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A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do

acesso a dados pessoais no ciberespaço

A NOVA DIMENSÃO DA PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR DIGITAL


DIANTE DO ACESSO A DADOS PESSOAIS NO CIBERESPAÇO

The new dimension of digital consumer protection before accessing personal data in cyber
space
Revista de Direito do Consumidor | vol. 134/2021 | p. 195 - 226 | Mar - Abr / 2021
DTR\2021\6892
_____________________________________________________________________________
Dennis Verbicaro
Doutor em Direito do Consumidor pela Universidade de Salamanca (Espanha). Mestre em
Direito do Consumidor pela Universidade Federal do Pará. Professor da Graduação e dos
Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Federal do Pará-UFPA e do
Centro Universitário do Pará-CESUPA. Líder dos Grupos de Pesquisa (Cnpq) “Consumo e
Cidadania” e “Consumo Responsável e Globalização Econômica”. Procurador do Estado do
Pará, Advogado e Diretor do Brasilcon. dennis@verbicaro.adv.br

Janaína Vieira
Mestranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Pará –
UFPA. Especialista em Direito aplicado aos serviços de saúde – Estácio. MBA em Direito
Civil e Processo Civil – FGV Rio. Pesquisadora no Grupo de Pesquisa (CNPq) “Consumo e
Cidadania”. Advogada. janainanasvieira@gmail.com

Área do Direito: Consumidor; Digital

Resumo: O artigo tem por objetivo demonstrar a vulnerabilidade algorítmica do


consumidor inserido no ciclo mercadológico de processamento de dados e da publicidade
direcionada. Primeiro, faz-se a caracterização do novo ciclo mercadológico dos dados
pessoais, para, em seguida, apresentar os atores envolvidos nesse modelo de negócio.
Ademais, analisa-se como o processamento de dados contribui para o agravamento da
vulnerabilidade do consumidor, dando-se ênfase à vulnerabilidade informacional,
comportamental e situacional. Por fim, avalia-se a proteção desse consumidor digital,
considerando a Lei 13.709/2018, alterada pela Lei 13.853/2019, e as demais leis. Foi
utilizado o método hipotético-dedutivo e um referencial nacional e estrangeiro para a
elaboração da presente pesquisa.

Palavras-chave: Dados pessoais – Relações de consumo – Vulnerabilidade Algorítmica –


Privacidade – Consumo digital

Abstract: This article aims to demonstrate the algorithmic vulnerability of consumers


inserted in the market cycle of data processing and targeted advertising. First, we show the
characterization of the Zero-price advertisement business model and the actors involved in
this business model. In addition, we analyze how data processing contributes to the
worsening of consumer vulnerability, emphasizing informational, behavioral and
situational vulnerabilities. Finally, we study ways to protect these digital consumers
considering Law 13,709/2018, as amended by Law 13,853/2019 and other laws. The

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hypothetical-deductive method with national and foreign reference was used to elaborate
this research.

Keywords: Big Data – Consumer relations – Algorithmic Vulnerability – Privacy – Digital


consumer

Para citar este artigo: VERBICARO, Dennis; VIEIRA, Janaína. A nova dimensão da
proteção do consumidor digital diante do acesso a dados pessoais no ciberespaço. Revista
de Direito do Consumidor. vol. 134. ano 30. p. 195-226. São Paulo: Ed. RT, mar./abr.
2021. inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.

Sumário:
1. Introdução - 2. Poder e controle: a assimetria relacional no capitalismo de vigilância - 3.
O novo ciclo mercadológico dos dados pessoais e atores da publicidade direcionada - 4.
Implicações jurídicas do acesso a dados pessoais nas relações de consumo: a
vulnerabilidade algorítmica do consumidor inserido nesse contexto - 5. A responsabilização
por uso indevido de dados pessoais: aspectos gerais da Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais - 6. Conclusão - 7. Referências

1. Introdução

O uso de dados pessoais é uma constante na vigilância e no controle coletivo exercidos por
governos e empresas. Mas é inegável que a crise gerada pela pandemia da COVID-19
intensificou a sua utilização, escancarou as políticas de monitoramento e a necessidade da
transparência nesse uso.

No início da pandemia no Brasil, em abril, dados, agregados e anonimizados, começaram a


ser utilizados para georreferenciamento por empresas de telecomunicações como medida
de combate à doença por meio da identificação das aglomerações e dos movimentos. O
próprio governo federal, por intermédio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, anunciou uma parceria com as principais empresas de tecnologia. No
entanto, no mesmo mês, o Ministério não seguiu o planejamento e orientou cada estado a
realizar a parceria de forma individual.

No mundo, tecnologias com contact tracing – rastreamento de contato – ganham força


para, por meio de bluetooth em processo bifásico, identificar pessoas infectadas com a
COVID-19. Em junho, por exemplo, Estados, como a China, o Irã, a Turquia e a Índia,
obrigaram os cidadãos a usar um aplicativo com contact tracing. O governo chinês, por
exemplo, pediu que cidadãos colocassem dados pessoais, incluindo fotos, em seus
aplicativos de rastreamento e combate ao coronavírus 1. Nos Estados Unidos (EUA), em
Minnesota, a tecnologia foi utilizada para rastrear infectados nas manifestações contra o
racismo, impulsionadas pela trágica morte de George Floyd 2.

De outro modo, a pandemia intensificou a transição do consumo analógico para o digital 3


pela própria condição de isolamento imposto aos indivíduos. Como consequência, a coleta
de dados no ciberespaço intensificou-se, tornando o consumidor virtual mais exposto a
práticas de publicidade direcionada por tratamento de dados, o que gera uma nova

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dimensão na vulnerabilidade do consumidor, concretamente agravada.

O novo contexto, marcado pelo uso de plataformas eletrônicas para compras de produtos
e serviços, realização de reuniões por videoconferências, crescimento dos sites de
marketplace – inclusive com a disponibilização de espaço para pequenos empreendedores
venderem em meio à crise –, fomenta uma nova realidade pautada no isolamento dos
indivíduos, caracterizada pelo individualismo e segregação social e confiança excessiva nas
plataformas online, gerando uma nova espécie de vulnerabilidade: a algorítmica,
sobretudo agravada pela regulação técnico-normativa insuficiente desses novos
fenômenos.

Considerando que a utilização de dados pessoais no ciberespaço se tornou mais evidente


no contexto de combate à pandemia e de isolamento social, o artigo se justifica pela
necessidade de buscar medidas de proteção ao consumidor submetido à modulação
algorítmica. Para o desenvolvimento do presente estudo, o método utilizado é o
hipotético-dedutivo, sendo a fonte de conhecimento sedimentada inicialmente no estudo
doutrinário dos referenciais teóricos selecionados como guias de análise.

Destarte, analisar-se-á o novo ciclo mercadológico dos dados pessoais dos atores da
publicidade direcionada, para examinar o agravamento da vulnerabilidade do consumidor,
a partir desse novo viés algorítmico, sem ignorar suas dimensões comportamental,
informacional e situacional. Por fim, estudam-se os aspectos gerais da Lei 13.709/2018
(LGL\2018\7222), com suas alterações por meio da Lei 13.853/2019 (LGL\2019\5777), e
das demais leis, em busca de mecanismos de maior proteção ao consumidor.

2. Poder e controle: a assimetria relacional no capitalismo de vigilância

“Poder” e “controle” são palavras corriqueiramente utilizadas para tratar de biopolítica e,


consequentemente, de relações. Para Bazzicalupo4, ao analisar a perspectiva de Foucault
sobre o exercício do poder e a produção dos sujeitos, observa que o poder está em
qualquer forma de relação, independentemente da lógica binária Estado-cidadão. Assim,
pode-se concretizar em poder soberano, poder disciplinar e biopoder, categorias que estão
presentes nas relações de forma conjunta e/ou sucessiva.

Segundo a teoria foucaultiana, na passagem do século XVIII para o século XIX, houve a
transição do poder soberano ao poder disciplinar. Por um lado, surgiram as clínicas
psiquiátricas; por outro, as prisões se tornaram mais humanizadas. O poder deixou de fixar
a lei e passou a focar a internalização subjetiva da norma, “através de mecanismos de
dominação do corpo social, que o mantinha atado por uma trama cerrada de coerções
disciplinares, de forma a garantir-lhe coesão”5. O poder disciplinar, portanto, usa como
instrumento uma hierarquia clara, uma série de atividades repetitivas, vigilância e
avaliação para formar corpos dóceis. São técnicas de controle dos corpos e dos produtos do
trabalho e rituais de obediência que realizam uma constante força a fim de garantir a
submissão.

Para Foucault, “a disciplina não é mais simplesmente uma arte de repartir os corpos, de
extrair e acumular o tempo deles, mas de compor forças para obter um aparelho
eficiente”6. O poder disciplinar não tem a função de apropriar-se, mas de adestrar, e a
vigilância se torna um operador econômico decisivo por ser peça interna no aparelho de

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produção e na engrenagem do poder disciplinar. O modelo do Panóptico proposto por


Bentham e discutido por Foucault ajuda a visualizar essa assertiva:

“O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é


conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de
largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida
em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas,
uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior,
permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre
central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um
escolar”7. (grifos do original)

Nesse sentido, o Panóptico é uma forma de assujeitamento dos presos, uma vez que,
entendendo que são observados, agem de forma pacífica, independentemente da
comprovação da vigilância. Assim, o controle é realizado de maneira subjetiva e individual;
cada pessoa vigiada respeita as normas estipuladas naquele estabelecimento pelo simples
temor da observação.

O surgimento da sociedade disciplinar é reflexo do estabelecimento do poder disciplinar,


cujo modelo é o esquema panóptico. Não é a substituição de um poder por outro, mas a
infiltração de um no outro. Nessa lógica, a norma, em sentido amplo, é muito importante
para integrar os indivíduos à sociedade; caso não a respeitassem, seriam excluídos, e
aqueles que facilmente se moldassem à norma, recompensados. Pode-se afirmar,
portanto, que a sociedade disciplinar se caracterizou por técnicas de modulação subjetiva
para o exercício do controle pela imposição da servidão voluntária 8 dos indivíduos diante da
constante possibilidade de exclusão.

