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Direito

Jurista Alemão Gunther Teubner – ‘’ O direito é um sistema autopoético’’

Dividido em 4 subsistemas:

1. Político
2. Económico
3. Religioso/Moral
4. Jurídico – saber se uma decisão é ou não legal, válida ou inválida

Estado
“ Estado é o ente social que se forma quando, num determinado território, se
organiza juridicamente um povo que se submete à vontade de um governo.’’

Três elementos:

 Povo
 Território
 Poder Político

Comunidade Política - Necessita de uma ordem fundamental.

Problemas:

1. Quem é que na comunidade detém poder?


2. Quem pertence à comunidade e quem dela está excluído?
3. Por que valores colectivos se rege tal comunidade?

Uma comunidade que tenha encontrado uma resposta a estas três questões é
uma comunidade dotada de uma certa ordem.

Estado soberano – Corpo colectivo que se assume perante os seus pares


(outros Estados) como um ser autodeterminado. É aquele que na ordem
interna do próprio Estado detém a titularidade última do poder.

Estado Absoluto
O Estado moderno passa a adotar a forma de Estado limitado pelo direito com
as primeiras constituições escritas.
Estado Absoluto - identificação entre autoridade do rei e autoridade do
Estado.

Estado Constitucional – devolução da titularidade da soberania ao povo ou à


nação.

Soberania – palavra inventada no séc. XVI europeu.

Duas funções:

1. Qualificativo do Estado: não depende de ninguém ou de nenhum poder


que lhe seja superior;
2. Enquanto critério de identificação do titular último do poder que se
exerce no seio do Estado. Quem na ordem interna detém a titularidade
última do poder.

Poder Constituinte – exerce-se em momentos de profunda viragem histórica –


é um fenómeno moderno.

Idade Moderna – capacidade humana para conformar, por vontade própria, o


futuro individual e o futuro colectivo.

Renascimento – a política, a vida colectiva e o modo como se organiza, ou


seja, a constituição passa a ficar à disposição da racionalidade e vontade dos
homens.

Estado vs Constituição
O Estado é anterior à Constituição – a existência do Estado como pressuposto
à Constituição.

O que depende da Constituição é a forma que o Estado adquire.

Constituição
Constituição enquanto documento escrito, adotado por uma certa autoridade ou
poder, num tempo e espaço bem definidos.

Constituição: lei fundamental de um Estado -> conceito meramente formal.

Art. 16º DDHC – toda a sociedade na qual não esteja assegurada a garantia
dos direitos nem determinada a separação de poderes não tem constituição.

A Constituição – forma que aspira a um fim – limitação do poder.

A Constituição da República Portuguesa (CRP) procura:


 Estabelecer/dizer quais são os fins gerais;
 Determinar princípios estruturantes;
 Responsabilizar-se/concretizar a relação entre Estados.

Técnicas jurídicas de limitação do poder pelo Direito:

 Parte Subjetiva da Constituição: consagração de um elenco de direitos


subjectivos das pessoas.
 Parte Orgânica da Constituição: organização das instâncias de
autoridade segundo um princípio de separação de poderes.

CONSTITUIÇÃO – 4 partes

I. Direitos e Deveres Fundamentais


II. Organização Económica
III. Organização Política
IV. Garantia da CRP (Revisão da CRP e Fiscalização)

Características:

 Diploma rígido – resulta do facto da CRP ter uma capacidade de resistência


à derrogação (Existe uma lei que diz que a CRP pode ser alterada de 5 em
5 anos, extraordinariamente, pode ser alterada se houver 4/5 de deputados
em efectivação de funções).
- Direitos fundamentais têm de ser respeitados;
- A CRP não pode ser alterada em Estado de Sítio e/ou de emergência.

 Unitextual – a Constituição está vertida num único diploma


- não existem leis de emenda
- Não existe qualquer outro diploma com o poder da Constituição
- Não existem leis com valor Constitucional para além da Constituição.

