Você está na página 1de 82

Aula Nº1-

Direito Constitucional- Professor Paulo Otero

Temas do 1º semestre

Pessoa humana- Instituições políticas e constitucionais

Poder político- Grandes ideias do poder político- Apontamentos e bibliografia do


Professor Jorge Miranda

Teoria da constituição- O que é a constituição? - Professor Jorge Miranda

Temas do 2º semestre

A história constitucional portuguesa (Falada cerca de 2/3%)

Estudo da constituição de 1976 (Falada cerca de 90%)

Qual a essência do fenómeno constitucional? De onde se originam as constituições?


Para que serve? Existem 3 perspetivas diferentes:

O Estado não tem o monopólio das leis constitucionais:

Exemplo 1: Uma lei que permita a escravidão seria inconstitucional, uma vez que viola
um parâmetro acima da Constituição (norma superior à vontade do Estado).
Os costumes são uma das fontes do DC.

Exemplo 2: Os princípios da Constituição de 1976 condicionavam o sucesso do pedido


de adesão à CEE. Assim, a Constituição foi adaptada, através de uma revisão
Constitucional (princípio socialista defensor da sociedade sem classes foi apagado).

Exemplo 3: São produzidas normas que não são escritas, o que pode resultar num
coma jurídico.

Exemplo 4: Há leis que se impõem ao Estado – Direito da EU, Direito Internacional

Ius Cogens (normas perentórias imperativas do DC)


-> Direito comum constitucional
-> Normas materialmente comuns a todos os estados
-> Normas internacionais obrigatórias (quando não cumpridas sujeitas a sanções)
1- A Constituição é o fenómeno de direito do estado, representando a vontade
jurídica e política do mesmo;
2- Todo o Estado tem uma Constituição. Tem uma organização do poder político, tem
regras, mas nem todas as regras são produtos do Estado. Há normas constitucionais
que se opõem ao Estado;
3- Existe um conjunto de princípios e valores, o que impede o Estado de criar
parâmetros. Se os criasse, seriam inconstitucionais.

 Concessão estadualista – Provém do Estado

 Concessão normativista – Normas jurídicas/Constituição

 Concessão ideológica – Expressada pela Constituição

Concessão estadualista

As normas jurídicas podem ser impostas por auto vinculação ou hétero vinculação, ou
seja, impostas ou não pelo Estado. Sobre a hétero vinculação:

 Existe uma consciência jurídica universal que impõe normas jurídicas


independentemente do Estado

 Ius cogens, normas imperativas do Direito Internacional inderrogáveis pela


vontade das partes, ou seja, são vinculativas a todos os Estados, a EU pode
impor normas jurídicas de forma heterovinculativa aos Estados- membros por
exemplo.

 Existem também normas costumeiras (tradicionais), também elas


independentes do Estado.

A constituição é a expressão da vontade política e jurídica do Estado: Todo o Estado


tem uma constituição. Tem uma organização do poder político, tem regras, mas nem
todas estas são produto do Estado. Há normas constitucionais que se opõem ao
Estado- Consciência jurídica

Existe um conjunto de princípios e valores, o que resulta no impedimento do Estado


criar parâmetros, caso contrário esses serão inconstitucionais pois todo o ser humano
é uma pessoa

Exemplo- Uma lei que permita a escravidão seria inconstitucional visto que viola um
parâmetro acima da constituição (Normas que integram uma norma que é superior à
do Estado)
Costume: Prática reiterada que ganha convicção de obrigatoriedade- Fonte do Direito
Constitucional

Concessão normativista

Esta concessão não explica a globalidade do fenómeno constitucional, visto que


existem normas jurídicas e constitucionais não escritas

As Constituições estão sempre sujeitas a tornarem-se obsoletas, principalmente pela


via revolucionária. A revolução é um fator que causa grande mudança na política e no
direito, criando esta um novo poder, um novo direito e uma nova constituição,
permitindo que esta auto vinculada prevaleça consoante a obediência e consciência da
população.

Concessão ideológica

Todas as Constituições apresentam uma ideologia, sendo esta de forma ou não


explícita (Como a constituição portuguesa de 1975, apresentava uma ideologia
socialista e antifascista).

Assim sendo, a essência da Constituição não vive separada dos fins do direito:
Justiça, liberdade e segurança.

Qual deve ser a essência do fenómeno constitucional?

Kant- (Concessão Personalista) O Direito existe em função do ser humano, estando a


essência do fenómeno constitucional na pessoa cidadã que participa na vida política.
Porém, antes de cidadãos, somos seres humanos.

A dignidade humana não é dada pelo Estado nem pela Constituição, pertence-nos por
sermos pessoas, tendo o Estado e a Constituição de assegurar. Assim, a essência da
Constituição é feita em função da dignidade humana.

Principais orientações no estudo de Direito Constitucional:

 Observar exclusivamente os fatores históricos podem prejudicar o presente


e o futuro;
 Estudo direto dos artigos da Constituição é estudo em vão;
 Estudo dos fatos e não das normas cria um estudo mais voltado para a
Ciência Política e não para o Direito;
 Seguir a jurisprudência, as decisões dos tribunais, não permite um estudo
completo e correto devido, por vezes, à falta de rigor a seguir a
Constituição;
 Estudar as relações entre a Constituição e o Estado faz com que se ignore
fatores externos, como organizações internacionais e a sua influência.
Conclusão: O Direito foi feito em função da pessoa humana e da sua dignidade. Será́
que esta importância com a dignidade origina dos documentos escritos, das revoluções
ou da própria história da Humanidade? A preocupação com a dignidade humana
antecede a Constituição liberal francesa do século XVIII e a história progride de modo a
preocupar-se com a dignidade humana, ocorrendo por vezes retrocessos. Assim, a
essência do fenómeno constitucional é a preservação da dignidade humana.

Aula Nº2

Por que motivo é que a república francesa não é o ponto de início da centralidade
humana?

No século XII, foi feita no Reino Unido a Magna Carta, que deu início ao
constitucionalismo britânico. A carta deu especial atenção à limitação do poder,
afirmando:

 Liberdade pessoal e de circulação


 Direito de acesso à justiça
 Entendimento da existência de diferença entre castigo e consequência

Antes da Magna Carta (1215) existiram três momentos históricos muito importantes
entre os quais está a civilização greco-romana, a revolução judaico cristã e o surgir do
estado moderno até à revolução francesa

Dois valores que dominavam o mundo, no caso o valor da liberdade e o valor de


autoridade

Os direitos da Magna Carta não são reconhecidos a todos, ou seja, não são
universais, eram exclusivos à nobreza e ao clero.

História do pensamento político: Revolução judaico-cristã (Revolução dos valores)

Idade moderna (Colocam-se questões: Devemos privilegiar autoridade ou liberdade?


Indivíduo ou Estado?)

Civilização greco-romana

Existiam e tinham 7 principais linhas ideológicas de debate:

1-O que deve ser o centro de reflexão?


A importância dos cosmos ou a importância do Homem – “O Homem é a medida de
todas as coisas”, daqui nasce o princípio da centralidade da pessoa humana

2-Liberdade ou obediência?

Perante uma lei injusta, deveríamos obedecer e seguir a lei ou usar o nosso livre-
arbítrio para quebrar a lei e fazer o que achamos correto?

Sócrates- É acusado de corromper a juventude, e condenado à morte por tal, tem a


hipótese de escapar à pena e fugir da prisão. Perante este cenário disse: “Que serão as
leis da República se fugir ao cumprimento da sentença?” OU

Um rei mata um homem e proíbe a irmã desse homem de o enterrar. Como a irmã não
achou correta a proibição do rei de acordo com os seus valores morais, enterrou o
homem na mesma. Este exemplo de Antígona demonstra os seguintes fatos:

 O poder tem limites que escapam ao próprio poder;

 O direito não consiste somente na lei escrita, existem leis (neste caso,
morais) superiores.

3-A democracia surgiu da Grécia antiga, mas o que é?

Herodo – A constituição reúne 3 ideias:

 Igualdade em matéria de direitos;

 Maioria como forçada democracia;

 Responsabilidade dos governantes.

Com este pensamento de Herodo em base, afirma que a democracia assenta em:

 Governo da maioria;
 Tolerância;
 Participação igualitária do cidadão;
 Limitação do poder (de onde surge a ideia de legalidade);
 Liberdade de opinião.
4-Importância do governo nas leis

Platão – Defende que o melhor governo é o governo dos filósofos e sábios, logo não
deveriam ter limites, pois a sua sabedoria está acima da lei (É assim a base dos
governos autocráticos). Porém Aristóteles – Defende que o melhor governo é o das
leis, pois as leis são imparciais e objetivas, não estão sujeitas a emoções humanas e
aos caprichos pessoais dos governantes, devendo este estar limitado pela lei. Assim, é
formado o conceito de Estado de Direito, onde a Constituição é a lei principal e
suprema.

5- Liberdade interior

Todos temos liberdade de pensar, esta não está sujeita a qualquer tipo de intervenção
do Direito, ninguém nos pode controlar/limitar o pensamento.
(Exemplo: Um escravo romano, considerado mercadoria, tem apenas liberdade
interior, pois pode pensar livremente.)

Um governo melhor é o governo misto, ou seja, aquele que se apoia na liberdade e


que o Estado tem então dois propósitos:

 Garantir a liberdade;
 Garantir a justiça;

6-Oposição entre a lei divina e a lei natural

Papa Bento XVI - Todos, como seres humanos, temos dentro de nós uma lei natural,
comum, universal, eterna e imutável. A lei, que nos faz participar no divino, ou seja,
todos temos uma marca de Deus.

7-Debate enquanto tema de igualdade

A democracia radica na ideia de igualdade, logo, a participação na vida política tem de


assentar na igual proporcionalidade da mesma nos cidadãos, isto é:

1 HOMEM = 1 VOTO

(Exemplo recentes nas eleições para o novo presidente do Sporting o nº de votos não
era proporcional ao Nº de sócios votantes, os votos dos sócios mais antigos eram mais
valorizados, contando como 2 ou mais votos).
Civilização judaico-cristã

O Judaísmo (Antigo Testamento) ensina-nos 3 coisas:

 O Homem foi feito à imagem de semelhança de Deus (Daqui provém a origem


da dignidade humana, que tem um vínculo divino);
 Deus criou Adão e Eva, dando a única regra de não comer o fruto proibido,
ainda assim, comeram-no na mesma (Isto mostra que há liberdade de
desobediência, até com Deus, existindo assim livre-arbítrio);
 Abel e Caim eram irmãos, e como Caim tinha inveja do seu irmão, matou-o.
Quando Deus o questionou quanto ao que tinha acontecido ao irmão, Caim
respondeu: “Porventura, sou o guarda do meu irmão?” (Este exemplo ensina-
nos o princípio da solidariedade. Todos nós que vivemos em sociedade
devemos ajudar-nos mutuamente, “ser guardas uns dos outros”, ter
responsabilidade social).

(Exemplo: Ao pagar impostos estamos a permitir a existência de ajudas e


serviços sociais, mantendo assim o Estado Social ou Estado Providencia. Por
outro lado, seguindo a ideia de Caim, se cada um cuidasse de si iria ser
favorecido o modelo do Neoliberalismo, causando decadência social para os
mais fracos economicamente).

O Cristianismo (Novo Testamento) ensina 3 coisas:

 Ligação entre a dignidade e a liberdade. O Homem tem direitos inatos e


inalteráveis que nascem com ele;
 Importância e afirmação do princípio da igualdade. Cristo deu a sua vida por
todos nós como iguais, sem existir quaisquer discriminações- Não há judeu,
nem grego, não há servo, nem livre, não há homem, nem mulher- São Paulo.
 A igualdade é assim o “marco inicial de todos os demais direitos do homem”
 Separação do poder político do religioso. “Dar a Deus o que é de Deus e dar a
César o que é de César” - Jesus Cristo. Esta ideia caracteriza toda a base do
Direito Público moderno, reconhecendo assim as áreas de intervenção do
poder político, existe assim uma postura limitativa do poder

Principais contributos do Cristianismo (Novo Testamento):

 Valor do livre-arbítrio e importância da justiça- Por exemplo: Santo Agostinho


tinha a seguinte doutrina: “O que diferencia um bando de salteadores do
Estado? A justiça. Se o Estado não tivesse justiça, é semelhante a um bando de
salteadores.”
- Pensamento de Santo Agostinho- Livre-arbítrio, ou seja, cada um é senhor de si
próprio. Exemplo: Resulta no pensamento de S. Agostinho “O que diferencia o Estado
entre um bando de ladrões?” -

A justiça deve servir de iluminação, por isso, se um estado não tem justiça, não se
diferencia de ladrões ou de qualquer tipo de criminoso.

- São Tomás de Aquino- Natureza singular de cada pessoa: cada Ser Humano é
colaborador da ordem de Deus, o poder existe ao serviço do bem comum da
coletividade [interesse público + igualdade entre homem e mulher);

São Tomás de Aquino apresentou as seguintes ideias:

- Ideia de o Homem ter uma natureza singular (Deus fez o ser humano um colaborador
na criação do mundo). Assim, o conceito de dignidade humana nasce sobre o pretexto
de sermos colaboradores de Deus. Deste modo o poder existe para o bem da
comunidade, a ideia de bem confina a ação do poder. (Exemplo: Tiranicídio (Morte do
tirano) é inadmissível, contudo, é admissível a resistência ao seu poder).

-Igualdade entre o homem e a mulher. (Exemplo: Na criação, a mulher foi extraída de


uma costela de Adão, não dos pés, um nível inferior, nem da cabeça, um nível superior,
mas sim do troco, zona central do corpo humano onde ambos eram feitos como iguais.

-Marsílio de Pádua- Rutura com o primado do Papa na vida civil (Liberdade religiosa e
limitação do poder pela lei). Para Marsílio: A lei é a expressão consensual da maioria. O
poder de fazer as leis é o poder superior do Estado -> Cabendo assim o poder
“máximo” às pessoas. Fim das Respublica Christiana. Não limite à lei

Aula Nº3-

Magna Carta (1215)

- A Magna Carta foi emitida em junho de 1215 e foi o primeiro documento a colocar
por escrito o princípio de que o rei e o seu governo não estavam acima da lei.
Procurava evitar que o rei abusasse do poder e estabelecia limites à autoridade real,
ao estabelecer a lei como um poder por si só.

Finais do século XVI/ XVII existiu a questão dos índios das américas- Chegada dos
espanhóis e portugueses ao continente americano, a hipótese de ter chegado à Índia,
porém a principais problemas jurídicos aqui:
Escola espanhola de Direto Internacional:

Bartolomeu de Las Casas- Houve um enorme contributo, este afirmou que todos os
Homens nascem livres e por isso não podem quer por razões de natureza cultural ou
civilizacional serem submetidos a outro país, todas as violências e crueldades que os
europeus exerciam devem ser julgados e condenados- Base do pensamento humanista
e radicalismo islamismos devido às imposições do mundo ocidental, por exemplo a
revolução do Irão foi um símbolo contra a imposição do mundo ocidental.

Francisco de Vitória- Os espanhóis não têm o direito de impor a sua religião, os índios
das américas não podem ser obrigados a ser batizados contra a sua vontade. Não há
um direito que se impõe a todos os estados, os índios devem ser governados pelas
suas próprias leis, os espanhóis não têm o direito de impor o direito espanhol aos
índios, é complementar à ideia de Bartolomeu

Francisco Suárez- Acima do Direito de cada Estado há uma ordem jurídica alicerçada
na natureza humana, aqui está a base do direito internacional moderno- Por exemplo,
a lei positiva/escrita serve para proteger os direitos das pessoas. Este condena os
conflitos e guerras injustas, admite assim um direito de resistência, de não acatar, não
cumprir as regras impostas por governos ilegítimos.

Escola portuguesa de Direito Internacional:

Padre António Vieira- Afirma a existência de um holocausto no Brasil, onde 2 milhões


de povos colonizados foram violentados, torturados e mortos. Esta conduta de
crueldade é condenada pela escola espanhola já referida

Conclusão: Na prática, não se concretizavam os valores judaico-cristãos: Pois existe a


admissibilidade da escravatura, desigualdade perante a lei, existência de penas cruéis
e desumanas (tortura)

Idade moderna- O debate de autoridade e liberdade:

Jean Bordin- Planos da soberania-

Plano interno: Nenhuma autoridade do Estado é superior ao Rei (Centro dos poderes
no plano interno);

Plano externo: Todos os Estados são iguais, não é admissível que algum tenha
supremacia sobre outro (materialização jurídica através da Paz de Vestfália). O que é a
soberania, a soberania é um conceito interno e externo)
Em síntese- Não há nenhuma autoridade que seja superior ao rei, ele é o autor da
centralização do poder real, atestado de óbito ao feudalismo, o rei é o centro dos
poderes no plano interno, reside numa autoridade suprema. Vertente externa da
soberania, todos os Estados são iguais, não faz sentido haver supremacia, há assim o
fim do poder do papa, soberania igual.

Maquiavel- 4 aspetos principais- Defende que a crueldade pode ser boa se existir um
fim que a justifica; Defende que a propriedade tem mais valor para as pessoas do que
a vida, o homem esquece quem mata os pais mas nunca esquece quem assalta a casa,
à escolha da propriedade em detrimento da vida. Qual é a razão do Estado, o que é?-
Justificativo, um fundamento que permite adotar medidas que não sendo normais,
favoráveis às pessoas, são justificáveis para a coletividade, afastar as leis que
normalmente seria aprovadas

Artigo 282 Nº4- A CRP admite que normas inconstitucionais ou ilegais apesar de serem
válidas possam produzir leis com efeitos, de interesse público de excecional relevo e
podem valer sobre a inconstitucionalidade, levando a segurança de Estado- Por
exemplo no caso da saúde publica

Chegou até à atualidade

Pico della Mirandola- O Homem é o vértice de toda a humanidade, o Homem é o ser


humano de toda a liberdade e da razão

Erasmus de Roterdão- Os príncipes têm limites em relação ao poder por razões éticas
(Limitação ética), não é só o Direito que restringe, mas sim também a ética. O
governante não se deve envolver em negócios públicos em quais tem interesse,
havendo assim um conflito de interesses. O autor das leis a deve ser o primeiro a
obedecer a estas, o autor não está acima destas.

Martinho Lutero- Autoridade VS liberdade- Há liberdade religiosa, porém há


supremacia do rei, este está vinculado diretamente a Deus, não deve satisfações a
ninguém mais ninguém, apenas quando este morre. Aqui está a génese do
absolutismo, impermeabilidade do direito,

O Direito não está contaminado pela tradição judaico-cristã, o Direito sofre através
das influências do Direito Romano, “É mais importante o património do que a vida2

Há uma importância do património sobre a vida, a crueldade e da desumanidade


Origem da modernidade da constitucional:

Thomas More- Utopia- Na ilha da Utopia encontramos uma crítica à injustiça e


iniquidade da sociedade, sendo assim a base do Marxismo. Adianta, Rosseau e a
doutrina socialista e social da Igreja Católica.

A ilha da utopia remete para a injustiça e à não equidade. O Direito é o instrumento de


domino e de repressão, sendo que não há propriedade privada, há o princípio de
igualdade e liberdade. A síntese da liberdade é o bem-estar. O Estado é
intervencionista e permite a liberdade religiosa e a liberdade de consciência

Thomas Hobbes - Defende os direitos inalienáveis do Homem (são inatos), mas


também defende um poder ilimitado. O Homem é mau por natureza (Devido à
existência de guerras para afirmação de supremacia). Se cada pessoa abdicar dos seus
direitos em prol do soberano, este poderá garantir a segurança de todos- Principais
momentos que reforçam o peso da segurança: 9/11, crise financeira de 2008, Covid-
19.

Defende os direitos inalienáveis do homem (estes são inatos), mas defende um poder
ilimitado, o ser humano tem direitos inatos, ou seja, todos os homens são iguais por
natureza, cada um de nós tem o direito de julgar e de usar instrumentos de legítima
defesa, perante qualquer tipo de perigo iminente que ameace a nossa integridade
física.

