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1. O Direito do Trabalho
1.1. O contracto individual de trabalho
O contracto de trabalho rege-se pela lei nº 7/15 de 15 de Junho, denominada lei Geral do Trabalho
(LGT). Esta lei consagra as relações laborais, entre privados, na República de Angola.
Em relação à administração pública, a relação jurídico-laboral é definida em diplomas próprios.

1.2. Noção legal do contracto de trabalho e outros elementos essências.

Noção: o contracto de trabalho é aquele pelo qual um trabalhador se obriga a colocar a sua
actividade profissional à disposição dum empregador dentro do âmbito da organização e sob direcção
e autoridade deste, tendo como contrapartida uma remuneração.

1.3. Constituição da relação Jurídico- Laboral

Nos termos do artigo 10º da LGT, «a relação jurídico-laboral constitui-se com a celebração do
contracto de trabalho e torna mutuamente exigíveis os direitos e os deveres do trabalhador e do
empregador que são as partes do contracto.
Modalidades
O art.º 11º prevê as seguintes relações laborais de caracter especiais, respeitantes as seguintes
modalidades de trabalho:
Trabalho doméstico;
Trabalho prisional;
Actividades desportivas profissional;
Actividades artísticas em espectáculo público;
Qualquer outro trabalho que por lei seja declarado como relação jurídico-laboral de caracter especial.

1.4. Objecto; os sujeitos, a retribuição e a subordinação e outros elementos do contracto de


trabalho.

Para entender melhor a noção de contracto de trabalho passamos a analisar os seguintes elementos
indentificadores:
Os sujeitos:
São sujeitos do contracto de trabalho e da relação jurídico-laboral o empregador e o trabalhador (art.º
12º da LGT).
A entidade patronal pessoa física ou colectiva;
O trabalhador – pessoa física.
O objecto
«O contracto de trabalho confere ao trabalhador o direito a ocupar um posto de trabalho com
conformidade com a lei e as convecções colectivas de trabalho» (art.º 14 nº 1 da LGT).
Implica uma prestação de uma actividade pelo trabalhador, seja essa actividade intelectual (por ex. um
professor), ou seja, física (por ex., um operário da construção civil).
Retribuição
É, no entanto, um contracto oneroso, ou seja, é uma actividade prestada mediante retribuição. A
retribuição ou a contrapartida da actividade desenvolvida é imprescindível.
Subordinação Jurídica:
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Há uma subordinação Jurídica do trabalhador à entidade patronal, ou seja, o trabalhador está sujeito à
autoridade e direcção da entidade patronal.
A subordinação jurídica consiste em a entidade patronal poder de algum modo orientar a actividade
em si mesma, quanto mais não seja no tocante ao lugar ou momento da sua prestação;1

1.4.1. Características do contracto do trabalho

Caracter sinalagmático
Há um nexo de casualidade entre as obrigações assumidas pelas partes, ou seja:
Sinalagmático genético: o trabalhador quando assume a obrigação assume-a porque há reciprocidade
(= a retribuição).
Sinalagma funcional – cumprimento do contracto de trabalho. Todo contracto vai ser cumprido
em termos de reciprocidade.
O sinalagma pode ser quebrado. É o caso típico das faltas justificadas, onde se mantém o direito
à retribuição.

Caracter consensual
O contracto de trabalho não está sujeito a forma especial para ser válido e eficaz ( 15º da LGT).
Há excepções:
➢ O contracto de trabalho com trabalhadores estrageiros e apátridas tem de ser reduzido a escrito
(art.º 15 nº 5);
➢ Os contractos de aprendizagem e de estágio devem ser celebrados por escritos (art.º 24º da LGT).
➢ O contratou de trabalho no domicílio deve ser reduzido a escrito (art.º 27º da LGT)

Caracter duradouro
As prestações do contracto de trabalho pressupõe uma execução repetida.
Satisfaz os interesses do empregador – o trabalhador integra-se melhor na organização empresarial
com a necessidade permanente de mão-de-obra, e satisfaz os interesses o trabalhador -a estabilidade.

Caracter oneroso
Cada uma das partes faz uma atribuição à outra parte.
Carácter pessoal
Não se pode substituir por terceiro na prestação do contracto, ou seja, o trabalhador não poe
transmitir a sua posição aos herdeiros, mas já pode transmitir os créditos devidos pela entidade
patronal.

Carácter fiduciário
Há uma relação de confiança e colaboração entre as partes (o trabalhador e o empregador) no
contracto de trabalho. Pressupõe-se aqui valores como a honestidade, confidencialidade, lealdade. Esta
relação varia consoante a posição do trabalhador na empresa, ou seja, esta relação varia com as funções
do trabalhador.

Contratualidade

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Galvão Teles
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O contracto de trabalho (negócio jurídico bilateral).


No plano genético, podemos dizer que é pelo contracto de trabalho que surgem as obrigações
recíprocas.
No plano funcional, é pelo contracto de trabalho que surge a relação laboral. No plano normativo,
o contracto de trabalho é lei entre as partes.

1.5. O trabalhador: deveres e garantias do trabalhador, Direitos dos Trabalhadores

Deveres e garantias do Trabalhador.

Nas matérias referentes aos deveres dos trabalhadores, encontramos vários artigos espalhados
na LGT. No que concerne aos direitos acima referidos, o artigo 8º elenca os seguintes:
a) O cumprimento das obrigações laborais;
b) Observância da disciplina, disciplina, deontologia e civilidade no local de trabalho;
c) A aptidão, preparação e superação profissional contínua.
Neste seguimento, entende-se que, para além do cumprimento dos deveres atinentes ao contracto
de trabalho propriamente dito, o trabalhador deverá constantemente ir a busca destes elementos para
a sua contínua prestação de trabalho com a maior satisfação possível, pois porque, na falta destas
qualificações, poderão consignar-se como elementos bastantes para a ruptura da relação contratual com
a entidade patronal.
Par além dos deveres acima indicados, o artigo 44º da LGT, faz uma enumeração taxativa e extensa
do conjunto dos deveres que o trabalhador deverá observar durante o seu vínculo jurídico-laboral com
a entidade empregadora. Assim descrevemos algumas:

Garantias do Trabalhador
A relação jurídico-laboral em si, já é bastante complexa, contudo, não estão só previstos deveres
para os trabalhadores, mas também estão previstos direitos. De modo geral, existem os direitos que
são considerados como os fundamentais dos trabalhadores, previsto no artigo 7º da LGT, isto é: a)
a liberdade sindical e consequente direito à organização e o exercício da actividade sindical; b) o
direito a negociação colectiva; c) o direito à greve; d) o direito e de reunião de participação na
actividade social da empresa;
Alem dos direitos fundamentais previstos no art. 7º os trabalhadores também têm de forma
abrangente um conjunto de direitos previstos no artigo 43º da LGT.

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Poderes do empregador

como vimos acima, entre o trabalhador e a entidade empregadora, estabelece-se um vínculo jurídico
laboral, que obriga as partes a cumprirem com determinadas obrigações. Nestes requisitos, também
vimos que, o trabalhador, conforme o definido, é a parte que, de acordo com uma certa
contrapartida, aceita submeter o seu trabalho a entidade empregadora. Assim, de modos a
controlar a actividade exercida pelo trabalhador, bem como fazer cumprir os pressupostos
acordados no contracto com o trabalhador, a lei confere ao empregador, um conjunto de poderes
que a baixo descrevem-se:

A relação Individual de Trabalho

A formação dos Contractos

Noções gerais
O contracto de trabalho é um contracto consensual, pois não está sujeito a qualquer formalidade,
excepto nos casos previstos na lei (art.º. 15º da LGT). O contracto de trabalho forma-se a partir de
duas declarações negociais: a proposta e a aceitação.
A proposta e aceitação por escrito têm lugar quando a lei expressamente imputar essa forma.
Aqui refere-se aos casos dos contractos de trabalhos com os estrageiros, conforme prevê o nº 5 do
artigo 15º, os contractos de aprendizagem 24º e o contracto de trabalho ao domicílio art.º. 27º, todos
da LGT.

Pressupostos subjectivos: a capacidade jurídica:

Para a constituição das relações jurídicas-laborais, existem várias condições que devem ser
observadas de modos que o mesmo tenha o pretexto legal devidamente cumprido e assim, evitar a
sua nulidade ou anulabilidade.
Deste modo, só as pessoas físicas podem assumir a obrigação de trabalhar. A lei estabelece a
idade mínima de 14 anos para a celebração de contracto desde que tenham a autorização dos pais
ou representante legal, na sua falta pelo centro de emprego.
Sendo que nem todos podem celebrar um contracto válido, a incapacidade pode surgir: quando
não houve a autorização dos representantes legais do menor; no caso de interdição por anomalia
psíquica; indisponibilidade.

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Pressupostos Objectivos: a possibilidade física, ilicitude; determinabilidade.


Possibilidade física: para que o contracto seja válido, exige-se que seja fisicamente possível a
actividade prestada.
Só a impossibilidade física originária da prestação pode afectar o contracto de trabalho. Por
vezes a impossibilidade subjectiva originária da prestação também pode afectar a prestação de
trabalho, isso afecta o contracto e em consequência a nulidade do contracto (ex. é caso de um surdo
que compromete desempenhar as funções de telefonia.

1.5.1. Categoria e função


A categoria do trabalhador é uma designação abreviada que exprime o género de actividade
para que fora contratado, por ex. jardineiro. O trabalhador que exerce uma função que posiciona
como elemento activo da organização.
Normalmente, as funções correspondentes às categorias estão predeterminadas nas convecções
colectivas de trabalho. Mas na impede que a própria empresa, enquanto titular de uma organização
de trabalho, aplique internamente o seu próprio critério de classificação de funções. A convenção
colectiva do trabalho é uma norma reguladora das relações e trabalho, que define os direitos e
obrigações que se inscrevem nos contractos individuais de trabalho.

Licitude: por vezes o trabalho prestado por uma pessoa física é licito, e também o fim que pretende
atingir também o é, mas é considerado ilícito em alguns aspectos ligados a pessoa do trabalhador, (ex.
uma mulher grávida que não pode trabalhar com substancia tóxicas).
Determinabilidade do objecto negocial: é necessário que o objecto do contracto esteja determinado
para que as obrigações sobre os incidentes possam ser cumpridas.

Elementos acidentais: Termo e condição

Os elementos acidentais do contracto de trabalho podem ser introduzidos por vontade das partes, mas
se não o for não é por isso que se considera incompleto. Sem esses elementos, o contracto continua a
ser válido.
O termo podo ser:
Suspensivo: os efeitos do negócio do negócio jurídico devem produzir-se a partir de um certo momento.

A invalidade do contracto de Trabalho

A falta de capacidade dos sujeitos ou de outros vícios que podem ferir os contractos de trabalho
e vão reflectir-se na sua validade, tornando-se nulo ou anulável.
Enquanto que a nulidade pode ser invocada pelo tribunal a todo tempo, oficiosamente ou a
pedido das partes ou pela inspecção-Geral do Trabalho, anulabilidade só pode ser invocada pela parte
em favor de quem a lei estabelece, dentro do prazo de 6 meses de acordo o nº 7 do artigo 20º da LGT.

Período experimental

No contracto por tempo indeterminado – o período experimental é de 60 dias. As partes podem


aumentar o período de experiência por escrito até 4 meses, tendo em atenção a dificuldade de avaliação,
até 6 meses nos casos dos trabalhos de elevada complexidade.

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Nos contractos por tempo determinado, pode ser estabelecido um período se as partes assim o
entenderem, que deve ser feio por escrito, não excedendo os 15 ou 30 dias. Pois porque o período de
experiência busca determinar por parte do empregador sobre a qualidade do trabalhador, e deste
último, verificar todas as condições laborais, desde os salários e outros meios, o satisfazem ou não.
Durante o período de experiência, qualquer parte pode fazer cessar o contracto, não havendo
lugar qualquer compensação ou indemnização ou apresentação de justificação e sem a obrigação de
avisto prévio.

Tempo e Local do Trabalho


Duração do Trabalho
O período normal de trabalho

Com as devidas excepções previstas na Lei, o período normal de trabalho não pode exceder as
a)44 horas semanais e b) 8 horas diárias, conforme previsto no artigo 95º da LGT. A excepção que se
refere, encontra-se no nº 2 mesmo artigo, sendo que, o período semanal de trabalho pode ser alargado
para mais 54 horas, no caso em que o empregador adopte regime de turnos (…).
O período diário pode ser alargado até 9 horas, nos casos em que, o trabalho seja intermitente
ou de simples presença, e até 10 horas em conformidade com o que prevê al. b) do nº 3 do art.º 95º.

Intervalos e descansos

Os trabalhos nos seus dias normais devem ter interrupção não de 45 minutos para o descanso e
almoço, período este que não pode ser superior a 1 H e 30 minutos.

Regimes de faltas:

A falta é toda a situação de não comparência do trabalhador ao serviço, isto é, no local de


trabalho, independentemente do motivo que a determine.
A LGT, prevê as no seu artigo 143º as faltas justificadas e as faltas injustificadas. Assim sendo,
consideram-se faltas justificadas, aquelas autorizadas pelo empregador, e todas outras que estão
previstas no artigo 145º. E são injustificadas, todas aquelas não autorizadas pelo empregador, bem
como aquelas que o trabalhador não cumpre com as obrigações estabelecidas. Ocorridas as faltas é
possível solicitar a justificação de trabalho nos termos do art.º 144º da LGT.

Consequências das Faltas Injustificadas:


- Perda da retribuição;
- Descontos na antiguidade do trabalhador;
- Infracção disciplinar quando as faltas atinjam 3 dias em cada mês ou 12 dias em cada ano ou quando,
independentemente do número de faltas, causem prejuízos ou riscos graves conhecidos do trabalhador.

