renda ou pagamento único, em função de sua sobrevivência ao
período de diferimento contratado".

Não é outro o entendimento da Quarta Turma deste Superior Tribunal de


Justiça, para a qual o VGBL "tem natureza jurídica de contrato de seguro de
vida" (AgInt nos EDcl no AREsp 947.006/SP, Rel. Ministro Lázaro Guimarães
(Desembargador Federal convocado do TRF/5ª Região), Quarta Turma, DJe de
21/05/2018) No julgamento do AgInt no AREsp 1.204.319/SP - no qual a
Corte de origem concluíra pela natureza securitária do VGBL, não podendo ele
ser incluído na partilha -, a Quarta Turma do STJ fez incidir a Súmula 83/STJ,
afirmando que "o entendimento da Corte Estadual está em harmonia com a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a respeito do tema. Incidência da
Súmula 83 do STJ" (STJ, AgInt no AREsp 1.204.319/SP, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe de 20/04/2018).

Embora tratando de questão tributária diversa, a Segunda Turma do STJ, no


REsp 1.583.638/SC (Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe de
10/08/2021), já teve a oportunidade de assentar que o plano VGBL constitui
espécie de seguro. Também tratando de questão diversa, a saber, a
constitucionalidade da cobrança de alíquotas diferenciadas de CSLL para
empresas de seguros, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI
5.485/DF (Rel. Ministro Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe de 03/07/2020), já teve
a oportunidade de afirmar, em obiter dictum, a natureza securitária do VGBL.

Assim, não apenas a jurisprudência reconhece a natureza de seguro do plano


VGBL, mas também a própria agência reguladora do setor econômico
classifica-o como espécie de seguro de vida. Resta evidente, pois, que os
valores a serem recebidos pelo beneficiário, em decorrência da morte do
segurado contratante de plano VGBL, não se consideram herança, para todos
os efeitos de direito, como prevê o art. 794 do CC/2002.

Reforça tal compreensão o disposto no art. 79 da Lei n. 11.196/2005, segundo


o qual, no caso de morte do segurado, "os seus beneficiários poderão optar
pelo resgate das quotas ou pelo recebimento de benefício de caráter continuado
previsto em contrato, independentemente da abertura de inventário ou
procedimento semelhante".

Não integrando a herança, isto é, não se tratando de transmissão causa mortis,


está o VGBL excluído da base de cálculo do ITCMD.

Informativo 719/STJ

PROCESSO REsp 1.377.019-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em24/11/2021. (Tema 962)

TEMA Execução fiscal. Redirecionamento. Dissolução irregular da pessoa


jurídica. Sócio ou terceiro não sócio. Poderes de gerência à época do fato
gerador. Excesso de poderes ou infração à lei, contrato social ou estatutos.
Inexistência. Tema 962.

DESTAQUE
O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular
da pessoa jurídica executada ou na presunção de sua ocorrência, não pode ser
autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio que, embora exercessem
poderes de gerência ao tempo do fato gerador, sem incorrer em prática de atos
com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos, dela
regularmente se retirou e não deu causa à sua posterior dissolução irregular,
conforme art. 135, III do CTN.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A controvérsia ora em apreciação, submetida ao rito dos recursos especiais
repetitivos, nos termos dos arts. 1.036 a 1.041 do CPC/2015, restou assim delimitada:
"Possibilidade de redirecionamento da execução fiscal contra o sócio que, apesar de
exercer a gerência da empresa devedora à época do fato tributário, dela regularmente
se afastou, sem dar causa, portanto, à posterior dissolução irregular da sociedade
empresária" (Tema 962/STJ).

A Primeira Seção do STJ, ao julgar, sob o rito dos recursos repetitivos, o Recurso
Especial1.101.728/SP (Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJe de 23/03/2009),
fixou a tese de que "a simples falta de pagamento do tributo não configura, por si só,
nem em tese, circunstância que acarreta a responsabilidade subsidiária do sócio,
prevista no art. 135 do CTN. É indispensável, para tanto, que tenha agido com
excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da empresa"
(Tema 97 do STJ). No mesmo sentido dispõe a Súmula 430/STJ ("O inadimplemento
da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária
do sócio-gerente").

É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que, à luz do art. 135, III,
do CTN, não se admite o redirecionamento da execução fiscal, quando fundado
na dissolução irregular da pessoa jurídica executada, contra o sócio e o terceiro
não sócio que, embora exercessem poderes de gerência ao tempo do fato
gerador, sem a prática de ato com excesso de poderes ou infração à lei, ao
contrato social ou aos estatutos, dela regularmente se retiraram e não deram
causa à sua posterior dissolução irregular.

A própria Fazenda Nacional, embora, a princípio, defendesse a


responsabilização do sócio gerente à época do fato gerador, curvou-se à tese
prevalecente no Superior Tribunal de Justiça, como se depreende da alteração
da Portaria PGFN n. 180/2010, promovida pela Portaria PGFN n. 713/2011.

PROCESSO REsp 1.805.226-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, por
unanimidade julgado em 09/11/2021, DJe19/11/2021.

TEMA Reparos navais em embarcações de bandeira estrangeira. Equiparação a


território estrangeiro para caracterização de exportação dos serviços.
Inviabilidade. Ocorrência do resultado dos serviços em águas marítimas do
território brasileiro. Consequente incidência do ISSQN. Arts. 2º,parágrafo único
e § 3º; § 3º, da LC 116/2003.

