Você está na página 1de 33
FRANCISCO DE ASSIS COUTO CASTELLO BRANCO Ft .Antonio Goetho | Rodrigues VIDA e OBRA 1 20870 Piaui ri vox ofassor da Universidade & ANTONIO COELHO RODRIGUES: ++ Vida e Obra y ° APRESENTACAO A pesquisa de qualquer ramo do conhecimen to humano @ tarefa rdua e, até certo pon to, comprometedora. Nao desejei, ao bio grafar ANTONIO COELHO RODRIGUES, escrever um trabalho completo e definitive. Para ser completo falta-me aptidio e em moldes definitivos careco de elementos. so as notas que seguem dao, apenas, uma idéia palida do que foi o grande e ‘notd Por is vel jurista piauiense. Da forma como entrego o trabalho ao seu julgamento, caro leitor, ele ajuda apenas aos interessados na busca de informagées acerca de personalidades que s6 fizeram a grandeza do nosso Estado. Se a monografia atingir esse objetivo, sinto-me recompen sado e, estou certo, surgirdo outros que, com proficiéncia, complenentardo a. pesqui sa. 0 AUTOR In menorian A Sra. Rizoléta Couto Castello Branco, mae diletissima, permanente tortaleza da minha existéncia, oferego este tra- balho. 0 AUTOR 5 7 Agredecimentos Ao Des, PAULO DE TARSO MELLO € FREITAS, Presidents do Egrégio Tribunal de Justica oe do Estado do Piauf, que tornou possivel a edig8o deste livro. "4. um povo sem £8 nao pode ser livre nem honrado e, sem honra e j 4 liberdade,ndo vale a pena viver." 4 t on Coelho Rodrigues r¢ v4 i bien A estatura moral-e a grandeza do talento de um homemaveriguam-se pelos fru tos quelega 4 humanidade e nao pelos que, egoisticamente, priva o espirito humano de os desfrutar. Para que a inteligéncia nao transforme o individuo num exclusivista & necessario que a sua postura ‘moral esteja alicercada em sdlidos principios espiritu ais e.em nobres convicgdes. "0 talento, ex plica HIGINO CUNHA, é uma superioridade: e 86 por isso coloca os outros em posicio in ferior eincémoda... Para impor-se e dominar precisa cumular a energia do cardter. _Ao Tevez, 0 meio mais facil de agradar a todo © mundo € ser nulo... As biografias dos grandes homens séo a prova eloquente do que venho de afirmar. Nenhum logrou reco mendar-se as bengaos da posteridade sem cho car e perturbar os prejuizos da ignorancia contemporanea”". “E conclui: "Um herdi sem inimigos e sem perseguidores nunca existiu nem existird jamais." Exemplo de inteligéncia e alto descortino pela notoriedade de sua obra e irrepreensivel comportamento de homem pibli | i co, cuja homenagen e permanente admiracdo 0 Pais deve sempre reverenciar, nenhum, te mais méritos, entre nds, do que o conterra neo e insigne piauiense ANTONIO COELHO RO DRIGUES. Nasceu a 4 de maio de 1 846 na Fa” zenda "Boqueirao", na época, municipio de Oeiras, hoje, solo que pertence ao municipio de Picos. Ha uma circunstancia toda especi al a propésito do lugar onde nasceu COELHO RODRIGUES, apontada pelo intelectual BUGIJA BRITO. Conta-nos o escritor que, época do nascimento de COELHO RODRIGUES, a Fazenda" Boqueirao" pertencia ao dominio do municipi o de Oeiras. Posteriormente, coma Resolu do da Assembléia Provincial de 1 854, o lo cal passou & jurisdicao da recém-criada co marca de Jaicés, condicao que perdurou até 1 889, quando foi criado o municipio de Pi cos. Assim, trés comunas piauienses podem reivindicar, para si, o privilégio de terem sido 0 berco do grande e ilustrado jurista. Outro fato curioso esta ligado as (itinainaeindnincibiibbatncitstibits tithes sesatiaitideinbnha tic i bis dn bin ta origens do brasileiro com foro in ; nal. Foi batizado a 15 de agosto de 1 845, tendo como celebrante o Pe. Francisco de Paula Moura, 1° Vigério