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Distribuição Gratuita

Organização
Bruna Papaiz Gatti
Camila Potyara Pereira

PROJETO
RENOVANDO A CIDADANIA
Pesquisa sobre a População
em Situação de Rua do Distrito Federal

Brasília - DF
2011
EXPEDIENTE:

Projeto Renovando a Cidadania - Distrito Federal

Órgão Financiador:
Fundação de Apoio à Pesquisa - Distrito Federal (FAP/DF)

Órgão Executor Financeiro:


Programa Providência de Elevação da Renda Familiar
Diretor-Presidente: Maurício Teixeira da Costa

EQUIPE TÉCNICA

Coordenadora:
Maria Salete Kern Machado

Coordenadora de Atividades:
Isabel Pojo Rego

Assessores de Coordenação:
Mônica de Castro Mariano
Otávio Papaiz Gatti

Consultoras:
Bruna Papaiz Gatti
Camila Potyara Pereira

Responsáveis pelo Banco de Dados:


Marcos César Alves Siqueira
Vanessa Ribeiro

Fotografia:
Ana Nascimento

Impressão:
Gráfica Executiva

Projeto Gráfico:
Kiko Nascimento

Ficha catalográfica:

Bruna Papaiz Gatti; Camila Potyara Pereira (Orgs.) PROJETO RENOVANDO A CIDADANIA: pesquisa
sobre a população em situação de rua do Distrito Federal. Brasília: Gráfica Executiva, 2011.

198p.

1. População em situação de rua. 2.Distrito Federal. 3.Censo 4.Cidadania. 5.Condições de vida.


6.Políticas sociais. 7.Proteção Social.

ISBN 978-85-89304-04-7

A impressão dessa publicação contou com o apoio financeiro da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP/DF), via Pro-
grama Providência de Elevação da Renda Familiar.
Equipe Técnica Aplicadores
Amanda de Souza Apen
Coordenadora Ana Carolina Lauriano Brandão
Maria Salete Kern Machado Bruno Ferreira Couto
Clara Moraes Hossell
Coordenadora de Atividades Cristianele de Paulo
Isabel Pojo Rego Danielle Aranha Farias
Danúbia Maria de Jesus Vieira
Assessores de Coordenação Denise Amâncio de Olegário Abreu
Mônica de Castro Mariano Dina Santos Araújo
Otávio Papaiz Gatti Elaine Cristina Mendes
Fernanda Tibana Machado
Consultoras Gabriel Melo Soares
Bruna Papaiz Gatti Gabriela Toralles
Camila Potyara Pereira Gabriella Vale Bendes
Gleuça Marculino de Lima
Responsáveis pelo Banco de Dados Helen Roza Lima
Marcos César Alves Siqueira Isadora Rodrigues Miranda Louzeiro
Vanessa Ribeiro Jéssica Marília de Oliveira Matos
Júlia de Albuquerque Pacheco
Fotografia Kaline Ferreira Monteiro
Ana Nascimento Kamila Rocha dos Santos
Lorena Contreiras Brito
Equipe - Censo da População em Lucas Figueiró de Oliveira
Mateus Fernandes Oliveira
Situação de Rua do Distrito Federal Mayara Daher de Melo
Natália Almeida da C. Ramos
Supervisores Nathália Campos Alcântara de Araújo
Amarantha Sá Teles de Cerqueira Paloma Karuza Silva
Bernardo de Almeida Monteiro Rafaella Oliveira da Câmara Ferreira
Bruno Brandão Pinto Samuel Nogueira Costa
Daniel Ramos da Silva Suellen Cristina de Oliveira
Getúlio Henrique Ferreira Alves Thaís Coelho Gomes
Gustavo Fúria Lopes Thiago Meneses de Castro Mendes
Helena Martins Marques
Izabela Amaral Caixeta Motoristas/Seguranças
Libele Vogt Volkmer Alexandre Antunes Sampaio
Luana Gaudad Sardinha Carneiro Damião Ronaldo Pereira
Lusa Fontoura Portuguez Danilo Vieira de Carvalho
Maíra Gussi de Oliveira Daniel Dantas de Oliveira
Roberto Rego Mendes David Silva dos Santos
Rodrigo Macedo Otta Enio Castro Assis
Simone da Silva Ribeiro Eric de Oliveira Queiroz
Tayenne de Faria Pacheco D. Cabral Jean Kelpy de Pontes Sousa
José Milton Hércules B. de Soua
Juliano Oliveira
Márcio de Souza Lopes
Oséias Silva dos Santos
Raissa Maria de Sousa Matos
Sidney do Nascimento Simões
Paulo de Oliveira
Wellington Alves Ribeiro
Facilitadores Mediadores
Antônio Helvécio Carlos José Campos de Oliveira
Edmilson Edimar Ferreira Nunes
Edilson Eduardo Evangelista de Souza
Gabriel Yrismar Carvalho da Silva Oliveira
Gustavo Marcos Celso Pereira de Souza
Haliel Raílton Fernandes de Souza Filho
Ivan Eduardo da Silva Ribamar de Moraes
José Ferreira
Josemar Otaviano Monitores
Wilson Batista da Silva Bruno Brandão Pinto
Márcio Gustavo Fúria Lopes
Natanael Lorena Contreiras Brito
Orismar Lusa Fontoura Portuguez
Robson Maíra Gussi de Oliveira
Rubens Mayara Daher de Melo
Sebastião Thaís Coelho Gomes
Sidnei Dias Sobrinho Thiago Meneses de Castro Mendes
Thiago da Silva Souza
Wagner dos Santos Montalvão Colaboradores
Valdir Barbosa Lima Francildes C. Souza
Vilair de Oliveira Marcia Ramos
Márcio de Souza Lopes
Equipe - Ciclo de Debates: Políticas Maria Carolina Santos Andrade
Karen Ferreira Monteiro
Sociais para a População em
Paulo de Assis Martins Marques
Situação de Rua do Distrito Federal Philipe Martelli Chahini Escudero
Teresa Alice Alves e Silva
Coordenação
Bruna Papaiz Gatti Oficina de Circo
Camila Potyara Pereira Centro de Assistência Coração de Jesus

Relator-chefe Corte de Cabelo


Marcos César Alves Siqueira Maria Judith Alves Aires

Relatores Oficina de Bordado em Pedraria


Alessandra C. da S. Jordão E. Pontes Rosimere M. Pereira
Alexandra Fioravante
Alexandre Olympio de S. Espindola Oficina de Reciclagem de Garrafas PET
Clarice Barbosa Vieira
Clementina Araújo Bagno da Silva Equipe Mediateca
Jaqueline Vieira Dias Cecília Leite Oliveira
José Manoel Montanha da S. Soares Orlando Leite Filho
Lucélia de Moraes Braga Bassalo Juliana Teles Guimarães
Luciana Vecchi Martins da Cunha Luciana Teles Guimarães
Marina Fragata Chicaro
Priscila Nolasco de Oliveira Fotografia e Filmagem
Aga Videomaker
Mediadores-chefe
Antônia Cardoso de Abreu
Jacinto Mateus de Oliveira
Agradecimentos
Governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz

Fundação de Apoio à Pesquisa – Distrito Federal (FAP/DF)

Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest/GDF)


Especialmente
Secretária Arlete Sampaio
Subsecretaria de Assistência Social Ana Lígia Gomes
Diretora de Proteção Social Especial Adriana Carvalho
Psicóloga da Diretoria de Proteção Social Especial Paula Stein
Assessora de Imprensa da Sedest Ilka Fagundes
Coordenador do Albercon Alisson Pereira Oliveira
Coordenadora da Casa de Passagem Adolescente GIRAÇÃO Neurialan de Paula Araújo
Coordenadora da Casa de Passagem Feminina Casa Flor Elisandra da Silva Lobo
Coordenadora do Núcleo Especializado de Abordagem Social em Espaços Públicos Meire Lima
(NUASO/Sedest/GDF)

Centro de Referência da Assistência Social do Guará

Centro de Referência da Assistência Social de Sobradinho

Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal (SeCult/GDF)

Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)


Especialmente
Promotor Rodrigo Filgueira de Oliveira
Felipe Boy Vieira

Movimento Nacional da População de Rua (MNPR)


Especialmente
Antônia Cardoso de Abreu (MNPR/DF)
Samuel Rodrigues (MNPR/MG)
Anderson Lopes Miranda (MNPR/SP)

Pastoral da Rua - Regional Leste 2/CNBB


Especialmente
Cristina Bove Roletti

Casa de Apoio Santo André


Especialmente
Ribamar de Moraes
Universidade de Brasília (UnB)

Universidade Católica de Brasília (UCB)

Administração Regional de Brasília

Administração Regional do Gama

Cúria Metropolitana de Brasília

Mediateca
Especialmente
Cecília Leite Oliveira
Orlando Leite Filho
Juliana Teles Guimarães
Luciana Teles Guimarães

Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF)

Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF)

Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social (NEPPOS/CEAM/UnB)

Núcleo de Estudos da Paz (NEP/CEAM/UnB)


Especialmente
Profª. Drª. Nair Heloísa Bicalho

Profª. Drª. Ana Maria Nogales de Vasconcelos – Universidade de Brasília (UnB)

Edilma Moreira Gabriel

Rafaella Amorim Ferreira

Hélio Marques de Souza e família

Profª. Drª. Potyara A. Pereira-Pereira – Universidade de Brasília (UnB)

Gilberto Gatti

Júio César Ribeiro

Samuel Costa

Andrei Santos de Morais

Sérgio Reis Ferreira

Karina Fleury

Mirna Corrêa

A todas as pessoas em situação de rua do Distrito Federal


Sumário
Lista de Siglas......................................................................................................................................................................................................................9

Apresentação..................................................................................................................................................................................................................11

Capítulo 1 – Etapa 1:
Levantamento das instituições que trabalham com pessoas em situação de rua no DF
Metodologia da 1ª Etapa.....................................................................................................................................................................................21
Resultados das visitas às instituições que atendem pessoas em situação
de rua no Distrito Federal....................................................................................................................................................................................23
Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS)................................................................23
Núcleos de Ações Especiais......................................................................................................................................................................24
Instituições de acolhimento públicas e privadas...................................................................................................................26

Capítulo 2 – Etapa 2:
Censo da população em situação de rua do Distrito Federal
Mapeamento das áreas de concentração da população em situação de rua do DF....................................31
Cartilha: Direitos do Morador de Rua......................................................................................................................................................32
Elaboração dos questionários e realização do pré-teste..........................................................................................................34
Estruturação do trabalho de campo.........................................................................................................................................................35
Procedimento de aplicação dos instrumentos................................................................................................................................39
Crítica aos dados..........................................................................................................................................................................................................41
Resultados - Dados de sexo e raça/cor do universo...................................................................................................................45
Crianças em situação de rua do DF............................................................................................................................................................47
Perfil dos Pesquisados....................................................................................................................................................................................49
Adolescentes em situação de rua do DF...............................................................................................................................................51
Trabalho e Estudo..............................................................................................................................................................................................55
Saúde.............................................................................................................................................................................................................................59
Albergues e Abrigos.........................................................................................................................................................................................63
Vida nas ruas..........................................................................................................................................................................................................65
Família...........................................................................................................................................................................................................................72
Violência.....................................................................................................................................................................................................................73
Adulto situação de rua do DF.........................................................................................................................................................................77
Escolaridade............................................................................................................................................................................................................84
Saúde.............................................................................................................................................................................................................................86
Trabalho......................................................................................................................................................................................................................89
Vida nas ruas..........................................................................................................................................................................................................95
Violência..................................................................................................................................................................................................................104
Família........................................................................................................................................................................................................................110
Relatos de vida............................................................................................................................................................................................................115
Métodos qualitativos...................................................................................................................................................................................117
Resultados..............................................................................................................................................................................................................118

Capítulo 3 – Etapa 3:
“Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua do Distrito Federal”
Metodologia da Etapa 3....................................................................................................................................................................................153
Organização das Etapas Regionais...................................................................................................................................................154
Procedimento de realização do Ciclo de Debates – por horário e função................................................159
Resultados dos Ciclos de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação
de Rua do Distrito Federal - Desafios e Propostas por Grupos de Trabalho.....................................................164
Grupo 1 – Assistência e Previdência Social.............................................................................................................................164
Grupo 2 – Cultura, Esporte e Lazer................................................................................................................................................169
Grupo 3 – Educação....................................................................................................................................................................................170
Grupo 4 – Habitação...................................................................................................................................................................................174
Grupo 5 – Saúde.............................................................................................................................................................................................178
Grupo 6 – Segurança Pública..............................................................................................................................................................183
Grupo 7 – Trabalho e Renda................................................................................................................................................................187

Considerações Finais.........................................................................................................................................................................................189

Bibliografia de Referência............................................................................................................................................................................193
Lista de Siglas
Albercon Albergue Conviver
Abrire Abrigo Reencontro
ADRA Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais
AEC Abrigo dos Excepcionais de Ceilândia
AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
AMAI Associação para Auxílio à Maternidade, à Infância e à Adolescência
APS Associação das Pioneiras Sociais
BA Bahia
BPC Benefício de Prestação Continuada
CADÚnico Cadastro Único para Programas Sociais
CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
CAJE Centro de Atendimento Juvenil Especializado
CAPS-AD Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas
CAS Conselho de Assistência Social
CATAMARE Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável do DF
CEICON Centro Comunitário Imaculada Conceição
CENOL Centro Espírita Nosso Lar
CEP Código de Endereço Postal
CER Centro de Ensino e Reabilitação
CERAPE Centro de Recuperação e Apoio ao Preso e ao Egresso
CIAGO Centro de Internação de Adolescentes Granja das Oliveiras
CNAS Conselho Nacional de Assistência Social
CNH Carteira Nacional de Habilitação
CPF Cadastro de Pessoa Física
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
CRDP Centro de Reintegração Deus Proverá
CREAS Centro de Referência Especializada de Assistência Social
CRIAMAR Casa da Criança Ana Maria Ribeiro
CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social
DIEESE Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos
DF Distrito Federal
DST Doença Sexualmente Transmissível
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
FAP/DF Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal
FEBEM Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor
FPR/DF Fórum Permanente da População em Situação de Rua do Distrito Federal
GEABL Grêmio Espírita Ataualpa Barbosa Lima
GESST Grupo de Estudos e Pesquisas em Seguridade Social e Trabalho
GDF Governo do Distrito Federal
GT Grupo de Trabalho
HRAN Hospital Regional da Asa Norte
IMDH Instituto Migrações e Direitos Humanos
INSEA Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável
LSD Dietilamida do Ácido Lisérgico
MEDIATECA Organização para a Inclusão Social e Digital do Distrito Federal
MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MG Minas Gerais
MNCR Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável
MNPR Movimento Nacional da População de Rua
MNMMR Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua
MPMG Ministério Público de Minas Gerais
MST Movimento dos Sem-Terra
NEPPOS Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Social
NUPCE Núcleo de Proteção em Situação de Calamidade Pública e Emergência
NUASO Núcleo Especializado de Abordagem Social em Espaços Públicos
NUAPS Núcleo de Atendimento às Pessoas em Plantão Social
OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
OS Organização Social
OASSAB Obras de Assistência e de Serviço Social da Arquidiocese de Brasília
PNMPO Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado do Ministério do Trabalho e Emprego
PUC Minas Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
RA Região Administrativa
REDLAD Rede Latinoamericana de Análise do Discurso da Pobreza
RIDE/DF Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
SAAN Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte
SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
SCIA Setor Complementar de Indústria e Abastecimento
SeCult Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal
Sedest Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda
SERVOS Comunidade Terapêutica Fazenda Senhor Jesus
SES Secretaria de Estado da Saúde
SIA Setor de Indústria e Abastecimento
SIÃO Serviço Integrado de Amparo e Orientação
SIG Setor de Indústrias Gráficas
SMU Setor Militar Urbano
SP São Paulo
SUAS Sistema Único da Assistência Social
SUBPLAG Subsecretaria de Planejamento e Gestão da Informação
Sudesa Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água
UAC Unidade de Alta Complexidade
UCB Universidade Católica de Brasília
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UnB Universidade de Brasília
UNISUAS 24H Unidade SUAS 24 Horas
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Apresentação
O Projeto
O Projeto Renovando a Cidadania teve início em março de 2010 e foi fruto da parceria do
Programa Providência de Elevação da Renda Familiar1 com pesquisadores da Universidade de Bra-
sília, tendo sido financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF).
Este Projeto, comprometido unicamente com a realidade social ontológica, isto é, verídica
e concreta, das pessoas em situação de rua do Distrito Federal, procurou reunir instituição e pes-
quisadores autônomos, ideologicamente independentes, embora criticamente posicionados, com
o objetivo de compreender, para modificar, a condição de rua vivenciada por um contingente
considerável de cidadãos nesta Unidade da Federação.

Objetivos2

Objetivo Geral

Associar a pesquisa acadêmica sobre as pessoas em situação de rua no Distrito Federal


com a ação pública decorrente de seus resultados em benefício desse segmento social, colocando,
assim, o conhecimento científico a serviço da construção de uma sociedade mais justa, digna e
includente.

Objetivos específicos:

• Realizar levantamento censitário da população em situação de rua no Distrito Federal,


focado na obtenção de dados e informações que permitam compreender a singularida-
de do seu perfil e das suas condições de vida;
• Identificar as principais causas que motivaram essa população a tal condição;
• Realizar levantamento de todas as entidades que interagem com esse público e de
suas ações;
• Promover articulações com órgãos governamentais e não governamentais que
desenvolvem ações sociais ou políticas públicas para essa população;

1 O Programa Providência, fundado em 2 de fevereiro de 1998, é uma entidade de serviço e assistência social, beneficente, filantrópica, cultural e educa-
tiva, sem fins lucrativos, dotada de personalidade jurídica de direito privado, constituída sob a forma de Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público (OSCIP), registrada no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e no Conselho de Assistência Social (CAS) do Distrito Federal, inscrito
no Programa Nacional de Microcrédito Produtivo e Orientado do Ministério do Trabalho e Emprego (PNMPO). É, também uma Organização Social
(OS), cadastrada no Governo do Distrito Federal, e filiada às Obras de Assistência e de Serviço Social da Arquidiocese de Brasília (OASSAB). Sua
estrutura organizacional é composta de Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Diretoria Executiva e, funcionalmente, atua com corpo de
voluntários e conta com quadro de funcionários registrados. Seu objeto está centrado no desenvolvimento de atividades com vistas à elevação da
renda familiar de pessoas de baixa renda, bem como promover ações de natureza educativa e cultural, com enfoque na capacitação dessa camada da
população, no Distrito Federal e Entorno (RIDE – DF).

2 A explicitação dos métodos e técnicas utilizados para alcançar cada um dos objetivos será apresentada ao longo desta publicação.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Fornecer subsídios à elaboração e implementação de política direcionada a esse público;


• Viabilizar a participação ativa da população em situação de rua na formatação, aplicação
e controle democrático dessas políticas.

Breve contextualização do tema


Origens da Situação de Rua

O processo social identificado como população em situação de rua existe desde o início
das primeiras formações societárias. Há registros, por exemplo, de pessoas vivendo nas ruas em
praticamente todas as grandes civilizações da antiguidade: Egito, Grécia, Roma, China. Contudo, é
com o advento do capitalismo3 que este processo deixa de ser uma ilustração do modo de vida de
alguns para caracterizar um problema social de massas. No período regido pelo modo de produção
capitalista ocorrem duas grandes transformações relativas, em primeiro lugar, ao tamanho deste
contingente populacional e, em segundo, às causas que levavam as pessoas às ruas.
A partir do século XVII observou-se o crescimento assustador e vertiginoso do número de
indivíduos que foram obrigados a (sobre)viver nesta condição. Na Europa, berço do capitalismo, a
situação tornou-se crítica. Huberman (1986), por exemplo, afirma que 1/4 da população de Paris
pernoitava nas ruas da cidade na década de 1630. Nas áreas rurais, o número era praticamente o
mesmo. No século XIX, o escritor Jules Gabriel Janin assim descrevia Paris:

A Paris da noite é assustadora; é o momento em que a nação noturna se põe


em marcha. (...) o terror é grande, terrível, imenso. E o ouvido reconhece o
ruído surdo da patrulha cinza que começa sua caçada desesperada. Esta é
a população fervilhante e furtiva que Paris deixa viver nos becos pavorosos,
dissimulado-a bem atrás dos museus e dos palácios. (JANIN apud BRESCIANI,
2004, pp.13-14).

Em outras cidades européias a situação era a mesma. Em Londres, por exemplo, estimava-se
que, no século XIX, a cidade comportava cerca de dois milhões de habitantes e a população em
situação de rua girava em torno 150 mil pessoas.

A Holanda estava cheia deles [os mendigos] e na Suíça, no século XVI, ‘quan-
do não havia outra forma de se livrar dos mendigos que sitiavam suas casas
ou vagavam em bandos pelas estradas e florestas, os homens de bens organi-
zavam expedições contra esses desgraçados desabrigados’ (RENARD; WEU-
LERSSE apud HUBERMAN, 1986, p.97).

3 Alguns autores defendem que o sistema capitalista teve sua primeira fase entre o século XVI e o século XVIII, sendo esta denominada de Capitalismo
Comercial ou Mercantilismo. É importante frisar, contudo, que o início de um modo de produção não elimina o seu predecessor. Desta forma, mesmo
após o início do capitalismo, formas de feudalismo ou escravismo permaneceram coexistindo pelos séculos seguintes. A hegemonia e generalização
do sistema capitalista se deu apenas no início do século XIX, no rastro da Revolução Industrial.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Desde o início deste modelo econômico e social, um contingente considerável de pessoas


não participam efetivamente do processo de geração de riquezas (trabalho) e da distribuição de
seus frutos (consumo). O sistema capitalista nascia com uma peculiaridade inalterável: para que
funcionasse, necessitava gerar restos. Era a partir da superexploração dos trabalhadores e do esta-
belecimento da desigualdade, como princípio, que atingiria seu objetivo primeiro: o lucro. Neste
sistema, os espaços – públicos e privados de toda sorte – eram para poucos e o papel do Estado
ao longo destes últimos séculos era o de garantir que os que “pertencem” tivessem mais direitos de
pertencer, ao passo que os que nada tem, deveriam ter menos ainda, em uma deferência desvirtu-
ada à seguinte passagem do evangelho de Mateus: “Pois a todo aquele que já tem será dado ainda
mais, e ficará na abundância; mas daquele que nada tem será tirado até mesmo o que tem” (Mateus,
13:10 a 14).
Assim, o número de pessoas à margem da sociedade consumista cresceu exponencialmente
a partir do século XVI. Como resultado, esses indivíduos transformaram o espaço público – as ruas
– em seu universo de vida e sobrevivência privados, evidenciando a imagem crua da exploração
capitalista.
A partir desse cenário, um dos maiores desafios dos pesquisadores contemporâneos tem
sido o de levantar as causas secundárias – frutos da primeira acima descrita – que determina tal
situação.

População em Situação de Rua no Brasil

No Brasil, a origem deste processo social remonta ao início das primeiras formações urbanas
mais densas, no último quarto do século XIX. As práticas higienistas, deste período, adotadas pelos
governantes brasileiros em parceria com grupos empresariais imobiliários, tinham o objetivo de
urbanizar e modernizar o País; criar um “povo de verdade”4 e lucrar com o aluguel e venda de habi-
tações valorizadas após a expulsão dos pobres de zonas centrais. Estas ações, geralmente bárbaras5
e que constituíam regra no período, recebiam o apoio da elite e dos meios de comunicação. Sua
consequência imediata foi a desapropriação de milhares de indivíduos pobres e sem trabalho –
porque não eram aceitos neste mercado – que encontraram três alternativas de sobrevivência nas
cidades: a) ocupar locais centrais, criando novas formas de habitação, como as favelas; b) retirar-se
(na maioria das vezes sob coação) para localidades cada vez mais afastadas, inaugurando as primei-
ras periferias; ou c) fazer das ruas seu local de moradia permanente ou provisória.
Surge nesse momento, uma população em situação de rua brasileira que, ao longo do de-
senvolvimento capitalista no País, cresce e se firma como grupo social concreto, desafiando go-
vernos, gestores e pesquisadores. No entanto, apesar da distância temporal entre o surgimento
deste grupo e os dias atuais, as ações políticas permanecem em consonância com a ideologia do

4 A Intelligentsia da época não considerava os negros, índios e mestiços como povo brasileiro, apesar de estes representarem mais de 65% dos habitantes
do País na virada do século XIX para o XX. O medo da formação de uma classe média negra, forte e influente, justificou a criação de uma política de
“embranquecimento” da população, operacionalizada pelo incentivo à imigração européia. A “limpeza étnica” gerou ações higienistas extremamente
violentas contra os pobres, escravos e ex-escravos, indígenas e mestiços.

5 Há registros de incêndios criminosos em cortiços e demais habitações pobres; derrubadas com famílias ainda dentro de suas casas; vacinações com-
pulsórias, com uso de força física; esterilização obrigatória de mulheres pobres. Sobre este assunto ver Sprandel (2004), Sheppard (2001) e Chalhoub
(1996).

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

darwinismo social de Herbert Spencer na qual, referenciada na teoria da evolução das espécies de
Darwin, os fracos (ou seja, os pobres) devem perecer. Décadas após a derrubada sistemática de cor-
tiços e favelas, no Rio de Janeiro dos anos 1960 – então governado por Carlos Lacerda – a “operação
mata-mendigo” determinava que pessoas em situação de rua fossem torturadas e jogadas no Rio
Guandu. Em São Paulo, entre os anos 2005 e 2008 – Gestão Serra-Kassab6 – várias “obras antimen-
digo” foram inauguradas: bancos públicos com divisórias, impedindo que alguém deite; construção
de rampas embaixo de viadutos e pontes; instalação de chuveiros e holofotes em esquinas frequen-
tadas por pessoas em situação de rua; colocação de pedras pontiagudas ou piso chapiscado em
calçadas, praças e embaixo de marquises.
A população em situação de rua não tem direito à cidade. Não tem direito à ir e vir na
cidade. E não tem direito à proteção social dentro da cidade ou fora dela. Mesmo os governos
que se diferenciam em ideologia dos acima citados, tem demonstrado dificuldades na garantia de
satisfação das necessidades deste grupo social, até das mais vitais. Neste contexto, a organização
das pessoas em situação de rua em movimentos sociais e organizações políticas7 trouxe diversos
ganhos, duramente conquistados por meio de lutas permanentes. A Política Nacional para a Popu-
lação em Situação de Rua, instituída pelo Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009, é o principal
deles. Neste mesmo sentido, pesquisadores, acadêmicos e estudantes começam a se especializar no
tema, produzindo conhecimento de qualidade, essencial para subsidiar políticas públicas compro-
metidas com a cidadania e pautadas pela lógica dos direitos.

População em Situação de Rua no Distrito Federal8

Em Brasília, o controle social e ideológico da população e a submissão à lógica do capital


ganharam contornos mais expressivos, tornando a cidade única, com características que a diferen-
ciam de todas as demais do País desde a sua fundação.
Nos anos 1950, a defesa da interiorização da Capital Federal se amparava no argumento
de que a cidade-sede deveria permitir ao Estado o controle da classe trabalhadora e dos desem-
pregados pobres que, na época, mobilizavam-se em frequentes manifestações à porta do Palácio
do Catete na cidade do Rio de Janeiro, até então sede do Executivo. A Comissão de Estudos para a
Localização da Nova Capital, presidida pelo general do exército Djalma Polli Coelho, traçou planos
consonantes com os conceitos de estratégia militar, seguidos até os dias atuais. A preocupação com
a segurança e com a “governabilidade” era comumente expressa em comparações entre o Rio de
Janeiro e a futura Capital. Argumentava-se que o Rio de Janeiro, por exemplo,

6 José Serra foi prefeito de São Paulo entre 1º de janeiro de 2005 e 31 de março de 2006. Gilberto Kassab, vice-prefeito de Serra, assumiu a prefeitura de
31 de março de 2006 a 31 de dezembro de 2008.

7 Como exemplo principal, cita-se o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), hoje já presente em mais de dez capitais brasileiras e mobili-
zando-se para sua expansão.

8 O Distrito Federal é composto por 30 Regiões Administrativas. São elas: Brasília (RA I), Gama (RA II), Taguatinga (RA III), Brazlândia (RA IV), Sobradinho
(RA V), Planaltina (RA VI), Paranoá (RA VII), Núcleo Bandeirante (RA VIII), Ceilândia (RA IX), Guará (RA X), Cruzeiro (RA XI), Samambaia (RA XII),
Santa Maria (RA XIII), São Sebastião (RA XIV), Recanto das Emas (RA XV), Lago Sul (RA XVI), Riacho Fundo (RA XVII), Lago Norte (RA XVIII), Candan-
golândia (RA XIX), Águas Claras (RA XX), Riacho Fundo II (RA XXI), Sudoeste/Octogonal (RA XXII), Varjão (RA XXIII), Park Way (RA XIV), SCIA (Setor
Complementar de Indústria e Abastecimento – Cidade Estrutural e Cidade do Automóvel – RA XXV), Sobradinho II (RA XVI), Jardim Botânico (RA
XVII), Itapoã (RA XVIII), SIA (Setor de Indústria e Abastecimento – RA XXIX) e Vicente Pires (RA XXX).

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

seria um local inadequado a uma sede nacional do Governo porque aí have-


riam muitas aglomerações humanas; ocorreriam no Rio de Janeiro frequentes
“agitações sociais”, que seriam inconvenientes para uma Capital; no Planalto
Central haveria mais tranquilidade para governar, já que distante das “pres-
sões” mais comuns na capital litorânea; no Rio de Janeiro haveria muitas fa-
velas e mendigos, algo considerado impróprio para a capital federal (...); no
Rio de Janeiro ocorreriam “misturas de gentes indistintas”, ao inverso da nova
Capital, onde o controle das habitações e tipos de bairros deveria ser mais
rigoroso (VESENTINI, 1986, p.83).

Brasília nasceu, portanto, com avenidas largas, privilegiando carros e não pessoas, favorecen-
do eficaz repressão a agrupamentos humanos e permitindo rápido fechamento das vias; espaços
vazios e de longa distância entre o centro (Brasília – RA I9) e as demais Regiões Administrativas, que
desencorajam manifestações populares; ortodoxa setorização, que desestimula os contatos pes-
soais, os encontros entre grupos sociais distintos e as aglomerações; sede do Governo Federal em
localidade aberta e ampla, garantindo a segurança, a manutenção da ordem e da disciplina, além da
contribuição para transformar, ilusoriamente, grandes conjuntos de indivíduos em manifestações
de pequeno porte: 200 mil pessoas em frente ao Congresso Nacional tem impacto diferenciado de
200 mil pessoas em frente ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro.
Tem-se, em resumo, uma cidade funcional, na qual a instrumentalização do espaço, a esta-
bilidade e a ordem são os fins a serem obtidos a qualquer custo, via qualquer meio. A arquitetura
e o urbanismo da cidade moderna – que fez jus ao tombamento de Brasília como Patrimônio da
Humanidade em 1988 – são apontados como cura para a anomia (ou a doença) própria das gran-
des cidades em todo o mundo. As consequências desse tombamento, contudo, são o aumento da
segregação espacial, da especulação imobiliária (que também segrega) e da discriminação contra
pessoas sem direito à cidade.
A periferia de Brasília, desde o início, já representava um contingente populacional impres-
sionante:

Em 1970, essa periferia abrigava 66% da população urbana do DF, dependen-


do do centro para o trabalho e para a satisfação da maior parte de suas neces-
sidades, estabelecendo-se já então um movimento pendular diário de popu-
lação entre o centro e a periferia, da ordem de 60 mil pessoas, a uma distância
de 130 km de ida e volta (BARBOSA apud GOUVÊA, 1995, p. 74).

Hoje, menos de 10% da população do Distrito Federal reside na RA I (Brasília). Muitos não
tem direito à cidade. Uma das causas de ida para as ruas na Capital, infelizmente, é essa.
A população em situação de rua de Brasília, tal qual a cidade que a (des)abriga, assume algu-
mas características que a diferencia dos sobreviventes de outras cidades brasileiras. A Capital, que
nasceu com o objetivo declarado de promover a igualdade e a fraternidade entre seus habitantes,

9 A RA1, denominada Brasília, engloba as Asas Sul e Norte, Vila Planalto, Granja do Torto, Vila Telebrasília, Setor Militar Urbano, Setor de Indústrias
Gráficas e Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte. O Plano Piloto corresponde à Asa Sul e à Asa Norte.

