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INTERDISCIPLINARES
O Direito visto pelos acadêmicos
ORG.
ELIANA FREIRE DO NASCIMENTO
A L E X A N D R E B E N T O BERNARDES ALBUQUERQUE
FRANCISCO ROBERT BANDEIRA GOMES DA SILVA
Org.
Eliana Freire do Nascimento
Alexandre Bento Bernardes Albuquerque
Francisco Robert Bandeira Gomes da Silva
Estudos interdisciplinares
O Direito visto pelos acadêmicos
Dinâmica Juridica
2020
Comitê Científico
Revisão
Francisco Robert Bandeira da Silva
Editoração
Eliana Freire do Nascimento
Diagramação
Eliana Freire do Nascimento
Capa
www.canva.com
Ficha Catalográfica elaborada de acordo com os padrões estabelecidos no Código de Catalogação Anglo-
Americano (AACR2)
Sumário
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................... 5
O ROMPIMENTO DE BARRAGENS DE REJEITOS QUÍMICOS E O CRIME COMETIDO PELA
PESSOA JURÍDICA ................................................................................................................................................... 6
MEDIAÇÃO: estudo comparado entre origens e procedimentos adotados no Brasil e Estados Unidos da
América ......................................................................................................................................................................... 17
PENALIDADES APLICADAS AOS PSICOPATAS CRIMINOSOS NO CÓDIGO PENAL
BRASILEIRO ............................................................................................................................................................. 30
UTILIZAÇÃO DE CONTRATOS DE CONCESSÕES COMO ALTERNATIVA PARA
PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS PÚBLICOS EM MEIO À CRISE FISCAL ............................................... 49
A LIMITAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .................................................................................... 60
TRÁFICO HUMANO DE BEBÊS PARA FINS SEXUAIS ............................................................................ 75
A LEGALIDADE DO INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL DIANTE DA SUCESSÃO
TESTAMENTÁRIA: À luz do artigo 610 do Código de Processo Civil .......................................................... 88
FISHING EXPEDITION – A PESCA PREDATÓRIA DE PROVAS NO PROCESSO PENAL ...... 105
A APLICABILIDADE NO BRASIL DA DESJUDICIALIZAÇÃO DAS EXECUÇÕES POR
TÍTULOS EXTRAJUDICIAIS: uma possível forma de abrandar a crise judiciária ..................................... 122
A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER E A INEFICÁCIA DO ESTADO NA
APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA .................................................................................................... 137
A MEDIAÇÃO E OS CONFLITOS FAMILIARES: análise da aplicação das técnicas do processo de
mediação na relação entre pais e filhos no cotidiano familiar ............................................................................ 156
O CONTRATO DE TRABALHO INTERMITENTE ................................................................................... 172
A UTILIZAÇÃO DO BANCO DE DADOS DOS PERFIS GENÉTICOS PARA FINS DE
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL DETERMINADA PELO JUIZ E SUA CONSTITUCIONALIDADE
FRENTE AO PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO ................................................................. 187
O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO PIAUÍ:
OPERACIONALIZAÇÃO E ESTRATÉGIAS DO ESTADO FRENTE AO FEMINICÍDIO ........... 219
AS PENAS ALTERNATIVAS COMO SOLUÇÃO À CRISE DO SISTEMA CARCERÁRIO
BRASILEIRO ........................................................................................................................................................... 237
RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE POST MORTEM ............................................................... 251
A QUESTÃO DA SEMI-IMPUTABILIDADE COM OS TRANSTORNOS ........................................... 267
A APLICABILIDADE DA MEDIAÇÃO NOS CONFLITOS DO DIREITO DE FAMÍLIA ............. 280
A PARCERIA PÚBLICO-PRIVADA COMO INSTRUMENTO PARA IMPLEMENTAÇÃO E
CONCRETIZAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ......................................................................................... 300
PRISÃO CIVIL POR DEVEDOR DE ALIMENTOS .................................................................................... 310
EFICIÊNCIA DO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS (CARF) NO
TRATAMENTO DO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO FISCAL FEDERAL ............................. 324
A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS COMO INSTRUMENTO RESOLUTIVO EM CASOS DE
ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................................................................................................. 343
PRINCIPIO IN DÚBIO PRO SOCIETATE NA DECISÃO DE PRONUNCIA NO JÚRI EM RAZÃO
DO PRINCIPIO CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCENCIA ....................................... 356
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APRESENTAÇÃO
Eliana Freire
Alexandre Bento
Robert Bandeira
Novembro / 2020
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1 INTRODUÇÃO
Por conseguinte, o presente trabalho aborda a Lei n° 9.605/98 e sua aplicação nos casos de
crimes ambientais cometidos por pessoas jurídicas e físicas que constroem e mantém barragens de
rejeitos. Analisou-se ainda os casos de rompimentos já ocorridos no Brasil, suas possíveis causas e
graves consequências para o ecossistema das regiões atingidas.
Para a sustentação deste artigo científico, abordou-se legislação específica, assim como
doutrinadores da área, jurisprudências e denúncias já oferecidas nesses casos. Utilizou-se para tanto,
a metodologia bibliográfica explicativa e descritiva, para abordagem do tema ora estudado.
2 DESENVOLVIMENTO
A Lei de Crimes Ambientais traz em sua seção III o Art. 54, que tipifica o crime de poluição,
determinando que o autor que causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou
possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora cometerá crime, podendo inclusive o autor ser pessoa jurídica.
Observa-se que o Art. 54, §2°, V, especifica e qualifica o crime de causar poluição por
lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em
desacordo com as exigências estabelecidas em lei, estipulando pena maior do que a determinada no
caput deste artigo.
Tal artigo visa tipificar e penalizar as pessoas físicas ou jurídicas que cometem ações
causadoras de graves danos ao meio ambiente e à saúde humana, através do lançamento de resíduos
sólidos, como é observado em diversas indústrias.
Além disso, a pena tipificada no referido artigo determina reclusão, de um a quatro anos, e
multa, na forma do caput, de detenção, de seis meses a um ano, e multa, se o crime e culposo e por
fim, reclusão, de um a cinco anos, na forma qualificada.
Fato é a extrema necessidade desta tipificação e sua efetiva aplicação, considerando a
necessidade de manter-se o meio ambiente equilibrado e saudável. Ressalta-se que proteger o meio
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ambiente é de fato proteger a população que carece de ar respirável, água potável, alimento
adequado e local seguro à mínima subsistência.
É de conhecimento internacional que o Brasil possui rica fauna e flora, inclusive com
espécies exclusivas deste território. Nesse sentido, também há vastidão de matérias-primas diversas
que são exploradas por empresas que por muitas vezes não realizam a compensação estipulada em
lei específica e, além disso, despejam material tóxico no meio ambiente, causando a mortandade de
animais, destruição da flora e danos à saúde dos seres vivos que utilizam os recursos naturais para
manutenção da vida.
Na obra O Direito Ao Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado, os organizadores
Ronilson José da Paz, Cícero de Sousa Lacerda, Talden Farias, Reinaldo Farias Paiva de Lucena e
Vital José Pessoa Madruga Filho, dispõe sobre a exploração desenfreada dos recursos naturais,
principalmente nos territórios de vasta diversidade ambiental, como é o caso do Brasil, a seguir:
[...]Sem querer aqui desenvolver a análise das causas económicas e políticas desta
“maldição”, interessa sobretudo, no contexto desta reflexão ressaltar, por um lado, que a
exploração gananciosa e desregrada de recursos naturais acarreta prejuízos imediatos para
as populações circundantes das infraestruturas de extracção e processamento (pedreiras;
minas; furos; fábricas) — susceptíveis de implicar reassentamentos e alteração total do
modus vivendi, ou degradação do ambiente e risco para as condições de saúde (embora
possa também criar algum emprego e estimular a economia local, ainda que
temporariamente) — e, por outro lado, que o lucro adveniente dessas explorações é muitas
vezes mal distribuído, tanto no plano local como no nacional. A danos sociais/pessoais
acrescem danos ambientais em sentido estrito, por ausência de cuidado nas explorações e
afectação irreversível de recursos envolventes.(PAZ, R. J.; LACERDA, C.S.; FARIAS, T.;
LUCENA, R. F. P.; FILHO, V. J. P. M. O Direito ao Meio Ambiente Ecologicamente
Equilibrado. IESP. 2018. Fls. 02, Cap. I).
Tem-se de suma importância a necessidade de ressaltar a linha tênue que divide os fatores
incidente e acidente. No caso de um incidente, entende-se um episódio imprevisto que
altera o desenrolar dos acontecimentos, mas sem consequências desastrosas, enquanto que
acidente se refere a um desastre, a um acontecimento inesperado e desagradável, com
consequências graves e lamentáveis. Podemos resumir pelo entendimento de que um
incidente seria o causador primário de um acidente. MACHADO, 2018, n.p.).
11
Além disso, esse mesmo estudo dispõe sobre o método de construção de barragens de
rejeitos, de forma adequada, para que se evite o rompimento das barragens, como segue:
2.4 O Crime Cometido pela Pessoa Física ou Jurídica que mantem Barragem de Rejeitos
que Rompe.
Em face da grande exploração dos recursos naturais brasileiros e a ocorrência dos vários
incidentes no decorrer da história, como também das consequências catastróficas desses
rompimentos, fez-se necessário que o Ordenamento Jurídico Brasileiro atuasse administrativa, civil
e penalmente.
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Insta ressaltar que no caso do rompimento ocorrido no vale do Rio Doce, observa-se o
oferecimento de Denúncia pelo Ministério Público Federal na Força Tarefa do Rio Doce, nos autos
do Inquérito Policial n° 1843/2015 SRPM/MG, onde pessoas jurídicas foram denunciadas pelo
crime de poluição, tipificado no Art. 54, da Lei n° 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), pelas ações
e omissões que causaram o rompimento da Barragem de Fundão, cidade de Mariana-MG, que
causou danos diretos e irreversíveis nas cidades de Bento Rodrigues-MG e Paracatu de Baixo- MG,
ocorrido em 05 de novembro de 2015.
Tal acidente atingiu também o estado do Espírito Santo, com a contaminação pluvial, que
causou grande dificuldade no abastecimento de água para população das regiões atingidas, assim
como a mortandade da fauna e flora aquáticas da bacia hidrográfica, causando a destruição do
ecossistema.
Além disso, foram causados danos a monumentos históricos do período colonial, na
economia e turismo. Evidenciando-se ainda o total de 18 (dezoito) vítimas fatais e uma pessoa
desaparecida até o presente momento.
Em análise a tal denúncia, evidencia-se que as empresas responsáveis pela barragem do
Fundão foram denunciadas, dentre outros crimes, pelo crime de poluição qualificada, nos termos
do Art. 54, §2°, V, da Lei 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais).
Há nesse sentido, decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, julgada no ano de
2018 que determina a responsabilidade civil da pessoa jurídica responsável pela barragem do
Fundão, localizada na cidade de Mariana-MG, conforme segue.
Conforme anteriormente citado, o Art. 54° da Lei de Crimes Ambientais tipifica o crime
de poluição, possuindo em sua forma qualificada pena de reclusão de um a cinco anos.
Ocorre que, em análise das consequências geradas pelo rompimento de barragens, observa-
se desequilíbrio ambiental, mortandade de fauna e flora, além de vítimas fatais, a que se analisar se
o artigo supracitado e utilizado nas denúncias de fatos semelhantes são eficazes para a repressão da
conduta criminosa praticada pelas pessoas jurídicas responsáveis pela construção e manutenção
dessas barragens de rejeitos.
Aconteceu a destruição por completo de um ecossistema, sendo que os rejeitos levaram
consigo animais e a vegetação, possibilitando inclusive a extinção de espécies nativas das regiões
afetadas. O Ordenamento Jurídico Brasileiro tem o dever de efetivamente proteger o meio
ambiente equilibrado, garantido pela Carta Magna Brasileira, criando leis de eficácia repressiva e
preventiva quando do cometimento de tais ações que trazem tantas consequências graves.
É evidente, que a pena de reclusão de um a cinco anos é irrisória se comparada aos danos
causados quando do rompimento de barragens que contêm rejeitos químicos.
Importante ressaltar que, as empresas mineradoras obtêm lucros exorbitantes com a
exploração dos recursos naturais no território nacional, em específico no estado de Minas Gerais,
que por diversas vezes foi palco para esses desastres.
Observa-se ainda que as indústrias exploradoras de minérios demonstram total descaso
perante a população e ao meio ambiente, pois apesar de possuírem recursos financeiros, recusam-
se ou dificultam a indenização de famílias atingidas pelos rejeitos das barragens de sua
responsabilidade e a compensação ambiental determinada em lei.
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3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal do Brasil de 1988. Brasília: Planalto, Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 10.mai.2020.
BRASIL. Lei de Crimes Ambientais de 1998. Brasília: Planalto, 2019. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm >. Acesso em: 10.mai.2020.
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FARAH, Leonardo. Além da lama: o emocionante relato do capitão dos bombeiros que
atuou nas primeiras horas da tragédia em Mariana. 1º. Ed, Editora Vestígio, 2019.
PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. 6° Ed., Revista dos Tribunais, 2016.
SIRVINSKAS, Luis Paulo. Tutela Penal do Meio Ambiente, 4° Ed., Saraiva Jur, 2011.
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1 INTRODUÇÃO
O objetivo do presente artigo é analisar a origem da Mediação de Conflitos nos países como
Brasil e Estados Unidos da América, assim como suas regulamentações e procedimentos, em
seguida um estudo comparado com um quadro, contendo as semelhanças e diferenças em cada
ordenamento jurídico.
Os conflitos sempre estiveram presentes no convívio dos seres humanos. Dessa forma, os
métodos de resolução de controvérsias existiam em diferentes épocas, localidades e culturas, porém
precisar quando esses métodos de solução de conflitos iniciaram é uma tarefa um tanto complexa
(TARTUCE, 2016). Constitui estudos de antropólogos e historiadores saber como os primeiros
habitantes do planeta resolviam suas contendas, se por violência, mediação, negociação,
ajuizamento de ação, arbitragem, autotutela (MENKEL; MOFFITT; BORDONE, 2005).
Desde os primórdios, com o estudo da história e sua evolução, percebe-se que o homem
utilizava o uso da força, da arbitrariedade, da justiça com as próprias mãos, chamada de autotutela,
prática exercida para decidir os conflitos existentes, em que o mais fraco e tímido ficava submisso
ao mais forte e astuto.
Ocorre a autotutela quando o próprio indivíduo impõe de maneira unilateral seu interesse
à parte contrária (DELGADO, 2002). Exemplificando, tem-se a Lei de Talião: “olho por olho,
dente por dente”, isto significava que, a vingança era proporcional ao crime.
1 Graduanda em Direito pela Estácio de Teresina; nono período; aluna do curso de Mediação Extrajudicial pela
Estácio de Teresina; e-mail: anabiatrizoliveira17@gmail.com.
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Nas comunidades chinesas, a mediação era o meio mais utilizado para resolver conflitos,
pois a predominância da convivência familiar era forte e os problemas eram resolvidos pelo chefe
da família, que detinha a sabedoria necessária para solucionar os litígios (MIRANDA; MALUF,
2013).
Brasil e Estados Unidos são países que viram um olhar positivo na adoção da mediação de
conflitos, por se tratar de um método mais célere em comparação ao método tradicional processual,
que atualmente tem se mostrado insuficiente para atender as demandas dos jurisdicionados, bem
como pelos custos e morosidade que as partes enfrentam em processos mais complexos.
2 DESENVOLVIMENTO
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2.1 No Brasil.
2.1.1 Origem
A mediação surgiu no Brasil em face dos obstáculos de acesso à justiça enfrentados pelos
jurisdicionados e a falta de eficiência em resolver dignamente as demandas da população
(MIRANDA; MALUF, 2013). A mediação surgiu com grande destaque no Brasil no século XX,
mais especificamente nos anos 90, como meio de solucionar conflitos trabalhistas, sendo utilizada
nas demandas familiares e negociais também (MIRANDA; MALUF, 2013).
Bem antes dos anos 1990, há constatações históricas da mediação, como na Constituição
do Império, outorgada em 1824, que fazia referência aos juízes árbitros, nos artigos 160 e 161: “Nas
civeis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear Juizes Arbitros. Suas Sentenças serão executadas
sem recurso, se assim o convencionarem as mesmas Partes”; “Sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da
reconciliação, não se começará Processo algum” (BRASIL, 1824, n.p.).
A Constituição Federal de 1988, nossa carta Magna estabelece, em seu artigo 98, a criação
de juizados especiais e justiça de paz. Os juizados especiais, provindos de juízes togados,
ou togados e leigos, competentes para a conciliação e a justiça de paz, composta por
cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, para além de outras funções,
exercer, atribuições conciliatórias. (MIRANDA; MALUF, 2013, p. 15).
O Código Comercial de 1850, tipificou a arbitragem em seus artigos 139 e 294: “As questões
de fato sobre a existência de fraude, dolo, simulação, ou omissão culpável na formação dos
contratos, ou na sua execução, serão determinadas por arbitradores”; “Todas as questões sociais
que se suscitarem entre os sócios durante a existência da sociedade ou companhia, sua liquidação
ou partilha, serão decididas em juízo arbitral” (BRASIL, 1850, n.p.).
O acesso à justiça tem se tornado cada vez mais difícil para os jurisdicionados, por conta
dos problemas enfrentados pelo Poder Judiciário, que ciente disso, vem procurando meios eficazes
para fazer valer o seu Princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, CF/88).
É inegável que a crise do Judiciário decorre da crise do Estado contemporâneo, que não
tem mais condições de solucionar todos os conflitos existentes na sociedade. Há uma
miríade de problemas enfrentados pelo Judiciário de vários países e as soluções
encontradas têm se mostrado insuficientes e inadequadas. (AMARAL, 2009, p.39)
As formas adequadas de solução de conflitos são meios muito eficazes, destacando aqui a
mediação, tendo sua valorosa contribuição, não apenas para “desafogar” o Poder Judiciário, mas
para garantir o acesso à justiça. Atualmente, no Brasil, as normas reguladoras da mediação são,
dentre outras: a Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça – CNJ; a Lei 13.140/2015,
Lei de Mediação e a Lei 13.105/2015, Código de Processo Civil, que serão analisadas.
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A resolução 125/2010 é de capital importância para o Poder Judiciário, uma vez que
incentiva os tribunais a criarem centros de resolução de conflitos, e consequentemente, adotarem
meios consensuais na resolução das disputas a fim de conseguirem resultados justos e equilibrados
para os jurisdicionados.
Art. 6º Para desenvolvimento dessa rede, caberá ao CNJ: I – estabelecer diretrizes para
implementação da política pública de tratamento adequado de conflitos a serem
observadas pelos Tribunais; II – desenvolver conteúdo programático mínimo e ações
voltadas à capacitação em métodos consensuais de solução de conflitos, para magistrados
da Justiça Estadual e da Justiça Federal, servidores, mediadores, conciliadores e demais
facilitadores da solução consensual de controvérsias, ressalvada a competência da Escola
Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - ENFAM; III – providenciar
que as atividades relacionadas à conciliação, mediação e outros métodos consensuais de
solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e remoções de magistrados pelo
critério do merecimento; IV – regulamentar, em código de ética, a atuação dos
conciliadores, mediadores e demais facilitadores da solução consensual de controvérsias;
V – buscar a cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições públicas e
privadas da área de ensino, para a criação de disciplinas que propiciem o surgimento da
cultura da solução pacífica dos conflitos, bem como que, nas Escolas de Magistratura,
haja módulo voltado aos métodos consensuais de solução de conflitos, no curso de
iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento; VI – estabelecer interlocução com a
Ordem dos Advogados do Brasil, Defensorias Públicas, Procuradorias e Ministério
Público, estimulando sua participação nos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e
Cidadania e valorizando a atuação na prevenção dos litígios; VII – realizar gestão junto
às empresas, públicas e privadas, bem como junto às agências reguladoras de serviços
públicos, a fim de implementar práticas autocompositivas e desenvolver
acompanhamento estatístico, com a instituição de banco de dados para visualização de
resultados, conferindo selo de qualidade; VIII – atuar junto aos entes públicos e grandes
litigantes de modo a estimular a autocomposição (BRASIL, 2010, n.p.).
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Um novo olhar para a resolução das contendas é significativamente importante para todo
o processo, uma vez que em um país que a cultura do litígio é forte, todas as formas e todos os
incentivos para mudanças têm de ser aplicados com esperança.
O Novo Código de Processo Civil, Lei 13.105/2015, estabeleceu no artigo 3º, §2º: “O
Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos” (BRASIL, 2015, n.p.).
A institucionalização dos métodos consensuais visa a celeridade dos processos, a fim de garantir
maior satisfação para os envolvidos na lide.
O artigo 165 aduz que: “Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de
conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo
desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição”
(BRASIL, 2015, n.p.). Desse modo, o novo código processual estimula a prática dos meios
consensuais, que são regidos pelos princípios da independência, imparcialidade, autonomia da
vontade, da confidencialidade, oralidade e decisão informada, ressaltando o princípio da
confidencialidade, ganhando destaque esta última no parágrafo 1º do art. 165 (BRASIL, 2015).
Desde a Petição Inicial, o autor pode optar pela realização ou não da audiência de mediação
judicial, art. 319, VII (BRASIL, 2015, n.p.). Dessa forma, o juiz marcará a audiência com
antecedência mínima de 30 (trinta dias), e se houver acordo, será homologado e terá força de
sentença.
Sendo assim, sobre a temática, Fernanda Tartuce salientou em seu artigo Mediação no
Novo CPC: questionamentos reflexivos: “O Novo CPC valoriza sobremaneira a adoção de meios
consensuais e pode colaborar decisivamente para o desenvolvimento de sua prática entre nós –
sobretudo nas Cortes de Justiça” (TARTUCE, 2016, p. 16).
Desse modo, é transparente a importância que o Código de Processo Civil teve ao traçar
novos horizontes para a resolução de conflitos, de forma rápida e satisfatória, incentivando não só
os jurisdicionados a terem um acesso à justiça mais eficiente, mas também os operados que que se
capacitam continuamente para garantirem a efetiva aplicabilidade.
A sanção da Lei de Mediação foi de suma importância para a solução dos conflitos nas
relações interpessoais, pois formalizou algo que já era praticado. De acordo com o art. 2º, a
mediação será orientada pelos princípios da imparcialidade do mediador, isonomia entre as partes,
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O CPC delineou várias diretrizes, após sua entrada em vigor, sobre os procedimentos da
mediação, sendo responsável por uma grande colaboração no procedimento de mediação, a fim de
solucionar conflitos pelas próprias partes, havendo a condução, auxílio, orientação, supervisão, do
mediador, terceiro neutro e imparcial, que buscará, com a utilização das técnicas, um acordo, em
que todos ganhem (CASTRO, 2018).
Tanto a mediação judicial como a extrajudicial são tratadas por lei, de forma detalhada. Há
uma novidade no sistema legislativo brasileiro, que é a mediação digital ou online, que permite que
a mediação aconteça sem a presença pessoal dos interessados, ocorre pela internet ou por outro
meio de comunicação que permita a mediação à distância, com o consentimento das partes. Essa
novidade é de suma importância, pois facilita a resolução de conflitos onde quer que a parte esteja,
especialmente em momentos turbulentos, como no caso de uma pandemia, que o isolamento social
é uma medida adotada pela população (CASTRO, 2018).
Os procedimentos que podem ser adotados na mediação são muitos, começando pela
Declaração de abertura, etapa que ocorre a apresentação das partes, do mediador, co-mediador;
princípios que norteiam a mediação como a confidencialidade e a escuta ativa. Após a declaração
de abertura, há a exposição das razões pelas partes, etapa que envolve o princípio da escuta ativa,
uma vez que o mediador irá ouvir as partes e entender o que elas querem repassar, parafraseando
o assunto ouvido. Há a resolução de questões feitas pelo mediador, sempre de maneira neutra e
imparcial, que possibilita a análise do conflito observado de vários ângulos. Todas as técnicas sendo
aplicadas e havendo o consenso dos interessados, haverá o tão esperado acordo, finalizando o
procedimento, com assinatura do termo.
Conclui-se, que a Mediação no Brasil surgiu, inicialmente, como uma solução para
“desafogar” o Poder Judiciário, e hoje, é aplicada em diferentes casos, visando a celeridade,
economia e o sentimento criado pelos interessados de resolverem seus próprios conflitos.
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2.2.1 Origem
Na década de 1970, a mediação surgiu nos Estados Unidos da América por conta da
quantidade de processos judiciais e da complexidade dos casos que não podiam ser apreciados pelo
Poder Judiciário em um tempo razoável, uma vez que a resolução de disputas pelo Poder Judiciário
mostrou-se insustentável. Dessa forma, o Multi-door Dispute Resolution Division foi criado para ser um
centro de solução de controvérsias, havendo a aplicação da ADR.
O instituto da mediação é aplicado há mais de 30 anos nos Estados Unidos e pode ser
utilizado em diferentes casos, sejam em casos cíveis, familiar, comercial, penal, trabalhista. A
finalidade dos profissionais da mediação é conseguir um acordo que satisfaça ambos interessados,
economizando tempo e dinheiro (ALVES; MARTINS; BARROS, 2014).
Diferentemente do Brasil, não há leis que regulamentam todo o território dos Estados
Unidos da América, como o Código de Processo Penal, Código de Processo Civil, Código do
Consumidor, ou seja, nos Estados Unidos, cada estado regulamenta suas próprias Leis, obedecendo
a Constituição Federal (ALVES; MARTINS; BARROS, 2014).
Foi aprovado em 1990 o “Civil Justice Reform Act”, pedido de redução de gastos e morosidade
nos processos judiciais. Em 1998, “Alternative Dispute Resolution Act” entrou em vigor, requerendo
que cada tribunal tivesse programas de meios de solução de litígios. Nos Estados Unidos não havia
uma legislação uniforme nos Estados, até 17 de agosto de 2001, que criou a “Uniforme Mediation
Act”, dividido em 16 sessões, sendo elaborada pela “National Conference of Comissioners on Uniform
State Laws”, passando a ser aplicada a partir de então em todos os Estados (ALVES; MARTINS;
BARROS, 2014).
A mediação de conflitos pode ocorrer tanto no âmbito judicial como extrajudicial. Quando
o procedimento ocorrer e a mediação for frutífera, o acordo será reduzido a termo, será lido para
as partes e em seguida será assinado. Após a assinatura do termo, será levado para o Poder Judiciário
para homologação (ALVES; MARTINS; BARROS, 2014).
A utilização desse instituto restabelece os valores das partes, ajuda a preservar a dignidade,
com a ajuda do mediador, por meio da utilização de técnicas adequadas, facilita a comunicação não
violenta, torna o ambiente menos hostil, mais saudável para a solução de um conflito, já que os
interessados na questão, muitas vezes se encontram perdidos e sem saída e enxergam a mediação
como uma luz no fim do túnel.
26
3 CONCLUSÃO
A Mediação de Conflitos apesar de estar sendo aplicada com mais veemência atualmente,
não é um método consensual novo. A mediação iniciou-se na China com os ensinamentos de
Confúcio, que com sua paz espiritual e harmonia, transmitia sua sabedoria para seus aprendizes.
Em países que a cultura do litígio é forte, a mediação vem se mostrando cada vez mais adequada
para a solução de conflitos de forma justa e econômica.
Conclui-se, dessa forma, que a os Estados estão passando por grandes avanços nas formas
de resolverem seus conflitos, afastando a cultura do litígio e dando espaço para os meios adequados.
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As próprias partes resolverem seus conflitos é o ponto fulcral para a resolução justa, já que não há
uma solução imposta por um juiz, os próprios interessados chegam a um acordo de forma amigável.
REFERÊNCIAS:
ALVES, Jéssica S.; MARTINS, Deyse B.; BARROS, Maria do Carmo. Análise comparativa da
mediação de conflitos no Brasil e nos Estados Unidos da América face à disparidade
entre as culturas jurídica de cada ordenamento. Disponível em:
<análise_comparativa_da_mediação_de_conflitos_no_brasil_e_nos_estados_unidos_da_américa
_face_à_disparidade_entre_as_culturas_jurídica_de_cada_ordenamento>. Acesso em
26/03/2020.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo centra-se na discussão das penalidades aplicadas aos psicopatas criminosos.
Em princípio, observaram-se os aspectos semânticos quanto ao termo psicopata e em seguida
na distinção entre os termos Doença Mental e Transtorno de Personalidade, que possibilitaram
a demonstração da distinção entre as penalidades aplicadas aos psicopatas criminosos. O
objetivo do presente trabalho consiste em perscrutar as penalidades preceituadas no Código
Penal Brasileiro (CPB) aos Psicopatas criminosos.
O problema desta pesquisa centra-se nas penalidades aplicadas aos psicopatas de acordo
com a definição e caracterização do psicopata no âmbito psicológico no qual se enquadra o
referido crime, bem como às distinções entre os conceitos de transtorno de personalidade e
doença mental, ambos cunhados pela Psicologia Clínica, que embasam a discussão acerca de
nosso objeto de estudo, a saber: classificação da psicopatia (doença, transtorno de
personalidade) e a penalidade mais adequada no CPB quanto aos psicopatas conforme sua
classificação na literatura da saúde mental.
Para tanto, foi procedida à leitura de dicionários gerais, bem como os específicos da área
de Psicologia; do Código Penal Brasileiro; do referencial teórico concernente à área jurídica e
psicológica e de Trabalhos de Conclusão de Curso publicados, recentemente, com a finalidade
de apresentar e problematizar uma discussão sobre os referidos textos. Não se pretende esgotar
o assunto em questão, mas apresentar pontos relevantes e lacunas que desejamos visibilizar.
Esta pesquisa é do tipo exploratória, visto que o presente estudo foi desenvolvido a
partir da leitura de trabalhos que abordam a temática em questão, e descritiva, por apresentar a
discussão e análise dos referidos trabalhos sem focar em estatísticas quantidade etc.
O referencial teórico da presente pesquisa está composto de: de Capez (2016); Silva
(2008); Mirabete (2003) e Taborda (2004).
O presente trabalho divide-se em duas seções teóricas: a primeiro, que aborda a origem
e definição do termo psicopata; a definição do termo Psicopata na área de saúde; a distinção
entre os termos doença mental e transtorno de personalidade e a caracterização do Psicopata.
A segunda, na qual se discorre sobre algumas doenças mentais com o intuito de esclarecer e
situar a psicopatia (no âmbito da doença mental ou no do transtorno de personalidade) e se
discute a análise e problematização presente nos Trabalhos de Conclusão de Curso (doravante,
TCCs) publicados recentemente, que abordam o tema psicopatia focando nas penalidades
aplicáveis ao psicopata criminoso dentre os quais: Emílio (2013), intitulado Psicopatas
homicidas e as sanções penais a eles aplicadas na atual justiça brasileira; Bueno (2012) com o
título Contribuições da Psicanálise e da Neurociência auxiliando na compreensão das possíveis
causas dos transtorno, que relaciona a psicopatia aos aspectos neurológicos e o de Rodrigues e
Guimarães (2015) intitulado Psicopatas homicidas e sua punibilidade no Sistema Penal
Brasileiro, que por sua vez, focam na punibilidade ao psicopata no CPB.
A palavra psicopata vem do grego, nesse caso psyche que significa alma e pathos,
enfermidade. Em tradução livre, o termo significaria alma enferma.
O conceito de psicopatia se desenvolveu em pesquisas nas áreas médicas, em especial, a
psiquiátrica, a psicológica, com ênfase nas áreas comportamental e na neurociência que, por sua
vez procura a compreensão do referido transtorno relacionando-o a atividades cerebrais, tópico
que será abordado mais adiante.
No dicionário online de Português o termo psicopata é definido como Pessoa que sofre
de um distúrbio mental, definido por comportamentos antissociais, pela falta de moral,
arrependimento ou remorso, sendo incapaz de criar laços afetivos ou de sentir amor pelo
próximo. Indivíduo acometido por psicopatia, por esse distúrbio mental.
No referido dicionário encontra-se ainda a seguinte explicação: Designação genérica
para quem expressa qualquer tipo de patologia mental.
Conforme Palhares e Cunha (2012) alertam para o fato de que o termo psicopatia é
comumente empregado em pareceres jurídicos e documentos legais especialmente em perícias
que interessam a área do direito penal e, em alguns casos de matéria civil. Os autores consideram
a primeira corrente como mais conservadora que por sua vez entende a psicopatia como uma
doença mental, postura criticada por parte expressiva de profissionais da área da psiquiatria
forense, visto que a parte cognitiva dos indivíduos psicopatas se apresenta preservada, íntegra,
com a plena consciência dos atos que praticam, apresentando ainda, inteligência acima da média
da população.
A consequência da adesão da segunda corrente é que a responsabilidade penal dos
psicopatas poderia ser conforme Hales (2006) poderia ser amenizada devido a suposta
incapacidade de observar as regras jurídicas e sociais.
É importante ressaltar que no entendimento de Palhares & Cunha (2012) se os
psicopatas forem considerados como loucos morais essa postura influencia casos concretos
julgados por magistrados em que os consideram como semi-imputáveis ou inimputáveis, o que
prejudica a sociedade e os próprios psicopatas.
Nesse caso, ainda se apresenta um ponto relevante defendido por Palhares & Cunha
(2012), que se refere a terceira corrente, majoritária, surgida em função dos avanços, que
consideram a psicopatia como um transtorno de personalidade antissocial, postura mais
adequada, visto que a concebe em uma visão mais completa, levando em conta a consciência, o
caráter e a personalidade do indivíduo como um todo.
Mesquita e Duarte (1996, p. 173) definem Psicopata como aquele que sofre de uma
psicose; em linguagem vulgar, “o doente mental”.
Bueno (2012, p. 03) defende que a Psicopatia é um transtorno de personalidade, como
descrito no DSM-IV – TR
semiestruturada por meio da qual o profissional responsável pela aplicação, deve avaliar cada
pergunta formulada com uma pontuação entre 0 e 2. E o resultado dessa avaliação não decorre
apenas da entrevista. Também é preciso levar em conta o histórico criminal da pessoa, os
relatórios periciais, histórico profissional e familiar, atas de julgamentos, avaliações de iguais etc.
Os itens avaliados nesse teste de psicopatia se compõem da seguinte lista:
1 Loquacidade/Encanto superficial. Que se refere à facilidade ou aptidão para
discursos.
2 Egocentrismo/Grande sensação de valor próprio, que se define com um
conjunto de atitudes ou comportamentos indicando que um indivíduo se refere
essencialmente a si mesmo.
3 Necessidade de estimulação/Tendência ao tédio. A pessoa sempre está
envolvida com algo novo ou perde o interesse pelo que tem ou faz no momento presente.
4 Mentira patológica consiste em compulsão em mentir, sem benefícios externos
e geralmente restritos a assuntos específicos, para se apresentar de maneira bem vista
socialmente.
5 Direção/Manipulação refere-se à influência social que visa mudar o
comportamento ou a percepção dos outros por meio de táticas indiretas, enganosas ou
dissimuladas.
6 Falta de remorso e culpabilidade. Consiste, respectivamente, no abatimento da
consciência que percebe ter cometido uma falta, um erro, estado ou característica do que é
culpável.
7 Baixa profundidade dos afetos. Não consegue desenvolver laços profundos com
as pessoas com as quais se relaciona.
8 Insensibilidade/Falta de empatia referem-se, respectivamente, na capacidade de
emocionar-se, de experimentar sentimentos de afeição, de amor, de piedade, pena etc.; frieza,
indiferença, dureza e ausência da capacidade de se colocar no lugar do outro.
9 Estilo de vida parasita. Não costuma lutar para ter o que quer, pois sente que
deve ser servido.
10 Falta de controle comportamental. Não cumpre regras comportamentais, em
função da falta de empatia, sendo capaz de sorrir, desdenhar de alguém cuja compaixão
despertaria em outras pessoas.
35
Não nos ateremos a uma explanação aprofundada desses itens, pois seu detalhamento
não cabe ao nosso objeto de estudo, nem ao gênero textual que ora construímos, embora a
explanação dos itens contribua para a compreensão dos traços de psicopatia.
Em se tratando ainda da distinção entre “Doença Mental” e “Transtorno de
Personalidade” cabe-nos citar Parekh (2018), que na página da Associação Brasileira de Familiares
Amigos e Portadores de transtornos afetivos - ABRATA, defende que a doença mental não é
nada para se envergonhar. É um problema médico, assim como doenças cardíacas ou diabetes.
Assim, as doenças mentais são definidas como condições de saúde que envolvem
mudanças na emoção, pensamento ou comportamento (ou uma combinação delas), estando
associadas à angústia e/ou problemas de funcionamento em atividades sociais, de trabalho ou
familiares.
É relevante considerar os dados da Organização Mundial de Saúde - OMS (doravante,
OMS) que definem a doença mental como algo comum, esclarecendo que um em cada cinco, ou
seja, (19%) dos adultos dos EUA experimentam alguma forma de doença mental; um em cada 24
(4,1%) tem uma doença mental grave e um em cada 12, isto é (8,5%) têm um transtorno de uso
de substância diagnosticável.
Em se tratando do Brasil, a OMS, declara que cerca de 23 milhões de brasileiros, ou seja,
12% da população brasileira apresenta sintomas de transtornos mentais. Ainda, conforme as
pesquisas, cerca de 5% dos cidadãos sofrem com transtornos mentais graves e persistentes.
Entretanto cabe-nos anuir que a doença mental é tratável e que a maioria dos indivíduos
com doença mental continua a desenvolver atividades cotidianas como, por exemplo: preparar
sua própria alimentação, cuidar de seus lares de acordo com suas necessidades de sobrevivência.
A Saúde mental defende que o indivíduo com doença mental pode apresentar um
desenvolvimento eficaz em suas atividades diárias, resultando em atividades produtivas
(trabalho, escola, cuidado) e relacionamentos saudáveis, bem como adaptação à mudança e à
adversidade.
A Doença mental se refere coletivamente a todos os transtornos mentais diagnosticáveis,
que são condições de saúde que estão relacionados às mudanças significativas no pensamento,
emoção e/ou comportamento; aflição e/ou problemas que funcionam em atividades sociais, de
trabalho ou familiares
Quanto à saúde mental, convém destacar que ela é a base para emoções, pensamento,
comunicação, aprendizagem, resiliência e autoestima. A saúde mental também é fundamental
37
Para uma compreensão um pouco mais apurada de nosso objeto de estudo, citamos o
conceito de Capez (2016, p. 327) para a doença mental: “É a perturbação mental ou psíquica de
qualquer ordem capaz de eliminar ou afetar a capacidade de entender o caráter criminoso do fato
ou de comandar a vontade de acordo com esse entendimento”.
Já Faria (2013) define os Transtornos Mentais como disfunções no funcionamento da
mente, que podem afetar qualquer pessoa e em qualquer idade e, geralmente, provocados por
complexas alterações do sistema nervoso central.
A supracitada autora defende que existem diversas modalidades de transtornos mentais,
que são classificados em tipos, e alguns dos mais comuns incluem aqueles relacionados à
ansiedade, depressão, alimentação, personalidade ou movimentos, por exemplo.
Consideramos relevante observar as informações em Faria (2013) acerca da Ansiedade,
da Depressão e da Esquizofrenia.
39
Tendo como objetivo demonstrar as sanções penais que são aplicadas na atual justiça
brasileira e seus efeitos, fazendo uma análise do artigo 26 do Código Penal Brasileiro. O
presente trabalho utilizou-se do método de pesquisa, de caráter exploratório e descritivo
qualitativo.
Os resultados alcançados dessa pesquisa apontaram que a justiça brasileira não se
encontra apta a lidar com indivíduos acometidos pela psicopatia, sobretudo, os homicidas.
Deste modo, o trabalho trouxe também uma postura consoante entre os posicionamentos de
uma grande parte de publicações da comunidade psiquiátrica e de juristas, com o entendimento
pela imputabilidade dos psicopatas.
41
Emílio (2013) concluiu através de suas análises, que as estruturas das penitenciárias e
hospitais de custódia estão destinadas apenas ao tratamento de criminosos comuns, sem
nenhum transtorno de personalidade.
Neste ínterim, já é perceptível visualizar um problema nesta última observação da
autora, que se refere ao perigo que a convivência no mesmo espaço físico representa um perigo
para os criminosos comuns.
Outro trabalho que apresenta relevantes informações acerca das penalidades acerca dos
psicopatas homicidas é o de, Rodrigues e Guimarães (2015) publicado na Revista Jurídica no
ano de XV, n. 24, 2015, que descreve e analisa a punibilidade destinada aos indivíduos
acometidos pela Psicopatia. O citado artigo trouxe os conceitos, níveis e características de
acordo com DSM-5 com os critérios diagnósticos realizados através de testes e as devidas
providências judiciais como as penas e as medidas de segurança.
Na esfera do Direito Penal, Rodrigues e Guimarães (2015), identificaram o crime, os
seus elementos, evidenciaram a diferenciação entre os tipos de punibilidade observando-se os
requisitos em conformidade com a lei.
Por fim, Rodrigues & Guimarães (2015) concluem que dependendo do grau de
transtorno de personalidade, o indivíduo possui plena capacidade e consciência dos atos
praticados e não apresenta nenhum arrependimento ao cometê-los.
Ademais, os autores afirmam que os hospitais psiquiátricos e os presídios não são, locais
adequados para os psicopatas, pois estes, não são doentes mentais e, além disso, podem colocar
em risco a vida e reeducação de outros presos. O mais adequado seria um presídio idealizado
especialmente para os psicopatas com um acompanhamento de uma equipe de
multiprofissionais.
Bueno (2012) apresentam respostas a respeito do assunto com relação a formação
psíquica baseada em FREUD, que constitui as instâncias do Id que consiste no prazer sem
limites, o Ego, cuja percepção desempenha a função de compreender o mundo e o princípio da
realidade, e o superego, que por sua vez apresenta a realidade e suas regras, identificados com
os fatores de ordem biológica, genética e familiar. Nessa pesquisa o método pesquisa, de caráter
exploratório e descritivo, embasado por meio de contribuições da neurociência.
Através da pesquisa teórica realizada, Bueno (2012) percebeu que os psicopatas não
podem ser compreendidos apenas pelos fatores genéticos e biológicos, ou serem considerados
vítimas de uma sociedade injusta, para justificar os atos de atrocidades cometidos contra as suas
vítimas.
42
Convém ressaltar que, o trabalho evidencia a importância das relações afetivas iniciais,
para evitar o surgimento de patologias ou transtornos, concluindo que o tema abordado ainda
necessita de mais estudos e pesquisas para uma melhor e mais detalha da compreensão das
causas do transtorno denominado Psicopatia.
A partir da apresentação das informações apresentadas nas pesquisas cumpre-nos anuir
que é possível defender que há dois pontos relevantes quanto ao nosso objeto de estudo, que já
se previam desde o momento da decisão pelo tema. Estes pontos serão indicados mais adiante nas
considerações finais desta pesquisa.
Esses indivíduos não são considerados loucos, nem apresentam qualquer tipo de
desorientação. Também não sofrem de delírios ou alucinações (como a esquizofrenia) e
tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por
exemplo). Ao contrário disso, seus atos criminosos não provêm de mentes adoecidas,
mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de
tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos.
3.1 Imputabilidade
Nucci (2009, p.295) define, a imputabilidade penal é o conjunto das condições pessoais,
envolvendo inteligência e vontade, que permite ao agente ter entendimento do caráter ilícito do
fato, comportando-se de acordo com esse entendimento.
Com base na literatura jurídica é possível afirmar que o conceito de imputabilidade penal
não apresenta variações significativas de um doutrinado para outro, apresentando-se como
essências para a definição de imputabilidade conceitos como cognição e volição preservadas,
isto é a capacidade de entender e de querer praticar o ato típico e antijurídico.
Nesse sentido Palhares & Cunha (2012) elucidam que a posição majoritária considera a
psicopatia como um transtorno de personalidade antissocial, cuja capacidade de entendimento
dele não é afetada quanto ao caráter ilícito. Desse modo, o psicopata deve ser tratado pelo
Direito penal como infrator imputável ao qual deve ser imposta pena com sanção adequada ao
delito cometido.
Diante das definições apresentadas neste texto quanto à psicopatia e à imputabilidade
penal surge uma questão cuja resposta faz-se imprescindível ao tratar-se sobre a sanção penal
mais adequada ao psicopata criminoso, a saber: a consideração do psicopata como imputável,
semi-imputável ou inimputável.
É condição sine qua non para a compreensão do direito de punir do estado, a finalidade
da sanção e as consequências jurídicos-penais para uma infração que podem ser a pena ou a
medida de segurança.
Em se tratando da medida de segurança Capez (2016, p 446), defende que é uma “sanção
penal imposta pelo Estado, na execução de uma sentença, cuja finalidade é exclusivamente
preventiva, no sentido de evitar que o autor de uma infração penal que tenha demonstrado
periculosidade volte a punir”.
O posicionamento do autor corrobora com um ponto bastante relevante para o nosso
estudo, que se iniciou a partir da preocupação em apresentar a sanção penal mais adequada ao
45
caso do psicopata criminoso, que por sua vez somente pode receber um dos tipos de penas
dentre as duas espécies de sanções penais, que são a pena ou a medida de segurança. Esta última
não se adequa a ele, por ter exclusivamente caráter preventivo, isto é, apresenta natureza
ressocializadora. E ao caso do psicopata não é tão profícua, pois este tem em sua conduta a
natureza reincidente como já dito na literatura de saúde mental.
Nessa perspectiva, apresenta-se na literatura jurídica, adota-se o sistema vicariante, que
impossibilita a aplicação cumulativa de pena e medida de segurança.
Em face do exposto, ressaltam-se alguns pontos apresentados nos textos compilados
nesta pesquisa quanto à adequação das sanções penais aplicáveis ao psicopata criminoso, como
seguem:
i) Não é adequada a aplicação da medida de segurança ao psicopata, que por sua vez é um
indivíduo que se enquadra nas literaturas especializadas (médicas e/ou jurídicas), como
imputável. Convém aceder ao que determina Nucci (2005, p. 509) acerca da medida de
segurança: “uma espécie de sanção penal destinada aos inimputáveis e, excepcionalmente, aos
semi-imputáveis, autores de um fato típico e antijurídico [...] devendo ser submetido à
internação ou a tratamento ambulatorial.
ii) A medida de segurança não solucionará seu problema (psicopatia), que é um transtorno
de personalidade como elucida Silva (2012, p. 173) “a psicopatia não tem cura, é um transtorno
de personalidade e não uma fase de alterações comportamentais momentâneas”. Em caso de
aplicação dessa medida, o psicopata apenas passará um determinado tempo em um hospital de
custódia, no qual receberá atenção médica – medicamentosa, psiquiátrica, psicológica etc. Nesse
sentido, nem a medicação nem a psicoterapia solucionará o problema, haja vista que o psicopata
de acordo com a literatura médica não pode ser considerado como doente mental, mas como
um indivíduo com transtorno de personalidade. De acordo com Mirabete (2010, n.p.) a medida
de segurança possui finalidade preventiva, a fim de preservar a sociedade da ação de
delinquentes temíveis e recuperá-los com tratamento curativo. iii) O psicopata não pode ser
enquadrado como indivíduo inimputável, haja vista que ele tem a percepção de certo e errado,
bem como da ilicitude do que está praticando.
A esse respeito Mirabete (2003, p. 210) ressalta que de acordo com a teoria da
imputabilidade moral (livre-arbítrio), o homem é um ser inteligente e livre, podendo escolher
entre o bem e o mal, entre o certo e errado, e por isso a ele se pode atribuir a responsabilidade
pelos atos ilícitos que praticou.
46
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRASIL. Vade mecum. Código Penal. 5ed. Porto Alegre: Editora Verbo Jurídico, 2010. p.
519. 4
EMÍLIO, Caroline Souza. Psicopatas homicidas e as sanções penais a eles aplicadas na atual
justiça brasileira. Orientadora: Profª Samantha Dubugras Sá. Tese. Universidade Católica do Rio
Grande do Sul – PUCRGS, 2013.
FARIA, Claudia. Transtornos mentais mais comuns: como identificar e tratar. Disponível em
https://www.tuasaude.com/claudia-faria/Acessado em 16 de abril de 2020.
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal, volume 1: parte geral, arts. 1 a 120 do
C.P. 19. Ed. São Paulo: Atlas, 2003, p.210.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral, parte especial. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2005. p. 256.
PALHARES, Diego de Oliveira & CUNHA, Marcus Vinicius Ribeiro. Penalidades aplicadas aos
psicopatas homicidas no Código Penal Brasileiro. Revista Jurídica Práxis Interdisciplinar. Volume
1, nº 01, 2012.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2008. p. 129.
1 INTRODUÇÃO
1
Aluna do curso de Bacharel em Direito da Faculdade Estácio de Sá, Campus Teresina/PI
50
Os contratos de parceria com a inciativa privada por meio de concessões representam uma
evolução histórica das formas de prestação do serviço público; sendo a primeira fase com uma
ausência do estado na prestação; a segunda fase com a prestação direta realizada pelo ente possuidor
do ônus prestacional; a terceira fase com o início das prestações indiretas por meio de concessões
e permissões; e, por fim, a quarta fase com a prestação com distribuição de riscos.
Dessa forma, é possível observar que, com os contratos de concessão, comuns e especiais,
o Estado passa a agir como um verdadeiro gestor, pois nasceram da falta de recursos públicos, da
ineficiência na gestão governamental e da necessidade de distribuir os riscos para atrair ainda mais
os parceiros privados nas contratações públicas.
Este trabalho busca, de forma abrangente, mostrar como as concessões podem garantir
uma melhor efetivação dos serviços públicos, em meio às necessidades fiscais do Estado, uma vez
que as contratações nesses tipos de contratos são a longo prazo, o que permite investimento e
retorno progressivo, além de visualizar como esses tipos de concessões podem gerar diminuição
das despesas essenciais através do compartilhamento de riscos. Tais diretrizes estão previstas na
Constituição Federal e nas Leis nº 8.987/95 e nº 11.079/2004 e suas respectivas alterações, que
serão base deste estudo.
Em meados do século XX, depois da primeira guerra mundial, surgiu no mundo todo um
fenômeno relativamente novo, que seria o fenômeno da atividade prestacional do Estado, focado
no estado de bem-estar social, com o surgimento das constituições sociais – constituição de Weimar
de 1919 e constituição mexicana de 1917 – que iniciaram um novo ciclo de objetivos da
Administração Pública, a prestação de serviços públicos.
O Estado, dentro da evolução da sua concepção de obrigações e diante das novas
necessidades dos seus administrados, com a inauguração de novas conquistas sociais e a evolução
de novas gerações de direitos, passou a ter como foco a dignidade dos indivíduos por meio da
disponibilização de serviços básicos, a própria legitimação de direitos individuais e políticos.
Através de direitos econômicos, sociais e culturais, inaugurou uma nova fase de ônus prestacional
para a Administração Pública.
No início, os serviços públicos eram prestados de forma direta pelo Estado, que
asseguravam a distribuição dos serviços essenciais à população. Porém, com o passar do tempo, o
aumento da demanda pelas prestações positivas do Estado, se instalou um ambiente quase
51
impossível da Administração Pública realizar a prestação dos serviços apenas diretamente, usando
de entes exclusivamente estatais, surgindo assim as formas de prestação indireta dos serviços
públicos através da descentralização, utilizando-se da outorga (descentralização por serviço) ou da
delegação (descentralização por colaboração).
As descentralizações por colaboração acontecendo quando houvesse a participação de
entes privados como sujeitos ativos da prestação do serviço público à população, se utilizando de
contratos administrativos como concessões e permissões de atividades públicas.
Foram trazidas para dentro do regime jurídico administrativo formas para realizar essa
parceria por descentralização, sendo o ordenamento contemplado com formas de contratação para
entidades privadas para que realizassem tal atividade, por meio de qualificação técnica específica e
que resultasse no menor ônus final para a administração pública.
As chamadas concessões comuns resultam na descentralização de serviços pelo poder
público, com ausência de ônus para administração, deslocando assim o ônus da prestação dos
serviços para o setor privado. Já as concessões especiais, ou parcerias público-privadas,
caracterizam outra forma de descentralização, geralmente de serviços que necessitem de
contraprestação da Administração para serem sustentados.
As parcerias público-privadas, como espécie de concessão, foram consequências naturais
da busca de soluções para a prestação de serviço públicos época de crise econômica e fiscal.
Os primeiros fenômenos das PPPs surgiram na Europa, inicialmente no Reino Unido,
através de programas de governo que atrelavam as parcerias públicas e privadas (PFI) para o
desenvolvimento de serviços públicos.
O objetivo do Reino Unido com a PPP/PFI era construir um quadro de desenvolvimento
de projetos públicos com captação e participação de capital privado.
A partir da década de noventa, [a Itália] num quadro de rigor financeiro ditado pela
participação no projecto da UEM, a urgência em superar o “handicap” infraestrutural
conduziu a perspectivar a associação do financiamento e gestão privados como a forma
mais pragmática e eficaz de potenciar a ultrapassagem de uma redução crónica,
porventura endémica, do investimento público. (AZEVEDO, 2008, p 144)
Além dos tipos de concessões comuns, precedida ou não de obra, o ordenamento jurídico
brasileiro, seguindo boas práticas internacionais já demonstradas, recebeu mais uma inovação com
a lei que instituía as Parcerias Público-Privadas, criando as chamadas concessões especiais, divididas
em duas modalidades de contratação: a concessão administrativa e a concessão patrocinada. A
doutrina conceitua esses contratos da seguinte forma:
55
Art. 2º ...
traz o art. 2º, §2º da lei. Desta forma se difere da modalidade patrocinada, na qual subsiste um
usuário diferente do Estado, ou seja, existe o pagamento de tarifa além da contraprestação
pecuniária, na concessão administrativa o serviço é direcionado para a própria Administração
Pública. Assim, a única forma de remuneração do parceiro privado é através da contraprestação
pecuniária.
Existem critérios específicos para realização dos contratos de concessões especiais, em
ambas as modalidades, diferenciando-os dos contratos previstos pela Lei nº 8.987/1995, como a
necessidade de constituição de uma sociedade com propósito específico, a limitação com as
despesas do contrato, tempo de contratação e vedações, a apresentação de garantia contratual pelo
poder concedente, critérios objetivos para avaliação de desempenho, alocação de risco e os
mecanismos para a preservação da atualidade da prestação dos serviços.
Para iniciar a estruturação de um contrato de parceria com o setor privado, seguindo os
moldes normativos trazidos pela lei, é necessário observar que o prazo de vigência do instrumento
deve ser compatível com a amortização dos investimentos realizados no decorrer do lapso temporal
que durar o referido, não sendo inferior a 5 anos, nem superior a 35 anos, incluindo eventual
prorrogação (art. 5º, I, Lei 11.079), sendo trazido como vedação da própria lei, a contratação cujo
valor do contrato seja inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) (art. 2º,§4°,I, Lei 11.079),
ou ainda que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e
instalação de equipamentos ou a execução de obra pública (art. 2º,§4°,III, Lei 11.079).
Com relação às Sociedades de Propósito Especifico (SPE), a lei exige, em seu art. 9º, de
que “antes da celebração do contrato, deverá ser constituída sociedade de propósito específico,
incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria”. Meireles (2017) entende que a constituição
de uma nova pessoa jurídica tem como objetivo a separação da entidade interessada na parceria
daquele que, após a licitação, está incumbida da execução do objeto do contrato, viabilizando com
isso, maior controle por parte do poder concedente. Os parágrafos seguintes do Art. 9º da Lei
determinam que a SPE deverá obedecer aos padrões de governança coorporativo.
A prática da constituição de uma nova pessoa jurídica, desvinculada de passivos pretéritos,
tem maior facilidade conseguir financiamento junto às instituições financeiras para execuções dos
investimentos do projeto licitado, por exemplo.
Com o propósito de tornar o negócio jurídico mais seguro e atrativo para os investimentos
de capitais privados, a lei traz a exigência de garantia contratual por parte do poder concedente,
entre elas, a possibilidade de vinculação de receitas para diminuir o risco do negócio
57
5 CONCLUSÃO
O Poder Concedente do serviço tem a obrigação de conciliar cada caso com sua melhor
alternativa para preservação do interesse público e a preservação da continuidade do serviço, a fim
de não usar um determinado modelo de contratação ou de gestão como um sistema genérico a ser
usado em todos os casos para resolver todos os problemas.
REFERÊNCIAS
BALTER NETO, Fernando Ferreira; TORRES, Ronny Charles Lopes de. Direito
Administrativo. 9.ed. Salvador: Juspodivm, 2019.
BRASIL. Lei n. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. Dispõe sobre o regime de concessão e permissão
da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras
providências. In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8987cons.htm. Acesso em: 27 de
março de 2020.
BRASIL. Lei n. 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Institui normas gerais para licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. In:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- 2006/2004/Lei/L11079.htm. Acesso em: 26 de
março de 2020.
MEIRELES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 41.ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
1 INTRODUÇÃO
Você sabia que é plenamente possível a flexibilização dos direitos fundamentais? Esses
direitos são essenciais para a vida humana, lembre-se de que vivemos em um mundo onde
deveríamos respeitar os direitos fundamentais de quem nos rodeia e valorizar uns aos outros, mas
isso simplesmente não acontece porque imaginamos que estas são tarefas árduas, impossíveis e
assustadoras.
Imaginamos que se trata de atos tão difíceis, que só podem ser tratadas por uma heroína
nascida em um palco totalmente político que até então é a realeza democrática. Diante da luta para
a existência de tais direitos é que nos faz refletir e perguntar: que tipo de mundo estamos vivendo?
E em que tipo de mundo você quer viver? É verdadeiramente possível flexibilizar tais direitos?