DESTAQUE
É legítima a incidência do ISSQN nas prestações de serviços de reparos navais
em embarcações de bandeira estrangeira em águas marítimas no território
nacional.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A Primeira Turma desta Corte, a respeito da exportação de serviços, já se manifestou
no sentido de que é "condição para que haja exportação de serviços desenvolvidos no
Brasil que o resultado da atividade contratada não se verifique dentro do nosso País,
sendo de suma importância, por conseguinte, a compreensão do termo 'resultado'
como disposto no parágrafo único do art. 2º".Ainda de acordo com o referido julgado,
"necessário ter-se em mente, portanto, os verdadeiros resultados do serviço prestado,
os objetivos da contratação e da prestação". (REsp 831.124/RJ, Rel. Ministro José
Delgado, Primeira Turma, julgado em 15/8/2006, DJ 25/9/2006).

Em acórdãos de relatoria do Ministro Gurgel de Faria, AREsp 587.403/RS e AREsp


1.150.353/SP, publicados em 18/10/2016 e 13/5/2021, respectivamente, expressou-se
compreensão sobre o aspecto finalístico do termo resultado, associando-o ao lugar
onde a utilidade seja efetivamente fruída pelo tomador do serviço.

Também a Segunda Turma do STJ teve ensejo de se pronunciar sobre o tema ao julgar
o AgInt no AREsp 1.446.639/SP, firmando o entendimento de que, "para que haja
efetiva exportação do serviço desenvolvido no Brasil, ele não poderá aqui ter
consequências ou produzir efeitos".

No caso, os serviços são prestados em território nacional, presente a incontroversa


circunstância de as embarcações estrangeiras se encontrarem em águas marítimas
brasileiras. Em desdobramento, revela-se igualmente desenganada a constatação
de que o resultado dos serviços ocorre em solo nacional, uma vez que a
feitura de reparos e a manutenção dos navios se mostram úteis desde logo para
os tomadores/contratantes do serviço, que deles passam a usufruir ainda em
águas nacionais, não se configurando, com isso, a sustentada hipótese de
exportação de serviços.

Por fim, não se sustenta a tese de que, por se tratarem de embarcações que
ostentariam o status de território estrangeiro, caracterizada estaria a exportação
do serviço para o exterior do País, capaz de arredar a incidência do ISSQN,
como dispõe o art. 2º, I, da LC 116/2003. Tal percepção, em verdade, exsurge
infirmada pela literalidade do art. 3º, § 3º, da LC 116/2003, que assim
preceitua: "Considera-se ocorrido o fato gerador do imposto no local do
estabelecimento prestador nos serviços executados em águas marítimas..."; logo,
bem se constata que o legislador, para fins de incidência do tributo, não fez
qualquer distinção quanto à nacionalidade da embarcação ou do equipamento
atendidos pelo serviço, não cabendo ao intérprete, portanto, empreender tal
distinção.

PROCESSO REsp 1.872.153-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por
unanimidade, julgado em 09/11/2021.

TEMA Falência. Execução fiscal suspensa. Habilitação de crédito fiscal.


Possibilidade. Dúplice garantia e bis in idem. Não cabimento. Sobreposição de
formas de satisfação do crédito pelo Fisco. Inocorrência.

DESTAQUE
É cabível o pedido de habilitação de crédito da Fazenda Pública na falência
desde que suspensa a execução fiscal.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


A Lei n. 11.101/2005 preceitua que a quebra (assim como o deferimento da
recuperação judicial)não tinha o condão de paralisar o processo de execução fiscal
(art. 76), tampouco de desconstituir apenhora realizada.

Tal entendimento sempre partiu da premissa da existência de dois tipos de concursos


na falência: o concurso formal (ou processual), decorrente do juízo universal e
indivisível competente para as ações sobre bens, interesses e negócios da falida; e o
concurso material (ou obrigacional), pelo qual deverá o credor receber de acordo com
a ordem de preferência legal, consoante bem assinaladoutrina abalizada.

Desse modo, é certo que os créditos tributários não se submetem ao concurso formal
(ou processual) instaurado com a decretação da falência ou com o deferimento da
recuperação judicial; vale dizer, não se subordinam à vis attractiva (força atrativa) do
juízo falimentar ou recuperacional, motivo pelo qual as execuções fiscais terão curso
normal nos juízos competentes, ressalvada a competência para controle sobre atos
constritivos dos bens essenciais à manutenção da atividade empresarial e para
alienação dos ativos da falência, que recaem sobre o juízo da insolvência.

De outro vértice, os credores tributários sujeitam-se ao concurso material (ou


obrigacional)decorrente da falência, pois deverão respeitar os rateios do produto da
liquidação dos bens de acordo com a ordem legal de classificação dos créditos (LREF,
arts. 83 e 84); ou seja, deverão ser respeitadas as preferências dos créditos
trabalhistas (até 150 salários mínimos) e daqueles com garantia real (até o
limite do bem gravado), sem se olvidar do pagamento prioritário dos créditos
extraconcursais e das importâncias passíveis de restituição.

É que, embora seja o único credor "que não participa da Assembleia Geral de
Credores e não se submete ao plano de recuperação, o Fisco colabora com a
recuperação da empresa mediante o parcelamento dos créditos tributários [...]
Dessa forma, a contribuição do Fisco acontecerá de forma automática,
estabelecendo dilatação dos prazos para pagamento, aliviando as necessidades
de fluxo de caixa das empresas e propiciando a regularização de sua situação
fiscal", exatamente o que veio a ocorrer com a Lei n. 13.043/2014, que previu
parcelamento especial para devedores em recuperação judicial.

Na falência, é vedado que o fisco utilize duas vias processuais para satisfação
de seu crédito - a denominada garantia dúplice: a execução fiscal e a
habilitação de crédito -, sob pena de bis in idem, ressalvada a possibilidade de
discussão, no juízo da execução fiscal, sobre a existência, a exigibilidade e o
valor do crédito, assim como de eventual prosseguimento da cobrança contra
os corresponsáveis (LREF, art. 7º-A, § 4º, II). A suspensão da execução, a que
alude a mesma regra (inciso V), afasta a dupla garantia, a sobreposição de
formas de satisfação do crédito, permitindo a habilitação do crédito na falência.