da novel Freguezia de Nossa Senhora dos’ Remédios de Picos, com © nome de Antonio de Sousa Martins. "Ques tdes intimas de famflia, de que decorreram contrariedades, fizeram-no mudar, como. un protesto, os sobrenomes, e, como ele tivera um artepassado chamado Valério Coelho Rodri- gues - bandeirante paulista que se instala ra no Piaui nos meados do século XVIII, ele decidiu modificar as designacdes patronini- cas. Valério Coelho Rodrigues, o Bandeiran te paulista, era bisavé por dois lados (sic). * Inclinado @s letras, iniciou estudos primarios aos cinco anos de idade, tendo co mo professora sua mae, senhora Da. Joaqui- na de Sousa, até que, a 2-de outubro de 1 851, teve que os interromper em virtude da morte do pai, o Capital Manoel Rodrigues Coelho. A orfandade o obrigou seguir, em abril de 1 852, para a vila de Paulistana , -7- mt | a fim de continuar aif os estudos preparatd rios, tendo agora como preceptor, seu pri mo, 0 no menos ilustrado Pe. Joaquim Damas ceno Rodrigues. O competente mestre lhe ensinou, além do portugués, a aritmética, o francés e o latim. Nesta escola permaneceu até julho de 1 859. Qualificado com os ensinamentos ministrados pelo Pe. Damasceno, COELHO RO DRIGUES embarca para o Recife, centro impor tante da intelectualidade da época, em abril de 1 860. Leva consigo a esperanca © 0 propésito de ingressar na Faculdade de Direito da Capital pernambucana. Nesse es tabelecimento de ensino superior consegue matricular-se en marco de 1 862. A vida a cadémica proporcionou-lhe ambiente propicio as suas legitimas ambicgdes. Teve participa cio intelectual de relevo no meio universi tério. Foi contemporneo de homens ilu tres e colega do mais tarde famoso Bardo do Rio Branco. Recebeu o grau de bacharel em Di reito em novembro de 1 866, escolhido por seus companheiros orador da turma concluden te. A turma de 1 866 da Faculdade de Direito do Recife esteve assim constituida: Antonio Francisco Correia de Araiijo Antonio Carneiro Antunes Guinardes Antonio Luiz F. de Mendes Vv. de Drummond Antonio Martins da Cunha Souto Maior Antonio de Almeida Oliveira Antonio Ayres Lacerda Chermont™ ANTONIO COELHO RODRIGUES Antonio Ribeiro Pacheco d'Avila Antonio’ Saboya de S& Leitao Augusto Carneiro Monteiro Alfredo Montezuma de Oliveira Alfredo Montezuma da Cunha Martins Agostinho de, Carvalho Dias Lima Caetano Maria de Faria Neves Eliseu de Sousa Martins Euclides Deocleciano de Albuquerque Ernesto Adolpho de Vasconcelos Chaves -3- (Pe) (Pe) (Pe) (Pe) (Pe) (Pa) (Pi) (Se) (Ce) (Pe) (Pe) (Ma) €Ba) (Pe) (Pi) (ce) (20) Francisco Cornelio da Fonseca Lima Francisco Domingues Ribeiro Vianna Francisco José Alves de A. Filho Francisco Machado Pedrosa Francisco de Paula e Silva Primo Francisco Rodrigues Soares Francisco da Costa Ramos Irineu Ceciliano Pereira Joffly Ignacio José de Oliveira Arruda Ignacio F. de Almeida Guimaraes José Gomes da Frota José de Holanda C. de Albuquerque José Ignacio de Albuquerque Xavier José Manoel de B. Wanderley Filho José Maria da Silva Paranhos Junior José Pedreira Franca Junior José Peregrino de Araiifo José da Motta Nunes Joaquim Pontes de Miranda Joaquim Jonas Bezerra de Montenegro Joaquim Maria Carneiro Villela Joaquim Guedes Correia Gondim Joaquim Alves da Silva Jo%o Lopes de Aguiar Silva Muritiba Jo&o Joaquim Ramos e Silva -10- (Pe) (Pe) (Pe) (Pe) (Pb) (Ba) (Se) (Pb) (Se) (Ce) (ce) (Pe) (Pe) (Pe) (Ri) (Ba) (Pb) (Se) (a (an, (Pe) (Pe) (Rn) (al) (Pe) Joao Carlos Borges Joao Baptista Pinheiro Corte Real (Ri) Leonardo Francisco de Almeida (Pe) Licinio Alfredo da Silva (Ba) Manoel Joaquim F, Esteves Junior (Pe) Manoel de Almeida Macedo Sodré (Ri) Manoel José de Menezes Prado (Se) Manoel do Nascimento Teixeira (Ba) Pelino Francisco de Carvalho e Nobre (Se) Raymundo Honorio da Silva (Pe) Samuel Felippe de Souza Uchéa (Ce) Segismundo Antonio Goncalves (Pi) Tobias de Souza Lima (Pe) Por mérito, vale ressaltar, COE LHO RODRIGUES, juntamente com RAYMUNDO HONO RIO DA SILVA foram os iinicos que, neste ano. alcamcaram nota de aproveitamento distinto. Como porta-voz da turma concluden te,-COELHO RODRIGUES se houve com singular e raro brilhantismo, no desempenho da mere- cida honraria que Ihe fora outorgada. Na permanente formacio do cardter pelas licdes de humanismo, obdiéncia & lei e 3 ordem, o eis) i vestuto jurista vai manter-se fiel, por to- da a vida, ao compromisso.feito na ocasido de sua formatura. Formado, retorna i terra natal, onde funda o Jornal "O Piauhy", que sucedeu ao antigo semanario "A Moderagao", orgio do Partido Conservador, até entao dirigido pelo lider politico Dr. SIMPLICIO DE SOUSA MENDES. Entre nds permaneceu até 1869 , quando decidiu alcangar sucesso fora do Piauf, vez que a politica da Provincia lhe era declaradamente hostil. ++ Foi parlamentar em varias legisla turas, quer no Império, quer na Repiiblica. Senhor de prestigio pessoal formiddvel foi eleito, certa feita, mesmo ausente do pais. Na Camara e no Senado sempre se portou com muito tirocinio e difelissimo s idéias que defendia. Fez politica sen fazer politica- gem. Tentou em 1 869 uma cadeira na Assem- bléia, mas ndo foi reconhecido, apesar do éxito eleitoral por no haver ainda atingi- do a maioridade. Por imposicgao do Partido foi candidato & Assembléia Geral Legislati -12- va do Império, antes de completar vinte e trés anos com votacao unanime dos eleitores. Interessado pela politica, nunca se deixou levar, no entanto, pelas facilidades e van tagens dos cargos que exerceu. Neste particular, hd um episddio que configura bem sua conduta reta e de ele vados propésitos. Quando’ chegou a Teresina, Procedente do Rio de Janeiro, a9 de outu bro de 1 868, tomou conhecimento de que seu nome figurava, em primeiro lugar, na chapa do Partido para concorrer is eleicdes que se avitinhavam. De imediato, solicitou 20 Grémio que substituisse 0 seu nome, indican do o do Dr. BORGES CASTELLO BRANCO, Chefe liberal dissidente. "Vencido naquela idéia, Propés em seu lugar fosse apresentado o Che fe do Partido, Dr. Simplicio Mendes, venci do ainda nesta idéia, declarou ao mesmo que guardaria siléncjo sobre 0 ocorrido”. Apesar da lisura com que defendia os interesses politicos do seu partido, .te ve adversarios ferrenhos. Combatia-os con =13- postura de honem piblico de alto nivel, 0 que nao lhe impediu de angariar solertes i nimigos. Em 1 867 procedeu-se a uma refor- ma no biceu Piauiense e a cadeira de Filoso fia deveria ter sido criada no curriculo da quele Estabelecimento. No entanto, lideres politicos advogaram que este fato daria a COELHO RODRIGUES a oportunidade de pleitear essa citedra. Assim, contrariando os legi- timos interesses da comunidade, Filosofia no entrou para o rol das disciplinas le cionadas na tradicional Casa de Ensino do Piaui, naquela oportunidade. De certa forma desiludido, partiu para o Recife a fim de preparar-se para de fender tese em concurso de doutorado. Rece peu o grav’ de doutor em Direito a 7 de maio de 1 870, aprovado, plenamerite, em todos os atos e exames a que se submeteu, tornando- se, desta forma, o primeiro "doutor em bor la e Capelo no Brasil". Foi nomeado docente por Decreto de 23 de maio de 1 871 para substituir 0 as site eet doutor