2. DESENVOLVIMENTO
Os direitos fundamentais que estão previstos na Constituição Federal, no título II, que vai
do artigo 5 ao 17, são segundo a professora Amanda Almozara instrumentos jurídicos para a
1 Bacharel em Direito no ano de 2020.1 pela Faculdade Estácio Teresina/ Endereço da plataforma lattes:
http://lattes.cmpq.br/8223931881212013/ E-mail: belazpontes14@gmail.com
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proteção do indivíduo frente a atuação estatal, ou seja esses direitos são as armas que o cidadão ou
indivíduo usa para se proteger do Estado em face de sua atuação.
Mas por que o Estado é esse vilão? Na verdade o vilão não é o próprio Estado mas quem
o governa, uma vez que tem alguém no exercício do poder este pode cometer abusos e
arbitrariedades contra seus governados, é por isso que esses direitos são elencados para estabelecer
o mínimo necessário para que a pessoa venha a ser respeitada na sociedade e tenha condições
dignas de vida.
Os direitos fundamentais são históricos, pois os mesmos vieram de primórdios marcados
por guerras e revoluções. José Afonso da Silva, afirma que os direitos fundamentais “são históricos
como qualquer direito. Nascem, modificam-se e desaparecem”, nesse sentido Bobbio afirma:
Que os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou
seja, são nascidos em certas circunstâncias, caracterizados por “lutas em defesa de novas
liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e
nem de uma vez por todas” (BOBBIO, 2004, p. 05-06).
Com isso ele afirma que são necessárias situações propicias para o surgimento do mesmo
já que os conteúdos dos direitos fundamentais mudam com tempo e segue a atualização da era
moderna, se analisarmos a fundo notamos que muitos deles foram flexibilizados de forma que
tomaram outros sentidos e até ressignificados no que tange gênero e número. Exemplo disso é a
família, “a família é sem sombra de dúvida, o elemento propulsor de nossas maiores felicidades e,
ao mesmo tempo, é na sua ambiência em que vivenciamos as suas maiores angústias, frustrações,
traumas e medos” (GAGLIANO; FILHO, 2012, p.38).
A Constituição Federal (BRASIL, 2017), afirma no caput do art. 226 que a família, base da
sociedade tem especial proteção do Estado, seus parágrafos seguem mostrando a diversidade da
família moderna que antes era patriarcal e hoje pode ser entre filho e mãe ou pai e filho (família
monoparental), pai, mãe, avos, tios, filhos (família extensa) e pessoas do mesmo sexo e um filho
(família homo parental).
Diante do quadro atual, como os direitos fundamentais devem ser limitados para que não
ocorra um inconveniente banalização desses direitos mais importantes?
O Direito fundamental segundo a Constituição Federal são aqueles elencados para a
proteção da dignidade da pessoa humana, eles possuem a mesma finalidade dos direitos tidos
62
como direitos humanos, porém são dotados de desproporção visto que os direitos humanos possui
cunho mundial já que este vem assegurado na Declaração Universal dos Direitos Humanos da
Organização das Nações Unidas.
Os direitos fundamentais são elencados entre os artigos 5 e 17 da nossa constituinte, vale
destacar que o direito por sua vez declara e as garantias asseguram. Esses direitos em especial devem
ser usados tanto no direito público quanto no privado, vez que eles são essenciais para a vida
humana como já afirma José Afonso da Silva quando enfatiza o termo “direitos fundamentais do
homem” ele considera que para respeitar o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, é necessário
que esses direitos sejam prerrogativas e que o direito positivo concretize.
Observa-se que as garantias fundamentais resguardam os direitos estabelecidos no nosso
ordenamento jurídico que não estão sendo cumpridos. No quadro atual analisa-se a chamada
quarentena e o isolamento social, que é fundamentada no artigo 196 da Constituição Federal que
impõe ao estado o dever de cuidar da saúde da população.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
2.3 Restrições
Figura 1 – Polícia civil fecha igreja que fazia culto presencial no Jurunas, em Belém.
Fonte:https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2020/04/27/policia-civil-fecha-igreja-que-fazia-culto-presencial-no-
jurunas-em-belem.ghtml.
63
Quarentena não significa necessariamente que serão apenas 40 dias, esse prazo pode ser
prorrogável, ele é estipulado para garantir o melhor atendimento médico no território, essa medida
só pode ser determinada por meio administrativo formal e justificado que deverá ser editado pelo
ministro do estado, secretário da saúde do município, Distrito Federal ou superiores de cada gestão
devendo ser publicada no diário oficial.
A distinção do isolamento social ocorre porque neste separa-se a pessoa doente da saudável
de forma mais pessoal. O médico após constatar a infecção do vírus ou a suspeita determinará que
o suspeito mantenha-se isolado em casa de preferência, e se considerar o caso grave será no próprio
hospital pedindo que este assine um termo de consentimento onde ficará ciente de que foi
informado da medida e quais são suas responsabilidades. O prazo máximo é de 14 dias podendo
ser prorrogada por igual período. O artigo quinto afirma que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (CONSTITUIÇÃO FEDERAL,
1988).
Se relacionarmos esse artigo com isolamento social e a quarentena analisamos que o direito
à liberdade foi limitado vez que há um prazo para as pessoas permanecerem presas dentro de casa.
Imagem 01
A Imagem 01 mostra uma igreja onde estava havendo culto presencial com aglomeração
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de 20 pessoas sem máscaras e não respeitando o distanciamento de segurança, medidas essas que
correspondem ao combate à Covid-19.
Analisando a imagem notamos que houve limitações também no que tange aos temas de
inviolabilidade de culto e a reunião pacifica do mesmo artigo, visto que a polícia em vez de alertar
a população e ensinar a medidas de segurança, ordenou o fechamento da mesma ferindo clausula
pétrea constitucional, os incisos VI e XVI que afirmam:
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.
Até que ponto essas limitações podem ser atribuídas? Bem com o foco na doença esquecem
dos pacientes acidentados, acometidos de doenças humanas como diabetes, hipertensos,
infartados, etc. As empresas em falência, demissões em massa, famílias passando fome,
endividamentos. Até que ponto o governo pode limitar direitos fundamentais causando prejuízo a
uma parte importante da sociedade enquanto foca em um único alvo?
Mas o que significa intimidade e privacidade? Vale ressaltar ainda que a intimidade nos
remete ao sentido de algo que é interno, ou seja, íntimo ao ser humano e confidencial, de forma
que se trata de um termo subjetivo. Já o conceito de privacidade é mais amplo visto que significa
que é aquilo que nos pertence, mas nós decidimos se vamos compartilhar ou não.
É interessante lembrar esses conceitos que nos remetem ao quadro atual da chamada
quarentena e o isolamento social, onde fica nítido que os direitos tidos como fundamentais não
têm sido resguardados em especial o direito a intimidade e privacidade no que se trata da atuação
dos governadores.
66
No atual cenário temos um embate de vida x vida, a primeira se refere a medida de combate
e prevenção ao corona vírus, ou seja o slogan “fique em casa”, o segundo trata da oposição, estes
não tem condições de ficarem em casa e querem voltar as ruas para trabalharem. Enfatiza-se então
o princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio absoluto previsto no artigo 1º, III da
Constituição Federal.
Diante do quadro mundial de pandemia não se pode deixar de mencionar um tema chave
para o envolvimento de um dos princípios fundamentais norteados no nosso ordenamento jurídico.
No que tange ao tema mencionaremos a economia. Economia é o agrupamento de movimentações
desenvolvidas pelas pessoas visando a distribuição e o consumo de bens e serviços obtidos através
da produção de produtos necessários para sobrevivência e para melhor qualidade de vida para a
raça humana, ou seja, é uma considerável poupança.
As pessoas têm como costume guardar dinheiro em contas poupanças geradas em bancos,
este mealheiro tem o intuito de fazer render o dinheiro e sua característica principal é a não
movimentação do valor ali guardado, mesmo com baixo investimento qualquer pessoa pode abrir
esse tipo de conta. Fazendo um parâmetro entre o mealheiro pessoal e o mealheiro nacional
observamos que ambos guardam uma certa renda para um investimento maior que o previsto, algo
eventual e imprevisível.
Analisamos que muitas vezes este é guardado e denominado fundo de emergência, que
serve para o controle ou moderação das despesas da mesma forma que os bancos demonstram
nossas despesas, saques e outras operações. A União também conta com o tesouro nacional, ele é
o caixa do governo que também pode captar recursos através de investimentos, assim como
qualquer instituição privada.
Não se pode desprezar o fato de que a Ciência Econômica é Multidisciplinar, pois a mesma
estuda a produção e consumo da imensa variedade de bens e serviços existentes, os quais envolvem
concepções e determinantes inerentes a outras ciências, como as da Educação, Agronomia, Política
do Trabalho, Engenharia, Nutrição da Saúde, entre outras.
A economia é o estudo de como a sociedade e os homens decidem, empregar recursos
produtivos escassos que poderiam ter aplicações para produzir diversas mercadorias ao longo do
tempo e distribuí-las para consumo agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos da sociedade
podendo ser ela com ou sem a utilização do dinheiro.
O Brasil é um dos principais exportadores de soja, frango e suco de laranja do mundo,
porém em meados de 2014 começou a sofrer uma crise econômica a qual prevalece até o atual
cenário denominada de crise político-econômica. Uma de suas principais consequências foi a
68
forte recessão econômica, levando a um recuo no produto interno bruto (PIB) por dois anos
consecutivos.
A economia no País há muito tempo abandonou a monocultura ou o direcionamento
unicamente para um tipo de produto de exportação, mesmo com inúmeras mudanças a economia
contraiu-se em 2015 cerca de 3,5% e em 2016 3,3%. Mas o que causou a atual crise no Brasil? Foi
a diminuição excessiva da taxa de juros no passado, o governo tentou incentivar o crescimento
econômico e a oferta de crédito no país estabelecendo taxas muito baixas. Quando se utiliza essa
manobra em excesso ela pode gerar inflação e aumentar as taxas de inadimplências, no caso foi isso
que aconteceu no Brasil nos últimos 4 anos no governo da ex presidenta Dilma Rousseff, além
disso contamos com o imenso sistema de corrupção que retira cerca de R$ 200 bilhões de reais ao
ano dos cofres públicos segundo o procurador da República Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa
da Operação Lava-Jato.
Entende-se então que durante uma crise econômica há declínio da atividade econômica. A
demanda por consumo diminui, o que leva à diminuição da taxa de lucro das empresas. Como as
empresas passam a lucrar menos, muitas delas acabam demitindo funcionários e isso leva ao
aumento de taxas de desemprego.
Entendendo isso, passamos a analisar o atual cenário do COVID-19. O exemplo que
usaremos é do Governador Carlos Massa Ratinho reforçou o pedido para que todos os comércios
que não precisassem abrir nesse momento fossem fechados, ou seja, pediu para que fossem
suspensas as atividades. Logo após, ele estabeleceu um decreto afirmando que as atividades que
ainda poderiam se manter em funcionamento o Decreto nº 4.318/2020, além de ampliar a
regulamentação do funcionamento de serviços essenciais também ajusta o texto de outros
segmentos e denomina o que são considerados serviços e atividades essenciais, ou seja, os que de
forma alguma podem ser interrompidos:
Serviços Essenciais
odonto-médico-hospitalares, inclusive
na modalidade de entrega delivery e
similares;
Telecomunicações; Funerários;
multiprofissionais e interdisciplinares,
para fins de reconhecimento de direitos
previstos no Estatuto da Pessoa com
Deficiência;
Iluminação pública.
O que concerne a essas empresas analisamos que todas as outras fecharam e permanecem
fechadas, isso significa que elas não produzem e consequentemente não vendem. Os indivíduos
não consomem, não ocorre a geração de lucro e renda para as empresas, logo ainda possuem a
obrigação de pagar os funcionários, porém o valor deve ser reduzido de algum lugar ou fundo que
a empresa possua, visto que não chegou a entrar nada nos caixas da empresa.
As empresas tendem a demitir em massa uma grande quantidade de seus funcionários, isso
porque existe uma demora na recuperação, e a impossibilidade de continuar mantendo os salários
em dia. O desemprego dá ao trabalhador o direito ao seguro-desemprego que se trata de uma
assistência financeira temporária para o trabalhador desempregado. Ele é pago em três a cinco
parcelas de forma alternada e contínua, porém, como já citado anteriormente é um auxilio
temporário. A questão que fica em pauta é quando esse benefício acabar o que será das pessoas?
71
3 CONCLUSÃO
pagamento de dívidas, proibiu o corte de água e luz, estabeleceu um valor para auxílio emergencial
de pequenas empresas, desempregados etc., comprou leitos e respiradores para todas as regiões do
Brasil, sancionou lei que garante auxilio de 2 milhões a hospitais filantrópicos, repatriou brasileiros,
dentre várias outras medidas tomadas que se encontram no Instagram do atual presidente.
Todas essas medidas mostram que é possível a flexibilização de direitos de forma branda
como já mencionado e que essa estratégia de isolamento não funciona, pois tem gerado um caos
do desemprego, fome e diversos países tem mostrado que, mesmo em isolamento, várias pessoas
continuam sendo infectadas pelo vírus. Por isso resguarda-se os propensos e leva o Brasil a frente
com os não propensos, com todos os cuidados devidos matam-se dois coelhos com uma cajadada
só.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA BRASIL. São Paulo usará celulares para monitorar aglomerações. Disponível
em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-04/sistema-vai-monitorar-
aglomeracoes-em-sp-por-meio-de-celular. Acesso em: 2 de maio de 2020.
BRASIL. Corona vírus: Presidente determina serviços que não podem parar. Disponível em:
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46569-coronavirus-presidente-determina-
servicos-que-nao-podem-parar. Acesso em: 2 de maio de 2020.
SAÚDE. Corona vírus: novos dados sobre grupos de risco. Disponível em:
https://saude.abril.com.br/medicina/coronavirus-novos-dados-sobre-grupos-de-risco/. Acesso
em: 2 de maio de 2020.
1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO.
Me atento a este tópico de forma especial, pois foi um de meus maiores incentivos ao
escolher o tema.
Uma situação tão bárbara quanto essa está passando por despercebida, pelo simples
motivo de desconhecimento do fato, não é aceitável no momento em que vivemos, nem em
passados, nem futuros. Tantos bebês estão em risco, nascidos já comprometidos com um crime tão
hediondo.
Infelizmente, por conta da condição não ser tão conhecida, não há o que se falar em
diversas doutrinas que tratem especificamente o tráfico de bebês para fins sexuais. O que não torna
o agente menos real.
Dados que são trazidos à tona por nosso ministério público em seus manifestos em
pronunciamentos sobre luta declarada ao assunto, tomando a frente a ministra Damares Regina
Alves (Paranaguá, 11 de março de 1964), são de que uma das formas em que o crime acontece, são
nas condições em que o nascituro é vendido ainda no ventre da mãe, pra ser violentado por seu
nefando comprador. Tirando da criança, desta forma, todo e qualquer direito (mesmo sem
consciência de poder de escolha) que lhe é resguardado por nosso código civil. Onde a forma da
lei assegura ao nascituro: Código Civil Brasileiro, Art. 2º: “A personalidade civil da pessoa humana
começa do nascimento com a vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro”.
Vemos então, que mesmo sua personalidade tendo um momento específico para se iniciar
(sendo no instante de seu primeiro respirar fora do ventre de sua progenitora), mas o seu direito a
78
vida, como um ser humano se inicia desde o seu concebimento. Isso o torna digno de ser protegido
contra qualquer ameaça a sua vida ou qualquer ato ilícito cometido ou tentado contra o mesmo.
Temos nosso Código Penal, que deixa totalmente a desejar quanto a especificação de cada
pessoa e penalidade.
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher
pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1 o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a
pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de
hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica
inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2 o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar
organização criminosa.
Existe um grande desconforto ao ver que crimes com tão grande calão de crueldade
possam ter uma pena tão irrisória. Tenho a liberdade de expressar uma indignação pessoal, já que
o tema não deixa de tentar atentar totalmente questões como esta.
Como a vida de uma pessoa, sendo destruída por qualquer uma das razões elencadas no
artigo, pode ter uma penalidade tão diferente ao valor de uma vida que é imensurável?
Essa é a questão principal. Jamais querer equiparar valor de vidas ou liberdade, sabendo
que um não se compara ao outro, porém ambos sendo impossíveis de mensurar valor.
Os incisos que tratam nomeadamente o tema escolhido, são, o inciso V (quinto) por sua
finalidade ser exploração sexual, II (segundo), por ser contra uma criança, e IV (quarto), do
parágrafo segundo quando entra a migração, se enquadrando no tráfico internacional.
Precisamos compreender que por conta dos mínimos e totalmente importantes detalhes
que diferencia cada situação da outra, mesmo se tratando ambos de tráfico humano, encontramos
a total necessidade de mudança na atual Legislação que versa sobre a temática.
Um grande detalhe que nos comprova a desatenção dos legisladores quanto ao objeto, é
a quantidade de anos entre os primeiros entendimentos em 2003 e inclusões em 2016. 13 (treze)
anos, onde pessoas de diferentes faixas etárias estavam sendo vendias e escravizadas de inúmeras
formas, ficaram sem o devido amparo necessário de quem de fato deve e tem poder para assistir e
ter posicionamentos.
Tínhamos o artigo 231 do mesmo código que também englobava o tráfico com o enfoque
mais voltado para forma de entrada e saída ilegal dos traficantes e a devida penalidade: “Art. 231.
Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a
79
Temos então uma ordem de afastamento nas medidas que devem ser tomadas. Se tratando
de bebês as formas de cuidados tomam uma proporção ainda mais extrema, pois no caso de tráfico
de recém nascidos, onde acontece de algumas situações os próprios pais serem os negociadores,
para onde eles devem ir? Sob cuidados de quem?
Nesta forma, vemos como temos respaldo suficiente para desejarmos um cuidado ainda
maior quanto aqueles que de forma alguma poderiam responder por si mesmos, ainda que a vida
fora da barriga ainda não tenha acontecido, mas simplesmente pelo fato de sua concepção, pois se
há hipótese de vida, há direitos, e esses devem ser aplicados em sua totalidade a esses seres
humanos.
Não é ignoto a realidade que o Brasil enfrenta quanto ao tráfico de pessoas para fins de
trabalho escravo, venda de órgãos, adoção ilegal, prostituição e o objeto dessa pesquisa, exploração
sexual.
Em nossa nação, dos citados, os que mais movimentam esse obscuro “mercado”, são para
fins de prostituição forçada fora do país e adoção ilegal interna, e no exterior, onde bebês são
também aos principais alvos.
Uma das atividades ilegais que mais aumentou sua proporção no século XXI (vinte e um),
levantam dados de surpreender e assustar qualquer pessoa que tenha senso de justiça social. Sendo
o 3° (terceiro) ramo ilícito que mais lucra por ano, perdendo somente para tráfico de drogas e
armas.
Historicamente, mesmo que pareça um problema atual, o tráfico de pessoas já tem
existência desde os tempos primórdios do Brasil. Pois não podemos esquecer que nossas raízes
culturais quanto a miscigenação são totalmente influenciadas por uma das práticas mercantil da
época. Me refiro ao tráfico negreiro, que tivera sua duração por mais ou menos 400 anos, mais
precisamente do ano 1501 (mil quinhentos e um) a 1875 (mil oitocentos e setenta e cinco), com
compra e venda de escravos, que eram movimentados por várias nações como Holanda, Portugal,
França, Inglaterra e também o Brasil, onde a escravidão era uma das maiores movimentadoras das
economia durante quatro séculos e seus serviços eram utilizados principalmente para conquista de
novas terras. Essas ações são um dos primeiros registros de pessoas sendo traficadas.
Nasce então em 1904 (mil novecentos e quatro), no século XIX (dezenove), as primeiras
legislações que entendiam esse tipo de comércio como ilegal, em âmbito nacional e internacional.
Iniciados todos pela ONU (organização das nações unidas) , que no século seguinte, XX (vinte),
continuou a levantar convenções que se impuseram a ramificar tudo que englobaria o tráfico
humano.
81
É necessário o levantamento histórico para que venhamos entender as raízes desse crime,
e como ele chegou a tão grande atividade nos tempos de hoje.
A ONU sendo sempre uma das principais engajadas nessa luta, em defesa dos direitos
humanos, tem seus olhos voltados para todas as nações na intenção de que em cada canto pessoas
possam usufruir de todos os deus direitos quanto sua vida, criou o comitê internacional global
contra esses crimes, onde o Brasil e todos os países também estão aptos para suas intervenções,
por conta da influência do tribunal penal internacional.
Vemos com todas essas informações, que mesmo nossas normas internas não versem
devidamente a responsabilidade do crime, as regras internacionais também com seu impacto no
Brasil, nos dão uma linha de como deve ser tratado todo conflito que toque nas restrições de
direitos ou privação de liberdade.
Infelizmente, ainda que existam todos esses mecanismos, o número de vítimas continua
a crescer em toda a terra, e o Brasil continua no ranking, onde a estimativa são de 241 (duzentas e
quarenta e uma) rotas nacionais e internacionais.
Em nosso país, as regiões que estão à frente no número de rotas são: Norte, que vem em
primeiro com cerca de 76 rotas, seguida pelo Nordeste, com 69 rotas e Sudeste com
aproximadamente 35 rotas.
O que nos chama atenção para o fato de que as regiões que mais exportam nesse marcado
milionário, são as mais carentes quando a necessidades básicas e sociais no Brasil. E os maiores
alvos nessas rotas também são mulheres, crianças e bebês.
Por conta da pobreza gritante em diversas cidades dessas regiões, podemos levantar
também uma problemática quanto a falha governamental dos poderes na falta de amparo que
sempre existiu aos menos favorecidos. Nada justifica a venda de um ser humano, e eu jamais
levantaria uma hipótese da Lei da selva, onde vemos olho por olho e dente por dente, mesmo com
toda a imparcialidade. Mas não podemos deixar de mencionar, como toda uma sociedade em seus
comportamentos e vivência são totalmente influenciadas por sua disponibilidade e poder
econômico. Assim vemos o Brasil e tantos outros países com lacunas na educação, na saúde, com
dificuldade ao acesso ao trabalho e todas as políticas públicas, entram na lista dos maiores
traficantes de pessoas.
Outros dados que nos fazem compreender melhor a respeito de como flui
financeiramente o negócio são os levantados pela OMT ( organização mundial do trabalho). Onde
a estatística é de que cerca de 32 bilhões de dólares são movimentados por ano. Com 63,2 mil
vítimas por ano, circulando ente 106 (cento e seis) países.
A falta de uma fiscalização totalmente focada em combater não tão somente o tráfico de
drogas e armas, mas também de pessoas em nossas fronteiras é um dos grandes proveitos dos
traficantes.
82
Por conta das grandes extensões das vias nas fronteiras, existe uma falta de vigilância rígida
no ambiente clandestino. Principalmente em se tratando de recém nascidos, onde o registro não é
obrigatório no dia do seu nascimento, fazendo assim com que o tráfico de bebês se mobilize com
ainda mais facilidade.
2.4 A Venda de Bebês e Conteúdo Pornográfico na Deep Web2 em Âmbito Nacional com
Finalidade de Suprir Desejos Pessoais/Hediondos de Pedófilos.
No mundo inteiro temos estatísticas de como esses abusos crescem a cada ano,
aumentando o número de vítimas que tem seus direitos como pessoa humana violados
independentemente de como versa a legislação de cada país sobre os crimes que são cometidos no
ato do abuso, como a violação da dignidade, tráfico, transporte ilegal, estupro e infanticídio. Neste
tópico trago informações e relatos do ministério da mulher, família e direitos humanos adquiridos
em suas investigações sobre os tipos negociações feitas entre os traficantes, e aliciadores e alguns
casos, os pais que se envolvem.
Crianças têm sido as maiores vítimas de estupro no Brasil, segundo o Atlas da Violência
de 2018. O estudo foi produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e apontou que 50,9% dos casos registrados de estupro em
2016 foram cometidos contra menores de 13 anos de idade. Não bastasse o alto índice, um dado
traz outro alerta para a seara de crimes sexuais: o comércio de vídeos de menores sendo estuprados,
principalmente bebês.
Segundo a Ministra da mulher, da família e dos direitos humanos: “um vídeo de abuso de
criança pode custar entre mil e dois mil reais. Se for bebê, pula para 50 mil reais. O comércio da
imagem de abuso de bebês no Brasil tem movimentado esse mercado negro” (REGINA, 2019)
Segundo dados divulgados em maio de 2019 pelo Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos, o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) recebeu 76.216 denúncias no ano de
2018 envolvendo crianças e adolescentes, sendo que 17.093 desse total se referia à violência sexual.
A maior parte de abuso sexual (13.418 casos) e denúncias de exploração sexual (3.675).
Só nos primeiros meses de 2019 são 4.736 denúncias recebidas de violência sexual.
Em investigações feitas pelo já citado ministério da mulher, família e direitos humanos,
encontra-se relatos fortes, que serão expostos por necessidade dos fatos mais uma vez quanto ao
alerta da gravidade do caso.
Já vi imagens muito fortes. Tem uma cena em que depois que um homem abusa do bebê,
ele ejacula no peito da mãe para que a criança possa mamar o esperma dele. Ou seja, a
2 A deep web, também chamada de deepnet ou undernet, é uma parte profunda da web que não é indexada pelos
mecanismos de busca, ficando, portanto, oculta ao grande público.
83
O abuso de bebês no Brasil chama atenção pela crueldade. Existem fóruns de debates na
Deep web com títulos Anal com Bebês, Bebês Gostosos. E há troca de mensagens entre pais. Uma
das mensagens que me impressionou muito foi de um pai falando para uma pessoa que a sua mulher
estava grávida e que ela já estava fazendo planos. Ele diz o seguinte: “eu gostaria de saber quais os
anestésicos e pomadas que eu posso usar, porque eu sei que a partir de seis meses, eu já posso fazer
anal com ele”. Essa é a realidade do Brasil com nossas crianças. Nossa nação está doente – lamenta
o ministério da mulher, família e direitos humanos.
O Ministério da Saúde alerta que os casos de violência sexual no país somaram 184.524
ocorrências entre 2011 e 2017, sendo mais de 58 mil contra crianças (31,5%) e mais de 83 mil (45%)
contra adolescentes. Quase 70% desses casos aconteceram dentro das casas das vítimas.
A internet tem sido o maior campo destas negociações tanto em âmbito nacional como
em internacional. Por meio destas vias é onde a maioria das investigações também conseguem
informações de como chegarem até o crime organizado que tramitam por sites na deep web.
2.5 Medidas de Combate ao Tráfico. Existem Formas Eficientes na Luta a Favor de Seu
Fim?
Este momento nos traz muitas perguntas onde deveríamos ter muitas respostas.
Infelizmente o tráfico, seja ele em qualquer uma de suas formas é uma grande luta a ser vencida,
onde precisamos de algo que vai muito além de revolta e desejos por justiça, mas coragem e
engajamento de fato.
Sendo assim vemos que no momento existem cada vez mais pessoas atentando seus olhos
e força em seus cargos públicos na defesa de bebês, crianças, adolescentes e vulneráveis em geral.
casos acontecem dentro de casa, confessando que temos um grande problema, que não é somente
de quem sofre, mas de todos nós como cidadãos, e que as famílias precisam entender o verdadeiro
sentido de trazer a vida uma pessoa, que necessita de cuidados básicos e principalmente de amor,
ressignificando suas características.
Família é segurança, é lugar de aprendizado, é lar de paz, família é aconchego que o mundo
não traz. Família é ir para longe sabendo sempre que tem para onde voltar, correndo de pressa já
sentindo cheirinho de casa quando a saudade apertar.
Ressalto a importância da família lembrando que ninguém nasce odiando ou amando,
ninguém nasce com anseio de fazer o mal, ninguém nasce sendo violento ou sendo estuprador.
Nós nascemos livres segundo a lei, porém prontos para sermos ensinados, e é na família nosso
primeiro contato com ética e cidadania, princípios esses que são primordiais para a boa convivência
na sociedade. Aponto esse ponto da ressignificação da família, no caráter paterno e materno como
um dos primeiros passos para a transformação em qualquer área.
Não é de hoje que vemos como o descomprometimento de quem tem o poder político
nas mãos acabam comprometendo tanto a forma de socialização em todos os Estados. Ousamos
ao pensar em como seriam diferentes as taxas de criminalidade se todas as políticas públicas fossem
regidas e supridas como devem ser. Temos governos decidindo a velocidade de evolução da
sociedade quanto ao acesso ao conhecimento e educação há muitos anos. Ao mesmo tempo em
que temos estes problemas com a violência quanto aos crimes e abusos desencadeados também
devido à falta de cuidados e reparos dos mesmos, há muitos anos. Já deveríamos estar cuidando de
nossas crianças antes mesmo do problema se tornar o grande “mercado” que se tornou.
Como a maior intenção da pesquisa é trazer a conhecimento os fatos que têm ocorrido
referente ao crime de tráfico de bebês/pessoas. Fica aqui o apelo aos futuros políticos, ministros,
juízes federais que irão ter acesso a informações, aparatos e poder necessário para combater o
tráfico. Lutem, se engajem, amem seu povo, amem seu país, entendam o valor de seus cargos para
vocês e para nós, sejam orgulho para esta nação combatendo tudo que esteja contra nossa proteção
e liberdade de direitos. Sejam resposta, sejam a voz de quem por medo, opressão ou repressão
foram silenciados.
Existem também formas em que nós como sociedade podemos entrar em ação.
Entendendo o nosso dever de respeito tanto as pessoas quanto a ordem pública.
Seguindo todos os passos que devem ser tomados quando observado abusos as crianças
e bebês. Alguns desses sinais são liberados em seus comportamentos, hábitos, gestos sexuais (sejam
estes em desenhos ou brincadeiras) e questões físicas. Caso identifique um ou mais dos indicadores,
o melhor a se fazer é, antes mesmo de conversar com a criança, procurar ajuda de um especialista
que possa trazer a orientação correta para cada caso.
No caso de bebês, por mais que eles ainda não consigam demostrar em mudanças de
comportamento, gestos e falas, existem alguns sinais que podem denunciar que estão sofrendo
abusos, como inchaço, hematomas e contusões próximo a área genital, ossos quebrados sem causa
aparente, presença de sangue aparente nos lençóis ou nas roupas íntimas e sono agitado. Procure
um profissional da saúde caso seja percebido estes sinais.
Segundo o artigo 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em caso de suspeita
ou confirmação de violações de direitos humanos de crianças e adolescentes, de qualquer tipo,
incluindo a violência sexual (abuso ou exploração sexual), o caso deve ser sempre denunciado.
No Brasil, o principal canal de denúncias, por ligações telefônicas gratuitas, de crimes
sexuais cometidos contra crianças e adolescentes é o Disque Denúncia Nacional , ou Disque 100,
coordenado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
3.0 CONCLUSÃO
encontrados tantos relatos hediondos ao grau de abusos de bebês de oito dias de vida, e da forma
como tudo acontece, quanto ao envolvimento dos próprios pais.
Um dos pontos mais tocados na pesquisa, foi como as legislações que versam sobre o
tráfico com enfoque em bebês e resguardos ao nascituro ainda estão em sua forma abstrata, acredito
que o artigo cooperará para a análise que deve ser feita referente a esta pauta, e a todos os reparos
que necessitam ser feitos , a justiça tem que caminhar aos mesmos passos das necessidades de
direitos da sociedade. Dando o seu amparo legal ao vulneráveis.
De todas as formas em que foi tratado a problemática, e todas as óticas em que foi
analisada, tanto em ambiente físico, quanto no mundo profundo da internet onde as negociações
acontecem livremente. No problema do ambiente familiar, nas lacunas sociais, na fácil locomoção
de bebês por falta da devida fiscalização, em todas estas vertentes, temos a certeza da grandiosidade
e seriedade do problema, e que cabe a nós darmos os primeiros passos.
Concluo com o desejo de que este seja apenas um dos primeiros de tantos outros projetos
de pesquisa que irão focar no tráfico de bebês, agora não somente para o alerta, e intenção de
instigar ao anseio ao combate, mas também com futuras propostas de soluções. Acredito na
coragem e capacidade e anseio de justiça que vai além dos ambientes que nos favorecem, mas que
tratam sobre os direitos de todos, até mesmo os que não estão ligados diretamente a nós. Sei que
os que virão posteriormente irão cumprir grandes feitos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm >. Acesso em: 16 set.
2020.
1 INTRODUÇÃO
A transmissão dos direitos e deveres, por força de lei, dá-se em razão do princípio da sai-
sine. Isso é possível após o falecimento de uma pessoa, além de gerar uma perda imensurável aos
parentes, significa que o patrimônio deixado será dividido, mas regular-se-á através de normas
relativas ao condomínio.
Nesse sentido, o direito sucessório compreende-se como um conjunto de normas essen-
ciais à transferência de patrimônio de uma pessoa, no caso de morte. A partir do cumprimento das
formalidades, o ordenamento jurídico brasileiro, admite duas formas: inter vivos, sendo, a doa- ção
e o testamento. E causa mortis, com inventário e partilha.
Insta ressaltar que o ato de última vontade realizado pelo autor da herança precisará res-
peitar aos pressupostos de existência, validade e eficácia para, assim, alcançar o propósito de pro-
duzir efeitos no ordenamento jurídico brasileiro. Ou seja, características como: negócio jurídico
unilateral, solenidade do ato, gratuidade, revogabilidade, e ser causa mortis.
À luz do Código Processual Civil, o inventário, é um instituto sistemático de atos com o
objetivo bem específico, mas sem a exclusividade da via judicial. Assim, classifica-se em extraju-
dicial e judicial.
O presente trabalho visa demonstrar a importância da possibilidade do inventário extra-
judicial. O advento da Lei 11.441 de 04 de janeiro de 2007, somado ao Código de Processo Civil
de 2015, torna o procedimento viável e legal, possibilitando aos herdeiros a escolha de realizar o
inventário e a partilha por escritura pública e assim, constituir título hábil para o registro imobiliá-
rio.
Esse procedimento visa mais celeridade e menos desgaste emocional, visto que envolve
sentimento de perda de um ente querido, processo no qual se necessita realizar a devida sucessão
1Artigo Científico apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Faculdade Estácio de Teresina como requisito
para obtenção do título de Bacharela em Direito, sob orientação da Ana Lectícia Erthal Soares Silva.
2Bacharelanda em Direito; e-mail: carllafahd@gmail.com.
89
e partilha dos bens do espólio. Insta apontar que nesse tipo de procedimento, há possibilidade de
escolha do cartório de notas independe do local onde o falecido residia, ou mesmo independente
da situação dos bens.
Ao tornar esse procedimento possível, o legislador, por meio da Lei 8.935/94, delegou ao
cartório de notas a atividade Notarial e Registral, pois o Tabelião, sujeito dotado de fé pública,
também é norteado pelos princípios e fundamentos indispensáveis para execução dos atos. Por-
tanto, a desjudicialização do inventário passou a ter amparo legal, abrindo a via extrajudicial para
realização de inventário por escritura pública perante o Tabelionato de Notas, procedimento esse
que fora ratificado pelo artigo 610 do Código Processo Civil, que estabelece os requisitos neces-
sários para realização do feito.
2 DESENVOLVIMENTO
O falecimento de uma pessoa, além de gerar uma perda imensurável aos parentes, signifi-
ca a transmissão dos direitos e deveres por força de lei, em consonância com o artigo 1.784 do
Código Civil. Visto que acontece de forma imediata aos herdeiros legítimos e testamentários, isso
se dá em razão do princípio da saisine, originário do direito francês, que está positivado no referi-
do artigo (ASSIS NETO; JESUS; MELO, 2017, p. 1865).
Ocorre que o patrimônio não será dividido em partes nem mesmo sobre algum bem es-
pecífico, mas sobre a totalidade, e ainda regular-se-á por meio de normas relativas ao condomí-
nio, como expressa o artigo 1.791 CC, in verbis:
A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. Pará-
grafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da
herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio. (BRASIL,
2002).
A herança terá natureza jurídica de bem imóvel, como dispõe o artigo 80, inciso II do
Código Civil, in verbis: “Consideram-se imóveis para os efeitos legais: II - o direito à sucessão
aberta”. Enquanto herança é o conjunto de relações jurídicas e passivas de caráter patrimonial
pertencente ao falecido, o espólio é um ente despersonalizado que representa a herança em juízo e
extrajudicialmente (ASSIS NETO; JESUS; MELO, 2017, p. 1866).
Inicialmente, dessa universalidade, decorrerá a proibição legal de qualquer herdeiro, inclu-
sive o inventariante, de alienar os bens, de transmitir para terceiros, de pagar dívidas ou fazer as
despesas em nome do espólio sem autorização judicial.
O Direito Sucessório compreende-se com um conjunto de normas essenciais à transfe-
rência de patrimônio de uma pessoa, no caso de morte. O jurista Gonçalves (2019) ressalta que a
palavra “sucessão”, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra,
substituindo-a na titularidade de determinados bens.
Então, a partir do cumprimento das formalidades que podem ser realizadas em juízo ou em
cartório, poderá ocorrer a sucessão, transmissão do patrimônio do de cujus, por força de lei, através
da legitimidade sucessória, ou por vontade do falecido, por meio de testamento. Sendo assim, no
ordenamento jurídico brasileiro, a sucessão admite duas formas: inter vivos, sendo, a doação e o
testamento, e causa mortis, com inventário e partilha.
A palavra deriva do latim, testamentum, testamento significa atestação, cujo efeito de atestar
ou declarar realizar-se-á por documento público em que conste a veracidade de algum fato ou a
existência de obrigação.
No mundo jurídico, o vocábulo “testamento”, nas palavras de Carlos Alberto Gonçalves
(2019), “constitui ato de última vontade, pelo qual o autor da herança dispõe de seus bens para
depois de sua morte e faz outras disposições”. O Código Civil assegura esse procedimento que está
regulado pelos artigos 1857 a 1859, vejamos:
91
Art. 1.857 do Código Civil: Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totali-
dade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte. § 1° A legítima dos
herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento. § 2 o São válidas as dispo-
sições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se
tenha limitado.
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo.
Essa vontade do falecido precisará respeitar aos pressupostos de existência, validade e efi-
cácia para, assim, alcançar o propósito de produzir efeitos no ordenamento jurídico brasileiro.
Entretanto não é absoluta, pois o testador não poderá restringir a sucessão apenas aos legitima-
dos como prevê o artigo 1.857, §1° do Código Civil: “a legítima dos herdeiros necessários não
poderá ser incluída no testamento”.
Nesse sentido, o renomado jurista brasileiro Pontes de Miranda, apud Gagliano e Pamplo-
na Filho (2018), leciona sobre a proteção do Estado sobre a última vontade, afirmando que:
A definição de testamento para Tartuce (2017) trata-se de negócio jurídico unilateral, per-
sonalíssimo e revogável pelo qual o testador faz disposições de caráter patrimonial ou extrapatri-
monial, para depois de sua morte.
nifestação de vontade, assim, de acordo com o artigo 1.863 do Código Civil: “é proibido o testa-
mento conjuntivo, seja simultâneo, recíproco ou correspectivo”. Ou seja, é vedado o pacto corvina,
também conhecido como pacto sucessório, e essa proibição se justifica em razão de tal disposição
contrariar uma característica essencial do testamento, que é a revogabilidade, elemento assegura-
do por lei através do artigo 426 do Código Civil, cujo teor dispõe: “não pode ser objeto de con-
trato a herança de pessoa viva” (GONÇALVES, 2019, p.155).
O ato deve ser solene e só poderá ter validade se forem observadas as formalidades pre-
vistas em lei (ad solemnitatem), Gonçalves (2019) destaca que a excessiva formalidade é criada com o
intuito de preservar a autenticidade e a liberdade do testador, bem como alertar o autor da
importância do testamento que está preste a ser firmado. É admissível uma exceção a formalidade
presente no artigo 1.893 do Código Civil quando se trata de testamento de militar que poderá ser
realizado sem as devidas formalidades exigidas por lei.
Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças Armadas
em campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja
de comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu substitu-
to legal, ante duas, ou três testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar,
caso em que assinará por ele uma delas. (BRASIL, 2002).
O ato deve ser gratuito, ou seja, não pode constituir vantagem financeira ao testador. Essa
é uma característica essencial para o ato, pois não se pode impor ao beneficiário de um testamen-
to a obrigação de contraprestação, tampouco se pode propor venda de uma quota ou todo patri-
mônio a algum herdeiro, sob pena de configurar um ato expressamente proibido no ordenamen-
to jurídico, o chamado pacta corvina (GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2018).
Outra importante característica do testamento é a revogabilidade, que constitui princípio
de ordem pública, nesse sentido Gonçalves (2019) afirma que o ato de revogar em todo ou em
parte é irrenunciável, não estando o testador obrigado a declinar os motivos, tal irrenunciabilida-
de possui previsão nos artigos 1.969 a 1.972 do Código Civil. Há, no entanto, no artigo 1.609 do
Código Civil a ressalva de que “o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevo-
gável”, ou seja, uma exceção ao princípio da revogabilidade.
Por fim, no elenco de características do testamento, temos a Causa mortis, pois os efeitos do
dele só começarão após a morte do testador, é um requisito essencial do ato sucessório, sobre o
tema, Gonçalves (2019) alude que “até o falecimento dos disponentes fica sem objeto o ato em que
a pessoa desfruta do patrimônio para depois do próprio óbito [...], é um pressuposto necessá- rio,
para que tenha eficiência, a morte do prolator”.
Assim, as formalidades deverão ser interpretadas de forma a assegurar a vontade do testa-
dor, não cabe ao juiz recorrer a outras fontes além do próprio testamento, logo o acórdão da
jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça não deixa dúvida em relação ao respeito devido da
93
O Código Civil prevê três tipos de testamento: o público, o cerrado e o particular ( artigo
1.862 do CC). Não há hierarquia entre os mesmos, pois qualquer das formas descritas em Lei possui
igual aptidão para produzir efeitos pos mortem, e a escolha vai depender da vontade do tes- tador
(ASSIS NETO; JESUS; MELO, 2017, p. 1866).
No testamento público não há sigilo de seu teor, qualquer interessado poderá acessar, com
o requisito de ser escrito pelo Tabelião com as declarações do testador, lavrando o instru- mento a
ser lido em voz alta na presença de duas testemunhas e pelo autor, sendo ao final assina- do por
todos os citados.
O testamento cerrado ou também conhecido como místico ou secreto, possui a caracte-
rística de ser mais sigiloso, pois ninguém além do testador conhecerá seu conteúdo, entretanto não
tem segurança quanto ao testamento físico, pois o documento ficará com o testador. E com o
requisito de ser escrito, entregue ao Tabelião, lavrado, assinado pelos citados e para resguardar
o sigilo não será lido.
O testamento particular é o mais simples, sem recolhimento de emolumentos ou taxas, com
razoável sigilo, pois apenas o testador e as testemunhas terão acesso ao seu teor, porém, frágil,
devido ao risco do documento se perder, o testador deverá ser confirmado em juízo pelas
testemunhas, caso contrário, não será válido e ainda não será cumprido. Tal documento deverá ser
escrito de próprio punho, na presença de três testemunhas.
A Capacidade para testar está previsto nos artigos 1860 e 1861 do Código Civil e poderá
94
se dividir em capacidade ativa (testamenti factio activa) e capacidade passiva (cestamenti factio passiva).
Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tive- rem
pleno discernimento. Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos. Art.
1.861. A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o
testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade. (BRASIL, 2002).
A regra geral do Código Civil brasileiro sobre a validação do negócio jurídico é requisito
aplicado também ao testador, como dispõe o artigo 104: “A validade do negócio jurídico requer: I
- agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou
não defesa em lei”. Tais disposições são cruciais para praticar o ato com discernimento e auto-
nomia, assim, efetivar sua plena vontade consciente.
No que diz respeito à capacidade ativa, Gonçalves (2019) menciona que tal elemento é
exigível, portanto, no momento em que se for redigir ou elaborar o testamento, deverá ser aferida
a capacidade do testador, verificando se, no ato de testar, tinha pleno discernimento do seu ato,
somente assim o documento será valido, permanecendo válido mesmo que ele venha a perder a
lucidez em momento posterior. Os incapazes serão exceção, pois não tiveram pleno discerni-
mento no ato de fazê-lo.
7. Na hipótese, o Tribunal de origem registrou que, sem risco de equívocos, a prova foi
robusta diante do comprovado estado precário de sanidade mental da testadora em
95
momento anterior à lavratura dos testamentos públicos. Rever essa conclusão de-
mandaria o reexame de fatos e provas (Súmula 7/STJ). (grifo nosso).
A capacidade passiva está relacionada à aquisição por testamento, sendo uma regra mate-
rial para a sucessão hereditária em geral, que legitima as pessoas nascidas ou os nascituros, ao tempo
da morte da herança, para receber parte ou todo o patrimônio deixado pelo falecido (GAGLIANO
e PAMPLONA FILHO, 2018).
A Lei 8.935 de 18 de novembro de 1994 foi a primeira norma federal para a regulamenta-
ção da atividade notarial e registral, comumente conhecida como “Lei dos Notários e Regis-
tradores”. É uma atividade constituída de função pública e que está descrita no artigo 236 da CF/88
da seguinte forma, in verbis: “Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado,
por delegação do Poder Público”. Executa-se tal função por delegação, ou seja, a ativi- dade não é
exercida diretamente pelo Estado, e sim por meio de delegação (e não concessão), pois transfere
apenas o poder de prestar serviço, o Estado, no entanto, continua com a titularida- de da atividade
(EL DEBS, 2018).
O ingresso para notários e registradores acontece por meio de concurso público, com
previsão legal no artigo 14 da Lei 8.935/94 e Resolução 80/2009 e 81/2009 do Conselho Nacio-
nal de justiça, e está sujeito a fiscalização do Poder Judiciário por correições ordinárias e extra-
ordinárias (EL DEBS, 2018).
(...)
A regra estabelecida no artigo 1° da Lei 8.935/94, dispõe que os serviços notariais são
destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.
Insta ressaltar que o titular da delegação está sujeito à fiscalização do Poder Judiciário, o
que se dá por meio das correições, ordinárias e extraordinárias (EL DEBS, 2018). Além de essa
profissão ser instrumento de prevenção de litígios, pois contribui com a pacificação social, ainda
auxilia no desafogamento do Judiciário.
4 DO INVENTÁRIO
A palavra deriva do latim, ‘invenire’, inventário significa achar ou encontrar a relação dos
bens de um falecido, no qual há necessidade de avaliá-los para dar início a sucessão legítima ou
testamentária. Embora os herdeiros adquiram a propriedade desde a abertura da sucessão, os seus
nomes passarão a figurar no Registro de Imóveis somente após o registro formal de partilha
(GONÇALVES, 2019).
Os juristas Gagliano e Pamplona Filho conceituam inventário como:
No dispositivo do artigo 636 do Código Processual Civil, observa-se que depois de aceito
o laudo ou resolvidas as impugnações suscitadas a seu respeito, lavrar-se-á em seguida o termo de
últimas declarações, no qual o inventariante poderá emendar, aditar ou completar as primeiras.
Após, serão ouvidas todas as partes e o Ministério Público (caso tenha menores) e a Fazenda
Pública. O Juiz sentenciará, em seguida expedirá guias para o pagamento, encerrando-se o inven-
tário.
ída da escritura pública, passa a ser documento hábil. Assim, promove-se a averbação do registro
dos imóveis, em caso de sua existência, bem como a certificação da aquisição da titularidade de
eventuais bens, na exata forma como se procedeu à partilha (JÚNIOR, 2016).
Sobre o assunto, assim dispõe o artigo 610 do Código Processo Civil, in verbis:
o falecido era residente, bem como o local da situação dos bens, é livre aos herdeiros esco- lha
do Tabelionato de Notas no qual realizarão a escrituração, desde que em território nacional
(MONTANHER, 2019).
A Lei 11.441 de 04 de janeiro de 2007 autoriza que o procedimento de inventário e parti-
lha seja possível pela via administrativa, também chamada de inventário extrajudicial, com o obje-
tivo de dar celeridade ao poder judiciário, pois, visto que as demandas judiciais são bem eleva- das,
esse procedimento, se realizado pela via judicial, poderá levar anos para ser concluído.
O fator financeiro é algo que dá muita diferença entre as modalidades, pois a tabela de
emolumento do procedimento extrajudicial é muito mais acessível, o qual gera vantagens para os
herdeiros (MONTANHER, 2019).
Não há necessidade de homologação judicial, no qual evita a via de processo judicial e por
consequência, a maior eficácia, visto que é realizado de forma consensual entre os her- deiros,
evitando o desgaste emocional das partes.
O imposto é declarado e conferido pelo próprio Tabelião de Notas, sendo assim a Fazen-
da Pública Estadual não necessitará recolhê-lo. E no caso em que o herdeiro não compareça para
assinar a escritura do inventário, é possível ser representado através de uma procuração pública,
desta forma, não é necessário que todos estejam presentes.
A documentação em relação ao bem imóvel, após a lavratura, deve ser apresentado ao
Cartório de Registro de Imóveis e em se tratando de bem móvel realizar-se-a no Detran para a
devida transferência ao herdeiro.
Nesse sentido, o julgamento realizado no dia 15 de outubro de 2019 a Quarta Turma do
Superior Tribunal de Justiça, proferiu entendimento favorável no que se refere ao inventário ex-
trajudicial:
A Lei 11.441/2007, de acordo com o jurista Flávio Tartuce (2014), “trouxe ao sistema ju-
rídico brasileiro uma inovação festejada, pois veio a reduzir consideravelmente a burocracia para a
partilha dos bens do falecido”. Ou seja, a desjudicialização do inventário tornou possível a via
extrajudicial feito por escritura pública perante o Tabelionato de Notas, procedimento ratificado
pelo artigo 610 do Código Processo Civil, apresentando os requisitos necessários para sua feitura.
5 CONCLUSÃO
No estudo sobre o tema inventário extrajudicial, o qual foi tratado neste trabalho, pôde-se
esclarecer pontos a respeito da normatização do procedimento realizado por via administrativa,
com embasamento indispensável em doutrina, jurisprudência, enunciado, ou seja, a fundamen-
tação no ordenamento jurídico brasileiro. Demonstrando-se argumentativamente sua importân-
102
REFERÊNCIAS
ANDRADE JÚNIOR. Cícero Ronaldo Mendes de. Testamento: os efeitos jurídicos da aber-
tura extrajudicial. In: Revista Dat@venia, Pernambuco, V.8,Nº2, p.161-177,maio/ago. 2016-
ISSN:1519-9916.
ASSIS NETO, Sebastião de; JESUS, Marcelo de; MELO, Maria Izabel. Manual de direito civil:
volume único. 6. ed., rev., atual. e ampl.Salvador: Ed. Juspodivm, 2017.
, Resolução 35, de 25 de abril de 2007. Brasília, DF: Conselho Nacional de Justiça, 2007.
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fev. 2020.
, Resolução 80, de 09 de junho de 2009. Brasília, DF: Conselho Nacional de Justiça,
2009. Disponível em: < https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/105>. Acesso em: 17 fev. 2020.
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível o inventário extrajudicial, ainda que exis-
ta testamento, se os interessados forem capazes e concordes e estiverem assistidos por
advogado. Disponível em:<https://www.dizerodireito.com.br/2020/02/e-possivel-o-
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GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: Di-
reito Das Sucessões. v. 7. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito civil: Direito das Sucessões. v. 4. 20ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2019.
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2020.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Método, 2014.
105
1 INTRODUÇÃO
1 Claudio Tiago Silva Lima, aluno do curso de Direito na Faculdade Estácio Teresina. E-mail: claudio_ti-
ago2015@hotmail.com
106
Sem respeito a Constituição não pode haver devido processo legal, tampouco a de-
nominação: Estado Democrático de Direito. Não se pode admitir que arbitrariedades sejam
recebidas como avanço social ou como remédio para a cura das mazelas que afligem a soci-
edade.
2 DESENVOLVIMENTO
Fishing expedition (expediente de pesca) é um termo legal informal usado pela de-
fesa para se referir cinicamente à tentativa da promotoria em realizar buscas mais
intrusivas nas instalações, na pessoa, ou nas possessões de um réu quando (na
opinião da defesa), não há causa provável suficiente para realizar tal busca. O
termo às vezes também é usado em litígios civis quando o advogado de uma parte
ordena descoberta extensa, o que pode atrasar a resolução do caso e aumentar o
custo de se litigar a questão (talvez suprimir). Também conhecido como uma
107
Destarte, é possível conceituar pesca probatória (fishing expedition) como sendo a apro-
priação dos meios legais, sem objetivo traçado, “pescar’ qualquer coisa que se encontre, bas-
tando se ter evidência, tendo ou não relação com o caso concreto. Assim a aplicação da pesca
probatória acontece, como será detalhado mais à frente, nos mandados de busca e apreensão.
São grandes as distinções entre ambos no âmbito da persecução penal como aponta
Antonio Pessoa. Enquanto a Constituição americana, de 1787, é sintética, possuindo apenas
27 Emendas desde a sua criação, a Constituição brasileira além de ser dois séculos mais jo-
vem, é extremamente analítica.
Nos Estados Unidos, é ampla a competência legislativa estadual no campo criminal,
sendo as causas de penas de prisão mínima de seis meses submetidas a júri. O juiz preside o
julgamento e profere a sentença no caso do réu ser considerado culpado. A esfera probatória
é limitada, somente admitindo testemunho em questões concretas, sendo vedado que dis-
corra sobre boatos ou questões pessoais.
Em razão do particular sistema legislativo americano e da existência de sistemas jurí-
dicos estaduais que além do federal, é comum que ocorram divergências e ingerências quanto
a competência do Tribunais americanos, cabendo nesse caso a resolução definitiva à Suprema
Corte.
Todavia, de forma simplificada, aponta-se que competem ao sistema federal casos
que envolvam: a constitucionalidade de uma lei, leis e tratados dos Estados Unidos, embai-
xadores e ministros, embates entre dois ou mais Estados, leis marítimas, falências e Habeas
Corpus; aos sistemas estaduais cabem a grande maioria das questões criminais, sucessórias,
contratuais, de responsabilidade civil e sobre direito de família. Os tribunais estaduais ou
State Courts são considerados os responsáveis pela interpretação final das leis e constituições
estaduais, uma vez que o caso somente virá a ser apreciado pela Suprema Corte se houver o
aceite de pelo menos quatro dos nove juízes-membros, o que ocorre mediante decisão am-
plamente discricionária
No sistema dos Estados Unidos quando a promotoria ou a polícia entende como
necessária a investigação, deve fazer requerimento do mandado mediante apresentação de
108
evidência suficiente para fundamentar a atividade pretendida, haja vista que somente quando
repute que exista base concreta e suficiente é que irá o juiz expedir a ordem. No caso de
requerimento de mandado de busca e apreensão, avalia-se a aptidão do que foi apresentado
para estabelecer a chamada “causa provável”, a probabilidade de que dada infração foi co-
metida e que provas dessa infração podem ser achadas no local especificado onde se pretende
realizar a busca.
No julgamento United States v. Nixon (1974), indicou-se um "teste", segundo o qual,
para fazer um requerimento a parte solicitante deve demonstrar: (1) que os documentos são
probatórios e relevantes, (2) que não é razoavelmente possível a sua obtenção por outros
meios, (3) que a parte não consegue preparar-se propriamente para o julgamento sem essa
prévia produção e inspeção, e que o insucesso em obter essa inspeção pode atrasar de forma
desarrazoada o julgamento, (4) que a solicitação é feita de boa-fé, que não é pretendida como
uma genérica fishing expedition.
O sistema processual brasileiro foi delineado pela Constituição de 1988 como acusa-
tório, embora haja verdadeira persistência pela fonte inquisitória. O princípio acusatório per-
mitiu que a democracia processual fosse descentralizada de modo a enfrentar diversas possi-
bilidades que envolvam o caso concreto. “Este sistema, com lastro constitucional, pode ser
definido como uma conquista do mundo civilizado, supõe um processo de partes, com per-
feita distinção entre as funções de acusar, defender e julga” (MACHADO, 2007, p. 128-129).
A dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), princípio que tem especial
superioridade por seu valor ético-político, exerce influência sobre os direitos e garantias in-
dividuais e integra a proteção da intimidade e da vida privada. Todavia, cabe ressaltar que
essa proteção não é absoluta, podendo sofrer limitações, contanto que vinculadas e propor-
cionais ao objeto da persecução penal.
Vida privada e intimidade são conceitos amplos e abarcam a proteção do indiví-
duo contra:
toda ingerência à vida interior, familiar e doméstica; todo ataque à integridade
física e moral; toda agressão à honra objetiva e subjetiva; toda interpretação pre-
judicial dada-lhe às palavras e a seus atos; a divulgação desnecessária de compor-
tamentos embaraçosos, referentes à vida privada; a utilização de seu nome e iden-
tidade, ou imagem; toda atividade tendente a espioná-lo, vigiá-lo ou escutá-lo; a
interceptação de correspondência; a utilização maliciosa de suas comunicações
privadas, escritas ou orais; divulgação de informações, comunicadas ou recebidas
em sigilo profissional (PITOMBO, 2005, p. 81)
[...] § 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e come-
tidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Jus-
tiça Militar da União, se praticados no contexto:
corpo de delito ou que tenha em sua casa coisas que constituam provas de crimes simples-
mente porque mora em localidade pobre — isso é pescaria probatória.
