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Direito Constitucional e Administrativo

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .......................................................................................3
OBJETIVOS ..............................................................................................3
MÓDULO I – NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL .......................................4
Assunto 1: TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO ...................................................................4
Assunto 2: ESTRUTURA CONSTITUCIONAL e PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS ..............6
Assunto 3: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS .................................................... 17
Assunto 4: ORGANIZAÇÃO DO ESTADO .............................................................................. 32
Assunto 5: MILITARES DOS ESTADOS ................................................................................. 36
Assunto 6: DA SEGURANÇA PÚBLICA .................................................................................. 37
Assunto 7: DOS TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES ............................................................ 40
Assunto 1: INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................... 42
Assunto 2: PODERES DO ESTADO ........................................................................................ 43
Assunto 3: ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ....................................... 45
Assunto 4: ENTIDADES ESTATAIS E ENTIDADES ADMINISTRATIVAS ........................ 46
Assunto 5: PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ....................................................................... 48
Assunto 6: ATO ADMINISTRATIVO ...................................................................................... 59
Assunto 7: PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................. 67
Assunto 8: RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO .......... 77
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 80

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APRESENTAÇÃO

Caros discentes, nossa disciplina irá abordar as noções essenciais de Direito


Constitucional e Administrativo com foco nas atividades da Policial Militar.
Deste modo, no primeiro módulo conheceremos os principais dispositivos
constitucionais que organizam o Estado brasileiro, abordando a estrutura da Constituição
Federal da República Brasileira de 1988 (CRFB/88), dando breve destaque aos
fundamentos, objetivos e princípios que permeiam o texto constitucional.
Ao adentrar ao Título II da CRFB/88, analisaremos os “Direitos e Garantidas
Fundamentais” sob o prisma da atuação policial militar. No exame, apresentar-se-ão os
remédios constitucionais para proteção dos: a) Direitos de informação, b) Direitos às
liberdades, c) Direitos líquidos e certos; e d) Direitos pendentes de normatização,
contextualizando-os.
Logo após, estudaremos as normas estruturantes da Segurança Pública, bem
como as atribuições específicas de cada órgão disposto no art. 144 da CRFB/88.
Já no segundo módulo, conceituaremos os Poderes que compõem o Estado
(Executivo, Legislativo e Judiciário) especificando suas funções típicas e atípicas, para
então, definirmos a Administração Pública (direta e Indireta) e o Direito Administrativo
propriamente dito.
Em ato contínuo veremos os princípios expressos (CRFB/88) e os relevantes
do Direito Administrativo, que serão examinados dando destaque à aplicação nas ações de
polícia ostensiva e preventiva.
Oportunamente, adentraremos as noções básicas de atos administrativos e
suas espécies de extinção (revogação e anulação), para compreensão de acontecimentos
corriqueiros na carreira policial militar.
Por fim, entraremos na seara dos Poderes da Administração, enfatizando a
atuação policial neles ancorados.
Na condição de docente, espero que o curso seja agradável e dinâmico, para
que o conteúdo seja aproveitado ao máximo pelos senhores.

Bons estudos!
Atenciosamente,
2º Tenente QOPM Max William Alves.

OBJETIVOS
 Reconhecer a importância da Proteção à Dignidade Humana e aos Princípios de
Cidadania, mesmo diante de situações que exijam o uso do poder discricionário;

 Atuar no policiamento ostensivo, dentro da legalidade, imbuído dos valores do


policial cidadão, legalista, comunitário e profissional;

 Entender o conjunto de princípios que regem a Administração Pública enfatizando a


atividade policial no contexto legal;

 Entender o embasamento para a execução de suas condutas como policial.

 Possibilitar a aplicação do conhecimento com o cotidiano do policial militar (atividade


operacional e controle da sua vida funcional (carreira e progressões).

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MÓDULO I – NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Assunto 1: TEORIA GERAL DA CONSTITUIÇÃO

Conforme contexto histórico (Evolução do Constitucionalismo) surgiu com a ideia


de limitar a atuação do poder do Estado (ações negativas), ou seja, visava coibir os abusos
do Soberano, limitando sua atuação, consagrando maiores liberdades ao indivíduo e menos
interferência do Estado na vida privada (direitos e garantias individuais e coletivas –
liberdade de locomoção, de reunião, pensamento, religião; direito de propriedade,
integridade física, etc.).
Com o avanço do Movimento do Constitucionalismo, o Estado passou também
a exercer obrigações, no sentido de realizar ações positivas, ou seja, além de interferir
menos nas liberdades dos indivíduos (ou não interferir), passou a prestar serviços públicos
essenciais ao seu povo (ex: direitos sociais, tais como saúde, educação, segurança pública,
assistencialismo, trabalho, previdência, moradia, etc).
Em alguns casos, como a República Federativa do Brasil, a Constituição irá
dispor de outros elementos, tais como a estrutura política, jurídica, social e econômica do
Estado.
Uma vez consolidada suas regras, a Constituição de um Estado/Povo/Nação,
estará acima de todos, inclusive do próprio Estado, o qual deverá, também, estar submetido
as suas regras (Art. 1º - Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição).
Assim, podemos dizer que a Constituição é a norma de maior hierarquia em um
ordenamento jurídico, que organiza estrutura e constitui o Estado e os direitos e garantias
individuais.
O vocábulo “Constituição” tem muitos significados; mas há um sentido
primário: a Constituição é a Lei Fundamental ao Estado e ao seu povo, ditando ao
primeiro os limites de atuação como forma de proteger ou tutelar o segundo.
Como dito nos parágrafos anteriores, na Constituição encontram-se,
geralmente, as normas básicas que compõem a estrutura jurídica, política, social e
econômica do Estado; sendo seu objeto a limitação do poder do Estado em relação as
pessoas e as instituições que o compõem.

IMPORTANTE: A concepção de constituição ideal foi preconizada por J. J. Canotilho


(constituição de caráter liberal) que apresenta os seguintes elementos:
a) Deve ser escrita;
b) Deve conter um sistema de direitos fundamentais individuais (liberdades negativas);
c) Deve conter a definição e o reconhecimento do princípio da separação dos poderes
(tripartição dos poderes);
d) Deve adotar um sistema democrático formal (processo de alteração e criação da
Constituição – processo legislativo).
Em síntese a Constituição é a lei máxima e fundamental do Estado. Ocupa o
ponto mais alto da hierarquia das normas jurídicas. Por isso, recebe nomes enaltecedores
que indicam essa posição de ápice na Pirâmide de Normas: Lei Suprema, Carta Magna,
Lei das Leis ou Lei Fundamental.

Supremacia da Constituição

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A Constituição é a lei suprema do Estado brasileiro e fundamento de validade
de todas as demais normas jurídicas, razão pela qual estas só serão válidas se em
conformidade com as normas constitucionais.
O sistema jurídico pátrio pode ser representado por uma pirâmide imaginária
composta por níveis hierárquicos, vejamos:

Observe que:
1. Constituição:
a. Normas originárias
b. Normas derivadas – Emendas Constitucionais
c. TIDH que sigam o rito da EC (3/5, em 2 turnos em cada casa no CN).
2. Normas Supralegais - TIDH que não seguiram o rito da EC.
3. Atos Normativos Primários = Lei Complementar, Lei Ordinária, Lei Delegada, Medida
Provisória, Decreto Legislativo e Resolução.
4. Atos Normativos Secundários = Decretos e Regulamentos.

Assim, a supremacia da Constituição importa, num primeiro momento, o


aspecto material (de forma que as leis e atos normativos não podem contrariar as
normas constitucionais); e, também, um aspecto formal (pois é a Constituição que fixa;
a organização, a estrutura, a composição, as atribuições e o procedimento dos Poderes
- estes nada podem senão pelo modo que prevê a Constituição.
Portanto, temos que nenhum ato estatal tem validade se não estiver,
formal e materialmente, em conformidade com a Constituição (esta é uma condição
de constitucionalidade).
Observação: Posição Hierárquica dos Tratados Internacionais
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a) TIDH – com status de norma constitucional – art. 5º § 3º da CF.
b) TIDH – status supralegal – art. 47 da CF.
c) Tratados Internacionais – status de lei ordinária.

IMPORTANTE:
1. Atualmente, temos 4 (quatro) tratados internacionais de direitos humanos com status
equivalente ao de emenda constitucional. São eles:

a) Convenção da ONU sobre o Direito das Pessoa com Deficiência.


b) Protocolo adicional à Convenção da ONU sobre o Direito das Pessoa com Deficiência.
c) Tratado de Marraqueche (tem por objetivo de facilitar o acesso a obras publicadas às
pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto
impresso).
d) Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas
Correlatas de Intolerância.

2. Não há hierarquia entre lei ordinária e lei complementar. Elas têm o mesmo nível
hierárquico. Também não há hierarquia entre lei federal e lei estadual, cada uma tem a sua
competência.

3. Se traçarmos um paralelo (analogia, comparação) entre as normas jurídicas e uma


pirâmide, a Constituição Federal seria o ápice (cume) da referida figura geométrica.

Assunto 2: ESTRUTURA CONSTITUCIONAL e PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

IMPORTANTE: A Constituição Federal de 1988 é composta de três partes:


a) Preâmbulo;
b) Texto Constitucional (principal) e,
c) Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).

1. Preâmbulo e Princípios Fundamentais


Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte
para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais
e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a
justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a
solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

IMPORTANTE:
1. Embora louvável para muitos, a referência à Divindade poderia entrar em choque com a
separação entre Estado e Religião. Devemos lembrar que o Brasil adota o chamado Estado
Laico, já que a própria Constituição Federal consagra a liberdade de manifestação religiosa
e a necessidade de garantia, pelo Estado, da livre manifestação de pensamento. Neste
sentido, são exemplos os incisos VI e VIII do artigo 5º da Constituição Federal.
2. Supremo Tribunal Federal construiu (STF, ADI 2076/AC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ
08.08.2003) uma solução bem interessante: entendeu que o preâmbulo não tem força
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normativa, ou seja, representa um texto situado muito mais no terreno da Política do que do
Direito.
Assim:
a. O preâmbulo não é norma de repetição obrigatória nos Estados;
b. Não pode ser considerado como parâmetro para declaração de inconstitucionalidade.

Vamos ao Texto constitucional:

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais
pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
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Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica,
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma
comunidade latino-americana de nações.

EXPLICANDO:
O Título I da Constituição Federal de 1988 consagra os princípios fundamentais
do Estado brasileiro, os quais estabelecem a sua forma, estrutura e fundamento (art. 1º), a
divisão de seus poderes (art. 2º), os objetivos primordiais a serem perseguidos (art. 3º) e as
diretrizes a serem adotadas nas suas relações internacionais (art. 4º).
Princípios Fundamentais são as regras informadoras de todo sistema de
normas, as diretrizes básicas do ordenamento constitucional brasileiro; são as regras
que contêm os mais importantes valores que informam a elaboração da Constituição
da República Federativa do Brasil.
Considerando que os princípios constitucionais foram expressamente inseridos
no Texto Constitucional, a norma infraconstitucional que viole qualquer um deles, previstos
expressamente ou de forma implícita, é inconstitucional e, portanto, deve ser retirada do
mundo jurídico.

2. Dos princípios estruturantes:


São considerados estruturantes os princípios constitutivos das diretrizes
fundamentais de toda a ordem constitucional.
A seguir analisaremos alguns princípios estruturantes que expressam as
decisões políticas fundamentais do legislador constituinte em relação à estrutura e
organização do Estado brasileiro (art. 1º).
a) Princípio Republicano
A principal característica do Princípio Republicano é a temporariedade do
mandato de governo e a eletividade; é forma contraposta à monarquia, onde o mandato de
governo é vitalício e o acesso a ele não se dá pelo voto, mas por direito de linhagem ou
divino (poder hereditário).
Outra distinção entre república e monarquia é a possibilidade de
responsabilização do governante (que a monarquia não admite) e a justificativa do poder é
exercido por direito pessoal próprio, de linhagem ou divino, ao passo que, na república, ele
é exercido em nome do povo.
A forma de governo REPUBLICANA implica na necessidade de legitimidade
popular do presidente da república, dos governadores e prefeitos municipais, na existência
de assembleias e câmaras populares nas três órbitas de governos, em eleições periódicas
por tempo limitado e da própria renovação do poder, e da prestação de contas da
administração pública.
As características da forma de governo republicana são:
- natureza representativa (representantes eleitos pelo povo).
- eletividade dos mandatários.
- temporariedade dos mandatos eletivos
- agentes políticos passíveis de responsabilização pelos seus atos.
- existência de soberania popular - repartição de poderes.

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Obs.: Proteção da forma republicana – A forma republicana não está expressamente
protegida pelas cláusulas pétreas da Constituição (art. 60, § 4°), mas, nem por isso encontra-
se despida de proteção. Primeiro porque a agressão à forma republicana pode levar à
intervenção federal, nos termos do art.34, VII, por ser ela princípio constitucional sensível.
Segundo porque a doutrina a entende como limitação material implícita ao poder de reforma
da Constituição.

b) Princípio Federativo
O Brasil assumiu a forma de Estado Federal em 1889 com a Proclamação da
República, o que foi confirmado pela Constituição de 1891 e mantido nas Constituições
posteriores.
A federação é uma forma de Estado na qual há mais de uma esfera de poder
dentro de um mesmo território, ou seja, é uma forma de organização do Estado que se
opõe ao Estado Unitário.
Enquanto no Estado Unitário todo o poder é centralizado, havendo apenas
subdivisões internas puramente administrativas, sem poder de comando, no Estado
Federativo existe uma unidade central de poder, que é soberana, e diversas subdivisões
internas com parcelas de poder chamadas autonomias. Assim, no Estado Federativo os
entes políticos que o compõem possuem autonomia, sendo que o poder de cada um
deles é atribuído pela Constituição Federal. Em síntese: União – soberana; UF –
Autônoma.
O Brasil adota o tipo de federação chamada orgânica, por ser mais rígida que
o modelo norte-americano, o que significa dizer que, no Brasil, a parcela de poder deixado
com Estados, Distrito Federal e Municípios é pequena, existindo ainda uma tendência
centralizadora por parte do governo central.
IMPORTANTE: Os entes que compõe a Federação brasileira são: União, os Estados-
membros, o Distrito Federal e os Municípios (art. 18, caput, da CF/88).
Vale ressaltar que a autonomia é a capacidade de cada entidade estatal (no
caso brasileiro, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios) gerir os seus
interesses dentro de um âmbito jurídico e territorial previamente determinado pelo poder
soberano.
Importante frisar que na Federação há poderes regionais, que desfrutam da
autonomia que lhes confere a Constituição Federal, e um poder central aglutinador, que
representa a soberania nacional e é a própria Constituição que estabelece a estrutura
federativa, proibindo sua abolição.
Na federação é comum a existência de um órgão judiciário de competência
nacional, que dirime inclusive conflitos entre os Estados federados e entre estes (no
Brasil, o STF), e de um Senado com representação idêntica de todas as unidades da
Federação (atualmente temos 26 Estados e 01 Distrito Federal, sendo que cada um elege
03 dos nossos 81 senadores).
A República Federativa do Brasil possui três centros legislativos:
Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Obs.: No DF há
as Câmaras Legislativas.

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As características da forma de estado federativa são:
- as unidades parciais não têm direito de separação.
- as unidades parciais são autônomas.
- a soberania é do estado federal.
- o pacto é firmado no documento chamado Constituição.

Obs.: Proteção da forma federativa – Vale lembrar que a nossa forma de Estado
Federação é cláusula pétrea, conforme o art. 60, parágrafo 4°, inciso I da CF.

Importante não confundir!!! SISTEMA DE GOVERNO


- O sistema de governo disciplina a forma de relacionamento entre os Poderes do Estado,
em especial os critérios adotados no exercício da função executiva, e a relação entre o
Executivo e o Legislativo. Pelo grau de relacionamento entre os Poderes Executivo e
Legislativo, existem três sistemas de governo: presidencialismo, parlamentarismo e
diretorialismo.
- Presidencialismo (adotado no BR): uma única autoridade exerce o Poder Executivo,
desempenhando as funções de Chefe de Estado e de Chefe de Governo. Existe
independência entre os Poderes Legislativo e Executivo. O Presidente da República é
eleito pelo povo, de forma direta ou indireta, é conhecida como a “ditadura por prazo
certo”.

c) Princípio da Indissolubilidade do Pacto Federativo


Consagrado no Brasil desde a primeira Constituição Republicana (1891), o
princípio da indissolubilidade do pacto federativo tem por finalidade conciliar a
descentralização do poder com a preservação da unidade nacional.
Ao estabelecer que a República Federativa do Brasil é formada pela união
indissolúvel dos Estados, Distrito Federal e Municípios, a Constituição veda, aos entes que
compõem a federação brasileira, o direito de secessão (separação).
Caso ocorra qualquer tentativa de separação tendente a romper com a unidade
da federação brasileira, é permitida a intervenção federal com o objetivo de manter a
integridade nacional (art. 34, I da CF).
Essa locução informa ainda que as partes materialmente componentes da
República não poderão dela se dissociar, o que implica dizer que qualquer tentativa
separatista é inconstitucional.
É importante notar que a União não faz parte desse rol por não ter ela existência
material, mas apenas jurídica, ou, nos termos do art. 18, político-administrativa.

d) Princípio do Estado Democrático de Direito


Para uma correta compreensão do conceito de Estado Democrático de Direito é
necessária a superação dos paradigmas tradicionais, redefinindo-se o Estado Democrático
e o Estado de Direito.
O conceito de Estado de Direito nasceu em oposição ao Estado em que o poder
era exercido com base, unicamente, na vontade do monarca.

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Para impor limites a esse governo de insegurança, nasceu na Inglaterra a
doutrina de acordo com a qual o rei governaria a partir de leis, comprometendo-se a cumpri-
las e assim chegou-se ao Estado de Direito, contudo, houve distorção desse conceito.
Como consequência, passou-se a entender que o Estado de Direito seria o
governo a partir de leis, mas de qualquer lei. Para renovar o conceito, foi ele incorporado da
noção de Democrático, em função de que não bastavam as leis, mas era necessário que
elas tivessem um conteúdo democrático, ou seja, que realmente realizassem o ideal de
governo a partir do poder do povo, em nome deste e para este.
No que se refere ao princípio democrático – Estado Democrático, a primeira
dificuldade surge logo na definição de democracia, uma vez que este termo pode assumir
diversos significados conforme a época e o local.
Etimologicamente, democracia significa “governo do povo”. Desenvolvendo um
pouco mais este conceito podemos chegar à afirmação de que “há democracia quando o
povo participa do governo do Estado”.
Assim, o nosso Regime de Governo (Político) é DEMOCRÁTICO, em que todo
poder emana da vontade popular.
Na clássica definição, é o governo do povo, pelo povo e para o povo. O povo
participa da formação e manutenção do poder no Estado, via de regra, através da eleição
(poder vem de baixo para cima).
Subdivide-se em:
 Democracia direta – as decisões são tomadas pelo próprio povo em assembleias.
Ex: as cidades antigas gregas e Cantões Suíços.
 Democracia representativa – ou indireta. As decisões são tomadas por
representantes escolhidos pelo povo.
 Democracia semidireta – combinam-se ambas as formas de democracia; é a
democracia representativa, com alguns instrumentos de participação direta do povo.
Ex: regime adotado pela Constituição de 1988 (art. 1°, CF) e
Art. 14, I, II, III, CF – plebiscito, referendo e a iniciativa popular.
Vale lembrar que a nossa Constituição Federal de 1988 aproxima-se da
democracia semidireta e verifica-se tal assertiva no parágrafo único, do art. 1° e a
representação é constatada através das eleições periódicas para os titulares dos Poderes
Legislativo e Executivo (arts. 45, 46, 77, entre outros).
Logo, a nossa democracia é semidireta, porque em regra, os representantes
do povo exercem seus cargos através de uma eleição, onde são eleitos pelo povo. No
Poder Executivo – Presidente da República, Governadores e Prefeitos, no Poder
Legislativo – Senadores, Deputados e Vereadores. Por questão política os
representantes do Poder Judiciário e do Ministério Público não são escolhidos pelo povo.
É semidireta também porque, excepcionalmente, o povo exercerá esse poder
diretamente, onde ele participa da organização do Estado, como no Tribunal do Júri, na
Iniciativa Popular, na Ação Popular e na Consulta Popular (plebiscito e referendo). E
ainda temos também a democracia participativa, que é o alargamento da participação do
povo nas coisas do Estado como no Mandado de Segurança Coletivo e Mandado de
Injunção Coletivo.
Para conhecimento!
Plebiscito
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Instrumento de consulta prévia ao povo, antes da aprovação de um ato legislativo.
Consiste em uma consulta popular e visa decidir previamente um assunto institucional ou
político antes dos trâmites legislativos (art. 14, I, CF). Compete ao Congresso Nacional
convocar o plebiscito (art. 49, XV, CF/88).
Referendo
Instrumento de consulta a posterior ao povo, após a aprovação de um ato legislativo. É
uma consulta popular onde existe a ratificação do povo sobre projetos de lei, já aprovados
pelo legislativo, de modo que o projeto só será aprovado se receber votação favorável do
corpo eleitoral, do contrário, reputar-se-á rejeitado (art. 14, II). É de atribuição exclusiva
do Congresso Nacional autorizá-lo (art. 49, XV, CF/88).
Iniciativa Popular
É atribuição da competência legislativa para dar início ao projeto de lei a uma parcela
significativa do eleitorado (art. 14, III e art. 61, parágrafo 2°, CF/88). Cumpre destacar
que os três institutos jurídico-constitucionais mencionados foram regulamentados pela
Lei n° 9.709/88.