15
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

escondeu a real intenção, qual seja, a de servir ao capital, fechando as portas aos que não podem
pagar pelos valores intangíveis de seu alto custo de vida. Viver nas ruas de Brasília, a “Capital da
Esperança”, ironicamente, significa viver, com sua família inteira, em meio ao lixo, escondido em
cerrados e buracos, temendo perseguições, violências e expulsões por parte de uma sociedade
extremamente elitista e preconceituosa e por parte de quem mais deveria protegê-los: o Poder
Público.
Frente a esse cenário, a criação de novos programas, benefícios e serviços, especialmente no
âmbito da Política de Assistência Social, intentou minorar as dificuldades das populações pobres
do Distrito Federal. No entanto, constatou-se que a população em situação de rua nunca foi alvo
prioritário de proteção social, não tendo acesso a essas políticas que, apesar de focalizadas na po-
breza extrema, não chegam aos que mais precisam, seja por descaso, por omissão, desconhecimen-
to, seja por limitações políticas.
A partir dessa reflexão inicial, tem-se a convicção de que a peculiaridade de Brasília exigia
um estudo especifico, que subsidiasse a implementação de políticas públicas sensíveis a essa reali-
dade singular e que tenham por objetivo a melhoria substancial da qualidade de vida das pessoas
em situação de rua da Capital Federal.

Metodologia da Pesquisa
Para auxiliar a análise dos resultados que passarão a ser descritos a seguir, apresenta-se
o conceito de população em situação de rua, construído pela equipe técnica do Projeto Reno-
vando a Cidadania com base nos principais conceitos utilizados na atualidade, especialmente
o de Silva (2009):

Grupo populacional de composição heterogênea, mas que possui em co-


mum a pobreza extrema10, a ausência de moradia convencional regular e que
pernoita de maneira contumaz em logradouros públicos, espaços degradados
ou abandonados, terrenos baldios ou outras áreas não-urbanizadas e/ou ins-
tituições de abrigamento e acolhida.

A partir desse conceito e do pano de fundo anteriormente apresentado, o Projeto Reno-


vando a Cidadania adotou metodologia de trabalho adaptada à realidade do Distrito Federal que
também procurou dar foco e importância ímpar às vozes das ruas; ou seja, por meio de pesquisa
ouviu-se o que o público-alvo – a população em situação de rua do DF – anseia para que seja pos-
sível a superação de sua condição.
Tendo-se em mente os objetivos do Projeto Renovando a Cidadania foi organizado um pla-
nejamento articulado e abrangente, para garantir a compreensão do objeto em toda sua comple-
xidade e, assim, alcançar os resultados desejados. O presente projeto foi dividido em três etapas:

10 A concepção de pobreza extrema adotada pelas pesquisadoras do Projeto Renovando a Cidadania se refere ao não atendimento de necessidades
sociais básicas (e não mínimas), se afastando das definições restritivas baseadas apenas em rendimentos financeiros (linhas de pobreza e indigência,
cortes de renda do Salário Mínimo ou dólar/dia). Sobre este assunto ver PEREIRA; AMORIM (2010).

16
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Etapa 1 – Levantamento das Instituições que trabalham com pessoas em situação de rua

Nesta etapa, foram mapeadas todas as instituições que tem como público pessoas em si-
tuação de rua. Em seguida, essas instituições foram visitadas e seus dirigentes entrevistados com o
objetivo de conhecer o serviço prestado.
Nesta fase, também foram visitadas todas as trinta Administrações Regionais do Distrito
Federal para se buscar informações sobre os locais de concentração da população em situação de
rua em cada RA.

• Etapa 2 – Censo de População em Situação de Rua do Distrito Federal

Este Censo foi realizado entre os dias 3 a 12 de novembro de 2010, por meio do qual foram
pesquisadas todas as pessoas em situação de rua encontradas no período. Nesta mesma etapa
foram coletados relatos de vida com o intuito de permitir maior compreensão e aproximação da
realidade dos entrevistados.

• Etapa 3 – Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua do


Distrito Federal

Esta etapa consistiu de cinco encontros entre a população em situação de rua do Distrito
Federal com representantes do Governo, das Administrações Regionais, de Organizações não Go-
vernamentais e da Academia. Nestas ocasiões, a vocalização dos indivíduos em situação de rua foi
privilegiada, partindo do pressuposto de que os próprios sujeitos deveriam elencar as suas deman-
das referentes às suas principais necessidades básicas e, assim, propor políticas sociais específicas.

Cada uma dessas etapas será melhor descrita em capítulos posteriores.

17
ira
Foto: Camila Potyara Pere

Foto: Cam
ila Potyara
Pereira
Capítulo 1 – Etapa 1:
Levantamento das instituições
que trabalham com pessoas
em situação de rua no DF
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Metodologia da 1º Etapa

Capítulo 1 – Instituições
Para a realização do levantamento das instituições que atendem pessoas em situação de rua
no Distrito Federal foram realizadas consultas ao Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e
à Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest/GDF). Na primeira triagem
foram encontradas 55 instituições, a saber: Albergue Conviver (Albercon); Abrigo dos Excepcionais
de Ceilândia (AEC); Abrigo Reencontro (Abrire); Aldeia SOS; Associação Católica Nossa Senhora de
Fátima; Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA); Associação para
Auxílio à Maternidade, à Infância e à Adolescência (AMAI); Associação Assistencial de Santa Maria;
Casa Fraterna Bom Samaritano (Casa dos Irmãos - Toca de Assis); Casa de Ismael; Sociedade Obras
Sociais Boa Árvore; Associação Creche Cantinho da Crianças; Associação das Pioneiras Sociais (APS/
Hospital Sarah); Associação Pró-Vidas; Casa da Criança Ana Maria Ribeiro (CRIAMAR); Casa de
Acolhida São Vicente de Paulo; Casa de Apoio Santo André; Casa de Passagem Adulto (Casa do Mi-
grante); Casa de Passagem Feminina (Casa Flor); Casa de Passagem Masculino; Casa de Recuperação
Tenda da Libertação; Casa Transitória de Brasília; Centro Comunitário Imaculada Conceição (CEI-
CON); Centro de Ensino e Reabilitação (CER); Centro de Integração e Libertação de Vidas; Centro
de Recuperação Filho Pródigo; Centro de Recuperação Leão de Judá; Centro de Recuperação Jesus
é o Caminho, a Verdade e a Vida; Centro de Recuperação Reviver; Centro de Recuperação e Apoio
ao Preso e ao Egresso (CERAPE); Centro de Reintegração Deus Proverá (CRDP); Comunidade Tera-
pêutica Fazenda Senhor Jesus (SERVOS); Giração; Grêmio Espírita Ataualpa Barbosa Lima (GEABL);
Grupo Luz e Cura; Instituto Exército de Cristo; Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH); Ins-
tituto Fênix; Lar da Crianças Padre Cícero; Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes; Lar Infantil Chico
Xavier; Mansão Vida; Missão Vida; Missão Resgate; Nosso Lar; Obras Assistenciais Centro Espírita
Irmão Jorge; Obra Assistencial Associação Espírita Portal da Luz; Obras de Promoção e Assistência à
Criança e ao Adolescente (Nosso Lar/CENOL); Obras Sociais do Centro Espírita Fraternidade Jerô-
nimo Candinho; Obra Social Nossa Senhora de Fátima; Serviço Integrado de Amparo e Orientação
(SIÃO); SOS Criança; Sociedade de Instrução e Assistência Social; Sociedade Assistencial Obreiros de
Rua; Casa de Apoio TRANSFORME – Ações Sociais e Humanitárias.
Entretanto, a análise da relação revelou que, entre as instituições acima listadas, havia:

• Presença de instituições localizadas fora do Distrito Federal e que, portanto, não estavam
no perímetro da pesquisa;
• Presença de hospitais como o “Hospital Sarah Kubitschek”;
• Informações conflitantes e/ou com equívocos: endereços, telefones e/ou nomes das ins-
tituições;
• Instituições que afirmaram não trabalhar com população em situação de rua;
• Instituições que cobram pelos seus serviços e que, portanto, não estão integralmente
acessíveis às pessoas em situação de rua.

Destarte, após contato e checagem de informações nas 55 instituições encontradas no pri-


meiro momento, foi realizada uma segunda triagem, atingindo-se o número final de 11 instituições

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

que, declaradamente, realizam trabalho com este público no Distrito Federal. São elas: Obra Assis-
tencial Associação Espírita Portal da Luz; Casa de Apoio Santo André; Missão Vida; Missão Resgate;
Casa Transitória de Brasília; Aldeia SOS; Casa de Passagem Feminina (Casa Flor); Casa de Passagem
Adulto (Casa do Migrante); Abrigo Reencontro (Abrire); Albergue Conviver (Albercon) e Giração.
A esta listagem foram acrescidos três Núcleos de Ações Especiais11 e seis Centros de Refe-
rência Especializada de Assistência Social (CREAS)12 perfazendo o total de 20 instituições voltadas
para a o público estudado. Entretanto, algumas delas não puderam ser visitadas: a diretora da Casa
do Migrante (no cargo em agosto de 2010) se recusou a prestar informações sem uma autori-
zação expressa da Subsecretária de Assistência Social da Secretaria de Desenvolvimento Social e
Transferência de Renda13 (Sedest/GDF). Apesar do supervisor ter apresentado autorização, enviada
pela Sedest via e-mail às instituições governamentais que seriam pesquisadas, a diretora manteve a
recusa. O Abrigo Reencontro (Abrire), por sua vez, não foi visitado, pois a então coordenadora da
instituição informou que ali não era realizado atendimento ou acolhida de pessoas em situação de
rua. Após insistência da supervisora de campo, a Coordenadora do Abrire informou que entraria
em contato com a Sedest para avaliar se autorizaria a entrevista. Após o contato da Equipe Técnica
com o abrigo, a apresentação da carta de autorização da Sedest/GDF e várias tentativas de novo
contato com a coordenadora, sem sucesso, a visita foi suspensa.
Além das instituições de atendimento, foram visitadas as trinta Administrações Regionais
do Distrito Federal para coleta de informações sobre as áreas de concentração de indivíduos em
situação de rua. Todas as visitas ocorreram em agosto de 2010 e se basearam na utilização de duas
técnicas de pesquisa: entrevista e observação14.
Segundo Marconi e Lakatos (1999) entrevista é uma técnica de coleta de dados, represen-
tada por duas pessoas, com objetivo profissional, a fim de que uma delas obtenha informações a
respeito de determinado assunto. Já a observação utiliza os sentidos na obtenção de determinados
aspectos da realidade, ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos
sobre os quais os indivíduos não tem consciência, mas orientam seu comportamento.
O tipo de entrevista utilizado no presente projeto foi a semiestruturada, na qual o entrevis-
tador segue um roteiro pré-estabelecido, podendo, contudo, ir além dele, desde que mantenha a
conversação no curso determinado previamente. Para complementar este instrumento de pesqui-
sa, os pesquisadores utilizaram a observação assistemática. Este tipo de observação consiste em
registrar fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos específicos.
A seguir, apresentam-se os resultados desta etapa da pesquisa.

11 Núcleo de Proteção em Situação de Calamidade Pública e Emergência (NUPCE), Núcleo Especializado de Abordagem Social em Espaços Públicos
(NUASO) e Núcleo de Atendimento às Pessoas em Plantão Social (NUAPS).

12 CREAS Brasília, CREAS Estrutural, CREAS Planaltina, CREAS Ceilândia, CREAS Sobradinho e CREAS Taguatinga. Os CREAS Gama e CREAS Brazlândia
não foram visitados porque não foi possível agendar uma visita no período disponível para a pesquisa.

13 No referido período a subsecretária era Marta de Oliveira Salles.

14 Para a realização das visitas às instituições foram contratados cinco supervisores de campo: Bruno Brandão Pinto, Helena Martins Marques, Rodrigo
Macedo Otta, Tayenne de Faria Cabral e Lusa Fontoura Portuguez. Cada supervisor visitou quatro locais e elaborou relatório específico para cada
instituição.

22
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Resultados das visitas às instituições que atendem

Capítulo 1 – Instituições
pessoas em situação de rua no Distrito Federal15

Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS)

A Política de Assistência Social divide-se em duas formas de proteção: básica e especial. A


proteção social básica objetiva prevenir situações de risco, fortalecendo vínculos familiares, afetivos
e comunitários de indivíduos em situação de pobreza. Ao contrário da proteção básica, de caráter
preventivo, a proteção social especial é destinada a proteger indivíduos e famílias que já se encon-
tram em situação de violação de direitos e risco pessoal e social, tais como violência física, psicoló-
gica e/ou sexual, uso de álcool e outras drogas, trabalho infantil, situação de rua, abandono, entre
outros. Estas ações exigem acompanhamento dos indivíduos e famílias atendidos, monitorando
os encaminhamentos e apoiando serviços e processos que garantam a recuperação dos vínculos
perdidos e o respeito aos seus direitos. Os Centros de Referência Especializados de Assistência So-
cial (CREAS) são as unidades públicas que oferecem proteção social especial por meio de serviços
gratuitos a esses indivíduos e famílias.
Seguindo estes princípios, o atendimento às pessoas em situação de rua nos CREAS não é
central nem exclusivo, o que, por si só, já torna o conhecimento a respeito deste processo social
mais superficial do que o que poderia ser encontrado em instituições especializadas neste público.
Contudo, apesar desta limitação, os entrevistados dos CREAS do Distrito Federal responderam
todas as perguntas com segurança, transmitindo confiança e veracidade.
Não obstante, a maioria dos entrevistados pareceu atribuir as causas da situação de rua a
uma culpa, patologia ou falta individual, responsabilizando o indivíduo por este não ter interes-
se em ser reinserido no âmbito familiar. Isso demonstra, além de insensibilidade social frente às
transformações recentes na família e na incapacidade (e não responsabilidade) desta no trato e na
solução dos problemas sociais estruturais, desconhecimento sobre as peculiaridades da população
em situação de rua do Distrito Federal e os níveis e tipos de vínculos familiares experimentados
por este grupo na atualidade. Focar o atendimento de indivíduos que (sobre)vivem nas ruas do DF
à recuperação de vínculos familiares supostamente fragilizados ou interrompidos é não atingir o
cerne deste grave processo social, o que, inevitavelmente, resultará na perpetuação do problema e
na impossibilidade de sua superação.
As soluções (ou ações) apresentadas pelos CREAS pesquisados para a situação de rua dos
indivíduos que buscam ajuda neste locais, privilegiam a transferência deste para outro município
(por meio de doação de passagens), inclusão em algum benefício ou programa governamental
(caso estas pessoas tenham os documentos e os critérios exigidos para sua elegibilidade) e encami-
nhamento para instituições de acolhimento que, no geral, não possuem estrutura física e social para
recebê-los. No entanto, em alguns Centros de Referência, o atendimento à população em situação
de rua só ocorre por meio de denúncias da sociedade, o que, mesmo que não intencionalmente,
acaba por reproduzir o discurso de criminalização desta população e da prática da mendicância.

15 Todos os resultados se referem às entrevistas realizadas em período específico: agosto de 2010.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Em todos os CREAS visitados, os entrevistados não souberam precisar o número de atendimentos


mensais (incluindo todas as pessoas que procuram ajuda no Centro de Referência) e afirmaram que
o total de pessoas em situação de rua atendidas varia entre nenhuma a quatro por mês, compro-
vando, desta forma, que este serviço não chega aos que habitam as ruas do Distrito Federal.
O acompanhamento da pessoa em situação de rua atendida é outro ponto problemático, já
que só ocorre em alguns CREAS e, mesmo assim, apenas se o indivíduo ou sua família pertencerem
ao território de abrangência do Centro de Referência ou se aceitar o acolhimento em alguma ins-
tituição do DF. Via de regra, o acompanhamento não é realizado e a ação se limita a atendimento
pontual e emergencial.
É importante frisar, todavia, que os Centros de Referência Especializados de Assistência So-
cial são conquistas da sociedade e cumprem o importante papel de levar a Política de Assistência
Social a quem dela precisa, reforçando a concepção de direito no acesso às políticas sociais. Porém,
o número insuficiente de unidades (no DF, são apenas oito CREAS para cobrir trinta Regiões Admi-
nistrativas); o reduzido e não capacitado para atender este público específico quadro de funcioná-
rios; o desconhecimento das realidades e formas de vida das populações atendidas; o baixo mon-
tante de recursos financeiros destinados à Política de Assistência Social; e o preconceito de parcela
da sociedade que distorce o conceito de Assistência Social, julgando-a como política de menor
importância, relacionada ao assistencialismo e à demagogia política, contribuem para a impotência
dos CREAS frente às mazelas sociais.

Núcleos de Ações Especiais

No Distrito Federal, a Proteção Social Especial não é oferecida apenas pelos CREAS, mas
conta com o trabalho de Núcleos Técnicos Especializados, entre eles os três Núcleos pesquisados
pelo Projeto Renovando a Cidadania: Núcleo de Proteção em Situação de Calamidade Pública e
Emergência (NUPCE), Núcleo Especializado de Abordagem Social em Espaços Públicos (NUASO)
e Núcleo de Atendimento às Pessoas em Plantão Social (NUAPS). Estes Núcleos foram criados pelo
Decreto nº 30.614, de 21 de julho de 2009, que altera a estrutura administrativa da Secretaria de
Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda do Distrito Federal, e dá outras pro-
vidências. Em 2011, contudo, o NUPCE e o NUAPS passaram a compor a Unidade SUAS 24 Horas
(UNISUAS 24H) e o Núcleo Especializado de Abordagem Social em Espaços Públicos (NUASO)
passou a se chamar apenas Núcleo Especializado de Abordagem Social (NUASO). Não obstante,
como a presente pesquisa com os referidos Núcleos ocorreu em agosto de 2010, anteriormente,
portanto, a esta mudança, os resultados referentes às unidades se pautaram pela antiga estrutura.
Os três Núcleos de Ações Especiais da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência
de Renda (Sedest/GDF) visitados dividiam tarefas nas seguintes frentes:

a) Oferta de proteção social a indivíduos e famílias atingidos por calamidades públicas (cli-
máticas ou ambientais) e/ou ocupando irregularmente locais públicos ou de proteção
ambiental. As pessoas atendidas deveriam preencher cadastro socioassistencial e ser en-
caminhadas para serviços, programas ou projetos ofertados pela Política de Assistência
Social ou pela demais políticas públicas existentes;

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

b) Prestação de atendimento emergencial a indivíduos e famílias em situação de vulnerabi-

Capítulo 1 – Instituições
lidade e risco pessoal e social. Este atendimento consistia, essencialmente, de: concessão
de passagens para o Estado de origem do beneficiário; concessão de auxílio funeral (tal
qual previsto em legislação específica); encaminhamento para instituições de acolhi-
mento e isenção de taxas para retirada de segunda via de documento pessoal;
c) Abordagem social e de busca continuada a indivíduos ou famílias que estivessem em si-
tuação de rua, trabalho infantil e exploração sexual de crianças e adolescentes. O público
alvo desta ação eram pessoas ou grupos que faziam das ruas seu lócus de sobrevivência.
Assim, o objetivo seria garantir a proteção social das pessoas atendidas, fortalecendo
os vínculos familiares, comunitários e afetivos; acolhendo em instituições e tratando a
dependência de álcool e outras drogas.

Os entrevistados dos três Núcleos demonstraram bom conhecimento do tema população


em situação de rua, externando posições críticas, ideologicamente posicionadas e socialmente re-
levantes. De acordo com eles, a solução definitiva para o processo social população em situação
de rua seria a superação da estrutura política e econômica atualmente existente e a adequação das
políticas sociais à realidade vivenciada cotidianamente por este segmento populacional. Afirmaram
trabalhar em conjunto, entre eles mesmos e entre demais equipamentos do Poder Público. No en-
tanto, a falta de informações precisas sobre as pessoas em situação de rua do Distrito Federal (perfil,
características etc.), o diálogo hierárquico e vertical entre os órgãos responsáveis por proteger este
grupo e a falta de políticas sociais, programas e projetos governamentais de qualidade voltados
para a população em situação de rua, tornava o trabalho ineficiente. Um entrevistado frisou o fato
de que a solução para este processo social é complexa e envolve Governos e sociedade. Para ele,
as políticas existentes carecem de fiscalização, financiamento e as instituições de acolhimento do
Distrito Federal não são bem estruturadas e geridas.
Apesar de declararem pautar suas ações pela ótica da cidadania, conforme se observou
na descrição das frentes de trabalho previamente explicitadas, as ações sociais no período,
praticamente resumiam-se em remoções de populações em áreas públicas, geralmente
coordenadas pela Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água (SUDESA) em parceria com outros
órgãos. De acordo com os entrevistados, a Polícia Militar realizava primeira abordagem para, em
seguida, os Núcleos atuarem junto aos grupos removidos. A divisão de tarefas entre os Núcleos
frequentemente resultava em omissões do Poder Público frente às demandas sociais dos indivíduos
e grupos atendidos: como, por exemplo, apenas o NUASO era encarregado de realizar abordagens
individuais, caso nenhum representante deste Núcleo estivesse presente na operação de remoção,
este serviço não era prestado. Além disso, de acordo com os entrevistados, as remoções eram
realizadas com mais regularidade em Brasília (RA I), em especial na zona central, o que gerava, por
um lado, sobrecarga de ações nesta área e, por outro, escassez, nas outras Regiões Administrativas
do Distrito Federal. Outro ponto que merece destaque são as denúncias frequentes, por parte
das pessoas em situação de rua, de abusos de autoridade, agressões, violências e desumanidades
praticadas por agentes e funcionários dos órgãos responsáveis pelas remoções.
O número de atendimentos mensais nos três Núcleos pesquisados era elevado, variando
entre 100 a 500 a depender do tipo de ação desenvolvida. Todavia, em virtude do tipo de trabalho

25
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

prestado durante a ação mais corriqueira (as remoções) e da estrutura das políticas sociais do Go-
verno do Distrito Federal, o serviço, à semelhança do trabalho desenvolvido por Sísifo16, se tornava
cíclico e perene: sem alternativas, a população em situação de rua removida, retornava ao local
público ocupado após a saída dos agentes governamentais, permanecendo ali até nova remoção.
O reduzido quadro de funcionários, nos três Núcleos pesquisados, é outro fator que con-
tribui para as dificuldades do trabalho realizado. Mesmo tendo contato constante e direto com
as pessoas em situação de rua, estas não tinham bom relacionamento com os funcionários dos
Núcleos e os percebiam como órgãos de repressão e punição e não de proteção social. Esse fato, de
acordo com os entrevistados, poderia ser explicado pela baixa qualificação e sensibilidade de parte
dos servidores e agentes sociais no trato com esta população.
Apesar da insuficiência do serviço prestado, o trabalho desenvolvido pelos Núcleos pareceu
ser o que mais chegava às pessoas em situação de rua do Distrito Federal. Contudo, a ausência da
proteção social deste segmento populacional se tornava clara dado o caráter higienista e repressivo
assumido nas remoções e nos encaminhamentos realizados.

Instituições de acolhimento públicas e privadas

Foram visitadas nove instituições que declaradamente atendem pessoas em situação de


rua17 no Distrito Federal. Destas, cinco são privadas (Obra Assistencial Associação Espírita Portal da
Luz; Casa de Apoio Santo André; Missão Vida; Missão Resgate e Aldeia SOS) e quatro são públicas
(Casa Transitória de Brasília; Casa de Passagem Feminina (Casa Flor); Albergue Conviver (Alber-
con)18 e Giração).
Dessas visitas, o primeiro ponto a ser mencionado é a dificuldade que os pesquisadores en-
contraram ao tentar obter informações sobre o serviço prestado pelas instituições públicas. Após
numerosas tentativas de contato (por telefone e em visitas aos locais), todas as instituições se recu-
saram a prestar informações de imediato, mesmo as mais básicas, como o tempo de funcionamen-
to da casa, o tipo de serviço prestado, o público aceito (se apenas crianças e adolescentes, apenas
homens, apenas idosos etc.). Mesmo após autorização expressa da Secretaria de Desenvolvimento
Social e Transferência de Renda (Sedest/GDF), a coordenação do Abrire e da Casa de Passagem
Adulto – Casa do Migrante, se recusaram a receber a equipe de pesquisadores. A recusa em prestar
informações públicas demonstra o não cumprimento de normas que obrigam a publicidade de
informações governamentais, livre de burocracia. Além disso, esta recusa, especialmente sobre os
serviços fornecidos por órgãos ou instituições de proteção social, é causa primeira para o desco-
nhecimento destes locais entre as pessoas em situação de rua, que, por sua vez, não sabem onde
ou como procurar ajuda.

16 O mito grego de Sísifo descreve a condenação a qual ele foi submetido: Sísifo deveria rolar, sozinho e com suas próprias mãos, uma pesada pedra até o
pontiagudo pico de uma alta e íngreme montanha. Ao chegar lá, a pedra rolava montanha abaixo o obrigando a recomeçar o trabalho eternamente.

17 Não necessariamente tendo este grupo social como público exclusivo.

18 Único albergue público do Distrito Federal. Recebe pessoas em situação de rua e migrantes, de ambos os sexos e de todas as faixas etárias (crianças e
adolescentes apenas acompanhados por seus responsáveis).

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

De qualquer forma, em todos os locais que puderam ser visitados os entrevistados demons-

Capítulo 1 – Instituições
traram ter bom conhecimento do tema população em situação de rua e, no geral, transmitiram
segurança nas informações prestadas. Representantes de quatro instituições (Casa de Apoio Santo
André, Casa de Passagem Feminina-Casa Flor, Casa Transitória de Brasília e Missão Vida) demons-
traram, no decorrer da entrevista, profunda sensibilidade e preocupação com a realidade dos indi-
víduos atendidos.
Apesar das onze instituições trabalharem diretamente com pessoas em situação de rua, o
número mensal de atendimentos é baixo. Em algumas delas, é feito apenas um atendimento por
mês para pessoas nesta condição e vários locais não souberam precisar quantas foram atendidas.
No próprio Albergue Conviver – único albergue governamental do Distrito Federal – a informação
sobre o total de pessoas em situação de rua acolhidas é imprecisa: como o Albergue também
recebe migrantes, a direção do estabelecimento afirmou ter dificuldade em quantificar o número
de indivíduos abrigados que se encaixam no perfil do Projeto Renovando a Cidadania. Mesmo a
informação sobre o número total de vagas não foi fornecida com exatidão, variando entre 300 e
600 por mês.
Somando o total de vagas oferecidas em todas as instituições visitadas foi estimado número
aproximado de 900. Todavia, o Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal, realizado
pelo presente Projeto, contabilizou 2.512 pessoas (sobre)vivendo nesta condição. Isso demonstra
que mais da metade (1.612) dos indivíduos contados não tem alternativa de abrigo e/ou recupera-
ção no DF.
De acordo com a observação dos entrevistadores, a estrutura física das instituições públicas
visitadas é antiga e precária, aparentando ser provisória. Em um dos locais pesquisados, alojamen-
tos estavam fechados, aguardando reforma e sem previsão de início da obra. A ausência de portas
e janelas (ou portas e janelas quebradas), paredes sujas e mofadas, falta de higiene e limpeza19, a
iluminação precária, os banheiros com estrutura deficitária e insuficiente20, contribuíam para o sur-
gimento e a propagação de enfermidades.
Nas instituições privadas, por outro lado, a estrutura física foi considerada boa e adequada.
Em algumas delas, além dos alojamentos, existiam lavanderias, galinheiros, hortas, espaços de con-
vivência equipados, salas de reuniões e jardins, todos bem conservados e limpos.
A violência dentro das instituições públicas foi citada recorrentemente como um dos prin-
cipais desafios a serem superados pela Coordenação das casas. Os entrevistados relataram que
episódios de violência entre os acolhidos eram constantes e que poderiam ser fruto do uso de
álcool e outras drogas. A Coordenação das casas via estes fatos com preocupação, porém, cita a
dificuldade para controlá-los, já que o consumo destas substâncias dentro e fora das instituições é
alto e de difícil fiscalização e solução. Por outro lado, denúncias realizadas por pessoas em situação
de rua pesquisadas no Censo e presentes no Ciclo de Debates promovidos pelo presente Projeto,
expõem o medo e a indignação da população em situação de rua acolhida frente aos constantes
maus tratos e agressões provenientes dos funcionários dos abrigos e albergues do Distrito Federal.

19 Foi informado pela Coordenação de uma das instituições que algumas pessoas acolhidas faziam suas necessidades fisiológicas no chão dos quartos.
Além da sujeira causada pelos indivíduos acolhidos, o descaso dos funcionários neste ponto foi evidente.

20 Em alguns locais visitados as pias e chuveiros não tinham torneiras, ficando impossibilitadas para o uso. As descargas não funcionavam espalhando o
mal-cheiro pelo lugar. Como os próprios acolhidos deveriam fazer a limpeza dos banheiros em determinadas casas ou abrigos, esta era precária.

27
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Outro desafio mencionado pelos entrevistados das instituições públicas e privadas foi a
falta de preparo para acolher pessoas em situação de rua com doenças ou transtornos mentais. Em
alguns locais, pessoas nesta condição não são aceitas e, por falta de alternativas, permanecem nas
ruas da cidade.
O despreparo dos profissionais no trato com a população em situação de rua, por si só, já é
um problema presente em quase todas as instituições pesquisadas. Por não recebem capacitação
e treinamento específico para atuar com este público, acabam realizando trabalho insatisfatório. O
quadro reduzido de profissionais qualificados é obstáculo enfrentado em todos os locais pesquisa-
dos: faltam psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e profissionais da área da saúde.
A rigidez de regras dentro das casas também é vista como fator complicador para a boa rela-
ção entre os acolhidos e os funcionários, já que proibições e rigor no cumprimento de horários são
mal recebidos pelas pessoas atendidas. Esta é uma das características das instituições que contribui
para a negativa da população em situação de rua do Distrito Federal ao uso de tais serviços, tendo
em vista que a liberdade é o principal aspecto positivo da vida nas ruas, apontado por este grupo
social pesquisado no Censo.
Após o relato das principais dificuldades enfrentadas pelas instituições no atendimento à
população em situação de rua, a maioria dos entrevistados reconheceu as limitações de seu tra-
balho. De acordo com eles, o atendimento prestado pelas instituições tem um caráter provisório
e pontual, ou seja, não é feito de maneira universal e nem consegue atingir seu principal objetivo,
qual seja, o de proteger socialmente a população beneficiária. A falta de articulação entre as Secre-
tarias de Estado e entre o Governo e as instituições privadas, foi citada como fator que impossibilita
o atendimento eficaz e emancipatório a este grupo social. Contudo, tendo em vista as dificuldades
enfrentadas pelas equipes de profissionais que trabalham nas instituições públicas e privadas pes-
quisadas do Distrito Federal, torna-se importante destacar que o esforço realizado em prestar o
melhor serviço possível dentro de um quadro deficiente, é realidade para algumas delas. De acordo
com o entrevistado da Casa de Apoio Santo André,

“os resultados não são 100%, 80%, nem 50%. Mas se a gente conseguir 10% já é
muita coisa. É um trabalho ingrato, nesse sentido. Mas qualquer bem que acon-
tece já é muito bom. Se a gente consegue 10% já é muito gratificante”.

A título de exemplo, apesar dos problemas encontrados na Casa Transitória de Brasília, esta
se empenha neste sentido, oferecendo, além do abrigo às crianças e adolescentes acolhidos, visitas
ao teatro, cinema, clubes; incentivos ao primeiro emprego e acompanhamento dos ex-abrigados,
por meio de telefonemas e visitas informais.
Após a análise dos resultados encontrados nas visitas aos CREAS, Núcleos Especializados e
outras Instituições públicas e privadas que trabalham com pessoas em situação de rua no Distrito
Federal, depreende-se que a política de acolhimento do Governo do DF está aquém das necessi-
dades da população em situação de rua, apesar do reconhecido esforço de seus profissionais. Além
das precárias estruturas físicas, do reduzido e não capacitado quadro de funcionários para atender
as especificidades deste grupo social, da articulação insuficiente entre instituições, observou-se no
DF a inexistência de vagas para todas as pessoas que se encontram em situação de rua.

28
Capítulo 2 – Etapa 2:
Censo da população em situação
de rua do Distrito Federal
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

A oferta de políticas, de programas e de projetos de qualidade está diretamente relacionada


à disponibilidade de informações consistentes a respeito da população-alvo. Em se tratando das
pessoas em situação de rua, esta necessidade se torna mais imperiosa, pois este é um segmento
social historicamente invisibilizado e negligenciado pelo Poder Público e pela sociedade. Portanto,
a escolha pela realização do Censo das Pessoas em Situação de Rua do Distrito Federal, além de
fornecer elementos essenciais sobre os sujeitos citados, será de suma importância para subsidiar a

Capítulo 2 – Censo
formulação e execução de políticas sociais eficazes para este grupo populacional.
Assim, para a realização do Censo, outras ações a precederam: mapeamento das pessoas em
situação de rua do DF e seus locais de concentração, adaptação da Cartilha: Direitos do Morador
de Rua (elaborada pelo Ministério Público de Minas Gerais/MPMG em parceria com o Movimento
Nacional da População de Rua/MG) para a realidade do DF, elaboração de questionários específicos
para cada grupo etário, execução do pré-teste dos instrumentos e contratação e treinamento da
equipe responsável pelo trabalho de campo. Cada uma dessas etapas será detalhada a seguir.