Destaca Aury Lopes Junior (2017, n.p.):
Aury Lopes Junior (2014) aponta em seu livro de direito processual penal que o
processo penal é um instrumento de retrospecção, não de previsão, isto é, mecanismo ne-
cessário para se tentar reconstruir processualmente um fato já ocorrido no passado. Com a
utilização do expediente da fishing expedition, coloca-se em risco de se buscar a prática futura
e aleatória de possíveis crimes, fazendo com que o Estado se torne um vigilante. Seria como
a cartomancia aplicada no processo penal.
Não há dúvidas de que meras ilações e conjecturas não têm o condão de fazer
parte do processo penal, precipuamente por garantir a Constituição Federal de 1988 em seu
art. 5º: LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.
Juristas como Aury Lopes Junior e André Nicolitt (2017) explicam que a o prin-
cípio da presunção da inocência - também defendido por boa parte da doutrina e denomi-
nado por alguns de princípio da não-culpabilidade – trata-se de um princípio reitor do pro-
cesso penal, que em última análise verifica a qualidade de um sistema processual penal através
do seu nível de eficácia e esclarece que embora recaiam-se sobre o imputado, suspeitas de
prática criminosa, no curso do processo este deve ser tratado como inocente, não podendo
ser diminuído social, moral e nem fisicamente defronte a outros cidadãos não sujeitos a um
processo.
Ocorre que algumas medidas usadas para à obtenção de provas estão eivadas e
ilegalidades. É o que acaba acontecendo, por exemplo com os mandados judiciais de busca
e apreensão expedidos de forma genérica e abstrata. O Código de Processo Penal em seu art.
243, inciso I estabelece que o mandado deve indicar o mais preciso possível a casa pela qual
a diligência será realizada.
Ementa:
Habeas corpus. 2. Inviolabilidade de domicílio (art. 5º, IX, CF). Busca e apreensão
em estabelecimento empresarial. Estabelecimentos empresariais estão sujeitos à
proteção contra o ingresso não consentido. 3. Não verificação das hipóteses que
dispensam o consentimento. 4. Mandado de busca e apreensão perfeitamente de-
limitado. Diligência estendida para endereço ulterior sem nova autorização judi-
cial. Ilicitude do resultado da diligência. 5. Ordem concedida, para determinar a
inutilização das provas.
que este autorize a realização de uma interceptação com quantidade indeterminada de con-
tatos telefônicos.
O problema deste tipo de prática está porque ela acontece antes da verificação
de indícios mínimos de autoria e materialidade, sem o estudo de outros meios para colheita
de provas menos gravosos. O próprio Superior Tribunal de Justiça já reconheceu que:
não existe intercepção apenas para sondar, para pesquisar se há indícios de que a
pessoa praticou o crime, para descobrir se um indivíduo está envolvido em algum
delito” (AgRg no REsp 1154376/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚ-
NIOR, SEXTA TURMA, julgado em 16/05/2013, DJe 29/05/2013).
3 CONCLUSÃO
a procura de todo e qualquer material que possa servir de base probatória apenas para cor-
roborar a sua versão já pré-constituída, tendo como corolário o desmoronamento das garan-
tias constitucionais e processuais penais.
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Disponível em: <https://supreme.justia.com/cases/federal/us/418/683/case.html>.
Acesso em 21 de março de 2020.
122
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa enfocará a questão da crise marcada pela insuficiência do Poder Ju-
diciário e de como o corolário dessa é a pouca eficiência do atual modelo de execução civil brasi-
leiro, que registra grande número de processos o que deixa lenta a atuação do Judiciário. Com o
objetivo de atenuar a sinistra situação, este estudo visa, sobretudo, avaliar possível reformulação
do atual modelo executivo através da desjudicialização. Um método já utilizado no Brasil em outros
casos e que fora também utilizado em diversos países no caso da execução.
A priori, no presente trabalho será posto em estudo a desjudicialização, com análise das
alterações na legislação brasileira que tiraram a exclusividade de atuação do Judiciário de institutos
e atribuições. Essa ação que ficou conhecida como o fenômeno da desjudicialização, analisar-se-á
o referido fenômeno com o objetivo de entender a sua abrangência no ordenamento brasileiro,
pautando algumas das principais leis que dispõe sobre procedimentos extrajudiciais. Logo após,
discutirá sobre as vantagens trazidas pela desjudicialização.
Ademais, será reconhecida a crise existente no Poder Judiciário. A crise judiciária no Brasil
é marcada por uma insuficiência e morosidade na tutela pelo Direito, essa ocorrência dada princi-
palmente por uma massiva quantidade de processos que tramitam em um Judiciário com uma força
de trabalho insuficiente.
Como objeto de estudo para se dispor a respeito da crise no Judiciário brasileiro analisar-
se-ão os relatórios anuais da Justiça em números realizados pelo Concelho Nacional de Justiça, o
que tornará visível a quantidade de processos acumulados dentro do Judiciário ano a ano. Ressalta-
se no estudo dos relatórios a excessiva duração dos processos de execução cíveis de 1º grau, que
no ano de 2018 foram registrados com um tempo médio de duração de oito anos e seis meses.
Além de perdurarem por anos, os processos de execução são marcados por serem insatisfatórios
ao seu final, haja vista que após anos de espera os credores exequentes não têm seus créditos satis-
feitos.
Dessa forma, diante dos números que serão apresentados mais a frente, se concluirá como
e o quanto que a ineficiência do atual modelo de execução adotado no Brasil corrobora com a crise
judiciária. O que acoroçoa a possibilidade de modificações no sistema de execução brasileiro, que
atualmente é de exclusividade do Poder Judiciário, de forma a deixá-lo mais célere e eficiente.
Dessarte, para chegar ao principal objetivado pelo trabalho, a aplicação da desjudicializa-
ção nas execuções de títulos executivos extrajudiciais, será feita análise sobre um importante estudo
realizado por Flavia Pereira Ribeiro, que em sua tese de doutorado traz o tema de Desjudicialização
da Execução Civil, tratando a respeito de modelos de execução em países europeus. Em países
como Alemanha, Itália, França e Portugal a execução civil tem seus procedimentos extrajudicial,
seja parcial ou totalmente.
Por fim, a partir do referido estudo, este trabalho analisará e discutirá se diante da atual
conjuntura de crise presente no Judiciário, como e até em que ponto teria aplicabilidade no Brasil
a execução extrajudicial já existente em outros países. O que podem trazer de lições e inspirações
para tornar o modelo executivo brasileiro satisfatoriamente célere, eficiente e principalmente, re-
sultar ainda na atenuação da crise judiciária brasileira.
2 DESENVOLVIMENTO
do projeto dessa lei houve uma preocupação em utilizar de seus institutos para desafogar o judici-
ário, dar celeridade aos processos e gerar economia processual. O fato da promulgação dessa lei se
ajustar ao tema da desjudicialização é porque trouxe os institutos da conciliação e mediação de
conflitos, estes que se relacionam com a Lei de Arbitragem, por serem também métodos de com-
posição de conflitos que podem ser realizados extrajudicialmente.
Dessa forma, levando em consideração a todo o exposto, foi observado que a desjudicia-
lização foi e tem sido de grande presença no ordenamento brasileiro, essa vem apresentando bons
resultados para seus fins de diminuir a ineficiência do Judiciário.
Como visto, a desjudicialização trouxe suas vantagens, para tanto, foi preciso que o refe-
rido fenômeno fosse colocado em detrimento de alguns fundamentos e princípios, como por exem-
plo, o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Um importante princípio constitucional que, em
alguns pontos, houve sua possível mitigação, razão pela qual faz a relevância de observar e analisar
a questão de um aparente conflito.
O princípio da inafastabilidade da jurisdição, também conhecido como cláusula do acesso
à justiça, ou direito a ação, está previsto na Constituição Federal de 1988, no rol de direito e garan-
tias fundamentais, art. 5º, inciso XXXV, com o seguinte texto: “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
Logo, pela literalidade na interpretação do princípio observa-se a possibilidade de conflito
com um fenômeno que trata justamente da retirada de atribuições e competências do Poder Judi-
ciário.
Havendo nesse sentido, os seguintes exemplos fáticos. Na primeira, uma determinada
lide, em que se formou diante de possível lesão ou ameaça a direito, vem a ter sua resolução através
de via extrajudicial de composição de conflitos. O segundo exemplo seria quando uma importante
decisão administrativa, feita para resguardar um direito e afastar uma violação, no entanto, antes
era uma decisão de competência do Judiciário, agora extrajudicial. Indaga-se, nessas situações hi-
potéticas, estaria o princípio constitucional de inafastabilidade da jurisdição sendo ferido ou, no
mínimo, mitigado?
Primariamente, enxerga-se sim um conflito, no entanto para obter uma resposta com um
embasamento satisfatório se faz necessário entender melhor o referido princípio. Como dito, o
princípio da inafastabilidade da jurisdição é chamado também de “cláusula de acesso à justiça”,
127
bem como também, nota-se que no artigo 5º, XXXV, fala-se o “Poder Judiciário”, como ente que
pode não ser excluído de lesão ou ameaça a direito.
Neste sentido, por “Poder Judiciário” entenda-se acesso à justiça ora, conforme retro
mencionado, é cediço que existe uma vinculação entre os dois, uma vez que por muito tempo o
judiciário foi a única forma de obter-se justiça. Dessa forma, não se trata tão somente de evitar que
o Poder Judiciário se afaste de violações ao direito, bem como também que a justiça esteja sempre
presente nestas ocorrências.
Diante disso, observando que a desjudicialização é aplicada visando principalmente maior
aplicabilidade do direito e acesso à justiça, se resolve que não haveria um conflito ou mitigação e
sim uma atuação conjunta, ou seja, o princípio da inafastabilidade da jurisdição estaria tão logo
fundamentando a aplicação da desjudicialização no ordenamento.
É notório que o sistema judiciário brasileiro é assolado por um grande déficit de eficiência,
uma massiva quantidade de demanda de processos que levam anos em trâmite, se prolongando
desde a distribuição até a prolação da sentença. A situação é desanimadora, e deixa muito a desejar
àqueles que buscam justiça e a satisfação do direito junto ao Judiciário.
Mesmo com relevantes alterações e com vigência de novas leis, que foram trabalhadas
com o objetivo de dar maior celeridade processual, ainda assim o judiciário se mostrou moroso e
ineficiente. A exemplo, o Código de Processo Civil de 2015 – CPC/15, uma vez que é de se notar
que esse expandiu a ideia que o Judiciário não é o único instrumento de acesso a uma solução com
retidão para os conflitos de interesses, o que pode emanar de outros meios.
Passados os primeiros anos da vigência do CPC/2015, nota-se que o Judiciário ainda
clama por mais medidas para se tornar suficientemente eficaz e célere. Isto é o que se analisa ao
observar dois relatórios, de anos distintos, do Justiça em Números realizados pelo Conselho Naci-
onal de Justiça. O primeiro do ano de 2016 que tem como ano-base 2015, o último ano de vigência
do Código de Processo Civil de 1973. O segundo mais atual, do ano de 2019 tendo como ano-base
2018, passados aproximadamente três anos após vigorar a lei do CPC/2015.
No ano de 2015, no que se refere ao Judiciário nacional, os processos na fase de conhe-
cimento de 1º grau tinham um tempo de duração média de um ano e seis meses, e os processos de
Execução de 1º grau durando em média três anos e quatro meses. Ao passo em que no ano de 2018
os processos de conhecimento de 1º grau se perduravam por média de um ano e um mês, e os
processos de execução de 1º grau em média de oito anos e seis meses.
128
É cediço que os meios de execução são utilizados como forma de promover o cumpri-
mento de obrigações entre credor e devedor, de forma que na execução por título extrajudicial, o
objetivo principal é a satisfação do crédito do credor. Muito embora, por toda conjuntura já exposta
aqui, tal satisfação possa não ocorrer ou até ocorra, no entanto com uma excessiva demora.
129
No atual modelo em vigência no Brasil, todos os tipos de execução, tanto de título judicial
quanto de título extrajudicial, ocorrem pelas vias do Judiciário com atuação exclusiva dos magis-
trados. No entanto, importa ressaltar que os atos processuais praticados pelos magistrados pos-
suem pouca ou nenhuma natureza cognitiva, sendo feitos somente sob análise de requisitos para
execução e dando o devido seguimento ao feito.
Nos casos de execução por título executivo extrajudicial, a cognição dos juízes é mais
dispensável ainda, sendo utilizada apenas quando há contraditório pela oposição da execução com
os Embargos à Execução. Neste diapasão, demais atos como citação/intimação, penhora de bens
ou bloqueios de contas, são feitos meramente utilizando-se dos requisitos e mandamentos legais.
Por fim, considerando-se que no relatório retromencionado, no ano de 2018 foram regis-
tradas 4.244.259 (quatro milhões duzentos e quarenta e quatro mil duzentos e cinquenta e nove)
de sentenças de processos de execuções, para uma soma de 41.339.359 (quarenta e um milhão
trezentos e trinta e nove mil trezentos e cinquenta e nove) de processos novos de execução, baixa-
dos e pendentes.
Resolve-se que o atual modelo de execução por título extrajudicial adotado no país é
moroso e pouco eficaz, seguindo a mesma linha da crise de ineficiência do Judiciário.
Doravante, neste último capítulo chegar-se-á a essencialidade deste trabalho, onde foi feita
a análise de alguns dos principais modelos de execução extrajudicial, seja parcial ou totalmente
extrajudicial, de outros países. Análise esta, feita com base no vasto estudo já realizado por Flávia
Pereira Ribeiro em sua tese de doutorado, para a qual estar-se-á aqui adentando sempre nos pontos
mais relevantes e pertinentes ao tema. Ao final da análise, discutir-se-á respeito de potencial apli-
cação destes modelos, ou até em que ponto algum destes pode servir de inspiração para a desjudi-
cialização da execução por título extrajudicial no Brasil.
I) Modelo da Alemanha (RIBEIRO, 2012, p. 80.)
Inicialmente, no modelo alemão de execução, não há um órgão ou entidade com exclusi-
vidade para realizar a execução, a competência varia de acordo com a modalidade executiva a qual
vai se iniciar, que por sua vez é provocada pelo exequente. No que se diz respeito à execuções
pecuniárias de penhora de bens móveis e/ou entrega de bens imóveis, a competência será de um
funcionário, o Gerichtsvollzieher, que é retratado oficialmente na Europa como agente de execução.
Na Alemanha, o agente de execução é um funcionário subordinado ao poder judiciário e possui
certa autonomia em seus atos. Quanto às funções do agente de execução, incube a este, a verifica-
ção dos requisitos obrigatórios, e posteriormente dar o cumprimento à execução, através de seus
130
atos, para os quais possui independência para praticá-los, desde que respeitando o que é regula-
mentado pelo Código de Processo Civil Alemão, o Zivilprozessordnung - ZPO.
Um outro órgão muito importante competente pela execução, é o Tribunal Executivo,
Amtsgericht, que por sua vez atua em execuções pecuniárias de penhora de créditos ou títulos de
dívidas líquidas, bem como de bens imóveis. Entre as funções do Tribunal Executivo está a divisão
da quantia entre os credores, arrecadada pela penhora; verificar as petições de execução bem como
as que se opõe a ela; e decidir a respeito de medidas provisórias e tutelas de urgência. No entanto
os demais atos executivos são atribuídos aos oficiais de justiça – Rechtspfleger, dessa forma para evitar
um acúmulo de funções e dar mais celeridade aos processos.
II) Modelo da Itália (RIBEIRO, 2012, p.86.)
No que se diz a respeito ao modelo italiano, este tem suas semelhanças com o que ocorre no Brasil,
principalmente no início do procedimento. Inicia-se com o credor redigindo um pedido (precetto)
de pagamento ao devedor, este que será intimado e notificado pelo oficial de justiça a pedido da-
quele. Doravante, o devedor terá um prazo para pagar o título da dívida que estará descrito na
notificação, caso não efetue o adimplemento, passa-se para as medidas executivas.
A partir deste momento, vem o que distingue da execução brasileira, ocorre que todos
esses atos iniciais e o início das medidas executivas, como a expropriação, são realizados tão so-
mente pelo oficial de justiça que, a grosso modo, atua como agente de execução. Ademais o Juiz
passa a intervir sim no processo, mas somente quando a lide já está estabelecida e com a devida
autuação de um escrivão.
III) Modelo da França (RIBEIRO, 2012, p.92.)
O modelo de execução adotado pela França é quase que desjudicializado, podendo ocor-
rer de duas formas, quando a execução de título judicial ou extrajudicial é sobre dinheiro ou bens
móveis é feita unicamente pelos huissers de justice; quando da execução resultar em penhora de bens
imóveis atuação será mista do tribunal e do agente de execução.
Os agentes de execução – huissier são profissionais liberais, tal como os advogados, pos-
suem um caráter privado, no entanto vem a exercer função de interesse público. Recebem uma
vasta e profunda regulamentação, sendo uma profissão habilitada e treinada para se proceder com
todos os atos executivos sem quaisquer intervenções judiciais. O que só ocorrerá se o devedor se
opuser a execução de Embargos. Entre as funções do agente estão: intermediar acordos ou nego-
ciações de pagamento, escolha do método executivo que entender mais oportuno, bem como po-
der requerer força policial.
131
Como dito, os agentes se assemelham muito a classe de advogados brasileira, haja vista
que para ingressar no ramo há requisitos como ser graduado em direito, passar por dois anos de
treinamento e ser aprovado em um exame profissional.
São contratados diretamente pelos exequentes, podendo ainda montar escritórios ou as-
sociações que serão submetidos à organização e fiscalização de câmaras locais que regulam o exer-
cício da profissão.
IV) Modelo de Portugal (RIBEIRO, 2012, p.102.)
Anteriormente, o Brasil e Portugal partilhavam de igual modelo executivo compulsório,
neste ocorria única e exclusivamente pelas vias do Judiciário, exatamente como ocorre hoje no
Brasil. Até que, diante da crise de justiça portuguesa, onde grande número de processos de execu-
ção tramitavam por um longo período tempo, a administração legislativa e judiciária daquele país
discutiram propostas até finalmente efetivar a primeira grande reforma ocorrida em 2003 pelo De-
creto-Lei nº38/2003.
O referido ato normativo modificou profundamente os trâmites da execução, tornando-
a parcialmente extrajudicial. Dessa forma, deu maiores atribuições aos agentes de execução, que
passaram a atuar necessariamente nas execuções realizando as citações, publicações e atos de venda
e pagamento, como outros. Ainda, restringindo mais a atuação dos juízes, o que foi denominado
de “liberação dos juízes de tarefas processuais não jurisdicionais”.
Esta reforma perdurou inalterada por cinco anos até que o Decreto-Lei nº 226/2008 fez
uma nova reforma, fazendo o modelo de execução portuguesa ainda mais desjudicializado, se as-
semelhando muito ao modelo francês devido à influência deste. Nesse sentido, o decreto extinguiu
intervenção do Juiz durante o processo de execução, que passou a atuar somente em casos com a
presença de contraditório, ou seja, na oposição do executado.
Ademais, também expandiu a atuação dos agentes de execução, de forma que regularizou
a profissão tão qual como feito na França, e ainda valorizando-os por meios de aumento em seus
ganhos para acrescer o número de agentes, vez que como os huissers de justice, são profissionais
liberais e privados.
Portugal foi além e inovou mais ainda, uma vez que para solucionar a crise judiciária tam-
bém criou uma espécie de cadastro público eletrônico que lista todas execuções que os exequentes
não tiveram seus créditos satisfeitos, devido à insolvência e/ou ausência de bens penhoráveis dos
executados. Tornando assim de conhecimento público que uma nova execução contra os executa-
dos da lista também restaria infrutífera e de tal forma diminuindo a entrada de novos processos
sem uma resolução futura.
132
Por fim, os referidos países são alguns exemplos pertinentes a terem seus modelos exe-
cutivos elencados aqui, por terem seus pontos em comum, o que posteriormente será explorado,
bem como por mostrarem possuir eficiência em seus sistemas e grande satisfação dos credores,
mesmo que embora também possuam grande número de demanda. Existe ainda aquele que se
reformulou e mostrou ser promissor em seu “novo” método, e que se mostra ser de suma impor-
tância por servir de exemplo projetivo ao Brasil.
Como dito alhures, após análise pontual dos referidos sistemas executivos estrangeiros,
discutir-se-á a respeito da eventual existência para aplicabilidade da execução extrajudicial no Brasil,
e de que forma pode ocorrer diante do atual cenário jurídico do país.
Primeiramente, será pontuado no modelo de execução ocorrido no Brasil, as principais
características que corroboram com a ineficiência do sistema. Logo após será apontando quais os
aspectos e singularidades dos modelos estrangeiros existem possibilidade de aplicação para reverter
a situação.
O primeiro ponto no qual se visualiza falha no sistema brasileiro é o acúmulo de atos e
atribuições aos magistrados brasileiros, que atuam conjuntamente nas execuções de título extraju-
dicial e nos processos de conhecimento. Ocorre no modelo executivo do Brasil, de entregar a ex-
clusividade de todos os atos ao Juiz, esse que deverá intervir obrigatoriamente no processo de
execução desde seu início.
Ao observar os referidos modelos de execução de países estrangeiros logo é notável a
principal semelhança entre esses, sendo que todos, mesmo aqueles que sejam somente extrajudici-
ais em parcialidade, trabalham com a efetiva descentralização de atos para um único ente, no caso
o Judiciário que só atuará quando de fato for necessário decisões jurisdicionais. Desse modo, esta
seria a primeira, e até mesmo a principal, inspiração para a reformulação da execução brasileira.
Ato contínuo, o proposto seria maior desvinculação do Judiciário nos atos desnecessários
a atuação desse, haja vista que fora expresso neste trabalho a existência de muitos processos de
conhecimento, que por sua vez necessitam de fato da atuação jurisdicional.
Dessa forma, para o Brasil apresenta ser uma ótima hipótese o que ocorre no modelo
italiano, de entregar os atos processuais iniciais e sem nenhuma jurisdição a outros entes. E o ocor-
rido em Portugal, influenciado pelo modelo francês, criando cargos, sejam públicos ou privados,
para funcionar nos atos executivos enquanto a inexistência de contraditório e oposição.
133
Por conseguinte, um outro ponto questionável e que se mostra como mais uma deficiência
na execução brasileira é a frustração nos casos de várias execuções simultâneas contra um mesmo
executado falido e/ou insolvente. Ocorre que, até que os processos de execução sejam extintos
definitivamente pela inexequibilidade e falta de bens penhoráveis do executado, novos processos
contra o mesmo executado dão entrada no Judiciário, causando tumulto e sobrecarga que dificul-
tam ainda mais a celeridade desse.
Nesse sentido, a medida adotada no modelo português de criar uma lista pública de exe-
cutados com nenhum bem passível de penhora, para fins de evitar que processos de execução sem
nenhuma perspectiva de satisfação do exequente ingressem no sistema, é mais uma forte inspiração
do que pode vir a ser aplicado no Brasil.
A inércia de modificações relevantes no modelo executivo desde quando já se tem notícias
sobre essa crise judiciária, também contribui efetivamente com o acúmulo sucessivo de demandas,
logo, com a ineficiência do modelo executivo brasileiro.
Dessa forma, Portugal se mostrou bem mais que inspiração, um exemplo, já que este
reformulou radicalmente todo o modelo executivo ao entender que era o mais pertinente diante da
sua grande crise judiciária executiva.
Nesse diapasão, em se tratando de modelos que podem inspirar a execução extrajudicial
no Brasil, o modelo português parte em vantagem com potencial aplicabilidade no Brasil, haja vista
que esse possuía um modelo exatamente igual ao do nosso país. No entanto, embora Portugal
mostre bons resultados com a reforma e que essa ocorreu sem muitos problemas, o país demorou
muito para finalmente chegar a uma reforma aceitável de aplicação, que demandou anos de discus-
sões para a elaboração dos textos legislativos.
Diante a todo o exposto, a respeito de medidas mais bruscas, que demandem maior pla-
nejamento e discussões diante da magnitude das alterações para desjudicializar os atos executivos
de títulos extrajudiciais. A administração judiciária e legislativa brasileira precisa de fato se inspirar
no país-irmão, a modo de colocar em debate o tema de reformulação do sistema executivo vigente.
Por fim, é plenamente notável que após grandes alterações dadas pelo Código de Processo
Civil de 2015, uma nova reforma deve ser bem avaliada e amplamente discutida. No entanto, qual-
quer medida que se mostre promissora, como o caso da desjudicialização, para diminuir uma grande
crise judiciária deve-se ser levada seriamente em consideração e ser vista com grande possibilidade
de adoção.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
134
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei nº 10.931, de 2 de agosto de 2004. Dispõe sobre o patrimônio de afetação de in-
corporações imobiliárias, Letra de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Imobiliário, Cédula de
Crédito Bancário, altera o Decreto-Lei nº 911, de 1º de outubro de 1969, as Leis nº 4.591, de 16
de dezembro de 1964, nº 4.728, de 14 de julho de 1965, e nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, e
dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/Lei/L10.931.htm>. Acesso em: 03 de maio 2020.
BRASIL, Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 03
mai. 2020.
CNJ, Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números, 2016: ano-base, 2015/: 2016, Brasília.
CNJ, Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números, 2019: ano-base 2018, Brasília.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fa-
bris, 1988. Reimpresso 2002.
ONO, Taynara Tiemi. Acesso à Justiça pela desjudicialização da execução das obrigações
por quantia certa. 2017. 164 f., il. Dissertação (Mestrado em Direito) -Universidade de Brasília,
Brasília, 2017.
RIBEIRO, Flávia Pereira. Desjudicialização da execução civil. 2012. 288 f. Tese (Doutorado
em Direito) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Vol. III. 50 Ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2017.
137
.
1 INTRODUÇÃO
1Graduanda em Direito pela Universidade Estácio de Teresina. Estagiária do escritório de advocacia Almeida & Costa
Advogados Associados. E-mail: hannafortes23@gmail.com.
138
a alteração do art. 22 da Lei Maria da Penha, através da Lei nº 13.984, de 3 de abril de 2020, o juiz
obriga, além das outras medidas cabíveis, o agressor a frequentar centros de apoio e programas de
reeducação e reabilitação. Constata-se, assim, que o encarceramento dos agressores não tem se
mostrado a solução mais eficaz, como observado pelo crescente número de casos de violência
contra a mulher.
Para além da superlotação das prisões brasileiras, observa-se que a prisão do agressor de
violência doméstica, a privação de sua liberdade, do seu convívio social não bastam para reeducá-
lo nem conscientizá-lo sobre a brutalidade dos seus atos. Ao contrário, quando posto em liberdade
novamente, o agressor, estigmatizado, tende a culpar a vítima por sua punição, tornando-se ainda
mais violento. Esse sistema punitivo de cerceamento da liberdade tem-se mostrado ineficiente no
combate à violência doméstica e o número de mulheres mortas e agredidas por seus companheiros
só aumenta. Entende-se, assim, que a criação de centros de reabilitação e reeducação é
extremamente necessária, uma vez que sem uma mudança de comportamento do agressor – onde
a violência é a forma habitual de resolução dos problemas – dificilmente deixaremos de ocupar a
quinta posição no ranking dos países com mais casos de feminicídio em todo o mundo. Esse é o
tema abordado na última seção desse trabalho.
A metodologia usada no presente estudo, foi na pesquisa de outros artigos cientificos que
possuiam esta proposta de medidas nao encarceradoras.
2. DESENVOLVIMENTO
Antes de falarmos sobre a criação da Lei Maria da Penha, é importante visitar alguns
momentos marcantes do movimento feminista no país, da luta das mulheres por liberdade e
igualdade de direitos sociais, políticos e trabalhistas. No Brasil, o movimento feminista chega no
século XIX, quando surgiram os primeiros movimentos em defesa dos ideais feministas, que
iniciavam uma luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres. Traçando uma linha do
tempo sobre algumas das mais importantes conquistas dos movimentos feministas no país, temos,
em 1827, a primeira vitória das mulheres, quando meninas são liberadas para frequentarem a escola.
Em 1832, Nísia Floresta, publica “Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens”, considerado o
livro fundador do feminismo brasileiro. Em 1852, o primeiro jornal feminino é criado, o Jornal das
139
Senhoras, editado por mulheres e direcionado para mulheres. Mais adiante, em 1879, as mulheres
conquistam o direito de frequentar faculdades.
Já no século XX, em 1910, é criado o primeiro partido político feminino, o Partido
Republicano Feminino, e, em 1934, o voto feminino é regulamentado, autorizando, finalmente, o
direito ao voto para mulheres de todas as rendas, origens e estado civil. A chegada da pílula
anticoncepcional ao Brasil marcou o ano de 1962 na luta pela liberdade sexual feminina. Em 1977,
a Lei do Divórcio é aprovada, tirando milhares de mulheres de casamentos infelizes e abusivos, e,
em 1985, é criada a primeira Delegacia da Mulher, a Delegacia de Atendimento Especializado à
Mulher (DEAM), em São Paulo. Outro grande avanço da luta feminina veio com a promulgação da
Constituição de 1988, em que mulheres passam a ter os mesmos direitos e deveres doshomens.
Mas é apenas no século XXI, em 2002, que a falta da virgindade deixa de ser crime, e, no ano
seguinte, em 2003, é criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres, quando as políticas públicas
de enfrentamento à violência contra as mulheres são fortalecidas por meio da elaboração de
conceitos, diretrizes e normas. Outro grande avanço no combate à violência contra as mulheres
chega em 2006, com a aprovação da Lei Maria da Penha. Em 2010, a primeira mulher presidente do
Brasil é eleita e convoca nove mulheres para ocupar ministérios, marcando história na política
brasileira. Em 2011, a Marcha das Vadias, chega ao Brasil, movimento feminista conhecido
internacionalmente, marcado por manifestações e luta das mulheres por mais direitos, respeito e
contra o feminicídio; nesse ano, o movimento acontece em São Paulo e foi o começo de uma série
de protestos que aconteceriam em todo o país nos anos seguintes. Em 2015, é aprovada a Lei do
Feminicídio, a Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. Finalmente, em 2018, o assédio sexual contra
as mulheres e vulneráveis passa a ser considerado crime, a partir da Lei nº 13.718, de 24 de setembro
de 2018, lei que teve uma força essencial do movimento feminista. Nesse mesmo ano, o Supremo
Tribunal Federal (STF), autoriza pessoas trans a mudar de nome mesmo sem cirurgia ou decisão
judicial.
Para ilustrar a força do movimento das mulheres no Brasil, tomamos a palavra de Sueli
Carneiro, que diz:
Não resta dúvida que a Lei Maria da Penha significou uma grande conquista para o
movimento feminista no Brasil. A Lei nº 11.340, decretada pelo Congresso Nacional e posta em
vigor em 22 de setembro de 2006, recebeu o nome de Lei Maria da Penha em homenagem à Maria
da Penha Maia Fernandes, farmacêutica brasileira, que durante 23 anos viveu com seu agressor.
Em 1983, foi vítima de duas tentativas de homicídio por parte do economista e professor
universitário Marco Antonio Heredia Viveros, seu marido. Na primeira vez, o agressor simulou um
assalto e disparou contra ela um tiro com arma de fogo, deixando-a paraplégica. Na segunda
tentativa, tentou eletrocutá-la no banho. Após sobreviver a atos tão atrozes, Maria da Penha
tornou-se uma ativista em movimentos de defesa dos direitos da mulher, fundando o Instituto
Maria da Penha, uma organização sem fins lucrativos que visa à proteção de mulheres vítimas de
violência doméstica.
2.1.2 Conceito
A Lei Maria da Penha foi criada para que as mulheres que sofrem qualquer tipo de agressão
tenham amparo legal específico.
Na ementa Lei nº 11.340/06, vemos claro esse objetivo.
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o
Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências (BRASIL, 2006).
A violência doméstica caracteriza-se como todo e qualquer dano sofrido pela mulher, seja
uma violação, coação ou constrangimento. Desde a Antiguidade, a mulher era tida como
propriedade do marido e não possuía direitos, apenas deveres. Era banal a violência contra a
mulher, como forma de repreensão e educação.
Sandra Dias (2010) fala sobre a milenar violência contra a mulher.
Nas sociedades antigas, a mulher tinha pouca expressão, era vista como um reflexo do
homem, e considerada objeto a serviço de seu amo e senhor, um mero instrumento de
procriação. Enfim, era a mulher a fêmea, sendo muitas vezes mais comparada a um animal
do que a um ser humano. Na Idade Média, por exemplo, a mulher desempenhava o papel
de mãe e esposa. A ideia de procriação permanecia e nenhum direito lhe era assegurado
(DIAS, 2010, p.1).
141
A violência de gênero pode ser entendida como “violência contra a mulher”, expressão
trazida à tona pelo movimento feminista nos anos 70, por ser esta o alvo principal da
violência de gênero. Enfim, são usadas várias expressões e todas elas podem ser
sinônimos de violência contra a mulher. A violência de gênero ou contra a mulher está
de tal forma arraigada na cultura humana que se dá de forma cíclica, como um processo
regular com fases bem definidas: tensão relacional, violência aberta, arrependimento e
lua-de-mel (TELES, 2003, p. 19, apud FERREIRA, 2016, p. 59).
Ao longo dos anos, com muita luta, as mulheres vêm conquistando seu espaço. Através de
grupos e movimentos feministas e sociais, muitas vitórias já foram alcançadas rumo a uma sociedade
democrática, em que prevaleça a igualdade de gêneros e na qual seja erradicada toda e qualquer
forma de violência contra a mulher. Nesse sentido, uma grande conquista foi a criação da Secretaria
Nacional de Políticas para as Mulheres (SNPM), vinculada ao Ministério dos Direitos Humanos,
que tem como objetivo a promoção de direitos iguais para homens e mulheres, além de combater
toda e qualquer forma de preconceito e discriminação, herança de uma sociedade patriarcal e
excludente
Em agosto de 1985, por meio do Decreto nº 23.769, foi criada em São Paulo a primeira
delegacia especializada de proteção à mulher, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher
(DEAM), que se constituiu na primeira experiência de implementação de uma política pública de
combate à violência contra as mulheres no Brasil (BRASIL, 2010). Estas delegacias buscam, como
alternativa de auxílio às mulheres vítimas de violência, além do atendimento policial, a orientação
psicológica e social. O grande problema é que, na maior parte das cidades brasileiras, não existe
nenhuma DEAM, realidade de 91,7% dos municípios, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Divulgados em 25 de setembro de 2019 pelo IBGE, os dados
integram a Pesquisa de Informações Básicas Municipais e Estaduais (Munic), que traz o perfil dos
municípios e estados do Brasil em 2018 (AGÊNCIA BRASIL, 2019).
Ainda de acordo com a pesquisa, apenas 8,3% dos municípios brasileiros possuem pelo
menos uma DEAM e somente 4,5% dos estados, incluindo o Distrito Federal, possuem juizados
ou varas especiais de violência doméstica ou familiar contra a mulher (AGÊNCIA BRASIL, 2019).
Além disso, a falta de estrutura material, de recursos humanos e de metodologia adequada, distancia
muito a realidade da estrutura idealizada pela Norma Técnica de Padronização das Delegacias
Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs). Em algumas unidades, por exemplo, não há
sequer equipe própria de investigação, o que compromete muito a qualidade das informações
obtidas.
Conforme afirmam Fonseca e Sorj (2009):
142
O uso das DEAMs pelas mulheres parece seguir uma lógica diversa da lógica da
instituição policial e da inspiração do movimento feminista, uma vez que a mais frequente
motivação das mulheres em procurar as delegacias especializadas consiste em usar o
poder policial para renegociar o pacto conjugal e não para criminalizar o parceiro
(FONSECA; SORJ, 2009, p.14 apud FERREIRA, 2006, p.57).
A Lei Maria da Penha, em seu âmago, classifica os tipos de violência doméstica em:
a) Violência física – a agressão física causada à mulher;
b) Violência moral – conduta que represente injúria, calúnia ou difamação;
c) Violência sexual – coibição ou constrangimento para realização de atos libidinosos contra sua
vontade;
d) violência patrimonial – apoderamento dos bens patrimoniais da mulher, impedindo o
usufruto dos seus bens sem previa autorização;
e) violência psicológica – qualquer comportamento que gere danos emocionais e psicológicos à
mulher.
É considerada violência doméstica qualquer conduta que desqualifique, constranja, e reduza
a mulher.
De acordo com dados recolhidos por Alves e Oliveira (2017, p.58), a Central de
Atendimento à Mulher classifica os tipos de violência mais comuns, como ilustrado no gráfico
abaixo.
3 O termo é utilizado no plural, para dar visibilidade às diversidades raciais, étnicas, geracionais, de orientação sexual,
de deficiência e de inserção social, econômica e regional existentes entre as mulheres (BRASIL, 2011).
144
Verifica-se, com este gráfico, que o percentual de violência física se sobrepõe aos outros
tipos de violência.
Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias do Conselho Nacional
de Justiça identificou que até o final de 2017 existia um processo judicial de violência doméstica
para cada 100 mulheres brasileiras. São 1.273.398 processos referentes à violência doméstica contra
a mulher em tramitação na justiça dos estados em todo o país. Só em 2017, foram registrados
388.263 novos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, 16% mais do que em 2016.
Em 2018, 507 mil processos foram dados entrada na justiça.
Em recente pesquisa, números mostram que mais de 500 mulheres são agredidas por hora
no Brasil. O crescimento do feminicídio é estarrecedor. Em um levantamento feito pelo Datafolha,
a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 16 milhões de mulheres acima dos 16 anos já
sofreram algum tipo de violência, sendo a maior parte no ambiente infrafamiliar. O Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos recebeu mais de 90.000 denúncias de violação contra
mulheres. Todos esses números tiveram como base as denúncias feitas pela vítima ou por terceiros.
Por medo de sofrerem ainda mais, muitas mulheres não denunciam o marido ou companheiro –
uma mulher entre 100 vai à justiça expor a agressão.
Os dados presentes no Painel de Monitoramento da Política Judiciária Nacional de
Enfretamento à Violência contra Mulheres revelam que, no final de 2019, o Brasil estava com mais
de um milhão de processos de violência doméstica e mais de 5,1 mil processos de feminicídio em
tramitação na Justiça. Nos casos de violência doméstica, houve um aumento de quase 10%, com o
recebimento de 536.7 mil novos processos. Os casos de feminicídio que chegaram ao judiciário
cresceram 5% em relação a 2018 (CNJ, 2019).
Na figura abaixo, pode-se observar esse significativo aumento, em apenas dois anos de
145
19%
Preocupação com a criação dos
22% filhos: 34%
74%
Vergonha da agressão: 26% Não
23%
existir punição: 23%
26%
Acreditar que seria a última vez:
34%
22%
34%
Não conhecer seus direitos: 19%
Outros motivos: 2%
A violência contra as mulheres não é apenas uma questão social e jurídica. É um problema
de saúde pública em que agressões acumuladas, dependendo de sua gravidade e continuidade,
podem ocasionar danos mentais, psicológicos, emocionais e mesmo físicos, muitas vezes
irreversíveis.
Mesmo assim, as mulheres são, geralmente, tidas como culpadas pela violência praticada
contra elas mesmas. Nessa visão deturpada e machista, são as mulheres que não apresentam
comportamento adequado, que não correspondem às expectativas impostas por uma sociedade
patriarcal, merecendo “punição”.
Dessa forma, entende-se que somente medidas de punição como o encarceramento do
agressor não resolverão esse problema, que se constitui em um problema cultural, ainda muito
arraigado em uma sociedade patriarcal. É preciso enfrentar a violência contra as mulheres com
mudanças de comportamento. E, para isso, as medidas alternativas de apoio psicológico à vítima,
e reeducação e reabilitação para o agressor podem ser caminhos extremamente eficazes.
2.2.1 Conceito
resultando na criminalização. Tal pensamento tem como alicerce o fato de que a punição geraria um
medo no sujeito, impedindo-o de praticar conduta delituosa.
A prisão permanece como a forma mais utilizada de punição. No entanto, pelos números
obtidos no Atlas da Violência 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), constata-se um processo de acentuada
criminalidade no Brasil, ressaltando o fato de que outros caminhos devem ser buscados, através de
medidas mais proativas e eficazes de combate à violência no país (IPEA; FBSP, 2019).
O núcleo presente na matéria do crime e no encarceramento são pessoas estigmatizadas,
que estão fora da sociedade de consumo, regulada pelo universo capitalista.
No dizer de Zygmunt Bauman,
os jogadores incapazes e indolentes devem ser mantidos fora do jogo. Eles são o refugo
do jogo, mas um produto que o jogo não pode parar de sedimentar sem emperrar. Além
disso, há uma outra razão por que o jogo não se beneficiará em deter a produção de
refugo: é necessário mostrar aos que permanecem no jogo as horripilantes cenas (como
se lhes diz) da outra única alternativa – a fim de que estejam aptos e dispostos a suportar
as agruras e tensões geradas pela vida vivida como jogo.
Dada a natureza do jogo agora disputado, as agruras e tormentos dos que dele são
excluídos, outrora encarados como um malogro coletivamente causado e que precisava
ser tratado com meios coletivos, só podem ser redefinidos como um crime individual. As
‘classes perigosas’ são assim redefinidas como classes de criminosos. E, desse modo, as
prisões agora, completa e verdadeiramente, fazem as vezes das definhantes
instituições de bem-estar (BAUMAN, 1998, p. 57).
Com a aprovação da Lei nº 13.984, de 3 de abril de 2020, que altera o art. 22 da Lei nº
11.340/06 (Lei Maria da Penha), passa a ser obrigatório ao agressor frequentar centros de educação
e reabilitação e a ter acompanhamento psicossocial. Essa alteração decorreu da percepção de que o
agressor tem que mudar seu comportamento, de que é preciso reeducá-lo e conscientizá-lo sobre
seus atos.
Considerando que o crime “não é um tumor nem uma epidemia que assola a sociedade,
mas sim, um doloroso problema interpessoal e comunitário”, é importante refletir sobre como a
violência é um “problema social, o que implica o seu diagnóstico e tratamento” (GOMES;
MOLINA, 2008, p. 363 apud JESUS, 2019, p. 252).
Hoje, a população carcerária brasileira ultrapassa de 715.000 presos, contando os que estão
em prisão domiciliar, sendo a terceira maior população carcerária do mundo. Uma proporção de
358 pessoas presas para cada 100 mil habitantes.
Segundo Callegari e Wermuth,
148
A prisão funciona na contemporaneidade como uma espécie de exílio, cujo uso não é
informado por um ideal de reabilitação, mas sim por um ideal eliminativo, Ou seja, a
prisão desempenha uma função essencial no funcionamento das sociedades neoliberais,
pois é um instrumento civilizado e constitucional de segregação das populações
problemáticas. A prisão pune e protege, condena e controla. Portanto, o encarceramento
serve simultaneamente como uma satisfação expressiva (simbólica) de sentimento
retributivos e como mecanismo de administração de riscos, por meio da confinação do
perigo representado pelos setores populacionais excluídos do mercado de trabalho e da
previdência social (CALLEGARI; WERMUTH, 2010, p.289-290, apud MEDEIROS;
MELLO, 2017, p.6).
Compreende-se, assim, que o sistema penal no Brasil está quebrado, e não adiantará
construir novas prisões e prender mais pessoas. É preciso que formas alternativas de punição sejam
pensadas, que se invista mais em programas de reabilitação e ressocialização. Por exemplo, na
Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, 33 pessoas presas morreram em uma rebelião
ocorrida em janeiro deste ano, fruto da rivalidade entre as facções Primeiro Comando da Capital
(PCC) e Comando Vermelho (CV). Na maioria dos casos, as facções se originam dentro das
penitenciarias.
A partir da década de 90, o estado de São Paulo efetuou a construções de mais prisões ao
longo dos anos, nas margens de um capitalismo errôneo, causando uma superlotação nos presídios.
Quando ocorre essa superlotação, há anarquia. Não há como manter o funcionamento de uma
penitenciaria como deve ser, se as situações são de risco, além de que, muitos nas prisões, são
apresentados ao tráfico de drogas, às facções, então percebe-se que o encarceramento excessivo
não só molda o indivíduo na criminalização, como também organiza tais facções.
Não resta dúvida que a Lei Maria da Penha representou um grande avanço no combate à
violência contra as mulheres. As medidas protetivas de urgências são formas de amparar a mulher
em situação de violência, podendo ser concedidas imediatamente, a requerimento da ofendida ou
do Ministério Público.
De acordo com a Lei 11.340/06, poderão ser aplicadas ao agressor, em conjunto ou
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de
determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de
distância entre estes e o agressor;
149
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da
ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores; V - prestação de alimentos
provisionais ou provisórios.
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em
grupo de apoio
É previsto na Lei nº 13.781, de 17 de setembro de 2019, que acrescenta à Lei anterior a
responsabilidade devida do autor nos crimes de violência doméstica de restituir os danos causados,
definindo que o agressor deverá ressarcir a mulher de todos os danos causados, além de ressarcir
ao Sistema Único de Saúde (SUS) todos os custos relativos aos serviços de saúde prestados à vítima.
Foram concedidas no ano de 2018, 336.640 mil medidas protetivas, e no ano de 2019,
403.646 mil medidas protetivas, havendo assim uma variação progressiva de 19,9%. Foi uma
progressão de quase 70 mil processos, ou seja, de um ano paro o outro, mais de 70 mil mulheres
solicitaram medidas protetivas de urgência contra seus agressores. Também foi verificado o
aumento do número de sentenças em processos: foram 35% de sentenças a mais nos casos de
feminicídio e 14% a mais nos de violência doméstica.
Em 2018, a Central de Atendimento à Mulher recebeu 92.663 ligações. Só nos primeiros
seis meses de 2019, o canal já atendeu 46.510 denúncias, um aumento de 10,93% em relação ao
mesmo período do ano anterior. A maioria é referente a violência doméstica e familiar (35.769),
seguida por tentativa de feminicídio (2.688), violência moral (1.921) e ameaças (1.844).
As medidas protetivas também possuem medidas de amparo à vítima, como as que
determinam seu encaminhamento para programas de proteção.
Em 15 de maio de 2019, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deferiu medida protetiva de
urgência. Confira:
confere:
Faz-se necessária a criação de políticas públicas voltadas para a reeducação dos agressores,
uma vez que esta seria uma forma de efetividade da Lei Maria da Penha. Em seu núcleo, a lei prevê
todo um sistema de atendimento à mulher em situação de violência, porém deve ser adotado
também o disposto no art. 35 da referida lei.
O juiz tem o poder de obrigar o agressor a comparecer a estes centros de reabilitação, mas
esta não é uma medida adotada na maioria dos casos. O encarceramento proveniente do sistema
punitivista prevê uma efetividade da lei, contudo destoa do que está na referida lei, que possibilita
um amparo tanto para a vítima, quanto para o agressor.
Ressalta-se também a importância da criação de centros de reabilitação para os homens
agressores, como forma de reeducá-los a conviver em sociedade, antes de imediatamente lhe
privarem da liberdade. Esta seria talvez uma forma mais efetiva de combater a violência doméstica.
Esses centros serviriam como um grupo de apoio aos agressores. É um processo lento, o de
reeducação, mas o autor pode desenvolver genuíno arrependimento por suas atitudes.
Segundo Saffioti (2004),
As pessoas envolvidas na relação violenta devem ter o desejo de mudar. Epor esta razão
151
que não se acredita numa mudança radical de uma relação violenta, quando se trabalha
exclusivamente com a vítima, sofrendo esta alguma mudança, enquanto a outra parte
permanece sempre o que foi. Mantendo o seu habitus, a relação pode inclusive, tornar-se
ainda mais violenta. Todos percebem que a vítima precisa de ajuda, mas poucos veem essa
necessidade no agressor. As duas partes precisam de auxílio para promover uma
verdadeira transformação na relação violenta (SAFFIOTI, 2004, p.68 apud VARGAS;
MACHADO, 2017, p. 103-104).
Nessa perspectiva, é frisada a importância do apoio às duas partes da relação violenta, afinal,
a violência afeta aos dois.
Em 2008, a referência sobre grupos para homens autores de violência doméstica constou
inclusive nas Recomendações Gerais e Diretrizes da Secretaria de Políticas para as Mulheres do
Governo Federal (VARGAS; MACHADO, 2017, p.104)
De acordo com Brasil (2008, apud Vargas; Machado, 2017, p.104):
Apesar dos resultados positivos deste projeto, ele ainda é muito limitado no Brasil e ainda
não expandido devidamente. Na Lei Maria da Penha, está previsto que o juiz poderá obrigar o
autor da agressão a comparecer a programas ou grupos de reeducação a título de medida protetiva.
Segundo rege o enunciado 26 do Fórum Nacional dos Juízes de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher (FONAVID),
Há poder geral de cautela do juiz no que diz respeito às medidas cautelares diversas da
prisão (art. 19, §§2º e 3º, da Lei n.11.340/06), posto que essas medidas não afetam direitos
indisponíveis do agressor. Contudo, somente o descumprimento de medidas típicas,
previamente previstas em lei como tal, pode justificar a decretação da prisão preventiva
nos moldes do art. 313, III, do Código de Processo Penal, pois a liberdade é um bem
152
Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade. Uma atitude investigadora,
uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações. Há uma rede de interações
entre os indivíduos e, a partir dessas interações, o sujeito pode referenciar-se no outro,
encontrar-se com o outro, diferenciar-se do outro, opor-se a ele e, assim, transformar e
ser transformado por este. A reciprocidade nas interações possibilita a partilha de
significados, de conhecimentos e de valores.
3 CONCLUSÃO
153
A Lei Maria da Penha é resultado da violência absurda sofrida pela mulher ao longo dos
séculos. Sua criação decorreu de muita luta dos movimentos sociais e feministas, que já buscavam
instrumentos legais mais especializados para combater a violência contra as mulheres, mais ainda a
violência doméstica, um assunto delicado e que deixa marcas indeléveis. A Lei Maria da Penha,
cujo desenvolvimento ocorre até hoje, é um grande alicerce para estas mulheres, pois possui tanto
amparo a vítima, quanto ao agressor. Ela propõe a criação de um sistema em que o agressor
frequente centros de educação e reabilitação.
Na sociedade, quando um indivíduo não segue a lei, ele é punido. A privação de liberdade,
pelo sistema punitivista, é a solução, pois se a consequência daquele delito é mais grave do que o
próprio, o agente terá medo de praticar aquele delito e ser punido. Porém, os números de mulheres
mortas por seus parceiros crescem cada vez mais, e isto porque a resolução punitivista não está
sendo efetiva.
Os programas especializados para os agressores visam a reeducação do indivíduo, ao invés
da punição. A punição encarceradora torna o indivíduo hostil, sem haver um meio de que o mesmo
compreenda suas ações e possa ter a conscientização. Nestes grupos de apoio, haverá conversas,
compartilhamentos de histórias e a condução por uma pessoa especializada na área. Espera-se que
por meio disto, os indivíduos venham a ter uma conscientização de seus atos, e aprendam a
conviver em sociedade de maneira minimamente digna.Quantos mais programas como estes forem
criados, mais pessoas serão atingidas, e quem sabe assim, os números realmente possam diminuir.
Destaca-se que as medidas adotadas antes da alteração da Lei Maria da Penha, ou seja,
apenas o encarceramento do agressor, tem-se mostrados nao suficientes no combate da violencia
domésticva, razao pela qual a proposta de medidas nao encarcerados foi criada. Estas medidas tem
carater educativo e eficaz quanto as ações do autor.
REFERÊNCIAS
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Violência contra a Mulher. In: FONAVID – Fórum Nacional de Juízas e Juízes de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, 2017, Natal. Leituras de direito: violência doméstica e
familiar contra a mulher. Livro digital. Natal: TJRN, 2017. Disponível em:
https://www.amb.com.br/fonavid/files/livro-fonavid.pdf. Acesso em: 27 de mar. 2020.
BALANÇO ANUAL: ligue 180 recebe mais de 92 mil denúncias de violações contra as mulheres.
154
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Brasília, [S.I.] ago. 2019.
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/todas-as-
noticias/2019/agosto/balanco-anual-ligue-180-recebe-mais-de-92-mil-denuncias-de- violacoes-
contra-mulheres. Acesso em 16 mar. 2020.
BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
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BRASIL. Lei n. 13.984, de 3 de abril de 2020 Altera o art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de
2006 (Lei Maria da Penha), para estabelecer como medidas protetivas de urgência frequência do
agressor a centro de educação e de reabilitação e acompanhamento psicossocial. Diário Oficial da
União, Brasília.
CAMPOS, Ana Cristina. Não aceitar fim de relação é causa de 33% das agressões a mulheres.
Agência Brasil - EBC. Brasília, 6 mar. 2020. Disponível em:
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causa-de-33-das-agressoes-mulheres. Acesso em 14 mar. 2020.
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DIAS, Sandra P. A. Um breve histórico da violência contra a mulher. 2010. Disponível em:
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JESUS, Davi Reis de. Justiça Restaurativa para os autores de violência doméstica e familiar contra
a mulher: uma possibilidade de prevenção e protagonismo. Revista Liberdades. Ed. n. 27, jan-
155
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exitosa para a prevenção, atenção e enfrentamento à violência doméstica contra a mulher. In:
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2019.ghtml. Acesso em: 15 mar. 2020.
156
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar a aplicação das técnicas do processo
de mediação na relação entre pais e filhos com enfoque no cotidiano familiar. Partindo do
pressuposto de que a mediação por meio de suas múltiplas ferramentas contribui para que pais e
filhos, em colaboração, pratiquem no dia a dia um diálogo construtivo. Esta pesquisa teve como
escopo as técnicas do processo de mediação aplicadas na relação entre pais e filhos, mais
especificamente, no cotidiano familiar.
Por meio da revisão de importantes obras pertinentes ao tema, pretendeu-se analisar a
aplicação das técnicas do processo de mediação como mecanismo de ajuda aos pais, para
desenvolverem habilidades para um diálogo acolhedor, respeitoso e amoroso com seus filhos.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza aplicada, com objetivos descritivos e
procedimentos de pesquisa bibliográfica os quais por meio da observação desse processo de
evolução no ordenamento jurídico brasileiro, além de aprofundar o conceito de mediação e suas
partes integrantes, bem como traçar uma breve contextualização da mediação na relação entre
pais e filhos no ambiente familiar.
Diante disso, surgem outros aspectos a serem analisados, como o instituto da mediação
no ordenamento jurídico brasileiro. Assim, possibilitando verificar as atuações pertinentes do
Estado para a implementação de meios alternativos de solução de conflitos, especificamente a
mediação. Dentre essas atuações estatais destaca-se a lei 13.140/15, que regulamenta a mediação
no ordenamento jurídico.
O segundo aspecto presente no escopo é a definição do instituto da mediação. Devido a
isso, busca-se analisar a importância do papel do mediador como auxiliador na construção de
1 Graduanda no curso de Bacharelado em Direito pela faculdade Estácio de Sá (Campus Teresina - Ceut). Contato:
<ianamariamourao@hotmail.com>. Currículo Lattes <http://lattes.cnpq.br/5528488824731571>.
157
uma comunicação positiva, além de discorrer sobre a função essencial das partes no processo de
mediação ao serem as responsáveis pela tomada de decisão.
Outro aspecto a ser analisado é mediação na relação entre pais e filhos. Diante dos
desafios de educar e amar, a mediação ajuda os pais mediadores nas situações de eventuais
conflitos que possam surgir no cotidiano. Afinal, a mediação possibilita a construção de uma
convivência saudável pautada no respeito, compreensão e amor.
O último aspecto a ser analisado são as técnicas do processo de mediação aplicadas na
relação entre pais e filhos no ambiente familiar. Elas permitem aos pais exercitarem a escuta ativa,
auxilia no resgate do diálogo neutralizando as emoções negativas, busca a compreensão mútua
ao refletir sobre os comportamentos e sentimentos presentes nas ações. Tudo isso visando
desenvolver a empatia. Esta última é elemento essencial da mediação.
Por fim, buscou-se analisar a aplicação das técnicas do procedimento de mediação no
âmbito familiar para estabelecer um melhor diálogo entre pais e filhos. Durante a realização desta,
utilizamos os seguintes descritores ou palavras-chave: mediação de conflitos, técnicas, pais, filhos,
cotidiano familiar. Na delimitação do tema levantou-se a seguinte problemática: quais técnicas
do processo de mediação podem ser aplicadas na relação entre pais e filhos no cotidiano familiar?
Desse modo, o presente trabalho tem relevância jurídica na medida que trata a mediação
como mecanismo de aplicação aos conflitos familiares no cotidiano, o que pode gerar bastante
debate sobre o tema. Quanto a relevância social, observa-se as técnicas do procedimento de
mediação como meio de pacificação social aplicável ao âmbito familiar.
Além disso, a relevância academia também se faz presente ao permitir o amplo debate
sobre a possibilidade de análise das técnicas do processo de mediação como instrumento de
construção da comunicação positiva dentro dos lares. Este trabalho trata-se de uma pesquisa
qualitativa, de natureza aplicada, com objetivos descritivos e procedimentos de pesquisa
bibliográfica.
2 DESENVOLVIMENTO
Aventurar-se na leitura de uma pesquisa científica, pode ser, por vezes um desafio
inesperado. A antiguidade grega nos presenteou com pérolas usadas pela comunidade acadêmica
até hoje e forneceu inclusive as bases para o direito romano, de onde veio a inspiração para o
nosso próprio sistema. Vamos emprestar deles uma outra forma muito tradicional de transmissão
de conhecimento, a mitologia.
Segundo a lenda grega, Teseu foi desafiado a matar o Minotauro, que vivia no Labirinto
de Creta do qual era impossível escapar. Ariadne, filha do Rei Minos, resolve ajudar o herói e lhe
entrega um novelo de lã, tecido por ela, instruindo-o a desenrolá-lo à medida que adentrasse o
labirinto. Assim, depois de matar o monstro, o fio de Ariadne foi o guia que levou Teseu à saída.