A principal consequência relacionada à vedação da dúplice garantia está em


trazer, seguindo os ditames constitucionais, eficiência ao processo de
insolvência, evitando o prosseguimento de dispendiosas e inúteis execuções
fiscais contra a massa falida, já que a existência de bens penhoráveis ou de
numerários em nome da devedora serão, inevitavelmente, remetidos ao juízo da
falência para, como dito, efetivar os rateios do produto da liquidação dos bens
de acordo com a ordem legal de classificação dos créditos (LREF, arts. 83 e
84).

Uma vez definida a escolha pelo prosseguimento da execução fiscal, afastado,


portanto, o óbice da dúplice garantia, tem-se que a satisfação do crédito
fazendário continuará sujeitando-se à liquidação pelo juízo falimentar, pois
submete-se materialmente aos rateios do produto da liquidação dos bens,
conforme a ordem legal dos créditos prevista nos arts. 83 e 84 da Lei n.
11.101/2005, e, em respeito ao seu art. 140, busca a maximização do valor dos
ativos com a alienação dos bens em bloco.

Deveras, ainda que o fisco faça a opção pelo prosseguimento da execução


fiscal, não é mais possível que se façam os atos de excussão dos bens do
falido fora do juízo da falência (LREF, art. 7ºA, § 4º, I). Referido
entendimento, aliás, foi ratificado com a reforma trazida pela Lei n.
14.112/2020.

Isso porque, atualizando a Lei n.11.101/2005, a nova legislação estabeleceu


procedimento específico, denominado de "incidente de classificação do crédito
público", a ser instaurado de ofício pelo juízo falimentar, uma forma especial
de habilitação dos créditos fiscais na falência, que enseja, conforme previsão
expressa, a suspensão das execuções fiscais até o encerramento da falência,
sem prejuízo da possibilidade de prosseguimento contra os corresponsáveis.

Portanto, pelo novel diploma da insolvência, ficou autorizada a habilitação do


crédito fiscal na falência, desde que, em contrapartida, tenha ocorrido a
suspensão das execuções fiscais (que se dará automaticamente com a
instauração do incidente de classificação de crédito público), exatamente para
evitar a sobreposição de formas de satisfação e o óbice da dúplice garantia.
Informativo 720/STJ

PROCESSO AREsp 1.796.224-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma,


por unanimidade, julgado em 16/11/2021.

TEMA IPTU. Sujeito passivo. Credor fiduciário. Antes da consolidação da


propriedade e da imissão na posse no imóvel. Impossibilidade.

DESTAQUE
O credor fiduciário, antes da consolidação da propriedade e da imissão na
posse no imóvel objeto da alienação fiduciária, não pode ser considerado
sujeito passivo do IPTU, uma vez que não se enquadra em nenhuma das
hipóteses previstas no art. 34 do CTN.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Inicialmente, anote-se que, de acordo com o art. 25 da Lei n. 9.514/1997, a
propriedade conferida ao credor fiduciário é resolúvel. Além disso, nos termos
dos arts. 1.231 e 1.367 do Código Civil, essa não é plena e nunca o será.

Com efeito, "a intenção do devedor fiduciante, ao oferecer o imóvel como


garantia ao contrato de alienação fiduciária, não é, ao fim e ao cabo, transferir
para o credor fiduciário a propriedade plena do bem, diversamente do que
ocorre na compra e venda, mas apenas garantir o adimplemento do contrato de
financiamento a que se vincula, objetivando que, mediante o pagamento
integral da dívida, a propriedade plena do bem seja restituída ao seu
patrimônio" (REsp 1.726.733/SP, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, DJe 16/10/2020).

Vê-se, pois, que a propriedade conferida ao credor fiduciário é despida dos


poderes de domínio/propriedade (uso, gozo e disposição), sendo a posse indireta
por ele exercida desprovida de ânimo de domínio, considerando-se a
inexistência do elemento volitivo: a vontade de ter o bem como se seu fosse.

Observe-se que, na eventual hipótese de consolidação da propriedade no nome


do credor fiduciário (art. 26, §§, da Lei n. 9.514/1997), a lei determina a
obrigatoriedade de este promover a alienação do bem (art. 27 da Lei
9.514/1997 e art. 1.364 do CC/2002), não sendo possível a manutenção da sua
propriedade sobre o bem mesmo nas hipóteses de inadimplemento do contrato
pelo devedor fiduciante (art. 1.365 do Código Civil).

De mesma forma, o credor fiduciário também não é detentor do domínio útil


sobre o imóvel, tendo em vista que esse reserva-se ao devedor fiduciante (arts.
1.361, § 2°, e 1.363 do CC/2002).

Nesse contexto, ganha relevância a previsão feita nos arts. 27, § 8°, da Lei
9.514/1997 e 1.368-B, parágrafo único, do CC/2002, quando declaram que sobre
o credor fiduciante recaem todos os encargos (especial atenção dada aos
tributos) incidentes sobre o bem apenas com a consolidação da propriedade e
após a imissão da posse.

Em relação aos créditos de IPTU, o entendimento desta Corte superior se


consolidou no sentido de que consideram-se contribuintes do referido imposto o
proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a
qualquer título.

Esta é a orientação adotada no julgamento do Recurso Especial repetitivo


1.111.202/SP, quando se definiu que o próprio Município pode, por meio de lei
local, escolher no rol do art. 34 do CTN aquele que constará como sujeito
passivo da exação.

