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DECISÃO

Trata-se de execução fiscal ajuizada pela Fazenda Nacional em face de F. H. L.


Cavalcante Locações e Construções LTDA
Sob o ID nº 4058106.30943886, manifestou-se a Fazenda exequente para informar
que recusa o bem oferecido à penhora visto não ter sido ofertado valor em dinheiro
ou outro bem móvel de fácil alienação e requer a penhora de dinheiro, via
SISBAJUD, com a inclusão da nova ferramenta de reiteração automática, chamada
"Teimosinha".
Postulou ainda o aditamento à petição anterior, informando que a empresa
executada tem filial, com CNPJ nº 28.803.836/0002-24, devendo a persecução
patrimonial também alcançá-la. (ID 4058106.29231539)
No que toca à possibilidade de penhora de bens da filial pelos débitos da matriz na
execução fiscal, impende trazer à baila o posicionamento adotado pelo Colendo
Superior Tribunal de Justiça por ocasião do julgamento do REsp 1.355.812-RS, sob
a sistemática dos recursos repetitivos. Vejamos:

DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. PENHORA, POR DÍVIDAS


TRIBUTÁRIAS DA MATRIZ, DE VALORES DEPOSITADOS EM NOME DE FILIAIS.
RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). Os valores
depositados em nome das filiais estão sujeitos à penhora por dívidas tributárias da
matriz. De início, cabe ressaltar que, no âmbito do direito privado, cujos princípios
gerais, à luz do art. 109 do CTN, são informadores para a definição dos institutos de
direito tributário, a filial é uma espécie de estabelecimento empresarial, fazendo parte do
acervo patrimonial de uma única pessoa jurídica, partilhando os mesmos sócios, contrato
social e firma ou denominação da matriz. Nessa condição, consiste, conforme doutrina
majoritária, em uma universalidade de fato, não ostenta personalidade jurídica própria,
nem é sujeito de direitos, tampouco uma pessoa distinta da sociedade empresária.
Cuida-se de um instrumento para o exercício da atividade empresarial. Nesse contexto, a
discriminação do patrimônio da sociedade empresária mediante a criação de filiais não
afasta a unidade patrimonial da pessoa jurídica, que, na condição de devedora, deve
responder, com todo o ativo do patrimônio social, por suas dívidas à luz da regra de
direito processual prevista no art. 591 do CPC, segundo a qual "o devedor responde,
para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros,
salvo as restrições estabelecidas em lei". Cumpre esclarecer, por oportuno, que o
princípio tributário da autonomia dos estabelecimentos, cujo conteúdo normativo
preceitua que estes devem ser considerados, na forma da legislação específica de cada
tributo, unidades autônomas e independentes nas relações jurídico-tributárias travadas
com a administração fiscal, é um instituto de direito material ligado ao nascimento da
obrigação tributária de cada imposto especificamente considerado e não tem relação
com a responsabilidade patrimonial dos devedores, prevista em um regramento de
direito processual, ou com os limites da responsabilidade dos bens da empresa e dos
sócios definidos no direito empresarial. Além disso, a obrigação de que cada
estabelecimento se inscreva com número próprio no CNPJ tem especial relevância para
a atividade fiscalizatória da administração tributária, não afastando a unidade patrimonial
da empresa, cabendo ressaltar que a inscrição da filial no CNPJ é derivada da inscrição
do CNPJ da matriz. Diante do exposto, limitar a satisfação do crédito público,
notadamente do crédito tributário, a somente o patrimônio do estabelecimento que
participou da situação caracterizada como fato gerador é adotar interpretação absurda e
odiosa. Absurda porque não se concilia, por exemplo, com a cobrança dos créditos em

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uma situação de falência, em que todos os bens da pessoa jurídica (todos os
estabelecimentos) são arrecadados para pagamento dos credores; com a possibilidade
de responsabilidade contratual subsidiária dos sócios pelas obrigações da sociedade
como um todo (arts. 1.023, 1.024, 1.039, 1.045, 1.052 e 1.088 do CC); ou com a
administração de todos os estabelecimentos da sociedade pelos mesmos órgãos de
deliberação, direção, gerência e fiscalização. Odiosa porque, por princípio, o credor
privado não pode ter mais privilégios que o credor público, salvo exceções legalmente
expressas e justificáveis. REsp 1.355.812-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 22/5/2013.