O mito de Ariadne, que tem inúmeras interpretações filosóficas e psicológicas, mostra a
importância de se seguir uma linha de raciocínio ao nos aventurarmos pelo labirinto da pesquisa,
a fim de alcançarmos a saída mais fortes do que quando o adentramos que é o nosso equivalente
à vitória do herói.
Acreditamos que, com o auxílio dessa estrutura que moldamos em nossa pesquisa,
conseguiremos guiar o leitor pelo labirinto intitulado A Mediação e os Conflitos Familiares:
análise da aplicação das técnicas do processo de mediação na relação entre pais e filhos no
cotidiano familiar e de volta à saída vitoriosos.
de conflito, não sendo aplicado, para todos os litígios, um modelo único, enrijecido. Isso
possibilitou ao magistrado atuar como gerenciador de conflitos auxiliado por mediadores e
conciliadores.
Prevenindo os empasses de implantação dos meios autocompositivos em todo o
território brasileiro, a resolução nº 125 orientou a criação de Núcleos Permanentes de Métodos
Consensuais de Solução de Conflitos (Núcleos) e Centros Judiciários de Solução de Conflitos e
Cidadania (centros), onde passariam a capacitar instrutores em Mediação e Conciliação.
Conforme normatizou o art. 6º da referida resolução:
Como pode ser observado na citação acima, coube ao Conselho Nacional de Justiça ser
responsável por exercitar a capacitação dos servidores do poder judiciário, mediadores e
conciliadores, regulamentar um código de ética para atuação destes, criar de um cadastro nacional
de Mediadores e Conciliadores e designar aos Centros de Solução de Conflitos o poder de
capacitar e avaliar os desempenhos dos mesmos para o exercício da pacificação de conflitos.
Com esse cenário, a mediação já se tornava realidade no ordenamento jurídico brasileiro.
Contudo, em março de 2015 com a publicação do Novo Código de Processo Civil ocorreu a
valorização da mediação como sistema multiportas de resolução de conflitos. Isso possibilitou
ao Estado a aplicação do instituto da mediação tanto no início quanto no curso do processo
judicial, como normatizou no Novo Código de Processo Civil:
160
A Lei 13.140/15, mais conhecida como Lei de Mediação somente foi aprovada tempos
depois, em junho de 2015, disciplinando sobre os princípios norteadores da mediação, os
mediadores judiciais e extrajudiciais, os procedimentos da mediação judicial e extrajudicial e a
possibilidade da autocomposição de conflitos em que for parte pessoa jurídica de direito público.
Em seu art. 1º, a referida Lei buscou conceituar o que seria Mediação:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias
entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração
pública. Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por
terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as
auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a
controvérsia (BRASIL, 2015).
Com tudo o que foi explanado, conseguimos perceber que a mediação é um
procedimento realizado por um terceiro, ou seja, um sujeito alheio à situação, imparcial e com
preparo para tal, que - por meio de técnicas específicas - auxilia as partes na construção das bases
de uma negociação. Sendo que as partes têm o poder de decisão sobre as possíveis soluções
cabíveis ao conflito. Além disso, também conseguimos extrair do material analisado que a
mediação se aplica não somente a estes conflitos, mas ainda a conflitos no âmbito da
administração pública.
O modo de lidar com o conflito, o meio de resolver o conflito, pode ser construtivo
ou destrutivo. Os processos destrutivos caracterizam-se pelo enfraquecimento ou
rompimento da relação social preexistente à disputa, em virtude da feição competitiva
de como é conduzida. Nesses processos destrutivos, o conflito tende a expandir-se em
espiral, frequentemente tornando-se independente de suas causas iniciais. Já os
processos construtivos, são aqueles em que as partes vão fortalecendo a relação social
preexistente à disputa, consoante valor, técnicas e habilidades
161
Ademais, para facilitar a comunicação entre as partes temos a figura do mediador. Este é
um terceiro imparcial que auxilia as partes na condução do diálogo, prezando sempre pelo
respeito as diferenças de posicionamento entre os pares. Atrelado a isso, o mediador busca
identificar os interesses das partes, para ressignificar posicionamentos antes destrutivos em
construtivos, com o propósito de restaurar a relação:
diálogo.
Portanto, reiteramos que as partes são as protagonistas da solução, visto que são elas que
estão mais envolvidas no processo de mediação e cabem a elas a tomada de decisão. Atuando,
assim, de forma ativa, participativa e cooperativa na construção das bases da negociação.
Ademias, a lei de mediação nos arts. 9º e 11 distingue o mediador extrajudicial do
mediador judicial:
Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha
a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de
integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-
se.
Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos
dois anos em curso de ensino superior de instituição reconhecida pelo Ministério da
Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de
mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados - ENFAM ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos
estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da
Justiça(BRASIL, 2015).
Com isso, observa-se que para ser mediador extrajudicial não há a necessidade de
preencher requisitos específicos, basta que ele seja uma pessoa capaz e que tenha a confiança das
partes. Por outro lado, para ser mediador judicial é necessário que preencha requisitos específicos
para que possa atuar como mediador judicial, ou seja, ele precisa ser uma pessoa capaz, que seja
graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior desde que seja reconhecido pelo
Ministério da educação e que tenha capacitação obtida em escola ou instituição de formação de
mediadores, conforme o art. 11 da lei 13.140/15.
Além disso, a lei de mediação regulamenta quanto a presença do advogado na mediação
seja ela extrajudicial ou judicial, como aduz em seus art. 10 e 26:
Art. 10. As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores públicos.
Parágrafo único. Comparecendo uma das partes acompanhada de advogado ou
defensor público, o mediador suspenderá o procedimento, até que todas estejam
devidamente assistidas.
Art. 26. As partes deverão ser assistidas por advogados ou defensores públicos,
ressalvadas as hipóteses previstas nas Leis n º 9.099, de 26 de setembro de 1995
, e 10.259, de 12 de julho de 2001 .
Parágrafo único. Aos que comprovarem insuficiência de recursos será assegurada
assistência pela Defensoria Pública (BRASIL, 2015).
defensor público. Porém, caso uma das partes compareça com advogado ou defensor público, o
mediador suspenderá o procedimento de mediação para que a outra parte também seja assistida.
Por outro lado, observa-se que a presença do advogado ou defensor público durante o
procedimento de mediação judicial é obrigatório, ou seja, as partes devem ser assistidas nas
sessões de mediação.
Entretanto, seja na mediação judicial ou extrajudicial, a presença do advogado ou
defensor público não tira a autonomia das partes, ou seja, o poder de decisão sobre a resolução
do conflito pertence as partes. Com isso, o advogado estará presente com a função de sanar
eventual dúvida jurídica que possa surgir, não podendo decidir sobre a solução do conflito, visto
que é papel das partes como protagonistas do procedimento de mediação.
Diante do exposto, ressalta-se que a mediação é um procedimento ganha-ganha, que por
meio de um terceiro imparcial - o mediador - auxilia as partes - as protagonistas - na resolução
do conflito. Ademais, de acordo com o explanado acima é possível a presença de advogados
durante o procedimento de mediação, para ajudar as partes em eventuais dúvidas jurídicas.
Para muitos pais é um desafio manter o equilíbrio emocional para lidar com situações
difíceis do cotidiano familiar. Surgem questionamentos como, o que fazer para que os filhos se
conscientizem de organizar seu quarto? Como proceder diante de uma briga entre os filhos?
Como conversar com a criança e com o adolescente sobre a hora de acordar e de dormir, a hora
de sair e de chegar em casa?
Observa-se que são muitos os questionamentos sobre como proceder diante dos
empasses da relação entre pais e filhos. Devido a isso, é comum que os pais busquem por
ferramentas para tornar o convívio familiar harmônico, respeitoso e amoroso. Com isso, surge a
mediação como mecanismo de transformação dos lares em um ambiente acolhedor e seguro.
A mediação ensina os pais a desenvolverem habilidades para lidarem com situações
conflitantes do cotidiano familiar. Isso contribui para construção de uma relação saudável. Como
descreve Melo (2018):
164
Partindo do pressuposto de que os lares são o ambiente onde os filhos vivenciam seus
primeiros sentimentos e que os pais são seus exemplos a serem seguidos, os pais devem ficar
atentos quanto ao modelo que estão construindo, como explica Melo (2018):
Com isso, é necessário que os pais reflitam e avaliem quanto as atitudes que praticam em
seus lares, visto que isso é determinante para o desenvolvimento de filhos respeitosos,
cooperativos e amorosos. Desse modo, é essencial evitar modos negativos de comunicação,
como julgamentos, exposição de erros, censura, xingamentos, gritar, visto que esses
comportamentos não constroem empatia.
Ademais, para construção de uma relação familiar saudável é crucial desenvolver a
empatia por meio da comunicação. A forma como os pais se comunicam com os filhos é
determinante para estabelecer uma conexão sólida entre eles. Para isso, se faz necessário aos pais
mediadores acolher os filhos, por meio de diálogos sem críticas, que permitam ao filho expressar
suas vivências e experiências sem o sentimento de medo ou vergonha por compartilhar com os
pais.
Isso requer que os pais estejam abertos ao diálogo, buscando desenvolver a escuta ativa.
Esta permite aos pais identificar sentimentos, interesses e comportamentos dos filhos, para que
em conjunto possam solucionar as questões do cotidiano. Essa habilidade possibilita validar os
sentimentos da criança e do adolescente, ou seja, por meio do reconhecimento dos sentimentos
os filhos se sentem valorizados pelos pais, fortalecendo, assim, o laço familiar.
165
Diante do exposto até então, vemos o poder de transformação das técnicas do processo
de mediação na relação pais e filhos no cotidiano familiar. Dentre elas, temos o acolhimento, que
proporciona aos pais a oportunidade de terem uma interação maior com seus filhos,
demonstrando o quanto se importam com seus desejos, validando seus sentimentos, o que facilita
o processo de aceitação e auxilia a participação dos filhos no diálogo familiar.
Desse modo, quais as formas de acolhimento podem ser utilizadas? O sorriso aberto, o
tom de voz ameno, o diálogo buscando compreender os sentimentos sem julgar, as carícias
espontâneas que geram empatia e os abraços. Este último, não deve ser utilizado apenas para
validar comportamentos dos filhos que vão ao encontro dos interesses dos pais, como descreve
(MELO, 2018):
[...] Cuidado! Tendemos a despender afagos somente quando ele nos obedece, nos
agrada ou cede às orientações que provemos. Se assim for, pouco a pouco, o
adolescente vai assimilando, muitas vezes, de forma inconsciente, que só é aceito ou
amado quando estiver em aquiescência com os “decretos” advindos dos pais (MELO,
2018, p.62).
Com isso, fica evidente que se deve acolher os filhos nas ocasiões em que apresentam
falhas e cometem erros, pois é a oportunidade de conduzi-los a refletir sobre o ocorrido por meio
do diálogo acolhedor onde juntos irão buscar soluções. Isso gera confiança e desperta nos filhos
o sentimento de aceitação demonstrando que são amados do jeito que realmente são.
Além disso, o modo como os pais se dirigem a seus filhos é muito importante para criar
um ambiente acolhedor. Dessa forma, cabe a sensibilidade dos pais mediadores em descobrir
como seus filhos gostariam de serem chamados e a partir daí passar a chamá-los nas conversas
pelo apelido carinhoso do gosto de ambos. Isso torna a comunicação mais informal o que
aumenta a conexão entre eles.
166
Outra técnica a ser utilizada é o lugar em que os pais escolhem para conversar com seus
filhos. Segundo (MELO, 2018), a preferência deve recair num lugar neutro e tranquilo, como
salas, jardins e varandas. Isso contribui para melhorar a comunicação entre pais e filhos, pois ao
se sentarem um ao lado do outro possibilita uma maior interação para restabelecer os laços do
diálogo.
Dentre todas as técnicas do processo de mediação, a que mais se destaca quanto a
aplicação na relação pais e filhos no ambiente familiar é a escuta ativa, que convida os pais a
desenvolver a habilidade de identificar questões, interesses e sentimentos dos filhos. Isso se torna
um desafio ao pai mediador, pois terá que ouvir sem julgamento. Melo (2018) descreve a escuta
ativa como sendo:
[...] uma técnica que possibilita aos pais lerem/decifrarem os sentimentos dos filhos e
capitarem não só o expresso em palavras, mas, também, a mensagem gestual e
comportamental, ou seja, a inimaginável riqueza da linguagem não verbal (MELO,
2018, p.64).
Há uma diferença entre escuta ativa e ouvir. Este último diz respeito ao sentido da
audição, em que o pai ouvi o filho sem decodificar as informações apresentadas por ele. Já a
escuta ativa vai além do ouvir, requer que o pai observe e compreenda palavras, os gestos e
angústias do filho. Isso contribui para que pais e filhos se escutem e gerem empatia fortalecendo
o diálogo no ambiente familiar.
Ao fazer a escuta ativa requer a substituição de conselhos e sermões por perguntas
esclarecedoras, para que pai e filho, encontrem juntos as motivações que levaram o filho a
conduta inesperada. Com isso, a escuta ativa possibilita aos pais entender os comportamentos
dos filhos diante do aspecto familiar, escolar e social.
Durante a rotina diária para evitar enfrentamentos podem ser utilizada pausas. Estas
consistem em dar um intervalo de tempo para ajudar pais e filhos a se recuperarem dos ânimos
exaltados, evitando provocar um aspecto negativo na comunicação. Dessa forma, a pausa é uma
oportunidade para reflexão, auxiliando na tomada de decisões, permitindo trazer de volta a paz
e tranquilidade, elementos fundamentais na construção de um diálogo positivo.
Diante disso, pais e filhos tem a possibilidade de se posicionar de forma mais coerente,
chegando à reposta mais adequada, evitando a utilização de palavras acometidas, preservando,
assim, o relacionamento familiar. Segundo Melo (2018), a pausa pode significar contar até 10;
meditar por cinco minutos; lavar o rosto; tomar banho com água fria; saborear um cafezinho;
167
Além disso, validar é uma forma de provocar reflexão sobre certas atitudes
168
consideradas aparentemente improprias, mas que devem ser demonstradas pelos pais
mediadores que essas atitudes aos fatos são naturais. Como exemplifica Melo (2018):
Eu sou burro! Nunca consigo terminar a tarefa cedo! Eu sou burro! Estudo e não tiro
notas boas!” Então como devemos atuar diante da situação? Validemos os sentimentos
dos adolescentes mais ou menos assim: “filho, percebi que você está cansado e
chateado. Vamos conversar sobre isso? “Filha, estou notando sua frustação com as
notas. Eu também me sentia assim, quando tirava notas baixas. Vamos Conversar
sobre sua forma de estudar? (MELO, 2018, p.71).
Destaca-se, ainda, como técnica de mediação perguntas sem julgamento. Esse mecanismo
permite aos pais mediadores elaborarem perguntas esclarecedoras sem emitir juízo de valor, com
objetivo de identificar os interesses dos filhos. Como vimos anteriormente, é importante evitar
posturas que fragilizem os filhos, como julgar, criticar, rotular, culpar.
Ainda na esfera das técnicas de mediação na relação pais e filhos, temos a sessão privada.
Ela consiste na possibilidade de cada filho ser ouvido separadamente por meio de reuniões
individuais. Por ser um mecanismo de diálogo, ela evita atitudes agressivas, fortalece o
reconhecimento de sentimentos a serem validados, induz a outras reflexões, assim, favorecendo
mudanças comportamentais.
É importante frisar, que essa técnica não deve ser utilizada como castigo, mas sim como
mecanismo para evitar a espiral negativa da comunicação. Assim, ela pode ser utilizada, por
exemplo, para conversar sobre uma discussão entre irmãos.
Além disso, a sessão privada permite a inversão dos papéis, que possibilita aos filhos
descobrir os sentimentos e atitudes do outro que conduziram ao conflito. Essa estratégia é eficaz,
visto que não fomenta o julgamento sobre a atitude do outro, mas sim permite que o filho
compreenda os sentimentos de outrem ao se colocar no lugar dele. Como descreve Fellipe, (2012,
apud MELO, 2018, p.74).
Essa estratégia pode ser alcançada por meio de perguntas que instiguem a criança ou
adolescente a compreender atitude e sentimentos do outro, como, filha, o que faria se estivesse
no lugar dele? filho, como você se sentiria se fosse com você? Dessa forma, essa prática auxilia
na reflexão sobre o ocorrido e permite visualizar situações que podem ser evitadas noutras
169
ocasiões.
Durante a sessão privada podem ser aplicadas várias técnicas de mediação para solucionar
o conflito. Por exemplo, como estabelecer o diálogo em uma discussão entre irmãos? Melo
(2018), explica quais as técnicas foram utilizadas durante uma sessão privada com seu filho em
virtude de uma briga entre irmãos:
Continuando nas técnicas de mediação na relação pais e filhos, temos o teste de realidade.
Ele consiste na formulação de perguntas que levem os envolvidos a vislumbrar e avaliar se é
possível o cumprimento dos acordos pactuados. Isso possibilita os filhos refletir se a decisão
tomada condiz com sua realidade de vida.
3 CONCLUSÃO
Nesse contexto, pode-se concluir que são inúmeras as técnicas passiveis de serem
aplicadas para prevenção e resolução de conflitos no cotidiano familiar. Elas podem ser aplicadas
isoladamente ou em conjunto, o que vai determinar a sua aplicação são as situações do âmbito
familiar. Com isso, cabe aos pais selecionarem a técnica que mais se enquadra a determinada
circunstância. Ademais, é importante destacar que nenhuma técnica é melhor ou superior a outra.
REFERÊNCIAS
MELO, D. B. de. Mediação pais & filhos: prevenindo e resolvendo conflitos familiares.
Joinville: Manuscritos Editora, 2018.
171
SALES, L. M. DE M. Mediare: guia prático para mediadores. 2 ed. Ver. Atual. E ampl.
Fortaleza: Unifor, 2004.
172
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como tema O contrato de trabalho intermitente, novidade trazida
pela lei n° 13.467/2017, conhecida como a reforma trabalhista. Tal novidade trouxe diversos
questionamentos relacionados a sua aplicação no ordenamento jurídico. O estudo gira em torno
da problemática sobre obscuridade da lei, que atinge diretamente os princípios e os direitos
trabalhistas, tornando a classe ainda mais vulnerável. A metodologia utilizada foi a pesquisa
bibliográfica, qualitativa e exploratória, utilizando doutrinas, artigos e sites de pesquisa,
relacionados ao tema.
O objetivo do estudo é realizar uma análise dos artigos que regem o contrato de trabalho
intermitente e apresentar as respectivas críticas realizadas. São eles: o art.443, §3°, 452 – A e seus
parágrafos inseridos na CLT, através da reforma trabalhista. Tal análise se faz importante para
demonstrar que o texto da lei, na maneira em que foi proposto, deixa muitas lacunas, que podem
ser preenchidas de forma prejudicial ao empregado.
2 Desenvolvimento
intermitente com características bem peculiares que serão apresentadas ao longo do trabalho,
como também as críticas relacionadas ao contrato.
Podem submeter-se a esse tipo de contrato, pessoas com menos de 25 anos de idade e
maiores de 55 anos. Outra peculiaridade dessa espécie de contrato na Itália é que cada
trabalhador, só poderá prestar serviços de forma intermitente para o mesmo empregador por
400 dias, a cada 3 anos civis. Se esse período for desrespeitado, o contrato passará a vigorar como
integral e por prazo indeterminado.
remuneração podendo o empregado desempenhar outra atividade. Outro país que utiliza essa
modalidade e que mais se assemelha a forma do Brasil é o Reino Unido, utilizando o contrato
zero hora, onde não é garantido nenhum número de horas a serem trabalhadas. Esse tipo de
contrato visa a flexibilização da contratação de mão de obre de acordo com a necessidade do
empregador.
2.3 Conceito
O trabalho é uma atividade profissional, exercida por uma pessoa física, com
pessoalidade de forma subordinada, não eventual e mediante o pagamento de um salário, com o
objetivo de atingir um determinado fim. O trabalho pode ser por tempo determinado, onde o
contrato informa quando se inicia e finaliza a atividade, não podendo ser estipulado por mais de
2 anos e nem ser prorrogado mais de uma vez. E o contrato por tempo indeterminado, sendo
este a regra, onde só se tem a data de início, priorizando a continuidade do contrato de trabalho.
O conceito de contrato intermitente encontra-se no art. 443 §3° da CLT introduzido pela
Lei da Reforma Trabalhista.
conforme a demanda do empregador e seja remunerado com base nas horas que
efetivamente prestar serviço. Assim, nesse tipo de contrato, o trabalhador fica à
disposição do empregador aguardando um chamado para o serviço. Caso a convocação
não ocorra, ele não receberá pelo período à disposição. Isto implica que não haverá
garantia mínima de remuneração para o trabalhador.
Mesmo com o significado de fácil entendimento, essa novidade foi muito criticada pelos
especialistas, por falta de clareza em alguns pontos, deixando muitas lacunas na lei, dificultando
sua aplicabilidade no dia-a-dia.
existente, ao criar uma modalidade que funciona com intervalos de inatividade, tornando a
eventualidade um requisito dessa relação específica.
Carvalho, em seu artigo, utilizou palavras de Severo, para embasar tal fato:
Nesse sentido, é possível perceber a flexibilização feita pelo legislador nas leis
trabalhistas, causando a quebra da rigidez do ordenamento jurídico já existente.
Art. 452-A. O contrato de trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito e deve
conter especificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao valor
horário do salário mínimo ou àquele devido aos demais empregados do estabelecimento
que exerçam a mesma função em contrato intermitente ou não.
A CLT prevê que a jornada deve ser de 8 horas diárias, não podendo ultrapassar 44 horas
semanais, com possibilidade de realização de 2 horas extras por dia. Também existe a jornada
12/36, onde o empregado trabalha 12 horas e folga 36, antes só algumas profissões podiam
realizar, mas com a reforma trabalhista agora os profissionais de todas as áreas podem realizar
essa modalidade desde que seja definida em acordo ou convenção coletiva. Tal regra se aplica
também a essa nova modalidade de contrato.
O problema do contrato intermitente em relação a jornada de trabalho, é a falta de regra
que imponha por exemplo a quantidade de horas mínimas e máximas de trabalho. A mínima
como meio de proteger o salário que irá receber ao final da atividade, pois o salário é formado a
partir das horas trabalhadas e a máxima para o caso de não desconfiguração do contrato
intermitente.
Assim o empregado e até mesmo o empregador ficam desamparados, por não saber
como firmar de forma correta o contrato de trabalho. Porém, devido a hipossuficiência o
empregado acaba sendo o mais prejudicado.
178
O art.452 – A em seus parágrafos §1°, §2°, §3°e §4° informam como deverá ser realizada
a convocação do empregado para as atividades laborais.
O empregador com antecedência mínima de 3 dias, através de qualquer meio eficaz de
comunicação como por exemplo: ligação, mensagem no WhatsApp ou até mesmo e-mail. A
convocação deverá informar a jornada a ser realizada. Após recebida a convocação o empregado
terá o prazo de 1(um) dia para responder o chamado, o silêncio será presumido como recusa.
Vale ressaltar que a recusa não configura insubordinação como prevê o parágrafo §3° do
art 452 – A da CLT: § 3º A recusa da oferta não descaracteriza a subordinação para fins do
contrato de trabalho intermitente.
Não existe informação sobre a quantidade de vezes que o empregado pode recusar os
chamados, porém fica claro que o empregador passará a dar prioridade a aqueles que aceitam o
trabalho com maior periodicidade. Deixando mais uma vez o empregado desamparado por não
ter noção do que pode ou não ser feito sem que seja prejudicado.
Uma peculiaridade muito intrigante sobre essa modalidade, está contida no §4° do
referido artigo, aqui transcrito “§ 4° Aceita a oferta para o comparecimento ao trabalho, a parte
que descumprir, sem justo motivo, pagará à outra parte, no prazo de trinta dias, multa de 50%
(cinquenta por cento) da remuneração que seria devida, permitida a compensação em igual
prazo”.
No art.2° da CLT, está o conceito de empregador. Considera-se empregador a empresa
individual ou coletiva que presumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige
a prestação pessoal do serviço.
Em crítica, Sales e Oliveira (2018, p. 82) dispõe: Ocorre que, não pode haver norma
regulamentadora de multa pecuniária na relação empregatícia sem que ela não viole a
irredutibilidade salarial, e por consequência, também transfira para o trabalhador o risco da
atividade econômica.
Ou seja, tal multa faz com que haja uma transferência do risco que recai do empregador
para o empregado além também de haver o desrespeito ao princípio da irredutibilidade salarial,
causando severos prejuízos ao trabalhador, deixando claro o desrespeito aos princípios protetores
do direito do trabalho.
Outro ponto que mudou com a reforma trabalhista, os períodos inativos não serão mais
179
A retirada desse direito foi vista como como uma afronta ao princípio da vedação ao
retrocesso. Esse sistema de proteção opera pela imutabilidade dos direitos fundamentais em
ordem do não retrocesso social e abrange todas as previsões do direito trabalhista, seja em qual
esfera normativa for, com o intuito de garantir a manutenção dos direitos conquistados. ( Gerelli;
Guass, 2017, n.p).
Desse modo o trabalhador fica totalmente desamparado pois não irá receber qualquer
verba trabalhista por tempo indeterminado, já que não se sabe quando o empregador irá
convocá-lo novamente, ou se irá ser convocado para um outro trabalho. Prejudicando assim, a
possibilidade de receber o salário mínimo.
O parágrafo §6° e §7° do art. 452 – A, dispõe sobre a forma de pagamento da remuneração
e as parcelas devidas ao trabalhador:
O rol é meramente exemplificativo, uma vez que existem outras parcelas que podem
recair sobre o trabalhador, como o pagamento da hora noturna, adicional de
insalubridade e periculosidade se for o caso, e o vale transporte relativo a todos os dias
que este for convocado para o trabalho, havendo trabalho efetivo ou não.
2.4.5 Férias
As férias, outro ponto criticado, pois a forma de convocação, por não ter uma
regulamentação mais clara, fica complexo saber quando o trabalhador atingirá os 12 meses de
trabalho para poder assim gozar de suas férias.
Art. 452 – A, § 9º A cada doze meses, o empregado adquire direito a usufruir, nos doze
meses subsequentes, um mês de férias, período no qual não poderá ser convocado para prestar
serviços pelo mesmo empregador.
Ademais o empregado em busca de manter a sua subsistência, poderá realizar trabalho
para outros empregadores no período de férias, pois a lei informa que não poderá ser prestado
trabalho apenas para o mesmo empregador que lhe concedeu as férias, não atingindo assim sua
real finalidade estabelecida pela constituição federal, que é o descanso físico e mental.
Em seu livro Direito Do trabalho, Neto e Cavalcante fazem a seguinte observação sobre
o tema:
A Constituição Federal, ao prever em seu art. 7º, XVII, o gozo de férias anuais
remuneradas acrescidas de um terço, teve como objetivo, além de promover o descanso
ao trabalhador, o direito ao lazer, instituído em seu art. 6º. Nesse sentido, e considerando
ainda o art. 129, CLT, que também dispõe sobre gozo anual de férias sem prejuízo à
remuneração, é que se entende que o art.452-A, § 9º, CLT não pode ser interpretado
como mero gozo de férias sem remuneração, visto que viola a Constituição e se encontra
em dissonância com a própria CLT. (NETO; CAVALCANTE, 2019; p.1352)
e não poder gozar do período aquisitivo de férias, devido já ter recebido essa
remuneração todas as vezes que prestou o serviço para o empregador, tornando assim
um círculo vicioso, em que o trabalhador presta serviço por tempo indeterminado para
gozo de período de férias, pois enquanto conta com as férias de um empregador precisa
prestar serviço para outro, devido não contar com a remuneração do mês de férias.
(CARVALHO, 2019, n.p)
Ou seja, mais uma vez o trabalhador vê seus direitos básicos, sendo violados, por falta de
maiores informações disponíveis sobre o contrato trabalho intermitente.
Não existe nos artigos referentes ao trabalho intermitente, qualquer informação sobre a
rescisão do contrato, sendo assim, será aplicado o previsto no art. 484 – A da CLT:
Art. 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empregado e
empregador, caso em que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:
I - por metade: (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
a) o aviso prévio, se indenizado; e (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,
prevista no § 1o do art. 18 da Lei no 8.036, de 11 de maio de 1990;
II - na integralidade, as demais verbas trabalhistas.
§ 1o A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a
movimentação da conta vinculada do trabalhador no Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço na forma do inciso I- A do art. 20 da Lei no 8.036, de 11 de
maio de 1990, limitada até 80% (oitenta por cento) do valor dos depósitos.
§ 2o A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não
autoriza o ingresso no Programa de Seguro- Desemprego.
A medida provisória de n° 808/2017, previa que o contrato seria rescindido, se no
período de 1 ano, o trabalhador não fosse convocado para trabalhar, porém tal medida não
ganhou força de lei.
● Ainda em dezembro, a remuneração foi inferior a um salário mínimo em 43% dos vínculos
intermitentes que registraram trabalho.
● Ao final de 2018, a remuneração mensal média dos vínculos intermitentes foi de R$ 763.
● O número de contratos intermitentes representou 0,13% do estoque de empregos formais, em
2018, e 0,29%, em 2019.
Como modalidade, o trabalho intermitente tem sido pouco utilizado, representando
menos de 0,3% do estoque de vínculos formais no mercado de trabalho brasileiro. Pior: um em
cada 10 vínculos desse tipo não saiu do papel. Mesmo em dezembro de 2018, mês em que o
mercado de trabalho esteve mais aquecido, quase metade dos vínculos intermitentes ficou parada.
A remuneração também teve resultado ruim. Em 2018, apenas metade dos vínculos resultou
em rendimento equivalente a pelo menos um salário mínimo. A remuneração mensal
dos vínculos intermitentes foi, em média, de R$ 763.
Portanto, ao contrário dos outros tipos de vínculo, o intermitente é caracterizado pela
instabilidade, já que não garante nem trabalho nem renda para os trabalhadores contratados nessa
categoria.
Tal pesquisa, mostra o quão o trabalho intermitente necessita de uma atualização em seu
texto, estipulando regras mínimas que garantam os direitos básicos do trabalhador, tornando essa
modalidade mais segura, tanto para o empregado, quanto para o empregador, para que assim, as
vagas criadas por esse regime, sejam preenchidas resultando a real diminuição da taxa de
desemprego e trabalhos informais.
No final do ano de 2019, surgiu um novo vírus na cidade de Wuhan, onde os primeiros
casos foram confirmados. A sua transmissão ocorre de forma rápida, pois são várias as
possibilidades de contaminação. A doença pode ser adquirida através da tosse, do espirro, do
contado com alguma superfície contaminada, como celulares, dinheiro, corrimão e maçanetas
por exemplo.
A Covid-19 em sua mais severa forma, causa síndromes respiratórias que podem levar a
morte. Pessoas que possuem algumas doenças já pré-existentes, como diabetes, problemas
cardíacos e respiratórios por exemplo tem maior chance de desenvolver o pior estágio da doença.
Assim como os idosos que tem a saúde já fragilizada, tornando-se assim um grupo de risco maior.
Com sua fácil transmissão, uma pandemia se instaurou em todo o mundo, causando
milhares de mortes. A OMS (Organização Mundial de Saúde), como tentativa de diminuir o
aumento dos casos, publicou uma série de medidas. Uma delas foi o fechamento dos comércios
183
e atividades consideradas não essenciais, para evitar aglomerações. Com tal medida, milhares de
trabalhadores tiveram seus contratos suspensos, ou foram na pior das hipóteses demitidos.
O governo brasileiro, a fim de diminuir os impactos causados na vida dos trabalhadores
afetados pela pandemia criou o auxílio emergencial, uma bolsa que será paga, para quem se
encaixar nos requisitos. Tal benefício ficou conhecido como “ corona voucher”. O valor pode
variar de R$ 600,00 (seiscentos reais), até R$1200 (mil e duzentos reais) em alguns casos.
Mas e o trabalhador intermitente em específico? Como será tratado nesse cenário? Em
17/03/2020, foi proposto um projeto de lei, a PL985/2020, pelo Deputado João Daniel, que
concede ao trabalhador intermitente pelo menos um salário igual ao recebido no mês anterior
do afetado por pandemia declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O projeto ainda
está aguardando o despacho do Presidente da Câmara dos Deputados.
Felizmente, para a sorte dessa classe, surgiu a Medida Provisória 936/2020, que assegura
o pagamento das três parcelas no valor de R$600,00 (seiscentos reais) para o trabalhador
intermitente que tinha carteira de trabalho assinada no dia 1º de abril de 2020. Apesar de ter o
mesmo valor do “corona voucher”, o nome é diferente, Benefício Emergencial de Preservação
do Emprego e da Renda.
Outro ponto comentado sobre o trabalho intermitente nessa pandemia é que, a
modalidade é vista como uma grande solução para os empresários, que ao utilizar essa forma de
contrato de trabalho, terá uma grande redução sobre as despesas trabalhistas, ajudando a evitar
a demissão, já que o trabalho intermitente prevê a prestação de serviço de acordo com as
necessidades do empregador.
5 CONCLUSÃO
A criação do regime intermitente, foi apresentada pelo legislador, como uma saída para
184
A jornada de trabalho é algo imprescindível para que o trabalhador possa ganhar o seu
salário, pois é através das horas trabalhadas que se faz o pagamento das remunerações devidas,
porém, não há qualquer informação sobre quantas horas mínimas o empregador seria obrigado
a chamar o trabalhador a fim de que este receba o salário mínimo em sua totalidade.
Desconfigurando assim uma garantia constitucional e trabalhista.
Modernização não pode ser confundida, sob hipótese alguma, com precarização e
desregulamentação. O direito do trabalho deve sempre evoluir de modo a garantir a
melhoria da condição do trabalhador, qualquer alteração legislativa que vá em sentido
oposto merece cuidadosa análise e enérgico rechaço quando prejudicial às relações de
trabalho.
Por fim, foi possível verificar após o estudo, que a intenção do legislador, ao inserir essa
modalidade, pode ate ter sido alcançada, criando diversas vagas de emprego e diminuição do
trabalho informal. Porém não houve respeito aos direitos e aos princípios trabalhistas que visam
a manutenção do trabalho a fim de atingir o seu objetivo social. O tópico 4 do presente estudo,
mostra que o trabalho intermitente não atingiu a finalidade proposta pelo legislador devido a sua
falta de regras para uma melhor experiência com tal contrato, faz com que as vagas criadas
permaneçam vazias.
Sendo assim, é de suma importância que após tantas críticas realizadas em torno desse
tema seja realizada uma série de reajustes para que haja a real intenção em beneficiar os
185
trabalhadores com as vagas criadas, de forma que seja garantido todos os direitos previstos em
lei para o empregado.
6 REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 13.467, 13 de Jul 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) aprovada
pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 e as leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, 8.036,
11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de adequar a legislação às novas relações
de trabalho. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.html
>2020.BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal, 1988.
CASSAR, Vólia Bomfim, Resumo de direito do trabalho – 6. ed., rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra, Curso de direito do trabalho – 11. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.
SALES, Alan Jorge P, OLIVEIRA, Débora da Silva, Trabalho intermitente: entre a inovação e
a precarização, Brasília, 2018.
Disponívelem:<https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/153830/2018_sales
_alan_trabalho_ intermitente.pdf?sequence=1&isAllowed=y > Acesso em: 12 de fev de 2020.
i
187
1 INTRODUÇÃO
A criação do Banco de Dados de Perfis Genéticos no Brasil acarreta o debate jurídico a fim
de saber acerca de sua constitucionalidade, no qual é através das análises das experiências
internacionais e seu impacto que é possível delinear as regras e observações pertinentes, com a
finalidade do interesse da coletividade, isto é, promover a sofisticação do poder de investigação da
criminal, sem mitigar ou violar os direitos individuais inerentes da Constituição Federal de 1988.
Antes disso, conforme a ideia do professor Alexy (2008), percebe-se a colisão entre esses
princípios, deve haver valoração constitucional, isto é, os princípios devem se flexibilizarem frente ao
outro. No contexto temático, leva-se em consideração ao valor e peso dos princípios envolvidos, de
acordo com cada circunstâncias do caso concreto e propiciar o equilíbrio entre os dois polos.
Decerto, não é uma discussão das mais simples. Por conta disto, este trabalho tem como
objetivo geral é analisar a utilização do banco de dados dos perfis genéticos e seus efeitos coma
finalidade de identificação criminal e sua constitucionalidade frente a princípio da não-
autoincriminação no contexto brasileiro que foi mitigado devido ao princípio do interesse social, isto
é, o combate da criminalidade no Brasil.
Para atingir os resultados desejados, este trabalho utiliza o método dialético, buscando
compreender a constitucionalidade do uso dos bancos de dados genéticos para fins criminais,
especificamente da identificação criminal afronta a garantia constitucional da não-autoincriminação
exposto de forma explicita pelo Constituinte de 1988. Nessa perspectiva, há uma abordagem de
natureza qualitativa, buscando soluções que almejam conciliar a problemática apresentada, utilizando-
se, para tanto, da pesquisa de bibliográfica.
De tal modo, adentrando e escavado na questão constitucional, percebe-se que esta merece
uma abordagem minuciosa do alcance do poder do Estado quanto a coleta do material biológico de
suspeitos ou condenados, tanto para traçar o perfil genético quanto para armazenar os perfis nos
bancos de dados e uso dessas elementos que ensejou o objeto da discussão do presente artigo.
Portanto, é necessário, para tanto, uma análise do tema frente as leis e demais fontes do direito que
regulam a matéria para aferir se a material é constitucional ou não, com seu fundamento, de acordo
com o ordenamento jurídico brasileiro.
O banco de dados dos perfis genéticos tem o propósito de armazenar e correlacionar perfis
genéticos das amostras biológicas extraídas dos vestígios de crime e de indivíduos suspeitos e
condenados pela prática dos mais variados crimes. De acordo com explica a professora Casabona - O
189
banco de dados genéticos pode ser conceituado como “conjuntos estruturados de resultados de
análises de perfis genéticos, mantidos em geral, em uma base de dados informatizada”. (NUNES,
2012, p. 16 apud Casabona CMR, 2002, n.p).
2 DESENVOLVIMENTO
Outro ponto importante, é que os bancos de dados forenses criminais servem tanto para
descobrir a autoria do delito, quanto para inocentar algum suspeito, já que há uma checagem dos perfis
genéticos adquiridos no local do crime ou das pessoas envolvidas com a crime, com os perfis genéticos
já guardados nas bases de dados dos bancos. Todo país tem um procedimento para o armazenamento
dessas informações e como permanecem nos bancos que pode ser até a prescrição do crime,
entretanto, nos países como Inglaterra, Noruega e outros, ficam guardados, permanentemente.
Os bancos de dados de perfis genéticos podem ser classificados pelo seu conteúdo e pela sua
finalidade. No primeiro, os bancos de dados podem subdividido em: de identificação genética;
190
arquivos de amostras biológicas; e arquivos de DNA, esses dois últimos também conhecidos por
“biobancos”. O segundo, os bancos podem ter fins genéricos, profissionais ou forenses. No último
caso, os bancos podem ser forenses criminais ou forenses civis.
O banco de dados pode ter apenas dados alfanuméricos, letras e números associados ao código
de identificação de uma pessoa, é denominado de “banco de dados de identificação genética” - bancos
de dados propriamente ditos. São colocados numa plataforma de informática e devem ser totalmente
confidenciais que maior parte dos países, os dados genéticos do indivíduo são separados dos dados
pessoais dos indivíduos.
A título de informação, não obstante da importância dos bancos de dados forenses criminais
no contexto brasileiro para o presente trabalho, há outros tipos de bancos de dados também
importantes. Em outras palavras, existe uma outra modalidade de pesquisa nesses bancos, isto é,
“pesquisa familiar”, em uso pelo Reino Unido e por uns estados norte-americanos. A pesquisa familiar
é uma verificação adicional empregada para os casos em que não tem uma coincidência total entre os
perfis (ou o perfil) encontrados no local do crime com aqueles previamente cadastrados no banco.
Ainda sobre às outras modalidades de bancos, existem os bancos de dados forenses civis que
têm objetivo a identificação de pessoas desaparecidas, não leva em consideração a idade. A
identificação advém da comparação de perfis genéticos de pessoas não identificadas, coletado
normalmente obtido de restos ósseos, com os perfis de supostos familiares.
Entretanto, deve-se respeitar os direitos básicos do ser humano, de forma especifica, a garantia
da não autoincriminação, o princípio da dignidade humana e demais positivados na atual Constituição,
especialmente quanto a sua constitucionalidade, in verbis:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana; (Grifo nosso)
191
Entretanto, existem os juristas que afiram que o direito a não autoincriminação e do silêncio
não abrange o direito de não participação, exceto quando ofenda a dignidade ou a integridade física.
Portanto, como a intervenção corporal acontece e atende os dois requisitos: a previsão legal e a não
colocação do sujeito em situação capaz de gerar risco a sua integridade física ou psíquica.
É importante lembrar que os conflitos éticos caminham junto com a história do homem uma
vez que advêm de suas ações e, que podem adquirir maior ou menor relevância a depender
do contexto temporal em que surgem. Tais conflitos são colocados em destaque quando
analisados a partir de visões diferentes e à medida que ocorre a tomada de consciência por
parte da sociedade, sobre a necessidade de impor limites à utilização de novas tecnologias na
tentativa de garantir a integridade da pessoa humana e do meio em que vivem. De alguma
forma, isso pode proporcionar subsídios à normatização e à implementação de novos
projetos de cunho científico ou social (GARRAFA, 2003, p. 56).
Quando os dois requisitos são satisfeitos, pois a colheita de material vai compor os bancos de
dados de perfis genéticos pode ser realizada de forma não invasiva, coletado via cotonete, isto é,
indolor e incapaz de gerar riscos à saúde do indivíduo, desse modo, não há afronta ao artigo 5˚, XLIX
da Constituição Federal de 1988, pois é preservada a integridade humana. No segundo requisito, no
mesmo sentido, existe também a previsão legal – em virtude da Lei n˚ 12.654/12.
No campo criminal, individualiza-se a pessoa para apontar o autor, certo e determinado, sem
qualquer duplicidade, da infração penal. Almeja-se a segurança jurídica de não cometer erro
judiciário, processando, condenando e punindo o inocente, no lugar do culpado.
De início, é importante avaliar a sua aplicação no contexto internacional para verificar seus
efeitos e limitações, isto é, localizar os possíveis erros, ressalvas e advertências para a melhor utilização
do banco de dados e aperfeiçoar o Poder de Polícia estatal no âmbito nacional. Todavia, a Doutrina
afirma que a principal dificuldade está em não violar a Carta Magna e suas garantias, ou seja, os direitos
de 1ª dimensão – as garantias que promovem a liberdade, os direitos individuais inerentes ao ser
humano no Estado Democrático de Direito. In verbis:
Em conclusão, os direitos de primeira geração são aqueles que consagram meios de defesa
da liberdade do indivíduo, a partir da exigência de que não haja ingerência abusiva dos
Poderes Públicos em sua esfera privada. (MASSON, 2016, p.192)
192
Assim, mesmo com a garantia constitucional da não autoincriminação, disposto no artigo 5º,
LXIII, da Constituição Federal de 1988, a legislação brasileira acolheu a Lei da coleta e o
armazenamento do material genético como forma de identificação criminal – Lei nº 12.037/09. Em
razão disso, esse instituto é aplicado tanto na fase de investigação quanto após condenações por crimes
dolosos com grave violência ou hediondos, de acordo com o a aplicação do artigo 9-A da Lei 7.210/84,
introduzido pela Lei 12.654/12, que prevê a identificação. In verbis:
Art. 9o-A. Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza
grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no art. 1o da Lei no 8.072, de 25
de julho de 1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético,
mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e
indolor.(Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012) (BRASIL, 1988, n.p.)
É cristalino que ao fornecer os dados, o indivíduo poderia estar realizando prova contra si
mesmo, mas devido a mitigação/flexibilização do princípio da não auto incriminação frente ao
interesse da sociedade – o combate da criminalidade no Brasil, a Suprema Corte no ano de 2016, por
unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral para julgar a constitucionalidade dos
bancos de dados genéticos de condenados por crimes hediondos, praticados de forma dolosa ou com
violência de natureza grave contra pessoa ou hediondos.
Ademais, um grande impacto foi causado pela implementação do banco de dados no Brasil
com relação à cessão compulsória da amostra biológica e a seletividade de crimes e criminosos, no
qual foi considerada por alguns criminalista como prova invasiva, pois a obrigação do fornecimento
da amostra biológica atingiria a integridade física e moral do sujeito.
193
Desse modo, é importante fazer uma ponderação sobre a eticidade do uso de um banco de
dados dessa natureza frente aos riscos de desobedecer a uma série de direitos e liberdades
fundamentais, como o direito à vida privada, e autonomia dos doadores de material genético para a
inclusão no banco. É um tema que gera grande repercussão no contexto brasileiro, exige-se um olhar
mais crítico da sociedade na elaboração das políticas públicas acerca do tema.
[...] Destacamos a abertura feita pelo inciso IV, que permite a identificação criminal do
civilmente identificado quando “a identificação criminal for essencial às investigações
policiais”. Portanto, a identificação criminal ficará a livre critério do juiz, bastando apenas
uma “maquiagem argumentativa” para fundamentar a decisão. Isso poderá servir como
forma de negar eficácia ao direito de não produzir prova contra si mesmo, quando – por
exemplo – o imputado se recusa a fornecer suas digitais para confrontação com aquelas
encontradas no local do delito. Diante da recusa, determina o juiz a identificação criminal, e
o material necessário para a perícia datiloscópica é extraído compulsoriamente, burlando a
garantia constitucional do nemo tenetur se detegere. (Grifo nosso) (LOPES JR, 2012, 168).
Desta forma, no Brasil a Lei nº 12.654/12 que introduziu a coleta de material biológico para a
obtenção do perfil genético, em duas circunstâncias: na identificação criminal e na execução penal por
crimes violentos ou por crimes hediondos. Na primeira hipótese, disciplina a identificação criminal e
tem como campo de incidência a investigação preliminar, e, por outro lado, no segundo caso a Lei n.
7.210/84 (LEP), que regula a Execução Penal.
Um dos pontos negativos que pode ser suscitado, de acordo com o esclarecimento do
professor Nucci (2013, p.416), é a tentativa de formação de um estereótipo de delinquência:
Os bancos de dados precisam do caráter sigiloso e não deverão ser colocados à disposição de
terceiros, fato que veda qualquer estigmatização social do sujeito, e também estes perfis genéticos são
guardados em banco de dados e os padrões genéticos são investigações criminais e para a identificação
de pessoas desaparecidas. No entanto, há o impasse de que os dados dos condenados que serão
angariados como consequência da condenação, não possuem previsão para sua eliminação. De acordo
com o pensamento do Ministro Gilmar Mendes, nos autos do RE 973837 RG / MG:
Portanto, deve haver a estrita observância do procedimento pelo Estado sob pena dele se
igualar ao criminoso, quando sanciona os delitos e extrapola a barreira do legítimo, já que essa “linha”
é tênue, conforme entendimento do Ministro da Suprema Corte - Luís Roberto Barroso (2010, n.p. -
Grifo nosso): “haveria, portanto, nas palavras do Ministro, uma tensão permanente entre a pretensão
punitiva do Estado e os direitos individuais dos acusados”.
Quanto ao uso dos bancos de dados para atividades investigativas, no qual seria armazenados
todos os dados dos indiciados, desde as características físicas, a identidade datiloscópica, fotográfica e
até mesmo os dados pessoais dos indiciados. No entanto, o que se argumenta é a possibilidade de o
Estado ter um imenso banco de informações, isto é, fazer um catálogo, classificar e numerar as
pessoas, de forma indiscriminada. O fato é que todos esses dados armazenados pelo estatal seriam de
grande valor e importância na seara investigativa.
Ainda que a redação seja genérica, subordinando apenas ao interesse da autoridade policial,
é necessário que o pedido venha fundamentado e efetivamente demonstrada – no caso
concreto – a imprescindibilidade deste tipo de prova. Considerando a gravidade da
intervenção corporal e a restrição da esfera de privacidade do sujeito, deverá a autoridade
policial demonstrar a impossibilidade de obter a prova da autoria de outro modo,
constituindo a coleta de material genético a ultima ratio do sistema. (Lopes Júnior, 2014, p.
679)
195
É sabido que todas as provas no âmbito do direito penal e processual penal têm que ser obtidas
por meios idôneos, caso contrário, serão inúteis ao processo criminal devido a nulidade de provas
ilícitas. O ponto de debate é o que está disposto no parágrafo único do artigo 5º c/c o artigo 3º, IV
da Lei nº 12.037/09: “quando a identificação criminal for essencial às investigações policiais, sendo
despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa”, ou seja, se essa prova for obtida sem a devida
motivação da autoridade competente será uma prova ilícita.
Outro ponto acerca do tema, um Estado Democrático de Direito como o Brasil, em tese, no
processo penal não deveria se preocupar apenas com o interesse da sociedade no combate à
criminalidade, mas também em proteger os direitos e as garantias fundamentais dos indivíduos frente
ao Poder de Polícia e seus excessos. Diante deste cenário:
A submissão do acusado a uma intervenção corporal sem seu consentimento seria o mesmo
que autorizar a tortura para obter a confissão durante o interrogatório quando este decide se
calar, caracterizando certamente um retrocesso nas garantias que já foram alcançadas,
gerando uma prova ilícita. É por esse motivo, que o argumento de “mínima lesividade física”
na coleta do material genético, através da saliva ou um fio de cabelo, por exemplo, recai no
mesmo retrocesso. Não é o aspecto físico da tutela constitucional que se está em jogo, mas
sim o direito fundamental de não autoincriminação. (SOUZA(2017, n.p.) apud LOPES JR,
2013, p. 592-596)
Ademais, alguns defensores argumentam que o suspeito não pode ser forçado a cooperar para
a investigação, mesmo que o fim buscando a verdade real, já que a negativa se consagra no próprio
direito à autodefesa. Ou seja, a busca da verdade não aprova o emprego de qualquer meio ou atividade
para coleta forçada de material biológico a fim da concretização da prova no âmbito do processo
penal.
Cumpre a função de direitos de defesa dos cidadãos sob uma dupla perspectiva: I-
Constituem, num plano jurídico-objetivo, normas de competência negativa para os poderes
públicos, proibindo fundamentalmente as ingerências destes na esfera jurídica; II-Implicam,
num plano jurídico-subjetivo, o poder de exercer positivamente direitos fundamentais
(liberdade positiva) e de exigir omissões dos poderes públicos, de forma a evitar agressões
lesivas por parte dos mesmos (liberdade negativa) (CANOTILHO, 1993, p.143).
196
Outro panorama sobre a tema, em razão da repercussão nos tribunais brasileiros, a discussão
chegou à Corte Superior, por meio do HC 407.627, no qual a tese de defesa foi no sentido da violação
aos direitos constitucionais, tais como: não-incriminação e de presunção de inocência, bem como
diversas inconsistências/problemas com relação à segurança do procedimento de coleta do material
genética, bem como da própria validade do DNA coletado, acarretando embate jurídico,
principalmente na área científica e ética-moral.
Todavia, a Superior Corte acolheu a tese da coleta de material genético como instrumento de
identificação criminal, admitiu o procedimento tanto na fase de investigação, quanto na execução
criminal do condenado por crime doloso praticado mediante violência grave ou gravíssima, bem como
nos casos de crimes hediondos. No final das contas, o material biológico que se procura colher na
demanda não tinha o objetivo de produção de provas, mas seria armazenado para fazer parte da
composição de banco de dados único, conforme a jurisprudência referida abaixo:
Tanto é verdade que os direitos/garantias fundamentais não são absolutos que o Poder
Legislativo através da Lei nº 12.654/12 tornou possível a coleta obrigatória do material genético, ou
seja, aquela obtida sem o consentimento do condenado, na execução da penal, dentro das hipóteses
legais citadas no presente artigo.
Por seguinte, por meio do Decreto nº 7.950/13, o Banco Nacional de Perfis Genéticos
(BNPG), com sede na Diretoria Técnico-Científica do Departamento de Polícia Federal e a Rede
Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), ambos com o objetivo oferecer subsídios às
investigações criminais e a identificação de pessoas desaparecidas já mencionado. Questões como
obrigatoriedade de cessão da amostra biológica, a seletividade de crimes e criminosos, entre outros
pontos, se mostram presentes no momento de aplicação das alterações legais supracitadas. O sistema
197
recebeu o nome de Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos e é conhecido a partir da sigla
RIBPG e gerido da seguinte maneira:
Por meio desta rede, o banco de dados e cada uma das instituições conecta-se ao Banco
Nacional de Perfis Genéticos, localizado no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília.
É o Banco Nacional de Perfis Genéticos que permite a detecção de criminosos que estejam
agindo em mais de unidade da federação. Para participar da RIBPG, a instituição, além de
atender a uma série de requisitos técnicos, também deve seguir os procedimentos
padronizados estabelecidos por um Comitê Gestor. (CHEMALE, 2013, p. 246)
Desta forma, a partir de 2012 notou-se a previsão legal de coleta do padrão biológica nos
termos da Lei de Identificação Criminal e da Lei de Execução Penal. Antes a doação do material era
realizada de forma voluntária pelos suspeitos de crimes, mas na atualidade, a perícia conta com um
precioso sistema de busca em rede nacional da autoria de um delito. De acordo com uma parte da
doutrina, veja-se:
indiciado, sem a invasão de sua privacidade, no qual somente o uso indevido do banco seria
considerado crime, de acordo com a lei nº 12.654/2012.
Todavia, sempre é importante que a perícia dos perfis genéticos atenda vários requisitos
essenciais para que a amostra genética coletada seja válida, deve respeitar, principalmente, as normas
relativas à coleta do material genético, peritos e armazenamento do material, sob pena da
contaminação de materiais estranhos, conforme assevera o professor Marteleto
A coleta do material genético deve ser feita por profissionais especializados, evitando, assim,
uma possível contaminação que pode ocorrer através do contato da amostra coletada com
outros materiais, orgânicos ou inorgânicos, presentes do local do crime ou no corpo da
vítima, além da possibilidade de contaminação com materiais estranhos durante a própria
coleta como, por exemplo, fluídos corporais do perito envolvido (MARTELETO FILHO,
2012, p. 153).
Da mesma forma, no meio do processo penal, a prova pericial é fruto do exame procedido
por pessoa que tenha conhecimentos técnicos, científicos ou domínio específico em determinada área
199
do conhecimento (TÁVORA, 2013, p. 413). O perito quando fizer a comparação genética entre o
DNA do investigado e dos vestígios encontrados no local do crime, fará um laudo pericial com os
resultados. Este laudo não poderá conter dados que incite a discriminação ou segregação, além incitar
a formação de estereótipos infundados de delinquência, de acordo com o inserido ainda o artigo 5-A,
da Lei nº 12.654/12, com a seguinte redação:
Art.5-A Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em banco
de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo analisou a utilização do banco de dados dos Perfis Genéticos para fins de
identificação criminal determinada pelo juiz e sua constitucionalidade frente ao princípio da não
autoincriminação. Para isso, a pesquisa partiu da seguinte problemática: a utilização do banco de dados
dos Perfis Genéticos para fins de identificação criminal determinada pelo juiz pode ferir a garantia
constitucional da não autoincriminação exposto de forma explícita pela Constituição Federal de 1988?
Os obstáculos encontrados são muitos, ficando evidente a partir dos dados analisados que
existe uma grande lacuna entre teoria e prática e que ainda há muito para se alcançar, considerando na
contemporaneidade dos resultados negativos na fase de investigações e que não se pode legitimar atos
que negligenciem os direitos fundamentais em decorrência dos interesses estatais.
O banco de dados genéticos para fins criminais pode ser visto como uma ferramenta
extraordinária no combate à impunidade, já que pode dar fim e solucionar diversos casos onde o único
vestígio do crime é uma amostra biológica do autor deixada na cena do crime. Uma dificuldade é
observar que compõe essa base não são exclusivamente dos dados de caráter identificativo, senão
dados pessoais do indivíduo que a compõem.
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TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 8. Ed.
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202
1 INTRODUÇÃO
1 Bacharel em Direito na faculdade Estácio de Sá, campus Teresina; e-mail: lannaleticial@outlook.com; currículo
lattes: http://lattes.cnpq.br/8867104421010242
203
através da Lei nº 8.069 (Diário Oficial da União, 1990). A seção da Adoção é organizada a partir
do artigo 39 até o 52 deste mesmo estatuto (ECA), abordando todos os requisitos do processo
de adoção. Já no Código Civil, o instituto da adoção é encontrado atualmente nos artigos 1.618
e 1619, dando direcionamento para as instruções do ECA, antes disso, o Código Civil contava
com os artigos 1.618 ao 1.629 a respeito da adoção.
Em 2009, surgiu a Lei nº 12.010/2009, esta lei trata especialmente da convivência familiar
e proteção de crianças e adolescentes. Ocorre que, no Direito de Família, a Adoção foi o instituto
mais abordado e alterado por esta Lei, que revogou os artigos do Código Civil e deu total
exclusividade ao ECA para tratar sobre adoção, além de ainda alterar e acrescentar matéria neste
Estatuto. Diante disso, a Lei ficou conhecida como lei da adoção.
Não é de hoje que se discute a forma burocrática e demorada em que ocorre o processo
de adoção no Brasil. De certo modo, devido ao delongamento dos processos que envolvem este
instituto, acaba ocorrendo uma despriorização da adoção no Brasil. A preferência pela adoção
internacional por muitos adotantes surge em boa parte pela falta de celeridade e a enorme fila de
espera para se conseguir a guarda de uma criança brasileira. Neste trabalho, será apresentado
como questionamento, como a burocracia nos tribunais brasileiros pode desfavorecer as crianças
disponíveis para serem adotadas no país.