No entanto, a jurisprudência desta Corte superior, interpretando o art. 34 do


CTN, também reconhece não ser possível a sujeição passiva do IPTU ao
proprietário despido dos poderes de propriedade, daquele que não detém o
domínio útil sobre o imóvel ou do possuidor sem ânimo de domínio, no que
se insere o credor fiduciário.

Informativo 721/STJ

PROCESSO REsp 1.671.362-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda


Turma, por unanimidade, julgado em 07/12/2021.

TEMA Aduaneiro. Regime de admissão temporária. Multa. Descumprimento


do prazo para reexportação.

DESTAQUE
A multa por descumprimento do prazo para reexportação no regime de
admissão temporária deve ser calculada sobre o valor aduaneiro da
mercadoria, em razão da licitude da revogação do art. 106, inciso II, "b",
do Decreto-Lei n. 37/1966 do art. 709, pelo Decreto n. 6.759/2009
(RA-2009) e o ADI/SRF n. 4/2004.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


No caso analisado, ficou afastada a incidência da multa prevista no art. 709,
do Decreto n. 6.759/2009 (RA-2009) e no art. 72, I, da Lei n. 10.833/2003. O
argumento do contribuinte é pela especialidade e, portanto, vigência do art. 106,
inciso II, "b", do Decreto-Lei n. 37/1966, que calcula a multa tendo por base
de cálculo o valor da diferença do tributo devido e não por sobre o valor
aduaneiro da mercadoria, como estabelece a legislação mais moderna.

Interpretando os textos legais, disse a Corte de origem que: "[...] o regramento


trazido pelo art. 72, I, da Lei 10.833/03 claramente trata sobre a mesma
matéria disposta no art. 106, II, b, do DecretoLei 37/1966, englobando a
situação de não retorno ao exterior de bem importado sob o regime especial de
admissão temporária".
Não há qualquer reparo a fazer a esta interpretação, que inclusive é a
interpretação dada pelo próprio art. 709, do Decreto n. 6.759/2009 (RA-2009).

Com efeito, não há especialidade possível do art. 106, inciso II, "b", do
Decreto-Lei n. 37/1966 frente ao art. 72, I, da Lei n. 10.833/2003, isto porque
este último se refere também especificamente ao descumprimento de prazos
dentro do regime aduaneiro especial de admissão temporária, que é justamente
a matéria daqueloutro. Aliás o prazo para reexportação é justamente o núcleo
do regime de admissão temporária, excluir do bojo do art. 72, I, da Lei n.
10.833/2003 justamente este prazo é esvaziar de todo o dispositivo.

Sendo assim, aplica-se o art. 2º, §1º, do Decreto-Lei n. 4.657/1942 (LINDB)


que estabelece: "§ 1o A lei posterior revoga a anterior [...], quando seja com
ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior".

Lícito, portanto, art. 709, do Decreto n. 6.759/2009 (RA-2009) e o ADI/SRF


n. 4/2004, que declaram tal revogação.

Informativo 723/STJ

PROCESSO REsp 1.437.550-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 14/12/2021.

TEMA Serviço de prestação de capacidade de satélite. Serviço-meio ou


suplementar. ICMS-Comunicação. Não incidência.

DESTAQUE
Não incide ICMS-Comunicação sobre o serviço de prestação de capacidade de
satélite.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, "a incidência do ICMS, no que se
refere à prestação dos serviços de comunicação, deve ser extraída da Constituição
Federal e da LC 87/1996, incidindo o tributo sobre os serviços de comunicação
prestados de forma onerosa, através de qualquer meio, inclusive a geração, a emissão,
a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de comunicação
de qualquer natureza (art. 2º, III, da LC 87/1996)" (REsp 1.176.753-RJ, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, julgado em 28/11/2012, DJe 19/12/2012).

A Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp 816.512-PI, julgado na sistemática


do art. 543-C do Código de Processo Civil de 1973, decidiu que o ICMS somente
incide sobre o serviço de telecomunicação propriamente dito, e não sobre as
atividades-meio e serviços suplementares.
De acordo com regulamento dos serviços de telecomunicações da ANATEL
(Resolução n. 73/1998), o serviço de provimento de capacidade de satélite não
constitui serviço de telecomunicações (art. 3º, I).

Do mesmo modo, expressando a categoria suplementar ou de serviço-meio do


provimento de capacidade de satélite, a Resolução n. 220/2000 da ANATEL afirma,
em seu art. 49, que "a exploradora de satélite somente poderá prover capacidade
espacial à entidade que detenha concessão, permissão ou autorização para exploração
de serviços de telecomunicações ou às Forças Armadas". Vale dizer, portanto, que
quem explora a capacidade de satélite serve, como meio, às entendidas que possuem
concessão, permissão ou autorização para explorar serviços de telecomunicação.

Na mesma Resolução n. 220/2000 da ANATEL, art. 9º, XI, está o conceito de


provimento de capacidade espacial: "o oferecimento de recursos de órbita e espectro
radioelétrico à Prestadora de serviços de telecomunicações". Vê-se que o provimento
de capacidade de satélite não presta serviço de comunicação, mas se coloca como
suplemento deste.

Os satélites disponibilizados não passam, portanto, de meios para que seja prestado o
serviço de comunicação, sendo irrelevante para a subsunção tributária que se
argumente no sentido que há retransmissão ou ampliação dos sinais enviados.
Primeiro porque os satélites refletem as ondas radioelétricas que sobre eles incidem,
espelhando-as tão somente; segundo, porque não tem participação no tratamento das
informações, não contratando com o emissor ou receptor destas; em terceiro lugar,
segundo a doutrina, "porque nada recebe pela reflexão em si mesma considerada, não
se podendo falar, portanto, em serviço autônomo da cessão onerosa da capacidade
espacial, muito menos em serviço de comunicação".

