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Hugo Estefânio Silva


Advogado

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DA SEÇÃO


JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL - DF

Sociedade Beta Construções e Incorporações Ltda, (qualificação completa),


residente e domiciliada em Brasília – DF, vem, por seu advogado infra-assinado, à
presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 318 e 319, do CPC/2015,
propor a presente

AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL com PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

em face da União, pessoa jurídica de direito público interno, podendo ser citada na
figura da Advocatícia-Geral da União – AGU, nos termos do art. 75, I; art. 182 e §3º, do
art. 242, todos do CPC/2015, com sedes no Ed. Sede I - Setor de Autarquias Sul - Quadra
3 - Lote 5/6, Ed. Multi Brasil Corporate - Brasília-DF - CEP 70.070-030 – e no Ed. Sede II -
Setor de Indústrias Gráficas - Quadra 6 - Lote 800 – Brasília/DF - CEP 70.610-460 em
Brasília – DF, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

1 DOS FATOS

Foi oferecido à Autora um terreno urbano desocupado para que ela realizasse uma
incorporação imobiliária. Em contrapartida, a Autora se comprometeu a permutar, em
favor do senhor João Sola de Sá Pato, antigo proprietário do terreno, algumas unidades
do empreendimento no valor correspondente ao terreno urbano.
Ocorre que, após fiscalização tributária, a Receita Federal do Brasil efetuou
lançamento tributário correspondente ao imposto sobre a renda da pessoa jurídica
(IRPJ) e da contribuição social sobre o lucro (CSLL) em face da Autora por entender que:
(i) houve percepção de receita bruta, nos termos do art. 30 da Lei 8.981/95, e (ii) a
permuta equivale a compra e venda.
Entendemos que o lançamento tributário questionado é ilegal, conforme será
demonstrado a seguir, merecendo o ato ser revisto e anulado.

2 DOS FUNDAMENTOS

2.1 DA NÃO CONSTITUIÇÃO DE RECEITA BRUTA A PARTIR DE IMOVEIS ADQUIRIDOS


POR PERMUTA.

A Receita Federal compreende que, na operação de permuta de imóveis com ou


sem recebimento de torna, realizada por pessoa jurídica que apura o imposto sobre a
renda com base no lucro presumido, dedicada a atividades imobiliárias relativas a
loteamento de terrenos, incorporação imobiliária, construção de prédios destinados à
venda, bem como a venda de imóveis construídos ou adquiridos para a revenda,
constituem receita bruta tanto o valor do imóvel recebido em permuta quanto o
montante recebido a título de torna e, em razão disso, integram a base de cálculo do
IRPJ, CSLL, PIS e Cofins.
Entretanto, o STJ, no julgamento do Resp Nº 1.733.560 – SC, repeliu esse
entendimento e declarou a inexigibilidade de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS incidentes sobre
o montante de operações de permuta de imóveis, salvo o valor referente à torna, e
declarou o direto da contribuinte que se dedica a atividade imobiliária de deixar de
recolher os tributos também nas operações futuras, salvo o valor da torna. Vejamos:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. TROCA DE IMÓVEIS. INEXISTÊNCIA


DE COMPROVAÇÃO DE LUCRO DA EMPRESA. IMPOSSIBILIDADE DE
EQUIPARAÇÃO COM A COMPRA E VENDA. ESFERA TRIBUTÁRIA.
EXEGESE CORRETA DO TRIBUNAL DE ORIGEM. FALTA PARCIAL DE
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO.
[...] 3. A Corte a quo interpretou corretamente o art. 533 do CC,
porquanto o contrato de troca ou permuta não deverá ser equiparado
na esfera tributária ao contrato de compra e venda, pois não haverá,
na maioria das vezes, auferimento de receita, faturamento ou lucro na
troca. Nesse sentido a lição do professor Roque Antônio Carrazza, em
seu livro Imposto sobre a Renda, ed. Malheiros, 2ª edição, pag.45, para
quem "renda e proventos de qualquer natureza são os acréscimos
patrimoniais líquidos ocorridos entre duas datas legalmente
predeterminadas." 4. O dispositivo em comento apenas salienta que
as disposições legais referentes à compra e venda se aplicam no que
forem compatíveis com a troca no âmbito civil, definindo suas regras
gerais. 5. Recurso Especial parcialmente conhecido, e, nessa parte, não
provido (REsp 1733560/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 17/05/2018, DJe 21/11/2018).