BRAZ FLORENTINO que falecera na sidgneia do Maranhdo. Na disputa desta c tedra concorreram dois nomes de escol das letras juridicas nacional: doutores TAVARES BELFORT e GRACILIANO BAPTISTA, obtendo COE LHO RODRIGUES 0 primeiro lugar quase por unanimidade: nove votos contra dois. Ainda como professor, lecionou Direito Romano, no Recife, depois de defender tese. No Rio, mais tarde, regeu a cadeira de Economia Po litica, na Escola Politécnica, do entdo Dis trito Federal. Baie Como literato, em 1 879, deve-se- Ihe a tradugéo das "Institutas do Imperador Justiniano", anotada com muita propriedade. A propésito, entre nés, LUCIDIO FREITAS nao encontrou qualquer mérito nesse trabalho , vez que a tradugio, segundo ele, foi feita de versio da lingua francésa. A atitude do conterraneo LUCIDIO FRENTAS pode ser inter- pretada como magoada ponta de citime ou de tango politico. CELSO PINHEIRO FILHO comen ta: "... alias, tanto LUCIDIO como CODOALDO FREITAS Ihe votavam tremenda ma vontade, pe se -15- x | | reece see lo fato de ter ele, em 1 887, estando Clodo aldo na oposicdo e desempregado, ter sido nomeado Juiz de Santa Filomena. Coelho Ro drigues, na Camara, fez discursos protestan do contra a nomeacdo e lendo artigos repu blicanos ‘de Clodoaldo." Apesar disso, pelo trabalho reali zado, o Ministério Paranagué lhe outorgou @ Comenda de Cristo, por Ato de 8 de outubro de 1 880, em que pese, ainda, se tratar de um Gabinete formado por adversarios poli- ticos. Louvavél por todos os titulos a iniciativa, porque, premiando o mérito do prilhante intelectual, 0 Colegiado nao cui dou de investigar as suas cores partidarias. Escreveu também "Meméria sobre a Unido e Pa cificacdo da America Latina", em 1 907, "A Repiiblica na América do Sul", em 1905, 2 lém de muitos discursos ¢ numerosos artigos publicados nos periddicos da época. Sob 0 governo de Ministério adver so, 0 Conselheiro Dantas, pelo Aviso de 4 de julho. de 1-881, nomeia COELHO RODRIGUES eles veka para a Comissio Revisora do Projeto de Cédi go Civil, elaborado pelo Doutor JOAQUIN FE LICIO DOS SANTOS, ao lado de personalidades de relevo das letras juridicas do pais. Fun cionou, igualmente, como membro de. outras comissées com idéntico encargo inclusive na ltima que era presidida pelo préprio Im perador, D. Pedro II. - + A.12 de julho de 1 889 foi rova~ mente agraciado, desta feita, como titulo de Conselheiro de Sua magestade, apesar de ter publicado, em 1 884, o livro "Cartas de um Siidito fiel 3 Sua Magestade o Imperado’ Nao se julgou merecedor desta honraria” e procrastinou.o quando péde em prestar o ju ranento de praxe, Realmente, nao chegou a presta-lo pessoalmente; em seu lugar, e des conhecendo, talvez, 0 seu propdsito, 0 fez um seu procurador. Como jurista, além da monumental obra que realizou, redigindo 0 Projeto de Cédigo Civil Brasileiro, & autor do projeto que se converteu em lei, Decreto n? 181, d -i7- 1 890, regulando o Casamento Civil no Bra- sil. Exerceu, ainda, as fungdes de advoga- do da Intendéncia Municipal e, por volta de 1,868, foi Promotor Piblico em Jaicés, no Piauf. No jornalismo batalhou pelo apri- moramento do Sistema Eleitoral, melhoria das condigdes de vida e aperfeicoamento da educacdo piiblica. Honrou a nobilitante pro fissio jornalistica pelo extraordindrio con teiido de seus artigas. Desassombrado, mas positivamente responsdvel, nunca se serviu do jornal para enodoar a dignidade alheia. Consorciou-se com ilustre daa pernambucana, Da. Alcina Lins, filha do co- ronel Marcionilo Silveira Lins e neta do Visconde de Utinga. Convolou niipcias a 9 de janeiro de 