Informativo 723/STJ

PROCESSO AREsp 1.904.780-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 14/12/2021

TEMA Imposto sobre serviços. Lançamento por homologação. Recolhimento em


favor de município diverso. Decadência. Art. 173, I, CTN. Aplicação.

DESTAQUE
O recolhimento do tributo a município diverso daquele a quem seria
efetivamente devido não afasta a aplicação da regra da decadência prevista no
art. 173, I do CTN.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR

A obrigação tributária não declarada pelo contribuinte no tempo e modo determinados


pela legislação de regência está sujeita ao procedimento de constituição do crédito
pelo fisco, por meio do lançamento substitutivo, o qual deve se dar no prazo
decadencial previsto no art. 173, I, do Código Tributário Nacional, quando não houver
pagamento antecipado, ou no art. 150, § 4º, do CTN, quando ocorrer o recolhimento
de boa-fé, ainda que em valor menor do que aquele que a Administração entende
devido, pois, nesse caso, a atividade exercida pelo contribuinte, de apurar, pagar e
informar o crédito tributário, está sujeita à verificação pelo ente público, sem a qual
ela é tacitamente homologada.

No caso, a Corte estadual compreendeu que o recolhimento do tributo a município


diverso daquele a quem seria efetivamente devido seria suficiente para a aplicação do
regime do art. 150, § 4°, do CTN, independentemente do momento do conhecimento,
pelo outro ente federativo, acerca do fato gerador, bem como de qualquer
recolhimento do tributo aos seus cofres.

Vê-se que, pela própria natureza do lançamento por homologação, faz-se necessário
que a edilidade tenha conhecimento da ocorrência do fato gerador, seja através da
declaração formal promovida pelo contribuinte ou do recolhimento do tributo aos seus
cofres.

Na hipótese, é incontroverso que o contribuinte declarou e recolheu o ISS relativo aos


serviços prestados por terceiros a outros municípios que não o município devido, o
qual apenas teve conhecimento dos fatos geradores no momento da fiscalização
tributária.

Não se está a afirmar a competência deste ou daquele município para a tributação,


mas apenas que, para a aplicação da regra do art. 150, § 4°, do CTN ao município
devido, no caso concreto, a declaração do contribuinte ou o recolhimento, ainda que
parcial, do ISSQN dos fatos geradores tributados deveriam ter sido feitos.

In casu, as instâncias ordinárias aplicaram a regra do art. 150, § 4°, do CTN


independentemente do momento do conhecimento do município acerca do fato
gerador e de qualquer recolhimento do tributo aos seus cofres, sendo insustentáveis as
conclusões por elas adotadas.

Informativo 723/STJ

PROCESSO REsp 1.945.976-SC, Rel. Min. Og Fernandes, Segunda Turma, por


unanimidade, julgado em 14/12/2021, DJe 02/02/2022.

TEMA Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as


Empresas Exportadoras - REINTEGRA. Área de Livre Comércio - ALC.
Exportação. Equivalência. Necessidade de exame específico da legislação regente
de cada ALC.

DESTAQUE
O REINTEGRA não pode ser estendido de forma automática para as vendas
destinadas a toda e qualquer Área de Livre Comércio - ALC.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Esta Corte de Justiça possui o entendimento de que o REINTEGRA não pode ser
estendido de forma automática para as vendas destinadas a toda e qualquer Área de
Livre Comércio - ALC, porque cada área possui legislação própria, devendo ser
analisada tal possibilidade e compatibilidade caso a caso.

Nesse contexto, a venda de mercadorias para empresas situadas nas ALCs de Boa
Vista/RR e Bonfim/RR são equivalentes a uma exportação, sendo o caso de fruição do
REINTEGRA em razão das mercadorias destinadas a esta área.

Por outro lado, conforme já decidido pela Segunda Turma deste Superior Tribunal de
Justiça, no Resp 1.861.806/SC (Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe
21/09/2020), se a venda de mercadorias para empresas situadas nas ALCs de
Tabatinga/AM, Guajará-Mirim/RO, Brasileia, Cruzeiro do Sul e Epitaciolândia/AC,
Macapá e Santana/AP deixou de ser equivalente a uma exportação, não há que se falar
em fruição do REINTEGRA em razão das mercadorias destinadas a esta área.

Nesse sentido: "V - Ainda que se ingressasse no fundo da matéria em discussão,


tem-se que o Superior Tribunal de Justiça fixou que a venda de mercadorias para
empresas situadas na Zona Franca de Manaus - ZFM equivale, para efeitos fiscais, à
exportação de produto brasileiro para o estrangeiro, segundo interpretação do
Decreto-Lei n. 288/1967. VI - Neste particular, foi editado Enunciado Sumular n.
640/STJ, segundo o qual: "O benefício fiscal que trata do Regime Especial de
Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (REINTEGRA)
alcança as operações de venda de mercadorias de origem nacional para a Zona Franca
de Manaus, para consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro". VII -
Lado outro, afastando a tese defendida pela contribuinte, o Superior Tribunal de
Justiça entende que o REINTEGRA não pode ser estendido de forma automática para
as vendas destinadas a toda e qualquer Área de Livre Comércio - ALC, porque cada
área possui legislação própria, devendo ser analisada tal possibilidade e
compatibilidade caso a caso. VIII - No caso, não há falar em fruição do REINTEGRA
em razão das mercadorias destinadas às ALC de Tabatinga - AM, Guajará-Mirim -
RO, Brasiléia - AC, Epitaciolândia - AC, Cruzeiro do Sul - AC, Macapá - AP, Santana
- AP, conforme o entendimento fixado pelo Superior Tribunal de Justiça, de que não
diverge o acórdão recorrido, segundo se pode verificar do seguinte acórdão: REsp
1.861.806/SC, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
21/9/2020. IX - Agravo interno improvido. (AgInt no REsp n. 1.898.953/SC, relator
Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe de 29/4/2021)".

