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FACULDADE DE DIREITO
ELINNE BUENO
RIO VERDE-GOIÁS
2018
ELINNE BUENO
RIO VERDE-GOIÁS
2018
ELINNE BUENO
BANCA EXAMINADORA
............................................................................................
Prof. Lenny Francis Campos Alvarenga
Presidente
............................................................................................
Prof. ------------
Examinador
............................................................................................
Prof. ------------
Examinador
3
3
Dedico aos meus familiares e amigos pelo
apoio e incentivo durante toda minha trajetória
de vida..
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me ter abençoado durante toda a realização deste curso e por ter
me dado forças para não desistir.
A minha mãe, e familiares, por todo amor e carinho a mim dedicados e principalmente
por acreditarem sempre na minha capacidade.
O presente estudo visa demonstrar que a psicologia aplicada à justiça, mais especificamente
aplicada ao tribunal do júri brasileiro, além de avaliar e definir o objeto sob diversos olhares
de diferentes disciplinas; verifica a forma com que os indivíduos envolvidos na decisão legal
interpretam e se comportam diante do contexto social e jurídico vivenciados no momento.
Tenteou-se, neste trabalho, demonstrar as influencias de conteúdos e processos psicossociais
que influenciam nas decisões e o que deve ser levados em consideração, tendo em vista os
impactos causados sobre os operadores do direito, em especial do direito penal brasileiro. Os
promotores, advogados de defesa, juízes e jurados ao comparecem no tribunal do júri,
carregam em sua constituição psicológica aspectos como personalidade, cultura, crenças,
valores, características sócio demográficas, estereótipos, conteúdos intrapsíquicos que podem
comprometer um julgamento imparcial, ferindo alguns princípios importantes do direito
brasileiro, como o da presunção da inocência ou o da imparcialidade, dentre outros. Por fim, a
identificação desses processos psicológicos e os fatores externos a que os atores processuais
são submetidos no rito do tribunal do júri, podem ser utilizados produtivamente para apurar a
qualidade da deliberação legal pretendendo prevenir possíveis falhas.
The present study aims at demonstrating that psychology applied to justice, more specifically
applied to the Brazilian jury court, besides evaluating and defining single object under
different perspectives from different disciplines, verifies how the individuals involved in the
legal decision interpret and behave in view of the social and juridical context experienced at
the time, suffering influences of contents and psychosocial processes in their decisions that
must be taken into account, considering the impacts caused on the operators of the law,
especially of Brazilian criminal law. Prosecutors, defense attorneys, judges, and juries
attending the jury are charged with aspects such as personality, culture, beliefs, values, socio-
demographic characteristics, stereotypes, intrapsychic content that may compromise a fair
trial hurting some important principles of Brazilian law as the presumption of innocence or
impartiality for example. Finally, the identification of these psychological processes and the
external factors to which the procedural actors will be submitted in the jury's court rite can be
used productively to determine the quality of the legal deliberation in order to prevent
possible failures.
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................08
2. TRIBUNAL DO JÚRI................................................................................................10
2.1 ORIGEM HISTÓRICA..........................................................................................10
2.2 PRINCÍPIOS...........................................................................................................11
2.3 COMPETÊNCIA....................................................................................................12
2.4 RITO PROCESSUAL.............................................................................................14
3. PSICOLOGIA JURÍDICA.........................................................................................20
3.1 DEFINIÇÃO...........................................................................................................21
3.2 ORIGEM HISTÓRICA...........................................................................................21
4. PSCISCOLOGIA NA DELIBERAÇÃO LEGAL DO TRIBUNAL DO JÚRI.... 23
4.1 JUÍZES, PROMOTORES E ADVOGADOS.........................................................23
4.2 JURADOS...............................................................................................................26
4.3 FATORES QUE INFLUÊNCIAM NA TOMADA DE DECISÃO DO
CONSELHO DE SENTENÇA..............................................................................30
4.3.1 PROCESSOS COGNITIVOS.....................................................................31
4.3.2 CARACTERISTICAS SOCIAIS................................................................37
4.3.3 PUBLICIDADE PRÉ JULGAMENTO......................................................39
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................43
REFERÊNCIAS................................................................................................................45
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1. INTRODUÇÃO
Instituição que sofreu importantes alterações advindas da lei 11.689/2008 - que tinha
como objetivo trazer celeridade para a norma processual penal-, o Tribunal do Júri Brasileiro
é órgão especial do Poder Judiciário de primeira instância, pertencente à justiça comum,
colegiado e heterogêneo, é composto pelo juiz presidente e por mais vinte e cinco jurados
leigos, dos quais sete formam o conselho de sentença, responsável pelo julgamento dos crimes
dolosos contra a vida.
Lado outro, existe os que defendem a idéia de que os jurados presentes não possuem
conhecimento técnico e jurídico suficiente para exercer essa função, o que causaria sérios
prejuízos ao julgamento imparcial, uma vez que, as decisões dos jurados são baseadas na
intima convicção e no livre convencimento de cada individuo e não precisam ser
fundamentadas como a de um juiz togado, por exemplo.