Ao demonstrar uma relação entre o poder disciplinar e a sociedade líquida, Bauman e Lyon 9
afirmam que se vive em um modelo pós-panóptico, ou seja, na mesma proporção da
pacificação e do assujeitamento estabelecidos no poder disciplinar, mas em um espaço
desterritorial: o ciberespaço. Graças ao acesso a dados pessoais disponíveis no
ciberespaço, todos são vigiados e controlados. Nesse sentido, quanto maior o acesso aos
dados pessoais, maior será o poder daquele que os detém diante daqueles que os expõem.
A consequência é similar ao poder disciplinar supramencionado, ou seja, o assujeitamento
e a subordinação.

Observa-se a inviabilidade do anonimato em razão da condição de vigilância e da confissão


da sociedade atual. Os indivíduos submeteram seus direitos à matança da privacidade por
vontade própria. A erosão do anonimato é uma consequência dos serviços realizados na
internet e nas mídias sociais, sendo a servidão relacionada à ideia do “faça você mesmo” 10.

Assim, nesse modelo pós-panóptico, o indivíduo tem papel ativo na sua própria vigilância.
A negativa dos ditames da sociedade confessional acarreta a morte social pela exclusão11.
O modelo é fundamental para a compreensão da autodisciplina, uma vez que a visibilidade
se torna a armadilha de sujeição. Quando se observa tal modelo em confronto com o
acesso a dados pessoais disponíveis na rede, é nítido que os conceitos de poder e de
controle caminham para uma nova designação, em razão da constante vigilância: os
algoritmos mostrarão aqueles que devem ser confinados, ou ainda controlados, e aqueles
que serão excluídos12 pela sua discriminação racional logarítmica.

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Para Cassino13, saiu-se da sociedade disciplinar, estabelecida por Foucault, que tinha por
base a força física, para a sociedade de controle, cuja ferramenta é a modulação 14 pela
tecnologia. Deleuze destaca que a mutação do capitalismo propiciou a modificação do
exercício do poder, o controle é executado de forma contínua e ilimitada; os “indivíduos
tornaram-se ‘dividuais’, divisíveis, e as massas tornaram-se amostras, dados, mercados
ou ‘bancos’”15, sendo o marketing instrumento da modulação social.

O poder, então, opera-se pelos valores de forma contínua, em diferentes níveis, e se


sustenta o tempo todo na obtenção de informações individuais. Segue a lógica do
conhecimento para intervenção por meio de sugestões e de direcionamento
comportamental.

A modulação algorítmica tem por objetivo influenciar comportamentos com a manipulação


da mídia, incita a singularidade dos indivíduos por meio do Big Data16. É fato que a
modulação algorítmica é superior à manipulação midiática por ter como base a mediação
de algoritmos, a inteligência artificial (Machine Learning), sendo subsidiada por
gigantescas bases de dados (Big Data) com o objetivo de influenciar a retenção da atenção
e as decisões de compra predefinidas por profissionais de marketing e desenvolvedores de
softwares17.

Para Zuboff18, o controle no ciberespaço é realizado pelo Big Other19 por meio do acesso a
dados pessoais. O Big Other classifica, identifica e diagnostica tendências e interesses pelo
constante monitoramento individual, mas recorrendo à modulação coletiva, seja por
interesse mercadológico, seja por interesses estatais.

Não é errado afirmar que o acesso a dados e sua utilização para a modulação brincam com
medos, instintos e raiva para criar polos sociais, facilitando, assim, a dominação. Podem-se
citar como exemplos diversos casos contemporâneos, como a investigação envolvendo a
Cambridge Analytica na eleição do presidente americano Donald Trump, sua influência no
Brexit20 ou ainda nas discussões sobre fake news. Independentemente da influência do uso
de dados para a manipulação democrática, é fato que a modulação algorítmica é realizada
em âmbito desterritorial e além das soberanias estatais.

Nesse cenário, o acesso a dados se tornou “um instrumento valioso, podendo potencializar
a esfera do dano a ser impingido e, ainda, tornar-se uma informação organizada,
percorrendo desde os atos mais banais aos mais íntimos de cada indivíduo”21. Assim, o
consumidor é a própria mercadoria ao dispor de seus dados; no entanto, como explicam
Verbicaro e Martins22, ele não reconhece a exata dimensão dada ao uso de suas
informações disponibilizadas.

O internauta está numa relação assimétrica de poder e informação. A noção de privacidade


é reconfigurada diante de um constante mecanismo de controle, escancarado em razão
dos fatos destacados anteriormente no contexto da pandemia. Urge garantir a
transparência ante o armazenamento, a utilização, a venda e a exploração dos dados
pessoais pelos agentes econômicos. O consumidor, na maioria dos casos, não tem a real
compreensão do poder concedido a outrem quando oferta suas informações pessoais.
Portanto, a sociedade pós-panóptica é caracterizada pela transformação do consumidor
em mercadoria, sendo diretamente controlado, modulado e direcionado. A proteção dos
direitos fundamentais do consumidor é colocada em dúvida quando o seu eu, revestido de

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informações, é exposto na internet.

3. O novo ciclo mercadológico dos dados pessoais e atores da publicidade


direcionada

Os negócios que envolvem o acesso a dados pessoais são, aparentemente, gratuitos, o que
contraria a tradicional relação jurídica caracterizada pela contraprestação pecuniária
direta. No entanto, essa relação é suportada pelo financiamento da publicidade
direcionada. Quando se observa a economia de dados, constata-se que o consumidor é a
própria mercadoria, uma vez que são as suas informações que servem de insumo para essa
economia.

Segundo Konder e Souza23, para que um contrato seja considerado oneroso, é necessário
verificar as vantagens e os sacrifícios das partes, o que não implica um nexo de
reciprocidade obrigacional, sendo a onerosidade dependente da existência de qualquer
sacrifício, ainda que não esteja diretamente vinculada ao objeto contratual. Mesmo que
não haja a indicação clara de remuneração direta, existem os casos com “gratuidade
aparente”, em que o fornecedor, embora não exija diretamente do consumidor a
prestação, alcança vantagem em razão daquela relação, o que ocorre nitidamente na
economia de dados pessoais24.

No mesmo sentido, Bioni dispõe:

“Traçando um paralelo com outras operações econômicas, cuja contraprestação pelo bem
de consumo é fixada pecuniariamente, sabe-se exatamente o custo de transação
caracterizado por um deslocamento patrimonial, enquanto na lógica da economia
informacional, é incerto como a disponibilização de uma informação pessoal poderá afetar
o seu titular e, por conseguinte, o ‘preço’ a ser pago pelo bem de consumo” 25. (grifos do
original)

A expressão zero-price advertisement business model estabelece de forma clara o modelo


em discussão: o consumidor não paga uma quantia determinada pelo produto ou pelo
serviço, mas a contraprestação será realizada indiretamente pela venda dos dados
pessoais coletados26. O consumidor, com o direcionamento publicitário, participa do ciclo
mercadológico do bem, como matéria-prima e destinatário final. Nesse sentido, o negócio
binomial tradicional não é comportado nesse tipo de modelo, uma vez que diversos atores
participaram da relação consumerista realizada.

Os anúncios publicitários não estão vinculados a websites, mas na navegação dos usuários.
Os players agem de forma cooperativa para direcionar a mensagem publicitária e criar
perfis de consumo. Conforme Bioni 27, na prática, é possível realizar o direcionamento
publicitário por redes (ad networks) conectadas por milhares de veículos (publishers) aos
anunciantes (advertisers). Os veiculadores publicitários (publishers) terceirizam a venda
dos seus espaços publicitários ao anunciante (advertiser) para a promoção de um produto
ou serviço, alcançando ainda outros inúmeros atores relacionados com a publicidade
direcionada na web.

A terceirização da comercialização dos espaços publicitários possibilita o rastreamento do


consumidor por meio de tecnologia de coleta, processamento e circulação para criar uma
arquitetura da navegação e, consequentemente, o perfil comportamental do usuário. A

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sobreposição das redes de publicidade pelo acúmulo de maior quantidade de dados gera o
data brokers28.

Data brokers são intermediários que coletam informações pessoais dos consumidores de
variadas fontes para vendê-las ou cedê-las a outras empresas. São empresas que
normalmente não participam da relação de consumo tradicional; muitas vezes, o
consumidor desconhece a sua existência e a sua prática. Para a Federal Trade
Commission29, os data brokers compilam informações dos consumidores com o principal
objetivo de traçar perfis a fim de direcionar a publicidade. Tal tratamento de informação
normalmente não é informado ao consumidor, que tem seus dados coletados, manipulados
e compartilhados sem seu conhecimento e, consequentemente, sem seu consentimento.
Trata-se de um ciclo informacional obscuro na relação, que influi, porém, diretamente no
êxito do negócio.

Com novos atores, é possível afirmar que a concepção de fornecedores na relação discutida
deve ser ampliada. O artigo 3º30 da Lei 8.078 – o Código de Defesa do Consumidor (CDC
(LGL\1990\40)) – enuncia um rol de fornecedores, e o termo “mediante remuneração”
deve ser interpretado de forma ampla para considerar ganhos indiretos. Assim,
exemplificativamente, equipara-se ao fornecedor aquele intermediário da relação de
consumo. Como exemplo, podem-se citar as plataformas virtuais na economia
colaborativa. São consideradas provedoras de aplicação, conforme o artigo 15 da Lei
12.965/2014 (LGL\2014\3339), e responsáveis em caso de vício ou defeito do produto
e/ou serviço31. Ainda, a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709, de 14 de agosto de
2018 (LGL\2018\7222)) criou as figuras do controlador e do operador de dados pessoais,
que serão responsabilizados em caso de uso indevido ou ilícito.