 Compromissória – estabelece um compromisso entre as forças políticas e


sociais (em teoria). Exige uma conjugação entre princípio liberal e socialista.
 Liberal- o Estado não deve inferir sobre a esfera privada dos cidadãos
 Socialista- Exigência dos cidadãos ao Estado de garantir as condições
necessárias para o exercício dos Direitos (Direito de Prestação).

 Texto longo – Conta com mais de 280 artigos, porque o catálogo de Direitos
fundamentais é extenso e a CRP dedica-se a abranger bastante os
mesmos. O legislador estabelece também as finalidades que devem ser
prosseguidas -> não se limita a dizer os poderes e como estão organizados.

 Texto pragmático – contém normas fim – estabelece linhas de acção e


orientação dirigidos aos órgãos políticos para que saibam o que fazer ( ao
longo da CRP é evidente essa linha dirigente), como e com que objectivo.
Art. 9º CRP.

Desenvolvimento Histórico dos Direitos


Fundamentais
Direitos Humanos –os direitos dos reivindicação moral ou consagram
quais o homem é titular pelo fato de um direito básico. (Mais amplo)
ser homem. Acrescentam um
significado prescritivo ou Direitos Fundamentais – os direitos
deontológico: incluem uma humanos e as liberdades garantidas
pelo ordenamento jurídico
positivam.

Tipos de Direitos Fundamentais


A terminologia usada para descrever os Direitos Fundamentais é variada:

 Direitos Naturais
 Direitos do Homem
 Direitos da pessoa humana
 Etc

Características dos Direitos


Fundamentais
 Imprescritíveis
 Inalienáveis
 Irrenunciáveis
 Universais
 Absolutos

Finalidade dos Direitos Fundamentais


Servem para proteger os indivíduos frente ao Estado ou outras entidades,
podendo ser reclamados quando certa atuação da parte do poder prejudica ou
limita os seus direitos ou liberdades.

Fundamento e Origem

Direitos Fundamentais – Droits fondameutaux – surgiu na França em 1770.

A expressão atingiu especial relevância na Alemanha.

Fases de Fundamentação
1. Pré-cristianismo e Cristianismo – origem do conceito de pessoa e os
seus direitos.
2. Escola Natural Clássica – teoria dos Direitos naturais/inatos.
3. Escola de Direito Natural Racionalista – teoria dos Direitos Humanos sob
o racionalismo individualista dos séculos XVII e XVIII.
4. O enfraquecimento do conceito de Direitos Humanos no Positivismo –
Não havia leis; eram baseados no que as pessoas observavam.
5. Restauração do conceito filosófico e ético dos Direitos Humanos –
durante as Guerras Mundiais muitas pessoas morreram, então voltou-se
a falar imenso dos Direitos Humanos.

Evolução Histórica dos Direitos


Humanos
Origens: Idade Média

- Meios de defesa frente ao poder do Rei.

Os primeiros sinais de reconhecimento de Direito Fundamentais:

a) Inglaterra Medieval – Habeas Corpus


b) Antigos Reinos de Espanha/Reinos:
- Reinos de Castela e Leão: davam direitos à Igreja e aos Nobres.
- Coroa de Aragão (Pacto): Reconhecidos Direitos às classes
privilegiadas.

Mecanismos de garantia: rubrica Direita, manifestação de pessoas, Justiça


Maior.
Era das Declarações de Direitos

Fases:

 Fase das liberdades individuais.


 Declarações Americanas

 Declarações Francesa
 Transcendência da Declaração de 1789
 Direitos Económicos e sociais.
 Mudança de conteúdo nas Declarações de Direitos
 Constituição francesa II República (1848)
 Modelos socializadores
 Constituição de Weimar (1919) Alemanha

Princípios
A constituição como um corpo de normas, dotadas de especial força.

- ‘’a Constituição é norma (…) toda ela é para cumprir’’ MLA

A constituição é um sistema normativo que compreende regras e princípios:

 Regras – são mandatos de definição (art. 133º, 164º, 165º CRP)


 Princípios – são enunciados de valores e interesses qualificados,
pautados de um elevado grau de generalização e indeterminação ( art.
1º, 2º, 13º, 20º, 266º CRP)
 A fonte dos princípios fundamentais são, essencialmente, os
primeiros 11 artigos da CRP.

