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CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ

1 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ CONTRACAPA

Escola Superior de Advocacia | OAB Piauí

Caderno Jurídico
v. 1, n. 3, ago/dez. 2022 - Teresina

ISSN: 2764-832X

Caderno Jurídico | Teresina/PI | v. 1 | n. 3 | p. 1-100 | ago/dez. | 2022

2 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ EDITORIAL

Editorial
Diretoria da Seccional Piauiense DIRETORIA ESAPI
(Gestão 2022/2024) Diretor Geral
Thiago Anastácio Carcará
Presidente: Celso Barros Coelho Neto Vice-Diretora
Vice-presidente: Daniela Carla Gomes Freitas Leda Maria Eulálio Dantas Luz Costa
Secretária Geral: Raylena Vieira Alencar Soares Diretor Administrativo
Secretário Geral Adjunto: Auderi Martins Carneiro Filho Ivonaldo da Silva Mesquita
Diretor Tesoureiro: Marcus Vinícius de Queiroz Nogueira Diretora de Ensino
Marcele Roberta Pizzato
CONSELHEIROS SECCIONAIS Diretora Acadêmica
Maria Fernanda Brito Do Amaral Ravana Medeiros Costa Soares Basílio
Maria Da Conceição Carcará Diretor Pesquisa de Pós-Gradução
Kadmo Alencar Luz Fabrício de Farias Carvalho
Damásio de Araújo Sousa Diretor de Eventos e Relações Institucionais
Alexandre Augusto Batista de Lima Jhon Kennedy Teixeira Lisbino
Herval Ribeiro Diretor de Interiorização das Ações da Escola
Hilbertho Luis Leal Evangelista Johilse Tomaz da Silva
William Palha Dias Netto
Shardenha Maria Carvalho Vasconcelos CONSELHO SUPERIOR
José Sérgio Torres Angelim José Augusto de Carvalho Mendes Filho
Thiaga Leandra Alves Ribeiro Learth Patrícia Caldas Meneses Pires Ferreira
Astrobaldo Ferreira Costa Roberto Cajubá da Costa Britto
Mauro Benício Da Silva Júnior Joseli Lima Magalhães
José Urtiga de Sá Júnior
Luciano José Linard Paes Landim COORDENADORES ESAPI
Dione Cardoso De Alcântara Coordenador da Residência Jurídica
Francisca Juliana Castello Branco Evaristo de Paiva Thiago Edirsandro Albuquerque Normando
Andréa Bandeira Paz Coordenadores do Curso de Iniciação à Advocacia
Andreya Lorena Santos Macêdo Silvia Cristina Carvalho Sampaio Santana
Graciane Pimentel de Sousa Aurélio Lobão Lopes
Myrthes Barreira dos Reis Coordenadora de Eventos
Wilson Spindola Rodrigues Silva Michelle Thamyles Melo Abath
James Araújo Amorim Coordenadores de Pesquisa
Justina Vale de Almeida Gesio de Lima Veras
Juliana Oliveira Soares Cassio Luz Pereira
Marenize Leite Macena Coordenadora de Comunicação
Antônio Augusto Pires Brandão Samila Barbosa Milhomem
Raíssa Mota Ribeiro Coordenador de Interiorização das Ações da Escola
Ariane Caiane Melo Mota Daniel da Costa Araújo
Carlos Washington Cronemberger Coelho Coordenador de Atividades de Extensão
Edvaldo Oliveira Lobão Frank Lucio Dantas Noronha
Hamilton Ayres Mendes Lima Júnior Coordenadora de Biblioteca e Salas de Estudos
Carolina Lamarca Leal Areias Nayara Figueiredo de Negreiros
Silvia Cristina Carvalho Sampaio Santana Coordenadores das Ferramentas Digitais da Advocacia
Cheyla Maria Paiva Ferraz Ponce Helldânio Muniz Barros
Cleiton Aparecido Soares da Cunha Coordenador de Relações Institucionais
Adriano Silva Borges Howzembergson de Brito Lima
Luiz Mário de Araújo Rocha Coordenador de Altos Estudos da Advocacia
Darlan da Rocha Martins Antônio Augusto Pires Brandão
Luiza Virginia Macêdo Sales Coordenador de Programa de Interface da Advocacia
Francisco de Sousa Vieira Filho Berilo Pereira da Motta Neto
Jedean Gericó de Oliveira Coordenador de Ações para Jovem Advocacia
Ravana Medeiros Costa Soares Basílio Pedro Marcelo de Carvalho Sousa
Rafael Orsano de Sousa Coordenadora de Ações para Mulher Advogada
Karolinna Vasconcelos Pereira Letícia dos Santos Sousa
Mara Raylane De Sousa Reis Coordenadora de Pós-Graduação
Rafael Fonseca Lustosa Vitória Andressa Loiola dos Santos
Jhon Kennedy Teixeira Lisbino Coordenador de Ensino
Williams Cardec da Silva Victor Hugo Leal Silva
Denize de Maria Dias Gomes e Silva Coordenador de Memória e Cultura
Luiz Alberto Ferreira Júnior Jose Augusto Lima Nery Barbosa
Silvânia Maria Luz Leal
Aureliano Marques Da Costa Neto DIRETORIA CAAPI
François Lima de Barros Presidente
Beatriz de Sousa Talmy Tércio Ribeiro da Silva Júnior
Ruan Oliveira Leal Vice- Presidente
Danielle dos Santos Araripe Maria Dalva Fernandes Monteiro
Lady Kelly Câmara Lemos de Santana Terto Secretária Geral
Alexia Leal de Carvalho Torres Ravennya Muara Oliveira Silveira Moreira
Mayza Allen Lopes Cerqueira Amorim Secretaria Geral Adjunta
Marineri Alves de Sousa Jória Maria Batista Nunes Soares
Tesoureiro
CONSELHO FEDERAL Josélio Sálvio Oliveira
Èlida Fabrícia Oliveira Machado Franklin Suplentes Diretoria
Shaymmon Emanoel Rodrigues de Moura Sousa Gerson Luciano Damasceno de Moraes
Carlos Augusto de Oliveira Medeiros Júnior Manuela Veras Coimbra Maciel
Jamylle Torres Viana Vieira de Alencar Leite Lima Conselho Fiscal
Isabella Nogueira Paranaguá de Carvalho Drumond Glayerlane Soares Silva
José Vagner Fonseca Nunes Filho
Lucas Matheus Resende Feitosa
Suplente Conselho Fiscal
Francisca Fábia Viana Monteiro

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CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ FICHA CATÁLOGRÁFICA

CONSELHO EDITORIAL

Editora Chefe: Vitória Andressa Loiola dos Santos


Editora: EDITORA OAB
Design Editorial: Letícia Florêncio


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4 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ SUMÁRIO

Sumário
01 DEVER DE COERÊNCIA: (DOIS
PESOS E DUAS MEDIDAS)
Reis Friede
06 JURISPRUDÊNCIA REGIONAL
TRIBUNAL REGIONAL DO
TRABALHO DA 22ª REGIÃO
Decisão Judicial

02 INTRODUÇÃO À LEI 14.133/2021:


O NOVO MARCO LEGAL DAS
CONTRATAÇÕES PÚBLICAS
07 A ESA-PI OFERECEU O CURSO
DE INICIAÇÃO E PRÁTICA NA
ADVOCACIA ENTRE OS DIAS
21 DE NOVEMBRO A 15 DE
Madeline Rocha Furtado
DEZEMBRO
Notícia ESA

03 IDENTIDADE DE GÊNERO E
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Elishorranna Lima Soares
08 AFINAL, O METAVERSO É PARA
HUMANOS?
Alexandre Bento Bernardes
de Albuquerque

04 UMA REFLEXÃO ACERCA DA


GESTÃO DO CONFLITO FAMILIAR
PELO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
09 A MEDIDA PROTETIVA DE
URGÊNCIA COMO UM
IMPORTANTE MECANISMO DE
PREVENÇÃO E ENFRENTAMENTO
Elton Costa
À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER
Antônia Natália Rocha Matos

05 TJ/PI ANUNCIA CRIAÇÃO DE


VARAS ESPECIALIZADAS EM
DIREITO DAS SUCESSÕES
10 CELERIDADE PROCESSUAL NOS
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS:
FACULDADE DA AUDIÊNCIA
DE CONCILIAÇÃO COMO
Notícia Jurídica
ALTERNATIVA
Francisco Sobrinho

5 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ SUMÁRIO

11 A VITIMOLOGIA E O PROCESSO
PENAL BRASILEIRO DENTRO
DA EXPLICAÇÃO PELA NÃO
17 LEGISLAÇÃO E A POLÍTICA
FINANCEIRA NACIONAL DE
SUBSÍDIOS PARA O TRANSPORTE
FORMALIZAÇÃO DE DENÚNCIAS COLETIVO URBANO
DE “CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
SEXUAL” (LEI 12.015/09) Eder Santos de Moraes

Jáder Augusto Almendra Freitas Silva

12 ESPERANÇA GARCIA É
RECONHECIDA PELO CONSELHO
PLENO COMO A PRIMEIRA
18 ASSÉDIO ELEITORAL E FAKES
NEWS: INGREDIENTES QUE
TEMPERAM AS CAMPANHAS
ADVOGADA BRASILEIRA POLÍTICAS DE 2022
NOTÍCIA JURÍDICA Alaídes da Silva Oliveira
de Araújo

13 PORTARIA 6/2022 | DISCIPLINA A


REALIZAÇÃO DAS SUSTENTAÇÕES
ORAIS NAS SESSÕES VIRTUAIS
19 A ESCOLA SUPERIOR DE
ADVOCACIA (ESA) NACIONAL
DISPONIBILIZOU 12 CURSOS
DE JULGAMENTOS DA 2ª TURMA GRATUITOS EM SUA
RECURSAL/JEF/SJPI PLATAFORMA DE ENSINO
DECISÃO JUDICIAL NOTÍCIA ESA

14 A ESCOLA SUPERIOR DE
ADVOCACIA DO PIAUÍ, REALIZOU
O SEGUNDO PROCESSO
20 CONHEÇA OS PRECEDENTES
EXISTENTES NAS TURMAS
RECURSAIS DOS JUIZADOS
SELETIVO PARA A CONTRATAÇÃO ESPECIAIS DO PIAUÍ QUE PODEM

Sumário
DE PROFESSORES DA ESA-PI SER UTILIZADOS DESDE A
NOTÍCIA ESA PETIÇÃO INICIAL, QUANTO NOS
RECURSOS
DECISÃO JUDICIAL

15 A CONTRIBUIÇÃO DO TEXTO
LITERÁRIO À COMPREENSÃO DA
CIÊNCIA JURÍDICA
21 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO:
O DESAFIO DE CONHECER E GERIR
OS RECURSOS PÚBLICOS
Giuliano Campos Pereira Danilo de Sousa Silva

16 DIREITO DIGITAL: A NOVA ERA DA


ADVOCACIA PÓS-MODERNA
Gabriel Nunes do Rêgo
22 A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA CONTRA A
MULHER: UM OLHAR PARA AS AÇÕES
EDUCATIVAS COMO MEIO DE COMBATE

Thalita Portela de Carvalho Angelita Gomes Fontenele


Silva Rodrigues da Cunha

6 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ SUMÁRIO

23 BENEFÍCIOS E DESAFIOS DA
UTILIZAÇÃO DO PREGÃO
ELETRÔNICO NA ADMINISTRAÇÃO
29 DIÁLOGO COMPETITIVO, UMA
MODALIDADE DE LICITAÇÃO DO
FUTURO
PÚBLICA MUNICIPAL
Diego Otávio de Carvalho
Bruna Ohana Silva Brito

24 JUDICIALIZAÇÃO DO DIREITO
DA SAÚDE – COMO OS
DIABÉTICOS PODEM CONSEGUIR
30 PARTICIPAÇÃO DA COMISSÃO
DE DIREITO DAS FAMÍLIAS E
SUCESSÕES
TRATAMENTOS E MEDICAÇÕES?
Ana Letícia Sousa Arraes de
Amanda Maria Assunção Resende
Moura

25 A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA AO CRIME DE
PECULATO SOB A ÓTICA DOS
31 LOAS, BENEFÍCIO ASSISTENCIAL
À PESSOA COM DEFICIÊNCIA E/
OU IDOSO E A POSSIBILIDADE DE
TRIBUNAIS SUPERIORES CONCESSÕES PARA MAIS DE UM
Camila de Meneses Brito MEMBRO DA MESMA FAMÍLIA
Camilla Fernanda Coelho
dos Santos

26 QUALIFICAÇÃO EM TODO
O ESTADO: I FÓRUM DA
ADVOCACIA DOS CARNAUBAIS
32 POEMA DA TRANSFORMAÇÃO
Luana Maria de Carvalho
Castelo Branco
DISCUTE TEMAS RELACIONADOS
A EFETIVAÇÃO DE DIREITOS
SOCIAIS.