Mapeamento das áreas de concentração da


população em situação de rua do DF

Este mapeamento se mostrou um dos grandes desafios dessa etapa do trabalho. A principal
dificuldade encontrada foi a ausência de dados, já que nem a Sedest e suas Unidades, nem as Ad-
ministrações Regionais, possuíam informações seguras a esse respeito.
Dessa forma, partiu-se de informações obtidas em pesquisas quantitativas anteriores21 e da
observação/experiência dos membros da equipe do Projeto. Além disso, foram contratados dez
supervisores de campo (estudantes das áreas humanas ou sociais e profissionais recém-formados)22
que percorreram o DF23 durante dez dias (outubro de 2010) em busca de informações. Cada super-
visor ficou responsável por uma determinada região e teve que realizar levantamento dos pontos
de dormida ou estada da população em situação de rua no local. Para isso, receberam treinamento
e foram orientados a, além de procurar os indivíduos em situação de rua em si, tentar obter essas
informações com comerciantes locais, policiais, instituições religiosas e a com a própria população
em situação de rua encontrada.
A partir do conjunto de informações obtido foi possível elaborar o primeiro mapeamento24
dos locais de concentração de população em situação de rua no Distrito Federal. Para tanto, os
dados coletados nesta fase da pesquisa foram somados e cruzados.

21 Brasil (2008) e GDF/Sedest/Subplag (2010).

22 Amarantha Sá Teles de Cerqueira, Daniel Ramos da Silva, Getúlio Henrique Ferreira Alves, Gustavo Fúria Lopes, Izabela Amaral, Libele Vogt Volkmer,
Luana Gaudad Sardinha Carneiro, Maíra Gussi de Oliveira, Rafaella Oliveira da Câmara Ferreira (participou apenas dessa atividade, sendo substituída
por Simone da Silva Ribeiro) e Roberto Rego Mendes.

23 Não foram visitadas somente áreas urbanizadas e de fácil acesso, mas também os cerrados e matos do Distrito Federal, prédios abandonados, pontes,
terrenos baldios e buracos.

24 Importante frisar que este mapeamento foi utilizado pelos pesquisadores no Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal. Contudo,
todas as equipes foram orientadas a procurar novos locais no decorrer do Censo. Para tanto, informações prestadas pelos facilitadores (que eram
pessoas em situação de rua ou com trajetória de rua) e pelas próprias pessoas em situação de rua pesquisadas, permitiu que o mapeamento fosse
ampliado e novos grupos encontrados.

31
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Cartilha: Direitos do Morador de Rua

Durante o levantamento de material bibliográfico sobre o tema do presente Projeto, a Equi-


pe Técnica tomou conhecimento da Cartilha: Direitos do Morador de Rua, organizada pelo Mi-
nistério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) em parceria com o Movimento Nacional
da População de Rua de Minas Gerais (MNPR/MG), a Pastoral do Povo da Rua (Regional Leste
2 – CNBB), o Fórum Mineiro de Direitos Humanos, o Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sus-
tentável (INSEA), o Programa Pólos de Cidadania (Faculdade de Direito da UFMG) e o Serviço de
Assistência Jurídica da PUC Minas25. Devido à riqueza e importância política e social do material,
levantou-se a possibilidade de se adaptar essa Cartilha para a realidade do Distrito Federal, com o
objetivo de distribuí-la a todas as pessoas em situação de rua durante o Censo.
Para que essa adaptação fosse viabilizada, a Equipe Técnica entrou em contato com o Fórum
Permanente da População em Situação de Rua do Distrito Federal (FPR-DF)26 que, por meio de carta
endereçada à coordenadora do Projeto Renovando a Cidadania, externalizou seu apoio e interesse
em tal iniciativa. O contato da Equipe Técnica do referido Projeto com a Pastoral de Rua de Minas
Gerais e com o MNPR/MG, permitiu que estes também unissem esforços nesta campanha. A partir
de então, a coordenadora do Projeto Renovando a Cidadania enviou solicitação de uso da Cartilha
ao MPMG, resultando na resposta positiva à demanda, possibilitando a adaptação da Cartilha à
realidade do DF.
Esta adaptação27 exigiu a substituição das fotografias e dos endereços úteis, disponíveis ao
final da Cartilha. Além disso, uma leitura cuidadosa do texto, permitiu que determinadas expres-
sões e terminologias fossem modificadas no sentido de manter a unidade teórico-metodológica
dos estudos realizados pelos pesquisadores da Equipe Técnica do Projeto. O texto, de uma maneira
geral, não foi modificado, respeitando-se, assim, o trabalho realizado pelos idealizadores da Cartilha
e as discussões promovidas nos encontros de Minas Gerais.
A Cartilha: Direitos do Morador de Rua, apresenta noções sobre quem é a pessoa em situa-
ção de rua e como esta vive, desmistificando noções estigmatizantes do senso comum. Além disso,
apresenta quais são os seus direitos – divididos em sete capítulos –, modelo de habeas corpus e de
requerimento, além de endereços e telefones de locais onde pode procurar ajuda.
Para o Distrito Federal, foram impressos cinco mil exemplares distribuídos ao longo da re-
alização do Censo, em novembro de 2010, e durante o Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a
População em Situação de Rua do DF, em maio de 2011. A receptividade da Cartilha pelas pessoas
em situação de rua foi além das expectativas, provando que servirá como eficaz instrumento de

25 Para a realização desta Cartilha, o Ministério Público de Minas Gerais e seus parceiros promoveram, ao longo de um ano, encontros com pessoas em
situação de rua que expuseram suas demandas e necessidades e debateram sobre seus direitos e políticas sociais.

26 Faziam parte do FPR-DF, no período: a coordenadora Antônia Cardoso de Abreu (Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável do DF - CATA-
MARE), Laís Barbosa dos Santos (Cooperativa dos Catadores de Material Reciclável do DF - CATAMARE), José Ribamar de Moraes (Cáritas Brasileira
e Casa de Apoio Santo André), Denize Elena Garcia da Silva (Rede Latinoamericana de Análise do Discurso da Pobreza - REDLAD), Camila Potyara
Pereira (Grupo de Estudos e Pesquisas em Seguridade Social e Trabalho - GESST/UnB), Marcos César Alves Siqueira (Núcleo de Estudos e Pesquisas
em Política Social - NEPPOS/UnB), Maria Adinete Azevedo (Congregação Franciscana), Gabriela Jacarandá (Servidora da Secretaria de Saúde do Go-
verno do Distrito Federal – SES/GDF), Wagner dos Santos Montalvão (Casa de Apoio Santo André) e Silvino Pereira dos Santos (Casa de Apoio Santo
André).

27 No início de 2011, optou-se por imprimir segunda edição da versão brasiliense da Cartilha, com o intuito de acrescentar novos endereços úteis e
corrigir pequenos erros, presentes na primeira versão e distribuí-la, corrigida, no Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua
do Distrito Federal.

32
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

luta deste segmento populacional. Pessoas nessa condição relataram que reagiram a episódios de
abordagens constrangedoras após a leitura da Cartilha, utilizando-a como escudo e, inclusive, in-
centivando o agressor a também realizar a leitura desse material.
Assim, observou-se a importância da distribuição deste instrumento que oferece, além de
armas democráticas para o resgate dos direitos das pessoas em situação de rua, meios de fortaleci-
mento de sua auto-estima e de seu reconhecimento como cidadãos, indo contra a idéia comum,

Capítulo 2 – Censo
denunciada por Bursztyn (2001, p.21), de que esse grupo social é “gerador de indivíduos desneces-
sários economicamente, incômodos politicamente e perigosos socialmente”.
Foto: Ana Nascimento

Pessoa em situação de rua pesquisada no Censo, com a Cartilha: Direitos do Morador de Rua

33
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Elaboração dos questionários e realização do pré-teste

Tendo como base instrumentos de pesquisa quantitativa sobre a população em situação


de rua de outras capitais brasileiras28, além de estudos qualitativos específicos sobre a realidade
do Distrito Federal29, foi criada a primeira versão dos questionários. Optou-se pela criação de três
instrumentos diferenciados para cada grupo etário: um questionário para adultos, outro para ado-
lescentes (12 a 18 anos) e uma ficha cadastral para crianças (até 12 anos) em situação de rua30. A
primeira versão desses instrumentos foi submetida à análise de estudantes e professores universi-
tários, pessoas em situação de rua e representante do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua. Após essa análise, foram
realizadas modificações nos instrumentos, originando a versão para pré-teste. A referida versão
contava com oito partes ou temas, a saber:

I. Identificação do Pesquisador;
II. Identificação do Pesquisado;
III. Dados Pessoais;
IV. Escolaridade;
V. Saúde;
VI. Família;
VII. Trabalho;
VIII. Vida nas ruas.

As perguntas tinham por objetivo revelar o perfil dessa população e investigar a qualidade
de acesso às políticas sociais e aos serviços públicos. Além disso, ao final dos instrumentos, havia
uma ficha de avaliação do pesquisador na qual foi incentivada a descrição das condições em que o
questionário ou ficha foi preenchido.
Para a realização do pré-teste, seis supervisores de campo31, aplicaram, cada um, cinco ques-
tionários em lugares distintos do Distrito Federal. Nessa atividade os supervisores foram orientados
a observar:

• A compreensão dos pesquisados sobre cada pergunta;


• A adequação das opções de respostas disponíveis no instrumento frente às respostas
dos pesquisados;
• A pertinência das perguntas;

28 Vide Gehlen (2008).

29 Vide Pereira (2009), Bursztyn (2000), Bursztyn; Araújo (1997), Lopes (2009), Pontes (2009), Sotero (2009), Cavaignac (2009) e GDF/Sedest/Subplag (2010).

30 A escolha por instrumentos de pesquisa quantitativa diferenciados para cada grupo etário deu-se em função das diferenças significativas da realidade
de cada um destes segmentos, que vão desde o seu perfil social e econômico, passando pelas formas de acesso às políticas sociais, à capacidade de
compreensão e interpretação das perguntas feitas.

31 Bruno Brandão Pinto, Tayenne Cabral, Lusa Fontoura Portuguez, Helena Martins Marques, Rodrigo Macedo Otta e Bernardo Monteiro.

34
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• A adequação do vocabulário utilizado nos instrumentos;


• A receptividade das perguntas (não causam embaraços ou fazem com que os entrevis-
tados se neguem a responder);
• O tempo necessário para a aplicação do questionário.

Após a aplicação do pré-teste, realizou-se uma reunião com todos os supervisores e a equi-

Capítulo 2 – Censo
pe da pesquisa para ajustar e/ou corrigir os instrumentos, que resultou na versão final dos questio-
nários.

Estruturação do trabalho de campo

Para realização do trabalho de campo (Censo), foram formadas 16 equipes, cada uma com-
posta de:

• Um supervisor;
• Um facilitador;
• Dois pesquisadores;
• Um motorista/segurança e;
• Um carro (alugado).

Todos os membros das equipes foram selecionados a partir de análise de currículos e entre-
vista, tendo, os mesmos, oportunidade de conhecer o trabalho a ser desenvolvido bem como suas
condições de realização. No total, foram 80 pessoas contratadas.
Segue o perfil de cada um desses colaboradores e sua função dentro da equipe:

• Supervisores – chefes das equipes, responsáveis pela supervisão do trabalho dos demais
pesquisadores. Ao final de cada dia os supervisores deveriam reunir e conferir os questio-
nários aplicados por ele e pela sua equipe e entregar à Equipe Técnica do Projeto. Além
disso, cada supervisor entregava um relatório diário com os principais acontecimentos
do campo. Todos eram estudantes do ensino superior, dos cursos de ciências humanas
ou sociais. Entre os dezesseis supervisores, seis32 foram selecionados para coleta de rela-
tos de vida entre a população pesquisada;
• Facilitadores – responsáveis por fazer a primeira abordagem aos pesquisados; estes pro-
fissionais deveriam explicar o que era e como se daria a aplicação do questionário, além
de apresentar a equipe de pesquisadores, explicando a idoneidade e os objetivos da

32 Bruno Brandão Pinto, Tayenne Cabral, Lusa Fontoura Portuguez, Helena Martins Marques, Rodrigo Macedo Otta e Bernardo Monteiro.

35
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Pesquisa. Todos os facilitadores eram homens em situação de rua33, residindo na rua ou


temporariamente na Casa de Apoio Santo André34.
• Pesquisadores – responsáveis pela aplicação dos questionários. Todos eram, igualmente,
alunos universitários de ciências humanas ou sociais.
• Motoristas/seguranças – responsáveis por dirigir o carro da equipe e por observar qual-
quer reação hostil por parte dos pesquisadores ou pesquisados. Nesse caso, a orientação
dada foi a de reunir a equipe de volta ao carro e seguir para o destino seguinte. Além
disso, deveriam buscar e levar de volta à Casa de Apoio Santo André os facilitadores que
participaram da pesquisa. Todos esses profissionais eram estudantes universitários, com
conhecimento de defesa pessoal, desprovidos de armas e orientados a não agir, em hi-
pótese alguma, de forma violenta;

Todos os envolvidos receberam treinamento desenvolvido exclusivamente para essa ativi-


dade, com vista a garantir a qualidade no trabalho realizado e confiabilidade nos dados coletados.
O treinamento teve início no dia 25 de outubro de 2010, com palestra de sensibilização proferida
por Antônia Cardoso de Abreu, do Movimento Nacional da População de Rua/DF (MNPR/DF) e
coordenadora do Fórum Permanente da População em Situação de Rua do Distrito Federal (FPR/
DF) e aula teórica e conceitual sobre a relação entre o Estado e a população em situação de rua
no Distrito Federal, proferida por Camila Potyara Pereira, socióloga consultora desta Pesquisa. No
dia 27 de outubro, foram transmitidas orientações sobre a logística e metodologia da Pesquisa de
campo a cada grupo em particular (motoristas/seguranças, pesquisadores e supervisores). No dia
seguinte, foi promovida a leitura dos questionários com todos os participantes, com o objetivo
de sanar dúvidas sobre o instrumento e as formas de aplicação. Finalmente, no dia 30 de outubro,
realizou-se o treinamento com os facilitadores; orientações sobre a coleta de relatos de vida, com
os supervisores selecionados para esta função; apresentação das equipes, entrega do material35 e
simulação de campo com aplicação dos questionários.
Durante o treinamento também foram repassadas a todos as seguintes orientações:

• As equipes foram preparadas para irem até as pessoas em situação de rua, treinando seu
olhar sobre a cidade para que pudessem encontrá-las. Para tanto, durante o treinamen-
to, foram projetadas imagens que exemplificaram as possíveis localidades que seriam

33 A escolha de facilitadores do sexo masculino deu-se devido à própria característica do trabalho, já que estes profissionais deveriam realizar a primeira
abordagem, sozinhos, a grupos de pessoas em situação de rua que se encontravam, muitas vezes, fazendo uso ou sob efeito de álcool e/ou outras
drogas. Além disso, como partia-se da hipótese de que a maioria da população em situação de rua do DF seria composta por homens, a aproximação
inicial por outra pessoa do sexo masculino poderia facilitar o contato.

34 A escolha pela Casa de Apoio Santo André se deu em função da certeza de que o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), por
meio do Fórum Permanente da População em Situação de Rua do Distrito Federal (FPR-DF) deveria fazer parte deste processo. Como três representan-
tes do Fórum eram da Casa de Apoio Santo André, essa foi eleita para o trabalho durante o Censo;

35 Foi entregue a todos os participantes um kit contendo colete com a identificação da função exercida pelo profissional e o nome do Projeto, um boné
com a mesma identificação do colete, crachá, uma pasta contendo questionários, uma caneta, um lápis, uma borracha, uma prancheta, uma lanterna
de leitura, uma carta de apresentação da Pesquisa (caso fosse necessário apresentar maiores informações a respeito do Projeto), um documento que
continha relação de benefícios, políticas e serviços sociais e suas principais características (para facilitar a identificação, caso o pesquisado não soubesse
dizer o nome correto do mesmo). Os supervisores receberam, ainda, um vidro de álcool gel para cada carro, as Cartilhas: Direitos do Morador de Rua
(adaptada para o DF), um documento contendo a relação de todos os locais e horários que deveriam ser visitados pela equipe ao longo dos próximos
dez dias de campo e créditos de celular para que pudessem se comunicar com a Equipe Técnica.

36
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

visitadas no campo. Entre as localidades visitadas incluíram-se as de difícil acesso como


cerrados, prédios abandonados, terrenos baldios e buracos;
• Visitar os locais mapeados na etapa anterior em horários sugeridos e em horários distin-
tos. Se a orientação foi de visitar determinado local pela manhã, a equipe deveria retor-
nar ao mesmo local em outro turno, podendo ser vespertino, noturno ou na madruga-
da, garantindo, dessa forma, que todas as pessoas em situação de rua que frequentam

Capítulo 2 – Censo
aquele local fossem contabilizadas;
• Visitar, além das ruas do DF, todas as instituições de acolhida levantadas na primeira
etapa do Projeto;
• Procurar novos locais, não previstos no mapeamento inicial, para assegurar a contagem
de todos os indivíduos na condição de rua.
Foto: Ana Nascimento.

Equipe 3 do Censo da População em Situação de Rua do DF.


Foto: Ana Nascimento.

Facilitadores do Censo da População em Situação de Rua do DF.

37
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Foto: Ana Nascimento.

Supervisores de Campo do Censo da População em Situação de Rua do DF.


Foto: Ana Nascimento.

Reunião de todas as equipes que trabalharam no Censo.

38
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Procedimento de aplicação dos instrumentos

Para a realização do Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal, as equipes


utilizaram um método de aplicação que será descrito a seguir:

Capítulo 2 – Censo
Passo 1: de posse do mapeamento, as equipes se dirigiram aos locais indicados e identifi-
caram os possíveis pesquisados;
Passo 2: o facilitador descia do carro e fazia o primeiro contato com as pessoas em situa-
ção de rua de cada localidade, explicando os objetivos e a dinâmica do trabalho
a ser realizado;
Passo 3: com o aval dos pesquisados a equipe forneceu informações relevantes sobre o
processo de aplicação dos questionários e a análise/utilização dos dados cole-
tados36; iniciava a aplicação dos instrumentos e entregava a Cartilha: Direitos do
Morador de Rua a todas as pessoas encontradas, independentemente de terem
respondido o questionário ou não. No caso de crianças pequenas, a ficha foi res-
pondida pelo seu responsável. Se este não estivesse presente, a criança era apenas
contabilizada. Durante a aplicação dos instrumentos e coleta dos relatos de vida,
o segurança/motorista deveria permanecer do lado de fora do carro observando
o trabalho e zelando pela segurança de todos, inclusive da população pesquisada.
Passo 4: finalizada a aplicação do instrumento, a equipe agradecia a participação e seguia
para nova localidade.
Passo 5: encerradas as atividades do dia, o motorista/segurança deixava o supervisor e
os aplicadores em local combinado previamente e levava o facilitador de volta à
Casa de Apoio Santo André.
Passo 6: os supervisores entregavam relatório diário contendo informações sobre as ati-
vidades realizadas, tais como: número de questionários aplicados, localidades vi-
sitadas, horário de aplicação e relatos de possíveis problemas durante o campo.
Além disso, três membros da Equipe Técnica37 ficaram responsáveis por manter
contato diário (presencial ou via ligações telefônicas) com os supervisores de
cada equipe.
Passo 7: os supervisores deixavam todos os questionários aplicados diariamente na sede
do Programa Providência de Elevação da Renda Familiar para que a Equipe Técni-
ca pudesse controlar e examinar o material.

36 Ressaltando o caráter científico e acadêmico da Pesquisa; os riscos envolvidos no processo de aplicação, tanto para o pesquisador, quanto para o
pesquisado e a garantia de anonimato de todos os pesquisados. Todos os indivíduos que foram fotografados assinaram um Termo de Autorização do
Uso de Imagem.

37 Bruna Papaiz Gatti, Camila Potyara Pereira e Mônica de Castro Mariano.

39
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Também foi acordado com cada uma das equipes que:

• O tempo mínimo de trabalho diário seria de seis horas, fracionadas ou ininterruptas;


• Caso as equipes atingissem a sua meta de aplicação em menos de dez dias, estas seriam
realocadas para outras localidades.
Foto: Ana Nascimento.

Supervisor aplicando questionário com casal em situação de rua.


Foto: Ana Nascimento.

Aplicadora durante pesquisa em instituição de acolhida.

40
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Foto: Ana Nascimento.

Capítulo 2 – Censo
Aplicadora durante pesquisa nas ruas do DF.

Crítica aos dados

O Censo, como método de pesquisa quantitativa, tem como objetivo principal a pesquisa
do universo38 de indivíduos em um determinado recorte temporal. No Projeto Renovando a Cida-
dania, foram encontradas 2.512 pessoas, sendo:

• 319 crianças;
• 221 adolescentes e;
• 1.972 adultos.

Dentro desse universo todos foram convidados a responder os instrumentos de pesquisa,


porém alguns indivíduos não foram pesquisados39. Dentre os motivos mais comuns, destacam-se o
uso de drogas ou embriaguez, o fato de não estar acordado e transtorno ou doença mental.

38 Como já dito anteriormente, para a realização do Censo das Pessoas em Situação de Rua do DF foi realizado extenso e criterioso mapeamento dos
sujeitos a serem pesquisados, somando informações de diversas fontes: pesquisas anteriores, observação dos pesquisadores do Projeto Renovando a
Cidadania, dados das Administrações Regionais e do Governo do Distrito Federal, informações de pessoas em situação de rua participantes e cola-
boradoras do Projeto e informações de pessoas em situação de rua pesquisadas durante a aplicação dos questionários. Todas as pessoas encontradas
nesta situação no período de realização do Censo foram contadas.

39 Foram contabilizados, mas não responderam os instrumentos de pesquisa.

41
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Dessa forma, a quantidade de questionários respondidos representa uma amostra do total


de pessoas contabilizadas. No entanto, mesmo dos não respondentes foram colhidas informações
sobre o sexo e a cor. Assim, as indicações estatísticas apresentadas neste Relatório tiveram como
fonte uma amostra representativa da população estudada formada por 1.597 questionários com-
pletos40, sendo 264 fichas de crianças, 127 questionários de adolescentes e 1.206, de adultos. Essa
amostra não só compõe parte considerável do segmento populacional estudado como mantém
características semelhantes ao universo, sendo, por essa razão, estatisticamente representativa, po-
dendo gerar inferências fidedignas para todo o grupo pesquisado. No Gráfico 1 pode ser observado
o tamanho da amostra por tipo de banco de dados41.

• Os instrumentos

Ao longo do processo de elaboração dos instrumentos a Equipe Técnica do Projeto se


deparou com situações que poderiam gerar dificuldades no trabalho de campo. São elas:

1. Período do trabalho de campo (Censo): o Censo da População em Situação de Rua do


Distrito Federal durou dez dias (de 3 a 12 de novembro de 2010). O curto período para
aplicação dos instrumentos poderia dificultar a construção do vínculo de confiança en-
tre pesquisador e pesquisado, além de impedir a contagem de todos os indivíduos que
vivem nas ruas do DF. Contudo, a escolha deste limite temporal se deu em função da

40 Considerou-se completo, o questionário com mais de 60% das questões respondidas.

41 O banco de dados é um conjunto com todas as informações estatísticas da Pesquisa. Neste Projeto foram obtidos quatro bancos de dados: crianças,
adolescentes, adultos e universo.

42
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

característica do público pesquisado: por se tratar de uma população itinerante e flu-


tuante: se o período de pesquisa fosse prolongado, poderia ocorrer dupla contagem ou
exclusão de pessoas. Além disso, festividades e períodos eleitorais costumam mascarar a
realidade, já que o número de pessoas nas ruas da cidade aumenta consideravelmente.
Por isso, a pesquisa foi realizada no mês de novembro, após as eleições e feriados e antes
das festas de final de ano. Com isso, seguimos metodologia aceita e implementada inter-

Capítulo 2 – Censo
nacionalmente e foi garantido um retrato fiel da realidade das rua do DF.
2. Conceito de população em situação de rua: sabe-se que toda e qualquer classificação
nas ciências humanas e sociais é problemática por que não abarca todas as situações re-
ais. Enquadrar realidades complexas em conceitos fechados pode acarretar na exclusão
de indivíduos que tem características da população pesquisada. O conceito de popu-
lação em situação de rua criado e adotado pela Equipe Técnica do Projeto não inclui
assentamentos precários, nem habitações (mesmo que barracos) com Código de Ende-
reço Postal (CEP), grande densidade populacional e/ou com serviços públicos e priva-
dos (água, saneamento, comércio) à disposição. Caso este recorte não fosse adotado, a
Pesquisa teria que considerar como população em situação de rua habitantes de favelas
ou, até mesmo, Regiões Administrativas inteiras, por exemplo.
3. Contagem de pessoas em instituições: proveniente da mesma dificuldade do ponto aci-
ma, nesta Pesquisa não foram consideradas como pessoas em situação de rua todos os
indivíduos acolhidos em instituições. Esta decisão poderia excluir alguns indivíduos, mas
se decidiu mantê-la por acreditar que algumas pessoas não faziam parte do universo da
Pesquisa. Alguns Indivíduos em tratamento em casas de recuperação, ao saírem destas
instituições, retornarão às suas casas, por exemplo. Com o objetivo de apresentar dados
mais fidedignos, foram realizadas triagens nas instituições de acolhida do Distrito Federal,
como foi o caso do Abrigo Reencontro (Abrire). Neste local, os pesquisadores apenas
contabilizaram crianças e adolescente identificados como vivendo em situação de rua
no período anterior à acolhida.
4. Questionários extensos: o instrumento de pesquisa elaborado para o público adoles-
cente continha 78 questões e o instrumento para adultos continha 77 questões (abertas
e fechadas). O pré-teste demonstrou que a aplicação de cada instrumento teria dura-
ção aproximada de 40 minutos, fato que poderia prejudicar o completo preenchimento
do mesmo. Contudo, todas as questões foram mantidas já que a realização de outra
pesquisa quantitativa com este público em futuro próximo seria física e financeiramente
improvável. Assim, tinha-se de aproveitar a oportunidade de conhecer a população em
situação de rua do DF em toda a sua complexidade naquele momento.
5. Questões constrangedoras nos instrumentos: os questionários para adolescentes e para
adultos continham questões que poderiam causar desconforto ao pesquisado, mesmo
sendo garantido o anonimato. São exemplos as questões Onde costuma fazer as neces-
sidades fisiológicas (xixi – cocô)?, Já sofreu abuso sexual ou foi obrigado a fazer sexo com
alguém sem querer? e Já abusou sexualmente ou obrigou alguém a fazer sexo? Contudo,
optou-se por mantê-las nos instrumentos pois considerou-se que estas e as outras per-

43
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

guntas de mesma característica, trariam informações significativas e ainda não conheci-


das e estudadas. Assim, para minorar o constrangimento, essas questões apareciam nos
questionários, após perguntas de identificação, de trabalho e estudo e de saúde, para
que o vínculo entre pesquisador e pesquisado fosse estabelecido ao longo da aplicação.
Os instrumentos também poderiam ser aplicados por pesquisadores do sexo masculino
para pesquisados do sexo feminino (e vice-versa) e este fato também poderia causar
um certo desconforto entre as partes. Na composição das equipes buscou-se garantir a
presença de aplicadores de ambos os sexos, porém nem sempre isto foi possível. Portan-
to, os pesquisadores foram orientados a iniciar a aplicação com uma conversa amistosa,
explicando o objetivo da Pesquisa, a importância da colaboração e preparando os pes-
quisados para futuras perguntas íntimas e possivelmente difíceis.
6. Questões cujas opções de resposta não abarcavam algumas importantes situações reais:
os instrumentos de pesquisa foram preenchidos pelo próprio pesquisador42 que, após a
resposta do indivíduo pesquisado, marcava a alternativa correspondente no questionário.
Em várias questões foi incluída a alternativa outros com o intuito de cobrir todas as demais
situações não descritas nas opções da resposta. Contudo, mesmo com o esforço de rela-
cionar todas as possíveis respostas de cada pergunta, em alguns casos a opção outros foi a
alternativa com maior frequência de marcações, como se pode observar na tabela abaixo:

Tabela 1: Locais onde os adolescentes passam a maior parte do tempo quando acordados
Local Frequência %
Pontos comerciais 21 14,3%
Albergues ou abrigos 19 12,9%
Cerrado ou mato 17 11,6%
Praças ou parques 13 8,8%
Casa própria/alugada 13 8,8%
Calçadas 7 4,8%
Casa de amigos/parentes 5 3,4%
Pontes, viadutos ou marquises 2 1,4%
Pontos de ônibus 2 1,4%
Posto de Gasolina 2 1,4%
Casas ou prédios abandonados 1 0,7%
Buracos ou “mocós” 1 0,7%
Outros 44 29,9%
Total 147 100,0%
Fonte: Projeto Renovando a Cidadania, 2011 - Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal.

42 Já que algumas pessoas em situação de rua não sabem ler e/ou escrever, optou-se pelo preenchimento do instrumento pelo pesquisador para evitar
constrangimentos aos pesquisados.

44
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Para solucionar este problema, as alternativas outros com mais de 10% de respostas, foram
abertas e reclassificadas para garantir que as principais respostas constassem na análise dos dados
coletados. Dessa forma, a Tabela 1, que apresentava o item outros com 29,9%, foi refeita. Abaixo, a
mesma questão com novas categorias (Escola/biblioteca/curso, perambula/não tem lugar certo e
trabalho):

Capítulo 2 – Censo
Tabela 2: Locais onde os adolescentes passam a maior parte do tempo quando acordados
Local Frequência %
Pontos comerciais 29 19,7%
Escola/Biblioteca/Curso 27 18,4%
Albergues ou abrigos 19 12,9%
Cerrado ou mato 17 11,6%
Casa própria/alugada 14 9,5%
Praças ou parques 13 8,8%
Calçadas 7 4,8%
Trabalho 6 4,1%
Casa de amigos/parentes 5 3,4%
Pontos de ônibus 3 2,0%
Pontes, viadutos ou marquises 2 1,4%
Posto de Gasolina 2 1,4%
Casas ou prédios abandonadas 1 0,7%
Buracos ou “mocós” 1 0,7%
Perambula/não tem lugar certo 1 0,7%
Total 147 100,0%
Fonte: Projeto Renovando a Cidadania, 2011 - Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal.

Resultados

Dados de sexo e raça/cor do universo

No período de realização do Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal


foram encontrados 2.512 indivíduos – incluindo crianças, adolescentes e adultos. Conforme já ex-
plicitado neste relatório, foram visitadas, além das ruas, praças, viadutos, cerrados e comércios,
instituições de abrigamento e acolhida. Destes indivíduos, 1.597 responderam ao questionário. O
restante foi contabilizado e informações sobre sexo e cor foram colhidas. Assim, a população em
situação de rua do Distrito Federal é composta majoritariamente por pessoas do sexo masculino
(74,6%). Foram identificados 42,2% de indivíduos pardos, 40,4% negros e 16,5% brancos.

45
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

46
Foto: Ana Nascimento.

Crianças em situação
de rua do DF
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Foram encontradas 319 crianças em situação de rua no Distrito Federal. Dentre as crianças
contabilizadas, 264 (82,8%) responderam todo o instrumento de pesquisa.
Perfil dos Pesquisados43

• A distribuição das crianças por sexo é equilibrada: 51% são do sexo masculino e 49%, do
feminino.
• 51,9% das crianças em situação de rua foram identificadas como pardas, 32,6%, como
negras e 15,5% como brancas44.
• A maior concentração de crianças no DF é em Águas Claras (39,8%), já que o Albercon
– único albergue governamental para pessoas em situação de rua do DF e que recebe

Situação de Rua
Crianças em
crianças acompanhadas por seus responsáveis – se localiza nesta Região Administrativa,
e em Brasília (27,2%), sendo os principais pontos a Asa Norte (18%) e Asa Sul (6,9%).

• Ao serem questionados sobre o que fazem com maior frequência quando estão na rua, 66%
responderam que brincam e 8,9% estudam. Contrariando o senso comum, apenas 3,5% das
crianças em situação de rua afirmaram trabalhar e somente 0,8% pedem esmolas.

43 As estatísticas foram geradas a partir do número de respondentes de cada questão.

44 Muitas pessoas foram apenas contabilizadas e não responderam aos instrumentos de pesquisa. Para não perder as informações de sexo e cor, optou-se
por deixar o preenchimento destes campos a cargo do pesquisador.

49
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 88,7% dos pesquisados passam a maior parte do tempo na companhia de familiares pró-
ximos (mãe, pai, irmãos e avós). Na questão com quem morava antes de ir para a rua, 94%
das crianças responderam morar com pais, irmãos e avós. Isso pode sugerir que as crianças
acompanharam os familiares em sua ida para as ruas. A convivência com os familiares antes
do início da situação de rua era boa/ótima para 63,5% das crianças pesquisadas, indiferente
para 20% e ruim/péssima para 16,6%.

• A maioria das famílias dos pesquisados (83,8%) não tem ou não aluga casa. Isso significa que
estas crianças estão nas ruas do Distrito Federal diuturnamente.
• Os familiares de 61,4% das crianças aparecem como objeto de admiração por parte destas,
seguidos por cantores/artistas (8,2%), atletas (2,5%) e professores (0,8%). Isto pode ser jus-
tificado pelo fato da maioria das crianças estar acompanhada dos familiares e manter com
eles uma boa convivência.