Defende que a liberdade é natural ao Homem e apenas devemos ter o mínimo para
pode sobreviver. Afirma ainda que apesar da liberdade ser natural, o ser humano é
mau porque tenta demonstrar a sua supremacia e poder através da guerra, vivendo
assim num clima por natureza de insegurança. Em suma o homem pode se tornar o
seu próprio inimigo. Se cada um de nós abdicar dos nossos direitos a favor do
sobreano, este pode garantir o nosso bem-estar e segurança de todos, defendo assim
um poder ilimitado, este é o preço a pagar para a garantia da nossa segurança
(Momentos que reforçam o peso da segurança: Ataque às torres gémeas no 11 de
setembro de 2001, a crise financeira de 2008 e a pandemia da covid-19).

A partir do ataque às torres gémeas o Estado passou a equacionar a segurança com


uma maior importância que a liberdade, assim a crise de 2008 veio reforçar a
segurança em prol da liberdade e covid 19 veio reforçar a segurança da saúde e do
bem-estar, é o mais importante que a liberdade de modo a obter segurança.

Todos nós somos presumivelmente culpados, importância da segurança nas câmaras


de filmar, esta é a sociedade cuja origem está na perspetiva de Hobbes.

Autor da modernidade constitucional


René Descartes: Importância do “eu” da liberdade. Descartes representa o
pensamento da racionalidade, liberdade da vontade, e a importância do eu da
liberdade como já referido anteriormente.

No século XVII- A Inglaterra (Defesa do sufrágio masculino, consentimento de todos:


Laicização do Estado) vs. Resto dos países europeus (Caminham em direção ao
absolutismo)

Assim a Europa caminha para o absolutismo, a Grã-Bretanha vai em sentido contrário,


no caso em direção à revolução a ideia de igualdade de direitos, o direito de voto
universal para todos os homens, o governo aceita no consentimento de todos, o
princípio da separação do estado e da igreja

Estamos assim de forma iminente à porta do liberalismo na Grã-Bretanha

Spinoza- Defende a vontade democrática de toda a sociedade

Pufendorf- Defende a igualdade e a dignidade de todos os seres humanos. A sociedade


existe pelo e para o individuo, é assim a base do pensamento individualista. Há direitos
e deveres indisponíveis como a vida e a integridade física.

John Locke- Influenciou o pensamento liberal, a sociedade tem um contrato social


para com a defesa da propriedade e liberdade, afirma assim a limitação do poder. O
Estado tem por natureza como pilares a liberdade e igualdade, o Estado existe para a
defesa da propriedade. Este existe ainda para a defesa da vida, da liberdade e da
propriedade. Existem os direitos humanos das pessoas, por serem pessoas, a lei serve
para garantir direitos como a liberdade, os direitos das pessoas são o limite do poder,
o poder existe para a defesa dos direitos.

Montesquieu- Defende que a melhor garantia da liberdade está na limitação do poder,


quanto maior esta mais liberdade- Separação de poderes. Para este a constituição
britânica é o exemplo perfeito, a matéria legislativa é o parlamento, mas o Chefe de
Estado, que é o rei, tem o direito de intervir através do seu veto. Ao limitar o poder
garante-se a maior liberdade, também a separação dos poderes consiste assim como o
principal instrumento de liberdade.

Rosseau- O autor dá primazia à liberdade e à igualdade em detrimento na


propriedade. Ao invés de Hobbes, o ser humano é bom por natureza, a propriedade é
que corrompe levando assim à conflitualidade social. Este pensamento é a base do
liberalismo radical, igualdade e liberdade sob propriedade, isto vai ser a base do
parlamentarismo soviético. Nega a separação de poderes de Montesquieu e tem um
enorme contributo para o Direito Constitucional. A lei é a expressão da vontade geral,
da coletividade, é um produto, é uma conquista da revolução francesa- A maioria
nunca se engana

Humboldt- É um autor do século XVIII mas é recuperado no século XX, a melhor


garantia da liberdade está num Estado mínimo, quando menor for um Estado melhor,
quanto maior for a abstenção/ausência do Estado maior é a garantia da liberdade-
Veio alicerçar a ideia de liberal de um Estado diminuto, são os privados que devem
guiar a sociedade; Nos anos 70 do século XX, quer no Reino Unido no Partido
Conservador, quer no EUA no Partido de Republicano, o Estado deve reduzir o seu
peso na economia, menos estado melhor estado. Assim o neoliberalismo domina a
cena no plano internacional e nas privatizações e as reprivatizações, deixar de ser
Estado e passar a ser privado.

Kant- Veio provocar uma revolução no pensamento. São nos dadas três ideias
principais através deste autor- Contributo para a afirmação do Estado de Direito, da
constituição e a importância da obediência à lei. A lei existe para ser obedecida, apesar
de determos liberdade. Princípio da humanidade- O Homem não é uma coisa/um
objeto, é sempre um fim em si mesmo, de modo que o Direito nunca nos pode tratar
como uma mera coisa. Não é admissível a conceção de um ser humano para fins
médicos, como por exemplo o nascimento de um filho com o objetivo de esse doar
algum tipo de órgão para salvar a vida do seu irmão. Se esse mecanismo conduzisse à
morte ou a uma deficiência/menor qualidade de vida então este não é admissível. A
noção de dignidade em Kant, é uma particularidade do Homem independente da
ligação religiosa, a dignidade é um valor absoluto de todos os seres humanos. Quando
dizemos que algo tem dignidade, o que tem dignidade é tudo o que não tem preço,
pelo ser humano tem dignidade, é por isso que é inadmissível a venda de órgão ou a
barriga de aluguer visto que pode remeter à inconstitucionalidade. A dignidade não é
renunciável, não posso emprestar dinheiro a alguém e colocar uma cláusula que se
essa pessoa não pagar o que deve num determinado período específico torna-se meu
escravo, isto não é permitido mesmo que a pessoa aceite ser escravo isto é algo que
não se pode realizar nem é admissível

Principal limite da liberdade para Kant- Renúncia da dignidade

Hegel- De todos o autor abordados este é mais complexo. É um autor que tem duas
faces, é simultaneamente bandeira da esquerda e da direita. Defende a liberdade, mas
também defende a importância do Estado. A liberdade é a substância do espírito, o
sentido da história é o progresso da liberdade para Hegel. Este formula a
conceção/imperativo que desenvolve a conceção de dignidade de Kant- Se a pessoa
quer respeito então tem de respeitar os outros como pessoa- Esta conduta não é só
para ele, mas também para os outros. Há uma dicotomia do ser humano como
realidade concreta e como realidade abstrata. Para este autor é apenas no Estado que
o indivíduo ganha e garante a sua liberdade e por este motivo vai divinizar o Estado. O
Estado torna-se uma realidade divina, é no Estado que cada um de nós se realiza; O
Estado é o melhor garante da liberdade ou de afirmação de omnipotência do Estado.

O sentido da história é a luta de classes para Karl Marx

Estão assim preparados os alicerces económicos, políticos, culturais para o


liberalismo e para a matriz ideológica liberal.

Existem três espaços constitucionais da matriz liberal

Liberal do EUA- Thomas Paine- É o autor que afirmou os direitos naturais da Homem,
todos nascem iguais, um homem representa um voto, cada homem é proprietário de
uma parte do governo. A soberania pertence à coletividade, os direitos humanos são o
fundamento do governo e está na base dos direitos do Homem e do Cidadão francesa
(1789), revolução americana e a revolução francesa.

Liberal do RU- Stuart Mill- Este autor defende a liberdade de associação, cria assim a
base dos partidos políticos, podemos afirmar que é o pai dos partidos políticos. Afirma
que não há liberdade suficiente para renunciar à minha própria liberdade, as
liberdades impõem-se ao ser humano como a dignidade

Liberal Francês- Benjamim Constant- É um autor importante para os portugueses e


brasileiros. Defende os direitos individuais, limitam quer a soberania do povo quer a
autoridade. Os direitos estão acima da vontade geral/vontade popular, artigo 1 da
CRP- Porquê a relevância deste artigo? Qual o primeiro valor na república portuguesa?
A dignidade, há uma homenagem a Benjamim Constant e depois a soberania do povo,
a autoridade não pode agir contra a dignidade da pessoa. Existe uma prevalência dos
direitos individuais e de participação política, os limites à democracia no caso dos
direitos individuais, primeiro a dignidade e depois a vontade do povo; A propriedade
tem uma especial centralidade no fator política, não havia sufrágio universal, os que
tinham cultura, sufrágio capacitario, e quem tinha possibilidades financeiras, sufrágio
censitário, este defende o sufrágio censitário e restrito

Principais famílias constitucionais:

Começam a surgir as primeiras declarações de direitos, a primeira foi a declaração de


direitos do Estado de Virgínia nos EUA em 1776, afirma que os homens são livres e
independentes, há direitos inatos, o governo tem um fim e esse fim é o bem comum. O
governo assenta na separação de poderes, não deixam de estar presentes nos textos
constitucionais.
Declaração da independência dos EUA- Afirma de igual forma o mesmo que a
declaração de Virgínia 1776- Afirma que o governo que desrespeitar estes princípios
acima referidos, pode ser abolido pois o povo tem todo o direito de abolir este
governo. Esta é a justificação jurídica e constitui um documento histórico.

Declaração direitos do Homem e do cidadão 1789- 234 anos depois, ainda hoje está
em vigor, é lei constitucional em França, afirma os direitos naturais, é a base do
pensamento iluminista, consagra ainda o direito à liberdade, à propriedade, à
segurança e resistência à opressão.

Trilogia liberal clássica- Defesa de três direitos como princípios: Liberdade,


propriedade e segurança

Duas fontes da declaração de independência dos EUA e da revolução francesa fonte da


resistência à opressão, artigo 21º da CRP da resistência à opressão.

Existem aditamentos no Bill of Rights dos EUA de 1789 a 1791, há a consagração do


direito de reunião e de petição, ninguém pode testemunhar contra si próprio, não há
a possibilidade de alguém se autoincriminar- Remete para a Quinta emenda-
Possibilita a remissão ao silêncio

Cláusula aberta- Aplica-se a direito fundamentais, este resulta de uma constituição


que não esgota esses direitos fundamentais quer no Direito Nacional e/ou Direito
Internacional- O artigo 16 da CRP, desde 1911 pela influência da constituição brasileira.

Constituição francesa de 1793- Nunca entrou em vigor, apesar disto, esta é um marco
histórico, influenciou a organização política do modelo soviético. É um marco pois
consagrou o pilar de igualdade (Pensamento de Rosseau), liberdade, segurança,
propriedade e direito de insurreição. Assim esta é a primeira constituição que consagra
os principais direitos sociais, por exemplo obter prestações do Estado, a subsistência, o
trabalho e a instrução.

Lacunas do direito- Nem sempre há uma norma que dita o que deve ser feito

Constituição de 1822

A trilogia dos direitos fundamentais, a separação dos poderes, o tema da igualdade e


os primeiros direitos sociais, as géneses dos direitos sociais como o direito à caridade
e à instrução - São bases da Constituição Liberal Portuguesa de 1822
Portugal é o primeiro país que garante a instrução, não só aos rapazes/homens, mas
também às raparigas/mulheres.

A constituição de 1848- Veio proclamar a segunda república francesa, é a


constituição que tem na base a ideologia liberal- No poder em 1852 Luís Napoleão,
futuro imperador Napoleão III. Esta constituição e república veio consagrar que o
Estado tem por base a família, o trabalho, a propriedade e a ordem publica- Foi o
primeiro Estado a abolir a escravatura, a pena de morte no caso de crimes de
natureza política, veio também a proibir a censura à imprensa. Em suma defende e
pôs em prática os grandes valores do liberalismo.

Existem quatro ideias principais dos valores dos direitos fundamentais e princípios
da ideologia do liberalismo

- A importância da liberdade, da propriedade e da segurança- Constituem os princípios


do modelo liberal.

- O Estado mínimo, limitado, duplamente limitado quer na sua relação com a


sociedade (não deve intervir) quer limitado no seu interior com a separação de
poderes.

- A interdependência entre a vontade do Estado e a vontade da coletividade, esta


última tem um nome, o parlamento. Este representa toda a sociedade e tem o
monopólio da feitura da lei. O pensamento de Rosseau- A lei é a vontade geral.

- Ideia de igualdade de todos perante a lei. É no período de liberalismo que surge a


ideia de democracia atual, o liberalismo dá-nos também a ideia não democrática, no
caso o pensamento de Rosseau, para este autor a vontade geral está sempre correta e
certa, a maioria está sempre certa e a minoria é que está sempre errada. A maioria
deve exercer a sua supremacia, uma democracia autoritária e absoluta, sendo que esta
maioria é critério de decisão, mas não é critério de escolha. Esta ideologia teve o seu
apogeu após a vitória dos aliados com a ligação entre a Inglaterra e os EUA, com esta
evolução do pensamento liberal desenvolvem-se críticas ao liberalismo e aos seus
valores fundamentais como a liberdade e a igualdade

Existiram três movimentos que criticam a ideologia do liberalismo:

Movimento contrarrevolucionário após as revoluções liberalismo- Pensamento


antiliberal- Principais protagonistas- Edmund Burke- Podemos considerá-lo como o
pai do pensamento conservador britânico. Defende que os direitos não resultam de
textos escritos e sim da tradição, é o costume a principal fonte dos direitos
fundamentais e este tem mais peso do que uma declaração escrita. É a importância
dos costumes que se alicerça a constituição, peso do costume (direito informal) e da lei
(direito formal), para este autor o costume é o mais importante. Joseph de Maistre- A
constituição é uma fonte natural de liberdade dos direitos do francês, é produto da
vontade do rei e não a vontade do parlamento. Assim como Benjamim Constant que
afirma que a fonte da legitimidade da constituição está no rei, a carta constitucional de
1826 foi outorgada por D. Pedro IV a carta constitucional, durou até 1910, assim
Portugal foi um dos países onde mais durou o regime monárquico.

Pensamento socialista: Procura criar uma visão utópica, de um novo homem numa
nova sociedade. Durante o século XIX, desenvolvem-se 3 modelos:

• Socialismo cristão: Saint Simon→ Não abule a propriedade privada, mas defende a
intervenção do estado;

• Socialismo não marxista (2) →Proudhon: Defende a anarquia (abolição do Estado),


afirma que a liberdade só começa quando tudo o resto acabar “toda a propriedade é
um roubo”.

Movimento do socialismo de marxista-leninista- O sentido da história é a luta de


classes- No propósito da abolição do estado, como último momento da sociedade
socialista para se tornar no fim numa sociedade anarquista, ou seja, a ditadura do
proletariado.

O constitucionalismo soviético começa com a constituição de 1918 até ao ano de


1977- O que há de comum aqui? - Uma conceção restritiva dos direitos
fundamentais, estes São dos trabalhadores; A subordinação dos direitos individuais
aos direitos coletivos; O intervencionismo do estado, presente em todos os âmbitos,
de direção central; Rejeita a separação de poderes, preferência do pensamento de
Rosseau e o pensamento constitucional de 1793;

Movimento da doutrina social da igreja- Teve o seu início em 1891 através da Carta
do Papa Leão XIII- Rerum Novarum (Sobre a condição dos operários) - Constitui a lei
fundamental, faz uma crítica das mais violentas à exploração do ser humano através
do liberalismo, este último na visão da Igreja explora as pessoas e nega a dignidade
humana, através dos baixos salários, mão de obra infantil, ausência de períodos de
descanso e maior importância do lucro. O Estado não pode assistir de braços cruzados
a exploração dos trabalhadores, assim o Estado tem o imperativo de agir sobre os mais
débeis e fracos da sociedade.

Há uma critica feita pelo liberalismo ao socialismo marxista-leninista- A luta de


classes defende que o Estado deve suprimir a propriedade e liberdade, o que se deve
sobrepor-se é sim a cooperação. No entanto é sublinhado que a relação do Estado
com os cidadãos tem de estar de acordo com o princípio da subsideiradade, este
aponta para uma estrutura elástica entre as estruturas socais, primeiro devem ser as
estruturas inferiores a intervir, sendo assim o Estado só deve intervir na economia e
na sociedade quando os agentes económicos e as famílias (estruturas inferiores)
quando estas não conseguem agir. Este princípio da subsidiariedade é aceite pela
União Europeia desde 1931 que a UE obedece a este princípio.

Artigo 6 da CRP relaciona o Estado com as Regiões Autónomas e as autarquias, está


também consagrado na “Constituição Económica Portuguesa”

Este princípio está presente na constituição da Alemanha na República de Weimar de


1919, OIT (Organização Internacional do Trabalho) na proteção dos trabalhadores, na
constituição de 1933 e na atual constituição da república portuguesa de 1976.

Houve um retrocesso no progresso da dignidade da pessoa humana com as


conceções totalitárias e ao totalitarismo- Há uma diluição da pessoa humana no
Estado, estamos perante um Estado que se demostra omnipotente e omnipresente,
há a inversão de todos os dogmas liberais, há a contestação da liberdade política,
dos direitos fundamentais e do parlamentarismo. Assim é defendido um Estado
hiper intervencionista, é o Estado que nega o individualismo.

Cinco preferências dos totalitarismos:

- Prefere o coletivo ao individual

- Prefere a autoridade à liberdade

- Prefere a soberania das elites em favor da democracia

- Prefere o sentimento e o instinto à razão

- Prefere a violência ao humanismo, fazendo do Estado uma máquina de violência e


terror

Assim há um retrocesso acerca da dignidade humana e dos direitos fundamentais,


nada é eterno e pode sempre existir um retrocesso histórico como aconteceu na
segunda guerra mundial com as Forças do Eixo.

Antecedentes históricos dos totalitarismos:

Platão- Na República é o primeiro autor a defender um pensamento anti-humanista e


uma democracia totalitária, há privilégios naturais que diferenciam determinadas
pessoas das demais- O Estado tem como objetivo conservar a pureza da raça, ou seja,
o Estado pode matar os deficientes, idosos e doentes. O melhor governo é o governo
dos homens e dos sábios, é em Platão que está a base da tirania. o Estado deve ter
uma intervenção até em nível social, é assim primeiro alicerce do modelo totalitário.

Hobbes- A segurança é um valor superior aos direitos individuais, o Estado tem um


poder ilimitado, garante-se com através da força e do medo, estes fazem com que
existia a segurança que é garantida pelo Estado.

Hegel- O Estado é verdadeiramente onde cada um de nós se afirma como pessoa,


defende a conceção anti personalista, há assim uma referência superior, o Estado é
divinizado, o individuo está numa referência superior que é o Estado.

Nietzsche- Há um elogio da crueldade, esta é admissível, assim como Maquiavel, e


crítica à piedade que é símbolo da fraqueza. É a crueldade que se deve afirmar, assim
defende que há diferenças de raça, isto permite identificar o principal culpado da crise
económica e social na Alemanha, neste caso os judeus. É afirmado que se deve
extinguir as raças inferiores, para isso a guerra sobrepõem-se à paz. Há assistência do
Estado para a morte destes, constitui a antítese ao liberalismo. Este pensamento é
contra doutrina cristã, vai constituir a base do Nazismo que mais tarde vai levar ao
retrocesso do processo histórico acerca da dignidade humana.

Aula Nº6

Reversibilidade do processo histórico

O sentido histórico do totalitarismo: É o que institucionaliza características como


matar indivíduos pela sua “raça”, é cruel. Toda a ordem axiológica judaico-cristã é
invertida. Vem dizer que a luta pela dignificação do ser humano não é sempre um
processo evolutivo, por vezes as constituições e o Direito Constitucional não servem
para garantir direitos, mas podem causar atentados contra a dignidade humana.

A herança liberal: bem-estar social e dignificação humana- Dimensão social da


pessoa humana: os Direitos sociais

A herança liberal está na base do estado de bem-estar social (Europeu):

- Assenta na visão da pessoa humana como um contexto social, recuperando a ideia de


Aristóteles de que temos direitos sociais e não só deveres.

Direitos sociais: Pressupõem uma intervenção do estado (enquanto os liberais radicais


estão assentes no estado mínimo), na qual os direitos são cada vez mais satisfeitos
com a intervenção estatal. Isto é, o direito a educação, o direito a saúde (SNS) e a
segurança, agora a intervenção do estado, por meio de artifícios financeiros, é quem
satisfaz.

Esta ideia já era encontrada em Péricles, na idade clássica, em Marsílio de Pádua, em


Kant, em Hegel e na doutrina social da igreja da católica Rerum Novarum.

Intervenções constitucionais anteriores à II guerra mundial: Constituição Mexicana


(1917), Constituição Alemã (1919), Constituição Espanhola (1931). Constituição
Portuguesa (1933).