Sumário
NOTÍCIA ESA

27 .JULGAMENTO DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ
TJPI | APELAÇÃO CRIMINAL
33 PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA
DE RENDA E SUA IMPORTÂNCIA
PARA A EFETIVAÇÃO DAS
DECISÃO JUDICIAL GARANTIAS FUNDAMENTAIS E
EFETIVAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE HUMANA
Bruna Cristine Ferreira Silva

28 INAPLICABILIDADE DAS
CAUTELARES ALTERNATIVAS:
ABORDAGEM CONSTITUCIONAL
34 O PAPEL DOS PROTAGONISTAS
DA JUSTIÇA E O AVANÇO DA
PARTICIPAÇÃO SOCIAL COMO
FORMA ALTERNATIVA DE
Pedro Vinicius Marques de
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Ribamar & Pedro Igor Sousa
de Oliveira SOBRE O PRISMA HUMANÍSTICO

Cleonilson Rodrigues dos Santos

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CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ SUMÁRIO

35 ABUSO SEXUAL NO ÂMBITO FAMILIAR:


UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO DA
ATUAÇÃO DO ESTADO NA PROTEÇÃO DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Enedina Rodrigues da Silva Leão

36 A INCLUSÃO DA DISCIPLINA NOÇÕES


BÁSICAS DE DIREITOS FUNDAMENTAIS E
CIDADANIA NA GRADE CURRICULAR DAS
ESCOLAS

Jean Carlos de Brito e Nara


Katiúscia Gomes LimaMoura

37 A PROPRIEDADE INTELECTUAL NO BRASIL


E A LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL NA
ATUALIDADE

Vitória Loiola

38 O MUNDO PÓS PANDEMIA


FENÔMENO DA UBERIZAÇÃO
E O

Sumário
Ingridy Luana Abreu Sousa

39 ESTADO, DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA E LIBERDADE RELIGIOSA:
INTERFACES DE PROBLEMAS QUE SE
TOCAM NA SEARACONSTITUCIONAL

Ismael Carlos da Silva Gomes

8 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ

9 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ

EVE R
D ÊNCIAD E
CO E R Dois Pesos e Duas Medidas

Reis Friede
Desembargador Federal. Mestre e Doutor em Direito e Professor da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Inúmeras críticas, das mais variadas origens e motivações, se abateram, à


época sobre decisão do Supremo Tribunal Federal de relatoria do Ministro LUÍS
ROBERTO BARROSO que entendeu pela inexistência de crime de aborto quando
a interrupção voluntária da gravidez ocorrer até o terceiro mês de gestação (STF;
HC 124.306; 1a T, 29/11/2016).
Muito embora o acórdão em comento não operasse efeitos erga omnes,
restringindo-se a um caso concreto, idênticas críticas têm sido dirigidas ao STF, não
somente por ocasião da anterior descriminalização do aborto de feto anencéfalo
(STF; ADPF 54, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, 12/04/2012), - esta, ao reverso, dotada
de alcance geral -, mas também em relação a um suposto, persistente e exagerado
ativismo judicial por parte do Poder Judiciário (CARLOS ANDREAZZA; Supremo
Legislador, O Globo, 13/12/2016, p. 15).

10 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ DEVER DE COERÊNCIA

Algumas vozes mais eloquentes chegaram mesmo a argumentar,


em tom professoral, que ocorreu, na hipótese, uma indevida invasão
de competência legislativa, pelo órgão judiciário, ao se retirar
(indevidamente) a tipicidade penal do aborto, em uma situação não
admitida dentre as excludentes penais previstas na legislação de
regência (EROS ROBERTO GRAU; Juízes que Fazem as suas Próprias
Leis, O Globo, 11/12/2016, p. 15), silenciando-se, entretanto, quando o
Superior Tribunal de Justiça, em idêntica hipótese, decidiu, alguns dias
depois, de forma inclusive mais contundente, pela descriminalização
do delito de desacato (STJ; REsp. 1.640.084/SP, 5a T, Rel. Min. RIBEIRO
DANTAS, 15/12/2016), ocasião em que ocorreu uma verdadeira
celebração entre os mais fervorosos adversários do denominado
protagonismo judiciário.
Resta, a toda evidência, que todas as críticas ofertadas ao mundo
jurídico são sempre bem-vindas por estabelecer um salutar e sempre
proveitoso debate. Porém, há de se cobrar, nas eventuais divergências,
o imprescindível dever de coerência, sem o qual a própria riqueza
da argumentação se esvai, retirando a necessária validade de sua
contribuição.

É sempre oportuno registrar que quando as


motivações, por detrás das críticas, possuem
um (inconfessável) conteúdo ideológico ou
religioso, em afrontoso desrespeito à isenção
científica, se estabelece a imposição de uma
verdadeira ditadura do saber, conferindo-se às
questões postas em discussão dois diferentes
pesos e duas diferentes medidas.

Sobre o tema, e em necessária adição, é importante afirmar, em


tom conclusivo, que não há qualquer dúvida de que a substituição
dos preceitos declarados inconstitucionais por outros incumbe
exclusivamente ao Legislativo. Todavia, não é este o caso em nenhuma
das decisões em análise, na exata medida em que ambos tribunais
apenas declararam (com efeito erga omnes) ou reconheceram (com
efeito inter partes) a inconstitucionalidade das leis concebidas pelo
Poder Legislativo, retirando, por consequência (e rigorosamente
no contexto próprio de suas atribuições constitucionais) a eficácia
jurídica das mesmas.

11 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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Resta consignar que o STF também possui o papel de prover


a indispensável coerência lógico-interpretativa entre a legislação
ordinária, de responsabilidade do Legislativo, e a constitucional
concebida pelo Poder Constituinte e, nesta seara, incumbe ao órgão
judiciário o dever (inafastável) de expungir do ordenamento jurídico
todas as normas que não estejam em plena conformidade harmoniosa
com os preceitos constitucionais.
No caso do aborto, de forma diversa das críticas levantadas, vale
ressaltar que nenhuma nova excludente penal foi criada (indevidamente)
pelo Judiciário; apenas o efeito prático colateral (equivalente) foi
obtido, através da retirada parcial da eficácia jurídica da criminalização
da prática de interrupção da gravidez voluntária (em determinadas
situações), da mesma forma em que foi estabelecido o efeito prático
de remoção (total) da previsão criminal (do Código Penal), com o
reconhecimento da ineficácia jurídica, no caso do delito de desacato.
Esperemos, portanto, que novas críticas e divergências sejam
oferecidas ao debate para seu necessário enriquecimento, mas que,
ao mesmo tempo, o dever de coerência argumentativa sempre esteja
presente, permitindo, em última análise, a indispensável validação
efetiva do mesmo, conforme já preceituava DESCARTES a seu tempo.

CO E R Ê NC IA
12 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022
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INTRODUÇÃO
À Lei 14.133/2021:
o novo marco legal das
contratações públicas

Madeline Rocha Furtado


Professora, escritora e coautora da Obra “Gestão de Contratos de
Terceirização na Administração Pública – Teoria e Prática”, 2019 .7ª
edição. Belo Horizonte - MG, Editora Fórum. Coordenadora Técnica da
obra “A Nova Lei de Licitações e Contratos”- 2021, ed. Amazon. Colunista
no Observatório da Nova Lei de Licitações da editora Fórum, com diversos
artigos publicados em revistas especializadas.

FOTO DE
CAMERON CASEY

13 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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INTRODUÇÃO
O dever de licitar está previsto na Constituição de 1988 no inciso XXI
do art. 371, que trata dos princípios e normas gerais da Administração
Pública. A competência de a União legislar sobre normas gerais de licitação
e contratação, está disposta nos termos do inciso XXVII do art. 222 e no
caput do art. 175. Nesse compasso, tem-se a legislação que irá disciplinar
todas essas aquisições, sendo estas, a Lei nº 8.666/93, a Lei nº 14.133/2021,
Lei 10.520/02 e Lei 12.462/2011- Regime Diferenciado de Contratação.
Entretanto, a NLLC – Nova Lei de Licitações e Contratos, Lei 14.133/2021
revogará em abril de 2023 toda a legislação citada, como consequência,
também, de seus regulamentos.

A EXISTÊNCIA PARADIGMÁTICA
DA LEI Nº 8.666/93
A Lei nº 8.666/93 durante 28 (vinte e oito) anos tem sido ícone das
licitações públicas, e bastante criticada por seu método procedimental,
burocrático e retrógrado, sendo todos os seus procedimentos realizados
de forma presencial, contendo duas fases de recursos, o que propicia a
lentidão no processo, porém, foi finalmente substituída. Entretanto, para
surpresa de muitos a NLLC trouxe uma redação bastante procedimental
(Instrução normativa nº 05/2017), trazendo novos paradigmas e elementos
de Governança.

POR QUE UMA NOVA LEI?


A Lei nº 8.666 publicada em 1993, representou à época um avanço nas
aquisições públicas, e trouxe a sistematização do processo de contratação,
na busca da efetividade do princípio da isonomia e da proposta mais
vantajosa. Em 1998, com a Emenda Constitucional nº 19, foi inserido o
INTRODUÇÃO À Lei 14.133/2021

princípio Constitucional da Eficiência. Em que pese a Constituição Federal


1 Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Artigo 37, inciso XXI (...)
“ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas
as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”.
(Regulamento). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm]
2 . Idem. Ver art. 22. (...) “Compete privativamente à União legislar sobre” (...) “XXVII -
normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia
mista, nos termos do art. 173, § 1º, III”; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998).

14 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ ARTIGO

ter inserido tal princípio em 1998 por meio da Emenda Constitucional nº


19, chama-se a atenção às palavras de Mello, Celso Antônio Bandeira para
o fato de que a eficiência administrativa é um “mandamento nuclear do
sistema jurídico brasileiro”, sem a qual não se compreender a aplicação de
outras normas.
Neste compasso, é importante utilizar a linha de raciocínio do autor citado
quando afirma que é “ juridicamente tão fluido e de tão difícil controle ao
lume do Direito, que mais parece um simples adorno agregado ao art. 37
ou o extravasamento de uma aspiração dos que burilam no texto”. Mas,
na prática este princípio teve repercussão nos processos administrativos,
e alguns anos depois (2000/2002) surge o Pregão, por meio de Decreto na
forma presencial e pela Lei nº 10.520/02, e na sua forma eletrônica em 2005,
por meio do Decreto 5.450/2005, revogado pelo Decreto nº 10.024/2019,
trazendo a inversão das fases de licitação, e a licitação por meio de lances.

NOVOS PARADIGMAS: A TRÍADE GRC-


GOVERNANÇA, RISCOS E COMPLIANCE
NA NLLC
É importante destacar que as regras da NLLC, traz alguns novos requisitos,
como a implementação da Governança, da alocação dos riscos e de
programas de integridade, isto porque segundo Furtado, Monique e Vieira,
James3 a NLLC (...) “ está alinhada aos compromissos internacionais que
o Brasil assumiu junto à Organização das Nações Unidas (por meio da
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção e outros tratados), a
Iniciativa pelo Governo Aberto (Open Government Partnership  – OGP) e
as orientações da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (Organisation for Economic Co-operation and Development  –
OECD) que o país pleiteia o ingresso”. Desta forma se faz necessária a sua
melhoria de forma sistemática.
INTRODUÇÃO À Lei 14.133/2021

O QUE MUDA COM A NOVA LEI?


Para fins didáticos, enumera-se abaixo 15 (quinze) tópicos da
Lei nº 14.133/2021:

1. Vigência e aplicabilidade prática x permanência da Lei nº 8.666/93


na prática?
2. Rol de princípios; definições e conceito
3 Furtado, Monique Rocha e Vieira, James Batista. Portal Nacional de Contratações
Públicas:  uma nova lógica jurídica, gerencial e econômica para a Lei de Licitações e Contratos.
Disponível em: https://www.novaleilicitacao.com.br/2021/05/13/portal-nacional-de-contratacoes-
publicas-uma-nova-logica-juridica-gerencial-e-economica-para-a-lei-de-licitacoes-e-contratos/

15 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ ARTIGO

3. Materialização do “planejamento” por meio do ETP e plano de


contratações
4. Padronização de procedimentos com a incorporação das diretrizes
da IN/MPDG nº 05/2017
5. Requisitos de Governança (planejamento, liderança e controle).
6. Procedimentos auxiliares
7. Regimes de execução e novas modalidades
8. A duração dos Contratos
9. A Terceirização na NLLC, com velhas e novas regras
10. Cadastro único e sanções específicas
11. Meios alternativos de solução de controvérsias na extinção
contratual
12. “Federalização” dos procedimentos com a padronização
13. Mudanças na operacionalização das fases da Licitação
14. Gestão de riscos, alocação de riscos e programa de integridade
15. A inovação (start ups) e a sustentabilidade nos processos de
compras,etc.

A GRANDE NOVIDADE ESTÁ


DESTACADA NO ARTIGO 147: A
NULIDADE DO CONTRATO
O tema está consolidando o entendimento trazido pela LINDB, pois, é
impactante a quebra de paradigmas trazida por este artigo que afirma:

(...)
INTRODUÇÃO À Lei 14.133/2021

Art. 147. Constatada irregularidade no procedimento


licitatório ou na execução contratual, caso não seja possível
o saneamento, a decisão sobre a suspensão da execução ou
sobre a declaração de nulidade do contrato somente será
adotada na hipótese em que se revelar medida de interesse
público, com avaliação, entre outros, dos seguintes aspectos:

(...)

Depreende-se das regras dispostas que a Administração deverá invocar


todas as possibilidades para “salvar” o processo de contratação, visto
que o legislador não se conformou em indicar apenas o interesse público
como regra para salvar o processo, mas, todos os demais incisos exarados,
iniciando pela análise dos “impactos econômicos e financeiros decorrentes

16 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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do atraso na fruição dos benefícios do objeto do contrato”, e concluindo


com a avaliação do “custo de oportunidade do capital durante o período de
paralisação”, entre outras avaliações pontuais. Todas essas possibilidades
levarão a Administração Pública a manter a licitação ou a contratação ainda
que irregular, após as inúmeras avaliações para seu aproveitamento. Porém,
em que pese as possíveis situações de aproveitamento do processo, a Lei
trouxe diretrizes para a apuração das responsabilidades.
O parágrafo único do artigo 147, assevera que “caso a paralisação ou
anulação não se revele medida de interesse público, o poder público deverá
optar pela continuidade do contrato e pela solução da irregularidade
por meio de indenização por perdas e danos, sem prejuízo da apuração
de responsabilidade e da aplicação de penalidades cabíveis”. Por fim, a
declaração de nulidade uma vez concretizada, “operará retroativamente,
impedindo os efeitos jurídicos que o contrato deveria produzir ordinariamente
e desconstituindo os já produzidos”.
Outras regras complementam a decisão:
No § 1º, a Lei estabelece que a “nulidade será resolvida pela indenização
por perdas e danos”, com a devida “apuração de responsabilidade e
aplicação das penalidades cabíveis”, além de que é possível que tal nulidade
poderá ser declarada eficaz em momento futuro.