50
Adolescentes em
situação de rua do DF

Foto: Ana Nascimento.


Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Nas ruas e instituições de acolhida do Distrito Federal foram encontrados 221 adolescentes.
Destes, 127 responderam o questionário completo, totalizando uma amostra de 57,5%. A seguir, o
perfil dos pesquisados45:

• 65,9% são do sexo masculino e 34,1%, do sexo feminino.


• Com relação à cor dos pesquisados, 46,7% foram identificados como pardos, 44,3%
como negros e 9% como brancos.
• Os adolescentes em situação de rua do DF se concentram nas seguintes RAs: 39% em
Brasília (sendo, 30,1% na Asa Norte46, 5,7% na Asa Sul e 2,4% na região central47), 22,8%
em Águas Claras48 e 8,9% na Ceilândia.

Adolescentes em
Situação de Rua

• A maioria das famílias dos adolescentes pesquisados (62,1%) não tem ou não aluga casa,
contra 37,9% que tem ou aluga casa. Este percentual é um pouco maior do que o obti-
do na Pesquisa com crianças em situação de rua (entre estas, apenas 16,2% das famílias
possuem ou alugam casas); contudo, demonstra que a maior parte desses adolescentes
permanece nas ruas diuturnamente, sem possibilidade de retornar para algum tipo de
habitação.

45 As estatísticas foram geradas a partir do número de respondentes de cada questão.

46 Este número é influenciado pela existência do Giração (abrigo público para adolescentes) nesta área.

47 Setor Comercial Sul, Setor Comercial Norte, Setor de Diversões Sul, Setor de Diversões Norte, Rodoviária, Esplanada dos Ministérios.

48 Este número é influenciado pela existência do Albercon nesta Região Administrativa

53
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Quanto à naturalidade, 48,8% são do Distrito Federal, 15,7% da Bahia e 13,2% de Goiás,
comprovando que a migração é, em geral, proveniente de Estados próximos ao Distrito
Federal. Este dado também demonstra que já existe uma geração nascida nas ruas do DF.

• 53,7% dos adolescentes sempre morou no DF, contra 46,3% que já moraram em outras
Unidades da Federação.
• A maior parte dos adolescentes está no Distrito Federal há pelo menos seis anos (46,4%).

54
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 73,9% dos pesquisados não tem companheiro(a) fixo e 78,1% não possuem filhos. Dos
que tem filhos, 95,2% possuem apenas um.

Trabalho e Estudo

• A taxa de analfabetismo entre os adolescentes é baixa: 88% afirmaram saber ler, mesmo
com dificuldades, e 92,8% saber escrever bem ou com dificuldades.
• A maioria dos adolescentes (86,4%) possui apenas o ensino fundamental incompleto
e 59,5% está matriculado na escola. Dos que estão matriculados, 67,1% vão à escola
diariamente e 13,2% nunca vão à escola. Os principais motivos listados para o adolescen-
te “faltar muito ou nunca ir à escola” são: falta de interesse (28,6%), ausência de compro-
vantes de residência, documentos pessoais, transporte para a escola e vagas (17,3%), ter
que cuidar dos filhos (11,4%), porque foi expulso da escola (8,6%), porque prefere ficar
na rua (8,6%) e por ter que trabalhar (8,6%). É importante ressaltar que os motivos que
independem de escolhas pessoais dos adolescentes (e são, portanto, externos e sociais)

Adolescentes em
Situação de Rua
somam 48,5%49, correspondendo à parcela significativa dos pesquisados.

49 Soma dos motivos citados, excluindo as opções: não quer, prefere ficar na rua, foi expulso(por não ser possível saber o motivo da expulsão, optou-se
por desconsiderar esta resposta na soma das causas sociais e externas à vontade do pesquisado) e outros.

55
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• No Distrito Federal falta oferta de cursos extracurriculares para os adolescentes em situ-


ação de rua. De acordo com os dados, 86,9% dos pesquisados não fazem nenhum tipo
de curso extracurricular. Dos que fazem, 50% fazem curso na área de esportes, 18,8% de
informática, 18,8% cursos profissionalizantes e 12,5%, cursos de artes.

56
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Adolescentes em
Situação de Rua
• Apesar de estarem nas ruas, os adolescentes pesquisados se divertem como todos os
adolescentes de maneira geral: 79,2% realizam brincadeiras/jogos, praticam esportes, fre-
quentam fliperamas/lan houses, namoram, vão ao shopping/cinema, ouvem música/to-
cam algum instrumento, passam tempo com amigos, frequentam festas/bares/boates e
passam tempo com a família. Apenas 9,4% afirmaram usar drogas ou bebidas alcoólicas
como forma principal de diversão.

57
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 63,2% dos adolescentes em situação de rua não trabalham50. Dos que trabalham, 34,1%
se ocupam da catação ou reciclagem de materiais, 29,3% guardam ou lavam carros e,
contrariando o senso comum, apenas 2,4% pedem esmolas. Pouco menos da metade
dos adolescentes que trabalham, o fazem durante mais de 7 horas por dia: 48,9%. A idade
de ingresso no mundo do trabalho antecedeu os 12 anos em 42,6% dos casos.

• Quando perguntados sobre com que gastam o dinheiro recebido, 46,4% compram rou-
pas ou alimentos, 17,2%, bebidas ou drogas e 14,1% entregam tudo à família. A maioria
dos adolescentes pesquisados (74,7%) utilizam seus rendimentos obtidos por meio do
trabalho com gastos pessoais, não contribuindo exclusivamente com a renda familiar.

50 Considerou-se como trabalho qualquer tipo de atividade laboral remunerada, independente de ser formal ou informal, legal ou ilegal. A função de
aprendiz também foi considerada trabalho.

58
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Adolescentes em
Situação de Rua
Saúde

• 45,2% dos adolescentes em situação de rua afirmaram usar ou ter feito uso de drogas.
Destes, 8,7% fazem uso apenas de drogas lícitas (cigarro e bebidas alcoólicas) e 36,5%
consomem drogas ilícitas, podendo fazer uso de drogas lícitas concomitantemente. As
drogas mais utilizadas são cigarro (31,1%), maconha (23,4%), bebida alcoólica (14,4%) e
crack (10,8%). Observa-se que as drogas mais utilizadas pelos adolescentes são as menos
desaprovadas pela sociedade em geral. Este fato demonstra a necessidade de campa-
nhas que combatam o uso e comercialização dessas substâncias, pois apesar da proibi-
ção de venda para menores de idade, os dados comprovam que o consumo é elevado
entre o público pesquisado.

59
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Geralmente os adolescentes pesquisados começaram a usar drogas ainda crianças: 64%


antes dos 12 anos. O início do consumo de drogas durante a adolescência se dá, na maior
parte dos casos, entre os 12 e os 16 anos (36%). As primeiras drogas experimentadas são
as lícitas, como cigarro e álcool (44,1%), seguidas por maconha (23,2%) e crack (10,7%).
De acordo com o gráfico 18 e o gráfico 19, observa-se que o percentual de adolescen-
tes que afirmaram ter entrado no mundo das drogas usando cigarro, maconha, bebida
alcoólica e crack, é praticamente o mesmo do total de usuários destas substâncias. Isso
pode significar que, ao longo dos anos, o consumo destas drogas não diminui e nem é
substituído por outras.

60
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Adolescentes em
Situação de Rua
• O crack é mais consumido51 em Ceilândia (44,4%) e em Brasília (33,3%). Os solventes são
mais consumidos em Brasília (60%) e em Ceilândia (20%), a cocaína em pó é mais consu-
mida em Brasília (83,3%) e Sobradinho (16,7%) e a bebida alcoólica, em Brasília (60,9%),
Taguatinga (8,7%) e Sobradinho (8,7%).

51 Os percentuais deste gráfico dizem respeito ao número de vezes que uma determinada droga foi citada pelos adolescentes pesquisados (frequência
de respostas). Não diz respeito, portanto, ao volume consumido.

61
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• O início da vida sexual da maioria (86,2%) se deu entre os 12 e os 17 anos. Mais da


metade dos pesquisados mantém relações sexuais (52,8%), sendo que 39,4% utilizam
preservativo/camisinha como contraceptivo e 48,5% usam esse método para evitar do-
enças sexualmente transmissíveis. A maior frequência dos pesquisados (53,6%) recebe
contraceptivos do governo e 36,1% compram.

• Em caso de doença, os pesquisados procuram, em primeiro lugar, hospitais ou postos de


saúde (44,2%) e 35,8% se automedicam com remédios alopáticos.

62
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Adolescentes em
Situação de Rua
Albergues e Abrigos

• Mais da metade (56,7%) dos adolescentes pesquisados nunca dormiu no Albercon e não
conhece o local. Alguns (4,8%) dormem atualmente e 9,6% já dormiram no passado. É
importante frisar que no Albercon só são aceitos crianças e adolescentes acompanhados
de seus responsáveis.

63
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 84,7% dos respondentes não gostam, gostaram ou gostariam de dormir no Albercon.


Entre os motivos listados 47,5% citaram não ter um local onde deixar os seus pertences
e 32,2%, a violência/medo de outros albergados.

• Mais da metade (52,9%) dos adolescentes pesquisados nunca dormiu e não conhece
nenhum abrigo. Um número considerável de adolescentes (20%) dorme atualmente em
abrigos e 16% dos pesquisados já dormiram no passado. Um percentual idêntico de
adolescentes (50%) se dividiu em gostar/gostou/gostaria de dormir em abrigos e não
gostar/gostou/gostaria de dormir em abrigos. Os que não gostam/gostaram/gostariam
de dormir em abrigos listaram os seguintes motivos: 20% citaram que outras pessoas
falam mal dos locais, 16,7%, os maus tratos por parte dos funcionários, 16,7%, a violência
entre abrigados e 10%, a rigidez de horários.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Adolescentes em
Situação de Rua
Vida nas ruas

• Os locais de pernoite mais frequentes são: 27,7% cerrado ou mato, 22,7% albergues ou
abrigos e 14,9% casa própria, alugada ou barraco. Os adolescentes que dormem nas ruas
precisam se esconder para não serem alvo de violências, remoções ou perseguições. Os
matos e cerrados do Distrito Federal são a “casa” dos adolescentes sem abrigos.

65
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Contudo, quando estão acordados, os adolescentes passam a maior parte do tempo


em locais mais movimentados: 19,7% ficam em pontos comerciais, 18,4% nas escolas/
bibliotecas/cursos e 12,9% em albergues ou abrigos. Nestes pontos, as ofertas de bicos/
trabalho, alimentação e oportunidades variadas é mais frequente.

• Os adolescentes pesquisados costumam passar o tempo na rua: trabalhando (27,2%),


brincando (26,3%), usando drogas/bebendo (15,8%) e pedindo esmolas (12,3%).

66
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Os pesquisados conseguem alimentação em fontes variadas: 27,9% ganham, 26,7% com-


pram, 25,9% pedem e 19,5% pegam comida no lixo ou na rua. Dos que compram, 20,6%
o fazem nos restaurantes comunitários do GDF. Pouco menos da metade (46,7%) come
mais de três vezes por dia. Apenas 1,6% dos pesquisados não se alimenta todos os dias.

Adolescentes em
Situação de Rua
• Os locais onde normalmente tomam banho são albergues/abrigos (26,9%), mato ou cer-
rado (26,9%), banheiro público (9,2%) e outros lugares públicos (6,9%).

67
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Os locais onde normalmente fazem suas necessidades fisiológicas são mato ou cerrado
(38%), albergues/abrigos (27%), banheiro público (11,7%) e lugares públicos (9,5%).

• Quando questionados sobre o que mais gostam na rua os motivos mais citados foram:
as amizades (25,3%), a possibilidade de brincar o tempo todo (20,9%), a independência e
liberdade (16,5%) e a possibilidade de usar livremente drogas e bebidas alcoólicas (12,1%).

68
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Quando questionados sobre o que menos gostam na rua, os motivos mais citados foram:
violência entre as pessoas em situação de rua (26,7%), ficar na chuva e no frio (21,3%), a
discriminação por estar na rua (12%) e, empatadas, a violência policial e a violência dos
agentes públicos (8%).

Adolescentes em
Situação de Rua
• 42,2% dos adolescentes pesquisados estão em situação de rua há mais de 5 anos, 11,9%,
há 3-5 anos e 18,4% há menos de seis meses.

69
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Os motivos principais que levaram os adolescentes à situação de rua foram: acompanhar


familiar (30,3%), perda de moradia (12,6%) e por opção (11,8%). A quebra dos vínculos
familiares (maus tratos na família, não se sente bem na sua família, expulsão de casa,
separação e morte de algum familiar) somam 23,5%. Isso demonstra que o maior percen-
tual de adolescente vai para as ruas porque mantém os vínculos familiares e não o con-
trário (caindo nessa situação pela perda ou fragilidade da convivência com os parentes).

70
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Estar em situação de rua representa para 23,4% dos adolescentes não ter abrigo, conforto
e alimento. Observa-se, também, que opiniões preconceituosas são reproduzidas por
pequena parte dos adolescentes (vadiagem e questão de escolha): 9,5%.

Adolescentes em
Situação de Rua
• Surpreendentemente, mais da metade (65,2%) dos pesquisados não se considera em si-
tuação de rua. O fato de não se considerarem em situação de rua dificulta a mobilização
e a luta pelos seus direitos como grupo social.
• Até os direitos humanos mais básicos como o direito civil de ir e vir não são respeitados
quando se trata da população em situação de rua: todos os adolescentes respondentes
já foram impedidos de entrar em algum lugar ou de receber algum tipo de atendimento
público (saúde e educação, por exemplo).

71
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Família

• 55% dos pesquisados passam a maior parte do tempo enquanto estão nas ruas
com familiares, 27,5% ficam com amigos e companheiros de rua e 13,7% ficam so-
zinhos.
• 97,6% dos adolescentes moravam com familiares antes de irem para as ruas. A convi-
vência com as pessoas com quem morava antes de ir para a rua era boa ou ótima para
72,9% dos pesquisados; indiferente para 6,5% e ruim ou péssima para 20,6%. Assim, para
a maioria dos pesquisados a ruptura dos vínculos familiares não foi a causa da ida para as
ruas.
• A maior parte dos pesquisados (69%) mantém contato com os familiares que não estão
nas ruas. Este contato é diário para 22,4% dos adolescentes; algumas vezes por semana
para 25%; nos finais de semana para 21,1%; algumas vezes no mês para 21,1%; de 3 a 4
vezes ao ano 3,9% e de 1 a 2 vezes ao ano, 6,6%. Dos que não mantém contato (31%), os
principais motivos listados foram: falta de dinheiro (38,9%), falta de interesse por parte
do pesquisado (22,2%) e brigas ou conflitos familiares (16,7%).

72
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Adolescentes em
Situação de Rua
Violência52

• Um percentual significativo dos adolescentes admitiu ter sofrido algum tipo de violência
(47,1%). Destes, 19,8% sofreram violência muitas vezes. Entre as vítimas, 32,6%, afirma-
ram que o agressor foi um familiar, 26,3%, policiais e 17,5%, companheiros de rua. Estar
nas ruas significa estar a mercê de violências praticadas por diversos atores: colegas na
mesma situação, parentes, moradores de conjuntos residenciais próximos e até mesmo
agentes do Estado.
• Os adolescentes em situação de rua sofrem mais violência do que praticam: 68,3% dos
pesquisados nunca praticou nenhum tipo de violência. Dos que praticaram, 38,1% afir-
maram que agrediram outras pessoas em situação de rua e, 26,2%, pessoas da comuni-
dade.
• Apenas 7,6% dos adolescentes assumiram ter sofrido violência sexual. Dos que sofreram,
66,6% foi cometida por familiares, sendo o pai o agressor em 22,2% dos casos.
• Apenas um adolescente afirmou ter praticado violência sexual contra outra pessoa.
• Dos adolescentes em situação de rua pesquisados, 43,1% afirmaram já ter passado por
alguma instituição de internação ou abrigo. Das instituições listadas, as mais frequentes
foram: abrigos (43,8%) e Centros de Internação (22,5%).

52 Neste bloco de questões foram considerados todos os tipos de atos violentos, tais como: violência física (homicídio, lesão corporal), agressão verbal,
violência psicológica, roubos/assaltos, entre outras. A violência sexual foi trabalhada em questões específicas.

73
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

74
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 30,6% dos adolescentes já foram apreendidos ou internados. Destes, 23,7% foram por ter
praticado roubo/assalto; 15,8%, furto; 15,8%, lesão corporal e 10,5%, homicídio53. O sim-

Adolescentes em
Situação de Rua
ples fato de estar nas ruas é motivo de apreensão de 13,2% dos adolescentes, percentual
muito próximo ao de outros motivos, como furto e lesão corporal. Os atos infracionais
mais praticados pelos pesquisados podem ser explicados pela própria situação socio-
econômica na qual eles estão inseridos. O consumo, dentro da sociedade capitalista,
é requisito primeiro para a cidadania. A adolescência, por sua vez, é caracterizada pela
constante busca de aprovação e, somada à necessidade de “ter” – dificilmente satisfeita
por um grupo que se encontra na pobreza extrema –, pode estimular a prática de rou-
bos, assaltos e furtos.

53 Os adolescentes são inimputáveis, portanto não são condenados a penas nem aos artigos correspondentes ao Código Penal. Porém, optou-se pela
classificação apresentada no gráfico 44 para facilitar a compreensão dos pesquisados sobre a questão.

75
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 39,1% dos adolescentes afirmaram admirar familiares, 20,9%, não admiram ninguém, 7,8%,
amigos e 6,1% admiram funcionários da instituição de acolhimento. Isso reforça a manu-
tenção dos vínculos familiares e da boa convivência entre os pesquisados e sua família.
• Quando questionados sobre suas expectativas para o futuro, 18,4% dos pesquisados de-
monstraram o desejo de ter uma casa/lote e 7% ter uma casa e um emprego. Contudo,
11,4% não tem projetos ou expectativas.

76
Foto: Ana Nascimento.

Adultos em situação
de rua do DF
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

No Distrito Federal foram encontrados 1.972 adultos. Destes, 1.206 responderam ao questio-
nário completo, totalizando uma amostra de 61,2%. A seguir, o perfil dos pesquisados:

• 78,1% são do sexo masculino e 21,9%, do sexo feminino.


• Com relação à cor dos pesquisados, 40,2,% foram identificados como negros, 39,9%,
como pardos, e 18,8% como brancos.
• Os adultos em situação de rua do DF se concentram nas seguintes RAs: 27% em Águas
Claras54, 25,1% em Brasília (sendo, 10,2% na Asa Sul, 4,4% na Asa Norte e 4,8% na região
central) e 10,7% em Taguatinga.

Situação de Rua
Adultos em

• A maioria dos adultos pesquisados (77%) não tem ou não aluga casa, contra 23% que
tem ou aluga casa. Seguindo o mesmo padrão das crianças e adolescentes, a maioria
dos adultos em situação de rua não tem nenhuma forma de habitação convencional e
regular, fazendo das ruas seu único local de moradia e sobrevivência.

54 Este número é influenciado pela existência do Albercon nesta Região Administrativa

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Os adultos em situação de rua estão distribuídos de acordo com os seguintes grupos


etários: 30,2% têm de 31 a 40 anos; 29,4%, de 22 a 30 anos e 20%, de 41 a 50 anos. As
pessoas idosas (isto é, acima de 60 anos) somam apenas 4,2% do total.

• 55,9% dos adultos em situação de rua são solteiros, 22,8% estão em união estável, 11,8%
são divorciados/separados, 6,6% são casados e 2,9% são viúvos.
• Quanto à naturalidade, 18,9% são do Distrito Federal, 17,7% da Bahia, 9,8% de Minas
Gerais e 8,9% de Goiás. A maioria dos adultos pesquisados vieram de outras Unidades
da Federação (80,5%) e 0,6% vieram de outros países. Os motivos de migração para o DF
são: 49,1% procurar trabalho, 15,4% acompanhar familiar e 6,4% fazer tratamento de saú-
de. Apenas 0,6% vieram para o DF com o objetivo de receber doações. Antes de virem
para o DF, 44,1% dos pesquisados respondentes costumavam dormir em suas próprias
casas, 22,2% na casa de parentes ou amigos e 6,1% em albergues ou abrigos. Apenas 21%
dormiam nas ruas, prédios abandonados, buracos ou “mocós”. Isso pode significar que a
maioria dos adultos veio para o Distrito Federal com esperança de melhor sua qualidade
de vida por meio do trabalho; contudo, não tiveram direito à cidade e suas oportunida-
des, não restando outra alternativa a não ser a ida para as ruas. Esse dado refuta a idéia
erroneamente difundida de que as pessoas com baixos rendimentos vem para o DF
atraídas pela suposta (e ilusória) generosidade do brasiliense.

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Situação de Rua
Adultos em

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• 23,1% das pessoas adultas em situação de rua estão no DF em um período entre 1 mês
e 1 ano; 21,2% estão entre 11 a 20 anos; 15,7%, de 5 a 2 anos e 11,4% há menos de um
mês. Um percentual considerável de pessoas em situação de rua está no DF há mais de
20 anos: 13,4%.

Situação de Rua
Adultos em
• A falta de documentação pessoal é um problema presente na vida dos adultos pes-
quisados: 82,4% não possuem título de eleitor; 80,5%, não têm Carteira de Trabalho e
Previdência Social (CTPS) e 78% não possuem documentos de identidade. É importante
frisar que, sem documentos, não se tem acesso à maioria das políticas sociais, programas,
benefícios e projetos governamentais. A matrícula em escolas, o atendimento em ambu-
latórios em unidades de saúde, o registro de ocorrências policiais e, até mesmo, o acesso
a edifícios, são dificultados, quando não impossibilitados. Além disso, sem documenta-
ção pessoal o indivíduo não é considerado um cidadão, ficando à margem de todos os
tipos de participação social.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Escolaridade

• A taxa de analfabetismo entre os adultos é baixa: 81,9% afirmaram saber ler (com ou sem
dificuldade) e 82,2% saber escrever (com ou sem dificuldade).
• A maioria dos adultos (69%) possui apenas o Ensino Fundamental incompleto. Dos pes-
quisados que interromperam seus estudos, 27,9% o fizeram porque acreditam que não
fará diferença, 15,4% porque precisam trabalhar e contribuir para o sustento da família,
10,3% não puderam se matricular por não ter endereço fixo e 9% porque precisam cui-
dar dos filhos. A ausência de documentos, a falta de vagas nas escolas, a inexistência de
comprovante de residência, o fato de sofrerem discriminação, o uso de álcool e outras
drogas e os problemas de saúde – fatores comuns às pessoas em situação de rua – for-
çaram 26,4% dos adultos ao abandono dos estudos.

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Situação de Rua
Adultos em

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Saúde

• Quando ficam doentes, a maioria dos adultos (58,4%) procura, em primeiro lugar, os
hospitais ou postos de saúde; 11,3% se automedicam com remédios alopáticos; 8,6% não
fazem nada/esperam passar e 8,3% utilizam a fitoterapia (chás, ervas medicinais, banhos,
entre outras alternativas).

• Para evitar filhos, 51,1% dos pesquisados utilizam preservativos/camisinhas; 15,6% não
utilizam nenhum método contraceptivo; 10% tomam pílula ou contraceptivos hor-
monais e 9,4% fizeram laqueadura/ligação de trompas. Para se prevenir contra doenças
sexualmente transmissíveis, 61,9% usam preservativo/camisinha; 17% não se protegem e
7,6% afirmam que se protegem pelo fato de terem um parceiro fixo. A maior frequência
dos pesquisados respondentes (55,5%) recebe contraceptivos do governo e 31,4% com-
pram. Percentual considerável de pessoas (28,2%) está exposto às Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DSTs) por não utilizarem métodos corretos de prevenção.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Situação de Rua
Adultos em

• 85,8% dos adultos em situação de rua afirmaram usar drogas. Destes, 41,4% fazem uso
apenas de drogas lícitas (cigarro e bebidas alcoólicas) e 44,4% consomem drogas ilícitas,
podendo fazer uso de drogas lícitas concomitantemente. As drogas mais utilizadas são
cigarro (30,6%), bebida alcoólica (26,1%), maconha (12,5%), e crack (9,2%). O alto índice

87
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

de adultos em situação de rua que consomem álcool e/ou outras drogas, especialmente
quando comparado ao de adolescentes (44,5%), pode ser explicado pelo maior tempo
de exposição do primeiro à situação de rua. O frio, o medo, a fome, o sofrimento cau-
sado pelo preconceito e pela discriminação, são fatores determinantes para o consu-
mo destas substâncias. Ademais, além de encontrarem nestas uma fuga (temporária ou
permanente) da realidade experimentada em seus cotidianos, algumas drogas são mais
baratas e mais acessíveis do que alimentos.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 25,9% do consumo55 de crack no Distrito Federal é concentrado em Brasília. O consumo


da cocaína em pó também é maior nesta RA (25,2%), seguida por Águas Claras (20,1%).
A bebida alcoólica, por seu turno, é mais consumida em Brasília (27,4%) e em Águas
Claras (23,4%).

Situação de Rua
Adultos em
Trabalho

• 55,7% dos adultos em situação de rua já trabalharam com carteira assinada, contudo,
apenas 5,6% estão trabalhando atualmente com nesta condição. Um número elevado
de indivíduos pesquisados nunca trabalhou com carteira registrada: 38,7%. Dos que já
tiveram registro, 51,6% fizeram parte do mercado de trabalho formal apenas durante
um período de até 6 anos. O alto número de adultos em situação de rua no mercado
informal de trabalho inibe a proteção previdenciária para este segmento social.
• 74,6% dos adultos em situação de rua não têm, atualmente, acesso a nenhuma política
social. Dos que têm esse acesso, 19,8% utilizam os restaurantes comunitários do GDF;
15,2% recebem os benefícios do Programa Bolsa Família; 6,8% são aposentados e 4,6%
recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Dos que não tem acesso, 29,3%
declararam que nunca procuraram; 22,4%, desconhecem os benefícios e, 22,1%, afirmam
que não têm acesso por falta de prioridade ou interesse governamental. A (des)proteção
social deste grupo populacional fica clara nesta questão: as pessoas em situação de rua
deveriam ser alvo privilegiado dos programas, serviços e benefícios governamentais, já

55 Os percentuais deste gráfico dizem respeito ao número de vezes que uma determinada droga foi citada pelos adultos pesquisados (frequência de
respostas). Não diz respeito, portanto, ao volume consumido.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

que possuem o perfil dos grupos focalizados para cobertura de tais ações. O não atendi-
mento deste segmento social comprova que este é um grupo marginalizado dentro de
outro grupo que já está à margem da sociedade capitalista, não tendo sequer seus direi-
tos mais básicos, como o de ir, vir e permanecer, garantidos. A falta de informação sobre
as políticas e programas sociais revela grave falha dos governos em todas as suas esferas,
já que é este que deve ir em busca da população, garantido a cobertura e a proteção de
todos que necessitam.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 73,5% já tiveram acesso a alguma política social no passado. As mais citadas foram: Segu-

Situação de Rua
Adultos em
ro Desemprego (20,5%), Programa Bolsa Família (14,7%) e Bolsa Escola (11,2%). Os mo-
tivos para não fruição atual dos benefícios/programas são: o término do prazo (58,8%) e
o não cumprimento de condicionalidades (15,7%). Nesta questão fica explícita a contra-
dição das políticas sociais no capitalismo: estas, apesar de declaradamente pretenderem
proteger seus beneficiários, acabam por aprisioná-los em diferentes armadilhas sociais,
como as armadilhas da pobreza e do desemprego56: após o término do prazo de deter-
minados benefícios, os beneficiários retornam às suas condições de pobreza extrema e
de desemprego. As condicionalidades, por sua vez, além de partirem do pressuposto de
que as pessoas atendidas não tem capacidade para discernir quais são as suas necessida-
des vitais e de procurarem formas de satisfazê-las, constitui uma incoerência em um País
como o Brasil. Em vista disso, pergunta-se: como condicionar o oferta de um direito so-
cial a outro (como frequência em escolas e postos de saúde/hospitais) se faltam médicos
e professores, medicamentos, vagas em escolas ou em leitos hospitalares? Os serviços
sociais públicos em países do chamado Terceiro Mundo são frequentemente escassos e
de má qualidade. Ademais, exigir contrapartidas de vítimas sociais históricas para acesso
a direitos negados e desmontados continuamente, distorce a noção de cidadania e eli-
mina o caráter de direito desses programas e políticas (PEREIRA; SIQUEIRA, 2010).

56 Sobre este assunto ver PEREIRA; SIQUEIRA (2010).

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• De acordo com os números encontrados, 0,7% dos adultos em situação de rua tem rendi-

Situação de Rua
Adultos em
mento familiar mensal de até R$70,00; 32,2%, de R$71,00 a R$300,00 e 44,1% de R$301,00
a R$600,00. Somente 9,9% tem rendimento familiar mensal superior a R$1.000,00. O Dis-
trito Federal é, reconhecidamente, uma das Unidades da Federação (UF) com mais alto
custo de vida: transporte, habitação, alimentação e vestuário são particularmente caros
nesta UF, quando comparada a outros Estados brasileiros. A título de exemplo, de acor-
do com dados do DIEESE (2011), o valor da cesta básica em Brasília, em setembro de
2011, era de R$ 244,24, o que corresponde a até 81% da renda familiar mensal de 44,1%
dos adultos em situação de rua do DF. Para outros 32,9%, o rendimento familiar mensal
é quase totalmente comprometido – quando não totalmente – apenas com alimenta-
ção. Esta questão demonstra também que a ideia propagada de que a maior parte dos
flanelinhas e catadores de material reciclável em situação de rua e pedintes recebem,
individualmente, mais de R$ 1.000,00 mensais, é equivocada. Mais de 90% do total de
adultos em situação de rua pesquisados recebe menos do que este valor somando todos
os membros da família.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• A população adulta em situação de rua do Distrito Federal é, contrariando o senso co-


mum, composta por trabalhadores: 21,3% guardam ou lavam carros; 19,3% se ocupam
da catação ou reciclagem de materiais; 12,3%, da construção civil. Apenas 10,6% pedem
esmolas e somente 0,5% tem na prostituição sua principal fonte de renda. Após a leitura
deste dado nos três bancos pesquisados (crianças, adolescentes e adultos) fica demons-
trado que denominar este grupo social de mendigos é cair em grave erro conceitual e
propagar informações infundadas de maneira irresponsável e preconceituosa.

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Vida nas ruas

• Os locais onde os adultos em situação de rua passam o dia com mais frequencia, são:
pontos comerciais (23,4%), albergue/abrigo (15,3%), no trabalho (11%) e no cerrado/
mato (9,2%). Pela própria atividade laboral desempenhada por este grupo social (flaneli-
nhas e catadores de material reciclável), os pontos comerciais são os locais mais frequen-
tados. Entretanto, no período noturno, os adultos em situação de rua precisam se escon-
der para fugir das perseguições, agressões e remoções constantes. Os locais de pernoite
mais frequente são: 26,2% albergues ou abrigos, 16% cerrado ou matos e 10% debaixo de
pontes, viadutos ou marquises. Conceição Freitas, em sua coluna Crônica da Cidade, no
jornal Correio Braziliense, do dia 19 de outubro de 2011, resume bem a questão:

Aos olhos do brasiliense os moradores de rua são uma gente desqualificada


que suja a urbanidade asséptica do Plano Piloto. Nós esquecemos que a cida-
de, Brasília, ou qualquer outra do planeta, pertence a quem nela vive – ricos,
pobres e miseráveis, brancos, pardos e negros, limpos e sujos, bonzinhos e
malvados, com e sem teto. A indigência acampada no canteiro central da
utopia diz respeito a todos nós. Menos a quem é simpático às ideias de hi-
gienismo – aquelas que sustentaram a ideologia nazista (FREITAS, 2011, p.29).

Situação de Rua
Adultos em

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• 30,8% dos pesquisados passam a maior parte do tempo com familiares, enquanto estão nas
ruas. Contudo, 35,5% ficam sozinhos e 32,8% ficam com amigos e companheiros de rua.
• Dos adultos pesquisados, 32,3% nunca dormiram no Albercon e não conhecem o local;
26,4% nunca dormiram no Albercon, mas conhecem o local; 21,1% dormem atualmente;
20,2% já dormiram no passado. É importante ressaltar o alto percentual de adultos em
situação de rua que desconhecem o único albergue público do Distrito Federal.