Macete: No mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos


por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um
deles.
Anote!!!
- O plebiscito pode autorizar o início de um processo legislativo, enquanto o referendo
ratifica ou rejeita projeto já elaborado.
- ESTADO DE DIREITO – todos estão submetidos à Lei;
- ESTADO DEMOCRÁTICO – fundado no princípio da Soberania Popular, ou seja, o povo
tem participação efetiva e operante nas decisões do governo.

Não Confundir!!!
- POPULAÇÃO é a soma de todas as pessoas que habitam um território, incluindo os
estrangeiros e brasileiros residentes no país.
- POVO é a parte da população que detém a nacionalidade daquele território, ainda que não
resida no seu país de origem. Vincula com a nacionalidade da pessoa.
- CIDADÃO é a parcela do povo que detém a prerrogativa de exercer os direitos políticos
em determinado território. Assim, exercer a cidadania significa participar das discussões
políticas do estado, elegendo seus representantes, reclamar das irregularidades praticadas
por eles ou participar diretamente do projeto de iniciativa legislativa.

Os estrangeiros residentes no Brasil, fazendo parte da população brasileira, mas não


fazem parte do povo brasileiro. Já o brasileiro residente no exterior, faz parte do povo
brasileiro, mas não integra a população do Brasil.

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Logo:
Forma de Estado – Federação.
Forma de Governo – República.
Sistema de Governo – Presidencialismo.
Regime Político (ou de Governo) – Democracia Semidireta.

3. Fundamentos do Estado Brasileiro


Os fundamentos da República Federativa do Brasil devem ser compreendidos
como os valores primordiais componentes da estrutura do Estado brasileiro e que, por essa
razão, em nenhum momento pode ser colocados de lado.
São os dispositivos constitucionais que enunciam os primeiros fundamentos do
Estado brasileiro (art. 1º, incisos I a IV, da CF/88) e servem como fundamentação para a
elaboração, interpretação e integração do sistema jurídico nacional.

São eles:
a) Soberania – é o caráter supremo de um poder, que não admite outro que lhe seja superior
ou mesmo concorrente dentro de um mesmo território.
b) Cidadania – é o princípio de participar dos destinos do Estado e, mais, o direito de usufruir
dos direitos civis fundamentais previstos na Constituição.
c) A dignidade da pessoa humana – é uma referência constitucional unificadora dos
direitos fundamentais inerentes à espécie humana.
d) O valor social do trabalho e da livre iniciativa – foram consignados de forma conjunta
a fim de que haja uma relação de harmonia e cooperação entre a mão de obra e os
detentores do capital, explicitando assim um dos elementos socioideológicos da
Constituição.
e) Pluralismo político – é caracterizado pela convivência harmônica dos interesses
contraditórios e das diversas ideologias, servindo de fundamento às diversas liberdades
previstas em nosso ordenamento jurídico-social e ao pluripartidarismo.

4. Separação dos Poderes


A divisão de poderes é um princípio fundamental da Constituição, que tem
previsão no art. 2º: “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Exprimem, a um tempo, as funções legislativa, executiva e jurisdicional e
indicam os respectivos órgãos, estabelecidos na organização dos poderes.

a) Unicidade do Poder
- Os Poderes não são três, mas um só, e seu titular é o povo, soberanamente.
- A tripartição de que fala este artigo é orgânica das funções estatais; isto é, são os três
órgãos que exercem cada uma das três funções básicas do poder uno do povo.
- São essas funções a legislativa, a administrativa e a judiciária, e a cada uma delas
corresponde a uma estrutura, uma instituição, que a exerce com preponderância
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(preferência), mas não exclusivamente.
- Consiste em confiar cada uma das funções governamentais a órgãos diferentes, que
tomam os nomes das respectivas funções.
- Fundamenta-se em dois elementos: a especialização funcional e a independência
orgânica.
- Por não ser exclusivo o exercício das funções estatais por nenhum poder é que se pode
afirmar que os três Poderes exercem as três funções estatais (legislar, administrar e julgar),
mas cada um deles exerce uma dessas funções em grau maior que os demais.

b) A Independência e harmonia entre os poderes


- A independência dos poderes significa que a investidura e a permanência das pessoas
num dos órgãos não dependem da confiança nem da vontade dos outros, que, no exercício
das atribuições que lhe sejam próprias, não precisam os titulares consultar os outros nem
necessitam de sua autorização, que, na organização dos respectivos serviços, cada um é
livre, observadas apenas as disposições constitucionais e legais.
- A harmonia entre os poderes verifica-se pelas normas de cortesia no trato recíproco e
no respeito às prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos têm direito; a divisão de
funções entre os órgãos do poder nem sua independência são absolutas; há interferências,
que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à busca do equilíbrio
necessário à realização do bem da coletividade.
IMPORTANTE:
Não há hierarquia entre os poderes, gravem isso!
As funções típicas e atípicas guardam relação íntima com o Direito Administrativo, como
veremos no módulo II.

c) Funções típicas dos Poderes:


- As funções típicas do Poder Legislativo, segundo a Constituição e o Supremo Tribunal
Federal, são a legislativa (elaboração de comandos normativos genéricos e abstratos) e a
fiscalizatória (CF, art. 49, IX e X, 70, caput, e 71, caput), da qual, inclusive, a investigatória,
através das Comissões Parlamentares de Inquérito (art. 58, § 3°) é, segundo o STF,
correlata.
- A função típica do Poder Executivo é a de aplicação das leis a situações concretas, às
quais se destinem, vindo daí, inclusive, a permissão constitucional de uso do poder
regulamentar, que consta no art. 84, IV, da CF.
- A função típica do Poder Judiciário é a de aplicação da lei a situações concretas e litigiosas,
e, também, a de proteção da autoridade das Constituições Federal e Estaduais e da Lei
Orgânica do Distrito Federal no julgamento dos processos objetivos de controle de
constitucional idade em tese.

d) Funções atípicas dos Poderes:


- O Poder Legislativo, de forma atípica, administra o seu quadro de pessoal (arts. 51, IV e
52, XIII) e julga determinadas autoridades nos crimes de responsabilidade (art. 52, I e II).
- O Poder Judiciário administra o seu quadro de pessoal e elabora os regimentos internos
dos Tribunais, que são leis em sentido material (art. 96).
- O Poder Executivo julga os processos administrativos-disciplinares e os litígios do
contencioso tributário administrativo e legisla na elaboração de medidas provisórias e de leis
delegadas, nos termos dos arts. 62 e 68.
14
IMPORTANTE!!!
- Os julgamentos administrativos não fazem, no Brasil, coisa julgada, admitindo discussão
judicial plena.
- Os julgamentos políticos realizados pelo Senado Federal não poderão ter o seu mérito
apreciado pelo Judiciário, por se constituir em decisão interna corporis, mas é fora de dúvida
que o procedimento e as fases processuais poderão sê-lo, à vista do devido processo
legislativo.

5. Objetivos Fundamentais do Estado Brasileiro


Os objetivos fundamentais deste art. 3° são diferentes dos fundamentos do art. 1º.
Lá, tratava-se das bases da República, aqui, o assunto são os objetivos que a
República deve buscar com a sua atuação, as metas a atingir.
A moderna doutrina constitucionalista vem reconhecendo, também neste artigo,
a nítida característica de norma programática de seus dispositivos, que não consagram um
direito ou uma garantia, mas apenas sinalizam ao Poder Público uma meta, um objetivo a
atingir.
Neste ponto, o constituinte brasileiro foi inspirar-se na Constituição de Portugal,
em cujo art. 9º encontram-se comandos semelhantes.
Note que todos os quatro incisos indicam uma ação a ser desenvolvida
(construir, garantir, erradicar, reduzir, promover), pois o que quer a Constituição é que o
governo, agindo, busque alcançar esses objetivos. De outra parte, reconhece que nenhum
deles ainda está atingido plenamente.

IMPORTANTE:
Observar uma importante diferença entre o art. 1º e o art. 3º, pois aquele define os
fundamentos, isto é, requisitos que JÁ EXISTEM, enquanto que este define os objetivos e
METAS a serem cumpridos ao longo do tempo. (VERBOS NO INFINITIVO)

6. Princípios das Relações Internacionais


Aqui se trata dos princípios que vão reger a atuação da República brasileira no
plano internacional, ou seja, nas suas relações com outros Estados soberanos, vejamos:
I - independência nacional (Brasil autônomo);
II - prevalência dos direitos humanos (direitos humanos em 1º lugar!);
III - autodeterminação dos povos (os povos são livres e se governam como
querem);
IV - não-intervenção (nenhum país intervém em assuntos do outro);
V - igualdade entre os Estados (igualdade entre os países, no caso);
VI - defesa da paz (PAZ);
VII - solução pacífica dos conflitos (conversar para resolver o problema);
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo (NÃO ao terrorismo e ao racismo);
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade (povos se
ajudam para o mundo se desenvolver);
15
X - concessão de asilo político (Brasil abriga pessoas vindas de outros países
que estão sendo perseguidas por algum motivo religioso, político ou racial).

O parágrafo único diz que o Brasil buscará uma inclusão social, econômica,
cultural e política com outros países da América Latina (que fomentou a
participação no MERCOSUL).

Obs.: 1. Existe limite à concessão de asilo político?


Expressamente nossa Constituição Federal não estabeleceu limites, mas
implicitamente sim. Somente se concede asilo político aos cidadãos que estejam
defendendo ideal que a nossa Constituição almeja.

2. Não confundir asilo político (é proteção que um Estado confere a uma pessoa
que esteja sendo perseguida em seu país de origem por crime político) com exílio político
– exílio é o banimento de nacionais em razão da defesa de ideais políticos.

3. Diferenças entre: Deportação, Expulsão e Extradição:


- Expulsão – o estrangeiro comete crime no território nacional, é preso, processado,
condenado, em regra termina de cumprir a pena e é expulso.
Obs.: Caso reingresse o país, incidirá no crime previsto no artigo 338 do Código Penal
(reingresso de estrangeiro expulso), que sujeita o estrangeiro à pena de reclusão, de 1 (um)
a 4 (quatro) anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.
Brasileiros natos e naturalizados não podem ser expulsos. A Constituição Federal veda pena
de banimento (Art. 5º inciso XLVII, “d”.Pode haver tratado internacional que permitam que
cumpra a pena em seu país de origem.
- Deportação – o estrangeiro entra na República Federativa do Brasil sem o cumprimento
de regras administrativas (visto), e é “convidado” a se retirar do território nacional.
- Extradição – o estrangeiro e o brasileiro naturalizado cometem crimes fora do território
nacional, quando entram no mesmo, são presos e extraditados. O Brasil pode requerer a
extradição de brasileiros – extradição ativa.
Obs.: Os institutos expulsão, extradição e deportação são ligados à nacionalidade.

4. Tribunal Penal Internacional (art. 5º, parágrafo 4º, CF) – prevê um instituto
chamado entrega (é feita entre Estado e Organismo Internacional), que é diferente da
extradição (é feita entre Estado e Estado). Tem a sede em Haia (Holanda) e julgam crimes
de guerra, crimes contra a humanidade, crimes de agressão e crimes de genocídio. No
Brasil, a promulgação do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional se deu pelo
Decreto n. 4388/2002.

5. Art. 4º, parágrafo único, CF – O que está previsto aqui não é o Mercosul. O
Mercosul é uma etapa para a união dos povos latino-americanos.

16
Assunto 3: DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Legislação Correspondente: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:


Dos Direitos e Garantias Fundamentais

TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição;

IMPORTANTE: Há casos em que a lei poderá tratar desigualmente os desiguais de maneira


a preservar a igualdade de oportunidades, encargos e privilégios; está o tratamento
diferenciado dispensado às mulheres que o constituinte adotou na busca pela equiparação
entre os sexos, em três casos específicos: 1. licença-gestação para a mulher, com duração
superior à da licença-paternidade (art. 7°, incisos XVIII e XIX); 2. Incentivo ao trabalho da
mulher, mediante normas protetoras (art. 7°, inciso XX); 3. Prazo mais curto para a
aposentadoria por tempo de serviço da mulher (art. 40, inciso III, alíneas a, b, c e d; art. 202,
incisos I, II, III e §1°).

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
de lei;

IMPORTANTE: Tal dispositivo consagra o princípio da legalidade.

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;1


IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;2
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e
1 (...) o policial militar que, a pretexto de exercer atividade de repressão criminal em nome do Estado, inflige, mediante
desempenho funcional abusivo, danos físicos a menor momentaneamente sujeito ao seu poder de coerção, valendo-se
desse meio executivo para intimidá-lo e coagi-lo à confissão de determinado delito, pratica, inequivocamente, o crime de
tortura (...). [HC 70.389, voto do rel. min. Celso de Mello, j. 23-6-1994, P, DJ de 10-8-2001.

2 "Marcha da Maconha". Manifestação legítima, por cidadãos da república, de duas liberdades individuais revestidas de
caráter fundamental: o direito de reunião (liberdade-meio) e o direito à livre expressão do pensamento (liberdade-fim). (...)
Vinculação de caráter instrumental entre a liberdade de reunião e a liberdade de manifestação do pensamento. (...) A
liberdade de expressão como um dos mais preciosos privilégios dos cidadãos em uma república fundada em bases
democráticas. [ADPF 187, rel. min. Celso de Mello, j. 15-6-2011, P, DJE de 29-5-2014.] Vide ADI 4.274, rel. min. Ayres
Britto, j. 23-11-2011, P, DJE de 2-5-2012

17
a suas liturgias;
VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades
civis e militares de internação coletiva;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta
e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;3
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;4
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996)56
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,
quando necessário ao exercício profissional;
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente;

IMPORTANTE: Não se trata de solicitação de autorização, apenas aviso. Porém:

3O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões. [ADPF 54, rel. min. Marco Aurélio, j.
12-4-2012, P, DJE de 30-4-2013.]

4A CF autoriza a prisão em flagrante como exceção à inviolabilidade domiciliar, prescindindo de mandado judicial, qualquer
que seja sua natureza. [RHC 91.189, rel. min. Cezar Peluso, j. 9-3-2010, 2ª T, DJE de 23-4-2010.]; “Proceder-se-á à busca
domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem” (art. 240, § 1) CPP.

A 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu que os agentes policiais, caso precisem entrar em uma residência para
investigar a ocorrência de crime e não tenham mandado judicial, devem registrar a autorização do morador em vídeo e
áudio, como forma de não deixar dúvidas sobre o seu consentimento. A permissão para o ingresso dos policiais no imóvel
também deve ser registrada, sempre que possível, por escrito.

5 Interceptação em sentido estrito – é a captação da conversa por um terceiro, sem o conhecimento de qualquer dos
interlocutores; Escuta telefonia – é a captação da conversa por um terceiro, com o consentimento de apenas um dos
interlocutores; Gravação – é a captação da conversa por um dos interlocutores, sem o consentimento do outro.
Obs. Pode ser de ambiente. Ex. Ex-Senador Delcídio do Amaral.

6 A gravação de conversa telefônica feita por um dos interlocutores, sem conhecimento do outro, quando ausente causa
legal de sigilo ou de reserva da conversação não é considerada prova ilícita.
[AI 578.858 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 4-8-2009, 2ª T, DJE de 28-8-2009.]

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O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por maioria de votos, que são
permitidas reuniões ou manifestações em locais públicos, independentemente de
comunicação oficial prévia às autoridades competentes. A decisão foi tomada no julgamento
do Recurso Extraordinário (RE) 806339, com repercussão geral reconhecida (Tema 855).
Para o ministro, o objetivo da exigência é apenas permitir que o poder público zele
para que a manifestação seja pacífica e não impeça outra reunião no mesmo local.
"Manifestações espontâneas não estão proibidas, nem pelo texto constitucional, nem pelos
tratados de direitos humanos", afirmou. “Em uma sociedade democrática, o espaço público
não é apenas um lugar de circulação, mas também de participação". Acompanharam seu
voto os ministros Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski
e Dias Toffoli.
A tese de repercussão geral fixada foi a seguinte: “A exigência constitucional de
aviso prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de informação
que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para
que não frustre outra reunião no mesmo local”.

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade
para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou
utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar
de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver
dano;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade
produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução
de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem
e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de
que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e
associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes
de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
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XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais
favorável a lei pessoal do "de cujus";
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado;
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade
ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

OBSERVAÇÕES PERTINENTES:
 Todos são inafiançáveis;
 TTTCH não tem Graça;
 RAção é imprescritível;
 Todo crime hediondo é inafiançável!

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Conforme a Constituição Federal considera-se como crime hediondo
aqueles que estão definidos em lei.
Atualmente, os crimes hediondos estão definidos na Lei nº 8.072, de 25 de
julho de 1990 – Lei de Crimes Hediondos: Assim, são considerados crimes hediondos,
tanto aqueles consumados quanto aqueles tentados (tentativa):

 Homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º,
incisos I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX), entre eles o FEMINICÍDIO;
 Lesão Corporal Dolosa De Natureza Gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão
corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou
agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição;
 Roubo: a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º,
inciso V); b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou
pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B; c) qualificado
pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);
 Extorsão Qualificada Pela Restrição Da Liberdade Da Vítima, ocorrência de
lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º CP);
 IV - Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§
lº, 2º e 3º CP);
 Estupro/Estupro De Vulnerável (art. 213, caput e §§ 1º e 2º / art. 213, caput
e §§ 1º e 2º do CP);
 Epidemia Com Resultado De Morte, ou seja, propagação de vírus que cause
epidemia e resulte na morte de pessoas (art. 267, §1º);
 Falsificação, Corrupção, Adulteração Ou Alteração De Produto Destinado
A Fins Terapêuticos Ou Medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B do CP);
 Favorecimento Da Prostituição Ou De Outra Forma De Exploração Sexual
De Criança Ou Adolescente Ou De Vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º);
 Furto Qualificado Pelo Emprego De Explosivo Ou De Artefato Análogo
Que Cause Perigo Comum (art. 155, § 4º-A)
 Genocídio, Tentado Ou Consumado;
 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
 Comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
 Tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no
art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003;
 Organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou
equiparado.

E ainda, equipara-se a crime hediondo, a tortura, o tráfico de entorpecentes e drogas afins


e o terrorismo, devido à proteção que a CF/88 proporciona contra a prática de tais crimes,
nos termos do art. 2º da Lei de Crimes hediondos:

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.

Conforme a Lei n. 8.072/90 e a Constituição Federal, tais crimes hediondos e


21
assemelhados são inafiançáveis, além de serem insuscetíveis de graça, indulto ou anistia.
A mesma vedação é imposta para o crime de racismo e crime praticado pela ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático,
que se agravam ainda mais por serem crimes imprescritíveis.
Pronto, já sabemos quais são os crimes inafiançáveis e insuscetíveis
de graça ou anistia e indulto.
A necessidade de saber tais informações é a de que as autoridades
pertencentes a Membro de Poder (Chefe de Poderes) só podem ser presas em flagrante
de delito pela prática de crimes inafiançáveis.

Veja abaixo as legislações especificas que regem o tema, dando prerrogativas de


função para tais AUTORIDADES:

PRISÃO DE AUTORIDADES!

DEPUTADOS FEDERAIS E SENADORES → § 2º, Art. 53 da CRFB/88 -


Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser
presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos
dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus
membros, resolva sobre a prisão.

DEPUTADOS ESTADUAIS → § 1º Art. 27 da CRFB/88 - Será de quatro anos


o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando- sê-lhes as regras desta Constituição
sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato,
licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas.
O Supremo Tribunal Federal, por maioria da Corte decidiu que deputados
estaduais não podem ser presos sem julgamento se não houver flagrante de crime
inafiançável.

Pelas Constituições dos respectivos Estados, os deputados estaduais só


poderiam ser presos em caso de flagrante de crime inafiançável, cabendo ao juiz que
ordenar a prisão avisar a Assembleia em até 24 horas. E a Assembleia poderia reverter o
entendimento. Ou seja, a Assembleia pode derrubar uma decisão judicial e deixar livre o
Deputado Estadual preso em flagrante por crime inafiançável.
Assim, as mesmas prerrogativas de deputados federais e senadores federais
foram estendidos aos deputados estaduais.