(...)

§ 2º Ao declarar a nulidade do contrato, a autoridade, com


vistas à continuidade da atividade administrativa, poderá
decidir que ela só tenha eficácia em momento futuro,
suficiente para efetuar nova contratação, por prazo de até 6
(seis) meses, prorrogável uma única vez.

CONCLUSÃO
A Nova Lei de licitação surgiu em um momento difícil (pandemia), em
INTRODUÇÃO À Lei 14.133/2021

que toda a Administração Pública estava sob o choque de muitas perdas de


vidas e retrocesso econômico. Muitas atividades paralisadas, e em voga a
Lei 13.979/2020, que trazia as medidas de enfrentamento à COVID-19.
Porém, a NLLC traz uma regra diferenciada na sua publicação, possibilitando
dois anos para sua OBRIGATORIDADE, e traz consigo também, a necessidade
de regulamentação e instituição de um portal. O PNCP- Portal Nacional de
Contratações Públicas.
Assim, de uma forma geral, ela quebra paradigmas, materializa
procedimentos, inova com “sessenta” definições no artigo 6º, insere
novos princípios (art.5º). Traz de forma clara a Terceirização (serviços de
execução indireta) e é uma lei que valoriza a procedimentalização, oriunda
da Incorporação da IN n 05/2017. Deste modo, trouxe uma vigência
imediata simultânea a permanência da Lei nº 8.666/93, materialização do

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“planejamento” por meio do ETP e plano anual de contratações. Trouxe


a padronização de procedimentos licitatórios e contratuais (IN/MPDG nº
05/2017). Implementou elementos de Governança (planejamento, liderança
e controle), instituiu os procedimentos auxiliares (SRP, PMI, Pré-qualificação,
credenciamento e Sistema Cadastral único). A Lei inova com as contratação
integrada e semi-integrada, e as novas modalidades (diálogo competitivo e
Pregão). Acerca dos contratos, traz novas regras de duração, e inova com
os meios alternativos de solução de controvérsias na extinção contratual.
Para grande parte da doutrina, a Lei trouxe a “Federalização” dos
procedimentos com a padronização ( IN 05/2017). Além disso, a inversão de
fases é o grande diferencial na regra da Licitação que passa ser a regra geral.
Porém, atendendo às diretrizes internacionais, a Governança a Gestão de
riscos (alocação de riscos) e os programas de integridade foram inseridos
no texto legal. Por último e não menos importante destaca-se a inovação
com a participação das startups, e a sustentabilidade nos processos de
compras,etc.
Por fim, todas essas situações descritas entre outras, serão a nova realidade
dos operadores do direito na área de Licitações e Contratos, lembrando que
o próprio texto legal traz a necessidade de mais de 38 regulamentos entre
outros4, para implementação prática da nova Lei.
INTRODUÇÃO À Lei 14.133/2021

4 Ver artigo publicado por Vieira, Antonieta Pereira e Furtado, Madeline Rocha. As
Regulamentações da Lei nº 14.133/2021- o que ainda virá por aí? Disponível em: https://www.
novaleilicitacao.com.br/2022/08/02/as-regulamentacoes-da-lei-no-14-133-2021-o-que-ainda-
vira-por-ai/

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IDENTIDADE DE

GÊNERO
E PREVIDÊNCIA SOCIAL
Elishorranna Lima Soares
Advogada. Especialista em Gestão Pública com Ênfase em Licitações e Contratos.
Especialista em Direito Constitucional e Administrativo. Pós-graduanda em
Direito Previdenciário e Trabalho.

PHOTO BY ELYSSA
FAHNDRICH ON UNSPLASH

19 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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A Constituição Federal, que prevê o Estado de Bem-Estar Social e


princípios da solidariedade e do não preconceito, ressalta ser necessário
entender as acepções de gênero binário e não binário ligadas à sexualidade
dos sujeitos a fim de justificar a aplicabilidade de regras previdenciárias de
aposentadoria, para além do imperativo binário heteronormativo, único
contemplado pela previdência social brasileira atualmente.
Após a reforma da Previdência, em 2019, homens passaram a se aposentar
aos 65 anos e mulheres, aos 62. Ocorre que se é considerado a identidade
sexual, não o sexo biológico, na realização do pedido de aposentadoria.
Com base na Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 que “Dispõe sobre
os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências”,
detecta-se que o texto cita oito vezes a palavra “homem” e seis vezes a
palavra “mulher”, além de citar cinco vezes os sexos “masculino” e “feminino’.
Assimilado que a população trans convive com um contexto social de
perseguições, preconceitos e violências perpetrados por uma estrutura
política e ideológica transfóbica, cabe problematizar como tal realidade
vivida provoca prejuízos previdenciários, impedindo o acesso ao benefício
de aposentadoria por essas pessoas.
IDENTIDADE DE GÊNERO E PRE VIDÊNCIA SOCIAL

Devido o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e de outros órgãos


previdenciários, diariamente, decidirem sobre pedidos de aposentadorias,
sempre sob a égide de normas binárias de gênero, é necessário refletir
sobre como as condições de acesso ao benefício para população trans,
considerando o não enquadramento deste grupo diante de padrões de
gênero binários, realça as contingências e situações de grave risco social a
que está submetido.
O Supremo Tribunal Federal, em março de 2018, por meio da ADI nº 4275,
entendeu que o reconhecimento do gênero conforme a autoidentificação
das pessoas é um direito fundamental relativo ao livre desenvolvimento da
personalidade. Mas só isso não bastou para a aposentadoria.

Nesse sentido, a Constituição Federal em seu art. 194,


§1º prevê que a previdência deve ser estabelecida de
forma universal, ou seja, deve tutelar a todos de forma
igualitária, sem qualquer tipo de discriminação, ou seja,
respeitando o gênero escolhido pelo segurado, bem
como devem prevalecer os princípios fundamentais
da igualdade e da isonomia. Sendo assim, deve valer
ao INSS a identidade de gênero que o segurado trans
apresentar no momento em que fizer o requerimento
de benefício previdenciário.

20 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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Essas exigências fazem com que a prática de recorrer ao judiciário em


caso de indeferimento da aposentadoria ao segurado trans seja cada vez
mais comum, tendo em vista que a Lei nº 8.213/1991 ainda não dispõe de
normas específicas sobre as regras para a aposentadoria do segurado que
optou pela mudança de gênero.
Ademais, o legislativo que tem como dever proteger os cidadãos
buscando sempre se adequar aos dilemas contemporâneos da sociedade,
não vem cumprindo seu papel institucional, haja vista, a proposição do
Projeto de Lei nº 684/22 determina que, na concessão dos benefícios de
aposentadoria a pessoas que obtiverem mudança de gênero no registro
civil, sejam observados critérios de idade e tempo de contribuição do sexo
biológico de nascimento.
A inquietação diante de legislações que preveem nos seus textos apenas
pessoas cis como destinatárias dos benefícios de aposentadoria exigiu que
se refletisse como a proteção social previdenciária deveria ser direcionada
adequadamente à população trans.
Apurar a fundamentalidade da proteção previdenciária no combate da
desigualdade e na busca da justiça social permitiria conhecer as repercussões
IDENTIDADE DE GÊNERO E PRE VIDÊNCIA SOCIAL

incidentes sobre as questões de gênero. É notório que o gênero, na cultura


patriarcal, estabelece relações de poder que põem homens e mulheres em
arranjos desiguais, refletindo tal desigualdade nas regras de aposentadoria,
cujos requisitos de acesso são distintos, na tentativa de equilibrar as relações
de gênero binário.
Para que a previdência social possa conferir proteção social à população
trans, deve, em primeiro lugar, reconhecer sujeitos que não se enquadram
nos conceitos de gênero decorrente de aspectos exclusivamente biológicos.
Isso resultará na compreensão de que, diante da pluralidade social, o
amparo previdenciário deve ser destinado a todos, indistintamente. Como
consequência, é imprescindível relacionar as finalidades previdenciárias com
as condições sociais das pessoas trans. Isso porque, sendo a política social
previdenciária um instrumento de combate à desigualdade e promotora da
justiça social, impõe a adoção de regras de aposentadoria com tempo de
contribuição e idade mínima diminuída, tendo como base a expectativa de
vida das transexuais.
O mais complicado é que o próprio Estado às vezes é instrumento de
exclusão e opressão, devido a falta de pluralidade no ambiente político.
Deste modo, estando a previdência social, instrumento de política social,
sob uma administração estatal neoliberal e excludente, espera-se um
agravamento da situação previdenciária da população trans, seja pela piora
das circunstâncias sociais que lhe envolvem, seja pela falta de interesse
estatal em protegê-la.

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UMA REFLEXÃO
ACERCA DA GESTÃO
DO CONFLITO
FAMILIAR PELO
CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL

Elton Costa
Servidor efetivo do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Compõe o
gabinete e atua como Conciliador Judicial na 3ª Vara Cível da Comarca de Caxias –
Família, Sucessões, Infância e Juventude, Tutela, Curatela e Ausência - Mestrando
em Direito e Gestão de Conflitos (UNIFOR). Especialista em Direito de Família
e Sucessões (ESAPI). Conciliador Judicial (ESMAM). Capacitado em Mediação
Familiar (ESMPMA). Capacitado em Conciliação e Mediação Extrajudicial (SAPIENS).
Professor da Pós-graduação em Família e Sucessões da ESAPI.

O presente texto tem por objetivo


suscitar a seguinte reflexão: O Código de
Processo Civil dispõe adequadamente
sobre a gestão dos conflitos familiares?

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Quando abordamos sobre o conflito familiar precisamos ter em vista,


sempre, dois aspectos bastante particulares que marcam de modo indelével
esse tipo de conflito: os atores nele inseridos e o contexto – o pano de fundo
- que o permeia.
Analisando o primeiro aspecto, observamos que as pessoas envolvidas
no conflito familiar guardam entre si vínculos de parentesco e/ou laços
afetivos, ou seja, as desavenças havidas, e as demandas daí decorrentes,
UMA REFLEXÃO ACERCA DA GESTÃO DO CONFLITO FAMILIAR PELO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

tem como envolvidos pessoas muito próximas e que, em regra, nutrem


entre si relações de afeto, ao menos até eclodir o conflito. Citando o dito
popular: amor e ódio são duas faces da mesma moeda. Tomo a liberdade para
acrescentar: é muito fina a borda que separa os lados dessa moeda.
Acerca do segundo aspecto que precisa ser observado – o pano de fundo
do conflito familiar – podemos exemplificá-lo em alguns verbetes: rancor,
decepção, amargura, medo, saudade, desejo. Nota-se, pois, que as emoções e
sentimentos que pulsam nos envolvidos nessa espécie de conflito são, em
sua maioria, carregados de negatividade e pesar. Estamos falando de amores
perdidos, sonhos frustrados, planos sabotados, confiança quebrada. Esse é
o contexto fático que permeia o conflito familiar.
Toda essa digressão foi necessária para que se perceba de que tipo de
conflito estamos falando e, nessa perspectiva, de que modo a codificação
processual deveria tratá-lo para fins de um tratamento adequado e
minimamente satisfatório para os conflitantes.
O CPC vigente reservou um capítulo – o X - para dispor sobre as ações
de família e a forma como os conflitos familiares devem tramitar. Lanço
mão por questões meramente didáticas da transcrição literal do artigo que
inaugura o texto, ipsis litteris:

Art. 693. As normas deste Capítulo aplicam-se aos processos


contenciosos de divórcio, separação, reconhecimento
e extinção de união estável, guarda, visitação e filiação.
Parágrafo único. A ação de alimentos e a que versar sobre
interesse de criança ou de adolescente observarão o
procedimento previsto em legislação específica, aplicando-
se, no que couber, as disposições deste Capítulo.

Um pouco mais adiante, temos o dispositivo que trata mais especificamente


da gestão do conflito familiar, o art. 695, foco desse escrito. Mais uma
vez, por respeito à didática, segue a transcrição do mencionado artigo,
ipsis litteris:   Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as
providências referentes à tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para
comparecer à audiência de mediação e conciliação, observado o disposto no
art. 694.
Imperioso observarmos que o CPC tratou sobre a gestão (tratamento)
de um conflito tão complexo e sensível como o familiar através da realização
de sessão ou sessões – para ser honesto com o disposto (art. 696) – de
mediação ou conciliação.

