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FASCÍCULO DE

INTRODUÇÃO AO DIREITO
ANO LECTIVO 2023/2024

11.ª Classe

0
APRESENTAÇÃO
O presente material é fruto de um exercício didático-pedagógico do lectivo de docentes que
leccionam a disciplina de Introdução ao Direito no Liceu “Ngola Kiluanji”, em Luanda, cujo fim
último será, somente, diversificar e facilitar a metodologia de ensino e aprendizagem da disciplina
em causa.
De realçar que, o material em causa não substitui de forma alguma o Manual de Introdução
ao Direito produzido e editado pelo Ministério da Educação da República de Angola e que, tem
servido como guia de ensino oficial nas escolas do II.º Ciclo do país. O exercício que se faz aqui,
visa, desde já, conformar a sequência do programa gizado pela entidade que se dedica a traçar os
conteúdos programáticos (INIDE) e actualizar uma ou outra alteração legislativa.
Na eventualidade de o presente material apresentar alguma desconformidade textual ou
gramatical, e até mesmo em relação a fundamentação legal dos diplomas aqui referenciados, em
função da dinâmica legislativa que se vem operando no país, os docentes, ao longo das aulas e com a
devida oportunidade e temporalidade, deverão, certamente, operar as devidas correcções e/ou
alterações.
Outrossim, como já também referenciado, a base deste trabalho é o programa oficial do
INIDE, com a devida chancela da estrutura directiva e fiscalizadora da nossa instituição, na vertente
pedagógica, mormente, direcção pedagógica, coordenação de curso e coordenação de disciplina.

Luanda, Agosto de 2023.

O Coordenador da Disciplina

Ildefonso Manico

1
TEMA 7: DIREITO CONSTITUCIONAL E A CONSTITUIÇÃO

7.1: Noção de Constituição


O direito constitucional pertence, na clássica divisão do direito, ao ramo público. Na verdade,
é ele o próprio cerne do direito público interno, já que o seu objecto é a própria organização básica
do Estado, e, mais que isso, o alicerce sobre o qual se ergue o próprio direito privado. De facto, se
estrutura o Estado e, com isso, a si subordina os demais ramos do direito público interno (o direito
administrativo, financeiro, fiscal, penal, económico, internacional, etc.), também põe as bases da
organização social e económica, de modo que os ramos do direito privado (direito civil, comercial,
laboral, família etc.) às suas regras devem curvar-se.

Com base no exposto, podemos perceber o Direito constitucional como ramo do Direito
Público interno dedicado à análise e interpretação das normas constitucionais definidoras e
orientadoras da acção do Estado e dos seus agentes. Na perspectiva contemporânea, tais normas são
compreendidas como o ápice da pirâmide normativa de uma ordem jurídica, consideradas leis
supremas de um Estado soberano e têm por função regulamentar e delimitar o poder estatal, além de
garantir os direitos considerados fundamentais. O direito constitucional aborda ainda as normas de
organização e funcionamento do Estado, do ponto de vista da sua constituição política, bem como
assegura garantias e direitos aos indivíduos.

Partindo do pressuposto do “ubi societas ibi jus”, o diploma legal que serve de suporte para que
um Estado tenha a sua base de estruturação, edificação e funcionamento, chama-se Constituição.
Assim, podemos entender a Constituição de um Estado como o diploma legal onde estão inscritos os
aspectos legais fundamentais de uma sociedade. É a lei fundamental do País e destina-se a regular os
direitos, deveres e garantias dos cidadãos em relação ao Estado e a estabelecer a organização política
e administrativa de um país. Portanto, Trata-se do texto legal onde estão inseridos os princípios
fundamentais, os regimes político e económico, os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos e os
órgãos de soberania de determinado Estado.

Do ponto de vista funcional, a Constituição regula os processos através dos quais as normas do
sistema jurídico podem ser criadas e modificadas. Provindas dos poderes legislativos competentes,
todas as normas jurídicas que vigoram no país têm de obedecer às regras definidas pela Constituição
em relação às competências dos órgãos legislativos e em relação às normas positivas que não devem
chocar (ferir) com os preceitos constitucionais.1

7.1.1: Constituição em sentido material e em sentido formal.


Na óptica da Constituição Material, o que se considera é o conteúdo das normas: são
constitucionais, as normas que cuidam dos aspectos importantes do Estado (direitos fundamentais,
forma de governo, forma de Estado, organização dos poderes etc.), não levando em consideração se
estão ou não dentro de uma Constituição escrita. Sendo assim, a Constituição material é o conjunto

1
Nisto consiste a Hierarquia das normas, que estabelece que as normas constitucionais ocupam o primeiro lugar na cadeia
normativa de determinado ordenamento jurídico. Situa-se no topo da pirâmide normativa.

2
de normas pertinentes à organização do poder, à distribuição das competências, ao exercício da
autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais como sociais,
enfim, tudo que se referir ao conteúdo básico para composição e funcionamento da ordem política
exprime o aspecto material da Constituição. Em suma, Constituições materiais são aquelas que
encerram no seu corpo matéria tipicamente constitucionais, ou seja, tratam apenas das normas
estruturais do Estado. Portanto, são regras materialmente constitucionais aquelas que identificam a
forma e a estrutura do Estado, o sistema de governo, a separação dos Poderes, os direitos e garantias
fundamentais, independentemente de estarem inseridas ou organizadas num único texto legal
denominado por Constituição.

Já a Constituição Formal, é uma Constituição que leva em conta o processo de elaboração


da norma, pois todas as normas que estejam numa Constituição escrita, solenemente elaborada, são
constitucionais, ficando o seu conteúdo em segundo plano. Sendo assim, as normas constitucionais
são identificadas pelo simples facto de serem colocadas no corpo de uma Constituição. Tais normas
situam-se hierarquicamente na Lei Maior, sem contudo fazerem parte dos núcleos essenciais do
Estado, por isso valorizam o processo da sua formação e não o seu aspecto interior.

7.1.2: Constituições Rígidas, Flexíveis e Semi-Rígidas.


A Constituição Rígida ela admite alteração, mas esta deve ser feita com obediência a certas
formalidades e dentro de determinados limites, mediante processo diferenciado daquele empregado
para alteração das leis ordinárias. Portanto, a Constituição angolana, por apresentar, taxativamente,
determinados e expressos limites que condicionam a sua revisão ou alteração, deve ser considerada
uma Constituição Rígida.2
Flexível, por sua vez, é a Constituição, em geral não escrita, que admite modificação por
processo legislativo ordinário.
É Semi-rígida quando a Constituição admite alteração de uma parte por processo legislativo
mais solene e difícil e de outra por simples lei ordinária. Em regra, essa distinção faz-se com as
normas materialmente constitucionais e com as normas formalmente constitucionais,
respectivamente.

7.2: História constitucional de Angola.


A história constitucional angolana subdivide-se em quatro períodos:
Período pré-independência que se reflecte durante a fase em que o nosso país não era ainda
um Estado soberano e independente, na medida em que era apenas um território sob colonização do
Estado português e, por isso, considerado uma província ultramarina, isto é, a extensão da soberania
portuguesa até uma parte do território africano, incluindo as outras colónias africanas de expressão
portuguesa, nomeadamente, Cabo-Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Este
período termina no dia 11 de Novembro do ano de 1975, data em que é proclamada a Independência
de Angola, sob liderança do saudoso Dr. António Agostinho Neto, o primeiro Presidente da Angola
independente. Durante este período, as autoridades administrativas, políticas, judiciais e demais
instituições de Angola, assim como o seu povo e as suas instituições, deviam total obediência e
respeitavam a Constituição portuguesa, enquanto lei fundamental da República Portuguesa.

2
Conferir limites de revisão constitucional (cláusulas pétreas), do artigo 233.º ao 237.º da CRA.

3
O segundo período da história constitucional angolana tem como marco o dia 11 de Novembro
de 1975, data da proclamação da independência angolana e, concomitantemente, da entrada em vigor
da primeira lei fundamental do novo Estado ora criado, denominada por Lei Constitucional da
República Popular de Angola3. Este período termina em 1992, com a entrada em vigor da primeira
Constituição que consagrava Angola como um Estado democrático de direito, com um novo regime
político e sistema de governo, inaugurando assim o multipartidarismo em substituição da ideologia
monopartidária que vigorou desde a data da independência.
O terceiro período da história constitucional angolana inicia com a Constituição de 1992, que
abre o país para uma nova era de convivência política, social e económica, em razão dos direitos,
liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, tanto direitos individuais e políticos como direitos
sociais, económicos e culturais consagrados pela nova Constituição, inexistentes na lei constitucional
de 1975.
No ano de 2010, há uma nova mudança na abordagem constitucional angolana (considerado
o quarto período da história constitucional angolana), com a aprovação da ainda Constituição actual,
cujos princípios e fundamentos organizatórios e estruturantes estudaremos com alguma profundidade
no presente tema.

7.2.1: A Constituição angolana de 1975.


Depois de se ter proclamado a independência, em 11 de Novembro de 1975, foi elaborada a
primeira (designada) Lei Constitucional, aprovada pelo Comité Central do MPLA, enquanto único
Partido que tomou as rédeas dos destinos do país, atendendo a conjuntura sociopolítica que o território
viveu no período pré e pós-independência.
Angola, enquanto Estado soberano e independente, nos termos da Lei Constitucional de 1975,
foi designada como um Estado unitário4, uno, indivisível e de economia progressista. Politicamente
adoptou-se o socialismo como sistema político de governação com base no modelo de economia
planificada5.
Ao nível dos órgãos do Estado (órgãos de soberania), a Lei Constitucional de 1975 organizava o
Estado da então República Popular de Angola da seguinte forma:

3
Foi a primeira denominação oficial do nosso país, só vindo a chamar-se República de Angola com a entrada em vigor
da Constituição de 1992.

4
Estado unitário é um Estado ou país que é governado constitucionalmente como uma unidade única, com uma legislação
constitucionalmente criada. O poder político do governo em tais Estados pode ser transferido para níveis inferiores, como
os das assembleias eleitas local ou regionalmente, governadores e administradores, mas o governo central detém o direito
principal de retomar e chamar a si eventuais delegações de poder.

5
Economia planificada, também chamada de "economia centralizada", é um sistema económico no qual a produção é
prévia e racionalmente planejada pelos detentores do poder político, na qual os meios de produção são propriedade do
Estado e a actividade económica é controlada por uma autoridade central que estabelece metas de produção e distribui as
matérias-primas para as unidades de produção. Nesse sistema, a determinação da proporção entre quanto deve ser
produzido e quanto deve ser consumido, torna-se uma decisão política centralizada. Numa economia planificada não há
individualização nem liberalização na produção, tanto no aspecto da diversificação como das quantidades dos bens e
serviços, em decorrência das leis do mercado (lei da oferta e da procura).

4
a) Presidente da República, como Chefe de Estado, Comandante em Chefe das Forças Armadas6
e presidia o Conselho de Revolução (posteriormente a Assembleia do Povo), além de ser o
presidente do MPLA o Partido-Estado que governava o país de forma totalitária e absoluta;
b) Conselho de Revolução, órgão do poder do Estado que vigorou até o ano de 1980. Exercia a
função legislativa e definia a política interna e externa de Angola, aprovava o Orçamento
Geral do Estado, nomeava e exonerava o Primeiro-Ministro, os membros do Governo e os
Comissários Provinciais, sob indicação do MPLA;
c) Assembleia do Povo, órgão supremo do Estado, que só em 1980 foi instituída em substituição
do Conselho da Revolução, assumindo assim todas as competências e atribuições do órgão
ora extinto;
d) Governo – constituído pelo Primeiro-Ministro, Ministros e Secretários de Estado. Era
presidido pelo Primeiro-Ministro. O governo podia exercer a função legislativa, por delegação
do Conselho de Revolução e da Assembleia do Povo.
Resumidamente, podem-se identificar outros aspectos fundamentais na primeira lei fundamental
do nascente Estado angolano:
►Por força da adopção dos princípios ideológicos do Marxismo-leninismo7, foi uma Lei
Constitucional que se traduzia na concepção de Partido-Estado-Nação.
►Em relação à administração da justiça, a Lei Constitucional exprimia a consagração da
independência dos juízes no exercício das suas funções8, principio de fundamental importância na
existência e funcionamento dos Tribunais Populares Revolucionários.
►No ano de 1976, o poder de aprovar leis é atribuído ao Presidente da República. Em 1978, o
Presidente da República Popular de Angola, António Agostinho Neto, decide promover uma alteração
“pontual” da Lei Constitucional a fim de extinguir os poderes do Primeiro-Ministro e criou as figuras
dos Vice-Ministros.
►O Presidente da República era eleito pelo Comité Central do MPLA (Partido-Estado). Outrossim,
a Assembleia Popular era constituída por deputados eleitos pelos membros do partido ao nível
provincial e nacional (princípio da representatividade). Deve-se realçar que, nos termos da Lei
Constitucional de 1975, vigorava em Angola a pena de morte e o Presidente da República constituía
a última instância (de recurso) para determinar ou não a execução de uma sentença de morte aplicada
por um tribunal.
►Os representantes do Presidente da República ao nível das províncias, municípios e comunas
tinham a designação de Comissários9.

6
Até 1991 designadas por Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).
7
O Marxismo-Leninismo é uma ideologia política e económica, a principal no movimento socialista (também conhecido
como comunista) ao longo do século XX, e a mais proeminente no movimento dos regimes políticos mono partidários
em todo o mundo. Marxismo-Leninismo (em homenagem aos fundadores do socialismo Karl Marx e Vladmir Ilich
Lénine), era o nome formal da ideologia oficial de Estado adoptada pela União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS, designada abreviadamente por União Soviética, hoje federação Russa ou Rússia), os seus Estados
satélites no Bloco de Leste, os regimes comunistas asiáticos, vários regimes de países do Terceiro Mundo durante
a Guerra Fria, como o caso de Angola. Grande parte dos países precursores do regime marxista leninista abandonaram
esta ideologia com a queda do Muro de Berlim, que marcou o fim da Guerra Fria entre o bloco dos países socialistas
liderados pela antiga URSS e o bloco dos países capitalistas liderados pelos EUA, em finais dos anos 80 e princípios dos
anos 90 do Século XX. – Ide rever matérias da disciplina de História.
8
Artigo 45.º da lei Constitucional angolana de 1975.
9
Provinciais, municipais e comunais.

5
►Por vigorar o modelo de Partido-Estado, os direitos, liberdades e garantias fundamentais dos
cidadãos eram mitigados pois, os interesses do Estado estavam a cima dos interesses dos particulares,
apesar de a Lei Constitucional prever alguns princípios relativos ao respeito e a dignidade da pessoa
humana que, na realidade, eram apenas meros formalismos legais10.

7.2.2: A Constituição angolana de 1992 – Lei nº 23/92, de 16 de Setembro.

Desde a data da independência do nosso país, o território e o povo angolano sofreram, durante
largos anos, uma guerra civil de proporções desastrosas, tanto para as vidas dos angolanos, como
para a sua economia, infra-estruturas, desenvolvimento social, etc. Esta guerra foi protagonizada
pelos dois maiores movimentos que lutaram contra o colonialismo português (o MPLA e a UNITA).
Meses antes da proclamação da independência nacional, os movimentos em causa desentenderam-se
e, a independência do país foi proclamada e assumida apenas pelo MPLA que passou a governar o
país. A UNITA retirou-se para as matas e, o “ego” político dos líderes e intelectuais destes dois
movimentos, impulsionados e apoiados pelas potências militares externas – o mundo vivia o auge da
guerra fria – fez desencadear um conflito armado sem precedentes para o país e para a sociedade
angolana.
Em 1991, por via dos Acordos de Bicesse11, houve uma trégua militar e os dois beligerantes
(MPLA e UNITA) tentaram um primeiro entendimento, cujo desfecho foi um aparente fim da guerra.
Esse acordo assinado em Maio de 1991 pelos líderes das duas partes em guerra, nomeadamente José
Eduardo dos Santos, então Presidente da República Popular de Angola (em representação do MPLA
– Partido no poder e do governo angolano) e o malogrado Jonas Malheiro Savimbi, (em representação
da UNITA que, naquela altura fazia oposição armada ao regime angolano no poder), estipulou que,
deveria se pôr fim ao Estado angolano instituído nos termos da Lei Constitucional de 1975. Para tal,
era preciso proceder-se a uma profunda revisão da lei fundamental do Estado, o que veio a acontecer
com a aprovação da Lei nº 23/92 de 16 de Setembro, que pós fim ao Estado de regime mono
partidário, de economia centralizada, fundado nos ideais do marxismo-leninismo.
Foi então aprovada a lei Constitucional de 1992, que fez nascer um novo Estado, um Estado
democrático de direito, fundado na dignidade da pessoa humana, na soberania popular, separação de
poderes, na economia de mercado e no primado da Constituição e da lei.
A Lei constitucional angolana aprovada em 1992 que tinha como fundamento o Estado
democrático de direito, abrangia dois princípios estruturantes: o princípio do Estado de direito e
princípio do Estado democrático - vide artigos 2.º, 36.º, 42.º, 43.º, 54.º, 89.º e 127.º da Lei
Constitucional angolana de 1992.
O princípio do Estado de direito subdividia-se em vários sub-princípios chamados pressupostos
materiais do Estado de direito:

10
Cfr. Artigos 17.º à 30.º da Lei Constitucional de 1975.
11
Bicesse é uma povoação situada no concelho de Cascais, região do Estoril, em Portugal. A localidade de Bicesse ficou
conhecida por albergar os principais responsáveis do conflito armado em Angola, que durante largos dias negociaram a
paz em Angola que culminou com a ida para aquela localidade dos dois representantes máximos das partes que faziam a
guerra em Angola (MPLA e UNITA) e aí assinaram os acordos de paz que pós fim à primeira república em Angola.
Realizaram-se então as primeiras eleições democráticas em Angola, nasceu um novo Estado e entrou em vigor uma nova
Constituição. Infelizmente, depois das eleições o desentendimento voltou, a guerra reiniciou por mais 10 anos, até o seu
fim aos 4 de Abril de 2002.

6
• Princípio da juridicidade; - todos os conflitos jurídico que se levantam durante a convivência
devem ser submetidos a solução das entidades competentes, as quais vão aplicar a lei;
• Princípio da hierarquia das fontes – os actos normativos (leis, decretos legislativos e outros)
não têm todos o a mesma hierarquia. Há uma organização vertical das normas. Na base desse
edifício legislativo situam-se os regulamentos e na parte superior a Constituição.
• Principio da tipicidade dos actos legislativos – só têm força de lei os actos expressamente
considerados com o tais pela Constituição.
• Princípio da legalidade – a administração pública deve obediência à lei, de tal modo que os
regulamentos que aprovar têm de respeitar integralmente as leis em vigor.
• Princípio da competência – cada órgão legislativo tem a sua competência legislativa própria
e exclusiva, não pode produzir matéria legislativa sobre questões que não se englobem na sua
específica competência, sob pena de inconstitucionalidade.
• Princípio da constitucionalidade - todos os actos de órgãos de soberania e dos particulares
devem ser praticados em harmonia com a Constituição;
• Princípio do sistema de direitos fundamentais - o ordenamento jurídico deve estabelecer um
conjunto de direitos fundamentais que estejam consagrados na constituição;
• Principio da separação de poderes - para garantir o exercício com liberdade das suas funções,
deve haver separação de poderes entre os órgãos de soberania do Estado;
• Princípio da garantia da administração autónoma local - Deve de forma legal, permitir-se
que ao nível local exista de facto uma administração ao nível local, cujos órgãos são eleitos
pelos respectivos cidadãos;
• Princípio da independência dos tribunais; - ao solucionarem os dissídios que lhes são
legalmente acometidos, os tribunais devem funcionar de forma independente, sendo as
decisões dos juízes soberanas, não acatando ordens de quaisquer outros órgãos de soberania
ou de quem quer que seja;
• Princípio da garantia da protecção jurídica - todos os direitos fundamentais dos cidadãos
devem merecer a devida garantia e protecção jurídica, através das leis e assegurados pelos
tribunais;
• Princípio da proporcionalidade ou da proibição dos excessos - os órgãos de soberania, acima
de tudo a administração, devem actuar de forma proporcional quando pretenderem,
legalmente limitar o exercício de direitos dos cidadãos, ou mesmo quando os sancionarem por
terem praticado uma infracção.

O princípio democrático está dividido em vários sub-princípios:


o Princípio da soberania popular - o poder reside no povo que determina quais são as formas
de o exercer e quem deve exercê-lo.
o Princípio da representação – é o povo que elege aqueles que o vão representar no exercício
do poder político;
o Princípio da universalidade do sufrágio - o direito ao voto deve ser estendido a todos quanto
tenham capacidade para o efeito;
o Princípio da imediaticidade do voto - não deve existir um elemento intermédio entre o eleitor
e o eleito no processo de votação. O exercício do direito de votar tem de ser directo;
o Princípio do segredo do voto - o voto é secreto;

7
o Princípio da igualdade do sufrágio - todos os votos têm o mesmo valor jurídico;
o Princípio da periodicidade do voto - O direito ao voto deve de ser realizado periodicamente.