1 873, de cuja unio resultou numerosa prole. Fiel partidério da familia solidamente constituida, porque a entendia célular mater da Nacio, sempre defendeu com vigor e intransigéncia, a necessidade - do matriménio. Sdo dele essas palavras que Piss eonsdgrain’ toda’ ima" Fiiosoris’ devia: °S2¢ Pa fei® natlital® ai tohSerVacab ® ‘do: SBEELCiGoamBhto' aa’ especie?” que” Se? nao cpddem considerar’garahtiaas onde’ a aterhh eaann grt dade for’ céA8ide?Aad" uma“ doenca’ e’a PArdE? nidade um acidente desagradivel na vida do honémm’ bee ay “samento”é se°é verdade, por outro 1446! que Coeiho Rodrigues foi monarquista convitto, de certo nfo relutou em aceitar o “régine republicano, quando'as aspiracées do Bais se constituiram numa exigéncia tao absurda, Aquela época, quando, injustificavel: Coé iho Rodrigues foi, antes de tudo, ui “"“pa triota auténtico. Sem subterfiigios, * “nem tampouco inclinado a adotar posicdo duvidd ‘sa, décidii’ a 16 de’ novenbro, “apds deattse ge do cargo de Membro da Comissao dd COdy go Civil, lancgar um "Manifesto’ dd‘ Piadien ses" no qual aderiu ao novo regime e con idé¥anga indiscutivel ciamou éom sia’ oa 5) A Seguadd dizetzites trachdad* ped ws -19- rd Dd¢ i | Marechal Deodoro da Fonseca, organizou, no Piaui, um Partido de ambito Nacional sob a &gide das idéias republicanas, contando, pa ra isso, com a segura orientacéo do Minis tro da Justica, Dr. Campos Sales. 0 dpice de sua gléria como juris- ta foi no momento em que celebrou, a ra de julho de 1 890, contrato como Governo Provisério, segundo o qual ele se comprome- tia elaborar um Projeto de Cédigo Civil, mal grada a oposicao que lhe faziam certos poli- ticos da época. Este contrato foi aprovado por Decrato de 15 de julho do mesmo ano. Es perou que fosse votada a Constituigao e fos se eleito o Governador do Piaui, no proposi to de a 31 de agoxto de 1 891, seguir para a Europa, onde pretendia escrever 0 Projeto, longe da influéncia ambiental to nefasta em tais circunstancias. Em Genebya, na Suica, fixou resi- déncia e iniciou a ardua tarefa que se pro- pos. Sua permanéncia na hospitaleira terra helvética foi caracterizada por constantes -20= —— De FEDERAL 00 Piaul jen Contd pavers ameacas 4 sua sade. Cada enfermidade que padecia lhe angustiava o espirito, temendo ng concluir 0 trabalho no termo avencado. Finalmente, a.11 de janeiro de.1 893, encer Tou a redago do Projeto e-retornou ao Bra- sil, aqui chegando a 22 de fevereiro do mesmo ano. Ndo houve tréguas. Nova luta en ceta Coelho Rodrigues, visando, agora, a ul. timar as providéncias decorrentes do Contra to que firmara com 0 Governo, Pelo documen to, uma Comissdo Revisora devia ser nomeada, A ambiclo de certos politicos dificultou a nomeagdo dessa Comissio e somente 2.27 de julho de 1 893 @ que & dado a conhecer 0 Parecer que rejeita o trabalho do grande ju rista nacional. Apesar de desrespeitados todos os prazos contratuais, Coelho Rodrigues pre senta sua defesa e, posteriormente, uma Ré- plica 4 Comissdo citada. 0 confronto do vetusto jurista piauiense con os juriscon sultos dp Governo teve lances dramiticos eZ ioe I Nunca, porém, desanimou, apesar das desvan- tagens que padecia. Nunca deixou sem res posta as criticas que lhe faziam os prepos- tos do Governo Floriano Peixoto. Nunca de clinou do direito que tinha de mostrar = @ Nagdo 0 acerto do conteiido de seu trabalho, executado com a necesséria humildade, mas com insofismavel competéncia. * Conhecendo, entretanto, 0 ambien- te desfavoravel ja na Exposicdo de Motivos, datada em Petrépolis, a 21 de julho de 1893, anexando o Projeto, afirmava: "NZo