Na oportunidade, a Corte Cidadã destacou que o valor decorrente do recebimento


de imóveis dados como parte do pagamento nas operações de permuta de imóveis não
se enquadra no conceito de receita bruta das empresas optantes pelo lucro presumido.
Diante disso, não existe razão para incluir esses montantes na base de cálculo do IRPJ,
CSLL, PIS e Cofins, pois a operação de permuta envolvendo unidades imobiliárias não
implica o auferimento de receita/faturamento, nem de renda e tampouco de lucro, mas
sim mera substituição de ativos, razão pela qual não enseja a cobrança de contribuição
ao PIS, COFINS, IRPJ e nem CSLL.
Além disso, sob outro prisma, podemos afirmar que não há fato gerador na
operação de permuta. Aliás, essa é a tese defendida pela jurista Gabriela Bittencourt.1
Para ela, na operação de permuta, as incorporadoras tão somente adquirem um terreno
para construir algo nele, sem demandar pagamento em dinheiro. O incorporador realiza
esse pagamento pela entrega de unidades a serem construídas sob sua
responsabilidade, sem pretender nem implicar obtenção de receita.

1BITTENCOURT, Gabriela. O IRPJ nas permutas imobiliárias realizadas porpessoas jurídicas


optantes pelo regime do lucro presumido, 1 ed. São Paulo: Noeses,2019.
Portanto, ante a ausência de receita e, por conseguinte, de fato gerador, a anulação
do lançamento tributário é medida que se impõe.

2.1 DA NÃO EQUIPARAÇÃO DO CONTRATO DE PERMUTA AO CONTRATO DE COMPRA


E VENDA

Embora o Fisco insista em tributar os contratos de permuta da mesma forma que


os contratos de compra e venda (estes, sim, tributáveis), equiparando-os, trata-se, na
verdade, de operações que se distinguem sobremaneira, de modo que, ao contrário da
segunda, na primeira inexiste receita.
Inclusive esse é o posicionamento do STJ. No julgamento já colacionado (Resp Nº
1.733.560 – SC), a Corte Superior entendeu que o contrato de troca ou permuta não
deverá ser equiparado na esfera tributária ao contrato de compra e venda, pois não
haverá, na maioria das vezes, auferimento de receita, faturamento ou lucro na troca.
De fato, embora semelhantes, são institutos jurídicos diversos, de modo que a
permuta é a situação em que as partes trocam os imóveis entre si e a compra e venda é
o negócio em que uma das partes dá o dinheiro em troca de receber o imóvel.
Assim, repito, pela ausência de receita, que afasta qualquer possibilidade de
constituição do fato gerador, é nulo o lançamento tributário questionado.

3 DA TUTELA DE URGÊNCIA

Segundo o artigo 300, do CPC/2015, que trata da Tutela de Urgência, é necessária


para sua concessão que o juiz se convença da probabilidade do direito e do perigo de
dano, ou do risco ao resultado útil do processo, todos os requisitos contidos na petição
inicial.
A probabilidade do direito pode ser verificada a partir da decisão do STJ que
reconheceu que o contrato de troca ou permuta não deverá ser equiparado na esfera
tributária ao contrato de compra e venda. Além disso, a Corte Cidadã assinalou que o
imóvel recebido em permuta não se enquadra no conceito de receita bruta das
empresas optantes pelo lucro presumido.
Já o perigo de dano se encontra patente no receio de que a manutenção do
lançamento tributário resultará na inscrição da Autora no Cadastro Informativo de
Créditos não Quitados pelo Setor Público Federal (Cadin), que poderá trazer enormes
prejuízos, como a impossibilidade de obtenção de certidões negativas de débito fiscal
federal.
Portanto, pugna-se pela concessão da TUTELA DE URGÊNCIA para suspender a
cobrança fiscal em nome da Autora e a inclusão do seu nome no Cadin, enquanto se
discute o mérito da demanda, a fim de evitar transtornos maiores à Demandante.

4 DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a V. Ex.ª:


a) a concessão da TUTELA DE URGÊNCIA, suspendendo-se o lançamento tributário
expedido pela Ré, União, a fim de que a Autora não sofra prejuízos de ordem
tributária, até ulterior decisão;
b) que seja julgado, ao final, o pedido procedente e anulado o lançamento
tributário questionado;
c) a citação da Ré para, querendo, contestar a presente ação no prazo legal, sob
pena de revelia e confissão quanto à matéria de fato; e
d) o não condicionamento prévio de depósito para ajuizamento da ação anulatória
de débitos tributários, sob pena de macular o princípio do amplo acesso ao
judiciário.

5 DAS PROVAS

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas e


cabíveis à espécie.

6 DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Autora desde já, nos termos do art. 334 do Código de Processo Civil, manifesta
interesse em autocomposição, aguardando a designação de audiência de conciliação.

7 VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ XXXXXXX (xxxxxxxxxx).

Nesses termos, pede deferimento.

Brasília, 09 de maio de 2022.

Hugo Estefânio Silva


OAB nº XXXXXXXX

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