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RESUMO
Esse artigo apresenta uma discussão teórica no tocante o contrato de namoro comparado à
união estável e seus efeitos patrimoniais, no qual abordará uma análise desse contrato atípico
inserido no mundo jurídico, a fim de discutir sua validade. Essa nova modalidade de contrato,
vem cada mais sendo requisitado por grande parte de casais atualmente. Ele terá como base a
lei 10.406/02, qual seja o Código Civil, a lei de nº 8.971/94 que dispõe a União estável e que
foi revogada parcialmente pela Lei 9.278 de 1996, que deixou de exigir o tempo de
convivência do casal de 05 anos para seu reconhecimento, devendo apenas o casal demonstrar
por meio de forma douradora, pública e continua objetivo recíproco de constituição de
família. Ademais, o Código Civil em seu artigo 1.723, atua em conformidade com o
dispositivo supramencionado. Dessa maneira, ficou mais complicado realizar essa
diferenciação entre os dois institutos. Nesse sentido, que o Contrato de namoro também
conhecido como “namoro qualificado” é inserido, para que afaste a caracterização da União
Estável, afastando assim graves discussões patrimoniais futuramente. É possível perceber que
a sua validade jurídica ainda é muito discutida dentro do ordenamento jurídico, de modo que,
há muitas divergências a respeito sobre o tema. Entretanto, observa-se que já se vê alguns
casos de sua elaboração, inclusive é defendido na jurisprudência. Esse artigo fará uma análise
utilizando-se de métodos de pesquisa científica, legislativa, trazendo exemplos de doutrinas,
lei seca e jurisprudência. Portanto, este artigo abordará a caracterização do contrato de
namoro, diferenciação entre os institutos contrato de namoro e união estável, bem como seus
efeitos jurídicos.
Palavras-chave: Contrato de Namoro; Diferenças do contrato de namoro; União Estável;
Validade Jurídica.
1
Acadêmica do Curso de Direito do Cento Universitário UNA Contagem. Endereço Eletrônico:
daiane_matosb@outlook.com
2
Acadêmico do Curso de Direito do Cento Universitário UNA Contagem. Endereço Eletrônico:
fvalentimr@gmail.com
INTRODUÇÃO
Namoro significa a relação afetiva mantida entre duas pessoas que se unem pelo
desejo de estarem juntas e partilharem novas experiências. É uma relação em que o
casal está comprometido socialmente, mas sem estabelecer um vínculo matrimonial
perante a lei civil ou religiosa. (Significado de Namoro, 2019)
Por sua vez, conforme definido na doutrina, o contrato é o acordo de vontades entre
duas pessoas ou mais, objetivando a necessidade dessas vontades, as partes podem levar a
obrigatoriedade do contrato.
Ante o exposto, a doutrina argumentada por Maria H. Diniz, aduz.
Visto que nosso ordenamento jurídico no artigo 425, do código civil dispõe que é
lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código,
podemos dizer que o contrato de namoro é um meio de formalizar através de um documento
as vontades, desejos e intenções de um casal em relação à vida amorosa entre eles, é um
método para afirmar e definir como somente um namoro o momento vivido, sem que se tenha
a intenção ou o objetivo de constituírem uma família, por isso é importante ressaltar que o
fato principal para o contrato de namoro é a vontade das partes, ou seja, através de um
contrato de namoro que o relacionamento não deverá produzir efeitos jurídicos definidos em
nosso ordenamento jurídico, seria uma fase anterior ao que consideramos hoje a união estável,
definida no artigo 1723, do código civil.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida
com o objetivo de constituição de família.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida
com o objetivo de constituição de família.
Gagliano e Pampolha Filho dizem que a União estável é histórica, visto que nenhum
ser humano nasceu para ficar sozinho, a partir de então surge o instituto da família, antes
mesmo do casamento, inicia-se na vontade em construir uma família e se reproduzir.
De acordo com Paulo Luiz Netto Lôbo (2014) a união estável é um ato-fato jurídico,
isto é, não possui como requisito qualquer manifestação por parte do casal, de modo que,
basta a sua situação fática e presença dos requisitos para que haja sua validade e produza seus
efeitos jurídicos. Ademais, é possível a comprovação da união estável por meio de contas
bancárias conjuntas, contratos de aluguel, relatos de testemunhas, apólice de seguro, envio de
correspondência para o mesmo endereço e, até mesmo, em publicações em redes sociais.
Mesmo a união estável sendo um ato-fato jurídico, nada impede que os conviventes
querendo formalizar a união através de um contrato particular ou escritura pública para
regulamentar a União Estável. Além disso, caso o casal não regulamente a união, o regime de
bens a que prepondera é a comunhão parcial de bens, conforme estabelecido no art.1.725 do
CC, isto é, os bens adquiridos na constância da relação serão comuns ao casal, claro que há
algumas exceções, previstas em lei com relação à partilha destes.