tenho ilusGo sobre o parecer, como, porém, ndo po dera 0 Governo tomi-lo em consideragio an tes de ouvir-me, aguardo tranquilo que me venha com vista para contrariar ou confes sar". Na vida piblica exerceu, também, as elevadas funces de Perfeito do Distrito Federal (i? de fevereiro a 6 de setembro de 1 900), para cujo desempenho foi amplamente aplaudido: "Damos os mais sinceros parabéns ao Distrito Federal: 4 testa de sua adminis ns -22- tracdo supeiror acha-se agora quem est altura do cargo pela competéncia, pela reti- dio, pela inteireza e pela capacidade di monstradas num longo periodo de dedicacao causa piblica. 0 Dr. Coelho Rodrigues @ un i a muitos o honram. Pessoalmente, a sua probidade @ legendria. Todos que o conhecem e com ele tratam sabem que é a integridade en pessoa e que seu carater temo brilhoe a rijeza do diamante. £ uma das maiores ilustracdes ju ridicas da atualidade. 0 seu saber e a sua competéncia nesse ramo de conhecimentos nao so apenas reconhecidas entre nds, desde mui to tém eles recebido a consagracdo dos aplau 30s dos sabios e corporagées cientificas en- trangeiras". (Jornal: "A Tribuna" - Rio - n? 129 - 1%.02.1 900). nome conhecido em todo o pais ¢ que Foi eleito Senador da Repiiblica pela altima vez, quando se encontrava’ na Europa. De regresso ao Brasil, quando 0 navio em que viajave ancorava na ilha de Sao Vicente, veio a falecer. Erai?de abril de 1912. Seu corpo foi transladado para o -23- a Rio de Janeiro, onde repousa desde o dia 8 de maio de 1 912, no Cemitério de Sao Joao Batista Tracando 6 perfil do destacado ho mem piiblico, no elogio finebre que se editou, o jornal "Cidade de Therezina" assim disse : "0 povo piauiense hi de saber, prezar condig namente a meméria santa do eminente brasilei ro. Diante de tao lutuoso acontecimento “Cidade de Therezina" curva-se respeitosamen te e triste, apresentando a mais sentida ex pressio de pezar ao Brasil e especialmente aos filhos do Piaul e desolada familia do extinto. Antonio Coelho Rodrigues continuaré a viver nas nos- Certo, o nome laureado de sas saudades € na nossa gratidio de um povo reconhecido pelos altos servicos que Ihe fo ram prestados. A sua obra simboliza um edi- ficante exemplo de sabedoria, digno de imitado pelas geracSes futuras. Para ele a Coelho ser Patria terd sémpre sagradas bencaos. Rodrigues ficard na imortalidade". Homem de letras, advogado e juris ae consulto, jornalista, politico e professor, Coelho Rodrigues sempre honrou com fidelida de edificante as posigdes que conquistou , mercé de suas excelsas virtudes. Vario in- domdvel quando pelejava pela Justica, ex tremoso pai, esposo amantissimo, | exemplo de obstinada perseverancia, sintese que i dentifica e corrobora as palavras do poeta: "Pelejou pela sorte e contra as circunstancias; Lutou e caiu, e tornou a lutar; nao se wangloriou de seus triunfos; Algumas vézes triunfou, mas Outras foi derrotado, porém nao se lamentou; ao Suportou golpes, mas continuou mar chando sempre; Porque nunca lhe faltou coragen". Honra e gloria do Piaui, Coelho Ro drigues representa o que de mais expressivo j& nasceu nesta terra. Prestar-Ihe homene- 225- gem é um dever de todas as geracdes; reco nhecer-lhe os méritos € uma obrigacdo inde- clindvel de todos aqueles que aceitan 0 trabalho e 0 carater como condicdes necessa rias a uma personalidade exemplar. No momento em’ que a técnica modi- fica o mundo, trasmuta os comportamentos so ciais, € tempo de refletir na figura uma nistica de Coelho Rodrigues, uma vida dedi- cada ao bem comum; a servico da Patria de seus filhos: desinteressada, infatigivel e@ integralmente. Sem o medo tao comum na_- queles que tém contas a justar, sem a pre- poténcia daqueles que fazem das _posicdes que ocupam espantalho para os oprimidos, Coelho Rodrigues & o legendério exemplo que glorifica e enaltece sempre o Piauf na ima- gem austera e impoluta que conseguiu trans- mitir aos pdsteros. Nao @ apenas um cida dao do Piauf. £, antes de tudo, um patring nio da Nacdo. -26- a 04.abr.1846 15.ago.1846 * 02. out. 1851. 