Direito ao Repouso: Descanso Semanal; feriados e férias:

O dia de descanso semanal obrigatório é, em regra o domingo (art.º. 119º da LGT). Contudo, este mesmo
artigo esclarece em que situações o dia de descanso deverá deixar de ser domingo.

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O feriado: os feriados obrigatórios são os dias em que, por força da lei, é suspensa a laboração nas
empresas, com o intuito de comemoração de acontecimentos, normalmente notáveis, tanto a nível
religioso, como político cultural, art.º 126º da LGT.

Férias: as ferias são interrupções da prestação de trabalho, concedidas ao trabalhador, que


normalmente são por dias consecutivos, com vista ao repouso, sem preda de qualquer retribuição, art.º
129º da LGT.

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O DIREITO DO AMBIENTE

2.1. Introdução
Não será exagerado chamar de forma repetitiva necessário, para por em prática a protecção de ambiente. Ganha
uma preocupação dominante me toda a humanidade. Trata-se, no fundo, de consciencializar todos e cada um de
nós para urgência de rapidamente invertermos a tendência que se vem verificando para a destruição massiva que
a acção humana exerce sobre o ambiente.
Apesar de, desde, pelo noenos 1948, a União Internacional para a Protecção da Natureza, organização
internacional que em 1954 passou a denominar-se União Internacional/ para a Natureza e dos Recursos Naturais
e que nasceu sob a égide da UNESCO, ter constituído a primeira organização da consciência internacional sobre
este tipo de questões, e, de mais tarde, os movimentos ecologistas terem iniciado, mediante um discurso
revolucionário e radical, a politização da problemática ambiental, o certo é que esta
mos ainda bem longe de ver garantidas a nível mundial, as normas básicas que poderão preservar o "ambiente
global".
As primeiras normas destinadas a prevenir a derrocada ecológica vieram da Organização das Nações Unidas que,
em 1966! aprovou o Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, por via do qual ficou
consagrado um dever de promoção da qualidade do ambiente por parte dos estados. Em 1968 o Conselho da
Europa produz duas declarações, uma sobre a poluição do ar e outra sobre a protecção dos recursos hídricos, e no
âmbito da Organização da Unidade Africana é aprovada a Convenção Africana sobre a Conservação da Natureza.
Em 1972, ainda no seio da Organização cias Nações Unidas realizou-se a primeira conferência mundial sobre as
questões do ambiente, fruto da quase nasceu a Declaração de Estocolmo. Reconheceu-se, então, que a questão
ambiental não respeita a este ou àquele país, a este ou àquele povo, mas a todos os povos do planeta, temos se
salientado que a qualidade de vida (ou a falta dela) das gerações futuras dependia do uso que a geração actual
fizesse dos recursos naturais. A par dessa consciencialização que, pouco a pouco, se vai tornando universal, cada
Estado e cada cidadão vai tomando, de per si, consciência da necessidade vital de se criarem mecanismos
destinados à conservação e defesa dos bens ambientais, não apenas no espaço de cada Estado, mas antes em
termos globais e, portanto, para além das fronteiras de cada país.
Como sucede em todas as áreas em que a intervenção humana interage, o mundo jurídico não podia ficar alheio a
tão candente questão e daí a natural e indispensável "Juridicidade" de que, cada vez mais, a questão ambiental se
envolve e consequentemente a análise que de seguida faremos.

2.2. NOÇÃO DE AMBIENTE


Antes de nos sobre o Direito positivo angolano, deveremos analisar o conceito de ambiente. Carecemos de,
previamente, compreender quais os contornos da realidade com base na qual se constrói o Direito do Ambiente.
Carecemos de saber exactamente o que deve ser tutelado pelo Direito do Ambiente. os conceitos de ambiente são
diversos. Podemos considerar o ambiente como um bem em si mesmo ou pelo contrário, considerar o ambiente
um bem que deve ser preservado apenas enquanto b m de utilidade.
A primeira concepção, usualmente designada por tem como principal esteio a Natureza como um bem em si
próprio, que, como tal, é merecedor de tutela, independentemente e para além da sua capacidade para satisfazer
as necessidades do Homem. O Homem é, nesta concepção, valorado enquanto parte integrante da Natureza,
devendo os bens naturais ser por ele respeitados e conservados, independentemente da sua mediata utilidade para
o Homem.
A segunda concepção tem como acento tónico a utilidade que os bens do ambiente podem proporcionar ao
Homem. Parte-se da consideração que os bens da Natureza têm essencialmente sentido enquanto meios de o
Homem satisfazer as suas necessidades vitais e de lhe proporcionar conforto e bem-estar. Nessa perspectiva
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interessará ao Direito do Ambiente criar normativos que regulem as condições em que o Homem pode aproveitar
os bens ambientais, sendo o valor destes proporciona! à utilização que os mesmos podem proporcionar ao Homem.
Todo o direito é, em princípio, na medida em que tem como valor essencial o Homem e a sua actividade solitária
ou integrada no meio social em que se insere. A partida, por isso, o Direito do Ambiente coaduna-se mais
facilmente com a segunda concepção. Há, porém, que ter presente que, consoante a concepção que o legislador
abraçar, diferem forçosamente os elementos que, integrando a Natureza, merecem a tutela do Direito do Ambiente.
No caso de se entender que o que interessa é tutelar o ambiente enquanto proporcionador de utilidades para o
Homem, ou seja, enquanto bem para o Homem, então, merecem a tutela do Direito todos os bens naturais que
gozem desse atributo. Pelo contrário, se o entendimento de ambiente for o de que este é um bem em si mesmo,
interessar-nos-á apenas reger juridicamente os bens ambientais em si mesmos (independentemente de
satisfazerem ou não as necessidades do Homem), isto é, todo o componente por outro lado haverá que distinguir
três definições de ambiente.
Uma ampla que considera nele incluídos, não só os bens da Natureza, como a fauna, a flora, a água e o ar, mas
também os bens culturais, como o património monumental e natural e a paisagem. O ambiente é neste ecossistema
ás enunciada o conjunto de recursos naturais renováveis, e pelas actuações do Homem que têm a Natureza como
suporte ou renováveis com as suas interdependências. Nesta vertente o ambiente reduz-se aos componentes
ambientais naturais, isto é, a todos os de cuja existência depende, em última análise, a subsistência de formas da
vida humana.
Deixa de constituir o núcleo central do ambiente e, pelo contrário, este vale por si mesmo, e, por isso, é merecedor
de tutela jurídica autónoma e independente da sua utilidade para homem. Por último, existe uma terceira definição
que considera que o conceito de ambiente é variável, mutável e relativamente indeterminado. Os seus contornos
definem-se em cada época consoante os factores de ordem científica, física, cultural e económica do momento.
Esta posição, a que poderíamos designar por mista, abrange e não afasta as duas anteriores, sendo compatível com
as concepções antropocêntricas e egocêntricas.

2.3. Lei de Base do ambiente


A lei de base do ambiente (LBA) nº 5/98 de 19 de Junho, foi aprovada pela assembleia nacional, e nela, o legislador
pretendeu consagrar um quadro jurídico que definisse de modo global, as responsabilidades de cada um dos
intervenientes no processo ambiental, estabelecendo os direitos, deveres e garantias que do Estado quer dos
particulares, definindo, ainda, os correspondentes princípios gerais específicos e, bem assim, os objectivos da
política ambiental.
Estabelece-se o direito dos cidadãos a um ambiente sadio e aos benefícios da utilização racional dos recursos
naturais. Em contrapartida, atribui a LBA o dever de os cidadãos participarem na defesa do ambiente. E para o
efeito, existem os seguintes princípios:
1. Princípio da formação e educação ambiental: Do qual resulta que o Estado reconhece a todo cidadão
o direito de receber educação ambiental e considera tal educação um dever de cada cidadão dado a
entender que dessa educação há-de resultar uma melhor sensibilização e compreensão do fenómeno
ambiental e, consequentemente uma mais consciente e adequada acuação perante as necessidades de
defesa do meio ambiente.
2. Princípio da participação: Nos termos do qual são reconhecidos a cada cidadão o direito e do dever de
participar no controlo da política ambiental, quer isoladamente, quer como acima se referiu, pela
intervenção das associações a que pertença, designadamente nas consultas públicas dos projectos
submetidos à apreciação das entidades publicas, quer em fóruns do ambiente ou de outro modo que se
pode mostrar adequado à defesa do meio ambiente.
3. Princípio da prevenção: No sentido de que a actuação e intervenção das entidades que interferem na
defesa do ambiente devem ser anteriores a qualquer acção ou actuação que tenha a virtualidade de causar
dano no ambiente, independentemente do carácter imediato ou não da verificação desses danos. Somente
se este princípio for rigorosa e escrupulosamente respeitado é que serão evitados danos ao ambiente, pois
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com casos consumados e actuando a posteriori dificilmente será possível uma verdadeira política de
defesa do ambiente.

7. Princípio do equilíbrio: Nos termos do qual, tendo-se consciência que o desenvolvimento económico e
social da população e do país dificilmente se ir alcançando sem que o meio ambiente de algum modo
sofra as consequências quase inerentes ao desenvolvimento, deve ser assegurada a inter-relação entre as
necessidades do progresso e as da conservação e preservação da Natureza e dos recursos naturais, de tal
modo que se alcancem os objectivos do desenvolvimento sustentável, entendendo-se por este o
desenvolvimento baseado numa gestão ambiental que satisfaz as necessidades da geração presente sem
comprometer o equilíbrio do ambiente e a possibilidades de as gerações futuras satisfazerem também as
suas necessidades.

8. Princípio da unidade de gestão e acção: do qual resulta que o sucesso da política ambiental está
dependente de a sua dinamização ser da responsabilidade de um único órgão nacional. A tarefa de
promoção da melhoria da qualidade do ambiente e de vida em todo o território nacional requer uma voz
única e universal, que, doo mesmo modo, organize tal tarefa, administre uma rede de áreas de protecção
ambiental e promova a educação ambiental dos angolanos. A diversificação da gestão e das acções
tendentes à conservação do ambiente apenas traria diferenciação de actuação sobre a mesma
problemática, com as desigualdades e minoração dos resultados que se pretendem atingir no todo
nacional.
9. Princípio da cooperação internacional: Nos termos do qual se reconhece o interesse de Angola
concertar com outros países que do mesmo modo se debatem com a urgente necessidade de preservar o
ambiente a procura de soluções para tal problemática. Tal como Angola beneficiará da experiência de
outros povos, também estes poderão retirar vantagens da experiência dos angolanos no domínio da defesa
do ambiente. Em todo o mundo os Problemas inerentes à defesa dos recursos naturais e do ambiente são
semelhantes Pelo que a colaboração com organizações regionais, sub-regionais e internacionais.
10. Princípio da responsabilização: Do qual resulta que a lei considera responsáveis todos aqueles cujas
acções provoquem prejuízos ao meio ambiental, degradação, destruição ou delapidação dos recursos
naturais, atribuindo-lhes a obrigação de recuperar e ou indemnizar os danos causados.
11. Princípio da valorização dos recursos naturais: Nos termos do qual a qualquer dano causado ao meio
ambiental, à destruição ou utilização dos recursos naturais, corresponde um valor economicamente
mensurável que deverá ser suportado por quem beneficia da referida destruição e ou utilização nas acções
que promove e de que tira vantagem, sendo os valores objecto de cobrança destinados aos fundos de
gestão ambiental.

2.4. Órgãos de gestão ambiental


A LBA atribui ao Estado e mais concretamente ao Governo a responsabilidade de definir e providenciar pela
execução do programa de gestão ambiental- deste deve constar a participação de todos os órgãos de Governo com
interferência na problemática do ambiente correspondente responsabilização desses mesmos órgãos, tal como a
responsabilização de todos os agentes que façam uso dos recursos naturais ou cujas actividades influenciam o
equilíbrio ambiental e as condições socioeconómicas das comunidades, designadamente através da emissão de
poluentes entre outros males que podem casuar à natureza.

2.5. Medidas de Protecção ambiental


De acordo com a L BA, compete ao Governo a elaboração dos regulamentos destina dos à execução do já
mencionado Programa Nacional de Gestão Ambiental, os quais deverão ser acompanhados e sujeitos a parecer
dos órgãos judiciários. Através desses regulamentos o Governo deve assegurar que o património ambiental,

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designadamente o natural, o histórico e o cultural, seja objecto de medidas que promovam a sua defesa e
valorização, através do envolvimento das comunidades, em especial das associações de defesa do ambiente.
O Programa de Gestão Ambiental proíbe todas as actividades que atentem contra a biodiversidade ou a
conservação, reprodução, qualidade e quantidade dos recursos biológicos de valor, especialmente os ameaçados
de extinção.
Gozam de especial protecção as espécies vegetais ameaçadas de extinção e os exemplares botânicos isolados ou
em grupo que, pelo seu potencial genético, porte, idade, raridade, valor científico e cultural, o exijam.
A manutenção e regeneração de espécies animais e a recuperação de habitats danificados, com o controlo das
actividades ou o uso de substâncias susceptíveis de prejudicar as espécies da fauna e os seus habitats serão objecto
das respectivas medidas adequadas.

Está previsto o estabelecimento de uma rede de áreas de protecção ambiental' para além das já existentes à data
da independência do país que se mantêm. Trata-se de definir espaços representativos de biomas ou ecossistemas
com valor suficiente para a sua especial preservação, onde são estabelecidas rigorosas e francas limitações às
práticas humanas. Destinam-se a assegurar a protecção e preservação dos componentes ambientais e ecossistemas
de valor e socioeconómico. Tais áreas dc âmbito nacional, regional, local ou ainda internacional, consoante as
particulares que Pretendem acautelar e também abranger áreas terrestres, lacustres, fluviais' marítimas e outras.
Para adequado funcionamento e tendo em atenção a necessidade de preservação da biodiversidade e os valores dc
ordem social, económica, cultural, científica e paisagística, as áreas protegidas serão submetidas a medidas de
classificação, conservação e fiscalização. Nelas se incluiu a indicação de quais as actividades proibidas e quais as
permitidas no interior e arredores de cada área protegida e ainda a indicação do papel das comunidades locais na
gestão das áreas.
Entre as medidas de protecção ambiental sobressai ainda a prévia necessidade e obrigatoriedade de sujeitar a um
processo de avaliação de impacte ambiental de toda e qualquer acção que tenha a susceptibilidade de implicar
com o equilíbrio e harmonia ambiental e social, designadamente a implantação de infra-estruturas que pela sua
dimensão, natureza e ou localização gozem da eventualidade de poder causar impacto negativo. Tais acções estão
sujeitas a licenciamento e registo específicos, como veremos mais à frente, dependendo a concessão da respectiva
licença ambiental do resultado da referida avaliação, a qual condiciona a emissão de qualquer licença legalmente
exigida para a actividade em concreto que se pretende levar a cabo.