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Faço um recorte para minha realidade forense. Pautas de 30 em 30


minutos. Isso não parece ser razoável para tratar adequadamente conflitos
tão complexos – perdão pela repetição dessa premissa – mas isso precisa
ficar cristalino. Mas se esse tempo não é suficiente, por que não aumentam
o espaço entre as sessões? Simples. Faltaria tempo para as outras centenas
de demandas que esperam na fila para serem pautadas. Bem-vindo ao
cotidiano forense.
UMA REFLEXÃO ACERCA DA GESTÃO DO CONFLITO FAMILIAR PELO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Acrescentemos nesse tempero dois ingredientes: (i) o fato de que


nem sempre quem conduz a sessão, seja o magistrado ou o conciliador,
ser devidamente capacitado para tanto e (ii) a vara tem metas a serem
alcançadas e, uma delas, é a quantidade de acordos alcançados.
Frise-se: acordo não significa, necessariamente, pacificação do conflito!
Há algumas questões que levam as partes (ou uma delas) a fazer (em) um
acordo em audiência, cito uma: as partes estão assustadas e loucas para
saírem daquela situação. O acordo é o caminho mais fácil para isso.
Trocando em miúdos: as partes podem acordar na audiência, o processo
acaba com a homologação daquele acordo, mas, não necessariamente,
o conflito existente foi adequadamente tratado e, consequentemente,
resolvido.
Qual é, então, a solução para esse problema ou o caminho mais adequado
a ser percorrido?
Tal qual a complexidade do conflito familiar é a sua gestão e, por via
de consequência, a forma de tratamento a ser implementada passa por
algumas questões primordiais. Vamos a elas.
Primeiramente, não há como tratar questões tão complexas e que
transcendem o campo do jurídico – lembram da amargura, do rancor, dos
amores perdidos, dos sonhos frustrados e dos planos sabotados – sem
uma intervenção interdisciplinar (Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria, Serviço
Social) que analise e trate, de fato, essas questões subjacentes e que vão
muito além do que, por exemplo, qual destino o regime de bens impõe ao
acervo patrimonial do casal que se divorcia.
Por vezes, o que se lê nas petições e se discute nas audiências não reflete
o que de fato os envolvidos naquele conflito realmente querem, os famosos
interesses.
Um segundo ponto a ser observado diz respeito às metas impostas a
serem alcançadas pelas unidades jurisdicionais. Atualmente a mensuração
dessas metas é meramente quantitativa, a exemplo da Meta 1: julgar ao
menos a mesma quantidade de processos distribuídos no ano vigente. Como
imaginar que essa métrica será capaz de avaliar o grau de pacificação dos
conflitos familiares existentes em uma vara? Em que medida esse quesito
tem validade qualitativa ao passo que algumas demandas judicializadas em
um ano só serão pautas para conciliação no ano seguinte, por exemplo.
Urge, é razoável inferir isso, a customização das metas referentes às
varas de família, de modo que se possa analisar qualitativamente – não só
quantitativamente – os litígios processados e julgados nessas unidades, pois,

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aí sim, será possível obter dados suficientes e apropriados acerca da pacificação


de fato dos conflitos e, nessa perspectiva, implementar estratégias direcionadas
para corrigir as falhas existentes.

POR TRAZ DO ALGORITMO DO PJE EXISTEM PESSOAS


SOFRENDO!
UMA REFLEXÃO ACERCA DA GESTÃO DO CONFLITO FAMILIAR PELO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Por fim, temos a necessária capacitação dos partícipes na gestão do conflito


familiar. Deixemos os conflitantes fora dessa! Eles já estão sofrendo e muitas vezes
não sabem, sequer, o que de fato desejam. Falo dos atores técnicos, aqueles que o
CPC delegou poderes em seu art. 694, vejamos: Art. 694. Nas ações de família, todos
os esforços serão empreendidos para a solução consensual da controvérsia,
devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento
para a mediação e conciliação.
Quando a norma dispõe sobre todos os esforços serão empreendidos, a
necessária e apropriada leitura deve ser “todos os esforços de todos os envolvidos
no litígio serão empreendidos para a solução consensual da controvérsia”.
O conflito familiar impõe a todos os envolvidos na sua gestão um conhecimento
mínimo para além dos códigos legais. De nada adianta a vara se capacitar, se
o advogado e o Promotor de Justiça quiserem resolver o conflito aplicando a
literalidade da lei. Essa premissa também é válida no caso do causídico e o órgão
ministerial serem capacitados em gestão de conflitos familiares e a unidade for
uma mera cumpridores de metas.
O Sistema de Justiça deve ser interpretado como um todo, UNO, desde a batida
na porta do escritório do advogado, passando por um tratamento interdisciplinar
desse conflito, até o trânsito em julgado da sentença.
Analogicamente falando, o sistema é uma engrenagem, onde as polias são
os atores – Advogados, Promotores, Servidores, Juízes, Psicólogos, Psicanalistas,
Psiquiatras, Assistentes Sociais, Conciliadores e Mediadores – e, sob esse aspecto,
quando umas dessas polias falha são grandes as chances da engrenagem
empenar e roda não girar harmonicamente. Quando isso acontece, podemos ter
acordos homologados sem conflitos pacificados.
Precisamos trilhar o caminho certo para que, ao final desse percurso (trâmite
processual), o resultado, seja ele qual for, reste o menos traumático para quem
de fato interessa, o jurisdicionado familiar. Afinal, ele é, em essência, a razão de
ser de todo o sistema de justiça.
Trago de volta a reflexão inicial deste texto: O CPC dispõe adequadamente sobre
a gestão dos conflitos familiares?

25 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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TJ/PI anuncia criação de varas especializadas em Direito das Sucessões

A OAB/PI liderou os estudos e as em cooperação com o Poder Judiciário


tratativas institucionais para criação do Piauí, com reiteradas ações para
das varas especializadas em Direito criação das varas Especializadas.
das Sucessões. Assim como, a No mês de julho de 2022, a OAB/
instalação das câmaras ou turmas, com PI, por meio de Comissões Temáticas,
competência exclusiva ou preferencial realizou uma audiência pública com
sobre Direito das Famílias e Sucessões a participação de representantes da
para a Comarca de Teresina. Comissão Nacional de Direito das
As tratativas evoluíram em março Sucessões do CF/OAB, do MP e do TJ/
de 2021 com o encaminhamento das PI. Na ocasião, foi definido que o novo
sugestões de melhorias dos serviços arranjo seja de quatro varas de Família
e audiências à presidência do TJ/PI, via e duas varas de Sucessões e Ausentes
ofício, baseadas em pesquisa realizada na capital.
com a participação da advocacia. Na oportunidade a conselheira Federal
“Solicitamos a criação de Varas e presidente da comissão nacional de
especializadas na área de sucessões, Direito das Sucessões, Isabela Paranaguá,
mais celeridade em despachos apresentou relatório atualizado da
iniciais e a melhoria nas formas de possibilidade de constituição de varas
atendimento”, pontuou a presidente especializadas em Sucessões na comarca
da Comissão. de Teresina/PI.
NOTÍCIA JURÍDICA

ESTUDOS E RESULTADOS
A resposta ocorreu
no mesmo período em
reunião do desembargador
Fernando Lopes Silva Neto,
então corregedor do TJ, com
o presidente Celso Barros
Neto e demais membros
da diretoria da OAB/PI.
Ao longo do percurso, os
estudos seguiram sendo
atualizados por membros
da Seccional e integrantes
do IBDFAM/PI, atualmente presidido
Para tanto, os representantes da
pela advogada Cláudia Paranaguá,
seccional sugeriram mais um estudo de
em reuniões e audiências com a
impacto orçamentário para identificar
participação de representantes de
se há a possibilidade de permanecer
instituições públicas.
seis varas de Família e que sejam
Já neste ano de 2022, a nova diretoria criadas duas varas de Sucessões.
da Ordem apresentou atualizações dos
Mais informações:
estudos com resultados das capitais
do Maranhão e Paraíba, na defesa do https://s.migalhas.com.br/S/D0FF75
aprimoramento do Direito de Família
e Sucessões Brasileiro. Isso ocorreu

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JURISPRUDÊNCIA REGIONAL
Processo Relator
00001281-13.2021.5.22.0003 Manoel Edilson Cardoso
OJC Data de julgamento
2a Turma 25/10/2022
Classe Data de publicação

- Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região

Proc.: RORO Nº 0001281-13.2021.5.22.0003 (PJe)

Órgão: 2ª Turma
RELATOR : DESEMBARGADOR MANOEL EDILSON CARDOSO

Acórdão da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho que julgou Recurso Ordinário


no processo 0001281-13.2021.5.22.0003 em 25 de outubro de 2022.
Trata-se de Reclamação Trabalhista ajuizada por professor universitário em que pleiteia diversas
verbas trabalhistas e rescisórias e que em sede recursal teve reconhecido seu prejuízo na alteração
de sua carga horária de trabalho com mudança do seu regime de “horista” para “regime parcial”.

No acórdão o Relator da 2ª Turma do TRT, Des Manoel Edilson Cardoso, expôs “É cediço que são
requisitos essenciais da alteração contratual lícita a ausência de prejuízo, direto ou indireto, ao
trabalhador e o mútuo consentimento. Assim dispõe o art. 468 da CLT, sob pena de nulidade da
cláusula infringente desta garantia. Ademais, as normas regulamentares aderem ao contrato
de trabalho, obrigando ambas as partes, sendo que eventuais alterações posteriores somente
atingem os contratos que forem celebrados ulteriormente, exceto quando mais benéficas,
segundo entendimento jurisprudencial consolidado nas Súmulas nºs 51 e 288 do C. TST.”
DECISÃO JUDICIAL

Veja ementa do caso:

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. ALTERAÇÃO DA MODALIDADE DE


CONTRATAÇÃO DE PROFESSORA “HORISTA” PARA PROFESSORA “TEMPO
PARCIAL”. REDUÇÃO SALARIAL CONFIGURADA. IMPOSSIBILIDADE. ART. 468
DA CLT. DIFERENÇAS SALARIAIS DEVIDAS. Nos contratos individuais de trabalho
só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda
assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado,
sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia, conforme se extrai do
art. 468 da CLT. Uma vez demonstrado, no caso dos autos, o prejuízo resultante da
alteração contratual, diante da redução proporcional do salário quando da mudança
de professora “horista” para professora “tempo parcial”, faz jus a reclamante
às diferenças salariais daí decorrentes e reflexos sobre as verbas rescisórias.

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE EM


GRAU MÁXIMO (40%). DIFERENÇAS DEVIDAS. Comprovado nos autos, por meio
de prova pericial emprestada - realizada no ambiente de trabalho da reclamante
- que a obreira desenvolvia suas atividades em contato permanente com o agente
químico mercúrio, resta-lhe devido o adicional de insalubridade em grau máximo,
devendo o respectivo percentual pago pela reclamada ser majorado de 20% para
40%. Diante desse quadro, forçoso manter a sentença de primeiro grau que condenou
a reclamada ao pagamento das diferenças do adicional de insalubridade do período
não prescrito, considerando que a autora recebia o adicional apenas em grau médio.

O Acórdão completo está disponível pela consulta do TRT 22 com acesso pelo
número do processo

https://siscle.trt22.jus.br/jurisprudencia-beta/acordao/pesquisa-acordao.jsf
27 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022
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NOTÍCIA ESA

A ESA-PI ofereceu o curso de iniciação e prática na advocacia entre os dias 21


de novembro a 15 de dezembro. O evento foi GRATUITO para a jovem advocacia
e teve seu início na segunda-feira (21/11). Os encontros aconteceram de forma
híbrida e simultânea nas salas de aula e/ ou no auditório da ESA, de segunda à
sexta-feira. Os advogados e advogadas escolheram 1 eixo semanal de 20h/a e
receberam a mentoria de 8h/a.
O curso foi composto por 7 eixos divididos em: ferramentas para a advocacia;
advocacia cível, pública, trabalhista, previdenciária e criminal; e legislação
específica. O curso foi oferecido para o público geral e foi gratuito para a jovem
advocacia, ou seja, aqueles que possuem até 5 anos de expedição da carteira da
OAB.
O curso resultou em mais de 1000 pessoas inscritas, a ESA Piauí gostaria de
agradecer a confiança depositada no ensino que levamos para os municípios do
nosso Estado. A nossa instituição preza pela qualidade e parceria com os nossos
acadêmicos e todos aqueles que fazem parte da nossa história.

28 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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AFINAL, O

METAVERSO
É PARA HUMANOS?

Alexandre Bento Bernardes de Albuquerque


Advogado, Professor, Escritor.

O que se acompanha diariamente nas redes sociais e nos portais digitais são
mensagens, notícias e publicidades sobre o metaverso. É um produto para todos
e que disponibilizará inúmeros benefícios. O embarque na “onda” do momento
está aberto, muitos verificam tecnicamente o que é este salto para a sociedade,
alguns utilizam a oportunidade do momento para negócios e nós, reles mortais,
tentando aprender e apreender sobre esta nova oportunidade.
As apresentações realizadas nas redes e nos e-mails recebidos para
cursos  afirmam haver falta de profissionais capacitados para trabalhar com esta
tecnologia, ao mesmo tempo um forte temor de perda de vagas de trabalho em
razão da mesma tecnologia, veja que há movimento recente em empresas de
tecnologia, matérias da exame 1 afirmam neste sentido.
O mercado sofrerá alterações e todos devem se preparar para os ventos das
mudanças.  O Doutor em Direito do Trabalho Jouberto Cavalcante muito bem
resume uma preocupação “Sem deixarmos de reconhecer os aspectos positivos
da tecnologia, estamos convencidos de que as implementações tecnológicas não
param de mudar as relações sociais, os processos de produção e as relações
de trabalho, desencadeando também reflexos negativos, como as patologias
decorrentes da intensificação do trabalho  e o desemprego tecnológico em
diversos setores da economia”.
1 https://exame.com/negocios/demissoes-em-massa-startups-legislacao-brasileira-o-que-
-fazer/) e da G4 (https://g4educacao.com/portal/demissao-em-massa-nas-startups/

29 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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Sobre os postos de trabalho, gostaria de ser mais otimista, mas a realidade


apresentada pelo mercado é outra. É contraditório que ao tempo em que se
reclama da falta de profissionais capacitados em tecnologia, vislumbra-se um
movimento de dispensas, vejam as últimas notícias das startups e firmas de
tecnologia.
Fato: O metaverso é uma realidade! Se essa realidade será como estão afirmando
ou ela atenderá a sociedade efetivando desenvolvimento e crescimento é outra
história. Ele traz a todos o sonho idealizado por muitos escritores de ficção: o
começo da ligação (união, conexão, relação...) entre humanos e softwares. Penso
que essa interação por meio de uma interface que produz uma nova experiência,
o que de fato é bom, existem atividades em que esta conjugação de tecnologia e
interface virtual facilitarão o trabalho.
Ele será capaz de evitar a monótona e cansativa “call” (videoconferência) por
meio de uma tela de desktop ou o acesso interativo para verificação de um
produto e mesmo o entretenimento nunca mais será o mesmo. Mas será que
estes problemas são mais importantes que outros? Será que a tecnologia não
está mais preocupada em resolver os problemas da tecnologia do que os da
humanidade?
Os grandes mercadores e corporações parecem entender positivamente a
estes questionamentos, a leitura do ser humano não é prioridade para alguns
rincões. No momento estamos apenas entusiasmados com a inteligência da
humanidade e como houve um grande salto tecnológico. Não resta nenhuma
dúvida sobre isto e quem sou eu para falar o contrário.