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• 78,7% dos adultos em situação de rua não gostam, gostaram ou gostariam de dormir no
Albercon. Entre os motivos listados estão: 31,5%, a violência entre os albergados; 26,2%, o
fato de outras pessoas falarem mal do local e 9,5% os maus tratos por parte dos funcio-
nários. Apesar de o percentual ser baixo, este último motivo citado é grave e exige solu-
ção imediata. A matéria divulgada pelo jornal Correio Braziliense no dia 25 de outubro de
2011, reforça a veracidade da informação:

Situação de Rua
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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Um percentual considerável de adultos em situação de rua (42,3%) nunca dormiu e não


conhece nenhum abrigo. Poucos (13,1%) dormem atualmente e 30,1% dos pesquisados
já dormiram no passado.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• A maioria dos pesquisados (58,1%) não gosta/gostou/gostaria de dormir em abrigos e


listaram os seguintes motivos: 28,2%, a violência entre acolhidos; 17% citaram que outras
pessoas falam mal dos locais e, 8,3%, os maus tratos/violência provenientes dos funcio-
nários das instituições. Novamente a violência e os maus tratos cometidos por funcio-
nários das instituições aparecem como motivo para a recusa na ida para instituições de
acolhida. Esta população é vítima de violência nas ruas, até mesmo enquanto estão tra-
balhando e, também, quando procuram abrigos ou albergues. Nestes locais, não existem
desculpas para que sua segurança não seja garantida.

Situação de Rua
Adultos em

• Os pesquisados conseguem alimentação em fontes variadas: 36,2% ganham (29,2% de


restaurantes ou lanchonetes e 22,2% de igrejas/instituições religiosas), 30,4% compram
(25,8% de restaurantes comunitários), 29,6% pedem (46,7% de restaurantes ou lancho-
netes). Pouco mais da metade (21,7%) comem mais de três vezes por dia, 15,3%, só se
alimentam uma vez ao dia e 7% não comem todos os dias.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 35,7% dos adultos afirmaram que não há aspectos positivos nas ruas. Dos que afirmaram
gostar de algo, as alternativas mais citadas foram: a independência ou liberdade (30,4%),
a amizade dos companheiros de rua (23%) e a facilidade para trabalhar – catação, guar-
dar ou vigiar carros e prestação de serviços de carga e descarga (16,2%).

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Quando questionados sobre o que menos gostam na rua, todos os respondentes encon-
traram algum aspecto negativo. Os mais frequentes foram: violência entre as pessoas em
situação de rua (18,9%), a discriminação por estar na rua (13,3%) e ficar na chuva e no
frio (11,2%).

Situação de Rua
Adultos em
• Por esta ter se tratado de uma questão aberta57, ocorreram várias respostas diferenciadas.
Contudo, 89,8% dos entrevistados afirmaram considerar a situação de rua como algo
negativo. As principais classificações foram: não ter abrigo/conforto/alimento (16,1%),
algo ruim/péssimo (10,7%) e exposição à violência e um risco constante à vida (5,2%).
Nem todos se veem nesta situação. Dos adultos pesquisados, apenas 53,1% se conside-
ram em situação de rua. Assim como entre os adolescentes pesquisados, o fato de não
se considerarem em situação de rua dificulta a mobilização e a luta pelos seus direitos
como grupo social.

57 As questões fechadas apresentavam opções de respostas. As questões abertas eram de livre resposta.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Os principais motivos que levaram os pesquisados à situação de rua foram: para traba-
lhar (14,5%), o desemprego (13,2%) e a perda de moradia (12,7%). A quebra dos vínculos
familiares (maus tratos na família, não se sente bem na sua família, rejeição da família pela
orientação sexual, separação e morte de algum familiar) somam 26,5%. Apesar desta úl-
tima causa ter o maior percentual de respostas, este dado significa que 69% dos adultos
pesquisados ingressaram na situação de rua por motivos diferentes da ruptura de víncu-
los familiares.

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• 31,9% dos adultos pesquisados estão em situação de rua há menos de seis meses, 23,8%,

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há mais de 5 anos e 21,5%, há 3-5 anos.

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Violência58

• Mais da metade (59,6%) dos adultos já sofreu violência. Destes, 27,6% sofreram violência
muitas vezes. Dos que sofreram violência, 30% foram agredidos por companheiros de
rua, 24,5%, por policiais e 12,8% por moradores de casas e de apartamentos próximos.
Denúncia de um “trecheiro”59, publicada no jornal Correio Braziliense, na coluna Grita
Geral, no dia 25 de outubro de 2011, ilustra o tratamento dispensado por parte de alguns
policiais contra a população em situação de rua do Distrito Federal:

58 Neste bloco de questões foram considerados todos os tipos de atos violentos, tais como: violência física (homicídio, lesão corporal), agressão verbal,
violência psicológica, roubos/assaltos, entre outras. A violência sexual foi trabalhada em questões específicas.

59 Trecheiros “são pessoas que transitam de uma cidade a outra, na maioria das vezes caminhando a pé pelas estradas, pedindo carona ou se deslocando
com passes de viagem concedidos por entidades assistenciais” (BRASIL, 2008, p.8).

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• 66,8% dos adultos em situação de rua nunca praticaram nenhum tipo de violência. Dos

Situação de Rua
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que praticaram, 42,4% afirmaram que agrediram outras pessoas em situação de rua. No-
vamente, fica a comprovação de que a população em situação de rua sofre mais violên-
cia do que pratica. E quando pratica, esta violência geralmente ocorre entre os membros
deste grupo social.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Apenas 10% dos adultos assumiram ter sofrido violência sexual. Essa violência foi come-
tida por outras pessoas em situação de rua (26,4%), moradores de casas ou de aparta-
mentos próximos (22,6%) e familiares (21,7%). Ao contrário dos adolescentes em situa-
ção de rua, os familiares dos adultos pesquisados não são os principais agressores, mas,
ainda assim, representam percentual considerável.

• 98,5% dos pesquisados afirmaram não ter praticado nenhum tipo de violência sexual.
• Dos pesquisados 60,7% afirmaram já ter ficado em locais de internação, acolhimento ou
sistema prisional. Dentre estes estão: sistema prisional (35,3%), albergues (19%) e Centros
de recuperação para usuários de álcool ou outras drogas (17,7%).

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

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• Dos que já estiveram detidos60, os motivos mais citados foram: roubo/assalto (21,5%),
furto (15,9%), lesão corporal (14,9%) e homicídio/latrocínio (13,9%). Indo ao encontro
dos dados revelados pelos adolescentes em situação de rua, quando cometem algum
delito, no geral, este é relacionado à sua situação de privação material: roubo, assaltos e
furtos.

60 Não foi perguntado aos adultos pesquisados se estes já foram condenados ou se cumpriram pena.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Todas as pessoas adultas em situação de rua já foram impedidas de entrar em algum lu-
gar ou de receber algum tipo de atendimento público (saúde e educação, por exemplo).

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• A maioria da população adulta em situação de rua desconhece os principais movimen-


tos sociais ligados à sua realidade. O movimento social mais conhecido por este grupo é
o Movimento dos Sem-Terra (MST). Este fato pode ser explicado pela grande repercussão
que este movimento social tem na mídia brasileira. O Movimento Nacional da População
de Rua (MNPR), por sua vez, é o mais desconhecido entre os pesquisados. Os dados
sobre a participação nestes movimentos são ainda mais pessimistas: em média, 82,2%
não fazem parte de nenhum dos movimentos citados. O fato de desconhecerem e não
participarem do MNPR, movimento que os representa e luta pelos seus direitos, dificulta
a identificação destes indivíduos como grupo social, composto por cidadãos detentores
de direitos.

Situação de Rua
Adultos em

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• 72% dos pesquisados não votaram nas ultimas eleições (2010).

Família

• 72% dos adultos afirmaram ter filhos. Destes, 26,1% tem apenas um. A maioria (80,7%)
tem filhos menores de idade. Os filhos menores de idade são cuidados por familiares
(95,2%). Destes, 69,7% são os próprios pais.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Ao contrário das informações divulgadas na mídia, 86,4% dos filhos em idade escolar
frequentam a escola.

• Dos que não estudam (13,6%), o motivo mais frequente é a ausência ou omissão do Esta-
do na oferta de proteção social para as pessoas em situação de rua: 45,9% corresponden-

Situação de Rua
do à inexistência de vagas, ausência de comprovante de residência e/ou documentos,

Adultos em
discriminação, falta de uniforme, ausência de transporte público.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Quando questionados sobre as maneiras pelas quais os filhos menores de idade contri-
buem com a renda familiar, 82,6% dos adultos pesquisados informaram que estes não
contribuem. Dos que contribuem, 5,5% o fazem por meio de benefícios concedidos pelo
Governo, 5% trabalhando e apenas 0,2% por meio da mendicância. Este dado demonstra
que a exploração do trabalho e da mendicância de crianças em situação de rua por seus
familiares é reduzida. De qualquer maneira, é necessária uma política social eficaz para
garantir às famílias meios de se sustentarem, não precisando recorrerem a esta estratégia
de sobrevivência e assegurando que essas crianças permaneçam em seus núcleos fami-
liares, tal qual é incentivado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

• A maior parte dos pesquisados (63,3%) mantém contato com os familiares que não
estão nas ruas. Este contato é diário para 7,9% dos adultos; algumas vezes por semana
para 12,9% e, nos finais de semana, para 6%. Apenas 17,1% perderam contato com seus
parentes.

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Os locais onde normalmente tomam banho são albergues/abrigos (26%), lagos/córregos

Situação de Rua
(14,2%), mato ou cerrado (12,9%), banheiro público (12,6%) e lugares públicos (9,6%).

Adultos em

113
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Os locais onde normalmente fazem suas necessidades fisiológicas são albergues/abrigos


(33,4%), lagos e córregos (19,9%), mato ou cerrado (15,2%), banheiro público (9,9%) e
lugares públicos (7,8%).

• Quando questionados sobre o que desejam para o seu futuro, apenas 5,7% dos adul-
tos não tem projetos/expectativas. Os desejos mais citados foram: ter uma casa/lote
(24,4%), conseguir emprego (15,8%) e constituir família (6,8%).

114
Foto: Ana Nascimento.

Relatos de Vida
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Relatos de Vida

Na elaboração deste projeto houve previsão de uso de duas técnicas de captação de dados:
uma com foco quantitativo (aplicação de questionários em larga escala) e outra ancorada no mé-
todo qualitativo.
Ao longo do desenvolvimento das atividades percebeu-se que a realização simultânea das
etapas quantitativa e qualitativa seria uma iniciativa interessante a partir da lógica da triangulação,
a qual permite comparar os resultados de ambas (FLICK, 2009). O uso das duas técnicas apoiadas
uma na outra, visa conhecer melhor o quadro geral da questão em estudo, tendo claro que os
aspectos estruturais serão analisados pela técnica quantitativa (questionário) e os processuais pela
técnica qualitativa. A adoção da técnica quantitativa buscou considerar ainda aspectos tais como:

• Otimização da logística, do investimento financeiro e dos recursos humanos;


• A dificuldade de acesso a essa população, indicando a necessidade de aproveitamento
máximo de todos os contatos possíveis.
• O resultado do pré-teste do questionário que demonstrou a disponibilidade de muitos
dos entrevistados para aprofundar a “conversa” como indicativo de possibilidade de co-
leta de informações qualitativas;

Por essa razão apresentamos também a proposta de etapa qualitativa deste estudo.

Métodos qualitativos

Enquanto os métodos quantitativos buscam abarcar um grande número de indivíduos por


meio de um instrumento de coleta de dados padronizado – isto é, no qual as mesmas perguntas

Relatos de Vida
são aplicadas à população em análise, com o intuito de medir fenômenos sociais e generalizar
resultados –, as técnicas qualitativas buscam uma estreita aproximação com os pesquisados. En-
quanto a técnica quantitativa favorece a interpretação das relações existentes entre as variáveis dos
conjuntos de dados quantitativos, a partir das perspectivas dos pesquisadores que orientam as
abordagens, as técnicas qualitativas têm por objetivo enfatizar o ponto de vista dos sujeitos, permi-
tindo melhor compreender as relações que se estabelecem no campo de análise (BORDIEU, 1999).
As técnicas quantitativas incluem, pois, a dimensão subjetiva nas análises sociais.
A intenção, portanto, foi deixá-los falar da forma mais natural possível, expondo suas reali-
dades para que o pesquisador pudesse melhor apreendê-las e compreendê-las.
É por meio do processo de construção do objeto de pesquisa que o pesquisador define o
melhor método de abordá-lo. Nesse sentido, a realização do pré-teste, fase essencial para a defini-
ção do objeto de pesquisa, trouxe à tona o desejo de alguns dos entrevistados de contar sua histó-
ria, relatar suas experiências, mostrando metodologicamente a necessidade de adoção de técnica
de pesquisa qualitativa, buscando uma combinação pragmática entre as duas técnicas. Conside-
rando o objeto de estudo foi escolhida a técnica qualitativa de história de vida.
Os relatos de vida foram realizados com pessoas em situação de rua que aceitaram parti-
cipar desta etapa da Pesquisa. O pesquisador explicou a importância dos seus depoimentos para
a finalidade da pesquisa Renovando a Cidadania, ressaltando que ficassem à vontade e livres para

117
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

falar sobre o que considerassem importante nas suas trajetórias de vida, e interrompessem ou
encerrassem o relato quando julgassem necessário. A utilização do gravador foi discutida antes
de começarem os relatos e, caso não desejassem se identificar, poderiam não mencionar os seus
nomes. Respeitando os pesquisados, os nomes apresentados nesta publicação são fictícios, coloca-
dos apenas para individualizar as histórias contadas.
Os relatos de vida foram realizados nas ruas, em abrigos e albergues no final do mês de no-
vembro e início de dezembro de 2010.

Resultados61
Maria: mulher e mãe em situação de rua

Maria morava em Irecê (BA). Indagada porque veio para Brasília respondeu:

“Porque o meu ex-marido, pai desses aqui tudinho, começou a beber a


cachaça, começou a andar em certos ambientes... aí eu num aguentei
mais e aí vim embora para Irecê. Cheguei em Irecê e também tava ruim
para criar cinco meninos, só eu e Deus. Aí eu falei que não ia fi car aqui
não, vou para Brasília...Aí peguei os meus fi o tudinho, era tudo pequeni-
nho ainda, aí vim para Brasília e até hoje tô aqui...”

Não fala sobre sua própria infância, mas demonstra que os filhos tem muita importância
em sua vida. A maior parte da sua entrevista é dedicada a eles e à morte de uma de suas filhas é
lembrada com muito sofrimento. Tem dificuldade em falar no assunto porque se emociona muito;
assim, o motivo do falecimento de sua filha não fica totalmente esclarecido durante a conversa:

“Meus fi lhos estão tudo grande. A minha fi lha mataram. Estava aqui,
mas depois ela foi para Petrolina, depois veio para aqui de novo. Daqui foi
para Salvador e deu doidice e veio para cá de novo. Aí pronto, aconteceu
isso com ela...Aconteceu em Brazilinha62 lá onde nós morava... Aí, depois
dessa morte dela nunca mais pisei para lá, me deu desgosto, sempre que
eu passo lá onde mataram, pra mim tô vendo ela vivinha.”

Após esse relato, Maria interrompeu a entrevista, afirmando que não gostava de falar na morte
da filha e que ficava com vontade de chorar. Passado um tempo em silêncio, voltou a falar dos filhos:

“A minha vida com os meus fi lhos é legal, é muito legal. Eles são muito
carinhosos comigo, até a pequeninha que eu crio, ela me chama de mãe...É
fi lha do meu fi lho que está preso...a mãe dela, mulher do meu menino não
presta...Vive na rua, usa drogas. Ela tem outro fi lho dele só que este está
no abrigo. Tem um ano. Tomaram ele porque ela tava tomando muita
droga, fumava muita droga...”

61 Todos os nomes são fictícios para preservar a identidade dos pesquisados. As fotografias que ilustram este capítulo não se referem aos indivíduos que
apresentaram os seus relatos de vida

62 Brazilinha é o nome pelo qual a cidade Planaltina de Goiás é conhecida.

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Foto: Ana Nascimento
Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Maria seguiu a história, explicando porque não ficou com o neto de um ano – que está no
abrigo – embora seu filho – que está preso – tenha pedido:

“Eu falei, meu fi lho, eu não tenho condições. Eu tô criando essa daí porque
peguei ela novinha e está no lugar da minha fi lha mais velha que mata-
ram. Eu tenho maior amor por essa menina, ave Maria, eu tenho amor
demais, por isto não deixo faltar nada para ela...O nome dela é Estefani...
Eu tive duas fi lhas mulher (a Flavinha e a que mataram) e três fi lhos ho-
mens. Tem dois que estão lá em Petrolina que se chama Fábio e Fabrício e
esse que está na prisão, é o que me dá mais dor de cabeça”.

Maria não fala muito do marido atual, embora comente que não falta nada dentro da casa
alugada, para a qual volta aos finais de semana. A família aluga casa em Itapoã e passa a semana em
Brasília, local onde encontram possibilidades de trabalhar e ganhar o rendimento mensal. Quando
Maria está na rua, dorme com o marido embaixo da marquise em um comércio da Asa Norte,
perto do supermercado Carrefour.

“Tem que fi car a semana todinha, não dá para voltar para casa todo dia...
Tem que arrumar o dinheiro da passagem. Tem que chegar lá e arrumar
dinheiro para pagar aluguel, arrumar dinheiro pra comprar uma peça de
carne para comer qualquer coisa, o meu cigarro mesmo eu não posso fi car
sem o meu cigarro. Cachaça não! Eu bebo, mas é pouco... Às vezes nós vem
segunda-feira e às vezes na quarta. Nós trabalha aqui, tá dando dinheiro,
aí nós passa a semana inteira...Durmo aqui que fi ca mais perto da gente
trabalhar. Vou no Carrefour, escovo os dentes, vou na padaria, passo na
padaria e compro café...Eu trabalho a semana inteira.”

Comenta, por meio de gestos, como fazem para dormir na marquise:

“Ele dorme para lá e eu durmo pra cá, ele dorme lá em cima e eu durmo
descendo mais para cá um pouco. Não gosto de dormir no bolo, não. Eu
sou meio enjoada. Lá em casa mesmo, quando chego lá, a casa tá bem
arrumadinha, tá um brinco e minha menina diz: “ a mãe, a mãe é enjo-
ada, a casa tá bem arrumada...”

Os filhos voltam a aparecer em sua fala:

“A minha fi lha, essa caçula, ela é carinhosa demais comigo. Depois que
eu perdi essa menina mais velha, ela fi cou muito carinhosa, fi cou muito
sentida com a morte dela. Nós tudo, né, principalmente eu, que sou a
mãe. Eu não gosto nem de falar sobre a morte dela, eu não gosto não...”

Maria e o marido vivem em situação de rua a maior parte da semana, embora tenham vín-
culos familiares e lugar para morar:

“A gente mora no Itapoã. A mulher que alugou lá pra gente é gente boa
demais. É crente. Dia de sábado eu vou para a igreja de crente. Os pas-
tores são muito legal comigo e me ajudam bastante também e aí a gente
vai levando a vida do jeito que Deus quiser, né?”.

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Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Seu Heitor: pioneiro de Brasília em situação de rua

Heitor mora numa invasão com a família e já tem netos. Sua entrevista foi longa, permeada
por lembranças que trazem para o presente, não apenas a sua memória individual, como também
a memória coletiva da construção de Brasília, já que Heitor chegou na cidade em 1959.

“Cheguei em Brasília muito novo, criança, com 10 anos. Isso há 51 anos


atrás. O meu sonho era ter um lar, pelo menos eu achava que eu poderia
ter... Por sinal eu acho, eu tenho a impressão, que eu sou um pioneiro,
porque eu vejo conversa de pioneiro na televisão, que para mim é falso.
Às vezes eu tô até desabafando, não é desabafando, eu to contando a
realidade. Eu gosto muito de ser honesto, gosto de gente honesta, gosto
de viver na honestidade e vivo em situação precária, igual a que você tá
vendo com seus próprios olhos...”

As memórias da infância, que coincidem com a construção da nova Capital Federal, ficaram
marcadas nas lembranças de Heitor:

“Posso dizer que eu mesmo trabalhei na construção, posso dizer que eu


ajudei em parte porque fazia número, eu era um cantineiro, a minha
mãe era cantineira e eu distribuía marmita, levava marmita. Inclusive,
fato curioso que às vezes a gente fala e eles pensam que isso não existiu:
o [Presidente] Juscelino [Kubitschek] já comeu junto com peão, sentado
nas madeiras na construção do Congresso Nacional. Ele perguntou se eu
tava tratando bem o pessoal dele lá, aí perguntou se ele podia comer,
falei: pode! Ele comeu junto com a peãozada marmita, junto comigo lá, o
Juscelino. Isso foi em 59, mais ou menos em novembro de 59. Eu levava
18 marmitas para lá pra construção e o meu pai levava mais. A gente
tinha um restaurante na Vila Amaury, que isso é uma vila esquecida, ela
hoje não tem mais, hoje só é água onde é o lago... Onde é o lago hoje, era
essa Vila Amaury.”

O fato de ter participado dos primeiros anos de Brasília, o orgulho de ter trabalhado para a
sua construção, o sentimento de pertencimento aos espaços da cidade, os laços familiares e afetivos
são mencionados repetidamente durante a entrevista:

“Então pela minha história – e quem quiser pesquisar direito vai ver que
eu sou um dos pioneiros – eu conheci a rodoviária que é aquele viaduto
que fi ca ali, que o pessoal chama rodoviária, na verdade aquilo ali é um
viaduto...Vi quando tudo nasceu, vi quando tavam passando asfalto lá,
eu queimei os meus pés por lá quando tavam passando piche, porque
eu andava descalço e nem conhecia piche, porque aonde eu morava não
tinha negócio de piche não.. Vi tudo aquilo nascer, os prédios da pioneira
dali da Asa Sul. Inclusive a Asa Sul foi construída primeiro. A Asa Norte
foi mais esquecida, né? Eu acompanhei tudo... Eu vendia doce, eu vendia
pamonha, eu vendia bolo nas portas das obras, tudinho. Eu, andando de
prédio em prédio nas construções, vendia tudo para ajudar os pais”

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Foto: Camila Potyara Pereira
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

As experiências de trabalho são mencionadas várias vezes como aspectos importantes nas
lembranças da sua trajetória de vida. O início da cidade é retratado como um tempo onde existia
oferta e oportunidades de trabalho:
“Foi muito bom. A gente via aquele movimento todo onde só esperava
subir na vida. Parece que a gente via um negócio que tudo que você tinha
rendia. Por exemplo, eu mexi com feira muito tempo, vendendo fruta em
feira. Você levava um caminhão de laranja, você vendia tudo, Você levava
um caminhão de abacaxi você vendia tudo. Tomate você despejava 29, 30
caixas e quando era uma hora da tarde não tinha mais, já tinha vendido
tudo... A gente tinha aquela intuição de que ia subir na vida, mas eu acho
que o morro não é todo mundo que vai dar conta de subir não, tem uns
que fi ca pelo caminho. Isso aconteceu comigo, e eu também fui arrumar
família muito novo, né, porque com 18 anos eu já era casado. Aí veio o
primeiro fi lho meu, o primeiro mesmo que nasceu em Brasília, falecido
em 68 no Hospital de Base, o hospital ainda era fraquinho. Aí, depois que
fi quei com saudade veio outro, aí, veio a menininha e aí, vindo e vindo ,
veio 14 mais...”

Heitor tem 15 filhos. Alguns deles e alguns netos vivem com Heitor em situação de rua.

“Tá tudo vivo. Uns trabalham, os que já é de maior trabalham. Eu tenho


um que trabalhou até levar uns tiros, fi cou defi ciente, ele é cadeirante,
hoje tá com 32 anos esse cadeirante. Pra você ver, eu tenho essa história
desses fi lhos tudinho nascido aqui em Brasília e não sou pioneiro reconhe-
cido, né?...”

No relato de vida contado por Heitor é percebida a mágoa que sente por se encontrar há
tanto tempo em situação de rua, sendo pioneiro da cidade:
“Aqui em Brasília eu já morei na Vila que não existe mais que é a Vila
Amaury; na Cidade Livre; Taguatinga Sul, que era Vila Matias; Sobradi-
nho; Planaltina. Aí depois, Ceilândia, Brazlândia, Samambaia. Morei em
Samambaia de aluguel , morei na Vila Telebrasília de aluguel e hoje fi co
aqui nesse espaço aqui... O pessoal fala da vida lá no Norte que tá muito
difícil, com difi culdade, gente passando fome, mas não precisa ir muito
longe para ver gente passando fome aqui em volta do Distrito Federal,
dentro do Distrito Federal tem muita gente em estado de calamidade
também...”

Indagado como se sente em morar no cerrado, responde:

“Olha essa parte do cerrado...é o seguinte...é sobre limpeza que aqui não
tem rede de esgoto, é como você tá vendo, é chão batido. Na época de
chuva é barro demais e na época sem chuva é poeira demais, mas é
aquele negócio, a gente tem que sobreviver do jeito que a gente pode...
Eu tava pagando aluguel e tava muito difícil, porque, igual eu te falei, a
minha renda é pouca e não tem ajuda nenhuma sem ser o meu trabalho.
Eu moro aqui já há quase seis anos... porque se sair daqui vou ter que ir
para aluguel e se for para aluguel aí vou passar necessidade... Aqui pelo
menos o do aluguel está indo para casa, para despesa, né? Bom não é,
igual você está vendo. Será que você se sujeitaria a morar aqui?...Difícil,
né? Muito difícil! Você mandou eu contar a história da minha vida e eu
tô chorando, né?

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Foto: Camila Potyara Pereira
Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Com 51 anos morando em Brasília, tendo trabalhado desde sua chegada à cidade em várias
atividades, desabafa:

“O meu sonho desde a infância era casar e ter um lar e nunca tive um lar
meu. Quando não tô morando em invasão, eu tô morando no que é dos
outros ou pagando aluguel. Nunca fui contemplado por nada do governo”.

Seu Heitor é analfabeto e comenta porque não frequentou a escola:

“Quando falavam: ‘porque não põem o Heitor para estudar?’ os meus


pais falavam que eu não precisava estudar não, precisa de aprender a
trabalhar porque os pais de primeiro falavam isso. Então eu fui crescendo
naquele sistema...”

Durante a entrevista mencionou várias vezes que gostaria de ter estudado:

“Hoje vejo uma vida diferente para meus fi lhos, eu preciso que eles es-
tudem, eu bato na mesma tecla que eles tem que ir ao colégio, porque
se não for para o colégio vai ser um eu na vida amanhã... A esperança
que eu tenho é que eles aprendam para não ser um eu, pra ser um outro
diferente...”

Carlos e Fabiana: amor nascido nas ruas

Carlos e Fabiana vivem na rua e formam um casal. Indagados sobre as causas que os levaram
à situação de rua, Carlos responde:

“Vivi 12 anos com a minha esposa, mãe dos meus fi lhos. Chegamos num
ponto que nós não demos mais certo, aí nos separamos... Peguei a minha
bolsa, dividimos tudo o que a gente tinha, mais eu não quis, só peguei
a minha bolsa e joguei nas costas. Fui embora sem rumo. Eu prometi a
Deus e a todo mundo que eu ia passar dois anos solteiro. Fiquei dois anos
solteiro e, no dia 5 de dezembro que vai fazer agora, vai fazer nove anos
que conheci esta...e até hoje na nossa vida estamos juntos...”

Fabiana, por sua vez, conta como conheceu Carlos:

“Meu lado foi assim... Com o primeiro marido, pai dos meus fi lhos, tive
quatro crianças com ele, sabe? Aí, com licença da palavra, ele fi cou com
um viado quando eu estava de resguardo do último menino meu, aí de-
pois ele foi tentar fi car com a própria irmã de sangue...Aí eu me desgostei
e sai fora...Aí fui para a casa da minha mãe em Bom Jesus da Lapa... e
depois fui parar em Brasília...”

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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Interrompendo várias vezes a entrevista, retoma:

“Ah, a gente se conheceu no HRAN [Hospital Regional da Asa Norte]. Eu


estava jogada que nem uma condenada, eu não tinha força para nada, eu
estava da grossura de um palito, de um pauzinho desse aqui. Aí eu cheguei
e falei assim: ‘Moço eu me agradei muito de você, que você é bonito’ e fui
com ele sabe, eu não tinha nada, a minha roupa estava toda rasgada... e
ele cuidou de mim...Ele que me banhava, penteava meu cabelo...”

Neste período, Fabiana usava drogas (especialmente benzina/solvente), e pensava que não
ia mais sair viva, conforme relata: “Quase me matei...”
Carlos reforça que Fabiana usava drogas e falou que para viver com ele tinha que parar:

“Você quer beber sua pinguinha bebe, mas não usa outra droga perto de
mim que eu não gosto... e ela parou”

A mãe de Fabiana morreu e era com ela que tinha uma relação mais afetiva. Seu pai está vivo
e mora em Ituaçu/BA. Foi conhecê-lo apenas recentemente, passando a vida sem ter tido contato
com o pai. Carlos ainda tem pais vivos, residentes de Barreiras, também na Bahia:

“Queremos voltar para Barreiras, para casa da minha mãe, do meu pai.
Tem rocinha da gente lá, para a gente trabalhar. Eu vim para cá tentar
uma coisa e foi errada... roubaram as roupas da gente, tudo...”

Atualmente estão vivendo em situação de rua e tentando ganhar dinheiro para comprar
passagens para Barreiras:

“Nós estamos sempre por aqui! Da igreja para cá...Às vezes a gente dor-

Relatos de Vida
me lá naquele posto, como é o nome?...Naquele posto...Texaco, sabe por
que? Lá é melhor da gente dormir...Quando tá chovendo, a gente não
molha...!”

João e Cleuza: rompimentos familiares e luta contra as drogas

A história de João e Cleuza é marcada por rompimento de laços familiares. Segundo Cleuza
a ausência de vínculos afetivos com seus pais começou cedo:

“Eu fui adotada por uma família que tinha dinheiro. Minha mãe e meu
pai verdadeiros me botaram na porta. Minha família não tinha condições
de me criar e essa família me pegou para criar e me deu conforto. Só
que desde bebê a minha mãe não me criou, ela pagava os outros para me
criar. Então eu fui criada pelos outros e não pela minha mãe... eu nunca
tive aquele carinho de mãe e de pai...”.

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Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

João também teve uma relação complicada com a família:

“Foi quando eu tava com uns 14 anos de idade eu briguei com o meu
padrasto e a minha mãe fi cou a favor dele, aí eu fui morar com o meu
irmão”.

Indagados sobre os motivos para a ida para as ruas, o consumo de drogas e os rompimentos
familiares são mencionados por ambos.
João fala sobre a saída de casa em função da briga com padrasto e o consequente início do
uso de drogas:

“Comecei a conhecer um monte de gente aí que usava droga, aí comecei


a usar também e fui, fui e aí comecei a mexer com coisa errada e roubar,
fazendo um monte de besteira. Fui preso, aí depois que eu saí conheci
essa pessoinha aqui, essa menina..aí tive esse menino ali, com dois meses.
Aí eu falei que não tínhamos nem casa, nada, mas quer vir comigo? Ela
falou, vou tranquila! Nós pegamos e fomos para Formosa. Lá em Formosa
moramos em casa de um compadre da gente. Para poder sustentar ele e
ela comecei a vender laranja para subir um pouco de vida, mas não deu
certo, usando droga também de novo. Aí, de lá nós viemos para Planalti-
na e aqui foi a mesma coisa. Saia de noite, passava a noite inteira na rua
usando drogas igual aquele dia que você viu que eu tava muito doido e ela
em casa...Só que eu também já mudei bastante pelo que eu era antes e o
que sou hoje com a minha família...”.

A família tem grande importância na vida atual de João. Por ela, tenta mudar de comporta-
mento:

“Meu fi lho, se ele crescer e ver do jeito como eu era, ele vai ser a mesma
coisa e eu não vou poder chegar e falar nada...então, para não ter esse
negócio de não poder educar, não poder chamar a atenção é melhor eu
andar no caminho certo...Vou dizer uma coisa, eu já sofri bastante na mi-
nha vida sem estar com eles. E o que eu passei não desejo para ninguém,
a pessoa ser humilhada independentemente de quem seja, na rua...”.

As humilhações, provenientes de policiais, são reforçadas em sua fala:

“Os policiais mesmo já me humilharam muito... apenas porque estava


vigiando carro. Chegaram e mandaram eu sair de lá, que eu era mendi-
go, não sei o que... A gente tem que trabalhar e obedecer a lei, mas eles
chegam muito abusados...”.

Cleuza, embora adotada e criada com boas condições econômicas, salienta também que
não teve o apoio da família e que sofreu humilhações

“Eu estudava em escola particular e nunca dei valor, sempre fui muito
rebelde... aí chegou a fase da adolescência e conheci um cara, um namo-
radinho e engravidei. Aí minha mãe pegou e falou assim “ se você quiser
a gente ajuda você”. E assim aconteceu... Só que eu não aguentei a humi-
lhação, porque eles humilhavam muito. A minha mãe é muito rígida...”.

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Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

O contato com João mudou completamente a sua vida:

“Conheci ele, eu estava na casa de uma amiga minha. Conheci ele e gostei.
Aí ele me convidou para vir para cá: ‘vamos morar junto que a gente
cria esse fi lho e vamos criar uma família’. Quando em vim para cá, para
Planaltina nós não tínhamos nada mesmo, a gente fi cava na casa dos
outros...Minha mãe até falou para deixar o meu fi lho com ela para não
atrapalhar a minha vida e depois pegaria de volta...Fomos para Formosa.
Ficamos na casa de amigos dele...No início eu entrei nesse mundo da dro-
ga, só que eu parei, graças a Deus. Aí a nossa vida começou a melhorar,
eu trabalhava, e aí fomos para Planaltina...”

