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Aula 7

RECURSOS EM ESPÉCIE
Recurso Extraordinário ART. 637- 638 CPP

Direito Comparado

Segundo narra Mossin1, partiu de Florêncio de Abreu, a assertiva de que o Recurso


Extraordinário foi inspirado no writ error americano, instituído nos Estados Unidos pelo Judiciary
Act, seção 25, de 24 de setembro de 1789. O decreto 848 de 1890 em seu art. 9º, que organizou a
Justiça Federal, adotou, segundo o autor, texto relativo ao writ of error, com acréscimo da expressão
“aplicabilidade” ao termo “vality”, onde posteriormente foi substituído pelo vocábulo “aplicação”
na Constituição de 24 de feveriro de 1891.

Segundo a Legal Information Institute, Writ of error significa: emanating from an appellate
court, demanding that a lower court convey the record of a case to the appellate court so that the
record may be reviewed for alleged errors of law committed during a juridical proceeding2.

Tradução: Mandado emanado de um tribunal de apelação, exigindo que um tribunal de


primeira instância transmita o registro de um caso ao tribunal de apelação para que o registro possa
ser revisado por supostos erros de lei cometidos durante um processo judicial.

Assim, segundo a linha da lei americana, Judiciary Act, tem -se que todo julgamento ou
decisão (decree) definitivo proferido pelo mais alto Tribunal de Justiça dos Estados Unidos, pode ser

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Recursos em Matéria Criminal, p.626
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Fonte: https://www.law.cornell.edu/wex/writ_of_error
reexaminado e revogado ou ainda confirmado pela Suprema Corte, mediante recurso de erro (writ
of error)3.

Mossin4, leciona que o Recurso Extraordinário, é um recurso Constitucional, ou mais


propriamente dito como de Direito Processual Constitucional, já que encontra previsão na
Constituição art. 1025, III6. Observe que como ensina o próprio autor, o Recurso Extraordinário
possui características de excepcionalidade em relação aos demais, já que não se presta a reexaminar
questões de fato e de direito, mas unicamente de Direito (iuris), nessa linha Súmula 279 do STF,
veja:
SÚMULA 279 - Para Simples Reexame De Prova Não Cabe Recurso
Extraordinário

Em relação a Admissibilidade, a doutrina de Mossin7, aponta no sentido de que para


ingressar com o referido recurso, se faz necessário o vencimento de algumas Súmulas do Supremo,
tais como:
Súmula 400 (Interpretação razoável de lei Federal)- Decisão que deu razoável interpretação
à lei, ainda que não seja a melhor, não autoriza recurso extraordinário pela letra "a" do art. 101, iii,
da constituição federal;
Súmula 281 (Esgotamento prévio das instâncias ordinárias) - É inadmissível o recurso
extraordinário, quando couber na justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada;
Súmula 282 (Pré-questionamento) - É inadmissível o recurso extraordinário, quando não
ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada;
Súmula 356 (Exigência de embargos declaratórios sobre pontos omissos para efeito de
prequestionamento) - O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos

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Mossin, p.626
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Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
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III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão
recorrida:
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declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do
prequestionamento;
Súmula 284 (deficiência de sua fundamentação) - É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia;
Súmula 283 (Decisão recorrida, assentada em mais de um fundamento)- É inadmissível o
recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente
e o recurso não abrange todos eles

NOTA: Observe que o Recurso Extraordinário tem caráter político, uma vez que por intermédio
deste, a Suprema Corte, restabelece a ordem jurídica constitucional diretamente infringida8.

Legislação Aplicada:

CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
(...)
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última
instância, quando a decisão recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta
Constituição.
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (observe que neste
caso, estamos a falar de competência concorrente com o STJ)

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Mossin, Recursos em Matéria Criminal, p. 628
Da Tempestividade do Recurso

O prazo para interposição do referido recurso é de 15 (quinze) dias, que antes era previsto
na Lei 8.038/90 em seu art. 26, que fora revogado pelo NCPC/2015, alterando inclusive o Código
de Processo Penal, art.638, veja:

CPP- Art. 638. O recurso extraordinário e o recurso especial serão


processados e julgados no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal
de Justiça na forma estabelecida por leis especiais, pela lei processual civil e
pelos respectivos regimentos internos.

Assim, pela dicção do art. 1.003 § 5º, o prazo para interposição do referido recurso, é de 15
(quinze) dias úteis, veja:

NCPC- Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em


que os advogados, a sociedade de advogados, a Advocacia Pública, a
Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão.

§ 5º Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os


recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze) dias.

Observe que no caso dos Embargos de declaração, no NCPC, o prazo é de 5 dias, no CPP é
de 2 dias (CPP art. 619).

Procedimento

Os recursos Extraordinário (STF), assim como o Especial (STJ), serão direcionados ao


presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas, obedecendo aqui o que
determina o art. 1.029 do NCPC, veja:
NCPC- Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos
previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou
o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:

I - a exposição do fato e do direito;


II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.

Em que pese a emenda complementar 45/2004, no que tange a repercussão geral, que
deverá ser reconhecida no tocante ao preenchimento do requisito de admissibilidade, para
julgamento do referido recurso, o Supremo Tribunal Federal, decidiu que não há o que se falar em
imanente repercussão geral de todo o recurso extraordinário criminal, porque está em jogo a
liberdade de locomoção9, matéria discutida na Questão Ordem no Agravo de Instrumento (QO no
AI 664.567/RS).