Partindo dessa premissa, presume-se que o acusado poderá ser julgado com base em
qualquer informação apresentada, seja ela jurídica ou não. Neste ponto identifica-se o quanto
a psicologia pode colaborar com a justiça, no que se refere ao conhecimento das motivações
que levam o conselho de sentença a decidir desta ou daquela maneira.
Por conseqüência, os estudos sobre o tema têm progredido de algum modo, apesar de
ser encontrado com maior facilidade obras que tratam apenas dos aspectos históricos e legais
do Tribunal do Júri, e quase nenhuma que trata da identificação e descrição da influência dos
fenômenos psicológicos na deliberação legal desta instituição.
No entanto, existem outras obras que falam sobre a Psicologia Jurídica e suas
intercorrências no âmbito da atuação jurídica, o que foi de grande valia para a elaboração do
presente trabalho e despertou o interesse para a descoberta dos processos e mecanismos
envolvidos na tomada de decisão dos jurados.
Para tanto, foi realizado uma linha de pesquisa baseada na interface entre o Direito e a
Psicologia, onde se buscou, para uma melhor compreensão do tema, primeiro definir alguns
aspectos legais inerentes ao Tribunal do Júri, posteriormente detalhar o processo de seleção e
tomada de decisão dos jurados, para finalmente identificar os alguns aspectos psicológicos
que interferem no ato de julgar.
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2. TRIBUNAL DO JÚRI
A origem no tribunal do júri no âmbito mundial traz muita discussão, apesar disso
Guilherme de Souza Nucci (2015), como maior parte da doutrina, acredita que o júri popular
como conhecemos hoje originou-se no ano de 1215 na Inglaterra, espalhando-se pela França e
por toda Europa como um ideal de liberdade e democracia a ser alcançado.
O fato é que no Brasil deu-se início a esse instituto no dia 18 de junho de 1822, pouco
antes da independência, por meio de um decreto do príncipe regente, influenciado pelos ideais
da Europa. O júri era formado por vinte e quatro cidadãos “bons, honrados e patriotas”, tendo
como competência o julgamento apenas dos crimes de abuso de liberdade de imprensa,
podendo a sentença proferida pelo júri ser alterada apenas pelo príncipe (NUCCI, 2015).
A partir desse momento o instituto sofre várias alterações, passando a compor o poder
judiciário como um de seus órgãos, e ampliando a sua competência para o julgamento
também de causas cíveis e criminais de acordo com a constituição do império de 1824.
2.2 PRINCÍPIOS
A palavra princípio tem significação variada. “Para o nosso propósito, vale destacar o
de ser um momento em que algo tem origem; é causa primária ou o elemento predominante
na constituição de um todo orgânico”. (NUCCI, 2015, p. 23), ou seja, é o que norteia o
direito brasileiro e pode ou não estar explícito na legislação, sem falar na importância que
essas diretrizes trazem para os operadores do direito, ainda mais quando se trata de uma
norma descrita na constituição federal considerada a lei maior do ordenamento jurídico
brasileiro.
São inúmeros os princípios que conduzem o direto penal e processual penal brasileiro,
dentre eles estão os princípios gerais que se aplicam a todas as áreas do direito, porém a
intenção não é esgotar o tema, visto que pretende-se unicamente salientar os princípios
essenciais ao tribunal do júri.
A carta magna traz em seu artigo 5°, inciso XXXVIII, alguns princípios que são
inerentes ao tribunal do júri. O primeiro deles é o da Plenitude de Defesa que se diferencia da
ampla defesa concedida ao acusado de forma geral, neste há uma utilização dos meios
defensíveis fornecidos pela lei de forma ampla, mais vasta, como o próprio nome já diz,
podendo o próprio magistrado corrigir de ofício algum erro cometido pela defesa, em virtude
da busca pela celeridade processual. Naquele exigi-se uma defesa plena, perfeita, completa,
podendo utilizar-se de argumentação teatral, emocional, histórica, social, moral, em fim,
utilizar-se de argumentos que extrapolem a ciência jurídica, requerendo do defensor um
preparo maior inclusive na área psicológica, uma vez que, o júri é formado por pessoas leigas
passiveis de conteúdos intrapsíquicos e é um instituto soberano e de garantia individual,
podendo a atuação mediana ou falha da defesa prejudicar muito o réu, implicando até em
dissolução do conselho (art. 497, inciso V do CPP).
O segundo principio mencionado pela CF é o sigilo das votações, ele garante uma sala
especial para ser feita a votação, a incomunicabilidade dos jurados sobre o processo, e a
decisão tomada por maioria de votos, esta ultima, importante alteração feita pela lei
11.689/2008, pois a forma como ocorria a divulgação anteriormente poderia quebrar o sigilo
dos votos nos casos de decisão unânime. Todas estas garantias estão previstas também no
código de processo penal nos respectivos artigos 485, 466 §1° e 489, com a finalidade de
preservar os jurados de possíveis represálias, por exemplo, além de dar tranqüilidade e
segurança a eles no momento da votação.