A par dos princípios, a Lei Constitucional de 1992 consagrou direitos e deveres fundamentais.
Tais direitos e deveres estavam previstos desde o artigo 18.º ao artigo 52.º, nomeadamente:
a) Direito ao tratamento igualitário, sem discriminação;
b) Direito à Inviolabilidade do domicílio;
c) Direito à vida e ao tratamento com dignidade;
d) Direito a viver num ambiente sadio;
e) Direito à família, casamento e filiação;
f) Direito à participação na vida pública;
g) Direito de acesso a cargos públicos;
h) Direito a livre movimentação dentro do território nacional, não podendo ser impedido de fazê-
lo por motivos políticos ou de outra natureza;
i) Direito de participar activamente na vida pública, votar e ser eleito para os cargos públicos;
j) Direito a liberdade de expressão, reunião, manifestação e de associação, nos termos da lei;
k) Direito a organização funcional e sindical;
l) Direito ao trabalho e a greve;
m) Direito a liberdade de imprensa;
n) Direito a acesso a tutela jurisdicional efectiva;
o) Direito a ser julgado antes de ser preso;
p) Direito de o recluso receber visitas enquanto estiver detido;
q) Direito a educação, instrução cultura e desporto;
r) Dever de defender a pátria cumprindo o serviço militar obrigatório;
s) Dever de respeitar os símbolos nacionais e os órgãos de soberania…
Resumidamente, podem-se identificar outros aspectos fundamentais na Lei Constitucional de
1992:
►Os órgãos de soberania previstos eram, o Presidente da Republica, a Assembleia Nacional, o
Governo e os Tribunais;
►O Presidente da República era eleito por sufrágio universal, directo, igual, secreto, periódico pelos
cidadãos residentes no território nacional, por maioria absoluta dos votos validamente expressos.

7.2.3: A Constituição angolana do ano de 2010.


A Constituição angolana de 2010 tem como grandes fundamentos a democracia representativa
e a liberdade política. É uma Constituição que consagra os direitos fundamentais dos cidadãos e dos
trabalhadores e a divisão dos poderes políticos.
A Constituição angolana encontra-se organizada de acordo com os seguintes temas:
►Princípios fundamentais
►Direitos e deveres fundamentais
►Organização económica, financeira e fiscal
►Organização do poder do Estado
►Administração Pública
►Poder local
►Garantias da Constituição e controlo da constitucionalidade

8
►Disposições finais e transitórias

7.2.3.1 - Revisão Constitucional de 2021

A última revisão da constituição operou-se no ano de 2021, por via da Lei n.º 18/21 de 16 de Agosto,
Lei de revisão constitucional. A lei em causa, recebeu as alterações dos artigos 14.º, 37.º, 100.º, 104.º,
107.º, 110.º, 112.º, 119.º, 120.º, 125.º, 131.º, 132.º, 135.º, 143.º, 144.º, 145.º, 162.º, 163.º, 169.º, 174.º,
176.º, 179.º, 180.º, 181.º, 184.º, 198.º, 199.º, 213.º, 214.º e 242.

Foram igualmente acrescidos alguns artigos, nomeadamente, artigo 107.ºA (registo eleitoral), 116.ºA
(gestão da função executiva no final do mandato), 132.ºA (Substituição do vice-presidente da
república) 198.ºA (Âmbito) - da Administração Pública, 200.ºA (Administração central do Estado),
212.ºA (Provedor de Justiça) 241.ºA (Registo Eleitoral presencial).
Foram revogadas as seguintes disposições;
a) N.º 2 do artigo 132.º;
b) Alínea c) do n.º 2 do artigo 135.º;
c) N.º 1 do artigo 199.º;
d) Artigo 215.º e n.º 1 do artigo 202.º;

Da revisão ora efectuada, para além de se pretender adequar a constituição ao contesto do país, visou
melhorar algumas matérias que até a data não se encontravam suficientemente tratadas.

Das alterações efectuadas, realça-se o facto de poderem ser objecto de apropriação publica, total ou
parcialmente, bens móveis e imóveis, e participações sociais de pessoas singulares ou colectivas
quando esteja em causa a segurança alimentar, saúde pública, sistema económico financeiro,
fornecimento de bens ou prestações de serviços essenciais (vide n.º 4 do artigo 37.º)12

Em relação ao BNA – Banco Nacional de Angola, realça-se o facto de o mesmo passar a ser
autoridade monetária e cambial, prosseguindo as suas atribuições e competências de forma
independente, sendo o Governador nomeado pelo Presidente da República após a audição na
assembleia nacional, com o relatório parecer, daquele órgão de soberania (artigo 100.º).

No artigo 107.º, é revogado o registo eleitoral oficioso. Relativamente às ilegibilidades e


inelegibilidades, os antigos presidentes da república que tenham exercido dois mandatos, deixam de
concorrer a um terceiro, bem como os presidentes da república que tenham renunciado ou abandonado
as suas funções e que se tenham autodemitidos, estão impossibilitados de se candidatar.

Cidadãos condenados a penas de prisão superior a três anos, assim como os incapazes, são abrangidos
pela inelegibilidade (vide artigo 110).

12
Na altura em que a lei foi submetida a apreciação preventiva pelo Tribunal Constitucional, o Juiz Presidente daquele
órgão de soberania (Manuel Aragão) opôs-se a esta norma, porquanto a mesma não prevê a possibilidade de uma justa
indemnização – vide declaração de voto vencido no acórdão em referência n.º 688/2020-2021

9
As alterações efectuadas nos artigos 131.º e 132.º, no que diz respeito à vacatura, pois em caso de
impossibilidade de o Presidente da República continuar a exercer as suas funções, o vice-presidente
assume-as até ao fim do mandato, entretanto, tal período não é considerado como comprimento de
mandato presidencial, salvo se o presidente eleito não tiver tomado posse, (vide n.º 1 e 4 do artigo
132.º).
Outra alteração também que se destaca é o facto de o Conselho da República ser alargado para 15
cidadãos em detrimento de 10, designados pelo Presidente da República, sem prejuízo dos demais
membros (conferir alínea g do artigo 135.º)
O sistema eleitoral também observa uma novidade que é a existência de circos eleitoral no estrangeiro.
Isto significa que os cidadãos nacionais que se encontrem na diáspora, poderão exercer o direito de
voto, sem que sejam obrigados a deslocarem-se para o território Angolano (vide artigo 143).
No que tange ao artigo 145.º, enquadram-se na condição de inelegibilidade e impedimentos para a
exercício da função de deputados, os condenados a penas superiores de 3 anos, aqueles que tenham
renunciado o mandato de mandato, os incapazes. Aqueles que tenham adquirido a nacionalidade
Angolana, apenas são elegíveis ao cargo de deputado, depois de decorridos 07 anos desde a data da
sua aquisição.13
O controlo e a fiscalização da Assembleia Nacional também mereceram destaque no que concerne às
alterações, pois, a possibilidade de nas comissões de trabalhos especiais da Assembleia Nacional
realizarem-se audições e interpelações aos auxiliares do titular do poder executivo, mediante prévia
solicitação a este, nomeadamente Ministros do Estado, Ministros e Governadores Provinciais.
Entretanto, tal não implica que o executivo seja responsabilizado politicamente, nem é colocada em
causa a sua continuidade em funções. Entretanto, esta fiscalização sobre o executivo limita-se apenas
a factos ocorridos no período correspondente ao mandato em curso (vide artigo 162.º).
O artigo 176.º opera uma reordenação do sistema jurisdicional em termos de precedência14, passando
o Tribunal Supremo a ter precedência ao tribunal constitucional.15
No capítulo da jubilação, a revisão impôs que os juízes de qualquer jurisdição jubilam depois de
completarem 70 anos, vide n.º 9 do artigo 179.º.16

13
Quanto ao impedimento imposto aos condenados com a pena de prisão superior a três anos, o Juiz conselheiro Carlos
Teixeira, considerou inconstitucional na medida em que impede um cidadão de recorrer de forma perpétua a esta função,
mesmo depois de ser regenerado ou amnistiado, vide declaração de voto vencido no Acórdão em referência n.º 688/2021.
Usando dos mesmos argumentos relativamente à inelegibilidade a função do Presidente da República.
14
Precedência - substantivo feminino - 1. situação do que vem antes, do que precede; precessão. 2. condição do que, por
importância, deve estar em primeiro lugar; preferência, primazia, prioridade.
15
O Juiz Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional (Manuel da Costa Aragão), em funções na época, também se
opôs a esta reordenação no sistema jurisdicional, alegando entre outros, que: (…) Tendo mantido a estrutura e
funcionamento de ambos os tribunais, admitir a existência de uma hierarquia (seja funcional ou protocolar) entre eles,
pode constituir um suicídio ao Estado democrático de direito, na medida em que a sua efectivação pode criar danos
à certeza e segurança jurídica, quando ao cumprimento das sua decisões. (…)
16
Neste aspecto, os juízes conselheiros que vimos fazendo referência votaram vencidos na medida em que viola o
princípio do mandato, pois, partindo do princípio de que a interrupção do mandato para as funções do Juiz Conselheiro
fora da jurisdição comum por ter atingido a idade prevista como a de jubilação, viola o princípio da inamovibilidade dos
juízes.

10
7.2.3.1: Análise dos princípios fundamentais, direitos e deveres fundamentais, direitos,
liberdade e garantias pessoais consagrados na Constituição angolana.
Os direitos fundamentais são dos pontos essenciais de uma Constituição, a par com a
organização política. É na matéria dos direitos fundamentais que se estabelecem as possibilidades de
cidadania e a relação do indivíduo com o Estado. Os direitos fundamentais constituem o núcleo
essencial ao livre desenvolvimento da personalidade humana com dignidade. É, por isso, importante
entender o seu sentido e alcance no texto constitucional angolano.
A Constituição angolana de 2010 (CRA) dispõe acerca dos Direitos e Deveres fundamentais
a partir do seu artº 22.º, até ao art.º 88.º, estabelecendo princípios que se aplicam a todos e Direitos e
Deveres. São geralmente aplicáveis:
● O princípio da universalidade que, nos termos do artº 22.º, prescreve que todos gozam dos Direitos,
Liberdades e Garantias e estão sujeitos aos deveres consagrados na Constituição. Com base neste
princípio, todas as pessoas são titulares dos direitos fundamentais consagrados na Constituição. Os
direitos fundamentais são direitos de todos, são direitos do Homem.
● O princípio da igualdade é proclamado de forma clara e geral no artº 23.º, que estabelece que todos
os cidadãos são iguais perante a Constituição e a lei. Este princípio é o principal apoio da estrutura
do sistema de direitos fundamentais, está ligado essencialmente à ideia de justiça, à luta contra os
privilégios e à dignidade da pessoa humana.
O artº 28.º, n.º 1 da CRA é de suma importância, pois garante a aplicabilidade directa e a
vinculação de todas as entidades, públicas e privadas, relativamente aos Direitos, Liberdades e
Garantias. Este conjunto de Direitos é o que está previsto nos artigos 30.º a 75.º da CRA e incluem
os direitos à vida, à integridade pessoal, à identidade, à inviolabilidade ao domicílio, à segurança
pessoal, à liberdade de expressão, à liberdade de reunião, manifestação e associação, à greve, ao
trabalho, saúde e protecção social, ao ensino, etc17.
Direitos fundamentais referem-se àqueles direitos do ser humano que são reconhecidos
e positivados na esfera da Lei Fundamental (Constituição) de um determinado Estado e que este
mesmo Estado tem a obrigação de proteger e cuidar que todos os seus cidadãos e residentes no seu
território deles se beneficiem sem discriminação nem limitações abusivas ou ilegais, a exemplo dos
direitos discriminados no parágrafo anterior. Direitos fundamentais são, assim, as posições jurídicas
subjectivas das pessoas enquanto tais, individual ou institucionalmente consideradas e assentes na
Constituição.
Deveres fundamentais são as obrigações expressamente consagradas na Constituição, aos
quais os cidadãos devem obediência e respeito. Por exemplo, o dever de pagar imposto (artº 88.º), o
dever de defesa da pátria, o dever de respeito aos símbolos e instituições públicas, o dever de proteger
e cuidar do património público, a consideração do trabalho como um direito e um dever (artº 76.º),
etc.
Garantias constitucionais são os meios destinados a assegurar o próprio ordenamento
constitucional e têm por função a observância, a aplicação, a estabilidade e a conservação da
Constituição. São, portanto, as garantias consagradas na Constituição para cada cidadão, para a
protecção dos seus direitos e ainda para o reconhecimento dos meios processuais adequados a essa
finalidade. Como exemplos, temos os capítulos I e II do Título VII da Constituição18; a proibição da

17
Cfr. Capítulos II e III do Título II (Direitos e Deveres Fundamentais) da CRA.
18
O controlo da constitucionalidade e o processo de revisão da Constituição.

11
pena de morte e de tortura (artigos 59.º e 60.º); as garantias da liberdade pessoal (artº 64.º), incluindo
o habeas corpus19 (artº 68.º); as garantias do direito penal (artigos 65.º e 66.º); as garantias relativas
a extradição e a expulsão (artº 70.º); o direito a julgamento justo, célere e conforme a lei (artº 72.º);
os direitos de petição e de acção popular (artigos 73.º e 74.º), etc.
Ainda sobre o regime dos Direitos, Liberdades e Garantias haverá que salientar o carácter
limitativo do regime das restrições de direitos, liberdades e garantias (artº 57.º) e o carácter
excepcional da sua suspensão (artº 58.º).
Finalmente, sobre a presente temática, importa referir que, os princípios fundamentais
consagrados na Constituição angolana são os seguintes:
▬Princípio do Estado democrático de direito, consagrado no nº 1, do artº 2º;
▬Princípio da democraticidade, consagrado no n.º 1, do artº 4.º;
▬Princípio da laicidade do Estado, consagrado no artº 10.º;
▬Princípio pacifista, consagrado no nº 1, do artº 11.º; e
▬Princípio do respeito pelo direito internacional, consagrado no artº 12.º.

7.2.3.2: A organização do poder político (Órgãos de Soberania)20


O poder político é aquele que num Estado detém o monopólio do exercício da coacção de
forma legítima e, nesse sentido, conduz os destinos do Estado e dos seus cidadãos. O Estado
manifesta-se através dos seus Órgãos de Soberania. São estes os únicos que vinculam a comunidade
política e que exercem o poder.
Na actual Constituição (2010), os Órgãos de Soberania estão definidos no artigo 105.º, nº 1:
◊Presidente da República (artigo 108.º até 140.º);
◊Assembleia Nacional (artigo 141.º até 173.º); e
◊Os Tribunais (artigo 174.º até 197.º).
A República de Angola é um Estado soberano, democrático e de Direito (artigos 1.º e 2.º da
CRA). O que quer dizer que a sua soberania reside no povo. É este que detém a última palavra sobre
os destinos da nação, sendo que o Estado está submetido ao Direito, assim ficando excluído o arbítrio
dos governantes e determinada a necessidade de obedecerem à Lei da República. Angola é uma
República com separação dos poderes (artº 2º); O Título IV da CRA consigna como é feita a
distribuição da organização política, separando os poderes: legislativo (que é quem tem capacidade
de elaborar leis); executivo (que é quem tem a capacidade de executar/implementar as leis) e
judicial (aplica as leis em caso de divergências ou conflitos sociais), atribuindo genericamente o
poder executivo ao Presidente da República, o poder legislativo à Assembleia Nacional e o poder
judicial aos Tribunais.
A existência destes três poderes separados surge como forma do controlo do poder absoluto e
arbitrário. Pelo princípio da separação de poderes, os Órgãos de Soberania são, do ponto de vista
estrutural, constitucionalmente idóneos e adequados para o exercício das funções que lhes são
acometidas.

19
Trata-se de um dos remédios constitucionais, como são chamados instrumentos que visam a garantir algum
direito fundamental do indivíduo. Ele pode ser accionado sempre que alguém sofrer ou se sentir ameaçado de
sofrer violência, ou coação na sua liberdade de locomoção (prisão ou detenção), por ilegalidade ou abuso de
poder. Por outras palavras, o habeas corpus é uma forma de prevenir ou anular a prisão arbitrária, feita por
motivos outros que não o estrito cumprimento da lei.
20
Artigo 105.º da CRA.

12
7.2.3.2.1: O Presidente da República
O Presidente da República é o símbolo máximo da República de Angola, sendo
simultaneamente o Chefe de Estado, titular do poder executivo e Comandante-em-Chefe das Forças
Armadas. O poder executivo cabe exclusivamente ao Presidente da República, exercendo-o auxiliado
por um Vice-Presidente, Ministros de Estado e Ministros que formam o Conselho de Ministros. Como
Chefe de Estado e Comandante-em-Chefe das forças Armadas, exerce o poder político para assegurar
a unidade nacional, a independência e a integridade territorial do País. Representa a nação no plano
interno e internacional. De igual modo, promove e garante o regular funcionamento dos órgãos do
Estado (artº 108.º, da CRA).
Todos os aspectos importantes relativos a figura do Presidente da República vêm regulados
nas seguintes normas constitucionais:
◙Processo eleitoral (artigos 109.º à 116.º);
◙Competências (artigos 117.º à 124.º);
◙Actos do Presidente da República (artigos 125.º e 126.º);
◙Responsabilidade, auto-demissão e vacatura do Presidente da República (artigos 127.º à 130.º).

7.2.3.2.2: A Assembleia Nacional.


A Assembleia Nacional é um órgão colegial com funções legislativas21, cujo processo
encontra-se estabelecido no Título IV, Capítulo III, da Secção V da CRA. Sendo um órgão
unicamaral22, a Assembleia Nacional é o Parlamento da República de Angola, representativo de todos
os angolanos, que exprime a vontade soberana do povo, manifestada nas eleições, que permite a
Assembleia Nacional ser composta por Deputados escolhidos nos termos da Constituição e da lei
(artigos 141º e 142º).
Outros aspectos importantes sobre a Assembleia Nacional, nos termos da Constituição:
◙Processo eleitoral (artigos 143.º à 146.º);
◙Estatutos dos Deputados (artigos 147.º à 154.º);
◙Competências (artigos 160.º à 165.º);
◙Processo legislativo (artigos 166.º à 173.º).

7.2.3.2.3: Os Tribunais.
Os tribunais são os Órgãos de Soberania que administram a justiça em nome do povo.
Elemento fulcral do Estado de Direito Democrático é o da independência dos Tribunais, que não
devem obediência a não ser à Constituição e à lei (artigos 174.º à 175.º).
Os direitos fundamentais dos cidadãos só estão verdadeiramente defendidos através de
Tribunais independentes e imparciais.
O Sistema Judicial angolano é composto por quatro Tribunais Superiores, que são o Tribunal
Constitucional, o Tribunal Supremo, o Tribunal de Constas e o Supremo Tribunal Militar.
Nos termos do artigo 180.º da CRA ao Tribunal Constitucional compete, em geral, administrar
a justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional, nos termos da Constituição e da Lei. O
Tribunal Supremo é o topo da hierarquia composta pelos Tribunais da Relação, Tribunais de Comarca

21
Aprova as leis do Estado, que permite ao Presidente da República exercer a sua função executiva.
22
Parlamento com uma só Câmara, diferente de outros países em que existem parlamentos com duas a três câmaras
(bicamaral ou tricamaral).

13
e outros Tribunais. O Supremo Tribunal Militar é o órgão superior da hierarquia dos Tribunais
Militares. O Tribunal de Contas é o órgão supremo de fiscalização da legalidade das finanças públicas
e de julgamento das contas que a Lei sujeitar à sua jurisdição.

7.2.3.3: A revisão da Constituição.


A revisão da Constituição é a faculdade de modificar a Constituição. A realidade é que as
constituições como normais fundamentas de um Estado são feitas para durar e legitimar todos os
procedimentos jurídicos desse Estado. No entanto, as circunstâncias concretas, os movimentos
históricos ou a evolução da sociedade implicam que muitas vezes seja preciso mudar algumas normas
constantes da Constituição. A essa mudança de normas chama-se a revisão da Constituição. A CRA
prevê de uma forma clara a sua revisão no artigo 233.º.
Entretanto, a revisão da Constituição angolana está subordinada a diversas limitações (limites
de revisão constitucional), devendo seguir requisitos rígidos23 para a sua legitimidade, sendo estes,
a) Limites Formais – onde se devem respeitar determinados procedimentos desde:
a1. Iniciativa de revisão: Trata da titularidade para apresentação de um projecto de emenda
constitucional, sendo estes os definidos no artº 233.º;
a2. Aprovação à revisão: Diz respeito à aceitação da proposta de revisão da Constituição, ou seja, a
formalidade que deve ser seguida a fim de se analisar o teor da emenda, conforme prevê o artº 234.º/1
da CRA;
a3. Promulgação: Enquanto acto oficial de sancionar a existência de um novo texto legal, ordenando
a sua publicação para que seja de conhecimento público e consequente entrada em vigor (artº 234.º/2).

b) Limites Materiais – Dizem respeito a proibição de ser matéria de emenda constitucional


determinadas matérias tipificadas no texto constitucional original, pois estas não podem sofrer
alteração devido o seu 2 Artº 234.º/1 da CRA.

c) Limites Circunstanciais – São circunstanciais os limites que impõem ser vedado que a Constituição
seja alterada durante algum momento específico que impede a propositura de uma emenda
constitucional (artº 237.º).

d) Limites Temporais – A própria Constituição estabelece prazos e períodos em que a mesma pode
ser emendada (artº 235.º/1).