O referido artigo apresenta os requisitos exigidos para a caracterização da união
estável, sendo esses, a relação existente entre homem e mulher; convivência pública contínuae
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. Será ainda apresentado
um quinto requisito defendido pelo doutrinador Fábio Ulhoa Coelho (2020), qual seja, o
Desimpedimento.
No entanto, oportuno esclarecer, que na data de 05/05/2011, o Supremo Tribunal
Federal por meio da ADPF 132 e ADI 4277 reconheceu a relação homoafetiva como uma
quarta família brasileira, tendo em vista, que o nosso ordenamento jurídico anteriormente
previa três espécies de família. Desta maneira, equipararam-se as relações entres pessoas do
mesmo sexo à união estável e passou a ser reconhecido com um núcleo familiar como
qualquer outro. Portanto, a união estável é entidade familiar equiparada ao instituto do
casamento e é resguardada nos mesmos termos pela Constituição Federal e, para que se
configure a união estável, a relação precisa ser entre duas pessoas e, não mais entre um
homem e uma mulher. Como é possível demonstrar no dispositivo abaixo, previsto na
Constituição Federal de 1988.
Mas é claro que, somente a intenção não é o suficiente, tendo em vista, que o casal
precisa demonstrar tal objetivo na situação de fato, conviver de forma afetuosa e
harmoniosamente, isto é, que já mantinha uma relação de casados e com objetivo de formação
de uma família. Ademais, é necessário que haja a honra de um para com o outro, a lealdade e
o dever de assistência recíproca, resultando em direito e deveres entre os conviventes.
Conforme previsto no art. 2º e seus incisos, da Lei nº 9.278, de 10 de maio de 1996 e art.1.724
do Código Civil:
Art. 2° São direitos e deveres iguais dos conviventes:
I - respeito e consideração mútuos;
II - assistência moral e material recíproca;
III - guarda, sustento e educação dos filhos comuns.
Ainda de acordo com Fabio Ulhoa Coelho (2020, p.86), afirma a existência de um
quinto requisito, qual seja, Desimpedimento.
Outro fato importante para distinção entre eles, são as consequências jurídicas para os
companheiros dessas duas entidades. O Contrato de Namoro não está previsto em lei, sua
formação, dessa forma, não possui consequências jurídicas. Entretanto, a União Estável,
conforme prevê o artigo 226, §3°, da Constituição Federal, é reconhecida como uma entidade
familiar, pelo que garante aos companheiros que vivem em união estável uma gama de
direitos, como por exemplo, a herança e alimentos. Por sua vez, os namorados não possuem
direito a Herança e nem alimentos.
EylenDelazeri (DELAZERI, 2018), em seu artigo, diz:
Contrato de Namoro visa assegurar aos integrantes da relação (para um ou para
ambos) a garantia de que o patrimônio individual é incomunicável e não será
partilhado na ocasião do término da relação, justamente porque o casal não
convive em união estável (DELAZERI. 2018).
Dessa forma, pode-se dizer que há diversas diferenças existentes entre o Contrato de
Namoro e a União estável, tanto quanto ao negócio jurídico, quanto a sua instituição. Além
disso, existe o requisito subjetivo que se trata da vontade das partes envolvidas em constituir
uma família. O Contrato de Namoro é a exteriorização da Vontade das partes em não
constituir uma família, para que seja usado em uma futura lide quando for relacionada a esse
assunto, todavia, a União estável, é uma entidade familiar, que possui continuidade,
durabilidade, um casal que estabeleceu uma família, que por consequência, trará garantias aos
companheiros, como a herança e alimentos, conforme podemos observar em todo o conteúdo
apresentado pelos autores citados neste artigo.
O namoro não possui previsão em lei e trata-se apenas de uma relação afetiva, onde
dois casais mantêm uma relação amorosa, inicialmente sem nenhuma pretensão de constituir
família, diferentemente da união estável que é uma relação jurídica amparada pelo
ordenamento jurídico e possui proteção do estado, que se constitui a partir da situação fática
dos conviventes comprovada por meio dos requisitos exigidos em lei, conforme já explicados
anteriormente.
Aline Lara (LARA. 2014), diz em seu artigo que o denominado “contrato de namoro”
é conhecido como um instrumento onde as partes manifestam suas intenções em manter uma
relação amorosa apenas em namoro, sendo estas pessoas principalmente, possuidoras de bens,
razão pela qual formaliza o documento com um único objetivo, o de afastar qualquer efeito
jurídico decorrente da União estável.