Nesse sentido, é fato que o zero-price advertisement business model é uma complexa
forma de realização de negócio por intermédio de novos atores, por vezes desconhecidos
pelo consumidor, tendo em vista a criação de perfis com a finalidade de direcionar a
publicidade, e, com base no perfil comportamental, a persuasão ao consumo de bens e/ou
serviços. Afirmar que a ausência de onerosidade desqualifica a relação de consumo é uma
grande falácia. Nessa relação, o consumidor, além da participar de todo o ciclo
mercadológico como destinatário final do bem de consumo por meio da publicidade
direcionada, torna-se a própria mercadoria, quando disponibiliza seus dados pessoais para
ter acesso à plataforma.

4. Implicações jurídicas do acesso a dados pessoais nas relações de consumo: a


vulnerabilidade algorítmica do consumidor inserido nesse contexto

Todo consumidor é considerado vulnerável em razão do caráter economicamente desigual


da relação de consumo e da maior exposição ao risco de danos. A vulnerabilidade pode ser
dividida em várias subcategorias (econômica, informacional, comportamental, situacional
e etc.), conforme o caso em análise, sendo, inclusive, agravada por condições
(a)temporais.

No que diz respeito ao consumidor-vidro32, as relações virtuais que envolvem o uso de


dados pessoais representam um puro negócio modulado por racionalidade algorítmica. A
reconfiguração da noção de privacidade diante de tais mecanismos de vigilância e controle,
a impossibilidade de agir de maneira diversa do estabelecido pelos termos de adesão dos

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aplicativos e sites, a dependência do novo modelo de negócio, muitas vezes disponibilizado


em caráter de monopólio em clara concentração de mercado, acabam por gerar uma nova
espécie de vulnerabilidade: a algorítmica.

A vulnerabilidade algorítmica decorre da captação, tratamento e difusão indevidos dos


dados pessoais do consumidor, às vezes por intermédio de dispositivos dotados de
inteligência artificial, em franca violação aos direitos da personalidade, como a privacidade
e intimidade, por exemplo.

Também, essa nova espécie de vulnerabilidade decorre da insuficiência tecno-normativa


do Direito para a adequada tutela da hiperconfiança do consumidor nesse admirável e
igualmente perigoso mundo virtual, desestabilizando o senso de realidade e de perigo aos
riscos a que está exposto. Em outras palavras, a insuficiência normativa, o abstencionismo
estatal e o protagonismo das grandes plataformas virtuais criam as condições ideais para
a concretização dos danos no ciberespaço.

A gestão de dados coletados incide diretamente no direito à privacidade do consumidor no


que diz respeito às informações que podem ser coletadas, bem como na sua possibilidade
de escolha do revelado e esquecido33, relacionados diretamente com o direito da
personalidade do consumidor quanto à preservação da sua individualidade.

Uma outra dimensão da violação da privacidade e da intimidade concerne à necessidade de


estar só (right to be alone)34: o consumidor pretende garantir o isolamento e a proteção de
sua vida íntima, ou seja, garantir a prerrogativa que lhe é conferida constitucionalmente de
se proteger em sua privacidade, de não deixar que certos elementos sejam conhecidos
pelos demais e de não ser perturbado35. No ciberespaço, nota-se diretamente a quebra da
previsão constitucional do direito de estar só no acesso aos dados e na sua utilização pelos
meios publicitários. Desconectar-se não é mais uma garantia do isolamento; mas de se
proteger contra os mecanismos de assédio, viabilizado pela coleta de dados no
ciberespaço.

Assim, os dados dizem respeito a uma nova espécie de definição de identidade e, por isso,
devem ser protegidos de forma fidedigna. Além da novel categoria da vulnerabilidade
algorítmica, convêm destacar outras dimensões correlatas dessa característica intrínseca
do consumidor, que podem coexistir numa mesma situação concreta, como se verá a
seguir.

4.1. A vulnerabilidade informacional

O direito de se informar é uma prerrogativa concedida às pessoas. O exercício do direito


subjetivo corresponde à obrigação de outrem. Assim, o direito de informação decorre do
dever de alguém informar. Nas relações de consumo, de acordo com o artigo 6º, III, do
CDC (LGL\1990\40), cabe ao fornecedor a obrigação de manter o consumidor informado36,
como garantia do exercício da liberdade de escolha.

No ambiente virtual, o dever de informar faz parte do rol de deveres mais relevantes para
a relação de consumo. Pelas próprias características do ciberespaço, em razão de sua
natureza despersonalizada, a informação é o principal instrumento para a realização do
negócio. As ofertas em sites são globais, amplas e a distância. São “ofertas sem diálogo”,
desumanizadas, sem cara37. Daí a necessidade da informação, sem a qual a livre escolha

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do consumidor ficará comprometida na origem.

A informação tem o papel de preparar o consumidor para um ato de consumo


verdadeiramente livre, sem vício no consentimento, fundamentado de forma clara,
adequada e completa38. Pode-se confirmar isso quando se examina a oferta, por exemplo,
no artigo 31 do CDC (LGL\1990\40): o legislador tem a preocupação na especificar que as
informações sobre os produtos e serviços devem ser “corretas, claras, precisas, ostensivas
e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição,
preço, garantia, prazos de validade e origem”.

Para Verbicaro e Freire39, o acesso à informação adequada é fundamental para uma


escolha livre, permitindo ao consumidor, mesmo que indiretamente, excluir os
fornecedores desleais, tornando-se um consumidor consciente, exercendo sua cidadania
participativa em prol da coletividade.

No entanto, a vulnerabilidade informacional é uma das características mais presentes nas


relações de consumo. Deve-se não à completa ausência de informação, mas à falta de
informações claras, completas e compreensíveis sobre o produto e/ou serviço. Por isso,
Verbicaro e Ataíde afirmam que ao “consumidor não é suficiente a mera disponibilidade da
informação. Mais do que isto, é necessário que ela permita o processamento e a
compreensão do seu conteúdo pelo consumidor menos instruído” 40. Assim, caso a
quantidade de informação técnica seja insuficiente e esteja distante do conhecimento
cotidiano, o consumidor não terá condição de entender a realidade.

Quando se analisam as relações consumeristas com o avanço das tecnologias, observa-se


o abismo informativo provocado pela imprevisibilidade, em alguns casos, do machine
learning. Nesse caso, a confiança e a boa-fé são fundamentais para a contratação, sem
adentrar a responsabilidade em casos de dano ocasionado pela inteligência artificial. No
que diz respeito ao acesso a dados com a finalidade da modulação publicitária, pode-se
afirmar que ocorre dano informativo em razão do ocultamento da intenção negocial41.

Para Barbosa, o dano informativo é decorrente da ausência de informação e,


consequentemente, do vício de consentimento. A autora destaca três aspectos da ausência
da informação:

“i. ela é desconhecida do fornecedor (nos casos em que a imprevisibilidade é característica


do próprio produto ou serviço, como nos casos de IA); ii. ela é, propositadamente,
solapada pelo fornecedor (nos casos em que a atenção do consumidor é, pelo uso de
diversas técnicas de marketing, direcionada totalmente para o conteúdo publicitário); iii.
ela é, propositadamente, desconfigurada pelo fornecedor (nos casos em que se cria uma
confusão entre realidade e fantasia, aproveitando-se, em especial, da vulnerabilidade de
alguns grupos de pessoas)”42.

No contexto da modulação racional algorítmica publicitária discutida no presente estudo, a


contratação é realizada por adesão a cláusulas difíceis, técnicas e, com frequência, em
outro idioma, o que implica o vício de consentimento do consumidor, que, por vezes, não
sabe de fato o que está contratando, dada a ignorância, a deficiência de julgamento 43 e
ainda a falta de uma real compreensão da utilização de seus dados.

Por outro lado, também o excesso de informação é uma circunstância prejudicial ao

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consumidor, na medida em que, no ambiente virtual, objetiva-se o alcance massificado da


oferta e da publicidade, não se levando em consideração as condições pessoais e as
necessidades reais do destinatário da mensagem, que depende exclusivamente de uma
oferta genérica e orientada pela inteligência artificial. Não há espaço para dúvidas
específicas, pois o formato das respostas é padronizado e limitado.

A informação excessiva confunde, a pretexto de orientar, fazendo com que a escolha do


consumidor acabe sendo funcionalizada pelos artifícios da inteligência artificial, seja por
pela pressão para forçar uma decisão rápida e irrefletida, seja pela sugestão (nem sempre
confiável) de que o produto ou o serviço foi bem avaliado por outros consumidores.

Diante de uma sociedade dinâmica com inúmeras opções, o ato de fazer escolhas
autênticas se torna incômodo, pois traz responsabilidades, razão pela qual uma informação
excessiva e eminentemente técnica leva o consumidor a decidir por impulso, em ato de
hiperconfiança, o que pode trazer consequências negativas, que não apenas o mero
arrependimento.

Ocorre, portanto, um inexorável agravamento da vulnerabilidade informacional do


consumidor, além da nítida caracterização do dano informativo: no âmbito do ciberespaço,
o consumidor não entende a relação entre o consentimento e a disponibilização de seus
dados pessoais; compreende menos ainda, pela própria obscuridade do negócio, que seus
dados serão utilizados como incentivo ao consumo por estratégias de marketing.

4.2. A vulnerabilidade comportamental do consumidor e o assédio de consumo

Para Oliveira e Carvalho44, a vulnerabilidade comportamental é o reconhecimento das


limitações intrínsecas do consumidor contemporâneo que busca um estilo de vida ideal,
padronizado pelo mercado. Nesse sentido, tal consumidor passa a estar no centro da
relação consumerista, vendo os bens e serviços disponibilizados em um universo
imaginário de poder, diferenciação social, segurança, beleza e emoções, transformando-os
em objeto de seus desejos.

Pode-se relacionar a vulnerabilidade comportamental do consumidor com a obsolescência


psicológica45, que ocorre quando se utilizam mecanismos de indução, instigação, sedução
para fazer o consumidor gastar reiteradamente de forma a tornar o produto obsoleto na
sua psique, apresentando o novo como melhor em relação ao velho, antiquado e obsoleto.