- Hipóteses Práticas –
Na República de Angola, no ano de 1985, Joãozinho, descontente com a sua esposa por ela lhe ter
sido infiel, matou-a. Deste modo, foi preso, julgado e condenado a pena de morte. Entretanto,
Joãozinho não concordou com a pena alegando que o seu país integrava a lei principal portuguesa
como província Ultramarina e Portugal proibia a pena de morte. Mas ainda assim, enquanto preso,
foi estudando manuais que retratavam as regras de organização e interpretação da organização dos
Estados. No ano de 1989, Tungila e seu amigo circulavam pelas 20 horas de uma sexta feira e foram
detidos pela polícia, tendo sido soltos dois dias depois. Já no ano de 1994, dois alunos de uma escola
(Zebedeu e Chamata) discutiam sobre quais eram os órgãos de soberania da República de Angola,

23
Daí afirmar-se que temos uma Constituição rígida.

14
nisso, o professor interrompeu, alegando que não se deviam esquecer do Sr. José Eduardo dos Santos
como órgão de soberania. No ano de 2006, na Província de Malanje, o Jovem Alfredo manifestava
preocupação pelo facto de o governador Provincial ter ordenado aos juízes que condenassem qualquer
cidadão que fosse julgado por ter cometido um crime. Não Muito distante aquela província, mais
propriamente, na província da Lunda Sul, em 1998, depois de ser convocada uma manifestação, os
jovens saíram as ruas, pacificamente, entretanto, atendendo o facto de a manifestação não ter sido
autorizada, a polícia lançou morteiros de guerra, tendo originado várias mortes. No ano 2006,
realizaram-se eleições gerais e o comandante geral da polícia ordenou que todos os cidadãos
indicassem a favor de que partido votaram, caso contrário, haveria consequências. Já no ano 2009, o
Presidente da República mandou publicar um decreto que proibia os cidadãos a constituírem
famílias. Por fim, no ano de 2007, na Província de Benguela, apesar de não haver lei que regulasse,
um Conservador do Registo Civil informou aos cidadãos que para se registarem, devem apresentar
um cartão de militante do Partido dos Kuduristas. Já no ano 2015 realizaram-se eleições, entretanto
o cidadão Mabeco pretendia concorrer ao cargo de Presidente da República, todavia a sua candidatura
foi indeferida pelo facto de este não ter apoio de nenhum partido. Isto está mal, desabafou junto do
seu primo Matrindindi que residia no pais há nove anos, tinha apoio de um partido, todavia a sua
candidatura para as eleições presidências foi igualmente rejeitada. Por fim, no ano 2012, o Presidente
da República e o Vice-Presidente viajavam de barco para o estrangeiro, o barco foi atacado por
tubarões que devoraram o Presidente da República; o Vice-Presidente entrou em choque, tendo
perdido a capacidade de falar permanentemente. Assim, o Chefe do Estado Maior das forças Armadas
passou a exercer a função de Presidente da República, sem fazer juramento, explicando diante das
câmaras da Imprensa que as eleições seriam realizadas no dia do São Nunca. Na província mais a
norte do Pais, Cabinda, o cidadão Nacobeta lia maravilhado o texto que estabelece a organização
politica, económica e aspectos fundamentais do pais – É impressionante – concluiu.
a) O que apraz ao aluno pronunciar-se sobre o facto de Joãozinho ter sido condenado à morte?
b) E facto de o mesmo alegar que não lhe devia aplicar a pena de morte porque o seu País
integrava a Constituição Portuguesa como província ultramarina ?
c) Enquanto preso, Joãozinho estudava manuais retratavam as regras de organização e interpretação
da organização dos Estados – de que ciência se trata ?
d) O facto de Tunjila e amigo serem detidos, suscita algum comentário? Que tipo?
e) Quanto à discussão de Zebedeu e Chamata com a intervenção do professor, pronuncia-te, de
acordo com o que aprendeste.
f) Foi legítima a ordem do Governador da província de Macanje dada aos juizes ? – fundamenta.
g) Debruça-te sobre a actuação da polícia contra os manifestantes.
h) Cumpririas a ordem do Comissário Geral da Polícia ? fundamenta.
i) Foi Constitucional o indeferimento da candidatura de Mabeco? – fundamenta.
j) Foi correcto o indeferimento da candidatura do seu primo Matrindindi? – fundamenta de acordo
com a Constituição.
k) Que nome se atribui à situação em que o PR e Vice PR estiveram envolvidos? Será que foram
bem substituídos? Fundamenta com a constituição.
l) Que documento lia Nacobeta ? Tece comentários sobre o mesmo.
- Carpem diem -

15
8.1.1 Fontes de relações jurídico-familiares
Definição de família
O Direito da Família é o ramo do direito constituído por um conjunto de normas jurídicas que
regulam por um lado as relações pessoais - matrimónio, parentesco, afinidade e adopção), por outro
lado as relações patrimoniais de ordem familiar (regime de bens e alimentos).
O artigo 29.º da Constituição reconhece a família como núcleo da organização da sociedade. O Estado
protege a família.

Conceito de família
Variadas são as definições ou conceitos de família.

O termo “família” é derivado do latim “fâmulos”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi
criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao
serem introduzidas à agricultura e também escravidão legalizada.
A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e
instituições. Portanto, para nós família é um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos
ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimónio
ou adopção.
A Constituição dedica algumas linhas à família, artigo 35.º - Família, casamento e filiação,
descrevendo que é o núcleo fundamental da organização da sociedade e é objecto de especial proteção
do Estado, independentemente de homem e mulher se casarem formalmente ou viverem em união de
facto24.
Todos os cidadãos têm o direito de livremente constituir família determinando ainda que o homem e
a mulher são iguais no seio da família, da sociedade e do Estado, gozando dos mesmos direitos e
deveres. Refere ainda que os filhos são iguais perante a lei, sendo proibida a sua discriminação e a
utilização de qualquer designação discriminatória relativa à filiação.
Faremos uma breve análise aos institutos do parentesco e da afinidade como fontes das relações
jurídico familiar.
Fontes das relações jurídico familiares
São fontes das relações jurídico familiar: o parentesco, o casamento, a afinidade e a união de facto25.

8.1.1.1 – O Parentesco26

24
o que normalmente designamos por viver maritalmente.
25
Artigo 7.º do Código da Família.
26
Art. 8.º e Seg.

16
É o vínculo que une duas pessoas, pelo facto de uma delas descender da outra, ou de ambas
procederem de ascendente comum.

O parentesco tem como causa o facto biológico de alguém descender de outrem ou entre ambos existir
um comum ascendente. Trata-se da constituição da relação familiar por laços de sangue.
8.1.1.1.1 - Linhas e graus de parentesco
As linhas e graus de parentesco servem para determinar a proximidade e a natureza do vínculo, artigo
10.º, da seguinte forma:

8.1.1.1.1.1 - Linhas de Parentesco

a) Linha rectal ou estirpe, que liga as pessoas que descendem uma da outra;
b) Linha colateral ou transversal, que liga as pessoas que tem um ascendente comum.

Parentesco na Linha recta


Liga as pessoas que descendem uma da outra ou seja, a estirpe. Estirpe é um tronco comum de pessoas
que tem um ascendente comum. Temos como parentes da linha recta, os avós, pais, filhos, netos,
bisnetos, etc.

Parentesco na Linha colateral


Temos como exemplo o ascendente comum é X, que teve um y e uma Y", que são parentes em 2.º
Grau, e parentes na linha colateral, ou seja irmãos. B é o pai de C e B" e a mãe de C".

8.1.1.1.1.2 - Graus de parentesco


O parentesco é medido por graus e tanto mais próximo quanto menos são os graus de parentesco que
há entre os dois parentes.
Entre parentes na linha recta, há tantos graus quantas as pessoas que formam a linha de parentesco,
excluindo o progenitor. Na linha colateral, se contam os graus pela mesma forma, subindo por um
dos ramos e descendo pelo outro, mas sem contar o progenitor comum.
Assim, entre pai e filho há um grau de parentesco, entre avós e netos dois graus; entre bisavô e bisneto,
três graus. Na linha colateral, temos os irmãos como parentes do segundo grau, tios e sobrinhos
parentes do terceiro grau, os primos filhos dos irmãos parentes no 4.º grau e os filhos de primos são
entre si parentes no sexto grau.

8.1.1.2 - A Afinidade

O vínculo de afinidade é aquele que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro cônjuge. É o
vínculo que deriva da aliança entre marido e mulher e que se estende a família de outro cônjuge. Não
advém de laços de sangue mas do casamento. A afinidade se determina pelas linhas e graus que
definem o parentesco por laços de sangue. Assim:
Sogro e sogra, padrasto e madrasta, enteado e enteada e cunhados são designações específicas do
vínculo de afinidade. Quanto aos outros afins, como avó, tio, sobrinho e tio, a designação é a mesma

17
que a do parentesco, acrescentando-se por afinidade para expressar que o vínculo não esta
estabelecido por laço de sangue.
Os irmãos de um dos cônjuges são cunhados do outro cônjuge, já o cônjuge dos irmãos não são seus
afins. E igualmente os irmãos de um cônjuge são cunhados de outro cônjuge, mas não têm qualquer
vínculo com o irmão dele.
A afinidade não cessa com o fim do casamento (divórcio ou morte). Pois, por razões de eugenia,
repulsa social não seria de bom grado ver determinadas pessoas que tinham sido afins numa relação
que se extinguiu, vierem a contrair matrimónio.
Vamos agora estudar o casamento como uma das principais fontes das relações jurídico-familiares.

8.2. O casamento
Durante um longo período de vida do homem, o casamento não se formalizava por quaisquer actos
solenes. Era o estabelecimento da vida em comum de forma plena entre homem e mulher com o
propósito de fundarem a família, que caracterizava o casamento.
No direito romano já se distinguia o simples concubinato do casamento, pela afetivo maritais –
propósito comum de convivência duradoira entre homem e mulher.
Com o advento do cristianismo, o casamento passou a ser considerado um sacramento em que
intervinha a vontade divina. O casamento devia revestir a forma canónica e era o ministro do culto27
pertencente à igreja católica, que autorizava a sua realização.
No direito português, o casamento civil só foi introduzido no código Civil do séc. XIX, com carácter
facultativo, mantendo-se válido o casamento canónico, se celebrado por quem professasse a igreja
católica. Com a proclamação da república em 1910, o casamento civil tornou-se obrigatório e deixou-
se de atribuir efeitos civis aos casamentos católicos. Posteriormente, com a celebração da Concordata
entre Portugal e a Santa Sé28, em 1940, foi reintroduzida a dualidade de formas de casamento, o civil
e o canónico, o qual passou de novo a produzir efeitos civis, deixando de ser obrigatória a celebração
do casamento civil.
Com a proclamação da independência de Angola, o Código da família angolano passou a reconhecer
penas o casamento civil, porque o Estado angolano passou a ser um estado laico, e não reconhecia
quaisquer efeitos ao casamento celebrado segundo os ritos das diferentes confissões religiosas.
Entretanto, no ano 2019, o Estado Angolano e a Santa Sé celebraram um Acordo (Concordata) no
âmbito do qual, no seu artigo 14.º29, o Estado reconhece efeitos civis a casamentos religiosos, desde
que cumpridas as formalidades que o próprio acordo estabelece.

8.2.1. Noção do casamento


O casamento é a união voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada nos termos da lei, com
o propósito de constituir uma plena comunhão de vida.
Neste conceito apresentam-se os seguintes elementos essenciais:
o O elemento subjectivo - voluntariedade do acto de casamento por parte dos nubentes, homem
e mulher.

27
Pessoas que «realizam liturgias, celebrações, cultos e ritos religiosos;
28
Dá-se o nome de Concordata ao tratado internacional celebrado entre a Santa Sé e um Estado, usualmente com a
finalidade de assegurar direitos dos Católicos ou da Igreja Católica naquele Estado.
29
“São reconhecidos os efeitos civis ao matrimônio celebrado em conformidade com as leis canônicas, desde que o
Assento de casamento seja transcrito nos devidos registos do estado civil, em termos a definir na lei angolana.

18
o A necessidade da sua formalização segundo a forma estabelecida na lei, o que distingue o
casamento da união de facto;
o A finalidade legal do casamento - estabelecimento da plena comunhão de vida.

8.2.2 A promessa de casamento no direito positivo e no direito costumeiro e sua relevância


jurídica.
A nosso ver, a promessa de casamento é o acto solene no âmbito do qual duas pessoas (em
princípio de sexos opostos) prometem casar-se dentro de determinado período, sob condições
previamente acordadas.30
É um fenómeno comum a diversos povos e culturas, o facto de o casamento ser antecedido pela
existência de uma promessa recíproca de casamento por parte dos noivos. Na Europa, os esponsais
são anunciados nos jornais e revistas. Na sociedade tradicional angolana, a promessa de casamento
tem ainda acentuado relevo, expresso nas entregas feitas pelo noivo ou pela sua família a família da
noiva, a título de alembo ou alembamento
A lei estipula que os nubentes prestem o seu consentimento no momento preciso em que o casamento
é celebrado, isto porque se considera que o casamento é um acto de extrema utilidade, e por isso ele
deve ser celebrado em plena aceitação e liberdade de ambos nubentes. Qualquer dos nubentes está
impedido de exigir que se celebre o casamento.
A promessa de casamento não engendra quaisquer efeitos jurídicos. Artigo 22.º do Código da Família.
Trata-se de uma obrigação que não é juridicamente exigível. É uma obrigação natural31 (
A lei consagra que o nubente que não cumprir a promessa feita deve indemnizar o outro pelas
despesas feitas e obrigações contraídas na previsão do casamento a que tiver dado o seu acordo.

8.2.3 Pressuposto de existência de casamento

O casamento é um acto jurídico cuja celebração e validade exigem que se verifiquem determinados
pressupostos e algumas condições legais, designadamente:
a) Diversidade de Sexos
É essencial que o acto de casamento seja celebrado entre duas pessoas de sexos diferentes. Qualquer
outro tipo de união que seja estabelecida entre pessoas, se não forem de sexos opostos, não reúnem
os requisitos para casarem.
Se uma das partes for sexualmente impotente ou estéril, deve dar a conhecer a outra, sob pena de erro
vício - que constitui nulidade.
b) Duas declarações de vontade
No momento da celebração do casamento, é essencial a existência de duas declarações de vontade
por parte de cada um dos nubentes. É necessário que haja consentimento.
Consentimento - Significa acordo resultante das vontades dos contraentes. Vontade individual com
vista a constituição do vínculo conjugal. A omissão de declaração por parte de qualquer dos nubentes
é causa de inexistência.

30
O artigo 1591.º do Código Civil Português define esponsais como - o contrato pelo qual, a título de esponsais,
desposórios de qualquer outro, duas pessoas de sexo diferente se comprometem a contrair matrimónio!
31
Obrigação que se funda num dever moral ou social, cujo cumprimento não é juridicamente exigível, mas que
corresponde a um dever de justiça - artigo 402.º do Código Civil.

19
O casamento pode ser celebrado por procuração. Procuração – É o acto pelo qual alguém atribui a
outrem, voluntariamente poderes de representação. Mas deve-se estar atento se a procuração já foi
revogada ou falsificada; se assim for provado, o casamento será considerado inexistente.
c) Intervenção do Conservador do Registo Civil ou da entidade eclesiástica competente
O casamento deve ser celebrado por um funcionário competente do registo civil, que é em regra o
Conservador ou o seu Substituto Legal. A intervenção do funcionário para a prática do acto é outro
requisito essencial a existência do casamento.
Mesmo que for um funcionário público, se não tiver poderes para realizar o casamento, este será
considerado inexistente por incompetência. Apenas o casamento urgente permite a celebração do
casamento sem a presença do competente funcionário do registo civil, mas em condições especiais e
sujeito a homologação posterior.
Por outra, há a possibilidade de se realizar casamento canónico32 o qual surte efeitos civis, de
acordo com o Decreto executivo n.º 510/21, de 11 de Outubro, que permite à igreja que celebre o
casamento, desde que antes tenha sido passado Certificado da Conservatória do Registo Civil que
autoriza o casamento, desde que o casamento seja registado em livro próprio e seja
obrigatoriamente transcrito para os livros da Conservatória do Registo Civil.33

8.2.4 Validade do casamento: elementos de fundo e elementos de forma


O casamento é constituído por elementos de natureza substancial e de natureza formal, que podem
ser classificados como:
a) Condições de fundo - capacidade matrimonial e mútuo consentimento; Referem-se a aptidão
natural para contrair o casamento e englobam a diferença de sexo, idade púbere, saúde física,
inexistência de impedimentos previstos na lei, que se baseiam em motivos de ordem genética e
sociais.
b) Condições de forma – referem-se ao processo preliminar do casamento e a celebração do acto de
casamento. É a forma solene e pública de celebração.
a) Condições de fundo

I. Capacidade matrimonial
Antigamente, e em alguns lugares do mundo, e até mesmo actualmente, para uma pessoa casar havia
alguns pressupostos discriminatórios, com por ex. não casar com alguém de raça diferente, em certas
profissões, apenas eram admitidas pessoas se fossem solteiras, p. ex.: Enfermeiras, hospedeiras
aéreas, professoras primárias. Mas tais cláusulas, actualmente são consideradas atentatórias contra
os direitos da pessoa humana.
Em algumas zonas, em Angola a tendência é que se celebrem entre primos ou entre pessoas da mesma
aldeia.
Uma pessoa, para se casar deve ter maturidade física e psíquica que permita que os futuros cônjuges
possam estar em condições para arcarem com as responsabilidades decorrentes do casamento. A lei
impõe ainda restrições ao casamento a pessoas ligadas por vínculos familiares, por razões de
eugenia34.

32
Celebrados na Igreja Católica
33
Artigos 1.º, 4.º, 7.º, 8.º, 9.º, 10.º, 11.º, 12.º e sgs.
34
Aplicação racional das leis da genética à reprodução humana com o fim de melhoria das estirpes, tanto do ponto de
vista físico como mental.

20
Por último, há que ter em conta que existem certas incapacidades para prática de negócios jurídicos,
como a dos inabilitados por cegueira, para a prática de negócios jurídicos, surdez nudez e
prodigalidade, vide artigo 138.º a 152.º do Código da Família.
II. Idade núbil
A maturidade sexual (puberdade) é a condição o biológica primeira para a celebração do casamento.
O casamento implica comunhão de vida entre os cônjuges e além da convivência física e sexual, há
ainda que ter em conta o desenvolvimento psíquico que é de exigir a quem vai constituir família,
assumindo com responsabilidade os próprios direitos e deveres.
Não interessa favorecer casamentos precoces. Por isso, a lei estabelece um padrão normal de idade
mínima de casamento, que é de 18 anos, mas prevê excepcionalmente que o casamento se possa
celebrar quando o homem tiver 16 anos e a mulher 15 anos. Desde que haja uma autorização dos
representantes legais do menor. Todavia, a causa do casamento deve ser muito forte para que seja
dada autorização para o casamento no caso, p. ex. Gravidez da mulher, e porque o rapaz fez relações
sexuais com a mesma. Afinal de contas já provaram que tem aptidão física natural para a celebração
do casamento.
ii. Estado de saúde
Em muitos países, exige-se que os nubentes apresentem um certificado comprovativo de que eles não
padecem de doenças contagiosas e hereditárias, tendo em vista a protecção da saúde da sociedade em
geral. Mas o nosso código não prevê a exigibilidade de tal certificado.

Impedimentos matrimoniais
Além da idade núbil, a lei exige como elemento definidor da capacidade matrimonial a circunstância
de não se verificarem em relação aos nubentes quaisquer impedimentos matrimoniais, vide artigo 23.º
do Código da Família.
Os impedimentos podem ser a) dirimentes absolutos, b) dirimentes relativos e c) impedimentos
meramente impedientes. A doutrina normalmente distingue os impedimentos dirimentes de
impedientes não dirimentes. Impedimentos são factos jurídicos que obstam a realização do
casamento.
Impedimentos dirimentes: são aqueles que dirimem, ou que destroem os efeitos do casamento.
a) Impedimentos dirimentes absolutos,
São aqueles que impedem a pessoa de casar com a pessoa em causa, ou seja com quem for. Por ex.
i. Demência
A demência - é qualquer anomalia psíquica que se manifesta no domínio do entendimento e da
vontade e que incapacita um indivíduo de reger a sua pessoa e/ou de governar os seus bens.
Justifica-se para não permitir que o casamento seja celebrado por quem não tenha capacidade nem
discernimento para compreender o alcance do acto que pratica e os seus efeitos pessoais e sociais.
Por outro lado, visa impedir que indivíduos portadores de doenças psíquicas as vão transmitir aos
seus descendentes.
ii. Casamento anterior ou união de facto legalmente reconhecida
Se um dos nubentes tiver celebrado um casamento ou união de facto (reconhecida), que ainda não
esteja dissolvido, não se pode casar de novo.
Primeiro, deve divorciar-se e só depois casar de novo. Este impedimento tem como objectivo
consagrar ou preservar o princípio da monogamia, comum a todos os países democráticos. Ele vem
de conceito de igualdade de direitos e deveres do homem e a mulher no casamento, pois o casamento

21
visa sobretudo a plena comunhão de vida entre marido e mulher. A bigamia ou poligamia - existência
simultânea de dois ou mais casamentos celebrados seja por uma mulher com mais de um homem,
seja por um homem com mais de uma mulher, não são aceites na nossa ordem jurídica. Apenas pode
contrair casamento uma pessoa solteira, viúva ou divorciada. Se se celebrar um casamento sem
dissolver outro, está-se a cometer um crime – Casamento fraudulento, p. p. artigo 238.º do Código
Penal, punível com a pena de 6 -anos ou multa de 60 a 240 dias.
No entanto, pode acontecer que um dos cônjuges não saiba o paradeiro do outro durante um longo
período de tempo. Nestas circunstâncias, a lei permite que, passados dez anos sobre a data das últimas
noticias, ou se decorridos cinco anos se entretanto o ausente tiver completado oitenta anos de idade,
se requeira a declaração de morte presumida, para depois poder casar. Artigo 114.º do Código Civil.
b) Impedimento dirimentes relativos
Baseiam-se nas relações familiares existentes entre duas pessoas e ainda na existência de facto ilícito
penal grave (crime de homicídio voluntário cometido por um dos nubentes contra o cônjuge do
outro). Artigo 26.º Código da Família conjugado com o artigo 150.º alínea b).
i. Parentesco na linha recta;
Significa, de acordo com a lei, que estão interditos de casar os ascendentes com descendentes, isto
inclui pais e filhos adoptados.
ii. Parentesco no segundo grau da linha colateral
Quando a lei diz que estão interditos de casar os parentes no segundo grau da linha colateral, ficam
os irmãos interditos de casarem entre si. Sejam eles germanos (filhos do mesmo pai e da mesma mãe)
ou uterinos (filhos só da mãe).
A razão de ser destes impedimentos são de ordem eugênica (genética), moral e social. Umas e outras
são óbvias. Procedem do direito natural. São repugnantes as aproximações sexuais dos descendentes
com os ascendentes e dos irmãos entre si. A moral e os bons costumes de todas as nações civilizadas
afastam semelhantes ligações.
iii. Afinidade na linha recta
Apenas a afinidade na linha recta constitui impedimento.
Quer dizer, um homem não pode casar com a mãe, avó ou bisavô da sua falecida mulher ou ex-
mulher, nem com a filha ou neta desta. Por seu lado, uma mulher não pode casar com pai, o avó ou
bisavô de seu falecido marido ou ex-marido, ou com o filho ou neto deste.
Podem casar entre si cunhados, pode um homem casar com tia da sua falecida mulher ou ex-mulher,
com a sobrinha desta, etc. O mesmo se aplica a mulher.
Fundamenta este impedimento razões de ordem moral e social. Mas no direito canónico a honestidade
pública impede o casamento de um homem com parentes da sua amante, viúva, etc.
iv. Conjugicídio
Trata-se da condenação anterior de um dos nubentes, como autor ou cúmplice, por homicídio doloso,
ainda que não consumado, contra o cônjuge do outro.
Para que o impedimento funcione, exige-se que haja uma sentença de condenação de um dos
nubentes, que este seja autor ou cúmplice e que o homicídio (tentado, frustrado ou consumado) contra
o cônjuge do outro, seja doloso.
A razão de ser deste impedimento está em evitar que se cometa este crime com a intenção de contrair
novo casamento. Infelizmente, o nosso código permite que por exemplo, um padrasto de um indivíduo
vir, por morte deste, a contrair casamento com a respectiva viúva.
Impedimentos meramente impedientes.

