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Aula 2Os ramos do Direito e a Gestão

Definição do Direito
Como já vimos, o Direito – numa acepção restrita, considerado apenas como o conjunto
de normas positivadas – tem origem nas leis, que são atos oficiais promulgados pelo
Poder Legislativo – resultado da elaboração do processo legislativo – e que atendem a
requisitos como a publicidade, a forma, a obediência ao texto constitucional, além de
possuírem uma hierarquia, compondo um sistema estruturado sob certa composição
prevista constitucionalmente.

Também aprendemos que compõem o Direito, em sentido amplo, ou numa acepção


mais inclusiva (e ampliando a visão para tratá-lo como um sistema), outras fontes que o
constituem, juntamente com as leis, todavia sem sua rigidez e sem a necessidade de
obediência às suas formalidades, ritos e normas procedimentais, que são a analogia, a
equidade, os usos e costumes e, finalmente, são fontes de Direito, ainda, o conjunto das
decisões dos Tribunais (a Jurisprudência) e os entendimentos expostos nas obras dos
estudiosos, ou a doutrina.
Nesta aula vamos analisar como se organiza e estrutura o Direito em seus planos
positivos, ou seja, como se dividem, dentro do chamado Sistema Jurídico – que é o
conjunto de todo o Direito de um determinado povo, seja oriundo de qualquer das suas
fontes –, os diversos conjuntos de normas jurídicas que regem a vida dos cidadãos e os
negócios das empresas.
Seu conhecimento é fundamental porque, em primeiro lugar, o cidadão deve conhecer
seus direitos e deveres e isso pressupõe o conhecimento das estruturas políticas e sociais
do Estado em que vive, e isso pressupõe o domínio das estruturas judiciárias; e, depois,
porque não se admite que uma empresa vá interagir negocialmente desconhecendo as
estruturas de decisão nas diversas matérias de sua ação e abrangência empresariais.
A mais importante das normas jurídicas de qualquer Estado é a Constituição. Como sua
própria denominação sugere, é o texto fundamental do ordenamento jurídico, político,
econômico e social de um País e, de todos os Diplomas Legais (ou textos legais) de
qualquer ordenamento organizado, sempre será o primeiro e mais importante. Todos os
demais derivam dele e todos devem respeitar a sua orientação e o sistema por ele
seguido.
A Constituição é promulgada por um Poder especialmente reunido para sua elaboração,
um Poder diverso de todos os demais – ou seja, um Poder diverso dos Poderes já
analisados, Executivo, Legislativo e Judiciário.

O deputado
Ulysses Guimarães mostra a Constituição brasileira, promulgada em 1988.
Fonte: Agência Brasil
O Poder Constituinte, por sua própria natureza – enquanto Poder reunido para a
elaboração do texto fundamental de um Estado – não possui qualquer limitação,
podendo, literalmente, dispor sobre a formação, a organização, as estruturas e os
princípios não apenas do Direito de um país, mas, também, do próprio Estado em toda e
qualquer uma de suas manifestações.
Apenas para contextualizar, é na Constituição Federal que:
 se encontram definidas a forma e o sistema de governo do Brasil – uma República
Presidencialista;
 se encontra a disposição acerca da própria existência dos três Poderes (por isso
mesmo ditos Poderes Constituídos) e a sua divisão em Executivo, Legislativo e
Judiciário;
 estão delimitadas as suas estruturas e competências.

Não existindo qualquer limite para o Poder Constituinte, ele poderia, por exemplo, ter
determinado que o Brasil se tornaria uma Monarquia, ou ter adotado o regime
parlamentarista; poderia ter criado um “quarto Poder” do Estado – na verdade a nossa
primeira Constituição, a Constituição Imperial, de 1824, estabelecia um Poder além dos
três hoje existentes, o Poder Moderador, exercido exclusivamente pelo Imperador (o
Poder Moderador foi abolido de nossos textos constitucionais com o advento da
República e consequentemente deixou de ser previsto em nossa segunda Constituição,
de 1891), poderia, enfim, ter estabelecido que os estados se tornariam territórios – o
inverso foi realizado, os antigos territórios tornaram-se estados.
Como podemos perceber, sintomaticamente, as consecutivas alterações de regime e de
sistema de governo que ao longo de nossa História sucederam foram seguidas pela
promulgação de novas Constituições. Foi assim quando da proclamação da República;
foi assim após a Revolução de 1930, que encerrou o ciclo político hoje denominado
República Velha, por exemplo.
Já vivemos sob a égide das seguintes Constituições:

1824
Constituição Imperial.

1891
Primeira Constituição Republicana.

1934
Promulgada após a Revolução de 30 e a Revolução constitucionalista de 1932.

1937
Que implantou o Estado Novo.

1946
Promulgada com a queda do Estado Novo, coincidentemente após o final da II Guerra
Mundial e a derrota dos regimes totalitários na Europa.

1967
Buscou institucionalizar e legalizar o regime militar.

1988
Atual Constituição Federal, promulgada ao final do ciclo dos governos militares.
Enfim, a Constituição Federal é, como já visto, um Diploma Jurídico de natureza ímpar,
é a norma fundamental do Estado, dispõe sobre as estruturas sociais, econômicas,
políticas e jurídicas e, portanto, também determina a natureza e a orientação de todos os
demais textos legais.
Assim, o Poder Constituinte não obedece a qualquer sistema jurídico ou a qualquer
ordenamento; ele o faz. Todo e qualquer dispositivo de lei ou Diploma Legal que
eventualmente contenha disposição contrária ao texto constitucional estará
imediatamente revogado quando ela entrar em vigor, assim como todo e qualquer
dispositivo ou Diploma Legal superveniente ao texto constitucional lhe deve obediência
e, naturalmente, não poderá contrariá-lo.
Portanto, quando tratamos de nosso Ordenamento Jurídico, de nosso Sistema de Direito,
em primeiro lugar e com natureza especial, única e própria, teremos a Constituição
Federal, a quem todos os demais se subordinam e de quem todos derivam.
Todavia, estruturado pelo texto constitucional temos um arcabouço jurídico que contém
blocos ou sistemas peculiares, que são assim definidos pela natureza das suas
respectivas matérias ou pela natureza dos direitos que regulamentam.
Classificação do Direito
Antes mesmo da análise dos ramos do Direito brasileiro, importante destacar que
dividimos o sistema jurídico em ampla análise em:
 Direito Nacional
 Direito Internacional
É relevante mencionarmos, ainda, que uma vez chancelados os Tratados, Convenções
ou Acordos Internacionais, suas normas passam a viger no Brasil não somente quanto às
relações entre os cidadãos de nosso Estado com estrangeiros em planos internacionais,
mas, ainda, dependendo de sua natureza, tornam-se imperativas de conduta em nosso
território, regendo relações entre cidadãos brasileiros.
Como, por exemplo, aquelas normas que determinam a inserção de dispositivos de
inspiração internacional em nossos Diplomas Legais, versando sobre temas de natureza
específica.
Em planos de Direito Internacional, teremos ainda a subdivisão abaixo:
 Direito Internacional Público
 Direito Internacional Privado
Dessa forma, o gestor de uma empresa dedicada ao comércio internacional, à
exportação ou à importação deverá ter conhecimento de normas de Direito
Internacional, além daquelas que regulamentem os negócios de sua expertise, já que
diferentes países terão diferentes legislações e emprestarão tratamentos diversos às
mesmas matérias, pelo que o administrador vai se defrontar com diferentes hipóteses de
incidência e alíquotas tributárias, diferentes normas penais, diferentes normas
trabalhistas, diferentes normas contratuais, de direito do consumidor ou de
responsabilidade civil, por exemplo, na atuação internacional.
Porém, ainda quando a sua atuação circunscreve-se ao nosso território, deixa de ser
complexo o panorama a ser conhecido: em planos nacionais – ou na competência
interna – também dividimos os sistemas de Direito em blocos, não apenas para facilitar
a sua compreensão e análise, mas também para permitir a própria especialização de seus
agentes e operadores.
A primeira das divisões distingue dois grandes blocos de estruturas jurídicas: os
sistemas de Direito Público e de Direito Privado. Essa distinção se faz em virtude da
natureza das relações que rege cada um desses sistemas e dos Diplomas Legais que os
compõem.
 Direito Público
Matérias que digam respeito a direitos considerados indisponíveis, como, por exemplo,