Não tem apenas que ver com as condições sociais e económicas, pressupõe a
educação, a cultura, e uma dimensão imaterial (preocupação não apenas com o bem-
estar da geração presente, mas também com as gerações futuras – Por exemplo:
Recursos naturais e a sua exploração, poluição, recursos financeiros: reformas,
pensões, subsídios - dimensão intertemporal do bem-estar).

É uma garantia da dignidade humana, dos que existem e dos que virão a existir. O
Estado tem o dever de garantir o bem-estar.

Podemos falar numa clausula de bem-estar: a dignidade humana não se basta com os
direitos liberais. Não basta ter o direito se não se pode usufruir deles.

Mas a quem compete? Há 3 modelos:

a) Impõe ao Estado a garantia do bem-estar;

b) Tipo Britânico e Norte Americano: Remete para a liberdade do legislador;

c) Modelo Misto: Há situações em que há imposição constitucional do bem-estar, mas


também há liberdade do legislador (Caso português: economia do mercado).

A garantia dos direitos sociais está nas mãos da administração pública, estando a
constituição refém da administração.

Estas conceções são produtos do final da II guerra mundial.

Centralidade do bem-estar e dos direitos fundamentais nas constituições do pós II


guerra mundial

Quais as primeiras constituições com Direito Social?

- 1946 Constituição francesa;

- 1947 Constituição italiana;


- 1949 Constituição alemã;

- 1976 CRP;

- 1978 Constituição espanhola;

- 1988 Constituição brasileira.

-> Constituição francesa, italiana e alemã: Quase todos os textos constitucionais antes
de 1945 integravam diversos direitos fundamentais, mas após a II GM, tratava-se de
textos constitucionais que impunham ao Estado o propósito implementador do bem-
estar social, harmonizando a tutela de direitos individuais, herdados do liberalismo, e a
garantia de direitos sociais.

-> A Constituição francesa de 1946 reafirma os direitos e as liberdades consagradas


na Declaração de 1789- Referindo a necessidade de serem aditados desenvolvimentos
no campo económico e social, proclamando um conjunto de direitos laborais, de
saúde, de segurança social e ensino (Bem-estar Social).

-> A Constituição italiana de 1947 representa a segunda expressão histórica do


modelo de Estado Social, fundando a República no Trabalho – Direito dos cidadãos
promovidos pelo Estado e o reconhecimento dos Direitos Invioláveis do homem.

A Lei Fundamental de Bona da 1949, retoma a tradição de Weimar, reconhecendo a


natureza sagrada da dignidade do indivíduo e da existência de direitos que são
invioláveis e inalienáveis. Regista-se o dever do Estado de promover a igualdade
entre homens e mulheres, proteger o casamento e a família, criar um sistema
público escolar, tudo para o bem-estar social.

-> Constituição Portuguesa e Espanhola: A Constituição portuguesa traçou as bases do


modelo de Estado de Direito Democrático baseado na dignidade da pessoa humana e
no respeito pela vontade popular. Garantindo os direitos fundamentais e a promoção
do bem-estar coletivo.

A constituição espanhola, proclamou a existência de um estado social e democrático


de direito, com valores superiores como a liberdade, a justiça, a igualdade e o
pluralismo político, fazendo da dignidade inviolável. Fixam os princípios diretivos da
política social e económica dos poderes públicos nos domínios dos direitos
económicos, sociais, culturais, de proteção da família, de Segurança Social, de saúde,
de cultura e educação, do meio ambiente e habitação.
-> Constituição brasileira – 1988: Traçou um exaustivo elenco de direito individuais e
coletivos, afirmando que a ordem social tem como base o primado do trabalho e como
objetivo, o bem-estar e a justiça sociais.

Fazendo da dignidade da pessoa humana um dos fundamentos do Estado Democrático


de Direito, a Constituição elege como objetivos fundamentais do Estado a construção
de uma sociedade livre, justa e solidária, visando a erradicação da pobreza e da
marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem
de todos.

No artigo 9º integra-se o expresso reconhecimento dos direitos sociais à educação,


saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade
e à infância e à assistência dos desamparados, além dos direitos dos trabalhadores.

3 fase das constituições:

1- Final dos anos 40: Giravam em torno do direito do trabalho, segurança social, saúde,
educação e na função social da propriedade (não só limitada ao indivíduo, mas
também a função social que desempenha).

2- Anos 70 e 80: Os Direitos Sociais estão especialmente preocupados com o ambiente,


património artístico e as gerações vindouras;

3- Anos 90 à atualidade: As preocupações estão localizadas em duas matérias:


biomedicina e na informática (até onde podem ir os limites da tecnologia?).

SÉCULO XX:

1-Internacionalização da temática dos direitos humanos– Significa que esta matéria


não é exclusiva de cada Estado, é um problema que diz respeito a toda a comunidade
internacional.

2- Devido a internacionalização, existem tribunais internacionais capazes de sancionar


e reprimir as violações feitas pelos Estados aos direitos humanos (Tribunais de Tóquio
e Nuremberga).

Manifestações Anteriores à 2ª Guerra Mundial (361-362):

-> Em 1906, com convenções para a proteção humanitária dos combatentes,


prisioneiros e feridos – Convenções de Genebra.

-> Proteção das minorias com o fim dos impérios alemão, austro-húngaro e otomano.

-> Proteção dos Trabalhadores com a OIT.


Na sequência da II Guerra Mundial surge a ideia da proteção das minorias:

(i) O que a Alemanha Nazi e a Rússia fizeram aos judeus era uma crueldade que jamais
poderia voltar a ser praticada;

(ii) Tratamento pelos japoneses dos prisioneiros de guerra, levou a criação de dois
tribunais internacionais para julgar crimes contra a humanidade, tribunais dos
vencedores contra os vencidos (de Tóquio e Nuremberga);

(iii) Importância da criação da ONU e da DUDH de 1948: Os direitos humanos


passaram a ser normas imperativas para todos os Estados (Ius Cogens – Direito
obrigatório e imperativo transnacional).

Por Exemplo: Apartheid (1970) – Direitos fundamentais comuns a todos os Estados


(Ius consititucionale comune), simultaneamente a limitação dos Estados, mas também
a garantia de proteção individual maior.

Não há uma “Constituição Europeia”, mas há o Tratado de Lisboa, a Convenção de


Viena, outros acordos e a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Intervenção das Nações Unidas: o Ius Cogens

Carta das Nações Unidas de 1945→ Significou o reconhecimento de normas e de


direitos fundamentais que estão acima de qualquer Estado. Correspondem a um
direito universal e imperativo onde advém a DUDH. O constitucionalismo transnacional
é constituído por normas sobre direitos fundamentais comuns a todos os Estados (Ius
comunes constitucionale).

A universalização dos direitos humanos e direitos fundamentais foi objeto de


intervenção em diversas convenções. O Ius cogens é então o direito internacional
público. A Carta das NU veio a reafirmar a dignidade e o valor da pessoa humana; a
igualdade de direitos no trabalho/saúde/segurança social/educação, mas também a
defesa da igualdade de direitos entre sexos, raças e religiões.

Constitucionalismo Transacional (365-370)

A sua amplitude vai dar a uma redução do espaço de liberdade dos Estados, na matéria
constitucional.
Domínio reservado dos Estados→ Presente na Carta das Nações Unidas. Quanto
maior são as matérias que passam para a esfera internacional, menor é a de cada
Estado.

As normas de ius cogens têm imperatividade própria e autónoma, vinculando todos os


Estados, independentemente da sua vontade.

Mecanismos Internacionais da Tutela (374-376)

Há tribunais internacionais para a defesa dos direitos humanos. A violação dos direitos
humanos faz soar o alerta em toda a comunidade internacional, que em caso de não
cumprimento pode resultar em sanções. Por exemplo: nos anos 70 do sec. XX, a África
do Sul tinha um ideal que consistia na discriminação de raças. Este incumprimento de
DH, originou a sua proibição na participação dos jogos olímpicos.

 Dois fenómenos na base da proteção internacional dos direitos humanos: -


nem sempre há tutela das convenções internacionais tem um carater
jurisdicional (a sujeição dos estados a um tribunal internacional depende da
vontade do estado)

- Quanto mais as matérias sobre direitos humanos estão internacionalizadas, menor é


o domínio reservado dos estados.

Século XX: A idade dos direitos? - “O século XX é o século das grandes preocupações
de Direitos Humanos ou das grandes violações dos Direitos Humanos?”

1-Estados com grande desenvolvimento e com grande atraso tecnológico, em extrema


pobreza;

2- Consciência dos direitos e banalização da violência resultante de uma indiferença


perante o valor da vida, em que o problema em um país é conhecido por todos, ao seu
lado há uma banalização da violência;

3- Vivemos numa sociedade onde os direitos dos animais e do ambiente têm mais
valor do que a vida humana. Os maus-tratos aos animais é um crime, já o abandono de
idosos não é crime;

4- Estado zorro que tira aos ricos para dar aos pobres, em nome da justiça social, mas
que por outro lado há um eclipse da vida humana mais velha.

As coordenadas contemporâneas da tutela da pessoa humana- Grande desafios que a


tutela humana hoje convoca:
1- Liberdade

2- Democracia

3- Justiça Social

4- Crise da cláusula do bem-estar

1. Liberdade: -> Concessões existencialistas do ser humano concreto e individual.

Cada ser humano é uma realidade abstrata e também concreta ao mesmo tempo. O
pensamento existencialista vai desenvolver esta concessão da interioridade do ser
humano, algo que lhe é inerente. Durante o século XIX, foi então desenvolvido o
pensamento existencialista.

Há o retomar deste pensamento, subdividido em 2 grupos, defensores do:

- Existencialismo Ateu- Como Jean Bodin e Sartre, que defendem que não há
dignidade sem liberdade. Importância ligada à liberdade: Não há liberdade sem
dignidade. Nem dignidade sem liberdade.

- Existencialismo Cristão- Como Maritain, Karl Jaspers e Kierkegaard. O pensamento


cristão centra-se na ligação entre o poder e a pessoa. O Estado está subordinado à
pessoa, em segundo lugar vem sublinhar que o Estado existe ao serviço do ser
humano, e não ao contrário. O ser humano não pode ser transformado em objeto, em
prol do Estado.

-> Karl Jaspers: Relativização das certezas, nenhum de nós pode ter certezas absolutas,
daí surge a tolerância para com os outros. Aceitar as certezas relativas dos outros.

-> Kierkegaard: Reflexão sobre o ser humano e o seu sentimento, sofrimento e


individualidade. O ser humano não é uma realidade abstrata, o que importa é cada
indivíduo, único, vivo e concreto.

2. Democracia:

-> Raymond Aron: A democracia prossupõe pluralismo, sem ele, não há democracia.
Representa a essência da democracia do ocidente, afirmando que esta se baseia no
pluralismo e na salvaguarda dos direitos das pessoas. O Estado existe como papel
social.
-> John Rawls: A democracia prossupõe pluralidade e relativismo: A ideia de respeito
mútuo.

A ideia de concessão de sobreposição: ter de aceitar opiniões contrárias, porque


nenhuma delas é absoluta. Põe as questões:

- Há ou não uma hierarquia de valores? Se houver, a concessão de sobreposição só


termina quando esta começa.

- Todos os valores são iguais? Se não, terão relevância uns sobre outros. É possível
afirmar, que para Rawls, todos os direitos têm de ser respeitados, mas nem todos têm
o mesmo valor: Vida > Legalidade.

-> Karl Popper: O elemento central da democracia é um pluralismo critico e a


tolerância, uma sociedade aberta. Tudo é discutível, podemos sempre aspirar por mais
e melhor, mas a verdade é sempre relativa. Não há verdades absolutas e irrefutáveis.

A verdade é então subjetiva, porque pode originar uma outra verdade distinta.
Paradoxo da tolerância→ Perante os que são intolerantes, como é que os devemos
tratar? Com tolerância ou sem? Por exemplo: Terroristas e extremistas.

->Habermas: A democracia é um processo, não tem a ver com a substância de valores.


Não se baseia em o que é que defende, mas sim como o defende. A democracia
prossupõe racionalidade de argumentos, igualdade entre os intervenientes, e
prossupõe a maioria como critério de decisão. Há uma dimensão processual da
democracia.

Problema: Estas concessões levam a uma democracia falsa, onde os valores são
desvalorizados. Porquê? Porque admite como democrático qualquer conteúdo de
decisão da maioria, mesmo que seja inconstitucional.

->Zagrebelsky: A democracia é por natureza um regime de perecibilidade decisória. O


conceito de democracia critica. Na democracia não há certezas, uma nova maioria
tende a mudar o que uma antiga maioria pode decidir.

É critica das concessões antigas, a lei nova revoga a lei antiga. A lei é uma expressão
de um novo querer, de um novo ideal decisório.

Exemplo: Sucessão Paços Coelho para António Costa (privatização da TAP).


- Notabilidade intencional→ Perecibilidade.

- Olhar para dentro dos valores da democracia→ Democracia humana. É uma


democracia que chega a duas conclusões:

1. Os direitos humanos são a essência e alicerce da democracia. Primeiro a dignidade


humana depois a soberania popular. - Conforme está no artigo 1º da CRP

2. A democracia tem como limite o ser humano, que é simultaneamente o alicerce e o


limite da democracia. Aplicar pela força a democracia, caso seja necessário. O princípio
democrático: Só podem ser membros da UE, estados que sejam democráticos.

3. Justiça Social:

Em termos jurídicos: a constituição francesa de 1793. A importância dos valores


judaico-cristãos – cada um de nós é guarda de si mesmo, e do próximo. A doutrina
social da igreja desde o final do séc. XIX sublinha a importância da justiça social, da
relevância da pessoa e da pessoa não apenas nos seus direitos de liberdade, mas
também condigna.

Debate ideológico: Perante a desigualdade social, o que deve o Estado fazer? - Crítica
Liberal e Neoliberal: Quanto maior for a intervenção do estado (Critica do estado
zorro), maior é o confisco, e que é através do sistema de impostos, que a riqueza pode
ser conduzida a um estrangulamento.

- A outra visão: Se não houver preocupações de redistribuição de riqueza pelo Estado


por meio dos impostos, haverá desigualdade social, logo não há dignidade humana.
Tornando-se assim um conflito social. Novos modelos de instabilidade. Sem esta
redistribuição, o conflito é automaticamente instalado.

Para este debate, há dois autores do EUA que proferem conceções diferentes:

-> John Rawls (Social-democrata): Estado providência, a justiça está no momento dos
resultados, em repartir a riqueza (“Estado zorro”), fazer com que aqueles que mais
têm possam contribuir para o nível mínimo de existência para os que menos têm→
Estado intervencionista social;

->Robert Nozick (Republicano): O importante não é a igualdade nos resultados, o


importante é a igualdade à partida. Exemplo: Avaliação superior, com o mesmo ensino.

A resolução do tema da justiça social, é a combinação de ambas as concessões


extremas referidas acima.
4. Crise da cláusula constitucional do bem-estar: Finais do Século XX

É motivada por excesso de intervencionismo do Estado, aumento da administração


pública e aumento dos custos financeiros por parte desta. A crescente reivindicação
social de melhor estado é menos estado. O híper intervencionismo do Estado levou a
que se passasse de um estado de bem-estar para um estado de mau estar. O problema
que se coloca é duplo:

• Excesso de Estado de bem-estar e crise financeira: A pandemia e a crise de 2008


reforçaram o problema social. A pandemia veio colocar a necessidade de o Estado ter
um papel mais presente: Mais custos, mais endividamento. Não é apenas a crise das
pessoas envolvidas, é a crise no âmbito das famílias e das empresas: Todos os agentes
económicos. A visão do seculo XX – Hoje há claramente perigos que espreitam o ser
humano e a sua tutela constitucional:

1. A radicalização religiosa e/ou laica, a ausência de valores religiosos que são a base
da democracia.

2. O relativismo, tudo é igual, não há hierarquia de valores.

3. A ideia de uma liberdade sem limites. Respeito pela liberdade dos outros, eu próprio
tenho limites à minha liberdade. A liberdade de um, acaba na liberdade do outro. A
crise pandémica veio reforçar que a liberdade tem limites, um deles é o da coletividade
ser superior.

4. Risco de uma democracia sem valores. Não pode existir esta neutralidade, porque é
um risco de a democracia ser capturada pelo totalitarismo.

A democracia está limitada pela liberdade e dignidade humana.

O Estado de Direitos Humanos

O que é o Estado de Direitos humanos?

É o Estado que se baseia numa concessão assente nos valores judaico-cristãos. Ao


assentar nestes valores, significa a importância da liberdade e da dignidade da pessoa
humana, a ideia de que o poder tem limites. Assenta ainda no pensamento de Kant, e
na filosofia de uma concessão existencialista. Não interessa o todo dos seres humanos
como uma realidade abstrata, mas sim como ser vivo concreto. Cada um de nós tem
uma pluralidade de dimensões que se resume em 3 ideias:

• Cada um de nós é um individuo;


• Cada um de nós pertence à coletividade;

• Cada um de nós é parte da humanidade;

Não podemos renunciar o estatuto de pessoa. Todos nós temos direitos irrenunciáveis
e absolutos: A vida e a propriedade. Direitos sociais: Saúde, educação e trabalho, por
exemplo.

“O ser humano é um animal social” – Aristóteles.

-> Indivíduo: Titular de direitos fundamentais e inalienáveis. Existem direitos pessoais


de natureza universal: vida, liberdade, dignidade, reserva da intimidade da vida
privada, propriedade privada e direito a ter família. Quanto aos direitos sociais: saúde,
segurança social, educação, habitação, trabalho, acesso à cultura, alimentação e
vestuário. O homem é um animal social, significa que a pessoa é parte da sociedade,
em duas óticas diferentes:

-> Membro da coletividade: Somos seres sociais pertencentes à coletividade. Se


vivêssemos individualmente, não haveria Direito. Logo, onde há Direito, há sociedade.
Em 2 termos:

❖ A ideia de nação → O substrato cultural e espiritual.

É o que está na base da fundamentação de um Estado, a consciência nacional: Um


Estado é o resultado de uma nação. Existem Estados com uma pluralidade de nações,
pela existência de diferentes povos (Espanha – Catalunha/País Basco).

A nação é a fonte de soluções jurídicas- Normativas como apelo à consciência e


tradição nacional: A ideia de espírito do povo, com relevância político-constitucional.
Relacionada com a escola histórica do Direito → Resultado de um processo histórico
do espírito do povo. A ideia da democracia alicerçada no querer da nação. Expressa-se
em diversas constituições, como é o caso da constituição britânica, alicerçada no
costume e na tradição- Pluralidade de nações do Reino Unido).

O que é mais democrático? O querer da nação ou o querer do povo enquanto vontade


política expressa pelos deputados?

A pessoa não só se insere na nação da atualidade, pode também se inserir através do


seu passado intergeracional. Não há estado sem povo, mas há povo sem Estado. O
povo é um conjunto de pessoas que têm um vínculo jurídico com o Estado: Cidadania.
A expressão da nação:

1. Dimensão do conceito do direito civil, de bons costumes;

2. Existência de feriados religiosos apesar de sermos um estado laico devido à


dimensão cultural católica da Nação;

3. Dia de descanso ao domingo – conotação religiosa.


Pode a nação criar normas costumeiras contrárias à constituição?

Positivistas – Não podem, o costume contrário à constituição é sempre uma norma


inconstitucional.

Não positivistas – É possível, o costume contrário à constituição escrita impede a


aplicação do princípio constitucional escrito.

 A ideia de povo → Conceito de Cidadão→ Vínculo de cidadania com o Estado


português.

 Estrangeiro → Cidadania com outro Estado, que não o português.

 Apátrida→ Não tem qualquer tipo de cidadania/vinculo.

1. A cidadania é um direito fundamental que tem consagração na constituição


portuguesa e na declaração universal dos direitos do homem;

2. A história resume-se na perspetiva da cidadania a uma progressão da pessoa


independentemente da cidadania → Nós somos pessoas com esses mesmos direitos
independentemente a que Estado pertencemos;

3. A cidadania é um pressuposto da participação política;

A pessoa como parte da humanidade

A humanidade é uma realidade jurídica, é um espaço de direitos e deveres. Na


assistência humanitária em caso de desastres naturais; Na ideia de conflito armado: A
carta das NU, pode permitir um ataque para cessar uma guerra injusta; No caso dos
crimes à humanidade, intervém também: Como foi o caso do nazismo; Estes são
alguns dos casos onde se prevê interajuda humana. Há fraternidade e solidariedade
entre Estados, num contexto humanitário.