22
Aqueles cuja existência obstava a realização do casamento mas não afectava a sua validade, se o
casamento tivesse sido celebrado. São entre outros:
a) O prazo inter-nupcial – Era o período que decorria entre a data de dissolução, declaração de
nulidade ou anulação de um casamento e a data a partir da qual podia o ex-cônjuge vir a contrair novo
casamento. Para o homem eram 180 dias e para mulher 300 dias.
A razão de ser funda-se em motivos de foro social, que visavam impedir que alguém que terminou a
vida conjugal com uma pessoa viesse a reatar de seguida um casamento com outra. Em relação à
mulher, invoca-se a questão da turbattio sanguinis - incerteza sobre a verdadeira paternidade do filho
nascido nos dias que decorressem após a dissolução do primeiro casamento. Período legal de
concepção.
d) O parentesco em terceiro grau da linha colateral.
O Código Civil antigo alínea b) do artigo 1604.º Impedia que a/o tia/tio) casasse com a/o sobrinha/o).
Mas tal disposição foi revogada, e como já dissemos mais atrás, nada impede, no nosso ordenamento
jurídico, um sobrinho de casar com a tia.
8.3 A forma do acto do casamento
Existe um processo administrativo preparatório do casamento, forma solene e ritual e obrigatoriedade
de se proceder ao registo do acto que se acabou de efectuar. Artigo 27.º do C. F. Há formalidades
preparatórias do acto de casamento e formalidades da celebração do casamento.

8.3.1 O processo preliminar (declaração inicial, oposição ao casamento, despacho final)


8.3.1.1 - Formalidades preparatórias do acto de casamento
Processo Preliminar
Este processo destina-se a comprovar a capacidade matrimonial dos nubentes. Visa garantir a
entidade que vai celebrar o casamento que os nubentes possuem capacidade matrimonial para o acto.
Procura-se impedir que o casamento venha a ser celebrado com vícios que possam implicar anulação,
com graves consequências que dela resultam. Também, esse formalismo permite que os nubentes
tenham um de terminado lapso de tempo para compreenderem as consequências do acto que vão
celebrar e os seus efeitos na sua vida, procurando evitar resoluções precipitadas.
✓ Declaração inicial
Trata-se de um declaração que é subscrita por ambos nubentes. A organização do processo preliminar
é da competência da Conservatória do Registo Civil da área de residência de qualquer dos nubentes
nos últimos 30 dias. A declaração para casamento deve ser feita pessoalmente por cada um dos
nubentes, ou por procurador com poderes especiais para o efeito.
Essa declaração deve conter a identificação dos nubentes, filiação, tutor, se houver. Se for segundo
casamento, o nubente deve dizer quem foi o seu parceiro anterior e porque que o casamento se
dissolveu. Se os nubentes pretenderem optar pelo regime de separação de bens, devem logo fazer essa
menção da declaração inicial. Devem também entregar alguns documentos.
Devem assinar um juramento expresso na declaração. A prestação de falsa declaração faz o nubente
incorrer no crime de falsas declarações.
✓ Oposição ao casamento
Após a apresentação da declaração de casamento, a lei prevê que seja suscitada oposição a sua
celebração. Qualquer cidadão que tenha conhecimento de algum impedimento a realização do
casamento, pode invocar junto da Conservatória. É um dever cívico fazê-lo. Mas os funcionários da

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conservatória são obrigados a denunciar. O Conservador faz as diligências para se apurar a verdade
(provas) podendo indeferir ou deferir a celebração do casamento.
✓ Despacho final
Verificados os pressupostos legais, cabe ao funcionário do registo civil autorizar por despacho a
celebração do casamento.

8.3.1.2 - Formalidades da celebração do casamento

Concluído o processo preliminar, não havendo impedimentos, e lavrado o despacho de autorização,


segue-se a celebração do casamento. Artigo 32.º C. F.
A solenidade corresponde a um verdadeiro rito que é seguido durante o acto, no qual são chamados
a intervir os nubentes e o conservador de registo civil, bem como duas ou quatro testemunhas que
serve para fazer prova da identidade dos nubentes e da realização do próprio acto.
O Conservador lê as peças do processo preliminar para ver se estão conforme, posteriormente
interpela os presentes para saber se alguém tem conhecimento de algum impedimento que impeça a
realização do casamento, e depois pergunta aos nubentes se um aceita o outro e vice-versa e cada um
dos nubentes deverá proferir a frase "é da minha livre vontade casar com o ……., indicando o nome
completo do outro."
Se um dos assistentes (presentes) declarar que tem conhecimento de algum impedimento, o
Conservador deverá suspender a cerimónia e analisar as provas.
Depois do consentimento dos nubentes, o conservador declara em nome da República de Angola os
nubentes - unidos pelo casamento.
Casamento urgente
O artigo 37.º C. F., prevê casos em que os nubentes tenham fundado receio de morte eminente de
alguns deles ou eminência de parto, que seja celebrado o casamento, ainda que na ausência do
funcionário da Conservatória do Registo Civil.
Tratam-se de situações de perigo de epidemia ou catástrofe natural, etc. mas tal casamento só será
válido se as partes apresentarem capacidade matrimonial e o funcionário do Estado competente
proferir o despacho de homologação. Caso contrário, o casamento é considerado inexistente.

8.3.2 Nulidade do casamento


Já vimos que a falta de pressupostos legais implica a nulidade do casamento. Não vamos aprofundar
o nosso estudo em relação a nulidade do casamento, por ainda se afigurar inoportuno, a meu ver.

8. 4. Efeitos do casamento
O casamento produz alguns efeitos. Em relação ao cônjuge, aos filhos e a terceiros. Essas relações
podem ser pessoais ou patrimoniais.
8.4. 1 - Efeitos pessoais do casamento
8.4.1 1 -Princípios reguladores das relações conjugais (igualdade de direitos e deveres; decisão
comum)
a) Igualdade de direitos e deveres
A partir do casamento, os cônjuges adquirem o estatuto jurídico de estado de casados. O Código da
Família proclama a igualdade do homem e a mulher em todas as relações jurídicas, vide artigo 3.º do
C. F. e artigo 18.º da Constituição. O homem e a mulher têm os mesmos direitos e mesmos deveres

24
na relação conjugal. Foram revogados aqueles princípios discriminatórios que deixavam a mulher em
segundo plano.
b) Plena comunhão de vida
O que a relação conjugal tem de específico é o estabelecimento de uma plena comunhão de vida. A
plena comunhão de vida envolve relações de carácter físico, afectivo e intelectual entre marido e
mulher – more uxório. Do casamento advêm para os cônjuges efeitos pessoais directos,
relacionamento físico, que abrange a convivência sexual comum débito conjugal (débito conjugal).
Considera-se como consumado o casamento em que os cônjuges mantêm relacionamento sexual, após
a celebração do casamento. Se um dos cônjuges se recusar injustificadamente às relações sexuais,
estará a violar os deveres conjugais. Salvo se estiver doente ou o outro cônjuge tiver causado tal
comportamento.
Por outro lado, a plena comunhão de vida tem como substracto o facto material de os cônjuges
viverem em coabitação, i. e. Terem uma residência comum. A comunhão de vida significa comunhão
de cama, mesa e habitação. Mas claro, por motivos profissionais, os cônjuges podem estar
distanciados. O que vale mesmo é a intenção de vida comum.
A escolha de residência deve ser feita de comum acordo, tendo em conta as exigências da vida
profissional de ambos e os interesses dos filhos.
c) Decisão comum
Consequência do princípio da igualdade, todas as decisões relativas as questões familiares devem ser
tomadas em comum. Antigamente, a família era um corpo hierarquizado sujeito a autoridade de um
chefe, o marido. Ao tomarem as suas decisões comuns, os cônjuges deverão procurar obter o consenso
entre si, não predominando a vontade ou o capricho de um deles. Eles têm o dever de agir de acordo
com o interesse da própria família, tendo em vista o benefício desta e não o seu próprio interesse
pessoal e egoísta.
8.4.2 Poderes e deveres matrimoniais (de respeito, fidelidade, de combinação, de cooperação e de
assistência)
Do estado de casado deriva um conjunto de poderes a que corresponde os correlativos deveres e que
são específicos das relações matrimoniais. Artigo 43.º do C. F.
8.4.1 2 – Poderes Deveres
❖ Poder- dever de respeito
Envolve o dever de prestar ao (e o direito de exigir do) outro o respeito pela personalidade moral e
física, abstendo-se de qualquer conduta ofensiva ou atentatória a integridade física ou moral do outro
cônjuge.
Cada um dos cônjuges deve ter em conta que o outro é uma pessoa humana dotada de personalidade
e dignidade próprias. Temos como exemplo de violação do dever de respeito os seguintes: agressões
físicas, ofensas morais, humilhações, uso directo de expressões ofensivas, difamação perante
terceiros, propagação a terceiros acerca da vida íntima do casal.
❖ Poder dever de coabitação
O dever de coabitação consiste na convivência material de marido e mulher em comunhão de cama,
mesa e habitação, segundo o modelo social de convivência conjugal. A coabitação pressupõe a
residência comum, um teto sob o qual os cônjuges devem manter o seu relacionamento recíproco.
Algumas razões que já mais atrás vimos podem impedir que este dever se concretize
permanentemente.
❖ Poder dever de fidelidade

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Os cônjuges obrigam-se a convivência sexual comum, ficando simultaneamente inibidos de manter
relações sexuais com terceira pessoa.
Infidelidade material - relações sexuais carnais fora do casamento. Infidelidade moral - relação
amorosa de simples namoro.
❖ Poder dever de cooperação
Impõe a cada um dos cônjuges a obrigação de cooperar e de participar em todos os actos da vida
familiar, prestando-se reciprocamente entreajuda, quer nos actos da vida doméstica, quer na criação
e educação dos filhos. Procura-se aqui uma distribuição equitativa e harmónica de todos os actos que
integram a vida comum do casal, assumindo cada um dos cônjuges as tarefas que estejam em
consonância com as suas próprias capacidades num espírito de altruísmo e de afeto recíproco. Há
obrigação de auxílio mútuo, obrigação de assumirem em conjunto as responsabilidades inerentes à
vida familiar.
❖ Poder dever de Assistência
Trata-se do prolongamento do dever de cooperação. Implica que cada cônjuge deve contribuir para
a satisfação das necessidades materiais e espirituais da família.
A assistência pode ser material e moral. A assistência material – Implica que cada cônjuge tem o
dever de prestar à outro ajuda económica, quando ele carecer, e ainda o dever de ambos participarem
nas despesas nas despesas que resultem da vida comum (encargos normais da vida familiar). Obriga
os cônjuges a contribuírem com valores pecuniários para manutenção da família.
Este dever mantém-se mesmo depois de haver separação de facto e pode até persistir para além da
dissolução do vínculo conjugal. O ex. cônjuge pode ter direito a prestação de alimentos por parte do
outro.
8.4.1 3 - Direitos
o Direito de representação comum
A família conjugal constitui um grupo social que mantém relações jurídicas de diversa natureza com
terceiros. Nessas relações a família matrimonial é representada indistintamente por qualquer dos
cônjuges. Assim, se um deles celebra um negócio jurídico, ou toma uma resolução pertinente à vida
dos cônjuges e dos filhos, presume-se que representa a vontade comum.
o Direito ao Nome, emancipação e nacionalidade

Direito ao nome
Quando se atribuía ao casamento o privilégio de ser a única forma de constituição legítima da família,
dava-se ênfase a unidade de nome pelo qual ia ser designada a nova família constituída pelo
matrimónio. Havia a preocupação de definir o nome de família pelo qual esta passava a ser conhecida
no meio social em que vivia.
De acordo com a nossa lei, no acto de casamento, pode um dos nubentes declarar que adopta o apelido
do outro ou podem ambos optar pela adopção de um apelido comum, a partir do apelido dos dois.
Emancipação
O casamento de menor de 18 anos celebrado em obediência a lei leva a emancipação do menor, o
qual adquire plena regência da sua pessoa e bens (já não depende dos seus pais ou tutores para celebrar
determinados actos - comprar, vender, etc.).
Nacionalidade
O cidadão estrangeiro que case com um cidadão nacional angolano passa a adquirir a nacionalidade
angolana, desde que o requeira, vide lei 13/91 - artigo 13.º – Lei da Nacionalidade.

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8.5. Efeitos patrimoniais do casamento

Para além dos efeitos pessoais, o casamento produz na vida dos cônjuges, efeitos patrimoniais. A
regulação jurídica desse património constitui o regime económico do casamento. Este regime regula
tanto as relações entre os cônjuges, como as correspondências destes com terceiros.
8.5.1 Regime económico no Código de Família (comunhão de adquiridos e separação de bens).
Os regimes de bens que o nosso Código de Família consagra são os seguintes:
- Regime de comunhão de bens adquiridos & Regime de Separação de bens
➢ Regime de comunhão de bens adquiridos
É o regime matrimonial que implica simultaneamente a comunhão de certos bens (a maior parte dos
adquiridos depois do casamento, incluindo o produto do trabalho dos cônjuges) e a separação de
outros, que ficam sendo próprios dos cônjuges (bens que já tinham aquando da celebração do
casamento).
Neste regime:
▪ Existe o património próprio do marido, incluindo bem e dívidas que tinha antes do casamento;
▪ O património próprio da mulher da mulher incluindo bem e dívidas que tinha antes do casamento;
▪ Património comum que engloba os bens adquiridos depois do casamento a título oneroso,
rendimentos e frutos produzidos pelos bens próprios de cada cônjuge, os salários e as dívidas
comuns.

➢ Regime de Separação de bens


Trata-se do regime de bens do casamento caracterizado pela separação dos patrimónios dos cônjuges,
conservando cada um deles o domínio e fruição de todos os seus bens presentes e futuros, podendo
dispor deles livremente. Ou seja, cada um dos cônjuges é que sabe e controla os bens que adquirir
durante o casamento, sem ter de dar satisfações a outro. Cada um dos cônjuges administra os seus
bens conforme lhe aprouver.

8.5.2 Dívida dos cônjuges (comuns e exclusivas). Artigo 61.º C. F.


Cada um dos cônjuges pode contrair dívidas, sem o consentimento do outro, desde que sejam para
contribuir para os encargos familiares. O Código de Família distingue as dívidas comuns das dívidas
exclusivas. No regime de comunhão de adquiridos, a responsabilidade dos cônjuges pelas dívidas
comuns é solidária artigo 61.º n º 2 e no regime e separação de bens, a responsabilidade é meramente
conjunta artigo 63.º n.º 2 C. F.
Assim, são dívidas comuns, as seguintes:
i. As dívidas contraídas por ambos ou por um deles para suprir os encargos da vida familiar, 61
n.º 1;
ii. As dívidas contraídas em proveito comum do casal;
iii. As que foram contraídas por ambos os cônjuges ou por um deles com o acordo do outro.

São dívidas exclusivas (singulares ou pessoais), as seguintes:


i. Dívidas contraídas por cada um dos cônjuges sem o acordo do outro;

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ii. Dívidas provenientes de condenações por crimes, indemnizações, restituições, custas judiciais
ou multas por factos imputados a cada um dos cônjuges.
iii. As dívidas por alimentos que não sejam para o benefício da família;

8.6 A dissolução do casamento


O vínculo matrimonial, tratando-se de fenómeno humano, está sujeito a várias peripécias. As vezes a
relação conjugal deteriora-se de tal sorte que já não é possível manter o casamento. Entre os esposos
despoletam-se contradições que tornam insuportável a vida comum.
Outras vezes são factos naturais (morte), fenómenos sociais (guerras) ou condutas produto da vontade
humana (afastamento pessoal) que sujeitam o casamento a situações que afectam a sua substância.
8.6.1 Causas da dissolução
As causas de dissolução são a morte ou declaração judicial de presunção de morte e o divórcio. Artigo
74.º C. F.
a) A morte
Na maioria dos casos, a morte de um dos cônjuges pode ser provada através do acto de Registo Civil
comprovativo do óbito. Mas as vezes isto não acontece; há casos em que o outro cônjuge desaparece
sem saber do seu paradeiro e há fortes indícios de que não se trata de uma simples ausência, mas sim
um caso de morte. Aqui, a lei aconselha o accionamento do instituto da morte presumida. Já falamos
mais atrás da morte presumida. Artigos 76.º e 77.º C. F.
Os pressupostos são os seguintes:
a) Decurso do prazo de três anos sobre as últimas notícias;
b) Existência de fortes indícios de que ocorreu a morte.

b) O divórcio
É a forma de extinção do casamento em vida de ambos os cônjuges, quer por mútuo acordo ou de
forma litigiosa.
8.6.2 Modalidade de divórcio (por mutuo acordo e litigioso)
O divórcio pode ser por mútuo acordo ou litigioso
o Divorcio por mútuo acordo
Significa que ambos os cônjuges estão de acordo em se divorciar ou separar. Por essa razão, não têm
de revelar a causa de divórcio ou separação.
A lei presume que se os cônjuges pedem a dissolução do casamento por mútuo acordo é porque
reciprocamente reconhecem que a sua união conjugal se encontra irreparavelmente comprometida. E
assim sendo, a melhor solução terapêutica será reconhecer a fracasso do casamento e accionar a
declaração da sua dissolução.
O artigo 83.º consagra os pressupostos do divórcio por mútuo acordo: a) Que o casamento tenha sido
celebrado há mais de três anos, b) que ambos os cônjuges tenham completado 21 anos de idade. Deve-
se requerer no Tribunal de Família.
O divórcio por mútuo acordo também pode ser requerido junto das Conservatórias de Registo Civil
(trata-se de uma via administrativa), artigo 87.º do C. F., desde que o casal não tenha filhos menores
e se os houver, haja decisão sobre a regulação da autoridade paternal proferida pelo Tribunal
Competente.

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Ao requerimento do divórcio, os cônjuges deveram juntar a) os acordos relativos ao exercício da
autoridade paternal sobre os filhos menores do casal, b) prestação de alimentos aos cônjuges que
deles careça e c) atribuição da residência familiar.
Na primeira audiência, o Juiz declarará o divórcio provisório, que será convertido em divórcio
definitivo, se no prazo de 90 dias, nenhuma das partes vier a desistir.
o Divórcio Litigioso
É aquele pedido por apenas um dos cônjuges, com base nos fundamentos previstos na lei. A acção do
divórcio litigioso é proposta unicamente por um cônjuge contra a pessoa do outro, devendo aquele
que propõe a acção invocar a existência de uma causa.
8.6.3 Fundamentos para acção no divórcio litigioso (adultério, vida e costume desonroso, abandono
de lar, ofensas à integridades física ou moral, ausência do cônjuge, demência do cônjuge).
A. Adultério
Consiste na consumação da relação sexual de um cônjuge com terceira pessoa, de sexo diferente,
praticada por acto voluntário. Constituem dois elementos objectivos e subjectivo:
Prática do acto carnal (objectivo) e voluntário (subjectivo). Antigamente o adultério era considerado
crime.
B. Vida e costumes desonrosos
Tratam-se de hábitos da vida que sejam arreigados e envolvam a degradação moral e social do cônjuge
que os pratique e que vai reflectir-se sobre a pessoa de outro cônjuge.
P. ex. um cônjuge viciado no consumo de droga ou de álcool, prática de jogo de azar, mendicidade,
etc.
C. Abandono de lar
Para a sua verificação, é necessário que se verifiquem os seguintes elementos: Saída livre e
espontânea do lar conjugal; feita sem o consentimento do outro cônjuge; feito com o propósito de
romper a comunhão de vida; decurso continuado do prazo legal - três anos.
D. Ofensas há integridades física ou moral
Abrange uma larga escala de actos ofensivos que podem ser de natureza física ou de índole moral.
i. Ofensas à integridade física
Tratam-se de actos de violência física, i. E. maus tratos, ofensas corporais, ameaças e coação. Deve
envolver o elemento material da prática do acto moral, i. E. Propósito de ofender o outro cônjuge. A
violência física deve ser grave, por violar o direito a integridade da pessoa atingida.
ii. Ofensas à integridade moral constituem injúrias
Podem ser constituídas por injúrias dirigidas contra o outro cônjuge, podendo ser proferidas na
presença deste ou de terceira pessoa que dê a conhecer ao ofendido. Deve haver ânimos injuriando,
ou seja, intenção de ofender o consorte, e podem ser:
o Injúrias verbais - expressões proferidas ou escritas pelo outro cônjuge;
o Imputação caluniosa – consiste em atribuir ao outro cônjuge um procedimento indigno;
o Injúrias reais – tratam-se de comportamentos do outro cônjuge em si mesmo ofensivo da
integridade moral do cônjuge ofendido.