os direitos à vida e à liberdade (são direitos que, pela sua própria natureza, não podem
sofrer limitação, ainda que voluntária e ainda que pretendida pelo seu titular).
 Direito Privado
Matérias que versem sobre direitos que possam ser objeto de transação pelos cidadãos,
ou seja, direitos disponíveis, como por exemplo, e via de regra, as relações
patrimoniais.
Como exemplos temos o Direito Penal, como ramo do Direito Público – porque cuida
de direitos absolutamente indisponíveis, como a liberdade, e o Direito Civil, em regra,
como um ramo do Direito Privado, porque dispõe sobre direitos patrimoniais,
essencialmente disponíveis (sem essa disponibilidade a própria circulação de riquezas
na sociedade ficaria comprometida, com prejuízo das atividades comerciais e
econômicas).
Dissemos que o Direito Civil será um Direito Privado em regra porque atualmente o
Direito Civil abrange várias matérias que se constituem em direitos indisponíveis, tais
como os Direitos da Personalidade, e versam sobre a vida, a integridade física, a moral,
o direito à intimidade e à vida privada, o direito ao nome, entre outros de idêntica
natureza, claramente essenciais não apenas às pessoas, mas a toda a sociedade.
Apenas para contextualizarmos, o direito civil versará sobre direitos essencialmente
disponíveis, como aqueles referentes à compra e venda, em que qualquer das partes
(comprador ou vendedor) pode, livremente, dispor de seu patrimônio e realizar o
negócio na forma e pelo valor que bem entenda e também sobre direitos absolutamente
indisponíveis, como, por exemplo, os direitos da personalidade, de onde podemos
destacar o direito às partes do corpo, que encerra uma regra até mesmo lógica segundo a
qual o cidadão não poderá dispor de seus órgãos ou membros, exceto nas hipóteses de
doação post mortem de órgãos e tecidos, e, ainda assim, na forma determinada por
legislação específica e sob o estrito controle do Poder Público (que é a garantia de que
esse tipo de relação não se tornará negocial, porque seria abominável o estabelecimento
de um comércio de órgãos).
Os ramos do Direito Público se caracterizam, em primeiro lugar, pela presença do
Estado; em sua posição estática (como legislador, ou ordenador abstrato da sociedade,
por exemplo), no Direito Constitucional positivo, ou em sua posição dinâmica (em sua
função de administrador dos interesses e planejador social, em que efetivamente atua,
regulamentando, gerindo e organizando a sociedade, por exemplo), no Direito
Administrativo – que vincula a Administração Pública – ou no Direito Tributário – no
qual o Estado age como balizador das relações econômicas, como distribuidor das
riquezas em sociedade; como atua, ainda, na solução dos conflitos (em sua função de
Estado – Juiz, por exemplo), no Direito Processual, ou em sua função de organização
social, por exemplo, no Direito Penal.
Como pudemos ver, no Direito Público, o interesse do Estado é imediato – ou seja, ele
se posiciona como parte na própria relação jurídica com o cidadão (como, por exemplo,
no Direito Tributário, em que, além de criar o tributo e determinar a sua alíquota, o
Poder Público ainda realiza a arrecadação), ou como responsável pela aplicação das
normas (como, por exemplo, quando o Estado administra a Justiça, funcionando como
Estado – Juiz), na hipótese do Direito Processual de qualquer natureza (Penal, Civil,
Administrativo ou Tributário), ou quando atua planejando as políticas públicas ou
aplicando-as.
Dizemos que o interesse do Estado, nos ramos do Direito Público, é imediato porque em
nosso modelo civilizatório ele é a fonte e a garantia da administração das relações
sociais, não sendo admissível aos cidadãos o exercício das próprias razões, pelo que a
composição de conflitos de interesses deve passar pela apreciação do Poder Público,
que detém o monopólio da aplicação da Justiça e, via de consequência, o monopólio da