O referido contrato ainda possui pouco conhecimento no ordenamento jurídico, há
muitas divergências doutrinárias acerca da sua validade, de modo que, a doutrina majoritária
defende a invalidade do contrato e pondera que dependendo da situação, pode ser usado para
defender bens patrimoniais.
Nesse sentido, necessário se faz mencionar o entendimento do ilustre PABLO STOZE
GAGLIANO que preconiza, in verbis
Por isso, não se poderia reconhecer validade a um contrato que pretendesse afastar o
reconhecimento da união, cuja regulação é feita por normas cogentes, de ordem
pública, indisponíveis pela simples vontade das partes. Trata-se, pois, de contrato
nulo, pela impossibilidade jurídica do objeto. (GAGLIANO, 2005, p. 2).
CONCLUSÃO
Este artigo, trouxe uma analogia entre o Contrato de namoro e a União estável.
Demonstrou quais são as características de cada ente, trabalhou os requisitos de sua formação,
diferenças e a validade jurídica, com intuito de esclarecer as questões patrimoniais envolvidas
nos temas.
A partir do namoro, as partes envolvidas na relação, buscam através de uma
manifestação de vontade, formalizar o namoro como um comprometimento social, sem
vínculo matrimonial, visto que este não tem nenhuma consequência jurídica. Através de um
contrato, manifestam a vontade de esclarecer que a relação não ultrapassa o limite de um
simples namoro, para evitar qualquer consequência jurídica.
Por outro lado, a União Estável, trata-se de ato-fato jurídico, que preenchendo os
requisitos para a sua caracterização, terão consequências jurídicas, uma vez que, é definido
em nosso ordenamento jurídico as consequências de uma União Estável, em relação a herança
e Alimentos.
Pode-se perceber que uma das principais diferenças existentes entre os dois institutos,
é a vontade das partes. Por um lado, no contrato de namoro não tem o desejo em constituir
uma família e consequentemente não ter relação jurídica quanto a herança e alimentos, por
outro lado, a União estável é o desejo em constituir uma família e ter a garantia de herança e
alimentos como definido em nossas leis.
Enfim, o contrato de namoro, não possui eficácia jurídica, entretanto, é um
instrumento usado para a tentativa de descaracterizar a União estável em uma possível ação
judicial, visto que o contrato foi realizado para demonstrar a vontade das partes em não
constituir uma família, sem projetos futuros. Dessa forma não haveria do que se falar em
consequências jurídicas para o casal.
Agradecemos a leitura de nosso artigo, esperamos que possa incentivar mais pesquisas
sobre este tema, e consequentemente desenvolver novos estudos para estes institutos, por se
tratar de um tema novo com diversas divergências.
ABSTRACT
Thisarticlepresents a
theoreticaldiscussionregardingthedatingcontractcomparedtothestableunionandits
patrimonialeffects, in which it will approach ananalysisofthisatypicalcontractinserted
in the legal world, in ordertodiscuss its validity. This new
typeofcontractisbeingincreasinglyrequestedbymostcouplestoday.
Thisarticlewillbebasedonthelawof no. 8.971/94, whichprovides for a stable Union
andwaspartiallyrevokedby Law 9.278 of 1996, which no longer requires
thecoupletolivetogether for 5 years for its recognition, andonlythecouple must
demonstratebymeansof a golden, publicformand continues tohave a
reciprocalobjectiveoffamilyformation. Furthermore, the Civil Code in its article 1.723,
acts in accordancewiththeabovementionedprovision. Thisway, it became more
complicatedto make thisdifferentiationbetweenthetwoinstitutes. In thissense,
thedatingcontractalsoknown as "qualifieddating" isinserted, in orderto remove
thecharacterizationoftheStable Union, thusruling out serious patrimonial discussions
in the future. It ispossibletonoticethatitslegalvalidityis still muchdiscussedwithinthe
legal system, sothatthere are manydivergencesonthesubject. However, it
isobservedthat some cases of its elaboration are alreadyseen, and it isalsodefended
in thejurisprudence. Thisarticlewill make
ananalysisusingscientificandlegislativeresearchmethods,
bringingexamplesofdoctrines, drylawandjurisprudence. Therefore,
thisarticlewilladdressthecharacterizationofthedatingcontract,
differentiationbetweentheinstitutesofdatingcontractandstableunion, as
wellasitslegaleffects.
Keywords:DatingAgreement.Differencesofthedatingcontract.Stable Union.Legal Validity.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº9.278, de 10 de maio de 1996. Dispõe sobre a União Estável. Diário
Oficial da União, DF, 10 mai.1996.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2010.
TARTUCE, Flávio. Direito de Família: Namoro – Efeitos Jurídicos. São Paulo:
Atlas, 2011.
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. Volume 5. São Paulo: Saraiva Educação.
2018
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Família, sucessões, volume 5. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil São Paulo. 2020.