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A respeito da soberania dos veredictos, terceiro princípio explícito na CF, nos ensina
Walfredo Cunha Campos (2015):
Porém, existe a possibilidade de apelação prevista no art. 593, III do CPP, o que causa
uma discussão doutrinaria no sentido de que o texto seria incompatível com a constituição
federal, sobre esse debate Fabiana Andrade Mendonça diz:
2.3 COMPETÊNCIA
Ao tribunal do júri compete o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, é que está
disposto no art. 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da Constituição da República Federativa do
Brasil. O código de processo penal, em seu art. 74, também menciona a competência
constitucional, no momento em que diz que a lei de organização judiciária não pode modificar
ou extinguir a competência do tribunal do júri, podendo somente normalizá-la. Vejamos:
Ainda tem o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122, CP), infanticídio
(art. 123, CP), e as modalidades de aborto: aborto provocado pela gestante ou com seu
consentimento; aborto provocado por terceiro; aborto na sua forma qualificada (arts. 124 a
127, CP) e os crimes conexos, que na definição de Guilherme de Souza Nucci (2017):
Desta forma a legislação nos mostra quais seriam os crimes dolosos contra a vida de
competência do tribunal do júri brasileiro. É importante salientar que nem todo crime que
resulta em morte será julgado pelo júri, pois somente é agravado pelo resultado, por exemplo,
o latrocínio. A súmula 603 do Supremo Tribunal Federal, nesse caso específico reitera o
raciocínio ao dizer que: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz
singular e não do tribunal do júri”.
Ademais, quando o juiz verificar que não si trata de crime doloso contra a vida, em
virtude do juízo de admissibilidade deverá remeter o processo ao juiz competente, diferente
de quando esta verificação é feita já na fase de decisão em plenário pelos jurados, neste caso
deve o próprio juiz julgar o feito tento em vista o princípio da economia processual.
A esse fenômeno dá-se o nome de desclassificação, que nas palavras de Nucci (2008),
é a decisão interlocutória simples, modificadora da competência do juízo, que não adentra o
mérito, nem tampouco faz cessar o processo.
consequentemente adaptá-lo as mudanças sociais e jurídicas ocorridas, uma vez que o Código
de Processo Penal é do ano de 1941.
O procedimento é especial, pois trata-se de hipótese legal específica, nesse aspecto não
existem divergências, porém há quem diga que o mesmo é trifásico e há quem diga que é
bifásico - o que alias é o posicionamento majoritário dos autores que dissertam sobre o tema.
A fase inicial é muito parecida com o rito ordinário. Será oferecida a denúncia, em
regra, ou a queixa-crime nos casos de ação penal privada subsidiaria da pública (que
acontecem quando o ministério público deixa de oferecer a denúncia no prazo legal, conforme
art. 5°, inciso LIX, CF), contendo todas as formalidades exigidas pelo legislador em seu art.
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41 do CPP. O magistrado poderá receber ou não esta denúncia ou queixa, o primeiro caso
ocorrerá se ele verificar a existência de prova da materialidade do crime e indícios suficientes
da autoria, o que dará inicio ao processo.
Como próximo passo, tem-se a audiência de instrução, debates e julgamento que tem
como objetivo ser uma audiência una, ou seja, nesta audiência que será produzida todas as
provas de uma só vez, existindo ainda a possibilidade de ser adiada por motivos de força
maior, correndo tudo bem, dar-se-á a oitiva do ofendido se possível, das testemunhas de
acusação e de defesa, necessariamente nessa ordem em razão do princípio do contraditório e
da ampla defesa, seguidamente os esclarecimentos dos peritos, ás acareações e o
reconhecimento de pessoas e coisas, tudo isso para melhor busca da verdade real, depois o
interrogatório do réu e as alegações orais feitas pela acusação e defesa no prazo máximo de 20
(vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez) para cada uma (art. 411, CPP).
Para encerrar esta primeira fase o juiz proferirá a sua decisão, podendo optar entre as
quatro alternativas seguintes: pronúncia; impronúncia; desclassificação e absolvição sumária.
Não existindo pelo menos um desses requisitos, logicamente não será caso de
pronúncia e sim de impronúncia, deixando de inaugurar a fase de plenário do júri, encerrando
o processo, que poderá ser “reaberto” com novas provas desde que não tenha ocorrido a
extinção de punibilidade, em concordância com o art. 414 do CPP.
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Por fim, a absolvição sumária disposta no art. 415 do CPP, ocorrerá quando esteja
provada a inexistência do fato, quando esteja provado não ser o réu o autor ou participe do
fato, quando o fato não constituir infração penal ou ficar demonstrada causa de isenção de
pena ou de exclusão do crime, fazendo a lei ainda uma ressalva a respeito da tese de
excludente de culpabilidade oriunda de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, que não pode ser arguida para a absolvição sumária, salvo se for tese única.
Após esta decisão, o rito segue por etapas em que são realizados os atos preparatórios
do processo para o julgamento em plenário, passando pelo alistamento, sorteio e convocação
dos jurados, organização da pauta, formação do conselho de sentença, entre outros, que serão
destacados apenas quando forem pertinentes para o objeto principal de estudo. Realizado estes
atos, é chegada a apreciação do mérito da causa, último e mais importante estágio deste
procedimento tão complexo e diferenciado dos demais presentes no ordenamento jurídico
brasileiro.