2.6. Direito e deveres dos cidadãos

Em contraponto com a responsabilidade social e cultural da população na defesa do ambiente, no sentido de


utilização de forma responsável e sustentável os recursos naturais e de contribuir para a melhoria progressiva da
qualidade de vida, é garantido a todo o cidadão o direito à educação ambiental de modo a assegurar uma mais
eficaz e consciente participação de todos na gestão do ambiente. Do mesmo modo é-lhes garantido o direito à
informação relacionada com a gestão do ambiente país, sem prejuízo de direitos de terceiros legalmente
protegidos. É garantido o direito ao recurso à justiça para que qualquer violação à legislação ambiental seja
sancionada pelas vias judiciais, tendo em vista a cessação das acções que se venham a verificar e, nos termos
gerais do Direito, fixada a indemnização legal pelo infractor, sendo até admitidos embargos destinados a Obter
decisão judicial que determine a suspensão imediata da actividade violadora.

2.7. Responsabilidades, infracções e sanções.


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A LBA estabelece a obrigações de detenção dc contractos de seguro de responsabilidade civil para todos os que
exerçam actividades que envolvam riscos de degradação do ambiente como tal classificadas pela decreto n 51/04,
isto diploma sobre a Avaliação de Impacte Ambiental. Na obrigação de indemnização de todos os que, mesmo sei
ñ causem danos ambiente. Todo o cidadão, pessoa singular ou colectiva mesmo sem culpa, seja autor de uma
alteração incluindo a poluição (isto é, deposito e a emissão de luz / som ou outras características do ar; substancias
ou resíduos, ia em tais condições e quanto dade que afecte negativamente o ambiente); a desertificação (isto é,
promova a remoção da cobertura vegetal do solo ou a sua utilização predatória, de tal modo o degradando que
acabe por transformá-lo num deserto)/ a erosão (isto é, que pro- ceda a retiradas de vegetação de forma tal que a
superfície do solo, por essas acções e pela acção natural dos ventos e da água, se desprenda) e desflorestamento
(isto é, promova a destruição ou abate indiscriminado de matas e florestas sem a sua reposição), é responsável
pela reparação dos prejuízos que causar e ou indemnização ao Estado, obrigação esta que-tem-de transferir para
uma seguradora.
Serão também objecto de responsabilidade criminal todos os comportamentos que, pela sua gravidade e
consequências, a Lei Penal considere sancionáveis, do mesmo modo que a nível contravencional não deixarão de
ser punidos os responsáveis por danos ambientais. A LBA prevê que legislação específica regulamente o
estabelecimento de sanções, a esses níveis, das actividades danosas ambientais.

2.8. Legislação sobre a avaliação de impacto ambiental


Projectos sujeitos a avaliação de impacto ambiental como vimos atrás, a LBA estabeleceu como um dos principais
instrumentos de gestão ambiental a avaliação do impacte ambiental cujo objectivo essencial é o de aferir as
consequências que determinados projectos possam ter sobre o ambiente. Daí que tivesse sido aprovado pelo
Governo o Decreto n.º 51/04, cujo teor merece agora um pouco da nossa atenção.
Estão sujeitos a processo de avaliação de impacte ambiental todos os projectos agrícolas, florestais, comerciais,
habitacionais, turísticos ou de infra-estruturas que pela sua natureza, dimensão ou localização tenham a
susceptibilidade de interferir com o equilíbrio e harmonia ambientais. Esse processo é, obviamente, prévio ao
licenciamento e obriga que o responsável pelo projecto elabore um estudo de impacte ambiental que terá de
apresentar e submeter à aprovação do órgão do Governo responsável pela área do Ambiente. Sem prejuízo da
eventual isenção de obrigatoriedade de realização do estudo do impacte e consequentemente da avaliação
propriamente dita que, dado o interesse para a defesa e segurança nacional de que se revistam determinados
projectos, poderá ser concedida pelo Governo, estão, entre outros, sujeitos à avaliação do impacte ambiental os
seguintes:
a) Agricultura, pescas e Projectos de emparcelamento rural;
b) Projectos para destinar as terras não cultivadas ou as áreas seminaturais a exploração agrícola intensiva;
c) Projectos de hidráulica agrícola;
d) Projectos de florestamento e reflorestamento, quando podem provocar transformações ecológicas negativas.
e) Projectos de exploração industrial de recursos florestais.
f) Projectos de instalação de unidades industriais de aquacultura de grande dimensão ou que tenham esgotos ou
resíduos a escoar para os cursos de água corrente.
g) Recuperação de terrenos ao mar.
h) Projectos de irrigação
i) Indústria extractiva
j) Complexos e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloro-químicos, destilarias
de álcool, hulha, utilização e exploração de recursos hídricos).
k) Refinaria de petróleo bruto, oleodutos, gasodutos, miniprodutos tractores e emissários de esgotos sanitários.

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Perfurações com profundidade, com excepção das perfurações para estabilidade dos solos,
nomeadamente:
a) Perfurações geotérmicas;
b) Perfurações para o abastecimento de água;
c) Extracção de minerais não metálicos nem produtores de energia de grande dimensão.
d) Extracção de petróleo.
e) Extracção de gás natural.
f) Extracção de minérios metálicos.
g) Extracção, a céu aberto, de minerais não metálicos nem produtores de energia. Extracção de hulha e de
lenhite em explorações subterrâneas e em céu aberto.
h) Instalações destinadas ao fabrico de cimento.
i) Extracção de combustível fóssil (petróleo, xisto e carvão).
j) Extracção de minério de grande dimensão.
k) Instalação e localização de escombreiras e vazadores.
l) Instalação e localização de bacia de sedimentação de rejeitados.
m) Instalação e localização de armazenagem de substâncias explosivas para mineração.
n) Instalação de miniproduto e Instalações de pipelines.
o) Barragens e outras instalações destinadas a desvio de rios.
p) Outras instalações específicas para mineração.

Projectos de infra-estruturas:
a) Estradas de vias rápidas com duas ou mais faixas de rodagem e auto-estradas.
b) Construção de vias de tráfego de média e longa distância para caminhos-de-ferro.
c) Construção de túneis.
d) Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos.
e) Aeroportos.
f) Projectos de desenvolvimento de zonas industriais.
g) Projectos de desenvolvimento urbano.
h) Construção de vias-férreas e instalações de transbordo intermodal e de terminais de estacionamento.
i) Barragens e outras instalações destinadas a reter a água ou armazená-la de forma permanente.
j) Obras costeiras destinadas a combater a erosão e obras marítimas tendentes a modificar a costa corno, por
exemplo, construção de diques, pontões, paredões e outras obras de defesa contra a acção do mar,
excluindo a manutenção e reconstrução de obras.
k) Sistema de captação e de realimentação artificial de águas superficiais.
l) Obras de transferência de recursos hídricos entre bacias hidrográficas.

2.9. Procedimentos da avaliação de impacto ambiental


O dono da obra, ou seja, o autor do pedido da aprovação de um projecto privado ou a entidade pública que tem a
iniciativa e realiza um projecto deve, no início do procedimento administrativo, apresentar, a expensas suas, um
estudo de impacte ambiental à entidade competente (determinada, caso a caso, consoante a natureza do projecto).

Tal estudo de impacto ambiental (leve conter o seguinte:


a) Descrição do projecto.
b) O relatório do estudo de impacte ambiental.
c) Todas as alternativas tecnológicas e de localização do projecto, confrontando-as com a hipótese de não
execução do projecto.

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d) Identificação e avaliação sistemática dos impactes ambientais gerados na fase de implantação e operação
da actividade preconizada no projecto.
e) Definir os limites da área geográfica a ser afectada de forma directa ou indirecta pelos impactes,
denominada da área de influência do projecto, considerando, em todos os casos, as populações humanas,
outros seres vivos e a bacia hidrográfica na qual se localiza.
f) Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implementação na área de influência
do projecto e a sua compatibilidade.
Outros elementos que pelas particularidades e características do projecto forem julgados pertinentes. O dono da
obra tem de providenciar para que, além dos dados atrás referenciados, sejam desenvolvidas, na realização do
estudo de impacte ambiental, as seguintes actividades técnicas:
a) diagnóstico ambiental da área de influência do e análise dos recursos ambientais e suas interacções, tal d
i implantação do projecto.
b) a O meio físico, 0 solo, 0 subsolo, as águas, o ar e o clima, os recursos minerais a topografia, os tipos e
aptidões do solo/ de aguo, o regime hidrológico, as correntes tardinhas e as correntes as espécies
indicadoras de qualidade ambiental/ de valor (científico(o mico, raras c ameaçadas de extinção e as áreas
de O meio socioeconómico, 0 uso e a ocupação do solo, 'o uso componente sociocultural/ destacando-se
os sítios e monumentos cos, históricos c culturais da comunidade, as de dependência sociedade local/ os
recursos ambientais e a potencial utilização futura.
A análise dos impactes ambientais do projecto e das suas alternativas/ através da identificação, da previsão
da magnitude c da interpretação da importação dos prováveis impactes relevantes, discriminando: Os
impactes positivos e negativos, directos e indirectos, imediatos e médio e longo prazos, temporários e
permanentes.
• O grau de reversibilidade desses impactes.
• As propriedades cumulativas e sinergéticas de tais impactes.
• Distribuição dos ónus e benefícios sociais.
• Definição das medidas mitigadoras dos impactes negativos.
Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impactes positivos e negativos, indicando os
factores e parâmetros a serem considerados, os serviços competentes providenciarão em prazo não superior a
cinco dias pelo envio ao membro do Governo responsável pela área do Ambiente de toda a documentação recebida
do dono da obra e ainda de outros elementos que considerem tais serviços relevantes para a correcta apreciação
do projecto apresentado. O ministro da área do Ambiente designará/ então, conjuntamente com os membros do
Governo que tutelem o projecto em apreciação e o ordenamento do território, este apenas no caso de projectos a
desenvolver dentro dc perímetros urbanos ou cm locais que atravessem povoações, a entidade encarregue da
instrução do processo.
Todos os custos c despesas inerentes à realização da avaliação do impacto ambiental correrão a cargo do dono da
obra.
Ministério responsável pela área do Ambiente deve obrigatoriamente promover a realização de consultas públicas.
Estas consultas públicas iniciam-se com a divulgação de um resumo não técnico do estudo de impacte ambiental
do qual terão de demonstrar todos os elementos constantes nas fazes subsequentes.
Outros Projectos
Pistas permanentes de corridas e de treinos para veículos a motor.
Instalações de eliminação de resíduos.
Estações de tratamento de águas residuais.
Locais para depósito de lamas.
Armazenagem de sucatas incluindo sucatas de automóveis.
Bancos de ensaio para motores, turbinas ou reactores.
Instalações para fabrico de fibras minerais artificiais.
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Fabrico, acondicionamento, distribuição ou destruição de substâncias explosivas.


Instalações para destruição de produtos impróprios para consumo alimentar.
Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos.
Construção de incineradores.
Construção de cemitérios.

2.10. LEI DAS ASSOCIAÇÕES DE DEFESA DO AMBIENTE


Como se referiu, a LBA reconheceu quer aos cidadãos quer às organizações ambientais não governamentais o
direito e o dever de participarem na defesa do meio ambiental. Reconheceu, por isso, a importância de que a
intervenção dos cidadãos, de modo singular ou de forma organizada, se pode revestir na defesa dos ambientais.
Nesse pressuposto, a Assembleia Nacional entendeu proceder à elaboração de um diploma legislativo, mais
concretamente a Lei ma 3/06 de 18 de Janeiro, por via da qual regulou os direitos de participação c intervenção
das associações de defesa do ambiente na gestão ambiental.

Enquanto que agindo de modo individual o cidadão tem praticamente limitada a sua participação e intervenção às
consultas públicas, integrado em associações a sua participação é bem mais importante e decisiva no processo
ambiental. As associações de defesa do ambiente são as associações dotadas de personalidade jurídica,
constituídas nos termos da Lei Geral (como qualquer outra associação), que não tenham por fim o lucro económico
dos seus associados e cujo objecto social seja o da defesa do ambiente e áreas conexas, do uso racional e
sustentável dos recursos naturais e da protecção dos direitos de qualidade de vida.

Consoante o seu âmbito municipal, provincial ou nacional, as associações de defesa do ambiente têm de ter no
mínimo cinquenta, duzentos ou quinhentos associados. As associações de defesa do ambiente carecem de ser
registadas e têm de remeter anualmente ao órgão do Governo responsável pela área do Ambiente o programa e
relatório de actividades, relatório de balanço e contas aprovados pelos órgãos estatutários competentes e informar
do número de associados que em 31 de Dezembro de cada ano estão inscritos na associação.