JUÍZES → Lei Complementar n. 35/1979 (Lei Orgânica da Magistratura


Nacional), Art. 33 são prerrogativas do Magistrado: II – não ser preso senão por ordem
escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o julgamento, salvo em flagrante
de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e
apresentação do Magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado;

MEMBROS DO MP → Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, Lei


8.265/93. Art. 40 – Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, além de
outras previstas na Lei Orgânica: III –ser preso somente por ordem judicial escrita, salvo
em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará, no prazo máximo de
vinte e quatro horas, a comunicação e a apresentação do membro do Ministério Público ao
Procurador-Geral de Justiça;

Na prática isso significa que as autoridades (Deputados, Senadores, Juízes


e Membros do MP) não podem sofrer nem prisão preventiva nem temporária. Aliás, nem
tampouco cabe prisão em flagrante, salvo em crime inafiançável (crimes mais sérios
como racismo, hediondos etc.).
22
PRESIDENTE DA REPÚBLICA → § 3º Art. 86 da CRFB/88 - Enquanto não
sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não
estará sujeito a prisão.

GOVERNADORES E PREFEITOS → Antes, era o entendimento que a


mesma benesse aplicada ao presidente conforme artigo 86 da CF, também seria aplicada
aos Governadores. Ocorre que atualmente é entendimento majoritário que tanto Governador
de Estado, bem como Prefeitos municipais podem sim sofrer com quaisquer das várias
prisões destinadas à persecução penal. (ADI 1.026)7

Não obstante, no caso do Governador de Estado, apesar de não tem a


mesma proteção que parlamentares estaduais e federais, e de juízes e promotores, gozam
de prerrogativas de funções de serem julgados pelo Superior Tribunal de Justiça - STJ.
Já o Prefeito deverá ser julgado diretamente pelo Tribunal de Justiça do
Estado da qual pertence, ou seja, não será no juiz singular de primeiro grau. Esta é a
prerrogativa que a CF/88 deu aos prefeitos, tão somente. Do contrário, não haverá restrição
para abordagens e prisões tanto para prefeitos e governadores.
Suas prerrogativas são apenas processuais, ou seja, qual grau de jurisdição
irá realizar o julgamento.
É Claro que por serem Chefes do Poder Executivo Estadual e Municipal muito
cuidado deve ser tomados, visto as questões politicas e a representatividade popular
perante a sociedade.

VEREADORES → APENAS gozam de inviolabilidade por suas opiniões,


palavras e votos no exercício do mandato e na circunscrição do Município (art. 29, VIII).
Porem podem ser presos como qualquer cidadão comum.
Cuidado. Se um vereador fizer discurso politico agressivo (criticas ofensivas
a outro parlamentar ou instituição) fora do município da qual pertence, poderá incidir em
crime, pois não possui imunidade parlamentar fora do município da qual foi eleito.

PERGUNTA-SE: Um juiz, promotor, deputado federal, senador ou deputado


estadual pode ser preso em uma abordagem, caso esteja, portanto uma munição de fuzil?
Sim, pois se trata de um crime inafiançável sujeito a prisão em flagrante.
Lembre-se que a Lei de Crimes hediondos inseriu no seu rol o crime de porte e posse
ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização
e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Como sabemos, todos os
crimes hediondos são inafiançáveis. Lembre, em todos os casos, a Autoridade tem que
estar em situação de flagrante delito.
Nesses casos, sempre acionem o Comando Força Patrulha – CFP ou Oficial
Ronda, bem como o Oficial Superior para acompanhar o caso.
Do mesmo modo, no exemplo acima, se a Autoridade Politica/Judicial
estivesse portando 1000 (mil) munições de calibre .38, o crime não seria hediondo, visto
se tratar de armamento de uso permitido; logo, não seria preso em flagrante, no máximo,
encaminhado para as Autoridades para serem feitos os procedimentos de praxe.
LEMBRE-SE: Fora as exceções acima especificadas, tais autoridades
não seriam presas em flagrantes por crimes afiançáveis (passiveis de fianças), contudo,
deverão ser encaminhadas para a Delegacia respectiva para serem feitos os registros.

7Governador: Prisão nas Infrações Penais Comuns. Declarada a inconstitucionalidade do art. 86 da Constituição do Estado
de Sergipe que reproduzia a disciplina contida nos §§ 3º e 4º do art. 86 da Constituição Federal - que excluem, quanto ao
Presidente da República, a possibilidade de prisão, nas infrações penais comuns, antes da sentença condenatória, e a de
ser ele responsabilizado, na vigência do mandato, por ato estranho ao exercício de suas funções -, a fim de que fosse ela
aplicável Governador do mesmo Estado. Considerou-se que tal disciplina aplica-se exclusivamente ao Presidente da
República, não servindo de modelo para os Estados. ADI 1.026-SE, rel. Min. Ilmar Galvão, 29.8.2002.(ADI-1026)
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Posteriormente, será acionado o representante do poder para posterior procedimento
especifico. Ou seja, o fato de não ser preso em flagrante não quer dizer que a Autoridade
ficará imune de responder pelo ato criminal.
ADVOGADOS → No exercício da profissão, o Advogado só poderá ser
preso por crime inafiançável, devendo, ainda ter a presença de representante da OAB para
acompanhá-lo, sob pena de nulidade da prisão.
Caberá ao policial identificar tais situações, e ainda, não esquecer de
acionar um representante da OAB para acompanhar a prisão do Advogado.
Vide nova lei de abuso de autoridade (Lei n. 13.869, de 5 de setembro de
2019), que será abordada na disciplina específica.

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o


dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores
e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus
filhos durante o período de amamentação;
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei;

24
IMPORTANTE: A identificação criminal se traduz pelo exame datiloscópico (espécie da
papiloscopia)

LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada
no prazo legal;
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
LXVIII - conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
abuso de poder;
IMPORTANTE: O habeas corpus não precisa de advogado! É uma ação gratuita, sem
custas processuais.
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
LXXII - conceder-se-á "habeas-data":
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
25
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar
preso além do tempo fixado na sentença;
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
LXXVII - são gratuitas as ações de "habeas-corpus" e "habeas-data", e, na forma
da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma deste parágrafo)
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

1. Informações Relevantes:
O relevante tema dos direitos fundamentais surgiu a partir das Constituições
datadas de menos de cinquenta anos. Com efeito, as anteriores davam mais ênfase à
organização do Estado, aos seus Poderes e respectivas autoridades, assuntos que eram
tratados em primeiro lugar.
Só a partir de então as novas Cartas políticas passaram a estampar nos seus
textos, em posição de preeminência, os direitos dos cidadãos, e entre estes os que
interessam diretamente à efetiva existência de um Estado Democrático de Direito, ou seja,
os denominados direitos fundamentais.
2. Classificação dos Direitos Fundamentais
Em síntese, com base na CF/88. Podemos classificar os direitos fundamentais
em 5 grupos:
1 - direitos individuais (art. 5º);
2 - direitos coletivos (art. 5º);
3 - direitos sociais (arts. 6º e 193 e ss.);
4 - direitos à nacionalidade (art. 12);
5 - direitos políticos (arts. 14 a 17).

Esses artigos, 5º ao 17, perfazem o que a doutrina denomina “catálogo dos


26
direitos fundamentais”, pois é a parte da Constituição em que estão catalogados e
relacionados os direitos fundamentais.
Não significa, porém, que todos os direitos fundamentais previstos na nossa
Constituição estão disciplinados nesses artigos.
Existem direitos fundamentais previstos em outros dispositivos da Constituição,
como é o caso do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - direito
de terceira dimensão, que está estabelecido no art. 225 da Carta Política.
Esses direitos fundamentais que estão fora do catálogo (fora do intervalo do art.
5º ao 17) são chamados de direitos fundamentais não-catalogados (ou, simplesmente,
direitos fundamentais fora do catálogo).

2. Distinção entre Direitos, Garantias e Remédios Constitucionais.


Rui Barbosa, analisando a Constituição de 1891, foi um dos primeiros
estudiosos a enfrentar a distinção entre os direitos e as garantias fundamentais. Ele
distinguiu “as disposições meramente declaratórias, que são as que imprimem existência
legal aos direitos reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as que, em defesa
dos direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos, estas as garantias; ocorrendo
não raro juntar-se, na mesma disposição constitucional, ou legal, a fixação da garantia, com
a declaração do direito”.
Assim, os direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional,
enquanto as garantias são os instrumentos através dos quais se assegura o exercício dos
aludidos direitos (preventivamente) ou prontamente os repara, caso violados.
Resta diferenciar as garantias fundamentais dos remédios constitucionais.
Estes últimos constituem espécies do gênero garantia. Isso porque, uma vez consagrado o
direito, a sua garantia nem sempre estará nas regras definidas constitucionalmente como
remédios constitucionais (ex: habeas corpus, habeas data, etc.).
Em determinadas situações a garantia poderá estar na própria norma que
assegura o direito.
EXEMPLOS: é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos – art. 5, VI (direito) – garantindo-se na
forma da lei a proteção aos locais de culto e suas garantias (garantia); direito ao juízo natural
(direito) – art. 5, XXXVII, veda a instituição de juízo ou tribunal de exceção (garantia).

3. Remédios Constitucionais
a) HABEAS CORPUS (Art. 5º, LXVIII)
- Conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder.
- É ação gratuita, que não exige advogado e de rito sumaríssimo, que tem prioridade de
julgamento sobre as demais ações nos tribunais do Poder Judiciário.
- É uma ação constitucional de natureza penal.
- A doutrina criou o:
* HC preventivo – é aquele usado quando existe a ameaça ao direito de locomoção.
Pede-se um salvo-conduto.
27
* HC repressivo – ou liberatório. É usado quando já existe uma limitação do direito de
liberdade.
- Para o ajuizamento do “habeas corpus” não se exige a capacidade de estar em juízo e
nem a capacidade postulatória.
- A sua impetração pode ser feita por qualquer pessoa (exceto pessoa jurídica - o STJ
entende que sim e o STF continua a achar que não), em beneficio próprio ou alheio.
- O coator (sujeito passivo) poderá ser tanto autoridade como particular.
Cuidado!
- A coação considerar-se-á ilegal:
I – quando não houver justa causa;
II – quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III – quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV – quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V – quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;
VI – quando o processo for manifestamente nulo;
VII – quando extinta a punibilidade.
Obs.: Não caberá “habeas corpus” em relação a punições disciplinares militares. Essa
limitação deve ser interpretada no sentido de que não haverá “habeas corpus” em relação
ao mérito das punições. A Constituição da República não impede a concessão de “habeas
corpus” por razões de ilegalidade.
Obs.: O habeas corpus é ação constitucional que deve ser instruída com todas as provas
necessárias à constatação de plano da ilegalidade praticada pela autoridade impetrada, não
se admitindo dilação probatória (STJ HC 145319 / DF DJe 01/03/2010).

B) HABEAS DATA (Art. 5º, LXXII, “a” e “b”)


- Conceder-se-á habeas data:
I – para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público (não em processo administrativo);
II – para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo;
III – para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação
sobre dado verdadeiro, mas justificável e esteja sob pendência judicial ou amigável (esta
última é uma possibilidade infraconstitucional, prevista na Lei nº 9.507/97).
- Poderá ser ajuizado por pessoa física (nacional ou estrangeira) e por pessoa jurídica, como
também por órgãos públicos despersonalizados.
- É de caráter personalíssimo, motivo pelo qual, só se pode pleitear informações relativas
ao próprio impetrante, nunca de terceiros.
- Exceção: é admissível a legitimação para o “habeas data” para os herdeiros do morto ou
seu cônjuge supérstite.
- Não cabe “habeas data” se não houver recusa por parte da autoridade administrativa –
Súmula 02 do STJ. - O procedimento do habeas data tem, portanto, fase administrativa e
28
judicial.
- Da sentença que concede ou nega o habeas data cabe apelação.
- características:
a) é uma ação, pois invoca a tutela jurisdicional, devendo preencher as condições da ação;
b) de natureza mandamental;
c) seu conteúdo é de natureza constitutiva quando visa à retificação;
d) é ação personalíssima, não se admite pedido de terceiros, nem sucessão no direito de
pedir.
e) não depende de prévio pedido administrativo.
f) procedimento: enquanto não houver disciplinação legal, deve ser aplicado o MS, desde
que desnecessária a produção de prova, se contrário o rito será o ordinário.
g) sigilo - art. 5º, XXXIII - dispõe que o direito de receber dos órgãos públicos informações
não inclui aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
h) precisa de advogado.

Obs.: O processo de Habeas data terá prioridade sobre os demais atos judiciais, sejam
cíveis, criminais ou administrativos, isto é, deve ser processado e julgado primeiramente
com relação a todos esses outros, mesmo que eles sejam mais antigos. Contudo, o habeas
data cede lugar ao habeas corpus e mandado de segurança. A prioridade é nessa
sequência: habeas corpus – mandado de segurança – habeas data – mandado de injunção.

C) MANDADO DE SEGURANÇA (Art. 5º, LIX)


- Ação constitucional de natureza civil e procedimento especial que visa proteger direito
líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data, em virtude de ilegalidade
ou abuso de poder de autoridade pública ou agente jurídico no uso de atribuições públicas.
- O legitimado ativo é o titular do direito líquido e certo. Pode ser pessoa física ou jurídica.

IMPORTANTE: O prazo para impetração do mandado de segurança é de 120 dias, a contar


da data que o impetrante tiver conhecimento do ato coator. O prazo é decadencial do
direito e, como tal, não se suspende nem se interrompe desde que iniciado.
- É uma ação constitucional de natureza civil.
- Precisa de advogado e há um rigor formalístico a ser seguido.
Obs.: Não cabe mandado de segurança contra lei em tese (Súmula 266, STF).

O mandado de segurança coletivo (Art. 5º, LXX)


- A diferença está na legitimidade ativa (quem pode propor?),
- Destacando que no caso da alínea “b” ele deverá ser proposto para a defesa de seus
membros e associados (veio pra evitar ações com o mesmo objeto).
- Pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em

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funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados.

Obs.: A representação no Congresso pode ser de 01 deputado ou de 01 senador; e, o


requisito de 01 ano de funcionamento deve ser observado apenas pelas associações; não
é necessária a autorização expressa de todos os membros no MS coletivo.

Importante!!! Não se dará mandado de segurança quando se tratar:


I – de ato de que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independente de
caução.
II – de despacho ou decisão judicial, quando haja recurso previsto nas leis processuais ou
possa ser modificado por via de correção.
III – de ato disciplinar, salvo quando praticado por autoridade incompetente ou com
inobservância de formalidade essencial.
Obs. 1: No MS coletivo com pedido de liminar, esta não deve ser concedida “inaldita altera
pars”. É a regra.
Obs. 2: Não há litispendência entre MS coletivo e o individual. Em regra, este prevalece
sobre aquele.

D) MANDADO DE INJUNÇÃO (Art. 5º, LXXI)


- Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne
inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania.
- É uma ação judicial e precisa de advogado.
- Faz parte do controle difuso de constitucionalidade; ou seja, qualquer pessoa pode usar
perante qualquer juízo ou Tribunal.
- Assim, poderá ser ajuizado por qualquer pessoa titular do direito que não pode ser exercido
por falta de norma regulamentadora (pessoa física, jurídica, associação, entidade de classe,
ou sindicatos na figura do mandado de injunção coletivo).
- Somente pessoas estatais podem figurar no polo passivo da relação processual.
- Não está disciplinado em lei.
- Indica a doutrina que para o mandado de injunção serão observadas, no que couber, as
normas do mandado de segurança.
- O mandado de injunção é ação não gratuita e exige a assistência de advogado para a sua
impetração.
- Em 2007 com o emblemático julgamento do direito de greve dos servidores públicos, o
STF adotou a tese concretista. A citada Corte adotou a tese concretista no julgamento do
MI 708.

Na votação do Mandado 708, o relator, ministro Gilmar Mendes, determinou também


declarar a omissão do Legislativo e aplicar a Lei 7.783, no que couber, sendo acompanhado
pelos ministros Cezar Peluso, Cármen Lúcia, Celso de Mello, Carlos Britto, Carlos Alberto
Menezes Direito, Eros Grau e Ellen Gracie, vencidos os ministros Ricardo Lewandowski,
Joaquim Barbosa e Marco Aurélio.
Ao resumir o tema, o ministro Celso de Mello salientou que "não mais se pode tolerar, sob
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pena de fraudar-se a vontade da Constituição, esse estado de continuada, inaceitável,
irrazoável e abusiva inércia do Congresso Nacional, cuja omissão, além de lesiva ao direito
dos servidores públicos civis - a quem se vem negando, arbitrariamente, o exercício do
direito de greve, já assegurado pelo texto constitucional -, traduz um incompreensível
sentimento de desapreço pela autoridade, pelo valor e pelo alto significado de que se reveste
a Constituição da República".
No entanto, houve mitigação:
Plenário reafirma inconstitucionalidade de greve de policiais civis e servidores da
Segurança Pública.
Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou entendimento
no sentido de que é inconstitucional o exercício do direito de greve por parte de policiais
civis e demais servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. A
decisão foi tomada na manhã desta quarta-feira (5), no julgamento do Recurso
Extraordinário com Agravo (ARE) 654432, com repercussão geral reconhecida.
A tese aprovada pelo STF para fins de repercussão geral aponta que “(1) o exercício do
direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos
os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. (2) É
obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas
das carreiras de segurança pública, nos termos do artigo 165 do Código de Processo Civil,
para vocalização dos interesses da categoria”.

E) AÇÃO POPULAR (art. 5º, LXXIII)


- A ação popular é voltada à anulação de ato lesivo: ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe; à moralidade administrativa; ao meio ambiente; ao patrimônio
histórico e cultural.
Obs.: Cumpre notar que a ação popular só se presta à anulação desses atos, não sendo o
instrumento adequado à punição do agente público que causou um dano a interesses da
sociedade. A punição, no caso, poderá ser discutida em eventual ação de improbidade.
- A ação popular deverá ter por objeto um ato administrativo.
- Não é cabível essa ação contra uma decisão judicial.
- Não existe foro por prerrogativa de função em relação a ação popular. Assim, ainda que a
ação seja ajuizada contra o presidente da República, não será julgada pelo STF.
- Pode se dar de duas formas: forma preventiva (ajuizamento da ação antes da consumação
dos efeitos lesivos); forma repressiva (o ajuizamento da ação busca o ressarcimento do
dano causado).
- Finalidade é a defesa dos interesses difusos.
- A legitimidade ativa é do Indivíduo brasileiro nato, naturalizado, português equiparado,
com mais de 16 anos (este não necessita de assistência). É necessário ser eleitor para
promover a ação.
- Além da União, Estados e Municípios, a pessoa (física ou jurídica) que receba subvenções
e recursos públicos, e os beneficiários dos atos lesivos também podem ser réus na ação.
- O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e
promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado,
em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.
- Em caso de desistência, o MP deve dar prosseguimento à ação.
- É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da
ação popular.

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- A ação popular não tem custas nem sucumbência, mas o autor pode responder por elas,
no caso de ação temerária; pode ser proposta para a proteção de interesses difusos da
coletividade.

F) DIREITO DE PETIÇÃO (art. 5º, XXXIV)


- Historicamente, o direito de petição nasceu na Inglaterra, durante a Idade Média,
permitindo aos súditos que dirigissem petições ao rei (Bill of Rights – 1689).
- É aquele que pertence a uma pessoa ou a um grupo de pessoas de invocar a atenção dos
Poderes Públicos sobre uma questão ou situação.
- A doutrina entende que o direito de petição é um instrumento político-fiscalizatório dos
negócios do Estado, que tem por finalidade a defesa da legalidade constitucional e do
interesse público geral.
- A titularidade desse direito pode ser exercida por pessoa física, jurídica, nacional ou
estrangeiro.
- Não tem formalismo e não precisa de advogado (ver art. 5ª, XXXIV, da CF).

Assunto 4: ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

Legislação Correspondente: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:


Organização do Estado

TÍTULO III
Da Organização do Estado
CAPÍTULO I
DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos
termos desta Constituição.
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em
Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.
§ 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para
se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante
aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso
Nacional, por lei complementar.
§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-
ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e
dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios
envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e
publicados na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 15, de 1996)
32
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

EXPLICANDO:
O Brasil adotou a Federação como forma de organização do Estado. Ela é
escolhida por países com características políticas bem diversas, mas onde se verificou a
necessidade de preservar, ao mesmo tempo, a unidade nacional e as autonomias regionais.

1. Conceito de Federação:
É uma aliança de Estados para a formação de um Estado único, em que as
unidades federadas preservam parte da sua autonomia política, enquanto a soberania é
transferida para o estado Federal.

1.1 Características do Estado Federal:


 A união faz nascer um novo Estado.
 A base jurídica de uma Federação é uma Constituição e não um Tratado.
 Só o Estado Federal tem soberania, pois as unidades federadas preservam apenas
uma parcela de autonomia política.
 Repartição de competência entre a União e as Unidades Federadas, descrita pela
própria Constituição.
 Poder político compartilhado pela União e pelas Unidades Federadas.
 O indivíduo é cidadão do Estado Federal e não da unidade em que nasceu ou reside.