Desta forma, este trabalho tem por objetivo apresentar como a falta de celeridade no
processo de adoção brasileiro corrobora para que adotantes priorizem a adoção internacional de
crianças estrangeiras sobre as crianças brasileiras abandonadas, bifurcando-se em três momentos.
Primeiramente, objetiva-se apresentar a trajetória da adoção, especialmente no Brasil, sua história
e características. Seguindo a linha de objetivos, busca-se ainda elucidar ao leitor sobre os aspectos
legais e jurídicos do procedimento realizado para se adotar crianças e adolescentes brasileiros. E
finalmente, espera-se expor como ocorre a adoção de crianças estrangeiras, bem como as
contrariedades que circundam este processo.
No contexto jurídico e social atual, é notório a relevância desse tema no mundo todo,
tendo em vista que a prática da adoção compreende a história da vida humana desde os
primórdios e sofre diversas mudanças tanto nas motivações dos adotantes, quanto ao longo do
processo de criação de normas acerca do tema.
Estima-se com esse trabalho gerar mais uma contribuição ao estudo do instituto da
adoção brasileira e internacional, trazendo, através do exposto no trabalho, um olhar sobre como
o Direito brasileiro possui ainda um longo caminho a percorrer na proteção das crianças
204
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A Adoção
formação espontânea no meio social, cuja estruturação se dá através do Direito”, a autora sugere
que o indivíduo sempre buscou se encontrar em um grupo, buscar vínculos afetivos. Dessa
forma, Maria Berenice aborda que pertencer a um grupo familiar é uma forma do indivíduo de
realizar o seu “projeto de felicidade”.
O conceito de família foi por muito tempo ligado a ideia de que os indivíduos estariam
unidos por uma “química biológica”, entretanto, o Direito tem se modificado ao longo dos anos,
e a partir do momento em que a sociedade não aceita mais as leis conservadoras, surge um certo
confronto ao apego destas com antigos ideais e convicções. O Direito passa, então, a sofrer
transformações e modernizações, e no Direito de Família não é diferente.
Entender adoção é entender as mudanças no Direito de Família, o apadrinhamento de
indivíduos não consanguíneos como filhos surge desde os primórdios, e embora constitua um
parentesco eletivo (DIAS, 2020, p.327), a decisão de tomar uma criança como sua, gera vínculos
paternos e/ou maternos, laços afetivos entre irmãos e familiares, e de certa forma esse instituto
vem crescendo ao longo da história da humanidade. Dessa forma, o Direito se adequou às
diferentes modalidades de filiação, legislando para proteger essa espécie de filiação construída na
escolha de coração dos indivíduos.
O procedimento de adoção, hoje, muito importante no Direito brasileiro e internacional,
vem tomando forma desde a sua criação. Desde o Código Civil de 1916 até os dias atuais, o
conceito e entendimento deste instituto vêm formando o que Silvio Rodrigues (2006, p.336-339)
chama de colcha de retalhos legislativa.
Esse instituto é considerado um dos mais antigos na história do homem, haja vista que
desde que se tem registro crianças eram abandonadas e tomadas como filhos por outras famílias
em diversas partes do globo. Nos escritos, nas pinturas e até lendas mais antigas já se
encontravam histórias envolvendo o que, mesmo ainda sem nomenclatura, se entendia como um
processo de acolhimento de um indivíduo antes negligenciado, por diversos motivos, pela família
biológica.
O Código de Hamurabi (1728–1686 a.C.), o mais antigo registro de legislação que se teve
contato, é conhecido como a mais fiel e autêntica fonte do Direito, possui um total de 282
cláusulas decretadas pelo sexto rei da Babilônia, Hamurabi, e dentre elas observa-se o artigo XI
inteiramente dedicado ao instituto da adoção, possuindo neste artigo 11 colunas tratando da
relação de adotante e adotado na sociedade babilônica.
Na Roma antiga a prática da adoção surgiu com o objetivo de gerar herdeiros,
especialmente nas classes abastadas, onde a necessidade de fortalecimento e perpetuação do
nome da família era quase obrigatória. Esse procedimento se dava especialmente com casais que
não conseguiam, por motivos alheios a sua vontade, gerar a prole e, portanto, recorriam a adoção.
Assim como ocorre uma mudança na legislação acerca desse instituto, ao longo do tempo é
possível notar, também, uma clara mudança no perfil e motivação dos adotantes.
206
A origem da palavra adoção é essencial para a compreensão deste instituto, a palavra vem
do latim adoptione, que, para Lídia Weber significa “considerar, olhar para, escolher” (WEBER,
1999, p.100). E dessa forma acontece o instituto da adoção, um determinado indivíduo escolhe
outro, ou em muitos casos é escolhido, para que haja o acolhimento e, assim, o novo membro
da família passa a ser considerado como filho em todos os âmbitos de fato e de Direito.
O vínculo paternal da adoção se dá de maneira fictícia e eletiva, como aponta Maria
Berenice Dias (2020, p.326), onde esse laço decorre de um ato voluntário das partes objetivando
criar parentesco irrevogável, através de um ato jurídico.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, mostra-se ainda atrasado quando
aponta a adoção como medida excepcional (ECA, artigo 39, §1º), o que sugere que seja pensada
como última medida cabível, entretanto já se entende que essa medida é nada mais que uma
escolha realizada a qualquer momento pelo adotante, independente da capacidade ou não de
gerar filho biológico e independente da situação em que o adotado se encontra.
A maioria dos doutrinadores entende adoção como um ato fictio iuris, com caráter
puramente jurídico, onde um desconhecido entraria na família e permaneceria juridicamente,
mesmo que de forma fictícia, em uma filiação familiar como filho biológico, de modo a “imitar
a natureza”, como na conhecida expressão em latim adoptio naturam imatatur, a adoção imita a
natureza (Justiniano, Institutas, L. I. Tit. 11. § 4. "De adoptionibus”)2.
Carlos Gonçalves em sua importante obra sobre o Direito de Família, apresenta o
2 Corpus Juris Civilis (Suma Completa do Direito dos Romanos), se trata de uma organização de leis romanas, exigida
pelo imperador Justiniano I. Este imperador aspirava o crescimento de Roma, e a união desta com o ocidente, desta
forma a organização de leis e normas foi essencial para a conservação do Estado. Essa obra foi de suma importância
para a estruturação do Código Civil que conhecemos hoje. O livro citado trata do instituto da adoção.
207
instituto da adoção como sendo um “ato jurídico solene pelo qual alguém recebe em sua família,
na qualidade de filho, pessoa a ela estranha” (GONÇALVES, 2017, p. 487).
Maria Helena Diniz, nos dá um conceito mais complexo, analisando as muitas doutrinas
existentes sobre este instituto, para ela,
Adoção é o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos legais, alguém
estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco consanguíneo ou
afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho,
pessoa que, geralmente, lhe é estranha (DINIZ, 2018, p. 416).
Para Maria Berenice Dias, o instituto da adoção continua sendo um ato jurídico de
vinculo fictício de paternidade, seguindo a linha do fictio iuris, segundo ela “A adoção cria um
vínculo fictício de paternidade-maternidade-filiação entre pessoas estranhas, análogo ao que
resulta da filiação biológica” (DIAS, 2020, p.326).
O fato é que esse instituto tem sido a saída, no mundo todo, para muitas crianças e
adolescentes negligenciados e violentadas pelos pais biológicos, bem como de milhares de
pessoas que desejam ter filhos, independentemente de ser uma medida excepcional ou não para
ambas as partes.
No Brasil, o processo de adoção teve uma série de modificações desde sua criação no
código civil de 1916 até os dias atuais, entretanto a configuração burocrática desse processo torna
mais difícil e demorada a habilitação à adoção e o acolhimento institucional da nova família,
muitas vezes levando anos para que se concretize de fato. Sendo assim, muitas famílias recorrem
à adoção internacional como meio mais célere de realizar a aspiração da paternidade e
maternidade.
caráter exclusivamente jurídico, como dispõe o artigo 336 do mesmo código, determinando que
“a adoção estabelece parentesco meramente civil entre o adotante e o adotado”. A adoção está
organizada em um capítulo exclusivo, com artigos que então passam a regulamentar não apenas
sobre a situação de crianças órfãs, mas o ato de adotar em si. O Código Civil de 1916 nomeou
esse instituto como adoção simples, e dispôs que apenas os maiores de cinquenta anos “sem prole
legítima ou legitimada”, e tendo ainda, pelo menos 18 anos de diferença entre o adotante e o
adotado.
Com a promulgação da Constituição Federal, o instituto da adoção ganha nova cor, os
objetivos dos que procuram a adoção se modificam ao longo dos anos, não mais se objetiva a
perpetuação de um nome, e tampouco um herdeiro, há na verdade um desejo maior em ter um
filho, biológico ou não, de se exercer a paternidade e/ou maternidade e acolher crianças
abandonadas em diversas situações.
As noções mudam e a adoção passa a ter o caráter pessoal de acolhimento como filho
biológico, como dispõe o artigo 227 inciso VII, §6º da Constituição Federal de 1988, em que
aponta que os filhos por adoção “terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação”.
3 Aqui temos por “criança órfã” aquela que perdeu os pais por falecimento.
209
Dessa forma a adoção se torna essencial para a garantia da devida proteção e cuidados às
crianças que necessitam dela, e do mesmo modo o processo de adoção deve se apresentar como
uma saída segura para estas crianças, para que o lar escolhido seja favorável às necessidades destas
e permanente, para que não haja danos psicológicos a criança que já foi abandonada uma vez.
O processo de adoção se inicia com a entrada do adotante no fórum da vara da infância
e juventude da região mais próxima, com cópias autenticadas da certidão de nascimento, ou
declaração relativa ao período de união estável, cédula de identidade e da Inscrição no Cadastro
de Pessoas Físicas (CPF), comprovante de renda e de residência, atestados de sanidade física e
mental, certidão negativa de distribuição cível e a certidão de antecedentes criminais, que serão
enviados ao Ministério Público e avaliados pelos profissionais da justiça qualificados, como prevê
o ECA.
A segunda fase é um período de grande ansiedade para os que esperam ter um filho,
especialmente por ser o momento em que serão analisadas as motivações dos indivíduos para a
adoção, bem como se inicia uma análise mais minuciosa da convivência familiar, e das condições
de se manter uma criança, além de apurar os desejos e expectativas da família sobre uma nova
criança.
Em fase posterior, a família adotante deverá ser familiarizada com as realidades da
adoção, seja em contato com famílias que acolheram crianças ou participando de um programa
de preparação, para se tornarem aptos a recepcionar e cuidar de uma criança adotiva. Para isso,
foram incluídos pela Lei da Adoção os parágrafos 3º (terceiro) e 4º (quarto) no artigo 50
(cinquenta) do Estatuto da Criança e do Adolescente. A ver:
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um registro
de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de pessoas
interessadas na adoção.
§ 3 o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um período de preparação
psicossocial e jurídica, orientado pela equipe técnica da Justiça da Infância e da
Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da
política municipal de garantia do direito à convivência familiar.
§ 4 o Sempre que possível e recomendável, a preparação referida no § 3 o deste artigo
incluirá o contato com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional
em condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e avaliação
210
4 Já neste caso, temos por “criança órfã” aquela que perdeu pai, mãe, ou ambos, por falecimento ou
abandono e espera ingressar em uma nova família.
211
O fato é que este procedimento é demorado, pois uma das condições necessárias é a
suspensão do pátrio poder, que é obrigatória. A Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente – ECA) define no artigo 158, §1º, que “a citação será pessoal, salvo
se esgotados todos os meios para sua realização”, dessa forma o juiz é obrigado a solicitar todas
as formas de citação, e frequentemente acaba tendo que buscar parentes, vizinhos, e afins para
que se encontrem os pais biológicos e se desfaça o vínculo familiar.
Em vista disso, com a demora deste procedimento, muitas crianças antes com idade
equivalente a que a maioria dos adotantes escolhe, acabam excedendo essa idade, e se tornam
parte da grande porcentagem de crianças e jovens esquecidos em abrigos.
Além disso, esse procedimento provoca dilação no seguimento dos processos que já estão
em andamento, de crianças ainda não destituídas, e acarreta na apreensão dos adotantes em saber
se realmente conseguirão a adoção, bem como gera frustração no adotado que anseia por um lar
e uma família.
5 O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi criado em 2004, pela Emenda Constitucional 45, que tem como função
reformar, controlar e aperfeiçoar externamente o judiciário brasileiro, estabelecendo parâmetros e diretrizes
nacionais, para que haja ainda “a transparência processual e administrativa”, como aponta o site do Conselho. Com
relação a adoção, o CNJ busca trazer celeridade e desempenho positivo aos processos envolvendo as crianças órfãs.
6 Vide: https://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf
212
dos adotantes e das crianças. Percebeu-se que boa quantidade dos pretendentes busca um mesmo
modelo de criança, o que diverge da realidade dos orfanatos e abrigos no país, deste modo às
famílias seguem por anos em busca da criança ideal, enquanto as diversas outras crianças e
adolescentes esperam incansavelmente uma família.
Ainda no Cadastro Nacional de Adoção, em 2019, percebeu-se que 93% dos adotantes
aceitam crianças brancas, quando apenas 58% destes aceitam crianças negras. Há aqueles que
apenas aceitam crianças brancas, totalizando 6.433 indivíduos, embora o número de crianças
disponíveis com tal fenótipo é de 3.076.
Com relação a irmãos, não há grande disparidade, e há de certa forma um avanço, cerca
de, 42,24% dos pretendentes não aceitam irmãos, enquanto 54,76% se disponibilizam para
acolhê-los.
Ademais, ainda que boa parte dos adotantes (30.034), seja indiferente quanto ao gênero
da criança, foi percebido um número de cerca de, 12.263 adotantes que aceitam adotar apenas
meninas, que é quase a metade dos adotantes, havendo assim uma priorização na escolha quanto
ao gênero.
Quanto a idade, o número de candidatos em busca de crianças de até 3 anos é de 8.195,
até 6 anos é de 4.852, já para crianças de até 10 anos o número cai significativamente para 847, e
ao chegar na adolescência a chance de ser adotado diminui ainda mais, sendo 247 pretendentes os
que aceitam até 13 anos, e apenas 101 estão disponíveis para 15 anos.
Dessa forma, em busca da criança ideal ou devido à insatisfação com o judiciário, e o
medo da decepção de não conseguir concluir a adoção e do que essa possível lentidão do
processo pode causar na relação do adotante e adotado, muitos brasileiros têm recorrido a
adoção internacional de criança estrangeira como forma mais rápida e efetiva de realizar o desejo
de um filho.
No Brasil existem por volta de 8,7 mil crianças aptas para adoção e mais de 40 mil em
abrigos esperando estarem judicialmente aptas para esse processo. Boa parte dessas crianças nem
mesmo está no rol de escolhas de adotantes, por questões físicas ou biológicas, e passam suas
vidas em abrigos a espera de um lar.
Mesmo com o alto índice de crianças brasileiras à espera de uma família, muitos adotantes
ainda escolhem crianças de outros países, geralmente ansiando a celeridade do processo, visto
que em muitos desses lugares a adoção é menos burocrática e em poucos meses o adotante já
tem a habilitação para ser pai ou mãe daquela criança.
Muito se tem conhecimento acerca da adoção de crianças brasileiras por estrangeiros,
213
haja vista que em outros países o número de crianças para adoção é pequeno, dessa forma é
comum à busca de crianças brasileiras como filhos, principalmente por europeus.
Todavia, embora o ECA, o Código Civil e outras convenções, como a Convenção de
Haia, estabeleçam normas acerca da adoção internacional de crianças de outros países realizadas
por famílias brasileiras, ainda são escassos os estudos e as produções, como livros e artigos, sobre
o tema.
O índice de pessoas interessadas em adotar crianças de outros países vem aumentando,
principalmente devido ao crescente número de pessoas famosas, como Madonna, Giovanna
Ewbank e Bruno Gagliasso, Angelina Jolie, e outros que optaram pela adoção internacional,
gerando, assim, conhecimento sobre o assunto e tendendo de certa forma, a influenciar
indivíduos a buscar pelo mesmo modelo de adoção.
A adoção de crianças estrangeiras é um procedimento caro e depende muito do país onde
reside o adotante e o que reside o adotado. Em alguns países há a necessidade de uma habilitação
anterior concedida pelo Brasil, em outros casos essa adoção não é sequer autorizada pelo país do
adotado, ou por vezes o processo é simples e não exige muito mais que a deslocação do adotante
para o país que ocorrerá a adoção.
A Convenção de Haia, estabelecida no dia 05 (cinco) de outubro de 1965, foi assinada
por 112 países, tendo como propósito de agir para acelerar e facilitar a legalização de documentos
entre países, e dessa maneira, no processo de adoção, a fase de tramitação de documentos entre
os países integrantes da Convenção seria mais rápida.
No Brasil foi promulgada em 1999, a Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à
Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, pelo decreto nº 3.087, contribuindo para
salvaguardar as crianças e adolescentes em nível internacional, entretanto a convenção de Haia
em si entra em vigor no Brasil apenas em 2016, pelo decreto nº 8.666, e é até hoje fiscalizada pelo
CNJ.
Sobre o processo da adoção internacional de criança estrangeira no Brasil, os incisos do
artigo 52-C e D da lei 12.010/2009, que alterou o ECA, apontam as instruções para que o
214
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país de acolhida, a decisão
da autoridade competente do país de origem da criança ou do adolescente será
conhecida pela Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de
habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e
determinará as providências necessárias à expedição do Certificado de Naturalização
Provisório.
§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério Público, somente deixará de
reconhecer os efeitos daquela decisão se restar demonstrado que a adoção é
manifestamente contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança
ou do adolescente.
§ 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista no § 1o deste artigo, o
Ministério Público deverá imediatamente requerer o que for de direito para resguardar
os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as providências à
Autoridade Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central Federal
Brasileira e à Autoridade Central do país de origem.
Ainda apresentando os requisitos processuais para a adoção estrangeira, vemos o que está
previsto nos artigos 14 a 16 do Decreto 3.087/99, que trabalha a convenção de Haia no
procedimento de adoção. E ainda no ECA, seguindo as alterações feitas dos artigos 165 a 170,
pelo artigo 52 da lei de adoção.
Quando ocorre a sentença da adoção concedida no exterior e a emissão da nova certidão
de nascimento da criança, e com a chegada ao Brasil é ainda necessário o registro do adotado em
território nacional no Consulado Brasileiro, em que cabe ao Superior Tribunal de Justiça,
conforme o Ministério das Relações Exteriores (MRE) regula, homologar a sentença estrangeira.
Dessa forma, podemos notar que a adoção de criança estrangeira está muito bem
regulamentada no ordenamento brasileiro. Possui ainda órgãos que as fiscalizam e protegem,
como a Autoridade Central Administrativa Federal (ACAF) e as Autoridades Centrais Estaduais
(CEJAs/CEJAIs), que são encarregados de fiscalizar o cumprimento das normas relativas à
Convenção de Haia, e desta forma, zelar pelo bom cumprimento das adoções internacionais.
com cor de pele específica, padrão de corpo específico, sem nenhum tipo de deficiência, e coisas
relacionadas a saúde e integridade física e mental.
Com a demora nos processos de desintegração da família biológica, muitas crianças
brasileiras passam da idade escolhida para adoção, em outros casos as crianças que vem de um
nicho perturbado, de negligencia e abandono, tem a saúde física e mental abalada, ou na maioria
das vezes a criança é plenamente saudável, apenas não se encaixa nos padrões gerais da maior
parte dos adotantes.
Muitas crianças disponíveis para adoção estão machucadas fisicamente ou
psicologicamente, são mais retraídas ou buscam pouco contato, e a busca pela criança ideal,
completamente imaculada, muitas vezes tira a chance de essas crianças saírem da situação em
que se encontram.
Estes fatores fazem com que as ruas e os orfanatos se encham rapidamente de meninos
e meninas, estes que dificilmente conseguirão um novo lar e o processo de adoção de crianças
estrangeiras dificulta ainda mais a saída desses pequenos da situação em que vivem.
A mudança na conscientização e em determinados aspectos do processo de adoção no
Brasil pode ocorrer de forma a evitar que a adoção internacional seja a única opção possível aos
olhos de alguns adotantes.
O processo de adoção de crianças mais velhas, por exemplo, é de certa forma menos
burocrático, haja vista que a maioria delas se encontra já desconectadas juridicamente das famílias
biológicas, de forma que o processo de destituição já ocorreu, diminuindo a demora na adoção.
Nos programas de preparação dos adotantes para receber uma criança adotada, poderia
ser apresentada além das famílias que já adotaram crianças, aquelas famílias que escolheram
crianças fora do padrão, ou até mesmo introduzir a realidade e as condições daquelas crianças
que não se encontram no padrão exigido.
O direito e, consequentemente, as leis, estão em constante processo evolutivo. Portanto,
o Legislativo e o Judiciário, colaborando um com o outro, possuem o papel de cuidar destas
crianças tão vulneráveis, buscando assim a diminuição da burocracia, a mudança na percepção
dos pretendentes quanto os órfãos, através de meios de conscientização e ainda a busca por
outros meios que facilitem o processo de adoção.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei 4.655 de 4 de junho de 1965 Revogada pela Lei nº 6.697, de 1979 Dispõe
sobre Legitimação Adotiva. 1965. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/L4655.htm > Acesso em:
10.fev.2020.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 13. Ed. rev. Ampl. E atual – Salvador:
218
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. São Paulo,
Saraiva, v. 5. 2018.
FREITAS, Augusto Teixeira de. Consolidação das leis civis. v.2, Ed. fac-sim – Brasília:
Senado Federal, Conselho Editorial. 2003.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 4 ed. São
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PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito Civil Sistematizado. 8 ed. rev., atual e ampl.
Salvador: Juspodivm, 2017.
REIS, Tiago. Demora da Justiça faz criança perder chance de adoção, mostra estudo.
2015. Disponível em: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/06/demora-da-justica-
faz-crianca- perder-chance-de-adocao-mostra-estudo.html.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil brasileiro: direito de família, Ed. Atual, 2006.
219
1Luana Leal de Sousa é graduanda em Bacharelado em Direito pela Faculdade Estácio de Teresina-PI, com endereço
eletrônico luanaleal677@gmail.com e currículo lates
https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=9EC6BAE2DEFCB3740ADFE1BAC4B19828
2Essa tese será defendida ao longo de todo o trabalho.
220
dessas lutas no cenário feminista nacional. Pretende-se, ainda, demonstrar o modus operandi adotado
pela Polícia Civil do Piauí no combate à prática desse crime, bem como as lacunas que ainda existem
quanto a essa questão, o que leva a crer que a criminalização do Feminicídio possui um conteúdo
que extrapola a sua utilidade simbólica, constituindo-se em instrumento político concreto de
enfrentamento às violências de gênero.
Metodologicamente, o trabalho será formulado a partir da coleta de boletins e artigos
publicados sobre o tema, posteriores à lei n. 13.104/15. A esses, também será somada a revisão
legal do processo de criminalização. Por outro lado, a teoria política feminista, formulada por
autoras como Judith Butler, por exemplo, é fundamental para a construção de toda a análise do
tema, como é notório durante a leitura deste artigo. As teorias políticas feministas são capazes de
nortear a análise na medida em que oferecem uma perspectiva em que as questões sociais são
analisadas em sua dimensão individual e estrutural.
Para além desses elementos, o trabalho desenvolvido por Eugênia Nogueira do Rêgo
Monteiro Villa e Bruno Amaral Machado, intitulado “O Mapa do Feminicídio na polícia civil do
Piauí: uma análise organizacional-sistêmica” foi amplamente utilizado nesse artigo, como consulta
necessária a uma pesquisa que tenha contemplado inferências extraídas de bancos de dados oficiais
da Polícia Civil do Piauí e análise de inquéritos policiais que apuraram o feminicídio, como foi o
caso do trabalho supracitado. A partir disso, os autores elaboraram um mapa do feminicídio no
Estado do Piauí, a partir do qual foi possível coletar dados e informações acerca do quadro
sistêmico e estrutural das medidas e estratégias utilizadas, no que tange ao combate desse crime no
estado3.
Assim, se constituíram como objeto de análise: laudos periciais, termos de oitivas, auto de
prisão em flagrante delito, interrogatório e relatório. Em seguida, passou-se a uma análise do
discurso e, por fim, a uma abordagem organizacional, por meio do mapeamento de categorias
empíricas neles presentes, a fim de que fosse possível adentrar na rotina policial e verificar como
as organizações observam o feminicídio e de que modo se comunicam.
A justificativa de um trabalho dessa natureza reside em que este poderá contribuir quanto
à construção de protocolos capazes de auxiliar as investigações dos feminicídios, unindo a aplicação
do direito penal e realidade empírica, além de favorecer o debate, o planejamento e a efetividade
dos direitos das mulheres em situação de violência na perspectiva de gênero.
3VILLA, Eugênia Nogueira do Rêgo Monteiro. MACHADO, Bruno Amaral. O mapa do feminicídio na Polícia Civil
do Piauí: uma análise organizacional-sistêmica. R. Opin. Jur., Fortaleza, ano 16, n. 22, p.86-107, jan./jun. 2018
221
A partir dos dados acerca da violência contra a as mulheres no Brasil até então coletados e
disponíveis para consulta pública, é possível depreender que existe um problema agudo e de longa
duração nesse sentido. Essa violência, levando a um quadro fatal, atingiu mais de 50 mil mulheres
entre 2000 e 2010, ano em que a taxa de mortes foi de 4,6 por 100 mil habitantes (WAISELFISZ,
2012).
Nesse sentido, o Brasil não se distancia do contexto de outros países da América Latina,
no que se refere ao fato de que o problema do feminicídio está estreitamente ligado à violência
conjugal, uma vez que, dentre as mulheres assassinadas, muitas morreram pela ação de pessoas
com quem mantinham ou já mantiveram um relacionamento afetivo.
No Brasil, a tentativa de conferir às mulheres um estatuto jurídico específico para a garantia
do direito a uma vida sem violência resultou numa proposta de alteração legislativa, em consonância
com a lei 11.340/2006. Ainda nessa perspectiva, a Lei Maria da Penha instituiu um novo paradigma
para os profissionais que atuam no sistema de justiça criminal, bem como para os responsáveis pela
formulação de políticas públicas. Essa lei, que contou com a participação de representantes dos
movimentos de mulheres, trouxe um programa inovador para o tratamento do problema da
violência doméstica e familiar contra a mulher. O referido texto legal ainda trouxe para o
ordenamento jurídico a categoria “violência baseada no gênero” (artigo 5º) e a equiparação entre
violência doméstica e familiar contra a mulher e violação de direitos humanos.
É inegável que um dos efeitos mais imediatos da Lei Maria da Penha foi conferir visibilidade
ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher, buscando ocupar um espaço
importante no debate público. No entanto, é importante salientar que, não obstante os avanços
significativos que foram consolidados na legislação, ainda são grandes as dificuldades enfrentadas
pelas mulheres para terem seus direitos efetivamente reconhecidos, em face das práticas
discriminatórias que, costumeiramente, orientam as instituições policiais e judiciais. Dessa forma,
é importante conhecer as circunstâncias que cercam o assassinato de mulheres e a existência da
relação com a violência doméstica, com vistas a que seja possibilitado um diagnóstico que
contemple os aspectos comuns aos casos, para além das tragédias pessoais, além do desenho de
estratégias eficazes para a promoção dos direitos das mulheres.
De acordo com dados estatísticos produzidos pelo Núcleo de Estatística e Análise Criminal,
em parceria com o Núcleo de Estudo e Pesquisa em Violência de Gênero, da Secretaria de
Segurança Pública do Piauí, no período compreendido entre 10 de março de 2015 (data da vigência
da Lei do Feminicídio) e 30 de agosto de 2016 (período histórico da estatística oficial), foram
registrados 84 (oitenta e quatro) casos de crimes violentos letais intencionais – CVLI – femininos.
222
2.2.1 Percurso
No Piauí, foi criado, em 2 de março de 2015, por meio da SSP/PI, o Núcleo Policial
Investigativo do Feminicídio, com competência para investigação do Feminicídio em todo o
estado. A partir desse ato, esse crime foi conceituado “[...] como sendo o assassinato de meninas,
mulheres, travestis e mulheres transexuais baseado em relações de gênero.” (PIAUÍ, 2015, p. 3).
Dedicado exclusivamente ao feminicídio, o Núcleo demandou metodologia policial
investigatória que privilegiasse a perspectiva de gênero, dado que a metodologia tradicional aplicada
aos assassinatos de mulheres se baseava nas mesmas categorias dos homicídios em geral (VILLA;
MACHADO, 2018). Em abril de 2016, o Piauí adotou as Diretrizes nacionais feminicídio –
investigar, processar e julgar (BRASIL, 2016) com perspectiva de gênero as mortes violentas de
mulheres propostas pela SENASP em parceria com a ONU MULHERES e a Secretaria de Política
para Mulheres da Presidência da República. Aliada a essa metodologia, desenvolveu-se estatísticas
criminais com recorte de gênero com o intuito de estabelecer um diferencial no assassinato de
mulheres em face dos demais CVLI.
De início, a pesquisa procurou identificar o número de mulheres assassinadas no Piauí no
período de 10 de março de 2015 (data da vigência da Lei do Feminicídio) até 30 de agosto de 2016
(período histórico da estatística oficial), tendo sido apurados 84 (oitenta e quatro) casos de CVLI
femininos. Tendo sido definida a quantidade de assassinatos de mulheres no período, passou-se ao
levantamento dos seus registros nos bancos de dados da Polícia Civil em três
224
2.2.2 Mapeamento
O mapeamento do feminicídio realizado por Villa e Machado (2018) realizou-se por meio
de base consultas aos Sistemas SIMCVLI, SISPROCEP, acervo das segundas vias dos IPL do
Núcleo de Estudo e Pesquisa em Violência de Gênero SSP/PI e consulta aos (às) Delegados (as)
que presidiram os Inquéritos Policiais de Feminicídio.
A conjunção das inferências extraídas dos sistemas de informação da PC-PI, a pesquisa
realizada por Waiselfisz (2015), sobre o homicídio de mulheres no Brasil, no período de 2003 a
2013, bem como a pesquisa feita pelo Analista Criminal da SSP/PI (AGUIAR, 2016) tornou
possível a definição de categorias de análise na perspectiva das mulheres assassinadas, quais sejam:
cor das vítimas, idade, meios utilizados e locais das agressões.
A partir disso, a pesquisa apurou que mais da metade dos assassinatos de mulheres foram
tipificados como feminicídio (59,52%), com prevalência no interior do estado (80%). Não obstante
essa realidade, Teresina ocupa o primeiro lugar no ranking dos 224 municípios piauienses, com 10
casos. Todos os feminicídios pesquisados tiveram como vítimas mulheres cis, não tendo sido
registrado nenhum caso contra pessoas transgênero.
Logo depois de ser definida a amostra da pesquisa, passou-se a analisar o perfil das mulheres
assassinadas, considerando-se as categorias selecionadas pelo Mapa da Violência, em 2015, e outras
categorias passíveis de catalogação, a partir das consultas aos bancos de dados da
225
polícia. A primeira delas diz respeito à cor da pele das vítimas com base nas declarações dos laudos
de exames periciais cadavéricos, ou seja, o discurso policial oficial constante dos laudos periciais
expedidos pelo Instituto Médico Legal (IML) e registrados no SIMCVLI. Saliente-se que os
parâmetros adotados pelos Médicos Legistas não observam quaisquer critérios formais de
classificação por cor de pele, restringindo-se à percepção pessoal do legista.
A categoria Negra (compreendendo mulheres pardas e pretas) prevaleceu, correspondendo
a 37 vítimas de um total de 50 ou 74%. Quanto à idade da vítima, apurou-se que metade das
mulheres assassinadas estava na faixa etária de 30 a 59 anos, ou seja, infere-se que as mulheres
adultas são, aparentemente, as mais vulneráveis, seguidas daquelas que se posicionam na faixa etária
de 18 a 29 anos (24%). O indicador foi construído a partir da metodologia adotada pelo Mapa da
Violência (2015), que agrupara as idades a partir de definições legais e ciclos de vida.
O dado piauiense também contraria a pesquisa de Waiselfisz (2015), cuja faixa mais
vulnerável se dá entre 18 a 29 anos. Ainda com relação à vítima, apurou-se a prevalência de
mulheres solteiras. Pode-se inferir, portanto, que, quanto ao perfil das vítimas, que as mulheres
mais vulneráveis se encontram na fase adulta, são pardas e solteiras. Quanto aos elementos fáticos,
a arma branca do tipo faca foi o meio utilizado na metade dos casos de feminicídio.
Na perspectiva do local de crime, o estudo apurou que 19 dos 50 feminicídios do Piauí
ocorreram na residência da vítima (38%). Contudo, como há a prevalência do local por definir
(48%), não se pode afirmar com exatidão a maioria do local dos feminicídios, uma vez que os dados
carecem da exata qualificação.
Os dados também revelam que, em mais da metade dos casos (58%) ou 29 deles, o agressor
é conhecido da vítima, tendo mantido com ele relações de afetividade e/ou familiar. Inferiu-se que
a relação entre o vínculo e o local do assassinato sugere cenários de vulnerabilidade em face da
vítima, dado que 17 das 29 vítimas (63%) que possuíam vínculo afetivo ou familiar com o agressor
foram assassinadas em suas residências. Nesse sentido, depreende-se que o risco de assassinato da
vítima em sua casa é prevalente, sobretudo quando se trata de vínculos familiares.
Em primeiro plano, é preciso realçar o fato de que a atividade policial é desempenhada por
sujeitos que “[...] interpretam determinadas regras e «criam» outras para regular suas ações”
5Essa abordagem é essencial para o entendimento do Feminicídio enquanto uma questão de gênero.
226
(MACHADO, 2014, p. 26). Desse modo, o sistema policial orienta-se por rotinas cognitivas e
doutrinas específicas voltadas à padronização das investigações criminais. Assim, o espaço se
caracteriza por ser dotado de regularidade e sistematicidade de ações, as quais culminam nos
processos decisórios a cargo de seus agentes.
As decisões da PC-PI podem ser observadas a partir dos programas que orientam seus
processos decisórios: Legislação, diretrizes internas, prioridades das unidades. Da análise do
conteúdo dos IPLS – documento que oficializa as decisões policiais – infere-se que a categoria
feminicídio é operacionalizada pela Polícia a partir de cinco documentos, quais sejam: 1. Laudo de
Exame Pericial Cadavérico, a cargo do IML; 2. Laudo de Exame Pericial em Local de Crime, a
cargo da PTC; 3. Termo de Declarações de testemunhas; 4.Termo de Interrogatório e 5. Relatório
final, os três últimos a cargo da Polícia Judiciária (VILLA; MACHADO, 2018).
Nesse âmbito, convém analisar, ainda com base na amostra, os laudos Cadavérico e Local
de Crime, constantes em todos os IPLS pesquisados.
Da mesma forma que o Laudo de Exame Cadavérico, o local de crime vem regulamentado
no CPP, especialmente no art.169. O exame do local de crime também segue formato padrão
previsto na Carta de Serviços da Perícia, cujos quesitos, quanto aos casos de
227
assassinatos, se alteram muito pouco, variando de acordo com o contexto fático e do delegado
requisitante, bloqueando a cognição dos cenários que caracterizam o feminicídio, principalmente
quanto ao termo “condição do sexo feminino”.
Alguns dos laudos periciais que instruem os procedimentos explicitam ações de domínio e
apropriação do corpo feminino pela força (SEGATO, 2010), como, por exemplo: vítima se protege
dos golpes; relação de verticalidade - agressor em plano superior à vítima e expressividade da
violência - golpes sucessivos e profundos, mesmo depois do estado de inércia da vítima:
[...] A presença de lesões de defesa no seu antebraço e braço, indicam a tentativa da vítima
de se proteger dos golpes sofridos [...] lesões pérfuro-incisas profundas [...] mesmo inerte
e já caída, no piso cerâmico, a vítima continuou a sofrer agressões, sendo contabilizados
pelo menos 06 (seis) golpes [...] cujo agente agressor estava posicionado em plano
superior à vítima, desferindo golpes de cima para baixo (SEGATO, 2010, p. 44).
Assim, a partir das questões discursivas passíveis de análise, é possível proceder a algumas
considerações sobre a prova pericial.
tocante ao vínculo da vítima com o autor do fato, apurou-se que 20 delas (74% do total da amostra)
foram assassinadas em suas casas por homens com quem mantinham ou haviam mantido relações
de confiança. O dado revela possível dificuldade de defesa em razão dessas relações.
É possível inferir, a partir dos discursos policiais selecionados, a articulação entre as
decisões das organizações policiais – perícia e polícia judiciária, que orientam a conclusão que é
levada ao relatório final. Existe uma problemática em torno da forma de comunicação da polícia,
uma vez que esta sugere possível fechamento cognitivo da organização policial às peculiaridades
que envolvem o Feminicídio, ponto de diferenciação entre este e outras mortes qualificadas. Os
textos colhidos durante a pesquisa de Villa e Machado (2018) propiciam material relevante para a
análise. Relatos como “[...] provocando intenso e desnecessário sofrimento [...], com evidente
instinto de maldade, objetivando impor à vítima um sofrimento desnecessário [...]”, narrativa de
caso em que o padrasto assassina a enteada ou então “[...] depois as jogou num barranco [...] e
como não haviam morrido [...] passaram a jogar pedras nas cabeças das duas [...] que não tinham
nenhum homem com elas [...]” (PIAUÍ, 2016b), são bastante significativos, dado que se referem a
casos envolvendo quatro meninas violadas sexualmente e vítimas de feminicídio, modalidade
tentada (um consumado), praticados por 4 adolescentes e um homem que não mantinham relações
interpessoais com elas.
Os relatos evidenciam uma linguagem peculiar que revela o emprego de força que excede
racionalmente o esforço necessário para a eliminação de uma pessoa. Assume-se a forma de gesto
simbólico de imposição de castigo pela violação do prestígio pessoal do autor do fato, no primeiro
caso, e aquisição de um prestígio no segundo caso (VILLA; MACHADO, 2018). Relatos de causa
mortis relacionados ao emprego da força física nos casos de asfixia por estrangulamento
(esganadura) expõem a precariedade da vida das vítimas. No léxico proposto por Judith Butler,
vidas que podem ser perdidas, destruídas ou sistematicamente negligenciadas até a morte, “[...] o
fato de que a morte é certa, [...] de que a vida de alguém está sempre, de alguma forma, nas mãos
do outro” (BUTLER, 2016, p. 31).
O levantamento e análise desses documentos permite que se vá muito além da mera
burocratização das atividades da Polícia Civil, sendo possível mesmo percorrer as rotinas cognitivas
que orientam os processos decisórios da polícia. A padronização presente nesses processos permite
entrever lacunas que dificultam a tradução das perspectivas de gênero na atividade hermenêutica
de compreensão dos significados do ato de matar. Nesse sentido, parece adequada a sugestão de
que a investigação policial deva supor a inserção de protocolos de atuação
229
que acoplem a complexidade das violências de gênero ao sistema policial civil, de forma a instituir
novas premissas decisórias.
A análise dos documentos revela algo que vai muito além da mera burocratização das
atividades da Polícia Civil: apontam para as rotinas cognitivas que orientam os processos decisórios
da polícia. A padronização dessas rotinas permite entrever lacunas que dificultam a tradução das
perspectivas de gênero na atividade hermenêutica que envolve a compreensão dos significados do
ato de matar (VILLA; MACHADO, 2018). Assim, parece viável sugerir que a investigação policial
envolva a inserção de protocolos de atuação, os quais envolvam a complexidade das violências de
gênero ao sistema policial civil, de forma a instituir novas premissas decisórias.
Desse modo, a construção de estratégias para enfrentar a violência de gênero depende da
produção de mais investigações que permitam a produção de diagnósticos mais precisos
(SEGATO, 2010). Como forma de superar o déficit investigatório, o Núcleo de Estudo e Pesquisa
em Violência de Gênero da SSP/PI elaborou Metodologia Investigatória do Feminicídio, tomando
como eixos as Diretrizes Nacionais Feminicídio, a metodologia investigatória do homicídio
elaborada pelo Núcleo de Inteligência da SSP/PI, o conteúdo de inquéritos policiais que apuraram
feminicídio, o Protocolo de Bogotá e os dados dos sistemas operacionais da Polícia SISBO,
SISPROCEP e SIMCVLI. Esse modelo foi concebido a partir de três componentes, quais sejam:
fático, jurídico e probatório. Deles resultaram variados protocolos, dentre os quais se destaca a
RecogniçãoVisuográfica na Perspectiva de Gênero, Dogmática jurídica e Discursos oficiais
(VILLA; MACHADO, 2018).
Esses componentes apresentam-se como artefatos semânticos que propiciam a abertura
cognitiva do sistema policial à complexidade do evento descrito como feminicídio. Cada
componente dessa metodologia sugere a construção de mapa cognitivo orientado pelo gênero, a
partir do qual o gênero passa a se constituir enquanto elemento diferenciador da programação,
atuando de forma transversal, sem que se altere a unidade do sistema.
Segundo Villa e Machado (2018), em relação aos componentes metodológicos supracitados,
o fático alia circunstâncias de tempo, modo, lugar, protagonistas, forma, ações e consequências na
perspectiva de gênero. Esse componente será construído a partir da aplicação da
RecogniçãoVisuográfica pela polícia judiciária no momento em que esta se deslocar para o local do
crime.
O Componente Jurídico, por sua vez - Dogmática Jurídica - reúne instrumentos de Direito
Interno e Internacional que abordem a questão da violência na perspectiva de gênero, além de
jurisprudências e literatura jurídica e não jurídica. Esse Protocolo tem por objetivo auxiliar o
delegado na tipificação do feminicídio a partir de um horizonte cognitivo ampliado por artefatos
230
semânticos, os quais acabem por elucidar a variante gênero como dado relevante na construção
jurídica realizada pela organização PC-PI (VILLA; MACHADO, 2018).
Por fim, o Componente Probatório consta nos discursos oficiais e não oficiais que integram
o IPL. São considerados oficiais os discursos emanados diretamente da polícia, tais como: laudos
periciais, recognição visuográfica e registros policiais anteriores em boletins de ocorrência,
relatórios e ordem de missão policial. Os não oficiais, por outro lado, são aqueles provenientes da
vítima, das testemunhas, dos informantes e do autor do fato, tomados oficialmente pela polícia nos
seus processos decisórios para consubstanciarem atos de investigação documentados nos autos do
IPL.
Esse último componente ensejou alterações no padrão das requisições periciais para inserir
a perspectiva de gênero nas quesitações. Nesse sentido, a metodologia representa um avanço no
campo da investigação policial, dado que se caracteriza como uma mudança de paradigma capaz
de possibilitar uma reprogramação das práticas cognitivas operacionais da polícia na condução dos
feminicídios.
Portanto, resta o desafio de desconstruir rotinas cognitivas que possam bloquear a nova
programação. Trata-se da adaptação ao novo ambiente, fazendo “[...] que o sistema, totalmente
determinado, possa reagir a um ambiente altamente complexo, sem ter de se adaptar a ele [...]”
(LUHMANN, 2016, p. 235). Tal adaptação permite aberturas no sistema a fim de conferir
inteligibilidade à perspectiva de gênero na forma como esta se comunica a Polícia Civil. No âmbito
do sistema, o que se vai levar em consideração é a ideia de pertencimento ou não pertencimento,
porque
Para fins de programação, o caráter unívoco do código, que se encontra apenas em seu
estado binário, tem de se abrir. Os valores do código devem ser interpretados como
possibilidades; ou em outros termos, como um meio que pode aceitar formas diversas
(LUHMANN, 2016, p. 257).
Muitas inferências ainda poderão ser construídas a partir de todos esses dados e análises,
mas é importante saber a maneira pela qual a polícia civil observa a categoria Feminicídio, bem
como atentar para as inferências que podem se estabelecer em torno da possível existência de
limites cognitivos que bloqueiam a capitulação do feminicídio no sistema policial. Desse modo, é
necessário que o sistema operativo da polícia passe a se abrir cognitivamente à complexidade das
violências de gênero.
2.5 Criticas6
Ainda no tocante à aplicação da Lei Maria da Penha, sabe-se que um dos mecanismos
mais importantes que ela trouxe foi a previsão de medidas protetivas de urgência (constantes nos
6Entendem-se como necessárias para o debate essas abordagens que se contrapõem diante do mesmo objeto.
232
artigos 22 a 24), que podem ser aplicadas diante do risco de violência contra a mulher. Contudo, o
que se verifica nos casos práticos é que a existência de medida de proteção prevista pela Lei Maria
da Penha em favor da vítima antes do fato que ensejou o processo examinado é algo que acontece
muito raramente.
Assim, em muitos casos, a solicitação de medidas protetivas de urgência não se apresenta
como um recurso diante de situações em que as vítimas se veem ameaçadas. Assim, é comum que
se verifique a lavratura de boletim de ocorrência por agressões físicas ou mesmo ameaça que não
desencadeou nenhuma ação posterior de proteção que pudesse evitar o desfecho trágico.
Por outro lado, outros casos que se apresentam de modo significativo dizem respeito
àqueles em que o histórico de violência que teve desfecho fatal não havia sido jamais reportado aos
órgãos públicos. Isso pode ser reflexo de medo e insegurança da vítima, o que também pode ser
motivado pela baixa responsividade do sistema.
O desafio de aplicação da Lei Maria da Penha pelos profissionais do direito se revela na
media em que estes reconhecem a importância da lei não apenas por seu aspecto criminalizador,
mas por seu potencial preventivo e pela prioridade prevista para as mulheres em situação de
violência.
Dessa forma, estabelece-se que esses argumentos não são isolados e traduzem um
consolidado de críticas à Lei do Feminicídio, as quais circundam em torno de uma discussão a
respeito da falência do sistema penal e da presença de um conjunto de falhas técnicas no corpo
legal.
O ponto crítico reside na falência pragmática do sistema penal. Isso se dá porque ele não
logra cumprir com sua promessa garantidora, não raro viola diversos direitos, em razão da
operacionalidade seletiva dos bens jurídicos que opera. Desse modo, não cumpre também com sua
função preventiva, porque a pena é incapaz de prevenir ou ressocializar, apenas reproduz a
criminalidade e as relações sociais de dominação, sob o discurso que se fundamenta no intento de
controlar seletivamente a criminalidade. Em suma, o sistema penal não cumpre, em geral, com sua
promessa resolutória, porque não consegue, em boa parte dos casos, sustentar-se como modelo
válido de solução de conflitos, excluindo a vítima de uma posição atuante e participativa, o que lhe
causa ainda mais prejuízos (ANDRADE, 2003).
O segundo ponto revela-se como um dos equívocos que maculam as leituras dos episódios
de violência doméstica e conjugal. Tal equívoco se refere ao fato de que o sistema penal é
desqualificado como solução para o problema. Assim, comumente se chega à conclusão de que,
como solução, esse meio não é – e jamais será – eficaz. Por outro lado, especialmente na América
Latina, desenvolveu-se, ao longo dos anos, uma importante estratégia de enfrentamento mais ou
233
menos eficaz, que tem dado espaço a reais possibilidades de desconstrução de paradigmas, a longo
prazo, como fez por exemplo a Lei Maria da Penha, ao introduzir, junto de sua diminuta dimensão
criminalizante, propostas preventivas e educativas (MACHADO, 2013). É desse modo que as
políticas nacionais começam a substituir o termo combate pelo termo enfrentamento à violência.
No entanto, vale ressaltar frente as críticas que não merece atenção a afirmativa de que a lei
em questão institui parâmetros desiguais entre homens e mulheres. Tal asserção revela-se como um
grave erro, já que o fenômeno da morte de mulheres por razão de gênero não atinge de modo
equivalente os homens, já que mais de 40% do número de morte de mulheres na última década foi
perpetrado por companheiros ou ex-companheiros (WAISELFISZ, 2012). Desse modo, a
proteção dos homens que sofrem condutas equivalentes deve se dar exclusivamente pelos
dispositivos já existentes na lei penal.
As análises até aqui empreendidas apontam, portanto, que o tema do feminicídio íntimo e
a necessidade de sua regulação especial tem sido objeto de constantes discussões, de modo
relevante, em vários países da América Latina, que ou já incorporaram o fenômeno em suas
regulações ou já iniciaram uma discussão no sentido de sua institucionalização, a exemplo da
situação vivenciada no Brasil. Vale ressaltar que também na esfera internacional, observada a partir
do levantamento das decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, foi possível notar
a presença crescente de casos relacionados ao tema dos direitos das mulheres. Essas relações, que
permeiam as esferas internacionais e nacionais, são importantes na medida em que decisões da
Comissão e da Corte Interamericanas acarretam impactos nos contextos domésticos,
impulsionando a elaboração de legislações específicas para enfrentar o assassinato de mulheres.
A leitura das leis que inseriram nos ordenamentos jurídicos dos países latino-americanos o
tipo penal Feminicídio revela, primeiramente, que existe uma variedade na forma de definição desse
fenômeno – que passa a ser caracterizado ora pelo ambiente, ora pela forma da conduta, ora pelas
características dos envolvidos. Por outro lado, mostram também que há uma diversidade de
estratégias para combater a violência. No entanto, vale pontuar que, na grande maioria dos casos,
a discussão em torno da violência de gênero foi enquadrada sob o ponto de vista da violência
praticada contra a mulher, excluindo-se outros grupos, como a população LGBTI, por exemplo.
No que diz respeito às soluções institucionais, é nítida a prevalência da atuação via direito
penal, com uma forte tendência para a fixação de penas elevadas. No entanto, é possível também
234
3 CONCLUSÃO
Evidenciou-se, por meio do estudo que se materializou na escrita desse trabalho, que a
criminalização do feminicídio no Brasil se deu a partir da existência de um tipo base pretérito, não
tendo surgido como figura autônoma no Código Penal brasileiro, fator que indica sua potência
nominativa. Desse modo, parece correto admitir que há ganhos concretos nesse processo. Isso
porque essa readequação nominativa advém de uma carga política importante, capaz de gerar
reflexos nas estruturas sociais. Há, portanto, uma tentativa de se recolocar a violência cometida
contra á mulher (o Feminicídio) como uma questão de gênero, de modo a que as causas de aumento
constantes desse artigo se encarregam de levantar questões atinentes à gravidez, geração ou relação
familiar, o que se configura como um reflexo também de valoração política.
Ante tudo o que aqui foi exposto, espera-se que esse trabalho tenha contribuído para que
se levantassem questões atinentes à construção de uma visão reflexiva a respeito da criminalização
do Feminicídio enquanto um processo político complexo, resultante de uma estrutura social que
concebe o corpo das mulheres como território de ocupação, violência e morte.
No tocante à análise realizada em torno do mapa do feminicído – pesquisa de VILLA e
AMARAL (2018) – verificou-se que, não obstante nos laudos constem depoimentos, declarações
e interrogatórios, o sistema Polícia Civil concebe e sistematiza a prática do feminicídio mediante
programas padronizados e rotinas cognitivas já estabilizadas para a investigação dos crimes contra
a pessoa, o que faz com que essa metodologia adquira um formato generalizado.
Nesse sentido, ainda no tocante á construção da Metodologia Investigatória do
Feminicídio, nota-se que esta deve se apresentar como artefato semântico que pretende formular
instrumentos capazes de propiciar a abertura cognitiva do sistema policial no contexto de sua
aplicabilidade. Assim, supõe-se necessário um mecanismo apto a reprogramar a investigação
235
policial, com protocolos que sejam sensíveis ao paradigma de gênero. Desse modo, a metodologia
pode potencializar e propiciar o ingresso de inferências relevantes para as decisões policiais e
possibilita contemplar a variável gênero como categoria construída culturalmente, a qual remete a
posições marcadas por relações hierárquicas, de controle, colonização do corpo ou de propriedade.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, João Marcelo Brasileiro de. Análise Estatística dos crimes violentos letais
intencionais em Teresina, nos anos 2014 e 2015. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização) - Universidade Federal do Piauí, 2016.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo x cidadania mínima: códigos da
violência na era da globalização. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2003.
BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto? 2. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2016.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 23. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.
MACHADO, Isadora Vier. Da dor no corpo à dor na alma: uma leitura do conceito de
violência psicológica da Lei Maria da Penha. Florianópolis, tese de doutorado, Programa de Pós--
graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina,
2013.
PIAUÍ. Portaria nº 064- /GS/2015, de 2 de março de 2015. Diário Oficial do Estado do Piauí,
Teresina, PI, n. 41, p. 3, 4 mar. 2015.
1 INTRODUÇÃO
Ademais, a pesquisa utiliza-se de uma metodologia de natureza pura, com abordagem quali-
quantitativa, por meio de um estudo bibliográfico mediante a leitura de artigos, livros e outros
materiais teóricos, que se mostraram pertinentes para o desenvolvimento do estudo, possibilitando
alcançar o resultado pretendido.
[…] o que se observa, na prática, é que o caráter punitivo da pena ultrapassa a esfera de
liberdade do criminoso, alcançando também sua dignidade, saúde, integridade, entre
outros direitos assegurados na Constituição. Além disso, não se observa, de forma
alguma, o caráter de recuperação do condenado nas penas privativas de liberdade,
podendo inclusive atribuir a isso a punição exacerbada do indivíduo, que vai muito além
da supressão de sua liberdade.
A princípio, o número de detentos nas prisões brasileiras cresce a cada ano de uma forma
bem significativa, com a falta de estrutura, esse crescente número gera superlotações nos presídios,
situação preocupante, pois há investimentos, mas os mesmos não são suficientes, devido à
ineficiência do Estado na organização desses lugares. Um exemplo claro disso, são as rebeliões, que
já acontecem há décadas, e a ausência de estrutura, é um agravante dessa problemática.
A superlotação é o efeito mais concreto dessa falência, apenados aglomerados em pequenos
espaços, sem triagem para uma individualização tendo como referência o tipo penal infringido,
presos por crimes de menor potencial ofensivo ou até mesmo em situação provisória, são
colocados em celas juntos com todos os tipos de criminosos, tornando assim, uma escola do crime.
A Lei de Execução Penal - LEP (n° 7.210/1984) é considerada uma das legislações mais
atuais sobre o tema, no entanto encontra obstáculos para sua efetivação. O legislador foi fabuloso
239
na sua criação, mas o Estado não agiu com tal eficiência ao disponibilizar o aparelhamento para
sua efetivação. Vejamos o que diz o artigo 88 da Lei de Execução Penal n° 7.210/84:
Art. 88: O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho
sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a)
salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e
condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m2 (seis
metros quadrados).
Temos uma legislação no papel, mas quando confrontada com a realidade prisional se
demonstra totalmente ineficaz no que diz respeito à condição do cumprimento da pena privativa
de liberdade. A legislação assegura direitos, porém, a realidade dos presídios impossibilita que ela
seja cumprida, ignorando totalmente esses direitos previstos.
prisões não cumprem o papel de ressocialização e acabam por fortalecer o crime. Outro agravante
nesse cenário é a morosidade do judiciário.
Conforme apresenta o artigo 32 do Código Penal de 1943, as penas são classificadas como,
privativas de liberdade, restritivas de direito e multa. As penas privativas de liberdade presente no
Código Penal, são de reclusão e detenção para os delitos e crimes cometidos (BRASIL, 1943).
Prevista também a prisão simples, na Lei de Contravenções Penais (DECRETO-LEI nº
3.688) como sendo esta, uma pena privativa de liberdade. Conforme dispõe Cunha (2016, p. 408):
“A reclusão é reservada para os crimes mais graves; a detenção é reservada para os crimes menos
grave; e a prisão simples é reservada para as contravenções penais”.
As penas restritivas de direito também vistas como penas alternativas, que estão elencadas
no Código Penal, é uma sanção penal imposta como uma forma de substituir à pena privativa de
liberdade. A multa penal presente no Código Penal, possui natureza pecuniária, a sua fixação se dar
como sendo uma sanção principal, alternativa ou cumulativa, podendo ser aplicada também, como
uma substituição à pena de prisão.
A penas privativa de liberdade vem prevista no preceito secundário de cada tipo penal
incriminador, servindo à sua individualização, que permitirá a aferição da
proporcionalidade entre a sanção que é cominada em comparação com o bem jurídico
por ele protegido.
241
De acordo com disposto no artigo 33, parágrafo primeiro, alínea a, do Código Penal, o
indivíduo ficará recluso em estabelecimento de segurança máxima ou média. Iniciando em regime
fechado quando a pena imposta pelo legislador for superior a oito anos. Conforme Greco (2018,
p. 609): “o condenado ao regime fechado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento
durante o repouso noturno. O trabalho é um direito do preso segundo o inciso, II do artigo 41 da
Lei de Execuções Penal”.
O trabalho externo só é possível em obras ou serviços públicos, desde que o condenado
tenha cumprido, pelo menos, um sexto da pena. Porém se o Estado, por sua incapacidade
administrativa, não fornecer trabalho ao apenado, este não poderá ser prejudicado, uma vez que o
seu trabalho constitui o direito à remição da pena. Onde para cada três dias trabalhados, o Estado
tem que remir um dia de pena.
O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade em regime fechado, será
submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico para a obtenção dos
elementos necessários a uma adequada classificação e com vista à individualização da execução,
conforme o artigo 106 da Lei de Execução Penal – LEP (nº 7.210/1984).