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No entanto, entendo que devem ser a humanidade?


vistos outros aspectos, o ser humano Não são poucos os exemplos. Para
precisa ser valorizado. A humanidade, ilustrar apenas alguns para apimentar a
o toque, o olfato e as coisas naturais nossa conversa: Newton (Apple, 1987);
devem ser vislumbradas. De modo New Coke(1985) e HP TouchPad(2011).
contrário, corremos o risco de esquecer Todos estes produtos, hoje esquecidos,
para que existimos, as máquinas, com foram dispostos como grandes
certeza, entenderão que é apenas uma novidades e essenciais para a pessoa
questão de manutenção da espécie. comum, mas eles não saíram das
Computadores ainda não conseguem prateleiras e causaram prejuízos, fora
fazer a leitura deste aspecto subjetivo, o desemprego de alguns CEOs.
por mais que apliquem ETL nos seus Imagino que o fator humano teve
bancos de dados e sobre nossas grande influência. Sentimentos podem
informações. O ser do indivíduo ainda até ser lidos, mas ainda não se pode
não foi afetado em seus interesses antecipá-los. Qual o sentimento do
mais pessoais, talvez um dia isto seja consumidor da Coca-Cola quando
alterado, conforme a profética obra de provou um refrigerante mais doce?
fabdream.ai. Frustração, tristeza ou aversão?
Empresas que tratam de gestão de Existem estudos sobre a tendência do
pessoal afirmam a maior preocupação ser humano, mas ainda não se pode
das grandes corporações por seus adivinhar o que realmente ele sente e
funcionários e o cuidado com os quer. O aspecto mais subjetivo do ser
mesmos[E1] , como exemplo veja texto humano segue indecifrável.
de uma firma de recrutamento a Gupy O metaverso é apresentado
(https://www.gupy.io/blog/4-pilares- como tecnologia de ponta em que a
do-bem-estar-dos-colaboradores), Inteligência Artificial desenvolve um
nestas verifica-se a preocupação produto (perdão por chamá-lo assim,
dos profissionais do setor com os mas neste momento a roupagem que
funcionários. No entanto e infelizmente, o mesmo tem para mim é esta) e o
o sentimento é que estas ações, nas dispõe a sociedade afirmando que ele
grandes corporações, são apenas para é excelente, oportuno e será o futuro
os acionistas verem (lembro-me da da vida para todos.
expressão “para inglês ver”).
O que o indivíduo em todo lugar
Esta preocupação com o ser humano do mundo realmente quer? Como
é mínima, muitas das vezes apenas ele poderá encontrar isto? Seus
existente em razão de regulamentação, sentimentos serão respeitados?
quase nunca por iniciativa empresarial, Estas são as perguntas que os
mas já que na prática as grandes desenvolvedores e a IA devem
corporações ou mesmo algumas responder para agradar, cativar e
pessoas entendem piegas ou conquistar o público para seu produto
desnecessária esta preocupação com e proporcionar a “melhor experiência”
fatores subjetivos, apelamos para a a seus clientes.
questão de mercado. Você já notou
que alguns produtos não dão certo,
por mais que eles sejam perfeitos para

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A MEDIDA PROTETIVA
DE URGÊNCIA COMO UM
IMPORTANTE MECANISMO
DE PREVENÇÃO E
ENFRENTAMENTO
À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER

Antônia Natália Rocha Matos OAB PI nº 20.702


Advogada especialista em Direitos das Mulheres

Sabe-se que os índices atuais de violência contra as mulheres não tem


regredido, em última pesquisa realizada pelo Instituto DataSenado que ocorre
a cada dois anos, teria indicado um aumento de aproximadamente 4% (quatro)
porcento. E dito isto, é importante primeiramente explicar como essa violência
pode se manifestar, que ao contrário do que muitos pensam não se restringe à
agressão física.
A violência contra a mulher pode se manifestar de diversas formas, tendo
sido constatadas as seguintes: física, através do que conhecemos como crime
de lesão corporal, onde ofende a integridade física, neste caso, da mulher;
moral, em que ofende a honra objetiva ou subjetiva dessa vítima, ocorrendo
através dos crimes de injúria, calúnia e difamação; patrimonial, que se manifesta
através da deterioração do patrimônio, muito comum a destruição dos utensílios
domésticos e objetos pessoais da mulher, ou contraimento de dívidas em seu
nome; sexual, manifestada através de qualquer ato de cunho libidinoso ou sexual
sem permissão ou consentimento que limite ou anule sua liberdade sexual e
reprodutiva; e por fim, psicológica, que pode se manifestar das mais diversas
formas, como: menosprezo, ameaça, cárcere privado, controle excessivo e até
mesmo perseguição ou outras formas capazes de afetar à saúde psicológica e a
autodeterminação da mulher.

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A violência doméstica e familiar


contra a mulher é atualmente
um instituto amplamente discutido,
nos últimos anos houveram grandes
avanços na legislação a fim de
resguardar os direitos femininos no
âmbito da Lei Maria da Penha. Dentre o descrédito em face de tais medidas,
os muitos institutos trazidos pela em razão da simples deturpação de
mencionada lei, a medida protetiva, informações. É difundida a ideia de
sem dúvida, é uma ferramenta que suposta ineficácia desse instrumento
merece destaque. Toda sua estrutura jurídico. Entende-se que de forma
tem sido cada dia mais acessível para o isolada não alcançará o resultado
conhecimento da população. Hoje uma estimado, devendo ser a MPU aplicada
mulher que sofre dessa violência sabe em conjunto com outras alternativas
que um caminho seguro é a obtenção de proteção, inclusive políticas públicas
de uma Medida Protetiva de Urgência que juntas conseguem garantir a
(MPU), pode não saber como consegui- segurança devida às mulheres nessas
la, mas já entende algo que necessita situações.
para garantir sua segurança.
Na realidade atual da capital de
Toda mulher vítima de violência, seja Teresina, Piauí, pode-se dizer que
ela qual for, poderá solicitar uma MPU, dentre as alternativas atualmente
essa solicitação poderá ser feita através aplicadas em conjunto com as MPUs,
de um(a) advogado(a), promotor(a) o monitoramento das mulheres pelo
de justiça, defensor(a) público(a), Centro de Referência Municipal de
delegado(a) ou até mesmo policial Atendimento à Mulher em Situação
isso vai depender das circunstâncias de Violência Esperança Garcia -
presentes no caso em concreto. Sua CREG, órgão integrante da Secretaria
tramitação, em decorrência de seu Municipal de Políticas Públicas para
próprio nome, carrega natureza Mulheres de Teresina, realizado em
urgente, devendo ser encaminhada parceria com a Guarda Civil Municipal
ao(à) Juiz(a) no caso da solicitação tem alcançado resultados satisfatórios.
realizar-se através da autoridade Além deste serviço existem outros
policial em até 48 (quarenta e oito) capazes de proporcionar maior
horas. Ocorre que não é comum nos segurança a essas mulheres, todavia
depararmos no dia a dia forense com devendo ainda ser aprimorados, como
o caso do monitoramento eletrônico
em conjunto com o botão do pânico e
aplicativo Salve Maria.

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Essas são algumas das diversas ferramentas que a


legislação pôs à disposição da sociedade para aperfeiçoar
o sistema de proteção conferido às mulheres em situação
de violência doméstica e familiar. Importante salientar
que o descumprimento das determinações presentes na
MPU ensejam no crime de descumprimento de medida
protetiva, podendo alcançar dois anos de detenção se
de tal conduta não configura demais fatos típicos em
concurso, além da possibilidade de ser realizada a prisão
em flagrante delito.
Desta feita, a existência da MPU nos casos de
violência contra as mulheres é o instrumento legal que
tem resguardo direitos como liberdade de ir e vir ou
permanecer, afastar-se do local de trabalho por até 6
(seis) meses sem prejuízo, permanecer na residência da
família, receber pensão alimentícia em caráter provisório,
preservar seu patrimônio, dentre outros tantos. Portanto,
é indicado que ao deparar-se com qualquer espécie de
violência sejam adotadas providências a fim de minimizar
os danos dela decorrentes tanto à própria mulher, mas
também ao(s) filho(s) do casal.

IMAGEM DE FREEPIK

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CELERIDADE PROCESSUAL
NOS JUIZADOS ESPECIAIS
CÍVEIS: FACULDADE DA
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
COMO ALTERNATIVA

Francisco Sobrinho
Advogado atuante há mais de 08 anos, especialista em Direito Público e
Privado pela Escola de Magistratura do Piauí; especializando em Direito
Constitucional e Administrativo pela ESA/PI; consultor jurídico; coordenador de
execuções e processos trabalhistas estratégicos do Escritório Audrey Magalhães
Advogados Associados.

Os Juizados Especiais foram implementados com duas grandes missões: a


primeira de desafogar as varas cíveis comuns de processos considerados menos
complexos e a segunda, certamente mais importante, de dar resposta célere aos
jurisdicionados, concretizando o princípio da razoável duração do processo (art.
5°, LXXVIII da Constituição Federal).
Não é absurdo, todavia, dizer que as missões estão em constante fracasso
no Judiciário Piauiense, especialmente quanto à celeridade de julgamento dos
processos em primeira instância, com designação de audiências após mais de
03 a 06 meses após ajuizamento, sentenças com fila de espera de mais de anos.
Sendo justo, ainda, necessário registrar a melhora no procedimento adotado nos
juizados, como a extinção automática da designação de duas audiências, uma de
conciliação e uma de instrução, mesmo quando inexistia qualquer produção de
prova oral pelas partes, que contribuía sensivelmente para a demora na entrega
da prestação jurisdicional.
Pontua-se, por oportuno, que não há pretensão de discutir nesta breve reflexão
as diversas causas apontadas para a morosidade do processo, seja deficiência
estrutural, carência de servidores, ausência de treinamentos para constantes
adequações tecnológicas, ausência de programa de metas internas como

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outros tribunais adotam, entre outras. Ao contrário, pretende-se apontar


uma medida adotada em juizados especiais de outros tribunais como uma
alternativa também para dar maior celeridade.
A medida é tornar facultativa a designação de audiência de conciliação
em juizados especiais, assim como o faz grande parte dos juizados especiais
cíveis do Tribunal de Justiça do Amazonas.
Atualmente na Terra da Cajuína, após ajuizamento e distribuição, o
primeiro despacho do processo é para designar audiência una e citar a parte
adversa para comparecimento à audiência, oportunidade em que poderá
apresentar a contestação até a referida data (Enunciado 10 do FONAJE e art.
18, §1° da Lei n° 9.099/95).
Desse modo, a parte autora pode ter que esperar até 06 meses apenas
para escutar que não há proposta de conciliação, não havendo produção
de prova oral e, portanto, retornado ao processo para conclusão, desta
vez para sentença, onde aguardará mais alguns meses para ser prestada a
tutela jurisdicional.
Melhor parece que o despacho inicial seja para citar para apresentação
de defesa no prazo de 15 dias, aplicando-se subsidiariamente o Código de
Processo Civil, informar se há proposta de acordo, explicando nos autos
qual seria a possibilidade de composição, bem como para que as partes
informem qual a necessidade da audiência de instrução processual, para
verificar a necessidade de designação do ato, seja para formalizar acordo
ou instruir o processo.
O referido procedimento é defendido por diversos juizados especiais
no Estado do Amazonas, que citam que muitas empresas não apresentam
proposta de acordo, que a maioria dos processos não conta com produção
de prova oral para justificar uma audiência de instrução, de modo que
para garantir a celeridade do processo é melhor determinar a citação para
defesa, que citação para uma audiência.
Para melhor enfoque, segue justificativa exarada no processo n° 0734315-
56.2022.8.04.0001:

Considerando o aumento exponencial dos feitos distribuídos às


unidades que integram o microssistema dos juizados especiais, a
exigir o emprego de múltiplas ferramentas de gestão, a fim de elidir
o comprometimento da eficiência do serviço judiciário; primando
pelos princípios da razoável duração do processo, economia
processual, efetividade e da instrumentalidade das formas que
norteiam a Lei 9.009/95; que a matéria tratada na presente ação
é, em geral, de direito, e em processos semelhantes á se mostrou
remota a possibilidade de acordo;
Fica o Réu, desde já citado e intimado a apresentar sua contestação,
em 15 dias, e sendo o caso, apresentar proposta de acordo, no
bojo de sua defesa.
No mesmo prazo, pode pugnar pelo julgamento antecipado da
lide.
A necessidade de produção de prova em audiência deve ser
especificada e demonstrada, de forma inequívoca, para que
seja incluída em pauta. Dispensada a realização da audiência de
conciliação, instrução e julgamento, os autos serão conclusos à
sentença.