21. nov. 1866 07.mai.1871 09. jan.1873 CRONOLOGIA Nasceu COELHO RODRIGUES na Fe- zenda-"Boqueirao", na época, mu nicipio'de Oeiras-Piaul. £ batizado pelo Pe. Francisco de Paula Moura, 1° Vigirio da Freguezia de Na.Sa. dos Remédi os de Picos, como nome de AN TONIO DE SOUSA MARTINS. Falece seu pai, Capitdo Manoel Rodrigues Coelho. . Da Faculdade de Direito do Re cife recebe o grau de bacharel em Direito. £ nomeado, por Decreto do Impe rador, Lente da Faculdade de Direito’ do Recife. Convola niipcias com Da. Alcina Lins, de tradicional familia de Pernambuco. -27- 08.out.1880 04, jul.1881 12.ju1.1889 16.nov.1889 21. jan.1890 12.jul.1890 £ agraciado com a Comenda de Cristo, como prémio ao traba Tho que realizou, traduzindoas Institutas do Imperador Justi- niano. £ nomeado Membro da Comissdo Revisora do Projeto de Cédigo Civil, de autoria do Senador Joaquim Felicio dos Santos. E£ agraciado ‘como titulo de Conselheiro de Sua Magestade 0 Imperador. Publica um Manifesto aos Piaui enses, aderindo 4 Repiblica. E promulgada lei de sua auto ria disciplinando 0 Casamento Civil no Brasil. visério para elaborar 0 Proje to de Cédigo Civil Brasileiro. 15. jul.1890 31.ago.1890 21.fev.1891 31-mai.1891 02.ago.1891 11.jan.1893 22.fev.1893 £ assinado o Decreto que apro va 0 Contrato de COELHO RODRI- GUES pelo Marechal Deodoro da Fonseca, referendado pelo Dr. Campos Sales. Demite-se do cargo de lente in terino da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. £ jubilado como Professor da Faculdade de Direito do Recife. Parte com a familia para a Eus ropa, onde pretende escrever o Projeto. Inicia, em Genebra, a elabora- Go do Projeto de Cédigo Civil Conclui, na Suiga, 0 Projeto encomendado pelo Governo repu- blicano. Chega ao Brasil, trazendo con cluido o Projeto. ~29- 23. £ev.1893, 25.mai.1893 27. jul.1893 27. jul.1893 1S.ago.1895 29.ago.1893 17.out.1893 verno Brasileiro, o Projeto de Cédigo Civil concluido. Entrega, oficialmente ao Go 0 Governo nomeia a Comissdo em, carregada de revisar 0 Projeto 0 Projeto recebe Parecer da Co missdo Revisora. © Governo da Repiiblica rejeita © Projeto COELHO RODRIGUES. COELHO RODRIGUES contraria 0 Parecer da Comissao. 0 Autor apresenta ao Senado o seu Projeto de Cédigo Civil, pe la la. vez. Réplica da Comissao refutando as acusagdes de COFLHO RODRI - GUES. -30- 21.ago.1895 28.ago.1895 04. jul. 1896 01. fev.1900 06. set.1900 O1.abr.1912 08.mai.1912 Tréplica de COELHO RODRIGUES 2o Governo da Repiiblica. 0 Senado rejeita.o Projeto de COELHO RODRIGUES. Uma Comissdo de senadores rea- presenta o Projeto COELHO -RO DRIGUES ao Senado da Repiiblica. COELHO RODRIGUES assume a Pre feitura do Distrito Federal. Exonera-se do cargo de Prefei- to do Distrito Federal. Faleceu, a bordo do navio que Ihe trazia de volta ao Brasil, nas proximidades da Ilha de S. Vicente. £ sepultado no Cemitério de S. Joao Batista, na cidade do Rio de Janeiro - RJ. e351 i i i j Quantitativemente, a obra de COELHO RODRIGUES ndo pode ser considerada vasta, porém, possui conteiido muito signifi cativo. fm sua maioria, néo se encontra condensada em livros, porque, antes de tu do, ele foi politico e