Cleuza relata a experiência de viver na rua:

“Nós dormimos debaixo de um lava jato com divisão, cheio de coberta


e um monte de coisa que o povo dava. O dono do posto começou a aju-
dar a gente. Comprou fralda para o meu fi lho, comprou tudo para ele,
comidinha, tudo...Dormimos até debaixo de um pé de manga. Os cami-
nhoneiros, porque é uma BR, davam comida, ticket-refeição pra gente,
davam dinheiro e um monte de coisa, tinham dó da criança...e com isso
eles chamavam o Conselho Tutelar porque a gente estava morando na rua
com o bebê e sempre quando eles vinham, a gente escapava...”

As recaídas de João com relação ao álcool e outras drogas são fatores de sofrimento
para Cleuza:

“O dinheiro que a gente ganhava só era para comida e outra parte para
drogas. Quando ele vivia nesse mundinho de droga, quando ele sumiu, eu
vim embora porque era muito sofrimento... Depois a mãe dele foi atrás
porque estava muito preocupada com ele e ajudou a gente, arrumou um
barraquinho... e sempre ele tinha recaída assim de droga e de bebida. Eu
falando: ‘não bebe’, eu sempre explicava para ele: ‘um dia alguém pode te
matar por isso, por causa de briga, por causa de droga’...Ele sempre me
ouve mas sempre tem recaída, espero que ele melhore bastante, agora eu
tenho um fi lho dele.”

Dona Laurinha: a dor de ser mulher na rua

A vida de Dona Laurinha é de muita solidão e de desamparo familiar e social. Alcoolista,


mora na rua e experimenta, cotidianamente, variadas situações de violência.

“Deixa eu te contar a minha situação, eu sou nascida e criada aqui dentro


do Gama. Sou mãe de quatro fi lhos. Perdi um fi lho, mataram o meu fi lho
com um tiro na cabeça e eu sou assim, uma alcoólatra, eu admito que
sou uma alcoólatra e na hora que mataram meu fi lho eu retornei a beber
novamente...A minha situação aqui no Gama é que em todo lugar que eu
vou só acontece drogação, alcoolismo, assim, violência constante...”.

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Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Os maus tratos são constantes e revelam a brutalidade e o desrespeito com as pessoas em


situação de rua no Distrito Federal.

“Aqui no Gama eu não tenho assim uma situação adequada para convi-
vência, sabe por que? Porque é muita violência, violência. Moro na rua,
ninguém me ajuda sabe! Vou te citar um fato que aconteceu outro dia.
Cheguei para pedir comida para mulher e a mulher falou bem assim para
mim ‘olha, você toma vergonha na tua cara’. Porque estou precisando de
alimentação e falou para tomar vergonha na cara e procurar outro tipo
de coisa para fazer. Não tratam você...desculpe se eu chorar, mas é porque
aqui não tem jeito mesmo...ninguém trata a gente bem. Não sei as outras
pessoas, mas a mim ninguém me tratou bem.. ”.

Dona Laurinha interrompeu a entrevista em diversos momentos, demonstrou emoção e


pediu desculpas por chorar. Foi dito que ela ficasse à vontade e só falasse o que tinha vontade de
contar. Desabafa:

“É porque eu moro na rua, como você está vendo, eu moro na rua, mas
ninguém chega assim para te dar um prato de comida, ninguém chega
para te ajudar em nada, em nada! A única coisa que eles fazem é te mal-
tratar, porque você é uma pessoa de rua, aí eles querem te jogar fora...
Eu perdi um fi lho igual, eu já falei, mataram o meu fi lho com um tiro na
cabeça, agora recente...e alguém me ajudou em alguma coisa? Ninguém
me ajudou com nada...”.

A vida na rua é difícil, principalmente para as mulheres. O seu depoimento é revelador dos
preconceitos, dos desrespeitos e das discriminações contra as mulheres:

“Olha, é muito sofrimento. Nós mulheres, tem horas que chegam homens
assim querendo praticar sexo com a gente, fora de hora, entendeu?... Tem
hora que o homem chega assim e me estupra, entendeu? É horrível. Des-
culpa a minha reação, é porque é triste a minha vida. Não é legal e eu não
tô falando só por mim, mas qualquer mulher que vive na rua é horrível...
eu tô falando por várias outras que tem aí. É horrível...”.

Seu Adalberto: o álcool e a rua

Adalberto vive atualmente no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante.
Morava anteriormente em Diamantina (MG) e veio para o Distrito Federal depois de ter se
separado da esposa:

“Eu fui casado 20 anos, desgostei e larguei. Depois do meu desquite,


duas irmãs que moravam aqui em Brasília foram lá em Diamantina e
me trouxeram para cá... Chegaram aqui e me internaram na Clínica São
Miguel por causa da minha bebida. Eu comecei a beber aos dez anos em
Diamantina... e vim para cá com quarenta e poucos anos. Hoje eu estou
com setenta e pouco, caminhando para os oitenta.”

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Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Após saída da longa internação na clínica de reabilitação São Miguel, Adalberto voltou a
trabalhar e abriu um negócio no Conjunto Nacional:

“Eu tenho as minhas profi ssões. Sou ourives, sou lapidador, sou torneiro
mecânico, eu tenho o segundo ano de engenharia, mas eu só sei mexer
com jóias...Quando vi o Conjunto Nacional eu falei que ia abrir um negó-
cio lá. Aluguei uma saletazinha e ali voltei a trabalhar. Trabalhei lá uns
tempos... mas voltei para a bebida de novo e fechei minha loja...Depois que
eu fechei, guardei as minhas coisas com um conterrâneo meu e fui para
o Núcleo Bandeirante, pegando latas nas lixeiras, amassando e vendendo
para comprar litro de cachaça”.

A dependência da bebida alcoólica foi o motivo que levou à degradação da vida de


Seu Adalberto. Não conseguiu manter um vinculo profissional estável, mesmo possuindo
capacidade e titulação profissional. As recaídas frequentes no alcoolismo o levaram à situa-
ção de rua:

“Dormia debaixo daquela ponte que sai do [Núcleo] Bandeirante e vai


para o Plano [Piloto]. Solitário, porque não gosto de companheirada,
dormia debaixo da ponte. Fazia a minha fogueira e deitava ali perto da
minha fogueira e passava a noite bebendo as minhas cachaças!”

Há mais ou menos um ano está no Lar dos Velhinhos. Indagado sobre o motivo que o levou
a procurar abrigo, respondeu:

“Eu entrei aqui para fugir da bebida. Quando eu dormia debaixo da


ponte, o meu relógio acordava antes das quatro e eu já tomava uma...
Quando acordei, a minha fogueira só tinha brasa. Peguei o meu litro e
não tinha nem uma gota. Aí eu virei aquele pouquinho na boca e aí deu
um ataque epilético em mim e eu cai em cima das brasas, aí eu queimei o
braço, queimei aqui na cabeça. Aí eu falei: eu tô me destruindo...”.

Conta que chegou no Lar dos Velhinhos por indicação:

“Cheguei ali na porta e falei: ‘escuta, o que é isso aqui? É o lar dos Velhi-
nhos?’ ‘O que o Senhor está procurando? Está procurando alguém?’, falou
o Seu Jorge que era o administrador...’O senhor está doente?’, perguntou?’
...’Estou procurando é vergonha, me encontrar, briga íntima’, e contei
para ele a minha história...Ele falou que o que eu queria era apoio moral
e espiritual...”

Seu Adalberto conta como é o seu dia a dia na Instituição:

“Eu levanto cedo, tomo o meu banho, troco de roupa e só vou para o
quarto de volta depois do café da noite. Faço três refeições: o café da ma-
nhã, o almoço e o café da noite...Eu tenho o meu quarto aqui com outro
companheiro...”.

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Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Quando perguntado sobre seus projetos de vida, comenta:

“Na hora que eu sair daqui e ver que eu estou fi rme eu vou montar a
minha loja de novo e voltar a trabalhar...”

Estela: apoio e vínculos no abrigo público feminino

Estela está há quase um mês na Casa de Passagem Feminina Casa Flor. Nascida em São Pau-
lo, solteira, com 31 anos de idade, segundo grau completo, veio procurar emprego na Capital:

“Eu tive problemas familiares, tive problemas com drogas... cocaína. Aí


já tive internações. Sou solteira, mas tenho um fi lho e tenho a minha fa-
mília. Aí eles me deixaram numa casa no interior, bem no meio do mato
onde não tinha ninguém...Há dois meses atrás, porque tem quase um mês
que eu estou aqui, eu passei por uma tentativa de suicídio. Eu me ma-
chuquei toda, machuquei a minha boca, quebrei os meus dentes e eu não
aguentava mais fi car naquela casa. Aí eu saí de lá de dentro e fui para a
beira da estrada e comecei a pegar carona e vim parar aqui...”

A chegada em Brasília, as primeiras impressões da cidade, a busca de contatos e referências


pessoais são ressaltadas durante a entrevista:

“Eu fui parar lá em Taguatinga onde só tem comércio e aí eu fi quei as-


sustada para caramba, foi muito estranho! Aí descobri onde era a rodo-
viária, fui para rodoviária, aí cheguei na rodoviária e eu comecei a pedir
uma passagem.... Fiquei lá e tentei entrar em contato com uma pessoa que
conheço aqui. Eu conheço uma pessoa aqui, comecei a tentar encontrar
ela e não consegui. ”

Como várias pessoas que chegam à rodoviária de Brasília sem um destino seguro, Estela
ficou desamparada e necessitando de ajuda social e institucional.

“Eu estava muito abalada porque eu tinha recentemente passado por


uma situação de infecção e tinha tomado remédio. Aí eu achei que podia
vir para cá, me falaram que tinha assistência social e poderia pedir ajuda
para fi car numa clínica por alguns meses. Aí eu fi quei na rodoviária. Era
sábado e falaram que a assistente social ia chegar só na segunda-feira.
Aí eu fi quei na rodoviária na porta da assistência social que era um lugar
seguro.”

A permanência na rua foi curta porque veio logo em seguida para a instituição Casa de
Passagem Feminina Casa Flor:

“Eu não cheguei a fi car muitos dias na rua. A minha passagem na rua foi
uma passagem mesmo. Precisei dormir na rua alguns dias, mas não fi quei
em nenhum lugar de risco e nem no meio de muita gente”.

142
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

A experiência de ter ficado na rua, mesmo por um período curto, é comentada:

“A exposição da gente, a miséria é uma situação deprimente. A gente vive


num nível de miséria, de não ter trabalho, de não ter dinheiro, de não
ter onde fi car, viver como indigente...Não precisa ser uma pessoa que não
tenha documentos para viver como indigente, basta você não conseguir
se manter alojada...”

Estela fala que tem um filho de onze anos que mora em São Paulo com o pai e que sempre
teve família e casa para morar. Apenas há três anos está nesta situação, pelo fato de ter se envolvido
com drogas. Indagada se a família tem conhecimento de que está na Casa de Passagem Feminina
Casa Flor demonstra tristeza e responde em tom de desabafo:

“O que me incomoda é que a minha família sabe que estou aqui e ver que
acreditam que eu mereço estar aqui, porque busquei isso...Eles resolveram
não me aceitar mais porque me tornei uma pessoa muito problemática e
eles não querem ter problemas. Eles estão cansados e não querem mais..o
que me deixa deprimida é que eu tenho um fi lho e eu não gostaria que ele
tivesse uma mãe nessa situação...”

Nos planos e projetos para o futuro a moradia, o trabalho, os estudos e o filho são des-
tacados:

“Eu estou sem usar drogas, não sinto vontade. Eu só quero arrumar
meus dentes para ter condições de arrumar serviço, ver se consigo ar-
rumar trabalho, arrumar um lugar para morar e estudar... Eu gostaria
de trabalhar de um jeito melhor e me reaproximar do meu fi lho. É o que
gostaria, nada mais!”

Arnaldo: perda da esperança e ida para as ruas

Arnaldo está abrigado no Albercon. Tem muito para contar das experiências vividas em vá-
rias cidades do País, as quais visitou. Passou por situações traumáticas e demonstra conhecimento
e consciência dos seus direitos de cidadão.

“Eu vim do Rio de Janeiro quando eu tinha sete para oito anos de idade.
A minha avó foi no Rio de Janeiro e falou ‘eu vou levar esse menino lá
para Minas Gerais porque senão esse menino vai virar bandido aqui’ e nós
fomos morar na Serra Capivari”.

143
Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

O entrevistado contou que esse período da infância foi bom: tinham criação de galinha e
porcos, mas que não gostava de assistir quando matavam as galinhas. A memória da avó e as causas
que o levou a sair de Capivari são lembrada com sofrimento:

“Eles me davam um trocadinho para eu comprar uma bala para sair


de perto porque iam matar galinha. E um dia eu fui para comprar essa
bala e quando voltei estava um fumaceiro danado, tava cheio de gente e
o barraco tinha pegado fogo. Ela (avó) não deu conta de sair...Ai eles me
deram uma anestesia e quando eu acordei, eu estava quatrocentos e pou-
cos quilômetros longe de Belo Horizonte. Estava em Diamantina, Minas
Gerais, e de Diamantina eu fui mais baixo ainda, levaram eu para uma
cidade que se chama Couto de Magalhães de Minas, em Minas Gerais, e lá
eu fui para um reformatório...”.

A perda da avó de forma trágica e o abandono dentro do reformatório são colocados como
fatores iniciais para ter se tornado uma pessoa em situação de rua.

“Antigamente reformatório era pesado, muita briga, muita confusão, e


eu fui me metendo naquilo ali e fugia muito. Ia para a rua e eles pegavam.
Antigamente eles pegavam e não deixava fi car na rua. Aí fui crescendo. Aí
comecei a roubar, viciei em maconha e aí fui para a cadeia...Eu fi quei um
tempão preso, quando saí não tinha nem documentos...”.

Ao sair do sistema prisional, Arnaldo tirou os documentos e começou a trabalhar para so-
breviver.

“Comecei a trabalhar na tinturaria; da tinturaria eu passei para uma


fi rma de segurança bancária e eu fui vivendo. Aí eu arrumei mulher, fi lhos
e eu trabalhava para Infraero....”.

Esta situação de normalidade durou pouco: Arnaldo enfrentou outra tragédia, semelhante
à que viveu com a morte da avó durante o incêndio em seu barraco. Esta última foi a gota crucial
para que perdesse as esperanças:

“Depois de um tempo que eu tinha saído para trabalhar, quando eu voltei


estava a minha mulher, meus fi lhos e o meu barraco soterrados, lá na
Baixada Santista... Aí daí para cá eu perdi as esperanças de tudo e eu
passei a viver na rua...”.

Conta que viveu períodos trabalhando com jardinagem, catando materiais recicláveis, em
especial o papelão, e em fazendas, plantando e colhendo café, mas dormia na rua. Foi preso em
Jabaquara/SP por ter participado de um assalto. Após esse episódio, saindo da Casa de Detenção,
resolveu não se envolver em crimes e confusões. De acordo com Arnaldo, a vida nas ruas é dura e
tem sido difícil sobreviver sem apoio familiar, afetivo e institucional.

146
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

“Eu já vivi com sem terra, eu já vivi com sem teto, eu já vivi com índio...
Então em toda a minha trajetória, em todo o lugar você só vê pessoas
que querem só lucrar... Então na minha vida eu fi co vendo assim, sei lá,
talvez eu seja um pouco revoltado por essas coisas que você vê aí. Igual,
por exemplo, você vê o governo falar que todo dia libera dois milhões para
a saúde e você vai no Posto de Saúde e não tem remédio para a gente e
você tem que se virar... Desde menino que eu vivo na rua aos trancos e
barrancos. A polícia, o povo, todos judiam muito do morador de rua...”

Arnaldo tem uma visão crítica e pessimista sobre os governantes, as políticas públicas e
ações sociais para as pessoas em situação de rua.

“Nós moradores de rua não temos e nunca vamos ter pessoas que lutam
pelos nossos direitos... Por exemplo, uma Câmara dos Deputados, numa
Câmara dos Senadores você não vê nenhum desses caras na luta em prol
do morador de rua.”

Há dois anos em Brasília, já passou por muitas situações de violência, oriundas de diferentes
agressores. Em uma delas, conta que foi agredido por pessoas interessadas em um dinheiro que
Arnaldo economizava para comprar uma passagem para outro Estado e voltar a trabalhar na roça:

“Os caras sabiam que eu tinha esse dinheiro e me pegaram, fi zeram esta
covardia comigo... me deram uma gravata, o cara acertou na minha
barriga, enfi ou um coiote de cobra aqui na minha garganta e eu nem
vi para te dizer a verdade que tavam me queimando. Eu só fui sentir a
queimadura no outro dia de manhã. No outro dia de manhã quando eu
saí andando foi que eu vi que tava queimado e eu saí pedindo ajuda...”.

Reclama do HRAN por não ter recebido o atendimento necessário e denuncia o sistema de
saúde pública do Distrito Federal:

“O que o HRAN fez? O HRAN foi e me pôs na rua daquele jeito que te
mostrei na foto. Aí por isso ainda não sei como vai fi car a perna, começar
a andar de muleta para poder ir forçando a perna para ela aguentar o
peso do corpo... O que o HRAN tinha que fazer? Não dizer e mandar a
gente pro Albergue, mas dizer ‘aqui tem leito, deixa ele internado aí que
vamos fazer o tratamento dele, aqui vamos fazer o tratamento direito,
vamos tratar ele com alimentação adequada, vamos dar um chuveirinho
para tomar banho...’. Porque não podem fazer isto? Pode, pode...”

Seu Arnaldo está há quatro dias abrigado no Albercon e comenta sobre o atendimento:

“Até que melhorou um pouco aqui...era bem pior...Aqui você não tem
tranquilidade, porque você nunca sabe se, quando você dorme, se vai
amanhecer aqui, porque aqui é lugar de gente ruim. Eu vejo esse ambiente
aqui como um ambiente muito pesado.”

147
Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

A ausência de políticas para as pessoas em situação de rua é novamente mencionada. Em


sua opinião os abrigos deveriam pensar em dar oportunidades de emprego, providenciar docu-
mentos para facilitar o acesso ao mercado de trabalho e dar apoio para que o indivíduo possa sair
em situação melhor do que quando entrou na instituição.

“Só que jogam o cara ali dentro, aí o cara fi ca no meio dos drogados e se
ele parou volta a usar porque senão tiver apoio, você não consegue subir...”

Seu Arnaldo ainda sonha com dias melhores e nos seus projetos de futuro encontram-se
resquícios do seu passado, lembranças de um tempo de sua infância, quando vivia feliz com a avó:

“Meu sonho é passar o resto da minha vida numa chácara cuidando de


galinha, de porco, coelho, porque antigamente era bom”

150
Capítulo 3 – Etapa 3:
“Ciclo de Debates: Políticas Sociais
para a População em Situação
de Rua do Distrito Federal”
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Metodologia da Etapa 3

Conforme explicitado anteriormente, um dos objetivos centrais do Projeto Renovando a


Cidadania era propiciar um espaço no qual a população em situação de rua do Distrito Federal
pudesse externalizar suas demandas político-sociais e compartilhar com representantes governa-
mentais, organizações não governamentais, estudantes e acadêmicos, suas realidades específicas.
Portanto, foram previstos, no Plano de Trabalho deste Projeto, a realização de cinco encontros
denominados Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua do Distrito
Federal, no prazo de uma semana, em maio de 201163.
Para viabilizar a inclusão de todas as Regiões Administrativas do Distrito Federal no Ciclo de
Debates, estas foram divididas em grandes regionais, nos cinco dias do evento. Os locais escolhidos
para sediar a realização dos Ciclos foram os que apresentaram maior concentração de pessoas em
situação de rua em diferentes áreas geográficas do Distrito Federal. Os eventos nas quatro primei-
ras regionais se deram entre as 8h e as 12h, com distribuição de café da manhã para um número
máximo de 80 participantes em cada uma delas. Em todos os eventos foram distribuídas para os
participantes canecas confeccionadas especialmente para a ocasião.
O evento realizado em Brasília teve um caráter diferenciado dos demais, pois além de repro-
duzir a mesma dinâmica dos debates regionais que o precederam, comportou o encerramento da
semana com a participação de pessoas em situação de rua de todo o DF, do governador do Distrito
Federal Agnelo Queiroz, da secretária de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda, Arlete
Sampaio, do então secretario de Ciência e Tecnologia, Gastão Ramos, da deputada Federal Érika
Kokay e demais representares do Governo do Distrito Federal. Também participaram das ativida-
des desse dia a Pastoral da Rua do DF, a Polícia Militar do Distrito Federal, o Corpo de Bombeiros
Militar do Distrito Federal, profissionais das Unidades de Alta Complexidade da Sedest (UACs/
Sedest/GDF), Coordenadores dos CRAS e dos CREAS do DF, Administradores Regionais, dirigen-
tes da Central Única dos Trabalhadores e de sindicatos, representantes do Movimento Nacional
da População de Rua do Distrito Federal e de Minas Gerais, da Universidade de Brasília (UnB), da
Universidade Católica de Brasília (UCB), de cooperativas de material reciclável do Distrito Federal,
entre outros. No período da tarde ocorreram oficinas temáticas e show do rapper brasiliense GOG.
Neste evento, foi servido café da manhã e almoço a todos os 400 participantes.
Ciclo de Debates
Capítulo 3

Os debates foram planejados da seguinte forma:

Regional 1
Local de realização: Gama
Cobertura: Santa Maria, Recanto das Emas, São Sebastião, Riacho Fundo I e Riacho Fundo II.

63 Para viabilizar a estrutura física e logística do Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua do Distrito Federal foi contratada,
via Tomada de Preço, a Organização para a Inclusão Social e Digital do Distrito Federal – Mediateca. Esta empresa também foi responsável pelo paga-
mento dos relatores, mediadores-chefes, mediadores, monitores e serviço de fotografia e filmagem.

153
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Regional 2
Local de realização: Taguatinga
Cobertura: Ceilândia, Samambaia, Vicente Pires, Águas Claras, Estrutural e Brazlândia.

Regional 3
Local de realização: Sobradinho
Cobertura: Colorado, Planaltina, Basevi, Lago Oeste, Taquari, Arapoanga.

Regional 4
Local de realização: Guará
Cobertura: Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Setor
Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA), Cruzeiro Novo e Cruzeiro Velho, Sudoes-
te, Candangolândia, Park Way, Octogonal, Núcleo Bandeirante.

Regional 5 e Encerramento:
Local de realização: Brasília
Cobertura: Vila Telebrasília, Vila Planalto, Lago Sul, Jardim Botânico, Asa Sul, Asa Norte, Zona
Central, Lago Norte, Varjão, Paranoá, Itapoã.
Encerramento: todas as Regiões Administrativas do Distrito Federal.

Organização das Etapas Regionais

Em correspondência com o objetivo do Projeto Renovando a Cidadania, materializado no


referido Ciclo de Debates, qual seja, ouvir da própria população em situação de rua suas queixas e
demandas relacionadas às suas necessidades sociais com o fim de embasar a criação de políticas
específicas para este grupo, optou-se, para fins didáticos, por criar sete grupos de trabalho divididos
por temas relacionados a políticas públicas específicas:

1) Assistência e Previdência Social;


2) Cultura, Esporte e Lazer;
3) Educação;
4) Habitação;
5) Saúde;
6) Segurança Pública e
7) Trabalho e Geração de Renda.

154
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

No evento de Brasília foi criado um oitavo grupo de trabalho que debateu o tema Políticas
Sociais para Crianças e Adolescentes em Situação de Rua. Neste GT, os adolescentes do Projeto
Giração (e demais crianças e adolescentes em situação de rua presentes no evento) elaboraram um
documento contendo suas demandas políticas, que foi lido durante a plenária de Brasília e entre-
gue ao Governador Agnelo Queiroz.
Para garantir a participação do público-alvo do presente Projeto, foram contratadas duas
monitoras64 para percorrer, ao longo de uma semana65, todos os locais visitados durante a realização
do Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal, entregando convites para o evento.
Neste convite, constava informação de que a população em situação de rua teria transporte gratui-
to (ônibus) de ida e volta aos eventos, além de café da manhã de boas-vindas nos eventos regionais
e almoço no dia do encerramento, em Brasília (RA I).
Os ônibus, fretados e identificados por meio de faixa, buscavam e levavam de volta as pes-
soas em situação de rua em locais combinados previamente. Dada a possibilidade das pessoas se
recusarem a entrar em ônibus desconhecidos, decidiu-se por alocar dois monitores, devidamente
uniformizados, em cada ônibus. Esses monitores foram selecionados entre os profissionais contra-
tados para a aplicação de questionários do Censo, já sendo conhecidos dessa população.
Foto: Aga Videomaker

Ciclo de Debates
Capítulo 3

Ônibus do Ciclo de Debates.

64 Lusa Fontoura Portuguez e Thaís Coelho.

65 Em carro alugado com motorista.

155
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Neste momento, foi estabelecida parceria primordial com a Secretaria de Desenvolvimento


Social e Transferência de Renda do GDF (Sedest), por meio da subsecretária de Assistência Social
Ana Lígia Gomes, que disponibilizou ônibus extras para os eventos da Regional 2 (buscando as
pessoas em situação de rua no Albercon), Regional 4 e Regional 5 (buscando as pessoas em situa-
ção de rua no Giração e no Albercon), além de tendas extras e oficinas temáticas para a população
em situação de rua durante o evento de encerramento. Ademais, articularam o show do rapper
GOG com a Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal (SeCult/GDF) e a presença do
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que assinou, nesta ocasião, o Decreto 32.986, de
13 de junho de 2011 que institui o Comitê Intersetorial para elaboração da Política para Inclusão
Social da População em Situação de Rua no âmbito do Distrito Federal. Esta conquista histórica
foi o primeiro passo na garantia dos direitos deste grupo social e permitiu que se alcançasse com
louvor um dos principais objetivos do Projeto, qual seja, viabilizar a participação ativa da população
em situação de rua na produção de leis e formulação de políticas sociais voltadas para ela.
Para garantir a realização desta estrutura coletiva de debates e participações, fizeram-se ne-
cessárias as seguintes divisões de tarefas por diferentes profissionais. Dessa forma, cada Grupo de
Trabalho (GT) foi composto por:

• 1 (um) Relator;
• 1 (um) Mediador;
• 1 (um) Monitor.

Além dos profissionais que participaram dos debates nos GTs, outras duas funções foram
criadas com o objetivo de organizar melhor as discussões e os resultados destas: relator-chefe e
mediadores-chefes.
Relatores: profissionais, com pós-graduação ou curso superior completo, que tinham ex-
periência em relatoria e afinidade com o tema da Pesquisa. Eram responsáveis por fazer o relato do
debate ocorrido no GT em que estavam localizados e realizar a inscrição dos participantes. Para
tanto, deveriam preencher a ficha de inscrição e entregar as pastas66 e o café da manhã a todos.
Relator-chefe: profissional com, no mínimo, pós-graduação incompleta e que tinha ex-
periência em relatoria e afinidade com o tema da pesquisa. Era responsável por supervisionar o
trabalho dos relatores e compilar todo o material desenvolvido por estes em um relatório único,
apresentado ao final deste capítulo. Além disso, deveria organizar as demandas e sugestões de polí-
ticas públicas trazidas pelos participantes dos GTs ao longo de toda a semana de trabalho, em um

66 Todos os participantes do Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua do Distrito Federal receberam pasta personalizada
contendo: crachá, bloco, caneta, Cartilha: Direitos do Morador de Rua; exemplar da Política Nacional para Inclusão da População em Situação de Rua;
exemplar do Decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009 (que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Inter-
setorial de Acompanhamento e Monitoramento) e release do Projeto Renovando a Cidadania.

156
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

documento destinado ao governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz, a ser lido por um dos
mediadores durante a plenária de encerramento do Ciclo em Brasília67.
Mediadores: pessoas em situação ou com trajetória de rua, contratadas para conduzir os
debates nos GTs para os quais foram designados e apresentar os resultados das discussões de cada
dia nas plenárias.
Mediadores-chefes: representantes do Movimento Nacional da População em Situação de
Rua/DF. Eram responsáveis por auxiliar os mediadores e incentivar e qualificar o debate em todos
os Grupos de Trabalho.
Monitores: estudantes universitários com experiência com pessoas em situação de rua,
responsáveis por auxiliar o mediador a conduzir o debate e gravar as discussões ocorridas nos GTs
para os quais foram designados. Além disso, estiveram nos ônibus que foram buscar as pessoas em
situação de rua convidadas na semana anterior, em locais previamente combinados.
Foto: Aga Videomaker

Ciclo de Debates
Capítulo 3

Monitora durante o evento do Guará

67 Dois relatórios foram lidos e entregues para o Governador Agnelo Queiroz. Um, referente às discussões do GT Políticas Sociais para Crianças e Adoles-
centes em Situação de Rua, lido e entregue pelo adolescente Thallisson Mendes da Silva e outro referente aos resultados dos cinco eventos do Ciclo
de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua do Distrito Federal, lido e entregue pelo mediador Carlos José Campos de Oliveira.

157
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Foto: Aga Videomaker

Mediador durante o evento do Gama


Foto: Aga Videomaker

Mediador durante o evento do Gama

158
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Procedimento de realização do
Ciclo de Debates – por horário e função

Recepção: (RELATORES) – de 8h às 9h
1) Os convidados eram recepcionados pelos Relatores. Estes faziam as inscrições dos parti-
cipantes e a divisão de todos nos Grupos de Trabalho previamente montados. Deveriam
escrever no crachá o nome do participante e o GT ao qual ele foi designado;
2) Os convidados recebiam pasta personalizadas e café da manhã (no evento de Brasília, rece-
beram ticket que garantia a retirada do almoço em horário próprio);
3) Inicialmente, os convidados foram informados sobre o evento de Encerramento dos Ciclos
no final da semana na Esplanada dos Ministérios. Deveriam preencher a ficha de interessa-
dos em participar do evento de Encerramento, escrevendo o nome completo, seu local de
dormida e, se possível, telefone para contato.
4) Os convidados eram encaminhados ao seu Grupo de Trabalho (GT).

Apresentação: (COORDENAÇÃO) – de 9h às 9h30


1) Em plenária, as coordenadoras do Ciclo de Debates68 davam as boas-vindas, apresentavam
o Projeto, as dinâmicas dos GTs, os Mediadores e os Mediadores-Chefes.

Rotina de Trabalhos nos Grupos: (MEDIADORES, RELATORES E MONITORES) – 9h30 às 11h


1) Os monitores começavam a gravar os debates dos GTs em que estavam alocados;
2) A equipe (Mediador, Monitor e Relator) se apresentava aos participantes do GT;
3) Os mediadores iniciavam as discussões sempre enfatizando o tema do GT e apresentavam
perguntas orientadas com o objetivo de direcionar o encaminhamento dos temas tratados
nos Grupos69; Ciclo de Debates

4) Os participantes apresentavam casos concretos que representavam as dificuldades experi-


Capítulo 3

mentadas pela população em situação de rua, suas demandas, críticas e sugestões de políti-
cas sociais.
5) Os monitores assessoravam o mediador.
6) Os relatores redigiam o material decorrente da discussão.
7) Os monitores escreviam as principais conclusões do GT em flip chart para conhecimento de
todos.

68 Bruna Papaiz Gatti e Camila Potyara Pereira

69 Os monitores receberam exemplar da Política Nacional para Inclusão Social da População em Situação de Rua e, embasados em suas diretrizes e reco-
mendações, ajudaram os mediadores a conduzir os debates nos GTs.

159
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Plenária: (MEDIADORES E RELATORES) – 11h às 12h


1) Os mediadores faziam a apresentação dos resultados dos debates realizados nos GTs;
2) O debate era aberto a todos os participantes, que contribuíam com experiências próprias;
3) Encerramento com convite explicitando a participação no evento de Brasília. A lista de inte-
ressados circulava novamente entre todos os presentes.
4) Eram entregues todos os relatórios e arquivos em áudio/gravações para o relator-chefe.
5) Eram entregues canecas personalizadas como brinde aos participantes.

Encerramento – Evento de Brasília


Manhã – mesma dinâmica apresentada acima, com o diferencial da leitura da Síntese dos
Resultados dos Ciclos de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua do Distrito
Federal - Desafios e Propostas e da assinatura do Decreto nº 32.986 pelo Governador do Distrito
Federal Agnelo Queiroz.
Tarde – Distribuição do almoço, realização das oficinas temáticas70 e show do rapper GOG71
Durante o show foram distribuídos 600 preservativos com o objetivo de prevenir doenças sexual-
mente transmissíveis. Para as crianças foram realizadas atividades como desenhos em giz, jogos de
bola, moldagem de massinha e leitura de gibis.
Foto: Aga Videomaker

Show do rapper GOG no evento de Brasília.