DESTAQUES - PROVA DE DIREITO TRIBUTÁRIO - FISCAL DA


RECEITA ESTADUAL SEFA PA.

Informativo 966/STF

TESE:
“A norma imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição
Federal (CF) (1) alcança as receitas decorrentes de operações indiretas de
exportação caracterizadas por haver participação negocial de sociedade
exportadora intermediária.(Trading companies ou ECEs)”

RESUMO:

“...
O colegiado julgou procedente o pedido formulado na ADI, para declarar a
inconstitucionalidade do art. 170, §§ 1º e 2º, da Instrução Normativa (IN) da
Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) 971/2009 (2). Além disso, deu
provimento ao recurso extraordinário, a fim de reformar o acórdão impugnado e
conceder ordem mandamental, assentando a inviabilidade de exações baseadas nas
restrições presentes no art. 245, §§ 1º e 2º, da IN da Secretaria da Receita
Previdenciária (SRP) 3/2005 (3), no tocante às exportações de açúcar e álcool
realizadas por intermédio de sociedades comerciais exportadoras.

Prevaleceram os votos dos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin, relatores


da ADI e do recurso extraordinário, respectivamente.

Segundo o ministro Alexandre de Moraes, inexiste controvérsia a respeito da


aplicação da aludida imunidade sobre as receitas decorrentes de exportação direta, isto
é, quando a produção é comercializada diretamente com adquirente domiciliado no
exterior. Discute-se apenas relativamente às receitas decorrentes de exportação
indireta, quando a produção é comercializada entre produtor e vendedor com
empresas constituídas e em funcionamento no Brasil que destinem os produtos à
exportação. Para fins didáticos, tais empresas podem ser ordenadas em duas
categorias: (i) a primeira, composta por sociedades comerciais regulamentadas pelo
Decreto-Lei 1.248/1972, que possuem Certificado de Registro Especial, chamadas
habitualmente de trading companies; (ii) a segunda, formada com aquelas que não
possuem o referido certificado e são constituídas de acordo com o Código Civil
(CCv).

O relator da ADI aduziu que a Administração Tributária dispensa o mesmo tratamento


a ambas. Atualmente, ao adquirirem produtos no mercado interno para posterior
remessa ao exterior, essas empresas já gozam de benefícios fiscais relacionados ao
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); às contribuições para o PIS/Pasep e a
Cofins e ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Em seguida, asseverou que, em prestígio à garantia da máxima efetividade, a


imunidade sobre as receitas de exportação também deve ser aplicada à hipótese das
exportações indiretas. Não se trata de dar interpretação mais ampla e irrestrita para
alargar o preceito. A regra da imunidade, diferentemente da isenção, deve ser
analisada do ponto de vista teleológico/finalístico do Sistema Tributário Nacional.

Dessa maneira, depreendeu que o escopo da imunidade contida no art. 149, § 2º, I, da
CF é a desoneração da carga tributária sobre transações comerciais que envolvam a
venda para o exterior. É evitar a indesejada exportação de tributos e permitir que os
produtos nacionais se tornem mais competitivos no exterior, contribuindo para a
geração de divisas e o desenvolvimento nacional. Destacou que a desoneração das
atividades ligadas à exportação aparece como tendência explícita da CF, o que pode
ser comprovado por regras que disciplinam a imunidade do IPI e do ICMS.
Considerada a finalidade da norma imunizante, não há como simplesmente cindir as
negociações realizadas no âmbito das exportações indiretas, de modo a tributar as
operações realizadas no mercado interno e imunizar exclusivamente a posterior
remessa ao exterior. Tributar a operação interna onera em verdade a exportação inteira
e fere inclusive a livre concorrência.

Não há razoabilidade em se excluir da imunidade a exportação indireta. A ideia da


regra é permitir o favorecimento para quem vai exportar. Impende levar em conta se a
destinação final é a exportação. Assim, o País lucra externamente, na balança
comercial, e internamente, com a geração de renda e emprego….”

Informativo 1002/STF

TESE:
“É constitucional a flexibilização da legalidade tributária constante do § 2º do
art. 27 da Lei 10.865/2004 (1), no que permitiu ao Poder Executivo, prevendo as
condições e fixando os tetos, reduzir e restabelecer as alíquotas da contribuição
ao Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social (Cofins) incidentes sobre as receitas financeiras auferidas
por pessoas jurídicas sujeitas ao regime não cumulativo, estando presente o
desenvolvimento de função extrafiscal.”

RESUMO:
A constitucionalidade da flexibilização do princípio da legalidade tributária deve ser
verificada de acordo com cada espécie tributária e à luz do caso concreto.

Não há ampla e irrestrita liberdade para o legislador realizar diálogo com o


regulamento no tocante aos aspectos da regra matriz de incidência tributária. A
possibilidade de haver a flexibilização do princípio deve ser interpretada com
temperamento, de outra maneira, haverá sério risco de sua banalização.

Exige-se maior presença do legislador no tratamento de tributo que possua alto grau
de coatividade, como é a exação cujo pagamento não decorra de benefício imediato
conferido ao contribuinte. A característica da retributividade imediata reduz o grau de
coatividade dos tributos: o patrimônio afetado do contribuinte acabará sendo, de
alguma forma, compensado imediatamente.