Deve-se considerar atentamente as circunstâncias concretas de cada caso, gravidade objectiva da


ofensa, o grau de preparação, o comportamento do cônjuge, hábitos de linguagem, etc. que possam
condicionar a maior ou menor gravidade da ofensa.
E. Separação de facto por três anos

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Quando os cônjuges se encontrarem separados de facto por mais de três anos, pode um deles requerer
o divórcio. Alínea do artigo 98.º do C. F. Mas há que atender as circunstâncias, porquanto para que a
separação de facto possa relevar como ruptura da vida em comum para efeitos do divórcio, a
separação tem de obedecer a certos requisitos.
Impõe-se a necessidade de a separação se efectivar num período mínimo de três anos suspendendo-
se total e completamente todas as relações entre os cônjuges como tal; e que o tempo de separação
tenha decorrido de forma continua, ininterrupta.
Uma ruptura cortada por reconciliações não fundamenta o pedido de divórcio. Mas atenção, o facto
de os cônjuges encetarem contactos por causa do interesse dos filhos comuns, ou por relações de
natureza patrimonial, não suspende o decurso do prazo.
F. Abandono do país por parte de outro cônjuge.
Este fundamento foi introduzido nos anos oitenta, devido a saída de centenas de milhares de pessoas
no fim da colonização. Pois vários casais se separaram, pois um dos cônjuges podia deslocar-se ao
estrangeiro e optar por permanecer, tornando impossível a vida conjugal. Deste modo, os requisitos
são:
- Que um dos cônjuges tenha abandonado o Pais;
- Que tenha feito com o propósito de não regressar;
- Que a saída tenha sido feita sem o consentimento do outro cônjuge.

G. A ausência do cônjuge - artigo 98.º al. C)


A ausência distingue-se da presunção de morte. Na presunção de morte, há fortes indícios de que o
cônjuge pereceu, na ausência, sucede que o cônjuge esta em paradeiro incerto e não se sabem notícias
dele (seja por ele não as querer dar, seja por não as poder dar).
O cônjuge interessado deve apresentar provas do paradeiro incerto. E deve decorrer o prazo mínimo
de três anos. Se o ausente voltar, o prazo fica sem efeito. A ausência distingue-se da separação de
facto, porque na separação de facto o cônjuge tem paradeiro certo.
H. Demência do Cônjuge - 98.º al. d)
A demência - consiste na alteração negativa das faculdades mentais do outro cônjuge, desde que seja
clinicamente apurada.
Mas esta alteração deve ser a) clinicamente apurada; b) que dura há mais de três anos e c) que pela
gravidade comprometa a possibilidade da vida em comum.
A lei exige que a doença seja tão grave que impeça de o cônjuge de uma vida normal, uma pessoa
incapaz de conviver socialmente. Porque não é justo que o cônjuge saudável tenha contra a sua
vontade um vínculo conjugal com alguém incapacitado de cumprir os seus direitos e deveres. Mas,
se o divórcio for decretado pelo tribunal, o ex. cônjuge dever manter o dever de assistência ao cônjuge
doente a quem o outro cônjuge ficará obrigado a prestar alimentos.

8.7 A União de Facto.


8.7.1 Noção
Consiste na convivência sexual comum entre um homem e uma mulher como se de marido e mulher
se tratassem, sem a existência de um casamento formalizado.
Relaciona-se com uma vivência de carácter duradouro entre um casal, estabelecendo-se entre eles a
comunhão de cama, mesa e habitação, sem que tenham celebrado o casamento. Trata-se de uma
situação que não pode estar a margem do direito. Nos países desenvolvidos, o casamento legalmente
celebrado perante os órgãos competentes e a única forma de constituir família.
30
No nosso país, a maioria da população vive em união de facto por razões de cultura e de tradição e
por carência dos órgãos de registo civil necessários a legalização da sua união, ainda por razões
económicas (nas zonas urbanas). Por isso, os fundamentos de natureza ideológica e de princípios não
são aceitáveis.
O Estado reconhece a união de facto (vide n.ºs 1, 2, 3 e 4 do artigo 35.º da Constituição) e o seu
objectivo é o de legalizar o maior número possível de uniões, pela função social que o casamento
desempenha na sociedade e pelo facto de todos os cidadãos terem direito a constituírem família.

8.7.2 Pressupostos legais


A união de facto pode ser reconhecida pela via Administrativa (Conservatórias) e Judicial (tribunais).
Para a união de facto ser reconhecida, devem ser reunidos os seguintes pressupostos:
a) Convívio durante, pelo menos três pelos companheiros da união; b) reunir os requisitos para o
casamento, nomeadamente a singularidade (os interessados devem ter apenas um companheiro),
capacidade matrimonial.
Entretanto, há situações em que não estão reunidos os pressupostos legais para o reconhecimento da
união de facto, mas a lei permite o seu reconhecimento para fins específicos, sendo possível fazê-lo
apenas junto do tribunal (Sala da família), nas seguintes situações:
- Quando apenas um dos companheiros a solicita;
- Quando se verifique o enriquecimento ilícito, para partilhar bens comuns e para atribuição de
residência comum.
- Em caso de morte do companheiro da união não reconhecida;
Há, ainda possibilidade de os herdeiros do companheiro morto falecido vir a pedir o reconhecimento
pelos motivos acima referidos (enriquecimento ilícito e partilha de bens comuns).
Ora, quando a união de facto for pretendida por ambos os companheiros, o órgão do estado
competente para o efeito é a Conservatória junto do domicílio de residência dos requerentes. Assim,
estabelece o Decreto Presidencial n.º 36/15 de 30 de Janeiro – que aprova o regime jurídico do
reconhecimento da união da Facto por Mútuo Acordo e Dissolução da União de Facto Reconhecida,
nos termos do artigo 3.º.
Pontos comuns e distintos entre a união de facto e casamento
▪ Pontos comuns
Ambos são celebrados junto da Conservatória de Registo Civil;
São celebrados entre duas pessoas de sexos opostos;
Devem intervir testemunhas;
Um dos cônjuges pode constituir mandatário;

▪ Pontos distintos
O casamento para ser autorizado, dispensa-se a convivência anterior dos nubentes;
A união de facto implica necessariamente convivência dos requerentes durante um período de tempo
antes da sua formalização; por sua vez, o casamento não pressupõe convivência anterior;
O casamento não pode ser celebrado por via judicial; Já a união de facto pode ser reconhecida por via
judicial, por apenas um dos companheiros ou herdeiros de um dos companheiros.
Na união de facto, as testemunhas devem prestar juramento; contrariamente ao casamento, no qual as
testemunhas intervêm apenas assistindo a realização da cerimônia;

8.8. A Adopção

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É a constituição de um vínculo idêntico ao da filiação entre duas pessoas que não estão ligadas entre
si por laços de filiação de sangue.
A adopção visa a substituição da família natural pela família adoptiva.
Angola é um dos exemplos de maior realce no que diz respeito aos efeitos negativos das perdas
sofridas nas lutas de libertação, pela descolonização e pela sangrenta guerra civil sobre a situação
familiar de milhares de crianças.
O número de menores cujos pais faleceram ou desapareceram, ou que foram abandonados pelos pais
é extremamente elevado. Daí que o legislador angolano decidiu revogar as disposições legais relativas
a adopção herdadas do colonialismo, para criar novas leis que dizem respeito à adopção vide artigos
8.º e 197.º do C. F.
8.8.1 Conteúdo legal da adopção
A adopção é constituída por sentença judicial. É concedida ou constituída através da via judicial para
proteger os interesses da criança e dos adoptantes. Não é possível constituir adopção por via contratual
ou por testamento. Uma vez constituída, o adoptado tem os mesmos direitos e deveres que os filhos
naturais dos adoptantes.
8.8.2 Requisitos legais do adoptante e do adotado
✓ Requisitos legais do adotante
O adoptante deve reunir requisitos que provem a sua aptidão para exercer as funções que a lei lhe
confere, substituindo o progenitor natural. Deve estar em pleno gozo dos seus direitos civis, deve ter
idoneidade moral e bom comportamento social, especialmente nas relações familiares, e capacidade
económica para garantir os sustentos do adoptado.
Os adoptantes devem ter saúde mental e física; a diferença de idade entre o adoptante e o adoptado
deve ser de pelo menos dezasseis anos; os cônjuges não podem estar separados de facto (adopção
dupla) e se os adoptantes viverem em união de facto, devem reunir os requisitos do casamento.
Fundamentam estas condições o facto de o legislador pretender que o adoptado possa ser recebido na
nova família por um casal nas condições de facto e de direito que permita a ambos assumir o papel
de verdadeiros pais.
Mas a adopção pode ser feita apenas por uma pessoa, artigo 205.º las. b) E C). C. F.
- Quando se trate de filho do cônjuge ou do companheiro da união de facto;
Aqui, a adopção é feita no interesse da consolidação da família nuclear, permitindo que se estabeleça
o vínculo de filiação entre o cônjuge e o companheiro da união de facto e aquele menor que é filho
do outro membro do casal.
- Quando for feita por pessoa não casada.
Tem de se tratar de pessoa solteira, viúva, ou divorciada, que não viva em união de facto, e que, para
constituir com o adoptado uma família monoparental, demonstre vontade e disposição afectiva, além
dos demais requisitos legais, de vir a substituir a progenitura do menor.
✓ Requisitos legais do adoptado
O adoptado deve ter menos de 18 anos de idade. A lei não prevê qualquer condição de tipo física e
psíquica, económica ou outra, em relação ao adoptando. Também não faz referência a um período
obrigatório de convivência entre adoptante e adoptado antes do estabelecimento do vínculo.
8.8.3 Consentimento a adopção; autorização a adopção internacional.
Quando o menor for declarado em estado de abandono e quando for de pais desconhecidos, não
precisa haver consentimento de quem quer que seja para ser adoptado. Artigo 201.º do C. F.

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A lei permite que se proceda a adopção de menor cujos pais deem o seu consentimento a adopção. O
consentimento deve ser dado de forma pessoal e directa, com consciência e vontade livre de coacção
e esclarecida. O menor que tenha completado 10 anos tem o direito de prestar o seu consentimento.
Senão a adopção deixa de ser válida.
Se faltarem os pais, os avós, irmãos maiores e tios, podem, perante tribunal prestar o seu
consentimento. Se estiverem em igualdade de circunstância presta consentimento o parente que tiver
o menor a seu cargo. Quando o adotante é um cidadão estrangeiro, deve pedir autorização para adoptar
à Assembleia Nacional. Artigo 204.º do C. F.
8.8.4 Tipos legais de adopção (dupla e unipessoal).
Adopção dupla - quando são dois os adoptantes, que de forma simultânea e concertada, vão adoptar
o mesmo menor.
Adopção Unipessoal - efectuada por um único adoptante.
8.8.5 Efeitos da adopção (em relação ao adoptante; em relação ao adoptado; em relação a família
natural
o Em relação ao adotante
Os adoptantes ou adoptante exercem a autoridade paternal de forma plena, como se fosse (m) pai (s)
natural (Is). Os adotantes tem direito de transmitir o seu apelido ao adoptado, direito de escolher o
nome próprio do adoptado, o adoptado é herdeiro dos adoptantes, o adoptante passa a ser família do
adoptado.
o Em relação ao adotado;
O adoptado é assimilado ao filho natural, usufruindo dos mesmos direitos e deveres, e tem obrigação
de alimentos em relação ao adoptante como os demais descendentes. Passa a ser herdeiro do adoptante
e demais parentes deste. Pode usar o apelido do adoptante. E os adoptantes podem requerer a
elaboração de novo Assento de Nascimento.
o Em relação à família natural - artigo 206.º C. F.
A adopção faz extinguir os laços de parentesco entre o adoptado e os seus parentes naturais. O
progenitor natural não pode vir fazer declaração de filiação em relação ao adoptado. Mas claro,
persistem alguns impedimentos como o impedimento matrimonial.

- Hipótese Prática de Direito da Família –


(Casamento)
Na província angolana do Uíge, no ano de 2015, o senhor Kyaku e a senhora Kadafita pretendiam
casar-se. Para o efeito, foi organizada uma cerimónia e festa de alembamento que correu
perfeitamente, tendo naquela data isto é 11/11/2015, prometido que se casariam 6 meses depois. Posto
isto, Kyaku comprou a sua custa o vestido de noiva, o fato do noivo, as alianças, arrendou um salão
de festas, e contratou dançarinos para o certame. Em fim, arcou com todas as despesas do casamento.
Todavia, 5 meses depois, Kyaku alegou que já não queria casar-se, porque se apaixonou por uma
outra pessoa que se chama Eduardo, seu amigo de infância. Posto isto, Kadafita não sabia o que fazer
da sua vida; porquanto, Kyaku veio a casar-se com Eduardo no mês de Dezembro do ano 2016 numa
grande discoteca de Milão, Itália.
Noutra província de Angola, mais propriamente Cunene, o senhor Adalberto casou-se com a Senhora
Eliana tendo ambos adoptado o regime patrimonial de comunhão geral de bens. Volvidos 3 anos,
Adalberto intentou uma acção de divórcio, alegando que Liliana se recusava constantemente a viver
na mesma casa, a dormir na mesma cama e conviver a mesma mesa. Pois, rematou, era impossível

33
manter relações sexuais. Em sua defesa, Liliana alegou que perdeu qualquer vontade de se relacionar
sexualmente com seu marido, porque Adalberto passava a vida toda a lhe dizer que casou com a
mulher errada, pois ela não era fisicamente dotada como tal, e que Liliana só servia para cozinhar e
cuidar dos filhos.
Convocada uma reunião familiar, e dada a palavra aos cônjuges, para além do que já foi explicado
antes, Adalberto manifestou também tristeza pelo facto de na data do casamento Liliana não lhe ter
dito que afinal tinha um filho de uma anterior relação e o facto desta não adoptar o seu sobrenome
que é Mabeco. Ouvindo aquelas expressões, Lilliana decidiu destapar todas as cubas, referindo que
Adalberto não prestava, que vivia namoriscando suas colegas de escola e tem provas detalhadas dos
namoricos, pois tem registadas no seu telemóvel mensagens enviadas pelas suas namoradas. Isso é
azar, nessa família, desabafou o senhor Bilga, tio de Adalberto, cujo filho (Leleco) passou por grande
vexame quando se casava, pois em plena cerimônia quando o Conservador perguntou se estava
presente alguém na cerimónia que conhecia alguma razão que impedisse a realização do casamento,
um senhor de nome Papo Seco, presente na cerimonia, respondeu positivamente, explicando que vivia
em união de facto com a noiva. O Conservador suspendeu o casamento, e nunca voltou a agendar
nova data para o efeito.
Na província do Zaire, Matuidi casou-se com Zefa. Cinco meses depois, Zefa desapareceu quando
viajava de avião para a província da Lunda Sul. Deixou de haver sinais do avião e por conseguinte,
de Zefa durante três anos. Por essa razão, pretendendo dar novo rumo à sua vida; e porque a mãe de
Zefa era muito parecida à filha, Matuidi casou-se com a mesma(mãe de Zefa), tendo gerado vários
filhos e muitos comentários na comunidade.
Já na província de Benguela, no ano 2021 Bruno tinha uma cadela de nome Laika de quem nutria
grande afeto até chegar ao ponto de desejar casar com a mesma. Ora, tendo um conhecido lhe
assegurado que era possível casar-se, o mesmo remeteu os documentos na Conservatória de Registo
Civil onde encontrou um funcionário totalmente embriagado, o qual procedeu a recepção de toda a
documentação, tendo agendado a data para o casamento. Chegada a data, Bruno arrolou apenas uma
testemunha para o casamento; e assim que o Conservador orientou que o interessados se fizessem
presentes na sala, qual foi o seu espanto, Bruno entrava com uma cadela. o conservador ainda
perguntou onde se encontrava noiva e este simplesmente disse que era a Laika. O Conservador
recusou-se a celebrar o casamento mas Bruno determinado que estava, ameaçou-lhe com uma arma
de fogo tendo o casamento sido celebrado. A Lua de Mel teve lugar num dos mais frequentados hotéis
de Luanda.
Já em Malanje, Bornito casou-se com Germana. Na cerimónia de casamento, o Conservador proferiu
os efeitos pessoais do casamento, alegando que Germana não tinha os mesmos direitos e deveres que
Bornito, Bornito podia passar as noites em casa sempre que lhe aprouvesse, ter quantas Mulheres
quisesse, e não era obrigado a lhe ajudar nas questões da lida da casa, caso ela necessitasse; porque
a mentalidade e a tradição dos africanos ditava que o homem pode e manda tudo. Bornito seria o
único integrante do casal que atribuiria nomes aos filhos, e que o regime patrimonial do casamento
só podia ser o da comunhão geral de bens.
Em Luanda, no ano 2021, o cidadão maliano Mamadou S. Touré casou-se com Kiesse. Entretanto,
após o matrimônio, o mesmo deixou de ter qualquer contacto físico com Kiesse. Quando pedido
para se explicar disse o seguinte:“eu só casá contigo através de querer ser angolano”.
Quid iuris ?

34
TEMA 9: O Direito Fiscal

9.1: Noção do Direito fiscal

No primeiro contacto académico que tiveram com o direito, os alunos aprenderam a definição de
Estado, elementos, fins e funções. Os seus respectivos elementos. Mas não aprenderam de que forma
o Estado adquire os meios financeiros para a satisfação das necessidades colectivas.

9.1.1 A actividade financeira do estado.

Para o Estado satisfazer as necessidades colectivas deve realizar, entre outras, o que nós chamamos
de Actividade Financeira. A actividade financeira é o conjunto de actos e procedimentos com base
legal que o Estado leva a cabo (despesas e receitas) para a prossecução dos seus fins e funções.

Mas para o efeito, deve-se saber até que ponto se pode esticar as despesas:
Se se aumentarem às despesas, emitindo mais dinheiro em circulação causa inflação, sem se aumentar
os bens e serviços; Se se agravar os impostos, sem atender a capacidade do contribuinte, haverá uma
espécie de confisco do património privado.

Como surgem as despesas públicas, porquê existe a actividade financeira do Estado?

35
O Estado como forma de organização política necessita de recursos financeiros para custear a
actividade administrativa que deve realizar. Entre os fins e funções que deve prosseguir destacamos
a administração da justiça, manutenção da ordem pública, defesa da comunidade contra ameaças
externas, apoio social aos menos desfavorecidos, etc.. Ora, para concretizá-las há que ter funcionários,
juízes, procuradores, agentes da polícia, militares, professores, médicos, etc.

Quem deverá pagar essas pessoas?

Para se responder a essa pergunta, é necessário distinguir dois tipos de necessidades:

Necessidades de satisfação activa - As quais carecem de iniciativa por parte dos interessados
implicando uma acção dos mesmos. São bens cuja aquisição ou acesso exigem uma interacção, uma
relação de troca com os outros para obter se recursos. Estão em causa carências individuais. Por
exemplo: alimentação, vestuário, saúde etc.

Necessidades de satisfação passiva - são aquelas que não exigem interacção ou qualquer acção ou
iniciativa por parte do beneficiário. Por exemplo: os faróis que servem para a orientação dos
navegantes, o exército, a polícia, os bombeiros, os hospitais, as pontes, estradas, aeroportos, portos,
etc.

As necessidades de satisfação passiva geram despesas públicas, a cargo do Estado. Deste modo, serão
os decisores políticos colocados nos órgãos competentes (parlamento/governo) que deverão definir
quais as políticas sociais mais adequadas ao país. Mas, reparem, nos actuais Estados democráticos e
de direito, é cada mais crescente a intervenção social do Estado. Ou seja, o estado também se preocupa
em satisfazer algumas necessidades de satisfação activa, quando os indivíduos são incapazes de, por
si só satisfazerem as suas necessidades individuais. Daí que as necessidades individuais devem
também, de algum modo, ser consideradas necessidades públicas.

9.1.2. Direito financeiro (público)


O direito financeiro é um ramo de direito definido como o complexo de normas jurídicas que
disciplinam a obtenção e distribuição do dinheiro necessário ao funcionamento dos entes públicos
assim como a gestão dos bens propriedades desses entes. O direito financeiro desdobra-se em direito
das receitas e direito da administração ou gestão financeira.

9.1.3. O Direito Tributário.


O direito tributário ou o direito das receitas: é o ramo do direito financeiro vocacionado no estudo
das receitas coactivas (impostas à força) de natureza contributiva.