O plenário é formado por um juiz togado, que é seu presidente e por vinte e cinco
jurados que serão sorteados dentre os alistados (se comparecerem pelo menos quinze deles
que é o quórum mínimo os trabalhos serão iniciados), sete dos quais constituirão o conselho
de sentença em cada sessão de julgamento (art. 447, CPP), além é claro da acusação
(promotor), defesa e servidores da justiça como o escrivão, porteiro, oficial de justiça e
outros.
A sequência dos atos da sessão plenária seguirá, a partir de então, a mesma sequência
da audiência de instrução, debates e julgamento que encerrou a primeira faze, porém, o prazo
para as manifestações orais serão de uma hora e trinta minutos para a acusação, uma hora e
trinta minutos para a defesa, uma hora de réplica e uma hora tréplica para cada parte, se
houver mais de um réu, para cada prazo acrescenta-se uma hora.
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3. PSICOLOGIA JURÍDICA
3.1 DEFINIÇÃO
Segundo Fernando de Jesus, a Psicologia Jurídica seria então uma intersecção entre o
Direito e a Psicologia, de forma a que interessaria a Psicologia Jurídica os temas do Direito
que fossem pertinentes ao seu campo de estudo (2016, p. 52). Este campo constitui-se de
investigação psicológica especializada, cuja finalidade é o estudo do comportamento dos
atores jurídicos no âmbito do Direito, da lei e da justiça (2016, p. 56).
Dessa forma, a área de atuação de um psicólogo jurídico é muito vasta, podendo ele
aplicar seus conhecimentos, por exemplo, no Direito de Família, no sistema penitenciário, na
proteção de menores, na adoção, na mediação, na vitimologia, nas perícias psicológicas, nas
tomadas de decisões legais, nas medidas protetivas, entre outros.
Nem sempre foi assim, pois sua inserção aconteceu de forma gradual e lenta tornando
difícil datar com exatidão o momento em que a psicologia jurídica surgiu, o que mais se
aproxima disso é o reconhecimento da profissão que acontece, na década de 1960, o que é
possível, é encontrar alguns fatos específicos que demonstram a incorporação do psicólogo
nas diversas instituições jurídicas ao longo da historia.
Alguns fatos importantes ocorreram para que a Psicologia Jurídica tivesse seu devido
reconhecimento, são alguns deles: a promulgação da lei federal n° 7.210/84 (lei de execução
penal) e da lei 7.209/84 (a nova parte geral do Código Penal Brasileiro), momento em que
passou a ser legalmente previsto os exames de personalidade, criminológico e o parecer
técnico das Comissões Técnicas de Classificação (Rovinski, 2009, p. 15).
De acordo com Ronaldo Pilati e Alexandre Magno Dias Silvino (2009) “a área da
psicologia jurídica não necessariamente causa impactos sobre a legislação, mas provoca
impacto considerável sobre os operadores do direito”, portanto influenciando direta ou
indiretamente na deliberação legal. Eles ainda complementam:
É possível concluir então, que apesar da magistratura exigir que o juiz perceba que
seus aspectos psicológicos e de todos os envolvidos no litígio interferem em sua sentença
(Ambrosio, 2012), no caso em tela, esses aspectos que incidem sobre o juiz, não serão tão
determinantes no resultado da tomada de decisão, uma vez que essa árdua tarefa é atribuída
aos jurados.
Com relação aos promotores de justiça, a idéia de que eles vão a plenário
exclusivamente para promover a acusação é equivocada, pois como o próprio nome já diz, são
promotores de justiça e não de acusação, que na busca da verdade real e da defesa da
sociedade, como representantes do estado que são, e fiscais da lei (art. 127 e seguintes, CF),
devem utilizar do seu conhecimento jurídico, conhecimento sobre os fatos e do conteúdo
intrapsíquico inerente a qualquer ser humano, da melhor forma possível, para alcançar um
resultado que corresponda as expectativas da população, e seja eficiente sem infringir nenhum
direito.
O art. 8° da Convenção Americana de Direitos Humanos estabelece que “toda pessoa
acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente sua culpa”, também aparece tipificado no art. 5° inciso LVII da constituição
brasileira que “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado da sentença penal
condenatória”. Trata-se do principio da presunção da inocência uma das principais garantias
constitucionais que assegura ao acusado o devido processo legal, a ampla defesa e o
contraditório antes da sentença final, porque apesar do réu ser considerado suspeito, continua
sendo um indivíduo na plenitude dos seus direitos.
Dai surge à importância de se discutir temas como este, que interferem
significativamente na tomada de decisão dos jurados, uma vez que o promotor de justiça já
chega em plenário com uma certa “ vantagem”, porque é visto pela sociedade com maior
credibilidade, porque age em favor da mesma, enquanto que o acusado na maioria das vezes,
já chega condenado pela opinião pública, causada em grande parte pela publicidade pré-
processual, que será tratada com maior detalhamento no momento mais oportuno.
Essa situação se agrava quando em alguns tribunais o promotor se senta ao lado direito
do juiz presidente, alguns autores defendem que essa situação circunstancia afronta aos
principio da isonomia e paridade de arma. No tocante a essa questão, observa-se a opinião de
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Independente das opiniões distintas, o promotor de justiça deve estar ciente dos
processos psicológicos e outros que influenciam a todos os presentes, para melhor solucionar
o problema e se for o caso, até buscar a absolvição do acusado, com a finalidade de exercer
sua função de fiscal da lei e defensor da sociedade de forma justa, evitando qualquer erro que
possa prejudicar pessoas inocentes.