Estio ainda obrigadas a remeter a documentação relativa a qualquer alteração estatutária mais relevante.
As associações de defesa do ambiente têm o direito de participar e intervir na definição da política do ambiente
e nas grandes linhas de orientação legislativa nesse domínio. As Associações de Defesa do Ambiente são
consideradas parceiros sociais e têm participação nos órgãos consultivos da Administração Pública que tenham
competência em matérias relativas ao ambiente, à conservação da Natureza e do património cultural constituído
e ainda nas matérias relativas ao ordenamento do território.
As associações de defesa do ambiente gozam de direito de consulta e informação, designadamente no que
concerne a:
• Estudos de avaliação de impacte ambiental legalmente estabelecidos.
• Planos e projectos de ordenamento ou fomento florestal, agrícola e cinegético.
• Criação e gestão de áreas protegidas.
E projectos de recuperação paisagística de áreas degradadas, de recuperação de históricos e de reabilitação urbana.
Às de defesa do ambiente é reconhecido o direito de promover junto das entidades competentes pelos meios
administrativas de do ambiente, podendo, inclusive, propor acções judiciais de natureza civil, criminal
administrativa, necessárias à prevenção, correcção ou cessação de actos de privadas que constituam factor de
degradação ambiente. Podem ainda recorrer de actos, contractos e regulamentos administrativos que violem as
constitucionais que protegem o ambiente e a qualidade de vida e constituir-se assistentes nos processos—crime
instaurados contra os autores de violações às disposições legais destinadas a proteger o ambiente e a qualidade de

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vida. Podem, por último, as associações de defesa do ambientar aos laboratórios Oficiais a realização de análises
sobre a composição e ou estado quaisquer do ambiente e promover a divulgação pública dos seus resultados.
Em contraposição as associações s do ambiente têm o dever de colaborar com os órgãos competentes a nível de
defesa do ambiente, tanto na elaboração e execução de planos como de acções à protecção e valorização da
Natureza e do ambiente. Devem também colaborar na elaboração plane» de e programas de educação ambiental,
como devem prestar aos órgãos governativos informação obre as actividades desenvolvidas em prol da defesa do
ambiente e das doações e contribuições recebidas de entidades estrangeiras e ainda do destino que foi dado a tais
ajudas Atenta a importância que se reconhece às associações na defesa do ambiente é-lhes reconhecida a dignidade
de colectivas de utilidade que demonstram ter uma e relevante actividade e tenham sido criados de acordo com
os requisitos legais que lhe são exigidos e foi-lhes benefício de isenção da obrigatoriedade do pagamento de
preparos, Custas e imposto de selo em processos judiciais em que intervenham.

2.11. Lei do ordenamento do território e do urbanismo


Como vimos atrás, entre os objectivos e medidas preconizadas pela LBA contava-se o garantir o menor impacte
ambiental através um do território e aplicação de técnicas e tecnologias adequadas. Daí que a Assembleia Nacional
tenha aprovado a Lei n.' 3/04 que constitui a Lei do Ordenamento do Territóri0 e do Urbanismo.
Na realidade, tornava-se imperioso face ao crescimento das cidades angolanas e das grandes cidades. em
consequência não só de factores de atracção próprios das grandes metrópoles, mas essencialmente por força do
êxodo rural derivado à pressão da guerra, e aos grave problemas daí estes na gestão do espaço urbano, implantar
um sistema sistemático planeamento e de ordenamento do pois, um sistema de normas, princípios e instrumentos
em que avultam os pianos territoriais, segundo tipos especializados, em função do âmbito territorial. do conteúdo
material e dos Objectivos visados, valorizando os solos. ordenando—os. infra-estruturando-os para uso geral e
colectivo, como formas sistemáticas de do Estado e das autarquias locais no ordenamento do território.
Segundo a Lei do Território e do Urbanismo, a respectiva política biofísica, constituiu) pelo conjunto dos solos
urbanos e rurais, tem objecto o espaço subsolo, da plataforma águas interiores, com vista a acautelar as acções
que se traduzem na utilização dos espaços supra-referidos, através da implementação dos de do território e do
urbanismo.

2.12. Ordenamento do território e suas finalidades


O ordenamento do território constitui o sistema integrado de normas, princípios, instrumentos e acções da
Administras*) Pública que tem por função a organização e gestão do espaço biofísico territorial. e rural, em termos
de enquadra- mento, disciplina, defesa e valorização da sua ocupação e utilização pelas pessoas singulares e
colectivas, privadas e com vista à realização dos fins e segundo os princípios que vierem a ser consignados na lei
em análise.
De acordo com a Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo, o ordenamento do território visa a criação
de condições favoráveis que garantam os fins gerais do desenvolvimento económico social. do bem-estar, de
defesa do ambiente e qualidade dos cidadãos e ainda:
➢ Assegurar uma valorização integrada e racional da ocupação do espaço e condições favoráveis para o
desenvolvem-no—no de actividades económicas, sociais e Culturais, sem prejuízo da salvaguarda interna
e do equilíbrio ecológico e do património cultural.
➢ Assegurar a igualdade de oportunidades de acesso dos cidadãos aos equipamentos colectivos e serviços
públicos no meio rural e urbano.
➢ Adequar os níveis de densificação dos aglomerados urbanos às potencialidades infra-estruturais, dc
equipamentos e de serviços existentes ou previstos, de modo a suster a degradação da qualidade de vida
para prevenir o desequilíbrio socioeconómico.

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➢ Recuperar ou reconverter as áreas degradadas ou de ocupação ilegal. Salvaguardar e valorizar as


potencialidades e condições de vida dos espaços rurais e criar oportunidades de emprego como forma de
fixar as populações no meio rural.
➢ Preservar e defender os solos com aptidão natural ou aproveitados para actividades agrícolas, pecuárias e
florestais, restringindo-se a sua afectação a outras utilizações aos casos em que tal for comprovadamente
necessário.
➢ Protecção dos os recursos hídricos. as zonas ribeirinhas, a costeira, as florestas e outros locais com
interesse particular para a conservação da Natureza, compatível com a normal fruição do seu potencial da
proteger o património natural e cultural e valorizar as paisagens resultantes da actuação humana.
➢ A protecção e orientação da política de ordenamento do território ao Estado responsabilidade que se
estende a cada autarquia local na respectiva área de jurisdição, sem prejuízo da possibilidade das
comunidades quais participarem reordenamento território na elaboração de planos territoriais e do dever
de colaboração dos privados na promoção do referido ordenamento.

Princípios fundamentais
De acordo com a Lei do Ordenamento Território e do Urbanismo, as bases gerais ordenamento do território
assentam seguintes princípios Soberania nacional.
• Unidade territorial e nacional.
• Respeito e dos direitos, e garantias fundamentais.
• Organização e divisão político-administrativa do território.
• Domínio público.
• Utilidade pública.
• Propriedade estatal dos recursos naturais.
• originária da terra pelo Estado.
• Princípio da transmissibilidade do domínio privado do Estado.
• Classificação e qualificação dos solos.
• Planeamento territorial geral e urbanístico.
• Defesa do território e segurança interna.
• Desenvolvimento económico e social.
Assim, o Estado exerce a soberania em todo o território nacional e organiza o espaço em ordem a promover e
garantir a unidade territorial e nacional.
A divisão e organização político-administrativa actua: deve ser respeitada e o ordenamento do território deve
elaboração de acordo com o âmbito territorial actualmente vigente. sem prejuízo de poderem ser abrangidas pelo
mesmo instrumento duas Ou mais autarquias locais, por razões de continuidade geográfica e da conjugação O
ordenamento do território do espaço territorial do Estado deve ser elaborado de modo a garantir e respeitar a
respectiva.

Os espaços e fundiários público, tais como as e caminhos públicos e ferroviários, as águas territoriais, as praias,
as zonas territoriais reservadas à defesa da Natureza, dos inter militares e de fronteiras, aos arquitectos e
monumentos nacionais, de acordo aliás com a Lei de Terras, que mais à frente analisaremos detalhadamente.
Deve também contribuir para a preservação da propriedade do Estado sobre os recursos naturais, sem prejuízo do
seu uso e exploração concessionados a privados e pelas comunidades rurais.
A propriedade originária da terra é, de acordo com o estabelecido constitucionalmente e pela Lei de Terras, do
Estado, pelo que o respectivo ordenamento deve respeitar e preservar esses direitos, tal como o deve fazer
relativamente aos direitos de domínio útil das comunidades rurais e demais tipos de direitos fundiários
privadamente titulados que incidam sobre terrenos, Sem prejuízo da função social que subjaz a esses direitos c

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dos fins de interesse geral e público que comandar o ordenamento do território do território tem de respeitar os
direitos, c garantias fundamentais e contribuir para a efectiva realização prática desses direito
A actividade do ordenamento processa—se através de técnicas de todo o espaço nacional, mediante a elaboração
de planos territoriais que se rege pelos princípios da coordenação e compatibilização dos diversos instrumentos
de planeamento territorial, económico e financeiro, nacional, provincial ou local, sempre com garantia dos
interesses de defesa do território e da segurança das pessoas, e com a demarcação também cartográfica das
fronteiras e dos terrenos destinados à sua defesa ordenamento) território e o consequente planeamento territorial
como instrue Sobre a e aproveitamento do espaço territorial dever também Com a criação das condições para 0
desenvolvimento económico e «rial das e para a da qualidade de vida em o espaço nacional.
Acrescem, princípios directivos da intervenção do Estado e de outras pessoas direito na realização da actividade
do ordenamento do território, os seguintes:
• Defesa do ambiente, dos valores rurais, paisagísticos, históricos, culturais, urbanísticos e arquitecturais.
• Utilização racional dos recursos naturais, assegurando condições para um uso Equidade.
• Distribuição justa dos solos e equilibrada dos espaços.
• Sustentabilidade e solidariedade intergeracional, Reforço da coesão nacional e entre as Reconversão ou
recuperação das áreas urbanas ou ilegal.
• Expropriação por utilidade pública. participação pública.
• Coordenação e compatibilização.
• Responsabilidade e contratualização.
• Segurança jurídica.
De acordo com estes princípios directivos, os planos territoriais que venham a ser elaborados devem proporcionar
uma ocupação e do solo em termos tais que se verifique uma real, e constante preservação meio ambiental, da
qualidade e organização dos espaços rurais e urbanos, dos valores da vida comunitária rural e urbana,
paisagísticos. históricos e culturais, urbanísticos e arquitectónicos.
Devem também asseguradas as necessárias propiciadoras uma utilização sustenta-la dos recursos naturais, dever
ocupação, e aproveitamento dos solos prevenir a sua contaminação e tal corno quanto aos recursos hídricos, às
zonas à Oda cesteira e às A ordenação dos espaços rurais e urbanos feita 5E•los planos territoriais, destinada aos
fins de desenvolvimento e do aproveitarem-to útil dos solos, deve prevenir os recursos tecnológicos para uma
política de concessões fundiárias que assegurar a equidade no acesso às infra—estruturas e uma distribuição justa
e equitativa dos solos.
No ordenamento dos espaços deve ter-se em vista, designadamente na programação, a criação e manutenção de
serviços públicos, de infra-estruturas e equipamentos colectivos c de espaços verdes, a diminuição das assimetrias
existentes dentro dos perímetros urbanos.
Na gestão do espaço territorial há que às gerações futuras um ordenamento correcto do território e dos espaços
urbanos e rurais, seja natural, edificados e ou não habitados.
Os planos urbanísticos devem fazer uma programação da ou recuperação das áreas urbanas degradadas ou origem
ilegal.
Dos planos territoriais constar directivas e ou medidas de ordenação do territorial que re6rcem e para a coesão
nacional, a solidariedade e a diminuição das assimetrias existentes entre as diversas áreas territoriais nacionais.
através, nomeadamente, de uma adequada localização dos eixos viários, como de pólos de desenvolvimento e de
criação de oportunidades de emprego para fixação da população e para repovoamento das zonas atingidas e
devastadas pela guerra.
Para a prossecução de uma política de solos conforme aos interesses os planos territoriais determinarão os terrenos
que, sendo para a programação de espaços públicos e para a implantação de infra-estruturas de interesse colectivo,
poderão ser Objecto de expropriação, essa previsão expropriação corno uma declaração utilidade pública para fins
expropriação, a levar a cabo segundo o regime legal das expropriações por utilidade pública e, designadamente,
sem prejuízo do pagamento de uma justa indemnização ao expropriado.

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O regime de procedimentos relativos aos planos de ordenamento do território e do urbanismo deve conter
dispositivos que viabilizem o direito de participação dos cidadãos e das comunidades e bem assim o seu direito à
informação, assim corno que contribuam para o reforço da sua consciência cívica.
A actividade de planeamento e ordenamento do território e do urbanismo tem forçosamente de ser compatibilizada
com as restantes políticas levadas a cabo quer a nível quer a nível provincial, quer a nível local.
A elaboração e execução dos planos territoriais deve garantir a indispensável ponderação do impacte territorial
das rn«iidas neles previstas e estabelecer o dever de revisão ou conversação dos danos ambientais e deve,
especialmente nos planos urbanísticos, privilegiar modelos de concertação entre a iniciativa privada e pública,
tendo em vista uma melhor e mais proveitosa concretização do plano.
• Instrumentos do ordenamento do território
A estrutura do ordenamento do território, de acordo com o estatuído na Lei do Ordenamento do Território e do
Urbanismo, tem o seguinte: Normas, princípios e direitos fundamentais previstos na Lei Constitucional, na Lei
do Ordenamento do Território e do Urbanismo e respectivos regulamentos e demais legislação específica,
designadamente as leis de Terra e do Ambiente.
Planos estabelecidos de acordo com esta lei.
Operações de ordenamento estabelecidos de acordo com esta lei. Órgãos de intervenção no ornamento previstos
nesta lei.