9.1.4. O Direito Fiscal.


✓ O direito fiscal é o ramo do direito financeiro público que tem como objectivo o estudo
cuidado das receitas coactivas unilaterais - os impostos.

9.2: Natureza do Direito Fiscal e sua relação com outros Ramos de Direito.
Qual seria então a natureza do direito fiscal?
Alguns sectores da doutrina defendem que é um ramo do direito público e outros alegam que é um
ramo do direito privado, e outros ainda dizem ser uma disciplina mista.

O Direito fiscal Integra o direito público e não se afasta do direito administrativo, mas claro
obedecendo o princípio da legalidade fiscal, da capacidade contributiva, proibição de excesso e da

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proporcionalidade.

9.2.1. Relação entre o Direito Fiscal e outros Ramos de Direito

9.2.1.1Direito Fiscal & Direito Constitucional

A Constituição prevê princípios fundamentais que estruturam a ordem jurídica em geral e


particularmente no que diz respeito ao estatuto jurídico da ordem política no domínio doas direitos e
garantias fundamentais dos cidadãos. Por ex. O princípio da legalidade tributária está previsto no
artigo 14.º da Constituição. Por outra, temos os artigos 90.º, n.º 2 do artigo 14.º e artigo 18.º da mesma
lei que é o princípio da igualdade tributária.

É no direito constitucional que se encontram alguns princípios que regulam o direito fiscal.

9.2.1.2. Direito Fiscal & Direito Administrativo

Alguns autores defendem que o direito fiscal é um ramo do direito administrativo, o que implica uma
relação estreita.

A aplicação das normas tributárias exigem produção de diversos Actos Administrativos pelos órgãos
da administração fiscal que integram a estrutura da administração;

Quando esta cria a lei - função de soberania – veste-se de autoridade legislativa; Quando se trata de
aplicação das normas fiscais, já não estamos perante o estado legislador, mas perante um órgão da
administração pública do estado administrador.

A Administração Fiscal é a entidade gestora do sistema tributário e credora da maior parte dos
impostos. Por força da qualidade de gestora tributária, a administração fiscal corporizada no
Ministério das Finanças (Direcção Nacional, Delegações e Direcções Provinciais) tem de produzir os
actos administrativos necessários para proceder a liquidação e cobrança dos impostos.

Portanto, existe uma relação estreita entre os dois ramos.

9.2.1.3. Direito Fiscal & Direito Processual

Processo gracioso;
As normas que regulam quer a impugnação do procedimento administrativo tributário, quer as que
regulam o contencioso tributário, incluindo o julgamento das transgressões ou contravenções fiscais
e a execução são normas processuais que têm no direito processual administrativo e penal uma fonte
subsidiária;

Por isso, ao lado do direito fiscal substantivo, existe o processual um Código de Execução Tributário
que em Angola constituem o regulamento do contencioso das contribuições e impostos e código de
execuções, ambos dos anos 40 “carentes de revisão e actualização face à Constituição e a evolução
do direito processual tributário, particularmente no domínio das garantias dos contribuintes.

9.2.1.4. Direito Fiscal & Direito Penal

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As Normas do direito fiscal nem sempre são respeitadas e frequentemente essa inobservância
consubstancia-se em: Uma situação de incumprimento; infracção fiscal. Nesses casos, as violações
das normas jurídicas encerram sempre uma sanção. Por isso, existem normas fiscais que estipulam as
infracções fiscais e preveem a aplicação das respectivas penas;

O Direito Fiscal socorre-se do Direito Penal para adoptar alguns princípios fundamentais, por ex.
tipicidade, culpabilidade, dolo, etc.. No que diz respeito a leis, em alguns casos existe um paralelismo,
por ex. – contrabando e descaminho.

9.2.1.5. Direito Fiscal & Direito Privado


Pelo facto de lidar com situações do domínio económico, situações económicas susceptíveis de
tributação, deve operar com alguns conceitos do direito privado geral. Ex. Tributação da herança, o
conceito de obrigação provém do direito das obrigações, artigo 397.º do CC.

9.2.1.6. Direito Fiscal & Direito Internacional Público


Os estados necessitam de regular situações que possam sujeitar relações com a tributação e que quase
sempre podem afectar a sua soberania em matéria fiscal. Princípio da territorialidade. Há casos em
que os destinatários das normas fiscais são cidadãos estrangeiros, e os seus países, dada sua
nacionalidade ou residência acha-se igualmente com legitimidade (poder) para tributar os
rendimentos de tais cidadãos. Está-se diante de uma dupla tributação, ou seja, rendimento duas vezes
tributado (em países diferentes), o que pode levar a injustiças. Solução: Os países devem celebrar
tratados ou acordos que impeçam que determinados rendimentos de pessoas singulares ou colectivas
sejam tributados em dois sistemas jurídicos (entenda-se dois países).

Alguns estados fazem acordos de dupla tributação e os critérios que tem adoptado são: 1.
Nacionalidade, 2. Residência e 3. Da fonte de rendimento.

Em principio, se o Estado angolano não tiver celebrado Acordos de Dupla Tributação, os angolanos
que tenham rendimentos no estrangeiro os mesmos devem pagar impostos quer no estrangeiro
quer em Angola.

9.3. Períodos da evolução do sistema fiscal

9.3.1. - 1º Fase – Início da Colonização até a Reforma Fiscal de 1947

Passava pela criação “ pontual” de impostos e procura de receitas para cobertura das despesas na
colónia Angolana. As despesas realizadas tinham como objectivo a defesa militar: Fruto da ocupação
militar e a defesa das administrações: Que evoluam das fronteiras para freguesias.

As principais receitas: Dízimos: Imposto de capitação; Imposto de cubata: Sobre a habitação


Imposto sobre o gado, sobre o consumo de água e consumo sobre o sal.

Eram três as fontes indirectas de receitas: Imposto - contribuições. Imposto de cubata: Imposto
predial: contribuição predial e urbanas Em 1906 foi criado o imposto indígena cuja receitas em 1906
já eram a 2ª depois dos direitos de importação – e a primeira em 1944.

Imposto indígena: era cobrado aos naturas da terra (autóctones), consistiam em montantes fixos por

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cada ano e incidia sobre pessoas do sexo masculino.

Cobravam-se igualmente direitos aduaneiros. Importação e exportação de escravos prevaleciam as


importações: Bebidas alcoólicas têxteis e vestuário e bens alimentares.

Até ao séc. XIX, os impostos eram arrecadados pelo arrebatador de imposto. Por exemplo: Os
comerciantes. As mudanças de impostos deveram-se às controvérsias geradas pelos arrebatadores de
impostos que extorquiam as populações.

Desde 1946 -Impostos foram. Contribuição industrial, Imposto indígena, direitos aduaneiros, imposto
sobre agricultura, sal e minas, imposto de sisa. Contribuição sobre o consumo: De álcool, vinho,
cerveja e tabacos e combustível. Impostos especiais de consumo. Exportação: Borracha, marfim.,
escravos que foram extinto com a conferência de Berlim. Milho, diamante e café.

Tributava-se de forma Insuficiente as novas fontes de riqueza. Por ex. indústria e agricultura. Em
1929 houve uma reforma fiscal porque havia a necessidade de ajustar a estrutura fiscal no espaço
lusófono.

9.3.3 - Reforma de 1948-1950

No domínio dos impostos indirectos, em particular nos impostos aduaneiros assistiu-se a uma redução
da taxa dos direitos de importação da matéria-prima, harmonizou-se a pauta aduaneira entre Portugal
e os territórios colonizados.

O método de tributação deixou de basear-se em taxas e passou assentar nos rendimentos normas
obtidos pelos contribuintes. As taxas substituem os impostos fixos. Novos impostos foram
introduzidos: por ex: imposto complementar sobre o rendimento, que tributa o rendimento na sua
globalidade; Extinguiu-se o imposto indígena que passa a chamar-se taxa pessoal anual.

Os impostos directos eram: Contribuição industrial, Contribuição predial urbana, Contribuição sobre
a exploração agrícola, Contribuição sobre os rendimentos mineiros, Contribuição os diamantes e Taxa
pessoal e anual;.

Os Impostos indirectos eram: Imposto sobre o consumo de bebidas alcoólicas, tabaco consumo,
direitos aduaneiros, sisa doação e de sucessões.

9.3.4. Anos 60 Alterações Profundas

Ao 4 de Fevereiro de 1961 teve início a luta armada que provocou alterações profundas na estrutura
económica e fiscal. Angola acabava de integrar-se no cenário internacional.

Com a influência de John Kennedy – Portugal inicia em 1962 a tomar algumas medidas: Criam-se os
estudos Gerais universitários de Angola; É revogada a taxa pessoal anual e cria-se o imposto geral
mínimo que era extensivo quer aos portugueses, quer aos autóctones.

Em 1965 foram implementados o imposto do investimento, imposto do condicionamento industrial e


abre-se as portas ao investimento estrangeiro.

39
9.3.5. Desde 1969 a 1973

Angola teve uma economia de taxas de 10%, tendo sido considerada das mais altas do mundo. Iniciou-
se a exploração do ferro, manganês. A indústria começou a exploração petrolífera em 1956 “Barra
do kwanza em 1960. Mas também a estrutura fiscal afigurava-se desajustada ao desenvolvimento da
economia.

9.3.6. 2.ª Reforma Fiscal


1967 E 1973 – Por causa do desajustamento do sistema fiscal em Portugal, criaram-se novos impostos
realizados pelas entidades legislativas locais. “Governador-geral e Assembleias legislativas – Por
delegação de Portugal.
Em 1968 – sucedeu o seguinte: 1 – Aprovou-se o Código Geral Tributário; 2 – Aprovado o imposto
geral sobre o consumo e produção; 3 - Criou-se o imposto profissional; 4 – Imposto sobre aplicação
de capitais e demais impostos.
Em 1973 o petróleo representava 20% das receitas de rendimento a seguir aos direitos aduaneiros,
contribuição industrial e consumo.

9.3.7. Desde 1975 – 1991


Período pós-independência - política; a Constituição consagrava um regime coletivista e socializante,
propriedade pública em detrimento da privada. Economia centralizada definida pelo Estado, as
empresas públicas eram os principais agentes económicos.

Havia áreas da economia exploradas por pessoas individuais e colectivas. O Estado angolano nunca
nacionalizou a terra. Continuou a haver exploração da terra. A maior parte da indústria foi abandonada
e portanto a economia não teve forças para recuperar.

As receitas fiscais eram exíguas. As principal fonte de receitas eram as empresas públicas, mas o
petróleo continuou a ser uma das fontes de receitas. A principal fonte de receitas subiu de 2% para
90% das receitas do Estado.

Foram revogados o Imposto de selo e povoamento; Imposto complementar; Imposto geral mínimo e
Imposto profissional; Foi criado o imposto de reconstrução nacional.

No ano 1991, o regime económico e político mudou com a constituição, onde se implementou o
sistema vigente nos nossos dias.

O Sistema Financeiro
O sistema financeiro é organizado de forma a garantir a formação, a captação e a segurança das
poupanças, assim como a mobilização e a aplicação dos recursos financeiros necessários ao
desenvolvimento económico e social. É a lei que regula a organização, funcionamento e a fiscalização
das instituições financeiras35.

O Sistema Fiscal
O sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras dos estados e outras entidades públicas,
assegurar a realização da política económica e social do estado e proceder a uma justa repartição dos
rendimentos e da riqueza nacional.36

35 Art. 99.º
36 Art. 101.º

40
9.4. Fontes de Direito Fiscal.

Tratam-se das formas de criação e revelação das normas e pressupostos do direito fiscal. As fontes
do direito fiscal são: As Leis (abrangendo a Constituição, Lei em sentido formal, decretos e decretos
leis), convenções internacionais, o costume, os regulamentos, a jurisprudência e a doutrina. Em
Angola temos a Constituição, O Código Geral Tributário, Costume, decretos-leis, decretos,
instruções, etc.

Importa referir que a Constituição determina os princípios basilares do ordenamento fiscal. É a


Constituição que de fine os principais princípios fiscais, a saber:

9.5. A Lei.

Noção e Extensão
Lei em sentido amplo – É toda a norma formalmente prescrita por um órgão estadual com poderes
normativos. Por ex. Decreto Legislativo Presidencial, decreto regulamentar.

Lei em sentido Restricto – aqui o termo lei serve apenas para referir os diplomas legislativos
elaborados pela Assembleia Nacional.

Vamos ater-nos à lei em sentido restricto.

9.5. 1 - O Princípio da legalidade, igualdade, eficiência funcional do sistema tributário e o


princípio da anualidade.

Princípio da legalidade tributária – Os impostos apenas devem ser criados e extintos por lei. Artigo
102.º e artigo 1.º do Código Geral Tributário.

Este princípio visa impedir que a administração fiscal crie impostos de forma anárquica. Daí que Os
cidadão representados na Assembleia Nacional pelos deputados decidem quando criar e quando
devem extinguir os impostos. Por consequência, não se permite ao governo a alteração a seu bel –
prazer os elementos essenciais dos impostos. Resulta aqui a ideia de consentimento.

Nulo tributo sine legre – Não há tributo sem Lei.


Princípio da igualdade – A nossa Constituição não expressa directamente este princípio, mas se pode
deduzir do artigo 18.º da CRPA. Pois, os cidadãos estão sujeitos aos mesmos direitos e deveres. Por
exemplo, se a lei diz que todos aqueles que auferem um salário devem pagar imposto, todos devem
pagar o imposto.

Sentido e alcance - Regra da Generalidade – Todos os cidadãos devem pagar impostos. Regra da
Uniformidade – Aqueles obrigados a pagar imposto devem faze-lo de modo uniforme. Os critérios
devem ser uniformes. Se alguém pertence a uma formação religiosa e outro de uma formação laica,
devem ser tributados uniformemente. Deve-se ter em conta a capacidade contributiva e os benefícios
dos cidadãos.

Igualdade Vertical – Para rendimentos diferentes, há impostos diferentes, portanto, rendimentos


desiguais, impostos desiguais. V. G. Dois indivíduos ganham cem, pagam menos. Igualdade
horizontal – para rendimentos iguais deve estipular-se impostos iguais. Um ganha 100 e outro 1000,
o que ganha mil paga mais.

41
Princípio da eficiência funcional do sistema tributário – A administração fiscal deve praticar os actos
necessários para que os impostos devam ser pagos de modo eficaz, sem causar avultados prejuízos
aos cidadãos, e aplicar de forma racional as receitas dos impostos.

Deve-se criar órgãos para efectuar as cobranças dos impostos de modo eficaz.

Princípio da anualidade - os impostos devem ser cobrados anualmente, com algumas exceções:
Imposto do rendimento do trabalho.

9.6 - O Imposto.

Podemos definir o imposto a partir de dois pontos de vista diferentes; do ponto de vista financeiro e
do ponto de vista jurídico.

Do ponto de vista financeiro, o imposto é uma receita pública; Do ponto de vista jurídico, o imposto
é uma prestação unilateral estabelecida por lei a favor de uma entidade pública para se alcançar fins
públicos.

Elementos da Definição: Elemento objectivo - prestação unilateral estabelecida por lei. Só há lugar a
uma prestação que é efectuada pelos cidadãos, empresas e outras instituições privadas de interesse,
não há lugar a qualquer contra prestação particular do Estado. Elemento subjectivo - o sujeito titular
do crédito tributário (pessoa colectiva de direito público) Elemento teleológico - trata-se da finalidade
do imposto, ou seja visa a prossecução de fins públicos.

Os impostos visam contribuir com receitas para o Orçamento Geral do Estado. Por outro lado, existem
impostos criados para fins extra-fiscais, na medida em que os objectivos de natureza social se
sobrepõem aos objectivos financeiros. Por exemplo, os impostos aduaneiros, s os quais visam
proteger a indústria nacional, ou combater a poluição mas propriamente impostos sobre a importação.

9.6.1 – Diferença entre Imposto e Taxa

A taxa é diferente de imposto, o imposto é um tributo de carácter unilateral e a taxa é um


tributo de caracter bilateral que se concretiza em três situações:
Prestação de um serviço público - p. ex. – emolumentos(notários), serviços de justiça (taxa de justiça),
educação (propinas);

• Utilização de bens de domínio público - P. ex. portagens, taxas dos navios nos portos, taxa
de aterragem de aeronaves nos aeroportos.
• Remoção de um limite jurídico à actividade dos particulares - taxa paga para licença de uso
e porte de arma de fogo.

9.7 A Administração Fiscal.

9.7.1 - Administração Geral Tributária – AGT


A administração fiscal é a pessoa colectiva de direito público que tem como competência legal
efectuar a cobrança e a arrecadação dos impostos.

42
A AGT é o organismo tributário único que resulta da integração da Direcção Nacional de Impostos
(DNI), do Serviço Nacional das Alfândegas (SNA) e do Projecto Executivo para a Reforma Tributária
(PERT), aprovado pelo Decreto Presidencial n.º 324/1437.

Com a criação da Administração Geral Tributária, renovam-se a missão e os objetivos da


Administração Fiscal e Aduaneira, assegura-se uma maior coordenação na execução das políticas
fiscais e aduaneiras e garante-se uma alocação e utilização mais eficiente dos recursos existentes.

A AGT tem por missão fundamental propor e executar a política tributária do Estado, assegurar o seu
integral cumprimento e administrar os impostos, direitos aduaneiros e demais tributos que lhe sejam
atribuídos, bem como estudar, promover, coordenar, executar e avaliar os programas, medidas e
acções de política tributárias relativas a organização, gestão e aperfeiçoamento do sistema tributário.

A estrutura orgânica aprovada contempla oito Direções que respondem diretamente ao Presidente da
AGT. Destaca-se a importância e a autonomia dadas às áreas responsáveis pela arrecadação de
maiores volumes de receita, passando a reportar diretamente ao Presidente da AGT, caso dos Regimes
Especiais de Tributação e da Direcção dos Grandes Contribuintes.

A estrutura é, ainda, apoiada por vários serviços centrais, constituídos por Gabinetes e Direcções.

9.7.1 - Direcção Nacional dos Impostos (DNI), Serviço Nacional das Alfândegas (SNA) e o Projecto
Executivo para a Reforma Tributária (PERT)

A Direcção Nacional de Impostos (DNI) era o órgão reitor de competência geral, cobrava os impostos;
O Serviço Nacional das Alfândegas (SNA) - o qual em termos gerais efectua cobrança e arrecada
impostos em relação a bens importados ou exportados a partir dos aeroportos, portos e fronteiras
terrestres.

Projecto Executivo para a Reforma Tributária (PERT)38 – Que tem como atribuições criar os
mecanismos legais e administrativos no sentido de melhor executar as políticas tributárias traçadas
pelo executivo.

Visa igualmente dotar a República de Angola de um sistema tributário moderno, capaz de dar resposta
aos objetivos da política tributária que lhe são constitucionalmente atribuídos e aos desafios do
desenvolvimento socioeconómico, visando não só a captação de maiores receitas para o Estado no
sector não petrolífero, mas também a constituição de um válido e eficaz instrumento nas políticas de
atracão de investimento, de promoção de Emprego e de Integração Social.

A criação da AGT não tem qualquer impacto no dia-a-dia dos contribuintes que devem continuar a
cumprir as mesmas obrigações tributárias, nos mesmos postos locais e nos mesmos prazos.

9.8 - Os sujeitos da relação jurídica fiscal (impostos)


Os sujeitos são os titulares dos direitos e deveres atribuídos pela lei tributária, com vista a atingir um
fim - pagamento do imposto. A relação jurídico-fiscal é constituída pelos sujeitos, objecto facto
garantia e o acto tributário.

Quanto aos sujeitos, podemos adiantar que existem o sujeito activo e o sujeito passivo.
37
Diário da República Iª Série n.º 220 de 15 de Dezembro de 2014 (Pág. 5288)
38
Decreto Presidencial nº. 155/10 De 28 de Julho de 2010

43
9.8.1: O sujeito Activo (o Estado e o Instituto Nacional de Segurança Social - INSS)
a) O sujeito activo é aquele que tem o dever de lançar, liquidar e cobrar os impostos ou seja é o titular
do crédito fiscal. Temos como sujeito cativo a AGT, Instituto Nacional de Segurança Social e as
Autarquias locais.

9.8.2 O Sujeito Passivo.


a) 1. - Sujeitos passivos são as pessoas ou entidades sobre as quais recaem o dever de efectuar o
pagamento do imposto.

b) Objecto - Conjunto de direitos e deveres que permitem ao titular do crédito fiscal exigir a prestação
e impor ao sujeito passivo o dever de efectuar.

c) Factos – Acontecimentos da vida juridicamente relevantes para que haja vínculo com a
administração fiscal. Pode ser uma conduta Voluntária – Ex. Trabalho ou involuntária – por ex. o
facto de se ser herdeiro.

d) Garantia – Protecção que é dada ao titular do crédito fiscal em determinadas condições.

e) O Acto tributário – É o elemento da relação jurídica tributária que permite a aplicação em concreto
do direito de cobrar imposto, previsto abstractamente na lei.

O sujeito passivo distingue-se de contribuinte, na medida em que o Sujeito passivo é a entidade ou


pessoa sobre a qual impende ou recai o dever de efectuar a prestação tributária; Contribuinte - pessoa
relativamente à qual se verificam os pressupostos geradores da obrigação fiscal e que vai sofrer o
desfalque patrimonial.

Personalidade tributária passiva - é a susceptibilidade de ser sujeito duma relação jurídico-tributária.