Assim, o ponto central da relação é o consumidor, que vê a satisfação de suas necessidades


fisiológicas, sociais e emocionais atreladas ao consumo. Para a economia
comportamental46, as escolhas dos consumidores são impulsivas e irracionais. Os insights
comportamentais47 traduzem a fragilidade comportamental do consumidor diante de
práticas agressivas de marketing, que “desculpabiliza” o ato de comprar, levando-o a uma
vida preocupada exclusivamente com o tempo presente.

A proposta de uma vida “presentista” sugere decisões rápidas e não refletidas, que alienam
o consumidor. É o fenômeno definido por Byung-Chul Han como “cansaço da
informação”48. como” A totalização do consumo suprime toda formação de contração
imunológica. Uma defesa imunológica intensa sufoca a comunicação. Quanto menor a
barreira imunológica, mais rápida se torna a circulação da informação” 49.

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A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
acesso a dados pessoais no ciberespaço

Por meio da expressão “barreira imunológica”, Han define a capacidade de reflexão, de


objeção e de repulsa do consumidor, que se perdeu no atual estágio de uma sociedade
consumista e voltada para o espetáculo,50 o que favorece o consumo irrefletido de
informações sem qualquer espécie de filtro crítico e gera distúrbios psicológicos. Segundo
Han, o “cansaço da informação” ou “Síndrome da Fadiga da Informação (SFI)”, “é a
enfermidade psíquica que é causada por um excesso de informação. Os afligidos reclamam
do estupor crescente das capacidades analíticas, de déficits de atenção, de inquietude
generalizada ou de incapacidade de tomar responsabilidades” 51.

Cada vez menos, o consumidor tem a capacidade de distinguir o supérfluo do essencial,


vindo a desenvolver uma individualidade fictícia, tornando-se um ser genérico52. Seres
genéricos buscam uma “felicidade privada”, por meio da satisfação de inúmeros desejos de
consumo, como a longevidade a todo custo, maior produtividade, o prazer hedonista de
novas experiências, modelos estéticos para atenuar qualidades que o sujeito (por
influência do mercado) considera como indesejáveis, etc.

A publicidade direcionada pela racionalidade algorítmica tem por objetivo explorar a


irracionalidade e a compulsão do consumidor. Consequentemente, em razão da
vulnerabilidade comportamental do consumidor ante as práticas predatórias de marketing,
o direcionamento e a subjetivação do ciberespaço influenciam diretamente o poder de
escolha do consumidor.

Nesse sentido, o assédio de consumo tem a finalidade de influir no convencimento do


consumidor por meio da sugestão de um envolvimento com o produto ou a marca,
destacando que a escolha diversa do direcionado ocasionará o seu isolamento social.
Assim, a constante necessidade de pertencimento faz com que a liberdade de escolha do
consumidor seja mitigada. É mais adequado atender a influência do assédio do que ser
excluído socialmente53.

O combate ao assédio de consumo permite a proteção do direito à liberdade de escolha,


garantido, no Brasil, enquanto direito básico do consumidor. Em alguma medida, trata-se
de um direito que consagra, também, a proibição de práticas 54. Para efeitos de
comparação, o Anexo I da Directiva 2005/29/CE da União Europeia definiu as práticas
comerciais que caracterizam o assédio de consumo tendo em vista o combate a essa
prática55.

O Código de Defesa do Consumidor não indicou de forma explícita as práticas consideradas


como assédio de consumo. No entanto, nos artigos 30, 31 e 37, destaca-se a proteção do
consumidor quanto à oferta e à publicidade, e, no artigo 39, há o rol das práticas abusivas.
Apesar do realce dado aos tipos ilícitos (publicidade abusiva e enganosa) ensejadores de
uma tutela jurídica, isso não é suficiente para combater o constante assédio sofrido pelo
consumidor cotidianamente.

No país, o Projeto de Lei (PL) 281/2012, atual PL 3514/2015 56, e o PL 283/2012, atual PL
3515/201557, combatem diretamente o assédio de consumo. O PL 3515/2015, no seu
artigo 54-C, veda o assédio de consumo na oferta de crédito, principalmente aos
considerados hipervulneráveis. Já o PL 3514/2015 se propõe a ampliar o rol de direitos
básicos do consumidor, ao dispor que, no artigo 6º do CDC (LGL\1990\40), deve constar o
inciso XII, assegurando “a liberdade de escolha, em especial frente a novas tecnologias e

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acesso a dados pessoais no ciberespaço

redes de dados” e vedando “qualquer forma de discriminação e assédio de consumo”. Os


referidos projetos, porém, ainda estão em andamento na Câmara dos Deputados.

O consumidor, portanto, em razão de sua vulnerabilidade comportamental e do contínuo


assédio direcionado com base no acesso a seus dados pessoais, vive em constante estado
de danosidade pela exposição cotidiana a práticas de modulação algorítmica.

4.3. A vulnerabilidade situacional

A vulnerabilidade situacional decorre da existência de situações específicas que possuem


limitação temporal58. É a vulnerabilidade experimentada em um contexto determinado,
com características pessoais e situacionais, algo bastante comum no ambiente virtual, em
virtude da dependência do consumidor em relação às novas tecnologias.

Para Baker59, a vulnerabilidade pode ser rotulada como abordagem situacional. Estudiosos,
usando essa abordagem, tratam a vulnerabilidade como um conceito multidimensional e
como um processo dinâmico. A vulnerabilidade é considerada como uma questão empírica
a ser determinada com base na natureza da situação real e na realidade do cotidiano.
Assim, a vulnerabilidade situacional é fluida e construída socialmente dependendo do
contexto.

Baker60 ainda afirma que a perspectiva situacional fornece uma ferramenta teórica mais
sensível para a análise da impotência e da dependência das pessoas ante uma dada
situação. A vulnerabilidade algorítmica pode ser entendida como um aprimoramento da
vulnerabilidade situacional, especificada para um contexto de tratamento dos dados
pessoais do consumidor.

Na abordagem do consumidor no ciberespaço, é fato que, para se utilizar de sites e


aplicativos, por haver um contrato de adesão, a negativa em dispor de seus dados implica
a inutilização do serviço. Além disso, a natureza de certos modelos de inteligência artificial
se vincula à captura de dados. Por exemplo, a função principal do celular não é a absorção
das rotas do consumidor via GPS, no entanto, não só isso acontece como é transformado
em publicidade direcionada para o consumo de bens e serviços fornecidos por empresas
situadas nas proximidades dos aparelhos.

Pode-se destacar ainda que, mesmo com a negativa de utilização de aplicativos e serviços
coletores de dados, o acesso à rede de transmissão possibilita o acesso aos dados. Nesse
sentido, o contexto em que o consumidor está inserido é decisivo para disponibilizar
informações pessoais, o que indica sua vulnerabilidade situacional.

Assim, observa-se que a vulnerabilidade situacional na disponibilização de dados pessoais


é caracterizada pela liberdade mitigada pelas circunstâncias. Os contratos são de adesão,
e a negativa impossibilita a utilização do produto e/ou do serviço. Nesse sentido, é fato que
se trata de um consentimento viciado pela inexistência da autonomia de vontade do
consumidor. Ser vulnerável situacional é ter sua liberdade relativizada pela situação em
que está inserido. No caso em comento, não se pode falar em consentimento concreto
quando as próprias condições da relação impossibilitam o exercício da autonomia de
vontade.

5. A responsabilização por uso indevido de dados pessoais: aspectos gerais da

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acesso a dados pessoais no ciberespaço

Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais

A Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD),


sancionada no dia 14 de agosto de 2018, com vigência estabelecida a partir de agosto de
2020 – inaugura no país o regime de proteção de dados pessoais. Essa lei – juntamente
com a Lei de Acesso à Informação (Lei 12.527/2011 (LGL\2011\4603)), o Marco Civil da
Internet (Lei 12.965/2014 (LGL\2014\3339)) e o Código de Defesa do Consumidor (Lei
8.078/1990 (LGL\1990\40) e Decreto 7.962/2013 (LGL\2013\2685)) e demais
legislações– moderniza o conjunto normativo para o tratamento da informação no país.

A LGPD está dividida em 10 capítulos e se aplica a todos os que realizam o tratamento de


dados pessoais, independentemente do meio no território nacional, seja pela coleta, seja
pela prestação do produto e/ou serviço no território61. Tem uma base principiológica
específica, podendo-se destacar a finalidade, a adequação, a necessidade e a
transparência62 como princípios norteadores da autorização da utilização das informações
pessoais por meio do consentimento expresso do consumidor 63, por escrito ou por outro
meio que comprove a vontade do titular, cabendo, nesse caso, a inversão do ônus da
prova64.

A finalidade, por exemplo, foi citada em diversos momentos na lei em discussão, como nos
artigos 5º, XII, 6º, 7º, § 3º, 8º, § 4º, 9º, I e V, § 2º, 10º, § 1º, 11º, I, 15, I, 33, VIII, e 60,
II. A principal premissa é vincular o tratamento de dados pessoais ao fim que motivou e
justificou a sua coleta, destacando-se que a utilização dos dados pessoais de maneira
diversa da finalidade informada ao consumidor será justificativa para amparar a nulidade
do consentimento e a responsabilização do agente.

A Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) tem como objetivo proteger os direitos fundamentais,


como privacidade, honra, intimidade, direito de imagem, dignidade 65, uma vez que a
informação ligada a esses direitos fundamentais passou a ser um ativo para o mercado e o
governo, inclusive na disposição do poder66, conforme já visto. A LGPD busca assegurar o
livre desenvolvimento da personalidade da pessoa física, inclusive no ambiente virtual, por
entender que a vinculação à finalidade e à necessidade da utilização dos dados pessoais
será um reflexo da liberdade e da autonomia da pessoa para autorizar e revogar a
utilização de seus dados quando entender necessário67.

Para Pinheiro68, a facilidade do acesso a claros dispositivos de comunicação entre o titular


das informações e os agentes de tratamento é garantia de que o princípio da boa-fé
objetiva está presente em todo o processo.