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Nessa toada, há uma colisão entre alguns princípios: de um lado o


princípio do devido processo legal (art. 5°, LIV da CF), ao tempo que o rito
sumaríssimo não adota o procedimento de citação para defesa, sendo a
citação para comparecimento em audiência ato, a princípio, obrigatório nos
termos do art. 18, §1° da Lei n° 9.099/95:

§ 1º A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e hora


para comparecimento do citando e advertência de que, não
comparecendo este, considerar-se-ão verdadeiras as alegações
iniciais, e será proferido julgamento, de plano.

Doutro lado, está um princípio da razoável duração do processo (art. 5°,


LXXVIII, CF), simplicidade e celeridade processual (art. 2°, da Lei n° 9.099/95).
Ademais, o art. 2° da Lei dos Juizados Especiais diz que a conciliação deve
ser buscada sempre que possível, retirando-lhe qualquer obrigatoriedade:

Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade,


simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.

Diante de tal colisão, necessário realizar a ponderação dos princípios


colidentes, adotando-se a técnica do sopesamento ou balanceamento de
Alexy1, entendida a partir da aplicação do postulado da proporcionalidade
(adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito).
Em breves linhas, a adequação consiste em observar se o meio escolhido
(se o princípio escolhido como prevalecente no caso concreto) promove o
objetivo pretendido. No caso, a determinação de apresentação de defesa
no despacho inicial promove o fim almejado, que é dar maior celeridade ao
processo, evitando a designação de audiências meramente pro forma, sem
qualquer serventia.
A necessidade, por sua vez, diz respeito ao comparativo entre gravidade
do meio escolhido e fim pretendido, de modo a verificar se não existiria
outra medida menos gravosa para alcançar o mesmo objetivo. Como dito,
a morosidade do processo não tem apenas uma causa, como também não
tem uma solução única, sendo necessários vários fatores para que um dia
se alcance a razoável duração do processo. Desta feita, ao analisar o caso
concreto, nota-se que o direito de defesa é preservado, que a possibilidade de
conciliação permanece intacta, bastando que seja demonstrada a intenção
de composição, tudo aliado a economia de alguns meses na tramitação do
processo, certamente atendendo ao subprincípio da necessidade.
Por último, a proporcionalidade em sentido estrito, que analisa a
intensidade da restrição do direito atingido e a importância da realização
do direito fundamental em colisão. Há de se perguntar: há prejuízo sensível
1 ALEXY, Robert. Colisão de direitos fundamentais e realização de direitos

fundamentais no Estado de Direito Democrático. Revista de Direito Administrativo, Rio

de Janeiro, v. 217, 2015. Disponível em https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/


article/view/47414/4. Acesso em: 28 de novembro de 2022.

37 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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ao direito de defesa e possibilidade de conciliação? A resposta, como dito


outrora, é negativa. A parte adversa tem prazo razoável para apresentação
de defesa, bem como havendo interesse real em conciliar, bastará informar
nos autos para designação de audiência.
Nesse norte, parece um caminho legal e razoável para dar maior
celeridade aos processos em sede de juizado especial, sem prejuízo de
alternativas que possam ser implementadas em conjunto e isoladamente
a presente sugestão. Garante ao jurisdicionado uma maior satisfação em
receber a tutela jurisdicional.
Vale destacar, nesse sentido, a boa prática adotada em sede de juizados
especiais da fazenda pública pela Comarca de Parnaíba-PI, que dispensa a
designação de audiência de conciliação em razão do Estado do Piauí nunca
apresentar proposta de acordo, sendo sem propósito designar audiência
para tal fim, apenas atrasando a entrega da prestação jurisdicional:

Lado outro, diante da recorrente alegação dos


procuradores fazendários de que não possuem
atribuição funcional que os permita celebrar transação
dos direitos da parte Ré, deixo para momento oportuno
a análise da conveniência da audiência de conciliação
(CPC Lei 13.105/15, art. 139, VI, art. 13, da Lei 9.099/95,
Enunciado n. 35, da ENFAM). Sem interrupção, CITE-
SE e intime-se a parte requerida para contestar o feito
no prazo de 30 (trinta) dias (art. 6º e 7º, Lei 12.153/09)
(processo n° 0805382-35.2021.8.18.0031).

Por todo o esposado, a sugestão/possibilidade de adotar rito diferenciado


em sede de juizados especiais cíveis, tornando a audiência de conciliação
facultativa, determinando-se primeiramente a citação para apresentação
de defesa e demais atos citados acima, tem amparo em princípios da
razoável duração do processo (art. 5°, LXXVIII, CF), simplicidade e celeridade
processual (art. 2°, da Lei n° 9.099/95).
Na mesma medida, permanecem hígidos os direitos à ampla defesa,
contraditório e possibilidade de conciliação, sempre que a composição seja
medida com real possibilidade no caso concreto.

Espera-se, portanto, que o debate sirva para trazer


melhorias à prestação jurisdicional, cujo interesse é de todos
os envolvidos: servidores, advogados, jurisdicionados e juízes.
E na esperança que os processos tenham uma duração
mais razoável no judiciário piauiense, para que se alcancem
melhores índices de resolutividade de processos.

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C E S SO PE NAL
LOG IA E O PRO E L A
A V ITIM O PLI C AÇ Ã O P
TR O DA E X
R A S IL E IRO DEN N Ú N C IA S DE
B A Ç ÃO DED E
LIZ
NÃO FORMA

ES CO NTRA A
"CRINMIDADE SEXUAL"
D IG (LEI 12 .015/0
9)

Jáder Augusto Almendra Freitas Silva


Advogado, OAB/PI desde 2018; Pós-graduado em Direito Penal e Processo
Penal pela Escola Superior da Advocacia da OAB/PI

Em um primeiro momento é importante mencionar que durante a breve


pesquisa fora entendido que a vitimologia seria apenas uma criança em
desenvolvimento ainda no ordenamento jurídico; viu-se a necessidade do
feitio de um artigo explicando sobre o tema, para que se conseguisse trazer o
tema a maior discussão interna brasileira, para que sejam trocado paradigmas
existentes, trazendo a uma melhor apuração dos delitos e crimes através da
explicação vitimológica de cada caso. É importante também mencionar que a
ótica aqui trazida é focada em crimes contra a dignidade sexual (Lei 12.015/2009).

39 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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Para abrir a mentes e corações para o assunto fica uma citação de Mailô de
Menezes Vieira Andrade em sua obra intitulada “ Ela não mereceu ser estuprada”:

Os mitos em torno do estupro, ao promover uma falsa realidade


que não está apoiada na experiência de mulheres, fazem com
que a sociedade (e as instâncias punitivas) vejam as sobreviventes
como corresponsáveis, provocadoras ou que não resistiram
de maneira suficiente, sugerindo, ainda, que falsas alegações
de estupro são comuns, que o estupro é um crime movido por
paixão (e a sexualidade masculina é incontrolável) e que acontece
somente entre estranhos. A grande narrativa difundida em torno
do crime – pautada em crenças equivocadas – articula-se de modo
a construir os estereótipos dos homens que cometem a violência
sexual e de quais mulheres/meninas são vítimas dela; dessa forma,
implica tanto a minimização da responsabilidade dos agressores
quanto a negação da experiência violenta vivida pelas mulheres
(ANDRADE, 2018).

Outra rápida conceituação será a de Vitimologia, pode-se entender como


uma ciência dentro da criminologia, que estuda as relações de direito penal com
aspecto principal na pessoa da vítima. Mas aí surge outro questionamento, o
que seria a vítima? Seria apenas aquela pessoa que sofreu uma injusta agressão
por parte de terceiro que tinha algum intuito maldoso? Provavelmente sim, mas
acredita-se que o conceito de quem é vítima é bem maior que simplesmente
aquele que foi diretamente atingido por um ato criminoso de terceiro.

Aos doutrinadores, e principalmente aos sociólogos e filósofos que


adotam uma teoria mais abrangente da Vitimologia, expõem, em sua maioria,
que na verdade existem três vítimas: O criminoso, seria vítima de ações ou falta
de ações da sociedade e do governo do país em que vive; A
Pessoa que sofreu o Dano Direto da ação do criminoso: esta
seria a mais vitimizada, pois foi objeto de ação contundente
onde teve algum direito injustamente tirado, além de
toda as demais também sofridas pelo Criminoso; e
a sociedade então seria um sujeito mutativo, ao
mesmo tempo seria vítima e criminoso tendo visto
que sofreu um dano indireto.
Depois dessa importante explanação
deixaremos claro que a análise aqui feita se baseia
no papel apenas sobre a vítima direta, aquela que
concretamente sofreu o atentado a sua pessoa
corpórea. Percebe-se que os delitos expostos nos
artigos se caracterizem perfeitamente tipificado
na Lei 12015/09, entretanto é importante
expor que existe também o direito processual,
que regula como os procedimentos se dão
para que o acusado tenha o direito a defesa e
todo o procedimento da acusação formal até a
condenação ou absolvição do réu.

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Destaca-se que dentro dos crimes contra a liberdade sexual, existe uma
dificuldade ainda maior da formalização da denúncia por medo de todo o
procedimento que se inicia após a comunicação oficial dos atos, tendo em
vista que a vítima direta o tempo todo tenta provar, contra um sistema que
não lhe ajuda, que foi vítima de um crime.
É importante lembrar que mesmo a nomenclatura de crimes contra a
dignidade sexual só foi aplicada após a entrada em vigor da lei 12.015 de
2009, anteriormente eram descritos como “ Crimes contra a honra “ pela
legislação pátria.
Dentro desse espectro ainda precisa-se falar sobre o julgamento de um
crime, normalmente em um julgamento se é questionado se houve ou não o
cometimento de um ato penalmente culpável ou, caso tenha existido o ato,
se o mesmo tem algum atenuante ou agravante que influencie no crime,
ou até mesmo se o ato, apesar de penalmente culpável, não se encontra
dentro de um rol onde mesmo culpável, não seja cabível uma punibilidade
conforme a lei determinar.
No caso de julgamentos de crimes contra a honra, temos outro
fator primordial, vítima de uma cultura de uma sociedade feita com um
pensamento corporativista masculino, onde a vítima, geralmente é uma
mulher, tem toda sua vida devassada, meio que tentando encontrar um
meio de “respaldar” o ato brutesco e criminoso cometido.
Trata-se de um julgamento onde primeiro, infelizmente, são analisadas
todas as possibilidades para que a vítima esteja mentindo ou esteja
querendo ganhar algo com aquilo, meio que transformando a vítima em
criminoso por boa parte do julgamento, apenas após todo esse processo
maçante e massacrante, onde são utilizadas fotos da vítima de biquíni ou
com roupas curtas como sendo uma ode, uma abertura ao ato sexual com
qualquer homem que o queira.
Percebe-se que a vítima num processo como tal, sofre diversas
importunações durante todo o procedimento, as vezes sendo tratada como
um simples objeto, e que tentam diminui-la por sua vida sexual pregressa,
seus atos e atitudes tentando responsabiliza-la pelo ato ocorrido, as vezes o
(LEI 12.015/09)

simples fato de a vítima ter tido relações sexuais anteriormente com outras
pessoas, ou até mesmo a troca dos hoje famosos “nudes” é utilizado como
“prova irrefutável “ pela pessoa acusada de que não haveria tido crime.

41 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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Logo percebe-se a importância deste fator, na mente da vítima na hora


de denunciar tais crimes e se dispor a enfrentar a ação.
Entretanto é importante lembrar que além de tudo que já fora explicado
, ainda tem-se que em muitos dos casos relatados as únicas provas são as
palavras das vítimas e no máximo de outra pessoa que também está sob o
domínio do acusado. Em igual sentido Tourinho menciona:

“Nos crimes contra a liberdade sexual, e.g., a palavra da


ofendida constitui o vértice de todas as provas. Na verdade,
se assim não fosse, dificilmente alguém seria condenado
como corruptor, estuprador etc, uma vez que a natureza
mesma dessas infrações está a indicar não poderem ser
praticadas à vista de outrem”(TOURINHO FILHO, 2013, p.
336).

Deve também ser observado os julgamentos pátrios de casos de


crimes contra a dignidade sexual, onde na maioria dos casos a palavra da
vítima não é levada com a devida importância ou não lhe é dado o peso
necessário pelos julgadores, talvez esse fator se de ao fato de que a maioria
dos julgadores são homens, que são afetados em menor quantidade por
estes crimes.
Existem diversos julgados sobre um assunto mas um corrobora
boa parte das teses que foram expostas e a quem interessar se trata de
uma Apelação Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais n: 1.031
3.19.013617-3/001/0136173-64.2019.8.13.0313,, cujo julgado pode ser visto
nos principais sites do meio jurídicos atuais.
Numa relação clara que precisa ser abordada mais fortemente
pela Criminologia, percebe-se que o ordenamento jurídico pátrio é muito
retrógrado e não se encontra preparado para a forma como os crimes
contra a dignidade social ocorrem no Séc.XXI, bem como se preocupar em
proteger a vítima sem diminuir as garantias do acusado.
A não valoração da palavra da vítima quando desacompanhada de
prova que a corrobora diretamente são outros fatores primordiais neste
caso, tendo em vista que se trataram de vários relatos verbais, cujo a maioria
se passou a bastantes anos e cuja única prova existente seriam as provas
verbais, os relatos das vítimas.
Diante do exposto entende-se a necessidade de criação de um novo
rito de ação específico aos crimes contra a dignidade social, onde a vítima
(LEI 12.015/09)

consiga ser preservada, e o acusado não tenha seus direitos violados.