9.8.3 Direitos e Deveres dos Contribuintes.

o Direito de pagar apenas os impostos criados nos termos da lei e da Constituição;


o Não pagar impostos, cuja matéria coletável seja tributada mais de uma vez em relação ao
mesmo imposto (dupla tributação);
o Reclamar contra a liquidação de impostos;
o Ser informado sobre a sua situação fiscal;
o Dever de declarar os seus rendimentos;
o Dever de pagar o imposto;
o Dever de comunicar a alteração dos rendimentos;
o Dever de permitir a administração fiscal fiscalizar os seus rendimentos;
o Dever de agir de boa-fé.

9.9. Conceitos fiscais

9.9. 1 - Matéria coletável, Liquidação, cobrança e Pagamento do Imposto

Matéria colectável – é tudo aquilo sobre que recai o imposto, seja um valor, seja um facto, por
exemplo, consumo ou rendimento.

44
Liquidação- é o acto pelo qual se quantifica o tributo que deve pagar um contribuinte. Ou seja, a
liquidação de impostos é a distribuição destinada a suportar os impostos em dívida correspondentes
a um período tributário. Pode ser feita pelo contribuinte ou pela autoridade fiscal a quem compete
arrecadar/cobrar os impostos num determinado território.
No caso angolano, é a autoridade tributária por regra, que procede a cobrança do imposto, art.º 33.º
do Código Geral Tributário.

Cobrança do imposto - é o acto através do qual a administração fiscal interpela o contribuinte no


sentido de este pagar determinado tipo de imposto. Depois da cobrança, o contribuinte realiza o
pagamento. Estes actos realizam-se nos bairros fiscais distribuídos pelas áreas administrativas de cada
província ou cidade. O pagamento é feito por via de títulos de cobranças que se chamam
conhecimentos ou guias.

Conhecimentos ou guias – são títulos de cobrança, processadas em dois ou mais exemplares um dos
quais é entregue ao interessado.
O pagamento do imposto é realizado em dinheiro (cash) na conta da autoridade tributaria junto de
um banco comercial ou outro designado pela Administração fiscal. Pode ser efectuado através de
vales de correio, cheques emitidos a favor da caixa única do tesouro do Ministério das Finanças ou
na Conta do Instituto de Segurança Social. Quem paga pode ser ou contribuinte ou terceiro.

Isenção Tributária - É a dispensa, concedida por lei, do pagamento de determinados impostos.


Por exemplo, a lei dispensa: o pagamento do imposto industrial39 às cooperativas, de construção,
operárias, de produção, associações de instrução, cultura, recreio, educação física, desporto; o
pagamento do imposto sobre o rendimento de trabalho40 a cidadãos nacionais com mais de 60 anos
pelos rendimentos do trabalho percebidos por conta de outrem, cidadãos nacionais portadores de
doenças congénitas, cidadãos que cumprem o serviço militar, deficientes físicos e mutilados de
guerra cujo grau de invalidez ou incapacidade seja superior a 50%, agentes de missões diplomáticas.

9.10: Os Principais Impostos, taxas e contribuições especiais vigentes em Angola.

o Imposto industrial - Incide sobre os lucros imputáveis ao exercício de qualquer actividade


comercial ou industrial.

o Impostos sobre a produção de petróleo41 - incidem sobre a produção do petróleo (sobre a


quantidade de petróleo bruto e gás natural);

o Imposto sobre o rendimento do petróleo – incide sobre os rendimentos relativos às actividades


de pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenagem, venda, exportação, tratamento,
comercio a grosso de produtos e transporte de petróleo.

o Imposto Sobre o Rendimento do Trabalho (IRT)- Incide sobre os rendimentos ou salário dos
trabalhadores (por conta própria ou de outrem);

39
Art. 13.º do Código de Imposto Industrial
40
Art. 7.º e 8.º da Lei 10/99,
41
Lei n.º 13/2004 de 24 de Dezembro – Regula a tributação das actividades petrolíferas

45
o Os impostos de Produção e Consumo42 – trata-se do imposto que incide sobre a produção e
sobre o consumo;

o Impostos aduaneiros (alfandegários)43 – incidem sobre as mercadorias importadas para o


consumo ou sobre as mercadorias exportadas.

o Imposto de Sisa - incide sobre a transmissão onerosa de bens imóveis;

o Imposto sobre as doações e sucessões – incide sobre os bens doados e sobre as heranças;

o Imposto Predial Urbano; - incide sobre a propriedade e posse de imóveis (aqueles que
possuem imóveis - terrenos e prédios devem pagar impostos);

o Contribuições para a Segurança Social – são os valores que os trabalhadores efectivos pagam
para futuramente se beneficiarem no caso de doença, invalidez ou morte.

o Imposto sobre as doações – incidem sobre bens que são doados;

o Imposto de selos – Incide sobre todos os actos, contratos, documentos, títulos, livros, papéis,
e outros factos previstos na tabela geral, incluindo as transmissões gratuitas de bens.

o Imposto sobre a aplicação de capitais – incide sobre os lucros das aplicações de rendimentos
junto de instituições bancárias.

o Imposto mineiro – incide sobre as actividades mineiras.

o Impostos sobre as operações bancárias – incide as operações realizadas em bancos, às


instituições que concedem créditos e que prestam serviços sobre valores mobiliários e
instrumentos derivados, bem como pagamento, guarda de valores e de câmbio. “Actos de
natureza económica, realizados por instituições financeiras bancárias e não bancárias".

o Imposto sobre veículos motorizados (IVM) – é imposto pelas pessoas (físicas e jurídicas) que
são proprietárias de veículos motorizados.

o Taxa dos serviços de limpeza - que se cobra pelos serviços de limpeza pública que compreende
as ruas, avenidas e outros lugares públicos, bem como colecta e tratamento de resíduos
sólidos.44

o Imposto sobre o Valor Acrescentado – IVA- foi instituído para a substituir o imposto de
consumo e incide sobre a comercialização de bens e prestação de serviço.

- Hipóteses práticas -
1. Atenta às hipóteses práticas infra e responda as questões que se seguem:

42
Decreto n.º 41/99, de 10 de Dezembro – que aprova o Regulamento do Imposto do Consumo
43
Lei 17/03, de 25 de Julho –regula os incentivos fiscais e aduaneiros ao investimento privado
44
Artigo 3.º e 6.º do 107/16 de 20 de Maio – aprova o Regime Jurídico da Taxa de Serviços de Limpeza – a taxa varia
de kzs. 500,00, 1500,00, 2500,00, 3.500,00, 12.500,00, 19.000,00, 40.250,00, 164.000,00.

46
Na República de Angola, os cidadãos W King(WK) e Pai Maçaroca(PM) trabalham num estúdio de
música no qual auferem o salário de kzs. 100 000,00, cada. Entretanto, no momento do pagamento
do salário, a entidade patronal descontou de imposto kzs. 10 000,00 a W King e kzs. 5 000,00 a PM.
Pai Maçaroca, cabisbaixo, dirigiu-se à sua residência. Depois de ter chegado, constatou que não
havia alimentos para consumir. Desta sorte WK deslocou-se à administração municipal. Posto lá,
exigiu que o administrador tinha a obrigação de o sustentar. O Administrador, gozão que é, disse que
não atendia a tais tipos de necessidades. Por outra, a Repartição da AGT em Viana foi transferida
para Cacuaco, tendo o responsável da AGT alegado que deste modo os contribuintes de Viana seriam
melhor servidos. Por Outra, no Distrito do Morro Bento, o Administrador local, tendo em
consideração que aos fins de semana circulam vários turistas naquelas imediações, decidiu criar um
imposto denominado imposto sobre “os Passeios aos fins de semanas”. Isto está mal referiu, Tunjila,
criam impostos a toa, e para agravar a minha situação, recebi uma carta da repartição fiscal alegando
que eu tinha de pagar o IRT. No município do Cacuaco, numa casa nocturna, o sr. Jorgito das FAA,
ao ser revistado pelo Segurança, foi encontrado com uma arma de fogo. Entretanto, pelo facto de ter
licença, não foi conduzido à polícia. No município de Belas, Pimpão herdou muito dinheiro do seu
avô, kzs 100 000 000,00. Entretanto, a lei refere que a taxa do imposto é de 5%, e feitas as contas, a
repartição fiscal concluiu que Pimpão devia pagar de imposto o valor de kzs 80 000,00. Entretanto,
este, não concordando, reclamou alegando que devia pagar apenas kzs 50 000,00. Já em Talatona,
Ricardo, pretendendo impressionar o seu amigo brasileiro, convidou-o para se deslocarem a um
restaurante no qual lhes foi servido Cozido a angolano cujo preço foi de kzs 5 000,00. Entretanto, o
preço espelhado na factura após consumo foi de kzs. 5700,00. Na cidade do Kilamba, Zinaida que
assistia Televisão, espantou-se quando ouviu que o Presidente da República decretou a criação de um
novo Imposto, com vista a cobrir as despesas da sua esposa que completou 90 anos de idade.
a) Debruça-te sobre a situação de W King e Pai Maçaroca relativamente ao pagamento distinto
do valor do imposto ?
b) Terá razão o administrador ao alegar que não satisfaziam tais necessidades? Fundamenta
c) Aprecie no âmbito dos princípios fiscais a actuação da AGT ao transferir a sua repartição para
Cacuaco.
d) O que te apraz referir sobre o “imposto sobre os passeios” criado pelo administrador do Morro
Bento?
e) Pronuncia-te sobre a correspondência de Tunjila.
f) O que é o IRT ? e quem é que paga o mesmo ?
g) Aprecia, em sede de Direito Fiscal, o facto de Ildefonso das FAA possuir licença para o uso
de arma de fogo.
h) Qual é a designação técnica que se utiliza para referir que a herança de Pimpão está sujeita
impostos? Define-a.
i) Designa a definição da operação que a Administração fiscal realizou para concluir que Pimpão
deve pagar o imposto de kzs 80 000,00?
j) Terá o valor sido devidamente calculado sobre a herança ?
k) Refere-te ao facto de Ricardo ter recebido uma factura, pelo consumo de cozido, cujo valor
era superior ao fixado no preçário.
l) Pronuncia-te sobre o imposto criado pelo PR para custear o aniversário da sua esposa.

- Carpem diem -

47
48
O DIREITO ADMINISTRATIVO

10:1: Conceito, princípios e elementos;

Várias são as definições de direito administrativo, mas para o nosso estudo vamos adoptar a seguinte
definição:

Direito Administrativo - é o ramo de direito formado por um conjunto de princípios e normas


jurídicas, que regulam a organização, o funcionamento, o controlo da Administração pública e as
relações que esta estabelece com outros entes jurídicos

Segundo a classificação pandetística civil, o direito administrativo é um ramo de direito público, pois
as suas normas são criadas para se prosseguir de modo concreto e imediato os interesses públicos
(critério do interesse), os sujeitos de direito que compõem a Administração Pública são de direito
público (critério do sujeito) e finalmente, é direito público porque na relação que ela regula a
administração pública está investida de poderes de autoridade (critério de autoridade).

10.1.1: Fins e meios da administração pública

Em outras matérias, vocês aprenderam que o homem como um ser social (remoção de lixo e detritos
que exercida por serviços de limpeza, distribuição de água), tende a viver em comunidade, pois não
é autossuficiente. A sociabilidade é uma condição intrínseca ao homem. Ma s na sociedade há
interesses contrapostos, dai a criação do Direito para regulara as pessoas e instituições na sociedade.

Daí que o Estado crie órgãos e serviços que se consubstancia na Administração Pública ou
Organização Administrativa Pública

As necessidades humanas, segurança (e protecção asseguradas por polícias), justiça, bem-estar social,
cultura, como necessidades colectivas, devem ser satisfeitas pelo Estado. Pois, há necessidades que o
homem por si só pode suprir, e outras que tal não é possível.

A Administração Pública deve ser entendida em dois sentidos distintos:

1. Sentido subjectivo, formal ou orgânico – Sistema de órgãos e serviços e agentes do Estado, bem
como das demais pessoas colectivas públicas que asseguram em nome da colectividade a satisfação
das necessidades colectivas de cultura, bem-estar social, de ordem e segurança públicas.

Neste sentido, compreende as pessoas jurídicas públicas;


Os órgãos, funcionários e agentes;
Administração autónoma.

2. Sentido objectivo, material ou funcional – Trata-se do modo de agir, é a actividade que consiste
em tomar decisões e efectuar operações com vista à satisfação regular e contínua de determinadas
necessidades, obtendo para o efeito os recursos mais adequados e utilizando as formas mais
convenientes.

- Antigamente exercia meramente a execução das leis, mas actualmente realiza cada vez mais tarefas
de produção, serviços e planificação económica. Por ex. Artigo 11.º al. f) L. C.

49
Portanto, a Administração Publica é o sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado, bem como
das demais pessoas colectivas públicas, que asseguram em nome da colectividade a satisfação regular
e contínua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar social.

O conceito de Administração Pública é mais amplo do que o conceito de Estado, pois a Administração
pública não se verifica apenas a nível estadual, mas também aos de outras pessoas colectivas públicas
que não fazem parte do Estado, tais como as autarquias locais e as associações públicas.

A Administração Pública prossegue fins e interesses públicos – artigo 4.º do Decreto-Lei 16A/95 de
15 de Dezembro; Para prosseguir o interesse público, precisa de estar dotada de alguns poderes de
autoridade. Daí que esteja dotada de recursos prerrogativas que possibilitam às organizações
administrativas públicas imporem as suas decisões aos particulares através de regulamentos e actos
administrativos, mecanismos típicos de manifestação de poder de supremacia das colectividades
públicas em face dos particulares.

.
10.1.2: Função estaduais (legislativa, jurisdicional e administrativa)

Já mais atrás falamos sobre as funções do Estado que são:

1 – Função legislativa – Trata-se do poder de o Estado, através dos seus órgãos competentes criar e
promulgar leis.

2 – Função jurisdicional ou judicial – É o poder de o Estado submeter a julgamento todas as questões


ligadas a litígios e outras que visam prevenir e sancionar os actos anti sociais, através dos tribunais.

3 – Função política ou governamental – consiste na execução da Lei com vista a satisfação das
necessidades colectivas através do Governo.

A função política ou governamental & a função legislativa

Ocupando-nos da terceira função, enquadramos a função administrativa a qual, além de se submeter


à lei, realiza em concreto o interesse geral definido pela política. Diz-se por isso, que a Administração
desempenha funções de execução de políticas decididas por órgãos de representação política.

Enquanto o objecto da política é o de traçar as grandes opções de um determinado país, a


Administração tem a incumbência satisfazer as necessidades colectivas de que já fizemos menção em
lições anteriores.

A função política é primária e livre, estabelecendo e escolhendo livremente os fins, por isso se diz
que tem natureza inovadora, pois é uma função auto-criativa.

A centralização e descentralização administrativa de um estado é determinada através da função


política.

A função legislativa é o fundamento, critério e o limite de toda a actividade administrativa (princípio


da legalidade administrativa – artigo 3.º Decreto-Lei 16A/95, sobre as Normas de Procedimento

50
Administrativo). A função legislativa visa tão-somente definir em abstracto quais as necessidades da
colectividade e como satisfaze-las, Cabendo à Administração executa-las.

A função administrativa & a função judicial

Têm EM comum o facto de ambas serem actividades secundárias, executivas e subordinadas à lei.
Todavia, há grandes diferenças:

- A actividade dos tribunais consiste em resolver em concretos litígios jurídicos, esperando que
aqueles tenham conflitos se socorram aos mesmos.
- A actividade da Administração Pública consiste em gerir de modo a satisfazerem os interesses
colectivos que lhe são confiados.

- A função judicial traduz-se na aplicação do direito na resolução dos litígios – apenas intervém em
caso de conflitos.
- A administração age por iniciativa própria, livre de qualquer contestação. Para a administração, o
direito constitui um limite, ma não um fim. Age no quadro do direito, mas apenas para fazer respeitar
o direito (sentido de oportunidade e competência técnica).

- Há casos em que estas funções se cruzam - a administração pode praticar actos jurisdiciona lizados
– são os casos de certas decisões punitivas (pena disciplinar) ou julgar recursos hierárquicos.

- Ao nível dos tribunais há actos, há actos que se assemelham aos da administração, por ex.
Nomeação, suspensão ou exoneração de um funcionário administrativo pelo Presidente do Tribunal
Supremo.

As funções do Estado, na nossa Constituição (Lei n.º 23/92 de 16 de Setembro), estão consagradas,
entre outros, nos seguintes artigos: 89.º e 90.º; 56.º 66.º, 105.º e 114.º; 110.º e 120.º, 132.º e 134.º

Do exposto, nota-se que a Constituição utilizou um critério material e não meramente orgânico-
formal na delimitação das várias funções do Estado. O que importa é o conteúdo das actividades e
não tanto o órgão promotor.

10.2: Princípios de organização administrativa;

O Direito Administrativo, obedece a princípios ou enunciados expressos pela Lei que influenciam a
sua estruturação e funcionamento.

Os referidos princípios e normas de concretização constitucional são sempre aplicáveis, a toda e


qualquer tipo de actividade (de gestão pública, privada ou mesmo de índole técnica).

O Decreto-lei 16A/95 é um dos diplomas que prevê alguns princípios administrativos, normas
materiais sobre a actividade administrativa, que regulam o acto administrativo e o regulamento e
algumas normas processuais.

Vamos agora falar dos referidos princípios previstos quer no diploma supra referenciado, quer na Lei
Constitucional e na doutrina jurídica predominante.

10.2.1: O princípio da prossecução do interesse público;

51
A administração e a sua estruturação dependem da lei. Procura satisfazer, na sua actividade interesses
públicos, os quais são determinados pelo poder político – artigo 1.º da Lei 17/90 e artigo 4.º Decreto-
lei 16A/95.

A administração tem como único fim a o interesse público, e não interesses particulares, sejam
lucrativos ou não. É provável que algumas entidades privadas realizem actividades de utilidade social,
o que não significa prossecução de fins públicos.

10.2.2 Princípio da legalidade quanto às atribuições e competência.

A administração pública tem como limite, critério e fundamento a lei. A actuação dos órgãos e agentes
administrativos tem limite, significando que só devem actuar segundo e no estrito termo da lei, artigo
54.º al. b) e n.º e do artigo 1.º da Lei 17/90.

Trata-se de um princípio que enforma toda ordem jurídica. A obediência a lei, significa obediência
ao direito no seu todo (bloco de legalidade).

A lei não funciona meramente como um limite externo (regra da compatibilidade), mas, também é
necessário que a organização da actividade administrativa sejam conforme à lei (regra da
conformidade).

Relativamente às competências da administração, fazendo uma interpretação constitucional, resultam


dois subprincípios:
a) Princípio da unidade da constituição - O direito constitucional deve ser interpretado de forma a
evitar contradições entre a sua norma, relativamente aos seus princípios estruturante (democrático,
autonomia local, independência dos poderes).

b) Princípio de efeito integrador – Na resolução de problemas jurídico constitucionais deve dar-se


primazia aos pontos de vista que favoreçam a integração política, social e o reforço da unidade
política.

Ao criarem-se os órgãos, são definidas, no respectivo diploma, as atribuições e competências. Daí


que se estabeleça o princípio de que é sempre a lei que fixa a competência dos órgãos da
Administração Pública.

10.2.3 Princípio participativo na gestão da Administração

Trata-se de uma das mais importantes conquistas dos estados modernos no âmbito da actividade
público – administrativa.

Consiste no poder reconhecido aos particulares de participarem, de diversos modos no exercício da


actividade administrativa (artigos 8.º, 27.º e 52.º do Decreto-Lei 16A/95, de 15 de Dezembro). Por
ex. Direito a audiência prévia dos interessados – artigo 33.º.

Os cidadãos não devem participar na vida administrativa somente através de eleições dos respectivos
órgãos, mas devem também fazê-lo intervindo no funcionamento diário da Administração. (n.º do
artigo 3. E artigos 10.º, 28.º, 30.º, 50.º e 90.º, al k). º Da L.C e Decreto-Lei 16A/95 – artigos 8.º e
27.º).

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Exemplo, colaboração dos particulares, a audiência dos interessados para se pronunciarem acerca de
qualquer questão, direito à informação sobre o andamento dos seus processos em que sejam
directamente interessados.

A participação do interessado pode assumir diversas funções:


Função consultiva com carácter acidental ou pontual; Modo regular e permanente no processo de
tomada de decisões administrativas; Possibilitar aos interessados o exercício autónomo, tomando
decisões e executando funções administrativas como é o caso das ordens profissionais;
Possibilitar ao particular participar no processo de decisão que lhe diz respeito.

10.2.4 - O princípio de direcção individual e da responsabilidade pessoal;

Este princípio refere-se aos órgãos administrativos singulares. Os titulares dos referidos órgãos são
os primeiros responsáveis e respondem individualmente pela actuação dos órgãos que dirigem.
Aqueles que lideram um órgão respondem pelo sucesso ou insucesso do mesmo.

10.2.5: O princípio da desconcentração;

A desconcentração, em termos administrativos, é aquele modelo em que se permite que determinadas


entidades exerçam determinadas funções ou poderes.

Isto sucede por razões de descongestionamento ou outros motivos;


Tais instituições adquirem tais poderes de forma originária ou derivada.

Na estruturação de órgãos da mesma pessoa colectiva pública deve existir uma repartição de
competências entre superiores hierárquicos e subalternos. A administração é desconcentrada quando
aos órgãos inferiores são conferidos poderes decisórios. Por conseguinte, a administração deverá
desconcentrar-se.

A operacionalidade deste princípio no nosso ordenamento jurídico assenta na repartição de poderes


funcionais no interior de uma pessoa colectiva pública, partindo-se do topo à base ou aos órgãos a si
imediatos.

10.2.6: O princípio da descentralização;

A prossecução dos interesses colectivos de uma sociedade não deve apenas caber ao Estado. Trata-
se de uma posição defendida nos tempos modernos.