utilização da violência, lhe tocando – com exclusividade – o exercício do Poder de
Polícia e a administração da Justiça.
Sabemos que a violação de um contrato gera consequências patrimoniais para aquele
que lhe deu causa, assim como sabemos que o inadimplemento gera o efeito da
imposição de multa pela mora ou o próprio desfazimento do negócio com culpa de um
dos contratantes – o que pode gerar a obrigação de indenizar; todavia, ainda que
saibamos exatamente que tais condutas levam à constituição de direitos em favor de um
dos contratantes, ele não poderá exercer esses direitos ou satisfazer essas pretensões por
seus próprios meios, devendo requerer ao Estado – Juiz a tutela de suas pretensões, que
é exatamente o que fazemos quando ingressamos com uma ação junto ao Poder
Judiciário (que, como já vimos, é um dos Poderes Constituídos do Estado).
O cidadão que compra um bem e não o recebe na data aprazada não se torna sujeito do
direito de ir à loja do vendedor e apanhá-lo por força própria. O exercício das próprias
razões pelos cidadãos levaria à anarquia e ao império da força, que representam a
própria negação do Direito e do Estado em última análise.
Atuação do Estado
É evidente que esta divisão não esgota as possibilidades da matéria, muito menos é
isenta de divergências. Por exemplo, a natureza do Direito do Trabalho é fonte de
acalorados debates, havendo correntes que o inserem entre os Direitos Públicos (a que
nos filiamos) e outras que o inserem entre os Direitos Privados.
Nos posicionamos com os primeiros, entendendo tratar-se de um ramo do Direito
Público, porque, em nosso sistema, as relações entre patrões e empregados, ou as
relações laborais, não se revestem apenas de características privadas, já que a própria
rescisão do contrato de trabalho pressupõe a interveniência do Estado ou de um
sindicato, por exemplo.
Mas nem sempre o Estado terá interesse imediato no resultado das relações entre os
indivíduos, e é claro que nem sempre será uma das partes nessas relações. Os ramos do
Direito em que os interesses se revestem dessa característica – não serem de interesse
imediato ou objetivo do Estado – se denominam ramos de Direito Privado, sendo
exemplos o Direito Civil e o Direito Empresarial.
Para aprofundar o conhecimento dessa matéria estude os tópicos 8 a 10 do livro
Introdução do Direito, de Clareci Mezzomo, constante da bibliografia de apoio.
Barreiras alfandegárias são barreiras comerciais estabelecidas pelos governos com o
objetivo de controlar o intercâmbio internacional de mercadorias. É a forma mais
comum de proteger o mercado interno. Essas barreiras são medidas e instrumentos com
finalidades políticas e comerciais, normalmente utilizadas para estimular setores
econômicos específicos internos de cada país, que impedem o livre comércio. Podem
ser praticadas na forma de tarifas, cotas e licenças de importação, incluindo qualquer lei,
regulamento, política, medida ou prática governamental que imponha restrições ao
comércio exterior.
Fonte.
Atividade
Os ramos do Direito Público se caracterizam, em primeiro lugar, pela presença do Estado;
em sua posição estática (como legislador, ou ordenador abstrato da sociedade, por exemplo)
ou em sua posição dinâmica (em sua função de administrador dos interesses e planejador
social, em que efetivamente atua, regulamentando, gerindo e organizando a sociedade, por
exemplo), – em que o Estado age como balizador das relações econômicas, como
distribuidor das riquezas em sociedade; quando atua na solução dos conflitos (em sua
função de Estado – juiz, por exemplo), ou em sua função de organização social.
Partindo dessas definições, é correto afirmar que o Direito Tributário é um ramo do Direito
Público porque é um ramo do Direito em que o Estado atua:
1. aEm sua posição estática.
2. bEm sua posição dinâmica.
3. cNa solução dos conflitos.
4. dComo organizador social.
5. eComo legislador.

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