Princípio do Estado de Direito


Estado de Direito – Expressa que o único critério de atuação possível é o
critério legal, de Direito. São prosseguidos os fins da dignidade da pessoa
humana, liberdade, justiça e segurança.

Identificação do seu contrário – Estado de não Direito/Estado de arbítrio

Quem exerce autoridade está obrigado a exercer o poder dos restritos limites
das normas jurídicas existentes e não através de interesses pessoais.

Maria Lúcia Amaral:

Dois tipos de elementos que compõem o entendimento contemporâneo do


princípio do Estado de Direito:
Elementos Formais Elementos Materiais

Separação dos Poderes Dignidade da Pessoa Humana

Constitucionalidade das leis Liberdade

Legalidade da administração Justiça

Independência do poder judicial Segurança

Princípio da Separação dos Poderes


Art. 111º CRP

 A legislação
 A administração
 A justiça

Cada uma destas funções deve ser atribuída, senão exclusivamente pelo
menos principalmente a um certo tipo de instituições ou órgãos estaduais:

 Poder legislativo - partilhado pelo Parlamento, pelo Governo, pelas


Assembleias Legislativas Regionais.
 Poder Administrativo - é partilhado pelo Governo, pelas autarquias locais
e por outras entidades definidas por lei.
 Poder Judicial – cabe aos tribunais, nos termos do art. 202º CRP.

Qual a razão para o princípio da separação dos poderes integrar o núcleo


essencial da ideia de Estado de Direito?

 Evitar abusos de poder;


 Separação e interdependência
 Poder que se vigia e controla reciprocamente

Princípio da Constitucionalidade das


Leis
Art. 3º/3 CRP

O legislador está balizado pela Constituição.

Princípio da Legalidade da
Administração
Há uma abertura material a quaisquer fim, desde que sejam prosseguidos na
forma da lei, por isso, cumpre.se a lei seja ela qual for!

 Subordinação do poder administrativo ao poder legislativo.


 A prevalência ou primado da lei: os atos da administração não podem
valer contra a lei.
 A reserva ou precedência da lei: a actuação da administração deve estar
prevista em lei que a antecede.

Princípio da Independência do Poder


Judicial
Art. 203º CRP

Duas ideias fundamentais:

- a independência dos tribunais;

- a sua submissão ao Direito.

Elementos Materiais
Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana
Art. 10º CRP

Pós-guerra (2ª guerra mundial): impulso da DUDH

A sua receção na Constituição alemã foi posteriormente seguida por várias


Constituições, entre as quais a CRP.

A imagem do homem do Estado de Direito: ‘’a imagem da pessoa cuja


dignidade tem que ser protegida pela Constituição’’. MLA

O Tribunal Constitucional (TC): em nenhuma ocasião determinou com rigor o


seu conteúdo.

Lugar que o princípio ocupa: valor supremo, princípio estruturante, etc…


‘’É um princípio estruturante, uma vez que é constitutivo ou de uma ideia básica
de toda a ordem constitucional, a concepção que faz da pessoa fundamento e
fim do Estado e que vem na linha da tradição cultural do Ocidente.’’ (Ac. Nº
16/84)

Princípio da dignidade da pessoa humana: fundamento de regras ou


princípios já expressamente consagrados no nosso ordenamento jurídico, e
principalmente gerador de novas normas.

Direitos fundamentais: a ‘’raiz ética dos direitos fundamentais reside na


dignidade da pessoa humana’’

Este é o fundamento destes direitos, não só dos direitos liberdades e garantias,


mas também dos direitos económicos, sociais e culturais.

NOTA: Toda a construção do Direito Penal, gera em torno da conceção do


Homem, como um ser digno e livre que pode ser responsabilizado pelas suas
condutas. Não conferir ao Homem responsabilidades pelos seus atos seria de
alguma forma desvalorizá-lo tirando-lhe dignidade.

Do PDPH decorre a exigibilidade de prestações a garantir a todos os cidadãos


um mínimo de ajuda material, que lhes permita uma vida condigna.

