Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Alexandrino, mais
concretamente quanto ao ponto sobre o Governo (p. 161-175) e sobre os
Tribunais (p. 177-179).
Não iria insistir na aula nas matérias relativas à composição, formação e cessação de
funções, uma vez que já as tratámos no primeiro semestre, embora aconselhe a leitura
das páginas 166 a 172 das Lições do Prof. Alexandrino para efeitos de sedimentação.
- Pela noção clássica de funções do Estado, essas definem-se como atividades típicas
e permanentes dos órgãos do Estado em ordem à prossecução dos respetivos fins.
- Os critérios materiais, tal como enunciados nesse quadro, podem também dizer-se
finalísticos: estão em causa os fins. Em termos simples, pode dizer-se que a função
político-legislativa define os interesses e necessidades a prosseguir e a função
administrativa satisfaz em permanência essas necessidades. Já a função judicial,
prossegue um e um só interesse: a paz jurídica pela decisão de questões jurídicas
(resolvendo litígios e decidindo questões de constitucionalidade e de legalidade);
- As funções distinguem-se ainda quanto aos atos típicos que exercem, enumerados na
página 140. De notar que esta enumeração do Prof. Jorge Miranda corresponde ao
esquema clássico de divisão de funções e pode merecer adaptações. Por exemplo,
afirma-se que a função legislativa se traduz na prática de "atos de conteúdo normativo -
Leis". Veremos à frente que as leis podem não ser atos normativos.;
Esta última questão vai ser objeto de casos práticos. A formulação em abstrato é mais
difícil do que a sua aplicação prática, pelo que estejam descansados!
INTRODUÇÃO
- Entre os atos do Estado, interessam-nos os atos jurídico-constitucionais, isto é, atos
regulados pelo direito constitucional a título principal (v. Jorge Miranda, p. 151)
- Um exemplo muito ilustrativo (em abstrato e em concreto…) de ato jurídico-
constitucional é a declaração do estado de emergência. É este exemplo que vamos
usar aqui (não porque a suspensão de direitos fundamentais faça parte do programa,
mas porque é um exemplo muito vivo e impressivo para compreender este ponto).
- São também atos jurídico-constitucionais os atos legislativos (leis da AR, decretos-leis
do Governo, decretos legislativos regionais do Governo), aqueles que sobretudo nos
vão ocupar no programa de Direito Constitucional II.
Para que isto se torne compreensível, temos de ver cada um destes aspetos
individualizadamente: os elementos, os requisitos, os vícios e os desvalores.
ELEMENTOS
- Um ato jurídico-constitucional desdobra-se em elementos (aquelas componentes ou
partes que formam a sua realidade, digamos assim).
- Os elementos são subjetivos, objetivos e formais (v. esquema).
- Quanto aos elementos:
2.1. Definição dos direitos que ficam suspensos e termos da suspensão (vejam o ponto
4.º, em especial do Decreto) (objeto imediato);
2.2. Todo o território nacional (objeto mediato);
REQUISITOS
2.1. Quanto ao objeto imediato ou conteúdo dispositivo, o requisito é que ele seja
conforme com as normas constitucionais materiais ou de fundo (quer princípios gerais
concretizadores do Estado de Direito, quer direitos fundamentais, quer normas
específicas que regulam o ato).
(No exemplo da declaração do estado de emergência, tem de ser respeitado o princípio
da proporcionalidade (artigo 19.º, n.º 4) e não podem ser afetados os direitos previstos
no artigo 19.º, n.º 6.).
3.1. Quanto à forma, exige-se que a forma do ato coincida com a forma
constitucionalmente prescrita (registem já, quanto à forma dos atos da AR, o artigo
166.º da Constituição, cujo esquecimento é muito frequente…).
(No exemplo da declaração do estado de emergência, é efetivamente exigida a forma
de decreto, usada pelo PR. O artigo 11.º da Lei n.º 44/86 estabelece expressamente
nesse sentido, mas esta exigência decorre desde logo do artigo 119.º, n.º 1, alínea d),
da Constituição e corresponde à tradição constitucional quanto à forma dos atos do
Chefe de Estado).
OBJETIVOS
OBJETO IMEDIATO
(conteúdo dispositivo do ato) Inteligibilidade
FORMAIS
FORMA
(modo de exteriorização do ato) Forma prescrita
Inconstitucionalidade formal
FORMALIDADES
(trâmites do procedimento de produção do ato) Formalidades prescritas
DESVALOR
Com ressalvas:
Preterição de formalidades com expressa cominação de inexistência (promulgação /
referenda): inexistência.