Conjuntamente, é necessário que seja dado maior valor a prova verbal,
relato da vítima, desde a 1ª Instância, para que não seja necessária uma
apelação para a 2ª instância, e a vítima passe por um verdadeiro calvário até
que a justiça seja feita.

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Fica claro que há falta de denúncias formais, bem como a decisão por não
prosseguimento com as ações passa claramente pela Vitimologia, pela dificuldade
sentida pela vítima dentro do Processo e da falta de apoio jurídico a elas. A verdade
é que não apenas pela dificuldade pelo processo em si, mas principalmente
pelo valor que será dado a sua palavra e consequentemente com a dificultosa
condenação do possível acusado, deixando o crime não somente impune mas
podendo a vítima ser processada civilmente ou até mesmo criminalmente por
isso.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

ANDRADE, Mailô de Menezes Vieira. “Ela não mereceu ser estuprada”: A cultura do estupro nos
casos penais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.

ANDREUCCI, Ricardo Antonio. O novo crime de importunação sexual. Empório do Direito,


Publicado em: 04/10/2018. Disponível em: https://emporiododireito.com.br/leitura/o-novo-
crime-de-importunacao-sexual. Acesso em: 10 jun. 2021.

ARRAES, Arriélle Devoyno. O valor da palavra da vítima de estupro perante o estado juiz e
o réu no processo penal. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) – Centro
Universitário Curitiba, Unicuritiba, Curitiba, 2018. Disponível em: https://www.unicuritiba.edu.br/
images/tcc/2018/dir/ARIELLE-DEVOYNO ARRAES.pd f. Acesso em: 22 jun. 2021.

BITENCOURT, César Roberto. Tratado de direito penal. 12. ed. São Paulo: Saraiva, volume 4,
2018.

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.

BRASIL. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.

_______. Lei n.º 12.403, de 4 de maio de 2011. Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de
outubro de 1941 – Código de Processo Penal, Publicada no DOU de 05.05.2011. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm. Acesso em: 15 jan.
2020.

_______. Lei n.º 13.718, de 24 de setembro de 2018. Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de


dezembro de 1940 (Código Penal), Publicada no DOU de 25.09.2018. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13718.htm. Acesso em nov. 2022

______. Lei n.º 13.772, de 19 de dezembro de 2018. Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de
2006 (Lei Maria da Penha), e o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
Publicada no DOU de 20.12.2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2018/Lei/L13772.htm. Acesso em: nov 2022

DIOTTO, Nariel. SOUTO, Raquel Buzatti. Aspectos históricos e legais sobre a cultura do estupro
no Brasil. Artigo produzido no PIBIC – UNICRUZ. XIII Seminário Internacional- Demandas Sociais
(LEI 12.015/09)

e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea. Disponível em: http://online.unisc.br/acadnet/


anais/index.php/sidspp/article/view/ 15867/3764. Acesso em: out 2022

FREITAS, Viviane de Andrade. A vítima no contexto da criminologia contemporânea: Os


reflexos da vitimologia na política criminal, na segurança pública e no sistema processual
penal. Disponível em https://jus.com.br/artigos/49457/a-vitima-no-contex to-da-criminologia-
contemporanea. Acesso em 27 jun 2021.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. 35. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

43 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ

Esperança Garcia é reconhecida


pelo Conselho Pleno como a
primeira advogada brasileira
O Conselho Pleno da OAB
Nacional reconheceu, na
manhã desta sexta-feira (25/11),
Esperança Garcia como a
primeira advogada brasileira. Ela
foi uma mulher negra escravizada
que lutou contra a situação a
qual ela e outras pessoas foram
submetidas. O presidente
Beto Simonetti comunicou aos
presentes que a direção nacional
aprovou o reconhecimento e
a construção de um busto em
homenagem a ela a ser colocado
na sede do Conselho Federal.
NOTÍCIA JURÍDICA

O tema foi abraçado pelo CFOAB pela então presidente da Comissão Nacional
da Mulher Advogada (CNMA) e hoje presidente da OAB-BA, Daniela Borges, e a
então presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade (CNPI) da OAB,
hoje conselheira federal Silvia Cerqueira (BA). Ambas fizeram o requerimento
em nome da história de Esperança Garcia ainda na gestão 2019-2022, que foi
também encampado pelas atuais presidentes dos órgãos, Cristiane Damasceno,
na CNMA, e Alessandra Benedito, na CNPI.
O reconhecimento a Esperança Garcia ocorreu sob a liderança e o trabalho
de pesquisa da saudosa professora e advogada piauiense, Maria Sueli Rodrigues
de Sousa, que presidiu a Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB/PI
(2016-18), período em que coordenou a produção do “Dossiê Esperança Garcia”,
estudo responsável por reconhecer o título a Esperança Garcia como a primeira
advogada do estado do Piauí e por tornar conhecidos nacionalmente seu nome
e sua história como símbolo de resistência para o Direito.

Mais informações:
https://www.oab.org.br/noticia/60503/esperanca-garcia-e-reconhecida-pelo-
conselho-pleno-como-a-primeira-advogada-brasileira

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20/09/2022 10:55 SEI/TRF1 - 16466822 - Portaria

SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PIAUÍ

PORTARIA 6/2022

Disciplina a realização das sustentações orais nas sessões virtuais de


julgamentos da 2ª Turma Recursal/JEF/SJPI
O JUIZ FEDERAL RODRIGO PINHEIRO DO NASCIMENTO, PRESIDENTE DA 2ª TURMA
RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO
PIAUÍ, NO USO DE SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS E REGULAMENTARES, NA FORMA DA LEI,
CONSIDERANDO:
a) o art. 5º, LXXVIII, da CF/1988, que assegura, no âmbito judicial e administrativo, a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação;
b) o art. 1º, § 1º, da Lei 11.419/2006 – Lei de Informatização do Processo Judicial, que
assegura o uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, em qualquer grau de jurisdição;
c) o art. 193 do CPC, que dispõe que os atos processuais podem ser total ou parcialmente
digitais, de forma a permitir que sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio
eletrônico;
RESOLVE:
Art. 1º INSTITUIR, no âmbito da 2ª Turma Recursal dos JEFs do Piauí, a realização de
DECISÃO JUDICIAL

sustentação oral por arquivo de vídeo nas Sessões Virtuais de Julgamentos para os processos judiciais
eletrônicos do PJe.
§1º Nas hipóteses de cabimento de sustentação oral previstas no regimento interno das
Turmas Recursais (Resolução Consolidada PRESI n. 33/2021), fica facultado à Procuradoria-Geral da
República, à Advocacia-Geral da União, à Defensoria Pública da União e aos advogados habilitados nos
autos encaminhar as respectivas sustentações por arquivo de mídia suportada pelo PJe (mp4), via
peticionamento eletrônico no referido sistema, após a publicação da pauta e até 48 horas antes do horário
designado para o início da sessão de julgamentos em ambiente virtual.
§2º Tal fato deverá ser comunicado à secretaria única das Turmas Recursais, por correio
eletrônico, no endereço sessao.01turec.pi@trf1.jus.br, mediante indicação do(s) número(s) do(s)
processo(s), endereço eletrônico e telefone para contato.
Art. 2º. Os casos omissos serão decididos pelo Presidente da 2ª Turma Recursal dos JEFs
do Piauí.
Art. 3º. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
Teresina/PI, 2 de setembro de 2022.

Juiz Federal RODRIGO PINHEIRO DO NASCIMENTO


Presidente da 2ª Turma Recursal/JEF/SJPI

Documento assinado eletronicamente por Rodrigo Pinheiro do Nascimento, Juiz Federal, em


20/09/2022, às 10:13 (horário de Brasília), conforme art. 1º, § 2º, III, "b", da Lei 11.419/2006.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site https://sei.trf1.jus.br/autenticidade


informando o código verificador 16466822 e o código CRC 15008AEB.

https://sei.trf1.jus.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=17812639&infra_siste… 1/2

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NOTÍCIA ESA

A Escola Superior de Advocacia do Piauí (ESA-PI), vinculada à Ordem dos


Advogados do Brasil (OAB), Seccional Piauí, realizou o segundo processo seletivo
para a contratação de professores da ESA-PI, o seletivo resultou no Processo de
Seleção Nº 007/20222. “Esses editais fomentam o desejo e motivam aqueles que
estão no mercado a continuar se qualificando, principalmente como advogados,
e possivelmente como professores da ESA”, pontuou o Diretor Geral da ESA Piauí,
Thiago Carcará.
Nesta seleção foram ofertadas 06 (seis) vagas, sendo 2 vagas para professor(a)
do curso de Direito Municipal, Urbanístico e Gestão Pública, 2 vagas para
Professor(a) do curso de Direito das Famílias e sucessões, e 2 vagas para
Professor(a) do curso de Licitações e Contratos com ênfase na Lei n°14.133/2021
e habilitação para Pregoeiro.

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A CONTRIBUIÇÃO DO
TEXTO LITERÁRIO À
COMPREENSÃO DA
CIÊNCIA JURÍDICA

Giuliano Campos Pereira


Advogado. Procurador do Município de Luís Correia/PI. Professor de Direito
da UESPI. Pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal (INTA-FID). Pós-
graduado em Direito Civil e Processual Civil (UNINASSAU). Pós-graduado em
Direito Constitucional e Administrativo (ESA/PI). Membro da Comissão da
Advocacia Pública da OAB/PI.

O Direito, instrumento de resolução sentimento humano, matéria-prima da


de conflitos, tradicionalmente, é interpretação jurídica, como a metáfora
sempre citado como panaceia dos de acender um fósforo no campo no
problemas sociais, todavia este em meio da noite, não ilumina nada, mas
diversas ocasiões, busca entender a permite ver quanta escuridão nos
realidade dos acontecimentos que cerca.
se impõem, sem a necessária análise Há uma profusão de exemplos a
desta com os demais ramos das partir deste diálogo perene, como a
ciências sociais, como a história, a eternidade da essência da obra de
filosofia, a sociologia, a ciência política Liev Tolstói “Ana Karenina” (1877), em
e etc., originando descompassos entre relação ao direito de família, o livro
o ordenamento jurídico e a sociedade. “O Processo” (1925) de Franz Kafka
Mais surpreendente ainda é o que e seus aspectos ligados ao direito
se vê em relação à literatura, em que processual, “O Ensaio sobre a Lucidez”
impera sobretudo o distanciamento, (2004), romance de José Saramago, e
contraditório, posto que o êxito seus efeitos na discussão do direito
da concepção literária parte da constitucional.
capacidade artística em captar o

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A mudança deste cenário passa,


primordialmente, pelo exercício da
atividade docente em que esta deve
literário surgido nos anos 60 na América
pautar-se, por uma compreensão mais
do Sul, por meio de grandes escritores,
ampla do ensino jurídico, não apenas
como o argentino Julio Cortázar,
quanto ao ato de transmissão de
o peruano Mario Vargas Llosa e o
conhecimento e o dever de avaliação
colombiano Gabriel García Márquez,
periódica, mas pela formação crítica
sendo “Cem Anos de Solidão” a obra
a partir destes, munindo-se de todos
máxima desse período, publicada em
os meios de repercussão do conteúdo
1967.
acadêmico.
Sob o contexto histórico de ditadura
Recentemente estava ministrando
militar, a narrativa contesta um
aula na disciplina de direito coletivo
ambiente de forte patrimonialismo
do trabalho, em um dos seus
familiar, hipócrita quanto as suas
principais e últimos assuntos, o direito
relações sociais, politicamente corrupto
constitucional de greve, após explicar
e repressivo às liberdades humanas,
sua sistemática, tive verdadeira
em que os mortos insepultos expõem
dificuldade em contextualizar os efeitos
em praça pública os abjetos segredos
práticos desta garantia na perspectiva
dos habitantes da cidade, valendo-se de
de suspensão das atividades essenciais;
sua imunidade a qualquer sofrimento
depois de alguns segundos me veio à
físico, como meio de pressão pelo fim
cabeça a saborosa leitura de um texto
do movimento grevista.
único quanto à sua criatividade.
Da realidade fática insuficiente é que
O texto era a obra literária “Incidente
emerge a criatividade ficcional quanto
em Antares”, publicada no ano de 1971,
a preocupação com as repercussões
do escritor gaúcho Érico Veríssimo
sociais com o abuso das franquias
(1905-1975), autor do monumental
constitucionais e legais, no presente
romance histórico “O Tempo e o Vento”,
caso a ocorrência de paralisação
narra os fatos ocorridos no final do ano
desarrazoada de um serviço essencial,
de 1963 na fictícia cidade interiorana
em que não se observou os limites e
de Antares, em que após a morte de
precauções traçadas na legislação,
sete pessoas e a ocorrência de greve
sendo que é desse tipo de observação
do serviço funerário dos coveiros
que se demonstra a importância deste
decorrem eventos sobrenaturais.
clássico da literário.
O livro utiliza-se dos aspectos do
realismo fantástico, sobre o contexto
do boom latino-americano, movimento

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Depreende-se deste o aspecto da relatividade dos


direitos fundamentais, um dos seus mais relevantes
atributos, posto que a colisão destes no caso concreto
necessita do instrumento hermenêutico da ponderação
em que consiste na otimização de princípios concorrentes,
assim a produção literária mais rapidamente demonstra
o que a atividade jurídica apenas teoriza, sem os efeitos
perniciosos da realidade.
Demonstrando a evolução da organização sindical em
nosso país, em que primeiro se proibiu e criminalizou
esta, na sequência fora tolerada, todavia com a chancela
do poder público, até que nossa atual carta magna a
restituí como garantia fundamental do trabalhador com
assento constitucional, sem amarras patronais ou estatais
à livre expressão de um direito coletivo, tão somente,
compatibilizando-a com os demais interesses públicos.
Logo, desse descontraído exercício observamos o
conceito culturalista de constituição, que une os fatores
sociais, políticos e jurídicos de poder e, consequentemente,
contribui para a formação de uma sociedade aberta
de intérpretes constitucionais, aliado com os simples
prazeres da leitura, como conhecer grandes personagens,
acontecimentos, diálogos e nós mesmos.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988.
SILVA, Virgílio Afonso da. Direito constitucional Brasileiro.
1. ed. São Paulo: Edusp, 2021.
VERÍSSIMO, Érico. Incidente em Antares. 1. ed. Porto Alegre:
Globo, 1973.