Fórmula do Objeto

Esta fórmula é clara quando se trata de lesões manifestas da dignidade (casos


de tortura, maus tratos, etc)

Quando não é esse o casos, a aplicação desta fórmula pode colocar maiores
dificuldades.

Princípio da Igualdade
Art. 13º CRP

Justo – um determinado tratamento é justo quando se tratam as pessoas com


igualdade.

Princípio da Segurança
Art. 119º - Princípio da Publicidade

As leis, os atos da administração, as sentenças: devem ser cognoscíveis e


compreensíveis.
As normas jurídicas não devem ter eficácia retroactiva (Proteção do Principio
da Confiança Legitima).

Efeito Retroactivos – sempre que os efeitos não se aplicam apenas no futuro,


mas também para factos passados no passado.

Força Jurídica – Art. 18º CRP

Aplicação da Lei criminal – Art.29º CRP

Sistema Fiscal – Art. 103º CRP

Proibição da retroactividade pela Constituição.

Podem existir leis retroactivas, desde que não seja inconstitucional:

1. Proibida pela CRP


2. Viole o Princípio da Protecção da Confiança Legitima

( MLA ) 4 Pressupostos essenciais:

1. Decisões ou comportamentos estaduais susceptíveis de gerar nos


cidadãos expectativas de continuidade;
2. Decisões e planos de vida dos cidadãos com fundamento nessas
mesmas expectativas;
3. Expectativas na continuidade da politica estadual legitimas, porque
fundamentadas ou justificas por boas razões;
4. Inexistência de um interesse público que, pela sua importância e valor,
supere o valor da tutela das expectativas privadas.

Retrospectiva/Retroactividade Imprórpia – normas que se aplicam a


relações jurídicas já constituídas antes da sua entrada em vigor.
EXEMPLO: Contrato de arrendamento: Hoje é vigorada uma lei nova que alerta
o regime do arrendamento, mas não belisca algo do passado, mexe no
presente e no futuro embora possa afetar contratos que foram constituídos no
passado.

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

A actuação do Estado, para ser seguro, tem de ser mensurável.

Princípios Fundamentais – Art. 266º CRP

Polícia – Art. 272º CRP

Princípio que se deve aplicar a qualquer atuação do Estado. As decisões que o


Estado toma têm que ter uma razão de ser, uma finalidade.
Prossecução do Interesse Público

TESTES:

 Testes da adequação: é adequada? Sim/não

 Teste da necessidade: não há outra igualmente eficaz e menos


gravosa? É a mais adequada?

 Teste da proporcionalidade em sentido estrito: as consequências


superam? Tem que se pesar os benefícios/vantagens e as
desvantagens/malefícios.

Princípio da Proteção da Confiança


É um reflexo do P. de estado de Direito, e implica um mínimo de certeza e
segurança nos direitos das pessoas e nas expectativas juridicamente criadas.
Isto porque, os cidadãos têm o direito de fazerem as suas opções confiando
em quadros normativos claros, acessíveis e estáveis.

O P. da Confiança exige um nível de proteção que deriva do P. da Segurança


Jurídica com a principal finalidade de obter um ambiente jurídico que
demonstre estabilidade, previsibilidade, e calculabilidade dos comportamentos
emanados pelo estado. Um dos aspetos em que é mais sensível à atuação
deste princípio tem a ver com o problema das normas retroativas.

Em que a confiança pode ser afetada por uma atuação do legislador porque
projeta a eficácia das normas no passado.

Na retroatividade de grau max./ 1º grau A retroatividade vai aplicar-se a casos


já passados e totalmente conciliados.

Na retroatividade de grau intermédio/ 2º grau, a lei nova aplica-se a factos


anteriores, mas cujos efeitos ainda se produzem no momento da sua entrada
em vigor.

Na retrospetividade/retroatividade imprópria, a lei nova aplica-se para o futuro,


mas afeta as legítimas expectativas dos cidadãos.

