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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Autos de origem: XXXXXXX.XX.XXXX.X.XX.XXXX

PARTIDO POLÍTICO FRENTE BRASILEIRA UNIDA, devidamente


qualificado nos autos em epígrafe, em que se processa EMBARGOS DE DECLARAÇÃO na
AÇÃO DIRETA DE INSCONSTITUCIONALIDADE, que ora move em face do ESTADO
DE MINAS GERAIS, na pessoa de seu Governador, ROMEU ZEMA NETO, também já
qualificado, vêm, respeitosamente, a presença de Vossa Excelência, com fulcro nos art. 102,
III, “c”, CF/88 e art. 1.029 e seguintes do CPC/15, interpor RECURSO
EXTRAORDINÁRIO, em face do acordão proferido, pelos termos e fundamentos que
seguem:

DO PREPARO

Deixa de recolher as custas processuais devido a condição de isento do Recorrente.

DA TEMPESTIVIDADE

Nos termos do art. 1.003, §5º do CPC/15, o prazo para interpor o presente recurso
é de 15 dias úteis, sendo perfeitamente tempestiva a interposição do recurso na presente data.

Requer seja recebido e processado o presente recurso, intimando-se a parte


contrária para que ofereça, dentro do prazo legal, as contrarrazões e, após seja o recurso
admitido e encaminhado com as inclusas razões ao Colendo Supremo Tribunal Federal.

Termos em que, pede e espera deferimento


Patos de Minas, 06 de dezembro de 2021

ADVOGADO
OAB/MG 17003063
EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

RAZÕES RECURSAIS

AUTOS DE ORIGEM: XXXXXXX.XX.XXXX.X.XX.XXXX


RECORRENTE: PARTIDO POLÍTICO FRENTE BRASILEIRA UNIDA
RECORRIDO: ROMEU ZEMA NETO

ÉMERITOS JULGADORES

DA TEMPESTIVIDADE

Nos termos do art. 1.003, §5º do CPC/15, o prazo para interpor o presente recurso
é de 15 dias úteis, sendo perfeitamente tempestiva a interposição do recurso na presente data.

DO PREPARO

Deixa de recolher as custas processuais devido a condição de isento do Recorrente.

DO CABIMENTO

No caso, a ação direta de controle tendo como parâmetro a Constituição do Estado,


tem previsão no Art. 125, § 2º da Constituição da República. É possível a interposição de
Recurso Extraordinário contra decisão proferida pelo Tribunal de Justiça no julgamento da
mesma, a fim de que seja apreciada, pelo Supremo Tribunal Federal, a norma da Constituição
da República repetida na Constituição Estadual, mas interpretada, pelo Tribunal de Justiça
local, em sentido incompatível com o da Constituição da República.

Segundo a disciplina do art. 102, III, “c” da CF/88, é da competência exclusiva do


Supremo Tribunal Federal, apreciar Recurso Extraordinário fundado em decisão proferida em
última ou única instância, quando a mesma julgar válida lei ou ato de governo local contestado
em face da Constituição Federal.
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou
última instância, quando a decisão recorrida:
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.

De forma que, não merece prosperar o argumento utilizado por alguns dos
Excelentíssimos Desembargadores do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que apontam a
impossibilidade de propositura de ação direta tendo por objeto um decreto estadual.

Resta provado o cabimento da via eleita para a impugnação do Decreto estadual,


pois, a despeito de se tratar de um Decreto, não é um ato de regulamentação da lei, mas ato
normativo primário, que inova autonomamente na ordem jurídica.

DO PREQUESTIONAMENTO

Verifica-se presente o requisito básico do prequestionamento para fins da


admissibilidade do presente recurso, pela tratativa prévia do tema constitucional ventilado no
tribunal a quo.

Como se pode averiguar nos autos, a recorrente adotou a cautela de questionar com
antecedência e de modo expresso a matéria que se tornaria objeto deste recurso extraordinário,
superando a ressalva entabulada na Súmula 282 do STF, in verbis:

Súmula 282 do STF - É inadmissível o recurso extraordinário, quando não


ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada.