Conforme dispõe o artigo 33, parágrafo primeiro, alínea b, do Código Penal, admite a
execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar e o apenado iniciará
nesse regime quando não for reincidente e sua pena for superior a quatro anos e não exceder a oito
anos, conforme preconiza o artigo 33, parágrafo segundo, alínea b, do Código Penal (BRASIL,
1943). Sendo permitido frequentar cursos profissionalizantes e supletivos de instrução de segundo
grau ou superior e fazer trabalhos externos. Como bem destacou Cunha (2016, p. 447):
De acordo com o artigo 33, parágrafo primeiro, alínea c, Código Penal, o cumprimento da
pena dá-se em casa de albergado ou estabelecimento adequado. Iniciará neste regime aquele cuja a
pena estabelecida seja igual ou inferior a quatro anos. Este regime tem como fundamento a
autodisciplina e o senso de responsabilidade do apenado. Servindo também como um elo para a
reinserção do condenado na sociedade. Para Cunha (2016, p. 448): “O maior mérito do regime
aberto é manter o condenado em contato com a sua família e com a sociedade, permitindo que o
mesmo leve uma vida útil e prestante”.
Entretanto, caso o condenado cometa algum crime doloso, se frustrar os fins da execução
ou não pagar a multa cumulativamente aplicada, mesmo podendo pagar, será transferido do regime
aberto, conforme o artigo 36, parágrafo segundo, do Código Penal.
No regime aberto, diferente do regime fechado e do regime semiaberto, não existe uma
previsão legal para a remição da pena pelo trabalho, uma vez que só poderá adentrar nesse regime,
aquele que estiver trabalhando ou que comprovar que pode cumpri-lo.
A remição da pena no regime aberto, ocorre pelos mesmos parâmetros do regime
semiaberto, pode ser dada pela frequência do condenado a curso de ensino regular ou de educação
profissional, conforme preconiza o artigo 126, inciso I do parágrafo primeiro, da Lei de Execução
Penal (nº 7.210/1984).
As penas alternativas à prisão surgiram através das Regras de Tóquio, seu principal objetivo
é atribuir uma nova chance ao condenado antes de privá-lo de sua liberdade. Pois a pena de prisão
deveria ser imposta apenas para aqueles criminosos de alta periculosidade que não são mais capazes
de conviver em sociedade.
As penas alternativas no Brasil surgiram na reforma do Código Penal, com a Lei 7.209/1984
que incluiu novas punições no nosso ordenamento, uma vez que o sistema carcerário não
243
apresentava eficácia pretendida, que era de ressocializar o réu, tendo como principal objetivo
substituir as penas curtas de privativas de liberdade. Para Nucci (2017, p. 803): “As penas
alternativas têm, por fim, evitar o encarceramento de determinados criminosos, autores de
infrações penais, consideradas mais leves, promovendo-lhes a recuperação por meio de restrições
a certos direitos”.
A Lei n° 9.714/1998, ampliou o sistema de penas alternativas, aumentando as espécies de
penas restritivas de direito, atualmente elencadas no artigo 43, do Código Penal. Dessa forma, as
penas restritivas de direito são punições aplicadas a infratores de menor potencial ofensivo, tendo
como objetivo a ressocialização do réu e evitar a aplicação da pena privativa de liberdade nos crimes
menos graves.
A Prestação Pecuniária, nos termos dos artigos 43, inciso I e 45, parágrafo primeiro, ambos
do Código Penal, consiste no pagamento em dinheiro estipulado pelo juiz à vítima e seus
dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo
juiz. Nesse mesmo sentido, conforme preleciona Capez (2019, p. 690): “O montante será fixado
livremente pelo juiz, de acordo com o que for suficiente para a reprovação do delito, levando-se
em conta a capacidade econômica do condenado e a extensão do prejuízo causado à vítima ou seus
herdeiros”.
Não podendo ser inferior a um salário-mínimo e nem superior a trezentos e sessenta
salários mínimos. Esse valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de
reparação civil, se coincidentes os beneficiários.
Para ocorrer a substituição da pena privativa de liberdade pela prestação pecuniária, não
existe a necessidade de ter acontecido algum agravo material, podendo ser posta nas hipóteses em
que a vítima sofra um prejuízo material.
A Perda de Bens e Valores está especificada no artigo 43, inciso II e artigo 45, parágrafo
terceiro, ambos do Código Penal. Que consiste na da perda de bens e valores pertencentes ao
condenado em favor do Fundo Penitenciário Nacional, tendo como teto o montante do prejuízo
causado ou da vantagem financeira obtida pelo agente ou por terceiro em consequência do crime
praticado, ou o que for maior. A perda de bens e valores também é vista como uma sansão penal
244
de caráter confiscatório, os bens de que trata o parágrafo, podem ser bens móveis e bens imóveis.
De acordo com Capez (2019, p. 692):
Convém aqui ressaltar que a perda de bens e valores não pode recair sobre o patrimônio
ilícito do condenado, apenas aos bens que integram o patrimônio legal e regular do agente.
Essas tarefas serão atribuídas conforme aptidão do condenado, devendo ser cumprida à
razão de uma hora de tarefa por dia, não podendo prejudicar a jornada de trabalho normal do
condenado. Esse tipo de pena pode ser adotada quando a pena de privação de liberdade aplicada
na sentença não for superior a seis meses. Como bem destacou Nucci (2017, p. 219):
Assim, o condenado além de cumprir sua pena alternativa, estará ao mesmo tempo
prestando serviços à comunidade, como uma forma de colaboração para com estas e também, de
possuir um certo convívio social com as pessoas.
Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são: (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984): I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública,
bem como de mandato eletivo; II - proibição do exercício de profissão, atividade ou
ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;
III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo; IV - proibição de
frequentar determinados lugares. V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou
exame públicos.
No tocante ao inciso I, verifica-se que este poderá ser aplicado, para os crimes praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública. Inibindo que o
condenado continue no exercício de sua atividade. O tempo da interdição não poderá ser inferior
ao da pena privativa de liberdade substituída, e havendo o cumprimento da interdição o condenado
volta a exercer o cargo, função, atividade ou mandado.
Já a aplicação do inciso II, é direcionada para aqueles crimes relacionados com a
inobservância às práticas profissionais, cuja a profissão, ofício ou atividade exijam uma habilitação
específica ou autorização do Poder Público para que possam ser exercidas. Por isso, nega ao
condenado realizar determinada conduta laborativa, pelo tempo que lhe fora estipulado na pena
privativa de liberdade.
A regra determinada no inciso III só é aplicada a infração penal de natureza culposa
cometida no trânsito, estando prevista no artigo 302 e 303 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB),
ou seja, o condenado ficará inabilitado para dirigir veículo, pelo período em que cumpriria a pena
restritiva de liberdade, não estão incluídos os veículos movidos a tração animal e de propulsão
humana. Esta modalidade é aplicada para aqueles condutores que no momento do acidente tenham
autorização para dirigir. Se, o condenado não houver habilitação, poderá o juiz determinar a
proibição de se obter permissão ou autorização para dirigir.
O inciso IV, por sua vez, tem como finalidade, a limitação do condenado de frequentar
lugares onde há relação entre o crime praticado e a pessoa do agente, com o objetivo de prevenir
que este volte a frequentar respectivo estabelecimento e cometa novo crime, e frequentar
determinados locais considerados imorais, que possa volver sua personalidade para a moralidade e,
melhor se adequar ao convívio social.
Por fim, o inciso V do artigo retro, para ser aplicado, o agente deverá possuir alguma ligação
à infração deste tipo, tendo como finalidade o benefício fraudulento em aprovação de concursos,
246
exames e avaliações públicas. Assim, o condenado não poderá tomar posse, pois estará impedido,
ocorrendo geralmente a pessoas condenadas por fraude em certame público.
A Limitação de Fim de Semana, está elencada no artigo 43, inciso VI e no artigo 48, ambos
do Código Penal. Que consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco
horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.
Durante a permanência, poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou
atribuídas atividades educativas, conforme o artigo 48, parágrafo único do Código Penal, e de
acordo com o regramento da Lei de Execução Penal no seu artigo 152. De acordo com Greco
(2018, p. 671): “O estabelecimento designado encaminhará, mensalmente ao juiz da execução
relatório, bem assim comunicará, a qualquer tempo, a ausência ou falta disciplinar do condenado”.
O condenado fica privado de liberdade durante o período da sua execução, mas em compensação
ele não perde o vínculo social, familiar e profissional, evitando também o contato
com os demais penados. Tendo ainda uma finalidade educativa.
Essas penas podem se transformar em prisão caso a pessoa condenada não cumpra com as
medidas impostas pela justiça, e a aplicação delas também pode variar de acordo com o grau de
reincidência do condenado.
As penas em todo o tempo, tiveram como objetivo principal a intimidação, com a aplicação
penal, e o castigo ao mal causado pelo infrator. Contudo, ao longo do tempo, em decorrência de
estudos e análises críticas dos operadores do direito e de boa parte da sociedade, foi-se gerando
uma evolução desta tendência punitiva, diagnosticando a crise de modalidades punitivas e gerando
a possibilidade para que novas formas de punir surgissem. Sendo assim, as penas alternativas
representam uma real perspectiva para substituir, gradativamente, a falida pena de prisão.
As penas alternativas, são tidas como uma forma de punição, mais propícia aos crimes de
média ou pequena gravidade, não deixando de ser punitivas e nem que privilegie o cárcere, devendo
possuir uma carga de reprovação ética da conduta do infrator. E sob este aspecto, essas penas têm
apresentado a mais coerente solução. Politicamente, as penas alternativas configuram-se como um
movimento e resposta à superlotação da população carcerária e como melhor alternativa à prisão
247
como resposta penal pelo uso da reparação, das responsabilidades e obrigações do infrator para
com a comunidade.
As Teorias Finalistas das Penas, estão divididas em três espécies: Teoria Absoluta, Teoria
Relativa e Teoria Unitária ou Eclética. Dentre os três tipos já mencionados de teoria, a que melhor
se insere no presente contexto é a Teoria Unitária, pois tem como finalidade a prevenção geral e
prevenção especial do condenado. Como bem destacou Masson (2014, p. 81-82):
A finalidade da pena, seguindo os ditames dessa teoria, é castigar o condenado pelo crime
praticado de forma a retribuir o mal causado e, ao mesmo tempo, prevenir a prática de
novos crimes, tanto pelo condenado quanto pela sociedade. Para essa teoria a pena
assume um tríplice aspecto: retribuição, prevenção geral e especial. É a junção das duas
teorias tratadas anteriormente.
O nosso ordenamento jurídico, além de punir a pessoa pelo delito praticado, ele descreve
que esta mesma pessoa deve ser reintegrada à sociedade, de modo que esta reintegração é vista
como uma possibilidade de levar ao apenado condições para que ao retornar à sociedade, este não
regresse ao mundo do crime.
A aplicação das penas alternativas realizadas por alguns juízes, viabilizam a possibilidade de
um maior envolvimento dos infratores com a comunidade. O empenho na ampliação do número
de instituições beneficiárias e do estabelecimento das parcerias, contribuem para a diminuição da
distância entre os operadores jurídicos e a comunidade, sendo necessário um constante diálogo
entre estes.
Neste processo, todos os envolvidos se beneficiam, pois amplia a possibilidade da
comunidade se conscientizar do seu papel na construção do coletivo. A interação entre a
comunidade e os prestadores de serviços abrem espaços para vínculos mais estáveis, onde nada
impede de a instituição contratar o prestador do serviço após o cumprimento da pena para exercer
o trabalho que vinha executando. De acordo com Marcão (2019, p. 37):
248
A integração social do apenado é buscada pela execução penal, já que ela é fundada na teoria
unitária ou eclética. Assim não há como separar a punição da humanização, pois estas se completam
e buscam uma melhora dos apenados, pois de acordo com a Criminologia Crítica, uma pessoa que
vive em conflito com as regras de uma sociedade capitalista não possui condições de ser
ressocializada, voltando a conviver em sociedade. Aquelas pessoas que vivem em conflito com a
legislação são as que saem, mas acabam retornando ao sistema penitenciário.
Portanto, a pena alternativa objetiva a verdadeira ressocialização. Deixa de ser o futuro do
direito punitivo para o presente, ante a eventual falência do sistema penitenciário vigente, numa
concretização mais do que lógica e necessária na execução da pena como medida remediadora.
6 CONCLUSÃO
Considerando os efeitos positivos das penas alternativas, surgem indagações sobre quais
são os efeitos que estas penas possibilitam ao apenado e a sociedade. Neste sentido, a pena deve
possuir uma carga de reprovação ética da conduta do infrator, assim como proporcionar à
sociedade a conscientização quanto ao seu papel na construção do coletivo, abrindo espaços para
vínculos mais estáveis entre os infratores e a comunidade, e que contribuem para a ressocialização
destes.
No presente trabalho, foi comprovado que as penas privativas de liberdade estão falidas,
em declínio, e que o sistema prisional acaba por não cumprir seus principais objetivos, quais sejam
o de ressocializar e de reeducar o apenado para a volta ao convívio em sociedade.
Vale destacar que uma das causas fundamentais para a situação desordenada do sistema
carcerário são, as condições precárias, insalubres, superlotação, a ausência de atividades
educacionais, ausência de trabalho, o preconceito da sociedade para com o seu egresso, e o
abandono do Estado. Tornando assim uma difícil reintegração do apenado na sociedade.
Assim, constata-se que o sistema carcerário em vez de ressocializar o condenado, acaba por
torná-lo um indivíduo mais perigoso, e que ao sair do cárcere volta a cometer novos crimes,
gerando assim aumento nos índices de reincidência.
249
Em meio a essas circunstâncias as penas alternativas surgem como uma solução para a crise
das penas privativas de liberdade, por apresentar um caráter educativo e social, sendo um dos meios
mais eficazes para que o infrator não volte a reincidir no crime.
Isto posto, verificou-se que todos os objetivos perquiridos no presente trabalho foram
alcançados. Sendo, portanto, a pena alternativa, a ferramenta mais adequada para ressocializar,
reeducar o apenado sem, necessariamente, afastá-lo da família e da comunidade.
REFERÊNCIAS
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso em 06 mar. 2020.
BRASIL. Superior Tribunal de justiça. Súmula n° 269. É admissível a adoção do regime prisional
semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais. 2002. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-
2011_20_capSumula269.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Parte Geral. 23. ed., Saraiva, 2019, v. 1.
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral. 4º. ed. Salvador:
JusPODIVM, 2016.
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2014.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 20. ed. São Paulo. Impetus, 2018, v.1.
MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
MASSON, Cleber. Código Penal comentado. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Método, 2014.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte geral. Artigos. 1º a 120 do Código
Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017, v.1.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Parte Geral. 16. ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2018, v. 1.
251
1 INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos, o ordenamento jurídico teve inúmeras modificações, tendo
como destaque a do Direito da Família, ampliando as entidades familiares e suas relações.
Por entender que o Direito sempre se modifica a depender das mudanças sociais, faz-se
necessário entender sobre uma das formas que pode iniciar uma relação familiar ou parental.
A partir disso, surge uma nova perspectiva para interligar as relações entre pai e filho,
podendo este ser reconhecido mesmo após a morte do pai, possibilitando o reconhecimento
de paternidade post mortem, que será a motivação do presente estudo.
Sendo assim, tem como objetivo geral esclarecer o procedimento usado quando se
quer realizar o reconhecimento de paternidade post mortem. Mas, para obter uma resposta mais
eficaz para o objetivo geral, traçou-se os seguintes objetivos específicos: definir os conceitos
de reconhecimento de paternidade e do reconhecimento de paternidade post mortem e seus
devidos procedimentos, descrever a forma de investigar para que haja o reconhecimento post
mortem e os seus efeitos, além de identificar a legislação utilizada nesse tipo de situação
jurídica. Os métodos do estudo bibliográfico tiveram como tipo de pesquisa: exploratória,
descritiva e explicativa.
Portanto, nas subseções dessa pesquisa verificam-se primeiramente os princípios
aplicáveis diante do direito de filiação, na segunda subseção define-se o conceito de
reconhecimento de paternidade e seu procedimento, na terceira subseção define-se o
conceito de reconhecimento de paternidade post mortem e descreve-se o procedimento
utilizado juntamente com a forma que é realizada a investigação de paternidade post mortem.
Por fim, no último, deve-se entender sobre a ação investigatória post mortem, desde a sua
definição até os seus efeitos.
2 DESENVOLVIMENTO
Tem como finalidade proteger a todos, para que haja harmonia em sociedade,
devendo ser respeitado em todas as relações, principalmente nas relações de âmbito familiar,
para se ter uma igualdade entre as entidades familiares.
Como diz Lisboa (2002, p.40), “As relações jurídicas privadas familiares devem
sempre se orientar pela proteção da vida e da integridade biopsíquica dos membros da
família, consubstanciada no respeito e asseguramento dos seus direitos da personalidade”.
Atualmente, a grande problemática acerca deste princípio é a preservação da estrutura
familiar, na busca por segurança jurídica, a qual é necessária para a evolução individual e
social de cada ser humano.
253
Diante desse artigo, nasce o princípio da igualdade jurídica da filiação, que consiste
nos filhos legítimos, naturais ou adotivos, tendo os mesmos direitos e qualificações. (arts.
1.596 a 1.629).
Para Anderle (2002), “O mais importante passo da Constituição de 1988 foi ter
trazido o fim das desigualdades entre os filhos matrimoniais e extramatrimoniais”.
E ainda de acordo com Loureiro (2009, p.1052-1054):
Portanto, como os filhos tem direitos quanto a sua filiação e seus devidos efeitos,
lhes são permitidos realizarem o reconhecimento de paternidade seja quando os seus
genitores (as) estiverem vivos ou post mortem, podendo ocorrer a qualquer tempo, sem
disposição legal sobre a tempestividade.
Com isso, concluímos que a igualdade da filiação tornou-se princípio constitucional
em que passou a inibir qualquer forma de discriminação entre os filhos, estabelecendo os
mesmos direitos e garantias, já que todos são filhos e, por isso, detém o mesmo procedimento
jurídico.
2.2.1 Conceito
2.2.2 Procedimentos
2.2.2.1 Voluntário
Há três elementos essenciais para o reconhecimento que são: o subjetivo que é o ato
de vontade do declarante, com capacidade plena dos seus atos civis; o formal decorre
256
das formas previstas no artigo 1.609 do CC para que tenha sua total eficácia e o objetivo que
é a atribuição de status de filho, pois o propósito do ato é reconhecer.
Para se produzir todos os efeitos jurídicos, é necessário o consentimento do
reconhecido, sendo o filho maior, e nos quatro anos que seguir à maioridade ou emancipação,
tempo esse resguardado ao menor para sua impugnação (art.1.614, CC).
Sendo assim, essa modalidade de reconhecimento é uma maneira que o pai, a
qualquer tempo e por sua iniciativa, reconhece um indivíduo como filho, ou seja, tem o status
de filho e todos os direitos e obrigações acerca da filiação.
2.2.2.2 Judicial
2.3.1 Conceito
2.3.2 Procedimento
257
biópsias. Esse material fica armazenado nos hospitais ou laboratórios que realizaram a
verificação do material.
Este tipo de exame ocorre com frequência em casos de câncer, pois se o investigado
faleceu dessa doença, provavelmente exista esse material para ser feito o teste.
Ocorre essa alternativa de exame, quando o investigado tem mais de um filho para
ser reconhecido e o investigante tiver conhecimento sobre este irmão e já houve exame de
DNA realizado judicialmente ou voluntário, possibilitando utilizar desse material para
investigação, dependendo ainda do seu estado de conservação.
Vale salientar que, se não conseguirem realizar o exame com o material deixado, é
feita uma comparação direta de DNA com os dados brutos armazenado nos softwares de
análise laboratorial.
É o instrumento utilizado pelo filho não reconhecido, pois se trata de uma ação de
estado, de natureza declaratória, com a finalidade de conseguir declaração judicial de que o
autor é filho do réu. Como afirma Cruz (2003, p.108):
Essa ação, como ação de estado que é, tem como finalidade promover o
acertamento do estado de filiação da pessoa, em face de origem natural
contestada, decorrendo-se efeitos de ordem patrimonial e não – patrimonial. É
uma ação de estado em que o seu legitimado exerce o direito indisponível,
imprescritível e personalíssimo, consoante se vê pela disposição do art. 27 do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
O rito dessa ação é o ordinário, em que todo o procedimento é regido pelo Código
de Processo Civil. Nesse caso, a mesma pode ser cumulada com o pedido de herança, para
259
que haja a retificação de registro civil e o pleito de alimentos. Além disso, pode ser ajuizada
a qualquer tempo, portanto, é uma ação inalienável, imprescritível e irrenunciável.
E Pereira (1998, p.91) discorre que:
2.4.1 Legitimidade
Art. 1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando
aos herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
Parágrafo único. Se iniciada a ação pelo filho, os herdeiros poderão continuá-la,
salvo se julgado extinto o processo.
O nascituro é aquele que ainda não nasceu tendo como representante sua genitora,
para ingressar com a ação, conforme o art. 26, § único do Estatuto da Criança e do
Adolescente. Nesse sentido, tem a seguinte jurisprudência:
Evidente que, o filho tem plena legitimidade para entrar com a ação investigatória, se
for menor de idade será representado por sua mãe e assistido se tiver entre 16 e 21 anos de
idade. E aos maiores de 21 anos de idade, poderão ingressar sozinhos, sem nenhum tipo de
representatividade.
Por último, o Ministério Público intervém em ações que têm incapazes e quando
procuram a Promotoria ou Advogado, em sua maioria, pessoas carentes, com previsão do
Código de Processo Civil e conforme a Lei nº 8.560/92 autoriza o Ministério Público como
substituto processual disposto no artigo 2°, §4° subsequente:
§ 4°. Se o suposto pai não atender no prazo de trinta dias, a notificação judicial,
ou negar a alegada paternidade, o juiz remeterá os autos ao representante do
Ministério Público para que intente, havendo elementos suficientes, a ação de
investigação de paternidade.
É o réu da ação, devendo figurar esse campo, os herdeiros do suposto pai já falecido,
sendo inevitável a presença do pai nessa ação pessoalmente, devendo ser passado para os
seus herdeiros legítimos, os seus sucessores, como previsto no art.27 do Estatuto da Criança
e do Adolescente. Conforme a seguinte decisão de Tribunal pátrio acerca desse assunto:
Mesmo não configurando o polo passivo, a viúva deve ser citada como parte quando
for herdeira, ora por inexistir descendentes e ascendentes, ora por concorrer com eles à
herança (art.1.829,CC).
261
Sobre esse tema, Gonçalves (2017, p.461) relata que: “Em princípio, pois, a mãe não
deve figurar no polo passivo da ação movida contra os herdeiros do falecido pai, uma vez
que sua meação não será atingida pelo reconhecimento”.
2.4.3.1 Estado
262
É uma condição que cada indivíduo tem dentro da sociedade, pois segundo Pereira,
todo ser humano tem titularidade de um complexo de qualidade de particulares que integram
sua personalidade, gerando uma situação jurídica.
E ainda seguindo o raciocínio de Pereira (1998, p.144), ele diz que:
2.4.3.2 Nome
Conforme vem disposto no artigo 16 do Código Civil, “Toda pessoa tem direito ao
nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome”.
Ao ser reconhecido, será concedido o sobrenome do pai ao filho, por se tratar de um
direito personalíssimo, individualiza-o dessa maneira.
Como reafirma Pereira (1998, p.174) ao dizer que: “A natureza jurídica do nome,
quer seja individual quer seja familiar, decorre do respeito à personalidade, e é um direito sui
generis”.
2.4.3.4 Alimentos
O direito de ser reconhecido como membro da família, gera uma gama de deveres e
obrigações entre os membros, como podemos observar ao que Lôbo (2002, p.1) diz:
263
Todo indivíduo que não pode assegurar a própria mantença, nem por isso deve
ser deixado à própria sorte, até perecer de inanição. Cumpre à sociedade, pelos
seus diversos órgãos, prover à sua subsistência, proporcionando-lhe meios de
sobreviver.
2.4.3.5 Sucessão
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANDERLE, Elisabeth Nass. A posse de estado de filho e a busca pelo equilíbrio das
verdades da filiação. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.60, 2002. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/3520. Acesso em 19/04/2020.
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, 11 jan. 2002.
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DF: Senado, 2020.
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revista, atualizada e ampliada. 2ª tiragem. São Paulo Revista dos Tribunais, 2009. Disponível
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dignidade-da-pessoa-humana-no-direito-de-familia. Acesso em 22/04/2020.
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GASPAR, Valter. Resumo de Direito de Família. Rio de Janeiro, 1996. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/34790/reconhecimento-de-paternidade-e-seus-efeitos. Acesso
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro : direito de família.6 vol. São Paulo,
2017.
LISBOA, Roberto Senise. Manual Elementar de Direito Civil: direito de família e das
sucessões. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002 . 5 v., p.40. Disponível
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relacoes-juridicas-familiares/ . Acesso em 22/04/2020.
266
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Curso completo de direito civil. 2° ed. São Paulo, 2009.
VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil: direito de família. 5ªed. São Paulo, 2005.
267
1 INTRODUÇÃO
Neste trabalho, propõe-se um estudo sobre um tema delicado e complexo que é a questão
dos crimes cometidos por pessoas com transtornos de personalidade, em especial, a psicopatia e a
semi-imputabilidade, que lhes pode ser concedida pelo Direito Penal brasileiro. Para tanto, faz-se
necessário considerar a visão multidisciplinar sobre o tema, envolvendo desde a Criminologia até a
Psicologia.
Pode-se dizer que as pessoas que possuem personalidade psicopática se comportam em
sociedade de forma inadequada, não sentem vergonha ou remorso, sua personalidade é desajustada,
reagem impulsivamente, possuem instabilidade emocional e irritabilidade e, sobretudo os impulsos
criminais exacerbados, como assassinatos. Esses crimes demonstram a aversão que elas possuem
em relação a outro ser, que são movidos principalmente pela satisfação ao cometer o delito
(SILVA, 2014).
A psicopatia tem provocado discussões no âmbito da Psicologia Jurídica pois é identificada
no meio forense como um grupo de traços de conduta apresentados por um indivíduo que
demonstra tendência ativa do comportamento, sendo considerada como a mais grave alteração da
personalidade, já que tais indivíduos são responsáveis pela maioria dos crimes violentos.
De acordo com Morana, Stone e Abdalla-Filho (2006), na esfera penal, para que se analise
a culpa de um indivíduo pelo crime cometido, é necessário observar a capacidade de seu
entendimento em relação ao ato ilícito penal, o que depende principalmente de sua capacidade
cognitiva. Com a capacidade de entendimento, surge a responsabilidade, e deve ser analisada a
situação da pessoa, levando em consideração o grau de imputabilidade de cada um.
Já a capacidade de determinação, de acordo com Morana, Stone e Abdalla-Filho (2006),
depende da capacidade volitiva do indivíduo, podendo gerar a condição jurídica de semi-
imputabilidade. Com isso, conforme o Código Penal Brasileiro (Art. 26, parágrafo único), cabe ao
juiz a redução da pena ou o envio do réu a um hospital para tratamento especial. Em
contrapartida, quando gerada a condição de imputabilidade, caracteriza a incapacidade de
compreensão completa, sendo a condição de quem é capaz de realizar um ato sem qualquer
discernimento do ato ilícito, nesse caso, isento de pena.
Os indivíduos portadores de psicopatia são considerados semi-imputáveis pois não estão
impossibilitados de compreender o caráter da ação efetivada mas não possuem controle de seus
atos, devido às características de um desvio de personalidade, o que retira deles os freios instintivos.
Essa questão da imputabilidade e da semi-imputabilidade de psicopatas criminosos é alvo
de polêmicas entre doutrinadores e juristas, sendo colocado que os portadores de personalidade
psicopática possuem capacidade de entendimento em relação ao crime cometido mas este foi
gerado por uma irregularidade psíquica que retira o controle da impulsividade de seus atos
cometidos, gerando então a violência, o que retira a capacidade cognitiva, cabendo aos profissionais
da área de Psicologia Jurídica a análise do comportamento desses indivíduos.
Quanto à natureza jurídica, o psicopata é uma pessoa oposta aos valores éticos e às normas
jurídicas, especialmente pelo fato de serem desprovidos do sentimento de culpa. Na verdade, o
psicopata não só transgride as normas como as ignora, considerando-as como um obstáculo que
deve ser vencido para o sucesso de suas ambições.
Dessa forma, sabendo das controvérsias trazidas pela imputabilidade do psicopata
criminoso no Ordenamento Jurídico brasileiro, podendo-se dizer que esta é uma deficiência do
sistema criminal pátrio, a elaboração desta pesquisa resta justificada, buscando-se com o estudo
proposto, contribuir para o entendimento de qualquer pessoa interessada, utilizando-se, para tanto,
de linguagem simples e didática para tratar do assunto. É com o intuito de esclarecer de forma mais
detalhada o assunto proposto neste trabalho que se tem o seguinte questionamento como
direcionador: Quais são os principais traços de um psicopata? E seria ele, de fato, semi-imputável?
Nesse contexto, este estudo tem como objetivo geral expor os principais traços da psicopatia¸
considerando sua situação frente ao sistema criminal brasileiro. E como objetivos específicos:
analisar os distúrbios desses portadores; e verificar a responsabilidade legal desses
indivíduos.
Como metodologia, foi realizado um estudo bibliográfico e documental, ampliando o
conhecimento da área e comprovando os dados basais para a formulação da problemática.
Quanto à abordagem, a pesquisa será qualitativa, vez que pretende se ater aos quesitos
epistemológicos, trazendo à tona dados e conceitos pesquisados (SEVERINO, 2010), enfatizando-
se neste estudo a questão da semi-imputabilidade por transtornos de personalidade, destacando-se
269
2 A PERSONALIDADE PSICOPÁTICA
Sabbatini (2002) afirma ainda que existem casos de pessoas que adquiriram psicopatia a
partir de cirurgias realizadas no cérebro, como a retirada de tumores, que de alguma forma
atingiram a área do lobo frontal. As pessoas que possuem personalidade psicopática se
comportam em sociedade de forma inadequada, não sentem vergonha ou remorso, sua
personalidade é desajustada, reagem impulsivamente, possuem instabilidade emocional e
irritabilidade e, sobretudo, os impulsos criminais exacerbados, como assassinatos. Esses crimes
demonstram a aversão que elas possuem em relação a outro ser, que são movidos principalmente
pela satisfação ao cometer o delito.
Essas pessoas têm capacidade de compreensão da criminalidade contudo não têm
aptidão necessária de autodeterminação. São criminosos com poucas possibilidades de
ressocialização pois possuem comportamento que estimula a reincidência no ato dos crimes.
270
Essas são algumas características da personalidade psicopática, que é assinalada por um modo
irregular de reagir, porém sem comprovação patológica. Miller (2008) afirma serem
características fundamentais em qualquer psicopata o notável egocentrismo de caráter e um
profundo desprezo pelos sentimentos e necessidades alheias.
Os portadores de personalidade psicopática são pessoas com fortes traços de falhas no
campo da afetividade porém são inteligentes. Em muitas vezes, sua inteligência está acima do
normal. Apesar de possuírem o lado intelectual elevado, apresentam conduta de natureza
antissocial e antiética. Todos os indivíduos que possuem irregularidades de caráter e de afeto
estão enquadrados na personalidade psicopática, como afirma Hungria (1942, p.140):
Outra definição é de Kraepelin, que diz que portadores de personalidade psicopática “são
aqueles que não se adaptam à sociedade, vivendo em constante luta com ela: são descontentes
com tudo, por toda parte; sentem necessidade de serem diferentes dos outros” (MILLER 2008).
Ressalta-se que tanto Kraepelin quanto Scheneider consideraram, em suas definições de
personalidade anormal, o comportamento antissocial, considerada apenas como um desvio da
média geral.
Nesse contexto, a personalidade psicopática é caracterizada por conduta inadaptada
durante um longo período da vida do paciente, geralmente é identificada na adolescência e
algumas até mesmo na infância. Distingue-se por ser um grupo que apresenta modificações de
caráter e de afeto porém, como já foi dito, a personalidade psicopática não é uma doença
patológica pois seu traço marcante está na perturbação no campo da afetividade e do caráter, e
sua inteligência continua normal ou acima do normal. De acordo com Gomes (2010), na
personalidade psicopática estão os indivíduos desequilibrados portanto esse é o capítulo mais
importante da psiquiatria forense. Elucida que:
todos os psicopatas são encantadores. A mentira e a fantasia são comumente utilizadas pelos
psicopatas. Muitos se caracterizam como personagens criados por sua mente e, dessa forma, são
capazes de convencer qualquer pessoa de que estão realmente frente a uma personagem
verdadeira.
O portador de personalidade psicopática não apresenta laços sentimentais entre
familiares, são pessoas de extrema frieza no campo emocional, e ainda possuem dificuldades para
entender os sentimentos de outras pessoas. Vale a ressalva de que os psicopatas não possuem
consciência moral, assim como noções de ética. Segundo Miller (2008,p 205) os psicopatas estão:
Essa falta de consciência moral e noção de ética leva o psicopata a cometer crimes e
brutalidades. São impulsivos, o que o torna intolerante às frustrações, respondendo de forma
exagerada a estímulos mínimos e não apresentando reação alguma quando os estímulos são
importantes.
Em linhas gerais, o portador de personalidade psicopática apresenta, desde a época da
escola, no ambiente familiar e no trabalho, tendência egocêntrica, que se torna a responsável
pelas dificuldades de viver em sociedade. Pode-se dizer que, dificilmente ou mesmo de forma
alguma, ele aceita correção, advertência ou reeducação.
Os psicopatas se encontram com frequentes sinais de sofrimento pessoal, não toleram
aborrecimentos, afirmam sempre que os outros o tratam com hostilidade e se apresentam
geralmente depressivos. Esse sentimento pode persistir até a idade adulta porém o
comportamento antissocial tende a não ser tão evidente nessa fase. Como já foi elucidado,
existem vários tipos de psicopatias. Alguns portadores delas são mais propensos ao cometimento
de crime que outros, por isso é importante que se conheçam os tipos com inclinação à prática
de conduta ilícita.
Existe o psicopata hipertímico, que se apresenta com um comportamento amigável,
familiar, é alegre, eufórico, bastante otimista, porém possui inclinação a escândalos e a desavenças
pessoais. É portador de diversas ideias contudo nunca consegue terminar as que coloca em
prática. Mostra-se confiante, e faz inúmeras promessas, as quais não cumpre. Neste caso, os
portadores de personalidade psicopática podem manifestar-se como golpistas, estelionatários e,
devido à sua frequente exaltação, inclusive sexual, podem vir a cometer estupros (MOLINA,
2008).
273
Outro tipo de psicopata são os depressivos, que, como o próprio nome já diz, são
melancólicos, ressentidos, relacionam-se com a parte pessimista da vida, que muitas vezes têm
início durante a juventude. Possuem baixa atividade intelectual, apresentam-se como
hipocondríacos e são dominados por sentimentos de inferioridade (MOLINA, 2008).
Os explosivos reagem violentamente a estímulos pequenos, são irritáveis. Agem com
brutalidade e impulsividade. São calmos, até que algo os incomode. Podem atentar contra vidas,
e são acometidos de amnésia lacunar quando praticam o ato. São irritáveis e com oscilações de
humor desproporcionais, seja para a alegria como para a tristeza, são os chamados psicopatas
lábeis de humor. Apresentam toxicomanias e disposição ao alcoolismo.
Os abúlicos são destituídos de vontade própria, são influenciáveis e agem por indução e
obediência. Conforme Molina (2008), os psicopatas fanáticos são expansivos e criativos,
defendem a ideia filosófica, religiosa, política, e são de alta periculosidade quando assumem
liderança popular durante os períodos de instabilidade político-social.
Existem os que são marcados pelo sentimento de inferioridade e possuem a constante
sensação de insuficiência. Este tipo de psicopata pode ser obsessivo, por ser inseguro, e
demonstra frequente medo, sensitivo que se mostra delicado e desconfiado, ofende-se com
qualquer coisa. Aqueles que observam cada detalhe de suas funções orgânicas têm costumes de
ler bulas de remédio e vão ao médico com bastante frequência (SANTOS, 2018).
Outro tipo é o psicopata dito sem sentimentos, não demonstra qualquer afetividade, é
insensível e antissocial. Desde cedo, manifesta-se cruelmente, com perceptíveis dificuldades de
adaptar-se ao meio social. Quando adulto, mostra-se frio, impiedoso, desconhece a vergonha e
a misericórdia. É esse tipo que mais comete delitos contra a vida (SANTOS, 2018).
Para Molina (2008), o psicopata sexual ou sexopata sente prazer com o mal e com o
sofrimento de outro ser, trata sua vítima como um objeto. A atividade sexual aparece com traços
psicopáticos, quando esta gera uma transgressão com a conduta antissocial, consciente e
erotizada, se realizada com uma busca específica por prazer sexual.
São três as teorias relativas ao tempo do crime: teoria da atividade, teoria do resultado e
teoria mista. O Código Penal brasileiro adotou a teoria mista. Conforme a teoria da atividade, o
tempo crime é o momento da conduta, como estelionato, omissão de socorro ou homicídio
doloso ou culposo. De acordo com a teoria do resultado, considera-se tempo do crime o
momento de sua consumação, não sendo levado em consideração o momento em que o agente
praticou sua ação, como é o caso do atropelamento ou obtenção de vantagem indevida no
estelionato (CAPEZ, 2012).
Na teoria da ambiguidade ou mista, avalia-se o tempo do crime, tanto o momento da
conduta quanto o momento do resultado. Tem-se também a extra-atividade da lei que ocorre
quando a lei penal, mesmo depois de revogada, continua regulando fatos ocorridos durante sua
vigência para alcançar aqueles que aconteceram à sua vigência em vigor. No entanto, somente
ocorrerá nas hipóteses de sucessão de leis no tempo. A extra-atividade pode ocorrer em situações
passadas, ou seja, ocorridas antes do início de sua vigência, denominada de retroatividade e pode
ocorrer com situações futuras quando se aplica, mesmo após a cessação de sua vigência, sendo
chamada de ultra-atividade (CAPEZ, 2012).
A pena age como uma reparação do crime praticado, objetivando a redenção moral do
condenado para que ele possa voltar a viver em sociedade. A punição possui papel social na
imposição de normas de conduta dos homens. Para Costa (2010, p.176):
A lei penal, como produto histórico cultural, tem vigência durante certo tempo e num
determinado lugar (eficácia temporal e especial da lei penal). A doutrina acrescenta
uma vigência pessoal, tratando de certa inviolabilidade do Chefe de Estado, das
imunidades parlamentares e diplomáticas e das prerrogativas processuais de membros
275
É importante que se destaque que toda norma jurídica deriva de preceito e sanção. O
preceito exprime a proibição e o comando, endereçado à conduta. A sanção é a consequência do
descumprimento do preceito. Assim, o direito será sempre um imperativo sancionado. Nem
sempre, porém, a sanção imporá uma medida coativa, a não ser no campo penal. Considerando
essa função da lei penal, é possível refletir sobre o caso dos psicopatas, principalmente quando
considerados semi-imputáveis.
O portador de personalidade psicopática não apresenta laços sentimentais entre familiares,
são pessoas de extrema frieza no campo emocional, e ainda possuem dificuldades para entender
os sentimentos de outras pessoas. Vale a ressalva de que os psicopatas não possuem consciência
moral, assim como noções de ética, o que leva o psicopata a cometer crimes e brutalidades. São
impulsivos, o que os torna intolerantes às frustrações, respondendo de forma exagerada a
estímulos mínimos e não apresentando reação alguma quando os estímulos são importantes
(HARE, 2013).
Para Silva (2014), os psicopatas criminosos constituem 3% da população masculina e 1%
da população feminina. Têm como características o total controle sobre a vítima, degredando e
humilhando-a por um longo período como se fosse um ritual. Escolhem o local e o roteiro que
vão submetê-las, sempre com emoções fortes. Consideram a vítima como objeto, fantasiam o
que vão fazer, inclusive as falas das vítimas, depois do crime guardam lembranças das vítimas,
como peças de roupa, partes do corpo, entre outros. A indiferença emocional é o que torna um
individuo psicopata perigoso, exatamente pela falta de sentimento de culpa. É uma pessoa sem
valor ético nem moral.
Estudos, como o de Casoy (2004) demonstram que esses criminosos, pelo prazer sentido
em fazer vítimas, geralmente agem com o mesmo modus operandi e costumam deixar assinaturas,
principalmente quando se tornam assassinos em série (serial killers). O modus operandi define provas
que possam ser úteis para a perseguição. Os crimes não precisam ser idênticos mas a acusação
deve apresentar uma persuasiva exibição de semelhança entre os crimes cometidos.
Quando se oferecem elementos de prova de modus operandi, a acusação não tem de provar,
além de uma dúvida razoável, que os outros crimes ocorreram, e sim, a acusação deve
simplesmente apresentar provas suficientes para demonstrar que o ato teve lugar e foi cometido
pelo réu. De acordo com Casoy (2004, p. 42):
A “assinatura” é sempre única, como uma digital, e está ligada à necessidade do serial
em cometer o crime. Eles têm necessidade de expressar suas violentas fantasias e,
quando atacar, cada crime terá sua expressão pessoal ou ritual particular, baseado em
276
A autora ainda ressalta que a assinatura adotada pelo criminoso nunca muda, podendo
não aparecer em todas as cenas do crime, todavia, provavelmente terá algum motivo decorrente
da própria ocasião como interrupções, reação inesperada da vítima, entre outros. Importante
mencionar, ainda, que esse criminoso vive cercado por fantasias criminais, costumando imaginar
todo o cenário, premeditando todos os seus passados, como explica Casoy (2004, p. 87):
Cada crime, cada vítima é parte da fantasia macro do criminoso. Toda essa história foi
vivida inúmeras vezes antes, durante e certamente depois dele. A repetição e a
reencenação servem para alimentar a fantasia, reforçando a escalada de
comportamento violento, e dão prazer sexual ao assassino.
Assim, é como se cada crime cometido alimentasse sua fantasia, sua capacidade de
realização. De acordo com Silva, Santos e Vasconcelos (2018), essas pessoas têm capacidade de
compreensão da criminalidade contudo não têm aptidão necessária de autodeterminação. São
criminosas com poucas possibilidades de ressocialização pois possuem comportamento que
estimula a reincidência no ato dos crimes. Silva (2014) complementa afirmando que a taxa de
reincidência desses criminosos chega a ser três vezes maior que um criminoso comum.
Portanto, considerando essa ausência de sentimento, de culpabilidade do próprio
criminoso, então tendo a pena papel social de redenção moral e a falta dessa consciência moral
nesses indivíduos, fica clara a deficiência do Sistema Penal brasileiro, além do que ao considerá-
-los semi-imputáveis, coloca-os nas ruas novamente, passando a ter um risco social, conforme
os índices de reincidência desses criminosos.
Ressalta-se que, para considerar a semi-imputabilidade, é necessário investigar amplamente
o diagnóstico da periculosidade. O exame médico do psicopata é apenas mais uma maneira de
avaliação do indivíduo; não é a única responsável pela palavra final. O médico, portanto, deve
limitar-se a seu estrito campo da Medicina, o qual consiste em avaliar se uma pessoa está, ou
não, doente.
De acordo com Ballone (2010, p.1), existem três regras a serem consideradas na análise da
responsabilidade penal do psicopata: 1) a declaração de insanidade não pode ser feita a priori,
sendo exigida a análise de um perito, apesar de serem pessoas com consciência de seus atos, os
problemas são morais, faltando-lhes apego emocional e sentimento de culpa, o que pode
caracterizar semi-inimputabilidade; 2) o impulso irresistível também tem sido considerado como
regra porém não é assunto unânime na jurisprudência e na doutrina visto que, em muitos casos,
o psicopata age com um crime premeditado, o que descaracteriza esse aspecto impulsivo; e 3) o
277
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CASOY, Ilana. Serial Killers: Made in Brazil. Sao Paulo: ARX, 2004.
COSTA, Álvaro Mayrink. Direito penal: parte especial. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
HARE, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre
nós. Porto Alegre: Artmed, 2013.
MORANA, Hilda CP; STONE, Michael H.; ABDALLA-FILHO, Elias. Personality disorders,
psychopathy and serial killers. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 28, p. s74-s79, 2006.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. São Paulo; Editora: Revista dos
Tribunais, 2010.
SANTOS, Maria Josefina Medeiros. Sobre o possível parentesco entre o canalha e o psicopata.
Ágora (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, p. 244-254, Aug. 2018. SEVERINO, Antônio
Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2014.
SILVA, Caroline Rodrigues; DOS SANTOS, Mauro Carvalho; VASCONCELOS, Priscila Elise
Alves. A Psicopatia e o Direito Penal na busca da Sanção Penal adequada. Revista Jurídica
Direito, Sociedade e Justiça, v. 7, 2018.
280
1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
É, portanto, o ramo do direito civil concernente às relações entre pessoas unidas pelo
matrimônio, pela união estável ou pelo parentesco e aos institutos complementares de
282
Segundo Lôbo (2018, p. 24) “a Constituição brasileira inovou, reconhecendo não apenas a
entidade matrimonial, mas também outras duas explicitamente (união estável e entidade
monoparental), além de permitir a inclusão das demais entidades implícitas”
Portanto, compreende-se que o núcleo familiar se constitui de quatro temas centrais, bem
como regula seus desdobramentos, são eles “o casamento, união estável, as relações de parentesco
e os institutos de direito protetivo”. (RODRIGUES, 2004, s/p)
Assim, a instituição familiar tem se modificado de acordo com o desenvolvimento social e
cultural, com a evolução da sociedade e suas vivências. Dessa forma, a família encontrou amparo
e adequação que deu origem ao Código Civil de 2002, trazendo inovações quanto aos tipos de
formações e relações familiares. Nesse contexto, passa-se ao estudo breve da evolução do direito
de família a luz da legislação brasileira.
O Código Civil brasileiro de 1916 restringiu a família como sendo aquela formada por meio
do casamento civil, que a princípio era indissolúvel. A legislação apresentava traços do direito
romano e canônico, pois a família dispunha de perfil hierarquizado e patriarcal, além de
patrimonializado. Para Rodrigues, o Código Civil de 1916 prezava pelo casamento e tinha para si
que este era parte central do direito de família, pois o Estado só viria a dar proteção às famílias
constituídas pelo casamento de vínculo indissolúvel. (RODRIGUES, 2004)
O artigo 233 do mencionado Código enfatizava que o marido detinha do amplo poder da
sociedade conjugal, e a mulher possuía a função de colaboradora dos encargos familiares. Assim,
pelo entendimento de Dias, o que agora se chama de poder familiar – com o nome de pátrio poder
– era exercido pelo homem. Ele era o cabeça do casal, o chefe da sociedade conjugal. Assim, era
dele a obrigação de prover o sustento da família, o que se convertia em obrigação alimentar quando
do rompimento do casamento. (DIAS, 2016)
Na época eram absolutamente discriminados os vínculos extramatrimoniais e os filhos
considerados ilegítimos, como aqueles não advindos do casamento, isso tudo com o intuito de
preservar o núcleo familiar monogâmico. Nesse diapasão, dispõe Gonçalves:
O Código Civil de 1916 proclamava, no art. 229, que o primeiro e principal efeito do
casamento é a criação da família legítima. A família estabelecida fora do casamento era
considerada ilegítima e só mencionada em alguns dispositivos que faziam restrições a esse
modo de convivência, então chamado de concubinato, proibindo-se, por exemplo,
283
Ademais, a esposa era tratada como relativamente incapaz e encontrava-se numa posição
inferior e totalmente submissa, não podendo ao tempo, exercer sequer profissão sem autorização
do marido, tido como o ponto mais alto da hierarquia, dominante e detentor de toda a autoridade
familiar. Gomes (2007), destaca que ocorreram transformações e incorporações, de novos valores
que dominaram a família brasileira, e essa evolução surgiu com a Revolução Industrial, as mulheres
deixavam suas casas e afazeres domésticos para trabalhar em fábricas, que necessitavam de mão-
de-obra, por consequência, o homem deixou de ser o único provedor dos sustentos familiares.
A estrutura se modificou, agora o foco são as relações afetivas e não mais as patrimoniais,
descentralizando a imagem do chefe, que era o único provedor do lar, se tornando igualitária e sem
distinção entre os membros familiares. Compartilhando do mesmo entendimento, Dias, assevera:
Este quadro não resistiu à revolução industrial, que fez aumentar a necessidade de mão
de obra, principalmente para desempenhar atividades terciárias. Foi assim que a mulher
ingressou no mercado de trabalho, deixando o homem de ser a única fonte de
subsistência da família. (DIAS, 2016, p. 22)
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Direito de família foi marcado por
mudanças no âmbito da intervenção estatal, portanto a entidade familiar foi modificada, com base
nos princípios e direitos adquiridos com o desenvolvimento do Estado Social. A carta magna, como
diz Veloso, num único dispositivo, espancou séculos de hipocrisia e preconceito. Instaurou a
uniformidade entre a mulher e o homem, transfigurou a definição de família, transferindo a
proteção de maneira igualitária a todos os membros da entidade.
Estendeu ainda, o amparo à família constituída pelo matrimônio, à união estável, e o núcleo
formado de família monoparental, constituída por qualquer dos pais ou descendentes. Reconheceu
a uniformidade dos filhos, existido ou não do casamento, ou por adoção, garantindo-lhes os
mesmos direitos e qualificações. Reconheceu a igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento,
ou por adoção, garantindo-lhes os mesmos direitos e qualificações. (BRASIL, 1988)
Compartilhando do mesmo entendimento, Matos assevera:
Neste prisma, a Constituição Federal de 1988 provoca uma profunda mudança no Direito
de Família, deixou de lado a ideia de que a família era constituída unicamente pelo
casamento, de forma patriarcal e hierarquizada, seguindo o que já ocorria à época através
da construção doutrinária e jurisprudencial, dando espaço a modelos mais abertos,
conforme o que dispõe o artigo 226, afirmando que a família deixa de ser singular,
passando a ser plural, tendo várias formas de constituição. (GONÇALVES, 2018, p. .36)
Somente com a Constituição de 1988, cujo capítulo dedicado às relações familiares pode
ser considerado um dos mais avançados dentre as constituições de todos os países,
consumou-se o término da longa história da desigualdade jurídica na família brasileira.
Em normas concisas e verdadeiramente revolucionárias, proclamou-se em definitivo o
fim da discriminação das entidades familiares não matrimoniais, que passaram a receber
tutela idêntica às constituídas pelo casamento (caput do art. 226), a igualdade de direitos
e deveres entre homem e mulher na sociedade conjugal (§ 5º do art. 226) e na união
estável (§ 3º do art. 226), a igualdade entre filhos de qualquer origem, seja biológica ou
não biológica, matrimonial ou não (§ 6º do art. 227). (LÔBO, 2018, p. 33)
A palavra mediação tem origem no latim mediare, que significa mediar, intervir, colocar-se
ao meio. Nesse sentido, a mediação se apresenta como um método consensual de resolução de
conflitos que possibilita a transformação da cultura do conflito em cultura de paz e pacificação
social, na medida em que um terceiro imparcial, facilita o diálogo para que os litigantes construam,
com autonomia e solidariedade, a melhor solução para o conflito, visando o consenso, a realização
do acordo, além de proporcionar a restauração da convivência social entre as partes. No mesmo
sentido, pondera Cahali, que a mediação é:
Os princípios da independência têm previsão no Código de Ética, art. 1º, que o define
como” o dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer pressão interna ou externa, sendo
permitido recusar, suspender ou interromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu
bom desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou inexequível”.
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2015)
Neste sentido, segundo Tartuce (2015, p. 197) o referido princípio garante aos mediadores
a atuação com “autonomia e liberdade, sem subordinação nem influência de qualquer ordem” de
modo a não interferir face à vontade das partes no procedimento da mediação. Assim dispõe a
autora:
Por força do princípio da independência, no cenário judicial o mediador não deve travar
contato com o juiz nem colacionar dados aos autos; sua atuação se verifica perante os
envolvidos no conflito na busca de despertar neles recursos aptos a permitir o
equacionamento da controvérsia. (TARTUCE, 2015, p. 197)
Ao mediador é defeso manifestar ou expor juízo de valor sobre o resultado que entende
adequado para compor o conflito. De acordo com a Resolução 125/2010 do CNJ, a imparcialidade
é o dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou preconceito, assegurando que valores
e conceitos pessoais não interfiram no resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos
envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente. (CÓDIGO DE
ÉTICA DE CONCILIADORES E MEDIADORES, 2010)
289
Portando, fica demonstrado que a mediação, como sendo um procedimento que depende
da autonomia da vontade das partes, tem a liberdade como fato incontestável, de maneira que não
permite que nenhuma das partes sofra coação ou ameaças que possa resultar mudanças em seu
comportamento ou em especial na decisão acerca da controvérsia.
O princípio da confidencialidade, conhecido também com princípio do sigilo, possui uma
abrangência importante no que tange à mediação, vedando que as informações produzidas no curso
da tentativa de autocomposição sejam utilizadas para fins diversos daqueles previstos por expressa
deliberação das partes, ou mesmo sejam objeto de divulgação ou depoimento dos envolvidos na
conciliação ou mediação. (BRASIL, 2015)
O Código de Ética para mediadores dispõe:
Legitimado pelo Código de Processo Civil, o princípio da oralidade consente que o acordo
entre os envolvidos e o terceiro imparcial serão feitos de maneira oral, de maneira que o acordado
não seja necessariamente posto em ata de audiência ou de sessão. Compartilhando do mesmo
entendimento, alude Tartuce:
No entanto, cumpre informar que oralidade se limita aos acordos e conversas prévias
envolvendo as partes e o terceiro imparcial, pois a solução da controvérsia deve ser sempre reduzida
a termo, estando a forma documental indispensavelmente escrita da solução consensual. Já o
princípio da informalidade garante que o processo da mediação não se desenvolva seguindo um
padrão predeterminado. Assim dispõe Tartuce:
A mediação, como mecanismo que busca facilitar o diálogo entre as pessoas, não tem
regras fixas (embora o mediador conte com técnicas para o estabelecimento de
conversações pautadas pela clareza). Não há forma exigível para a condução de um
procedimento de mediação, dado que esta constitui, essencialmente, um “projeto de
interação, de comunicação eficaz”. (TARTUCE, 2013, p. 220)
se registra o resultado obtido, será formalizado por escrito. Todas as demais anotações efetuadas
durante a mediação devem ser destruídas.
Vasconcelos esclarece que cabe ao mediador manter as partes informados sobre todas as
decisões que serão tomadas ao longo do procedimento:
A família tem o seu curso ditado pelo afeto, instinto e razão, portanto é considerada uma
instituição guiada pela ordem natural das coisas. A mediação como método de solução de conflitos
aplicado ao Direito de Família representa a oportunidade de preservar o afeto familiar face as
controvérsias, por possibilitar a compreensão entre as partes, conscientização das responsabilidades
e dos papéis que cabe a cada um dos formadores do núcleo familiar independente do conflito que
se originou. A corroborar o exposto acima, a doutrinadora Diniz, preleciona:
violência das disputas pela guarda de filhos menores e pelas visitas. (DINIZ, 2009, p.361)
A sentença dificilmente consegue pacificar as partes nos conflitos familiares; como nas
causas em que estão envolvidos vínculos afetivos há temores, queixas, mágoas e
sentimentos confusos de amor e ódio, a resposta judicial não é apta a responder aos
anseios daqueles que buscam muito mais resgatar danos emocionais do que propriamente
obter compensações econômicas. (TARTUCE, 2018, p. 356.)
A sociedade conjugal entre duas pessoas pode deixar de existir, desde que por manifestação
de vontade destes, havendo assim, a extinção do vínculo matrimonial/conjugal, no entanto não
significa o fim da família. Caso haja filhos, a ligação entre os cônjuges será eterna. Afinal, ainda
que rompido o elo conjugal, remanesce o vínculo paterno-filial.
A criança não divorcia de seus pais…e como a criança tem direito à convivência familiar
em um espectro abrangente (incluindo os dois ramos da família), é necessário que haja uma eficiente
e respeitosa comunicação entre os seus responsáveis, sejam eles pais, avós, tios ou parentes de outra
ordem. (TARTUCE, 2018)
As separações conjugais são tidas como uma das espécies de crise dentro da entidade
familiar que mais abala a estrutura afetiva:
As separações conjugais são uma das crises não-previsíveis mais frequentes destes
tempos. Elas estão se tornando crônicas e afetando, direta ou indiretamente, quase todas
as famílias, na sociedade. Ora são as próprias famílias nucleares que se veem atingidas
por esse evento, ora são as famílias extensas que veem as famílias de seus filhos
desfazerem-se. E, em ambos os casos, o estresse é inevitável e o risco de perturbação no
processo de desenvolvimento das crianças e adolescentes envolvidos é significativo.
(TARTUCE, 2018, p. 357).
Nesse diapasão, Verônica Cezar-Ferreira realça que a mediação tem grande valia na
resolução de conflitos familiares, propondo-a como maneira mais adequada para que a separação
seja menos dolorosa. É nesse contexto, que a mediação aplicada ao direito de família evidencia- se
como método eficaz e humano, para elucidar os conflitos em meio a crises e sofrimentos
emocionais que consequentemente se formam com a decisão da separação. Corroborando com o
exposto dispõe Cachapuz:
Tais conflitos não chegam a ser solucionados com a mera sentença judicial, isso se mostra
claro quando se verifica o retorno das partes à Justiça, não conformadas com a decisão
proferida inicialmente. (GALIZA, S/D)
Por todo o exposto, pode-se perceber que a mediação mostra-se menos dispendiosa e
desgastante, que embora não possa evitar o ingresso no judiciário, pode evitar disputas
desnecessárias, oportunizando a dissolução consensual, de modo que as partes ajam
cooperativamente nas decisões sobre o futuro delas e dos seus dependentes (caso haja filhos) com
mínima intervenção estatal, além de proporciona-las reflexões sobre suas responsabilidades e
viabilizar o aspecto continuativo da relação familiar.