Domínio da Lei Penal (Art.29º/1 CRP), Impostos( Art. 103º/3 CRP), das leis
restritivas dos DLG ( Art. 18º/2 CRP).
Princípio Democrático
Art. 3º CRP – Soberania e Legalidade

- Uma coisa é a titularidade da soberania (que pertence ao povo);

- Outra as formas e os procedimentos que regulam o seu exercício

SOBERANIA POPULAR (em vez de soberania nacional)

- o povo não é um ser indeterminado nem uma entidade metafísica, mas sim, o
conjunto de todos os portugueses, quer vivam em território nacional ou no
estrangeiro.

Soberania Nacional – nação compõe-se de coisas imateriais como a comunhão


numa língua, numa tradição ou numa certa percepção daquilo que faz o ser
colectivo.

Nação – o princípio da soberania nacional acabou por legitimar, ou justificar, a


prática do sufrágio restrito.

A consagração constitucional do princípio da soberania popular traz consigo


uma obrigação clara para os poderes públicos – estes não podem deixar de
tratar igualmente, sem diferenciações, cada um dos membros que compõe o
conjunto determinável de pessoas que formam o povo.

O estabelecimento de diferenças justas entre as pessoas faz parte da ideia


mesma de direito e o principio da igualdade, não deve ser interpretado como
impondo uma absoluta indiferenciação jurídica entre todas as pessoas.

No entanto, no domínio da participação politica parte.se do principio segundo o


qual todos os cidadãos são rigorosamente iguais entre si e como tal devem ser
tratados.

REGRA DA MAIORIA: “quanto maior for o número de pessoas que estiverem


de acordo com a deliberação que foi tomada, maior será também o número
daqueles que, obedecendo à sua própria vontade, se mantêm livres ou auto-
governados”

Regra da maioria diferenciada ou qualificada em função da importância da


matéria sobre a qual se delibera – quanto mais importante for a questão que se
discute maior será a necessidade de consensos.

- Art. 166.º, n.º 2 (leis orgânicas)

- Art. 286, n.º 1 (revisão da CRP)


Art. 3º, nº1 CRP (última parte) – não estão só incluídos os instrumentos
formais, ou seja, os que estamos a estudar.

O principal instrumento jurídico que se afigura como instrumento protector das


minorias – elementos que compõem Estado de Direito. É sobretudo por causa
dele que o termo democracia, na Constituição, não equivale a governo absoluto
da maioria.

VOTO – instrumento através do qual cada um dos membros de um corpo


deliberante pode exprimir, individualmente, o sentido da sua vontade ou
opinião.

CRP fala de:

VOTO - Quando se refere a formas e procedimentos de manifestação dos


órgãos colegiais nos quais têm assento os representantes do povo;

SUFRÁGIO- quando se refere à expressão direta da vontade popular para


realçar o valor particularmente legitimante da escolha popular – o acto de
sufragar pressupõe aprovação ou reprovação. (Art. 121º/1 CRP)

O sufrágio é universal, igual, livre, directo, secreto e periódico:

A universalidade significa que cada cidadão deve ter acesso à urna, não
estando ninguém dele excluído; a igualdade impõe que a cada voto seja dado o
mesmo valor ou o mesmo peso, qualquer que seja a condição da pessoa que
vota.

Como é que se vai organizar o exercício de poder, de modo a evitar que este
seja apropriado por grupos de pessoas determinadas:

- Democracia directa: as deliberações colectivas seriam tomadas


directamente por todos os membros do corpo eleitoral reunido em
Assembleia;

- Democracia representativa: as deliberações são tomadas não


directamente, mas por um grupo restrito de pessoas que é escolhido
para esse fim.

A representação política: a democracia portuguesa é essencialmente indirecta


ou representativa.

Procedimentos de democracia semidirecta:

- Referendo (Art. 115º CRP): consulta feita aos eleitores sobre uma ou mais
questões. A iniciativa pode caber aos órgãos do Estado ou a um certo número
de cidadãos.
Iniciativa legislativa popular (Art.167º CRP): permite-se a um número
determinado de cidadãos a iniciativa de uma proposta tendente à adopção de
uma norma

Como é que, em sociedades plurais se pode formar e organizar e exprimir uma


vontade que corresponda tanto ao querer da maioria dos cidadãos, quanto ao
querer das minorias, temporariamente vencidas?