1.2 Origem do Federalismo:


Quanto à origem, a Federação pode formar-se de duas maneiras:
 Por agregação – Estados independentes reúnem-se para a formação de um Estado
Federal.
Ex: as treze colônias norte-americanas, que após a independência, agregaram-se e
formaram os Estados Unidos da América.
 Por desagregação – parte-se de um estado unitário já constituído para a formação
de um Estado federal.
Ex: o que aconteceu com o Brasil, com a abolição da Monarquia, o Estado mudou de
unitário para federal. As antigas províncias viraram Estados-Membros.

33
1.3 Entidades Federativas:
Dentro da atual organização do estado brasileiro, existem as seguintes
entidades federativas: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (arts. 1° e 18,
da CF).
O Brasil assumiu a forma de Estado federal em 1889 com a Proclamação da
República, o que foi confirmado pela Constituição de 1891 e mantido nas Constituições
posteriores.

DISTRITO FEDERAL:
Na Constituição de 1988 os habitantes do Distrito Federal ganharam o direito de
eleger seus representantes nos Poderes Legislativo e Executivo. É importante salientar que,
a partir de 1988, a sede da Federação Brasileira não é mais o Distrito Federal, que adquiriu
a natureza jurídica de entidade federativa, e sim Brasília, “tendo como função precípua
sediar o pólo central do governo nacional”, conforme observa Carmem Lúcia Antunes
Rocha. A Constituição Federal, em seu art. 18, parágrafo 1°, estabelece que “Brasília é a
Capital do Brasil”.
É um ente complexo, ora se comporta como estado, ora se comporta como
Município; é um ente detentor de autonomia política e administrativa.
Tem capacidade legislativa, administrativa e judiciária, com as mesmas
competências legislativas atribuídas aos Estados e aos Municípios. Elege 03 Senadores e
Deputados Federais em número definido por lei complementar.
 É regido por Lei Orgânica e é vedada sua divisão em municípios.
 Poder Executivo: Governador e Vice-Governador.
 Poder Legislativo: exercido pela Câmara Legislativa, composta por Deputados Distritais.
 Poder Judiciário: organizado por Lei Federal (art. 98, I, CF).
 Bens: definidos por Lei Federal.
 Impostos: arts. 147 e 155, CF.

TERRITÓRIOS:
São meras autarquias da União. Não constituem entidades federativas, pois não
são dotados de autonomia política, mas possuem autonomia administrativa (art. 33, da CF).
Atualmente não existe nenhum Território no estado brasileiro. Contudo, não
obsta que sejam criados por lei complementar novos Territórios, com a divisão de sua área
em Municípios, desde que aprovada a medida por plebiscito realizado com a população
diretamente interessada (art. 18, parágrafo 2° e art. 33 e parágrafos, da CF).
Elegem 04 Deputados Federais, mas não elegem Senadores.
Atualmente são apenas uma possibilidade jurídica.

MUNICÍPIOS:
É a entidade federativa voltada para assuntos de interesse local.
34
São entes detentores de autonomia política e administrativa. Tem capacidade
de elaborar sua Lei Orgânica.
Com a vigência da Carta de 1988, foram criados inúmeros Municípios em
diversos Estados. Em razão dos abusos verificados com a criação de vários Municípios
deficitários, o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional n° 15/96, que modificou
o art.18, parágrafo 4º, CF, estabelecendo assim critérios mais restritivos para a formação de
novas entidades locais.
 Poder Executivo: Prefeito e Vice-Prefeito.
 Poder Legislativo: exercido pela Câmara Municipal, composta por Vereadores.
 Poder Judiciário: não há Justiça Municipal.
 Impostos: art. 156, CF.

ESTADOS:
Como sabemos, a Federação é uma aliança de Estados-Membros, todos
dotados de autonomia política.
São entes detentores de autonomia política e administrativa. Tem capacidade
de elaborar suas próprias Constituições Estaduais, observadas as diretrizes da Constituição
Federal.
Eles podem incorporar-se, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexar a
outros ou formar novos Estados ou Territórios Nacionais, mediante aprovação por plebiscito
da população diretamente interessada e por lei complementar.
Poder Executivo: Governador e Vice-Governador.
Poder Legislativo: exercido pela Assembleia Legislativa, composta por
Deputados Estaduais, em número calculado com base no art. 27, caput, CF.
Poder Judiciário: arts. 125 e 126 da CF/88.

UNIÃO:
Pessoa jurídica de direito público com capacidade política, exercendo uma
parcela da soberania brasileira.
Internamente, atua como uma das pessoas jurídicas de direito público que
compõem a Federação; externamente, diante de Estados estrangeiros, a União exerce a
soberania do Estado brasileiro, fazendo valer seus direitos e assumindo suas obrigações.
 Poder Executivo: Presidente e Vice-Presidente.
 Poder Legislativo: exercido pelo Congresso Nacional, integrado pela Câmara dos
Deputados – composta por Deputados Federais e pelo Senado Federal – composta por
Senadores.
 Poder Judiciário: arts. 101 a 124, da CF/88.

35
Assunto 5: MILITARES DOS ESTADOS

Seção III
DOS MILITARES DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições


organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)

§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além
do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142,
§§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso
X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)

§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
aplica-se o que for fixado em lei específica do respectivo ente estatal. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)

§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios o disposto
no art. 37, inciso XVI, com prevalência da atividade militar. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 101, de 2019)8

IMPORTANTE: Em relação ao acumulo de cargo público aos militares estaduais, existe


parecer da PGE que restringiu este direito apenas a Oficiais - PARECER PGE/MS/CJUR-
SAD/Nº 057/2019 - Diário Oficial Eletrônico n. 10.046/19, p.5 (Vincula a Administração
pública). Existem decisões judiciais estendendo às praças.

IMPORTANTE: No mesmo sentido, foi aprovada a Lei n. 14.365/2022 de 02 de junho de


2022, permitindo que militares e policiais garantiram o direito de poder exercer a atividade
de advogados, alterando o Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. Antes proibidos,
agora os agentes de segurança pública e militares poderão ter a carteira de advogado e
atuar em causa própria.

De acordo com a previsão da nova lei, os policiais e militares poderão realizar a própria
defesa como advogados em processos no âmbito criminal, administrativo ou cível. Bem
como, poderão dar entrada em ações cíveis próprias que busquem reparação de danos
morais ou materiais. Para tanto, o policial ou militar precisará ter sido aprovado no exame
da OAB.

A inscrição na OAB de policiais e militares se dará de forma especial, na carteira de


advogado constará a informação que a atuação é permitida somente em causa própria. O
policial ou militar não poderá participar de sociedade de advogados, nem fazer a defesa de
outros policiais ou militares em processos. Também não poderão atuar em causa própria
em processos que tenham outros policiais ou militares.

8 Art. 37, XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer
caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas;
36
Assunto 6: DA SEGURANÇA PÚBLICA

Segundo o art. 144, CF/88, a segurança pública será exercida pelos seguintes
órgãos:
1. Polícia Federal;
2. Polícia Rodoviária Federal;
3. Polícia Ferroviária Federal;
4. Polícias Civis;
5. Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
6. Polícias penais federal, estaduais e distrital.

Esse rol é taxativo ("numerus dausus"). Estados, Distrito Federal e Municípios


não podem criar novos órgãos encarregados da segurança pública.

Polícias nos Estados


A segurança pública dos Estados foi atribuída às polícias civis, às polícias
militares, ao corpo de bombeiros e Polícias penais; que formam, em conjunto, as polícias
dos Estados. Essas polícias, embora mantidas e organizadas pelos Estados, deverão
observar as normas gerais federais (da União) de organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares,
conforme o art. 22 da Carta Magna.
Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares. Essa exceção não se aplica aos crimes praticados por
militares, desde que estranhos às suas atividades. Segundo o STF, compete à polícia civil
a apuração de crimes comuns praticados por militares, ou seja, aqueles estranhos à
atividade militar.
Já às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem
pública (polícia administrativa), enquanto aos corpos de bombeiros militares, além das
atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

Guardas Municipais
Numa primeira análise as Guardas Municipais não seriam responsáveis pela
segurança pública, pois não fazem parte do rol taxativo, entretanto a Constituição (art. 144,
§ 8o) rege que os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à
proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
Vide Estatuto das GM – Lei 13.022 de 8 de agosto de 2014. – Discussão doutrinária.

Segurança Viária
A Emenda Constitucional n0 82/2014 acrescentou ao art. 144, CF/88, o § 10,
que trata da segurança viária. Vejamos o que prevê esse dispositivo:

§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem


pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias
públicas:
37
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de
trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem
ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus
agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.

Como visto a partir da leitura do texto, a EC no 82/2014 cria a carreira de agentes


de trânsito no sistema de segurança pública. Em outras palavras, ela torna constitucional a
competência desses agentes, estruturados em carreira, no âmbito dos Estados, do Distrito
Federal e dos municípios.

Agentes Penitenciários – Polícia Penal


Observem que os agentes penitenciários não faziam parte do rol da
segurança pública. – Sequer eram citados.
Entretanto, por meio da Emenda Constitucional nº 104, de 2019 passaram a ser
denominados Polícia Penal. No MS os órgãos são vinculados à SEJUSP, que é Secretaria
de Estado de Justiça e Segurança Pública. Assim as polícias (PM e PC) pertencem à parte
“Segurança Pública” e a Polícia Penal tem mais afinidade com a parte “Justiça” (execução
da pena).
O artigo 144 da Constituição Federal diz que a segurança pública, embora seja
um dever do Estado, é da responsabilidade de todos, vejamos:

CAPÍTULO III
DA SEGURANÇA PÚBLICA

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é


exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda


Constitucional nº 104, de 2019)

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a:" (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens,


serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas,
38
assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional
e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o


descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas
áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação


dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e


estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
rodovias federais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e


estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das
ferrovias federais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada


a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,
exceto as militares.

§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos


corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução
de atividades de defesa civil.

§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da unidade


federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos
penais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)

§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do


Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e
distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)

§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela


segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.

§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus


bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.

§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste


artigo será fixada na forma do § 4º do art. 39. (Incluído pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998)

§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade


das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 82, de 2014)

I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades


previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente;
e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)

39
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos
órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na
forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)

IMPORTANTE: Outro ponto de destaque é que, ainda que não seja polícia judiciária,
entende o STF que a polícia militar pode realizar flagrantes ou participar da busca e
apreensão determinada por ordem judicial.9

Assunto 7: DOS TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES

Seção VII
DOS TRIBUNAIS E JUÍZES MILITARES
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados
pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo
três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três
dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira,
e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre
brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos
de efetiva atividade profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da
Justiça Militar.
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da
Justiça Militar.

9HC 91481 MG, DJe-202 DIVULG 23-10-2008 PUBLIC 24-10-2008 EMENT VOL-02338-02 PP-00340 RT V. 98, n. 879,
2009, p. 526-528 RF V. 104, n. 400, 2008, p. 491-493
40
Seção VIII
DOS TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta
Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de
organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou
atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a
atribuição da legitimação para agir a um único órgão.
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar
estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça
e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos
Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos
crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares,
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente
decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das
praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente,
os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de
direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

41
MÓDULO II – NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Assunto 1: INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO


CONCEITO
O Direito Administrativo, como ramo autônomo do direito público, da maneira
como é visto atualmente, teve seu nascimento nos fins do século XVIII com forte influência
do direito francês, tido por inovador no trato das matérias relativas à Administração Pública.
Várias são as correntes doutrinárias que tentam conceituar o Direito
Administrativo e embora o seu conceito não esteja pacificado, muitos dos autores adotam
o critério da Administração Pública, vejamos:
 “Ramo do Direito Público que tem como objetivo os órgãos, agentes e pessoa
jurídica administrativa. A atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens que se
utiliza, para a consecução de seus fins de interesse público (o que está na lei).” (Maria Silva
Zanella)

“Ramo do Direito Público interno (situações traçadas dentro do âmbito Brasil) que disciplina
o exercício da função administrativa e seus órgãos que desempenham.” (Celso Antônio
Bandeira de Melo)
O direito é UNO! Quer dizer: O direito é um só, mas divide-se em: Público, Privado e
Derrogações Mútuas
Público
Rege relações jurídicas em que há uma desigualdade jurídica entre os polos
destas relações. O polo ocupado pelo Estado tutela os interesses da coletividade e, portanto,
deve ocupar uma posição de supremacia sobre os interesses particulares. Tem por objeto
principal a regulação dos interesses da sociedade como um todo. Assim, quando o Estado
atua na defesa do interesse público, goza de certas prerrogativas que o situam em posição
jurídica de superioridade ante o particular, evidentemente, em conformidade com a lei, e
respeitadas as garantias individuais consagradas pelo ordenamento jurídico.
 Administrativo, Constitucional, Penal, Processual Civil, etc.
 Atinge toda a coletividade.
Privado
Existe uma igualdade jurídica entre os polos das relações por ele regidas; como
os interesses tutelados são particulares, não há razão para se estabelecer uma relação de
supremacia entre um e outro. Tem como escopo principal a regulação dos interesses
individuais, como forma de possibilitar o convívio das pessoas em sociedade e uma
harmoniosa fruição de seus bens.
 Civil, Comercial, Trabalho, etc.,
 Trata-se de relação entre particulares e não afetam a coletividade.
Derrogações Mútuas
Ora age como Direito Público e ora Privado.
Embora seja público, sofre interferência do direito privado e vice-versa. De alguma forma
um influencia o outro.
Lembrar que: é possível que uma relação em que o Estado integra um dos polos seja regida
pelo direito privado, bastando existir uma igualdade jurídica entre as partes, como por
exemplo uma venda no mercado de produtos fabricados por uma empresa pública ou a
celebração de um contrato de abertura de conta-corrente entre um particular e o Banco do
Brasil.
42
Ex: A Constituição assegura o direito de propriedade, mas faculta ao poder público efetuar
desapropriações, desde que o proprietário receba justa e prévia indenização – DIREITO
PÚBLICO.
Ex: celebração de um contrato de abertura de conta corrente entre um particular e a caixa
econômica Federal S/A – o Estado não está, precipuamente, tutelando interesses coletivos,
descabendo cogitar o uso de seu poder de império – DIREITO PRIVADO.

Assunto 2: PODERES DO ESTADO


Representam uma divisão estrutural interna destinada à execução das funções
estatais, haja vista ser uno e indivisível o Poder Estatal. São harmônicos entre si e
independentes (divide as atribuições).

 Poder Executivo (executa - põe em prática)


 Poder Legislativo (legisla - elabora as leis)
 Poder Judiciário (julga - aplica coativamente a lei)

a) ESTADO:
 Composto por três elementos: povo, território, governo soberano.
 É estruturado sobre três poderes independentes e harmônicos entre si: Legislativo,
Executivo e Judiciário (art. 2º, da CF).
 Estado é pessoa jurídica de direito público que atua no campo do direito público ou
privado.
 Os poderes exercem função pública, o que significa que exercer uma atividade em
nome e no interesse de outro, no caso o povo. Esta função pode ser: típica (principal,
primária) ou atípica (secundária, acessória).
 São funções do Estado: administrativa, legislativa e jurisdicional.
 Desta forma, cada um dos poderes tem sua função típica e suas funções atípicas.
 A forma de Estado brasileira é a Federação.

* FUNÇÕES DO ESTADO:
 Função = é quando alguém exerce uma atividade representando interesses de
terceiros.
 A divisão dos poderes não gera absoluta divisão das funções, mas sim, distribuição
de três funções estatais precípuas.
 Pode ser:
a) típica: função para o qual o poder foi criado; e
b) atípica: função estranha àquela para o qual o poder foi criado.

Funções Típicas:
I) Função legislativa: elaboração das leis (função normativa).
 Características: produz normas gerais, não concretas e produz inovações primárias
43
no mundo jurídico.
II) Função Judiciária: Aplicação coativa da lei.
 Características: estabelece regras concretas (julga em concreto, não produz
inovações primárias, função indireta (deve ser provocado) e propicia situação de
intangibilidade jurídica (coisa julgada).
III) Função Administrativa: conversão da lei em ato individual e concreto.
 Características: estabelece regras concretas, não produz inovações primárias, é
direta (não precisa ser solicitada e é reversível pelo Poder Judiciário.
IMPORTANTE: O direito administrativo é mais concentrado no Poder Executivo, isso
não quer dizer que os demais poderes não o realizam.

b) GOVERNO:
- É o conjunto de poderes e órgãos constitucionais responsáveis pela função política do
Estado.
- É o comando a ser seguido pelo Estado.
- As atribuições do governo decorrem da Constituição Federal.
- Para que o Estado seja independente há a necessidade de governo soberano; já que a
soberania caracteriza-se pela independência na ordem internacional e supremacia na ordem
interna. Lembrar que a República Federativa do Brasil é soberana e que os entes da
federação (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) possuem autonomia.
- A forma de governo brasileira é a República.
- O regime de governo brasileiro é o Presidencialismo.
Lembrar que:
Forma de Estado – Federação.
Forma de Governo – República.
Sistema de Governo – Presidencialismo.

c) ADMINISTRAÇÃO:
Podemos conceituá-la de várias formas:
- Sentido amplo – envolve o governo (que traça as diretrizes) e a administração em sentido
estrito (vai executar as diretrizes do governo). Abrange os órgãos de governo, que exercem
função política, e também os órgãos e pessoas jurídicas que exercem função meramente
administrativa. Fixação e execução das denominadas políticas públicas.

- Sentido estrito – envolve apenas a execução. Só inclui os órgãos e pessoas jurídicas que
exercem função meramente administrativa, de execução dos programas de governo. Aqui
ficam excluídos os órgãos políticos e as funções políticas de elaboração das políticas
públicas. É a área estudada pelo Direito Administrativo.
Cuidado!! Administração Pública ou administração pública? AP (letra maiúscula) é o Estado,
é o conceito formal; ap (letra minúscula) é a atividade administrativa do Estado é o conceito
material.

44
Assunto 3: ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública é o aparelhamento do Estado destinado à realização


de serviços, visando à satisfação de necessidades coletivas. Para cumprir esse objetivo, a
Administração age por meio de entidades estatais, autárquicas, fundacionais e paraestatais.
A organização da Administração Pública é o conjunto de órgãos que
desempenham a atividade administrativa e não atividades políticas. É por isso que há
Administração nas secretarias e serviços auxiliares do Legislativo e no próprio Judiciário.
Mas é no Executivo, no entanto, que mais se encontram órgãos administrativos aptos a
transformar em realidades concretas as previsões abstratas da lei.
Essa organização faz-se normalmente por lei e, excepcionalmente por decreto
e normas inferiores, quando não exige a criação de cargos nem aumento de despesas
públicas.
A Administração Pública compõe-se de Órgãos Públicos e Entidades Jurídicas
personalizadas que podem ser de direito público ou privado.
 União - Ministérios
 Estados - Secretarias e Órgãos
 Distrito Federal - Secretarias e Órgãos
 Municípios - Secretarias e Órgãos
OBS: União, Estados, DF e Municípios possuem personalidade jurídica de Direito Público.
OBS: Ministérios, Secretarias e Órgãos não possuem personalidade jurídica.
OBS: Administração Pública Direta é aquela composta por órgãos ligados diretamente ao
poder federal, estadual ou municipal. São os próprios organismos dirigentes, seus
ministérios e secretarias. Já a Administração Pública INDIRETA será por meio das
Autarquias, Empresas Públicas, Fundações Públicas e Sociedade de Economia Mista.

1. FORMA DE PRESTAÇÃO DA ATIVIDADE ADMINISTRATIVA:


a) Centralizada – quando é prestada pelo núcleo da Administração Direta. Ocorre quando
o Estado executa suas tarefas por meio dos órgãos e agentes integrantes da Administração
Direta.
Na centralização os serviços são prestados diretamente pelos órgãos do Estado,
despersonalizados, integrantes de uma mesma pessoa política (U/E/DF/M), sem outra
pessoa jurídica interposta.
b) Descentralizada – para o aperfeiçoamento de seus serviços a administração transfere
para outras pessoas jurídicas. Trata-se de uma técnica de especialização em que temos
uma distribuição externa de atividades administrativas, que passam a ser exercidas por
pessoa ou pessoas distintas do Estado.
Desta forma, o Estado (U/E/DF/M) desempenha algumas de suas funções por meio de
outras pessoas jurídicas.
Portanto, a descentralização pressupõe duas pessoas jurídicas distintas: o Estado e a
entidade que executará o serviço, por ter recebido do Estado essa atribuição.
Observação:
Não confundir:
 Descentralização – transferência para uma nova pessoa jurídica. Não tem
hierarquia e sim controle finalístico.
45
Ex: União/Estado. Estado/Autarquia.
 Desconcentração – é a distribuição interna de atividades administrativas, de
competências, ocorrendo de órgão para órgão da entidade, relacionando-se com o
conceito de hierarquia. Tal transferência acontece na mesma pessoa jurídica, logo
há hierarquia, com a finalidade de tornar mais ágil e eficiente a prestação dos
serviços.
Ela pode ocorrer tanto na prestação de serviços pela Administração Direta ou Indireta
Ex: Órgão Secretaria de Estado de Segurança Pública /Órgão Polícia Militar do Estado.
 Concentração – a prestação concentrada de um serviço ocorreria em uma pessoa
jurídica que não apresentasse divisões em sua estrutura interna.
 Centralização – ocorre quando o Estado executa suas tarefas por meios dos órgãos
e agentes integrantes da Administração Direta; sem outra pessoa jurídica interposta.