Já o advogado de defesa, dentro do tribunal do júri, deve conhecer os processos
psicológicos que interferem na tomada de decisão, para usar a favor do réu, valendo-se, por
exemplo, de argumentos jurídicos, extrajudiciais, psicológicos, emocionais, políticos, sociais,
em fim, de todos os artifícios que a legislação permita e que possa convencer os jurados de
que sua tese de defesa é a correta, uma vez que ele esta livre da imparcialidade, muito pelo
contrario, é totalmente parcial e obrigado a exercer a plenitude da defesa.
Acredita-se que, nos debates orais, obviamente dentro da ética, o advogado deverá
colocar em pratica tudo que selecionou para persuadir os jurados, que poderão decidir por
equidade, por consciência, por convicção íntima e por critérios de justiça estes muitas vezes
extremamente singulares em relação a cada ser humano (ANTUNE R. M. 2014, p. 241).
4.2 JURADOS
da mesma realidade social (Pilate e Silvino, 2009, p. 280). É um dos raros momentos em que
a população que não detém o conhecimento técnico e jurídico necessário pode exercer o papel
de “juiz” dentro do poder judiciário, partindo do principio de um julgamento realizado por
iguais e não por representantes do estado.
O Código de Processo Penal a partir do art. 425, vai regulamentar a forma como
alguns representantes da população vão ser selecionados para exercer a função de jurado, em
síntese, e se correr tudo bem, acontece da seguinte maneira: Anualmente será alistado um
determinado numero de jurados pelo presidente do tribunal do júri, que requisitará as
autoridades locais, associações de classe e de bairro, instituições públicas, e outros, indicações
de pessoas que tenham as condições para exercer a referida função (art. 425, CPP).
Posteriormente a lista geral, que deverá ser, obrigatoriamente, completada anualmente,
é divulgada, contendo o nome e a profissão dos jurados. O dispositivo legal faz uma ressalva
quanto ao jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos 12 (dose) meses que
antecederam à publicação da lista geral, esse jurado deverá ser excluído (art. 426, caput e §4°,
do CPP ), a fim de que não se forme a figura do “jurado profissional”.
A respeito da renovação obrigatória do corpo de jurados, Nucci (2017) opina nos
seguintes termos:
Depois de organizado a pauta, ocorrerá o sorteio dos 25 jurados que atuarão na reunião
periódica ou extraordinária, sorteio este que far-se-á a portas abertas e mediante a
fiscalização do Ministério Público, da OAB e da Defensoria Pública (art. 432 e 433, CPP).
Devidamente convocados os jurados comparecerão no dia e hora designado para a reunião
(art. 434, CPP), e dentre os 25 serão sorteados 7 para compor o conselho de sentença (art.
447, CPP).
No Brasil o serviço do Júri é obrigatório, e por ser considerado serviço púbico
relevante, tem que ser realizado conseqüentemente por brasileiros, maiores de 18 anos e que
tenham notória idoneidade (art. 436 e 439, CPP), este ultimo critério é amplamente discutido
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A partir deste ponto de vista, conclui-se que a lista anual de jurados vai refletir o que o
juiz presidente e seus auxiliares responsáveis entendem, de acordo com os padrões
estabelecidos em suas premissas, por notória idoneidade, ou seja, cria-se um padrão de
“normalidade”. A visão de cada responsável por realizar a elaboração da lista pode ser
relevante para a formação do conselho de sentença, embora alguns autores defendam que na
prática os nomes são escolhidos de forma aleatória, principalmente nos grandes centros
urbanos.
A respeito do significado da expressão “notória idoneidade”, Borges da Rosa (1942, p.
51) ensina que “significa ter aptidão, capacidade. Pode ser moral e intelectual. Tem
idoneidade moral o cidadão que se conduz conforme a lei, à moral e os bons costumes. Tem
idoneidade intelectual o cidadão que possui conhecimento suficiente”.
O conhecimento suficiente a que ele se refere esta relacionado com o fato do jurado
ser alfabetizado, ter os sentidos atuantes, ter saúde mental, em fim ter capacidade para
compreender e julgar o que vai acontecer em plenário. Neste sentido preleciona Nucci
(2017).
O que Nucci ensina, faz algum sentido e está diretamente ligado com objeto de estudo
deste trabalho, uma vez que, se utiliza dos processos cognitivos supramencionados para
perceber o ambiente do Tribunal do Júri.
Quanto a capacidade moral, salvo as que emergem de condenação criminal, não existe
nenhum procedimento republicano que permita valia-las (Thiago H. M. de Souza), pois , a
notória idoneidade termina sendo apurada, na prática, pela ausência de antecedentes
criminais, embora, em comunidades menores, o juiz tenha ciência de outros elementos,
componentes da conduta social do individuo, que o magistrado de uma grande metrópole não
sabe, pautando-se por isso (Nucci, 2017).
Por derradeiro, existem as hipóteses de suspeição, de nulidades, em fim, de restrições
que impedem um individuo de atuar como jurado, todas elas estão descritas no Código de
Processo Penal, porém mais oportuno é, discutir as recusas dos jurados, que são feitas pelas
partes em plenário.