O conceito de humanidade tem diversas manifestações:

Ideia de património da humanidade→ Cuja titularidade pertence a todos: Lua;

Humanização dos conflitos armados→ Tentativa de se regular juridicamente os


conflitos;

Assistência humanitária→ Situações de catástrofe natural (Assistência de outros


Estados);
Ideia de conflito armado humanitário→ Intervenção das NU (Por exemplo- Em casos
de ofensa grave aos direitos humanos);

Crimes contra a humanidade→ Certas condutas que são inadmissíveis


independentemente a que Estado se referem (Nazismo no século XX).

Estado de direitos humanos: É mais exigente do que o Estado de direitos


fundamentais, porque alicerça-se no respeito pela dignidade humana. Porquê?

1. Há um enfraquecimento dos direitos fundamentais, por ser tão alargado que se


questiona quais são de facto importantes para a sociedade. O EDH, centra- se no que
importa. Atualmente, entrega-se os direitos fundamentais às coletividades, em
contraste com os direitos humanos.

2. Hoje, existem direitos despersonalizados, como é o caso do direito ao ambiente. São


interesses difusos que foram elevados a direitos fundamentais, mas não se focam em
um individuo em específico.

3. Atualmente, tentam-se criar direitos fundamentais contrários à dignidade humana:


Como por exemplo: O direito à prostituição ou a legalização da pedofilia.

4. Através da clausula aberta, a lei tem direitos fundamentais, mas existem outros fora
da constituição. A lei pode criar direitos que vão de encontro a alguns que estão
escritos na constituição.

Responsabilidade em matéria de direitos fundamentais:

Os direitos fundamentais envolvem sempre tarefas fundamentais para o Estado, ou


seja, todo o direito fundamental impõe obrigações ao Estado: segurança, prestação
social, proteção perante terceiros, existência de um sistema de justiça (Tribunais). O
Estado deve ser contra a discriminação.

Direitos fundamentais exigem deveres fundamentais. Não há direitos sem deveres,


que significam a fase oculta destes. Os direitos são o pressuposto da atuação do
Estado. A dignidade humana não é só fonte de Direito, mas também de deveres. Estes
são a horizontalização dos Direitos Fundamentais – não é só o Estado (vertical) que
tem de respeitar.

Todos os direitos fundamentais têm custos. O direito à segurança exige que exista um
sistema de segurança, o mesmo acontece com a justiça, a educação e a saúde.

Estado de direitos humanos→ Envolve então 6 ideias:


1. Estado de direitos humanos é o modelo de sociedade alicerça dono respeito pela
dignidade pela pessoa humana:

A dignidade humana é um contributo do pensamento judaico-cristão e do pensamento


Kantiano: O existencialismo. O ser humano é sempre um fim em si mesmo, nunca é um
meio. Cada ser humano é individualmente consagrado.

O respeito pelo ser humano não é uma dádiva do poder, é o ser humano que se impõe
ao poder como uma realidade superior e anterior. Todos temos a mesma dignidade,
esta não varia consoante as pessoas, mas quem não tem compreensão e consciência
deveria ter ainda mais dignidade. A dignidade prolonga-se para além da morte, é
irrenunciável e inaliável, mesmo que admita uma decisão voluntária e consciente.
Exige respeito e proteção da vida e da integridade física. A dignidade pressupõe uma
concessão de liberdade e igual participação política: 1 homem = 1 voto.

Não existe dignidade sem liberdade. Existência convicta: Não basta existir para ter
dignidade. A dignidade exige um espaço próprio, imune a intervenção do Estado,
impondo segurança, pois o Estado também o faz para manter justiça social. Não deve
nunca existir um Estado totalitário. Um primado do ser sobre o ter, porque as pessoas
têm mais valor do que as coisas. A dignidade humana é um princípio, um valor, um dos
primeiros da Constituição: Envolve uma obrigação geral de respeito. A minha
dignidade tem o limite da dignidade dos outros. A dignidade humana é a base de todos
os direitos humanos.

2. Função constitucional da dignidade:

Síntese da consciência jurídica universal. Primeiro princípio do ordenamento jurídico


de valor absoluto, é uma obrigação geral de respeito, que se projeta sobre todo o
ordenamento jurídico. Tem 3 dimensões essenciais:

Dimensão vertical→ Relação da pessoa perante o Estado. Cria uma obrigação do


Estado não só de defender/proteger, mas também garantir a dignidade;

Dimensão horizontal→ Projeção da dignidade da pessoa sobre todos;

Dimensão autorreferencial/diagonal→ Não podemos alienar nossa a própria


dignidade. A dignidade é uma vinculação universal? Sim. É então uma vinculação
temporal de sentido da história.

Direitos e deveres da dignidade humana: Pessoais, sociais e políticos.

3. A garantia e a defesa da cultura da vida:

A inviabilidade da vida humana – Legitima defesa é uma exceção;


A defesa da vida prossupõe livre desenvolvimento da personalidade, com momentos
de maturidade diferentes. Exemplo: Podem ou não os pais proibir tatuagens nos
filhos ou a mudança de sexo? Até que ponto é que os pais podem impor concessões
ideológicas como a religião?

Vinculação termológica da investigação científica e tecnologia devem estar ao


serviço da pessoa humana, nunca entrando em confronto. Caso contrário, é ilícito
(Experiências humanas como cobaias);

O princípio da solidariedade do Antigo Testamento. A ordem jurídica deve preferir a


inseminação artificial à adoção? A adoção é solidariedade.

4. A vinculação internacional à tutela dos direitos fundamentais:

Princípio da solidariedade – As matérias sobre direitos fundamentais/humanos não


são uma questão exclusiva do Estado. São questões que têm a ver com toda a
dignidade natural → Internacionalização da tutela dos DF:

 O reconhecimento do valor hétero-vinculativo e do direito internacional (Ius


Cogens);

 A constituição internacional tem primado sobre as constituições do Estados,


que estão subordinadas, assim como o Estado face a jurisdição internacional;

 Há tribunais específicos que podem julgar as pessoas responsáveis por crimes


contra a humanidade;

Normas constitucionais sobre direitos fundamentais têm uma eficácia reforçada.


Mais fundamentais que as restantes normas:

A eficácia reforçada nas normas constitucionais → Exemplos (4):

1) As normas são dotadas de aplicabilidade direta: Normas sobre direitos


fundamentais aplicam-se na ausência de lei ou contra lei expressa. Artigo 17º
da CRP em conjugação com o artigo 18º Nº1.

2) As normas do direito fundamental vinculam entidades públicas e privadas.

3) O princípio da interpretação conduz à máxima efetividade de uma norma.

4) A relevância que tem em matérias nucleares, a designada proibição do


retrocesso da proteção jus fundamental. - Por exemplo: Se uma pensão é de
100, não é possível arbitrariamente que passe para um valor inferior – Este
conceito visa evitar a deliberação arbitrária.

5. A existência de um poder político democrático:

- Assenta em democracia humana, uma democracia empenhada numa ordem de


valores, ao serviço da pessoa humana, com a existência de pressupostos funcionais.

6. A existência de uma ordem jurídica axiologicamente justa:

- A ordem de valores justa, que naturalmente pressupõe garantias a favor da justiça: O


recurso às estruturas do Estado para garanti-la (tribunais).

O modelo perfeito de um Estado de direitos humanos, reúne estas 6 características.


Se não existirem os dois primeiros requisitos, não existe Estado de direitos humanos.
Um Estado que consagra a pena de morte, nunca será um Estado de direitos
humanos.

Respeito pela dignidade da pessoa humana e garantia de defesa: Sem estes não há
estado de direitos humanos.

Aula Nº7

Principais desafios ao Estado de direitos humanos: Perigos com que o estado de


Direitos Humanos se confronta, no século XXI-

1. Reconhecer a sobrevivência de movimentos totalitários na democracia, que


não está isenta do perigo do totalitarismo. Este vírus é o mesmo que o de uma
pandemia, pensamos que pode estar neutralizado, mas pode sempre voltar.
Desenvolvimento de uma cultura da morte; Risco de retrocesso histórico na
garantia da vida

2. A existência de uma cultura de morte: Há um eclipse do valor da vida e da sua


inviolabilidade. A realidade do ser humano é uma realidade antes do ganho da
personalidade jurídica (Nascimento) e o Estado deve garantir e nunca atentar
os direitos humanos. Somos pessoas não pela constituição, mas por termos
adquirido com o nosso nascimento.

3. A divinização do princípio maioritário: A maioria é um puro critério


matemático para resolver questões de menos importância. O essencial escapa
ao princípio maioritário→ Artigo 1º da CRP: Dignidade humana e soberania
popular. Ideia de que a maioria tem sempre razão leva a conceções de
positivismo legalista - Conceção do Direito que diz que só é Direito o que está
na lei escrita. Sabe-se que há mais Direito do que apenas a lei escrita. Por
exemplo- Será que o genocídio nazi seria legítimo se tivesse sido referenciado?

4. Uma desorientação de um progresso tecnológico e científico: Só faz sentido


que seja a favor do Homem, nunca contra o mesmo. Até que ponto é que
alguns desenvolvimentos estão eticamente cegos? Ditadura da ciência e da
técnica, fazendo que apenas seja válido aquilo que a ciência e a técnica nos
transmite. Há, por vezes, uma cegueira ética na utilização da ciência e da
técnica. Por exemplo- Biomedicina; Ideia de que haverá uma total
disponibilidade do corpo (Por exemplo- Venda de órgãos)

5. Modelo de sociedade de vigilância total: Todos nós somos suspeitos de fazer


ou ter feito algo de errado. Perseverança da segurança em prol da liberdade,
pois com o 11 de setembro, foi aumentada a vigilância, o que evitou vários
atentados, contudo, criou uma entidade omnipresente. Há hoje uma
prevalência do valor da segurança, que torna atual Hobbes, e que transforma o
modelo de George Orwell.

6. A perversão do modelo de sociedade de informação: É agravado em situações


de globalização: Risco de instrumentalização das pessoas, através dos meios de
comunicação social. Será legitimo dispor da nossa privacidade? (Por exemplo-
Participar num Big Brother). Hoje temos excesso de informação, e este não é
apenas a globalização dos assuntos. Estamos sujeitos à manipulação da
informação.

7. A intolerância: É uma característica da história. Um Estado alicerçado na


democracia romana, deve tratar sempre com tolerância, mesmo aqueles que
são incoerentes. Não se deve responder da mesma maneira, quando atacados
(Por exemplo: Racismo e xenofobia). A intolerância religiosa, que tanto é o
fanatismo de quem a tem, como o fanatismo ateu, são exemplos vivos disto
mesmo. Por último, a intolerância política que conduz ao terrorismo. É um
traço caracterizador da humanidade. Há um esforço que cada um de nós faz
todos os dias para não ser intolerante.

1- Intolerância Social - Manifestada através do racismo e pela xenofobia

2- Intolerância Religiosa - Querer impor a sua conceção de Deus ou ausência


de Deus

3- Intolerância Política - No caso o terrorismo

A intolerância é hoje um dos grandes desafios ao Estado dos Direitos Humanos. A


pergunta que se faz é "Como é que uma sociedade justa quer tratar os intolerantes?"

- Devemos ser tolerantes para os intolerantes, exceto se os intolerantes pretenderem


destruir pela força a sociedade.

Assim o Estado de Direitos Humanos não está completamente adquirido.

Isto permite colocar a última questão: Será que hoje ainda se vive estes desafios e
perigos? Nós hoje estamos numa encruzilhada, não apenas no presente, mas também
no futuro.

Será que a democracia ainda é um governo do povo, para o povo?

Termina aqui a matéria da pessoa humana, assim como o volume I do manual de


Instituições Políticas e Constitucionais do professor regente Paulo Otero.

O que é o poder Político?

O que é o poder? O poder é por definição uma disponibilidade de meios para se


alcançar um determinado fim. O poder tem sempre uma definição unilateral e
imperativa. Uma imposição unilateral de um comportamento, de uma conduta ou
fiscalização.
O poder envolve duas realidades:

Autoridade e dever de obediência (que é uma consequência da autoridade). Não há


poder sem autoridade, e não há autoridade sem a possibilidade de poder- Imposição e
unilateral: PODER. Envolve sempre um exercício de uma autoridade. A autoridade
exige do outro lado um direito de acatamento e de obediência. Exercício de
autoridade e um exercício de obediência. Não há poder sem autoridade, nem há
autoridade sem a possibilidade de imposição de um comportamento. Quando não há
obediência a autoridade fica enfraquecida e o poder pode deixar de ser poder, pois é
minado e destruído pela desobediência.

Que tipos de poder existem?

Poder expresso- Visível, sabe-se que existe, transparente.

Poder oculto- Invisível, pode estar por detrás do poder expresso, manipulando.

Exercício de Poder- O poder pode ser ainda:

Pode ser formal- É regulado pelo Direito, obedece a uma forma (Poder do Presidente
da República, dos tribunais porque resulta da constituição)

Pode ser informal- Não está regulado pelo direito, surge de modo factual, é assente na
prática e no uso, não é um poder de natureza jurídica. Por exemplo: Agências de
Rating

Assim uma revolução é a base de todo o Direito Constitucional, esta é uma fonte de
poder factual e informal, genésico do constitucionalismo, mas é geradora de uma
nova axiologia constitucional. Pode ser factual, que não resulta do Direito, resulta
dos factos.

Sete áreas do Poder:

1- Poder Político;

2- Poder Económico – Condiciona o poder político;

3- Poder Militar – A violência organizada

4- Poder Religioso – Confusão do poder político e religioso (res publica christiana);


5- Poder Informativo – A informação é um dos grandes novos poderes. Quem tem a
informação controla a decisão – É especialmente apetecível pelo poder político e
também pelo poder económico;

6- Poder Científico/Tecnológico – As decisões são condicionadas pelas opções


científicas e tecnológicas;

7- Poder Interprivados – Poder do país em matéria de educação dos filhos menores,


relação laboral entre a entidade empregadora e os trabalhadores. Poder dos pais
sobre filhos, entidade patronal, entre outros

O que é o poder político? - É uma atividade humana que tem como objetivo e
propósito a conquista, a manutenção e o exercício do poder político.

Ao poder político compete a definição das opções essenciais da coletividade. Numa


sociedade podem-se colocar 3 grandes questões:

1- Quais os objetivos da existência de uma sociedade?

2- Quais são as soluções e os meios para atingir a convivência?

3- Quem define os objetivos e os meios para os atingir pela comunidade?

A questão de saber quem é o sujeito que define os objetivos e meios de uma


sociedade está na sociedade organizada, nem todos podem decidir.

Qual o processo que deve ser adotado para escolher quem vai tomar essas decisões,
seguindo a vontade da maioria?

É o respeito da minoria pela vontade da maioria que é decisivo para a estabilidade e


concretização da maioria. O respeito plasma-se na obediência e a constituição é a
expressão jurídica deste equilíbrio.

Grandes questões do poder político:

1- Quais os problemas históricos do poder político?

 Origem do poder político;


 Fins do poder político;
 Limitação do poder;
 Legitimidade dos titulares do poder político.

Conceção teológica: Todo o poder vem de Deus ou do Diabo. O poder é o fundamento


divino ou diabólico

Conceção democrática: O poder vem do povo, enquanto coletividade, enquanto


soberania popular (Pensamento de Rousseau); Ou vem da nação enquanto realidade
abstrata, realidade cultural, realidade que se projeta no tempo de forma
intergeracional – Soberania nacional; Existiram duas vertentes: A soberania é a
soberania da nação; A soberania é a soberania do povo, e não da nação.

Conceção de mediação: O poder é divino, mas por consentimento do povo; O poder


radica em Deus por mediação do Papa.

Conceções sociológicas.

2- Quais são os fins do poder político?

Nunca se podem identificar com os interesses do titular do poder.

-> O bem comum e o bem público são o fim do poder político. Podemos ter uma
conceção do bem comum numa vertente personalista, a pessoa humana é o centro
justificativo do poder político e a razão de ser do poder comum ou a conceção
transpersonalista (Hegel) – mais importante o Estado do que a pessoa.

3- Como é possível delimitar o poder político?

1- Anarquia: Não é possível delimitar o poder político, pois este deve ser abolido;

2- Conceções: Que delimitam o poder, pois reconhecem a sua necessidade:

(i) Conflito permanente entre Direito e os factos. O Direito quer sempre condicionar e
regular os factos. Mas muitas vezes os factos não se deixam regular pelo Direito.
Acontece que os factos produzem juridicidade – As normas jurídicas escritas podem
perder efetividade, são normas desvitalizadas. Por vezes, a norma escrita é substituída
por uma norma não escrita. Nesse momento, o facto deixa de ser facto e passa a ser
Direito – Todo o DC é uma permanente luta entre os factos e o direito;

(ii) Qual o melhor poder? Governo das leis ou dos homens – O melhor poder é sempre
o poder delimitado pelo Direito:
 O poder faz as normas e submete-se às suas próprias normas. Está
autolimitado – Estado de direito formal;
 Também está limitado por direito superior ao do estado, emanado por outras
instituições – Estado de direito material (Por exemplo- DUDH, Ius cogens) –
está auto e heterolimitado.

(iii) Separação e divisão de poderes (Montesquieu). O poder é limitado pelo Direito.


A constituição é a mais importante limitação do poder (Pensamento de Montesquieu
- O poder só é limitado se for dividido). O poder é limitado pelos factos e os direitos
humanos sendo um limite ao exercício do poder.

4- Legitimidade do poder.

Não basta o poder sem conquistado de forma legítima, é necessário que seja
exercido também de forma legítima. Legitimidade quanto ao título ou quanto à forma,
conquistada pelo:

 Poder carismático;
 Poder de base tradicional;
 Poder racional: Sempre um fenómeno jurídico captado pelo Direito.

Como é que se pode regular o poder político?

 Pode ser feita por normas escritas ou por normas não escritas. Nem todo o
direito é direito escrito - Normas morais, éticas/trato social. Há uma
normatividade descrita que regula o poder, mas também há uma não escrita,
pois nem todo o direito é escrito. A maior parte da constituição britânica é uma
constituição não escrita.

 Normatividade oficial associada à normatividade não oficial. A normatividade


não oficial vai contra a normatividade oficial (contra legem). As normas não
oficiais não serão normas inválidas e têm a função de substituir/modificar as
normas escritas. Há também normas não jurídicas que regulam o poder, não
apenas as normas jurídicas que regulam o poder, por exemplo normas técnico-
científicas, de natureza ética/morais ou normas de trato social

 Pode ser regulado por factos (precedentes); A factualidade, dos factos pode
regular o poder o poder político, os factos podem indiciar e podem tornar-se
pautas normativas, critérios normativos

Por exemplo- Figura do precedente - Uma determinada situação factual foi resolvida
de certo modo. Amanhã uma situação factual idêntica deverá ser resolvida do mesmo
modo, em nome dos princípios da igualdade e da segurança; Factos reiterados,
repetidos podem ganharem convicções de obrigatoriedade e tornam-se costumes

Outras duas ideias complexas- Ideia da conflitualidade- Tensão permanente entre


normas oficiais e não oficiais

Normatividade oficial- É aquela que é publicada, corresponde ao Direito escrito

Normatividade não oficial- Corresponde ao Direito não oficial

Formas de como é disciplinado o poder político, existem 3 hipóteses:

 As normas não oficiais servem as normas oficiais


 O costume no carácter da Constituição, o costume completa a norma escrita da
Constituição
 As normas não oficiais, o costume contraria a norma escrita da constituição
(Costume contra legem). Por exemplo- constituição de 1976, falava em
transição para o socialismo, criação de uma sociedade sem classes e Portugal
aderiu à CEE- Não implementou o princípio da constituição

Aula Nº11

Todos os países têm ao lado de uma constituição oficial (escrita) e não oficial (não
escrita), este é o grande problema do Direito Constitucional

Forma de poder político na expressão de comunidade internacional- Por exemplo a


forma de poder político das nações unidas

Forma de poder político na expressão no âmbito de fenómenos e integração


supranacional- Por exemplo a forma de poder político da união europeia

Forma de poder político na expressão no Estado- Plano interno, fonte do poder


político

Estado: O que é o Estado? – O Estado: É uma associação formada por um povo,


dotado de um poder político original e fixado em um determinado território.