- meios institucionais: partidos políticos são os meios institucionais por


excelência

- meios informais: decorrem do exercício por parte dos cidadãos de


direitos individuais constitucionalmente reconhecidos.

Os “grupos” são um elemento importante do espaço público: associações não


estaduais que existem, para defender os interesses económicos, sociais,
culturais, egoísticos ou altruísticos dos seus membros.

Direitos Fundamentais
Direitos Fundamentais – Art. 24º a 79º CRP

CRITÉRIOS DISTINTIVOS DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS

 Determinação do conteúdo dos DLG


 Função de defesa dos DLG
o Trata-se de um critério tendencial

Sistematização dos direitos fundamentais assenta na distinção entre direitos,


liberdades e garantias e direitos económicos, sociais e culturais.

Regime geral – aplicável a todos os direitos fundamentais

 Princípio da Universalidade –Art. 12º CRP


 Princípio da Igualdade –Art. 13º CRP
o Igualdade material
o Igual participação aos cidadãos no gozo dos direitos
fundamentais
 Princípio da Equiparação entre estrangeiros e nacionais – Art. 14º e 15º
o Excepções – Art. 15º/2 CRP
o Excepções às execpções – Art. 15º/3 CRP
Regime específico para os direitos, liberdades e garantias – Art. 18º + Art.
165º/1/b) + Art. 288º/d) da CRP

Beneficiam do regime especifico –Art. 17º CRP

 Aplicabilidade direta – significa que não é necessário existir legislação


sobre estes direitos fundamentais para que sejam exercitados e
exigíveis nos tribunais, ou seja, para que sejam justiciáveis.
 Vinculação das entidades públicas – o legislador, a Administração e os
tribunais estão obrigados a respeitar os direitos fundamentais dos
cidadãos.
 Vinculação das entidades privadas – também nas relações horizontais
(relações de igualdade) se aplica as normas de direitos fundamentais.

Resolução de conflitos entre direitos fundamentais – o problema e a


inevitabilidade das leis restritivas de direitos fundamentais.

Exigência da CRP para a restrição de DLG

- Restrição: acção ou omissão estatal que afecta desvantajosamente o


conteúdo de um direito fundamental (Jorge Reis Novais).

RESTRIÇÃO vs DELIMITAÇÃO DA PREVISÃO NORMATIVA DOS DLG

Requisitos das leis restritivas:

a) Princípio da reserva de lei


b) Exigência de previsão constitucional expressa da respectiva restrição
c) Salvaguarda de um outro direito ou interesse constitucionalmente
protegido
d) Respeito pelo princípio da proporcionalidade
e) Carácter geral e abstracto das leis restritivas
f) Proibição da retroactividade
g) Não afectação do conteúdo essencial do direito
h) Exigência de previsão constitucional expressa da respectiva restrição

Casos que não prevêem expressamente restrições legislativas:

Exemplo: direito à vida, à integridade pessoal e outros direitos pessoais (art.


24.º a 26.º), liberdade de aprender e de ensinar (art. 43.º), direitos de
deslocação e emigração (art. 44.º), de reunião e manifestação (art. 45.º)

Os direitos, liberdades e garantias fazem parte da reserva relativa da


Assembleia da República (AR) – Art. 165º/1/b) da CRP

Determinadas matérias relativas a direitos, liberdades e garantias estão


abrangidas pela reserva absoluta da AR – alíneas a(, b), c), e), h), i), j), l), m) e
o) do Art. 164º CRP
Deveres
• Dever cívico previsto no artigo 49º/2

• Deveres fundamentais conexos ou associados a direitos

– Deveres dos pais relativamente aos filhos – art. 36º/5

– Dever de protecção da saúde – art. 64º/1

– Dever de protecção do ambiente – art. 66º/1

– Dever de protecção do património – art. 78º/1

• Deveres autónomos

– Dever (implícito) de pagar impostos – art. 103º

– Dever de recenseamento eleitoral – art. 113º/2

– Dever de defesa da Pátria – art. 276º

Direitos Económicos Sociais e Culturais


Os DESC são direitos sob reserva do possível e estão dependentes da lei.