Planos territoriais
A estrutura dos planos territoriais e dos demais instrumentos de ordenamento do território desenvolve-se em três
âmbitos, o animal (que abranger todo o território nacional), o provincial (que abrange o território de uma
província) e o municipal que abrange o território de um município), sem prejuízo de os planos territoriais poderem
abranger áreas interprovinciais (ca%) abranjam o território de mais do que uma província) e intermunicipais (caso
abranjam o território de mais do que um município).
Em razão objecto específico ou sectorial das matérias que abrangem, os planos territoriais classificam-se em:
As grandes orientações estratégicas de carácter genérico relativas ao ordenamento de todo o espaço territorial do
país são aprovadas, sob proposta Governo, pela Assembleia Nacional, num documento que se designa por "As
Principais de Ordenamento do Território Nacional* (POOTN), documento esse que, tendo a natureza de plano
nacional, deverá representar o quadro de referência dos demais planos territoriais, provinciais ou municipais.
Os planos provinciais de ordenamento do território (PPOT) contêm directrizes de natureza estratégica e carácter
genérico constituem o desenvolvimento, a nível provincial, do POOTN, sobre o moa» uso e ocupação dos solos
rurais e urbanos que integram o território global de cada província, a serem concretizados pelos planos municipais
e das grandes cidades com estatuto especial.
Os planos interprovinciais de ordenamento do território (PIPOT) têm a natureza dos planos provinciais e
destinam-se a coordenar e integrar complementarmente os planos provinciais de duas ou mais províncias, em
função de dades de interesse público de combate às assimetrias interprovinciais. designadamente a previsão de
infra-estruturas interprovinciais estratégicas.
Os planos municipais são globais quando abrangem todo o território municipal e parciais quando abrangem apenas
parte dele e serão urbanísticos ou de ordenamento rural consoante se ocupem da organização dos sistemas urbanos
ou da ocupação e usos dos solos rurais.
O Plano Director Municipal representa a definição central e fundamental dos planos globais municipais que,
contendo directrizes natureza estratégica e de carácter genérico, constituem o quadro global de referência,
podendo estabelecer a classificação dos terrenos rurais e dos terrenos urbanos de um município, bem como de
outros elementos fundamentais da estrutura geral do território e que sirvam designadamente de combate às

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assimetrias inframunicipais, entre a cidade e o campo, integrando as opções de âmbito nacional e regional com
incidência no território municipal.
Em razão da natureza dos espaços que abrangem, os planos territoriais classificam-se em:
Planos rural, que são têm a ver com objecto a ordenação dcx espaços rurais situados fora urbano, incluindo das
zonas rurais e os das demais povoações classificadas como rurais.
Planos urbanísticos, que sao os que têm por objecto os espaços dos Centros urbanos fixados pelos respectivos
perímetros ou pelos forais relativamente aos centros com estatuto de cidade, os planos urbanísticos têm natureza
regulamentar, fixando as regras de conduta de ocupação, uso e aproveitamento do terreno urbano e urbanizável,
contido no perímetro dos centros urbanos integrados na área territorial municipal, tendo em vista garantir e
melhorar a qualidade vida dos cidadãos.
Os planos urbanísticos têm por conteúdo especial a definição de modelos de evolução de ocupação humana e da
organização dos sistemas urbanos, designadamente pela classificação dos terrenos urbanos e definição dos
respectivos modos de ocupação. programação das redes viárias e de transportes, dos equipamentos colectivos,
bem como a fixação, na escala adequada, dos parâmetros de aproveitarem-to dos terrenos urbanos, de distribuição
das actividades económicas e sociais, pagamento e serviços públicos e privados, de carências habitacionais e ainda
índices obrigatórios de zonas verdes, bem como de arborização das vias urbanas que contribuam para uma melhor
qualidade do ambiente urbano.
Os planos urbanísticos compreendem os seguintes tipos:
• plano Director Municipal (PDM) que corresponde a um plano global que representa, a nível do
planeamento municipal urbanístico, o quadro de refe-urbanística;
• Plano de Urbanização que regulamenta e fixa as regras de conduta de ocupação, uso e aproveitamento
dos terrenos urbanos e urbanizáveis.
Plano de Pormenor que regulamenta a ocupação o uso e a de determinados aspectos ou elementos urbanos.
Plano Especial de ou de reconversão de áreas urbanas degradadas ou de ocupação ilegal.
Os vários municípios de que, porventura, façam parte as grandes cidades terão providenciar no sentido que o seu
planeamento urbanístico seja compatível com os dos restantes municípios bem corno com as directivas dos planos
Provinciais de Ordenamento do Território em que se integram e, obviamente, com as Principais do Ordenamento
do Território Nacional.
Os planos de ordenamento rural têm, também, natureza regulamentar e fixam as regras de conduta de ocupação e
de uso dos terrenos rurais da área territorial municipal, igualmente com vista a melhorar a de vida rural cidadãos.
Os planos de ordenamento rural. fruto da diversidade dos valores em causa, na ocupação e uso dos solos rurais,
definem os modelos de preservação e evolução espacial natural e humana, fixando:
As áreas de explorações mineiras:
A qualificação dos solos agrários em função da sua aptidão ou dos tipos de cultura ou de coberto florestal.
Os demais bens económicos, naturais, paisagísticos, culturais, turísticos e rios do mundo rural.
Os planos de ordenamento ambiental têm natureza regulamentar e fixam as regras de protecção dos recursos
naturais e ambientais, bem como as regras de conduta de ocupação e uso dos terrenos das reservas naturais por
parte dos cidadãos.
Os planos de ordenamento de áreas de defesa e segurança, também de natureza regulamentar, fixam o modelo, as
regras de ocupação e uso das áreas de terrenos a fins dc defesa e de segurança, de demarcação de fronteiras e
outros similares e complementares.
Os planos territoriais têm no seu conteúdo elementos materiais e elementos formais ou documentais, variáveis
consoante cada esquece e tipo de plano.
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O conteúdo material deve incluir, fundamentalmente, o seguinte:


Características da área territorial de intervenção, designadamente da ocupação e uso espacial por classes de
espaços ou terrenos, sua afectação económica, social, biofísica, tipos de direitos fundiários e demais demarcações
especificas de cada ou tio) de plano.
Fixação dos sistemas de protecção dos recursos naturais, mineiros, agrários e florestais e dos valores paisagísticos,
culturais, turísticos e Objectivos prosseguidos. meios disponíveis e acções propostas.
Distribuição, ocupação e desenvolvimento dos solos rurais e urbanos.
Fixação dos urbanos.
Definição das reservas e zonas de protecção ou de interesse público.
Definição das opções e operações de ordenamento em terrenos e dos planos.
O conteúdo documental planos é o Regulamento, quando os planos tiverem natureza regulamentar.

Planta de ordenamento que represente a estrutura espacial da área de intervenção de acordo com a classificação e
qualificação dos solos rurais e urbanos.
Planta de condicionantes que identifique as áreas de domínio público e limites do seu regime de uso, as servidões
e restrições de utilidade pública que limitem o seu livre aproveitamento.
• Estudos de caracterização território abrangido pelo plano
• Relatório fundamentado das soluções propostas.
• Directrizes programáticas sobre a execução do plano.

2.13. OPERAÇÕES DE ORDENAMENTO


para a execução dos planos territoriais é pressuposto serem realizadas operações gerais de ordenamento, variáveis
consoante os tipos de terrenos e as situações fundiárias, e a saber:

Classificação e qualificação dos solos


A classificação constitui uma operação de loteamento que determina o destino e regime básico dos solos e assenta
na sua divisão entre solos urbanos e solos rurais, de acordo com o estabelecido na Lei das Terras.
A qualificação dos solos é uma operação de ordenamento que, consoante a classificação do solo como urbano ou
rural, define e regula a aptidão natural e específica dos solos rurais em razão das suas potencialidades agrárias ou
minerais e bem assim a função dos solos urbanos, em razão da actividade dominante que neles possa ser
desenvolvida, estabelecendo o respectivo destino urbanístico ou regime de edificabilidade.

Afectação ao domínio público e a sua desafectação.


A afectação e desafectação de um bem fundiário ou imóvel ao regime de domínio público que não resulte de um
acto de classificação geral devem ser fixadas pelos planos territoriais em que o bem visado se integra e só
produzem efeitos depois de publicado o diploma legal que os aprovar, sem prejuízo de, em decreto governamental
l ou de acto administrativo, ser atribuída tal afectação a bem fundiário não especialmente previsto nem nos actos
de classificação geral nem nos planos territoriais.

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Transferências dominiais:
Os planos territoriais podem, além de conceder forais e fixar perímetros urba- nos, propor a transferência de
determinados bens fundiários do domínio público do Estado para a titularidade e gestão das autarquias locais, o
que não pode suceder com os bens de domínio mineiro, marítimo e militar.
Demarcação e alinhamento:
A delimitação dos solos classificados e especialmente entre os terrenos de domínio público e de domínio privado
rural e urbano deve ser feita por meio de implantação de marcos no solo, o que igualmente deve suceder com a
delimitação das fronteiras do território nacional.
Deve ser promovida a elaboração de planos de alinhamento que contenham traçados das vias públicas e demais
espaços a respeitar nas construções dos prédios urbanos ou outras edificações.

Medidas preventivas:
O Governo pode sujeitar uma área, susceptível de vir a ser abrangida por um plano urbanístico ou de ordenamento
rural ou por um projecto de empreendimento público de outra natureza, a medidas preventivas, com o objectivo
de evitar que uma alteração das circunstâncias e das condições existentes esses planos de execução do plano ou
do empreendimento ou torná-la mais difícil ou onerosa.
A sujeição a preventivas de qualquer parcela de terreno relativamente à qual exista um plano de urbanização
implica a suspensão total ou parcial do plano, consoante a área abrangida pelas medidas e as providencias nelas
estabelecidas.
As medidas preventivas consistem na proibição, suspensão ou sujeição a prévia autorização, eventualmente
condicionada das iniciativas, actos ou actividades A criação de novos aglomerados urbanos ou núcleos p rurais
ou urbanos.
Alterações integrantes, meio de aterros ou escavações, à configuração geral dos solos.
Instalação novas explorações ou ampliação das existentes.
Destruição do solo vivo por movimento de terras, aterros, entulhos e poluição relevante com área igual ou superior
à fixada.
Derrube maciço ou relevante de árvores.
Construção, reconstrução ou ampliação de edifícios, muros, vedações ou outras instalações. As medidas
preventivas abrangem tão-só os actos absolutamente indispensáveis e relevantes para os fins a atingir pelo plano
ou empreendimento.

O Governo definirá, quando estabelecer as medidas preventivas a aplicar em cada situação, as autoridades
competentes para a prática de actos de proibição, suspensão. autorização condicionada, bem como para a
fiscalização de sua observância e para as determinações das demolições que haja que levar a cabo.
As medidas preventivas cessam:
• Por revogação.
• Por decurso do prazo de duração.
• Com a aprovação do plano.
As medidas preventivas podem ser substituídas por normas de carácter provisório no caso de tal see justificar e
quando o estado dos estudos relativos ao plano o permita.

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A aplicação das medidas preventivas não implica o pagamento de qualquer indemnização a quem considere que
os seus direitos foram afectados mais das concretamente aplicadas.

Os trabalhos e obras realizados sem observância das medidas preventivas estão sujeitos à sua demolição à custa
dos seus proprietários e sem direito a qualquer indemnização, sendo visível o embargo das mesmas.
Os aterros e escavações efectuados sem observância das medidas preventivas implicam o dever de reposição da
configuração do solo c de recuperação do coberto vegetal pelo proprietário ou pela Administração caso aquele
não o faça no prazo e segundo o plano que ficaa ser estabelecido.
Para levar a cabo um correcto ordenamento do território serão objecto de expropriação por utilidade pública os
terrenos que seja necessário expropriar.

Expropriação por utilidade pública:


Para levar a cabo um correcto ordenamento do território serão Objecto de expropriação por utilidade pública os
terrenos que seja necessário expropriar.
Além destas operações gerais de ordenamento, está prevista a realização das seguintes operações especiais de
ordenamento:
Operações urbanísticas.
Operações de ordenamento rural. Os tipos e regine dc operações urbanísticas são definidas por diploma
regulamentar e deverão compreender o seguinte:
• Delimitação dos perímetros urbanos.
• Loteamento.
• Licença de construção.
• Implantação de infra-estruturas e equipamentos urbanísticos.
• Expansão e renovação de centros urbanos devidamente zonificados.
• Criação de novos Centros urbanos.
• Recuperação de áreas urbanas (degradadas ou de ocupação ilegal.
• Demolições de edifícios e restrições à demolição.
• Realojamento e reassentamento.
• Parques e zonas industriais.
• Parques de depósito de lixos ou de entulhos
• Estações de tratamento de efluentes e resíduos urbanos-
• parques de estacionamento automóvel.
• Criação de zonas verdes e ajardinadas.
• Arborização, defesa e requalificação ambiental urbana.
• Criação de parques, zonas de lazer turístico e desportivo.
• Zonas de defesa e controlo urbano.
As operações urbanísticas, como, aliás, as de ordenamento rural, poderão ser promovidas pela Administração
Pública, central ou local, por particulares ou por qualquer deles em associação com qualquer dos outros.
Os tipos e regime de operações de ordenamento rural são regulados por diploma regulamentar e deverão
compreender o seguinte:
• Delimitação de perímetros comunitários rurais.
• Fixação de áreas agrícolas demarcadas.
• Implantação de vias e equipamentos colectivos.
• Criação de novas comunidades rurais.

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• Reordenamento rural.
• Repovoamento rural.
• Florestação e reflorestação.
• Explorações ou estabelecimentos agrários, florestais, mineiros e industriais.
• Pedreiras, saibreiras e outros parques mineiros.
• Parques naturais ou ecológicos.
• Zonas e parques turísticos.