jornalista e, nestas condigdes, seu legado foi, essencialmente , trnasmitido pela palavra oral. Além de ind meros discursos que pronunciou no Parlamen- to e que se encontram transcritos no Anais das Casas do Congresso, escreveu varios arti gos que foram publicados nos periddicos da cnoceh Por volta de 1 879, publicou uma tradugdo das Institutas do Imperador Justi- niano, segundo MARIO MARTINS, do original la tino, mas contestado por LUCIDIO FREITAS. En tretanto, o citado trabalho lhe garantiu a honraria da outorga da Comenda de Cristo . Nesta traducdo o intelectual piauiense se va leu dos seus conhecimentos de latim, adqui- ridos ainda no tenpo de estudante com o Pa- dre Damsceno, em Paulistana. Mais tarde, em "Cartas de um siidi to fiel & Sua Magestade o Imperador", trazi do a lume em 1884, 0 Autor se apresenta"sar castico e mordente, o polemista desabusado arranhava com irreveréncia e escindalo| a magestade da Coroa..." Em que pese a criti ca sobre a familia imperial, 0 menuscrito nao foi suficientemente considerado ofensi- Vo, nem tampouco excessivamente violente pa ra tornd-1o um proscrito e o proprio Gover- no, consciente disto, vai elev-lo as digni dades de Conselheiro de Sua Magestade em 1 889, quando o Império vivia os seus dlti- mos dias. . No inicio do século, publicou mais dois trabalhos: "A Repiiblica na América La- tina" e "Mémoire sur l-union et la pacifica tion de 1“Amérique latine ‘presenté au Con. grés Universel de la Paix", em 1 907. A grande obra, a maior contribui- cdo intelectual de COELHO RODRIGUES foi, sem diivida, a elaboracdo do Projeto de Cédi go Civil Brasileiro, publicado en 1 893 e | | ' { i we =32- enconendado pelo Governo do Marechal Deodo- Notavel trabalho, onde COE- LHO RODRIGUES resumiu talento, competéncia, ro da Fonseca- experiéncia, humanismo, viséo- antecipada das exigéncias do Pais que se consolidava. No momento em que a Nagao se pre- para para reformar sua lei civil, oportuno @ analisar o trabalho elaborado pelo ilus- tre conterraneo nos derradeiros anos do sé- culo passado. nunca que agora, como outrora, reformar uma lei ou institui-1a com as dimensdes de um Cédi- go Civil @ tarefa ardua e sensurdvel, qual- Convém ndo esquecer quer que seja o responsdvel pela incumbén - cia, por mais intocaével que seja a sua com- peténcia, por mais descomprometido que este ja com pessoas ou grupos. : COELHO RODRIGUES ndo escapou ile- so da firia dos seus inimigos-politicos, nem tampouco encontrou facilidades’ para conci- liar, num texto legal, as tradicdes, os cos tumes € os interesses do momento histérico com as justas reivindicagées do Pais. Ja na 34s] oct Exposigdo de Motivos ele advertia: "... 280 nutro as aspiragées do moleiro de La Foztai ne, nem tenho a va esperanca de agradar a todo 0 mundo", De outra parte, como subsidio,ele dispunha apenas de uma legislacdo esparsa , oriunda de Portugal na sua grinde maioria , incompleta, desatualizada e imperfeita. Des ta dificuldade ele comenta: "A legislagio que temos, suspeita pela sua origem e pelo espirito anacrénico, que inspirou em grande parte as suas disposicdes ainda vigente, @ notoriamente ma. Seus defeitos, talvez exa gerados pela Ignorancia, resultande em par- te da dificuldade de estudd-1a, j4 penetra- ram a consciéncia popular; as massas mesmas j4 os sentiram e os individuos, cada qual a seu modo ja tém feito de si para sio seu juizo e j4 se-sabe sobre os pontos que mais de perto Ihes tocam, e que mais conhecem , ou supdem conhecer melhor". Ninguém melhor pode criticar 0 Projeto do que o préprio Audor, Executou o 355

Você também pode gostar