Amplamente discutidas nas Varas de Família atualmente, as ações de alimentos tratam das
obrigações devidas com intuito de satisfazer as necessidades pessoais daqueles que não podem
prover por conta própria, por meio de seu trabalho. (HAYNES,1996)
O pedido de alimentos pode se dar de forma consensual, através de acordo ou através de
uma Ação judicial de Alimentos. Os alimentos ao serem discutidos em uma ação judicial poderá
gerar uma decisão por parte do magistrado que não satisfaça todos os membros do conflito, sobre
esse aspecto “falho” do Poder Judiciário quanto a essa espécie de ação, apontam Lago; Lago:
Os juízes se baseiam nas condições atuais dos cônjuges para arbitrar o valor da pensão,
analisando os pressupostos da necessidade, possibilidade e atualidade (...) mas não têm
condições efetivas de fiscalizar a veracidade dos fatos expostos pelos cônjuges, que
constantemente burlam documentos com intuito de pagar um valor menor de pensão,
gerando assim uma reação adversa da outra parte, que geralmente é a mulher, que em
retaliação cria artimanhas para dificultar a visitação dos filhos pelo pai, dentre outros
expedientes danosos a toda família. (LAGO; LAGO, 2011, p.18)
Ademais, cumpre informar que a escolha pela mediação ao invés dos meios coercitivos
legais é uma via complementar, que não tira a autoridade de executoriedade perante o Poder
Judiciário no que se refere a alimentos, conforme se verifica:
O credor dos alimentos dispõe de mecanismos legais para ver satisfeito o seu crédito. As
normas processuais vinculam e responsabilizam o patrimônio do devedor, inclusive com
a probabilidade de restringir sua liberdade, decretando a prisão civil, que não tem caráter
criminal, mas sim caráter executivo, sendo utilizado como meio coercitivo para compelir
o pagamento dos alimentos devidos. [...] as técnicas de mediação podem auxiliar o poder
judiciário e o credor na busca da satisfação de seu crédito alimentar. Para isso, em termos
legais, a mediação nas ações de execução de alimento apoia-se no preceito do artigo
599125 do Código de Processo Civil, localizado no Capítulo V, das disposições gerais,
que prevê ao juiz a possibilidade, a qualquer momento da execução, de ordenar o
comparecimento das partes. (THOMÉ, 2007, p. 125)
A guarda nada mais é que uma atribuição do poder familiar, assim, tem-se que é direito e
dever de ambos os pais acompanhar a vida de seus filhos, de forma decidir sobre os futuros, cuidar,
educar, proteger, visando sempre o melhor desenvolvimento psicológico e afetivo para as crianças
e sendo responsáveis por todas as atitudes destas.
Nesse sentido, o objetivo da mediação nas questões de guarda é possibilitar através do
diálogo, que as partes, detentoras do poder familiar, decidam de forma consensual como será
conduzida a vida dos pais e dos filhos depois da dissolução da entidade familiar, possibilitando
assim uma melhor convivência. Sobre o tema, Tartuce explica que:
É necessário que os genitores compreendam que os filhos advindos da união não podem
ser utilizados em eventuais disputas, mas precisam ser preservados de rancores e sentimentos de
ruptura, de modo a conviver com ambos os genitores para que possam se sentir amados e
protegidos mesmo ante o desenlace conjugal. (TARTUCE, 2018)
Para Haynes e Marodin (1996) esse é o momento chamado de parentalidade futura, pois é
necessário determinar as decisões que afetam a criação dos filhos: sua residência, relacionamentos
com pai e mãe, acesso a cada um dos pais e visitação, dentre outros.
Sobre o tema assim se manifestaram os juristas reunidos em outubro de 2006 na cidade de
Brasília por ocasião da IV Jornada de Estudos do Conselho da Justiça Federal: “Enunciado n.
296
335: a guarda compartilhada deve ser estimulada, utilizando-se, sempre que possível, da mediação
e da orientação de equipe interdisciplinar”.
Considerando o aspecto continuativo da relação jurídica, a mediação é importante
instrumento para viabilizar uma eficiente e respeitável comunicação entre os indivíduos, tendo em
vista que a decisão acordada da guarda de forma consensual é fator determinante para o sucesso
da nova estrutura familiar e as relações decorrentes dela.
3 CONCLUSÃO
motivos, sendo defeso ao mediador qualquer imposição sobre a lide, tendo em vista que a decisão
final cabe tão somente as partes, que nesse processo são autoras da própria solução para a
controvérsia, o que proporciona não apenas o acordo em si, mas o reestabelecimento do diálogo e
o fortalecimento do laço familiar.
A partir do objetivo proposto no presente artigo científico, pode-se concluir que a
aplicabilidade da mediação de conflitos no Direito de Família, possibilita solucionar as
controvérsias e desmistificar os conflitos como algo negativo, mas considera-los como uma grande
oportunidade de reflexão das partes e de aprimoramento familiar, individual e social.
Viabilizando assim, o aspecto continuativo da relação no Direito de família, a harmonia no
núcleo familiar, o reestabelecimento do diálogo, o fortalecimento e a manutenção do laço familiar,
além de amenizar os impactos causados pelos os conflitos e litígios, dando maior eficácia ao
princípio do acesso à justiça e da mínima intervenção estatal, de modo a conservar o instituto da
família e desafogar também o Judiciário Brasileiro.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da
União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n.
CACHAPUZ, Rozane da Rocha. Mediação nos conflitos & direito de família. 1. ed. Curitiba:
Juruá, 2011.
298
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. Vol. 5. 25. ed.
São Paulo: Saraiva, 2010.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4. ed. em e-book baseada na 11. ed.
impressa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.
FERREIRA, Cezar; MOTTA, Verônica A. da. Família, separação e mediação: uma visão
psicojurídica. 2. ed. São Paulo: Método, 2007.
GALIZA, Dávila. Mediação familiar: uma alternativa viável à resolução dos conflitos
familiares. Disponível em: <https://davilagaliza.jusbrasil.com.br/artigos/112348906/mediacao-
familiar-uma-alternativa-viavel-a-resolucao-dos-conflitos-familiares> Acesso em: 23 de março de
2020
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. Vol. 6. 14.
ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
LAGO, Cristiano Álvares Valadares. LAGO, Andréa Menezes Rios Valadares. Mediação no
Direito de Família. Doutrinas Essenciais - Família e Sucessões. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
LÔBO, Paulo. Direito Civil – Famílias. 8. Ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
MOTTA, Verônica C. F. Família, separação e mediação: uma visão psicojurídica. 3.ª ed. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011.
NADER, Paulo. Curso de Direito Civil: Direito de Família. Vol. 5. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2016.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Direito de Família. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
299
SILVA, José da Silva. Curso de direito constitucional positivo, 33ª ed. São Paulo: Malheiros,
2010.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. Rio de Janeiro: Editora Forense;
São Paulo: Método, 2011.
1 INTRODUÇÃO
de1988; Lei nº. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; Lei n. 11.079, de 30 de dezembro de 2004, e
outros dispositivos legais.
Ademais, utilizamos documentos constantes no sítio eletrônico da Superintendência de
Parcerias e Concessões do Estado do Piauí, além da legislação estadual que institui e disciplina o
Programa Estadual de Parceria Público-Privada e Concessões.
Assim sendo, este trabalho está dividido em 3 tópicos, além das considerações finais. No
primeiro, apresentamos o conceito de parceiras e os tipos de concessão. O segundo tópico trata da
relação das PPPs como instrumento juridicamente viável para implementar as políticas públicas. O
terceiro capítulo traz a Parceria Público-Privada e Concessões no Estado do Piauí, em que
destacamos a implantação do programa, o projeto Piauí Conectado como estudo de caso, bem
como a sua correlação nas políticas públicas. E na última parte, apresentamos as considerações
finais deste trabalho.
As parceiras são todas as formas de colaboração entre o poder público e iniciativa privada
para a satisfação e consecução dos interesses públicos nos âmbitos social e econômico, conforme
menciona Di Pietro (2015).
No Brasil, as parcerias com a iniciativa privada foram historicamente representadas pelo
incentivo, no mais das vezes não institucionalizado, a hospitais beneficentes ligados a igrejas e a
grupos de imigrantes. Ainda antes da Constituição de 1988, foram reconhecidos benefícios
tributários e passaram a ser formalizados convênios e contratos para pagamento de procedimentos
mediante credenciamento, segundo Mânica (2016).
Foram legitimadas no art. 214, da Constituição Federal, que autoriza a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei, os consórcios públicos, convênios e cooperação
entre os entes federados, a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total
ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens necessários à continuidade dos serviços
transferidos.
A delegação dos serviços através da concessão ou permissão foram estabelecidos no art.
175 da Constituição Federal, abaixo transcrito:
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o
caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de
caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;
302
Nesse norte, a autora conceitua o instrumento jurídico em questão e cita três tipos de
concessão, sendo elas, a concessão de serviço público, a concessão de obra pública e a concessão
de uso de bem público. Para as concessões de serviço público e de obra, consta previsão da Lei nº
8987, de 13.02.1995, Lei das Concessões, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da
prestação de serviços públicos previsto na Constituição; no entanto, não há previsão que discipline
a concessão de uso.
A concessão de serviço público precedida de obra pública é definida pelo art. 2º, III, da
Lei 8.987/95 como a construção, total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou
melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada pelo poder concedente, mediante
licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que
demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da
concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por
prazo determinado.
Quanto à concessão de uso, é o contrato administrativo pelo qual o Poder Público atribui
a utilização exclusiva de um bem de seu domínio a particular, para que o explore segundo sua
destinação específica, com exclusividade e nas condições convencionadas com a Administração,
conforme observa Meirelles (1997).
303
Com o advento da Lei Federal n.º 11.079/2004, foram criadas novas formas de transferir
a prestação dos serviços públicos a particulares, definindo-as como concessão patrocinada e
concessão administrativa, albergadas no gênero de Parcerias Público-Privadas, com regras próprias
e utilizando a Lei Geral de Concessões (Lei 8987/95) de forma subsidiária.
Sobre Parceria Público-Privada, Marinela a conceitua como:
[…] acordo firmado entre a Administração Pública e a pessoa do setor privado com o
objetivo de implantação ou gestão de serviços públicos, com eventual execução de obras
ou fornecimento de bens, mediante financiamento do contratado, contraprestação
pecuniária do poder público e compartilhamento de risco e dos ganhos entre os
pactuantes. (2017, p. 634)
A carta magna determinou as competências administrativas dos seus entes federados, nos
seus artigos 21, 22, 25, 30 e 32. Com isso, observa-se o reforço, delimitação e organização das
competências dos entes, de forma que assegure um mínimo de direitos e garantias para os cidadãos,
com a finalidade de forçar aos gestores públicos a promoção e efetivação dessas garantias.
Dessa forma, os entes federados, por determinação constitucional, conforme art. 175,
deve prestar os serviços públicos, seja de forma direta ou indireta, sob delegação, desde que garanta
a prestação eficiente e adequada dos serviços para sociedade.
Sobre as competências da administração, Pietro (2004) explica que é toda atividade
material que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados,
com o objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou
parcialmente público.
Nas palavras de Marçal Justen Filho (2003, p. 31), o serviço público pode ser definido
como “uma atividade pública administrativa de satisfação concreta de necessidades individuais ou
transindividuais, materiais ou imateriais, vinculadas diretamente a um direito fundamental,
destinada a pessoas indeterminadas e executadas sob regime de direito público.”
Não obstante, Carlos Ari esclarece que o
Estado-serviço público foi sucedido pelo Estado-políticas públicas, a essa evolução não
correspondeu amadurecimento teórico do direito administrativo que explicasse
sistematicamente as tarefas de coordenação que o Estado cada vez mais passava a
assumir, isto é, a função administrativa das políticas públicas. (1993, p. 15)
Além das diretrizes, a mesma lei define no art. 14 as competências do órgão gestor de
parcerias público-privadas federais, devendo ser instituído por decreto. O órgão gestor é
responsável por definir os serviços prioritários para execução no regime de parceria público-
privada, disciplinar os procedimentos para celebração desses contratos, autorizar a abertura da
licitação, aprovar seu edital e apreciar os relatórios de execução dos contratos.
Com isso, reforça a ideia de que a PPP deve ser utilizada mediante o planejamento das
ações que a administração pública busque para atender aos interesses da sociedade. Dentro do
planejamento, deverá apresentar metas, objetivos para que os gestores públicos possam tomar
decisões assertivas e estratégicas visando benefícios econômico e social.
Assim, para que a estruturação de um projeto de PPP seja bem-sucedida, e seja um
instrumento de implantação de políticas públicas, é imprescindível que haja uma organização na
Administração, por meio de órgão que conduza esses tipos de projetos, instruindo processo
administrativo necessário para estruturação e contratação de PPP.
Para Pozzo e Jatene (2015), a unidade de PPP desempenha função essencial de suporte
para o desenvolvimento de Programa de Parceria Público-Privada, para acompanhar, monitorar e
avaliar a execução dos projetos entregues.
306
Desse modo, nesse programa deverão constar projetos que tenham aderência às políticas
do Estado, para que sejam alcançadas as metas, cumpridas as obrigações e responsabilidades pelo
setor público e privado.
No Estado do Piauí, um ano após a promulgação da lei federal, por meio da Lei 5.494 de
setembro de 2005, o Programa de Parceiras Público Privadas foi instituído no âmbito da
administração pública estadual, bem como constituiu-se o Conselho/ Órgão Gestor de PPP,
presidido pelo Chefe do Poder Executivo e com finalidade de deliberar sobre os projetos dessa
natureza. Além disso, criou a Unidade de Parcerias Público-Privadas do Estado do Piauí (Unidade
de PPP), vinculada à Secretaria de Planejamento, responsável pelos projetos e sua estruturação,
embora nesse período o Estado não tenha firmado nenhum contrato.
Já no ano de 2015, foi criada a Superintendência de Parcerias e Concessões, órgão
responsável por acompanhar a execução das atividades desenvolvidas no âmbito dos contratos
celebrados pelos órgãos e entidades da Administração Pública direta e indireta, através de parcerias
público-privadas ou concessões.
Atendendo a exigência da Lei de PPPs, atualmente o Conselho Gestor do Programa
Estadual, órgão responsável por avaliar os projetos dessa natureza, é presidido pelo Chefe do Poder
Executivo Estadual e tem como membros efetivos o Secretário de Governo, Secretário de
Administração, Secretário de Planejamento, Secretário de Fazenda e Procurador do Estado.
Vale ressaltar que, além da lei estadual que disciplina o Programa de Parceria Público-
Privada, as concessões têm previsão na Constituição Estadual e são devidamente previstas no Plano
Plurianual – Lei nº 6.751/15, Lei de Diretrizes Orçamentárias dos anos de 2019 e 2020 – Leis nº
7.143/18 e 7.242/20 e Lei Orçamentária Anual – Lei nº 7.175/19.
No Programa Estadual de Parceria Público-Privada, em sua carteira de projetos constam
projetos de Concessões e PPPs, nas áreas de saúde, saneamento de infraestrutura rodoviária,
307
aeroportuária, ferrovia e portuária. Cada projeto constante na carteira é estruturado com base no
planejamento estratégico de crescimento econômico, com foco no desenvolvimento, inclusão
social e aumento do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH do Estado.
Dentre os contratos firmados pelo Estado do Piauí, destaca-se o projeto Piauí Conectado,
primeira PPP de telecomunicação do Brasil, na modalidade de Concessão Administrativa, cujo o
principal objetivo é fornecer acesso à internet, via banda larga (rede de fibra ótica), aos órgãos da
administração pública estadual, aumentando a capacidade de atendimento às demandas dos
cidadãos e a velocidade na conexão, reduzindo custos e maximizando a eficiência na prestação dos
serviços públicos.
O procedimento licitatório ocorreu entre novembro de 2017 a abril de 2018. A empresa
vencedora foi a Globaltask Tecnologia e Gestão S/A, contratada em junho de 2018, pelo período
de 30 anos.
O propósito central do projeto é, através da implantação de 5.000 km de rede de fibra
óptica própria do Estado, melhorar o padrão de acesso aos serviços governamentais que
demandem tráfego de informações via internet.
Outros objetivos associados, passíveis de serem alcançados com a rede de fibra ótica
implantada: Universalização da Educação, através de metodologia de ensino padrão com o apoio
de conteúdo digital e ensino a distância; Modernização do atendimento à saúde, através de recurso
de telemedicina, levando a todos os pontos do Estado os mesmos recursos na realização de
consultas, exames e prevenções que os disponíveis na capital; Melhoria da segurança pública através
da prevenção e no combate à redução da criminalidade através de monitoramento, vídeo vigilância
com utilização de Câmeras e Software; Infraestrutura digital para integração administrativa entre
Secretarias de Estado, Autarquias, Tribunais e Institutos; Formação e Capacitação de mão de obra
local em decorrência da implantação dos recursos tecnológicos e da utilização das facilidades e
aplicações que serão suportadas pela infovia do Estado.
Ademais, está previsto quase 200 pontos de acesso público gratuito à população, em
praças e localidades públicas, nos 98 municípios que possuem a rede de fibra óptica, a fim de
garantir a universalização do acesso à internet de qualidade.
Em relação à fiscalização das obrigações da concessão, quanto à atuação da
concessionária, o cumprimento de metas e atendimento aos níveis de desempenho estabelecidos
308
No que diz respeito às políticas públicas, são os programas de ação do governo para a
realização de objetivos determinados num espaço de tempo certo, conforme observa Bucci (2002).
Assim, pode-se considerar o Programa de PPPs e Concessões uma ação que visa implementar
políticas públicas através de um projeto bem estruturado.
Pelo resumo do supracitado projeto, nota-se que o serviço oferecido pela concessionária
oportuniza à administração pública a prestação de serviço adequado à sociedade, bem como,
através dos serviços associados que visam a melhoria na educação, saúde e segurança.
Assim, significa dizer que a PPP atrela os interesses econômicos dos investidores privados
às exigências constitucionais e infraconstitucionais de manter o serviço adequado, independente do
usuário ser cidadão ou da própria Administração. (MEDAUAR, 2015)
309
5 CONCLUSÃO
O presente artigo se propôs a investigar como as parcerias podem ser instrumento jurídico
viável e utilizado pelo poder público para promoção e a concretização de políticas públicas.
A partir disso, buscamos compreender de que maneira o Contrato de PPP - Piauí
Conectado atende às necessidades da população no âmbito da adequada prestação e universalização
de serviços públicos, que se materializam em políticas públicas. Ademais, como o contrato garante
a eficiência na governança dos entes da administração e economia para os cofres.
É pertinente salientar que, além dos contratos firmados pelo Estado do Piauí, constam na
carteira de projetos do Programa de PPP e Concessões do Estado do Piauí, nas diversas áreas e
que geraram elevado retorno para a população local.
Por fim, este trabalho não visa esgotar o tema ora tratado, haja vista a existência de outros
contratos firmados pelo Estado com a finalidade da concretização de políticas públicas através da
exploração de um serviço público.
310
Assim, concluímos que os projetos dessa natureza são a opção mais viável para o
desenvolvimento econômico e social dos estados, e além disso, podem ser uma alternativa para a
prestação de serviços e concretização de políticas públicas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 11.079, de 30 de dezembro de 2004. Institui normas gerais para licitação e
contratação de parceria público-privada no âmbito da Administração Pública [internet]. Diário
Oficial da União, Brasília DF, 30 de dezembro de 2004. Disponível em www.planalto.gov.br.
Acesso em 25/02/2020.
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permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá
outras providências. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em 25/02/2020.
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e Políticas Públicas. São Paulo: Saraiva,
2002.
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10 anos da lei das PPP. In: . Parcerias Públicos-Privadas: reflexões sobre os 10 anos da
lei 11.079/2004. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 22.ed. São Paulo: Malheiros
editores, 1997.
311
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POZZO, Augusto Neves Dal; JANETE, Pedro. Os principais atrativos das Parcerias Público-
Privadas para o desenvolvimento de infraestrutura pública e a necessidade de planejamento
adequado para sua implantação. In: JUSTEN FILHO, Marçal; SCHWIND, Rafael Wallbach.
Parcerias Públicos-Privadas: reflexões sobre os 10 anos da lei 11.079/2004. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015. pp.51-71.
SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo Ordenador. São Paulo: Malheiros, 1993.
312
1 INTRODUÇÃO
O ordenamento jurídico sempre trouxe previsão sobre a prisão civil, podemos destacar
como a única causa de prisão civil no Código atual, a prisão Civil do devedor de alimentos que
consiste em ser uma maneira de coerção para que sejam pagas as dívidas do devedor, levando
em consideração o cunho alimentar da dívida, devido a isso, a importância do presente estudo
para entender como ocorre a prisão por alimentos.
Partindo do exposto, a pesquisa tem como objetivo geral tratar da efetivação da prisão
civil diante de débito alimentar, seguindo como linha de raciocínio a exposição a respeito da
prisão civil, onde haverá casos em que é cabível sua aplicabilidade, conforme a lei, e ainda como
se dá a realização dos cálculos que define o valor da prestação de alimentos da prisão civil.
Dessa forma os métodos de estudos realizados foram por meio dos estudos
bibliográficos, para tanto usou-se como meios de pesquisas às modalidades de pesquisas
exploratórias, descritivas e explicativas.
Assim, a princípio, a pesquisa analisará através das subseções um comparativo dessa
única possibilidade de prisão civil nos Códigos de 1973 e 2015. Ademais, na segunda subseção
será verificado os conceitos e os princípios aplicáveis nesse tipo de prisão civil. Nesse interím,
na terceira subseção será definido o conceito da prisão civil do devedor de alimentos e seu devido
procedimento dentro do Código de Processo Civil.
Por fim, como suporte para a problematização, nas últimas subseções, podemos verificar
como é realizado de forma correta o cálculo da pensão alimentícia, bem como compreender a
efetividade da prisão civil por alimentos diante da sociedade, possibilitando em quais hipóteses
ela pode ser revisionada.
Diante disso, considerando o objeto a ser pesquisado elaborou-se o seguinte
questionamento: Existe efetivação da prisão civil diante da prisão civil por alimentos?
Assim sendo, a pesquisa apresentada, além do interesse pela temática, a escolha do objeto
de estudo, tem grande relevância para o Direito e sociedade, bem como a escolha do tema
justifica-se no campo acadêmico, visto que se reveste em importantes contribuições para à área
jurídica. Assim sendo, este trabalho pretende analisar, entender e verificar o mecanismo da
efetividade da prisão civil de devedor de alimentos.
2 DESENVOLVIMENTO
Para que haja um maior entendimento da prisão civil por débito alimentar, é necessário
que se faça uma análise a respeito dos códigos de processo civil do ano de 1973 e 2015, tendo em
vista, que ocorreu diversas mudanças no instituto do direito de família em relação a prisão civil
do devedor de alimentos.
Desta forma, sendo realizada uma breve análise a respeito da evolução legislativa de ambos
os Códigos mencionados anteriormente.
Diante das questões relacionadas ao crédito alimentar, existe a previsão da prisão civil do
devedor de alimentos, com o objetivo de obrigar o devedor arcar com o débito alimentar, essa
forma coercitiva contém características elementares presentes no Código de Processo Civil de
1973.
Diante do exposto, o CPC/73 teve sua vigência até o ano de 2016, dispondo sobre a Ação
de Execução de Alimentos nos seus artigos 732 ao 735. Em ao executarem a decisão, eram fixados
os alimentos provisionais e por ordem do juiz, além disso, o devedor era citado para que em 3 (três)
dias, efetuasse o pagamento, provasse que o fez ou justificasse a impossibilidade de realizar o
pagamento. E caso não pagasse, era decretada a prisão judicialmente do devedor no prazo de 1 a 3
meses (art.733, CPC/73).
Vale ressaltar, que mesmo cumprindo a pena, o devedor tinha o dever de efetuar o
pagamento das prestações vencidas e vincendas, assim, só após ser paga, haveria a suspensão do
cumprimento da prisão, ou seja, uma maneira coercitiva encontrada de executar a obrigação,
fazendo com que o devedor arque com a dívida de natureza alimentar.
No que diz Carlos Roberto Gonçalves (2013, p.351):
314
Seguindo o pensamento de Gonçalves, podemos concluir que não pode ocorrer no mesmo
processo a penhora dos bens e a prisão civil do devedor, caso haja comprovação da sua
hipossuficiência econômica.
Diante disso, se verá adiante que o Código de Processo Civil de 2015, inseriu importantes
inovações a respeito desse instituto da prisão civil.
2.2. Princípios
A palavra princípio vem do latim principium e tem o significado ligado a uma ideia de
começo, neste contexto os princípios devem ser usados como uma maneira de definir condutas
gerando com harmonia todos os sentidos.
De acordo com Renata Malta Vilas Boas (2003, p.21) conceitua-se que:
315
Chegamos à concepção de que o princípio – sua ideia ou conceituação – vem a ser fonte,
o ponto de partida que devemos seguir em todo o percurso; ao mesmo tempo em que é
o início, também é o meio a ser percorrido e o fim a ser atingido. Dessa forma, todo o
ordenamento jurídico deve estar de acordo com os princípios, pois só eles permitem que
o próprio ordenamento jurídico se sustente, se mantenha e se desenvolva.
Alguns anos atrás os princípios não eram levados em consideração dentro do ordenamento
jurídico, o que mudou significativamente e hoje ocupam um lugar de suma importância, pois dois
pensadores Ronald Dworkin e Robert Alexy colocaram os princípios como base das normas
jurídicas.
Portanto, entende-se que os princípios determinam um conjunto de normas ou padrões
que devem ser seguidos pela sociedade. Assim, é importante ressaltar alguns destes princípios
presentes no ordenamento jurídico, visto que são instrumentos de fundamentação da norma.
Ao decorrer dos anos houve diversos ditos conceitos para a Dignidade em si, iniciando na
antiguidade quando os primeiros passos desta defesa do ser humano foi encontrado expresso tanto
no Código de Hamurabi, Babilônia quanto no Assíria e no Código de Manu na Índia.
Ainda nesse sentido, Kant (2006) dispõe:
No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisas tem um
preço, pode por-se em vez dela qualquer outra como equivalente, mas quando uma coisa
está acima de todo preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade
[…]. Esta apreciação dá pois a conhecer como dignidade o valor de uma tal disposição
de espírito e põe-na infinitamente acima de todo preço. Nunca ela poderia ser posta em
cálculo ou confronto com qualquer coisa que tivesse preço, sem de qualquer modo ferir
a sua santidade?
Desta forma o que se deve ser observado para que assim tenhamos esperança em uma
sociedade mais justa e igualitária, que trate os iguais igualmente e os desiguais na medida de sua
igualdade.
A prestação de alimentos é uma forma de proteger e garantir a subsistência do alimentando,
como reafirma no art. 1.696 do Código Civil ao dizer que: “O direito à prestação de alimentos é
recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau, uns em falta de outros”.
O princípio da dignidade da pessoa humana está intimamente relacionado com a
democracia, tornando-se o um princípio fundamental, conforme o art.1°, III da Constituição
Federal, devendo ser aplicado e interpretado para proteger todos os indivíduos, principalmente no
que se trata sobre alimentos, pois não são objetos e sim seres humanos.
Ainda na Constituição Federal, vem disposto em seu artigo 229: “Os pais têm o dever de
assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os
pais na velhice carência ou enfermidade”.
Portanto, por ser um princípio constitucional e fundamental, deve ser garantido por todos,
e principalmente respeitado pelos seus genitores como demonstrado, em que a alimentação é algo
necessário para sobreviver e viver dignamente, ou seja, a dignidade é, antes de tudo, um valor
concebido como inerente à natureza do ser humano enquanto tal, devendo, então, ser resguardado
e presente em todas relações judiciais.
Pelo fato da prisão civil ser uma coação excepcional, devidamente interligado ao princípio
da dignidade da pessoa humana, o alimentado necessita que a execução do débito, seja efetivada na
maneira mais célere possível, pois se trata de dívida com natureza alimentícia.
Esse princípio tem respaldo constitucional no art. 5º, incisos XXXV, LIV, LV e LXXVIII,
da Constituição Federal, bem como aparece expressamente no Código de Processo de Civil.
Depende do Poder Judiciário para que seja conferido ao titular do direito natural de forma
tempestiva, econômica e oportuna, oferecendo-lhe uma melhor organização para que os conflitos,
não passem de apenas uma simples homologação judicial, mas que acabe efetivando um direito
reconhecido do titular sobre a prestação de alimentos.
Como podemos analisar de acordo com Dinamarco (2008, p.319):
O princípio da efetividade do processo torna-se verdadeira essência da jurisdição;
principalmente porque um processo tardio, ineficaz e sem real impacto no mundo dos
317
Neste contexto, não resta dúvidas da importância da efetividade nos processos, a própria
Constituição garante não apenas o direito de acesso à justiça, como também a efetivação da tutela,
ressaltando assim que todos tem direito a uma justiça célere e eficaz. Como mencionado por Rui
Barbosa que: “A justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”, isto é, a
resposta jurisdicional na qual é pleiteada, contém o conceito de direito, logo, demonstra a garantia
que a jurisdição deve representar.
É importante esclarecer que o afeto deve ser entendido como sendo o vínculo emocional
que se origina dos sentimentos que ligam os integrantes de uma família e que o respeito,
por sua vez, deve ser compreendido como o valor que se atribui a um determinado
parente, respectivamente.
A prisão civil é uma forma de coação contra o devedor de alimentos para realizar o
pagamento do débito alimentar, assim, para uma melhor compreensão é necessário
318
conceituarmos o que sera a prisão civil, bem como analisarmos o procedimento e o processo de
execução do devedor de alimentos, para que, então, se compreenda e se comprove a não eficácia
da prisão civil desse devedor.
2.3.1 Conceito
A prisão civil foi a maneira que o legislador encontrou de coagir o alimentante a efetuar o
adimplemento das prestações devidas ao alimentado. É um meio de execução, que envolve o
patrimônio do devedor, pois caso ele não cumpra a obrigação voluntariamente e de forma
indispensável, terá como consequência a prisão.
Como reafirma Azevedo (2012, p.35) sobre a prisão civil por dívida que:
A prisão civil de devedor de alimentos, como já mencionado não tem o objetivo de punir
e pode ser citada de diversas maneiras, sendo utilizada apenas em último recurso como uma
forma de coibir o alimentante para que cumpra sua obrigação, perante a urgência da mesma e
sua repercussão, que continua vigente dentro do ordenamento jurídico.
2.3.2 Procedimento
O débito alimentar é cobrado pelo fato dessa obrigação alimentícia ser um título executivo
judicial ou extrajudicial, tendo como características a exigibilidade, a liquidação e a certeza.
Deste modo, com base na Lei n°5.478/68 (Lei de Alimentos) e nos artigos 528 ao 533 e
911 ao 914 do Código de Processo Civil de 2015, em caso de mora do devedor, e ainda através da
Súmula 309 do STJ: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que
compreende as três prestações anteriores à citação e as que vencerem no curso do processo”, nasce
o direito do filho buscar cumprimento dessa obrigação alimentar.
319
Existem diversas maneiras para que o alimentado possa executar o seu título, através do
cumprimento de sentença e do processo de execução, como veremos detalhadamente a seguir.
Não existe um valor previsto por lei, o que geralmente ocorre é que o magistrado após fazer
uma análise devidamente da renda do alimentante determina o a ser pago para o alimentado.
Esse valor poderá ser alterado apenas sob o caso de diminuição ou aumento da renda do
responsável do alimentado direto ou do que paga alimentos, sendo assim os valores podem ser
revistos mesmo findado o processo, sempre visando o benefício da criança.
Nos casos de que existam mais de um filho sendo ambos do mesmo relacionamento, o
valor será feito com base em um percentual maior, pois será um único valor a ser dividido entre os
filhos. Caso sejam de casamentos diferentes, para que o devedor tenha como realizar o pagamento
o valor terá como base um percentual menor, desta maneira o mesmo terá como arcar sem que
isso interfira na sua subsistência.
Ao contrário do que se pensa a pensão alimentícia não pode ser cessada de maneira
autônoma com a maioridade do filho, ou seja, quando este vem há completar 18 anos. Pois para
que ocorra a cessação e acabe a obrigação de pagar alimentos, é exigida a propositura de ação
321
judicial, e se deve também que se comprove que o filho não mais tem necessidade que seu
genitor proveja seu alimento.
De acordo com Christiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvaldi (2014, n.p.):
Desta maneira se comprova que o dever de prestar alimentos não tem relação com a
maioridade do indivíduo e sim com a sua necessidade de sobrevivência e independência financeira.
A quantia pode ser revisionada por meio da Ação revisional de alimentos , quando o filho venha a
ter uma renda advinda de um estágio ,por exemplo, neste caso a pensão pode ser diminuída,
mantendo-se como auxílio financeiro.
Há uma grande problemática quanto ao impacto que esse meio coercitivo utilizado acaba
interferindo na relação familiar, pois mesmo que o filho esteja sendo representado no pedido de
prisão, abala imensamente a relação afetiva entre pai e filho, em que muitas vezes são rompidas,
mediante diversos sentimentos como raiva e mágoa.
Outro grande impacto diante dessa prisão civil, é que o devedor fica sem trabalhar por estar
preso, impossibilitando-o de pagar o que deve ao credor, e ainda por ser inafiançável, só poderá
ser solto depois de efetuar o pagamento da dívida alimentar, portanto, ficando sem chances de
cumprir sua obrigação.
Não dá para negar que o encarceramento da figura paterna influencia diretamente no
desenvolvimento do filho além da mágoa de está preso, não quer que seu filho presencie o mesmo
naquela situação por ser um momento constrangedor.
Partindo disso, tivemos como concluir como o encarceramento do pai pode ter diversas
causas negativas tanto psicológicas como também no desenvolvimento infantil resultando em um
claro distanciamento social e uma série de mudanças dentro da estrutura familiar.
O pai não pode ser considerado mero pagador, pois no cenário atual o papel de cuidar, se
preocupar e participar da vida dos filhos não é só papel da mãe e sim de ambos os genitores. O
direito dos pais com os filhos devem ser os mesmos, tendo como pressuposto que a sociedade
sofreu diversas alterações ao decorrer dos anos, e hoje os pais também querem participar das
escolhas inerentes à vida dos filhos, o que deixa claro que a justiça tem o dever de assegurar que a
322
ambos os pais, a administração conjunta dos recusos destinados á criança e que de fato não tem
como ocorrer com o encarceramento do pai.
3 CONCLUSÃO
Em síntese, o presente trabalho científico teve como tema a Prisão civil de devedor de
alimentos. Neste trabalho, a autora quis esboçar em relação a efetivação da prisão civil diante do
débito alimentar, dando ênfase ao princípio da efetividade, previsto na Constituição Federal e
Código de Processo Civil.
Primeiramente, foi feito uma comparação entre os Códigos de 1973 e 2015 quanto à única
prisão civil, levando em conta suas características. Diante do tema, foi realizada uma análise dos
princípios norteadores dessa discussão, tais como os princípios da dignidade humana, efetividade
e da solidariedade familiar.
No segundo momento desta pesquisa, abordou-se o conceito da prisão civil por débito
alimentar e seu devido procedimento, podendo ser através de cumprimento de sentença e processo
de execução a depender do título executivo, bem como foi analisado a forma de realizar o cálculo
das parcelas da pensão alimentícia.
Diante o exposto, conclui-se que o tema ora analisado sobre a efetividade da prisão civil
pode ser relativa, pois mesmo que seja um meio coercitivo de extrema relevância, também é um
meio que causa extremo impacto nas relações familiares advinda desta, podendo até mesmo
desfazê-las, diante disso outras medidas menos gravosas devem ser sempre priorizadas, levando
em conta que e de fundamental importância a figura paterna pro desenvolvimento do alimentado.
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União:
seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, 11 jan. 2002.
FARIAS, Christiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias. 6ª Ed.
Salvador: Juspodivm, 2014.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro –Direito de Família. 10° ed. . São Paulo:
Saraiva, 2013.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro –Direito de Família. 14° ed.. São Paulo:
Saraiva, 2017.
LISBOA: Imprensa Nacional, 1865. p.161 . Disponível em: Pinto, Marcos José A prisão civil do
devedor de alimentos [recurso eletrônico]: constitucionalidade e eficácia / Marcos José Pinto.
Brasília: Escola Superior do Ministério Público da União, 2017. Acesso em: 13/05/2020.
MARINONI, L. G.; Arenhart, S. L. Execução. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 3 v., 2008,
p. 390-391. Disponível em: Pinto, Marcos José. A prisão civil do devedor de alimentos [recurso
eletrônico] : constitucionalidade e eficácia / Marcos José Pinto. Brasília: Escola Superior do
Ministério Público da União, 2017. Acesso em: 13/05/2020.
1 INTRODUÇÃO
1 Aluno do Curso de Direito na Faculdade Estácio de Teresina, formado em Ciências Contábeis pela UFPI, com
especialização Gestão e Auditoria Governamental, pela UESPI e Pós-Graduando em Direito Empresarial e Tributário
pela Universidade Candido Mendes. Atualmente exerce o cargo de Auditor Federal de Controle Externo no Tribunal
de Contas da União. Currículo. Lattes iD: http://lattes.cnpq.br/7612230606792308, email: thiagorc@tcu.gov.br
325
Não obtendo, decisão favorável no primeiro grau de jurisdição, junto a uma DRJ, o
contribuinte poderá recorrer à segunda instância administrativa, de competência do CARF. Por
último, no caso de manutenção de decisão desfavorável ao contribuinte e de não quitação dos
débitos, ocorre a inscrição na dívida ativa da União para cobrança executiva no âmbito das unidades
da PGFN. Ressalta-se, ainda, que o contribuinte pode recorrer ao Poder Judiciário para rever
novamente toda a matéria (fato e direito), o que torna o contencioso administrativo e judicial
moroso e propenso à irrecuperabilidade dos créditos tributários.
também o método de pesquisa descritiva com a finalidade de analisar os valores dos estoques de
processos, sua representatividade e composição, com a finalidade de traçar um “padrão” que possa
explicar como o acervo de estoque do CARF chegou a níveis tão críticos. O estudo terá caráter
essencialmente qualitativo, com ênfase na observação e estudo documental da base de dados do
CARF, por meio de sua plataforma digital, de dados apresentado pelo órgão ao TCU, entre outras
pesquisas de dados obtidos da internet, ao mesmo tempo que será necessário o cruzamento dos
dados obtidos com toda a pesquisa já feita.
Apesar das medidas já adotadas para a melhoria na gestão e integridade do órgão, ainda
assim, o cenário atual do contencioso administrativo tributário demanda respostas diante da
magnitude dos recursos submetidos à apreciação do CARF.
A situação é agravada pois, atualmente, existe um mesmo rito processual para processos de
pequeno e de grande valor, enquanto 54% do acervo do CARF é composto por processos de até
60 salários-mínimos, considerados como de pequeno valor nos termos do art. 3º, caput, da Lei
10.259/2001.
Nesse mesmo cenário, é imprescindível ressaltar que o volumoso estoque de processos sem
desfecho e a falta de tempestividade na atuação do CARF podem gerar riscos, como o desestímulo
à arrecadação espontânea, sobretudo em razão da possível percepção de ineficiência na cobrança
tributária por parte do Estado. Além disso, a morosidade pode acarretar dificuldade de recuperação
de crédito nas causas favoráveis à União, ou o prolongamento de situações indevidamente
constituídas contra o contribuinte, nos casos em que a decisão for favorável ao contribuinte.
328
2.3. Medidas de Gestão Adotadas pelo CARF e o Efetivo Impacto na Redução do Estoque
2019
• Aferição da produtividade conselheiros dos contribuintes.
• Utilização de inteligência artificial para gestão do acervo: identificação de
matérias homogêneas e formação de lotes para julgamentos repetitivos.
Em 2017, por meio da Portaria MF 329/2017, foram criadas 9 Turmas Extraordinárias com
competência para julgamento de processos de baixa complexidade até 60 salários-mínimos, com
previsão de alcançar posteriormente processos até 120, medida que possibilitaria, segundo o CARF,
um incremento de produtividade em torno de 30%.
Segundo Mengardo (2017), essa espécie de “tribunal de pequenas causas” do CARF tem
por objetivo desafogar o conselho e agilizar o julgamento de casos mais simples, pois segundo
dados do próprio conselho, mais de 70% dos processos em tramitação atualmente poderão ser
analisados pelas turmas extraordinárias.
Em que pese, segundo dados do próprio CARF, conforme Mengardo (2017) mais de 70%
poderiam ser analisados pelas supramencionadas turmas extraordinárias, a criação das turmas
extraordinárias em 2017 não foi suficiente para a redução significativa do estoque de processos do
CARF.
Considerando que a criação, em 2017, de 9 turmas extraordinárias não surtiu grande efeito
no estoque em geral, nem mesmo no estoque de processos até 60 salários-mínimos, conclui-se que
a criação de mais turmas extraordinárias, por si só, não tem a força para uma redução expressiva
do estoque.
Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça (2011, p. 9), trouxe no estudo sobre a
Execução Fiscal no Brasil e o Impacto no Judiciário, como um de suas propostas para a melhoria
da atuação jurisdicional brasileira em relação à matéria administrativa medidas, além das já adotadas
que poderiam impactar positivamente na diminuição do estoque de processos, tais como:
[…] impor à Instância Administrativa prazo para resolver seus processos (possivelmente
um ano);
realizar a apreciação administrativa por alçadas (pelo valor da contenda, estabelecendo
procedimentos processuais sumários e comuns);
selecionar os membros julgadores administrativos por concurso público;
proibir a reformatio in pejus (os órgãos jurisdicionais administrativos deverão julgar as lides dentro dos
limites e das pretensões formuladas pelas partes) e, por fim, instituir a obrigatoriedade de
apreciação de provas praticadas no procedimento administrativo dentro do processo
judicial.
Diante desse panorama, e considerando que 54% do estoque do CARF é composto por
processos de até 60 salários-mínimos (Processo TCU 038.047/2019-5, peça 24), aliada aos ajustes
332
mencionadas acima, uma medida que de fato teria impacto, em uma redução significativa no
estoque, seria a criação de procedimentos especiais para tratamento desse tipo de estoque ainda na
1ª instância administrativa (Delegacias de Julgamento – DRJs), nesse sentido já se posicionou o
Grupo de Trabalho de Estudos Temáticos-GET (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2016),
instituído pela Portaria RFB/PGFN/CARF 1441 de 2016, grupo formado pelos três autores do
Macroprocesso do Crédito Tributário, com o objetivo de estudar e propor nova estrutura de
funcionamento do contencioso administrativo fiscal federal.
O art. 1º supracitado também coloca no rol dos recursos analisáveis pelo CARF aqueles de
natureza especial, além do recurso voluntário, aquele interposto junto ao CARF pelo contribuinte
que não concorda com a proferida em primeira instância administrativa (DRJ) e do recurso de
ofício, aquele interposto pelo Presidente de Turma da DRJ, por meio de declaração na própria
decisão, sempre que o valor exonerado for superior a 2,5 milhões de reais.
Entretanto, as decisões do próprio CARF também podem ser objeto de recurso especial.
É o que preveem os art. 64, 65 e 67 do seu Regimento Interno.
Art. 64. Contra as decisões proferidas pelos colegiados do CARF são cabíveis os
seguintes recursos:
I - Embargos de Declaração; e
II - Recurso Especial.
Parágrafo único. Das decisões dos colegiados não cabe pedido de reconsideração.
Seção I
Dos Embargos de Declaração
Art. 65. Cabem embargos de declaração quando o acórdão contiver obscuridade, omissão
ou contradição entre a decisão e os seus fundamentos, ou for omitido ponto sobre o qual
devia pronunciar-se a turma.
(...)
§ 5º Somente os embargos de declaração opostos tempestivamente interrompem o prazo
333
Desse modo, uma vez que uma decisão do CARF for contraria ao contribuinte, emitida
por meio de acórdão, este poderá lançar mão do embargo de declaração como um primeiro
instrumento protelatório, alegando “obscuridade, omissão ou contradição”.
Na prática, protela-se ainda mais a tomada de decisão, pois os julgamentos nas Turmas
Ordinárias e Extraordinárias não geram decisões terminativas.
Nesse panorama, verifica-se que desde 2016, os valores julgados por Acordão (turmas
ordinárias e extraordinárias, dados Abertos, site do CARF) superam os valores de entradas de
processos advindos da DRJ (Processo TCU 038.047/2019-5, peça 54), no entanto, esse aumento
de produtividade, não se reflete no estoque, que continua crescendo, em termos de valor, com
exceção do ano de 2017 que teve uma pequena redução de 0,58% (Dados Abertos, site do CARF);
Em 2019, o CARF possuía em estoque 28.743 recursos não julgados contra suas próprias
decisões (agravo, embargos de declaração e recurso especial), 19,09% do total de estoque de
recursos (Processo TCU 038.047/2019-5, peça 24).
De acordo com Silvera (2020, p. 2), O CARF concentra as 2ª. e 3ª. instâncias que analisam
recursos contra autuações fiscais realizadas pela Receita Federal do Brasil no estágio de revisão
administrativa. Para ele revisão neste estágio deveria ser, como indica a definição semântica do
termo, “administrativa”, interna à administração fiscal.
Segundo Maia (2020) o voto de qualidade era aplicado em casos de empate no CARF, e o
presidente do colegiado, que representa a Receita, proferia o voto de minerva.
A alteração ocorreu no artigo 19-E da Lei 10.522/2002, inserido por meio da Lei do
Contribuinte Legal (13.988/2020). Ressaltar-se que o dispositivo está sendo questionado no
Supremo Tribunal Federal por duas ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs 6399 e 6403),
que serão julgadas em plenário, conforme decisão do ministro-relator Marco Aurélio Mello.
De acordo Silveira, (2020) a Operação Zelotes revelou que grandes bancos e empresas
compravam votos no conselho, para obter decisões favoráveis a seus interesses – e contrárias ao
Estado brasileiro.
Ainda segundo Silveira (2020), no Brasil o CARF é uma estranha jabuticaba, já que somente
no modelo brasileiro a composição do conselho quem dá as cartas são as confederações
empresariais e segundo ele a mudança é muito relevante já que, o principal trunfo dos sonegadores
no CARF é a protelação (julgamentos duram em média nove anos, e como após este período ainda
é possível recorrer ao Judiciário), recorrer a segunda instância administrativa pode garantir,
facilmente 18 anos de adiamento para pagar os impostos sonegados.
Ainda sobre o dispositivo que extingue o voto de qualidade no CARF, diz o Sindifisco
Nacional (2020, p. 1), por meio de Nota Pública intitulada “Retrocesso no CARF”, que:
O ato - que adquire contornos particularmente nefastos por vir à luz num contexto
trágico para a saúde nacional e para as contas da União e dos demais entes federativos -
fatalmente implicará décadas de retrocesso no combate à sonegação e à corrupção e
entrará para a posteridade como símbolo de absoluto desprezo pela coisa pública”,
arrematando, ao final, que “irá [o Sindifisco Nacional] denunciar o fato à comunidade
internacional e, concomitantemente, empreenderá todos os esforços possíveis para
mobilizar a sociedade civil e reverter esse descalabro.
Sendo assim, o modelo paritário não se sustenta mais sob a justificativa de ser indispensável
para um julgamento imparcial na segunda instância administrativa, além disso, como fim do voto
337
Silveira (2020, p. 2), ainda, sintetizou como funciona a revisão administrativa em outros
países, com base em dados publicados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico – OCDE e pela Law Business Research Ltd, uma instituição privada britânica, conforme
transcrito abaixo:
O quadro posto evidencia, que o modelo de contencioso administrativo brasileiro não está
aderente aos modelos adotados internacionalmente, bem como a necessidade de reforma do
contencioso administrativo, nesse sentido, cabe destacar os dois modelos propostos pelo Grupo
de Trabalho de Estudos Temáticos-GET (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2016), instituído pela
Portaria RFB/PGFN/CARF 1441 de 2016.
Nesse modelo, seria adotado julgamento colegiado nos processos de alta complexidade e
338
O TAF seria composto por três Turmas, e pelo Pleno, formado por Auditores-Fiscais. As
Turmas julgariam o recurso especial de divergência, cabendo ao Pleno analisar as divergências entre
as Turmas do próprio Tribunal, além de propostas de súmulas relativas a matérias inseridas na
competência de duas ou mais Turmas do TAF e os incidentes com vistas à uniformização da
jurisprudência nas três Turmas.
Nesse modelo o TAF ficaria com a função híbrida de instância recursal ordinária, para os
processos de alta complexidade, julgados de forma colegiada nas DRJ e de instância especial, para
os processos de baixa complexidade, jugadados monocraticamente pelas DRJ, e para os processos
de alta complexidades julgadas pelas turmas ordinárias do TAF.
3 CONCLUSÃO
A situação é agravada pois, atualmente, existe um mesmo rito processual para processos de
pequeno e grande valor, enquanto 54% do acervo do CARF é composto por processos de até 60
339
salários-mínimos.
Diante dessas condições, verifica-se que a atual estrutura do CARF não é eficiente, aliada
ao fato que as medidas de gestão adotadas pela administração do CARF não surtiram um efeito
significativo na redução do estoque.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Nota Técnica. Custo e tempo do
processo de execução fiscal promovido pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Disponível
em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/111230_notatecnicadiest1.p
df.
. Lei nº 13.988, de 14 de abril de 2020. Dispõe sobre a transação nas hipóteses que
especifica; e altera as Leis nos 13.464, de 10 de julho de 2017, e 10.522, de 19 de julho de 2002.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L13988.htm.
HARADA, Kkyioshi. Direito Financeiro e Tributário. São Paulo: Atlas, 2010, 19ª ed.
JÚNIOR, Oséas Coimbra, ROSA, Alfredo Jorge Madeira e JÚNIOR, Álvaro Luchiezi. O
Contencioso Administrativo Fiscal Federal: A Atuação do Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais (CARF). Tributação em Revista, ed. 65, 2020. Disponível em:
https://www.sindifisconacional.org.br/index.php?option=com_content&view=category&layout
=blog&id=81&Itemid=94.
MAIA, Flávia. Estudo mostra que voto de qualidade é mais usado em casos de maior valor.
Disponível em: https://www.jota.info/jota-insper/estudo-mostra-que-voto-de-qualidade-e-mais-
341
usado-em-casos-de-maior-valor-08052020.
SILVEIRA, Ricardo Fagundes da. Muito além da Zelotes!: as disputas do contencioso fiscal e os
interesses das corporações empresariais no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF)
entre 2013 e 2017. 2019. Disponível em: http://tede.ufsc.br/teses/PSOP0661-D.pdf.
SILVEIRA, Ricardo Fagundes da. CARF: um tribunal paralelo a serviço dos sonegadores.
Disponível em https://outraspalavras.net/desigualdades-mundo/CARF-um-tribunal-paralelo-a-
servico-dos-sonegadores/.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo a análise do fenômeno que cada vez está mais
comum no âmbito familiar, denominado de alienação parental que conforme o art. 2 na Lei
12.318/10, que dispõe sobre a este instituto, consiste na interferência na formação psicológica da
criança, ou do adolescente promovido, ou induzido por um dos genitores, pelos avós ou pelos que
tenham os menores sob a sua autoridade, guarda para que repudie genitor, ou que cause prejuízo
ao estabelecimento, ou à manutenção de vínculos com este.
É de conhecimento que as separações entre casais estão cada vez mais recorrentes e diante
desse cenário almeja aqui analisar, de fato, o desfazimento dessas relações e as consequências dos
conflitos oriundos dessa dissolução, que por si só, já possuem uma capacidade de perturbar os
vínculos familiares.
Essa mudança na esfera familiar gera conflitos, já que na maioria das vezes não ocorre que
forma amigável e harmônica, assim foram apresentadas as consequências diretas que o ato do
desligamento acarreta especialmente na vida dos menores, fruto desse relacionamento que pode
desencadear o fenômeno da alienação parental.
Nesse contexto pretende-se evidenciar os efeitos causados pelo ato de alienar, que dito em
outras palavras, é realizado quando o genitor, que possui a guarda da criança, pratica condutas para
desmoralizar o outro genitor e como o alienado pode desenvolver sérios problemas psicológicos
irreparáveis, como, por exemplo, quadros depressivos, transtornos comportamentais ou de
identidade e, em casos extremos, até manifestar tendências suicidas.
Inicialmente procurasse apresentar as características da alienação parental, e como tal
conduta infringe diretamente princípios norteadores para o direito da família, e evidenciar a
importância da sua aplicabilidade nos casos da alienação parental.
Intenta aqui analisar maneiras específicas de como lidar com este problema social, tendo
como principal instrumento a mediação de conflitos como forma resolutiva, evidenciando que as
características da mediação poderão auxiliar a restabelecer o status quo do meio familiar, e não
somente a resolução conflituosa em si.
Assim, a finalidade principal desse artigo é destacar a relevância da utilização do instituto
da mediação nos conflitos familiares, em específico nos casos que acontece a alienação parental.
Casos como esse em que as partes já possuíam uma relação de interação anterior, o método da
mediação se faz essencial, pois, se busca uma volta de uma convivência harmônica entre os
genitores e seus filhos.
Dessa forma, a estrutura desse artigo iniciará a partir da introdução, na qual expõe os
principais pontos que serão analisados e o objetivo pretendido. Após, no desenvolvimento haverá
a abordagem da fundamentação teórica de alguns assuntos, dentre eles; a conceituação da alienação
parental e da mediação de conflitos, a análise de suas características e efeitos, bem como da lei nº
12.318/10 que dispõe sobre o fenômeno da alienação parental, como da lei nº 13.140/15, que
disciplina o instituto da mediação de conflitos.
A fonte principal de pesquisa será fornecida pelos métodos científicos, desse modo o artigo
foi elaborado através de leituras de fontes primárias, livros da área jurídica, jurisprudências e
doutrinas que explanam o tema aqui analisado, bem como secundarias, como artigos, publicações
especializadas, noticias e dados oficiais disponibilizados na internet.
2 DESENVOLVIMENTO
Sob todos os ângulos, o divórcio acirra uma significativa desarrumação familiar, sendo
ocasionadas por fontes variadas: o amor acaba entre o casal; os danos da separação
provocam um desequilíbrio socioafetivo; e não existem mais projetos conjugais, nem
parentais. (GRISARD, 2002, p.67).
Diante dessas relações conflituosas entre os pais, os filhos na maioria das vezes são usados
como meio para tentar manipular a situação, tal comportamento é tido quase sempre por aquele
que detém da guarda, que por sua vez, inicia a prática de vários atos com intuito de manipular a
visão dos filhos em relação ao outro genitor, frente rejeição ao fim do relacionamento ou por outros
motivos.
Tais conflitos são marcados pela falta dialogo, conjuntamente pela dificuldade em resolver
problemas onde existem pessoas com posicionamentos diferentes, que nesse caso é o ex-casal,
cujos fatores decorrentes tornam-se negativos interferindo principalmente no desenvolvimento dos
filhos, que visivelmente se tornam a parte mais vulnerável.
De acordo com o autor Trindade (2007, p. 283) a dissolução do casamento quando não
bem resolvida faz com que se aumentem a criação dos conflitos, por meio do reforço de
sentimentos negativos que atrapalham no desenvolvimento de uma relação saudável entre os
genitores e seus filhos:
Logo após a separação dos pais, quando ainda o nível de conflitualidade é intenso, é
comum surgirem problemas e preocupações com as primeiras visitas ao outro progenitor,
pois, fantasias, medos e angústias de retaliação ocupam o imaginário dos pais e dos
próprios filhos, ainda não acostumados com as diferenças impostas pela nova
organização da família. Quando os genitores estão psicologicamente debilitados, os
aspectos de natureza persecutória, de conteúdos predominantemente paranoide, ligados
ao ataque e defesa, podem instaurar uma crise. Esta crise será capaz de desencadear um
processo de alienação do outro cônjuge. Num pressuposto de imaturidade e instabilidade
emocional, utiliza-se o filho como instrumento de agressividade direcionada ao outro,
principalmente, quando padece de sentimentos de abandono e rejeição enquanto
fantasmas de uma relação ainda não adequadamente resolvida através de um luto bem
elaborado. (TRINDADE, 2007, p. 283).
Deste modo, o genitor frente a rejeição da separação, e até mesmo por passar por um
momento de instabilidade emocional realiza uma verdadeira técnica de desmoralização em relação
ao outro genitor, ou por aquele que possua a guarda da criança, sendo compreendidas tais ações
como o instituto chamado de alienação parental.
346
Nessa senda, também no art. 2º em seu parágrafo único cita os atos de realizada alienação,
vejamos:
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim
declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio
de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício
da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III -
dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do
direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor
informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares,
médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra
familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança
ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares
deste ou com avós.
347
Trindade (2007, p.288) por sua vez explica que o papel alienador é procurar evitar ou
dificultar de todas as maneiras possíveis o contato dos filhos com o outro cônjuge através do
seguinte pretexto: “que desde a alegação de que os filhos não se sentem bem quando voltam das
visitas, e que precisam se adaptar com essa nova situação lentamente, até considerar o alienado
como um ser desprezível e desmerecedor de qualquer atenção e carinho”.
A partir da realização de tais condutas devem ser tomadas medidas urgentes para que haja
a cessão dos abusos cometidos pelo alienador para isso, no artigo 6º da lei que dispõe sobre a
alienação parental apresenta em seu rol taxativo de medidas protetivas em seus incisos:
Assim, a depender da gravidade do caso o juiz poderá escolher qual medida aplicar,
podendo inclusive aplicar mais de uma delas de forma cumulativa. Além disso, o alienador não fica
isento de eventual responsabilidade cível ou criminal.