ORGÂNICA DO ORDENAMENTO TERRITORIAL


A orgânica do ordenamento do território e do urbanismo abrange os seguintes órgãos:
• Órgãos políticos.
• órgãos técnicos.
• Órgãos participativos.
Os órgãos políticos do ordenamento do território e do urbanismo são os seguintes:
• A Assembleia Nacional.
• O Governo.
• A Comissão Interministerial do Ordenamento do Território e do Urbanismo.
Os órgãos técnicos do ordenamento do território são os seguintes:
• A nível central: órgão técnico central e órgãos sectoriais.
• A nível provincial: órgãos técnicos provinciais.
• A nível municipal: órgãos técnicos municipais do ordenamento do território são os seguintes:

Os órgãos participativos
A nível central: A Comissão Consultiva Nacional do Ordenamento do Território e do Urbanismo, em que têm
assento representantes dos diversos ministérios, das autarquias locais e do Conselho Nacional de Concertação
Social.
A nível provincial: Comissões Consultivas provinciais de Ordenamento do território e do Urbanismo.
A Assembleia Nacional, como órgão político do ordenamento e urbanismo, tema seguinte competência em
matéria de processo de planeamento:
Aprovar a Lei das principais zonas de ordenamento do território e do urbanismo.
Aprovar a Lei das principais opções estratégicas económicas que, em termos do seu impacte ambiental, deve
reflectir as principais do ordenamento do território e do urbanismo.
Apreciar os relatórios de execução anuais e finais dos planos territoriais de âmbito nacional.

Ao Governo, âmbito processo*) elaboração c execução do planeamento territorial, cabe:


Elaborar a proposta de Lei das principais opções do ordenamento do território e do urbanismo) e submetê-la à
aprovação da Assembleia Nacional. e aprovar os planos provinciais e sectoriais do ordenamento do território e do
urbanismo.
Coordenar a execução das principais opções do ordenamento do território e dos princípios e normas aplicáveis.

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Elaborar os relatórios de execução das principais opç0es de ordenamento do território e do urbanismo e dos planos
regionais e sectoriais do território e do urbanismo e submetê-los à apreciação da Assembleia Nacional.
A Comissão Interministerial do Ordenamento do Território e do Urbanismo é integrada pelos ministros que
tenham a seu cargo o ordenamento do território e o urbanismo, a quem cabe a presidência, o planeamento
económico, as obras públicas, o rural e agrícola, transportes, a geologia e minas, os petróleos, a energia e águas,
a hotelaria e turismo e a administração do território, sem prejuízo de, em consequência da especificidade das
matérias dos pianos territoriais e sectoriais do ordenamento do território e do urbanismo, ainda tal comissão outros
membros do Governo
Ao órgão técnico central do ordenamento do território e urbanismo compete: Colher, analisar e promessa dados
e intermações relevantes para o de ordenamento do território nacional, organizando e gerindo o respectivo banco
de dados.
Preparar os cenários possíveis de evolução da ocupação e uso do espaço territorial, com vista a elaborar as
principais estratégicas de ordenamento do território.

2.14. REGIME DOS PLANOS TERRITORIAIS


Os planos territoriais vinculam, seja qual for o seu âmbito, as autoridades quanto às directrizes programáticas a
serem desenvolvidas pelos diversos planos de valor hierárquico inferior, em razão do território ou qualquer outra
razão especial.
Os planos municipais e especiais de natureza regulamentar vinculam os particulares, que gozam do direito à
informação, no sentido em que o conhecimento do conteúdo e das alterações dos planos territoriais não lhes pode
ser negado, incluindo na fase da sua elaboração, como após a sua publicação, podendo, por isso, consultar o
processo e obter cópias e certidões das peças documentais dos planos.
Aos titulares de direitos fundiários e lesados por planos territoriais regulamentares é garantido o direito dc
impugnar as decisões deles constantes e de apresentar queixa quer ao Ministério Público quer ao provedor de
Justiça.
As principais opções do ordenamento do território nacional constituem o programa nacional da política global do
ordenamento do território e do urbanismo e devem preceder a elaboração e aprovação dos demais planos
territoriais, que, como tal, se devem considerar hierarquicamente situados em nível inferior.
Enquanto não forem aprovadas as principais opções, o Governo poderá adoptar, a título provisório e transitório,
planos territoriais orientadores da acção ordenadora territorial dos órgãos da Administração Pública.
Os planos provinciais, interprovinciais, intermunicipais e municipais terão de ser ratificados pelo Governo, sob
pena de serem feridos de nulidade. Constitui legislação complementar da Lei do Ordenamento do Território e do
Urbanismo:
A legislação que fixa e regulamenta o regime das fronteiras territoriais.
O diploma que rege o planeamento económico.
C) diploma que fixa o regime jurídico fundiário e respectiva legislação regula- O diploma que regula a actividade
mineira do solo e do subsolo.
O diploma que fixa o regime jurídico do ambiente c legislação regulamentar.
O diploma que regula o regime jurídico das águas.
O regime jurídico das expropriações por utilidade pública.
O diploma que fixa o regime dos órgãos da administração provincial e municipal e das autarquias locais quanto
às competências respectivas.

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Constitui legislação regulamentar da Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo:


O regulamento geral dos planos urbanísticos e de ordenamento rural.
Os regulamentos especiais dos demais tipos de planos territoriais, designadamente provinciais, regionais,
especiais e sectoriais.
O regulamento geral dos loteamentos.
O regulamento geral das edificações urbanas.
O regulamento gera/ do licenciamento de obras e construções.
A legislação que fixa os perímetros urbanos e a concessão de forais de cidade.

2.15. LEI DE TERRAS


A Lei de Terras constitui a Lei n.º 9,04 de 9 dc Novembro, tendo sido aprovada pela Assembleia Nacional.
Estabelece as bases gerais do regime jurídico das terras integradas na propriedade originária do Estado, os direitos
fundiários que sobre estas podem recair e 0 regime geral de transmissão, constituição, exercício e extinção destes
direitos.
A Lei de Terras aplica-se aos terrenos rurais e urbanos sobre os quais o Estado constitua direitos fundiários em
beneficio singulares ou colectivas de direito público ou privado, nomeadamente com vista à prossecução de fins
de exploração agrícola, pecuária, silvícola, industrial, comercial, habitacional de edificação urbana Ou rural, de
ordenamento do território, de protecção do ambiente e de combate à erosão dos solos, apenas se excluindo os
terrenos que não possam ser objecto de direitos privados, como os terrenos de domínio público e os que, por sua
natureza, sejam insusceptíveis de apropriação individual. Considera a Lei como domínio público o conjunto coisas
que o Estado ou as autarquias locais aproveitam para a prossecução dos seus fins, usando poderes de autoridade,
ou seja, através direito incluiria as coisas ao uso de todos, as coisas utilizadas pelos serviços públicos ou sobre as
quais incida a actuação destes e as coisas que satisfaçam os fins uma colectiva Considera a Lei como sendo
domínio privado o conjunto de coisas não compreendidas no domínio público e sobre as quais recai a propriedade
Estado Ou das autarquias locais.
Considera a Lei como sendo direitos fundiários os direitos que recaem sobre os terrenos integrados no domínio
privado do Estado e de que quer as pessoas singulares quer as pessoas colectivas de Direito público e de Direito
privado.

2.15.1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS


A transmissão, constituição e exercício de direitos fundiários sobre os terrenos concedíveis do Estado está sujeita
aos seguintes princípios fundamentais:
Princípio da propriedade originária terra pelo Estado: A terra constitui propriedade originária do Estado e está
integrada no seu domínio privado ou público.
Princípio da transmissibilidade de terrenos integrados no domínio privado do Estado:
O Estado pode transmitir onerar a integrado domínio privado, com excepção de terrenos rurais, não sendo
admissível a aquisição e por usucapião de quaisquer direitos sobre terrenos integrado no domino privado do Estado
nem no domino das comunidades rurais.
Por comunidades rurais entende a Lei de Terras comunidades de famílias vizinhas c que, nos meios rurais, têm os
direitos colectivos de dessa gestão e de e fruição dos meios de precaução comunitários, designadamente dos
terrenos rurais comunitários por elas ocupados e aproveitados de forma útil e efectiva, seguir os princípios de
auto-administração e autogestão, quer para sua habitação, o exercício da actividade, quer ainda para a prossecução
de Outros fins e Lei Terras e pelos regulamentos.
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Princípio do aproveitamento útil e efectivo da terra: A transmissão do direito de propriedade e a constituição de


direitos fundiários só lugar com o objectivo de garantir o seu aproveitamento útil e activo, os de tal aproveitamento
fixados por instrumentos gestão territorial, tendo em 0 fim a que destina, o tipo de cultura e o índice de construção.
A área a conceder pode ser superior em um terço superfície dente à capacidade de trabalho do explorador directo
c de sua família. Os direitos ao exercício ou pela inobservância dos índices aproveitamento útil e activo durante
três anos consecutivos ou seis interpolados.

Princípio da taxatividade dos direitos fundiários previstos na Lei de Terras, nulo qualquer negócio via do qual se
constitua direito fundiário distinto dos previstos.
Princípio do respeito pelos direitos fiduciários das comunidades rurais: os direitos fundiários de que sejam
titulares as comunidades rurais, incluindo fundados nos usos e costumes, serão devidamente salvaguardados pelo
Estado, sem prejuízo de virem a ser objecto de expropriação por utilidade pública ou Objecto de com a
contrapartida de uma justa indeminização.
Princípio da propriedade dos recursos naturais pelo Estado: Os recursos naturais fazem parte do domínio do Estado
e não são transmissíveis, arrasar de o Estado poder constituir em benefício de pessoas singulares ou colectivas
direitos de exploração dos recursos naturais.
A transmissão de qualquer direito sobre terrenos do domínio privado do Estado) não implica a aquisição de
qualquer direito sobre os recursos naturais.
Princípio da não-reversibilidade das nacionalizações e confiscos as aquisições pelo Estado por força de
nacionalizações ou de confiscos realiza a forma legal consideradas válidas e irreversíveis, de legislações especifica
sobre reprivatizações.
O Estado e as autarquias locais têm o direito de expropriar para a sua utilização em fins de utilidade pública,
mediante o pagamento de justa indemnização. A expropriação extingue os direitos constituídos sobre Os terrenos
expropriados transfere-os para a propriedade do Estado.

2.15.2. INTERVENÇÃO FUNDIÁRIA


Os Objectivos da intervenção do Estado na gestão e concessão de terras da supervisão) são Adequado) do território
e formação, ordenação e funcionamento aglomerados urbanos.
A constituição e a transmissão de direitos sobre a terra direito sobre as e acção, e a fruição destas regem-se pelas
normas constantes dos instrumentos de ordenamento do território e do planeamento urbanístico protecção do
ambiente e utilização economicamente e das terras.
A ocupação, o e a fruição das terras sujeitos do ambiente, nomeadamente as que respeitam à protecção das
paisagens e das espécies de flora e da fauna, preservação equilíbrio e direito cidadãos a um ambiente sadio e não
excluído.
A ocupação, e a fruição das terras caverna ainda exercício a comprometer a capacidade de regeneração dos
terrenos aráveis e manutenção da aptidão avícola.
Propriedade de e e A constituição e a transmissão de direitos fundiários s sobre as terras devem obedecer à
prioridade do interesse público e do desenvolvimento económico e social do pais.

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2.15.3. TERRENOS
Os terrenos são classificados em função dos fins que lhe forem destinados e do regime jurídico a que ficarem
sujeitos de acorda com a Lei de Terras. Os terrenos do Estado classificam-se em concedíveis e cm não concedíveis.
Os terrenos integrados no domínio público do Estado e os terrenos comunitários são terrenos não concedíveis.
Os terrenos concedíveis classificam-se, para efeitos do seu aproveitamento pelas pessoas singulares ou colectivas,
em terrenos urbanos Ou rurais. Terrenos urbanos são os prédios rústicos situados na área delimitada por um foral
ou na área de um aglomerado urbano e que se destinam a fins de urbana. Terrenos rústicos são os prédios rústicos
situados fora da área delimitada por um foral ou da área de um aglomerado urbano e que se destinam,
designadamente, a fins exploração agrícola, pecuária, silvícola e mineira. A classificação dos terrenos concedíveis
em urbanos e rurais é feita nos planos de ordenamento do território ou, na sua falta ou insuficiência, por decisão
das autoridades competentes de acordo com a Lei de Terras.

2.15.4. Terrenos concedíveis


Os terrenos de que o Estado tenha a propriedade Originária, desde que não tenham entrado definitivamente na
propriedade privada de outrem, são concedíveis. O domínio destes terrenos e dos direitos fundiários limitados
sobre eles constituídos está sujeito ao regime jurídico do domínio privado do Estado ou das autarquias locais, às
normas da Lei de Terras e art. 1304.º do Código Civil. Os direitos fundiários do Estado não prescrevem. O Estado
pode transmitir direitos fundiários sobre terrenos concedíveis em benefício de pessoas singulares ou colectivas e
às autarquias através da concessão foral ou título legal equivalente.
Terrenos urbanos
Os terrenos urbanos classificam-se, em função dos fins urbanísticos, em terrenos urbanizados, em terrenos de
construção e em terrenos urbanizáveis. São urbanizados os terrenos cujos fins concretos estão definidos pelos
planos urbanísticos ou como tal classificados por decisão das autoridades competentes, conquanto que neles
estejam implementadas infra-estruturas de urbanização. São considerados como terrenos de construção os terrenos
urbanizados que, estando abrangidos por uma operação de loteamento devidamente aprovada, se destinem à
construção de residências familiares e outros imoveis com finalidades similares ou de comércio urbano.

Terrenos rurais
Consoante os fins a que se destinam c o regime jurídico a que estão sujeitos, os terrenos rurais classificam-se
como:
Terrenos rurais comunitários são os terrenos ocupados por famílias das comunidades rurais para sua habitação,
para exercício da sua actividade ou para outros fins reconhecidos pelo costume, pela Lei de Terra e respectivos
regula- mentos. São terrenos utilizados por uma comunidade rural segundo o costume relativo ao uso da terra,
abrangendo, conforme o caso, as áreas de transumância para o acesso do gado às fontes de água e às pastagens e
os atravessadouros, sujeitos ou não ao regime de servidão, utilizados para aceder à água ou às estradas ou
caminhos de acesso aos aglomerados urbanos. A delimitação dos terrenos rurais comunitários é precedida da
audição das famílias que integram as comunidades rurais e das instituições do poder tradicional existentes no
lugar de situação daqueles terrenos.