Após o sorteio dos sete nomes que constituirão o conselho de sentença, será
oportunizada à defesa e à acusação a leitura dos nomes sorteados, momento em que, poderão
recusar até o Maximo de três jurados cada parte, sem motivação alguma (art. 468, CPP).
A recusa imotivada – também chamada peremptória – fundamenta-se em sentimentos
de ordem pessoal do réu de seu defensor ou do órgão da acusação (Nucci, 2016, p. 1086),
costumam ser descartados os jurados que as partes julguem que poderão prejudicar de alguma
maneira no resultado final desejado, alguns dos artifícios que elas utilizam para chegar a essa
conclusão serão discutidos mais a frente como os processos cognitivos e as características
sociais, no entanto elas poderão dispor de todas as informações que obtiveram em um
primeiro momento, sobre determinado jurado para o recusar. Nucci (2016) demonstra como
funciona na prática:
Além da recusa imotivada existe a recusa motivada, que é possível nos casos previstos
em lei, geralmente fundamenta-se no receio de que os jurados decidam sem imparcialidade.
Logo, não pode ser jurado, por exemplo, aquele que tiver manifestado prévia disposição para
condenar ou absolver o acusado (art. 448 e 449, CPP), de forma a iniciar em uma posição que
não seja neutra, pois a lei esclareça o principio da presunção de inocência, (F. de Jesus, 2016).
Ante o exposto, verifica-se que a forma como a seleção dos jurados acontece pode
mudar o rumo do julgamento de acordo com quem compõe o conselho de sentença, pois
conforme preleciona Thiago H. M. Souza, a partir do momento em que os cidadãos ficam
cientes da inclusão dos seus nomes na lista anual de jurados de uma cidade, acontece um
processo interno de reflexões em torno do papel social a ser desenvolvido durante os
julgamentos enfrentados.
Existem vários modelos explicativos aplicados aos processos de tomada decisão dos
jurados, que vão desde a valoração seqüencial, até modelos mais sofisticados, como modelos
algébricos, por exemplo, de acordo com o que demonstra Fernando de Jesus em seu livro A
psicologia aplicada a justiça (2016). Conclui-se então, que são inúmeras as variáveis que
influenciam a decisão de um jurado.
Portanto, é possível que os jurados julguem sem distorções? Sem trazer prejuízos a um
julgamento imparcial? Para responder a essas perguntas é valoroso sabermos quais são as
variáveis internas que os jurados trazem consigo e quais as externas a que eles serão
submetidos dentro de um processo judicial, sem nos esquecermos de que se trata de uma
decisão de julgamento complexa (JESUS, 2016, p. 211), além de ser importante evidenciar
alguns aspectos que motivam a tomada de decisão de qualquer pessoa.
Verifica-se então que alguns fatores influem sobre a percepção e baseado nesses
fatores é que se nota certos estímulos no ambiente em detrimento de outros, como bem
preceituam Morris e Albart (2004), ao dizerem que nós claramente utilizamos experiências
passadas e a aprendizagem quando algo atinge nossa percepção, mas nossas próprias
motivações, valores, expectativas, estilo cognitivo e idéias culturais preconcebidas também
podem afetar as experiências perceptivas.
Quando os conceitos mencionados acima são trazidos para a realidade do Tribunal do
Júri, deduz-se que os jurados ao captarem os estímulos do ambiente jurídico que estão
inseridos, vão interpretar e tomar decisões baseando-se nos eventos percebidos naquele
momento, que podem remeter a experiências agradáveis ou desagradáveis que podem causar
empatia ou aversão.
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atraindo os olhos das testemunhas, em conseqüência disso elas prestam menos atenção a
outros detalhes do crime e são menos capazes de recordar o que realmente aconteceu
(Feldman, 2015).
Outra explicação para ocorrer esse tipo de “falha”, esta na forma como as perguntas
são feitas pelos advogados e promotores, Feldman (2015) ilustra bem essa situação ao
descrever um experimento que foi realizado, onde os participantes assistiram a um filme de
dois carros batendo:
Nota-se que a maneira como as palavras foram colocadas, em uma pergunta com mais
exagero e na outra com menor, influenciou a maneira como os participantes do experimento
recordaram do acontecimento.
Além disso, existem as memórias reprimidas, recordações de eventos que inicialmente
foram tão chocantes que a mente responde relegando-as ao inconsciente (Feldman 2105,
p.225), motivo pelo qual, são questionadas por alguns pesquisadores, que alegam que estas
podem ser imprecisas ou até mesmo falsas, uma vez que, pesquisas confirmam que é
relativamente fácil estabelecer memórias referentes a um acontecimento que jamais ocorreu
simplesmente ao perguntar por ele. Quanto mais as pessoas são perguntadas a respeito,
maiores as chances de que elas se “lembrem” dele. (Morris e Maisto, 2004, p. 213).
Esse tipo de memória é mais comum em casos de violência física e abusos sexuais que
ocorreram durante a infância e que são posteriormente recuperadas por suas vitimas em
tratamentos psicoterapêuticos, mas também pode ocorrer com alguém que presenciou um
homicídio, por exemplo.