O Estado e suas conceções:


O Estado como autor e protagonista no programa internacional- É visto como
entidade soberana como sujeito de direito internacional público- Exemplos- Turquia,
Rússia, EUA

O Estado como protagonista de um poder constituinte e visto como coletividade- É


uma realidade que agrupa um povo, um território e um poder político-> Conceito de
Estado constitucional; É edificado como sujeito do poder constitucional

O Estado como sujeito/pessoa/entidade administrativa coletiva- Há uma oposição a


regimes como as regiões autónomas e universidades por exemplo; Estado é uma
pessoa coletiva do direito publico/direito administrativo

A evolução dos modelos de estado- Ponto de referência- Revoluções liberais

Existem quatro tipos de estado:

 Estado pré liberal


 Estado liberal
 Estado antiliberal
 Estado pós liberal

Estado pré liberal- Existiram dois grandes períodos patentes do Estado pré liberal

Períodos relevantes para a formação do Estado pré liberal- Estados anteriores ao


conceito de soberania e estados posteriores à influência de Jean Bordin, este identifica
a soberania como critério de identidade do Estado moderno

Soberania- Significa que dentro do Estado não há poder superior ao próprio Estado.
Fora do Estado não poder superior a este

Quatro principais modelos de Estado anteriores ao século XV

Modelo oriental- Do 3 ao 1 milénio antes de Cristo, existiram o Egito antigo, as


civilizações da mesopotâmia. São estados de unidade entre poder civil e poder
religioso, de ampla dimensão territorial, onde estado concentra o poder em si de
forma absoluta

Modelo de estado grego- Vai do século XI ao século III antes de Cristo- Cidades-
estado/Pólis com reduzida dimensão territorial, é onde o conceito de democracia
nasce assim como as grandes coordenadas do discurso político e ideias de igualdade.
Surge as primeiras conceções filosóficas a propósito do poder político.
Modelo de estado romano- Vai do século II antes de cristo até ao século IV, começa
apenas na cidade Roma e mais tarde transforma-se num império. É neste período que
surge a distinção entre Direito Público e Direito Privado. Surgem também algumas das
principais instituições políticas modernas como a organização militar e exercício
individual e coletivo do poder. Está aqui a génese da ordem de valores judaico-cristãos.

Modelo de estado medieval/corporativo- Vai do século V até ao século XIV- Coloca


questões como: Haveria Estado? Porquê? – Há uma fragmentação do poder político
disperso à luz do modelo liberal, está presente assim uma sociedade estratificada e
hierarquizada em grupos sociais, com uma reduzida dimensão territorial apesar dos
impérios existentes. Confronta-se com o renascimento, com a abertura económica e
com a existência de corporações e organização.

Surge então a ideia de soberania por Jean Bordin- Centralidade do estado

Estado renascentista ou barroco- (Século XV a XVII) Principais características-

Intervencionismo económico- Há uma intervenção por parte do Estado no plano


económico expressa através dos monopólios da coroa e do mercantilismo

Expansão ultramarina- Leva a problemas políticos a dois principais problemas


políticos: Como governar? Qual a estrutura administrativa para governar os novos
territórios? (No caso do poder político fora do território europeu). Qual o direito que
deve reger estas novas povoações? Duas principais conceções:

 Defende-se a regência dos próprios povos (Proteção do próprio Direito)


 Deve-se submeter ao direito do estado da metrópole, ou seja, as leis têm de ser
aplicadas também aos territórios do ultramar

Conceção jurisdicional do poder – O rei é o garante da justiça- Pensamento de Santo


Agostinho- É o pensamento que vai influenciar o estado medieval e vai entender que
todo o poder se resume à garantia da justiça- Renascer do direito romano,
recuperação da autoridade do rei dentro das estruturas políticas. Este recuperar
alterou todo o poder jurisdicional, poder de satisfazer necessidades coletivas,
pertencendo exclusivamente ao rei. Esta ideia preparou ideologicamente o estado
para iluminismo

Estado iluminista/absolutista (Século XVIII e parte do século XIX) - Principais


características-

 Centralização do poder no rei, o Estado é o rei- Frase do rei Luís XIV- “O Estado
sou eu”;
 O rei é titular de poder ilimitado, não só tem poder absoluto como o seu
próprio poder acima da lei, assim é superior a todos os poderes e leis;
 Forte intervenção económica, social e cultural do Estado, (Estado polícia,
omnipresente) sendo assim um Estado intervencionista

É este o modelo antes das revoluções liberais.

Estado liberal- Traz diversas inovações tais como:

1- Princípio da separação de poderes;

2- A supremacia da lei (Esta é a expressão da vontade geral) expressão do pensamento


do Locke, Montesquieu e de Rosseau, é por isso que a lei faz de uma instituição o
centro da vida política, este é o parlamento;

3- Igualdade de todos perante a lei;

4- A importância dos direitos fundamentais;

5- Abstencionismo do estado, menos estado mais liberdade

O Estado liberal tem ao longo da sua história e evolução uma tensão permanente em
termos legitimidade de legitimidade do poder:

1- Legitimidade democrática no parlamento

2- Legitimidade monárquica expressa pelo rei- No caso das monarquias parlamentares-


Grã-Bretanha e Espanha ou qualquer monarquia na europa

Estado antiliberal- A crítica ao liberalismo, existiram dois modelos de estado


antiliberal:

Estado fascista e nazi- Modelos políticos totalitários dentro do contexto da economia


de mercado, vertente antiparlamentar, antidemocrática, supressão das liberdades
individuais;
Estado soviético- Modelo totalitário, após revolução de 1917, tem por base o
pensamento marxista, pratica de Lenine e depois Stalin, tem ainda como pilar a
organização política defendida por Rosseau e a constituição francesa de 1793. Defende
a concentração de poderes, ou seja, é feita a concentração de poder nas delegações de
poder- Sistemas de bonecas russas

Estado pós liberal- Principais duas manifestações

Estado social- Continuidade do modelo liberal, componente nos direitos sociais e no


bem-estar

Estado neoliberal- Vem defender a ideia de menos estado então melhor estado,
redução da intervenção económica do Estado em nome de pressupostos

O estado é objeto de ataques que visam minar a centralidade do estado. Como é que
se observa esta fragmentação?

Fragmentação do Estado- Deve-se a cinco principais fatores:

 Internacionalização de matérias- em especial matérias políticas na ONU e EU;


 Globalização- Impotência do Estado, não soube controlar uma crise financeira
(Crise de 2008) e sanitária (Caso da covid-19);
 Integração europeia- Esta veio demonstrar fenómenos de soberania partilhada
decidir com outros estados determinadas matérias;
 Neofeudalização interna- Há uma pluralidade de poderes dentro do estado há
entidades publicas a baterem o pé ao estado, há uma divisão de poder dentro
do estado no poder intraestadual;
 Novos agentes internacionais não governamentais- Como as agências de
rafting que dão nota à vida pública dos estados, agentes de internet com
domínios da internet os sites PT e BR ou por exemplo órgãos como a UEFA e
FIFA

Elementos do estado- Sem estes elementos não há Estado

Quais são os elementos do Estado?

Elementos materiais do Estado:


Elemento do Povo- Conjunto dos cidadãos. Significa que alguém tem uma relação
jurídica, no caso um vínculo com o Estado. O conceito de povo é diferente do conceito
de população. População: Conjunto de residentes num determinado território.

Diferença entre povo, pátria, nacionalidade e cidadania

Povo- É um conceito jurídico;

Pátria- Relação afetiva, emocional de alguém com o Estado

Nacionalidade- Pessoa coletiva

Cidadania- Pessoa humana

Compete a cada Estado dizer quem são os seus cidadãos existem dois principais
critérios para definir quem é cidadão:

A) Sanguíneo- É português quem é filho de português

B) Território- É português quem nasce em Portugal

Cidadania portuguesa não originária através de:

A) Naturalização

B) Casamento

Como se perde a cidadania portuguesa?

A) Através do ato de vontade.

Nunca pode existir perda de cidadania portuguesa como sanção pela prática de um
ato ilícito, não pode ser uma pena. Esta nunca é irreversível
Situações de pluricidadania? - Quando alguém tem duas ou mais cidadanias.

Como é que devem ser tratados em Portugal?

Artigos 27º e 28º da Lei da Nacionalidade

1- Há dupla cidadania, mas uma delas é Portuguesa: Artigo 27º - Só pode ser tratado
como português

2- Há dupla cidadania, mas nenhuma delas é portuguesa: Artigo 28º - Deve ser tratado
de acordo com o estado em que tem residência habitual. Se não tiver residência em
nenhum país da sua nacionalidade, deve ser tratado como nacional do país com o qual
ele tem uma ligação mais estreita.

Por exemplo- Nasceu em Espanha, sempre viveu em Espanha, mas só recentemente


foi viver para a Suíça, este deve ser tratado como espanhol.

Artigo 15º da CRP - Há direitos que são exclusivos dos Portugueses

Condição Jurídica dos estrangeiros em Portugal: Artigo 15º da CRP

1- Princípio da Equiparação

15º/1 - Os portugueses e os estrangeiros têm os mesmos direitos.

15º/2 - Norma excecional relativamente ao Nº1. Reserva de direitos a favor dos


portugueses: direitos políticos, exercício de funções públicas sem carácter técnico (Por
exemplo: O caso de um diplomata ou militar)

15º/3 - Exceção ao Nº2. Ampliar direitos a estrangeiros. Cidadãos de estados


com língua portuguesa podem ter direitos reservados no Nº2, mas só com
reciprocidade (damos cá se tivermos lá), salvo em exceções.

15º/4 - Amplia exceções em relação a estrangeiras - no âmbito de autarquias


locais, é possível que estrangeiros possam votar e ser eleitos, em condições de
reciprocidade.

Elemento do Território
É um elemento essencial para o exercício pleno do poder do estado. Define quem
são os cidadãos e é no território do Estado que os cidadãos têm pleno uso dos seus
direitos.

1- Reconhecimento internacional de que ali há um Estado.

2- Território é objeto do poder do Estado

3- Limite à autoridade do Estado

Fenómeno da extraterritorialidade - Situação das embaixadas e consulados -


Território da embaixada ou do consulado é pertença do Estado em causa.

As fronteiras de um Estado não são matéria decisória desse Estado, o Estado não pode
dizer quais são as suas fronteiras, resulta do Direito Internacional.

Território- Detém três dimensões- Território terrestre, marítimo e aéreo no caso dos
países interiores não há esta dimensão marítima

Existem três principais áreas marítimas:

- Mar territorial- Faixa litoral que corresponde a 12 milhas marítimas, o equivalente a


22 KM, o estado exerce o seu poder de forma plena como se fosse território terrestre,
só podem entrar navios se o Estado permitir, não há liberdade marítima no mar
territorial

- Zona contígua- O Estado detém poderes de fiscalização no caso de existirem


infrações aduaneiras, contrabando- Tendo assim poderes de intervenção. Se encontrar
determinados achados arqueológicos, vestígios antigos passam a pertencer ao Estado

- Zona económica exclusiva- O Estado tem o poder de extrair produtos naturais como
no caso da pesca, petróleo ou até minerais que se encontrem nessa zona. Nesta
dimensão o Estado apenas detém poderes de jurisdições limitados, o Estado não pode
limitar a liberdade de circulação marítima, pois vigora a liberdade de alto mar (Hugo
Grotius- Mare Liberum), o Estado apenas pode explorar até aos limites da necessidade
económica.

Três ideias principais sobre o elemento do território


1- A partir da ZEE, há uma área de alto mar sem poderes de zona costeira, com
poderes de jurisdição limitados

2- O solo e o subsolo correspondem à plataforma continental- Cerca de 200 milhas do


subsolo

3- Depois do alto mar em subsolo existem fundos marinhos internacionais, ou seja,


que pertencem a todos os Estados

Observações históricas:

- No alto mar vigora o princípio da liberdade de navegação, é o princípio contrário ao


Tratado de Tordesilhas (1494) e do Mare clausum. Este princípio da liberdade de
navegação é defendido por Hugo Grotius através da sua obra Mare Liberum-
Liberdade dos mares

- A plataforma continental surge através de uma declaração norte americana

Em suma todo o território é um poder indivisível e inexclusivo porque é um Estado


de soberania/detém, soberania própria

O poder político- Cinco ideias principais sobre o poder político

1- Todo o poder político está ligado ao Estado simplesmente o poder político ligado ao
estado, não esgota a dimensão desse poder político, porém pode haver poder político
sem estado, caso da ONU

2- O poder político que está ligado ao Estado é o que tem institucionalização jurídica-
Constituição, é esta que constitucionaliza o poder político do Estado, pode ser um
documento escrito- A constituição em sentido instrumental; Mas também pode ser
vista como a lei superior, a forma de ser escrita e modificada- A constituição em
sentido formal; É a constituição tudo aquilo que tem haver com a separação dos
poderes e liberdades e garantias dos cidadãos- Constituição em sentido material

3- O estado e o poder politico está limitado pelo direito, neste sentido todo o estado é
estado de direito- Estado limitado por uma ordem jurídica; Estado de direito formal-
Adota a medida X e se no dia seguinte não gostar altera a mesma para a medida Y,
levando à autolimitação- A Alemanha nazi era um Estado de direito formal, URSS
estalinista era um Estado de direito formal, é necessário que o poder politico esteja
limitado pelo Direito e que o Estado esteja limitado por este- Estado de direito
material

Estado de direito formal- O poder faz as normas e submete-se às suas próprias


normas. Está autolimitado- É exclusivo do Estado
Estado de direito material- Também está limitado por direito superior ao do estado,
emanado por outras instituições- Não é exclusivo do Estado, vem de forma deste por
exemplo o caso Ius Cogens- Heterovinculacao dos Estados, está assim auto e
heterolimitado

4- Diferencia-se do titular do poder político que é o povo e o exercício do povo que não
exerce diretamente o poder político, mas sim os nossos representantes daí a
denominação de democracia representativa, o poder é do povo e para o povo. O povo
detém poder constituintes- Poder de fazer e modificar a CRP

5- O poder político é dotado de soberania do estado de direito material, mas


atualmente em contexto internacional, é uma soberania internacionalizada e ao nível
dos estados-membros da EU é uma soberania europeizada

Elementos formais do estado- Complementam a existência do estado

Designação do estado- Princípio da não repetibilidade, elementos políticos ou


religiosos; Todos os estados têm um nome, este permite identificar o estado, os
cidadãos desse estado, representa o direito de não repetibilidade do nome do estado,
é possível o Estado mudar o nome; Os nomes podem apontar para as formas e regimes
de estado, ou então apontar a determinada religião

Reconhecimento internacional do Estado- Natureza Constitutiva ou Declarativa; Um


estado para ser independente no plano internacional tem de ser acolhido pelos outros
membros da comunidade internacional, este reconhecimento pode ser fonte de
conflito entre países como o caso de Israel ou uma parte da Sérvia, mas que esta não
reconhece. O Estado já existe, mas é apenas uma formalidade

Símbolos nacionais- A bandeira e hino são irrepetíveis; Bandeira- O Estado pode


mudar a bandeira, é possível que a bandeira do estado esteja presente noutros
estados caso da Austrália e Nova Zelândia; Hino- É possível que o hino seja semelhante
a outro ou até caso de plágio, é possível a mudança de hino por parte do Estado

Formas de estado- Constitui a relação entre a comunidade e o estado

Há dois modelos de estado, quanto à forma, quanto ao modo de dispor e organizar o


poder em função do território, existem dois principais modelos de formas de estado:

Forma de Estado simples/unitário- Quando existe unidade de centros de decisão


política. Quando há um centro de decisão política. Um só poder político, que é uno e é
um vínculo para todo o território; O estado unitário é aquele em que o poder político
tem uma unidade homogénea em todo o território, este divide-se em dois, pode ser
centralizado ou descentralizado:

Quando há um centro do poder político centralizado- É centralizado se só existir uma


entidade pública. Se o Estado é a única pessoa coletiva, tem assim por bases pilares
absolutistas

Quando há um centro do poder político descentralizado- É descentralizado se


existirem uma ou mais entidades públicas (Pluralidade). A descentralização pode ter a
ver com a função administrativa (Descentralização administrativa), ou descentralização
política (Legislativa), que dá origem a regiões autónomas, mas não dá origens a Estados
Federados. Abaixo do estado existem outras entidades publicas, é o caso de Portugal,
por exemplo Regiões Autónomas, como a os Açores e a Madeira

As regiões autónomas promulgam leis regionais e há uma descentralização em


termos administrativos nas autarquias devido a regulamentos que promulgam,
porém, estão sempre vinculadas ao Estado português quer as regiões autónomas
quer as autarquias

Formas de Estado composto/complexo- É um Estado constituído por outros estados,


com vários centros de decisão política, concentra em si um elemento de aglutinação.

Forma de Estado regional- Descentralização político-administrativa- Há uma


autonomia regional, existência de regiões autónomas não fará surgir um terceiro
modelo- Caso da Itália ao lado do estado unitário e composto é um estado regional-
Está meio caminho

Aula Nº13

Poder político fragmentado- Estado composto é um estado composto por outros


estados como é o caso dos EUA- Estado composto pode ter duas configurações:

Federação- Não tem apenas exclusivamente como forma de governo a forma


republicana, há o exemplo do Canadá; Criam-se novos órgãos dos estados para no
fundo darem origem a um novo estado. Na federação tudo começa de novo, assim
criam-se sempre órgãos novos, ou seja, estruturas novas

União real- Forma exclusiva de poder é a monarquia forma de governo; Na União Real
nem tudo começa no início, tem por base órgãos anteriores, existe o caso da Áustria e
Hungria- Origem do novo estado o império austro húngaro, assim aproveitam-se
órgãos já existentes nos estados-membros. Em suma, ao contrário da Federação a
União Real tem sempre uma forma monárquica, enquanto a federação nem sempre
tem forma monárquica. São estados que se juntam para criar um novo Estado – Reino
Unido ou Portugal e o Brasil entre 1815 e 1822.

União pessoal- Forma de governo, onde não há um estado composto, o que ocorre é
que pelas regras da sucessão o mesmo titular tem a chefia de dois estados; Por
exemplo nas cortes de Tomar com o caso de Filipe I de Portugal e Filipe II de Castela,
assim como o caso de Pedro I que era imperador do Brasil e Pedro II rei de Portugal. Os
estados mantém a sua independência. Em suma na união pessoal o que ocorre que é
que o rei é o mesmo – Exemplo da Commonwealth. Não é um Estado composto, há
apenas uma mesma titularidade.

Diferenças entre federação e confederação

Federação- Um estado que tem soberania no plano internacional, que é um estado


federal, é assim um conjunto de estados que não tem soberania no plano
internacional, não tem o poder de celebrar convecções internacionais, nem de enviar
nem de receber diplomatas. Não têm assento nas Nações Unidas e tem legitimidade
de no caso de legitima defesa iniciar uma guerra; Os estados federados tem soberania
no plano interno, um poder constituinte, têm constituição própria porém estão
subordinados à constituição do Estado federal, por exemplo o caso do Brasil e dos
EUA- Não há a embaixada dos estados federados mas sim do Estado federal. Em suma
é a designação idêntica a um estado federal que assenta na dicotomia de um Estado
federal e vários estados federados. O Estado Federal tem soberania no plano
externo/internacional – Exemplos: EUA e Brasil – Estados Federados não têm
soberania no plano interno, mas têm uma constituição própria.

Confederação- No plano da soberania há uma divisão da soberania, de algum modo a


UE é uma confederação; Os Estados Confederados não perdem a totalidade da
soberania no plano externo. A Confederação não é a titular da soberania externa
(Exemplo: Guerra Civil Norte-Americana).

Falsas designações: Suíça – Confederação Helvética, mas são federação, pois os


cantões suíços não têm soberania. A Suíça é juridicamente uma federação, mas o que
acontece é que por razões históricas é designada de Confederação Helvética.