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Terrenos agrários são os terrenos aptos para cultura, designadamente para o exercício da actividade agrícola e
pecuária. São classificados pela entidade competente, mediante regulamento próprio e em função do tipo de
cultura predominante, em termos de regadio, arvenses ou hortícolas e terrenos de sequeiro.
O Estado promove operações de remodelação predial destinadas a pôr termo à fragmentação e à dispersão dos
prédios rústicos pertencentes ao mesmo titular, com o fim de melhorar o aproveitamento técnico e económico da
exploração agrícola, silvícola Ou pecuária.
Terrenos florestais são os aptos para o exercício da actividade silvícola, designadamente para a exploração e
utilização racional de florestas naturais ou artificiais.
Terrenos de instalação são os destinados à implantação de instalações mineiras, industriais ou agro-industriais,
dependendo a sua classificação como tal da sua proximidade com minas e fontes de matéria-prima.
Terrenos viários são os afectos à implantação de vias terrestres de comunicação, de abastecimento de água e de
redes de electricidade e de redes de drenagem pluvial e de esgotos.

Terrenos reservados
Terrenos reservados são os terrenos excluídos do regime geral de ocupação, uso e fruição por pessoas singulares
ou colectivas, em consequência da sua afectação à realização de especiais finalidades de interesse público, tais
como a protecção.

2.15.5. DIREITOS SOBRE OS TERRENOS


Domínio público do Estado

Estão integrados no domínio público do Estado:


As águas interiores, o mar territorial, a plataforma continental, a zona económica exclusiva, os fundos marinhos
contíguos, incluindo os recursos vivos e não vivos nele existentes.
O espaço aéreo nacional.
Os recursos minerais.
As estradas e os caminhos públicos, as pontes e as linhas-aéreas públicas.
As praias e a orla costeira numa faixa fixada por fora: ou por diploma do Governo, conforme estejam ou não
integradas em perímetros urbanos.
As zonas territoriais reservadas à defesa do ambiente.
As zonas territoriais reservadas para fins de defesa militar.
As zonas territoriais reservadas aos portos e aeroportos.
Os monumentos e imóveis de interesse nacional, como tal classificados e integrados no domínio público.
Outras coisas afectadas ao domínio público por lei do Governo ou por acto administrativo, designadamente pelos
diplomas que aprovem os planos gerais de ordenamento do território. Os bens integrados no domínio público do
Estado e os que este, por foral ou diploma do Governo, transmita para as autarquias locais são inalienáveis,
imprescritíveis e impenhoráveis. Sem prejuízo do direito fundiário do Estado é admissível a concessão de direitos
de pesquisa, exploração e produção de recursos minerais e de outros recursos naturais.

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2.15.6. Direitos fundiários


Tipos e regime
O Estado pode transmitir ou constituir sobre os terrenos concedíveis do seu domínio privado e em benefício de
pessoas singulares ou colectivas os seguintes direitos fundiários.
Direito de propriedade privada, regulado no Código Civil, transmissível perpetuamente (salvo a resolução no caso
de não aproveitamento útil e efectivo), exclusivamente a pessoas nacionais de Angola e quanto a terrenos urbanos,
concedíveis e do seu domínio privado (excluem-se, pois, terrenos rurais, terrenos não concedíveis e os do seu
domínio público) e desde que tais terrenos estejam compreendidos err plano de urbanização ou instrumento
legalmente equivalente e tenha sido aprovado o seu loteamento livre a transmissão do direito de propriedade sobre
terrenos urbanos que já tenhu-n entrado no regime de propriedade privada.
Domínio útil consuetudinário, nos termos do qual o Estado reconhece de forma perpétua (salvo a sua extinção
gelo não uso e pela sua livre desocupação) famílias que integram as comunidades rurais a ocupação, a posse e os
direitos de uso e fruição dos terrenos rurais comunitários por elas ocupados e aproveitados de forma útil e efectiva
de acordo O costume.
Domínio útil civil, a que se aplicam os dispositivos do Código Civil (arts_ 1491." a 1523º, ilide recair sobre
terrenos rurais ou urbanos e é constituído por concessão também (sem prejuízo do direito de remissão), sendo
devido pelo concessionário o pagamento anual de um foro, remível ao fim de 20 anos de duração, conquanto que
houve durante esse prazo um aproveitamento aos terrenos, sendo o preço dos foros.
Direito de regulado no Civil tutela prazo máximo de 60 anos (sem prejuízo da sua renovação), apenas sobre
terrenos, rurais ou urbanos, integrados no domínio privado e a favor de singulares ou colectivas, nacicH1ais ou
estrangeiras, contra o pagamento de pagamento anual de uma monetária.
Direito de ocupação precária. nos termos do qual. através de contrato de arrendamento por determinado não
superior a um ano (sem prejuízo da sua renovação) e contra o pagamento de uma renda, o Estado e as autarquias
locais concedem o direito de serem ocupados terrenos rurais ou urbanos do seu domínio privado e para a
construção precária de instalações não definitivas destinadas nomeadamente a:
— Construção de edifícios de carácter definitivo;
actividades de mineira de Curta duração;
— Actividades de investigação científica;
— Actividades de estudo da Natureza e de protecção desta;
— Outras actividades previstas em regulamentos autárquicos.

Concessão de direitos fundiários.


A constituição de direitos fundiários sobre terrenos urbanizáveis está dependente do disposto nos planos
urbanísticos ou em diplomas equivalentes e da execução das correspondentes Obras de urbanização. As áreas
terrenas urbanas estão limitadas a atribuição direita fundiária está dependente da dos respectiva• e útil
aproveitamento dos terrenos e é em regra onerosa (admite-se a concessão) a título gratuito a de provada
insuficiência económica e que queiram integrar projectos e a instituições de utilidade pública que realizem fins
solidariedade social, ou desportivos c quando a constituição de domínio útil consuetudinário não atravessa, mas
de simples reconhecimento).

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NOÇÃO DE DIREITO COMERCIAL


1.1.
É tradicionalmente definido como o conjunto de normas que regulam o comércio. Sentido económico há a acepção
em sentido económico e em sentido jurídico. Qual das noções i será a correcta?
Comércio em sentido económico é aquele conjunto de actividades económicas que pertencem a um sector
(terciário) da economia, relativo à circulação de bens, a actividades de intermediação de bens.
Os economistas dividem as estruturas económicas em três grandes sectores:
Primário — agricultura, silvicultura, caça, pescas, indústrias extractivas.
Secundário — artesanato, indústrias transformadoras.
— Terciário — comércio, prestação dg serviços.
Mas não se pode chegar à conclusão de que o Direito Comercial é regulador de toda a economia. Há vários sectores
cuja regulamentação não cabe ao Direito Comercial, como, por exemplo, a agricultura, o artesanato, etc.
Sentido jurídico
Comércio em sentido jurídico é aquele conjunto de actividades económicas a que, em dado país, e em dado
momento, se aplicam as leis comerciais desse mesmo país.
Esta noção não é a mais correcta por duas razões:
Uma definição deste tipo gera uma noção de Direito Comercial puramente formal. Identificando o Direito
Comercial como (fina realidade jurídica concreta, nada nos diz sobre os critérios materiais de delimitação do
objecto do
Direito Comercial.
Por outro lado, o Direito Comercial não regula apenas o comércio em sentido jurídico (por ex., para efeitos das
dívidas dos cônjuges, das sociedades comerciais), este ramo disciplina também o que se denomina por actos
formalmente comerciais (ou actos de comércio formais).
Concluindo do exposto acima, poderemos dizer que o Direito Comercial não pode ser definido como um direito
do comércio em sentido económico nem em sentido jurídico. Ambas as definições são insatisfatórias, por defeito
ou por excesso.

HISTÓRIA DO DIREITO COMERCIAL


1.2.
O Direito Comercial é um ramo de Direito de origem medieval.
Na Antiguidade greco-romana, onde já se desenvolviam actividades económicas, o Direito Civil comum chegava
para satisfazer as necessidades do tráfego (figura do pretor).
Na Idade Média assiste-se ao nascimento do Direito Comercial como ramo autónomo. Duas razões justificam o
seu aparecimento:
Explosão do comércio nas cidades (Norte de Itália e Flandres), que deu origem a corporações profissionais de
mercadores, com tribunais próprios que vieram dar origem a normas consuetudinárias e codificações).
Fragmentação do Direito Civil comum. Desapareceu o pretor. O Direito Comercial primitivo tinha cinco
características fundamentais: profissional, corporativo, autónomo (do Direito Civil comum), de origem
consuetudinária, de vocação cosmopolita ou internacional.

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Na Idade Moderna, era o Direito dos comerciantes. Com o fim do feudalismo e com a centralização progressiva
do poder do Estado, foi perdendo todas as características, menos a primeira (profissional). Mas com a Revolução
Francesa perdeu também esta, para passar a ser o Direito que regula os actos do comércio (deixando de ser o
Direito privativo dos comerciantes). Esta era uma visão objectiva, contrapondo-se à subjectiva até então existente.

2.1. NOÇÃO DE SOCIEDADE COMERCIAL


O art.º. n.º 1 da Lei das Sociedades Comerciais define sociedades comerciais
como:
«Aquelas que tenham por objecto a prática de actos de comércio e se constituam nos termos da presente Lei.'
Desde logo deparamos com dois critérios distintos para a qualificação dos actos de comércio.
Actos de comércio objectivos e subjectivos
Os primeiros, são aqueles cuja relevância jurídica deriva do seu próprio conteúdo objectivo, independentemente
da pessoa que os praticou. O acto tem uma comercialidade "inres".
Os segundos são aqueles cuja relevância jurídico-comercial deriva da própria pessoa que os praticou. O acto tem
uma comercialidade "in persona".
2 2 TIPOS DE SOCIEDADE
Em matéria de sociedades vigora o princípio da tipicidade (ou do numerus clausus). Segundo este princípio, só se
podem constituir sociedades comerciais as que adoptem um dos tipos taxativamente previstos na Lei. O
fundamento deste princípio tem a ver com a segurança do tráfico jurídico.
Os tipos legais comuns são:
Sociedades em nome colectivo.
Sociedades por quotas.
Sociedades anónimas.
Sociedades em comandita.
Sociedades em comandita simples.
Sociedades em comandita por acções.
Quais as semelhanças entre estas sociedades?
Todos estes tipos correspondem a pessoas colectivas; todas são comerciantes e todas devem possuir uma firma.

Quais as diferenças entre elas?


São diferentes quanto à responsabilidade dos sócios, quanto ao capital e participações sociais e quanto à
organização social.
REGIME DA RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
Sociedades em nome colectivo
Nas sociedades em nome colectivo (art. 176º e seguintes da Lei das Sociedades
Comerciais), o sócio possui uma responsabilidade pessoal, ilimitada, solidária e subsidiária pelas obrigações
sociais.

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O sócio responde até ao montante da sua entrada e ainda subsidiariamente em relação à sociedade (os credores
sociais só podem agredir o património dos sócios depois de executado o património social, se houver ainda
obrigações), e solidariamente com os outros sócios (uma vez executado o património social e subsistindo
obrigações sociais, os credores podem exigir a integridade dessa dívida a qualquer um dos sócios).
Sociedades em comandita
Nas sociedades em comandita (art.º 201º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais), há duas categorias de
sócios: os sócios comanditários, que respondem pela sua entrada (têm uma responsabilidade limitada); e os sócios
comanditados, que respondem pelas dívidas da sociedade (têm uma responsabilidade ilimitada, aparecem numa
situação semelhante a um sócio em nome colectivo).
Nas sociedades em comandita simples (art. 210º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais), aplicam-se as
disposições relativas às sociedades em nome colectivo.
Nas sociedades em comandita por acções (art.º 214.º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais) aplicam-se
as disposições relativas às sociedades anónimas.
Sociedades por quotas nas sociedades por quotas (art.º 217º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais) o sócio
tem uma responsabilidade solidária pela realização integral do capital social.
É uma responsabilidade limitada e indirecta para com a sociedade, os credores não podem agredir directamente o
património do sócio.
Isto não impede que um sócio possa assumir, por via negocial, responsabilidades acrescidas, quer uma
responsabilidade pessoal pelas obrigações dos sócios, quer a realização de prestações suplementares de capital.
Um sócio pode obrigar-se a uma responsabilidade pessoal e directa perante os credores sociais até um dado
montante.

Sociedades anónimas
Nas sociedades anónimas (art. 301º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais) o sócio (accionista) tem uma
responsabilidade limitada ao montante da sua entrada individual. Neste tipo de sociedade, cada sócio apenas
responde pelo valor da sua parte social, podendo pôr todo o restante património pessoal a salvo da agressão dos
credores sociais.
Às sociedades anónimas e às sociedades por quotas corresponde uma autonomia patrimonial perfeita: os bens da
sociedade respondem pelas dívidas da sociedade e pelas dívidas respondem os bens da sociedade.
CAPITAL SOCIAL E PARTICIPAÇOES SOCIAIS
Sociedades em nome colectivo
As sociedades em nome colectivo (art. 176.º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais) têm o seu capital
dividido em partes sociais.
A Lei não fixou um valor mínimo, podem ter um valor qualquer.
A contrapartida da subscrição das partes pode consistir em bens ou serviços.
As partes (acções) podem ter um valor desigual, mas não podem ser representadas em títulos de crédito
(documentos). As partes sociais só podem ser transmitidas intervivos por escritura pública e requer-se um
consentimento expresso e unânime de todos os sócios.
Sociedades em comandita
Nas sociedades em comandita (art. 201.º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais) o capital ou está dividido
em partes (sociedade em comandita simples), ou em acções (sociedade em comandita por acções).
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Sociedades por quotas


As sociedades por quotas (art. 217.º e seguintes da Lei das Sociedades Comerciais) têm de ter um capital de valor
mínimo de USD 1000,00.
As quotas têm de resultar obrigatoriamente de entradas realizadas em bens (dinheiro ou espécie), mas não
prestações de serviços.
As quotas podem ter um valor desigual, mas têm de ter um valor mínimo de USD 100,00.
Não podem ser representadas por títulos.
A transmissão está sujeita a regras especiais: só podem ser transmitidas as quotas intervivos, por escritura pública
e mediante o consentimento da sociedade (é necessário o consentimento da Assembleia-Geral da sociedade,
bastará neste caso que a maioria dos sócios votem a favor da cessão de quotas).
Sociedades anónimas
As sociedades anónimas (art. 301.º e seguintes da Lei da Sociedades Comerciais) têm o capital dividido em acções.
Quer o capital, quer as fracções têm de ter um valor mínimo. O capital das sociedades anónimas não pode ser
inferior a USD 20 O valor nominal das acções não pode ser inferior a USD 5,00.
Como acontece na sociedade por quotas, as entradas devem sempre consistir em bens (dinheiro ou prestações em
espécie), mas não em prestações de serviços.
As acções têm de ter, entre si, um valor nominal idêntico. Todas elas têm de estar representadas por títulos, excepto
as acções escriturárias, que não são representadas por títulos.
Na transmissão, vigora o princípio da livre transmissibilidade das acções, que só podem sofrer desvios em
situações excepcionais.