Isto posto, verifica-se que, assim como na percepção, a memória para ter maior
probabilidade de reforçar algumas respostas ou atitudes, depende dos estímulos produzidos no
ambiente. Portanto, a memória não é simplesmente um registro permanente e imutável de
eventos, a ser recuperado intacto quando necessário, como um arquivo em um computador,
mas um registro maleável das experiências de alguém, sujeito a alterações de acordo com
diferentes ocorrências, como a simples passagem do tempo (Hubner e Moreira, p. 67).
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seja frisada, dominando assim, a emissão do resultado. Pode-se aplicar essa realidade ao
tribunal do júri, onde o orador vai selecionar o conteúdo e a forma de emiti-lo de acordo com
as características de seus ouvintes, no caso, os jurados e com o resultado que quer obter.
Dai, surge a seguinte questão “ será que a linguagem pode também influenciar a
maneira como pensamos e o conteúdo de nossos pensamentos? ” (Morris e Maisto), trata-se
de persuasão, processo que se utiliza da linguagem para atingir o seu objetivo, e o mais
explorado pelos promotores e advogados de defesa dentro do plenário do júri, na tentativa de
convencer os jurados de que as teses que estão apresentando são as corretas.
Persuasão é o processo de mudança de atitudes, um dos conceitos centrais da
psicologia social. Atitudes são avaliações de uma pessoa, de um comportamento, uma crença
ou um conceito (Feldman, 2015). Esses conceitos trazidos por este autor ainda vêm
acompanhado, da demonstração de alguns fatores que influenciam a modificação de atitude de
alguém, tudo ira vincular-se a Fonte da Mensagem, as Características da Mensagem e as
Características do alvo como demonstra:
A persuasão, ainda pode ser apreciada de outra perspectiva, da rota que ela percorre
até chegar ao seu destinatário. Os psicólogos sociais descobriram as rotas primárias de
processamento da informação para a persuasão: processamento pela rota central e pela rota
periférica (Feldman, 2015, p. 530). Em síntese, o processamento pela rota central, acontece
quando o sujeito está mais atento aos argumentos apresentados, consequentemente, sendo
persuadido pelo mérito da questão.
Já o processamento pela rota periférica, verifica-se quando o sujeito é persuadido por
causas não pertencentes ao cerne da questão. Em vez disso, fatores que são irrelevantes ou
alheios a questão, tais como quem está transmitindo a mensagem, a quantidade de argumentos
ou o apelo emocional dos argumentos, as influenciam (Feldman, 2015). Desta forma, entende-
se que os indivíduos que estão mais atentos e mais envolvidos, recebem a informação pela
rota central, lado outro, os que estão entediados ou distraídos recebem pela rota periférica,
onde as características do conteúdo ficam em segundo plano.
A importância dos operadores do direito de observar estes aspectos é grande,
principalmente dentro de um tribunal do júri, onde a emissão das palavras deve ser feita com
cuidado, porque mesmo que os receptores da mensagem estejam sujeitos as mesmas
informações, estas podem resultar em significações diferentes para cada indivíduo, podendo
ocasionar um olhar desacertado, de modo que prejudique a defesa ou a acusação.
que nada mais são do que conjuntos de características presumidamente partilhadas por todos
os membros de uma categoria social (Morris e Maisto, 2014).
Então concluímos coisas sobre um individuo baseado apenas em algumas
características que tivemos acesso em um primeiro momento, conforme exemplifica Morris e
Maisto (2014):
Jesus (2106) corrobora essas afirmações ao demonstrar que além do sexo, outras
variáveis como a raça, a idade, religião, profissão e etc. vão incidir direta ou indiretamente no
resultado de um julgamento. Identificada essas variáveis, é possível saber o que esperar de
determinado jurado, por exemplo, a este fenômeno se da o nome de papel prescrito, que são
todas as expectativas de comportamento estabelecidas pelo conjunto social para os ocupantes
das diferentes posições sociais (Bock, Furtado e Teixeira, 2008, p. 178).
A categorização de determinada pessoa só é possível, porque se usa da percepção para
organizar as informações recebidas, que serão associadas a determinada memória que causará
uma predisposição para agir, chamada de atitude. A respeito das atitudes ensinam Bock,
Furtado e Teixeira (2008).
Constata-se então que as atitudes podem ser modificadas, de acordo com os motivos,
interesses, e necessidades de cada individuo, por exemplo.
Cada individuo traz um conjunto singular de atributos pessoais para uma situação, o
que faz com que diferentes pessoas ajam de diferentes maneiras na mesma situação.
(Atkinson e outros. 2002 p. 628).
A publicidade pré julgamento, é uma das variáveis externas à que os jurados são
submetidos em alguns casos antes de tomarem sua decisão, visto que, com freqüência surgem
crimes com grande repercussão, a titulo de exemplo pode-se citar o caso Isabella Nardoni ou
o caso de Suzane Von Richthofen, onde existiu uma mobilização da mídia e da sociedade em
busca de “justiça”.
Embora exista um esforço da legislação de manter alguns princípios como o da
presunção da inocência, ao prezar pela incomunicabilidade dos jurados, é cediço que os
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jurados chegam a plenário, muitas vezes, com o veredicto já formado, influenciados pela
opinião pública. Neste sentido Roberto Bartolomei Parentoni (2011) ensina que:
desaforamento, onde a competência inicialmente fixada pode ser alterada (Nucci, 2017).