Todas essas medidas pretendem desencorajar o alienador de continuar com suas práticas,
além de reestabelecer imediatamente o contato do menor com o alienado, antes que danos
irreparáveis se perpetuem.
Observa-se que nos casos de alienação parental que a maior vítima é o menor que poderá
apresentar quadros depressivos, desenvolver tendências suicidas, bem como ter sintomas como
nervosismo, ansiedade e agressividade.
Durante a prática da alienação, o alienador com objetivo de afastá-lo de o outro genitor
criando falsas ideias nas memórias dos filhos, de um dos pais, bem como dificulta o convívio social,
como forma de se vingar por conta da separação indesejada ou mesmo com o a falsa necessidade
de proteger, o filho menor.
A conduta daquele que prática a alienação poderá ocorrer de várias maneiras, começando
348
Muitas vezes quando da ruptura da vida conjugal, um dos cônjuges não consegue elaborar
adequadamente o luto da separação e o sentimento de rejeição, de traição, o que faz surgir
um desejo de vingança: desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de
descrédito do ex-parceiro. [...] O filho é convencido da existência de determinados fatos
e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. (Dias, 2007, p.
409).
Como consequência dessa alienação, o vínculo da criança com o genitor, que não possui a
guarda, se torna cada vez mais delicado, uma vez que a mesma acaba que gerando uma visão
distorcida do próprio familiar.
Nesse sentido sobre as características do alienador Freitas (2012, p.378) afirma que:
Os efeitos da síndrome são similares aos de perdas importantes – morte de pais, familiares
próximos, amigos, etc. A criança que padece da Síndrome da Alienação Parental passa a
revelar sintomas diversos: ora apresenta-se como portadora de doenças psicossomáticas,
ora se mostra ansiosa, deprimida, nervosa e, principalmente, agressiva. Os relatos acerca
das consequências da SAP abrangem ainda depressão crônica, transtornos de identidade,
comportamento hostil, desorganização mental e, às vezes, suicídio. Por essas razões,
instilar a alienação parental na criança é considerado como comportamento abusivo com
gravidade igual á dos abusos de natureza sexual ou física.
Assim, o alienado não atinge somente o seu objetivo de desmoralizar o outro genitor, como
também, mesmo sem perceber, ocasiona danos profundos nos filhos, que já sofrem com a
separação tanto quanto os pais e precisam também naquele momento de afeto e se sentirem
amparadas.
Oportuno mencionar que, tal ato fere diretamente os principais princípios norteadores das
relações familiares, que além de estarem na Constituição Federal de 1988 estão na lei nº 8.069/90
que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente que ampara a doutrina de proteção
integral na qual os menores são protegidos de qualquer forma de negligências, sendo acolhidos por
um enorme número de prerrogativas e garantias.
O princípio da afetividade é uma dessas garantias que apesar de se tratar de um princípio
349
O poder judiciário brasileiro objetivando que todos os cidadãos tenham acesso à justiça,
bem como com o intuito de resolver a morosidade do judiciário, criou métodos alternativos para
as demandas que poderiam ser resolvidas através de auxiliadores da justiça de um modo mais célere,
sendo um desses métodos a mediação de conflitos.
Assim, a mediação de conflitos trata-se de uma técnica desenvolvida pelo poder judiciário
para intermediar os conflitos de interesses, onde as partes encontram se na presença de um
mediador, chamado terceiro imparcial, que conduzirá a negociação, ouvindo e filtrando as
informações, de uma forma mediadora construindo um ambiente positivo diante dos conflitos para
que ao final exista um entendimento em comum e a satisfação das partes.
Como assim conceitua o artigo parágrafo único do art. 1º da lei nº. 13.140/201540,
conhecida como Lei da Mediação, que veio para regulamentar esse meio de solução de conflitos
entre particulares, vejamos:
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre
particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública.
Parágrafo único. Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro
imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula
350
Oportuno ressaltar a forma que o mediador atuará, de maneira facilitadora, não irá impor
soluções, uma vez que as partes que tem que fazer isso, a função primordial do mediador será
auxiliar as partes a chegarem a um acordo através de várias negociações, posicionamentos, pelo
exercício do dialogo.
Dito em outras palavras o mediador deverá agir de forma parcial e neutra, objetivando
restabelecer os relacionamentos, desenvolvendo uma linha de comunicação entre as partes
conflitantes, está apto para promover uma cultura do dialogo entre as partes conflitantes para que
as mesmas resolvam suas próprias desavenças.
Podemos elencar outras características do mediador, dentre elas: a sua credibilidade que ele
deverá construir diante das partes; a capacidade de mediar o conflito com competência suficiente
para conduzir as partes ao acordo com satisfação recíproca; ter como princípio a confidencialidade,
uma vez que os fatos ditos no decorrer da mediação terão que ser mantidos em segredo.
Visualizamos no art. 2º da Lei de Mediação, os oito princípios gerais orientadores do
procedimento que facilitam a atuação do mediador e demais operadores do direito na mediação,
conforme está exposto no quadro abaixo:
Por ser técnica alternativa para levar as partes a encontrar solução consensual, é na seara
da família que a mediação desempenha seu papel mais importante: torna possível a
identificação das necessidades específicas de cada integrante da família, distinguindo
funções, papéis e atribuições de cada um. Dias (2009, p.84).
Valido explicar que na espera judicial uma decisão não vai resolver os problemas de mais
353
importância, quais sejam a harmonia familiar, a questão do afetivo sendo esse o que devem ser
resolvido antes de qualquer outra questão, plausível ressaltar que a mediação além de todos os
benefícios já citados é um procedimento mais célere até mesmo menos oneroso.
Nesse liame, fica evidenciado o grau de relevância da mediação nossos casos que ocorre a
alienação parental, que como já dito anteriormente é caracterizado pela ação do alienador em tentar
desmoralizar o outro genitor, seja com objetivo de afastá-lo, seja como forma de se vingar por
conta da separação indesejada, uma vez que a principal finalidade da medição nesses casos será a
reaproximação.
Como sabido, a parte de maior vulnerabilidade nesse conflito específico são os menores,
que por consequências podem ocasionar problemas psicológicos irreparáveis, acarretando má
formação em seu futuro meio familiar, isto posto podemos destacar outra característica importante
da mediação, qual seja: a amenização dos efeitos causados da alienação parental nos menores.
A amenização supracitada acima, possivelmente não será alcançada no processo judicial, e
visivelmente sabemos a razão, como poderia ser restabelecido um ambiente familiar ou a
amenização dos conflitos oriundos da alienação parental sendo que uma parte teria que sair
ganhando e a outra perdendo, que é o que acontece judicialmente.
Dias (2009, p.83) ressalta ainda que principalmente naqueles processos que se envolvem
vínculos afetivos, em que as partes estão repletas de temores, queixas e mágoas, os sentimentos de
amor e ódio se confundem. Portanto, em uma relação de grande relevância como que é o
Direito das Famílias, os litigantes necessitam não tão somente de uma imposição do juízo para uma
das partes, mas sim de um acordo, de forma que se preserve a convivência social entre elas.
Oportuno citar, que situações como essa que envolves um ex-relacionamento que originou
no nascimento de uma criança não poderá ser tratado como uma disputa de quem está certa ou
errado, muito pelo contrário, as partes conflitantes devem ter como meta a resolutividade positiva
do problema.
Propício citar que, deverá sim haver a procura do judiciário, mas de forma subsidiaria, isto
posto que o instituído da alienação parental não possa ser vista como qualquer outra demanda a
ser resolvida diretamente por decisão judicial, é muito, além disso, um caso como esse deverá ser
manuseado com cautela, visando sempre a resolutividade acompanhada do restabelecimento dos
diálogos, dos afetos familiares.
Restamos convictos que o maior beneficia do instituto da mediação esta na sua capacidade
em ajudar as partes conflitantes em construir ambientes familiares afetivos e receptivos apesar dos
conflitos internos, restabelecendo o convívio familiar sem traumas, não tão somente em resolver o
problema.
4 CONCLUSÃO
Diante de tudo que foi dito no presente artigo, percebe-se que a alienação parental como
354
um dos maiores problemas a ser enfrentado no âmbito familiar, fenômeno esse que desrespeita
diretamente princípios norteadores do direito de família, sendo eles: princípio da afetividade,
princípio da convivência familiar, princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
Perceptível também que os atos praticados pelo alienador surgem de início pela rejeição da
separação da relação e que consiste em atos de desmoralização do genitor que não possui a guarda
do menor, assim o alienador se utiliza do menor como instrumento de vingança, deixando
prevalecer os interesses dos adultos são sobrepostos aos dos menores.
É de conhecimento que quando os conflitos são submetidos ao judiciário, em razão da
morosidade com que os processos caminham, do seu alto custo, o precário acesso à justiça e,
principalmente, o agravamento dos conflitos por meio da aplicação de uma técnica de resolução
adversaria, não consegue alcançar a harmonização e pacificação em casos familiares, e assim
restabelecendo o convívio afetivo.
No diz respeito à resolutividade, foi analisado a utilização de meio um alternativo para
solucionar conflitos o âmbito familiar, sendo esse o instituto da mediação de conflitos que pela
sistemática de diálogo, reflexão e na criação de uma consciência de responsabilidade por seus atos
e comportamentos dos genitores para com seus filhos auxiliariam na minimização dos efeitos que
a alienação causa no menor, bem como seria mecanismo mediador no restabelecimento do
convívio familiar.
A aproximação das partes alcançada com a mediação é extremamente favorável para a
sociedade e para o direito de família, uma vez que quando as partes se dispõem a conversar e com
a finalidade de resolver o problema, de igual maneira estará aberto a cumprir o que foi acordado.
Desse, notório que a mediação cria um ambiente afetivo entre as pessoas que estavam em conflito
e acaba impossibilitando a ocorrência de conflitos futuro.
Por tais motivos aqui exposto, entende-se que o Instituto da Mediação a solução para os
casos de alienação parental pode ser usado como uma “ponte” para a tentativa de solucionar casos
em que se comprovem Alienação Parental, a fim de mostrar ao alienador em questão o quão
prejudicial pode ser sua conduta à vida da criança envolvida, podendo causar danos irreversíveis ao
seu futuro.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 13.140, de 26 de junho de 2015. Dispõe sobre a mediação entre particulares
como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública e dá outras providências. Diário Oficial da União. 29.06.2015.
BRASIL. Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art.
236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da União. 29.08. 2010
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
355
O tribunal do júri tem a competência de julgar os crimes dolosos contra a vida e tem
previsão constitucional no artigo 5º, XXXVIII da constituição da república federativa do Brasil.
No entanto, há grande divergência doutrinária acerca do surgimento do tribunal do júri sendo que,
alguns doutrinadores relatam que a origem veio da Grécia, outros mestres dizem que a sua aparição
inicial foi no velho Continente europeu, mais precisamente na Inglaterra, já outros dizem que o
surgimento foi na Palestina.
O tal “princípio” do in dubio pro societate é mais um entre tantos princípios. Significa que, em
determinadas fases do processo penal – como no oferecimento da denúncia e na prolação da
decisão de pronúncia – inverte-se a lógica: a dúvida não favorece o réu, e sim a sociedade. Em
outras palavras, ao receber os autos do inquérito policial, havendo dúvida, deve o Promotor de
Justiça oferecer a denúncia. Da mesma maneira na fase da pronúncia: se o juiz ficar em dúvida
sobre mandar o processo a júri ou não, deve optar pela solução positiva (COSTA, 2015).
Como forma de justificar a remessa de todo e qualquer processo para o Tribunal do Júri,
alguns julgadores se utilizam do princípio in dubio pro societate .Trata-se de um princípio (fictício)
jurídico brasileiro, segundo o qual, mesmo que um juiz não tenha a certeza, mas esteja convencido
pessoalmente da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação, ele deverá pronunciar o acusado a Júri Popular, para que a própria sociedade decida
pela condenação ou não do acusado.
Entretanto, infelizmente é muito comum nos meios forenses, a aplicação do princípio in
dubio pro societate para dar continuidade ao procedimento dos crimes dolosos contra a vida sem
razoável conjunto probatório, na esperança de estarem dando efetivo cumprimento aos preceitos
constitucionais de que o acusado por crime contra a vida deve ser julgado pelos seus pares
(VENTURA, 2016).
Graduado em direito pela faculdade Estácio de Sá/ E-mail – carloswellerson1@gmail.com/ Currículo lattes-
http://lattes.cnpq.br/4887079815519228
357
2 DESENVOLVIMENTO
O Tribunal do Júri tal como se sabe na atualidade surgiu na Europa, mais precisamente na
Inglaterra, em época do Concílio de Latrão. No Brasil, seu surgimento foi em 1822 com a Lei de
18 de Junho. Na constituição, como já abordado anteriormente, a instituição do Júri Popular está
elencada no artigo 5º, XXXVIII, como Garantia Individual, tendo assegurados como Princípios
basilares: a plenitude do direito de defesa, o sigilo nas votações, a soberania dos veredictos e a
competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida (REZENDE, 2017).
O Tribunal do Júri é um órgão de 1º grau, da Justiça Comum, Estadual ou Federal,
composto de um juiz de direito, que é seu Presidente, e de vinte e um jurados, sorteados dentre os
cidadãos de notória idoneidade, alistados anualmente pelo Juiz-Presidente. No Tribunal do Júri os
jurados julgarão com base nos quesitos, que correspondem ao conjunto de perguntas destinadas à
coleta da decisão sobre os fatos classificados pela decisão de pronúncia e articulados pelo libelo, e
sobre as teses postuladas pela defesa técnica (BISNOTTO, 2011).
No Brasil, é consenso que o Júri foi implantado pela lei de 18 de junho de 1822, porém
ainda não integrava o Poder Judiciário. Possuía competência restrita, sendo utilizado apenas para
os julgamentos de crimes de imprensa. Era formado de 24 juízes de fato, escolhidos entre cidadãos
que eram considerados homens bons, honrados, inteligentes e patriotas.
O júri é a implementação prática da democracia, ao passo que todo poder emana do povo
e cabe a ele participar e fiscalizar todos as frentes do Estado. Nesse sentido, o Constituinte de 1988
considerou a vida como o bem jurídico de maior importância, cabendo ao legítimo detentor dos
poderes do Estado (o povo), julgar crimes que atentem contra esse bem (QUEIROZ; SILVEIRA,
2020).
Segundo Berclaz (2015) ao permitir a voz ativa do cidadão no julgamento dos crimes
dolosos contra a vida, é um elogiável exemplo de participação do povo na edificação da justiça.
Não por acaso trata-se de uma instituição, de uma garantia fundamental inscrita no artigo 5o,
XXVIII, da Constituição da República.
Nota-se que, o principal fator quando se fala em julgamento no júri é a garantia da
democracia, pois o povo , através do seu voto, poderá fazer o seu juízo em relação ao delito hora
cometido, portanto, esse instituto é de suma importância para o jurisdicionado e para todos as
pessoas da sociedade.
Trata-se de um princípio (fictício) jurídico brasileiro, segundo o qual, mesmo que um juiz
não tenha a certeza, mas esteja convencido pessoalmente da materialidade do fato e da existência
de indícios suficientes de autoria ou de participação, ele deverá pronunciar o acusado a Júri Popular,
para que a própria sociedade decida pela condenação ou não do acusado.
Infelizmente é muito comum nos meios forenses, a aplicação do princípio in dubio pro
societate para dar continuidade ao procedimento dos crimes dolosos contra a vida sem razoável
conjunto probatório, na esperança de estarem dando efetivo cumprimento aos preceitos
constitucionais de que o acusado por crime contra a vida deve ser julgado pelos seus pares
(VENTURA, 2016).
O conceito de in dúbio pro societate parece bem simples e de fato é, resumidamente significa
que na dúvida o julgado condenará o acusado, muitas vezes com o simples argumento de que a
será feito o bem para a sociedade, sobre o tema:
Na dúvida, beneficie-se o réu. Esse princípio, que coloca a presunção de inocência acima
da necessidade de condenação, é um dos principais nortes do Direito, mas isso não
significa que esteja acima de questionamentos. Com frequência razoável, advogados e
359
juízes têm alegado que, em certas circunstâncias ou em determinadas etapas do processo
penal, o anseio da coletividade por justiça deve prevalecer em situações de incerteza,
garantindo um julgamento mais rígido ou ampliando o alcance da punição. Resumida no
termo "in dubio pro societate", a ideia encontra acolhida em boa parte da comunidade
jurídica, mas é alvo de fortes críticas entre vários doutrinadores, que o consideram uma
ameaça ao próprio Direito e à democracia (NATUSCH, 2018, p 22).
- Conceito de Princípio
Princípios são os alicerces da norma, são o seu fundamento em essência, são o refúgio em
que a norma encontra sustentação para racionalizar a sua legitimação, são a base de onde se extrai
o norte a ser seguido por um ordenamento, seja em sentido lato – como é possível observar-se de
princípios constitucionais, no caso do princípio da legalidade, por exemplo – em que todos devem
obediência à lei (não só os indivíduos, mas também o Estado), seja em ramos específicos do direito,
como o trabalhista - em que o princípio da proteção do trabalhador serve de alicerce para a
construção de todos os outros princípios dessa área do direito e de sua legislação não codificada
(SANTOS, 2015).
Princípios são, pois verdades ou juízos fundamentais, que servem de alicerce ou de
garantia de certeza a um conjunto de juízos, ordenados em um sistema de conceitos
relativos à dada porção da realidade. Às vezes também se denominam princípios certas
proposições, que apesar de não serem evidentes ou resultantes de evidências, são
assumidas como fundantes da validez de um sistema particular de conhecimentos, como
seus pressupostos necessários (REALE, 1986. p 60).
Segundo Barroso (1999, p.147) “são o conjunto de normas que espelham a ideologia da
Constituição, seus postulados básicos e seus fins. Dito de forma sumária, os princípios
constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte como fundamentos ou qualificações
essenciais da ordem jurídica que institui”.
“princípio” do in dubio pro societate é mais um entre tantos princípios. Significa que, em
determinadas fases do processo penal – como no oferecimento da denúncia e na prolação
da decisão de pronúncia – inverte-se a lógica: a dúvida não favorece o réu, e sim a
sociedade. Em outras palavras, ao receber os autos do inquérito policial, havendo dúvida,
deve o Promotor de Justiça oferecer a denúncia. Da mesma maneira na fase da pronúncia:se
o juiz ficar em dúvida sobre mandar o processo a júri ou não, deve optar pela solução
positiva (COSTA, 2015, p.1)
Autores como Mauricio Zanoide de Moraes negam a existência deste princípio in dubio
pro societate, sustentando ser o in dubio pro reo a regra até mesmo em casos envolvendo
revisão criminal. De acordo com Geraldo Prado: Em teoria o direito processual penal
brasileiro não reconhece o in dubio pro societate como critério de resolução da incerteza. O
360
critério vigente, que decorre da presunção de inocência, é o in dubio pro reo. Convém
ressaltar que cada etapa do processo tem seu específico âmbito de conhecimento. Assim,
no início do processo, por exemplo, a dúvida somente se refere à existência de indícios
de autoria e materialidade. Se há dúvida quanto à existência desses indícios, a acusação
deve ser rejeitada (JUSTIFICANDO, 2017, p. 1).
O caso é outro se na mesma etapa a dúvida versa sobre a inocência ou culpa do acusado,
reconhecendo-se a existência de indícios. Se os indícios estão presentes, estar em dúvida sobre
culpa ou inocência é algo que não se coloca na etapa inicial, cabendo acolher a denúncia para que
as provas aí sim sejam produzidas. Isso nada tem a ver com o ‘in dubio pro societate’, também
denominado ‘in dubio contra reo’, resquício de modelos autoritários de processo penal. Não é raro os
tribunais confundirem a cognição sumária inicial com situações de ‘in dubio pro societate’ e acertarem
no resultado, errando, porém, quanto ao fundamento (JUSTIFICANDO, 2017).
Nota-se que a doutrina em sua imensa maioria, rejeita veementemente a aplicação do in
dúbio pro societate e não aceita sua aplicação no ordenamento jurídico pátrio, com fundamente quase
que unanime na constituição cidadã de 1988, mais precisamente no princípio da presunção de
inocência, o que será analisado mais adiante.
A decisão de pronúncia nada mais é do que um dos quatro atos que o magistrado poderá
utilizar para do andamento a procedimento do júri, quais sejam: pronúncia, impronúncia,
desclassificação e por último e não menos importante a absolvição sumária.
Ainda nesse sentido, argumenta que “tal decisão não significa que o réu esteja ‘absolvido’,
pois, em que pese não ser submetido ao Tribunal do Júri, não está completamente livre da
‘imputação’” (LOPES JÚNIOR., 2014, p. 1033).
O dispositivo legal encontra-se no artigo 414 do Código de Processo Penal, in verbis “Não
se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação, o juiz, fundamentalmente, impronunciará o acusado”. Vemos que o magistrado se
depara com umas das quatro alternativas na primeira fase do júri.
A desclassificação acontece quando após o juiz fazer uma análise do caso concreto o
magistrado verificar que o delito imputado ao sujeito não é um crime doloso contra a vida, como
se sabe o tribunal do júri, só é competente para julgar crimes dolosos e que atentem contra o bem
juridicamente tutelado que é a vida. Para melhor esclarecimento sobre o tem, Porto (2007, p. 66 e
67) esclarece que:
A decisão desclassificatória, excluindo o animus necandi que a petição inicial, denúncia
ou queixa, teve como dando especial coloração à vontade do acusado, não compete a
fixação específica de nova e determinada classificação penal; apresentará, pois, uma
classificação de sentido genérico, ficando, no prosseguimento da instrução perante o Juiz
singular competente, a classificação específica na incumbência de aditamento.
Transitando em julgado a decisão desclassificatória, passa a ser matéria preclusa a
classificação originária que foi proposta pela denúncia ou pela queixa, classificação então
não mais restaurável.
De acordo com Nucci (2008, p. 803) “A absolvição sumária é uma decisão de mérito que
coloca fim ao processo, julgando improcedente a pretensão punitiva do Estado”. Trata-se de um
julgamento antecipado da lide favorável ao réu. De acordo com Bonfim (2009, p.23)
2.3.4 Desclassificação
O professor Luiz Flavio Gomes diz que existe ainda a desclassificação própria que se dá
quando, em plenário, os jurados consideram que o crime não é da competência do Tribunal do
Júri, sem especificar qual é o delito. Neste caso, o juiz-presidente assume total capacidade decisória
para julgar a imputação, podendo inclusive absolver o acusado. Exemplo: os jurados negam ter
havido intenção de matar. Nesse caso o julgamento passa para o juiz-presidente, que dará a devida
classificação jurídica aos fatos (GOMES, 2011, p.2)
Ainda nos dizeres de Gomes (2011), a desclassificação imprópria, por sua vez, ocorre
quando os jurados reconhecem sua incompetência para julgar o crime indicando qual teria sido o
delito praticado. Nesta hipótese, o juiz-presidente é obrigado a acatar a decisão dos jurados,
condenando o acusado pelo delito por eles indicado. Exemplo: os jurados desclassificam o crime
doloso (contra a vida) para crime culposo (homicídio culposo). Essa desclassificação vincula o juiz,
que não pode decidir de forma distinta (dando outra classificação) (GOMES, 2011).
Que fique claro que o in dúbio pro societate ocorre quando o julgador se depara com uma
situação dúvida no que se refere a autoria e materialidade no delito que acontece na situação prática,
e que o objetivo do presente trabalho é analisar a sua aplicação em um momento específico do
processo penal, que é a decisão de pronuncia, isso porque este é o momento em que o magistrado
pode submeter o réu a júri popular, ou não. Por esse motivo o estudo deste momento processual
é importante, pois o que poderá está em jogo é o direito de liberdade de uma pessoa, com base em
incertezas e situações hipotéticas dentro do caso concreto.
Procedimentos de Tribunal do Júri, submetendo o réu ao julgamento pelo Conselho de
Sentença, isto é, no plenário. O artigo 413 do Código de Processo Penal impõe a materialidade do
fato e a existência de indícios suficientes de autoria como requisitos essenciais para a decisão de
pronúncia.
O artigo utilizado para fundamentar a decisão de pronúncia é o artigo 413 do Código de
processo penal, esse artigo diz que “o juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se
convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008).
Em poucas palavras o caput do artigo 413 do código de processo penal, afirma que diante
de indícios mínimos de materialidade e autoria em decorrência da prática do fato o juiz poderá
pronunciar o acusado, nesta mesma base legal em seu paragrafo primeiro caso o juiz entenda pela
pronuncia, deverá especificar as o dispositivo legal, circunstancias qualificadoras e as causas de
aumento de pena. Ainda nesse dispositivo o legislador decidiu destacar as situações em que o crime
em questão é afiançável, nesse caso o magistrado também deverá arbitrar o valor e decidir pela
manutenção da liberdade provisória se for necessário.
Segundo o art. 413, CPP, o juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se
convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação. Nessa hipótese, o acusado será levado a julgamento pelo Tribunal do Júri. A
fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da existência de
indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em
que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento
de pena (BATISTA, 2015, p.43).
Analisando o artigo 5 da constituição da república federativa do Brasil de 1988, verificamos
que o princípio da presunção de inocência estará personificado no texto constitucional, o que nos
leva a mais um argumento contrário ao fundamento teórico e hipotético do in dubio pro societate, pois
a redação da carta magna é clara pois diz ipsi literis“ Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança da propriedade”. Cabe
destacar no caput no artigo citado anteriormente o direito a liberdade que correrá risco de lesão no
caso do princípio in dubio pro societate ser aplicado de forma errônea ou sem fundamentação
necessária.
364
O problema na aplicação do in dúbio pro societate é justamente a falta de fundamentação, caso
esse princípio seja aplicado, o pensamento do julgador será colocada acima dos princípios
norteadores da constituição do Brasil, existem fundamentos codificados que existem para preservara
segurança jurídica, o arriscado tratar o réu como inimigo da sociedade pois a ressocialização será
impossível de ser aplicada a casos concretos.
Porque se trata de uma relação de valor instável, que é válida para um caso concreto,
podendo essa relação inverter-se noutro caso. A importância que, ultimamente, é
atribuída à ponderação de bens constitucionais radica, como se disse, na natureza
tendencialmente principal de muitas normas jurídicoconstitucionais. O apelo à metódica
de ponderação é, afinal, uma exigência de solução justa de conflitos entre princípios.
Nesse sentido se pôde afirmar recentemente que a ponderação ou o balancing ad hoc é
a forma característica de aplicação do direito sempre que estejam em causa normas que
revistam a natureza de princípios. A dimensão de ponderabilidade dos princípios justifica
a ponderação como método de solução de conflito de princípios (CANOTILHO, 2002,
p. 1227).
Celso de Mello alerta no Inquérito 1.978-0, Rel. Ministro Celso de Mello, Plenário, J.
13/09/2006 DJ de 17/08/2007.
Não se revela admissível, em juízo, imputação penal destituída de base empírica idônea,
ainda que a conduta descrita na peça acusatória possa ajustar-se, em tese, ao preceito
primário de incriminação. Impõe-se, por isso mesmo, ao Poder Judiciário, rígido controle
sobre a atividade persecutória do Estado, notadamente sobre a admissibilidade da
acusação penal, em ordem a impedir que se instaure, contra qualquer acusado, injusta
situação de coação processual.
Tourinho Filho (2010) diz que é indispensável de que haja nos autos do inquérito ou peças
de informação, ou na representação, elementos sérios, sensatos, a mostrar que houve uma infração
penal, e indícios mais ou menos razoáveis de que o seu autor foi a pessoa apontada.
365
A primeira questão a ser abordada em relação à aplicação do chamado in dubio pro societate
pode ser pensada a partir da relação entre a ideia de sociedade e réu. Ao se colocar como
representante da sociedade, em um processo em oposição à parte ré, é preciso admitir que,
concretamente, o acusado é tradado como alguém fora da sociedade, mesmo que somente de forma
momentânea.
Enquanto o interesse da sociedade é o esclarecimento do caso, o interesse do réu não é
outro que não o de se ver livre, o mais rápido possível, de qualquer persecução estatal que possa
ser um risco a sua liberdade, de preferência sem que nem mesmo seja iniciado o processo. Não à
toa, Carnelutti, ao parafrasear Santo Agostinho, coloca que “a tortura, em suas formas mais cruéis,
ao menos no papel está abolida, mas o Processo Penal ainda é, em si mesmo, uma tortura.”
Entendidas como posições opostas, é impossível ao Ministério Público atuar nos interesses
da sociedade e, ao mesmo tempo, do réu. Na perspectiva antagonista de se colocar a sociedade
como sujeito ativo e o acusado como sujeito passivo, o in dubio pro societate acaba escondendo sua
verdadeira afirmativa. Ao se colocar a favor da sociedade, ao contrário sensu se dá contra o réu.
Disso segue que:
Sob essa perspectiva liberal, assente em nossa democracia tutelada, o discurso jurídico
corrente após a redemocratização do país aponta para a busca de uma eficácia maior do sistema
penal que seja, ao mesmo tempo, capaz de garantir a consolidação da democracia - por meio do
respeito às garantias individuais presentes na Constituição.
Mantendo essa contradição, a Justiça Penal brasileira atua de forma ambígua, propagando
incessantemente sua democratização, mas cumprindo a lei de maneira tortuosa e agindo, assim, de
forma autoritária e seletiva. Particularmente nosso discurso penal hegemônico congrega elementos
absolutamente contraditórios, como repressão severa e penas alternativas, leis duras e garantias
processuais, encarceramento em massa e proteção aos direitos humanos (PASTANA, 2009).
Fazendo-se uma analogia com o trecho anteriormente citado, verificam-se os riscos de os
magistrados cometerem injustiças, pois caso o juiz tenha dúvida acerca no que diz respeito a prática
do fato definido como crime, deveria automaticamente impronunciar o acusado, pois, contrário
praticará um ato eivado de autoritarismo judicial, pois a constituição e seus princípios norteadores
estariam sendo violados.
3 Da Presunção de Não-Culpabilidade
CONCLUSÃO
Portanto, através da análise da constituição federal, entende-se que o princípio in dúbio pro
societate conflita fortemente com os princípios constitucionais, principalmente o princípio da
presunção de inocência, pois submeter o acusado a júri popular sem prova da autoria e da
materialidade é uma atitude totalmente equivocada, enviar o sujeito para ser julgado por populares,
com base em incerteza é uma atitude que confronta todo entendimento construído ao longo dos
anos e se torna até um retrocesso.
Pode-se analisar, que a doutrina majoritária e estudiosos do direito também entendem pela
inaplicabilidade do in dúbio pro societate, pela fragilidade argumentativa que este princípio carrega,
muitos autores até desconfiam e duvidam se este “princípio” tem natureza jurídica principiológica.
Vale destacar que, o pacto de San Rose da Costa Rica, prevê instrumento essencial para chegarmos
a conclusão de o princípio do in dúbio pro societate, não deve ser aplicado, pois caso seja aplicado, tem
grande chance de ferir o princípio da não culpabilidade diz que o princípio de culpabilidade, em sua
configuração mais elementar, não há crime sem culpabilidade.
REFERÊNCIAS
CUNHA, R. S.; PINTO, R. B. Processo Penal: doutrina e prática. São Paulo: jusPodivum.
2009.
Julgamento/Questionários. São Paulo: Saraiva, 2009. 454 p.
LOPES JÚNIOR. Aury. Direito Processual Penal. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2014. 1033 p.
NATUSCH, I. Para juristas, princípio ‘In dubio pro societate’ enfraquece a democracia. Jornal
do Comércio. Rio Grande do Sul, 2018. Disponível em:
https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/2018/02/cadernos/jornal_da_lei/610711-para-
juristas-principio-in-dubio-pro-societate-enfraquece-a-democracia.html. Acesso em: 20/07/2020.
NUCCI, G. de S. Tribunal do júri. 6. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2015.
REALE, M. Filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 60.
SANTIAGO, E. Pacto de São José da Costa Rica. InfoEscola. 2011. Disponível em:
https://www.infoescola.com/direito/pacto-de-sao-jose-da-costa-rica/. Acesso em:
20/207/2020.
369
SANTOS, F. F. dos. O que são princípios? Suas fases, distinções e juridicidade. Jus. 2015.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/45194/o-que-sao-principios-suas-fases-distincoes-e-
juridicidade. Acesso em: 15/03/2020.
VENTURA, D. C. “In dubio pro societate” no Tribunal do Júri. DireitoNet. 2016. Disponível
em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/9548/In-dubio-pro-societate-no-Tribunal-do-
Juri. Acesso em: 15/03/2020.
AFETO: UMA ANÁLISE DOS ASPECTOS DA SOCIOAFETIVIDADE E
MULTIPARENTALIDADE
1 INTRODUÇÃO
2 AFETO E MULTIPARENTALIDADE
Art.1.606. A ação de prova de filiação compete ao filho, enquanto viver, passando aos
herdeiros, se ele morrer menor ou incapaz.
Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será
feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não
haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser
posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes.
Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de
nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro.
O vínculo, ainda que meramente registral, é o que alicerça os direitos e deveres entre os
parentes como, por exemplo, alimentos, sucessórios e impedimentos para o casamento, tanto que
os pais biológicos ou socioafetivos não podem reconhecer os filhos se no assento de nascimento,
constar outro pai registral, sendo necessário o ajuizamento de ação investigatória de
paternidade/maternidade c/c retificação do registro civil.
A parentalidade socioafetiva envolve os aspectos e os vínculos afetivos e sociais entre os
parentes não biológicos. Não se limita, à posse do estado de filho como por exemplo, na adoção,
que leva uma pessoa, impulsionada pelo afeto, a registrar e criar filho biológico de outrem (art.
1.593 CC, Lei 10.406/02). Sendo assim, necessário intervenção judicial, para regularizar a situação
jurídica, prevalecendo a efetividade sobre o parentesco biológico e ambos sobre o parentesco
registral. (CARVALHO, 2015). Diz o Art. 1.593 do Código Civil, “o parentesco é natural ou civil,
conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”.
A filiação socioafetiva pode se dar por: adoção judicial; adoção à brasileira, embora esta
seja ilegal no Brasil; reconhecimento voluntário de filho do cônjuge ou da companheira; e o que
se conhece por “filhos de criação”. Discutir-se-á a seguir cada uma dessas situações.
A adoção judicial é aquela que advém por um ato jurídico em sentido estrito, onde cria-se
um vínculo denominado de “paternidade-maternidade-filial” entre pessoas estranhas, não
necessitando para tanta que exista um vínculo de relação de parentesco biológico consanguíneo.
Este tipo de adoção, constitui um parentesco eletivo, uma vez que acontece em decorrência
exclusiva de vontade, de um ato de amor e solidariedade, onde visa somente o benefício do filho
ora adotado (DINIZ, 2017).
O instituto ora abordado, é muito aclamado pela Constituição Federal de 1988
(CF/1988), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pelo CC, em que resta
claramente demonstrada a preocupação dispensada pela sociedade em valorar, com maior
intensidade, os vínculos afetivos, atribuindo a qualidade de pais aos que por alguma razão não
puderam sê-los.
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar
recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: Pena -
detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena (BRASIL, 1940,
s.p).
Porém a sociedade brasileira não rejeita tal conduta, pelo contrário, a sociedade acaba por
exaltá-la, pois, quem age dessa forma, comumente o faz com o intuito de assegurar à criança a
convivência familiar, ou seja, o vínculo afetivo. Quem pratica a adoção à brasileira, visa tão
somente o bem-estar da criança.
Como explica Gonçalves (2015), por tal conduta ser vista como um ato de nobreza, cujo
intuito é apenas incluir o filho alheio ao seio familiar, defende-se então sua descaracterização no
CP, valorizando assim, o lado humano e social da falsa declaração.
O fato de se desejar criar de qualquer forma a filiação, de fato, acaba obrigando os pais a
infringirem as normas legais, porém deve-se levar em conta os vínculos afetivos criados entre
filhos e pais adotantes, o que acaba tornando irrevogável o registro promovido.
2 Apelação Cível Nº 70028763902, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: André Luiz
PlanellaVillarinho, Julgado em 30/09/2009) (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 01.
2.1.1.4 Do filho de criação
A adoção de fato se baseia única e exclusivamente na relação de afeto, não tendo qualquer
vínculo jurídico nem tampouco biológico, diferentemente do que acontece na adoção civil e à
brasileira. Por ser uma relação baseada unicamente no amor obtido pelos pais, para que a situação
de “filho de criação” seja considerada como uma realidade social (socioafetiva) faz-se necessário
sua consolidação. A comprovação da posse do estado de filho está diretamente ligada à finalidade
de mostrar para o mundo jurídico uma verdade social.
Entende-se que é importante analisar sempre a situação fática, avaliando o convívio entre
pai e filho, o que é um dos pressupostos para se identificar a paternidade socioafetiva, além do
afeto, a vontade livre e consciente de querer e ser pai.
A criança mesmo tendo conhecimento de que não existe relação biológica entre ela e os
pais, ela deve desfrutar dos direitos e deveres, pertinentes à filiação. Assim prevê a CF/1988,
onde estabelece em seu artigo 226 § 6º o princípio da igualdade, onde está expressamente
proibido qualquer tipo de denominação de caráter discriminatório referente à filiação. Entretanto,
existe uma contradição a respeito dos filhos de criação entre o que prevê a nossa Carta Magna e
as decisões dos Tribunais.
Alguns magistrados entendiam que os filhos de criação não podem ser igualados aos
filhos adotivos, nem tampouco aos filhos biológicos, não importando o previsto nas normas
constitucionais. Em contrapartida, outros Magistrados já decidem conforme preceitua a norma
constitucional, ou seja, os “filhos de criação” possuem os mesmos direitos e deveres concebidos
aos filhos adotados e consanguíneos, a exemplo do RE nº 370.067 – RS (BRASIL, 2005).
A adoção de fato, pode ocorrer de forma unilateral, quando somente a mãe detém o
vínculo biológico com o filho, e seu companheiro/cônjuge, acaba por tratá-lo como se existisse o
mesmo vínculo, mesmo existindo apenas o vínculo afetivo. Essa situação é comumente vista nos
casos em que a presença do pai biológico não existe, inexistindo no registro civil, por força de
qualquer circunstância, a figura paterna.
Assim sendo, o cônjuge ou companheiro da mãe, apesar de não existir nenhum vínculo
ou relação genética com o menor trata-o como se filho seu fosse dispensando-lhe afeto, atenção e
toda a assistência que uma criança necessita. É evidente que a partir do momento em que se vê
caracterizada a figura do “pai de criação” tem-se a “adoção de fato”.
O reconhecimento da adoção de fato, conforme os princípios consagrados na CF/1988,
são de grande valia na medida em que se vê valorizado o vínculo socioafetivo buscando sempre o
melhor interesse da criança.
Analisado o valor jurídico do afeto frente à pluralidade de entidades familiares
convivenciais, passa-se ao segundo capítulo dessa pesquisa no qual analisamos o paradigma da
multiparentalidade e as mudanças trazidas ao direito de família.
Para explicar a leitura da família atual no plano jurídico, ter-se-á que abandonar antigas
posições doutrinárias baseadas no individualismo, interesses políticos e ideário autoritário sob
influência religiosa, e em homenagem ao princípio da dignidade humana, redesenhá-la além de
vínculos genéticos e presuntivos, acolhendo novos critérios, dentre os quais aqueles baseados no
afeto e na solidariedade, que é, sobretudo, a vontade de querer conviver para crescer juntos, no
propósito de cuidar do próximo.
Gonçalves ensina que a família brasileira sofreu influência da família romana, na qual
predominaram as preocupações de ordem moral da família canônica, que considerava o
casamento um sacramento, não podendo os homens dissolverem a união realizada por Deus-quod
Deus conjunxit homo non separet -, materializada no direito, especialmente pelas Ordenações Filipinas
de forte predominância do Direito Canônico, e da família germânica, que originou de forma
crescente diversas regras do direito pátrio.
A importância do afeto como determinante para reconhecimento da entidade familiar
esteve ignorada por certo tempo, embora hoje, seja reconhecida implicitamente pela CF/1988,
assim como por reiteradas decisões judiciais, garantindo, inclusive, a obrigação de
reconhecimento desses valores pelo Direito. Dito isto, discute-se nessa seção a filiação
socioafetiva como resultado da judicialização do afeto.
É imperioso analisar o caso de Apelação Cível: AC 208057 SC 2011.020805-7 – Tribunal
de Justiça de Santa Catarina – TJ-SC. Interposta em razão da destituição do poder familiar
ajuizada pelo Ministério Público, em relação ao casal de irmãos adotados.
Segundo as provas constantes nos autos, os pais não apresentavam condições mínimas de
prover o desenvolvimento saudável dos irmãos adotados, agindo com negligência, práticas de
maus tratos físicos, castigos imoderados e, tratamento discriminatório e desigual, entre ambos,
conforme frisa os arts 1.635, 1.637 e 1.638 CC. O TJSC entendeu que o vínculo não foi suficiente
para suprir as necessidades de afeto, ou de uma vida digna, além de outros cuidados igualmente
importantes e indispensáveis e, por esta razão, manteve a destituição ao poder familiar, e
condenação por danos morais, além de compensar pecuniariamente as vítimas em sintonia e
proporcionalidade para os dois irmãos (SANTA CATARINA, 2011).
Filiação, é o vínculo existente entre pais e filhos, tratando-se de parentesco em linha reta
de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a vida, incluindo no conceito não
apenas os consanguíneos havidos pela união sexual dos pais, mas também por adoção, filiação
socioafetiva e os havidos por reprodução assistida.
Certamente, uma das maiores inovações e avanços introduzidos no direito de família pela
CF/1988 foi a extinção da discriminação e da odiosa distinção entre os filhos, que era prevista e
regulada no CC/1916. Com efeito, o código revogado, como ocorria com os parentes,
classificava os filhos em legítimos, legitimados, ilegítimos e adotivos.
Filhos legítimos, conforme explica Diniz (2017) eram os concebidos na constância do
casamento. Filhos legitimados eram os concebidos ou nascidos antes do casamento dos pais,
portanto, eram ilegítimos que se legitimaram após o matrimônio. Atualmente, os filhos não
podem ser reconhecidos na ata do casamento, isso de acordo com o Art. 3°, da Lei 8.560/92, que
diz: “é vedado legitimar e reconhecer filho na ata do casamento”.
Filhos ilegítimos, eram os havidos fora do casamento e se dividiam em naturais, quando
inexistia impedimento para o casamento dos pais ou eram separados judicialmente, e espúrios,
quando existia impedimentos para o matrimônio dos genitores, subdividindo-se em adulterinos,
quando um dos ascendentes era casado com outra pessoa, e incestuosos quando o impedimento
para o casamento dos pais resultava de parentesco (CARVALHO, 2015).
Carvalho (2015), esclarece que os filhos adotivos ou civis eram os resultantes da adoção.
Na legislação anterior, os filhos adulterinos e incestuosos não podiam ser reconhecidos e os
adotivos possuíam direitos diversos dos consanguíneos. As Leis 7.841/89 e 8.560/92 revogaram
diversos artigos do CC/1916 que discriminavam a filiação, extinguindo as categorias e
designações dos filhos, em obediência ao preceito constitucional. O atual CC, acolhendo o art.
227, § 6°, da CF/1988, veda qualquer discriminação ao dispor em seu art. 1596 que “os filhos,
havidos ou não da relação de parentesco, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (BRASIL,
2002).
A filiação, entretanto, face à presunção de paternidade dos filhos havidos no casamento,
pode ser classificada didaticamente em matrimonial e extramatrimonial: filiação matrimonial é
oriunda da união de pessoas ligadas por matrimônio ao tempo da concepção; filiação
extramatrimonial é a provinda de pessoas não casadas, ainda que desimpedidas (natural) ou
impedidas em razão de casamento válido de um dos genitores com terceira pessoa (adulterina) ou
por parentesco (incestuosa) (DINIZ, 2017).
Já para Pereira (2016), a filiação jurídica pode ser natural ou de outra origem, como é o
caso da adoção, reprodução medicamente assistida heteróloga ou filiação socioafetiva, consoante
expressamente permite o CC no art. 1.593, ao estabelecer que o parentesco civil pode ocorrer por
outra origem e não somente pela adoção, como ocorria na legislação anterior, em seu art. 332 (até
ser revogado pela Lei 8.560/92) e no art. 336 do CC/1916.
A judicialização do afeto alcançou positivamente a relação de parentesco, permitindo
novos modelos de família. Ao contrário do que ocorria antes, como o caso de filho criado,
cuidado e sustentado como se filho biológico fosse – filho de criação, mas que em razão de a
relação ter somente uma base socioafetiva, ou seja, uma situação que não se enquadrasse como
relação de sangue ou adoção, não encontrava, portanto, amparo na letra da lei.
O reconhecimento jurídico do afeto gerou uma nova perspectiva para o Direito de
família, havendo até quem diga que a instituição família está fadada ao fracasso. Entretanto, outra
visão é mais sensata, pois as mudanças foram para melhor, uma vez que os laços não se formam
e, muito menos se mantêm por imposição de qualquer das partes, valendo a ressalva de que
mesmo terminando, em algumas situações não se pode ignorar os efeitos jurídicos já gerados.
2.3 Da Multiparentalidade no Sistema Jurídico Brasileiro
Esta exigência fere a garantia de anonimato daqueles que doam material genético e
desencoraja as pessoas a fazerem essa doação, e embora seja amenizada pelo parágrafo 4 o do
mesmo artigo, que diz que “o conhecimento da ascendência biológica não importará no
reconhecimento de vínculo de parentesco e dos respectivos efeitos jurídicos entre o doador ou a
doadora e o ser gerado por meio da reprodução assistida” (BRASIL, 2016), frente às decisões
inusitadas que surgem dia após dia, causa grande insegurança jurídica.
As polêmicas não se referem ao direito à multiparentalidade em si, mas aos muitos
questionamentos que permanecem sem resposta com o reconhecimento deste instituto que não
veio acompanhado de mudanças no código civil no que tange à guarda, convivência e aos efeitos
patrimoniais.
Explicado o paradigma da multiparentalidade e as mudanças trazidas pelo mesmo para o
Direito de Família, passa-se a discutir as repercussões da multiparentalidade no sistema jurídico
brasileiro.
Acerca de um primeiro ponto de destaque prático em relação à adoção da
multiparentalidade, vale falar de como a tese pode ser reconhecida no âmbito judicial. Nesse
aspecto, a multiparentalidade pode ser reconhecida nas mais diversas ações atinentes à filiação,
além de se vislumbrar plenamente cabível nas ações de adoção.
Nessa toada, como informa Passadore et al. (2017) em casos exemplificativos como o do
ingresso, por pai biológico, mas que não figurou originariamente como tal quando do efetivo
registro de nascimento da criança, e que posteriormente pleiteia sua inclusão, não obstante já
resistir pai registral diverso, e que mantém vínculo afetivo com a criança, a realização de estudo
psicossocial fornece elementos valiosos ao julgador para a preservação do superior interesse da
criança.
Assim, verificada, no exemplo dado, a socioafetividade entre a criança e o pai registral,
não se desfaz tal vínculo, ao passo que, também desejando o genitor exercer a função paterna,
emerge a possibilidade de reconhecimento da multiparentalidade
Como explica Vargas (2017), os casos de multiparentalidade também podem surgir, no
âmbito de ações negatórias de paternidade, ajuizadas por pai registral que, diante do aparecimento
de pai biológico em determinado momento da vida do infante, deseja ter o vínculo formal
consubstanciado na inclusão de seu nome na certidão de nascimento da criança categoricamente
desconstituído, por interesses dos mais diversos (muitas vezes antagônicos ao superior interesse
da criança, o que faz translucidar a situação da multiparentalidade).
Em muitos casos, como ilustram Passadore et al. (2017) o pai registral, e que assim
figurou inicialmente na vida da criança por ato voluntário, em momento posterior, e movido por
sentimentos tendentes a alterações mundanas, deseja simplesmente “desaparecer” de
determinado contexto familiar em que estava inserido, notadamente dos laços, inclusive formais,
que o atrelam a tal núcleo familiar. A alteração do nome, do registro de nascimento da criança, se
mostra essencial para determinar tal rompimento.
Em contrapartida a essa intenção de rompimento, como explica Vargas (2017), tem-se a
visão da criança, por vezes envolvida em conflitos que transcendem seus pensamentos. Para ela,
aquele que a registrou, e que com ela formou vínculos de afeto e paternidade, não pode
simplesmente ser apagado.
Pais e filhos formaram vínculo indissociável que em muito molda a personalidade, as
características e o trato social de um sujeito em desenvolvimento. E tal vínculo, graças à
possibilidade de reconhecimento da multiparentalidade, e dando relevo ao superior (e contínuo)
interesse da criança, pode ser mantido, preservando a integridade do infante (CALDERON,
2017).
Em um dos casos exemplificativos citados na obra de Calderon (2017), determinado pai
pretendia ver seu nome excluído do registro de nascimento da criança, que havia registrado desde
tenra idade. No polo ativo, figuravam, além dele, a genitora da criança e o pai biológico, estando
os maiores, a princípio, todos de acordo com o desfazimento da situação registral, para
“readequar” a paternidade da criança.
Ajuizada a ação, verificou-se, por intermédio da realização de estudo psicossocial pela
equipe multidisciplinar que auxilia o Juízo, que a criança tinha a noção de que o genitor (origem
biológica) era seu pai, mas também tinha no pai registral a figura paterna, o “pai do coração”,
como popularmente dito.
Destacou-se verdadeira situação de multiparentalidade, de modo que o interesse da
criança, de manutenção desses vínculos com os pais, restou ao final preservado, ainda que
contrariando o inicial interesse dos maiores.
Nesse sentido, a sentença proferida, reconhecendo a multiparentalidade em sua essência
de preservação do interesse da criança, determinou a manutenção dos dados do pai registral, e a
inclusão dos dados do pai biológico no assento de nascimento da criança, formalizando, pois, a
situação já compreendida pelo infante.
Um dos pilares fundantes da multiparentalidade é a igualdade, especialmente sob dois
enfoques: a igualdade entre os vínculos de origem biológica e socioafetiva, e a igualdade de
tratamento entre os filhos sejam eles de origem biológica ou socioafetiva (CASSETARI, 2017).
Cassetari (2017) destaca também que a multiparentalidade acarreta, por si, a atribuição do
poder familiar (art. 1.630 e seguintes, do CC), cuja potencialidade de exercício resta configurada
em mesmo grau, por todos os pais e mães que eventualmente figuram como tal em relação à
criança (ou crianças).
Em decorrência do reconhecimento da multiparentalidade e do poder familiar atribuído a
todos os pais de forma igualitária, mostram-se aplicáveis as regulamentações corriqueiras que
permeiam o desenvolvimento da criança, e garantem seu sadio desenvolvimento (CARVALHO,
2015).
Com efeito, e analisando a aplicação prática dos vínculos originários da filiação, tem-se
que o entendimento jurisprudencial atual é no sentido de reconhecer a existência de duas espécies
de origem de parentesco: a biológica e a socioafetiva. Entretanto, como alerta Carvalho (2015)
por muitas vezes se nota que as decisões têm por escopo uma análise, no caso concreto, acerca
de prevalência de um critério sobre o outro.
Não obstante tal discussão, ainda não pacificada nos Tribunais, por outro viés, do qual
emerge a multiparentalidade, se compreende além de uma limitação que faria prevalecer um
critério sobre outro.
Pela adoção da multiparentalidade, segundo Passadore et al. (2017, p.278), compreende-se
que os critérios biológicos e socioafetivo possuem origens diversas, de modo que podem
coexistir com a finalidade de admitir a existência concomitante de parentalidade oriunda do
vínculo genético, e aquela construída através da formação de vínculo socioafetivo. Dessa
pluralidade de vínculos de origem diversa, poderiam existir relações múltiplas entre os filhos e
seus pais (biológicos ou socioafetivos).
Sobre o tema, principalmente no que se refere à responsabilidade de pais biológicos e
socioafetivos, reconhecendo que existem vínculos de origens distintas, e com base na sistemática
de apreciação dos recursos elencada no Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015), destaca-
se a decisão do STF em sede de Recurso Extraordinário (RE) com repercussão geral reconhecida.
Nesse caso, cujo relator foi o Ministro Luiz Fux, foi fixada uma tese que passou a servir
de parâmetro para futuros casos semelhantes, “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em
registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na
origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios” (BRASIL, 2016).
O RE 898.060 (Repercussão Geral 622) ressaltou, em atenção ao princípio da paternidade
responsável, que tanto vínculos de filiação advindos relação de afeto entre os envolvidos, quanto
os originados dos laços biológicos, devem ser acolhidos pela legislação. Segundo o relator: “não
há impedimento do reconhecimento simultâneo de ambas as formas de paternidade –
socioafetiva ou biológica –, desde que este seja para preservar o interesse do filho” (BRASIL,
2016).
O ministro Dias Toffoli salientou o direito ao amor, o qual está relacionado com as
obrigações legais do pai biológico para com o filho, a exemplo da alimentação, educação e
moradia. Afirmou que:: “se teve o filho, tem obrigação, ainda que filho tenha sido criado por
outra pessoa” (BRASIL, 2016).
Acompanhando o relator, o ministro Gilmar Mendes pontuou que a tese sustentada pelo
pai biológico demonstra “cinismo manifesto”, pois: ‘’a ideia de paternidade responsável precisa
ser levada em conta, sob pena de estarmos estimulando aquilo que é corrente porque estamos a
julgar um recurso com repercussão geral reconhecida” (BRASIL, 2016).
O ministro Edson Fachin, a seu turno, votou pelo provimento parcial do recurso,
entendendo que o vínculo socioafetivo “é o que se impõe juridicamente” no caso dos autos, em
razão da existência do vínculo socioafetivo com um pai e vínculo biológico com o genitor. Assim,
deixa claro que existe diferença entre o genitor e o pai, quando ressalta que o parentesco não se
confunde com a questão biológica.
Depreende-se que a decisão do STF reflete duas grandes tendências: primeiro, a
necessidade de reconhecimento do afeto quanto elemento caracterizador/formador de vínculos
(parentesco socioafetivo); e segundo, a multiparentalidade, a possibilidade de constituição de
vínculo de paternidade/maternidade simultâneo.
3 CONCLUSÃO
O objeto estudado nesta pesquisa, não se esgotou com o estudo apresentado, no entanto
a pesquisa realizada tornou possível aprofundar conhecimentos sobre os temas aqui
desenvolvidos, especialmente sobre o valor jurídico do afeto com o surgimento da
multiparentalidade bem como sobre os critérios para seu reconhecimento no judiciário brasileiro.
Observou-se que a multiparentalidade é um tema atual e relevante e merece maior
atenção dos operadores do direito, pois, as pesquisas jurídicas não têm retratado o real cenário
das famílias contemporâneas, o que exige que essas questões sejam examinadas.
Tem-se que o Estado deve assegurar ao filho o direito de ter reconhecida a paternidade
biológica e socioafetiva bem como usufruir de todos os efeitos jurídicos da multiparentalidade, a
exemplo do direito ao nome não apenas do pai biológico, mas também o pai socioafetivo, direito
à pensão alimentícia, direitos sucessórios, entre outros.
Percebeu-se também que não mais importa se a parentalidade/filiação se forma por laços
de sangue, laços afetivos ou por ambos simultaneamente. A igualdade deve ser assegurada a pais
e filhos, sejam eles consanguíneos ou socioafetivos.
Ademais, o filho tem o direito de conhecer sua verdade biológica e ser reconhecido pelas
paternidades biológica e socioafetiva tal como reconhecido no RE 898.060, que passou a
reconhecer que independentemente de haver ou não registro público declarando a paternidade
socioafetiva, não existe impedimento para que um vínculo de filiação concomitante seja
reconhecido e surta os efeitos jurídicos que lhe são próprios.
Como resposta ao problema central, pelo exposto nas doutrinas aqui expostas e
consoante o RE 898.060 as questões que envolvem os efeitos jurídicos da socioafetividade como
critério de parentesco para os filhos adotados à brasileira com a possibilidade de acréscimo do
nome do pai biológico na certidão são: reconhecimento concomitante da paternidade biológica e
socioafetiva com iguais direitos para os filhos biológicos e socioafetivos; igualdade garantida não
apenas aos filhos mas também aos pais consanguíneos e socioafetivos; e por fim, o direito de
conhecer sua verdade biológica sem afastar a paternidade socioafetiva mesmo inexistindo registro
público que declare essa última.
Percebe-se que o princípio da afetividade especializa, no âmbito familiar, os princípios
constitucionais fundamentais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade, e entrelaça-se
com os princípios da convivência familiar e da igualdade entre cônjuges, companheiros e filhos,
que ressaltam a natureza cultural e não exclusivamente biológica da família.
A valoração jurídica da afetividade, alinhada aos demais princípios e regras do
ordenamento, tem contribuído para a construção de outras categorias jurídicas, viabilizando
interessantes possibilidades no âmbito do direito de família. Destarte, os novos rumos conduzem
à família socioafetiva, onde prevalecem os laços de afetividade sobre os elementos meramente
formais.
O estudo aqui apresentado não esgota o assunto. Cada vez mais chegam ao Judiciário
configurações de família diversas, requerendo dos profissionais da área profundo conhecimento
da matéria, sensibilidade e bom senso a fim de que seja possível continuar produzindo decisões
que assegurem a dignidade da pessoa humana, acompanhando ao mesmo tempo as demandas da
sociedade cada vez mais surpreendentes e específicas.
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