Conforme o artigo 7º da LGPD, na hipótese em que o consentimento é requerido e existir


mudanças na finalidade para o tratamento de dados pessoais não compatíveis com o
consentimento original, o controlador deverá informar previamente o titular sobre tais
mudanças, podendo o titular revogar seu consentimento, caso discorde das alterações. De
acordo com Pinheiro69, o consentimento deve ser tão fácil de retirar quanto de dar, em
razão do respeito ao direito à informação que tal dispositivo legal defende.

Segundo Silva70, há na LGPD a dispensa da exigência do consentimento quando os dados


obtidos forem manifestamente tornados públicos pelo titular. Nesse sentido, a autora
questiona se o critério de qualificação da informação como de interesse público pode

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ampliar a margem de interpretação, o que fragiliza o consumidor quando exposto aos


ditames da sociedade confessional e de compartilhamento.

Por outro lado, considerando ainda o estabelecido nos artigos 20, 21 e 22 da LGPD, o
consentimento não deve ser uma maneira de onerar o titular dos dados, em nenhuma
hipótese, inclusive quando houver uma relação com decisões sobre a criação dos perfis de
consumo, de crédito e de aspectos da personalidade, tanto de forma coletiva quanto
individual.

No que diz respeito às novas formas de responsabilização dos agentes de tratamento de


dados pessoais, há mister de destacar o caráter solidário entre o controlador e o operador,
inclusive na reparação de danos coletivos71, salvo nas hipóteses de excludentes de
responsabilidade caracterizadas no artigo 43 da LGPD.

Vale ainda observar que a irregularidade no uso dos dados está vinculada à segurança da
proteção informacional. A adoção de medida de segurança para evitar acessos não
autorizados é de essencial importância no trabalho dos agentes. A LGPD estabelece
medidas de proteção contra o tratamento inadequado e ilícito dos dados, tendo os agentes
o dever de zelar pelos dados, desde a sua concepção até o término do tratamento e sua
exclusão, “podendo a autoridade nacional dispor sobre padrões técnicos mínimos,
considerando a natureza das informações, as características específicas do tratamento e o
estado atual da tecnologia, especialmente no caso de dados pessoais sensíveis”72. Em caso
de incidente de segurança que afete os dados processados, o agente de dados deve
informar a autoridade nacional no prazo razoável 73.

Quanto à proteção do consumidor inserido nesse ambiente de disponibilização e de acesso


aos dados, a LGPD faz clara referência ao Código de Defesa do Consumidor ao afirmar que,
para as violações de caráter consumerista, permanecem as regras de responsabilidade
atribuídas nesse código74, ou seja, a responsabilidade objetiva, atentando-se para suas
excludentes e exceções.

Quanto ao término da utilização dos dados, o caput e os incisos I a IV do artigo 16 da LGPD


preconizam que, além da eliminação, será autorizada a conservação dos dados diante de 4
(quatro) finalidades: 1) o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador;
2) o estudo por órgão de pesquisa, garantida, sempre que possível, a anonimização; 3) a
transferência a terceiro, desde que respeitados os requisitos legais; 4) o uso exclusivo do
controlador, vedado seu acesso por terceiro, e desde que sem identificação.

5.1. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais e a alteração da Lei


13.709/2018 pela Lei 13.853/2019

Uma das maiores críticas à Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) foi o veto ao artigo 55, cuja
principal consequência foi a retirada da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD),
que seria responsável pela elaboração e pela fiscalização de diretrizes para a instauração
da Política Nacional de Proteção de Dados.

É fato que tal veto representou uma inequívoca incerteza sobre a efetividade da aplicação
da lei pela supressão da autoridade de fiscalização. Nesse sentido, em virtude do vasto
clamor social e das severas críticas, a Presidência da República, em 27 de dezembro de
2018, criou, por meio da Medida Provisória (MP) 869, a Autoridade Nacional de Proteção de

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Dados. A MP foi aprovada em maio de 2019 pela Câmara e pelo Senado, e sancionada em
julho de 2019 pelo presidente da República por meio da Lei 13.853/2019
(LGL\2019\5777). Vale destacar ainda que em 26 de agosto de 2020, por meio do Decreto
10.474/2020 (LGL\2020\11365) foi aprovada a estrutura regimental e o quadro dos cargos
e funções em comissão que irão compor a ANPD.

A ANPD está vinculada à Presidência da República e goza de autonomia técnica garantida


pela lei. A ANPD contará com o Conselho Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da
Privacidade, composto por 23 titulares, não remunerados, com mandato de dois anos,
oriundos de diferentes setores: seis do Executivo Federal, um do Senado Federal, um da
Câmara dos Deputados, um do Conselho Nacional de Justiça, um do Conselho Nacional do
Ministério Público, um do Comitê Gestor da Internet no Brasil, quatro da sociedade civil,
com atuação comprovada em proteção de dados pessoais, quatro de instituição científica,
tecnológica e de inovação e quatro de entidade do setor empresarial ligado à área de
tratamento de dados pessoais75.

A ANPD tem competência regulatória, fiscalizadora e educativa apoiada no tripé governo,


mercado e sociedade, seguindo a lógica do compartilhamento de autoridade política
insculpida na Política Nacional das Relações de Consumo do CDC (LGL\1990\40). A
Autoridade interferirá nas práticas mercadológicas para garantir a proteção de dados
pessoais e também a proteção da privacidade, tendo como finalidade buscar maior
participação social, tanto pela educação e pela informação, como pela promoção de
medidas de participação coletiva, como audiências públicas e outras que favoreçam a
participação social no debate político qualificado.

Um outro ponto de relevância é a cooperação entre a ANPD e os órgãos internacionais, bem


como com órgãos e entidades da administração pública responsáveis pela regulação de
setores específicos da atividade econômica e governamental, a fim de facilitar as
competências regulatória, fiscalizatória e punitiva 76. No entanto, conforme o artigo 55-K da
Lei 13.853/2019 (LGL\2019\5777), a ANPD será o órgão central e exclusivo responsável
pela aplicação da lei e pela imposição de sanções, prevalecendo a sua decisão no que se
refere à proteção de dados pessoais.

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) emitiu a Nota Técnica 4/2019 sobre a


competência da ANPD e eventuais divergências na atividade entre os órgãos quando
estiver em discussão a utilização de dados pessoais nas relações de consumo:

“A nova competência preponderante da ANPD pode colocar em risco o andamento e


enforcement dos processos administrativos em andamento – sem prejuízo de outros que
possam porventura serem instaurados –, motivo pelo qual não faz sentido que a SENACON
seja privada de atuar no âmbito de uma matéria que é inerente às suas competências” 77.

Nesse sentido, apesar de reconhecer o diálogo entre as legislações e os órgãos que fazem
parte de ambas as políticas, a primazia da ANPD quanto às matérias que envolvem
relações consumeristas pode causar insegurança jurídica e inexecução das medidas
indicadas pelos órgãos integrantes da Política Nacional das Relações de Consumo quando o
assunto envolver dados pessoais.

5.2. Impactos causados pela crise da pandemia da COVID-19 na Lei Geral de

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Proteção de Dados Pessoais

No atual contexto, com a propagação da pandemia da COVID-19, a proteção de dados


pessoais apresentou novos quadros. Quanto à vacatio legis, a Medida Provisória 959, de 29
de abril de 2020 (LGL\2020\5332), no seu artigo 4º, inciso II, dispôs que a Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais passaria a vigorar em 3 de maio de 2021. Já a vigência da
atuação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, quanto à aplicabilidade de sanções
administrativas, foi postergada para o dia 1º de agosto de 2021, em atenção à Lei
14.010/2020 (LGL\2020\7511), apesar da sua criação por meio do Decreto 10.474 de 26
de agosto de 2020 (LGL\2020\11365).

Ainda em 26 de agosto de 2020, o Senado aprovou a MP 959 de 29 de abril de 2020


(LGL\2020\5332), no entanto, o seu artigo 4º foi considerado prejudicado e,
consequentemente, a LGPD entrará em vigor após a sanção ou veto do Presidente da
República.

Vale destacar a criação da Lei Federal 13.979/2020 (LGL\2020\1068), conhecida como “Lei
da Quarentena”, que impôs critérios para cumprimento de medidas de isolamento e
quarentena. Tal lei limitou direitos constitucionais básicos, como o de locomoção e de
liberdade econômica78. Ademais, foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro, por meio
do Decreto 10.212/2020 (LGL\2020\835), o Regulamento Sanitário Internacional
produzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que dedica especial atenção à
proteção de dados pessoais, especialmente no seu artigo 45 79, ao admitir o seu tratamento
pelos Estados quando for essencial para os fins de avaliação e de manejo de um risco para
a saúde pública80. Por outro lado, a Medida Provisória 954, de 17 de abril de 2020
(LGL\2020\4849), admitiu o compartilhamento de dados pessoais entre as empresas de
telefonia e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para fins de suporte à
produção estatística oficial durante uma situação de emergência de saúde pública 81.

Contra o compartilhamento de dados pessoais admitido pela MP 954/2020


(LGL\2020\4849), foi proposta a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6.387 em
razão da violação de direitos fundamentais, especialmente, a dignidade da pessoa
humana, a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das
pessoas, do sigilo dos dados e da autodeterminação informativa, garantidos nos artigos 1º,
III, e 5º, X e XII, da Constituição da República. Em 24 de abril de 2020, em Medida
Cautelar, a Ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), por meio de decisão
monocrática, determinou a suspensão da MP em discussão por entender pela ausência de
transparência, finalidade, adequação e proporcionalidade das medidas de
compartilhamento de dados admitidas pela Lei; ressaltou ainda o desrespeito à
autodeterminação informativa e ao direito à privacidade, necessários na análise de
qualquer estratégia que envolva dados pessoais, em atenção aos direitos fundamentais e
aos princípios estabelecidos na LGPD.

Nos dias 6 e 7 de maio, a decisão monocrática foi confirmada pela Corte do STF, que
reconheceu a proteção dos dados pessoais como direito fundamental autônomo. Essa
decisão, segundo Mendes82, é um marco histórico para a proteção dos dados pessoais por
reconhecer a proteção de dados pessoais como direito fundamental, por impor deveres
negativos e positivos ao Estado quanto a sua proteção e por indicar que a prorrogação da

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LGPD e a ausência da ANPD contrariam claramente os parâmetros constitucionais.