Cinco ideias principais sobre as federações:

1- Cada cidadão é sujeito a duas ordens jurídicas- Onde reside e onde se encontra,
está também sujeito à ordem jurídica da federação; A constituição tem um duplo
papel, há uma constituição da federação e uma constituição própria de um estado
federado; No caso dos EUA existem 51 constituições, cada pessoa é destinatário de
dois ordenamentos jurídicos. do Estado Federado e do Estado Federal. Com esta
particularidade, quem define a fronteira entre o poder constituinte dos estados-
membros e a do estado federal, é a constituição federal. Sem prejuízo da teoria dos
poderes implícitos: Se a constituição federal atribui à reunião determinados fins, deve-
se atribuir os meios necessários para a prossecução desses fins. A União tem ampliado
a sua intervenção à custa dos estados federados que providenciam os meios
necessários;

2- A importância da constituição da federação- A constrição federal é o parâmetro de


validade, é a pauta normativa pelo qual tem de obedecer; Garantia da soberania dos
estados federados. garante a autonomia dos Estados Federados e a competência da
Federação. É o que define a “competência das competências” – 1º regra da repartição
da competência (entre a união e os estados federados). Com esta particularidade a
constituição dos EUA estabelece o princípio da igualdade entre os estados. A técnica
usada pelos EUA- identifica as matérias que fazem parte da união/do estado federal e
tudo o resto é da autonomia dos estados federados- há a defesa

3- Dualidade de soberanias- Plano internacional- Plano interno- A cada um dos


estados federados. Soberania no plano interno e externo (Jean Bodin) – Só o Estado
Federal tem delegações diplomáticas, poder de reclamação internacional, etc. A
representação e soberania no plano externo está toda ela concentrada no Estado
Federal. Mas a dualidade de soberanias reside na ideia de que cada Estado Federado
tem soberania no poder interno, porque cada Estado Federado tem poder
constituinte. Há cerca de 50 constituições e a constituição federal;

4- Prevalência federal/preonimineicia- Não obstante tudo isto já referido, há uma


Prevalência Federal:

(I)- É a constituição federal que fixa os princípios a que os estados devem ficar
adstritos; supremacia da constituição federal, em particular, supremacia dos órgãos
jurisdicionais- tribunais;

(II)- Compete a Supreme Court a última palavra sobre a constitucionalidade de


circunstâncias;

(III)- A defesa, a segurança e as relações externas são do Estado Federal;

(IV)- A prevalência do poder federal e do órgão executivo – Presidente; Importância da


jurisprudência
Há ainda quem defenda que entre o estado unitário e estado composto há o Estado
Regional. É composto por regiões autónomas – há casos em que o estado é composto
integralmente por regiões autónomas (Espanha e parcialmente Portugal).

Será que estamos perante uma nova forma de estado? Há quem entenda que sim e
que o estado regional fica a meio caminho entre o estado unitário e composto. Esses
autores defendem uma descentralização político-administrativa que confere
autonomia às regiões:

- Não se pode falar de estado regional, quando não é composto integralmente por
regiões autónomas de descentralização PA;

- Os estados federados têm soberania no plano interno e poder constituinte – as


regiões autónomas não têm poder constituinte – Os estatutos são leis do estado, não
são uma constituição regional;

- Há regiões autónomas que têm mais poder que estados federados- Espanha- As
comunidades autónomas espanholas têm mais poder que os estados federados
brasileiros. As nossas regiões autónomas têm mais poder internacional que certos
estados federados.

Como é que se diferencia uma região autónoma das regiões administrativas? Uma
existe, a outra não existe instituída.

-> As regiões autónomas traduzem uma descentralização político-administrativas.

-> As regiões administrativas serão uma mera autarquia local. Essas regiões mesmo
que venham a ser criadas não contribuem em nada para o conceito de estado regional.

5- Modelo de federalismo perfeito e modelo de federalismo imperfeitos

Estado regional é um novo tipo de estado? O Estado regional tem a autonomia


própria, os estatutos das regiões autónomas não são tem uma constituição aprovada,
não tem poderes constituintes, não tem soberania no plano internacional

Que tipos internacionais de estado podemos encontrar?

1- Estado soberano- Há estados totalmente soberanos- Princípio do Ius cogens. nada


tem a ver com os estados soberanos anteriores. Soberania europeizada, globalizada.
Um estado soberano é um estado com personalidade e competência internacional em
termos de direito de legação, de receber e enviar representantes diplomáticos, tem
direito de celebrar tratados e acordos internacionais, tem direito de reclamação
internacional, tem direito a estar representado na ONU e tem o direito de fazer a
guerra, em legítima defesa;

2- Estados não soberanos- Estados não são aceites e acolhidos no plano internacional;
Por exemplo: Estados Federados;

3- Estados semi-soberanos- Tem algumas prerrogativas no âmbito internacional

(I) Estado Vassalo – Andorra;

(II) Estado protegido: Na sequência de um empréstimo internacional. É um


protetorado em termos financeiros; Portugal com a Troika, Marrocos entre outras
coisas

(III) Estados Confederados;

(IV) Estado Exíguo/Estados de menor dimensão territorial: Mónaco, Vaticano, São


Marino, Lichtenstein (Pela dimensão territorial);

(V) Estado Neutralizado: Sem forças militares e forcas armadas caso da Áustria;

D) Falsos Estados: Comunidades territoriais que se designam como estados por razoes
históricas ou por questões meramente nominais, podem esconder uma realidade
colonial- Estado da India portuguesa (Goa, Damão, Dio). províncias ultramarinas que se
chamavam estados de angola Moçambique e angola que eram controlados por
Portugal

O exercício do poder político por parte do estado

Como é que o poder político se exerce? - A diferença e o desenvolvimento quer da


ideia de fins, quer da ideia de funções, quer da ideia de poderes do estado.

O que são os fins dos Estados? - Necessidades coletivas que estão a cargo da
sociedade política/ Necessidades que a sociedade política estadual visa satisfazer:

Segurança- O que justifica o porque do estado existir, a defesa dos seus valores, a
segurança invoca a ideia de paz, estabilidade e proteção da confiança principal razão
para as pessoas juntarem-se é a garantia da defesa dos próprios e dos bens. Leva a que
autores encontrem no Estado um propósito único: a segurança, como a doutrina de
Hobbes conduz a uma abdicação das liberdades de cada um em prol da garantia do
Leviatã.

A segurança prossupõe 3 características:

Paz- Plano interno e externo- a possibilidade de recurso à forca, pode ser o último
mecanismo para manter a paz, sempre que há um ataque ou uma ameaça ao estado-
teoria de Israel contra o Hammas e de Hobbes. Tem uma vertente interna e uma
vertente externa, sempre com o recurso à força na sua base. A segurança está sempre
adjunta de mecanismos de força por parte do Estado, quer a níveis internos quer
quanto a ataques externos.

Estabilidade- A segurança proíbe retroatividade das leis que sejam. a segurança


envolve a ideia de existência de normas jurídicas que garantam continuidade. Isto é, a
continuidade da ordem jurídica confere estabilidade. As leis que lesem liberdades e
direitos dos cidadãos não podem.

A proteção da confiança- Previsibilidade da mudança, a mudança não pode ser


abrupta nem frustrar expectativas. O entendimento da previsibilidade gera segurança.
Não é possível a frustração de expectativas, caso contrário deverá haver uma
indemnização. O Estado deve ser o primeiro garante da proteção da confiança, através
das normas que o emanam, mas também através dos tribunais.

Justiça- Consequência da segurança, é um pós segurança, está ligada à igualdade, este


significa que a lei não pode discriminar a lei do arbítrio, e tratar de forma diferente o
que é diferente; o que fazer perante leis que são injustas- direito de desobediência,
ninguém pode ser obrigado a obedecer a uma lei- o direito que não inimigo não é o
torto. É o valor mais alto do estado, pois prossupõe que a segurança já está instalada,
o que tende a manter a paz. Esta ideia está ligada ao pensamento de Agostinho: “o
que distingue o estado de um bando de ladrões é a justiça”. A ausência da garantia da
justiça por parte do titular do poder permitia o seu afastamento. A justiça depende da
igualdade.

Justiça comutativa- Tratamento dos entes em caso de situação de equidade.

Justiça distributiva- Tratamento dos entes em caso de situação diferenciada.


Devemos obedecer ou há legitimidade em desobedecer em caso de injustiça? Na
temática de São Tomás de Aquino, é possível desobedecer ao direito injusto, se da
desobediência não surgirem efeitos negativos piores se não o tivéssemos feito. Há que
ponderar de acordo com uma ideia de proporcionalidade.

Bem-Estar- Pode ser material ou imaterial. Determina que circunstâncias e


necessidades do individuo/sociedade, se insuficientes, o Estado tem de as garantir (no
caso da iniciativa privada não o fizer). O Estado não se pode privar de agir em casos de
privação de necessidades básicas dos cidadãos, pois é o desrespeito total dos direitos
fundamentais do ser humano e à sua dignidade (habitação, alimentação e vestuário).

Aula Nº13

Como garantem e alcançam estes fins? As soluções do Estado:

- A simples existência do Estado não garante a concretização dos seus fins. Para que os
fins do Estado sejam realizados, é necessário que este desenvolva uma atividade: as
funções do estado – A prossecução deste para atingir os seus fins.

Quais são as funções do estado?

Nem toda atividade do Estado envolve a prática de atos jurídicos, por exemplo dar
uma aula numa instituição publica, como no caso da FDUL, uma consulta médica,
realizar exames ou intervenções jurídicas- Há a dicotomia que as funções iguais à
atividade

O que são funções jurídicas? - As funções jurídicas são todas as práticas jurídicas, mas
dentro destas temos a função constituinte e as funções constituídas. fazer uma lei:
emanar um ato jurídico. Podem subdividir-se entre funções constituintes (atividade de
fazer ou modificar a Constituição) ou as funções constituídas (atividades desenvolvidas
ao abrigo da CRP – Exemplos: função legislativa, administrativa e jurisdicional. Como se
diferenciam?

Temos a função constituinte, esta é a função originaria, ou seja, de criar uma


constituição-> Existe depois a função derivada (poder de revisão da constituição) que
por sua vez é subordinada à função constituinte/originaria. A função derivada pauta-se
pelas regras impostas pela constituição.

Temos a função constituídas, no caso têm fundamento jurídico na constituição-


Dentro destas funções constituídas temos a função legislativa, judicial e a função
administrativa.
A função legislativa- Traduz-se na jurisdição das opções políticas principais dentro do
quadro constitucional, traduz-se ainda em direitos programas subordinados aos
parâmetros constitucionais. Corresponde à elaboração de normas que substanciam
opções políticas de natureza constituída, ou seja, as leis ordinárias. Têm fundamento
na CRP, sempre.

A função judicial- Tem como objetivo resolver litígios que envolvem particulares ou
entre entidades publicas e particulares ou entidades públicas entre si. Esta a função
procura a paz jurídica e é protagonizada em exclusivo pelos tribunais, órgãos que
decidem os litígios numa posição de neutralidade, a garantia do caso julgado leva à
estabilidade. É a garantia através da intervenção dos tribunais, órgãos independentes
ao litígio que opõe A e B, sendo um terceiro relativamente aos interesses que estão em
jogo.

A função administrativa- Pode ser definida por exclusão das partes, ou seja, tudo
aquilo que envolva as questões estaduais, sem se conduzir à função administrativa
nem à judicial. consubstancia toda atividade jurídica desenvolvida pelo Estado, que
não origina a criação de leis. É tudo aquilo que o estado delibera menos a parte
legislativa e judicial.

As funções não jurídicas- São todas as práticas que não envolvem praticas jurídicas.
realizar uma intervenção cirúrgica é uma intervenção do Estado, mas não é jurídica.
Traduzem-se na prática de atos não jurídicos. Diferenciamos estas funções em duas,
sendo que dentro das funções não jurídicas temos a função política e a função
técnica

Função política- Definição das linhas de orientação sobre as opções essenciais da


sociedade. Têm, por isso mesmo, este cunho não jurídico, que se substância, por
exemplo, na organização de eleições. Existem sempre em maior ou em menor grau
uma componente não jurídica. Temos o exemplo a função jurídica tem em conta as
questões políticas, como por exemplo a eutanásia.

Função técnica- Representa as opções essenciais de uma coletividade e a manutenção


do poder, é esta que envolve os atos não jurídicos que visam transformar a realidade
factual. Apela a conhecimentos de natureza especializada, em termos científicos que
permitem exercer atividades pelo Estado: dar uma aula, construção de uma ponte,
consulta médica.
No desenvolvimento das funções não jurídicas há sempre uma componente jurídica,
existe o exemplo um médico para estar num hospital tem sempre de ter um título
jurídico válido, ser professor, engenheiro, advogado, entre outros.

A prática dos atos no âmbito das funções não jurídicas pode produzir efeitos
jurídicos

Separação/interdependência de poderes- Vitória do modelo dos EUA face a França

Contraste da matriz francesa com a norte-americana

Esta ideia de separação com interdependência dos EUA, opõe-se ao modelo rígido de
separação de poderes da matriz francesa.

No caso norte-americano→ Há uma conjugação entre os diferentes poderes para a


realização da mesma função. Os tribunais podem fazer cessar a vigência de uma lei
que é inconstitucional por exemplo. Quer os tribunais, quer o PR, quer o Congresso
têm diferentes poderes associados ao poder legislativo. Não há nenhum poder sem
interdependência, um órgão tem o poder de estatuir, no entanto, os restantes órgãos
têm o poder de limitar e condicionar essa mesma deliberação/estatuição. No modelo
norte americano as funções legislativas pressupõem a aprovação do presidente que as
vetar, os tribunais podem rejeitar a aprovação das leis com o fundamento na sua
inconstitucionalidade, este sistema também se aplica a Portugal. os atos executivos
que forem contrários à lei podem ser controlados pelos tribunais, o poder judicial so
pode reprovar a aplicação das leis se as leis forem invalidas, no modelo americano
compete ao presidente a nomeação os juízes do supremo tribunal, criando uma
separação de poderes interdependente

No caso francês→ Rousseau: oposto (concentração de poderes). Ao longo do sec. XIX


foi se desenvolvendo a ideia de separação de poderes, com a atribuição sempre, e em
exclusivo do poder judicial. Paulo Otero: “Não há estado de direito se os tribunais não
tiveram o monopólio da decisão jurisdicional”. Existe uma divisão temporal do poder e
uma divisão política do poder. Os tribunais não controlam a constitucionalidade das
leis com fundamento de que o fizessem violavam a separação de poderes

Este tema é importante porque as pessoas coletivas – regiões autónomas, o Estado, as


universidades públicas, precisam de órgãos para expressar uma vontade, enquanto a
pessoa singular expressa-a por si só.
O que é o órgão? É um centro institucionalizado que expressa uma vontade e, essa
vontade, é imputada à pessoa coletiva. É de frisar a importância da noção de órgão e
da sua distinção de outras designações.

→ O que distingue órgão de titular? O titular é a pessoa física que ocupa a função no
respetivo órgão.

→ O que distingue órgão de agente? O agente ajuda à formação da vontade, é no


fundo, alguém que colabora previamente ou posteriormente à função do órgão.

O órgão envolve cinco ideias:

A ideia de instituição – O órgão é diferente do titular que é temporário, enquanto o


órgão, em princípio é permanente. Contudo, há órgãos de natureza temporária;

A ideia de competência – É a parcela de poder público de área de decisão a cargo


daquele órgão. São os poderes que os órgãos têm para decidir sobre determinada
matéria, a fronteira da vontade que este pode expressar; A ideia de titular – é a pessoa
física que ocupa o órgão num determinado período. Na república, é sempre
temporário. Na democracia, afirma-se que deve ser votado por sufrágio universal
direto. O titular tem ainda aspetos que lhe geram deveres: o princípio da
responsabilidade – são responsáveis pelos atos que na respetiva atividade determinem
prejuízos a terceiros;

A ideia de cargo/mandato – Traduz a relação do titular com o estado/entidade


pública. São situações ativas ou passivas, funcionais que estabelecem um nexo entre o
titular e o respetivo órgão. Esta relação é traduzida pelo respetivo cargo; O cargo é o
nexo e o vínculo jurídico que liga o titular ao órgão, por exemplo o presidente da
república o titular é o professor Marcelo Rebelo de Sousa este detém o cargo de
presidente da republica

A ideia de imputação – A ideia de atribuir os efeitos – que quem age é o órgão, mas os
efeitos são imputados à pessoa coletiva na qual ele se encontra.

O que é a competência? - É a fração de poderes, é a área de poderes que cada órgão


tem que justifica a sua ação, porém limita esta. É a fatia de poderes que a ordem
jurídica atribui. O titular empresta uma vontade ao órgão, mas este ao manifestar essa
vontade, ela é imputada à pessoa jurídica, na qual se integra o órgão.

Competência- Pode ser expressa se resulta direta e imediatamente de uma norma ou


implícita aquela que se extrai de uma norma expressa. vicissitudes podendo ocorrer
um alargamento da competência dos órgãos ocorrendo um fenómeno inverso ou até a
supressão de competência. Esta competência é conferida pela constituição só pode ser
alterada nos termos da própria constituição. Pode ocorrer demissão do titular, morte
ou dissolução que resulta em vicissitudes

Competência expressa→ Resultam direta/imediatamente das normas jurídicas;

Competências implícitas→ Estes tipos de competências extraem-se de outras


competências. Se a lei atribui competência para revogar, implícita também
competência para suspender. Porque quem pode revogar, pode também suspender
(menor efeito).

Separação/dicotomia entre órgãos singulares, ou seja, um único titular (presidente


da república) e órgãos colegiais/plurais: mais do que um titular (governo).

Regras básicas dos órgãos colegiais/plurais:

• Um órgão colegial só pode começar a funcionar se estiver presente o co- órgão. O


que é? É metade + 1 dos seus membros. (51 de 100)

• Qual é a maioria exigida para deliberar? A regra no direito português é a de maioria


simples: é obtida através da proposta que tem o maior número de votos. Opõe-se à
maioria absoluta. No caso de aprovação da constituição é a maioria reforçada que se
verifica em pelo menos 2/3;

• Todos os órgãos colegiais têm o poder de auto-organização interna. Ou seja, todos os


O.C. podem elaborar normas que disciplinem o seu funcionamento interno;

• A diferença entre o voto de desempate e o voto de qualidade – No voto de


desempate significa que o presidente do órgão só vota quando há empate, sempre
fundamentando a sua decisão. No caso do voto de qualidade, o presidente do O.C.
vota conjuntamente com os outros, em caso de empate, ganha a que o presidente
votou;

Os órgãos (colegiais e singulares) podem ter vicissitudes que têm a ver com a
competência do órgão (ampliada ou restringida). As vicissitudes do titular podem
resultar na sua destituição ou dissolução. Nestes casos, o Direito conta sempre com
mecanismos de substituição, para evitar vazio político.

Órgãos colegiais para funcionarem dependem do quórum


Há ainda a dicotomia entre os órgãos representativos- Todos aqueles que resultam
direta ou indiretamente de um poder processo eleitoral- e os órgãos não
representativos

Processo jurídicos:

 A herança: Há uma transmissão de poder, segundo regras legais de sucessão


(familiar, típicas da monarquia, as monarquias hereditárias)

 A cooptação: Quando um titular de um órgão é escolhido pelos titulares desse


mesmo órgão

 A nomeação: Há a designação de um titular de um órgão por outro órgão

 A inerência: Alguém é titular de um órgão, pela simples circunstância de ser


titular de outro órgão

 A eleição: Processo de designação dos governantes através da expressão do


voto de uma pluralidade de pessoas. Sistema maioritário X sistema
proporcional:

 No sistema maioritário→ Quem ganha, esgota a representação;


 No sistema proporcional→ A conversão dos votos em mandatos, é de algum
modo correlativa a esses mesmos votos.

Processos não jurídicos- Decorrem à margem do Direito

- O Golpe de Estado: Alteração das regras da designação dos governantes;

- A Revolta/Insurreição: Leva à substituição dos titulares do poder;

- A Revolução: Acão violenta contra os titulares do poder vigente e às normas


constitucionais. É uma alteração violenta das próprias regras das constituições

Aula Nº13

A eleição- Sistemas eleitorais- Fazem a conversão de votos em mandatos, o ato


eleitoral é a expressão da vontade dos eleitores nos representantes, na escolha das
pessoas, dos partidos, dos programas e dos textos submetidos a votação.
Primeiro elemento base- Pluralidade de sistemas eleitorais

 O sistema eleitoral condiciona o sistema partidário


 Os dois condicionam o sistema de governo

Quais são os principais sistemas eleitorais? São três os principais sistemas eleitorais:

 Sistema maioritário
 Sistema proporcional
 Sistema misto

O tipo de sistema eleitoral adotado condiciona o modelo de partidos políticos. A


opção do sistema eleitoral é a principal determinante do sistema partidário.