Já os processos em debate tratam da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins, cujos


pagamentos não decorrem de benefício imediato concedido ao próprio contribuinte,
pessoa jurídica. Essas contribuições possuem traço característico da vinculação à
finalidade de custeio da seguridade social. Portanto, detêm alta carga de coatividade.
Conservando suas naturezas tributárias, elas se aproximam dos impostos.
Extrai-se do texto constitucional que a simples previsão em lei do valor máximo do
tributo não é suficiente para autorizar a flexibilização da legalidade tributária em
relação à alíquota de imposto. Assim, para a flexibilização da legalidade tributária
relativa às alíquotas das contribuições questionadas, é preciso o estabelecimento em
lei, em sentido estrito, de condições e do valor máximo das exações. Além disso, é
imprescindível que haja uma carga de função extrafiscal a ser desenvolvida pelo
regulamento, de modo a justificar a manipulação das alíquotas pelo Poder Executivo.
Ressalta-se que a atividade estatal subjacente à função extrafiscal costumeiramente
depende de apreensão de variados aspectos da realidade fenomênica pela
Administração, que tem natural proximidade com os fatos.

As normas editadas pelo Poder Executivo que majorem alíquotas da contribuição para
PIS/Pasep e a Cofins devem observar a anterioridade nonagesimal (CF, art. 150, III,
“c”) (2).

Se a lei que, mesmo de forma indireta, eleva a carga tributária do contribuinte é


obrigada a observar a regra constitucional, tenha ou não função extrafiscal, também o
regulamento deve respeitá-la. Contudo, não se aplica a anterioridade geral (CF, art.
150, III, b) (3), porquanto afastada pelo texto constitucional (CF, art. 195, § 6º) (4).

É constitucional a revogação pela Lei 10.865/2004 das normas legais que davam ao
contribuinte direito de apurar, no âmbito do sistema não cumulativo de cobrança da
contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins, créditos em relação a despesas financeiras
decorrente de empréstimos e financiamentos.

Possível a revogação pelo legislador de norma legal a respeito da possibilidade de


apuração de determinados créditos dentro do sistema. O modelo legal, apesar de
complexo e confuso, não atenta contra o conteúdo mínimo da não cumulatividade
(CF, art. 195, § 12) (5). Ao contrário do que dispôs para o IPI e o ICMS, o texto
constitucional não trouxe qual seria a técnica tributária à qual o legislador deveria se
ater no tratamento da não cumulatividade das contribuições sociais para a seguridade
social incidentes sobre receita ou faturamento. Ele tem ampla liberdade para tratar do
modelo não cumulativo de cobrança dessas contribuições.

Em julgamento conjunto, o Plenário, por maioria, negou provimento ao recurso


extraordinário paradigma do Tema 939 da repercussão geral. Igualmente em votação
majoritária, julgou parcialmente procedente o pedido formulado em ação direta de
inconstitucionalidade para dar interpretação conforme à Constituição aos §§ 8º e 9º do
art. 5º da Lei 9.718/1998, incluídos pela Lei 11.727/2008, estabelecendo que as
normas editadas pelo Poder Executivo com base nesses parágrafos devem observar a
anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, c, do texto constitucional. Em
ambos os feitos, vencido o ministro Marco Aurélio.

(1) Lei 10.865/2004: “Art. 27. O Poder Executivo poderá autorizar o desconto de
crédito nos percentuais que estabelecer e para os fins referidos no art. 3º das Leis nº s
10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003,
relativamente às despesas financeiras decorrentes de empréstimos e financiamentos,
inclusive pagos ou creditados a residentes ou domiciliados no exterior. (...) § 2º O
Poder Executivo poderá, também, reduzir e restabelecer, até os percentuais de que
tratam os incisos I e II do caput do art. 8º desta Lei, as alíquotas da contribuição para
o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre as receitas financeiras auferidas pelas
pessoas jurídicas sujeitas ao regime de não-cumulatividade das referidas
contribuições, nas hipóteses que fixar.”

(2) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar
tributos: (...) c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a
lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;”

(3) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar
tributos: (...) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou;”

(4) CF: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: (...) § 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só
poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as
houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III,
‘b’.”

(5) CF: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: (...) § 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para
os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão
não-cumulativas.”

RE 1043313/RS, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 10.12.2020

ADI 5277/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 10.12.2020

Informativo 1021/STF

TESE:
“Não cabe mandado de segurança contra atos de gestão comercial praticados por
administradores de empresas públicas, sociedades de economia mista e
concessionárias de serviço público (Lei 12.016/2019, art. 1º, § 2º) (1).”

RESUMO:
O ajuizamento do mandado de segurança é cabível apenas contra atos praticados no
desempenho de atribuições do Poder Público [Constituição Federal (CF) art. 5º,
LXIX] (2). Atos de gestão comercial são atos estranhos à ideia da delegação do
serviço público em si. Esses atos se destinam à satisfação de interesses privados na
exploração de atividade econômica, submetendo-se a regime jurídico próprio das
empresas privadas.

O juiz tem a faculdade de exigir caução, fiança ou depósito para o deferimento de


medida liminar em mandado de segurança, quando verificada a real necessidade da
garantia em juízo, de acordo com as circunstâncias do caso concreto (Lei
12.016/2019, art. 7º, III) (3).

No exercício do seu poder geral de cautela, o magistrado pode analisar se determinado


caso específico exige caução, fiança ou depósito. No art. 7º, III, da Lei 12.016/2019
há previsão de mera faculdade, que pode ser exercida se o magistrado entender ser
necessária para assegurar o ressarcimento a pessoa jurídica. Não se trata de um
obstáculo ao poder geral de cautela, mas uma faculdade que vai ao encontro do art.
300, § 1º, do Código de Processo Civil (CPC) (4).

É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a concessão de medida


liminar na via mandamental.

Impedir ou condicionar a concessão de medida liminar caracteriza verdadeiro


obstáculo à efetiva prestação jurisdicional e à defesa do direito líquido e certo do
impetrante (5).

Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria julgou parcialmente


procedente ação direta para declarar a inconstitucionalidade do art. 7º, § 2º, e do art.
22, § 2º, da Lei 12.016/2009 (6), vencidos parcialmente os ministros Marco Aurélio,
Nunes Marques, Edson Fachin, Roberto Barroso e Luiz Fux.

(1) Lei 12.016/2009: “Art. 1º (...) § 2º Não cabe mandado de segurança contra os atos
de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de
sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.”

(2) CF/1988: “Art. 5º (...) LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger
direito líquido e certo, não amparado por ‘habeas-corpus’ ou ‘habeas-data’, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de
pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;”

(3) Lei 12.016/2009: “Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: (...) III – que se
suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do
ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida,
sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de
assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.”

(4) CPC/2015: “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo. §1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,
conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que
a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.”

(5) Precedente citado: ADI 975/DF MC, relator Min. Carlos Velloso (DJ de
20.6.1997).

(6) Lei 12.016/2009: “Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: (...) § 2º Não
será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos
tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação
ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de
vantagens ou pagamento de qualquer natureza. (...) Art. 22. No mandado de segurança
coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou
categoria substituídos pelo impetrante. (...) § 2º No mandado de segurança coletivo, a
liminar só poderá ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas)
horas.”

ADI 4296/DF, relator Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgamento em 9.6.2021

ITBI
“O fato gerador do imposto sobre transmissão inter vivos de bens imóveis (ITBI)
somente ocorre com a efetiva transferência da propriedade imobiliária, que se dá
mediante o registro.”
STF. Plenário. ARE 1294969 RG, Rel. Min. Presidente, julgado em 11/02/2021
(Repercussão Geral – Tema 1124).

Súmula 554, STJ:


“Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não
apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou
punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão.”

Recurso Extraordinário – RE 917285


É inconstitucional a possibilidade de o Fisco, aproveitando o ensejo da restituição ou
do ressarcimento de tributos administrados pela Receita Federal, proceder a
compensação, de ofício, de débitos parcelados sem garantia.

Recurso Extraordinário - RE 714139


Adotada, pelo legislador estadual, a técnica da seletividade em relação ao Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS, discrepam do figurino
constitucional alíquotas sobre as operações de energia elétrica e serviços de
telecomunicação em patamar superior ao das operações em geral, considerada a
essencialidade dos bens e serviços.
Recurso Extraordinário - RE 851.108
É vedado aos estados e ao Distrito Federal instituir o ITCMD nas hipóteses referidas
no artigo 155, § 1º, III, da Constituição Federal sem a intervenção da lei
complementar exigida pelo referido dispositivo constitucional

Tema 201 do STF:


É devida a restituição da diferença do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) pago a mais no regime de substituição tributária para a frente se a
base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida.

Súmula 653, STJ


O pedido de parcelamento fiscal, ainda que indeferido, interrompe o
prazo prescricional, pois caracteriza confissão extrajudicial do
débito.

Súmula 646, STJ


É irrelevante a natureza da verba trabalhista para fins de incidência da contribuição ao
FGTS, visto que apenas as verbas elencadas em lei (art. 28, § 9º, da Lei n.
8.212/1991), em rol taxativo, estão excluídas da sua base de cálculo, por força do
disposto no art. 15, § 6º, da Lei n. 8.036/1990.

Súmula 640, STJ


O benefício fiscal que trata do Regime Especial de Reintegração de Valores
Tributários para as Empresas Exportadoras (REINTEGRA) alcança as operações de
venda de mercadorias de origem nacional para a Zona Franca de Manaus, para
consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro.

Súmula 627, STJ


O contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção do imposto de renda,
não se lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade dos sintomas da doença
nem da recidiva da enfermidade.

Súmula 625, STJ


O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo
prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do
CTN nem o da execução de título judicial contra a Fazenda Pública.

Súmula 622, STJ


A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para a
constituição do crédito tributário; exaurida a instância administrativa com o decurso
do prazo para a impugnação ou com a notificação de seu julgamento definitivo e
esgotado o prazo concedido pela Administração para o pagamento voluntário,
inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judicial.

Súmula 614, STJ


O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de
IPTU e de taxas referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses
tributos.
Súmula 612 O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no
prazo de sua validade, possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo
seus efeitos à data em que demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos
por lei complementar para a fruição da imunidade.

Súmula 598, STJ


É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento
judicial da isenção do imposto de renda, desde que o magistrado entenda
suficientemente demonstrada a doença grave por outros meios de prova.

Súmula 590, STJ


Constitui acréscimo patrimonial a atrair a incidência do imposto de renda, em caso de
liquidação de entidade de previdência privada, a quantia que couber a cada
participante, por rateio do patrimônio, superior ao valor das respectivas contribuições
à entidade em liquidação, devidamente atualizadas e corrigidas.

Súmula 585, STJ


A responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art. 134 do Código de
Trânsito Brasileiro - CTB, não abrange o IPVA incidente sobre o veículo automotor,
no que se refere ao período posterior à sua alienação.

Súmula 584, STJ


As sociedades corretoras de seguros, que não se confundem com as sociedades de
valores mobiliários ou com os agentes autônomos de seguro privado, estão fora do rol
de entidades constantes do art. 22, § 1º, da Lei n. 8.212/1991, não se sujeitando à
majoração da alíquota da Cofins prevista no art. 18 da Lei n. 10.684/2003

Súmula Vinculante 40
A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição Federal, só é
exigível dos filiados ao sindicato respectivo.

Súmula vinculante 58
Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos,
sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não
cumulatividade.

Súmula vinculante 57
A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e
comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes
exclusivamente utilizados para fixá-los, como leitores de livros eletrônicos
(e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias

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