Assim, seguindo o posicionamento retro, o qual defende o entendimento de que


tanto a matriz quanto a filial não detêm personalidades distintas, mas sim formam
uma única pessoa jurídica, e considerando a gradação legal prevista no art. 11 da
Lei n° 6.830/80, defiro o pedido de bloqueio on line, através do Sistema BACENJUD,
do saldo de contas que pertença ou venha a pertencer a matriz e suas filiais até o
valor total do débito executado.
Quanto à recusa do bem dado em penhora, qual seja uma máquina escavadeira
hidráulica marca case ano FAB 2021, há de se esclarecer, inicialmente, que a
penhora de bens no âmbito da execução fiscal deve observar a ordem de
preferência estabelecida em lei: dinheiro, título da dívida pública, bem como título de
crédito, que tenham cotação em bolsa, pedras e metais preciosos, imóveis, navios e
aeronaves, veículos, móveis ou semoventes e direitos e ações. A jurisprudência
pátria entende que a Fazenda Pública pode recusar o bem oferecido sem
observância da ordem legal:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. EXECUÇÃO FISCAL. NOMEAÇÃO À
PENHORA DE CRÉDITOS ESCRITURAIS. RECUSA DO CREDOR. POSSIBILIDADE.
1. "Esta Corte firmou entendimento no sentido de que é lícito ao credor recusar
bens oferecidos à penhora que se revelarem de difícil alienação, isto porque a
execução é feita no seu interesse, e não no do devedor. Precedentes." (AgRg no AG
n.º 547.959/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Denise Arruda, DJ de 19/04/2004). 2. In casu,
não ofende ao art. 620, do CPC, a recusa da oferta feita pela executada de supostos
créditos escriturais de ICMS, sujeitos à fiscalização e estorno pela administração
tributária estadual, em garantia da Execução Fiscal. 3. Agravo Regimental não provido."
(AgRg no RESP nº 721396, Rel. Min Herman Benjamin, DJ de 08.02.2008, p. 640)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. SUBSTITUIÇÃO DA


PENHORA POR FATURAMENTO DA EMPRESA. AUSÊNCIA DE CONCORDÂNCIA DA
FAZENDA PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. 1. A substituição da penhora por outro
bem que não o dinheiro ou a fiança bancária - no caso dos autos, faturamento da
empresa - somente poderá ser feita com a anuência da Fazenda Pública, o que não
ocorreu na espécie. Inteligência do art. 15, I, da Lei 6.830/1980. 2. Orientação
reafirmada pela Primeira Seção, no julgamento do REsp. 1.090.898/SP, submetido ao
rito do art. 543-C do CPC, e na edição da Súmula 406/STJ. 3. É assente no STJ o
entendimento de que a penhora sobre o faturamento da empresa somente é admitida em
caráter excepcional, o que evidencia tratar-se de hipótese diversa da referente ao
dinheiro, que é listado em primeiro lugar no art. 11 da LEF. 4. Agravo Regimental não
provido. (AgRg no Ag 1354656/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe
15.3.2011)

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Ante o exposto, defiro a recusa da Fazenda Nacional do bem dado à penhora e as
penhoras requestadas, inclusive da filial.

Intimem-se.

Expedientes necessários.

Tauá/CE, data de inclusão supra.

Daniel Guerra Alves


Juiz Federal Titular da 22ª Vara da SJCE
Em designação para 24ª Vara
Ato n° 665/2023

RMC

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