O sistema eleitoral e partidário são elementos essenciais para se compreender o


sistema de governo. O sistema eleitoral condiciona o sistema partidário e estes dois
condicionam o sistema de governo

Três modelos de sistemas eleitorais:

Existem o sistema maioritário, proporcional e misto

a) Sistema maioritário- o candidato ou a lista que vence uma determinada


circunscrição afasta a representação dos vencidos, quem ganha leva tudo. Todos os
outros que participaram da competição eleitoral não tem capacidade de exerção. O
candidato ou a lista que vence numa determinada circunscrição eleitoral leva à
totalidade dos representantes dessa circunscrição. A lista mais votada é a única que vai
ter representantes daquela circunscrição determina a reduzida representatividade
partidária parlamentar – Não prevê̂ a representação das minorias e dos vencidos. Há
duas modalidades:

1. Sistema maioritário com sufrágio uninominal: Um deputado por cada círculo,


só́ uma pessoa pode ser eleita – RU, determina o bipartidarismo e a dificuldade
da representação parlamentar de outros partidos. Em suma cada círculo
eleitoral apenas elege um deputado, modelo britânico.

2. Sistema maioritário plurinominal: Vários deputados por cada círculo. Pode


conduzir à diminuição do pluralismo. É maioritário com vários grandes eleitores
(colégio eleitoral – constituído pelo número de senadores de cada estado
(sempre 2) + X representantes, em função da dimensão territorial e
populacional do estado). Mas o winner takes it all– USA, com exceção de
alguns estados federados (que apresentam um sistema proporcional). Em
síntese quem vence leva os deputados todos.

O sistema maioritário pode ser maioritário a:

Uma volta- RU - 1 deputado por cada circunscrição (maioria simples), modelo também
norte-americano – tradicionalmente uninominal. Em suma é eleito o deputado que
tem o maior número de votos- modelo britânico e norte americano.

Duas voltas- França tem um sistema maioritário de 2 voltas (50%+1). O modelo francês
carece de maioria absoluta se não acontecer uma segunda volta. Na segunda volta
quem tem maior número de votos ganha, não é por isso necessária maioria absoluta

b) Sistema Proporcional: Deve existir correspondência entre o número de votos e os


eleitos. Ao contrário do sistema maioritário, garante a representação dos vencidos e
das minorias, e pressupõe a suscetibilidade de existir um multipartidarismo assente
numa múltipla e pluripartida representação.

Só existe vigorando sistemas plurinominais e pressupõe sufrágio plurinominal, que


garanta a representação das minorias. O risco é levar ao multipartidarismo. Enquanto
o sistema maioritário é perigoso por não representar as minorias, o sistema
proporcional conduz a instabilidade governativa devido ao multipartidarismo- Vários
partidários com representação eleitoral. Leva à bloqueios à acão do governo por via
legislativa.

O sistema eleitoral português é plurinominal, pressupõe a concorrência de diversos


deputados a uma mesma circunscrição eleitoral e é um sistema proporcional já que
garante a representação dos vencidos e das minorias, pois o “vencedor não leva
tudo”, ao contrário do sistema maioritário, havendo neste caso uma
correspondência entre o voto popular e a eleição, segundo o método de
representação proporcional de Hondt.

Vantagem sistema maioritário: Estabilidade governativa maior identificação entre


eleitos e eleitores maior responsabilidade do eleito
Modelo proporcional parte da ideia base de que tem de haver uma correspondência
entre o número de votos só funciona quando há vários deputados a eleger quando
existem círculos plurinominais

c) Sistema Eleitoral Misto

Duplo voto: num vota-se no deputado que servirá para uma circunscrição eleitoral (é
um círculo uninominal). Tem outro voto, a nível nacional, que é plurinominal (sistema
alemão). Há uma complementaridade entre características do sistema maioritário e do
sistema proporcional. Prevê também a representação das minorias e dos vencidos.

O sistema eleitoral determina o sistema partidário existente- Por exemplo, o caso


britânico, preponderantemente bipartidário (Conservadores e Trabalhistas), devido ao
sistema eleitoral a uma volta, de eleição direta de 1 deputado por cada circunscrição
eleitoral. Cria pouco espaço para a representação parlamentar de partidos não
tradicionais.

O sistema eleitoral português, baseado na eleição de listas à AR, com vários


deputados por cada circunscrição, eleitos com representatividade nacional, segundo
o método de Hondt, determina um pluralismo partidário.

O sistema eleitoral norte-americano, para o presidente, por via do colégio eleitoral,


determina uma competição entre Democratas e Republicanos para esse cargo,
verificando-se que os Third Party Candidates usualmente não têm representatividade
no colégio eleitoral, já que não há proporcionalidade entre o voto popular e o número
de delegados eleitos, verificando-se que esses candidatos, por não terem nunca a
maioria de votos num Estado, não terão representação no colégio eleitoral.

Partidos políticos- São essenciais em qualquer democracia são pessoas coletivas de


direito privado que tem como interesses conquista de exercícios de poder

Modelos politico-constitucionais do Estado – Dois modelos:

O modelo Pluralista- Assenta em cinco pressupostos:

 O reconhecimento e a tutela pelo Estado, dos direitos, das liberdades e das


garantias dos cidadãos;
 A designação dos principais titulares ativos do poder político, é feita por
sufrágio universal;
 O papel relevante confiado aos partidos políticos. “Não há democracia sem
partidos políticos e o pluralismo dos mesmos”;
 A existência de uma hierarquia entre as normas jurídicas e a afirmação de um
princípio de juridicidade;
 O controlo jurisdicional do poder publico;
(democracia direta ou democracia representativa: Eleições são o processo
principal pelo qual o povo expressa a sua vontade, no entanto o voto confirma
a confiança entregue aos deputados representantes do respetivo voto).

A democracia representativa também beneficia da democracia participativa. Esta


segunda, apela para a intervenção dos cidadãos através de mecanismos para a sua
integração: mecanismos estes, que reforçam a democracia.

A maioria é um critério fundamental no que toca aos pressupostos da democracia,


não à unanimidade, porque isso seria impossível. A maioria é um critério de decisão,
mas não é sempre verdadeira/válida. Quem faz esse controlo de veracidade são os
tribunais. Modelos quanto aos partidos políticos:

Modelo de pluripartidarismo: Há vários partidos políticos. Só este é adjunto da


democracia;

Modelo de unipartidarismo- Opõe-se ao descrito acima; Há um partido dominante- há


vários partidos porem há um que domina

Modelo de estado sem partidos- Por exemplo: estado novo. sistemas partidários não
democráticos- Existência de um partido único

Dentro do modelo pluripartidário, existem 3 concessões:

• Sistema bipartidário- Não significa necessariamente que só existam 2 partidos


políticos. Contudo, a representação política tende a juntar-se/a circunscrever-se a
apenas dois partidos. Partidos esses que vão alternando o seu poder; Tendencialmente
se esgota em dois partidos- Sistema norte americano

• Sistema bipolarizado- Há partidos que se agrupam à esquerda, e outros à direita.


Como distinguir estes dois sistemas? A resposta é dada pelo sistema eleitoral; Dois
polos- O polo que agrega os partidos de esquerda e o polo que agrega os partidos de
direita
• Sistema de multipartidarismo- Há representação parlamentar de vários partidos. De
forma tendencialmente desorganizada. Neste sistema pode vir a encontrar-se um
partido que sobressai, um partido dominante. Ou então uma igualdade partidária.

Existe ainda o modelo totalitário→ É a seu tempo, o modelo que inverte as


características do modelo pluralista.

Princípios gerais da atuação do estado- Atividade Decisória do Estado

Princípios da atividade decisória e as regras de atuação:

Princípio da Juridicidade/legalidade: Quem decide, tem de decidir subordinado ao


direito, que o Estado cria: ideia de um estado de direito formal. Os órgãos do poder só
podem exercer a aquilo, o que podem fazer tudo o que não seja contrário à lei

Mas também um direito que heterovincula o Estado: Estado de direito material. Este
princípio baseia-se na subordinação do decisor público, quer à legalidade, quer à
constituição. Há duas ideias nucleares:

-> Só pode decidir dentro da sua esfera de competência, que resulta sempre de uma
norma.

-> A forma como o faz é também um limite. Este princípio funciona então como
fundamento, como limite e como critério de decisão de todos os poderes públicos.

 Princípio do respeito pelos direitos e pelos interesses dos cidadãos: quem


decide tem de decidir em prol do bem comum e no respeito pelos direitos dos
cidadãos. Estes funcionam como razão de ser e limite do poder. Não é possível
agir se for em confronto com os direitos, a menos que seja em sentido de
extrema necessidade. Quando violados/lesados numa atuação ilícita da
administração, aqui haverá́ responsabilidade por ato ilícito do poder.

 Princípio da Igualdade: Significa que todos somos iguais perante a lei, não pode
haver descriminações arbitrárias (Artigo 13º da CRP), no artigo 9º tem a ver
com uma ideia de materialidade da igualdade.
 Princípio da Justiça: A ordem jurídica deve ser axiologicamente justa (normas
justas nunca desrespeitando os direitos fundamentais). A justiça de braço dado
com o estado social, com o princípio do bem-estar – fundamenta a existência
de descriminações alicerçadas num fundamento racional. Tratar com igualdade
o que é desigual, pode originar uma profunda injustiça. Também se conecta à
ideia de boa-fé: Se não há segurança e proteção da confiança, a justiça está
posta em causa.

 Princípio da proporcionalidade: Como o poder público decide? Estado de


emergência é um exemplo típico. A sua relevância é aferida a três níveis:

- A proibição do excesso: as medidas agressivas que põe em causa direitos


fundamentais, ao interesse legalmente protegido, não podem ir para além do que é
indispensável. Só se justificam estas restrições, em casos especiais e nunca para além
do que é o necessário (proporcionalidade).

- A ideia de adequação: estabelece uma relação entre os meios e os fins. Os meios têm
de ser idóneos para alcançar um fim. Não é possível à luz deste princípio, que a
adequação se demonstre insuficiente. O meio e o fim têm de estar diretamente
conectados. Se o meio nada tem a ver com o fim, a medida não é adequada, pode até
originar uma medida arbitrária. (“Em caso de pandemia, todos têm de usar a cor azul”)

- Princípio da razoabilidade: apela para a ponderação de interesses que estão em


causa. Deve ser feita à luz do balanco: Custo VS Vantagens. Se está em causa a
construção de um aeroporto, irá escolher uma localização que traga os menores custos
para a população, e o máximo de vantagens possíveis.

 Princípio da Imparcialidade: Quem decide não deve ter um interesse, ligação


com o conteúdo da matéria que vai decidir ou em relação ao destinatário da
decisão que irá ser deliberada. Convoca a ideia de incompatibilidades, para
garantir a ausência de descriminações, sejam elas favorecer, sejam elas de
perseguição. Este princípio também envolve uma vertente positiva: quem
decide, tem de ter em consideração todos os interesses pertinentes para a
respetiva decisão (ponderação para a melhor decisão possível para o bem
comum).

 Princípio da colaboração dos interessados: Tomar em conta os destinatários (a


sua opinião, interesse e vontade). Não significa que vai aceitar tudo, mas tem
de ouvir e ponderar a palavra dos respetivos destinatários. Colaboração do
poder legislativo na legislação das Regiões Autónomas (Interesse de ambos).

 Princípio do procedimento adequado: O poder público do Estado, subdivide-se


em diferentes funções. Em todas as suas funções, têm sempre de haver regras
que pautam o caminho para a decisão. Este caminho chama-se “procedimento
decisório”: Formalidades/atos que têm de se praticar. A feitura de uma lei
obedece a um processo decisório. Em caso de engano ou de aplicabilidade
incorreta, a decisão será́ sempre inválida.

Formas de exercício que a atividade decisória do Estado conhece:

A regra é que esta atividade se pauta pela aplicação do direito público: normalmente o
DP é o direito que regula as decisões das autoridades públicas. No entanto, há
exceções, onde o direito privado é usado. Dentro do direito público pode ser o direito
público interno, ou o direito internacional público, ou o direito público da EU, ou, em
casos externos, pode também haver a intervenção do direito estrangeiro. O poder
público é desenvolvido por entidades públicas.

Todavia, estas entidades públicas, podem exercer diretamente por si, ou podem criar
entidades privadas que são instrumentos criados também por si. Há aqui o exercício
indireto sobre forma privada, do Direito Público. No entanto, há outro fenómeno
excecional: a atividade pública ser confiada a entidades privadas, chama-se a isto:
exercício privado de soluções públicas. Esta ideia baseia-se na ideia de Estado Liberal.
Exemplos:

No âmbito da função administrativa→ Os concionários de uma autoestrada. Exercem


poderes privados numa esfera pública;

No âmbito da função judicial→ Os tribunais arbitrais;

No âmbito da função política→ Partidos políticos;

As formas de decisão: Como se exterioriza a decisão do poder?

Unilateral: Só há uma vontade, a vontade do poder.

Bilateral: a vontade do poder conjuga-se com outros interesses.


Formas unilaterais de decisão:

1. Gerais: Natureza normativa, que se aplicam a uma pluralidade de destinatários. São


também abstratas: a decisão não se esgota numa única deliberação. Exemplo: As leis
2. Individuais: Sem natureza normativa, os destinatários são identificáveis. São de
natureza individual. Exemplo: As sentenças dos tribunais.

Formas bilaterais de decisão: As convenções internacionais, ou as convenções de


direito externo são exemplos de partilha de interesses, logo decisões bilaterais. Há
formas de decisão quanto ao direito regulador: formas de direito privado e formas de
direito público.

Sistemas de Governo: Dois grandes modelos: parlamentar e presidencial.

Parlamentar→ Baseia-se nas seguintes características:

• Existência de um governo, que é um órgão autónomo em relação ao chefe de Estado


e ao parlamento;

• O governo é formado segundo a composição do parlamento. É esta composição que


determina a formação de governo. O governo nunca pode ter em si a maioria em
oposição do parlamento;

• O governo é politicamente responsável pelo parlamento. Se o parlamento tirar a


confiança ao governo, o governo é dissolvido/demitido.

É na Grã̃-Bretanha que surge no seculo XVII, a figura do gabinete, um órgão colegial


que reúne os principais ministros e o primeiro-ministro. O gabinete é a reunião dos
ministros mais importantes do governo. O primeiro-ministro passa a ser a mediação
entre o rei e o resto dos ministros: Razão histórica – A língua inglesa. A ligação do
primeiro-ministro ao gabinete, ao rei, ao parlamento.

O parlamento veio desencadear isto: quando um ministro não agia de acordo com o
parlamento, o parlamento responsabilizava-o criminalmente. Se agissem em sentido
contrário ao parlamento, a composição do gabinete deveria representar a vontade da
maioria do parlamento. Passa de responsabilidade criminal para responsabilidade
política. Passou a existir aqui o primeiro pressuposto do governo parlamentear. O
parlamento rege o governo.
Há dois grandes modelos de Sistema Parlamentar:

O Sistema Parlamentar Monista→ O governo só é responsável politicamente perante


o parlamento – 3 tipos de sistema parlamentar monista:

1. Parlamentarismo de gabinete da GB e as suas características:

Prevalência do gabinete sobre o parlamento – Esta prevalência política decorre dos


seguintes pressupostos: O parlamento é dominado pela maioria, dentro da maioria
esta obedece ao seu líder. O líder da maioria é simultaneamente primeiro-ministro,
que controla o parlamento. O primeiro-ministro consegue controlar a camara dos
comuns (parlamento) e também controla o governo. O sistema britânico faz do
primeiro-ministro um eixo da vida política. A câmara dos comuns prevalece sobre a
câmara dos lordes, dentro da câmara dos comuns o que prevalece é a maioria, dentro
da maioria o que prevalece é a vontade do seu líder: PM;

Bipartidarismo: Significa que a representação politica-parlamentar tende a esgotar-se


em dois partidos. Logo, normalmente quando ganha, ganha com maioria absoluta→
garante estabilidade. Disciplina partidária: O líder quer, o partido obedece;

 Centralidade do PM enquanto líder da maioria e chefe do governo;

 Não só tem protagonismo quem tem maioria, como o líder da oposição tem
também: o chamado governo sombra, que faz uma cobertura de cada um dos
ministros eminentes, pronta a substituir o atual.

2. Parlamentarismo de Assembleia: 3ª República Francesa, em 1870-1875:


Supremacia total do parlamento sobre o governo, que tem reduzidos poderes sobre o
parlamento;
Um multipartidarismo: vários partidos políticos com representação parlamentar. Não
há maiorias absolutas, que originam governos fracos; Instabilidade política: “é
verdadeiramente para lamentar”

O poder de dissolução do parlamento é o instrumento nas mãos do chefe de Estado


para tentar encontrar novas soluções. Recorre-se à dissolução do parlamento, quando
as soluções deste estão esgotadas: eleições justificadas.

3. Parlamentarismo Racionalizado: A Constituição cria mecanismos que impedem os


excessos do parlamentarismo de Assembleia, evitando o caos e a instabilidade do
outro modelo. A razão histórica está na Alemanha: moção de censura construtiva→
Quando é apresentada uma moção de censura a um governo, os preponentes dessa
moção têm de apresentar obrigatoriamente um nome, de substituição. Cria-se esta
figura para permitir sempre uma alternativa de governo, caso necessário. A
estabilidade é o melhor mecanismo para racionalizar o parlamentarismo. Portugal é
um parlamentarismo racionalizado:

 Um intervalo de tempo entre a apresentação, discussão e votação da


moção de censura Artigo 194º da CRP (48h);
 Limitação e iniciativa dos deputados que apresentam a moção de
censura, ou então tem de haver um limite de deputados;
 Um voto de confiança, mas não poder haver uma desconfiança
maioritária. O programa de Governo não tem de ser aprovado, não
precisa da confiança da maioria do parlamento, pois pode entrar em
plenitude de funções mesmo em regime minoritário.

A Noção de Confiança é desencadeada pelo governo ao parlamento. A moção de


censura é desencadeada pelos deputados ao governo.

O Sistema Parlamentar Dualista→ O governo é responsável perante o parlamento,


mas também perante o chefe de estado. O dualismo está na dupla responsabilidade
política do governo.

1. Sistema Orleanista: Surge em França, na sequência da revolução de julho de 1830,


com o propósito de acabar com a dinastia Bourbon. A revolução burguesa levou então
ao poder de Luís Filipe de Orleães. Principais características:

 Baseia-se numa reforma de revisão da Carta Constitucional de 1814. Foi


alterada pelo parlamento, mas teve de ter a sanção régia. Dualismo de
modalidades, e simultaneamente um pacto/compromisso que está na base do
modelo orleanista, através da Dupla responsabilidade do governo. O governo é
de base parlamentar e do poder régio. Se o rei tirar a confiança ao governo,
mesmo com a maioria, o governo está dissolvido.

 Natureza compromissória que este sistema fica a meio caminho entre a


monarquia limitada: Carta Constitucional francesa de 1814 (o rei dispõe dos
seus ministros como bem entende). Os ministros só são responsáveis perante o
rei. Não há́ uma autonomia do governo, onde o executivo é o rei mais os
ministros. Entre a monarquia parlamentar, é o sistema em que o governo só
depende da confiança política do parlamento, por exemplo- Espanha,
Dinamarca, Noruega e Reino Unido

2. Sistema Semipresidencial: A sua origem histórica está na monarquia orleanista. Este


sistema é também duplamente responsável perante o parlamento e o Presidente da
República, esta é a essência deste sistema.
Responsabilidade política→ Quebra de confiança do PR no governo = Demissão do
governo; na Responsabilidade institucional→ A desconfiança política não determina a
demissão do governo.

Diferença entre o Semipresidencial e do modelo Orleanista:

• O sistema orleanista é próprio dos modelos monárquicos, e este é dos modelos


próprios republicanos;

• O presidente da república é dotado de poderes efetivos de intervenção política, é


mais do que um árbitro;

• Tem o poder de veto, por razões políticas discordar das leis;

• Tem o poder de dissolução do parlamento;

• Tem o poder de demitir o primeiro-ministro por queda da confiança política.