É inegável, portanto, a controvérsia estabelecida sobre a proteção da privacidade em


tempos de pandemia. De um lado, há uma decisão histórica e o reconhecimento da
proteção de dados pessoais como um direito fundamental autônomo; de outro, a
privacidade está sendo colocada em segundo plano diante da necessidade de proteção
coletiva contra a propagação do vírus. Entende-se que a crise da COVID-19 passará em
breve, no entanto, as escolhas feitas por governos e empresas podem ter efeitos
duradouros, o que exige o uso da tecnologia e dos dados de maneira transparente, técnica
e sem comprometer os direitos fundamentais, especialmente a privacidade.

6. Conclusão

O Código de Defesa do Consumidor, por sua natureza analítica, traz regras, princípios
positivados e vai além, ao conceituar seus institutos, como as noções de consumidor
(individual e coletivo) e fornecedor. Em relação a este último, estabeleceu um rol aberto e
exemplificativo no artigo 3º, abrangendo várias atividades e segmentos econômicos.

Quando se analisa o uso indevido de dados pessoais para a publicidade direcionada,


observa-se que todos os atores envolvidos na relação podem ser considerados como
fornecedores; já aquele que tem seus dados utilizados, mesmo por meio de um contrato
supostamente sem ônus, ou como resultado de uma informação espontânea, será
considerado consumidor, como observado na seção 3 do presente texto.

Caracterizada a relação de consumo e definidos os atores – consumidor e fornecedor –,


examinou-se as hipóteses de violação do direito de proteção aos dados no âmbito das
relações de consumo e se constatou que estão sujeitas à responsabilidade objetiva dos
agentes, conforme previsto no Código de Defesa do Consumido e na Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais. Isso se aplica às redes sociais, às plataformas de consumo
compartilhado, ao comércio eletrônico e à intensificação do consumo digital na pandemia
da COVID-19, em que o fornecimento de dados pessoais é condição para o acesso a
produtos e serviços.

O uso das plataformas virtuais pelo consumidor – aparentemente, vantajoso, dinâmico,


barato, eficaz, conferindo-lhe supostamente autonomia e domínio sobre a qualidade dos
serviços – esconde, na verdade, inúmeros riscos de devastação mercadológica da
privacidade e da intimidade, perfis de consumo sendo capturados pelas mais diversas
práticas de assédio.

É fato que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais apresenta regras específicas que
devem ser analisadas em conjunto com o Código de Defesa do Consumidor, em virtude da
aderência ao diálogo das fontes e da crescente mercantilização dos dados pessoais. Não se
pode discutir sobre proteção de dados sem observar como o seu uso indevido interfere na
fruição plena de alguns direitos básicos do consumidor, como privacidade, intimidade,
liberdade de escolha e acesso à informação qualificada.

Como foi visto no tópico 4, o uso e o tratamento abusivo dos dados pessoais do consumidor
favoreceu o surgimento de uma nova espécie de vulnerabilidade: a algorítmica, que
atrelada às suas congêneres informacional, comportamental e situacional, demonstram a
importância da regulação tecno-normativa do ciclo mercadológico nessa nova esfera

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virtual de poder e dominação.

Na verdade, não se tem a real dimensão dos riscos avindos da confiança excessiva do
consumidor nas plataformas eletrônicas, em especial quanto à colheita e destinação de
suas informações pessoais, daí porque se revela ingênuo acreditar em autonomia plena da
vontade do consumidor ao, inconscientemente, transigir e dispor acerca de sua intimidade
e privacidade.

A vinculação da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222) aos princípios da boa-fé objetiva, da


finalidade e da necessidade decorre da aparente superação da lacuna informativa existente
na relação consumidor-publishers-advertiser. Mas, e o consentimento? Pode-se falar da
prevalência da autonomia de vontade nessa relação? A resposta é negativa.

Por se tratar de uma relação de consumo, a liberdade será relativizada, possibilitando,


inclusive, o dirigismo contratual por meio da lei. Em outras palavras, não se pode falar em
protagonismo da vontade como principal fonte obrigacional das relações de consumo. Essa
vontade, portanto, está subordinada à lei, que, por sua vez, tem sua otimização garantida
pelas fontes principiológicas do CDC (LGL\1990\40) e pela sua dimensão plural e solidária.

Como se viu, diante da vulnerabilidade algorítmica do consumidor, deverá o Estado, por


intermédio dos seus órgãos competentes, garantir a proteção do consumidor. No entanto,
é louvável a preocupação da Senacon com a primazia da competência da ANPD e a
ausência de conselheiros vinculados a Política Nacional das Relações de consumo ou a
proteção do consumidor. Em uma relação em que coexistem direitos, devem imperar o
diálogo, a singularidade e a atuação conjunta dos agentes, tendo o Estado um papel
mediador importantíssimo na prevenção e repressão de abusos das grandes plataformas
eletrônicas em relação aos direitos da personalidade de seus usuários.

Por fim, fica a seguinte indagação: como se dará a efetiva responsabilização administrativa
no âmbito da ANPD, na hipótese do uso indevido de dados em uma relação de consumo em
que o consentimento foi viciado em razão da vulnerabilidade em quaisquer de suas
dimensões (algorítmica, informacional, comportamental e situacional) sem que haja a
atuação conjunta dos órgãos? Vale ressaltar que o tema é instável diante dos constantes
novos quadros relacionados à proteção de dados pessoais e à composição da ANPD.

Apenas com uma maior maturidade dos novos institutos jurídicos, com a participação
política qualificada de todos os agentes envolvidos em um diálogo racional permanente,
em especial pelo exercício da cidadania instrumental do consumidor, será possível avaliar
os níveis de eficácia social e de efetividade da nova dimensão da proteção jurídica dos
dados pessoais e, consequentemente, da privacidade virtual do consumidor.

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pdf]. Acesso em: 15.01.2020.

1 .NA CHINA, aplicativos de rastreamento do coronavírus estão em toda parte. G1. Matéria
difundida pela Agência France-Presse. 13 maio 2020. Disponível em:[
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/05/13/na-china-aplicativos-de-rastreamento-
do-coronavirus-estao-em-toda-parte.ghtml]. Acesso em: 10.06.2020.

2 .ALECRIM, Emerson. Polícia dos EUA diz usar rastreamento de contato contra

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A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
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manifestantes. Tecnoblog. 2 jun. 2020. Disponível em:


[https://tecnoblog.net/343157/rastreamento-contato-policia-estados-unidos-manifestant
es/]. Acesso em: 15.06.2020.

3 .MAPEAMENTO mostra aumento de consumo de mídia online no Brasil durante a


quarentena. G1. 16.04.2020. Disponível em:
[https://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2020/04/16/mapeamento-m
ostra-aumenta-consumo-de-midia-online-no-brasil-durante-a-quarentena.ghtml]. Acesso
em: 15.06.2020.

4 .BAZZICALUPO, Laura. Biopolítica: um mapa conceitual. São Leopoldo: Unisinos, 2017.


p. 70-71.

5 .MALCHER, Farah de Sousa; DELUCHEY, Jean-François Yves. A origem biopolítica do


direito tributário. Revista Brasileira de História do Direito, Curitiba, v. 2, n. 2, jul.-dez.
2016, p. 43.

6 .FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete.


20. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 189.

7 .FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete.


20. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 223.

8 .“Servidão voluntária” é um termo utilizado por Étienne de La Boétie que expressa os


motivos pelos quais os indivíduos preferem seguir regras determinadas por tiranos a
exercer sua própria liberdade. Na modernidade, tal servidão pode ser relacionada aos
dispositivos aos quais assujeitam o homem, como as práticas mercadológicas persuasivas
do consumo. Ver DE LA BOÉTIE, Étienne. Discurso sobre a servidão voluntária. Lisboa:
Antígona, 2016.

9 .BAUMAN, Zygmunt; LYON, David. Vigilância líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
p. 55-74.

10 .BAUMAN, Zygmunt; LYON, David. Vigilância líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
p. 61.

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A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
acesso a dados pessoais no ciberespaço

11 .Para Enriquez, “desde que não nos esqueçamos de que o que antes era invisível à cota
de intimidade – a vida interior de cada um – agora deve ser obrigatoriamente exposto no
público (sobretudo nas telas de TV, mas também no palco literário), devemos entender que
aqueles que prezam sua invisibilidade tendem a ser rejeitados, postos de lado ou
transformados em suspeitos de um crime. A nudez física, social e psicológica está na
ordem do dia” (ENRIQUEZ, Eugène. L’idéal type de l’individu hypermoderne: l’individu
pervers? In: AUBERT, Nicole (org.). L’individu hypermoderne. Toulouse: Érès, 2004. p. 49,
tradução nossa).

12 .BAUMAN, Zygmunt; LYON, David. Vigilância líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
p. 68-69.

13 .CASSINO, João Francisco. Modulação deleuzeana, modulação algorítmica e


manipulação midiática. In: SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo; SILVEIRA, Sérgio Amadeu
da (Org.). A sociedade de controle: manipulação e modulação nas redes digitais. São
Paulo: Hedra, 2018. p. 13-30.

14 .A base é o poder de modular, de cristalizar uma determinada subjetividade desejada,


sendo mais sutil por forjar mecanismos de influência, conforme o modelo de Gilles Deleuze.

15 .DELEUZE, Gilles. Post-Scriptum sobre as sociedades de controle. In: DELEUZE, Gilles.


Conversações. Rio de Janeiro: 34 Letras, 1992. p. 222, grifo do autor.

16 .Armazenamento, integração, processamento e tratamento dos dados pessoais


cotidianamente gerados.

17 .CASSINO, João Francisco. Modulação deleuzeana, modulação algorítmica e


manipulação midiática. In: SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo; SILVEIRA, Sérgio Amadeu
da (Org.). A sociedade de controle: manipulação e modulação nas redes digitais. São
Paulo: Hedra, 2018. p. 27.