Assunto 4: ENTIDADES ESTATAIS E ENTIDADES ADMINISTRATIVAS

 Administração Pública DIRETA: União, Estados, Municípios e o Distrito Federal, bem


como seus Ministérios e Secretarias.
É o conjunto de órgãos das pessoas políticas que têm como função típica a
atividade administrativa do Estado, por determinação do direto positivo.
Aqui temos a atividade administrativa prestada de forma direta e centralizada e
que para uma melhor prestação do serviço, se subdivide em órgãos públicos
(desconcentração).
 Administração Pública INDIRETA:
É constituída pelas pessoas jurídicas distintas do Estado, cuja função típica
é a atividade administrativa pública, por determinação do direito positivo.
É o conjunto de pessoas administrativas (têm personalidade jurídica própria)
vinculadas à Administração Direta que irão desempenhar as atividades administrativas de
forma descentralizada.
Subdivisão: Autarquias, Fundações Públicas, Empresas Públicas e Sociedade de
Economia Mista.
E também as Agências Reguladoras e Agências Executivas.
Divisão
São as seguintes as entidades da Administração Indireta:
o Autarquia
o Empresa Pública
o Sociedade de Economia Mista
o Fundação Pública
o
IMPORTANTE: Um exemplo de autarquia no MS é o DETRAN

Características Gerais
As entidades da Administração Indireta possuem, necessária e cumulativamente, as
46
seguintes características:
a) Personalidade Jurídica Própria
Para que possam desenvolver suas atividades, as entidades da administração indireta são
dotadas de personalidade; consequentemente, podem adquirir direitos e assumir obrigações
por conta própria, não necessitando, para tanto, das pessoas políticas.
b) Patrimônio Próprio
Em função da característica anterior, as entidades possuem patrimônio próprio, distinto das
pessoas políticas.
c) Vinculação aos Órgãos da Administração Direta
- As entidades da Administração Indireta são vinculadas aos órgãos da Administração
Direta, com o objetivo principal de possibilitar a verificação de seus resultados, a
harmonização de suas atividades políticas com a programação do Governo, a eficiência de
sua gestão e a manutenção de sua autonomia financeira, operacional e financeira, através
dos meios de controle estabelecido em lei.
- Alguns denominam este controle de tutela, definida por Maria Sylvia Zanella Di Pietro
como a fiscalização que os órgãos centrais das pessoas públicas políticas (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios) exercem sobre as pessoas administrativas descentralizadas,
nos limites definidos em lei, para garantir a observância da legalidade e o cumprimento de
suas finalidades institucionais.
- Não significa a tutela que os entes da Administração Indireta estejam hierarquicamente
subordinados à Administração Direta ocorrendo apenas uma descentralização. A
subordinação ocorre entre os órgãos da Administração, denominando-se de hierarquia ou
autotutela.
- A autora estabelece diferenças sensíveis entre tutela (vinculação) e hierarquia, conforme
o quadro a seguir.

Tutela (Vinculação) Hierarquia (Autotutela)

A tutela supõe a existência de duas pessoas


A hierarquia existe dentro de uma mesma
jurídicas, uma das quais exercendo controle
pessoa jurídica, quando, por exemplo, um
sobre a outra (a pessoa política controla as
Ministério controla seus próprios órgãos.
entidades da Administração Indireta).

A hierarquia existe independentemente de


A tutela não se presume, só existindo quando a
previsão legal, pois é inerente à
lei a estabelece.
organização administrativa.

 Entidades Paraestatais ou Entes de Cooperação


Conceito:
- São entes privados que não pertencem à Administração Pública Direta ou Indireta, mas
colaboram com o Estado no desempenho de atividades de interesse público.
Espécies:
- Envolvem os Serviços Sociais Autônomos, as Organizações Sociais e as Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público.

47
Assunto 5: PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

1. Princípios Basilares
a) Princípio da Supremacia do Interesse Público
É um princípio que permeia todas as relações envolvendo a Administração
Pública, e se traduz no deferimento de prerrogativas ao Poder Público em impor suas
vontades em relação aos administrados, respeitando a lei aos demais princípios e regras
jurídicas.
Se funda precipuamente no fato de que as atividades administrativas são
desenvolvidas pelo Estado para benefício da coletividade. Em outras palavras, a
Administração Pública age em nome de todo o grupo social. Isso ocorre porque sendo o
bem comum a finalidade única do Estado, em um eventual confronto entre o interesse
individual e o interesse coletivo, sempre prevalecerá o segundo.
Embora seja um princípio implícito no texto constitucional, encontra-se
explicitado no art. 2º, caput, da Lei nº 9784/99, e deve ser aplicado a todos os ramos do
Direito Público.
Importante ressaltar que o interesse público referido é o chamado interesse
público primário (da coletividade), e não o interesse público secundário (da Administração
ou do administrador), devendo ser observado tanto na elaboração quanto na execução das
leis.
Para os doutrinadores, em geral, os limites à busca do atendimento deste
princípio são: direitos e garantias fundamentais constitucionais (ex: devido processo legal)
e princípio da legalidade.
IMPORTANTE:
Exemplos práticos: desapropriação de imóvel contra a vontade de seu proprietário para
a construção de uma escola; requisição de bens; autoexecutoriedade dos atos
administrativos; cláusulas exorbitantes dos contratos administrativos.
S.I.P Na maioria das vezes, a Administração, para buscar de maneira eficaz o interesse da
coletividade, necessita se colocar em um patamar de superioridade em relação aos
particulares, numa relação de verticalidade, sendo uma das prerrogativas conferidas à
Administração Pública.

b) Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público


Este princípio afirma que os bens e os interesses públicos são indisponíveis, por
não pertencerem à Administração e tampouco aos administradores. Cabe-lhes apenas geri-
los, conservá-los e por eles velar em prol da coletividade, esta sim a verdadeira titular dos
direitos e interesses públicos.
Os bens, direitos e interesses públicos são confiados aos administradores para
a sua gestão, nunca para a sua disposição. O poder de disposição, seja para aliená-los,
renunciá-los ou transacioná-los (negociá-los) dependerá sempre de lei. Não há poder de
transigir sem lei anterior que o permita. Assim, tal princípio possui estreita relação com o
princípio da legalidade.
Trata-se de um princípio implícito, e dele decorrem diversos princípios expressos
que norteiam a atividade da Administração, como o da legalidade, o da impessoalidade e
outros.
É mister frisar que o tal princípio está diretamente presente em toda e qualquer
atuação da Administração Pública, diferentemente do que ocorre com princípio da
supremacia do interesse público, que, de forma direta, fundamenta essencialmente os atos

48
de império do Poder Público.
O princípio parte, afinal, da premissa de que todos os cuidados exigidos para os
bens e interesses públicos trazem benefícios para a própria coletividade e o administrador
deve dar fiel cumprimento à lei, gerindo a coisa pública conforme o que na lei estiver
determinado, ciente de que desempenha o papel de mero gestor de coisa que não é sua,
mas do povo.
Exemplos práticos: necessidade de licitação, em regra para compras
efetuadas pela Administração, da mesma forma, os contratos administrativos reclamam,
como regra, que se realize a licitação para encontrar quem possa executar obras e serviços
de modo mais vantajoso para a Administração; não se admite que a Administração Pública
renuncie ao recebimento de receitas devidas ao Estado, como multas, tributos, salvo se
houver enquadramento em alguma hipótese de renúncia expressamente prevista em lei; e,
a inalienabilidade de bens públicos afetados.

2. Princípios Expressos (ou Princípios Constitucionais da Administração Pública)


A Constituição vigente, ao contrário das anteriores, dedicou um capítulo à
Administração Pública (Capítulo VII do Título III) e, no art. 37, deixou expressos os princípios
a serem observados por todas as pessoas administrativas de qualquer dos entes
federativos. Revelam eles as diretrizes fundamentais da Administração, de modo, que só se
poderá considerar válida a conduta administrativa se estiver compatível com eles, quais
sejam: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, vejamos:

Art. 37 A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

a) Princípio da Legalidade
É o princípio nos mais diversos ramos do direito, no caso do Direito
Administrativo é o princípio pelo qual a Administração Pública só pode fazer o que a lei
determina ou permite, é a Administração submetida ao Estado de Direito.
Trata-se de um limite à atuação do Estado, e, consequentemente, uma garantia
para os administrados que, contrariamente, podem fazer tudo aquilo que não seja vedado
em lei (art. 5º, II, da CF/88).
O Princípio da legalidade aparece simultaneamente como um limite e como uma
garantia, pois ao mesmo tempo em que é um limite a atuação do Poder Público, visto que
este só poderá atuar com base na lei, também é uma garantia a nós administrados, visto
que só deveremos cumprir as exigências do Estado se estiverem previstas na lei.
Em consequência os atos praticados em desobediência a tais parâmetros são
atos inválidos e podem ter sua invalidade decretada ela própria Administração Pública que
os haja editado (autotutela administrativa) ou pelo Poder Judiciário.
Neste sentido afirma o professor Kildare Gonçalves, “diferentemente do
indivíduo que é livre para agir, podendo fazer tudo o que a lei não proíbe, a administração,
somente poderá fazer o que a lei manda ou permite”.
Nesse diapasão, a legalidade despendida à Administração Pública tem conteúdo
muito mais restritivo do que a legalidade geral aplicável à conduta dos particulares, senão
vejamos:
49
IMPORTANTE
Observação 01: Devemos distinguir a legalidade
I) para o direito privado (Autonomia da vontade) – neste caso as relações são travadas por
particulares visando seus próprios interesses; eles poderão fazer tudo aquilo que a lei não
proibir, prestigia a autonomia da vontade (relação de não contradição com a lei). “Faço o
que a lei não proíbe”
II) para o direito público (Estrita Legalidade)– tendo em vista o interesse da coletividade que
representa, a Administração só pode fazer aquilo que a lei autoriza (relação de subordinação
com a lei). “Faz o que a lei autoriza”
Observação: Círculo da Legalidade: O Uso e o abuso de Poder

O uso do poder é a prerrogativa da autoridade, mas o poder há que ser usado


normalmente, sem abuso; usar normalmente do poder é empregá-lo segundo as normas
legais, a moral da instituição, a finalidade do ato e as exigências do interesse público; o
poder é confiado ao administrador público para ser usado em benefício da coletividade
administrada, mas usado nos justos limites que o bem-estar social exigir.
O abuso de poder ocorre quando a autoridade, embora competente para praticar
o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades administrativas;
o abuso de poder é sempre uma ilegalidade que invalida o ato que a contém; o abuso de
poder pode tanto revestir a forma comissiva como a omissiva, porque ambas são capazes
de afrontar a lei e causar lesão a direito individual do administrado.

- Excesso de Poder: Há excesso de poder sempre que desrespeitada regra de competência


(o agente público não detém competência para a prática do ato; o agente, embora
competente para outros atos, aquele não poderia ter praticado). Viola-se, portanto, a regra
de competência (um dos requisitos de validade do ato administrativo).
- Desvio de Finalidade: Verifica-se sempre que o ato for praticado com finalidade diversa
da estatuída pela lei (se a desapropriação é decretada não porque o bem imóvel do particular
encerra alguma utilidade social, mas para satisfazer ao desejo de seu proprietário).
- Omissão da Administração (Silêncio Administrativo): A omissão específica caracteriza
abuso de poder porque a Administração Pública estaria legalmente obrigada a agir diante
de um caso em concreto, porém, omite-se. Não se trata da prática de um ato administrativo,
mas, sim, da ausência de manifestação de vontade da Administração Pública.
Resumindo: Se usar o poder dentro da lei, da moral e da finalidade, não há abuso de poder;
porém se faltar um há o abuso de poder. É também conhecido como Abuso de Autoridade.
Pode ocorrer:
 Excesso de poder – aparece quando a autoridade competente para aquela atuação
vai além, se excede.
 Desvio de poder ou finalidade – aparece quando a autoridade é competente, atua
nos limites de sua competência, mas com finalidade diversa.
 Omissão – aparece quando há o silêncio da Administração Pública.
IMPORTANTE: Se um chefe de repartição, comandante ou autoridade descobre que um
subordinado está tendo uma relação afetiva com sua filha, e para por fim a este
relacionamento indesejado transfere o subordinado para localidade distante, ele age com
Desvio de poder ou finalidade. Pois apesar de ser competente para a movimentação, ele
não transferiu o “genro indesejado” baseado no interesse público (falta de efetivo), mas em
suas vontades particulares.
50
Logo, quando se pratica o ato com excesso de poder, o elemento do ato
administrativo que está viciado é a competência (sujeito) e quando há o desvio de poder, é
a finalidade do ato administrativo que está viciada.
IMPORTANTE:
I) discricionariedade = é a liberdade que o ordenamento jurídico confere ao Administrador
para atuar em certas situações de acordo com o juízo de conveniência e oportunidade, mas
sempre dentro dos limites da lei (não cabe intervenção judicial quanto ao mérito).
II) arbitrariedade = é a atuação fora dos limites impostos por lei.
III) vinculação= Não liberdade para atuação estatal.

b) Princípio da Impessoalidade
Impessoal, é o que não pertence a uma pessoa em especial (dicionário
contemporâneo da língua portuguesa). O princípio objetiva a igualdade de tratamento que a
Administração deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação
jurídica, vedando-se, em consequência, que sejam favorecidos alguns indivíduos em
detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de outros.
Lembrando que não se pode deixar de fora a relação que a finalidade da conduta
administrativa tem com a lei.
Assim, os autores tratam do princípio administrativo da impessoalidade sob dois
prismas, a saber:
a) Como determinante da finalidade de toda a atuação administrativa;
b) Como vedação a que o agente público valha-se das atividades desenvolvidas pela
Administração para obter promoção pessoal.
Portanto, é o princípio que impõe tratamento igualitário aos administrados, bem
como nos remete à ideia de que os agentes públicos devem ter uma atuação neutra.
Exemplos: ato de remoção para adequação de mão-de-obra das unidades
administrativas – ideia de finalidade de atuação da Administração.
 Art. 37, II e XXI da CF/88 – ideia da decorrência da isonomia.
 Art. 37, § 1º da CF/88 – ideia de vedação à “personalização” das realizações
da Administração Publica, à promoção pessoal do agente público.
Importante!
Distinção entre o princípio da impessoalidade e o princípio da isonomia – Em Direito
Administrativo uma das aplicações do princípio da impessoalidade é a necessidade de
tratamento isonômico dos administrados por parte da Administração. Para o Prof. Celso
Antônio B. de Mello, a impessoalidade é o corolário da isonomia ou igualdade e para ele
princípio da finalidade significa buscar a vontade maior da lei, o espírito da lei, e como não
é possível separar a vontade maior da lei da própria lei, o princípio da finalidade decorreria
do princípio da legalidade.

c) Princípio da Moralidade
O princípio da moralidade torna jurídica a exigência de atuação ética dos
agentes da Administração Pública.
A denominada moral administrativa difere da moral comum, justamente por ser
jurídica e pela possibilidade de invalidação dos atos administrativos que sejam praticados
com inobservância deste princípio. Portanto, a moralidade a ser observada é a moralidade
51
administrativa (respeito ao interesse coletivo; atuação de um bom administrador) e não a
moral comum (distinção entre o bem e o mal).
Este princípio impõe que o administrado público não dispense os preceitos éticos
que devem estar presentes em sua conduta. Deve não só averiguar os critérios de
conveniência e oportunidade e justiça em suas ações, mas também deve distinguir o que é
honesto do que é desonesto.
Em consequência, o ato contrário à moral administrativa não deve ser revogado,
e sim declarado nulo. Mais importante, como se trata de controle de legalidade ou
legitimidade, este pode ser efetuado pela Administração e, também, pelo Poder Judiciário
(desde que provocado).
Frise-se este ponto: afirmam os administrativistas que esse conceito objetivo de
moral administrativa pode ser extraído do ordenamento jurídico, a partir do conjunto de
normas, de todos os níveis, que versam sobre condita dos agentes públicos em geral. Por
essa razão, muito frequentemente os autores afirmam que o princípio da moralidade
complementa, ou torna mais efetivo, materialmente, o princípio da legalidade.
Assim, a moral administrativa liga-se à ideia de probidade e de boa-fé.
Exemplos: determinado prefeito, após ter sido derrotado no pleito municipal, às vésperas
do encerramento do mandato, congela o IPTU, com a intenção de reduzir as receitas e
inviabilizar a administração seguinte. Ainda que tenha agido conforme a lei, agiu com
inobservância da moralidade administrativa.
 Art. 37,§ 4º da CF/88 – cuida da lesão à moralidade, referindo-se à improbidade
administrativa.
 Art. 85, inciso V da CF/88 – tipifica como crime de responsabilidade os atos do Presidente
da República que atentem contra a probidade administrativa.
IMPORTANTE!
I) Moralidade e Probidade – a improbidade administrativa é chamada de imoralidade
administrativa qualificada pelo ENRIQUECIMENTO ILÍCITO, PREJUÍZO AO ERÁRIO OU
OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Como por exemplo, chegar
atrasado ao serviço todos dos dias pode ser imoral, mas não é ato de improbidade, pois as
condutas de improbidade estão previstas na Lei nº 8429/92.
II) Tutela jurisdicional ao princípio da moralidade – a Constituição confere aos particulares o
poder de controlar o respeito a este princípio, seja mediante provocação à própria
Administração Pública, por exemplo no exercício do direito de petição, seja por meio de
ações judiciais diversas, bem como há também o controle judicial que é através da ação
popular (art. 5º, LXXIII da CF/88), e ação civil pública, prevista no art. 129, III da CF/88,
como uma das funções institucionais do Ministério Público, como outro dos instrumentos de
proteção à moralidade administrativa.

d) Princípio da Publicidade
Outro princípio mencionado na Constituição é o da publicidade. Indica que os
atos da Administração devem merecer a mais ampla divulgação possível entre os
administrados, pois só com a transparência dessa conduta é que os indivíduos poderão
aquilatar (apurar) a legalidade ou não dos atos e o grau de eficiência de que se revestem.
É para observar esse princípio que os atos administrativos são publicados em
órgãos de imprensa oficial ou afixados em determinado local das repartições administrativas.
IMPORTANTE: No caso da PMMS além de termos as publicações veiculadas no Diário
Oficial do Estado, temos as publicações em Boletim do Comando-Geral (BCG) e Boletim
Reservado (BR).
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É importante frisar que não se deixe de fora o registro de que ao princípio da
publicidade devem submeter-se todas as pessoas administrativas, quer as que constituem
as próprias pessoas estatais, quer aquelas outras que, mesmo sendo privadas, integram o
quadro da Administração Pública, como é o caso das entidades paraestatais.
O princípio da publicidade também apresenta dupla acepção em face do sistema
decorrente da Constituição Federal de 1988, a saber:
a) Exigência de publicação, em órgão oficial, como requisito de eficácia dos atos
administrativos gerais que devam produzir efeitos externos ou onerem o patrimônio público.
b) Exigência de transparência da atuação administrativa.
No primeiro caso, a publicidade não está ligada à validade do ato, mas à sua
eficácia, isto é, enquanto não publicado, o ato não está apto a produzir efeitos. Posto isso
se dá a maior publicidade, porque somente em raríssimas hipóteses se admite o sigilo na
Administração.
Na segunda acepção, derivada do princípio da indisponibilidade do interesse
público, diz respeito à exigência de que seja possibilitado da forma mais ampla possível, o
controle da Administração pelos administrados (art. 5º, inciso XXXIII, da CF/88).
Importante garantia individual apta a assegurar a exigência de transparência da
Administração Pública é o direito de petição aos Poderes Públicos; o mesmo se pode dizer
do direito á obtenção de certidões em repartições públicas (CF, art. 5º, XXXIV, “a” e “b”,
respectivamente).
Os efeitos da aplicação deste princípio podem ser listados como:
- dar conhecimento aos administrados da atuação da Administração;
- produzir efeitos, posto ser a publicidade condição de eficácia (art. 71, § ú, da Lei nº
8.666/93);
- dar início à contagem de prazos;
- controlar a atuação do administrador.
Por fim, para que o princípio da publicidade seja obedecido há a necessidade de
que a divulgação siga a forma prevista em lei.