70 Corte de cabelo; Circo, Artesanato com garrafas PET, bonecas de pano, atividades lúdicas e bordado em pedraria.

71 Para mais informações sobre esse cantor procurar o site http://gograpnacional.com.br/

160
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Foto: Aga Videomaker

Corte de cabelo no evento de Brasília.


Foto: Aga Videomaker

Ciclo de Debates
Capítulo 3

Palestra de Samuel Rodrigues (Movimento Nacional da População de Rua/Minas Gerais – MNPR/MG).

161
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Para cada um desses encontros foi elaborada lista específica de convidados. Nessas listas
foram privilegiadas as pessoas em situação de rua, as representações governamentais e instituições
locais, focando no perímetro geográfico ao qual cada reunião se referia.
Foto: Aga Videomaker.

Público no evento de Brasília – Ciclo de Debates: Políticas Sociais para a População em Situação de Rua.
Foto: Aga Videomaker.

Mesa principal do evento de Brasília com presença do governador Agnelo Queiroz, da Deputada Federal Érika Kokay, da coordenadora
do Projeto Renovando a Cidadania Maria Salete Kern Machado, da Secretária de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda Ar-
lete Sampaio, do então Secretário de Ciência e Tecnologia Gastão Ramos e Coordenadores do Movimento Nacional da População em
Situação de Rua – Distrito Federal (MNPR/DF) e Mediadores-chefes do Ciclo de Debates: Política Social para Pessoas em Situação de Rua,
Antônia Cardoso e Jacinto Mateus.

162
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Foto: Aga Videomaker.

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Art. 4º ste Decreto ados e do D oveniente de 1993, ra nd o a Lei I, da Lei Org FE D ERAL ou tras pr cl us ão Soci
Revog entra em istrito recurs exo I. qu , ov al
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Brasí . ndo Conside Distrito Fe 4.176, de 16 o da Assistê al – LOAS nfere o
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lic
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20 11 de 14 ica Nac o sistem de 2008, qu al; de de
AGNE a e 52º de . âmbito de ional de a únic e zembr
do outubr o de A dispõe sobr o de
LO Q
UEIR Brasília Conside Sistema Ú o de 2004, Assistência
ANEX
O ssistênc e a Po
I
OZ rando ni qu So ia lítica de
CRÉD
ITO SU a Resol co de Assis e reconhece cial – PNAS, Social no Assistê
tência D
PLEM
ENTA So ci oa
ução do
C on Social a atenção à aprovada pe istrito Fede ncia
R - SU
ss selho N – Po pulaçã la R ral;
Popula istenciais em aciona SUAS;
DESP
o em Si esolução C
PERA ESA
VIT FIN
ANCE çã l de Ass tuação NA
IRO
Abord o em Situaç âmbito naci istência de Rua S
ag ão de on Social
lhimen em Social; Rua na al, entre os – CNA
no
SUPL
EMEN to In stituci Se rv iç Pr ot eção So qu ai s os se S nº
TAÇÃ R$ 1,00 Repúb on o Espec rv 109, de
ESPECI O ORÇA lic a para al pa ia liz ci al Espec iç os destin 11 de
Adulto ra adultos ado pa
320101 ME
/00001 FICAÇ
ÃO
NTO
FISCA 23 de ra ia l – ad os
de e Pe PS
Situaç zembro de 20 s em proces famílias em ssoas em Si E; Serviço ao atendimen
32101 L
SECR RECU
ET
PLAN ARIA DE ão so tuação E to à
Art. 1º de Rua e o se 09, que institu de Saída da situação de
REG RSOS
ORÇA AMENTO
EJ ESTA
DO DE
NATU
REZA
DE TO
DAS AS
rua de Rua specializad
MENT E Fica in u i sR ; o em
stituíd Comitê Inte a Política N uas; e Con e Serviço de Serviço de A
04.122.0 FEDE IDUSO FONT
100.299 RAL O DO DIST FONT ES
0 RITO E DE
TALH de 20 o o C omitê rs et or ac io na si de rando Aco co-
MANU ADO
a, 14 de
jun ho diretriz ial de A l para o Decre lhimento em
Ref. IMÓV TENÇÃO DE , ter ça- feirTO es , compe In te rs etorial co m pa In cl us to
para el nhamento e ão Social da nº 7.053, de
013545 14, TA
EIS DO BENS Nº 114 L prazo tênc
0006 GDF de 90
(***)
DE JUNHO lusão Soc
DE 201.9
201
16.26 1.
57ial da PopulaçArt. 2º
ão (noven ias e ações aboraç
ão da
Monito Popula
ta) de cada Polític ramento, DE ção em
MA
DE BE
86, DE 13 In
GOVE
NS IM NUTENÇÃO
ÓV O Nº 32.9
DECRETO elaboração da Pol
ítica para
Inc
I – Secr tegrarão o dias. secretar a para C T
Inclus RETA
RNO DO EIS DO ias. Comitê
providênc fere etaria ia de es
que lhe con II ão Soci :
FEDE l para
RAL DISTRI oria e dá outras s de In tersetor
f re
TO rset
Comitê Inte ito do Distrito Fed AL, no uso das atri
eral bui çõe – Secr Estad tado af
et
bui ção que
lhe con fe
“d” ,
Institui o
Rua no âmb ITO FED
ER eral, e III - Se aria de Estad o de Governo ial as seguin eta à po
lítica e
al
44 uso da atri com o art. 8º, I, de Situação de DO DISTR gân Distrito Fed AS nº 8.742, de 07 cr et o de do te s
PÁGINA A 20 11AL , no
ER AC0014 com bin ado ais VERN AD OR ânicica a do
da Lei Org istência Social – LO IVV - Se ar ia de E Desen Distrito Se cretaria conclu
ITO FED rma s Ger 99O GO stado vo í-la no
X e XXVI,
de Edu lvimento So Federal;
l,
7
cr s de E
DO DIS TR do Dis trit o Fed era o art. 41, I, das No e o que con sta 100, 33 .90sos
inci .39 a Lei Orgânica
da Ass ncia Social; re a Polític V Federal; etaria de
a
stado:
RN AD OR âni ca e com 196 4, o da Assistê 8, que dispõe sob - Se E ca ci
O GO VE Org 0, de do açã Dis trito cr st ado de çã al T
VI - Se etaria de Est
ran
T abal o do Distrito e Tr
Lei 201 rço Conside aniz no
, VII , da em bro de 4.3 20, de 17 de ma dispõe sob
0 re a org
301 16 de julh
o de 200 istência Soc
ial
Tr ansfer
o art. 100 30 de dez nº crédito 1993, que 4.176, de único de Ass AS, aprovada pela erêênncciia
4.5 33, de pel a Lei t ito Federal mil, cr ad ho do
da Lei nº
anc eiro ,
apr ova das
2011, DE
CR ETA T :
TA
e Orçame
nto do Dis
tr
e sessenta an
e um do a Lei nº
Consideran trito Federal, institui Assistência
o sist16ema.261.9
cia57Social
– PN
à Populaç
ão VII - Se etaria de Est o de Saúde Distrito Federal; a de R
enda do
Dir eito Fin n.º 410 .00 0.3 79/ ejamento duzentos I. cretaria ado de do Fe Distr
Desen Distrito Fede deral;
a no a exo Dis de a atenção
do de Plan milhões, DE ia indicad Social do Nacional reconhece VIII - t ito Fe
so
do pro ces ert o à Secreta
ria de Esta
O 0 (dezesseis ação orça men C
entátárrR
E siderando
a Política
de 2004, que Social – SUAS ; Se de Est vo deral;
a
ab r
rt 61.9 G
57,0 O V à pro gram
çam T O Nº 32.9 Con out ubr o 16.261.9 Soc
ncia ocia iall
IX - Se cr et aria de ad o do Ent lv im ento U ra l;
Ar . 1º Fica no valor de R$ 16.2 par
Art a a atenderERNAD nº 145, de
14 de
co de Ass
istência
TOTA
al de Assistê 57
r s), go
ar
10 OR D 84 , Úni Nac
L ion
acio nal cr etaria E st ado da or no rb an
suplem enta e sete reai 0, inci Fundo DE 13 ito do Sist
ema Conselh o do Dis o e Hab
57 iços destina X - Se
16.261.9 dos
e cinquenta de so s O301 D IS a-Parte do âmb D E olução do de E st M ul tr ito ita
ece ntos
2001, X – Cot
TRITO ConsideJU
do a Res os serv cr etaria ado da he r do D Federa ção do
rsosedaXfon
nov te ranN is
te nd X I, da FE HO D al, entre os qua ecial – PSE; X I - de E Ju ve is tr l; D is
A recu
o em res. DERA E 11. Proteção Social soas em Situação X Secretaria
ion stado ito tr
da Cri ntude do D ito Fede
e de erio Lei Org 20ito nac Esp
rt.ven
, pro 1ºientFi eralex – Exe rcícviios Ant
sta L, no ioassistenciais em âmb Federa
io anterior trito Fedca ânica uso da em Situação de Rua na II - Se de l; ral;
do exercíc coDispe cepc licação. o Decre do Dis Soc a Pes
cretaria Estado de ança do Dis istrito Federa
patrimonial ão dos Estados e do mna tê de sua pub ionada to ulaçãos atribu Serviço Especia
lizado par situação de rua
de Partici
paç
entra em perten
vigor datanciaio.para ao Secr nº 22.994, de tritoPop Fedegem ral, Soc
ial;içõe
s aquadueltos e
famílias em Ruas; e ConsideranXIII - Se
do de Est
ado de
Cultura trito Fe
de
l;
e Decreto emce connttrárdeàjunho deau201 tori 1. etário
de Est 29 delhim
Aborda
Instaituc
al par lhe co de Saída das ional para InclusãXIV
o cr
V - Se etaria de Est
do Dis
trito Fe ral;
Art. 3º Est m-s e as disposiç Peõessq ui , 13es Se cr
za
síliar a cess m ai
entoo
Lion
ei ltosnº 2.
em processo nf er a Nac Segura
nç de
oga Bra sília
sa em ica e 52º aria de et
de Bra ão ado de 20 67 ítice o ar cr etaria ad a Públ ral;
02 2009, que 6, o da O
Art. 4º Rev a Adu a Pol nto
Estado e prorrogaçã de Sa ública par instdeitui ti-anhame XV -
stasº daFuRepúblLOCiê
de123 nc Rep úd embro de e alCom
12orrial
dedejaAco
mp de rd ica do
Art. 2º AGnd NEaç QU ias da Sa
EIROZ
de Sa o de ce 23 de dez
e do Gove er teraitêçõInterset neairelaboração XV Secretaria de Estado de E em Pública Distrito
no ComitêesInte
l par
ões pa úd ,D CRETA o
o seu
ra a Se e e Fundaç úde R$do Distr Situ Eoria I - Se sporte e Federa
ssaçã rset Estad do Dis Social do
1,00
ãoode de Rua
do o do
Distrito Os servidor 1º Fica se
D
idor ef istritocadFe
rvituí : de estado XVII - cretaria de E o do Meio l;
Ciclo de Debates
es efet cretaria e enORÇAME ãoNTO ito Art
Ambien trito Federa Distrito Fede
inst
Fe HO em SCAL
FIS
oc Fe.de ra et secretaria
a de ra Se: cret stado
excetu de ra ESPESA
iv tr en tro de l pa iv o
es de l a Pa ar de l; ral;
am-se O l, cedidos e os das carrei e si. ra a ncia das ca ia de E te e Rec
DE
s e açõ rá Est ado Justiça,
Secretarias grafo ún
Fudias de
Btriz
ra sí
es, competê nd aç rr ei ra st ad D ur so
Capítulo 3

lia, be . ão deorial as seg s eral; dimen


uin tes ico. In o de C ireitos
Art.RA ANCEIRdo di atualm s Hídri
I
rasAS pe dire ven ta)
A EXO
AN
3ºVITEFINA
RAV
A
st
AN
sp os to en te FONrtTES
en zo de 90 (no m co m itê Interset E ns in Fed to à Popula te gr ar iê nc ia H um co s
AR - SUPE
Art. 4º e Dec AÇÃ noO
lota AS
centes pra
grarão o Com o doern o do Dis o e ial e T
trito ão tam e Te
T cnol anos e do Dis
Revog reto entra emDecreto nº 32 dos naTOT
ENT TOD
SU UPLEM PLEMENT RECURS SOS DE
à Art.cr2º Interia s se ção em bé C tr
Situaç m o Comitê ogia do Dis idadania do ito Federal;
de Gov rvmen
PECS Se
CRÉDITO SUP
FE etaria de Estado olvi idor to Soc
estrito FederalA ;
am-se vi go DETALH.805
ADO
,
AL
e I – Secreta de do de Desenv Dis rt . 3º ão in tr ito Fede Distrito
as di r na de16.26 Fundaçretaria Estad de Educaç
de Esta do O Com de Rua te
, dos m rsetorial re
ão Federal;
ições em data de su 22 de marçoII – -Sec
TE
spZAosIDUS FON 1.957
O
ão de Estado o de o do Distrito eral; Social Federa
retaH Sa itê Ineral ;
presen ral.
URE
REG NAT riaem oc úd
alho
balh e Tr Distrito Fed tersetor ovimen l;
co nt a publ IIIdeSec 20 Estenadotrde T
o
Trarab e do trito Fed ão Tdoan sf ia ta
AÇÃO
Brasí rário. ic ação. IV 11 ria
. de de de do Dis Pa
ano ráe Hab itaç er ênci l será to s sociai nt es de en
ado de Saú Braolv
reta
imento Urb eral; grafo ún
ESPECIFIC
V - Sec
ico. O a de Renda. coordenado
DE
env sília
DO

123º da lia, 13 de ju s e de
ria de Est
entidad tidades de at
DE ESTA
ETARIA
1 SECR JAMENTO E
V - Secreta ado de Des , trito Fedreun
001 3210 PLA
ria de Est orno do Dis ; iões, re coorde pe
RITO
NE
nh la e trabal en-
DO DIST
320101/00
ORÇ
AN
RÇA AMENTO R ep ública o de 2011 VI - Sec reta
Estado do Ent Fed
trito trito ; eral presen nador Se cretaria es qu
FEDER RAAL
A e . retaria de lher do Dis eralFede ta nt do C ham
G NELO 52 º de - Sec da Mu Fed ral, do es omitê de
ExcluMAN s Estad de outros ór Estado
BEN S VII de Est ado do Dis trito
QUEIR Brasília VIII - Secretariade Estado da Juventude Interset
ÇÃO DE
iANUaEIPr
A UTEN GD
S DO GDF
ocur
F
DECR Federal;
os e do gã or de Des
a do Distrito A eral;
0.2990
s Mun os e entidad ial poderá co
04.122.010 ce envolv
oria-G ETO Nº 32 OZ
MÓVÓVE
ntraIliz adÇÃO ria
IX - Secreta de Estado da Crianç do Distrito Fed rt. 4º AFederal; imento
(***)ação
A UTEN
ANU
MAN
ab0006
ril deDE19 BENS IM da
ÓVE
ÓV EIS DO
DIs
eral do .985, D 16.261.957 X - Secreta
ria de Cultura licaPo do Distrito desiFed gn eral; icípios, es da A nvidar
f 013545 lic
IT O
itaçõ D E Est ado Púb rt
ialardo
aç dos Po dm para pa
do Secr ão dos re
ST R
f.
Ref.
99NO DO
istr0 ito 301
13 DE 16.26 1.957
XI - Secreta
ria de ura nça iaDis trito inistr
dá ou 99es de
RNO
R
ado de Seg
E
AL , e deres
O GO GOV ER 33.90.39
com Federa JU16.26 HO D XII - Secretaria de Est
N1.957 lica e Soc pr; es Judici ação Pública rticipar de su
RA
V FED Ordem Púb Federal; etário trito Federal
artigo ERNADOR tras providên pras, obras l,TOOda ob E 11 - Secretaria de Estado da do Distrito s do Dis de Federal;entantes do ário e
Legisla Federal, do as
e serv rigatoriedad 20XII do DistritoEstado de
TAL
I. de Esporte dadesursos Hídrico s
10
2º, §2º, 0, incisos V O DISTRIT cias.
D iços de e XIV de Estado
- Secretaria Estado do Meio Am eito
biente e Rec em s eovCidadania Gover órgãos e entid tivo, de Dis
que trat de imento entidad -
a sseHum ano
da Lei II e X O FED Vad
oç ão ria de tiça, Dir re m s no. ades ci
XV reta Jus co so ciais de tados no es
ERAL2011. LVei Secretado
nº 2.34 a a XV - Sec ado de ntados
147
0, de 12 I da , no us ria dereEstgim de Ciência Art. 5º E
e
ste Dec da data de verão indica
2011AC00
adoção L Org
13 DEeiJUN
HO DE
o da XVI -nº 2.340, de Est e de
ado artigo
do 84, deDE se ânica consferesu o arti- - Secretaria de também re pu r 2º dar-
redaçã regiDE ETO Nº 32.9 te do
mbro atribuições Distr 12 de janeiro
que lhe as XV II
atribuiç ágrafo único. Inte Situ gra12 rão deação de to entra em bl icação se us repr se -á por
o mCRe de qu uso das de 19 nº 2.676, deito Fe ETA õe do pr esen
Pars vigor
Parágr alterada peDIS ERAL, no Federal, a Lei99 na data esente Dec tantes no pr
T : em
e trFED at ,alte
Draçõ
ECes, DECRdeTA: ral,a co dim queàlh População
afRN o ún OR DO lo TR ITO a
ar Orgoânica do artig o Dis trito 2 e R E TA Fed eral m binado
ento e co nferrset de sua reto azo de
-G ADic o. AI,exda Leitig 1º, da 94, de 29 2º
ode maiodade 200 erno do Dis
trito : eiras co Inte e ooria
l será Brasí public . até 10
Oer alVEinciD Lei de Saú, de m itê 123º da lia, 13 de ju (dez) di -
GO
00, do sos X e XX
is clusreto nº 22.9
vista o Dec ãoretá de Estado nº 2.
ei nºido2.r efetivo das carr
doLGov
Ensino e Art. 3º O
Com o êncarciatig
ia de
da.
o Ren or do Comitê Intedad rsetorial tração nho de ão.

adgo1 ote200 o emtrito Fe aoraSec derioqu e trataçã 56são de serv
8,eral 34daç0,ãodedeserv Social e T
sferrên
rannsfe
Tra da Adminis Repúb as,
o 1,retend ionadade a oode
ces depar20a adeFun coordenad e enti es 20
AGNE lica e 52º de 11.
gi exceepc 12 ido res rio
Artde Fica m de ceriza l, sãoóse prorrog
r a cesap deisdo Dis pude
ca
trito Fed como dos de sete Parágrafo único. Ontantes de outros órgãospios, dos Poderes Judiciá
.Art2º. 1ºEst a auto nt ra de an
Saúál t de sília, bem julho de
ss m br represe Municí L O B ra
e par liz e Bra e ar 20 o Se enti arti go Q sí
Art. com petê Decreretaria de ação ão Hemda
3º tenc
ncia
s à Sec to entr
Est ado
e Fundaç no
ntro
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nveniê tigdeo Est nãado o de Saú00 de .do reude 19 dos Estado
niõ es,
99, , co
s e dos
E C dad Res citados
E
no UEIR
O
lia
per R ev ente
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emam Ciê-s
de
ncias da a emriavie entre si. ocedim
Saú
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s à Secretaia ad
ria
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de Bra sília
ssibili , trito Fed eral
m nta tes dos
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órg ãos TARIA - Z
e asa a Secreta carr tencenteen inis trativa, ta que a Pr.oc o dos represe
zo de atéDE ES
,
Pesquisa r nas per S etoFun dação Hem 10 (dez) dias
s lic o.
dações par disp da ita 1. designaçã de Estado de Govern
destas Fun efetivoos s das
iç nteslota nata FEPdeEC ço de 201tórios de em cada Art 4º Aur tes no pra TADO
servidores s e atualmeõe emdosco de 22 desu a pu adSec
orretário O SEC s representan
sotaricoa nc ia-
mar seu in do
Art. 2º Os
eral, cedido Bra nº 32.805,ntrápub
sua rio. licação.
blicaç
ão. teresse. caPor erão indicar
RETseu ÁR te Decreto.PORTAR DE G
re s sociais bu do presenIO D OVER
reto sí deviç
Distrito Fed do disposto no Dec lia de
, toento, õe s es E . IA N
na data 13 ção tabesua E
ção ST º
entra em123º dacon 46, D
vim lica lica
trário. de junh
e or
excetuam-s
e Decreto disposições em
vig
Rep úbjunhoa de 201 o1.de
dades e
a serem con
mo
tados da data em
de22pub
.9
vig52 or ,nade data de lecipub
junho dades 201pelo
1. ADO D
E GOV E 13 DE JU NO
Art. 3º Est
ogam-se as BraA sília, 13 de lic e de52 Brasília 2011. e Decreto
entraA
rt . Brasília, 08 13 de de m de Brasíliaartigo E R N N H
. 4º Rev G Núbl ELO EIROZº de Brasí
ica e 52º . 5º Est 1º D Rep ica e 52ºai o de 105, da O DO O DE
123º daiv
Art Art
123º da Rep LO Q U lia ulúbl
ga r, EIROZ 2002, L ei D IS T
2011.
AGNE
QU EIRO AGNE LO na
QU
forma RESO Orgân RITO
ZDE 2011. reg ime de do anOV LV
NO : E ic a do FE D ERAL
JUN HO
DE 13 DE igatoriedade de ado 2.340, de 12 de
ção do
G exoER Distrito
Nº 32.985, da exec TADO DE
I, a plan Federa , no uso da
DE EST
obr nº ilha co
DECRETO Federal, da trata a Lei uç
Aão l e pelo s at
ria-Geral
do Distrito
obras e serv
iços de que
confere o SECRAET rtT
TA AR RIIA
. 2º Est físico-orçDE 2011.
nten
das atri- do os Pr Decre ri-
Procurado compras, s que lhe JUNHO DE FEDERAL, no uso ojetos to nº
Exclui a
ão das lici
tações de
ências.
s atribuiçõe
uso das sua eral, combinado com
o artigo a Po rt
Nº 46, ar DE 13 amentáTR ri ITO pelo Decreto

Estraté
tral izaç ras pro vid AL , no R
RT AR
TAR
T IA ia
RNentra O DO DIS a de ssFed eral e
gicos da
a doviDistrito as ações
cen ER PO
9, e dá out ITO FED Distrito Fed DE GOVE Org em
abril de 199 ADOR DO DISTR Lei Orgânica do CRETA T
TA: : EST TAD
T AD O
da Lei
ânic gor na junt dad e U ni dade
ratégicos o aos ór
DE da Uni
O GOVE
RN e XXVI da mbro de 1999, DE 9, com RETÁRIO s pelo artigo 105, daEst ta
, inci sos VII sete setembro
de 199 O SEC
belecida RESOL LVE : os Pro jeto s de sua gãos de
artigo 100 0, de 12 de de 12 de buições esta de maio de 2002, contendo PAUL pu contro
2º, §2º, da
Lei nº 2.34
2º, da Lei
nº 2.340,
o de 2000. doria-a
a-
22.952, de
08 a do anexo
I, a planilha O TAD blicação. le.
a o artigo de 20 de julh impossibilita qu q e a Procura creto, ulgar, na form EU
de que trat nº 2.568, não o con Art. 1º Div trole.
regime da Lei artigo cada cas ãoss de con
adoção do artigo 1º, caput desse ia administrativa, em e. rrgão
to aos órg
rada pelo
redação alte o. A exclusão de qu q e trata o seu interess ia dessas
ações jun .
conveniênc publicação
f únic análise da tatórios de orçamentár or na data de sua
Parágrafo eral, após imentos lici ção. da execuç
ão físico- vig TADEU
Distrito Fed ização nos proced sua publica a Portaria
entra em PAULO T
P
-Geral do de cen tral data de . 2º Est
adote o reg
ime vigor na Art
entra em em contrár
io.
2011.
e Decreto
Art. 2º Est disposições sília, 13 de junho de
ogam-se as Bra de Brasília
Art. 3º Rev ública e 52º
123º da Rep LO QUEIROZ
AGNE

163
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Resultados dos Ciclos de Debates: Políticas Sociais


para a População em Situação de Rua do Distrito Federal -
Desafios e Propostas por Grupos de Trabalho

GRUPO 1 – ASSISTÊNCIA E PREVIDÊNCIA SOCIAL

“É um empurra-empurra, não te dão direção e sempre te


dizem a mesma coisa. A assistente social diz que a gente tem
direitos. Mas cadê? Nunca vi tanto encaminhamento, sem
chegar a lugar nenhum” – P. (pessoa em situação de rua).

A- Síntese dos Problemas Verificados


• A população em situação de rua não tem acesso à informação de qualidade sobre seus
direitos e sobre os programas, projetos e benefícios sociais disponíveis, fato que contribui
para o reduzido número de pessoas nesta condição que são protegidas por algum tipo
de política pública;
• A política de Assistência Social do Distrito Federal possui quadro de funcionários redu-
zido e não capacitado para o trato de pessoas em situação de rua;
• Frequentes denúncias de maus-tratos, agressões verbais e falta de cordialidade por parte
de funcionários da Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Se-
dest/GDF), em especial durante abordagens de rua ou durante atendimento em equipa-
mentos assistenciais como CRAS e CREAS;
• A articulação entre a Assistência Social e as demais políticas públicas e entre os próprios
órgãos e instituições da Assistência Social (CRAS, CREAS, albergues e abrigos, Núcleos
Especializados etc.) é precária, o que gera ações ineficazes do ponto de vista social, já que
o indivíduo em situação de rua é atendido por diferentes profissionais que não dialogam
entre si;
• Os albergues e abrigos existentes no Distrito Federal são inseguros e muitos indivíduos
acolhidos sofrem violência dentro dos equipamentos. Muitas foram as denúncias de
abusos e maus-tratos de funcionários do Albercon72. Além disso, a violência entre alber-
gados e o tráfico de drogas foram citados como fatores impeditivos da ida espontânea
para o Albercon;
• Usuários do Albercon afirmam que o atendimento com psicólogos, enfermeiros e assis-
tentes sociais no local é difícil em virtude do número reduzido de profissionais;
• O encaminhamento para outras políticas sociais do GDF é precário e moroso, especial-
mente para quem está acolhido em abrigos e albergues governamentais;
• Não existem vagas suficientes nas instituições de acolhimento do Distrito Federal. O Al-
bercon aparece, muitas vezes, como única opção para famílias e indivíduos adultos em
situação de rua. Mesmo assim, é uma opção temporária e paliativa;
72 Sobre o Albercon, vide Cavaignac (2009).

164
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• No Distrito Federal não existem abrigos ou albergues exclusivos para pessoas em situa-
ção de rua do sexo feminino em número suficiente;
• Os rígidos critérios de elegibilidade para benefícios e programas sociais e as condicionali-
dades existentes em alguns deles excluem parcela significativa da população em situação
de rua do acesso aos seus direitos. Como frequentar escolas e realizar acompanhamen-
tos médicos se ambas as políticas de Educação e Saúde falham no atendimento a indiví-
duos sem documentação, endereço fixo e cidadania?
• A dificuldade na emissão de documentos pessoais é citada por todos os participantes
do Grupo de Trabalho. Além de desconhecerem o processo para tirar os documentos,
tem dificuldade em levar fotografias (pois não podem pagar por elas ou comerciantes
de lojas aptas a fotografar se negam a atender pessoas em situação de rua). Quando tem
documentos, o furto, o roubo, o confisco ilegal e a perda dos mesmos é frequente;
• Várias políticas e programas governamentais exigem documentação pessoal para serem
acessados: política de saúde, educação etc.;
• Várias pessoas em situação de rua citaram medo de perderem seus filhos. De acordo
com as falas, o Governo, em diversas ocasiões, retira filhos menores de idade do convívio
de seus pais única e exclusivamente por estes se encontrarem em situação de rua. Dados
da pesquisa demonstraram que a maioria das crianças e dos adolescentes em situação
de rua está acompanhada de seus pais e mantém com eles boa convivência. As pessoas
em situação de rua do Distrito Federal exigem que o Estado auxilie a família como um
todo e não separem as crianças de seus pais.
• A maioria das pessoas em situação de rua trabalha/trabalhou no mercado informal. O
acesso à Previdência, portanto, é dificultado. Além disso, a idade mínima para aposenta-
doria não condiz com a realidade das pessoas em situação de rua, que tem expectativa
de vida menor do que a população de uma maneira geral;
• As pessoas em situação de rua, que contribuem para a Previdência Social, têm dificulda-
des de acessar alguns de seus benefícios já que, para isso, dependem de laudos médicos
e exames, aos quais não tem acesso garantido.
Ciclo de Debates
Capítulo 3

B - Síntese das Soluções e Sugestões de Políticas Públicas a serem implementadas


• Construção de albergues, abrigos e casas de passagem para pessoas em situação de rua,
em localizações centrais do Distrito Federal, com boa infraestrutura, alimentação de qua-
lidade e que tenham à disposição dos acolhidos um número suficiente de profissionais
capacitados para o trato com este grupo social. Além disso, os albergues e abrigos devem
atender um número menor de pessoas, garantido um serviço mais individualizado e de
melhor qualidade;
• Construção de albergues, abrigos e casas de passagem para famílias em situação de rua
(sem separação de familiares por sexo ou idade);

165
Foto: Ana Nascimento
Capítulo 3
Ciclo de Debates
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Oferta de locais para guarda de objetos pessoais, instrumentos de trabalho (carroças,


carrinhos de mão e bicicletas) e animais de estimação ou de carga (cachorros, gatos e ca-
valos) em abrigos e albergues, de acordo com parâmetros internacionais de instituições
de acolhimento de pessoas em situação de rua;
• Construção de albergues, abrigos e casas de passagem para pessoas em situação de rua
do sexo feminino, com qualidade idêntica à citada nos tópicos anteriores;
• Construção de centro de convivência diurno para pessoas em situação de rua que pro-
porcione alimentação de qualidade, locais para higiene pessoal, atividades culturais e de
lazer, e que seja um polo de informações sobre oportunidades de trabalho e de estudo,
acesso a programas, políticas públicas e aos direitos e deveres deste grupo populacional;
• Promoção e oferta gratuita de cursos profissionalizantes, oficinas, atividades culturais e
de lazer dentro dos albergues e abrigos do Distrito Federal;
• Distribuição de roupas, sapatos, objetos de higiene pessoal e disponibilização de
roupas de cama, travesseiros e toalhas de banho para pessoas acolhidas em alber-
gues ou abrigos;
• Sensibilização e capacitação dos funcionários de albergues, abrigos e demais órgãos e
instituições que atendem pessoas em situação de rua;
• Criação de Programa de Transferência de Renda não-condicional em uma quantia que
atenda às necessidades de alimentação, vestuário, habitação e lazer, das pessoas em si-
tuação de rua e que, por isso, considere a realidade deste grupo em seus critérios de
elegibilidade;
• Oferta de políticas sociais de superação da pobreza extrema e da situação de rua para
famílias, coibindo a prática frequente de retirada de crianças de seus núcleos familiares
única e exclusivamente por residirem em áreas públicas ou de risco;
• Criação de ações que permitam a maior participação da população em situação de rua no
planejamento e na formulação de políticas públicas específicas para este segmento social;
• Planejamento de ações de disseminação de informações sobre os direitos das pessoas
em situação de rua e dos benefícios, programas e projetos existentes e disponíveis para
este grupo social;
• Criação de programa permanente de emissão gratuita de documentação pessoal para
a população em situação de rua, além de disponibilização de postos para retirada de
fotografia sem custos.
• Apoio às iniciativas e projetos profissionais de economia solidária e de cooperativas de
trabalho que garantam proteção previdenciária às pessoas em situação de rua.

168
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

GRUPO 2 – CULTURA, ESPORTE E LAZER

“Os moradores de rua não sabem o que é uma política de cul-


tura, de esporte ou de lazer. Não sabem o que é isso. Esporte,
pra gente, é, no máximo, uma peladinha na rua” – E. (pessoa
em situação de rua).

“A Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil estão gerando


ações de ‘limpeza’ da população de rua em espaços públicos”
– A. (pessoa em situação de rua).

A - Síntese dos Problemas Verificados


• A população em situação de rua desconhece políticas de esporte, cultura e lazer e não
se sente detentora de direitos nestas áreas;
• No Distrito Federal são poucos os locais para a prática de esporte, cultura e lazer. Além
disso, os existentes estão em péssimas condições. Fora de Brasília (RA I) estes locais são
praticamente inexistentes ou completamente abandonados;
• Os eventos culturais do Distrito Federal (tais como shows, exibição de filmes, teatros,
saraus, feiras, entre outros) não são voltados para as pessoas em situação de rua e geral-
mente não abordam o tema da sobrevivência nas ruas;
• Dentro dos albergues e abrigos do Distrito Federal, as atividades culturais, de lazer e es-
portivas são extremamente escassas;
• O Projeto “Esporte à Meia Noite” não está em funcionamento. Várias crianças e
adolescentes citaram a importância desse Projeto na prevenção da criminalidade e do
uso de álcool e outras drogas;
• Os artistas de rua não são valorizados e sofrem com o preconceito e com a discrimina-
ção de parte considerável da sociedade brasiliense;
• Insuficiência de cursos profissionalizantes ou de capacitação para artesãos e artistas de rua;
• Os grandes eventos esportivos estão servindo como justificativa para ações higienis-
Ciclo de Debates

tas e violentas contra a população em situação de rua. Os indivíduos nesta condição


Capítulo 3

se sentem excluídos (e até mesmo, eliminados) dos preparativos para a Copa do


Mundo;
• Não há incentivos e apoios financeiros para projetos culturais e esportivos organizados
por pessoas em situação de rua;
• Não existem atividades de lazer para pessoas em situação de rua. Mesmo nas gratuitas,
este grupo social não é bem-vindo.