Dispõe o caput do art. 427 do CPP:
Conclui-se que, embora não devesse ser, a atuação da mídia e da opinião pública é
relevante, e este aspecto influencia significativamente na decisão dos jurados, motivo pelo
qual, cria-se o atrito entre a imprensa e a lei, ou seja, entre o direito a liberdade de imprensa e
o direito a um julgamento justo (Jesus, 2016, p. 219).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, verifica-se que qualquer decisão tomada por um juiz no poder
judiciário brasileiro é obrigatoriamente fundamentada e deve ser totalmente imparcial,
aplicando-se estritamente a lei, com exceção da decisão tomada pelos jurados dentro do
tribunal do júri, pois embora eles estejam exercendo a função de “juízes” por algumas horas, a
legislação permite que nesse caso especifico a decisão não seja fundamenta, e por ser
realizada por pessoas que não possuem formação técnica suficiente para exercer essa função,
está sujeita a vários questionamentos, visto que os jurados estariam mais suscetíveis as
influências de argumentação das partes, de suas crenças e valores pré-estabelecidos, e a
fatores psicológicos, muitas vezes não observados de primeiro plano, que vão interferem
direta ou indiretamente na sentença.
Observa-se também que dentre as variáveis que vão interferir na tomada de decisão
dos jurados, os aspectos cognitivos, como a percepção, memória e linguagem exercem um
papel importante, assim como as características sócias e a publicidade pré julgamento,
podendo estes elementos serem “manipulados” de alguma maneira pelos atores processuais,
para se chegar a resposta desejada, uma vez que, os jurados procuram organizar todos os
elementos observados em uma estrutura sumarizada, na qual capturam qual é a verdade sobre
o caso (Pilate e Silvino, 2009). É interessante explicitar que, de acordo com Maisto e Morris
(2004), na ocasião em que se diz que certos elementos podem manipular algumas respostas,
significa que a presença desses elementos pode tornar a resposta desejada mais provável.
A idéia de que o Tribunal do Júri não passa de um teatro, e de que ganha aquele que
consegue representar melhor, é equivocada, obviamente que conseguir o resultado desejado
(absolvição, diminuição ou majoração de pena ou condenação) demanda um conhecimento e
poder de comunicação bastante grande, mas como vimos no decorrer do presente trabalho,
não é só isso, trata-se de um procedimento complexo que envolve vários aspectos, que
transcendem o mundo jurídico, porém, que estão presentes na vida de qualquer ser humano,
inclusive na dos jurados, no momento de tomar a decisão, que em grande parte corresponde às
expectativas sociais.
Os atores processuais podem utilizar os mais variados tipos de artifícios para reforçar
o seu ponto de vista, sempre lembrando que não se trata de uma batalha pessoal entre defesa e
acusação, nem de uma batalha entre o bem e o mal, dado que, não existem vencedores nem
perdedores nesta circunstancia, uma vez que todos já perderam. A família do réu, a família da
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vitima que perdeu um ente querido, o próprio réu, que possivelmente vai perder sua liberdade,
o estado que fracassou na tutela do bem jurídico mais importante que é a vida, em fim,
quando chega ao tribunal do júri, significa que todos os outros meios para solucionar aquele
conflito fracassaram, melhor dizendo quando é necessária a intervenção do direito penal e
processual penal em qualquer aspecto, significa que algo falhou no inicio.
Destaca-se então, a área compartilhada pela psicologia e pelo direito, que vem para
contribuir, para além do que é mostrado de forma limitada nos seriados e filmes, pois o estudo
do comportamento humano feito nesse contexto, auxilia na conquista de um sistema legal
mais justo, na qualidade da deliberação legal e na prevenção de possíveis falhas que não
podem mais acontecer.
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REFERÊNCIAS
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Forense, 2015.
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11.689/2008 e 11.690/2008. Ed. Revista dos Tribunais. São Paulo. 2008.
VadeMecum Saraiva OAB. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de
Lívia Céspedes e Fabiana Dias da Rocha. 13 ed. Atual. eampl. São Paulo: Saraiva, 2017.
GRECCO, Rogério. Código Penal: Comentado. 9º. ed. Niterói, Rio de Janeiro: Impetus, 2015.
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Segundo o Direito Brasileiro. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?
cod=873e84c5c8a793c2. Acesso em: 22 de fevereiro de 2018.
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SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. Ed. 24. Ver. E atual. Nos
termos da reforma constitucional (até a emenda constitucional n° 45, de 8.12.2004,
publicada em 31.12.2004). são Paulo: Malheiros, 2005.
BOCK, Ana Mercês Bahia, Odair Furtado, Maria de Lourdes Trassi Teixeira. Psicologias:
uma introdução ao estudo da psicologia. Ed. 14. São paulos. Saraiva, 2008.
STF - RHC: 118615 DF, Relator: Min. ROSA WEBER, Data de Julgamento: 17/12/2013, Primeira
Turma, Data de Publicação: DJe-031 DIVULG 13-02-2014 . Data de publicação 14-02-2014.