Importante!
 A publicidade é de acordo com certos requisitos legais (não é livre).
 A CF proíbe a publicidade que faça propaganda do administrador (como pessoa), a
propaganda das obras é necessária, sem vinculá-las à pessoa (não pode ter
símbolos, imagens, expressões).
 Publicidade é diferente de Publicação.
 Formas de dar publicidade: publicação em diário oficial, editais, informes
publicitários, placas em obras, etc.
Exceções:
I) art. 5º, XXXIII – garante o sigilo para segurança da sociedade e do Estado;
II) art. 5º, X - direito à intimidade e,
III) art. 5º LX – ações que devem correr em segredo de justiça.

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e) Princípio da Eficiência
Surgiu no Texto Constitucional em razão da EC nº 19/98, e impõe à
Administração Pública melhor atuação possível diante dos recursos disponíveis.
Embora a eficiência (meios) tenha definição diferente da eficácia (fins), a
Administração deve agir observando tanto os melhores meios quanto o melhor resultado,
portanto, em Direito Administrativo o conceito de eficiência envolve meios e fins.
Importante também é o aspecto econômico que deve pautar as decisões,
levando-se em conta sempre a relação custo-benefício, como por exemplo, construir uma
linha de distribuição elétrica em rua desabitada pode ser legal, mas não será um
investimento eficiente para a sociedade.
Assim, a ideia de eficiência aproxima-se da de economicidade, (art. 70, caput,
da Constituição) que busca o atingimento de objetivos traduzidos por boa prestação de
serviços, do modo mias simples, mais rápido, e mais econômico, melhorando a relação
custo/benefício da atividade da Administração.
Deste modo, a eficiência tem como corolário a boa qualidade, não podendo, a
Administração Pública, esquivar-se de escolher a atuação mais eficiente alegando interesse
da administração (conveniência e oportunidade).
Com isso, é possibilitada, em tese, a apreciação pelo Poder Judiciário de um ato
administrativo quanto a sua eficiência (ato ineficiente é ilegítimo o que enseja sua anulação,
ou, se a anulação causar ainda mais prejuízo ao interesse público, responsabilização de
quem lhe deu causa).

IMPORTANTE: É possível que a Administração, a pretexto de uma atuação mais eficiente,


possa praticar atos sem que haja previsão legal? NÃO. Todos os princípios devem ser
aplicados de forma conjunta e harmônica.

3. Princípios Reconhecidos (ou Princípios Doutrinários)


Além dos princípios expressos, a Administração Pública ainda se orienta por
outras diretrizes que também se incluem em sua principiologia, e que por isso são da mesma
relevância que aqueles.
Doutrina e Jurisprudência usualmente a elas se referem, o que revela a sua
aceitação geral como regras de proceder da Administração e é por isso que são
denominados de princípios reconhecidos, para acentuar exatamente essa aceitação.

a) Princípio da Finalidade
A Constituição de 1988 não se referiu expressamente ao princípio da finalidade, mas
o admitiu sob a denominação de princípio da impessoalidade (art.37). Toda atuação
do administrador se destina a atender o interesse público, que pode ser:
 Primário – identifica-se com o de toda a coletividade. É o interesse coletivo.
 Secundário – é o pertinente à Pessoa Jurídica de Direito Público. Ex.: a União tem
interesse secundário em pagar menos aos seus servidores.
Essa distinção é importante, no processo civil, porque só quando existe interesse
primário é que se torna necessária a intervenção do Ministério Público. A Administração
Pública deve direcionar os seus atos para alcançar o interesse público primário. A fonte que
vai indicar qual o interesse a ser atingido pela Administração Pública é a LEI. A finalidade
pública objetivada pela lei é a única que deve ser perseguida pelo administrador.

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Para a doutrina tradicional (Hely Lopes Meirelles), o princípio da finalidade é
sinônimo do princípio da impessoalidade, bem como o princípio da imparcialidade.
Para outros autores, também diz respeito ao clássico princípio da finalidade, que
exige que os atos administrativos sejam praticados tão-somente com o objetivo de atingir o
fim almejado pela lei, que em última análise, é o de proteger os interesses da coletividade.
O princípio da finalidade impõe ao administrador que sua atuação vise sempre
ao objetivo da norma, cingindo-se a ela. Ressalte-se que o ato administrativo, para ser lícito
e legítimo, deve atender aos fins (públicos) a que se destina. Deste modo, o princípio da
finalidade corresponde a uma orientação obrigatória da atividade administrativa ao interesse
público.
O não atendimento do fim público ou se a decisão administrativa for
fundamentada em favoritismos pessoais do administrador público, ou de determinados
grupos, considera-se haver vício de finalidade ou desvio de poder*.
*Assunto tratado no final do princípio da Legalidade

b) Princípio da Continuidade
Em razão de ter o Estado assumido a prestação de determinados serviços, por
considerar que estes são fundamentais à coletividade, mesmo os prestando de forma
descentralizada ou ainda delegada, deve a Administração, até por uma questão de
coerência, oferecê-los de forma contínua, ininterrupta.
Pelo princípio da continuidade dos serviços públicos, o Estado é obrigado a não
interromper a prestação dos serviços que disponibiliza.
Do princípio da supremacia do interesse público (princípio geral do Direito
administrativo) decorrem outros princípios, tais quais da continuidade do serviço público e o
do dever inescusável do Estado em prestá-lo. Estes últimos se correlacionam diretamente,
na medida em que os serviços públicos são voltados à coletividade.
O Poder Público, enquanto defensor da ordem jurídica e garantidor do interesse
público, é consequentemente responsável por propiciar aos seus subordinados a satisfação
destas necessidades (Art. 175 da CRFB/88), através da prestação de alguns serviços,
caracterizados como públicos.
Neste prisma, o Estado deve promover a prestação do serviço público, direta ou
indiretamente, norteado pelo interesse público, sendo indispensável a forma contínua, não
podendo, arbitrariamente, ser interrompida.
A continuidade do serviço público, como princípio a ser observado, configura um
dever a ser efetivado na prestação do serviço. No entanto há exceções, como se segue:
Importante!

I) Não será descontinuidade do serviço público:


a) Serviço público interrompido por situação emergencial (art. 6º, §3º da lei 8987/95):
Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de
serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme
estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo
contrato.
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade,
generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.
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§ 2o A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do
equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a
melhoria e expansão do serviço.
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua
interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso,
quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das
instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da
coletividade.

b) Interrupção resultante de uma imprevisibilidade.


A situação emergencial deve ser motivada, pois resulta de ato administrativo.

II) Em razão desse princípio, decorrem algumas consequências para quem realiza
algum tipo de serviço público, como:
- restrição ao direito de greve, artigo 37, VII da CF/88;
- suplência, delegação e substituição – casos de funções vagas temporariamente;
- impossibilidade de alegar a exceção do contrato não cumprido, somente em casos em que
se configure uma impossibilidade de realização das atividades;
- possibilidade da encampação da concessão do serviço, retomada da administração do
serviço público concedido no prazo na concessão, quando o serviço não é prestado de forma
adequada.

c) Princípio da Igualdade
A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos,
prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos
os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios
albergados pelo ordenamento jurídico.
Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações
absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se
desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente
protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional
quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo
direito, sem que se esqueça, porém, como ressalvado por Fábio Konder Comparato, que as
chamadas liberdades materiais têm por objetivo a igualdade de condições sociais, meta a
ser alcançada, não só por meio de leis, mas também pela aplicação de políticas ou
programas de ação estatal.
Assim, os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a
Constituição Federal (art. 5º, II), quando verificada a existência de uma finalidade
razoavelmente proporcional ao fim visado.
Importante, igualmente, apontar a tríplice finalidade limitadora do princípio da
igualdade - limitação ao legislador, ao intérprete / autoridade pública e ao particular. O
legislador, no exercício de sua função constitucional de edição normativa, não poderá
afastar-se do princípio da igualdade, sob pena de flagrante inconstitucionalidade. Assim,
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normas que criem diferenciações abusivas, arbitrárias, sem qualquer finalidade lícita, serão
incompatíveis com a Constituição Federal.
Finalmente, o particular não poderá pautar-se por condutas discriminatórias,
preconceituosas ou racistas, sob pena de responsabilidade civil e penal, nos termos da
legislação em vigor.

d) Princípio da Motivação
Embora não previsto expressamente dentre os princípios constitucionais da
Administração Pública constantes do art. 37, caput, da Constituição Federal, a doutrina
aponta possuir referido princípio guarida constitucional.
A doutrina pátria é pacífica no entendimento de que a inexistência do motivo
alegado como fundamento para a prática de qualquer ato administrativo acarreta a sua
nulidade.
No Direito Administrativo a existência de motivação é vista hoje como condição
de validade dos atos da Administração. Nesse diapasão, a declinação dos motivos nas
manifestações estatais criadoras, extintivas ou modificadoras de direitos, que caracterizam
os pronunciamentos de caráter decisório do Poder Público, tornou-se por toda parte uma
exigência do Estado Democrático de Direito.

e) Princípio da Autotutela (IMPORTANTE!)


Vigora no Brasil o sistema de jurisdição única, insculpido no art. 5º, XXXV, da
CF, pelo qual detém o Poder Judiciário competência para decidir com força de definitividade
quaisquer litígios trazidos à sua apreciação, inclusive os de caráter administrativo.
Em complemento a esse sistema existe o poder-dever de a própria
Administração exercer o controle de seus atos, no que se denomina autotutela administrativa
ou princípio da autotutela. No exercício deste poder-dever a Administração, atuando por
provocação do particular ou de ofício, reaprecia os atos produzidos em seu âmbito, análise
esta que pode incidir sobre a legalidade do ato ou quanto ao seu mérito.
Na primeira hipótese - análise do ato quanto à sua legalidade -, a decisão
administrativa pode ser no sentido de sua conformidade com a ordem jurídica, caso em que
será o ato terá confirmada sua validade; ou pela sua desconformidade, caso em que o ato
será anulado.
Na segunda hipótese - análise do ato quanto ao seu mérito -, poderá a
Administração decidir que o ato permanece conveniente e oportuno com relação ao
interesse público, caso em que permanecerá eficaz; ou que o ato não se mostra mais
conveniente e oportuno, caso em que será ele revogado pela Administração.
Percebe-se que a autotutela administrativa é mais ampla que a jurisdicional em
dois aspectos. Em primeiro lugar, pela possibilidade de a Administração reapreciar seus atos
de ofício, sem necessidade de provocação do particular, ao contrário do Judiciário, cuja
atuação pressupõe necessariamente tal manifestação (princípio da inércia); por segundo,
em função dos aspectos do ato que podem ser revistos, já que a Administração poderá
reanalisá-los quanto à sua legalidade e ao seu mérito, ao passo que o Judiciário só pode
apreciar, em linhas gerais, a legalidade do ato administrativo.
Nessa esteira, o Professor José dos Santos C. Filho, registra que a autotutela
envolve dois aspectos quanto à atuação administrativa.

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a) Aspecto da legalidade, em relação aos quais a Administração, de ofício,
procede à revisão de atos ilegais.
b) Aspecto de mérito, em que reexamina atos anteriores quanto à conveniência
e oportunidade de sua manutenção ou desfazimento.
O princípio da autotutela sempre foi observado no seio da Administração Pública
e hoje está consagrado , sendo, inclusive, objeto de firme orientação do STF, que a ele faz
referência nas clássicas Súmulas 346 e 473.
IMPORTANTE:
- Súmula nº 346 do STF: “A Administração Pública pode declarar a nulidade dos seus
próprios atos”.
- Súmula nº 473 do STF: "A Administração pode anular seus próprios atos quando eivados
de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por
motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
em qualquer caso, a apreciação judicial".

Em consequência desse Princípio da Autotutela, a Administração:


a) não precisa ser provocada para reconhecer a nulidade dos seus próprios atos;
b) não precisa recorrer ao Judiciário para reconhecer a nulidade dos seus
próprios atos.
Por fim vale ressaltar que, tal princípio não se trata apenas de uma faculdade,
mas também de um dever, pois que não se pode admitir que, diante de situações irregulares,
permaneça inerte e desinteressada.
Na verdade, só restaurando a situação de regularidade é que a Administração
observa o princípio da legalidade, do qual a autotutela é um dos mais importantes corolários.
IMPORTANTE
 Anulação: Tanto a Administração como o Judiciário pode anular um ato administrativo.
A anulação gera efeitos “ex tunc”, isto é, retroage até o momento em que o ato foi editado,
com a finalidade de eliminar todos os seus efeitos até então.
 Revogação: Somente a Administração pode fazê-la. Caso o Judiciário pudesse rever os
atos por razões de conveniência ou oportunidade estaria ofendendo a separação dos
poderes. A revogação gera efeitos “ex nunc”, pois até o momento da revogação o ato era
válido.

Anulação Revogação

Fundamento Por razões de ilegalidade Por razões de conveniência e


oportunidade

Competência Administração e Judiciário Administração

Efeitos Gera efeitos “ex tunc” Gera efeitos “ex nunc”

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Atenção!
1) O poder Judiciário pode controlar atos discricionários e atos vinculados, desde
que este controle seja sobre a legalidade de tais atos. O Judiciário não pode entrar
no chamado mérito administrativo.
2) De acordo com o art. 54 da Lei n 9784/99, o direito da Administração de anular os atos
administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco
anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. No entanto, é
possível que esta ilegalidade seja revista, a qualquer momento, pelo Judiciário.

Assunto 6: ATO ADMINISTRATIVO

1. Conceito
Os atos administrativos constituem, sem dúvida um dos tópicos mais
importantes, e, ao mesmo tempo mais controversos do direito administrativo. A imensa
maioria dos atos praticados pela administração pública são atos administrativos,
necessariamente, esses atos são praticados em todas as áreas de atuação administrativas,
das licitações às questões referentes aos bens públicos. Trata-se do que pode ser chamado
da parte geral do direito administrativo, objeto de diversos pronunciamentos judicias.
A disciplina dos atos administrativos depende quase que exclusivamente da
doutrina, com a considerável exceção da bem formulada Lei 9.784/99, que lhes dedica
alguns dispositivo.
Por isso, é indispensável que, antes de conhecemos o significado do ato
administrativo, entremos em contato com expressões relacionadas a ele e, para que
possamos entender o tema proposto, há necessidade de resgatarmos alguns conceitos:

a) FATO
- Fato: é qualquer acontecimento que ocorre no mundo em que vivemos.
- Fato Jurídico: são os acontecimentos que importam para o mundo jurídico, ou seja, os
acontecimentos a que o Direito imputa efeitos jurídicos.
- Fato Administrativo: é o fato jurídico que possui especial relevância para o Direito
Administrativo. É toda realização material da Administração em cumprimento de alguma
decisão administrativa, tal como a construção de uma ponte, etc., só interessa ao Direito,
em razão das consequências jurídicas que dele possam advir. Eles não podem ser anulados
ou revogados, e não gozam de presunção de legitimidade.

b) ATO
- Ato é toda conduta imputável ao homem. O ato decorre de uma manifestação de vontade,
de um comportamento humano voluntário.
- Ato Jurídico: é todo ato humano que traz como consequência efeitos jurídicos.
- Ato Administrativo: é o ato jurídico que possui especial relevância para o Direito
Administrativo. É toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que,
agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar,
extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria.

59
Eles podem ser anulados ou revogados, e gozam de presunção de legitimidade. Possui
algumas condições: A primeira para o seu surgimento é que a Administração haja nessa
qualidade, usando de sua supremacia de Poder Público, visto que algumas vezes nivela-se
ao particular e o ato perde a característica administrativa; A segunda é que mantenha
manifestação de vontade apta; e, A terceira é que provenha de agente competente, com
finalidade pública e revestido na forma legal;

LOGO, ATO ADMINISTRATIVO, embora não exista consenso na doutrina com relação ao
seu conceito, podemos, de uma forma simples e tendo como base a definição do Prof. Celso
Antôno B. de Mello, conceituar ato administrativo como sendo “toda declaração unilateral do
Estado ou de quem lhe faça as vezes, no exercício de prerrogativas públicas, destinada a
cumprir concretamente a lei, e sujeita a controle de legitimidade pelo judiciário”.

Atenção!!! Diferença entre ato administrativo e contrato administrativo - o contrato é bilateral


(há duas partes com objetivos diversos); o ato administrativo é unilateral.

2. Requisitos (OU ELEMENTOS) do Ato Administrativo


Também chamado pela doutrina de requisitos ou pressupostos, são as
condições necessárias à constituição do ato administrativo, aquelas que se relacionam com
a existência do ato (ver art. 2º da Lei 4.717/65).
Os elementos do ato administrativo são as partes que o compõem, a sua
infraestrutura. Também são chamados de requisitos ou pressupostos. Os elementos do ato
administrativo podem ser divididos em (i) essenciais e (ii) acidentais ou acessórios.
Todavia nos ateremos apenas aos essenciais, pois são aqueles sem os quais
o ato administrativo não existe, ou seja, são elementos necessários à validade do ato. A
doutrina, aproveitando-se do que está previsto na Lei de Ação Popular14, indica que os
elementos essenciais dos atos administrativos são: competência (Sujeito Competente),
Objeto, Finalidade, Motivo e Forma.

Vejamos cada um deles:


2.1 Competência (Sujeito Competente): é a condição primeira de sua validade; nenhum
ato - discricionário ou vinculado - pode ser realizado validamente sem que o agente disponha
de poder legal para praticá-lo; sendo um requisito de ordem pública, é intransferível e
improrrogável pela vontade dos interessados, podendo ser delegada e avocada.
Na verdade, este elemento se refere à pessoa que produz o ato administrativo e
esta pessoa pode ser um: agente público que atua junto à Administração Direta, Indireta ou
os particulares em colaboração, etc.
A competência é a medida de poder atribuído ao agente público, e para que o
ato exista validamente o sujeito deve ser não apenas competente, mas também capaz e não
impedido.
A competência deve decorrer de norma expressa, vale dizer, não há presunção
de competência administrativa. Como dizem, não é competente quem quer, ou quem sabe
fazer, mas sim quem a norma determinar que é.
A lei é a fonte normal da competência. É nela que se encontram os limites e a
dimensão das atribuições cometidas a pessoas administrativas, órgãos e agentes
públicos15.
Mas a lei não é fonte exclusiva da competência administrativa.

60
Determinados agentes retiram sua competência diretamente da Constituição, a
exemplo do Presidente da República e dos Ministros de Estado. A competência pode, ainda,
derivar de normas administrativas infralegais (atos de organização), como Regimentos
Internos e Resoluções.
DELEGAÇÃO/AVOCAÇÃO: consiste na transferência (ou retomada) de funções
de um agente a outro, normalmente de plano hierárquico inferior.

Obs.: 1. Embora a delegação ocorra, normalmente para agentes de hierarquia inferior, é


possível a delegação de competência para o mesmo plano hierárquico (art. 12 da Lei nº
9.784/99).
2. A competência também não admite o instituto da prescrição, ou seja, mesmo
quando não utilizada, independentemente do tempo, o agente continuará sendo o
competente.
3. Caso a lei se omita quanto à fixação de competência, será competente a
autoridade de menor grau hierárquico (art. 17 da Lei nº 9.784/99).

IMPORTANTE: O ato de delegação não retira a competência da autoridade delegante, que


continua competente cumulativamente com o agente delegado. Afinal, a delegação apenas
transfere a responsabilidade pelo exercício de determinada tarefa; a titularidade permanece
com quem delegou.

2.2 Finalidade: é aquela que a lei indica explícita ou implicitamente; não cabe ao
administrador escolher outra, ou substituir a indicada na norma administrativa.
Na verdade, é o bem tutelado, o objetivo almejado pelo Poder Público com a
prática do ato. É o resultado que a Administração quer alcançar com a prática do ato.
Todo ato administrativo possui uma finalidade em sentido amplo – interesse
público – e a finalidade especial, própria do ato.
Para que este ato seja considerado válido, ambas as finalidades (ampla e estrita)
devem ser respeitadas.
Existe desvio de finalidade mesmo que não exista intenção viciada, mas desde
que haja desacordo entre a finalidade do ato e a finalidade da lei.

2.3 Forma: revestimento exteriorizador do ato administrativo, a vontade da administração


exige procedimentos especiais e forma legal; todo ato administrativo, é, em princípio, formal;
e compreende-se essa exigência, pela necessidade que ele tem de ser contrastado com a
61
lei e aferido, pela própria Administração, ou pelo Judiciário, para verificação de sua validade.
Logo, a forma é o modelo determinado pela lei para a exteriorização do ato
administrativo e para que o este exista validamente sua forma deve ser a prevista em lei.
No entanto, não é possível afirmar que todo ato praticado de forma equivocada
levará à sua anulação. Isto só ocorrerá se ficar comprovado que a inadequação na forma
atingiu determinada esfera do direito. De outro lado, se o defeito da forma representa mera
irregularidade sanável, deve o administrador lançar mão do instituto da convalidação.
Em sendo o ato administrativo regido pelo direito público, a regra é o princípio
da formalidade com relação à sua prática.
Também se constitui como regra para os atos administrativos a sua prática pela
forma escrita. Entretanto, existem atos administrativos praticados de forma não escrita, a
exemplo de ordens verbais, gestos, apitos, sinais sonoros ou luminosos (semáforos de
trânsito), placas (proibido fumar, proibido estacionar, etc.).
Vale lembrar que a mesma forma utilizada para criar um ato administrativo deve
ser a usada para a anulação ou extinção do mesmo.