B - Síntese das Soluções e Sugestões de Políticas Públicas a serem implementadas


• Ampliação e garantia de funcionamento do Projeto “Esporte à Meia Noite” em todas as
Regiões Administrativas do Distrito Federal, com prioridade de atendimento de crianças
e adolescentes em situação de rua;

169
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Incentivo e financiamento de filmes, peças de teatro, poesias, livros, e demais manifesta-


ções culturais que tratem do tema População em Situação de Rua, de modo a contribuir
para a compreensão da realidade dos indivíduos que se encontram nesta condição e
combater o preconceito e a discriminação;
• Garantia de apoio, valorização e incentivo governamental às manifestações culturais tí-
picas da rua como grafite, hip hop, street dance, entre outras;
• Oferta de atividades lúdicas e de lazer gratuitas para pessoas em situação de rua, nas ruas
da cidade, tais como exibição de filmes, peças de teatro, espetáculos musicais, circos,
entre outros. Esta população, dada a sua condição de pobreza, não irá buscar programas
de cultura, esporte e lazer. Estas políticas devem buscar essa população;
• Capacitação dos artesãos em situação de rua e garantia de espaço para exposição e co-
mercialização dos seus produtos;
• Oferta de cursos de comunicação social para pessoas em situação de rua, garantindo
sua vocalização e sua expressão por meio de jornais, revistas, zines, boletins informativos,
rádios etc.;
• Inclusão das pessoas em situação de rua nos grandes eventos esportivos que se reali-
zarão no Brasil. A inclusão deve ser profissional (com capacitação e qualificação deste
grupo social), e social (garantindo os direitos da população que vive nestas condições,
inclusive o de ir e vir e o direito à cidade);
• Recuperação de parques, praças e demais equipamentos de lazer, esporte e cultura do
Distrito Federal com garantia de acesso às pessoas em situação de rua;
• Construção e recuperação dos equipamentos de esporte, cultura e lazer dentro dos al-
bergues e abrigos do Distrito Federal;
• Apoio para apresentações culturais (como exibição de filmes, peças de teatro, espetácu-
los musicais, saraus, leituras coletivas etc.) nos abrigos e albergues do Distrito Federal.

GRUPO 3 – EDUCAÇÃO

“Foi difícil conseguir vaga na escola por falta de comprovante


de residência, mas insisti e consegui matricular. Mas, como
minha renda é baixa não tenho dinheiro pra comprar os ma-
teriais que a escola pede e nem as fardas. Meus filhos disputam
o uniforme na hora de ir pra escola, porque nem todos têm.
E quando vão sem ele, não podem entrar” – M. (pessoa em
situação de rua).

A - Síntese dos Problemas Verificados


• As pessoas em situação de rua sofrem muita discriminação nas escolas do Distrito Fe-
deral. Estes estudantes (em situação de rua ou filhos de pessoas em situação de rua) são
frequentemente responsabilizados por furtos e brigas e são alvos preferenciais de bulling.
A discriminação na escola é proveniente de alunos, pais de alunos e, inclusive, professo-
res, funcionários e diretores;

170
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• A dificuldade de realização de higiene pessoal diária é um dos fatores para que as pesso-
as em situação de rua sofram discriminação e preconceito nas escolas. Além disso, o fato
de estarem sujos costuma impedir a entrada na instituição de ensino;
• A falta de documentação pessoal e endereço fixo impedem o acesso da população em
situação de rua à escola;
• Os professores, funcionários e diretores das escolas do Distrito Federal não são capacita-
dos e preparados para acolherem pessoas em situação de rua. A realidade deste grupo
social é desconsiderada e os estudantes nesta condição não recebem nenhum tipo de
acompanhamento;
• A violência e o tráfico de drogas nas escolas públicas do Distrito Federal são as principais
queixas de crianças e adolescentes em situação de rua. Muitos deles afirmam que
tiveram seu primeiro contato com a droga no interior dessas instituições;
• A ausência de moradia convencional e regular prejudica o rendimento escolar da pessoa
em situação de rua: a falta de local para guardar o material, falta de ambiente para estudo
e para a realização dos deveres de casa e a falta de acesso à luz elétrica são citados como
exemplo;
• As pessoas em situação de rua tem dificuldade de acesso ao transporte público e gratui-
to. Assim, a ida à escola fica prejudicada. Muitas vezes, esses estudantes só conseguem
vagas em escolas distantes, fator que encarece ainda mais os custos com deslocamento;
• Algumas crianças e adolescentes em situação de rua descreveram a escola como um es-
paço desinteressante, com professores descompromissados, preconceituosos e inábeis;
• A dificuldade na aquisição de uniforme e material escolar é fator impeditivo para a ma-
trícula e/ou permanência dos estudantes em situação de rua na escola;
• A ausência de merenda escolar em algumas escolas representa grande empecilho para a
permanência do estudante em situação de rua nessas instituições;
• Pessoas em situação de rua acolhidas em alguns albergues ou abrigos do Distrito Federal
reclamam da falta de acesso à educação e às escolas;
• O tema População em Situação de Rua não é estudado em escolas do Distrito Federal, o
Ciclo de Debates

que contribui para o preconceito contra pessoas nesta condição.


Capítulo 3

B - Síntese das Soluções e Sugestões de Políticas Públicas a serem implementadas


• Capacitação e sensibilização de professores, funcionários e diretores das escolas do Dis-
trito Federal para a realidade das pessoas em situação de rua;
• Criar estratégias de enfrentamento e punição ao bulling e à discriminação contra os es-
tudantes em situação de rua ou filhos de pessoas em situação de rua;
• Criar estratégias de enfrentamento e punição ao tráfico de drogas nas escolas do Distrito
Federal;
• Garantir a entrada e permanência de estudantes em situação de rua nas escolas, mesmo
que estejam sujos ou sem uniforme;

171
Foto: Camila Potyara Pereira
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Oferta de cursos profissionalizantes e de qualificação para o trabalho, com regras e ho-


rários flexíveis, para as pessoas que estão nas ruas ou em instituições de acolhimento;
• Oferta de cursos de alfabetização e extracurriculares (informática, línguas estrangeiras)
para as pessoas que estão nas ruas e acolhidas em abrigos ou albergues do Distrito Federal;
• Criação e incentivo de programa de distribuição de livros escolares e uniformes, novos
ou usados, para pessoas em situação de rua que estejam matriculadas na rede de ensino;
• Garantia de merenda escolar de qualidade nas escolas públicas do Distrito Federal;
• Inclusão da população em situação de rua nas atividades educacionais, culturais, espor-
tivas e de lazer promovidas pelas escolas do Distrito Federal;
• Criação de creches gratuitas, em localizações centrais, para crianças em situação de rua;
• Oferta e disponibilização de transporte escolar gratuito para pessoas em situação de rua
do Distrito Federal (garantindo que existam linhas que atendam todo o DF);
• Inclusão do tema População em Situação de Rua na grade curricular das escolas e das
Universidades públicas do Distrito Federal, objetivando o fim do preconceito contra este
grupo social.

GRUPO 4 – HABITAÇÃO

“Quando arrumo trabalho no Plano Piloto, perco porque não


consigo pagar pelo transporte. Sem trabalho não consigo pa-
gar pela moradia, e sem moradia não consigo trabalho” – L.
(pessoa em situação de rua)

A - Síntese dos Problemas Verificados


• A falta de moradia foi apontada como o maior problema enfrentado pela população em
situação de rua. Os demais acabam sendo derivados deste: o medo, o frio, a fome, o não
acesso às políticas públicas, a discriminação, a exposição à violência e a doenças, o uso
de álcool e outras drogas, entre outras chagas sociais;
• As pessoas em situação de rua desconhecem os programas habitacionais dos Governos
local e Federal;
• Exigência de documentos pessoais para acesso aos programas habitacionais dos Gover-
nos local e Federal;
• Exigência discriminatória de endereço fixo (habitação) para acesso às demais políticas,
programas e projetos governamentais (incluindo os mais básicos como trabalho, saúde
e educação) e a serviços públicos (como registro de ocorrências policiais);
• Inexistência de um programa habitacional que atenda especificamente a população em
situação de rua, levando em consideração, assim, suas especificidades e demandas;

174
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Frequentemente a população em situação de rua do Distrito Federal se depara com uma


difícil escolha: morar ou trabalhar. Como as atividades laborais mais desempenhadas por
este grupo são a catação de materiais recicláveis e a guarda de carros – ambas mais habi-
tuais e melhor remuneradas em Brasília (RA I) – esses trabalhadores, caso optem por re-
sidir em habitações acessíveis para eles (geralmente muito distantes de Brasília) gastarão
elevadas quantias em relação aos seus ganhos com deslocamento. A solução encontrada
por muitos é dormir nas ruas da cidade para garantir seu trabalho, economizando, assim
com o transporte. A especulação imobiliária, tão característica do Distrito Federal e os
preços altos dos transportes públicos, contribuem para aumentar o hiato entre moradia
e local de trabalho, levando muitas pessoas à situação de rua;
• O benefício Auxílio Vulnerabilidade (conhecido entre a população em situação de rua
como auxílio aluguel) não atende às necessidades deste grupo social, pelos motivos des-
critos no tópico anterior. O baixo valor repassado só permite o aluguel de habitações em
RAs muito distantes de Brasília ou no Entorno do Distrito Federal. Além disso, o benefí-
cio é provisório e contingencial. Ao final do período de concessão o indivíduo volta para
a situação de rua. Há denúncias de que o repasse costuma atrasar, o que leva ao despejo
da pessoa em situação de rua beneficiária;
• As pessoas em situação de rua no Distrito Federal relatam dificuldade em conseguir
emprego por não existirem locais onde deixar seus pertences;
• Cerca de 10% da população em situação de rua adulta que respondeu à questão sobre
benefícios no Censo da População em Situação de Rua do Distrito Federal está cadastrada
em programas governamentais para recebimento de lotes, sem ter tido acesso ao bene-
fício. Alguns esperam esse benefício há mais de 18 anos;
• A doação de lotes, em vez de habitações prontas, é apontada como problema já que as
pessoas em situação de rua não têm recursos financeiros e materiais para construí-las.
Neste caso, continuariam residindo em barracos de lona ou papelão dentro dos lotes
recebidos.

B - Síntese das Soluções e Sugestões de Políticas Públicas a serem implementadas


Ciclo de Debates

• Garantia de acesso e de atendimento prioritário de pessoas em situação de rua nos pro-


Capítulo 3

gramas habitacionais das duas esferas de Governo;


• Divulgação das políticas, programas, projetos e benefícios habitacionais às pessoas em
situação de rua do Distrito Federal;
• A política habitacional tanto do governo local quanto do governo federal deve obser-
var as características e especificidades da população em situação de rua. Os lotes, por
exemplo, deverão ter locais para a prática da catação e separação de materiais recicláveis
e para criação de animais.
• Implementação de uma política de locação social em áreas centrais do Distrito Federal,
com disponibilização de habitações de qualidade a baixo custo e que sejam adaptadas
às características e especificidades da população em situação de rua;

175
Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Revisão e ampliação do Auxílio Vulnerabilidade atualmente existente. Este auxílio deve


permitir o acesso da população em situação de rua a habitações dignas, em localizações
próximas a seus locais de trabalho e aos serviços públicos.
• Vinculação da política habitacional para pessoas em situação de rua às demais políticas
públicas e seus serviços e benefícios, como saúde, educação, assistência, trabalho, cultu-
ra, esporte, lazer, segurança pública e transporte.
• Eliminação da exigência de comprovantes de residência para acesso às demais políticas
públicas;
• Facilitação do acesso à política habitacional do Distrito Federal, reduzindo a exigência de
vários documentos pessoais;
• Garantia de cadastro gratuito e facilitado em programas habitacionais para a população
em situação de rua;
• Garantia de atendimento às pessoas em situação de rua cadastradas em programas go-
vernamentais de habitação, dando preferência a este grupo social na distribuição ou na
oferta de facilidades para aquisição de casa própria construída;
• Implantação de política habitacional baseada em condomínios sociais, auto-geridos,
com garantia de capacitação das pessoas em situação de rua residentes para funções
administrativas no interior do conjunto habitacional.

GRUPO 5 – SAÚDE

“Já ouvi enfermeiros dizendo que o médico tinha que dar uma
injeção de álcool nos moradores de rua, para que eles morres-
sem logo de cirrose” – M. (pessoa em situação de rua)

A - Síntese dos Problemas Verificados73


• Profissionais da saúde do Distrito Federal não estão capacitados para atendimento das
pessoas em situação de rua. Várias foram as queixas de maus-tratos, agressões verbais e
físicas, negação e omissões de tratamento, falta de humanidade e de cordialidade em
hospitais, postos de saúde e ambulâncias.
• Médicos, enfermeiros, profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(SAMU) e bombeiros, muitas vezes se recusam a atender pessoas em situação de rua
ou indivíduos acolhidos em abrigos e albergues por questões relacionadas à aparência,
baixas condições de higiene ou uso de álcool e outras drogas;
• A ausência de endereço fixo e documentação pessoal tem sido fator impeditivo para o
atendimento na rede pública de saúde do Distrito Federal;
• Quando o tratamento ocorre, muitas vezes, é moroso. Além disso, os profissionais de
saúde partem do pressuposto de que as pessoas em situação de rua estão sempre dro-
gadas ou alcoolizadas;

73 Sobre a política de saúde e o atendimento a pessoas em situação de rua no Distrito Federal ver Pontes (2009).

178
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• As possibilidades de tratamento de usuários de álcool e outras drogas são escassas. Ge-


ralmente, a repressão e a punição são práticas mais frequentes do que a prevenção e o
auxílio ao indivíduo;
• Em virtude da falta de acesso às políticas preventivas de uso de álcool e outras drogas, o
sistema de saúde é demandado quando as doenças decorrentes do uso abusivo e conti-
nuado destas substâncias já estão instaladas e em grau avançado;
• Pessoas em situação de rua são preteridas em tratamentos, utilização de insumos, equi-
pamentos e outros materiais da política de saúde em relação a pessoas que não estão em
situação de rua;
• O frio, o medo, a fome, a vergonha, o desespero, sensações experimentadas pelas pes-
soas em situação de rua, são gatilhos para a dependência de álcool e outras drogas. A
criminalização dos usuários destas substâncias dificulta o atendimento e o tratamento
eficaz, já que não são vistos como indivíduos que precisam de ajuda, mas sim como
culpados pela própria situação;
• A escassez de medicação gratuita – inclusive para tratamento de doenças crônicas ou
contagiosas, como a tuberculose – é sério impedimento para a recuperação e cura de
pessoas que vivem nas ruas ou acolhidas em instituições;
• Pessoas com doenças contagiosas compartilham quartos com indivíduos saudáveis em
albergues e abrigos do Distrito Federal, o que contribui para a proliferação da enfermidade;
• Denúncias de que, após o fechamento dos portões no período noturno, indivíduos aco-
lhidos no Albercon são impedidos de sair, mesmo que estejam se sentindo mal. De acor-
do com os relatos, é relativamente comum o óbito de pessoas em situação de rua por
falta de atendimento emergencial que, só ocorre, quando o SAMU é acionado. Neste
caso, os portões são abertos para a entrada dos profissionais de saúde;
• Pessoas acolhidas em instituições, mesmo sob tratamento médico, têm data marcada
para se desligarem do albergue ou abrigo. Neste caso, a única opção é o retorno às ruas
da cidade, o que acaba desmotivando-as a cuidarem da própria saúde. A volta para
as ruas, de vítimas de doenças, acaba agravando o estado de saúde e estimulando o
Ciclo de Debates

indivíduo a recorrer ao álcool e outras drogas.


Capítulo 3

• O comércio de drogas legais como o álcool e o cigarro é lucrativo para comerciantes e


para o Estado (via arrecadação de impostos); contudo, o consumo proveniente deste
comércio resulta em doenças graves, que permanecem sem tratamento para pessoas
em situação de rua. Se o dinheiro obtido com a comercialização destas substâncias fosse
revertido para o tratamento de saúde de alcoolistas, o Distrito Federal contaria com uma
estrutura de saúde mais eficaz;
• As pessoas em situação de rua desconhecem a existência de clínicas de recuperação
para usuários de álcool e outras drogas. Desconhecem também os serviços oferecidos
nos Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS–AD);
• As unidades de saúde são muito distantes e os altos custos dos meios de transporte para
estes locais inviabilizam a procura de tratamento por pessoas em situação de rua;

179
Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• A ausência de banheiros públicos expõe a população em situação de rua a situações


constrangedoras. Para as mulheres nessa situação o desafio é maior: no período mens-
trual, precisam recorrer à solidariedade de transeuntes e vizinhança para conseguirem
absorventes íntimos;
• A ausência de bebedores públicos expõe a população em situação de rua a doenças.

B - Síntese das Soluções e Sugestões de Políticas Públicas a serem implementadas


• Garantia de atendimento de qualidade para pessoas em situação de rua em postos de
saúde, hospitais e unidades móveis;
• Contratação de profissionais capacitados e treinados para reconhecer e compreender as
especificidades desse grupo populacional. No caso dos profissionais já atuantes, realizar
capacitação para atendimento de pessoas em situação de rua;
• Extinção da exigência de endereço fixo ou documentação pessoal para atendimento de
pessoas em situação de rua em postos de saúde e ambulatórios de hospitais;
• Oferta de transporte gratuito para unidades de saúde (postos e hospitais), especialmen-
te para pessoas em situação de rua;
• Políticas sociais integradas de forma articulada, criando assim serviços, programas e pro-
jetos variados de prevenção, tratamento e cura de enfermidades da população em si-
tuação de rua, em especial das que tem maior incidência junto a essa população como
tuberculose, doença de chagas, hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis/AIDS;
• Disponibilização de banheiros públicos completos (com pia, sanitário e chuveiro) e bebe-
douros, inclusive nos postos de saúde e nos ambulatórios dos hospitais do Distrito Federal;
• Instituição da obrigatoriedade do Estado em investir parte dos recursos arrecadados
com impostos sobre bebidas alcoólicas e cigarros em clínicas de recuperação e trata-
mento de usuários destas substâncias;
• Educação permanente das pessoas em situação de rua por meio de oferta de cursos e
oficinas de educação sexual (prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e méto-
dos contraceptivos eficazes), saúde mental, uso de álcool e outras drogas (informações
sobre os efeitos, riscos, compartilhamento de seringas, locais onde procurar ajuda etc.) e
higiene pessoal;
• Distribuição gratuita de contraceptivos para pessoas em situação de rua, em seus locais
de moradia, partindo da premissa de que o Governo deve ir até as pessoas e não estas
até o Governo;
• Distribuição gratuita de kits de segurança no trabalho (Equipamento de Proteção Indivi-
dual - EPI) para catadores de materiais recicláveis tais como bonés, luvas, botas, máscaras,
calças, camisetas e óculos de proteção;
• Acompanhamento de pessoas em situação de rua que tiveram alta de hospitais públicos
ou clínicas de reabilitação, em prol de uma saúde integral. Com este acompanhamento
se evita a recaída cíclica;

182
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Promoção de campanhas educativas para sensibilização da sociedade sobre o uso de


álcool e outras drogas, descriminalizando a dependência química, especialmente entre
as pessoas em situação de rua;
• Permissão de saída (e entrada) de pessoas acolhidas em abrigos ou albergues do Distrito
Federal, independentemente do horário, quando o motivo for o tratamento de saúde,
consultas ou emergência clínica;
• Garantia de excelentes condições higiênicas em abrigos e albergues do Distrito Federal,
especialmente nos banheiros, dormitórios e refeitórios, incluindo a distribuição de papel
higiênico, sabonete, colchões e roupas de cama;
• Distribuição de medicação gratuita na rede de saúde e também nos abrigos e albergues,
especialmente para pacientes em tratamento prolongado ou permanente;
• Criação de parcerias com organizações não governamentais, movimentos sociais e gru-
pos de apoio (como Pastoral da Rua, Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos etc.),
para que os mesmos visitem com frequência pessoas que estão nas ruas e nos albergues
e abrigos do Distrito Federal no intuito de divulgar a existência destes grupos, esclarecer
dúvidas e mobilizar a população em situação de rua da cidade;
• Garantia de equipe básica de saúde em todos os abrigos e albergues do Distrito Federal,
composta de pelo menos um médico, dentista, enfermeiros e técnicos em enfermagem
e auxiliares;
• Implementação e apoio a programas de saúde específicos para a população em situação
de rua como o Programa Saúde da Família sem domicílio, Consultório de Rua e Médicos
sem Fronteiras;
• Maior foco na prevenção em prol da boa condição de saúde do que na remediação de
doenças já instaladas. A prevenção não deve se restringir a ações episódicas e individuali-
zadas, mas incluir o tratamento de água e esgoto, a garantia de local próprio para guarda
e separação de resíduos sólidos coletados, entre outros.

GRUPO 6 – SEGURANÇA PÚBLICA


Ciclo de Debates
Capítulo 3

“A gente é obrigado a ir para o Albergue, mesmo contra a


vontade. Quem resiste aos policiais é preso e leva spray de pi-
menta na cara” – L. (pessoa em situação de rua).
“Não somos o homem do saco. É preciso romper com esse
preconceito” – A. (pessoa em situação de rua).

A - Síntese dos Problemas Verificados


• A população em situação de rua tem dificuldade em registrar ocorrências policiais, ten-
do em vista que estes não possuem endereço fixo ou documentação pessoal, exigidos
para registro no processo;

183
Foto: Ana Nascimento
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Várias foram as queixas de violência policial. De acordo com as pessoas em situação de


rua presentes no Ciclo de Debates, a Polícia Militar do Distrito Federal e agentes públicos
de segurança agem de maneira truculenta, sem tato, humanidade e respeito. Além disso,
os abusos de autoridade e a agressão verbal, física e psicológica – especialmente durante
operações de remoção de ocupações – são frequentes;
• Por serem vitimas constantes da violência praticada por quem deveria protegê-los (po-
liciais, servidores públicos do GDF e agentes de segurança pública), a população em
situação de rua vive com constante sensação de insegurança e medo;
• A população em situação de rua é vista como classe perigosa, sendo previamente jul-
gada, tanto pelo Poder Público, quanto por outros grupos sociais, como composta por
bandidos ou criminosos em potencial. Contudo, este segmento populacional sofre mui-
to mais violência do que pratica. A discriminação e o preconceito legitimam ações vio-
lentas provenientes da sociedade, de uma maneira geral, contra quem vive nas ruas;
• As mulheres em situação de rua são vítimas mais frequentes de violência, especialmente
a violência sexual. Algumas delas denunciaram que os agressores foram outras pessoas
em situação de rua, moradores de casas e de apartamentos próximos ao seu local de
dormida e, até mesmo, policiais militares;
• Os abrigos, albergues e casas de recuperação do Distrito Federal são considerados locais
violentos e inseguros pelas pessoas em situação de rua. Essa violência é originada de ou-
tros indivíduos acolhidos e, frequentemente, de servidores, funcionários e terceirizados
das instituições.

B - Síntese das Soluções e Sugestões de Políticas Públicas a serem implementadas


• Promoção de campanhas educativas permanentes voltadas para a construção de uma
cultura de respeito entre as pessoas em situação de rua e os demais grupos sociais;
• Punição exemplar e combate à impunidade de indivíduos que cometeram crimes contra
à população em situação de rua;
• Fiscalização de abrigos, albergues e casas de recuperação, com o objetivo de prevenir e
punir situações de violência, seja entre os acolhidos, seja proveniente de funcionários das
instituições;
• Treinamento, capacitação e sensibilização de policiais, bombeiros e agentes de seguran-
ça (públicos e privados) sobre a realidade das pessoas em situação de rua do Distrito
Federal, com vistas à construção de práticas humanizadas e respeitosas de abordagem e
atendimento;
• Realização de rondas ostensivas de policiais militares capacitados para o trato com a
população em situação de rua com o intuito de proteger este grupo social da exposição
ao tráfico de drogas e à violência;
• Garantia de assistência jurídica gratuita e de fácil acesso a pessoas em situação de rua;
• Simplificação do processo de ocorrências em delegacias e garantia de que as denúncias
feitas por pessoas em situação de rua sejam recebidas e atendidas com ética e respeito;

186
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Garantia de segurança pública e proteção às pessoas em situação de rua;


• Garantia de atendimento e proteção às mulheres em situação de rua vítimas de vio-
lências de toda sorte, em delegacias especializadas e junto à equipe multiprofissional
(psicólogos, assistentes sociais etc.);
• Inclusão – com todos os benefícios e prerrogativas –, de pessoas em situação de rua ao
Programa de Proteção Especial às Vítimas e Testemunhas;

GRUPO 7 – TRABALHO E RENDA

“É muito difícil conseguir emprego porque a gente não tem


endereço, não tem documento... a pessoa se sente um nada em
cima da terra. Tem dia que a gente consegue almoçar, tem dia
que não. Essa é a verdade. Se não tiver como, vamos no lixo
mesmo” – C. (pessoa em situação de rua).

A - Síntese dos Problemas Verificados


• A população em situação de rua tem grandes dificuldades para encontrar trabalho. Os
principais motivos são: discriminação pela aparência e baixas condições de higiene e
exigência de documentos pessoais e de comprovantes de residência;
• Para pessoas em situação de rua que passaram pelo sistema prisional, essa dificuldade é
ainda maior devido ao preconceito e, em alguns casos, exigência de certidões negativas;
• No Distrito Federal não existem iniciativas governamentais para conscientização de em-
pregadores no que tange à contratação de pessoas em situação de rua;
• Foram citadas denúncias de que em algumas instituições privadas de acolhimento e/ou
recuperação do Distrito Federal as pessoas em situação de rua são obrigadas a trabalhar,
inclusive por longos períodos, contra sua vontade e sem remuneração;
• A população em situação de rua desconhece seus direitos trabalhistas e não sabe onde
e nem como acessar cursos profissionalizantes;
Ciclo de Debates

• Alguns cursos e empregos têm limite de idade, impedindo que pessoas idosas em situa-
Capítulo 3

ção de rua se qualifiquem, capacitem ou entrem no mercado de trabalho;


• Uma parcela significativa da população em situação de rua faz uso de álcool ou outras
drogas e a falta de tratamento oferecido a eles dificulta sua entrada no mercado de tra-
balho.

B - Síntese das Soluções e Sugestões de Políticas Públicas a serem implementadas


• Criação de políticas educativas e de sensibilização frente às dificuldades enfrentadas pe-
las pessoas em situação de rua para acesso ao mercado de trabalho;
• Criação, divulgação, gratuidade e acesso prioritário a políticas de qualificação e cursos
profissionalizantes para a população em situação de rua;

187
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

• Incentivo e apoio à economia solidária, cooperativas e associações, garantida a proteção


previdenciária a todos os trabalhadores;
• Garantia de cotas de trabalho para pessoas em situação de rua na Administração Pública
e em empresas privadas;
• Fiscalização constante de abrigos, albergues e casas de recuperação do Distrito Federal,
com o objetivo de coibir a exploração forçada de mão de obra e a escravidão;
• Extinção da exigência de limite de idade máxima em contratos de aprendizagem, capa-
citação e trabalho para pessoas em situação de rua;
• Divulgação de locais de cadastro para empregos, junto à população em situação de rua
do Distrito Federal;
• Criação de cursos de capacitação para ocupação de vagas nos eventos esportivos re-
ferentes à Copa do Mundo que será realizada no Brasil em 2014. Outras Unidades da
Federação, por exemplo, estão capacitando as pessoas em situação de rua para atuarem
como guias turísticos durante o referido evento.

188
Considerações Finais
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Considerações Finais
Nos últimos anos, o tema população em situação de rua tem ganhado espaço em pesquisas
acadêmicas e governamentais. Vários trabalhos foram feitos no sentido de compreender o perfil,
as motivações e as expectativas daqueles que se encontram na rua. Entretanto, devido ao recorte
metodológico utilizado nestes estudos − seja a partir de critérios de gênero, etários, regionais, seja
de outros tipos−, ainda inexiste uma visão de totalidade deste segmento populacional no País. Em
regra, os trabalhos buscam compreender as especificidades das pessoas que vivem nas ruas das
cidades brasileiras de forma segmentada, focando ora crianças, ora catadores de material reciclável,
ora metrópoles, mas não abarcam a diversidade da realidade das ruas e raramente propõem solu-
ções factíveis para os desafios enfrentados por esse grupo, limitando-se a traçar suas características.
Sem menosprezar a importância e a indispensabilidade desses estudos – essenciais para a
formação de uma teoria própria, densa e completa sobre o processo social denominado população
em situação de rua, o Projeto Renovando a Cidadania, ao contrário, buscou, de maneira indepen-
dente e com compromisso único e exclusivo com as pessoas pesquisadas, encontrar um perfil
global deste grupo populacional no Distrito Federal. Para tanto, pesquisou crianças, adolescentes e
adultos, de ambos os sexos, de todas as raças/cores e procedências, que fazem das ruas das trinta
Regiões Administrativas do DF, seu local privilegiado de moradia e sobrevivência.
Além disso, o presente Projeto procurou dar voz a estes sujeitos, tendo como convicção
primeira a certeza de que essas pessoas são, acima de tudo, cidadãos, detentores de direitos e que
carregam em si a capacidade de mobilização e luta pelo reconhecimento de sua cidadania, histo-
ricamente negada. A necessidade de ouvir dos próprios sujeitos os problemas que vivenciam em
seu cotidiano, possibilitou ao Projeto a proposição de políticas sociais referenciadas nos direitos
sociais, capazes de satisfazer necessidades humanas – e não as do capital – em nível ótimo – e não
mínimo –, a partir de suas próprias demandas. Assim, as sugestões de ações, políticas, projetos e
programas presentes nesta publicação, caracterizam-se pela horizontalidade, já que nascem a partir
de demandas reais, expressas pelo próprio grupo social pesquisado.
Cientes disso, os pesquisadores do Projeto Renovando a Cidadania, estão certos de que, co-
nhecendo as entidades públicas e privadas que atuam em benefício da população em situação de
rua – resultado da Pesquisa que foi elaborada – pode-se delinear a situação dessas instituições,
seus potenciais e suas eventuais fragilidades, que estariam a inibir, qualitativa e quantitativamente, a
assistência praticada, com a possibilidade imediata de adoção de medidas saneadoras de correção
Considerações Finais

de rumos. Ademais, acreditam que os dados e informações coletados no Censo da População em


Situação de Rua do Distrito Federal poderão servir de objeto de estudos futuros, avaliações e deba-
tes em audiências públicas com pessoas em situação de rua, representantes de movimentos sociais
e demais especialistas da área.
Implementadas as ações propostas de conformidade com os rumos traçados na presente
publicação, o Distrito Federal passa a contar com dados de qualidade sobre a população em situa-
ção de rua; sugestões para eficazes metodologias de trabalho para atendimento dessa população,
observadas as especificidades de cada subgrupo de tratamento; e efetiva otimização dos recursos
materiais e financeiros disponibilizados para atendimento desse público-alvo.

191
Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

Certos de terem respeitado dois dos principais objetivos da Política Nacional para a Popula-
ção em Situação de Rua, quais sejam:

- produzir, sistematizar e disseminar dados e indicadores sociais, econômicos e culturais


sobre a rede existente de cobertura de serviços públicos à população em situação de rua
(Artigo 7º - IV).
e
- incentivar a pesquisa, produção e divulgação de conhecimentos sobre a população em
situação de rua, contemplando a diversidade humana em toda a sua amplitude étnico-
-racial, sexual, de gênero e geracional, nas diversas áreas do conhecimento (Artigo 7º -
VI).

a equipe do Projeto Renovando a Cidadania espera que outros pesquisadores, acadêmicos e es-
tudantes se instiguem, questionem e desafiem, sem medo e com independência, os paradigmas,
mitos e preconceitos, especialmente de temas públicos, trabalhados nas ciências humanas e sociais.
De posse das informações aqui apresentadas, os Movimentos Sociais, as Instituições de Defesa dos
Direitos Humanos, os Organizações Governamentais e Não-Governamentais e pessoas simpáticas
às lutas da população em situação de rua, poderão batalhar, com mais uma arma intelectual, pela
emancipação deste grupo populacional. Somente conhecendo a fundo a complexidade da realida-
de social é que se torna possível atuar sobre ela com competência, alterando-a.

192
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Projeto Renovando a Cidadania: pesquisa sobre a população em situação de rua do Distrito Federal

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