Assim, a corte Suprema, estabeleceu que há repercussão geral nos seguintes casos:

i- A possibilidade de a sentença condenatória extinta há mais de 5 anos, ser considerada


maus antecedentes, à luz da garantia constitucional da presunção de inocência10;
ii- Possibilidade de fixação de pena abaixo do mínimo legal, no caso de reconhecimento de
circunstâncias atenuantes11;
iii- O trancamento da ação penal fora das hipóteses previstas em lei, ante o princípio do juiz
natural12;

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Gustavo Henrique Badaró, Manual dos Recursos Penais, p. 359, que aponta para o STF, QO(Questão de Ordem) no
AI 664.567/RS
10
STF RExt- RG 593.818/SC
11
STF RExt-RG 597.270/RS
12
STF RExt-RG 593.443/SP
iv- A não recepção da circunstância agravante da reincidência pela Constituição de 1988,
por implicar bis in idem13;
v- A não recepção da contravenção penal do art. 25 da LCP, referente à posse não
justificada de instrumento de emprego usual no crime de furto, por pessoas com prévia
condenação pena, ante os princípios da igualdade, não discriminação e presunção de
inocência14;
vi- A progressão de regime em crimes hediondos cometidos antes da vigência da Lei
11.464/200715;
vii- Trancamento da ação penal, em Habeas Corpus, por falta de justa causa, sem a
submissão de acusados de crime doloso contra a vida ao Tribunal do Júri16

E outros.

Da Carta Testemunhável – ART. 639- 646 CPP

Segundo no CPP, art. 639 a Carta Testemunhável é cabível: i- contra decisão que denegar o
recurso; ii- da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo
ad quem.
Badaró17, afirma que a Carta Testemunhável, tem natureza jurídica de recurso, pois, serve
para que o órgão superior possa reformar a decisão que está causando gravame à parte, e citando
nesse aspecto Francisco Morato, relata:

“ a carta testemunhável tem função especial, de fazer efetivo os outros recursos”

13
STF RExt-RG 591.563/RS
14
STF RExt-RG 583.523/RS
15
STF RExt-RE 579.167/AC
16
STF RExt-RE 593.443/SP
17
Gustavo Henrique Badaró- Manual dos Recursos Penais, p.311
Segundo narra ainda Badaró18, a carta testemunhável, é recurso subsidiário, assim, para seu
cabimento, não poderá haver previsão de outro recurso específico contra a decisão que denega o
recurso ou obsta o seu seguimento.

Segundo o autor, denegar o recurso é não conhecê-lo, por falta de pressuposto recursal, não
se trata, de juízo negativo quanto ao mérito recursal. Da decisão que denegar o RESE (Recurso em
Sentido Estrito CPP art. 581) cabe a carta testemunhável, e também será cabível contra decisão que
denega agravo em execução (LEP art. 197), tendo em vista que tal recurso se aplica o procedimento
do recurso em sentido estrito.

Legitimidade

A legitimidade se observa no art. 577 do CPP, veja:

CPP Art. 577. O recurso poderá ser interposto pelo Ministério Público, ou pelo
querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu defensor.

Parágrafo único. Não se admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver
interesse na reforma ou modificação da decisão.

Para Badaró19, somente terá interesse em propor o recurso o legitimado que tiver seu RESE
denegado.

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P.312
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P.313
Tempestividade

O prazo para interposição do recurso é de 48 horas nos termos do art.640 do CPP, com
petição endereçada ao escrivão u ao secretário do tribunal, com inicio da contagem do prazo pela
intimação (art. 798 §5º do CPP):

Art. 640. A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do


tribunal, conforme o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que
denegar o recurso, indicando o requerente as peças do processo que deverão ser
trasladadas.

Art. 798. Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios,


não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado20

§ 5º Salvo os casos expressos, os prazos correrão:


a) da intimação;
b) da audiência ou sessão em que for proferida a decisão, se a ela estiver
presente a parte;
c) do dia em que a parte manifestar nos autos ciência inequívoca da sentença
ou despacho.

Procedimento em Primeiro Grau

O procedimento em primeiro grau é:

i- Protocolo da interposição da petição (CPP art. 640);


ii- Entrega, pelo escrivão do recibo e do traslado (CPP art.641);

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Com exceção ao prazo de 15 dias dos Recursos Especial e Extraordinários que correrão em dias úteis, devido a
reforma do CPP pelo NCPC
iii- Intimação do testemunhante para apresentações de razões, no prazo de 2 dias;
iv- Apresentação das razões;
v- Intimação do testemunhado para apresentar contrarrazões, em igual prazo;
vi- Apresentação das contrarrazões;
vii- Juízo de retratação pelo magistrado a quo.

Observe: caso o escrivão ou secretário do tribunal, que se negar a dar o recibo, ou deixar de
entregar, sob qualquer pretexto, o instrumento, será suspenso por trinta dias, neste ato, o
testemunhante, poderá representar ao juiz ou presidente do tribunal, que imporá pena e mandará
que seja extraído o instrumento, ao substituto do escrivão ou secretário destituído, caso ainda
assim, não seja atendido, o testemunhante poderá reclamar ao presidente do tribunal ad quem,
que avocará os autos, para efeito do julgamento do recurso (a Exemplo: o RESE) bem como a
imposição da pena ao escrivão ou secretário. Art. 642 do CPP, veja:

Art. 642. O escrivão, ou o secretário do tribunal, que se negar a dar o recibo,


ou deixar de entregar, sob qualquer pretexto, o instrumento, será suspenso
por trinta dias. O juiz, ou o presidente do Tribunal de Apelação, em face de
representação do testemunhante, imporá a pena e mandará que seja extraído
o instrumento, sob a mesma sanção, pelo substituto do escrivão ou do
secretário do tribunal. Se o testemunhante não for atendido, poderá reclamar
ao presidente do tribunal ad quem, que avocará os autos, para o efeito do
julgamento do recurso e imposição da pena.

Do efeito
A carta testemunhável não possui efeito suspensivo
Art. 646. A carta testemunhável não terá efeito suspensivo.

Professor: Tonny André

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