Preterição de formalidades não essenciais: requisitos de regularidade
Preterição de formalidades que relevem da publicidade do ato: requisitos de eficácia
-----
-----
-----
- Na inexistência jurídica, o ato corresponde a uma mera aparência que não produz
quaisquer efeitos desde o momento da sua prática;
- Na invalidade, o ato pode ser não aplicado pelos tribunais ou assim declarado pelo
Tribunal Constitucional com força obrigatória geral (veremos isto a respeito da
fiscalização da constitucionalidade);
- A irregularidade não prejudica a produção de efeitos.
Assim:
- Requisitos de qualificação: a sua falta gera inexistência jurídica;
- Requisitos de validade: a sua falta gera invalidade;
- Requisito de regularidade: a sua falta gera mera irregularidade.
Vejamos:
Cruzando:
Os requisitos objetivos ou materiais são sempre de validade.
A generalidade dos requisitos orgânicos (p. ex. competência do orgânico) e formais são
também de validade.
Os requisitos orgânicos e formais podem ser de qualificação se o seu incumprimento
implicar que não se possa considerar formada a vontade (qualquer vontade, de
qualquer órgão!) do Estado;
Os requisitos formais podem ser de regularidade se corresponderem a formalidades
não estabelecidas pela Constituição ou cuja falta seja suprível.
-------
--------
Em matéria de teoria dos atos legislativos, o que está em causa em primeiro lugar é a
resposta à pergunta “o que é a lei?”.
Iremos ver à frente que há uma terceira alternativa (com que me identifico) em que a lei
é definida pela sua forma, sem prejuízo de haver limites quanto ao conteúdo que possa
ter (e que interferem, não com a definição de lei, mas com a sua validade).
Mas, para já, tenham presentes as duas alternativas acima enunciadas.
Assim:
Mas para já, é preciso ter em conta o seguinte: o problema do conceito de lei não se
resolve tendo em conta o que é prescrito em preceitos constitucionais que obedecem a
finalidades específicas e devem ser interpretados à luz das mesmas (DS, 108-112).
O problema só pode ser encarado à luz das exigências decorrentes dos princípios
fundamentais da Constituição, nomeadamente o princípio do Estado de Direito, o
princípio democrático e o princípio do Estado social.
Vejamos:
Assim, determinar se uma lei pode ser individual e/ou concreta é um problema a
resolver no quadro de uma colisão de princípios.
Notem bem que a questão aqui já não é de “definição” da lei (como o era no contexto
liberal) mas de “validade” da lei (de cumprimento de um requisito de validade da lei, de
uma exigência dirigida ao conteúdo do ato legislativo).
Em sede estrita de definição, a lei define-se agora pela forma (nisso, os “formalistas”
têm razão). De facto, sabemos que há casos em que a lei pode descer ao individual
e/ou concreto e isso é suficiente para desmentir uma definição substancialista de lei.
O que está em causa nas “duas subtrações” não é propriamente regressar à tese
substancialista ou afastar a tese formalista sobre o conceito de lei, ou seja, não é dizer
que a lei não se define pela forma.
Admitindo-se que a lei se define pela forma, o que está em causa é dizer que a lei não
pode descer validamente ao individual e/ou concreto (isto é, pode ser inválida) se isso
importar uma violação do princípio do Estado de Direito (aqui ponderado ou sopesado
com as exigências do princípio democrático e/ou princípio do Estado Social).
A fórmula para identificar se há violação do princípio do Estado de Direito equivale,
precisamente, às “duas subtrações”.
O Prof. Melo Alexandrino identifica-me como “substancialista” (p. 198), o que não é
absolutamente rigoroso (pois dizer que a lei pode ser inválida por ser individual e
concreta não significa dizer que a lei se define pela generalidade e abstração.
Na verdade, a minha posição acaba por não ser muito diferente da do mesmo Autor.
O mesmo diz que o facto de a lei se definir pela forma (como efetivamente se define)
não prejudica que haja limites ao poder de intervenção da lei. Assim na razão em que o
legislador esteja vinculado aos princípios fundamentais da Constituição, cujas
correspondentes exigências são “condições de validade” da lei.
Assim, se há algo que diferencia a minha posição da do Prof. Alexandrino esse algo
traduz-se em dizer que esses princípios fundamentais (mais precisamente, o princípio
do Estado de Direito) exigem que a lei seja lei geral e abstrata por via de regra, sob
pena de invalidade.
A lei individual e/ou concreta só será válida se às exigências do princípio do Estado de
Direito se sobrepuserem em concreto exigências do princípio democrático e do
princípio da socialidade.
Pela aplicação das duas subtrações, as respostas sobre se a lei individual e concreta é
válida são diferentes em cada caso.
Neste contexto, será inválida lei que prevê as vagas no ensino superior para o ano
letivo seguinte (sobretudo em razão da segunda subtração).
Mas poderá não ser inválida lei que prevê medidas excecionais para combater a
epidemia de COVID 19. Apesar de se tratar de um conteúdo concreto, o princípio
democrático e o princípio do Estado social poderão justificar a intervenção do
legislador.