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DIREITO DIGITAL:
A NOVA ERA DA
ADVOCACIA
PÓS-MODERNA
Gabriel Nunes do Rêgo
Advogado e Mediador

Thalita Portela de Carvalho Silva


Advogada atuante em Direito de Família, Trabalho e Previdenciário

Um estudo globalizado realizado pela IOB - A chamada Internet do


Comportamento - referente a utilização de dados para mudar o comportamento
das pessoas, revelou que 60% do tempo usado pelos advogados na atuação
em um processo é gasto na busca de informações. Ou seja, isso implica um
reduzidíssimo índice de produtividade, no que tange a contraprestação de
maneira financeira imediata. Mas, afinal, como se desenvolve atualmente as
chamadas “fases de uma advocacia de sucesso? Será que toda essa busca de
informações é considerada uma perda excessiva de tempo em termos jurídicos?”.

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A nova era da advocacia é um dias de hoje, a área do Direito foi


termo que vem sendo propagado e é vista como um segmento mais
intensamente, e não é de hoje. Ainda demorado, burocrático e taxado pela
que em algumas situações essa complexidade em seus processos,
menção não passe de sensacionalismo e parcialidade por parte de alguns
para vender serviços, a verdade é que julgadores e pouca elasticidade em
o direito está às portas de um novo relação a muitas ações. Porém, a ideia
tempo. Por mais que em algumas da advocacia digital vem tomando
situações sejam travestidas de relevo para diminuir ao máximo
sensacionalismo para inflar a cultura essa premissa. Mas afinal, será que
de vender serviços, é fato a ideia de que essas inovações teriam o condão de
cada vez mais o tempo faz o direito se substituir o intelecto humano?
reinventar no que diz respeito à ideia Em relação à indagação anterior, e
de tecnologia e inovação. ao inverso de previsões enigmáticas
Seguindo o conceito de inovação feitas em um passado não muito
e tecnologia no mundo jurídico, distante e por muitos, as inovações e
adentra-se na ideia de relação ferramentas tecnológicas – ou mesmo
com a produtividade. A cultura a robotização – não tem o intuito de
digital orientada a dados leva a usurpar o trabalho dos seres humanos.
análises previsíveis e extremamente Recentemente, Inteligência Artificial e
descritivas, e isso representa uma softwares jurídicos surgem para dar
visão com projeção para o futuro suporte aos profissionais do Direito
em oposição aos métodos adotados que, por sua vez, podem voltar toda a
por advogados outrora em busca de sua concentração para atividades de
aperfeiçoamento. Sendo assim, por maneira mais resoluta e estratégica.
todas essas premissas da “ADVOCACIA O uso das tecnologias promoveu
DO FUTURO” que surgiram, trouxeram a digitalização e a automação dos
a produtividade que foi alvo de escritórios, otimizaram o fluxo de
escritórios e empresas de grande produção e consequentemente
porte. geraram um ganho de eficiência sem
O direito é marcado na história precedentes. Essas novas práticas
por ser uma área salutar e de grande provocam um aumento substancial
densidade informativa. Não só pelo dos dados e informações gerados,
fato de estar presente entre nós há obtidos e armazenados, sendo
muito tempo, mas principalmente por posteriormente lançados no mundo
imprimir uma figura sóbria do jurista, jurídico. Mas onde e como eles estão
dotada de uma série de formalidades. sendo utilizados?
Durante dezenas de anos isso foi A utilização desses dados para a
motivo de orgulho para os advogados, tomada de decisão de uma maneira
imprimindo destaque e elegância prática a respeito de um contrato de
necessitando apenas algumas honorários não seria uma pauta recente,
mudanças diminutas de forma técnica. por exemplo. No entanto, mesmo com
Não se pode ignorar a ideia tantos recursos disponíveis, as análises
perpetrada de que durante muito de dados continuaram direcionadas
tempo e provavelmente até os a segundo plano em quase todos os

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tipos de negócios, merecendo sempre internet, isso já é possível para todos.


uma remodelagem com vistas ao Por esta razão, o cliente não quer
aperfeiçoamento pleno e contínuo. mais um advogado que memorize
Simplificando a assertiva de a legislação, e sim um profissional
maneira geral, esses dados precisam que saiba resolver o seu problema
ser modificados de maneira a serem jurídico. Além disso, eficiência no
utilizados no mundo jurídico da forma atendimento, acessibilidade, clareza e
mais proveitosa possível. profissionalismo são particularidades
que não podem faltar para quem quer
E seria nesse contexto que esses participar e se destacar na nova era da
dados se aliam à produtividade advocacia.
jurídica, uma vez que a mesma não
se resume meramente ao aspecto É mister ressaltar que é de suma
quantitativo, embora ele seja importância o desenvolvimento da
relevante. É imprescindível que a ideia habilidade digital como uma forma de
de qualidade do trabalho também seja reinventar a advocacia. A tecnologia é
levada em consideração. Para isso, os o elemento distintivo para o mercado
recursos físicos, financeiros e pessoais de trabalho atual trazendo sucesso e
devem entrar na ‘roda de conversa’. lucro para o empreendedor no meio
digital como forma de se adaptar às
Em relação a criação dos softwares adversidades.
jurídicos, com a revolução digital, o
ambiente jurídico também precisou
se adaptar, criando um sistema de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
aplicativos automatizados,
que realizam atividades do direito w w w.migalhas.com.br/
ou contribuem para uma comunicação quentes/377721/sistema-lysis-garante-
mais eficaz entre áreas e entre a mais-produtividade-em escritorios-de-
empresa e o público. advocacia

Com isso, esses softwares podem ht tps://w w w.projuris.com.br/blog /


ter funções como a realização de inteligencia-artificial-na-advocacia/
uma análise de banco de dados; h t t p s : // w w w . m i g a l h a s . c o m . b r/
oferecimento da gestão de causas para d e p e s o / 3 67618 /a - n o v a - e r a - d o s -
advogados; realização de transmissão escritorios-de-advocacia orientados-
de informações da área jurídica, e tudo a-dados
isso, de uma maneira muito rápida e h t t p s : // w w w. j o r n a l c o n t a b i l .
com bastante excelência. com .br/direi to - 4 - 0 - como -f ic a - o -
O fato é que a chegada da protagonismo-do-advogado nessa-
‘advocacia do futuro’ exige a revolução nova-era/
do advogado e a aceitação aos novos h t t p s : // w w w . m i g a l h a s . c o m . b r/
recursos. Mas não para por aí. Um d e p e s o / 3 6 9 6 8 0 /a d v o c a c i a - 4 - 0 -
novo gatilho também precisa fazer focada-em-produtividade o-papel-da-
parte do dia a dia do jurista. automacao-juridica.
Por um longo período, o advogado
era a figura que detinha o poderio
das informações jurídicas. Com a

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LEGISLAÇÃO E A
POLÍTICA FINANCEIRA
NACIONAL DE
SUBSÍDIOS PARA
O TRANSPORTE
COLETIVO URBANO
LEGISL AÇÃO E A POLÍTICA FINANCEIRA NACIONAL DE SUBSÍDIOS PARA O TRANSPORTE COLETIVO URBANO

Eder Santos de Moraes


Advogado, pós graduado em Direito Constitucional e Direito Administrativo pela
ESAPI. Atuação como consultor jurídico na área do Direito Administrativo

No Brasil hodierno a legislação de trânsito e a de transporte possui


determinadas áreas de convergência, a começar pela competência legislativa,
privativa da União, de acordo com o artigo 22, XI “compete privativamente à
União legislar sobre: trânsito e transporte” (BRASIL, 1998).
Com base na Lei de mobilidade urbana, no artigo 16, cabe à União “prestar
assistência técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal e Municípios”
(BRASIL,2012). Enquanto os estados de acordo com o artigo 17, asseguram
“prestar, diretamente ou por delegação ou gestão associada, os serviços
de transporte público coletivo intermunicipais de caráter urbano” (BRASIL,
2012). O que na prático isso ainda não é visto em todas as capitais ou regiões
metropolitanas do país, dessa forma, sobrecarregando os municípios, já
que no artigo 18, cabe:
I - planejar, executar e avaliar a política de mobilidade
urbana,
bem como promover a regulamentação dos serviços de
transporte urbano; II - prestar, direta, indiretamente ou por
gestão associada, os serviços de transporte público coletivo
urbano, que têm caráter essencial; III - capacitar pessoas
e desenvolver as instituições vinculadas à política de
mobilidade urbana do Município; e IV - (VETADO). (BRASIL,
2012).

53 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


CADERNO JURÍDICO ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO PIAUÍ

Dessa maneira, é imperioso observar que os municípios ainda se


encontram reféns de recursos financeiros capazes de promover melhorias
no sistema de transporte, já que é um serviço caro e não existem pleno
efetivo de ações necessárias a proporcionar uma qualidade do sistema.
Com isso, cabe ao contratante assegurar as formas de equilíbrio financeiro
do sistema, de acordo com o artigo 9, nos incisos 4º e 5º da lei de mobilidade
urbana:

O regime econômico e financeiro da concessão e o da


permissão do serviço de transporte público coletivo serão
estabelecidos no respectivo edital de licitação, sendo a tarifa
de remuneração da prestação de serviço de transporte
público coletivo resultante do processo licitatório da
outorga do poder público. § 4º A existência de diferença a
maior entre o valor monetário da tarifa de remuneração da
prestação do serviço de transporte público de passageiros e
a tarifa pública cobrada do usuário denomina- se superavit
tarifário.
LEGISL AÇÃO E A POLÍTICA FINANCEIRA NACIONAL DE SUBSÍDIOS PARA O TRANSPORTE COLETIVO URBANO

§ 5º Caso o poder público opte pela adoção de subsídio


tarifário, o deficit originado deverá ser coberto por
receitas extratarifárias, receitas alternativas, subsídios
orçamentários, subsídios cruzados intrasetoriais e
intersetoriais provenientes de outras categorias de
beneficiários dos serviços de transporte, dentre outras
fontes, instituídos pelo poder público delegante. (BRASIL,
2012).

Assim, diante das dificuldades financeiras e da falta de políticas e ações


que sejam capazes de efetivar um equilíbrio financeiro, em muitas situações
isso implica na paralisação do serviço de transporte coletivo urbano, assim
tirando do cidadão o seu direito de ir e vir, como aborda o artigo 5º, inciso
XV da Constituição de 1988 “é livre a locomoção no território nacional em
tempo de paz, podendo qualquer pessoa,nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou sair com seus bens” (BRASIL, 1988).
Ou seja, dessa maneira, com base na Constituição Federal, subtende-se
que o cidadão da nação brasileira tem o seu direito garantido de locomoção
de forma livre nas ruas, lugares públicos, praças, desta forma, sem medo de
ver tolhida sua liberdade.
Ainda, no artigo 6º com nova redação por meio da emenda constitucional
nº 90 de 2015, assegura que: são direitos sociais a educação, a saúde, a
alimentação, o Trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 2015). O direito
ao transporte passou a ser um dos direitos sociais ao cidadão brasileiro.
Consoante a lei anterior, o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001), em

54 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022


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seu artigo 2º, I afirma que:

A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno


desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade urbana, mediante as seguintes diretrizes gerais:
I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido
como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento
ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes
e futuras gerações. (BRASIL, 2001)

Dentre os modais de transportes, a lei de mobilidade urbana define


o transporte público coletivo com um “serviço público de transporte
de passageiros acessível a toda a população mediante pagamento
individualizado, com itinerários e preços fixados pelo poder público”
(BRASIL, 2012). De acordo com Barat e Batista (1973, p. 375):
LEGISL AÇÃO E A POLÍTICA FINANCEIRA NACIONAL DE SUBSÍDIOS PARA O TRANSPORTE COLETIVO URBANO

a função básica do transporte é a de integrar as áreas


urbanas, não somente do ponto de vista espacial, mas no
que diz respeito aos diferentes aspectos das atividades
urbanas (econômicas, sociais, residenciais e recreativas),
permitindo a consolidação de
mercados para os fatores de produção. Nesse sentido, os
deslocamentos pendulares diários da força de trabalho –
residência/trabalho/residência – que constituem o grosso das
viagens nas áreas urbanas, são condicionados, largamente,
pelos padrões de uso do solo, mas também podem exercer
influência sobre os mesmos e, consequentemente, sobre
o desenvolvimento urbano futuro, na medida em que a
existência do transporte precede os planos habitacionais”.

O transporte urbano deve ser visto como um serviço e um direito social de


suma importância. O transporte público transporta uma grande quantidade
de pessoas e mercadorias em grandes cidades, com isso, corroborando
para o estudo, trabalho, lazer, comércio, saúde e dentro outros setores.

55 CADERNO JURÍDICO Dezembro/2022

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