18 .ZUBOFF, Shoshana. Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma


civilização de informação. In: BRUNO, Fernanda et al. (Org.). Tecnopolíticas da vigilância:
perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 17-68.

Página 24
A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
acesso a dados pessoais no ciberespaço

19 .Afirma Zuboff: “a autoridade é suplantada pela técnica, o que chamo de dimensão


material do poder, em que sistemas impessoais de disciplina e controle produzem certo
conhecimento do comportamento humano independentemente do consentimento”.
Trata-se de uma nova arquitetura universal – chamada BigOther – pela reconfiguração da
estrutura de poder que não mais se resume ao exercício totalitário e centralizado,
conforme o modelo delineado por Bentham e redesenhado na sociedade disciplinar de
Foucault. O novo modelo é descentralizado, contínuo e sem rotas de fuga em conformidade
com interesses financeiros e ideológicos que invadem a vida privada (ZUBOFF, Shoshana.
Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação. In:
BRUNO, Fernanda et al. (Org.). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São
Paulo: Boitempo, 2018. p. 42).

20 .Sobre o assunto, veja o documentário Privacidade Hakeada – Netflix.

21 .TADEU, Silney Alves. Um novo direito fundamental: algumas reflexões sobre a


proteção da pessoa e o uso informatizado de seus dados. Revista Direito do Consumidor,
São Paulo, v. 79, 2011, p. 91.

22 .VERBICARO, Dennis; MARTINS, Ana Paula Pereira. A contratação eletrônica de


aplicativos virtuais no Brasil e a nova dimensão da privacidade do consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, São Paulo, ano 27, v. 116, mar.-abr. 2018, p. 378.

23 .KONDER, Carlos Nelson de Paula. SOUZA, Amanda Guimarães Cordeiro de.


Onerosidade do acesso às redes sociais. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano
28, v. 121, jan.-fev. 2019, p. 190-191.

24 .KONDER, Carlos Nelson de Paula. SOUZA, Amanda Guimarães Cordeiro de.


Onerosidade do acesso às redes sociais. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano
28, v. 121, jan.-fev. 2019, p. 193.

25 .BIONI, Bruno Ricardo. Proteção dos dados pessoais: a função e os limites do


consentimento. 2. ed. São Paulo: Forense, 2020. p. 24.

26 .BIONI, Bruno Ricardo. Proteção dos dados pessoais: a função e os limites do

Página 25
A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
acesso a dados pessoais no ciberespaço

consentimento. 2. ed. São Paulo: Forense, 2020. p. 23.

27 .BIONI, Bruno Ricardo. Proteção dos dados pessoais: a função e os limites do


consentimento. 2. ed. São Paulo: Forense, 2020. p. 25.

28 .BIONI, Bruno Ricardo. Proteção dos dados pessoais: a função e os limites do


consentimento. 2. ed. São Paulo: Forense, 2020. p. 26.

29 .Para a Federal Trade Comission, “data brokers collect personal information about
consumers from a wide range of sources and provide it for a variety of purposes, including
verifying an individual’s identity, marketing products, and detecting fraud. Because these
companies generally never interact with consumers, consumers are often unaware of their
existence, much less the variety of practices in which they engage” (FEDERAL TRADE
COMMISSION. Data Brokers: Call for Transparence and Accountability. Washington, DC,
May 2014, p. i. Disponível em:
[www.ftc.gov/reports/data-brokers-call-transparency-accountability-report-
federal-trade-commission-may-2014]. Acesso em: 30.05.2020).

30 .Lei 8.078/1990 (LGL\1990\40): “Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,


pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços. § 1º Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2º
Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista”.

31 .VERBICARO, Dennis; VIEIRA, Janaina do Nascimento. A hipervulnerabilidade do turista


e a responsabilidade das plataformas digitais: uma análise a partir da perspectiva da
economia colaborativa. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 29, v. 127,
jan.-fev. 2020, p. 324.

32 .Conceito utilizado por Susane Lace para caracterizar o consumidor que dispõe de seus
dados e, consequentemente, mune o Big Data com suas informações, facilitando o
direcionamento publicitário (LACE, Susane. The glass consumer: life in a surveillance
society. Bristol: Policy Press, 2005).

Página 26
A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
acesso a dados pessoais no ciberespaço

33 .FERRAÇO, André Augusto Giuriatto. A autodeterminação informativa do consumidor a


partir da proteção de dados no âmbito internacional. Revista de Direito do Consumidor,
São Paulo, ano 28, v. 125, set.-out. 2019, p. 180.

34 .WARREN, Samuel D.; BRANDEIS, Louis D. The Right to Privacy. Harvard Law Review,
Cambridge, MA, v. 4, n. 5, p. 193-220, Dec. 1890.

35 .GOMES, Márcia Letícia; SPAREMBERGER, Raquel Fabiana; BRUM, Amanda Netto. Pelo
direito de estar só: o direito à intimidade na era da internet. In: CONGRESSO
INTERNACIONAL DE DIREITO E CONTEMPORANEIDADE, 3, 2015, Santa Maria. Anais [...].
Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2015, p. 7. Disponível em:
[http://coral.ufsm.br/congressodireito/anais/2015/6-13.pdf]. Acesso em: 05.01.2020.

36 .NUNES, Rizzatto. Curso de direito do consumidor. 11. ed., rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 120.

37 .MARQUES, Claudia Lima; KLEE, Antonia Espíndola. Os direitos do consumidor e a


regulamentação do uso da internet no Brasil: convergência no direito às informações claras
e completas nos contratos de prestação de serviços de internet. In: LEITE, George
Salomão; LEMOS, Ronaldo (Coord.). Marco civil da internet. São Paulo: Atlas, 2014.
p. 506.

38 .MARQUES, Claudia Lima; KLEE, Antonia Espíndola. Os direitos do consumidor e a


regulamentação do uso da internet no Brasil: convergência no direito às informações claras
e completas nos contratos de prestação de serviços de internet. In: LEITE, George
Salomão; LEMOS, Ronaldo (Coord.). Marco civil da internet. São Paulo: Atlas, 2014.
p. 509.

39 .VERBICARO, Dennis; FREIRE, Gabriela Ohana Rocha. O combate ao dumping social no


mercado de consumo através do exercício qualificado da liberdade de escolha do
consumidor. Revista de Direito, Globalização e Responsabilidade nas Relações de
Consumo, Porto Alegre, v. 4, n. 2, jul.-dez. 2018, p. 12.

40 .VERBICARO, Dennis; ATAÍDE, Camille da Silva Azevedo. O crédito como objeto de


tensão qualificada na relação de consumo e a necessidade de prevenção ao
superendividamento. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre, v. esp.,
n. 36, out. 2017, p. 79.

Página 27
A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
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41 .BARBOSA, Fernanda Nunes. O dano informativo do consumidor na era digital: uma


abordagem a partir do reconhecimento do direito do consumidor como direito humano.
Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 28, v. 122, mar.-abr. 2019, p. 221.

42 .BARBOSA, Fernanda Nunes. O dano informativo do consumidor na era digital: uma


abordagem a partir do reconhecimento do direito do consumidor como direito humano.
Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 28, v. 122, mar.-abr. 2019, p. 223.

43 .VERBICARO, Dennis; MARTINS, Ana Paula Pereira. A contratação eletrônica de


aplicativos virtuais no Brasil e a nova dimensão da privacidade do consumidor. Revista de
Direito do Consumidor, São Paulo, ano 27, v. 116, mar./abr. 2018, p. 375-380.

44 .OLIVEIRA, Amanda Flávio de; CARVALHO, Diógenes Faria de. Vulnerabilidade


comportamental do consumidor: porque é preciso proteger a pessoa superendividada.
Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 25, v. 104, mar.-abr. 2016, p. 196.

45 .SANTIAGO, Mariana Ribeiro; ANDRADE, Sinara Lacerda. A obsolescência programada e


psicológica como forma de biopoder: perspectivas jurídicas do consumismo. Quaestio
Iuris, Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, 2016, p. 1778.

46 .OLIVEIRA, Amanda Flávio de; CARVALHO, Diógenes Faria de. Vulnerabilidade


comportamental do consumidor: porque é preciso proteger a pessoa superendividada.
Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 25, v. 104, mar.-abr. 2016, p. 196.

47 .OLIVEIRA, Amanda Flávio de; CARVALHO, Diógenes Faria de. Vulnerabilidade


comportamental do consumidor: porque é preciso proteger a pessoa superendividada.
Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 25, v. 104, mar.-abr. 2016, p. 185-190.

48 .HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Petrópolis: Vozes, 2018.


p. 103.

49 .HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Petrópolis: Vozes, 2018.


p. 104.

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A nova dimensão da proteção do consumidor digital diante do
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50 .DEBORD, Guy. La sociedad del espectáculo. Valência: Pré-Textos, 2007.

51 .HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Petrópolis: Vozes, 2018, p.104.

52 .VERBICARO, Dennis; VERBICARO, Loiane da Ponte Souza Prado. A indústria cultural e


o caráter fictício da individualidade na definição de consumidor-comunidade global. Revista
Jurídica Cesumar, Maringá, v. 17, n. 1, p. 107-131, jan.-abr. 2017.

53 .VERBICARO, Dennis; RODRIGUES, Lays; ATAÍDE, Camille. Desvendando a


vulnerabilidade comportamental do consumidor: uma análise jurídico-psicológico do
assédio de consumo. In: VERBICARO, Dennis; ATAÍDE, Camille; ACIOLI, Carlos (Coord.).
Provocações contemporâneas no direito do consumidor. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018.
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54 .CATALAN, Marcos; PITOL, Yasmine Uequed. Primeiras linhas acerca do tratamento


jurídico do assédio de consumidor no Brasil. Revista Luso-Brasileira de Direito do
Consumo, [s.l.], v. 7, n. 25, mar. 2017, p. 185.