2.4 Motivo: Motivo é o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento ao ato
administrativo. Ou seja, são as razões que justificam a prática do ato.
O Pressuposto de fato é o conjunto de circunstâncias, de acontecimentos, de
situações ocorridas no mundo real que levam a Administração a praticar o ato.
O Pressuposto de direito é o dispositivo legal em que se baseia o ato.
Por exemplo: na concessão de licença maternidade, o motivo de fato é o nascimento do filho
da servidora e o pressuposto de direito (a hipótese descrita em norma legal).

Não confundir!!!
a) Motivação – é a exteriorização do motivo; são os “considerandos”, o relato dos fatos que
levaram à prática do ato. A motivação tem um enfoque mais amplo que o motivo, pois exige
um raciocínio lógico entre o motivo, o resultado do ato e a lei. Vale lembrar que não existe
uma pacificação na doutrina com relação ao dever de motivar, mas é importante ressaltar
que ela deve ser: prévia ou contemporânea à prática do ato, devendo ser explícita e clara.
E é possível que a motivação consista em declaração de concordância com fundamentos
de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que ente, caso, serão parte
integrante do ato (ver art. 50, § 1º, da Lei nº 9.784/99).
b) Motivo – é a intenção do agente, o seu propósito. O motivo adquire maior importância
quando estamos falando de um ato discricionário. Neste caso, o móvel estando viciado,
havendo favoritismos ou perseguições na ação do agente, ainda que o ato atenda ao fim
legal, teremos um ato nulo. Isto não ocorre no caso do ato vinculado, pois a lei estabelece
de forma objetiva um único comportamento possível para o administrador, não havendo
qualquer possibilidade de subjetivismos por parte deste.

IMPORTANTE!! Teoria dos Motivos Determinantes


O motivo invocado para a prática do ato condiciona a sua validade. Em sendo o
motivo falso ou inexistente o ato será inválido.
Funda-se na consideração de que os atos administrativos, quando tiverem sua
prática motivada, ficam vinculados aos motivos expostos, para todos os efeitos jurídicos; tais
motivos é que determinam e justificam a realização do ato.
Por aí conclui-se que, nos atos vinculados, a motivação é obrigatória; nos
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discricionários, quando facultativa, se for feita, atua como elemento vinculante da
Administração aos motivos declarados, como determinantes do ato; se tais motivos são
falsos ou inexistentes, nulo é o ato praticado.
Portanto, deve apontar a causa e os elementos determinantes da prática do ato
administrativo, bem como o dispositivo legal em que se funda.
Ex.: licitação revogada por indisponibilidade orçamentária que se comprova não
ser verdadeira.

2.5 Objeto: a criação, modificação ou comprovação de situações jurídicas concernentes a


pessoas, coisas ou atividades sujeitas à ação do Poder Público.
É o resultado prático do ato administrativo, é a alteração no mundo jurídico que
ocorre com a prática deste ato. É aquilo que o ato enumera, dispõe, declara, enuncia,
certifica, extingue, autoriza, modifica.
A doutrina costuma usar a expressão “é o efeito jurídico do ato”.

LOGO...
- O ato administrativo deve respeitar os seguintes requisitos (ou elementos): competência (o
autor do ato deve estar investido nas atribuições necessárias para sua produção), objeto
(conteúdo em conformidade com a lei), forma (revestimento externo do ato), finalidade
(resultados pretendidos) e motivo (situação concreta que autoriza a sua prática).
- O ato administrativo será considerado perfeito quando houverem sido completadas todas
as fases necessárias a sua formação. Será válido quando estiver em consonância com as
exigências do ordenamento jurídico. E será eficaz quando estiver apto a produzir seus
efeitos típicos.

3. Atributos (OU CARACTERÍSTICAS) do Ato Administrativo


O ato administrativo constitui exteriorização da vontade estatal e, por isso, é
dotado de determinadas características não presentes nos atos jurídicos em geral. São
características inerentes aos atos administrativos e que decorrem do regime de direito
público ao qual se submetem, e que outorgam certas prerrogativas ao Poder Público.
Os atributos do ato administrativo apresentados pela doutrina são:
■Presunção de legitimidade
■Autoexecutoriedade
■Tipicidade
■Imperatividade.
Atenção!!!
Lembrando que nem todos os atos administrativos possuem todos os atributos descritos
acima.
a. Presunção de legitimidade – atos impugnados que obtiveram efeito suspensivo ao recurso
não apresentam este atributo.
b. Imperatividade – os atos que dependam da provocação do administrado não os tem,
assim como podemos afirmar que este atributo só aparece nos atos que implicam obrigação
para o administrado.
c. Exigibilidade – está presente em todos os atos administrativos.
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d. Autoexecutoriedade – só aparece quando a lei expressamente a prevê ou em situações
de emergência.
e. Tipicidade – só está presente nos atos administrativos unilaterais, inexistindo nos
bilaterais, pois nestes não há a imposição da vontade do administrador, necessitando para
sua prática da aceitação do administrado.

3.1 Presunção de Legitimidade: todos os atos administrativos nascem com ela, decorre
do princípio da legalidade da Administração, que informa toda a atuação governamental;
autoriza a imediata execução ou operatividade dos atos administrativos, mesmo que
arguidos de vícios ou defeitos que levem à invalidade; a transferência do ônus da prova de
invalidade do ato administrativo para quem o invoca.
Os atos administrativos são presumidamente verdadeiros (reais), legais e
legítimos (respeitam, além da lei, a moralidade).
Trata-se de uma presunção relativa (juris tantum), portanto, admite prova em
contrário a cargo de quem alega a ilegitimidade.
Este requisito autoriza, portanto, a imediata execução de um ato administrativo,
mesmo se eivado de vícios, enquanto não declarada sua nulidade pela própria
Administração ou pelo Judiciário.
IMPORTANTE: Exemplo, se O Comandante-Geral da instituição ao editar uma portaria de
promoção promovendo militar errado o ato terá que ser anulado. Todavia, enquanto isso
não ocorre, o ato é valido.
3.2 Imperatividade: é o atributo do ato administrativo que impõe a coercibilidade para seu
cumprimento ou execução, está presente nos atos que consubstanciam um provimento ou
uma ordem administrativa (normativos, ordinatórios, punitivos), com a força impositiva
própria do Poder Público; a imperatividade decorre da só existência do ato administrativo,
não dependendo da sua declaração de validade ou invalidade; assim, deve ser cumprido ou
atendido enquanto não for retirado do mundo jurídico por revogação ou anulação.
Pela imperatividade os atos administrativos serão impostos a terceiros,
independentemente da concordância ou não destes.
A imperatividade constitui o particular em obrigação de forma unilateral. É o
chamado poder extroverso do Estado.
Exceções: não existe imperatividade nos atos que dependam da provocação do
interessado (certidão, licença, autorização). A concessão de um CNH, por exemplo.

3.3 Autoexecutoriedade: consiste na possibilidade que certos atos administrativos


ensejam de imediata e direta execução pela própria Administração, independentemente de
ordem judicial; ao particular que se sentir ameaçado ou lesado pela execução do ato
administrativo é que caberá pedir proteção judicial para defender seus interesses ou para
haver os eventuais prejuízos que tenha injustamente suportado.
É o atributo do ato administrativo que permite que o mesmo seja executado sem
a necessidade de a Administração se socorrer do Poder Judiciário.
Lembrando que tal atributo não afasta a apreciação judicial do ato, apenas
dispensa a Administração de obter autorização judicial prévia para sua prática.

3.4 Tipicidade: os atos administrativos devem corresponder a figurar previamente


estabelecidas em lei como aptas a produzir determinados resultados. Para Maria Sylvia
Zanella Di Pietro para cada finalidade que a Administração pretende alcançar existe um ato
definido em lei. Aqui temos uma garantia ao administrado.
64
OBS: Não confundir com os atributos do Poder de Polícia.

4. Atos Vinculados e Discricionários:


Atos vinculados ou regrados são aquelas para os quais a lei estabelece os requisitos e
condições de sua realização; as imposições legais absorvem a liberdade do administrador;
sua ação fica adstrita aos pressupostos estabelecidos pela norma legal para a validade;
impões-se à Administração o dever de motivá-los, no sentido de evidenciar a conformação
de sua prática com as exigências e requisitos legais que constituem pressupostos
necessários de sua existência e validade; permitem ao Judiciário revê-los em todos os seus
aspectos, porque em qualquer deles poderá revelar-se a infringência dos preceitos legais
ou regulamentares que condicionam a sua prática.
Atos discricionários são os que a Administração pode praticar com liberdade de escolha de
seu conteúdo, de seu destinatário, de sua conveniência, de sua oportunidade e do modo de
sua realização; a discricionariedade não se manifesta no ato em si, mas no poder de a
Administração praticá-lo pela maneira e nas condições que repute mais convenientes ao
interesse público; a discricionariedade administrativa encontra fundamento e justificativa na
complexidade e variedade dos problemas que o Poder Público tem que solucionar a cada
passo e para os quais a lei, por mais casuística que fosse, não poderia prever todas as
soluções, ou, pelo menos, a mais vantajosa para cada caso ocorrente; discricionários só
podem ser os meios e modos de administrar, nunca os fins a atingir.

5.TIPOS DE INVALIDAÇÃO:

5.1 Revogação: é a supressão de um ato administrativo legítimo e eficaz, realizada pela


Administração (somente por ela), por não mais lhe convir sua existência, pressupõe,
portanto, um ato legal e perfeito, mas inconveniente ao interesse público; funda-se no poder
discricionário de que dispõe a Administração para rever sua atividade interna e encaminhá-
la adequadamente à realização de seus fins específicos.
- A revogação opera da data em diante (ex nunc); os efeitos que a precederam, esses
permanecem de pé; desde que o administrador possa revogar a ato inconveniente, sua
invalidação não obrigará o Poder Público a indenizar quaisquer prejuízos presentes ou
futuros que a revogação eventualmente ocasione, porque a obrigação da Administração é
apenas a de manter os efeitos passados do ato revogado.

5.2 Anulação: é a declaração de invalidade de um ato administrativo ilegítimo ou ilegal.


Feita pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário; desde que reconheça que
praticou um ato contrário ao direito vigente, cumpre-lhe anulá-lo, e quanto antes, para
restabelecer a legalidade administrativa; se não o fizer, poderá o interessado pedir ao
Judiciário que verifique a ilegalidade do ato e declare sua invalidade.
- Os efeitos da anulação dos atos administrativos retroagem às suas origens, invalidando as
consequências passadas, presentes e futuras do ato anulado; e assim é porque o ato nulo
não gera direitos ou obrigações para as partes (ex tunc).

Obs.: Meios de Sanar os Vícios - Convalidação ou Saneamento: (IMPORTANTE!)


É transformação de ato anulável em válido. Só pode recair sobre a competência
e a forma.
É tornar válido. É a eliminação da invalidade de um ato através da expedição de
outro, com efeitos retroativos, incidentes sobre atos anuláveis.

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A Administração Pública tem a possibilidade de convalidar os atos
administrativos, ou seja, corrigir o vício existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos
ao momento de sua execução (efeitos “ex tunc”). Este instituto encontra-se preceituado no
art. 55 da Lei nº 9.784/1999, verbis: “Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis
poderão ser convalidados pela própria administração”.
A convalidação se dá pela edição de um segundo ato administrativo, com o fito
de corrigir o primeiro praticado com vício. Segundo as lições de Weida Zancaner, são
passíveis de convalidação os atos que contêm os seguintes vícios:
a) quanto à competência;
b) quanto à formalidade, entendida como a forma própria prevista em lei para a validade do
ato;
c) quanto ao procedimento, desde que a convalidação não acarrete o desvio de finalidade,
em razão da qual o procedimento foi inicialmente instaurado.
Para alguns, a convalidação pode representar uma afronta ao princípio da
legalidade, partindo-se da premissa de que se a prática de ato administrativo não obedeceu
rigorosamente todos os regramentos exigidos em lei, não haveria como o mesmo subsistir.
Contudo, há que se salientar que a legalidade estrita não coaduna com o atual
Estado Constitucional de Direito, em que o sistema jurídico é orientado por princípios que
devem harmonizar-se entre si. Não havendo, pois, hierarquia entre os princípios, não há
como aplicar um deles em detrimento aos demais.
No ensinamento de Zancaner, “o princípio da legalidade visa a que a ordem
jurídica seja restaurada, mas não estabelece que a ordem jurídica deva ser restaurada pela
extinção do ato inválido”.
Destarte, a observância ao princípio da legalidade não significa necessariamente
que a Administração deva retirar do mundo jurídico todos os atos eivados de vícios,
considerando que em alguns casos é possível saneá-los, restabelecendo-se a ordem
jurídica.

Há outras formas de extinção do ato administrativo:


O ato administrativo extingue-se naturalmente após cumprir sua finalidade. Contudo, em
algumas situações, torna-se necessária a extinção do ato por outras maneiras.
a) Renúncia – o beneficiário do ato abre mão da vantagem que lhe foi concedida.
b) Exaurimento de seus efeitos – o servidor tinha o direito às férias, tirou e voltou.
c) Desaparecimento do sujeito ou do objeto - há um bem tombado e foi destruído, logo o
ato de tombamento foi extinto.
d) Cassação – é quando o particular não cumpriu com seus deveres. Ex: tinha licença pra
construir hotel e constrói motel.
e) Caducidade – ou também decadência. A lei nova não permite mais a prática do ato.
f) Contraposição – ou também derrubada. Em razão da prática do ato anterior antagônico
ao segundo. Ex: X entra nos serviço público por nomeação e sai por exoneração.

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Assunto 7: PODERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. OS PODERES E DEVERES DO ADMINISTRADOR PÚBLICO


São os expressos em lei, os impostos pela moral administrativa e os exigidos
pelo interesse da coletividade. O poder administrativo é atribuído à autoridade p ara remover
interesses particulares que se opões ao interesse público.

PODER-DEVER DE AGIR:
O poder tem para o agente público o significado de dever para com a
comunidade e para com os indivíduos, no sentido de quem o detém está sempre na
obrigação de exercitá-lo; esse poder é insuscetível de renúncia pelo seu titular.
Se para o particular o poder de agir é uma faculdade, para o administrador
público é uma obrigação de atuar, desde que se apresente o ensejo de exercitá-lo em
benefício da comunidade. Daí por que a omissão da autoridade ou o silêncio da
Administração, quando deva agir ou manifestar-se, gera responsabilidade para o agente
omisso e autoriza a obtenção do ato omitido por via judicial, notadamente por mandado de
segurança, se lesivo de direito liquido e certo do interessado.

DEVER DE EFICIÊNCIA:
É o que se impõe a todo agente público de realizar com suas atribuições com
presteza, perfeição e rendimento funcional. A eficiência funcional é, pois, considerada em
sentido amplo, abrangendo não só a produtividade do exercente do cargo ou da função
como perfeição do trabalho e sua adequação técnica aos fins visados pela Administração,
para o que se avaliam os resultados, confrontando-se os desempenhos e aperfeiçoa o
pessoal através de seleção e treinamento, assim, a verificação de eficiência atinge os
aspectos quantitativo e qualitativo do serviço.
DEVER DE PROIBIDADE:
Está constitucionalmente integrado na conduta do administrador público como
elemento necessário à legitimidade de seus atos; assim, o ato administrativo praticado com
lesão aos bens e interesses públicos também fica sujeito a invalidação pela própria
Administração ou pelo Poder Judiciário, por vício de improbidade, que é uma ilegitimidade
como as demais que nulificam a conduta do administrador público.
DEVER DE PRESTAR CONTAS:
É decorrência natural da administração como encargo de gestão de bens e
interesses alheios; no caso do administrador público, a gestão se refere aos bens e
interesses da coletividade e assume o caráter de múnus público, isto é, de um encargo para
com a comunidade. Daí o dever indeclinável de todo administrador público de prestar contas
de sua gestão administrativa, e nesse sentido é a orientação de nossos tribunais (STF, RF,
99/969; TJSP, RT, 237/253).

2. O USO E ABUSO DE PODER


O uso do poder é a prerrogativa da autoridade, mas o poder há que ser usado
normalmente, sem abuso; usar normalmente do poder é empregá-lo segundo as normas
legais, a moral da instituição, a finalidade do ato e as exigências do interesse público; o
poder é confiado ao administrador público para ser usado em benefício da coletividade
administrada, mas usado nos justos limites que o bem-estar social exigir.
O abuso de poder ocorre quando a autoridade, embora competente para
praticar o ato, ultrapassa os limites de suas atribuições ou se desvia das finalidades
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administrativas; o abuso de poder é sempre uma ilegalidade invalidadora do ato que contém;
o abuso de poder pode tanto revestir a forma comissiva como a omissiva, porque ambas
são capazes de afrontar a lei e causar lesão a direito individual do administrado. As
modalidades do Abuso de poder são:
a. Excesso de Poder: ocorre quando a autoridade, embora competente
para praticar o ato, vai além do permitido e exorbita no uso de suas
faculdades administrativas; o excesso de poder torna o ato arbitrário, ilícito
e nulo; essa conduta abusiva, tanto se caracteriza pelo descumprimento
frontal da lei, quando a autoridade age claramente além de sua
competência, como, também, quando ela contorna dissimuladamente as
limitações da lei, para arrogar-se poderes que não lhe são atribuídos
legalmente.
b. Desvio de Finalidade: verifica-se quando a autoridade, embora
atuando nos limites de sua competência, pratica o ato por motivos ou fins
diversos dos objetivados pela lei ou exigidos pelo interesse público; é assim
a violação ideológica da lei, ou por outras palavras, a violação moral da lei,
colimando o administrador público fins não queridos pelo legislador, ou
utilizando motivos e meios imorais para a pratica de um ato administrativo
aparentemente legal.
IMPORTANTE: Quando se pratica o ato com excesso de poder, o elemento do ato
administrativo que está viciado é a competência (sujeito) e quando há o desvio de poder, é
a finalidade do ato administrativo que está viciada.
c. Omissão da Administração: pode representar aprovação ou
rejeição da pretensão do administrado, tudo dependendo do que dispuser a
norma pertinente; o silêncio não é ato administrativo; é conduta omissiva da
Administração que, quando ofende direito individual ou coletivo dos
administrados ou de seus servidores, sujeita-se a correção judicial e a
reparação decorrente de sua inércia, então a inércia da Administração,
retardando ato ou fato que deva praticar, é abuso de poder, que enseja
correção judicial e indenização ao prejudicado.

3. PODERES ADMINISTRATIVOS: vinculado; discricionário; hierárquico; disciplinar;


regulamentar; e de polícia.
Os poderes surgem como instrumentos através dos quais o poder público vai perseguir seu
interesse coletivo.

3.1 Características:
a) Obrigatoriedade – é uma obrigação e não uma mera liberalidade, é o poder-dever. Para
Celso Antônio o dever é mais importante que o poder, daí ele chamar de DEVER-PODER
(sinônimo para concurso). É de exercício obrigatório sempre que presentes as razões de
interesse público.
b) Irrenunciabilidade – é irrenunciável. Não se abre mão de um exercício de poder. Há
justificativa também no princípio da indisponibilidade do interesse público, o administrador
exerce a atividade em nome e no interesse público.
c) Limitabilidade – possui limites, os quais estão no ordenamento jurídico e o 1º limite é a
competência; ser autoridade competente. Deve observar o trinômio: extensão – intensidade
– proporcionalidade - tudo isso em relação à medida a ser tomada.
d) Responsabilidade – o seu exercício está sujeito à responsabilização e esta cabe tanto
nas condutas comissivas quanto nas omissivas.
Resumindo:
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a) é um dever, é obrigatório;
b) é irrenunciável;
c) deve obedecer aos limites das regras de competência, sob pena de
inconstitucionalidade.
d) cabe responsabilização que pode ser:
I) quando o administrador se utiliza dos poderes além dos limites permitidos por lei
(ação) ou
II) quando ele não utiliza dos poderes quando deveria ter se utilizado (omissão).

OBS: Ver legislação: Lei 4.898/65 – Abuso de Poder e Lei 8429/92 – Improbidade
Administrativa.

3.2 Classificação:
Quanto ao grau de liberdade:
Pode ser vinculado ou discricionário.
Há uma crítica da doutrina: para Maria Sílvia e Celso Antônio essa
classificação não deve ser realizada porque não temos um poder absolutamente vinculado
ou discricionário e quem classifica não é o poder, é o ato administrativo.
Mas Helly Lopes Meirelles, assim os classifica quanto ao grau de liberdade:

a) Poder Vinculado – é aquele que o administrador não tem liberdade de escolha. Não
tem juízo de valor, conveniência ou oportunidade. Quando ele se apresentar e tiver
preenchido os requisitos legais, o administrador é obrigado a praticar o ato.
b) Poder Discricionário – é aquele que o administrador tem liberdade de escolha. Tem
juízo de valor, conveniência ou oportunidade. O administrador pode escolher de
acordo com as opções.
IMPORTANTE: O fato de um agente de trânsito ter a opção de escolher o melhor lugar e
horário para realização de uma blitz é característica do poder discricionário.