O Estado admite e reconhece a existência de outros entes públicos com plena eficácia de satisfazer
as necessidades da colectividade. Sendo assim, deve, tem de haver uma premente necessidade de
descomprimir o Estado, para que haja outras pessoas colectivas pública que possam prosseguir fins
colectivos.

A administração Pública deve ser centralizada, recusando por isso, qualquer política que venha a ser
executada no sentido centralizador. Por outro lado, o legislador ordinário não poderá optar soluções
centralizadoras, por. Ex. Retirar funções dos órgãos locais para os órgãos centrais.

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Na desconcentração verifica-se uma repartição de poderes, na descentralização preconiza-se a
repartição de fins.

10.2.7: O princípio da aproximação dos serviços às populações;

Significa que a administração deve ser estruturada de tal forma que os seus serviços se localizem o
mais próximo possível junto das populações que visam servir.

Este princípio obriga tanto possível, instalar geograficamente os serviços públicos junto das
populações a que eles se destinam. A aproximação que se exige não é apenas geográfica, mas também
psicológica e humana, no sentido de que os serviços devem multiplicar os contactos com as
populações e ouvir os seus problemas, as suas propostas e as suas queixas.

10.2.8: O princípio da decisão

- É um dos principais princípios administrativos

- Consiste no seguinte:

A administração pública deve pronunciar-se sobre as petições que lhe sejam apresentadas pelos
particulares, uma vez que estes dispõem de um direito fundamental que é a petição. É através da
decisão que a administração dialoga com os particulares. É tão importante que evita o acto tácito, e
obriga a administração a dar seguimento e resposta em tempo útil, a petições, requerimentos,
reclamações ou queixas de particulares.

10.8.9: Princípio da desburocratização ou não formalismo

- Aponta Para a eficiência das decisões administrativas, a celeridade, a economia de meios e melhor
ajustamento dos meios aos fins. Tal princípio visa evitar estruturas complexas e distanciamento
excessivo entre a administração e os administrados. Opõe-se a procedimentos demasiado longos,
lentos, não vocacionados para as decisões céleres e perniciosas.

10.3: Elementos da organização administrativa

A organização administrativa deve basear-se nos elementos políticos, económicos, jurídicos e


filósofos e cultural uma determinada sociedade. A administração Pública deve actuar segundo a
orientação política, os contornos jurídicos e, naturalmente, segundo os interesses económicos e o
estádio de desenvolvimento económico de um País.

10.3.1: As pessoas colectivas públicas e os serviços públicos

Pessoas Colectivas - São organizações constituídas por uma colectividade de pessoas ou por uma
massa de bens, dirigidos à realização de interesses comuns ou colectivos, às quais a ordem jurídica
atribui personalidade jurídica;

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Serviços Públicos – São estruturas administrativas criadas com a finalidade de preparar e executar as
decisões dos órgãos da pessoa colectiva pública a que pertencem.

10.3.2: Conceito de cada um dos elementos.

Pessoas colectiva Públicas

Para se definir o conceito de pessoa colectiva impõe-se referir aos critérios combinados da criação,
do fim e da capacidade jurídica.

Características:

São criadas por iniciativa pública – porque são produto de uma decisão pública por. Ex. Institutos
criados pelo Governo; Asseguram a prossecução necessária de interesses públicos que é a sua razão
de existência; São titulares em nome próprio, de poderes deveres públicos.

Espécies de pessoas colectivas: Estado, Institutos Públicos, Empresas Públicas, Associações Públicas,
Autarquias locais, autoridades tradicionais.

Podem ser agrupadas em cinco categorias:

Pessoa colectiva pública:

De substrato territorial – por. Ex. Autarquias locais e o Estado;


De substrato institucional – Institutos públicos;
De substrato empresarial – (Sonando) ou patrimonial (ENSA) – São as empresas públicas, as quais
têm geralmente finalidade lucrativa;
De substrato associativo – Associações públicas, por. Ex.: A ordem doa Advogados, a ordem dos
Médicos, ordem dos Engenheiros, etc.
De substrato cultural, por ex. As autoridades tradicionais. – Tratam-se de estruturas organizarias que
se consolidaram com o tempo, existem antes do Estado e são fruto da realidade histórica, cultural,
sociológica e antropológica, próprias das realidades sociais em que se inserem fundamentalmente nos
países africanos.

As autoridades profissionais são de extrema importância, pelo facto de pré-existirem ao estado e


exercerem administração lá onde o estado ainda não tenha chegado, por outro lado auxilia a
administração p. e. Na determinação do senso populacional, registos, falecimentos, educação,
construção e manutenção de infraestruturas sociais, execução de determinados programas.

Regime jurídico das pessoas colectivas públicas,

Criação e extinção – São criadas e extintas por decisão pública. Não têm o poder de se dissolver, nem
sequer sujeitas à falência ou à insolvência;

Capacidade jurídica de direito privado e património próprio – Nas relações com os privados, agem
despidos do poder de soberania, como se de entes privados se tratassem.

Capacidade de direito público – São titulares de poderes e deveres públicos. Só os entes públicos têm
o poder de tributar, expropriar e regulamentar, pois o mesmo não se aplica aos privados.

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Autonomia Administrativa e financeira - Consubstancia-se na autorregulação administrativa e
financeira própria, reconhecendo-se-lhes o autofinanciamento e gestão administrativa própria,
relativamente a outros entes;

Isenções fiscais - Traduz-se na isenção de tributação fiscal;

Direito de celebrar contratos administrativos – por serem entes públicos, têm direito de celebrar
contratos administrativos;

Titularidade de bens do domínio público e privado;

Submissão dos seus servidores ao regime da função pública (funcionários públicos) – e não ao
contrato individual de trabalho, com excepção das empresas públicas em que os seus funcionários
não se submetem ao regime da função pública, regendo-se por isso por um contrato do trabalho (art.º.
50.º da Lei 9/95, sobre as empresas públicas);

Responsabilidade Administrativa – Podem responder nos termos da legislação própria do direito


administrativo e não nos termos do direito comum. As empresas públicas estão sujeitas à
responsabilidade civil – art. 49.º da Lei 9/95.

Sujeição à tutela administrativa – a sua actuação está sujeita à tutela administrativa do Estado, que
nuns casos pode revestir-se de legalidades e noutros de mérito;

Foro administrativo – Os diferendos surgidos nas relações materiais controvertidas são da


competência dos Tribunais Administrativos;

Sujeição à fiscalização do Tribunal de contas – As contas das pessoas colectivas públicas estão
sujeitas à fiscalização do tribunal de contas.

10.3.2.1: Órgãos da Pessoa Colectiva Pública

As pessoas colectivas públicas são movimentadas pelos órgãos – que são aqueles a quem compete
preparar e manifestar a vontade do ente público ou controlar essa manifestação.

Há uma querela que tem como base saber quem são os órgãos:

a) Natureza subjectiva – considera que os órgãos são as instituições e não os indivíduos. O indivíduo
é tão só o titular do cargo. Defendida principalmente por Marcelo Caetano, o qual distingue órgão de
titulares de órgãos. Órgão – é o centro de poderes funcionais, é uma instituição e o titular do órgão
é o indivíduo que exerce esses poderes funcionais. Pois o indivíduo não é eterno, podendo exercer
funções noutro órgão.

b) Natureza objectiva - expressa que os órgãos são os indivíduos e não as instituições.


Se cabe ao órgão tomar decisões em nome da pessoa colectiva a que pertence, é claro que o órgão
tem de ser o indivíduo porque só indivíduo podem manifestar uma vontade.

c) Natureza Eclética – Defende o acolhimento quer da vertente objectiva, quer da vertente subjectiva
para a caracterização do órgão.

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Nem uma nem outra é exclusivamente correta. Por isso deve-se seguir as duas orientações para se
ter uma noção completa da realidade global.

Na perspectiva da organização administrativa - a dimensão subjectiva é onde se analisa a estrutura


da administração Pública – os órgãos são as instituições. No que diz respeito à organização
Administrativa – O órgão será o indivíduo, porque são os indivíduos que decidem em nome e por
conta da pessoa colectiva pública.

Classificação dos órgãos:

1. Órgãos centrais (estendem os seus poderes em todo território) e órgãos locais (têm competência
apenas numa parcela); 2. Superiores (Órgãos de decisão) e Subalternos (Cumpre, executam as
decisões dos órgãos superiores); 3. Órgãos Primários (tem competência própria para decidir em
certas matérias), Secundários (Que têm competência delegada) e órgãos vicários (só exercem
competência por substituição – por ex. O vice- presidente de um órgão) ; 4. órgãos eletivos (exercem
o cargo por nomeação) e nomeados (são designados por nomeação); 5. órgãos activos (aqueles que
tomam decisões e executam); consultivos (esclarecem os órgãos activos antes de tomarem decisões)
e de controlo (fiscalização o funcionamento de outros órgãos); 6. órgãos permanentes (funcionam
com duração indefinida), temporários (funcionam durante um certo tempo); 7. órgãos
singulares(composto por apenas um titular) e colegial (composto por mais de um titular).

Atribuições – São os fins ou interesses que a lei incumbe as pessoas colectivas de prosseguir;
Competências – São o conjunto de poderes funcionais que a lei confere para a prossecução das
atribuições das pessoas colectiva.

Serviços Públicos

Já dissemos atrás que os serviços públicos - São estruturas administrativas criadas com a finalidade
de preparar e executar as decisões dos órgãos da pessoa colectiva pública aa que pertencem.

A criação dos serviços públicos são efectuadas por lei e estão sujeitos à livre modificação do seu
regime de organização e escopo, no âmbito da definição do interesse geral pelo poder público. Os
serviços públicos ao funcionarem regem-se por normas de direito público, podendo nalguns casos
adoptar o regime do direito privado, nos casos determinados e permitidos por lei.

Classificação e Organização dos Serviços Públicos

Classificação funcional – distinguem-se de acordo com os fins. Serviços de saúde, educação, cultura,
ambiente, etc.
Classificação Estrutural – Serviços principais, serviços de apoio, serviços financeiros, serviços
executivos, serviços de controlo, serviços operacionais, serviços auxiliares.

Os serviços públicos estruturam-se de acordo com a distribuição horizontal (p. ex. departamentos),
territorial e vertical.

10.4: A Organização Administrativa Angolana

A configuração da organização administrativas angolana apresenta-se fundamentalmente:

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Estatal e directa, com uma composição do executivo cada vez mais crescente, centralização do poder
com alguma desconcentração; Uma administração intervencionista e dirigista. No entanto, a última
alteração da Constituição veio a extinguir o governo como órgão de soberania, sendo o Presidente
da República, formalmente o titular do poder executiva que antes cabia ao governo.

Assim, o conselho de Ministros, que no fundo era o órgão colegial executivo de maior peso na
constituição anterior, passa a ser mero órgão consultivo do presidente da República.

10.4.1: Administração central;

É aquela que pode ser central ou local. A administração central é composta por um conjunto de
órgãos e serviços cuja competência extensiva a todo o território nacional. A administração local
é integrada por órgãos e serviços cuja competência se circunscreve a certas áreas do território
nacional.

10.4.2: Órgãos do estado - Órgãos da administração directa

10.4.2.O Presidente da República

É um órgão político e administrativo; O estatuto administrativo do Presidente da


República.

Pratica actos administrativos, incluindo a nomeação dos funcionários superiores da administração


militar, os juízes presidentes dos antigos tribunais, com poderes próprios, e por isso toma iniciativa
para escolher quem entender para os lugares em causa.

Preside o conselho de Ministros artigo 134.º, o que é muito importante dirige a formação da vontade
política e administrativa do P. r. como titular do poder executivo, artigo 120.º da L. Pois, a ele
compete, em termos administrativos:

a) Definir a orientação política do país; b) Dirigir a política nacional; c) Submeter à Assembleia


Nacional a proposta de Orçamento Geral do Estado; d) Dirigir os serviços e a actividade da
Administração directa do Estado, civil e militar, superintender a Administração indirecta e exercer a
tutela sobre a Administração autónoma; e) Definir a orgânica e estabelecer a composição do Poder
Executivo; f) Estabelecer o número e a designação dos Ministros de Estado, Ministros, Secretários
de Estado e Vice-Ministros; g) Definir a orgânica dos Ministérios e aprovar o regimento do Conselho
de Ministros; h) Solicitar à Assembleia Nacional autorização legislativa, nos termos da presente
Constituição; i) Exercer iniciativa legislativa, mediante propostas de lei apresentadas à Assembleia
Nacional; j) Convocar e presidir às reuniões do Conselho de Ministros e fixar a sua agenda de
trabalhos; k) Dirigir e orientar a acção do Vice-Presidente, dos Ministros de Estado e Ministros e dos
Governadores de Província; l) Elaborar regulamentos necessários à boa execução das leis.

O Conselho de Ministros como já se disse mais atrás, a ele, é reservado um estatuto de órgão auxiliar
do Presidente da República e não do governo, na formulação e execução da política geral do País e
da Administração Pública.

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O Conselho de Ministros é presidido pelo Presidente da República45 e é integrado pelo Vice-
Presidente, Ministros de Estado e Ministros. Os Secretários de Estado e os Vice-Ministros podem ser
convidados a participar das reuniões do Conselho de Ministros. Felizmente, as suas competências
derivam da própria Constituição, não sendo remetido a diploma legal ordinário de Iuri condendo46.
O conselho de ministros tem como competência, pronunciar-se sobre:
a) A política de governação, bem como a sua execução;
b) Propostas de lei a submeter à aprovação da Assembleia Nacional;
c) Actos legislativos do Presidente da República;
d) Instrumentos de planeamento nacional;
e) Regulamentos do Presidente da República necessários à boa execução das
leis;
f) Acordos internacionais cuja aprovação seja da competência do Presidente
da República;
g) Adopção de medidas gerais de execução do programa de governação do
Presidente da República;
h) Demais assuntos que sejam submetidos à apreciação pelo Presidente da
República.
5. O Regimento do Conselho de Ministros é aprovado por decreto presidencial.

10.5.1: Divisão administrativa local (municípios e comunas bairros ou povoação).

A administração local do Estado a princípio assenta em três elementos:

Divisão do território:
Os órgãos locais do Estado;
Serviços locais do Estado.

Divisão do território - é o fraccionamento de parcelas do território em zonas ou áreas , tendo em


vista a definição de competências dos órgãos e serviços locais do Estado em função do âmbito
territorial limitado; A cada zona ou área chama-se circunscrição administrativa; Os órgãos locais
do Estado são centros de decisões dispersos por pelo território nacional habilitados por lei a
resolverem assuntos administrativos em nome do Estado, nomeadamente face a outras entidades
públicas e aos particulares em geral.

Os órgãos locais do Estado; - São os órgãos da Pessoa Colectiva Estado - que na dependência
hierárquica do Governo, exercem uma competência limitada a uma certa circunscrição administrativa.
Não são órgãos autárquicos, mas órgãos que integram a administração local do Estado.

45 Na constituição anterior, era o órgão principal da Administração do Estado – art.º 105.º da L.C. É órgão a quem é
confiada a tarefa administrativa no domínio administrativo. Por se tratar de um órgão colegial (composto por mais de um
titular) e solidário, a definição das linhas gerais da política é feita em conselho de Ministros e, de pois de definidas, todos
os membros do governo são co-responsáveis, independentemente da sua responsabilidade individual; O conselho de
ministros é órgão colegial constituído pela reunião dos ministros do Estado, sob a presidência e condução do Presidente
da República, ao qual competia desempenhar as funções políticas, legislativas e administrativas que a Constituição e não
só lhe atribuíam.
46
Por ser aprovado.

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- Esses órgãos locais com poderes funcionais denominam-se magistrados administrativos, que são
órgãos que nas respectivas circunscrições administrativas desempenham a função de representantes
do Governo para fins de Administração geral e Segurança pública.

- As funções desses órgãos normalmente são de representação do Governo/Poder central; velar pelo
cumprimento da Lei e manutenção da ordem pública; exercer a tutela administrativa. Também podem
tomar decisões em nome do Estado, pois não são meros agentes sem competência própria.

- Depois da independência, a designação desses magistrados tem variado, por causa da dinâmica
política, pois no período em que vigorou o sistema socialista, estes denominavam-se Comissários
Provinciais, Municipais ou Comunais e actualmente designam-se Governadores ao nível provincial,
e administradores ao nível municipal e comunal.

- Tal como os Governadores, os administradores exercem verdadeiros poderes efectivos, mas sujeitos
ao poder de direcção, de supervisão de inspecção e disciplinar do Governo Central por serem órgãos
desconcentrados.

- O governador Provincial é o órgão que representa na respectiva província o governo e o Presidente


da República; é a quem compete dirigir a governação e assegurar o normal funcionamento dos órgãos
administrativos locais.

- E responsável pela actuação perante o Presidente da República 47. Mas a prática tem indicado
que esta subordinação é mais forte em relação ao Presidente da República. Em relação aos ministérios,
talvez o Ministério da Administração do Território. Os Governadores Provinciais são nomeados e
exonerados pelo Presidente da República.

- A composição do Governo provincial é regulada pelo Decreto-Lei 17/99 de 29 de Outubro


O governo da província é integrado pelo Governador da Província, Vice-Governadores, o Diretores
e Delegados Provinciais e os Administradores Municipais.

- O Governador e os Vice-Governadores tomam posse perante o Presidente da República, enquanto


os Administradores, o delegado e Directores perante o Governador respectivo.

c) Serviços locais do Estado – Estão previstos no Decreto Lei supra referenciado.

- O Governo Provincial é o seu órgão de direcção e compete-lhe assegurar as deliberações do


Conselho de Ministros e orientar o desenvolvimento económico e social e organizar a prestação de
serviços comunitários às populações assentando a sua actividade no trabalho com a administração
municipal e comunal, comas delegações e direcções provinciais dos órgãos centrais da administração.

- Os serviços do governo provincial enquanto órgão da administração local, compreendem, em regra:


Um vice-Governador para o Sector Económico; Um vice-Governador para o Sector Social, Um
Gabinete do Plano; Um gabinete técnico, Um Gabinete do Governador provincial, o qual integra um
departamento para os recursos humanos; um departamento para o apoio social; as Direcções e
Delegações provinciais.

Na magna lei anterior, era duplamente responsável pela sua actuação diante do governo e do Presidente da
47

República. Mas a prática indicava que esta subordinação é mais forte em relação ao Presidente da República.

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- O mesmo Governo Provincial, enquanto órgão da administração local para as questões
comunitárias , compreende ainda um : Um Vice-Governador para a organização e serviços
comunitários,; uma direcção provincial para os serviços de limpeza, higiene e saneamento, uma
direcção provincial para as águas, obras e construções locais; uma direcção provincial para os
mercados e serviços funerários; um departamento para fiscalização e controlo e um departamento
de transporte e abastecimento técnico material.

- Ainda entre as funções do governo provincial destacamos, elaboração de projectos anuais, do


plano de actividades e do projecto do orçamento regional, incluindo todos os órgãos públicos
actantes na província, supervisão das actividades das empresas públicas; funções de segurança do
Estado, controlo da actividade económica (finanças, banca e comércio); coordenação e a execução
da área de transportes e comunicação; indústria, construções, saúde, educação, cultura e fomento
agropecuário.

- O grau de influência das províncias nestas actividades está relacionado directamente à personalidade
e ao peso político dos respectivos governadores. Na esfera das funções ligadas à administração dos
serviços locais adiantamos o saneamento, a limpeza e embelezamento urbano, direcção das tarefas
ligadas à aquisição de meios rolantes, reparação e manutenção de passeios, recolha e tratamento de
lixos, construção e manutenção de cemitérios e mercados

A ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

A Administração Municipal que corresponde (173) cento e setenta e três municípios e que são
simultaneamente órgãos representativos do poder central (através dos Administradores provinciais),
compreendem o Administrador Municipal, os Vice Administradores e os chefes de secção
municipais. De um modo geral, a sua estrutura de serviços é semelhante à dos governos provinciais

Existem ainda as comunas em número de (532) quinhentas e trinta e duas, cujos poderes são de pouca
expressão, mas tem a sua importância na regulação do direito costumeiro.

10.5.3: Os governos provinciais e administração municipais; natureza, atribuições, organizações e


funcionamento. Os governadores provinciais;
10.5.4: As autoridades locais;

A ACTIVIDADE ADMINISTRATIVA

10.6: Formas da actividade administrativas: regulamento, acto e contrato administrativo;


10.7: Princípios fundamentais da act5ividad3 administrativas.
10.7.1: Princípios da prossecução do interesse público;
10.7,2: Princípio da legalidade;
10.7.3: Princípio da imparcialidade;
10.7.4: Princípio da justiça;
10.75: Princípio da proporcionalidade;
10.7.6: Princípio do mérito e deveres de boa administração;
10.7.7: Princípio da moralidade de administração;

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BIBLIOGRAFIA:

INTRODUÇÃO AO DIREITO 11.ª classe, Isabel Rocha, Carlos José Batalhão e Luís Aragão,
porto editora, 2004 – porto. – Bibliografia principal
Constituição da República de Angola com as alterações introduzidas no ano 2021
Código da Família
Código Geral Tributário e legislação conexa
Lei de Bases do Ambiente
Lei 23/92 de 16 de Setembro - Lei Constitucional da República de Angola
Decreto lei 16-A/95 – Normas de Procedimento Administrativo
Constituição de Angola aprovada pela Assembleia Nacional a 21 de Janeiro de 2010 e Promulgada
pelo Presidente da República aos 5 de Fevereiro de 2010.

Sites:
www.altavista.com
www.google.com
www.wikipedia.org
www.angonotícias.com
www.comissãoconstitucional.ao

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