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A segunda questão tem sido bastante debatida pela opinião pública, e foi
desencadeada pelo facto de o tribunal, em 2020, ter mandado publicar os resultados
do Congresso. Os juízes são claros em afirmar que tal não representa uma
validação do Congresso – trata-se de um mero acto de tipo notarial. Não compete
ao tribunal, quando procede ao registo do resultado do Congresso, aferir da sua
validade. Compete, isso sim, a um membro da UNITA ou eventualmente,
acrescentamos, ao Ministério Público, como garante da legalidade democrática,
propor uma acção contra os resultados. Ora, se ninguém levantou a questão na
altura, o Tribunal Constitucional nada tinha que fazer. No entanto, esse acto não
constitui um direito, é apenas um anúncio.
Logo, os actos nulos podem ser contestados durante muitos anos e dispõem
de um regime de impugnação bastante generoso, competindo ao tribunal, sem
ninguém lhe pedir, declarar a nulidade de um acto. A nulidade resulta de um vício
existente no momento em que foi praticado o acto, e implica que o acto não produza
os efeitos jurídicos que diz produzir.
Sobre os actos e vícios que geram nulidades, não há uma lista fechada no
direito em geral. Poderá haver no direito criminal ou noutros ramos, mas a regra
genérica é que “a nulidade é o regime regra (cfr. artigo 294.º), aplicando-se a
anulabilidade ao conjunto de casos que a lei comina com tal consequência” (Carlos
Ferreira de Almeida).
Ou seja, mesmo que Adalberto da Costa Júnior considerasse que já não era
português a partir de 27 de Setembro, para todos os outros só deixou de o ser após
10 de Outubro. No fundo, é sobre este raciocínio, que aqui se simplifica, que o
Tribunal Constitucional assenta a sua argumentação.
De uma perspectiva legal, a fundamentação do Tribunal Constitucional
afigura-se correcta e defende o princípio da igualdade. Vejamos um exemplo:
imaginemos o candidato Antunes, que também queria concorrer ao cargo de
presidente da UNITA, mas, quando se apercebeu de que não conseguia ter o
registo da sua renúncia de nacionalidade a 10 de Outubro, desiste desse intento.
Ora, se entretanto é permitido que outro candidato, nas mesmas condições de
nacionalidade, concorra, está-se a beneficiar um e a prejudicar o candidato Antunes,
violando o princípio da igualdade.
O segundo comentário é sobre a diferença entre o pedido que foi feito pelos
autores e a decisão do tribunal. A acção interposta pelos primeiros versou apenas
sobre a eleição do presidente, enquanto a decisão do Tribunal Constitucional se
reportou a declarar o Congresso sem efeito. A explicação é simples: o Tribunal tem
poderes para oficiosamente, isto é, sem ser a pedido, declarar as nulidades com
que se deparar.
Por último, uma nota acerca dos juízes que não compareceram na
deliberação. A verdade é que a sua ausência não significa nada: nem que estão a
favor, nem que estão contra. A única juíza que votou vencido, Josefa Antónia dos
Santos Neto, esteve corajosamente presente e explicou as suas razões. Quanto aos
restantes, a única conclusão lógica a retirar é que não têm qualquer objecção à
decisão maioritária – caso contrário, teriam ido votar presencialmente contra.