REGIME MATERIAL ESPECÍFICO:

Estes direitos não são directamente aplicáveis, mas em todo o caso vinculam e
a sua força jurídica manifesta-se nos seguintes aspectos:

 Poderão fundamentar restrições legitimas aos DLG (Ex: direito à


habitação que pode implicar restrições no direito do senhorio à sua
propriedade, como uma denúncia do contrato de arrendamento)

 Imposição legislativa concreta das medidas necessárias para tornar


exequíveis os preceitos constitucionais: tratando-se de direitos a
prestações públicas, o dever que lhes corresponde da parte do Estado é
o dever de legislar.
Fiscalização de inconstitucionalidade por omissão - mecanismo específico
de garantia do cumprimento pelo legislador dos deveres de actualização e
aplicação das normas constitucionais.

Direitos sociais enquanto padrão positivo de controlo da constitucionalidade


das leis.

Se as normas consagradoras de direitos sociais se caracterizam pela


indeterminabilidade, como apurar a inconstitucionalidade da norma legislativa
por violação do direito social?

- Quando a Constituição fixa incumbências e tarefas precisas e bem


determinadas que o Estado fica obrigado a realizar.

Inconstitucionalidade por acção → quando o Estado já havia dado


cumprimento às obrigações que resultam da norma constitucional e vem
posteriormente a suprimir ou restringir essas realizações.

Se o Estado quiser retroceder terá de fazê-lo tendo em conta os princípios


constitucionais estruturantes:

 Princípio da igualdade
 Princípio da protecção da confiança
 Princípio da proporcionalidade
 Princípio da dignidade da pessoa humana

Princípio da sustentabilidade, que João Carlos Loureiro (no que se refere ao


direito à segurança social) associa à protecção da confiança da actual geração
contribuinte;

Princípio de justiça intergeracional, que se poderá considerar que deriva do


princípio da igualdade ou do princípio da dignidade. (ex: Acórdão n.º 3/10)

REGIME ORGÂNICO

A matéria concorrencial é toda aquela que não se encontra prevista nos artigos
164º, 165º e 198º da CRP.

Integram a reserva relativa: artigo 164.º, i); artigo 165.º f) e g) e h).

Limite material de revisão:

Artigo 288.º, e): são limite apenas os direitos dos trabalhadores que se

inserem nos DESC.


Os remédios como meios de reacção a situações de violação de direitos
fundamentais:

- formais e informais

- jurisdicionais e não jurisdicionais

Remédios estaduais para situações de violação dos direitos humanos:

 Meios não jurisdicionais


o Direito de resistência (Art. 21º CRP)
o Direito de petição (Art. 52º/1 e 2 e art. 23º CRP)
 A quaisquer entidades
 Ao provedor de justiça
 Entidades administrativas independentes ( ACIDI, ERC,
CNPD, CADA)
 Meios Jurisdicionais
o O papel dos TC na defesa dos direitos fundamentais
o O papel dos restantes tribunais na defesa dos direitos
fundamentais

FISCALIZAÇÃO DA
CONSTITUCIONALIDADE
• A justiça constitucional - um dos mais relevantes instrumentos de
controlo do cumprimento e observância das normas e princípios
constitucionais.

• Tendencialmente conduz à existência de um tribunal ou órgão


jurisdicional, distanciando-se de um controlo meramente político (ex: o
período do nosso constitucionalismo monárquico, a partir da
Constituição de 1822, que confia às Cortes velar pela “guarda da
Constituição”)

Quem controla?

 Modelo norte-americano da judicial review – controlo jurisdicional


difuso, segundo este modelo o controlo é feito pelos diferentes
tribunais.
 Modelo austríaco da fiscalização concentrada – uma única instancia
especializada, da constitucionalidade dos atos normativos do poder
público desde 1920
Marbury vs Madison

John Marshall – Constituição é: ‘’ the higher law of the land’’.

Uma lei contrária à Constituição é ‘’void’’/nula

Nesta decisão Marshall afirmou o princípio do controlo jurisdicional


da constitucionalidade das leis.

CONTINENTE EUROPEU – primado da lei e não primado da


constituição.