3.3 Poderes Administrativos


Decorre da prevalência do interesse público sobre o privado.
 Poder Vinculado
 Poder Discricionário
 Poder Normativo
 Poder Disciplinar
 Poder Hierárquico
 Poder de Polícia (Polícia Administrativa e Polícia Judiciária)

A) Poder Vinculado
A Administração Pública está vinculada. Deve respeitar o que diz a lei
(obrigatoriedade). Não existe liberdade de escolha do administrador. Seguir exatamente o
69
que está na lei.
Ex. Licença para construir.
Ex. CNH (Carteira Nacional de Habilitação).

B) Poder Discricionário
A lei existe, mas existe uma maior liberdade de escolha de atuação do
servidor, mas sem fugir da lei. A Administração Pública avalia de acordo a conveniência e
oportunidade.

OBS.1: Envolve questão de mérito.


Ex. Porte de arma - evidenciar a necessidade.
Envolve o mérito (discricionariedade).
Conceito Jurídico Indeterminado - dá margem de escolha ao administrador.
OBS.2: A vontade do juiz não substitui a vontade do administrador, ASSIM O JUDICIÁRIO
NÃO PODE ADENTRAR NO MÉRITO ADMINSTRATIVO, exceto se houver ilegalidade.

C) Poder Normativo ou Regulamentar


Poder que o Poder Executivo tem para criar normas, regras (de forma atípica)
mais específicas sem fugir da base (lei)
Ex. Criação de Regulamento de promoções (Decreto 10.169/2002), Decreto dentro dos
órgãos.
Não pode passar por cima da lei. Se ultrapassar utiliza o remédio cabível - Mandado de
Injunção.
Resumindo:
Serve para normatizar, regulamentar, disciplinar matéria previamente
estabelecida em lei. Por isso se afirma que ele permite a fiel execução da lei (ver art. 84, IV,
CF/1988).
A professora Maria Sílvia diz que seu conceito é mais amplo, por isso, o
chama de Poder Normativo (sinônimo).
Sua efetivação é através de instruções, portarias, deliberação, resoluções,
etc. Sendo seu controle possível através do Poder Judiciário – legalidade do ato, suspende
os efeitos desse ato e pelo próprio Executivo – através do princípio da autotutela.

D) Poder Disciplinar
Poder que a Administração pública tem para aplicar sanções disciplinares.
Superior em relação ao inferior. Não necessariamente com a hierarquia.
Ex. Código de Ética - Pena de Censura.
 Pessoas Sujeitas
 Agentes Públicos
 Contratados
 Vínculo com a Administração
Ex. Estudante de escola pública (vínculo).
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OBS: Servidor Público é dentro e fora do órgão. Atos da vida particular interferem na vida
pública.

Resumindo:
É a aplicação de sanção em razão de uma prática de uma infração funcional.
Pode ser atingido pelo poder disciplinar aquele que exerce função pública e é
chamado de agente público. Logo, pode atingir particulares que cometam infração
administrativa e que tenham algum vínculo jurídico específico com a Administração Pública.
A doutrina moderna diz que esse poder é normalmente discricionário; não é
absolutamente discricionário.
A discricionariedade está presente porque a definição não é tão exata de
algumas infrações e atos, daí depender de um juízo de valor. Logo, para tipificar uma
infração funcional com conceito vago, iremos precisar de uma decisão discricionária do
administrador.

E) Poder Hierárquico
Poder que o chefe hierárquico tem em avocar ou delegar. Obrigação em fazer
desde que não seja ilegal.
Dentro da Administração Pública visa escalonar os cargos. Acontece
internamente dentro de cada órgão.
Imperatividade de dentro para fora do órgão.

OBS: Coordenação e Subordinação.


 Consequências:
 O agente público, pela subordinação deve obedecer às ordens dos seus superiores.
Exceto, se as ordens forem manifestamente ilegal. Só não obedece se a ordem for
ilegal.
 A hierarquia dá poder de aplicar sanção ao inferior.
 A hierarquia dá poder ao administrador de solucionar os conflitos de competência
entre os seus inferiores.
 A possibilidade de delegação e avocação de competências.

OBS: Avocação pressupõe hierarquia, já a delegação não pressupõe esta hierarquia (pode
ser no mesmo grau hierárquico - aceitando ou não).
OBS: Não existe delegação total da competência. É sempre parcial.

 Semelhança entre Delegação e Avocação


 Não é a transferência de uma competência e sim uma extensão de competência.
 É irrenunciável.
 É discricionário

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 Na delegação e avocação, o responsável pelo ato responde por ele.

Hipóteses que não é permitida a Delegação


 Edição de Ato Normativo
 Competência Exclusiva
 Decisão de Recurso Administrativo – Art. 13º da Lei 9784/99

F) PODER DE POLÍCIA
O poder de polícia surgiu com a própria necessidade atribuída ao Estado de
ordenar, controlar, fiscalizar e limitar as atividades desenvolvidas pelos particulares, em
benefício da coletividade.
Já imaginou o caos que seria causado se o Estado não disciplinasse, por
exemplo, a utilização e circulação de veículos no Brasil? Seria praticamente impossível
transitar com veículos se cada particular criasse as suas próprias regras de circulação.
Resumidamente falando, deve ficar bem claro que a Administração utiliza-se
do poder de polícia para interferir na esfera privada dos particulares, condicionando o
exercício de atividades e direitos, bem como o gozo de bens, impedindo assim que um
particular possa prejudicar o interesse de toda uma coletividade.
O ordenamento jurídico brasileiro, através do artigo 78 do Código Tributário
Nacional, apresenta um conceito legal de polícia administrativa, nos seguintes termos:
“Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública
que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula
a prática de ato ou obtenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, no exercício das atividades
econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder
público, à tranquilidade pública ou o respeito à propriedade e aos
direitos individuais ou coletivos”.

Há a necessidade de realizar as seguintes distinções:

72
IMPORTANTE:
Polícia Administrativa, judiciária e de manutenção da ordem pública.
a. A polícia administrativa - incide sobre BENS, DIREITOS OU ATIVIDADES
(PROPRIEDADE E LIBERDADE), sendo vinculada à prevenção de ilícitos administrativos
e difundindo-se por todos os órgãosadministrativos, de todos os Poderes e entidades
públicas que tenham atribuições de f i s c a l i z a ç ã o . Dentre as entidades que exercem
o poder de polícia administrativa, podemos citar o IBAMA (exerce o poder de polícia na área
ambiental), a ANVISA (que exercer o poder de polícia na área de vigilância sanitária) e todas
aquelas que exercem atividades de fiscalização. – O ALVO SÃO BENS OU ATIVIDADES -
LIBERDADES INDIVIDUAIS.
b. A polícia judiciária - incide sobre pessoas, atuando de forma conexa e acessória ao Poder
Judiciário na apuração e investigação de infrações penais, sendo regida, portanto, pelas
normas de Direito ProcessualPenal. Como exemplos de polícia judiciária podemos citar a
Polícia Civil (com atuação em âmbito estadual) e a Polícia Federal (com atuação em
âmbito nacional). O ALVO SÃO PESSOAS – OBJETO DE ESTUDO DO DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL (POSTERIOR AO CRIME)
c. A polícia de manutenção da ordem pública - tem a t u a ç ã o tipicamente preventiva, agindo
de modo a não permitir que o ilícito penal se configure, função que fica a cargo, por exemplo,
das Polícias Militares dos Estados. O ALVO SÃO PESSOAS – OBJETO DE ESTUDO DO
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL (ANTERIOR AO CRIME)
Rotineiramente a Polícia Militar também exerce o Poder de Polícia Administrativo quando:
Atua na fiscalização de trânsito (o foco é o BEM), fiscalização de Alvarás de bares
(ATIVIDADE), fiscaliza um Condutor (DIREITO) etc. Entretanto, observem que não há
qualquer relação com o direito penal.

A PM desempenha, também, a polícia judiciária no momento em que exerce a repressão


imediata e realiza prisões, Além disso, o cumprimento de mandados de buscas e
apreensão obedecem a regras processuais penais, afetos a PC e PF. De igual modo o MP
por meio do GAECO. Vide Art. 129 CF/88.

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I. Atributos do Poder de Polícia.
A doutrina majoritária aponta três atributos ou qualidades inerentes ao poder de
polícia: discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade.

a. Discricionariedade
Este atributo garante à Administração uma razoável margem de autonomia no
exercício do poder de polícia, pois, nos termos da lei, tem a prerrogativa de estabelecer o
objeto a ser fiscalizado, dentro de determinada área de atividade, bem como as respectivas
sanções a serem aplicadas, desde que previamente estabelecidas em lei.
A discricionariedade é a regra geral em relação ao poder de polícia, mas é válido
esclarecer que a lei pode regular, em circunstâncias específicas, todos os aspectos do
exercício do poder de polícia e, portanto, a atividade também poderá caracterizar-se como
vinculada.
Ex. A equipe de Trânsito pode escolher o locar para realização de uma Blitz do modo que
melhor entender.

b. Autoexecutoriedade
A autoexecutoriedade caracteriza-se pela possibilidade assegurada à
Administração de utilizar os próprios meios de que dispõe para colocar em prática as suas
decisões, independentemente de autorização do Poder Judiciário, podendo valer-se,
inclusive, de força policial.
A autoexecutoriedade não está presente em todos os atos praticados no
exercício do poder de polícia, sendo possível citar como exemplo a aplicação de uma multa.
É lícito à Administração efetuar o lançamento da multa e notificar o particular para proceder
ao seu pagamento. Todavia, caso o particular não efetue o pagamento devido, não poderá
a Administração iniciar uma execução na via administrativa, sendo obrigada a recorrer ao
Poder Judiciário, caso tenha interesse em receber o valor correspondente.
Atenção: é importante destacar que tal atributo se subdivide em executoriedade e
exigibilidade.
A executoriedade assegura à Administração a prerrogativa de implementar
diretamente as suas decisões, independentemente de autorização do Poder Judiciário.
Assim, com fundamento na executoriedade, a Administração pode determinar a demolição
de um imóvel que está prestes a desabar e que coloca em risco a vida de várias pessoas.
Se o particular não providenciar a demolição, a própria Administração poderá executá-la.
Trata-se de um meio direto de coerção.
Por outro lado, a exigibilidade assegura à Administração a prerrogativa de valer-
se de meios indiretos de coerção para obrigar o particular a cumprir uma determinada
obrigação, a exemplo do que ocorre na aplicação de uma multa. Perceba que com a
possibilidade de aplicação de multa pelo não cumprimento de uma obrigação o particular irá
“pensar duas vezes” antes de descumpri-la. Por isso trata-se de um meio indireto de
coerção.

c. Coercibilidade
O terceiro atributo do poder de polícia é a coercibilidade, que garante à
Administração a possibilidade de impor coativamente ao particular as suas decisões,
independentemente de concordância deste.
A coercibilidade faz-se imprescindível no exercício do poder de polícia, pois, se
a Administração fosse obrigada a obter a autorização ou anuência do particular antes de

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aplicar uma sanção, ficaria praticamente inviável punir algum infrator de normas
administrativas. Tal atributo é indissociável da autoexecutoriedade. O ato de polícia só é
autoexecutório porque dotado de força coercitiva.

 Limitações do Poder de Polícia


O respeito aos Direitos Fundamentais e os Princípios da Legalidade, Razoabilidade e
Proporcionalidade. Tem que ser limitado. Tem que ser proporcional, eficaz e necessário.

IMPORTANTE: O poder de polícia não pode ser delegado!


Exemplo:
Assim, o poder público não pode delegar à empresa que administra determinada rodovia
privatizada a atribuição de aplicar multa aos motoristas que viajam em excesso de
velocidade. As multas devem ser aplicadas pelo DETRAN do respectivo Estado.

QUADRO SINÓTICO DOS PODERES

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EXERCÍCIO!
Sobre os poderes são atribuídos à Administração Pública, assinale a primeira coluna com a
segunda.
1. Poder Regulamentar
2. Poder Hierárquico
3. Poder Vinculado
4. Poder Disciplinar
5. Poder Discricionário
6. Poder de Polícia

( ) é o poder conferido aos chefes do Executivo para editar decretos e regulamentos com
a finalidade de oferecer fiel execução à lei

( ) o poder conferido à Administração para organizar a sua estrutura, distribuir e escalonar


as funções de seus órgãos, bem como ordenar e rever a atuação dos seus agentes,
estabelecendo uma relação de hierarquia e subordinação entre eles;

( ) o poder conferido à Administração que lhe permite impor penalidades aos seus agentes
em razão da prática de infrações funcionais. Somente poderão ser aplicadas sanções e
penalidades de caráter administrativo expressamente previstas em lei, a exemplo de
advertências, suspensão, demissão etc;

( ) O administrador não tem liberdade para decidir quanto à atuação, ou mesmo quanto à
forma de atuação. A lei previamente estabelece um único comportamento possível a ser
tomado pelo administrador no caso concreto; não podendo haver juízo de valores.

( ) é aquele que, editado sob a lei que confere ao administrador liberdade para agir diante
de situações concretas, se utiliza de um juízo de conveniência e oportunidade. Esse juízo
de valores deve ser exercido dentro dos limites da lei e de forma que melhor atenda ao
interesse público

( ) é o poder conferido à Administração Pública para condicionar, restringir, frenar o


exercício de direitos e atividades dos particulares em nome dos interesses da coletividade.

Qual a sequência correta:

a) 1-2-4-3-5-6
b) 5-4-3-2-1-6
c) 2-3-1-4-5-6
d) 1-2-3-4-5-6
e) 2-3-1-5-4-6

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Assunto 8: RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO

A noção de responsabilidade implica a ideia de resposta, tem que, por usa vez,
deriva do vocábulo verbal italiano respondere, com o sentido de responder, replicar. Ou seja,
o dever de responder perante a ordem jurídica em virtude de algum fato precedente.
No caso em específico, quando a Administração Pública responde perante o
Cidadão?
Vejamos o que prescreve o parágrafo 6º do art. 37 da CRFB/88:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

1. Teorias adotadas no BRASIL


REGRA PARA AÇÕES DO ESTADO - RISCO ADMINISTRATIVO
Pela teoria do risco administrativo, o Estado tem o dever de indenizar o dano
causado ao particular, independentemente de falta do serviço ou de culpa dos agentes
públicos. Ou seja, apenas pelo fato de existir o dano decorrente de atuação estatal surge
para o Estado a obrigação de indenizar.
Na teoria o risco administrativo, a ideia de culpa é substituída pela de nexo de
causalidade entre a conduta do agente público e o prejuízo sofrido pelo administrado.
Presentes o fato do serviço e o nexo de causalidade entre o fato e o dano ocorrido, nasce
para o Poder Público a obrigação de indenizar.
Dessa forma, a culpa não é totalmente irrelevante na teoria objetiva do risco
administrativo. A culpa não precisa ser demonstrada por aquele que pede a indenização
contra o Poder Público. Todavia, se o Estado demonstrar que houve culpa por parte do
particular que pleiteia a indenização, exime-se de responsabilidade, podendo, inclusive,
acionar o particular para que honre com os prejuízos.
IMPORTANTE
São excludentes de responsabilidade do Estado: caso fortuito, força maior e culpa da vítima.
O nexo de causalidade fica descaracterizado caso apareça uma dessas três circunstâncias,
podendo o Estado afastar ou mitigar sua responsabilidade.

REGRA PARA OMISSÕES DO ESTADO – CULPA ADMINSTRATIVA


A teoria da culpa administrativa ainda serve de subsídio para responsabilização
do Estado em algumas situações, como na omissão administrativa.
Ex. Se o carro quebra por conta de um buraco na via, o interessado tem que provar que o
estado foi omisso no conserto da pavimentação.

EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO - RISCO INTEGRAL


Por sua vez, pela teoria do risco integral, o Estado funciona como "segurador
universal", sendo obrigado a indenizar os prejuízos suportados por terceiros, ainda que
resultantes da culpa exclusiva da vítima ou de caso fortuito ou força maior.
Há divergência na doutrina, mas os casos de risco integral mais aceitos
são:
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a) Danos ambientais
b) Danos nucleares
c) Ataques terroristas e atos de guerra a aeronaves brasileiras

2. Responsabilidade das Empresas Estatais (EP/SEM) e Concessionárias


(Importante!!!!)

Para definição acerca das normas aplicáveis à responsabilidade civil destas


entidades, é relevante analisar a atividade que executam, isto é, deve-se considerar se
atuam na prestação de serviços públicos ou na exploração de atividade econômica.
Isso porque, caso sejam prestadoras de serviços públicos, há a aplicação
direta do art. 37, §6º da Constituição Federal, com a regulamentação de responsabilidade
objetiva, com base na teoria do risco administrativo. Com efeito, o dispositivo determina
a responsabilidade objetiva aplicável a todas as entidades privadas que atuem na prestação
de serviços públicos.
Ressalte-se, ainda, que, para a doutrina majoritária, em casos de danos
decorrentes de omissão dos agentes públicos, a responsabilidade civil será subjetiva, em
decorrência da aplicação da teoria da culpa do serviço, somente se configurando a
responsabilidade civil se for demonstrado que o prejuízo decorreu diretamente da má
prestação do serviço no caso concreto.
Nesses casos, a responsabilidade da empresa estatal é objetiva e primária e o
ente federativo, instituidor da empresa, responde subsidiariamente pelo dano causado. Com
efeito, não sendo possível exigir a reparação civil da empresa pública ou sociedade de
economia mista prestadora do serviço, é possível se exigir o pagamento da indenização
do ente estatal, objetivamente.
Por sua vez, caso a empresa estatal seja exploradora de atividade
econômica, a regra estampada no art. 37, §6º da Constituição Federal não lhe será
aplicável, uma vez que atua na atividade privada e segue o regime jurídico idêntico àquele
aplicado para as empresas privadas. Sendo assim, as exploradoras de atividade econômica,
não obstante sejam integrantes da Administração Indireta, serão responsabilizadas nos
moldes definidos pelo direito privado.

3. Fundamentos Justificadores da Responsabilidade Objetiva do Estado.


O motivo de o Estado possuir um regime de responsabilidade diverso do
particular (Estado responde objetivamente, e particular, subjetivamente), regime este mais
gravoso para o Estado, baseia-se no seguinte:
a) respeito ao princípio da igualdade, dado que uma pessoa não pode sofrer em razão de
algo que beneficia a todos.
b) os atos praticados pelo Estado trazem danos mais intensos que atos dos particulares.
c) existência das prerrogativas de direito público.
d) no caso de atos ilícitos praticados pelo Estado, o princípio da legalidade que veda a
atuação estatal fora do que a lei determina ou permite.

78
4. Ação regressiva e responsabilidade subjetiva do agente público.

Continuando no art. 37, §6°, percebe-se que, na sua parte final, é feita referência à
possibilidade de a pessoa jurídica cobrar do agente público o valor da indenização que foi
obrigada a pagar. Assim, a pessoa jurídica deverá ajuizar ação regressiva contra o seu
agente a fim de obter o ressarcimento da indenização que foi obrigada a pagar.
Todavia, o agente somente será responsabilizado se for comprovado que ele atuou
com dolo ou culpa, ou seja, a responsabilidade do agente é subjetiva, na modalidade
culpa comum. O ônus da prova da culpa do agente é da pessoa jurídica em nome da qual
ele atuou e que já foi condenada a indenizar o terceiro lesado.

Observações:
a) Os efeitos da ação regressiva (ação civil) transmitem-se aos herdeiros e sucessores do
agente público, no limite do patrimônio transferido.
b) O agente pode ser acionado mesmo depois de findo o vínculo do agente com a
Administração.
c) A responsabilidade civil não se confunde com a administrativa ou penal. As três são
independentes e podem gerar sanções que serão aplicadas separadamente, mas não
podemos esquecer a exceção a esta incomunicabilidade de instância prevista no art. 126 da
Lei n 8112/90.

5. Prescrição
De acordo com o art. 1º - C, da Lei nº 9.494/97 o particular tem cinco anos para ingressar
contra o Estado: “Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos
causados por agentes de pessoas jurídicas de direito publico e de pessoas de direito privado
prestadoras de serviço de públicos”.

IMPORTANTE: Relembrando que o direito de regresso da Administração Pública nunca


prescreve – art. 37, §5º, da CF/88. (Corrente Majoritária)

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988.


Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em
20/12/2019.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 22ª ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo / Alexandre Mazza. 6ª. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo, 30ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2013.

CAROLINA, Nádia. VALE, Ricardo. Direito Constitucional, Estratégia Concursos Públicos,


2018.

ALVES, Érick. PORFÍRIO, Érica. Direito Administrativo para concursos públicos,


Estratégia Concursos Públicos, 2019.

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