Dito isto, demonstra-se que não restam no bojo deste recurso questões de ordem
constitucional que não tenham sido previamente suscitadas nas instâncias inferiores,
prequestionadas, merecendo ser admitido o presente Recurso Extraordinário.

DA REPERCURSSÃO GERAL

Por força do § 3º acrescentado ao artigo 102, III, da CF/88 pela EC nº 45/04, o


Recorrente demonstra, neste capítulo preliminar e autônomo, que há repercussão geral nas
questões constitucionais discutidas no presente caso, apta a ensejar a admissibilidade do apelo
extraordinário por este colendo Supremo Tribunal Federal.

De acordo com o § 1º do art. 1.035 do CPC/15: “Para efeito da repercussão geral,


será considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico,
político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos do processo”.

Assim, a preliminar de Repercussão Geral é um instrumento processual inserido na


Constituição Federal de 1988, por meio da Emenda Constitucional 45, de modo a possibilitar
que o Supremo Tribunal Federal selecione os Recursos Extraordinários que irá analisar, de
acordo com critérios de relevância jurídica, política, social e/ou econômica.

O uso desse filtro recursal resulta numa diminuição do número de processos


encaminhados à Suprema Corte. Uma vez constatada a existência de repercussão geral, o STF
analisa o mérito da questão e a decisão proveniente dessa análise será aplicada posteriormente
pelas instâncias inferiores, em casos idênticos.

No caso apresentado, a repercussão geral pode ser demonstrada pela ofensa a


direitos fundamentais titularizados por toda a coletividade, uma vez que a norma cria restrição
excessiva ao exercício de direito constitucionalmente assegurado, e o faz sem previsão em lei.

DA SINTÉSE FÁTICA

Em virtude da edição do Decreto nº 1968 pelo Governador do Estado de Minas


Gerais, ora Recorrido, que disciplina a participação da população em protestos de caráter
público, com a finalidade de garantir a passividade dos movimentos, foi proposta, perante o
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, a Ação Direta de Inconstitucionalidade alegando
a violação a normas da Constituição do Estado referentes a direitos e garantias individuais e
coletivos, que reproduz os dizeres da Constituição Federal.

Ocorre que, por entendimento majoritário, a referida corte julgou improcedente os


pedidos formulados, entendendo que a questão não suscitava de intervenção jurídica, vez que
não estão presentes as violações apontadas, estando as disposições do referido Decreto, em
acordo com a Constituição Estadual, e consequentemente, com a Constituição Federal em
virtude do seu caráter de similaridade.

Não bastasse a improcedência da ação, esteve presente nos votos de alguns


Desembargadores a justificativa de que seria impossível a propositura de Ação Direta de
Inconstitucionalidade em face de Decreto Estadual.

Interposto Embargos de Declaração, foi suscitado que os dispositivos da


Constituição Federal, tido como violados, fossem expressamente considerados e examinados
no acórdão, entretanto, ainda que tenha sido provido, sem efeito modificativo, apenas
esclareceu que todos os dispositivos da Constituição Federal que foram considerados violados
pelo Autor não foram desrespeitados, tendo todos eles sido expressamente enfrentados no
acórdão recorrido.

Motivos estes que dão ensejo a interposição do presente Recurso Extraordinário.

DO DIREITO

O recurso extraordinário tem por finalidade manter a guarda e a proteção da


Constituição da República Federativa do Brasil. Por isso, interpõe a recorrente o presente
recurso, haja vista as várias violações de norma constitucional ocasionadas pelo julgado.

O decreto impugnado viola o princípio da legalidade, na formulação do Art. 5º, II


da Constituição da República, uma vez que não se pode criar restrição a direito senão em virtude
de lei.