Constitucionalismo português mais próximo da tradição francesa.

A ordem jurídica é caracterizada pelo primado da lei ordinária e não


pelo primado da Constituição.

Depois da 2ª metade do séc. XX o Estado de legalidade


transformou-se em Estado constitucional.

Maria Benedita Urbano:

“nos momentos iniciais do constitucionalismo revolucionário


europeu, as constituições eram vistas sobretudo como documentos
políticos que se direccionavam primordialmente aos poderes do
Estado, em particular ao legislador.”

- Instituição de regras básicas sobre a organização do poder

Valorização do carácter normativo da Constituição: “queda do mito


da infalibilidade do legislador”

Hans Kelsen ‘’ confiar o controlo da constitucionalidade das leis ao


parlamento é uma ingenuidade política’’ – teve um papel decisivo
nesta matéria.

• “Não é pois com o Parlamento que devemos contar para


realizar a sua subordinação à Constituição. É um órgão
diferente deste, independente deste e, por conseguinte,
independente de qualquer outra entidade estatal que deverá
encarregar-se da anulação dos seus actos inconstitucionais –
isto é, uma jurisdição ou um tribunal constitucional.”
PÓS- SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

• Aparecimento de jurisdições constitucionais nas Constituições


do pós-guerra: França, Itália, Alemanha

• Portugal e Espanha também instituem o controlo judicial da


constitucionalidade nas Constituições democráticas dos anos
70

• Só depois do 25 de Abril de 1974: são criadas as condições


para a instalação de uma jurisdição constitucional autónoma

• Constituição de 1976: cria a Comissão Constitucional, junto do


então Conselho da Revolução

• Com a revisão de 1982 nasce, em definitivo, um órgão


jurisdicional autónomo, o Tribunal Constitucional (TC)

Tribunal Constitucional
• Art. 222º CRP –Composição e estatutos dos juízes

• Composição: treze juízes, dos quais:

– Dez, escolhidos pela Assembleia da República

– Três, cooptados/escolhidos pelos restantes juízes

(obrigatoriamente 6 juízes têm de ser juízes dos restantes tribunais)

• Mandato: 9 anos (após a reviºnsão constitucional de 1997)


não podendo haver renovação do mandato

• O Presidente e o Vice-Presidente do TC são eleitos entre os


seus pares e o Presidente tem assento no Conselho de
Estado

• Sistema misto – difuso na base e concentrado no topo

• a fiscalização abstracta da constitucionalidade: concentrada


no Tribunal Constitucional, de acordo com o modelo austríaco
– artigos 278 e 281 da CRP.
• Na fiscalização concreta, todos os tribunais têm acesso
directo à Constituição – artigo 204º -, mas das suas decisões
há recurso para o Tribunal Constitucional, restrito à questão
da constitucionalidade - artigo 280º.

• controlo abstracto: a impugnação da constitucionalidade de


uma norma é feita independentemente de qualquer litígio
concreto.

• controlo directo/por via principal: permite-se a determinadas


entidades a impugnação de uma norma inconstitucional,
independentemente da existência de qualquer controvérsia.

• controlo por via de incidente: a inconstitucionalidade só pode


ser invocada no decurso de uma acção submetida à
apreciação dos Tribunais. A questão da inconstitucionalidade
é discutida na medida em que seja relevante para a decisão
do caso concreto.
COMPETÊNCIAS PRINCIPAIS:

 Controlo preventivo – concentrada no TC


 Controlo Sucessivo Abstrata – força obrigatória geral (retroatividade)
Concreta

 Controlo da inconstitucionalidade por omissão


 Recursos de Constitucionalidade
TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE:
 Acção – há um comportamento positivo que colide com a CRP (é feito
algo);
 Omissão – há um comportamento negativo que colide com a CRP (não
é feito algo ou é na falta de norma devendo existir);
 Orgânica – há violação das regras relativas ao procedimento não forma
observadas (ex. o gov legislou uma norma da reserva absoluta da AR);
 Formal – tem a ver com a forma da norma em si
 Material – viola o conteúdo/valor da CRP

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