ESTRUTURA ORGANIZATIVA
Todos os tipos legais de sociedades comerciais possuem uma estrutura organizativa interna, há uma repartição de
poderes deliberativos (assembleias-gerais), executivos (Conselho da Administração e Direcção nas sociedades
anónimas, gerência nas sociedades por quotas e em nome colectivo), e fiscalizadoras (conselho fiscal ou
sociedades de revisores oficiais de contas).
• Sociedades em nome colectivo
As sociedades em nome colectivo (art. 191º e seg.) possuem uma estrutura organizativa interna muito primária,
os sócios desempenham todas as competências.
Competências deliberativas
À convocação e funcionamento das assembleias-gerais e às deliberações dos sócios aplica-se o disposto para as
sociedades por quotas.
As deliberações são aprovadas com a maioria simples dos votos.
Nas assembleias-gerais, o sócio só pode ser representado pelo seu cônjuge, por ascendentes ou descendentes ou
por outro sócio, desde que envie uma carta registada à sociedade.
As actas das assembleias-gerais devem ser assinadas por todos os sócios ou pelos seus representantes. A cada
sócio pertence um voto.
Competências executivas
Todos os sócios são gerentes, tanto os que constituíram a sociedade, como os que posteriormente adquiram a
qualidade de sócio.
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No caso de haver deliberação unânime dos sócios, podem ser nomeados como gerentes pessoas estranhas à
sociedade.
Uma pessoa colectiva pode ser nomeada como gerente para a sociedade?
Não, uma pessoa colectiva sócia não pode ser gerente, mas já pode ser nomeada como gerente uma pessoa
singular, em nome próprio.
A administração e a representação da sociedade competem aos gerentes e devem exercer esta competência dentro
dos limites do objecto social, e por vezes com limitações expressas no contracto de sociedade.
Sociedades em comandita
Competências executivas
Só os sócios comanditados podem ser gerentes. Mas o contracto de sociedade pode facultar à nomeação como
gerentes os sócios comanditários ou pessoas estranhas à sociedade. Aqui, neste caso, é necessário o acordo
unânime dos sócios comanditados.
Competências deliberativas
As deliberações dos sócios são aprovadas por unanimidade, por escrito ou em assembleia-geral.
Ás sociedades em comandita simples aplicam-se as disposições relativas às sociedades em nome colectivo.
Ás sociedades em comandita por acções aplicam-se as disposições relativas às sociedades anónimas.
• Sociedades por quotas
Competências deliberativas
Assembleia-Geral — é o órgão dotado de competências gerais.
Competências executivas
Os gerentes possuem competências gerais de administração e representação exclusiva da sociedade. Os gerentes
podem ser terceiros que não sejam sócios da Competências fiscalizadoras SEO da competência da Assembleia-
Geral.
Mas o contracto de sociedade pode determinar a existência de um órgão de fiscalização ao qual se aplica as
disposições relativas às sociedades anónimas.
• Sociedades anónimas
Competências deliberativas
Os accionistas podem deliberar unanimemente por escrito ou em assembleia geral de accionistas. Os accionistas
só podem deliberar em matérias de gestão da sociedade se o órgão de administração lhes solicitar.
Competências
O Conselho de Administração é constituído por um número ímpar de membros fixados pelo contracto.
Pode um terceiro com capacidade jurídica, seja accionista da sociedade ou não, ser administrador. Se for designada
para administrador uma pessoa colectiva, deve esta nomear uma pessoa singular para exercer o referido cargo.
Os administradores podem ser indicados no contracto de sociedade ou eleitos pela Assembleia-Geral ou pela
Assembleia Constitutiva.

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Competências fiscalizadoras
São da competência da Assembleia-Geral.
Mas o contracto de sociedade pode determinar a existência de um órgão de fiscalização ao qual se aplica as
disposições relativas às sociedades anónimas.
• Sociedades anónimas
Competências deliberativas
Os accionistas podem deliberar unanimemente por escrito ou em assembleia- -geral de accionistas. Os accionistas
só podem deliberar em matérias de gestão da sociedade se o órgão de administração lhes solicitar.
Competências executivas
O Conselho de Administração é constituído por um número ímpar de membros fixados pelo contracto.
Pode um terceiro com capacidade jurídica, seja accionista da sociedade ou não, ser administrador. Se for designada
para administrador uma pessoa colectiva, deve esta nomear uma pessoa singular para exercer o referido cargo.
Os administradores podem ser indicados no contracto de sociedade ou eleitos pela Assembleia-Geral ou pela
Assembleia Constitutiva.

Competências fiscalizadoras
Pode ser um conselho fiscal ou um fiscal único.
ACTOS DE CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE
O contracto de sociedade é o processo normal de constituição de uma sociedade. Está regulado nos arts. 8º a 11.º
da Lei das Sociedades Comerciais.
Nas sociedades em comandita, o contracto de sociedade está regulado no art. 202. da Lei das Sociedades
Comerciais.
Nas sociedades por quotas, o contracto de sociedade está regulado no art. 219º.
Nas sociedades anónimas, o contracto de sociedades está regulado nos art. 302º e 314º da Lei das Sociedades
Comerciais.
Nas sociedades em nome colectivo, o contracto de sociedade está regulado no art. 177º
Nestes tipos de sociedade há dois momentos especiais e muito importantes:
A escritura pública, que reflecte as declarações de vontade negocial das partes.
Nos termos do art. 8.º da Lei das Sociedades Comerciais, «o contracto de sociedade deve ser celebrado por
escritura pública».
O registo definitivo, que é condição necessária de aquisição de personalidade jurídica por parte de uma sociedade.
Nos termos do art. 20.º, «depois de celebrada a escritura pública, o contracto de sociedade deve ser inscrito no
registo comercial...».

REQUISITOS DA CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE SOCIEDADE


Podemos classificar os requisitos da celebração do contracto de sociedade em três categorias:
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Relativos às partes (número de partes, natureza das partes, capacidade das partes e legitimidade das partes).
Relativos ao fundo (consentimento das partes, objecto).
Relativos à forma (celebração por escritura pública, registo, publicações).
RELATIVOS Às PARTES
• Relativos ao número das partes
Segundo o art. 8.º da Lei das Sociedades Comerciais, o número mínimo de partes do contracto de sociedade é de
dois, excepto quando a Lei exija um número superior ou permita que a sociedade seja constituída por uma só
pessoa.
A regra é: exige-se duas pessoas.
Pode, porém, sofrer excepções:
Nas sociedades em comandita por acções, o número mínimo é de cinco sócios comanditários (art. 215º).
Nas sociedades anónimas, o número mínimo é também de cinco sócios (art_aquisição de uma participação social
em regime de contitularidade, contam como uma só parte as pessoas que a tenham adquirido (art. n. º3).
• Relativos à natureza das partes
As partes podem ser pessoas singulares ou colectivas. participação de pessoas colectivas em sociedades
comerciais aplicam-se as regras gerais relativas às pessoas colectivas. A participação de uma associa- ou de uma
fundação numa sociedade comercial será admissível sempre isso seja considerado um acto necessário e
conveniente à prossecução dos fins da pessoa colectiva.
— A participação de sociedades de qualquer tipo e sociedades de responsabilidade limitada (sociedade anónima
e sociedade por quotas) e com um objecto idêntico ao seu é permitida e não depende de autorização nem de deli
sócios (art. 13.º n. º3).
A participação de sociedades de qualquer tipo em sociedades de responsabilidade ilimitada, em sociedades que
tenham um objecto diferente ou em sociedade de tipo especial só é permitida se e nos exactos termos em que o
contracto social o permitir. (art. n.º 4).
A participação de sociedades em sociedades dá origem ao problema da coligação sociedades (art.º. 463.º e
seguintes).
- Relativos à capacidade das partes
As partes devem ter capacidade de exercício e capacidade de gozo.
Vamos analisar a capacidade de exercício.
As partes têm de ter capacidade para, por si próprias, praticar negócios, ou não a tendo de supri-la por meios
legais.
Um menor, um interdito e um inabilitado não podem, por si só, celebrar um contracto de sociedade (participar na
sua celebração), porque o contracto de sociedade envolve disposições de bens para realizar as entradas e, por
vezes, a assunção da responsabilidade.
Há que distinguir:
Na sociedade em nome colectivo ou na sociedade em comandita, na qual o menor seria um sócio de
responsabilidade ilimitada. Ora, tal é inadmissível, a sua participação implicaria a exposição do património do
menor a uma responsabilidade ilimitada pelas dívidas sociais, o que não pode ser.
Na sociedade por quotas, também é inadmissível a participação de um menor no seu contracto de constituição,
em duas situações:
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I — Enquanto o capital social não estiver integramente liberado;


2. — quando no próprio contracto da sociedade se tiver estabelecido obrigações de prestações suplementares.
No caso de uma sociedade anónima e numa sociedade comandita por acções, onde o incapaz surja na veste de
sócio comanditário, já parece admissível e válida a participação do incapaz nesse contracto, desde que os bens
que ele utilizou para a compra das acções sejam bens que ele adquiriu por via do seu próprio trabalho.
• Relativos à legitimidade das partes
A participação dos cônjuges nas sociedades comerciais (arte 9.º da Lei das Sociedades Comerciais) é permitida,
em qualquer sociedade, nos seguintes termos:
qualquer um dos cônjuges pode, por si só, constituir ou participar em qualquer tipo de sociedade comercial
(estatuto de igualdade);
Os dois cônjuges (juntos) podem constituir ou participar com dois ou mais sócios), numa mesma sociedade por
quotas, numa mesma sociedade anónima ou numa mesma sociedade em comandita (em que pelo menos um deles
seja sócio comanditado), ou seja, desde que só um deles seja sócio de responsabilidade ilimitada.
É interdito que ambos possam constituir ou participar numa mesma sociedade em nome colectivo ou em
comandita, na qual ambos sejam sócios comanditados (há uma responsabilidade ilimitada).
Quando uma participação social for considerada comum aos dois cônjuges, será considerado sócio aquele que
celebrar o contracto de sociedade ou aquele que adquirir a participação.
RELATIVOS AO FUNDO
• Consentimento das partes
Para que exista um contracto de sociedade válido, é necessário que o consentimento dado pelas partes resulte de
declarações negociais também elas válidas, formadas sem vícios e expressadas de modo coincidente com a
vontade real.
Que tipo de vícios estão aqui abrangidos?
Todos os vícios previstos na Lei civil: os vícios na expressão da vontade (elementos subjectivos) — erro, dolo,
coacção moral, incapacidade acidental, estado de necessidade.
Os vícios na expressão da vontade (divergência entre a vontade real e a vontade declarada (elemento objectivo)
podem dever-se a divergências intencionais: simulação, reserva mental, declaração não séria; ou a divergências
não intencionais: falta de consciência de declaração, erro na transmissão, erro na declaração, coacção física.
A simulação também é importante, porque está ligada à problemática das sociedades fictícias. Por vezes, certos
contractos de sociedade são celebrados pelas partes com o intuito de celebrarem (encobrirem) outro contracto.
Os vícios da vontade e incapacidade nas sociedades por quotas, anónimas e em comandita por acções, estão
previstos no art. 47.º da Lei das Sociedades Comerciais.
Segundo este artigo, «nas sociedades por quotas, anónimas e em comandita por acções, 0 erro, o dolo, a coacção
e a usura podem ser invocados como justa causa de exoneração pelo sócio lesado ou cuja vontade tenha sido
viciada, desde que se verifiquem os requisitos de que a lei civil faz depender a anulação do negócio jurídico E,
ainda, «nas sociedades referidas, a incapacidade de um dos contraentes tornar o negócio jurídico anulável
relativamente ao incapaz».
Os vícios da vontade e incapacidade nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples estão consagrados
no art.º. 48º, "nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples, o erro, o dolo, a coacção, a usura e a
incapacidade determinam a anulabilidade do contracto social em relação ao contraente incapaz, ao contraente
lesado e ao contraente cuja vontade tenha sido viciada».
Convém ainda referir uma outra figura, que é a associação à quota.
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E o que é?
É uma convenção celebrada entre um sócio de uma sociedade e um terceiro, pelo qual o sócio cede ao terceiro os
direitos patrimoniais inerentes à sua participação social, total ou parcialmente.
Esta figura não se confunde com a sociedade fictícia, porque é uma convenção válida.
Tal convenção não pode ser usada para tornear as limitações da lei à entrada de novos sócios na sociedade. O
terceiro só pode entrar para a sociedade se todos os outros sócios estiverem de acordo.
Relativos a Forma
Celebração por escritura publica
A validade do contracto de sociedade comercial está sujeita a uma forma especial

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