A decisão recorrida afronta o Direito de Manifestação, consagrado no art. 5º, IV,


XVI, XVII, bem como o art. 220, ambos da CF/88, vejamos:

Art. 5º, IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato;

Aart. 5º, XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais
abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não
frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente. ”
Art. 5º, XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de
caráter paramilitar. ”

Art. 220 – A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a


informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição. “

As manifestações são uma forma de expressão coletiva e também um exercício


de democracia, pois cria um espaço público de discussão. Também é através da manifestação
que a sociedade demonstra seus anseios e necessidades ao Estado. Por isso, o exercício deste
direito é a afirmação do Estado Democrático de Direito.

Vale ressaltar ainda que o direito à manifestação está previsto nos artigos 18, 19 e
20 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, observe:

Art. 18 Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência


e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a
liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo
culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em
particular. “

Art. 19: Todo o homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este
direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar,
receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios,
independentemente de fronteiras. “

Art. 20: Todo o homem tem direito à liberdade de reunião e associação


pacíficas. “

No mesmo sentido, a lei apresenta que a liberdade de reunião, garantida pelo artigo
5º, XVI da Constituição e a liberdade de culto, prevista no artigo 5º, VI do mesmo dispositivo,
são ao mesmo tempo coletivas e individuais, uma vez que cada cidadão tem direito de se reunir,
mas tal direito só faz sentido quando um grupo o manifesta.

A Magna Carta garante, conforme já exposto, em seu artigo 5º, XVI, o direito de
reunião. Ou seja, todos podem reunir-se pacificamente em locais abertos ao público, não
sendo necessária autorização e desde que não frustrem outra reunião.
Esse conjunto de direitos e liberdades aqui expostos e garantidos
constitucionalmente não pode ser invadido por ninguém, inclusive pelo Estado que não poderá
ultrapassar as fronteiras previstas a cada um desses direitos.

Mesmo quando for possível alguma forma de restrição, esta deverá respeitar o
núcleo do direito, bem como o princípio que rege a dimensão de tal direito.

O devido processo legal é outro princípio a ser observado pelo Estado, ou seja,
qualquer ato praticado deve estar previsto em lei, o que leva a observância ao contraditório e
ampla defesa e de um órgão julgador imparcial, princípios previstos no artigo 5º, LIII, CF/88.

A razoabilidade e proporcionalidade são princípios que também devem ser


respeitados por toda e qualquer ação do Estado, nos termos do artigo 5º, LIV, CF/88.

Por fim, deve respeitar a segurança jurídica prevista no artigo 5º, caput, XXXVI,
XXXIX, CF/88 e artigo 150, I e III, CF/88).

Desta forma, a decisão recorrida deve ser totalmente modificada restabelecendo a


decisão proferida no Tribunal a quo.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, o Recorrente requer seja o presente recurso admitido no Juízo


“a quo” para ser remetido ao Juízo “ad quem”, o Supremo Tribunal Federal, para que por este
Tribunal haja o conhecimento e o provimento do presente recurso extraordinário, pois estão
presentes todos os pressupostos de sua admissibilidade, reformando-se totalmente a decisão
recorrida dos autos nº XXXXXXX.XX.XXXX.X.XX.XXXX, com a finalidade de que seja
decretado a inconstitucionalidade do Decreto nº 1968, e assim possa ser garantido o direito
constitucional da livre manifestação, com fulcro em todo o regramento constitucional acerca da
matéria, consoante exposto nestas razões recursais.

Por conseguinte, requer a inversão do ônus da sucumbência, com a condenação da


parte recorrida ao pagamento das custas e honorários advocatícios, nos termos do art. 82, § 2º
do Código de Processo Civil de 2015.
Informa que não foram juntadas guias de recolhimento de custas porque o
recorrente é isento.

Requer a intimação da parte contrária para a apresentação de contrarrazões e a


notificação do Ministério Público.

Termos em que, pede deferimento.

Patos de Minas, 06 de dezembro de 2021

ADVOGADO
OAB/MG 17003063

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