Sistema Presidencial

1. O presidente é simultaneamente chefe de estado chefe do executivo;

2. Não há em termos autónomos um verdadeiro governo:

 No modelo norte-americano existem secretários de estado que são


colaboradores do presidente, ajudando-o. Mas quem define a linha política é o
presidente, que também os nomeia, não depende da confiança politica do
parlamento;

3. Há um casamento sem divorcio entre presidente e Congresso. Nem o presidente


pode dissolver o congresso, nem o congresso pode, por razoes políticas, destituir o
presidente. À exceção de casos de impeachment (razões criminais/jurídicas).

Como é que o modelo surgiu e se desenvolveu?

Nos EUA, na constituição de 1887, a mesma constituição que ainda vigora. Inspirado
no rei britânico do sec. XVII, foi moldado o estatuto do presidente dos EUA. Ainda em
termos históricos, o presidencialismo dos EUA conjuga-se com 2 outras realidades:

1. Modelo de separação de poderes de base de Montesquieu, que envolve um sistema


de freios e contrapeso (checks and balances). Um sistema de partilha e
interdependência entre os diferentes órgãos.

 O poder de impedir está nos tribunais e no presidente da república. O poder


legislativo está no congresso.
 O poder administrativo está nas mãos do presidente, no entanto, a
administração existe para aplicar o orçamento e a lei.
 O congresso aprova o orçamento de lei.
 O poder judicial (de estatuir), está encarregue aos tribunais.
 Quem designa os juízes dos tribunais supremos é o presidente.

Há assim uma interligação de poderes, para além da separação.

2. A forma de Estado: O facto de ser uma Federação, condiciona a configuração do


presidente. O presidente expressa a união, dando-lhe um estatuo superior em
comparação aos outros órgãos.

Podemos encontrar formas de presidencialismo adulterado: Por exemplo- O caso


brasileiro, porque a federação brasileira é em si imperfeita. Presidencialismo da
constituição francesa de 1958: Este modelo não é presidencial, é hiperpresidencial.

E ainda, o chamado presidencialismo puro, que é o caso dos EUA, acima referido.

Modelo norte americano – Modelo típico de presidencialismo. Normalmente quando


o presidente levanta objeções, estas são ouvidas e atendidas. Neste modelo, ao invés
do Britânico, não há́ uma disciplina rígida dos deputados. Daí o poder do PR de chamar
à Casa Branca, membros do congresso, para tentar aliciá-los, das suas boas intenções e
objetivos. O presidente não pode dissolver o Congresso que tem.
O veto ocorre no final das deliberações legislativas: Não devolver o diploma, mas
também não o assinar/promulgar: veto de mesa/algibeira. Este poder não resulta do
expresso, mas sim do silencio da constituição.

O Congresso também tem poderes de intervenção com o presidente. Ele condiciona as


nomeações mais importantes do presidente. Se o PR quiser nomear A, mas se o
congresso não vir fundamento nisso mesmo, A não chega a ser nomeado/colocado em
questão, por vezes. O congresso pode negar as comissões de inquérito, por exemplo,
chegar a conclusão depois de análise, que o PR cometeu crimes (responsabilidade
criminal). No limite, pode ser destituído, não politicamente, mas sim a níveis criminais.

Composto pela Câmara dos Representantes e pelo Senado (Princípio de igualdade dos
Estados – cada um tem 2 Senadores– vice-presidente dos EUA é presidente do Senado,
que em caso de empate, decide quem tem maioria).

O Presidente não é designado por sufrágio direto. Há uma fase em que os Democratas
e Republicanos vão procurar identificar quem é o seu candidato – As primárias –
Haverá́ uma convenção nacional de ambos, em que cada partido vai decidir, entre os
seus militantes, quem vai ser o candidato. No final das primárias, saberemos quem são
os candidatos.
A partir dai, vai haver eleições nacionais em que vão decidir os “grandes eleitores” –
pessoas que constam numa lista, apresentada por cada Estado, em que cada tem
tantos grandes eleitores como a soma de no de membros do senado (2) + no da
Câmara dos Representantes (Sistema maioritário a uma volta – quem ganha, leva
consigo todos: CR= 20 + Senado (2) = 22, logo, a lista dos candidatos a são 22 eleitos,
excluindo os outros). Os eleitores escolhem os eleitores afetos ao candidato A ou E.

Os Grandes Eleitores reúnem-se no colégio eleitoral, que vai escolher o presidente,


eleito por sufrágio indireto. Pode ocorrer que o no de votos da população nos grandes
eleitores no candidato b é superior ao no de votos do candidato a.

Em princípio, os grandes eleitores estão associados aos candidatos que os indicam,


mas se não o for, não há qualquer sanção.

O poder de estatuir em matéria judicial pertence aos tribunais e, dentro desses, ao


Supremo Tribunal Dos Estado e, acima, o STF em Washington D.C. O poder de impedir
está, politicamente, nas mãos do presidente, que tem poder de veto – ao discordar,
devolve o diploma ao congresso, que depois, só com 3⁄4, pode obrigar o presidente e
receber o diploma outra vez.

O Presidente tem o veto bolso/veto algibeira – deixa o diploma, não veta, nem passa.
O poder de impedir também reside nos tribunais, porque esses podem fiscalizar a
constitucionalização das leis.

É o Congresso que, através do orçamento, tem nas mãos os meios financeiros da


administração – Mesmo que um presidente queira a guerra, quem tem os meios é o
Congresso.

O Congresso pode fiscalizar a política e atuação do presidente. Pode desencadear a


responsabilidade criminal de um presidente (Nixon – Watergate: Escutas são postas na
sede do partido da oposição, o presidente mente a dizer que não sabia e renuncia,
antes de ser destituído / Bill Clinton: Mentiras e atos não tolerantes na Casa Branca, foi
objeto de um processo de responsabilidade criminal (impeachment), no qual o
Congresso negou e não permitiu.

Os atos do executivo estão sujeitos a controlo de legalidade pelos tribunais, que são
controlados pelas leis, que só podem ser constitucionais, e as nomeações dependem
da conjugação da vontade do presidente que nomeia e o nomeado que não pode ter
objeções pelo senado
Difusão do presidencialismo norte americano

1) O presidencialismo norte americano foi exportado para, primeiramente:

França em 1848 (2ª República francesa) - Liderada pelo sobrinho de Napoleão que
instaura este sistema político. Na 3ª república francesa já institui o parlamentarismo
de assembleia;

2) O segundo país que recebeu esta experiência foi Portugal– Sidónio Pais.

Modelo francês - Está em causa a constituição de 1958 – Duas hipóteses:

1. O presidente é o líder da maioria parlamentar: Há sintonia entre a maioria política


que elegeu o presidente (Sufrágio direto), e quem elegeu o parlamento. O sistema
Hiper presidencial só funciona neste primeiro cenário. É chefe de estado e também
simultaneamente líder da maioria política do parlamento, por isso regulamenta a
atuação parlamentar;

2. Há duas maiorias políticas, a que elege o presidente da Républica e o que elegeu a
maioria parlamentar: primeiro-ministro. Enquanto chefe da maioria, escolhe o
primeiro-ministro.

Perfeição do modelo francês→ Se as coisas correm bem ao PM, quem é beneficiado é


o PR, porque é quem tem a linha política do poder. Sempre que as coisas correm mal,
quem é julgado é o PM. O primeiro a “sair”, é sempre o primeiro-ministro e funciona
apenas como um colaborador do PR, o que significa que o PR em França, soma as
vantagens do presidente norte-americano e as tradicionais vantagens do primeiro-
ministro britânico.

-> PR: Tem direito de veto no governo e no parlamento. É ele que preside às reuniões
do executivo. O PR pode instrumentalizar o PM e os ministros à execução da sua
política. Quando há sintonia política, o PM executa o que lhe é ordenado pelo PR. O PR
francês controla o governo e a maioria parlamentar, podendo-o destituir facilmente.
Tem um papel importante e autónomo no desencadear do referendo.

No modelo francês quando há sintonia de maioria, não é presidencial, mas sim híper
presidencial. Quando não há sintonia de maioria (coabitação), o modelo funciona com
um decréscimo de poder do PR.

Sistema Diretorial: A origem em França, na constituição de 1795

• Rigorosa separação de poderes, no fundo é a expressão da ideia de Montesquieu,


que a separação de poder é a melhor maneia de limitar o poder.
• O sistema diretorial é um sistema de governo próximo do presidencial. A grande
diferença consiste na natureza colegial do órgão executivo. No presidencial, é singular,
no diretorial, é colegial. Este órgão colegial de natureza legislativa não pode, todavia,
aprovar moções de censura contra o órgão executivo. Nem o diretório pode dissolver o
órgão colegial de natureza parlamentar. A ideia, portanto, de casamento sem divórcio.

Sistema Convencional: Com origem no pensamento de Rousseau- Assenta-se na


concentração. Todos os órgãos são órgãos colegiais e o poder assenta num sistema de
caixas chinesas, ou seja: Esta é a convenção, o órgão máximo que concentra os
poderes soberanos, e deste órgão emana um outro órgão, de cunho executivo. Deste
órgão, emanará outro órgão, este sim emana todos os poderes. O que separa estes
dois sistemas:

• Separação e concentração dos poderes

• Responsabilidade política permanente de cunho mais restritivo, ou de amplitude


eleitoral

Existem assim dois modelos de Sistema Convencional:

1- Jacobino: Constituição que nunca chegou a vigorar (1793)

2. Modelo Soviético- Com todo o seu constitucionalismo em base neste sistema.


Assenta-se na ideia de concentração de poderes, no soviete supremo: Bicameral.

Sistemas de raízes pré́-liberal: Rousseau dentro do liberalismo, é partidário de uma


conceção diferente da divisão de poderes.

Parlamento de assembleia→ Separação de poderes.

É o modelo de origem, mas não é a sua expressão – 3ª República.

Como sobreviveram os sistemas liberais? Os modelos de organização política que


existem num estado constitucional, cuja origem está no modelo anterior às
revoluções.
três modelos:
1. Monarquia Limitada;

2. Cesarismo;

3. Governo do Chanceler

1- A Monarquia Limitada

É o resultado da contrarrevolução – Uma reação aos excessos da revolução francesa. O


grande protagonista deste sistema é Benjamin Constant. O primeiro expoente deste
regime é a Carta Constitucional de 1814.

 O centro do poder político, da decisão constituinte, está instante no rei;


 O rei tem uma constituição escrita para o limitar;
 O rei, na sua atuação quotidiana, está limitado pela separação de poderes, tem
de contar com os tribunais e com o parlamento;
 Ainda assim, o princípio monárquico domina a carta constituinte de 1814 em
Franca, e 1826 em Portugal;
 O ato constitucional é um ato de graça, outorgada pelo rei. Decide por si limitar
os seus poderes. A lei só é lei se o rei a sancionar: conjunto de duas vontades, a
de quem aprova (parlamento), e de quem a aceita: o rei;
 O veto do rei tem soberania absoluta;
 O rei pode dissolver a camara baixa, provocando eleições;
 Compete ao rei unir os membros da camara alta;
 Os seus ministros não são responsáveis politicamente no parlamento;
 O rei é o titular do poder moderador: é a chave dos demais poderes;
 Os tribunais são independentes, mas administram a justiça consoante a
vontade do rei;
 Se a constituição não atribui competência a outros órgãos, a competência em
regra pertence ao rei: titular da competência das competências;

Este foi o modelo que esteve na base do império austro-húngaro e do alemão,


sobrevivendo até ao fim da 1o GM (1919). Este modelo resistiu até a república em
Portugal (5 de outubro de 1910).

2. O cesarismo – É caracterizado por:

Concentração de poderes, com a diferença de que a concentração de poderes do


primeiro é na assembleia, no cesarismo decorre somente no César. Pressupostos
históricos: Napoleão e ainda tem a expressão entre 1852 e 1870, no 2º Imperio.

Baseia-se no plebiscito, a legitimação democrática do titular do poder. Com a


diferença, que na democracia chega ao poder quem ganha as eleições, aqui continua
no poder aquele que desencadeia o poder: Legitimação à posteriori.

3. O Governo de Chanceler

A origem está na Alemanha e na constituição que baseou a unificação alemã: Em 1871.


No ano anterior é a derrota francesa, e em Versalhes, o chanceler prussiano proclama
a unificação alemã. O poder político está concentrado no chefe de estado: o
imperador. Mas quem exercia o poder era alguém da confiança política do imperador,
a quem o imperado delegava os seus poderes: o chanceler.

O chanceler só é politicamente responsável pelo imperador. O executivo tem a cabeça


do imperador, mas por outro lado tem a cabeça do chanceler. É o chanceler que
escolhe os ministros e estes respondem sobre o chanceler, que por sua vez, responde
ao imperador. O parlamento não determina a cessação dos governos, por isso o
sistema não é parlamentar. Vigorou em Portugal na constituição de 1933, o Estado
Novo regeu-se por este sistema, com a diferença que o chefe de estado era o
presidente república.

Limites ao poder do Estado

A própria existência do Direito, já é, por si só, uma limitação ao poder do Estado. Já
sabemos que todos os princípios acima referidos, que pautam a atividade decisória,
também são limites.
O enquadramento histórico da limitação do poder, pode ter três configurações:

1- É impossível limitar o poder. Historicamente confirmado por uma razão: Se o poder


tem como base a soberania, a soberania é insuscetível de ser limitada, porque se o for,
deixa de ter o sentido amplo que a descreve. Quem concorda com esta concessão,
afirma que podia haver limites, mas só de carácter religioso e moral aos titulares dos
órgãos do governo. Foi assim até à Revolução Francesa. Antes, o rei conhecia a ideia de
autolimites: O governante cria para si os seus próprios limites. O rei podia assumir um
certo compromisso deliberado por si e para si. Contudo, ninguém o podia fiscalizar e, a
qualquer momento, poderia suspender ou até acabar com este mesmo compromisso.

2- É desnecessária a limitação do poder. É a tese de Platão: O governante é o sábio,


não precisa de leis, muito menos de ser limitado. Porque sendo sábio, sabe o que é o
correto, não necessita de qualquer limite. Foi este pressuposto de Platão, que originou
os modelos totalitários do século XX. Rousseau também vem a contribuir para esta
ideia: a autoridade está exposta através da expressão da maioria. A maioria não tem
de estar limitada. Há também, aqui, o risco de um modelo totalitário.

3- É necessária a identificação do direito com o Estado: Conceção do pensamento de


Kelsen. O Estado deve a sua existência ao Direito. A questão da limitação do poder é
aqui uma falsa questão. O poder escolhe sempre as suas limitações: o Estado de
Direito Formal. O direito é uma própria autodeterminação do poder. O que importa
para Kelsen, não é se o direito é ou não justo, mas se uma certa norma deriva da
competência de uma outra norma. Uma concessão formal: Direito cego à justiça.

Como resolver o problema da limitação do poder do Estado?

1. O Estado está limitado por princípios jurídicos fundamentais, que transcendem o


mesmo, e que por isso, são indisponíveis pelo Estado. O Estado não tem o monopólio
da criação do Direito, cinge-se a princípios supra positivos. Aqui reside a ideia de que
se houver leis injustas, estas não o são (leis), pois violam princípios fundamentais. Em
casos de direito injusto, surge o direito a desobedecer ao mesmo. Mesmo que a
decisão seja feita a partir da constituição, se for o caso de uma norma inconstitucional,
a deliberação não é válida.

2. Apesar do Estado estar limitado ao direito que o transcende, a verdade é que o


Estado também tem uma margem para poder criar Direito. Pode criar normas que
disciplinem a sociedade: direito da expressão de vontade do estado, que serve como
autolimite, logo, podem ser reversíveis. A relevância da vontade do Estado subdivide-
se na criação de normas constitucionais, ou ao abrigo da CRP, criar leis que espelhem
essa mesma vontade. Pode ainda, em terceiro, criar normas regulamentares no
exercício da função administrativa que visam pormenorizar as soluções legislativas de
convenções internacionais. Logo, o Estado exerce a vontade, e ao fazê-lo, está limitado
no exercício das suas funções. Estes limites podem ser criados exclusivamente por si,
ou pelo Estado e um Terceiro (UE): Hétero-vinculação, contudo com base de auto-
vinculação.

3. Não são apenas limitações jurídicas, há limitações não-jurídicas. Há


fundamentalmente, quatro grandes limitações deste tipo:

 Os partidos políticos (em especial os de oposição);


 Os grupos de interesses (sindicatos querem influenciar a população);
 A opinião pública: Eleições e/ou inquéritos de estatística/sondagens;
 Os meios de comunicação social e as redes sociais: denunciar situações de
irregularidade, crimes, servindo como um debate generalizado de ideias.

O problema dos limites aos limites não jurídicos: O uso de notícias falsas, deve ser
admitida como liberdade de expressão, ou deve ser um limite? Se for um limite, quem
o controla e impõe? Não será́ isto um ato de censura? Como se pode então limitar
juridicamente as limitações não jurídicas?
É este o maior desafio da atualidade.

Mecanismos de controlo do poder

1. Mecanismos intraorgânicos: Dentro dos próprios órgãos de decisão. Há casos em


que cada órgão, tem dentro de si mecanismos intraorgânicos. Intra, por estarem
dentro do próprio órgão limitarem a sua deliberação.

No parlamento, temos o caso da existência de um bicameralismo (2 câmaras no


parlamento). No modelo britânico ou no modelo norte americano. Há aqui controlo do
próprio poder, porque necessita da conformidade de vontade de ambas as partes, por
exemplo, no que toca à matéria legislativa.

A exigência de maiorias qualificadas. Quanto maior for a maioria exigida para aprovar
um determinado diploma, mais importante é alargado o consenso, logo maior é o
controlo. A maioria tem de ser previamente decidida, porque há variadíssimas formas
de maioria.

O executivo pode também ter mecanismos de limitação. A existência de um executivo


dualista: chefe de estado e um governo. Logo, tem de haver uma articulação entre
ambos. Existe uma obrigatoriedade de convergência de vontades. Ou quando há um
governo de coligação: os partidos em causa limitam-se mutuamente na deliberação de
governar. A existência de tribunais colegiais (pluralidade de juízes).

2. Mecanismos interorgânicos: Controlo entre diferentes órgãos. Podem ser


mecanismos de controlo político ou mecanismos de controlo jurídico.

 Controlo político: Controlo do governo pelo parlamento. O parlamento pode


tirar a confiança política do governo, pela aprovação de uma moção de
censura, ou no presidencialismo, o parlamento pode destituir o presidente pelo
impeachment, ou a existência de meios ordinários de controlo do governo pelo
parlamento: inquéritos e nomeações.

Pode também existir o contrário: O governo controlar o parlamento. O governo pode


condicionar a atuação do parlamento na questão do orçamento. O parlamento diz sim
ou não. Mas o processo de desencadear é exclusivo ao governo. O governo pode
também solicitar ao rei a dissolução do parlamento (No caso Britânico).

 Controlo jurídico: O controlo pode incidir em termos internos, ou pode ser


proveniente de termos externos. Quanto aos termos internos, se for sobre
atos, pode se verificar na fiscalização dos atos praticados pelo poder.
É também o exemplo disto mesmo, a condição de responsabilidade civil por parte do
titular. Quanto aos termos externos, pode ser verificado pelo tribunal da EU
(Mecanismo internacional de controlo externo).

Não há mecanismos de limitação do poder, fora dos órgãos?

Há e são os chamados mecanismos extraorgânicos de controlo. Exemplo: Através do


eleitorado, ou através da opinião pública (Redes sociais por exemplo). Mecanismos
estes que estão fora do poder. Quando já́ não é possível a existência de mecanismos
de limitação do poder, sobra-nos o direito de resistência. O direito de não se
subordinar a determinadas decisões e/ou comandos, que entram em confronto com
determinados direitos fundamentais: Artigo 21º da CRP.

Aula de dúvidas-

Distribuir o tempo consoante os valores de cada pergunta

Teoria da Constituição

Três ideias- A constituição é síntese de valores e princípios- Unidade ao sistema


jurídico- Topo da pirâmide normativa; A constituição tem uma força jurídica
prevalecente

Você também pode gostar