55 .São exemplos de assédio de consumo, conforme o Anexo I da Directiva 2005/29/CE da


União Europeia: “24. Criar a impressão de que o consumidor não poderá deixar o
estabelecimento sem que antes tenha sido celebrado um contrato. 25.Contactar o
consumidor através de visitas ao seu domicílio, ignorando o pedido daquele para que o
profissional parta ou não volte, exceto em circunstâncias e na medida em que haja que
fazer cumprir uma obrigação contratual, nos termos do direito nacional. 26. Fazer
solicitações persistentes e não solicitadas, por telefone, fax, e-mail, ou qualquer outro
meio de comunicação à distância excepto em circunstâncias e na medida em que haja que
fazer cumprir uma obrigação contratual, nos termos do direito nacional [...]. 27. [...]
deixar sistematicamente sem resposta a correspondência pertinente, com o objectivo de
dissuadir o consumidor do exercício dos seus direitos contratuais. 28. Incluir num anúncio
publicitário uma exortação directa às crianças no sentido de estas comprarem ou
convencerem os pais ou outros adultos a comprar-lhes os produtos anunciados [...]”
(UNIÃO EUROPEIA. Directiva 2005/29/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de
maio de 2005. Relativa às práticas comerciais desleais das empresas. Jornal Oficial da
União Europeia, ano 48, L 149, p. 22-39. 11 jun. 2005. Disponível em:
[https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32005L0029&from=E
L]. Acesso em: 15.01.2020).

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56 .O Projeto de Lei 3514/15 do Senado Federal – cujo número de origem é 281/2012 –


altera o Código de Defesa do Consumidor para aperfeiçoar a disciplina dos contratos
internacionais comerciais e de consumo.

57 .O Projeto de Lei 3515/15 do Senado Federal – cujo número de origem é 283/2012 –


altera o Código de Defesa do Consumidor para inserir uma seção para a proteção e o
combate ao superendividamento.

58 .XAVIER, José Tadeu; RIEMENSCHNEIDER, Patrícia. A vulnerabilidade agravada do


consumidor nas situações relacionadas à maternidade. Revista de Direito do Consumidor,
São Paulo, ano 28, v. 121, jan.-fev. 2019, p. 301.

59 .BAKER, Stacey Menzel. Vulnerability and Resilience in Natural Disasters: A Marketing


and Public Policy Perspective. Journal of Public Policy & Marketing, [s.l.], v. 28, n. 1,
Spring, 2009, p. 117.

60 .BAKER, Stacey Menzel. Vulnerability and Resilience in Natural Disasters: A Marketing


and Public Policy Perspective. Journal of Public Policy & Marketing, [s.l.], v. 28, n. 1,
Spring, 2009, p. 118.

61 .Vide artigo 3º da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

62 .Vide artigo 6º da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

63 .Vide artigo 7º da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

64 .Vide artigo 8º § 2, da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

65 .Vide artigo 2º da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

66 .PINHEIRO, Patrícia Peck. Proteção de dados pessoais: comentários à Lei 13.709/2018

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(LGL\2018\7222). São Paulo: Saraiva, 2019. p. 49-50.

67 .Vide artigos 17 e 18 da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

68 .PINHEIRO, Patrícia Peck. Proteção de dados pessoais: comentários à Lei 13.709/2018


(LGL\2018\7222). São Paulo: Saraiva, 2019. p. 82.

69 .PINHEIRO, Patrícia Peck. Proteção de dados pessoais: comentários à Lei 13.709/2018


(LGL\2018\7222). São Paulo: Saraiva, 2019. p. 67.

70 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a
Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos a privacidade,
intimidade e autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 28,
v. 121, jan.-fev. 2019, p. 383.

71 .Vide artigo 42 da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

72 .SILVA, Joseane Suzart Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a
Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos a privacidade,
intimidade e autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 28,
v. 121, jan.-fev. 2019, p. 388.

73 .Não houve definição de prazo na lei em discussão. Para Silva, “a multicitada Lei não
dispõe sobre o prazo para que a dita informação seja prestada, mencionando apenas que
será em lapsus temporis razoável, a ser fixado pela referida autoridade, mas se considera
que deverá ser concretizada com o máximo de urgência possível” (SILVA, Joseane Suzart
Lopes da. A proteção de dados pessoais dos consumidores e a Lei 13.709/2018
(LGL\2018\7222): em busca da efetividade dos direitos a privacidade, intimidade e
autodeterminação. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, ano 28, v. 121, jan.-fev.
2019, p. 389).

74 .Vide artigo 45 da Lei 13.709/2018 (LGL\2018\7222).

75 .Vide o artigo 58 da Lei 13.853/2019 (LGL\2019\5777).

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76 .Vide o artigo 55-J, inciso IX e § 4º, da Lei 13.853/2019 (LGL\2019\5777).

77 .BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional do Consumidor.


Nota Técnica 4/2019, de 11 de abril de 2019. Dispõe sobre a criação da Autoridade
Nacional de Proteção de Dados e sua competência. 2019, p. 2. Disponível em:
[www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1555356484.15/nota-tecnica-senacon.
pdf.] Acesso em: 15 jan. 2020.

78 .Lei 13.979/2020 (LGL\2020\1068): “Art. 3º [...] § 1º As medidas previstas neste


artigo somente poderão ser determinadas com base em evidências científicas e em
análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas no tempo e
no espaço ao mínimo indispensável à promoção e à preservação da saúde pública. [...] Art.
6º É obrigatório o compartilhamento entre órgãos e entidades da administração pública
federal, estadual, distrital e municipal de dados essenciais à identificação de pessoas
infectadas ou com suspeita de infecção pelo coronavírus, com a finalidade exclusiva de
evitar a sua propagação”.

79 .Decreto 10.212/2020 (LGL\2020\835): “Art. 45. Tratamento de dados pessoais 1. As


informações de saúde coletadas ou recebidas por um Estado Parte de outro Estado Parte ou
da OMS, consoante este Regulamento, referentes a pessoas identificadas ou identificáveis,
deverão ser mantidas em sigilo e processadas anonimamente, conforme exigido pela
legislação nacional. 2. Não obstante o Parágrafo 1º, os Estados Partes poderão revelar e
processar dados pessoais quando isso for essencial para os fins de avaliação e manejo de
um risco para a saúde pública, no entanto os Estados Partes, em conformidade com a
legislação nacional, e a OMS devem garantir que os dados pessoais sejam: (a) processados
de modo justo e legal, e sem outros processamentos desnecessários e incompatíveis com
tal propósito; (b) adequados, relevantes e não excessivos em relação a esse propósito; (c)
acurados e, quando necessário, mantidos atualizados; todas as medidas razoáveis deverão
ser tomadas a fim de garantir que dados imprecisos ou incompletos sejam apagados ou
retificados; e (d) conservados apenas pelo tempo necessário. 3. Mediante solicitação, a
OMS fornecerá às pessoas, na medida do possível, os seus dados pessoais a que se refere
este Artigo, em formato inteligível, sem demoras ou despesas indevidas e, quando
necessário, permitirá a sua retificação”.

80 .BIONI, Bruno Ricardo; ZANATTA, Rafael; MONTEIRO, Renato; RIELLI, Mariana.


Privacidade e pandemia: recomendações para o uso legítimo de dados no combate à
COVID-19: conciliando o combate à COVID-19 com o uso legítimo de dados pessoais e o
respeito aos direitos fundamentais. São Paulo: Data Privacy Brasil, 2020. p. 10-11.

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81 .MP 954/2020 (LGL\2020\4849): “Art. 1º Esta Medida Provisória dispõe sobre o


compartilhamento de dados por empresas de telecomunicações prestadoras do Serviço
Telefônico Fixo Comutado – STFC e do Serviço Móvel Pessoal – SMP com a Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Parágrafo único. O disposto nesta
Medida Provisória se aplica durante a situação de emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19) de que trata a Lei 13.979,
de 6 de fevereiro de 2020 (LGL\2020\1068). Art. 2º As empresas de telecomunicação
prestadoras do STFC e do SMP deverão disponibilizar à Fundação IBGE, em meio
eletrônico, a relação dos nomes, dos números de telefone e dos endereços de seus
consumidores, pessoas físicas ou jurídicas. § 1º Os dados de que trata o caput serão
utilizados direta e exclusivamente pela Fundação IBGE para a produção estatística oficial,
com o objetivo de realizar entrevistas em caráter não presencial no âmbito de pesquisas
domiciliares. § 2º Ato do Presidente da Fundação IBGE, ouvida a Agência Nacional de
Telecomunicações, disporá, no prazo de três dias, contado da data de publicação desta
Medida Provisória, sobre o procedimento para a disponibilização dos dados de que trata o
caput. § 3º Os dados deverão ser disponibilizados no prazo de: I – sete dias, contado da
data de publicação do ato de que trata o § 2º; e II – quatorze dias, contado da data da
solicitação, para as solicitações subsequentes. Art. 3º Os dados compartilhados: I – terão
caráter sigiloso; II – serão usados exclusivamente para a finalidade prevista no § 1º do
art. 2º; e III – não serão utilizados como objeto de certidão ou meio de prova em processo
administrativo, fiscal ou judicial, nos termos do disposto na Lei 5.534, de 14 de novembro
de 1968. § 1º É vedado à Fundação IBGE disponibilizar os dados a que se refere o caput do
art. 2º a quaisquer empresas públicas ou privadas ou a órgãos ou entidades da
administração pública direta ou indireta de quaisquer dos entes federativos. § 2º A
Fundação IBGE informará, em seu sítio eletrônico, as situações em que os dados referidos
no caput do art. 2º foram utilizados e divulgará relatório de impacto à proteção de dados
pessoais, nos termos do disposto na Lei 13.709, de 14 de agosto de 2018
(LGL\2018\7222)”.

82 .MENDES, Laura Shertel. Decisão histórica do STF reconhece direito fundamental à


proteção de dados pessoais: Novo direito fundamental precisará ter contornos definidos
tanto pela jurisprudência, quanto pela doutrina. JOTA. 10 de maio de 2020. Disponível em:
[www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/decisao-historica-do-stf-reconhece-direito-fund
amental-a-protecao-de-dados-pessoais-10052020]. Acesso em: 15.05.2020.

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